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REPÚBLICA PORTUGUESA

ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

IX LEGISLATURA - 1967 30 DE JUNHO

Projecto de proposta de lei n.º 4/IX

III Plano de Fomento para 1968-1973

Em 31 de Dezembro do ano corrente termina o período de execução do Plano Intercalar de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2128, de 14 de Dezembro de 1964. Na sequência do processo de planeamento económico-social, em que se inserem, com âmbitos sucessivamente mais latos, o I e II Planos de Fomento e o Plano Intercalar, elaborou o Governo o projecto do III Plano, com vista a assegurar, sem solução de continuidade, nem quebra de ritmo, o progressivo desenvolvimento económico-social da Nação.
Prevê-se que o Hl Plano abranja de novo um período hexenal, mas a dificuldade de, nas condições actuais, poder programar-se com segurança para os próximos seis anos aconselha se proceda à revisão do Plano no termo do seu primeiro triénio, sem prejuízo das adaptações a efectuar nos programas anuais, de harmonia com a evolução da economia nacional.
A presente proposta de lei destina-se, pois, a definir as bases em que o Governo deverá organizar e promover a execução do III Plano de Fomento, para o período de 1968-1973.
Nestes termos, formula-se a seguinte

BASE II

1 O III Plano será concebido como instrumento de programação global do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tendo em vista a formação de uma economia nacional no espaço português e a realização dos fins superiores da comunidade.
2 O carácter global atribuído ao Plano entende-se no quadro dos princípios legais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social

BASE III

Dentro da concepção referida na base n, o Plano visará os seguintes grandes objectivos.

a) Aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
b) Repartição mais equilibrada do rendimento;
c) Correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento N

Proposta de lei

BASE I

O Governo, ouvida a Câmara Corporativa, organizará o III Plano de Fomento, para o período compreendido entre l de Janeiro de 1968 e 81 de Dezembro de 1978, e promoverá a sua execução, de harmonia com o disposto ca presente lei.

BASE IV

Para a realização dos objectivos do Plano, o Governo deverá assegurar:

a) A coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) A manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;

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c) O equilíbrio do mercado do emprego,
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

BASE V

1 Do texto do Plano devem constar a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar paia a sua execução e os investimentos previstos, especificando, quanto a estes últimos, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.
2 Serão considerados os seguintes aspectos de natureza global

Financiamento;
Comércio externo;
Emprego e política social;
Produtividade;
Sector público e reforma administrativa.

3 Os programas sectoriais abrangerão os capítulos seguintes:

I - Agricultura, silvicultura e pecuária,
II - Pesca,
III - Indústrias extractivas e transformadoras,
IV - Indústrias de construção e obras públicas,
V - Melhoramentos rurais,
VI - Energia,
VII - Circuitos de distribuição,
VIII - Transportes, comunicações e meteorologia,
IX - Turismo,
XI - Educação e investigação,
XI - Habitação e urbanização,
XII - Saúde

4 O Plano incluirá as orientações gerais em que devei á assentar o planeamento regional.
5 Os esquemas referidos nesta base serão observados, com as necessárias adaptações, na pai te do Plano respeitante às províncias ultramarinas.

BASE VI

1 No exercício da competência definida nos §§ 1.º e 2.º do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, cabe em especial ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.

a) Concretizar, tendo em conta o interesse para o desenvolvimento do País e a sua viabilidade técnico-económica, os empreendimentos incluídos no Plano que devam ser integralmente realizados ou iniciados durante a sua vigência,
b) Aprovar os programas anuais de execução do Plano até 15 de Novembro do ano imediatamente anterior,
c) Aprovar, ouvida a Gamara Corporativa, os planos de desenvolvimento regional,
d) Fixar, sob proposta do Ministro das Corporações e Previdência Social, a parte das reservas das instituições de previdência social obrigatória a colocar em títulos do Estado e na subscrição directa de acções e obrigações de empresas, cujos investimentos se enquadrem nos objectivos do Plano,
e) Proceder, até final de 1970, à revisão do Plano para o seu 2.º triénio

2 Nos programas anuais de execução do Plano serão discriminados, além dos elementos referidos na base V e respeitantes a coda ano, os empreendimentos a realizar nesse ano, os recursos financeiros que hão-de custeá-los e as fontes onde sei ao obtidos, bem como as correspondentes providências legais e administrativas.
3 É aplicável às províncias ultramarinas o disposto nas alíneas a), b) e c) do n.º 1 desta base.

BASE VII

1 Os recursos paia o financiamento do Plano serão mobilizados por intermédio das seguintes fontes e instituições:

a) Orçamento Geral do Estado,
b) Fundos e serviços autónomos,
c) Autarquias locais,
d) Instituições de previdência,
e) Organismos corporativos,
f) Empresas seguradoras,
g) Instituições de crédito,
h) Autofinanciamento das empresas,
i) Outros recursos internos de carácter privado,
l) Fontes externas

2 Relativamente às províncias ultramarinas, serão também considerados como fontes de financiamento os respectivos orçamentos, podendo ainda ser prestadas pelo Ministério das Finanças garantias a financiamentos externos outorgados a empresas privadas

BASE VIII

Compete ao Governo, com vista a garantir o financiamento do Plano, promover a mobilização dos recursos financeiros da Nação e, nomeadamente.

1.º Aplicar os saldos das contas de anos económicos findos e, anualmente, os excessos das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza, que considerar disponíveis,
2.º Assegurar a orientação preferencial, para os objectivos e empreendimentos referidos no Plano, das disponibilidades dos fundos e sei viços autónomos, sem prejuízo das suas finalidades específicas e das aplicações consignadas na lei,
3.º Realizar as operações de crédito que foi em indispensáveis,
4.º Coordenar as emissões de títulos e as operações de crédito, exigidas pelo desenvolvimento das actividades não incluídas expressamente no Plano, com as necessidades de capitais requeridas pela sua execução,
5.º Estimular a formação da poupança privada e favorecer a sua mobilização para o financiamento do desenvolvimento económico e, em especial, de empreendimentos considerados no Plano.

BASE IX

1. A fim de assegurar a execução do Plano, compete ainda ao Governo

a) Promover a gradual execução da reforma administrativa, designadamente no que se refere à formação e aperfeiçoamento profissional dos

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funcionários, à modernização de estruturas e métodos de trabalho dos serviços públicos e a outras acções adequadas,
b) Aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos,
c) Promover, sempre que se reconheça necessário, a criação de órgãos técnicos nos Ministérios e Secretarias de Estado, por forma a completar e coordenar as estruturas necessárias ao acompanhamento da execução do Plano e à elaboração dos programas e relatórios anuais,
d) Prosseguir no aperfeiçoamento da cobertura estatística do espaço português,
c) Estimular e apoiar os esforços de modernização e aumento de produtividade das empresas, mediante prestação de assistência técnica, incentivos fiscais, facilidades de crédito e outras providências,
f) Participar no capital de empresas necessárias ao início ou desenvolvimento de actividades e empreendimentos com interesse para a realização dos objectivos do Plano

2 O disposto nesta base será executado, no que for da sua competência, pelos órgãos das províncias ultramarinas

BASE X

1 Cabe ao Governo, quanto às províncias ultramarinas, além da competência prevista nos n.M 4." e 5 º da base viu, providenciar sobre a obtenção de recursos a elas estranhos ou procedentes do estrangeiro.
2 Compete aos órgãos próprios de cada província ultramarina a mobilização dos recursos locais para financiamento do Plano.
3 Os empréstimos serão colocados nas províncias, tomados directamente por empresas cujas actividades aí se desenvolvam, contraídos no continente e ilhas adjacentes, ou concedidos pelo Tesouro aquelas províncias, nos termos do artigo 172.º da Constituição.
4 A assistência financeira do Governo às províncias ultramarinas assumirá a forma de empréstimos, de subsídios reembolsáveis ou de prestação de garantias a financiamentos externos concedidos a empresas privadas, nos termos do n.º 2 da base VII
5 A assistência do Tesouro à província de Cabo Verde não vencerá juro enquanto se mantiver a actual situação financeira da província.
6 As dotações destinadas ao fomento da província de Timor serão concedidas a título de subsídio gratuito, reembolsável na medida das possibilidades orçamentais da província.

BASE XI

1 O Governo publicará um relatório anual sobre a execução do Plano, nos dez meses seguintes ao termo de cada ano, e um relatório geral, até ao fim do ano de 1974.
2 O Governo providenciai á para que a Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica apresente ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, no decurso de cada ano, informações periódicas sobre a execução do Plano.

Presidência do Conselho, 29 de Junho de 1967 - O Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar.

Projecto do III Plano de Fomento para 1968-1973

SUMÁRIO

Introdução geral

§ 1.º Antecedentes do III Plano de Fomento Linha gemi de evolução do planeamento português.
§ 2.º Trabalhos preparatórios do III Plano Orgânica e métodos do planeamento.
§ 3.º Características gerais e objectivos do III Plano
§ 4.º Problemas de execução do III Plano

Continente e ilhas

I

Programação global

CAPÍTULO I - Projecções do desenvolvimento económico e social para 1968-1973 CAPITULO II - Financiamento
CAPITULO III - Comércio externo
CAPITULO IV - Emprego e política social

INTRODUÇÃO

SECÇÃO I - Emprego e problemas do trabalho.
SUCÇÃO II - Repartição dos rendimentos
SECÇÃO III - Remuneração do trabalho
SECÇÃO IV - Previdência social.

CAPITULO V - Produtividade
CAPITULO VI - Sector público e reforma administrativa

II

Programas sectoriais

CAPITULO I - Agricultura, silvicultura e pecuária.
CAPITULO II - Pesca
CAPITULO III - Indústrias extractivos e transformadoras
SECÇÃO I - Programação geral.
SECÇÃO II - Programação dos principais subsectores

CAPITULO IV - Indústrias de construção e obras públicas
CAPITULO V - Melhoramentos rurais
CAPITULO VI - Energia
CAPITULO VII - Circuitos de distribuição
CAPITULO VIII - Transportes, comunicações e meteorologia

SECÇÃO I - Transportes
SECÇÃO II - Comunicações
SECÇÃO III - Meteorologia

CAPÍTULO IX - Turismo
CAPÍTULO X - Educação e investigação
INTRODUÇÃO
SECÇÃO I - Educação a investigação ligada ao ensino

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SECÇÃO II - Investigação não ligada ao ensino.
SECÇÃO III - Formação profissional extra-escolar

CAPITULO XI - Habitação e urbanização
CAPITULO XII - Saúde

III

Planeamento regional

INTRODUÇÃO
CAPITULO I - Evolução recente e situação actual dos desequilíbrios regionais na metrópole.

SECÇÃO I - Continente
SECÇÃO II - Açores e Madeira.

CAPÍTULO II - Objectivos e orientações fundamentais.
CAPÍTULO III - Delimitação das regiões de planeamento.
CAPÍTULO IV - Caracterização das regiões e linhas gerais de planeamento.

SECÇÃO I - Continente
SECÇÃO II - Açores e Madeira

CAPÍTULO V - Orgânica de planeamento.
CAPÍTULO VI - Medidas de política regional.

Províncias ultramarinas

I

Cabo Verde

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia Evolução recente, situação actual e perspectivas.

CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca
III) Indústrias extractivos e transformadoras
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos
V) Energia
VI) Circuitos- de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

II

Guiné

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.
I) Agricultura, silvicultura e pecuária
II) Pesca
III) Indústria extractivos e transformadoras
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia
VI) Circuitos de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

III

S. Tomé e Príncipe

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos
I) Agricultura, silvicultura e pecuária
II) Pesca
III) Indústrias extractivas e transformadoras
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais
V) Energia
VI) Circuitos de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

IV

Angola

CAPITULO I - Caracterização sumária de economia Evolução recente, situação actual e perspectivas
CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.
I) Agricultura, silvicultura s pecuária
II) Pesca
III) Industriai extractivas e transformadoras
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais V) Energia
VI) Circuitos de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

V

Moçambique

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia Evolução recente, situação actual e perspectivas
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.
I) Agricultura, silvicultura e pecuária H) Pesca
III) Indústrias extractivos e transformadoras
IV) Construção, obras públicas e 'melhoramentos rurais
V) Energia
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

VI

Estado da Índia

VII

Macau

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas
CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos
I) Agricultura, silvicultura e pecuária
II) Pesca
III) III) Indústrias extractivas e transformadoras

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IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais
V) Energia
VI) Circuitos de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

VIII

Timor

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas
CAPITULO II - Objectivos
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária
II) Pesca
III) Indústrias extractivos e transformadoras
IV) Construção, obras públicos e melhoramentos rurais
V) Energia
VI) Circuitos de distribuição
VII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo
IX) Educação e investigação
X) Habitação
XI) Saúde

INTRODUÇÃO GERAL

§ 1.º Antecedentes do III Plano de Fomento.
Linha geral da evolução do planeamento português

1. No prosseguimento de uma política iniciada, pode dizer-se, há mais de 80 anos - com a Lei de Reconstituição Económica de 1935 - e continuada, após a segunda guerra mundial, pelo I Plano de Fomento (1953-1958), a que se seguiu o II Plano (1959-1964) e o Plano Intercalar para o triénio que este ano se completa, o Governo apresenta ao País o III Plano de desenvolvimento económico e social, que há-de vigorar nos próximos seis anos, isto é, de 1 de Janeiro de 1968 a 31 de Dezembro de 1973.
Um pensamento constante tem dominado toda esta política do planeamento português - o de orientar os recursos da Nação no sentido do seu melhor aproveitamento, em ordem a aumentar progressivamente a riqueza comum e, com ela, o nível de vida de todos os portugueses.
Assim, na longa trajectória já percorrida, a cada nova jornada tem correspondido o propósito de procurar atingir metas de progresso económico e social sucessivamente mais vastas e ambiciosas -, sem embargo de à sua definição terem presidido sempre critérios de prudência, a fim de os objectivos em vista poderem efectivamente ser alcançados e, se possível, excedidos

2. A primeira tentativa de programação foi representada, como se disse, pela Lei de Reconstituição Económica (Lei n.º 1914 de 24 de Maio de 1935), muito antes de os países do Ocidente europeu terem iniciado as suas experiências de planeamento.
Tratava-se de programa a executar no período de quinze anos, embora limitado a certo número de investimentos públicos considerados de importância básica e sem a preocupação de enquadrar num conjunto sistemático os empreendimentos e objectivos propostos.
Ao abrigo desse plano, foi lançada e executada, entre 1935 e 1950, uma extensa série de planos administrativos parciais remodelação dos correios, telégrafos e telefones, fomento hidroagrícola, povoamento florestal, fomento mineiro, abastecimento de água das sedes dos concelhos, apetrechamento portuário, construção de estradas, renovação da marinha mercante.
Previsto inicialmente o investimento de 6 500 000 contos (Lei n.º 1914, base I), os dispêndios global» efectuados ao abrigo da Lei de 1935 atingiram cerca de 14 milhões de contos, e deles advieram os mais relevantes benefícios para o País, no domínio de infra-estruturas fundamentais 1.

3. Com o I Plano de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2058, de 29 de Dezembro de 1952, «pela primeira vez se tenta uma sistematização de recursos metropolitanos e ultramarinos e se faz um estudo conjunto e coordenado das aplicações- mais urgentes».
O Plano teve o prazo de seis anos e foi definido como «um plano parcial, restrito aos grandes investimentos a efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e nos meios de transporte e aos investimentos a fazer pelos particulares com o auxílio directo ou indirecto do Estado, não só na agricultura e nos meios de transporte, como na instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes».
Já então, como hoje, se acentuava o carácter misto do Plano «plano imperativo no tocante aos investimentos exclusivamente públicos, simples plano programático no que respeita aos investimentos de iniciativa privada ».
O I Plano abrangia expressamente seis capítulos agricultura, energia, indústrias-base, transportes e comunicações, escolas técnicas e empreendimentos da mesma natureza no ultramar.
A execução do Plano ultrapassou largamente as previsões Na metrópole, os investimentos realizados - 10 347 000 contos - corresponderam a 134,3 por cento das estimativas iniciais, no ultramar, os dispêndios - 4 562 000 contos - excederam em 562 000 contos aquelas estimativas.

4. O II Plano de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2094, de 23 de Novembro de 1958, cobriu o hexénio de 1959-1964. Com este novo Plano alargou-se o âmbito sectorial da programação e aperfeiçoaram-se os métodos de planeamento.
Embora continuasse a ser, como o anterior, predominantemente um plano de investimentos públicos e de alguns grandes projectos do sector privado, a sua concepção foi já a de um verdadeiro programa de política económica, ao qual se assinalaram certos objectivos fundamentais aceleração do ritmo de incremento do produto.

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1 Cf. Presidência do Conselho, Relatório Final da Execução do I Plano de Fomento, Lisboa, 1959, pp 12-13
1 Conferencio do Presidente do Conselho no Palácio Foz, em 28 de Maio de 1958
1 Proposta de lei relativa ao I Plano de Fomento, Diário das Sessões n.º 168, de 21 de Novembro de 1952, p 1053.

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nacional, melhoria do nível de vida, ajuda à resolução dos problemas de emprego, melhoria da balança de pagamentos.
O II Plano abrangeu, na metrópole, os seguintes capítulos i agricultura, pesca, indústrias extractivas e transformadoras, electricidade, transportes, comunicações, investigação e ensino técnico No ultramar, as rubricas versadas incluíram o conhecimento científico do território, a agricultura, silvicultura e pecuária, a electricidade e indústrias, o povoamento, as comunicações e transportes, a instrução e saúde, os melhoramentos locais e o equipamento dos serviços públicos.
Os investimentos globais previstos, na metrópole e no ultramar, elevaram-se a 31 274 400 contos Mas os empreendimentos efectuados atingiram o total de 36 176 185 contos, ou seja 115,6 por cento das estimativas iniciais A taxa anual de acréscimo do produto nacional, durante o período do Plano, fixada em 4,2 por cento, elevou-se a 6,2 por cento.
Estes resultados traduziram, uma vez mais, a capacidade realizadora da Nação e o realismo das bases em que assentaram as previsões, não obstante o esforço exigido ao País, a partir de 1961, com a defesa da sua integridade territorial

5. O Plano Intercalar de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, embora continuando fiel ao pensamento inspirador da política iniciada em 1935, marca a abertura de nova fase no processo de planeamento nacional, em execução de princípios definidos a tal respeito no Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962.
Pela primeira vez, o Plano é concebido como instrumento de programação global do desenvolvimento económico-social de todo o espaço português (decreto-lei citado, artigo 4 º, § Ia), isto é, como grande quadro orientador da evolução da economia e da vida soe ai do País, tanto no que respeita ao sector público como no tocante às actividades privadas, embora, quanto a estas, se mantivesse a natureza essencialmente indicativa do Plano, de harmonia com a ti adição anterior e os imperativos constitucionais.
O caracter global atribuído ao Plano significava que, paia além da definição coerente e sistemática de objectivos, investimentos e projectos, públicos e privados, aquele documento previa todo um conjunto de medidas de política económica, financeira e social, umas já incluídas no seu texto, outras a insere nos programas anuais de execução, em ordem a assegurar o cumprimento das metas programadas.
O condicionalismo em que decorreu a preparação deste Plano - designadamente quanto à impossibilidade de prever com segurança, para novo período de seis anos a evolução da economia portuguesa, quer no respeitante ao esforço financeiro requerido pelas necessidades da defesa, quer no relativo à marcha do processo de unificação dos mercados nacionais e dos movimentos de integração europeia - conduziu o Governo a limitar a três anos o prazo de vigência do Plano, de modo a poder programar-se em definitivo apenas para esse prazo.
Desde logo, no entanto, se acentuou que o próprio carácter de transição ou «intercala» atribuído, a esse documento aconselhava a aproveitar o triénio da sua aplicação para aperfeiçoar a orgânica e os métodos de planeamento, em ordem a lançarem-se as bases institucionais que permitissem sa elaboração e execução, a parta de 1968, de um novo plano de fomento hexenal, de mais largos horizontes e ambições».
Os grandes objectivos assinalados ao Plano Intercalar foram a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e a repartição mais equilibrada do rendimento (Lei n.º 2123, base II, n.º 1). E a lei acrescentava que, «na organização e execução do Plano, devei á também atender-se, na medida do possível, às exigências de correcção dos desequilíbrios de desenvolvimento regional, em particular no continente e ilhas adjacentes» (base cit., n.º 2).
À realização daqueles objectivos fundamentais ficava, no entanto, sujeita a determinadas condições coordenação com o esforço de defesa, manutenção da estabilidade financeira e monetária, interna e externa, equilíbrio do mercado de trabalho (lei cit , base III, n.º 1).
O Plano Intercalar abrangeu, no continente e ilhas, os seguintes sectores agricultura, silvicultura e pecuária, pesca, indústria, energia, transportes e comunicações, turismo, ensino e investigação, habitação e saúde.
Em relação às províncias ultramarinas, o Plano previu fossem tratados todos ou alguns dos seguintes domínios conhecimento científico do território e das populações, agricultura, silvicultura e pecuária, pesca, indústria, energia, transportes e comunicações, turismo, ensino, habitação e melhoramentos locais, saúde, promoção social Nesta parte, o Plano reflectiu, na medida do possível, a sua concepção global, imprimindo unidade de estrutura aos programas provinciais, dentro dos grandes objectivos comuns, mas respeitando as particularidades específicas de cada território e o seu grau de desenvolvimento.
Os investimentos prioritários incluídos expressamente no Plano para realização durante o seu triénio somaram, no continente e ilhas, 34 789 000 contos, e, nas províncias ultramarinas, 14 400 000 contos.
A taxa anual de acréscimo do produto nacional, durante o Plano, foi estimada em 6,1 por cento - sensivelmente mais elevada do que a do II Plano - e a percentagem média de incremento da formação de capital fixo, no mesmo período, computou-se em 8,1 por cento A expansão do consumo privado - índice por excelência de melhoria do nível de vida- deveria processar-se ao ritmo de 5,2 por cento em cada ano do triénio.
Embora o Plano Intercalar não tenha ainda atingido o seu termo e apenas se disponha de elementos definitivos quanto ao primeiro uno da sua execução, há fundados motivos paia esperar que os objectivos programados serão praticamente atingidos.
No que se refere ao ano de 1965, o relatório de execução já publicado mostra que, na metrópole, a laxa de descimento do produto nacional foi de 7 por cento, excedendo assim sensivelmente a fixada no Plano.
Os dispêndios realizados com os investimentos expressamente inscritos atingiram 85,1 por cento, o que pode considerar-se satisfatório, visto tratar-se do ano de arranque do Plano A formação bruta de capitai fixo apurada para esse ano somente se afastou em menos 0,1 por cento das estimativas O consumo privado acusou, no mesmo ano, o incremento de 7,8 por cento, ou seja mais 2,6 do que o previsto.
No que se refere a 1966, os elementos disponíveis respeitam apenas aos investimentos públicos financiados pelo Orçamento Geral do Estado, cujo total ascendeu a
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Presidência do Conselho, Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, Lisboa, Imprensa Nacional, 1964, vol. I, p 11
Presidência, do Conselho, Relatório da Execução do Plano Intercalar da Fomento, de Fomento, Metrópole 1965, Lisboa, 1967

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2 489 000 contos, isto é, mais 331 528 contos do que o inscrito no programa de execução para aquele ano.
Segundo estimativas provisórias, o crescimento do pi flauto nacional, em termos reais, ter-se-ia processado, em 1966, a taxa inferior a 4 por cento, em virtude, principalmente, da contracção do produto agrícola, embora aquela taxa deva tomar-se com as necessárias reservas, dadas as limitações resultantes dos elementos utilizados. Todavia, no decurso do biénio 1965-1966 a taxa média do incremento do produto ter-se-ia situado em cerca de 5,5 por cento, por virtude da alta percentagem registada no primeiro daqueles anos, o que excede a progressão verificada no conjunto dos países da Europa ocidental e se aproxima da prevista no Plano.
Espera-se que a execução do Plano no último ano da sua vigência decorra em condições mais propícias e se confirmem, assim, as expectativas de realização satisfatória dos objectivos nele consignados.

6. O III Plano de Fomento há, de novo, cobrir um período hexenal, inserindo-se, assim, na linha de continuidade da programação a mais largo prazo, que o I e II Planos haviam adoptado.
Para tanto contribuiu, de forma relevante, a experiência de execução do Plano Intercalar, pela aplicação, que proporcionou, de novas técnicas e métodos de planeamento, pelas melhorias entretanto conseguidas nos apuramentos estatísticos de certos dados económicos fundamentais, pelos aperfeiçoamentos introduzidos nos serviços centrais (e em alguns serviços departamentais) de planeamento, e, acima de tudo, pela própria evolução favorável da conjuntura financeira, que permitiu dissipar as incertezas iniciais acerca da compatibilização entre as exigências do esforço de defesa e as necessidades do desenvolvimento económico.
Como se acentuou no relatório da Conta Geral do Estado relativa à gerência de 1966, se excedente das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza alcançou o alto valor de 5356,5 milhares de contos, que permitiu custear inteiramente - e ultrapassar em vasta medida - os encargos de defesa da integridade nacional».
Deve, no entanto, salientar-se que, mesmo no caso de não terem sido, como foram, tão favoráveis os resultados da actividade financeira, nem por isso seria menos imperiosa a elaboração e execução de um novo plano de fomento, sendo certo que da expansão acelerada do crescimento económico depende essencialmente a sustentação do próprio esforço de defesa.
À orgânica e os métodos de trabalho adoptados na elaboração do novo Plano, as suas características e objectivos gerais serão descritos nos parágrafos seguintes desta introdução.
Desde já, no entanto, se acentua que, mais uma vez, houve a preocupação de estruturar um plano que, sendo ambicioso nas metas de progresso económico e social a procurar atingir, não deixasse de ser, como os seus antecessores, realista e prudente na avaliação dos recursos humanos e materiais a utilizar, a fim de que, uma vez mais também, os objectivos pi opôs tos viessem a ser plenamente alcançados

§ 2.º Trabalhos preparatórios do III Plano.
Orgânica e métodos do planeamento

7. Por despacho de 23 de Julho de 1965, o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos definiu as linhas gerais n seguir nos trabalhos preparatórios do III Plano, tendo em conta a experiência de elaboração do Plano Intercalar e os princípios estabelecidos, em matéria de planeamento, nos citados Decreto-Lei n º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, e Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964.
De acordo com as directrizes ali traçadas, uma das primeiras tarefas foi a da reorganização dos serviços centrais de planeamento, a fim de poderem corresponder às missões cada vez mais complexas que lhes eram solicitadas.
Por efeito dessa remodelação' ampliou-se a orgânica da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica e dos respectivos grupos de trabalho e aperfeiçoaram-se as estruturas e os meios de acção do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, então transformado em verdadeiro serviço nacional, com jurisdição sobre todo o espaço português.
Procedeu-se depois à constituição dos grupos de trabalho da aludida Comissão Interministerial incumbidos de efectuai a análise dos diversos sectores de actividade e estudar os problemas de planeamento e integração económica do respectivo âmbito.
De harmonia com a concepção global, que - como se referiu - já inspirara a feitura do Plano Intercalar e agora se pretendia consolidar e desenvolver, procurou-se que os grupos de trabalho acolhessem, no seu seio, todos os grandes sectores da actividade económica e social e que nessa participação ficasse assegurada a mais larga representação dos interesses em jogo, quer do sector público, por intermédio dos departamentos e organismos directa ou indirectamente ligados às diversas actividades, quer do sector privado, e, quanto a este, sempre que possível, mediante a presença de representantes dos empresa-nos e trabalhadores, a par da dos utilizadores dos bens e serviços produzidos?
A fim de promover o mais amplo tratamento dos problemas em causa, a maior parte dos grupos de trabalho desdobrou-se por subgrupos e comissões de estudo, aos quais foi confiada a análise de determinados subsectores ou domínios especializados.
No que respeita às províncias ultramarinas, os trabalhos preparatórios do Plano foram cometidos, nos termos da lei, às respectivas comissões provinciais de planeamento e integração económica, procurando-se igualmente alargar o seu campo de acção e incluir os mesmos sectores e domínios de estudo considerados no plano da metrópole, com a correspondente participação das actividades privadas.
Simultaneamente, foram encarados os problemas relativos ao aperfeiçoamento e modernização da cobertura estatística do espaço português, atendendo, além do mais, à sua primacial relevância paia as tarefas do planeamento

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1 Conta Geral do Estado, Imprensa Nacional, 1967, p 88
3 Conta Geral do Estado, cit, p 8
1 Conta Geral do Estado, cit, p 66
1 Decreto-Lei n.º 46 909 e Decreto n.º 46 010, ambos de 10 de Março de 1966
2 Foram constituídos, para a metrópole, os seguintes dezanove Grupos de Trabalho permanentes n.º 1 (Agricultura, silvicultura e pecuária), n.º 2 (Pesca), n º 8 (Indústrias extractivos e transformadoras), n.º 4 (Indústrias de construção e obras públicas), n.º 6 (Energia), n.º 6 (Comércio), n.º 7 (Transportes e comunicações), n.º 8 (Habitação e urbanização), n .º 9 (Turismo), n.º 10 (Ensino e investigação), n.º 11 (Saúde), n.º 12 (Financiamento e equilíbrio monetário), n.º 18 (Mão-de-obra e problemas sociais), n.º 14 (Reforma administrativa), n.º 15 (Coordenação com o esforço de defesa), n.º 10 (Ordenamento agrícola e condicionamento industrial), n.º 17 (Comércio inter-regional), n.º 18 (Regimes fiscais), n.º 19 (Pagamentos interterritoriais). Além disso, foi criado um grupo de trabalho ad hoc para os estudos de planeamento regional.
3 O número total de participantes nos diversos grupos de trabalho, subgrupos e comissões de estudo andou ao redor de 2000

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Nesse sentido, o Instituto Nacional de Estatística foi transformado num serviço nacional comum a todo o território metropolitano e ultramarino e os seus meios de trabalho, humanos e materiais, foram convenientemente melhorados 1.
8. Concluída esta primeira fase, a que pode chamar-se de montagem de infra-estruturas do Plano, deu-se início propriamente aos trabalhos de planeamento, mediante a comunicação aos grupos de trabalho de questionários destinados à recolha de informações de base e de apreciações críticas sobre as nossas realidades económico-sociais. Procurou-se deste modo obter os elementos necessários ao diagnóstico preliminar dos principais problemas dos diversos sectores de actividade, que servissem para o Secretariado Técnico preparar um primeiro relatório de programação global, com vista à formulação das grandes linhas orientadoras do desenvolvimento da economia portuguesa no período do novo Plano.
A fase seguinte - necessariamente a mais longa - foi preenchida pelas múltiplas reuniões dos grupos, subgrupos e comissões de estudo, e pela elaboração dos competentes relatórios Nessas reuniões, bem como na redacção destes trabalhos, os grupos, subgrupos e comissões dispuseram da mais ampla iniciativa e liberdade de apreciação, a fim de que os vários pontos de vista e correntes de opinião dos representantes dos sectores públicos e particulares pudessem ser largamente debatidos e os relatórios fossem o reflexo fiel desses trabalhos. Procurou-se assim que tais discussões e relatos constituíssem vasta fonte de informação e esclarecimento para o Governo e pudessem habilitar este a tomar as opções mais convenientes na preparação do projecto do Plano.
À fim de acompanhar de perto o andamento do trabalho dos grupos, esclarecer certos aspectos de natureza metodológica e imprimir a desejável unidade de orientação às tarefas em curso, efectuaram-se, ao longo desta fase, sucessivas reuniões dos membros do Governo directamente interessados nos vários sectores e domínios de estudo com os presidentes e relatores dos grupos e subgrupos de trabalho, sob a presidência do Ministro responsável pela coordenação dos trabalhos de planeamento.
Concluídos os relatórios dos grupos e examinados pela Comissão Interministerial, abriu-se a terceira fase, durante a qual, em estreita colaboração com os respectivos presidentes e relatores, preparou o Secretariado Técnico, em primeira versão, os diversos anteprojectos de capítulos do Plano, que constituíram essencialmente trabalhos de síntese e de harmonização entre os vários sectores.
A apreciação desses anteprojectos foi igualmente efectuada em reuniões de estudo, com análoga representação do Governo, dos grupos de trabalho e dos serviços de planeamento Resultou daí a redacção de novas versões, que, por seu turno, vieram a ser, uma vez mais, examinadas, em outra série de reuniões, pelos mesmos participantes.
Quarta e última fase foi dedicada aos aspectos de natureza global e, designadamente, à compatibilização entre os investimentos previstos pelos diversos sectores e os recursos globais de financiamento Os ajustamentos requeridos efectuaram-se em nova sequência de reuniões, agora com a representação do Ministério das Finanças.
Com base nesta última revisão, foram reelaborada os projectos dos diversos capítulos do Plano, para apreciação pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.

9. Além dos progressos que foi possível realizar na orgânica e nos métodos de preparação deste III Plano e se deixaram resumidos, houve ainda oportunidade de melhorar as próprias técnicas de planeamento.
Salientam-se, antes do mais, os avanços conseguidos na programação por sectores, não apenas por virtude de análises mais aprofundadas pelos grupos de trabalho, mas em resultado da colaboração prestada por gabinetes técnicos de estudo e planeamento existentes em alguns departamentos públicos.
Pela primeira vez se tornou viável orientar as diversas tarefas especializadas a partir de questionários elaborados pelos serviços centrais de planeamento e indicar normas para apresentação de projectos de investimento.
Em particular, devem referir-se os aperfeiçoamentos introduzidos na análise e planeamento dos mecanismos financeiros e do emprego e política social, donde resultou a possibilidade de dispor de projecções autónomas para a poupança privada, bem como de progredir no conhecimento dos mecanismos e estruturas da formação e redistribuição de rendimentos.
Mencionam-se também as melhorias alcançadas na progressiva revisão das estimativas da contabilidade nacional, designadamente na reavaliação dos quadros do produto interno bruto, a que o Instituto Nacional de Estatística e o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho procederam durante o ano de 1066, em estreita cooperação com diversas entidades privadas.
O melhor conhecimento global da estrutura e evolução das actividades produtivas permitiu dar tradução satisfatória aos avanços metodológicos conseguidos nas técnicas de projecção macroeconómica.
Outro aspecto em que o III Plano completa e desenvolve orientações anteriormente apenas afloradas é o, que diz respeito ao estudo das características e tendências de evolução das diversas regiões do continente e ilhas, e a enunciação das orientações necessárias à definição de uma política de fomento regional, no que se refere, nomeadamente, à delimitação e caracterização das regiões de planeamento e às linhas gerais em que aquela política deverá enquadrar-se.
Cumpre aludir, por último, aos progressos obtidos nos métodos respeitantes à compatibilização final das diversas partes do Plano Tornou-se, com efeito, possível atribuir maior ponderação a critérios técnicos de avaliação e de síntese, assegurando-se a utilização de um esquema orientador de projecções macroeconómicas, designadamente no que respeita aos problemas de financiamento

10. Quanto à metodologia adoptada na parte do Plano relativa às províncias ultramarinas, a reflexão sobre as características próprias das suas economias e o condicionalismo externo em que se inserem conduziu a orientar os trabalhos de forma diversa, conforme se tratava de províncias de governo simples ou de províncias de governo-geral.
Quanto às primeiras, a dimensão das suas economias, o grau de concentração da respectiva gama produtiva, a acentuada dependência externa e a menor importância relativa da capacidade interna de aforro levaram a considerar preferível, em lugar de tentar definir esquemas globais de base pouco segura, procurar estabelecer um balanço equilibrado das necessidades, dos recursos disponíveis e da capacidade de realização de programas sectoriais de desenvolvimento, convenientemente coordenados e harmonizados entre si, de modo a assegurar que a sua efectivação conduzisse aos objectivos gerais propostos.

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1 Decreto-lei n.º 46 925 e Decreto n.º 46 926, ambos de 29 de Março de 1966

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Para as províncias de governo-geral, as características estruturais e dinâmicas das suas economias permitiram a mais além Foi possível, a partir da análise das tendências dos factores e variáveis mais relevantes do desenvolvimento económico dessas províncias, definir modelos quantificados de crescimento, susceptíveis de estabelecer as projecções para o período de 1968-1978 e as linhas mestras de política económica com vista a atingir as finalidades superiores do Plano.
Realizaram-se assim, no aspecto metodológico, alguns avanços relativamente aos planos anteriores, embora continue a mostrar-se indispensável prosseguir nos esforços de estudo e documentação necessários ao emprego de técnicas de planeamento cada vez mais adequadas às características das nossas províncias de além-mar.
Em especial, cumpre verificar não ter sido ainda viável obter o grau óptimo de coordenação dos planos provinciais entre si, que se pretendia No entanto, a atribuição ao Secretariado Técnico de funções de serviço nacional permitem realizar progressos apreciáveis nesse sentido, que se espera poder levar por diante no decurso da execução do Plano.

§ 3.º Características gerais e objectivos do III Plano

11. O projecto de proposta de lei sobre a organização e execução do III Plano de Fomento, que, conjuntamente com o projecto do mesmo Plano, o Governo submete à apreciação da Câmara Corporativa, condensa nas suas bases as características gerais e os grandes objectivos daquele documento.
À primeira característica diz respeito à concepção global atribuída ao Plano, no prosseguimento e consolidação da experiência do Plano Intercalar e de harmonia com os preceitos legais já referidos.
Significa tal concepção, como também se acentuou, dever o Plano representar verdadeiro quadro orientador do desenvolvimento e progresso do País, aplicável a todo o espaço português e à generalidade dos sectores de actividade económica e social, com base num esquema coerente de projecções macroeconómicas.
O carácter global atribuído ao Plano está directamente relacionado com um objectivo de ordem superior - a progressiva formação de uma economia nacional no espaço português - de acordo com os imperativos constitucionais e os princípios definidos em vários diplomas, designadamente no Decreto-Lei n.º 44 016, de 8 de Novembro, de 1961.
O Plano assume, deste modo, a natureza de instrumento por excelência de realização da política de unidade económica nacional em que o País está empenhado.
Mas, acima desta finalidade, o processo de desenvolvimento económico e social planeado, e a própria integração económica nacional, não constituem, em si mesmos, objectivos últimos do planeamento, mas simples- meios para a consecução de fins mais altos -de ordem espiritual -, que podem consubstanciar-se na progressiva elevação e dignificação da pessoa humana, dentro da comunidade portuguesa.
É esta concepção que pode ver-se expressa no n.º 1 da base II do mencionado projecto de proposta de lei.

12. Como se referiu a propósito do Plano Intercalar, carácter global do Plano de forma alguma pode interpretar-se como um programa imperativo que, durante o período da sua vigência, regulamente toda a actividade económica. A tal se oporiam os princípios informadores da nossa ordem constitucional, que reconhecem na iniciativa privada e na sua uberdade o principal motor do processo de desenvolvimento e reservam para o Estado o papel de orientar superiormente e de completar ou suprir essa iniciativa.
Por isso se declara no aludido projecto de proposta de lei que so carácter global atribuído ao Plano entende-se no quadro dos princípios gerais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social» (base II, n.º 2).
Mas o que fica exposto também não quer dizer que o Plano revista natureza puramente indicativa ou programática no tocante aos objectivos e empreendimentos directa ou indirectamente dependentes do Estado, ou de entidades controladas pela Administração Nessa parte, não pode deixar de entender-se que semelhantes objectivos e projectos, bem como os respectivos investimentos, assumem carácter imperativo, e que o sector público toma, em princípio, o compromisso de assegurar a sua execução durante o período do Plano O mesmo pode dizer-se relativamente às providências de política económica, financeira e social que o Governo encara como necessárias à efectivação dos objectivos propostos.
Quanto aos investimentos puramente privados, cujos projectos constam expressamente do Plano, a sua inserção não implica, pois, de harmonia com os princípios enunciados, que as empresas- responsáveis pela execução desses projectos fiquem definitivamente vinculadas ao seu cumprimento, mas apenas o alto interesse atribuído pelo Governo à efectiva realização de tais empreendimentos, dada a sua relevância para as finalidades do Plano

13. Ainda no que se refere aos investimentos e projectos explicitamente discriminados no Plano, tanto públicos como privados, cumpre distinguir, de harmonia com a orientação já perfilhada nos planos anteriores, os que devem considerar-se prioritários, relativamente aos quais se especificam, desde já, os seus custos e as respectivas fontes de financiamento, e os não prioritários, cuja concretização fica condicionada à conclusão dos competentes projectos técnicos e económicos, à definição dos respectivos regimes jurídicos e à obtenção dos recursos financeiros adequados, a determinar nos programas anuais de execução do Plano.
Deve ainda sublinhar-se que o carácter prioritário atribuído assim a certo número de projectos e programas de investimento apenas se reporta à sua execução no tempo e não significa que a esses projectos deva atribuir-se maior importância para o progresso económico e social do País do que em relação aos não prioritários, pois se que fundamentalmente interessa é que os níveis globais de investimento projectados possam ser atingidos mediante a execução dos projectos destacados e de outros que, no decurso do período de vigência do Plano, a iniciativa pública e privada lhes possa vir a juntar, no cumprimento do esquema de desenvolvimento definido no Plano»1.

14. Os objectivos fundamentais assinalados ao III Plano, tal como sucedeu nos planos precedentes, continuam i corresponder aos nossos mais salientes problemas de natureza económica e social e a ir ao encontro de aspirações já conscientes da comunidade nacional.

1 Cf. Plano Intercalar de Fomento, cit, vol I, pp 15-16

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Assim, inscrevem-se como grandes objectivos ou finalidades do Plano.

1.º A aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional,
2.º A repartição mais equitativa dos rendimentos,
3.º A correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento,

Semelhantes objectivos conferem ao Plano, nesta parte, carácter normativo, e a ordem por que ficam enunciados não é arbitrária traduz determinada hierarquia, que, nas circunstâncias presentes, entende- dever atribuir-se àqueles objectivos, considerados como meios de realização de finalidades mais altas.
Nessa ordem hierárquica, considera-se que o primeiro objectivo -a aceleração do ritmo de incremento do produto nacional- deve primar sobre os restantes, na medida em que decisivamente os condiciona Na verdade, como é evidente, não será possível obter mais ampla e equitativa distribuição dos rendimentos, nem promover o desenvolvimento de regiões desfavorecidas, se as fontes de produção não permitirem dispor de bens acrescidos para uma melhor repartição, pessoal e regional, da riqueza criada.
Por isso se colocou em primeira linha, como alvo fundamental do planeamento, a intensificação, em toda a medida do possível, do crescimento do produto nacional.
Satisfeito este primacial objectivo, a segunda meta apontada - mais equitativa repartição dos resultados da produção - reflecte as finalidades eminentemente humanas e sociais do Plano.
Com efeito, não corresponderia a directrizes basilares da nossa ordem jurídica, nem a imperativos intensamente sentidos da consciência nacional, uma política de desenvolvimento que não se traduzisse na participação, cada vez mais ampla e mais justa, de todos os portugueses nos frutos do progresso. Só deste modo se daria exacto cumprimento ao preceito constitucional que estabelece dever a organização económica da Nação «realizar o máximo de produção e riqueza socialmente útil» (Constituição Política, artigo 80.º).
O terceiro grande objectivo do Plano diz respeito & correcção das disparidades regionais de desenvolvimento.
Semelhante finalidade insere-se na política de crescimento harmónico da sociedade portuguesa, que representa pressuposto essencial do próprio planeamento.
Mas, pelas razões já apontadas, também a promoção regional deve subordinar-se ao primeiro objectivo do Plano - a aceleração do ritmo de acréscimo do produto -, pois este constitui o alicerce fundamental para a elevação progressiva das condições económicas e sociais das zonas de menor grau de desenvolvimento.
A inclusão da política de fomento regional entre as finalidades centrais do Plano representa a evolução lógica do problema, tal como resulta de diversos textos legais e ficou previsto no Plano Intercalar Com efeito, aí se exprimiu o propósito de que se consideração sistematizada e decidida do equilíbrio regional» deveria ser encarava no III Plano de Fomento.
Assim, o presente Plano inclui no seu texto, como já se aludiu, um título especialmente dedicado aos problemas do planeamento regional.

15. Com vista ao exacto cumprimento dos objectivos consignados no Plano, a proposta de lei sobre a sua organização prevê (base IV) que o Governo deva assegurar.

a) A coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional,
b) A manutenção da estabilidade financeira interna e da estabilidade externa da moeda,
c) O equilíbrio do mercado de emprego,
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

Não parecem necessárias largas considerações para justificar a indispensabilidade de articular a realização do Plano com a observância destas coordenadas essenciais.
O esforço de defesa do território pátrio, de que depende a própria sobrevivência nacional, tem de ser íntima e constantemente coordenado com a execução do Plano, pois, se é verdade dever aquela missão primar sobre tudo o mais, também é irrecusável que o desenvolvimento económico constitui o alicerce por excelência da sustentação do mesmo esforço de defesa.
A manutenção da estabilidade financeira e monetária, o tema e externa, representa, por seu turno, base im prescindível para- a expansão equilibrada da economia e da vida social, pois na sua essência traduz a harmonia entre a totalidade dos recursos produzidos no País e as suas aplicações em consumos e investimentos, assim como entre a oferta e a procura de bens e serviços, sem a qual se geram pressões inflacionistas, com o seu cortejo de perturbações e desperdícios de riqueza.
O equilíbrio do mercado de emprego constitui igualmente requisito da maior importância para conseguir o equilíbrio económico geral e evitar tensões sociais.
A satisfação regular das necessidades de mão-de-obra é, para as diversas actividades, indispensável ao seu desenvolvimento harmónico, sendo certo que as pressões sobre os salários, provenientes de desajustamentos entre oferta e procura de colocações, têm reflexos directos no preço dos bens e serviços e, por intermédio destes, na própria estabilidade monetária e financeira.
Por último, a adaptação gradual, mas em cadência cada vez mais rápida, da economia portuguesa aos movimentos de integração que actualmente se processam, designadamente na Europa, representa, outrossim, necessidade imperiosa dos nossos dias.
A integração em espaços económicos mais vastos, além de exigir transformações de alcance e profundidade de que ainda mal nos apercebemos, abrange simultaneamente o mercado dos factores produtivos, isto é, do trabalho, da técnica e do capital.
A modernização das estruturas produtivas da nossa economia impõe-se, deste modo, não apenas por motivo da pretendida aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, mas também pela urgência de assegurar a essas estruturas condições de competição nos mercados internacionais e, em particular, nos mercados europeus.

16. Os investimentos expressamente previstos no Plano atingem o montante total de 167 580 000 contos, números redondos, correspondendo 128 050 000 contos à parte do Plano respeitante ao continente e ilhas adjacentes a 44 480 000 contos às províncias ultramarinas.

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1 Plano Intercalar do Fomento, vol cit, p 10, cf também o citado Decreto-Lei n.º 44 652, artigos 4.º, § 1.º, e 34.º, n.ºs 2 e 3, e o Decreto-Lei n.º 46 909, cit, artigos 1.º, 9.º, 28.º e 29.º

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Relativamente ao continente e ilhas adjacentes, aqueles investimentos distribuem-se pelos seguintes sectores.

Milhares de contos
Agricultura, silvicultura e pecuária 14 600
Pesca 1 842
Indústrias extractivas e transformadoras 31 150
Melhoramentos rurais 2 880
Energia 17 607
Transportes, comunicações e meteorologia 27 090
Habitação e urbanização 8 050
Turismo 11 850
Educação e investigação 5 643
Saúde 2 338
Total 123 050

Com excepção dos investimentos respeitantes às indústrias extractivas e transformadoras, que resultam essencialmente de estimativas e projectos apresentados pelos industriais, em todos os restantes sectores os quantitativos indicados dizem respeito a empreendimentos e projectos considerados prioritários no sentido que acima &c atribuiu a esta expressão.
O montante total de 123 milhões de contos é cerca de 80 por cento superior ao programado no Plano Intercalar (multiplicando este por 2 para efeitos de comparação) e representa perto de 62 por cento do investimento bruto global, que se prevê venha a realizar-se na metrópole durante o hexénio do Plano.
O sector público (Orçamento Geral do Estado, fundos e serviços autónomos, autarquias locais e previdência social) assume o financiamento de aproximadamente 30 por cento do quantitativo respeitante aos investimentos prioritários, tal como sucedeu no Plano Intercalar. A distribuição daquela percentagem varia acentuadamente de capítulo para capítulo, conforme a maior ou menor dependência destes em relação ao financiamento público.
Assim, por exemplo, ao passo que na agricultura é de 48,8 por cento, subindo para 82,2 por cento nos melhoramentos rurais e para 79,8 por cento na educação e investigação e 99,1 por cento na saúde, a participação do sector público baixa para 0,5 por cento nas indústrias, 1,85 por cento na energia e 9,9 por cento no turismo.
Deve, além disso, observar-se, quanto ao Orçamento do Estado, que o esforço financeiro consignado no Plano é apenas o inscrito na despesa extraordinária, e não abrange todo aquele que, em vários capítulos do mesmo Plano, é efectuado por intermédio das dotações ordinárias, como sucede, por exemplo, na agricultura, na habitação e urbanização, na educação e investigação e na saúde.

17. Relativamente à parte metropolitana do Plano, cumpre ainda pôr em relevo outro traço saliente da política de desenvolvimento nele expressa.
É o que diz respeito ao tratamento preferencial atribuído a três sectores - agricultura, educação e investigação e saúde.
Quanto ao primeiro, reconheceu-se ser indispensável que o Plano reflectisse o decidido esforço a empreender, mediante estreita colaboração entre o Governo e a lavoura, no sentido de vencer a estagnação do sector nos últimos anos e caminhar resolutamente para uma intensificação do ritmo de crescimento, com base em investimentos substancialmente acrescidos em infra-estruturas e serviços de apoio, completados por uma série de providências de política agrária destinadas a criar as condições necessárias à realização daqueles objectivos fundamentais.
Nesse sentido, os investimentos prioritários programados para o sector atingem 14 600 000 contos, ou seja cerca de quatro vezes os inscritos no Plano Intercalar.
A melhoria das dotações nos capítulos da educação e investigação e da saúde não carece sequer de justificação Trata-se de dois sectores de relevância essencial e que, pode dizer-se, são o alicerce por excelência do próprio procuro de desenvolvimento económico, pois o homem está no princípio e no fim de todo este processo.
O confronto entre o presente Plano e o Intercalar, quanto aos investimentos prioritários naqueles dois capítulos, é o seguinte.

[Ver Quadro na Imagem].

Os acréscimos são, pois, de 172 por cento na educação e investigação e de 208 por cento na saúde.

18. Dando continuidade a outro aspecto da estratégia de desenvolvimento, já referido no Plano Intercalar e confirmado durante a sua execução, consideram-se como principais núcleos motores da aceleração do crescimento do produto nacional as indústrias transformadoras e da construção e o turismo, pelas suas elevadas taxas de crescimento e pela influência determinante nas transformações estruturais da nossa economia.
Trata-se de sectores em que predomina largamente a acção da iniciativa privada, sob a orientação e o estímulo do Estado.
Do dinamismo e da colaboração activa dos empresários, bem como da sua consciente adesão aos objectivos do Plano, dependerá, pois, de forma decisiva, a realização desses objectivos e, em grande medida, o futuro da economia portuguesa.

19. Os investimentos programados para as províncias ultramar mas, cujo total já se apontou, apresentam a seguinte distribuição.

Milhares de contos

Agricultura, silvicultura e pecuária 5 057
Pesca 836
Indústrias extractivas e transformadoras 21 205
Melhoramentos rurais 116
Energia 2 268
Comércio 281
Transportes e comunicações 10 144
Habitação e urbanização 654
Turismo 196
Educação e investigação 2 700
Saúde e assistência 1 023
44 480

Deste total, que representa acréscimo de 54 por cento relativamente ao Plano Intercalar, prevê-se que perto de 36 por cento sejam financiados pelo sector público, 30 por cento por institutos de crédito, empresas e particulares,

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e o restante por fontes externas. O contributo da Administração Central neste esquema de financiamento é de cerca de 15 por cento, cifrando-se em 6 717 000 contos.

20. De harmonia com a evolução global da economia metropolitana programada para o período do Plano, o produto interno bruto deverá crescer ao ritmo médio anual de 7 por cento, em lugar dos 6,1 por cento do Plano Intercalar, e alcançará em 1973 cerca de 155 milhões de contos.
A capitação do produto situar-se-á, naquele ano, no valor de 17,2 contos, a preços constantes, em confronto com os 11 contos de 1965.
O crescimento estimado para o produto exigirá, de 1968 a 1973, um esforço de investimento global da ordem dos 183,6 milhões de contos, devendo expandir-se, durante aquele período, à taxa média anual de 8,2 por cento, sensivelmente análoga à prevista no Plano Intercalar.
Por virtude daquele esforço de formação de capital fixo o respectivo valor em 1978 calcula-se em 37 milhões de coutos, ao passo que em 1965 não deve ter ultrapassado 17,2 milhões.
De acordo com as mesmas projecções, o consumo privado deverá acusar o incremento médio de 5,9 por cento ao ano, o que traduz melhoria apreciável em relação às previsões do Plano para 1965-1967, atingindo em 1973 o nível dos 111 milhões de contos, contra 74,6 milhões estimados para 1965.

21. Como ]á se referiu, não se considerou, por ora, viável estabelecer esquemas globais quantificados de crescimento para as províncias ultramarinas de governo simples, dadas as suas características estruturais.
Em relação às províncias de governo-geral, foi ]á possível estabelecer modelos quantificados de expansão, que permitissem enquadrar harmoniosamente os desenvolvimentos sectoriais previstos.
Assim, o programa de Angola assenta na hipótese de descimento do produto interno à taxa média anual de 7 por cento, idêntica à da metrópole, o que representa significativa aceleração da tendência verificada nos últimos anos, que não tem excedido 5 por cento O acréscimo da capitação do produto estima-se em 4,8 por cento Para esse efeito, considera-se necessário acentuar, sobretudo, o esforço de investimento nas actividades motoras da economia angolana - agricultura, pesca, indústrias extractivas e transformadoras -, conferindo primeira prioridade às aplicações que contribuam directamente para a melhoria da balança de pagamentos.
Quanto a Moçambique, o programa assenta na hipótese de incremento do produto interno à taxa média de 7,1 por cento, o que representa ligeira aceleração do ritmo apurado no período de 1953-1962, que foi de 6,5 por cento. Os investimentos necessários para a realização deste esquema são estimados em 15 600 000 contos, não incluindo o aproveitamento integral do Zambeze, empreendimento da maior relevância para a economia da província, mas ainda na fase de estudos finais e negociações.

§ 4.º Problemas de execução do III Plano

22. Segundo as directrizes que ficam expostas, o Plano deverá constituir verdadeira cai ta orientadora da vida económica e social do País, a ter constantemente presente nas intervenções do sector público e nas decisões dos agentes económicos privados.
Por isso, revestindo embora natureza indicativa a maior parte das actuações previstas, afigura-se indispensável garantir ao novo Plano meios de efectiva execução, sendo certo que um plano de fomento vale sobretudo na medida em que forem realizadas as suas previsões. A execução do III Plano há-de, assim, identificar-se com o próprio funcionamento do sistema económico e medir-se pelos mesmos indicadores que se usam para caracterizar a evolução desse sistema, exigindo do Governo e dos órgãos de planeamento atenção permanente, de diagnóstico e crítica, no acompanhamento conjuntural dos diversos sectores de actividade e da evolução dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais.
Para tanto, conservar-se-ão em funcionamento os grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica durante o período do Plano.
A estes órgãos caberá acompanhar de perto, em colaboração com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, a forma como irão tomando corpo as projecções adoptadas e será dada execução à política definida. Competir-lhes-á, ainda, informar sobre a permanência dos objectivos e esquemas de actuação fixados no início do Plano, com vista a eventuais correcções e ajustamentos que, anualmente, haverá oportunidade de fazer.
Mantendo-se a larga representatividade dos interesses em causa que foi proporcionada a cada grupo, o Governo disporá de meios de consulta especialmente aptos a pronunciarem-se sobre os problemas da execução do Plano, assegurando-se, além disso, a possibilidade de o sector privado continuar a participar activamente, como é indispensável, no esforço de atingir as metas propostas.
Pretende-se, pois, transpor a barreira que separa a preparação mais ou menos elaborada de planos globais de desenvolvimento da vivência efectiva de uma política económica e social orientada segundo os esquemas neles fixados e votada ao cumprimento dos seus objectivos, o que equivale a reconhecer que os esforços futuros hão-de concentrar-se, não já, fundamentalmente, na criação de capacidade técnica de planear, mas antes no fortalecimento da ideia do Plano como obra comum e contínua do Governo e dos agentes económicos.
As actuais condições da orgânica e funcionamento das entidades públicas e privadas com responsabilidades de execução ou orientação em matéria económica e social carecem de diversos aperfeiçoamentos para assegurar ao Plano condições satisfatórias de execução. Torna-se, para tanto, conveniente prever um conjunto de providências, que podem agrupar-se em duas rubricas.
Providências atinentes à progressiva modernização do sector privado.
Providências respeitantes à actualização da estrutura e dos meios de acção da administração pública, em geral, e dos organismos de planeamento, em particular.

23. As empresas privadas representam a base do nosso sistema económico, dentro do quadro de economia de mercado em que se desenrola a estrutura produtiva do País e de harmonia com o princípio constitucional que reconhece na iniciativa particular o mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação.
No contexto do processo geral de desenvolvimento, as empresas defrontam hoje múltiplas dificuldades, até porque sobre elas recai o essencial dos reflexos da concorrência externa. Os nossos empresários confrontam-se com a urgência de conseguir um conjunto de transformações simultâneas inserir os seus produtos em mercados de âmbito potencialmente europeu, em condições competitivas de preço, qualidade e comercialização, adaptar as técnicas produtivas, que exigem não só equipamentos reno-

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vados, mas também novos métodos de organização, novas qualificações profissionais e, por vezes, ampliação ou concentração das próprias estruturas empresariais.
Aos empresários cumpre atingir níveis de produtividade e capacidade de inovação e progresso equiparáveis aos que são correntes nos países mais avançados. Qualquer tolerância aparentemente limitada poderá ter efeitos muito pesados Parece não haver outra alternativa senão abandonar a posição tradicional, que consistia em preservar estruturas e métodos antiquados, e prosseguir no caminho de intensificar os esforços requeridos pela sua modernização.
A contrapartida das exigências postas às empresas pelo processo de desenvolvimento encontra-se na eficácia do enquadramento geral que deverá ser-lhes proporcionado Os nossos empresários têm, por certo, o direito de espetar condições de funcionamento tendencialmente semelhantes às dos países concorrentes facilidades de crédito, mão-de-obra, matérias-primas, energia e sistema de transportes, equiparáveis em preço, qualidade e características de aprovisionamento, regimes fiscais equivalentes, enquadramento jurídico e administrativo apropriado, investigação tecnológica, acções de produtividade e promoção eficientes, e outros requisitos semelhantes.
Caberá ao sector público, de harmonia com os princípios já enunciados, prosseguir na criação dessas condições institucionais, para o que o III Plano prevê, em cada sector, como se aludiu, um conjunto de medidas de política adequadas.

24. Neste processo, importa sublinhar o papel de grande importância que deverão ser chamadas a desempenhar as corporações, os organismos patronais e os sindicatos de trabalhadores, no que respeita ao conjunto de acções requeridas pela execução do Plano.
As corporações económicas e os organismos nelas integrados vêm desempenhando papel de relevo na representação das respectivas actividades, muito embora nem sempre disponham da orgânica indispensável para oferecer colaboração tecnicamente válida. Para esse efeito, foi criada uma comissão com o mandato de examinai- a forma como a organização corporativa poderá corresponder às exigências do desenvolvimento sócio-económico do País e propor as adaptações a promover nas suas estruturas orgânicas e funcionais à luz dessas exigências, tendo em conta especialmente a sua participação nos planos de fomento.

25. Para além dos problemas postos pela reforma da administração pública, que são versados em capítulo próprio, convém aludir à conveniência de aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos Trata-se, aliás, de providência expressamente contemplada no projecto de proposta de lei sobre o Plano, entre as disposições destinadas a assegurar a respectiva execução [base IX, alínea b)].
Nos aperfeiçoamentos a introduzir, sobressaem principalmente os relativos ao apoio em matéria de política conjuntural e no acompanhamento macroeconómico da execução dos planos de fomento.
Semelhante tarefa exige rápido progresso nos métodos de trabalho do Secretariado Técnico, mas está condicionada pela disponibilidade de suficiente informação estatística conjuntural e de colaboração especializada por parte dos diversos departamentos da Administração.
Também estes aspectos se encontram focados no referido projecto de proposta de lei, tanto no que diz respeito ao prosseguimento dos programas em curso para completar a cobertura estatística do espaço português, como na criação, sempre que se reconheça necessário, de órgãos técnicos de apoio a execução do Plano nos Ministérios e Secretarias de Estado [base citada, alíneas c) e d)] Quanto a estes órgãos, convirá em especial definir as suas atribuições por forma a obter-se a conveniente unidade de acção o a necessária coordenação com os serviços centrais de planeamento.
Outrossim, a experiência de funcionamento da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, e respectivos grupos de trabalho, aconselha certos reajustamentos na sua estrutura, atribuições e métodos de funcionamento, designadamente com vista ao acompanhamento da execução do Plano Neste aspecto, desde já se insere na proposta de lei sobre o Plano um preceito que manda providenciar no sentido de aquela comissão interministerial dever apresentar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, no decurso de cada ano, informações periódicas acerca da marcha do Plano (base XI, 2).

26. Como ficou oportunamente assinalado, o período de vigência do III Plano será novamente de seis anos Nada parece de observar quanto ao período fixado, mas julga-se conveniente esclarecer que o planeamento em perspectiva não revestirá carácter homogéneo ao longo de toda a vigência do Plano.
As incertezas técnico-económicas que, naturalmente, pairam sobre os últimos anos do seu período, obrigam a considerar como aproximativa e provisória, pelo menos em parte, a programação estabelecida para os anos de 1071 e seguintes Nesse sentido, os programas anuais não ocorrer, em certo modo, à indeterminação que agora se defronta, concretizando ano a ano, parcelas do esquema geral inicialmente fixado Mas a solução correcta do problema não podia deixar de procurar-se por um dos dois caminhos a que se tem recorrido nos diversos países, na seja.
Adopção de planos móveis, com períodos anualmente alargados para mais um ano.
Expressa revisão do Plano após os primeiros anos da sua execução.
O Governo inclinou-se para a segunda solução, que o projecto de proposta de lei consagra [base VI, alínea c)], a fim de evitar a dificuldade, e mesmo, em certos casos, a impossibilidade, de efectuar concretizações rigorosas para os últimos anos do período O Plano será, pois, revisto no fim do seu primeiro triénio.
Aliás, a natureza da maioria das empresas e os seus métodos normais de trabalho não permitem estabelecer esquemas de investimento a mais de dois ou três anos de distância. E são estas empresas que, naturalmente, constituem a base dos sectores económicos abrangidos na parte indicativa no Plano.
Tudo aconselhava, pois, que o planeamento hexenal revestisse a função de quadro geral orientador e de esquema integrante dos projectos de investimento de longo período de realização.
Assim, a programação concreta de certo número de empreendimentos, em especial do sector privado, abrange apenas os três primeiros anos do Plano, diferindo para a revisão prevista a partir do segundo triénio a discriminação dos investimentos relativos a este período.
A revisão será também aproveitada para o ajustamento das projecções globais e sectoriais, de acordo com as informações entretanto obtidas e a evolução da economia nacional. Deve notar-se que, em contexto metodológico e

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500 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

conjuntural bastante mais simples, se considerou já necessário proceder à revisão do I Plano de Fomento após os três primeiros anos da sua vigência.
Mas esta fórmula não responde, só por si, a todos os problemas suscitados pelos movimentos económicos do curto prazo Os objectivos inscritos no Plano serão assim completados por providências legais e administrativas.
que enquadrem de perto a evolução conjuntural Daí que o Plano deva ser, na sua execução, desdobrado, como até aqui, em programas anuais que contenham, além dos projectos definidos para realização imediata, políticas de curto prazo destinadas a encaminhar a evolução efectiva dos diversos sectores para os objectivos de médio prazo consignados naquele documento.

MAPA I

III Plano de Fomento-Síntese dos investimentos previstos

Continente e Ilhas

(a) São 1620 do Fundo do Abastecimento para a cerealicultura, e o restante, do mesmo Fundo, para o fomento pecuário e forrageiro.
(b) Admito se recorrer ainda a esta fonte para financiamentos adicionais destinados a obras de rega.
(c) Subscrição do obrigações do Fundo do Renovação o do Apetrechamento da Indústria da Pesca correspondente às amortizações vincendas de empréstimos obrigacionistas subscritos pelo Estado, relativamente ao período de 1968-1973.
(d) Obrigações do Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Industria da Pesca a lançar no mercado financeiro.
(e) Fomento mineiro.
(f) A distribuição por fontes de financiamento é mera estimativa baseada na experiência do anos recentes.
(g) Fundo de Desemprego.
(h) Junta do Energia Nuclear, haverá que contar ainda, eventualmente, com a parte correspondente aos aumentos de capital das empresas em que o latada tem posição accionista.
(i) Ilhas adjacentes, obras na sua maioria a cargo das autarquias locais
(j) A repartição por fontes é uma primeira estimativa baseada na experiência empresarial de anos recentes.
(l) São 000 milhares de contos a financiar por operações do crédito externo, eventualmente através do Banco Mundial, para nos ferroviários, 600 milhares do contos para subscrição do obrigações do Fundo do Renovação da Marinha Mercante, supondo que se realizam as amortizações vincadas durante o período do Plano.
(m) São 800 contos do Fundo de Desemprego, 2020 do Fundo do Aquisição da APT, 15 do Fundo de Abastecimento, e o restante do Fundo Especial de Transportes Terrestres.
(n) Transportes Colectivos do Porto.
(o) Inclui, eventualmente, a participarão de autarquias locais, designadamente nora o Metropolitano do Lisboa.
(p) Inclui crédito por Intermédio da construção naval, quo pode dizer respeito, em parte não susceptível de destrinça, a estaleiros nacionais, compreendo também 1 milhão de contos para projectos extraordinários do estradas.
(q) São 380 milhares do contos do Funda de Melhoramentos Agrícolas, por melo de empréstimos do fundo de Abastecimento e da Caixa Geral do Depósitos O restante A financiado pelo Fundo do Desemprego.
(r) Inclui obras para o abastecimento do agua da cidade de Lisboa e seus arredores, estimadas em cerca de 600 milhares de contos, parto dos quais a financiar por recurso ao credito Interno.
(g) Abrange 210 milhares de contos para subscrição de títulos a emitir pelo Fundo do Turismo.
(u) Inclui recursos próprios dos órgãos locais de turismo.
(x) Compreendo recurso eventual a capitais externos.
(y) Títulos a emitir pelo Fundo do Turismo.
(z) Inclui uma parte a Inscrever no orçamento ordinário por corresponder a despesas do caracter corrente.
(z) São 600 contos do Fundo do Desemprego e 100 do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.
(v) Não compreende as despesas de manutenção.
(b) Arredondado.

MAPA II

III Plano de Fomento - Síntese dos investimentos previstos

(Províncias ultramarinas)

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

MAPA III

III Plano de Fomento - Fontes de financiamento

Províncias ultramarinas

[Ver Quadro na Imagem].

CONTINENTE E ILHAS

I

Programação global

CAPITULO I

Projecções do desenvolvimento económico e social para 1968-1973

§ 1.ª Lógica geral da programação

1. O III Plano de Fomento traduz um esquema coerente da evolução económica e social do País, que se considerou desejável e possível nos próximos seis anos.
As perspectivas de desenvolvimento para 1968-1973 concretizam-se através de um conjunto de projecções para os diversas variáveis mocroeconómicas. A lógica de planeamento adoptada implica se tomem como ponto de partida as projecções do produto interno bruto por sectores No sentido de assegurai - o equilíbrio entre necessidades o disponibilidades de recursos, programam-se seguidamente os crescimentos das diversas componentes autónomas da despesa nacional e obtém-se, por diferença, o comportamento do consumo privado As tendências projectadas e as metas propostas representam progressos sensíveis relativamente à actual situação económico-social e atendem ainda às características e problemas evidenciados no recente processo de desenvolvimento.
Em 1965, a capitação do produto nacional era, em média, de 11 contos por ano Tal capitação, embora nos coloque no grupo de países que já se encontram em fase de franca evolução paia níveis elevados de progresso económico-social, não nos confere, no entanto, situação favorável nesse conjunto De facto, e apenas considerando os países europeus, verifica-se ser necessário acelerar a taxa de crescimento da economia nacional, para acompanhar a evolução prevista pelo grupo dos países mediterrânicos e alcançar, o mais rapidamente possível, os níveis de desenvolvimento da Europa ocidental.

2. O esquema que presidiu à elaboração das projecções do desenvolvimento económico e social para o período deste III Plano corresponde, nas suas características básicas, à metodologia de programação ensaiada e adoptada pela primeira vez na preparação do Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.
As projecções macroeconómicas referem-se a um conjunto de variáveis consideradas fundamentais para o desenvolvimento, salientando-se entre estas o produto interno bruto, ao qual se confere papel fulcral no delineamento da evolução económico-social As projecções das outras variáveis - formação bruta de capital fixo, relações económicas com o exterior e diversas componentes da despesa nacional - consubstanciam resultados que

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502 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

de forma directa ou indirecta, se ajustam aos comportamentos admitidos para o produto.
As relações entre estas variáveis referem-se aos valores sectoriais por elas assumidos, pelo que os seus quantitativos globais resultam da soma dos diversos valores sectoriais projectados Dado o nível de desagregação utilizado, houve ainda que assegurar, para além das relações entre as variáveis, a coerência intersectorial dentro do sistema de informação disponível.
O conjunto das projecções elaborado para o período de 1968-1073 corresponde, em síntese, a intenção do Governo de acelerar o ritmo de desenvolvimento e ainda de corrigir a insuficiência da oferta interna revelada nalguns sectores. À aceleração prevista resultará, por um lado, do maior peso relativo que progressivamente vão adquirindo as actividades mais dinâmicas e, por outro, da elevação das tendências passadas de descimento, que a política de fomento se proporá conseguir durante a vigência do Plano em sectores de maiores potencialidades e, ainda, naqueles que visam a oferta de bens e serviços essenciais à melhoria geral dos níveis de vida.
Assim, de entre todas as actividades económicas, consideram-se as indústrias transformadoras e da construção e o turismo como constituindo o núcleo central a que se conferiu carácter motor, pelas elevadas taxas de crescimento e pela sua influência decisiva nas transformações estruturais da nossa economia Num outro grupo incluíram-se sectores cuja evolução irá apresentar carácter essencialmente derivado, com tendência para acompanhar o ritmo das actividades mais dinâmicas (comércio, transportes, habitação e serviços diversos). As restantes actividades foram tratadas autonomamente, quer porque se projectaram taxas baseadas no comportamento do passado ou em previsões de novas tendências, quer porque o Governo aprovou políticas específicas de que a« taxas programadas traduzem objectivos de aceleração deliberada (caso da agricultura, da saúde e da educação).
As projecções foram realizadas tomando como ponto de partida os valores estimados para 1067, último ano abrangido pelo Plano Intercalar de Fomento, que se afastam, em geral, dos que constam das projecções do Plano Intercalar pela conjugação de duas- ordens de razões.
A primeira reside nas diferenças quanto ao nível de 1064, não só porque para aquele ano se dispunha apenas, aquando da preparação do último Plano, de estimativas provisórias realizadas em conjuntura difícil, mas ainda em virtude da revisão estatística e da alteração da base de preços de 1958 para 1963
de se ter aplicado ao período de 1965-1967 o mesmo tapo de aceleração aprovado em princípio para 1968-1973 pois. Uma segunda ordem de razões abrange as que resultam se revelaram inoperantes os condicionalismos que, durante a preparação do Plano Intercalar, levaram a encarar os anos de 1965-1967 numa óptica de recuperação do ritmo de evolução da economia nacional), o que implicou terem-se atribuído ao período de 1965-1967 taxas em geral mais elevadas do que as projectadas para o III Plano.

§ 2.º Projecções do produto interno bruto

3. Em resultado dos diversos ritmos sectoriais programados, o produto interno bruto deverá acusar, no período de 1968-1973, o ritmo médio de crescimento anual de 7 por cento, atingindo em 1978 cerca de 155 milhões de contos. Em consequência, a capitação do produto assumirá em 1973 o valor de 17,2 contos a preços constantes de 1963, o que representa acréscimo de 77 por cento em relação ao nível de 1963 (variação nitidamente mais acentuada do que a registada na década anterior - 47 por cento) Esta aceleração do descimento processar-se-á a par ao importantes alterações da estrutura económica e social.
No que se refere às actividades primárias, pretende-se que a agricultura e as indústrias extractivas apresentem taxas capazes de traduzir comportamento diverso do registado no passado Com efeito, o produto agrícola tem vindo a revelai tendência estagnante, e por isso se encara a necessidade de alterar com urgência a situação mediante um conjunto de acções deliberadas de fomento.
A evolução espontânea do sector agrícola poderia conduzir, na melhor hipótese, à taxa de 1,3 por cento. Em tal caso, o produto agrícola registaria o aumento de apenas 1,4 milhões de contos entre 1967 e 1978. Tendo presentes as múltiplas tensões surgidas no sistema económico nos últimos anos, em virtude do relativo atraso que caracteriza o mundo rural, considera-se insatisfatória aquela evolução, pois corresponderia a ignorar as dificuldades de fundo com que se debate o sector.

QUADRO I

Projecções do produto interno bruto por sectores de actividade

[Ver Quadro na Imagem].

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A procura de alguns bens alimentares de origem agrícola, como a carne, ovos, leite e produtos hortícolas, apresenta elevadas elasticidade de rendimento, pelo que a oferta de veia aumentar sensivelmente, a par da aceleração do progresso económico-social geral.
Neste domínio, a agricultura nacional não tem ainda podido respondei às necessidades da população, quer em quantidade, quer em preço, pelo que se tem recorrido a elevadas importações, com a consequente repercussão sobre a balança de pagamentos Para este aspecto também contribui o facto de a agricultura dificilmente se encontrar em condições de fornecer matérias-primas suficientes às indústrias aumentares.
A aceleração do progresso do sector agrícola é igualmente requerida pela necessidade de atenuar algumas tensões que pesam sobre o meio rural, como o acentuado êxodo da população e as insuficientes capitações do produto.
Desta forma, pareceu ao Governo indeclinável a rejeição das perspectivas espontâneas de evolução do produto agrícola e programou-se sensível aceleração, tendo-se considerado como mínimo desejável o crescimento anual de 3 por cento ao longo do período de 1068-1973. Tal ritmo de evolução é, aliás, de uma ordem de grandeza que se pode considerar realista em confronto como verificado em grande número de países europeus no passado recente. Com efeito, os ritmos de crescimento apresentados em 1950-11960 e 1960-1964 foram, respectivamente, 4,3 e 6,9 por cento na Grécia, 5 e 2,3 por cento na Turquia e 2,2 e 2,2 por cento na Itália e 1,9 por cento na Espanha em 1960-1964, prevendo-se rápidos desenvolvimentos futuros.
Durante o período de 1968-1973 as indústrias extractivas continuarão a recuperar, embora a ritmo mais atenuado do que no último triénio (3,5 por cento). Tal comportamento tornar-se-á possível desde que venham a concretizar-se as acções que o sector público deverá levar a cabo neste domínio, nomeadamente o reconhecimento da riqueza mineira do País, a política relativa às concessões mineiras inactivas e a promoção dos aspectos de investigação e racionalização das explorações.
Por outro lado, espera-se que os empresários privados tomem iniciativas relevantes nos domínios da prospecção de mercados e na melhoria das produções.
O sector das indústrias transformadoras destaca-se do conjunto dos sectores motores, pois desempenha papel fundamental na transformação estrutural da nossa economia, cabendo-lhe ainda efeito dinamizador sobre sectores cujo crescimento é arrastado pela expansão industrial. Para o período do III Plano de Fomento prevê-se crescimento a taxa média anual idêntica ò, do Plano Intercalar (9 por cento), o que constituir ligeira aceleração relativamente ao período precedente, em que aquelas actividades se expandiram ao ritmo de 8 por cento. Não constituindo a evolução programada objectivo sectorial ambicioso, convém salientar que também não representa mera previsão de crescimento espontâneo Com efeito, mas indústrias transformadoras, há domínios a que se reconhecem possibilidades reais de expansão, mas cuja evolução dependerá largamente de programas específicos que atendam aos problemas e condicionalismos próprios desses domínios. Por outro lado, o crescimento programado paia o conjunto das actividades transformadoras exigirá medidas de política mais eficazes, nomeadamente nas áreas da exportação, do auxílio às pequenas e médias empresas e da assistência técnica e indústria.
Os condicionalismos que rodeiam o nosso sector industrial, nomeadamente os resultantes da integração europeia, aconselhariam crescimento mais acentuado, da ordem dos 11 por cento ao ano. No entanto, não se considerou prudente acelerar desde ]á a expansão industrial sem dispor para alguns domínios estratégicos de elementos de informação e estudo suficientemente elaborados e aprofundados, de forma a basear decisões de tão grande alcance Tal não implicará, no entanto, que a política económica tenha abdicado de enfrentar o problema da promoção da indústria nacional a nível europeu. Será essa uma preocupação a ter em devida conta na preparação dos programas anuais e na oportuna revisão do Plano, especialmente em indústrias como as químicas e metalomecânicas, que, possuindo elevada projecção no futuro, exigem vultosos recursos técnico-económicos.
A indústria da construção, a que também se atribuiu papel motor, apresentará ritmo provável de acréscimo - 9 por cento -, directamente determinado pelo esforço de investimento. A ordem de grandeza do crescimento do sector será influenciada pela aceleração apresentada por actividades onde é elevado o peso dos investimentos em construção (agricultura, casas de habitação, administração pública e serviços diversos).
Para o conjunto dos serviços de electricidade, gás e água estima-se ritmo de expansão da ordem dos 11,2 por cento, o qual vem essencialmente determinado pelo comportamento da produção e distribuição de energia eléctrica, cujo crescimento representará completa satisfação das previsões dos consumos.
A evolução dos sectores do comércio e dos transportes e comunicações tenderá a acompanhar a aceleração das actividades mais dinâmicas, pelo que se prevê que aqueles sectores cresçam, respectivamente, às taxas de 6 e 5,8 por cento, as quais diferem muito ligeiramente dos ritmos projectados para o período do Plano Intercalar. O sector do crédito e seguros tem apresentado no passado recente crescimento substancial, comparado com o do ritmo geral da economia, tendo a sua taxa de 8 por cento sido superior mesmo à do conjunto das actividades motoras De facto, a banca e os seguros têm patenteado forte incremento para atingir dimensão compatível com o nível de desenvolvimento económico do País. Não parece de esperar nova aceleração do progresso do sector nos próximos anos, pelo que se prevê que no período do III Plano se mantenha o mesmo ritmo de expansão (8 por cento ao ano).
Do desenvolvimento económico geral programado para os próximos anos resultará aceleração da taxa de crescimento das casas de habitação, prevendo-se que a taxa de 5,2 por cento corresponda ao acréscimo de cerca de, 340 000 fogos no período de 1968-1973 (admitindo que o custo médio real por fogo seja igual ao do passado). Quanto ao sector da administração pública e defesa, prevê-se taxa de 5,1 por cento, ritmo de evolução que resulta dos crescimentos previstos para a administração pública (extrapolação da taxa verificada no passado) e para a defesa (baseada em estimativa directa da evolução das despesas militares).
O crescimento projectado para determinados sectores produtores de serviços directamente ligados à satisfação de aspectos básicos do nível de vida - educação e saúde - não constitui consequência directa da aceleração do ritmo geral de desenvolvimento.
Em relação a estes sectores, prevêem-se acréscimos que traduzem decisão deliberada para a progressiva resolução das carências ainda existentes naqueles domínios. De facto, a simples manutenção dos níveis actuais, no que respeita à instrução e formação profissional e à amplitude e qualidades das estruturas sanitárias, viria a provocar rápido agra-

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vamento das tensões existentes, além de se reflectir em cada vez maior vulnerabilidade do nosso sistema económico, perante a concorrência das economias estrangeiras., com incidências directas nos uiveis de produtividade da população e nas determinantes da* emigração Assim, para a educação, apresenta-se o ritmo de expansão de 8 por cento, o qual traduz sensível progresso em relação ao Plano Intercalar (5,9 por cento) Quanto à saúde, prevê-se crescimento de 6,5 por cento, ritmo francamente mais acelerado não só em relação ao passado (3,9 por cento), como também no programado no Plano Intercalar (4,9 por cento).
O produto dos serviços domésticos foi projectado supondo que tenderá a contrair-se na medida em que se reduzir a respectiva população activa, o que se calcula venha a suceder à taxa média do passado (2,8 por cento).
Por último, a evolução prevista para os serviços diversos resulta dos comportamentos estimados para a procura estrangeira e para a procura dos residentes. Em relação àquela, programou-se um crescimento estimado com base no comportamento recente considerando-se que haveria inúmeras vantagens acréscimos substanciais das receitas correntes em divisas, entrada de capitais, estrangeiros, etc - em satisfazer a procura prevista. No que respeita aos serviços que se destinam à satisfação da procura dos residentes, admitiu-se que a evolução resultaria directamente do ritmo de crescimento previsto para o conjunto das actividades económicas nacionais.

4. Em resultado dos ritmos programados para os diversos sectores, os três grandes ramos da actividade económica assumirão as posições que constam dos quadros II e III.

QUADRO II

Taxas anuais de crescimento e níveis do produto por grandes sectores.

[Ver Quadro na Imagem].

As características do conjunto dos diversos ritmos sectoriais programados asseguram aumento sensível do crescimento das actividades primárias, bem como fortalecimento muito nítido da evolução do sector terciário. Apesar de não sofrer aceleração muito sensível, o sector secundário continua a apresentar a taxa mais elevada, notando-se, no entanto, atenuação das diferenças entre as taxas dos diversos sectores.
Em consequência, n estrutura produtiva deverá apresentar, entre 1968 e 1978, evolução cujas principais características serão a progressiva perda de posição no sector primário, a par de ligeira quebra da participação das actividades terciárias. Paralelamente, verificar-se-á acentuação nítida da posição das actividades industriais, estimando-se que estas em 1978 venham a representar perto de 48 por cento do produto.

QUADRO III

Composição do produto por grandes sectores

[Ver Quadro na Imagem].

§ 3.º Projecções da formação bruta de capital fixo

5. O crescimento programado para o produto virá a traduzir-se, no período de 1968-1973, em esforço de investimento da ordem dos 184 milhões de contos, que se distribuirá nos seis anos do III Plano à taxa média de cerca de 8,2 por cento ao ano.
Em 1973, a formação bruta de capital deverá atingir o nível de 37 milhões de contos, o que representará 21,8 por cento da despesa nacional. Acentuar-se-á, portanto, o peso das despesas de investimento, que em 1967 terá sido de cerca de 19 por cento.
Para além da formação de capital fixo, o esforço de investimento compreenderá ainda a acumulação de existências Independentemente de variações anuais muito sensíveis, estima-se que o aumento das existências registará, em 1968-1973, crescimento médio idêntico ao do produto nacional bruto a preços de mercado, visto ter-se admitido que será constante - 0,9 por cento - a participação desta rubrica na despesa nacional.
O crescimento da formação bruta de capital fixo diferirá de sector para sector, em consequência da disparidade de ritmos programados para as produções sectoriais Para grande número de sectores, as taxas de crescimento previstas para o investimento não diferem sensivelmente das do produto respectivo, tendo no entanto sido outro o critério nos casos em que se tomou como base a extrapolação das tendências do passado e, ainda, sempre que o ritmo de distribuição dos investimentos pelos seis anos, paralelamente ao do produto, comportasse grandes esforços logo no início do III Plano, ou não apresentasse comportamento lógico, de acordo com as características do sector.

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De qualquer modo, as taxas de acréscimo programadas para 1968-1973 não devem ser interpretadas como atribuição rigorosa do esforço de formação de capital pelos seis anos Quanto aos montantes globais de investimento previstos para cada sector - estimativas de maior significado prático -, deverão ser tomados como os volumes globais de investimentos necessários para atingir as metas apontadas para o produto dos diversos sectores.

QUADRO IV

Projecções da formação bruta de capital fixo por sectores de actividade

[Ver Quadro na Imagem].

Os coeficientes capital-produto previstos para o período do Plano constituem nalguns sectores instrumento intrínseco da programação, surgindo noutros como resultado da conjugação das metas fixadas para o produto e das consequentes exigências em bens de investimento avaliadas directamente.
Os valores indicados para os coeficientes capital-produto dos sectores dos transportes e comunicações e casas de habitação -12,2 e 20, respectivamente - afiguram-se ainda demasiadamente elevados, atendendo mesmo à tradicional intensidade de investimento destas actividades.
No primeiro caso, trata-se de valor superior ao do passado, em virtude de elevada parcela dos investimentos programados se destinar a reposição de equipamento. No outro caso, o valor apontado já traduz situação melhor do que a verificada no passado.
Ao longo dos próximos anos tornar-se-á necessário adoptar medidas que favoreçam a reprodutividade do capital nestes sectores, designadamente através de melhor coordenação dos diferentes meios de transporte e do prosseguimento da política de construção de habitações menos dispendiosas, melhor aproveitamento das construções existentes e execução de uma política de terrenos.
Em virtude do rápido crescimento programado para a hotelaria, o sector de serviços diversos exigirá maior proporção de investimentos por unidade de produto, revelando-se necessário também aqui tentar uma economia de capital, quer através da adopção de medidas correctivas quanto ao custo do equipamento hoteleiro, quer pela intensificação do recurso a outras modalidades de instalações.
Pelo contrário, para a agricultura e electricidade, os coeficientes apresentam níveis inferiores aos do passado recente, devendo atribuir-se o aumento de reprodutividade dos investimentos, no primeiro caso, a uma decisão integrada no conjunto de políticas programadas para o sector, e, no segundo, ao peso progressivo que as centrais térmicas virão a ocupar na expansão prevista para os fornecimentos de energia eléctrica.
Convirá ainda referir que, apesar da aceleração conferida aos sectores da educação e saúde, se prevê que os respectivos coeficientes capital-produto registem ligeira quebra, como consequência da cobertura de parte das novas necessidades pelo recurso à utilização de edifícios arrendados e aquisição de construções já existentes.
No total das despesas em formação de capital fixo, continuarão a destacar-se, como componente de maior peso, as industrias transformadoras Devido aos elevados valores que apresentam os respectivos coeficientes capital-produto, outros sectores - electricidade, transportes e casas de habitação ocuparão também posição saliente no total da formação de capital, bem como a agricultura, em virtude da aceleração conferida ao respectivo produto.
A concentração do investimento por sectores tenderá a atenuai-se Com efeito, o conjunto das indústrias transformadoras, electricidade, transportes e casas de habitação representará em 1978 cerca de 67,3 por cento do total da formação de capital, quando em 1967 tal percentagem era da ordem dos 72 por cento Também o conjunto dos sei viços de saúde e educação verá atenuada a sua posição no total

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QUADRO V

Estrutura sectorial da formação bruta de capital fixo

[Ver Quadro na Imagem].

A estrutura da formação de capital por tipos de bens apresentará evolução rio sentido de peida da posição dos investimentos em construção Assim, enquanto em 1067 os investimentos em construção representarão provavelmente ainda 62 por cento do total, no final do III Plano aquela percentagem será da ordem dos 56 por cento Paralelamente, deve realçar-se, pelo seu significado, o facto de que o volume de investimentos em bens de equipamento deverá duplicar durante o período do Plano.

QUADRO VI

Níveis e estrutura do Investimento por tipos de bens

[Ver Quadro na Imagem].

S 4.º Projecções dai despesas públicas correntes com bens e serviços

6. A programação cuidada do andamento das despesas com bens e serviços por parte do sector público é indispensável para medir as incidências das melhorias ingentes dos serviços de saúde e educação e da eficácia da administração pública em geral Acresce que os progressos desejáveis estão em grande parte ligados à revisão dos níveis relativos de remunerações do pessoal daquele sector, em confronto com os correspondentes níveis do sector privado, o que não pode ser satisfatoriamente conseguido no quadro de uma rigorosa programação a preços constantes de 1968, pois é precisamente a proposição entre o valor acrescentado dos sectores público e particular que terá de ser alterada.
Estas projecções devem ser entendidas como meras aproximações às ordens de grandeza das despesas correntes do sector público com bens e serviços, dentro das hipóteses de evolução desejáveis Saliente-se o seu carácter provisório, atentas as revisões resultantes de informações mais actualizadas e do conhecimento interno dos mecanismos e estruturas do referido sector, que deverão vir a realizar-se no âmbito dos programas anuais de execução e da revisão do Plano.
Refira-se ainda que a óptica agora considerada é diversa da que se contém no capítulo relativo ao financiamento, pois que para a determinação das disponibilidades de poupança do sector público se torna indispensável considerar todas as despesas correntes - não apenas as que resultam da aquisição de bens e serviços - e, por outro lado, entendeu-se oportuno destacai no conjunto das despesas militares as que resultam de necessidades excepcionais.
Os níveis esperados de despesas públicas correntes foram obtidos a partir do produto dos serviços públicos de administração e defesa,, saúde e educação, admitindo que no futuro se manterá a relação média entre as despesas com pessoal - única componente do produto no sector público - e as restantes despesas com bens e serviços.
Como se referiu, são diversos os ritmos de evolução do produto que se prevêem paia os serviços públicos Em relação a Administração, reconhece-se que as necessidades impostas pela reforma admitas ti a t n a não deverão conduzir a acréscimos sensíveis de recrutamento de pessoal, mas sim a importantes reajustamentos, pelo que o sector deverá manter-se na tendência do passado. Quanto à defesa, tantas previsões das despesas com pessoal como as das despesas totais com bens e serviços partem das necessidade que as condições actuais indicam como mais prováveis Para a saúde e educação, prevê-se aceleração das despesas globais, de acordo com os ritmos de crescimento adoptados nas projecções do produto.
Mantiveram-se a preços de 1963 as projecções do consumo público em bens e serviços, incluídas adiante na despesa nacional para conciliação com as restantes componentes principais e com o produto interno. No entanto a correcta estimativa do andamento futuro das despesas públicas impõe que se tome em consideração não só o recente aumento de vencimentos ao funcionalismo público - devidamente deflacionando por meio do índice de preços ao consumidor -, mas também as implicações dos aperfeiçoamentos dos serviços de saúde e educação e de administração pública geral As reformas deverão ser graduais, embora a situação presente imponha o seu início imediato e a conclusão antes do termo do Plano Considera-se que as reestruturações dos referidos sectores, implicando embora profundas modificações de métodos de trabalho e organização, venham a ter principal tradução em encargos com o pessoal, e não em compras de bens ao sector privado, pois haverá primordialmente que atendei à revisão de remunerações, com evidentes reflexos no recrutamento, aperfeiçoamento, acumulações, horários produtividade Em particular, podem prever-se elevações mais acentuadas para certas categorias (v g pessoal dos sectores da saúde e da educação).
De qualquer modo, estes acréscimos devem ser entendidos como aumentos relativos dentro de um contexto geral de preços constantes. As eventuais subidas de nível geral de preços e de remunerações do sector privado deverão impor paralelas actualizações do sector público.
A evolução actualizada, de acordo com o recente aumento de vencimentos e a organização prevista do sector público, consta do quadro seguinte, em contraste com as projecções efectuadas estritamente a preços de 196S e segundo a expansão recente dos serviços.

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QUADRO VII

Despesas públicas correntes (bens e serviços)

[Ver Quadro na Imagem].

Finalmente, parece ainda necessário tentar enquadrar os efeitos que a evolução das despesas militares extraordinárias poderá vir a ter no comportamento conjunto do sector público. Torna-se particularmente difícil prever com segurança a evolução neste domínio, mas poder-se-ão quantificar os reflexos do andamento da situação militar em duas hipóteses alternativas Pode, por um lado, encarai-se a hipótese de a situação militar não apresentar alterações sensíveis ao longo de todo o período do III Plano de Fomento Por outro lado, poderá considerar-se que os sintomas de melhor aceitação da posição portuguesa no contexto internacional venham a traduzir-se num regresso dos encargos militares a níveis de normalidade.
A condução da política de desenvolvimento económico-social dispõe, assim, antecipadamente, de um referencial orientador alternativo.
A hipótese A corresponde, pois, à estimativa directa das despesas militares dentro de manutenção geral da situação presente A hipótese B corresponde a gradual normalização após 1970, que, a verificar-se, aconselhará eventual revisão de ritmo das realizações de fomento.

QUADRO VIII

Despesas militares (10º contos)

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Os valoras apresentados polo Instituto Nacional de Estatística são 2,00 em 1960 e 7,00 em 1965.

A conjugação de ambas as hipóteses com os níveis das despesas civis, que deverão resultar da reestruturação dos serviços de saúde, educação e administração pública no seu conjunto, permite avaliar a incidência sobre o nível das despesas totais e sobre a poupança corrente do Estado, que, no caso da referida redução dos encargos com a defesa, sofreria em 1978 um aumento provável de cerca de 5 milhões de contos.

QUADRO IX

Despesas correntes do sector público
Preços constantes corrigidos

[Ver Quadro na Imagem].

§ 5.º Projecções das transacções correntes com o exterior

7. A evolução futura da balança de pagamentos entre a metrópole e o exterior resultará da interacção de fenómenos que apresentam orientações e ritmos de desenvolvimento muito diferenciados.
Como especialmente relevante, poderá apontar-se o f acto de, durante o período do Plano, o crescimento programado das receitas de bens e serviços apresentar uma taxa - 10,2 por cento - superior das despesas - 7,1 por cento.
Para tal concorrerá a prevista quebra no ritmo de aumento tanto das exportações como das importações de bens em relação ao período passado e ainda a manutenção de altas taxas de desenvolvimento para as rubricas de turismo, da balança de invisíveis correntes, embora o maior peso das receitas tenda a prevalecer sobre a igualmente lápida tendência de aumento das despesas turísticas de nacionais no estrangeiro.
Com efeito, as importações de bens experimentaram nos últimos anos acréscimos vultosos e irregulares, característicos de maior abertura da economia aos mercados externos, coincidindo com crises de abastecimento. Prevê-se que, partindo embora dos níveis bastante elevados que se atingiram nos anos recentes, as importações de bens serão provavelmente objecto, no futuro, de expansão a ritmo inferior (6,7 por cento ao ano), admitindo o não agravamento de crises de abastecimento interno, em larga medida dependente do desenvolvimento agrícola programado, e a manutenção de ritmos apreciáveis de substituição de importações por produção nacional.
Do mesmo modo, prevê-se ligeiro abrandamento das taxas de acréscimo das exportações de bens, por se julgar que a aceleração considerável dos últimos anos não se manterá facilmente sem esforços adicionais muito sensíveis dirigidos à promoção de exportações. Correspondem estes esforços a profunda transformação estrutural do comércio de exportação, de cujas condições de realização não é possível, por enquanto, decidir com segurança.

QUADRO X

Níveis e tendências de evolução das importações

[Ver Quadro na Imagem].

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508 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

As transacções referentes a serviços de turismo têm apresentado nos últimos anos relevo sempre crescente, chegando a constituir a mais importante fonte de divisas no conjunto das receitas de invisíveis correntes.
A abertura do mercado metropolitano às grandes correntes turísticas internacionais, que se processaram no passado recente a ritmos de crescimento excepciona s - superiores a 20 por cento -, foi objecto da definição de uma meta ambiciosa para o período de 1967-1973, com a manutenção da taxa média de crescimento de 20 por cento ao ano Importa, no entanto, ter presente que, se foi possível obter andamentos excepcionalmente favoráveis, isso se deveu em parte ao muito limitado volume de turistas e de receitas por estes proporcionadas à metrópole anteriormente a 1961 e ao efeito de novidade que desde então caracterizou o surto turístico para o mercado português.
De futuro, uma vez que tais factores tenderão a apresentar influência cada vez menor, terá de prosseguir esforço Redobrado de consolidação das posições já conquistadas e do seu alargamento, o que tanto dependerá do volume de financiamento que for possível dedicar à instalação de novos equipamentos turísticos, como da adequação das campanhas de promoção a desenvolver e ainda da medida em que se tornar possível conter dentro de limites razoáveis o fenómeno de crescimento do sistema de preços internos e, por consequência, do custo de vida.
Às despesas de turismo dos nacionais no estrangeiro tendem a manter linha de tendência elevada durante o III Plano de Fomento - taxa anual de 12,5 por cento -, embora naturalmente inferior à verificada em período recente, que correspondeu a fase de rápida expansão do intercâmbio turístico com o estrangeiro

QUADRO XI

Níveis e tendências de evolução das exportações

[Ver Quadro na Imagem].

As transacções de serviços de transporte e o saldo de rendimentos de capitais constituirão, eventualmente, ns únicas parcelas desfavoráveis da balança de invisíveis correntes, podendo conduzir a pagamentos líquidos no montante de 1,8 milhões de contos em 1967 e 2 milhões em 1973.
Isso dever-se-á em parte ao facto de a marinha mercante nacional, apesar das iniciativas de alargamento e reestruturação da sua capacidade de transporte previstas no Plano, poder manter certas dificuldades em acompanhar o apreciável crescimento das relações de bens com o exterior, para além dos compromissos a que tem de fazer face actualmente E de supor também que o grande incremento das entradas de capitais estrangeiros no último quinquénio venha brevemente a impor a repatriação de parte dos rendimentos desses capitais, em níveis superiores aos do passado, excedendo assim a compensação esperada das colocações de capitais portugueses no exterior, que atingiram recentemente montantes também consideráveis.
Do movimento global de serviços e de acordo com as tendências presentes deverá, em 1913, resultar saldo francamente positivo - superior a 12 milhões de contos -, suficiente para cobrir o deficit previsto da balança comercial Prevê-se que antes do termo do Plano o déficit crescente de mercadorias posse., assim, ser integralmente compensado.

QUADRO XII

Saldos das transacções correntes com o exterior

[Ver Quadro na Imagem].

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Deve salientar-se que o facto de se prever que a balança, de pagamentos correntes continue a apresentar saldos positivos não deve ser encarado com excessivo optimismo, uma vez que, em face do agravamento da balança comercial, aqueles saldos continuarão a depender fortemente do turismo e das remessas dos emigrantes. Se se verificarem os ritmos de crescimento previstos como mais prováveis, as receitas do turismo representarão em 1067 mais de um quinto das receitas totais provenientes do movimento de bens e serviços e em 1973 constituirão mais de um terço deste movimento.
Tanto a ausência de possibilidades de controle efectivo da orientação das correntes turísticas, como do volume de empregos atribuídos a portugueses nos mercados de trabalho da Europa ocidental, levam a considerar como objectivo desejável atingir ritmos de crescimento das exportações superiores às taxas tendências previstas. Assim, para reduzir sensivelmente a dependência da balança de pagamentos da metrópole em relação às receitas do turismo e às remessas dos emigrantes, devei á empreender-se sério esforço adicional para o fomento das exportações a taxas superiores a 10 por cento. Este objectivo constituirá preocupação constante, a merecer programação mais pormenorizada no âmbito da preparação dos programas anuais de execução e na revisão do Plano.

QUADRO XIII

Estrutura das Importações

[Ver Quadro na Imagem].

QUADRO XIV

Estrutura das exportações

[Ver Quadro na Imagem].

§ 6.º Projecções da despesa nacional

8. As projecções do conjunto da despesa nacional - despesa realizada com o produto nacional bruto a preços de mercado - resumem o equilíbrio, em termos globais, entre a evolução das várias componentes da despesa e as projecções do produto.
O andamento da despesa deduz-se dos comportamentos previstos para o produto interno bruto, o rendimento líquido externo e o saldo dos impostos indirectos menos subsídios.
As projecções realizadas para o rendimento líquido externo conduziram a evolução crescente desse saldo, que, para futuro, apresentaria sempre valores positivos. Salienta-se, no entanto, que a parcela do saldo correspondente ao movimento de capitais com o estrangeiro será negativa e apresentará tendência para agravamento ao longo do período do Plano O produto nacional bruto crescerá, praticamente, à mesma taxa do produto interno, em virtude de o rendimento líquido externo representar apenas cerca de 0,8 por cento da despesa nacional.
Por falta de informações seguras sobre a evolução do peso relativo da fiscalidade indirecta, considerou-se que o saldo dos impostos indirectos menos subsídios representaria, em média, ao longo do período de 1968-1978, 8 por cento da despesa nacional - percentagem semelhante à registada no período de 1961-1964 Em consequência, a taxa de crescimento da despesa seria idêntica à do produto interno - cerca de 7 por cento.

QUADRO XV

Projectes da despesa nacional

[Ver Quadro na Imagem].

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Foram já apresentadas em pormenor as previsões relativas ao comportamento de algumas componentes da despesa nacional - consumo público, formação bruta de capital fixo e transacções correntes de bens e serviços com o exterior. Referem-se agora as suas relações com a despesa nacional.
A exigência em bens de capital derivada do crescimento previsto para o produto implicará que, durante o III Plano, o esforço de acumulação de capital vá sucessivamente aumentando e atinja, em 1973, 21,8 por cento da despesa nacional Assim, como já se apontou, neste ano realizar-se-á um volume provável de formação bruta de capital fixo da ordem dos 87 milhões de contos, ao passo que em 1965 não deve ter ultrapassado os 17 200 000 contos.
O crescimento de 5,7 por cento projectado para as despesas de consumo público a preços de 1963 conduziria a perda de posição no total, sendo, aliás, de notar que a percentagem de 12,6 estimada para 1967 deverá vir ainda influenciada pelo comportamento das despesas militares.
Relativamente ao consumo público, o tratamento a preços constantes pode, no entanto, falsear a sua posição relativa no. conjunto da despesa, pois não entra em conta com a revisão dos vencimentos dos funcionários públicos Ora, como já se referiu, a consideração dos aumentos deflacionados destas remunerações deverá avolumar a posição do consumo público no conjunto da despesa.
Em resultado da evolução prevista para as importações e exportações de bens e serviços, o saldo da balança de transacções correntes da metrópole com o exterior, que ainda em 1967 teia assumido o valor negativo de 4 600 000 contos, tenderá, a atenuar-se sensivelmente ao longo do período do III Plano, estimando-se que em 1973 apresente já valor positivo, da ordem dos 700 000 contos Em consequência, diminuirá- sensivelmente o peso do referido saldo na despesa nacional, passando a representar no último ano do III Plano apenas mais 0,4 por cento da despesa nacional, quando, em 1967, tal peso terá sido de menos 4 por cento.
De acordo com as projecções realizadas, o consumo privado alcançaria níveis que traduzem o crescimento médio de 5,9 por cento se ano em 1968-1973, sensivelmente superior ao do passado recente, mas que conduzira, contudo, a nítida perda de posição na despesa nacional (cerca do 65,1 por cento em 1973), em consequência do andamento ainda mais acelerado previsto paia as restantes componentes da despesa.
Uma das facetas da alteração estrutural que acompanhará a nova etapa de desenvolvimento a iniciar com o III Plano de Fomento pode ser traduzida pela posição que os diversas componentes da despesa assumido após 1967. Tal alteração caracterizar-se-á, fundamentalmente, por quebra acentuada da posição do consumo privado, que, em 1973, representará cerca de 65,1 por cento da despesa nacional, ou seja uma ordem de grandeza aproximada da dos países mais evoluídos De facto, o peso do consumo privado no total da despesa tende a diminuir à medida que se registam mais altos níveis de progresso económico e social, sendo de admitir que, sem prejuízo dos consumidores, essa posição possa vir a verificar-se. Com efeito, para o conjunto dos países da OCDE , era cerca de 68,6 por cento em 1961-1964.
Para esta evolução contribuirá, por um lado, o aumento da intensidade de formação de capital requerido pelo esforço de desenvolvimento futuro e, por outro, a evolução favorável do saldo da balança de transacções correntes, que, em 1973, provavelmente, assumirá valor positivo.

CAPITULO II

Financiamento

Introdução

A capacidade de financiar o investimento do País depende, fundamentalmente, do nível da poupança formada internamente Quando, porém, este nível de poupança se revela insuficiente para, por si só, fazei face as necessi-

QUADRO XVI

Estrutura da despesa nacional

[Ver Quadro na Imagem].

dades de investimento ditadas pela aceleração do processo de crescimento económico, torna-se necessário o recurso à poupança externa.
Com efeito, uma vez formada nos vários sectores - famílias empresas, Estado -, a poupança interna tem de ser convenientemente orientada paia o investimento, quer mediante a sua aplicação directa no próprio sector (autofinanciamento), quer através da sua mobilização de um para outro sector operada por intermédio do Estado e das instituições que actuam no mercado financeiro.
Para eficiente planeamento do processo de financiamento do investimento, necessário se tornai ia dispor de um quadro de fluxos financeiros. Tal quadro, por em, não existe ainda entre nós, embora a sua construção esteja

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incluída entre os trabalhos em curso por virtude da recente reorganização do sistema estatístico.
Entretanto, desconhece-se, de facto, por um lado, o volume da poupança interna formada nos vários sectores - excepto no que se refere ao sector público1, e, ainda que insuficientemente, às empresas privadas - e, por outro, as exigências de financiamento de cada um deles.
Procurar-se-á, no entanto, analisar, ainda que em termos globais, as necessidades de - financiamento ditadas pelo volume de investimento a realizar no período deste III Plano e as potencialidades de financiamento oferecidas pelas várias fontes que se tornou possível identificar, referindo o papel desempenhado pelas diversas instituições e o funcionamento dos mercados que operam a canalização da poupança para o investimento, por forma a determinar as distorções do processo poupança-investimento e a indicar as providências adequadas.

§ 1.º Necessidades e potencialidades de financiamento

A) Análise do passado
1. As necessidades globais de financiamento derivam do volume de investimento realizado, interessando considerar, para esse efeito, além da formação bruta de capital fixo (F. B. C. F. ), as variações de existências, visto comportarem problemas de financiamento semelhantes, embora a prazos menos longos.
Distingue-se entro o investimento do sector privado e o do sector público, na medida em que envolvem problemas de financiamento diferentes.
A participação do sector privado na F. B. C. F. oscilou no período de 1953-1965 entre 76 o 82 por cento do total, o que revela ter-se situado sempre em mais de três quartos do investimento fixo global (quadro I)
A participação do sector público apresentou tendência crescente, devida, em grande parte, à preocupação de dotar o País de infra-estruturas básicas, nomeadamente no domínio das comunicações e no da hidráulica agrícola, apesar do esforço de defesa que foi necessário desenvolver a partir de 1961. Nos dois últimos anos, porém, notou-se certo abrandamento, em virtude da quebra motivada pelo facto de importantes obras públicas se aproximarem da fase de acabamento.
As variações de existências revelam a autuação de valores imposta pelos movimentos da produção de bens e do aprovisionamento de matérias-primas conjugados com os do consumo, representando em média entre 3 a 5 por cento da foi mação interna bruta de capital (F. I. B. C. )

_____________

1 Compreende o sector público administrativo (Estado) - que engloba a Administração Central (Conta Geral do Estado, fundos o serviços autónomos), a administração local e a previdência social - e o sector público produtivo (empresas públicas).

QUADRO I
Formação interna bruta de capital por sectores
(Preços correntes em milhões de contos

[Ver quadro na imagem]

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2. As estatísticas disponíveis não são ainda suficientes para uma análise da formação da poupança, pelo que em cada ano teve de recorrer-se ao conceito de poupança aplicada na formação interna bruta de capital, supondo a igualdade Ex post entre poupança e investimento.
Seria necessário considerar outras aplicações da poupança, para além da aplicação na F. I. B. c. , nomeadamente na amortização de dívidas e no acréscimo de disponibilidades monetárias, bem como as filtrações não registadas para o estrangeiro.
Os valores da série relativa à poupança externa líquida não são comparáveis, em virtude de só a partir de 1964 ter sido possível considerar todas as rubricas da balança de pagamentos entre a metrópole e o ultramar, pelo que os valores até 1963, inclusive, se encontram sobreavaliados. Com efeito, até essa data apenas se contabilizava o comércio especial entre a metrópole e o ultramar (C. I. F. ), faltando considerar, portanto, uma parte das rubricas da balança dos invisíveis correntes. Embora se não possa determinar a parte em causa, interessa conhecer o valor do saldo desta balança em 1964 e 1965, que foi de, respectivamente, 1 700 000 e 1 100 000 contos1 .

______________

1 Em 1966 baixou para 40,6 milhões de contos.

QUADRO II
Poupança disponível
(Preços correntes em milhões de contos)
[Ver quadro na imagem]

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Com as reservas impostas pelo critério utilizado na determinação da poupança, verifica-se, através do quadro II, que a poupança interna bruta tem desempenhado papel de relevo no total da poupança disponível, com dois subperíodos distintos - o primeiro, de 1953 a 1963, ao nível dos 80 por cento, e o segundo, em 1964 e 1965, ao nível de cerca de 100 por cento do total da poupança disponível. Este comportamento é explicado, em grande parte, pela referida alteração na determinação dos valores da série da poupança externa líquida, mas não parece de excluir a hipótese de se ter verificado aumento da participação da poupança interna bruta no total da poupança disponível, a partir de 1962, inclusive.
Dentro da poupança interna bruta foi diferente o comportamento do sector público e do sector privado. A poupança do Estado - que inclui algumas rubricas ("Sisa", "Taxa de compensação" e "Imposto sobre as sucessões e doações") que a contabilidade nacional considera como transferências de capital - representou até 1960 mais de 30 por cento, em média, do total da poupança disponível, tendo diminuído nesse ano a sua participação paia 23 por cento e em 1961 para 15 por cento e verificando-se posteriormente certa recuperação, até cerca de 24 por cento em 1965.
Por sua vez, a poupança do sector privado (particulares, instituições sem fim lucrativo e empresas - incluindo as empresas públicas1 parece apresentar uma evolução crescente desde 1957, apenas interrompida em 1961. A partir de 1962 deve ter compensado inteiramente a redução verificada na poupança do Estado e, nos últimos dois anos, teria substituído quase completamente a poupança externa, o que deve ser atribuído, em parte, a mais correcta avaliação da balança de pagamentos.
A participação da poupança externa líquida não tem apresentado comportamento regular. Verificou-se movimento oscilante de tendência crescente entre 1953 e 1957, atingindo neste ano 28 por cento do total da poupança disponível, a que se seguiu descida para 20 por cento em 1958. Manteve-se à volta deste nível até 1963 (excepto no ano de 1961, que apresenta um comportamento anormal, tendo atingido 54 por cento), para se anular praticamente nos dois últimos anos.
De qualquer modo, a partir de 1964, a evolução da poupança formada internamente tem vindo a mostrar-se capaz de assegurar de forma crescente o financiamento do investimento realizado no País.
3. A análise pormenorizada da conta corrente do conjunto do sector Estado, nos últimos anos, permite interpretar os mecanismos de formação da sua poupança própria.
____________
1 Só se possuem elementos completos da sua poupança para o ano de 1964, em que atingiu 0,7 milhões de contos, cifrando-se em 0,3 milhões de contos em 1968 o 1965, o que revela uma participação entre 2 e 4 por cento da poupança total.

QUADRO III
Conta de operações correntes do Estado
(Preços correntes)
[Ver quadro na imagem]

(a) Inclui o Imposto sobre as sucessões e taxa de compensação,
(b) Inclui a sisa

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O sensível acréscimo das receitas correntes - cerca de 10 400 000 contos entre 1959 e 1965 - resulta, fundamentalmente, dos impostos directos e indirectos, embora se tenham verificado aumentos em todas as categorias de receitas.
Por sua vez, a proporção entre impostos directos e indirectos, no conjunto da carga fiscal, acusou alteração - de 1959 a 1965 a percentagem referente aos impostos indirectos elevou-se de 46,3 paia 48,8 por cento -, em consequência, nomeadamente, do aumento das importações após 1960 e das medidas fiscais promulgadas em 1961.
A pressão fiscal global tem sido da ordem dos 19 por cento, tendo vindo a crescer ligeiramente no período em análise. A Administração Central pertenceram, em média, 72,5 por cento do total, cabendo o restante à previdência social (cerca de 20 por cento, em média) e à administração local (à volta de 6,5 por cento).

QUADRO IV
Estrutura da fiscalidade do Estado
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

(a) Além dos Impostos considerados pelo Instituto Nacional de Estatística nas contas nacionais, engloba o imposto sobre as sucessões e doações, taxa de compensação e sisa.

Entre 1959 e 1965 as despesas correntes do Estado acusaram incremento de cerca de 9 milhões de contos, montante ligeiramente inferior ao observado no capítulo das receitas, mas a sua evolução processou-se de modo mais irregular. De facto, os encargos de natureza militar determinaram considerável aumento das despesas correntes em bens e serviços, em particular nos anos de 1961 e 1962.
Com efeito, ao longo do período em análise, o volume das despesas militares quase triplicou, enquanto nos encargos não militares o acréscimo foi apenas de 28 por cento, tendo-se elevado a importância relativa das despesas com a defesa nacional de 25 para 38 por cento do total das despesas correntes.
Por consequência, a poupança do Estado, que nos dois primeiros anos do hexénio havia atingido valores anuais da ordem dos 3 milhões de contos, computou-se em cerca de 2 100 000 contos em 1961, com sensível melhoria nos anos seguintes:

QUADRO V
Poupança do Estado
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

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A queda do aforro do sector público em 1961 é imputável exclusivamente à contracção da poupança proveniente da Conta Geral do Estado, uma vez que nos restantes subsectores a poupança evidenciou tendência ascendente ou não acusou variação significativa. Deve assinalar-se a profunda alteração que se produziu na estrutura da poupança do Estado, traduzida pela posição preponderante que o aforro da administração local e da previdência social assumiu na sua formação desde 1961, tendência que parece ter sofrido ligeira alteração em 1965.

4. Não se dispõe ainda de elementos de informação satisfatórios sobre a poupança de «Particulares e empresas». Foi, contudo, possível progredir sensivelmente em relação a metodologia utilizada no Plano Intercalar de Fomento, embora continue a ser necessário efectuar a determinação do respectivo valor de forma indirecta, com as omissões inerentes.
Definida como o conjunto dos lucros retidos e das amortizações, a poupança bruta das empresas traduz o volume dos recursos próprios para financiar quer os seus investimentos de substituição, quer novos empreendimentos, quer ainda para liquidar dívidas contraídas. Considerando a importância que o autofinanciamento bruto das empresas assume no quadro do financiamento da formação bruta de capital do sector privado na generalidade dos países, como parcela fundamental da poupança aplicada por «Particulares e empresas», reveste-se de muito interesse analisar a evolução da poupança das empresas nos últimos anos. Para este efeito pôde dispor-se, pela primeira vez, de um apuramento provisório, feito pelo Instituto Nacional de Estatística, sobre os lúcios retidos pelas empresas sob a forma de sociedades, no ano de 1964, e de informações sobre a poupança das empresas sujeitas a contribuição industrial, em 1963 e 1965, o que permitiu obter uma primeira estimativa para a poupança formada nas sociedades naquele ano. Aplicando aos lucros líquidos dos restantes anos do período em análise a proporção média dos lucros retidos no triénio de 1963-1965, obtiveram-se os lucros não distribuídos, que, adicionados às amortizações, nos deram a poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades. Como mostra o quadro VI, esta poupança parece ter acusado elevada cadência de expansão no período de 1958-1964 a taxa média de acréscimo ascendeu a cerca de 16,7 por cento. Tal comportamento deve imputar-se não apenas à intensa progressão dos lucros retidos - 18,6 por cento -, mas também ao sensível aumento das amortizações - 14,7 por cento

QUADRO VI
Poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

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516 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

A expansão dos lucros retidos, como revela o quadro VI, foi determinada, fundamentalmente, pela evolução registada nos sectores «Indústrias transformadoras» e «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis», a que, no conjunto e em média, se devem imputar cerca de 71 por cento do volume total dos lucros não distribuídos durante o período de 1958-1964.
Esta elevada participação relativa tem evidenciado tendência ascendente nos últimos anos - designadamente em 1983 e 1964, em que atingiu valores da ordem dos 77 por cento -, o que se explica, principalmente, pelo ritmo a que se processou o aumento dos lucros retidos no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» naqueles dois anos.
De facto, após o vultoso incremento observado em 1960 na retenção dos lucros por parte das indústrias transformadoras - o respectivo montante quase triplicou em relação ao ano anterior -, verificaram-se nos anos seguintes, se exceptuarmos 1963, acréscimos menos significativos, enquanto nas actividades englobadas no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» parece ter-se registado ritmo de expansão sensivelmente superior.
Relativamente às amortizações, a taxa média de acréscimo foi de 14,7 por cento e proveio essencialmente do incremento registado em 1959, 1963 e 1964. Em particular, neste último ano, o volume de recursos afecto a amortizações elevou-se de 26,6 por cento, o que traduz ritmo sensivelmente superior ao dos lucros retidos.
Nesta evolução assumiu papel preponderante o sector «Indústrias transformadoras», que concorreu, em média, com cerca de 48 por cento do total das amortizações efectuadas no período em estudo, e, embora em menor escala, os sectores «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» e «Transportes, armazenagem e comunicações»
Efectivamente, a alta expansão observada em 1968 e 1964 no volume daquela parcela da poupança resultou, em grande parte, de avultados aumentos no ramo das «Indústrias transformadoras», após a contracção de 1962, enquanto a sensível progressão registada em 1959 se deve imputar essencialmente à considerável elevação das amortizações no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis».

5. No confronto entre necessidades e potencialidades de financiamento, dentro de cada sector ou subsector, reside um dos aspectos fundamentais do problema do financiamento. Com efeito, esta comparação permite determinar os sectores superavitários e deficitários em matéria de fundos disponíveis, ao mesmo tempo que introduz o problema da mobilização da poupança dos primeiros e da sua canalização para os segundos.

QUADRO VII
Necessidades e potencialidades de financiamento por sectores (a)
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

(a) As necessidades do financiamento das empresas públicas. Incluíram-se no sector público, enquanto as suas potencialidades de financiamento só incluíram no sector privado. Porém não se Incluíram nas necessidades do financiamento do sector público as variações de existências das empresas publicas, que se cifraram em 0,5 e 0,6 milhões de contos, respectivamente, em 1964 e 1965, o que, do certo modo, compensou a falha anterior.

Como mostra o quadro VII, o sector público apresentou excedente de fundos disponíveis até 1960, tendo sofrido sucessivos e crescentes déficits de 1961 a 1968, para voltar a apresentar superavit em 1965.
O sector privado, por sua vez, e de acordo com as informações disponíveis, apresenta sistemático saldo negativo de fundos disponíveis (excepto em 1964), que tem vindo, no entanto, a decrescer de volume nos últimos anos.
Os definis do sector privado até 1960 foram em parte compensados pelos excedentes do sector público, mas de 1961 a 1968 ambos os sectores apresentaram definis de fundos para investimento, tendo-lhes feito face exclusivamente a poupança externa. No último biénio, nota-se tendência para o equilíbrio interno e mesmo sectorial, isto é, os dois sectores internos em conjunto tendem, por um lado, a assegurar o montante suficiente de fundos disponíveis para o investimento global e, por outro lado, cada um dos sectores tende a garantir inteiramente o financiamento do seu próprio investimento.

b) Evolução futura

6. As necessidades de financiamento no período deste III Plano, como mostra o quadro VIII, atingem 199,1 milhões de contos, a preços correntes, 95,8 por cento dos quais inerentes a formação de capital fixo e os restantes 4,2 por cento às variações de existências, de acordo, aliás, com a experiência do passado.
Para a avaliação a preços correntes da formação bruta de capital fixo utilizou-se o índice de preços implícito na comparação desta variável a preços correntes e a preços constantes de 1963, e para a variação de existências adoptou-se o índice de preços por grosso, estimando-se, portanto, que, no futuro, se verificará evolução de preços semelhante à dos anos recentes.

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QUADRO VIII
Formação Interna bruta de capital prevista para o período de 1968-4973
(Milhões de contos)

[Ver quadro na imagem]

7. O montante dos investimentos programados e das correspondentes necessidades de financiamento assume mais correcto significado em contraste com o volume previsto da poupança interna bruta, pública e privada, avaliada de acordo com as tendências reveladas no passado recente.
Na determinação da poupança do sector público programou-se, em relação às receitas fiscais incluídas na Conta Geral do Estado, a estabilidade, ao longo do hexénio de 1968-1973, da pressão fiscal estimada para 1967, pois o ano em curso corresponde à plena aplicação da nova estrutura fiscal, que se não antevê venha a sofrer alterações profundas no decurso da execução deste III Plano.
De acordo com estimativas directas dos serviços que têm a seu cargo as respectivas cobranças - nas quais se ponderou o crescimento da matéria colectável inerente ao processo de desenvolvimento económico e os reflexos da desmobilização aduaneira no quadro do movimento da integração económica europeia -, obteve-se um quantitativo da ordem dos 15 milhões de contos para as receitas fiscais em 1967 (imputando cerca de 9,9 milhões a impostos indirectos e provindo o remanescente da tributação directa), que representa, em relação ao produto nacional bruto, a preços correntes1, uma pressão fiscal de 12,1 por cento.
Os quantitativos estimados para os rendimentos fiscais da Conta Geral do Estado no decurso do hexénio de 1968-1073, com base naquela pressão fiscal aplicada aos valores do produto nacional bruto a preços correntes, são os seguintes:

QUADRO IX
Carga fiscal da Conta Geral do Estado
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

Na previsão das receitas fiscais dos fundos e serviços autónomos da Administração Central e nas da administração local, admitiu-se a estabilidade, ao longo do hexénio de 1968-1973, do valor médio assumido pela pressão fiscal no decurso do período de 1958-1965.
Fará as restantes receitas da Administração Central e da administração local extrapolou-se o comportamento médio evidenciado pelas cobranças no período de 1959-1965, tomando como base da estimativa os valores observados nos anos de 1964 ou 1965, últimos para os quais o sistema da contabilidade nacional dispõe de valores definitivos.
Por fim, e ao contrário do que sucede no sistema da contabilidade nacional, procurou-se evidenciar as receitas referentes à venda de bens e serviços (C. G. E.), que se têm integrado como parcela negativa nas despesas correntes em bens e serviços.

8. No que toca aos gastos, a estimativa das despesas correntes em bens e serviços de natureza civil, a preços constantes, foi obtida a partir dos níveis projectados do valor acrescentado bruto no sector público (despesas com pessoal), aos quais se adicionaram as outras despesas segundo a proporção verificada nos anos mais recentes. Atendeu-se ainda à elevação dos encargos provenientes da concessão do subsídio eventual aos servidores do Estado, que terá plena realização no ano em curso, e a que advirá da reforma administrativa, segundo as hipóteses indicadas noutro passo deste III Plano. Na conversão para preços correntes atendeu-se à evolução do índice de preços no consumidor nos últimos anos e supôs-se que no futuro se irá verificar evolução semelhante.
A distribuição pelos vários subsectores da Administração destas despesas globais fez-se com base na evolução previsível da estrutura observada nos últimos anos.
Quanto às despesas correntes em bens e serviços de natureza militar, adoptaram-se as estimativas referentes ao volume das despesas ordinárias deste tipo, segundo os valores e a tendência observados antes de 1961, tendo-se feito a sua conversão para preços correntes, através do índice de preços implícito no produto nacional a preços correntes.
Por outro lado, quanto aos juros da dívida pública interna e externa a cargo da Conta Geral do Estado, tomou-se por base o montante despendido em 1964 e optou-se por uma estimativa directa, considerando não só a evolução verificada nos últimos anos, como também o possível agravamento dos condições de recurso ao mercado.
Nas restantes rubricas da despesa, a previsão teve por base, consoante os diferentes subsectores, os valores re-

______________

1 O produto nacional bruto a pregos correntes em 1967 foi obtido a partir do seu valor programado a preços constantes, corrigido pelo índice de preços implícito no produto nacional bruto a preços correntes no passado recente.

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lativos aos anos de 1964 ou 1965 e atendeu-se ao comportamento evidenciado por essas rubricas a partir de 1958, tendo-se procurado, ao calcular o crescimento médio observado no período, expurgar as séries de alguns valores anormais, procedimento que se generalizou, também, ao domínio das receitas.

9. Relativamente as receitas e despesas correntes da previdência social, as estimam as basearam-se nos estudos efectuados pelo Ministério das Corporações e Previdência Social, tendo sido utilizados métodos diferentes na projecção da capacidade de financiamento das instituições, consoante dependem ou não da Direcção-Geral da Previdência.
Assim, enquanto para as instituições não dependentes desta Direcção-Geral - instituições de reduzida importância na formação da poupança do subsector - se admitiu a continuidade da evolução natural apresentada no decurso de anos anteriores, para os organismos dependentes daquele departamento a projecção teve em conta a evolução que se está processando na segurança social. Com efeito, como a capacidade financeira disponível para aplicação resulta, fundamentalmente, das receitas consignadas aos benefícios diferidos, ou seja, das modalidades da previdência cujas contribuições que lhe estão afectas proporcionam ainda aforro, na projecção apenas se consideram as receitas e despesas das modalidades de reforma e morte.
Contudo em virtude de ainda não se dispor presentemente de elementos sobre o resultado da aplicação do novo esquema da Caixa Nacional de Pensões - Portaria
n.º 21 799, de 17 de Janeiro de 1966 - a todas as instituições dessa natureza, não se torna viável efectuar avaliação actuarial do comportamento financeiro dos organismos dependentes da Direcção-Geral da Previdência no hexénio em estudo. Deste modo, a estimativa baseou-se na previsão dos salários sobre que incidirão as contribuições no período de 1968-1973 e no valor que os fundos devem apresentar em cada ano.
Paralelamente, efectuou-se o cômputo das despesas de pensões no decurso do hexénio.
A poupança determinada para o conjunto desta subsector atinge assim cerca do 9 400 000 contos no período deste III Plano. Porém, do ponto de vista da poupança disponivel somente as instituições dependentes da Direcção-Geral da Previdência têm sido incluídas nos financiamentos dos planos de fomento, porquanto a poupança das outras instituições não tem outro significado que não seja o de saldos que transitam de anos anteriores, mas naturalmente comprometidos nos esquemas que praticam.
Assim, para efeitos da poupança a considerar para investimento, e tendo eventualmente em conta o alargamento dos regimes de previdência aos rurais, deve contar-se apenas com o montante de 7 500 000 contos, durante a vigência deste III Plano de Fomento.

10. Convém analisar conjuntamente a evolução que se antevê para as principais categorias de receitas e despesas públicas no decurso do período de 1968-1973. Assinala-se, todavia, que não se incluíram as receitas e despesas das empresas públicas, dado ter apenas sido possível obter a previsão da respectiva poupança

QUADRO X
Conta de operações correntes do Estado
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

(a)Considerou-se o imposto sobre as sucessões e doações, a sisa e a taxa de compensação.
(b)Propensão marginal à poupança do Estado.

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As receitas correntes do Estado devem manter elevada cadência de aumento durante a execução deste III Plano: de 1967 a 1973 a expansão prevista é de cerca de 17 milhões de contos, o que traduz acréscimo da ordem dos 68 por cento. Deste modo, como no mesmo período se avalia o empolamento das despesas (não contando com as despesas militares extraordinárias em pouco mais de 9 milhões de contos, a poupança corrente do Estado (salvo aquelas despesas) deverá acusar sensível crescimento.

11. Analisando o conjunto da poupança prevista nos diversos subsectores do sector público durante o período de 1968-1973 - incluindo, portanto, as empresas públicas, cuja estimativa do aforro se baseou na evolução das respectivas componentes nos últimos anos -, é de admitir que a poupança do sector público, a que haverá de deduzir as despesas militares extraordinárias e o auxílio financeiro líquido às províncias ultramarinas, aumente gradualmente durante o período de execução deste III Plano, avaliando-se em cerca de 11 400 000 Contos em 1973. Para esta evolução contribuirá, em larga medida, o acréscimo previsto para o aforro da Administração Central, em particular da Conta Geral do Estado, uma vez que a poupança formada nos restantes subsectores parece evidenciar incrementos de menor amplitude.

QUADRO XI
Poupança do sector publico
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

Deste modo, a Administração Central manteria posição relevante na formação da poupança do sector público, estimando-se a sua participação relativa, no período de 1968-1973, em cerca de 65,6 por cento, excluindo as despesas militares extraordinárias e o auxílio financeiro ao ultramar.

12. No calculo das projecções dos valores relativos a lucros retidos e a Amortizações das empresas privadas sob a forma de sociedades, para 1968-1973, atendeu-se a evolução da formação bruta de capital no decurso dos últimos anos - de harmonia com os elementos apresentados pelo I. N. E. -, no comportamento programado para esta componente do produto nacional no Plano Intercalar de Fomento e, principalmente, aos valores registados pelas duas variáveis em causa no período para que se dispõe de elementos de informação - 1958-1964

QUADRO XII
Poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades
(Preços correntes)

[Ver quadro na imagem]

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Prevê-se que a poupança bruta das empresas privadas manterá elevado ritmo de aumento no período em que decorrerá a execução deste III Plano, com a taxa de acréscimo de 13,5 por cento, resultante das taxas de expansão estimadas para os lucros retidos e para as amortizações, respectivamente 15 e 11 por cento.

13. Quanto à rubrica «Particulares, instituições privadas sem fim lucrativo e empresas não societárias», o reduzido significado de que se revestem os respectivos valores até 1963 e o facto de não se dispor de estimativas autónomas seguras levaram a adoptar propensão marginal à poupança análoga à da tendência verificada no período de 1958-1965, o que implicou taxa de crescimento anual de 12,3 por cento Esta hipótese conduz a um acréscimo da respectiva propensão média à poupança de 4,1 por cento em 1965 1 para 5,9 por cento em 1973.

14. A conjugação das projecções de poupança das diversas origens permite estimar para o período deste III Plano o volume total de poupança interna bruta de 222 400 000 de contos a preços correntes.

QUADRO XIII

Poupança disponível no período do III Plano de Fomento

(Pregos correntes)

[Ver tabela na imagem]

A poupança do sector público constituiria, em média, no hexénio de 1968-1973, cerca de 26,5 por cento do total da poupança interna disponível, aliás na linha da recuperação que tem vindo a manifestar nos anos mais recentes. Note-se, porém, que grande parte desta poupança terá de ser afectada ao auxílio financeiro ao ultramar - o que se estima em cerca de 6 700 000 contos - e ao financiamento das despesas militares extraordinárias.
Na poupança estimada para o sector privado assume especial relevância a parcela correspondente a sociedades, que atinge mais de 50 por cento do total da poupança interna bruta a formar no período de execução deste III Plano.

15. Comparando as necessidades com as potencialidades de financiamento (quadros VIII e XIII), prevê-se um saldo de cerca de 23 milhões de contos a preços correntes, sem contar com o recurso ao crédito externo.

QUADRO XIV

Necessidades e potencialidades de financiamento no período de 1968-1973

(Em milhões de contos)

[Ver tabela na imagem]

Admite-se que, na sequência das medidas de política financeira planeadas no sentido de promover mais perfeita mobilização de poupança e da sua canalização para o financiamento do processo de crescimento, se efectue a oportuna revisão das metas actualmente estabelecidas.
Importa ainda ter presente que a compatibilização entre necessidades e potencialidades de financiamento se insere no contexto mais amplo da política que visa a assegurar a estabilidade financeira interna e a solvabilidade externa da moeda - uma das condições essenciais a que se subordina o cumprimento do Plano e cuja observância deverá ser atentamente acompanhada ao estabelecer os programas anuais de execução do mesmo Plano.

§ 2.º Mobilização da poupança para o investimento

16. A poupança formada em qualquer período, para além dos investimentos em capital fixo, pode ser dirigida para diferentes formas de aplicação financeira, ao mesmo tempo que parcela maior ou menor de poupanças de períodos anteriores é susceptível de reflectir-se nos investimentos reais do período em causa.
O completo esclarecimento da problemática que integra a formação da poupança e as suas diversas aplicações exige o estabelecimento de quadros de análise em termos de fluxos e de valores acumulados.
A actual escassez de elementos de informação aconselha, contudo, a restringir o estudo à forma como é financiado o investimento global em cada ano, independentemente do período de formação das poupanças, e obriga a limitar a observação ao período de 1960-1965.
Em qualquer caso, parece conveniente analisar os mecanismos da canalização da poupança para o investimento em duas ópticas distintas, considerando, por um lado, as entidades intervenientes como fontes de financiamento e, por outro, os mercados em que se processam as correspondentes transacções.

A) Análise por fontes de financiamento

17. Os meios financeiros dirigidos para o investimento pelas diversas fontes que actuaram no mercado metropolitano no período indicado podem ser observados no quadro que a seguir se inclui.

1 Em 1964 foi já de 5,6 por cento.

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QUADRO XV

Meios de financiamento canalizados para a F. I. B. C. (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) Para evitar duplicações, excluiu-se das várias fontes o seu recurso a outros fontes de financiamento. Assim, exclui-se do Estado, o seu recurso ao crédito Interno (na medida em que proveio fundamentalmente das instituições financeiras) e externo, das empresas públicas, o crédito concedido pela C G D C P, do Banco do Fomento Nacional, o crédito interno concedido pelo Estado o outras Instituições financeiras e o crédito externo. No entanto, verifica-se uma diferença de âmbito entre as fontes de financiamento, que se referem à metrópole, e a F I B C, que respeita apenas ao continente.
(b) Trata-se apenas de uma estimativa extremamente precária da participação da banca comercial no financiamento do Investimento, baseada na variação anual do saldo de algumas dos contas do seu balanço-aquelas que só presumem mais ligados à concessão de fundos a médio e longo prazos -, não incluindo, portanto, a possível contribuição da banca comercial através do crédito a curto prazo renovável.
(c) Valores residuais.
(d) Valores não Inteiramente comparáveis com os dos anos seguintes, em virtude de não ter sido possível conhecer a estrutura das Importações de capitais a médio e longo prazos do estrangeiro e ter-se tomado o valor global desta rubrica, enquanto nos anos seguintes apenas se Incluíram nos operações do sector privado os «Investimentos directos», as «Operações sobre títulos», os «Créditos comerciais» e os «Empréstimos financeiros».

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Importa notar que, enquanto em relação à maioria das fontes apresentadas se consideraram as novas operações de financiamento realizadas em cada ano, os elementos estatísticos disponíveis determinaram que os valores referentes à banca comercial e caixas económicas privadas fossem apresentados em termos líquidos.
Analisa-se seguidamente o comportamento das várias fontes, traduzido no quadro anterior, estimando também a capacidade de financiamento no período de execução deste III Plano daquelas fontes em que tal estimativa se tornou possível.

1. Sector público

a) Estado

18. Os meios de financiamento próprios canalizados por este sector para o investimento na metrópole correspondem à poupança nele formada, adicionada das transferências de capital provenientes dos outros sectores da economia e das variações líquidas dos saldos de tesouraria e deduzidos os empréstimos concedidos ao exterior (fundamentalmente ao ultramar). A capacidade de financiamento directa do Estado, porém, não se limitou a estes valores, visto que pode dispor de fundos obtido? através do recurso ao mercado interno e externo de capitais, excluídos, no entanto, da análise para evitar duplicações.
Os fundos disponíveis são aplicados não só na formação bruta de capital fixo, mas também em transferências de capital, sobretudo para as empresas públicas, além de se destinarem à concessão de empréstimos aos subsectores do sector público e aos particulares (nesta rubrica inclui-se a aquisição de acções e obrigações das empresas privadas).
Verifica-se, pelo quadro XV, que este sector canalizou um pouco mais de 20 por cento do total de meios de financiamento aplicado em investimento metropolitano em 1960, mas diminuiu substancialmente a sua participação em 1961 e ainda mais em 1962, em que se situou ao nível de cerca de 7 por cento, recuperando em 1963, para voltar a colocar-se ao nível dos 12 por cento em 1964, a que se seguiu nova recuperação em 1966, sem, no entanto, atingir o nível anterior a 1961.

QUADRO XVI

Meios de financiamento canalizados pelo Estado para a metrópole

(Preços correntes)

[Ver tabela na imagem]

(a) Constituídas na sua grande maioria pela sisa, taxa de compensação e imposto sobre as sucessões o doações, que foram incluídas na poupança do Estado na análise anterior.
Excluíram-se, para evitar duplicações, os transferencias de capital provenientes das empresas públicas

Este comportamento foi devido, por um lado, ao decréscimo verificado em 1961 na poupança formada no sector, a que se tem seguido nítida recuperação, e, por outro lado, á elevação dos montantes dos empréstimos concedidos ao ultramar em 1961, e principalmente em 1962. Notou-se também a preocupação de restabelecer o nível das disponibilidades de caixa do Estado, consideravelmente reduzido pelo desentesouramento verificado em 1961.
Outra parcela das disponibilidades de caixa do Estado - os depósitos da previdência social na Caixa Geral de Depósitos - tem vindo, por sua vez, a aumentar substancialmente a partir de 1963, passando apenas em dois anos para mais do dobro do montante existente em 1962 e atingindo 1 800 000 contos em 1965 1. Porém, a alta velocidade de rotação destes depósitos, cujo movimento é condicionado por decisões relacionadas com a política de aplicação de fundos da previdência, tem constituído factor restritivo da sua aplicação em operações de crédito por parte da Caixa.

19. No domínio das operações de financiamento do sector público, importa considerar a actividade dos fundos públicos, que têm vindo a canalizar recursos para empreendimentos em diversos sectores através de operações características do mercado de capitais. De modo geral, os capitais movimentados por estes fundos provêm fundamentalmente do recurso ao Tesouro e de financiamentos concedidos pelas instituições de crédito.
O Fundo de Renovação da Marinha Mercante, criado pelo Decreto-Lei n.º 35 876, de 24 de Setembro de 1946, e reorganizado em 1959, tem por objectivo o financiamento da renovação e ampliação da frota mercante nacional, através da concessão de empréstimos aos armadores

1 Em 1966 acusou um decréscimo de 243 000 contos, pelo que se reduziu a 1 081 000 contos.

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inscritos na Junte Nacional da Marinha Mercante Estes créditos, cuja taxa de juro é de 3 por cento, são reembolsáveis em vinte anuidades com um período de isenção de cinco anos Com o produto da emissão de obrigações tomadas pelo Tesouro, este. Fundo efectuou, no período de 1959-1965, financiamentos no montante global de 485 000 contos.
O Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca, criado pelo Decreto-Lei n.º 39 283, de 20 de Julho de 1953, e reorganizado também em 1959, tem como finalidade, nomeadamente, o financiamento da renovação e modernização das frotas de pesca, mediante empréstimos concedidos aos armadores e empresas ligadas à pesca, quer directamente, quer através dos respectivos grémios. Os créditos são reembolsáveis em doze anuidades, com início três anos depois da concessão, e vencem juro à taxa anual de 4 por cento. No período de 1959-1985, os financiamentos concedidos pelo Fundo totalizaram 518 000 contos.
O Fundo de Melhoramentos Agrícolas, cuja criação resultou do Decreto-Lei n.º 33 993, de 23 de Novembro de 1946, destina-se à concessão de créditos para diversas modalidades de melhoramentos no sector agrícola. Os seus recursos provém designadamente de dotações orçamentais e empréstimos da Caixa Geral de Depósitos e Banco de Fomento. O montante global de financiamentos aprovados por este Fundo, no período referido, foi de 637 000 contos.
Quanto ao Fundo de Turismo, criado pela Lei n.º 2082, de 4 de Junho de 1956, entre os seus objectivos figura o auxilio financeiro aos empreendimentos hoteleiros e turísticos do sector privado e da administração local. Como principais receitas devem mencionar-se o produto de taxas especiais, os subsídios concedidos pelo Estado e o produto de empréstimos No período de 1959-1965, os financiamentos directos à indústria hoteleira e similares do sector privado atingiram cerca de 115 000 contos. Além disso, o Fundo de Turismo tem prestado garantias a empréstimos concedidos pela Caixa Nacional de Crédito.
O Fundo de Fomento de Exportação tem vindo a conceder vários subsídios para a construção e equipamentos, nomeadamente no sector agrícola. O montante global desses subsídios, no período de 1959-1965, elevou-se a 51 000 contos.
Quanto ao Fundo dos Têxteis, criado nos termos do Decreto-Lei n s 42 285, de 2 de Outubro de 1963, compete-lhe a assistência ao reequipamento das indústrias têxteis do continente, através de recursos provenientes, dês gnadamente, do produto de taxas sobre a importação de algodões em rama e fibras e fios têxteis, artificiais e sintéticos.
O Fundo de Fomento Florestal e Aquícola foi instituído pelo Decreto-Lei n.º 34 394, de 27 de Janeiro de 1945. Nos termos do Decreto-Lei n.º 45 443, de 16 de Dezembro de 1963, foi modificada a sua estrutura administrativa e financeira. Entre os seus objectivos figura a assistência financeira para reflorestação de terrenos de aptidão predominantemente florestal, através de subsídios e empréstimos. Os recursos provêm, nomeadamente, de dotações orçamentais e da contribuição de certos organismos públicos.
O Fundo Especial de Transportes Terrestres, criado pelo Decreto-Lei n.º 38 247, de 9 de Maio de 1951, e reorganizado em 1962 e 1963, destina-se, em particular, à concessão de subsídios reembolsáveis, com vista à realização de empreendimentos ligados aos sistemas de transportes terrestres. O Fundo pode ainda conceder garantias a empréstimos, com a duração máxima de dez anos, obtidos em instituições de crédito pelas entidades que podem beneficiar da assistência do Fundo. Como recurso do Fundo, figuram o produto de impostos especiais, dotações da Administração Central e da administração local e o produto de operações de crédito.

b) Empresas públicas

20. Não se conhecendo as contas corrente e de capital das empresas públicas, utilizou-se método indirecto de determinação dos seus fundos próprios canalizados para investimento, supondo que realizam todas as suas operações de transferências de capital e de crédito com o Estado.

QUADRO XVII

Conta de capital das empresas públicas (com excepção dos empréstimos concedidos pela Caixa Geral de Depósitos, Credito e Previdência)

(Preços correntes)

[Ver tabela na imagem]

(a) Novas operações.

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 524

Elaborou-se, assim, uma conta de capital das empresas públicas (excluindo a Caixa Geral de Depósitos, para evitar duplicações), com base no conhecimento do seu nível de formação bruta de capital fixo, das transferências de capital do e para o Estado e dos empréstimos contraídos no Estado e na Caixa Geral de Depósitos, supondo a não variação das suas disponibilidades líquidas de tesouraria.
A participação média deste sector no período considerado situou-se a volta de 2 por cento do total dos meios de financiamento postos ao serviço do investimento, à excepção de 1964, em que avultaram as transferências de capital e o crédito provenientes do Estado.

2. Instituições financeiras

21. Este sector compreende, além das instituições de crédito a que se refere o Decreto-Lei n.º 41 403, de 27 de Novembro de 1957, as empresas seguradoras.
Nos termos do citado decreto-lei, além do Estado, através dos Fundos atrás descritos 1, só as instituições de crédito podem normalmente exercer funções de crédito e praticar os demais actos inerentes à actividade bancária, considerando-se como tais as seguintes.

a) Os institutos de crédito do Estado - a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e a sua instituição anexa, a Caixa Nacional de Crédito,
b) Os bancos emissores, sendo os ultramarinos equiparados aos bancos comerciais quanto à actividade bancária e funções de crédito exercidas na metrópole;
c) Os bancos comerciais, abrangendo esta designação as casas bancárias,
d) Os estabelecimentos especiais de crédito, que compreendem os bancos de investimento, as caixas económicas, as cooperativas de crédito e a Companhia Geral de Crédito Predial Português 2.

Admitia-se ainda, no mesmo diploma, poder vir a ser permitido, com as necessárias restrições, a fixar em diploma regulamentar, o exercício de funções de crédito a outras entidades De facto, pelo Decreto-Lei n.º 46 302, de 27 de Abril de 1965, foram estabelecidas as normas para o exercício da actividade creditícia por entidades denominadas «instituições parabancárias»
Como mostra o quadro XV, os meios de financiamento canalizados pelo conjunto das instituições financeiras parecem demonstrar elevada sensibilidade aos movimentos da conjuntura, tendo a sua participação no financiamento do investimento provavelmente diminuído nos anos de 1961 e 1962, em que se teria cifrado em cerca de 15 por cento do total. No ano imediato, porém, teria iniciado franca recuperação, com nova quebra em 1964, situando-se provavelmente ao nível de cerca de 24 por cento do total dos meios de financiamento canalizados para o investimento em 1965.
Analisar-se-á seguidamente a contribuição para o financiamento do investimento das diversas instituições financeiras que actuam no mercado metropolitano - institutos do Estado (Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito), Banco de Fomento Nacional, caixas económicas privadas, banca comercial e empresas seguradoras.
Note-se que o Banco de Portugal, como banco central, dirige a sua actividade fundamentalmente para as operações com as outras instituições de crédito, no domínio do mercado monetário, como prestamista de última instância, pelo que o seu papel na canalização de meios financeiros para investimento é diminuto Desde 1960, a sua participação média no total dos meios financeiros canalizados para o investimento cifrou-se em cerca de 1 por cento, como mostra o quadro XV.

QUADRO XVIII

Novas aquisições de títulos pelo Banco de Portugal

[Ver tabela na imagem]

2.1. Institutos de crédito do Estado (Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito).

22. Como se vê pelo quadro XV, a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência (incluindo os serviços privativos e a Caixa Nacional de Crédito) teria sido o único estabelecimento com comportamento de tipo estabilizador no conjunto das instituições financeiras, no período em análise, garantindo por si só em 1961-1962 cerca de 50 por cento, em média, dos fundos dirigidos para o investimento por aquelas instituições. A sua contribuição tem vindo a aumentar sucessivamente desde 1960, em que teria representado 6 por cento do total dos meios de financiamento dirigidos para o investimento, para se situar ao nível de 10 por cento nos dois últimos anos, o que lhe conferiria papel quase tão importante como o de toda a banca comercial em aplicações a médio e longo prazos, sem o inconveniente apresentado por esta, no que se refere a sensibilidade à conjuntura.
Interessa, sobretudo, assinalar a acentuada expansão verificada nas novas operações de empréstimo a médio e longo prazos no último triénio, sobretudo em 1966, duplicando a partir de 1964 as concedidas ao sector público e triplicando em 1966 as concedidas ao sector particular.
As aquisições de títulos, na sua quase totalidade do sector público, aumentaram também consideravelmente durante o período em referência, em especial em 1905, como pode comprovar-se pelo quadro seguinte, em que, além dos montantes dos títulos adquiridos anualmente, de 1960 a 1965, se indicam os quantitativos dos empréstimos a médio e longo prazos, distinguindo em ambos os casos entre as operações realizadas com o sector público e com o sector privado.

1 Os organismos corporativos e de coordenação económica realizam também certas operações financeiras, destinadas fundamentalmente a financiamento de stocks e outros modos de intervenção nos mercados.
2 Esta instituição á equiparada aos bancos comerciais quanto os funções de crédito não dependentes ou resultantes da sua actividade como instituição de crédito predial.

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QUADRO XIX

Novas operações realizadas pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência

(Metrópole)

[Ver tabela na imagem]

23. O confronto das taxas de progressão dos depósitos de particulares nos períodos de 1953-1960 e 1962-1964 mostra que a do último foi superior à do primeiro, apesar de a Caixa se estar a ressentir mais intensamente da concorrência bancária na captação de depósitos e, em menor grau, da emissão de certificados de aforro. Todavia, partindo do princípio de que serão tomadas as providências necessárias para limitar a acção dos factores desfavoráveis, admite-se que a taxa anual de crescimento dos depósitos da Caixa se possa estimar em 3,5 por cento, na hipótese de não se verificarem desequilíbrios na balança de pagamentos da zona do escudo. Nesta base, a extrapolação para 1973, a partir do saldo dos depósitos no fim de 1964, daria 10 302 000 contos.
Deste apuramento resulta o acréscimo de 2 743 000 contos para os depósitos de particulares no período de 1964-1973, dos quais cerca de 2 milhões de contos correspondem ao hexénio com termo em 1973.
A estimativa dos depósitos recolhidos pela Caixa deve incluir igualmente um cômputo relativo aos «depósitos necessários», ou sejam os depósitos efectuados ao abrigo de determinações legais Estes depósitos, originados, na maioria, por disponibilidades do sector público, caracterizam-se por grande velocidade de rotação, o que não obsta a que se encare a sua comparticipação na origem dos fundos disponíveis para financiamentos. A acentuada mobilidade destes depósitos e as causas que impulsionaram as elevações dos saldos de determinados agrupamentos concorrem para que se não fixe em mais de 850 000 contos o montante que se estima poder aplicar em operações de crédito de tipo especial, do ponto de vista da sua rotação e implicitamente de liquidez.
Também o método de avaliação da poupança própria desta instituição financeira, proveniente do reforço anual dos seus fundos de reserva e de previsão, não poderá efectuar-se por mera extrapolação. Por um lado, parece inevitável ter de se contar com maiores encargos de pessoal e, por outro, considera-se a possibilidade de estimular os depositantes com elevações de taxas ou criação de condições especiais para os genuínos depósitos de poupança. Não parece, portanto, prudente aceitar-se que ultrapasse 750 000 contos o reforço dos fundos próprios das duas instituições da Caixa que desempenham funções de crédito - serviços privativos e Caixa Nacional de Crédito - ao longo do hexénio de 1968-1973, o que corresponde à média anual de 125 000 contos.
Assim, dado prever-se que o volume de acréscimo da poupança formada nesta instituição financeira abrandará nos próximos anos, e não sendo de admitir que os «depósitos necessários», na quase totalidade provenientes da sector público ou por ele comandados, possam progredir em ritmo tão intenso como se verificou desde 1961, justifica-se se estimo a expansão do montante das novas operações a taxa ligeiramente inferior à que se utilizou para os depósitos de particulares. Admitindo, portanto, uma taxa da ordem dos 2 3/4 montante das novas operações, calculado na base do valor médio de 1 milhão de contos no período de 1965-1967, situar-se-á em 6,6 milhões de contos de 1968 a 1973.
Para a confirmação deste valor, toma-se necessário supor que poderão aplicai-se em novas operações de crédito 80 por cento do acréscimo dos depósitos de particulares, assimiláveis a poupanças individuais, e um montante proveniente dos «depósitos necessários» que se computou em 850 000 contos, a que se deverão adicionar 750 000 contos referentes ao reforço dos fundos próprios no período considerado.
Finalmente, atendendo ao ritmo a que se têm processado as amortizações das operações contratadas a médio e longo prazos, estima-se o seu total em 2 milhões de contos no decurso dos seis anos em referência, fixando-se em 1 400 000 contos o reembolso provável das operações a curto prazo renovável.
O resumo dos dados anteriores permite justificar a estimativa da capacidade de financiamento para o período de 1968-1973, obtida por extrapolação.

