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paiz onde o correio é diario? Eu fallo n'isto desassombradamente, porque estou persuadido que se os ministros representassem a Sua Magestade que era conveniente innovar o serviço que depende d'elle e dar para despacho mais de um dia por semana, Sua Magestade não oppunha o menor obstaculo a similhante innovação; e se fosse mesmo preciso representarmos com as solemnidades convenientes e praxes requeridas á corôa a necessidade de innovar esta parte do serviço publico em que ella intervinha, a camara tinha meios que não podiam ser taxados de menos proprios, pelos quaes fizesse esta representação. Mas é extremamente absurdo que o parlamento seja diario, que o correio seja diario, e que o despacho do poder executivo seja semanal, isto é absurdo. El-Rei mesmo, que todos nós sabemos que é uma pessoa laboriosa, e mesmo incansavel, ha de espantar-se de como se governa um estado quando os ministros não vão buscar o despacho senão uma vez na semana. Isto é absurdissimo. O despacho tira um dia de trabalho e é escusado que tire dia nenhum, o despacho póde ser á noite, perfeitamente á noite, e é como deve ser.

No mais tudo isto está como v. ex.ª vê e como o sabem todos. Eu requeri ha vinte e cinco dias que me mandassem uns papeis da repartição das obras publicas, mas não vieram, e a situação está tão chã que, permitta-se-me esta phrase, nem cavaco me deram. (Riso.) Tenho vindo aqui umas poucas de vezes para os requerer, e acho sempre o regimento diante de mim, não ha palavra antes da ordem do dia, não ha nada, e os papeis não vem, tendo-os eu pedido ha vinte e cinco dias. Quero interpellar um ministro dizem-me: «Mande a interpellação para a mesa, vae-se communicar, e elle dirá quando estará habilitado para responder»; mas o regimento não diz quando elle se ha de declarar habilitado. Ha aqui interpellações de annos ainda por fazer. (Apoiados.) Eu já desisti das minhas, nem me lembro de mais cousa nenhuma.

Ora, sr. presidente, ha quem diga que os deputados chegando aqui e annunciando-se-lhes que vamos trabalhar em commissões, desertam logo da casa e vão-se embora todos, (olhem que isto é singular!) mas tendo sido avisados na vespera de que na seguinte sessão vamos trabalhar em commissões hão de vir cá, hão de fazer uma caminhada inutil. De maneira que annunciando-me a mim hoje que ámanhã tenho um dia em que escuso de vir ao parlamento, venho cá, mas se m'o annunciarem na occasião mesmo, então fujo. Quero dizer, não ha senão uma tentação, a da diversão, a de gasear!

Eu estou persuadido que se o trabalho das commissões for designado da maneira que eu indico, hão de tirar-se alguns resultados. E supponhamos que se não tiram, como isto é novo, porque não havemos nós de experimentar se este expediente dá ou não melhor resultado? Se não der, mudamos facilmente. Ahi está o artigo do regimento que nós revogâmos, mas que não obliterâmos; torna outra vez a pôr-se em pratica, não custa nada, não é preciso nenhuma operação nem politica, nem chimica, nem mechanica.

Eu, sr. presidente, tenho desencarregado a minha consciencia. Digo que isto do governo interno da camara está pessimo (não tocando nas attribuições de v. ex.ª que estão perfeitamente exercidas segundo as velhas praticas), está o peior que é possivel, e que vem d'aqui grande atrazo na administração do paiz, e parece-me que esta minha proposição remediava um dos inconvenientes.

Se a camara a não quer votar, eu tenho desencarregado a minha consciencia; e a prova da minha lealdade é que não aproveito a palavra para umas poucas de moções que tenho a fazer; mas ámanhã virei á hora para ver se acaso caço a palavra, (Riso.) porque eu ando ha oito dias para caçar a palavra e ainda não pude.

