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SESSÃO DE 18 DE JANEIRO DE 1889 43

nebrosos, apesar das minhas declarações tão explicitas! Direi mais: o meu amigo o sr. Manuel Vaz, porque s. ex. é meu verdadeiro amigo e ha muitos annos, e tanto que me dirigiu palavras de louvor, embora immerecido, que eu muito lhe agradeço, não correspondeu bem á franqueza das minhas primeiras declarações. Quando é certo que eu poderia ter empregado um meio muito usado e assim eximir-me a mais explicações. Poderia ter dito que o estado precario da minha saude não me permittíra continuar no desempenho das obrigações do meu cargo.

Mas não o fiz, porque não era a verdade, e, com a maxima franqueza, disse que houvera divergencia em assumptos de administração entre mim e o sr. ministro da fazenda, e com isto se deveria contentar o sr. Vaz Preto.

O sr. Vaz Preto (interrompendo): - Mas o governo podia ir mais longe.

O Orador (continuando): - Peço perdão; o governo nada mais podia adiantar.

Eu, sr. presidente, cada vez que penso nisto, mais singular me parece esta questão! Que se importa a camara com as rabões de divergencia entre mim e o sr. ministro da fazenda? Que podem interessar á camara as advertencias de s. exa. ácerca do serviço; porque, por exemplo, no Porto trabalhavam apenas quatro horas por dia, ao passo que nas fabricas de Lisboa se faziam serões; porque o rendimento de um mez, no mez de outubro, fôra inferior ao anterior?

O certo é que eu entendia as cousas por uma certa fórma, e o sr. ministro pensava de um modo contrario. Estas divergencias, porém, não perturbaram as relações que nos ligavam, e a prova está em que, ao mesmo tempo que eu por um lado pedia a minha exoneração, o sr. ministro escrevia-me cartas insistindo pela minha conservação, cartas que eu guardo e que estão postas a bom recado, porque lhes dou valor; cartas que encerram phrases realmente muito agradaveis e honrosas para mim.

Sr. presidente, levantar-se toda esta discussão a proposito de um officio em que o sr. Alfredo Mendes da Silva pede a sua exoneração de vogal supplente do conselho de administração dos tabacos, é o que se me afigura extemporaneo, salvo-o devido respeito que mo merecem as opiniões do digno par.

Que a camara discuta as rasões allegadas pelo sr. Alfredo Mendes da Silva, e que as julgue inacceitaveis, perfeitamente de accordo, e, tão de accordo, que fui eu o proprio que aconselhei a camara a que não concedesse a exoneração pedida, visto que ella se baseava em um motivo de pura deferencia para commigo; mas que a proposito d'esse pedido se estabeleça toda esta discussão é o que, repito, se me afigura inopportuno. Tendo o sr. Ulrich allegado que o excessivo trabalho da sua casa commercial o impedia de exercer e accumular o cargo de vogal do conselho da administração da régie, a camara não podia deixar de acceitar a solicitada escusa, visto que eram attendiveis as rasões que a justificavam, e póde recusar a que é pedida pelo sr. Alfredo Mendes da Silva, desde que este cavalheiro só invoca um acto de deferencia pessoal; mas quererem, a proposito d'este simples pedido, imaginar cousas extraordinarias, que não existem, é o que se me afigura, torno ainda a repetir, senão impertinente, pelo menos pouco louvavel.

Já tive occasião de declarar que estou prompto a dar á camara todas as explicações que se relacionem com os actos da administração que esteve a meu cargo, e, se isto é assim, porque é que s. exas. não aguardam essas explicações, ou para quando venha ao debate a questão de fazenda, ou para quando tenhamos de apreciar a resposta ao discurso da corôa?

(Interrupção do sr. marquez de Vallada que se não ouviu.)

Peço perdão, mas virá muito a proposito, porque é um assumpto importante, porque se trata de um dos principaes rendimentos que o estado recebe. Aguardem, pois, os dignos pares essa occasião, que eu então darei, com toda a lisura e com toda a franqueza, explicações cabaes ácerca dos actos que pratiquei como administrador geral dos tabacos, e muito claramente e com toda a hombridade direi quaes foram os pontos em que divergi das opiniões do sr. ministro da fazenda.

Fiquem s. exas. certos de que não pretendo fugir á discussão, e agora, parecendo-me ter dito a este respeito o sufficiente, aproveito a presença do sr. presidente do conselho para agradecer as phrases amaveis e honrosas que s. exa. pronunciou a meu favor na ultima sessão. S. exa. honra-me com a sua amisade, e eu não quero deixar passar esta occasião sem lhe patentear o meu sincero reconhecimento.

Sr. presidente, já que estou fallando sobre a questão dos tabacos, permitta-me a camara que eu faça ainda algumas observações, que não deixam de ter relação com a minha saida do conselho de administração dos tabacos.

Eu não tive grandes dissabores quando larguei o logar; pelo contrario, o modo realmente benevolo com que foi apreciada pelo publico e pelos meus amigos a minha saída d'aquella administração foi para mim summamente lisonjeiro; mas deu-se no entanto um facto que me maguou bastante, e relativamente ao qual eu desejo dar alguns esclarecimentos á camara.

Houve quem suppozesse, e mesmo os jornaes o publicaram, que a minha saida da administração era motivada por factos que se estavam dando, e que me levavam a não acreditar nos bons resultados do novo systema que se tratava de implantar. Ora eu devo declarar á camara que, se houve motivos para eu largar a presidencia do conselho de administração, não foi esse com certeza.

Eu estava, como estou ainda, persuadido de que o resultado já obtido no primeiro semestre era muito promettedor, e que, chegando-se ao fim do anno, poderiamos obter uma receita verdadeiramente consideravel. E foi isto exactamente que fez com que eu sentisse, já que tinha tido o trabalho de concorrer para a organisação, de todos aquelles serviços, ter de largar essa commissão. Foi sómente isso que me custou.

Peço licença á camara para lhe dar alguns esclarecimentos, que julgo de valor, e que foram obtidos antes da minha saida. E dou-os porque a verdade é que tinha corrido uma lenda que a régie não podia dar bons resultados. Qualquer incidente que havia, qualquer reclamação dos operarios, qualquer queixume dos compradores, attribuia-se logo ao mau exito da régie; mas, sr. presidente, os factos provam exactamente o contrario.

Não seria para admirar que os resultados não fossem inteiramente satisfactorios no primeiro anno ou mesmo nos dois primeiros annos, mas pelo que se obtevo durante os seis mezes decorridos devemos acreditar n'esses resultados.

O que eu vou referir consta da escripturação da administração geral dos tabacos e das contas do thesouro.

As sommas entregues no ministerio da fazenda, provenientes do rendimento d'aquella administração, durante os primeiros seis mezes, foram na importancia de 1 .715:000^000 réis. Eu poderei mesmo ir um pouco mais longe e direi que foram 1.800:000$000 réis, porque houve uns cheques entrados no ministerio da fazenda no primeiro ou, nos primeiros dias de dezembro, pela quantia de 85:000$000 réis, e portanto no mez de dezembro, para que a escripturação da administração esteja de accordo com a escripturação d'aquelle ministerio, mas que representam efectivamente receita do mez de novembro.

Temos, pois, de rendimento para o thesouro, durante seis mezes, 1.800:000$000 réis, a que corresponde- réis 3.600:000$000 por anno.

Ora a- esta quantia temos ainda a juntar, tomando tambem por bases o rendimento do primeiro semestre, mais 100:000$000 réis, producto do imposto que paga o tabaco