Milhares
de contos
80 por cento do acréscimo dos depósitos de particulares....... 1 600
Aplicação de «depósitos necessários».......................... 850
Reforço dos fundos de reserva................................. 750
Amortização de operações contratadas a médio e longo prazos... 2 000
Reembolsos de operações contratadas a curto prazo............. 1 400
6 600

Finalmente, atendendo a que os montantes das promissórias do fomento nacional que se vencerem no período de 1068-1978 poderão vir a ser reinvestidos em títulos da mesma natureza, na hipótese de a evolução da liquidez da Caixa não exigir a sua representação em disponibilidades.

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mais imediatas, podem obter-se os totais daqueles títulos de harmonia com o montante anual dos vencimentos.

Milhares
de contos
1968 ....................................................... 250
1969 ....................................................... 250
1970 ....................................................... 500
1971 ....................................................... 300
1972 ....................................................... 200
1973 ....................................................... 250
1 750

Somando estes l 750 000 contos ao apuramento anterior, conclui-se que a estimativa da capacidade de financiamento da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência se eleva a 8 350 000 contos para o hexénio de 1968-1973.

2.2. Banco de Fomento Nacional

24. O Banco de Fomento Nacional foi criado com o objectivo de dotar o sistema de crédito nacional com uma instituição especializada no financiamento a médio e longo prazos, destinada a abranger a generalidade das operações financeiras que o processo de desenvolvimento económico requer. Por outro lado, foi-lhe igualmente atribuída a realização de estudos técnicos tendentes à melhor orientação dos investimentos ou ao esclarecimento dos problemas que possam afectar qualquer sector da actividade económica.
Quanto aos seus meios de financiamento, foram considerados em particular, e para além dos seus capitais próprios, a emissão de obrigações, a aceitação de depósitos a prazo superior a um ano e os empréstimos do Estado, para fins específicos de fomento, em aplicação do produto da emissão de títulos públicos, nomeadamente promissórias do fomento nacional.
Foram já realizadas diversas emissões de obrigações, no País e no estrangeiro, e o montante dos depósitos a prazo tem revelado, recentemente, tendência expansionista.
Todavia, o volume de operações realizadas por este estabelecimento e destinadas a financiar empreendimentos na metrópole, desde o início da sua actividade - excluindo as «operações de garantia» e as «operações diversas», as primeiras por não constituírem financiamentos e as segundas em virtude do seu carácter de transitoriedade -, tem-se situado em níveis que não podem ainda considerar-se satisfatórios, atentas as finalidades para que esta instituição foi criada, embora tenha registado sensível melhoria em 1966.

QUADRO XX

Meios de financiamento canalizados pelo Banco de Fomento Nacional para a metrópole

[Ver tabela na imagem]

(a) Deduzidos no quadro XV aos financiamentos realizados pelo Banco do Fomento Nacional, a fim de evitar duplicações com os financiamentos realizados por outras fontes incluídas nesse quadro.

Esta evolução ficou â dever-se a considerável diminuição, logo a partir do segundo ano de existência, da sua participação líquida na canalização de meios de financiamento paia o investimento Com efeito, deduzidos os recursos financeiros facultados pelo Estado para operações de financiamento na metrópole - 650 000 contos, e apenas em 1961 e 1962 -, os postos à sua disposição pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência - 250000 contos em 1963 e 1965, aos quais há a adicionar 277 000 contos em 1966 - e os que foram obtidos através de crédito externo - 675 000 contos em 1961 e 1963 -, verifica-se que o Banco de Fomento Nacional colocou, em 1960, na metrópole, 2,5 por cento do total dos meios de financiamento aplicados em investimento. Seguiu-se um período de retraimento crescente, atingindo até valores negativos, para se notar a partir de 1964 nítido esforço de recuperação, mediante uma política de atracção de poupanças, sob as formas de depósitos a prazo e de empréstimo, bem como do reembolso dos financiamentos concedidos pelo Fundo de Fomento Nacional.
Verifica-se, assim, que, no triénio de 1961-1963, o Banco de Fomento Nacional aplicou na metrópole menos fundos do que os que obteve das outras fontes de financiamento, servindo, assim, de veículo de fundos metropolitanos e externos para o ultramar.

25. De harmonia com as actuais previsões do comportamento da instituição no decurso deste III Plano, na sequência, aliás, das admitidas aquando da elaboração do

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Plano Intercalar de Fomento, e não entrando em linha de conta com a eventual contribuição anual do Estado (200 000 contos) para operações de financiamento, os montantes previstos para o hexénio a que o III Plano de Fomento respeita seriam os seguintes.

Milhares
de contos
1968 ....................................................... 668
1969 ....................................................... 711
1970 ....................................................... 757
1971 ....................................................... 805
1972 ....................................................... 855
1973 ....................................................... 910
4 706

Este volume de financiamentos compreende, como é óbvio, toda a actividade creditícia deste Banco no tocante a empréstimos directos e participações financeiras, sejam quais forem os sectores e parcelas do território nacional a que respeitem. De facto, não é possível fazer uma estimativa separada para a metrópole e o ultramar.
Cumpre acentuar ainda, por um lado, que a acção desenvolvida pelo Banco no passado condiciona, em certa medida, a sua acção futura, exigindo continuidade de assistência financeira e técnica a empreendimentos e ramos de actividade que dele mais estreitamente dependem, e que, por outro lado, a área e o âmbito em que se exerce e se espera a intervenção do Banco de Fomento Nacional são tão vastos e as necessidades tão prementes que algumas vezes se não mostra viável recusar apoio financeiro a solicitações porventura menos prioritárias do ponto de vista estritamente económico.
Para a realização deste volume de financiamento o Banco de Fomento Nacional conta com os seguintes recursos.

a) Capital próprio

Atenta a experiência dos anos anteriores e em especial dos anos de 1964 e 1965, prevê-se que a formação de capital próprio atinja, no hexénio que este III Plano abrange, os montantes de:

Milhares
de contos
1968 ......................................................... 60
1969 ......................................................... 63
1970 ......................................................... 66
1971 ......................................................... 69
1972 ......................................................... 72
1973 ......................................................... 75
405

b) Fundos de garantia

Os fundos de garantia, que, em princípio, deveriam também ser contados na formação do capital, serão todavia tratados em separado, atenta a circunstância de, por disposição estatutária, os valores integrantes daqueles fundos, destinados exclusivamente a cobrir prejuízos das operações realizadas, só poderem aplicar-se em títulos da dívida pública portuguesa ou em obrigações com garantia do Estado.
Os limites rígidos que assim se põem à aplicação de tais recursos restringem de modo notável as suas virtualidades como fonte de financiamento.
As irregularidades da evolução no passado recente e a circunstância de as dotações do fundo de garantia dependerem de deliberações tomadas anualmente impõem alguma prudência na previsão do seu comportamento futuro, pelo que os valores representativos dos recursos anualmente aplicáveis no âmbito dos fundos em causa são estimados como a seguir se apresenta.

QUADRO XXI

Fundos de garantia, recursos aplicáveis

[Ver tabela na imagem]

c) Depósitos a prazo

Os depósitos a prazo ascendiam a 569 500 contos em 31 de Dezembro de 1965. A este montante há, porém, que deduzir depósitos no valor de 428 800 contos, feitos em condições que praticamente os equiparam a verdadeiros empréstimos.
O novo regime a que, no atinente às taxas, o Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto de 1965, sujeitou os depósitos, permitiu ao Banco de Fomento Nacional definir e executar, oeste domínio, uma política mais segura, em ordem a intensificar, tanto quanto possível, a captação da poupança.
Resultou, assim, admitir-se que o volume dos depósitos a prazo neste Banco (não considerando os de regime especial a que acima se aludiu) será de 200 000 contos em 31 de Dezembro de 1966, com acréscimos, daí em diante, de 10 por cento ao ano.
Nestes termos, considerando, por um lado, que os vencimentos dos depósitos existentes em 31 de Dezembro de 1966 se distribuem, em duas parcelas iguais, pelos anos de 1967 e 1968 e partindo, por outro lado, do princípio de que os reembolsos das renovações e depósitos contratados em cada um dos anos posteriores se repartirão também igualmente pelos dois anos subsequentes, serão os seguintes os valores a atingir no próximo futuro.

QUADRO XXII

Previsão da evolução dos depósitos

[Ver tabela na imagem]

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 528

Embora a previsão assim estabelecida seja modesta, cumpre notar que, em face da experiência já obtida, os referidos valores corresponderão à obtenção de novos depósitos e renovações que, no hexénio em causa, se deverão situar em cerca de 844 000 e 450000 contos, respectivamente.

d) Realização do património

No que se refere à realização do património, os meios libertos no hexénio de 1968-1978, correspondentes à diferença entre os reembolsos dos financiamentos concedidos pelo Banco de Fomento Nacional e os pagamentos a efectuar por este aos seus credores, deverão situar-se nos seguintes níveis:

Milhares
de contos
1968 ........................................................ 151,1
1969 ........................................................ 209,3
1970 ........................................................ 161,2
1971 ........................................................ 129,8
1972 ........................................................ 50
1973 ........................................................ 82,1
783,5

Da comparação entre o volume de financiamentos anteriormente previsto e o montante dos recursos apurado infere-se que este Banco, para poder executar o programa anunciado, necessita de obter, no hexénio em causa, recursos complementares do montante global de 3 166 000 contos.

QUADRO XXIII

Recursos complementares

[Ver tabela na imagem]

Excluídos os depósitos a prazo e não se havendo considerado, em toda a análise, a realização de quaisquer empréstimos do Estado ou das províncias ultramarinas, restam como fontes possíveis de recursos complementares, essencialmente, a emissão de obrigações, os empréstimos das instituições de crédito nacionais e o crédito externo.
No que respeita às obrigações, a actual estruturação dos mercados do dinheiro em geral, e particularmente do mercado de capitais, tornam inseguríssimas quaisquer previsões que nesse campo pretendam estabelecer-se.
Deve, no entanto, salientar-se desde já que alterações na remuneração desta espécie de títulos pode modificar profundamente o estado das coisas, viabilizando o recurso, em termos satisfatórios, a tal fonte financeira.
Todavia, não estando ainda estabelecida a orientação a seguir nesse domínio, torna-se impossível prever com rigor a medida em que a emissão de obrigações virá a concorrer para a obtenção dos recursos complementares, em causa.
No que respeita aos empréstimos das instituições de crédito nacionais, os financiamentos obtidos do Banco de Portugal destinam-se normalmente à solução de contas de tesouraria, não desempenhando, portanto, papel relê vante nos investimentos realizados.
O Banco de Angola facultou ao Banco de Fomento Nacional, em 1961, um empréstimo de 150 000 contos, aumentado, em 1963, para 160 000 contos, e que se destinou a facilitar o arranque da actividade creditícia desta última instituição na província de Angola.
Para fins semelhantes no atinente à província de Moçambique, concedeu o Banco Nacional Ultramarino um empréstimo de 100 000 contos ao Banco de Fomento Nacional, em 1960.
A Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência colocou, através de dois empréstimos sucessivos (um em 1963 e outro em 1965), 250 000 contos à disposição do Banco de Fomento Nacional, para apoio das suas operações de financiamento, cedendo mais 277 000 contos em 1966.
Conclui-se, portanto, que, embora se torne necessário estreitar e intensificar as relações, com as instituições de crédito referidas e com as demais que constituem o sistema bancário português, não é lícito, nomeadamente na conjuntura actual, esperar daí contributo fortemente representativo para a cobertura das necessidades financeiras do Banco de Fomento Nacional.
Quanto ao crédito externo, este constitui, como é óbvio, fonte de recursos de que não pode prescindir-se. A situação do mercado de capitais estrangeiro não tem sido de molde a viabilizar a realização de operações em termos compatíveis com as taxas de juro que se praticam internamente. Sendo, todavia, legítimo prever uma evolução favorável, a prazo mais ou menos curto, da conjuntura do mercado financeiro internacional e admitindo-se, por outro lado, que a progressiva consolidação da economia portuguesa e o eventual aperfeiçoamento do condicionalismo do mercado interno de capitais venham a atenuar as dificuldades que se sentem agora, tornar-se-á possível recorrer, no futuro, em medida mais ou menos ampla, ao crédito externo.
Como fonte adicional de meios financeiros pode considerar-se ainda a desmobilização da carteira de títulos do Banco de Fomento Nacional Certo é, todavia, que, por um lado, o recurso a essa solução dependerá da capacidade de absorção do mercado e que, por outro, a venda de títulos tem de processar-se em termos particularmente cautelosos e com adequada lentidão, numa bolsa como a nossa, cuja debilidade a torna hipersensível.

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2.3. Caixas económicas privadas

26. Não obstante a insuficiência dos elementos estatísticos disponíveis, o quadro XV mostra que a participação das caixas económicas privadas no financiamento do desenvolvimento económico nacional teria sido diminuta, situando-se em cerca de 1 por cento do total de meios de financiamento canalizados para o investimento, embora com tendência crescente nos últimos anos.
Com efeito, como evidencia o quadro XXIV, a variação dos empréstimos concedidos, que na sua maioria são hipotecários, tem atingido valor relativamente reduzido, embora nos dois últimos anos revele mais acentuada tendência crescente. Além disso, segundo informações recentes, cerca de metade do crédito a prazo superior a dois anos - o mais adequado para o financiamento do investimento - dirige-se para o consumo, com evidente prejuízo da sua aplicação na formação de capital fixo.

Tipo de crédito concedido ao sector privado

[Ver tabela na imagem]

Por seu turno, o valor global dos títulos em carteira experimentou contracção no decurso do período em estudo.

QUADRO XXIV

Meios de financiamento canalizados pelas caixas económicas privadas da metrópole

[Ver tabela na imagem]

Quanto à tomada de promissórias do fomento nacional, o valor correspondente a este conjunto de instituições cresceu gradualmente ao longo do período em análise, elevando-se no final de 1965 a 61 000 contos.

27. Como não se encontram ainda fixados os requisitos especiais sobre grau de liquidez e composição da cobertura das responsabilidades, previstas no artigo 51.º do Decreto-Lei nº 41 403, de 27 de Novembro de 1057, a estimativa da capacidade de financiamento destas instituições baseou-se na estrutura das reservas de caixa e na proporção entre responsabilidades e coberturas observadas nos últimos anos.
Para avaliar a capacidade de aquisição de promissórias do fomento nacional, consideraram-se, em primeiro lugar, as projecções do conjunto dos depósitos à ordem e a prazo, dada a semelhança das suas características, pois representam, na sua maioria, depósitos de poupança com baixa velocidade de rotação Usando na determinação das projecções a taxa de 15 por cento, que corresponde à média dos últimos anos, e admitindo que as reservas de caixa representam 25 por cento do referido conjunto de responsabilidades, encontram-se os valores de 745 000 e 1 723 000 contos para as reservas de caixa em 31 de Dezembro de 1967 a 1973, respectivamente. Como as promissórias do fomento nacional constituíram, em média, nos últimos anos, cerca de 10 por cento das reservas de caixa, pode supor-se que os montantes destes títulos venham a atingir, naquelas datas, 75 000 e 172 000 contos. Considerando-se, porém, que as promissórias em circula-

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ção em 31 de Dezembro de 1967 serão totalmente amortizadas durante o período em questão, estima-se a capacidade de tomada de promissórias em 172 000 contos.
No que se refere à concessão de empréstimos, uma vez que o montante dos empréstimos e contas correntes caucionados apresentou, em média, nos últimos anos, 78 por cento do valor das responsabilidades -depósitos à ordem e a prazo-, é de admitir que em 31 de Dezembro de 1967 e de 1973 o seu valor se eleve a 2 174 000 e 5 031 000 contos, respectivamente Deste modo, a variação do montante dos empréstimos das caixas económicas entre as referidas datas pode avaliar-se em 2 857 000 contos.
Por último, quanto à carteira de títulos, admite-se que o seu montante se manterá estacionário durante o período em causa, de acordo com a tendência observada nos últimos anos.
Nestes termos, a estimativa da capacidade de financiamento das caixas económicas no período de 1968-1973 eleva-se a:

Milhares
de contos
Tomada de promissórias do fomento nacional ................. 172
Empréstimos e contas correntes caucionados ................. 2 857
3 029

28. Entre os estabelecimentos especiais de crédito importa ainda fazer referência às caixas de crédito agrícola mútuo, cujo objectivo consiste na concessão de crédito aos agricultores nelas associados. Todavia, nos empréstimos concedidos devem predominar os empréstimos a curto prazo necessários para financiar a produção agrícola.
Os seus recursos financeiros provêm principalmente de empréstimos da Caixa Nacional de Crédito, a que acresce montante sensivelmente inferior de fundos depositados. Nos últimos anos, o saldo da conta «Empréstimos aos sócios» apresentou a seguinte evolução, que se deve comparar com as dos créditos concedidos pela Caixa Nacional de Crédito e dos depósitos à ordem e a prazo.

QUADRO XXV

Situação das caixas de credito agrícola mutuo

Saldos em milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

A aparente tendência para a estagnação do crédito outorgado por estas instituições resulta da orientação definida no Decreto-Lei n.º 45 223, de 2 de Setembro de 1962, que reduziu os financiamentos para a cultura do trigo. A parcela correspondente a financiamentos efectuados à custa dos fundos próprios ou depositados era, em 31 de Dezembro de 1965, apenas de 320 000 contos.

2.4. Banca comercial

29. A banca comercial, em face dos elementos estatísticos disponíveis, parece ter apresentado elevado grau de sensibilidade a conjuntura, contraindo intensamente, em 1961 e 1962, o montante do saldo das suas operações de crédito suposto a médio prazo e o volume da carteira de títulos, enquanto nos restantes anos do período em análise a sua participação se situaria entre 7 por cento e 12 por cento do total dos meios de financiamento a médio e longo prazos aplicados em investimento.

QUADRO XXVI

Meios de financiamento a médio e longo prazos canalizados através das principais rubricas pelos bancos comerciais e casas bancárias na metrópole

[Ver tabela na imagem]

(x) Em 1962, a estrutura dos quadros das estatísticas financeiras do Instituto Nacional do Estatística foi alterada, autonomizando as rubricas «Empréstimos a mato de um ano» e «Participações financeiras» em relação, respectivamente, a «Empréstimos e contas correntes caucionados» e «Carteira de títulos»

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O total dos empréstimos e contas correntes caucionados, tomado como crédito a médio prazo, inclui uma parte substancial de crédito a curto prazo, que as actuais estatísticas permitem estimar, em média, em cerca de 80 por cento 1, mas que se presume tratar-se em grande parte de crédito renovável.
Ao quadro anterior, por outro lado, haveria que adicionar o crédito a médio prazo englobado na carteira comercial, que, como se verifica pelos dados relativos aos anos de 1965 e 1966 2, atingiria valores significativos, supondo que normalmente o crédito comercial a mais de seis meses é renovável.
Note-se, ainda, que uma fracção, decerto elevada, do crédito concedido pela banca comercial sob a forma de desconto de letras até seis meses beneficia de uma ou mais renovações, constituindo nessa parte crédito a médio prazo.
É certo que nem todo o crédito concedido, mesmo a prazos mais longos, se destinou à formação de capital, pelo que convirá rodear das devidas cautelas este tipo de análise do crédito distribuído.
As carteiras de títulos dos bancos comerciais, cuja variação, calculada ao valor nominal, permite avaliar a intervenção destas instituições no mercado de títulos, evidenciaram, no período em referência, expansão da ordem dos 2 milhões de contos, tendo o incremento dos «Títulos do Estado e por ele garantidos» representado cerca de 90 por cento do total.

QUADRO XXVII

Bancos comerciais

Títulos nacionais em carteira (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) Não inclui os valores dos títulos adstritos à cobertura da emissão monetária do Banco Nacional Ultramarino.

O valor nominal das acções em carteira registou no período em causa, acréscimo da ordem dos 168 000 contos, que se deverá atribuir aos títulos das empresas metropolitanas, já que as acções ultramar mas somaram reduzido montante, que se manteve praticamente estacionário no último triénio.
No que se refere às obrigações, os títulos da dívida pública representam a parcela mais significativa - 96,3 por cento em 1965. As obrigações privadas apresentam estrutura semelhante a dos títulos de rendimento variável.
A tomada de promissórias do fomento nacional pela banca comercial, de fundamental importância no financiamento do processo de desenvolvimento económico, atingiu no sexénio de 1960-1965 o volume de 1 090 000 contos.
As participações financeiras da banca comercial apresentam estabilidade no triénio de 1962-1964, apenas evidenciando significativo incremento em 1965.
A capacidade para a aquisição de acções e de obrigações não garantidas pelo Estado, bem como para participações financeiras, condicionada pelo Decreto-Lei n.º 42 641, de 12 de Novembro de 1959 (artigo 67.º), atingiu, no período considerado, as seguintes expressões.

QUADRO XXVIII

Capacidade para a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado

[Ver tabela na imagem]

(a) Carteira de títulos + Participações financeiras - Fundos públicos

1 Informações recentemente vindas a público apresentam as seguintes estruturas dos empréstimos e contas correntes caucionados.

) Quanto ao prazo

[Ver tabela na imagem]

b) Quanto aos sectores beneficiários

[Ver tabela na imagem]

2 Estrutura da carteira comercial quanto ao prazo:

[Ver tabela na imagem]

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 532

Verificou-se, assim, acentuada elevação do capital social em 1963, 1964 e 1966, devida em grande parte às incorporações de reservas, pelo que o valor dos fundos de reserva se manteve relativamente estável entre 1961 e 1964, aumentando de forma nítida em 1965, em consequência da escrituração de «Reservas de reavaliação», bem como em 1966.
A conjugação destes movimentos determinou sensível elevação da capacidade potencial em 1965, e como a capacidade utilizada aumentou em menores proporções, o valor da capacidade por utilizar revelou subida apreciável.

30. A capacidade potencial de financiamento da banca comercial desdobra-se, numa primeira análise, em capacidade para aquisição de títulos e para concessão de crédito com vista a financiar ou pré-financiar a formação de capital fixo.
Para avaliar a capacidade de tomada de promissórias do fomento nacional, torna-se necessário efectuar previamente as projecções das principais categorias de responsabilidades, a fim de conhecer o valor das reservas mínimas de caixa no fim de 1967 e de 1973.

QUADRO XXIX

Responsabilidades à vista e a prazo da banca comercial

[Ver tabela na imagem]

Para as responsabilidades à vista, os obstáculos que se deparam ao procurar antever a sua evolução provável em 1968-1973 - designadamente os que decorrem da dificuldade de estimar as repercussões do comportamento da balança de pagamentos, tanto na metrópole como no ultramar, das tensões inflacionistas que vem experimentando a economia do continente e de eventuais alterações da estrutura de taxas de juro - levaram a adoptar taxa inferior à da média do hexénio e análoga à considerada para o produto do sector «Bancos e seguros», no período deste III Plano, corrigida para preços correntes.
Quanto aos depósitos a prazo ou com pré-aviso superior a 80 dias, parece justificar-se a utilização da taxa de 15 por cento, não obstante a tendência revelada nos últimos anos. De facto, os acréscimos verificados, especialmente em 1965, traduzem evolução de características anormais, resultante em larga medida da concorrência interbancária e da transformação de depósitos à ordem em depósitos a prazo e com pré-aviso, na sequência da publicação do Decreto-Lei n.º 46 492, para além dos efeitos da evolução das relações económicas externas e da expansão do crédito.
Admitindo que se mantenha em 10 por cento a parte dos depósitos a prazo e com pré-aviso correspondente aos prazos de 30 a 90 dias, as reservas de caixa atingiram os seguintes valores, em milhares de contos:

[Ver tabela na imagem]

Assim, no caso de se conservar o limite de 1/2 para a participação de promissórias nas reservas mínimas de caixa, a banca comercial poderia ter no fim de 1967 e 1973 promissórias no valor de 2699 e 4997 milhares de contos, respectivamente.
Note-se que o limite da importância total de promissórias em circulação (que é 3,5 milhões de contos até 31 de Dezembro de 1967) depende de contrato a realizar entre o Estado e o Banco de Portugal. Admitindo, porém, que este limite venha a ser elevado de forma a permitir a utilização integral da capacidade potencial para a tomada de promissórias e considerando que o montante das promissórias em circulação em 31 de Dezembro de 1967 (a amortizar totalmente durante o período em causa) poderá ser novamente aplicado nesses títulos, pode estimar-se a referida capacidade em 4 997 000 contos.
Partindo do princípio de que não é alterada a regulamentação vigente, para calcular a capacidade para a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado, há que efectuar, em primeiro lugar, as projecções do capital social e dos fundos de reserva até 1973. Torna-se, assim, necessário considerar determinadas hipóteses baseadas na evolução que se prevê venha a dar-se na elevação do capital social e na incorporação de lucros em reservas durante o período deste III Plano.
O quadro seguinte mostra a evolução nos últimos anos dos lucros líquidos e dos lucros incorporados em reservas:

QUADRO XXX

Lucros dos bancos comerciais

[Ver tabela na imagem]

Dada a forma irregular como se tem processado a expansão dos lucros líquidos, na sua projecção será utilizada a taxa de acréscimo considerada para o produto do sector «Bancos e seguros» no período do III Plano (8 por cento). Por outro lado, admitir-se-á que a parte dos lucros líquidos afectada a reservas será de 1/2 do total, o que corresponde á média dos últimos anos.
Quanto ao capital social, supõe-se que não se verificará qualquer aumento por entrada de numerário e que os aumentos por incorporação de reservas se verifiquem a taxa diminuta (3 por cento).

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QUADRO XXXI

Projecções de capital social e fundos de reserva

[Ver tabela na imagem]

Verificar-se-ia, assim, o seguinte acréscimo da capacidade de aquisição de títulos não garantidos pelo Estado (milhares de contos).

1/2 do aumento do capital social .................................... 116
Aumento dos fundos de reserva ................................ 1 024
1 140

A este aumento de capacidade potencial no período de 1968-1978 acresce a capacidade não utilizada em 31 de Dezembro de 1967, que se estima em 1 311 000 contos, supondo constante até 1967 a capacidade utilizada em 1965.
Assim, o quantitativo global da capacidade para aquisição de títulos não garantidos pelo Estado deverá atingir 2 451 000 contos no período deste III Plano.
A estimativa dos valores das restantes aplicações ligadas ao financiamento directo ou indirecto do investi mento (títulos públicos e garantidos pelo Estado e crédito a médio prazo) pode efectuar-se a partir das projecções, apresentadas anteriormente, das principais categorias de responsabilidades.
No que se refere a responsabilidades à vista e depósitos de 80 a 90 dias, admitindo, para a constituição das respectivas coberturas, estrutura idêntica à apurada em 81 de Dezembro do último biénio, obtêm-se os seguintes valores, em milhares de contos.

[Ver tabela na imagem]

Mantendo a participação dos títulos públicos e garantidos pelo Estado nestas garantias observada em 31 de Dezembro de 1965 (6 por cento), estima-se a respectiva capacidade de aquisição, no período de 1968-1978, em 1 732 000 contos.
Quanto à cobertura dos depósitos a prazo superior a 90 dias, admitindo também estrutura das coberturas idêntica à do último biénio, obtêm-se os seguintes valores (em milhares de contos), em confronto com os montantes daqueles depósitos.

[Ver tabela na imagem]

(a) Valores da carteira comercial de seis meses a dois anos e de empréstimos e contas correntes caucionados entre um e dois anos.

Verifica-se, pois, que o valor total das coberturas é inferior aos valores calculados para os depósitos de mais de 90 dias, pelo que a estrutura das coberturas não poderá manter-se inalterada durante o período considerado. Admitindo, porém, que se verificará aumento de proporção das garantias compostas por valores realizáveis a curto prazo, crescendo, portanto, também o excesso acima indicado, a estimativa da variação do crédito a médio prazo (até dois anos) será então de 6 430 000 contos.
Por sua vez, a capacidade disponível no fim de 1967 para esta espécie de financiamentos deverá englobar o excesso de cobertura das responsabilidades até 90 dias (13 319 000 contos) e ainda o excesso das reservas de caixa afectas aos depósitos a prazo de mais de 90 dias (392 000 contos).
Quanto ao referido excesso de coberturas, afigura-se que para o elevado montante verificado no final de 1965 deverá ter concorrido o interesse em constituir volumosa cobertura, dada a inclusão na carteira comercial até seis meses de apreciável quantitativo de crédito renovável. Uma vez reembolsado este crédito, poderá admitir-se a concessão de novos créditos da mesma modalidade ou genuinamente a médio prazo.
Considerando a existência desta capacidade disponível, obtém-se a estimativa da capacidade global de financiamento a médio prazo de 20 141 000 contos.
Por outro lado, uma vez que anteriormente apenas se considerou a aplicação de - 1/2 do aumento do capital social, pode supor-se que a parte restante desse aumento (463 000 contos) venha a ser aplicada em operações a prazos mais longos.
Em resumo, a estimativa da contribuição da banca comercial para o financiamento de operações ligadas ao investimento, durante este III Plano, é a seguinte:

Milhares
de contos
Capacidade para a aquisição de títulos privados
não garantidos pelo Estado .................................. 2 451
Capacidade para a aquisição de promissórias
de fomento nacional ........................................ 4 997
Estimativa da aquisição de títulos públicos
e garantidos pelo Estado ................................... 1 732
Capacidade de financiamento a médio prazo
Capacidade disponível no fim de 1967 ................... 13 711
Estimativa da variação no período de 1968-1973 ......... 6 430
20 141
Diversas aplicações resultantes de 4/5 do
aumento estimado do capital social .......................... 463
29 784

2.4. Empresas seguradoras

31. O progressivo desenvolvimento económico do País tem sido acompanhado de crescente expansão da actividade seguradora, com o consequente acréscimo das responsabilidades das empresas do sector, como se pode concluir pela evolução do volume das suas reservas técnicas (matemáticas de seguros de vida, matemáticas das pensões de acidentes de trabalho, de garantia e de seguros vencidos). O total destas reservas, em que avultam as reservas matemáticas de seguros de vida e de pensões de acidentes de trabalho, cifrou-se em 2258 milhares de contos em 1958 e atingiu 3693,7 milhares de contos em 1964. Houve, assim, neste período, um incremento de 39,4 por cento, à taxa média anual de 5,7 por cento.
O conjunto dos depósitos (iniciais e variáveis) registou comportamento idêntico, dado que, de 1958 a 1964, o respectivo valor global passou de 59,6 para 83,3 milhares

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 534

de contos, o que traduz expansão a igual taxa média anual, fundamentalmente determinada pelo crescimento dos depósitos variáveis, que no mesmo período acusaram aumento médio anual de 8,9 por cento - idêntico ao registado no montante dos prémios de seguros de acidentes de trabalho, de que os depósitos variáveis são função.
Por seu turno, os lucros não distribuídos das sociedades de seguros nacionais, após a elevação verificada nos primeiros anos do período de 1958-1964 - 79,9 por cento - experimentar em sensível contracção a partir de 1962 Esta quebra deve imputar-se, fundamentalmente, ao agravamento das condições de exploração de alguns ramos de seguros, particularmente os de automóveis e responsabilidade civil e de acidentes de trabalho Importa ainda referir que os resultados dos exercícios das sociedades estrangeiras revelam evolução muito irregular, a que, no entanto, não deve conferir-se significado especial, por apenas respeitarem, em geral, às operações de seguros directos, dado que o movimento do resseguro é feito nas respectivas sedes e, por isso, não é contabilizado em Portugal.
As disponibilidades imediatas das sociedades de seguros, das quais uma pequena parte pode ser investida, são representadas essencialmente por depósitos bancários.
O volume destes depósitos, que em 1958 era de 265,1 milhares de contos, elevou-se a 896,8 milhares de contos em 1964. O seu movimento ascensional apresentou-se algo irregular, por depender da maior ou menor rapidez de cobrança dos prémios de seguros, das liquidações das contas de resseguros e também das oportunidades de se efectuarem investimentos em condições satisfatórias, dos pontos de vista de qualidade e de rendimento.

QUADRO XXXII

Depósitos bancários

[Ver tabela na imagem]

Na sequência do comportamento esquematizado das principais variáveis definidoras da capacidade de financiamento das empresas seguradoras, pode analisar-se, através do quadro XXXII, a forma como se processou a mobilização dessa capacidade no decurso do período de 1958-1964, tanto no que se refere a sociedades de seguros nacionais como a estrangeiras.
Quanto às sociedades nacionais, têm assumido posição preponderante no total das aplicações efectuadas os títulos de crédito e, em especial, os imóveis - cuja importância relativa aumentou, ainda que ligeiramente, nos últimos anos.
No que se refere aos títulos de crédito, assinale-se a preferência conferida aos títulos particulares, entre os quais se destacam os títulos de rendimento variarei (acções) Os títulos da dívida pública e equiparados têm revelado ultimamente, em valor absoluto, acentuado progresso - em consequência, designadamente, da exigência de um min mo de 15 por cento de aplicação das reservas técnicas naqueles títulos, em virtude de disposição legal promulgada em 1961.

QUADRO XXXIII

Investimentos das empresas seguradoras

[Ver tabela na imagem]

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Em relação às sociedades estrangeiras, verifica-se também que cerca de 89 por cento dos seus investimentos se dirigem para títulos de crédito e imóveis, embora a respectiva política de investimentos se revele diversa da seguida pelas sociedades nacionais. Efectivamente, as empresas estrangeiras investem mais em títulos do que em imóveis, mais em títulos da dívida pública ou equiparados do que em títulos particulares, mais em obrigações do que em acções.
Em suma, as empresas seguradoras, cuja contribuição para o total dos meios de financiamento canalizados para o investimento não vai além de 2,5 por cento, orientam os suas poupanças-reservas para aplicações isentas de risco (imóveis, títulos públicos e privados), pelo que o papel que desempenham na orientação da poupança para os sectores produtivos é muito limitado.

32. A capacidade de financiamento das sociedades de seguros paia o período deste III Plano terá de ser medida em função de dois grupos de variáveis num primeiro
grupo encontram-se as que respeitam a elementos que traduzem a poupança e as disponibilidades ainda não investidas, num segundo grupo reúnem-se as relativas às preferências que têm sido dadas às várias espécies de valores, no uso daquele grau de liberdade que o condicionalismo legal permite e que a natureza das operações aconselha.
Desta forma, as variáveis do primeiro grupo -variação anual das reservas técnicas, dos depósitos obrigatórios, autuação dos lucros não distribuídos e, em certa medida, a evolução dos depósitos bancários - conduzem à capacidade potencial de financiamento, as variáveis do segundo grupo - tendências preferenciais para cada uma das espécies em que se operaram os investimentos - levam à capacidade efectiva de financiamento.
Na projecção das reservas técnicas seguiram-se os métodos de extrapolação já utilizados no Plano Intercalar de fomento, que conduziram à previsão de um montante de cerca de 6 milhões de contos em 1972, em virtude de um ritmo anual de crescimento de 6,3 por cento.

QUADRO XXXIV

Reservas técnicas previstas para cada um dos anos do período de 1965-1972

[Ver tabela na imagem]

Quanto aos depósitos obrigatórios - iniciais e variáveis -, a sua própria natureza aconselhou a sua projecção separada, obtendo-se a previsão indicada no quadro XXXV. Nele se verifica que, em conjunto, os depósitos obrigatórios deverão elevar-se de 86 300 contos, em 1965, para 121 000 contos, em 1972.

QUADRO XXXV

Depósitos obrigatórios

[Ver tabela na imagem]

Embora nos últimos anos se tenham registado aumentos do capital social em várias sociedades de seguros nacionais, estes têm-se efectuado, na sua quase totalidade, à custa das reservas livres, nas quais se contêm os lucros não distribuídos. Daí o facto de não se considerai em, na determinação da capacidade de financiamento do sector de seguros, os aumentos de capital com entradas de numerário proveniente da subscrição de acções emitidas.
Em face da experiência dos últimos anos, conclui-se que não se deverá estimar em mais de 33 000 contos os lucros mobilizáveis anualmente no sector de seguros.
Por outro lado, a natureza aleatória que está na base das operações de seguros e os elevados encargos com a administração e com a aquisição de carteiras justificam a permanente disponibilidade de fundos de maneio adequados, os quais deverão ser tanto mais elevados quanto maior for a dimensão das empresas. Deste modo, parece conveniente que, em termos de capacidade financeira mobilizável para investimento, se considerem os depósitos que constam do quadro XXXIV reduzidos de 20 por cento. E como, do líquido daqueles depósitos, imposições legais impedem a mobilização de mais de 25 por cento, resulta que a capacidade de financiamento gerada nos depósitos bancários das empresas seguradoras se situa em cerca de 20 por cento do respectivo montante, ou sejam 77 500 contos no período de 1968-1973.
Além destes depósitos, há ainda a considerar os que se encontram na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 536

Previdência como caução, os quais, pela média dos últimos cinco anos, se podem computar em 61 000 contos (45 000 contos das sociedades nacionais e 16 000 contos das sociedades estrangeiras).
A evolução dos empréstimos sobre apólices de seguros de vida respeitam a uma variável do segundo grupo apontado, como condicionamento da capacidade de financiamento das empresas seguradoras. Por outro lado, como estes empréstimos constituem uma antecipação de direitos dos segurados, eles representam uma limitação à capacidade potencial de financiamento. Da comparação dos valores das reservas matemáticas de seguros de vida com os das aplicações feitas em empréstimos sobre apólices, resultou poder computar-se em 148 800 contos o acréscimo destes empréstimos no período de 1968-1973.
Considerando os elementos inicialmente apresentados e o comportamento previsto para cada uma das componentes da capacidade potencial de financiamento, esta deve elevar-se a cerca de 2 milhões de contos no período a que respeita o III Plano de Fomento.

Milhares
de contos
Aumentos de reservas técnicas ..............................1 795,9
Aumentos dos depósitos obrigatórios ....................... 30,2
Lucros não distribuídos .................................... 198
Depósitos bancários (20 por cento) ........................ 77,5
Depósitos de caução ............................................61
Soma .................. 2 162,6
Empréstimos sobre apólices (a deduzir) ..................... 148,8
Capacidade potencial de financiamento .......................2 013,8
_____________

33. Com as reservas que o seu estudo evidenciou, a que acresce a respeitante à relação entre os prazos de amortização das promissórias de fomento nacional e os dos investimentos financiados com o produto da sua emissão, resume-se seguidamente a capacidade de financiamento, paia 1968-1973, das instituições financeiras consideradas.

Milhares
de contos
Banco de Fomento Nacional ................................. (a) 4,7
Caixas económicas
Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência ............... 8,4
Caixas económicas privadas ................................... 3
Bancos comerciais ........................................... 29,8
Empresas seguradoras ....................................... 2
47,9
(a) Metrópole e ultramar

3. Particulares e empresas privadas não financeiras

34. Em virtude do contributo relativamente moderado do sector público na canalização de meios de financiamento para o investimento, bem como do nível limitado de institucionalização da poupança e da sua canalização paia o crédito a médio e longo prazos, a que se adiciona a extrema sensibilidade das instituições financeiras à conjuntura, tem correspondido aos particulares e às empresas privadas não financeiras um importantíssimo papel no financiamento do investimento, que se terá cifrado, em média, no hexénio em análise, em cerca de 48 por cento do total da poupança aplicada em investimento, como mostra o quadro XV.
Tendo sido obtido por diferença, reflectem-se neste valor todos os movimentos das outras fontes de financiamento, o que lhe retira parte do significado. Além disso, é natural que se encontre sobreavaliado, na medida em que proporção não determinada, mas muito relevante, da procura de financiamento para formação de capital fixo é desviada para o mercado monetário e satisfeita através de concessão de crédito bancário a curto prazo.
De facto, por força das deficiências do mercado de capitais, o crédito bancário a curto prazo, conjuntamente com o autofinanciamento, é chamado a desempenhar papel dominante, mas inapropriado, no crescimento económico português.
É-se conduzido à mesma conclusão - da elevada participação desta fonte no financiamento do investimento - através da análise do financiamento do investimento privado no quadro seguinte, em que se tornou possível individualizar os fundos postos a disposição do sector privado pelo Estado, algumas instituições financeiras e estrangeiro.
Merece especial referência o facto de se ter considerado, quanto à canalização de poupanças para a formação bruta de capital privado através das instituições financeiras, o crédito a médio e longo pi azos e a aquisição de títulos privados através das caixas económicas, do Banco de Fomento Nacional e das empresas seguradoras Com efeito, excluiu-se a banca comercial e o crédito a curto prazo concedido pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, designadamente, com o objectivo de evitar as dificuldades actualmente existentes em avaliar o seu verdadeiro significado do ponto de vista do financiamento do investimento Por outro lado, não é possível distinguir no crédito distribuído pela banca comercial entre o que se destina ao sector público e ao sector privado, excepto para o ano de 1965.

QUADRO XXXVI

Financiamento da formação interna bruta de capital do sector privado

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

(a) Compreende as novas aquisições do titulai privados através do Orçamento Geral do Estado e das Instituições de Providencia, os financiamentos efectuados pelos Fundos de Melhoramentos Agrícola de Turismo, de Fomento da Exportação, de Renovação da Marinha Marcante e de Renovação e Apetrechamento da Indústria da Peca e os imóveis adquiridos pela Previdência.
(b) Inclui os empréstimos a médio e longo prazos da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, as novas aquisições de títulos privados por esta Instituição e o crédito hipotecário concedido pela Caixa Económica de Lisboa.
(c) Compreende os empréstimos directos e as participações financeiras efectuadas pelo Banco. Em 1963, deduziu-se a importância de 517 milhares de contos de financiamento externos obtidos pelo Banco de Fomento Nacional e que foram utilizados por esta instituição no financiamento da actividade privada. Em 1963 e 1965, deduziram-se os empréstimos efectuados a esta instituição pela Caixa Geral de Depósitos e Previdência, no montante de, respectivamente, 100 e 150 milhares de contos.
(d) Inclui a variação da carteira de títulos privados, a valores de cotação, e os Imóveis adquiridos.
(e) Soma dos movimentos contabilizados em importações das rubricas «Investimentos directos», «Operações sobre títulos» o «Empréstimos financeiros» da balança de pagamentos da metrópole com o estrangeiro. A partir de 1964, inclui também os «Créditos concedidos a operações de mercadorias».

Tendo presentes os elementos de que se dispõe sobre as restantes fontes, quanto ao seu contributo para o financiamento da formação interna bruta de capital privado, parece possível concluir que desempenha influência preponderante nesta variável a poupança das sociedades privadas, anteriormente referida, e o recurso ao crédito dos bancos comerciais. Nestes termos, impõe-se a adopção de medidas no sentido de se tornar possível conhecer a composição desta rubrica residual, que, pela importância relativa, determinará decisivamente o comportamento do investimento privado no decurso da execução deste III Plano Merece ainda referência, a partir de 1962, quanto ao Estado e Banco de Fomento Nacional, e, a partir de 1968, no que respeita às caixas económicas e empresas seguradoras, a quebra verificada na participação destas instituições no financiamento da formação interna bruta de capital privado.
Contrapondo-se a esta tendência, o recurso a financiamentos externos experimentou sensível incremento nos últimos três anos do período considerado Com efeito, o montante das importações de capital mais do que duplicou no período em estudo elevou-se de 1 102 000 contos, em 1961, a 2 583 000 contos, em 1965.
A importância do autofinanciamento na cobertura dos investimentos do sector privado foi evidenciada por recente inquérito da Corporação da Indústria, em relação às actividades do respectivo sector, no âmbito dos trabalhos preparatórios deste III Plano. De um conjunto de 4 300 000 contos investidos por 152 empresas inquiridas, apenas 32 por cento do total constituiu endividamento. O investimento, foi financiado sobretudo por recursos próprios (54 por cento do total, provenientes de reservas acumuladas) e por entradas de numerário feitas pelos sócios (aumentos de capital, 8 por cento, emissões de acções reservadas aos antigos accionistas, 2 por cento, e suprimentos e lucros não distribuídos, 5 por cento).
Das fontes estranhas às empresas, confirma-se a posição de relevo da banca comercial (10 por cento), Caixa Geral de Depósitos (5 por cento), Banco de Fomento Nacional (8 por cento), crédito de fornecedores (5 por cento) e outros empréstimos, incluindo crédito externo (9 por cento).

4. Financiamento externo

35. No decurso dos últimos anos, os capitais estrangeiros têm acorrido ao País de forma crescente, tanto em operações do sector privado como do sector público, com predomínio para as do primeiro, a quem couberam cerca de 55 por cento das entradas de capitais estrangeiros no último hexénio 1.

1 Não se consideraram as operações de capital a médio e longo prazos da metrópole com o ultramar, em virtude de só existirem dados a partir de 1964 e de só se conhecer a natureza das operações privadas em relação aos anos de 1965 e 1966.

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 538

QUADRO XXXVII

Importações e exportações de capitais a médio e longo prazos da metrópole com o exterior

(Milhares de contos)

[Ver tabela na imagem]

(a) Estes elementos foram publicados pela primeira vez para 1964

Com efeito, o financiamento externo tem funcionado como compensação para as insuficiências e retraimentos da poupança interna, tendo o afluxo liquido ao sector privado aumentado de cerca de 1 milhão de contos em 1961, para atingir mais de 2 500 000 contos em 1966. Este afluxo tem assumido a forma quer de empréstimos e outras operações de crédito, quer de investimentos directos (cuja participação se tem vindo a elevar, representando 27 por cento do saldo das operações de capitais privados a médio e longo prazos da metrópole com o estrangeiro em 1966, o que mostra a crescente atracção que a economia portuguesa tem vindo a exercer sobre os capitais estrangeiros).

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QUADRO XXXVIII

Operações de capitais privados a médio e longo prazos da metrópole com o estrangeiro

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui 355 000 contos, respeitantes à emissão de obrigações pelo Banco de Fomento Nacional, expressa em unidades de conta.
(b) Só a partir de 1964 foi possível identificar as operações as operações desta natureza e incluir as respectivas utilizações no total das operações de capitais privados a longo prazo na balança de pagamentos.
(c) Nos valores para 1962 e 1963 é possível que se encontram incluídas liquidações de operações relativas o créditos comerciais concedidos o recebidos

As importações de capital do sector público apresentaram grande volume em 1962, da ordem dos 2 milhões de contos, e destacaram-se fundamentalmente no financiamento de investimentos no âmbito dos planos de fomento, sobressaindo, pelo seu elevado valor, um empréstimo alemão destinado ao Plano de Rega do Alentejo e a aeroportos. Em 1068, o recurso ao crédito externo decresceu para cerca de 700 000 contos, e voltou a aumentar com os empréstimos relativos à construção da ponte sobre o Tejo, nos dois anos seguintes, os quais contribuíram para a subida do recurso ao crédito externo, para 1 911 000 contos, no ano de 1964.

QUADRO XXXIX

Importações de capital a longo prazo do sector publico

[Ver tabela na imagem]

Este afluxo de capitais estrangeiros representa factor de equilíbrio da balança de pagamentos até 1963, e a partir de 1964 contribuiu para a promoção de avultados superavits, que se têm traduzido em sucessivos aumentos das disponibilidades em ouro e divisas estrangeiras.
A análise evidencia que nos últimos anos se intensificou o recurso a capitais estrangeiros para ocorrer às necessidades do processo de crescimento económico - quer directamente para financiar projectos do domínio público, quer indirectamente através da concessão do seu aval a empréstimos destinados a projectos específicos do sector privado.
Nos quadros XL e XLI agrupam-se, respectivamente, os componentes da dívida pública externa e da divida privada externa com aval do Governo (valores em 31 de Dezembro de 1965), destacando-se o valor inicial do valor não amortizado e, bem assim, as condições financeiras e as finalidades de coda empréstimo. Pareceu ainda útil especificar as divisas em que cada crédito foi contraído para se poder apreciar a qualidade dos compromissos assumidos.

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QUADRO XL

Divida pública externa em 31 de Dezembro de 1965

(Milhares de contos)

[Ver tabela na imagem]

QUADRO XLI

Divida privada externa com aval do Estado em 31 de Dezembro de 1965

(Milhares de contos)

[Ver tabela na imagem]

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O quadro XLII, por sua vez, mostra a evolução recente, entre 1963 e 1965, das duas principais componentes da dívida, externa nacional.

QUADRO XLII

Dívida externa nacional

[Ver tabela na imagem]

Finalmente, o quadro XLIII, apresentando valores dos encargos anuais (juros e amortizações) com a dívida externa, entre 1968 e 1973 - período do III Plano de Fomento-, permite comparar a situação, neste domínio, em 1963 e em 1965.

QUADRO XLIII

[Ver tabela na imagem]

36. Não se dispõe ainda de elementos que permitam uma previsão do recurso ao financiamento externo no período deste III Plano, tanto mais que se trata de fonte de financiamento supletiva e dependente de elementos estranhos a considerações de ordem puramente económica.
Assinala-se, no entanto, que, em relação ao recurso ao crédito externo, o País ocupa posição particularmente favorável em comparação com outros devedores internacionais dívida externa reduzida relativamente às mais significativas variáveis macroeconómicas, avultados recursos em ouro e divisas e balança de transacções correntes praticamente sem déficit no período de 1964-1966.
Uma das vantagens que pode justificar a entrada de capitais estrangeiros é o facto de estes trazerem consigo novas técnicas produtivas e administrativas, no que se refere aos investimentos directos em novas empresas, ao mesmo tempo que compensam a falta de espírito de empresa dos nacionais.
Interessa, deste modo, assegurar a possibilidade de continuarem a afluir ao País essas novas técnicas, alcançadas ou não em associações com participações directas de capital, tanto mais que as empresas estrangeiras muitas vezes se encarregam de colocar parte substancial da sua produção nos próprios países de origem, constituindo importante factor de aumento das exportações.
No recurso a esta fonte de financiamento pelo sector privado não devem esquecer-se os perigos e inconvenientes que ele encerra, em especial quando se trate de empresas que não possuam adequada capacidade de negociação com os mutuários estrangeiros.
Parece que o Banco de Fomento Nacional constituiria via apropriada para a recolha no exterior e distribuição interna dos recursos estrangeiros para o desenvolvimento económico do País.
Em termos mais amplos, a negociação de financiamentos externos pelas empresas e instituições sem dimensão conveniente não conduz, em regra, às melhores soluções, mostrando-se indicado que uma instituição especializada venha a concentrar, tanto quanto possível, as tarefas de apoio indispensável à realização de tais negociações.

B) Analise do mercado financeiro 1

1. Mercado monetário e manado de capitais

37. Embora em princípio possa efectuar-se uma separação dos domínios do mercado monetário e do mercado de capitais, com base nas fontes dos recursos e nos prazos de obtenção e aplicação dos mesmos, a delimitação precisa do âmbito de cada um dos mercados torna-se impossível na prática, devido, nomeadamente, à transferência para o mercado monetário de certas operações específicas do mercado de capitais. Todavia, para analisar, na medida do possível, este mercado - considerado como o conjunto das operações de aplicação de capitais e de financiamento a médio e longo prazos e das instituições que realizam fundamentalmente tais operações -, deverá começar-se por referir o sistema financeiro nacional, que abrange o conjunto dos intermediários financeiros e as suas operações com o resto da economia e o exterior, e que já foi descrito a propósito das instituições financeiras. No conjunto do mercado de capitais, convirá ainda isolar, por um lado, o mercado de títulos - sector de particular importância -, que compreende um mercado primário, respeitante à emissão de novos títulos, e um mercado secundário, que se destina às transacções dos títulos em circulação e, por outro lado, os mercados dos empréstimos hipotecários e da compra e venda de prédios.

1 Considerado como o conjunto do mercado monetário - a curto prazo, isto é, a menos de um ano - e do mercado de capitais - a médio e longo prazos, isto é, entre um e cinco anos e a mais de cinco anos, respectivamente.

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QUADRO XLIV

Estrutura do sistema financeiro nacional, excepto empresas seguradoras, em 31 de Dezembro de 1965

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui os movimentos na metrópole dos bancos emissores ultramarinos. Compreende oito casas bancárias e duas dependências de bancos estrangeiros. Exclui a Companhia Geral de Crédito Predial Português.

O quadro XLIV evidencia o papel preponderante dos bancos comerciais no sistema financeiro nacional, para o que tem concorrido, em certa medida, a realização de operações especificas do mercado de capitais. De facto, como já se referiu, a banca comercial tem vindo a contribuir para o financiamento do investimento, nomeadamente através da concessão de créditos a médio prazo e, principalmente, de créditos a curto pi azo renováveis Aliás, embora se tenha mantido o principio da especialização bancária, foi reconhecido, ao reorganizar o sistema de crédito, o interesse da participação dos bancos comerciais no financiamento a médio e longo prazos, subordinada a observância do equilíbrio entre o vencimento dos créditos e o reembolso dos depósitos.
Considerando como valor global do crédito concedido pela banca o conjunto formado por títulos em carteira, promissórias, carteira comercial, empréstimos diversos e contas de devedores e credores em moeda nacional, no fim de 1965 cerca de 65 por cento do total correspondiam a crédito a curto prazo, enquanto a parte do crédito a médio prazo era de 10 por cento, representando o valor restante crédito não identificado quanto ao prazo.
Por sua vez, no crédito a curto prazo predomina o concedido através do desconto de letras (com vencimento até seis meses), que representava naquela data cerca de 91 por cento do total deste crédito.
Acentuou-se nos últimos anos a importância do crédito concedido pela banca comercial no financiamento do investimento. Esta evolução não deveria considerai-se inconveniente, se o sistema financeiro estivesse preparado para ocorrer de forma adequada às necessidades de financiamento da economia Em geral, predomina, porém, a concessão de crédito a curto prazo, verificando-se insuficiências relativamente ao financiamento a médio e longo prazos.
Quanto à Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, a acentuada proporção do crédito a curto prazo no crédito total ao sector privado, observada até 1965, era determinada, em particular, pelos avultados créditos concedidos à produção agrícola e pelos créditos renováveis destinados a indústria e construção, com períodos de reembolso frequentemente superiores aos do crédito a longo prazo, dadas, as condições favoráveis com que normalmente são concedidas as renovações desses créditos 1.

1 As condições de concessão de crédito nesta instituição foram modificados recentemente.

QUADRO XLV

Novas operações de empréstimo realizadas pela Caixa Geral de Depósitos, Credito e Previdência

(Metrópole)

[Ver tabela na imagem]

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A comparação do volume de operações a médio e prazos com o volume total de crédito concedido pelas várias instituições evidencia valores bastante reduzidos, entre 2 por cento e 5 por cento, excepto em 1965, um que atinge cerca de 10 por cento. Note-se, porém, que os valores até 1964 se encontram subavaliados, pois, além de não considerarem o crédito a curto prazo renovável, não incluíam as operações a médio prazo realizadas através do crédito comercial, nem os empréstimos a mais de um ano concedidos pelas caixas económicas privadas, ao passo que o valor de 1965 se encontra provavelmente sobreavaliado, por conter crédito a curto prazo (entre seis meses e um ano).
Os valores assumidos pela concessão do crédito a médio e longo prazos no passado recente silo, de facto, diminutos para as necessidades impostas pela formação de capital, representando pouco mais de 10 por cento no financiamento do investimento total, excepto em 1965, em que atingiram 80 por cento. E isto apesar de a Caixa Geral de Depósitos ter vindo a aumentar substancialmente o volume de operações a médio e longo prazos em relação no do crédito a curto prazo este era mais do quádruplo daquele em 1961, mas não atingia o dobro em 1965.
Além disso, parte importante deste crédito a médio e longo prazos não se terá destinado ao financiamento da formação de capital, como parecem indicar os dados que se possuem relativos a 1965 e 1966.
Assim, um dos problemas mais prementes da economia portuguesa é o desajustamento entre a oferta e a procura de fundos a médio e longo prazos, que tende a dificultai o financiamento do investimento produtivo, no mesmo tempo que gera excessos de liquidez propícios ao desenvolvimento de pressões inflacionistas Esta situação é semelhante a que se verifica em outras economias que não atingiram ainda elevado grau de integração dos mercados do dinheiro e nas quais, ao lado de um mercado monetário com nível já bastante satisfatório, surge um mercado financeiro incapaz de ocorrer às necessidades de capitais.
Com efeito a proporção da moeda escritural para o volume total de meios de pagamento atingiu em Portugal 77,9 por cento em 1964 (e 1965), contra 64 por cento na Espanha, 29 por cento na Grécia e 25 por cento na Turquia. Por outro lado, o valor global dos efeitos descontados no continente elevou-se a 90 milhões de contos em 1964 e a 108 milhões em 1965, tendo esta última cifra ultrapassado o valor do produto nacional bruto a preços de mercado, o que denota apreciável desenvolvimento do apoio concedido a economia pelo sistema de crédito a curto prazo.
O elevado volume de crédito a curto prazo, especialmente na banca comercial, excede as necessidades de financiamento das transacções comerciais, sendo utilizado em grande parte no financiamento de investimentos, como resultado da insuficiência da oferta de crédito a médio e longo prazos no sistema financeiro. Interessa, no entanto, considerar os motivos que explicam este facto.
Deve notar-se, em primeiro lugar, que a legislação em vigor não parece dificultar a expansão do crédito a médio prazo nos bancos comerciais, que se tornaria possível pelo ritmo de crescimento dos depósitos a prazo observado nos últimos anos Com efeito, no fim de 1965 o crédito a médio prazo na banca comercial, sob a forma de carteira comercial e empréstimos e contas correntes caucionados, até dois anos 1, representava apenas 25 por cento do montante dos depósitos a prazo superior a 90 dias. Como se conclui da análise efectuada para a determinação da capacidade de financiamento dos bancos comerciais, em 31 de Dezembro de 1965 a respectiva capacidade disponível para a concessão de crédito a médio prazo ultrapassava 10 milhões de contos.
Importa observar, por outro lado, que a formação de elevado déficit na balança de pagamentos em 1961 e as perturbações entretanto observadas deram origem a certas tensões no mercado monetário, que, por sua vez, determinaram maior recurso ao banco central. No entanto, o funcionamento do mercado regressou em breve à normalidade, ao mesmo tempo que se formaram vultosos excedentes cambiais, o que concorreu para a melhoria da liquidez do mercado. Nestas condições, e como ao banco central cabe a função de prestamista de última instância do sistema bancário, justificava-se o decréscimo do recurso àquele banco, que foi, entretanto, acompanhado da aplicação de critérios mais rigorosos na aceitação de letras paia redesconto. Por estes motivos, é de admitir que os bancos comerciais tenham passado a preferir, a partir de certa altura, os valores mais facilmente realizáveis a outros tipos de crédito a curto prazo. Todavia, como os empréstimos a curto prazo são utilizados também no financiamento de investimentos, uma parto do valor de desconto de letras não constitui, na realidade, crédito a curto prazo, devido aos acordos existentes quanto a renovação das letras vencidas 2.
A preferência pelo desconto de letras nos bancos comerciais explicar-se-á, aliás, pelo seu regime legal, que é mais rígido de que o das outras formas de crédito a curto prazo, o que lhe confere maior segurança, e ainda pelos próprios hábitos existentes.
Por outro lado, parece também verificar-se preferência pelo crédito a curto prazo por parte das empresas. Em particular, a menor procura do crédito a longo prazo, em comparação com a do crédito a curto prazo, poderá atribuir-se a elevada capacidade de autofinanciamento existente em muitas empresas. Como outros motivos, podem apontar-se ainda as próprias insuficiências funcionais do mercado de capitais, bem como as possibilidades de recurso a empréstimos externos e a crédito interno a curto prazo, principalmente sob forma de crédito renovável. Admite-se, porém, que estes motivos não possam explicar totalmente os hábitos de procura de crédito a curto prazo, uma vez que não são independentes, mas antes uma das principais consequências da insuficiente especialização do sistema financeiro.
Esta utilização ido crédito a curto prazo paia o financiamento de investimentos afigura-se inconveniente para os bancos, que terão dificuldade em determinar claramente as características efectivas dos empréstimos concedidos, especialmente no que se refere ao seu vencimento real. Com efeito, os elevados- montantes dos saldos da carteira comercial revelam uma situação de liquidez aparente. Maior importância assume ainda o risco que os empréstimos a curto prazo representam paia as empresas, dada a incerteza que existirá quanto à sua renovação, em especial no caso do desconto de letras. É de admitir, portanto, que a referida prática bancária possa exercer influência restritiva na procura de crédito pelas empresas.

1 Estas rubricas constituem coberturas específicas para os depósitos a prazo superior a 90 dias (Decreto-Lei n º 46 492).
2 Não existem elementos, disponíveis acerca do montante dos créditos renováveis e dos seus prazos, efectivos- de vencimento. Na Caixa Geral de Depósitos é pedido um reembolso de 3 a 5 por cento de seis em seis meses, de maneira que o empréstimo é reembolsado totalmente num período de dez a quinze anos. Nos bancos comerciais são aplicados métodos análogos.

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Importa ainda notar que têm vindo a alterar-se profundamente os termos em que se processam os fornecimentos, quer por efeito da concorrência internacional, lançada na conquista dos mercados externos através de financiamentos de prazo cada vez mais largo, quer pela circunstância de as empresas compradoras, impossibilitadas de obterem por si próprias os capitais de que necessitam, condicionarem a adjudicação das encomendas ao diferimento do respectivo pagamento. Nestas circunstâncias, a indústria portuguesa, se não dispuser de apoio financeiro adequadamente estruturado, terá cada vez maior dificuldade de, por falta de crédito à exportação, competir nos mercados exteriores, e corre mesmo o risco de ser eliminada pela concorrência estrangeira no mercado interno.

38. Para além do problema das insuficiências em geral, observadas no domínio do crédito a médio e longo prazos, importa ter em atenção as dificuldades particulares que se deparam às pequenas e médias empresas na obtenção dos capitais necessários à sua instalação ou desenvolvimento.
Saliente-se, todavia, que a Caixa Nacional de Crédito tem desempenhado relevante acção no financiamento deste tipo de empresas, procurando efectuar a distribuição do crédito de forma a beneficiar «simultaneamente elementos de todas as classes sociais», de acordo com o regulamento daquela instituição Relativamente às garantias dos empréstimos, embora em princípio sejam exigidas condições rigorosas, nomeadamente a realização, em geral, de primeira hipoteca, frequentemente têm sido concedidos a pequenas empresas, que não possuem valores imobiliários, créditos a curto prazo, renováveis, garantidos com penhor de equipamento, matérias-primas ou produtos. Note-se ainda que estes créditos têm amplos prazos de reembolso, devido a sucessivas renovações, que em alguns casos são efectuadas sem amortização.
Por outro lado, não obstante os limites normais dos montantes dos empréstimos, em função das garantias, serem relativamente baixos, foi prevista pelo Decreto-Lei n.º 23 119, de 11 de Outubro de 1983, a possibilidade de os exceder nas operações de crédito industrial, tendo em atenção o valor do conjunto das garantias prestadas, desde que «o aconselhe a natureza ou importância da indústria».
Relativamente ao Banco de Fomento Nacional, a assistência financeira às pequenas empresas tem-se revelado sensivelmente menor, correspondendo até agora parcela elevada dos seus financiamentos a médio e longo prazos a empreendimentos de grande relevo, principalmente no âmbito dos planos de fomento.

39. A insuficiência do crédito a médio e longo prazos parece ter-se agravado nos últimos anos, porquanto foi precisamente nas instituições orientadas paia a concessão de crédito a curto prazo, isto é, nos bancos comerciais, que se concentrou o principal incremento no volume total de depósitos, ao passo que as caixas económicas viam declinar a sua participação naquele volume. Assim, enquanto os depósitos nestas instituições se elevaram, no período de 1960-1965, à taxa média anual de 6,6 por cento, os depósitos em bancos e casas bancárias desceram à taxa de 14,3 por cento.
A concorrência estabelecida pelos bancos comerciais na captação de poupanças, a cujos efeitos as caixas económicas não conseguiram furtar-se, apesar das melhores condições que oferecem aos seus depositantes, traz como consequência grave distorção no processo poupança-investimento, canalizando para operações predominantemente de curto prazo fundos constituídos por genuínas poupanças, que deveriam ser aplicadas a médio e longo prazos.
Acresce que, de modo geral, as poupanças dos particulares parecem revelar nítida preferência por formas de aplicação com elevado grau de liquidez. Admite-se mesmo que proporção apreciável dessas poupanças, cujo montante não se torna possível avaliar, não chegará a movimentar-se, sendo, portanto, objecto de entesouramento, embora tenha vindo a observai-se, segundo se pensa, tendência para melhoria da situação neste domínio. Outra parte, que terá também elevada participação no montante global das poupanças, assume a forma de depósitos à ordem ou a muito curto prazo.
A importância destes depósitos no sistema financeiro pode ser revelada pela comparação dos montantes dos diversos tipos de depósitos. Assim, nos bancos comer-

QUADRO XLVI

Depósitos à vista e a prazo, em moeda nacional

(Em milhares de contos e em 31 de Dezembro)

[Ver tabela na imagem]

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ciais, os depósitos à ordem e com pré-aviso até 30 dias representavam, no fim de 1965, montante mais que duplo do dos restantes depósitos, apesar do nítido acréscimo dos depósitos a prazo e com pré-aviso, em 1965, em conexão com a definição de normas de disciplina para os depósitos pelo citado Decreto-Lei n.º 46 492. Por sua vez, na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência era de 92 por cento a participação dos depósitos à ordem no total dos depósitos voluntários.

40. Relativamente aos motivos que determinam a preferência pela liquidez por parte dos particulares, importa referir que, em elevado número de casos, dado que os rendimentos são aplicados na sua maior parte em consumo, as poupanças não atingem montante adequado para aplicações no mercado de capitais, nem mesmo sob a forma de depósitos a prazo. Nos casos em que se formam poupanças de montante apreciável, verifica-se frequentemente desconhecimento das condições relativas às diferentes modalidades de aplicação de capitais, dúvidas quanto ao respectivo grau de liquidez, ou ainda falta de experiência neste domínio.
Existem, certamente, outras razões que influenciam a preferência pelas aplicações sob formas líquidas e as decisões sobre a modalidade de aplicação. Quanto a estas decisões, reveste-se da maior importância o problema da estrutura das taxas de juro, determinante de algumas das deficiências observadas no funcionamento do mercado de capitais.
A acentuada importância que os depósitos à ordem têm assumido, nomeadamente nos bancos comerciais, explicar-se-á, para além da preferência pela liquidez, também pelo nível de remuneração que lhes era atribuído até data recente. De facto, anteriormente a Agosto de 1965, os bancos comerciais atribuíam a estes depósitos taxas até 2 por cento.

QUADRO XLVII

Taxas efectivas de Juro de depósitos

(a) Até Setembro de 1965, os impostos oram pagos pela Caixa. Esta apenas paga Juros sobre Depósitos acima de 10 000$. A partir do Outubro de 1965, apenas existe a modalidade de depósitos a prazo de 4 meses.
(b) Foram anunciadas novas taxas de juro, a aplicar desde o principio de 1966 (entre 3 1/4 e 4 por cento).

Quanto aos depósitos a pi azo, as taxas aplicadas pelos bancos comerciais até àquela época atingiam 3 3/4 por cento, enquanto na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência a taxa em vigor era apenas de 1 1/4 por cento, tendo permanecido neste nível até 5 de Abril de 1967, data em que foi publicado o despacho do Ministro das Finanças que a alterou para 3 por cento, embora já anteriormente tivessem sido atribuídas taxas superiores a um quarto por cento em casos especiais.
Durante muito tempo as diferenças entre as taxas de depósitos à ordem e a prazo não eram suficientemente amplas para reduzir a preferência pela liquidez. Nos últimos anos, porém, observou-se sensível alteração na evolução dos depósitos efectuados na banca comercial. De facto, na sequência de levantamentos verificados em 1961, que atingiram elevado volume, os bancos comerciais começaram a conceder taxas mais altas aos depósitos a prazo, com vista a atrair novas disponibilidades, de que necessitavam para satisfazer a crescente procura de crédito.
Deste modo, a expansão dos depósitos a prazo naquelas instituições revelou-se muito mais acentuada do que

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 546

a dos depósitos à ordem enquanto estes, entro 1938 e 1965, não chegaram a duplicar, aqueles mais do que quadruplicaram.
Esta tendência paia expansão acelerada dos depósitos a prazo na banca comercial acentuou-se mais, em consequência da redução para 0,5 por cento, pelo Decreto-Lei n.º 46 492, da taxa máxima para os depósitos a ordem Aquele diploma teve ainda em vista travai a elevação das taxas de juro dos depósitos a prazo, fixando pela primeira vez taxas máximas, e definir de forma mais clara as suas diferentes modalidades.

QUADRO XLVIII

Taxas de juro de depósitos - máximos legais (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) Decreto-Lei n.º 46 492 de 18 de Agosto do 1965, e Portaria n.º 21 477, da mesma data.
(b) Bancos do Investimento, caixas económicas, cooperativas do crédito o Companhia Geral de Credito Predial Português.

A avaliar pelos elementos disponíveis, parece terem sido atingidos efeitos sensíveis com o conjunto de medidas adoptadas, uma vez que se verificou na banca comercial aceleração para os depósitos a prazo e abrandamento da expansão nos depósitos à ordem. Assim, em 1965 os depósitos a prazo e com pré-aviso tiveram acréscimo de 49 por cento, enquanto os depósitos à ordem apenas aumentaram cerca de 5 por cento. Deve, no entanto, notar-se que este comportamento foi parcialmente influenciado por transferências de depósitos a ordem para depósitos a prazo, como consequência do ajustamento realizado nas taxas de juro. Assim, o ritmo de expansão verificado para as duas categorias de depósitos não pode considerar-se normal, devendo sofrer sensível alteração, conforme transparece já dos elementos disponíveis para 1966.
Embora aquelas medidas constituam passo importante no sentido de instituir uma estrutura de taxas de juro mais realista, parece necessário considerar ainda outros aspectos, em especial a criação de uma modalidade de depósitos adequada às pequenas poupanças. Com efeito, a aplicação destas em depósitos a ordem nos bancos comerciais já não se apresenta atractiva, dada a redução das respectivas taxas. Por outro lado, o hábito de realizar depósitos a prazo nos bancos não está vulgarizado entre as classes de menores rendimentos.
Importa considerar igualmente os problemas ligados a diferenciação das taxas de juro dos depósitos, conforme os montantes destes, nos estabelecimentos especiais de crédito. Na Caixa Geral de Depósitos encontram-se fixadas, desde 1945, as actuais taxas decrescentes para quatro classes de depósitos a ordem, sendo de 2 por cento a dos depósitos até 10 000$, limite este elevado para 20 000$ por despacho do Ministro das Finanças de 1967, e as principais caixas económicas privadas pi atiçam taxas iguais. Por sua vez, o Decreto-Lei n.º 46 492 fixou para os estabelecimentos especiais de crédito a taxa máxima de 2 por cento paia depósitos à ordem e com pré-aviso até 30 dias, de montante não superior a 20 000$, e uma taxa mais baixa (1 3/4 por cento) para depósitos de montante superior.
Estas diferenciações destinam-se, em parte, a permitir às referidas instituições, através da limitação dos montantes até aos quais são pagas taxas mais elevadas, discriminar, no total dos depósitos, as aplicações de poupanças e os fundos utilizados para transacções.
A possibilidade de conhecer a parcela dos depósitos que constitui aplicação de poupança apresentaria nítidas vantagens paia a gestão das instituições de crédito, no que se refere, nomeadamente, à determinação do nível de liquidez mais apropriado e da capacidade de concessão de crédito a médio e longo prazos.
Reveste-se ainda de particular importância o problema da fraca captação de depósitos pelas duas principais instituições especializadas no financiamento a médio e longo prazos - a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento Nacional - em confronto com os bancos comerciais, para o que teria contribuído em parte a estrutura das taxas de juro.
No Banco de Fomento Nacional (que apenas recebe depósitos a prazos superiores a um ano), as taxas de juro foram elevadas recentemente, mas admite-se que esta instituição se encontre ainda em posição desfavorável em relação aos bancos comerciais (em que os depósitos não podem ser realizados a prazos superiores a um ano) Com efeito, parece que a diferença entre a remuneração dos depósitos até um ano e a dos depósitos de prazo superior não se encontra ainda dimensionada em termos de atrair paia esta última modalidade a poupança que aí convinha situar.

41. Relativamente ao crédito bancário, importa igualmente considerar o problema das respectivas taxas de juro máximas, que foram estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 46 492, com o objectivo, designadamente, de travar a tendência crescente que se vinha verificando. Cumpre referir, em primeiro lugar, a dificuldade de que se reveste a fiscalização efectiva das taxas de juro de operações activas.
Por outro lado, o Ministro das Finanças foi autorizado por aquele diploma a fixar taxas mais elevadas nos casos de operações por) prazos superiores a um ano que envolvam a aplicação de recursos especiais e se destinem a fins de reconhecido interesse para a economia nacional (artigo 11 º, § único). Esta faculdade permitirá que o Ministério das Finanças defina, em face das conclusões dos estudos que sobre a matéria se realizem, um conjunto de orientações que contribuirá, certamente, para a solução de grande parte dos problemas surgidos neste domínio.

QUADRO XLIX

Taxas de juro máximas das operações activas das instituições de credito (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto do 1965

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30 DE JUNHO DE 1967 547

2. Mercado de títulos

42. O mercado de títulos constitui sector de particular importância no âmbito do mercado de capitais.
Interessa considerar as novas emissões de títulos públicos, obrigações privadas e acções, bem como as transacções de títulos no seu conjunto.
Em relação aos títulos da dívida pública, apenas reduzida percentagem das emissões efectuadas nos últimos anos tem sido objecto de subscrição pública.

QUADRO L

Produto da venda de títulos públicos

[Ver tabela na imagem]

(a) Deste montante, 500 milhares de contos foram utilizados para amortizações directas do promissórias, nos termos regato.

O produto dos títulos emitidos corresponde, na sua maior parte, à tomada pelo sistema bancário (obrigações do Tesouro e promissórias) e pelas instituições de previdência social (certificados especiais da divida pública).

QUADRO LI

Títulos públicos em circulação (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) A divida directa Interna do Estado compreende ainda a ronda perpétua e empréstimos da Caixa Geral de Depósitos, Credito e Previdência.
(b) Valores nominais.
(c) Valores do reembolso.

Quanto aos possuidores dos títulos públicos em circulação, no final de 1964 os empréstimos consolidados encontravam-se, designadamente, na posse da Caixa Geral de Depósitos (17 por cento), das companhias de seguros (9 por cento) e dos bancos comerciais (8 por cento). Por seu lado, as obrigações do Tesouro distribuíam-se principalmente pelos bancos comerciais (51 por cento), Banco de Portugal (22 por cento) e Caixa Geral de Depósitos (20 por cento). Quanto aos certificados de aforro, criados pelo Decreto-Lei n.º 43 453, de 30 de Dezembro de 1960, especialmente para as pequenas poupanças, o seu montante em circulação é ainda diminuto. Estes títulos permitem segura aplicação de capitais aos seus possuidores, uma vez que não estão sujeitos a oscilações de valor no mercado. Note-se que, dados os objectivos pretendidos com a sua criação, foi fixado um limite máximo de 50 contos para a soma dos valores faciais destes títulos, emitidos a favor da mesma pessoa. Em 31 de Dezembro de 1964 era de 63 884 o número de certificados em circulação, os quais se encontravam na posse de 15 871 aforristas.
No que se refere aos títulos e certificados relativos à dívida com aval do Estado (empréstimos de renovação da marinha mercante e da indústria da pesca), o seu montante em circulação nos últimos anos teve a seguinte evolução.

QUADRO LII

Dívida com aval do Estado

[Ver tabela na imagem]

43. Quanto a emissão de obrigações privadas, a sua autorização compete ao Ministro das Finanças, através da Inspecção-Geral de Crédito e Seguros Dependem, porém, de prévio parecer favorável do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos as emissões cujo valor exceda, no período de um ano, 10 000 contos.

QUADRO LIII

Capitais emitidos por meio de obrigações

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui uma emissão realizada no estrangeiro (144 milhares do contos).
(b) Valor de uma omissão no estrangeiro.

Nos últimos anos, o valor global das emissões de obrigações tem experimentado evolução irregular e de tendência decrescente.

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548 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

For sua vez, o valor nominal das obrigações em circulação tem-se mantido relativamente estável nos últimos anos, como se verifica pelos valores referentes a 31 de Dezembro de Milhares de contos

1960 ............................................... 1 899

1961 ............................................... 7 693

1962 ............................................... 8 004

1963 ............................................... 8 733

1964 ............................................... 8 813

1965 ............................................... 8 749

No montante relativo ao final de 1965 era de 93 por cento a parte correspondente a sociedades metropolitanas Relativamente a estas, as obrigações em circulação repartiam-se principalmente pelos sectores "Electricidade, água e gás" (34 por cento), "Transportes" (34 por cento) e "Indústrias transformadoras" (15 por cento)

44. Relativamente ao funcionamento do mercado de obrigações, importa assinalar, em primeiro lugar, a posição especial que nele ocupa o sector público, a qual parece ter vindo a acentuar-se nos últimos anos. A participação dos títulos da dívida pública interna no conjunto dos capitais emitidos por meio de obrigações atingiu 82 por cento em 1965, contra 50 por cento em 1960 Por seu lado, a importância relativa dos títulos públicos no conjunto das obrigações em circulação passou de 61 para 65 por cento naquele período
Esta posição do sector público no mercado deve atribuir-se principalmente ao regime vigente para as aplicações de capitais de certas instituições, que têm interesse em ou necessidade de adquirir títulos públicos Para além de limites máximos fixados, em certos casos esses títulos apresentam vantagens que os privados não proporcionam, como a aceitação pelo banco central para caução de empréstimos Além disso, existem limites legais à aquisição ou utilização de obrigações privadas por certas instituições Esta situação tem permitido ao sector público obter fundos no mercado em condições por vezes menos vantajosas para os compradores, do ponto de vista do rendimento directo, do que as oferecidas pelas emissões privadas As emissões desta natureza realizadas ultimamente dirigiram-se intencionalmente a certos tipos de tomadores, como a providência
Relativamente à taxa de juro praticada, parece legítimo afirmar que não tem constituído remuneração satisfatória para a aplicação de capitais a longo prazo.
Enquanto os títulos públicos eram emitidos até 1966, em geral, à taxa de juro nominal de 3,5 por cento (com isenção de imposto), para as obrigações privadas a taxa não excedia 5 por cento, embora não se encontre fixado na legislação qualquer limite máximo Por outro lado, não se têm realizado pràticamente emissões abaixo do par, o que determinaria a elevação do rendimento dos novos títulos, necessária para compensar o aumento observado nas obrigações em circulação, resultante da descida de cotação registada nos últimos anos
Deste modo, o rendimento das obrigações tem-se situado em nível baixo, relativamente a outras formas de aplicação de capitais, devendo ainda ter-se em atenção os encargos fiscais que incidem sobre as obrigações não legisladas Com efeito, o rendimento destas obrigações, após a dedução de impostos (3,3916 por cento), não é sensivelmente superior ao juro dos depósitos a prazo, a mais de seis meses, nos bancos comerciais, também líquido de impostos
E note-se que, ao longo dos anos transactos, enquanto as remunerações nos mercados estrangeiros de capitais se elevavam, no nosso verificava-se tendência inversa De 1962 a 1965, o rendimento das obrigações ao portador não registadas das empresas, para a mesma taxa nominal, decresceu de 0,6584 por cento, em vez de aumentar, com prejuízo do equilíbrio entre as várias zonas do mercado.

1 Com exclusão das promissórias do fomento nacional

QUADRO LIV

Rendimento real das obrigações ao portador não registadas das empresas

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Afigura-se, assim, que o problema das remunerações constitui uma das principais dificuldades que se deparam ao aperfeiçoamento deste sector do mercado de títulos Para que possam apresentar-se atractivas, as obrigações devem proporcionar remuneração adequada, de acordo com os riscos inerentes à sua posse, nomeadamente no que se refere à liquidez e à desvalorização monetária, além da solvabilidade da empresa que as

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emite Os riscos relativos à liquidez serão tanto maiores quanto menos desenvolvido for o mercado das novas emissões e quanto menor capacidade tiver o mercado secundário para absorver os títulos que os seus possuidores queiram vender Afigura-se, porém, que essa capacidade não será presentemente muito elevada, pelo que o juro das obrigações deveria incluir, além da remuneração correspondente à natureza da aplicação, um prémio suficientemente elevado para compensar as dificuldades que possam encontrar-se na sua transacção
A colocação das obrigações privadas depende em particular da atitude do sector público quanto à procura de fundos no mercado de capitais De facto, devido à necessidade ou interesse que, por diversos motivos, algumas instituições financeiras têm em adquirir títulos públicos, o Estado pode colocar com relativa facilidade os seus títulos, dentro de certos limites, embora a remuneração em regia não difira significativamente da das obrigações privadas (depois de deduzidos os impostos). Aliás, afigura-se que, até 1966, as emissões de títulos públicos não estavam de acordo com as condições reais do mercado, como revela o diminuto valor da parte dessas emissões adquiridas por particulares Em especial, quanto aos certificados de aforro, que foram criados com o objectivo de desenvolver as aplicações em títulos de pequenas poupanças, é provável que a relativa exiguidade das aquisições resulte em parte de não ser suficientemente elevada a sua remuneração
É igualmente de admitir que a diferença de taxas reais de remuneração das obrigações entre o mercado interno e os mercados externos - onde se têm praticado taxas reais superiores a 6 por cento em novas emissões - tenha contribuído para a fuga de fundos para o exterior Aliás, tudo leva a supor, por exemplo, que uma parte, sem dúvida muito apreciável, dos títulos de empréstimos de empresas nacionais emitidos e colocados em mercados externos nos últimos anos se encontre na posse de residentes nacionais
Não se dispõe de dados que permitam conhecer o volume de fundos ou valores detidos no exterior por residentes em Portugal As estatísticas relativas às responsabilidades dos bancos dos Estados Unidos da América para com estrangeiros dão, porém, para o nosso país os seguintes valores, em que se verifica quebra de ritmo no último ano, a atestar a melhoria de condições internas de aplicação de capitais em obrigações, públicas e privadas

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45. Relativamente aos movimentos de capitais determinados pela constituição e dissolução de sociedades, apresenta-se no quadro seguinte a evolução dos respectivos valores nos últimos anos, bem como o seu valor líquido*

QUADRO LV

Capital social das sociedades constituídas e dissolvidas

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Destes valores ressalta a preponderância das sociedades anónimas no conjunto das sociedades constituídas, principalmente a partir de 1963 Afigura-se, no entanto, que o afluxo de acções ao mercado, resultante da constituição de sociedades anónimas, deverá atingir quantitativos sensivelmente inferiores Não se dispõe de elementos sobre as entidades tomadoras das acções emitidas Todavia, é de admitir que apenas parte do valor dos capitais emitidos anualmente pelas sociedades constituídas corresponda a acções oferecidas à subscrição pelo público em geral
O Quadro seguinte evidencia os valores daqueles capitais, bem como dos aumentos de capital das sociedades anónimas Aliás no total desses aumentos devem ter também elevada participação os resultantes de emissões de acções efectuadas por subscrição restrita, com direito de preferência aos antigos accionistas

QUADRO LVI

Capitais emitidos pelas sociedades anónimas

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Verifica-se, assim, que os capitais emitidos por sociedades anónimas atingiram no período de 1983-C965 elevado volume, tanto em relação às constituídas de novo e por transformação como às que aumentaram os seus capitais por entrada de novos fundos

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O mercado de acções parece, assim, funcionar de forma mais eficiente do que o de obrigações Em relação ao avultado número de sociedades anónimas constituídas e dissolvidas em cada ano* será difícil determinar se esta situação é ou não inconveniente Dado que, em princípio, a constituição de sociedades anónimas se destina a reunir capitais de volume relativamente elevado, afigura-se, em face daquele número, que nem sempre este instituto jurídico será utilizado da forma mais conveniente
Aliás, esta situação resultará, em parte, da inexistência de um mínimo legal significativo para o capital necessário à constituição de sociedades anónimas, excepto em alguns casos especiais, como os de bancos, companhias de seguros, etc Deste modo, qualquer grupo pode formar uma sociedade anónima, sem lhe serem exigidas referências sobre as aptidões comerciais dos indivíduos que o compõem, nem sobre a viabilidade económica e financeira da sociedade

Em geral, as acções das novas sociedades constituídas são subscritas na sua totalidade pelos sócios fundadores e por indivíduos de sua família ou a eles ligados por relações de amizade, os quais normalmente as conservam em seu poder Por outro lado, são pouco frequentes as emissões de acções oferecidas no mercado em lotes apreciáveis relativamente ao montante total do capital
Parece, assim, poder concluir-se que se encontra desvirtuada, em certa medida, a finalidade básica da constituição de sociedades anónimas, ou seja a recolha de capitais de grande número de accionistas, que normalmente não desejam intervir na gestão da respectiva empresa, mas têm a possibilidade de nela participar ou não, comprando ou vendendo as suas acções
Importa ainda considerar os possíveis efeitos sobre o mercado de acções da aplicação do imposto de mais-valias sobre os ganhos de capital resultantes da incorporação de reservas no capital das respectivas sociedades
Não é fácil verificar se o rendimento das acções se mostra ou não suficiente para encorajar esta forma de aplicação de capitais Como revela o quadro seguinte, em 1965 o dividendo bruto médio, em relação ao valor nominal do capital de todas as sociedades que distribuíram dividendos, foi de 9,08 por cento

QUADRO LVII

Taxas dos dividendos distribuídos (a)

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Porém, o rendimento efectivo, calculado com base nas cotações médias, situou-se em taxa sensivelmente inferior. Considerando a relação entre a cotação média e o valor nominal das acções, que em Dezembro de 1965 foi de 2,39, aquele rendimento não excedeu 3,8 por cento do valor bruto, e 3,2 por cento, após a dedução de impostos
Deve atender-se, todavia, a que os dividendos atribuídos são, em regra, sensivelmente inferiores aos lucros totais, uma vez que as sociedades anónimas retêm geralmente parte apreciável dos lucros, afectando-os a contas de reserva Por isso, ao dividendo distribuído deve adicionar-se a valorização resultante dos ganhos de capital, que assumiu 7 por cento em média no período de 1955-1960, o que eleva para mais de 10 por cento ao ano o rendimento das acções Note-se, portanto, que o rendimento efectivo não é o único critério, e nem sempre o mais importante, para avaliar o grau de preferência das acções. Com efeito, certas acções com dividendo relativamente elevado não são tão procuradas como outras

* No sector da construção, designadamente, são constituídas por períodos limitados algumas sociedades anónimas, mas não parece que este facto possa explicar totalmente os elevados números registados.

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com dividendo inferior, o que se poderá explicar talvez pela maior importância atribuída às perspectivas de expansão da empresa do que à sua situação presente Deste modo, as acções das empresas mais dinâmicas proporcionam frequentemente reduzido rendimento, por aquelas perspectivas se terem reflectido, em parte, sobre as cotações, enquanto as acções das sociedades menos prósperas, devido as suas cotações relativamente baixas, apresentam muitas vezes rendimentos elevados. Alguns indicadores permitem admitir, no entanto, que a aquisição de acções constitui, de modo geral, forma de aplicação de capitais atractiva Entre eles, devem referir-se a subida verificada nas cotações, o maior volume de capitais emitido por novas sociedades anónimas constituídas e, principalmente, os aumentos de capital destas sociedades, bem como a necessidade de realização de rateio, em muitos casos, e a importância das emissões efectuadas com reserva para os antigos accionistas A este respeito, revestir-se-ia de grande interesse a existência de elementos de informação sobre a participação do público em geral na aquisição de novas acções, dado que a maioria das emissões não tem sido oferecida à subscrição pública

46. Em relação ao mercado secundário, apresentam-se a seguir elementos sobre a evolução das transacções das diversas espécies de títulos, efectuadas no conjunto das bolsas, bancos comerciais e casas de câmbio e ainda sobre a variação das respectivas cotações

QUADRO LVIII

Transacções de títulos

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Estes valores demonstram a elevada participação das transacções de acções no conjunto, o qual se acentuou nos dois últimos anos For outro lado, o valor das transacções efectuadas na Bolsa de Lisboa representou, naquele período, menos de metade do valor global, ao passo que as transacções na Bolsa do Porto não têm atingido valores significativos Quanto à Bolsa de Lisboa, os índices de quantidade de títulos transaccionados denunciam sensível recuperação para as acções em 1964 e 1965 e tendência para relativa estagnação, durante o período considerado, no caso dos títulos públicos e das obrigações privadas Todavia, não parece inconveniente a realização, fora das bolsas, de parte das transacções, desde que a formação das cotações não seja afectada e os possuidores dos títulos não experimentem dificuldades ao pretenderem transaccioná-los
No quadro que seguidamente se insere pode observar-se que, enquanto o valor global do capital das sociedades anónimas tem experimentado acentuado crescimento (43 por cento entre 1960 e 1964, com taxa média anual de 12,8 por cento), o índice da quantidade de títulos transaccionados na Bolsa de Lisboa acusou nítido decréscimo entre 1960 e 1962, para iniciar depois uma recuperação que só em 1965 atingiu expressão significativa.

QUADRO LIX

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A evolução destas duas séries parece demonstrar que grande parte das emissões, pelo menos dos títulos de rendimento variável, não tiveram reflexo nas operações de bolsa
De qualquer modo, as transacções de títulos nas bolsas têm atingido montantes relativamente baixos, o que se deve atribuir, em parte, ao reduzido volume de emissões de obrigações privadas e à situação, a que se fez referência, no tocante à colocação dos títulos públicos e das emissões de acções Aliás, afigura-se que o funcionamento das bolsas de valores tem vindo a reflectir o limitado interesse dos particulares pela aplicação em títulos, em especial de rendimento fixo
Cabe salientar, todavia, a falta de adaptação da legislação vigente nesta matéria ao presente condicionalismo A bolsa portuguesa rege-se ainda hoje, fundamentalmente, por um regulamento de 10 de Outubro de 1901, que não será injusto qualificar de anacrónico, por inconciliável com as exigências e necessidades dos tempos modernos
À sua deficiente estrutura e a sua debilidade são de sobejo conhecidas Com um movimento ínfimo, hiper-sensível aos mais insignificantes movimentos da oferta e da procura, sem o amparo de uma informação económica e financeira adequada, torna-se presa fácil da especulação, e, assim, em vez de constituir seguro condutor da poupança, não raramente se converte em fonte de desorientação, gerando dúvidas infundadas sobre a situação das empresas e alienando a confiança que o público nela deveria depositar Com efeito, as cotações extremas ao longo do ano evidenciam por vezes amplitude consi-

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derável. A evolução recente do valor médio dos índices ponderados de cotações na Bolsa de Lisboa é a seguinte

QUADRO LX

Cotações na Bolsa de Lisboa
índices ponderados com base em 30 de Junho de 1950=100

[ ver quadro na imagem ]

Pode concluir-se que as cotações dos títulos de rendimento fixo, em geral, se têm mantido praticamente estáveis nos últimos anos, após sensível quebra em 1961. Por sua vez, para o conjunto dos títulos de rendimento variável, as cotações, que sofreram acentuado declínio em 1901 e 1962, tiveram nos dois últimos anos apreciável, recuperação, imputável à generalidade dos sectores, com excepção do de seguros

3. Outros mercados

47. Entre as operações características do mercado de capitais incluem-se os empréstimos hipotecários, que, no entanto, devem constituir, em parte, crédito a prazos relativamente curtos Aliás, é de admitir que a fracção de capitais proveniente deste tipo de empréstimos e aplicada no financiamento da formação de capital fixo é sensivelmente inferior à dirigida para gastos de consumo ou de funcionamento de empresas, pelo que os seus efeitos reprodutivos podem considerar-se limitados
Os números seguintes mostram a evolução dos empréstimos hipotecários concedidos pelas diferentes entidades, bem como do endividamento líquido anual por hipotecas.

QUADRO LXI

Empréstimos hipotecários e cancelamentos efectuados

[ ver quadro na imagem ]

A concessão de empréstimos hipotecários apresenta-se como modalidade de aplicação de capitais particularmente remuneradora Para além das operações realizadas pelas as instituições de crédito, existe um mercado de certa amplitude para empréstimos hipotecários entre particulares, nos quais intervêm, em parte, as entidades mediadoras anteriormente referidas, que recolhem avultados capitais de particulares
Relativamente à remuneração dos fundos movimentados por particulares nesta modalidade de aplicação do capitais, verifica-se no quadro seguinte que as taxas de juro médias têm atingido cerca de 7 por cento

QUADRO LXII

Taxa de juro de empréstimos hipotecários

(Médias)

[ ver quadro na imagem ]

Estas taxas de juro têm sido, portanto, muito superiores às referentes a outras aplicações e excedem também nitidamente as praticadas pelos estabelecimentos de crédito ¹ Tal situação explica-se, em certa medida, por aquelas taxas serem negociadas livremente entre as partes", de acordo com a situação real do mercado Os mencionados valores médios foram obtidos a partir de taxas de juro de diversos níveis, predominando, porém, de acordo com as estatísticas existentes, as de 6 e 8 por cento A diversidade de taxas de juro reflecte naturalmente as condições particulares de cada empréstimo, determinadas pelos riscos inerentes, quantias mutuadas, prazos de vencimento, esquemas de reembolso, etc
Quanto à diferença entre as taxas de juro relativas a particulares e as cobradas pelos estabelecimentos de crédito, para além da existência de taxas máximas diferentes, fixadas legalmente, é de admitir também como explicação o facto de as instituições de crédito não satisfazerem todos os pedidos de empréstimos desta natureza, o que em certos casos talvez resulte da fixação de condições que os interessados não podem preencher
Importa também considerar o significado das remunerações dos empréstimos hipotecários concedidos por particulares, no contexto da estrutura das taxas de juro Não se duvida de que esta forma de aplicação de capitais é atractiva, e os fundos movimentados atingem montantes vultosos Esta situação, no entanto, não deverá considerar-se inconveniente, se não dificultar a adequada canalização de fundos para empreendimentos com interesse para a economia nacional
O que se tornará necessário verificar é se o funcionamento deste mercado se processa sem perturbações ou se existem deficiências que devam ser corrigidas, através,

¹ A taxa média dos empréstimos hipotecários realizados pela Caixa Geral de Depósitos. Crédito e Previdência situou-se nos últimos anos entre 4 e 4,5 por cento, o que exerceu, naturalmente, uma acção moderadora.

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nomeadamente, de eventual revisão do regime legal e da fiscalização da actividade das entidades mediadoras.

48. Quanto às operações de compra e venda de prédios, que traduzem em parte uma modalidade de aplicação de poupanças, parcela, porventura, apreciável, deve constituir simples movimentação de capitais, determinada por motivos especulativos, de que resultam, portanto, efeitos reprodutivos diminutos
Apresenta-se no quadro seguinte a evolução dos capitais movimentados nestas operações no decurso dos últimos anos

QUADRO LXIII

Compra e venda de prédios (a)

[ Vêr quadro na imagem ]

Relativamente a este conjunto de operações - empréstimos hipotecários e compra e venda de prédios -, para a expansão verificada nos últimos anos terá concorrido, em larga medida, a actividade das entidades mediadoras, que intervêm nestas modalidades de operações financeiras O exercício desta actividade comercial foi regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 43 767, de 30 de Junho de 1961, atenta a sua importância na colocação de capitais alheios e as possíveis tensões sobre os mercados monetários e financeiros dela resultantes

§ 3.º Medidas de política financeira
A) Medidas de natureza fiscal

49. Constitui necessidade inerente ao processo de desenvolvimento económico o recurso acrescido à política tributária na realização dos objectivos de fomento
Razões bem conhecidas de ordem económica e de técnica fiscal, assim como exemplos de natureza prática relativos a outros países, militam a favor da orientação referida, a qual tem constituído crescente preocupação da política financeira com vista ao desenvolvimento económico nacional
Neste sentido se tem trabalhado, e se prosseguirá nos próximos anos, com vista a acelerar a aplicação de medidas, não só de natureza correctiva das tendências conjunturais que vierem a manifestar-se, mas também, e fundamentalmente, de carácter estrutural, aliás, na sua maior parte, já em estudo no Ministério das Finanças, e que envolvem, em maior ou menor grau, importantes aspectos do sistema tributário vigente Estas serão as providências que importa referir no presente Plano
Após as alterações de técnica fiscal atinentes a uma maior eficácia da coordenação com o planeamento económico, apresentar-se-ão os incentivos destinados ao dimensionamento óptimo das empresas, à formação dos investimentos e ao fomento das diferentes actividades económicas e, por último, as medidas referentes a situações específicas, como é o caso das actividades motoras de especial interesse para o Plano, dos benefícios fixados em contratos especiais e dos impostos aduaneiros

50. O primeiro ponto a salientar é o que respeita à consideração da natureza, frequentemente indiscriminada, dos estímulos fiscais A sua eficácia, do ponto de vista da política económica, é, na verdade, consideràvelmente restringida pela razão de, em regra, se acharem previstos na lei os pressupostos de que depende automaticamente a aplicação concreta de cada preceito, em virtude do princípio da generalidade da lei tributária
Ora, a concessão dos incentivos fiscais aconselha a verificar, em cada caso, da respectiva utilidade para a política de desenvolvimento, bem como para as exigências da conjuntura
Torna-se, pois, necessário fazer depender a atribuição da generalidade dos estímulos fiscais com objectivo económico da prévia apreciação do interesse nacional da iniciativa a contemplar
Assim, a regulamentação legal deverá revestir-se da necessária maleabilidade, acelerando e simplificando, em favor dos interessados, a aplicação dos benefícios previstos Simultâneamente, convirá encarar meios de divulgação dos regimes de incentivos fiscais, evitando que, por desconhecimento, deixem de ser utilizados, dadas as razões de interesse nacional que determinaram a sua publicação
Nesse sentido, proceder-se-á à revisão da Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, por forma a tornar as respectivas disposições mais adequadas às exigências que acabam de apontar-se
Além da revisão das situações de base, encarar-se-á a possibilidade de estabelecer, por via administrativa, índices de correcção regional - em regra, concelhia - da isenção de contribuição industrial pelo estabelecimento de novas indústrias, ou pela reorganização de indústrias existentes Aqueles índices serão estabelecidos em estreita coordenação com os serviços de planeamento competentes, em ordem à sua articulação com a política de desenvolvimento regional

51. Tendo em conta as medidas de defesa da concorrência e de limitação aos excessos do poder económico, haverá que encarar a conveniência de adoptar disposições tendentes ao dimensionamento óptimo das empresas, imposto ainda pela integração económica do espaço português e pela necessidade de acesso aos mercados internacionais- prevendo-se, contudo, a possibilidade de exceptuar empresas que, dadas as condições de produção ou de mercado nacional, apenas com elevada dimensão técnica e financeira possam atingir níveis suficientes de produtividade Neste sentido, deverão rever-se, de acordo com as condições dos vários sectores, as disposições favoráveis à concentração (como, por exemplo, o artigo 89.º do Código da Sisa), segundo directivas simultâneamente coerentes e maleáveis
De modo especial no sector agrário, promover-se-á o estudo da adequação da política de estímulos fiscais às fórmulas mais aconselháveis de concentração, por via sucessória e emparcelamento, e de desconcentração, pelo parcelamento, utilizando o critério da dimensão mais adequada segundo a região, o sector, a forma de exploração e as condições do mercado

52. O estímulo ao investimento constituirá, dadas as limitações da nossa capacidade financeira, outra das preocupações de maior relevo da reforma do actual regime de isenções Para tal efeito, promover-se-á a regulamentação

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fiscal do crédito ao investimento, designadamente quanto à aplicação dos artigos 42 º e 44.º do Código da Contribuição Industrial¹, em ordem a fomentar mais intensamente o autofinanciamento, a participação financeira de umas empresas nas outras e a criação de instituições capazes de dinamizarem os nossos mercados financeiros Serão também consideradas disposições tendentes a incentivar o investimento das empresas traduzido na promoção de maior qualificação técnica da mão-de-obra, não só através de maiores deduções de lucros, como por meio de desmobilização fiscal.

53. No que se refere aos aspectos específicos do regime de benefícios fiscais de cada sector de actividade, importa salientar que, quanto à agricultura, não se afigura possível considerar alargamento sensível de incentivos, dado que os actualmente existentes constituem já um elenco vasto e susceptível de aplicação não automática a empreendimentos meritórios
No entanto, prevê-se a criação de alguns benefícios especiais, a atribuir às situações seguintes

A reconversão de culturas e a alteração dos métodos de exploração e organização, designadamente no que respeita à estrutura da propriedade, aconselhadas pelas necessidades da política agrária definida pelo Governo, poderão ser favorecidas mais intensamente,
A fruticultura, a horticultura, a floricultura e a primeira transformação feita pela exploração agrícola ou silvícola dos seus produtos que não sejam comerciáveis em natureza, assim como a silvicultura e explorações pecuárias de produção avícola ou de bovinos de carne, deverão beneficiar de redução de taxa, ou isenção, de contribuição predial, imposto complementar, sisa e imposto sobre as sucessões e doações

Estas medidas poderão abranger outros subsectores, reputados estratégicos pelos departamentos governamentais respectivos, bem como as culturas fundamentais para o abastecimento do mercado interno e para a exportação.

54. No que se refere à indústria, serão estudados regimes especiais de benefícios a alguns sectores (como os têxteis, metalomecânicas, químicas e transformadoras de produtos agrícolas e pecuários), para além de disposições de carácter geral que venham a ser adoptadas relativamente a diversos impostos, como a contribuição industrial, imposto complementar, imposto de capitais, sisa e imposto do selo

55. Quanto à educação e investigação, o nosso sistema de estímulos tributários revela-se insuficiente. Esta circunstância, aliada à elevada importância do investimento humano na actual fase de desenvolvimento do País, exige remodelação profunda - efectuada em conjunto com o Ministério da Educação Nacional - dos incentivos previstos na actual legislação fiscal.

Neste sentido, encarar-se-á a promulgação de medidas, como as que, exemplificativamente, passam a enumerar-se

Isenção, total ou parcial, de contribuição industrial a sociedades privadas de investigação, que, embora com fim lucrativo, exerçam exclusivamente actividades de investigação científica ou tecnológica relevantes para o progresso nacional, bem como a quaisquer empresas, pela parte dos lucros resultantes da refenda actividade,
Isenção do mesmo imposto concedida a outras instituições privadas de ensino e investigação,
Isenção análoga a favor de instituições que, embora com fim lucrativo, se dediquem a actividades de formação e aperfeiçoamento de técnicos qualificados, e de outras empresas ou instituições, pelos ganhos resultantes de tal actividade,
Isenção, ou redução de taxa (ainda que temporária), do mesmo imposto concedida a empresas que explorem colégios ou estabelecimentos de ensino dotados de determinadas características, ou úteis para a promoção regional de populações anteriormente desprovidas de fácil acesso ao grau de ensino por elas ministrado,
Isenção de sisa na aquisição de prédios, bens ou equipamentos destinados a serem objecto de doação a favor de instituições dos tipos mencionados nas alíneas anteriores, quando lhes sejam efectivamente atribuídos dentro de seis meses, a contar do momento em que os bens doados entrem na posse, do adquirente,
Alargamento das margens de deduções de contribuição industrial para despesas de ensino ou investigação, nos termos do artigo 86 º, alínea a), do Código da Contribuição Industrial, e
Isenção de sisa na aquisição de prédios destinados a serem doados para a construção ou instalação de escolas primárias

56. Em relação às actividades com relevância no domínio do turismo, procurar-se-á tornar mais selectivo o regime de concessão dos benefícios existentes

57. No que se refere à habitação, as alterações, que se reputam indispensáveis, das isenções fiscais actualmente em vigor exigem como condição prévia a revisão do regime de inquilinato, para além da eventual consideração de outras orientações gerais, como as resultantes do desenvolvimento regional e da descentralização de actividades fabris.

De qualquer modo, em relação aos benefícios tendentes a promover a aquisição de casa própria, serão mantidos os estímulos vigentes, dado que se enquadram em importantes finalidades de política social
A fim de uniformizar o regime legal e facilitar a sua aplicação, promover-se-á a substituição das múltiplas isenções actualmente existentes por uma isenção única, embora o respectivo âmbito continue a ser sensivelmente idêntico ao do sistema actual
Atribui-se, todavia, interesse especial à realização urgente de um estudo que permita definir uma política de conjunto nesta matéria e no qual sejam reconsideradas a eficácia e razão de ser dos presentes incentivos fiscais, que representam, sobretudo, compensação concedida aos capitais privados, em virtude do bloqueamento das rendas que a legislação vigente mantém nas zonas de Lisboa e do Porto

¹ Relativos, respectivamente, a deduções ao lucra líquido nos casos de rendimentos de acções, quotas e partes sociais que sejam propriedade do contribuinte, dividendos e juros de títulos nacionais, quando se trate de sociedades de seguros ou de sociedades de participação financeira e de rendimento de actividades exercidos no ultramar, e ao reinvestimento na própria empresa dos lucros levados a reservas

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Entretanto, manter-se-á o disposto nos n.ºs 8 º e 9.º do artigo 11 º do Código da Sisa e do Imposto sobre as Sucessões e Doações, mas introduzir-se-á na sua regulamentação maior maleabilidade, para ocorrer às necessidades regionais. Continuarão igualmente em vigor as reduções de taxa previstas nos artigos 34.º e 35 º do mesmo diploma. Por outro lado, deverão rever-se as condições de execução do disposto nos artigos 17 º e seguintes do Código da Contribuição Predial e do Imposto sobre a Indústria Agrícola.

58. Outro aspecto de política de estímulos fiscais que será encarado e directamente se relaciona com a política de fomento é o que respeita à concessão de incentivos aos sectores de acção motora do processo de desenvolvimento, quer no plano regional, quer do ponto de vista global.
Assim, no quadro da revisão da estrutura fiscal, principalmente com o objectivo de promover mais completa utilização da capacidade de produção existente e a expansão dessa capacidade, atenta a importância de que se reveste o equilíbrio do processo de desenvolvimento, estabelecer-se-á, quando as circunstâncias o aconselharem, a dedução, parcial ou total, na matéria colectável do imposto directo parcelar respectivo (contribuição industrial), da parte que exceda o rendimento obtido no ano anterior ¹. Deste modo se premiará a obtenção de melhores resultados, sem diminuição do nível da receita pública cobrada.

59. A existência de múltiplas isenções, constando de contratos de concessão ou atribuídas a determinadas empresas, levanta problemas delicados, por constituírem desvio dos princípios de justiça tributária. Numa perspectiva político-económica, porém, estes benefícios justificam-se na medida em que representam contrapartida de riscos ou sacrifícios que muitas empresas, ou os seus financiadores, aceitam assumir em empreendimentos de acentuada importância para a política de desenvolvimento económico
Assim, outro dos objectivos da política de reajustamento dos estímulos tributários ao desenvolvimento deverá ser a revisão dos benefícios individualizados, que provenham directamente de diplomas legais, de contrato ou concessão Nesta matéria, tomar-se-á em conta, não apenas a necessidade de, através da isenção temporária de lucros, as empresas se ressarcirem de prejuízos iniciais de elevados encargos de amortização suportados ou de riscos anormais, mas também o papel das respectivas empresas no crescimento económico nacional.

60. No que respeita a incentivos tributários no plano aduaneiro, não é fácil avaliar, do ponto de vista económico e em pormenor, os resultados da política seguida. Francamente eficaz para alguns sectores de actividade, afigura-se, por outro lado, que, em certos casos, uma excessiva protecção se revela impeditiva do progresso técnico das empresas, pela ausência de estímulo derivado da concorrência exterior. Mais proveitosa parece ser a concessão, quando tal se justifique, de isenções ou reduções dos direitos que incidam sobre bens de equipamento necessários à instalação, reapetrechamento ou laboração dos vários sectores de actividade nacional.
Dado que, na sua grande maioria, os direitos da nossa pauta são específicos e não podem, por isso, acompanhar os preços das mercadorias, é de presumir que, com o decorrer do tempo, a incidência pautal se desactualize para certas posições. A deterioração dos direitos poderá sanar-se por meio de revisões periódicas das pautas ou pela transformação da tributação específica em ad valorem.
As revisões periódicas permitirão verificar se, após o período inicial da laboração da indústria, os dados para a determinação do nível protector não sofreram alteração A necessidade de revisões desaparece, em parte, com a tributação ad valorem, que apresenta ainda a vantagem de simplificar os cálculos da respectiva liquidação, mas importa não esquecer que, entre nós, as taxas pautais com objectivo meramente fiscal são ainda bastante numerosas, razão por que não se afigura possível abandonar por completo a tributação específica.
Por outro lado, o ingresso na E F. T. A, a adesão ao G A. T. T e a possível criação de um único mercado europeu fazem prever que o direito aduaneiro venha a desempenhar função cada vez menos activa.

61. Em conclusão, as diversas providências tributárias a adoptar no período do Plano para estímulo ao investimento podem alinhar-se, esquematicamente, da forma seguinte

Criação de um sistema que permita apreciar, em cada caso, da utilidade dos incentivos fiscais como factores de desenvolvimento, no plano da política estrutural e conjuntural,
Instituição de novos regimes jurídicos tendentes a assegurar a necessária maleabilidade da concessão de incentivos, com maior simplificação e aceleração, em benefício dos interessados,
Divulgação das normas fiscais mais favoráveis, com vista a evitar que, por desconhecimento, deixem de ser utilizados incentivos estabelecidos por motivo de interesse nacional,
Reajustamento dos critérios fiscais da Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, com apreciação cuidadosa das situações de base, e fixação, por via administrativa, com revisões periódicas, de índices de correcção regional da isenção atribuída pelo estabelecimento de novas industrias ou por medidas de reorganização,
Providências tendentes a promover o dimensionamento óptimo das empresas,
Criação de novos incentivos especiais ao desenvolvimento da agricultura, com o objectivo de promover a reconversão das culturas e a alteração dos métodos de exploração e organização aconselhada pelas necessidades da política agrária definida pelo Governo, fomentar a fruticultura, a horticultura, a floricultura, as explorações pecuárias de produção avícola ou de bovinos de carne; apoiar a primeira transformação de produtos não comerciáveis em natureza feita pelas explorações agrícolas ou silvícolas;
Concessão de novos estímulos fiscais a várias indústrias, como as têxteis, metalomecânicas, químicas e transformadoras de produtos agrícolas e pecuários,
Remodelação dos estímulos fiscais ao ensino e à investigação científica e tecnológica, designadamente através de isenções, totais ou parciais, a sociedades privadas que se dediquem à formação de técnicos especializados ou a pesquisas de carácter científico ou tecnológico,
Medidas no sentido de tornar mais flexível o regime de concessão dos incentivos já existentes às acti-

¹ Como, aliás, já se encontra previsto no artigo 9.º da Lei n.º 2181, de 26 de Dezembro de 1966.

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vidades com relevância no domínio do turismo;
Revisão do regime fiscal do inquilinato, com vista a introduzir algumas alterações indispensáveis nas isenções actualmente em vigor,
Concessão de estímulos aos sectores com acção motora no processo de desenvolvimento; para incentivar a formação líquida de capital fixo, especialmente pela dedução, parcial ou total, na matéria colectável do imposto parcelar respectivo, da parte que exceda o rendimento tributável obtido no ano anterior,
Revisão dos benefícios individualizados, incluindo os constantes de contrato ou concessão.

B) Medidas no domínio da formação
e mobilização da poupança para o Investimento

62. Para além das providências adoptadas nos últimos anos com vista ao aperfeiçoamento dos mecanismos monetário-financeiros do País, a análise anteriormente apresentada demonstra a oportunidade e urgência das medidas já em parte enunciadas no relatório da Lei de Meios para 1967, tendentes, em especial, a estimular a actividade do mercado de capitais e a atenuar as pressões que a procura de fundos tem exercido no mercado monetário.

63. Assim, importa, em primeiro lugar, referir as providências que se afiguram indispensáveis para estimular directamente a formação de poupanças, não devendo, todavia, esquecer-se que as medidas que vierem a ser tomadas relativamente ao aperfeiçoamento do mercado de capitais - e que serão seguidamente apresentadas - virão também beneficiar, de forma indirecta, aquela formação.
Entre essas providências, salientam-se as isenções fiscais a determinadas modalidades de aplicação das poupanças de particulares a conceder com base nos capitais aplicados ou nos rendimentos deles resultantes. No primeiro caso, por exemplo, deverá considerar-se na determinação do rendimento colectável a dedução de parte desses capitais até um limite dependente da idade e da situação familiar. Instituir-se-á um sistema de reduções a atribuir na aplicação de poupanças a longo prazo de determinadas espécies Além disso, considerar-se-á também a adopção nos contratos de trabalho de esquemas que prevejam a aplicação pelas empresas de parte dos aumentos de remuneração do seu pessoal em modalidades a escolher por este, nomeadamente acções da própria empresa.
Por outro lado, e para além da acção tendente a manter a estabilidade financeira interna, tornar-se-á necessário reforçar a protecção das poupanças aplicadas contra diversos riscos de forma directa por uma instituição ou fundo com esse objectivo, ou indirecta mediante a fiscalização das instituições que captam as poupanças
Dado ser de particular importância uma melhor adaptação dos serviços das instituições captadoras de poupança à actual realidade económica e social, considerar-se-á a revisão da orgânica e funcionamento da Caixa Geral de Depósitos, que ocupa posição preponderante no domínio destas instituições.
Incentivar-se-á, igualmente, a divulgação dos esquemas possíveis de aplicação da poupança, com vista a estimular a propensão para poupar, bem como a prestação de informações sobre essas aplicações, nomeadamente no domínio dos títulos.

64. O incentivo à formação de poupanças aconselha a criação de novas modalidades de depósitos destinados a determinados fins, como a aquisição de habitações e a constituição de carteiras de títulos.
Por outro lado, a preferência pela liquidez anteriormente assinalada, que determina ampla aplicação de poupanças em depósitos à ordem, justifica a criação de novas modalidades de depósito-poupança.
Com efeito, dado o interesse dos particulares em conservar os seus capitais disponíveis sob a forma de depósitos à ordem, a reduzida remuneração que a estes é atribuída poderá provocar, de futuro, efeito não estimulador na formação de poupanças. Por outro lado, representando elevada proporção dos depósitos à ordem verdadeiras poupanças, a circunstância de as instituições de crédito não as considerarem como fundos estáveis, ou a impossibilidade de avaliarem com precisão em que medida o são, dificulta a aplicação em genuínas operações de crédito a médio prazo
As referidas modalidades de depósitos, adequadas às pequenas poupanças, deverão distinguir-se claramente de outras espécies, de modo a apresentar maior interesse para os particulares, permitindo, simultâneamente, mais adequada canalização das poupanças para o financiamento do investimento.
Para esse efeito, tais depósitos deverão apresentar características especiais, como a emissão de uma caderneta para a sua movimentação, a aceitação exclusivamente de fundos destinados a aplicação de poupanças por período indeter minado e certas restrições sobre levantamentos.
Põe-se, todavia, o problema da compatibilidade entre a utilização destes depósitos em financiamentos a médio prazo e a manutenção de adequado grau de liquidez nas instituições de crédito
A experiência de países em que existe esta espécie de depósito - embora as suas características difiram de uns para outros- demonstra que, apesar de, sob certas condições, poderem ser movimentados à vista, estes depósitos apresentam, no conjunto, elevado grau de estabilidade e mesmo tendência para crescimento

65. Como se referiu, com a publicação do Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto de 1965, procedeu-se a importante reajustamento das taxas de juro das instituições de crédito No intuito de melhor adaptação dos mecanismos financeiros ao condicionamento existente, serão adoptadas medidas complementares, tendo em vista, nomeadamente, os seguintes aspectos*
Relativamente aos depósitos, deve notar-se que para se dispor de um desdobramento das suas diferentes modalidades, de acordo com as respectivas origens e características - o que constituirá requisito essencial para a melhoria do mecanismo da concessão de crédito-, torna-se necessário que a definição dessas modalidades se apoie numa estrutura de taxas de juro adequada
Por outro lado, a diversidade de modalidades de depósitos que as instituições de crédito podem aceitar não se apresenta favorável a que o público possa proceder à escolha da modalidade mais apropriada em cada caso particular Nestas condições, deverá realizar-se ampla divulgação das condições de remuneração real das diversas modalidades existentes nas diferentes instituições de crédito, tendo em atenção os privilégios fiscais vigentes nalguns casos.
Note-se ainda que, para promover a conveniente especialização do sistema de crédito, afigura-se conveniente recorrer, de preferência, a medidas indirectas, nomeadamente privilégios fiscais às remunerações dos depósitos

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Outro aspecto, que deverá ser igualmente considerado, refere-se às taxas de juro dos depósitos com pré-aviso de menos de 15 dias e de 15 a 30 dias nos bancos comerciais, em relação aos quais foram fixados limites máximos relativamente elevados (l e 1(1/4) por cento, respectivamente) Com efeito, esses depósitos têm características análogas às dos depósitos à ordem, não se afigurando que possam ser mobilizados para modalidades especiais de crédito. Deste modo, para estabelecer distinção mais clara entre depósitos a curto e longo prazos, deverá encarar-se a revisão daqueles limites, por forma a torná-los mais próximos dos fixados para os depósitos à ordem
Relativamente aos depósitos-poupança, cuja criação se prevê no parágrafo anterior, haverá que atribuir-lhes uma taxa de juro suficientemente atractiva, bem como conceder-lhes privilégios fiscais
Por sua vez, no domínio das operações activas das instituições de crédito, como se referiu, os limites fixados para as taxas de juro das operações a médio e longo prazos podem vir frequentemente a apresentar-se inferiores aos encargos com os fundos destinados a utilização nestas operações Em tal hipótese, tornar-se-á necessário elevar tais limites Todavia, conforme a tendência que venha a verificar-se, poderá encarar-se a eliminação dos referidos limites, permitindo a formação de taxas de juro das operações a médio e longo prazos, de acordo com o mecanismo do mercado
Será estudada a possibilidade de promover, de modo geral, mais ampla liberalização do mercado de capitais, designadamente no que se refere às obrigações A este respeito, importa notar que as elevadas taxas de juro praticadas nos empréstimos hipotecários entre particulares permitem admitir que não haverá necessidade de fixar limites muito baixos às taxas de juro do mercado financeiro
Com vista ao aperfeiçoamento da estrutura das taxas de juro das operações activas, deverá considerar-se ainda a discriminação das taxas máximas, conforme os diferentes riscos que cada modalidade de crédito envolve. E certo que a regulamentação vigente estabelece limites máximos, abaixo dos quais as instituições podem cobrar taxas diferentes, conforme os riscos, mas a publicação desta medida irá certamente concorrer para o aperfeiçoamento do mecanismo da concessão de crédito, nomeadamente nos bancos comerciais, de que se tratará no parágrafo seguinte

66. For outro lado, reconhece-se necessário promover a regulamentação geral das operações de crédito a médio e longo prazos Neste contexto procurar-se-á evitar a concessão de crédito a curto prazo para financiamento de investimentos, em especial sob a forma de crédito renovável através de desconto de letras, o que dependerá, aliás, de modo decisivo, das possibilidades de aperfeiçoamento do mecanismo de concessão de crédito a médio e longo prazos. Por sua vez, este aperfeiçoamento resultará em parte da criação de depósitos-poupança e, de modo geral, do desenvolvimento da formação de poupanças Tornar-se-á, portanto, indispensável promulgar medidos tendentes a tornai mais flexíveis as condições de obtenção de crédito a médio e longo prazos, nomeadamente através da articulação entre o Banco de Portugal, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento- Nacional. Além disso, é de admitir que a restrição à concessão de créditos renováveis, através do desconto de letras, para fins de investimento, possa efectivamente conseguir-se, mediante informações a prestar pelos bancos comerciais sobre o montante dos créditos dessa natureza, a fim de se conhecer melhor a proporção das operações a médio e longo prazos no valor global da respectiva carteira, ou salientando os inconvenientes da volumosa concessão dessa modalidade de crédito e as vantagens de utilizar como garantias de solvabilidade outros valores mais adequados, ou ainda mostrando o interesse que haverá numa utilização do potencial de crédito das referidas instituições em conformidade com a expansão que tem vindo a registar-se nos depósitos a prazo e com as normas estabelecidas sobre garantias de solvabilidade

or outro lado, como foi previsto no relatório da Lei de Meios para 1967, promover-se-á a centralização dos elementos informativos referentes ao risco da concessão e aplicação de créditos, o que se prevê venha a concretizai-se ainda este ano

67. Dentro do problema geral do crédito a médio e longo prazos, assume especial importância a oferta de financiamento a determinados sectores, relativamente à qual têm vindo a observar-se certas deficiências Entre esses sectores figuram a actividade agrícola e as empresas industriais de pequena e média dimensão
Atenta a urgência com que deverão ser corrigidas aquelas deficiências, dados os seus efeitos nocivos na realização de um processo de crescimento harmónico, afigura-se indispensável a adopção de providências que permitam o melhor aproveitamento possível das instituições existentes.
Em particular, quanto ao sector agrícola, para além da reorganização das caixas de crédito agrícola mútuo, que se encontra já prevista, há que promover o alargamento da sua actividade e a correcção das insuficiências observadas no seu funcionamento Por outro lado, realizar-se-á a coordenação das diferentes fontes de financiamento à lavoura, com vista a evitar a necessidade de recurso a empréstimos entre particulares, que são realizados frequentemente em condições muito onerosas
Proceder-se-á ainda à revisão das condições respeitantes a taxas de juro, prazos e garantias e à definição de uma escala de prioridades, nomeadamente para os empréstimos do Fundo de Melhoramentos Agrícolas, tal como se previa no Plano Intercalar de Fomento
Relativamente às pequenas e médias empresas industriais, dadas as dificuldades que defrontam no recurso ao crédito, em especial para a obtenção de fundos a médio e longo prazos para o financiamento de investimentos, instituir-se-á a prestação de garantias parciais aos empréstimos a longo prazo para essas empresas, por instituições já existentes ou a criar
Por outro lado, como estas empresas, em regra, experimentam certas dificuldades em promover o autofinanciamento em escala suficiente e em aumentar o capital pela entrada de novos sócios, incentivar-se-ão as instituições especializadas existentes e as que vierem a ser criadas, no sentido de conferirem particular importância, no conjunto das suas operações, às participações financeiras nas pequenas e médias empresas, com perspectivas de apreciável expansão A actuação destas instituições terá ainda como efeito melhorar a segurança financeira das empresas financiadas por tais instituições e, portanto facilitar-lhes a obtenção dos créditos necessários

68. A fim de criar melhores condições de concorrência para as empresas nacionais no mercado internacional, foram já definidas, pelo Decreto-Lei n.º 46 303, de 27 de Abril de 1065, as bases do sistema de crédito à exportação, que representa acentuado progresso relativamente aos métodos até aqui praticados pelo sistema bancário. Em especial, foi encarada a possibilidade de generali-

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zação das operações de pré-financiamento e definido um regime de crédito a médio e longo prazos baseado em modernas técnicas do comércio internacional Torna-se agora necessário promover a regulamentação do referido diploma, o que se prevê venha a concretizar-se antes da entrada em execução do III Plano de Fomento

69. A principal medida a considerar em relação às obrigações diz respeito à elevação do seu rendimento efectivo Em particular, para as obrigações privadas, esta medida revela-se indispensável, dado que se encontram presentemente em posição desfavorável relativamente a outras formas de aplicação de capitais. Por sua vez, para os títulos públicos, este problema apresenta-se de forma diferente, na medida em que há relativa facilidade para a sua colocação em diversas instituições Todavia, do ponto de vista da gradual normalização do mercado de capitais e na sequência da política definida no âmbito do Plano Intercalar, de moderação do recurso pelo sector público ao mercado monetário, afigura-se haver vantagem na emissão de títulos que, pelas suas condições de remuneração e amortização, possam ser atractivos para a poupança privada¹
Devem analisar-se as possíveis consequências da elevação do rendimento das obrigações, entre as quais se salienta a que se refere às repercussões sobre a evolução dos depósitos, o que, no entanto, se afigura conveniente, desde que se processe gradualmente, uma vez que representará diminuição da preferência pela liquidez
Por outro lado, importa considerar o problema dos possíveis reflexos do aumento das taxas de juro sobre a oferta de capitais para investimentos de menor rentabilidade. Nos casos em que se verifique necessidade de recorrer a este tipo de financiamento, serão adoptadas providências para evitar à empresa encargos demasiadamente elevados Assim, podem conceder-se privilégios fiscais à remuneração das obrigações, de modo a permitir a sua emissão a taxas inferiores às normalmente praticadas, como se prevê no citado Decreto-Lei n.º 46 492, e subsídios directos às empresas, que poderão, assim, recorrer ao mercado em condições normais A adopção destas medidas rodear-se-á da necessária prudência, a fim de impedir que causem procura excessiva de capitais Nos casos em que as empresas não beneficiem destes privilégios, a elevação da taxa de juro exercerá efeito selectivo no investimento, que permitirá evitar a inconveniente utilização dos capitais
Além disso, os efeitos do aumento da taxa de juro sobre a cotação das obrigações em circulação constituem problema de solução difícil. Com efeito, a elevação dos rendimentos das novas emissões irá provocar a baixa das cotações daqueles títulos, a qual, teoricamente, só terminará quando as cotações se ajustarem ao nível actualizado das taxas de juro, de tal modo que as antigas obrigações produzam rendimento real idêntico ao das novas
Outra medida a publicar com vista à reorganização do mercado de obrigações diz respeito à revisão do regime legal sobre aplicações em títulos dos bancos comerciais e empresas seguradoras

É certo que os limites fixados para essas instituições, relativamente aos títulos privados, não têm sido algumas vezes inteiramente utilizados, mas esta situação explica-se, nomeadamente, por a sua remuneração ser insuficiente e por apenas serem aceites títulos públicos com garantia de empréstimos no banco central

revisão não deverá ter como objectivo reduzir os limites mínimos estabelecidos para aplicações em títulos públicos, mas antes criar maiores possibilidades de aquisição de obrigações privadas.
Relativamente aos bancos comerciais, a limitação legal, anteriormente mencionada, sobre a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado, afigura-se excessivamente cautelosa Com efeito, não parece que as obrigações privadas envolvam riscos significativos desde que seja suficientemente conhecida a situação financeira das respectivas empresas Assim, aquela limitação deverá aplicar-se apenas à aquisição de acções e às participações financeiras
Além disso, admite-se que as obrigações privadas, em especial as que possuam aval do Estado, possam ser aceites em caução de empréstimos do banco central, em condições a definir pelas autoridades financeiras Esta prática implicará a introdução das convenientes alterações nos estatutos do Banco de Portugal
No que respeita às empresas seguradoras, deverá também efectuar-se a revisão das disposições legais vigentes sobre a aplicação das suas reservas técnicas em títulos privados, parecendo conveniente aumentar de 80 para 50 por cento o limite da participação destes títulos nas referidas reservas Deste modo, e com a elevação dos títulos, as aplicações em imóveis serão, em certa medida, desencorajadas. Deverá ainda ser limitado o caucionamento de reservas técnicas com empréstimos hipotecários, dada a possibilidade de se verificar, em certas épocas, acréscimo de proporção de imóveis, que prejudique as aplicações em títulos. Serão ainda estabelecidas regras relativas à aprovação dos títulos privados a utilizar no caucionamento das referidas reservas.
Para a dinamização do mercado das obrigações, serão também efectuadas as adaptações legais necessárias para incentivar a criação de novos títulos de rendimento fixo, nomeadamente obrigações convertíveis em acções, a diversificação das obrigações emitidas, em especial quanto ao vencimento, a revisão das técnicas de emissão e amortização
Convirá ainda, em relação a este mercado, rever o sistema de autorização das emissões de obrigações privadas, que deverá ser adaptado ao presente condicionalismo, tendo em atenção o objectivo, a mais longo prazo, de normalização do mercado, o que exige o recurso, de preferência, a meios indirectos, como os privilégios fiscais anteriormente referidos

70. Relativamente ao funcionamento do mercado de acções, parece justificar-se a fixação de um limite mínimo para o capital social das sociedades anónimas a constituir, para além da imposição de certas condições à sua constituição, mediante sistema de fiscalização tendente a assegurar a existência de requisitos mínimos para a viabilidade económica e financeira da empresa
Reveste-se de particular importância regulamentar a legislação já promulgada sobre a fiscalização das sociedades anónimas Por outro lado, convirá adoptar medidas destinadas a facilitar a participação efectiva dos pequenos accionistas nas deliberações das assembleias gerais

¹ No início do corrente ano foi ]á realizada a primeira emissão correspondente a um empréstimo público por obrigações à taxa liquida de 5 por cento, tendo a subscrição pública excedido largamente o seu valor Posteriormente, verificaram-se algumas emissões de obrigações de empresas privadas proporcionando um rendimento líquido de cerca de 5,6 por cento e que igualmente despertaram o interesse do público.

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e a permitir a agrupamentos de accionistas intervir na eleição dos corpos gerentes da respectiva sociedade.
Proceder-se-á à revisão do imposto de mais-valias, que incide sobre o aumento do valor nominal das acções, proveniente da incorporação de reservas no capital das respectivas sociedades, com vista a não ser dificultado o processo de ajustamento do capital social à dimensão da empresa e a tornar mais atractivas as aplicações nestes títulos Simultâneamente, estudar-se-á a imposição de encargos fiscais mais elevados para os lucros não distribuídos
Por outro lado, para incrementar a propensão à compra de acções e para estimular o recurso a este mercado, torna-se necessário assegurar maior publicidade a situação das respectivos empresas, sobretudo no que respeita à sua rentabilidade, de forma a facilitar as decisões sobre inversão de capitais, medida que deverá ser completada pela divulgação de informações sobre as diversas possibilidades de aplicação naquele mercado Convirá também criar as condições necessárias ao desenvolvimento da aplicação em partes sociais dos fundos de investimento mobiliário, a fim de encaminhar o público para futuras aplicações directas em, acções.
Do mesmo modo, no que respeita ao recurso pelas empresas ao mercado de acções, devem promover-se certos aperfeiçoamentos quanto às técnicas de emissão e ao custo das emissões.
Relativamente à colocação dos títulos privados em geral, mediante subscrição pública, proceder-se-á à revisão dos limites legais (Decretos-Leis n.ºs 41 403 e 42 641), sobre a tomada firme pelos bancos comerciais de emissões destes títulos, actualmente fixada no dobro do excesso da soma dos fundos de reserva e da quinta parte do seu capital sobre as aplicações em títulos não garantidos pelo Estado Com efeito, quanto mais elevado for o montante da carteira de títulos desta natureza, tanto menor será a margem disponível para a indispensável participação daquelas instituições na colocação dos títulos privados.
Por último, e como se referiu na Lei de Meios para 1967, efectuar-se-á a revisão da regulamentação sobre serviços e operações das bolsas de valores, com o objectivo de promover o desenvolvimento das transacções regulares no mercado de títulos e da aplicação de poupanças Este desenvolvimento dependerá, ainda, da adopção de medidas que permitam aperfeiçoar o funcionamento do mercado de títulos, pelo que a referida revisão deverá ser realizada em ligação com a orientação que for delineada para aquele mercado Encarar-se-á, também, a concessão de incentivos às cotações de novas acções na bolsa, bem como a obrigatoriedade por parte de novas empresas, que recebam benefícios ou concessões especiais, de oferecerem a subscrição pública proporção razoável das suas acções, promovendo política idêntica para outiras empresas

71. Referem-se, por fim, as medidas que urge tomar relativamente ao planeamento das emissões de títulos.
Com efeito, estudar-se-á a possibilidade de planear o volume e o calendário das novas emissões de acções e obrigações, de forma a evitar a procura de capitais em condições inconvenientes, que possa provocar perturbações no mercado Assim, promover-se-á a criação de comissões, com o objectivo de apreciar a situação do mercado e aconselhar as empresas sobre a realização das suas emissões
No domínio do planeamento das emissões de títulos, importará, em particular, ter em atenção que, para as empresas seguradoras, a época mais conveniente para a aquisição de novos títulos é a de Fevereiro a Abril, uma vez que os depósitos para caução das reservas técnicas se efectuam geralmente até ao final deste mês Salienta-se ainda que o anúncio ou a realização de emissões próximos do fim de cada ano pode determinar uma baixa de cotações, com reflexos no caucionamento das reservas técnicas das referidas empresas.

72. As providências legais e administrativas a adoptar no decurso do Plano, tendentes a incentivar a formação de poupança e aperfeiçoar os mecanismos da sua canalização para o investimento, anteriormente apresentadas, podem sintetizar-se da seguinte forma

Concessão de isenções fiscais e outros incentivos à poupança,
Criação de novas modalidades de depósitos que estimulem a formação de poupanças,
Reajustamento das taxas de juro das operações activas e passivas realizadas pelas instituições de crédito, em conexão com a reestruturação geral das taxas de juro,
Regulamentação das operações de crédito a médio e longo prazos,
Melhoria das condições de financiamento do sector agrícola e das pequenas e médias empresas industriais,

egulamentação do sistema do crédito e de seguro de crédito à exportação,
Reorganização dos mercados de títulos e revisão dos regulamentos das bolsas de valores;
Planeamento das emissões de títulos.

Trata-se, aliás, de providências já enunciadas na Lei de Meios para 1967 e que se encontram em curso de execução

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560 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

ANEXO I

Balança de pagamentos externos da metrópole

[ Ver balança na imagem ]

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ANEXO II

Estado

[ Ver anexo na imagem ]

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562 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ Ver acta na imagem ]

ANEXO IV

Administração Central

[ Ver anexo na imagem ]

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30 DE JUNHO DE 1967 563

ANEXO V

Administração Central

[ Ver anexo na imagem ]

ANEXO VI

Estado (C. G. E.)

[ ver anexo na imagem ]

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564 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ ver acta na imagem ]

ANEXO VII

Estado (C G. E.)

[ ver anexo na imagem ]

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[ ver quadro na imagem ]

ANEXO VIII

Administração local

[ ver anexo na imagem ]

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566 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[Ver tabela na imagem]

ANEXO IX

Administração local

[Ver tabela na imagem]

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ANEXO X

Previdência social

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XI

Previdência social

[Ver tabela na imagem]

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568 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N. º 56

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XII

Banco de Fomento nacional

Empréstimos directos realizados

(Milhares de contos)

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XIII

Banco de Fomento Nacional

Participações financeiras

(Milhares de contos)

[Ver tabela na imagem]

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ANEXO XIV

Caixa Geral de Depósitos, Credito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito

Empréstimos a médio e longo prazos (novas operações)

Distribuição sectorial

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XV

Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito

Empréstimos a curto prazo (novas operações)

Distribuição Sectorial

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui financiamentos realizados aos organismos corporativos e de coordenação económica

ANEXO XVI

Caixa geral de Depósitos, Crédito e Previdência

Novas aquisições de títulos

[Ver tabela na imagem]

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570 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

ANEXO XVII

Bancos comerciais e casas bancárias

Acções em carteira (valor nominal)

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XVIII

Bancos comerciais e casas bancárias

Obrigações em carteira de empresas privadas (valor nominal)

[Ver tabela na imagem]

ANEXO XIX

Empresas seguradoras

Carteira de acções

[Ver tabela na imagem]

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ANEXO XX

Empresas seguradoras

Carteira de obrigações

[Ver tabela na imagem]

CAPITULO III

Comércio externo

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. O comércio externo da metrópole encontra-se em período de profunda transformação de estruturas. Quer pelo que respeita à posição dos vários grupos de produtos no conjunto das transacções, quer atendendo às regiões com as quais esse movimento de bens se processa, a situação presente diferencia-se substancialmente da verificada há alguns, anos e, segundo se prevê, das circunstâncias que vigorarão no período deste III Plano de Fomento.
Aliás, a evolução verificada reflecte a dinâmica do processo de desenvolvimento económico metropolitano, que tende a fazer sobressair o papel de novas produções, em particular industriais, a limitar a importância dos bens tradicionais e a alterar o esquema de mercados, de consumo e de abastecimento. Sendo a metrópole um território de reduzida dimensão, não particularmente dotado quanto a recursos naturais e de nível de produção e de consumos relativamente modesto, o seu arranque para escalões mais altos de bem-estar envolve necessariamente a progressiva abertura da sua economia às correntes de trocas internacionais por forma a permitir-lhe substituir gradualmente certo número de actividades ineficientes por outras mais próximas dos graus de aperfeiçoamento tecnológico conseguidos nos países industrializados. Compreende-se, assim, que as relações comerciais com o ultramar e com o estrangeiro tenham evoluído no período de 1955-1965 a taxas médias anuais superiores à do produto interno bruto - 8,1 por cento para as importações, 6,9 por cento para as exportações e 4,8 por cento para o produto interno bruto. Daí o progressivo agravamento do deficit comercial da metrópole, de 2,7 milhões em 1955 para 7,8 milhões em 1965 (considerando também o comércio governamental).
Um resultado dessa natureza não pode deixar de filiar-se nas dificuldades das estruturas produtivas nacionais em se adaptarem as novas condições criadas pelo desenvolvimento económico internacional no período posterior à segunda grande guerra e ao consequente estreitamento das relações comerciais, económicas e políticas à escala inter-regional.
A economia da metrópole só relativamente tarde manifestou sintomas de abertura apreciável às correntes de trocas internacionais. Os sistemas de proteccionismo pautal, justificados, a princípio, pela insipiência da produção nacional e pela escassez do mercado interno, converteram-se muitas vezes em facilidades ao espírito rotineiro de certos empresámos, mais interessados em desfrutar dos benefícios permitidos por essas limitações à concorrência de produtos estrangeiros do que em modernizar os seus processos de fabrico com vista ao aumento da produtividade e à incursão nos mercados externos. Efeitos semelhantes resultaram, em certos casos, das acções de condicionamento industrial no plano interno. A limitação da concorrência pelo lado da oferta, com base na exiguidade do mercado, já coberto pelas produções do unidades mais antigas, veio também tolher o passo à iniciativa e ao dinamismo de alguns empresários, contribuindo para eternizar fabricos em termos de monopólio ou oligopólio, com os inevitáveis custos a suportar pelo conjunto da economia e da sociedade portuguesas. O muito lento progresso da agricultura, dificultado por estruturas agrárias desprovidas de maleabilidade, quer sob o ponto de vista de relações de produção, quer quanto aos tipos de cultivo, ou ainda quanto ao destino dos produtos, não lhe permitiu contrabalançar uma procura de bens de consumo e de matérias-primas em franco crescimento. A coincidência de alguns maus anos agrícolas com o fenómeno do encarecimento da mão-de-obra rural veio precipitar o aparecimento de dificuldades de abastecimento em certos bens de consumo, que se traduziram recentemente em importações de nível excepcional, possivelmente a repetirem-se nos anos próximos.
Na indústria, a evolução foi diferente. A procura de produtos industriais não tem sido acompanhada inteiramente pela oferta interna, até porque, para uma larga gama desses produtos, o mercado nacional é demasiado estrito para permitir uma produção em condições de custo suportáveis. Apesar disso, tem-se avançado substancialmente no processo de substituição de determinadas importações e tem-se conseguido em algumas indústrias uma expansão de vendas ao exterior que compensa em boa parte o aumento verificado nas importações de produtos manufacturados. Por isso, pode dizer-se que o ritmo de evolução da procura interna de produtos industriais não se tem distanciado muito do ritmo da produção nacional dessa categoria de produtos.

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Verificou-se mesmo que de 1955 a 1965 a exportação de produtos industriais aumentou em percentagem um pouco mas elevada do que a importação desses produtos. Simplesmente, dado o forte desequilíbrio inicial da balança de importações e exportações de produtos industriais, essa evolução, embora levando a menor desnível relativo, não se mostrou suficiente para evitar um agravamento do valor absoluto do déficit.
A difícil formulação de uma política em matéria de estratégia do desenvolvimento industrial e agrícola provocou o desaproveitamento de algumas oportunidades oferecidas quer pela situação geoclimática da metrópole, quer pela condição de membro da E. F. T. A. - um mercado que, embora pouco homogéneo, abrange cerca de 100 milhões de consumidores. Portugal poderia, por certo, ocupar papel mais importante como fornecedor de primores e conservas alimentares aos países industrializados da Europa, além da multiplicidade de produtos industriais que, por efeito de especialização de actividades, nos venham também a caber.
De tudo resultou o alargamento progressivo do déficit comercial, que, por feliz coincidência, ocorreu em período durante o qual se registaram grandes entradas de invisíveis - receitas turísticas - e remessas de emigrantes. Essas condições podem, porém, vir a sofrer alteração futura, além de que não convém tornar o progresso económico do País excessivamente dependente de fenómenos pouco controláveis, como a criação de novas oportunidades de trabalho em mercados do estrangeiro.
Apesar de até agora se terem conseguido aumentos importantes nas exportações para a E F T A , pode afirmar-se que as actividades nacionais não puderam extrair todas as vantagens dos primeiros anos de vigência do regime especial fixado pelo Anexo G da Convenção de Estocolmo. Não se tornou anda possível realizar as profundas reformas de estrutura do sector privado e da função pública exigidas pela necessidade de exportar a todo o custo produtos de procura internacional suficientemente elástica - máquinas e outros bens de equipamento, manufacturas e produtos alimentares de qualidade superior e técnica refinada -, de valor unitário progressivamente mais elevado e em partidas de grande dimensão. Se dentro do breve período de cerca de quinze anos que resta a Portugal para reconversão da sua economia, em termos de libertar totalmente o mercado interno aos produtos dos países membros da E F T A , de acordo com a letra dos compromissos assumidos no quadro dessa associação, não se adoptar uma linha de acção mais decidida, haverá que recear pelo afastamento definitivo da hipótese de acompanhar, mesmo de longe, o crescimento dos níveis - de vida dos países do Ocidente europeu, onde a metrópole está geograficamente inserida, e pela eventualidade de mais graves tensões sobre a balança comercial. E, se se atender ao longo período de maturação que comporta a instalação de parte dos empreendimentos industriais necessários e ao carácter de continuidade de acções que supõe a fixação de objectivos de industrialização minimamente ambiciosos, haverá que reconhecer-se que o começo rápido de equacionação desses objectivos e das medidas a tomar é condição sine qua non dos resultados a atingir.

2. A alteração de estruturas do comércio externo da metrópole é particularmente sensível nas exportações e tende a reforçar a posição dos produtos industriais, nomeadamente daqueles que sofreram apreciável grau de transformação. Os artigos manufacturados, os produtos químicos, as máquinas e o material de transporte, que no conjunto representavam, em 1955, 42,9 por cento do total das vendas da metrópole ao exterior, já em 1985 tinham aumentado para 60,8 por cento. Em particular, a participação dos fios e das obras têxteis no total exportado passou de 14,1 por cento em 1955 para 24,2 por cento em 1965.
Em contrapartida, os produtos alimentares, bebidas, matérias-primas e óleos e gorduras não alimentares manifestaram perda de posição relativa no conjunto das vendas de 54,4 por cento em 1955 para 37,5 por cento em 1965, apesar do grande incremento de alguns componentes específicos, como os concentrados de tomate e as pastas celulósicas.

QUADRO I

Comércio de exportação da metrópole

Preços de 1968

[Ver tabela na imagem]

Esta descida de importância relativa dos produtos primários na exportação nacional traduz, em parte, falta de progresso suficiente na produção agrícola, nomeadamente no que se refere a transformações da sua estrutura no sentido do aproveitamento das vantagens competitivas potenciais ao nível internacional que entre nós se poderão encontrar. Mas deverá reconhecer-se também que, na generalidade dos casos, a procura dos mercados

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externos para produtos primários se apresenta com baixa elasticidade-rendimento e, portanto, com fracas perspectivas de expansão. Além disso, não se devem perder de vista os efeitos das políticas proteccionistas seguidas em relação à agricultura dos países industrializados, que poderiam ser os nossos principais mercados compradores. Também não se podem ignorar as condições verdadeiramente artificiais, e não raro ruinosas, em que decorre o comércio internacional de certos produtos agrícolas em que poderíamos ter boas vantagens competitivas, como é o caso dos vinhos.
Apesar disso, ao estabelecer-se a comparação com outros países de grau de desenvolvimento análogo ao do nosso, nomeadamente os da região mediterrânea, poder-se-á ser tentado a concluir pela excessiva escassez da participação do sector primário no domínio da exportação. Essa escassez é, porém, largamente explicada pelo facto de o nosso país não dispor de grande abundância de recursos naturais e, principalmente, pelo facto de muitos dos nossos produtos alimentares e das nossas matérias-primas serem exportados já com apreciável grau de transformação e aparecerem, portanto, classificados como produtos industriais. É esse, por exemplo, o caso da madeira em obra, da cortiça em obra e da pasta para papel, que representam proporção apreciável das nossas exportações totais.
Aparentemente, Portugal faz centrar em produtos industriais grande parte da dinâmica das suas exportações. Contudo, é de realçar que a relativa preponderância desses produtos tem por base indústrias pouco influentes do ponto de vista de uma propagação de efeitos de desenvolvimento industrial, dado o grau limitado de inter-relações que afectam as actividades transformadoras da cortiça, da madeira e de certas especializações têxteis, comparadas com as que derivam do fabrico de produtos químicos, metálicos e de máquinas e material de transporte. Só à sua parte, os produtos têxteis representam cerca de um quarto das exportações da metrópole, o que, atendendo ainda à fraca proporção de vestuário e de obras de grande qualidade nesse valor contidos, representa risco considerável, tonto pela concorrência que os produtos dos países em vias de desenvolvimento poderão fazer nos mercados externos, como pelo fraco ritmo de crescimento da procura orientada para esse tipo de bens. Embora o volume de vendas de obras têxteis tenha crescido rapidamente no período de 1955-1965, à taxa anual de 16,2 por cento, a composição do conjunto mostra ainda predomínio das transacções referentes a fios e tecidos e peso relativamente fraco dos artigos de vestuário de qualidade no conjunto das obrais.
Na deficiente composição estrutural das exportações da metrópole situa-se, pois, um dos problemas mais graves hoje defrontados, ao qual estreitamente se ligam as condições de sobrevivência de algumas actividades produtivas internas.
O facto de, no decurso dos últimos anos, se ter visto sensivelmente alargada a parcela das nossas exportações de produtos industrias, incluindo também alguns produtos novos, não impede que reduzido número de produtos tradicionais - cortiça e suas obras, vinhos, resinosos, conservas de peixe, fios e tecidos de algodão, madeiras - tenha representado, em 1965, cerca de 42,5 por cento do valor exportado.
Como tais produtos se contam entre aqueles cujo aumento de procura responde com menor elasticidade aos acréscimos de rendimento à escala internacional não será neles que uma estratégia de rápido desenvolvimento das vendas ao exterior, tornada necessária pelos imperativos de desenvolvimento da economia no seu conjunto, se poderá basear.
Por outro lado, os produtos industriais mais elaborados, que ainda constituem minoria no quadro das exportações da metrópole, tem podido beneficiar das condições de abertura especiais do ultramar, onde, porém, os mercados são muito limitados.

3. No domínio das relações de importação, verifica-se sensível irregularidade na evolução estrutural. As posições relativas dos diferentes grupos, no passado, sofreram oscilações de moderada amplitude, embora mereçam relevo especial o aumento das compras alimentares e de produtos químicos e a contracção relativa das de matérias-primas, combustíveis e máquinas e material de transporte. Em grande número de casos, não é fácil deduzir-se um comportamento tendencial, parecendo pesarem consideravelmente influências conjunturais, em particular no que se refere aos produtos agrícolas, muito dependentes de factores climáticos e de decisões de produção relativamente descontínuas.

QUADRO II

Comércio de importação da metrópole

Preços de 1963

[Ver tabela na imagem]

As compras de produtos intermediários para utilização industrial parece orientarem-se progressivamente para substâncias elementares, que serão objecto de posterior elaboração interna, como acontece em relação aos produtos químicos. A importação de manufacturas têxteis tem crescido a ritmo acelerado, em parte atribuível ao próprio progresso das exportações, dado que alguns produtos adquiridos no estrangeiro são incorporados, pela indústria

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dos, têm servido, quando muito, como argumento para obter auxílios financeiros, para negociar esquemas de estabilização e valorização de produtos primários ou para fazer aceitar a ideia, que começa agora a estar bastante divulgada, de que os países de desenvolvimento económico muito diferenciado não podem obedecer a normas de concorrência estritamente idênticas.
Em relação concretamente ao caso de Portugal, a existência de deficits comerciais bilaterais apenas poderá constituir fundamento, conjuntamente com o insuficiente nível de desenvolvimento económico, para se pretender que, em negociações comerciais com países industrializados, não tenhamos de assegurar perfeito equilíbrio numérico entre, por um lado, as vantagens conseguidas para os produtos da nossa exportação e, por outro lado, os benefícios atribuídos sob a forma de reduções dos nossos direitos e outros obstáculos à importação. Foi a esta luz que se negociou o Anexo G da Convenção de Estocolmo e que o Governo enunciou as condições da nossa participação no Kennedy Round.