Eu declaro abertamente que é muito mais facil qualquer particular (isto é um facto) ter communicação com qualquer ministro estrangeiro, a não ser, eu sei... do ministerio do sultão ou da China; mas na parte civilisada e chegada a nós da Europa é mais facil do que um membro d'esta casa ter communicação com os ministros, da maneira por que o regimen e o governo parlamentar está estabelecido aqui. Isso não tem duvida nenhuma.

Eu tenho desde 4 e 5 do mez passado umas poucas de interpellações pendentes, e ainda não as pude realisar.

Eu, como ordinariamente é muito difficil saber o estado dos trabalhos parlamentares, porque não ha meio nenhum para o saber, nós não sabemos o que ha de pareceres de commissões, o que ha de trabalhos atrazados, os que o governo requer que se façam, os que se podem preterir, aquelles a que é preciso dar mais attenção, etc., por isso propunha não uma recommendação, não intervenção da parte da camara nos trabalhos da mesa, mas um memorando recordativo do estado dos trabalhos quando fossemos para as commissões.

Pela minha parte, attentas as deliberações da camara e o estado em que isto se acha, declaro-me livre de toda a responsabilidade de reunir a commissão que propuz aqui se constituisse de umas poucas de commissões; estou isento de toda a responsabilidade, porque tenho vindo a camara umas poucas de vezes para reclamar esta reunião e nunca tenho a palavra, e annuncio aqui á camara que se os membros d'essa commissão se quizerem reunir na minha acanhada e mais que modesta casa, têem ali uma cadeira para se sentarem, tinta e papel para escreverem o que se deliberar; de mais do que isto não posso dispor. Aqui é que não póde ser, aqui não se faz absolutamente nada; eu venho aqui porque não estou disposto a renunciar o meu mandato, mas venho sem a menor esperança de ver fazer cousa alguma. Declaro pois aos meus constituintes que a commissão não se reune ou porque se não quer reunir ou porque o parlamento a impede d'isso, e então adeus limpeza da cidade e adeus tudo.

O sr. Pinto de Almeida: — Eu ouvi o que disse o illustre deputado e meu amigo, e declaro-lhe que não voto pela sua proposta, porque entendo que o unico fim que o illustre deputado teve em vista com a sua proposta foi dar um toque, nas commissões, e eu declaro-lhe que me não toca censura alguma, porque não pertenço ás commissões...

O sr. José Estevão: — O illustre deputado faz uma asneira em estar explicando o meu discurso.

O Orador: — Eu em quanto o illustre deputado fallou nunca interrompi o illustre deputado, e devo dizer ao illustre deputado que se eu digo asneiras ha muita outra gente com mais auctoridade do que eu que tem dito muitas mais no parlamento do que eu, e então não é muito que eu diga asneiras quando outros que as não deviam dizer as dizem tambem.

A proposta do illustre deputado não traz outro resultado senão dar logar á proposta que eu vou mandar para a mesa, proposta que tenho feito todos os annos, e todos os annos tem sido rejeitada, e é provavel que agora lenha de o ser tambem; mas é indifferente para mim que seja approvada ou rejeitada. Qual é a minha proposta? A minha proposta é para que se publiquem no Diario do Governo e não no Diario da Camara os nomes dos deputados que estiverem presentes á chamada, os dos que entrarem durante a sessão, e os dos que faltarem á sessão, para que se saiba quem são aquelles que cumprem com os seus deveres e os que os não cumprem.

Eu não deveria fazer só esta proposta mas devia fazer uma outra para que houvesse aqui um bedel, como ha nos Estados Unidos, para tomar as faltas dos deputados que não vem á sessão e ser-lhes descontado o subsidio, porque é este o unico meio de os obrigar a vir á camara, o mais é gastarmos tempo e não conseguirmos nada.

O illustre deputado diz que ha deputados que apparecem aqui por acaso. Devo e posso dizer ao illustre deputado que sou deputado ha seis annos, e talvez não tenha faltado aqui sete vezes; sou assiduo nos trabalhos mais do que o illustre deputado.

O illustre deputado diz que tinha pedido uns papeis ao governo ha vinte e cinco dias, e que o governo ainda lh'os não mandou. Não se admire d'isso o illustre deputado, (nem