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quando se trata de obter machina e caldeiras para um navio novo; outro, quando é mister substituir as caldeiras já usadas, ou fazer algum reparo nas machinas.

N'este ultimo caso não é absolutamente impossivel que a obra se faça no paiz. Ainda assim, será indispensavel modela-la pela antiga, sem nenhuma modificação, sem nenhum melhoramento; porque a nossa industria, no ramo de que se trata, esta em grande atrazo.

Direi o que se passou em um ensaio d'este genero, e ahi acharemos outro motivo de se não recorrer ás officinas nacionaes para taes obras.

Mandou-se pôr a concurso a construcção de uma caldeira para a corveta Sagres, e preferiu-se uma proposta feita por uma casa estabelecida em Lisboa ou no Porto, apesar de saír mais cara do que sairia se fosse feita em Inglaterra.

Tenho aqui os preços e todos os detalhes que se quizerem sobre este assumpto.

Mas, como ía dizendo, mandou-se fazer a caldeira, apesar do seu custo ser muito maior. Porém o grande inconveniente não foi este. Resultou d'aqui que, tendo-se promettido a caldeira n'um certo praso, este praso foi excedido mais de quatro mezes, tendo o navio de estar á espera, havendo grande necessidade de o fazer entrar em commissão, e não se applicou a respectiva multa, por contemplação á casa ser estabelecida no paiz.

Antes d'isso já se tinha feito uma machina e respectiva caldeira para a escuna Barão de Lazarim, porque sendo exiguas as suas dimensões, julgou-se que este ensaio se podia fazer no paiz.

Resultou d'aqui que o navio teve de ir á véla até ao Rio de Janeiro, onde foi fazer uma grande despeza para a machina poder funccionar.

Lá se arranjou e foi para Moçambique, onde tem estado, e alguem dirá que tem feito um serviço tal ou qual; mas nunca ficou um navio capaz.

Por consequencia se se trata de fornecimento de machinas a vapor e caldeiras, parece que ninguem póde querer que ellas se façam no paiz (apoiados), porque effectivamente, já não digo o. arsenal, que não esta montado para estes grandes artefactos, mas mesmo as officinas não estão no estado de adiantamento e não têem os meios necessarios para poderem dar um bom desempenho a estas commissões.

Todos nós sabemos que todos os dias se estão fazendo melhoramentos n'este ramo, o que as nossas officinas não estão ao facto d'elles, e por consequencia não podem immediatamente fazer melhoramentos n'uma machina, que o estado precise para um dos seus navios.

Apesar de não ser no meu tempo, sempre direi, que as caldeiras para as duas grandes corvetas, Estephania e Bartholomeu Dias, em primeiro logar são obras de grande vulto, e mesmo pelas suas dimensões, eu duvido que ficassem capazes.

Ha pouco chegou uma machina para a corveta Maria Anna, obra primorosa, e os mestres de officinas, que a têem ido ver, não podem deixar de dar este testemunho de justiça, e mesmo tendo aquella, que foi encommendada para a Sagres, excedido quatro mezes do praso promettido, não se póde comparar com a que acaba de chegar. Todavia, á condição essencial de resistencia satisfez completamente, porque supportou a pressão a que foi sujeita e saíu bem de todas as experiencias.

Emquanto ás duas de que eu estava tratando, a Bartholomeu' Dias e Estephania, não só pela grande importancia d'essas caldeiras e pela sua grande capacidade, mas tambem porque era preciso introduzir n'ellas alguns melhoramentos mais recentes do que aquelles que se conheciam quando ellas vieram com os respectivos navios, estes não se podiam pois fazer cá, e portanto mandaram-se a Inglaterra.

Mas ha ainda a questão do tempo, que é muito importante. Se com relação ás caldeiras da escuna Maria Anna houve esta demora, o que aconteceria com estas duas? E eu escuso de insistir muito n'este ponto, porque todos sabem as condições em que estão os nossos dois principaes navios. A Estephania esteve muito tempo aqui no porto, foi para Inglaterra a metter caldeiras; e a Bartholomeu Dias esperava que ella voltasse para tambem ir metter caldeiras; porém n'uma recente occasião, e bem importante, fez-se saír a Bartholomeu Dias sem que nos ficasse a consciencia segura de que aquelle navio ía com segurança; quando chegou já não estava no caso senão de ir a Inglaterra metter caldeiras.