6. No domínio da política do comércio externo e de pagamentos internacionais e internacionais, suscitam-se dificuldades que importa equacionar, a fim de prevenir uma atitude de exagerada confiança quanto à evolução das relações económicas da zona do escudo com o exterior ao futuro próximo.
No que respeita à posição portuguesa, em referência aos movimentos de integração económica em curso à escala europeia, convém aludir, em primeiro lugar, ao problema da necessidade de conciliar a medida do acréscimo de produtividade a obter nas actividades económicas nacionais sujeitas a maior concorrência do exterior com as exigências de desarmamento aduaneiro na E F T A
Atenda-se a que as disparidades salariais existentes entre a metrópole e os países desenvolvidos da Europa deverão tender para progressiva mineração, sob pena de às actividades produtivas internas vir a faltar, devido à emigração, a mão-de-obra indispensável à sua laboração normal. No passado - período de 1956-1962 -, verificou-se para Portugal um crescimento dos salários industriais de cerca de 40 por cento, enquanto na República Federal Alemã, França, Itália e Reino Unido se registavam acréscimos de, respectivamente, 87 por cento, 78 por cento, 54 por cento e 49 por cento.
Uma vez que o nível dos salários, de acordo com o padrão dos países desenvolvidos, já exerce nítida atracção sobre a mão-de-obra nacional, não é possível manter no futuro próximo um ritmo de aumento dessas remunerações inferior ao que se verificar em países concorrentes.
Como não será viável, na grande maioria dos casos, fazer incidir esses diferenciais de custo de produção sobre os compradores, sobretudo se eles se localizam nos mercados externos, os acréscimos de produtividade a promover deverão ser suficientes para compensar um aumento e salários simultâneo a uma redução ou estabilização os preços de venda.
Problemas de maior amplitude resultarão eventualmente do alargamento do Mercado Comum (de composição por enquanto incerta e dependente, entre outras condições, de negociações a empreender entre os diferentes membros da E F T A e a Comunidade Económica Europeia), com a cláusula, que certamente se procurará garantir, relativa ao tratamento preferencial das relações comerciais da metrópole com o ultramar. Como é sabido, o interesse do reino Unido em salvaguardar o carácter social das suas relações com Commonwealth actuou durante muito tempo como um dos principais freios ao processo de aproximação com os países da CEE, mas no momento actual, ao que parece, a posição britânica é já bastante diferente. O facto de o território nacional se cindir por vários continentes e regiões de nível económico muito diferenciado dificulta enormemente um regime de aproximação estreita com uma entidade desse tipo.
Não se exclui também a hipótese de maior animação do conjunto das trocas com o exterior da metrópole derivada das Negociações Kennedy, actualmente prosseguidas sob os auspícios do G A T T. Contudo, sabe-se já que os resultados finais do Kennedy Round ficarão muito aquém do seu objectivo inicial e há boas razões para crer que a participação de Portugal nessas negociações acabará por ter efeitos muito limitados, quer do lodo das vantagens concedidas a outros países na nossa pauta de importação, quer do que respeita aos benefícios conseguidos para os produtos da exportação portuguesa nos principais mercados onde esses produtos são colocados.
Por sua vez, o reforço da política de unidade económica entre a metrópole e o ultramar aponta a necessidade de promover um rápido desenvolvimento das províncias ultramarinas e impõe que seja definido um esquema de incentivos à especialização de actividades produtivas no espaço português.
Para tal, convirá ajudar a progressiva transformação do teor das relações de comércio interterritoriais, que se baseiam fundamentalmente em correntes de produtos industriais exportados pela metrópole, só em parte compensadas por compras de alimentos e matérias-primas.
O problema reconduz-se a determinar formas práticas de cooperação entre economias de grau de desenvolvimento afastado, tanto quanto possível libertos das aleatoriedades que o sistema de fixação de preços no mercado internacional frequentemente introduz.
Outro problema, de incidências largamente sentidas, tem residido na dificuldade em manter condições de liquidez às diferentes províncias, nos termos prescritos pela recente legislação sobre pagamentos interterritoriais no quadro da zona-escudo.
A mecânica prevista tem funcionado em termos muito deficientes, e daí que a situação de certas províncias, nomeadamente Angola, sob o ângulo dos pagamentos, tenha atingido de há muito o ponto de saturação no que respeita à possibilidade de obter empréstimos junto do Fundo Monetário da Zona-Escudo, uma vez processadas as compensações normais, entre receitas a haver e pagamentos a efectuar, de cada uma das parcelas do sistema em relação a todas as outras.
Na base das dificuldades de pagamentos assinalados encontra-se, em grande parte, o desequilíbrio estrutural da balança do ultramar nas suas relações com a metrópole, tanto em termos de comércio como de invisíveis correntes e, por vezes, de capitais. Provavelmente, a solução deverá ultrapassar opções técnicas de natureza meramente financeira, a fim de que não fique prejudicado o desenvolvimento das relações económicas à escala do espaço português.
Um terceiro problema corresponde às incidências de um dado de facto: o parcelamento do espaço português por múltiplas regiões geográficas, que ocasiona fraca densidade de relações económicas de alguns territórios com a metrópole e, sobretudo, das províncias entre si. Esta última circunstância reflecte também o escasso domínio de possibilidades de relações comerciais entre economias vivendo ainda em grande parte em regime de auto-subsistência.
À marinha mercante portuguesa compete papel fundamental na ligação das diferentes parcelas territoriais,

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e, para minorar as desvantagens dessa fragmentação, impõe-se que a actividade se oriente com vista a atingir altos níveis de eficiência que lhe permitam a prática de fretes moderados, sem prejuízo do equilíbrio económico das empresas desse sector. Tal não será certamente possível sem o grande esforço de reestruturação e reequipamento previsto no capítulo respectivo do Plano.

7. Não tem sido sempre possível actualizar, na medida necessária, as estruturas e os métodos de trabalho dos serviços públicos que desempenham funções de orientação e de execução em matéria de comércio externo de modo a cumprirem com plena eficiência as respectivas missões.
Uma multiplicidade de entidades do sector público tem interferência de relevo maior ou menor sobre a exportação e a substituição de importações. Contudo, a actividade desses serviços não está suficientemente apoiada em instrumentos de coordenação e numa orientação de conjunto.
A Comissão Técnica de Cooperação Económica Externa tem, nas suas funções de ligação com os organismos internacionais do domínio económico dos quais Portugal faz parte, promovido a discussão, no quadro de grupos de estudo especializados, dos problemas respeitantes a eventual participação portuguesa nas negociações multilaterais de comércio internacional, e defendido, por consequência, a abertura negociada dos mercados estrangeiros aos produtos nacionais. A Comissão de Coordenação Económica e os organismos especializados por categorias de produtos na sua dependência têm exercido também funções de relevo no planeamento das posições de negociação referentes a futuros acordos bilaterais e multilaterais e na superior orientação e vigilância de todos os grandes problemas entretanto surgidos nos sectores respectivos de comércio com o exterior. A Direcção-Geral do Comércio procede ao licenciamento e registo prévio de todas as operações comerciais. Os serviços competentes do Ministério do Ultramar acompanham todas as questões referentes ao movimento comercial Interterritorial e liquidações dele resultantes. A Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais intervém em aspectos relacionados com a qualidade e as disponibilidades de alguns produtos importados e exportados.
A revisão sistemática das atribuições de cada um desses organismos no domínio do comércio externo e a sua readequação aos condicionalismos presentes tornam-se necessárias, mas importa também melhorar as estruturas de funcionamento do organismo - Fundo de Fomento de Exportação - que está especificamente orientado para a promoção das exportações nacionais e cuja disponibilidade para desenvolver novas iniciativas é, portanto, maior.
Acresce que o Fundo tem, no decorrer dos últimos anos, prestado bons serviços na propaganda dos produtos nacionais no estrangeiro, no estudo das oportunidades abertas a grandes categorias de produção em diferentes mercados, na difusão de conhecimentos de ordem prática, que têm vindo a habilitar muitos exportadores desprovidos de técnica ou de contactos valiosos a estreitar laços comerciais com bons resultados, no subsídio de actividades, muitas delas, com real significado do ponto de vista do fomento da exportação, etc.. E não se esquece que o Fundo dispõe de recursos, financeiros relativamente avultados, os quais, uma vez integralmente utilizados na prossecução dos seus objectivos, podem constituir ponto de apoio para a definição de um programa completo e coerente de actividades que marque decidido arranque para metas mais ambicionas de vendas ao exterior.
No entanto, aquele organismo não tem podido cumprir integralmente a sua missão devido a um conjunto de estrangulamentos que vêm tolhendo mesmo as mais decididas e bem fundadas intenções de acção.
Por um lado, o Fundo de Fomento de Exportação tem uma definição de funções extremamente pobre, pois o articulado do Decreto-Lei n.º 37 538, de 2 de Setembro de 1949, que criou o Fundo, apenas refere que ele auxiliará, por meio de subsídios ou de empréstimos:

a) As missões, serviços ou organismos nacionais que, no estrangeiro, exerçam ou venham a exercer funções de estudo, informação e observação dos mercados, e
b) A propaganda e a defesa dos produtos portugueses nos mercados externos

Por outro lado, quadros funcionais escassos ou insuficientemente preenchidos, dificuldade na fixação de técnicos qualificados, tudo faz avultar a valia do esforço realizado em condições de trabalho muito deficientes e a premência em transformar rapidamente os condicionalismos vigentes.
A falta de pessoal técnico especializado tem igualmente prejudicado a acção dos serviços comerciais do País no estrangeiro, sobretudo no campo da informação comercial.

8. A experiência recente mostra também a necessidade de proceder a alterações na política de comércio externo até agora seguida.
Na generalidade dos países que fizeram da exportação um objectivo fundamental da sua política, planeada ou não, tem-se procurado, mediante a concessão de facilidades de diversa natureza, não deixar perder qualquer iniciativa susceptível de vir a provocar uma animação da produção nacional com vista a trocas com o exterior. Essas facilidades tanto incidem sobre o reconhecimento de prioridades na utilização de créditos a médio e longo prazo, como sobre a concessão de desagravamentos fiscais, facilidades na aquisição de matérias-primas e semi-produtos aos melhores preços de concorrência internacional, garantia do seguro de crédito por riscos políticos, institucionalização do mesmo seguro para obviar a riscos comerciais, assistência financeira e técnica na pesquisa de mercados e publicidade, na embalagem, na concepção do produto mais adequada às preferências dos mercados externos, etc..
Evidentemente que a concessão de tais benefícios envolve, em contrapartida, um compromisso de abstenção em relação a práticas que possam fazer perigar a posição de outros exportadores nacionais, nomeadamente a desvalorização injustificada do produto exportado, o desrespeito de normas de qualidade e outras que seria ocioso enumerar. A atribuição selectiva de tais facilidades constitui poderoso motor ao espírito de empresa do exportador e incentivo para a obtenção de mínimos indispensáveis de dimensão de fabrico, qualidade de produção, prazos de entrega e custos de produção. Os mesmos benefícios são concedidos às associações de exportadores, que proporcionam contributo notável do ponto de vista da melhoria de aptidão para exportar nos casos em que empresários isolados, demasiado desprovidos de experiência e de meios de acção, não podem subsistir na conquista de mercados externos. Em todos estes domínios se definem, no nosso país, sérias lacunas que importa preencher com urgência.
A concessão de facilidades de crédito à exportação foi prevista pelo Decreto-Lei n.º 46 303, de 27 de Abril de

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providências que hão-de ser factores directos de realização das metas em vista.
As actuações conduzidas ao nível da produção, com o objectivo de estimular as exportações, são as que se apresentam como mais necessárias e, portanto, aquelas a que se terá de atribuir maior prioridade. As mais sérias dificuldades encontradas na actividade exportadora portuguesa e as limitações que sobretudo afectam o seu desenvolvimento rápido resultam claramente das deficiências actuais da estrutura produtiva nacional. É por insuficiência de especialização, por exiguidade nas dimensões das unidades fabris, por deficiências no equipamento, por atrasos na utilização do técnicas produtivas avançadas e por outras razões similares que os produtos portugueses, na maior parte dos casos, não podem competir nos mercados internacionais em condições aceitáveis de preço, qualidade, prazos, volumes de entrega, etc.. É por falta de capacidade produtiva que determinadas indústrias, com melhores possibilidades de concorrência nos mercados internacionais, não têm conseguido alargar mais rapidamente as suas vendas nesses mercados. É porque numerosas empresas instaladas no nosso país se dimensionaram e equiparam tendo em vista apenas o mercado interno, contando com a protecção desse mercado para supor a sua insuficiente produtividade, que a estrutura industrial portuguesa só muito lentamente se tem adaptado às exigências de um crescimento rápido das exportações. É por falta de técnica de produção, por insuficiência dos redes de distribuição e armazenagem e por deficiências na estrutura agrária que alguns produtos portugueses, nomeadamente os da horticultura e fruticultura, não têm conseguido presença mais significativa nos mercados internacionais.

1) Em face do exposto, enuncia-se, em primeiro lugar, um grupo de providências que, não se referindo directamente ao foro das actividades propriamente comerciais, deverá ter grande relevância na promoção de exportações e na substituição de importações.
É manifesto que só progressivamente, em função do nível de desenvolvimento económico geral, se poderá ir caminhando para uma estrutura produtiva adaptada às necessidades da concorrência internacional e plenamente capaz de alimentar uma corrente de exportações em rápida expansão. No entanto, muito se pode avançar no sentido de tornar mais sólido o sistema das nossas relações comerciais com o exterior se, dentro da política global de desenvolvimento económico, se atribuir alta prioridade às medidas que tenham por efeito reforçar a capacidade exportadora das actividades produtivas portuguesas.
Para o efeito, interessa considerar especialmente os incentivos e intervenções directas do Estado no sentido de:

Criar facilidades especiais à instalação ou melhoramento de empresas industriais cuja actividade venha a apoiar-se essencialmente na exportação,
Promover a reorganização de actividades, a constituição de associações de produtores e a melhoria da produtividade em sectores onde se considere haver potencialidades importantes de expansão das exportações.

As regras de conduta em matéria de apoio à exportação fixadas no G A T T e na E. F. T. A restringem bastante o domínio dentro do qual o Governo pode actuar com vista à realização dos objectivos que acabam de ser mencionados. Mesmo assim, há extensa gama de medidas importantes que podem ser encaradas:

a) Facilidades prioritárias de crédito para instalação, reorganização e funcionamento de empresas que possam contribuir substancialmente para o progresso das exportações;
b) Tratamento fiscal especialmente favorável, durante períodos transitórios, para indústrias que comecem a poder exportar parte apreciável da sua produção (como, por exemplo, certos ramos da indústria metalomecânica e de material eléctrico);
c) Assistência técnica à reorganização e à instalação de empresas em actividades industriais que apresentem perspectivas animadoras de concorrência nos mercados mundiais (apoio dos serviços do I N I I , pagamento a peritos nacionais e estrangeiros contratados para estudos de reorganização e aumento de produtividade, elaboração de estudos de pré-investimento, etc);
d) Acolhimento de empresas estrangeiras particularmente favorável quando essas empresas possam, através das suas potencialidades técnicas e das suas ligações comerciais em mercados externos, abrir perspectivas importantes à exportação portuguesa;
e) Adaptação das regras do condicionamento industrial e da política de ordenamento agrário às necessidades de crescimento lapido das exportações;
f) Orientação da política de formação de mão-de-obra especializada e de investigação aplicada a técnicas produtivas no sentido de se beneficiarem amplamente os sectores que mais podem contribuir para alimentar uma acelerada expansão das exportações ou a substituição da importações com grande interesse para a economia nacional;
g) Facilidades no aprovisionamento de matérias-primas e de outros produtos intermediários a preços de concorrência internacional, seja através da eliminação dos direitos que oneram na pauta essas matérias-primas e produtos, quando tal eliminação não prejudicar excessivamente outras actividades, seja através da utilização do sistema de draubaque para maiores quantidades (embora a tal respeito seja necessário ter em conta certas disposições que se opõem à utilização desse sistema nas exportações para a E F T. A), seja finalmente através do apoio às actividades que fornecem matérias-primas e semi-produtos às indústrias de exportação, de maneira a permitir que essas actividades pratiquem preços de concorrência internacional.

2) O acréscimo rápido das exportações, fixado como objectivo que deve procurar atingir-se no quadro

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do Plano, envolve a necessidade de substanciais aperfeiçoamentos na estrutura e métodos de comercialização dos produtos susceptíveis de escoamento nos mercados externos. Nota-se desde há bastante tempo interesse por melhorias desta natureza e alguma coisa se tem avançado no sentido da sua efectivação, em boa parte por virtude da acção do Fundo de Fomento de Exportação. Haverá, porém, que acelerar o processo de modernização dos métodos comerciais das nossas empresas de exportação, tornando-as mais bem informadas, mais resistentes, mais integradas em normas de interesse colectivo e devidamente apoiadas nos equipamentos de infra-estrutura de que precisam para a sua actividade. Para esse efeito, será de encarar, no prosseguimento de actuações já ensaiadas, nomeadamente através do Fundo de Fomento de Exportação, a aplicação de medidas dos tipos seguintes:

a) Assistência técnica por serviços do Estado a empresas exportadoras no que respeita às práticas e formalidades de comércio internacional, nomeadamente por meio de:

Realização de cursos de formação, gerais e especializados, para exportadores,
Edição de publicações e difusão de informações que chamem a atenção dos produtores e comerciantes para as possibilidades existentes em mercados internacionais e que os elucidem sobre as maneiras de operar nesses mercados,

b) Apoio às empresas exportadoras, através de:

Serviços informativos;
Assistência no estudo de mercados para grandes categorias de produção nacional
Contributo para investigação destinada a orientar a produção em conformidade com a capacidade e exigências dos mercados externos;
Informação e publicidade (centros de informação comercial, promoção e auxílio de contactos periódicos de exportadores e industriais nacionais com importadores estrangeiros, auxílio técnico e financeiro, quando julgado conveniente, aos exportadores que pretendam apresentar os seus produtos em feiras e mercados que mais possam contribuir para a expansão das nossas exportações, edição de catálogos colectivos e outras formas de publicidade);
Realização de estudos sobre as tendências do comércio internacional (nomeadamente técnicas de embalagem, correntes de troca entre grandes regiões geográficas), etc..

Para tanto, cumpre proceder à revisão das atribuições do Fundo de Fomento de Exportação (que deverá dispor de um quadro técnico substancialmente alargado e de recursos financeiros superiores aos que lhe têm sido atribuídos nos últimos anos) e à urgente remodelação das funções e tipo de acção dos serviços comerciais no estrangeiro, tanto das secções das Casas de Portugal, como dos Centros Portugueses de Informação, por forma a torná-los instrumento eficaz da política de exportação nacional, aproximá-los mais da administração central do organismo, com vista à intensificação de informações reciprocas e a uma acção programada dentro de orientação uniforme que permita actuações diversas, ditadas pela índole específica dos respectivos mercados, e não perca o traço comum que as deve caracterizar. Serão criadas novas representações do Fundo em mercados que se apresentem como susceptíveis de absorver parte considerável dos nossos excedentes exportáveis e, quando for caso disso, actuar-se-á através de agentes volantes;
Procurar-se-á criar uma verdadeira mentalidade comercial em quantos exercem a sua actividade nos diversos serviços comerciais e será instituído um centro-piloto destinado à preparação adequada dos elementos a utilizar.

c) Publicação de normas legislativas que incentivem a formação de associações de exportadores, através da concessão de certo número de benefícios, designadamente:

Facilidades de natureza fiscal;
Apoio técnico e financeiro na prospecção de mercados e publicidade;
Prioridade na atribuição de créditos destinados ao fomento da exportação;
Concessão de outras facilidades, em particular no domínio de acção do Fundo de Fomento de Exportação.

Estes benefícios serão também facultados aos empresários dos diversos ramos da exportação nacional que apresentem condições mínimas de organização comercial,

d) Disciplina das condições do desempenho da actividade exportadora e acesso qualificado ao exercício da mesma actividade mediante a concessão da "carta de exportador", cuja regulamentação legal conferirá também vantagens a definir;
e) Publicação de normas legais e regulamentares que visem promover a garantia e o melhoramento da qualidade dos produtos da exportação nacional (incluindo, sempre que isso for praticável, a definição de mínimos de qualidade e normas de fabrico e sua rigorosa fiscalização),

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f) Constituição de uma rede de equipamentos de armazenagem e transporte, de acordo com as recentes aquisições técnicas da distribuição, com vista a encaminhar para os mercados externos, em boas condições de qualidade e custo, os produtos nacionais. As instalações frigorificas a integrar na Rede Nacional do Frio devem beneficiar de estatuto que lhes permita servir os interesses da exportação. Importa proceder rapidamente à actualização das condições de exploração permitidas pelos nossos portos e vias férreas, aumentando a sua capacidade na medida do necessário, e difundir a utilização de equipamentos modernos (vagões e navios-frigorificos e isotérmicos, vagões de eixos intermutáveis, contentores, etc.), como se prevê nos capítulos correspondentes do Plano.

3) Haverá que promover a urgente publicação dos diplomas necessários para efectiva aplicação do sistema de crédito e seguro de crédito a exportação, em condições semelhantes às que vigoram na maioria dos países com os quais as nossas actividades exportadoras, nomeadamente as do sector da produção de bens de equipamento, têm de concorrer. Deverá encarar-se, nomeadamente:

a) A regulamentação do Decreto-Lei n.º 46 303, de 27 de Abril de 1965;
b) A definição de regras que assegurem a devida prioridade aos créditos à exportação na concorrência com outros tipos de crédito, seja através de directivas transmitidas para esse efeito às instituições de crédito controladas pelo Estado, seja mediante facilidades especiais atribuídas aos créditos à exportação a conceder por estabelecimentos de crédito particulares;
c) A criação de instituições especializadas, com a participação do Estado, na medida em que esta for necessária, destinadas a garantir contra riscos políticos, cambiais e comerciais as exportações de bens e serviços susceptíveis de financiamento;
d) A preparação dos regulamentos e o apetrechamento dos serviços que se considerem indispensáveis para garantir o adequado funcionamento das facilidades de crédito e seguro de crédito a exportação.

CAPITULO IV

Emprego e política social

Introdução

1. A política social portuguesa tem o seu fundamento legal no artigo 5.º da Constituição Política, onde se estabelece que «o Estado Português é uma república unitária e corporativa, baseada na igualdade dos cidadãos perante
a lei, no livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização e na interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis».
Destes princípios dimanam as grandes linhas de rumo que têm orientado a colectividade portuguesa nos últimos 34 anos, com particular reflexo no desenvolvimento da política social.
Sinal evidente desse reflexo é a fidelidade que a tais princípios têm mantido todos os textos legais entretanto publicados, desde o Estatuto do Trabalho Nacional, promulgado poucos meses depois da Constituição, até ao Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, regulador do contrato individual de trabalho, diploma que mais recentemente se veio inserir na linha dos textos fundamentais da política social portuguesa.

2. O princípio da plena igualdade do todos os cidadãos perante a lei encontra-se assegurado, no plano económico-social, sob múltiplos aspectos, genericamente consagrados no Estatuto do Trabalho Nacional.

O reconhecimento pelo Estado da iniciativa privada como o mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação,
A criação da magistratura do trabalho como garantia da integral aplicação da lei a todos os cidadãos independentemente da categoria ou classe social a que pertençam,
A liberdade de trabalho e de escolha da profissão em qualquer ramo de actividade,
A contratação colectiva, tendente a garantir o justo equilíbrio dos interesses entre os factores da produção, etc..

E se, do plano legal, passarmos para o plano dos factos, fácil será, igualmente, demonstrar que, se há princípio que entre nós tenha obtido plena efectivação, o da igualdade dos cidadãos perante a lei é, sem dúvida, um deles, como resulta, além do mais, do desenvolvimento e aperfeiçoamento alcançados pela magistratura do trabalho e pelo regime das convenções colectivas.
Quanto aos tribunais do trabalho, não pode, com efeito, comparar-se a estrutura inicial daqueles órgãos jurisdicionais com aquela que hoje apresentam, instalados em todas as sedes de distrito, e alguns deles com desdobramentos em mais de uma localidade. De assinalar também, como índice do desenvolvimento e aperfeiçoamento da nossa magistratura laboral, as recentes reformas introduzidas nos textos fundamentais por que se rege a sua actividade, designadamente a Lei n.º 2091, de 9 de Abril de 1958, o Estatuto dos Tribunais do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 41 745, de 21 de Julho de 1958, o Código de Processo do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 497, de 30 de Dezembro de 1963, que substituiu o Código de Processo nos Tribunais de Trabalho de 1940, e o Código das Custas Judiciais do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 698, de 30 de Abril de 1964.
Pelo que toca à contratação colectiva, notáveis têm sido também os progressos verificados nos últimos anos, podendo afirmar-se que, actualmente, está coberta por convenções de trabalho a generalidade das actividades do comércio e indústria, e o sistema começa a alargar-se já ao sector rural. De acentuar é, outrossim, a facilidade cada vez maior com que são negociados e concluídos esses instrumentos de regulamentação do trabalho, mercê dos quais grande tem sido a uniformização alcançada nos direitos e deveres recíprocos das entidades patronais

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E dos trabalhadores, tornando mais efectivo o princípio da progressiva equiparação de todos perante a lei. Para bem avaliar o progresso realizado, basta dizer que só de 1961 a 1965 foram celebradas cerca de 240 convenções, abrangendo mais de 700 000 trabalhadores.

3. O segundo princípio constitucional acima referido, igualmente essencial na estruturação e desenvolvimento da política social portuguesa, é o do livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização, podendo concretizar-se a sua efectivação não só na garantia da liberdade de profissão, mas também nos aperfeiçoamentos constantemente introduzidos na legislação social e na regulamentação do trabalho, tendentes a favorecer ou impulsionar a elevação do nível de vida e bem-estar da população portuguesa.
Quanto à legislação do trabalho, cumpre mencionar, além do Estatuto do Trabalho Nacional, a Lei n.º 1952, de 10 de Março de 1937 que constituiu durante muito tempo o texto basilar do contrato individual de trabalho, e o Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, que recentemente revogou e substituiu aquela lei. Por força deste último diploma, torna-se hoje possível ao nosso país subscrever a generalidade das convenções internacionais sobre direito do trabalho.
Como instrumento de acesso aos benefícios da civilização, devem considerar-se igualmente os aperfeiçoamentos introduzidos na legislação reguladora dos riscos do trabalho, matéria que, tendo começado por ser prevista a título genérico no Estatuto do Trabalho Nacional, encontrou depois pormenorizada regulamentação na Lei n.º 1942, de 27 de Julho de 1936, que vigorou durante longo período, e recentemente foi substituída pela Lei n.º 2127, de 3 de Agosto de 1965, cujos preceitos dão ao nosso direito em matéria de acidentes e doenças profissionais posição de particular relevo no contexto legislativo geral.
A legislação da previdência social comprova, com igual relevo, a preocupação que tem dominado a política portuguesa de procurar favorecer, pelos meios ao seu alcance, o acesso de todas ,as classes aos benefícios da civilização, um dos quais, entre os mais importantes, é, sem dúvida, o benefício da segurança contra os riscos da existência.
Depõe a este respeito toda a evolução operada no domínio da previdência, desde a afirmação programática do artigo 48.º do Estatuto do Trabalho Nacional, até à moderna concepção da segurança social entre nós aceite e praticada.
Constituem diplomas fundamentais do nosso seguro social a Lei n.º 1884, de 10 de Maio de 1935, e a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962, mais conhecida por Reforma da Previdência, e onde, praticamente, estão previstas, como no lugar próprio deste capítulo se dirá, além de importantes reorganizações de estrutura tendentes à concentração dos seguros diferidos e a uma maior aproximação entre os beneficiários e as instituições, todas as modalidades do moderno seguro social, incluindo a doença, a maternidade, o abono de família, a invalidez, a velhice e a morte.
Pela importância de que se revestem, justificam desde já uma referência especial as inovações introduzidas no domínio do seguro-doença e da sobrevivência.
O primeiro, procurando constituir um sistema em que todas as enfermidades fiquem a coberto da protecção social, quer através do alargamento da rede sanitária, por forma a poder atender camadas sempre maiores da população, quer mediante o aperfeiçoamento do esquema e seu alargamento à cobertura hospitalar genérica, neste momento já concedida em todas as modalidades aos beneficiários da previdência.
Quanto ao seguro de sobrevivência, é de assinalar a sua introdução entre nós pela citada Lei n.º 2115; embora condicionada pela vontade dos interessados, manifestada em convenção colectiva, o que efectivamente tem vindo a suceder em numerosas actividades, podendo afirmar-se que hoje constitui já preocupação inscrita na generalidade das convenções em estudo.
Deve ainda notar-se a possibilidade, aberta pela nova lei as profissões não dependentes, de favorecer a sua integração no esquema da previdência através de instituições próprias, como se espera em breve venha a suceder com os comerciantes, cuja Caixa de Reforma e Previdência se encontra em fase muito adiantada de organização.
Por último, merecem realce, como instrumentos de promoção social (devidamente assinalados nos capítulos próprios do presente Plano), o acesso à propriedade da casa, mercê do auxílio da previdência, a política de formação profissional e o acesso à cultura, mediante o apoio que, pelo nosso seguro social, vem sendo prestado através da concessão de bolsas de estudo aos beneficiários do seguro social e seus filhos, o que sem dúvida constitui a forma mais directa e eficiente de favorecer a participação de todos os portugueses nos benefícios da civilização, de que a cultura é o mais valioso. Refere-se, a propósito, que só no ano lectivo de 1965-1966 foram concedidas cerca de 3000 bolsas, em todos os graus de ensino, benefício que recentemente foi alargado aos filhos dos trabalhadores rurais, no prosseguimento da política de generalização efectiva do nosso seguro social a toda a população.

4. O terceiro dos princípios constitucionais apontados como base e fundamento da política social portuguesa é o da interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis.
A forma como essa participação se encontra concebida e estruturada entre nós constitui também uma das características mais salientes da nossa organização político-social. Trata-se da consagração, no direito constitucional português, da orgânica corporativa, que pode definir-se como sistema de organização social que tem por base o agrupamento dos homens segundo a comunidade dos seus interesses naturais e das suas funções sociais e por necessário coroamento a representação pública e distinta dos organismos assim constituídos».
Toda a estrutura do sistema corporativo tende, com efeito, a assegurar a comunidade, através dos «corpos sociais» que a integram, participação activa na vida nacional, quer defendendo os interesses específicos dos respectivos sectores, quer interferindo, como seus representantes, junto dos Poderes Públicos ou no próprio seio dos órgãos da soberania.
Aquele sistema, consagrado em termos genéricos no Estatuto do Trabalho Nacional, foi seguidamente desenvolvido nos diplomas que, com data de 23 de Setembro de 1933, estruturaram as bases legais dos sindicatos, das Casas do Povo e dos grémios, a que se seguiram os textos relativos as Casas dos Pescadores, grémios facultativos, grémios da lavoura e federações, e que culminaram com a Lei n.º 2086, de 22 de Agosto de 1956, instituidora das corporações económicas, e os recentes Decretos n.ºs 47 213, 47 214 e 47 215, de 23 de Setembro de 1966, que criaram as corporações morais e culturais, da assistência, das ciências, letras e artes e da educação física e desportos.
A actuação desenvolvida pelas corporações na defesa dos interesses que lhes estão confiados, e o facto de a

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Câmara Corporativa, a quem compete importante participação no exercício do Poder Legislativo, ser essencialmente constituída por representantes dessas corporações, são outras tantas formas de assegurar plena realização ao princípio da efectiva participação dos elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis.

5. Não obstante os progressos alcançados no desenvolvimento da política social, existem ainda, entre nós, como na generalidade dos países, certos desequilíbrios nas condições de vida, quer ao nível dos vários estratos sociais, quer à escala regional, que importa corrigir progressivamente e que têm originado intensos fluxos migratórios, não só para o estrangeiro, como a partir das regiões e sectores económicos menos prósperos para os mais prósperos, designadamente entre o meio rural e o meio urbano.
Isto confirma a necessidade do continuar a intensificar o processo de desenvolvimento, a fim de que se atenuem as desigualdades e se alarguem cada vez mais, a todos os indivíduos, os benefícios já alcançados.
Semelhante progresso, no entanto, impõe-se, não só porque cresçam os movimentos migratórios ou por simples razões de paz social, mas principalmente porque constitui uma das determinantes éticas da nossa vida colectiva. Se, por exemplo, a preocupação de desenvolvimento surgisse apenas porque estes ou aqueles países já oferecem melhores condições aos seus cidadãos, o tipo de desenvolvimento talvez pudesse ser posto em causa, pois com demasiada frequência se vê em outras nações o enriquecimento material ser acompanhado por empobrecimento espiritual. A nossa concepção de vida, mais exigente, impõe que o progresso material constitua parcela do enriquecimento total da pessoa humana.
Outro aspecto importante cumpre também salientar sempre que possível, é na região onde a pessoa reside que devem surgir as condições de vida desejáveis, a fim de evitar deslocações, que, em geral, põem em causa valores essenciais, quer sob o ponto de vista individual, quer social.

6. Torna-se evidente, através das considerações anteriores, que o desenvolvimento desejável envolverá acções de natureza social (nos campos do ensino, saúde, habitação, previdência, trabalho, reforma da empresa, etc. ), a par de actuações de natureza económica, com vista a aumentar o rendimento nacional e, consequentemente, a riqueza colectiva.
Esta distinção, que pode afigurar-se ambígua, uma vez que é o aumento daquele rendimento que deverá possibilitar o incremento de acções no campo do ensino, da habitação e em outros, assume, todavia, importância essencial. Em primeiro lugar, nem todas as noções de carácter social exigem investimento, como é o caso da legislação do trabalho ou da participação dos elementos estruturais da Nação na vida pública. Por outro lado, tal distinção permite ver com clareza que, por exemplo, o desenvolvimento do ensino, no sentido da promoção cultural acima referida, é algo de muito mais amplo do que as exigências que derivem do desenvolvimento estritamente económico, e seria grave se, porventura, se trabalhasse a partir desta última concepção restrita. Do mesmo modo, no campo da habitação, será muito diferente haver uma preocupação de progresso apropriado às necessidades da população, ou encarar-se o investimento em habitação apenas com base em critérios de reprodutividade e de acréscimo do produto nacional. O mesmo poderia repetir-se em relação a todas as restantes necessidades sociais a satisfazer.
Do que fica dito deduz-se que, tanto o progresso social como o desenvolvimento económico, são objectivos a alcançar em ordem a um objectivo mais elevado a que devem subordinar-se a realização dos fins superiores da comunidade nacional e da dignificação da pessoa humana. Esta concepção fundamental deverá estar sempre presente no que se refere à política de desenvolvimento económico, cujas exigências e efeitos sociais podem assumir características negativas se a defesa da dignidade da pessoa não for convenientemente salvaguardada.

7. Dada a escassez de recursos disponíveis, e perante o condicionalismo económico-social que caracteriza a estrutura específica de cada país, a concretização das finalidades apontadas levanta normalmente inúmeros problemas, tanto no que se refere à definição de prioridades para a determinação qualitativa e quantitativa dos bens e serviços a produzir, com vista a satisfazer as múltiplas necessidades da comunidade, como no que diz respeito aos meios a utilizar, a fim de garantir a toda a população a possibilidade de usufruir equitativamente dos resultados da produção.
A solução dessa gama de problemas implica uma série de opções, cujo contexto constitui o conteúdo de uma política de repartição de rendimentos verdadeiramente humana, ou seja de uma repartição que tenha por objectivo pôr a produção ao serviço do homem. Assim o tem entendido o Governo ao estabelecer, como objectivos centrais do planeamento português, a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e uma mais equitativa repartição dos rendimentos, o que deverá ter incidências directas, não só na fase de distribuição pessoal dos réditos, mas desde a própria origem e aplicação dos recursos da comunidade.
De facto, a repartição pessoal dos rendimentos monetários ou, mais especificamente, a repartição que assegure a cada indivíduo a possibilidade de dispor de uma parcela dos bens criados, exige, para além de simples medidas redistributivas (política fiscal, segurança social, etc. ), actuações na própria formação dos rendimentos, designadamente quanto a remuneração dos factores produtivos. Por outro lado, na medida em que se pretenda, ao nível macro-económico, uma aplicação dos rendimentos orientada para o bem-estar da comunidade, deverá garantir-se a disponibilidade dos bens e serviços indispensáveis à satisfação das necessidades presentes e futuras, nos seus múltiplos aspectos - alimentação, vestuário, saúde, instrução, habitação, recreio, etc. -, pois, caso contrário, correr-se-á o risco de um desajustamento entre o tipo e a quantidade de bens postos à disposição da comunidade e os procurados pela população, o que, além do mais, poderá desencadear movimentos inflacionistas.
Embora a motivação de uma política de repartição de rendimentos deva ser predominantemente social, isto é, orientada para garantir o bem-estar de toda a população, ela tem sido, em alguns países, tomada em sentido mais restrito e utilizada como instrumento eficaz para garantir o desenvolvimento económico ou, particularmente, para evitar a inflação.
Noutros países, embora se reconheça a vantagem, e mesmo a necessidade, de uma política de rendimentos para garantir o equilíbrio dos preços, e até se considere a equitativa distribuição do rendimento como instrumento da expansão económica, têm, apesar disso, obtido preferência as considerações de ordem social, ou seja, o objectivo de conseguir a elevação do nível de vida de toda a população e uma maior harmonia social.
Não obstante, como já se salientou, o objectivo fundamental da política de rendimentos deve ser, em última análise, de ordem predominantemente social, dado que se pretende o desenvolvimento integral de todos os membros de uma comunidade, sem dúvida que esse desenvolvimento depende fundamentalmente do volume de bens

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e serviços de que se dispõe e, por tal motivo, está intimamente ligado ao grau de desenvolvimento económico do País. Sendo assim, afigura-se evidente que, em regra, e especialmente nos países menos desenvolvidos, para elevar o nível de bem-estar se torna indispensável assegurar o aumento do produto, pois só será viável garantir a toda a população a disponibilidade dos bens e serviços de que necessita desde que estes sejam produzidos internamente ou haja possibilidade de os importar. Em suma só é possível repartir uma riqueza de que efectivamente se disponha, pelo que, na selecção dos meios utilizados pela política de rendimentos com vista à sua repartição equitativa, se deve ter sempre presente a necessidade fundamental de obter a máxima taxa de crescimento do produto.

8. Ainda no que respeita à efectivação do princípio da ampla participação de todos os elementos estruturais do País na vida pública, outro reflexo da política seguida nesse sentido é o que se exprime através da larga colaboração do sector privado no estudo e elaboração deste III Plano de Fomento, designadamente por intermédio das corporações.
Com vista ao aperfeiçoamento dessa colaboração, prevê-se sejam criados centros de estudo ou gabinetes técnicos junto de organismos corporativos e nos vários domínios de carácter sectorial e regional. Para esse efeito, poderá ser recomendável a fusão de organismos, quando uma dispersão excessiva impedir a existência de suficiente capacidade de acção (técnica, financeira, etc.).
Aqueles centros ou gabinetes procederão a análises, equacionação de problemas e propostas de soluções, que, esclarecendo os sectores interessados, facilitarão sem dúvida uma consciente tomada de decisões. Isto, independentemente do esforço, também muito importante, no sentido de os departamentos públicos competentes promoverem a realização de estudos e a recolha de elementos que, contribuindo igualmente para o crescente conhecimento da realidade, facilitem o trabalho daqueles centros ou gabinetes e a integração das perspectivas particulares numa visão cada vez mais ampla da panorâmica geral.

9. No presente capítulo, começa-se por encarar o problema do emprego e do mercado da mão-de-obra, aproveitando-se também a primeira secção do capítulo para abordar diversos problemas directamente relacionados com as condições de trabalho.
Por um lado, há que considerar todo o esforço já despendido - e que deverá incrementar-se - com o objectivo de alargar o âmbito da regulamentação do trabalho em vigor a sectores, regiões e categorias profissionais ainda não abrangidos e manter actualizada a regulamentação existente, tendo em vista os progressos que vão surgindo no campo do direito do trabalho.
Por outro lado, procuram-se delinear várias orientações tendentes a facilitar a reforma da empresa no sentido, de esta oferecer condições cada vez mais favoráveis aos seus trabalhadores. Em especial, encara-se o aspecto das relações humanas, tão importante sob o ponto de vista do clima de trabalho existente na empresa.
Numa segunda secção, aborda-se o problema fundamental da repartição dos rendimentos, a que acima se aludiu, procurando analisar a sua evolução recente e definir alguns critérios em matéria de objectivos a alcançar e de providências a propor com vista ao progressivo aperfeiçoamento da nossa política social.
A terceira secção deste capítulo é destinada especialmente aos problemas da remuneração do trabalho, que igualmente se integram no contexto geral das condições de trabalho, mas aos quais, devido à sua importância, é atribuído relevo particular.
Na quarta e última secção, analisa-se a problemática relacionada com o desenvolvimento do nosso seguro social, tendo sobretudo em atenção as perspectivas que lhe são abertas pela recente reforma da Previdência.

SECÇÃO I

Emprego e problemas do trabalho

§ 1.º Evolução recente e situação actual

1. Mercê da concorrência de vários factores, o mercado de emprego atravessa, na metrópole, uma fase de profunda transformação das suas características tradicionais.
Até há pouco, a economia metropolitana caracterizou-se por largos excedentes de mão-de-obra activa, que constituíam fonte de abastecimento dos restantes sectores de actividade e permitiam a manutenção de salários relativamente moderados, designadamente no sector primário, em correspondência, aliás, com a política de estabilização dos preços de certo número de produtos essenciais.
Tanto quanto se pode concluir dos elementos estatísticos disponíveis, as presentes transformações parece resultarem, em grande parte, da aceleração do êxodo agrícola e da emigração, que se intensificaram consideravelmente na última década.
Por outro lado, como consequência do próprio processo de desenvolvimento, da intensificação da concorrência internacional e dos movimentos de integração europeia, os aspectos da produtividade dos factores - e em especial da mão-de-obra - tendem a ocupar posição dominante entre as preocupações dos empresários. A melhoria da produtividade do trabalho exige, porém, níveis de instrução, geral e profissional, satisfatórios, que cumpre proporcionar à generalidade dos trabalhadores.
O actual mercado de emprego metropolitano caracteriza-se, assim, pela existência de estrangulamentos às escalas profissional, sectorial e regional, com escassez de trabalhadores especializados, enquanto subsistem situações de subemprego, nomeadamente no sector agrícola, cuja mão-de-obra representa ainda peso excessivo em relação ao conjunto da população activa.

2. Outra zona de problemas que se pode delimitar no mercado de mão-de-obra metropolitano diz respeito ao enquadramento social dos trabalhadores.
O desenvolvimento económico-social do País, exigindo a participação de todos os intervenientes no processo produtivo, recomenda se intensifique a participação dos trabalhadores na elaboração e execução dos planos de fomento.
Por outro lado, a formação profissional a fornecer à generalidade da mão-de-obra metropolitana somente pode ter os reflexos esperados sobre os níveis de produtividade se os trabalhadores viverem em ambientes propícios ao trabalho, no interior ou exterior da unidade de produção em que se encontram integrados.
O caminho percorrido no nosso país em matéria de relações humanas dentro da empresa tem revelado nítidos progressos, mas ainda não atingiu, de modo geral, o nível desejável, impondo-se prosseguir na política em curso com este objectivo

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3. No que se refere ao êxodo agrícola, verifica-se que, entre 1950 e 1960, saíram da agricultura, pecuária, silvicultura e caça, em média, 8,8 milhares de activos por ano e, entre 1960 e 1965, estima-se que aquela média tenha atingido 44,5 milhares.
A redução média dos activos na agricultura e pecuária, entre 1950 e 1960, deve-se no decréscimo da população activa feminina no sector (126,2 milhares), que superou o aumento dos activos do sexo masculino (35,9 milhares), não sendo certo em que medida aquele decréscimo possa atribuir-se a alteração dos critérios de classificação dos activos do sexo feminino adoptados nos dois censos. A partir de 1960, as reduções de activos na agricultura têm significado mais profundo e afectam, em especial, a população masculina.
Deve também salientar-se o envelhecimento relativo destas populações, atribuível ao êxodo do sector por parte dos activos nas idades mais produtivas. Dividindo os activos agrícolas segundo as classes etárias 15-39, 40-54 e 55 e mais, verifica-se que, em 1950, estas classes representavam, respectivamente, 52,4 por cento, 22,8 por cento e 19,9 por cento do total do sector ao passo que as mesmas proporções eram de, respectivamente, 47,3 por cento, 28,7 por cento e 21,8 por cento em 1960.

4. Por seu turno, a emigração tem evoluído, como se disse, a ritmo acentuadamente ascensional, atingindo, a partir de 1962, valores que ultrapassam em muito as estimativas do Plano Intercalar de Fomento, calculadas no saldo anual de 27 milhares de activos, como se vê no quadro I. Os sectores de origem dos activos emigrados podem não corresponder, inteiramente, aos indicados, em parte porque as actividades para onde se dirigem podem não coincidir com aquelas donde provêm. De qualquer forma, a alteração estrutural dos fluxos emigratórios é sensível, passando os trabalhadores do sector secundário a emigrar a ritmo acelerado nos últimos anos.

QUADRO I

Estimativa de emigração de activos do continente para o estrangeiro e ultramar no período de 1960-1965

[Ver quadro na imagem]

Fonte: Valores calculados pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, com base em estatísticas nacionais e estrangeiras.

O Estado tem procurado desenvolver a sua política tradicional de protecção aos emigrantes, a fim de acautelar os seus legítimos direitos e interesses.
Assim, no que se refere à assistência social aos emigrantes, procedeu-se à celebração de acordos e convenções com alguns países de destino, citando-se, entre os primeiros, os acordos assinados no decurso do ano de 1964 com a França, a Holanda e a República Federal da Alemanha, os quais inserem, fundamentalmente, cláusulas relativas às condições de emigração, recrutamento e colocação dos trabalhadores portugueses.
No decurso de 1966, foram ratificadas duas convenções, uma com o Luxemburgo e a outra com a República Argentina, estabelecendo a reciprocidade de tratamento em matéria de segurança social entre os trabalhadores portugueses e os nacionais desses países. A primeira dessas convenções garante, além disso, a continuidade das situações adquiridas ao abrigo da legislação de cada uma das partes contratantes.
Em Julho de 1966, foi assinado um acordo com a França sobre formação profissional a ministrar nos centros portugueses de formação acelerada, nas categorias específicas das indústrias de construção civil, mediante subvenções concedidas pelo Governo Francês. Assinala-se a importância dos acordos deste tipo como instrumento para elevar a qualificação profissional dos trabalhadores portugueses.

5. De acordo com as estimativas elaboradas, pode atribuir-se aos elevados valores assumidos pelos movimentos emigratórios a contracção registada no nível de emprego entre 1960 e 1965. Efectivamente, a oferta da mão-de-obra no referido período pode resumir-se da seguinte forma:

QUADRO II

Variação da oferta de mão-de-obra e da emigração de activos (continente)

(Milhares)

[Ver quadro na imagem]

Fonte: Quadro I e estimativas efectuadas pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra sobre a evolução da oferta de mão-de-obra.

O aumento efectivo da oferta de mão-de-obra no período considerado corresponde ao acréscimo médio anual de cerca de 6 milhares, a que se devem adicionar cerca de 80,6 milhares de activos que, em cada ano, abandonam o sector primário, procurando colocação nos sectores secundário e terciário.
Como a procura de mão-de-obra se avaliou, no mesmo período, na média anual de cerca de 30,4 milhares de postos de trabalho criados nos sectores secundário e terciário, pode concluir-se que a oferta de empregos foi inferior à procura.
O nível de emprego, que, entre 1950 e 1960, passou de 2945 para 3126 milhares, estima-se que em 1965 se tenha reduzido para cerca de 8050,2 milhares. Haverá, no entanto, que ter em atenção a influência que sobre este último valor é exercida pela mobilização de contingentes militares. Deve entender-se que as correspondentes desmobilizações têm contribuído para certa compensação dos contingentes recrutados em cada ano.

1 Valor estimado a partir da oferta de mão-de-obra, descontando contingentes militares e desemprego friccional, este último estimado em 60 milhares.

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QUADRO III

Estrutura do emprego por sectores

[Ver quadro na imagem]

Fonte: Os valores relativos a 1950 e 1960 foram extraídos dos IX e X Recenseamento Geral da População.

O quadro anterior permite analisar a evolução das estruturas do emprego pelos grandes sectores da actividade económica.
A mão-de-obra empregada no sector primário, que tem vindo a perder peso no conjunto da população activa com profissão, continuava, porém, a representar fracção excessiva deste total, o que pode comprovar-se através da comparação com os números relativos à estrutura do emprego em alguns países da O C D E.

QUADRO IV

Estrutura do emprego pelos três sectores de actividade em alguns países da 0. C. D. E.

[Ver quadro na imagem]

(a) Os valores relativos a Portugal correspondem às estimativas efectuadas para o ano do 11955. Os valores referentes aos outros países foram extraídos da mais recanto Statistique de la Main-d'Oeuvre, publicada pela O C D E.

Verifica-se também que, no período de 1960 a 1964, o emprego no sector terciário registou aumentos bastante mais acentuados do que no período de 1950-1960, e, por outro lado, que é no sector secundário que o emprego tem evoluído mais aceleradamente, em particular no conjunto das indústrias transformadoras.
A evolução pode ser avaliada com maior nitidez se se considerarem dois grupos de indústrias ligeiras ou tradicionais - englobando alimentação e bebidas, madeira, cortiça e mobiliário, têxteis, vestuário e calçado, curtumes e indústrias diversas - e pesadas ou modernas, agrupando os sectores restantes, isto é, papel e tipografia, minerais não metálicos, químicas, metalúrgica e metalomecânicas. No primeiro grupo, ao longo do período de 1953-1964, o emprego manteve-se praticamente estacionário, com cerca de 450 mil activos, no segundo, passou de 172 milhares, em 1953, paia 278, em 1964.
Esta evolução parece significar que os sectores tradicionais da indústria portuguesa estarão perto de esgotar a sua capacidade de criação de empregos, sendo as indústrias mais modernas que oferecem actualmente maiores possibilidades de absorção de mão-de-obra.

6. Como se sabe, a expansão do P. I. B. nas indústrias transformadoras processou-se, no período de 1953-1964, à taxa média anual de 8 por cento, enquanto o emprego e a produtividade evoluíram, no mesmo sector, as taxas médias anuais de 1,5 e 6,4 por cento. Isto significa que para o acréscimo do produto contribuiu mais o aumento da produtividade que o do emprego.
No essencial, a explicação do fenómeno é simples partindo de níveis de produtividade baixos, a indústria nacional é levada a reorganizar-se, em parte por pressão da concorrência estrangeira, em parte por força da elevação do custo da mão-de-obra. Se bem que o crescimento dos salários industrias em Portugal não seja exagerado em relação ao observado noutros países - mesmo não completamente industrializados -, tem-se tornado bastante mais rápido nos últimos anos, e isto, em grande medida, como consequência do acréscimo da emigração. Aumentar a produção é, nestes termos, aumentar a produtividade mais do que expandir o emprego, por outras palavras trata-se mais de melhorar o emprego do que aumentá-lo.
No sector terciário, no período considerado (1953-1964), o produto evoluiu à taxa de 4,9 por cento, enquanto o emprego e a produtividade registaram variações médias de cerca de l por cento e 2,8 por cento, respectivamente, no caso da agricultura, verificou-se que o aumento do produto, processado à taxa média de l por cento, foi conseguido através do aumento da produtividade, uma vez que o emprego se reduziu à taxa média de 1,5 por cento.

7. A análise anterior leva a considerar mais atentamente os aspectos qualitativos da mão-de-obra, que têm ultimamente atraído a atenção dos meios económicos, públicos e privados, porquanto, para além do aproveitamento dos recursos materiais, importa encarar o problema do desperdício de recursos humanos.
Estes aspectos serão tratados especificamente no capítulo sobre produtividade.
Todavia, cumpre ter em atenção as relações de causalidade entre os níveis de remuneração e de produtividade, que são normalmente recíprocas, pois, se é verdade não poderem ser atribuídos salários elevados quando a produtividade é baixa, também se verifica que as empresas podem ser conduzidas, em situações de excesso de oferta de mão-de-obra, a considerar mais económico utilizar trabalho a baixo custo do que modernizar as técnicas produtivas.

8. O fluxo emigratório, aliado ao nível de instrução geral e profissional de grande parte da população activa, tem provocado, como se observou, o aparecimento de estrangulamentos por escassez de trabalhadores especializados.
Efectivamente, os inquéritos de conjuntura promovidos pela Corporação da Indústria demonstram que as dificuldades de recrutamento de pessoal, nomeadamente pessoal especializado, têm vindo a constituir preocupação crescente dos empresários metropolitanos. Enquanto, no início de

1 A aparente discrepância entre estas taxas de evolução provém do facto de no emprego não se encontrarem integrados os contingentes militares, enquanto no valor do P. I. B. da administração pública e defesa vêm incluídas todas as despesas militares

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1964, apenas 5,3 por cento das empresas inquiridas situavam aquelas dificuldades entre os principais obstáculos à expansão da produção, essa percentagem atingiu 10,2 por cento em Abril de 1966.
Nesta data, os sectores que mais acusaram dificuldades no recrutamento de mão-de-obra especializada foram os das indústrias extractivas, material eléctrico, curtumes, mobiliário, vestuário e calçado, e madeira e cortiça.
No conjunto das indústrias, verifica-se deficit de pessoal qualificado da ordem dos 9 por cento em relação aos actuais níveis de emprego, embora em alguns sectores as percentagens de carência sejam consideravelmente superiores àquela média.

Percentagens

Mobiliário 24,8
Construção de máquinas 24,1
Curtumes 23,3
Extractivas 17
Produtos metálicos 14,2
Tipografia 12,4
Alimentares 12

Se, no conjunto das indústrias transformadoras, o problema da escassez de pessoal qualificado não se apresenta grave, o mesmo não se pode afirmar relativamente a certos sectores individualmente considerados. E isto sucede tanto em relação a indústrias tradicionais (por exemplo, «Curtumes»), como no que se refere a sectores modernos (v g «Construção de máquinas»).
Não será possível imputar directa e totalmente estas dificuldades à emigração, mas a evolução desta, concomitante com a precisão, também crescente, das necessidades de mão-de-obra nos planos empresarias, revelada pelos inquéritos de conjuntura, justifica a hipótese da estreita associação entre os dois fenómenos.

9. Numa perspectiva regional, o confronto das evoluções 1950-1960 e 1960-1964 do emprego global por distrito revela que, no último daqueles períodos, o nível de emprego provavelmente apenas aumentou em quatro dos distritos do continente Aveiro, Lisboa, Porto e Setúbal. Além destes, também outros distritos haviam registado acréscimos de emprego na década de 1950-1960. Isto é, a redução da oferta de mão-de-obra observada em 1960-1964 deve ter agravado as já acentuadas assimetrias regionais existentes no começo da década.

10. No que respeita aos problemas relacionados com o enquadramento social dos trabalhadores ao nível da empresa, importa, em primeiro lugar, referir o papel relevante que tem vindo a atribuir-se à chamada política de relações humanas. Os instrumentos por excelência desta política são os órgãos de colaboração, cuja estrutura pode ser estabelecida por via legal ou por convenção colectiva de trabalho.
Em Portugal, têm-se registado, neste domínio, nos últimos anos, melhorias sensíveis. Assim, no actual diploma regulador do contrato individual de trabalho (Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966) enuncia-se o princípio do que «a entidade patronal e os trabalhadores são mútuos colaboradores» (artigo 18.º, n.º 1) Estabelece-se, além disso, que o «Estado fomentará, através da concessão de benefícios de ordem fiscal ou outros, todas as formas de concretizar, nas empresas, a ideia de cooperação dos trabalhadores e da entidade patronal na realização da obra comum», mediante a «constituição de órgãos de colaboração destinados a apreciar os problemas directamente relacionados com os interesses dos trabalhadores, bem como a participação destes na gestão de obras sociais e nos resultados do empreendimento» (artigo citado, n.ºs 2 e 3).
Ao abrigo da lei, diversas convenções colectivas previram a constituição de comissões de segurança e de outros órgãos de colaboração nas empresas, bem como de processos de resolução de reclamações.
Estes organismos poderão, assim, vir a desempenhar função importante no melhoramento das relações humanas.

11. No plano nacional, a colaboração dos trabalhadores concretiza-se na medida em que se associam as organizações profissionais à preparação e execução da política social e económica do Governo, pelo que se reveste da maior importância aperfeiçoar o funcionamento dos sindicatos, com vista ao desempenho eficaz das suas atribuições.
A acção das corporações, dos grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica e de vários órgãos consultivos, onde os sindicatos têm participação, como, por exemplo, o Conselho Consultivo do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, reveste-se do maior interesse para a progressiva valorização daqueles organismos corporativos.
O III Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e Previdência Social, realizado em Junho de 1964, dedicou especial atenção ao problema do âmbito e enquadramento sindicais, devendo registar-se que as conclusões votadas o foram no âmbito de uma secção onde se assegurara larga participação de dirigentes das corporações, representantes de entidades patronais e de trabalhadores.
Um dos problemas então considerados foi o da fraca dimensão média dos sindicatos nacionais, em função do número de sindicalizados, aspecto em que se registaram já progressos sensíveis, como pode verificar-se pelo seguinte quadro:

QUADRO V

Sindicatos nacionais e sócios contribuintes inscritos

[Ver quadro na imagem]

Fonte: Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social do Instituto Nacional de Estatística.

Em 1965, cerca de 33 por cento do número total de sindicatos tinham menos de 1000 trabalhadores (em 1958 essa proporção era de cerca de 38 por cento), mas prosseguem os esforços tendentes ao melhor dimensionamento das estruturas sindicais, ao mesmo tempo que se procura garantir o seu bom funcionamento e a criação de quadros responsáveis com suficiente formação económica e social.

§ 2.º Objectivos

12. A evolução do emprego nas várias actividades económicas do continente, no período de 1968 a 1973, dependerá, essencialmente, do comportamento do produto interno bruto. Para todas as actividades, com excepção da agricultura, silvicultura e caça, comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis e administração pública e defesa, estima-se que os aumentos ou diminuições do em-

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prego estarão relacionados com as respectivas variações do produto, em função de hipóteses especificas sobre o aumento da produtividade.
Calcula-se que o acréscimo anual efectivo da população activa no continente, entre 1967 e 1973, seja de cerca de 18 000. Nesta hipótese, já se consideram os níveis prováveis de emigração no decurso do mesmo período, que se estimam em 59 500 activos para o ano de 1967 e em 23 000 para os anos de 1968 a 1973, atendendo aos prováveis efeitos do desenvolvimento económico como travão à saída de trabalhadores para o exterior.
Supõe-se que o retorno começará a ser apreciável em 1968-1973 e que o número de saídas terá sido máximo em 1965.
Sendo a emigração factor extremamente aleatório, não é fácil prever a sua evolução e, consequentemente, as suas incidências sobre a variação futura das populações total e activa. Se a evolução do fenómeno emigratório se processar por forma que se afaste substancialmente da hipótese considerada, os acréscimos da população activa no continente registarão também as consequentes alterações.
Não é de prever que a emigração venha, nos primeiros anos, a exercer influência limitativa no crescimento dos sectores secundário e terciário, o que provavelmente não acontecerá no caso da agricultura, uma vez que o aumento dos fluxos emigratórios se repercute directamente ou indirectamente sobre a mão-de-obra empregada naquele sector.
Em contrapartida, se a emigração assumisse valores inferiores aos estimados, a contracção da mão-de-obra na agricultura processar-se-ia a ritmo mais lento do que o previsto - taxas médias anuais de 3,7 por cento no período de 1964 a 1967 e de 8,9 por cento no período de 1967 a 1973. Os acréscimos de produtividade resultariam, assim, predominantemente, da redução da mão-de-obra no sector em referência.

QUADRO VI

Taxas médias de aumento da produtividade

[Ver quadro na imagem]

Quanto a três actividades - serviços domésticos, serviços de saúde e serviços de educação -, os aumentos de produtividade não serão de considerar, pois o volume de serviços prestados depende directamente do número de pessoas ocupadas nessas actividades.
Para a pesca, indústrias transformadoras e transportes e comunicações estimou-se que a relação entre os aumentos do emprego e do produto se mantém na linha de tendência definida no período de 1953 a 1964.
No tocante aos sectores das indústrias de construção, electricidade e serviços diversos, adoptaram-se as taxas de evolução da produtividade previstas no Plano Intercalar.
Nas indústrias extractivas, sector que tem sido e se espera continue a ser afectado pelos efeitos da emigração, admitiu-se a manutenção do nível médio de emprego verificado entre 1962 e 1964 e considerou-se que os aumentos do produto terão como contrapartida aumentos correspondentes de produtividade.
Para os restantes sectores - comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis e administração pública e defesa -, efectuaram-se ajustamentos cronológicos, com base nos censos da população, e as adaptações necessárias no caso da administração pública e defesa.
Dado que no nível de emprego deste último sector se não incluíram os contingentes militares, enquanto no valor do P I B que lhe corresponde se encontra integrada a parcela respeitante à totalidade das despesas militares, as taxas de evolução da produtividade relativas a administração pública e defesa não são comparáveis com as respectivas taxas de evolução do emprego.

QUADRO VII

Níveis e taxas anuais de variação de emprego por ramos de actividade

[Ver quadro na imagem]

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Em consequência, as taxas anuais de variação do emprego assumiriam, para os diversos sectores, nos períodos e hipóteses discriminados, os valores representados no quadro VII.
No sector agrícola, a diminuição da população activa empregada prevê-se venha a registar-se na medida das necessidades de mão-de-obra das restantes actividades e da amplitude das correntes emigratórias. Se os saldos migratórios se não afastarem substancialmente dos valores estimados, calcula-se que a taxa de redução do emprego no sector agrícola seja, como atrás se referiu, de 8,0 por cento no período do III Plano.
De maneira geral, as variações do emprego serão provavelmente mais vincadas nos aspectos qualitativos do que nos quantitativos, o que implicará evolução moderada do nível geral do emprego e aumento mais acentuado da taxa média de produtividade.
Em virtude dos ritmos previstos para a evolução nas várias actividades, regista-se no quadro VIII a importância que cada sector assumirá nas variações anuais do emprego.

QUADRO VIII

Variações médias anuais do emprego

[Ver quadro na imagem]

QUADRO IX

Variações médias anuais da produtividade

[Ver quadro na imagem]

Dentro das hipóteses admitidas, o acréscimo de emprego nas actividades industriais e nos serviços somente será possível pela redução correspondente no sector primário - em média, 85 000 no hexénio do III Plano.
Em contrapartida, os aumentos médios anuais do emprego nos sectores secundário e terciário serão da ordem dos 21 800 e 30 800, respectivamente.
As actividades onde se prevêem sensíveis aumentos médios anuais de emprego são, no sector secundário, as indústrias transformadoras (14 000) e as indústrias de

construção (7700) e, no sector terciário, os serviços diversos (20 000) e os serviços de saúde e educação (9300).
Os volumes de emprego em cada sector deverão, portanto, sofrer alterações apreciáveis ao longo do período do III Plano. Assim, as actividades da agricultura, que em 1960 ocupavam l 300 000 activos, e em 1965 cerca de 1 075 000 trabalhadores, passariam a ocupar cerca de 799 000 em 1973. Os serviços domésticos registarão também, provavelmente, substanciais reduções de emprego - de 184 000 em 1960 para níveis de 160 000 em 1965 e de 128 000 em 1973. Nas indústrias extractivas, admite-se a permanência do nível de emprego verificado no período de 1962-1964 - cerca de 21 700. Nas restantes actividades prevêem-se aumentos dos respectivos níveis de emprego, devendo, em valor absoluto, salientar-se as indústrias transformadoras, que de 737 000 activos em 1965, passarão a ocupar cerca de 845 600 em 1973, as indústrias de construção, de 241 000 em 1965 para 295 000 em 1973, e o comércio, de 243 000 para 250 000.
Os acréscimos mais rápidos devem registar-se nos serviços diversos, de 160 000 para 274 000, nos serviços de saúde e educação, de 91 000 para 155 000, e nos bancos, seguros e operações sobre imóveis, de 28 400 para 43 000.
As alterações estimadas na estrutura do emprego para os três grandes sectores resumem-se no quadro X.

QUADRO X

Níveis e distribuição sectorial do emprego

[Ver quadro na imagem]

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Prevê-se, assim, que a percentagem da população activa ocupada no sector primário venha a reduzir-se de 48,6 por cento, em 1960, para 35,1 por cento, em 1967, e para 27,8 por cento, em 1978.
Por outro lado, o emprego no sector terciário, que representava cerca de 27,7 por cento do total em 1960, passará provavelmente para 81,8 por cento em 1967 e para 35,9 por cento em 1973. À posição relativa do emprego do sector secundário no emprego total, que em 1960 era de 28,7 por cento, prevê-se aumente para 33,6 por cento em 1967, e para 36,8 por cento em 1973.

13. As acções específicas a desenvolver pelos Poderes Públicos, no hexénio de 1968-1978, para o equilíbrio do mercado do emprego e a resolução dos principais problemas de mão-de-obra, serão orientadas pelos seguintes objectivos:

Aperfeiçoamento dos mecanismos de adaptação da oferta à procura de colocações;
Desenvolvimento das formas de participação dos trabalhadores no processo de crescimento económico-social através da organização corporativa e da melhoria das relações humanas nas empresas.

14. No que respeita ao primeiro objectivo, importa referir as acções empreendidas e a desenvolver pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e serviços dele dependentes (administrativa, financeira e tecnicamente) - instituto de Formação Profissional Acelerada, Centro Nacional de Formação de Monitores, Serviço Nacional de Emprego e Serviço de Reabilitação Profissional.
Sendo os desequilíbrios do mercado de trabalho provocados, como se disse, pela conjugação dos efeitos do êxodo rural e do aumento dos fluxos emigratórios, bem como do insatisfatório nível de formação profissional dos trabalhadores, importa prosseguir nos objectivos que têm orientado a acção do Governo e podem assim enunciar-se:

Conhecer, por forma permanentemente actualizada, a situação do mercado nacional de trabalho,
Orientar os trabalhadores jovens e adultos para as regiões, sectores ou profissões onde se verifiquem carências,
Dimensionar as acções de formação e reconversão profissional de acordo com o volume de transferências requerido,
Promover o encontro entre as ofertas e os pedidos de emprego.

Entre os factores que têm contribuído para o desequilíbrio do mercado de trabalho, apontou-se a emigração. Note-se, contudo, que ela tem concorrido para a criação de pré-condições de aumento da produtividade do trabalho, através da redução do subemprego e do desemprego. Deverá, portanto, procurar orientar-se a emigração, favorecendo os caminhos legais, porque, sendo convenientemente conduzida, pode produzir efeitos benéficos para o trabalhador e para o País.
Será principalmente pela criação de condições internas, no sentido de elevar gradualmente o nível de qualificação dos trabalhadores, que se conseguirá reduzir o volume das correntes emigratórias.
Entretanto, adoptar-se-ão acções tendentes a assegurar a assistência social aos trabalhadores emigrantes, promovendo o seu enquadramento no regime de previdência dos países de destino, bem como a continuidade das situações adquiridas, quando passem do regime nacional para o estrangeiro e vice-versa.
Encarando já a possibilidade do fortes retornos no período deste III Plano, desenvolver-se-ão acções tendentes a promover a reintegração dos que regressem na vida económica nacional

15. Os sindicatos deverão contribuir para associar a mão-de-obra nos esforços de crescimento e de elevação da produtividade e para canalizar as tensões e desajustamentos motivados pelas transferências interprofissionais, intersectoriais e inter-regionais. Todos estes aspectos são comuns à experiência da totalidade dos países mais industrializados e encontram-se na base dos esforços de valorização sindical conduzidos nos últimos anos.
Além do papel genérico de institucionalizar a colaboração necessária à resolução desses problemas, importa, em especial, utilizar as suas possibilidades de intervenção no que respeita à fixação da mão-de-obra, limitando as correntes migratórias. No contexto actual, os sindicatos podem contribuir de modo relevante para integrar efectivamente a mão-de-obra no processo de fomento económico-social.
Para esse efeito, porém, é necessário dotá-los de órgãos técnicos capazes de proporcionar uma participação activa, motivada não só pelas exigências da repartição, mas ainda pelas da produção e da estabilidade monetária, e, ao mesmo tempo, assegurar a formação de dirigentes aptos a entender as tarefas e potencialidades do desenvolvimento.

16. A actuação a realizar nos próximos anos para a melhoria das relações humanas na empresa, além do esforço prioritário tendente à preparação de empresários e quadros, deve orientar-se para o estabelecimento de condições básicas, no que se refere à definição de orientações em matéria de direcção do pessoal e à criação de órgãos mistos de colaboração, recorrendo para tanto aos esforços conjugados dos dirigentes das empresas, dos organismos corporativos, estabelecimentos de ensino e departamentos públicos.
Para o êxito de qualquer política de relações humanas, torna-se indispensável o estabelecimento das aludidas condições, para o que os serviços públicos podem contribuir decisivamente, formulando as normas mínimas a atingir e estimulando a respectiva concretização. Deverão ser considerados, entre outros, os seguintes aspectos: adaptação das tarefas aos indivíduos, nível e sistema de remunerações e esquema de promoções, recompensas e sanções.

§ 3.º Medidas de política

17. Para a resolução a médio prazo dos desequilíbrios existentes no mercado interno de emprego, e no tocante às acções de formação e reconversão profissional, serão incrementadas as actividades do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e serviços dele dependentes.
Ao Serviço Nacional de Emprego incumbirão, prioritariamente, as seguintes funções:

Estudo do mercado do emprego, com vista a detectar as carências e os excedentes de mão-de-obra, para o que efectuará periodicamente inquéritos à escala nacional,
Instituição e manutenção de serviços públicos gratuitos de colocação e sua coordenação com serviços análogos sem fins lucrativos,
Estimulo à mobilidade profissional e geográfica dos trabalhadores e suas famílias, orientando-os para actividades onde se verifique escassez, nomeadamente pela concessão de subsídios de deslocação,
Colaboração com as entidades competentes, em ordem a assegurar a inscrição, informação e selecção dos trabalhadores que pretendam emigrar para o estran-

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geiro, tendo em vista a orientação do movimento emigratório segundo as conveniências da política de emprego.

Serão ampliados os meios ao dispor do Serviço Nacional de Emprego necessários para o cabal desempenho das suas funções.
O Instituto de Formação Profissional Acelerada e a Divisão de Formação Profissional do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra continuarão a expandir a instalação e funcionamento dos centros de formação profissional acelerada, centros comuns de aprendizagem e de aperfeiçoamento e reciclagem, em toda a medida compatível com os meios disponíveis.
O Centro Nacional de Formação de Monitores providenciará para que a formação dos monitores corresponda às necessidades de funcionamento dos centros de formação profissional, competindo-he, também, a realização do estudo dos problemas de ordem técnica com eles relacionados.
Procurar-se-á assegurar a conveniente coordenação dos sistemas de educação e formação tradicionais e de formação profissional extra-escolar, como se prevê no capítulo referente à educação e investigação.
Nas medidas de assistência ao emigrante incluem-se as acções a desenvolver no interior e no exterior do País.
Na resolução do Conselho de Ministros de 14 de Julho de 1965, sobre emigração, prevêem-se medidas a adoptar para a assistência ao emigrante antes da partida, em viagem e no país de destino, devendo, portanto, desenvolver-se os meios de acção preconizados, para o efeito, naquela resolução.
A assistência prestada no País ao trabalhador retornado terá como objectivo a sua reintegração na vida económica nacional, promovendo a sua colocação e, se necessário, a sua formação ou reconversão profissional. Esta assistência será efectuada pelo Serviço Nacional de Emprego e, complementarmente, pelo Instituto de Formação Profissional Acelerada.

18. Na restruturação e fortalecimento dos sindicatos ter-se-ão em conta, na medida do possível as recomendações do III Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e da Previdência Social.
Assim, providenciar-se-á para que os sindicatos disponham de meios de actuação mais amplos e eficazes, nomeadamente pela fusão dos organismos de pequena dimensão, reagrupando este que deverá ser, em princípio, voluntário, muito embora as corporações possam desempenhar uma acção esclarecedora e orientadora.
Aliás, nas formas de reestruturação que venham a definir-se, ter-se-á em vista que o conceito de profissão utilizado pela lei permite uma gama muito extensa de modos de associação, que na prática já se verificam.
No mesmo sentido, só excepcionalmente deverá admitir-se a constituição de novos sindicatos que associem menos de 1000 trabalhadores.
Por outro lado, sempre que possível, serão criadas uniões e federações de sindicatos, que, em estreita cooperação com os organismos primários, deverão desenvolver estudos relativos às actividades que representam e incrementar meios de aperfeiçoamento profissional que facilitem a formação social dos trabalhadores.
Diligenciar-se-á também por que as corporações se ocupem mais intensamente do estudo sistemático dos problemas de emprego, formação profissional e regulamentação jurídica do trabalho. Isto, porém, não significa, como é óbvio, que as corporações davam caminhar no sentido de se substituírem aos organismos nelas integrados, ou que os sindicatos, uniões e federações fiquem limitados na sua autonomia.

19. A política de melhoria das relações humanas nas empresas - como base para a elevação da produtividade, instrumento de valorização dos recursos humanos e factor de paz e bem-estar social - deverá ter o seu alicerce na colaboração esclarecida e convicta dos empresários e quadros directivos, de cuja acção dependem, em muito larga medida, os objectivos propostos.
Seria ainda desejável que, numa conduta tendente a defesa esclarecida dos seus interesses, viessem a valorizar a sua própria preparação quanto aos problemas de relações humanas e estimulassem a formação de pessoal especializado nesses problemas, favorecendo o treino dos quadros e auxiliando as investigações tendentes a elucidar os problemas psicossociais do trabalho português.
Confia-se na colaboração dos organismos corporativos, tanto patronais como de trabalhadores, para a difusão dos princípios de sãs relações humanas, a prepararão dos seus associados para as tarefas de colaboração na empresa e a criação de serviços sociais nas unidades de certa dimensão.
Os organismos patronais poderão ainda, à semelhança do que sucedo noutros países, criar serviços consultivos e de assistência às empresas nas referidas matérias.
As relações humanas, antes de constituírem uma técnica, são um princípio de comportamento social que se inspira no reconhecimento do valor de cada pessoa e na aceitação de que toda a obra útil nasce de um esforço colectivo, da cooperação de recursos diversos. Entende-se que uma pedagogia que acentue o valor da pessoa humana e que leve à prática do trabalho de grupo preparará o clima de colaboração na empresa.
Mais directamente, porém, tem a escola papel decisivo na reforma da empresa. Cabe-lhe a preparação dos quadros, quer dos quadros superiores - escolas e institutos superiores -, quer dos quadros intermédios - escolas profissionais e técnicas. A um e outro nível se reconhece a necessidade de uma acção mais intensa.

SECÇÃO II

Repartição dos rendimentos

§ 1.º Considerações gerais

1. Embora continue a verificar-se escassez de elementos de informação estatística em matéria de repartição de rendimentos, os dados actualmente disponíveis e, fundamentalmente, os estudos de base elaborados no âmbito da preparação deste Plano permitem pela primeira vez incluir um esboço de análise da repartição do rendimento, em ordem a assinalar determinadas características da situação actual e a fundamentar as providências encaradas neste domínio. Corresponde-se assim a um dos grandes objectivos do Plano, que é o de procurar obter «mais equitativa repartição do rendimento nacional».
O estudo da estrutura da repartição nos seus variados aspectos - pessoal, funcional, redistributivo e de aplicação dos recursos - tem o maior interesse para a correcta definição e enquadramento das medidas inerentes a uma política de rendimentos. Sem esse estudo básico não será possível diagnosticar com rigor as motivações especificas de certas situações sobre as quais importa actuar em cada caso, e qualquer construção teórica, por mais completa e bem estruturada que se afigure, correrá o risco de, na prática, ser inadequada à estrutura sócio-económica em causa.
Como já se salientou, ainda não se dispõe, para o caso português, de elementos completos para o estudo dos múltiplos aspectos da repartição, sendo designadamente muito escassos os dados para a análise da repartição pessoal, que

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594 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

(...) exige o conhecimento estratificado da população por classes de rendimento e a discriminação das principais fontes desse rendimento - remunerações, lendas, lucros, pensões, subsídios, etc.
Os programas de aperfeiçoamento da cobertura estatística em curso permitirão certamente preencher estas lacunas em breve prazo
Assim, a presente secção limita-se a inserir um estudo acerca da aplicação dos recursos nacionais (§ 2.º) e uniu análise sobre a política da redistribuição de rendimentos (§ 3.º), com os correspondentes objectivos e medidas de política

§ 2.º Aplicação dói recursos nacionais

2. Um dos problemas que estão na base da repartição dos rendimentos refere-se a aplicação dos recursos nacionais, ou seja a forma como se reparte o produto bruto do País entre o consumo e o investimento. Dela depende, simultaneamente, o bem-estar da população e o ritmo de crescimento económico, uma vez que o nível de vida é reflexo da massa de bens de consumo efectivamente consumidos e a taxa de desenvolvimento depende do montante de capital investido
Dada a limitação dos recursos disponíveis, um dos aspectos importantes do planeamento é justamente a opção a fazer ao determinar-se o montante dos recursos que deve ser afecto ao investimento e aquele que deve ser aplicado na satisfação das necessidades imediatas Esta opção, difícil em qualquer circunstância, reveste particular acuidade nos países, como o nosso, onde se procura intensificar a elevação do nível de vida da população e, paralelamente, se torna indispensável realizar montantes de investimentos suficientes para garantir a aceleração do ritmo de desenvolvimento económico
Mas, para além da solução deste problema, outras opções se impõem com incidências directas na repartição do rendimento, designadamente no que se refere a distribuição do consumo e do investimento entre a satisfação de necessidades individuais e colectivas e às entidades que efectivam esta satisfação - privados ou públicas
Encarando, por exemplo, o aspecto da satisfação de necessidades colectivas através dos Poderes Públicos, verifica-se que, de maneira geral, a parcela destinada ao consumo público é aplicada na satisfação das necessidades colectivas imediatas, nomeadamente saúde, educação, investigação científica e técnica, segurança social, etc. Do mesmo modo, o investimento público corresponde ao imperativo de satisfazer as necessidades colectivas, principalmente as que se ligam com sectores de escassa rentabilidade a curto prazo e que, portanto, são pouco aliciantes para atrair o capital privado, como, por exemplo, a montagem de infra-estruturas em material de transporte e urbanização, a construção de hospitais, escolas, casas de habitação para famílias de menores recursos, etc. Estas responsabilidades do sector público tornam-se tanto mais pesadas quanto mais rápido seja o ritmo de crescimento da população e, consequentemente, surja a necessidade de assegurar bem-estar a cada vez maior número de pessoas. Tais tarefas, para serem cumpridas, exigem, por outro lodo, o aproveitamento intensivo das riquezas nacionais, a fim de se garantir um crescimento económico contínuo Daí a necessidade de um rateio equilibrado entre as diferentes aplicações dos recursos nacionais e a selecção cuidadosa dos investimentos, segundo as prioridades definidas pelos imperativos de tuna política socio-económica orientada pelo bem comum
Uma repartição equilibrada das despesas deverá, portanto, ter em conta, fundamentalmente, o nível de satisfação das necessidades, quer individuais, quer colectivas, o seu afastamento em relação ao mínimo desejável e a obtenção de uma taxa mínima de crescimento do produto que garanta, não só a satisfação das necessidades inerentes ao acréscimo populacional, mas também a indispensável melhoria efectiva do bem-estar da população vindoura.
Deu ti o dos limites impostos por estas condições, a ponderação da aplicação dos recursos nacionais deverá ter como objectivo último a obtenção do máximo bem-estar e do maior ritmo de crescimento económico

3. Dada a importância que, numa óptica de repartição, assume a modalidade adoptada na aplicação dos recursos, e perante o significado que cada uma das rubricas reveste, afigura-se de particular interesse a analise da aplicação do produto, para se poderem apreciar os resultados da política seguida e, se possível, tentar delinear as orientações fundamentais que importa ter em conta na execução do III Plano

4. O ritmo de desenvolvimento económico português no período de 1953-1954 a 1963-1964 processou-se à taxa média acumulada de 5 por cento ao ano, percentagem ligeiramente mais alta do que a verificada, em média, quer nos países desenvolvidos (4 por cento), quer nos países em vias de desenvolvimento (4,5 por cento). Note-se, porém, que a taxa de crescimento foi acentuadamente mais elevada no decurso do EL Plano de Fomento (6,2 por cento) do que no decurso do I Plano (3,8 por cento) (quadro XI)
A estrutura da aplicação do produto1 acusa ligeira alteração nos extremos do período O consumo, que em 1953-1954 absorvia cerca de 86 por cento do produto, passou a utilizar 83 por cento em 1963-1964, tendo, consequentemente, aumentado a posição relativa do investimento, este elevou-se de 14,1 por cento, no início de período, para 17 por cento, no seu termo (quadro XII)
Esta alteração de estrutura foi motivada pelas diferentes evoluções processadas no montante destinado ao consumo e ao investimento Assim, observo-se que ao aumento de 68,6 por cento no produto correspondeu o crescimento de 97,4 por cento no investimento e de apenas 58,1 por cento no consumo (quadro XI, col 10) Note-se, contudo, que esta alteração se deu praticamente no decurso do II Plano, conforme revelam os números relativos aos extremos dos períodos de 1953-1954 a 1958-1959 e de 1958-1959 a 1963-1964, e confirmam as estruturas obtidas para a totalidade dos anos de vigência dos respectivos Planos (quadro XII, cols 11 e 12). No primeiro período, verifica-se evolução bastante harmónica entre as três rubricas (consumos, investimento e produto), enquanto no segundo se nota uma aplicação dos recursos nitidamente no sentido de obter um ritmo de desenvolvimento económico mais acentuado a, como realidade se conseguiu

1 O conceito adoptado foi o do produto interno bruto utilizado no País, que corresponde à soma dos totais do consumo e do investimento (formação bruta de capital fixo e variação das existências) e difere do produto nacional bruto, por não se entrar em linha de conta com o Baldo do comércio externo em bens e serviços. Pensa-se que este conceito, utilizado por F. Paukerá, será o mais apropriado aos objectivos em vista, uma vez que se pretende analisar o modo como se repartiu o produto no País pelo consumo e pelo investimento
2 Entre 1953-1954 e 1958-1950, a um aumento de 21 por cento do produto interno bruto utilizado no Pois corresponderam acréscimos de 20,2 por cento no consumo e 26,1 por cento no investimento, enquanto no perlado de 1958-1969 a 1968-1964, a um aumento de 36,2 por cento, corresponderam acréscimos de, respectivamente, 31,6 por cento e 68,5 por cento (quadro XI, cols 2 e 6)

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QUADRO XI

Evolução, em percentagem, da utilização dos recursos nacionais

Preços de 1963

[ver tabela na imagem]

(a) Taxas simples

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais

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598 ACTAS DA CAMARÁ CORPORATIVA N º 56

Embora a repartição dos acréscimos do produto, no decurso do II Plano, se tivesse aproximado bastante da efectivada nos países industrializados (quadro XIII), o que conduziu à obtenção, em 1963-1964, de uma estrutura da aplicação dos recursos próxima da destes países (quadro XIV, não quer dizer que esta seja efectivamente a estrutura mais indicada para o caso português e que, portanto, se deva, necessariamente, caminhar nesse sentido. Torna-se sobretudo necessário que, para além de acções redistributivas, directamente ligadas à repartição pessoal, com vista a reduzir os desníveis existentes nas capitações do consumo, se garanta ao consumo privado e público uma evolução tão acelerada quanto possível. Deste modo, afigura-se desejável procurar elevar a percentagem de 51 por cento do acréscimo do produto obtido pelo consumo privado no decurso daquele Plano (quadro XIII)
Quanto à parcela do acréscimo do produto destinada ao consumo por capita do Estado, dada a acção redistributiva que este pode exercer, julga-se conveniente uma percentagem que se situe entre a observada durante o II Plano (18,4 por cento) e a que se encontra tanto nos países em vias de desenvolvimento (6,9 por cento) como nos industrializados (6,5 por cento). A obtenção desse resultado depende do modo como for aplicado o produto, nomeadamente no que se refere às parcelas destinadas à saúde, educação, segurança social, etc.

5. É a parcela do produto destinada ao consumo, e particularmente a que corresponde ao consumo privado, que traduz o nível de bem-estar médio da população. O consumo público pode, efectivamente, contribuir para a elevação desse nível, na medida em que realize despesas com vista a pôr a disposição da comunidade determinados bens e serviços, e vestindo ainda função redistributiva quando esses bens e serviços se destinem especificamente a satisfazer necessidades das classes de rendimento mais baixo
Mas não interessa apenas analisar qual o valor global do produto atribuído ao consumo privado e público, pois só o desdobramento dessas rubricas poderá revelar o modo como os diferentes estratos da população beneficiam desses consumos e permitir a definição de actuações eficazes para uma repartição equilibrada
Os elementos estatísticos disponíveis não permitem determinar qual a repartição, por escalões de rendimento, do consumo privado, nem a estrutura da aplicação desse consumo em alimentação, vestuário, etc., nem tão-pouco a maneira como se repartem esses tipos de despesa segundo os níveis de consumo. Apenas em relação às despesas de consumo público é possível analisar o modo como têm sido distribuídas pelas principais rubricas e, por tanto, tirar conclusões sobre o tipo de necessidades que se tem procurado satisfazer, muito embora se não possa dispor de elementos relativos à sua atribuição segundo os escalões de rendimento, o que permitiria avaliar o seu efeito redistributivo
No quadro XV apresenta-se, em percentagem, a distribuição das despesas de consumo público segundo as principais aplicações que os números disponíveis permitiram discriminar. Das rubricas apresentadas, as que revestem maior significado, numa óptica de promoção social e de acção redistributiva, são a saúde, a educação e a segurança social 1.

1 Na segurança social inclui-se a previdência social obrigatória e facultativa, o abono de família, os seguros de acidentes de trabalho e doenças profissionais, a assistência social, pública e particular, a acção assistencial dos organismos corporativos e serviços análogos.

A parcela dedicada à saúde e educação foi de 15,8 por cento no início da vigência do I Plano, elevando-se em 1958-1959 para 19,2 por cento e descendo novamente vos últimos anos do período considerado (15,4 por cento). A percentagem atribuída à acção social e corporativa, que era de cerca de 11 por cento, em 1953-1954, tem vindo a decrescer (9,9 por cento em 1958-1959 e 8,7 por cento em 1968-1964). Convém, no entanto, observar que, muito embora se tivesse reduzido a posição relativa destas despesas em face do total do consumo público, o valor absoluto das verbas despendidas registou sensíveis aumentos, dado que o global das despesas públicas se elevou consideravelmente. Verifica-se que, a preços constantes, as despesas com a saúde e a educação aumentaram de 55 por cento entre 1953-1954 a 1958-1959, de 83 por cento, entre 1958-1959 e 1963-1964, e do 106,1 por cento no conjunto do período 2.

QUADRO XV

Distribuição, em percentagem, das despesas de consumo público segundo as principais aplicações

[ver tabela na imagem]

Fontes Instituto Nacional de Estatística-Elementos revistos das Contas Nacionais, Estatísticas Financeiras

Em face das considerações anteriores sobre a estrutura actual das despesas do Estado, a concretização do objectivo de uma repartição equitativa dos rendimentos, que se traduza em elevação do nível de bem-estar da população, recomenda se destine à saúde, educação e segurança social uma parcela das despesas públicas proporcionalmente superior à efectivada no período analisado. A determinação da respectiva taxa dependerá, fundamentalmente, do grau de ajustamento possível em relação às necessidades verificadas

6. Já se salientou a importância que revestem, numa óptica de repartição, as opções ligadas à aplicação do capital nos vários tipos de investimento e à natureza da entidade que a realiza

O investimento é indispensável para o desenvolvimento económico e social de uma comunidade, e, muito embora (...)

1 Na segurança social inclui-se a previdência social obrigatória e facultativa, o abono de família, os seguros de acidentes de trabalho e doenças profissionais, a assistência social, pública e particular, a acção assistencial dos organismos corporativos e serviços análogos

1 Como só fui possível dispor das estimativas das Contas Nacionais sobre despesas públicas cora saúde e educação a partir de 1958, houve necessidade de utilizar, para aã anos de 1958-1054, a Estatística Financeira Dado que se verificou que, entre 1959 e 1964, os valores apresentados nas Contas Nacionais para esta rubrica silo superiores aos da Estatística Financeira, é provável que a percentagem para 1953-1954 seja também, efectivamente, superior à apresentada no quadro XV
2 A preços correntes, o aumento foi de 65,1 por cento no primeiro período, de 48,2 por cento no segundo e de 186,5 por cento entre 1958-1954 e 1968-1964

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(...) todo o investimento tenha simultaneamente repercussões de carácter económico e social, sem dúvida certas aplicações têm incidências sociais mais directas do que outras. Assim, conforme as características predominantes do sector a que se destina, poderão distinguir-se fundamentalmente três tipos investimentos económicos, os que concorrem para a produção de bens; investimentos sociais, os que se ligam mais directamente à promoção social da população, e investimentos económico-sociais, os que se destinam ao estabelecimento de infra-estruturas, indispensáveis tanto ao desenvolvimento económico como ao social.
Segundo este critério, e dentro das limitações impostas pelo agrupamento de actividades na contabilidade nacional, consideram-se:

Investimentos económicos - a formação de capital na agricultura, silvicultura, caça, pesca, indústria e construção,
Investimentos sociais - o capital aplicado na administração pública, educação, saúde, casas de habitação e outros serviços;
Investimentos económico-sociais - o capital destinado aos sectores da electricidade, água, gás e serviços de saneamento, aos transportes e comunicações e ao comércio, bancos e seguros.
Outro aspecto que importa examinar é a natureza das instituições que realizam o investimento - privadas ou públicas -, dadas as finalidades especificas que as caracterizam.
A entidade privada investe preferencialmente nas actividades de mais elevada rentabilidade, enquanto à entidade pública compete, em principio, investir em sectores que se considerem fundamentais para o desenvolvimento sócio-económico do País, quando se trata da satisfação de necessidades colectivas sem fim lucrativo, quando se

1 Estas limitações resultam do facto de as rubricas das Contas Nacionais não se apresentarem suficientemente discriminadas, de modo a permitir um agrupamento correcto dos sectores de acordo com o critério indicado. Por exemplo, não foi possível considerar dentro dos investimentos sociais a distribuição de electricidade, gás, água e serviços de saneamento que tivesse sido de carácter predominantemente social.

conhecem nítidas vantagens, para toda a comunidade, na execução dos investimentos por parte da entidade pública, ou, ainda, quando a iniciativa privada os não realize (em consequência da sua baixa rentabilidade ou por qualquer outro motivo)

Pará o problema da repartição, reveste particular interesse a análise da importância dos investimentos sociais e da aplicação dos investimentos públicos, dado que através deles se poderá exercer eficaz acção redistributiva, pondo à disposição das classes economicamente mais desfavorecidas reais possibilidades de promoção social.
A estrutura da aplicação dos investimentos 1, segundo as suas incidências predominantemente económicas, sociais ou económico-sociais, no decurso do I e II Planos, figuram no quadro XVI.

QUADRO XVI

Distribuição, em percentagem, da totalidade do capital fixo formado no período de 1963-1964, segundo o tipo de Investimentos

Preços de 1963

[ver tabela na imagem]

Fonte- Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

1 A noç5o de investimento utilizada até agora identifica-se com a soma da «formação bruta de capital fixo» e da «variação das existências», mas para uma análise mais pormenorizada da estrutura da aplicação dos recursos destinados ao investimento passa a utilizar-se esta designação no sentido mais restrito de «formação bruta de capital fixo». Isto porque, além de se não dispor de elementos discriminados da rubrica «Variação das existências» ao nível do sector de actividade, a sua eliminação não afecta as conclusões, pois, além de ser uma parcela diminuta, não tem uma influência directa no ritmo de crescimento económico, que é determinado, fundamentalmente, pela «formação bruta de capital fixo»

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602 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Conforme revelam as percentagens apresentadas, a aplicação prioritária dos capitais nos vários tipos de investimento é a mesma no período de vigência dos dois planos, destinando-se maior parcela aos investimentos económicos e menor aos sociais. Nota-se, contudo, uma diferença significativa entre as duas estruturas, enquanto a percentagem atribuída, de 1958 a 1958, aos investimentos sociais foi de 31,3 por cento, no período seguinte foi de 28,2 por cento. Esta redução deu-se exclusivamente em benefício do sector económico, uma vez que a percentagem destinada aos investimentos económico-sociais foi praticamente a mesma (cerca de 38 por cento).
Conclui-se daqui que a orientação seguida na vigência do II Plano foi no sentido de formar o capital fixo nos sectores mais reprodutivos a curto prazo1, a fim de obter

1 A relação capital-produto obtido no período de 1058-1064 foi de 2,8 para os investimentos económicos, de 4,1 para os investimentos económico-sociais e de 5,6 para os investimentos sociais o máximo produto e elevar a taxa de crescimento económico, objectivo que efectivamente foi conseguido, conforme se salientou anteriormente.

7. Analisando, agora, o montante de investimentos segundo a entidade que os realiza - privada ou pública -, verifica-se ser a maior parte dos capitais investida pelas empresas privadas, muito embora tenha vindo a registarão diminuição na sua importância relativa, em 1953-1954 os investimentos privados representavam 82,2 por cento do total, em 1958-1959 essa percentagem desceu para 80,5 por cento e em 1963-1964 para 76,8 por cento (quadro XX, cols 3, 7 e 11). Isto deve-se ao facto de a taxa de crescimento médio anual dos investimentos privados, entre 1958-1954 e 1963-1964, ter sido, em média, mais baixa (7,2 por cento) do que a dos investimentos públicos (11,1 por cento) (quadro XIX, cols. 13 e 14).

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QUADRO XVIII

Distribuição, em percentagem, da formação bruta do capital fixo privado e público por sectores de actividade

Preços de 1963

[ver tabela na imagem]

Fonte Instituto Nacional de Estatístico - Elementos revistos das Caixas Nacionais

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606 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

QUADRO XX

Importância relativa da formação bruta de capital fixo nas empresas privadas e públicas e no sector público, por actividades

[ver tabela na imagem]

Fonte. Elementos revistos das Contas Nacionais.

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QUADRO XXI

Distribuição, em percentagem, da totalidade do capital fixo, público e privado, formado no período de 1963-1964

[ver tabela na imagem]

Fonte Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

Ao nível dos sectores, as actividades que absorveram maiores parcelas dos capitais públicos foram (quadro XVIII, cols 19 e 24)

[ver tabela na imagem]

Estas estruturas do investimento público revelam que, no decurso da vigência do II Plano, se verificou acentuada aplicação de capitais no sector dos transportes e comunicações, enquanto se observou redução das parcelas atribuídas à saúde e educação e à agricultura.
Relativamente à actuação no sentido de corrigir a estrutura do investimento privado, comparando as percentagens de aumento que correspondem à totalidade de capital fixo, público e privado, realizado de 1953 a 1958 e de 1959 a 1964 (quadro XX, cols 18 e 19), nota-se que, efectivamente, nos sectores onde se registaram aumentos mais escassos dos investimentos privados se elevaram proporcionalmente mais os investimentos públicos, e vice-versa. Esta acção correctiva foi concretizada mais eficazmente no caso dos investimentos económico-sociais, e no que se refere aos investimentos sociais, em relação ao sector da habitação.
No tocante à agricultura, sector de que depende elevada percentagem da população activa e que, por esse facto, reveste grande importância numa óptica de repartição de rendimento, o esforço realizado foi, apesar de tudo, ainda insuficiente para garantir uma taxa de investimentos razoável.
A aplicação dos capitais públicos, além da acção correctiva e orientadora na determinação da estrutura da distribuição dos investimentos globais, pode ainda ser eficaz instrumento de redistribuição, na medida em que estabeleça uma infra-estrutura social que corresponda às necessidades das classes mais desfavorecidas Ora, essas necessidades referem-se particularmente aos sectores da saúde, educação, habitação, electricidade, gás, água e serviços de saneamento. Muito embora qualquer investimento público implique benefícios para toda a comunidade, e apesar de os números disponíveis não possibilitarem uma análise rigorosa no tocante às suas incidências directas sobre as várias classes de rendimento, sem dúvida que as aplicações de capitais públicos naqueles sectores trazem grandes benefícios às populações de menores recursos

1 Apesar de o aumento de capitais públicos aplicados nesta actividade ter sido relativamente maior (14 por cento) do que o aumento dos capitais privados (9,8 por cento), o aumento global do investimento na agricultura foi apenas de 10,9 por cento.

QUADRO XXII

Estimativa dos investimentos previstos nos planos de fomento

Preços correntes

[ver tabela na imagem]

Fontes: Relatórios dos Planos de Fomento. I Plano de Fomento (parecer da Câmara Corporativa).

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QUADRO XXV

Percentagem do total dos Impostos e das contribuições para a segurança social que recaem sobre o rendimento do trabalho e dos outros factores produtivos em relação ao respectivo rendimento

[ver tabela na imagem]

Fontes: Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos Corporativa e Previdência Social, Instituto Nacional de Boletim do Comissariado do Desemprego, Estatística da Organização Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

No que se refere à repartição funcionar, verifica-se que, efectivamente, o sistema fiscal português tem procurado corrigir os efeitos da distribuição atrás observada, através de uma tributação nitidamente mais pesada sobre o factor capital1 do que sobre o factor trabalho (quadro XXV), pois, enquanto a parcela retirada ao total do rendimento do trabalho representava 0,5 por cento desse rendimento, em 19623, a percentagem que, nesse ano, incidiu sobre o rendimento líquido dos outros rendimentos foi de 6,4 por cento. Já o mesmo não acontece no caso da segurança social, onde as contribuições que recaem sobre o rendimento do trabalho não diferem, em percentagem, sensivelmente das que incidem sobre o rendimento dos restantes factores, situando-se as primeiras, no ano de 1962, em 3,9 por cento e as segundas em 4,7 por cento
Isto deveu-se, por um lado, ao facto de o imposto profissional ter abrangido, em 1962, cerca de 156 000 contribuintes, ao passo que as contribuições para a segurança social são pagas por cerca de 1500 000 trabalhadores. Por outro lado, a diferença resulta ainda da divergência de taxas praticadas pelo fisco e pela segurança social, no primeiro caso, a percentagem era apenas de 2 por cento para as remunerações até 60 contos anuais e 3 por cento para as de montante superior, estabelecendo ainda a nova reforma taxas mais baixas para os escalões até 80 contos nnunis1, enquanto no segundo caso a taxa não só, em média, é mais elevada (5,5 por cento), como é, praticamente, a mesma qualquer que seja o nível de remuneração.
Para além da análise global, importava ainda observar como se tem actuado a nível sectorial sobre a repartição funcionai dos rendimentos. Também sob este aspecto não é possível avançar muito, dado que o imposto profissional e os descontos para a segurança social, tanto por parte dos trabalhadores como da entidade patronal, não são apresentados nas estatísticas oficiais ao nível da actividade. Por tal motivo, a análise restringir-se-á à observação da importância relativa da incidência dos impostos sobre os rendimentos líquidos residuais dos vários sectores, isto é, sobre a remuneração dos factores produtivos, com excepção do factor trabalho, havendo ainda necessidade, em certos casos, de proceder a ajustamentos indispensáveis para o enquadramento dos vários tipos de impostos nos respectivos sectores de actividade
Assim, pelos números do quadro XXVI pode verificar-se que as actividades onde, em 1968 e 1964, se registaram maiores taxas de imposto sobre o rendimento residual foram os serviços privados, os transportes e os bancos enquanto entre as mais baixas se destacam a agricultura, a pesca e a electricidade.

1 Fará facilidade de exposição, designar-se-á apenas por «factor capital» a totalidade de factores produtivos, com excepção do trabalho, ou seja o conjunto de terra, capital e empresa
2 Em virtude de, a partir de 1963, as estatísticas não discriminarem a parcela do imposto que recai sobre BB remunerações dos empregados por conta de outrem, não é possível considerar os anos de 1908 e 1964

1 As taxas fixadas pula recente reforma fiscal são de l por cento sobre as remunerações anuais situadas entre 18 e 40 contas, 2 por cento para as compreendidas entre 40 e 80 contos, 8 por cento para as do escalão delimitado por 80 e 120 contos, 5 por cento entre 160 e 200 contos, 6 por cento entre 200 e 250 contos, 7 por cento entre 250 e 800 contos, e 8 por cento para as remunerações superiores a 800 contos anuais.

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QUADRO XXVI

Percentagem dos impostos que recaem sobre o rendimento dos factores produtivos, com excepção do trabalho, em relação ao «rendimento residual liquido», e sua evolução por actividades

[ver tabela na imagem]

Fonte Nacionais Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos dos Contas

S 4.º Objectivos e medidas de política

11. À aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, a repartição mais equilibrada dos rendimentos e a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais, que constituem os objectivos fundamentais deste III Plano, implicam a formulação de uma política de rendimentos. Esta traduz-se num conjunto de orientações e providências que deverão incidir sobra todas as formas de rendimentos (lucros distribuídos e não distribuídos, salários, rendimentos agrícolas, prestações sociais, juros, etc.) e actuar principalmente

Nas estruturas e factores determinantes das três fases essenciais da repartição a da aplicação, a nível macro-económico, dos recursos nacionais em consumo e investimento; a da formação e distribuição dos rendimentos, isto é, da remuneração dos factores produtivos, e a da redistribuição dos rendimentos pessoais,
Nas estruturas e factores económicos que influenciam directamente a repartição ou possam ser afectados negativamente pelas repercussões das medidas me rentes à política de repartição dos rendimentos

Tendo presentes as conclusões da análise anterior, essas orientações e medidas deverão, por sua vez, coordenar-se de modo a

Elevar o nível de bem-estar de toda a população, Seduzir as diferenças entre os níveis de vida dos vários estratos sociais (especificamente no que se refere a alimentação, vestuário., saúde, cultura, habitação, à participação no consumo de outros bens e no investimento), o que implica a atenuação de disparidades muito acentuadas no rendimento pessoal,
Ter em conta as necessidades dos grupos mais vulneráveis;
Partilhar equitativamente as responsabilidades e os frutos do desenvolvimento económico,
Atingir, quanto possível, o pleno emprego dos recursos humanos e naturais, na medida em que são geradores de rendimentos, dado que a expansão do número de empregos válidos é uma forma de melhorar a repartição, seja pela criação de novos lugares, seja pela transformação de ocupações de subemprego em postos de emprego, e a exploração dos recursos naturais é um meio de conseguir o aumento do rendimento nacional.

a) Medidas de política em matéria de aplicação dos recursos nacionais

12. O planeamento da aplicação dos recursos nacionais em consumo e investimento apresenta-se como a l * fase, que logicamente deverá enquadrar, e até certo ponto determinar, as coordenadas fundamentais dos restantes aspectos da política de repartição, sendo certo que a parcela destinada ao consumo traduz o nível de bem-estar de que a população usufruirá efectivamente e o investimento revela a capacidade potencial do desenvolvimento sócio-económico futuro
Evidentemente que o planeamento de determinado montante de investimento e consumo pressupõe se adoptem providências adequadas à sua execução, as quais, por sua voz, deverão ser seleccionadas de acordo com as exigências de uma política de repartição dos rendimentos que tenha por fim proporcionar a todos os membros da população uma participação equitativa, tanto no consumo como no investimento realizado
À análise anterior conduz a que, em síntese, a aplicação do produto, no decurso deste III Plano, deva processar-se de modo a conjugar o máximo bem-estar para a população e o maior ritmo de crescimento económico Para tal importa

a) Procurar proporcionar a satisfação do nível de necessidades, individuais e colectavas, da popu- (...)

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614 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

Fontes: Estatística Industrial, Estatística das Sociedades, Anuário Estatístico, Contas Nacionais, Orçamento Geral do Estado, Recolha de elementos sobre mão-de-obra (Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-obra, Janeiro de 1965 (dados provisórios)

A observação das taxas médias de crescimento anual dos vários sectores, no decénio em analise, mostra também que, com excepção da agricultura, todas as actividades com remunerações inferiores à média beneficiaram de percentagens de aumento superiores a 6 por cento, o que implica a redução da amplitude máxima do intervalo, de 860,4 para 801,4, e do desvio médio em relação a média, de 79,5 para 62,11
Esta evolução, numa óptica de repartição, deve considerar-se correcta, na medida em que a redução das acentuadas diferenciações intersectoriais conduz a maior harmonia dos níveis de remuneração
Apesar disso, a amplitude do desvio continua a apontar a necessidade de procurar elevar progressivamente os níveis salariais dos sectores mais desfavorecidos
A taxa de crescimento das remunerações foi sensível
A evolução processada no decénio apresenta características diferentes no decurso do I e II Planos.

1 Por amplitude do intervalo entende-se a diferença entre os índices máximo e mínimo em relação à média.
O desvio em relação a média corresponde a média aritmética das diferenças, para 100. dos índices de cada actividade sem atender ao sinal O valor obtido traduz, portanto, o grau médio de dispersão das remunerações dos vários sectores em relação à média
Os números apresentados dizem respeito, mios casos, às principais divisões e, noutros, aos desdobramentos destas que figuram no quadro XXVIII considerando apenas os elementos ao nível das divisões, isto é, abstraindo dos referidos desdobramentos, estes valores reduzem-se bastante, uma vez que a dispersão da média das remunerações dos bancos e do comércio, dos serviços públicos e privados e da agricultura e pesca é menos acentuada que a das respectivas classes que a compõem

[ver tabela na imagem]

A taxa de crescimento das remunerações foi sensivelmente mais elevada no período de 1958-1959 a 1968-1964 (7,5 por cento) do que no período de 1953-1954 a 1958-1959 (4,5 por cento). De maneira geral, este aumento médico resultou de aumentos mais ou menos acentuados em todos os sectores de actividade 1. Salientem-se particularmente os casos da agricultura, dos serviços privados.

1 Constituem excepção o sector das indústrias extractivas, cujas taxas baixaram de 7,7 por cento para 6,6 por cento, e o funcionalismo público, que passou de 2,7 por cento para 2 por cento Note-se, porém, que, neste último caso, as percentagens não traduzem a realidade, pois, na medida em que os aumentos dos ordenados se verificaram em 1968 e os taxas são baseadas na média de 1958-1959, esse método conduz a que o aumento se reparta pelos dois períodos

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(...) e do comércio, cujas taxas se elevaram, respectivamente, de 2,8, 3,7 e 5 por cento, no decurso de 1953-1959, o de 8,9, 9 e 10,2 por cento, no outro período
Dada a importância que o sector das indústrias transformadoras assume na determinação do nível médio da remuneração do factor trabalho, e a gama e heterogeneidade das classes de actividade que a compõem, com características especificas muito diversas entre si, proceder-se-á. com os dados disponíveis, a exame mais pormenorizado da estrutura dessas remunerações, em moldes idênticos ao efectuado & escala das divisões
Pelo quadro XXVIII nota-se que as classes que apresentavam salários médios mais elevados, em 1963-1964, eram, por ordem decrescente

Índices
em relação
à media
ponderada
da indústria
transformadora

32 - Derivados do petróleo 321,6
33 - Material de transporte 174,8

Índices
Em relação
À média
Ponderada
Da indústria
Transformadora

34 - Metalúrgicas de base ............ 169
37 - Máquinas e material eléctrico ... 146,5
31 - Químicas ........................ 138,8
24 - Vestuário e calçado ............. 74,7
23 - Têxteis ......................... 81,1
39 - Transformadoras diversas ........ 81,9
20 - Alimentação ..................... 83,5
25 - Madeira e cortiça ............... 86,1
26 - Mobiliário ...................... 87,6
29 - Curtumes ........................ 90,7
35 - Produtos metálicos .............. 94,5

As classes de nível inferior à média ponderada das indústrias transformadoras apresentavam-se, por ordem crescente, do modo que se observa no quadro a seguir

QUADRO XXVIII

Índices das remunerações médias anuais por classes da indústria transformadora e sua evolução na metrópole

(ver tabela na imagem)

Página 616

616 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

Fonte Estatística Industrial

Dado que o conjunto das categorias profissionais da indústria transformadora com remunerações inferiores à respectiva média, absorve cerca de 71 por cento da população que trabalha naquele sector, a influência das remunerações destas categorias faz-se sentir consideravelmente na determinação do nível médio do sector (divisões 2 e 3), que, como já se salientou, era inferior ao da média de todas as actividades
A ordenação apresentada também não acusa alterações sensíveis em relação a que vigorava em 1958-1954 De salientar apenas o vestuário e calçado e o mobiliário, que, pelo facto de terem evolução salarial moderada (a taxa média do crescimento anual foi apenas de 3,2 por cento no primeiro caso e de 1,9 por cento no segundo), baixaram bastante de posição no fim do período em relação a 1953-1954, e as bebidas e as metalúrgicas de base, onde, pelo contrário, se notam as mais elevadas taxas (9,4 e 10,8 por cento), o que ocasionou subida das suas posições relativas
Quanto as taxas anuais de evolução salarial, no período de 1953-1954 a 1963-1964, além das actividades já referidas, salientam-se ainda as transformadoras diversas, petróleos e alimentação, onde os crescimentos médios foram dos mais elevados (12,3, 9,7 e 8,1 por cento, respectivamente), e a tipografia, material de transporte, curtumes e borracha, que, pelo contrário, tiveram acréscimos diminutos (3,8, 4,3, 4,4 e 4,7 por cento).
A observação dos números i e vela ainda que, com excepção dos têxteis, todas as actividades que, em 1953-1954, tinham remuneração inferior à média ponderada, registaram taxas de crescimento igual ou superior a 6,9 por cento

Desvio médio dos índices das classes em relação à média ponderada das indústrias transformadoras

[ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 617

Amplitude do Intervalo de variação das classes

[ver tabela na imagem]

Note-se que estes números revelam um desvio médio e uma amplitude bastante inferiores aos obtidos anteriormente para os índices das divisões, em relação & média geral de salários (em 1968-1964 cerca do 46 e 168, respectivamente), apesar disso, pode-se considerar ainda elevada a dispersão salarial nas classes das indústrias transformadoras
Analisando agora mais pormenorizadamente os dados relativos aos I e II Planos, as taxas anuais de crescimento revelam que a evolução processada no decurso de 1953-1954 a 1958-1959 e de 1958-1959 a 1963-1964 acusou, nas indústrias transformadoras, uma taxa de crescimento médio no segundo período (7 por cento) superior a do primeiro (5,6 por cento), a semelhança do que se verificou com o nível geral das remunerações
Este aumento resultou de subidas na generalidade das classes em que se desdobram as indústrias transformadoras, sendo de salientar, porém, as transformadoras diversas, bebidas, metalúrgicas de base, vestuário e calçado, cujas taxas de crescimento se atenuaram no decurso do II Plano Importa no entanto acentuar que, com excepção do vestuário e calçado, as restantes usufruíram, no decurso do primeiro período, de taxas superiores a média e, embora estas tivessem baixado, continuaram, no entanto, superiores à taxa média do respectivo período, o que se afigura evolução favorável

De maneira geral, a semelhança do que se verificou na totalidade do período de 1958-1954 a 1963-1964, tanto no decurso do I Plano como do II Plano, as classes com remunerações mais baixas tiveram taxas de crescimento superiores à média, com excepção apenas dos têxteis e dos produtos metálicos, no primeiro período (2,7 e 4,2 por cento, respectivamente), do vestuário o calçado e dos curtumes, no segundo (2,7 e 6,6 por cento)
1 Exceptua só apenas o caso dos derivados do petróleo, cuia tatá baixou de 14,0 por cento para 5 por conto, mas que, dado o seu nível relativamente alto, não afecta negativamente o problema da repartição

QUADRO XXIX

Índice de dispersão das remunerações médias diárias de cada grau de qualificação em relação à remuneração do não especializado, por divisões da actividade económica

(Homens e mulheres - 1965)

[ver tabela na imagem]

Fonte Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada em Janeiro de 1965 pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra (dados provisórios)

2. Outro aspecto das remunerações que importa encarar é o das diferenças existentes entre os salários médios dos vários graus de qualificação, cuja análise implica também o conhecimento do grau de dispersão interesectorial das remunerações pagas a cada tipo de qualificação
Tomando por base o salário do não especializado, por, em princípio, ser o mais baixo da escala hierárquica do trabalhador adulto e ainda porque, segundo a amostra, nesta categoria se incluem cerca de 26 por cento dos trabalhadores dos sectores não agrícolas, elaborou-se o quadro XXIX, onde figuram para cada actividade os índices de dispersão das remunerações médias diários de cada grau e qualificação em relação ao salário do não especializado. Segundo aqueles índices, verifica-se que, em média, o pessoal especializado ganha mais 49 por cento do que o não especializado, os mestres e capatazes mais 187 por cento, o pessoal administrativo mais 209 por cento e o pessoal técnico e dirigente mais 411 por cento e 681 por cento, respectivamente
Examinando agora as diferenciações entre os diversos níveis de qualificação em cada uma das actividades que figuram no mesmo quadro por ordem decrescente das respectivas médias ponderadas, verifica-se que, com excepção da pesca e dos transportes e comunicações, a amplitude máxima dos índices de dispersão não varia de forma sensível. Complementarmente, no quadro XXXX, observa-se que, de maneira geral, a posição relativa das actividades dentro de cada categoria é mais ou menos a mesma da ordenação observada com base nas médias ponderadas de todas as qualificações. Daí a conclusão de que, provavelmente, o nível médio das remunerações de cada sector não tem influência no grau de dispersão entre qualificações.
Observando agora a oscilação das remunerações intersectoriais, segundo o grau de qualificação, em referência a correspondente média ponderada (quadro XXX), conclui-se que a média das diferenças verificadas entre os salários pagos nos vários ramos de actividade a cada categoria não é, de maneira geral, muito acentuada, sobre- (...)

Página 618

618 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

tudo no que se refere ao pessoal administrativo, diligente e técnico e aos aprendizes e praticantes Note-se que, com excepção do pessoal menor, as diferenciações médias intersectoriais (quadro XXX, col 11) suo mesmo bastante inferiores ao desvio médio registado para a média ponderada das remunerações de todas as categorias (32,7 por cento), o que conduz à conclusão de que tais diferenciações, observadas aquando da análise das remunerações médias das actividades, não resultam, fundamentalmente, de disparidades ao nível de coda qualificação, devendo antes ser influenciadas pelas diferenças de estrutura qualitativa dos trabalhadores que as compõem. Aliás, os números confirmam que as mais elevadas percentagens de não especializados se encontrara, precisamente, nas actividades onde se observam as mais baixas médias salariais (quadro XXXI)
Dada a importância que a categoria do não especializado assume, tanto na determinação do nível salarial como pelo facto de abranger elevado número de trabalhadores (cerca de um quarto da população empregada por conta de outrem nas actividades não agrícolas), passar-se-ão a analisar, mais pormenorizadamente, os vários aspectos que influenciam o seu nível de remunerações

QUADRO XXX

Índice de dispersão das remunerações medias diárias de cada actividade em relação à respectiva média ponderada, por graus de qualificação

(Homens e mulheres)

1966

[ver tabela na imagem]
Fonte Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra, em Janeiro de 1965 (dados provisórios)

QUADRO XXXI

Índices das remunerações medias diárias e percentagem da mão-de-obra não especializada em relação ao total, por actividades

1965

[ver tabela na imagem]

(a) Não Inclui os serviços do administração publica, nem os serviços domésticos

Fonte Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada, em Janeiro de 1965, polo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra (dados provisórios).

Página 619

30 DE JUNHO DE 1967 619

QUADRO XXXI

Índices das remunerações medias diárias e percentagem da mão-de-obra não especializada em relação ao total, por classes da indústria transformadora

1965
[ver tabela na imagem]

Fonte Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada, em Janeiro de 1966, pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra (dados provisórios)

Conforme se observa no quadro XXX, a amplitude entre as remunerações extremas é acentuada e o desvio médio em relação & média é também dos mais amplos Este facto assume importância numa óptica de repartição, na medida em que, como se frisou, o nível médio da remuneração do não especializado é já reduzido e, portanto, sem margem suficiente que lhe permita descer acentuadamente abaixo desse nível.
Assinalam-se, em especial, os casos da pesca, serviços, transformadoras diversas, vestuário e calçado, maquinas e material eléctrico, madeira o cortiça, curtumes e bebidas

3. O estudo das diferenças inter-regionais das remunerações é outro aspecto que importa encarar na análise da estrutura salarial Na realidade, o nível de remunerações auferidas pelos trabalhadores vai ia segundo o local do trabalho, chegando, por vezes, a atingir disparidades acentuadas Essas diferenciações podem ter motivos diversos, salientando-se, entre eles, a própria estrutura sectorial da economia da região, ou sejam os sectores que predominantemente nela se localizam e que, como se viu, revelam diferenças salariais muito acentuadas, o a estrutura das qualificações, que pode igualmente influenciar, directa ou indirectamente, as divergências observadas entre as regiões
A avaliação das diferenciações regionais propriamente ditas e a definição das determinantes que as originam constituem, sem dúvida, objecto de análise muito importante para a selecção de medidas de política adequadas
Os elementos estatísticos disponíveis conduzem a tomar por base regional dessa análise o distrito, avaliando apenas as diferenciações brutas interdistritais e relacionando-as, na medida do possível, com a estrutura sectorial da região, por se julgar ser este o seu factor determinante. Traça-se depois a linha evolutiva das remunerações diárias do sector agrícola e as anuais do sector não agrícola em cada distrito. Salienta-se, porém, desde já, que tanto a análise estática como a dinâmica deverão ser encaradas com certas reservas, na medida em que, devido ú insuficiência de dados, por um lado, a análise estática foi baseada apenas em salários diários, não se entrando, portanto, era consideração com os dias de trabalho e, por outro, a análise dinâmica do sector não agrícola, embora baseada em estimativas anuais, considera-se sujeita a margem de erro sensível
No relativo às diferenciações regionais pròpriamente ditas, a tendência actual, em vários países, tem sido a de se procurar reduzi-las progressivamente, por motivos da ordem económica e social
O principal inconveniente de ordem económica dessas diferenciações salariais ligados à localização das empresas rés de no facto de permitir uma concorrência de preços, resultante de diferenças nos custos de produção, o que poderá dificultar a colocação dos produtos das empresas abrangidas pelas tabelas salariais mais elevadas e, consequentemente, afectar o seu equilíbrio financeiro

1 As estimativas distritais das remunerações do sector não agrícola foram baseadas nos salários médios anuais de cada divisão da actividade económica, obtidas através de várias fontes estatísticas o ponderadas com a respectiva estrutura do emprego segundo o censo de 1960.

Página 620

620 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA JV.º 5G

O problema social liga-se com a repartição do rendimento entre os factores produtivos Partindo da hipótese de o rendimento global de duas empresas sei idêntico não se justifica que o simples facto de sê localizarem em zonas diferentes determine uma repartição desse rendimento de molde a beneficiar mais o factor capital ou mais o factor trabalho, consoante a região
Apesar dos inconvenientes de ordem económica e social apontados, que conduzem a orientação geral no sentido de se eliminai em as diferenciações inter-regionais, poderá havei factores que, em certos casos, justifiquem o estabelecimento desse tipo de diferenciações Salientam-se entre eles

Diferenças existentes nos preços de aquisição dos elementos intervenientes na produção (matérias-primas, energia, etc.), nos custos de transporte ou no custo de outros elementos inerentes à localização da empresa, como, por exemplo, uma infra-estrutura mais desenvolvida,
Diferenças de custo de vida, mas apenas nos casos em que o sector não tem possibilidade económica de pagai salário equivalente ao limite mínimo indispensável à satisfação das necessidades básicas do trabalhador na região de custo de vida mais elevado Como, de maneira geral, as zonas onde o custo de vida é mais alto coincidem com as zonas de maior desenvolvimento económico, as empresas que ficam sujeitas a tabelas de salários mais gravosas são precisamente aquelas que, pelo menos em pai te, encontram certa compensação nos benefícios decorrentes da sua localização em zonas com infra-estruturas mais desenvolvidas

Para base do estudo dos níveis salariais praticados em cada distrito, apresentam-se no quadro XXXIII os índices das remunerações médias em relação a Lisboa no ano de 1964, que revelam as posições relativas dos salários diários para o total das actividades económicas do distrito 1, discriminando-se a agricultura, por um lado, e as actividades não agrícolas, por outro

1 A estimativa das remunerações médias para o total dos actividades económicas do distrito foi baseada nos salários médios diários da agricultura relativos à média do ano de 1994 e nos salários diários das outras actividades relativos a Janeiro de 1965. Não foram utilizados os elementos da agricultura de Janeiro de 1965, porque nesse mês os salários agrícolas eram muito mais baixos. Por sua vez, os salários não agrícolas relativos a Janeiro de 1963 sido considerados bastaste representativos para 1964, por se referirem, praticamente, ainda à conjuntura económica deste ano e por não estarem tão sujeitos a flutuações sazonais como os salários rurais, pelo que, embora contenham certa margem de erro, esta deverá ser reduzida

QUADRO XXXIII

Índices das remunerações medias diárias de cada distrito em relação a Lisboa

1964

(ver tabela na imagem)

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30 DE JUNHO DE 1967 621

[ver tabela na imagem]

Nota - As remunerações para o total das actividade? foram obtidas ponderando as remunerações das actividades agrícolas e não agrícolas pela respectiva população activa com profissão, segundo o censo de 1960.

Fontes: Anuário Estatístico. Recolha de elementos sobre mão-de-obra (Janeiro de 1965 - Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra - dados provisórios).

Da observação dos referidos elementos ressalta imediatamente o acentuado isolamento do distrito de Lisboa em relação aos restantes, no que se refere u remuneração média do factor trabalho Assim, no distrito do Porto, que figura em segundo lugar na ordenação decrescente dos distritos, segundo o seu nível de i enumeração, pagavam-se em média salários que correspondiam a 66,2 por cento dos praticados em Lisboa e, em Portalegre, o salário representava apenas 44,1 por cento da média de Lisboa
A distribuição dos distritos entre esses dois extremos, embora com grau de dispersão bastante uniforme entre eles, permite constituir três grupos um, com salários inferiores a 50 por cento do salário que vigorava em Lisboa, outro, constituído pelos distritos cujas médias salariais se situavam entre 50 por cento e 60 por cento, e, por último, um grupo que engloba os distritos com salinos superiores a 60 por cento, com excepção de Lisboa. Deste modo, resultam quatro zonas geográficas, com as remunerações médias ponderadas e a constituição seguinte:

Percentagem

Zona I - base
Lisboa ........... 100

Zona II - 60 por cento a 70 por cento de Lisboa

Porto ................. 66,2
Setúbal ............... 63,2
Leiria ................ 63,2

Percentagem

Santarém .............. 68,2
Coimbra ............... 60,3
Média ponderada ....... 64,7

Zona III - 50 por cento a 60 por cento de Lisboa

Castelo Branco ......... 57,4
Aveiro ................. 57,4
Guarda ................. 57,4
Vila Real .............. 55,9
Faro ................... 54,4
Bragança ............... 54,4
Média ponderada ........ 55,9

Zona IV - inferior ou igual a 50 por cento de Lisboa

Viana do Castelo ........... 50
Évora ...................... 48,5
Viseu ...................... 48,5
Braga ...................... 47,1
Beja ....................... 45,6
Portalegre ................. 44,1
Média ponderada ............ 47,1

Estes índices revelam a existência de acentuado grau de diferenciação entre o nível de vida médio dos trabalhadores do distrito de Lisboa e das restantes zonas, diferenciação traduzida pelas percentagens de 35,3 por

Página 622

622 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

(...) cento, 44,1 por cento e 52,9 por cento, respectivamente para as zonas II, III e IV. Se se considerarem como base as remunerações distritais, obtém-se um desvio médio em relação a Lisboa da ordem dos 45 por cento Estas diferenças, muito embora se atenuem no que se refere ao poder de compra leal do salário, na medida em que o custo de vida de Lisboa é mais elevado do que nos restantes distritos, devem, mesmo assim, ser consideradas excessivas
Tendo em conta a distribuição populacional dos trabalhadores pelas várias zonas salariais atrás definidas, chega-se à conclusão de que

Apenas 18,7 por cento da população trabalhadora vive no distrito de Lisboa,
34,4 por cento localiza-se na zona II,
22,9 por cento situa-se na zona III,
24 por cento dos trabalhadores do continente localizam-se na zona IV, onde os níveis salariais são mais baixos

As médias salariais dos distritos são determinadas, se não fundamentalmente, pelo menos em grande parte, pela estrutura sectorial em que assenta a economia da região. Assim, vê-se pelo quadro XXXIII que, com excepção de Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro e Braga, mais de 50 por cento da população activa dos restantes distritos trabalham na agricultura. Afigura-se, portanto, com muito interesse o desdobramento da análise das remunerações distritais da agricultura e das actividades não agrícolas
Pelo referido quadro verifica-se que o nível das remunerações pagas pelas actividades não agrícolas é, de maneira geral, mais elevado do que o pago na agricultura, exceptuando-se apenas os distritos de Vila Real e Viseu, onde, pelo contrário, os salários rurais são, em média, superiores aos não agrícolas, e Bragança, Leiria e Viana do Castelo, em que os dois grupos de actividades têm níveis idênticos
O grau de dispersão dos vários distritos em relação a Lisboa difere também consideravelmente. Enquanto, paia as actividades não agrícolas, o desvio médio em relação a Lisboa (43,8 por cento) se assemelha bastante ao do nível geral de salários (44,9 por cento), este desvio na agricultura é sensivelmente mais reduzido (35,2 por cento)
A constituição de zonas específicas, quer para as actividades agrícolas, quer paia os não agrícolas, para além da zona formada pelo distrito de Lisboa, que em qualquer dos casos se isola em relação aos restantes, afigura-se ainda mais difícil e menos precisa do que a observada anteriormente para a média geral dos salários, sobretudo no caso da agricultura
Aplicando, porém, os mesmos limites das zonas traçadas paia o nível geral de salários, obtém-se um agrupamento de distritos com algumas alterações em relação à constituição anterior

Zona I

Actividades não agrícolas
Lisboa

Agricultura
Lisboa

Zona II

Actividades não agrícolas
Porto
Setúbal
Coimbra
Santarém
Castelo Branco
Leiria
Guarda
Aveiro
Faro

Agricultura
Leiria
Santarém

Zona III

Actividades não agrícolas
Bragança
Évora
Beja

Agricultura
Vila Real
Guarda
Setúbal
Coimbra
Bragança
Aveiro
Castelo Branco

Zona IV

Actividades não agrícolas
Viana do Castelo
Braga
Vila Real
Viseu
Portalegre

Agricultura
Faro
Viana do Castelo
Viseu
Porto
Évora
Beja
Portalegre
Braga

Depreende-se que, com excepção do distrito de Lisboa, enquanto nas actividades não agrícolas nove dos dezassete distritos sé situam na zona n (além dos cinco já considerados anteriormente, passam a fazer parte desta zona Faro, Aveiro, Guarda e Castelo Branco), na agricultura apenas Leiria e Santarém nela se incluem, por outro lado, em relação à zona IV, nota-se que na agricultura, pelo contrário, 50 por cento dos distritos se inserem neste grupo, enquanto nos sectores não agrícolas os distritos de Beja e Évora, que anteriormente estavam nele incluídos, passaram a fazer parte da zona III.

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QUADRO XXXIV

Evolução das remunerações médias na agricultura e nas actividades não agrícolas, por distritos

[ver tabela na imagem]

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Calculando as médias ponderadas dos distritos que constituem as quatro zonas, obtêm-se as seguintes médias de afastamento em relação a Lisboa

[ver tabela na imagem]

Ao longo do período delimitado pelas médias dos anos de 1953-1954 e 1963-1964, observa-se no quadro XXXIV que, no caso da agricultura e das actividades n fio agrícolas, os oito distritos que tiveram taxas de crescimento mais elevadas foram os seguintes

Taxas mais elevadas
Percentagens

Agricultura
Viana do Castelo ...... 7,5
Vila Real ............. 6,9
Santarém .............. 6,8
Guarda ................ 6,6

Actividades não agrícolas

Bragança ........... 10,6
Santarém ........... 7,8
Portalegre ......... 7,7
Faro ............... 7,3

Taxas mais baixas:

Agricultura
Setúbal ..... 4,1
Porto ....... 5
Beja ........ 5,1
Braga ....... 5,2

Actividades não agrícolas

Viana do Castelo ... 3,7
Braga .............. 3,7
Castelo Branco ..... 4,6
Coimbra ............ 5

QUADRO XXXV

Percentagem de diferenciação das remunerações médias da agricultura e das actividades não agrícolas de cada distrito em relação às respectivas remunerações no distrito de Lisboa e sua evolução.

(ver tabela na imagem)

Fontes: Anuário Estatístico, Estatística Industrial, Estatística das Sociedades.

Como só verifica, parece não ter havido, de maneira geral, qualquer evolução coordenada, idêntica ou complementar, dos salários distritais nos dois grupos de actividades
Além disso, em qualquer dos casos, as respectivas evoluções conduziram ao agravamento das diferenciações brutas dos salários em relação a Lisboa, na medida em que este distrito, que serviu de base de comparação, por ser o de mais altos salários, beneficiou também de taxas relativamente elevadas
Os números revelam, portanto, que, ao longo do decénio de 1953-1954 a 1963-1964, a evolução das remunerações distritais se processou de modo a acentuar as diferenças salariais já existentes entre Lisboa e os restantes distritos (quadro XV)
Parece, pois, de concluir que o equilíbrio regional nas remunerações do factor trabalho deverá ser conseguido pela redução das diferenciações regionais, através da melhoria progressiva dos níveis salariais na maior parte dos distritos, particularmente nos que constituem a zona IV
Essa elevação deverá efectuar-se actuando, simultaneamente, no sentido do reduzir de foi ma gradual os diferenciações salariais propriamente ditas em relação a Lisboa, de elevar o nível das remunerações dos sectores em que ostenta fundamentalmente a actividade económica e de reestruturar a economia regional em bases mais dinâmicas, revigorando a estrutura dos sectores tradicionais e fomentando a implantação de actividades com níveis salariais mais elevados

4. Uma das causas de discriminação nas remunerações foi, no nosso país, como é frequente em economias de idêntico estádio de desenvolvimento, o sexo do trabalhador
O Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, no seu artigo 115.º, veio, porém, estabelecer o direito de a mulher «receber, em absoluta igualdade de condições e idêntico rendimento de trabalho, a mesma retribuição dos homens»
Em cumprimento desta disposição legal, é de esperar o progressivo desaparecimento das diferenças que ainda se verifiquem

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30 DE JUNUO DE 1967 625

QUADRO XXXVI

Diferenciações entre as remunerações médias diárias dos homens e das mulheres por graus de qualificação

1965

[ver tabela na imagem]

Fontes Recolha ao elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra, em Janeiro de 1965 (dados provisórios); X Recenseamento Geral da População.

QUADRO XXXVII

Diferenciação entre as remunerações medias diárias dos homens e das mulheres por divisões da actividade económica

1985

[ver tabela na imagem]

(a) Não inclui os serviços de administração pública, nem os serviços domésticos

Fontes. Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra em Janeiro do 1965 (dados provisórios); X Recenseamento Geral da População

5. Apesar de a taxa de crescimento das remunerações ser encarada como indicador corrente da evolução do aumento do nível do vida dos trabalhadores, na medida em que o salário é a sua fonte principal de rendimento, sem dúvida que só o valor real das remunerações traduz efectivamente esse aumento, pois a sua expressão monetária está sujeita a depreciações em consequência do aumento dos preços, o que implica a redução do poder de compra real daquelas remunerações. Assim, a evolução do nível de vida do trabalhador somente poderá ser avaliada com alguma correcção através da taxa de acréscimo dos salários reais, isto é, das remunerações nominais deflacionadas através do custo de vida
Tomando para base a taxa de inflação utilizada nas Contas Nacionais, elaborou-se o gráfico I, onde figuram, para o período de 1953-1964, as evoluções dos salários nominais, do custo de vida e dos salários reais, ou seja, dos salários deflacionados
Segundo os elementos publicados, o agravamento do custo de vida entre 1958 e 1964 foi apenas de 15,1 por cento, o que corresponde a taxa de inflação anual de 1,38 por cento e conduz à redução da taxa de aumento dos salários nominais (que, como já se salientou, foi de 5,96 por cento para 4,51 por cento) Note-se que a redução da taxa de acréscimo dos salários nominais foi mais acentuada no decurso do II Plano do que no I, na medida em que a taxa de inflação se elevou de l por cento para 1,6 por cento Dai que as taxas de crescimento dos salários nominais nos referidos períodos (4,46 por cento e 7,47 por cento, respectivamente) se tivessem aproximado ligeiramente 2. Pode, assim, concluir-se que, apesar de as remunerações nominais terem evoluído em ritmo acentuadamente mais elevado no decurso do II Plano, o acréscimo de benefício leal de que o trabalhador usufruiu foi efectivamente mais reduzido do que o sugerido por aquela diferença

1 Esta taxa corresponde aproximadamente ò. verificada na cidade de Lisboa, entre 1953 e 1958, segundo os índices do custo do vida do Instituto Nacional de Estatística. A partir desta data, porém, os índices de custo de vida de Lisboa silo ligeiramente mais acentuados, pois, enquanto naquele período o índice de Lisboa foi de 105,5 e o utilizado nas Contas Nacionais de 105,1, em 1964 os mesmos índices elevaram-se, respectivamente, para 120,8 e 110,8
Deu-se preferência aos elementos das Contas Nacionais na medida em que, sendo do âmbito continental, em princípio deveriam traduzir com maior rigor a evolução do valor da moeda
2 As taxas, depois de deflacionadas pelo índice do custo de vida, baixaram para 1,17 no período do I Plano e para 5,88 no decurso do Plano

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626 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

GRÁFICO I

EVOLUÇÃO EM ÍNDICE DA PRODUTIVIDADE E DAS REMUNERAÇÕES NOMINAIS E REAIS NO PERÍODO E DO CUSTO DE VIDA DE 1953-1964

[ver tabela na imagem]

Outro aspecto que importa salientar é o facto de, tanto a nível sectorial como distrital, a evolução das remunerações nominais ter sido de modo genético suficiente para garantir o poder de compra leal existente no início do período

6. Os factores que, teoricamente, deverão constituir as determinantes fundamentais da evolução das remunerações são, por um lado, o custo de vida, que deverá estar na base da fixação do limite mínimo do aumento salarial, a fim de assegurar aos trabalhadores a manutenção do podei aquisitivo das suas remunerações e, por outro, a produtividade do trabalho que se apresenta, actualmente, como o indicador mais apropriado para permitir avaliar qual o aumento do valor leal das remunerações compatível com o ritmo de desenvolvimento económico processado. Note-se, porém, que, enquanto as evoluções do custo de vida e dos salários, em princípio, se poderão identificai, o mesmo não acontece com as evoluções da produtividade e dos, salários, em relação às quais os objectivos de uma política do repartição podem impor ritmos diversos
Admite-se, em geral, que uma das foi mas de repartir o acréscimo de rendimento resultante do desenvolvimento económico pelos factores que o originam - trabalho e capital -, sem afectar a estabilidade de preços, é pautar a evolução dos salários pela da produtividade, a fim de garantir a cada factor a parcela que, em proporção, lhe cabia anteriormente. E evidente, porém, que um procedimento deste género conduz, em princípio, a manutenção da repartição base já existente, por tal motivo, parece que só serão de considerar evoluções coincidentes das variáveis produtividade-salários desde que a repartição base do rendimento se possa considerar satisfatória
Quando a repartição base se processe em detrimento do factor trabalho, deverá procurar-se que os salários evo-

1 A afirmação só é rigorosamente certa desde que a comparação seja estabelecida entre a produtividade e o montante global de salários. No caso de se comparar com a evolução dos remunerações individuais, é provável que a parcela que venha a caber no factor trabalho aumente na medida em que se eleve o numero de trabalhadores

luam mais do que proporcionalmente em relação a produtividade, a fim de tornar mais equitativa a repartição funcional Quanto ao equilíbrio dos preços, uma actuação deste género não deverá, em princípio, afectá-lo, pois incide apenas sobre os acréscimos de produtividade, isto é, sobre a riqueza criada
Da observação do quadro XXXVIII conclui-se que, em média, a taxa de crescimento anual dos salários para a totalidade do período foi praticamente idêntica à da produtividade (5,96 por cento no primeiro caso e 5,56 por sento no segundo), verificando-se essa semelhança tanto iro decurso do primeiro período (4,46 por cento e 4,16 por cento, respectivamente) como no do segundo (7,17 por cento e 6,08 por cento). Apesar disso, vê-se pelo gráfico I que as curvas ajustadas aos valores nominais, pelo método dos mínimos quadrados, sugerem uma evolução da produtividade, no primeiro período, praticamente coincidente com a dos salários, e, no segundo, um pouco inferior. A nível sectorial, verifica-se certo desajustamento entre as conclusões a que se chega através das taxas de crescimento apresentadas no quadro XXXVIII e as que se inferem da observação do gráfico II. As diferenças resultam do facto de as taxas sei em calculadas com base nas médias dos dois anos extremos, enquanto as curvas mostram os desajustamentos anuais. Por esta razão, consideram-se os gráficos mais aptos paia revelar como, ao longo do período, se repartiu entre os factores capital e trabalho o acréscimo do produto, pois, apesar de as taxas salariais e da produtividade serem baseadas na média dos dois anos extremos, elas nada revelam quanto ao facto de esse aumento se ter dado uniformemente ao longo do período ou apenas nos últimos anos 1.

1 Evidentemente que, numa óptica de repartição, tem importância o conhecimento desse facto, pois, só a evolução da produtividade tiver sido em vários anos mais acentuada que a dos salários, só se identificando, portanto, no fim do período, sem dúvida que a repartição se efectuou a favor do factor capital, o vice-versa E o caso flagrante da electricidade, em que as taxas sugerem ter havido uma evolução paralela entre os salários e n produtividade, quando o gráfico n mostra que, efectivamente, a evolução desta última foi sempre superior, tendo-se apenas verificado uma aproximação no último ano

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QUADRO XXXVIII

Evolução da produtividade e das remunerações médias anuais, por divisões da actividade económica

Preços correntes

(ver tabela na imagem)

Fontes Estatística Industrial, Estatística das Sociedades, Anuário Estatístico, Contas Nacionais, Orçamento Geral do Estado, Recolha de elementos sobro mão-de-obra relativa a Janeiro de 1965 e estimativas efectuadas pelo Fundo de Desenvolvimento da mão-de-obra.

Tomando para base as ciavas evolutivas dos salários nominais e da produtividade para cada sector da actividade económica (gráfico II), verifica-se certa diversidade no comportamento das duas variáveis

GRÁFICO II

EVOLUÇÃO EM ÍNDICE DA PRODUTIVIDADE E DAS REMUNERAÇÕES NOMINAIS E REAIS - POR ACTIVIDADE NO PERÍODO DE 1953-1964

(ver tabela na imagem)

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628 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

1- INDUSTRIAS EXTRACTIVAS

[ver tabela na imagem]

61- COMÉRCIO

[ver tabela na imagem]

4- CONSTRUÇÃO E OBRAS PUBLICAS

[ver tabela na imagem]

7- TRANSPORTES, ARMAZENAGEM E COMUNICAÇÕES

[ver tabela na imagem]

2/3 - INDUSTRIAS TRANSFORMADORAS

[ver tabela na imagem]

5- ELECTRICIDADE, GÁS, AGUA E SERVIÇOS DE SANEAMENTO

[ver tabela na imagem]

8- SERVIÇOS

[ver tabela na imagem]

62/3/4- BANCOS, SEGUROS E OPERAÇÕES SOBRE IMÓVEIS

[ver tabela na imagem]

[..............]
[..............]
[..............]

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DE JUNHO DE 1067 629

Depreende-se que.
Na pesca, na electricidade e nas indústrias transformadoras, a evolução da produtividade foi, ao longo de 1958-1964, superior à dos salários nominais,
Nas indústrias extractivas, na agricultura e nos bancos, seguros e operações sobre imóveis1, pelo contrário, nota-se, ao longo do mesmo período, uma evolução da produtividade predominantemente inferior a dos salários nominais,

No comércio, nos serviços e aos transportes verificam-se, a partir de 1958-1959, evoluções mais ou menos opostas e, até certo ponto, complementares das existentes até essa data. As duas primeiras actividades, que registaram evolução da produtividade superior à dos salários no primeiro período, tiveram, no decurso do segundo, aumentos de salários superiores aos da produtividade, sobretudo no caso do comércio; nos transportes verificou-se o contrário,
Na construção, a produtividade, até 1968, teve crescimento inferior ao dos salários, registando-se apenas no último ano uma acentuada subida daquela em relação a estes.
__________________

1 Para facilitar, designar-se-á esta divisão apenas pela primeira expressão, ou seja, bancos

QUADRO XXXIX

Evolução da produtividade e das remunerações médias anuais, por classes da industria transformadora, segundo a amostra total da estatística Industrial

Preços correntes

[ver tabela na imagem]

Fonte Estatística Industrial.

Dentro das indústrias transformadoras, os sectores onde se verificou uma evolução da produtividade superior à dos salários foram, designadamente

A1

Têxteis.
Transformadoras diversas
Produtos metálicos

B1

Papel.
Produtos minerais não metálicos.
Borracha
Bebidas.
Tabacos
Químicas

C1

Máquinas e material eléctrico.

7. Muito embora os factores que, teoricamente, devem condicionar a evolução das remunerações sejam, como já se salientou, os aumentos do custo de vida e da produtividade, sem dúvida que, na prática, um dos principais factores determinantes é a situação do mercado de trabalho Com efeito, enquanto a evolução do custo de vida e, em parte, os aumentos da produtividade constituem instrumentos de uma política de rendimentos.
___________________

A - natividades que, em 1963-1964, tinham remunerações anuais inferiores & média dos indústrias transformadoras e que, simultaneamente, tiveram uma evolução da produtividade superior à dos salários no período de 1958-1964.
B - actividades nas condições de A, mas com níveis entre a média a mais 40 por cento dessa média
C - actividades nas condições de A, mas com remunerações superiores a mais de 40 por cento da média

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630 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

mais teóricos do que operacionais, dado que tom como utilidade principal aferir em que medida se concretizou a evolução desejável paia se efectivar uma repartição equitativa, a situação do mercado de trabalho, deficitária ou excedentária, é factor com maiores repercussões práticas do que os anteriores, sendo certo que, por si só, é suficiente para desencadear uma reacção imediata da parte do empresário. Por um lado, a situação de escassez de mão-de-obra força o empresário a elevar as remunerações, a fim de obter o número de trabalhadores de que necessita, por outro, o facto de existir um mercado ex-cedentário, não constituindo estimulo para a elevação dos salários, actua como elemento estabilizador ou retardador da evolução das remunerações, na medida em que pode anular ou reduzir a eficácia das providências tendentes a concretizar uma repartição equitativa de acordo com os indicadores enumerados1.
Deste modo, o equilíbrio do mercado de trabalho, tanto a nível sectorial como regional, constitui uma das condições básicas para permitir uma evolução das remunerações compatível com os objectivos da repartição. Simultaneamente, deverá ter-se presente que o nível de salários tem, por sua vez, influência sobre esse mercado de trabalho, podendo até ser considerado como um dos factores que directamente o afectam, sendo certo que os altos salários constituem um pólo de atracção e as baixas remunerações uma causa da fuga da mão-de-obra. Assim, a análise da influência dos vários tipos de desequilíbrio existentes nesse mercado sobre o nível salarial e vice-versa é necessária para determinar os tipos de correlações existentes entre os vários fenómenos e descobrir os meios eficazes paia garantir a evolução das remunerações de acordo com as determinantes teóricas.
Apesar da importância evidente dessa análise, os dados estatísticos disponíveis não permitem, por ora, efectuá-la. Assim, far-se-á apenas o estudo da possível relação entre o nível e a evolução dos salários distritais e o respectivo volume de emigração.
A observação do quadro XLII revela que os distritos onde se verifica maior importância relativa do saldo líquido com o exterior, em relação a população total, foram, por ordem decrescente:

Percentagens
Bragança................... 11
Guarda..................... 7,9
Viana do Castelo........... 7
Leiria..................... 6,3
Vila Real.................. 6,1
Braga...................... 5,2
Viseu...................... 5
Aveiro..................... 5
Castelo Branco............. 4,8

Nestes distritos, que apresentam percentagens superiores à média aritmética para o continente (4,2 por cento), quando se observam os salários rurais e as remunerações não agrícolas que neles vigoravam em 1958-1959, que seja no início do período em análise, verifica-se que, na sua maioria, tinham níveis de remuneração inferiores à média do Continente. Constituem apenas excepção os distritos de Leiria, Aveiro e, no que diz respeito às actividades não agrícolas, o de Castelo Branco.

QUADRO XL

Percentagem da emigração total efectivada no período de 1968-1964 em relação à população total do distrito

Índices de remunerações e sua evolução

[ver tabela na imagem]

(a) Inclui o saldo liquido do movimento com o ultramar

Fontes Anuário Estatístico, Estatística Industrial; Estatística das Sociedades, Estimativas realizadas pelo Fundo do Desenvolvimento da Mão-de-Obra

No que se refere à evolução dos salários no período de 1958-1959 a 1963-1964, mostra-se também que, especificamente no caso dos salários rurais, em todos os distritos enumerados se verificou taxa de crescimento anual superior à da média (8,94 por cento), ao passo que em relação às remunerações não agrícolas apenas o distrito de Bragança teve evolução mais acentuada do que a observada para a média geral das remunerações, excluindo os serviços públicos (8,3 por cento).
Assim, os números parecem comprovar que um dos factores que ocasionaram n salda da mão-de-obra foi o nível salarial existente nos respectivos distritos, particularmente no que se refere ao sector agrícola. Por outro lodo, essa saída, de trabalhadores reflectem-se sobretudo no nível dos salários lurais, intensificando o seu descimento em ritmo superior ao da média geral.
Do exposto, pode inferir-se a necessidade de valorizar progressivamente o nível das renumerações, de acordo com a evolução da produtividade e do custo de vida, em ordem a obstar as repercussões negativas, tanto sob o ponto de vista social como económico, que, em geral, suo inevitáveis quando as alterações salariais resultam de tensões existentes no mercado de mão-de-obra.

10. As convenções colectivas podem constituir poderoso instrumento coordenador da política salarial, desde que seja possível mante-las actualizadas em relação àquela política.
____________________

1 Xote-se que, como já se salientou, também a própria evolução da produtividade pode ser considerada, na prática, como elemento dinamizador que conduz à elevação dos salários, na medida em que o empresário reconheça que esse aumento é um estímulo para a maior rentabilidade do trabalho e, portanto, gerador de novos aumentos de produtividade de cujos resultados ele próprio beneficiará

1 Vide quadro XXVII

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30 DE JUNHO DE 1967 631

Na maioria dos países europeus, a via convencional é utilizada eficazmente para fixar as remunerações mais adequadas ao respectivo nível de desenvolvimento económico.
Em Portugal, o número de profissionais abrangidos por regulamentação convencionai e normativa, segundo apuramentos provisórios, que se supõe pecarem por defeito, é de cerca de 900 000 trabalhadores (dos sectores da pesca, indústria e serviços). Este número representa cerca de 59 por cento dos empregados por conta de outrem dos referidos sectores.
Não é possível dispor, por enquanto, de elementos estatísticos que elucidem sobre o desajustamento existente entre os níveis de salários convencionais e os efectivos, nem da sua possível repercussão no nível destes.
Apesar disso, deverá ter-se presente o facto, já salientado aquando da análise das remunerações segundo o grau de qualificação, de as diferenciações intersectoriais verificadas no pessoal administrativo e comercial serem das mais reduzidas.

§ 2.º Objectivos e medidas de política

11. A efectivação dos objectivos fundamentais fixados ao planeamento nacional no domínio da repartição do rendimento exige a formulação de um conjunto de orientações e medidas que assegurem, não só a justa remuneração do factor trabalho no seu conjunto, mas ainda a harmonização das estruturas salariais.
Deste modo, as actuações a desenvolver no período deste Flano de Fomento, no que se refere à política salarial, serão conduzidas com vista aos seguintes objectivos.

Elevar progressivamente a participação do trabalho no rendimento nacional, através da evolução dos salários,
Atenuar as assimetrias sectoriais, profissionais e regionais, a fim de garantir uma distribuição equitativa das remunerações.

12. A concretização destes objectivos torna necessário, designadamente

A valorização dos salários, a medida que vá melhorando o nível de produtividade do trabalho e tendo ainda em conta o custo de vida, o nível de emprego e a necessidade de atenuar gradualmente as disparidades verificadas entre as diversas actividades e regiões. Para tanto, afigura-se conveniente definir metas de aumento de produtividade por sectores e adaptar medidas de carácter económico e tecnológico destinadas a permitir a esses sectores progresso económico compatível com a elevação do nível de vida dos seus trabalhadores. O estudo das diferenciações inter-regionais deve sei enquadrado no contexto do planeamento regional,
A intensificação das acções de formação profissional, de forma a tornar a mão-de-obra mais produtiva e a permitir o acesso do maior número possível de trabalhadores à categoria de especializados, sem prejuízo da fixação de um salário justo para os não qualificados;
A alteração gradual das estruturas qualitativas da mão-de-obra, nos sectores onde o número de não qualificados se afigure elevado, através da definição de quadros de densidade por categorias profissionais devidamente estudadas e fixadas de acordo com as características de cada sector,
O alargamento do âmbito sectorial e regional da regulamentação do trabalho, fomentando a celebração e actualização periódica das convenções colectivas, aperfeiçoando o sistema de negociação e estabelecendo o recurso à arbitragem nos casos em que se verificar ser impossível ou muito demorado o acordo entre as partes.

13. Para se alcançarem os objectivos anteriormente definidos, deverá encarar-se, no período do Plano, a adopção das seguintes principais providências

a) Ultimação pelo Serviço Nacional de Emprego da classificação nacional de profissões, para se assegurar base estável à fixação de remunerações mínimas de acordo com a função efectivamente exercida;
b) Definição de quadros de densidade, por categorias profissionais, de acordo com as características específicas de cada sector,
c) Progressiva execução do disposto no Decreto-Lei n.º 47 302, de 4 de Novembro de 1966, que estabelece a igualdade de remunerações paia a mão-de-obra masculina e feminina, em identidade de tarefas e qualificações,
d) Intensificação do esforço que o Governo tem vindo a desenvolvei no sentido de manter sempre actualizada a regulamentação salarial em vigor, alargando-se, na medida do possível, a sectores, regiões e categorias ainda não abrangidos.

SECÇÃO IV

Previdência social

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

a) As instituições e o seu âmbito

1. O sistema nacional de previdência apresenta estrutura diversificada Efectivamente, de acordo com a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962 (Reforma da Previdência Social), as suas instituições agrupam-se em quatro categorias. Na primeira incluem-se as instituições de inscrição obrigatória, fundamentalmente destoadas a proteger os trabalhadores da actividade privada, as quais se classificam em:

a) Caixas sindicais de previdência, para os trabalhadores de conta de outrem do comércio, indústria e serviços,
b) Casas do Povo, para os trabalhadores rurais e equiparados;
c) Casas dos Pescadores, para os trabalhadores do sector da pesca

À segunda categoria correspondem as caixas de reforma ou de previdência, considerando-se como tais as instituições de inscrição obrigatória das pessoas que, sem dependência de entidades patronais, exerçam determinadas profissões, serviços ou actividades.
Constituem a terceira categoria as associações de socorros mútuos, abrangendo as instituições de previdência de inscrição facultativa, capital indeterminado, duração indefinida e número ilimitado de sócios, tendo por base o auxílio recíproco.
Finalmente, pertencem à quarta categoria as instituições de previdência do funcionalismo público, civil ou

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632 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

militar, e demais pessoas ao serviço do Estado e dos corpos administrativos, criadas ao abrigo de diplomas especiais, das quais a mais importante é a Caixa Geral de Aposentações, de inscrição obrigatória.

2. Quanto às caixas sindicais de previdência, a Lei n.º 2115 admite três espécies

a) Caixas de previdência e abono de família, destinadas a protecção dos beneficiários e seus familiares na doença e na maternidade e à concessão de abono de família,
b) Caixas de pensões, destinadas à protecção dos beneficiários ou seus familiares na invalidez, velhice e morte,
c) Caixas de segui os, destinadas à cobertura de riscos especiais, sempre que não seja aconselhável a inclusão de tais eventualidades nos esquemas de outras caixas sindicais.

