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II SÉRIE-A — NÚMERO 2

Santa Maria do Castelo é uma igreja de três naves com capela-mor rectangular, de um tipo usual no Centro do País. As três naves estão repartidas em cinco tramos por colunas de 0,4 cm de diâmetro, cujas bases fóram substituidas no começo do século vxi. Os capitéis t os arcos devem ser ainda os primitivos. As primeiras e últimas pernadas dos arcos dos topos apoiam-se em represas. As arestas do primeiro arco são chanfradas; as restantes, vivas. Os capitéis mostram decoração de folhagem e fitas entrelaçadas, da transição (do românico para o gótico), semelhante à empregada na porta lateral do templo.

Interiormente, na parede da esquerda, abrem-se quatro portas seguidas. A primeira dá para a quadra baixa e acanhada do baptisterio; a segunda para a Capela do Santíssimo; a terceira, no gosto primitivo, hoje mascarado por um altar, abre para uma capelinha modificada no sé-culo xvi; a quarta, finalmente, é a travessa, já mencionada. A Capela do Santíssimo notabiliza-se pela grade de ferro que a resguarda, bom trabalho de serralharia da tradição do século xvi, e pelos azulejos de grotescos (anjos, aves, frutos em azul, verde e amarelo) que lhe forram as paredes, os quais podem atribuir-se ao primeiro terço do século xvii.

Da direita, a porta é cortada pelas portas de uma capela e várias sacristias.

Possui um púlpito, de talha setecentista, que uma esbelta figura de arcanjo sustenta sobre a cabeça e braços. Trata-se de um púlpito em forma de cálix, cuja caixa é sustentada espectacularmente por um anjo joanino semelhante aos serafins que guardam os altares-mores das igrejas do Norte. Na caixa, a talha finíssima combina os frisos verticais do estilo joanino com grandes folhas de acanto ao redor do velho motivo do menino com um fénix de mísulas de certos retábulos de estilo nacional. Nos panos fingidos de lambrequim da orla inferior observam--se ecos dos púlpitos maravilhosos do Norte.

3.4 —Convento de Santo António (fundado em 1524 por D. Violante Henriques) e Capela das Onze Mil Virgens. — Foi Vergílio Correia quem primeiramente nos revelou a existência e a importância da Capela das Onze Mil Virgens e da Capela-Relicário de D. Pedro de Mascarenhas, em Alcácer do Sal.

A Capela das Onze Mil Virgens foi erguida e integrada no interior da igreja do Convento Franciscano de Santo António, de Alcácer do Sal. O Convento foi fundado em 1524, no reinado de D. João III, por D. Violante Henriques, viúva de D. Fernando de Mascarenhas, capitão dos Ginetes de El-Rei D. João II e alcaide-mor de Alcácer, pais de D. Pedro de Mascarenhas, que, mais tarde, fundou e .ergueu a Capela das Onze Mil Virgens.

A partir das várias pedras tumulares e de outros documentos epigráficos existentes na Igreja e Capela, constata-se que a Capela foi mandada erguer por D. Pedro Mascarenhas, a qual, aquando da sua morte, na índia, em 23 de Junho de 1556, ainda não estava completamente pronta, tendo sido a sua segunda mulher quem terminou a obra (em 1565 as obras ainda continuavam. Terão sido as obras do Convento de Santo António e as de conclusão da Capela das Onze Mil Virgens e do pórtico ou alpendre, com seu andar superior que, a poente, antecede a entrada da igreja, que foram realizadas por ordem da segunda mulher de D. Pedro, D. Helena Mascarenhas). Também neles se dá conhecimento que D. Pedro trouxe expressamente para a sua Capela, destinada a seu jazigo, as valiosas e santas relíquias que conseguiu reunir nas suas viagens.

Além disso, fica precisamente afirmado que o fundador da Capela das Onze Mil Virgens é aquele célebre embaixador de D. João ITJ, D. Pedro Mascarenhas, que, em Roma, defendeu os interesses de Portugal e que, mais tarde, foi vice-rei da índia. Alcácer do Sal pode orgulhar-se de possuir um dos mais importantes monumentos da arquitectura da Renascença em Portugal.

Em virtude das suas boas relações com Miguel Ângelo em Roma, onde igualmente conviveu estreitamente com Francisco de Holanda, ali enviado por D. João UI para ver e estudar arquitectura, a par de razões de afinidades técnicas da arquitectura da Capela, somos levados a crer que D. Pedro Mascarenhas encarregou Francisco de Holanda de fazer a traça da sua Capela, bem ao modo de Itália. Nestas circunstâncias, é quase com inteira certeza que damos a Francisco de Holanda a autoria da traça.

Existe uma escultura do Cristo crucificado na parede de fundo do relicário, colocando Jorge Segurado a hipótese de a cabeça deste crucifixo ser um auto-retrato de Holanda.

A capela-mor da Igreja é azulejada com painéis setecentistas, azuis e brancos, alusivos à vida de Santo António.

3.5 — Santuário do Senhor dos Mártires (inicialmente uma ermida de romagem, foi mais tarde capela da Ordem de Santiago, para albergar os restos mortais dos mestres daquela Ordem). — Fora da urbe fica o santuário, antigamente denominado de Senhor dos Mártires. Constitui um conjunto de construções iniciadas no século xiu, na altura da reconquista, engrandecidas no século xiv e transformadas desde o século xvi em diante.

A igreja propriamente dita compõe-se de um corpo rectangular prolongado para nascente por uma capela-mor igualmente rectangular e para poente por um alpendre Quadrado, sobre o qual se estabeleceu o coro, por meados do século xvi. Das capelas anexas, existentes do lado direito, resta somente uma, por acaso o elemento que guarda carácter mais antiquado. As capelas mencionadas, como portadas da banda do Evangelho, conservam-se quase integralmente. No santuário central nada relembra a antiga construção. A capela-mor foi modificada no século xvm e enriquecida então com uma tribuna de madeira, qvit Vea. obliterar o primitivo altar-mor, que, entre 1513 e J514, fora forrado de azulejos.

No lugar onde se levanta a torre esteve antigamente, segundo as visitações de 1513 e 1560, a capela instituída e fundada por Marfim Gomes de Leitão.

Ainda do lado direito da igreja se encontra, nitidamente separada do corpo central, uma capela que pode talvez identificar-se com a «do tesouro», mencionada na visitação de D. Jorge.

Como um pequeno santuário independente, a capelinha da direita compõe-se de um corpo e de uma capela-mor, ambas abobadadas, a primeira sobre duas nervuras em diagonal e a segunda em berço quebrado. Um arco de cruzeiro, de duas frentes e com arestas chanfradas, assenta em colunas de capitéis lavrados de folhagens de pouco relevo, do tipo gótico primário. De uma banda e de outra abrem-se na parede arcosolias de arcos igualmente aguçados e biselados, sobre um dos quais aparecem restos do aparato de uma sepultura. Do lado esquerdo do corpo existiu em tempos uma comunicação para a igreja de que se vêem duas arcadas; do lado direito cava-se o vão de uma janela entaipada. Exteriormente, a cimalha assenta, tanto no corpo como na capela-mor, em modilhões desordenados mas característicos dos séculos xn e xiii.

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