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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

chia. Era o que os seus estouvados parciaes espalhavam por toda a cidade (apoiados). Era o que punham na bôca do Rei, que não póde ter proferido tão imprudentes e perigosas palavras, porque a monarchia ou ha de salva-la toda a nação, ou não a salva o partido regenerador, que é quem a está compromettendo, querendo inculcar o Rei como chefe do seu partido (muitos apoiados).

O sr. Barão do Zezere: — Isso não se diz.

(Susurro.)

Vozes: — Ordem, ordem.

O Orador: — Aqui não entra a guarda municipal. Vozes: — Ordem, ordem.

O sr. Barão do Zezere: — Não entra a municipal, mas entro eu. (Susurro.)

O sr. Presidente (tocando a campainha): — Peço que se conserve a ordem para poder continuar a sessão (apoiados).

O Orador: — O meu illustre amigo, o sr. Barros e Cunha, permitta-me s. ex.ª que lh'o declare, foi de uma credulidade quasi infantil; a nossa amisade é tão intima e tão antiga, que me auctorisa estas liberdades.

Suppoz s. ex.ª que da maioria ou do governo poderiam jamais partir alguns actos de consideração para com as opposições. É o inverso. Nós, na opinião do governo, é que temos a obrigação de nos derretermos em condescendencias. D'elles para nós nem um acto de cortezia. Apesar da cordura, da generosidade, e da benevolencia, com que por mais de uma vez temos tratado o governo, a cuja marcha ainda não oppozemos o menor obstaculo, não espere o meu illustre amigo da parte d'esta maioria e d'estes srs. ministros, o menor signal de acquiescencia em relação a qualquer moção ou proposta que aqui apresentemos (muitos apoiados).

Nós fomos ha dias convidados a uma reunião de deputados pelo governo no ministerio do reino. Pozemos de parte uma certa ordem de considerações. Vencemos bastantes repugnancias (apoiados). Supplicámos, exorámos os mais renitentes. Chegámos finalmente a um accordo os homens da opposição. Comparecemos quasi todos, e satisfizemos assim a um dever de cortezia, e dispozemo-nos para ouvir com attenção as revelações, que suppozemos graves do sr. presidente do conselho de ministros. Explicámos ahi com franqueza, qual o nosso modo de ver a politica do governo, e não nos dispozemos n'essa occasião a emittir voto algum definido a respeito de uma medida, que se quiz sujeitar á nossa apreciação. Reservámo-nos para a camara, depois de termos estudado o assumpto, e conferenciado entre nós. Este foi o nosso cortez, leal, franco e honrado proceder.

A nossa politica é sem ambages. Não tem mysterios nem usa ardis (muitos apoiados).

Mas a moção do sr. Barros e Cunha, estando no espirito de toda a camara, e tendo sido admittida á discussão, ha de ser rejeitada, porque o governo não tolera ousadias da opposição, e julga talvez que se desmoralisam as suas hostes, se for approvada por todos uma proposta que parta d'este lado da camara. Nem actos de cortezia, nem de logica, nem de bom senso, eu tenho a esperar do governo.

O proprio sr. ministro da fazenda, se aqui tivesse voto, a rejeitaria hoje, apesar de ter hontem declarado que a aceitava. Tudo mudou em vinte quatro horas ao aceno imperioso do sr. Fontes.

(Susurro.)

Peço aos illustres deputados o favor de me não obrigarem a levantar muito a voz; estou um pouco excitado, e essas interrupções contendem hoje com o meu systema nervoso (riso). Desde que o sr. presidente do conselho de ministros já elevou n'esta casa, ha poucos dias, os seus nervos á altura de um argumento politico (riso), eu posso, apoiado em tão respeitavel auctoridade, appellar tambem para o meu systema nervoso (riso).

