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se no que referiu o meu nobre amigo, o Sr. Barão da Ribeira de Sabrosa, mas tambem no beneficio, como lhe chamam os lavradores d'aquelles sitios; isto é, precisa cada pipa dous almudes de agoa-ardente de supperior qualidade: alguns ha que não deixam de lhe fazer outras composições, como lançar-lhe uma grande quantidade de passas, porque o vinho doce tem sido moda. Ora quando se ouve fallar, que uma pipa de vinho do Douro se vende por cincoenta mil réis, e se compara este preço com o de vinte e dous mil réis que tem os da Bairrada, á primeira vista acha-se uma grande differença; mas examinando o caso, tendo-se em vista que o lavrador do Douro gasta para aguardentar cada pipa vinte e dous mil réis; em passas, e outros ingredientes para o adoçar, não menos de seis, (que é preciso beneficia-lo todos os annos) de maneira que vendido por aquelle preço, que parece grande, apenas se vem a vender por vinte e dous ou vinte e tres mil réis, de que hão de sair ainda doze mil réis para o grangeio, depois ha um empate, e o lavrador, que o sofre fica arrumado para quasi toda a sua vida (apoiado).

Os meus illustres patricios, os Srs. Macario de Castro, e barão de Sabrosa, hão respondido triunfantemente a todos os outros argumentos; e eu estou certo, que o Congresso não ha de adoptar uma substituição, que prejudica o thesouro, desmoralisa o negociante e o lavrador, instando ao descaminho, e não utilisa até a mesma parte do paiz , que em prejuizo do resto se pertende favorecer; voto por tanto contra a substituição, e adopto o artigo.

O Sr. Barão da Ribeira de Sabroza: - Principiarei repetindo as palavras do Sr. Monteiro, se se convém na substituição, eu lucro em cada pipa tres mil réis. Todos gabem que não ha nada mais facil, do que desembarcar o vinho em Quebrantões, ou no Carvoeiro, e leva-lo a Villa Nova. Quem perde tudo é a fazenda. Por tanto acceito o additamento do Sr. Barjona, não serei do generoso como o Sr. Monteiro; e se o Sr. Ministro da fazenda convém, digo que approvo já o additamento.

Diz o Sr. Barjona, que sou injusto. Não o sou: elle reconhece, que póde exportar os vinhos por Aveiro, pela Figueira, e pelo Porto; reconhece, que são iguaes aos do Douro, da sua ordem; quer igual vantagem, para elles, e não quer pagar os direitos! Donde vem a injustiça? Aquelle elogio, que o Sr. Deputado fez aos vinhos do meu paiz, chamando-lhes medicinaes, optimos, indispensaveis, no estado actual, em vista do que acontece hoje na minha provincia, aonde ninguem os procura, não me parece elogio, parece-me uma ironia amarga. Dizem-me, Sr. Presidente, hoje mesmo, dous respeitaveis compradores de vinhos, que o meu vinho branco é precioso; mas accrescentam ambos, que me não podem dar um vintém por elle. E' medicinal, é verdade; mas, com taes direitos, ninguem quer beber o remedio, e lá fica. E se eu não vender, difficilmente poderei pagar tributos. Um dos sitios mais classicos de vinhos do Douro, é a costa dos Goivinhas; offerece-se ahi quinze mil réis por cada pipa do de primeira qualidade! Lembre-se o Congresso bem disto. Diz o Sr. Barjona, que vende o da Bairrada a dezeseis mil réis isso foi em 1834, e algum mesmo a vinte e dous mil réis; mas este anno receio muito que nem a dez mil réis lhe dêem por elle. E se fôr como diz o Sr. Deputado, é um argumento contra a sua pretenção. Diz que os vinhos da Bairrada entram para compor os do Douro: se assim é, por que não hão de pagar como os outros? Sr. Presidente, eu amofino-me, quando fallo nesta questão; e quando ouço revelar cousas, que fazem mal ao negociante, e por consequencia ao lavrador; mas não póde deixar de ser, porque nenhum especulador convirá em misturar os vinhos da Bairrada com os finos do Douro. Reconheço, que o meu paiz está coberto de dividas, e de pobreza, senão for attendido, cento e trinta mil pipas de vinho ficaram empatadas: uma grande parte do vinho do anno passado, está ainda nos armazens; eu até os podia agora mesmo nomear, assim como aos seus proprietarios. E se elles não venderem, como hão de pagar os impostos? Por tanto voto pelo artigo do projecto, porque algum bem faz no momento, e não cançarei mais o Congresso.

