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16 DE DEZEMBRO DE 2016 31

Há que promover hábitos de consumo responsáveis e saudáveis e combater a carência alimentar. Mas é

também necessário promover uma abordagem sistémica e mais alargada das questões alimentares, por forma

a resolver estes problemas de forma integrada.

De acordo com dados da FAO, de 2013, a quantidade de alimentos desperdiçados anualmente é de 1,3 mil

milhões de toneladas. Este desperdício não só causa grandes perdas económicas, como também tem impacto

significativo nos recursos naturais dos quais a humanidade depende para se alimentar.

Cerca de um terço da produção é desperdiçada ou perdida. Contudo, este valor não é uniforme nas diversas

regiões do mundo, quer em valor absoluto quer em valor relativo do volume global. Nas regiões do mundo onde

se localizam as agriculturas mais pobres e onde a pobreza é maior, as perdas e desperdícios são muito maiores

em valor relativo do que na Europa e América do Norte.

Também em Portugal se vive a duas velocidades. Regiões e explorações ricas e produtivas competitivas no

mercado internacional vivem a par de regiões de pequenas e micro explorações, onde os agricultores

sobrevivem a muito custo. Gente rica que pode produzir desperdícios - e produz muito! - vive a par de gente

pobre e muito pobre, em pequenas explorações que acumulam perdas, por não chegarem ao mercado.

No nosso país, 72,36% das explorações agrícolas são muito pequenas e 15,76% são pequenas, o que dá

um total de 88,12% de explorações agrícolas classificadas como pequenas e muito pequenas. São,

fundamentalmente, explorações de agricultura familiar, territorial, multicultural e multifuncional.

De resto, uma parte das explorações não chega sequer a ter visibilidade estatística, pois não atingem as

dimensões mínimas para serem oficialmente recenseadas como “explorações agrícolas”. Esta invisibilidade

reflete-se nos discursos, nos indicadores e nas políticas públicas que ignoram a relação permanente de uma

parte significativa da população com a agricultura e com o mercado.

A agricultura local é mais ampla do que evidencia a informação estatística: para além da sua relevância

económica, contribui para a ocupação de muitas pessoas e acentua a ligação de muitas famílias ao território

onde têm raízes, embora, frequentemente, já aí não residam.

As transformações que foram ocorrendo nos territórios rurais a partir do êxodo dos anos sessenta traduziram-

se, fundamentalmente, na retração da agricultura e na influência do modo de vida urbano, da indústria e dos

serviços no mundo rural.

Neste universo de pequenas e muito pequenas explorações que ocupa a grande maioria do território rural há

produção agrícola que não consegue escoar os seus produtos.

Estão ainda por quantificar os produtos, muitas vezes de enorme qualidade, que se perdem, ou se destinam

à alimentação animal na própria exploração, por não existir rede de comercialização adaptada a estas

explorações.

Começam a existir algumas iniciativas para ultrapassar estes estrangulamentos, por parte de alguns

municípios e de algumas associações de desenvolvimento local e cooperativas. São disso exemplo o projeto

PROVE e a “Fruta Feia”. Mas são ainda muito frágeis.

É urgente uma aposta forte nos circuitos curtos de comercialização de produtos agrícolas e dar preferência

a produtos locais no abastecimento de cantinas públicas. Nesse sentido, é necessário criar ou encontrar

estruturas de concentração da oferta. E é necessário incentivar a transformação de produtos na exploração

agrícola e venda direta.

A par disto, é urgente regular a relação entre as grandes cadeias distribuidoras e a produção, de forma a

promover a justa repartição das mais-valias ao longo da cadeia e garantir prazos de pagamento curtos, justos

para os produtores, frequentemente garantia da sua sobrevivência.

Urge também criar medidas de apoio ao investimento na pequena agricultura familiar. No PDR 2020 não há

uma única medida adaptada a este tipo de explorações. Mesmo a medida destinada às cadeias curtas e

mercados locais não é dirigida aos produtores, como acontece noutros países da Europa.

É preciso um novo sistema alimentar baseado num “modelo territorial integrado”, enraizado nas

características de cada território, em sinergia com a conservação da natureza; um sistema alimentar valorizador

dos recursos específicos do local e das relações de proximidade; um sistema promotor de distâncias curtas

entre produção e consumo e de dietas baseadas em produtos frescos.

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