As caixas de previdência e abono de família são organizadas em base regional, sem prejuízo da manutenção de caixas privativas de uma empresa ou grupos de empresas, ou de certo ramo de actividade económica.
O âmbito das caixas regionais de previdência e abono de família compreende as profissões exercidas pelos trabalhadores da respectiva área, e o das caixas de actividade ou empresa inclui o pessoal normalmente ao serviço das empresas interessadas.
As caixas de previdência e abono de família, nos termos da mesma lei, integram-se numa federação - a Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família -, destinada a coordenar a acção das instituições federadas, a representá-las nos acordos a celebrar com os serviços de saúde e as instituições ou estabelecimentos de assistência social e a efectuar a compensação financeira do seguro de doença.
A concessão de pensões aos beneficiários das caixas de previdência e abono de família incumbe a uma instituição de âmbito nacional - a Caixa Nacional de Pensões.
A Caixa Nacional de Pensões assegura um esquema de prestações comuns a todos os beneficiários das caixas de previdência e abono de família que nela devam ser inscritos, sem prejuízo do possível estabelecimento de esquemas superiores, com contabilidade própria, para os beneficiários de algumas daquelas caixas ou de certas categorias profissionais mediante a correspondente contribuição complementar.
Relativamente às caixas de seguros, destinadas à cobertura de riscos especiais, foi instituída pelo Decreto-Lei n.º 44 307, de 27 de Abril de 1962, a Caixa Nacional de Seguros de Doenças Profissionais, com regulamento aprovado por despacho ministerial de 28 de Março de 1968
A esta Caixa incumbe assegurar a reparação das doenças profissionais, competindo-lhe especialmente:

a) Garantir a prestação de assistência médica e medicamentosa;
b) Conceder indemnizações por incapacidade temporária,
c) Pagar pensões por incapacidade permanente;
d) Pagar pensões de sobrevivência aos familiares das vítimas de doenças profissionais,
e) Colaborar com as entidades competentes na prevenção de doenças profissionais,
f) Promover, na medida das suas possibilidades, a readaptação profissional dos beneficiários e diligenciar no sentido da sua colocação em ocupações compatíveis com o seu estado de saúde e capacidade de trabalho.

Pelo Decreto-Lei n.º 46 813, de 30 de Dezembro de 1965, foi ainda constituída, na dependência do Ministério das Corporações e Previdência Social, mas fora da classificação das instituições de previdência prevista na Lei n.º 2115, a Caixa Central de Segurança Social dos Trabalhadores Migrantes, destinado a assegurar a aplicação das convenções e acordos internacionais sobre segurança social de que o Estado Português seja signatário O estatuto desta Caixa foi aprovado por alvará de 80 de Dezembro de 1965 e entrou em vigor em 1 de Janeiro de 1966.

h) População abrangida

3. Embora, no seu conjunto, a população abrangida pela pi evidência social seja aquela que está a coberto das respectivas instituições de seguro obrigatório, para facilidade de apreciação será considerada apenas a população inscrita nas caixas sindicais de previdência e caixas de reforma ou previdência, segundo a classificação da Lei n.º 1884, de 16 de Março de 1935, a que correspondem, praticamente, no actual esquema da Lei n.º 2115, as caixas sindicais de previdência.
Não será, portanto, incluída a população abrangida pelo seguro social dos servidores do Estado, nem pelas Casas do Povo e Casas dos Pescadores, nem pelas caixas de abono de família e associações de socorros mútuos1.
Em todos os casos, os números referidos dizem apenas respeito aos beneficiários directos, com exclusão, portanto, dos respectivos familiares.
Acentua-se ainda que a definição da população abrangida pelas instituições de previdência interessa sob dois aspectos a identificação do seu montante, conjuntamente com a respectiva evolução, e o seu confronto ou apreciação no contexto total da população activa metropolitana.

4. Segundo as estimativas efectuadas, a população activa nacional com profissão, na metrópole, não incluindo os isolados e os serviços domésticos, apresentou a seguinte evolução de 1960 a 1965:

1960......................... 2 688 300
1961......................... 2 648 500
1962......................... 2 675 000

1 Segundo os dados estatísticos disponíveis, a população activa, com profissão, correspondente ao esquema de seguro do Estado, das Casos do Povo e das Casas dos Pescadores apresentou a seguinte evolução no período correspondente a 1960-1965:

[ver tabela na imagem]

Fonte1 Elementos fornecido! pelos serviços ao Ministério das Corporações e Previdência Social.

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30 DE JUNHO DE 1967 633

19632.................... 701 000
19642.................... 710 200
1965.....................(a) 2 697 700

(a) Por sectores e com referência ao período de 1960-1965, foi a seguinte a distribuição da população activa (não incluindo os isolados e os serviços domésticos)

[ver tabela na imagem]

Fonte Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

A esta população activa correspondem nos mesmos anos os seguintes números de beneficiários identificados nas caixas sindicais de previdência e de reforma ou de previdência

1960........................ 878 502
1961........................ 988 808
1962........................ 1 006 997
1963........................ 1 042 189
1964........................ 1 250 732
1965........................(a) 1 377 927

(a) Caixas sindicais de previdência e caixas de reforma ou de previdência.

Número de instituições, beneficiários e contribuintes em 31 de Dezembro de cada ano

[ver tabela na imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério dai Corporações o Previdência Social

Do confronto destas duas séries de números, duas conclusões se podem tirar

1.ª Enquanto a população actua nacional se manteve mais ou menos estacionária, a população coberta pela previdência aumentou cerca de 57 por cento,
2.ª Enquanto em 1960 a população abrangida pelas caixas sindicais e caixas de reformas ou de previdência correspondia apenas a cerca de 33 por cento da população activa, em 1965 essa percentagem elevou-se para 51 por cento.

Esclarece-se de novo não estarem a ser considerados os beneficiários quer da previdência estadual, quer das Casas do Povo, Casas dos Pescadores e caixas de abono, num total, em 1965, de mais de meio milhão de pessoas (589 000), número que, somado ao conjunto coberto pelas caixas, dará um total da ordem dos 2 milhões de pessoas, ou sejam 78 por cento da população activa Daí a conclusão de que apenas cerca de um quarto da população activa (praticamente toda ela rural) não está a coberto do seguro social em algumas das suas modalidades.
No entanto, o que sobretudo se afigura de assinalar é o aumento da cobertura a cargo das caixas, que em cinco anos cresceu 67 por cento, passando de um total de 870 502 beneficiários para 1 877 927, número este que, adicionado aos beneficiários das caixas de abono de família ainda existentes (14 256, em 1965), dará o total de l 392 183, o que representa 93 por cento da população activa exterior ao Estado, a agricultura e as pescas1.
Do exposto conclui-se que as caixas de previdência nas suas diferentes modalidades estão prestes a cobrir a totalidade da população no sector do comércio, indústria e sei viços, da qual apenas faltava abranger, em 1965, cerca de 7 por cento, percentagem que possivelmente estará eliminada no início do III Plano se se mantiver o ritmo de crescimento daquelas instituições nos últimos anos.
Considerando-se praticamente coberta pela previdência toda a população activa dos sectores que lhe estão confiados, chegou a altura de ponderar a possibilidade do alargamento daquela cobertura aos restantes sectores, designadamente os serviços domésticos e o sector agrícola, este último actualmente apenas abrangido em parte pela acção de assistência e previdência das Casas do Povo. Acentuar-se-á, no entanto, que a dificuldade do alargamento do nosso seguro social em toda a sua plenitude não é apenas técnica, como por vezes se supõe, mas também económica.
Quanto à população já coberta pelas caixas de previdência, acrescentar-se-á que, sendo os números referidos apenas respeitantes aos beneficiários, isso significa que a população efectivamente abrangida por essas instituições deverá ser calculada adicionando àqueles números os dos respectivos familiares, o que, tudo somado, dá o total de 3 061 316 em 1965. contra 1 766 852 em 1960.

c) Esquemas de prestações

5. Nas suas linhas gerais, o esquema praticado pelas caixas de previdência pode subdividir-se, essencialmente, em dois grandes ramos benefícios imediatos e benefícios diferidos. Compreendem-se nos primeiros os seguros de doença e maternidade e o abono de família e nos segundos, os seguros de invalidez, velhice e morte.
O seguro de doença concede subsídios pecuniários e prestações em espécie (assistência médica e medicamentosa). Era assim no domínio da Lei n.º 1884 e assim continuou a ser no regime da Lei n.º 2115.
Dentro deste quadro geral, algumas importantes inovações foram introduzidas pela reforma da previdência, designadamente no que se refere à forma de calcular o subsídio pecuniário (cujo montante, mantendo-se em 60 por cento do salário médio, passou, no entanto, a ser calculado com base em remunerações mais actualizadas),
_____________________

1 A população activa nacional com profissão, exterior ao Estado, à agricultura e às pescas, não incluindo os isolados e os serviços domésticos, apresentou, no período de 1060-1965, a seguinte evolução.

1960 ..................1 348 200
1961 ..................1 888 500
1962 ..................1 403 700
1968 ..................1 158 800
1964 ..................1 482 800
1965 ..................1 498 800

(Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social)

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634 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

pelo que respeita ao alargamento do direito ao internamento hospitalar (que actualmente já é concedido, para efeitos de cirurgia, a todos os beneficiários e familiares e em medicina geral aos beneficiários) e ainda no tocante à duração do período de espera (que de seis dias úteis passou para três dias), e ao prazo de concessão das prestações pecuniárias (que de 270 dias se elevou para 4 anos, após o que se converte em pensão de invalidez, sem limite de tempo preestabelecido).
No capítulo da doença, devem ainda ser referidas as inovações introduzidas no domínio da tuberculose, cuja assistência médica e medicamentosa deixou de ler limite de tempo (abrangendo o internamento em sanatório e o tratamento cirúrgico), tendo sido simultaneamente elevado o montante do subsídio pecuniário até ao máximo de 80 por cento do salário do trabalhador (contra 60 por cento na doença comum).
O seguro de maternidade recebeu igualmente importantes inovações, das quais as mais importantes são a autonomização da maternidade em relação a doença e a concessão às parturientes de um subsídio pecuniário equivalente a 100 por cento do salário durante um período que poderá ir até 60 dias (anteriormente esse subsídio era pago pelas entidades patronais e tinha duração muito menor).
Finalmente, quanto no abono de família, alargou-se o conceito de coabitação para efeitos da sua concessão, e mais recentemente abandonaram-se os escalões de 40$ e 60$, passando o mínimo para 80$.
Além do abono de família, pelo novo regime da previdência passaram também a ser concedidos, de forma generalizada, subsídios de casamento, nascimento, aleitação e funeral, em condições mais vantajosas do que no regime anterior.
Relativamente aos benefícios diferidos, apontam-se como melhorias mais importantes as introduzidas na duração do prazo de garantia e na forma de cálculo das pensões de invalidez (em que os 80 por cento do salário médio geral foram acrescidos de 10 por cento do salário médio dos dez anos de maiores vencimentos), melhorias extensivas às pensões de reforma, merecendo ainda ser citada, de modo especial, a inovação introduzida quanto à possível revisão das pensões em função do custo de vida, à sombra da qual já se procedeu a primeira actualização.
Quanto ao seguro por morte, os aperfeiçoamentos introduzidos pela reforma da previdência são essencialmente de três ordens alargamento do círculo das pensões beneficiadas com o direito ao subsídio por morte, aumento do seu montante (em geral seis meses de salário) e criação do seguro de sobrevivência, este último, no entanto, dependente de fixação em convenção colectiva.

d) Evolução das receitas e despesas

6. O redime financeiro da previdência social portuguesa, depois de ter sido de capitalização, pode hoje caracterizar-se, por força das alterações introduzidas pela reforma, como de repartição mitigada
A demonstrá-lo basta o simples facto de a taxa de contribuição para pensões ter baixado de 7 por cento, antes da reforma, para 4,5 por cento presentemente, o que só por si permitiu já lançar no circuito da redistribuição mais 400 000 contos, sem os quais certamente muitas das inovações introduzidas no esquema não teriam sido possíveis Lembra-se que só o custo do internamento hospitalar, concedido aos beneficiários e seus familiares, deve ultrapassar, quando completo, 200 000 contos anuais.
O que acaba de dizei-se é comprovado pela evolução, nestes últimos anos, da relação existente entre as despesas e as receitas gobais dos instituições, pois que, enquanto aquelas absorviam apenas 54,6 por cento destas em 1960, as despesas passaram a representar, em 1965, 67 por cento das receitas, incluindo nestas os rendimentos das reservas actuariais Isto é, a absorção das receitas pelas despesas teve uma mais-valia de 12,4 por cento em cinco anos Esta evolução tende a acentuar-se, pois só agora algumas das inovações apontadas (como, por exemplo, o internamento hospitalar) começam a ter repercussão financeira1.
Igual demonstração poderia obter-se a partir da evolução percentual das capitações das receitas e das despesas, visto que, enquanto as capitações das receitas (dividindo a totalidade das receitas pelo número médio de beneficiários) aumentaram de 1960 a 1965 apenas 24 por cento, as capitações das despesas com prestações (obtidas pelo mesmo processo), cresceram, no mesmo período, 55 por conto, isto é, mais do dobro daquelas2.
No mesmo espaço de tempo, enquanto as receitas totais subiram 87 por cento, as despesas com prestações experimentaram a elevação de 134 por cento2.
Por outro lado, ao passo que o índice de crescimento da capitação das receitas nos últimos três anos apenas aumentou dois pontos, tendo-se mantido estacionário nos anos de 1964-1965, o índice da capitação das despesas ao mesmo período subiu vinte pontos, evolução que continua actualmente a verificar-se.
_____________________

1 Foi a seguinte a evolução operada (a)

Percentagens
1960........................ 54,6
1961........................ 57,1
1962........................ 59,1
1963........................ 60,2
1964........................ 65
1965........................ 67

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

2 A evolução das capitações das receitas e das despesas com prestações, em percentagens, foi a seguinte (a)

[ver tabela na imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério dos Corporações e Providencia Social

3 Índices de crescimento das receitas e das despesas (caixas sindicais de previdência, caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência - Serviços Médico-Sociais) (a)

[ver tabela na imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações o Previdência Social

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Julga-se ter interesse paia apreciação do sistema seguido entre nós a decomposição das verbas que integram a receita e a despesa.
Quanto à despesa, a sua repartição é feita essencialmente pelas seguintes rubricas pensões, subsídios (doença, maternidade, tuberculose, morte, abono e prestações complementares e subsídios de assistência), além das prestações não pecuniárias, da administração e outras (comparticipação para a Federação de Caixas de Previdência - Obras Sociais, etc )

Distribuição percentual das diferentes rubricas da despesa em cada ano, de 1960 a 1965

Caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência -Serviços Médico-Sociais

[ver tabela na imagem]

(a) Valores obtidos a partir dos números publicados pelo Instituto Nacional do Estatística, deduzindo a «Outras despesas» as Importâncias transferidos para outras caixas ou para outras fundos da próprio caixa, bem como os quotas para os Serviços Médico-Sociais

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

Despesas (em contos) das caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência-Serviços Medico-Sociais

[ver tabela na imagem]

(a) Valores obtidos a partir dos números publicados polo Instituto Nacional do Estatística, deduzindo a «outras despesas» as Importâncias transferidas para outras caixas ou poro outros fundos do própria caixa, bom como as quotas para os Serviços Médico-Sociais.

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

Despesas de 1965 (a)

Discriminadas por modalidades

[ver tabelas nas imagens]

(a) Elementos fornecidos pelos sorvidos do Ministério das Corporações e Previdência Social

A partir dos números referidos, verifica-se ter crescido a percentagem da verba correspondente às pensões no conjunto das despesas, o que não surpreende se se atender ao envelhecimento natural das instituições e, consequentemente, ao aumento do número de beneficiários que vão atingindo a idade de reforma, bem como à política seguida de melhoria de pensões e de estabelecimento de pensões mínimas para a invalidez e velhice.
Tem-se mantido praticamente estacionária a percentagem das prestações não pecuniárias, o que se explica, em face do aumento global das despesas, pelo crescimento proporcional, ]á referido, das prestações no sector da assis-

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tência médica e medicamentosa, e tem decrescido o valor relativo das despesas de administração e dos subsídios pecuniários, o que igualmente se justifica, em grande parte, pelo aumento das restantes rubricas.
Quanto às despesas de administração, verifica-se que a sua capitação tem diminuído nos últimos três anos, ao contrário do que sucede com a evolução das restantes despesas
Procedendo agora de igual modo quanto às receitas, começa-se também por referir que estas se encontram repartidas por três rúbricas fundamentais «Contribuições», «Rendimentos dos capitais acumulados» e «Subsídios e outras receitas»

Distribuição percentual das rubricas da receita em cada ano de 1960 a 1965

[ver tabela na imagem]

Fonte Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Providência Social

Evolução das receitas (em contos) no período considerado (a)

[ver tabela na imagem]

(a) Deduziram-se as Importâncias transferidas do outras caixas ou outros fundos da Caixa, bom como os subsídios do Fundo Nacional do Abono do Família.

Fonte Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Providência Social.

Analisando os números precedentes, tal como se fez para a despesa, conclui-se que, no seu conjunto, a responsabilidade relativa de cada uma das rubricas da receita se tem mantido estável, apenas com ligeiro aumento da posição relativa das contribuições em relação aos rendimentos (a percentagem das contribuições dentro das receitas globais elevou-se de 79 por cento para 80 por cento entre 1961 e 1965, e os rendimentos baixaram de 15 por cento para 14 por cento), sem dúvida devido ao aumento entretanto verificado nas retribuições salariais, já que, como adiante se verá, a percentagem da taxa líquida dos rendimentos tem-se conservado estacionária (4 por cento).

e) Capitalização de valores

7. Como é sabido, existem sobre o regime financeiro do seguro social duas orientações fundamentais o sistema de repartição e o sistema de capitalização. Em termos muito simples, pode dizer-se que, pelo primeiro, se pretende que todas as verbas recebidas através das contribuições sejam imediatamente distribuídas em benefícios, de acordo com o segundo, pelo menos durante certo período, uma parte dessas verbas deve ser capitalizada, com o fundamento de que, aumentando durante bastante tempo os encargos com os benefícios (sobretudo à medida que vão passando à reforma os trabalhadores activos), seguir desde o início o sistema da repartição significa ter de aumentar constantemente, até ao ponto de estabilização, as contribuições pagas para o seguro. Este inconveniente evitar-se-á, podendo manter-se estáveis as contribuições, se uma parte destas, durante certo período, mais ou menos longo, forem acumuladas, para mais tarde e progressivamente irem atendendo, com os seus rendimentos, ao aumento das despesas.
A estas razões de pura técnica financeira acrescentam ainda os partidários da capitalização outras, designadamente a necessidade que há de constituir reservas como medida cautelar de administração contra o risco eventual de um aumento anormal e inesperado das despesas e, ainda, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, a possibilidade que tal capitalização oferece de mobilizar poupanças susceptíveis de aumentarem os capitais disponíveis (o que, por sua vez, pode ser fonte de novos rendimentos).
Contra o sistema da capitalização, por seu turno, costumam os técnicos apontar, essencialmente, dois argumentos a dificuldade de administração dos capitais acumulados (o que implica a existência de pesada máquina administrativa) e a inevitável desvalorização da moeda (pondo em risco o valor real das reservas constituídas).
O sistema português, tendo começado por adoptar, como se disse, o regime da capitalização, aceita hoje, em grande medida, a técnica da repartição, lançando verbas cada vez maiores das suas receitas no circuito, das despesas. Foram já apontados os aspectos pelos quais mais se evidencia essa orientação, designadamente a baixa da taxa de contribuição para pensões, de 7 por cento para 4,5 por cento, e o alargamento de esquemas de benefícios, provocando o constante crescimento da percentagem das receitas absorvidas pelas despesas com prestações, que nos últimos cinco anos subiu cerca de 25 por cento, com tendência para continuar.
Em paralelismo com essa orientação, tornada possível, de resto, em virtude da acumulação de valores verificada até hoje (os rendimentos têm facilitado o alargamento dos esquemas de benefícios sem um equivalente aumento das contribuições), outras providências têm sido também adoptadas para mitigar os inconvenientes apontados ao sistema da capitalização.
Assim, pelo que respeita aos encargos com a administração dos capitais acumulados, atenuou-se o seu montante, mercê da natureza dos valores escolhidos para os investimentos, concentrados geralmente em títulos de fácil gerência (como é o caso dos títulos do Estado). A melhor prova de que assim tem acontecido demonstra-o a diminuição acima referida das capitações das despesas

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de administração, não obstante o aumento verificado nos valores entretanto capitalizados (cerca de 66 por cento em cinco anos).
Por outro lado, tem-se igualmente procurado assegurar, quer a rentabilidade dos capitais acumulados, quer a estabilidade do seu real valor contra a eventual desvalorização da moeda Quanto à rentabilidade, a demonstração do que acaba de ser dito resulta do facto de se ter mantido absolutamente estacionam, desde 1961 a 1965, a taxa de rendimento dos capitais da previdência, equivalente ao juro de 4 por cento líquido durante todo esse período, o que é, sem dúvida, notável se se atender à massa de bens capitalizados, cerca de 15 889 000 contos. Melhor ainda se apreciará o alcance dessa taxa se se disser que tem sido exclusivamente com os rendimentos dos capitais acumulados (e sem recorrer, portanto, a outras receitas) que foram pagas, ata 1964, as pensões de reforma e invalidez, como se poderá ver no quadro seguinte

Rendimento dos capitais e pensões (em contos) (a)

[ver tabela na imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

Apenas no ano de 1965 começou o montante das despesas com as pensões a ultrapassar o rendimento dos bens acumulados, exigindo comparticipação, para o efeito, das próprias contribuições e, consequentemente, redução da capitalização.
Além da garantia da rentabilidade, importa pôr os capitais acumulados a coberto da desvalorização da moeda, i isco que constitui, sem dúvida, o maior inconveniente apontado ao sistema de capitalização, já que aquela desvalorização é praticamente inevitável, provocando a depreciação dos capitais imobilizados.
Entre nós pode dizer-se que esse risco se tem verificado em muito pequena escola, dada a natureza dos investimentos feitos (em que participam capitais de rendimento variável) e a estabilidade que tem caracterizado a nossa moeda. Atendendo, no entanto, a que, mesmo assim, dado o grande volume de certificados tomados ao Estado, de rendimento fixo, algum risco existe, a questão está a ser considerada, e encontra-se em estudo a adopção de medidas susceptíveis de anular tal perigo quanto aos valores acumulados em certificados especiais, procurando garantir a sua revalorização permanente contra a eventual desvalorização monetária. Além disso, deve referir-se o aumento, já estabelecido, de 4 para 5 por cento, da taxa de juro praticada pelo Estado para com os dinheiros tomados a previdência.
Deixa assim de existir praticamente um dos mais graves problemas da administração financeira da previdência, como era o dos investimentos dos respectivos capitais, para os quais se tem de exigir sempre a maior segurança. E tão grande era essa preocupação que toda a política dos investimentos tem sido superiormente orientada pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, a quem apenas é lícito autorizar a efectivação das aplicações que ofereçam as necessárias garantias e apresentem relevante interesse para a economia nacional. Daí também a marcada preferência que de há muito vinha a manifestar-se pelos investimentos de rendimento fixo (e como tal garantido), já que pela sua natureza os capitais da previdência não devem ser envolvidos em operações de índole especulativa.
Além da estabilidade dos rendimentos e da garantia contra a desvalorização, à administração dos bens da previdência depara-se ainda outro problema, que, tanto quanto possível, tem de ser conciliado com o primeiro trata-se da natureza dos investimentos realizados, que devem, por um lado (sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, como o nosso), procurar impulsionar o progresso económico, provocando assim o aumento da riqueza útil, e, por outro lado, atender também a objectivos sociais. Daí que, uma vez assegurada a sua rentabilidade, valor primacial a defender, pois sobre ele assenta o desenvolvimento de todo o seguro, são em geral os capitais disponíveis canalizados para investimentos de carácter económico e social.
Como é natural, também assim se tem procedido entra nós, mercê, principalmente, da participação dos capitais da previdência na execução dos Planos de Fomento (directamente ou por intermédio dos certificados tomados ao Estado) e dos investimentos no domínio da habitação económica. Sobre o primeiro aspecto basta dizer que, dos calores acumulados pela previdência no sexénio correspondente ao II Plano de Fomento (1958-1964), 35 por cento destinaram-se directamente ao desenvolvimento económico (cerca de 6 641 000 contos).
Pelo que respeita, por sua vez, aos investimentos em habitações de carácter social, a evolução operada no período considerado revela-nos que, em relação às três rubricas fundamentais (casas económicas, casas de renda económica e empréstimos para construção, aquisição ou beneficiação de moradias), o montante investido subiu de 600 752 contos, em 1960, para l 546 162, em 1965, ou seja um acréscimo da ordem dos 157 por cento. Esta percentagem elevar-se-á ainda mais se for tomado já em consideração o ano de 1966, no fim do qual os montantes investidos nas diferentes modalidades acima referidas passaram a ser os seguintes (incluindo os fogos em construção)1.

Contos
Casas económicas (construídas com
capitais da previdência).................... 505 601
Casas de renda económica.................... 1 255 785
Empréstimos................................. 877 270
2 638 606

Melhor se compreenderá a evolução operada neste aspecto dos investimentos em habitações de carácter social, se se analisarem os correspondentes valores em percentagem, no conjunto total investido em imóveis durante o período considerado. É o que ressalta dos quadros que seguem
______________________________

1 Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

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Investimentos e financiamentos em imóveis no final de cada um dos anos

(Em contos)

[ver tabela na imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social

Percentagem dos investimentos em imóveis

[ver tabela na imagem]

Fonte: Elementos fornecidos poios serviços do Ministério das Corporações e Providência Social

Transparece deste último quadro que, enquanto a percentagem de valores investidos em imóveis de renda livre (de que não foram feitas quaisquer aquisições praticamente desde 1962), baixou entre 1960 e 1965 de 39,1 por cento paia 21,8 por cento do conjunto, a percentagem dos valores investidos em casas de renda económica, casas económicas e empréstimos subiu, entre 1960 e 1965, de 55 para 73,7 por cento
A igual resultado se chega se se confrontar a percentagem dos valores investidos em habitações de carácter económico sobre os valores totais da previdência em 1960-1965, o que mostra estarem em 1960 investidos em habitações económicas cerca de 6 por cento daqueles valores, percentagem que subiu para perto de 10 por cento em 1965

Valores acumulados em 31 de Dezembro de cada ano e investimentos em habitações económicas
(em contos)

[ver tabela na imagem]

I) Casas do Povo

8. As casas do Povo, como instituições de previdência, destinam-se a proteger os trabalhadores rurais e equiparados. O alargamento da previdência social aos meios lurais apresenta-se particularmente difícil, encontrando-se em estudo adiantado, na Comissão de Política Social Rural, um sistema adequado de previdência para os rurais.

Casas do Povo

[ver tabela na imagem]

Fonte Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social.

Em 1960, o número dos beneficiários das Casas do Povo representava 19 por cento do total da população activa agrícola, tendo essa percentagem, em 1965, subido para 22 por cento
As receitas arrecadadas provêm da quotização dos trabalhadores e dos produtores agrícolas, de taxas sobre produtos, de recursos próprios e de contribuição anual do Fundo de Desemprego. Em 1965, 47 por cento do total das receitas provieram dos quotizações, e 18 por cento dos rendimentos de bens próprios.
Por despacho ministerial de Novembro de 1962, o Fundo Nacional do Abono de Família comparticipa com a verba anual de 15 000 contos para a Federação das Casas do Povo, a aplicar em benefícios dirigidos à defesa da família.
A legislação posterior a 1963 veio abrir melhores perspectivas quanto ao enquadramento dos sócios das Casas do Povo no regime das caixas regionais de previdência e da Caixa Nacional do Pensões.

g) Casas dos Pescadores

9. As Casas dos Pescadores são, como as Casas do Povo, simultaneamente organismos corporativos e insti-

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tuições de previdência, mas abrangem toda a população do sector respectivo.

[ver tabela na imagem]

Fonte: Estatística da Organização Corporativa o Previdência Social

As receitas provém das quotizações dos sócios, subsídios dos organismos representativos das empresas de pesca, produto de quinhões ou partes de pesca e subsídios do Ministério da Marinha para fins de previdência.
O esquema de eventualidades e prestações seguido pelas Casas dos Pescadores atribui direito a subsídios nas doenças de curta duração (incluindo prestações sanitárias), por nascimento de filhos ou por morte.
A cargo da Junta Central das Casas dos Pescadores encontram-se as modalidades de abono de família e pensões de reforma, beneficiando da primeira os trabalhadores da pesca do bacalhau, arrasto, atum e cetáceos e, da segunda, os trabalhadores da pesca do bacalhau e do arrasto.
A Junta Central tem promovido o desenvolvimento dos serviços e actividades de assistência e acoito social aos trabalhadores da pesca, mercê da aplicação das suas receitas próprias.
A legislação posterior a 1968 veio, também neste domínio, abrir novas perspectivas no que respeita à possibilidade de inclusão dos sócios das Casas dos Pescadores no regime das caixas regionais de previdência e abono de família e da Caixa Nacional de Pensões.

h) Previdência Social dos Funcionários Públicos

10. Quanto à previdência social dos funcionários públicos, cujas instituições soo classificadas na Lei n.º 2115 como instituições de previdência da 4.º categoria, existem algumas diferenças no seu esquema de benefícios, em comparação com os atribuídos aos trabalhadores da actividade privada.
As prestações generalizadas suo a pensão de reforma, a protecção na tuberculose e o abono de família.
Quanto a assistência na doença -para além do caso especial das vítimas de tuberculose, que é objecto de regulamentação especial e generalizada a todos os servidores do Estado -, o Decreto-Lei n.º 45 002, de 27 de Abril de 1968, previu um esquema geral de assistência médica.
Encontra-se, contudo, restrito, por ora, aos casos de assistência cirúrgica, com exclusão dos funcionários que pertencem a serviços com autonomia administrativa e financeira, cuja inscrição está dependente de acordos a realizar com o Ministério das Finanças. A extensão parcial ou total do esquema previsto naquele diploma aos familiares depende ainda de autorização.
De benefícios mais amplos dispõem os funcionários de organismos do Estado onde existem serviços sociais, como acontece já em vários Ministérios

§ 2.º Objectivos e medidas de política

11. De acordo com a actual situação do sistema português de segurança social e os progressos verificados nos anos recentes, estabelecem-se os seguintes objectivos para o III Plano, neste domínio.

Alargamento gradual da previdência a todos os trabalhadores ainda não abrangidos,
Melhoria progressiva dos esquemas de eventualidades e prestações dentro dos princípios que orientam a reforma da previdência,
Reforço efectivo das finalidades de natureza social nos esquemas de aplicação das poupanças acumuladas

A concretização destas finalidades exígua estudos programáticos cuidados, assentes no conhecimento actualizado das contas das instituições de previdência de todas as categorias e dos reflexos, a curto e médio prazos, das políticas orientadoras das aplicações de capitais.

12. Com vista à concretização destes objectivos e considerando que a previdência social portuguesa cobre a quase totalidade da população activa exterior ao Estado, à agricultura e às pescas (cerca de 3 100 000 pessoas), tomar-se-ão, no decurso do Plano, as seguintes medidas de política.

Enquadramento progressivo da população rural num regime de previdência através das Casas do Povo.
A Comissão de Política Social Rural efectuará o estudo relativo às condições específicas que hão-de regular este enquadramento, dada a natureza dos regimes de trabalho (carácter estacionai e mudança frequente de entidade patronal),
Enquadramento do funcionalismo público que desconta para a Caixa Geral de Aposentações num regime de previdência com um esquema mais amplo e mais aperfeiçoado,
Revisão do Decreto-Lei n.º 44 506, de 10 de Agosto de 1962, relativo à concessão de subsídios de desemprego, nomeadamente no que se refere ao seu campo de aplicação,
Formulação de directrizes concretas para que na aplicação das poupanças se atenda predominantemente a critérios de natureza social, e em especial a construção de habitações económicas,
Gradual normalização das contas anuais e estatísticas correntes das diversas instituições de previdência, que devei Só ser publicadas com o grau de clareza e discriminação requerido pelos estudos relativos ao sector.

CAPITULO V

Produtividade

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. O desenvolvimento industrial e, pode dizei-se, a expansão da economia portuguesa assentou, em grande parte, até há poucos anos, na disponibilidade de volumes consideráveis de mão-de-obra e de baixas remunerações

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médias, a par do proteccionismo alfandegário, o que garantia poder concorrencial a parcela apreciável das nossas empresas.
O recurso ao mercado de capitais para a realização dos investimentos era ainda limitado, a mentalidade empresarial aberta ao risco mostrava-se, salvo casos excepcionais, em estado incipiente, a tecnologia das actividades produtivas internas só limitadamente acompanhava o avanço que em muitos sectores caracterizava a evolução das congéneres estrangeiras.
À situação presente mostra já apreciáveis progressos em relação a este conjunto de factores, mas começa a verificar-se um elemento novo a progressiva escassez de certas categorias de mão-de-obra especializada e até, por vezes, a rarefacção de trabalhadores não especializados.
Concorrem para este fenómeno razões apontadas em diversos capítulos do Plano, mas importa aqui salientar que, a persistir a carência de profissionais qualificados perante as necessidades da economia nacional, concomitantemente à disparidade dos salários médios praticados no continente e ilhas em relação aos dos países industrializados da Europa ocidental, não poderiam deixar de agravar-se os problemas ligados ao emprego.
E neste contexto que adquire particular relevo a problemática da produtividade, entendida como resultado de uma pluralidade de acções sobre a qualidade e o volume dos factores da produção, elemento de avaliação muito concreto do estádio de desenvolvimento atingido por determinada estrutura produtiva.
Esta visão geral do problema não deve fazer esquecer as dificuldades sentidas em múltiplos sectores da actividade económica e que conferem aos temas de produtividade toda a sua ressonância actual De facto, o processo de desenvolvimento económico do Pais tem-se traduzido em ritmos de evolução diferenciados para os vários sectores produtivos, havendo alguns que manifestam autêntica função motora em relação ao andamento do conjunto da economia e outros que se limitam a um crescimento lento, como se evidencia nos correspondentes capítulos sectoriais.
Ora, se, em relação às actividades que se encontram enquadradas em processos de crescimento rápido, poderá esperar-se razoável conhecimento e aplicação prática das tecnologias mais avançadas, já no que respeita a actividades tradicionais (muitos sectores industriais e dos serviços, grande parte do sector agrícola) tal expectativa não se verifica, notando-se, pelo contrário, lenta adequação das estruturas de produção às necessidades decorrentes da abertura dos mercados nacionais à concorrência dos produtos do exterior.
Evidencia-se, pois, a urgência de obter largos ganhos de produtividade em quase todos os sectores, quer eles se destinem a defender condições de competitividade já existentes, quer a criá-las nas actividades onde ainda não existam.
De acordo com estudo recentemente elaborado pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial, verificou-se aceleração do ritmo de acréscimo da produtividade do trabalho entre o período de 1953-1959, durante o qual o seu crescimento se processou à taxa média de 8,7 por cento, e o de 1959-1964, no qual se registou uma taxa de 6 por cento.
Se os resultados para o conjunto da actividade económica se situam, assim, em boa posição, sob o ponto de vista dos ritmos de crescimento comparados com os de outros países, já a situação se revela diferente quando se procede a desagregação dos elementos globais do produto e do emprego pelos três grandes sectores da divisão tradicional.
Enquanto no secundário e terciário se definem taxas de evolução de produtividade bastante satisfatórias (nos dois períodos citados foram, respectivamente, de 4,2 e 6,9 por cento para as actividades industriais e de 4,2 e 4,5 por cento para os serviços), no primário os ritmos de crescimento são claramente menores (1,1 e 3,7 por cento nos mesmos períodos), devendo salientar-se que resultaram mais do êxodo rural do que de melhorias na capacidade técnica e gestão administrativa das empresas agrícolas Daí o especial cuidado que o sector da agricultura merece a este III Plano, como se dirá no capítulo respectivo.
Resulta do exposto ser imperativo do Plano dedicar especial atenção ao acréscimo de eficiência produtiva que possibilite rápida melhoria do nível de vida da população nacional e condições de competitividade às actividades económicas internas perante a crescente concorrência que defrontam.

2. A obtenção desses acréscimos de eficiência pressupõe o preenchimento de determinado número de funções, das quais cumpre salientar as de investigação pura e aplicada, organização racional da produção e distribuição, formação de mão-de-obra a todos os níveis e aquisição dos equipamentos materiais requeridos por tecnologias rapidamente mutáveis.
A importância decisiva que tem o atingir níveis elevados de instrução de base e técnica, em paralelo com a necessidade de conferir às tarefas de investigação meios suficientes paia a obtenção de rápidas inovações, são problemas versados em capítulo próprio do Plano.
Mas convém aqui chamar a atenção para o alto valor da correlação obtida cotejando os níveis de produtividade definidos para o conjunto da actividade económica com o número médio de anos de estudo da população activa em diversos países. Estudo recente, realizado pela Direcção de Serviços Científicos da O C D. E , evidencia que o número médio de anos de estudo efectivo da mão-de-obra varia, por exemplo, entre oito a dez anos em países industrializados, como os Estados Unidos, a Noruega, a Inglaterra, o Japão e a França, e entre três a quatro anos em países de grau médio de desenvolvimento, como o Peru, a Jugoslávia e o Equador.
Outro estudo da O C D E comprova, de igual modo, o carácter necessário da ligação entre o esforço de investigação e a obtenção de ritmos apreciáveis de desenvolvimento económico. Assim, se se relacionarem as despesas de investigação e desenvolvimento 1, calculadas em percentagem do produto nacional bruto, com a capitação por habitante desse mesmo produto em anos correspondentes, observa-se paralelismo muito estreito, com elevado coeficiente de correlação.
Deve, pois, concluir-se não ser possível proporcionar às actividades económicas nacionais o ritmo de desenvolvimento de que urgentemente necessitam sem proceder a esforços vultosos e persistentes no domínio da investigação pura e aplicada. Aliás, o facto torna-se muito claro quando se pensa que o nosso desenvolvimento económico assentará, sobretudo, no efeito motor de alguns sectores mais dinâmicos, já existentes ou a criar, e que estes são, por natureza, exigentes em matéria de recursos orientados paia a investigação. Tal é o caso, por exemplo, das indús-
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1 Incluem as desposas correntes e de capital para a investigação e desenvolvimento realizadas no interior de um dado país, mas excluem as referentes às actividades científicas sem carácter do investigação, como a documentação, a compilação estatística, a formação profissional da mão-de-obra, a realização de testes, etc , e a investigação nas ciências sociais o nas letras.

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trias electrónicas, de construções eléctricas, químicas, de construção de máquinas e de material de transporte, comparadas com as nossas indústrias têxteis ou alimentares, que representam ainda grande parte da estrutura industrial portuguesa.

3. Se se pretender sintetizar o complexo dos problemas que estão na base dos níveis de produtividade verificados em Portugal, encontraremos duas categorias de questões a primeira referente a deficiências de informação e de investigação no domínio das teóricas de produtividade, a segunda ligada a omissões ou a insuficiências de acções neste domínio, tanto por falta de meios financeiros como pela não convergência dos objectivos prosseguidos e dos processos utilizados nas iniciativas que tiveram lugar até aqui.
O tratamento, com alguma intensidade e amplitude, das questões de produtividade do nosso país iniciou-se em 1959, tendo sido a partir dessa época lançadas pelo Estado, através do Instituto Nacional de Investigação Industrial (I N. I I ), numerosas acções de informação e de formação de dirigentes e quadros, não só na indústria, mas também em muitas outras actividades nacionais.
Desse esforço concertado tendente a estabelecer um sistema permanente de iniciação, aperfeiçoamento e reciclagem em diversas técnicas, nomeadamente de organização, gestão e administração de empresas e sei viços para dirigentes e quadros superiores, merecem sei mencionadas algumas iniciativas que o Instituto desenvolveu por si ou em colaboração com outras entidades.

Realização de dois ciclos de conferências sobre produtividade e planeamento, que tiveram lugar em 1960 e 1961, nas Escolas Superiores de Engenharia e Economia e nas Associações Industriais de Lisboa e Porto,
Organização, desde Outubro de 1960 até Dezembro de 1966, de 250 cursos sobre temas de interesse directo pina o incremento da produtividade, em que participaram mais de 5000 dirigentes e quadros empresariais,
Realização de dois cursos pós-universitários de direcção, gestão e organização de empresas, em Lisboa e Porto, e onze séries de sessões de informação sobre modernas técnicas de direcção e gestão de empresas, nas Faculdades de Engenharia e Economia do Porto e nos Institutos Superiores Técnico, de Ciências Económicas e Financeiras e de Ciências Sociais e Política Ultramarina.
Organização de três debates para o progresso técnico, realizados em Lisboa, Porto e Marinha Grande, com uma assistência total de mais de 500 industriais,
Organização de cinco estágios em França sobre técnicas de produtividade, com a duração de quatro a seis meses e o apoio da Embaixada da França e da Association pour l'Organisation des Stages en France.
No domínio da promoção e assistência técnica, têm-se efectuado diligências constantes junto de serviços, empresas, organismos profissionais e outros com vista a interessá-los em acções de produtividade, e promoveram-se colóquios e missões de produtividade ao estrangeiro nos indústrias de serração de madeiras, cerâmica (barro vermelho) e construção civil, em colaboração com os respectivos grémios, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e Direcção-Geral dos Serviços Industriais.
Tem-se também realizado o diagnóstico e a solução de problemas particulares em algumas dezenas de empresas industriais, nomeadamente no aspecto de organização geral, organização da produção e selecção do pessoal, e apoiado grupos de estudo e de auto-organização constituídos por dirigentes e técnicos de empresas e serviços, tendo ainda o I N I I procedido à distribuição de bibliografia e informação sobre temas de produtividade.
No domínio dos estudos deve referir-se a realização de espectrogramas industriais (conservas de sardinha, fiação de algodão e serração de madeiras), medidas directas e indirectas de produtividade (na indústria de fiação e tecelagem de algodão e na indústria de fundição) a escala nacional e sectorial, e de dois estudos de natureza psicossociológica sobre «Razões do abandono da vida agrícola e dificuldades de adaptação do trabalhador de origem rural ao meio industrial e urbano» e «O aprendiz no meio industrial português».
Ainda no âmbito da Secretaria de Estado da Indústria, funciona, desde 11 de Outubro de 1965, o Grupo de Estudos de Produtividade Administrativa (G E P A ), que tem desenvolvido diversas actividades em colaboração com o Gabinete de Organização e Métodos do Ministério das Obras Públicas (O M O P ), designadamente a realização de dois colóquios para directores-gerais em Julho de 1965 e Novembro de 1966, com 40 participantes, e um primeiro curso de formação Sobre produtividade administrativa, com a duração de lies meses, de Abril a Julho de 1966.
No que diz respeito a Presidência do Conselho e outros Ministérios, cumpre salientar os estudos realizados pelo Grupo de Trabalho n.º 14 (Reforma Administrativa) da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, nos quais o problema do incremento da produtividade dos serviços públicos é estudado nas suas linhas gerais e sugeridas providências de execução imediata.
No Ministério das Finanças, a Direcção-Geral da Contabilidade Pública, que foi o primeiro organismo oficial a ocupar-se em Portugal de problemas de produtividade, embora no exclusivo domínio da administração pública, mantém em funcionamento, desde 24 de Maio de 1945, o Gabinete de Estudos de António José Malheiro, onde, ao lado de cursos de aperfeiçoamento do pessoal (11 cursos, quinze palestras, quatro colóquios e seminários), se têm estudado e posto em prática novos métodos de trabalho, com vista a simplificação da acção administrativa e maior eficácia da Administração.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (L N. E. C ), do Ministério das Obras Públicas, além da colaboração e apoio prestados a iniciativas de interesse comum, promoveu uma série de reuniões de sensibilização sobre técnicas modernas de produtividade nos estaleiros, a que assistiram cerca de 300 empreiteiros, e pôs em funcionamento, no seu Serviço de Edifícios e Pontes, um sector de produtividade e economia na construção civil e obras públicas, através do qual têm curso as seguintes principais actividades.

Estudo e divulgação dos métodos de programação de obras, com recurso às técnicas mais evoluídas, tais como as baseadas na análise do cominho crítico (P E B T),
Directivas para a coordenação dos diferentes intervenientes nas obras de construção civil e sua divulgação no meio técnico nacional,
Aperfeiçoamento dos principais documentos necessários para o projecto e execução das obras, mediante

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o estabelecimento de regras para a elaboração de projectos, caderno de encargos-tipo, circulares de informação técnica, fichas de características, etc , Determinação e divulgação dos custos de trabalhos da construção, dos rendimentos de mão-de-obra e de equipamento e da produtividade de estaleiros.

Da maior importância se reveste igualmente a acção desenvolvida pelo Ministério da Educação Nacional.
Mercê do programa regional do Mediterrâneo - inquérito às necessidades gerais de ensino e formação - foi possível tomar conhecimento, em termos gerais e a médio prazo, das mais instantes daquelas necessidades, estimadas a nível nacional Como resultado deste estudo, tornou-se evidente a conveniência da criação de um departamento especializado e de carácter permanente Assim, pelo Decreto-Lei n.º 46 156, de 16 de Janeiro de 1965, foi instituído o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa (G E P. A E ), cuja actividade se reflectiu, no âmbito do sector, era toda n preparação deste Plano.
Na parte que ao presente capítulo interessa directamente, as actividades deste Gabinete têm estado a ser especialmente orientadas no que respeita a

a) Evolução do sistema escolar português (metrópole) prevista para 1975, por graus e íamos de ensino, e quanto a efectivos escolares, pessoal docente, meios matei mis e encargos financeiros,
b) Planos de desenvolvimento nos domínios da investigação científica, da acção social escolar e das actividades culturais e de educação permanente,
c) Diagnóstico dos principais problemas que condicionam o desenvolvimento do sector educacional e das correspondentes providências a adoptar durante o período deste III Plano de Fomento.

Numa segunda fase dos trabalhos pré vê-se efectuai estudos mais especializados, cujo interesse se localizará, a médio prazo, também na execução do Plano Estes trabalhos incidirão, designadamente, sobre as seguintes questões

a) Definição de prioridades regionais,
b) Definição de prioridades de mão-de-obra

Em ambos estes domínios seu encarado com o devido relevo o problema do desenvolvimento industrial, prevendo-se na realização dos respectivos estudos uma estreita ligação entre o Ministério da Educação Nacional - por intermédio do referido Gabinete de Estudos - e organismos de outros departamentos do Estado, nomeadamente o I N I I , o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho e outros.
No Ministério das Corporações e Previdência Social, o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (F D M O ), através da sua Divisão de Formação Profissional, do Instituto de Formação Profissional Acelerada e do Centro Nacional de Formação de Monitores e, nalguns casos, em colaboração com outras entidades, especialmente organismos corporativos, tem levado a cabo um vasto plano de realização no âmbito da formação profissional extra-escolar, cuja apreciação consta do capitulo do Plano dedicado a «Educação e investigação».
O Fundo vem desenvolvendo ainda outras acções que podem influenciar, mais ou menos directamente, a produtividade da economia nacional.
Assim, o Serviço Nacional de Emprego, criado pelo Decreto-Lei n.º 46 713, de 9 de Dezembro de 1965, conta entre as suas atribuições organizar e manter em funcionamento serviços públicos gratuitos de colocação, assegurar a orientação profissional dos jovens no início da sua vida activa, bem como dos trabalhadores adultos, facilitar a mobilidade profissional e geográfica dos trabalhadores e suas famílias, na medida conveniente ao equilíbrio da oferta e da procura d« emprego Trata-se, pois, de funções em que, a pai de objectivos sociais, estão presentes as necessidades de mão-de-obra decorrentes do desenvolvimento económico, procurando estabelecer-se a melhor correspondência com as disponibilidades existentes, com reflexos directos na produtividade geral.
Para o desempenho mais cabal de algumas das referidas funções existe o Gabinete de Psicologia e Medicina do Trabalho, onde, através de exames psicotécnicos e médios, se ajuízam as aptidões dos trabalhadores.
O Ministério da Saúde e Assistência está, igualmente, a dedicar o maior interesse aos problemas da actualização dos processos de trabalho nos seus serviços e nas instituições que dele dependem.
Foram citados, junto das Direcções-Gerais da Assistência e dos Hospitais, centros de preparação de pessoal, precisamente com o objectivo de organizar cursos de aperfeiçoamento para os funcionários e dirigentes desses serviços e instituições.
Além dos cursos de especialização já realizados pelo centro da Direcção-Geral da Assistência e dos quais resulta, naturalmente, maior produtividade do trabalho, destaca-se, particularmente, o plano de estágios o cursos de produtividade elaborado pela Direcção-Geral dos Hospitais, em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Este plano, cobrindo extensa área de aspectos do trabalho administrativo nos hospitais, abrange as matérias seguintes organização e administração hospitalar, aprovisionamento e gestão dos stockcs nos estabelecimentos hospitalares, contabilidade hospitalar, economato dos hospitais, organização a mecanização do trabalho administrativo nos hospitais, pessoal hospitalar, órgãos de administração e de direcção do hospital, organização interna do hospital, financiamento hospitalar, planeamento e programação hospitalar
Os estágios e cursos, dirigidos por monitores- nacionais e estrangeiros, estão a transformar profundamente os clássicos e antiquados métodos de trabalho dos nossos hospitais e a aumentar a sua produtividade.
O plano, agora em pleno desenvolvimento, terminará no próximo mês de Novembro.
Esta breve apreciação do importante trabalho já realizado pelo sector público não exclui, no entanto, a preocupação resultante de se verificar que em outros departamentos se não generalizou ainda uma política tendente a criação de autêntico clima de melhoria da produtividade, quer em relação aos próprios serviços, quer junto das actividades privadas que orientam.
Independentemente de acções valiosas, mas cujo carácter esporádico lhes retira sentido de verdadeira integração de esforços, pode referir-se que em muitos serviços oficiais subsiste ainda aparente desinteresse pela promoção decisiva do incremento da produtividade nacional e das providências capazes de o assegurar.
No decurso do Plano serão tomadas medidas no sentido de procurar modificar tal estado do espírito, pois se tem como irreversível axioma que, a curto prazo, só poderão sobreviver as actividades, com maior capacidade de competição, o que equivale a dizer de mais altos níveis do conhecimentos, de organização e de produtividade.

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4. Importante significado tem o interesse de várias entidades privadas, ou não dependentes do Estado, que se vêm dedicando ao incremento da produtividade nas actividades que representam.
A Corporação da Indústria criou, em 1964, o seu centro de produtividade, cujas iniciativas se desenvolvem no campo da formação de diligentes de empresas e de contramestres, em colaboração com o F D M O, o I N I. I e os organismos corporativos que integram a Corporação Em 1965 efectuaram-se «Jornadas de produtividade» em Coimbra, Aveiro e Leiria, iniciativa que se julga dever prosseguir pela projecção que este tipo de acção directa tem nos núcleos industriais da província.
Finalmente, pode vir a revestir-se de largo alcance a decisão da mesma Corporação, que se espera ver perfilhada por outras, do promover a criação de centros técnicos e gabinetes de estudos de produtividade nos organismos corporativos primários (grémios e sindicatos).
Muito embora o I N I I se tenha empenhado, desde a sua criação, em interessar a maior soma possível de organismos corporativos na fundação de centros de produtividade, através dos quais se possam difundir e ampliar as acções de estudo, formação, promoção e assistência técnica naquele domínio, são muita poucos ainda os que possuem departamentos destinados a esse tipo de funções e, os que existem, ocupam-se, de maneira geral, quase exclusivamente com actividades de formação
É este um aspecto das nossas actuais infra-estruturas sócio-económicas que exige particular ponderação, pois bem uma adequada rede de centros de produtividade não será fácil levar rapidamente até aos diligentes e técnicos das empresas o somatório de conhecimentos e conselhos capazes de os ajudar a resolver os respectivos problemas técnicos, a modernizar a organização e os métodos de trabalho.
Por isso, a iniciativa da Corporação da Indústria, desde que coordenada com as acções de outras entidades, poderá, na verdade, vir a ter os mais benéficos efeitos sobre o incremento da produtividade em Portugal, embora se deva condicionar o êxito da actividade destes centros à prévia existência de número suficiente de técnicos devidamente especializados em cada organismo e dos meios materiais e financeiros proporcionados à extensão e responsabilidade das tarefas a realizar.
Aliás, alguns grémios de industriais iniciaram já acções que demonstram a receptividade que tal iniciativa lhes pode vir a merecer. Assim, o Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade, além de colaborar em diversas comissões e grupos de trabalho (Planeamento, Tarifas, Coordenação de Protecção, Normalização) e Normas de Qualidade, Revisão dos Regulamentos de Segurança, etc.), tem dedicado particular atenção aos problemas da formação e aperfeiçoamento profissional, com o apoio da Etectricité de Franco O Grémio doa Industriais de Cerâmica promoveu, após o 1.º Colóquio de Produtividade na Indústria do Barro Vermelho, a criação, em 1966, do Centro Técnica da Indústria de Cerâmica, destinado u impulsionar a sua modernização através de adequadas acções de estudo, formação, promoção e assistência técnica. O Grémio Nacional dos Industriais da Serração de Madeiras colaborou no colóquio da especialidade promovido pelo I. N. I. I e dispõe hoje de uma escola de limagem e afinação de máquinas, um centro de aprendizagem, e um gabinete, de estudos de problemas de produtividade Os Grémios Regionais dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas do Norte e Sul realizaram uma série de cursos para encarregados de obras da construção civil e, em colaboração com o Laboratório Nacional de Engenhada Civil, levaram a cabo uma série de conferências para empreiteiros. 0s Grémios dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos do Norte e do Sul, em colaboração com o I N I I e a Corporação da Indústria, realizaram cursos sucessivos de formação, de que beneficiaram já várias dezenas de contramestres Os Grémios Nacionais dos Industriais de Construção e Reparação Naval, de Produtos Químicos para a Agricultura e para a Indústria e de Montagem de Fabricação de Veículos Automóveis, utilizando monitores da Corporação da Indústria ou do I N I T , têm igualmente, efectuado cursos para contramestres, com dezenas de participantes.

5. A Comissão de Produtividade da Associação Industrial Portuguesa desenvolveu, desde Outubro da 1963 até 31 de Dezembro de 1966, uma acção já concretizada em 67 cursos, jornadas e sequências do estudo, nos quais participaram cerca de 1200 pessoas, trabalhando em mais de 400 empresas, em que foram tratados temas interessando especialmente a administração e direcção superior das empresas. A mesma Comissão se deve igualmente à realização, em Lisboa e Porto, da Semana da Qualidade, que congregou, pela primeira vez no nosso país, as atenções e esforços de numeroso grupo de pessoas interessadas nos problemas da qualidade dos produtos.
Tem especial interesse referir que a Associação Industrial de Moçambique, através do Gabinete de Estudos Técnicos, organizou em Lourenço Marques, em Julho de 1966, um ciclo preparatório de formação de produtividade. A esta iniciativa seguiu-se o 1.º Ciclo de Formação em Produtividade, constituído por quatro cursos, regidos por técnicos do I N I I ou seus colaboradores.
O Gentio de Estudos de Gestão e Organização Científica (C E G O C ), da Associação Comercial de Lisboa, realizou, nos seus quatro anos de existência, 107 estágios (cursos) de formação e aperfeiçoamento dos dirigentes e quadros superiores e médios de empresas, com o total de 2369 participantes.
A Junta Central das Casas dos Pescadores e, por seu intermédio, a Organização Corporativa das Pescas têm vindo a desenvolver, desde 1940, uma acção de formação, que se traduziu pela criação da rede de escolas elementares e profissionais de pesca em diversos portos do litoral do continente e ilhas. A Organização dispõe ainda, desde 1952, do Gabinete de Estudos das Pescas.
O Grémio dos Industriais de Transportes em Automóveis criou, no início de 1966, um centro de selecção e formação profissional para o pessoal das empresas rodoviárias.
O Centro de Cooperação dos Industriais de Máquinas e Ferramentas (C. I. M A. F ) organizou já dezenas de cursos para preparação de contramestres da especialidade, e a Associação Portuguesa de Fundição, a quem se deve o 1.º Congresso de Fundição, em 1965, e a preparação do segundo, a realizar em 1967, mantém em funcionamento comissões técnicas dedicadas aos problemas da formação profissional, desenvolvimento dos mercados, vocabulário técnico e ferro fundido e ainda o Instituto de Soldadura.
Finalmente, o Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório do Distrito de Lisboa desenvolve, com apreciável extensão e nível, uma actividade formativa profissional que deve constituir exemplo para outros sindicatos, organismos de que tanto há a esperar no campo da preparação profissional dos seus associados.

6. Deve ainda referir-se que funcionam hoje em Portugal cerca de duas dúzias de gabinetes consultores particulares em assuntos de organização, tecnologia e eco-

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norma, em contraste com a escassa meia dúzia que existia em 1960.
Por inquérito directo, realizado pelo I N. I. I. junto de uma «amostra» destes centros, concluiu-se que os respectivos trabalhos se têm desenvolvido principalmente no âmbito da organização e gestão das principais funções da empresa, direcção geral, comercial, financeira, etc., e se realizam nos mais diversos ramos de actividade.
Verificou-se ainda que, de modo geral, os gabinetes nacionais de consultores actualmente existentes no País estão aptos a dar resposta satisfatória a grande parte doa problemas de organização moderna que se põem às empresas que exercem a sua actividade em território nacional, muito embora seja ainda reduzido o numero de técnicos portugueses especializados relativamente às necessidades existentes e convenha regulamentar o funcionamento dos gabinetes.
Lacuna importante é a falta de suficientes escolas que ministrem ensino sobre técnicas modernas de organização, gestão e administração de empresas, pelo que tem de recorrer-se a escolas estrangeiras ou às pouquíssimas escolas particulares dedicadas a esse tipo de ensino (como, por exemplo, a Escola Superior de Organização Científica do Trabalho, de Lisboa, e os Institutos Económico e Social do Instituto de Estudos Superiores de Évora).
Parece desejável a institucionalização de cursos especializados em escolas superiores já existentes e, logo que possível, a criação de escolas superiores de organização e administração de empresas.

7. No que respeita ao tratamento das questões de produtividade em Portugal, conclui-se da análise anterior encontrar-se o País numa situação que, a traços muito gerais, pode ser caracterizada da seguinte forma:

A indústria tem sido (embora não em todos os seus sectores) a actividade que beneficiou especialmente das acções empreendidas, o que, dadas as relações Ide interdependência existentes entre a agricultura e a indústria, por exemplo, não pode deixar de se considerar aspecto a melhorar,
As acções têm incidido fundamentalmente sobre formação de dirigentes e quadros, muito embora se tenha começado já a encarar, com alguma amplitude, a formação profissional, problema da maior importância, pois dele depende, em grande parte, a melhoria progressiva do nível da produtividade do trabalho e dos salários,
Independentemente do mérito das acções realizadas por numerosos departamentos oficiais e organismos particulares, existem lacunas a preencher e considerável dispersão de iniciativas a corrigir,
Não existem suficientes escolas para o ensino de técnicas modernas de organização, gestão e administração de empresas

§ 2.º Objectivos

8. Dentro do contexto anteriormente resumido, os grandes objectivos do Plano neste capítulo podem enunciar-se assim.

1.º Promover, um ritmo mais acentuado, o aumento da produtividade a fim de que as nossas actividades possam tirar a máximo rendimento das estruturas existentes e efectuar as transformações necessárias, em ordem a obter a indispensável capacidade concorrencial nos mercados internacionais.
2.º Desenvolver as acções de produtividade na indústria, cuidando especialmente dos sectores ainda não atingidos com a profundidade e o dinamismo necessários, como é o caso da construção civil e obras públicas, mas iniciando idêntica acção no sector da agricultura, dos transportes e serviços (privados e públicos), (pois o crescimento dos níveis de produtividade não é menos importante em tais actividades.
3.º As iniciativas a tomar com a finalidade de promover o crescimento das taxas de produtividade, em todos os sectores, devem estar de acordo com os objectivos gerais e as medidas incluídas nos respectivos capítulos do Plano, de forma a assegurar a coerência e a rentabilidade das acções a empreender.
4.º Garantir a preparação de largas categorias da população activa e a correlativa programação dos investimentos e meios humanos indispensáveis para que o complexo de acções a desenvolver no sector público e pelas entidades privadas atinja o grau de eficiência requerido.
5.º Assegurar a coordenação e orientação unitária nesta matéria, pelo que os sectores público e privado deverão, por todos os meios ao seu alcance, unir esforços na equacionação dos problemas, no estudo de soluções, na sua aplicação prática e na crítica dos resultados O alargamento, ao nível das estruturas empresariais, da capacidade de previsão e o planeamento em bases científicas da actividade futura devem correr paralelamente ao propósito de compatibilizar os resultados da empresa ou do sector com o do desenvolvimento da economia nacional no seu conjunto.

§ 3.º Medidas de política

9. Para o cumprimento dos objectivos propostos, e independentemente de estudos cuja realização irá processar-se no decurso do Plano, parece poderem, desde já, referenciar-se as seguintes medidas de política.

1.º O sector público, para além da acção que lhe compete desenvolver (nomeadamente nos domínios do ensino, da investigação, da formação profissional extra-escolar, do planeamento económico) , poderá, no exercício da sua função legislativa em matéria económica e financeira, e por acção directa, contribuir para a melhor adequação das estruturas de enquadramento (institucionais, de infra-estruturas, legislativas e regulamentares, etc.) às exigências de um sector privado dinâmico.

Mais concretamente, e tomando por base o resultado de trabalhos em curso deste domínio, parece de especial importância.

Fazer depender a concessão de empréstimos, a médio e longo prazos, pelas instituições bancárias, da apresentação de projectos com os suficientes elementos de natureza técnica, económica e financeira para poderem fundamentar a análise da sua viabilidade;

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Regulamentar a atribuição de créditos e de incentivos fiscais para fins de organização e de investigação,
Realizar estudos de base que interessem, por um lado, à definição dos níveis óptimos de produtividade e das condições a criar para permitir a integração racional das pequenas e médias empresas no desenvolvimento dos ' respectivos sectores e, por outro lado, à remoção dos obstáculos que possam limitar os benefícios das acções programadas,
Elaborar um plano contabilístico de aplicação geral que ajude à modernização dos métodos de gestão administrativa das empresas, permita apreciar com segurança a respectiva situação económica e financeira e proporcione o melhor aproveitamento dos elementos de informação disponíveis para a construção dos quadros da contabilidade nacional,
Intensificar realizações (cursos, estágios, etc ) que facultem vasta informação a largas camadas de técnicos sabre os mais actualizados métodos de gestão empresarial, criando, se tal vier a ser julgado útil, disciplinas próprias em estabelecimentos universitários onde tais temas possam ser devidamente estudados,
Alargar as acções de formação empreendidas no quadro de instituições já existentes, nomeadamente de acordo com os programas de trabalho do Instituto Nacional de Investigação Industrial e do Fundo, de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.
2.º A organização profissional deverá ser estimulada no sentido de continuar a desenvolver as suas iniciativas em matéria de estudos e acções de produtividade, embora evitando duplicações e descoordenação.
3.º Na generalidade dos ramos de actividade, deverá ser fomentada a cooperação entra empresas, com vista à efectivação de programas de investigação em comum, criação de associações de exportadores, promoção de estudos de mercados, etc.
4.º A criação do Centro Nacional de Produtividade, prevista no artigo 20.º do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, deverá constituir o fulcro de animação de todo o sistema de actuações orientadas para obtenção de rápidos progressos de produtividade, no conjunto das actividades económicas nacionais. Por intermédio do Centro tornar-se-á possível a definição de políticas e objectivos de promoção generalizada dos níveis de produtividade das nossas actividades, em concordância com as determinações do Plano, e ainda a coordenação e dinamização das iniciativas empreendidas naquele sentido pelas diversas instituições existentes e a criar, evitando-se os aludidos desperdícios de meios e dispersão de esforços. Para tanto, e dada a complexidade da matéria, entende-se necessário encarregar do estudo das bases, em que deve vir a ser estabelecido o Centro Nacional de Produtividade um grupo de trabalho a criar no âmbito da Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica, ao qual competirá igualmente o exame das medidas concretas atrás apontadas. Não sendo, pois, a altura própria para sugerir, em pormenor, a estrutura interna do Centro Nacional de Produtividade, salienta-se apenas a necessidade de o tornar um organismo dinâmico e gozando de geral aceitação no exercício das suas funções, o que aconselha o planeamento cuidado da sua implantação no quadro das instituições económicas nacionais.

CAPITULO VI

Sector público e reforma administrativa

SECÇÃO I

Situação actual do sector público

§ 1.º Generalidades

1. Para além dos seus campos de acção tradicionais - defesa nacional, representação externa, administração da justiça e outros serviços que correspondem às mais antigas das suas atribuições-, o Estado tem vindo a assumir responsabilidades cada vez mais vastas em múltiplos domínios, tais como o ensino e a investigação, os transportes, as vias de comunicação e outras infra-estruturas, o funcionamento dos organizações sanitárias e mais equipamentos sociais, bem como de todos os serviços que os cidadãos, só por si, não poderiam assegurar. Acrescem várias atribuições impostas pela exigência de relações sociais e económicas cada vez mais complexas, como sejam a regulamentação do uso dos recursos naturais, a disciplina do comércio externo, a fiscalização dos movimentos cambiais, o controlo do volume monetário e do crédito, a influência nas variações de conjuntura, a defesa da concorrência, a vigilância contra o excessivo poderio económico, a promoção do pleno emprego, a protecção dos consumidores, a redistribuição dos rendimentos, o equilíbrio das relações de trabalho - tudo com vista à justiça social e ao progresso e bem-estar da comunidade, de acordo com o preceito constitucional que atribui ao Estado a missão de «coordenar, impulsionar e dirigir todas as actividades sociais, fazendo prevalecer uma justa harmonia de interesses, dentro da legítima subordinação dos particulares ao geral».
O Estado desempenha, assim, funções primaciais na vida económico-social, não só como gestor do bem comum, mas também como participante directamente activo em domínios económicos, financeiros e sociais, exercendo ainda função dinamizadora de apoio e complemento da iniciativa privada, suprindo-a «quando isso se mostrar essencial à realização de interesses superiores e gerais» (Constituição, artigos 31.º a 33.º, Estatuto do Trabalho Nacional, artigos 4.º a 7.º, Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, artigos 8.º, 9.º, 18.º e 19.º)
Daí o recurso aos planos de fomento, com antecipação à maioria dos países europeus, visando a coordenação das actividades públicas e privados, em colaboração estreita que contribui para a definição e execução das políticas mais adequadas ao progresso da comunidade nacional.

2. O desenvolvimento das funções do Estado conduziu-o, assim, a posição de crescente relevo na sua qualidade de agente económico, como se pode comprovar por

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diversos indicadores Efectivamente, em termos de contabilidade nacional, o sector detém elevadas participações nas variáveis mais, relevantes (quadro I)

QUADRO I

Participação do sector «Estado» na economia Percentagens apuradas em algumas variáveis macroeconómicas

[ver tabela na imagem]

(a) Apenas a partir de 1960 se panou a conhecer o Investimento publico em material diverso pois, anteriormente, só eram considerados os Investimentos em construções de natureza civil.

Fonte: Contas Nacionais do I N E

A participação do sector público no produto interno tem acusado sensível incremento ao longo do período de 1958 a 1964, e o mesmo se verifica no tocante ao valor acrescentado pelas empresas públicas, o qual, somado ao daquele sector, quase atinge, no último quadriénio considerado, a percentagem de 11 por cento. No que se refere as despesas correntes do sector público (consumo público total), do mesmo modo se regista crescente participação na despesa nacional, também mais acentuada no quadriénio de 1961 a 1964, em que atingiu 14 por cento. Note-se, porém, que o consumo público civil não acompanhou aquela evolução, mantendo-se a sua participação estabilizada no período de 1953-1964.
Importa ainda referir que o consumo público total evoluiu às taxas de crescimento anual de 4,6 por cento no período de 1953-1960 e de 5,3 por cento no quadriénio de 1961-1964, ao passo que n pi agressão do consumo privado foi de 4 por cento, ao longo de todo o período de 1953 a 1964.
Quanto à formação de capital fixo, a posição relativa do sector «Estado» parece ainda mais significativa, na medida em que as percentagens que lhe suo imputadas rondam - e ultrapassam no último quadriénio considerado - os 20 por cento, desde que ao investimento do sector público administrativo se acrescente o das empresas públicas.

3. Este desenvolvimento da importância do sector na economia está ìntimamente relacionado, como é natural, com uma crescente complexidade da estrutura interna da máquina do Estado.
Considerando, em primeiro lugar, o sector público administrativo, o quadro II revela a importância relativa dos seus subsectores, verificando-se principalmente a predominância da Administração Central - especialmente do «Estado (C G E )» -, acentuada nos últimos anos, o decréscimo do peso relativo da administração local, e o significado da previdência social Aquele quadro -cujos valores representam uma combinação de quatro indicadores, com vista a mais relevante expressão económica - não inclui, portanto, outros importantes domínios em que se manifesta a acção do Estado, como é o caso das empresas públicas e dos organismos de coordenação económica, que não cabem no conceito económico do sector público, mas serão adiante referidos.

QUADRO II

Estrutura do sector público (a)

Em milhares de contos a preços correntes

[ver tabela na imagem]

(a) Os valoras Indicados no quadro são o somatório das despesas correntes, mais formação bruta do capital não, mais empréstimos concedidos, menos empréstimos contraídos.
(b) Não se distinguem as autarquias locais dos serviços autónomos a estas ligados.

Fonte Contas Nacionais do I N. E.

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É no subsector «Estado (C G. E )» que se concentra a grande maioria dos órgãos que compõem o sector público. Se se pretendesse resumir a extensão do subsector aos seus orgias civis, poderia observar-se a variabilidade quantitativa das principais estruturas existentes nos diferentes departamentos Importa, aliás, ter em atenção que o número de organismos principais não define claramente a extensão orgânica e o volume de tarefas de cada departamento, pois, por exemplo, enquanto há direcções-gerais com numerosas repartições e responsabilidades que penetram toda a Administração Central - como a Direcção-Geral da Contabilidade Pública-, outras existem com uma só repartição e muito menor significado global.
Por outro lado, a substância das atribuições confiadas a este subsector é demasiadamente vasta paia poder ser abarcada em descrição sucinta, como deve ser a de um documento desta índole Desde os organismos com competência nos domínios ti adicionais da função pública- tribunais, representação externa, forças armadas, segurança, serviços financeiros, etc - até aos que mais directamente reflectem o apontado alargamento das funções económicas e sociais do Estado, a estrutura interna do sector estende-se por uma gama extremamente vasta e complexa de organismos. Assim - a título meramente ilustrativo e citando apenas alguns de mais evidente significado económico - recordem-se os de planeamento, de estatística e de informação afectos à Presidência do Conselho, os dilatados e primaciais serviços de educação, a extensa orgânica dês três Secretarias de Estado do Ministério da Economia, as estruturas que disciplinam e orientam o domínio dos transportes e das comunicações, e o Ministério do Ultramar, cuja acção se estende pelas mais vastas parcelas do território nacional.
Todo este aparelho administrativo corresponde a reais necessidades da vida colectiva, e a sua extensão pouco difere da existente na generalidade dos países, havendo apenas que continuar o esforço de adaptação da estrutura administrativa à evolução económica, dentro de critérios de racionalidade e eficiência.
Quanto ao subsector composto pelos serviços autónomos da Administração Central, a última estimativa conhecida apontava o número de 555, cobrindo numerosas actividades públicas de assistência, fomento, investigação, ensino e outras, como o exemplificam os Hospitais Civis de Lisboa, as Casas Pias, o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, o Instituto Hidrográfico, o Colégio Militar, o Instituto Nacional de Investigação Industrial, o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, a Emissora Nacional de Radiodifusão, etc.
Segundo a mesma estimativa, existem 27 fundos autónomos, como o Fundo de Abastecimento, o Fundo do Cinema Nacional, o Fundo de Desemprego, o Fundo de Fomento de Exportação, o Fundo de Turismo, o Fundo de Renovação da Marinha Mercante e outros de variável importância económica.
A previdência social desenvolve-se rapidamente, e a sua complexidade e importância crescentes estão bem documentadas noutro capitulo do Plano.
No tocante às empresas públicas, cuja importância económica global já ficou anotada, podem identificar-se mais de 150, entre as quais são de salientar as Administrações-Gerais dos Correios, Telégrafos e Telefones e do Porto de Lisboa e a Administração dos Portos do Douro e Leixões, Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, Casa da Moeda, Imprensa Nacional, estabelecimentos fabris de carácter militar, etc , cuja participação nos principais ramos de actividade produtiva o quadro m claramente documenta.

QUADRO III

Posição relativa das empresas públicas nos diferentes ramos de actividade (a)

[ver tabela na imagem]

(a) Não se considera o património florestal do Estado, ainda via estudado sob a forma de empresa pública, nem as casas do habitação, os serviços de educação e outros, dado que, sob a forma empresarial, se traduzem em volumes relativamente diminutos.

Fonte. Contas Nacionais do I. N. E.

Finalmente, os organismos de coordenação económica - institutos públicos em cuja administração participam representantes das actividades privadas directamente interessadas- são em número de dezoito e a sua importância pode de certa maneira avaliar-se mencionando que os seus orçamentos representam, globalmente, um valor que atinge, em média, cerca de 14 por cento do Orçamento Geral do Estado e recordando que lhes estão atribuídas funções de dinamização e equilíbrio económico em domínios como a marinha mercante, o comércio de frutas e de vinhos, as exportações de conservas de peixe e de vinho do Porto, etc.
Dentro da política que se impõe intensificar para ocorrer à desactualização de estruturas e métodos, deve salientar-se a oportunidade de continuar os revisões iniciadas pelo Ministério da Economia, no sentido de substituir intervenções conjunturais por actuações destinadas a orientar a evolução a longo prazo das actividades económicas.

4. Com a complexidade e a importância económica que ficam evidenciadas, o sector «Estado» precisa, obviamente, de manter estruturas e métodos de acção adaptados às exigências do desenvolvimento da Nação, ou seja em termos de conseguir os mais elevados níveis de eficiência.

5. Em todos estes domínios se têm registado sucessivos esforços no sentido de resolver os múltiplos problemas sócio-económicos postos ao País, tendo-se em geral ordenado o desenvolvimento da orgânica da Administração com vista à consecução de tal objectivo. No entanto, para que se possa caminhar resolutamente nesse sentido, torna-se necessário efectuar o diagnóstico da situação actual da Administração, procurando detectar os seus problemas e dificuldades mais salientes e encontrar-lhes as soluções adequadas.
Indicam-se em seguida, embora muito sumariamente, algumas das notas mais salientes desse diagnóstico.

1 Incluem-se naquele número 271 comissões municipais de assistência, 89 centros de assistência social e 84 dispensários de higiene social

• Este número abrange 77 serviços municipalizados

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§ 2.º Problemas comuns aos diferentes subsectores públicos

6. Refere-se, em primeiro lugar, o espirito formalista que prevalece em grande parte do sector, umas vezes na ausência de adequada preparação do pessoal, outras vezes por impei feita compreensão da índole e dos objectivos da actuação administrativa, outras ainda como resultado de disposições concebidas em épocas em que o Estado não tinha os responsabilidades de hoje - quando não por influência conjunta destes e outros factores A rotina e o formalismo fazem, por vezes, que se reaja com menos prontidão do que seria desejável as múltiplas solicitações da sociedade em geral e da economia em particular, com risco de comprometer iniciativas publicas e privadas que exigem celeridade e eficiência.
Outro problema do sector «Estado» é a insuficiência de pessoal, por vezes no aspecto quantitativo, mas sobretudo no qualitativo, particularmente nos sectores públicos mais exigentes em habilitações. A elevação dos níveis de vida, o desenvolvimento das actividades particulares e os progressos da previdência social tornaram o emprego público muito menos atraente do que no passado, em virtude das sensíveis diferenças verificadas em relação as remunerações e restantes benefícios, proporcionados pelo emprego privado.
Aliás, o desinteresse pelo sei viço público resulta não só da depreciação das retribuições directas e indirectas - designadamente em relação à importância intrínseca das funções desempenhadas -, mas de não estarem muitas vezes reunidas as melhores condições de satisfação humana no trabalho, como é o caso de faltas de estímulo, dificuldades de acesso, excessiva rigidez nas relações de serviço, insuficiências de informação quanto aos fins a atingir, etc.

7. Os problemas até aqui enumerados mostram a importância primacial do factor humano, ao qual terá por isso de atribuir-se primeira prioridade nas soluções a encarar. Além destes, existem, porém, ou ti os problemas gerais, ligados ao funcionamento dos serviços, que importa por igual considerar.
Relativamente à gestão administrativa, a Administração manifesta frequente tendência paia a centralização dos poderes do decisão e a concentração dos mesmos nos mais elevados órgãos. Isto ocasiona enorme acumulação de trabalho aos altos funcionários, com prejuízo evidente das atribuições que envolvem maior grau de reflexão, como as que respeitam à função de prever e planear, e a super visão crítica dos respectivos departamentos, assim como dá origem a demoras nas decisões, a peidas importantes no espírito de iniciativa e no sentido de responsabilidade dos funcionários de menor categoria, a dificuldades para o público e u quebras significativas na eficiência e na economia da própria actividade administrativa.
Outro aspecto a corrigir no funcionamento dos serviços é o isolamento em que alguns se mantêm relativamente ao público. A Administração, embora respeitando as chamadas garantias individuais, tende a fazer a síntese dos interesses particulares com o interesse geral, procedendo às vezes com algum pendor para o autoritarismo, fundamentado embora no domínio das técnicas ao seu serviço.
Segundo o princípio da legalidade - que é outra característica inerente a um «Estado de direito» como o nosso -, nenhum agente da administração pública tem a faculdade de praticar actos que possam contender com interesses alheios senão em virtude de norma geral anterior e de harmonia com o que nela se houver estatuído.
A este respeito, os funcionários tendem por vezes a orientai-se mais no sentido da estrita legalidade do que no da produtividade, mercê da excessiva sujeição a princípios formais e a ritos consuetudinários. Daí exigências e demoras nem sempre necessárias, de que os administrados, designadamente os empresários, por vezes se queixam, assim como dispêndios públicos de difícil avaliação, mas certamente avultados.
Podem também apontai-se insuficiências no controle dos serviços, por vezes limitado aos aspectos formais e burocráticos, predomínio da improvisação sobre o procedimento programado e coordenado, excessiva preferência pela forma escuta no desenvolvimento do processo administrativo, gratuitidade da maior parte dos actos processuais, baixo custo de taxas por serviços prestados, etc.
É ainda de mencionar o deficiente equipamento material de numerosos serviços, tanto no tocante a instalações (edifícios inadequados, mal situados, ou de lenda dispendiosa) como a outros equipamentos, com reflexos no rendimento dos funcionários, na dificuldade de racionalizar os sei viços, na incomodidade do público e, até, em desperdícios consideráveis.
Importa, portanto, que neste domínio se adoptem critérios de rentabilidade, enquadrados numa orientação lógica a longo prazo, em que se definam prioridades e se antecipem decisões que, não sendo tomadas a tempo, podem resultar mais dispendiosas.
O isolamento de alguns serviços em relação aos particulares, a que já se aludiu, resulta, em grande parte, da falta de conveniente actuação no domínio das relações públicos, que promova, por um lado, as melhores foi mas de esclarecimento das actividades estaduais, de maneira a suscitar melhor compreensão e mais decisiva colaboração do público, e, por outro lado, facilite o esclarecimento, o acolhimento e a participação dos interessados nas actividades administrativas, como parece próprio da vida moderna, tão exigente em matéria de comunicação social como em simplicidade e celeridade de procedimentos.
Outro aspecto, que afecta tanto a Administração como os administrados, é a complexidade dos textos legislativos e regulamentares por que se regem muitas actividades do Estado. De acordo com as exigências modernas, quanto a comunicação social fácil e singeleza de processos, o pesado conjunto de textos - ao qual deve acrescentar-se o complexo das instruções inteiras dos serviços- contribui para os males da lentidão e escassa produtividade da máquina administrativa, assim como representa factor de incomodidade e desperdício de recursos paia os particulares.
Cumpre, por último, referir o desconhecimento existente em numerosos sectores da Administração e do público a respeito da actividade, das estruturas e do funcionamento do aparelho estadual e paraestadual, reflectindo-se em muitos aspectos práticos de racionalização (como a repartição e de funções pelos diferentes subsectores públicos, a determinação da formação básica necessária ao

3.º Problemas específicos da Administração do Estado

8. Quanto à Administração do Estado, são-lhe aplicáveis, de modo genérico, as observações registadas nos números precedentes, com especial relevo para as que se referem ao factor humano

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O quadro IV, que dá n composição dos quadros civis e militares (não compreendendo pessoal assalariado ou contratado por verbas globais), revela

a) A pirâmide, que geométrica e esquematicamente pode representar a composição dos quadros, mostra uma base excessivamente larga, como reflexo do elevado número de agentes menos qualificados,
b) Inversa e correlativamente, a mesma pirâmide apresenta forma excessivamente adelgaçada para cima da letra Q (ou seja acima dos terceiros-oficiais e equiparados), o que reflecte a tendência concentradora da Administração,
c) Abstraindo das mais altas categorias (acima, por exemplo, da letra E), a relativa escassez de pessoal técnico qualificado, normalmente distribuído pelas categorias K a F, parece facto incontroverso, o que, conjugado com o referido na alínea anterior, não está de harmonia com o grau de intervenção e a responsabilidade crescente da Administração,
d) Há notória irregularidade numérica entro categorias contíguas -especialmente na zona média -, o que pode denotar certa imprecisão de critérios na classificação dos diferentes cargos, já que o escalonamento destes deveria reflectir mais claramente as reais diferenças de responsabilidade e de exigência profissional, numa óptica que integrasse as múltiplas hierarquias ao serviço do Estado.

QUADRO IV

Composição dos quadros permanentes da Administração Central (Estado-C G E)

[ver tabela na imagem]

Fonte Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 47 137, de 5 de Agosto de 1966.

Deve, todavia, frisar-se que estas observações são por demais genéricas, parecendo necessário reexaminá-las à luz de análises mais profundas das estruturas dos diferentes quadros, o que será tarefa a realizar no contexto da reforma administrativa.

9. Como já só referiu, as actuais estruturas da Administração Central traduzem a extensão e diversidade da acção do Estado Como o seu crescimento nem sempre obedeceu a critérios uniformes, parece oportuna uma reflexão crítica que procure detectar as imperfeições existentes, no sentido de preencher algumas lacunas, de corrigir possíveis tendências para a dispersão e de eliminar certas duplicações que podem existe, não só no seio da Administração Central, como no conjunto de órgãos de carácter público formado por esta e por outros subsectores. A título meramente exemplificativo, apresentam-se desde já alguns pontos a considerar.

a) São em número restrito os órgãos de coordenação interministerial, o mesmo acontecendo quanto a coordenação ao nível dos serviços dentro de cada Ministério, como exemplos de iniciativas recentes neste domínio, citam-se entre outros organismos, a Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica (com os seus dezanove grupos de trabalho permanentes), o Conselho Coordenador do Ministério da Saúde e Assistência, o Conselho dos Directores-Gerais e as Comissões Técnicas Regionais do Ministério da Economia, o Conselho dos Directores-Gerais e o Conselho Coordenador para os Problemas do Ensino do Ministério do Ultramar, e bem assim a função coordenadora atribuída às Secretarias-Gerais do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério do Ultramar,
b) Nota-se que, além dos órgãos centrais de planeamento da Presidência do Conselho e dos do Comissariado do Turismo, apenas três Ministérios - Ultramar, Educação Nacional e Comunicações - possuem órgãos formal e especificamente encarregados de trabalhos de planeamento,
c) Reconhece-se a necessidade de órgãos destinados à melhoria de técnicas administrativas e à racionalização das estruturas, a Intendência-Geral do Orçamento, concebida para desempenhar funções neste domínio, não tem tido funcionamento efectivo, ao passo que algumas tentativas recentes, por parte de diversos Ministérios, ainda não obtiveram consagração legislativa,
d) Existem domínios de actividade repartidos por diversos Ministérios, o que necessariamente provoca dificuldades de orientação o coordenação,
e) Na localização e hierarquia de certos órgãos com funções análogas, notam-se disparidades entre Ministérios e, até, no seio destes, como é o caso de vários organismos consultivos,
f) Aponta-se a insuficiência de organismos com competência horizontal, através dos quais se compatibilizem as atribuições dos diversos sectores e se centralizem tanto os contactos com o público como a orientação de negócios comuns, relativos a mais de um departamento.

§ 4.º Problemas específicos de outros subsectores públicos

10. No que respeita aos outros subsectores públicos - serviços e fundos autónomos, administração local autárquica, organismos de coordenação económica, empresas

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públicas -, não foi ainda possível reunir elementos que permitam apresentar, mesmo em termos esquemáticos, um diagnóstico seguro dos respectivos problemas Trata-se de pontos muito importantes a considerar em futuros trabalhos da reforma administrativa, dentro do planeamento geral que vier a ser adoptado, além dos aspectos que caibam na alçada dos departamentos competentes dos diversos Ministérios em matéria económica.
Quanto à previdência social, mais uma vez se recorda que a análise pormenorizada da sua problemática específica ficou incluída em capítulo próprio. Neste lugar cabe apenas mencionar que algumas das deficiências atrás apontadas - como, por exemplo, no tocante ao formalismo das actuações e à iniciativa dos dirigentes - aparecem sensivelmente atenuadas neste sector.
Os fundos e serviços autónomos, bem como os organismos de coordenação económica, assumem relevo particular dentro do sector público, em consequência, não apenas do volume dos seus orçamentos e meios de acção próprios, imas também devido à sua índole de instrumentos específicos de actuação do Estado em domínios prioritários da actividade económica nacional. A sua posição actual e as respectivas estruturas orgânicas são o resultado de sucessivas iniciativas destinadas a ocorrer, em especial nos últimos decénios, a importantes domínios em que, por motivos de coordenação e fomento económico, se tornara requerida a intervenção do sector público segundo modalidades distintas das foi mas tradicionais da administração do Estado.
As potencialidades oferecidas por este conjunto diversificado de instrumentos públicos parecem de especial valor estratégico para o conveniente impulso e orientação das transformações previstas para os próximos anos, em virtude da aceleração programada do desenvolvimento económico e social, da integração nos espaços nacionais e europeus, bem como dos objectivos de equilíbrio regional. O conhecimento de que se dispõe em relação a estes subsectores evidencia a oportunidade de acções de modernização e sistematização no sentido de maior eficácia nas áreas que lhes são próprias e de modo a favorecer a perfeita articulação com o sector público administrativo e as actividades produtivas.
A administração local autárquica, de acção insubstituível nos domínios social, político e económico, apresenta também algumas deficiências, que a falta de estudos sistemáticos não permite definir com exactidão, mas que parecem referir-se em particular à insuficiência dos recursos financeiros, à inadequação de certas estruturas orgânicas os actuais exigências funcionais e técnico-económicas, os carências de recursos humanos e a necessidade de traduzir neste domínio as exigências da política de desenvolvimento regional.
No que se refere a empresas públicas, verifica-se a necessidade de assegurar o estudo e a definição de tipos e regimes claramente adaptados à função produtiva que lhes é comum e à multiplicidade de situações reais que terá provavelmente de reconhecer-se. Neste sentido, alguns problemas podem ser geneticamente apontados, como a necessidade de sistematizar a respectiva coordenação com a política económica geral e, em especial, a política de fomento, a conveniência de normalizar os critérios contabilísticos, de planeamento e de administração empresariais, bem como os regimes de pessoal, por vezes inadaptados a função económica das empresas públicas Por outro lado, no que se refere às empresas de economia mista e, concessionárias, levanta-se, por vezes, a conveniência de encontrar fórmulas de articular mais eficazmente a gestão empresarial com os fins de interesse público em causa.

SECÇÃO II

A reforma administrativa

§ 1.º Conceito e princípios gerais

11. Porque o panorama sucintamente descrito constitui um dado de observação corrente, pode considerar-se adquirida entre nós, tanto nos meios responsáveis como entre o público em geral, a consciência da necessidade de revisão dos métodos de trabalho administrativo e do estudo em bases técnicas da organização dos serviços públicos, com vista a aumentar a sua produtividade e a diminuir-lhes o custo do funcionamento.
Na fase do processo de expansão económica e social em que se encontra a comunidade portuguesa, reconhece-se geralmente como imprescindível dispor de uma infra-estrutura administrativa racionalmente organizada, de uma burocracia ágil, eficiente e progressiva - apta a fornecer às actividades públicas e privadas o suporte de que necessitam para se desenvolverem e atingirem as suas finalidades próprias.
O ritmo crescente do progresso do País, designadamente no campo económico, técnico, educacional e social, ao multiplicar os contactos dos cidadãos e das organizações privadas com a administração pública, tem proporcionado um conhecimento mais profundo e generalizado da forma como esta exerce a sua acção. Por outro lado, o Governo não tem ocultado em várias circunstâncias os seus propósitos de promover os estudos e diligências conducentes à obtenção de mais elevado grau de eficiência da administração pública.

12. A esse objectivo de conversão e adaptação da administração pública às finalidades concretas que o Estado lhe propõe prioritariamente, à- evolução do meio social, às inovações introduzidas pela técnica - a isso se tem chamado reforma administrativa», que entre nós já foi definida como «conjunto de providências tendentes a assegurar de forma permanente e sistemática a renovação e o aperfeiçoamento da administração pública no tríplice aspecto do rendimento do factor humano, da estrutura dos serviços e das técnicas do seu funcionamento, tendo em vista a sua melhor adaptação ao prosseguimento dos fins do Estado e às exigências dos processos de transformação social».

13. Conforme já se referiu, a necessidade da reforma administrativa, por toda a parte sentida com maior ou menor agudeza, resulta, basicamente, da complexidade das funções do Estado, da sua crescente intervenção na vida sócio-económica e do ritmo cada vez mais intenso do progresso técnico. Ficou também claramente estabelecido que a acção da reforma é exigida pela realização cabal dos fins do Estado, especialmente no tocante ao desenvolvimento económico e social, que apenas poderá ser conseguido no quadro de uma administração eficiente.
Além destas ideias fundamentais, foi possível criar em torno da problemática da reforma administrativa um substrato de princípios elementares, que podem igualmente considerar-se de aceitação generalizada. Convém enunciá-los, pois ajudarão a compreender melhor os desenvolvimentos subsequentes.
1.º A reforma administrativa deve ter em conta o condicionalismo social, económico e político, as tradições, os

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hábitos, as mentalidades do país que a promove. Quer dizer: não podemos abalançar-nos a modificações repentinas e radicais daquilo que existe, sob pena de criar tensões e dificuldades que podem comprometer gravemente a consecução dos objectivos visados. A reforma é ciência aplicada, é política e é também uma arte não pode desligar-se das realidades do meio onde irá processar-se.

2.º A reforma administrativa é um (processo de execução progressiva. Não se pode esperar que ela se desentranhe em resultados rápidos e espectaculares a alcançar em prazos previamente fixados. A reforma terá de processar-se gradual e cautelosamente, embora com firmeza e sem pontos mortos, nem atrasos susceptíveis de lançar a dúvida sobre o êxito do empreendimento.
3.º A reforma administrativa exige rigoroso planeamento. Não é possível partir para uma reforma administrativa sem planear previamente, com o maior cuidado, a acção a empreender e as fases sucessivas em que ela se desdobrará. Efectuar um rigoroso planeamento da reforma significa delinear a sua estratégia geral e marcar-lhe as fases principais, as prioridades a observar e a cadência ao desenvolvimento.
4.º A execução da reforma implica a criação de órgãos técnicos permanentes. Não pode haver reforma administrativa sem instrumentos adequados, e estes requerem a instituição de um serviço ou serviços de carácter permanente e com adequada organização técnica.
5.º A execução da reforma supõe a formação de pessoal especializado nas técnicas modernas da administração pública. Não será viável lançar com bases seguras uma reforma administrativa se não se dispuser dos especialistas que hão-de estudar os problemas e assegurar a correcta aplicação das providências reformadoras.
6.º Na base de toda a reforma administrativa encontram-se os problemas relativos ao funcionalismo público. Trata-se de reconhecer a importância primordial do factor humano na Administração. Das qualidades do pessoal que a serve e do seu regime de prestação de serviços depende em larga medida o rendimento de toda a máquina administrativa.
7.º A reforma administrativa deve ser precedida e acompanhada - junto dos dirigentes, dos funcionários e do público - de uma companha de preparação psicológica, tendente a criar um estado de espia to de receptividade as providências a adoptar. A reforma não poderá vingar se não se conseguir suscitar entre a generalidade dos interessados a compreensão da sua necessidade e o desejo de nela colaborar.
8.º Não obstante a acção que se empreenda no sentido indicado, haverá sempre que contar, ao menos de início, com atitudes de cepticismo, de controvérsia e até de resistência às inovações reformadoras. E que toda a ideia de reforma, implicando a alteração de velhos hábitos, o abandono de rotinas e um esforço de adaptação a novos ordenamentos, vem naturalmente contrariar as leis da inércia a que está sujeita a máquina administrativa.

§ 2.º Antecedentes da reforma administrativa em Portugal

14. Também no nosso país o estudo e resolução destes problemas vem despertando interesse crescente, podendo dizer-se que a eficiência da Administração de há muito constitui preocupação do Governo, com reflexo visível na massa dos funcionários e no público em geral Convém recordar, embora muito sumariamente, os marcos principais da evolução registada entre nós, que conduziu às modernas concepções da reforma administrativa.
Passando sobre as reformas de base publicadas durante os anos trinta1, nos domínios financeiro e administrativo, que serviram de fundamento para as subsequentes tarefas de reconstrução nacional, e sem deixar de lembrar que a década de 40 foi profundamente marcada pelas preocupações e perturbações advenientes da segunda guerra mundial e suas consequências, anotar-se-ão as seguintes principais providências planeadas e adoptadas no nosso país nos últimos 25 anos, com vista a aumentar a eficiência da administração pública, no tríplice aspecto da condição e rendimento do factor humano, da revisão da estrutura e orgânica dos serviços e do aperfeiçoamento dos métodos de trabalho e técnicas de funcionamento. Sem intuito de sistematização, proceder-se-á ao mero enunciado dessas providências, por ordem cronológica.

A) Pelo Decreto n.º 38 503, de 12 de Novembro de 1951, foi criada a Comissão Central de Inquérito e Estudo da Eficiência dos Serviços Públicos, com a finalidade de averiguar e estudar os factores de que depende a produtividade dos mesmos serviços e propor as medidas que tendam a aumentá-la. Os principais trabalhos da Comissão versaram sobre organização das secretarias-gerais dos Ministérios (1952), fornecimentos aos serviços públicos (1953) e recrutamento e formação do pessoal dos serviços administrativos da Administração Central (1955).
Ainda no ano de 1951 veio a ser regulada, pelo Decreto-Lei n.º 88 523, de 23 de Novembro, a matéria de acidentes em serviço, e pelo artigo 18.º do Decreto n.º 38 586, de 29 de Dezembro, foi atribuído um novo suplemento sobre as remunerações base dos funcionários (o anterior fora concedido pelo Decreto-Lei n.º 87 115, de 26 de Outubro de 1948),
B) Em 1954 foi revisto, através do Decreto-Lei n.º 39 844, de 7 de Outubro de 1954, o regime do abono de família, que havia sido instituído pelo Decreto-Lei n.º 32 688, de 20 de Fevereiro de 1943,
C) No ano de 1957 há a registar o seguinte

Criação da Comissão Coordenadora das Publicações do Estado2 (Decreto-Lei n.º 41 241 de 24 de Agosto),
Revisão e actualização das disposições legais relativas a aquisições do Estado, autorização de despesas e dispensa de concurso público e contrato escrito (Decreto-Lei n.º 41 375, de 19 de Novembro),
______________________

1 É oportuno referir que já o Decreto com força de lei n.º 16 670, de 27 de Março de 1929, atribuía a um organismo do Estado (a Intendência-Geral do Orçamento) o encargo de «estudar os fórmulas mais económicas do emprego dos dinheiros públicos, propondo as modificações na organização ou na técnica dos serviços que julgar necessárias ou convenientes para que seja observada a maior economia dentro da maior eficiência».
2 Anteriormente haviam sido já criadas no Ministério das Finanças outras comissões destinadas a ocupar-se de problemas concretos ligados a organização e funcionamento dos serviços do Ministério. É o caso da Comissão de Estudo para Uniformização de Impressos (Decreto-Lei n.º 86 897, de 2 de Junho de 1948) e da Comissão para a Instalação e Estudo dos Serviços Mecanográficos (Decreto-Lei n.º 89 530, de 6 de Fevereiro de 1954).

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Criação da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho (Decreto-Lei n.º 41 383, de 22 de Novembro), como primeiro esboço de centralização e coordenação administrativas na Presidência do Conselho, com inclusão de um serviço embrionário para o planeamento económico (a Inspecção Superior do Plano de Fomento), donde mais tarde resultou o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, adiante referido,
Previsão da «criação de um serviço permanente encarregado de estudar e propor o que julgar mais conveniente a progressiva racionalização dos serviços públicos» (artigo 10.º da Lei n.º 2 090, de 21 de Dezembro).

D) Em 1958, através dos Decretos-Leis n.ºs 41 523, do 6 de Fevereiro, e 41 671, de 11 de Junho, foi unificado o quantitativo do abono de família e introduziram-se diversos aperfeiçoamentos no respectivo regime. E o Decreto-Lei n.º 42 046, de 23 de Dezembro, promulgou o reajustamento das condições de remuneração dos servidoras do Estado,
E) Mediante resolução do Conselho de Ministros de 18 de Março de 1959, constituíram-se nos Ministérios civis comissões de simplificação administrativa, incumbidas de rever os métodos do trabalho burocrático e os processos de contacto com o público, propondo as providências atinentes à simplificação de uns e de outros. As finalidades visadas com os trabalhos das comissões seriam, essencialmente, a eficiência dos serviços públicos, a produtividade dos funcionários e a comodidade do público.
F) Um dos resultados do labor dessas comissões foi a publicação do Decreto-Lei n.º 42 800, de 11 de Janeiro de 1960, que veio determinar ou permitir diversas transferências e delegações de poderes, com vista a «atenuar uma concentração de competências nem sempre justificada e conferir aos funcionários de chefia, nos vários graus hierárquicos, maior autoridade e maior responsabilidade».
Nesse mesmo ano há a registar a adopção das seguintes providências, em benefício dos funcionários e suas famílias, todas por meio de diplomas publicados em 27 de Abril.

Atribuição às pessoas de família a cargo dos servidores do Estado, por morte destes, do direito de receberem o vencimento completo do mês do falecimento e do seguinte (Decreto-Lei n.º 42 947),
Revisão das pensões de reserva, aposentação, reforma e invalidez (Decretos-Leis n.º 42 948 e 42 950),
Regime da aquisição e construção de imóveis destinados aos funcionários do Estado o dos corpos administrativos (Decreto-Lei n.º 42 951),
Extensão dos benefícios da assistência na tuberculose aos cônjuges e descendentes a cargo dos servidores do Estado (Decreto-Lei n.º 42 953),
Concessão de pensões de sobrevivência aos funcionários ultramarinos (Decreto n.º 47 109)
G) Pelo artigo 26.º da Lei n.º 2111, de 21 de Dezembro do 1961, ficou o Governo autorizado a «promover a reorganização dos serviços públicos, a fim de melhorar a sua eficiência, aumentar as garantias dos particulares e assegurar mais efectiva cooperação do público com a Administração». Na parte respectiva do relatório da proposta do Governo faz-se uma exposição «completa e exaustivamente elucidativa» (segundo o parecer da Câmara Corporativa) da motivação do preceito, focando-se em especial os seguintes pontos tendência dominante na evolução recente da administração pública, necessidade e antecedentes da reforma geral da Administração em Portugal, sentido, oportunidade e âmbito da reforma a empreender, seus objectivos imediatos e programa inicial, instrumentos da respectiva realização.
De notar que neste documento se consagra oficialmente a expressão «reforma administrativa», ao mesmo tempo que se apresenta uma esclarecida síntese dos principais problemas em que se desdobra o delineamento e a prossecução dessa reforma no nosso país,
H) O Decreto-Lei n.º 45 002, de 27 de Abril de 1963, criou o serviço da Assistência na Doença aos Servidores Civis do Estado (A D S E ), regulamentado um ano mais tarde pelo Decreto n.º 45 688, mas que só em Outubro de 1965 logrou concretizar o seu primeiro benefício assistência hospitalar em serviços de obstetrícia e cirurgia, geral e especializada, em regime de internamento e ambulatório,
l) Pelo Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, foi criada, na Presidência do Conselho, a orgânica de planeamento e integração económica, na qual se integrou a respectiva Comissão Interministerial e o Secretariado Técnico daquela Presidência Os seus serviços foram reorganizados pelo Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966, passando o Secretariado Técnico a actuar também como «serviço nacional destinado a preparar, para apreciação do Governo, os projectos dos planos de desenvolvimento económico e social, a escala do espaço português ou de âmbito regional, e dos esquemas de realização da integração económica daquele espaço»,
J) O Decreto-Lei n.º 47 137, de 5 de Agosto de 1966, concedeu, a título transitório, a todos os servidores do Estado, um subsídio eventual de custo de vida. Conforme resulta do preâmbulo, trata-se de providência destinada a atenuar, na medida do possível, as dificuldades do funcionalismo em face da alta do custo de vida - isto sem prejuízo da «pugnada reforma administrativa» considerada necessária para que as administrações modernas procedam a «revisão e reestruturação dos seus quadros e de povos métodos de trabalho, por forma a aumentai-se o rendimento e a evitar-se pessoal em excesso ou de baixa produtividade»
15. Além das providências de ordem legislativa, outras há a citar de que têm resultado estudos, preliminares de grande utilidade para a realização de futuras reformas de estrutura e funcionamento dos sei viços públicos e que

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simultaneamente Contribuem para criar um «clima» e uma mentalidade propícios à aceitação dessas reformas Suo dignos de menção.

A actividade e as publicações emanadas do Gabinete de Estudos de António José Malheiro,
Os cursos e colóquios sobre organização e simplificação do trabalho nos serviços públicos, promovidos pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial e pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil,
A criação de núcleos embrionários de serviços de organização e métodos em alguns departamentos públicos.

Não deve igualmente passar sem referência a realização de reformas sectoriais, como a Reforma Fiscal e a de serviços dependentes do Ministério da Justiça, a publicação do Estatuto do Funcionalismo Ultramarino, a reorganização do Ministério do Ultramar, etc.
Salienta-se também que o Conselho Ultramarino dedicou a sua última sessão plenária ao estudo dos «problemas fundamentais ligados a reforma administrativa no tríplice aspecto do factor humano, da estrutura e orgânica dos serviços e das técnicas e métodos, com vista à definição das soluções adequadas na parte relativa ao ultramar»
E há igualmente a registai numerosas reorganizações parcelares de serviços públicos, levadas a efeito nos últimos anos, em que se tem procurado acudir às novas necessidades o exigências da vida administrativa através de soluções inovadoras, que, por vezes, excepcionam mais ou menos profundamente os padrões tradicionais.

16. Esta intensa actividade no campo dos estudos, e mesmo no das providências concretas, significa existir a consciência da necessidade de actuar neste domínio, e verificar-se mesmo aquilo a que se poderá chamar uma caracterizada tendência reformadora. Sucede, porém, que (abstraindo das reformas sectoriais, que procuram abranger, em visão global, todo um campo especializado de actividades) têm predominado tentativas fragmentárias, esforços dispersos e isolados, que não obedecem a uma visão uniforme, a uma directriz coerente, a um plano de conjunto. A tendência dos serviços é no sentido de se reorganizarem ao sabor da sua visão particularista e dos seus interesses imediatos, ainda que algumas vezes actuando como que- em «flecha operacional», precursora de uma reforma geral devidamente estruturada. Isso resulta, fundamentalmente, de não ter sido ainda possível criar, conforme mais de uma vez foi preconizado, um órgão técnico central incumbido de efectuar os estudos pertinentes à reforma administrativa e velar pela aplicação dos critérios gerais superiormente estabelecidos na matéria.
Nesse sentido se deu passo importante com a criação, em Outubro de 1965, de um grupo de trabalho interministerial dirigido ao estudo e planeamento da reforma administrativa.

17. Já a base IX da Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, relativa ao Plano Intercalar de Fomento, autorizara o Governo a promover, entre outras diligências, «a modernização das orgânicas e métodos de trabalho nos serviços públicos». Foi, todavia, no âmbito dos trabalhos preparatórios do III Plano de Fomento que veio a constituir-se, mediante resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, um grupo de trabalho para a reforma administrativa, que recebeu como mandato, essencialmente.

Elaborar um relatório analisando a situação da eficiência da administração pública e propondo as linhas gerais da reforma administrativa imposta pela necessidade de adaptação das funções do Estado aos imperativos da vida de uma sociedade moderna e em função das exigências do desenvolvimento económico da Nação numa situação aberta à concorrência internacional.

Elaborado pelo grupo um relatório preliminar sobre as linhas, gerais da reforma administrativa, ainda antes mesmo de concluídos os relatórios parcelares cometidos aos cinco subgrupos em que o plenário se cindiu, sobre aquele documento vieram a recair os pareceres, não só da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, como ainda das diversas corporações, dado o interesse que se reconheceu em dar audiência ao sector privado, por via representativa, em assunto de tanta monta para o público em geral.
A luz das considerações do relatório preliminar e das apreciações que sobre ele incidiram, formulam-se seguidamente as linhas gerais dos objectivos e das medidas de política a prosseguir em matéria de reforma administrativa.

§ 3.º Objectivos

18. Entre os objectivos a considerar neste domínio, quanto ao sector «Estado», salientam-se os seguintes,

a) Maior produtividade dos serviços e organismos públicos, procurando insuflar a Administração um «espírito empresarial» harmónico com as características e exigências do nosso tempo,
b) Progressiva melhoria das condições económico-sociais dos servidores do Estado, de acordo com a função social que desempenham e em ordem ao melhor rendimento do trabalho,
c) Cuidadosa e persistente acção formativa dos mesmos servidores, tendo em especial atenção o ensino das modernas técnicas administrativas,
d) Racionalização das áreas de competência de todos os organismos com intervenção na função pública, de maneira a eliminai possíveis conflitos positivos e negativos a esclarecer as intervenções e a simplificar as estruturas,
c) Descentralização de atribuições e desconcentração de competências, por forma a aproximar tanto quanto possível os centros de decisão da respectiva execução, a libertar os escalões hierárquicos superiores para o estudo e a decisão dos assuntos mais importantes e a eliminar o congestionamento e o dispêndio ocasionados nos serviços,
d) Melhorias substanciais nas práticas administrativas, designadamente no tocante ao planeamento, a coordenação, ao apoio técnico e ao controle nos sectores em que tal se torne necessário, paralelamente, procurar-se-á simplificar os processos e práticas burocráticos, adequando-os estreitamente aos fins a satisfazer,
g) Instalação e equipamento conveniente dos serviços e organismos públicos, tendo em consideração a melhor produtividade com o menor dispêndio, a eficiência do serviço e a comodidade do público, de acordo com planos de conjunto em que se escalonem as necessidades e os recursos,

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A) Progressivo aperfeiçoamento das relações públicas, em ordem a obter a compreensão e a adesão dos administrados, e bem assim o esclarecimento e a efectiva participação do público nos actos da Administração,
B) Revisão e simplificação dos textos legislativos que regulam a actividade administrativa, de modo a facilitar tanto o funcionamento dos serviços como o conhecimento do público, especialmente nos domínios mais ligados ao desenvolvimento económico-social.

19. Sem prejuízo de orientações específicas para os diversos sectores e ramos de actividade, entende-se ainda conveniente - em coincidência, aliás, com pareceres expressos em recente estudo da O C D E sobre a economia portuguesa - continuar a substituir os controlos directos de natureza administrativa por esquemas de actuação subordinados a regras gerais susceptíveis de particularização e fiscalização rigorosa, na medida em que as iniciativas privadas utilizem facilidades ou apoios directos proporcionados pelo Estado. Substitui-se, assim, a uma intervenção preventiva outra de carácter igualmente selectivo, mas de mais segura verificação e liberta de critérios meiam ente administrativos Aquela orientação - que, no domínio da indústria, se prende com a execução dos princípios consagrados no Decreto-Lei n.º 46 666, de 24 de Novembro de 1965 - servirá para orientar a reorganização administrativa dos correspondentes sectores do Estado, dês gnadamente no sentido de poderem dispor de pessoal qualificado, em situações, pelo menos, equiparadas às oferecidas pelo sector privado.
As referências anteriormente incluídas em relação a outros subsectores públicos evidenciam a necessidade de estender a reforma administrativa a esses subsectores, assegurando a sua modernização por esforços convergentes destinados à obtenção das imprescindíveis melhorias nos domínios dos recursos humanos e materiais, estruturas e funcionamento.
Por outro lado, desenvolver-se-ão também, pelos departamentos competentes, os estudos necessários ao ajustamento da administração local, dos fundos e serviços autónomos, dos organismos de coordenação económica, das empresas públicas e das empresas de economia mista, ou em que o Estado tem intervenção, as exigências de uma política económica progressiva e coordenada, assegurando maior eficiência dos instrumentos de actuação do sector público, de molde a estimular e orientar as transformações da economia impostas pela aceleração do desenvolvimento nacional.
De modo geral, estes estudos devei ao ser prosseguidos com vista a promover melhor enquadramento de funções entre os subsectores referidos e conjuntamente com a Administração Central do Estado, por forma a simplificar e evitar duplicações e, ainda, a prevenir possíveis conflitos positivos e negativos de competências. No tocante à administração local autárquica, o objectivo principal será o de vitalizar a sua acção, mediante acréscimo de recursos e outros reajustamentos, no sentido da elevação do nível das populações e das economias locais e da melhor participação no desenvolvimento regional. No que especialmente se refere à$ empresas públicas, procurar-se-á valorizar a sua função produtiva, aperfeiçoando os respectivos instrumentos de controle melhorando a participação nos planos de fomento, adoptando sistemas de contabilidade analítica industrial e reajustando os regimes de pessoal E no tocante às empresas privadas em cujo capital o Estado participa, ou cuja administração é, a outros títulos, controlada por este, promover-se-ão os estudos respeitantes à definição do melhor ajustamento entre os fins empresariais e públicos das explorações.

§ 4.º Medidas de política

20. Entre as providências que se encaram para dar efectivação gradual aos objectivos da reforma administrativa, a começar pelos serviços da Administração Central, e constam essencialmente das «recomendações» formuladas no citado relatório do grupo de trabalho, salientam-se, como prioritárias, as seguintes

A) Relativas aos órgãos do reforma

1 Criação do Secretariado da Reforma Administrativa como órgão com competência para, de modo geral, proceder ao estudo e planeamento das providências tendentes a assegurar, de forma permanente e sistemática, a revisão e o aperfeiçoamento da administração pública.
2.ª Constituição de núcleos experimentais de organização e métodos (O M ) nos Ministérios com atribuições no domínio económico e social e nos organismos autónomos e direcções-gerais que ofereçam melhores condições de receptividade

B) Relativas ao factor humano

a) Quanto a situação económico-social dos servidores do Estado

1.ª Revisão e reajustamento de remunerações no contexto da reforma do regime geral dos funcionários e da reestruturação dos quadros administrativos,
2.ª Alargamento das regalias de segurança social, designadamente no que respeita à ampliação dos benefícios da assistência na doença, à intensificação da política de habitação económica, à revisão e aperfeiçoamento do regime da aposentação, e à melhoria das condições de protecção da família dos servidores do Estado em caso de morte.

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1 A esta recomendação foi já mandada dar execução pelo Governo, que, por resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, determinou a criação do Secretariado da Reforma Administrativa «como órgão central impulsionador desta reforma, com atribuições de estudo, planeamento, coordenação e acompanhamento da execução das providências tendentes a promover, de forma permanece e sistemática, a modernização e o aperfeiçoamento da administração publica no que respeita, designadamente, ao estatuto jurídico e às condições económico-sociais dos servidores do Estado, a estrutura de quadros e serviços, a racionalização de métodos de trabalho e às relações com o público». Prevê se que o respectivo diploma seja publicado ainda em 1967

1 Portugal, O. C. D B , Paris, 1966

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b) Quanto à formação e aperfeiçoamento profissional dos funcionários.

1.ª Formação acelerada de técnicos administrativos, dando prioridade a especialistas em O. M. Trata-se da urgente formação, nomeadamente através da realização de cursos intensivos, dos técnicos indispensáveis, não só para colaborarem na fase de planeamento, como sobretudo para garantirem a sua execução nos vários Ministérios, segundo as orientações que vierem a ser traçadas, e, além disso, para promoverem a progressiva racionalização dos gastos públicos,
2.ª Realização de palestras, colóquios e seminários, especialmente para auxiliar a formação a curto prazo de pessoal directivo,
3.ª Promoção de visitas de estudo e estágios no País e no estrangeiro, designadamente no âmbito da formação acelerada;
4.ª Promoção e difusão de publicações de carácter formativo.

c) Quanto ao regime jurídico geral dos servidores do Estado

1.ª Estatuto dos Funcionários Civis do Estado - preparação de um diploma que defina, de modo uniforme e sistemático, o regime jurídico que vier a ser aplicável à generalidade dos agentes civis do Estado - sem prejuízo dos regimes especiais que se justifiquem para alguns sectores, nem da diversificação que em determinadas matérias se mostre aconselhável,
2.ª Situação do pessoal assalariado - deve igualmente promover-se com brevidade a revisão do regime deste pessoal, definindo orientações de conjunto que evitem disparidades de regulamentação não apoiadas em fundamentos plausíveis.

C) Relativas à organização e funcionamento da Administração

1.ª Estudos acerca das reformas de estrutura da Administração, designadamente nos seguintes aspectos

Revisão de categorias e classes do funcionalismo,
Racionalização dos quadros do pessoal,
Delimitação e repartição de competências entre os organismos e serviços públicos e entre os vários graus e escalões da hierarquia administrativa,
Desconcentração e delegação de poderes,
Descentralização de funções, Coordenação das actividades administrativas,
Simplificação de trâmites processuais e de formalidades burocráticas.

2.ª Enquanto esses estudos não atinjam o seu termo, sei ao adoptadas providências avulsas nos domínios acima indicados, do tipo das introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 42 800, de 11 de Janeiro de 1960, dada a premência de resolver casos mais graves de congestionamento da Administração e de libertar os escalões superiores de direcção e chefia para o estudo e decisão dos assuntos mais importantes da sua competência!
3.ª Preparação de um código de processo administrativo gracioso com base jurídica indispensável a um funcionamento eficaz dos serviços e à defesa dos interesses e das garantias dos particulares,
4.ª Estudo dos processos de melhorar as relações com o público, tanto no que respeita aos problemas da informação (por via ascendente e descendente) como aos da colaboração entre a Administração e os administrados,
5.ª Definição dos critérios a que devem obedecer a instalação e o equipamento dos serviços públicos e análise das incidências destes problemas na eficiência da Administração.

As providências que acabam de preconizar-se para a Administração Central deverão tornar-se gradualmente extensivas, com as necessárias alterações, aos restantes subsectores públicos, tendo em conta as observações formuladas e os estudos a empreender quanto aos seus problemas específicos.

21. Olhadas no seu conjunto, constituem estas providências um esquema geral de reforma, a que procurará dar-se execução sistemática e gradual, com observância de uma ordem de prioridades a definir oportunamente em concreto, atendendo aos recursos de vária ordem - humanos, materiais e financeiros - que hão-de ser exigidos por empresa de tão grande vulto.
Quer isto dizer que, de harmonia com um dos princípios fundamentais atrás enunciados, a reforma administrativa não será um acto instantâneo, nem uma série de meras disposições legais, nem uma sequência de acções avulsas, mas antes todo um longo processo evolutivo, que procurará cobrir gradualmente os domínios de acção respeitantes aos factores de que depende a eficiência da administração pública.
O esquema traçado é de tal forma vasto e complexo que a sua execução não pode deixar de exigir rigoroso planeamento prévio, definição das prioridades a observar, apurado sentido das oportunidades de acção, cuidadosa

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1 Também a acima referida resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos determinou a elaboração de um primeiro projecto de diploma legal contendo providências genéricas de aplicação mais urgente, com vista, nomeadamente, à simplificação de formalismos e desconcentração de competência na administração pública»

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avaliação dos recursos disponíveis, formação urgente de técnicos administrativos, utilização de múltiplas colaborações, coordenação de actividades dispersas.

22. Na escolha de prioridades a que acima só alude - trabalho prévio que obviamente se reveste de fundamental interesse -, haverá que não perder de vista os seguintes critérios de base.

a) Proporcionar um arranque tão seguro e efectivo quanto possível do movimento da reforma administrativa,
b) Criar alguns pólos de dinamização para esse movimento susceptíveis de garantir a sua gradual expansão e fortalecimento,
c) Preparar psicologicamente os dirigentes, os funcionários em geral e o próprio público para as acções de R A, ou seja criar um verdadeiro espirito de renovação,
d) Acudir aos pontos nevrálgicos e às necessidades mais instantes reveladas pelo diagnóstico da situação presente,
e) Atribuir importância primordial ao factor humano, quer no aspecto da formação dos funcionárias, quer no das suas condições económico-sociais,
f) Escolher, dimensionar e organizar cuidadosamente os instrumentos básicos da reforma.

23. Quanto às próprias providências a adoptar, não poderá esquecer-se que algumas das prioridades foram já fixadas pelo Governo no artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 47 137, de 5 de Agosto de 1966, que concedeu o subsídio eventual de custo de vida, e nos artigos 20.º e 21.º da Lei n.º 2131, de 26 de Dezembro do ano findo (Lei de Meios para 1967)
São, fundamentalmente, as seguintes

A reestruturação dos quadros do funcionalismo,
A realização de um inquérito geral sobre a situação dos servidores do Estado,
A intensificação da assistência na doença aos mesmos servidores,
A concessão de outras regalias de carácter económico-social

24. Uma vez criado o órgão técnico central anteriormente referido - o Secretariado da Reforma Administrativa -, a este caberá actuar, sob o impulso e a orientação da Presidência do Conselho, como instrumento principal do planeamento e dinamização da mesma reforma. Importa, no entanto, não perder de vista que esta começa por ser um «estado de espírito» e implica uma «tomada de consciência» antes de se desentranhar em frutos palpáveis. E vem a traduzir-se numa actuação continuada e persistente, devidamente programada, que há-de abranger todos os sectores e escalões administrativos e exigirá dos servidores do Estado, em especial dos mais responsáveis, apurado sentido crítico, luta contra a rotina e a estagnação, poder de iniciativa, actualização permanente, espírito de colaboração, capacidade para o trabalho de grupo, integração em planos de conjunto e em acções coordenadas.
A reforma administrativa não virá do exterior da administração pública, ela terá de operar-se no seio da própria,
Administração, mediante um esforço permanente de adaptação às condições da vida social, às exigências do desenvolvimento económico e às aquisições do progresso técnico.

II

Programas sectoriais

CAPITULO I

Agricultura, silvicultura e pecuária

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. Os dados estatísticos disponíveis não são suficientemente expressivos paia caracterizar a situação estrutural e conjuntural da agricultura metropolitana Daí ser difícil determinar a verdadeira sintomatologia da situação das várias legiões, muito embora só a nível regional se possam definir prioridades de acção que a nível nacional deixam de ser perceptíveis, pela compressão e frieza dos números de apuramento geral. Se este aspecto tem interesse na análise de outras actividades, assume relevância especial no sector agrícola, pois a evolução que tem vindo a processar-se nalgumas regiões influi significativamente nas directrizes do todas a acção a empreender.
Importa ainda acentuar que nem todos os problemas afectos à agricultura podem ser resolvidos no seu âmbito, uma vez que se relacionam e, quantas vezes, se prendem a outros sectores e actividades integradas no processo de desenvolvimento global e não raramente encontram neles a sua própria solução. E o caso da formação profissional nos meios rurais, do alargamento das regalias sociais, da fruição de comodidades e serviços exigidos pelo bem-estar, em igualdade com os mais ramos de actividade, e ainda da equiparação gradual do nível de rendimentos.

2. De modo geral, pode referir-se que o continente português, no que respeita às condições mesológicos, apenas revela aptidão especial para a produção agrícola em cerca de um terço da superfície total.
Quanto à distribuição da população actua no sector agro-silvícola, os últimos censos acusam ainda elevada percentagem, não obstante o decréscimo que se verificou nos últimos anos. De facto, a participação da agricultura no volume total do emprego, quo em 1950 era de 47 por cento, passou para aproximadamente 35 por cento em 1965, mas cabe-lhe ainda a posição mais saliente no confronto com os outros sectores.
Quem tenha conhecimento directo das condições em que efectivamente se desenvolve n actividade agrícola nas diversas regiões do País chegará à conclusão de que essas condições não correspondem com rigor àquelas que os apuramentos estatísticos exprimem. Poder-se-á, por exemplo, dizer que no Norte do País raro será o trabalhador agrícola que vive exclusivamente do trabalho por conta de outrem bem ao contrário, raro será aquele que não participe também numa exploração familiar agrícola, assente em terra própria ou arrendada.
Pelo censo de 1960 verifico-se que correspondiam ao grupo de trabalhadores por conta de outrem quase 60 por cento do total da população activa agrícola, com excesso acentuado de trabalhadores sobre os agricultores (agriculto-

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rés patrões e agricultores isolados) e, dentro da classe dos trabalhadores, uma quase exclusiva representação dos não especializados (97,7 por cento). Ainda no mesmo censo, apenas cerca de 6 por cento da população activa agrícola constituíam o grupo dos empresários-patrões, conjunto que não pode considerar-se homogéneo, razão por que nem sempre nele se situam os mais elevados padrões da vida agrícola e se verificam os situações mais vantajosas do ponto de vista económico o social. E, entre os trabalhadores por conta de outrem, apenas 8 por cento eram representados por empregados e assalariados ao ano - aos quais, portanto, a agricultura oferece relativa estabilidade -, abrangendo os restantes 92 por cento os assalariados eventuais, socialmente o estrato menos qualificado.
Ainda, no que respeita ao volume da população empregada na agricultura, é de referir que a diminuição observada, se bem que em globo contribua paia o aumento da produtividade, se tem processado nos últimos anos a ritmo elevado e de forma desordenada, ocasionando graves problemas nalgumas regiões do continente, nomeadamente o envelhecimento das populações e as variações bruscas de salários, com reflexos desfavoráveis na rentabilidade e nos custos de produção das empresas agrícolas.
A incidência de vários factores, entre os quais avulta o demográfico, contribuiu para dar a exploração agrícola e a propriedade rústica uma estrutura que constitui indiscutível embaraço à integração da agricultura portuguesa no quadro de desenvolvimento geral do País. Tipos de empresa, áreas que lhe servem de suporte, seu fraccionamento p foi mas de exploração oferecem numerosas situações que revelam quadros estruturais inconvenientes a aceleração do necessário processo de desenvolvimento do sector.

3. Delineado sucintamente o quadro em que se tem processado a actividade agrícola, analise-se agora mais concretamente a contribuição desse sector para o crescimento económico do País.
Com base nas contas nacionais, observa-se que a expansão calculada para o produto originado na agricultura, avaliado a preços constantes, foi, entre 1953 e 1964, de cerca de 561 000 contos, equivalente a um acréscimo de 3,5 por cento, à taxa anual cumulativa de, aproximadamente, 1 por cento. No decurso do período identificaram-se fases de retrocesso e expansão, assinalando-se nesta, entre 1959 e 1964, um crescimento da ordem dos 6,3 por cento, à taxa anual de 1,8 por conto.
O lento crescimento do sector reflectiu-se na pequena contribuição relativa da agricultura, silvicultura e pecuária para o produto interno bruto, a qual, no decurso de 1953-1964, se cifrou em 1,6 por cento, consequência da grande disparidade entre os crescimentos dos sectores agrícola e não agrícola (3,5 e 97,8 por cento, respectivamente), apesar do se registar diminuição do contributo do sector para o produto interno bruto, que, de 29,2 por cento em 1058-1955, passou para 20,5 por cento em 1962-1964.
A contribuição do sector agrícola paia o acréscimo da produtividade do trabalho total no período de 1953-1964 foi de 13,8 por cento, dos quais apenas 7,3 por cento resultam de contribuição directa da actividade do sector e os restantes 6,5 por cento provêm da transferência da população activa agrícola para outros sectores da actividade económica.
A relativa estagnação observada no produto agrícola tem, sem dúvida, limitado o ritmo de desenvolvimento necessariamente inerente a transformação que se opera na estrutura produtiva, evidenciada pela participação percentual decrescente do sector primário na origem do produto interno e peso crescente assumido pelo sector industrial.

Contribuição do sector agrícola para o produto nacional.

Em percentagem

[Ver tabela na imagem]

(a) Preços constantes do 1963

Factores climáticos adversos são determinantes desta evolução, são-no também defeitos estruturais já aludidos e, ainda, falta de investimentos, inadequado sistema de crédito, bem como deficiente sistema de comercialização.
Não obstante este condicionalismo de que se rodeia a produção agrícola, denota-se progresso definido nalguns íamos, o que, aliás, se torna patente numa analise mais pormenorizada da composição do produto agrícola.

Composição do produto agrícola (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) A preços de 1963

Pode, em linhas genéricas, inferir-se do quadro anterior tendência para se elevar a participação dos produtos pecuários e silvícolas na origem do produto agrícola, notando-se, no entanto, serem ainda os produtos vegetais os que oferecem maior contributo.
São as produções tradicionais que mais têm concorrido para o lento crescimento do produto agrícola, salientando-se os cereais, cuja produção se tem revelado decrescente. Estão apenas abrangidos os cereais de pragana de

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sequeiro, pois as produções de milho e arroz têm-se mostrado progressivas. Além destes últimos produtos, observa-se certo dinamismo nas produções de frutas, nos produtos hortícolas e no conjunto das produções pecuária e silvícola. São estes os ramos cuja actividade se tem revelado mais promissora, mas a sua fraca representatividade no produto agrícola dilui o progresso neles assinalado.
As estimativas do produto em 1965 indicam melhoria da situação conjuntural, mas não alteram as asserções formuladas.
Confrontada a situação com a de outros países de agricultura evoluída, ela mostra-se desfavorável, não só quanto ao nível da taxa de acréscimo do produto, como também no que toca às posições relativas dos produtos de origem vegetal e animal, com uma desproporção muito acentuada nas parcelas que lhes correspondem

4. Como se aludiu, o nível baixo dos investimentos realizados na agricultura do continente constitui uma das causas, se não a fundamental, do fraco progresso atingido no sector.
Na verdade, considerando as estimativas das contas nacionais, a taxa média de acréscimo anual da formação bruta de capital fixo, no período de 1953-1964, no sector agrícola, terá sido de 2,2 por cento, o crescimento foi apenas de 1,3 por cento na parte relativa a «construções», praticamente devido a investimentos no sector público, e um pouco mais expressivo em «material de transporte» e «material diverso», a que corresponderam taxas médias de, respectivamente, 4,4 e 5,1 por cento.
O baixo nível dos investimentos globais e o que respeita a «construções» deve-se em parte ao grave problema de que enferma a lavoura as dificuldades de financiamento São estas dificuldades, provavelmente, que levam a dar prioridade a investimentos em material, a fim de compensar os efeitos da redução dos efectivos de trabalho, o que se torna patente no acréscimo de 63 por cento observado no parque de tractores, no hexénio de 1960-1965.
Para o desenvolvimento da agricultura é essencial aumentar o potencial produtivo dos solos e das culturas, mediante o recurso a fertilizantes e a sementes e plantas seleccionadas Tem-se verificado crescimento no consumo de fertilizantes, mas o seu ritmo decaiu nos últimos anos Quanto à utilização de sementes seleccionadas, observa-se certo incremento, mas apenas em relação a número limitado de espécies e, ainda assim, de forma insuficiente.

5. Apreciando, nas suas linhas gerais, o comportamento da oferta dos principais produtos da agricultura frente à procura interna, pode afirmar-se ser o continente português deficitário, qualitativa e quantitativamente, em alguns grupos de produtos.
Tal situação tem-se observado nos cereais, particularmente no trigo, batata, azeite, carne de bovinos, e por vezes de suínos, leite e lacticínios, peles, couros e lãs. Nas frutas registam-se algumas importações de frutos exóticos do ultramar e ilhas adjacentes. Apenas acusam saldo excedentário as leguminosas secas, o vinho, a carne e leite de ovinos, os produtos avícolas e os florestais
A manterem-se as actuais condições de produção, tenderá a intensificar-se a situação deficitária dos aludidos produtos, tendo presente a tendência crescente do consumo global, com a consequente evolução das capitações, e o desenvolvimento industrial.
É certo que se esperam resultados favoráveis das medidas preconizadas recentemente para os cereais e alguns produtos pecuários, obras de irrigação em curso fomentai Só culturas de regadio, e é evidente também o progresso conseguido na produção frutícola e no domínio da ovmicultura, avicultura e produção florestal.
Contudo, os esforços despendidos, alguns ainda recentemente, não se mostram suficientes para conseguir a transformação profunda das condições de produção, por forma que ela possa corresponder, em volume e qualidade, às exigências do mercado.
Os produtos em que se têm verificado excedentes de produção sobre o consumo interno têm sido canalizados para os mercados externos, directamente ou após transformação industrial, estão neste caso os vinhos, frutas secas, madeira, cortiça e resinosos.
Assinale-se, todavia, a expansão observada na procura externa de tomate em massa e em sumo e na de frutos e produtos hortícolas preparados e conservados, em que o valor das exportações mais do que quintuplicou no triénio do 1963-1965 Desenvolvimento análogo se observou nas vendas de pasta para papel.
Não obstante a situação evidenciada nos primeiros produtos e a evolução observada nos últimos, eles enfermam ainda de problemas que impedem a sua valorização comercial.

6. Sistema deficiente de comercialização de alguns produtos agrícolas e florestais constitui, como se acentuou, outro óbice ao desenvolvimento do sector
Exceptuados os casos em que a distribuição se encontra já regulamentada, aqueles produtos seguem vários canais distintos e sem estrutura definida, originando circuitos de distribuição por vezes complicados.
Tratando-se de produtos perecíveis e de fraco valor unitário, o transporte e a armazenagem têm apreciável incidência nos respectivos custos de distribuição, e estes nem sempre são realizados com a devida eficácia.
O elevado número de intermediários origina ainda afastamento entre os preços no produtor e no consumidor, sem que daí advenha qualquer vantagem para o primeiro.
Também o carácter aleatório da produção agrícola torna mais difícil a determinação prévia do volume que conduza a maior rentabilidade da empresa.
Essa irregularidade, além dos reflexos ocasionados nos custos de produção, tem a mais sensível repercussão nos preços de venda, dada a decisiva influência que, na formação destes, desempenha o mecanismo da lei da oferta e da procura.
Impossibilitada de ajustar permanentemente as quantidades dos bens produzidos às exigidas pelo consumo, por força da essência própria das suas condições de produção, a agricultura sofre muitas vezes, por esse facto, as duras consequências das profundas oscilações dos preços de venda, consoante o volume da oferta lançado no mercado.
Além disso, o carácter perecível da maioria dos produtos e a carência de meios de conservação e armazenagem impõem ao agricultor a rápida comercialização dos produtos, sob pena de deterioração mais ou menos grave ou perda completa, facto que o obriga a aceitar, quantas vezes, preços irrisórios.

7. Não obstante as dificuldades assinaladas, a integração do sector agrícola, em condições de igualdade com os demais sectores, nos complexos esquemas de economia e de produção exigidos pelo desenvolvimento económico do País, constitui fim primordial a atingir, tão rapidamente quanto seja possível.
E a justificá-lo não está somente a exigência imposta ao seu crescimento para que seja possível um desenvolvimento global harmónico, mas também o imperativo de garantir a alimentação das populações cada vez mais

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numerosas e o abastecimento das matérias-primas destinadas às indústrias transformadoras.
O sentido técnico s económico deve, portanto, imprimir característica dominante a todos os empreendimentos que levem à modernização da actividade agrícola.
Daí terem papel preponderante, por um lado, aos meios técnicos agronómicos e a formação profissional necessária para os utilizar racionalmente, por outro, os preços dos produtos, que deverão não só cobrir as despesas efectivas da exploração, mas também remunerar convenientemente aos factores e os nacos da produção, por forma a garantir a viabilidade económica da actividade.
Importa, por isso, assegurar a correcção dinâmica do efeito dos factores que possam influenciar, de algum modo, quer o preço de custo, quer a margem jus-ta entre este e o preço de venda Para isso não basta a acção e o incentivo, que está na missão do Estado promover a bem de todos os sectores da actividade económica São também os outros sectores de actividade que, por formas diversas e ajustadas, têm, para sobreviver, de comparticipar na compensação de irregularidades, quer da produção, quer da oferta e da procura dos produtos agrícolas e florestais.
Mas a agricultura carece de se estruturar e organizar de molde a vencer as dificuldades inerentes à essência do seu sistema produtivo, sem o que dificilmente conseguirá usufruir a legitima posição económica em confronto com as demais actividades. E essa estruturação só pode ser conseguida reforçando os incentivos que levem a criação ou manutenção de empresas dotadas dos necessários atributos para alcançar a máxima rentabilidade do processo produtivo, a fim de poderem remunerar justamente os factores de produção e, simultaneamente, enfrentar com êxito a batalha dos mercados.
É à luz destes conceitos e destas finalidades, das realidades sociais e demográficas e das potencialidades produtivas, efectivamente existentes ou previsíveis em cada uma das regiões, que pode e deve equacionar-se a designada «adaptação estrutural».
A adaptação estrutural não tem somente, por isso, que visar os problemas relacionados com a estrutura da propriedade. Ela terá, antes do mais, que estabelecer as grandes bases em que assentará o aproveitamento racional, técnico e económico do território, tendo por alicerces as potencialidades produtivas e a protecção destas contra os factores adversos.
Serão o racional ordenamento cultural para cada uma das regiões e as possibilidades qualitativas e quantitativas das suas produções que permitirão traçar as linhas orientadoras de actuação, quer no que respeita à estrutura fundiária, quer às formos de exploração mais convenientes.
Por seu turno, a justiça inerente à necessária repartição da riqueza - neste caso do rendimento da terra - deixou há muito de se poder conseguir pela divisão da propriedade, pois esta, cada vez mais contingente pela natural evolução dos factores económicos, deixou dá ser, como o foi durante milénios, a verdadeira fonte de manutenção da riqueza Razão por que a propriedade rústica, como vinculo jurídico que é e continuará a ser, transferiu para a «empresa» ou para a «exploração» agrícolas, económica e tecnicamente viáveis, a «função» de actividade que lhe competia.
Sendo a empresa agro-pecuária e florestal a unidade base do processamento de todo o desenvolvimento económico do sector, quando se reconhece que importa em muitas regiões promover a reorganização empresarial quer significar-se que essa reestruturação terá de visar não só os mais ajustados ordenamentos culturais, mas também.
o sistema de exploração mais consentâneo ao seu melhor aproveitamento técnico e económico. A reestruturação fundiária só será de verdadeiro interesse desde que abranja simultaneamente os dois aspectos essenciais focados ordenamento racional de culturas e sistema de exploração que permita condições de garantida rentabilidade.
A adaptação estrutural das actuais empresas deve, portanto, orientar-se segundo critérios de dimensão económica mínima e de sistemas de exploração
Pouco interessará definir o tipo de empresa se se aceitar que ela deverá corresponder ao processo mais racional de gestão e de exploração, dentro do seu quadro estrutural e respeitando o tradicionalismo da região.
De facto, verifica-se certa interdependência entre o tipo de empresa e o grau de intensificação cultural. Mas, actualmente, ela perde um pouco o seu significado, pois são as formas de exploração e da organização da produção que essencialmente conduzem a melhores resultados técnicos e económicos.
Repare-se que somente deste modo se conseguirá o necessário ajustamento, no tempo, entre as exigências de desenvolvimento económico do sector e a extrema variância das dimensões económicas das explorações, dificilmente determináveis, uma vez que dependem, em cada momento, não só da diversidade de condições de produção e da receptividade da procura, mas também da eficiência directiva dos próprios empresários.
Daí o grande interesse das várias formas de associação, quer ao nível das explorações (agricultura de grupo), quer ao nível da produção (associações de produtores, cooperativas de produção, comercialização e industrialização de produtos agrícolas, etc ), que, não obstante perturbações motivadas pelo espirito individualista dos agricultores, não deixam também de contribuir para a criação de infra-estruturas, indispensáveis ao desenvolvimento económico do sector e de todas as mais actividades.
Aliás, tais sistemas de exploração, desde que sejam os mais ajustados em cada caso, criarão o necessário ambiente ao desenvolvimento e consolidação das funções empresariais, sem que tenha de se intervir directamente - sempre de modo artificial e à custa de elevados investimentos, considerando uma actuação a nível nacional - no património fundiário.

8. São, portanto, as acções indirectas promotoras do fomento da reorganização fundiária que deverão ser apoiadas, desde que visem o dimensionamento da exploração capaz de auferir, embora no mínimo, os benefícios técnicos e económicos susceptíveis de se obterem nas condições mais favoráveis.
Na verdade, seria impensável, pela grandeza do problema, pela dificuldade de correcta intervenção e pela oportunidade dessa intervenção, atentas as mudanças que se estão operando na agricultura, que a reestruturação fundiária figurasse como processo da acção directa.
A repartição actual da propriedade fundiária constitui o fruto de um processo evolutivo, e portanto vivo, em que intervieram vários factores, tendo o demográfico marcado posição saliente, sem, contudo, constituir o único importante.
Consequentemente, a análise da estrutura física da posse da terra não pode ser orientada sem considerar todos os factores intervenientes e a sua evolução e sem admitir que a participação de cada um desses factores se processe, actualmente, por forma diferente da de outros tempos.
Verifica-se, assim, a importância de estabelecer a necessária correlação entre os aspectos potenciais produti-

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vos, as estruturas da propriedade e da exploração e os problemas demográficos - todos eles encarados numa base regional. Sòmente deste modo serão possíveis opções que definam uma adequada política estrutural ou conjuntural.
Uma análise simples do modo como se processa no País a divisão da propriedade permite verificar que, de maneira geral, no Norte, como no Sul, as zonas e regiões minifundiárias correspondem a áreas que consentem as maiores potencialidades produtivas, sob o ponto de vista de intensificação cultural, razão por que aqui importa actuar de molde a que não se impeça a obtenção de melhores condições de valorização, mesmo numa estrutura deficiente.
Essa actuação apenas necessita de que se criem condições de exploração e de organização viáveis. E quando se verifiquem circunstâncias que permitam a reorganização estrutural, esta só será de admitir desde que excedidos os limites de dimensionamento capazes de promover esquemas de exploração de garantida rentabilidade técnico-económica.
Em contrapartida, nas regiões e zonas onde o minifúndio não existe, as condições de potencialidade produtiva são normalmente reduzidas, pelo que as condições técnicas de viabilidade económica das explorações só poderão obter-se na medida em que o dimensionamento compense a baixa produção unitária.
Nestes casos, e em grandes áreas, terá igualmente de se intervir, pois sòmente através de sistemas de exploração devidamente fundamentados e da organização da produção podem criar-se as condições que consintam a melhor produtividade e a desejada intensificação cultural.
Competirá à iniciativa privada, às suas virtudes e possibilidades, aproveitando todo o apoio concedido sob várias formas, a missão de se estruturar ou reorganizar em empresas, quer nos moldes das designadas «familiares», pela sua estrutura orgânica e correspondente método de trabalho, quer nos da empresa patronal, de técnica evoluída.
E, como se animou, deverá o Estado apoiar e incentivar estas iniciativas, pois sòmente deste modo atingirá reforma estrutural valida, não sujeita a situações demográficas conjunturais.

9. No que se refere ao ordenamento agrário, ao comparar os números fornecidos pelo Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário relativos à utilização actual e prevista do solo do continente, infere-se que a cultura agrícola abrange superfície muito superior à que se considera com aptidão para tal, o que, em termos simplistas, levaria a concluir terem de desviar-se para a cultura florestal mais de 2 milhões de hectares.
No entanto, sem diminuir a necessidade da intensificação, em larga escala, do povoamento florestal, anote-se que a indicação facultada por aqueles números deve ser tomada com reserva, porquanto nem toda a área considerada não agrícolas será forçosamente florestal Uma certa percentagem não permitirá mesmo tal tipo de povoamento e, por outro lado, admite-se a necessidade de modificar as actuais aptidões culturais, mediante o recurso a meios técnicos que, exigindo embora grandes investimentos iniciais, poderão conduzir a aproveitamento de maior rentabilidade.
Para o estudo da revisão do aproveitamento do território, tem indiscutível oportunidade a análise concreta do «meio físico», pois caracteriza os vários elementos do ambiente e, assim, evidencia os aspectos positivos de cada uma das diferentes regiões. Sòmente pelo perfeito conhecimento das várias condições ambientais existentes de noite a sul do País e nas ilhas é possível encarar os meios técnicos e de investigação indispensáveis pata suprir deficiências e aproveitar benefícios, defendendo umas e outras de condições adversas.
Será, portanto, o estudo da correlação entre o aproveitamento do território e as características do meio físico que definirá as potencialidades produtivas efectivamente existentes ou a criar e permitirá a selecção das que se mostrem técnica e economicamente viáveis, mediante esquemas de actuação racionalmente determinados. Não só se promoverá, assim, o mais conveniente ordenamento cultural, como se realizará quanto possível a vocação regional sob o ponto de vista agro-pecuário e florestal.
Deste modo, abranger-se-ão os diferentes esquemas que sucessivamente deverão sei postos em execução, ordenada e selectivamente, e que hão-de conduzir à reconversão das áreas imperfeitamente aproveitadas.
Não podem ainda esquecer-se os problemas conjunturais suscitados por factores adversos, que têm afectado a agricultura e ocasionado a grave crise de confiança que nela existe quanto ao seu próprio destino. Por consequência, nos anos imediatamente futuros, terão de continuar a concentrar-se esforços para resolver questões que, embora conjunturais, se ligam a problemas de base, pois assim se contribuirá também para a solução destes últimos.

§ 2.º Objectivos

í) Objectivos gerais

10. Como objectivos gerais, cuja validade persiste e se afirma de novo para o período deste III Plano, salientam-se;

A elevação da taxa média de acréscimo do produto agrícola,
A elevação do nível de vida da população ligada ao sector,
A melhoria da contribuição da agricultura para a balança comercial, pela satisfação em maior grau da procura interna de bens alimentares e pelo aumento das exportações.

11. A premência de que se reveste a consecução destes objectivos e, também, a consideração dos inconvenientes de vária ordem, designadamente o progressivo agravamento de deficits, que resultariam da manutenção, durante mais um hexénio, de ritmo de crescimento tão baixo como o que houve de admitir para o Plano Intercalar, levou a adoptar, como objectivo a atingir durante o III Plano, o crescimento médio anual de 3 por cento para o produto agrícola. Tal objectivo afigura-se atingível, dadas, por um lado, as consequências benéficas que é legítimo esperar das medidas postas em prática no âmbito do Plano Intercalar, cuja plena frutificação irá recair no novo período, e, por outro lado, a firme intenção de prosseguir no caminho da remoção definitiva das causas profundas que têm entravado o desenvolvimento do sector.

12. Com base nesta projecção de desenvolvimento para o período de 1967 a 1978, o produto agrícola deverá registar o acréscimo de 8 800 000 contos. A participação do sector na formação do produto interno bruto passará a ser, em média, de 13 por cento, e a contribuição do acréscimo do produto bruto do sector para o acréscimo global do produto nacional será de 5,6 por cento

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A contribuição para o aumento da produtividade do trabalho total situar-se-á em 11,3 por cento, e a resultante da transferência de cerca de 1/4 da população activa agrícola para outros sectores será apenas de 8,6 por cento.
Deverá ser muito significativa a contribuição do sector para reduzir as carências que têm vindo a registar-se nos últimos anos. Assim, entende-se que, com os conhecimentos técnicos actuais e as medidas já tomadas e a promover, se procurará,

Obter o crescimento do produto da cerealicultura (o nível médio verificado nos últimos doze anos foi de cerca de 2 380 000 contos), apesar da redução que se está a promover da área votada à mesma cultura,
Elevar a taxa de acréscimo anual do produto dos legumes e tubérculos (tem sido, em média, 1 por cento),
Não diminuir o produto relativo aos «vinhos e aguardentes» (calculado em cerca de 1 850 000 contos),
Manter, se não se puder elevar, a taxa de crescimento do produto do «azeite e azeitonas», que no período de 1953-1964 foi de 0,7 por cento,
Acelerar consideràvelmente o crescimento do produto originado pelas frutas e pelos produtos hortícolas e horto-industriais para taxas de 3,5 e 3 por cento (no período de 1953-1964 as taxas médias foram de 2,9 o 1,5 por cento, respectivamente),
Imprimir ritmo particularmente intenso ao crescimento dos produtos relativos a carne, leite e ovos, para taxas nunca inferiores a 8 e 3,5 por cento, respectivamente (no período de 1953-1964 as percentagens foram de 0,9 e 2), e manter a taxa registada no período de 1953-1964 para o caso da lã (0,3 por cento),
Não baixar as taxas de descimento do produto originado pela cortiça (1,6 por cento) ao nível verificado nos anos de 1953 a 1964 o acelerar o crescimento do produto do material lenhoso para a taxa de 2,5 por cento, admite-se, por outro lado, certa perda de velocidade no crescimento do produto relativo a resina e cascas de tanantes, cuja taxa média anual passará de 7,4 para 5 por cento.

13. Para a consecução dos objectivos globais propostos haverá que visar-se a realização das condições de base de que depende o desenvolvimento acelerado que pretende obter-se. Pela maior importância de que se revestem, refere-se, em especial, a necessidade urgente de rever: o actual aproveitamento do território e, tendo por base a definição de macrozonas e microzonas, em função da melhor aptidão e utilização técnico-económica do solo e da caracterização das demais condições ambientais, intensificar nelas a acção selectiva de assistência técnica o de apoio financeiro com vista à reconversão cultural, a obtenção de elevados índices de produtividade e à correcção das condições adversas, promover e incentivar o melhoramento fundiário o infra-estrutural (rega, drenagem, acessos, etc ) das áreas abrangidas pelas obras de rega realizadas pelo Estado ou por iniciativa privada, intensificar o aproveitamento das potencialidades produtivas, existentes o a criar nas várias regiões do País, pelo alargamento das áreas regadas e pelo melhor ajustamento entre a cultura e as condições ecológicas que lhe forem mais próprias, elevar o grau de qualificação dos empresários e da mão-de-obra agrícola de modo a atingirem-se níveis de produtividade consentidos pela utilização mais conveniente dos meios e factores de produção, fomentar a organização do sector produtivo ao nível do produto e da empresa, tendo em vista a obtenção das melhores condições de exploração e a maior valorização dos produtos, em natureza e transformados, incentivar a moto-mecanização agrícola e florestal como meio acelerado da modernização do sector e da sua reconversão técnico-económica; apoiar a adaptação das estruturas por processo natural, através de acções especializadas, quando conduza à constituição de empresas bem dimensionadas que se integrem em planos de desenvolvimento regional.

II) Objectivos por subsectores do actividade

14. Para a concretização das condições de base acima indicadas haverá que ter em linha de conta a criação, nos diversos subsectores produtivos e, em especial, nos considerados de algum modo estratégicos, de condições que permitam a sua participação efectiva na concretização dos objectivos globais, a fim de que seja atingido o ritmo de crescimento médio anual mínimo de 3 por cento para o produto agrícola.
Ainda importa considerar medidas concretas que, directa e indirectamente, influem significativamente na obtenção das condições necessárias ao desenvolvimento dos vários subsectores produtivos. Entre outras adiante referidas, insere-se a necessidade de se acelerai em os estudos de base, de ordem económica e de outra natureza, de modo a definir o racional ordenamento cultural do território que permita, em cada momento, a orientação mais adequada na programação do desenvolvimento do sector.

15. A necessidade inadiável de se melhorarem as condições que se verificam no aproveitamento dos regadios estabelecidos pelas obras de rega já concluídas aconselha a tomar providências que visem a realização de obras complementares conducentes ao melhoramento fundiário e à criação de infra-estruturas indispensáveis à intensificação cultural a que conduz a rega.
Por outro lado, a entrada em funcionamento da 1.ª fase do Plano de Rega do Alentejo exigirá, igualmente, as indispensáveis medidas para que, no mais curto prazo de tempo, se atinjam os índices de produtividade indispensáveis à rentabilidade da obra.
Deste modo, espera-se que seja significativa a comparticipação das áreas regados e das que virão a sê-lo no aumento do produto bruto durante a execução deste Plano, quer através do acréscimo anual do produto de legumes e tubérculos, das frutas, de produtos hortícolas e horto-industriais, quer no crescimento dos produtos relativos à carne e ao leite.

16. Atendendo a elevada importância da cerealicultura e à grande necessidade de se intensificar a sua produção, respeitando as inadiáveis exigências de reconversão cultural, particularmente evidentes nas áreas normalmente ocupadas por cereais em cultura de sequeiro, considera-se de grande oportunidade este empreendimento, que terá em vista, especialmente, a melhoria de condições de exploração nos solos que lhe sejam adequados, difundindo o uso de sementes seleccionadas ou de boa qualidade e as normas nacionais de cultura com vista a substancial aumento de produtividade.
O regime cerealífero em vigor (Decreto-Lei n.º 46 595, de 15 de Outubro de 1965) traça claramente o rumo de reconversão e de melhoria das condições de exploração, apontando os meios para esse efeito. Mas existem medidas que pela sua natureza carecem de acção especializada, e elas dizem respeito às necessidades de conserva-

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ção do solo, de fertilização, de drenagem e de despedrega de solos com grandes potencialidades para a cultura cerealífera
Entre os objectivos definidos, insere-se, como foi referido, o descimento do nível actual do produto originado no ramo «cereais», embora tenha de verificar-se a redução da área de cultura de alguns deles, o que só será possível mediante a execução de um cuidado programa de reconversão, que favoreça a cerealicultura em terras adequadas e difunda o uso de sementes de boa qualidade, a fim de se obter substancial aumento da produção unitária.

17. Também ao fomento pecuário cabeia papel de grande relevo, uma vez que se espera tornar a pecuária um dos íamos dinamizadores do sector agrícola
A influência marcada que o fomento pecuário o forragem pode ter na reconversão das explorações agro-pecuárias e na solução da crise económica em que se encontra o sector requer a intensificação de acções já iniciadas em planos anteriores, em que se incluem as expressas nos programas do Serviço da Campanha de Fomento Pecuário e nos despachos ministeriais de 30 de Abril de 1965, de 7 de Abril de 1967 e outros diplomas legais já publicados e a publicar.
Este empreendimento proporcionará o acréscimo da produção animal e dos seus produtos a níveis nunca antes atingidos, e o aumento considerável da oferta irá permitir não só a satisfação das necessidades de abastecimento interno, como a exportação e a participação do abastecimento das províncias ultramarinas.

