O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

278 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

graçada em que se encontra o porto de Lisboa. Não se alongará acêrca d'este ponto, porque sobre elle tem uma interpellação annunciada; dirá tão somente que, depois de se gastarem sommas importantes, milhares de contos, para se ter o nosso porto em condições acceitaveis, o vemos n'um estado vergonhoso.

E fundamentalmente contra o estrangeirismo, e ainda contra o estrangeirismo affirmado pelo Ministerio da Marinha, mantendo no Arsenal um professor estrangeiro, que só poderia conservar-se se tratasse de habilitar portuguezes á sua successão technica.

Como n'aquelle momento vê entrar na sala o Digno Par Jacinto Candido recapitula quanto disse.

Começou as suas considerações por se conformar com as affirmações do Digno Par, ao reconhecer que elle, orador, procedera correctamente dirigindo-se a S. Exa. quando ausente.

O Sr. Jacinto Candido: - Apoiado.

O Orador: - Era incapaz - sabe-o S. Exa. muito bem - de usar de outros processos. Dirigindo-se ao Digno Par, ou dirigindo se a qualquer membro da Camara, a todos, presentes ou ausentes, a sua orientação é amoldar os seus actos e as suas palavras pelas regras da boa cortezia e dos sãos principios da boa educação.

Disse, e repete, que é contra o estrangeirismo manifestado em não se habilitarem missões religiosas portuguezas para irem advogar o nosso dominio e a nossa acção nacional nas colonias. É contra o estrangeirismo affirmado pelo porto de Lisboa, que chegou ao estado que todos conhecem, e parece-lhe que o erro praticado ainda se aggrava mais com o projecto da formação de uma companhia para explorar o mesmo porto, projecto que já tem combatido e ha de continuar a combater até r que desappareça semelhante ideia. É ainda contra o estrangeirismo, quando se occupa do Arsenal da Marinha e vê que elle tem sido dirigido por um technico estrangeiro que não tem feito escola, e, portanto não póde cumprir integralmente a missão que lhe foi incumbida, principalmente n'um paiz que necessita de ter marinha.

N'este ponto está de accordo com o Digno Par, Sr. Jacinto Candido. S. Exa. fez muito bem em defender os seus actos, mas já não se trata de actos...

O Sr. Jacinto Candido: - Trata-se de justiça.

O Orador: - Exactamente, de justiça.

S Exa. ha de permittir-lhe que com o seu fraco engenho fundamente as proposições que avança.

Que é que disse?

Em primeiro logar reclama contra o argumento do Digno Par de que investira contra o engenheiro Croneau.

Não investia nem investe contra pessoa alguma. O que fez foi pedir contas ao Governo com respeito a um funccionario cuja missão no Arsenal da Marinha devia estar concluida ha muito, depois da experiencia feita. E não venha allegar-se o exemplo do que se passa no estrangeiro.

Se o Japão teve um engenheiro francez á testa dos seus arsenaes, mandou tambem que nacionaes estudassem e se aperfeiçoassem nos estaleiros de outros paizes, e logo que aquelle engenheiro satisfez o fim para que fora chamado, dispensou-lhe os seus serviços.

Não se oppõe a que se estudem no estrangeiro os melhores methodos, agora ao que não pode associar é a reconhecer uma necessidade que não satisfaz em ponto algum. O principio fundamental é que nós nos devemos habilitar para essas construcções e não recorrer ao estrangeirismo.

O Sr. Jacinto Candido: - Com esses principios está de perfeito accordo.

Mas quaes são os meios para os realizar?

Nomeou um engenheiro francez e mandou officiaes, mestres, machinistas, estudar no estrangeiro.

Pois foi censurado por ter assim procedido, quando geria a pasta da, marinha.

O Orador: - E o orador dirá que foi uma medida com a qual se conforma.

O que é preciso assentar, e isto fundamentalmente, é que não se insurge contra o estrangeirismo do que convenha adoptar-se no paiz; o seu desejo é que os nacionaes de cá se habilitem devidamente de modo a poderem exercer .esses cargos (Apoiados), e quando o Digno Par o interrompe dizendo que mandou officiaes, mestres, machinistas, estudar no estrangeiro, accrescentará que S. Exa. prestou um bom serviço. Quando o Digno Par diz que mandou vir de fora um engenheiro para o Arsenal, a fim de dirigir os trabalhos technicos, tambem o não condemna; mas depois de quatro ou cinco annos de experiencia, pergunta: quem ê que está habilitado para a successão? Ha porventura alguem nos casos de poder sahir da rotina que encontroa aqui o engenheiro dirigente? Não lhe consta, porque, segundo as informações que tem, e que deseja sejam contestadas com documentos, o Arsenal não é escola, não satisfaz ás necessidades da nossa marinha de guerra.

Disse o Digno Par Sr. Jacinto Candido que fora o proprio engenheiro quem propuzera o alargamento do Arsenal e a sua mudança até para o outro lado do Tejo.

Está de accordo com isso, mas dada a sua orientação, o que elle, orador, faria com os recursos que temos para poder supprir as necessidades do paiz como nação colonial era restringir quanto possivel todos os serviços do nosso Arsenal recorrendo aos arsenaes estrangeiros e especialmente á Inglaterra, com quem estamos em tão boas relações, e fazendo no nosso Arsenal apenas os serviços de reparos emquanto não tivéssemos um á altura de merecer esse nome, segundo as exigencias modernas e com pessoal portuguez habilitado.

Mandaria estudar no estrangeiro o pessoal technico e faria que elle acompanhasse as construcções que o Governo encommendasse lá fora, evitando assim as construcções no nosso Arsenal, cuja condemnação technica nunca fez nem faz.

Parece que seria esta a norma a seguir emquanto não temos arsenal á altura do que deve ser.

Repete: deviamos restringir as nossas construcções, recorrer ao estrangeiro e designadamente á Inglaterra, preparando devidamente o futuro com officiaes, engenheiros, machinistas e toda a mestrança que tem de intervir n'uma construcção seria.

Deviamos fazer como o Japão, assim o entende, e por isso pede que se não prorogue o contrato com o engenheiro estrangeiro que está no Arsenal, e que não tem podido melhorar o serviço, dando-lhe a orientação que deve ter.

Ainda ha bem pouco tempo foi necessario fazer-se uma reparação de certa importancia no couraçado Vasco da Gama. Foi aqui feita? Não foi. Porque?

O Sr. Jacinto Candido: - Porque?

O Orador: - Porque? Não sabe. O que sabe é que se teve de recorrer para isso a um arsenal estrangeiro.

O Digno Par tratou muito bem o assumpto sob o ponto de vista technico. estudou-o e fez á Camara uma lucidissima exposição.

Ainda bem; mas não disse que o engenheiro Croneau tenha feito escola e preparado a sua successão.

O Sr. Jacinto Candido: - Perdoe-lhe o Digno Par Sr. Baracho uma interrupção...

Conhece, reconhece e presta inteira justiça ás boas intenções de S. Exa., procura sempre prestar serviços ao seu paiz e insiste em exigir uma adminis-