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o arbitrio governativo póde comprometter não digo interesses pessoaes, mas graves interesses publicos, porque para os interesses pessoaes ha remedio, faz-se-lhes justiça, o que não acontece com um acto governativo de uma certa importancia. Entendo de mais a mais que não podemos votar isto sem conhecimento de causa: é uma questão toda pequenissima, mas toda de especialidades, em que nós temos muitas pouças pessoas habilitadas. Alem d'isso ha uma commissão de inquerito para inquerir sobre isto que se apresenta...

Uma voz: — Não ha.

O Orador: — A minha proposta é a seguinte. (Leu.) Aqui está tudo. Os 100:000$000 réis é muito. (Apoiados.) Quero dizer, não sei se é muito ou se é pouco; para os senhores é que digo que é muito; e não era preciso amotinar o paiz por causa de 9:000$000 réis, e dar como salvação das finanças as economias que se deviam fazer com a abolição do commando em chefe, quando as economias que provém d'esta abolição não excedem a 9:000$000 réis.

E agora que chegámos ao dia da luz e da verdade, digo, que como esta são todas as outras economias; e é preciso que acabe esta refinada falsidade com que se tem enganado esta terra, quando se lhe diz que se projectam grandes economias no serviço publico; porque ninguem as faz, ninguem as ha de fazer e ninguem as fez; (Apoiados.) e quem as fez foi por um estado transitorio, excepcional, reconhecendo que essas medidas deviam terminar promptamente, mas reconhecendo que eram necessarias grandes e consideraveis despezas, como esta pedindo o paiz que carece de tudo (Apoiados.) para ter uma vida medianamente civilisada.

Permitta-me v. ex.ª uma curtissima digressão. Eu fiz parte de um parlamento que era e que se dizia o resultado das mais arrojadas inspirações de progresso n'esta terra: era o congresso constituinte. Era ministro um dos homens que com justo titulo se apresentava ao paiz como representante das inspirações mais elevadas e mais latitudinarias naquella epocha; era o sr. Manuel da Silva Passos. Eu fazia parte da opposição n'esse parlamento, e fazia parte com todos os moços d'essa epocha e com quantidade innumera de historicos, que todos, bem ou mal, julgavam que um ministro a cujo talento e cujas virtudes tributavam sinceros elogios, não comprehendia a situação revolucionaria em que se achava, e não podia satisfazer nem aos desejos da camara nem do paiz. Esse ministerio fez uns fomentosinhos, (Riso.) e um d'elles foi recolher o resto das muitas preciosidades artisticas que havia nos conventos de Portugal n'uma casa que nós agora temos vergonha de chamar academia das bellas artes, sitio ao qual fui uma unica vez, e aonde talvez a maior parte dos meus collegas não tem ido; e fazem muito bem, porque em epochas infestas, é um dos focos de infecção da nossa capital. Assisti a tudo isto. N'essa obra grandiosissima creio que se gastaram talvez umas cinco moedas. O que sei é que o ministerio progressista d'esse tempo esfalfou-se, cansou a sua eloquencia, os seus recursos e prestigio para se defender na camara dos grandes desperdicios que lhe arguia o parlamento que se dizia progressista; e um dos capitulos de accusação era ter feito uma academia de bellas artes, n'um paiz onde não havia organisação de fazenda nem se pagava aos seus empregados. E foram exclamações sobre exclamações, enargueias e prosopopeias, e todas as figuras de rhetorica para pôr em uma posição desfavoravel o ministro que tinha tido aquella tão modesta e tão notavel lembrança de livrar das chuvas e das mãos de alguns curiosos o resto dos quadros que tinham escapado á devastação geral. Veja a camara que triste situação era a de 1838! Como isto veiu para a questão do commando em chefe...

O sr. Conde de Samodães: — Tudo vem a proposito.

O Orador: — Não; tudo vem a proposito, não: isto comtudo tem vindo muito mais a proposito do que os propositos do nobre deputado, (Riso.) alguns dos quaes, com as suas amabilidades, tem escapado aos meus ouvidos, e por consequencia escapado á minha censura; porque o illustre deputado, cavalheiro, moço e politico não póde usar, não se atreve de certo a usar da palavra chocarrice, designando qualquer phrase proferida por um seu collega...

