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1482 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

deputado chamou a minha attenção, tenho a dizer a s. exa. que ainda me não chegou ás mãos a representação dos operarios da imprensa da universidade. Logo que me seja entregue, tomarei as providencias que julgar convenientes.

Pelo que respeita á conservação de monumentos historicos, permitta-me s. exa. dizer-lhe que esse assumpto ainda pertence ao ministerio das obras publicas. Só deve passar para o ministerio a meu cargo, quando este esteja organisado em conformidade com as bases constantes do diploma já votado; e por certo que na organisação dos serviços estatisticos hão de chamar a minha attenção as medidas relativas, não só á conservação, mas á reparação d'esses monumentos.

Quanto aos órgãos, que se dizem ainda encaixotados e guardados no convento de Mafra, assim como ao estado de ruina, em que se encontram algumas das abobadas da igreja de Alcobaça, mandarei officiar pelo meu ministerio ao meu collega das obras publicas, pedindo-lhe que se digne informar-se ácerca d'esse assumpto para que possa, se porventura as noticias do illustre deputado forem exactas, tomar as providencias que forem precisas.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Carrilho: - Manda para a mesa o parecer da commissão de fazenda sobre a proposta de lei relativa á navegação para a Africa, e o parecer da mesma commissão sobre o projecto de lei relativo á concessão das muralhas de Caminha á respectiva municipalidade.

Mandaram-se imprimir.

ORDEM DO DIA

Continuação da discussão do projecto de lei n.º 152 construcção do caminho de ferro de Mossamedes

O sr. Fernando Palha (sobre a ordem): - Impugna o projecto, sustentando com largas considerações a seguinte:

Moção de ordem

A camara, considerando que no estado da fazenda publica é inopportuno o emprehendimento de qualquer obra que crie encargos de vulto para o thesouro; considerando que o projecto em questão não attende ás necessidades mais urgentes da Africa Occidental portuguesa; considerando que o projecto é prejudicial aos interesses publicos no seu pensamento e na fórma por que intenta realisal-o : convida o governo a mandar proceder a estudos completos de viação ferro-viaria da provinda de Angola e passa á ordem do dia. = Fernando Pereira Palha.

Foi admittida.

(O discurso sara publicado na integra, e em appendice a esta sessão, logo que s. exa. restitua as notas tachygraphicas.)

O sr. Alberto Pimentel: - Sr. presidente, a camara Babe que poucas vezes tenho solicitado a sua attenção. Adquirindo habitos de plumitivo, costumei me a cultivar a palavra sob um ponto de vista exclusivamente litterario. Não se muda facilmente de habitos antigos, inveterados. Pesa-me ter que emittir uma palavra incerta e desordenada, que vae, mau grado meu, fixar-se no Diario das nossas sessões.

Limito-me, portanto, as mais das vezes a ouvir silenciosamente todos aquelles que fazem da palavra uma pó derosa arma de combate, um efficaz instrumento de discussão parlamentar, e, prestando-lhes a minha attenção e o meu respeito, rendo-lhes uma justa e devida homenagem.

Postas estas declarações, que eu espero possam captar a benevolencia da camara, vou ler a minha moção de ordem:

«A camara, considerando que a construcção do caminho, de ferro de Mossamedes ao plan'alto da Chella, visa principalmente a garantir e desenvolver a colonisação, o que lhe dá um caracter eminentemente patriotico e civilisador, passa á ordem do dia. = Alberto Pimentel.»

Sr. presidente, Vieira de Castro, fallando n'uma festa de caridade, realisada no Rio do Janeiro, passeou os olhos pelo auditorio, que era numerosissimo, e começou o seu discurso, dizendo: «A caridade é isto! E o meu discurso está feito.»

Tambem hontem o distincto parlamentar o sr. Elvino de Brito e o illustre ministro da marinha poderam paraphrasear este originalissimo exordio, olhando para as galerias e para as bancadas solitarias, e exclamando: O patriotismo é isto! O interesse pelas questões africanas é este! E o meu discurso está feito. (Apoiados.)

Hoje a assistencia é um pouco maior, o que deve attribuir se ao interesse que justamente inspiram todos os discursos do illustre deputado o sr. Fernando Palha.

Devo dizer, francamente, que esta circumstancia me embaraça um pouco.

Eu desejaria que no meu discurso tudo se passasse como n'aquellas festas pobres da aldeia, em que a pobreza dos paramentos corre parelhas com a exiguidade do auditorio.

Dentro da igreja, eu, humilde celebrante, acolytado pelo illustre relator da commissão o sr. Ferreira do Amaral e pelo sr. José de Azevedo Castello Branco.

Duas ou tres beatas da religião africana, muito dedicadas ás cousas do culto, o sr. Elvino de Brito e o sr. padre Brandão.

Dois ou tres carolas da confraria, por exemplo o meu illustre amigo o sr. Luciano Cordeiro, que tem dedicado, com muito proveito para o paiz, grande parte da sua vida aos assumptos coloniaes.

Fóra da igreja, no adro, mordido cruamente pelo sol, uma saloia que vende, num taboleiro assente sobre um X do madeira, os bolos do arraial, encapados de assucar e lambidos do calor. (Riso.)

Ora eu tambem tenho bolos para offerecer á opposição. Não serão muito doces. Mas tambem não estão envenenados como os da celebre tragedia do Porto.

E, todavia, sr. presidente, parecia que deveria ser-nos agradavel, sobretudo n'esta occasião, tratar de um assumpto africano, em que dessemos largas a um justo orgulho nacional de povo colonisador.

Fomos nós que ha cinco séculos principiámos a desbravar o Mar Tenebroso. A despeito de todos os vexames que as grandes potencias da Europa nos queiram inflingir, na sua desenfreada ambição, o direito de prioridade pertence-nos, fomos nós que primeiro chegámos e vencemos.

Muitos dos nomes, que ainda hoje designam os contornos do litoral africano, mostram bem quaes foram os terrores lendarios que tivemos de combater.

Desde o Cabo Bojador, que penetrando no oceano parecia ameaçar o costado das caravellas, desde a Serra Leoa, onde o mar parecia rugir como a leoa embravecida do sertão, até ao Cabo das Tormentas, onde o gigante Adamastor personifica na epopeia de Camões todos os perigos que Bartholomeu Dias teve de arrostar e vencer, encontra-se, marcado por palavras que são monumentos, o itinerario audacioso dos primeiros marinheiros portuguezes, a quem o Infante D. Henrique dizia: «Vós não podeis achar tamanho perigo, que a esperança do galardoo não seja muito maior.»

Mas os tempos dos descobrimentos epicos passaram, a Africa é conhecida, e mais do que conhecida, disputada palmo a palmo.

Cabe-nos, portanto, restricta obrigação de não deixar perder o legado glorioso de nossos avós. N'um fim de seculo tão pratico, tão positivista como este, já não podêmos viver unicamente das memorias do passado. Precisamos e devemos tornar effectivos os nossos direitos, e o meio mais ef-