Ora, tendo nós tão poucos navios, e havendo a necessidade de os mandar saír muitas vezes para commissões importantes, que não se podem protrahir, entendo que não podemos mandar fazer as caldeiras no paiz, porque alem de não ficarem bem feitas e nem se lhes poder introduzir os melhoramentos recentes, ainda corríamos o risco de nos succeder o que aconteceu com as caldeiras da escuna Maria Anna, que vieram alguns mezes depois do praso em que o fabricante se tinha obrigado a dá-las.

Emquanto ao mais, eu desejo tanto como o illustre deputado, não só que as officinas de ferraria e fundição de ferro, e de machinas do arsenal da marinha tenham o maior desenvolvimento possivel, mas até que por todos os meios se favoreça' o desenvolvimento das officinas particulares; mas não entendo que isto se deva fazer á custa da bondade e solidez das obras, e sobretudo por um preço maior (apoiados). Isto é o systema da protecção, de que eu declaro á camara que não sou partidario em nenhuma das manifestações por que elle se possa realisar (apoiados).

Entretanto podem ser diversas as opiniões a este respeito; cada um tem a sua, mas é preciso considerar o negocio debaixo d'este aspecto.

Emquanto a ser conveniente estabelecer no arsenal uma officina de machinas a vapor, d'isso não tenho eu esperança alguma, nem ninguem a póde ter. Para alguns concertos, e mesmo, se for necessario, para fazer uma ou outra caldeira, para isso trabalha-se no arsenal. Estão-se fazendo officinas de fundição e ferraria, mas mais vastas do que as que havia até agora. Isto vae de vagar, porque os meios são fracos. Quando isto tenha acontecido, e quando seja possivel passar para a officina de fundição e ferraria a officina de latoeiros, ficará o espaço indispensavel para armar um telheiro, debaixo do qual se possa fazer uma caldeira, não de grande dimensões, porque no arsenal até falta o espaço para armar uma grande caldeira.

A este respeito direi pois que effectivamente se têem encommendado lá fóra machinas e caldeiras, sempre que se têem construido navios a vapor nos nossos estaleiros, e isto porque todos estão convencidos de que não é possivel fazer-se aqui uma machina de vapor.

Póde talvez dizer-se, e assim prevenirei eu uma objecção de alguns srs. deputados, que se podem mandar fazer as machinas e fazer cá as caldeiras. Mas comprehende-se bem que estes dois corpos são inteiramente solidarios e que ha toda a conveniencia e toda a vantagem em que o fabricante que faz a machina faça tambem a caldeira.

Isto comprehende-se bem, mas ha ainda uma outra rasão, e vem a ser que, se se fizesse lá fóra a machina e aqui a caldeira, de duas uma: ou a caldeira havia de ir fóra para ser combinada com a machina, ou a machina havia de vir aqui para ser combinada com a caldeira, e, indo a caldeira sem que combinasse com a machina, dizia-se lá que era defeito da caldeira, ao passo que, se viesse a machina e não combinasse com a caldeira, dizia-se então cá: é defeito da machina.

Por consequencia o que acho melhor, sempre que se façam negocios d'estes lá fóra, é isto: ou o navio de que se trata vae receber a machina e a respectiva caldeira ao ponto onde se executam aquelles trabalhos, ou a caldeira e a machina vem a Lisboa, acompanhadas de um homem que vem fazer o assentamento, responsabilisando-se pelos trabalhos até que se façam as experiencias, e que o governo se dê por completamente satisfeito das condições em que se apresenta a obra.

Do meu tempo não tenho senão a encommenda que se fez ha muito pouco tempo da machina e caldeira para o navio que achei no estaleiro a construir, de cuja acabamento me occupo, e que deve em breves mezes lançar-se ao mar.

E fiz esta encommenda, pela rasão que acabei de dizer, porque não acredito que uma machina possa ser aqui feita, já não digo no arsenal, mas mesmo nas mais bem montadas officinas particulares que temos, com as condições necessarias na actualidade.

