I SÉRIE — NÚMERO 80
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renasce quando baixamos a guarda; perigo são as troicas que espreitam atrás de cada Programa de
Estabilidade.
Aplausos do BE.
Servem para nos lembrar que ainda não vencemos, que ainda temos quem se ache nosso dono, que ainda
não somos livres.
A espera é a derrota e o confronto com as imposições europeias, que é o mais difícil, ainda é o que está por
fazer.
A propaganda de que todos os protestos são populistas acabará por servir à absolvição de forças odiosas.
A alternativa aos projetos reacionários não é a moderação do situacionismo, com a sua defesa empenhada do
sistema que salva bancos mas que condena gerações a pagar as dívidas e os défices de uma velha elite,
demasiado poderosa e não raras vezes corrupta.
O maior erro é continuar a sacrificar a democracia aos lucros dos mercados financeiros e negar direitos e
liberdades, em nome de uma segurança que nunca se cumpre, só oprime.
A alternativa é a audácia de quem não se resigna, de quem questiona, de quem não tem medo de existir.
O medo e a esperança não só não se confundem, como se confrontam. E não há destino para quem fica a
meio do caminho, a atrapalhar o futuro, na estreita escolha do mal menor, imagem desbotada de democracia.
É por isso que não podemos baixar a guarda na defesa de uma democracia completa, radical, económica,
social, soberana, que reclame para si a livre decisão sobre o que é de todos, do trabalho aos bens comuns.
Abril, para não ser vazio, tem de ter conteúdo, tem de ser esperança.
No Bloco de Esquerda batemo-nos por este projeto de esperança. Por escolhermos a solidariedade em vez
da exclusão, por escolhermos a humanidade em vez da guerra, por defendermos investir no que é nosso em
vez de cumprir as regras do absurdo monetário, por defendermos que tem de haver aqui um futuro tão luminoso
como foi Abril. Dirão que sonhamos. A melhor resposta foi dada por um homem que sabia exatamente o que
existe entre a guerra e a paz e que hoje também homenageamos: «Sonhamos? Não sonhamos nada, somos
mesmo os únicos realistas deste filme.» — Miguel Portas.
Aplausos do BE.
Abril foi a melhor promessa que, ao libertar-se do passado, Portugal fez ao seu futuro. O futuro é hoje e nós
não pusemos o barco ao mar para ficar pelo caminho. Lutemos por ele. Como disse Natália Correia: «O cais é
a urgência, o embarque é agora».
Viva o 25 de Abril!
Aplausos do BE, do PS, do PCP, de Os Verdes e do PAN.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Em representação do Grupo Parlamentar do PS, tem a
palavra o Sr. Deputado Alberto Martins.
O Sr. Alberto Martins (PS): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro, Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Sr. Presidente do Tribunal Constitucional, Sr.
Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, Sr. Presidente do Tribunal de Contas, Srs. Antigos Presidentes
da República, Srs. Ministros, Sr.as e Srs. Convidados, Sr.as e Srs. Deputados: Celebramos hoje, aqui, o dia da
liberdade e da democracia, a data mais importante da história contemporânea de Portugal.
Ao celebrar o dia 25 de Abril de 1974 evoco a imagem de um jovem oficial do Exército à frente de um tanque,
envolvido pela multidão, a percorrer, a partir do Chiado, todas as ruas de um país.
A emoção de uma rendição anunciada esteve no rosto, no risco, nas indecisões, decerto no medo, mas na
imensa coragem desse militar. Salgueiro Maia foi, então, o mensageiro da liberdade e, nesse momento, o rosto
e a esperança de um povo. O Exército português dos Capitães de Abril, que ele simbolizou, afirmou a sua
legitimidade revolucionária quando o povo o acolheu nas ruas, no ato de rendição da ditadura.