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SESSÃO DE 9 DE JANEIRO DE 1897 17

ultimo o digno par mencionou, isto é, ao funeral de um antigo representante de Portugal em Buenos Ayres, o sr. Sousa Lobo.

Devo dizer á camara que não me consta que o funeral do sr. Sousa Lobo tivesse sido feito pelo governo argentino. Consta-me apenas que eram apoucadas as suas posses, corno, aliás, acontece a muitos funccionarios publico no nosso paiz; mas absolutamente mais nada.

Se outra cousa constasse ao governo, de certo elle pró curaria honrar o seu paiz, em qualquer parte onde isso fosse necessario.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Presidente: - Tem a palavra o digno par sr. conde de Thomar.

O sr. Conde de Thomar: - Sr. presidente, pedi; palavra para agradecer ao sr. presidente do conselho a claras e categoricas explicações que s. exa. deu, com relação á pergunta que tive a honra de dirigir a s. exa.

Uma vez, porém, que estou com a palavra, aproveito a occasião para chamar a attenção do governo para um assumpto, do qual, aliás, já tencionava tratar.

Todos têem conhecimento da explosão que se deu ultimamente na companhia do gaz, á Boa Vista; mas o que a maior parte da gente desconhece são as causas que deram logar a essa explosão, e a grande responsabilidade que n'esta questão têem os engenheiros e a direcção da companhia.

Posso garantir a v. exa., sr. presidente, e á camara que no tempo da antiga companhia lisbonense de illuminação a gaz já se sabia quanto era perigosa aquella cisterna, e subsequentemente quando se fundiram as duas companhias, o sr. Curvillier, então engenheiro em chefe mais de uma vez foi advertido pelo engenheiro que tiniu a seu cargo a exploração d'aquella fabrica, dos perigos que corria a cidade de Lisboa.

Esse perigo verificou-se com a explosão que se deu agora, e que tinha sido, por assim dizer, prevenido pela intelligencia e cuidado d'aquelle engenheiro. Mais de um vez elle desceu aquella chamada cisterna, por suspeitar que havia fugas de gaz, e que essas fugas poderiam um dia occasionar uma explosão que pozesse em risco, não só a vida de muitos operarios, mas o bairro da Boa Vista e uma parte da cidade de Lisboa.

Aquella cisterna era um antigo gazometro, que foi convertido em deposito de aguas ammoniacaes.

Ora, parece impossivel que se diga uma barbaridade como esta de allegar que um carvão incandescente caíndo n'aquelle deposito tenha provocado a explosão. Todos sabem que nem as aguas ammoniacaes, nem o alcatrão produzem explosão, se no deposito onde ellas estão cáe um carvão incandescente.

Para que se de explosão é preciso haver chamma e uma quantidade de gaz combinada com uma quantidade de ar. Portanto, o facto de ter passado junto da cisterna um carro carregado de carvão, que tinha saído das retortas e que estava ainda em chamma, nunca teria produzido a explosão, se n'essa cisterna não houvesse accumulação de gaz.

Quando, como já disse, á frente da direcção dos trabalhos estava aquelle engenheiro, que está hoje dirigindo uma fabrica em Loanda, muitas vezes lhe ouvi dizer os perigos que havia na conservação d'essa cisterna, em consequencia das fugas de gaz, que se accumulava no deposito; e é por essa accumulação de gaz que passando junto da cisterna um carro com carvão, ainda com chamma, se produziu a citada explosão.

O que é facto é que a explosão deu-se. Houve victimas, e mais poderia ter havido se o gazometro, que está ao lado da cisterna, e que tem uma capacidade de 30:000 metros cubicos, se bem me recordo, tivesse feito explosão. N'esse caso, uma parte da cidade seria a esta hora um monte de ruinas e haveria a deplorar milhares de victimas.

Portanto, eu peço ao governo que preste toda a attenção a este assumpto.

Consta-me que a camara municipal já resolveu syndicar da causa que deu origem a essa explosão.

Ora, o que nós já podemos assegurar antes mesmo de conhecer o resultado do exame aos destroços da explosão, é que a explosão foi devida á inflammação de gaz e nunca ás taes aguas ammoniacaes, como alguns jornaes, de certo mal informados, repetiram.

Está presente um cavalheiro que póde confirmar o que deixo dito.

Dentro da cisterna havia gaz accumulado. Como é que foi lá ter? Evidentemente em consequencia de fugas da canalisação interior da fabrica.

Tendo um engenheiro da companhia dado conhecimento de que existia esse perigo, não se tomaram em tempo as devidas providencias.

Em maio do anno passado houve a primeira explosão, que foi pequena, porque tambem não era grande a quantidade de gaz existente na cisterna. Que providencias se adoptaram então? Nenhumas, absolutamente nenhumas.

Eu bem sei que este negocio pertence á competencia do sr. ministro do reino, que não está presente, mas seria para desejar que s. exa. desenvolvesse toda a sua febril actividade n'estes casos e assim teria evitado esta segunda explosão, que custou a vida de tres operarios e teve outras consequencias que não produziu a grande bomba do anno passado, a qual bomba fez apresentar acto continuo o celebre projecto contra os anarchistas. Essa bomba póde dizer-se que foi de papel, comparada com os destroços que a explosão produziu em vidas e em materiaes.

Disse-se então que Lisboa estava sobre um vulcão, só porque uma bomba tinha feito explosão n'uma escada.

Contra uma explosão mal prevenida, que podia destruir milhares de vidas e grandes valores, só passados dias a camara municipal resolve nomear uma commissão para conhecer das causas do desastre. A policia ficou impassivel e o sr. ministro do reino aguarda provavelmente o relatorio da commissão. Como o caso não é politico, s. exa. não se incommoda.

Peço, portanto, ao sr. presidente do conselho que chame a attenção do seu collega sobre este negocio, que é da mais alta importancia.

Contra mim estou fallando, porque sou accionista da companhia do gaz; mas é melhor tomar providencias do que termos de lamentar uma grande desgraça motivada pelo desleixo dos technicos que dirigem aquella fabrica e ver metade de Lisboa em ruinas.

Este assumpto parece-me da mais alta importancia e sobre elle espero, como já disse, que o sr. presidente do conselho chame a attenção do seu collega o sr. ministro do reino para que tome as providencias que o caso exige, e não nos contentamos com um relatorio sobre as causas do sinistro, que apontei á consideração do governo.

O sr. Antonio de Serpa: - Pedi a palavra, quando o digno par o meu amigo o sr. conde de Lagoaça fallou a respeito do antigo e bem conhecido ministro plenipotenciario portuguez João de Sousa Lobo, que ultimamente falleceu em Buenos Ayres. Eu era amigo d'elle. Ha apenas alguns dias recebi um bilhete de boas festas, que elle sobrescriptára para mim pouco antes da sua morte.

Disse o sr. conde de Lagoaça que o funeral d'aquelle diplomata fôra feito pelo governo de Buenos Ayres. É menos exacta essa affirmação.

O funeral não foi realisado por ordem do governo portuguez, porque o nosso representante n'aquelle paiz tinha vindo para a Europa e ficára a substituil-o o representante de Hespanha, que entendeu que não tinha auctorisação para esse fim. Quem tomou á sua conta fazer o fu-