O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE — NÚMERO 32

78

consciente e medicamente assistida, por considerar que o princípio constitucional da inviolabilidade da vida

humana tem valor superior ao princípio da autodeterminação individual.

Considero também que não foi, até ao momento, promovido amplo e esclarecedor debate e que a apressada

decisão sobre matéria de tamanha importância não tem respaldo na maioria dos programas eleitorais

submetidos a sufrágio.

O Deputado do PSD, Paulo Leitão.

——

1. No escrupuloso respeito pelos seus valores, em matérias de consciência, o Partido Social Democrata

optou por dar liberdade de voto a todos os seus Deputados. Esta é, sem margem para dúvidas, uma decisão

que depende das mais íntimas convicções pessoais. Nenhum partido é dono ou senhor da consciência de

ninguém e a liberdade de voto outorgada a cada um dos Deputados do PSD reafirma solenemente este princípio.

2. O meu sentido de voto esteve dependente tão só da ponderada reflexão das propostas apresentadas,

sobretudo no que respeita aos limites e às garantias dadas. Acresce que este tema — despenalização da morte

assistida em circunstâncias excecionais — merece, desde há muito, a minha atenção, pelo amplo e participado

debate, não apenas na Assembleia da República mas igualmente na sociedade civil, através dos partidos

políticos ou de militantes seus, associações, comunidades religiosas, órgãos de comunicação social e de um

sem número de iniciativas individuais ou comunitárias. Não é assim verdade que seja por desconhecimento e

falta de discussão profunda do tema, em todas as suas vertentes, que estaria ainda hoje sem condições de fazer

escolhas sérias. E muito menos o seria fruto de pressões e tentativas constantes de condicionamento, por vezes

despudoradas e quase insuportáveis.

3. Nenhuma das propostas cuida de se servir da lei para promover uma ideologia ou uma crença, assim

como fica claro que não se pretende que o Estado se substitua à consciência individual, transferindo para a

autoridade pública a responsabilidade que recai sobre cada um pelo seu próprio destino e pelo sentido que dá

à sua própria vida. Considerando que os direitos não terminam às portas da morte, o que se demandou a cada

Deputado foi que assumisse por inteiro a sua responsabilidade de decidir, com tolerância, sobre a liberdade de

todos.

4. As propostas que se me apresentaram visam excecionar da criminalização situações em que se acha um

ser humano — como são os casos mais cruéis e desapiedados de intolerável sofrimento de quem padeça de

doença irremediável e fatal — que, apesar de lúcido, se vê impossibilitado de recorrer à compaixão do próximo

para se libertar da tragédia em que vive, numa situação de sofrimento atroz, num quadro em que a doença

coloque em causa a sua dignidade e sem que exista possibilidade de cura. Assim, do que aqui se trata não é

do direito a morrer mas da disposição pessoal do direito à vida com dignidade. Nenhum de nós dispõe da vida

de ninguém, porque do que aqui se trata é de permitir que cada um de nós, no exercício pleno da nossa

liberdade, o possa fazer única e exclusivamente relativamente a si próprio. É o próprio titular do direito à vida

que dispõe do mesmo.

5. A intervenção, em todas as fases do processo, de profissionais pluridisciplinares e idóneos que compõem

a Comissão de Verificação é também uma das garantias-travão de que esta não será nunca uma decisão

condicionada por qualquer outro fator que não seja a livre, reiterada, consciente e autónoma vontade do próprio

doente.

Este foi, porventura, o angustiante desafio que cada um de nós hoje teve diante de si. E a minha resposta,

traduzida em voto esclarecido a favor, foi a do respeito por todos, na compreensão pela decisão de cada um.

Usei assim dos meus direitos e cumpro com os meus deveres, não passando a outros as minhas

responsabilidades nem tendo necessidade de apelar à coragem para fazer tão só o que a minha consciência

ditou.

Palácio de São Bento, 20 de fevereiro de 2020.

O Deputado do PSD, António Maló de Abreu.

