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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

não resistiu quando o accusaram de, por aspirações de federalismo, tentar destruir a unidade da França. (Apoiados.)

É possivel que sob tal aspecto a Gironda tenha deixado continuadores nas escolas e academias, mas com toda a certeza que, perante os sentimentos do povo portuguez, essa tradicção, contra a qual protesta, toda a nossa historia, quebrar-se-ia completamente. (Apoiados.)

Fraccionar a nação!? Nunca, seja sob que forma politica for! (Apoiados.)
Quantas vezes, nas noites calmas e serenas do estio, levantando olhos aos céus, vemos surgir na amplidão da aboboda azul um globo luminoso, diverso de todos os outros, brilhando com luz propria e movendo-se isolado e independente; subito, porém, não sei por que evolução cosmica, esse globo attrahido na orbita de um planeta maior, arrebenta, disseminando-se em meteoros que brilham por um instante, mas que depois caem e desapparecem na crosta da terra com que vem a confundir-se. Que resta a final d'essas estrellas cadentes que pareciam ferir no mar?

Aerolithos toscos, informes e grosseiros, perdidos na vastidão do planeta de que passam a constituir moleculas insignificantes!

Assim acontece ás nações que um dia pensaram em se fraccionar. Os estados em que se dividiram podem brilhar um instante, mas esse brilho depois apaga se na vivida luz do astro maior que os attrahiu.

Não quer isto dizer que não desejemos viver bem com a Hespanha, e este parlamento deu as provas mais eloquentes de que é essa a sua vontade. Amigos sempre, unidos nunca! Nunca, sob que fórma politica for. Nunca, nunca e nunca!

(Muitos apoiados.)

Lavro aqui o meu protesto, e creio que todo o paiz me acompanha n'este sentimento. (Apoiados.)

Pois que? Porque a patria ferida, soffre e geme, havemos de dividil-a? Oh! sr. presidente, rasão de mais para lhe querermos, pois que n'essa hora triste sentimos mais juntar-se ao supremo amor a suprema piedade. Mais uma rasão para nos unirmos na patria unida. Sim ! Mais do que a união, é a unidade que faz a força! (Calorosos applausos.)

Unamo-nos, pois, n'este momento nós deputados da nação, e unirmo-nos todos protestando manter firme a unidade da patria! (Muitos apoiados.)

Vozes: - Muito bem.

(S. exa. não reviu as provas n'este discurso.)

O sr. Jacinto Nunes:- A camara comprehende seguramente o melindre da rainha situação. Esta scena evidentemente estava preparada, e eu era inteiramente estranho a ella; quem está habituado a estas luctas da palavra sabe quaes são os discursos improvisados, e quaes os que vêem preparados e bem decorados.
A scena estava bem ensaiada e aquelle telegramma a esse respeito não deixa a menor duvida; mas, quer os discursos sejam, improvisados, ou não, para mim é isso indifferente.

Declaro a v. exa. e á camara, que fui a Badajoz, e que até hoje ainda me não arrependi d'esse acto, que pratiquei.

Ha mais de vinte annos que lido na politica e durante todo esse tempo tenho dado provas mais do que sufficientes de desinteresse e de abnegação; e posso ato dizer que tenho sacrificado a minha vida, o meu socego, a minha familia, tudo quanto tenho de mais caro ao bem do meu paiz!

Eu fui a Badajoz com os meus amigos, e creia a camara que de accordo com os que foram a Badajoz está todo o partido republicano portuguez do norte a sul.
Esses protestos que para ahi appareceram, não toem politicamente, affianço eu, a menor significação, nem o menor valor. Eu fui a Badajoz com os meus amigos, com
o mesmo direito e com os mesmos intuitos com que Sua Magestade El-Rei foi a Madrid em 1892. (Riso)

(Apartes.)

Eu ouvi com respeito e serenidade, e tenho direito a ser ouvido por igual fórma.
Quando os reis se unem e colligam contra os povos, os povos estilo no direito de se unir e colligar contra os reis.

Eu e os meus amigos fomos a Badajoz, repito, com os mesmos direitos e com os mesmos intuitos com que Sua Magestade El-Rei, acompanhado de seus ministros, foi a Madrid.

Assim como o governo portuguez foi entender-se com o governo hespanhol para combaterem o partido republicano em toda a peninsula iberica.. .

Vozes:- Não é exacto, é falso.

O Orador:- Depois veremos, eu responderei.

O sr. Presidente: - Peço ao sr. deputado, que se mantenha dentro da ordem.

O Orador:- Então para que levantaram este debate irritante? Não estava isto prevenido no programma?...

Se não querem ouvir, digam-no francamente. Se a camara não quer que se lhe diga a verdade, tenha a coragem de me impor silencio.

Vozes: - Falle, falle.

O Orador: - Ia eu dizendo que, assim como o governo portuguez foi a Madrid para se concertar com o governo hespanhol acerca dos melhores meios de combater o partido republicano, foram os republicanos a Badajoz entender-se com os seus correligionarios hespanhoes acerca dos melhores meios de combaterem a monarchia na peninsula. Isto foi o que fizeram; e estavam no seu direito.

Com relação a soluções positivas, ao futuro modus vivendi das duas republicas, nem uma palavra se trocou entre uns e outros.

Dou a minha palavra que a tal respeito nada se combinou, nem havia que combinar. E quem é individualista como eu, que chego ato a ter odio, como que pessoal, contra o socialismo do estado, quem é municipalista como eu, até á ferocidade, como é que pode querer a unidade politica em toda a peninsula?

Pois Piy Margall não vos deu uma resposta categórica; não disse elle que queria os estados unidos na Iberia, mas que com uma confederação não estava de accordo, dada a hypolhese de que similhante questão se levantasse, que não se levantou? Pi y Margall diria isso na supposição de que os portuguezes queriam a confederação, que é muito differente da federação, e mais ainda, da união.
Mas, repito, nem uma palavra se trocou em Badajoz a respeito de um tal assumpto.
Contra a monarchia, sim, porque é o nosso dever do bons portuguezes.
Quem ameaça a independencia do paiz não são os republicanos, mas pura e simplesmente os monarchicos, todos os que o têem arruinado com a sua administração dissipadora.

Por cá não se especula; quem faz mal á patria, quem a põe em perigo são os symdicateiros, é a pessima, a ruinosa administração que se tem feito n'este paiz.

Querem assegurar a independência do paiz, pol-o ao abrigo de qualquer invasão, ou protectorado violento, que já têem mais ou menos soffrido? Governem bem.
Pois não foi a França e a Allemanha que se impozeram ao governo para se não fazer a reducção dos dois terços aos juros do emprestimo dos 45:000 contos de réis, a que foi consignado o rendimento dos tabacos? Pois não foram os senhores que, para obterem a protecção da Inglaterra e da Allemanha para a dynastia reinante, lhes têem dado tudo o que aquelles dois estados têem querido das nossas possessões ultramarinas?

Visto que accusam o partido republicano, tenham paciencia, ouçam. Se querem garantir e consolidar a inde-