18. As acções a desenvolver no fomento da fruticultura, horticultura e floricultura assumem no Plano relevo especial, dado tratar-se também de ramo do sector agrícola que se espera venha a desempenhar papel motor. Com efeito, admitiu-se que a fruticultura e horticultura iriam crescer a taxas anuais de, pelo menos, 3,5 e 3 por cento, respectivamente.
A actividade a desenvolver neste campo, a cargo da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas e da Junta Nacional das Frutas, visará,

O prosseguimento, sob a rubrica «pomóideas e prunóideas», da execução do programa de renovação e estruturação da fruticultura nacional, de acordo com o Plano de Fomento Frutícola, iniciado ainda na vigência do II Plano de Fomento,
A continuação do aperfeiçoamento da cultura dos citrinos e o início da renovação das principais espécies produtoras de frutas secas, tendo em vista melhorar e, tanto quanto possível, uniformizar a qualidade dos frutos de todas estas espécies, assegurando também a obtenção de melhores produtividades,
O fomento da produção de uva de mesa em escala e em moldes de verdadeira economia de mercado e de acordo com a capacidade do território nacional e as previsões dos consumos interno e externo;
O aperfeiçoamento das culturas hortícolas, de plantas ornamentais e produtoras de flores, com vista ao fomento das regiões do País que ofereçam melhores condições ecológicas e também de acordo com as solicitações e exigências do mercado,
A prossecução do programa de infra-estruturas indispensáveis à conveniente comercialização da fruta e, simultaneamente, o fomento da criação de circuitos comerciais capazes de satisfazer as exigências do consumo interno e da exportação

São manifestas as condições favoráveis de algumas regiões para a intensificação da fruticultura, da floricultura e da horticultura.
O desenvolvimento da fruticultura nas regiões incluídas na zonagem específica para as várias espécies prevê-se não somente dentro dos planos de intensificação cultural e com vista a melhor aproveitamento das potencialidades existentes, mas também como medida do maior interesse económico na reconversão cultural de grandes zonas, tendo em vista o seu racional ordenamento.
Igualmente, as condições de excepção que sob o ponto de vista climático possui o território continental e insular para a floricultura (em campo e em forçagem) tornaram imprescindível que não se perdesse mais tempo a tomar posição definida, quer no mercado interno, quer sobretudo no mercado internacional.
Enfim, as culturas hortícolas e horto-industriais desempenham papel relevante e insubstituível no equilíbrio cultural e económico dos regadios.

19. A reestruturação da vitivinicultura exige revisão profunda, quer dos aspectos que se relacionam com a cultura da vinha, quer daqueles que se prendem com a transformação e comércio dos seus produtos.
Num país com vocação muito especial para a vitivinicultura, toma-se indispensável realizar essa reestruturação sem perda de tempo e no sentido que melhor se adapte às exigências qualitativas e quantitativas da oferta e da procura. Constitui, além disso, empreendimento com lugar de realce nos programas de reconversão cultural, o que se impõe uma vez que grandes superfícies vitícolas terão de ser ocupadas por diferentes aproveitamentos de maior interesse económico e outras áreas surgirão por imperativos simultaneamente de ordem económica e de qualidade dos produtos obtidos.
Prosseguirão os estudos iniciados no decurso do Plano Intercalar, com vista a generalização do uso de máquinas nas vinhas e a redução dos custos de produção, procurando definir as modalidades de estabelecimento de novos vinhedos e a adaptação dos existentes às condições determinadas pela utilização da maquinaria e pela conservação do solo. Os estudos a desenvolver incidirão ainda sobre a determinação do valor cultural das castas e porta-enxertos, sobre alguns aspectos de sanidade vitícola e sobre a promoção da melhoria de qualidade dos nossos vinhos.
No que respeita ao aproveitamento de subprodutos, prevê-se começar a sua laboração industrial ainda na vigência do Plano, na sequência da experimentação a desenvolver; para tal deverá dar-se início, com a construção de sete unidades, ao estabelecimento de uma rede de instalações de aproveitamento.
Prosseguir-se-á na execução dos planos, já em curso, de construção, ampliação e apetrechamento de adegas cooperativas e de fomento da comercialização directa dos produtos dessas organizações, pela concessão de conveniente apoio técnico e financeiro.

20. A importância atribuída à olivicultura na economia do sector agrícola e na ocupação do solo, a sua participação possível e desejável na reconversão de grandes áreas de aptidão agrícola e as possibilidades de valorização da azeitona de conserva levaram à inclusão da olivicultura nos empreendimentos considerados no Plano. Nos estudos realizados aquando da elaboração do capítulo em que se trata da investigação não ligada ao ensino considerou-se um projecto de investimento - a incluir em próximo programa de execução anual - que abrange os aspectos que mais interessam, de momento, à olivi-

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cultura. Deste modo, importa ùnicamente referir aqui os investimentos respeitantes a equipamento de lagares e a armazenagem fixa, prosseguindo na política de organização do sector da produção e de apoio às organizações de olivicultores.

21. A silvicultura constitui empreendimento prioritário dada a necessidade de impulsionar o desenvolvimento da arborização, a compartimentação paisagística e o melhoramento silvo-pastoril, quer dos terrenos particulares, a que se atribui primazia, quer dos terrenos afectos ao Estado.
Tem-se em vista dar, de forma decisiva, maior cabimento às exigências da reconversão das áreas de aptidão não agrícola que têm sido ocupadas especialmente pela cultura cerealífera e muitas vezes pelas culturas de vinha e de olival.
Ainda pela arborização e pela compartimentação dos terrenos de aptidão agrícola se conseguirão as condições ambientais indispensáveis à conservação do solo e à defesa das culturas, contribuindo de modo relevante para o acréscimo do produto bruto agrícola e florestal. O povoamento piscícola, o fomento da caça e as normas destinadas & sua protecção e exploração integram-se igualmente dentro dos esquemas previstos, tendo em vista as exigências de reconversão de áreas hoje afectadas a culturas agrícolas sem viabilidade económica, que poderão adquirir através da arborização parcial e da exploração turística e desportiva.
Da execução deste empreendimento espera-se obter, para além dos benefícios da defesa do solo contra a erosão, sensível aumento da rentabilidade dos terrenos beneficiados e, por consequência, contribuição relevante para o projectado acréscimo do produto bruto agrícola.

22. No período deste Plano prosseguirão as tarefas, já em curso, de apetrechamento da rede fitossanitária, bem como as medidas de defesa, no sector da agricultura e das florestas, contra pragas e doenças, proceder-se-á à homologação dos produtos fitofarmacêuticos e ao estudos dos herbicidas

23. No domínio da sanidade pecuária, serão mantidas as campanhas de luta contra a febre carbunculosa, doenças rubras clássicas dos suínos, febre-de-malta, tuberculose bovina de costas não leiteiras, parasitoses, mamites e outras zoonoses e saneamento dos aviários, desenvolver-se-á a luta contra a tuberculose e brucelose bovinas nos Açores e proceder-se-á ao apoio laboratorial e preparação do pessoal indispensável.

24. Pela mecanização agrícola e florestal pode dispor-se de equipamento técnico que permite novos meios de trabalho impostos não somente por exigências de intensificação cultural e de aumento da produtividade, mas também pela evolução, nem sempre ordenada, do êxodo rural característico dos países em desenvolvimento.
A máquina, além de contribuir para a modernização do sector agrícola pela própria valorização do trabalho e consequente reacção ao êxodo desordenado, desempenha ainda importante acção no mais racional ordenamento cultural onde somente seja possível, técnica e economicamente, aumentar o potencial produtivo dos solos e das culturas com os meios de produção disponíveis.
Deste modo, a motomecanização agrícola e florestal constitui empreendimento dinamizador do desenvolvimento dos vários subsectores produtivos, razão por que, no decorrer deste Plano, se intensificarão as necessárias medidas promotoras do seu fomento.

25. A extensão agrícola e a formação profissional constituem empreendimentos indispensáveis ao progresso do sector.
Será pela formação profissional dos agricultores e dos empresários e pela divulgação das boas normas de gestão de empresas que hão-de conseguir-se os níveis de produtividade desejados pela utilização mais conveniente dos meios e factores de produção.
A colaboração entre os serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura e os do Ministério das Corporações e Previdência Social reveste-se do maior interesse, tanto mais que se torna necessária e oportuna a preparação de empresários orientados para zonas de povoamento nas províncias ultramarinas.
Continuará a acção dos coentros de gestão», que se estabeleceram durante o Plano Intercalar, e promover-se-á a montagem de certos centros, por forma a melhorarem-se os resultados económicos de várias explorações agrícolas em diferentes zonas do País. A acção assim desenvolvida, permitindo a realização da «análise de grupo», fornece bases para uma assistência técnica mais eficaz e facilita aos agricultores a tomada de decisões sobre a melhor orientação a seguir na condução das suas empresas.
Considera-se também o estabelecimento de 50 explorações de demonstração nas dezasseis regiões agrícolas do continente, com o fim de ensaiar uma assistência técnica total a empresa agrícola e de recolher elementos que sirvam de base às medidas a tomar no campo da política agrária.
Deverá proceder-se ú montagem experimental de um sistema de extensão agrícola integral, em dois concelhos a seleccionar, em três zonas dos novos regadios do Alentejo (Caia, Mira e Roxo) e nos campos do Baixo Mondego, prestar-se-á ainda o necessário apoio à acção de fomento da cerealicultura e à manutenção de acções visando a formação de dirigentes das organizações da lavoura.
No capítulo que trata da formação profissional extra-escolar foram incluídos projectos de investimentos especializados abrangendo todas as classes profissionais do meio rural.

26. A rentabilidade da exploração agrícola e florestal não pode dispensar o recurso a instalações funcionais, embora rudimentares, e ao equipamento. Daí a urgência em se tomar facilmente acessível ao produtor agrícola o crédito e o apoio financeiro, não só para o apetrechamento de novas explorações, mas também, e muito especialmente, para adaptação e reconversão das explorações existentes.
As dotações consignadas paia reforço do fundo de Melhoramentos Agrícolas destinam-se, efectivamente, a dinamizar todo o processo económico da actividade agro-pecuária e florestal de que as explorações agrícolas são as verdadeiras células vivas. E a necessidade de acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro determinará posição prioritária paia as empresas agro-pecuárias e florestais que se integrem e cumpram os planos de reconversão e de melhoramento das condições de exploração estabelecidas regionalmente pelas comissões técnicas regionais e aprovadas superiormente.
O Fundo de Melhoramentos Agrícolas constitui, assim, no âmbito da Secretaria de Estado da Agricultura, a fonte de financiamento dos empreendimentos que interessam a iniciativa privada e também de crédito destinado às instalações e equipamento das explorações, ao mais racional aproveitamento das potencialidades produtivas e a melhoria das condições de exploração

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A indispensabilidade da acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro, tendo em vista a melhor utilização dos meios disponíveis e a consecução dos objectivos a atingir, aconselha a centralizar no Fundo de Melhoramentos Agrícolas todos os meios financeiros de que se possa dispor para fomento das explorações agro-pecuárias e silvo-pastoris em condições de garantida rentabilidade.
Deste modo, na execução dos vários empreendimentos previstos no sector da agricultura, da pecuária e da silvicultura, os financiamentos e créditos respectivos serão realizados através do Fundo de Melhoramentos Agrícolas.
É de prever que a intensificação cultural resultante da revisão do actual aproveitamento do território e os incentivos que vão ser dados, especialmente à fruticultura, horticultura e floricultura, ao fomento pecuário e forrageiro, à vitivinicultura e a cerealicultura, determinem um aumento de pressão na procura de crédito por parte da lavoura.
No ano de 1966, o Fundo de Melhoramentos Agrícolas atingiu a maior soma de empréstimos feitos a lavoura e às suas organizações, no total de 220 000 contos, tendo sido necessário adiar para o ano corrente a concessão de grande número de financiamentos.
Além dos empreendimentos específicos previstos no Plano, importa ainda considerar inúmeros outros aspectos também relacionados com o aumento das condições técnico-económicas do sector. Serão de referir especialmente os respeitantes ao equipamento das explorações agro-pecuárias e às suas instalações, os quais possuem, na fase de evolução da nossa agricultura, importância primordial no desenvolvimento da actividade agrícola e da sua economia.
De acordo com a acção regional prioritária definida pelas referidas comissões técnicas, interessa anualmente consignar, o parcelamento das verbas globais disponíveis, a fim de que mais facilmente se possam seleccionar e concentrar os investimentos segundo planos aprovados pelo Secretário de Estado da Agricultura.

27. Para que se não constituam estrangulamentos à expansão programada para o sector agrícola, será indispensável ainda criar novos instrumentos de trabalho.
A assistência técnica, em íntima ligação com adequada política de crédito e medidas fiscais proteccionistas, permitirá, sem dúvida, incentivar o espírito associativo, quer ao nível da produção (associação de produtores), quer ao nível da exploração (várias formas de agricultura de grupo), impulso esse que se considera do maior interesse, desde que integrado na organização corporativa da lavoura.
De facto, somente a organização concreta da produção possibilitará não só o estabelecimento de indispensáveis infra-estruturas, mas também a viabilidade de racionais circuitos económicos, criando-se, assim, as necessárias condições para que se verifique salutar equilíbrio entre a produção agrícola e a indústria transformadora dos produtos agrícolas e florestais.
A associação ao nível da exploração, além de abrir perspectivas de rentabilidade onde presentemente ela se não mostra viável, pela possibilidade de utilização dos meios de produção, poderá ainda, dentro da evolução demográfica a que se assiste, acelerar significativamente processos de adaptação estrutural do maior interesse e necessidade, de modo especial nas regiões de minifúndio.
Importa ainda considerar aspectos relativos à assistência técnica e ao crédito a oportuna protecção a formas indirectas de exploração (parceria e arrendamento, colónia da Madeira, etc. ) só será obtida pela igualdade de benefícios concedidos aos empresários proprietários e ainda pela necessária regulamentação contratual, numa base justa de repartição dos rendimentos e de garantia de execução das normas de reconversão.
Ora, pelo Decreto-Lei n.º 44 720, de 23 de Novembro de 1962, for criado o Fundo do Fomento ao Cooperação, que tem por finalidade proporcionar às associações de produtores fundos de maneio susceptíveis de facilitar o seu arranque inicial na fase de instalação, altura sempre difícil de vencer para que ràpidamente se possa atingir o desenvolvimento desejado.
Sendo pertinente a sua finalidade, importa alargar as possibilidades de crédito, a fim de se incentivarem os referidos tipos de associação, particularmente aqueles que se verificarem ao nível da exploração.

28. Crédito paia acesso à propriedade, desde que constitua exploração perfeita de qualquer tipo ou corresponda a reagrupamento fundiário, e apresente, em qualquer caso, no conjunto, condições de exploração técnica e economicamente mais favoráveis, acções de emparcelamento da propriedade rústica, desde que empreendimentos de valorização regional as aconselhem, mas sempre de molde a que se constituam empresas de dimensão suficiente para garantir, pelas condições existentes, altos índices de produtividade e plena utilização dos meios de produção - são meios de que se dispõe na vigência do presente Plano e se consideram ajustados a presente conjuntura.
A evolução demográfica a que se assiste nos meios rurais, o predomínio da empresa familiar imperfeita, por mal dimensionada, e a sua preponderância nas regiões que apresentam maiores potencialidades produtivas, mas onde se verifica escassez de área em relação ao número de explorações, aponta a oportunidade de se encararem medidas que facilitem a adaptação estrutural - por processos naturais - através da reestruturação fundiária.
A concessão de crédito aos lavradores para aquisição de propriedades a fim de se constituírem explorações bem dimensionadas, especialmente quando situadas em regiões de aptidão agrícola susceptível da alta produtividade, teia inegável interesse, tanto mais que será de esperar, dentro em pouco, o completo abandono de muitos terrenos susceptíveis de aproveitamento intensivo
Considera-se indicada a constituição de um Fundo Especial de reestruturação Fundiária, que, mediante empréstimos a curto e médio prazos e comparticipações, poderá dar valioso contributo à solução dos problemas que a adaptação estrutural venha a criar em algumas regiões.
Evidentemente que a aplicação dos créditos do referido fundo seta restrita à regiões ou zonas onde aquela transformação se julgue oportuna ou se entenda absolutamente necessária As comissões técnicas regionais terão de se pronunciar sobre o interesse local e regional dos empréstimos e comparticipações propostas.
Pensa-se, deste modo, tornar verdadeiramente rentáveis e reprodutivos os investimentos sobre adaptação estrutural e, com a publicação de outras medidas legislativas (revisão do direito sucessório, evitando a pulverização das explorações, diploma que facilite a troca de prédios e a resolução de terrenos encravados, etc. ), impelir a iniciativa privada ao processo natural de reestruturação agrária

§ 3.º Medidas de política

29. Em face do exposto, a orientação da política agrícola não pode deixar de assentar em medidas conducentes a uma acção conjugada de todos os factores secto-

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riais que intervenham, directa ou indirectamente, na participação harmónica da agricultura, da silvicultura e da pecuária no desenvolvimento global do País.
Em primeira linha, a política agrícola terá de visar meios e acções indispensáveis ao fomento da produção agro-pecuária e florestal, técnica e economicamente viável. A determinação das vocações culturais em cada uma das legiões e as medidas de reconversão e de melhoramento das técnicas agronómicas e florestais hão-de garantir o necessário aumento de produtividade e a intensificação cultural.
Dentro desta preocupação, tão ligada à zonagem selectiva como ao melhor aproveitamento das várias regiões, e tendo em vista também as exigências de produções específicas, dar-se-á plena realidade à programação do fomento pecuário e forrageiro, do fomento frutícola, hortícola, florícola e vitícola (mesa e vinho), do fomento olivícola (azeite e conserva), do fomento nacional da cerealicultura, culturas industriais hortícolas e horto-industrial, do fomento florestal e silvo-pastorial, do fomento das praticas do sanidade vegetal, dos aspectos de fertilidade e conservação do solo, e dos inúmeros problemas que, em relação à produção racional, se enquadram nos relativos à hidráulica agrícola e à adaptação no regadio.
Para o perfeito aproveitamento das potencialidades produtivas, estabelecidas para cada região, através do racional ordenamento cultural, importa orientar a necessária adaptação estrutural, que devei á assentar em critérios técnico-económicos e demográficos qualitativos Deste modo, quer a reestruturação fundiária, quer o fomento das várias formas de associação ao nível da exploração, só terão sentido quando estejam garantidas exigências simultaneamente técnicas e económicas.
Será difícil atingir esse objectivo se não forem realizados investimentos relativos à formação profissional de cada um dos sectores, à extensão e vulgarização agrícola e florestal e, ainda, à organização técnica e económica da produção, bem como a comercialização e industrialização dos produtos agrícolas e florestais.
Importa salientar a importância do fomento da moto-mecanização, a indispensável intensificação e extensão dos sectores especializados dedicados à investigação aplicada, ao equipamento racional das explorações, aos melhoramentos agrícolas e rurais e, finalmente, ao fomento, em autêntico regime de campanha nacional, de todas as formas de associação, quer ao nível da produção, quer da exploração Apenas pela organização concreta da produção serão possíveis, não só o estabelecimento de indispensáveis infra-estruturas, mas também os mais convenientes circuitos económicos e as necessárias condições para que decorram com indispensável equilíbrio as relações entre a agricultura e a indústria na transformação dos produtos agrícolas e florestais.

§ 4.º Investimentos

30. A fim de tornai possível a concretização dos objectivos enunciados, dentro da orientação da política agrícola já em curso e a prosseguir neste III Plano, e tendo também em conta a situação estrutural e conjuntural do sector, programaram-se os investimentos que a seguir se indicam de forma resumida e que, sendo na sua maioria financiados, directa ou indirectamente, pelo Estado, constituem a contribuição do sector público para o desenvolvimento da agricultura Espera-se que a iniciativa privada devidamente estimulada e orientada venha completar esta parte imperativa do Plano, por forma a que se atinja o nível global de investimentos em capital fixo estimado como necessário ao descimento projectado - cerca de 19 milhões de contos (preços constantes).
Do dispêndio global discriminado no Plano - 14,6 milhões de contos -, a quase totalidade corresponde à formação bruta de capital fixo e 144 000 contos destinam-se a realização de estudos considerados imprescindíveis para o aproveitamento das obras e empreendimentos planeados.
Como se poderá verificar, a selecção dos investimentos caracteriza uma orientação definida, que importa seguir nos anos futuros, tendente à concentração dos esforços e dos meios para a solução de problemas que afectam os mais valiosos produtos e actividades da agricultura, mas sempre no sentido de se atingem soluções que cumulativamente contribuam, por força da sua própria concepção, para a evolução mais favorável das questões de base.
Assim, toda a acção directa e indirecta (fomento agrícola, pecuário e florestal, crédito, assistência técnica, etc. ) deverá orientar essa evolução, em que tomará decisiva importância a já referida revisão do actual aproveitamento do território, a intensificação cultural pelo melhor e mais racional aproveitamento das potencialidades produtivas existentes e a criar nas várias regiões, a acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro, tendo em vista a consecução dos objectivos a atingir, as medidas de fomento para a organização do sector da produção ao nível do produto e da exploração e o apoio às acções especializadas que visem a adaptação estrutural.
Em fichas de projectos enumeram-se sucintamente os investimentos previstos para cada um dos empreendimentos que se integram na consecução dos objectivos referidos anteriormente,

a) Empreendimento n.º 1 - Estudos de base para revisão do aproveitamento do território

31. A necessidade, já referida, de se obter, com a maior brevidade, a caracterização regional, quer sob o ponto de vista das potencialidades produtivas e demais condições ambientais, quer sob o das situações estruturais e conjunturais, paia que se intensifiquem e utilizem da melhor forma os meios técnicos e financeiros no fomento agrícola, florestal e pecuário economicamente viável, justifica a inclusão no Plano deste empreendimento
Nos estudos de base a intensificar, utilizando as técnicas mais apropriadas para a aceleração dos trabalhos, será despendido o montante de 12 000 contos, correspondendo à média de 2000 contos por ano, destinado a pessoal técnico e auxiliar, à aquisição de material, incluindo equipamento, e a outros encargos
A execução deste empreendimento estará a cargo dos serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura, em reforço da actividade própria do Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário, e será financiada pelo Orçamento Geral do Estado.
Ao empreendimento ficam inteiramente ligadas as comissões técnicas regionais, com o apoio dos competentes serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura

h) Empreendimento n.º 2 - Hidráulica agrícola

32. No prosseguimento da política de valorização pela rega de vastas áreas do território continental, o Governo continuou a considerar entre os investimentos programados uma rubrica de hidráulica agrícola, na qual se incluem empreendimentos que, atendendo às condições ecológicas predominantes do continente, assumem particular relevo pela beneficiação que proporcionam às terras regadas.

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h) Empreendimento n.º 9 - Olivicultura

43. Como se referiu anteriormente, este empreendimento relaciona-se com o prosseguimento da política de fomento e apoio às associações de olivicultores e a outras organizações da lavoura, para o efeito de montagem de lagares e de armazenagem fixa para azeite e outros óleos.
Estima-se que, no decorrer do Plano, seja necessário o montante de 10 000 contos, cabendo 2000 contos a equipamento de lagares e 8000 contos a armazenagem fixa, a conceder em comparticipações pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas, mediante parecer da Junta Nacional do Azeite.

i) Empreendimento n.º 10 - Silvicultura, povoamento piscícola e caça

44. Calcula-se que o montante dos investimentos prioritários a realizar neste domínio atinja 1 877 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado o outras fontes internas de crédito, como passa a indicar-se;

Contos
Povoamento florestal de terrenos do Estado 300 000
Inventário florestal 8 000
Correcção torrencial 45 500
Combate a incêndios florestais 13 000
Agricultura e cinegética 6 500
Gestão e expansão do património florestal do Estado 358 000
Recuperação florestal e silvo-pastoril em solos
de capacidade de uso não agrícola da propriedade
privada 1 130 000
Organização e gestão da propriedade florestal
privada . . 12 000

A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

J) Empreendimento n.º 11 - Mecanização da agricultura

45. Procurar-se-á completar o apetrechamento da Estação de Cultura Mecânica com os meios indispensáveis ao seu pleno funcionamento, de modo a permitir-lhe estudar e experimentar o material agrícola, divulgar os métodos racionais da sua utilização, colaborar na formação profissional de técnicos e condutores, regular o comércio de máquinas agrícolas e prestar cooperação técnica à respectiva indústria.
Levar-se-ão ainda a efeito, através dos organismos regionais da Secretaria de Estado da Agricultura, campanhas de fomento da motomecanização agrícola e florestal.
Prevê-se venham a ser despendidos 20 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e de acordo com a seguinte distribuição;

Contos
Motomecanização agrícola e florestal

Apetrechamento da Estação de Cultura

Mecânica 15 000
Acção regional 5 000

Admite-se ainda a possibilidade do recurso a outras fontes de financiamento, até ao montante do 900 000 contos, com a finalidade de desenvolver a motomecanização das empresas agrícolas.
A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura

I) Empreendimento n.º 12 - Melhoramentos agrícolas

46. De acordo com a referida necessidade de ampliação da acção do Fundo de Melhoramentos Agrícolas, para ocorrer à procura de crédito, verificou-se a necessidade de o reforçar com o montante de 1 430 000 contos, destinando-se anualmente 180 000 contos para empréstimos e comparticipações e 25 000 contos para o pessoal e outros encargos de manutenção e reestruturação dos serviços regionais de apoio técnico-financeiro.
Anote-se que o Fundo de Melhoramentos Agrícolas suporta já encargos de juros de empréstimos e outros de quase 30 000 contos, que se pretendem cobrir com o montante de 200 000 contos incluídos na verba global acima indicada, e possui capacidade autónoma de financiamento que ainda não atinge os 25 000 contos.
Prevê-se a necessidade de financiamento, pelo Orçamento Geral do Estado, para cobrir despesas com o pessoal e restantes encargos fixos, e através de outras fontes para garantir o crédito ao fomento agrícola, pecuário e florestal, abrangido ou não nos empreendimentos previstos no Plano.

m) Empreendimentos n.ºs 13 e 14 - Sanidade das plantas e dos animais

47. Prevê-se que o investimento prioritário a realizar atinja 214 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e assim discriminados.

Contos
A) Sanidade das plantas

Homologação dos produtos fitofarmacêuticos 30 000
Herbicidas 4 000
Contaminação dos alimentos, e do meio ambiente
pelos pesticidas 6 500
Apetrechamento da rede fitosanitária 10 500
Defesa fitossanitária do sector da agricultura 9 200
Defesa das florestas contra pragas e doenças 46 600
Defesa fitossanitária dos produtos armazenados 7 200

B) Sanidade de animais

Campanha de luta contra a febre carbunculosa ............ 13 600
Campanha de luta contra doenças rubras clássicas
dos suínos 11 300
Campanha de luta contra a febre-de-malta 14 800
Campanha de luta contra a tuberculose bovina de castas
não leiteiras 16 600
Saneamento dos aviários 3 700
Campanha do luta contra parasitoses 6 800
Campanha de luta contra mamites 3 000
Campanha de luta contra outras zoonoses 13 600
Apoio laboratorial e preparação de pessoal 9 000
Campanha de luta contra tuberculoses e bruceloses
bovinas nos Açores 8 100

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A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

n) Empreendimento n.º 15 - Extensão agrícola

48. O financiamento dos empreendimentos que constituem os objectivos neste domínio será assegurado pelo Orçamento Geral do Estado, prevendo-se que os investimentos prioritários a fazer atinjam o total de 58 000 contos, assim distribuídos.

Contos
Centros de gestão 5 000
50 explorações agrícolas de demonstração 25 000
Experiências de extensão agrícola integral 18 000
Apoio ao fomento de cerealicultura 4 000
Apoio as organizações da produção agrícola florestal - Preparação e formação especializada de dirigentes de cooperativas e de outras associações de produtores 6 000

o) Empreendimento n.º 16 - Fundo do Fomento de Cooperação

49. Em conformidade com a referida intenção de intensificar a acoito deste Fundo, considera-se essencial o seu reforço, durante a vigência do Plano, no montante de 120 000 contos, inteiramente reintegráveis, uma vez que a atribuição de empréstimos irá fazei-se através da estrutura estabelecida pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas e com o apoio especializado dos serviços regionais da Secretaria de Estado da Agricultura, incluídos nas comissões técnicas regionais.

p) Empreendimento n.º 17 - Fundo Especial de Restruturação Fundiária

50. Atendendo a que se destina, fundamentalmente, à reorganização fundiária nas áreas de elevada potencialidade produtiva, levada a cabo pela iniciativa privada ou promovida por empreendimentos integrados no desenvolvimento regional, o Fundo será constituído por dotações anuais do montante de 80 000 contos, em média,
destinando-se 70 000 contos a empréstimos e 10 000 contos a comparticipações.
O montante global na vigência do Plano atingirá, portanto, 480 000 contos e será gerido pelos serviços afectos ao Fundo de Melhoramentos Agrícolas.

q) Empreendimento n.º 18 - Estudos de ordem económica

51. A importância fundamental atribuída às comissões técnicas regionais na coordenação distrital dos serviços do Ministério da Economia e na acção selectiva destes serviços exige o conhecimento especializado da situação económica e demográfica das várias regiões.
Sòmente deste modo será possível orientar-se com eficiência a programação do desenvolvimento do sector e dar decidida participação aos planos de valorização regional que venham a definir-se.
Tendo presente a possibilidade de obter grande número de elementos de base que caracterizam as diferentes regiões, admite-se que o montante de 18 000 contos, correspondendo a 8000 contos por ano, em média, será suficiente para cobrir os encargos de pessoal técnico e auxiliar, aquisição de material de estudo e consumo, e outros encargos.
A execução deste empreendimento estará a cargo dos serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura, particularmente dos que se ocupam de problemas de desenvolvimento regional.

52. Considerando, por último, os valores totais nos seis anos de vigência do Plano, o investimento global do sector ascende a 14 600 000 contos
No mapa seguinte resumem-se os investimentos programados, indicando-se para cada lúbrica as fontes de financiamento previstas. Verifica-se que 3 600 000 contos cabem ao Orçamento Geral do Estado, 6 266 000 contos a financiamentos a obter em instituições do crédito, 1 708 000 contos correspondem a autofinanciamento, fundamentalmente de origem privada, 2 796 000 contos provirão de fundos autónomos e 230000 contos de crédito externo.

[Ver tabela na imagem]

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CAPITULO II

Pesca

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. No decénio de 1956 a 1965 a pesca descarregada nos portos do continente e ilhas adjacentes passou de 324 914 t para 424 982 t, tendo o produto bruto gerado no sector crescido, no referido período, à taxa média anual de 2,2 por cento. A análise da evolução do produto mostra ter havido anos de relativa expansão e anos de contracção Assim, enquanto em 1960, 1962, 1963 e 1964 se assinalam, respectivamente, taxas de crescimento de 18,6, 1,9, 4,3 e 7,4 por cento, em cada um dos anos de 1961 e 1965 aquelas taxas apresentam os valores de - 2,8 e - 0,8 por cento.
A contribuição da pesca para o produto nacional bruto tem oscilado, nestes últimos anos, entre as percentagens de 1,3 e 1,1 De 1961 a 1964 a participação do sector foi de 1,2 por cento, e em 1965 de 1,1 por cento. A relativa estabilidade desta percentagem significa que o produto das pescas tem podido, nos últimos cinco anos do referido decénio, acompanhar a expansão global da economia, embora esteja ainda longe da saturação da procura.

2. O número de pescadores matriculados em 31 de Julho de 1965 (época em que estão em actividade todos os meios de produção) era de 46 100 homens e corresponde a média anual do período de 1956-1965. A taxa média de acréscimo anual do emprego no sector durante o referido decénio foi de 0,1 por cento. O facto de esta percentagem se apresentar tão baixa deve-se à descida do volume absoluto de emprego verificada nos últimos anos do período em análise, dada a maior mecanização das embarcações e sistemas de pesca, que provocou a redução e maior especialização das tripulações Começou entretanto a notar-se carência de mão-de-obra, nomeadamente no que respeita ao pessoal mais qualificado, cuja emigração se tem acentuado ùltimamente.
A produtividade média da mão-de-obra empregada, utilizando como medida a relação entre a tonelagem de pescado descarregado e o número de homens matriculados, manifesta acentuado acréscimo Em 1965 o aumento observado em relação a 1956 foi de 30,4 por cento, resultante, principalmente, do aperfeiçoamento tecnológico e da modernização da frota.

3. Quanto à formação bruta de capital, a participação da pesca no investimento total apresenta algumas oscilações. A partir de 1961 a participação do sector situa-se em cerca de 1,5 por cento, com excepção do ano de 1963, cuja percentagem foi apenas de 0,8 devido a investimento anormalmente baixo - 128 000 contos. Prevê-se que no período de 1968-1973 a formação bruta de capital fixo atinja, em média anual, a ordem dos 400 000 contos, pelo que a participação do sector no investimento total poderá sei mais elevada do que a observada anteriormente.

4. No período de 1956-1965 a frota pesqueira nacional em actividade passou de 10 338 embarcações (1720 com motor e 8618 sem motor) para 11 074 (8136 com motor o 7938 sem motor) Nesse mesmo período a tonelagem de arqueação bruta subiu de 119 730 para 147 814 (quadro I).

QUADRO I

[Ver quadro na imagem]

Fonte Estatística Industrial e Estatísticas Agrícolas e Alimentares (Instituto Nacional de Estatística)

Dos números indicados, verifica-se que, relativamente ao ano de 1956, o incremento da frota pesqueira foi de 7 por cento, e que, enquanto as embarcações com motor aumentaram 82 por cento, os sem motor diminuíram cerca de 8 por cento, o que revela bem o resultado dos esforços despendidos paia a motorização das pescas artesanais.
No que se refere à força motriz, assinala-se que a potência instalada nos navios em actividade teve o aumento do 106 por cento durante o decénio em análise

5. No que respeita ao destino do pescado descarregado, verifica-se prevalecer o consumo imediato em fresco, seguido do fornecimento à indústria conserveira e da exportação.
O quadro II mostra a evolução das quantidades e destinos da produção.
Em 1965, do pescado descarregado no continente e ilhas adjacentes - 424 982 t, a que correspondeu o valor do 1 845 053 contos destinaram-se a consumo interno

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58,8 por cento, à industrialização, 36,1 por cento, e ao mercado externo, 5,1 por cento.

QUADRO II

Destino da produção

[Ver quadro na imagem]

Fonte Estatística Industrial, Estatísticas Agrícolas e Alimentares e Comércio Externo (Instituto Nacional de Estatística)

6. Apesar de a evolução da produção do sector se apresentar bastante satisfatória, tendo as quantidades de pescado descarregado aumentado cerca de 31 por cento durante o período que decorre de 1956 a 1965, continua a verificar-se a importação de certas espécies destinadas directamente ao consumo, como o bacalhau, e de outras - atum, por exemplo - para a indústria conserveira. Em 1965 as importações de pescado somaram 22 460 t, no valor de 329 662 contos, com grande preponderância do bacalhau verde e seco.

7. Conforme ficou referido no Plano Intercalar de Fomento, o primeiro programa de desenvolvimento das pescas, cuja execução se prolongou desde 1958 a 1958, visou o prosseguimento da substituição das frotas já envelhecidas e a modernização dos instrumentos de captura e tratamento do pescado. Durante esse período, o total dos investimentos realizados atingiu 586 509 contos
Ao abrigo do II Plano de Fomento investiram-se 733 700 contos, com os quais se acelerou o ritmo de progresso tecnológico, em particular no que respeita a aplicação do frio e, ainda, à construção de numerosas embarcações, à reparação e modernização de outras e à aquisição de artes e apetrechos.
O Plano Intercalar fixou para o sector da pesca três objectivos principais a serem alcançados durante o triénio de 1965-1967;

Desenvolvimento quantitativo global da produção;
Desenvolvimento da pesca longínqua;
Desenvolvimento das condições que permitam a melhoria da qualidade do pescado, o seu melhor acesso ao consumidor e a sua correspondente valorização.

Programaram-se para o período de vigência do Plano Intercalar 318 160 contos, tendo sido investidos em 1965 133 940 contos. No decorrer desse ano procedeu-se à construção de novas, embarcações e modernizaram-se outras, introduzindo-se-lhes aperfeiçoamentos, tanto no que se refere a operações de referenciação de cardumes (sondagem electroacústica) como à manobra das redes (introdução de aladores mecânicos) e ainda na parte respeitante à conservação a bordo, com a utilização do frio. Desenvolveu-se igualmente o emprego do frio em terra, com a construção de instalações frigoríficas de grande capacidade, em Lisboa e Matosinhos. Igualmente com vista à melhoria da qualidade e à valorização do pescado, promoveu-se a instalação de postos de venda em diversos locais na costa do continente e no Funchal.

8. Os problemas de maior relevo a que terá de fazer face o sector da pesca são os seguintes;
a) A política de alargamento das áreas reservadas à pesca pelos países ribeirinhos em cujas águas as nossas frotas realizam grande parte das suas capturas. A adopção de tal política dificultou a exploração de pesqueiros de características já conhecidas e afectou sensivelmente os resultados do esforço de pesca Com efeito, o afastamento desses pesqueiros teve como consequência capturas inferiores, tanto em quantidade como em qualidade, a maior duração das viagens dos navios, em virtude do menor rendimento do esforço de pesca, e, portanto, uma percentagem mais elevada de inutilizações à descarga. Essas inutilizações chegaram a atingir, nos meses de Verão e em alguns navios que não dispõem de porões refrigerados, 25 por cento dos carregamentos.
A necessidade de assegurar o abastecimento alimentar e o aumento crescente da procura de peixe, a par de uma política de expansão do sector, encaminham para o desenvolvimento da pesca longínqua, sem perder de vista o equilibrado crescimento das pescas artesanais e costeiras,
b) As imposições de natureza fiscal e parafiscal que incidem sobre o pescado nacional descarregado nos portos do continente e ilhas. Se é de admitir que o pescador individual pague o imposto de pescado (7 por cento), correspondente a contribuição industrial das empresas, e o adicional de 3 por cento para os municípios, correspondente ao imposto de comércio e indústria, não faz sentido que às empresas se exija o pagamento de idênticos impostos de pescado, uma vez que suo colectadas por contribuição industrial e imposto de comércio e indústria. Esta anomalia parece acarretar uma duplicação tributária das empresas armadoras, cujas consequências justificam a revisão do sistema actual, aliás já em curso no Ministério das Finanças.
Por outro lado, fazendo a comparação entre os ónus que incidem sobre o pescado importado e o nacional, verificam-se disparidades que tornam desvantajosa a concorrência da produção nacional com a estrangeira, situação que, igualmente, carece de reajustamento, tanto mais que se prevê para breve a desmobilização aduaneira dos produtos da pesca constantes do Anexo E da Convenção de Estocolmo,
c) A política de tabelamento de preços na produção. Ao contrário do quo acontece na generalidade dos países, a produção nacional de pescado tem tabelados os preços máximos na primeira venda para espécies de maior procura e que constituem elevada percentagem da pesca longínqua e do alto. O preço médio proveniente destas pescas é fortemente afectado pelo tabelamento da maior parte das suas espécies, precisamente as de maior procura e interesse comercial.

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672 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

QUADRO III

Preços médios, por quilograma, do pescado descarregado

(Continente)

[Ver quadro na imagem]

Fonte Estatísticas Agrícolas e Alimentares (Instituto Nacional de Estatística).

A análise do quadro III mostra que o preço médio no produto se manteve, durante o período de 1956-1965, relativamente estável. Este facto afecta profundamente a rentabilidade do sector e reflecte os efeitos do tabelamento do pescado que não teve em conta a evolução geral dos preços. Ora, enquanto o preço médio do pescado na produção se conservou praticamente invariável, o índice de preços no consumidor, para a cidade de Lisboa, no citado decénio, subiu de 104,3 para 127,3, e os índices respeitantes à rubrica «Alimentação» assinalam, para aquela cidade, a seguinte evolução 100,8 em 1956 e 130,5 em 1965.
Sem prejuízo de o pescado dever continuar a constituir elemento moderador na subida do custo de vida, afigura--se viuvei e necessário proceder a uma revisão dos preços no produtor, designadamente no que se refere aos limites máximos impostos para determinadas espécies, de forma a compensar o encarecimento dos factores, as largas margens que a comercialização actualmente absorve, hão-de permitir fazê-lo sem alteração dos preços de venda ao público,
d) A estrutura empresarial do sector quanto a alguns tipos de actividade, designadamente nas pescas costeiras, nos quais se observa elevada pulverização. No que se refere a pesca da sardinha, estudos realizados em 1964 permitiram concluir que a dimensão empresarial de maior produtividade se verifica no grupo de empresas que dispõem de trás a cinco traineiras. Relativamente à pesca artesanal, estudos levados a efeito por organismos internacionais recomendaram, como forma de aumentar a rentabilidade daquela pesca, a constituição de cooperativas. A sua concretização apresenta, porém, sérias dificuldades, dada a falta de preparação e de espírito empresarial por parte dos pescadores interessados,
c) À escassez de mão-de-obra O sector da pesca começa a sentir falta de pessoal, nomeadamente do mais qualificado, cuja emigração se tem acentuado ùltimamente. A fim de suprir este inconveniente, haverá que preparar profissionalmente maior número de pescadores e tripulantes e procurar garantir a produção meios que lhe permitam proporcionar retribuição mais favorável ao pessoal, sem comprometer uma rentabilidade razoável. No que respeita aos encargos com a preparação profissional, interessa salientar que a partir de 1966 o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra passou a contribuir para a construção e manutenção das Escolas Profissionais de Pesca, aliviando, assim, a participação a cargo dos organismos corporativos do sector, cujas possibilidades não permitiam continuar a suportar integralmente aquelas despesas e os que derivam do desenvolvimento a imprimir as referidas escolas,
f) A complexidade da estrutura de comercialização, comportando demasiados intermediários. Em quase todos os países que se dedicam à pesca, é normal verificar-se a falta de um sistema eficaz de distribuição e comercialização do pescado, Portugal não foge a esta regra. A intervenção de numerosos comerciantes, actuando sobre pequenas quantidades do produto, não só afecta as suas condições hígio-sanitárias, mas também eleva o preço no consumidor. De notar, porém, que já foram adoptadas algumas medidas no sentido de influir favoravelmente na comercialização do pescado. Entre elas, há a referir a actividade desenvolvida pelo Serviço de Abastecimento de Peixe ao País, organizado pelo Grémio dos Armadoras da Pesca do Arrasto. A acção desse Serviço tem-se exercido através do estabelecimento de uma rede de postos reguladores de venda, os quais actuam no mercado retalhista em paralelo com os demais distribuidores do pescado, com o propósito de evitar manobras de especulação. O Serviço de Abastecimento de Peixe ao País está a tentar ampliar o referido sistema de vendas directas ao consumidor, integrado num esquema de comercialização estabelecido de acordo com os serviços oficiais responsáveis pela coordenação da distribuição dos produtos alimentares,
g) Por último, cumpre referir a insuficiência de meios que permitam manter um, serviço de investigação económica e tecnológica, em condições de poder satisfazer melhor as necessidades do sector, bem como os compromissos internacionais assumidos nas convenções e outros instrumentos regulamentadores das pescas marítimas, no que respeita a conservação dos recursos

§ 2.º Objectivos

9. Tendo em atenção a situação actual do sector e as perspectivas desejáveis da sua evolução, prevê-se que, no período de vigência deste III Plano, o produto bruto possa crescer u taxa anual média próxima dos 3 por cento, programando-se um investimento global da ordem dos 310 000 contos anuais, dos quais cerca de 267 000 para aumento dos meios de produção. Trata-se, portanto, de esforço relevante no sentido de ultrapassar as tendências do passado recente, no que respeita a média anual de investimento. Será indispensável, no entanto, acompanhar o esforço de investimento com a intensificação do ritmo de formação de pessoal capaz de garantir a plena utilização da capacidade produtiva das novas embarcações e instalações de apoio Por outro lado, o financiamento dos empreendimentos previstos terá de assegurar-se, não apenas pelo acréscimo substancial dos créditos fornecidos através do Fundo de Renovação e de Apetrechamento, como também pelo estímulo ao autofinanciamento do sector - aspecto que se liga com as visadas melhorias da produtividade e as correcções dos preços pagos ao produtor.

10. São os seguintes os objectivos de ordem geral fixados para o hexénio 1968-1973, no sector das pescas,
a) Aumentar a produção de pescado e fomentar o seu consumo, o que permitirá melhorar os dietas alimentares em proteínas de origem animal. Atendendo ao acréscimo da população, para que a capitação de consumo de pescado tenha, por hipótese, o aumento médio anual de cerca de 1,5 kg por habitante, o total da pesca a descarregar em 1973 terá de atingir 339 000 t no que respeita às ne-

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cessidades de consumo interno A esta produção haverá ainda que adicionar as estimativas referentes aos fornecimentos à indústria conserveira e à exportação, 206 300 t e 29 000 t, respectivamente. Considerou-se, assim, que o desenvolvimento do sector acusaria, em 1978, a produção total de 574 300 t (no valor aproximado de 3 660 000 contos), as quais se distribuiriam da seguinte forma

Toneladas
Pesca de arrasto 170 200
Pesca do atum 23 300
Pesca da sardinha 246 500
Pesca do bacalhau 68 000
Pesca local 55 000
Ostras e outros bivalves 7 500
Produtos dos cetáceos 3 800
Total 574 300

b) Assegurar a estabilidade do preço do pescado no consumidor,
c) Garantir ocupação a número elevado de pescadores e outros trabalhadores que em terra se ocupam em actividades ligadas à pesca,
d) Prosseguir o desenvolvimento do sistema de previdência e da obra assistencial em beneficio dos pescadores,
e) Assegurar o fornecimento de matérias-primas às indústrias transformadoras, mediante a celebração de acordos entre os sectores interessados,
f) Proteger os recursos naturais das águas territoriais e colaborar nos esforços internacionais para a exploração racionai dos recursos biológicos do mar,
g) Dar realidade, no domínio das pescas, a um plano de actuação nacional, em função dos objectivos do- integração económica do espaço português

11. A realização destes objectivos reparte-se essencialmente pelas seguintes actividades,

A) Investigação e assistência técnica,
B) Pesca de arrasto,
C) Apoio a pesca longínqua;
D) Pesca do atum,
E) Pesca da sardinha,
F) Pesca do bacalhau,
G) Pesca local e artesanal,
H) Exploração de ostras e outros bivalves,
I) Instalações de tratamento de pescado,
J) Comercialização do pescado

Descreve-se seguidamente o que se prevê realizar e os objectivos específicos que se pretende atingir em cada um destes domínios.

A) Investigação e assistência técnica

12. Uma organização científica e técnica convenientemente estruturada a escala nacional constitui condição basilar para se obter a utilização mais racional dos meios de produção O desenvolvimento dos processos tecnológicos, tais como os respeitantes a métodos de prospecção e de captura, transporte e transformação do pescado, contribui de forma muito importante para a elevação do índice de produtividade global do sector.
O programa a levar a efeito compreende as seguintes realizações,

1 Instalações e apetrechamento do Instituto de Biologia Marítima e do Gabinete de Estudos das Pescas e Estação de Tecnologia. As novas instalações destes organismos localizar-se-ão em terrenos anexos ao porto de pesca de Pedrouços;
2 Construção e equipamento de um navio de investigação Já no Plano Intercalar do Fomento se considerara a necessidade de construir um navio destinado à investigação bioceanográfica. A actividade deste navio, de 25 m de comprimento e 400 tAB, incidirá principalmente sobre as regiões costeiras.

D) Pesca de arrasto

13. Sob esta rubrica incluem-se as seguintes pescas: de arrasto costeiro, do alto e longínqua,
De acordo com a estimativa de produção, prevê-se que as pescas de arrasto possam contribuir, no período de 1968 a 1973, com as quantidades a seguir indicadas

Tonelagem
1968 78 700
1969 114 100
1970 125 400
1971 143 800
1972 153 200
1978 170 200

Durante o referido período procurar-se-á desenvolver e valorizar a frota de arrastões, segundo a seguinte distribuição pelos seis anos do Plano.

Construção de dez arrastões congeladores de 1750 tAB e 1000 t de carga. Será iniciada a construção de cinco arrastões, em 1968, de dois em 1970 e de um em cada um dos anos de 1969, 1971 e 1972,
Construção de dois navios transportadores frigoríficos Está previsto que a construção do primeiro navio fique concluída em 1969 e a do segundo em 1971,
Construção de quinze arrastões costeiros de 200 tAB. O programa de construção destes arrastões obedece ao seguinte esquema duas unidades em cada um dos anos de 1968, 1969 e 1978 e três unidades em cada um dos anos de 1970, 1971 e 1972,
Construção de cinco arrastões de 120 tAB para a pesca de crustáceos. Programou-se a construção de uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1970, 1971 e 1973,
Construção de seis navios lagosteiros. Prevê-se construir uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1971 e 1972 e duas unidades em 1973,
Transformação de seis arrastões em congeladores. Proceder-se-á a transformação de uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1970 e 1978 e de duas unidades em 1972,

Instalação de refrigeração nos porões de dez arrastões. Prevê-se que o escalonamento da instalação de refrigeração nos porões dos arrastões se faça da forma que se indica uma em cada um dos anos de 1968, 1969 e 1970, duos em cada um dos anos de 1971 e 1973 e três em 1972

C) Apoio à pesca longínqua

14. A formação de sociedades de pesca com capitais e mão-de-obra da metrópole e do ultramar parece constituir a forma ideal para se concretizar o desenvolvimento das pescas a nível nacional Assim, relativamente a Angola, está já em construção em Moçâmedes uma instalação frigorífica para 4500 t, onde os árias toes congeladores que vão pescar no Sul do Atlântico descarregarão de pescado congelado. Também alguns navios da frota de arrasto do alto poderão descarregar naquelas instalações

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pescado fresco proveniente dos pesqueiros existentes ao largo de Angola.
Aquele pescado irá satisfazer, em primeiro lugar, as necessidades de Angola e, seguidamente, as da metrópole, utilizando-se para isso o transporte em navios frigoríficos, já em construção, e as quantidades que o consumo interno possa dispensar serão destinadas à exportação.
Existe também possibilidade de se desenvolver em Angola a construção de embarcações de pesca dos tipos mais modernos, o que irá proporcionar a criação de novos empregos e contribuir para o povoamento da província com populações portuguesas.
No que se refere a Moçambique, o programa inclui o estabelecimento de diversas instalações frigoríficas, sendo a principal na Matola, com a capacidade de 700 t, e outras, secundárias, em diferentes pontos da costa, com o fim de servir igualmente as pescas locais. Entre as vantagens deste programa, conta-se a possibilidade de libertar a economia da província da importação de produtos da pesca.
Deve notar-se que os navios transportadores frigoríficos, sempre que regressem de Angola, podem descarregar em S. Tomé e Príncipe e em Cabo Verde as quantidades de pescado necessárias ao abastecimento local.
O apoio a pesca longínqua, nos termos em que está projectado, contribuirá valiosamente para o desenvolvimento do ultramar, permitindo, ao mesmo tempo, assegurar o abastecimento de pescado a metrópole e realizar uma política de expansão global

D) Pesca do atum

15. No último decénio a actividade da pesca do atum teve como principal ponto de apoio os arquipélagos da Madeira e dos Açores. No continente, a produção das armações fixas tem diminuído.
Tudo indica que o desenvolvimento a imprimir à captura de tunídeos, de interesse muito especial para a indústria conserveira, deve concretizar-se na pesca oceânica, com embarcações e artes adequadas.
O programa a executar durante este III Plano terá em vista o desenvolvimento da pesca oceânica de tunídeos. A produção prevista para o período do Plano é seguinte

Toneladas
1968 13 100
1969 16 000
1970 16 500
1971 19 400
1972 19 900
1978 23 800

Durante o hexénio proceder-se-á a construção de seis embarcações tipo Baby-Clipper e de seis atuneiros congeladores. Programou-se a construção de um Baby-Clipper para cada um dos anos de 1969, 1970, 1971 e 1972 e de dois para 1978. Quanto aos atuneiros, prevê-se que seja- possível iniciar a construção de duas unidades em cada um dos anos de 1968, 1970 e 1972.

E) Pesca da sardinha

16. A pesca da sardinha é das mais importantes que se praticam em Portugal. Essa importância revela-se não só pelo número de pessoal utilizado, que em 1965 foi superior a 15 000 pescadores, mas também pelos valores de produção, os quais nesse mesmo ano, atingiram cerca de 368 523 contos para a sardinha e 158 200 contos para as espécies similares.
A estimativa de produção calculada para a pesca da sardinha apresenta, para 1968-1978, a distribuição que se indica

Toneladas
1968 242 500
1969 243 800
1970 244 100
1971 244 900
1972 245 700
1973 246 500

O programa previsto compreende as seguintes realizações construção de duas traineiras em cada um dos anos de 1968 a 1973, valorização, durante o hexénio, dos equipamentos de pesca, nomeadamente no que respeita a instalação de aladores mecânicos e aparelhagem de detecção de cardumes

F) Pesca do bacalhau

17. A política de restrições às áreas de pesca, no que respeita a esta actividade, tem obrigado a substituir a maior parte dos navios de linha por arrastões. O futuro da pesca à linha depende, fundamentalmente, de serem prolongadas as concessões obtidas da Dinamarca e do Canadá para capturar o bacalhau nos fundos apropriados aquele sistema. De facto, em 1956 havia 50 navios de pesca e linha e 22 arrastões. Em 1965, os números são, respectivamente, 39 e 82.
A tonelagem de arqueação bruta dos arrastões teve acentuado desenvolvimento 27 974 em 1956 e 41857 em 1965.
As produções da frota bacalhoeira nacional foram, em 1956, 78 830 t (em verde), às quais correspondeu o valor, à, descarga, de 466 690 contos, em 1965 os totais obtidos foram 71 280 t e 475 307 contos
Apesar de os números indicados serem relativamente elevados, a tendência estacionária da produção tem-na tornado insuficiente para satisfazer as necessidades de consumo, determinando o recurso. A importação, que em 1965 se cifrou em 20 635 t, no valor de 319 812 contos Destas, 16274, no valor de 265 450 contos, correspondem n bacalhau seco, e as restantes, a salgado verde. Tal como aconteceu noutros países, é de prever que o aumento do nível de vida e as facilidades de conservação oferecidas pelos produtos congelados, venham, também em Portugal, a transferir a procura do bacalhau seco para o pescado fresco e congelado. Por outro lado, o enfraquecimento dos recursos nos pesqueiros do bacalhau, os medidos de protecção dele resultantes e, ainda, as disposições sobre áreas reservadas a pesca impõem que o desenvolvimento da produção moída, sobretudo, no pescado fresco e congelado. Assim, no programa para o período de vigência deste II Plano foi atribuída maior expressão aos investimentos destinados à pesca de arrasto e às infra-estruturas da respectiva comercialização.
A previsão do produto da pesca do bacalhau (seco, congelado e derivados) para o período de vigência do Plano é a seguinte

Toneladas
1968 56 400
1969 56 400
1970 59 700
1971 68 000
1972 63 000
1973 68 000

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O programa, que prevê a construção de novas unidades, a valorização de outras e a conversão de navios de linha em arrastões, desenvolve-se como a seguir se indica,

Construção de três arrastões de 2800 tAB. Em cada um dos anos de 1968, 1970 e 1972 será iniciada a construção de um destes navios,
Construção de um navio long liner em 1973,
Construção, nos anos de 1972 e 1978, de quatro unidades para a pesca em parelha, à razão de uma parelha por ano,
Recondicionamento dos arrastões em serviço e conversão dos navios de linha era arrastões. Este empreendimento irá sendo realizado ao longo dos seis anos do Plano.

G) Pesca local o artesanal

18. Em Portugal, esta pesca assume grande relevância, devido ao elevado número de pescadores que nela se emprega - cerca de 35 000 - e ao facto de provirem dela as espécies mais valiosas.
Em virtude dos investimentos realizados ùltimamente, os rendimentos obtidos têm crescido de ano para ano.
Assim, o rendimento das pescas locais foi em 1956 de 193 244 contos, e em 1965 de 283 780 contos.
Também o número de embarcações, que em 1956 era de 9548 unidades, comportando um total de 22630 tAB, passou, em 1965, para 10 814, às quais correspondiam 31 570 tAB. Para o período do III Plano, a produção prevista paia esta pesca apresenta a distribuição a seguir indicada

Toneladas
1968 50 000
1969 51 000
1968 50 000
1969 51 000
1970 52 000
1971 53 000
1972 54 000
1973 55 000

Estes quantitativos poderão, no entanto, sofrer oscilações devidas aos condicionalismos muito particulares que caracterizam a pesca local
Durante o hexénio proceder-se-á à motorização e reparação de embarcações e a renovação de apetrechos de pesca.

II) Exploração de ostras e outros bivalves

19. No decénio de 1956-1965 a exportação de ostras vivas rendeu mais de 134 800 contos. Prevê-se que este valor seja, de futuro, muito mais elevado, dado o aumento que se verifica na procura externa.
Calcula-se que nos seis anos de vigência do Plano se obtenha a produção de 6000 t/ano, em 1968 o 1969, de 7000 t/ano, em 1970 e 1971, e de 7500 t/ano, em 1972 p 1973.
A acção a desenvolver amante aquele período respeita a parques de criação e a instalações de depuração e afinação.

I) Instalações de tratamento de pescado

20. Em virtude do programa de desenvolvimento previsto para a frota pesqueira, que terá como consequência lógica o aumento da produção, torna-se indispensável proceder, em terra, a construção e melhoria das instalações de tratamento de pescado, bem como à armazenagem frigorífica dos produtos das pescas longínquas
Para o período de 1968-1973, considerou-se a construção de viveiros para lagostas e o melhoramento de instalações industriais para o aproveitamento de cetáceos e de secagem de bacalhau.

I) Comercialização do pescado

21. Devido ao aperfeiçoamento dos meios de captura, o sector da produção tem registado, ultimamente, importantes progressos. Já o mesmo, porém, não pode dizer-se relativamente à comercialização do pescado Além do empolamento exagerado dos preços no consumo proveniente da injustificada acumulação de margens comerciais, o tabelamento das espécies de maior procura não tem permitido aos armadores, conforme já foi referido, vender o pescado a preço compensador.
Diversas medidas foram postas em prática para melhorar o sistema, salientando-se as respeitantes à montagem de instalações frigoríficas portuárias e a acção já mencionada do Serviço de Abastecimento de Peixe ao País. Haverá, no entanto, que prosseguir a obra iniciada, racionalizando os circuitos de distribuição e promovendo novas realizações, até se conseguir que o peixe fresco e congelado atinja todos os pontos do País nas melhores condições hígio-sanitárias, que os preços se mantenham acessíveis a todos os estratos da população e que o produtor aufira o justo rendimento do trabalho e capital investidos
Para o período de 1968-1973, prevê-se a montagem de diversas instalações frigoríficas portuárias e do venda, nos centros de descarga e, ainda, a integração dos produtos da pesca na Rede Nacional do Frio, cujo delineamento, pelo Ministério da Economia, é previsto para os primeiros anos deste III Plano
O programa obedece ao esquema seguinte
As instalações do porto de pesca de Lisboa e as de Matosinhos, cuja capacidade frigorífica é, respectivamente, de 11 000 m3 e 12 600 m3, servirão de base à distubuição do pescado, pois só nesses dois portos se podem descarregar com facilidade e armazenar convenientemente grandes quantidades de peixe Aqueles portos passarão a assegurar o abastecimento dos grandes centros urbanos do País, denominados «centros principais», donde partirão circuitos menores para outros pontos do continente, designados por «centros secundários» e que correspondem, em geral, às cidades e vilas.
O programa prevê ainda a utilização de transportes frigoríficos e isotérmicos e de peixarias itinerantes automóveis para melhorar as actuais condições de distribuição ambulante do pescado, tanto no que se refere a preces como, muito especialmente, às condições hígio-sanitárias.

§ 3.º Medidas de política

22. O facto de Portugal estar integrado nos grandes blocos económicos ocidentais determina, no que respeita à, pesca, ter de se caminhar para uma declarada política de expansão, sem, contudo, se perder de vista a satisfação da procura de pescado no mercado interno, a qual, sendo uma das maiores da Europa, se prevê susceptível de aumentar nos próximos anos, dado que aquele produto constitui fonte acessível de alimentos ricos em matéria proteica. Tal política deverá basear-se principalmente no desenvolvimento da produção de pescado fresco e congelado, para satisfação do consumo interno, e de uma procura que se acentua, por parte dos mercados externos.
Quanto ao consumo interno, deverá ainda atender-se ao projectado desenvolvimento da indústria conserveira.
A exportação de pescado fresco ou congelado proveniente das pescas costeiras só é de encarar na medida em que o desenvolvimento destas não afecte sensivelmente a conservação dos recursos, e desde que as quantidades a exportar possam ser substituídos pelas produções das pescas longínquas

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A concretização desta política implica à adopção de um conjunto de medidas, entre as quais se salientam as seguintes,

Desenvolvimento e modernização das frotas de pesca e incremento da produtividade da actividade piscatória, designadamente através de estímulos financeiros ao reequipamento e reestruturação empresarial.

Apoio aos vários sectores da investigação,
Criação de empresas que associem interesses dos actividades radicadas nos várias parcelas do território nacional, de forma a obterem-se bases nas localizações reputadas mais convenientes à integração económica e consequente aproveitamento das potencialidades disponíveis

§ 4.º Investimentos e projectos

23. A fim de tornai possível a realização dos objectivos enunciados no § 2.º deste capítulo, programaram-se os investimentos a seguir descriminados, os quais, totalizando 1 862 000 contos, representam uma parcela do montante global que se prevê venha a ser investido no sector da pesca durante a vigência deste III Plano.
Além dos investimentos a cargo dos armadores e de empresas privadas, outros se propõem para desenvolver as infra-estruturas científica e técnica e para melhorar o actual sistema de distribuição e comercialização do pescado

24. Os investimentos a realizar no período de 1968-1973 são os que a seguir se indicam,

Investigação e assistência técnica
Contos

Instalações e apetrechamento do Instituto de Biologia Marítima e do
Gabinete de Estudos das Pescas e Estação de Tecnologia ......20 000
Construção e equipamento de um navio de pesquisas de 400 tAB e 25 m..15 000

Pesca de arrasto

Construção de dez arrastões congeladores de 1750 tAB e 1000t de carga 500 000
Construção de dois navios transportadores frigoríficos . 120 000
Construção de quinze arrastões costeiros de 200 tAB 120 000
Construção de cinco arrastões de 120 tAB, para a pesca de crustáceos 40 000
Construção de seis navios lagosteiros 86 000
Transformação de sois arrastões em congeladores . . 60 000
Instalações de refrigeração nos porões de dez arrastões ..... 50 000

Apoio à pesca longínqua

Instalações e equipamento para congelação e armazenagem do pescado 100 000

Pesca do atum

Construção de seis embarcações tipo Baby-Clipper ... . 18 000
Construção de seis atuneiros congeladores de 400 tAB e 250 t de carga 150 000

Pesca da sardinha

Construção de doze traineiras, substituição de cascos ou motores e
aquisição de aparelhagem de detecção de cardumes . . 80 000
Instalação de aladores mecânicos . 50 000

Pesca do bacalhau

Construção de três arrastões de 2800 tAB . . 165 000
Construção de um navio long liner 80 000
Construção de quatro unidades para a pesca em parelha . . 100 000 Recondicionamento de arrastões em serviço ... 80 000
Conversão de navios de linha em arrastões ...... 80 000

Pesca local e artesanal

Motorização e reparação de embarcações e renovação de apetrechos
de pesca ..... 12 000

Exploração de ostras e outros bivalves

Parques de criação de ostras e outros bivalves . .... 4 000
Instalações de depuração e afinação 5 000

Instalações de tratamento de pescado

Melhoramento das instalações de secagem do bacalhau 10 000
Melhoramento das instalações para aproveitamento de cetáceos 1 000
Construção de viveiros para lagostas 6 000

Comercialização do pescado

Instalações frigoríficas portuárias 30 000
Rede de frio interna 40 000

Instalações de venda nos portos de descarga 40 000
1 862 000

25. O total de 1 862 000 contos a investir no período de 1968-1978 será financiado pelo Orçamento Geral do Estado (420 000 contos), por bancos comerciais e entidades particulares, mediante a tomada de obrigações a omitir pelo Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca (600000 contos), por crédito externo (376 000 contos) e por autofinanciamento privado (466 000 contos).
A comparticipação do Orçamento Geral do Estado corresponde ao valor total das Amortizações vincendas no período de 1968-1973, respeitantes às obrigações emitidas pelo Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca e tomadas pelo Estado.

26. Não se prevê qualquer dificuldade, por parte dos estaleiros nacionais, no que respeita à construção das unidades programadas. Tendo já sido definida orientação no sentido de se prosseguir uma política de normalização dos unidades de pesca, a execução dos trabalhos de construção naval ficará facilitada e o seu custo diminuído

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CAPITULO III

Indústrias extractivas e transformadoras

SECÇÃO I

Programação geral

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. As indústrias extractivas e transformadoras contribuíram com 48 por cento, a preços de 1963, para o acréscimo do produto nacional bruto, no período de 1958-1965 Merco desse incremento, a sua representação no referido agregado subiu naquele período de 22 para 34 por cento.
Numa análise mais pormenorizada, deve distinguir-se a evolução sofrida pelas indústrias extractivas da verificada nas transformadoras, muito embora tendam a acentuar-se as relações de interdependência entre elas.

2. No passado recente, o nível de actividade da indústria extractiva foi influenciado adversamente pelas oscilações das cotações de minérios no mercado mundial.
Em consequência dessas oscilações, o valor bruto da produção de substâncias concessíveis a preços correntes passou da média de 490 000 contos no triénio de 1953-1955 para cerca de 880 000 contos em 1963-1965. A extracção de substâncias não concessíveis, impulsionada pelo desenvolvimento das indústrias transformadoras de minérios não metálicos, que as utilizam como matéria-prima, e pela procura externa de mármores em bruto, tem vindo a expandir-se com firmeza.
A produção daquelas substâncias em 1965 é estimada ao redor de 700 000 contos, embora os dados estatísticos oficiais refiram valores substancialmente inferiores. Correspondendo-lhe mais de 60 por cento da produção extractiva total e descendo a produção de substâncias não concessíveis em estreito paralelo com o desenvolvimento da indústria transformadora de produtos minerais não metálicos, que registou a taxa de expansão de 7,4 por cento em 1958-1965, é lícito afirmar que o sector, no seu conjunto, se tem desenvolvido nos últimos anos a ritmo elevado.
Volume considerável das substâncias minerais extraídas escoa-se nos mercados externos (100 por cento dos minérios de chumbo e zinco, 75 por cento do tungsténio, 50 por cento da pirite e do manganês, 40 por cento do mármore em bruto e do feldspato, 30 por cento do quartzo). A já aludida quebra de cotações fez descer a exportação de 592 000 contos em 1953 para 321 000 contos em 1965 Concomitantemente, operaram-se importantes alterações, devido à subida de peso relativo das substâncias não concessíveis, designadamente o mármore em bruto. Em 1953, as substâncias concessíveis dominavam a exportação com 580 000 contos, apenas cabendo às não concessíveis o escasso valor de 12 000 contos, ao passo que, decorridos doze anos, o valor exportado de umas e outras - 167 000 contos e 157 000 contos, respectivamente - quase se igualou. No período em análise, não foram apenas as condições de mercado que sofreram alterações, mas também os factores que condicionam a economia da produção, com particular relevo para a disponibilidade de mão-de-obra não qualificada. A queda do volume de emprego no sector, de 41 000 pessoas em 1953 para 28 500 em 1965, reflecte à evolução plural já assinalada para a produção e exportação e a subida de salários para níveis justificativos de maior mecanização.
O exame das reservas existentes indica a possibilidade de impr mu ao sector elevado ritmo de crescimento durante este III Plano, se se confirmar em as tendências recentes quanto à evolução dos mercados externos e forem levadas a cabo algumas iniciativas de grande envergadura, actualmente em fase de preparação de projecto ou de execução de estudos de pré-investimento. Todavia, no que respeita às possibilidades de concorrência externa da nossa indústria, convirá não esquecer a precariedade das estimativas que neste momento se fazem sobre os níveis de certos preços e outros parâmetros definidores da situação do mercado, sujeitos a amplas flutuações por força do jogo do volume de existências e da oferta maciça de produtores e negociantes, do aparecimento de produtos de substituição, da especulação comercial e de factores de ordem política. Nestas condições, não deverá estranhar-se se as perspectivas agora antevistas não vierem a ser confirmadas.

3. A indústria transformadora cresceu à taxa de 8,8 por cento no período de 1953-1965. Este ritmo médio foi excedido, ao nível dos sectores industriais, pelas metalúrgicas do base (16,2 por cento), produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e material de transporte (£1,5 por cento), transformadoras diversas 1 (11 por cento) e borracha, químicas e petróleo (10,2 por cento). Abaixo do incremento médio relativo situaram-se os produtos minerais não metálicos (7,5 por cento), os têxteis, vestuário e calçado (8,4 por cento), a madeira, cortiça e mobiliário (4,4 por cento) e as alimentares, bebidas e tabaco (5,3 por cento).

QUADRO I

Taxas de crescimento e posição relativa das indústrias transformadoras

[Ver quadro na imagem]

Fonte. Elementos da contabilidade nacional fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística

Parece oportuno estabelecer, por um lado, a comparação entre a estrutura industrial do País e a da E. F.T.A. e Mercado Comum e, por outro, entre aquela estrutura e a da Europa Mediterrânica,2 Obtêm-se, assim, dois termos de referência, o primeiro reflectindo, de certo modo, a possível configuração do futuro e o segundo

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1 Inclui os classes do papel e artigos do papel, curtumes, imprensa e artes gráficas e outras
2 Excepto a Itália

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produtos para os quais as províncias ultramarinas representam 50 por cento ou mais do total dos mercados de exportação À forte concentração da exportação nos mercados ultramarinos verifica-se em torno de produtos de actividades transformadoras características dos estádios iniciais da industrialização, não podendo considerar-se satisfatória a parte relativa aos produtos associados à complementaridade, a mais largo prazo, das economias da metrópole e do ultramar
Por outras palavras a exportação para o ultramar terá de evoluir em virtude da industrialização de territórios como Angola e Moçambique, visto muitos dos seus componentes serem artigos cuja importação virá a ser substituída rapidamente pela produção local, afigurando-se pouco relevantes os artigos cuja procura será complementar desse esforço de industrialização.
Se, por um lado, o desenvolvimento do ultramar virá a fechar alguns mercados, por outro, abrirá novas oportunidades O desenvolvimento tenderá a efectuar-se no sentido de actividades mais categorizadas na hierarquia do processo de industrialização, o que deve considerar-se benéfico para os interesses das economias metropolitana e ultramarina.
Assim, é de prever a redução de actividades com algum relevo, mas a exportação para o ultramar continuará provavelmente a crescer em valor absoluto, devido à criação de novos mercados.

5. Para a correcta apreciação da situação actual e das perspectivas da indústria transformadora, importa ainda referir a falta de capacidade concorrencial que numerosas unidades revelam, a par de outras perfeitamente competitivas que têm vindo a ser montadas e nada ficam a dever às suas congéneres estrangeiras Decorridos apenas três anos sobre a elaboração do Plano Intercalar, permanecem validos em larga medida alguns elementos fundamentais do diagnóstico então feito, que seguidamente se resumem.
Predomínio acentuado de unidades de pequena dimensão, com fabricos muito diversificados, voltadas quase exclusivamente para o mercado interno o defendidas da concorrência externa pela protecção pautal.
Dificuldades crescentes no recrutamento de mão-de-obra especializada em muitas categorias profissionais.
Baixo nível de conhecimentos de gestão, de capacidade técnica e de mentalidade industrial em muitos sectores industriais, dificultando a colocação dos produtos nos mercados externos;
Abastecimento de certo modo oneroso quanto a algumas matérias-primas e, em relação a diversos sectores da produção, custos relativamente mais elevados de energia e combustíveis
Inexistência de normas de fabricação e de padrões de qualidade e controlo desta para a maioria dos produtos fabricados.
A estes pontos outros devem acrescentar-se, como os que dizem respeito às dificuldades de financiamento dos investimentos, da produção corrente e das exportações, ao carácter incipiente da investigação tecnológica e à falta de organizações públicas e particulares destinadas a promover novas iniciativas de desenvolvimento industrial e a apoiar a actividade das empresas em funcionamento
1 Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, Lisboa, Imprensa Nacional, vol. I, pp 282-288.

§ 2.º Objectivos

6. O desenvolvimento industrial tem sido o principal motor do crescimento económico português nos últimos quinze anos, e, para o futuro, é ainda à industrialização que terá de pedir-se o contributo decisivo paia a obtenção de elevados ritmos de crescimento e rápida melhorar do nível de vida da generalidade da população - objectivos fulcrais deste III Plano.
Mas o enunciado das finalidades que hão-de orientar o desenvolvimento industrial no período do Plano assenta em alguns pressupostos e directrizes de base que cumpre explicitar desde já.
A primeira directiva resulta de princípios consagrados em leis fundamentais do País e diz respeito à posição do Estado e ao papel da iniciativa privada no nosso sistema económico e social De harmonia com esses princípios, cabe essencialmente àquela iniciativa, considerada como o "mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação" (Estatuto do Trabalho Nacional, artigo 4 º), ou seja às empresas privadas, a responsabilidade pelo desenvolvimento do sector industrial, na medida em que a elas compete escolher e realizar os investimentos e decidir sobre os planos de produção Ao Estado pertence, por seu turno, apontar os rumos desejáveis para a expansão do sector e criar as condições institucionais que permitam orientar e incentivar os empresários, de modo que as realizações destes se aproximem tanto quanto possível dos objectivos propostos Para esse efeito, cumpre aos Poderes Públicos adoptar medidas de política industrial adequadas, isto é, providências legais e administrativas com vista a assegurar as referidas condições e estímulos; mas não lhes cabe, em princípio, uma acção directa na concretização dos programas de desenvolvimento Assim, o que 2, Plano se inscreve como taxas de crescimento previstas para o sector, bem como as projecções do investimento, constituem elementos indicativos e orientadores da iniciativa privada, de quem se esperam confiadamente as acções positivas no sentido de se alcançarem as metas programadas.
A segunda orientação de base refere-se à necessidade de preparar a indústria nacional para enfrentar o embate resultante do movimento de integração económica europeia Segundo compromissos já assumidos, Portugal deverá, dentro de poucos anos, concorrer, em paridade de condições, com países mais industrializados Beneficiará de mercados muito mais vastos, mas, em contrapartida, sofrerá a ameaça de uma concorrência cuja dimensão não tem paralelo na experiência pretérita. Impõe-se, assim, como exigência vital, a difusão de uma mentalidade industrial voltada sobretudo para o exterior e para a conquista de novos mercados, abertos à livre circulação das mercadorias.
Finalmente, nas presentes circunstâncias, é imperioso assegurar o máximo aproveitamento das estruturas existentes, procurando obter delas a mais alta produtividade, pela racional utilização dos factores disponíveis Isto não significa, no entanto, que a indústria deva desinteressar-se da actualização e aperfeiçoamento da sua orgânica estrutural, designadamente no que se refere ao dimensionamento mais económico das suas unidades e empresas O Estado continuará a dar todo o apoio ao seu alcance a tais iniciativas, de harmonia com os princípios acima expostos.

7. As perspectivas que os mercados europeus abrem à actividade nacional conjugam-se com alguns factores

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propícios à obtenção, nos próximos anos, de fortes taxas de crescimento do produto industrial A realização de alguns empreendimentos a escala desses mercados permitirá alcançar, em diversos sectores, substanciais incrementos relativos, e o aproveitamento de reservas dá produtividade latentes na grande maioria das empresas também poderá conduzir a notável expansão, pelo alargamento dos mercados em que essas empresas se mostrem competitivas.
São objectivos deste III Plano a aceleração do desenvolvimento industrial, pela promoção de novos empreendimentos de pi ovada capacidade concorrencial, e o fortalecimento do poder competitivo das unidades actualmente em laboração, bem como a criação de condições de elevado ritmo de crescimento para além do III Plano, mediante os investimentos intelectuais necessários para que no País se possam gerar e difundir os conhecimentos que estuo na base das modernas sociedades industriais.
Trata-se de estimular novas iniciativas, orientar os recursos, nomeadamente financeiros, para os empreendimentos de maior e mais rápida reprodutividade, impedir práticas restritivas prejudiciais ao desenvolvimento económico, reorganizar, dinamizar e coordenar as intervenções do sector público na orientação do desenvolvimento industrial.

8. Relativamente às indústrias extractivas, as projecções elaboradas pelos serviços competentes, de acordo com os estudos próprios e a colaboração prestada pelos empresários, indicam a possibilidade de se obter, durante este III Plano, a taxa de crescimento de cerca de 11 por cento paia o valor bruto da produção, embora este ritmo dependa da confirmação das tendências de evolução do mercado mundial e da concretização da exploração do jazigo de Moncorvo Os resultados a que se chegou sintetizam-se nos dois quadros seguintes (quadros II e III).

QUADRO II

Projecções da indústria extractiva por actividade no período de 1968-1973 (Valores em contos, referidos a 1963)

[Ver tabela na imagem]

QUADRO III

Investimentos previstos

[ver tabela na imagem]

9. Quanto à indústria transformadora, os objectivos A que se subordina este III Plano foram estabelecidos em estreita colaboração com o sector privado, através da larga representação que lhe foi assegurada no grupo de trabalho respectivo.
Como já se referiu, o ritmo de crescimento anual observado no período de 1958-1365 foi de 8,8 por cento Os trabalhos preparatórios deste III Plano revelaram a possibilidade de melhorar aquela taxa Assim, afigura-se possível fixar a expansão anual de 9 por cento como objectivo desejável a alcançar no hexénio que termina em 1973 Este objectivo poderá vir a ser ultrapassado, mas a prudência aconselha a toma-lo como referência enquanto não se conhecerem os resultados das medidas de política industrial tendentes a criar, como há pouco se apontou, condições favoráveis a iniciativa privada e que são enunciadas nas linhas seguintes deste capitulo.
Para esse efeito, as indústrias metalomecânicas produtoras de bens de equipamentos, os ramos novos da indústria química, as actividades transformadoras de produtos agrícolas e silvícolas que mais rapidamente possam contribuir para a desejada reestruturação do sector primário e a indústria têxtil devem considerar-se prioritários. As empresas que neste domínio se proponham acções de expansão ou de aumento de competitividade, de acordo com condicionalismos específicos a fixar nos programas.

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anuais de execução do Plano, terão preferência na concessão dos incentivos e estímulos previstos para o apoio ao desenvolvimento industrial Poderão ainda beneficiar de prioridade, sempre em termos a definir nos programas anuais, as iniciativas de diversificação ou de reconversão a que se reconheça interesse.
No condicionalismo a estabelecer para a concessão do regime prioritário, atender-se-á sobretudo à reprodutividade dos investimentos, em termos de contribuição para o produto e para a exportação.

10. As projecções do produto da indústria e a sua estrutura em 1978 constam do quadro IV e foram obtidas a partir dos seguintes elementos estudos conduzidos sectorialmente e a nível horizontal pelo Grupo de Trabalho da Indústria; decisões tomadas em matéria de política industrial, e participação que, nos estudos de planeamento global, foi atribuída à indústria no incremento do produto nacional.
Como já se referiu no Plano Intercalar, o crescimento das diferentes actividades industriais processar-se-á a ritmos muito diversos, determinados fundamentalmente pela natureza dos diferentes sectores, pelo seu papel estratégico, pelas suas modalidades e pelas tendências do passado recente As respectivas taxas de descimento são coerentes com a de 9 por cento fixada para a totalidade da indústria transformadora e confirmam a sua possibilidade.

QUADRO IV

Projecção do produto e estrutura da Indústria transformadora

[ver tabela na imagem]

11. A indústria da alimentação e das bebidas aparece com a taxa de crescimento de 6 por cento, igual à que se previa para o Plano Intercalar e um pouco superior à verificada no período 1958-1965.
Dentro das prioridades fixadas, as acções a desenvolver no domínio do sector primário aparecem secundadas pela industrialização dos seus produtos, o que permitirá realizar a taxa de acréscimo de 6 por cento admitida.
A percentagem desta actividade na formação do produto da indústria baixará para 7,9 em 1978, devido ao desenvolvimento favorável que deverão tomar os outros ramos industriais num estádio mais evoluído.

12. O Grupo de Trabalho (Subgrupo das Indústrias Têxteis) indica que, para o conjunto do sector têxtil e do vestuário, é de admitir, durante o Plano, um crescimento à taxa anual média de 5 por cento (limite inferior de 4 por cento e superior de 6 por cento) Adoptou-se a taxa de 5 por cento recomendada pelo sector, dado a situação actual não ser favorável a previsões mais optimistas Também o peso deste ramo no produto industrial acusa a evolução conveniente, baixando para 16,1, em confronto com 25,9 e 22,8, respectivamente, em 1965 e 1958.

13. As indústrias da pasta, papel e cartão, imprensa e artes gráficas cresceram, no período de 1953-1965, à taxa de 8,5 por cento Previu-se que no período do Plano Intercalar este crescimento sofresse aceleração, passando para 17 por cento A sua posição no produto industrial foi de 4,4 por cento e 5 por cento, respectivamente, em 1958 e 1965, e será de 5,6 por cento em 1967. O Subgrupo de Trabalho que se ocupou desta actividade apre(...)

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sentou previsões que constam do relatório sectorial e que classificou de modestas Efectivamente, tendo em consideração que nesse mesmo trabalho se admitia poderem alguns novos projectos ter escapado à apreciação, procedeu-se à extrapolação desagregada das tendências de crescimento das várias actividades, que se ajustaram em conformidade com a informação do Subgrupo, tendo-se chegado à taxa de 13,4 por cento para o seu crescimento Nesta conformidade, o peso deste grupo na produção industrial em 1973 será de 7,1 por cento.

14. As indústrias químicas e dos derivados do petróleo e do carvão não acusaram no passado taxa de crescimento que as conduzisse a nível satisfatório, dentro de uma estrutura industrial que se pretende modernizar.
Aos estudos conduzidos na especialidade, e que constam do respectivo relatório, se remete a apreciação do panorama que se antolha para a indústria química nos próximos seis anos, com base nos projectos, anteprojectos e ideias de desenvolvimento que foi possível estabelecer.
Das conclusões dos referidos trabalhos e do facto de se considerar prioritário este ramo do produção industrial resulta ter-se adoptado como taxa de crescimento da indústria química e dos derivados do petróleo e do carvão a de 9,5 por cento; a sua participação no produto industrial será de 9,3 por cento, o que representa um avanço no bom sentido, embora em medida ainda insuficiente
Dado o esclarecimento do problema e as atenções que para ele ficam dirigidas, é de admitir que nos programas anuais possam ser previstos progressos mais significativos.

15. A indústria dos produtos minerais não metálicos acusou, no período de 1953-1965, a taxa de crescimento de 7,5 por cento O Subgrupo de Trabalho respectivo fez o estudo da projecção, para 1973, do produto, do investimento e do emprego neste subsector, e admitiu que a taxa de expansão do produto para o período de 1968-1973 se possa fixar em 8 por cento O incremento da construção comanda o desenvolvimento desta actividade.
A exportação tem especial influência na produção manual de vidro e cerâmica artística e na dos mármores trabalhados.

16. As indústrias metalúrgicas de base acusaram no período de 1953-1965 taxa de acréscimo espectacular, devido à instalação da Siderurgia Nacional, cujo peso neste subsector foi relevante, melhorando assim a sua participação no produto industrial de 1,6 por cento, em 1958, para 3,6 por cento, em 1965.
A evolução continuará a ser dominada pela expansão da unidade siderúrgica do Seixal, já porque ela prepondera na estrutura do subsector, já porque o seu descimento é substancialmente superior ao dos restantes, devendo atingir em 1973 a produção de l milhão de toneladas de aço bruto Espera-se que o crescimento se processe, entre 1965 e 1973, à taxa média anual de 17 por cento.
Na indústria de fundição de metais ferrosos admitem-se, no mínimo, aumentos anuais de produção de 10 por cento, o que representa a manutenção da tendência actual.
Quanto às restantes actividades, somente se poderá adiantar uma quantificação na laminagem do zinco, com a estimativa de acréscimo global da produção, até 1973, de 50 por cento em relação ao actual.

17. As indústrias dos produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e material de transporte são projectadas, em conjunto, à taxa de 12 por cento, atingindo em 1973 o peso de 30,5 por cento no produto industrial. O estudo destas actividades foi feito separadamente por três subgrupos de trabalho, cujos estudos concorreram para admitir como possível a referida taxa de 12 por cento, se as medidas de promoção industrial a aplicar prioritariamente a este subsector não forem descuradas.

18. As restantes indústrias transformadoras, pelo seu carácter residual, apresentam extrema heterogeneidade, impossibilitando uma análise de conjunto
As indústrias da madeira e mobiliário de madeira, cortiça, borracha e matérias plásticas, calçado e tabaco preponderam pelo valor da sua produção, condicionando o crescimento global, que se prevê seja realizado à taxa média anual de 9 por cento.
O tabaco, a borracha e as matérias plásticas serão os sectores mais dinâmicos

19. À estimativa da formação bruta de capital fixo no período do Plano foi deduzida dos objectivos de produção por duas vias diferentes, mas complementares
Pediu-se aos subgrupos, especializados do Grupo de Trabalho da Indústria, nos quais se deu ampla representação às entidades privadas, que indicassem os investimentos correspondentes aos projectos que previam realizar no período do Plano ou que resultariam da previsão de desenvolvimento esperada paia cada sector.
As informações colhidas por esta via, das quais se extraiu um resumo que se inclui neste texto, foram de valor variável, segundo os sectores Constituíram todas útil material do trabalho, mas a sua comparação com os valores das projecções deve fazer-se com certas reservas.
Compreende-se a dificuldade de alguns sectores darem indicações relativas aos últimos anos do período do Plano, nesta altura em que a conjuntura não é favorável e a evolução é imprevisível.
O valor do investimento programado para o período de 1968-1973, relativo a cada grupo de indústrias, como consta da coluna 4 do quadro v, foi obtido por coeficientes capital-produto que se aplicaram à sua contribuição paia o produto nacional em termos de acréscimo do valor acrescentado durante aquele período Os coeficientes capital-produto determinaram-se a partir de séries de doze anos (1953-1964), fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística nos seus elementos da contabilidade nacional.
O total de investimentos obtidos por esta via atinge 53,1 milhares de contos, valor a ser tomado como elemento indicativo, admitindo-se que a taxa de 9 por cento de acréscimo do produto da indústria possa ser atingida com investimento inferior Para esse efeito, considera-se a possibilidade de melhor aproveitamento das infra-estruturas e equipamentos instalados.
Entretanto, é difícil determinar com suficiente precisão, para os diferentes ramos de indústria, a rentabilidade dos investimentos, sobretudo porque estes, além de se destinarem ao acréscimo da produção, têm também em vista aumentos de competitividade, através da melhoria de qualidade e preço Este último aspecto, de especial relevo, visto que durante o período do Plano a indústria deve preparar-se para enfrentar uma concorrência sem precedentes, é de ter particularmente em atenção quanto ao tipo de investimentos.
Nos programas anuais de execução do Plano caberá introduzir as correcções nos coeficientes capital-produto que as circunstancias indiquem, designadamente as que resultem da evolução estrutural e tecnológica da indústria.

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QUADRO V

Formação bruta de capital fixo (milhares de contos) (Comparação dos Investimentos em planos de fomento anteriores)

[ver tabela na imagem]

20. Referem-se seguidamente algumas indicações recebidas dos sectores

O sector das indústrias de alimentação e bebidas m-d.ca no seu relatório os seguintes investimentos, pelos diversos ramos de actividade, no total de 1 015 000.

[ver tabela na imagem]

Em relação a estes valores, foram feitas as seguintes restrições.
Para as massas alimentícias e conservação de frutos e produtos hortícolas, os investimentos referem-se apenas aos três primeiros anos do Plano, para a fabricação de malte e cerveja, o investimento reporta-se a melhorias de condições de transporte, dependendo os restantes investimentos das condições conjunturais.
Aponta ainda expressamente o relatório um tipo de investimento, a que atrás se fez referência, relativo à indústria de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, e a das águas mineromedicinais, que, para diminuírem a mão-de-obra e melhorarem o seu nível tecnológico, deverão reequipar-se com maior mecanização, não se indica, entretanto, qualquer estimativa para este investimento.
O sector das indústrias têxteis e de vestuário insere no relatório uma estimativa das necessidades de investimento em máquinas, excluindo os edifícios e instalações. O seu valor global é de 6 300 000 contos, assim distribuídos

[ver tabela na imagem]

Prevê-se a participação da indústria metalomecânica nacional nestes fornecimentos, da ordem dos l 200 000 contos.
Para as indústrias de pasta para papel, papel e tipografia, inclui o respectivo relatório, para a totalidade do investimento a efectuar no período do Plano, o valor de 3 797 950 contos, admitindo que possa ser excedido, na medida em que apenas inclui os projectos de que havia conhecimento naquela data.
A sua distribuição durante os seis anos do Plano fez-se da forma seguinte

[ver tabela na imagem]

Os estudos levados a efeito pelo Subgrupo da Indústria Química e dos Derivados do Petróleo e do Carvão conduziram às seguintes previsões, para o período de 1968-1973.

Projectos de investimentos Indústrias químicas

Indústrias químicas básicas, incluindo adubos, produtos químicos inorgânicos e ácido sulfúrico, amoníaco e gases industriais

[ver tabela na imagem]

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Na indústria dos minerais não metálicos, os estudos realizados permitiram programar os seguintes investimentos.

[ver tabela na imagem]

Entrando em linha de conta com possíveis correcções a introduzir nas modalidades referidas e considerando ainda algumas não incluídas na relação anterior, foi estimado o montante global de investimentos, para o período de 1968-1973, na ordem dos 2 500 000 contos, o que coincide com a programação do quadro IV.
Não se tem conhecimento de dificuldades na obtenção de capitais para investimento, nem de projectos devidamente elaborados do ponto de vista técnico e económico, aos quais tenham sido recusados financiamentos.
Na indústria vidreira, as fontes de financiamento foram as reservas, o aumento de capital por incorporação das mesmas e os suprimentos dos sócios.
Os investimentos previstos pelo sector das indústrias metalúrgicas de base referem-se apenas a algumas unidades fabris de que se conhecem os planos de expansão, e são os seguintes.

[ver tabela na imagem]

Quanto ao conjunto do sector de produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e de transporte, as informações directas foram muito limitadas. Na fabricação de máquinas não eléctricas apenas se releva o investimento de 450 000 contos numa importante actividade prioritária - a indústria de máquinas-ferramentas
Na indústria de material eléctrico, o investimento foi estimado em 3 190 000 contos, assim distribuídos.

[ver tabela na imagem]

A indústria de material de transporte avalia as suas necessidades de investimentos em 472 000 contos, destinando-se 172 000 contos à construção naval e 800 000 contos aos restantes sectores.
Sintetizam-se no quadro VI os investimentos referidos directamente pelos Subgrupos da Indústria Transformadora.

QUADRO VI

Investimentos referidos directamente pelos Subgrupos da Indústria Transformadora

[ver tabela na imagem]

§ 3.º Medidas de política

21. Fará alcançar a meta fixada ao sector industrial, torna-se indispensável todo um conjunto de providências, algumas das quais competem à Secretaria de Estado da Indústria e outras dizem respeito a diversos departamentos, tais como as que se relacionam com o financiamento e a tributação (Ministério das Finanças), com a comercialização, nomeadamente as exportações (Secretaria de Estado do Comércio), com a intensificação e alargamento dos meios de ensino (Ministério da Educação), com a formação profissional acelerada e a execução. Incluindo cerca de 4 milhões de contos de anteprojectos referentes á indústrias químicas, mas excluindo cerca de l milhão de contos relativos a ideias de desenvolvimento apresentadas para as mesmas actividades.

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cução de uma política activa de mão-de-obra (Ministério das Corporações e Previdência Social), com as infra-estruturas de transportes e comunicações (Ministérios das Comunicações e da Marinha) e, ainda, com os esquemas de política social (Ministério das Corporações e Previdência Social) Esta multiplicidade de factores e incidências do desenvolvimento industrial deverá ser cuidadosamente harmonizada no quadro da execução do Plano Nos capítulos respectivos vão indicadas as medidas de política financeira, comercial, educacional, social e de transportes que interessam, em maior ou menor escala, a realização da política industrial aqui exposta.

22. No que se refere à indústria extractiva, o levantamento de cartas geológicas e minerais, a identificação de zonas favoráveis a determinados tipos de mineralização de valor económico, a prospecção geológica, geofísica e geoquímica de áreas prometedoras, a resolução de problemas mineiros fora do alcance do concessionário comum, o estudo das características e distribuição geográfica das substâncias minerais úteis, o esclarecimento de produtores e consumidores sobre as possibilidades de substituição de produtos minerais importados por produtos nacionais, a avaliação de reservas dos minerais mais importantes suo pontos em que a acção oficial continuará a incidir Também serão desenvolvidos os serviços comuns de fiscalização e assistência aos trabalhos de minas e pedreiras, de higiene e segurança e de estatística.
A Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos será reorganizada e dotada dos meios necessários para poder fiscalizar e orientar todos os trabalhos de investigação, prospecção e exploração mineira, bem como os de actualização de cartas geológicas.
No campo da produção, dedicar-se-á especial cuidado ao lançamento de novos empreendimentos, desde que baseados em estudos que demonstrem a sua viabilidade económica, em ligação com o desenvolvimento de outras indústrias À exportação directa das substâncias minerais será substituída, sempre que possível, pelo seu processamento em instalações fabris nacionais Dentro destas orientações, estudar-se-á o melhor aproveitamento das reservas minerais reconhecidas, nomeadamente de ferro, pirite e sal-gema, e estimular-se-á a prospecção de novos jazigos.
Tem sido - e continuará a ser - política oficial a de que ao Serviço de Fomento compete apenas a definição de áreas favoráveis e a sua prospecção e pesquisa até ao momento em que se manifeste o interesse das empresas cabendo sempre a estas a exploração industrial dos jazigos descobertos.
Com a obrigação expressa da transformação dos produtos minerais que vierem a ser encontrados e o direito do Estado a uma comparticipação nos benefícios das explorações, foram já dados exclusivos de pesquisa a entidades privadas em largas áreas do Alentejo, com condições favoráveis à ocorrência de mineralizações, especialmente de pirites, havendo fundadas esperanças de que os resultados se traduzam em realidade de marcado interesse no campo mineiro e até no da indústria em geral Outras áreas cativas poderão ser outorgadas em condições idênticas a empresas de reconhecida idoneidade que se disponham a proceder a pesquisas mineiras no território metropolitano.
Como já vão passados os tempos em que se podia esperar dos simples registos, possíveis a todos, a descoberta e criação de novas unidades mineiras, alargar-se-á, no futuro, a realização de pesquisas em áreas cativas a empresas, nacionais ou estrangeiras, que disponham dos vastos capitais, da técnica e do acesso aos mercados exigidos pelo objectivo do melhor aproveitamento da nossa riqueza mineira.
E porque não se prevê que o capital nacional possa suprir as necessidades do sector, continuará justificada a política de atracção de capitais estrangeiros Às isenções definidas no recente Código da Contribuição Industrial já traduzem essa tentação Ela deverá manter-se e até reforçar-se, se assim o aconselhar a evolução das condições de desenvolvimento do sector.
Outro aspecto importante para o desejado incremento da indústria extractiva diz respeito às concessões mineiras inactivas E necessário aplicar as sanções previstas na lei aos concessionários que não trabalham as minas, por incapacidade manifesta ou espírito de especulação Contam-se por mais de 1000 as concessões não produtivas e são frequentes as situações de impedimento do seu estudo e valorização por entidades idóneas, em resultado da falta de colaboração dos detentores dos respectivos alvarás A consciência da missão do concessionário como responsável por uma quota-parte da produção nacional é ponto da maior importância.
No elenco das medidas previstas por este III Plano, inclui-se ainda a actualização da legislação referente a pedreiras e minas e a regulamentação da Lei n º 2080, de 21 de Março de 1956, de modo a permitir a pesquisa de petróleo e gás natural na plataforma continental.

23. Muitos dos elementos do sistema funcional que tem orientado a indústria transformadora foram concebidos para fazer face aos problemas postos pelo início do processo de industrialização.
Com o Plano Intercalar de Fomento anunciaram-se os primeiros passos para a revisão daquele sistema, e com a publicação do Decreto-Lei n º 46 666, de 24 de Novembro de 1965, definiram-se algumas linhas do rumo que se entendeu seguir em tal matéria. Este III Plano dá continuidade as orientações enunciadas com vista a criar o condicionalismo propício a intensificação do ritmo de acréscimo do nosso produto industrial.

24. Considerando os factores que impõem uma nova política de condicionamento industrial, o preâmbulo do citado Decreto-Lei n º 46 666 anunciou a intenção de assegurar a restrição progressiva, mas tão rápida quanto possível, do âmbito do condicionamento, substituindo uma decisão e uma responsabilidade do Estado em matéria que dominantemente importa a iniciativa privada e ao seu interesse pela própria decisão e pela própria responsabilidade dessa mesma iniciativa" Durante este III Plano será revista a legislação sobre o condicionamento industrial com o objectivo de concretizar esta orientação.
Como se sublinhou no referido preâmbulo, a revisão do regime do condicionamento industrial afigura-se inadiável por força da enorme transformação que nos últimos anos se verificou, quer no potencial industrial do Pais - fruto da política seguida e da nova mentalidade e capacidade dos empresários-, quer nas actuais e diferentes perspectivas das relações internacionais" No momento em que a indústria portuguesa tem de conseguir o alargamento substancial dos seus mercados através da exportação, sujeitando-se, em contrapartida, à progressiva concorrência estrangeira, carece de justificação, na maior parte dos casos, a aplicação de um instrumento preventivo concebido e posto em prática para proteger o início de um processo de industrialização voltado para o mercado interno.
Apesar de todas estas razões, não pode esquecer-se, contudo, que o regime do condicionamento industrial tem

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constituído trave mestra da política industrial portuguesa, e que o seu abandono repentino, sem as medidas cautelares adequadas, poderia causar graves perturbações.
Por isso, não pode efectuar-se bruscamente a liberalização do condicionamento industrial, mas é indispensável caminhar por adaptações graduais e sucessivas
Para algumas indústrias que deixem de ser abrangidas pelo regime de condicionamento serão publicados regulamentos de exercício, mas procurar-se-á evitar que tais regulamentos acarretem entraves artificiais a uma concorrência regular e bem ordenada ou imponham esquemas inadequados ao normal funcionamento do mecanismo dos preços For outro lado, evitar-se-á, tanto quanto possível, a imposição de normas tecnológicas rígidas acerca das características e apetrechamento das empresas dos ramos a considerar, salvo na medida em que essas normas sejam indispensáveis para garantir a qualidade apropriada dos produtos fabricados ou para evitar erros de concepção de novas unidades industriais, em escala perigosa para o equilibrado desenvolvimento da indústria nacional
Finalmente, entende-se acompanhar a alteração do regime de condicionamento de outras medidas de política industrial que mais adequadamente visem os objectivos que até agora têm sido a razão de ser daquele regime.
A este propósito importa recordar quais têm sido esses objectivos, para que, com base na bua enunciação, melhor se possam apreciar as medidas de substituição que convém adoptar Gomo é bem sabido, as razões mais relevantes normalmente apresentadas para justificar a vigência do condicionamento industrial têm sido
a) Evitar o sobre equipamento das instalações industriais e o desperdício de capitais em que esse sobre equipamento se traduz,
b) Garantir a confiança dos industriais contra os malefícios de uma concorrência desregrada, nomeadamente a que é exercida através de deterioração da qualidade dos produtos fabricados ou através de rebaixamento das normas de higiene, de segurança e de política social aplicadas em relação aos trabalhadores,
c) Orientar a localização dos novos estabelecimentos industriais em harmonia com as directrizes da política regional que o Governo deseja promover,
d) Permitir a disciplina das aplicações de capitais estrangeiros, evitando desnacionalizações inconvenientes em diversos ramos da indústria portuguesa,
e) Servir de instrumento de reorganização industrial, de forma a melhorar o nível técnico das instalações e a prevenir os insucessos de empresas concebidas sem suficientes bases técnicas ou garantias financeiras.

25. Afigura-se conveniente apreciar os fundamentos de cada uma destas razões e analisar até que ponto será possível adoptar medidas de substituição que proporcionem os resultados que até aqui se têm procurado conseguir com o condicionamento industrial.
l º Sobre equipamento e má aplicação de capital - Não se pode dizer que o condicionamento industrial tenha tido grande sucesso como meio de evitar o sobre equipamento das indústrias que abrange É bem sabido, com efeito, que muitos casos de capacidade excessiva se localizam precisamente nas indústrias condicionadas E é de admitir que o interesse em ascendei às posições privilegiadas, que a posse dos alvarás proporciona, possa ter sido exactamente uma das causas do sobre investimento em vários dos sectores condicionados
Por outro lado, o problema do equipamento excessivo e o da má aplicação de capitais que daí resulta perderam, como já se disse, muito da sua acuidade nas condições económicas que o País actualmente está a viver Quer isto dizer que, por virtude dos movimentos de integração económica europeia e pela necessidade de a indústria nacional exportar uma parte substancial da sua produção, os parâmetros do mercado interno, que até aqui serviam de orientação, perderam muito do seu significado E, de maneira geral, ressalvado o caso da utilização de matérias-primas nacionais escassas, não fará sentido falar-se de sobre equipamento em relação a industrias que vivam em grande pai te da exportação
Não se deve, contudo, esquecer que a insuficiente difusão de uma mentalidade industrial verdadeiramente progressiva é susceptível de conduzir a casos de imitação injustificada e a desperdícios de capitais que o País precisa de ver mais racionalmente aplicados Cumpre, na medida do possível, contrariar essas tendências Simplesmente, em vez de se usar um instrumento rígido, como o condicionamento industrial, o Estado pode lançar mão de algumas medidas orientadoras mais apropriadas aos princípios informadores do sistema económico português De entre essas medidas, deverá atribuir-se especial consideração às seguintes.
a) Preparação periódica de relatórios sobre a situação dos vários ramos da indústria no que respeita a equipamentos, mercados, perspectivas de evolução da produção, etc. ,
b) Recusa de quaisquer incentivos fiscais, de isenções aduaneiras e de facilidades de crédito, sobre os quais o Estado tenha intervenção, aos estabelecimentos fabris que pretendam instalar-se em sectores já suficientemente equipados,
c) Exigência da apresentação de projectos em que se analisem os mais relevantes aspectos técnicos e económicos das unidades de produção a instalar em determinados sectores.
2 Regularização da concorrência - Os argumentos sobre a regularização da concorrência em que o condicionamento industrial se tem apoiado estão também hoje substancialmente enfraquecidos pelo condicionalismo que os esquemas de integração económica europeia impõem ao nosso país Esses argumentos perdem muito da sua significação na medida em que o mercado nacional passe a estar mais aberto a concorrência externa e também, em parte, na medida em que as exportações terão necessariamente de passar a absorver proporção cada vez maior da produção industrial portuguesa.
No entanto, os riscos de desorganização da concorrência através da deterioração da qualidade dos produtos vendidos, ou através do desrespeito pelas normas sobre as condições de trabalho, têm de ser cuidadosamente evitados O condicionamento industrial terá dado alguma contribuição nesse sentido, mas não há dúvida de que os meios mais adequados são a generalização da imposição de normas de qualidade a um número de fabricos tão grande quanto possível e a rigorosa fiscalização do cumprimento dessas normas e das que se referem os condições de trabalho nos aspectos de segurança e higiene das instalações, salários, horários de trabalho, contribuições para a previdência, etc.
No que respeita à fiscalização do cumprimento das normas de trabalho, não haverá grandes inovações a introdu(...)

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(...) zir A situação pode considerar-se satisfatória por virtude da actividade dos serviços de inspecção dos Ministérios das Corporações, da Saúde e da Economia, e também, em parte, por influência da maior escassez de mão-de-obra que se tem feito sentir Alam disso, a correcção dos desvios porventura ainda existentes não levanta problemas de maior. Os organismos corporativos interessados poderão, a todo o tempo, chamar a atenção para os casos em que se imponham, com maior premência, medidas conectivas.
Já quanto e imposição de normas de qualidade aos produtos fabricados o caso é diferente, como adiante se dirá, estando previstas providências adequadas para acelerar o esforço de normalização.
As disposições agora referidas, complementadas pelas providências a contemplar por uma lei de defesa da concorrência, constituirão factor básico do desenvolvimento industrial.
3.º O condicionamento industrial a localização dos novos estabelecimentos. - Tem pouco peso o argumento de que o condicionamento industrial, tal como tem vigorado até aqui, é necessário para orientar a localização das novas unidades de produção, em harmonia com as directrizes da política regional O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 46 666 expõe, de forma clara, as razões que retiram validade a esse argumento Diz-se aí; À aplicação do condicionamento com as suas características actuais, como processo de evitar a localização de empreendimentos em determinadas regiões, dirigindo-as para outras, pode ser substituída, com vantagem, pelo recurso a outros tipos de medidas de política regional O ideal seria que a política de localização industrial assentasse num sistema de incentivos (isenções fiscais, facilidades em infra-estruturas, etc. ), e não em medidas de proibição ao estabelecimento Dado, porém, que o sistema de incentivos levanta problemas de resolução prática extremamente difícil, será necessário, pelo menos durante alguns anos, recorrer ao condicionamento Mas então estaremos perante um condicionamento requerido pela necessidade de assegurar um desenvolvimento regional equilibrado e, neste caso, o condicionamento de localização deverá estender-se a todos os estabelecimentos fabris de algum vulto, s não, como hoje acontece, apenas aqueles que, em nome de objectivos de outra natureza, se encontram sujeitos ao condicionamento industrial E também esse condicionamento com fins de equilíbrio regional deverá ser aplicado através de regras automáticas que definam as localizações inconvenientes, e não com base num poder discricionário da Administração semelhante ao que actualmente se aplica ao condicionamento industrial
4 º A disciplina das aplicações de capitais estrangeiros - O objectivo que inicialmente se apontou ao condicionamento industrial de evitar as desnacionalizações, de alguns sectores importantes da economia portuguesa perdeu hoje muita importância. Actualmente o País está muito mais empenhado do que há alguns anos em atrair um volume considerável de capitais estrangeiros que completem os recursos internos e tragam consigo contribuições importantes para resolver algumas dificuldades da indústria nacional em matéria de conhecimentos e experiências sobre técnicas de produção e organização, bem como de relações comerciais com o exterior Nesse aspecto, a liberalização do regime de condicionamento vigente pode mesmo vir a ser um benefício, na medida em que as formalidades exigidas podem ter anulado o interesse de alguns eventuais investimentos estrangeiros pela aplicação de capitais na indústria portuguesa Apesar disso, não deve excluir-se a necessidade de controlar a aplicação de capitais estrangeiros em determinados sectores da indústria nacional. Não pode, no entanto, sustentar-se que a modificação do regime anterior do condicionamento venha necessariamente impedir a realização de objectivos desse género Com efeito, a disciplina das aplicações de capitais estrangeiros em determinados sectores da produção industrial portuguesa, na medida em que for considerada desejável, poderá normalmente conseguir-se através de disposições legais especialmente apropriadas a essa finalidade Ë verdade que as obrigações internacionais de Portugal, em matéria de movimentos de capitais, podem levantar alguns obstáculos à aplicação de práticas discriminatórias contra investimentos estrangeiros Mas também é verdade que as regras de condicionamento nunca poderiam só por si garantir uma defesa contra desnacionalizações indesejáveis de alguns sectores da actividade produtiva Basta, a esse respeito, considerar as possibilidades de transferências de estabelecimentos ou de obtenção de alvarás por interposta pessoa.
5 º O condicionamento e a reorganização industrial. - Na medida em que tem impedido a instalação de estabelecimentos mal concebidos sob o ponto de vista económico e técnico, o regime de condicionamento industrial representa, sem dúvida, um instrumento de reorganiza cão industrial A sua acção sob este aspecto tem sido, porém, necessariamente lenta, pois afecta principalmente a natureza e as características das novas unidades a instalar, e não os das que já existiam
O condicionamento visava também a permitir as reorganizações industriais ao abrigo da Lei n º 2005 e a assegurar a continuidade dos resultados dessas reorganizações mediante a disciplina na instalação de novas unidades que ameaçassem vir a prejudicar os equilíbrios obtidos Simplesmente, como desde a publicação dessa lei nenhuma reorganização se efectivou nos moldes que ela previa, nunca tal função do condicionamento foi posta em prática.
Finalmente, os impedimentos à formação de capacidades excessivas de produção terão decerto contribuído para melhorar a organização da indústria portuguesa Mas esse é aspecto que já foi tratado e relativamente ao qual, como se frisou, os resultados conseguidos estão longe de ser inteiramente satisfatórios
De qualquer maneira, é indubitável que o problema da melhor organização tecnológica e da viabilidade económica e comercial dos estabelecimentos da nossa indústria continua a ser da maior importância Será, por isso, necessário evitar que a liberalização do regime de condicionamento industrial que até agora tem vigorado venha a trazer dificuldades e progressiva solução desse problema Trata-se, porém, de assunto que, pela sua projecção, convém tratar em exame conjunto dos diversos aspectos da política de reorganização industrial, como passa a fazer-se.

26. E sabido que os esquemas de reorganização industrial previstos na Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, não produziram resultados práticos dignos de serem assinalados E, no entanto, os problemas que a referida lei visava solucionar subsistem ainda em larga escala A deficiência das dimensões e do apetrechamento de muitas unidades fabris continua a impedir frequentemente uma produtividade satisfatória, e a necessidade de se alcançar um poder competitivo que permita resistir à concorrência.

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externa tornou-se mais imperiosa, agora que o proteccionismo aduaneiro está em vias de desaparecer. A experiência mostra que importa encontrar outras soluções para esses problemas Para tanto, terá de se ponderar, por um lado, o resultado de iniciativas que muitas empresas têm vindo a tomar, sem que o Estado tivesse promovido a reorganização do sector, e, por outro, o enquadramento já estabelecido para o próximo hexénio Muitos industriais compreenderam que, em vez de esperarem por soluções que abrangessem todo o sector e fossem, em grande parte, resultantes da acção do Estado, era mais prático irem aperfeiçoando por si próprios as condições de funcionamento das suas empresas, sem exigirem quaisquer ligações a esquemas globais que transcendessem o seu poder de decisão. Ë graças a atitudes destas que hoje, apesar das deficiências que ainda existem, se pode falar em substanciais progressos na estrutura e no modo de funcionamento dos estabelecimentos da indústria portuguesa Há na acção particular dos empresários importantes potencialidades de reconversão que importa aproveitar e estimular.
Isto não significa, de forma alguma, que o Estado deva alhear-se das tarefas de reconversão industrial, de cujo sucesso depende, em larga medida, a viabilidade da expansão esperada durante este III Plano Simplesmente, o que não se deve, em face das lições da experiência já colhida, é adoptar soluções1 que tenham de abranger obrigatoriamente todas as unidades de coda um dos sectores a reorganizar Em vez de se procurar obter directamente a reorganização de indústrias, ter-se-á antes de pensar em termos de reconversão de empresas Em vez de se procurarem concentrações promovidas pelo Estado, deverão antes estimular-se os agrupamentos voluntários sob uma das modalidades possíveis, mesmo que a esses agrupamentos não adiram muitas das empresas do respectivo sector. Em vez de se tentar suprimir pequenas unidades através de esquemas de reorganização impostos pelo Estado, será preferível ajudá-las, dentro de limites razoáveis, a vencer es suas próprias limitações de ordem técnica, comercial, financeira e administrativa.

27. Ás preocupações com o eficiente dimensionamento dos estabelecimentos industriais dificilmente podem servir de justificação para se forçarem as pequenas empresas a incorporar-se em organizações maiores ou para as impedir artificialmente de funcionar As razoes para esta afirmação filiam-se em argumentação já abundantemente exposta a dimensão das empresas industriais não é um fim em si mesmo, e, se está certo que se imponham às pequenas empresas - como às grandes - exigências quanto às qualidades dos produtos que fabricam ou quanto às condições de trabalho oferecidas ao pessoal, raramente será acertado que os actos da Administração discriminem contra essas empresas, impedindo-as de se estabelecer ou condenando-as a desaparecer só porque são pequenas O interesse económico a social das pequenas e médias empresas justifica mesmo que o Estado institua a seu favor esquemas especiais de auxílio. É inegável que em muitos ramos da produção as empresas pequenas serão sempre inviáveis e seriam perdidos todos os esforços para manter tais- empresas nessas actividades Também é verdade que a necessidade de estimular a formação de unidades poderosas em muitos sectores da indústria não consente que os auxílios1 a pequenas ou médias empresas redundem em prejuízos ou discriminações, contra as firmas de maior dimensão Mas estas observações não retiram significado às razões que normalmente se apontam para fundamentar as políticas de auxílio às unidades pequenas e médias. Estas podem agrupar-se da seguinte forma.
a) Empresas que vivem em condições marginais, com rentabilidade e produtividade exíguas, e cujo funcionamento perturba seriamente o mercado,
b) Empresas que se localizam em sectores que admitem, no presente e no futuro, unidades de pequena dimensão, desde que funcionem em boas condições de eficiência,
c) Empresas que, sendo, de momento, pequenas ou médias, apresentam, por si próprias ou pelos sectores em que actuam, potencialidades de desenvolvimento.
Entende-se que qualquer acção compreendida numa política de pequenas e médias empresas deverá incidir apenas, e tanto quanto possível, sobre as que se incluem nos dois últimos grupos.
Sem prejuízo da maleabilidade necessária para atender a aspectos particulares ou imprevistos, serão esteios básicos de uma política de pequenas e médias empresas a coordenação dos esforços dos centros de investigação e documentação no sentido de lhes fornecerem elementos de carácter tecnológico e comercial com vista à sua expansão, a realização de cursos de formação especialmente orientados para os seus empresários, a organização de um serviço de consulta em matéria de gestão e de produtividade, a concessão de empréstimos, em condições especialmente favoráveis, através de instituições especializadas, o fornecimento de garantias para obtenção de créditos, quando o empresário, por escassez de bens, as não puder oferecer, o incentivo a novas condições de equipamento, como as proporcionadas pelas sociedades de leasing, em especial quando estas servirem de apoio à colocação de bens de equipamento nacionais, a sua articulação com as medidas de fomento regional, nomeadamente no que toca à instalação de zonas industriais, e, finalmente, n criação de condições jurídicas que favoreçam o seu esforço de investimento.
O estudo dos problemas postos e a escolha das soluções adequadas requerem ponderação quanto ao aspecto institucional.
A existência de instituições públicas em cujas atribuições se incluem essas matérias para a generalidade das indústrias, em colaboração com os organismos profissionais em que a média empresa está, ou pode vir a estar, inserida, torna desnecessária, pelo menos numa primeira fase, a organização de novas instituições especialmente orientadas para este tipo de empresa. Apenas será de prever a constituição de um pequeno centro ou serviço coordenador das várias intervenções.
Um último aspecto é o da escolha dos sectores sobre os quais inicialmente se deverá actuar. Por motivos de ordem pragmática, deverão preferir-se sectores já com certo grau de modernização, em que o ritmo de crescimento, e em particular as exportações, apresentem perspectivas animadoras.

28. Dentro desta orientação renovada da política industrial, as medidas positivas tendentes a criar ambiente favorável à sua execução hão-de traduzir-se por intervenções do sector público no sentido de valorizar social e profissionalmente a população activa, criar infra-estruturas que reduzam custos de produção e distribuição, incentivar realizações a que, sem apoios adequados, a iniciativa.

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privada se não lançaria e assegurar, de um modo geral, condições de competitividade, sobretudo no plano das relações económicas internacionais.

29. Em primeiro lugar, o que parece mais urgente a educação e formação profissional O actual nível de qualificação da mão-de-obra é ainda baixo e as acções em curso necessitam de ser intensificadas, pois a grande maioria dos sectores industriais ressente-se da escassez de mão-de-obra qualificada Embora deva reconhecer-se o grande esforço já realizado, verifica-se a necessidade de acelerar os programas de expansão do ensino e da formação profissional Neste ultimo aspecto, as escolas do ensino técnico e o Instituto de Formação Profissional Acelerada têm papel decisivo a desempenhar. O Serviço Nacional de Emprego contribuirá também para facilitar, na medida do possível, a articulação entre oferta e procura de empregos.
Á par destas providências, é necessário continuar a acção do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra no sentido de suscitar a colaboração das próprias empresas, quer estabelecendo facilidades ao pessoal para a frequência de cursos de formação profissional, quer concedendo subsídios às empresas para a manutenção de centros próprios de aprendizagem e formação, nos casos em que essa solução for mais aconselhável.
No que toca às necessidades de pessoal, os estrangulamentos mais importantes devem-se, porém, à carência de técnicos de nível médio e superior
E importante observar que, há 15 anos, quando se iniciou o surto de desenvolvimento industrial, o número de engenheiros que concluíam anualmente o curso era de cerca do dobro do actual (861 e 428 alunos, respectivamente, nos triénios de 1951-1953 e 1968-1965). For força das exigências do processo tecnológico e do volume da iniciativas a lançar, a proporção necessária de indivíduos com os níveis superiores de qualificação ocupados em actividades industriais ou a elas ligadas deverá crescer espectacularmente nos próximos anos
A situação actual é ainda agravada pelo facto de haver em Portugal grande número de engenheiros universitários que se dedicam a funções que, noutros países, cabem a técnicos não universitários Este último problema relaciona-se com a circunstância anómala de haver maior número de formaturas de engenheiros do que de agentes técnicos O número destes agentes saídos anualmente tem oscilado à volta de 70 (66 em 1960 e 74 em 1965) No primeiro desses anos formaram-se 243 engenheiros e no segundo 125.
Por um lado, há que formar técnicos de nível médio em número superior no dos engenheiros e, por outro, aumentar o número de novos engenheiros, mas deve também ter-se presente que, do ponto de vista das necessidades da indústria, as modificações a introduzir ultrapassam largamente os aspectos quantitativos para se situarem no plano da reestruturação de concepções básicas quanto ao conteúdo dos diferentes tipos de formação a que o desenvolvimento industrial faz apelo e às características das instituições em que essa foi mação se processa.
As providências encaradas com vista à intensificação das acções de formação técnica e profissional vão indicadas no capítulo do Plano dedicado à educação e investigação.

30. No que diz respeito às infra-estruturas, cabe lembrar o que se espera da continuidade da política que vem sendo seguida no domínio das obras públicas, transportes e comunicações e referir novas iniciativas, como as que se
promoverão à volta do estabelecimento de zonas industriais a instalar de acordo com a política de desenvolvimento regional As zonas industriais poderão abranger indústrias motoras e indústrias complementares e permitirão o estabelecimento de formas de colaboração entre grandes, médias e pequenas empresas, através da generalização de subcontratos e do uso comum de instalações de serviço, contribuindo assim para um processo equilibrado de industrialização

31. A acção do sector público sobre a oferta de pessoal devidamente qualificado e a ampliação da rede de infra-estruturas serão completadas mediante concessão de facilidades de crédito e incentivos fiscais.
Adoptar-se-á uma política mais activa no que respeita à canalização para o investimento industrial do capital externo e das poupanças internas.
Proceder-se-á ao estabelecimento de contactos no sentido de divulgar as oportunidades e garantias que se oferecem aos investimentos, as isenções fiscais e outras facilidades de que podem beneficiar. Neste campo, as representações diplomáticas e consulares portuguesas no estrangeiro, bem como as Casas de Portugal em alguns países, serão chamadas a desempenhar papel de relevo no estabelecimento desses contactos Mas isto não excluirá a organização de um corpo de especialistas na matéria, que poderão, com maior conhecimento de causa, informar e orientar os interessados, evitando assim que uma parte dos investimentos potenciais se dirija para outros países que lhes oferecem maiores garantias ou que, mediante acção bem desenvolvida, exercem forte atracção sobre eles Será este um dos objectivos da criação de um serviço de economia e desenvolvimento industrial no Instituto Nacional de Investigação Industrial, em substituição da Divisão de Economia Industrial e como primeira fase de um serviço de promoção industrial Promover-se-á igualmente a realização de contratos entre empresas nacionais e estrangeiras na base de concessão de patentes e de assistência técnica e comercial.
Problema conexo é o da necessidade de estudos de pré-investimento ou de anteprojectos Com efeito, é frequente ter-se conhecimento de disponibilidades internas e externas que procuram formas de investimento, sem que se saiba como aconselhar a aplicação desses capitais em novos empreendimentos. Assim, ficará também a cargo do referido serviço, a criar no Instituto Nacional de Investigação Industrial, a preparação de anteprojectos suficientemente elaborados para motivar os inversores potenciais nacionais e estrangeiros, como prolongamento natural da primeira tarefa estabelecida para o mesmo serviço

32. Com o objectivo de acelerar o desenvolvimento industrial, em apoio da iniciativa privada e em estreita colaboração com ela, poderá o Estado promover empreendimentos de reconhecido interesse, cujo lançamento dependa da sua intervenção directa.
Com efeito, tem-se verificado, em circunstâncias diversas, a participação do sector público em actividades de produção, nomeadamente em economias com problemas semelhantes aos do nosso país - é o caso da Espanha e da Grécia, cujos planos de desenvolvimento prevêem a constituição de empresas públicas ou com a participação directa do Estado Uma sã colaboração entre o sector público e o privado baseia-se, antes de mais, na existência de uma economia dinâmica, podendo as empresas públicas ou de economia mista constituir meio particularmente eficaz de aceleração do crescimento eco(...)

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(...) nómico, como, aliás, já se tem verificado em Portugal, por exemplo, no domínio da energia (electricidade e petróleo).
Semelhantes fórmulas permitem a fiscalização pública da aplicação dos fundos, mas evitam sobrecarregar n Administração com tarefas que, por sua natureza, lhe são estranhas.

33. Dado que a preferência pelos produtos nacionais pode facilitar a implantação no País de estruturas1 modernas, procurar-se-á estabelecer normas que defendam os justos interesses da nossa indústria, designadamente quando se trate de aquisições por parte do Estado ou destinadas a empreendimentos de vulto que beneficiem de concessões especiais dos Poderes Públicos.

34. Em face das perspectivas que se apresentam quanto à integração em grandes espaços económicos e à concorrência, tanto no plano interno, como internacional, outro problema a solucionar no mais curto prazo, e que é comum, por assim dizer, a todos os sectores da indústria, é o da normalização Trata-se não só de reduzir o número de variedades produzidas, mas principalmente de estabelecer marcas de qualidade, sujeitas a sistemas rigorosos de verificação.
Este método permitirá, por um lado, a eliminação das empresas marginais, saneando as condições em que a concorrência se processa, e, por outro, conduzirá ao acréscimo sensível da produtividade nos ramos industriais que se dedicam a tipos de fabrico excessivamente diversificados, bem como ao aperfeiçoamento tecnológico das unidades fabris, e contribuirá de forma notável para prestigiar a indústria portuguesa, quer no mercado interno, quer nos mercados internacionais Em especial no que se refere aos sectores de exportação, tornar-se-á necessário harmonizar a legislação nacional, neste campo, com as legislações estrangeiras sobre produtos similares.
E indispensável acelerar consideràvelmente os trabalhos de elaboração e publicação de normas para os produtos industriais portugueses Para que se possa andar mais depressa, examinar-se-á a possibilidade de oficializar e tornar obrigatórias as normas estrangeiras mais adaptáveis às condições da economia portuguesa Muitas dessas normas já são, aliás, frequentemente usadas em estabelecimentos nacionais de elevado nível tecnológico.
O impulso a imprimir a política de normalização teia de se apoiar em acrescida colaboração com os industriais e os organismos corporativos em que se integram. Neste sentido, estimular-se-á a apresentação de sugestões sobre as medidas que mais urgentemente careçam de efectivação, quer no que diz respeito à publicação de normas, quer no que toca à fiscalização do seu cumprimento.
Caberá á Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais o desempenho das funções relacionados com as providências a adoptar neste domínio, para o que será dotada dos meios materiais e humanos necessários, nomeadamente no que se refere à missão do Centro de Normalização.

35. Na era de intensa concorrência que se avizinha, é igualmente essencial melhorar de forma sensível as condições de abastecimento que a indústria actualmente defronta no respeitante a certas matérias-primas e algumas formas de energia, em ordem a assegurar o seu fornecimento a preços de nível internacional
Esta política deverá ser aplicada prioritariamente nos sectores exportadores ou com perspectivas favoráveis no domínio da exportação, bem como noutros que, produzindo fundamentalmente para o mercado interno, sejam, ou se preveja venham a ser, em futuro próximo, objecto de intensa concorrência internacional, devendo tal política ser executada em correspondência com o calendário do nosso desarmamento aduaneiro Dos programas de execução anual do Plano deverá constar a lista dos produtos a beneficiar destas acções.
Serão também simplificadas as formalidades aduaneiras e facilitadas os concessões de draubaque e de regime de importação temporária das matérias-primas- e semiprodutos a incorporar na exportação.

36. A obtenção, no período do HE Plano, de elevada taxa de crescimento é condição necessária, mas não suficiente, dentro da estratégia de desenvolvimento industrial traçada Com efeito, a longo prazo, a indústria portuguesa só poderá expandir-se se os seus produtos resultarem de combinações de factores em que a matéria cinzenta vá gradualmente assumindo o relevo que já tem noutros países de pequena dimensão, mas altamente industrializados É certo que não são apenas as grandes nações, mas também as pequenas, que ligam o futuro das suas principais indústrias a vasto esforço de investigação Para as pequenas nações, o esforço próprio assume, na realidade, o papel de garantia da sua capacidade concorrencial em domínios especializados, para os quais o grande volume de produção inicial não constitui condição necessária de acesso ao mercado mundial Nestas condições, considera-se a aquisição e difusão de novas possibilidades tecnológicas como uma das tarefas que mais importa impulsionar nos próximos anos, tanto mais que, nesta matéria, o início da acção precede de largos anos a colheita dos primeiros resultados.
A aquisição e difusão da tecnologia moderna envolve longa cadeia de esforços, desde a investigação de base até à exploração industrial de novos produtos, novos processos ou novas combinações de factores Para além das vantagens que, a longo prazo, a indústria poderá colher da existência de centros de investigação de base que acompanhem de perto o labor de centros estrangeiros associados à expansão de actividades industriais relevantes paia o caso português, faz-se sentir a necessidade imediata de orientar os centros nacionais de investigação aplicada e de desenvolvimento no sentido de definirem o seu programa de trabalho em função das realidades da evolução para uma economia aberta Assim, estabelecer-se-á adequada comunicação entre a Universidade, os centros de investigação e a indústria, a fim de concretizar novas ideias com real interesse prático e para que os resultados obtidos em laboratórios ou investigações piloto possam ser levados ao conhecimento dos interessados.
Finalmente, a prossecução de uma política activa de informação técnica e económica reflectir-se-á beneficamente neste campo, através da contribuição para o melhor conhecimento, por parte das empresas, sobretudo as de média e pequena dimensão, do avanço das técnicas e suas consequências no plano económico.
Com a constituição do Instituto Nacional de Investigação Industrial deu-se um passo muito importante para o encaminhamento de alguns dos problemas enunciados Passado o período, sempre difícil, dos esforços iniciais, é natural que as tarefas ligadas directamente a tecnologia e à assistência tecnológica venham a absorver a actividade do Instituto em proporção crescente, de acordo com a extrema importância que elas assumem para a melhoria do nível concorrencial da indústria portuguesa.

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A Secretaria de Estado da Indústria, por seu intermédio e em estreita colaboração com os esforços de planeamento da investigação actualmente em curso, providenciará para que venha a ser organizado um programa de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de interesse para as indústrias do Pais, muito em especial dos ramos que forem considerados prioritários O Instituto Nacional de Investigação Industrial encontra-se também preparado para alargar as suas actividades no campo da assistência técnica e montar um serviço de informação que muito poderá contribuir para uma melhor apreciação do impacte que a evolução tecnológica exerce sobre a capacidade concorrencial das unidades industriais.

37. A produtividade da nossa indústria transformadora é ainda baixa, mesmo em comparação com a verificada em países com um grau de industrialização próximo do nosso. Muito embora seja notável a série de esforços e de iniciativas tomadas, desde 1960, com vista a promoção de um autêntico clima de produtividade, muito mais se torna ainda necessário fazer, sobretudo mais vigorosa, extensa e concertadamente Para este efeito, e como se referiu no capítulo respectivo, serão estudadas as bases em que há-de funcionar o Gentio Nacional de Produtividade, reforçar-se-á a actuação do Instituto Nacional de Investigação Industrial e apoiar-se-ão, por meio de assistência técnica e incentivos adequados, as iniciativas do sector privado, quer ao nível das empresas ou agrupamentos de empresas, quer ainda no âmbito dos centros técnicos e dos organismos corporativos.

38. A promoção das exportações constitui tarefa de que é essencialmente responsável a iniciativa privada, mas que necessita, por parte do Estado, de tratamento marcadamente favorável, como sucede na generalidade dos países, sobretudo nos mais industrializados. No caso concreto de Portugal, a actuação do sector público é fundamental para o progresso da actividade exportadora, dado que dele depende primordialmente a remoção das dificuldades existentes e a concessão de incentivos e assistência, a par da mentalização dos industriais exportadores, por forma a colocar a indústria nacional em condições de competir nos mercados externos.
As medidas a adoptar nesta matéria constam dos capítulos respectivos do Plano, designadamente do "Financiamento", quanto aos incentivos fiscais, e do "Comércio externo", relativamente à promoção das exportações.

39. A aceleração do desenvolvimento industrial pressupõe quais amplo apetrechamento técnico, tanto do sector privado como do sector público.
No que diz respeito ao sector privado, será estimulada a criação de estruturas técnicas de índole profissional susceptíveis de servirem os objectivos de expansão e modernização prosseguidos por este Hl Plano. Como se referiu no capítulo sobre "Produtividade", a Corporação da Indústria, a Associação Industrial Portuguesa e a Associação Industrial Portuense mantêm gabinetes e centros especializados ]á com tradições A tendência será para alargar aos diversos ramos industriais a criação de gabinetes técnico-económicos com base em mais estreita colaboração entre as empresas, o que, de resto, vai ao encontro de uma iniciativa em que a Corporação da Indústria está empenhada.
A modernização das estruturas produtivas portuguesas e a sua adaptação a uma economia aberta à concorrência internacional ficará imensamente facilitada se os industriais puderem dispor de centros técnicos que apoiem
directa e eficazmente a produção e a comercialização dos seus produtos e estudem as perspectivas e condições para um correcto desenvolvimento de todo o sector
Os centros técnicos poderão contribuir para o conhecimento das condições de evolução do sector, colaborar com os organismos oficiais na criação de- meios de assistência técnico, estudar as necessidades de formação de pessoal das empresas e organizar sistemas de informação técnica e económica à escala dos respectivos ramos industriais.
O C. I. M. A. F , a Associação Portuguesa de Fundição e o Instituto de Soldadura são já exemplos da utilidade de tais instituições.
Quanto à situação dos organismos públicos e respectivos quadros técnicos, reconhece-se que o seu desapetrechamento constituiria sério entrave na medida em que os impossibilitaria de exercer efectiva orientação em relação ao desenvolvimento industrial ou de acompanhar a capacidade de iniciativa e diálogo do sector privado no dia a dia da política económica corrente Para fazer face a tal eventualidade, conta-se, por um lado, com a efectivação gradual da reforma administrativa e, por outro, com a reestruturação de departamentos e a criação de novos serviços habilitados com os meios necessários ao desempenho das tarefas que lhes sejam confiadas Já foram enunciadas as medidas que serão tomadas neste domínio no que toca a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos, Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais e Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Além disso, um gabinete de planeamento industrial, funcionando na dependência directa do Secretário de Estado da Indústria, garantirá a continuidade dos trabalhos de planeamento, estabelecendo a ligação com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, os serviços da Secretaria de Estado, os restantes departamentos, por onde se realiza a política industrial e o sector privado.

§ 4.º Projectos

40. Lignites de Rio Maior
Encontra-se projectada a utilização das Lignites de Rio Maior para queima a boca da mina numa central de produção de electricidade, conforme se pormenoriza no capítulo referente à energia.

41. Minas de Moncorvo
A Companhia Mineira de Moncorvo deverá realizar um programa de produção de milhão e meio a dois milhões e meio de toneladas de policia anualmente.
Considerando a grande envergadura do jazigo, a sua facilidade de exploração e a natural integração no espaço económico europeu, conta-se com forte contingente de exportação.
Existe outro projecto, ligado à Siderurgia Nacional, S A B L , que prevê para fins de 1068 a produção de 750 000 t de pellets.
A parte do investimento total que se estima necessário despender com a exploração da mina e o escoamento do minério computa-se em cerca de 2 milhões de contos.
Para não se perturbar a execução dos programas de exploração mineira, devem preparar-se as infra-estruturas necessárias a tão vasto empreendimento com a indispensável coordenação, designadamente as de carácter comum, em que é fundamental o problema dos transportes, de

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resolução sempre morosa Deverá, portanto, avançar-se desde já na preparação das estruturas ferroviárias para assegurar o escoamento das grandes tonelagens previstas.

42. Exploração e industrialização de pintes Contando-se com avultadas reservas e estando em curso intensivas campanhas de prospecção e pesquisa de novos jazigos de pirites, é de prever se acelere fortemente a sua produção e se incremente a sua industrialização, quer nas unidades já existentes, quer mediante a criação de novos complexos industriais, com integral aproveitamento destes minérios, matéria-prima essencial para o fabrico de adubos fosfatados a fonte de produção de metais básicos, como chumbo, zinco, cobre e ferro.

43. Alimentos preparados para animais
A produção de alimentos preparados para animais constitui requisito básico para o aumento da produtividade das explorações pecuárias Torna-se assim necessário acautelar a existência de matérias-primas de elevado teor proteico, como sejam os bagaços de oleaginosas, além dos cereais forrageiros e das sêmeas de trigo. Entre aquelas matérias-primas, conta-se a soja, a cuja industrialização, para a extracção de óleo e aproveitamento de tourteoux, vão dedicar-se duas empresas, com projectos de instalações fabris, respectivamente, em Almada e em Alhandra, empreendimentos a considerai nos primeiros anos do Plano e com relevante sinal positivo no desenvolvimento sectorial Envolvendo um investimento da ordem dos 110000 contos, tais empreendimentos irão contribuir para fazer face à expansão prevista no consumo interno de alimentos preparados para animais de alto valor proteico, e de muita importância para a execução da política de fomento pecuário Às instalações projectadas para Almada fazem parte de um complexo que deverá incluir um silo destinado a facilitar o abastecimento não só de indústrias nacionais, como também de unidades instaladas noutros países.

44. Refinação do açúcar
A indústria de refinação de açúcar instalada no continente era constituída por demasiado número de pequenas unidades antiquadas, laborando em condições técnicas muito deficientes, cuja substituição se impunha.
Reconhecidas essas deficiências pela própria indústria, realizou-se uma primeira concentração, que deu origem a nova unidade industrial, instalada na zona industrial do Porto, aliás autorizada já a ampliar as suas instalações, tendo as restantes refinarias seguido posteriormente a mesma orientação no sentido de se concentrarem ou renovarem.
Das soluções concertadas entre os diversos industriais e já superiormente sancionadas resultou o estabelecimento de duas refinarias na zona do Porto e duas na de Lisboa, com a capacidade total de laboração de 800 000 t anuais, embora fosse apontada pela Secretaria de Estado da Indústria a conveniência de se levar mais longe a concentração.
Os investimentos previstos para estes empreendimentos computam-se em cerca de 300000 contos.

45. Pasta para papel
Durante o Plano será montada em Vila Velha de Ródão (Castelo Branco) uma unidade destinada ao fabrico de pasta celulósica pelo sulfato e de pasta semiquímica, com uma capacidade total de 85 000 t/ano. O investimento previsto é da ordem dos 550 000 contos e o pessoal necessário á sua laboração está orçado em 250 pessoas
No Minho, será instalada uma fábrica de pasta celulósica pelo sulfato, com a capacidade anual de 120 000 t O investimento previsto é da ordem dos 600 000 contos e o pessoal que ocupará está estimado em 400 pessoas.
A política de repovoamento florestal resultante da iniciativa dos particulares e da acção do Estado, através da Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e do Fundo de Fomentai Florestal e Aquícola, permitirá ainda a montagem de uma terceira unidade no Nordeste transmontano.
A crescente concorrência verificada nos mercados internacionais obrigará a indústria existente a realizar, durante o período do Plano, reformas de estrutura através do aumento da dimensão a níveis que lhe permitam uma utilização racional e económica da matéria-prima, tendo em consideração que uma unidade de pasta celulósica pelo sulfato não pode ser economicamente dimensionada para capacidades inferiores a 150 000 t/ano.
Para que o desenvolvimento da indústria de pasta de celulose se possa processar em termos de manter a sua competitividade nos mercados internacionais, será durante o período do Plano posta em execução uma adequada política de fomento e exploração florestal A florestação será feita em ritmo que se coaduna com o necessário desenvolvimento da indústria consumidora de matéria-prima lenhosa e serão adoptadas medidas técnicas e legislativas tendentes a promover a exploração ordenada e racionai da floresta.
A adopção de medidos de fomento florestal é de primordial importância, tanto mais que, só na Europa ocidental, o déficit no que respeita a pasta para papel atingirá 2,5 milhões de toneladas em 1970, valor que se deve elevar a 9 milhões em 1980.

46. Papel
De entre os projectos referidos na indústria do papel destacam-se o da Indústria Nacional de Papéis, S A B L , no montante de 230 000 contos, para uma produção de 30 000 t/ano, o da União do Comércio Exportador, Lda., para uma ampliação de 16 000 t/ano, com o investimento de 140 000 contos, o da Indústria de Papel da Abelheira, S A. R L , para uma ampliação de 15 500 t/ano, com o investimento de 140 000 contos, e o da Fábrica de Papel do Almonda, Lda. para a produção de 20 0001/ano, com o investimento de 150 000 contos Este último investimento encontra-se condicionado a possibilidade da sua integração num complexo que inclua uma unidade produtiva de pasta.
Novos projectos poderão concretizar-se em breve, nomeadamente em ligação com investimentos em actividades relacionadas verticalmente com a indústria do papel Convirá acompanhar a indústria, estimulando a concretização de projectos que visem a exportação da produtos de maior elaboração a partir de matérias-primas e semi-produtos nacionais.

47. Refinaria do Norte e produção de aromáticos Para fazer face à evolução da procura de combustíveis líquidos verificada no País, entrará em funcionamento, durante o período do Plano, uma nova refinaria instalada no distrito do Porto, com a possibilidade de refinar anualmente 2 milhões de toneladas de petróleo bruto.
O investimento previsto ultrapassa 2 milhões de contos. O valor total da produção correspondente à capacidade nominal, aos preços actuais dos produtos, totaliza l 700 000 contos.

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Esta unidade, que, além de combustíveis líquidos, produzirá anualmente 1000001 do lubrificantes, ocupará 940.
Para se poder concretizar o plano de desenvolvimento da indústria petroquímica, a refinaria será equipada com uma unidade de reforming catalítico dimensionada não só para a produção de gasolinas de elevado índice de octana, mas também com a possibilidade, através da instalação de uma unidade B T. X., de produzir simultaneamente benzeno, tolueno e xilenos, os quais podem ser utilizados para fabrico de matérias plásticas ou de fibras sintéticas através das necessárias transformações.
A instalação de aromáticos, cuja montagem se prevê tenha realização durante o período do Plano, possuirá uma capacidade de 150 0001/ano, das quais 100 000 t/ano ficarão disponíveis para 9, indústria petroquímica O investimento previsto é da ordem dos 400 000 contos e, dada a flexibilidade da instalação de aromáticos, poder-se-á produzir, a partir das 100 0001 da mistura B T X , além de quantidades varáveis de benzeno e tolueno, 9000 t ou 40 0001 de paraxileno, bastando, no último caso, fazer a isomenização de parte da mistura.
Prevê-se que a instalação de extracção e separação dos aromáticos entre em laboração ainda dentro da vigência do Plano.
Enquanto se não realizar no País o fabrico de produtos intermédios obtidos a partir do benzeno e do paraxileno, isto é, enquanto se não fecharem os ciclos "matérias-primas-fibras sintéticas" e "matérias-primas-matérias plásticas", proceder-se-á e colocação desses produtos nos mercados externos.

48. Fibras sintéticas

No sector de fibras sintéticas, montar-se-á no Porto, em colaboração com uma firma alemã da especialidade, uma unidade destinada ao fabrico de fibras poliéster inteiramente integrada com a refinação do petróleo. Na l.º fase, será montada uma unidade de spinning com a capacidade anual de 72001, a que corresponderá um investimento de 430 000 contos Na 2.º fase, será elevada a capacidade anual de spinning a 12 0001 e iniciar-se-á não só o fabrico de polímero poliéster, por policondensação do tereftalato de dimetilo (D AC T ) e do etilenoglicol, mas também o fabrico do D M T a partir do paraxileno.
Com a concretização da 2.º fase, o investimento elevar-se-á a cerca de 800 000 contos O valor anual de produção correspondente a cada uma das fases referidas atingirá, respectivamente, os valores de 400 000 e 600 000 contos. Ficará assegurada desde o arranque da 1.º fase a colocação no estrangeiro do paraxileno que vier a produzir-se enquanto não for montada a unidade de D M. T , isto é, enquanto não for fechado o ciclo "paraxileno-fibra poliéster"
A unidade que em Portalegre fabrica fibras poliéster em colaboração com uma firma inglesa elevará a capacidade anual de fibras contínuas e descontínuas de 8000 t para 12 000 t Numa 2.º fase, procederá à montagem das instalações necessárias ao fabrico do polímero poliéster, por policondensação do tereftalato de dimetilo (D M T ) e do etilenoglicol, e & produção do D M. T a parte do ácido tereftálico Está previsto que o investimento total orçará por 750 000 contos Esta unidade propõe-se exportar 10 000 t/ano de proxileno e estudar a possibilidade de utilizar parte dos excedentes de proxileno que vierem a ser produzidos no País.
Em Aveiro, com a colaboração de uma firma suíça, prevê-se a montagem de uma unidade de nylon 6, de fibras poliéster e de fibras acrílicas, a partir dos respectivos polímeros O investimento é da ordem dos 700000 contos A firma adquirirá os produtos que a indústria petroquímica nacional lhe puder fornecer a preços concorrenciais.

49. Matérias plásticas (resinas sintéticas)
A unidade que actualmente produz em Aveiro P V. C. de suspensão iniciará o fabrico de P. Y C de emulsão num quantitativo de 2000 t/ano. O investimento previsto é da ordem dos 16000 contos A unidade actual passará a ocupar mais 20 pessoas.
Em colaboração com uma empresa francesa, instalar-se-á uma unidade de produção de polestireno com uma capacidade inicial de 8000 t/ano, prevendo-se a sua duplicação passados quatro anos Essa produção será distribuída por uma linha de polimenização em massa, de forma a cobrir todas as especificações do mercado. Com base na utilização do benzeno - um dos aromáticos da refinaria do Porto -, prevê-se a montagem de estireno ou etilbenzeno logo que as instalações de polenerizaçao atinjam dimensão suficiente Na 2 a fase, na qual será fechado o ciclo benzeno-poliestireno, prevê-se um investimento da ordem dos 80 000 contos. A unidade a montar terá uma capacidade de 25 000 t/ano.
Prevê-se também a montagem, durante a vigência do Plano, de uma unidade para produção de 300001/ano de polietileno a partir do etileno importado, até ser economicamente possível a montagem no País de um steam-cracking para a produção de etileno O investimento previsto é da ordem dos 260 000 contos.
Além de se passarem a produzir cá os três principais polímeros (P. V. C , poliestireno e polietileno) consumidos pela indústria transformadora de matérias plásticas, o País ficará dotado de um laboratório de aplicação de plásticos, iniciativa que se reveste do maior interesse e contribuirá fortemente para o desenvolvimento técnico e económico do referido sector industrial.

50. Amoníaco petroquímico e ureia.
Foi estudada durante a vigência do Plano Intercalar a reorganização das nossas fábricas produtoras de amoníaco.
O elevado preço do amoníaco electrolítico e a falta de dimensão das nossas unidades produtoras de amoníaco foram os factores que mais contribuíram para nos impedir, durante largo tempo, de fabricar adubos amomiacais a preço de concorrência internacional.
O Governo teve, por vezes, necessidade de criar taxas de compensação para que a nossa lavoura não fosse gravemente lesada pela circunstância de se produzirem adubos no País.
O aparecimento do amoníaco petroquímico, de preço de custo muito inferior ao do electrolítico, contribuiu de forma eficaz para permitir dar condições de vida salutar ao sector dos adubos amoniacais.
As unidades europeias de amoníaco, a fim de se tornarem competitivas, têm vindo a concretizar uma política de reorganização, montando unidades de 500 a 1000 t/dia por concentração ou ampliação de unidades existentes com capacidade inferior a 300 t/dia.
Teremos de realizar idêntica política se quisermos que o sector de adubos sobreviva à concorrência futura. A conjuntura actual obriga-nos, na realidade, a conjugar esforços para dar aos nossos empreendimentos as melhores condições de concorrência.
No sector do amoníaco, durante o período do Plano, será apenas ultimada a política de reconversão do amoníaco electrolítico em petroquímico realizada, em grande parte, durante o período do Plano Intercalar. Serão invés(...)

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tidos 300 000 contos para ampliar em 170 000 t/ano a capacidade de produção de NH3 petroquímico da unidade sita em Cabo Ruivo.
Logo após a reorganização do sector do amoníaco e ainda dentro do período do Plano, prevê-se que a capacidade de produção de ureia obtida a partir do amoníaco petroquímico e do amando carbónico petroquímico aumente de 235 000 t/ano, para o que se faia, no respectivo sector, um investimento da ordem dos 750 000 contos.

51. Siderurgia.
Um dos mais importantes empreendimentos previstos para o período do Plano diz respeito à Siderurgia Nacional, S A B L , com um investimento da ordem dos 4 milhões de contos, compreendendo a coquefacção e aproveitamento dos respectivos subprodutos, o reforço da produção de oxigénio, o aumento da produção de aço, a extensão dos produtos de laminagem e perfis pesados (carris, etc. ) a produção de planos (chapa/folha-de-flandres, etc. )
Ultrapassadas as possibilidades produtivas da primeira fase do complexo siderúrgico do Seixal, torna-se necessário proceder à ampliação desta indústria-base, fundamental para o desenvolvimento económico do Pois, de modo que ela possa exercer toda a sua acção de estímulo sobre outras actividades produtivas, nomeadamente nos sectores das indústrias metalúrgicas e metalomecânicas. O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 47 521, de 2 de Fevereiro de 1967, elucida claramente sobre os objectivos e o alcance do empreendimento.

52. Armas

A Fundição e Constituição Mecânicas, S A B L , propõe-se efectuar um investimento de cerca de 110 milhares de contos com uma unidade de fabrico de armas para exportação Pré vê-se que as exportações anuais devidas a este projecto, no termo do Plano, serão da ordem dos 100 milhares de contos

53. Material eléctrico

A Standard Eléctrica deverá fazer ao longo do Plano investimentos que permitirão atingir um total de 900 000 contos em 1973 O valor de produção projectada para o mesmo ano é de cerca de 1,5 milhões de contos, dos quais cerca de l milhão destinados à exportação Trata-se de um dos projectos mais importantes a empreender durante o Plano no que toca ao reflexo sobre a balança comercial

SECÇÃO II

Programação dos principais subsectores

I) Indústrias extractivas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 -Âmbito das Indústrias extractivas

De harmonia com a C I. T. A , as indústrias extractivas repartem-se pelas seguintes classes

11 - Extracção de carvão;
12 - Extracção de minérios metálicos,
13 - Extracção de petróleo bruto e gás natural;
14 - Extracção de pedra argila, saibro e areia, 19 - Extracção de outros minerais não metálicos.

Não se incluem na classe 12 os minérios radioactivos, da jurisdição da Junta de Energia Nuclear e considerados no capítulo "Energia" O sal marinho, actividade cujo acompanhamento é da competência da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos, está compreendido na classe 19.
As três primeiras classes abrangem apenas substâncias concessíveis (minas) As duas últimas incluem concessíveis e não concessíveis (pedreiras), além do sal marinho.
Dada a escassez de elementos estatísticos relativos a pedreiras e sal marinho, estas actividades serão tratadas separadamente das substancias concessíveis.

1.2-Produção Analise do passado a projecções até 1978

No quadro I, compilado essencialmente a partir de elementos do I N E , apresenta-se de forma discriminada a- evolução da produção em toneladas e contos, a preços correntes, no período de 1953-1966.
Os elementos referentes às substâncias não concessíveis que figuram neste quadro estão subavaliados, como é sabido.
O quadro II foi transcrito do trabalho Projecções da Indústria Extractiva para o Período do III Plano de Fomento, subscrito pelo director-geral de Minas e Serviços Geológicos em 15 de Fevereiro de 1967.
Neste quadro apresenta-se uma síntese dos dados estatísticos e estimativas de produção, em valores de 1968.

QUADRO I

Volume e valor da produção a preços correntes (período de 1953-1965)

[ver tabela na imagem]

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QUADRO I

[ver tabela na imagem]

QUADRO II

Síntese das projecções das indústrias extractivas Preços de 1863

[ver tabela na imagem]

QUADRO III

Projecções da Indústria extractiva por actividade no período de 1968-1973 Valores em contos referidos a 1963

[ver tabela na imagem]

1.3 - Carvão

Após terem atravessado um período de prosperidade, as nossas minas de antracite levam há vários anos vida irregular e difícil Hoje vivem com o auxílio de subsídios oficiais.
A situação das minas de lignite tem sido ainda mais desfavorável A do cabo Mondego tem sobrevivido integrada num complexo cimenteiro A mina de Rio Maior mantém-se por via de subsídios oficiais.
A produção das nossas minas de carvão está cada vez mais dependente do consumo de centrais térmicas produtoras de energia eléctrica.
Se as dificuldades actuais forem superadas com n utilização das antracites na central da Tapada do Outeiro e a das lignites de Rio Maior numa central térmica a boca

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da mina, as projecções e taxas de crescimento da produção de carvões (antracites e lignites) poder ao ser as que constam do quadro III.
As reservas de antracites, da ordem dos 30 a 40 milhões de toneladas, e as de lignites, de cerca de 27 milhões de toneladas, não constituem obstáculo ao desenvolvimento projectado São amplamente suficientes.