O Sr. Macario de Castro: - Se os Srs., que tem pedido a palavra depois de mim, quizerem prescindir della, por que julguem o artigo discutido, desisto da palavra. Peço a V. Exca. queira consulta-los.

O Sr. Presidente: - Não sei as suas tenções; mas quem pediu a palavra foram os Srs. S. Paio Araujo, Lacerda, e José Estevão.

(O primeiro, e ultimo dos Srs. Deputados referidos, declararam, que precisavam fazer explicações)

O Sr. Leonel: - Eu peço a V. Exca. queira perguntar ao Congresso, se a materia está sufficientemente discutida.

O Sr. Macario de Castro: - O Sr. Deputado não tem direito a pedir essa votação, depois de eu estar em pé para fallar. Eu tomei a deliberação de não gastar mais tempo nesta discussão, se os Srs. Deputados não quizerem combater o artigo; de contrario fallarei.

O Sr. Leonel: - Declaro, que quando pedi a V. Exca. perguntasse se a materia estava discutida, foi apoiando o Sr. Macario de Castro esta foi a minha intenção.

O Sr. Sampayo Araujo: - Quando se nomeou a Commissão especial dos vinhos, foi isso encarregado á mesa, que procurou, entre outras circumstancias, individuos para entrarem nella, que tivessem o conhecimento das provincias: eu fui nomeado pelo Minho. O Sr. Barjona no seu additamento propõe a reducção dos direitos do vinho verde, creio que é um tostão em almude, que entrar sómente por Villa Nova, mas eu que desejo a igualdade, e que estou em stricta posição de defender os interesses do Minho, proponho, que no caso de ser admittida a reducção de direitos, seja extensiva a todos os vinhos verdes, que entrarem no Porto, tanto pelas barreiras do Sul, como pelas do Norte.

O Sr. Lacerda: - Cedo da palavra, dizendo ao Sr. Barjona, quando julgou que eu lhe tinha feito um ataque, me fez uma injustiça. Creio que o Congresso deve saber, que eu só quiz provar, que não ha exclusivo a favor de um paiz, quando paga mais que os outros quinhentos e tantos contos de réis do genero, que colhe; sendo mais que treplicada a despeza na cultura: espero que S. Sa. fará a justiça de me acreditar.

O Sr. José Estevão: - Depois que pedi a palavra, fiz tenção de não dizer nada a este respeito; mas como o Sr. Macario de Castro se resolveu a fallar, sempre direi alguma cousa, para lhe dar a que responder. Com effeito, levantando-me para fallar nesta materia, dou a mais completa prova do meu atrevimento, e Congresso ouvindo-me, não menos a dá de illimitada benevolencia.

O vinho da Bairrada, em quanto está nas adegas de teus donos; vale indubitavelmente menos, que o vinho do Porto em quanto se acha nas mesmas circumstancias, são mercadorias de differente valor, e a differença é consideravel: isto cuido que ninguem o contesta, porque os factos o dizem. Mas o vinho da Bairrada sáe das adegas, faz longas, e custosas jornadas; chega ás barreiras do Porto, e ainda assim mesmo o seu preço é muito menor do que o do Douro, considerando o tambem junto ás mesmas barreiras já se vê pois que estas barreiras fazem milagres, destroem as propriedades naturaes das cousas, e igualam o que é intrinsecamente desigual. Os vinhos do Douro pagam nas barreiras do Porto os mesmos direitos, que os da Bairrada, e estes vinhos não tem então, nem vem a ter nunca o mesmo valor. Isto não é justo.

Entendo eu, Sr. Presidente, que todos os principios de economia politica (ainda que pouco lido sou nesta materia) ensinam a contrabalançar com os favores da lei os desfavores da natureza: paiz menos favorecido pela natureza, deve-o ser mais pela lei; e o que o fôr mais por aquella, deve-o ser menos por esta; isto creio que é a doutrina de todos os economistas.