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6 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

auxilio mutuo, quando possivel, em relação a todos os negocios, nas relações commerciaes, litterarias e outras que apertem os nossos laços de uma amisade fraternal e cordial.

O orador não quer allianças offensivas ou defensivas permanentes; a nossa politica com a Hespanha ha de ser. uma politica de cordialidade e intimidade, desde que não ha a politica de hostilidade; o que não póde existir é esta politica de indifferença, de desconfiança e de amuo.

Creio que é esta a politica que se nos impõe, e isto mesmo já o orador o disse em 1867 com uma certa audacia então que até causou estranheza, mas os actos têem justificado que tinha rasão.

Ha muito a fazer n'este terreno propriamente theorico.

Devemos apertar tanto quanto possivel os laços não só das nossas relações de amisade fraternal e cordial, como tambem os laços das nossas relações commerciaes, litterarias e toda a qualidade de relações.

N'esta parte espera muito do actual governo, porque está gerindo a pasta dos negocios estrangeiros o sr. conde de Valbom, um diplomata experimentado e conhecedor de todos estes assumptos, e a quem dedica uma antiga amisade e consideração.

A politica do orador seria uma politica de cooperação com a Hespanha, não uma alliança offensiva e defensiva, mas uma politica de cooperação, seguida, permanente.

O que é preciso é tirar a nossa politica internacional d'este cahos, d'esta anarchia, d'esta desorientação em que andam os espiritos e desviar as pequenas paixões de momento, as pequenas dissidencias dos homens, pondo tudo de parte quando se trate dos interesses da patria.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

(O orador foi comprimentado por muitos dignos pares.)

(O seu discurso espera para ser publicado integralmente pela revisão do orador.)

O sr. Jeronymo Pimentel: - Sr. presidente, sendo urgente votar-se o projecto que vae discutir-se, peço a v. exa. que se digne consultar a camara sobre se consente que se prorogue a sessão até sé votar esse projecto.

O sr. Presidente: - O digno par sr. Jeronymo Pimentel requer que eu consulte a camara sobre se quer que se prorogue a sessão até se votar o projecto a que s. exa. se referiu.

Os dignos pares que approvam este requerimento tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho)- Sr. presidente, a despeito das phrases benévolas com que o digno par o sr. conde do Casal Ribeiro me honrou, e que representam a amisade com que s. exa. me favorece ha bastante tempo, tendo de pedir a palavra para responder a uma quasi provocação amavel do digno par, eu hesitava, apesar de não ser dos mais timidos, porque não me sentia com força para tomar a palavra depois de fallar n'esta casa do parlamento um homem, que, quer na politica, quer na litteratura, quer na diplomacia, quer nas finanças, tem conquistado um alto logar e que póde ser um mestre de nós todos, sendo eu muito de longe um discipulo de s. exa.; embora eu conhecesse o dever de agradecer a s. exa. por parte do governo, ainda assim eu não faria uso da palavra se não fosse a interrogação directa que o digno par fez ao governo de que tenho a honra de fazer parte.

O digno par, inspirado pelo seu alto talento, pela grande pratica dos negocios e pelo profundo conhecimento das cousas publicas, disse que preferia um mau plano a plano nenhum, a vogar ao acaso e que o plano adoptado devia ser sempre seguido, permanente.

Sr. presidente, ha quatro annos discutiu-se em conselho de ministros o orçamento do ultramar; pediam-me 2:000 contos de réis, respondi ao sr. ministro da marinha que me assustavam 2:000 contos de réis e que em vez de dois daria quatro se fossem precisos; o que me assustava porém, era a falta de um plano de administração colonial. 4:000 contos de réis podiam ser pouco em emprezas sensatas e perfeitamente seguidas, mas 2:000 contos de réis malbaratados n'uma pessima administração eram demasiamente pesados.

Sr. presidente, estas idéas que vejo agora eram boas, porque são as do digno par, infelizmente naufragaram n'aquella occasião e não sei se por mais vezes, perante uma cousa que é peior e mais grave que a brandura dos nossos costumes, que é a fraqueza dos nossos governos.

Quando se faz referencia a qualquer acto do governo que deu bons resultados n'uma pasta qualquer, não se diz; foi porque o governo procedeu com acerto e com tino, mas sim, foi o acaso.

Ora, o acaso existe muito pouco, assim como a brandura dos nossos costumes de que nós nos sabemos esquecer quando queremos, e que só se inventou para desculpar a fraqueza dos governos.

Sr. presidente, é chegado o momento de acabar com essa fraqueza, porque, parece-me estar provado pelos factos dolorosissimos para todos nós que o maior perigo do paiz, é não a falta de recursos, não a falta de intelligencias, de vontades, mas a convicção que todos os governos têem de que hão de fatalmente ser fracos.

Mal parece effectivamente que isto seja dito por quem pertence ao proprio governo, mas isto tudo concorrerá, sr. presidente, para me emendar a mim proprio, ou aconselhar a emenda a outros, ou para nos convencermos todos a pouco e pouco, de que está demonstrado que a tolerancia e a liberdade não são a fraqueza nem a benevolencia.

E dito sómente isto porque não quero abusar da attenção da camara, creio que effectivamente o digno par teve agora como sempre rasão em tudo quanto disse com respeito á questão colonial.

Quem nunca foi á Africa, não sabe o estado em que aquillo se encontra e difficilmente o advinhará.

Eu, porém que lá fui, e que pude observar alguma cousa, sai de lá dolorosamente impressionado por ver que regiões tão ricas, paizes tão formosos e que possuem tantos recursos agricolas, commerciaes e mineiros, estão jazendo ao abandono, justamente por não se ter querido entender n'este paiz que para termos colonias é preciso termos um plano colonial certo e efficaz. Na costa oriental temos na nossa mão todos os caminhos de penetração para o interior, e esses poderiamos exploral-os sem grande sacrificio para o paiz e pelo contrario com grande resultado, uma vez que soubéssemos aproveital-os.

Mas o defeito que o digno par encontra nos governos, encontra-se infelizmente em todas as categorias da hierarchia administrativa.

Governo que entra entende que ha de fazer o contrario do seu antecessor; governador de provincia, ou mesmo de districto entende tambem que só póde illustrar o seu nome destruindo tudo quanto encontrou já feito.

Por isso queira Deus que a voz auctorisada do digno par comsiga convencer a todos de que, embora as colonias portuguezas não se possam considerar como um elemento essencial da nossa autonomia, hão de ser todavia um elemento importantissimo do nosso valor,, quando, pondo-se de parte os acasos e os vae-vens da politica, tenhamos conseguido formular um plano seguro e permanente.

A politica colonial ou internacional da Inglaterra não varia segundo estejam no poder os tories ou os whigs. Imitemol-a n'isso.

E o que digo da Administração colonial, posso dizel-o da questão das allianças.

As allianças não se fazem hoje como d'antes se faziam, segundo as tradições, por sentimentalismo, mas pela harmonia da interesses,