O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

437

Sessão de 26 de fevereiro de 1877

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sada geria o hospital, administração seria, zelosa e de ião sãos escrupulos que o unico dos administradores que, antes de nomeado, devia uma pequena somma ao hospital não quiz tomar posse do seu cargo, sem a solver primeiro.

Não bastava porém ao sr. administrador do concelho, Godinho, que se tivessem reforçado hypothecas, capitalisado juros atrasados e de difficil e duvidosa cobrança, regularisado a escripturação e introduzido outros melhoramentos, que melhoravam extraordinariamente os recursos do hospital de Penamacor.

Queria, ou antes queriam os que governam á sombra d'elle, que esses rendimentos melhorados fossem empregados, não em alivio e tratamento de maior numero de doentes pobres, mas na creação de sinccuras destinadas a attrahir para a politica do sr. administrador do concelho algumas influencias locaes, que venderiam as consciencias por esse preço.

Falla-se em Penamacor em projectos de uma botica e de capellanias ad hoc no hospital, e eu a este respeito espero poder dar ao sr. ministro do reino apontamentos curiosos. Queria-se mais que os dinheiros do hospital fossem de preferencia e com poucas garantias mutuados a amigos e parciaes do sr. Godinho. Ora, como os dignos administradores do hospital se não prestavam a estas maniversias, tornava-se necessario demitlil-os. Mas para isto era mister um pretexto. Afinal appareceu.

A administração do hospital emprestara a um pobre homem, que se chamava Manuel Victorino, a pequena quantia de 30$000 réis, e emprestou-a sem hypotheca. Porém, se este homem não dava. hypotheca, tinha uma caução que valia mais, tinha a fiança de um dos primeiros proprietarios do concelho. Mas aqui de El-Rei porque o homem recebeu aquella quantia sem hypotheca; aqui de El-Rei contra a administração que empresta tão levianamente o dinheiro dos pobres! Immediatamente se communicou o attentado ao governador civil de Castello Branco e. este expede logo ordem para que a commissão seja demittida!

Ora é querer abusar muito, é querer á força especular com as cousas mais santas, com as quaes ninguem póde nem deve especular, afastar de um logar onde a aprasimento e contento de todos estão homens dignos, homens honrados, homens zelosos, para simplesmente com um pretexto bem desgraçado e infeliz os substituir por outros, que logo mostrarei a V. ex.ª quanto valem.

E que pretexto, e não rasão, unicamente houve para os demittir, é evidente; porque desde que eu lembre que o fiador substituo, com todos os seus bens, para todos os effeitos, o principal pagador quando elle não paga, o desde que, indique que o fiador de que se. trata é um dos mais ricos e. abastados proprietarios de Penamacor; parece-me ter dito o sufficiente para mostrar que um valor de 30$000 réis que tinha por hypotheca, não dezenas de contos, mas centenas, estava perfeitamente garantido.

Desejariam todos os administradores de corporações, que fazem emprestimos em nome d’ellas, fazel-os sempre em bases tão solidas.

O pretexto era optimo e de uma cajadada matavam-se dois coelhos. Punham-se fóra uns homens, que não se prestavam a ser instrumentos de. veniagas e de corrupções, que não se. dobravam a ir mercadejar consciencias com o dinheiro destinado ao alivio de necessitados e ao remedio de infelizes; e ao mesmo tempo desfeiteava se ou antes imaginava-se desfeitear o sr. visconde de Proença, fidalgo distinctissimo e, dos maiores brios, cuja opposição ao actual governo tira a este toda a força em Penamacor.

O sr. visconde de Proença não se incommoda com isso, e toda a gente se riu quando a suprema auctoridade do districto, sobre proposta do administrador do concelho, decediu que um homem com tão grande fortuna e tão honrado não podia responder por uma divida, de 30>000 réis.

Agora, o sr. ministro do reino, logo que souber quem são os homens que foram substituir os demittidos, põe as mãos na cabeça. Não póde deixar de ser.

V. ex.ª, sr. ministro do reino, sabe perfeitamente que o homem que deve a uma corporação qualquer não póde, sem haver saldado as suas contas, administrar os bens d'essa corporação, porque o facto de de ser devedor é já uma suspeição, pelo menos no campo externo. Não era pois airoso, nem legal, irem-se buscar homens em condições taes, para organisar a nova administração.

Parece incrivel, mas foi o que se fez, como eu vou provar á camara com a leitura de um jornal, que traz os nomes dos maiores devedores ao hospital de Penamacor, hoje constituidos em administradores d'elle. (Leu.)

Este guardei-o para o fim, chamando sobre elle a attenção de V. ex.ª, sr. ministro, e chamando-a muito seriamente, porque este sr. Vicente José Godinho, que deve mais do que qualquer outro, e deve ou deveu os juros dos annos de 1873, 1874 e 1875, é pae do administrador do conselho!

De modo que o administrador pega, de um homem que é seu pae, e que por dois motivos devia ser afastado d'aquelle logar, primeiro porque, os laços de sangue que, a elle o ligam o levarão para as suas tendencias politicas, segundo porque deve, ao hospital; pega desse homem, repito, e é este um dos que vão substituir os homens integerrimos que geriam o hospital de Penamacor!

O sr. ministro do reino na sua consciencia apreciará se se póde considerar bom o administrado]- do concelho que em actos tão serios como este procedo d'esta fórma para fazer politica,— se politica se póde chamam isto — que, colloca á frente da direcção d'aquelle estabelecimento pio quem nada, póde realisar de util, porque não tem força moral para, isso, em logar de individuos que faziam exclusivamente, boa e santa administração, e nada mais!

Mas não é só com o exposto que eu posso e devo accusar o sr. administrador. Ampliando mais o facto, deduzo d'elle mais argumentos para que s. ex.ª possa avaliar qual é a sua Índole!

Sabe V. ex.ª, sr. presidente, o que fizera em tempo o sr. administrador de concelho, Godinho? Indicara ao sr. visconde de Proença a conveniencia d'elle ser fiador da pessoa que, admittida a devedor do hospital, foi causada antiga commissão ser dissolvida. E sabe V. ex.ª o que tambem era o sr. Godinho, quando assim procedia? Era igualmente administrador do hospital. De modo que o sr. administrador de Penamacor, quando era administrador do hospital de Penamacor, pedia ao sr. visconde de Proença que fizesse a esmola a um desgraçado de. lhe emprestar a sua firma para sobre ella lhe serem confiados 30$000 réis; e é este homem que pede, este favor, é, este homem que como administrador d’esse. hospital declara, depois que a divida estava muito bem garantida, que por ultimo, qual Sansãosinho de aldeia, não duvida fazer desabar o edificio que o encerra e e aos collegas, e sepultar-se nas suas ruinas para que todos morram. E verdade que, morrendo como administrador do hospital, renascia como administrador do concelho!

Mas não é só da auctoridade administrativa de Penamacor que me quero occupar. Queria-mo occupar tambem de outra; que é o sr. administrador do concelho de Proença a Nova. Este, segundo informações fidedignas o segundo aquillo que tenho lido nos jornaes, tem praticado proezas ainda muito mais importantes, porque, se as primeiras jogam com os interesses de uma localidade, as d'este jogam não só com interesses locaes, mas alem d'isso com os interesses constitucionaes, que constituem a. base da organisação politica que nos rege. (Apoiados.)

V. ex.ª sabe perfeitamente que não ha nada mais importante na. vida constitucional dos povos que o facto do