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8 | I Série - Número: 098 | 2 de Julho de 2009

Ora, pelo contrário, os tempos mais difíceis são os que aí vêm. Se o Governo ou o PSD tivessem noção da responsabilidade e conhecessem o País, talvez fossem obrigados a atentar às dificuldades da economia. A receita fiscal caiu 25% até Maio: vêm aí mais impostos, ou nova subida do IVA, ou mais cortes na saúde e segurança social. O PIB caiu 3,7% no primeiro trimestre deste ano, e vai ser pior. As exportações caíram 21%, e vai ser pior. О rendimento nacional teve a maior quebra em 10 anos, e vai continuar a cair. Entretanto, a economia vai sendo estrangulada pelos spreads bancários. Quanto mais desce o juro internacional, mais depressa cresce a prepotência de bancos, que sobem as taxas de juro contra as pessoas e as empresas. Nestes meses de 2009, multiplicou-se por três a margem de lucro dos bancos. Milhões de portugueses são reféns de bancos, que lhes impõem juros abusivos para compensar o que perderam na especulação. O Governo «não mexe uma palha» para limitar a espoliação pelos bancos.
O inventário desta crise é claro neste gráfico que vos quero mostrar, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados. Como se vê, o investimento público diminui ao longo dos anos do Governo Sócrates, e, ainda agora, continua medíocre. O investimento privado desvanece-se: menos 20% em 2009, e está a descer. Em consequência, o desemprego continua a subir para números nunca vistos. O desemprego é a maior tragédia social, e continua a aumentar, ultrapassando, em termos reais, os 11%, já neste momento. Se se pode ter uma certeza, é a de que, infelizmente, ainda vai aumentar em 2009 e 2010.
Esse é o problema da economia. O desemprego, agora, atinge todos: licenciados ou precários, velhos ou novos, homens ou mulheres. Meio milhão, mais todos quantos já não se inscrevem nos centros de emprego. É para essas pessoas que a política económica tem que encontrar uma solução, ou então fracassou.
O Governo tomou medidas, é certo. Prometeu muito. Anunciou pacotes sucessivos. Aprovou um Orçamento rectificativo e, suspeitamos, há-de propor outro. Tomou um par de medidas relevantes, sublinhamo-lo, como no abono de família ou nas obras nas escolas, mas, verificando as outras medidas que deveriam ser uma resposta coerente, constatamos que ou não foram aplicadas ou foram aplicadas e falharam nos seus objectivos.
Em Julho do ano passado, propôs um pacote anti-crise. A grande medida era antecipar o pagamento especial por conta para 15 de Dezembro. Voltou atrás em pouco tempo, e o que foi aprovado foi desaprovado.
Em Novembro, foi aprovado o Orçamento. O Governo garantia, então, para 2009, um crescimento de 0,8% e uma taxa de desemprego inferior à de 2007.
Em Janeiro, chegou à Assembleia um novo Orçamento, que prometia um Programa Qualificação-Emprego para 20 000 trabalhadores. O desemprego subiu entretanto para 80 000 pessoas.
Prometia, ainda, o financiamento de painéis solares, encomendas logo entregues a duas únicas empresas e com a peripécia e a novela que se lhe seguiram.
Em Fevereiro, prometeu crédito às exportações agrícolas. Tem quatro candidaturas aprovadas. As outras estão à espera.
Em Março, prometeu reduzir as rendas dos desempregados em 50%. Três meses depois, os bancos aceitam impressos, mas ainda não sabem dizer quando decidem.
Em Abril, prometeu mais 175 milhões de euros para reestruturações de empresas. Estão à espera.
Em Maio, prometeu bolsas de estudo — mas só para Setembro» E prometeu crçditos ás exportaçöes — para um dia, que se há-de ver» Em Junho, prometeu descontos para os estudantes nos passes sociais — mas só para Setembro» Mas os portugueses sabem que há, pelo menos, uma matéria em que podem confiar no seu Governo. Se nada mais restar, fica esta certeza: se houver um banco a precisar de dinheiro dos contribuintes, a generosidade do Governo está garantida. Que importa que Jardim Gonçalves tenha levado 38 milhões de euros no bolso no dia em que saiu do BCP? Não acontece nada. Que importa que a sua administração seja acusada de falsificar as contas para inflacionar os seu próprios prémios, que um accionista afirma terem chegado a centenas de milhões de euros? Dentro de alguns anos saberemos. Que importa que os accionistas do BPN ou do BPP não respondam pelos calotes que deixaram aos seus clientes? O Governo paga.
O Governo paga, e paga generosamente. A lei que permitia a garantia pública a novos empréstimos para financiar a banca foi a lei aprovada mais rapidamente em Portugal, em todo o século XX e já neste século XXI.
As portas do cofre abriram-se imediatamente e só no BPN o banco público gastou mais de 2500 milhões de euros.