Ainda que a machina se fizesse aqui, em todo o caso ella não podia ser feita com os aperfeiçoamentos e melhoramentos que ultimamente se têem introduzido n'este genero de construcções. As machinas n'estas condições só se fazem lá fóra, como na Inglaterra e na França, paizes industriaes e onde a sciencia e as artes estão sempre á ordem do dia, sendo por consequencia de esperar que ali sejam empregados todos os aperfeiçoamentos e melhoramentos ultimamente descobertos.

Isto não é só em relação ás officinas do estado, é tambem em relação ás officinas particulares, porque lá fóra a maior parte dos navios e machinas é tudo obra das officinas e estaleiros particulares.

O almirantado inglez, por exemplo, manda construir as machinas nas grandes officinas de Inglaterra, e nos estaleiros particulares, manda construir navios couraçados. Não admiraria que nós fizessemos o mesmo; mas ha uma differença, e é que estas obras são assim feitas n'aquelle paiz, porque ali ha os elementos necessarios para isso, e nós não o podemos fazer, porque não creio que os haja aqui. Se os houvesse, estou convencido de que ninguem teria gosto em que deixassem de se fazer essas obras no paiz.

Agora, emquanto á pergunta sobre se fiz a acquisição de um navio ha pouco tempo, devo responder que effectivamente fiz essa acquisição.

Offereceu-se-me um navio do porte de mil e tantas toneladas, da mais moderna construcção, com todas as qualidades necessarias para um navio de guerra armado com quatro peças de 110, creio eu, e com quatro peças de 40, com as munições respectivas, prompto de todos os seus aprestes a fazer viagem, e isto pela quantia de 180:000$000 réis.

Desde logo me pareceu muito vantajosa a offerta, por uma rasão que me parece obvia: é que nós temos absoluta necessidade de navios, e isto não precisa longamente demonstrado, mas é preciso notar sempre o estado da nossa marinha.

A corveta Estephania esta em Inglaterra, mettendo as suas caldeiras; a Bartholomeu Dias só se espera que ella venha para ter o mesmo destino; a Sagres esta n'uma doca, que nem isso nós temos, sendo necessario metter este navio n'uma doca particular onde esta fazendo o fundo e a popa; a Maria Anna, que não espera senão que aquelle saia para entrar; a Duque de Palmella, que estava de estação em Africa, e que passou ao Rio de Janeiro "com destino a Montevideu, tive de a mandar regressar quanto antes a Lisboa, sob pena de ser indispensavel fazer no Brazil grande despeza.

Emfim todos os nossos navios estão n'este gosto; e como póde apparecer de um momento para o outro uma, necessidade instante de mandar ás nossas provincias ultramarinas algum navio por qualquer acontecimento que ali se dê, e não querendo ser arguido de não tomar providencias a tempo, quero estar prevenido para poder, dado o caso de necessidade, mandar para ali força maritima ou terrestre, e não posso fazer isto se não tiver navios (apoiados).

Por consequencia entendi que era indispensavel ter alguns navios, e não ha senão dois meios de os obter, ou fazendo-os aqui, ou mandando-os vir feitos de fóra. Se se fizerem aqui é indispensavel certo tempo, dois ou tres annos, porque nós não temos senão 120:000$000 réis para construcções; com esta verba não se faz um navio, e por consequencia são precisos alguns annos, e no estado em que estão os nossos navios não é possivel esperar, para augmentar o seu numero, pelas construcções feitas assim.

Além d'isto é preciso que a camara note que as construcções no arsenal não deixam de continuar; as carreiras não estão desoccupadas; em uma está-se fazendo um navio, que dentro de tres ou quatro mezes deve ser lançado ao mar; na outra esta uma fragata ha muitos annos, que hoje se esta desmanchando; julgou-se que a conclusão da fragata não era conveniente, e eu assim o entendi tambem; e logo que a carreira esteja desoccupada ha de collocar-se ali outra quilha. Por consequencia não se póde dizer que se não construem navios no arsenal, mas essas construcções não se podem fazer com a celeridade que é preciso.

