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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

á causa da classe académica uma larga discussão a esse respeito. (Apoiados).

Declaro mais uma vez, e não me canso de o repetir que o Governo ha de, a seu tempo, dar contas inteiras absolutas do seu procedimento. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem).

O Sr. João Pinto dos Santos: - Este Governo tem theorias novas e cada vez menos liberaes.

Até aqui segregava-se da discussão tudo quando dizia respeito ás questões diplomáticas, agora não apresentam á discussão e não querem discussão sobre todas as questões que se referem á ordem publica. (Apoiados).

Ora como foi em nome da ordem que foram sacrificado, Christo e Socrates, agora o Governo quer praticar toda as tropelias para vir depois aqui dizer que se apresente para dar conta dos seus actos, mas como as contas não passam de palavras e como a responsabilidade ministeria dos homens publicos não vale nada, deixa-se o Governe fazer tudo quanto quer e depois apresenta aqui o estenda do que fez sem proveito para ninguem.

Não quero tomar muito tempo á Camara, porque o Governo não quer que se generalize o debate e está ainda inscrito para falar o illustre Deputado Sr. Antonio José de Almeida.

O principal acto do Governo é a portaria publicada pelo Governo, suspendendo as aulas na Universidade, porque havia uma certa excitação.

Entendo que era inconveniente que os estudantes estivessem na Universidade, que se reunissem, dando largas aos seus impetos.

Mas suspenderem-se os trabalhos na Universidade, até que se formem os processos, não ha razão nenhuma, nem é justificavel. Isto é próprio só dos selvagens. (Apoiados).

Impedir o funccionamento de uma corporação scientifica qualquer, até que se formem os processos dos que delinquiram, representa um acto de intolerancia.

Então se os processos durassem quinze, vinte dias, um anno, não ha de a Universidade abrir-se, até que se appliquem os correctivos ás pessoas que o merecerem, ou áquellas que devam ser castigadas?

Não se comprehende um apparelho de justiça assim, em que seja preciso envolver tudo nas trevas do silencio. (Apoiados).

A medida do Governo abrange toda a Universidade no castigo e constitue uma ameaça a todos os estudantes de perderem os annos, e ás familias um prejuizo. (Apoiados).

Portanto, ou o Governo tem força para manter a ordem, ou vae-se embora, porque a ordem não se mantém assim. (Apoiados).

Então se a população de Lisboa não se mantivesse com ordem, o Governo mandava emigrar toda a gente da capital?

Se os estudantes de Coimbra não cumpriam os seus deveres e, em vez de zelar os seus interesses, preferissem praticar actos incorrectos, corrigissem-se, como se corrigem as outras pessoas, mas não era preciso mandar fechar a Universidade.

Mandar fechar a Universidade por esse motivo, é uma leviandade.

É querer intimidar todos os pães dos alumnos. (Apoiados).

Eu sou um homem de ordem, mas sou tambem um homem de progresso.

Quero a ordem, a ordem do Governo, que é para elle poder, em nome da ordem, praticar tudo que contribua para se manter o respeito a todos.

Já veem que não venho excitar a mocidade academica para que ella desrespeite os lentes, ou pratique quaesquer actos menos correctos.

Orgulho-me de ter pertencido a uma geração académica que se encheu de gloria. Fiz parte da commissão que com o Sr. Conde de Pacô-Vieira veio a Lisboa, encarregada de apresentar uma representação, pedindo que fossem admittidos dois camaradas e se abolisse o foro académico. Essa representação foi elaborada pelo Sr. Carlos Lobo de Avila, que era presidente d'essa commissão.

Viemos a Lisboa, falmáos com o fallecido Fontes Pereira de Mello e Thomás, Ribeiro, e conseguimos que esses camaradas fossem admittidos e continuassem os seus actos, em que ficaram approvados.

Quem tem esta tradição não pode admittir que o Governo conserve essa espada de Damocles suspensa sobre a cabeça de todos os estudantes, e não podia conservar-se silencioso num momento como este.

Era incapaz de fazer quaesquer considerações em que me pudessem ser attribuidos intuitos partidarios.

Mas da mesma forma que me não é licito dirigir offensas áquellas pessoas, não ha nada que me inhiba de tratar a questão na sua generalidade.

Eu tenho amigos na Universidade e dois até meus amigos politicos, os Drs. Joaquim Pedro Martins e Francisco Fernandes, e de forma alguma era capaz de os offender, mas isto não quer dizer que eu não ataque o ensino universitario que reclama uma remodelação completa.

O nosso ensino é mnemónico, enchemos a cabeça dos alumnos de tudo quanto é inutil, em logar de um ensino pratico.

Por esse trabalho recentemente feito e que eu hontem li, vê-se que nos Estados Unidos da America do Norte e na Allemanha se está dando, grande desenvolvimento ao ensino profissional; nós fazemos o contrario, aprendemos tudo de cor, e não somos capazes de estudar na realidade dos factos, e daqui resulta o ser-se incapaz de contribuir para a prosperidade do país.

O que nós temos necessidade é de uma educação scientifica, pratica e profissional; a nossa Universidade tem ainda hoje o seu velho foro academico, que não é mais nem menos do que o foro implantado pelos jesuitas.

(Leu).

Aqui tem V. Exa. o que é o foro académico, tal qualmente como eu acabo de dizer.

O que eu peço ao Governo é que encare esta questão com toda a serenidade e que se lembre que tem deante de si a mocidade academica, que exactamente por a sua idade ser pouca pode praticar todos os desvarios que se praticam n'aquellas idades.

Eu podia alongar-me em considerações sobre este assunto, mas não o quero fazer e por isso dou por terminadas as minhas considerações.

Tenho dito. (Vozes: - Muito bem, muito bem).

O Sr. Teixeira de Abreu: - Deve conhecer e confessar que é difficil a situação em que se colloca usando da palavra sobre um assunto que considera da mais extrema gravidade, qual é o do conflicto aberto entre os estudantes de direito da Universidade de Coimbra e os professores d'aquella faculdade.

Não pode nem deve, neste momento, apreciar detalhadamente este conflicto, nem pode descer ás suas causas primarias para determinar se são ou não justas as reclamações um tanto ousadas da academia contra a faculdade a que elle, orador, pertence.

Não tomou parte alguma nem tem responsabilidade nos actos que antecederam o conflicto, mas, como professor Ia Universidade, entende que é um dever sagrado levantar a sua voz no Parlamento, visto que a questão é debatida por alguns Srs. Deputados da opposição.

Não vae tão afastado o tempo em que era estudante em Coimbra que se tenha apagado do seu espirito a recordação d'esses dias, que para todos os que por lá passaram são os mais saudosos. Ainda hoje ao tomar sobre os seus