O sr. Conde de Samodães: — E odios pessoaes?

Orador: — Odios pessoaes, ninguem os sabe senão quem os lê nos corações; mas o homem que tem conhecimento do mundo e das regras do decoro reconhece a sua situação e põe a decencia acima da sua consciencia: porque eu sempre tomei para mim como regra invariavel, que só quando graves, gravissimos e solemnes principios e solemnes interesse me podessem obrigar a levantar a voz contra pessoas ou cousas, só quando tivesse aggravos é que então os affrontam nas funcções publicas. Mas vamos á questão. Sr. presidente, e vem d'aqui economia? Aqui não se faz economia alguma. A abolição do commando em chefe não traz economia alguma; fallo diante de um parlamento que tem linguas e vozes, e não desafio, mas rogo e peço que contradigam o orçamento do estado. Sabem todos isto. O orçamento nas circumstancias em que actualmente nos achâmos, tende a crescer, e ha de crescer mais, se nós não quizermos conservar esta miseravel vida que todos nós censurâmos, e de que não queremos saír, e não são só despezas em cousas materiaes, nem em obras, nem em caminhos de ferro, são em pessoal; (Apoiados.) porque o pessoal que existe ha de ser algum d'elle mais bem pago, e outro ha de se crear todo de novo. (Apoiados.)

Sr. presidente, não quero dizer mais nada, e mando para a mesa este artigo que é a unica cousa racional que se póde fazer; porque estas bases, que acabam de ser distribuidas, não se podem votar: quem propoz esta substituição foi o meu illustre amigo o sr. conde de Samodães...

O sr. Conde de Samodães: — Peço licença ao illustre deputado para lhe dar uma explicação.

O Orador: — Pois não.

O sr. Presidente: — É melhor que o sr. deputado reserve a sua explicação para quando lhe couber a palavra. (Apoiados.)

O Orador: — Para mim é uma cousa indifferente.

O sr. Conde de Samodães: — São só duas palavras. As indicações que vem n'essa substituição são quasi todas do sr. ministro da guerra, e posso affirmar ao illustre deputado que tenho até na minha secretaria correspondente o papel escripto por s. ex.ª, e que por elle foi apresentado á commissão. Aqui estão todos os meus collegas que digam senão foi aquillo que apresentei; nós o que fizemos foi reduzir a numeros aquillo que lá estava.

O Orador: — Se o sr. ministro apresentou é escusado vota-lo a camara. A minha proposta diz o seguinte. (Leu.)

O sr. Presidente: — Pela mesma rasão por que não recebi a substituição do sr. Sá Nogueira, não posso receber esta; peço ao sr. deputado que a guarde para quando se discutir as bases. Agora o que esta em discussão é o adiamento da proposta.

O sr. Affonso de Castro: — Eu quasi que não me entendo com a discussão, não sei se é a proposta que fez o sr. José Estevão, ou se é o artigo 1.º ou o adiamento que se discute.

O sr. Presidente: — Já disse que a proposta do sr. José Estevão fica para quando se discutirem as bases que já vieram e que foram distribuidas pelos srs. deputados.

O Orador: — Apesar d'isso não me entendo com a discussão, mas farei algumas considerações sobre o assumpto. Eu não combato a proposta do sr. José Estevão, porque acho que ella a consequencia logica da attitude que tomou a camara, mas tambem não posso conformar-me com as idéas apresentadas pelo sr. D. Rodrigo, e ainda ha pouco pelo sr. José Estevão. Eu não posso dar o voto de confiança ao governo para a organisação da secretaria da guerra, porque não concordo inteiramente com as bases que foram presentes á commissão pelo illustre ministro. A organisação que se pretende dar á secretaria acho-a defeituosa, e não posso auctorisar aquella reforma. Apoio a proposta do sr. José Estevão, porque a acho logica, depois do que aqui se passou, e não sei como póde a camara adoptar outra resolução. Pois que?!