Offereceram-me pois um navio nas condições que acabo de dizer, de mil e tantas toneladas, armamento o mais moderno, de grande força, e prompto a navegar e a entrar em combate se for preciso; offereceram-m'o pelo preço de réis 180:000$000; e eu vendo a historia dos nossos navios encontro o seguinte (leu), quer dizer, um só de mil toneladas, os outros todos inferiores, custavam todos muito mais de 180:000$000 réis. Por consequencia sob o ponto de vista da força convinha,.convinha pela precisão que temos, convinha pelo preço. Restava examinar se o navio seria bom, se teria todas as condições necessarias a um navio de guerra. „

Além da confiança que me inspirou a respeitabilidade da casa que fez a offerta, que é uma das primeiras de Inglaterra, mandei lá um official dos mais distinctos da armada e folgo de dar aqui este testemunho de consideração ao digno official de marinha José Baptista de Andrade que foi, não especialmente para isto, mas que ía commandando a corveta que ía metter machina, a Estephania, e que foi depois encarregado de examinar bem a corveta que se nos pretendia vender. Depois recebi informações d'este official, declarando que era uma óptima acquisição, porque o navio era muito bem construido, e n'uma palavra convinha a todos os respeitos.

Depois começaram a circular uns rumores, que não sei d'onde chegaram, nem como vieram, de que o navio era pequeno. Effectivamente podia ser maior, mas em logar de custar 180:000$000 réis, podia custar 280:000$000 réis (apoiados). Em fim era um navio accommodado aos nossos meios, ás nossas circumstancias, e proprio mesmo para as commissões que nós possamos ter de mais necessidade para a costa á Africa; com todos os melhoramentos na sua mastreação para mais facilmente manobrar, podendo tripular-se com pouca gente, etc... t

Vieram aquellas noticias que fizeram por ahi uma certa impressão; e eu, que não tinha necessidade alguma de fazer essa compra, disse desde logo vamos a ver isso com mais vagar.

O governo dirigiu-se ao nosso ministro em Londres para que os peritos do almirantado examinassem o navio. Fez-se essa vistoria, e os homens disseram que era excellente. Á vista d'isto não devia hesitar na compra do navio.

Ha outra circumstancia. Quanto ao modo de pagamento obtiveram-se tambem as condições mais vantajosas, de fórma que o havemos de pagar em tres annos. É o que tenho a dizer. Houve a rasão da necessidade, houve a rasão da barateza (Vozes: — Muito bem).

Por todos estes motivos comprei aquelle navio. Com isto não fiz prejuizo algum ao trabalho do arsenal. Uma carreira esta occupada, e a outra ha de occupar-se logo que sáia a fragata. Da minha parte, pelo pouco tempo que hei de cuidar d'estes negocios, nunca deixarei de fazer trabalhar o arsenal (apoiados). Dou a este respeito ao illustre deputado e á camara todas as seguranças de que farei trabalhar o arsenal, porque não tenho disposição alguma para o contrario, nem sei porque (apoiados).

Creio ter assim respondido ás perguntas do illustre deputado.

A primeira pergunta respondi; quanto ao material, não se tem feito nenhum ajuste, nenhum convenio com nenhuma casa constructora, nem em Inglaterra nem em França. Os consules, principalmente o de Nantes, escreveu dizendo que se o estado viesse a precisar de algum navio, de algum objecto de armamento naval, que se podia ali obter com muita vantagem. Fiz o que devia fazer; disse logo, faça favor de mandar para cá a tabella dos preços e detalhes; porque é bom sempre conhecer as cousas (apoiados). Não era com a intenção de mandar fazer qualquer compra; mas em vendo uma grande conveniencia economica do mandar fazer alguma cousa (apoiados), hei de fazer (apoiados). Mas não tenho mandado fazer, nem desejo. Desejo que as circumstancias do paiz sejam taes que dêem logar a fazerem-se cá esses trabalhos. Desejo do coração, como qualquer outro sr. deputado, dar trabalho aos operarios, e dar protecção e desenvolvimento ás industrias que aqui possam ter logar a desenvolver-se e a prosperar (Vozes: — Muito bem).

O sr. Fradesso da Silveira: — A interpellação é muitas vezes manifestação aggressiva e outras vezes, da minha parte quasi sempre, é simples pergunta. Repito agora o que disse quando ha pouco fallei. Ha circumstancias em que os governos devem manifestar claramente as suas idéas. Quando certas noticias se propalam, quando certas apprehensões imperam no espirito publico, é preciso que o governo seja convidado a fazer declarações, que depois o paiz julgará.

Agradeço ao sr. ministro da marinha a franqueza das suas declarações, mas ainda mais agradeço que não tivesse levado tão longe a sua franqueza. No momento em que eu