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Diário das Sessões-do Senado

r O "Sr. José de: Castro': — Antes e pri-,meiro que tudo mando para a Mesa o seguinte requerimento : .. ,Leu.

Vai no Expediente.

: ' Sr. Presidente, . os últimos aconteci-,mentos ensanguentaram a cidade e enver-•.gonuaram o país, dando lá-fora a impressão de que aqui não se pode oianter .a.- ordem e que não há respeito pela lei. .., .Ninguém veja nestas minhas palavras -qualquer desrespeito pela Kepública, •p.ois eu continuo matendo por ela o meu •amor de sempre, alminha consideração, a -minha dedicação, sem sofrer a menor al-.teração a despeito das vicissitudes porque -tem- passado a política. Eu não altero o -meu modo de pensar! A 'República existe; . O que é preciso é que não esqueçamos es-:tes acontecimentos e que lhe ponhamos cO->bro, para que não se repitam, pois são indecorosos para a Pátria e para a República. .. As circunstâncias que determinaram .estes acontecimentos são de várias or-•:dens; são circunstâncias políticas, económicas e morais.

-. As circunstâncias políticas são aquelas -que nos -dão -a conhecer que o Governo ;não tem tido .o suficiente .cuidado para prevenir males, que estão continuada-.mente a repetir-se.

Quanto às circunstâncias económicas, 'parece que o próprio povo não tem cons-

- ciência delas, pois, em vez de diminuir as -despezas, parece que não perde ocasiões ,de.: as aumentar, para se divertir e ostentar luxo inoportuno, excessivo.

- Isto não quére dizer,- Sr» Presidente, -que eu me refira àqueles pobres miseráveis, que vivem no meio da fome.

Esses não!

- ' Esses, nem um momento sequer têm ,p.ara levantar, a cabeça e ver de onde -lhes há-dé vir alguma cousa para se sustentarem a si e aos seus.

-. Refirorme aos que estão colocados um pouco superiormente, e a quem os divertimentos absorvem quási completanaente; fó ver nessas ruas como campeia extraordinário luxo. '. ..

Compreende-se, Sr. Presidente, que nesta luta, não de inteligências, de espírito, mas de desequilíbrio social, não pode haver moralidade, não pode haver serenidade.

Ainda há quatro ou cinco dias eu vi, numa das ruas da cidade, que umas crianças andavam fingindo que se assassinavam umas às outras.

j Como isto é desauimador, como isto dá a medida da nossa educação, como isto poderá dar' resultados práticos no futuro !

É preciso haver toda^ a serenidade e toda a força, para se opor um dique a essa onda do crime.

Sr. Presidente: eu dou como causa desses acontecimentos vários motivos.

Para mim o primeiro motivo é indubitavelmente a crise das subsistências e a aglomeração da população.

Sr. Presidente: nunca é demais falar sobre a crise das subsistências, e por isso, e porque tenho um grande amor ao meu país e um grande afecto pelos humildes, sobretudo na situação miserável que atravessamos, eu permito-me mais uma vez pedir ao Governo que se ocnpe deste problema.

Na presente conjuntura não há problema mais extraordinário e que mais fira a nossa alma e o nosso' coração do que o referente à crise das subsistências; é um problema fundamental.

«Onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão». Jíi um provérbio antigo,, mas é verdadeiro.

Ê urgente que nós tenhamos pão. para que não hajam efectivamente os ralhos sem ter razão.

Com relação à aglomeração da população em Lisboa, Sr. Presidente, V. Ex.a sabe que é, em parte, devida à enorme quantidade de pessoas que tem vindo para a cidade e que já deveriam ter sido convidadas pela autoridade administrativa a retirarem-se para as suas terras, onde melhor poderão ganhar a sua vida.

Um o atro ponto, qu.e mais temos a considerar, são os homens de cadastro*, as pessoas sem emprego,

Sr. Presidente : os factos que se deram, há dois dias, hão-de repetir-se.