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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de ser quando lhes conviesse! Não querem a prevenção, querem só a repressão; mas lá em uma occasião em que a prevenção lhes conviesse, então o governo era altamente criminoso porque a não tinha empregado! (Riso.)

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos: — Isso é verdade e é habil (apoiados).

O Orador: — Muito obrigado.

Acreditem os nobres deputados, se o quizerem acreditar, mas eu estou persuadido de que me hão de fazer esta justiça, eu não conheço o Trovão da Beira. Disse-se aqui que era um jornal que atacava todas as auctoridades de Arganil ou de Coimbra; não sei; affirmo que o ignoro completamente. E não se admirem. Pois se eu declarei já á camara que nem sempre tinha tempo para ter todos os jornaes, como esperam os nobres deputados que eu possa ter aquelle jornal, que de mais a mais para mim já estava debaixo do peso da accusação de que era um jornal feito unicamente para atacar um cavalheiro que, a fallar a verdade, apesar do respeito que o sr. visconde de Moreira de Rey queria que eu tivesse para com elle em relação á camaradagem de 1868, não se tem portado commigo na camara por maneira tal, que eu devesse considerar s. ex.ª n'uma posição muito favoravel a meu respeito (apoiados).

Por consequencia, desde o momento em que eu sei que o Trovão da Beira é um jornal que ataca s. ex.ª, para que me hei de dar ao incommodo de ter esse jornal que ataca um meu adversario politico? Não tenho essa curiosidade, sr. presidente, nem prazer algum n'isso. Sou portanto moralmente innocente nas arguições, nas queixas feitas pelo Trovão da Beira (se foram feitas) contra o illustre deputado por Aveiro.

Mas, quando mesmo eu tivesse conhecimento d'essas accusações, e quando essas accusações fossem tão asperas como o illustre deputado disse, entendia que s. ex.ª tinha o meio de as repellir.. S. ex.ª fundou tambem aqui na capital um jornal, a respeito do qual talvez muita gente diga que é tão violento como o Trovão da Beira. Pois não podia s. ex.ª com armas iguaes bater-se com o Trovão da Beira no seu jornal? (Apoiados.)

Eu nunca ajustei contas com s. ex.ª pela fundação d'esse jornal, nem perguntei ao illustre deputado com que dinheiro o sustentava, e então com que direito havia eu de perguntar ao administrador do concelho de Arganil com que dinheiro estava sustentando o Trovão da Beira? (Apoiados.)

Sr. presidente, se o fizesse, isso revelava da minha parte um espirito de espionagem tão mesquinho, tão contrario ás minhas tendencias liberaes, que, digam os illustres deputados o que quizerem, eu francamente lhes asseguro que não podia aviltar-me a esse ponto. (Vozes: — Muito bem.) E entretanto note v. ex.ª, que é sobre esta circumstancia que se architectou precisamente a premeditação de que me accusam. De maneira que parece que se eu tivesse demittido immediatamente o administrador do concelho de Arganil, porque tinha fundado um jornal, esse jornal acabava. Não sei, talvez não acabasse, talvez ficasse peior ainda, se é possivel (apoiados — riso).

Com relação ao administrador do concelho de Arganil, direi que houve um tempo, e não vae longe, em que o sr. Dias Ferreira tinha a respeito d'elle opiniões diversas das que tem hoje, porque lhe offereceu um logar de commissão que elle não quiz aceitar (apoiados).

Esse homem (note se bem que eu quanto mais envelheço tanto mais sympathias tenho pela gente moça), esse homem é um moço formado ha poucos annos na universidade de Coimbra, começou a sua carreira com as melhores informações no ministerio da justiça, foi nomeado juiz ordinario de um julgado, cargo que não aceitou, e dos papeis que n'aquella repartição existem, e que lhes são relativos, consta que ha as melhores informações a respeito da sua probidade e a respeito dos seus costumes. Hoje está demittido, terá de responder perante o poder competente pelas accusações que se lhe fizeram aqui, e por consequencia não direi mais nada a respeito d'elle (apoiados).

