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DIÁRIO DA CAMARÁ DOS SENHORES DEPUTADOS
putado lamentou que não tivesse ainda sido distribuído o parecer sobre os vinhos. Eu perguntei -imuiediatamehte qual a rasão d'este facto, e logo o parecer começou a ser distribuído. Portanto, cabendo no tempo, o governo folgará que esse projecto possa ainda ser subruettido á apreciação do parlamento.
Não poderei dizer o mesmo com relação á proposta dos eereaes, porque o governo reconhece que uma discussão (Testa .ordem não poderia caber no intermeio do tempo que falta para o encerramento das camarás.
Perguntou também o illustre deputalio o que tencionava o governo .fazer com respeito á forma dos empréstimos co-loniaes, que estavam auctorisados pela lei de meios, se adoptava ou não o systema de concurso, se teria duvida enr fixar o máximo dos encargos.
Por minha parte não duvido que se insira na lei de meios qualquer disposição de accordo com as quê acompanham àuctórisações análogas.
Emqúànto á maneira de.realisar o empréstimo, não desejaria ver coarctada a liberdade do governo, e muito folgaria que, á similhança do que tem acontecido, não deixasse de escolher o melhor methodo para realisar esse empréstimo, por concurso ou por adjudicação a uma casa bancaria.
Finalmente, perguntou s. ex.a se o governo não recuava diante do encargo que pôde representar o abono de juros aos depósitos na caixa geral de depósitos para garantia de contratos com o estado. Devo dizer que a inserção d'esta clausula na lei de meios representa a satisfação dada a uma representação da industria nacional; entretanto as ponderações do .sr. Franco Castello Branco levam a examinar mais minuciosamente o que pôde representar essa concessão, e se ella for de natureza a perturbar a economia geral do orçamento, não podemos sustentai a.
JSmquanto á sellagem e aos. álcoois, o governo não podia deixar de proceder .em relação aos empregados nomeados Quando se.argumenta com a despeza feita com os empregados da aellagem, devo dizer que parte d'esse pessoal era de empregados addidos, e portanto esse argumento é apenas um argumento de opposição, quê não pôde sustentar-jee perante a verdade dos factos. -
Por minha parte tenho tido occasião de empregar alguns desses empregados na fiscalisaçào do tabaco no Douro, e as necessidades da.fiscalisacão dão bastante margem a dar emprego a esses funccionarios, eraquanto o governo não resolve definitivamente quer sobre o imposto do álcool, quer sol>re a sei lagem.
Desejaria responder ao sr. .Moraes Carvalho, que apresentou umas considerações do mais alto valor económico; entretanto o seu discurso foi quasi que uma resposta ao que eu já tinha dito ã s. ex.a, e resposta ao discurso do gr. Carrilho.
Limito por aqui as minhas considerações e responderei mais detidamente ao illustre deputado em occasião oppor-tuna.
(S. O sr. Presidente: — Tem a palavra o sr. Guerra Junqueira, que a pediu para antes de se encerrar a sessão.
CTsr. Guerra^Junqueiro:—Por falta de saúde não me foi possível comparecer á sessão diurna, e portanto declaro agora que, se estivesse presente, teria approvado o projecto de lei que concede uma pensão ao visconde de Correia Botelho, verificada na pessoa de seu filho Jorge Ca-milío Castello Branco, proposta que representa uma pensão dada á desventura do filho em nome da gloria do pae.
Sr. presidente,'D'uma epocha e n'um-paiz em que tudo 96 alcança e se consegue cjtiasi pela política, quando a política é esta comedia triste".que todos nós sabemos^, e em que todos nós concordamos,.. ali. dentro nos corredores; n'uma epocha e n'um paiz em que : certamente as barbas de D. João de Castro teriam um valor bypothecario muitíssimo menor do que as do primeiro aventureiro da finança, . espertalhão e sem escrúpulos; (Apoiados.) n'uma e-pocha e n'um paiz em que tantas mil-lidades insignificantes e tantos zeros imponentes, empalha- • dos era basofia,'obstruem, quasi todas as carreiras e pró- -fissões dependentes do estado ao livre transito do publico; " n'um a epocha e n'um paiz era que as mais altas manifestações "do espirito, arte, ou sciencia, exercem na preoccu-pação do publico u-rn-logar inteiramente subalterno, desem- * penhando um simples pa'pel decorativo na economia da sociedade portugueza; n'um paiz e n'uma epocha d'esta natureza, não me admira nada, sr. presidente,.que um homem, " ao cabo de meio século de trabalho, cora uma obra titânica
^de 150 volumes, immortaes muitos d'el!es, venha aqui receber da representação nacional esta sympathica mas dolorosa
.homenagem de uma pensão de l:000$OUOréis- annual, que, embora modestíssima, -representa ainda assim para elle o
.preço de venda, termo médio, de quatro ou cinco dos seus romances! - '
Nào quer isto dizer que eu ambicione ou inveje para os artistas a miserável opulência dos banqueiros. Não ! Nunca um só artista foi ou irá de chapéu de bicos e farda agaloada caminho da iminortalidade.
Nunca o cáustico de uma gran-cruz trouxe á suppuração ;uma obra prima. Nunca uma coroa heráldica, de barão a duque, fez nascer na testa de quem quer que fosse a bossa do talento. E o próprio homem de quem estou fallando e a quem ha annos, n'esta mesma casa, puzeram uma alcunha nobiliária, nSo conseguirá encobrir com "o viscondado de Correia Botelho, o grando nome glorioso de Camillo Castello Branco.
Esta homenagem magnifica ao insigne escriptor portu-guez adquire aos meus olhos, nos tompos que vão correndo, uma nobre e sympathica significação.
Apesar dos fundos estarem ;a 68 á sombra jovial do sr« Marianno de Carvalho, depois de terem estado a 44 á sombra fatídica do sr. Hintze Ribeiro; apesar da maré.de riqueza que nos inunda; apesar da cheia torreotuosa de oiro judaico, que ha dez annos a esta parte tem depositado sobre a sociedade portugueza um nateiro... que não é posi- ° tivamente aurífero, e cujos miasmas envenenadores nós todos sentimos e respirámos; apesar, em sumraa, da prosperidade dourada e vertiginosa, quer a consciência individual, quer a consciência collectiva da nação, segreda-nos intimamente que Portugal vae baixando, embora os fundos vão subindo.
E em taes condições, digo eu que esta homenagem in-stinctiva e naturalissima,, tem uma bella e alta significação : é a significação de um paiz que, sentirido-se "decrescer, sentindo-se resvalar pelo declive somnolento que pôde conduzil-o até um Alcacer-Quibir de feira de trapos velhos, reage^ e se subleva contra a própria decadência, oppondo á pequenez dos quec,existem a grandeza dos que se extinguiram, porque Camiilo Castello Branco, litteraria-mente, pelo caracter vernáculos portuguez da sua obra, é quasi que para nós. um antepassado.