1.4-Minérios metálicos

Os minérios de ferro, de que temos três tipos diferentes -hematite (Moncorvo), magnetite (Mário e Orada) e minério manganífero de ferro (Cercal do Alentejo)-, têm tido alguns problemas.
Em 1959 arrancou a siderurgia do Marão e em 1061 a Siderurgia Nacional, no Seixal, iniciando-se então a importação de minérios de ferro A exportação de hematite e magnetite ter certas facilidades até 1960, mas a partir desta data as hematites deixaram de ter aceitação no estrangeiro e a exportação das magnetites, por motivos vários, entrou em declínio Em 1964 cessou a exportação de minérios de ferro.
Os minérios manganíferos de ferro do Cercal do Alentejo, totalmente destinados a Siderurgia Nacional, começaram a ser produzidos em 1961.
Não há elementos seguros quanto às previsões de minérios de ferro, a não ser a contribuição dos minérios do Cercal do Alentejo para a Siderurgia Nacional
As hematites de Moncorvo estão repartidas por duas empresas Companhia Mineira de Moncorvo (alemã) e Ferrominas (hoje dependente da Siderurgia Nacional) Ambas estas empresas encaram a produção de pellets (reservas superiores a 500 milhões de toneladas).
A Ferrominas prevê uma produção de 750 000 t/ano para fins de 1968, sendo metade destinada à Siderurgia Nacional e a outra metade para exportação, a Companhia Mineira de Moncorvo encara a produção anual de l 500 000 t a 2 500 000 t de pellets a partir de 1972, totalmente destinadas à exportação.
Há, porém, um problema fundamental que ainda não está resolvido os transportes Sem prejuízo da solução já preconizada -a fluvial-, deverá também encarar-se a do caminho de ferro, por ser a mais rápida, dada a premência das soluções.
No quadro III indicam-se as previsões, partindo do princípio de que entretanto ficará solucionado o problema dos transportes e se concretizarão as realizações projectadas.
A produção dos restantes minérios metálicos registou queda acentuada em 1958, consequência da baixa cotação dos minérios de tungsténio e outros e do esgotamento das minas de cassiterite de Maçambas. A produção de cassiterite manteve-se em declínio até 1965, mas já cresceu em 1966. Os minérios de tungsténio estão em recuperação à taxa de 9 por cento em relação a 1968 (a preços correntes, a taxa foi de 42 por cento) Além destes minérios, que representam o maior peso da produção da classe, referem-se também as previsões de minérios de zinco, cuja produção sofreu grande aumento com a abertura de novas minas, o mesmo sucedendo com os minérios de chumbo Os sulfuretos complexos de ouro e prata mantém há muitos anos características de estabilidade
E difícil e aleatório fazer previsões de crescimento, dado o peso da extracção de volfrâmio, volúvel nas cotações e movimentos, e dada a situação no domínio da mão-de-obra.
No quadro II apresenta-se uma tendência que, no momento actual, representa boa probabilidade. O comportamento dos mercados internacionais pode, porém, alterar o que se projecta, tanto paia melhor como para pior Apenas se pode garantir que a evolução prevista está perfeitamente dentro da nossa actual capacidade de produção.

1.8 -Petróleo e gás natural

Ainda não foi descoberto qualquer jazigo de petróleo bruto ou gás natural na metrópole, e daí a impossibilidade de formular previsões.
Se vier a encarar-se decisivamente a prospecção e pesquisa de petróleo da área metropolitana com possibilidades potenciais, tanto na parte emersa como na submersa, a primeira há muito concedida a Companhia Portuguesa de Petróleos e a segunda internamente livre de concessões ou licenças, pode acontecer que os resultados sejam animadores. Não faltam empresas de reputada categoria internacional interessadas em lançar-se neste empreendimento Haverá apenas que diligenciar no sentido de se criarem condições para a execução dos indispensáveis trabalhos.

1.6 -Pedra, argila, saibro e areia

Desta classe, em que apenas o caulino é concessível, a análise do passado referente a produção das restantes substâncias foi efectuada a partir da observação dos consumos da indústria transformadora, em que têm papel relevante, e da exportação Os elementos estatísticos constantes do quadro i estão igualmente subavaliados.
A produção de caulino tem vindo a cair Espera-se que, com a entrada em produção dos novos jazigos de Viana de Castelo e outros do Norte do País, aumentem as exportações e se dê satisfação ao crescente desenvolvimento das indústrias que dele dependem.
Quanto às substâncias não concessíveis - areia e saibro, calcário, argila, granito, lousa, mármore, dolomite, etc. -, a sua importância é essencial, quer ao desenvolvimento industrial do País, quer ao sector das obras públicas e construção civil, com peso acentuado na exportação Pode afirmar-se que representam actualmente um dos sectores mais importantes da indústria extractiva
A sua evolução tem sido ascensional e não se prevê qualquer quebra No entanto, as projecções da produção estão inteiramente ligadas.
1) Ao campo da construção civil e obras públicas (calcários, granitos, mármores, areias, etc. ) e indústrias que os sorvem, como a dos cimentes e cal hidráulica (calcário, areia, argila), cerâmica de construção (argila), serração de pedras (mármore, granito, lousa),
2) As indústrias de porcelana, faiança e refractários (argilas, areias, dolomite, calcário), do vidro (areia, calcário, dolomite), indústrias químicas e adubos (calcário, areia), metalúrgicas de base e fundição (calcário, areia, argila, etc. ), pasta de papel, têxteis, borracha, abrasivos, etc. ,
3) A exportação de pedras (mármore em bloco e obra, granito aparelhado e polido, ardósia, etc. )

1.7-Outros minerais não metálicos

A pinte, que representa cerca de 90 por cento do valor total da produção, é a principal substância mineral desta classe.
O valor máximo da produção, a preços de 1963, verificou-se em 1960, notando-se quebra para o nível dos 117 000 contos em 1966, consequência de diminuição na procura de adubos fosfatados.

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As perspectivas futuras, não obstante a prudência nas estimativas dos nossos principais produtores de pintes, afiguram-se francamente boas, quer paia consumo interno (cerca de 50 por cento da produção actual), quer para exportação Internamente, é de esperar uma maior procura para satisfação das crescentes necessidades da produção de ácido sulfúrico, extremamente, as limitadas disponibilidades em enxofre e a subida verificada no seu preço concorrem para uma renovação do interesse pelas pirites.
Enquanto os produtores mais prudentes prevêem um crescimento em relação a 1965, à taxa de 3,5 por cento, os fabricantes nacionais de ácido sulfúrico admitem que ele se faça à taxa de 6,5 por cento A procura externa poderá acompanhar a ínterim e, assim, o crescimento é susceptível de atingir o milhão de toneladas em 1973 As reservas já conhecidas não constituem óbice ao crescimento projectado, podendo ainda vir a verificar-se evolução mais espectacular se se vierem a descobrir novos jazigos no decurso das campanhas de prospecção e pesquisa actualmente em curso no Alentejo.
O sal-gema, bastante abundante no nosso subsolo, só em 1957, com a entrada em actividade de uma nova mina, começou a ter relevância na produção. De então para cá tem-se verificado crescimento moderado, mas contínuo, da produção Uma nova unidade mineira no Algarve está a iniciar, muito lentamente, a sua lavra
Prevê-se para 1973 uma produção de 3 milhões de toneladas, principalmente destinadas à exportação.
Das restantes substâncias concessíveis desta classe (diatomite, bante, talco e amianto), só as duas primeiras tiveram algum significado, aliás pequeno, na produção passada.
As substâncias não concessíveis da classe são o gesso, o quartzo e o feldspato As estatísticas, em geral subavaliadas, não permitem fazer ideia segura do valor da produção destas substâncias.
As projecções da produção figuram no quadro in
Finalmente, deve referir-se o sal marinho, relativamente ao qual não há elementos válidos para a sua apreciação trata-se de iniciativa muito primitiva, com extrema pulverização empresarial Os condicionalismos que a dominam -condições atmosféricas muito variáveis e necessidade de mão-de-obra abundante - não permitem que se encare com optimismo o seu futuro desenvolvimento.

1.8-Exportações e Importações

Nos últimos anos, as exportações globais das substancias concessíveis mostravam, até 1963, perspectiva geral de declínio e, a partir de 1964, progressiva melhoria, com tendência a aumentar regularmente até 1972 Em 1978 deverá verificar-se forte impulso, resultante do início das exportações das pellets de Moncorvo.
As substâncias não concessíveis têm tido evolução ascensional, bastante acentuada nos últimos anos e com boas perspectivas futuras
Em 1965, as exportações totalizaram 823 657 contos, dirigindo-se 84,6 por cento para a C. E. E. e 9,8 por cento para os países da E F T A.
As principais exportações de substâncias concessíveis foram
Das não concessíveis, as principais foram

[ver tabela na imagem]

As previsões para 1978 indicam 800 000 contos, sendo 600 000 contos de substâncias concessíveis e 200 000 contos de não concessíveis Entre as primeiras, a exportação das pellets de Moncorvo atinge posição de relevo, com 300 000 contos.
As importações de produtos das indústrias extractivas têm vindo a processar-se em ritmo crescente, atingindo em 1965 o valor de l 476 222 contos
As principais substâncias foram

[ver tabela na imagem]

A acumulação na última rubrica é devida às importações de petróleo (970 874 contos de Barem, Irão e Iraque), de fosfates (180 718 contos de Marrocos), de hulha (87 097 contos da Checoslováquia e da Polónia)
O peso das importações de petróleo constitui matéria para séria reflexão Se não se encontrar petróleo na metrópole, as importações em 1973 deverão atingir cerca de 3 milhões de contos Ao petróleo caberão 2 158 000 contos, às bulhas 559 000 contos e aos fosfates 140 000 contos.
Relativamente ao sal marinho, não tem havido praticamente exportações, nem se espera alteração quanto ao futuro.
As importações de sal marinho comum e refinado têm sido variáveis, mas apresentam tendência para crescer.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Sector público

A Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos não dispõe, actualmente, de pessoal nem de estrutura para poder desempenhar-se bem das funções que lhe cabem, sejam as funções normais de entidade fiscalizado! a e orientadora de toda a mineração, sejam as funções de investigação e fomento, através do seu Serviço de Fomento Mineiro, sejam os trabalhos de actualização da cartografia geológica, pelo departamento dos Serviços Geológicos.
A reestruturação em moldes actualizados desta Direcção-Geral é, pois, objectivo a fixar em ordem a melhor valorização do sector das indústrias extractivas
Ao Serviço de Fomento Mineiro continuará competindo a investigação dos potencialidades minerais do subsolo até ao limite que despertará o interesse de empresas privadas técnica e financeiramente capazes, às quais caberá a exploração industrial dos jazigos.
A assistência técnica e laboratorial aos exploradores será também actividade importante do Serviço.

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A estatística da actividade de mineração, incluindo não só as minas, mas também as pedreiras, deverá ser revista de modo a eliminaram-se as suas actuais deficiências.

3.2-Sector privado

E geral em todo o Mundo o fenómeno da fuga da mão-de-obra ao duro trabalho nas minas e pedreiras Começou já a fazer-se sentir entre nós Aos industriais compete enfrentá-lo com medidas atinentes no aumento constante da produtividade, designadamente a mecanização das explorações.
O estudo e a aplicação das técnicas mais modernas não devem ser descurados.
O máximo processamento da matéria-prima produzida pela incorporação das maiores quantidades de mão-de-obra e energia deve ser objectivo em vista, sobretudo quando o destino é a exportação.
Os industriais devem activamente organizar e apoiar os seus organismos corporativos, a fim de promover a defesa dos seus ramos de actividade, pôr ordem na concorrência mútua e facultar meios de penetração nos mercados.
Como objectivos específicos, podem citar-se os seguintes
A produção de antracites deve ser mantida e destinada, na maior quantidade possível, à produção de energia eléctrica, devendo as minas fazer todos os esforços para obviar ao aumento do custo resultante do encarecimento da mão-de-obra.
Igualmente deverá encaminhar-se para a queima em centrais térmicas a produção de lignites dos nossos jazigos do Centro do País.
O jazigo de ferro de Moncorvo deverá entrar quanto antes em exploração, para alimentação da Siderurgia Nacional, eliminando a necessidade de importação de minérios, e para exportação em larga escala.
Deverá incentivar-se a transformação no País dos minérios metálicos produzidos, nomeadamente os de tungsténio, chumbo e zinco.
Cumpre promover o aumento substancial da produção de pintes, não só para exportação, mas sobretudo para processamento em instalações fabris nacionais, com vista à exportação de produtos finais.
Deverá incrementar-se a exploração racional e a valorização dos produtos das reservas de arguas, areias, dolomites, diatomites, caulinos e outros não metálicos, de modo a satisfazer convenientemente as necessidades da indústria transformadora, substituir dispendiosas importações e exportar os excedentes

2.3 - Legislação

E preciso actualizar a legislação, quer n referente a pedreiras, quer a relativa às minas.
A mera declaração de exploração de uma pedreira, como único acto exigido pela lei, é demasiado simplista nos casos de verdadeiro interesse industrial Torna-se necessário um processo de licenciamento, embora reduzido ao essencial (plano de lavra, dimensionamento bastante), quando a exploração envolva certo número de operários ou determinada potência instalada.
Também é de preconizar regime especial, com maior intervenção do Estado, regulando direitos e deveres de exploradores e de proprietários, para os casos de exploração que pelo seu desenvolvimento ganhem projecção regional, ou mesmo nacional, no enquadramento económico-social (mármores de Estremoz, ardósias de Valongo e outras)
Quanto a concessões mineiras, será necessário rever-se o critério da sua atribuição, que hoje pode ser feita a qualquer, sem o mínimo de condições técnicas e económicas exigidas por uma exploração séria.
É necessário dar aplicação prática ao preceito legal que faz reverter para o Estado as minas paralisadas sem justificação aceitável. Actualmente, de cerca de 2000 unidades mineiras concedidas, mais de 1800 estão paradas na posse de concessionários, que, para as manter nessa situação, não precisam mais do que pagar a quantia irrisória de 250$ anuais por cada concessão.
Outro ponto muitas vezes focado é a conveniência de incluir na categoria de concessíveis certas substâncias que hoje são exploráveis no regime de pedreiras: feldspato, quartzo, gesso e outras.

§ 3.º Projecções dos Investimentos e emprego

3.1 -Investimento de entidades particulares

A este respeito, apresenta-se a síntese que figura no Relatório Final das Indústrias Extractivas

Investimentos previstos

[ver tabela na imagem]

A distribuição aproximada do total destes investimentos é a seguinte, em contos

[ver tabela na imagem]

Estima-se que os financiamentos serão efectuados do modo seguinte

[ver tabela na imagem]

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Estes números são os somatórios das indicações dadas pelos empresários.
Nas concessíveis, avulta o projecto de 2 milhões de contos da Companhia Mineira de Moncorvo Os investimentos previstos para as não concessíveis afiguram-se insuficientes para garantir o desenvolvimento esperado neste sector.

3.2-Investimentos do Estado

As verbas previstas para o Serviço de Fomento Mineiro são as seguintes

Investimento no fomento mineiro

[ver tabela na imagem]

3.3 -Evolução do nível de emprego

Transcreve-se do trabalho citado sobre Projecções da Indústria Extractiva, capítulo

6.1 2 - Nível de emprego.

Produtividade.

Numa tentativa de avaliação, poderíamos indicar os seguintes números para 1965, relativos a pessoas efectivamente ocupadas e à produtividade a preços de 1968

[ver tabela na imagem]

Para 1973, se a evolução não se afastar muito da que desenhámos, a estimativa seria:

[ver tabela na imagem]

Supõe-se tratar-se de pessoal efectivamente ocupado, isto é, trabalhando o ano inteiro.
O grande crescimento da produtividade admitido para os metálicos radica-se sobretudo nas hipóteses de lançamento das explorações altamente mecanizadas de Moncorvo Quanto às não concessíveis, é de prever o gradual desaparecimento das numerosíssimas microexplorações em proveito das bem equipadas, assim como uma melhoria no grau de mecanização.

§ 4. Projectos

Há projectos de entidades particulares e do sector público Apresentam-se, em síntese, os principais..

1.1 - Carvões

As duas minas de antrauite da bacia carbonífera do Douro (S Pedro da Cova e Pejão) prosseguirão, na medida do possível, com a mecanização, em ordem ao aumento de produtividade.
Os projectos estuo dependentes, na sua execução, do compromisso, por parte da Empresa Termoeléctrica Portuguesa, em consumir volume substancial da produção das minas.
Nas lignites, o principal projecto centra-se em Rio Maior, com a sua utilização numa central térmica e boca da mina.
O Serviço de Fomento Mineiro concluirá o estudo geológico-mineiro da bacia carbonífera do Douro, com vista a uma reavaliação das reservas de antracite e das condições de exploração. Executará eventualmente sondagens na bacia de lignites de Rio Maior, no caso de se prosseguir o esquema de aproveitamento destes carvões, e investigará outras ocorrências de lignites, se se concluir pelo interesse de aumentar as reservas (Caldas da Bainha, etc. )

4.2- Minérios metálicos

Minérios de ferro -Em Moncorvo, concluídos os estudos em curso com a oficina-piloto, que se prevê venham a confirmar a viabilidade do empreendimento, calcula-se a produção de milhão e meio a dois e meio milhões de toneladas de pellets Outro projecto, ligado à Siderurgia Nacional, prevê, para fins de 1968, a produção de 750 000 t de pellets Pode admitir-se que, entretanto, se venha a acordar num único programa Trata-se do plano de maior vulto de toda a indústria extractiva, mas está condicionado, como se disse, pela resolução do problema dos transportes A colocação da produção é assegurada, quer pela Siderurgia Nacional, quer pela exportação.
Quanto às duas outras empresas que projectam fazer investimentos - Cofena, na zona de Orada, e Empresa Metalúrgica da Serra do Cercal, nas minas ferro-manganíferas do Cercal -, a primeira destina-os a equipamento de minas que venham eventualmente a ser reveladas pelas prospecções em curso e a segunda a um aumento de produção necessária à Siderurgia Nacional.

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O Serviço de Fomento Mineiro prosseguirá, no Alentejo, a prospecção geológica, geofísica e geoquímica de jazigos e subsequentes reconhecimentos de ocorrências encontradas Em Trás-os-Montes, com relevo especial para Moncorvo, sei ao feitos ou acompanhados trabalhos tendentes ao melhor conhecimento do valor económico dos jazigos.
Minérios de estanho e volfrâmio - Os principais projectos centram-se nas minas de estanho de Montezinho e de volfrâmio da Panasqueira.
O Serviço de Fomento Mineiro fará a investigação geológico-mineira nos zonas favoráveis e ocorrência de jazigos e prestará assistência aos concessionários na resolução de problemas geológicos e de exploração.
Minérios do chumbo e zinco, ouro, prata e antimónio - Os mais importantes projectos centram-se na mina de chumbo, zinco e prata de Terramonte e de ouro e prata de Jales.
O Serviço de Fomento Mineiro prosseguirá na realização de estudos geológicos, prospecções geoquímicas e geofísicas, quando indicadas, e eventualmente em trabalhos de pesquisa nas legiões de ambiente geológico favorável à ocorrência destes minérios o nas concessões inactivas existentes no País.
Minérios do manganês o cobre - O principal concessionário de manganês do Alentejo projecta aumentar a produção dos suas minas, com o fundamento em que se incrementará o consumo interno.
Os serviços oficiais têm no seu programa o estudo das concessões inactivas de cobre a norte do Tejo e o prosseguimento da prospecção nas diversas áreas cupríferas do Alentejo.

4.3 -Petróleos

Não existem projectos concretos Há boas possibilidades de virem a realizar-se trabalhos de prospecção e pesquisa, pelo menos na plataforma continental

4.4-Pedra, argila, saibra e areia

Caulino - A principal empresa concessionária - Companhia Anglo-Portuguesa de Caulinos- projecta aumentar largamente a produção com a entrada em exploração dos jazigos de Viana do Castelo Prevê-se que outras empresas a seguirão, modernizando os seus equipamentos.
Calcário, mármore, arguas, dolomites, ardósias, grani-tos, areias, etc. - Foi impossível conseguir uma panorâmica geral dos projectos a realizar neste sector, quer por os principais empresários se absterem de fornecer elementos, quer por alguns industriais os englobarem no conjunto das suas empresas, que envolvem, em muitos casos, os sectores de extracção e transformação.
Seguramente, haverá intensificação da mecanização em numerosas pedreiras e abertura de novas, com relevância especial para os calcários, mármores, areias e ardósias.
O Serviço de Fomento Mineiro elaborará o catálogo geral das areias, argilas e caulinos metropolitanos, fazendo os estudos químico-mineralógicos e ensaios tecnológicos requeridos, definirá zonas de argilas com características de interesse imediato para a indústria e delimitará, com referência especial para as áreas de Rio Maior, Coma, Figueira da Foz e litoral norte do País, as formações arenosas com aplicação nas indústrias vidreira e de fundição
Por fim, caracterizará as diferentes manchas de calcários e margas, definindo zonas com variedades de interesse para os diversos tipos de consumo actual e futuro, prevendo-se o estudo, até definição das reservas, de dolomites e calcários dolomíticos, e demarcará as manchas com características favoráveis à exploração, tendo em vista quer a exploração, quer o abastecimento da indústria de serração Serão objecto de atenção especial a mancha lousífera de Valongo, a mancha de sienitos nefelínicas de Monchique e as áreas com mármores comerciais (Estremoz- Vila Viçosa, Viana do Alentejo- Alvito, Trigaches, Santiago do Escoural, Pêro Pinheiro e Porto de Mós)

4.3- Outros minerais não metálicos

Pintes - É de esperar que, em resultado da prospecção no Alentejo, actualmente realizada por três poderosas companhias, e que prosseguirá no período do Plano, venham a ser criadas novas minas, que haverá que equipar Às actuais empresas exploradoras prosseguirão com a mecanização das suas minas (Aljustrel e Lousal)
Os serviços oficiais, por sua vez, continuarão a prospectar pirites em zonas favoráveis do Alentejo.
Não deve perder-se de vista a possibilidade de maior industrialização de pirites (as reservas já conhecidas, da ordem dos 100 milhões de toneladas, permitem muito mais do que exigem os projectos anunciados), com relevante influência não só numa indústria de base - a dos adubos fosfatados -, como ainda pela obtenção de subprodutos, como as cinzas (bom minério de ferro já hoje ao serviço da Siderurgia Nacional), o cobre, chumbo, zinco, etc.
Sal-gema, Projecta-se o aumento da produção da mina de Matacães, ligado ao crescimento da indústria química, e da mina de Loulé, com produção destinada a exportação Admite-se que diversas empresas venham a explorar outros jazigos
Quartzo, feldspato e mica - Prevê-se a mecanização da exploração das numerosas pedreiras existentes Os serviços oficiais procederão a inventariação dos jazigos existentes, sua caracterização e avaliação dos reservas

II) Indústrias de alimentação e bebidas

9 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

A análise das várias modalidades industriais que integram o sector da alimentação e bebidas mostra que apenas as seguintes actividades*

Moagem de trigo com peneiração;
Refinação de açúcar,
Margarina,
Fermentos e leveduras,
Cerveja;
apresentam valor bruto médio da produção, por fábrica superior a 20 000 contos
Dado que, ao nível europeu, somente acima deste volume de vendas se situa a grande indústria, pode afirmar--se que, entre nós, a grande indústria alimentar é ainda incipiente e exclusivamente constituída pelas citadas modalidades
Note-se, no entanto, que, por exemplo, nos sectores da moagem de trigo ou da refinação de açúcar, se encontram ainda unidades caseiras ou artesanais e, inversamente, nem iodos as unidades de conservas de carne ou lacticínios assumem o carácter caseiro ou artesanal característico de tais actividades
O facto de serem até as actividades mais caracteristicamente caseiras, como a panificação, que maior contributo

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trazem ao valor bruto da produção das indústrias alimentares, traduz um aspecto genérico destas actividades que deriva do enorme número de unidades existentes em cada modalidade e da circunstância de viverem, na maioria dos casos, de olhos postos apenas no mercado interno Tal circunstância acarreta as mais diversas consequências estruturais.
As unidades rotuladas de industriais levam uma vida frequentemente apagada de artesanato anacrónico Falta-lhes dimensão para se especializarem e evoluírem tecnologicamente, não aproveitam suficientemente as matérias-primas que utilizam e, incapazes de atingir um nível de produtividade razoável, não alcançam o porte que as lance na exportação.
Este sector, de produção tão diversificada, pode agrupai-se nas seguintes subdivisões

1º Industrias caracterizadamente do consumo interno

C A E

201 - Conservas de carne
202 - Lacticínios
205 - Moagem e descasque de arroz
206 - Panificação e bolachas e biscoitos
207 - Refinação de açúcar
209 3 - Massas alimentícias
209 4 - Torrefacção
209 7 - Alimentos preparados para animais
209 9 2 - Gelo
214 - Engarrafamento de águas mineromedicinais e de mesa

2º Indústrias que, actuam já nos mercados externos

C A E

203 - Conservas de frutos e produtos hortícolas
204 - Conservas de peixe
209 6 - Moagem de pimentão

3º a Indústrias com expansão favorável nos mercado" externos, a médio ou longo prazo.

C A. E .

208 l - Chocolates e cacau
208 2 - Produtos de confeitaria
209 2 - Produção e refinaria de azeite e outros óleos
alimentares
209 8 - Fermentos e leveduras
209 91 - Amidos, féculas, extremas e produtos afins.
213 - Cerveja

Na generalidade, todas as actividades não abrangidas no grupo da grande indústria alimentar incipiente apresentam, na maioria das suas unidades - incluindo a refinação de açúcar -, uma estrutura deficiente, apoiada na utilização de excessivo volume de mão-de-obra, o que acarreta, por via de regra, o pagamento de salários médios relativamente baixos.
Uma das características básicas da indústria alimentar portuguesa é a de as matérias-primas utilizadas concorrerem em elevada percentagem (cerca de 80 por cento) para a formação do custo.
Resultam daqui, em quase todas as modalidades, problemas ligados ao abastecimento de matérias-primas, que, nos seus aspectos fundamentais, podem resumir-se nas seguintes alíneas.

a) Qualidade inapropriada,
b) Escassez ou irregularidade de abastecimento;
c) Circuitos de comercialização inadequados,
d) Preços elevados ou artificiais.

Outro denominador comum da indústria alimentar é a pequena dimensão do mercado nacional em referência ao excessivo número de unidades industriais
Do exposto, conclui-se pela necessidade da publicação de regulamentos adequados e da normalização urgente dos produtos como meios saneadores da concorrência e do exercício da actividade industrial.

1.1 - Indústrias caracterizadamente de consumo Interno

Dada a complexidade deste subsector e o numeroso grupo de actividades que o constituem, analisaremos cada uma de per si, tentando, contudo, sempre que possível, a agregação de número maior ou menor de indústrias.
No sector da matança do gado, preparação e fabrico de conservas de carne, foram analisadas as empresas que se dedicam ao fabrico e preparação destas conservas, que incluem os produtos tratados apenas pelo sal, fumados e cozidos, enchidos e ensacados, pastas e diversos, os quais, no período de 1958-1964, apresentaram a taxa média acumulada de crescimento de 0,2 por cento. Esta taxa reflecte a grande quebra de produção que se verificou em 1964, pois no período de 1958-1963 o seu valor fora de 2,75 por cento, apesar de o volume da produção em 1963 ter sido mais baixo.
Do notar, no entanto, que os enchidos e ensacados e os fumados ou cozidos mantiveram os seus volumes de produção no seu nível normal de crescimento, pelo que a diminuição do volume total da produção em 1963 e 1964 foi consequência imediata das reduzidas produções de salgados, produtos diversos e produtos vendidos em fresco.
A indústria de lacticínios foi abordada na sua generalidade por não ter sido possível recolher elementos referentes à indústria de gelados e sorvetes e por não se poder, por enquanto, considerar a pasteurização e engarrafamento de leite como indústria tipicamente diferenciada.
Salienta-se de modo notório que a produção de leite em pó passou de 1372 t em 1956 para 4733 t em 1964, manifestando um crescimento de mais de 8,5 vezes, à taxa de acréscimo acumulado de 17 por cento.
A produção de farinhas lácteas cresceu a taxa de 12 por cento, tendo-se ampliado também em 7 a 8 por cento a produção de queijo, produtos dietéticos e leite condensado, os "outros produtos" manifestaram, a partir de 1962, um acréscimo que se supõe atribuir-se à produção de gelados e sorvetes A partir de 1959, a produção de manteiga começou a decrescer e em 1964 encontrava-se ao nível de 1956.
No sector da moagem, trituração e preparação de cereais e leguminosas é de salientar, em 1964, a existência de numerosas instalações de moagem de farinhas em rama de carácter rudimentar, dado que cerca de 91 por cento das unidades existentes s5o moinhos de vento ou azenhas, trabalhando, em grande parte, para uso próprio dos seus proprietários ou laborando, e tarefa ou à maquia, os cereais de utilizadores industriais.
Nesse mesmo ano existiam no continente 39 moagens de milho e centeio com penetração, das quais 12 estavam inactivas A moagem espoada de centeio tem incrementado a sua produção, nos últimos nove anos, & taxa média acumulada de 5,5 por cento, e a espoada de milho e tosa de 38,6 por cento As taxas médias acumuladas de crescimento dos vários produtos da indústria das moa(...)

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(...) gens de brigo com peneiração foram, no período de 1055-1964, as seguintes

Percentagem

Farinha para panificação e outros usos 1,6
Farinha paia usos culinários 0,9
Farinha para massas alimentícias 1,8
Farinha para bolachas 12,2

apresentando-se as capitações dos principais produtos ligeiramente ascendentes
Só sector de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, produz-se e vende-se arroz descascado, branqueado, matizado ou glaciado como produto principal, trincas de arroz (pórticos) como principal subproduto, podendo dizer-se que a produção deste subproduto anda ao redor dos 5 a 10 por cento das quantidades do produto principal; sêmeas de arroz (cerca de 10 por cento do produto principal), e casca de arroz.
Em 1954, a venda do produto principal foi de 89 000 t e, em 1964, de 110 000 t O crescimento não foi regular e dependeu não só da produção da lavoura orizícola, como da maior ou menor quantidade dos produtos agrícolas concorrentes, cujo pi eco ascendente explica o aumento do consumo do arroz, de preço estacionário, o que determinou a importação deste produto À capitação do continente e ilhas adjacentes anda perto dos 12 kg de arroz descascado, glaciado e branqueado, em conjunto, correspondentes a cerca de 19 kg de arroz em casca A produção agrícola de arroz não deverá subir muito nos próximos anos, a não ser que se torne mais compensadora Dela está dependente o aumento da produção do sector
Deve acrescentar-se no sector de descasque, branqueamento e glaciagem do arroz a necessidade de se aumentar a área dos regadios, o que ele vai ia a produtividade, não só por se obterem maiores espaços para cultivos, como também por mais facilmente se poder evitar a sua repetição- nos mesmos terrenos para além do conveniente.
Incluindo o grupo dos indústrias de padaria e pastelaria, actividades um tanto ou quanto heterogéneas, limitou-se o âmbito do estudo da panificação ao fabrico do pão e de produtos afins, cuja produção passou doa 504 840 t em 1953 para 594 730 t em 1964, ou seja, de uma capitação de 60 kg paia 65 kg nesse período.
O fabrico mecânico de bolachas e biscoitos é exercido na metrópole por 28 estabelecimentos, tendo, no período de 1954-1964, apresentado a taxa média acumulada de crescimento de 10,4 por cento e sendo o consumo per capita, no primeiro daqueles anos, de 0,358 kg e, no último, de 0,900 kg.
Gomo as unidades produtoras de açúcar (ramos) se situam no ultramar, apenas foi considerado o sector da refinação de açúcar A produção, em 1964, foi de 163 678 t, apresentando, no período de 1953-1964, um crescimento à taxa média acumulada de 4,6 por cento.
No ano de 1964, os estabelecimentos produtores de massas alimentícias e produtos similares existentes no continente eram 16 e 11 nas ilhas adjacentes, dos quais 4 estavam inactivos O produto principal fabricado cresceu, no período de 1953-1964, à taxa médio acumulada de 2,4 por cento, verificando-se que, no último destes anos, a quantidade produzida de massas alimentícias de qualidade superior ultrapassou a produção das de consumo corrente, que representam somente dois quintos da produção total As capitações em 1964 foram do 3,1 kg para massas de qualidade superior e de 3 kg para massas de consumo corrente.
A actividade torrefactora é exercida no continente por 156 estabelecimentos, dispondo cada um de uma capacidade total de carga superior a 15 kg por operação, além de muitos outros abaixo deste escalão, que, por assim dizer, não atingem sequer o nível de indústria caseira Esta actividade cresceu, no período de 1958-1964, à taxa média acumulada de 2,33 por cento No entanto, a evolução não foi idêntica para todos os produtos Assim, no período de 1953-1964, a torra do grão manteve-se estacionária, o mesmo acontecendo à da chicória, enquanto as toiros do café e da cevada, depois de se terem mantido estacionadas, apresentaram subidas sensíveis nos últimos anos do período considerado Na torra do amendoim, a produção mantém um acréscimo regular, tendo sido, em 1964, superior ao dobro do de 1953.
À preparação das folhas de chá, actividade industrial somente exercida nos Açores, tem uma produção com tendência para diminuir nos últimos anos, reflexo da redução da área cultivada, tendo chegado a atingiu, no período de 1956-1960, média de produção anual superior a 150 t, enquanto em 1963 e 1964 pouco ultrapassou as 100 t.
Em 1964, eram 48 os estabelecimentos existentes de preparação de alimentos compostos para gado, cujo produto principal cresceu, no período de 1953-1964, u taxa média acumulada de 19,6 por cento Embora esta indústria tenha evoluído rapidamente nos últimos cinco anos, há ainda um longo caminho a percorrer na sua expansão em Portugal, dado o armentio nacional.
A actividade de fabricação de gelo é constituída por 32 estabelecimentos que se dedicam à produção de gelo como actividade principal À produção destes estabelecimentos teve quebra sensível em 1962, mantendo-se, nos dois anos seguintes, a nível idêntico Tal quebra não representa, no entanto, uma diminuição do consumo total do gelo devendo-se ao facto de os estabelecimentos classificados noutros íamos industriais, cujas produções até 1961 excepcionalmente atingiram 900 t, terem produzido nos anos de 1962, 1963 e 1964 quantidades que ultrapassar em 34 000 t para auto-abastecimento.
A produção total dos estabelecimentos da indústria de gelo, que em 1953 fora de 79 921 t, em 1964 atingiu 89 954 t.
No sector das bebidas, as águas mineromedicinais engarrafadas constituem actividade acessória do sector termal, no qual os problemas são versados em quadro económico diferente, trata-se aqui apenas dos águas que, embora oferecendo interesse terapêutico, se põem à venda com finalidade dominantemente comercial No período, foi possível considerar (1955-1964), apesar da depressão verificada em 1968, de que foi responsável o imposto de consumo, pode considerar-se amplamente ascensional a produção metropolitana, que, de 17 720 000 l em 1955, se elevou a 24 999 000 l em 1964, tendo-se aproximadamente nos extremos da curva correspondente ao período referido, a capitação de 1,97 l por habitante e de 2,5 l por habitante, com manifesta tendência paia o crescimento nos anos subsequentes.
Com um comportamento, do ponto de vista económico, que acompanho de perto o que respeita às águas minerais, a evolução da produção de águas de mesa engarrafadas no período de 1958-1964, apesar da depressão verificada em 1963, por virtude do imposto de consumo, apresentou evolução ascensional.
De 2 478 0001 em 1955, atingiu 5150 0001 em 1964 tendo-se, respectivamente, a capitação de 0,275 l e da 0,515 l.

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1.2 - Indústrias que actuam já nos manados externos

No sector conservação de frutos e produtos hortícolas, as considerações resumem-se à indústria do concentrado de tomate, de longe a mais representativa no conjunto A produção observada nos sete anos do período de 1959-]Q65 apresenta descimento à taxa média acumulada superior a 50 por cento durante o período dos últimos cinco anos. Assim, o total da produção, que era em 1959 de 8672 t e em 1961 de 14 272 t, já ascendia a 81000 t em 1965 Nilo são conhecidos os números representativos das capitações, uma vez que não é possível destrinçar os quantidades que soo utilizadas pela indústria de conservas de peixe das consumidas em usos culinários. A indústria de concentrado de tomate e a conserva de tomate pelado, que lhe anda normalmente ligada, encontram-se em franco desenvolvimento, tendo-se verificado acentuado crescimento da exportação à custa do declínio de concorrentes, em especial da Itália
No sector de enlatamento e conservação de peixe e outros produtos de pesca, o âmbito da actividade estudada limitou-se a conservação em azeite ou molhos e pelo sal, exercida no continente e nas ilhas adjacentes. De notar a elevada participação das conservas de sardinha e similares na produção total de conservas, 90,7 por cento do valor de custo e 92,7 por cento da quantidade. A taxa média acumulada de crescimento da produção de conservas do peixe e outros produtos do pesca foi, no período do 1053-1964, de 9,8 por cento, apresentando o sector das conservas do sardinha e similares, nesse período, uma taxa de crescimento de 9,9 por cento
Verifica-se neste sector clara tendência para o aumento do volume da produção, sendo a variação anual consequência do maior ou menor favor da pesca das espécies industrializáveis
A moagem do pimentão, indústria com índice de localização acentuada em Portalegre e Santarém, cresceu nos últimos onze anos a uma taxa acumulada de 6,1 por cento. A produção média anual por estabelecimento em actividade foi de 62 t em 1984, número que indica dimensão técnico-económica aceitável

1.3 - Indústrias com expansão favorável nos mercados externos a médio ou longo prazo

A indústria de fabricação de chocolates e cacau dedica-se, em quase todos os estabelecimentos, também no fabrico de produtos que, de acordo com a classificação da C A E , são incluídos noutras indústrias, como a confeitaria (bombons, caramelos, drops) e, por vezes, na de gelados Os produtos mais significativos desta indústria tiveram, no período de 1953-1964, as seguintes taxas médias acumuladas de crescimento.

Percentagens

Cacau em pó ......... 8,4
Chocolate em pó ..... 9,6
Massa de chocolate .. 7,1
Chocolate moldado ... 7,2
Manteiga de cacau ... 9,8

O potencial da produção de chocolate foi fortemente aumentado nos últimos anos, não tendo essa capacidade suplementar sido completamente utilizada
Designa-se entre nós por confeitaria a actividade das empresas agrupadas no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria, compreendendo as actividades dedicadas ao fabrico de amêndoas e confeitos, (tropa, caramelos, rebuçados e semelhantes, frutos cristalizados, doces e demais conservas de fruta, bolos secos, pastelaria e toda a qualidade de doçaria
Segundo os dados apurados em 1964, o valor total da produção foi de 262 920 contos, que, por dificuldades de apuramento, se estima, na realidade, em mais de 300 000 contos. No conjunto, são as conservas de frutas que apresentam certo aspecto industrial, porque o festo (maioria das actividades) se reveste de acentuada característica artesanal. No período de 1956-1964, a produção do conjunto dos produtos aumentou segundo um ritmo que se traduz por um acréscimo médio anual da ordem dos 4,1 por cento. A evolução da produção depende directamente da evolução do nível de vida e dos hábitos alimentares das populações.
Entendeu-se considerar no sector da produção e refinação do azeite e outros óleos alimentares apenas o azeite e o óleo de amendoim, por dificuldades várias, e ainda porque no período considerado (1953-1964) foram os únicos que, na realidade, tiveram significado. A produção de azeite refinado era em 1953 de 6660 t e em 1964 de 18 514 t, sendo o capitação, respectivamente, de 7,856 kg e 7,996 kg. A produção do óleo de amendoim elevou-se de 12 469 t em 1953 a 19 675 t em (1964, as quais corresponderam capitações de 1,303 kg e 2,212 kg, respectivamente. Na produção do azeite nota-se desenvolvimento, verificando-se o progressivo encerramento de lagares obsoletos, para darem lugar a unidades modernas mais bem dimensionadas e equipadas.
Apenas existem três fábricas de óleo de amendoim, todas elas comparáveis às melhores de outros países
Embora em 1964 existissem quatro estabelecimentos de fabricação de margarinas, a produção em escala industrial jesuíta da actividade de apenas dois deles. No peitado de 1903-1964, a sim produção cresceu à taxa média n cumulada de 28,8 por cento. No período de 1961-1964, as produções de shortenings e de gorduras hidrogenadas cresceram a taxas médias acumuladas de, respectivamente, 29,4 por cento e 26 por cento. A capitação de margarina evoluiu de 0,132 kg nesse período
No sector da fabricação de fermentos e leveduras, foi abordada apenas a indústria de leveduras seleccionadas, sem que se tenha procedido ao estudo dos chamados «fermentos químicos», pela ausência de elementos estatísticos e pelo pouco reflexo que tal actividade manifestai á na nossa economia Em 1964 existiam em actividade quatro estabelecimentos, tendo a produção - 7779 t - sido elevada de 6023 t em 1960. O crescimento deu-se a uma taxa média acumulada de 6,6 por conto
A indústria de fabricação de amidos, féculas, dextrinas e produtos afins era exercida em 1964 por seis estabelecimentos. Verificou-se que a produção de amiláceos cresceu, nos últimos dez anos, a uma taxa média acumulada de 5,25 por cento, sendo essa taxa de 2,8 por cento para os destinados a alimentação e indústrias alimentares e de 11,6 por cento para indústrias não alimentares
Procurou-se, sempre que possível, fazer o estudo conjunto da indústria de malte e cerveja metropolitana A produção continental de cerveja em 1964 foi do 50 066 000 1, da qual 46 246 000 1 (92,4 por cento do total) foi do cerveja branca. A taxa média acumulada de crescimento no período de 1953-1964 foi de 11,6 por conto, tendo sido a de cerveja branca de 12,4 por cento e a de cerveja- preta e escura de 5,1 por cento. A pro- (...)

1 Para o cálculo das captações deduziu se às produções referidos o azeite refinado utilizado pela indústria do conservas

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(...) dução das ilhas adjacentes em 1964 foi de 3 071 000 1, da qual 2 493 000 l (81,2 por cento do total) foi de cerveja branca. A taxa média acumulada foi, no período de 1053-1964, de 6,1 por cento, tendo sido a de cerveja branca de 7,7 por cento e a de cerveja preta e escura de 1,2 por cento O consumo metropolitano per capita de cerveja em 1964 não chegou a atingir os 5,5 l. No período atrás referido verificou-se uma nítida tendência para o aumento da produção de cerveja, embora alguns factores independentes das empresas produtoras tivessem contrariado essa tendência, como foi o aumento do imposto de consumo verificado em 1962. A evolução da qualidade foi notável, tendo sido introduzido um novo tipo de cerveja, com o objectivo de o consumidor dispor de todos os tipos que desejar

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Indústrias caracterizadamente de consumo Interno

A orientação básica a seguir no sector das conservas de carne é ditada pelas consequências graves devidas à epizootia (que grassa já há dez anos) da peste suína africana, cujos reflexos são bem notórios e fizeram que a taxa média acumulada do crescimento, já deficiente, da indústria - 2,7 por cento - passasse nos últimos anos, após 1958, para 0,2 por cento
É preciso, portanto, ocorrer à falta de matéria-prima tentando reconstituir os efectivos porcinos. Para isso, supõe-se aconselhável a importação de sementais de raças muito precoces, com o objectivo de constituir efectivos que, em virtude da sua precocidade, permitam, em certa medida, obviar um pouco aos inconvenientes da epizootia
Ao mesmo tempo, a actividade, que é constituída por inúmeros estabelecimentos - 1363 -, a maioria sem condições técnicas e higiénicas recomendáveis, carece de ser regulamentada nestes aspectos, devendo tal regulamentação ser acompanhada de fiscalização eficaz. Sobretudo, á importante fixar para os produtos os graus máximos de contaminação bacteriológica e, ao mesmo tempo, fiscalizar a análise bromatológica das matérias-primas utilizadas
Evidentemente que a ausência de inspecções médicas periódicas para todos os operários pode também ser causa grave de disseminação de doenças infecciosas para o homem
Igualmente se recomenda prosseguir e ampliar as providências que conduziram à produção, pelo sector primário, de porcos tipo carne, em vez de porcos tipo gordura, que são ainda os que predominam em virtude da sua origem alentejana
Dado que a expansão da indústria de lacticínios se tem dado a taxa média acumulada notável, através das modalidades de leite em pó - 17 por cento -, farinhas lácteas - 12 por cento - e até mesmo por intermédio da produção de queijo, produtos dietéticos e leite condensado - 8 por cento -, compreende-se, não obstante a baixa capitação de consumo de leite em natureza - 201 em Lisboa, 12l no continente - quando comparada com a de outros países - Espanha 561, Finlândia 3001 -, que a indústria se debata com o grave problema de falta de matéria-prima
O objectivo básico a atingir paia solucionai os problemas deste i amo industrial tem de ser realizado através do sector primário É urgente produzir-se mais leite, até porque as capitações de consumo de lacticínios em Portugal são muito baixas em confronto com as da Europa evoluída-manteiga Portugal 0,7 kg, Alemanha 7 kg, França 7 kg, Suécia 9 kg, Bélgica 10 kg, queijo de vaca Portugal 0,5 kg, Holanda 7 kg, Suécia 8 kg, França 9 kg
Embora a produção de leite no nosso pais tenha duplicado nos últimos vinte anos, o Governo, consciente da necessidade urgente da realização de uma política intensificadora neste sector, publicou os diplomas necessários para se promover o fomento pecuário, com vista a incrementar a produção de carne e leite, e preparou nova legislação sobre rações, em vias de publicação
À obtenção de leite mais gordo por uma alimentação mais racionai aconselha ao aumento da produção forrageira qualificada, incluindo os alimentos compostos para arraçoamento de gado
Conviria, sobretudo, interessar a indústria de lacticínios no fomento pecuário leiteiro, promovendo ao mesmo tempo uma concentração da indústria, actualmente dispersa por 215 fábricas
A produção de farinhas de trigo com peneiração tem apresentado crescimento muito reduzido, consequência da tendência evolutiva do consumo de pão, sendo o acréscimo verificado no período - 1961-1964 - imputado praticamente, ao correspondente aumento da população
São vários os factores que contribuem para esta estagnação, além da melhoria do nível de vida
A inferior qualidade das matérias-primas em face do critério de valorização do cereal em função do peso do hectolitro, sistema este já abandonado no estrangeiro, tem conduzido a lavoura à cultura de variedades de reduzido valor tecnológico Simultaneamente, as importações frequentes de trigo, função do mais baixo preço, têm também colaborado na má qualidade das farinhas e sêmolas produzidas, o que tem tido nocivo reflexo sobretudo na indústria de massas alimentícias e bolachas, com prejuízo tanto para o consumo interno, como para a exportação
Apesar das concentrações de empresas o fábricas verificadas neste sector, está-se longe de ter atingido o regime de trabalho, universalmente aceite, de 24 horas por dia, dado que ainda hoje não chegam a utilizar 50 por cento da sua capacidade de produção. Para tal tem contribuído a existência paralela de uma indústria de moagem de ramas, que, mercê de artificialismos impostos à moagem de espoadas, atrofia a estrutura deste sector
Todavia, se a indústria com peneiração, tecnicamente actualizada, for libertada de condicionalismo de preços que servem de obstáculo à sua expansão, parece foi a de dúvida que, por evolução natural, a moagem de ramas acabará por ficar reduzida a uma posição semelhante a de outros países, ou seja, o simples abastecimento privado com o que a economia muito lucrará, dadas as maiores extracções conseguidas
A remuneração da indústria de moagem espoada, que desde 1948 não recebia qualquer melhoria, foi bastante beneficiada com a publicação do despacho do Ministério da Economia de 10 de Maio de 1966, que definiu as bases do apoio técnico e financeiro à lavoura e da concessão de dotações a cultura cerealífera
Outras providências para ajudar à resolução dos problemas desta indústria serão as seguintes

1) Revisão do eu em to de comercialização das sêmeas, possibilitando & indústria uma compensação para o agravamento do custo de produção,
2) Actualização da taxa de transformação,
3) Criação de cursos técnicos de moagem para a preparação conveniente de pessoal especializado,
4) Remoção das dificuldades do transporte ferroviário a granel, que é a modalidade mais rentável,

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5) Prosseguimento da orientação estabelecida pelos Decretos-Lei n.º 43 023 e 43 834, com vista à articulação entre as moagens de ramas e as moagens espoadas

Para a indústria de descasque de arroz, como indústria individualizada, não se descortinam possibilidades imediatas de grande desenvolvimento, o qual depende da resolução de diversos problemas, entre os quais se salientam os seguintes

a) Os fretes do arroz, desde a produção às fábricas, dependentes dos altos custos dos transportes, especialmente ferroviários, adicionados às dificuldades práticas da sua utilização, carecem de ser revistos,
b) Os salários do pessoal fabril aconselham maior índice de mecanização,
c) As contribuições e impostos devem ser harmonizados com as demais imposições (taxas diferenciais, etc.), de modo a não sobrecarregarem demasiadamente a actividade,
d) As amortizações do equipamento e a remuneração do capital poderão baixar se caminhar no sentido de melhor dimensionamento das empresas e de uma maior possibilidade de integração horizontal.

Não se vislumbra, neste momento, u possibilidade de exportação do produto acabado pela falta de matéria-prima, que não acompanhou o aumento do consumo e tem obrigado à importação de cerca de 10 a 15 por cento do volume consumido
A escassez de mão-de-obra na indústria da panificação especialmente aos níveis menos especializados, terá certamente tendência a intensificar-se nos próximos anos, pelo que a solução indicada está no incremento da mecanização em todas as operações onde isso for possível e, simultaneamente, na melhoria da produtividade do trabalho
Como se sabe, o sector da panificação é integrado ainda por grande número de unidades, apesar dos agrupamentos constituídos e em constituição. Aliás, esta política de agrupamentos só poderá prosseguir nas zonas onde predomina acentuadamente o consumo do pão espoado de trigo.
Não obstante, a dispersão por inúmeros estabelecimentos conduz necessariamente a baixa utilização da maquinaria, sobretudo acentuada em virtude de apenas se proceder a uma cozedura diária, em vez das duas que eram habituais antes da última guerra e suo o número menor de cozeduras feitas nos países da Europa. Em virtude desta circunstância, a maquinaria a instalar é de capacidade muito superior e, consequentemente, de custo mais elevado do que seria necessário para servir o público em melhores condições
Na zona de Lisboa existe também um problema de distribuição do produto que tem ocasionado práticas de concorrência não recomendáveis entre os industriais. E que estes não procedem, como no Norte, a distribuição domiciliaria por sua conta, admitindo um intermediário - o vendedor -, a quem oferecem descontos anormais no sentido de ampliarem as suas vendas
Espera-se que a mentalidade industrial introduzida pela constituição dos agrupamentos elimine progressivamente este inconveniente processo de comercialização
Reina certo clima de confusão no sector das bolachas o biscoitos, pela falta de definição clara e precisa do âmbito dos seus fabricos e das actividades afins, sobretudo de confeitaria e pastelaria, o que, além do mais, implica uma precária fiscalização das condições higiénicas e sanitárias das instalações.
Outro aspecto perturbador da actividade é o regime de preços vigente, através de um tabelamento feito em 1943, com ligeira correcção em 1947. Trata-se de um regime de compensação semelhante ao usado para outros derivados dos cereais farinhas, sêmolas e pão Pelo que respeita à indústria bolacheira, este tabelamento traduziu-se em acentuado prejuízo, na medida em que a proporção dos fabricos foi alterada no sentido mais desfavorável, registando-se completo afastamento dos nossos preços em relação aos que se praticam nos outros países
Dado que a indústria tem tido apreciável acréscimo de produção, embora mantendo ainda reduzida capitação de consumo, aqueles óbices devem ser removidos o mais brevemente possível a fim de a actividade poder fazer frente à concorrência que no seu próprio mercado lhe poderá ser movida pela indústria similar da E F. T. A
Torna-se igualmente necessário promover a regulamentação do sector, de modo a conduzi-lo a uma dimensão adequada das empresas que possibilite elevada mecanização e acréscimo da produtividade, ao mesmo tempo que se deverá generalizar o transporte a granel das principais matérias-primas
O crescimento da produção das refinadoras do açúcar tem-se feito à taxa média acumulada de apenas 8,3 por cento, o que é devido, além da baixa capitação do consumo (20 kg), ao preço elevado a que o açúcar é adquirido peia indústria sua utilizadora (confeitaria, pastelaria, conservas de frutos, etc.).
A produção de açúcar refinado distribui-se por tios tipis de açúcar granulado e areados branco e amarelo. A produção de areados branco e amarelo permite uma refinação sem subprodutos (melaços), circunstância que, aliada ao maior grau de humidade destes tipos de açúcar em relação às ramas donde provém, conduz a uma produção de refinados de baixa qualidade
Esta situação deverá ser regularizada no período do Plano, logo que estejam reorganizados as 2 unidades que são mantidas e entrem em funcionamento as 2 novas, resultantes da reorganização em curso, que conduziu à concentração de 23 em 4 unidades
Os problemas da indústria de massas alimentícias não se podem dissociar dos da indústria moageira no que respeita ao artificialismo de preços na matéria-prima - semolinas e farinhas. Tal artificialismo atinge mesmo os cereais, que, como se sabe, são onerados por regimes de compensação quando importados
A indústria com matéria-prima a preço superior ao internacional está condenada a servir exclusivamente o mercado interno, onde o consumo apenas tem crescido a taxa média acumulada de 2,4 por cento, com forte tendência para a estagnação e substituição do consumo da massa corrente pela qualidade superior
A expansão que se vislumbra é de amplitude muito reduzida e consubstancia-se na produção, pela indústria existente, de massas especiais, recheadas e dietéticas, assim como, a prazo mais longo, a produção de conservas com massas alimentícias
Outro objectivo a atingir seria a concentração das fábricas existentes, de modo a atingir o regime de 24 horas de trabalho diário. A indústria carece, portanto, de continuar a renovar e remodelar o seu apetrechamento, para o que seria conveniente a concessão de crédito a longo e médio prazos que permitisse acompanhar a tempo os processos tecnológicos, assim como isenções fiscais para

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(...) os direitos de importação da maquinaria que não se produz no País
A actividade torrefactora tem feição característica, que é a de trabalhai em grande pai te à tarefa ou à maquia, o que lhe confere certa peculiaridade de carácter artesanal
Esta dependência da indústria perante as produções de conta alheia apresenta-se como refreadora da evolução da actividade
Não possuindo, na generalidade, marcas próprias para os seus produtos, as respectivas unidades não exercem entre si uma concorrência de qualidade, movendo-se apenas dentro da concorrência de preços
Esta falta de mentalidade industrial leva também a existência de apetrechamento inadequado. Efectivamente, é enorme a incidência de torradores a fogo directo, que não permitem uma condução rigorosa da operação e ocasionam maus reflexos sobre a qualidade dos produtos e sobre o seu custo, além de consequências de insalubridade para o pessoal
Á orientação básica a seguir resumir-se-á, numa primeira fase, à regulamentação do exercício da actividade que conduza indirectamente a uma concentração de empresas
Outro aspecto a ter em consideração será a revisão das disposições legais i aferentes às características dos lotes de cafés moídos, donde poderia resultar o desenvolvimento da actividade e o estímulo para a sua transformação a médio ou longo pi azo. Além disso, o maior consumo de café seria vantajoso para incrementar as trocas de mercadorias entre o ultramar e a metrópole
Embora a produção de alimentos preparados para animam tenha evoluído rapidamente nos últimos cinco anos, há ainda largo caminho a percorrer na sua expansão em Portugal. Falta resolver muitos problemas que lhe comprometem o desenvolvimento, sobretudo no campo da melhoria tecnológica e no abastecimento das matérias-primas
Para atender ao primeiro aspecto, vai sei posto em vigor o Regulamento do Exercício da Indústria de Alimentos Compostos, de forma a eliminar todas as unidades consideradas obsoletas - 37 por cento das fábricas existentes - e criar o clima propício ao aparecimento de unidades técnica e economicamente evoluídas que, pela qualidade e preço dos produtos apresentados, possam colaborar no Plano de Fomento Pecuário
No abastecimento de matérias-primas, deverá ser revisto e simplificado o circuito de comercialização de vários produtos, designadamente de milho nacional, para não onerar o seu custo com operações de transporte e armazenamento
A Federação Nacional dos Produtores de Trigo deverá encarar a manutenção de um stok mínimo de 20 000 t, para garantir permanente abastecimento do País em cereais forrageiros
Note-se, ainda, que os bagaços de oleaginosas são indispensáveis ao desenvolvimento desta indústria
A produção de gelo está a deslocar-se de fábricas isoladas para os estabelecimentos que têm necessidade da sua utilização. Deste modo, a actividade tem tendência a peidei a sua antiga autonomia
Limita-se praticamente ao fornecimento a navios, e nos portos de pesca, à conservação de peixe
Esta evolução natural não deverá ser contrariada, pois deste modo facilita-se o estabelecimento mais rápido de uma cadeia frigorífica nacional
Pensa-se que o sector das águas mineromedienais se desenvolverá espontaneamente
Em todo o caso, a actividade entendo que as elevadas tarifas da via férrea, assim como da rodovia, representam peso significativo na economia do sector, questão que se agrava com a manutenção das frotas privativas de viaturas para distribuição, sujeitas a impostos a que os custos das mercadorias são sensíveis
Um objectivo a prosseguir será completar a mecanização das instalações, de modo a elevai-se o nível tecnológico e incrementai a produtividade, criando, ao mesmo tempo, facilidades de crédito a longo prazo
Relativamente ao sector das aguas do mesa, formulam-se idênticas considerações, a que acresce e, necessidade de suprimir o envasilhamento em garrafões Condenados no consenso geral e pela legislação, admite-se que venham a substitui-se gradualmente por vasilhas que permitam lavagem e esterilização mais eficiente.

§ 3.º Projecções dos Investimentos1 e emprego.

Projectos

Justifica-se agrupar as projecções do investimento e emprego e os projectos dentro do mesmo parágrafo, por sei difícil, se não impossível, destrinçá-los com base no relatório vertical, que, por vezes, os apresenta em estreita interligação
No sector da matança de gado, preparação e fabrico do conservas de carne, o estabelecimento da rede de matadouros principais importará em 300 000 contos. A esses matadouros fundamentais - dois ou três matadouros expedidores comerciais e doze ou quinze regionais - há a juntar um certo número de pequenos matadouros locais e de casas de matança
Prevê-se que durante o período do Plano sejam investidos na indústria de lacticínios cerca de 100 000 contos. Importa salientar a instalação de novas unidades fabris em Avis, ilha Terceira e ilha da Madeira, já em execução
No sector da moagem, trituração e preparação de cercais e leguminosas, verifica-se, no que respeita ao centeio, a tendência para a estagnação e, não sendo de esperar aumento de consumo de pão de centeio, a evolução só poderá resultar de uma política que amplamente fomente, através do regime cerealífero, o consumo de pães de centeio e trigo e centeio e milho. Quanto ao milho, os primeiros passos para a sua industrialização são de molde a permitir encarar o futuro desta modalidade industrial com elevado optimismo. Necessário é não estimular a sobrevivência das moagens de ramas, em oposição ao desenvolvimento da citada industrialização. Se considerarmos que, entre nós, a indústria de aproveitamento dos produtos a extrair do milho está limitada à primeira fase, é fácil prognosticar para este sector um desenvolvimento acelerado. Prevê-se que durante os três primeiros anos do Plano sejam investidos cerca de 370 000 contos na indústria de moagem de trigo com peneiração, assim distribuídos

Contos

Infra-estrutura para recepção de cereais importados 70 000
Reorganização das moagens de ramas ................ 200 000
Continuação da reorganização da indústria de
moagens de trigo com peneriação .................. 100 000

Impõe-se dar destino, no futuro próximo, às moagens de ramas, o que pode ser resolvido por duas vias

Libertar o ciclo do pão do artificialismo que o onera, para permitir que aquela actividade se reduza

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(...) à sua verdadeira expressão - trabalho exclusivo à maquia - ou
Estabelecer um plano de amortizações, ficando a regularização a cargo das indústrias com peneiração
A falta de escolas de preparação profissional que ministrem cursos técnicos de moagem tem obrigado a indústria a recorrer a especialistas estrangeiros e, no impedimento destes, a entregar a direcção de algumas fábricas a pessoas com preparação inadequada, pelo que se torna indispensável a criação de uma escola
Na indústria de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, deve, além do mais, ser estudada a possibilidade do aumento de produção agrícola a preços compensadores, porque esse aumento, acompanhado da exportação, permitiria aumentar o índice de utilização das unidades fabris existentes ou a constituir-se por integração horizontal. A carência de mão-de-obra, especialmente aos níveis menos especializados, terá certamente tendência a intensificar-se no futuro, pelo que a solução indicada está no incremento da mecanização em todas as operações onde isso for possível
Na indústria de panificação não se prevêem quaisquer investimentos que mereça a pena assinalar
Também se não antolham investimentos no fabrico de bolachas o biscoitos que mereçam ser referidos, pois apenas se conta com pequenas substituições de maquinaria não essenciais. São crescentes as dificuldades do recrutamento de mão-de-obra, uma vez que o nosso ensino técnico, elementar e médio não pôde ainda considerar este sector das indústrias alimentares
Está computado em cerca de 800 000 contos o custo total da reorganização da indústria de refinação do açúcar, dos quais cerca de 60000 se destinariam a edifícios e silos. Prevê-se, através da instalação de unidades tecnicamente bem apetrechadas e de uma profunda alteração dos actuais processos de fabrico, ser possível obter melhorias consideráveis, quer quanto à qualidade dos produtos fabricados, igualando-a aos padrões internacionais, quer quanto à sua embalagem
Para os primeiros três anos do Plano, prevê-se um investimento total de cerca de 58 000 contos na fabricação de massas alimentícias e produtos similares, com a seguinte distribuição

Investimentos em 1968-1970

(ver tabela na imagem)

Calcula-se que a indústria venha a manter uma taxa média acumulada de crescimento idêntica à do período de 1061-1964. No que se refere a mão-de-obra, o problema é idêntico ao do fabrico mecânico de bolachas e biscoitos
Deverá encarar-se a regulamentação da indústria de torrecfacção, a fim de estabelecer mínimos técnico-económicos abaixo dos quais o mesmo exercício não seja consentido Em complemento de tal política, admite-se a concessão de vantagens fiscais e facilidades de crédito as empresas que resultem da fusão das existentes e satisfaçam aqueles mínimos a curto prazo. Nota-se a ausência de projectos de investimento para o período do Plano. Aliás, os investimentos, nos últimos anos, têm sido praticamente nulos nesta indústria, mesmo em remodelações e renovações, com excepção de uma empresa que investiu cerca de 4300 contos
Dado que a preparação de folhas de chá constitui actividade em estagnação e até mesmo em risco de desaparecimento, não é de prever n realização de qualquer projecto no período do Plano
No que se refere à preparação de alimentos preparados para animais, tomando como base as perspectivas das novas instalações em face dos pedidos pendentes e das autorizações já concedidas, mas cujas instalações se estenderão para dentro daquele período, os investimentos andarão a roda dos 40 000 contos, com a seguinte discriminação

Contos
Bens de origem estrangeira ........ 15 000
Bens de origem nacional ........... 15 000
Construção civil .................. 10 000

Considera-se que o desenvolvimento da indústria da fabricação de gelo venha a sofrer grandes impulsos aquando da publicação da legislação referente à criação da Rede Nacional do Frio
É de prever, no entanto, a redução do número de estabelecimentos existentes, os quais deverão ser absorvidos pelas unidades de maior dimensão técnico-económica
No sector das aguas mineromedienais engarrafadas, de evolução produtiva segura, admite-se que a produção se desenvolva a ritmo mais acelerado. No que se refere à tecnologia, exceptuando as empresas que ainda não fizeram a mecanização das suas instalações, o sector pode considerar-se, desse ponto de vista, tão evoluído como os estrangeiros. Importa, porém, que todas as empresas do sector se apetrechem ao nível tecnológico que se impõe e está determinado no respectivo regulamento. A escassez de capitais próprios recomenda que, para a realização dos objectivos que estão na base do cumprimento desse regulamento, seja facilitado o crédito a longo prazo
Dado que as nascentes se situam em zonas rurais e é predominante o recurso ao trabalho de mulheres, não têm sido significativas as dificuldades no recrutamento da mão-de-obra, pelo que respeita a trabalho não qualificado
O quadro económico em que se inserem as aguas de mesa é de tal forma semelhante ao das águas minerais que não requer menção específica
Prevê-se que no sector do enlatamento e conservação de frutos o produtos hortícolas sejam investidos, nos três primeiros anos do Plano, cerca de 71 000 contos, com a seguinte distribuição
Bens de origem estrangeira Bens de origem nacional Construção civil

Contos

Bens de origem estrangeira ..... 36 000
Bens de origem nacional ........ 15 000
Construção civil ............... 20 000

O sector espera a regularização das relações entre a indústria e a lavoura que a abastece, solucionando problemas que têm surgido, nomeadamente no que se refere a preços e qualidades do tomate tornar-se-á também necessário o estabelecimento de regulamentação ou legislação conveniente que venha a evitar possíveis infestações e a exaustação de grandes áreas de terreno, as quais, certamente, virão a verificar-se em futuro próximo, sé não forem tomadas a tempo as providências necessárias

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No sector da conservação de peixe o outros produtos da pesca em asile ou molhos o pelo sal, o incremento das exportações depende do acréscimo da produção. Basta, para tanto, que possa industrializar-se proporção superior aos 50-60 por cento habituais das capturas de sardinha
A estrutura do sector dever-se-á manter durante o período do Plano sem grande alteração. E possível que o aumento de salários e a maior dificuldade de recrutamento forcem u uma mecanização dos transportes internos nas fábricas, por implantação de órgãos de manutenção industrial. Também não é de esperar grande modificação na constituição e número de unidades industriais em cada um dos centros piscatórios Espera-se, todavia, que as unidades continuem a apetrechar-se com instalações de frio que regularizem o seu trabalho Solucionados os problemas actualmente existentes, é de admitir como limite superior, para o período do Plano, um crescimento a taxa acumulada de 10 por cento, aproximadamente Tal crescimento não requererá, no mesmo período, novas estruturas industriais, dada a capacidade do parque actual
Não se prevêem quaisquer investimentos na indústria de moagem e preparação de especiarias, cujas perspectivas de sobrevivência suo diminutas, devido à falta da matéria-prima principal o pimentão.
Tendo em vista as necessidades de capital para apetrechar convenientemente a indústria de chocolates, torna-se indispensável que o mercado de capitais facilite o recurso ao crédito, em condições favoráveis quanto ao prazo e ao juro Ao mesmo tempo, seria da maior utilidade que os interessados pudessem dispor do conselho e da ajuda de técnicos económicos dos organismos financiadores, para orientação nos estudos justificativos do alargamento ou modernização da sua actividade industrial Faz-se também sentir, como já se disse, a falta de operários e de mestres com a necessária preparação Não só prevêem paia esta indústria quaisquer novos projectos. No entanto, julga-se que no período do Plano sejam despendidos cerca de 10 000 contos em substituição de maquinaria, que deverão provocar ligeiro aumento na capacidade de produção do sector
Uma previsão quanto aos projectos a realizar na fabricação de produtos de confeitaria no período do Plano tem de ser necessariamente aceite com reservas, não só por se tratar de uma previsão, mas também porque, no caso dos sectores considerados, os investimentos sofrerão largamente a influência de outros factores Além destes, há ainda a considerar a atitude das entidades financiadoras e a posição da Administração quanto ao problema da concentração, cuja solução depende, em parte, das facilidades e estímulos que puderem ser proporcionados Considerando, porém, a evolução verificada nos últimos anos, são de admitir os seguintes valores para o período do Plano.

Contos

Confeitaria 50 000
Conservas de frutos 50 000
Pastelaria 25 000

A tendência quanto à produção e refinação ao azeite - em apreciável medida as cooperativas de olivicultores têm contribuído para a melhoria neste campo - é para o desaparecimento das unidades de pequena dimensão, o não parece ousado prever que dentro de algum tempo a quase totalidade dos lagares será constituída por unidades bem dimensionadas, tendo apenas que continuar a unidades menores nas zonas de pequena produção de azeitona Quanto ao óleo de amendoim, um dos mais directos, só não o mais directo, substituto do azeite, o aumento que se verificou na sua produção afigura-se reflectir a influência dos seguintes factores estagnação da produção e aumento do consumo do País em óleos comestíveis.
A produção da indústria de fabricação de malte e cerveja no período de 1968-1078 deverá situar-se a volta de 80 milhões de litros paia o primeiro dos anos considerados e de 150 milhões de litros para o último, sendo mais difícil prever o volume de exportações, pensa-se que poderá valer, naquele período, de 3 milhões de litros, no primeiro ano, a 12, no último. A expansão do consumo interno depende fundamentalmente do aumento do potencial do iniciando
Há que considerar, para o período do 1968-1973, que a liberalização do comércio seio da E F T A pode criar problemas a indústria nacional no que diz respeito a cevada, pois o seu preço no País é muito mais elevado do que nos restantes países europeus Assim, se a situação se mantivesse, a indústria nacional teria desvantagem nítida na concorrência que certamente se irá estabelecer Uma solução a encarar poderá ser a de se assegurar à indústria portuguesa um preço de cevada idêntico ao praticado no estrangeiro, por exemplo através do Fundo de Abastecimento.
Prevê-se, na vigência deste plano, a construção de uma nova fábrica de cerveja Em matéria de transportes, projecta-se, neste sector, um investimento de cerca de 5000 contos.

III) Indústrias têxteis e do vestuário

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

Este conjunto de indústria abrange a totalidade do grupo 23 da C l T A (indústrias têxteis) e parte do grupo 24 (fabrico de vestuário e têxteis em obra, com exclusivo do calçado) Estão, pois, incluídas as indústrias de lanifícios, algodão e fibras artificiais e sintéticas, fibras duras (juta, linho e cânhamo), tapeçarias, passamanarias, malhas,, cordoaria e redes de pesca, fabrico de telas impei meáveis, corte e preparação do pêlo, fabrico de seiras e capachos, confecção, chapelaria e, ainda, bordados da Madeira e fabrico de guarda-sóis.
Em todo este conjunto sobressai, pela sua grande importância no parque industrial português, a indústria têxtil algodoeira, sendo também particularmente importantes os sectores dos lanifícios, das malhas, da confecção e da cordoaria.
Do ponto de vista da sua localização geográfica, caracteriza-se este conjunto por grande concentração quase toda a têxtil algodoeira se situa nos distritos de Braga e Porto, os lanifícios têm os seus maiores centros na Covilhã, Gouveia e Lisboa, e a juta, no Barreiro e no Porto As indústrias de malhas e confecção situam-se também predominantemente nos distritos do Porto, Braga e Lisboa

1.2 - Evolução de produção

Foi muito importante o crescimento total das indústrias têxteis e do vestuário durante o período de 1968-1964, crescimento que, em termos do respectivo valor

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Verifica-se, assim, que a necessidade de reequipamento é uma constante desta industria e constitui mesmo o seu problema mais agudo, face às dificuldades de financiamento que se lhe deparam
O grau de utilização do equipamento instalado é muito apreciável, situando-se acima dos 80 por cento na generalidade dos sectores mais representativos, e deve notar-se que uma parte muito importante das máquinas em actividade trabalha em regime de três turnos, ou, pelo menos, em dois turnos diários
Os valores anuais de investimento atingem valores extremamente elevados, que em 1965 se cifraram em mais de 900 mil contos (só máquinas e seus acessórios)
Fura fazei face a esta necessidade, a industria tom contado com o autofinanciamento, com o apoio da banca comercial e com o recurso aos financiamentos da Caixa Nacional de Crédito
A emissão de acções e obrigações quase não se verifica, por várias razoes, entre as quais avulta o cunho familiar da maioria das empresas, sendo raras as que se constituíram em sociedades anónimas. Deve ainda mencionar-se uma forma de financiamento efectivamente usada e que consiste nas facilidades de aquisição de equipamento importado, que, com aval bancário, permitem o pagamento diferido períodos de cinco e mais anos

1.6 - Mercados

Os produtos têxteis destinam-se fundamentalmente ao consumo final interno e à exportação
Já no Plano Intercalar se assinalou o grande incremento das exportações têxteis a partir de 1960, principalmente no sector algodoeiro, e a mudança verificada nos países de destino, que passaram a ser os nossos parceiros na E F T A , os Estados Unidos e o Canadá, em substituição dos tradicionais mercados africanos Mais recentemente, tomou corpo a exportação de confecções e malhas, aquelas primeiro sob a forma de reexportações de tecidos importados e confeccionados em Portugal. Contudo, o aumento da confecção industrial tende a fazer maior uso dos tecidos portugueses, o que pode vir a provocar alteração sensível na estrutura das nossas exportações têxteis aumento das confecções e abrandamento do ritmo exportador de fios e tecidos, com o correspondente aumento do consumo interno aparente de tecidos, por virtude dos que se destinam as fábricas de confecção, e não ao consumo final
No período deste plano vamos assistir, certamente, a muito5 mais complexo movimento de artigos têxteis, com maior interpenetração de actividades, até aqui bastante independentes entre si
Em 1964 a exportação absorveu já mais de 60 por cento da produção algodoeira, sendo agora uma determinante imperiosa para este sector. Também os sectores da confecção, da cordoaria e dos bordados da Madeira vivem em estreita dependência da exportação, no sector da juta a exportação atingiu igualmente cerca de 45 por cento da respectiva produção, e nos lanifícios a tonelagem exportada começa a assumir significado no total produzido
Os valores da exportação de têxteis em 1964 alcançai em grande projecção no conjunto do comércio externo nacional, sendo de registar os valores seguintes como mais significativos

Algodão e fibras sintéticas e artificiais - 2 833 000 contos, sendo 935 000 para o ultramar,
Cordoaria - 482 000 contos,
Confecção (1965) - 339 000 contos, sendo 76 000 para o ultramar,
Malhas - 180 000 contos, sendo 6000 para o ultramar,
Bordados da Madeira - 188 000 contos,
Lanifícios - 129 000 contos, sendo 41 000 para o ultramar

A exportação total situa-se, assim, na ordem dos 3 800 000 contos, cabendo pouco mais de 1 milhão ao ultramar

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 -Produção e factores de produção

A características dominante das indústrias têxteis é serem cada vez mais dependentes dos mercados externos, o que, se por um lado lhes proporciona boas perspectivas de expansão, por outro obriga-as a permanente esforço de actualização de equipamento, de redução de custos de produção, de racionalização de fabricos e de reestruturação comercial, esforço para o qual nem todas as empresas se encontram devidamente preparadas
É certa a perspectiva de vir a intensificai-se ainda mais a concorrência no mercado internacional, nomeadamente por parte dos chamados países novos, que começam a dispor de indústria têxtil algodoeira e surgem no mercado com «preços políticos», a fim de assegurar um volume de divisas essencial ao seu processo de desenvolvimento. Face aos produtos que predominantemente constituem a produção desses países, parece evidente que a indústria têxtil portuguesa deverá orientar-se progressivamente para o fabrico de artigos de qualidade, e, portanto, de maior preço unitário, com aumento da utilização das novas fibras e processos
Isso acarretará ainda maior necessidade de reequipamento, como, aliás, se tem vindo a verificai nos sectores têxteis dos outros países europeus, a tal ponto que, em estudo recente da O C. D. E (1965), esta organização modificou as suas previsões quanto ao futuro da indústria algodoeira europeia, chamando-lhe agora indústria de capital, e ante vendo-lhe um futuro muito menos sombrio do que lhe profetizara em 1955
A indústria têxtil nacional está particularmente bem situada para poder vir a consolidar uma posição relativamente forte no panorama têxtil europeu, desde que sejam satisfeitas algumas condições básicas, mormente no que respeita ao financiamento do seu indispensável reequipamento permanente. Em relação aos factores da produção, são de assinalar resumidamente as seguintes condições

a) Dispor das matérias-primas pelo menos aos preços da concorrência internacional. Entenda-se preços dentro das fábricas, eliminando-se, pois, as taxas de importação e outras que oneram as matérias-primas importadas,
b) Fomentar a cultura do algodão no ultramar, que já corresponde apenas a menos de metade das necessidades da indústria metropolitana, situação que se agravará se vierem a ser instaladas mais fábricas têxteis em Angola e Moçambique. Problema semelhante se põe quanto a cultura de sucedâneos da juta (actualmente comprada no Paquistão e na Tailândia), que parece viável na província em de Moçambique. E evidente o interesse destas medidas, quer para a economia das províncias, quer para a balança portuguesa do pagamentos,

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c) Desenvolver intensamente a formação profissional nos ramos têxteis, em todos os níveis da hierarquia profissional. São particularmente sentidas as necessidades de centros de aprendizagem das profissões básicas nas escolas industriais fiação, tecelagem, debuxo, afinadores, tintureiros, etc.; criação de cursos médios nos institutos industriais especificamente dirigidos à actividade têxtil, e extensão da especialização têxtil nas escolas superiores de engenharia,
d) Intensificar os esforços ]á iniciados de promoção do aumento de produtividade nas empresas têxteis. Uma aceleração do ritmo de aumento de produtividade será imperativo da actividade têxtil no período do Plano. Só através da modernização de equipamento, da organização interna da produção e da especialização de fabricos poderá a indústria garantir uma posição de competitividade, tendo em atenção o sentido ascensional das remunerações salariais, que não deixará de se fazer sentir,
e) Os enormes investimentos que será necessário fazer, não só para manter a indústria (já vimos o volume que atinge a simples substituição de equipamento antiquado), mas também para conseguir que a modernização assuma feição generalizada, dão a este assunto importância impar, uma vez que são deficientes as condições actuais de recurso ao mercado financeiro. A este respeito, referem-se, entre outras, as seguintes medidas

Revisão dos critérios de concessão de empréstimos a longo prazo;
Solução do problema dos direitos de importação de equipamento;
Dinamização do sector metalomecânico nacional de fabrico de máquinas têxteis. É facto que já entre nós se produzem algumas das máquinas necessárias à actividade têxtil, e para o comprovar basta dizer que, em 1964, as compras do sector à metalomecânica portuguesa atingiram a ordem dos 100 000 contos. Convém, no entanto, ponderar que a indústria metalomecânica nacional não poderá, de um ano para o outro, corresponder à procura total, e há máquinas que é duvidoso ela possa vir a produzir nos anos mais próximos. Por outro lado, a indústria metalomecânica portuguesa não tem tido a possibilidade de conceder aos industriais têxteis as facilidades de crédito para aquisição de equipamento que os fabricantes estrangeiros facultam. Prevê-se, no entanto, que esta situação possa vir a alterar-se, a curto prazo, em sentido favorável

2.2 - Organização do sector

Do ponto de vista da sua estrutura empresarial, é muito diversa a situação no interior do grupo das indústrias têxteis Assim, ao lado de sectores bastante concentrados, como é o caso dos fabricos de juta, cordoaria, corte e preparação de pêlo, e até de todo o sector têxtil algodoeiro, onde, praticamente, os problemas típicos do subdimensionamento empresarial têm relevo muito pequeno, outros sectores, como os lanifícios e as malhas, apresentam-se com estrutura empresarial muito disseminada, com predominância das unidades pequenas e muito pequenas. Principalmente por motivos de natureza comercial, seria desejável mais elevada percentagem de empresas de maior dimensão. No sector dos lanifícios, para um total de mais de 400 empresas, não atinge três dezenas o número das que têm mais de 150 operários. Nas malhas, de 386 unidades em actividade, em 1964, havia 243 com menos de 20 operários e apenas 5 possuíam mais de 400 operários. Em contrapartida, no sector têxtil algodoeiro o panorama é bastante diferente, no ramo de fiação apenas 40 fábricas possuem menos de 6000 fusos, correspondendo a cerca de 11 por cento dos fusos instalados, nas tecelagens, apesar de haver grande número de unidades com poucos teares, o grau de concentração é elevado, pois as fábricas com menos de 20 teares correspondem apenas a 6 por cento do total de teares, e as que têm menos de 100 teares não vão além de 29 por cento dos teares instalados.
O problema da estruturação dos respectivos sectores e da definição das regras de acesso à indústria tem constituído preocupação dos seus organismos representativos, nomeadamente da Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios e do Grémio Nacional dos Industriais Têxteis, que submeteram ao Governo projectos de regulamentação das indústrias no âmbito da Lei do Condicionamento Industrial
Ainda no tocante a actividade exportadora do sector, e atendendo à evolução que vai continuar a verificar-se nas zonas de comércio E F T A e C. E. E e no Acordo Geral das Tarifas (G A T T ), prevê-se que os organismos profissionais representativos das indústrias do sector sejam chamados a participar nas negociações (bilaterais e outras) em que o Governo Português haja de tratar dos produtos têxteis Sendo o sentido dessas negociações, quase sempre, o de limitar as nossas exportações, e descendo a grande pormenor no contingentamento, não só do total a exportar, mas das parcelas que vêm a caber a cada tipo de artigos, reconhece-se a necessidade de colaboração dos órgãos que representam os indústrias interessadas

2.3 - Acção do sector público

Para fazer face aos problemas enunciados, encararam-se as seguintes providências

a) Facilidades de crédito para reequipamento, em conjugação com as possibilidades e perspectivas do sector metalomecânico de fabrico de máquinas têxteis e em paralelo com um regime de isenções de direitos na importação de equipamento;
b) Revisão das condições de abastecimento de matérias-primas, em ordem a procurar assegurar a sua obtenção pelo menos aos preços da concorrência internacional. Manutenção do regime de draubaque para importações temporárias,
c) Definição de um regime de reduções fiscais para as empresas que exportem acima de uma dada percentagem da sua produção;
d) Comparticipação dos organismos profissionais nos encargos de representação dos exportadores portugueses em feiras internacionais de maior importância para o sector e na realização de estudos de mercados à escala internacional

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(...) que interessem aos principais produtos têxteis portugueses,
e) Desenvolvimento dos esquemas de formação operária e de aprendizagem já em curso e seu alargamento a todas as actividades do ramo têxtil Organização de cursos médios nos institutos industriais, especialmente destinados à indústria têxtil. Consolidação das especialidades têxteis nas escolas superiores de engenharia;
f) Criação de um instituto especializado para promover a investigação aplicada de que a indústria necessita, de preferência com a participação dos organismos públicos e privados ligados ao sector;
g) Aperfeiçoamento da informação estatística relativa ao conjunto deste sector, principalmente no tocante à cobertura do movimento dos fornecimentos dos diversos ramos uns aos outros e de cada um deles ao exterior

§ 3.º Projecções da produção e emprego.
Investimentos

3.1 - Previsões para a produção

Em relação ao consumo final interno, deve continuar a verificar-se a reduzida taxa de aumento da procura, que tem sido característica dos últimos anos: 2,5 por cento ao ano para a têxtil algodoeira e valores semelhantes para lanifícios e juta. Com taxas de crescimento possivelmente superiores situar-se-ão as indústrias de confecção, malhas e telas impermeáveis. Como já se assinalou, o incremento da exportação de confecções de tecidos nacionais pode dar origem a aumento aparente do consumo interno de tecidos, principalmente de algodão. Isolando este efeito, o consumo interno de artigos de algodão e fibras artificiais e sintéticas deve situar-se na ordem das 38 000 l em 1968, subindo depois à taxa média estimada de 2,5 por cento ao ano.
Em relação às exportações, as previsões são extremamente aleatórias, quer pela escassez de elementos de análise, quer por se tratar de mercados relativamente recentes e sujeitos a modificações de vulto por via de restrições e contingentamentos, quer ainda pela já visível alteração da estrutura das nossas exportações têxteis, com maior relevo para os artigos confeccionados, e, consequentemente, abrandamento nos produtos primários (fios e tecidos) Assim, é de esperar que as exportações de fios e tecidos de algodão e fibras artificiais não cresçam a taxas anuais superiores a 4 ou 5 por cento. Por outro lado, as exportações de confecção, malhas, juta cordoaria e mesmo de lanifícios podem vir a crescer a taxas anuais médias entre os 5 e 10 por cento. Nas procuras totais, e em resultado das estimativas indicadas, prevê-se um crescimento à taxa média anual da ordem dos 4 por cento para o sector do algodão e fibras artificiais e sintéticas, enquanto para os lanifícios a taxa média de expansão poderá vir a situar-se nos 5 ou mesmo 6 por cento
No conjunto do sector têxtil e do vestuário é de admitir um crescimento durante o Plano, traduzido pela taxa anual média de 5 por cento (limite inferior de 4,5 por cento e superior de õ por cento)
Pela grande importância que assumem na nossa balança de pagamentos, interessa registar os valores absolutos a que provavelmente conduzirá a expansão do sector têxtil algodoeiro e que, expressos em toneladas das matérias-primas básicas (algodão e fibras artificiais), serão das seguintes ordens de grandeza

Toneladas

1968 ...... 95 000
1970 ...... 102 200
1978 ...... 115 000

A repartição entre o algodão em rama e as fibras artificiais e sintéticas, aquele fornecido parcialmente pelas províncias ultramarinas e o restante importado do estrangeiro, e as outras fibras a importar e a adquirir à nascente indústria portuguesa da especialidade será muito aproximadamente a seguinte.

(ver tabela na imagem)

É possível, no entanto, que, principalmente a partir de 1970, se verifique maior participação das fibras artificiais e sintéticas em substituição do algodão.

3.2 - Previsão de emprego

Apenas no relatório preliminar da indústria têxtil algodoeira se contêm indicações sobre esta matéria Com base nelas, e admitindo um aumento de produtividade de cerca de 7 por cento por ano durante o período do Plano, que será verdadeiro imperativo para a indústria, a população fabril (operários e empregados) diminuirá sensivelmente, passando de cerca de 67 000 em 1968 para cerca de 60 000 a 61 000 em 1973. Nestes números inclui-se uma parcela crescente de empregados (de cerca de 4000 em 1968 para 5000 em 1973) e um correspondente decréscimo de operários
Quanto aos restantes sectores, é natural verificar-se também alguma redução de efectivos nos lanifícios e aumentos nos sectores da confecção, malhas e tapeçarias, pelo que é possível que o número total (cerca de 140 000 operários e empregados) não sofra grande alteração

3.3 - Investimentos

Com excepção do sector da juta, que no respectivo relatório apresentou o número de 180000 contos, como previsão do investimento total a realizar no período de 1968 a 1978, nada de concreto se conhece neste capítulo fundamental das previsões para o Plano.
O sector têxtil algodoeiro apresentou uma estimativa para o aumento da capacidade instalada, que se transcreve

(ver tabela na imagem)

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Isto significa mais cerca de 50 000 fusos e 1700 teares por ano, não contando os necessários para a renovação do equipamento antiquado
Dada a escassez de elementos, e na falta de projectos de investimentos individualizados, apresenta-se uma estimativa global dos investimentos em máquinas, baseada nas importações dos anos recentes e na expansão prevista para a indústria durante o período do Plano Assim, e apenas como indicação de ordens de grandeza, os investimentos em equipamento (excluindo os edifícios e instalações) serão

Nos anos de 1968, 1969 e 1970 - média anual de 800 000 a 900 000 contos,
Nos anos de 1971, 1972 e 1973 - média anual de 1 100 000 a l 200 000 contos.

Independentemente da imprecisão destes valores, tem interesse ver qual pode ser a participação da indústria metalomecânica nacional nos respectivos fornecimentos (caso se verifiquem as providências de apoio já referidas)

De 1968 a 1970 - média anual de 150 000 contos;
De 1971 a 1973 - média anual de 260 000 contos

IV) Indústrias da pula para o papel do papel a da imprensa e arfei gráficas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito do sector

Este sector abrange as seguintes indústrias
Classe 27 da C. A E., compreendendo o fabrico de pasta para papel e cartão e o fabrico de artigos de papel e cartão, com excepção dos trabalhos de qualquer processo de impressão.
Classe 28, grupo 280 da C A E , compreendendo a tipografia e encadernação, a gravura, fotografia e estéreotipia, as editoriais e os trabalhos tipográficos editoriais e conexos
Também foi incluída no âmbito deste sector a indústria de pasta solúvel O conjunto compreendia, em 1954 e 1964, respectivamente 1967 e 2120 unidades, distribuídas como segue

QUADRO I

Número de unidades em 1954 e 1964

(ver tabela na imagem)

O número total aumentou de 453 unidades, ou seja cerca de 27 por cento durante o período considerado
Como perspectiva futura não se afigura conveniente um aumento sensível das unidades existentes, pois na maioria das indústrias consideradas o número é excessivo para a correspondente produção Assim, a razoável evolução do sector aconselha redução do número de unidades, pela eliminação ou concentração das unidades de produtividade mais baixa
Apenas no caso de fabrico de pasta para papel se deseja, e espera, um aumento considerável em relação ao número actualmente existente

1.2 - Produção

O panorama da evolução da produção das indústrias do sector, no período de 1954 a 1964, pode traduzir-se pelo quadro seguinte

QUADRO II

Evolução da produção bruta

Valores a preços correntes

(ver tabela na imagem)

Indicam-se os valores brutos da produção a preços correntes, não sendo possível referi-los a preços de qualquer dos anos indicados, visto que, por deficiência de elementos estatísticos, não á possível quantificar a produção das indústrias de artigos de papel e cartão e das artes gráficas.

O quadro mostra que a produção bruta aumentou cerca de 150 por cento de 1954 a 1964 Neste último ano, o

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(...) sector tinha um valor acrescentado de 655 000 contos, cabendo à pasta para papel 199 000 contos, ao papel, cartolina e cartão 268 000 contos, aos artigos de papel, cartolina e cartão 125 000 contos e à imprensa e artes gráficas 655 000 contos.
Considerando o número de unidades existentes em cada um dos referidos anos, verificou-se um aumento de produção por unidade de 690 para 1380 contos, ou seja cerca de 100 por cento
Esta tendência, como ]á se referiu em 1 1, deverá acentuar-se no futuro, e tudo indica que assim aconteça nas diversas indústrias do sector
Em cada uma das indústrias consideradas, verifica-se o seguinte

QUADRO III

Aumentos da produção e da produção por unidade, por sectores

(ver tabela na imagem)

No caso particular da indústria para papel, se se considerarem os anos de 1953 a 1965, vê-se que foi de cerca de 27 vezes o aumento da produção e de cerca de 7 vezes o aumento da produção por unidade
Há que referir também uma acentuada melhoria, quer em qualidade, quer em variedade da produção
A produção de pasta, papel e artigos de papel em 1958 e 1964 localizava-se em Aveiro, em proporção superior a 40 por cento

QUADRO IV

Repartição distrital da produção de pasta, papel e artigos de papel em 1958 e 1964

(ver tabela na imagem)

Quanto às indústrias de imprensa e artes gráficas, os centros produtores mais importantes situam-se no distrito de Lisboa

QUADRO V

Repartição distrital da produção das Indústrias de imprensa e artes gráficas

(ver tabela na imagem)

A evolução da mão-de-obra utilizada no sector consta do quadro seguinte

QUADRO VI

Evolução da mão-de-obra

(ver tabela na imagem)

Em relação a este quadro, há n referir que apenas os elementos a partir do ano de 1962 podem ser considerados como muito próximos da realidade Os elementos relativos aos restantes anos baseiam-se nos dados do Instituto Nacional de Estatística. Tais limitações não impedem, porém, de considerar sensivelmente exacta a evolução do pessoal afecto às actividades do sector que consta do quadro precedente
A mão-de-obra aumentou, pois, cerca de 58 por cento no período considerado, verificando-se que a percentagem do pessoal administrativo e técnico, em relação ao pessoal operário, aumentou de O para 12 por cento nos últimos anos.
E a tendência natural, por efeito da mecanização e racionalização do trabalho

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Este aumento foi, como é natural, mais acentuado na produção de pasta, papel e artigos de papel (9 para 10 por cento), do que na produção da imprensa e artes gráficas (9 para 11 por cento).
O número de pessoas ocupadas em cada instalação variou de 11,5 para 14,6, o que demonstra evolução favorável na grandeza das unidades
Esta variação foi de 30 para 33 no caso das indústrias da pasta, do papel e de transformação de papel, e de 8,4 para 9,2 para a imprensa e artes gráficas
Os números mostram também a diferença de grandeza média das instalações de um e de outro grupo de indústrias consideradas
O sector acusa acentuada falta de mão-de-obra, especialmente, de pessoal qualificado, por insuficiência de preparação técnica e profissional
Também se deparam dificuldades provenientes da analfabetização nos quadros das fábricas antigas, bem como falta de mentalização industrial a quase todos os níveis.
A perspectiva da evolução da mão-de-obra necessária para acompanhar a evolução da produção melhorará com o aumento do nível educacional que se espera por acção dos sectores responsáveis.
Em 1964 as remunerações pagas pelo sector somaram 533 milhares de contos, dos quais 339 milhares pelas indústrias de imprensa e artes gráficas, 55 milhares pelas indústrias de fabricação de artigos de papel, cartolina e cartão, 108 milhares pela fabricação de papel, cartolina e cartão e 31 milhares pela indústria de pasta para papel

1.3 - Equipamento

A capacidade produtiva das instalações vem sendo utilizada em bom grau no caso das indústrias do papel e dos artigos de papel, atingindo 100 por cento no caso da indústria de pasta para papel
No caso das indústrias gráficas já se não pode dizer o mesmo, visto que se admite não exceder os 60 por cento a utilização da capacidade instalada
A capacidade produtiva está quase exclusivamente absorvida pela procura interna, solvo no caso da indústria da pasta para papel, em que mais de metade da produção se destina à exportação
É elevado o grau de obsolescência de numerosas unidades, mas, a par destas, há considerável número de unidades modernas, especialmente no caso do fabrico de pasta para papel.

1.4 - Investimentos e respectivos financiamentos

O valor dos investimentos não é fácil de avaliar, a não ser no caso da indústria de pasta para papel. O quadro a seguir indicado pode dar uma ideia grosseira dos investimentos a preços correntes (contos) dos últimos anos

QUADRO VIII

Investimentos efectuados em 1961-1964 por sectores

(ver tabela na imagem)

Estes investimentos, nos casos das indústrias de papel e cartão, de artigos de papel e das artes gráficas, representam os investimentos de que é possível ter a certeza, mas, na realidade, devem ter sido bastante superiores Não é possível obter dados concretos sobre o financiamento do sector. Tem predomínio no entanto, o autofinanciamento, seguido do recurso à Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, à banca comercial e ainda ao estrangeiro.

1.5 - Investigação

Apenas no que respeita ao aproveitamento de matérias florestais e outras com vista ao fabrico de pastas papeleiras se tem feito alguma investigação, quer no sector privado, quer no sector público

1.6 - Mercados

O mercado do sector reparte-se pelo consumo final interno, pelos fornecimentos a outros sectores e pela exportação, na proporção de, respectivamente, 56, 33, 12 e 11 por cento. Actualmente, a exportação apenas assume particular relevo na indústria de pasta para papel, tendo representado em 1964 cerca de 70 por cento do mercado desta actividade

QUADRO VIII

Destino e produção em 1964

(ver tabela na imagem)

Nota. - Não se consideraram os existências em armazém.

QUADRO IX

Mercado externo em 1964

Contos

(ver tabela na imagem)

A exportação das indústrias gráficas representada por livros e impressos destinou-se em cerca de 90 por cento ao Brasil.

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718 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

(...) damente dos tipográficos. Estas indústrias não sentem a concorrência externa por ser forte a barreira alfandegária
A conquista dos mercados externos terá de intensificar-se, no caso da pasta para papel, e a indústria do papel deverá confirmar as suas possibilidades durante o período do Plano.
Quanto às outras indústrias, não se espera alteração sensível do panorama actual, salvo numa ou noutra actividade impressora
As modernas técnicas de organização e de gestão, tais como estudos dos mercados, verificação de existências, racionalização dos circuitos de fabrico, estudo e organização de postos de trabalho e selecção de pessoal, têm sido utilizadas, em maior ou menor grau, nas empresas de maior dimensão e mais actualizadas.
A prática de elaboração de orçamentos financeiros não está generalizada, mas é já seguida em algumas unidades
Diversas empresas têm organizado cursos rápidos de formação profissional do pessoal e as mais progressivas dispõem de estrutura conveniente e promovem estágios no estrangeiro dos mais directos colaboradores.
A Corporação da Imprensa e Artes Gráficas, como coordenadora dos organismos corporativos do sector, tem promovido e colaborado em iniciativas de formação profissional, organização técnica e gestão (Centros de Formação Profissional de Artes Gráficas de Lisboa e do Porto), estudos e visitas ao estrangeiro

2.10 - Acção do sector público

As principais medidos a encarar são as que a seguir se enumeram, sendo umas específicas de cada uma das indústrias abrangidas pelo sector e outras comuns a todo o sector

Relativas à indústria de pastas

1.º Estabelecimento de infra-estruturas adequadas no que respeita à florestação, transporte e comercialização de madeiras;
2.º Revis5o da capacidade de produção da indústria, quer pelo aumento de capacidade das actuais unidades, quer pela concessão de novas licenças condicionadas a mínimos técnico-económicos

Relativas à indústria do papel

1.º Incentivos ao melhor dimensionamento e especialização das unidades papeleiras, de modo a alcançarem uma estrutura racional e economicamente válida,
2.º Estímulo à integração com unidades produtoras de pasta das unidades papeleiras, cujas produções assim aconselhem,
3.º Criação de um centro técnico de investigação da indústria papeleira,
4.º Fomento de especialização pós-universitária de técnicos papeleiros

Relativas â imprensa e artes gráficas

1.º Providências com vista a facilitar a exportação de livros e publicações periódicas, como, por exemplo, a fundação e manutenção no Rio de Janeiro de uma Casa do Livro Português, dirigida e administrada pelo Grémio Nacional dos Editores e Livreiros, fundação de Casas do Livro em Angola e Moçambique, encurtamento dos prazos necessários para as transferências de créditos das províncias ultramarinas,
2.º Extensão ao ultramar do serviço de cobranças de assinaturas por parte dos CTT e revisão das taxas pagas por este sei viço no continente,
3.º Introdução do estudo aprofundado das técnicas de impressão nos cursos superiores,
4.º Promoção do hábito da leitura nas camadas mais jovens;
5.º Estudo com vista à concessão de facilidades fiscais para a imprensa

Relativas a todo o sector

1.º Estabelecimento de infra-estruturas adequadas no que respeita a transportes em geral e instalações portuárias,
2.º Revisão de preços dos combustíveis e da energia eléctrica;
3.º Revisão das taxas e direitos de importação aplicados a determinadas matérias-primas,
4.º Revisão dos preços de algumas das matérias-primas produzidas no País,
5.º Formação de pessoal especializado,
6.º Intensificação da normalização, quer dos produtos fabricados pelo sector, quer das matérias-primas por ele consumidas,
7.º Facilidades de recurso ao crédito para investimentos a longo prazo

2.11 - Projecções da produção

E difícil de prever a evolução da produção do sector, dado que a marcha de cada uma das indústrias considerada, não se processará, com certeza, no mesmo ritmo, durante o período do Plano
Com base na evolução de 1954 a 1964 e no conhecimento de algumas produções relativas aos anos de 1965 e 1966, estabeleceram-se as seguintes projecções

(ver tabela na imagem)

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A análise dos projectos indicados no § 4.º prevê um aumento de produção para 1971 da ordem das 400 000 t, mas é natural que este nível só venha a ser atingido em 1978. Sendo assim, a produção em 1978 seria da ordem das 600 000 t Trata-se, pois, para a pasta, de uma previsão modesta, mas prudente, que pode ser tomada como mínimo a atingir, mas que é de admitir seja excedido.
Também a análise dos projectos relativos ao papel mostra um aumento de produção em 1970 e em 1971 da ordem das 80 000 t, a que corresponderá uma produção de cerca de 230 000 t, sensivelmente a perspectiva prevista

§ 3.º Projecções dos Investimentos o emprego

3.1 - Projecções dos investimentos

A perspectiva de investimentos durante o período do Plano, a partir dos elementos constantes em 1 4, conduzia a valores que estariam longe de qualquer significado No entanto, a não ser o que se conhece relativamente aos projectos referidos no § 4.º, nenhuma outra base foi possível obter para o efeito.
Sem qualquer juízo de certeza, pode fazer-se uma previsão formulando as seguintes hipóteses

Os investimentos na indústria das pastas terão o seu máximo nos dois primeiros anos do período do Plano e descerão depois para nível inferior ao dos anos de 1931 a 1964,
Os investimentos na indústria do papel terão o seu máximo no primeiro ano do período do Plano e cairão depois para um nível correspondente à média dos anos de 1963 e 1964,
Os investimentos na indústria dos artigos de papel baixarão nos últimos anos do período do Plano para um nível correspondente & média dos anos de 1968, 1964 e 1965,
Os investimentos nas indústrias gráficas conservarão o nível que atingiram em 1965

Investimentos

3.2 - Projecção do emprego

De análogas dificuldades se reveste a projecção da mão-de-obra durante o período do Plano. A sua evolução durante o período de 1954-1964 e o andamento da produção durante o período do Plano permitem prever a seguinte evolução

Pessoal empregado

(ver tabela na imagem)

Esta projecção é válida na medida em que for válida a projecção feita para a produção, bem como a hipótese de que se mantêm, quer a proporcionalidade entre o pessoal administrativo e técnico e o pessoal operário, quer entre o pessoal e a produção.
A evolução técnica conduzirá, necessariamente, a um aumento de produtividade, e, portanto, a projecção feita deve pecar por excesso No entanto, como se considera que a previsão da produção acusa erro por defeito, julga-se que o desvio que daqui advém para a mão-de-obra será, em certa medida, compensado pelo que resulta do aumento da produtividade.
Dal poderem tomar-se estes números como próximos da realidade, embora se espere acentuado aumento de produtividade na indústria de pastas

§ 4.º Projectos

Os serviços oficiais competentes apenas teriam conhecimento dos projectos de empreendimentos sujeitos a condicionamento. Mesmo para esses projectos, os elementos existentes são deficientes, e nada impede que os planos iniciais sejam alterados.
Por meio de uma sondagem junto das empresas, foi possível estabelecer os quadros que se seguem

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Frise-se, ainda, a quase estacionariedade que se verificou no campo dos adubos fosfatados (por motivo da diminuição do consumo interno de fósforo devido a factores de conjuntura) e dos óleos vegetais e sabões (por virtude da concorrência de outros produtos de substituição, como é tendência geral no Mundo)
Por último, a diminuição de produção de sulfato de cobre e enxofre traduz igualmente evolução marcada no campo dos pesticidas em favor de produtos mais novos de substituição
Para a indústria de derivados de petróleo e carvão, calculou-se, com base em unidades físicas, uma taxa mediu de crescimento de 3,4 por cento para o período referido
Para avaliar a importância e desenvolvimento alcançado pela indústria química portuguesa no contexto das indústrias químicas europeias, pode tomar-se como medida a capitação anual da produção, que, nos países europeus da O, C D E , é da ordem dos 2300$ por habitante (à excepção de Portugal e Espanha)

QUADRO II

Capitação da produção global das indústrias químicas

(ver tabela na imagem)

Fonte Produção Portugal - relatórios dos sectores (incluíram-se apenas as produções dos sectores abrangidos no âmbito dos estatísticas da O C D E ), outros países - L'Industrie Chimique, O C D E, 1963-1964 e 1964-1965

População Principaux Indicateurs Économiques, O C D E , Dezembro de 1965 Câmbio usado 1 dólar = 28$80.

O valor da capitação de produção da indústria química portuguesa representava em 1964 cerca de um quarto do valor dos países da O C D E Apenas na indústria dos sabões a capitação do nosso país é a mais elevada, sendo em contrapartida a mais baixa nas indústrias da soda cáustica, cloro, plásticos e fibras artificiais e sintéticas.

1.2 - Custos de produção

A estrutura de custos de produção da indústria química e da indústria dos derivados do petróleo bruto e do carvão pode avaliar-se pelo quadro que a seguir se apresenta

QUADRO III

Estrutura dos custos de produção (1964)

(ver tabela na imagem)

Fonte Instituto Nacional de Estatística - Estatística Industrial

Nota. - Incluem-se indústrias que representam mais de 90 por cento do valor global de produção

As matérias-primas representam em quase todas as indústrias químicas uma percentagem muito elevada do valor de produção, apenas nas indústrias do amoníaco, fibras artificiais e sintéticas, fósforos, especialidades farmacêuticas, perfumes e produtos de higiene não atingem 50 por cento do valor de produção
A mão-de-obra representa cerca de 12,5 por cento do valor de produção, as amortizações, cerca de 8,8 por cento, e a energia, cerca de 5 por cento Salienta-se neste último caso a indústria do amoníaco, em que a contribuição da
energia é superior a 30 por cento Por outro lado, os encargos de amortização mais elevados correspondem às indústrias que exigem maiores investimentos, com relevo para

Amoníaco - 39,4 por cento do valor de produção
Ácido sulfúrico - 22 por cento do valor de produção
Especialidades farmacêuticas - 13 por cento do valor de produção
Fibras artificiais e sintéticas - 11,1 por cento do valor de produção

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1.3 - Valor acrescentado

Com base nos elementos de custo referidos, é elaborar o quadro que a seguir se apresenta

QUADRO IV

Valor acrescentado (1964)

(ver tabela na imagem)

Extrapolando para os sectores omissos, verifica-se que o valor .acrescentado da indústria química em 1964 representou aproximadamente 7,2 por cento do valor acrescentado da indústria transformadora (a preços correntes), e o valor acrescentado pela indústria dos derivados do petróleo e do carvão, cerca de 1,2 por cento do mesmo valor, num total de 8,4 por cento para o sector das químicas e derivados do petróleo e do carvão

1.4 - Matérias-primas e energia

O valor das matérias-primas consumidas na indústria química em 1964 (quadro V) atingiu cerca de 2700 milhares de contos, representando os fornecimentos metropolitanos cerca de 61 por cento, dos quais mais de metade foi imputada aos sectores da própria indústria química
No quadro que se apresenta discrimina-se por actividades de origem o valor das matérias-primas consumidas em 1964

QUADRO V

Origem e valor das matérias-primas consumidas (1984)

Valores em milhares de contos

(ver tabela na imagem)

O quadro acima representa apenas uma aproximação dos valores input para a constituição de uma matriz das indústrias químicas, está longe de ser exaustivo.
Além dos fornecimentos feitos pela própria indústria química do País, verifica-se uma predominância de matérias-primas importadas, sobressaindo entre estas os produtos orgânicos de síntese À participação interna de matérias-primas (abstraindo dos fornecimentos da própria indústria química) é dominada por uma proveniência agrícola, principalmente gema de pinheiro, oleaginosos, figos e melaços, o que reflecte predomínio de indústrias tradicionais
De entre as matérias-primas importadas em 1964, 22,1 por cento provieram do ultramar português
A energia total consumida nas indústrias em causa ascendeu em 1964 a 288 milhares de contos, sendo 63 por cento respeitantes a energia eléctrica e 37 por cento a combustíveis As indústrias químicas absorveram 255 milhares de contos, com uma participação mais elevada de electricidade (70 por cento), e a indústria dos derivados do petróleo e do carvão, 81 milhares de contos, com incidência mais forte (87 por cento) dos combustíveis líquidos.

1.5 Mão-de-obra e produtividade

QUADRO VI

Estrutura do emprego (1964)

(ver tabela na imagem)

Nota -Na indústria dos derivados do sódio e do cloro apenas foi possível obter o total de pessoal empregado, não se encontrando o mesmo discriminado por categorias, deste modo, a agregação feita no presente quadro só inclui a referida indústria na coluna do total
Em 1964 o volume de pessoal ocupado pela indústria química e pela dos derivados do petróleo bruto e do carvão era, respectivamente, de cerca de 22 000 e 1200 pessoas. Existem certamente omissões e diferenças de critério relativamente ao pessoal não afecto directamente à actividade fabril, mas pode aceitar-se como válida a ordem de grandeza dos totais obtidos (vide quadro V)
Relativamente à qualificação e estrutura etária, sabe-se que 50 por cento do pessoal possuem apenas a instrução primária, e igual percentagem deverá ter menos de 40 anos de idade
A contribuição da mão-de-obra (incluindo encargos sociais) para o produto da indústria química ultrapassou em 1964 os 690 000 contos, o que corresponde a mais de 12 por cento do valor da produção No mesmo ano, os valores recolhidos para a indústria dos derivados do petróleo e do carvão rondaram os 50000 contos, representando cerca de 4 por cento do valor da produção. De acordo com as informações apuradas, verifica-se que a produtividade média das indústrias químicas em 1964 foi de cerca de 272 contos por empregado. À indústria de refinação de petróleos apresenta uma produtividade superior 1475 contos por empregado. Em termos de valor acrescentado, ter-se-á para a indústria química cerca de 95,4 contos por empregado e para a dos derivados do petróleo 281,2 contos por empregado

1.6 - Investigação

A actividade da investigação na indústria química portuguesa é pouco relevante Não existe uma tradição, nem nas escolas, nem na indústria, orientada no sentido da

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(...) futura. É o caso dos óleos não alimentares, resinosos, álcool, óleos essenciais, produtos amiláceos, bem como do ágar-ágar e outros produtos marinhos.
Certo número de factores conjunturais pode limitar a expansão destas indústrias, como seja a concorrência de produtos de síntese, que dominam cada vez mais os campos de utilização dos produtos de origem animal, e os encargos de mão-de-obra das operações de colheita ou recolha das matérias-primas, como gravame do custo de produção Continuará no entanto a verificar-se, para determinadas aplicações específicas, preferência pelos produtos de origem natural.
d) Outro aspecto característico importante á o que resulta de um predomínio de actividades de formulação, cujo objectivo é a preparação de produtos finais Como geralmente é reduzida a tecnologia dos processos de fabrico, houve lugar ao aparecimento de grande número de unidades produtoras, pelo que se reconhece presentemente necessidade de reorganização em certos sectores.
e) No que respeita aos polímeros de síntese e sua transformação em produtos semi-acabados, a indústria química portuguesa inclui o fabrico de resmas sintéticas (de polimerização e policondensação) e a produção de fios e fibras artificiais e sintéticas
No campo das resmas, as primeiras iniciativas foram marcadas pelo aproveitamento dos recursos naturais - a colofónia -, seguindo-se a produção de resmas de condensação.
Os produtos de polimerização são mais recentes na nossa indústria e limitam-se praticamente a duas classes - acetato de polivinilo e PVC -, exigindo tecnologia mais complexa e capacidade de produção mais elevada.
A produção de fibras sintéticas pode considerar-se na infância e o seu fabrico limita-se por enquanto às operações de spinning de nylon e de poliéster
f) A indústria de refinação de petróleos tem-se desenvolvido fundamentalmente como produtora dos combustíveis corrente (líquidos e gasosos), tendo iniciado há poucos anos o fornecimento de algumas fracções à indústria do amoníaco. A expansão em curso inclui a produção de óleos lubrificantes e prevê a obtenção de outras matérias-primas para a indústria química

1.9 - Evolução da produção

Em Portugal, ao contrário do que se passa na maioria dos países da O C D E., a indústria química tem crescido a ritmo inferior ao da indústria no seu conjunto.
Ao analisar-se a evolução de produção nos diferentes sectores da indústria química, pode adoptar-se o esquema de classificação preconizado por alguns autores, que compreende

Os produtos químicos tradicionais destinados à indústria,
Os produtos químicos tradicionais destinados à agricultura,
Os produtos químicos novos já referidos.

A evolução dos dois primeiros grupos de produtos está Intimamente relacionada com a evolução da economia em geral, enquanto os produtos novos (fundamentalmente plásticos e fibras sintéticas) acusam crescimento muito superior ao da indústria no seu conjunto
Entre os produtos químicos de base para a grande indústria figuram a soda cáustica, cloro, carbonato de sódio, ácido sulfúrico, amoníaco, fenol, metanol e ureia
Na maioria dos países que dispõem já de uma indústria química bem estabelecida, o ritmo de produção destes produtos acompanha geralmente de perto a evolução dos índices de produção industrial.
O ritmo de produção dos produtos destinados à agricultura - fundamentalmente os pesticidas, adubos e os produtos intermediários do seu fabrico (como ácido sulfúrico e amoníaco)- está evidentemente relacionado com a, expansão da actividade agrícola de cada país, mas podemos afirmar que no momento presente esse ritmo é mais determinado nos países tradicionalmente produtores de adubos, pelas oportunidades de exportação que se têm apresentado nos últimos anos
No sector dos pesticidas, tem-se operado em todo o mundo evolução marcada no sentido da substituição dos produtos tradicionais (como o sulfato de cobre) por outros produtos orgânicos activos. A actual evolução na produção de pesticidas em Portugal reflecte grandemente essa tendência, mas é ainda pouco significativa a produção de compostos orgânicos activos.
A própria actividade de formulação tem crescido de forma lenta, pois há ainda alguns domínios de aplicação onde os pesticidas não penetraram.

1.10 - Aperfeiçoamento tecnológico

Sendo a indústria química uma das mais dinâmicas actividades do mundo moderno, importa avaliar até que ponto a indústria portuguesa tem aproveitado os aperfeiçoamentos tecnológicos e os resultados da investigação científica, que se situam na base daquele dinamismo de evolução. As consequências dessa evolução fazem da indústria química uma indústria em constante mutação, quer por virtude de novos processos de fabrico, quer pela descoberta de novos produtos de síntese, quer ainda por motivo das pesquisas tecnológicas, que se reflectem na construção do equipamento e no automatismo do fabrico.
Uma das consequências mais sensíveis do progresso técnico que afecta a indústria química, e mais familiares nos meios económicos ligados a este ramo da indústria, é a que se refere às dimensões unitárias e se traduz muitas vezes pelo conceito tão corrente de «capacidade mínima económica».
Em determinados casos (por exemplo, amoníaco, etileno) a incidência da capacidade instalada sobre os custos de fabrico é tão acentuada que se tem assistido ultimamente a uma verdadeira corrida às grandes capacidades. Assim, no caso do etileno, enquanto há poucos anos eram normais unidades de 50 000 e mesmo 20 000 t/ano, tem-se hoje por antieconómica a consideração de novas instalações com capacidade inferior a 100 000-200 0001/ano, e estão já em montagem unidades de 400 000 t/ano.
Para se apreciar de forma genérica a indústria química portuguesa sob o ângulo do aperfeiçoamento tecnológico, poderemos considerar dois grandes grupos de sectores

Indústrias de participação tecnológica intensiva (ácido sulfúrico, amoníaco, adubos, cloro, alcalis e cloreto de vinilo),
Indústrias cujo processo de fabrico é menos complexo, com elevada incorporação de matéria-prima e mão-de-obra.

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Para o primeiro grupo de indústrias, pode-se afirmar que não existe no País qualquer grave problema de obsolescência tecnológica que mereça ser referido. Os produtos mais atingidos pela evolução tecnológica têm sido o amoníaco, o cloreto de vinilo, a ureia e os adubos nítricos. Às instalações existentes encontram-se bem equipadas a procuram utilizar as técnicas mais recentes. Às principais obsolescências verificadas são de natureza mais económica do que técnica e resultam de problemas de dimensão
Para o segundo grupo de indústrias, dado que o equipa mento necessário pode ser bastante rudimentar e a tecnologia de fabrico é facilmente acessível, desenvolveu-se atracção generalizada de iniciativas, donde resultou em muitos sectores uma disseminação excessiva de instalações, com as mais diversas capacidades e tecnologias Os progressos verificados nestas indústrias provêem da evolução em determinados equipamentos e da tendência para a utilização de processos contínuos e sistemas automáticos de produção. Estão neste caso os sectores das tintas, sabões, amideiros, óleos e resinosos

1.11 - Matérias-primas

Os recursos metropolitanos em matérias-primas com utilização na indústria química são bastante escassos e não se vêem grandes possibilidades de que esta situação possa ser francamente melhorada. Excluindo as pirites e os produtos minerais mais correntes (calcário e sal), apenas a agricultura, pecuária e silvicultura contribuem como fornecedores internos da indústria química.
A participação das províncias ultramarinas no fornecimento de matérias-primas é já hoje significativa, especialmente em produtos naturais, como sementes de oleaginosas e matérias amiláceas
Há fortes esperanças (e algumas iniciativas foram já tomadas) de que possam vir a ser explorados outros recursos no nosso ultramar. A produção de petróleo foi já iniciada e está em curso um programa de desenvolvimento da sua prospecção, as perspectivas em fosforites aparecem também com certo optimismo. Existem, portanto, razões que permitem considerar poder o ultramar português vir a assumir papel preponderante no futuro desenvolvimento da nova indústria química As actuais condições de transportes dos produtos ultramarinos agravam, no entanto, significativamente, os preços das matérias-primas, por os fretes que aplica a nossa marinha mercante serem mais elevados do que os internacionais Esta situação encontrará por certo solução natural à medida que se for desenvolvendo e renovando a nossa frota e se intensifiquem as trocas comerciais com o ultramar.

1.11.1 - Matérias-primas naturais

Dentro dos produtos minerais com interesse para a indústria química, excluindo o sal e o calcário, os recursos da metrópole limitam-se praticamente aos produtos sulfurosos (pintes), dispondo-se de reservas suficientes para satisfazer as necessidades desta indústria
Ainda dentro das matérias-primas minerais, merece referência o sal, base da fabricação do cloro e da soda
O cloro, a seguir aos hidrocarbonetos, constitui o produto base de maior interesse para o desenvolvimento da química orgânica. Têm sido anunciadas ultimamente algumas descobertas de jazigos de sal-gema no território metropolitano. É de extrema importância que sejam conhecidas as suas possibilidades de exploração, de modo a constituírem um apoio de matéria-prima necessária ao desenvolvimento futuro da indústria de electrólise.
Outro produto mineral de extrema importância para a indústria química portuguesa é a fosforite, que tem sido importada de Marrocos, e em relação à qual parece haver grandes probabilidades de o subsolo angolano contei reservas substanciais Torna-se necessário estabelecer um programa intensivo de prospecção, de forma a conhecerem-se os jazigos existentes e as condições da sua exploração.
O petróleo bruto que se refina no País é proveniente, na quase totalidade, de países estrangeiros. Às explorações ultramarinas foram já iniciadas e, se bem que a produção seja por enquanto ainda limitada, parece haver indícios animadores, quer em petróleo, quer em gás natural. E de prever que os trabalhos de prospecção, que agora se intensificam com o regime de concessões que o Governo tem vindo a estabelecer, consigam nos próximos anos resultados positivos
O petróleo é um dos principais agentes de produção da indústria química, quer sob a forma de combustível, quer como matéria-prima para os produtos petroquímicos. Haverá, no entanto, que rever o problema dos fictes nacionais do petróleo bruto, visto não ser possível estabelecer-se no País uma indústria petroquímica se a matéria-prima for onerada com um valor de frete superior ao das escalas internacionais

1.11.2 - Produtos de origem animal e vegetal

Para a nossa indústria química assume relevância a gema do pinheiro e os produtos fornecedores de matérias, gordas
A produção de resinosos representa papel preponderante pela sua incidência na balança comercial, a longo termo, porém, a sua posição pode ser reduzida pela expansão de produtos de síntese e pelos encargos crescentes de mão-de-obra necessária à extracção da gema Espera-se que, através de uma regulamentação dos processos de compra de gema e pela promoção da resinagem das matas nacionais pela ruptura da tensão criada no sistema oferta-procura, se possam resolver os problemas existentes sobre fornecimentos da matéria-prima
Relativamente às matérias-primas oleaginosas e amiláceos, o seu abastecimento é feito no ultramar, e o principal problema deriva do peso dos fretes da nossa marinha mercante (a incidência do transporte no preço das sementes postas na fábrica é de cerca de 12 por cento)
Dentro dos produtos naturais, caberá ainda uma referência às matérias-primas utilizadas na fabricação do álcool, que têm merecido a atenção do Governo. Criada recentemente a Administração-Geral do Álcool, espera-se que da sua actuação se verifique evolução favorável no panorama das matérias-primas alcoogénicas

1.11.3 - Produtos químicos de base

É ainda relativamente limitada a gama de produtos químicos de base que se fabricam no País, pelo que a participação de fornecimentos externos é bastante significativa Os fornecimentos externos são onerados com encargos de transporte e taxas alfandegárias, que os tornam bastante mais coros do que os que a indústria estrangeira encontra nos mercados locais. Não será possível à indústria nacional, como se compreende, satisfazer, a curto prazo, integralmente, as necessidades da enorme gama de produtos químicos para a própria indústria química Haverá, no entanto, tendência progressiva para aumentar essa participação, e deverá fomentar-se por meios directos a fabricação nacional de produtos intermediários e de base, sem-

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País, mediante um sistema de planeamento permanente, com a activa colaboração do sector privado

2) Apreciação dos projectos .privados nos seguintes aspectos

Inventariação e disponibilidades de matérias-primas,
Interligação com outros sectores,
Reflexos no emprego, na produtividade e na economia nacional;
Capacidades mínimas económicas,

3) Estímulo das realizações programadas, mediante, entre outras providências

Incentivos fiscais,
Facilidades de credito,
Apoio à exportação e a importação de matérias-primas e equipamento,
Promoção de condições favoráveis nos fretes marítimos;
Auxílio a programas de investigação ou de fomento da prospecção e produção de matérias-primas,

4) Definição dos projectos complementares da iniciativa privada necessários ao desenvolvimento,
5) Reajustamento da acção de conjunto, por exame permanente da concretização dos projectos

Nos domínios do crédito, fiscalidade e apoio a exportação, encaram-se, designadamente, as seguintes medidas:

Revisão das condições de concessão de crédito a longo prazo,
Regulamentação de diplomas legais sobre crédito à exportação e respectivo seguro,
Fomento da exportação, quer pelo tratamento fiscal favorável das actividades de exportação, quer mediante a acção dos serviços oficiais competentes no estrangeiro,
Revisão dos direitos de importação das matérias-primas que não se fabricam no País e do sistema de aplicação de taxas que actualmente vigora para determinados produtos de base,
Concessão de facilidades às indústrias químicas consideradas essenciais ao fomento da economia nacional, quanto à importação de equipamento que a indústria nacional não possa fornecer em condições satisfatórias.

Prevêem-se ainda medidas de caracter geral tendentes à modernização e desenvolvimento da indústria, seja por melhoramento dos meios de transporte e condições portuárias, seja por adopção de técnicas modernas de gestão e direcção

§ 3.º Projecções

Numa indústria tão diversificada como é a química, julga-se que o tratamento da análise projectiva por cada sector individualizado constitui método mais adequado do que o assente na correlação de índices globais com outros indicadores económicos.
Verifica-se que a evolução do consumo aparente dos produtos da indústria química no período de 1960 a 1964, referido a valores de cada ano, acusou o crescimento anual médio de 10 por cento
As importações subiram no mesmo período (1960-1964) a uma média de 10 por cento por ano, taxa muito próxima da que acusou a exportação (11 por cento anual), mas o volume de importações é ainda 2,5 vezes superior ao das exportações
Atendendo a que as estimativas de exportação são bastante aleatórias, se se confirmar a hipótese que se apresenta, verificar-se-á, ao longo do período de 1964-1973, o crescimento médio anual de exportações de 9,5 por cento, que pode considerar-se bastante satisfatório
Analisando a evolução do consumo interno no período de 1960-1964, observa-se que os produtos químicos inorgânicos, que acusaram ultimamente uma expansão de 15 por cento, deverão tender para baixa sensível de crescimento, por não existir ainda no Pais certo número de indústrias suficientemente desenvolvidas que solicitem o consumo substancial desses produtos.
O ácido sulfúrico poderá encontrar novas diversificações de utilização, paia além dos adubos, pela viabilidade de se virem a produzir alguns produtos que dele necessitam como agente de fabrico (bióxido de titânio, sulfato de alumínio, tripolifosfato de sódio)
Quanto ao amoníaco, a capacidade que está a ser instalada deverá ser acompanhada da concretização de esquemas que levem & expansão do fabrico de adubos azotados, além de se ter contado nas infra-estruturas estabelecidas com a possibilidade de exportação de amoníaco.
O sulfato de sódio acusará também forte incremento, como componente necessário à indústria da pasta de celulose
Dado que grande número de produtos químicos inorgânicos está ligado a enorme gama de utilizações (fundamentalmente industriais), prevê-se que no conjunto o mercado destes produtos acompanhe o ritmo de crescimento da actividade industrial
Dentro da nossa estrutura, a maioria dos produtos orgânicos é utilizada directamente ou como elemento de transformação que não envolve a sua conversão, por síntese, noutra categoria de produto
A expansão deste sector só poderá assumir relevo significativo quando se instalarem os unidades de transformação que solicitem o consumo dos produtos considerados como matérias de base em cada uma dessas etapas
Ainda que algumas iniciativas venham a concretizar-se, não SB espera que no período deste III Plano de Fomento a indústria de síntese orgânica possa assumir expansão notória. Por tal motivo, a estrutura dos mercados desses produtos não deverá alterar-se profundamente, parecendo razoável aceitar uma taxa de crescimento semelhante é verificada no passado recente
Para o sector de pigmentos e corantes, admitiu-se, em valor, um crescimento de consumo superior ao que se registou nos últimos anos, não só pela expansão dos consumidores tradicionais (tintas, estampagens e tinturaria de têxteis), mas também da indústria de plásticos, que fará sentir os seus reflexos no consumo de pigmentos
A produção de resinosos continuará a dirigir-se fundamentalmente para a exportação
Um dos sectores que durante o próximo período se apresenta com melhores oportunidades de expansão é o que compreende os polímeros de síntese (plásticos, borracha sintética e fibras químicas), visto ter ultrapassado a fase de introdução, à qual se seguiu em diversos países um período de crescimento muito intensivo, longe ainda da saturação

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Dentro dos produtos para a agricultura - adubos e pesticidas -, assistir-se-á possivelmente a evolução diferente da acusada pelos índices do período passado Enquanto para os pesticidas se espera crescimento relativamente satisfatório, não se encontraram para os adubos razões que pudessem fazer estimar um aumento de consumo superior ao que figura no quadro adiante inserto.
A intensificação da taxa de acréscimo do produto agrícola, prevista no capítulo respectivo deste Plano, deverá reflectir-se na expansão do consumo interno de adubos, que assim deverá acusar níveis mais elevados que os do passado, durante o período do Plano
Por outro lado, como se prevê que as necessidades mundiais de adubos continuarão a crescer em ritmo acelerado e se verifica da parte da indústria portuguesa uma
orientação no sentido de não abrandar uma expansão que lhe foi possível adquirir, admite-se que prossigam os esforços no sentido de continuar a desenvolver as suas exportações, como compensação das limitações que encontre no mercado interno em relação às suas possibilidades produtivas
Nas actividades relacionadas com os produtos de lavagem - óleos não alimentares, sabões e detergentes - continuarão a acentuar-se, durante o período do Plano, os reflexos ]á marcados na estrutura do consumo, onde o campo tradicional dos sabões cederá a sua posição em favor dos detergentes de síntese
Espera-se que o consumo de produtos farmacêuticos continue a crescer em ritmo satisfatório que possibilite n indústria nacional o prosseguimento da expansão até agora verificada.

QUADRO VIII

Perspectivas de evolução dos mercados da indústria química

(ver tabela na iamgem)

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730 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

As alterações de estrutura que poderio ocorrer durante este III Plano de Fomento têm de ser encaradas de acordo com a natureza específica de cada sector.
Assim, as indústrias mais antigas, consideradas de maior intensidade capitalista, não deverão alterar fundamentalmente a sua estrutura actual, podendo, no entanto, em certos casos, justificar-se mais estreita colaboração dos industriais, no sentido de ajustarem os seus planos de desenvolvimento a um esquema mais consentâneo com as necessidades da concorrência externa.
Para os sectores tradicionais, onde o investimento não constitui factor determinante, é de esperar que continue a observar-se um movimento de concentração, com vista a eliminar as unidades de menor dimensão em benefício das instalações de maior capacidade e mais bem apetrechadas.
Outro aspecto que interessa referir é o movimento de integração, que se espera venha a acentuar-se durante o próximo período, não só no sentido de as empresas existentes passarem a estar interessadas na exploração ou fabrico dos produtos de base, como também no de desenvolverem as produções que actualmente exploram.
No quadro que se segue apresentam-se estimativas do crescimento da produção do sector durante o período do Plano

QUADRO IX (a)

Estimativas do crescimento da produção

(ver tabela na imagem)

(a) Neste quadro incluem-se as produções que constituam fornecimentos do sector à própria Industria química

De acordo com os valores apurados, parece aceitável uma taxa anual média de crescimento da ordem dos 9 por cento, isto é, entre o máximo de 9,5 por cento, que poderá ser atingido se se concretizar certo número de iniciativas, e o mínimo de 8,5 por cento

§ 4.º Investimentos

A indústria forneceu indicações, quanto a investimentos no período do Plano, que podem resumir-se, consoante as várias fases de estudo em que se encontram, do modo seguinte (em milhares de contos):

Indústrias químicas

Projectos .................... 1 760
Anteprojectos ................ 2 609
Ideias de desenvolvimento .... 1 030

Indústrias dos derivados do petróleo e do carvão

Refinação de petróleos (investimentos incluídos também no sector energia).

Projectos ......... 1 040
Anteprojectos ..... 350

Do total de investimentos indicados pelo sector, verifica-se que somente cerca de 1800 milhares de contos correspondem a empreendimentos em fase de projecto, o que de certo modo pode justificar-se pelo dilatado número de anos que medeia entre o final do Plano e o período de colheita dos diversos elementos informativos junto da indústria.
Quanto aos anteprojectos, embora em certos casos bastante indefinidos, é provável que alguns passem à fase de projecto e, subsequentemente, à fase de realização ainda no período considerado.
O acréscimo de produção bruta nas indústrias químicas previsto para o período do III Plano, com base numa taxa média de crescimento da ordem dos 9 por cento, é de cerca de 5000 milhares de contos.

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Conclui-se, portanto, que, se se atender apenas aos empreendimentos já em fase de projecto, em relação aos quais se prevê um aumento de produção da ordem dos 2000 milhares de contos, eles não poderão satisfazer o crescimento considerado
Considera-se, por isso, indispensável o estudo dos restantes empreendimentos, no sentido de se realizarem os anteprojectos programados e se definirem novos projectos, baseados nas ideias de desenvolvimento encaradas ou noutras oportunidades que se apresentem viáveis.
Note-se, no entanto, que, mesmo com o ritmo de 9 por cento ao ano, a indústria química portuguesa, embora crescendo a cadência semelhante à verificada nos últimos anos nos países europeus da O. C D E., continuará muito desfasada em capitações, e seria necessária marcha mais acelerada para atingir em 1978 capitações semelhantes à média dos países em causa.

Torna-se, pois, necessário e urgente definir quais as necessidades prioritárias da indústria química face aos restantes sectores económicos. Isto implica a criação de estruturas e meios que possibilitem o conhecimento permanente e actualizado da respectiva posição em relação aos outros sectores de actividade que mais directamente interferem com o seu desenvolvimento.
Sistematizando os objectivos fundamentais a alcançar pela indústria química durante o Plano, podem eles enunciar-se assim

1.º Redução do ritmo de crescimento das importações mediante a intensificação da produção interna. Neste sentido, a indústria química portuguesa deverá preparar-se para enfrentar a concorrência, cada vez mais forte, por parte dos exportadores estrangeiros,
2.º Crescimento da produção de forma equilibrada, de modo a corrigirem-se algumas das desproporções existentes entre os vários sectores industriais,
8.º Preparação das bases necessárias a um desenvolvimento mais significativo, que se espera ter boas oportunidades no período imediatamente posterior ao III Plano, nomeadamente através da criação de estruturas orientadas para o campo da investigação;
4.º Redução dos custos de produção através de medidas, como as de concentração, que permitam maior escala de fabrico e obtenção de condições que possibilitem a aquisição das matérias-primas e de outros bens de produção a preços inferiores aos actualmente praticados;
5 º Desenvolvimento do mercado de consumo através da expansão de outras actividades relacionadas com a indústria química e de uma acção concreta da própria indústria no sentido de fomentar, em quantidade e qualidade, a utilização de produtos químicos;
6 º Aproveitamento de todas as oportunidades no sentido de cada vez maior abertura aos mercados externos

VI) Industrias dos produtos minerais não metálicos,
com excepção dos derivados do petróleo e do carvão

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

O âmbito do sector foi fixado em correspondência com a classe 83 da classificação das actividades económicas portuguesas por ramos de actividades, C A. E , e compreende: a fabricação de produtos de barro, vidro, porcelanas e faianças, cimento, fibrocimento, cal hidráulica e lousa Os fabricos de artigos de cimento e marmorite também aqui incluídos são muito dispersos e não se pôde obter para eles estudo pormenorizado, pelo que, em alguns pontos deste trabalho, o respectivo valor é referido ao do conjunto do sector.

1.2-Produção e valor acrescentado

a) Produção

O quadro I dá, para cada grupo de indústrias, o valor bruto da produção, a preços de 1968, em vários anos, e a taxa de crescimento no período de 1953-1964, tendo em atenção os elementos recolhidos pelas comissões de trabalho.

QUADRO I

Valor da produção e taxa de crescimento no período de 1953-1864

[ Ver quadro na imagem ]

No barro vermelho a produção bruta subiu de 117 000 contos em 1953 para 800 000 contos em 1964, ou seja a uma taxa de 9,5 por cento no período considerado.

A produção de tijolos por metro quadrado de superfície dos pavimentos dos edifícios construídos passou de 213 kg em 1958 para 802 kg em 1964.

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732 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

No que se refere à produção de telhas e artigos similares, este indicador manteve-se, nos dois anos considerados, em cerca de 60 kg/m².
O aumento da percentagem de tijolos na construção deve-se sobretudo à expansão de alvenarias de tijolo e à generalização da sua aplicação noutros elementos construtivos, sobretudo nos pavimentos em bigotas pré-fabricadas A indústria de construção civil e obras públicas é praticamente o único sector de consumo do barro vermelho.
Os distritos de Aveiro, Leiria e Lisboa produziram, de 1953 a 1964, cerca de 60 por cento da produção total do País
A produção bruta de vidro aumentou à taxa média de 7,2 por cento no período de 1953-1964. As percentagens, em 1964, para as principais divisões da produção vidreira são as seguintes garrafaria, 31,4 por cento, artigos de uso doméstico, 35,5 por cento; vidro plano, 20,8 por cento, e artigos diversos, 13,3 por cento.
No mercado interno, parte considerável da produção - cerca de 66 por cento - é destinada a outras indústrias, constituindo embalagens, bem como à construção civil e obras públicas.
A produção encontra-se concentrada em três zonas, com as seguintes percentagens, em 1964 zona norte, 20 por cento, zona centro, 60 por cento, distrito de Lisboa, 20 por cento
A capitação da produção vidreira duplicou no período de 1953-1964, passando de 4,2 kg para 8,8 kg.
Nas porcelanas e faianças, a taxa de acréscimo da produção bruta, segundo os elementos fornecidos pela indústria, foi de 9,4 por cento, devendo-se tal incremento sobretudo à maior aplicação de azulejos na construção.
Em 1964, as percentagens da produção por produtos em relação ao total foram as seguintes louça doméstica, 28,4 por cento, louça sanitária, 15,5 por cento; azulejos e acessórios, 34,4 por cento; porcelanas e faianças, 9,1 por cento, artigos decorativos, 9,7 por cento; mosaicos, 1,2 por cento, e produtos sanitários, 1,3 por cento.
Cerca de 90 por cento da produção estão localizados nos distritos de Aveiro, Coimbra, Lisboa e Porto.
O cimento acusou a taxa de acréscimo de 8 por cento no período de 1953-1964 A capitação da produção passou de 90 kg para 200 kg no mesmo período
A indústria encontra-se localizada nos distritos de Coimbra, Leiria, Lisboa e Setúbal, concentrando-se nestes dois últimos cerca de 72 por cento da produção total
A produção de fibrocimento tem crescido lentamente, somente com o acréscimo de 36 por cento entre 1953-1964.
Segundo informação do sector, a produção de cal hidráulica cresceu no período de 1953-1964 à taxa de 3,6 por cento, mas é possível que essa informação peque por defeito, porque outras fontes indicam um crescimento à volta dos 7 por cento.
A actividade da indústria transformadora, no tocante a mármores, granitos, rochas similares, lousas e cantarias, encontra-se mal delimitada relativamente à indústria extractiva e com deficiente cobertura estatística
O seu valor tem vindo a aumentar sensivelmente, em especial devido à exportação.

b) Valor acrescentado

Os quadros II-A e II-B dão respectivamente, com base nos dados da contabilidade nacional, o valor acrescentado e a sua estrutura para as indústrias do sector. Em virtude de os elementos dos quadros I e II-A provirem de fontes distintas e não compatibilizadas, não é possível tirar conclusões quanto a níveis, sendo entretanto utilizáveis as que se referem à estrutura e ao ritmo de crescimento no período considerado

QUADRO II-A

Valor acrescentado a preços constantes de 1963

[ Vêr quadro na imagem ]

QUADRO II-B

Estrutura do valor acrescentado

[ Vêr quadro na imagem ]

No período de 1953-1964, a contribuição do sector para o produto industrial bruto subiu à taxa de 7,1 por cento.
Para o ano de 1964, e no conjunto do sector, cabem às indústrias de cimento 41 por cento do valor acrescentado, às do vidro, 20 por cento, e às das porcelanas e faianças, 17 por cento.
Durante o período em análise a estrutura do sector não se alterou sensivelmente

1.3-Comércio externo

As exportações das diversas indústrias dos produtos minerais não metálicos alcançaram em 1964, a preços correntes, cerca de 364,1 milhares de contos, correspondentes a 460,1 milhares de toneladas Em 1958, as exportações tinham alcançado cerca de 154,4 milhares de contos - preços correntes - para um volume físico de 174,2 milhares de toneladas.
O aumento em termos físicos, entre 1953 e 1964 (cerca de 164 por cento), não foi acompanhado de acréscimo paralelo em valor, o que se deve, fundamentalmente, a quebra no valor unitário da exportação do cimento, que, dos 0,41 milhares de escudos por tonelada em 1958, passou para 0,26 milhares de escudos por tonelada em 1964.
O conjunto dos produtos das indústrias das porcelanas e faianças exportados sofreu, igualmente, redução no seu

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valor unitário (2 contos por tonelada em 1953, 1,1 contos por tonelada em 1964)
Das indústrias consideradas, a que maior percentagem ocupa no valor total das exportações no período de 1953-1964 tem sido a indústria do vidro.
Nos anos limites do período considerado, a sua participação cifrava-se em cerca de 40 por cento
A indústria de cimento surge, de 1953 a 1964, como a segunda mais importante no capítulo das exportações (38,4 por cento do total em 1953 e 28 por cento em 1964), tendo, no entanto, registado, como já se referiu, acentuada diminuição de vendas no exterior, nomeadamente a partir de 1957.
Este quadro coincide com o abastecimento dos mercados das províncias ultramarinas em cimentos de produção local e com maior dependência dos mercados internacionais, onde a colocação do cimento reveste carácter aleatório e os preços praticados sofrem os efeitos da concorrência internacional.
A indústria das porcelanas e faianças, ao longo do período, dado o aumento acentuado que registaram as suas exportações, nomeadamente no último ano, alcançou o terceiro posto
Para dar uma ideia mais clara da evolução da estrutura das exportações, registam-se, para três anos do período em causa, as posições relativas das diversas indústrias com base nos valores das exportações correntes

QUADRO III

Estrutura das exportações das indústrias
dos produtos minerais não metálicos

[ ver quadro na imagem ]

A análise da distribuição regional das exportações, a partir de 1960, mostra crescente independência dos mercados ultramarinos para a colocação dos produtos das indústrias do subgrupo
Em 1960, 45,8 por cento das exportações foram destinados às províncias ultramarinas, contra 28 por cento em 1964.
As exportações para a E F T A estabilizaram-se em cerca de 13 por cento, enquanto para a C E E , Estados Unidos e Canadá sofreram ligeira redução
Para os restantes países registou-se nos últimos anos aumento das exportações, com bastante relevo para a Espanha
As importações de produtos minerais não metálicos pouco ultrapassaram, em 1964, a centena de milhares de contos
Ao longo do período de 1953-1964, o sector de maior participação no conjunto das exportações foi o vidro Em 1964 aquela participação alcançou 63 por cento
Por ordem decrescente de participação no conjunto das importações, seguem-se-lhe a indústria do barro vermelho, porcelanas e faianças e cimento. As indústrias da cal hidráulica e fibrocimento registaram valores de reduzida importância, não se verificando quaisquer importações de produtos de lousa A posição relativa das importações das diversas indústrias consideradas no período de 1953-1964 não se modificou, tendo-se apenas verificado alterações nos níveis de participação nos vários anos do período
Em 1964, mais de metade das importações de produtos das indústrias do sector tiveram como origem países do Mercado Comum, seguindo-se a E F T A. com cerca de 30 por cento

1.4-Emprego, produtividade e remunerações

a) O nível de emprego, no período de 1953-1964, segundo elementos fornecidos pela indústria, é o constante do quadro que segue.

QUADRO IV

Efectivos

[ ver quadro na imagem ]

b) A produtividade do trabalho nas diferentes indústrias do subgrupo foi medida através do quociente do valor bruto da produção pelos efectivos A série do valor da produção foi calculada a preços constantes de 1963

QUADRO V

Produtividade (1953-1964)

Valor bruto da produção por pessoa ocupada (contos/efectivo)

[ ver quadro na imagem ]

c) As remunerações pagas no conjunto das indústrias do subgrupo, para as quais se dispõe de elementos, alcançaram, em 1964, o montante de 468,8 milhares de contos (a preços de 1963) Em relação a 1953, verificou-se o aumento de cerca de 85,4 milhares de contos, medido em termos reais
Interessa agora fazer a comparação entre a evolução das remunerações por pessoa ocupada e o andamento da produtividade.

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QUADRO VI

índices com base em 1953

[ Ver quadro na imagem ]

Verifica-se que, ao longo do período, para um aumento de 112,3 por cento do valor bruto da produção por pessoa ocupada - que atingiu em 1964, no conjunto das indústrias do subgrupo, 67,1 contos por efectivo -, a capitação das remunerações sofreu o acréscimo de 71,3 por cento.

QUADRO VII

Evolução do valor bruto da produção

por pessoa ocupada e das remunerações por pessoa

no período de 1853-1984

[ Vêr quadro na imagem ]

1.5 - Investimentos

Os relatórios das diversas comissões nem sempre mencionaram os montantes investidos no período de 1953-1964, devendo observar-se que os elementos fornecidos são a preços correntes, no sector dos cimentos não se dispôs de dados quanto a uma das empresas, para as porcelanas e faianças indicaram-se estimativas, sujeitas a rectificação, relativas a cerca de 90 por cento das empresas, em 1964, a comissão do vidro apresentou estimativas para o período de 1959-1964, e a da cal hidraúlica, para os anos entre 1961 e 1964
Para as indústrias do barro vermelho e lousas não foi possível obter qualquer informação

QUADRO VIII

Montante de investimentos referidos nos relatórios de comissões para
o período de 1953-1964 (preços correntes)

A soma dos diversos valores indicados para 1963 atinge 122,8 milhares de contos
O nível apresentado pelas estimativas do Instituto Nacional de Estatística para o total do subgrupo (209 milhares de contos) ultrapassa aquela soma em 86,2 milhares de contos

1.6-Perspectivas

Nas indústrias do sector, a iniciativa privada mostra-se suficientemente activa para promover o seu desenvolvimento sem o recurso a outros meios. Conta-se com os incentivos que o Plano preconiza para a generalidade da indústria e com a concretização das medidas de política nele encaradas
No barro vermelho, um regulamento de exercício da indústria recentemente publicado tem actuado favoravelmente em benefício da sua estrutura e da qualidade dos produtos Embora com as cautelas que tal tipo de legislação requer, há que reconhecer as vantagens da sua aplicação
Na indústria vidreira, a produção do vidro plano tem melhorado as suas instalações, mas espera-se que no período do III Plano possa garantir maior capacidade competitiva A produção de vidro plano liso tem vivido há longo período sem concorrência interna nem externa, benefício este cuja contrapartida deverá traduzir-se na capacidade para enfrentar, na devida altura, a concorrência externa, tanto no País como em relação à exportação
A produção de embalagens de vidro é feita em unidades de dimensões sensivelmente inferiores às das congéneres estrangeiras, esta circunstância, aliada à baixa especialização, deverá criar-lhe dificuldades logo que a protecção aduaneira seja menor O aumento da procura actuou nos últimos anos em benefício da dimensão das unidades que progrediram na sua automatização, mas receia-se que numa maior integração de mercados se revelem ainda insuficientes as medidas tomadas e haja que proceder a consideráveis investimentos numa altura em que idêntico

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fenómeno se passa quanto a muitas outras indústrias e a capacidade de financiamento total do País seja insuficiente.
Na produção de vidro para usos domésticos, há uma gama de fabricos que pode ser produzida em grandes séries por processos automáticos ainda não utilizados no País É de admitir que no decurso do Plano sejam tomadas resoluções sobre o assunto que levem a caminhar naquele sentido.
A produção de vidro neutro entra na gama de vidros especiais de alto teor em sílica e a sua maior utilização é sob forma de tubo Também nesta modalidade a competição europeia disporá de unidades de grande nível técnico e dimensional, que não encontram de momento contrapartida no nosso país
Para a indústria vidreira, o Estado dispõe de orgânica própria de assistência técnica, através de uma fábrica-escola e de um departamento de investigação dependentes do Instituto Nacional de Investigação Industrial, que poderão prestar-lhe valioso auxílio
No cimento, o esforço de apetrechamento do sector, traduzido em vultosos investimentos, vem conduzindo a índices de produtividade comparáveis, em alguns casos, aos dos países mais evoluídos As unidades instaladas nos últimos vinte anos correspondem, geralmente, às concepções que actualmente se adoptam As unidades mais antigas estão desactualizadas e têm papel de unidades de reserva.
A dimensão das actuais fábricas é inferior à das suas congéneres europeias, mas sabe-se que nesta indústria as economias de escala têm de ser ponderadas à luz das economias de transporte, entre centros produtores e consumidores, o estímulo do poder competitivo e o ajuste de preços a nível internacional poderão ser obtidos, se necessário, através de conveniente ajustamento da protecção pautal

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Providências de política Industrial

Encaram-se, entre outras, as seguintes

a) Definição de orientações em matéria de construção de edifícios e obras públicas, que proporcione certa continuidade de produção às indústrias de materiais de construção ou que, pelo menos, evite as descontinuidades verificadas no período de 1953-1964,
b) Desenvolvimento da política de energia (eléctrica e de combustíveis), no sentido de favorecer a competitividade externa dos produtos nacionais, em conformidade com o calendário do nosso desarmamento aduaneiro,
c) Revisão do Decreto-Lei n.º 45 831, de 28 de Outubro de 1963, que instituiu o regime de licenciamento para os veículos de carga particulares e o imposto de circulação, com vista à ponderação dos encargos que recaem sobre as indústrias em que as matérias-primas têm volumes ou pesos consideráreis,
d) Medidas de fomento das exportações, tais como as incluídas no capítulo do Plano sobre comércio externo e outras providências adequadas,
c) Desenvolvimento da produtividade, intensificação da formação profissional de dirigentes, técnicos e operários, aperfeiçoamento da organização fabril O capítulo do Plano sobre educação e investigação insere as principais disposições a adoptar quanto àquela formação,

f) Facilidades de crédito (cf capítulo "Financiamento");
g) Maior desenvolvimento das actividades de investigação e de normalização,
h) Estudo e execução de um programa de assistência técnica à indústria e aplicação de incentivos fiscais apropriados.

§ 3.º Projecções

3.1-Produção

As previsões da produção, no período do Plano, foram obtidas a partir da extrapolação das tendências do passado, corrigidas de acordo com as opiniões dos industriais Se bem que nalguns casos se tivesse comparado o andamento da produção de algumas modalidades do sector com a evolução prevista para outros sectores de destino, não foi possível apoiar sistemàticamente esse trabalho num quadro de relações intersectoriais
O quadro IX indica os níveis de produção previstos para 1973 e as taxas adoptadas.
Neste quadro não figuram os artigos de cimento e marmorite, cujo valor acrescentado representava em 1954, como se viu, 5 por cento em relação ao total do sector.

QUADRO IX

Valor bruto da produção (previsão para 1973)

[ ver quadro na imagem ]

A taxa de acréscimo da produção admitida para o barro vermelho é inferior à da tendência, porque esta correspondeu a um período em que se operou uma mudança no sistema de construção, como atrás se referiu
Também quanto às porcelanas e faianças, por motivo análogo, se tomou uma taxa inferior à tendência
Para a cal hidráulica procedeu-se inversamente, quer por se admitir que a taxa de 3,6 por cento do passado deve estar subavaliada, quer por se aceitar que o nível de produção a atingir em 1973 implica uma taxa de 7,9 por cento

3.2-Projecções do Investimento e do emprego
321 - Investimentos

A indústria forneceu as seguintes indicações quanto a investimentos no período do Plano

Grupos de indústrias Milhares
de contos

Barro vermelho ................................... 280
Vidro ................................... 385

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736 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Milhares de contos

Porcelanas e faianças 150
Cimento 1 320
Fibrocimento 18
2 153

Entrando em linha de conta com possíveis correcções a introduzir nas referidas modalidades e considerando ainda as não incluídas na relação anterior, estima-se o montante global de investimento para o período de 1968-1978 na ordem dos 2500 milhares de contos
Utilizando ,o coeficiente capital-produto obtido para o período de 1958-1965, e partindo do acréscimo esperado durante o período do Plano para o produto do sector, a formação bruta de capital fixo necessária para aquele período é sensivelmente igual aos 2500 milhares de contos estimados pelo sector.

3.2.2 - Produtividade e emprego

As taxas de acréscimo da produtividade (quociente do valor bruto da produção por pessoa ocupada) adoptadas para os diferentes grupos de indústrias do sector e o seu valor em 1973 encontram-se resumidos no quadro x*

QUADRO X

Produtividade (1964-1973)

Contos/efectivo

[ Vêr quadro na tabela ]

A adopção das taxas de produtividade para o período de 1964-1978 baseou-se numa análise de pormenor sobre as modernizações que será possível introduzir nas indústrias do sector, mas não se pode deixar de referir que as previsões dependem muito das condições económicas existentes no momento em que se estabelecem e as que vigoram actualmente não são as mais favoráveis.
A determinação dos níveis de emprego em 1978 foi efectuada com base nas previsões dos valores da produção para aquele ano e nos valores da produtividade que se espera atingir, admitindo-se que a duração do trabalho se mantém sem alteração A previsão de emprego para 1978 é de 36 633 pessoas ocupadas

QUADRO XI

Efectivos

[ ver quadro na tabela ]

VII) Industrias metalúrgicas de base

§ 1.ª Evolução recente o perspectivas actuais

No subgrupo "Indústrias metalúrgicas de base", a que corresponde a classe 34 da G. A. E., agrupam-se as "Indústrias básicas do ferro e do aço" (grupo 341) e as "Indústrias básicas de metais não ferrosos" (grupo 342)
Ao grupo 341 pertencem sectores com acentuada relevância na indústria, principalmente como produtores de bens intermediários, de que dependem importantes actividades industriais, nomeadamente a metalomecânica e a construção, civil e naval.
No grupo 342 estão incluídos os metais não ferrosos e suas ligas.