Mas compunge-me o coração ver tratar assim um homem moço, que começa agora a sua carreira publica, quando vejo que aquelles que o accusaram, ha onze annos atacaram tambem aqui violentamente homens, de quem hoje se prezam de ser amigos! (Apoiados.)

Eu, sr. presidente, nunca havia de ser amigo de um malvado que acompanhou assassinos para irem matar um homem. Sobretudo, quando eu tivesse vindo declara-lo no seio do parlamento, havia de começar por dar uma satisfação plena e completa a esse homem, havia de proceder para com elle, no seio do parlamento, como fez o sr. Garrett com relação a mim, n'um caso que aliás não tem comparação nenhuma com este. O sr. Garrett julgou que me tinha offendido n'esta camara, e na outra casa, onde elle tinha assento, pediu-me publicamente perdão. Era assim que eu havia de fazer; não havia de declarar que prezava a amisade d'esse homem sem começar por lhe pedir no parlamento perdão da injuria atrocissima que lhe tinha feito, considerando-o associado com malfeitores para commetter um assassinato (apoiados).

O sr. Dias Ferreira: — Isso é inexacto, porque eu não disse tal.

O Orador: — Vejamos o que diz o Diario da camara. «O outro substituto é o sr. José Joaquim Jorge, de Arganil...»

Eu não pedirei as notas tachygraphicas d'esse discurso, (riso), contento-me com a publicação feita sem reclamação do illustre deputado. «Como dizia o outro substituto, que é o sr. José Joaquim Jorge, de Arganil...»

O sr. Dias Ferreira: — Aquelle administrador não era José Joaquim Jorge. Por isso é que s. ex.ª tem estado a laborar em equivoco desde o principio.

O Orador: — Então ha dois José Joaquim Jorge? A auctoridade administrativa que teve ordem para ir proceder á prisão do ferreiro, o homem de quem aqui se falla chamava-se José Joaquim Jorge, e o primeiro substituto hoje do juiz de direito de Arganil chama-se José Joaquim Jorge.

Vozes: — É o mesmo homem.

O Orador: — Pois então aquelle José Joaquim Jorge não é hoje o primeiro substituto do juiz de direito de Arganil? O illustre deputado sabe muito bem que eu tenho muitos meios de verificar se é ou não.

O sr. Dias Ferreira: — José Joaquim Jorge é o substituto do juiz de direito; mas o administrador do concelho que, acompanhado dos malfeitores, concorreu para o assassinato do ferreiro nem se chamava José Joaquim Jorge, nem era de Arganil.

O Orador: — Eu estimo a interrupção do illustre deputado. O discurso não está claro a este respeito. O homem não conduziu os malfeitores, mas deu fiança aos cumplices (apoiados). Ora, era melhor guardar estas accusações para os tribunaes, e não vir apresenta-las na camara. Muito bem, elle não conduziu os assassinos, mas merecia tal confiança ao illustre deputado, que s. ex.ª, continuando, disse o seguinte n'este discurso desgraçado, em que se deprimiu tanta gente conhecida...

«Este co-réu é o sr. Francisco Augusto, de Covas, é o sr. ministro da justiça tem um meio prompto de obter a prova d'este facto, pedindo ao seu delegado em Arganil uma certidão do despacho que concedeu a fiança, que ha de estar assignado por aquelle substituto, e confrontando-a com o officio do juiz de direito em que elle faz a proposta d'este substituto, o qual deve existir na secretaria da justiça ou na presidencia da relação do Porto. Ora, um juiz que concede fiança a um co-réu de João Brandão, terá muita duvida era a conceder a este (apoiados), que está nas mesmas, senão em mais favoraveis circumstancias?»

São estes factos, que me auctorisam a crer que talvez venha um dia em que o sr. deputado por Aveiro faça aqui o elogio do ex-administrador do concelho, que hoje tão vio-

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