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•Sessão de 12 de Janeiro de 1926

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Por todas as formas, por todos os processos, nós temos sempre procurado ave-TÍgiiar se existe qualquer sombra de tentativa de escravatura, desde que a proibimos.

Com calor e com energia devo dizer quo «empre me repugnou quo se possa afirmar que nós, portugueses, arrastamos as nossas decisões neste sentido atrás de todos.

Nós vamos sempre na vanguarda quando se trata de cumprir o nosso dever.

Os nossos recursos são poucos, mas prezamos o nosso bom nome e a dignidade do país, como ninguém.

Permitam-me V. Ex.as que eu leia uma outra notícia do Times do dia 5.

Leu.

Eu tenho que dizer que o modo como lidamos com os indígenas é bem conhecido.

Em 1900, há vinte anos, sendo eu governador geral de Moçambique, foi a colónia visitada pelo irmão do Rei de Inglaterra, o Duque de Connaught, que levava ^im estado maior grande.

Eu tive nessa ocasião ensejo de reunir 17:000 indígenas do distrito de Lourenço Marques, de tribus até ali antagónicas, •que nunca se reuniam sem se lançarem uns aos outros, diante do Duque de Connaught que disse:

— «Isto só portugueses o podiam fazer» .

Nós não tínhamos ali senão quarenta homens de cavalaria e um pequeno pelotão de infantaria.

Justamente nessa altura estavam os ingleses a braços com uma revolta dos in-«lígenas no Natal.

Só a maneira como nós tratamos os pretos nos permitiu uma cousa daquelas.

A propósito vou contar a V. Ex.as um facto passado comigo, uma anedota por assim dizer, pedindo que me perdoem de J.hes tomar tempo com ela.

;Eu encontrei uma vez, depois de uma «campanha em que tomou parte um irmão -do Sr; Ministro das Colónias, um pretito -ferido num pé, sem pai nem mãe, e que -devia ter uns sete ou oito anos.

Trouxe-o para Lisboa e foi tratado em minha casa como pessoa de família.

O pequeno era muito esperto e inteligente e queria aprender alguma cousa. - :Por isso foi para as Oficinas de S. José,

no Porto, dirigidas então por D. Sebastião de Vasconcelos,

Começou a estudar, adoeceu e entisi-cou.

Eu tinha ido para o ultramar e D. Sebastião de Vasconcelos escreveu a minha mulher dizendo-lhe que o pequeno pedia para vir morrer a casa e que não podendo ver o padrinho queria ver ao menos a madrinha.

Veio pára casa, minha mulher serviu--Ihe de enfermeira, mas algum tempo depois morreu.

Quando o foram vestir encontraram-lhe um retraio meu metido entre a camisa e o peito.

Já V. Ex.as vêem como o indígena reconhece a forma como o tratam.

Ainda há poucos meses um amigo meu me trouxe da Zambézia cartas de pretos que me escreviam, preguntando como estava e quando lá voltava.

Sr. Presidente: muitas vezes o general Machado foi para a residência do governador em Quelimane, quando eu exercia o cargo, assistir ao modo como eu tratava os indígenas nas questões chamadas ca-freais que se apresentavam e que eu resolvia.

Se era o preto que tinha roubado, era ele o castigado; mas se era o branco quem roubava, era este quem recebia o castigo e entregue à polícia ou ao Poder Judicial.

Fazia-se justiça a todos, e por isso ainda hoje por lá há muitos pretos que se chamam João Coutinho.

O Sr. Augusto de Vasconcelos:—Pedi a palavra para explicações, quando o Sr. Ministro das Colónias estava expondo ao Senado em resposta ao Sr. Azevedo Coutinho, o que o Governo tinha_resolvido a respeito das questões a que S. Ex.a se referiu.