Indústrias metalúrgicas de base:

Indústrias básicas do ferro e do aço*

Siderurgia.
Fundição.
Ferro-gusa
Ferro-ligas.
Trefilagem e tubos de aço.

Indústrias básicas de metais não ferrosos

Cobre e latão.
Alumínio.
Chumbo
Zinco
Estanho.
Carboneto de tungsténio.

1.1 - Produção

No quadro seguinte observa-se a evolução dos valores da produção desde 1957, devendo assinalar-se que os valores dos dois primeiros anos (1957 e 1958) devem ser tomados com algumas reservas

Evolução das produções (valores em contos)

[ ver quadro na imagem ]

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Partindo do índice base 100 em 1957, a evolução das taxas índices no período de 1957-1965 é a seguinte*

[ ver taxas índices na imagem ]

O crescente aumento, a partir de 1962, nas indústrias básicas do ferro e do aço deve-se ao início de laboração da Siderurgia Nacional

1.8 - Exportações e Importações

Na exportação registou-se, em 1964, apreciável aumento em relação ao ano anterior, quer em tonelagem, quer em valor. Atingiu-se 68 por cento em valor e mais de 100 por cento em peso Aquele valor é duplo do observado em 1961
Assim, as exportações das nossas indústrias metalúrgicas de base alcançaram, em 1964, 22,5 por cento das importações respectivas, quando em 1963 representavam 17,4 por cento, e em 1961 apenas 10,8 por cento. Note-se, porém, que o preço médio da tonelada exportada acusou tendência decrescente.

Preço médio
da tonelada
exportada
1961 ..................................... 5 530$17
1962 ..................................... 3 780$67
1963 ..................................... 4 684$44
1964 ..................................... 3 641$78

Analisando os quadros respeitantes aos destinos das exportações, nota-se que couberam aos mercados não tradicionais 159 000 contos (contra 95 000 contos em 1963), seguindo-se o ultramar com 155 000 contos (122 000 contos em 1963), o Mercado Comum com 119 000 contos (66 000 contos em 1963) e os Estados Unidos da América, que atingiram 54 000 contos em 1964, contra 20 000 em 1963
O maior aumento verifica-se nos mercados não tradicionais
As indústrias básicas do ferro e do aço (ferro fundido, ferro macio e aço) contribuíram, na maior parte, para a melhoria da situação, os metais não ferrosos têm peso menor
Nas importações, registou-se aumento apreciável, de 1963 para 1964, nos artigos das indústrias metalúrgicas de base, como se observa no quadro respectivo de 295 000 t para 830 000 t e, nos valores, de l 835 000 contos para 2 385 000 contos, respectivamente O aumento de valor cifrou-se em 30 por cento, aproximadamente.
A rubrica que maior peso apresenta é a das indústrias básicas do ferro e do aço
Os fenos e aços importados são provenientes, na maior parte, dos países do Mercado Comum. Deve assinalar-se que a posição relativa desse mercado abastecedor se tem reduzido progressivamente (69 por cento em 1962, 62 porcento em 1963 e 57 por cento em 1964). O mesmo acontece com as importações de ferros e aços dos países da B F. T A.

Indústrias metalúrgicas de base

Mercados-Importação e exportação no período de 1961-1964

[ ver quadro na imagem ]

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Indústrias básicas do ferro e do aço

Mercados-Importação e exportação no período de 1961-1964

[ ver quadro na imagem ]

Indústrias básicas de metais não ferrosos

Mercados -Importação e exportação no período de 1961-1964

[ ver quadro na imagem ]

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Estas tendências são consequência do aumento em valor absoluto e relativo das importações dos Estados Unidos da América, em 1968 e 1964, dos artigos destinados, na sua quase totalidade, à ponte sobre o Tejo
Nas indústrias básicas de metais não ferrosos têm sido pequenas as oscilações no valor das importações, cabendo cerca de 50 por cento ao cobre

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

21 - O desenvolvimento da indústria tem por principal motor a exportação, mas esta não é possível sem um mercado interno de base que funcione como volante, absorvendo as oscilações verificadas na procura externa.
Semelhante regra só deixa de ser válida a partir do momento em que determinada indústria criou, à escala mundial, uma tradição e um nome que a põem ao abrigo dessas flutuações. Mas tal situação apenas se verifica, de modo geral, nos países altamente industrializados, pois está relacionada com os investimentos que a indústria consagra à investigação
O nosso país dispõe desse mercado interno, mas só potencialmente Importa, pois, fazer decididos esforços no sentido de abrir a indústria nacional o nosso próprio mercado Somente assim se garantirá uma laboração estável, com rentabilidade e que permita à indústria o investimento de somas avultadas na investigação.
Seria, deste modo, possível aperfeiçoar progressivamente a nossa técnica e acabar com a dependência dos processos de fabrico estrangeiro, e, por outro lado, alicerçar uma estrutura que nos tornasse menos vulneráveis nas actividades ligadas à exportação
Embora com aspectos favoráveis nos custos de produção, mão-de-obra e encargos fiscais, os seus efeitos são contrariados pela baixa produtividade da mão-de-obra, por má organização das empresas e imperfeito conhecimento de técnicas de fabrico mais evoluídas, excepto num ou noutro sector
No que respeita ao financiamento da indústria, convirá encarar a revisão das condições em que se processa a concessão de crédito a médio e longo prazo, a fim de facilitar o acesso ao mercado de capitais.
Essa revisão afigura-se indispensável para que a indústria possa manter e aumentar durante o período do Plano a taxa de crescimento evidenciada nos últimos três anos
22 - Dado que certos empreendimentos previstos no Plano requerem financiamentos externos, em virtude dos seus altos custos, há que procurá-los em termos e fontes que não prejudiquem a indústria, já que o fomento económico e social do País reside tanto na criação de novas actividades como na defesa e desenvolvimento das existentes.
23 - Reconhece-se a conveniência de não onerar com pesados direitos alfandegários a importação de equipamentos A revisão em curso das condições de atribuição das isenções fiscais previstas na lei para esses bens de produção permitirá ocorrer aquele objectivo
2.4 - Merece atenção especial o custo da energia para as indústrias do subgrupo que aplicam ou podem aplicar a fusão eléctrica, a fim de evitar a importação de combustíveis, com apreciável economia de divisas.
Também deverá encarar-se a revisão do preço do coque de fundição, que entre nós é cerca de 80 por cento superior ao de alguns países do Ocidente europeu, onerando sensivelmente os custos de exploração.
Caso semelhante se passa com os combustíveis líquidos, o thick-fuel é vendido a cerca de 600$/t nos portos do mar do Norte
25 - Reveste-se do maior interesse a formação profissional a todos os níveis, com as especializações adstritas aos diversos sectores Só assim será possível aumentar a produtividade, mediante a reconversão de grande parte do pessoal actual no sentido de profissões mais especializadas
Quanto a pessoal de quadros superiores (engenheiros e agentes técnicos de engenharia), nota-se acentuada escassez. Torna-se, por isso, indispensável encarar a formação escolar e universitária nos institutos e Universidades portuguesas de técnicos em metalurgia
Será também aconselhável que os técnicos nacionais possam visitar empresas modelares de países desenvolvidos, exposições e congressos, para que acompanhem o progresso tecnológico em cadência cada vez mais rápida A mecanização, a racionalização, o controle, etc., são factores a ter permanentemente em atenção e que obrigam a uma evolução dos processos e das técnicas
26 - Deverá intensificar-se a política de normalização e generalizar-se a exigência da qualidade dos produtos Em complemento das normas, cumpre estabelecer marcas de qualidade, a exemplo do que sucede em certos países
27 - Com vista à expansão dos sectores, convirá apoiar a exportação e a sua promoção através dos organismos públicos e representações comerciais no estrangeiro
28 - Na investigação aplicada, através das instituições e organismos oficiais competentes, considera-se de interesse imediato efectuar trabalhos sobre os seguintes aspectos

a) Beneficiação das matérias-primas nacionais para melhoria da sua qualidade,
b) Novas técnicas de fabrico e controle da qualidade;
c) Ensaios industriais diversos,
d) Estudos das condições técnicas dos fabricos para melhoria da qualidade da produção, etc.

Será, além disso, da maior utilidade manter contactos frequentes e abertos entre as empresas metalúrgicas e os organismos oficiais que disponham dos meios de actuação necessários à resolução dos problemas postos.
29 - No que se refere à indústria de fundição de ferrosos, deverão encarar-se as seguintes providências

a) Estudo pelo sector de um projecto de regulamento do exercício da indústria,
b) Esse regulamento, além de disposições comuns para as fundições de todos os tipos, deverá prever condições especiais para as fundições de ferro cinzento, por um lado, e para as de ferro maleável e aço vazado, por outro, em função das especiais características daqueles sectores;
c) Constituição de uma comissão de estudo para elaborar um plano de reorganização do sector, com a participação da Associação Portuguesa de Fundição

2 10 - Reconhece-se a necessidade de gabinetes coordenadores da política económica e comercial dos diversos sectores
A nível das empresas, convirá instalar gabinetes de prospecção de mercados, de informação técnico-económica e de laboração estatística, sem o que não poderão aquelas tomar medidas provisionais adequadas
Estes gabinetes serviriam de apoio aos gabinetes a nível macroeconómico

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740 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

§ 3.º Projecção do investimento e emprego

3.1 - Projecções do Investimento

311 - Figuram no quadro seguinte os investimentos previstos*

Estimativa dos investimentos para os anos de 1968-1973

(Em contos)

[ ver quadro na imagem ]

As indústrias metalúrgicas de base desempenham acção relevante no processo de desenvolvimento, como produtoras de bens de consumo e, principalmente, de bens intermediários, e o seu peso na produção industrial do País tende a acentuar-se progressivamente
3 1 2 - A capacidade produtiva da unidade siderúrgica do Seixal tem de caminhar para uma dimensão que a coloque em condições menos desvantajosas, com preços que se aproximem das cotações internacionais e permitam aos consumidores condições mais favoráveis.
A expansão prevista da Siderurgia Nacional implica o crescimento normal da gama actual dos seus produtos e o lançamento de novos, devendo a sua produção evoluir, a preços do mercado, de l 350 000 contos em 1968 para 8 748 000 contos em 1973, em que deve atingir o milhão de toneladas de aço bruto
No hexénio do Plano, o crescimento do valor da sua produção, a preços do mercado, espera-se se processe às seguintes taxas anuais médias

Percentagens

1965 a 1968 ................................... 25

1969 a 1973 ................................... 11

1965 a 1973 ................................... 17

Nos investimentos necessários ao seu plano de expansão conta a Siderurgia Nacional com autofinanciamento, crédito dos fornecedores, crédito externo e crédito bancário nacional
O fluxo de pagamentos correspondente aos investimentos previstos e às decisões anteriores a 1968, incluindo amortizações de capital e juros, concretizadas as previsões quanto ao crédito do fornecedor, poderá ser o seguinte

Milhares
de contos

1968 ....................................... 394

1969 ....................................... 471

1970 ....................................... 771

1971 ....................................... 476

1972 ....................................... 456

1973 ....................................... 438

8 006

Se as previsões se não modificarem, este fluxo conter-se-á nas possibilidades de autofinanciamento da empresa, com a ajuda do crédito bancário de curto e médio prazo.
3 1 3 - O sector da fundição - ferrosos e não ferrosos -, que padece de defeito de estrutura, requer medidas que procurem superar a permanência de Índices técnico-económicos desfavoráveis
É notório o reapetrechamento técnico do subsector dos ferrosos, e certas unidades de grandes dimensões, ao nível nacional, estão a evoluir decisivamente para se colocar a par de empresas estrangeiras de elevado nível É neste sentido que deve orientar-se a nova estrutura do sector.
As fundições de qualidade, no conjunto do sector, devem desenvolver-se com equilíbrio, evitando-se a dispersão dos programas de fabrico, com planos a médio e longo prazo e base em previsões seguras
A produtividade é francamente insuficiente, pelo que os custos não podem ser competitivos.
Com aumentos de produção anuais não inferiores a 10 por cento nos últimos três anos, não é demasiado esperar que nos anos do Plano se mantenha a mesma taxa anual de crescimento (cerca de 10 por cento)
Partindo das 60 000 t/ano actuais, devem atingir-se 100 000 t em 1971 e cerca de 120 000 t em 1978.
As possibilidades de alargamento do mercado nacional de fundidos estão relacionadas, directa e principalmente, com os programas de expansão da siderurgia, das indústrias cimenteira, química, petroquímica, de máquinas-ferrramentas e, ainda, da construção de tractores, que se pensa vir a ter valor significativo no decorrer deste Plano. Apenas com os crescimentos esperados para a Siderurgia Nacional, cimentos, máquinas-ferramentas e construção de tractores, podem avaliar-se, assim, as expansões dos consumos dos seguintes principais factores

[ ver factores na imagem ]

Com uma boa estrutura do sector e com encomendas dos países europeus de apenas l por cento das suas necessidades em ferrosos, a nossa produção poderia atingir rapidamente 200 000 t/ano
A fundição de não ferrosos encontra-se em posição extremamente insatisfatória (com excepção de algumas empresas de bom nível técnico), o que torna praticamente impossível a recolha de informações exactas sobre a sua produção e também o registo de particularidades específicas

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Apenas se dispõe dos números da estatística oficial, que possivelmente pecam por defeito, atendendo à grande proliferação de pequenas empresas.
Apesar de ser difícil formular uma previsão assente em valores seguros, é de crer que a evolução se processará no sentido da redução do número de unidades, aumento da sua dimensão média e melhoria técnica progressiva
3 1 4 - O sector da trefilagem é prejudicado pelo aumento de capacidade da oferta sem correspondente desenvolvimento da procura. Este sobreequipamento diminui a rentabilidade das empresas, das quais a maior tem capacidade para abastecer o País na maioria dos arames correntes e até especiais.
O desenvolvimento das indústrias transformadoras de arame tenderá a acentuar maior procura daquele produto para transformação (cabos, redes, colchões, molas)
As perspectivas de evolução dos mercados do sector conduzem ao consumo final interno (privado e público) em arames de aço de alta resistência para a construção, zincado para as vinhas, recozidos para enfardamentos, etc , e nos fornecimentos a outros sectores (prego, rebites, parafusos, redes, colchões, etc )
As perspectivas de exportação dependem da forma como evoluir o mercado da matéria-prima (fio-máquina), preços da Siderurgia Nacional e preços do mercado internacional As importações excedem largamente as reduzidas exportações feitas presentemente. Tem-se verificado ultimamente um crescimento das importações de arames destinados à indústria (molas, cabos, pesca, rede electrossoldada), devido a presumível prática de dumping pelos fornecedores estrangeiros
A integração económica no espaço português não conduzirá a alteração sensível na procura e, paralelamente, nas condições de oferta Mas a integração económica na E F. T. A., pela diminuição de direitos alfandegários, porá a questão do mercado de matérias-primas
3.1 5 - Qualquer das unidades produtoras de ferro-gusa (Minas de Vila Cova e Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos) pode abastecer com larga margem o mercado interno. As nossas necessidades cifram-se, actualmente, em 20 000 t/ano, e não devem ultrapassar as 30 000 t no fim da vigência do Plano Nessa data, aquele número representa um terço da nossa capacidade anual de produção
Presentemente, e no futuro próximo, não se vislumbram perspectivas da exportação económica do excedente
3.1 6 - No sector das ferro-ligas haverá aumento de capacidade da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos, se se realizar o complemento das instalações e a montagem de um novo forno de ferro-ligas afinadas
Seria aconselhável o estudo do aumento de produção de ferro-tungsténio (Minas da Borralha), se a indústria extractiva o assegurasse
As unidades produtoras de ferro-ligas existentes abastecem com folga o mercado interno, e o facto de exportarem grande parte da sua produção demonstra condições de concorrência No entanto, é indispensável apoiar a exportação.
3 1.7 - Relativamente aos não ferrosos, não se prevê o aumento da capacidade de refinação electrolítica do cobre na C. U F , mas apenas, para breve, alguns aperfeiçoamentos, principalmente a construção de um segundo forno para o tratamento do cimento de cobre e sua transformação em cobre negro
A produção de cobre electrolítico depende do mercado internacional de matérias-primas de cobre, que provoca, por vezes, retracções da produção
Na indústria do chumbo antevê-se um bom desenvolvimento com o tratamento de poeiras de chumbo, próprias (C U F ) e das restantes fábricas de ácido sulfúrico.
Com o aumento de capacidade nominal do tratamento de cinzas de pirite (800 000 t/ano), que envolve a construção de um quinto forno e ampliação das secções complementares, calcula-se ser possível produzir as seguintes quantidades de metais

7000 t de zinco metal (99,95 por cento Zn),
50 t de cobalto metálico,
10 t de cádmio metálico,

o que, durante a execução do Plano, representa um aumento de produção no zinco superior a 90 por cento da actual, e permitirá satisfazer as necessidades nacionais Será então possível, em princípio, tratar os concentrados de zinco da indústria extractiva do País naquela instalação, deixando esta produção de ser enviada para o mercado externo
A única unidade para a laminagem do zinco que existe no País (Compagnie Royale Asturienne des Mines), embora com pequena dimensão económica, é suficiente para acompanhar o provável aumento do consumo interno, prevendo-se o alargamento do fabrico a alguns tipos de produtos até agora importados e a colocação do excedente no mercado externo
Na laminagem do zinco será possível um aumento de produção de mais de 50 por cento no período de 1968-1973, em que serão destinados ao mercado interno 70 por cento da produção, em vez dos 98 por cento actuais, mas a construção civil condicionará o consumo final interno de zinco laminado

32-Nível de emprego

3 2.1 - Não se conseguiram dados satisfatórios para todas as indústrias, e, por isso, com base em elementos sobre mão-de-obra recentemente publicados ¹, indicam-se a seguir os valores referentes a 1965

1965 - Nível de emprego na metrópole

Homens - 15 079 - 92 por cento,
Mulheres - 1306 - 8 por cento

A distribuição pelos distritos é a seguinte*

[ ver quadro da distribuição a imagem ]

¹ Boletim do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra - Suplemento aos n.ºs 11-12

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742 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

solicitadas nas metalúrgicas de base, foi, em 1965, a que segue

Percentagem

Serralheiro..........6,4

Torneiro............13,5

Fundidor............11,1

com a seguinte distribuição distrital

[ Vêr distribuição na imagem ]

3 2 2 - Os números para 1965 relativos a pessoas efectivamente ocupadas e à produtividade são:

Pessoas ocupadas (total) ................... 16 355

Pessoal operário ............................... 14 255

Produtividade bruta ......................... 166,5

Produtividade operária ......................... 191,3

3 2 3 - É sensível a falta de qualificação do pessoal operário nas metalúrgicas de base e, por isso, a escassez de mão-de-obra é mais de ordem qualitativa do que quantitativa A emigração, que leva ao êxodo do pessoal mais jovem, e muitas vezes qualificado, agrava, concomitantemente, o envelhecimento médio do operariado.
Em alguns sectores, na fundição, por exemplo, apesar de se preverem altas taxas de crescimento, o número de pessoal não deve evoluir de modo que a produtividade possa aumentar, mas haverá uma reconversão de grande parte dos seus efectivos no sentido de profissões mais especializadas
Quanto a pessoal de quadros (engenheiros e agentes técnicos de engenharia), as necessidades crescerão sensivelmente, tornando-se indispensáveis técnicos especialistas em metalurgia
O ramo da indústria das metalúrgicas de base exige, para o seu correcto funcionamento, um conjunto diversificado de categorias profissionais, desde o especialista técnico até ao operário qualificado ou não
Ao nível do operário, impõe-se a instalação urgente de centros de aprendizagem e formação acelerada, com certas especialidades adstritas a diversos sectores.
São principalmente os aumentos programados na capacidade de produção da Siderurgia Nacional que devem influenciar em maior medida o número de pessoas ocupadas no período do Plano

§ 4.º Projectos

Apenas no sector siderúrgico, e de modo incompleto em outros sectores, é possível indicar a finalidade dos investimentos e a sua distribuição no período do Plano
Apresentam-se os valores globais dos investimentos em programas previstos, mas ainda não desenvolvidos, nos sectores em que tal foi possível, alguns deles com os condicionamentos a que estão sujeitos em muitos aspectos:

a) Siderurgia Nacional

1968 e 1969 - Complemento das instalações e ampliações em curso (Laminagem a frio, forno eléctrico, central de oxigénio, fabricação de carris )

Investimento - 908 000 contos

1970-1973 - Aumento de capacidade. (2.º trem de fio; 2 º alto-forno, 2 º acearia, laminagem a quente; coquearia, amoníaco)

Investimento - 3 030 000 contos

b) Fundição

1968-1973 - Melhoria e ampliação das instalações fabris, onde tal se justifique e as condições económicas o permitam

Investimento - 430 000 contos, escalonados pelos seis anos do Plano

c) Ferro-ligas

1968-1973 - Complemento das instalações e aumento de capacidade da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos [Moagem de ferro-ligas; nova alimentação de matérias-primas das fábricas n.ºs l e 2, forno n.º 13 de ferro-ligas afinadas(3000 kVA), cujos equipamentos se encontram na unidade fabril].

Investimento - 30 000 contos (dependente da resolução de diversos problemas oficiais e de exportação)

d) Indústrias de não ferrosos (C. U. F.)

1968 e 1969 - Aumento de capacidade da instalação para o tratamento de cinzas de pirite (300 000t/ano), com ampliações na lixiviação e na precipitação do cobre

Investimento - 15 000 contos

1970-1973 - Eficiente exploração da instalação de tratamento de cinzas de pirite, para recuperação económica de diversos metais (zinco, cobalto e cádmio)

Investimento - 120 000 contos (dependente dos custos de certos factores - energia eléctrica, cloro e fuel-oil)

VIII) Indústria de fabricação de produtos metálicos e de construção de máquinas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

O sector abrange as classes 85 e 36 da C A E , correspondendo-lhe, portanto, larga gama de indústrias metalomecânicas, mas não a sua totalidade. As outras actividades metalomecânicas, as indústrias de material eléctrico (classe 37 da C. A E ) e da construção do material de transporte (classe 38) são tratadas em capítulos próprios.

1.2-Produção

A escassez de dados estatísticos sobre o sector dificulta o conhecimento da evolução sofrida nos últimos anos
Todavia, estimativas do valor bruto de produção construídas sobre elementos facultados por empresas que pertencem ao sector e constantes do quadro seguinte permitem supor que ele cresceu, de 1959 a 1964, à taxa média anual muito próxima dos 11 por cento
Maior interesse terá, porém, analisar a forma como se processou esta evolução para cada um dos subsectores que o integram e dividindo aquele período em dois: 1959-1962 e 1962-1964

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QUADRO l

Estimativa do valor bruto da produção

[ ver quadro na imagem ]

Na realidade, se para a construção de equipamento a variação média anual não apresenta diferenças sensíveis de um período para outro (10,4 e 11,5, respectivamente;, o mesmo não se pode afirmar para o subsector de fabricação de produtos metálicos, onde o ritmo de crescimento, que se cifrava em 6,9 no período de 1959-1962, se elevou para 16,4 entre 1962-1964
Para o conjunto do sector, tem-se, pois, uma taxa de crescimento anual de 8,6 por cento entre 1959 e 1962, e uma outra de 13,9 por cento de 1962 a 1964.
Apesar de se terem verificado alguns progressos na estruturação e organização do sector, nomeadamente ao nível das empresas mais importantes, admite-se, contudo, que aquelas taxas tenham diminuído consideràvelmente no período posterior a 1964.
Continuando a observar separadamente os dois subsectores, apresenta-se em seguida a estrutura dos custos de produção, em percentagem do valor bruto desta.

QUADRO II

Estrutura dos custos de produção

[ Vêr quadro na imagem ]

A principal conclusão a extrair deste quadro é que a relação valor acrescentado-valor bruto de produção, no subsector da construção de equipamento (52,8 por cento), é superior a da fabricação dos produtos metálicos (48,2 por cento) Admitindo como válidas as estimativas do valor de produção, obter-se-á para valor acrescentado do sector 884 200 contos em 1964, repartido em 891 800 contos para a fabricação de produtos metálicos e 442 400 contos para a construção de equipamento.

1.3-Mão-de-obra, produtividade e remunerações

Avalia-se em cerca de 23 200 o número de pessoas ao serviço no sector, em 1964, com a seguinte repartição por classes

QUADRO III

Mão-de-obra por categorias

[ Vêr quadro na imagem ]

Verifica-se, assim, que o quociente pessoal não operário-pessoal operário é, no subsector de produtos metálicos (0,16), menos de metade do que na construção de equipamento (0,38).
Por outro lado, calcula-se em 36 contos o valor acrescentado por pessoa ocupada no sector (32 contos nos produtos metálicos e 41 na construção de equipamento)
Observando a evolução dos efectivos do sector, encontram-se os seguintes índices

QUADRO IV

Evolução dos efectivos no período 1959-1964

[ Vêr quadro na imagem ]

A grande maioria das indústrias encontra sérias dificuldades no recrutamento de mão-de-obra qualificada, quer por deficiente formação desta, quer por a emigração desfalcar o mercado de trabalho nacional
As empresas têm tentado solucionar este problema mediante formação interna e aumento de salários Contudo, os encargos assim assumidos não são compensados por correspondente aumento da produtividade, o que conduz a uma incidência proporcionalmente mais forte do factor trabalho nos custos de produção, quando comparada com a dos outros factores
As remunerações ao pessoal do sector atingiram em 1964 a ordem dos 460 000 contos Sabe-se que os ordenados têm subido a ritmo relativamente lento, enquanto os salários beneficiaram de aumentos que, em algumas indústrias, se traduziram por taxas anuais entre 10 e 20 por cento.

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1.4-Investimentos

Considerando as perspectivas que se ofereciam ao sector durante a vigência do Plano Intercalar, calcula-se que os investimentos realizados nos últimos anos tenham atingido quantitativos relativamente importantes, financiados por meio de capitais próprios ou mediante créditos concedidos pela banca comercial, Caixa Geral de Depósitos, Banco de Fomento e, eventualmente, pelo recurso ao mercado de capitais Estes investimentos permitiram assim a algumas das indústrias do sector equiparem-se por forma a satisfazerem o aumento acentuado de procura que esperavam encontrar, tanto no mercado interno como nos mercados externos Não tendo, por motivos vários, esses aumentos correspondido por vezes às previsões, verifica-se a existência de capacidade produtiva excedentária em algumas empresas

1.5 - Comércio externo

Também a este respeito interessa distinguir entre os subsectores de fabricação de produtos metálicos e de construção de equipamento Na realidade, sendo a procura total satisfeita sensivelmente em partes iguais pela produção nacional e por importações concorrentes, estas são, no subsector de construção de equipamento, quase o dobro daquela. Na fabricação de produtos metálicos as importações não chegam a atingir um quinto da produção nacional
Por seu turno, as exportações totais do sector situam-se também ao nível de um quinto da produção nacional, sem grande disparidade entre os dois subsectores considerados Salienta-se, entretanto, que cerca de metade dessas exportações se destina às províncias ultramarinas
Tratando-se de parcela de um sector chave para o desenvolvimento económico nacional, como foi definido no Plano Intercalar de Fomento, é de esperar que ao sector (e em especial à construção de equipamento) se ofereçam perspectivas de um rápido ritmo de crescimento. Todavia, os industriais manifestam algumas preocupações sobre as possibilidades de manutenção do ritmo de crescimento dos últimos anos, não só porque em grande parte desconhecem a provável evolução dos sectores clientes, como também por existirem ainda problemas pendentes de solução, nomeadamente quanto à disciplina do mercado, à mão-de-obra, ao financiamento dos investimentos e à exportação

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

Para que o sector possa retomar o ritmo de crescimento que lhe é próprio e, deste modo, contribuir para o desenvolvimento industrial do País, de acordo com as suas reais potencialidades, deve encarar-se a regulamentação de algumas das actividades nele incluídas, por forma a melhorar a tecnologia de produção, as condições de concorrência interna e, consequentemente, a tirar o máximo partido dos movimentos de integração em curso Nesta tarefa, sabe-se estarem já empenhados os industriais, através dos seus órgãos representativos
Para além disto, porém, importa não descurar a solução de outros problemas que têm vindo a condicionar fortemente o desenvolvimento do sector Entre estes, salientam-se as disponibilidades de mão-de-obra e a sua formação profissional, as condições de fornecimento de matérias-primas básicas e de algumas formas de energia, a coordenação do desenvolvimento dos vários sectores da economia, a fim de assegurar maior participação da indústria nacional, a criação ou dinamização de mecanismos financeiros que permitam canalizar os fundos disponíveis para as necessidades da industria segundo a evolução conjuntural e tendo, designadamente, em conta as condições de concorrência nos mercados externos

§ 3.º Projecções dos Investimentos e emprego

Atendendo as circunstâncias anteriormente mencionadas - preocupação dos industriais sobre o futuro próximo do sector e existência de capacidade produtiva em excesso, por virtude de investimentos realizados nos últimos anos-, prevê-se ritmo de investimentos mais lento do que o verificado até aqui
Assim, não tendo sido viável formular projecções do investimento, apenas se indicam estimativas para algumas indústrias, que não corresponderão, possivelmente, ao conjunto do sector

[ Vêr estimativas na imagem ]

IX) Indústrias de material eléctrico

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito do sector

O sector abrange as seguintes actividades

Máquinas e aparelhos industriais,
Fios e cabos isolados,
Material de iluminação,
Material de telecomunicações,
electrónica e de medida,
Aparelhagem ligeira e material electrodoméstico,
Elevadores e outro material eléctrico de tracção,
Diversos

1.2 - Valor de produção e vendas

Em 1965, as indústrias produtoras de material eléctrico compreendiam 135 empresas, que registaram valores de vendas e de produção da ordem dos 1440 e 1470 milhares de contos, respectivamente O valor acrescentado por este grupo de indústrias alcançou, naquele ano, cerca de 570 000 contos (40 por cento do valor das vendas), dos quais 267 000 contos (46,9 por cento) corresponderam a remunerações do trabalho, cujo volume se cifrou em 13 400 pessoas ocupadas
O valor da produção e das vendas, da ordem do milhão e meio de contos anuais, é extremamente fraco em relação ao dos países que habitualmente se tomam como padrão

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Segundo um estudo publicado em 1965 por um grupo de bancos europeus, os valores das vendas e a sua capitação por habitante atingiram em 1963, naqueles países, os níveis indicados no quadro seguinte

QUADRO I

Vendas totais e por habitante e taxa de acréscimo do valor de produção em diversos países em 1963

[ Ver quadro na imagem ]

Para dar uma ideia do ritmo de expansão das vendas, calcularam-se taxas de crescimento anual acumuladas para diversos períodos entre 1955 e 1965, tendo-se obtido as taxas de 16,4 por cento para 1955-1960, 17,2 por cento para 1960-1965 e 15,3 por cento para 1968-1965
A evolução do valor das vendas em cada ramo, para o período de 1960-1965 e entre os anos de 1963 e 1965, indica-se no quadro II
Nesse ano (1963), a produção nacional de material eléctrico foi da ordem dos 1100 milhares de contos, a que correspondem cerca de 120$ por habitante
A taxa de crescimento anual da produção, que se mantém em cerca de 16 por cento, a preços correntes, desde há uma dezena de anos, parece dever ser considerada satisfatória, mas é ainda muito baixa para permitir uma recuperação não excessivamente demorada em relação aos países mais evoluídos, porque estes, além de partirem de uma posição muito mais avançada, também crescem a taxas elevadas
O valor das vendas das empresas pertencentes às várias actividades do subgrupo atingiram, em diversos anos do período e 1955-1965, os níveis a seguir indicados.

QUADRO 11

Valor das vendas, número de empresas e estrutura das vendas por actividades

[ Vêr quadro na imagem ]

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Quanto ao valor acrescentado, para o total das indústrias do subgrupo, estima-se, como já se referiu, que seja da ordem dos 40 por cento do valor das vendas
Esta grandeza foi calculada com base no valor acrescentado bruto médio de 1963-1964 e 1965

QUADRO IV

Emprego, remunerações e sua incidência sobre as vendas no período de 1955-1965

[ ver quadro na imagem ]

Em 1965, a distribuição das remunerações e do pessoal, nos diversos ramos do subgrupo, vem indicada no quadro seguinte

QUADRO V

Remunerações e pessoal em 1965

[ ver quadro na imagem ]

Parece assistir-se ultimamente ao aumento da incidência das remunerações nos custos, o que revela acréscimo daquelas superior à melhoria da produtividade e aconselha a encarar melhorias substanciais desta última
Neste tipo de indústria tem-se caminhado, em sectores de técnica mais avançada, para uma cada vez maior percentagem de quadros e engenheiros no conjunto do pessoal empregado A estes quadros e engenheiros tem-se vindo a exigir consideráveis somas de conhecimentos que os tornem aptos a acompanhar de perto as últimas conquistas do saber nos ramos da sua especialidade
A formação do pessoal continua a ser essencial e tem de acompanhar a dos quadros, com a qual tem de estar em certo equilíbrio, mas, em comparação com a dos quadros, é mais fácil de realizar
Entre nós, tem-se assistido a um esforço pronunciado na formação de operários especializados, mas é necessário esforço paralelo nos graus mais elevados, pois estes são necessários ao enquadramento dos primeiros.

1.5 - Produtividade

Para o conjunto das indústrias do subgrupo, em 1965 ter-se-ia verificado o valor acrescentado de 43 contos por pessoa ocupada O valor das vendas igualmente por pessoa ocupada no mesmo ano foi de 107 contos
A produtividade do trabalho nos diferentes ramos vem expressa através do valor das vendas por pessoa ocupada e também pela razão entre o valor acrescentado e os efectivos de cada sector
O quociente entre o VAB e os efectivos são só apresentados em relação a 1965
Quer o valor das vendas, quer o VAB, são medidos a preços correntes

QUADRO VI

Vendas e VAB por pessoa ocupada em 1965

Valores em contos a preços correntes

[ ver quadro na imagem ]

A relação das vendas por pessoa ocupada foi calculada para anos intermédios do período de 1955-1965, tendo-se determinado taxas de expansão para alguns subperíodos Obtiveram-se as taxas de 7,6 por cento para 1955-1960, 7,6 por cento para 1960-1965 e 3,24 para 1963-1965

1.6 -Concentração, organização e capacidade de competição

Pode ter-se ideia aproximada da estrutura empresarial das indústrias do subgrupo através de um quadro onde se indique qual a participação nas vendas e a absorção de emprego por certo número de empresas Os dados referem-se a 1965

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QUADRO VII

Concentração da indústria de material eléctrico

[ ver quadro na imagem ]

Em todos os países da Europa ocidental têm sido promovidas concentrações às escalas mais elevadas Pode, assim, avaliar-se o poder económico e financeiro e a dimensão relativa dos concorrentes com que a nossa indústria irá defrontar-se nos anos próximos
Não significa isto que os nossos empreendimentos actuais não possam singrar e até desenvolver-se, porque dimensão muito grande, acima de certos mínimos, não é sinónimo de baixos custos, nem de capacidade de competição
Mas a liberalização das trocas entre esses países e o nosso irá, sem dúvida, pôr problemas de especialização fabril e comercial - e muitos outros - para os quais cada vez se torna mais urgente que os industriais portugueses se preparem, pois haverá que ensaiar colaborações que demoram muito tempo a promover e a experimentar

1.7-Exportação e Importação

A exportação das indústrias em análise atingiu o valor de 175 000 contos em 1964, da ordem dos 14 por cento do valor da produção, tendo sido de 17 por cento em 1960 e de 12 por cento em 1963 Em 1964, a exportação para o ultramar atingiu 128 000 contos, ou seja 9 por cento das vendas e 73 por cento da exportação total

Quanto às importações, é de notar o seu elevado peso Alcançaram no ano de 1964 o montante de 1270000 contos, ou seja o valor da ordem do da produção, tal como no ano precedente

Todavia, em 1960 foram de 160 por cento da produção, o que parece revelar melhoria notável Tiveram significado relativamente importante, como se vê pelo respectivo quadro, em 1964, as importações de máquinas e aparelhos industriais (sectores l, 2 e 3), 250 000 contos, as de lâmpadas, 36 000 contos, as de material de telecomunicações e electrónica, 430 000 contos, as de aparelhos de medida, 62 000 contos, as de aparelhagem electrodoméstica, 240 000 contos, e as de diversos, 110 000 contos
Indicam-se seguidamente os valores, a preços correntes, das exportações e importações em 1960 e 1964, evidenciando-se a participação do ultramar nas trocas de material eléctrico com a metrópole Os dados são apresentados em relação aos produtos dos diversos sectores do subgrupo.

QUADRO VIII

Exportação e importação totais e com o ultramar em 1960 e 1964

[ Vêr quadro na imagem ]

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1-Principais problemas que a Indústria defronta

O mais importante dos problemas que o sector defronta é o da formação de quadros As características próprias destes ramos de indústria, com os reflexos sobre a estrutura do pessoal já apontados, requer a existência de um núcleo de técnicos altamente especializados.
O progresso das indústrias do material eléctrico assenta numa cadência de inovações a ritmo acentuado, que só é possível manter através de indivíduos habilitados com uma preparação superior e actualizada em cada momento
O problema financeiro surge imediatamente a seguir ao problema da preparação dos técnicos.
Pode ser esquematizado da seguinte forma
O sector nacional produtor de material eléctrico poderá, dentro das suas capacidades próprias de financiamento, assegurar a médio prazo uma taxa de crescimento da produção da ordem dos 12 por cento anuais Um esforço maior por parte desta industria para se aproximar mais rapidamente de um nível de produção que lhe permita melhor posição de concorrência com as suas congéneres europeias, num futuro em que a protecção à indústria nacional cesse, em virtude de compromissos

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748 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA Nº 56

internacionais já assumidos, implicará o recurso a capitais externos às empresas
A falta de investigação aplicada neste sector, quer a nível do empresa, quer a nível universitário, reflecte-se na dependência técnica da indústria em relação ao estrangeiro
As providências a adoptar para favorecer a conveniente expansão do sector durante o período do Plano deverão enquadrar-se nas seguintes orientações básicas

Promover a investigação pela criação de um organismo próprio, à escala nacional, com a participação do Estado e das indústrias de electricidade e material eléctrico,
Incentivar, para além das disposições já em vigor nesse sentido, a aquisição preferencial de produtos das indústrias nacionais,
Aplicar por forma eficaz a legislação vigente contra o dumping

§ 3.º Projecções da produção e do emprego

Os números que seguem devem ser considerados com as necessárias reservas, dada a escassez de elementos sobre que tiveram de fazer-se as estimativas
Em especial, há que ter em conta que os números apresentados são expressos a preços correntes
Não só dispôs de dados que permitissem fazer a sua dedução a uma base constante, até porque, para elevada percentagem do produto, não há unidades físicas que possam servil de padrão
Se, por aproximação, se corrigirem os valores das vendas, tendo em conta a variação do índice dos preços por grosso, as taxas de evolução anual relativas aos períodos mais recentes seriam reduzidas de l a 2 por cento Dado que estas variações são pouco significativas, e da ordem dos erros prováveis, considera-se mais conecto tomar por base as taxas de expansão a preços correntes
As estimativas em valor que vão ser apresentadas para o período do Plano pressupõem, consequentemente, uma taxa de depreciação idêntica à que se tem verificado nos últimos anos
Admite-se que em 1966 se verificou uma taxa de crescimento da produção de 15 por cento, idêntica à média de 1963-3965, mas prevê-se que para as empresas existentes baixará posteriormente, passando a 13 por cento em 1967 e a 12 por cento nos anos seguintes Estas taxas poderão, no entanto, vir a ser acrescidas se vier a concretizar-se o plano de expansão das actividades da Standard Eléctrica no período de 1968 a 1973, o qual, segundo as expectativas da empresa, se traduzirá em exportações que deverão atingir l milhão de contos no final do período de vigência do Plano
Estima-se em cerca de 5 por cento por ano a taxa de aumento da produtividade
Nesta hipótese, serão os seguintes os valores previstos para a produção, em milhares de contos

1966 .......................................... 1 700
1967 .......................................... 1 900
1968 .......................................... 2 600
1969 .......................................... 3 110
1970 .......................................... 3 570
1971 .......................................... 4 000
1972 .......................................... 4 600
1973 .......................................... 5 300

Serão criados cerca de 1300 novos empregos por ano, devendo a sua estrutura actual evolua no sentido de um aumento de quadros e da redução do pessoal operário não qualificado
No fim do período, em 1973, a previsão conduz a uma produção de 5300 milhões de contos e a cerca de 30 500 pessoas ocupadas, a 174 contos de produção por ano e pessoa ocupada e cerca de 640$ de produção por habitante

§ 4.º Projecções do investimento

Prever os montantes dos capitais necessários durante o período do Plano consiste em estabelecer previsões dos activos dos balanços nos várias anos, decompostos nas suas parcelas essenciais - capitais fixos e circulantes
Uma hipótese grosseira mas a única que é possível estabelecer, consiste em supor que as proporções actuais destes capitais se mantêm em relação à produção, o que significa que não haverá economia relativa de capitais, nem por melhor utilização dos imobilizados, nem dos capitais circulantes
A decomposição média relativa aos anos de 1963, 1964 e 1965 dos valores activos, em percentagem dos da produção, foi a seguinte

Percentagem

Imobilizado líquido ................ 85,5
Activo realizável ................ 77

112,5

No activo realizável incluíram-se devedores, armazéns e laboração em curso, mas deduziram-se eventuais adiantamentos de clientes, como é lógico
Incluindo 2 por cento para disponibilidades o arredondando os números, os capitais investidos totais passarão a ter a decomposição seguinte

Percentagem
Imobilizado líquido ................ 35
Activo realizável ................ 80

115

correspondendo a 30 por cento de capitais fixos e 70 por cento de capitais circulantes
Tendo em atenção os números indicados no parágrafo anterior, o quadro seguinte indica os valores previstos dos novos capitais necessários em cada um dos anos do Plano, em milhares de contos, incluindo-se nesta estimativa os números respeitantes ao referido projecto da Standard Eléctrica, de que resulta uma sensível descontinuidade entre os valores apresentados para 1966 e 1967 e os referentes aos anos seguintes, especialmente 1968

[ Vêr valores na imagem ]

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QUADRO II

Exportações (quantidade e valor em contos) em cada ano, com Indicação do destino

[Ver quadro na imagem]

1.1 - Tabaco

Nos últimos anos a produção tem apresentado crescimento lento e mais ou menos uniforme, enquanto o emprego, devido a maior automatização dos fabricos, decresceu substancialmente a partir de 1956, do que resultou maior produtividade do trabalho.
Para os próximos anos prevê-se evolução lenta na produção, uma vez que se espera crescimento igualmente moderado do consumo.
A médio prazo, a tendência será para grande incremento da produção de cigarros com filtro, sucedendo o inverso relativamente ao consumo de picados.

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Relativamente à exportação, as possibilidades de concorrência são grandes, esperando-se que, pelo menos, os grandes núcleos de portugueses no estrangeiro prefiram as marcas nacionais, quando tiver lugar mais ampla abertura de mercados

1.2 - Curtumes, calçado e artigos de pele

Curtumes - Esta industria está muito dependente da do calçado, o que torna a sua expansão estreitamente ligada à evolução desta última actividade. Prevê-se, contudo, ritmo de crescimento da produção da ordem dos 10 por cento anualmente e, simultaneamente, diminuição do pessoal ao serviço do sector.
No que se refece a exportação, embora crescente a partir de 1960, não parece viável qualquer alteração nos próximos anos, e o seu volume não excederá os 20-30 por cento da produção.
Pode concluir-se, em síntese, que os próximos anos se caracterizarão pela diminuição do fabrico de solas, aumento no fabrico de artigos de cromo (calfs e camurças) e de peles para vestuário e luvas, concentração processada pelo desaparecimento de pequenas unidades e especialização de fabricos, e ainda pela redução da mão-de-obra utilizada.

Calçado - As perspectivas de produção estão dependentes das medidas apontadas no parágrafo seguinte, salientando-se ainda que, não obstante as potencialidades de exportação, ela deve ser orientada essencialmente para o mercado interno, servindo a exportação como meio de escoamento dos excedentes.

1.3 - Cortiça

Foi notória a oscilação da produção, emprego e exportação nos últimos anos.
Como perspectivas para os próximos anos, admite-se, no que se refere à cortiça amadia, um aumento de produção de 10 por cento em relação a cada um dos anos correspondentes do novénio anterior.
Quanto à produção de cortiça virgem, as previsões são difíceis de estabelecer, supõe-se que, independentemente das medidas de fomento da subericultura, a produção virá a sofrer certa quebra relativamente aos últimos anos, admitindo-se que esta possa atingir os 10 por cento.
Em relação à exportação, espera-se para os próximos anos uma quebra de cerca de 10 por cento em relação a 1964 e ainda uma alteração na sua estrutura, traduzida em incremento sensível nos manufacturados e semimanufacturados, em detrimento de um volume correspondente de matéria-prima.

l.4 - Madeira e mobiliário de madeira

Serração e carpintaria - Não existem estatísticas disponíveis, pois 90 por cento do material produzido provêm de empresas não sujeitas a controle.
Quanto a perspectivas de produção, estas não deverão ser baseadas em termos absolutos, mas tendo em linha de conta a influência das matérias de substituição, que hoje já se fazem sentir.
As perspectivas de exportação para a Europa não devem afastar-se do volume dos últimos anos. Será, portanto, fora deste continente que se devem procurar os novos mercados, nomeadamente no Próximo e Médio Oriente.

Preservação do madeiras - A quantidade de madeiras tratadas anualmente até 1961 era de 50 000 m2, dos quais 40 000 m2 pertenciam à C P , deste ano até 1965 subiu para 60 000 m3, mantendo-se o mercado estacionário. Contudo, a capacidade de produção é de 170 000 m2 por ano, atingindo brevemente 200 000 m2 com os investimentos em curso.

Folheados o contraplacados - A produção diminuiu nos anos de 1961 e 1962 em relação a 1960, contudo, em 1964 ultrapassou a de 1960. Relativamente ao emprego, verificou-se decréscimo a partir de 1960.

Aglomerados - A partir de 1960 a produção e o emprego têm registado ritmos de crescimento elevados. O mesmo se verifica para as exportações, prevendo-se substancial expansão nos próximos anos, principalmente de placas finas (3-4 mm e 5 mm)

1.6 - Borracha e transformação de matérias plásticas

Borracha - A produção total tem crescido a ritmo apreciável, à excepção do 1962, em que houve uma quebra em relação ao ano anterior. No último quinquénio (1960-1965) a evolução da produção de «outros artigos» (excepção para câmaras-de-ar e pneus) teve um crescimento muito rápido, em especial no calçado (10 a 12 por cento).
O nível de emprego aumentou cerca de 20 por cento de 1963 para 1964, prevendo-se que haverá nos próximos anos escassez de mão-de-obra em qualidade e quantidade.
No que se refere à exportação, registou-se decréscimo em 1960, retomando em 1964 o nível deste último ano, 90 por cento destas exportações são constituídas por câmaras-de-ar e pneus, existindo para estes últimos algumas perspectivas de incremento de vendas para a área da E. F. T. A.

Transformação de matérias plásticas - A produção tem evoluído a um ritmo crescente, e prevê-se que nos próximos anos se intensifique.

1.6 - Instrumentos de precisão

Em face da tendência para a liberalização do comércio com outros países, o futuro apresenta-se duvidoso, não permitindo prever a evolução dos próximos anos Salienta-se ainda quo os produtos desta indústria estão intimamente ligados com a indústria da construção e, portanto, na dependência desta.

1.7 - Ourivesaria

De 1958 a 1962 verificou-se contracção da produção, retomando nos dois anos seguintes - 1963 e 1964 - um ritmo crescente. No entanto, prevê-se quebra na procura e consequente contracção da produção.
Relativamente à exportação, os industriais do Norte prevêem a sua expansão para o estrangeiro, enquanto os do Sul admitem efectuá-la para o ultramar.

1.8 - Material fotográfico e Instrumentos ópticos

Material fotográfico - A produção destina-se ao mercado interno, mas a sua evolução depende do crescimento do nível de vida da população, calculando-se que possa atingir o valor de 6000-8000 contos anualmente.

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tores à formação de cooperativas, e a efectivação de estudos de organização interna das empresas, financiamento das exportações, etc.

2.7 - Material fotográfico e Instrumentos ópticos

Material fotográfico. - A totalidade das matérias-primas utilizadas é importada, pelo que a indústria está na dependência dos importadores, das agências das fábricas estrangeiras e suas sucursais. Como medidas para a reestruturação do sector apontam-se:

Regulamentação da actividade,
Incentivo à concentração de unidades sem um mínimo de viabilidade económica, Adopção de normas de comercialização apropriadas.

Instrumentos ópticos - Atendendo às dimensões do mercado interno e à capacidade de produção existente, importa regulamentar a actividade, disciplinando tecnologicamente a entrada de novas unidades no sector e favorecendo a concentração das existentes.
Admite-se que facilidades de representação e prospecção através de serviços portugueses no estrangeiro e o apoio à exportação pelos métodos habituais podem incentivar a exportação.

§ 3.º Projecções

For falta de dados quantificáveis referentes às previsões para o período de 1968-1978, limita-se a análise a um grupo reduzido de indústrias que compõem o sector

3.1 -Tabaco

QUADRO III

Previsão do consumo, produção e emprego das indústrias de tabaco (1966-1973)

[Ver quadro na imagem]

Os aumentos previstos baseiam-se no ritmo do crescimento dos anos recentes, no aumento de 0,5 por cento na população e no de 3 por cento na capitação.
Estimou-se ainda que o custo unitário da produção sofreria acréscimo gradual, para alcançar em 1978 valor superior em 10 por cento ao de 1964.

3.2 - Curtumes, calçado e artigos de pele

Curtumes - Prevê-se ritmo de crescimento da produção similar ao dos anos anteriores, situando-se à volta de 10 por cento anualmente. No caso de a exportação se desenvolver, a indústria está em condições de elevar esta produção para 50 por cento (dentro de um ano).

Os investimentos necessários serão obtidos por autofinanciamento

3.3 - Cortiça

produção de cortiça amadia

Toneladas

1965 159 044
1966 182 360
1967 121 968
1968 184 120
1969 176 856
1970 141 405
1971 187 072
1972 196 469
1973 187 719

Na cortiça amadia admite-se o aumento de 10 por cento em relação a cada um dos anos correspondentes do novénio anterior.
Na cortiça virgem estima-se uma quebra de 10 por cento, situando-se à volta das 93 000 t.
A exportação deve atingir em 1973 as 200 000 t.

3.4 - Madeira e mobiliário de madeira

Aglomerados

Previsão da produção de aglomerados (1968-1973)

[Ver quadro na imagem]

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Nos números mencionados não estão incluídos os consumos próprios de alguns fabricantes.
Há ainda a considerar os aglomerados que são vendidos já folheados e que devem equivaler a

Toneladas

1968.................................... 2000
1973.................................... 4000/5000

Preservação da madeira - Prevê-se que em 1973 a produção da madeira não aumentará mais de 50 por cento em relação ao valor actual.
Se a produção projectada for totalmente absorvida, é possível que uma ou duas fábricas ampliem as suas instalações.

3.5 - Borrachas e transformação de matérias plásticas

Transformação de matarias plásticas - Em comparação com a indústria italiana e com um desfasamento de cinco anos, projectaram-se as produções (I) (em milhares de contos)

Previsão da produção de aglomerados para o período de 1968-1973

[Ver tabela na imagem]

Adoptando uma atitude de maior prudência e tendo em conta as diferenças de estrutura, dimensão de mercado e desenvolvimento da indústria, em relação à congénere italiana, os industriais apontam uma segunda estimativa corrigida (II) (à volta de 20 por cento para menos).
As exportações poderão atingir cerca de 25 por cento da produção.

§ 4.º Projectos

Neste aspecto, os dados são ainda mais escassos do que os anteriores, pelo que somente se referirão os projectos de investimentos de três indústrias.

4.1 - Tabaco Investimentos previstos (1968-1973)

[Ver tabela na imagem]

As necessidades de produção previstas serão conseguidas com os investimentos indicados até a sua utilização total (100 por cento) durante o período normal de trabalho.
Numa segunda fase, a capacidade duplicará com a introdução do 2.º turno.

4.2 - Instrumentos científicos

Em 1970, prevê-se que os investimentos a realizar serão:

Contos

Equipamento a substituir 6 500

Equipamento para novas produções 5 000

Edifícios e instalações 7 000
18 500

O autofinanciamento cobrirá um terço dos investimentos previstos

4.3 - Material fotográfico

Existe um projecto para a criação de um laboratório de fotografia industrial, com o investimento de 5000 a 6000 contos.

CAPITULO IV

Indústrias de construção e obras públicas

§ 1.º Evolução recente a problemas actuais

1. A importância da indústria de construção na economia do País justifica plenamente que lhe seja consagrado um capítulo próprio neste Plano.
Com efeito, as actividades do sector concorrem, de modo essencial, nas suas múltiplas formas, para a realização dos investimentos públicos e privados que estão na base de todo o processo de desenvolvimento económico; as vias de comunicação, a produção de energia, os aproveitamentos hidroagrícolas, as zonas industriais, são alguns exemplos de infra-estruturas físicas cuja execução pertence em grande parte ao domínio deste sector.
Por outro lado, a realização das infra-estruturas de natureza social assume o maior relevo no conjunto destas actividades, salientando-se a edificação de habitações - o principal mercado da construção civil -, a que se vem juntar a construção de equipamentos escolares, culturais, de salubridade, etc..
Do ponto de vista das relações intersectarias, a indústria de construção exerce igualmente acção preponderante na economia nacional, na medida em que domina a actividade de outras indústrias que a ela se encontram intimamente ligadas. Assim, por exemplo, a produção de cimento, a siderurgia, o barro vermelho, as faianças, a carpintaria e serração mecânicas, a extracção de pedra e areia - que garantem o trabalho de cerca de 100 000 empregados e operários -, dependem quase integralmente da indústria de construção.
Além disso, a incidência das obras da indústria de construção, sobretudo das obras públicas, na política económica conjuntural adquire particular relevância, dado

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760 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

principais tipos de obras a realizar no período do Plano, distinguindo a parte relativa à construção do total dos investimentos programados em cada uma das seguintes rubricas:

[Ver tabela na imagem]

§ 3.º Medidas de política

9. A caracterização atrás esboçada do estado em que se encontra actualmente a indústria de construção civil e obras públicas pôs em relevo uma série de estrangulamentos e de obstáculos ao desenvolvimento do sector, que importa, na medida do possível, procurar remover de forma coordenada e progressiva.
É certo que alguns passos importantes foram já dados nesse sentido, sobretudo no referente à regulamentação da actividade das empresas, estando para muito breve a publicação da legislação correspondente.
Outras medidas, porém, há que pôr em execução, designadamente as que visam obviar aos inconvenientes resultantes da actividade extremamente irregular a que a indústria se encontra sujeita e, também, as que se destinam a promover novos métodos de construção, utilizando técnicas modernos, hoje generalizadas nos países mais avançados.
Deverá, todavia, acentuar-se que muitas destas medidas necessitam de estudos aprofundados antes de serem postas em execução, dado tratar-se de matérias complexas sobre as quais não existe ainda suficiente experiência no nosso país. Por isso, no texto do Plano, em alguns casos se prevê a constituição de comissões de trabalho, a designar pelo Ministério das Obras Públicas, encarregadas de estudar aspectos específicos da indústria de construção antes de publicar legislação adequada que passe a regular a matéria.
A seguir se mencionam as principais linhas de rumo que se prevê seguir durante a execução do Plano:

A) Criação no Ministério das Obras Públicas de um gabinete de estudo e planeamento, à semelhança do que já acontece noutros Ministérios.

Como elemento fundamental de apoio às tarefas ligadas à preparação e execução dos planos de fomento, a este gabinete será confiada, essencialmente, a missão de efectuar a programação a médio e longo prazo e a coordenação das obras em que o Estado intervém, por intermédio dos diferentes serviços do Ministério das Obras Públicas, de modo a assegurar maior rentabilidade dos investimentos.
De igual modo, procurará este órgão estudar as acções que importa, em cada momento, promover a fim de evitar as flutuações que se têm verificado na indústria, para o que será necessário conhecer os múltiplos factores que condicionam esta actividade.

B) Criação de um centro técnico de produtividade da indústria de construção.

Paralelamente à criação de um gabinete de estudos o planeamento no Ministério das Obras Públicas, importa que, do lado dos industrias, se disponha de um núcleo técnico comum que estude as perspectivas e as condições para o são desenvolvimento de todo o sector e apoie, com alto grau de tenacidade, a defesa de interesses comuns.
As empresas de construção, ao contrário do que sucede na maioria dos outros sectores industriais, procedem à execução das obras, mas têm pouca influência na concepção dos produtos que constróem, a qual pertence, geralmente, aos proprietários dessas obras.
Assim, será aos organismos profissionais e às empresas de maior dimensão que caberá promover as iniciativas necessárias para que a indústria possa agir directa e rapidamente no seu mercado.
Em particular, os progressos da produtividade, quer ao nível do estaleiro, quer da empresa, quer ainda do conjunto do sector, se forem suficientemente acentuados, poderão permitir preços mais baixos, obviando assim aos aumentos verificados nos custos da mão-de-obra e proporcionando maior rentabilidade dos investimentos.
Tudo isto concorre para sublinhar a importância de que se reveste a criação de um centro técnico de produtividade da indústria de construção, o qual, funcionando com o apoio do Estado, mas directamente ligado aos organismos profissionais representativos do sector, impulsionará e coordenará os estudos e as acções necessárias ao desenvolvimento e modernização da indústria. concretamente, a criação desse centro técnico, além de auxiliar de forma directa a resolução dos problemas que afectam directamente os empresários, como sejam os respeitantes à assistência técnica, à formação profissional e à formação técnica e económica, responderá ainda à necessidade de criar uma estrutura eficiente e representativa que apoie tecnicamente a iniciativa privada nos trabalhos de planeamento.

C) Providências destinadas a assegurar a continuidade das actividades da indústria.

Tem-se em vista obviar, em parte, as flutuações a que a indústria está sujeita e que, como se referiu, foram especialmente notórias no período de 1953-1964.
Nesta matéria caberá ao Estado importante papel, na medida em que, pelo menos em relação às obras públicas, se deverá procurar ir além da simples enunciação nos planos de fomento das principais obras a realizar durante a sua vigência.
Torna-se, com efeito, necessário dar a conhecer, com antecedência, o escalonamento, no tempo, da realização dessas obras, o que, por seu turno, implica o conhecimento antecipado do eventual fraccionamento das empreitadas e a data das realizações.
Assim, os planos de fomento serão, na medida do possível, completados por diplomas que definam, com a conveniente antecedência e para cada obra principal,

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o conjunto de disposições a que deve estar submetido o programa de financiamento, com a indicação das respectivas fontes.
Por outro lado, sempre que a natureza dos trabalhos o permita, procurar-se-á nestes diplomas a efectivação das obras sem descontinuidade, pelo menos para as operações de execução repetida.
Deste modo, as empresas responsáveis pelas empreitadas poderão orientar, com a antecedência necessária, a organização das suas actividades, o que virá a reflectir-se beneficamente na rentabilidade das explorações.
Estes dispositivos permitirão igualmente contrariar a tendência actual para o fraccionamento excessivo do conjunto de certas operações, o que certamente contribuirá para o aperfeiçoamento da estrutura empresarial do sector, na medida em que estimula o aparecimento de empresas de maior dimensão ou o seu agrupamento.
Com vista à progressiva realização deste conjunto de medidas, proceder-se-á:

Ao estudo, pelo Ministério das Obras Públicas, das suas condições de aplicação. Procurar-se-á, designadamente, definir as condições técnicas a que deve obedecer o escalonamento, no tempo, das várias fases de realizações dos principais tipos de empreendimentos a cargo do sector público, desde a elaboração do projecto ao acabamento da obra,
Ao estudo e publicação, pelos Ministérios dos Obras Públicas e das Finanças, de leis-programas, numa base de financiamento plurianual, para a execução das obras mais importantes;
À constituição de uma comissão de estudo, formada por representantes de entidades oficiais e organismos profissionais, com o encargo de propor medidas no sentido de obter maior regularidade na evolução da indústria de construção e, assim, evitar os excessos ou insuficiências acentuadas que se verificam na utilização dos equipamentos e do pessoal ao serviço das empresas.

D) Regulamentação da indústria da construção civil particular.

Esta regulamentação terá por objectivo disciplinar a indústria, no domínio das obras particulares, em termos semelhantes aos que o Decreto-Lei n.º 40 623, de 30 de Maio de 1956, instituiu para as obras públicas.
Em Setembro de 1962 o Governo enviou à Câmara Corporativa o projecto de Decreto-Lei n.º 500, sobre a "extensão aos industrias de construção civil particulares das medidas de disciplina aplicáveis aos empreiteiros de obras públicas, nos termos da legislação em vigor", sobre o qual aquela Câmara emitiu parecer, em Abril de 1968, rejeitando o citado projecto.
O Ministério das Obras Públicas sugeriu à Corporação da Indústria a preparação de novo projecto de regulamento que tivesse em conta, na medida do possível, as observações feitas pela Câmara. O trabalho foi já entregue e encontra-se pendente de decisão.

E) Revisão da legislação geral de empreitadas.

Para além da revisão do contrato administrativo de empreitadas de obras públicas, trata-se de definir as novas bases em que deve assentar o contrato de fornecimento de materiais e equipamento para aquelas obras e, ainda, as normas de funcionamento interno dos serviços públicos no que se refere aos dois citados contratos.
A comissão encarregada de estudar o assunto deu já por concluídos os seus trabalhos, aguardando-se para muito breve a sua apresentação e a publicação da legislação respectiva.

F) Elaboração de contratos tipo para obras particulares

Dado que actualmente se verifica grande variedade e certa imprecisão nas condições jurídicas e administrativas dos contratos de obras particulares, prevê-se a aplicação a estas obras de regime semelhante ao vigente para as obras públicas.
O Grémio dos Industrias de Construção Civil e Obras Públicas do Sul tem em curso a recolha de elementos de estudo para a elaboração de um projecto de contrato tipo, o qual contemplará os seus principais aspectos, como sejam modalidades de pagamento, prazos e condições de reclamação, indemnizações, etc..
Após o seu exame por uma comissão de trabalho a designar para o efeito, será elaborada legislação em ordem a estabelecer, com clareza, as condições a que devem obedecer os contratos entre as empresas construtoras e os donos das obras.

G) Elaboração do cadernos de encargos tipo (especificações técnicas).

A uniformização de cadernos de encargos, definindo, para os principais tipos de trabalho, as regras construtivas a adoptar, facilita a elaboração dos projectos e a sua interpretação, além disso, reduz as possibilidades de litígios na execução e recepção das obras.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil iniciou já a elaboração de documentos base de alguns cadernos de encargos. Em seguimento destes estudos, constituir-se-á uma comissão de trabalho, com representantes oficiais e das empresas, para apreciar cada documento, após o que será elaborado projecto de normas legislativas com vista a que os cadernos de encargos aprovados sejam convenientemente adoptados pelos proprietários das obras o autores dos projectos.
A comissão do trabalho funcionará com carácter permanente e definirá as prioridades a observar no estudo dos diferentes cadernos de encargos, ao mesmo tempo que promoverá a sua actualização de acordo com a evolução das técnicas.

H) Revisão dos sistemas adoptados na consulta às empresas para adjudicação de obras

Os sistemas de concurso das obras e a selecção das empresas têm coda vez maior interesse, à medida que aumenta a complexidade funcional das obras e o desenvolvimento das técnicas.
O critério do preço mais baixo apresentado a concurso, que é prática generalizada, conduz frequentemente a perturbações durante a execução das obras, por carência da capacidade das empresas, e muitos vezes a deficiente qualidade das construções, que onera os encargos de conservação dos edifícios.
A revisão dos sistemas adoptados na consulta às empresas e na adjudicação das obras tornará necessária a actualização da legislação vigente e uma definição mais ampla da responsabilidade dos empresas e dos autores dos projectos.
Para o efeito, proceder-se-á aos estudos necessários com vista a determinar o tipo de informações a colher junto das empresas, sobre capacidade técnica e finan-

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ceira, prazos a conceder para apresentação de propostas, pormenorização de elementos que devem servir de base à consulta, discriminação dos documentos a apresentar pelas empresas para serem admitidas nos concursos, etc..

1) Simplificação das operações administrativas de aprovação dos projectos das construções e dos planos do urbanização.

Actualmente, a aprovação dos planos de urbanização e dos projectos de obras está sujeita a circuitos de operações administrativas que dificultam seriamente a sua rápida execução.
Haverá que proceder a análise objectiva das actividades de todos os intervenientes por forma a introduzir métodos que simplifiquem as respectivas intervenções e evitem demoras injustificadas.
Efectuada essa análise, estabelecer-se-ão em diploma legal apropriado os prazos de exame dos projectos por parte dos diferentes entidades, consoante a sua importância e natureza.

J) Publicação de regras mínimas de apresentação de projectos

Tem-se em vista eliminar as ambiguidades que hoje se verificam na execução das obras, por falta de normas comuns na apresentação de projectos.
Torna-se necessária a elaboração de diploma legal que estabeleça essas normas, de modo a possibilitar a preparação de orçamentos, a selecção de materiais e a programação e coordenação do esquema das obras.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil completará os estudos que para o efeito vem realizando, após o que os submeterá à apreciação de uma comissão de trabalho constituída por elementos representativos do sector oficial e das empresas.
Seguir-se-á a preparação, pelo Ministério das Obras Públicas, do projecto de diploma legal acima mencionado.

K) Obtenção de informação estatística mais perfeita

São os seguintes os domínios em que se procurará realizar um esforço intenso no sentido de se obter melhor cobertura estatística do sector:
a) Acção do Instituto Nacional de Estatística em ordem à publicação de estatísticas correntes sobre a indústria de construção, nomeadamente nos aspectos referentes à produção, estrutura das empresas, equipamento utilizado, investimentos realizados e materiais consumidos - segundo os principais tipos de construção civil e obras publicas. A Comissão Consultiva de Estatística do Ministério das Obras Públicas definiu já, em colaboração com o Instituto Nacional de Estatística, o programa estatístico a realizar nos próximos anos;
b) Acção conjugada do Instituto Nacional de Estatística e do Serviço Nacional de Emprego em ordem à apresentação de estatísticas sobre a mão-de-obra ao serviço do sector, por qualificações profissionais;
c) Publicação, pelos organismos responsáveis pela execução de obras públicas, de relatórios anuais em que darão conta dos resultados das suas actividades, com a indicação das verbas despendidas, trabalhos realizados e sua repercussão no desenvolvimento económico-social do País;
d) Elaboração, pelo Gabinete de Planeamento do Ministério das Obras Públicas, em colaboração com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, o Instituto
Nacional de Investigação Industrial e outras entidades oficiais e particulares, de uma matriz pormenorizada de relações interindustriais do sector da construção e dos materiais de construção - instrumento básico para a definição de uma política coerente de desenvolvimento destes sectores.

L) Adopção de medidas que possibilitem a industrialização da construção civil

A construção de edifícios só evoluirá no sentido da industrialização quando se verificar certo número de condições que não dependem directamente das decisões das empresas. Estas condições supõem uma modificação profunda nos processos administrativos e nos métodos de construção tradicionais, nomeadamente nos aspectos seguintes:

Estudo pormenorizado dos projectos antes da sua execução, a fim de impedir modificações no decorrer dos trabalhos, salvo em casos especiais,
Dimensionamento das empreitadas postas a concurso, de modo a evitar o fraccionamento de lotes semelhantes, a fim de que uma mesma empresa possa executar vários edifícios com idênticas características construtivas,
Intensificação da normalização de materiais e respeito pelas normas estabelecidas,
Utilização de elementos de construção tipificados - portas, janelas, escadas, paredes divisórias e de fachada, casas de banho, cozinhas, etc..

A coordenação dos diversos órgãos da Administração que adjudicam obras, de modo a tornar efectiva a realização destas medidas, deverá constituir o primeiro passo no sentido da industrialização.
Em face do estado pouco avançado em que se encontram estas matérias, torna-se conveniente constituir uma comissão que estude as acções necessárias em ordem ao desenvolvimento da industrialização da construção civil em Portugal.
Por outro lado, o lançamento de estaleiros experimentais é um tipo de acção complementar que terá de levar-se por diante neste domínio e se reputa do maior significado, uma vez que permitirá verificar directamente as vantagens económicas e as condições de viabilidade de certos métodos de industrialização da construção de edifícios, em confronto com os processos tradicionais.
A comissão indicada anteriormente estudará os meios de pôr em prática esta sugestão, definindo as entidades responsáveis pelo lançamento dos estaleiros experimentais e o modo do seu financiamento, em ordem a averiguar a viabilidade da industrialização em domínios precisos de actividade.

M) Desenvolvimento das actividades de investigação.

A indústria de construção, sobretudo no sector da construção civil, é actividade em que ainda predominam as técnicas tradicionais e onde existe certa relutância na aplicação dos resultados da investigação, sobretudo nos casos em que é necessário introduzir modificações nos materiais, na organização ou nos métodos de trabalho.
Todavia, a indústria tem relações com um domínio científico extremamente vasto. As propriedades físicas mecânicas e químicas dos materiais de construção, a resistência e estabilidade das estruturas, a mecânica dos solos, a racionalização da produção e a organização cien-

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tífica do trabalho constituem alguns domínios que interessam particularmente a este sector.
Nestas condições, competirá ao sector público fomentar o desenvolvimento da investigação e realizar os esforços necessários para adaptar os seus resultados às necessidades práticas das empresas.
Em especial, importa salientar o papel a desempenhar pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, cuja acção permitiu já a solução de alguns problemas que muito interessam ao desenvolvimento do sector.
O programa pormenorizado de investigação na indústria de construção está incluído no capítulo do Plano dedicado a "Educação e investigação"

N) Maior desenvolvimento das actividades do normalização

A normalização constitui requisito indispensável para fomentar a industrialização do sector, sobretudo da construção civil.
Até ao momento, as normas existentes no País dizem respeito apenas a certos materiais utilizados na construção tradicional.
Importará, por isso, impulsionar o ritmo actual de estabelecimento de normas dos materiais e alargar o seu domínio a certos elementos primários dos edifícios. Nesse sentido, prevê-se o aumento substancial das dotações destinadas a tal objectivo durante a vigência do III Plano, figurando a lista dos trabalhos a realizar no capítulo referente a "Educação e investigação".

O) Coordenação da elaboração dos projectos e da execução das obras

Por motivos que se prendem fundamentalmente com os métodos actuais de elaboração dos projectos e da execução das obras, a racionalização da construção só pode ser abordada actualmente no início da instalação dos estaleiros, quando devia ser considerada, em toda a sua amplitude, a partir do início da elaboração do projecto.
Com efeito, a incorporação de grande variedade de equipamentos e os imperativos da qualidade das construções têm transformado radicalmente a estrutura dos edifícios e tornado mais complexo o trabalho nos estaleiros.
A construção de um edifício necessita, portanto, do concurso de número cada vez mais elevado de especialistas, que deveriam ser, pelo menos, associados em equipas, uma vez que qualquer deles não pode agir autonomamente.
Assim, haverá que proceder ao estudo das técnicas de coordenação na indústria de construção civil, tanto na fase de estabelecimento do projecto como na de execução das obras, o que implicará a revisão das normas de elaboração dos projectos, das técnicas construtivos e dos princípios fundamentais da organização do trabalho.
Ao Ministério das Obras Públicas competirá o estudo e a divulgação das técnicas de coordenação da indústria de construção do País e, ao mesmo tempo, providenciar no sentido da sua progressiva aplicação, sobretudo na construção de edifícios.

P) Providências relativas a mão-de-obra

São as seguintes as acções a empreender no domínio da mão-de-obra:
a) Contrato colectivo de trabalho. - O projecto encontra-se já aprovado pelas entidades intervenientes na sua elaboração (grémios de industriais da construção civil e de obras públicas e sindicatos de operários da construção civil), aguardando-se para muito breve a sua homologação;
b) Formação profissional. - È assunto da mais alta importância, em face da carência actualmente existente em certas qualificações profissionais. No capítulo do Plano dedicado especificamente a esta matéria encontra-se o programa relativo à indústria de construção,
c) Férias pagas - O facto de os operários da construção civil trabalharem, frequentemente, durante o ano em mais de uma empresa tem como resultado serem muito poucos os que auferem efectivamente as regalias da concessão de férias. Estudar-se-á o modo de solucionar este problema no âmbito do contrato colectivo de trabalho, designadamente a viabilidade da criação de uma caixa do compensação para pagamentos de férias, na qual todas as empresas entregariam as importâncias correspondentes às férias do seu pessoal, qualquer que fosse o período de trabalho prestado,
d) Habitações para operários. - O nomadismo dos estaleiros tem como consequência o aumento das necessidades de habitação, pelo afluxo temporário dos operários da construção civil. Há que analisar este problema e as soluções mais convenientes, em particular as que se baseiam na instalação do pessoal dos estaleiros em casas desmontáveis, para esta solução será necessário estudar a normalização dessas casas e a contribuição a dar pelo sector público através, por exemplo, da constituição de parques de casas desmontáveis, que seriam alugados ou vendidos às empresas.

CAPITULO V

Melhoramentos rurais

§ l.º Evolução recente e problemas actuais

l. O sector dos melhoramentos rurais tem sido objecto de tratamento sistematizado a partir do II Plano de Fomento.
Todavia, a integração desta problemática nos planos de fomento obedeceu a critérios de certo modo restritivos, uma vez que, tanto no II Plano como no Plano Intercalar, apenas foram contemplados os aspectos referentes à electrificação rural, abastecimento de águas e viação rural, ficando, assim, de lado - ou sendo tratados, separadamente, em outros capítulos dos planos - diversos problemas que influem directamente na melhoria das condições de vida dos meios rurais, e vão desde a habitação e a escola aos equipamentos de natureza colectiva.
Como característica comum às obras de electrificação, abastecimento de água e viação rural, e que as distingue de todas as outras que o Estado executa directamente ou fomenta por intermédio da actividade particular, há a salientar tratar-se de obras municipais, a projectar e executar pelas câmaras nos respectivos concelhos, no uso de atribuições que expressamente lhes são conferidos pelo Código Administrativo, em especial no seu artigo 46.º.
No entanto, o Estado, além de intervir na aprovação dos projectos do ponto de vista da segurança e da salvaguarda de interesses de terceiros, auxilia as câmaras, mediante comparticipações gratuitas, no custo das obras, e dá-hes frequentemente assistência técnica, quer na realização dos estudos, quer na própria execução das obras, através dos serviços competentes.
Dado, porém, que os municípios metropolitanos têm, em muitos casos, jurisdição sobre concelhos extensos e com meios financeiros reduzidos, há frequentemente di-

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ficuldades, em especial por parte das câmaras municipais de menores recursos, em satisfazer os encargos resultantes da construção e exploração daqueles melhoramentos, embora em alguns casos a comparticipação do Estado para as respectivas obras chegue a atingir percentagens muito elevadas.
Daí resulta que, apesar do esforço feito, os nossos aglomerados rurais apresentam ainda um grau de cobertura relativamente modesto no que respeita a cada um dos tipos de melhoramentos indicados.

2. No referente à electricidade rural, de acordo com o critério adoptado na Estatística das Instalações Eléctricas em Portugal - segundo o qual "Freguesia electrificada" é aquela que tem, pelo menos, um consumidor de energia eléctrica-, das 3823 freguesias do País faltavam ainda electrificai 922 em 31 de Dezembro de 1965.
Todavia, se tomarmos por unidade territorial o lugar de 100 ou mais habitantes, em vez da freguesia, verifica-se que dos 18 887 aglomerados nessas condições, 5807 ainda não estavam atendidos naquela data.
Ao longo do período de 1953-1965 podem considerar-se três ordens de grandeza do valor médio das obras de electrificação rural em que o Estado comparticipou cerca de 80 000 contos de 1953 a 1956, de 70 000 contos de 1957 a 1960 e de 100 000 contos de 1961 a 1965.
A explicação dos acréscimos observados reside, essencialmente, nas verbas postas à disposição da Direcção-Geral dos Serviços Eléctricos para as comparticipações, factor que tem determinado a maior ou menor cobertura em electrificação dos aglomerados rurais. Em 1964 e em 1965 tais valores fixaram-se em 60 000 contos.

3. No que respeita ao abastecimento de água das populações rurais, dos 13 387 aglomerados existentes com mais de 100 habitantes, apenas se encontram abastecidos domiciliariamente com caudal satisfatório cerca de 1600, mas a população servida é da ordem de 3,2 milhões de habitantes, e dispõem de abastecimento por fontanários cerca de 3580 lugares. Dos restantes, muitos não têm ainda sistema regular de abastecimento de água e recorrem por vezes a poços e fontes primitivas para satisfazerem as suas necessidades de água. Todavia, nos últimos seis anos, graças à acção dos serviços competentes no sentido da beneficiação destas origens de água rudimentares, a situação sanitária das respectivas populações sofreu sensível melhoria, pois as fontes de chafurdo estão a ser sistematicamente transformadas em poços munidos de bomba manual ou em captações devidamente protegidas, ligadas a um fontanário Espera-se que este importante plano esteja muito em breve concluído.
No que se refere a esgotos, embora estas obras não tenham sido incluídas até ao presente nos planos de fomento, sabe-se que até final de 1965 era cerca de 200 o número de aglomerados que dispunham de rede completa de esgotos, dos quais 29 possuíam estação depuradora, correspondendo aquele número de aglomerados a perto de 2,5 milhões de habitantes.
No período de 1962-1965, as dotações disponíveis permitiram encarar dispêndios da ordem dos 60 000 contos no sector do abastecimento de água dos aglomerados rurais e 21 000 contos no sector dos esgotos.

1 Consideram-se providos de redes de esgoto os aglomerados que desfrutam de colectores em mais de 60 por cento dos seus arruamentos.

4. Pelo que toca à viação rural, apurou-se que, ao longo do hexénio 1959-1964, ficaram, com acesso 1070 povoações, sendo 247 912 o número de habitantes beneficiados. Isso correspondeu a que cerca de 27,1 por cento do total das povoações com mais de 100 habitantes, que não tinham acessos em princípios de 1959, ficassem com esse problema resolvido.
Os investimentos considerados para a viação rural no II Plano de Fomento e no Plano Intercalar foram de 140 000 contos anuais, cabendo ao Estado 105 000 contos e a parte restante - 85 000 contos - às câmaras municipais.
Em média, o Estado despendeu, nos seis anos do II Plano de Fomento, 75 por cento do valor global das obras, ou seja 521 759 contos, cumprindo-se praticamente nesse período o programa de construção previsto no Plano de Viação Rural, que, no seu conjunto, teve em vista resolver o problema dos acessos rodoviários aos aglomerados com mais de 100 habitantes, para o que seria necessário construir 6310 km de vias municipais num período de 18 anos (de 1959 a 1976) e reparar 5940 km da rede municipal existente. No que respeita à reparação, aquele programa não se cumpriu inteiramente, uma vez que se repararam menos 766 km do que o programado.

§ 2.º Objectivos

5. Como já se aludiu, os problemas ligados ao bem-estar das populações rurais não devem restringir-se aos três sectores habitualmente considerados nos planos de fomento (electrificação, viação e abastecimento do água), em que o Estado comparticipa com determinadas dotações, no custo das respectivas obras, e com a prestação de assistência.
Na verdade, os melhoramentos rurais englobam múltiplos domínios de acção, cuja finalidade se destina à melhoria das condições de vida das populações e do nível da economia rural.
Uma das possíveis enumerações dos aspectos que a problemática do bem-estar rural integra poderá ser a seguinte:

Equipamento e manutenção do actividades de saúde e assistência (centros e postos de saúde, infantários, jardins de infância, etc.),
Equipamento dos serviços de carácter público águas, esgotos, electricidade, calcetamento de ruas, vias de comunicação, edifícios de serviços públicos, postos da G N B , lavadouros, instalações sanitárias públicas, mercados, etc.,
Construção de balneários públicos,
Construção de postos e subpostos dos C T T e outros serviços indispensáveis às comunicações rurais,
Programas de apoio à construção ou melhoria de instalações sanitárias no meio rural,
Programas de industrialização (descentralização industrial),
Programação e realização de estudos inerentes à política do bem-estar rural e beneficiação dos actuais alojamentos rurais, instalação de centros de preparação de empresários agrícolas, etc.,
Construções de centros de formação profissional agrícola e extensão familiar rural e, ainda, apoio técnico e financeiro na execução de infra-estruturas de natureza comunitária, com vista, especialmente, à cooperação,

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Realização de infra-estruturas nas zonas já florestadas ou a florestar,
Outras medidas de fomento agrário,
Construção de escolas, centros recreativos e de convívio e parques desportivos.

Com a execução, por forma continuada e coordenada, destes empreendimentos tem-se em vista obviar ao carácter disperso dos aglomerados rurais e estabelecer assim entre as cidades e o campo certa igualdade de oportunidades no plano económico, demográfico, social e cultural, através da criação, que se torna urgente entre nós, de centros rurais com dimensão, dinamismo e equipamento suficientes para fixar as populações.
Na verdade, é sabido que quando as populações rurais encontram nas suas regiões empregos estáveis e remuneradores, conforto na habitação, estabelecimentos de ensino, nomeadamente de carácter profissional, e possibilidades de cultura são menos tentadas a engrossar o afluxo que ameaça o equilíbrio das cidades, ou a emigrar para outros países.

6. A perspectiva ampla, atrás enunciada, em que o sector dos melhoramentos rurais deve ser encarado, exige, como é óbvio, profundo esforço de ordenamento e coordenação, uma vez que os diversos tipos de empreendimentos, pelo menos os de natureza pública, dependem de uma multitude de organismos oficiais pertencentes a departamentos ministeriais diferentes. Sendo assim, a política de melhoramentos rurais deve ser realizada através de uma acção conjunta e solidária, devidamente coordenada, com base na estreita colaboração entre os vários departamentos interessados.
Considera-se que o enquadramento mais apropriado para as obras de melhoramentos rurais deverá ser o dos planos estabelecidos à escala regional, nos quais os programas de ordenamento rural se deverão inserir por forma a coordenarem, com base em inventários das necessidades e balanço dos recursos de cada região, todas as acções públicas e privadas que concorrem para o bem-estar das populações.
E uma das primeiras fases desse ordenamento será a delimitação dos centros rurais, ou seja a definição dos aglomerados que obedeçam a determinada unidade económica e social e exerçam ou possam vir a exercer influencia preponderante na vida das populações.

7. Em relação ao presente Plano de Fomento, não será possível, desde já, estabelecer um tipo de programação que inclua os diferentes aspectos da política de melhoramentos rurais. Os estudos sobre planeamento regional, em curso no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, e a orgânica de planeamento a adoptar ao nível das várias regiões do continente virão a constituir os elementos básicos em que deverá assentar a política a seguir neste sector.
Sendo assim, por agora apenas serão contemplados no Plano os aspectos tradicionalmente considerados - electrificação, abastecimento de água e viação rural - e ainda os referentes a esgotos e outros melhoramentos, sobre os quais, aliás, mesmo antes de uma definição precisa dos planos de desenvolvimento regional, importa que o Estado actue mais intensamente em novos moldes, visto constituírem necessidades essenciais das povoações e ser apreciável o número destas que ainda não beneficia de regalias que o progresso generalizou.
De harmonia com uma regra fundamental de planeamento, procurar-se-á, em especial, concentrar o esforço de investimento público em determinados núcleos devidamente dimensionados que ofereçam maiores potencialidades de desenvolvimento e de fixação das populações, evitando-se assim, na medida do possível, a disseminação dos gastos com a execução destes empreendimentos.

§ 3.º Medidas de política

8. A situação em que se encontra a grande maioria dos aglomerados rurais no que respeita às suas infra-estruturas resulta, como já se disse, das dificuldades com que lutam as câmaras, especialmente as de menores recursos, para corresponder às atribuições que a lei lhes confere neste domínio.
De facto, muitas das autarquias locais não dispõem de meios que lhes permitam fazer face aos seus encargos na execução e exploração das obras, o que, por sua vez, deriva de a grande maioria dos nossos aglomerados rurais não possuir as dimensões, mínimas compatíveis com uma exploração economicamente equilibrada.
Por outro lado, as câmaras municipais, por carência de técnicos, não dispõem, em regra, de organização adequada ao lançamento de uma obra de certa envergadura, à sua fiscalização eficaz e ao controlo do seu funcionamento e exploração. Só as câmaras apetrechadas com serviços técnicos podem rapidamente organizar os projectos e lançar e executai as obras, aproveitando, assim, da melhor forma, o auxílio técnico e financeiro que lhe é dispensado pelo Estado. Torna-se, pois, urgente retomar o problema da organização dos serviços técnicos municipais, assunto já estudado por uma comissão, que apresentou os seus trabalhos em 1958.
Para além deste ponto, as principais medidas de política a levar a efeito durante a vigência deste III Plano, com vista a obviar aos mais importantes problemas de cada um dos sectores, são as que a seguir se indicam.

a) Electrificação rural

9. É talvez neste capítulo que o condicionalismo legal atrás apontado se reflecte mais acentuadamente.
Com efeito, mercê das prerrogativas conferidas às câmaras pelo Código Administrativo, a situação pode caracterizar-se por grande dispersão de concessões de distribuição, de que resulta a impossibilidade de as explorações se fazerem em condições satisfatórias do ponto de vista técnico-económico, dadas as reduzidas áreas daquelas concessões, por isso, muitas explorações vivem dificilmente quanto à rentabilidade e qualidade do serviço. A situação ainda mais se agrava quando, por força das circunstâncias, são as próprias câmaras as entidades exploradoras de instalações eléctricas.
Impõe-se, portanto, uma revisão da actual estrutura, no sentido da concentração progressiva das explorações de vida mais precária, de modo a evitar a existência de distribuidores sem a conveniente dimensão económica.
Mas, para isso, torna-se indispensável modificar o condicionalismo legal que rege a outorga de concessões. E tal modificação deverá operar-se no sentido de o Estado vir a exercer maior acção neste domínio, tendo sempre em vista a máxima rentabilidade das explorações de distribuição.
Assim, para além da obrigatoriedade de federação de valias câmaras - prevista, aliás, no artigo 189.º do Código Administrativo -, as novas soluções para o problema da electrificação rural poderão ter por base maior intervenção do sector privado, dado que a electrificação dos

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recursos aproveitáveis, ocorreria brusca situação de inactividade para os meios construtivos (e de estudo e projecto) que tivessem sido mobilizados.
Estas circunstâncias, bem como a consideração das reconhecidas vantagens que advêm para a exploração de um sistema produtor, da adequada conjugação hidráulico-térmica e, ainda, o facto de a evolução da conjuntura financeira ter, de certa forma, desfavorecido as soluções produtivas de maior intensidade capitalista, conduziram a uma fase de nítida transição, com efeito, de quase exclusivamente hídrico, que foi até há pouco, o sistema está a evoluir actualmente no sentido de uma crescente participação térmica.

4. O crescimento dos consumos de electricidade (excluídos os consumos especiais electroquímicos e electrometalúrgicos) processou-se, na última década, à taxa média anual de 11,4 por cento, ritmo que se manteve de forma bastante regular ao longo do referido período.
Os consumos especiais estacionaram, em ordem de grandeza, a partir de 1958. Em 1965, o consumo total no continente ascendeu a 4256 GWh, dos quais as indústrias extractivas e transformadoras absolveram 2926 (514 no regime "não permanente" que vigora para certas indústrias electroquímicas e electrometalúrgicas), o consumo final (doméstico, público, comercial, etc.) 1134 e a tracção eléctrica os restantes 196. Exceptuado o caso das parcelas "permanentes" e "não permanentes" dos consumos industriais, são pouco marcadas as tendências para alteração da estrutura global dos consumos, que se tem mantido nos 70 por cento para as indústrias extractivas o transformadoras, 25 por cento para os consumos finais e 5 por cento para os serviços do transporte.

5. A análise das tendências verificadas por tipos de consumo e das suas determinantes leva a admitir que a taxa da expansão anual prevista para o conjunto dos consumos normais, que se cifrou em 11,4 por cento, possa ser integrada por crescimentos da ordem dos 10 por cento para os consumos finais, 4,8 por cento para a tracção e 12,5 por cento para os outros consumos industriais. Não se verificou expansão muito significativa da capacidade das instalações consumidoras em regime de fornecimento não permanente, pelo que os consumos reais evoluirão sobretudo em dependência dos programas de fabrico, por um lado, e da hidraulicidade dos anos, por outro, admitindo-se que os fornecimentos venham, normalmente, a situar-se entre 600 e 800 GWh anuais.

6. Muito embora as taxas de descimento dos consumos que se têm registado no passado e as que é legítimo prever para o período do Plano sejam sensivelmente mais altas do que as actualmente observadas na generalidade dos países europeus, a capitação anual do consumo é ainda, em Portugal, comparativamente baixa (cerca de 500 kWh). Esta posição é agravada por acentuada heterogeneidade na distribuição regional dos consumos, cuja grande maioria se localiza em número reduzido de centros urbanos e industrias. Com efeito, cerca de 90 por cento dos consumos provêm de uma terça parte da superfície do continente - a faixa litoral que vai do distrito de Braga ao de Setúbal. Outro índice desta situação é dado pela electrificação das freguesias excluídas as sedes de concelho, estão ainda por electrificar cerca de 25 por cento.

7. O subsector da electricidade tem vindo a satisfazer a procura de energia eléctrica sem restrições e com um nível de qualidade dos serviços que se tornou, de forma geral, francamente satisfatório. O problema mais sério que nos últimos anos se pôs à continuidade da expansão deste ramo de actividades residiu nas dificuldades de ordem financeira experimentadas quanto à obtenção, no mercado inteiro, de capitais a longo prazo, daí resultou o recurso a empréstimos cujas condições nem sempre se têm adequado às características da indústria e, por outro lado, a celebração de contratos de financiamento junto de institutos de crédito estrangeiros, nomeadamente o Banco Mundial. Esta última solução acarretou, aliás, a necessidade de reforçar as possibilidades de autofinanciamento das empresas da rede primária. Se bem que esteja ultrapassada a fase mais exigente da conjuntura financeira que originou as dificuldades referidas, justifica-se todo o cuidado em acautelar as possibilidades de acesso da indústria da electricidade ao mercado financeiro interno, nas condições exigidas pelos elevados investimentos requeridos e pelos dilatados períodos de vida útil das instalações a financiar.

b) Combustíveis líquidos e gasosos

8. O consumo dos principais produtos energéticos vem acusando o crescimento médio de 7 por cento ao ano, desde 1958. Dentre os combustíveis líquidos, as gasolinas acusam a expansão mais rápida (8,3 por cento), seguidas do fuel (6,7 por cento) e do gasóleo (6 por cento), mas são os consumos dos gases liquefeitos (butano e propano) que têm crescido mais espectacularmente, com taxas médias de 30 e 45 por cento, no mesmo período. O consumo de petróleo de iluminação tem vindo a diminuir), lenta mas regularmente, desde 1960. A estrutura dos consumos foi, em 1965, a seguinte: 590 000 t de fuel, 430 000 t de gasóleo, 280 000 t de gasolinas, 125 000 t de petróleo iluminante, 105 000 t de butano e 24 000 t de propano.
Prevê-se uma evolução dos consumos que, de modo geral, continue as tendências observadas, registar-se-ão, porém, fortes acréscimos no caso particular do fuel, devido à entrada em funcionamento dos grupos térmicos da central do Carregado, esperando-se, por outro lado, abrandamento sensível das elevadas taxas que se têm verificado para os gases liquefeitos - o que traduzirá a passagem do período de lançamento e rápida expansão dente tipo de combustíveis para uma fase de crescimento já mais ligada ao incremento global da procura de energia.
Os estudos efectuados levaram à adopção das seguintes taxas como valores médios prováveis para o período do III Plano: 8,5 por cento para as gasolinas, 7,5 por cento para o gasóleo, 14,5 por cento para o fuel (valor este fortemente deter- minado pelos consumos dos grupos térmicos que entrarão em funcionamento), 3,7 por cento para o petróleo de iluminação, cerca de 10 por cento para o butano e cerca de 20 por cento para o propano.
Durante o período considerado, o consumo interno tem sido assegurado predominantemente por produtos da refinam de Cabo Ruivo e, em cerca de 25 por cento, por importação. As ramas tratadas na metrópole provêm, na sua maior parte, do Médio Oriente, a participação do petróleo de Angola, significativa a partir de 1962, atingiu, em 1964, 20 por cento do total refinado (810 000 t em l 560 000 t).

9. A capacidade de refinação instalada no continente é da ordem de l 700 000 t e encontra-se saturada, facto que começou já a reflectir-se no volume de importações de produtos refinados. Prevê-se para 1968 a entrada em funcionamento da nova refinaria do Porto, empreendi-

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mento incluído no Plano Intercalar e que se espera permitirá cobrir praticamente os consumos metropolitanos durante o III Plano, no entanto haverá que estudar novas ampliações de capacidade que poderá ser necessário instalar nos últimos anos do hexénio de 1968-1978, para satisfazer os consumos posteriores.

e) Combustíveis sul Idos

10. O consumo de carvões nacionais em 1965 cifrou-se em 430 000 t de antracite e 90 000 t de lignite (peso antes da secagem), consumiram-se ainda as seguintes quantidades de carvões importados 430 000 t de bulha, 220 000 t de coque e 10 000 t de antracite. Estes números, em ordem de grandeza, não se afastam muito das médias do último decénio, excepto para a importação de coque, que sofreu acréscimo brusco a partir da entrada em funcionamento da Siderurgia Nacional. Ao longo daquele período, observa-se, com efeito, relativa estabilidade dos valores à volta da média, sem tendência definida de crescimento ou decréscimo sustentados.
Em percentagens, verificou-se que, em 1965, os carvões nacionais representaram 20 por cento do poder calorífico total dos combustíveis sólidos consumidos (18 por cento as antracites, 2 por cento as lignites), os carvões estrangeiros satisfizeram 44 por cento daqueles consumos (28 por cento as bulhas, 15 por cento o coque e l por cento as antracites).
Os principais consumidores das antracites nacionais foram, naquele ano, a central térmica da Tapada do Outeiro e a indústria dos cimentos. 70 por cento do consumo total, as lignites destinam-se também, sobretudo, à indústria cimenteira, a qual é ainda o principal consumidor da hulha importada.
Espera-se, e está definida ]á orientação nesse sentido, que a produção nacional de antracites aumente ligeiramente e se destine, por forma cada vez mais preponderante, à produção de energia térmica. Quanto às lignites, a instalação prevista de uma central térmica à boca da mina de Rio Maior elevará a extracção a níveis muito superiores aos actuais.

11. Quanto a lenha e resíduos vegetais, combustíveis que, em 1965, segundo estimativa grosseira, representaram 54 por cento em peso e 36 por cento em poder calorífico dos consumos totais de combustíveis sólidos, não se prevêem alterações significativas nos valores absolutos actuais, o que corresponderá a diminuição em valores relativos. Com efeito, nas actividades industriais a competitividade dos outros combustíveis, especialmente dos líquidos, é muito grande, nos usos domésticos, em que sobressai o consumo de lenha nas zonas rurais, a crescente concorrência dos gases liquefeitos e a atracção da população rural pelos centros urbanos conjugam-se no sentido de tornar pouco provável o aumento do consumo actual.

§ 2.º Objectivos

12. À produção de energia cabe satisfazer, nas melhores condições económicas e com risco de restrições quanto possível reduzido, as necessidades directamente geradas pelo desenvolvimento das actividades produtoras de bens e serviços que a utilizam como factor de produção e também as procuras que o processo geral de desenvolvimento activamente estimula, como é o caso dos usos domésticos.
A optimização económica do problema da produção energética depende da adequação das formas e fontes de energia aos fins em vista, para o que se torna necessário equacionar os rendimentos da respectiva utilização, os custos de produção, as disponibilidades nacionais e regionais, a viabilidade e os encargos das importações, os requisitos técnicos e financeiros dos equipamentos produtores e utilizadores, as tecnologias utilizáveis, etc..
Em economia de mercado, a escolha dos utilizadores far-se-á, naturalmente, através do preço unitário de cada uma das formas de energia por que podem optar e dos custos finais resultantes do rendimento de utilização que o seu equipamento permita. Entretanto, o funcionamento dos mecanismos de mercado, no caso da energia, tem sido fortemente condicionado pela maneira como se formam os preços em relação aos quais o consumidor reage, com efeito, é possível inflectir as opções dos consumidores em sentidos não coincidentes com os que resultariam da estrutura de preços moldada sobre a dos custos de produção, mas que, por motivos de interesse nacional não redutíveis a critérios económicos imediatos, se julguem preferíveis em determinado momento. Tal inflexão pode obter-se, nomeadamente, através de imposições fiscais e aduaneiras, de imputações de custos de produção mais ou menos arbitrárias, de condicionalismos financeiros decorrentes da oportunidade conjuntural das tecnologias de maior ou menor intensidade capitalística, de subsídios de exploração ou investimento.

13. Ao traçar, de forma muito geral, os objectivos a que deve obedecer o desenvolvimento das infra-estruturas produtoras de energia, tem de colocar-se em pé de igualdade duas preocupações fundamentais por um lado, a satisfação das procuras com um grau de garantia economicamente julgado razoável, por outro, uma atenção crítica constante sobre a necessidade e a propriedade das inflexões que, através das tarifas, se reflectem na estrutura dos consumos dos diversas formas de energia - necessidade e propriedade essas que são, por seu turno, funções de circunstâncias que o tempo continuamente modifica.

a) Electricidade.

14. A procura de energia eléctrica continuará a ser, basicamente, satisfeita a partir de produções internas, já que as possibilidades facultadas pelas interligações internacionais apenas permitem fazer face a certas carências temporárias resultantes de regimes hidrológicos desfavoráveis, circunstâncias em que, aliás, aquelas interligações se revestem de grande e comprovado interesse. O programa de construções de novos centros produtores, a realizar durante os próximos seis anos, continuará a visar a garantia da satisfação dos consumos permanentes em ano muito seco, com uma probabilidade de 95 por cento, assegurando, além disso, aos consumidores especiais, certo nível mínimo de fornecimentos anuais.

15. A projecção para os consumos permanentes foi feita, como se referiu, à taxa de 11,4 por cento de acréscimo anual, o que, contando com as perdas, conduz, para os anos do Plano, aos seguintes valores de produção, expressos em milhões de kilowatts-hora.

OWh

1968.......................... 5 700
1969.......................... 6 360
1970.......................... 7 090
1971.......................... 7 900
1972.......................... 8 800
1973.......................... 9 800

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Para efeitos de planeamento, aceitou-se que a garantia adoptada deveria permitir, mesmo em ano muito seco, aquelas produções, acrescidas de fornecimentos mínimos da ordem dos 220 GWh aos consumidores não permanentes.
O programa de novos centros produtores, cuja construção se iniciará no último ano do Plano Intercalar e nos primeiros anos deste III Plano, foi já aprovado pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. Esse ordenamento de novas construções, previsto no próprio Plano para 1965-1967, fez-se com a antecedência indispensável para obras de vulto, como são as de centros produtores de electricidade, e teve em conta, além da satisfação dos consumos previstos nos trabalhos preparatórios do III Plano, as orientações oportunamente traçadas pela Secretaria de Estado da Indústria quanto às prioridades a observar.
São os seguintes os empreendimentos já previstos, cuja construção se prolongará pelo período do Plano:

Centros produtores e datas aproximadas de entrada em serviço

Complementos da bacia do Cávado - fins de 1969
3 º Grupo da Central do Carregado - meados de 1970
Vilarinho das Furnas - estiagem de 1970.
Grupo térmico de Rio Maior - fins de 1971.
Régua - estiagem de 1972
Fratel- estiagem de 1972
4 º Grupo da Central do Carregado - fins de 1972.
Crestuma - estiagem de 1973
Alvarenga - estiagem de 1974

Reconhece-se, além disso, a conveniência de encarar o início, durante a vigência do Plano, dos aproveitamentos de fins múltiplos do Mondego (l.º escalão) e do Guadiana, em data a fixar oportunamente (com prioridade para o primeiro), no contexto geral da política de atribuição de concessões legalmente estabelecida (Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966).
A ratificação ou os ajustes de ordenamento e de datas de entrada em serviço irão constando dos programas anuais de execução deste III Plano, sendo especialmente importante o exame crítico do significado dos valores de consumo em 1966, os quais se situaram francamente abaixo das tendências projectadas.
As características daqueles centros produtores figuram nas fichas de projecto respectivos, incluídas em anexo ao presente capítulo 1. A potência instalada subirá de 1900 MW para a ordem dos 3150, durante o hexénio.

16. Os ensaios de simulação do sistema produtor constituído pelas centrais actualmente em exploração mais os dois primeiros grupos térmicos do Carregado, os do aproveitamento de Carrapatelo, a produtibilidade adicional da bacia do Cávado e os centros produtores constantes do programa referido, ensaios feitos no âmbito dos trabalhos preparatórios deste Plano de Fomento, permitem prever, em ano hidrológico (Novembro-Outubro) muito seco, os seguintes saldos energéticos

GWh
1967-1968 320
1968-1969 460
1969-1970 545
1970-1971 65
1971-1972 95
1972-1973 175

1 Figuram nas fichas os centros produtores destinados exclusivamente à produção de energia

17. O programa apresentado comporta os centros produtores cuja entrada em serviço se considera necessária, em face das previsões estabelecidas, até ao termo do último ano hidrológico abrangido pelo Plano (1973-1974). É, porém, evidente a necessidade de iniciar, ainda durante o período de 1968-1973, novos e importantes empreendimentos, com vista a assegurar os consumos de energia eléctrica nos anos posteriores. Convindo proceder, logo que possível, a uma primeira selecção dos centros produtores que deverão entrar em serviço nos quatro ou cinco anos imediatos ao termo deste III Plano, apenas se fez, por agora, uma avaliação global dos investimentos complementares correspondentes. Nos programas anuais ir-se-ão concretizando, com a desejável antecedência, as obras a executar, a revisão do Plano, a efectuar, eventualmente, no termo do seu primeiro triénio, permitirá ainda rectificar ou ajustar as orientações adoptadas para esta primeira estimativa.

18. Os investimentos complementares adiante apresentados calcularam-se por via indirecta, a partir de uma previsão de consumos extrapolada e utilizando o mesmo grau de garantia de 95 por cento. Reconhece-se o carácter precário desta previsão a longo prazo, mormente por ser feita extrapolando a taxas acumulativas elevadas, trata-se apenas, porém, de uma primeira visão prospectiva de ordens de grandeza.
De acordo com a política traçada e que este III Plano ratifica, admitiram-se acréscimos anuais de produtibilidade hidroeléctrica garantida aproximadamente constantes e da ordem dos 800 GWh, a restante capacidade necessária será de origem térmica, conduzindo aos seguintes acréscimos garantidos totais

GWh
1974-1975 1 230
1975-1976 1 375
1976-1977 1 530
1977-1978 1 720
1978-1979 1 890
1979-1980 2 120

Vê-se a importância rapidamente crescente da participação térmica na satisfação dos consumos, a justificar prioridade na preparação para a montagem e exploração de centrais nucleares a partir dos recursos nacionais do materiais, cindíveis.
Para o cálculo dos investimentos nos anos do Plano a partir das hipóteses acima, adoptaram-se parâmetros e uma hipótese de escalonamento temporal determinados a partir da experiência já existente na execução de obras deste tipo.

19. O desenvolvimento da rede de transporte de energia eléctrica e de interligação dos Gentios produtores será condicionado pela necessidade de ligar à rede as novas centrais e de acompanhar a evolução dos consumos das diferentes zonas, o que implica a construção de novas linhas e subestações e a ampliação da potência de transformação. O programa de desenvolvimento da rede de transporte engloba, pois, número elevado de empreendimentos de importâncias diversas, não sendo necessário apresentar um programa completamente definido das novas instalações a montar. Assim, além da estimativa do investimento global adiante apresentada, apenas se referem concretamente as principais realizações previstas, cujas características se discriminam a seguir, em virtude de os projectos relativos à rede de transporte não figurarem nas fichas de investimento anexas a este capítulo.

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Subestação do Pocinho - entrará ao serviço em 1968 funcionando inicialmente como simples posto de seccionamento da rede de 220 KV, permitirá estabelecer o paralelo permanente da rede portuguesa com a rede europeia e poderá fazer face ao aparecimento de consumos importantes naquela zona.
Linha de 150 KV Ferreira do Alentejo-Tunes, subsecção de Tunes - para a alimentação do Algarve; prevê-se a entrada em funcionamento em 1969, à tensão de 60 KV e em paralelo com a linha já existente, a elevação para 150 KV está prevista para 1973, entrando nesse ano em serviço a subestação de Tunes para a ligação à rede de grande distribuição regional, à tensão de 60 KV.
Linha Carrapatelo-Pereiros e autotransformador de Carrapatelo - a linha, a 220 KV, entrará ao serviço em 1968, fechar-se-á a malha Douro Internacional-Porto-Coimbra, passando a tensão nominal (220 KV) a linha Carrapatelo-Vermoim, o que implicará a instalação, em Carrapatelo, de um autotransformador de 150/220 KV, para a ligação da central de Tabuaço.
Ligação das novas centrais - mencionam-se desde já as linhas Vilarinho-Caniçada (150 KV), a ligação da central da Régua às linhas de 220 KV que passam no local, as linhas Aguieira-Pereiros (150 kV), Crestuma-Tapada do Outeiro (60 kV) e Carregado-Alto do Mira (2.ª linha), sob reserva dos resultados de estudos em curso, refere-se também a ligação de Fratel a rede de 220 kV.

20. Conhecida a evolução previsível da parte da energia produzida que entrará nas redes de grande distribuição para satisfazer os seus consumos, fez-se uma estimativa global do desenvolvimento necessário dessa rede para assegurar o escoamento das crescentes quantidades de energia que por ela transitarão. Como hipóteses de planeamento, admitiu-se uma estabilização do rendimento da rede na ordem dos 93 por cento e, para o cálculo do investimento, o valor unitário de $65/kWh, esta ultima hipótese implica a constância do valor verificado, por amostragem, no período de 1962-1965, o que é admissível se se continuar a registar certo equilíbrio entre a instalação de novas redes e o aumento de utilização das já existentes.

2l. Os objectivos a prosseguir através do desenvolvimento das redes de electrificação rural figuram no capitulo "Melhoramentos rurais", aqui apenas se refere a expansão necessária para servir o acréscimo do número de clientes abastecidos através de redes de pequena distribuição não comparticipadas pelo Estado - fundamentalmente as das regiões de Lisboa e do Porto, o estudo efectuado levou a projectar aquele acréscimo as taxas de 4,8 por cento e 2,3 por cento, respectivamente, o que elevará o número de clientes, no termo do Plano, a cerca de 500 000 na região de Lisboa e a cerca de 115 000 na do Porto. Como valores específicos de investimento, adoptados com base no passado recente, utilizaram-se 4 e 5,4 contos por cliente, respectivamente.

22. A satisfação dos objectivos apontados para o subsector da energia eléctrica implicará a expansão do valor acrescentado pelo subsector ao produto nacional bruto segundo um ritmo próximo do previsto para o aumento dos consumos, a crescente participação da energia de origem térmica, porém, tenderá a afastar progressivamente as duas taxas, com efeito, parte do valor da energia produzida nas centrais térmicas corresponde à incorporação de aquisições feitas às indústrias extractivas ou transformadoras, tendendo, pois, em condições normais, a reduzir-se a percentagem do valor da energia produzida que é acrescentado pelas próprias centrais. Com os elementos actualmente disponíveis, foi-se conduzido aos seguintes valores, para os anos deste III Plano.

Valor acrescentado ao produto nacional bruto (preços de 1963):

Milhões de contos

1968........................ 3
1969........................ 3,3
1970........................ 3,7
1971........................ 4,1
1972........................ 4,6
1973........................ 5,1

b) Combustíveis líquidos e gasosos

23. A cobertura das procuras internas previsíveis para os combustíveis derivados do petróleo continuará a fazer-se, quanto possível, com produtos refinados no País, de forma que o valor a pagar em divisas estrangeiras se restrinja à importação de ramas, indisponíveis em território nacional.
A capacidade de produção instalada no território europeu de Portugal subirá para a ordem dos 8 700 000 t durante o primeiro ano do Plano, esta acrescida capacidade, conjugada com as ampliações previstas para as refinarias ultramarinas, na medida em que certas complementaridades de programas de fabrico e estruturas regionais de consumos o permitam, deverá tomar praticamente irrelevantes, em condições normais, as importações de produtos refinados do estrangeiro durante a maior parte do período de 1968-1973, exceptua-se parte do primeiro ano - antes do arranque da nova refinaria do Porto - e, possivelmente, o último, oportunamente se decidirá sobre nova ampliação da capacidade refinadora instalada no Sul do País, de acordo com a evolução dos consumos internos que venha a verificar-se.

24. As projecções obtidas através de correlações com as principais variáveis associadas ao consumo deste tipo de combustíveis levaram, para o mercado interno da metrópole, aos resultados aproximados seguintes, em milhares de toneladas

[Ver tabela na imagem]

a) Arredondado

Não se incluíram naqueles totais os fornecimentos a fazer à navegação marítima e aérea que se abastece na metrópole por os elementos estatísticos disponíveis não permitirem a destrinça da parte destinada às frotas nacionais.

25. A consecução dos objectivos definidos para a produção metropolitana de refinados exigirá que se importem

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para a metrópole ramas nas quantidades e valores aproximados seguintes

[Ver tabela na imagem]

A refinação destas ramas e sua distribuição acrescentará ao produto nacional bruto um valor que se prevê progrida à taxa média acumulativa de 7 por cento ao ano, o que conduz, em preços de 1963, aos valores aproximados seguintes:

Milhões de contos

1968 1,47
1969 1,58
1970 1,69
1971 1,80
1972 1,93
1973 2,06

26. Os empreendimentos concretos desde já previsíveis para o sector dos combustíveis líquidos a realizar no período de 1968-1973 são, além da conclusão da refinaria do Norte (que exigirá ainda investimentos em 1968 e 1969), os destinados à expansão da rede de distribuição do continente (postos de venda, frotas de veículos-tanques, estações de enchimento e armazenagem de gases liquefeitos, terminais, etc.). Interessará apenas individualizar as principais características económico-financeiras do projecto da nova refinaria 1. Incluir-se-á de forma global a avaliação do investimento requerido pelos outros empreendimentos, de natureza comercial.

c) Combustíveis sólidos

27. A evolução prevista para a produção vendável das antracites metropolitanas, atendendo já às providências re-

1 Cf capítulo "Indústrias extractivas e transformadoras"

feridas na parte relativa às indústrias extractivas (conversão da estrutura dos consumos, preços e outras medidas complementares), deverá ser a seguinte:

Milhares de toneladas

1968 480
1969 480
1970 480
1971 490
1972 500
1973 510

De acordo com a orientação definida pela Secretaria de listado da Indústria, a produção das minas de S Pedro da Cova, da ordem das 180 000 t a 210 000 t anuais, destinar-se-á inteiramente à central da Tapada do Outeiro, da produção do Feijão, 80 000 t anuais completarão os fornecimentos àquela central, destinando-se o restante a outros utilizadores, entre os quais a indústria cimenteira ocupará lugar de grande relevo (cerca de 120 000 t anuais).
As estimativas de produção apresentadas são prudentes, pois não contaram com o aumento que pode ser proporcionado pela mecanização em curso nas minas do Pejão, com o objectivo primordial de melhorar a produtividade da lavra, neste caso, os fornecimentos à indústria dos cimentos elevar-se-ão para a ordem das 160 000 t anuais, aproximando-se do valor actual dos respectivos consumos (190 000 t).
Os empreendimentos a realizar, cujo investimento se refere, por memória, no § 4.º, são, nas minas de S Pedro da Cova, a sua mecanização e o equipamento da secção de Midões, no Pejão, tratar-se-á fundamentalmente de preparar o jazigo para a utilização de métodos de lavra mais eficazes e de adquirir e instalar o equipamento correspondente.

28. É a extracção de lignites que virá a sofrer espectacular acréscimo com a entrada em serviço da central térmica de Rio Maior, programada, como se indicou, para fins de 1971. A preparação da mina e seu equipamento para os níveis de produção que serão requeridos, da ordem das 500 000 t anuais, será o empreendimento de maior vulto quanto à produção de combustíveis sólidos na metrópole durante este III Plano.

29. A previsão das importações de carvão (do estrangeiro ou, em parte, do ultramar) para completar a satisfação dos consumos metropolitanos é a que segue:

(a) Os primeiros valoras correspondem ao início da produção do coque, os segundos admitem, além disso, que a Siderurgia Nacional inicie o fabrico de chapa a quente em 1970.

Nos valores apontados tomaram-se por base os preços de 1964

d) Coordenação metrópole-ultramar

30. Durante a execução deste III Plano procurar-se-á, como já se referiu, estreitar a coordenação do aproveitamento dos recursos energéticos existentes no espaço português, tanto do ponto de vista das complementaridades de produção, como da distribuição espacial de certos consumos industriais. Visam-se, desde já, três objectivos concretos:

Coordenação da expansão das refinarias metropolitanas e ultramarinas,

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Estudo da colocação na metrópole dos carvões de Moçambique,
Instalação preferencial no ultramar de indústrias grandes consumidoras de electricidade.

31. Para a consecução do primeiro objectivo, procurar-se-á sobretudo conhecer os produtos sobrantes, dentro dos programas de expansão que cada refinaria prevê, espera-se assim poder avaliar em que medida esses saldos, designadamente os de produtos pesados (fuel), que naturalmente aparecerão nas refinarias ultramarinas, de expansão orientada pelo consumo local de produtos leves, poder ao ser utilizados na metrópole, cujas necessidades vão aumentar substancialmente com a progressiva entrada em funcionamento do grupos térmicos fuel.
Será também encarada a coordenação das fases de expansão previstas e, eventualmente, da instalação de novas unidades, de modo a escalonar os investimentos globais pela forma mais vantajosa para o conjunto dos territórios nacionais.
Os resultados da confrontação dos elementos recolhidos das empresas interessadas durante a fase preparatória deste III Plano e dos que vierem a ser ainda coligidos serão tidos em conta, na medida julgada conveniente, na preparação dos programas anuais da execução do Plano.

32. O problema da colocação na metrópole das milhas do jazigo de Moatize depende, como se sabe, além das condições de extracção, fundamentalmente do custo de transporte, quer por terra, até ao embarque na Beira, e respectivas taxas de porto, quer por mar, em virtude dos fretes relativamente elevados e da capacidade irregular dos navios.
A análise preliminar sobre a viabilidade técnica e económica de substituir por carvões de Moçambique uma parte da importação metropolitana justifica se prossiga imediatamente no estudo do problema, conjuntamente pela Secretaria de Estado da Indústria e pelo Ministério do Ultramar, no âmbito da orgânica de planeamento económico nacional.

33. O terceiro objectivo da coordenação resulta do facto de a natureza dos recursos energéticos da metrópole não aconselhar a instalação de novas indústrias grandes consumidoras de electricidade do tipo electroquímico ou electrossiderúrgico, ao passo que no ultramar há poderosos recursos energéticos, alguns já em aproveitamento (Cambambe), além de importantes recursos minerais, que poderiam abastecer de matérias-primas as indústrias daquele tipo que aí se instalassem. À consecução deste objectivo exigirá se ponderem, de harmonia com o disposto no regime de condicionamento nacional, os projectos de novas instalações industriais que porventura surjam e cuja localização será sistematicamente considerada como elemento fundamental de apreciação. O Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos incentivará pelos meios adequados a localização no ultramar dos projectos para os quais se conclua ser essa, do ponto de vista nacional, a solução mais conveniente.
Para a construção da nova refinaria, as primeiras estimativas indicam que poderá implicar cerca de 340 000 contos de obras de construção civil: e 595 000 contos de encomendas à indústria metalomecânica nacional, a importação de técnica e de equipamentos poderá ascender à ordem do milhão de contos.
Quanto à distribuição de combustíveis, os investimentos previstos conduzem às seguintes primeiras estimativas de repartição por origens:

Encomendas à indústria nacional

Milhares de contos

Construção civil 420
Equipamentos 550
Material de transporte 60
Importações 300

§ 3.º Medidas de política

34. O sector da energia é constituído por um conjunto de actividades cuja concorrência de objectivos e conveniente coordenação de programas lhe confere realidade autonomizável como domínio de estudo e planeamento. Este facto foi, pela primeira vez entre nós, reflectido na metodologia de planeamento económico aquando da preparação do Plano Intercalar, segundo uma orientação que agora se confirma.
Assim, na orgânica de planeamento propriamente dita, a referida orientação corporizou-se na criação de um grupo de trabalho autónomo, permitindo dar a desejável audiência às entidades privadas e estabelecer o seu contacto com os organismos oficiais.
O carácter permanente que foi atribuído aos grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica permite dispor constantemente de um arguo representativo - o grupo da energia -, da maior importância para o estudo e informação, designadamente de decisões de alcance nacional a tomar pelo Conselho de (Ministros para os Assuntos Económicos. A natureza predominantemente representativa desse grupo aconselha a prever a criação de uma estrutura permanente de apoio técnico e material a instituir na Secretaria de Estado da Indústria e destinada, nomeadamente, em colaboração com o sector privado, à centralização e organização de informações sobre a execução e programação anuais dos planos de fomento.

35. O funcionamento regular deste núcleo de apoio ao grupo de trabalho, em ligação permanente e estreita com a Comissão interministerial de Planeamento, o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho e os organismos do (Ministério do Ultramar e da Secretaria de Estado da Indústria, constituirá, além dos aspectos já referidos, contribuição importante para a viabilidade de execução de uma política da energia no espaço económico português durante o período deste III Plano.
Com efeito, medem-se em anos os períodos de realização dos empreendimentos destinados à produção de energia, o que implica, para as entidades que têm a seu cargo essa realização, a necessidade de programarem as suas actividades a longo prazo. Esta programação abrange, além dos aspectos técnicos específicos do sector da energia, outros que transcendem este domínio - como são os financeiros e os das relações interindustriais a estabelecer com os empreiteiros subcontratados e com os fornecedores de equipamento. Tudo concorre para sublinhar a importância de que se reveste a definição de uma política orientadora projectada bem para lá do futuro imediato, política a partir da qual os órgãos de planeamento possam programar o desenvolvimento do sistema produtor a tempo de permitir o estudo adequado das soluções concretas para cada empreendimento e a maximização das contribuições da técnica e da indústria nacionais

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774 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Como pontos fundamentais a equacionar na formulação dessa política energética nacional, indicam-se desde já os seguintes:

Segurança e estabilidade do abastecimento e valorização dos recursos nacionais;
Carácter progressivo na substituição de fontes de energia, vantajoso não só sob o ponto de vista da produção, mas também para as próprias instalações utilizadoras;
Repartição dos consumos entre as diversas formas de energia;
Continuidade na utilização do potencial técnico nacional e preparação da sua conversão, quando necessária,
Coordenação Interterritorial na produção e utilização dos recursos energéticos nacionais.

a) Electricidade

36. O desenvolvimento do sistema produtor de electricidade prosseguirá durante este III Plano sob a orientação actualmente em vigor quanto a uma adequada conjugação hidráulico-térmica, com efeito:

A conveniência em manter a continuidade do programa hidroeléctrico, atendendo, por um lado, às favoráveis condições económicas do aproveitamento de grande parte do potencial energético dos nossos rios ainda por utilizar e, por outro lado, a que se trata de recursos inteiramente nacionais, cujo aproveitamento não pode descurar-se,
O interesse de adequar esse programa à capacidade realizadora do País, assegurando bom aproveitamento dos quadros técnicos e dos meios de acção das empresas e dos empreiteiros e procurando estabilizar, quanto possível, os mercados das indústrias de construção civil e metalomecânicas e favorecer as possibilidades de concorrência desta última com as congéneres estrangeiras,
A necessidade de ser prudente quanto à eventual aceleração do ritmo de construções hidroeléctricas, que poderia conduzir a um empolamento de meios de acção muito especializados,
A consideração, como contrapartida do aspecto anterior, de que as características inerentes aos aproveitamentos hidroeléctricos implicam que a sua realização seja economicamente tanto mais interessante quanto mais próxima no tempo, em face da inevitável tendência a um agravamento geral dos custos em termos comparativos, designadamente por força da importante participação de mão-de-obra,
O conhecimento da estrutura típica dos encargos de investimento e de exploração dos aproveitamentos e das centrais térmicas,

são factores que, ponderados conjuntamente, continuam a indicar como solução equilibrada a manutenção do ritmo de construção de aproveitamentos em valor absoluto próximo do máximo verificado no passado. Esta manutenção implicará que a diferença, exponencialmente crescente, entre as exigências do consumo e a produtibilidade hidráulica, vá sendo preenchida com produções térmicas - estas, de qualquer modo, uma necessidade em breve inelutável para o preenchimento normal do diagrama de cargas. No entanto, deverá ser devidamente atendida a prioridade que o carácter de fins múltiplos possa conferir a determinados empreendimentos.
A exploração conjugada dos dois tipos de fontes produtoras resultará na sua recíproca valorização, por outro lado, ser-se-á conduzido a encargos anuais de investimento sensivelmente mais moderados embora com contrapartida em maiores encargos de exploração do que os inerentes a uma solução que mantivesse a predominância hídrica até ao esgotamento dos respectivos recursos.

37. Ainda para o subsector da electricidade, além da revisão do Decreto-Lei n.º 40 212, de 30 de Junho de 1955, referido no capítulo «Melhoramentos rurais», serem tomadas as seguintes providências:

Revisão da orgânica dos serviços da Secretaria de Estado da Indústria relacionados com a energia, tanto consultivos, como executivos, com vista à melhor conjugação das suas actividades no plano nacional,
Início, com elevada prioridade e com base nos estudos já em curso, nos termos do Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966, do processo de reestruturação da rede eléctrica primária, tendo em vista o aperfeiçoamento da orgânica actual, o melhor aproveitamento do conjunta de meios de estudo e execução disponíveis e o estímulo das economias de gestão e de investimento,
Revisão do regime legal que regula o equilíbrio económico das empresas em ordem a possibilitar a intensificação do respectivo autofinanciamento, sem prejuízo das remunerações ao capital accionista e independentemente do nível tarifário,
Reestruturação, também com elevada prioridade, do regime legal das concessões de pequena distribuição, por forma a torná-lo semelhante ao das concessões de grande distribuição e a permitir a integração daquelas nestas, sem prejuízo do equilíbrio económico do conjunto e com benefício para a qualidade do serviço,
Atribuição das concessões de produção hidroeléctrica ainda não outorgadas, nos termos do citado Decreto-Lei n.º 47 240,
Sistematização geral dos regimes tarifários de alta e baixa tensão,
Concretização da partilha do aproveitamento dos rios de interesse comum a Portugal e a Espanha não abrangidos pelo convénio vigente,
Coordenação com as políticas prosseguidas noutros sectores e para outros aspectos da actividade económica, nomeadamente o desenvolvimento regional e os transportes

b) Combustíveis líquidos

38. No que respeita aos combustíveis líquidos, encontrando-se já aprontado o regulamento da Lei n.º 2080, de 21 de Março de 1956, atribui-se a maior urgência à prospecção sistemática e com garantias de indiscutível idoneidade técnica do território europeu do País, quer na parte emersa, quer na sua plataforma continental.
Outros pontos para estudo e eventual intervenção serão os seguintes:

Revisão crítica dos aspectos fiscais que condicionam a estrutura dos consumos, em especial de carburantes (gasolina e gasóleo), mas também o do fuel, na medida em que a sua utilização pela indústria esteja sendo desfavorecida pelo sobrecusto que o

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30 DE JUNHO DE 1967 775

onera (e que afecta a competitividade dos produtos nos mercados estrangeiros) e atendendo à necessidade de prevalência das razões de ordem económica na política de preços a seguir,
Ponderação, à luz dos realidades actuais, das vantagens e inconvenientes do regime de fretes vigente para o transporte de combustíveis em navios-tanque nacionais,
Disciplina da actividade distribuidora, nomeadamente quanto às características, número e distribuição espacial de postos de venda.

c) Combustíveis sólidos

39. Fora os combustíveis sólidos, prosseguir-se-á na política de aproveitamento dos carvões pobres das minas metropolitanas, sobretudo através da sua queima nas centrais termoeléctricas. Intensificar-se-á a mecanização quanto possível, tanto para melhorar a produtividade da lavra, como para fazer face à escassez de mão-de-obra. Procurar-se-á, por esta forma e por outros meios que se revelem convenientes, nomeadamente pela integração vertical carvão-energia eléctrica, assegurar condições de viabilidade à continuação da exploração das minas, enquanto o interesse nacional o aconselhar.

d) Energia nuclear

40. Ao terminar este capítulo, cumpre aludir a uma questão que virá ao primeiro plano das preocupações do sector da energia durante o próximo hexénio o aproveitamento dos combustíveis nucleares produtíveis no País e o estudo do papel das centrais nucleares na produção térmica.
O recurso, rapidamente crescente, à produção térmica impõe, efectivamente, que se investigue desde já qual a posição relativa que convirá atribuir às soluções clássicas (em que não poderá deixar de predominar a solução a fuel, dada a limitação das reservas de carvões) e às nucleares.
Importa, com efeito, reduzir quanto possível os encargos em divisas imputáveis à exploração das centrais a fuel, isto significa que o recurso a essas centrais não deverá exceder muito o que for permitido pela expansão das refinarias nacionais para a satisfação da procura global de combustíveis líquidos e gasosos, nem distorcer demasiadamente os respectivos programas de fabrico.
A análise preliminar do problema nos seus variados aspectos parece indicar que terá justificação a ligação à rede da primeira central nuclear portuguesa por volta do 1975. Nestas circunstâncias, virá a ser necessário tomar uma decisão definitiva para a construção da central dentro de um prazo de um a dois anos, devendo aproveitar-se entretanto o tempo que resta para uma cuidadosa ponderação da data definitiva da sua inserção na rede e das soluções tecnológicas a adoptar. Além disso, importa resolver em tempo útil outros problemas fundamentais na matéria.

1.º A preparação de pessoal altamente especializado e diferenciado, a todos os níveis, que será exigido pela integração das centrais nucleares na rede nacional,

2.º A necessidade de se abrirem novas minas e de se incentivarem os estudos da valorização das nossas reservas de combustível nuclear, analisando cuidadosamente a viabilidade de instalação no País das indústrias do ciclo de combustível e preparando o pessoal necessário a estas actividades. Com efeito, é sabido que o nosso país possui no continente reservas muito importantes de minério uranífero, que se elevam a cerca de 8000 t de óxido de urânio, para só mencionar as reservas certas e exploráveis com custos inferiores a 500 000$ por tonelada de óxido sob a forma de concentrados ricos, e que terão de ser um factor a considerar na escolha da solução mais conveniente a adoptar para as centrais nucleares nacionais,

3.º A conveniência de preparar com tempo suficiente a regulamentação técnica específica das questões nucleares, necessária à introdução na rede nacional das novas centrais.

Prosseguindo na orientação já traçada de chamar o sector privado à colaboração activa com a Junta de Energia Nuclear na preparação dessas decisões, já que àquele virá a caber a construção e exploração das futuras centrais nucleares, haverá que activar, coordenar e dotar convenientemente os sectores a desenvolver, repartindo claramente competências de acordo com a vocação e possibilidades práticas dos organismos intervenientes e o papel que lá cada um caberá no desenvolvimento do programa energético nuclear. Mas, como é óbvio, neste período de preparação, os dispêndios mais importantes terão de caber essencialmente ao Estado, uma vez que não competirá naturalmente ao sector privado a realização de despesas com características de reprodutividade indirecta ou a longo prazo.

§ 4.º Investimentos a projectos

41. São os seguintes os investimentos que correspondem à realização dos objectivos programados para o sector da energia no continente, durante o hexénio de 1968-1978 (em milhares de contos).

Electricidade 15 536
Continente 15 346
Produção 10 611
Hidráulica 5 355
Ampliação das bacias de Venda Nova e Paradela 30
Carrapatelo 730
Vilarinho das Furnas 550
Régua 1 380
Alvarenga 910
Fratel 855
Crestuma 900
Mondego (a) -
Guadiana (a) -

Térmica clássica 1 720
Carregado II 130
Carregado III 390
Rio Maior 655
Carregado IV 485
Fuel e poças de reserva 60
Estudos nucleares (b) 36
Programa complementar de Centros produtores 3 500
Transporte 645
Grande distribuição 2 600
Pequena distribuição (d) 1 490
Ilhas adjacentes (total) 190
Combustíveis líquidos e gasosos 1 546
Refinação (e) 1 390
Distribuição 1 546


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Página não processada!

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778 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 66

6 Financiamento

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Particulares e empresas.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

7 Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

Atribuição da concessão do aproveitamento.
Relativamente a problemas de coordenação de planeamento, financiamento e expropriações, consideram-se aplicáveis as observações feitas para a Régua (ficha n.º 4).

8 Reflexos sobre outras actividades

As indústrias favorecidas pela realização de Alvarenga serão, nomeadamente, a construção civil, cimentes, siderurgia, metalomecânicas e eléctricas, transportes, materiais de construção diversos, óleos combustíveis, explosivos, equipamentos para estaleiros, etc..
A barragem permitirá dispor de um novo atravessamento sobre o rio Paiva.
A construção do aproveitamento dará lugar, certamente, a importantes beneficiações na rede rodoviária na região. Turisticamente, a albufeira de Alvarenga poderá vir a demonstrar grandes possibilidades.
Do ponto de vista social, é de assinalar que os salários pagos na região, da ordem dos 150 000 a 200 000 contos, terão reflexos importantes na economia local.

Ficha de investimento n.º 2

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico de Crestuma.

Informações

1. Informações gerais

l.l Entidade promotora do projecto

Hidroeléctrica do Douro, S. A. R. L.

l.2 Localização

No rio Douro, perto de Crestuma.

l.3 Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Projecto em adaptação, a partir do elaborado para Atães. Datas de

Início de construção - Maio de 1968
Início de exploração - 1973-1974.

2. Produção.

Potência a instalar - 3X26 MW Produtividade média anual - 370X10 kWh.

3. Materiais

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego

4 1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

[Ver tabela na imagem]

4. 2 Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1973-1974), no sector da exploração.

Categorias profissionais

Número

l. Pessoal dirigente e técnico superior............ -
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo, de escritório e outros empregos. 4
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes 2
4. Operários qualificados.......................... 17
5. Operários semiqualificados...................... 6
6. Não qualificados................................. 19
48

5. Investimento

Contos
1. Estudos e projectos.................... 12 000
2 Expropriações............................... 80 000
3. Construção civil........................... 395 000
4. Equipamentos
De origem nacional ............ 130 000
De origem externa.............. 105 000 235 000
5. Encargos de construção e administração.........100 000
6. Encargos financeiros durante a construção.......78 000
900 000

6. Financiamento

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

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30 DE JUNHO DE 1967 779

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil.
Alargamento da zona abrangida pela concessão da Hidroeléctrica do Douro às freguesias atingidas por este aproveitamento.
Relativamente a problemas de coordenação do planeamento, financiamento e expropriações são aplicáveis as observações feitas para a Régua.

8. Reflexos sobre outras actividades

A realização deste aproveitamento traduzir-se-á por aquisições da ordem das 100 000 t de cimento e 3000 t de aço para betão armado, além de compras avultadas às indústrias metalomecânicas, eléctricas, de transportes, de materiais de construção diversos, de óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, de equipamento para estaleiro, etc., e principalmente em encomendas à indústria da construção civil.
Permite a abertura do troço de jusante da via navegável do Douro.
O aproveitamento permitirá o estabelecimento de uma ligação entre as duas margens do rio através do viaduto sobre a barragem.
Este escalão a fio de água permite dispor de consideráveis massas de energia temporária utilizáveis pelas indústrias electroquímicas e eletrometalúrgicas.
O volume de salários a distribuir na região orçará pelos 150 000 contos.

Ficha de investimento n.º 3

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia)
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico do Fratel.

Informações

1. Informações gerais

l.1. Entidade promotora do projecto:

Hidroeléctrica do Zêzere, S. A. R. L.

l.2. Localização

Rio Tejo.

l.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto

Projecto em reelaboração
Datas de

Início de construção - estiagem de 1968
Início de exploração - estiagem de 1972

2. Produção

Potência a instalar - 8X25 MW.
Produtibilidade média anual - 362 GWh.

3. Materiais

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego

4.l. Volume de emprego na construção a atingir em cada um dos anos do III Plano (p m ).
4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal, no sector da exploração (estimativa).

Categorias profissionais

Número
1. Pessoal dirigente e técnico
superior l
2. Outro pessoal técnico,
pessoal administrativo, de
escritório e outros empregos 4
3. Contramestres, mestres,
encarregados e capatazes 2
4. Operários qualificados 19
5. Operários semiqualificados 6
6. Não qualificados 18
50

5. Investimento:

Estimativa sujeita a revisão - 855 000 contos.

6. Financiamento

Em primeira aproximação, podem-se admitir fontes semelhantes às de Vilarinho das Furnas ou da Régua.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil.

Aspectos comuns aos centros produtores hidroeléctricos

8. Reflexos sobre outras actividades

Comuns à generalidade dos aproveitamentos hidroeléctricos (ver, por exemplo, o da Régua).

Ficha de investimento n.º 4

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico da Régua.

Informações

1. Informações gerais.

1.1. Entidade promotora do projecto

Hidroeléctrica do Douro, S. A. R. L.

l.2. Localização

Cerca de 4 km a montante da Régua

1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto

Projecto executivo em realização
Datas de

Início de construção - Fevereiro de 1967.

Início de exploração - 1972-1973.

2. Produção

Potência a instalar - 3 X 50 MW.
Produtibilidade média anual - 700X10 kWh.

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780 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

8. Materiais

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

[Ver tabela na imagem]

4 2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1973), no sector da exploração:

Categorias profissionais:

Número

1. Pessoal dirigente e técnico superior -
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo, de escritório e outros empregos 4
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes 2
4. Operários qualificados 19
5. Operários semiqualificados 6
6. Não qualificados 19
50
5. Investimento

Estimativa de custo na fase actual de estudo, mas sujeita a eventual rectificação - cerca de l 430 000 contos.

6 Financiamento.

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares..
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil.
Para a realização do aproveitamento nos prazos indicados será necessário que o arranque da obra se verifique na data prevista e, nomeadamente, que não seja demorada a aprovação do desvio do caminho de ferro e da estrada nacional na zona do estaleiro.

8. Reflexos sobre outras actividades

Os reflexos mais salientes da construção deste aproveitamento hidroeléctrico sobre as fontes de matérias-primas podem traduzir-se, aproximadamente, pelo emprego de cerca de 150 000 t de cimento e 5000 t de aço para betão armado. Contribuirão apreciavelmente para esta realização as indústrias metalomecânicas, de transportes, de materiais de construção diversos, de óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, de equipamentos para estaleiros, etc., e sobretudo a indústria de construção civil.
Este aproveitamento influenciará mais directamente a infra-estrutura dos transportes na região através da criação de um troço da via navegável do Douro e da melhora da estrada nacional n.º 222, que terá de ser substituída numa extensão apreciável.
Este escalão a fio de água permite dispor de consideráveis massas de energia temporária utilizáveis pelas indústrias electroquímicas e electro-metalúrgicas.
Do ponto de vista social, importa referir o facto de virem a ser distribuídos cerca de 200 000 contos de salários na região, principalmente a mão-de-obra não especializada.

Ficha de investimento n.º 5

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia) Actividade industrial - Produção de energia eléctrica. Designação - Aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas.

Informações

1. Informações gerais

l.1. Entidade promotora do projecto
Hidroeléctrica do Cávado, S. A. R. L.

l.2. Localização

Rio Homem, a jusante da povoação de Vilarinho das Furnas.

1.3 Situação dos trabalhos de estudo e de projecto.

Projecto completo e aprovado pelas entidades competentes.
Datas de

Conclusão do projecto - Maio de 1964.
Homologação do parecer do C. S. O. P. - Outubro de 1965
Início de construção - princípios de 1967
Início de exploração - estiagem de 1970

2. Produção

Potência a instalar - 100 MW. Produtibilidade média anual - 250X10 kWh.

3. Materiais.

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego

4.l. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

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30 DE JUNHO DE 1967 781

[Ver tabela na imagem]

4.2 Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1970), no sector da exploração.Categorias profissionais:Número

1. Pessoal dirigente e técnico superior............... 2
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo, de escritório e outros empregos.............12
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes.... 4
4. Operários qualificados 13
5. Operários semiqualificados 8
6. Não qualificados 16
55

5. Investimento e encargos gerais
Contos

1. Estudos e projectos (incluindo reconhecimentos geológicos).10 000
2. Expropriações (incluindo restabelecimento de comunicações).30 000
3. Construção civil (incluindo instalação dos estaleiros e mortização de equipamentos)....... 390 000
4. Equipamentos
4.1. De origem nacional....... 80 000
4.2. De origem externa ....... 40 000 120 000
5. Encargos gerais de construção e administração 60 000
6. Encargos financeiros durante a construção 50 000
650 000

6. Financiamento:

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Caixa Nacional de Crédito.
Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Particulares e empresas.
Autofinanciamento.
Crédito estrangeiro.

7. Reflexos sobre outras actividades

Os reflexos mais salientes da construção deste aproveitamento, relativamente a fontes nacionais de matérias-primas, podem traduzir-se no emprego de, aproximadamente, 100 000 t de cimento e 1200 t de aço para betão armado e perfilados.
Entre os sectores industriais que hão-de contribuir para esta realização salientam-se as indústrias da construção civil, obras públicas, metalomecânicas, eléctricas, de transporte, de materiais de construção diversos, dee óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, equipamentos para estaleiro, etc.
Este aproveitamento terá directa influência na infra-estrutura das comunicações regionais através da construção de estiadas e obras de melhoramentos, estabelecimento de linhas de transporte de energia, telefones, etc.
A sua acção no campo social pode traduzir-se pela distribuição de cerca de 100 000 contos do salários na região, com grande aplicação de mão-de-obra não especializada. É ainda de salientar a acção no campo do ensino (ao nível do ensino primário e profissional), saúde - através da assistência hospitalar dos estaleiros estendida às populações locais - e outras acções com efeitos benéficos no nível de vida económico e social das populações da região.

Ficha da investimento n.º 6

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Extracção mineira e produção de
energia eléctrica
Designação - Mina e central térmica de Rio Maior.

Informações

1. Informações gerais:

l.1. Entidade promotora do projecto

Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S A R L.

l.2. Finalidade do investimento

Instalação de uma central termoeléctrica para queima das lignites de Rio Maior.

l.3. Localização:

Junto a Rio Maior.

l.4. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto

Na fase final de estudos preliminares de viabilidade técnico-económica.
Datas de

Início de construção - Maio de 1968
Início de exploração - Novembro de 1971.

2. Produção

Potência a instalar - cerca de 125 MW.

8. Materiais

Valor do consumo de matérias-primas e outros materiais na exploração (incluindo conservação):

[Ver tabela na imagem]

Nota - Dado que se prevê a exploração em conjunto da mina e da central, o valor do combustível é dado a título indicativo e na base e na base se uma utilização de 6500 horas por ano

Página 782

782 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

4. Emprego

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano

Exploração

1968............................. -
1969............................. -
1970............................. 350
1971............................. 470
1972............................. 470
1973............................. 470

Nota - Não é possível indicar neste momento o volume de empregos afecto à construção.

4.2 Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1971), no sector da exploração.

Categorias profissionais
Número

1 Pessoal dirigente e técnico superior........ 7
2 Outro pessoal técnico, pessoal
administrativo, de escritório e outros
empregos...................................... 21
3 Contramestres, mestres, encarregados
e capatazes................................... 18
4 Operários qualificados...................... 155
5 Operários semiqualificados.................. 164
6 Não qualificados............................ 105
470
5. Investimento
[Ver quadro na imagem]

Nota - Valores do estudo preliminar

6 Fontes de financiamento.
Banco de Fomento Nacional.
Previdência
Banca comerciai e entidades particulares
Autofinanciamento
Créditos estrangeiros

7 Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil.

A realização deste investimento está dependente da obtenção das respectivas autorizações e da definição de concessões de extracção de lignites e de instalação da central termoeléctrica. Um atraso na resolução destes problemas traduzir-se-á em correspondente atraso da data de início da exploração indicada em 14.

8 Reflexos sobre outras actividades
A instalação de uma central termoeléctrica para queima das lignites do Rio Maior terá reflexo nas indústrias nacionais metalomecânicas, de electricidade e de construção civil, dado que se espera forte participação nacional na sua construção.

Ficha de investimento n.º 7
Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia)
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Central do Carregado - Grupo 3.

Informações

1 Informações gerais.
1.1 Entidade promotora do projecto
Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S. A. R. L.

1.2 Finalidade do investimento
Instalação de um 3.º grupo, idêntico aos dois primeiros da central do Carregado

1.3 Localização
Junto da povoação da Meirinha, freguesia de Santo Estêvão, concelho de Alenquer.

1.4 Situação dos trabalhos de estudo e de projecto
Anteprojecto da central elaborado em Junho de 1964.
Início do lançamento de encomendas que condicionam a realização do projecto Novembro de 1966.
Início de construção Junho de 1967

2. Produção
Potência a instalar - 125 MW.

3 Materiais

Valor do consumo de matérias-prímas e outros materiais na exploração (incluindo conservação).
Valor dos materiais
Por ano
Contos
De origem nacional.................. 50 000
De origem externa................... 33 000
83 000

Nota - O funcionamento da central será bastante irregular, pois que condicionado pelo regime hidrológico. Considerou-se que, em média, á de prever uma utilização da potência instalada da ordem das 4000 horas, o que conduz a um custo de combustível anual de cerca de 75 000 contos. Admitiu-se ainda que na composição do preço do fuel-oil a parte que implica saída de divisas o da ordem dos 85 por cento.

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30 DE JUNHO DE 1967 783

4. Emprego:
4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano

Exploração
1968.............................. ___
1969.............................. 26
1970.............................. 26
1971.............................. 26
1972.............................. 26
1973.............................. 26

Nota - Os números indicados não têm em conta o pessoal admitido ou a admitir para os dois primeiros grupos do Carregado.

4 2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1969), no sector da exploração.

Categorias profissionais
Número
1 Pessoal dirigente e técnico
superior.............................. -
2 Outro pessoal técnico, pessoal
administrativo, de escritório e
outros empregos....................... 3
3 Contramestres, mestres, encarregados
e capatazes........................... 4
4 Operários qualificados.............. 7
5 Operários semiqualificados.......... 10
6 Não qualificados.................... 2
26

5 Investimento:
103 contos
1. Estudos e projectos............... 17,5
2. Terrenos e expropriações.......... ___
3. Construção civil.................. 85
4. Equipamento
De origem nacional................... 270
De origem externa.................... 119

5 Encargos de construção e
administração........................ 20
6 Encargos financeiros durante a
construção........................... 23,5
7 Capital circulante (fuel e peças de
reserva)............................. 20
555

6 Financiamento
Banco de Fomento Nacional............ 89,5
Previdência.......................... 27
Banca comercial e entidades
Particulares......................... 103
Autofinanciamento.................... 55,5
Créditos estrangeiros................ 830
555

7 Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil
Nada a assinalar

8 Reflexos sobre outras actividades
Fontes nacionais de matérias-primas - A instalação do 4.º grupo do Carregado implicará coordenação com as refinarias nacionais fornecedo-las de fuel-oil.

Outras indústrias - O 4º grupo do Carregado, como os anteriores, terá reflexos nas indústrias nacionais metalomecânicas, de electricidade e de construção civil, dado que se espera forte participação nacional na sua construção.

Ficha de investimento n.º 8

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Central do Carregado - Grupo 4.

Informações
1 Informações gerais:

1.1 Entidade promotora do projecto.
Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S. A. R. L.
l.2 Finalidade do investimento
Instalação de um 4.º grupo, idêntico aos três primeiros da central do Carregado.

1.3 Localização
Junto da povoação da Meirinha, freguesia de Santo Estêvão, concelho de Alenquer.

1.4 Situação dos trabalhos de estudo e de projecto
Anteprojecto da central elaborado em Junho de 1964.
Início do lançamento de encomendas que condicionam a realização do projecto. Novembro de 1966, com o 3.º grupo, mas com opção
Início de construção construção civil - com o 3.º grupo, Junho de 1967, equipamento dois anos antes da data prevista para a entrada em exploração.
Início de exploração Agosto de 1972 (previsão condicionada).

2. Produção
Potência a instalar 125 MW.

3 Materiais:
Valor do consumo de matérias-primas e outros materiais na exploração (incluindo conservação)
Valor dos materiais
Por ano
Contos
De origem nacional.................. 50 000
De origem externa................... 33 000
83 000

Nota - O funcionamento da central será bastante irregular, pois que condicionado pelo regime hidrológico. Considerou-se que, em média, é de prever uma utilização da potência instalada da ordem das 4000 horas, o que conduz a um custo de combustível anual de cerca de 76 000 contos.
Admitiu-se ainda que na composição do preço do fuel-oil a parte que implica saída de divisas é da ordem de 85 por cento

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784 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

4. Emprego:
4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano

Exploração
1968...................... __
1969...................... __
1970...................... __
1971...................... __
1972...................... 19
1973...................... 19

Nota. - Os números indicados não têm em conta o pessoal admitido ou a admitir para os três primeiros grupos do Carregado.

4.2 Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1972), no sector da exploração
Categorias profissionais
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior...... -
2 Outro pessoal técnico, pessoal
administrativo, de escritório e outros
empregos..................................... 2
3 Contramestres, mestres, encarregados e
capatazes.................................... 4
4 Operários qualificados..................... 6
5 Operários semiqualificados................. 7
6 Não qualificados........................... -
19

Ficha de investimento n.º 9

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia)
Actividade industrial - Extracção de urânio.
Designação - Regiões uraníferas das Beiras e do Alto Alentejo

Informações

1. Informações gerais.
1.1. Entidade promotora do projecto:
Junta de Energia Nuclear.

1.2. Finalidade dos investimentos

Pretende-se continuar a avaliação das reservas de urânio do continente, preparar minas para exploração e extrair as quantidades de minério necessárias para alimentar a instalação de tratamento químico.

1.3. Produtos a fabricar
Minérios de urânio.

1.4. Localização
Regiões da Guarda, Urgeiriça e Alto Alentejo

2. Produção
2.1 Capacidade
2.2 Valor da produção
Admite-se que a quantidade de minérios extraídos durante a vigência do III Plano seja da ordem das 200 000 t, cujo valor à boca da mina será de cerca de 70 000 contos.

3 Materiais

As matérias-primas principais utilizadas durante o III Plano e os respectivos valores (em milhares de escudos) indicam-se a seguir:

Madeiras - 100 000.
Explosivos - 4000

4. Emprego.
4.1. Volume do emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano. Os trabalhos de prospecção, pesquisa e exploração envolvem o seguinte pessoal

Número
1968-1969............. 780
1970-1973............. 920

4.2. Emprego por categorias profissionais:
A composição destas equipas indica-se a seguir:

[Ver quadro na imagem]

5 Investimento
Prevê-se que durante o III Plano se efectuem investimentos em prospecção, pesquisa, reconhecimento e preparação das minas para exploração da ordem de 100 000 contos.

6 Financiamento
Pelo Orçamento Geral do Estado.

7 Reflexos sobre outras actividades:
Do ponto de vista social, importa referir o facto de virem a ser distribuídos cerca de 80 000 contos em salários em legiões de economia débil.

Ficha de Investimento n.º 10

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de concentrados de urânio
Designação - Instalação de tratamento químico de minérios de urânio.

Informações

1 Informações gerais
1.1. Entidades promotoras do projecto
Junta de Energia Nuclear, eventualmente em colaboração com a indústria privada

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30 DE JUNHO DE 1967 785

1.2. Finalidade dos investimentos
Pretende-se produzir concentrados de urânio a partir dos minérios nacionais, com a principal finalidade de abastecer as futuras centrais nucleares do País.

1.3. Produtos a fabricar
Concentrados ricos de urânio (com cerca de 80 por cento de U3 O2).

1.4. Localização
Urgeiriça, Canas de Senhorim.

2. Produção
2.1. Capacidade
Cerca de 120 t de minério por dia.

2.2. Valor da produção
Admite-se que a produção de concentrados ricos de urânio durante a vigência do III Plano seja equivalente a cerca de 300t U, que, na base de cerca de 500$/kg U, representa um valor de 150 000 contos

3 Materiais:
As matérias-primas principais utilizadas durante o III Plano e os respectivos valores em milhares de escudos indicam-se a seguir

Minério................... 70 000
Acido sulfúrico........... 9 000
Petróleo, álcool e amina.. 1 500
Outras matérias-primas.... 2 500
83 000

4. Emprego:
4.1 Volume do emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano
A exploração da instalação de tratamento químico envolve uma equipa de cerca de 130 indivíduos, que trabalhará durante a vigência do III Plano.

4.2. Emprego por categorias profissionais.
A composição da equipa referida indica-se a seguir

Categorias profissionais
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior.... 4
2. Outro pessoal técnico, pessoal
administrativo, de escritório e outros
empregos................................... 16
3. Contramestres, mestres, encarregados e
capatazes.................................. 12
4. Operários qualificados.................. 45
5. Operários semiqualificados.............. 30
6. Não qualificados........................ 23
130

5. Investimento
Da ordem de 86 000 contos por parte da Junta de Energia Nuclear, havendo a acrescentar a verba correspondente ao sector privado, a determinar oportunamente.

6. Financiamento.
Orçamento Geral do Estado, pela Junta de Energia Nuclear.

7 Reflexos sobre outras actividades
Do ponto de vista social, é de assinalar que os salários pagos na região durante o III Plano, da ordem de 20 000 contos, terão reflexos sensíveis na economia local

CAPITULO VII
Circuitos de distribuição
§ 1.ª Evolução recente e problemas actuais

1. No período de 1958-1964, a taxa de crescimento do valor acrescentado bruto do sector comercial foi da ordem dos 5 por cento ao ano, ligeiramente superior ao ritmo de acréscimo do produto interno bruto total, em média 4,8 por cento. No ano de 1965, a participação do comércio na formação do produto interno bruto foi de 12,1 por cento, percentagem semelhante as verificadas naquele período, cujos valores oscilaram entre 12,1 e 12,5 por cento.
Para o futuro, prevê-se lenta diminuição da importância do sector comercial no produto interno bruto, com base na hipótese de o valor acrescentado do sector progredir a ritmo sensivelmente, inferior ao do produto interno. Admite-se que em 1978 a participação do comércio se cifre em 11,6 por cento.
O significado que poderá ser extraído de tais elementos necessita, porém, de ser prudentemente interpretado. Em primeiro lugar, parte considerável das operações de distribuição é levada a cabo por entidades privadas dos sectores agrícola e industrial, pelo que os números apresentados não traduzem completamente a incidência do fenómeno em estudo. Por outro lado, o que fundamentalmente interessa na produção de um serviço é a obtenção de qualidade adequada as necessidades da utilização, em condições de custo quanto possível baixas.
Sendo assim, não será viável relacionar simplesmente o fenómeno do aumento dos custos da distribuição, eventualmente devido a reajustamentos das margens de lucro dos intermediários, com o da melhoria da qualidade dos serviços prestados, pois esta só poderá definir-se pela análise dos circuitos de distribuição correspondentes às grandes categorias da produção nacional e nacionalizada.