——

Páginas Relacionadas
Página 0003:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 3 O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs.
Pág.Página 3
Página 0004:
I SÉRIE — NÚMERO 32 4 vontade de antecipar a morte cumprida ou se rec
Pág.Página 4
Página 0005:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 5 destruiu de, muitas maneiras, o reduto mínimo do respeito
Pág.Página 5
Página 0006:
I SÉRIE — NÚMERO 32 6 A sessão de hoje é o culminar de um debate que
Pág.Página 6
Página 0007:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 7 de rigorosos critérios clínicos indissociáveis. Porque vi
Pág.Página 7
Página 0008:
I SÉRIE — NÚMERO 32 8 permaneceu: permaneceu uma perseguição penal de
Pág.Página 8
Página 0009:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 9 O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
Pág.Página 9
Página 0010:
I SÉRIE — NÚMERO 32 10 Diz-nos o bom senso que só desta forma é possí
Pág.Página 10
Página 0011:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 11 Mas queremos também deixar claro que esta proposta em na
Pág.Página 11
Página 0012:
I SÉRIE — NÚMERO 32 12 garantindo a partilha de responsabilidades e d
Pág.Página 12
Página 0013:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 13 O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para apresentar o Pro
Pág.Página 13
Página 0014:
I SÉRIE — NÚMERO 32 14 legislativa sobre a vida e a morte das pessoas
Pág.Página 14
Página 0015:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 15 O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Essa é uma contradição a qu
Pág.Página 15
Página 0016:
I SÉRIE — NÚMERO 32 16 O Sr. André Silva (PAN): — Sobre este tema, o
Pág.Página 16
Página 0017:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 17 O Sr. António Filipe (PCP): — … pela nossa própri
Pág.Página 17
Página 0018:
I SÉRIE — NÚMERO 32 18 Em Portugal, ainda há muito a fazer na oferta
Pág.Página 18
Página 0019:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 19 com todo o respeito pelas convicções de cada um, não dev
Pág.Página 19
Página 0020:
I SÉRIE — NÚMERO 32 20 A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente
Pág.Página 20
Página 0021:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 21 Já em 2018 afirmou que, «sendo a eutanásia matéria do fo
Pág.Página 21
Página 0022:
I SÉRIE — NÚMERO 32 22 Mais: trata-se de um debate que não estava ins
Pág.Página 22
Página 0023:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 23 Por outro lado, é chocante admitir a eutanásia num País
Pág.Página 23
Página 0024:
I SÉRIE — NÚMERO 32 24 O Sr. Presidente: — Mais algum grupo pa
Pág.Página 24
Página 0025:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 25 debate parlamentar que aqui decorre, porque penso que fa
Pág.Página 25
Página 0026:
I SÉRIE — NÚMERO 32 26 disponíveis para sofrer, se for necessário, po
Pág.Página 26
Página 0027:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 27 não foi suficientemente demonstrado. Sr. Deputado Moisés
Pág.Página 27
Página 0028:
I SÉRIE — NÚMERO 32 28 O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr
Pág.Página 28
Página 0029:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 29 Mas a vida humana não é só biologia e nem toda a técnica
Pág.Página 29
Página 0030:
I SÉRIE — NÚMERO 32 30 Votarei favoravelmente qualquer iniciativa pel
Pág.Página 30
Página 0031:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 31 Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Foi por vontade
Pág.Página 31
Página 0032:
I SÉRIE — NÚMERO 32 32 O que vos prometemos, no PSD, é o respeito por
Pág.Página 32
Página 0033:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 33 apreciação que só o próprio consegue avaliar corretament
Pág.Página 33
Página 0034:
I SÉRIE — NÚMERO 32 34 Estado não só não deve obrigar a pessoa a cont
Pág.Página 34
Página 0035:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 35 A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Sr.as e S
Pág.Página 35
Página 0036:
I SÉRIE — NÚMERO 32 36 Como é expectável e revelador da pluralidade d
Pág.Página 36
Página 0037:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 37 dos médicos era a favor, 32% não concordavam e 17% não t
Pág.Página 37
Página 0038:
I SÉRIE — NÚMERO 32 38 mas também com a escolha fundamental sobre a n
Pág.Página 38
Página 0039:
21 DE FEVEREIRO DE 2020 39 O segundo ensinamento é o de que, se assim é, então nós
Pág.Página 39
Página 0040:
I SÉRIE — NÚMERO 32 40 Por isso, para terminar a minha intervenção, v
Pág.Página 40