Sr. presidente, se esta moção do sr. Barros e Cunha, que tende a ligar-nos a todos para nos occuparmos seriamente da nossa fazenda publica, está no espirito da camara inteira, e diz o mesmo que a moção do governo ou da maioria, apresentada pelo sr. visconde de Arriaga, para que veiu a segunda sobrepôr-se impertinentemente á primeira? Já se vê que é só, para que a maioria não vote uma cousa qualquer que parta da opposição (muitos apoiados).

Eu tenho aqui uma proposta, que vou mandar para a mesa, a fim de que se eliminem da moção do sr. Barros e Cunha as palavras «sem interrupção».

É ahi que o governo vê o ponto negro. Desappareça pois o mysterio, esclareçam-se os nossos tenebrosos planos, e tranquillisemos o espirito assustado do ministerio. Vamos a ver agora se a proposta do meu amigo, que é a primeira na ordem da votação, é rejeitada ou não. Eu não dou nada por ella, nem lhe seguro a vida, seja porque preço for (muitos apoiados).

Sr. presidente, o sr. Barros e Cunha não teve a pretensão de substituir as suas idéas ás da maioria, nem de nos declarar a nós infalliveis, como lhe attribuiu o sr. Fontes (muitos apoiados). Sabemos bem, que o governo deve governar com as suas idéas, e viver do apoio dos seus amigos. Nem lhe contestamos isto, nem lhe levamos a mal os apoiados freneticos, estrepitosos, tumultuarios dos seus admiradores. Eu n'este ponto pedia simplesmente uma cousa. Rogava a um illustre deputado da maioria, o sr. Rocha Peixoto Junior, de quem sou amigo, que tivesse dó dos meus ouvidos quando dá os seus apoiados (riso). Arranje apoiados cem vezes mais ministeriaes, porque com isso não escandalisa a minha pessoa; mas o que eu desejava, é que me não ferisse tão cruelmente os tympanos (riso). Se o illustre deputado me fizesse esse favor, cingia-lhe uma corôa á roda da cabeça (riso).

Sr. presidente, o governo vae n'um caminho errado, se se persuade que com os votos legaes do parlamento, e com os apoiados mais ou menos convencionaes, mais ou menos sinceros das gentes que o rodeiam, se mantem escrupulosamente dentro do systema liberal e dentro da constituição (muitos apoiados).

Nós os homens da escola radical rejeitâmos a sua these (muitos apoiados).

Todo o governo liberal tem obrigação de sondar o espirito publico, sopesar a opinião, ouvir as reclamações dos queixosos, conhecer todos os interesses, estudar as tendencias populares, attender aos dictames da consciencia publica, e, de governar em harmonia com estes principios, se está á altura das circumstancias, ou retirar-se a tempo do poder, para não arrastar na sua queda interesses valiosissimos, que pesam mais que a fatuidade de qualquer ministerio (muitos apoiados).

O sr. Alfredo Peixoto (com vehemencia): — Peço a palavra sobre a ordem.

- O Orador: — A cousa vae ser séria. (Riso.) Mas eu prefiro os seus discursos aos seus apoiados (riso).

Disse o sr. Barros e Cunha, e disse bem, nós não devemos abrir mão das medidas de fazenda; porque effectivamente não podemos proceder á organisação de serviço publico algum, sem que tenhamos meios para o custeiar. (Apoiados.) Estes principios são santos e justos. Estes principios estão no espirito da nação, e no espirito da camara. (Apoiados.) Portanto o governo não póde recuar. (Apoiados.) Mas diz-nos o sr. Fontes: «nós não démos, sequer, indicio nenhum do contrario. Vós, senhores, (referindo-se á opposição) é que estivestes ininterruptamente por um mez a discutir a resposta ao discurso da corôa. Nós não somos os culpados. A culpa é toda da opposição! «Isto acaba de o dizer, com pasmo meu e de toda a camara, o sr. presidente do conselho, na mesma occasião, em que affirma o direito que assiste ás maiorias e ao governo de regular os trabalhos da camara! (Muitos apoiados.) Pois se as maiorias podem saltar, e devem saltar por cima das opposições, segundo a phrase para sempre celebrada do sr. Fon-