2. As perspectivas futuras de desenvolvimento dos circuitos de distribuição internos parece estarem condicionadas por dois factores de incidência diferente. De um lado, o processo de desenvolvimento da economia nacional tenderá a promover a integração no sistema de mercado das comunidades da metrópole que ainda vivem parcialmente em regime de auto-subsistência, e daí poderá derevar animação considerável das trocas internos. De outro lado, o resultado da análise dos diferentes circuitos de distribuição irá certamente revelar a urgência de proceder a reconversões de base, que pode-

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786 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

rão traduzir-se, em muitos casos, na supressão de intermediários inúteis e na consequente redução dos circuitos.
3. Não existem elementos de conjunto suficientes para fundamentar uma repartição rigorosa das actividades de distribuição pelas diferentes regiões da metrópole. À escala do sector comercial, é possível dispor de estimativas, certamente grosseiras, que situam em plano excepcional os distritos de Lisboa e do Porto, do ponto de vista da sua contribuição para o produto bruto. Com efeito, essa participação situava-se recentemente em cerca de 68 por cento do produto interno bruto do referido sector. Tal situação justifica-se por se tratar de distritos de grande densidade populacional, associada a poder de compra relativamente elevado - o que favorece a eclosão de novos tipos de necessidades característicos das sociedades de abundância - e por neles estar concentrada a maioria das funções que respeitam as relações comerciais com o exterior.
É de esperar que a repartição pelas diferentes regiões se processe de modo mais homogéneo (segundo a relação entre o número de empresários e o de habitantes) quanto ao comércio de retalho, o comércio grossista, por seu turno, localizar-se-á sobretudo de acordo com as necessidades inerentes a distribuição de cada categoria de produtos, que tanto poderão fazer convergir essas actividades para os grandes centros populacionais da periferia - nomeadamente para os produtos objecto de trocas com o exterior -, como, em certa medida, para alguns núcleos do interior, quando se registe grande dispersão das unidades produtivas.

4. A estrutura dimensional das actividades comerciais de retalho da metrópole caracteriza-se por acentuada pulverização e escasso poder económico das empresas. Ao contrario do que acontece em países de nível de desenvolvimento económico mais elevado, são ainda muito raros em Portugal os casos de cadeias de estabelecimentos comerciais racionalmente organizadas e dispondo de solidez financeira e, também, os casos de venda no mesmo estabelecimento de extensa gama de bens de consumo final. E evidente que a boa organização comercial e financeira constitui requisito essencial para a qualidade do serviço prestado, com apreciáveis repercussões no custo da actividade e nos preços de venda praticados. Do mesmo modo, a diversificação da gama de produtos transaccionados permite mais segura compensação dos capitais investidos e mais rápida rotação das existências, o que também se traduz pela possibilidade de retribua eficazmente a função de distribuição sem se onerar o nível de preços de retalho, o abastecimento, feito sempre que possível junto do produtor, contribui também para a manutenção de preços relativamente moderados.

5. Será possível admitir que, tendencialmente, venha a verificar-se certo progresso no volume total de vendas dos supermercados e estabelecimentos de auto-serviço (em particular se estes procurarem adequar-se ao serviço de uma clientela cujas características e possibilidades financeiras não são, de modo algum, comparáveis com as dos países mais desenvolvidos), bem como a diversificação dos bens comercializados, a normalização desses mesmos bens e dos suas embalagens e, ainda, melhor informação e assistência técnica ao consumidor, acompanhada da criação de facilidades de transporte e estacionamento.
Deve notar-se que os supermercados não substituem completamente os retalhistas, nem o pretendem fazer, constituindo para estes estímulo para melhor apresentação das suas lojas e para mais elevado nível de higiene dos produtos transaccionados. Presentemente, existem no continente apenas 23 supermercados, dos quais 15 nas cidades de Lisboa e do Porto. As oportunidades de abertura de novos estabelecimentos congéneres parecem limitar-se, por enquanto, aos núcleos populacionais com maior poder de compra, devido às características, de qualidade (selecção e embalagem adequada) dos bens ali transaccionados, e aos centros onde será possível encontrar maior densidade de consumidores potenciais.
O desenvolvimento dos supermercados, assente na possibilidade de trabalharem com custos mais reduzidos, encontra-se ainda dependente dos seguintes factores.
Aumento do número de produtos embalados pelos próprios industriais produtores, o que evitará uma secção de embalagem no supermercado, necessariamente mais cara,
Progressiva adaptação do consumidor a este tipo de estabelecimento, que muitas vezes evita por supor que os produtos são aí mais caros,
Eliminação dos entraves postos em relação à venda de determinados produtos por parte de entidades não económicas e sem delegação do Ministério da Economia, designadamente os alvarás municipais.

6. Para comprovar a aludida pulverização e reduzido poder económico das empresas comerciais da metrópole, basta referir que nesta existem 1,55 estabelecimentos de retalho por 100 habitantes e que, na própria área de Lisboa, mais de metade do comércio de retalho paga contribuição industrial inferior a 1000$ por ano, o que supõe um volume de vendas extremamente fraco.
Uma amostragem estabelecida com base na observação de grande número de casos - 65 000 estabelecimentos comerciais - permitiu concluir que cerca de 88,8 por cento dessas unidades pertencem a comerciantes que exploram um único estabelecimento, 10,7 por cento da amostra respeitam a empresários dispondo de dois ou três estabelecimentos, apenas 0,5 por cento abrange comerciantes explorando quatro ou mais estabelecimentos.
O comércio grossista já não sofre da pulverização que afecta a venda directa ao público. O volume de negócios é muito superior, e em diversos ramos dessa actividade, tanto no plano interno, como, sobretudo, no das transacções com o estrangeiro, verifica-se certa concentração das vendas em unidades de grande dimensão. Aliás, este tipo de comércio tem vindo a desempenhar recentemente funções de financiamento e assistência técnica em relação ao sector retalhista e tende a cooperar mais estreitamente com a produção, nomeadamente na concepção do produto (qualidade, estudo das embalagens adequadas, prospecção de mercados e publicidade).

7. Em múltiplos sectores da distribuição notam-se os efeitos perniciosos de entidades que, inserindo-se nos circuitos com fins meramente especulativos e, por vezes sonegando bens de consumo essenciais em épocas de escassez para os vender em condições exorbitantes, constituem elementos de perturbação que não tem sido possível reprimir eficazmente. Os esforços a desenvolver nesse sentido representariam certamente contribuição útil para o saneamento da distribuição e racionalização dos seus circuitos.
Estas anomalias verificam-se sobretudo com os bens de consumo que têm a sua produção concentrada nalgumas épocas do ano e com aqueles cuja abundância ou escassez são influenciadas por factores naturais sobre os quais é limitada a possibilidade de controle - além dos

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casos em que o facto se verifica, aparentemente, por mera tradição. Encontram-se nestas condições quase todos os produtos alimentares, em cuja comercialização, envolvendo necessariamente grandes quantitativos, por se tratar de produtos de consumo muito generalizado, encontram os oportunistas vasto campo de acção.
Tais factos justificam parcialmente as grandes oscilações de preços sofridas ao longo do ano pelas frutas e legumes, pelo peixe, pela batata e por alguns outros produtos. Essas variações, se algumas vezes podem traduzir a escassez real do produto, reflectem quase sempre a rigidez e o anacronismo do sistema de distribuição, incapaz de assegurar um fluxo de abastecimento constantemente adaptado às necessidades dos consumidores.

8. As associações voluntárias de armazenistas e retalhistas, dirigidas em especial para o comércio dos géneros alimentícios, vão já tendo alguma expansão em Portugal, enquanto na maioria dos outros países da Europa ocupam posição predominante em relação aos comerciantes não associados. Na República Federal Alemã, por exemplo, a percentagem do volume de negócios respeitantes aos bens aumentares feita através dos comerciantes associados é superior a 90 por cento, e são vulgares, noutros países, percentagens da ordem dos 60 a 70 por cento.
O comércio retalhista deste ramo, entregue ainda, entre nós, ao clássico estabelecimento de mercearia, tem sofrido nas economias mais desenvolvidas uma evolução que certamente virá a reflectir-se no nosso país. Trabalhando em média com margens reduzidas, só a racionalização dos métodos utilizados e uma sólida formação profissional, aliadas a elevado volume de vendas, permitirão uma administração sã, da qual resultarão vantagens para os retalhistas e para o público.
Para atingir estes objectivos, os armazenistas pertencentes a uma cadeia voluntária de distribuição, ao mesmo tempo que pretendem abastecer em exclusivo os respectivos retalhistas, prestam a estes toda a cooperação no sentido de lhes facultar aumento de vendas e de actualizar os seus processos de trabalho, deste modo, poderão pretender superar, com êxito, os problemas derivados do aparecimento, cada vez mais frequente, de novas cooperativas, cantinas, supermercados - estabelecimentos que adoptam métodos comerciais rejuvenescidos, não se compadecendo com os antigos usos, os quais, apesar dos suas notórias insuficiências, ainda têm larga aplicação por parte dos retalhistas de géneros alimentares. Será, pois, da máxima conveniência uma acção esclarecedora junto destes comerciantes no sentido de os prevenir quanto a evolução provável do sector e de facultar meios aos que pretendam aperfeiçoar-se mas careçam de capacidade financeira para o fazer.

9. Outra técnica, de distribuição, de emprego por enquanto muito limitado em Portugal, é a criação de cooperativas, tanto ao nível da produção como do consumo. Em países do alto nível de vida, a difusão de instituições cooperativas tem provocado apreciável animação e aperfeiçoamento dos circuitos de distribuição, na base de métodos de organização e gestão mais económicos e de compressão das margens de lucro. As dificuldades principais levantadas à criação e difusão, no nosso país, das cooperativas de consumo têm sido a carência de fontes de financiamento acessíveis, a incompleta consciencialização das vantagens a esperar de tais instituições, alguns atrasos na adopção de modernas técnicas de gestão e certa desconfiança injustificada perante os objectivos do fenómeno cooperativo.
As cooperativos de consumo encontram-se principalmente concentradas nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal. No primeiro destes, no entanto, depara-se-nos o obstáculo adicional dos exorbitantes alugueres reclamados por estabelecimentos de área limitada, o que dificulta a adopção do regime de vendas em auto-serviço, caminho que as cooperativas tentam decididamente trilhar.
Não parece viável a criação de cooperativas de consumo fechadas era torno de um número restrito de indivíduos exercendo determinada profissão ou trabalhando em dada empresa. A sua escassa dimensão impede a obtenção de grandes reduções nos preços, embora possa beneficiar de algumas vantagens (transportes a baixo custo, instalações gratuitas, etc. ) que parcialmente compensem a perda de economias de escala.
Quanto às cooperativas de produção, nota-se ainda, nos meios rurais, um apego às formas tradicionais de exploração da terra, que tem inibido o maior desenvolvimento de tais iniciativas.

10. Dadas as características da evolução previsível no comércio dos géneros alimentares, a que atrás já se fez ligeira referência, e que podem traduzir-se no aparecimento cada vez mais frequente de estabelecimentos vendendo gamas progressivamente mais largas de produtos, é de antever que venham a perder operacionalidade os mercados municipais, arreigados a um sistema muito tradicionalista de venda, nem sempre feita nas melhores condições de higiene, ocupando extensas áreas de terreno muito valioso e provocando, inclusivamente, problemas de trânsito, por vezes difíceis, em especial nas cidades mais importantes.

11. Os recursos financeiros habituais do comércio são o autofinanciamento das empresas, o crédito dos fornecedores, o crédito comercial corrente das instituições bancários e, eventualmente, o crédito hipotecário. Fora dos meios próprios a que as unidades comerciais recorrem para os seus investimentos, estas quase só têm acesso ao crédito a curto prazo, o que, obviamente, dificulta os esforços no sentido da modernização das empresas. Esta obrigará a realizar vultosos investimentos, nomeadamente na aquisição de equipamentos de transporte e de produção de frio e na instalação de unidades polivalentes, como os supermercados.
As projecções elaboradas para a formação bruta de capital fixo a realizar no sector comercial, no período deste III Plano, montam, como se verá adiante, a 10,3 milhões de contos. Tão avultado montante de recursos financeiros para investimento a médio prazo deverá certamente ser obtido, em grande parte, dentro das possibilidades de autofinanciamento do próprio sector. Simplesmente, a fim de limitar os desperdícios frequentemente verificados, parece oportuna a constituição de organismos de financiamento de tipo cooperativo, no âmbito do sector comercial, alimentados pelas contribuições dos empresários. Este e outros métodos de acção deverão, no entanto, considerar como coordenada fundamental a inconveniência de favorecer unidades economicamente ineficazes por escassez de capacidade financeira e técnica.

12. Em 1964, o comércio metropolitano abrangia pouco mais de 8 por cento da população activa total - cerca de 261 000 indivíduos -, donde se infere, conjugando este dado com o facto de, no sector, ter sido formado cerca de 12,3 por cento do produto interno bruto daquele mesmo ano, a relativamente elevada capitação de produto que cabe a cada trabalhador do comércio. Parece, todavia, inseguro tentar concluir por uma maior produti-

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790 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

chamar a si funções que habitualmente eram desempenhadas por outrem, sem agravamento ou com redução do preço no consumidor, não devem ser levantados obstáculos a tal integração de funções.

22. Outros factores, além dos indicados, deverão influenciar a definição dos circuitos de distribuição possíveis. Em particular, as dificuldades em conseguir uma rede de transportes densa, rápida e económica representam pesado encargo sobre as actividades produtivas e o consumo final, na medida em que são causa de quebras dos produtos, atrasos de entrega de vendas e de movimentação de existências e propiciam a multiplicação de intervenientes dispensáveis. Considera-se ser este um dos pontos que merece, pelas suas implicações sobre o conjunto da vida económica nacional, a mais séria atenção e rápidas providências - segundo a orientação traçada no capítulo respectivo.

23. Uma política de distribuição não poderá ser coerente e completa sem a execução de medidas aptas a corrigir as fugas que eventualmente se desenhem à disciplina estabelecida. Impõe-se levar a cabo o acompanhamento muito directo das actividades de distribuição, incluindo a ampla difusão das normas vigentes e a repressão dos abusos que contra elas se pratiquem. Ao mesmo tempo, a política de distribuição deve ser dotada de suficiente dinamismo para se adaptar aos diferentes condicionalismos que pesam sobre a economia em cada momento e basear-se, portanto, directamente sobre elementos de informação estatística (emprego, investimentos, variação de existências, volume de negócios, valor acrescentado bruto da actividade) que a habilitem a tomar em tempo as decisões mais adequadas.
A colheita desses dados supõe substanciais aperfeiçoamentos do sistema estatístico vigente, inclusivamente do próprio sistema de contas nacionais, como já atrás se apontou, exigindo também requisitos especiais no processo de prestação de contas pelos empresários privados. Em certos sectores de maior dimensão deverá mesmo caminhar-se rapidamente para uma normalização contabilística que facilite a integração das contas de gerência no esquema da contabilidade nacional do sector E evidente que o principal benefício do esforço de racionalização administrativa a desenvolver reverterá para o próprio sector.
Para a prossecução dos objectivos em vista o dado o condicionalismo pendente sobre os circuitos de distribuição metropolitanos, julga-se da maior oportunidade adoptar um conjunto coerente de medidas de política económica, de cujos aspectos mais importantes se faia a seguir menção.

24. Na prossecução dos objectivos de estudo dos circuitos de distribuição e de integração do sector comercial no sistema de contas nacionais, será dada prioridade a constituição de equipas de trabalho dotadas de meios suficientes e à definição do respectivo mandato. Esses trabalhos tornarão possível a elaboração de uma linha de conduta coerente e abrirão caminho a tarefas mais ambiciosas, mas igualmente indispensáveis, de planeamento da distribuição em bases tanto quanto possível rigorosas.
Ainda num plano de generalidade, assumirá o maior relevo a publicação do estatuto do comerciante, abrangendo designadamente a definição de comerciante, a classificação e definição das diversas categorias de empresários, a enunciação das actividades que podem ser exercidas pelos comerciantes em nome individual e pelas sociedades, a obrigatoriedade da carteira profissional e o estabelecimento das normas paia a sua concessão, H determinação das condições gerais a observar para o exercício da actividade comercial (contribuição industrial, matrícula no registo comercial, capacidade moral, comercial e financeira, pessoal e instalações adequadas) e a fixação em regulamentos próprios dos requisitos específicos, de ordem técnica, económica, financeira e deontológica, para o exercício de cada actividade comercial.
No que respeita aos comerciantes exportadores, as regras de disciplina da actividade ficaram referidas no capítulo do «Comércio externo».
Espera-se que estas providências permitam contribuir para a disciplina da actividade e para a sua melhor estruturação no futuro, tanto no ponto de vista técnico, como no plano económico-financeiro.

25. Na especialidade e quanto aos diferentes circuitos de distribuição, as principais medidas a adoptar serão as seguintes:

a) Produtos pecuários
1) Propiciar a expansão de cooperativas de produtores com vista a eliminar intervenientes dispensáveis e a encorajar a evolução gradual dos talhos de Lisboa e do Porto paia o auto-abastecimento individual,
2) Favorecer a modificação da estrutura dos estabelecimentos de venda, no sentido de unidades comerciais polivalentes (produtos de origem animal destinados à alimentação humana),
3) Eliminar as restrições impostas ao trânsito de carnes com destino a Lisboa,
4) Substituir a actual rede de matadouros municipais, problema que já foi objecto de estudo concluído em 1965 e elaborado pela Comissão Reorganizadora da Indústria de Abate, é da maior vantagem económica que os estabelecimentos preconizados naquele estudo sejam equipados para conservar em boas condições os subprodutos da exploração, nomeadamente peles e couros.
5) Regulamentar as condições de inscrição na Junta Nacional dos Produtos Pecuários dos intermediários na comercialização das peles e couros e promover a sua concentração e melhoria de eficiência,
6) Garantir transporte rápido e à temperatura conveniente aos produtos ovícolas, a fim de preservar a sua qualidade,
7) Regulamentar, por entidade a designar oportunamente, a distribuição de gado ovino, caprino e equídeo para consumo público.

b) Cereais
Promover a gradual concentração do comércio armazenista do arroz com vista a reduzir os encargos de distribuição do produto.

c) Produtos horto-frutícolas
1) Estimular as iniciativas mais susceptíveis de conduzir a rápida dinamização do sector, concedendo apoio técnico e financeiro (designadamente subsídios e empréstimos) às associações de produtores que pretendam agrupar-se com vista à comercialização em comum dos seus produtos,
2) Fomentar ou executar directamente, a construção de infra-estruturas susceptíveis de criar condições mais favoráveis de comercialização, inclusive novos canais de distribuição que melhor sirvam o produtor e o consumidor e facilitem a incorporação no produto de novos serviços

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(conservação, congelação, calibragem, embalagem, etc.). Para tanto, será promovida a construção de mercados centrais em Lisboa, no Porto e no Algarve e definir-se-á a respectiva administração. Admite-se desde já que uma das formas mais aconselháveis para a organização desses mercados seja a de sociedades dê economia mista, onde as responsabilidades e os poderes de decisão dos sectores público e privado estejam conjugados e nas quais a Junta Nacional das Frutas, como organismo mais qualificado no sector, tenha naturalmente papel de relevo. Outros esquemas orgânicos podem também ser encarados, incluindo aqueles que confiem a gestão a um organismo do sector público,
3) Estabelecer normas de qualidade e de disciplina da concorrência,
4) Apoiar o equipamento da rede de transportes com navios fruteiros e vagões-frigoríficos, para preservação da qualidade do produto e sua valorização económica.

d) Açúcar

1) Promover a concentração progressiva dos armazenistas do produto,
2) Melhorar as condições de trabalho e a produtividade da indústria de refinação,

e) óleos vegetais

1) Constituir cooperativas de olivicultores, dotadas de armazenagem própria, para embalagem do azeite e sua distribuição diirecta ao comércio de retalho
2) Promover o financiamento de iniciativas regionais para a comercialização dos óleos de bagaço de azeitona, milho, bolota e grainha de uva.

f) Sal

Além da construção, a curto prazo, de armazéns de sal, encara-se a possibilidade de facilitar a inscrição na Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos dos armazenistas do continente e ilhas adjacentes localizados fora dos salgados e das regiões de forte consumo.

g) Produtos farmacêuticos

Será revisto o Regulamento do Comércio dos Medicamentos Especializados, aprovado por despacho ministerial de 15 de Abril de 1941, no sentido de facultar às farmácias mais fácil acesso directo aos fabricantes e importadores.

h) Adubos e pesticidas

1) Programar os investimentos que permitam dotar a organização corporativa da lavoura da rede de armazenagem destinada a possibilitar, na época própria e em regiões mal servidas de transportes ferroviários, melhor distribuição de adubos,
2) Publicar disposições legais com vista a:

Uniformizar as margens comerciais, definindo as que respeitam aos superfosfatos de cal,
Estabelecer condições mais favoráveis na aquisição dos adubos por parte do pequeno consumidor,
Criar um sistema de preços escalonados, por forma a encaminhar as aquisições para épocas de menor consumo,
Rever o sistema de venda de adubos à lavoura, tendo em vista garantir o regular abastecimento do mercado e a prática de condições de venda tanto quanto possível favoráveis,
Proceder à actualização do regulamento aprovado pelo Decreto n.º 21 204, de 4 de Maio de 1932;
Alterar a Portaria n.º 15 639, de 13 de Outubro de 1955, em termos de permitir a comercialização e a utilização pela lavoura de outros tipos de correctivos agrícolas calcários, nomeadamente os calcários magnesianos, e, para tanto, definir as respectivas características,
Modificar as condições de inscrição na Comissão Reguladora de Produtos Químicos e Farmacêuticos, a fim de substituir a categoria de importador pela de armazenista-importador, criar a modalidade de importador-armazenista de correctivos agrícolas e estabelecer a obrigatoriedade de inscrição dos armazenistas naquela Comissão;
Rever a Portaria n.º 17 780, de 30 de Setembro de 1960, por forma a definir novas regras de comercialização dos pesticidas segundo as classes de toxicidade, e a estabelecer a obrigatoriedade de condições adequadas de armazenagem, tomando em consideração o que vier a ser legislado sobre homologação dos produtos fitofarmacêuticos.
Fixar as margens máximas admitidas na comercialização dos pesticidas.

1) Produtos resinosos

Haverá que vigiar as margens de lucro praticadas e disciplinar o circuito de distribuição respectivo, desde o produtor até ao industrial utilizador, de modo a obstar, na medida do possível, à adopção de práticas lesivas para qualquer das categorias de empresários intervenientes no circuito.

1) Cortiças

1) Rever os requisitos para a inscrição dos comerciantes-intermediários na Junta Nacional da Cortiça, de modo a tornar mais exigente o acesso à actividade,
2) Exercer, pelos grémios dos industriais e pela organização corporativa da lavoura, uma acção conducente a que a indústria adquira directamente a cortiça no mato, credenciando para tanto os seus agentes e organizando cooperativas de compras com vista a neutralizar os perniciosos efeitos da actividade comercial dos intermediários;
3) Interessar a lavoura em assumir o encargo da selecção e embalagem da cortiça;
4) Apoiar a organização corporativa da lavoura no sentido de, em determinadas regiões, suprir a função desempenhada pelo comerciante, promovendo a recolha, concentração e organização da venda de partidas diminutas e de comercialização difícil;
5) Pela Junta Nacional da Cortiça, em colaboração com a organização corporativa da lavoura, proceder ao estudo das medidas tendentes a um melhor ordenamento geral dos descortiçamentos, a regulamentação do processo de avaliação quantitativa da cortiça no mato e à normalização das dimensões das respectivas pilhas,
6) Relativamente à actividade industrial da cortiça:

Facilitar às empresas transformadoras de cortiça natural por simples talha, que observem a dimensão mínima prevista nos regulamentos dos exportadores, um financiamento por campanha não inferior a 50 por cento do valor das matérias-primas adquiridas à produção, para utilização própria, na campanha anterior;
Proporcionar às empresas transformadoras que não atinjam aquela dimensão mínima, mas entendam

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c) Transportes urbanos e suburbanos

6. Existem, também neste domínio, certas realidades fundamentais que convém ter presentes.
1.º A urbanização crescente e irreversível das populações, que se acentuará no período do Plano, sobretudo no sentido das regiões de Lisboa e Porto,
2.º Existência nestas cidades, como acontece na generalidade das cidades europeias, de um forte centro urbano, normalmente com valor histórico e cultural, onde se concentram as actividades terciárias,
3.º A formação periférica de «dormitórios», com ma Resulta daqui a importância crescente dos transportes suburbanos e a sua característica de transportes pendulares. Estes transportes pendulares são onerosos pelos baixos coeficientes de utilização que originam, o que não se conjuga com a tendência de se criarem ou manterem tarifas sociais para corresponderem ao fraco poder económico das populações servidas.
Existe, portanto, neste domínio um problema grave que pode, aliás, ser extensivo aos restantes transportes urbanos colectivos, na medida em que sofrem também períodos de ponta e servem populações economicamente mais débeis.
De qualquer forma, os referidos transportes colectivos continuam a ser menos onerosos para a colectividade do que os transportes individuais, públicos ou privados. Do ponto de vista do interesse da economia nacional, é óbvio que existem já nesta altura, ou virão a aparecer, estrangulamentos em relação aos transportes urbanos, que necessitam de ser solucionados, sem fomentar no entanto a proliferação dos transportes particulares, designadamente os individuais.

III) Transportes marítimos

a) Considerações gerais

7. Em relação aos transportes marítimos, referem-se três problemas actuais que se consideram importantes.
1.º O estado de envelhecimento da frota nacional, em consequência de investimentos muito inferiores aos necessários, a par de uma estrutura empresarial por vezes não actualizada e com fraco poder de concorrência,
2.º A especialização crescente dos navios de carga e um acentuado fenómeno de economia de escala, provocado pelo aumento de capacidade e elevado custo de cada unidade transportadora; daí baixos custos unitários de transporte e elevados custos horários do navio,
3.º Repercussões destes últimos fenómenos na concepção, equipamento e exploração dos portos, onde se exigem grandes fundos, menor número de posições de acostagem para igual volume de carga tratada, equipamentos muito potentes de carregamento e descarregamento de mercadorias, especialização dos cais, racionalização de todas as operações portuárias.
Esta problemática ganha maior força quando se considera o papel que o transporte marítimo desempenha no comércio externo do País, prevendo-se o seu aumento em valores absolutos, o grande débito que trazem à balança de invisíveis os fretes realizados por marinhas mercantes estrangeiras, e a indispensabilidade das ligações marítimas entre o continente e o ultramar Verifica-se, por outro lado, um crescimento do transporte marítimo que levará a prestar a maior atenção ao estudo e realização dos vários investimentos.

b) Marinha mercante

8. O transporte de passageiros realizado pela marinha mercante nacional, não contando com os transportes militares, diminuiu em valor relativo, mas cresceu em valor absoluto - embora com algumas irregularidades e segundo ritmo com tendência para abrandar.
Quanto ao transporte de mercadorias, observa-se crescimento regular proveniente dos transportes de e para o ultramar. Crê-se que a regularidade deste crescimento se manterá, embora com ritmo lento. Contudo, a maioria da frota nacional atingiu já, ou está prestes a atingir, idades limites de exploração (35,6 por cento dos navios possuam mais de 20 anos e 57 por cento estão entre os 5 e os 20 anos), além de se encontrar desactualizada pela rápida evolução tecnológica e económica. Existem 47 armadores inscritos, com 160 navios, num total de 559 864 t de arqueação bruta. Embora 6 empresas armadoras detenham 95,7 por cento desta tonelagem, deve acentuar-se que é ainda desfavorecida a posição da nossa marinha mercante, quer ao comparar-se esta estrutura empresarial com as dimensões de empresas estrangeiras, quer ao terem-se presentes os baixos custos unitários de transporte já oferecidos por navios altamente especializados ou de glandes capacidades.

c) Portos

1) Perlo de Lisboa

9. O movimento do porto cifrou-se, em 1964, na ordem dos 7,3 milhões de toneladas de mercadorias e 340 milhares de passageiros.
O movimento de mercadorias tende a crescer a taxa média anual de 4 por cento, com relevo para os combustíveis líquidos e lubrificantes, os quais já representam 40,7 por cento do movimento marítimo do porto.
Prevê-se que o movimento de passageiros continue também a aumentar com certa regularidade, embora com predomínio progressivo dos passageiros em trânsito.
De acordo com a tendência marcada pelos grandes portos modernos, haverá que polarizar maiores tráfegos no porto de Lisboa, tornando-o concorrencial.
Para esse efeito, cumpre, no entanto, considerar os seguintes factores condicionantes.

Limitação de fundos na barra do Tejo para os grandes petroleiros e mineraleiros,
Pequenos fundos e elevado grau de assoreamento no cais de graneis,
Estrangulamento do desenvolvimento do porto em terraplenos e dos acessos ao porto, na margem direita, devido à má situação em relação à cidade,
Acentuadas deficiências de equipamento operacional e institucionais - não só as próprias da exploração portuária, aliás em vias de solução, como outras nela intervenientes - que determinam movimentação demorada de mercadorias e retenções exageradas dos navios no porto,
Necessidade de aumentar as possibilidades de movimentar graneis, substituindo o seu tratamento como mercadorias de carga geral e contentores.

2) Portei de Douro e Leixões

10. O tráfego de mercadorias (2,6 milhões de toneladas em 1964) apresenta-se com taxas de incremento médio anual relativamente elevadas 5 por cento para o Douro e 6 por cento para Leixões As previsões acentuam o desen\-

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volvimento deste último porto, mas indicam diminuição no ritmo de crescimento do primeiro.
O porto do Douro possui uma barra bastante difícil, fundos insuficientes e grande assoreamento, pelo que oferece desfavoráveis condições de desenvolvimento Pelo contrário, o porto de Leixões possui fundos e acesso marítimo razoáveis, embora com certas limitações quanto a terraplenos, extensão de cais e equipamento de terra. Será dentro em breve um porto com elevado movimento de combustíveis líquidos e mantém-se a possibilidade de serem escoados por ele os minérios de Moncorvo, constitui desde já importante porto de pesca. Deve considerar-se, portanto, como porto regional, com boas aptidões para a navegação e a pesca, sendo necessário adaptá-lo rapidamente a tráfegos especializados de longa distância que possam surgir.
Tal como foi referido em relação ao porto de Lisboa, também se verificam nestes portos deficiências institucionais, quer da sua própria orgânica administrativa e de exploração, quer dos organismos e serviços que nesta intervém.

3) Pequenos portos

11. Parece aconselhável agrupar os pequenos portos do continente segundo as suas funções. Assim, consideram-se três grupos portos comerciais e de pesca, portos de pesca e portos com importância para as navegações de turismo, recreio e desporto.
O primeiro grupo engloba todos os portos que possuem tráfego comercial, além do pescado. Aquele tráfego mereceu maior atenção, não só para se ajuizar do seu valor relativo quanto ao movimento portuário comercial de todo o continente, mas também com o fim de contribuir para o estabelecimento das bases gerais que serviram na avaliação dos investimentos projectados.
Quanto ao segundo grupo - portos unicamente de pesca-, ter-se-á em atenção que a avaliação dos seus projectos depende mais da política de pesca do que da política de transportes marítimos, embora se justifique no futuro análise mais profunda das suas potencialidades.
No que respeita aos portos que possuem, ou podem vir a possuir, importância para a navegação de turismo, recreio e desporto, apenas se focarão alguns aspectos gerais mais relevantes. E domínio em que se actuará em colaboração íntima com as entidades responsáveis pela indústria turística nacional.
Os quadros que se peguem dão ideia bastante concreta quanto à importância relativa dos portos com tráfego comercial.

Movimento portuário do continente 1964

[Ver tabela na imagem]

Média de 1957 a 1964

[Ver tabela na imagem]

Os pequenos portos com maior movimento representam 14 por cento dos tráfegos totais dos portos do continente, mas apenas 10 por cento do tráfego de mercadorias de longo curso. É na movimentação por cabotagem e ma do pescado que estes portos assumem maior importância, pois em ambos os casos abrangem 31 por cento do total.
Verifica-se que, da média anual do período de 1957-1960 para a média anual do período de 1961-1964 o crescimento dos movimentos dos portos de Aveiro e de Portimão foi, respectivamente, de 87 por cento e 26 por cento, ao passo que nos outros portos a taxa de acréscimo da produção foi muito menor cerca de 8 por cento nos portos da Figueira da Foz e de Setúbal e de 15 por cento no de Vila Real de Santo António. Nos portos de Viana do Castelo e de Faro-Olhão o tráfego no mesmo período diminuiu cerca de 32 por cento e 26 por cento, respectivamente.
Segundo os dados que actualmente se possuem, parece serem os portos de Aveiro, Setúbal e Portimão que apresentam melhores perspectivas e mais fáceis condições de desenvolvimento, com especial relevo para o de Aveiro. Este último poderá mesmo assumir, em relação ao porto de Leixões, uma significativa função de porto complementar do hinterland industrial do litoral centro-norte. Quanto a Setúbal e a Portimão, dadas para o primeiro as suas características dominantes de porto regional de

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exportação ligado a uma área em franca industrialização e para o segundo as suas funções de porto de pesca e de apoio ao surto turístico do Algarve, justifica-se igualmente a prioridade que lhes foi atribuída no investimento portuário programado.
Em relação aos restantes portos secundários, do tipo regional, apesar de desiguais crescimentos nos tráfegos movimentados, merecem atenção especial, ao longo deste Plano, os de Viana do Castelo, Figueira da Foz, Peniche e Vila Real de Santo António o primeiro, para assegurar um mínimo de operacionalidade às principais actividades económicas da região, o segundo, a exigir continuidade dos investimentos já feitos em obras exteriores e subsequente apetrechamento interno, finalmente, os portos de Peniche e de Vila Real de Santo António, por se entender conveniente melhorar as condições de apoio à indústria da pesca, polarizada no primeiro, e garantir, quanto ao segunda, a satisfação de compromissos internacionalmente assumidos com a Espanha.

12. Quanto aos portos das ilhas adjacentes, é o de Ponta Delgada que movimenta maior tráfego, com cerca de 48 por cento do total. Por outro lado, no porto do Funchal, da média anual do período de 1957-1960 para a medra anual do período de 1961-1965, o movimento total diminuiu cerca de 47 por cento, ao passo que no de Ponta Delgada aumentou perto de 28 por cento. O porto de Angra do Heroísmo é menos importante a tem-se mantido estacionário quanto ião movimento de mercadorias.

IV) Transportes aéreos

a) Considerações gerais

13. O transporto aéreo tornou-se o principal meio de tráfego de passageiros da longo curso do País, detendo quase 50 por cento do total. Mostra-se ainda reduzido o tráfego de mercadorias, mas o seu crescimento é rápido.
A participação do transportador nacional nos tráfegos internacionais tem vindo a progredir à medida que a frota vai permitindo utilizar os direitos de tráfego que lhe são reconhecidos nos acordos bilaterais, a situação actual afigura-se promissora, dada a sensível .extensão que as rotas têm vindo a sofrer, o equipamento actualizado que a concessionária tem posto ao seu sei viço e o equilíbrio financeiro atingido pela exploração. Os problemas actuais põem-se no domínio das infra-estruturas, atendendo sobretudo ao risco de desencorajar o tráfego internacional, designadamente o transatlântico.

14. No transporte aéreo, depara-se de novo o fenómeno de progressivas economias de escala, mediante o rápido crescimento dos velocidades e capacidades de produção por unidade transportadora, donde resultam abaixamentos de custos e tarifas. Por seu turno, estes abaixamentos conjugam-se com a progressiva valorização do factor tempo e com o crescente poder de compra de camadas cada vez mais vastas da população Semelhantes factos têm originado aumentos espectaculares do tráfego aéreo, com repercussões no desenvolvimento da aviação comercial e dos aeroportos, aumentos, aliás, necessários para se atingirem coeficientes de utilização compensadores das unidades transportadoras Por suo- vez, tais fenómenos exigem grandes empresas de aviação comercial e grandes aeroportos concorrenciais.
Entram assim em jogo elevados volumes de capitais, que tornam imperativa a necessidade de planeamento cuidadoso das actividades e empreendimentos daqueles dois tipos de entidades. Planeamento difícil devido a duas características opostas, mas complementares por um lado, o intenso ritmo de progresso tecnológico origina a entrada em serviço de unidades transportadoras de construção cada vez mais cara e demorada, exigindo encomendas feitas com muitos meses (é normal exigirem-se dois anos) de antecedência, por outro lado, a rapidez de evolução deste mercado e das condições técnicas que o servem torna muito complexa a formulação de encomendas com tais antecedência. Ao fazê-las, corre-se, portanto, um risco tanto maior quanto mais incompletos os estudos de planeamento, mais incertas as previsões e maior o peso da unidade a adquirir no conjunto dos meios de cada empresa Este risco tende a aumentar com a nova era que se aproxima nos anos 70 entrada em exploração comercial dos aviões jumbo jet e supersónicos.

b) Aviação comercial

15. Os Transportes Aéreos Portugueses, empresa concessionária desde 1953, apresentam-se com bons indicadores de actividade, sendo apenas a produtividade do trabalho que suporta menos favoravelmente a comparação internacional. A empresa tem aliado bom nível técnico a uma exploração que conseguiu amortizar os aviões retirados do serviço, apesar da rapidez da evolução técnica a que se fez referência. A exploração económica obteve resultados espectaculares nos últimos anos no período de 1960-1964 as receitas de passageiros (que constituem três quartos das receitas de exploração) aumentaram 149 por cento, enquanto as despesas cresceram 127 por cento no mesmo período. E, portanto, uma empresa em expansão, com elevado nível técnico e a caminho de um lugar de relevo no plano internacional.

c) Aeroportos e apoio à navegação aérea

16. Em Portugal, está a passar-se da fase da construção das indispensáveis infra-estruturas aeronáuticas, de mie» quase reduzidas ao essencial -as pastas-, a fim de encurtar os prazos em que se atingiu o mínimo necessário, para a fase de construção de aerogares e áreas de estacionamento convenientemente dimensionadas, respectivo apetrechamento geral, apoio urbanístico e desenvolvimento dos serviços de ajuda à navegação aérea. É uma segunda fase de importância também fundamental para que sã hm proveito dos elevados investimentos que a primeira implicou.
Como são cada vez m anca es as exigências em relação à operacionalidade de um aeroporto, com grandes reflexos nos capitais necessários para o montar e montar, mais se faz sentir, exactamente nesta altura, a necessidade de planear segundo critérios económicos seguros. É de especial importância, neste contexto, o caso do aeroporto de Lisboa, que tem vindo a conhecer aumentos de tráfego da ordem dos 20 por cento por ano - tendência extremamente favorável e que importa não contrariar. A premência de obviar imediatamente à saturação das instalações actuais não fará esquecer, no entanto, a necessidade de estudar também, desde já, qual a solução futura a adoptar para o nosso principal aeroporto internacional.

§ 2.º Objectivos

I) Objectivos gerais

17. Há objectivos que se situam no âmbito da política geral de transportes e constituem metas dinamizadoras da acção, são objecto de tratamento no § 3 º do presente capítulo

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Para além desses objectivos, porém, há outros que, ao localizarem-se em certos domínios 4o Plano, dão corpo a determinada concepção do desenvolvimento sectorial e das principais transformações estruturas previstas e possíveis. São estes objectivos, de natureza vincadamente operacional, que a seguir se formulam.
1.º Adequar reciprocamente os tráfegos e os modos de transporte. Esta adequação pressupõe, enquanto o planeamento do desenvolvimento regional não propuser necessidades mais prementes e dada a assimetria regional já referida.
a) A concentração dos investimentos, de forma a acautelar a sua rentabilidade e a obter de economias de escala geradoras da diminuição dos custos da exploração e capazes de assegurar, ao nível internacional, poder competitivo à organização do sistema de transportes,
b) À garantia os actividades económicas e sociais localizadas em regiões periféricas e menos evoluídas de condições mínimas de capacidade e da qualidade dos serviços prestados, especialmente quando ditadas- por exigências do comércio externo, das indústrias de base, do turismo e do desenvolvimento regional,
2.º Promover e fomentar o aumento de complementaridade entre modos, ramos e tipos de transporte, designadamente na conjugação de infra-estruturas e explorações nos pontos de interligação de transportes e na aquisição dó material circulante, operando, simultaneamente, especialização crescente dos modos e empresas de transportes,
3.º Acelerar a concentração das empresas, tendo sempre em devida atenção as condições mínimas de rentabilidade das explorações e tutelando os legítimos interesses dos pequenos empresários, -através- de fórmulas eficazes de colaboração interempresarial (cooperativas, acordos de exploração, fusões, etc.),
4.º Desenvolver uma acção global concertada no sentido da melhoria dos transportes em comum de passageiros, nomeadamente dos urbanos è suburbanos (rodoviários e ferroviários), dada a sua eminente função social,
5.º Apoiar, no quadro de um mercado harmonizado, a adequação da exploração ferroviária aos tráfegos para que está funcional e economicamente mais adaptada, em particular no de grandes massas de mercadorias a grandes distâncias e no de passageiros, suburbano e de longo curso;
6.º Imprimir organização empresarial aos serviços públicos industriais, concedendo-lhes adequada autonomia de gestão e efectivo poder de negociação,
7.º Prosseguir firmemente na reconversão das estruturas administrativas, institucionais e mentais, tanto do sector público, como do sector privado e profissional,
8.º Fomentar os investimentos de carácter intelectual e apoiar iniciativas profissionais ou empresariais nestes domínios, como meio de satisfazer as exigências da formação de quadros técnicos e da investigação aplicada aos transportes,
9.º Aperfeiçoar a coordenação económica intersectorial através da conjugação do transporte com as políticas de desenvolvimento regional, de energia, de mão-de-obra e de educação e estudar a sua relacionação com a balança de pagamentos e o mercado financeiro,
10.º Programar a ligação do sector com as indústrias, nacionais de construção de material de transporte e de construção de infra-estruturas.

A prossecução destes objectivos permitirá resolver alguns dos principais problemas e estrangulamentos, do sector, sobretudo os relacionados com os investimentos, a idoneidade dos agentes económicos, a coordenação técnica e económica e a organização dos transportes em comum.

18. Como se afirmou já, está-se perante um sector estratégico de forte intensidade capitalística, com baixas remunerações do capital.
Tendo em conta, por um lado, estas circunstâncias, e, por outro, o carácter induzido do investimento em transportes, há que assegurar permanentemente uma repartição equilibrada entre os investimentos de renovação e de capacidade (ou de produtividade) e os de infra-estrutura e de exploração, de forma a tirar deles o máximo rendimento económico.
No domínio das infra-estruturas de interesse geral, uma parte substancial dos encargos deverá ser suportada pelo Estado, em percentagem dos valores totais calculada segundo critérios tanto quanto possível rigorosos e neutrais. Dever-se-á, paralelamente, promover a harmonização efectiva da repartição dos custos de infra-estrutura entre os respectivos utilizadores, harmonização que se impõe com o fim de que nenhum modo de transporte se apresente beneficiado em relação aos demais, o que decorrerá de uma organização do sistema de transportes economicamente neutra.
Resultará daí, nos casos em que as explorações se mostrem deficitárias por motivos imputáveis ao seu carácter de serviço público e, como tal, incapazes de contribuir para os encargos dos equipamentos fixos que utilizam, a necessidade de lhes atribuir subvenções de exploração compensadoras daquelas obrigações. Operam-se, assim, meras transferências financeiras, que não falsearão as condições de concorrência.
Ainda no domínio das explorações, para além das transformações de estruturas anteriormente referidas, dever-se-á assegurar uma programação de investimentos, a concretizar nos sucessivos programas anuais de execução deste III Plano, que estabeleça a conjugação das infra-estruturas com as explorações e de ambas com os tráfegos - estes a valorizar em função do seu volume e do seu significado económico.
Dentro desta orientação, procurar-se-á seleccionar e escalonar os investimentos consoante sejam rentáveis, estritamente necessários, independentemente de estudos prévios de rentabilidade, ou parcialmente (substituíveis pelos benefícios obtidos através de remodelações da exploração.

II) Transportes de longa distância

19. Os transportes de longa distância devem ser coordenados entre si e com os respectivos pontos de interligação de transportes, a fim de os tornar concorrenciais e contribuir para o equilíbrio da balança de invisíveis. A orientação de base que se deduz do sentido da evolução actual é a de favorecer, no transporte de passageiros, o desenvolvimento crescente do transporte aéreo. O transporte de carga, cuja quase totalidade continuará a procurar a via marítima, deverá ser assegurado por uma frota progressivamente modernizada e especializada.

a) Transportes terrestres

20. São transportes pouco volumosos, mas em intenso progresso e com importância crescente para a economia nacional. Dever-se-á continuar a expandir e a modernizar um número reduzido de eixos internacionais, que sirvam também de eixos de penetração nas regiões interiores do

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continente, e criar condições para o desenvolvimento de empresas nacionais que possam competir com as estrangeiras.

b) Transportes marítimos

21. Tal como no Plano Intercalar de Fomento, o objectivo fundamental é o de definir um programa coerente para o transporte marítimo, no contexto mais amplo dos transportes de longa distância. Esta programação deve englobar não só os portos do continente, mas também os das ilhas adjacentes e do ultramar, e dedicar especial atenção ao desenvolvimento imediato, em cada uma destas parcelas do território nacional, de apenas um ou dois portos modernos, concorrenciais e estudados de modo a obter na sua exploração o maior proveito e rentabilidade dos investimentos. Haverá, assim, que definir os portos polivalentes que servirão os transportes de longa distância, os portos especializados em número muito reduzido de tipos de tráfego de longa distância e os portos regionais para pesca, cabotagem, turismo e recreio. Foi este o critério seguido para o continente neste III Plano, no prosseguimento da orientação já preconizada no Plano Intercalar de Fomento Consideram-se, na actual fase dos estudos, como portos polivalentes para longa distância, os de Lisboa, Douro e Leixões, nos pequenos portos, classificam-se como regionais e eventualmente especializados para transportes de longa distância os de Aveiro, Setúbal e Portimão.
Finalmente, o incremento dó turismo aconselha a desenvolver e melhorar determinadas zonas do litoral (portos, estuários, enseadas, etc. ) que, pelas suas condições naturais, possuem interesse turístico ou têm importância para a navegação desportiva e de recreio.

22. Quanto à marinha mercante, impõe-se utilizar as suas possibilidades próprias de renovação e fomentar o seu desenvolvimento e especialização essencialmente para o transporte de mercadorias. Procurar-se-á que tais acções de fomento sejam plenamente aproveitadas, no futuro, por mais reduzido número de empresas.

c) Transportes aéreos

23. Cabendo a estes parcela crescente no transporte de passageiros, acentua-se a necessidade de dispor de um aeroporto moderno devidamente estudado do ponto de vista económico, em articulação com aeroportos de apoio a longa distância e com aeroportos regionais. Simultaneamente, importará continuar a favorecer a expansão da concessionária nacional do transporte aéreo, incluindo planos de apoio financeiro a longo prazo.

24. Com efeito, como já se referiu, nos anos 70 abrir-se-á nova era para a aviação comercial, era que está aprazada pelo elevado número de encomendas já em curso, apesar das dificuldades e incertezas que rodeiam o caminho ainda a percorrer até à entrada em serviço comercial dos transportes supersónicos. Não é difícil verificar, através das produtividades horárias, que, designadamente, os jumbo jota só serão económicos para grandes tráfegos e longas distâncias, o fenómeno de economia de escala traduz-se, concretamente, nos seguintes exemplos o Boeing 747 pode substituir três Boeing 707 ou treze Super Constellation, com custos específicos mais baixos, mas preços do avião bastante mais elevados.
Para sobreviver em boas condições económicas, a concessionária terá de continuar a aumentar sensivelmente o seu nível de actividade por forma a tornar viável a
utilização das grandes unidades - o que dará base firme ao apoio financeiro que o Estado terá de proporcionar-lhe para que a programação das suas actividades possa processar-se pela forma que melhor sirva o sistema de transportes do País. Concomitantemente, continuará o Estado a apoiar os T. A. P. nos esforços que desenvolva para obter associações e contratos vantajosos com outras empresas estrangeiras.

25. Mais uma vez se põe a preocupação de concentrar tráfegos e investimentos em poucos aeroportos, mas eficientes. Haverá assim que definir, na rede nacional de aeroportos, uma hierarquia em função do tipo ou intensidade de tráfego que recebem ou pretendem captar: aeroportos que sirvam a todos os tráfegos e se mantenham sempre nitidamente concorrenciais, aeroportos para apoio ao tráfego de longo curso; e aeroportos regionais, como complemento das duas primeiras categorias.
Tal classificação não será, porém, estática nem rígida, mas antes baseada nos estudos integrados sobre os transportes de longa distância, e deverá também atender a factores de ordem estratégica - não só política, como turística, técnica e comercial.
Entretanto, é indiscutível que, na metrópole, o aeroporto de Lisboa deverá possuir carácter concorrencial e situar-se, portanto, no primeiro dos tipos enunciados. Além da já referida solução imediata para a sua actual saturação e dos estudos a empreender com vista a futura mudança de local ou desdobramento, será encarada a possibilidade de alargar a autonomia da sua gestão por forma a proporcionar-lhe maior flexibilidade.

III) Transportes interiores

26. Para estes transportes propõem-se os seguintes objectivos

Criar condições para o desenvolvimento de uma concorrência sã, sobretudo no eixo Braga-Porto-Lisboa-Setúbal, entre transportes ferroviários e rodoviários, fomentando a complementaridade entre ambos,
Nas restantes regiões, deverão ser consideradas as condições de prestação dos serviços de transportes com vista ao apoio do seu desenvolvimento, sem prejuízo da vocação própria de cada um dos modos de transporte e da melhor utilização das infra-estruturas, de modo a estimular a organização de um mercado concorrencial;
Criar condições que levem os transportes ferroviários a captar e satisfazer as procuras para tráfegos que lhes sejam adequados, designadamente os de grandes massas de mercadorias a grandes distâncias e os suburbanos de passageiros;
Resolver progressivamente os problemas dos transportes colectivos de passageiros e, de forma especial, os urbanos

a) Transportes ferroviários

27. Quer devido à situação económica e financeira da empresa concessionária, quer atendendo aos vultosos capitais necessários para a renovação imprescindível das principais infra-estruturas, parece oportuno intensificar a reconversão global da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses através de uma programação a longo prazo, rigorosamente escalonada, de modo que as acções a empreender sejam coerentes entre si e permitam obter as maiores rentabilidades e as melhores condições de pres-

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tacão do serviço. Os objectivos gerais a prosseguir, mediante providências e intervenções orientadoras que vão indicadas no § 4.º, serão os seguintes.
1.º Reforçar o poder competitivo da exploração ferroviária partindo de prévia harmonização do mercado fundada na igualização das condições de concorrência entre os vários modos de transporte, de forma que os elevados investimentos programados encontrem no mercado e numa exploração actualizada e dinâmica as garantias da sua rentabilidade económica e financeira,
2.º Fomentar o enquadramento activo da exploração ferroviária no conjunto do sistema de transportes mediante o estabelecimento e promoção de complementaridades técnicas e funcionais com os restantes modos de transporte, aperfeiçoando os pontos de interligação das explorações (instalações auxiliares de coordenação técnica) e apoiando, directa ou indirectamente, as manifestações, contratuais ou institucionais, de colaboração interprofissional;
3.º Prosseguir a reorganização dos serviços e intensificar a formação do pessoal a todos os níveis, para que a capacidade de estudo aumente na escala desejada e os processos de actuação melhorem consideravelmente, garantindo sensíveis acréscimos na produtividade do pessoal e do equipamento.

b) Transportes rodoviários

28. A reconversão do transporte por caminho de ferro trará vantagens ao transporte profissional por via rodoviária, que ficará assim com maiores zonas de expansão, quer geográficas, quer propriamente económicas, realizando os transportes para os quais está mais apto (distribuição e concentração, pequenas partidas de mercadorias, transportes especializados), além de se passar a processar com maior flexibilidade, sobretudo na pequena e média distância Nestas bases, haverá também que acelerar intensamente a execução e a melhoria do conjunto das infra-estruturas rodoviárias, adequando-as aos tráfegos e aos custos, e relacionando-as com os outros modos e tipos de transporte. Não se perderá de vista, no entanto, a necessidade de manter eixos razoáveis de penetração regional e de servir o turismo, designadamente o internacional; aliás, estas duas exigências podem conjugar-se em parte, já que as estradas de ligação internacional poderão ser, simultaneamente, vias de penetração regional. Por outro lado, procurar-se-á ir corrigindo a apontada pulverização empresarial, de ruinosas consequências, através de acções de concentração a levar a cabo em colaboração com os organismos profissionais.
Além das medidas necessárias ao saneamento da produção e do mercado, importa desenvolver os estudos sobre a actividade deste modo de transporte com base em estatísticas adequadas e cálculo seguro de custos.

c) Transportes urbanos e suburbanos

29. Pêlos motivos que se expõem no § 4.º, os transportes urbanos e suburbanos das regiões de Lisboa e do Porto serão considerados como um todo a optimizar mediante articulação progressivamente mais perfeita dos vários modos de deslocamento urbano entre si e destes com os suburbanos e interurbanos.
Resultam daqui os seguintes objectivos gerais, para cuja consecução serão adoptadas as providências adiante referidas.
1.º Organizar e planear os transportes em comum, urbanos e suburbanos, de modo a conseguir-se melhor complementaridade das infra-estruturas e da exploração, e concorrência disciplinada entre os diversos operadores - uma e outra sempre atentas à convergência das funções desempenhadas pelos modos e tipos de transporte intervenientes,
2.º Coordenar, dinâmica e reciprocamente, os planos de transportes com os planos de urbanização e, portanto, com o equipamento social dos agregados urbanos,
3.º Promover a participação activa do Estado e das autarquias locais nestas acções, segundo fórmulas eficazes, nomeadamente quanto ao financiamento das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias e à cobertura do diferencial entre os preços reais, ligados aos custos de produção, e as tarifas sociais,
4.º Definir, para os aglomerados urbanos, uma política de trânsito coerente, em que se atribuam aos transportes em comum condições mínimas compatíveis com o eficaz desempenho das suas funções sócio-económicas de movimentação de grandes massas populacionais.

IV) Pontos de Interligação de transportes

30. Em virtude do agravamento progressivo que os tempos de imobilização do material circulante podem acarretar para o custo total do transporte e ainda pela importância crescente das economias do tempo na comodidade dos passageiros, os pontos de interligação de transporte assumem, como foi referido, a maior importância. Entende-se, assim, que deverá aumentar-se o dinamismo das respectivas explorações e criar as infra-estruturas necessárias, algumas já previstas no Plano Intercalar de Fomento, tal como portos, aeroportos, estações de camionagem, estações, terminais de caminho de ferro e outras.

§ 3.º Medidas de política

I) Considerações gerais

31. O presente Plano de Fomento enquadra-se no conjunto da acção planificadora realizada pelo Governo e, como o que o antecedeu, tem em vista garantir a coerência e a continuidade do esforço da valorização económica e social em que a Nação se encontra empenhada. O Plano para 1965-1967 foi de transição e, portanto, o programa de acção nele contido não pode ser considerado como unidade independente, som ligação com a cadeia de planeamento que vem do passado e continuará no futuro, por isso a programação do Plano Intercalar não se circunscreveu ao tempo da sua vigência, antes se inseriu numa linha de evolução económica e social a longo prazo.
É, pois, natural que, no presente esquema de planeamento, se retomem os princípios firmados anteriormente e se assinalem a política geral de transportes sensivelmente os mesmos objectivos.
O novo Plano, no domínio dos transportes, mantém um carácter director, essencialmente programático, respeitando, assim, a liberdade dos sujeitos económicos e fazendo voto de confiança na iniciativa dos particulares Apresenta-se com a natureza de um plano activo, estendendo a sua influência para além do sector público, de modo a orientar, persuasivamente, também a actividade privada.

32. O transporte, ao realizar o deslocamento geográfico de pessoas e de bens materiais, intervém, necessariamente, em todas as actividades e desempenha função importante nos vários estádios do desenvolvimento Para além desta sua função mediadora, o serviço de transportes ocupa

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posição estratégica no quadro económico geral, impondo-se garantir-lhe condições de capacidade e de qualidade mínimas, por forma que as prestações oferecidas não constituam estrangulamentos críticos para as actividades sócio-económicas e possam contribuir, assim, para um maior dinamismo dos comportamentos humanos e empresariais.
Ao definirem-se as medidas de política de transportes, e deslocamento de pessoas e de bens não pode ser olhado apenas como um fim em si, mas á preciso operar a sua integração sistemática no quadro da política económica geral, com a preocupação de conferir maior eficácia ao seu contributo para o conjunto da economia.
Na organização do mercado de transportes, é indispensável ter em conta que a livre concorrência e as forças do mercado não estabelecem, só por si, o equilíbrio entre a oferta e a procura, nem o equilíbrio concorrencial. Daí a necessidade de intervenção dos poderes públicos, não só com a preocupação de organizar o mercado, mas também de prosseguir outros fins de política económica e social.
A evolução do sistema de transportes será, assim, enquadrada por determinados princípios que condicionam a actividade económica dos sujeitos interessados e introduzem limitações à intervenção do Estado ou das entidades profissionais. Nestes princípios, convém distinguir entre os que decorrem das relações do sector com as mais actividades económicas e aqueles que se situam no domínio próprio dos transportes.
Assim, temos, entre os princípios do primeiro tipo, os seguintes:

Integração sistemática da actividade de transporte no contexto geral da vida económica,
Promoção de igualdade de tratamento entre o transporte e os outros ramos de actividade,
Tratamento preferencial do transporte público, por este constituir a forma normal de satisfação das necessidades colectivas de deslocamento e por desempenhar um papel relevante na prossecução de objectivos sociais.

No domínio próprio dos transportes, é preciso assegurar:

A unidade funcional do sistema, pois os diversos meios de transporte não devem ser considerados isoladamente, mas como partes integrantes de um conjunto chamado a satisfazer as necessidades pelo mínimo custo económico e social,
A realização das trocas segundo regras que garantam o respeito e a promoção de uma concorrência sã, fomentando-se previamente a igualdade das condições competitivas de base como pressuposto da adequada liberdade concorrencial, salvas, porém, as diferenças estruturais e as obrigações de serviço público consideradas necessárias,
O direito de livre escolha por parte do utente, incluindo o recurso ao transporte por conta própria,
A igualdade de tratamento dos utentes que se encontrem nas mesmas condições económicas e sociais.

Os objectivos da política de transportes inscrevem-se no quadro anteriormente traçado e podem formular-se assim:
1.º A estrutura produtiva do sistema deve permitir uma adequação constante dos modos de transporte às necessidades justificadas dos utentes, cuidando da qualidade e quantidade das prestações oferecidas, o que implica grande receptividade às inovações da técnica e particular atenção às condições de segurança da exploração do serviço,
2.º O sistema de transportes deve garantir à colectividade o mínimo custo económico, realizando a conveniente repartição do tráfego e a complementaridade entre os diversos meios de movimentação,
3.º A organização do mercado de transportes deve promover as condições mínimas de rentabilidade das empresas, designadamente através de tarifação adequada, tendo em conta os custos de produção e a situação do mercado.
Finalmente, é de realçar que a política de transportes ocupa posição relevante no quadro dos esquemas gerais de desenvolvimento Nos períodos de expansão, o sistema é chamado a desempenhar importante função impulsionadora, que deverá ser convenientemente aproveitada, tanto nas suas incidências económicas como sociais.
Mas a execução de uma política de transportes com a amplitude e os reflexos estruturais que se delinearam pressupõe a possibilidade de exercer permanente acção coordenadora dos principais centros de decisão interessados, para se lograr real consistência entre os fins assinalados aos programas dos sectores dos transportes e destes com os de outros sectores da economia e garantir a necessária simetria dos efeitos, directos e induzidos, resultantes das diferentes medidas adoptadas.
Assim, no âmbito da política de transportes, procurar-se-á acautelar e estimular a efectiva coordenação económica das decisões e planos dos diversos sujeitos nela intervenientes, de modo que, no termo deste Plano, estejam criadas as bases de uma economia dos transportes devidamente concertada. Em traços gerais, será esta uma das principais funções do Plano, enquanto manifestação temporal de uma linha cociente de planeamento.

33. A natureza pluricontinental do território nacional, o desenvolvimento e a importância crescentes do turismo internacional e do comércio externo, designadamente no âmbito das integrações económicas, as transformações estruturais da própria actividade económica e cultural, acentuam o essencial papel estratégico dos transportes de longa distância, interterritoriais e internacionais.
No entanto, a garantia de um mínimo de serviços imposto pela unidade de soberania deve ser completada pela optimização económica deste ramo do sistema nacional de transportes. Resultarão, consequentemente, complexos problemas de organização da produção e do mercado e de criação de complementaridades eficazes nos chamados «pontos de interligação de transportes», designadamente portos e aeroportos.
Os problemas que actualmente se equacionam são, tipicamente, os de uma economia de dimensão grandes unidades transportadoras, com elevadas produtividades horárias exigindo apreciáveis volumes de capitais fixos o grandes tráfegos, com- encargos totais elevados, mas produzindo a custos unitários muito baixos. Há que progredir, portanto, na concentração crescente das empresas de transporte e no aumento e concentração de tráfegos, quer nas empresas transportadoras, quer naqueles pontos de interligação. Quanto a estes últimos, verifica-se dupla exigência possibilidades físicas e económicas para a recepção de mais unidades transportadoras, por um lado, as operações terminais mais rápidas do que as actuais, por outro.
Está-se, pois, em face de uma problemática complexa a requerer o estudo cuidadoso, completo e urgente dos transportes de longa distância e respectivos pontos de ligação Entretanto, haverá que iniciar desde já, com firmeza, o processo de concentração de tráfego num ou

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dois grandes portos e num ou dois aeroportos internacionais, definindo, conforme a orientação do Plano Intercalar em relação aos portos, uma programação flexível e atenta às realidades económicas e tecnológicas.

34. No tocante aos transportes interiores -terrestres, marítimos e aéreos- deverá aperfeiçoar-se igualmente a articulação com os pontos de interligação e estar atento às mesmas realidades, por constituírem, repete-se, componentes dinâmicas do sistema de transportes.
Haverá, também aqui, que adequar da melhor maneira a oferta à procura, tendo presente, como principais linhas de orientação, além dos ensinamentos da teoria económica e da experiência acumulada, as vocações próprias de cada modo e tipo de transporte, que desde logo se traduzem nos seguintes parâmetros directores.
1.º Um transporte ferroviário modernizado, capaz de alcançar elevadas produtividades e altas velocidades, só á rentável no transporte de grandes massas, tanto maiores quanto menor a distância; deverá tender cada vez menos a ser meio de transporte indiferenciado, de tudo e para todo o lado, e evoluir, progressivamente, para um transporte eficiente de certos tipos de tráfegos (tráfegos pendulares, do tipo suburbano, e de grandes massas, a elevadas velocidades e a longa distância);
2.º No transporte de grandes massas de mercadorias a granel, a cabotagem pode competir com o transporte ferroviário;
3.º Este, finalmente, deve ser completado pela exploração rodoviária, a qual operará, assim, dentro da sua vocação de transporte maleável para médias e curtas distâncias, ou para distâncias maiores desde que os tráfegos não justifiquem os elevados custos fixos do transporte ferroviário.

35. Por último, autonomizaram-se os transportes urbanos e suburbanos, cuja separação conceptual em relação ao interurbano constitui, em si mesma, um progresso no equacionamento e tratamento da problemática dos transportes.
Com efeito, encarar conjuntamente os transportes suburbanos e os urbanos pressupõe que a conjugação da oferta com a procura tenha de ser considerada em relação a um todo, cujas condições de funcionamento devem ser substancialmente melhoradas. A estruturação de organismos capazes de tratar, nesta ampla perspectiva, o conjunto dos problemas suscitados pelo tráfego nas grandes regiões de concentração urbana -problemas cuja complexidade técnica e económica transcende as possibilidades de estudo, planeamento e execução da actual organização das autarquias locais - será atentamente ponderada pelo Governo, com vista aos reajustamentos institucionais e às providências regulamentares e financeiras que se reconheçam adequadas.
No que respeita, porém, aos transportes por via rodoviária, do tipo pendular, que sirvam os arredores dos principais aglomerados populacionais, é imprescindível regulamentá-los de forma diferente da actual - que os reduz a meras ligações interurbanas. A nova regulamentação impõe-se, tanto por se lhes reconhecer plena autonomia económica e funcional, como para permitir melhoria» apreciáveis nos serviços prestados mediante a consagração de soluções de concentração da exploração Quanto aos transportes ferroviários de ligação com subúrbios das cidades de Lisboa e do Porto, haverá que proceder a ampla reestruturação, encarando-se mesmo quando o tráfego movimentado revista característica, claramente urbanas, o recurso a outros meios de transporte mais apropriados.

II) Orientações especificas

36. Não se enunciam desde já providências concretas, mas simples directrizes de tipo operacional, que, nos programas anuais de execução, serão convertidas em medidas de política Segue-se orientação diferente da adoptada no Plano Intercalar, devido à maior amplitude temporal deste III Plano e ao profundo significado estrutural da actuação prevista.
Adoptou-se também uma sistematização de tipo funcional, por modos de transporte, entendidos como conjuntos homogéneos de técnicas de deslocamento. Por sua vez, as providências agrupam-se consoante dizem respeito aos domínios dos equipamentos fixos ou da exploração. Nalguns subsectores pareceu, todavia, útil autonomizar as providências relativas à administração da função transportes.
Formulam-se, no entanto, algumas directrizes, que, por serem de carácter geral ou por não terem cabimento directo em nenhum dos domínios do esquema adoptado, se inventariam assim:

1) Elaboração de uma lei-quadro reguladora da coordenação geral dos transportes, onde viria a receber expressão normativa o esquema de política de transportes definido no Plano Intercalar e já traduzido em algumas realizações concretas,
2) Regulamentação de novas técnicas de desloca mento -nomeadamente dos transportes passivos ou contínuos-, tendo em conta os problemas de concorrência e de coordenação por elas levantados,
3) Disciplina da exploração dos transportes fluviais de passageiros, promovendo a concentração empresarial e a combinação das explorações interessadas,
4) Impulsionamento dos meios instrumentais de coordenação técnica dos vários meios de deslocamento, designadamente através da realização de estudos de conjunto, na sequência dos estudos parcelares levados a cabo pelos diversos subsectores e empresas interessadas,
5) Reforço da assistência às pequenas e médias empresas (divulgação de métodos de produção e de técnicas de organização, assistência financeira, programas de formação profissional, etc. ), com eventual institucionalização dos apoios oficial e profissional,
6) Estabelecimento de uma contabilidade nacional de transportes, devidamente discriminada por espécies e modos de deslocamento, e elaboração de estudos sobre custos e procura de transportes.

III) Transportes terrestres

a) Transportes ferroviários

37. No âmbito do transporte ferroviário, apontam-se as seguintes linhas de acção:

1) Contribuição do Estado no financiamento das infra-estruturas ferroviárias de interesse geral e de longa duração,
2) Continuação da elaboração de planos de modernização e equipamento, sucessivamente aperfeiçoados, tendo em vista a evolução do tráfego e a rentabilidade económica dos investimentos,

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3) Estudo de exploração económica da rede, segundo critérios não estritamente empresariais, mas antes tendo em conta também as necessidades e acções de desenvolvimento regional, com viste às correspondentes opções sobre a manutenção ou o encerramento de linhas e de estações,
4) Desenvolvimento, em função quer dos tráfegos actuais, quer de previsões de tráfegos futuros, do eixo Braga-Lisboa e das ligações internacionais, a constituírem linhas de penetração a partir daquele eixo, e especialização conveniente de certas estações ou recintos para o tráfego internacional de mercadorias e de outras instalações de exploração fundamentais para o tráfego interno,
5) Melhoria das ligações ferroviárias com as instalações portuárias,
6) Criação de condições favoráveis ao desenvolvimento de ramais particulares,
7) Saneamento da situação financeira da empresa ferroviária, designadamente através de um reforço considerável do seu capital social,
8) Controle permanente da evolução das despesas de exploração, reduzindo ao máximo os gastos não directamente rentáveis, sem, contudo, afectar a boa conservação do seu equipamento fixo e móvel,
9) Eliminação gradual das subvenções económicas de exploração e sua substituição por indemnizações compensatórias,
10) Prosseguimento da normalização das contas ferroviárias e da contabilidade analítica de exploração,
11) Adopção gradual de uma tarifação baseada nos custos e de uma maior publicidade dos preços,
12) Promoção de colaboração interprofissional através de integrações horizontais, participações financeiras e acordos de exploração conjunta,
13) Reorganização administrativa e económica de forma a incutir à empresa maior dinamismo empresarial e adequada autonomia de gestão, com eventuais repercussões no seu estatuto jurídico,
14) Dinamização da gestão comercial da empresa, promovendo a captação dos tráfegos mais adequados, em especial os de mercadorias em comboios completos e os de passageiros a grandes velocidades para longas distâncias,
15) Racionalização das operações de carácter técnico e administrativo, tirando partido da organização científica do trabalho e da mecanização em todos os domínios das suas actividades;
16) Finalmente, resolução de alguns dos problemas que se colocam no domínio da tecnologia.

Renovação da via e dos respectivos traçados de forma a garantir segurança, a permitir velocidades mais elevadas ou a eliminar certos estrangulamentos de capacidade, ao menos nas linhas ou troços de maiores tráfegos actuais e futuros,
Substituição progressiva da tracção a vapor pela tracção diesel e correspondente reestruturação das instalações oficinais,
Substituição do parque de material rebocado (carruagens e vagões) que, devido a sua longa utilização, nulo se encontre em condições de exploração satisfatória.
Especialização do material circulante,
Aumento da produtividade pela mecanização das operações terminais e simplificação e metodização destas,
Melhoria da sinalização.

b) Transportes rodoviários

38. Consideram-se em separado os objectivos respeitantes à infra-estrutura, à exploração e sua administração.

Infra-estrutural

1) Reestruturação orgânica e técnica da Junta Autónoma de Estradas de modo a assegurar a avaliação e selecção, em termos de rentabilidade económica, dos projectos técnicos de investimento e a elaboração de programas ajustados às exigências do sistema de transportes,
2) Aperfeiçoamento da coordenação e centralização da elaboração e controle do planeamento das infra-estruturas rodoviárias, actualmente disperso por vários departamentos públicos,
3) Institucionalização das relações das entidades responsáveis pela construção e manutenção das infra-estruturas com os outros sectores da actividade económica;
4) Revisão do Plano Rodoviário a luz da evolução sofrida pela estrutura dos tráfegos e dos meios de acção mobilizáveis.

Exploração

1) Institucionalização de uma concorrência sã no mercado de transportes, baseada nos custos reais e na qualidade do serviço, mediante as seguintes providências

Fixação do estatuto de acesso ao mercado e a profissão, de tipo predominantemente qualitativo, baseado na selecção e promoção empresariais a cargo da Administração e da organização corporativa,
Adopção de um sistema regional de concessões para serviços regulares de passageiros e mercadorias,
Definição de uma política de capacidade para os transportes não regulares, fundada em sistema flexível de contingentamento regional, periodicamente revisto com base em indicadores económicos seguros,
Reestruturação do sistema tarifário (preços reais, ou seja, preços baseados nos custos), com adopção progressiva, nomeadamente nos transportes não regulares, do sistema, de preços de referência, fiscalizado pela organização corporativa em colaboração com o Estado;
Aperfeiçoamento da transparência do mercado, através da adequada publicidade dos preços,
Harmonização das condições de concorrência entre empresas e modos de transporte, designadamente nos domínios técnico, fiscal e das oobrigações de serviço público
Obrigatoriedade e normalização da contabilidade geral das empresas de transporte, sujeita a fiscalização estadual e profissional

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2) Fomento da concentração económica das empresas rodoviárias de serviços regulares ou não regulares, de modo a conferir-lhe estrutura empresarial idónea e dimensão económica competitiva, mediante, designadamente.

Difusão de métodos modernos de gestão empresarial e das novas técnicas de transporte,
Realização, por parte do Estado e da organização corporativa, de programas intensivos de formação, qualificação e reconversão de mão-de-obra,
Prestação de assistência técnica e concessão de reduções ou isenções fiscais, como estímulo, nomeadamente, aos investimentos de produtividade à coordenação técnica e aos programas de formação e selecção profissional;
Apoio a criação de cooperativas e às integrações económicas verticais e horizontais das empresas de transporte.

3) Assistência técnica, pública e profissional, às pequenas e médias empresas nos ramos em que tenham justificação económica (v. g , transporte de mercadorias regionais a curta distância, de passageiros em táxis, etc. ),
4) Divulgação intensiva, por parte do Estado, das facilidades concedidas, dos conhecimentos técnicos e económicos básicos, dos mercados potenciais, nacionais ou estrangeiros, e organização de um sistema eficaz de informação económica conjuntural,
5) Fomento de desenvolvimento da indústria de transporte turístico e promoção da especialização dos transportes profissionais (v g , transporte de produtos perecíveis, de elevada qualidade, etc. ) através de equipamentos circulantes adequados e da própria especialização empresarial,
6) Definição e execução de uma política de viação rodoviária adequada às exigências de expansão dos transportes colectivos,
7) Actualização, harmonização e fiscalização eficiente do cumprimento da legislação social;
8) Conjugação mais eficaz da política de transportes e dos correspondentes programas de acção com outras políticas e programas sectoriais (v g , políticas turística e de desenvolvimento regional), quer pela via institucional (por exemplo, participação do sector em organismos ou entidades, públicas ou para-estaduais, de desenvolvimento regional), quer no plano da disciplina normativa das actividades económicas privadas (v. g , coordenação funcionai da indústria turística, designadamente da actividade das agências de viagens, com a indústria transportadora).
9) No campo da administração da exploração, mostra-se indispensável.

A nível da administração pública, prosseguir os esforços de revigoramento da capacidade técnica e administrativa, em especial dos sectores executivo e de administração consultiva, dados os graves desequilíbrios existentes entre estes e os de concepção e planeamento,

A nível da administração profissional, vitalizar os organismos corporativos do sector, reforçando as suas funções de disciplina da produção e do mercado, supletivas da acção estadual, e intensificando assim a sua colaboração com a administração pública,
Dar expressão institucional aos utentes de transportes em comum mediante a sua participação efectiva na definição da política sectorial e a sua representação em órgãos superiores de administração consultiva.

c) Transportes urbanos e suburbanos

39. Neste domínio, prevêem-se as intervenções seguintes

1) Regulamentação da exploração dos sistemas organizados de deslocamento rodoviário urbano e suburbano, tendo em vista concretizar a unidade de exploração e tornar mais eficiente a articulação das duas espécies de transporte,
2) Apoio à organização e expansão do transporte de passageiros em comum mediante a concessão de subvenções de equipamento, especificamente as de infra-estruturas, e de exploração, quando destinadas a compensar custos sociais,
3) Reorganização do acesso ao mercado do transporte de passageiros em regime de aluguer (serviço de táxis);
4) Reestruturação da indústria de distribuição urbana de mercadorias, com o fim de se instituírem unidades economicamente idóneas, actuando em perfeita conjugação com os operadores de médio e longo curso rodoviários e ferroviários,
5) Institucionalização da conjugação dos planos de transporte urbano com os planos urbanísticos, nomeadamente nas regiões de Lisboa e do Porto.

IV) Transportes marítimos

a) Marinha mercante

40. A evolução deste sector, ao longo do Plano, obedecerá às seguintes principais directrizes.

1) Prosseguimento da política de transportes marítimos adaptada ao condicionalismo nacional e internacional, compreendendo os seguintes aspectos.

Desenvolvimento da indústria da navegação marítima de modo a dispor-se de tonelagem que satisfaça 60 por cento das necessidades nacionais de transporte por mar,
Adequação permanente dos meios ou técnicas de transportes marítimos, em capacidade e em qualidade dos serviços, às necessidades da economia nacional, designadamente as de integração do espaço económico;
Consolidação de empresas economicamente bem dimensionadas e, tanto quanto possível, especializadas, com poder competitivo internacional e susceptíveis de assegurar, da forma mais económica e com o máximo rendimento social, a autonomia efectiva dos transportes ultramarinos,
Formulação das principais coordenadas da política comercial global orientadora das poli-

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ticas comerciais dos diversos operadores e impulsionadora da protecção eficiente à navegação nacional.

2) Concessão, sempre que possível, de prioridade ao pavilhão nacional no tráfego de e para o estrangeiro, promovendo-se paralelamente que as aquisições de mercadorias sejam feitas, quando as circunstâncias o permitam, na base F. O. B (e não C. I. F. , como presentemente se verifica),

3) Apoio à renovação e expansão da frota como meio indispensável para garantir a realização dos imperativos políticos e de defesa decorrentes da natureza pluricontinental do espaço nacional,
4) Conjugação dos programas da industria nacional de construção naval com os da renovação e ampliação da frota de modo que os armadores possam recorrer aos estaleiros nacionais em condições técnicas e económicas internacionalmente competitivas,
5) Promoção de complementaridades eficazes nos transportes de longa distância, sobretudo entre a molinha mercante e a aviação comercial, designadamente através da conjugação de explorações e da disciplina da concorrência,
6) Melhoria dos condições de exploração portuária com vista ao apoio eficiente à marinha mercante nacional.

b) Portos

41. Concretizar-se-á um conjunto de medidas que se impõem com premência na programação de complexos portuários eficientes. Visar-se-ão primordialmente as explorações portuárias de Lisboa e do Porto por forma a enquadrar os seguintes objectivos.

1) Completar o ciclo de reestruturação das orgânicas administrativas e dos métodos de gestão, na linha de uma administração portuária economicamente responsável e comercialmente activa, fundando as suas decisões em estudos técnicos e económicos devidamente fundamentados;
2) Valorizar a participação das actividades económicas interessadas na elaboração dos programas de gestão portuária;
3) Criar ou fornecer a expansão de serviços comerciais e de serviços instrumentais de organização e métodos e de estudo e planeamento convenientemente apetrechados de meios humanos e materiais,
4) Centralizar numa única autoridade a coordenação e o planeamento das diversas actividades operacionais do porto,
5) Definir as condições e os incentivos apropriados a concessão, a empresas idóneas, de explorações autónomas especializadas nas zonas portuárias;
6) Estabelecer um sistema de contabilidade analítica de exploração padronizada como contributo básico para uma gestão racionai e, por consequência, para maior segurança nas decisões e nos programas de investimentos,
7) Reorganizar a Divisão de Dragagens, do Ministério das Obras Públicas, em termos de serviço público industrial ou empresa pública, dotando-a, simultaneamente, dos meios financeiros indispensáveis ao seu reapetrechamento;
8) Finalmente, rever e actualizar os planos portuários vigentes de acordo com a política de desenvolvimento delineada para o conjunto dos portos metropolitanos.

V) Transportes aéreos

a) Aviação comercial

42. A evolução do sector obedecerá às seguintes directrizes.

1) Definição, em termos flexíveis, de uma política aeronáutica estruturada e coerente com as principais coordenadas da política económica geral e de outras políticas sectoriais (v. g a política de turismo), para o que serão reestruturados os organismos aos quais competirá a respectiva elaboração, revisão e interpretação, em função dos interesses, públicos ou particulares, em jogo;
2) Apoio oficial, no quadro da política definida, à continuidade do desenvolvimento da concessionária nacional por forma que se mantenha eficiente, com uma situação económico-financeira equilibrada e adaptada ao conveniente desempenho das suas funções;
3) Adequação da capacidade técnica e administrativa da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil às exigências de coordenação e fomento das diversas acções de desenvolvimento da aviação civil (em especial no domínio da formação profissional), às exigências de acompanhamento e fiscalização qualificada da actividade da concessionária e às de coordenação com outras actividades e organismos estaduais,
4) Prosseguimento dos estudos e das diligências já encetados para a mais íntima colaboração das empresas nacionais de serviços aéreos regulares, seja através de concentrações do tipo institucional, seja por acordos de exploração, seja por organização de serviços técnicos ou económicos comuns.

43. No desenvolvimento da rede de ligações internacionais regulares com o território nacional, continuará a procurar seguir-se uma política de partilha equitativa dos tráfegos entre as companhias dos países interessados, ou, pelo menos, de obtenção de garantias e direitos que oportunamente permitam tal partilha. Com efeito, só progressivamente a concessionária nacional poderá ir assumindo as posições que lhe cabem, mas é indispensável que, paralelamente, se protejam estas posições nos negociações bilaterais sobre direitos de tráfego que entretanto se realizem. Considera-se, com efeito, que para o estabelecimento de um fluxo importam igualmente os dois pólos que o geram, e tudo se fará para que a esta atitude correspondam serviços e facilidades que a justifiquem e façam aceitar.
A celeridade com que os Transportes Aéreos Portugueses possam ir assumindo as posições a que têm direito em todas as rotas regulares com direitos de tráfego em Portugal depende, em larga medida, das possibilidades de ir dispondo de uma frota cada vez mais ampla e actualizada - problema a que já se aludiu.

44. Prevê-se que durante este III Plano possam iniciar-se no continente e ilhas adjacentes novas ligações regulares interiores e serviços de táxi aéreo - regulamen-

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tados pelo Decreto-Lei n.º 46 898, de 10 de Março de 1966. Do interesse e da idoneidade da iniciativa privada dependera fundamentalmente, a criação desses novos serviços. Dado o âmbito nitidamente regional das novas ligações a estabelecer, haverão as empresas licenciadas de contar com as autoridades administrativas, distritais e municipais e, até, com entidades privadas, para, sob a fiscalização e, eventualmente, o auxílio da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil, poderem dispor de infra-estruturas adequadas.
Procurar-se-á estimular a eficiência dos serviços, evitando situações de exclusivo que eliminem a concorrência, mas não poderá esquecer-se que uma área como a do Portugal europeu é incompatível com a proliferação desregrada de empresas de transporte aéreo.
No que respeita às ligações entre as ilhas dos Açores, ir-se-ão desenvolvendo em função de critérios para o estabelecimento dos quais se deverá contar com os planos de desenvolvimento regional a delinear.
Em qualquer caso, porém, tem de prever-se uma acção do sector público coordenada com a da Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos, por forma a obter a solução economicamente mais vantajosa quanto às características dos aeródromos a construir e do material a explorar.

45. Reconhece-se o papel de promoção de novos centros e correntes de tráfego que têm desempenhado os voos de fretamento, designadamente os organizados por agentes de viagens segundo o regime de «tudo incluído». O crescimento das indústrias turísticas metropolitanas, designadamente no Algarve e na Madeira, terá de continuar a contar com a contribuição que esta modalidade de transporte lhe tem assegurado - e nada se fará, a médio prazo, para coarctar essa contribuição, a não ser na medida em que a concessionária nacional possa ir assegurando porte dessa capacidade de transporte. Não pode esquecer-se, com efeito, que a progressiva estabilização das novas zonas turísticas como centros de tráfego poderá levar à solicitação de autorizações para séries de voos de fretamento com frequências que os convertam praticamente em ligações regulares. Nestes casos, tanto a protecção dos legítimos interesses da concessionária, já reconhecida e praticada para as rotas que actualmente explora, como o próprio interesse nacional, aconselharão se procure converter essas ligações em verdadeiros serviços regulares, a explorar nos termos dos acordos bilaterais de tráfego aéreo firmados com os países de origem dos voos.
Adoptar-se-á, portanto, uma atitude de prudente liberalização, que há-de subordinar-se, segundo critérios a estabelecer com clareza e em harmonia com as convenções internacionais aplicáveis, à certeza prévia de que aos passageiros transportados para Portugal em voos fretados são proporcionadas condições de segurança, de cobertura de riscos e de garantia de retorno ao local de origem do voo equivalentes às dos passageiros dos voos regulares.

b) Aeroportos e apoio à navegação aérea

46. Até agora, têm-se dotado os aeroportos da rede nacional, na medida do possível, de condições que lhes consintam receber toda a espécie de tráfegos e satisfazer as exigências respectivas, mas sem critérios rigorosos que permitam estabelecer prioridades. Pensa-se que, com a rápida evolução tecnológica e respectivos aumentos de custos de infra-estruturas e equipamentos, confrontada aquela evolução com a relativa escassez de tráfegos nalguns desses aeroportos, dificilmente se poderá manter essa política. Chegar-se-á, assim, à selecção de aeroportos com interesse económico ou estratégico, que serão mantidos em constante nível de modernização, a par de aeroportos e serviços regionais, como será possivelmente o caso do Porto e de Faro, a não ser que se desenvolva nesta região, com grande intensidade, um turismo de qualidade.
Assim, cumpre ter presente, como condicionamento geral do esforço de expansão e actualização das nossas infra-estruturas destinadas à aviação comercial internacional, que não é viável, neste domínio, adoptar sistematicamente soluções de compromisso ou de transição - a menos que se queira correr o risco de ver o tráfego das grandes linhas internacionais desinteressar-se progressivamente de escalar o nosso país. O transporte aéreo internacional requer, para a sua eficiência e segurança, instalações aeroportuárias e de ajuda à navegação de impecável qualidade - e não lhe faltarão soluções alternativas, se os aeroportos portugueses, sobretudo o de Lisboa, deixarem de satisfazer os exigentes padrões internacionalmente praticados.
Aos aeroportos concorrenciais será dada maior autonomia administrativa e maior poder de decisão em rapidez e em latitude, além de grande poder contratual. Como orientações concretas para o exercício - e o controle - da actividade respectiva, apontam-se as seguintes.

Adopção de uma contabilidade analítica padronizada e fiscalizada,
Prática de preços baseados nos custos, tanto quanto a concorrência o permitir,
Participação substancial do Estado no estabelecimento das infra-estruturas.

Nada obsta - antes haverá vantagem, desde que os tráfegos cresçam o suficiente para permitir a administração autónoma - a que os aeroportos de apoio ao tráfego de longo curso ou os regionais passem a aeroportos concorrenciais, regendo-se pelas normas que acabam de ser enunciadas.

§ 4.º Investimentos

1) Considerações gerais

47. Os objectivos atrás enunciados explicam e justificam o elevado volume de capitais que se prevê investir no sector durante o período deste III Plano Tais investimentos devem, no entanto, subordinar-se a três condições fundamentais, que constituíram já preocupação dominante na elaboração do Plano Intercalar de Fomento.

Estudos técnicos e económicos globais acerca dos grandes empreendimentos e do enquadramento em que estes se inscrevem,
Capacidade de realização para a efectivação de cada projecto,
Medidas que permitam obter o máximo rendimento da exploração de cada projecto.

Nos casos em que não exista ainda uma análise económica devidamente fundamentada dos projectos, a sua concretização iniciar-se-á logo que esses estudos estejam concluídos, excepto nos casos de marcado interesse nacional, de investimentos de oportunidade e rentabilidade indiscutíveis e quando se trate de eliminar estrangulamentos vitais para o País. A finalidade destes estudos será garantir que os objectivos fixados se atinjam com a melhor economia de meios, mesmo nos casos em que não seja a rentabilidade directa dos empreendimentos a razão determinante da sua inscrição no Plano.
O quadro que segue resume os investimentos prioritários estimados para o sector

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Quadro - resumo dos Investimentos globais do sector dos transportes

[Ver tabela na imagem]

(a) O quantitativo destes três anos é de 70 600 contos, que foi dividido equitativamente entre eles.

48. Verifica-se, em primeiro lugar, a posição relativamente baixa dos valores programados para investimentos em transportes aéreos e aeroportos (15 por cento), quando comparados com os dos transportes terrestres (46 por cento) ou marítimos (39 por cento). Chama-se também a atenção para o elevado volume de capitais requerido pela marinha mercante (cerca de 29 por cento do total), o que se justifica dado que apenas foi dotada com cerca de 15 por cento do previsto no II Plano de Fomento e que não foi possível cumprir o programa delineado para o Plano Intercalar, por dificuldades de financiamento.
Deve ainda notar-se que cerca de 54 por cento dos investimentos são realizados no sistema de transportes de longa distância, com 14 por cento do total geral para os pontos de interligação portos e aeroportos.
Nos transportes terrestres, os maiores investimentos correspondem ao sistema ferroviário (48 por cento), o que exigirá a reconversão preconizada para a C P , ainda que à custa do acréscimo dos gastos; a infra-estrutura rodoviária absorverá 34 por cento dos dispêndios, o que está em relação com os elevados tráfegos que suporta. Quanto aos transportes urbanos de Lisboa e do Porto, a verba apresenta-se proporcionada aos tráfegos, sobretudo se se tiver em consideração que estes são exclusivamente de passageiros em transportes colectivos e incluem as centrais de camionagem, as quais não se localizarão só naquelas duas cidades.

II) Transportes terrestres

a) Transportes ferroviários

1) Rede geral

49. Para habilitar a C P a proceder à sua reconversão, será indispensável elaborar um plano global, com fases devidamente escalonadas nos programas anuais de execução.
Será a seguinte a distribuição dos investimentos.
Vias e obras de arte.
Estes elementos de infra-estruturas são factores condicionantes da velocidade, das cargas e da segurança; o estado actual da via justifica os investimentos programados, que se concentram, aliás, nas linhas de maiores tráfegos.
O projecto de renovação da via compreende a renovação integral de 1250 km de linha da rede básica (cerca de 65 por cento desta rede) e a renovação, com aplicação de carris recuperados em 767 km, dos troços prioritários da rede restante.

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O projecto de reforço e substituição de pontes constitui adicional ao projecto anterior.

Contos
Renovação da via ...................................... 1 800 000
Reforço e substituição de pontes ...................... 120 000
Modificações do traçado em via dupla General Torres-Campanhã e instalações complementares .......... 140 000
2 060 000

Electrificação, sinalização e telecomunicações

Estes investimentos requerem estudos complementares atentos, rigorosos e globais, destacando-se a importância da aquisição de equipamento de telecomunicações e a sinalização de plena via e estações.
O projecto de aquisição de equipamento de telecomunicações enquadra-se no projecto de melhoria geral da rede.
O projecto de aquisição de equipamento para electrificação das linhas destina-se a tornar mais eficiente a ligação da linha do Norte às cidades de Braga, Figueira da Foz e Tomar.
O projecto de sinalização e de estudos enquadra-se no projecto de melhoria geral da rede.
Contos
Aquisição de equipamento de telecomunicações ..............48 000
Aquisição de equipamento para electrificação das linhas ...45 000
Sinalização de plena via e estações ......................105 000
198 000

Aquisição do material de tracção

20 locomotivas Diesel ................................... 130 000
18 locomotivas eléctricas ............................... 126 000
24 composições de automotoras eléctricas ................ 290 000
10 automotoras Diesel ................................... 30 000
22 locotractores de manobras ............................ 40 000
616 000

Aquisição de 2 barcos......................................40 000
_____________
Aquisição de material rebocado

240 carruagens .......................................... 650 000
650 vagões .............................................. 130 000
Furgões ................................................. 30 000
_____________
810 000
_____________
Instalações de exploração
Contos
Equipamento para mecanização de cargas e descargas ....... 7 000
Estações especiais ....................................... 9 000
Melhorias gerais .........................................138 000
_____________
154 000
_____________
Instalações oficinais ............................................................50 000
_____________
Compromissos anteriores .................................. 182 000
_____________

Melhoria de explorações - Pretende-se automatizar maior número de operações nas linhas de grande movimento fomentar a circulação de vagões especializados de outras empresas, concentrar o movimento de mercadorias e passageiros em menor número de estações devidamente equipadas e estimular o desenvolvimento dos serviços comerciais (p m ).
Total global - 4 110 000 contos.
Prevê-se que o financiamento seja assegurado pelas seguintes fontes Fundo Especial de Transportes Terrestres (1 250 000 contos), crédito interno (1 860 000 contos) e crédito externo (1 000 000 contos).

2) Nas ferroviários de Lisboa e do Porto

50. A individualização destes dois nós ferroviários justifica-se pela sua importância e pelas incidências que têm na prestação de serviços internacionais, interurbanos e suburbanos Dentre os estudos económicos e projectos técnicos já elaborados, entende-se que as seguintes realizações devem merecer prioridade, além do plano global da C P. anteriormente preconizado.

Anulação de estrangulamentos nos grandes tráfegos suburbanos, melhoria das ligações para os tráfegos portuários de mercadorias, primeira fase de implantação das triagens e novas linhas - 600 000 contos.

Aprovado o programa pela entidade financiadora, prevê-se que o financiamento seja assegurado por intermédio do Orçamento Geral do Estado, possivelmente mediante operações de crédito externo.

3) Sociedade Estoril

51. Prevê-se que a Sociedade Estoril realize os seguintes investimentos contos:

Contos
Aquisição de material circulante ........................ 69 000
Melhoria de sinalização ................................. 10 000
Ampliação do equipamento oficinal ....................... 1 500
Adaptações da via às necessidades do tráfego ............ 18 900
98 400

Fonte de financiamento autofinanciamento privado

b) Transportes rodoviários

52. Nesta alínea só se tratará das estradas nacionais. A indispensabilidade de obviar a estrangulamentos já existentes, de dar às vias principais características que lhes permitam satisfazer as necessidades de um tráfego em rápido crescimento e de reduzir o atraso na execução do Plano Rodoviário obriga a fazer decidido esforço na remodelação das infra-estruturas rodoviárias e na construção de novas vias, designadamente nas regiões em que os estudos económicos indiquem que a sua baixa densidade entrava o desenvolvimento económico.
Propõe-se, assim, o Governo, além da realização de reformas da Junta Autónoma de Estradas, a efectuar com a possível brevidade, proceder aos seguintes investimentos.

1) Estradas do continente

Contos
Construção de estradas do Plano Rodoviário, incluindo as do Plano Coordenador com o Plano de Viação Rural e as do Plano do Nordeste Transmontano (700 km) ........... 900 000
Modernização de estradas que servem directamente Lisboa e Porto (Lisboa-Cascais, Lis-

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Contos

boa-Sintra, Lisboa-Malveira, Porto-Braga, Porto-Alto de Vilar) incluindo variantes (140 Km)....................350 000
Modernização das grandes estradas de tráfego internacional (Lisboa-Porto e ligação à fronteira) e de outras vias de acentuado
interesse turístico (240 km)................... 950 000
Beneficiação de outras estradas, incluindo recuperação de pavimentos, rectificações de traçados e supressão de passagens de nível (2700 km)......................................1 000 000
Estudos........................................ 92 000
Equipamentos................................... 50 000 3 342 000

2) Estradas das ilhas adjacentes
a) Madeira
Construção de estradas (8 km).................. 16 000
Pavimentação (17 km)........................... 7 000
Grande reparação, incluindo correcções de traçado (38 km)................................ 22 000 45 000

b) Açores
Comparticipação do Estado na construção da estrada nacional n.º 1-2ª, na ilha das Flores (7 km).................................. 4 000
Pavimentação (41 km)........................... 11 000
Grande reparação, incluindo correcções de traçado (65 km)................................ 27 000 42 000
3 429 000

Os investimentos relativos às estradas no continente serão financiados pelo. Orçamento Geral do Estado (l 605 000 contos), Fundo de Desemprego (800 000 contos) e autarquias locais (24 000 contos), prevendo-se ainda a possibilidade de recurso ao crédito externo, designadamente para obras nas estradas de acesso a Lisboa e ao Porto, nas grandes estradas de tráfego internacional e em outras vias de acentuado interesse turístico.
A viação rural é tratada no capítulo "Melhoramentos rurais" e os caminhos florestais estão incluídos no capítulo "Agricultura, silvicultura e pecuária".
Quanto aos investimentos referentes às ilhas adjacentes, prevê-se que tenham a seguinte distribuição (em contos):

[Ver quadro na imagem]

c) Transportes urbanos e suburbanos

53. Os maiores investimentos, tanto de organismos oficiais, como de empresas particulares, efectuar-se-ão sobretudo nas duas grandes cidades de Lisboa e do Porto

1) Metropolitano de Lisboa

54. A resolução dos problemas de transportes existentes na cidade, cuja tendência é para agravamento, e o equilíbrio económico desta empresa, requerem a aceleração do ritmo de construção das suas infra-estruturas. Considerando-se este investimento de alta prioridade, não se aguardará o termo dos estudos de rentabilidade económica, que vão iniciar-se com o III Plano, e prossegue-se desde já a fase imediata dos trabalhos. O programa considerado contempla a instalação da linha n.º 2, ou seja, a linha marginal entre Alcântara e Madre de Deus, numa extensão de cerca de 8 km, o que corresponde a completar a 1.ª fase. Com esta instalação, promover-se-á o estabelecimento de correspondências com eléctricos nos términos provisórios de Alcântara e da Madre de Deus, enquanto se não levarem a efeito os previstos prolongamentos da linha. A verba prevista para a conclusão da 1.ª fase da rede do metropolitano é a seguinte.

Construção e equipamento de 9,75 km de linha - l 200 000 contos.

Fontes de financiamento previstas autarquias locais e recurso ao crédito interno e externo.

2) Companhia Carris de Ferro de Lisboa

55. Esta empresa realizará os seguintes investimentos

Contos
Estudos......................... 500
Edifícios....................... 12 500
Infra-estruturas................ 16 500
Equipamentos.................... 149 600
Diversos........................ 25 300
204 400

Fonte de financiamento autofinanciamento privado.

3) Serviço de Transportes Colectivos do Porto (S. T. C. P.)

56. Os S. T. C. P. encontram-se na fase de conclusão de um plano de cinco anos, aprovado pelo Governo. No âmbito desse plano e na sua continuação, propõem-se aqueles serviços realizar os seguintes investimentos.

[Ver quadro na imagem]

Financiamento: Emissão de obrigações coberta pelas instituições da previdência (63 000 coutos), empréstimo do Fundo Especial de Transportes Terrestres (80 000 contos) e autofinanciamento (21 900 contos).

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4) Estações centrais de camionagem

57. Mantêm-se, agravadas pela evolução natural dos problemas de transportes, as razões expostas no Plano Intercalar de Fomento para o estabelecimento destes projectos.
Assim, de acordo com as prioridades estabelecidas em função dos tráfegos a servir, em que se salientam as das cidades de Lisboa e do Porto, preconiza-se o seguinte plano de investimentos.
Contos
Lisboa (Entrecampos, Alcântara, Areeiro e outras)................................. 93 000
Porto (sul, leste e outras)............... 68 000
Outros locais (Braga, Guimarães, Tomar, Viseu e outras)........................... 80 000
Total....................... 241 000

Fonte do financiamento Fundo Especial de Transportes Terrestres

111) Transportes marítimos

a) Marinha mercante

58. Os investimentos que passam a enunciar-se têm por base os estudos preliminares das necessidades já efectuados, sem prejuízo do seu reajustamento, nos programas anuais, em face dos estudos complementares a realizar. Por agora, apenas se inscrevem expressamente os investimentos destinados à renovação e modernização da frota, nos programas anuais de execução, ir-se-ão considerando as possibilidades de expandir a tonelagem total, por forma a atingir, em prazo razoável, o objectivo fixado quanto à percentagem de mercadorias a transportar pela frota nacional.

Passageiros Contos
Quatro navios para substituir os de 13 200 t a b. Pátria e Império e os de 21 000 t a b. Vara Cruz e Santa Maria.................................... 2 000 000
Dois navios para substituir os de 13 000 t a. b. Angola e Moçambique.............................. 1 000 000
Dois navios para substituir os navios de cerca de 7650 t a b Índia e Timor...................... 340 000

Carga.
Cinco navios de 12 500 t dw. para substituir os cargueiros de cerca de 9400 t. dw. Amboim, Benguela, Ganda, Luanda (9820 t dw.) e Lugela
(8200 t. dw.).................................... 700 000
Dois navios para substituir os cargueiros S. Tomé e Sofala (10 000/12 000 t. dw ).................. 200 000
Três navios de 2500/3000 t. dw tipo Ponta Garça.. 120 000
Quatro navios de 7000/9000 t. dw................. 450 000
Quatro navios de 9000/10 000 t. dw............... 520 000
Três navios de 4500 t. dw. tipo Açores........... 240 000
Três navios de 3000 t. dw........................ 150 000
Dois navios de 2000 t. dw........................ 80 000

Tanques
Três navios de 70 000/100 000 t. dw.............. 600 000
Total 37 navios.............. 6 400 000

Fontes de financiamento. Para a aquisição destes navios prevê-se que os financiamentos se efectuem.
Contos
Pelo Fundo de Renovação da Marinha Mercante (emissão do obrigações, sendo metade a tomar por intermédio do Orçamento Geral do Estado e metade a colocar no mercado de capitais)................. 1 200 000
Por autofinanciamento privado..................... 2 050 000
Por recurso ao crédito da construção (interno e externo).......................................... 3 150 000
6 400 000

b) Portos

59. Os investimentos a realizar em portos que vão referir-se foram estimados com base no estudo preliminar dos transportes de longa distância e em planos nacionais específicos para cada porto.

1) Porto de Lisboa

60. É a seguinte a discriminação dos investimentos previstos

Estudos e planeamento do porto
A verba para os estudos de fisiografia foi reforçada, a fim de facilitar a rápida conclusão desses estudos. Também se melhorou a verba para o estudo do planeamento global do porto, a fim de que este se conclua, em moldes técnicos e económicos modernos, nos primeiros anos do período do Plano.

Conclusão de obras em zonas especializadas - porto de pesca
Além da conclusão dos trabalhos previstos no contrato com a empresa concessionária, dever-se-á iniciar o estudo e a solução do problema dos fundos e do abrigo da entrada da doca.

Melhoramentos diversos nas infra-estruturas e superstruturas
A localização, dimensionamento e tipo de obras ficam dependentes das conclusões do plano do porto.

Equipamento portuário
O equipamento constitui, sem dúvida, em conjunto com uma exploração dinâmica a empresarial racionalmente coordenada, um dos aspectos essenciais para o funcionamento eficaz do porto. Haverá que desenvolver as especializações dos cais, equipando-os, designadamente, para o melhor tratamento de mercadorias a granel. A verba a investir não corresponde a todo o equipamento a adquirir, sendo a parte restante realizada através de concessões de zonas do porto a empresas idóneas, segundo contratos devidamente elaborados.

Estudos e planeamento geral do porto
Contos
Estudo da fisiografia do estuário do Tejo
Planeamento geral........................ 15 000

Conclusão de obras especializadas
Conclusão do porto de pesca.............. 25 000
Obras de melhoramentos de praias......... 20 000

Melhoramentos diversos de infra-estruturas e de superstruturas

Secção de Alcântara-Rocha................ 40 000
Secção a montante de Santa Apolónia...... 150 000

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Contos
Secção do Terreiro do Paço-Santos ....................... 120 000
Outras secções .......................................... 70 000
Obras novas de terminais portuários ..................... 200 000
Equipamento portuário, flutuante e terrestre ............ 130 000
800 000

Fontes de financiamento, Fundo de Abastecimento (15 000 contos), crédito interno e/ou crédito externo (500 000 contos) e autofinanciamento (285 000 contos).

2) Portos do Douro e Leixões

61. Há, em primeiro lugar, que concluir trabalhos iniciados.

Apetrechamento do cais de 700 m em Leixões;
Construção e apetrechamento do cais de 300 m em Leixões,
Instalações para descarga da sardinha,
Dragagem da doca n.º 2.
Na medida do possível, porém, aguardar-se-á a conclusão do Plano dos Portos do Douro e Leixões, a que se seguirá imediatamente a respectiva execução. O mesmo acontecerá com os seguintes projectos.

Prolongamento do cais de Gaia,
Cais de 370 m no lado norte da doca n.º 2,
Primeiro lanço da doca n.º 4,
Ampliação do plano de querenagem,
Linhas férreas,
Compra de terrenos.

Propõem-se os seguintes investimentos

Porto do Douro
Contos
Obras de infra-estruturas .................................. 30 000

Porto de Leixões

Estudos e diversos ......................................... 41 600
Instalações para pescado ................................... 72 600
Aprofundamentos e dragagens ................................ 13 400
Cais e apetrechamentos ..................................... 303 900
Linhas férreas ............................................. 14 000
Edifícios e instalações para serviços ...................... 20 000
Compra de terrenos ......................................... 56 000
Terminal de petróleos ...................................... 107 400
Plano de querenagem (ampliação) ............................ 23 000
Renovação de material ...................................... 21 000
702 900

Fontes de financiamento, autofinanciamento (505 400 contos) e recurso ao crédito interno (197 500 contos).

3) Pequenos portos

62. Quanto aos pequenos portos do continente, houve, por um lado, a preocupação de concentrar investimentos, segundo a orientação definida, nos portos comerciais, tais como os de Aveiro, Setúbal e Portimão, assim como no sistema de portos de pesca, tornando-os operacionais. Reconhece-se, contudo, que os resultados dos estudos de conjunto já referidos poderão originar reajustamentos do programa agora esboçado, designadamente com vista ao estudo do sistema de portos das ilhas adjacentes. São as seguintes as obras já previstas.

Pequenos portos do continente
Contos
Aveiro, Setúbal, Portimão, Viana do Castelo,
Figueira da Foz, Peniche, Vila Real de Santo António
e outros, turismo e protecção litoral ................... 320 000

Pequenos portos das ilhas adjacentes

Funchal, Ponta Delgada, Praia da Vitória, ilha do Pico, Vila do Porto e outros, turismo e protecção litoral .... 112 000

Estudos, ensaios e projectos ............................ 36 000
Frota de dragagens ...................................... 100 000
568 000

Fontes de financiamento previstas Orçamento Geral do Estado (300 000 contos), autofinanciamento (110 500 contos) e recurso ao crédito interno (157 500 contos).
Poderão ainda ser autorizadas obras portuárias de reconhecido interesse a executar por iniciativa privada nas zonas prioritárias de turismo, designadamente no Algarve (por exemplo, em Quarteira), e destinados a navegação de recreio, o respectivo financiamento deverá ser predominantemente assegurado pelas entidades privadas promotoras dos empreendimentos.

IV) Transportes aéreos

63. Como acontece com todos os modos de transporte de longa distância, também aqui os estudos devei ao fazer-se integrados no conjunto dos problemas postos por esses transportes. Haverá, no entanto, investimentos que devem e podem realizai-se desde já, com margem de segurança suficiente.

a) Aviação comercial

64. Os investimentos a efectuar pelos T A P em material de voo, incluindo motores e peças de reserva, a partir da capacidade resultante das encomendas já passadas e da evolução prevista para o tráfego, são da seguinte ordem de grandeza.
Contos
1968 .................................................... 415 000
1969 .................................................... 405 000
1970 .................................................... 22 300
1971 .................................................... 409 000
1972 .................................................... 795 000
1973 .................................................... 420 000
2 466 300

Este programa entende-se como suficientemente maleável para permitir as adaptações aconselháveis em face de novos tipos de aviões que entrem em exploração comercial.
Fontes de financiamento previstas autofinanciamento privado (493 300 contos), crédito externo (1 773 000 contos) e crédito interno (200 000 contos).

b) Aeroportos e apoio à navegação aérea

65. Apontam-se quatro acções fundamentais. Em primeiro lugar, verificar-se-á a tendência para uma concentração de investimentos no aeroporto de Lisboa,

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para a qual contribuem a nova aerogare e os estudos técnico-económicos que á indispensável realizar com vista ao futuro desdobramento ou mudança de local deste aeroporto Forque estes estudos podem indicar a conveniência de o aeroporto de turismo e o Centro Aeronáutico ficarem localizados, numa primeira fase, no aeroporto da Portela, estes dois investimentos deverão realizar-se apenas no 2.º triénio do Plano.
A criação de um centro de estudos e foi mação profissional devei á começar a ser estudada e executada na vigência deste Plano.
Deverão, além disso, ser devidamente equipados os centros regionais de telecomunicações, assim como todas as actividades de apoio à navegação aérea, a fim de garantir a segurança de navegação dos vários tipos de aviões.
A estrutura orgânica da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil deverá ser reforçada de forma a aumentar-se-lhe a capacidade de realização.

66. A verba global de 901 200 contos tem a seguinte discriminação.

Investimentos em aeroportos e apoio à navegação aérea

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui equipamentos e material para instrução e treino do pessoal e encargos com instrução a ministrar no estrangeiro.

Fonte de financiamento. Orçamento Geral de Estado (841 200 contos) e autofinanciamento do aeroporto de Lisboa (60 000 contos).

Duas indicações significativas cumpre sublinhar cerca de 75 por cento dos investimentos serão em obras e o volume de investimentos no aeroporto de Lisboa (37 por cento) é muito mais elevado do que os investimentos nos outros aeroportos No entanto, até ao fim do II Plano de Fomento o predomínio de investimentos no aeroporto de Lisboa foi ainda maior, se bem que, em valor absoluto, da ordem dos 25 240 contos/ano - enquanto no III Plano passará a ser de 56 066 contos/ano. Estes investimentos são justificados pelo volume do tráfego e pela regularidade e grandeza do seu crescimento, facto que não se verifica em nenhum outro aeroporto.
Os elevados investimentos realizados e propostos para o aeroporto do Sal, cujo tráfego tem manifestado tendência decrescente, justificam-se pela grande importância que se lhe atribui nas rotas de África, no condicionalismo actual Por motivos de ordem turística, foram criados dois aeroportos novos, Foro e Madeira, que importa agora completar do ponto de vista das edificações e equipamentos.
Os montantes inscritos para o desenvolvimento da infra-estrutura a criar no arquipélago dos Açores ascendem a 161 700 contos, a investir nos novos aeroportos de S. Miguel e da Horta. Com os investimentos previstos para Santa Maria (47 100 contos), a participação dos Açores no total cifra-se em 23 por cento O problema da rede de aeroportos açorianos é típico da nova fase de planeamento que tem de enfrentar-se. Garantido o acesso dos grandes aviões de reacção a Santa Maria, importa agora determinar a solução mais vantajosa para o transporte entre ilhas, equacionando características do material de voo, dos tráfegos e dos aeroportos - estes, nalguns casos, limitados por factores naturais. Parece, em princípio, que não se justificará ter no arquipélago mais de um aeroporto capaz de satisfazer as exigências operacionais dos aviões de longo curso, embora se reconheça que a situação actual não é a melhor.

67. São ainda os investimentos em obras que requerem as maiores verbas neste Plano de Fomento, com predomínio para a construção de edifícios. Entre estes, avulta a nova aerogare do aeroporto de Lisboa, que, com as obras complementares que implica, absorverá cerca de 40 por cento do valor total das obras a realizar.
Importa salientar, a tal respeito, que, mesmo admitindo o desdobramento do aeroporto de Lisboa durante o IV Plano de Fomento, é indispensável e urgente a construção da nova aerogare, sob pena de as grandes companhias internacionais se desinteressarem de vir a Lisboa, onde aos seus passageiros se deparariam instalações e serviços absolutamente incapazes. Acresce que, se a construção for decidida e executada com a celeridade que se impõe, o tempo de exploração que se antevê garante a recuperação do investimento, pois a própria existência de uma aerogare adequada permitirá que continue a regular expansão de tráfego que se vem registando em Lisboa.
A construção de pistas, caminhos de circulação e plataformas de estacionamento surge ainda com expressão significativa na Horta, S Miguel, «outros aeródromos» e aeroporto de turismo de Lisboa. Ao verificar-se que existe uma ordem cronológica que começa por expropriações, seguida da construção de pistas e de edifícios e, finalmente, da compra de equipamentos mais aperfeiçoados ou potentes, devem ter-se em atenção as implicações futuras de cada expropriação, cada nova pista ou coda novo edifício, traduzidas em novos investimentos. Tudo isto constitui ponderosas razões para que se elabore um plano a longo prazo, coerente e completo, baseado em critérios rigorosos, necessidade que se torna ainda mais aguda na fase de evolução em que se está entrando.

Secção II

Comunicações

§ 1.º Evolução recente o problemas actuais

I) Administração-Geral dos Correios, Telégrafos o Telefones (C. T. T. e A. P. T.)

68. O correio e as telecomunicações são serviços reconhecidamente indispensáveis às actividades económicas e administrativas, à defesa, à segurança das pessoas e das coisas e à vida social, bem como ao turismo. O seu desenvolvimento eficiente é basilar, designadamente no nosso país, na fase de valorização económica em que se encontra

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812 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

69. Os quadros seguintes dito uma ideia geral da procura e dos investimentos no período de 1955-1964.

Tráfego

[Ver tabela na imagem]

(a) Cartas, bilhetes-postais, impressos, amostras o jornais.
(b) Chamadas locais com limite de duração e chamadas Interurbanas por períodos de taxação de custo igual ao das chamadas locais.

Receitas

[Ver tabela na imagem]

Instalações

[Ver tabela na imagem]

Valor das instalações (a)

[Ver tabela na imagem]

(a) Valores do balanço aos preços de custo

A evolução das instalações telefónicas e de telex, em relação à população, encontra-se expressa no quadro que segue:

[Ver tabela na imagem]

O número de telefones e postos telex por atender tem também vindo a avolumar-se.

[Ver tabela na imagem]

Apesar do elevado ritmo de desenvolvimento do serviço telefónico e telegráfico, verifica-se ainda atraso apreciável na satisfação das necessidades públicas, dado não ter sido possível adquirir e instalar todo o equipamento necessário.
Não obstante a instalação do cabo coaxial Lisboa-Porto em 1961, com considerável aumento de circuitos, e do acréscimo do seu rendimento devido a automatização interurbana, a procura aumentou em tal medida que a situação é de novo difícil.
A situação actual evidencia, de forma geral, inadaptação da oferta à procura Como a oferta é insuficiente, a procura, apesar de muito elevada, não se manifesta em toda a extensão, sendo normalmente importante o volume das necessidades em potencial, que só se revelam totalmente quando é pouco demorada a sua satisfação.

70. A contribuição da indústria nacional no fornecimento do material correspondente à expansão registada no valor das instalações tem aumentado constantemente. Ultimamente, o recurso à importação foi apenas de 35 por cento nos C T T e de 20 por cento na A F. T.

71. Quanto à evolução do pessoal e sua produtividade, o quadro seguinte traduz o desenvolvimento observado no período de 1955-1964.

[Ver tabela na imagem]

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

72. A C P R M. é concessionária do Estado para a exploração das telecomunicações com o estrangeiro, ultramar e ilhas adjacentes, utilizando meios radioeléc-

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30 DE JUNHO DE 1967 813

tricos e cabos submarinos. Pelo Decreto-Lei n.º 47 038, de 2 de Junho de 1966, foi autorizada a prorrogação da concessão desta Companhia até 31 de Dezembro de 1991, alargando o seu âmbito, que até então abrangia somente ligações radioeléctricas.
A evolução das receitas de exploração no período de 1955-1964 foi a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

Os índices com base em 1955 mostram que a receita nacional, excluindo o ultramar, ultrapassou em 1964 o dobro da do ano de 1955 e que a receita internacional e ultramarina duplicou no mesmo período.

73. No que respeita ao apetrechamento das instalações no período de 1955-1964, o volume dos investimentos realizados totaliza 61 520 contos, a que corresponde a média anual de 6152 contos.

§ 2.º Objectivos

I) Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (G. T. T. e T. L. P.) (l)

74. Para os postos telefónicos e telex, o desenvolvimento previsto para o período de 1968-1973, baseado no crescimento da população e da procura por habitante, é o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

Tal desenvolvimento conduz às seguintes densidades de postos telefónicos e telex.

[Ver tabela na imagem]

Como se verifica, o crescimento projectado para os postos telefónicos conduz à densidade de 11,1 telefones por 100 habitantes em 1973, correspondente a um incremento anual da densidade telefónica de cerca de 8 por cento e a 60 por cento no conjunto dos seis anos deste III Plano.

75. O desenvolvimento das telecomunicações, representado pelo aumento de postos telefónicos e telex, implica:

a) A ampliação de centrais telefónicas e telex automáticas, a automatização de centrais telefónicas manuais, a ampliação de redes telefónicas locais e redes regionais,
b) O progresso da automatização do serviço telefónico local, aumentando sucessivamente o número de telefones com serviço permanente,
c) A ampliação da rede telefónica interurbana, no sentido de atingir o índice de escoamento de 1 km de circuito por posto, e a substituição por cabos de mais alguns traçados telefónicos interurbanos em fios nus, para melhorar a qualidade e a segurança do serviço,
d) O prosseguimento da automatização do serviço telefónico interurbano, aproveitando as facilidades que a evolução da técnica já oferece, com a dupla vantagem de se conseguirem soluções económicas e cómodas para os utentes, e o início dessa automatização ao serviço internacional.

76. Para o correio, prevê-se alargar o serviço por forma a cobrir todo o País. O desenvolvimento do correio exige pequenos investimentos, mas, em contrapartida, impõe grande aumento das despesas de exploração, devido à elevada utilização de mão-de-obra em muitas operações manuais insubstituíveis por mecanização.

77. Os efectivos de pessoal cujo volume se prevê indispensável no período de 1968-1973 são os seguintes:

[Ver tabela na imagem]

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

78. Tendo em conta a recente prorrogação da concessão outorgada a esta Companhia, o alargamento do âmbito dessa concessão a outros meios de comunicação - não só meios radioeléctricos, mas também cabos submarinos - e o facto de se encontrarem numa fase inicial os estudos de várias hipóteses quanto ao estabelecimento da novas ligações através desses meios, não se torna possível uma previsão segura relativamente ao período de 1968-1973, nos programas anuais de execução deste III Plano ir-se-ão referindo os resultados concretos desses estudos em matéria de investimentos e projectos.

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79. As necessidades de pessoal durante o período de vigência do Plano traduzem-se no recrutamento de 100 unidades, conforme o quadro seguinte:

Qualificação
Número
de
unidades
Pessoal técnico superior .................................... 5
Pessoal técnico médio .......................................30
Pessoal de exploração .......................................20
Pessoal de escritório .......................................20
Pessoal auxiliar ............................................25
100

§ 3.º Medidas de política

80. Serão postas em prática as seguintes providências, tendentes a fomentar o desenvolvimento do sistema de comunicações.
1) Criação de um organismo coordenador da política nacional de correios e telecomunicações,
2) Reestruturação da Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones, fundamentalmente melhorando as condições de admissão e fixação do pessoal, sobretudo dirigente, requisito indispensável para assegurar o serviço corrente e para que se executem os programas de expansão planeados,
3) Elevação das possibilidades de autofinanciamento, a fim de evitar .que os vultosos investimentos exigidos pelas instalações de telecomunicações, satisfeitos com chamadas de capital, possam pesar excessivamente sobre o mercado financeiro.

§ 4.º Investimentos

I) Administração-Geral dos Correios,
Telégrafos e Telefones (C. T. T. e T. L. P.)

81. A completa satisfação da procura dos serviços de correio e telecomunicações implica, no período de 1968-1978, a necessidade do investir 2 960 000 contos nos C T T , quanto aos T L P , a integral satisfação da procura dos serviços telefónicos, nos grupos de redes de Lisboa e do Porto, no mesmo período, exige o investimento de 2 020 000 contos.
Os investimentos totais previstos para o período de vigência deste III Plano, no continente e ilhas adjacentes, são os seguintes.

a) C T T.
Contos
Grupos de redes telefónicas automatizadas a ampliar .... 777 000
Grupos de redes telefónicas manuais a automatizar ...... 823 000
Grupos de redes telefónicas manuais a ampliar .......... 36 000
Cabos interurbanos ..................................... 388 000
Estações telefónicas interurbanas automáticas .......... 88 000
Telegrafia ............................................. 218 000
Edificações ............................................ 466 000
Material diverso ....................................... 164 000
2 960 000

b) T L P
Grupos de redes de Lisboa e do Porto ................... 2 020 000
4 980 000

Quanto aos C T T , prevê-se o seguinte esquema de financiamento.

Contos
Autofinanciamento ...................................... 2 060 000
Empréstimo externo ..................................... 200 000
Emissão de obrigações no mercado interno ............... 700 000

Em relação aos T. L. P , está previsto o recurso a autofinanciamento e ao Fundo de Aquisição da A P. T , de harmonia com o Decreto-Lei n.º 46 038, de 24 de Novembro de 1964.

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

82. Já se referiram as razões por que não é possível a definição de um programa individualizado de investimentos.
Julga-se, no entanto, que o montante global do investimento se situe entre 180 000 a 200 000 contos, incluindo as importâncias relativas a execução dos planos normais de modernização e ampliação das instalações actuais, bem como ao investimento incorpóreo necessário por virtude da prorrogação da concessão.
Prevê-se que o montante deste investimento venha a ser inteiramente coberto por autofinanciamento.

SECÇÃO III

Meteorologia

§ único. Serviço Meteorológico Nacional

83. O Serviço Meteorológico Nacional, instituído pelo Decreto-Lei n.º 35 836, de 29 de Agosto de 1946, assegura em plano nacional a satisfação das necessidades e obrigações do Estado nos domínios da meteorologia e da geofísica, os pesquisas e os estudos que realiza e as informações que fornece são indispensáveis à produção e circulação da riqueza, à salvaguarda da vida humana em terra, no mar e no ar e ainda à eficácia e ao progresso das actividades de interesse económico (aproveitamento de recursos naturais, agricultura, pecuária, pesca, indústria, transportes e turismo).
Para que o S M N se comporte com o grau de eficiência indispensável, para o que se torna imprescindível o apetrechamento do serviço com o material técnico e científico adequado, será necessário investir, no período de 1968-1978, a importância de 25 000 contos na metrópole.
Os investimentos previstos no equipamento para s meteorologia, para o período de vigência do Plano, na parte respeitante a metrópole, repartem-se, ao longo do respectivo hexénio, pela forma seguinte.

Serviço Meteorológico Nacional - Investimentos em meteorologia (continente e ilhas)
Contos
1968 .................................................... 8 000
1969 .................................................... 7 700
1970 .................................................... 4 700
1971 .................................................... 2 000
1972 .................................................... 1 400
1973 .................................................... 1 200
25 000

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Nos orçamentos ordinários anuais deverão ser previstas as verbas necessárias para o reapetrechamento destinado à geofísica.

Fonte de financiamento Orçamento Geral do Estado

CAPITULO IX

Turismo

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. À partir de 1961, a exportação de serviços de turismo tem vindo a assumir relevo rapidamente crescente na economia metropolitana, traduzido expressivamente pela posição da rubrica no crédito da balança de transacções correntes de menos de 8 por cento das exportações naquele ano ata cerca de 23 por cento em 1966. Os respectivos valores absolutos passaram de 890 000 contos para 7 476 000 contos, a preços correntes, o que corresponde, em preços constantes, à elevadíssima taxa média de acréscimo anual de 48 por cento.

2. Recorrendo, como indicador, ao número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros, confirma-se o progresso muito considerável e especialmente acelerado, também nos últimos seis anos, no que respeita aos turistas estrangeiros.
O quadro seguinte permite observar esse crescimento e identificar as principais nacionalidades representadas no conjunto das dormidas de estrangeiros em hotéis
e no continente e ilhas adjacentes.

[Ver tabela na imagem]

(a) Valores provisórios.

Vê-se a importância dos resultados da promoção turística nos cinco países discriminados, que representam, conjuntamente, cerca de três quartos do total Só à sua parte, o turismo inglês absorveu cerca de 25 por cento das dormidas totais, na sequência de comportamento recente muito dinâmico, também verificado, aliás, nos casos norte-americano e alemão. Em contrapartida, importa ter presente a inconveniência de exagerada concentração do número de visitantes em poucas nacionalidades, com efeito, a crescente concorrência internacional no agenciamento de correntes turísticas e a volubilidade de alguns factores determinantes desse fenómeno encerram perigos que não seria avisado menosprezar, descurando o adequado financiamento de uma indispensável promoção.

3. Não é ainda possível medir de forma inteiramente satisfatória a evolução do turismo interno durante os últimos anos Os dados estatísticos disponíveis para 1964, 1965 e 1966 revelam, entretanto, que o número de dormidas de residentes no continente e ilhas adjacentes, em hotéis e pensões, desceu 0,2 por cento (de 3550 para 3545 milhares) entre 1964 e 1965 e aumentou 0,6 por cento (de 3545 para 3565) entre 1965 e 1966.
Trata-se, porém, de indicação muito incompleta, porquanto se sabe que boa parte dos turistas nacionais utiliza meios complementares de alojamento (cosas particulares, parques de campismo, colónias de férias, etc. ), ainda não inteiramente cobertos pela informação estatística.

4. Se distribuirmos pelas diversas regiões o número de dormidas na hotelaria registado em 1966, verifica-se que, paia os turistas estrangeiros, 54 por cento se verificaram na legião de Lisboa (36 por cento na cidade), 4 por cento no Porto, 18 por cento no Algarve, 7 por cento nas praias da costa ocidental, 10 por cento nu Madeira e 12 por cento nas restantes regiões. O sentido da evolução recente corresponde à perda de importância relativa da cidade de Lisboa, parcialmente compensada pela subida dos seus arredores, o Algarve tem progredido rapidamente (representava apenas 8 por cento em 1961). Às outras regiões mantiveram, sensivelmente, a sua participação no total.
Quanto aos nacionais que utilizam estabelecimentos hoteleiros, nota-se procura muito disseminada fora dos grandes centros (46,1 por cento em 1966) e, por outro lado, forte afluxo a capital (29,2 por cento) e ao Porto (8,6 por cento) Salientam-se ainda o Algarve, as praias do litoral ocidental e a Madeira, com 5,2 por cento, 3,8 por cento e 1,4 por cento, respectivamente.

5. Embora as flutuações estacionais do movimento de turistas estrangeiros não se tenham agravado em anos recentes, elas constituem ainda factor desfavorável para a exploração das indústrias turísticas, o que, sem querer minimizar o problema, pode dizer-se constituir característica universal, como adiante se verá. Continua, com efeito, a verificar-se, em relação ao continente, grande concentração das dormidas nos meses de Agosto e, em menor grau, nos meses de Julho e Setembro, registando-se em 1966, nos meses citados, respectivamente 18 por cento, 15,5 por cento e 13,2 por cento, em relação ao total anual das dormidas. Quanto às ilhas adjacentes observa-se um desequilíbrio estacional muito menos acentuado do que no continente, com a época de ponta situada, na Madeira, durante os meses de Inverno (Janeiro a Março).
Salienta-se, no entanto, a especial incidência das flutuações estacionais nas regiões interiores do continente e nas praias situadas fora do Algarve e dos arredores de Lisboa.
As variações estacionais das dormidas de nacionais na hotelaria são também relativamente importantes e com andamento paralelo às referidas paia os estrangeiros, embora menos pronunciadas.
E evidente que este fenómeno da desigualdade de utilização da capacidade de alojamento ao longo do ano não é específico do nosso país, em escala maior ou menor, verifica-se em quase todos os centros de interesse turístico. O seu estudo e a aplicação das medidas julgadas necessárias são, porém, condição essencial para se obter uma exploração económica da rede hoteleira existente ou a instalar, e da eficácia das acções empreendidas dependerá, em grande parte, o valor dos frutos a obter da política de turismo.

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6. Relativamente à distribuição das dormidas de estrangeiros por classes de estabelecimentos hoteleiros, verifica-se que as proporções de dormidas em hotéis e pensões de 2.º e 3.ª classes têm vindo a decrescer continuamente, em contrapartida, tem subido de forma muito substancial a percentagem de dormidas em pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe; a taxa de dormidas em hotéis de luxo e de 1.ª classe tem-se mantido, grosso modo, estacionária, nos anos recentes. Em 1966, a distribuição foi a seguinte: hotéis de luxo e de 1.º classe, 54 por cento, hotéis de 2.ª classe, 16 por cento, hotéis de 3a classe, 3 por cento, pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe, 21 por cento; pensões de 2.ª e 3.ª classes, 6 por cento.

Ás dormidas de nacionais tendem a concentrar-se, muito mais do que as de estrangeiros, em estabelecimentos hoteleiros de baixo preço; com efeito, a repartição foi, em 1966, a seguinte hotéis de luxo e de 1.ª classe, 9,7 por cento, hotéis de 2.ª classe, 6,8 por cento, hotéis de 3.ª classe, 8,5 por cento, pousadas, estalagens, pensões de luxo e de l.ª classe, 24,9 por cento, pensões de 2.ª e 3.ª classes, 50,1 por cento

7. À capacidade hoteleira aumentou, no período de 1964-1966, a ritmo substancialmente mais rápido do que anteriormente, e o aumento médio anual do número de camas verificou-se sobretudo em hotéis de luxo e de l.ª classe (10,3 por cento) e em pousadas, estalagens, pensões de luxo e de l.ª classe (4,4 por cento), a capacidade dos hotéis de 2.ª classe progrediu (5,2 por cento) e a das pensões de 2.ª classe diminuiu (3 por cento).
Os aumentos da capacidade hoteleira no citado período fizeram-se sentir especialmente na região do Algarve e no distrito de Lisboa, regiões nas quais se concentrou praticamente todo o acréscimo das categorias superiores de estabelecimentos hoteleiros, sendo de admitir, em face dos projectos em curso, que durante os anos mais próximos se continue a verificar o mesmo facto.
Em 1966 registou-se a existência de cerca de 18 439 camas em hotéis de luxo e de l.ª classe, 12 546 nas restantes categorias de hotéis, 18 026 em pousadas, estalagens e pensões de luxo e de l.ª classe e 22 028 nas restantes pensões.
Apesar do crescimento recente da procura ter sido mais rápido do que o da capacidade, foram ainda baixas as ocupações médias verificadas em 1966. 30 por cento na metrópole, com um máximo de 53 por cento em Lisboa (cidade) e um mínimo de 21 por cento nas outras regiões não diferenciadas Para este facto contribuiu em forte medida a desigualdade estacionai da procura a que ]á se fez referência, mas deve também salientar-se que a capacidade hoteleira é ainda constituída, em mais de metade do total, por estabelecimentos situados fora das regiões turísticas e centros urbanos mais procurados, os quais nem nas épocas de ponta atingem índices de ocupação muito elevados; torna-se, pois, necessário, ao confrontar procuras com capacidades, proceder, no futuro, à análise regional que permita fundamentar essa comparação e evitar os erros grosseiros a que os números globais poderiam conduzir.

8. A evolução recente das indústrias turísticas portuguesas traduz, indubitavelmente, o alargamento ao País dos movimentos internacionais de turistas, cuja expansão acelerada é uma das manifestações mais características da progressiva capacidade das populações para a procura de serviços de carácter cultural, propiciadores de repouso intelectual e físico, ou simplesmente recreativos. Nos primeiros anos de arranque, o esforço concentrou-se na fixação e estímulo das correntes turísticas que nos procuravam, bem como na sua selecção, sendo certo que, inicialmente, esta operou de forma natural, em virtude de a situação geográfica do País encarecer relativamente as deslocações de turistas europeus. Outro factor que tende a garantir a estabilidade potencial dos acréscimos da procura é a relativa saturação do interesse por outras legiões, designadamente centro-europeias, de há longa data frequentadas pelo turismo internacional; isso tenderá a desviar paia a periferia da Europa as preferências dos turistas de países com mais elevados rendimentos per capita, fenómeno que já se observa em escala apreciável e de que o País pode beneficiar, como está acontecendo no Médio Quente, Europa de Leste e Norte de África. Afigura-se, pois, permanecerem as razões que no Plano Intercalar de fomento levaram a considerar o turismo como actividade motora do desenvolvimento económico nacional e a dedicar-lhe a atenção correspondente.

5 2.º Objectivos

9. Durante o período deste IDE Plano continuará o turismo a desempenhar papel de sector estratégico do crescimento económico, sob o duplo aspecto da exportação de serviços geradora de importantes afluxos de divisas estrangeiras e de catalisador de múltiplos efeitos induzidos noutras actividades, às quais proporcionará mercados importantes.
Permanece, pois, como objectivo fundamental, o tentar obter o máximo de vantagens da exploração de recursos naturais cuja valorização beneficia da preferência internacional, mas haverá que procurar racionalizar cada vez mais essa exploração e o esforço, designadamente financeiro, que se lhe dedique. Com efeito, se é certo que a metrópole oferece actualmente condições muito favoráveis à rentabilidade dos investimentos turísticos, é de esperar que a iniciativa privada, interna ou externa, continue, de modo crescente, a manifestar-se neste tipo de empreendimentos. O Estado, que tem vindo a encorajar por todos os meios o esforço da intensificação das actividades turísticas, em escala adequada à procura rapidamente crescente, poderá assim, progressivamente, remeter-se às funções que naturalmente lhe competem, designadamente a promoção e propaganda sistemáticas, o asseguramento de infra-estruturas básicas (de transporte, urbanísticas, etc. ) nas regiões e sub-regiões prioritárias, a orientação e informação técnicas e, evidentemente, a fiscalização atenta do bom uso dos recursos e da exploração criteriosa deste tipo de actividades.

10. Será, por conseguinte, à iniciativa privada que virá a caber o mais importante esforço de investimento em actividades hoteleiras e similares, a própria natureza exportadora das indústrias turísticas permite encarar francamente a possibilidade de boa parte do respectivo financiamento ser de origem externa, já que os rendimentos em divisas que a exploração das instalações origina compensarão largamente os encargos correspondentes.

11. O apoio financeiro do Estado às indústrias hoteleiras e similares continuará a exercer-se através do Fundo de Turismo, a importância desse apoio em valores absolutos deverá crescer, dada a rápida expansão que se espera continue a verificar-se, a posição relativa destes

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financiamentos deverá, mo entanto, ir diminuindo e tornar-se-ão certamente mais exigentes as condições para o acesso na actual conjuntura a capitais em condições tão vantajosas como as que o Fundo tem proporcionado até agora. Dentre essas condições, assumirão particular relevo as incidências sobre outras actividades produtivas nacionais - agrícolas, pecuárias, industriais, de transportes e outras- que a realização dos empreendimentos a apoiar porventura acarrete.
Paralelamente, porém, continuará a atribuir-se grande importância à concessão das facilidades e isenções decorrentes do instituto da utilidade turística, a fim de manter o estimula das entidades oficiais aos empreendimentos de valor turístico verdadeiramente nacional.

12. Os objectivos programados em matéria de turismo para o período de 1968-1973 assentam essencialmente nas previsões do afluxo de turistas estrangeiros a metrópole, pois é o mercado estrangeiro que comanda a expansão da capacidade hoteleira e das actividades turísticas complementares. O papel do sector público ao planear a expansão deste sector consiste essencialmente em delinear as perspectivas possíveis do aumento da procura e esclarecer em que medida irá intervir para o seu estímulo e para o apoio das iniciativas que a referida procura suscite; a actividade privada será assim possível, por seu turno, programar os empreendimentos com um conhecimento mais seguro das condições que irá defrontar.

Reconhece-se, no entanto, a incerteza de previsões deste tipo, dada a já referida volubilidade dos fluxos turísticos internacionais e a sua estreita dependência de variáveis económicas e sociais, para não referir as de carácter puramente subjectivo, alheias ao próprio sector das actividades e políticas turísticas. O esforço de promoção e de publicidade que irá intensificar-se visa também reduzir essa margem de incerteza, mas tem de contar-se, em qualquer caso, com a capacidade de resposta do sector privado para a realização dos vultosos investimentos requeridos pela previsão que o referido esforço de promoção fundamenta.

13. Adoptou-se, como variável definidora da evolução prevista e que comandará o investimento a realizar, o número de dormidas na hotelaria em território metropolitano. Para os turistas estrangeiros, prevê-se que a taxa anual de acréscimo respeitante ao número cie dormidas se aproxime dos 20 por cento., o que se afigura viável, atendendo aos 17,9 por cento realmente verificados no período de 1961-1966. Admitiu-se ainda que as proporções das dormidas de turistas de cada nacionalidade nas várias categorias de estabelecimentos hoteleiros permanecerão estáveis ao nível médio registado em anos recentes, estabilidade que, de resto, já tem vindo a verificar-se.
A previsão resultante para as dormidas de estrangeiros e nacionais e sua repartição por categorias de estabelecimentos hoteleiros é a seguinte:

[ver tabela na imagem]

14. A estimativa das receitas que poderão ser proporcionadas pela exportação de serviços de turismo carece de base estatística suficientemente rigorosa, com efeito, os processos geralmente seguidos para a recolha não permitem dispor de dados que definam tendências nítidas quanto à evolução das receitas médias por turista e por dia. Para situar ordena de grandeza, no entanto, adoptou-se o valor resultante para 1965 da divisão das receitas globais registadas (4,7 milhões de contos) pelo número de dormidas de estrangeiros na hotelaria (2,7 milhões), o que conduz aproximadamente a 1,7 contos
Receitas provenientes da exportação de serviços de turismo:
Milhares de contos
1968......................................................... 7,5
1969......................................................... 8,9
1970......................................................... 10,5
1971......................................................... 12,5
1972......................................................... 14,9
1973......................................................... 17,8

15. A previsão da capacidade hoteleira necessária, expressa em número de quartos, foi obtida a partir da previsões de dormidas indicadas anteriormente, tendo-se admitido que 10 por cento dos quartos serão de pessoa só e que a taxa de ocupação por classes de estabelecimentos em Agosto será a seguinte: hotéis de luxo e de l.ª classe, 85 por cento, hotéis de 2.ª classe, 95 por cento, outras, categorias, 100 por cento.
Estas hipóteses são justificadas pelo facto de, em princípio, parecer menos inconveniente encaminhar para meios complementares de alojamento, se necessário, os clientes que procuram os hotéis de menor categoria ou as pensões. Em contrapartida, considera-se necessário manter nos- hotéis de luxo e de l a classe uma margem de capacidade disponível, mesmo nos meses de ponta, que permita não ter que deslocar uma parte dos respectivos clientes para alojamentos de conforto inferior.
Ê-se conduzido aos resultados seguintes

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[ver tabela na imagem]

16. A estimativa das necessidades de mão-de-obra teve por base a previsão da capacidade hoteleira, os resultados de um inquérito efectuado pela Corporação dos Transportes e Turismo e ainda elementos apurados pelo Sindicato dos Profissionais da Indústria Hoteleira e Similares do Distrito de Lisboa. Admitiu-se que a relação entre o número de empregados e o número de quartos necessários se manterá, em cada uma das categorias de estabelecimentos hoteleiros, ao nível evidenciado pelo inquérito a que acaba de se fazer referência.

Total de pessoal por classes de hotéis

Milhares

[ver tabela na imagem]

Foi possível, no decurso dos trabalhos preparatórios do Plano, estimar a repartição destes números pelas diversas categorias profissionais, é, porém, para os postos mais qualificados que os empresários da indústria hoteleira encontram maiores dificuldades no recrutamento do pessoal, dado que o equipamento hoteleiro cresce mais rapidamente do que a oferta de profissionais nesta indústria, não só pelas dificuldades actualmente observadas neste domínio em todas as actividades económicas, como também pela falta de estabilidade no emprego em relação a celtas épocas do ano. Para obviar a possíveis estrangulamentos na expansão do turismo em Portugal, torna-se, pois, indispensável prosseguir e acelerar os esforços da formação profissional em curso, assegurando simultaneamente condições estáveis e atraentes ao exercício das profissões hoteleiras e turísticas em geral.

17. Prevê-se que em 1968 estejam a funcionar as seguintes escolas hoteleiras:
Alunos por ano
Escola de Alexandre de Almeida 250
Escola do Algarve 120
Escola do Funchal 100
Escola do Porto 100
570

Este número é manifestamente insuficiente, apesar de a indústria hoteleira contar com o afluxo de largo contingente anual que ingressa directamente na profissão e faz auto-aprendizagem nos estabelecimentos onde trabalha. O número de indivíduos legalmente admitidos apenas na área do Sindicato dos Profissionais da Indústria Hoteleira do Distrito de Lisboa atinge anualmente mais de 3000 inscrições e no continente esse número deverá subir a cerca de 4000 por ano. Estima-se, no entanto, que somente 30 por cento desse total se conservam na profissão, enquanto os restantes 70 por cento se deslocam para outras actividades. Revestem-se da maior importância as acções tendentes ao aperfeiçoamento e consequente fixação destes profissionais, o que se espera conseguir designadamente através da realização de cursos móveis e exames periódicos, que proporcionarão ensino paralelo ao ministrado pelas escolas hoteleiras.

§ 3.º Medidas de política turística

18. Já se deixaram apontadas as razões que levam a julgar pertinente defender a qualidade do turismo internacional que nos procura. Crê-se ser ainda possível percorrer longo caminho sem abandonar esta orientação, mas impõe-se, para tal, que ao predomínio de instalações hoteleiras de elevada categoria corresponda um serviço de qualidade e eficiência equivalentes .O estímulo do verdadeiro profissionalismo, em todos os níveis da exploração da indústria hoteleira, é, assim, uma das funções de maior alcance que aos serviços oficiais cabe desempenhar, mediante acções e providências de política turística que vão da formação e aperfeiçoamento profissionais à fiscalização propriamente dita.

19. Continuarão a considerar-se como regiões prioritárias aquelas onde é possível fazer turismo durante todo o ano ou em que a estação alta se estende por largo período o Algarve, a Madeira e a região de Lisboa. Durante o período abrangido pelo Plano proceder-se-á, no entanto, ao estudo do fomento turístico de outras regiões. Ter-se-á em atenção que interessa promover o aproveitamento turístico de todo o resto do território, procedendo para tal os serviços de turismo à fixação de itinerários de circuitos por onde se poderá desenvolver o turismo de passagem, a partir não só dos regiões prioritárias, como dos diversos pontos da fronteira, e indicando nos referidos circuitos os pontos de apoio para a instalação preferencial de estabelecimentos hoteleiros e similares. Não deixará também de ser tomada em conta a evolução do movimento turístico nas províncias ultramarinas, cujas potencialidades são praticamente

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inesgotáveis a natureza do clima, a beleza da paisagem, a originalidade dos costumes, as enormes possibilidades desportivas, nomeadamente no que respeita à caca e à pesca, tudo se conjuga para que, no período do Plano, o turismo registe no ultramar expansão verdadeiramente importante. Acresce que, na sequência do Congresso Nacional de Turismo, realizado em Outubro de 1966, em Loureço Marques, o Comissariado do Turismo e a Agência-Geral do Ultramar têm procurado estreitar o seu intercâmbio com vista à elaboração de um programa de noção conjunta.

20. Nas medidas de política turística que se sugerem teve-se em vista tudo aquilo que, havendo sido incluído no Plano Intercalar de Fomento, não foi possível concretizar até final do respectivo período de vigência, e, além disso, tomaram-se em consideração as novas exigências em face da evolução registada na actividade turística e da experiência do trabalho já realizado.

21. Crédito turístico -Neste domínio, além do reforço das disponibilidades financeiras do Fundo de Turismo, encara-se a adopção das seguintes medidas:
a) Prosseguimento dos trabalhos destinados ao aperfeiçoamento das normas de concessão de crédito, tendo em vista o que se previu no Plano Intercalar quanto à revisão da Lei n.º 2073, de 23 de Dezembro de 1954,
b) Aceleração dos trabalhos em curso no Fundo de Turismo no que se refere, designadamente, à obtenção de um controlo efectivo da administração dos fundos mutuados.

22. Regulamentação e incentivos no sector das actividades turísticas
a) Na sequência de estudos em curso, proceder-se-á à regulamentação das actividades de guias e intérpretes e das agências de viagens, será também ultimada a elaboração da carta hoteleira portuguesa e dos regulamentos para as várias formas de alojamento complementar;
b) Tendo em vasta as dificuldades que se levantam quanto aos elevados preços dos terrenos, prevê-se a fixação de normas de utilização de parcelas do domínio do Estado e, bem assim, a publicação de legislação que estabeleça efectivos obstáculos à especulação sobre terrenos O problema é especificamente tratado no capítulo «Habitação»,
c) Algumas formas de alojamento complementar deverão beneficiar de incentivos especiais, sempre que a sua instalação se imponha, quer como componente do equipamento de centros turísticos (tendo em vista a proporção desejada entre as várias formas de alojamento e atendendo ao nível que se pretende conferir a determinados centros), quer como únicas formas de alojamento economicamente viáveis em zonas com aptidões naturais mas com estações turísticas curtas,
d) No tocante a facilidades fiscais para o fornecimento de equipamento à indústria hoteleira e similares, traduzidas na concessão de isenções e reduções tributárias, proceder-se-á à revisão da regulamentação do instituto da «utilidade turística» e, paralelamente, dos benefícios fiscais a conceder.

23. Política de transportes aéreos - Os princípios orientadores da política aérea nacional durante o Plano, incluídos no capítulo «Transportes e comunicações», indicam que virá a ser possível contar com a contribuição dos voos fretados (em regime de «tudo incluído»), de especial importância na correcção das flutuações estacionais.

24. Publicidade - A publicidade, no que respeita ao turismo, tem papel de excepcional relevo como meio de criação e manutenção de mercados, devendo, na sua aplicação ao sector, ter-se em conta os seguintes objectivos e critérios.
a) Conseguir melhor distribuição estacionai, a fim de evitar a excessiva saturação da oferta nas épocas de ponta e obter uma taxa de ocupação média anual na hotelaria cada vez mais elevada,
b) Proceder ao estudo dos mercados em ordem a conhecer os que devem ser trabalhados prioritariamente, os meios publicitários a adoptar paia cada um e as motivações a evidenciar, completando-o com o estudo da penetração da propaganda por forma a tirar desta o maior efeito útil,
c) Promover a expansão do turismo interno, tendo em vista não só evitar a saída, em ritmo crescente, de turistas portugueses para o estrangeiro, mas também fomentar maiores níveis médios anuais de utilização do equipamento,
d) Fixar as verbas a atribuir & publicidade turística e relações públicas em função das receitas turísticas; considerando a provável evolução das receitas do turismo externo, as verbas que se previram para a promoção turística ao longo do período de vigência do Plano atingem valores que frisam bem a intensidade do esforço a despender neste domínio.

25. Formação profissional - Com a criação do Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira, pelo Decreto-Lei n.º 46 354, de 26 de Maio de 1965, procurou-se alargar, intensificar e aperfeiçoar a preparação dos profissionais do turismo e das actividades com ele mais directamente relacionadas. Haverá que prosseguir na tarefa de ampliação do número de escolas, na concessão de bolsas de estudo e na organização de cursos de aperfeiçoamento a todos os escalões, sendo de salientar a organização de cursos para pessoal dirigente, principalmente na hotelaria, pois só assim será possível incutir em muitos empresários a mentalidade indispensável para uma colaboração efectiva na resolução dos problemas existentes.

26. Política do núcleos turísticos - De modo genérico, a meta a atingir traduzir-se-á no equilíbrio entre as necessidades da concentração e os inconvenientes da aglomeração excessiva. A salvaguarda dos valores naturais e humanos constituirá também preocupação permanente.
Deverá ser elaborado um conjunto de normas essencialmente destinadas a orientar a ordenação urbanística das zonas e centros de desenvolvimento turístico intensivo Serão adoptadas medidas de promoção de carácter selectivo, para tentar o encaminhamento da iniciativa privada, embora de forma não compulsiva, e que irão desde o simples factor psicológico que representa a publicação de um programa oficial e a inscrição de investimentos prioritários que se pretende ver concretizados até incentivos mais concretos.

27. Abastecimento de produtos alimentares nas sonas turísticas - A forte estacionalidade que caracteriza a actividade turística, a par do fraco volume de procura por parte dos residentes em algumas regiões, o que acen-

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tua o desequilíbrio entre a baixa e a alta estação, dificulta o estabelecimento de circuitos de distribuição, pela fraca rentabilidade que ao longo do ano estes teriam.
Em tais casos, afigura-se de especial interesse ensaiar a adopção de medidas conducentes ao estabelecimento de associações, quer de hoteleiros, quer de produtores, que facilitem a celebração de contratos.
A organização da procura permitirá maior e mais estável volume de compras e este criará incentivos à própria produção, que assim verá minorados os riscos que advêm da incerteza quanto à colocação dos seus produtos.
A par destas iniciativas e em coordenação com outros sectores de actividade, estudar-se-ão medidas de fomento da produção e estabelecimento de circuitos de comercialização adequados.

28. Reorganização aos serviços responsáveis pela concepção e execução da política de turismo. - Proceder-se-á ao estudo da reorganização dos órgãos locais de turismo, com vista, por um lado, a mais atenta consideração dos problemas de ordem regional nas soluções nacionais, e, por outro, à integração das soluções de âmbito regional nas directrizes definidas para todo o território

29. Preços - Deverá prosseguir-se adequada e vigilante política de preços, dado que estes constituem um dos motivos fundamentais da atracção turística As necessidades de actuação implicam a prática de um regime de preços maleável por parte dos próprios empresários, antecedido do necessário esclarecimento da actividade privada.

30. Facilidades administrativas -Deverão ser ampliadas na medida do possível, sobretudo no que respeita ao aligeiramento de formalidades, as facilidades que neste domínio têm vindo a ser concedidas.

31. Termas - Dado que boa parte da capacidade hoteleira da metrópole se localiza em estâncias termais, serão estudadas providências conducentes à renovação desse equipamento, já que os estudos realizados nesta matéria deixam antever maiores possibilidades de aproveitamento dos recursos termais.

32. Recolha de dados estatísticos - Em face do desenvolvimento verificado no sector do turismo e das suas repercussões na economia nacional, deverão prosseguir os esforços para a obtenção de dados de natureza estatística cada vez mais completos, a fim de permitir programar e executar com segurança a política nacional de turismo.

§ 4.º Investimentos

I) Investimentos na Industria hoteleira e similares

33. Para estabelecer as estimativas de investimentos na indústria hoteleira, tomou-se por base a previsão do número de quartos correspondente à capacidade de alojamento necessária no período de vigência do Plano, a capacidade prevista para o fim de 1967 e os valores de custo de instalação das várias classes de estabelecimentos. Tais elementos foram conjugados com factores de ordem conjuntural e de viabilidade material de realização, traduzidos nos seguintes pressupostos:
a) Será de dois anos o período médio para construção e apetrechamento de uma unidade hoteleira,
b) A capacidade a atingir em cada ano deverá verificar-se no inicio desse ano, por forma a poder fazer-se o adestramento funcionai antes da época de maior actividade turística;
c) A capacidade prevista paia 1968 presume-se atingível por força de investimentos a efectuar no biénio de 1966-1967, anterior ao período de vigência do Plano, considerando-se ainda suportados em 1967 encargos parciais com a primeira fase de instalação dos estabelecimentos que poderão iniciar a sua actividade em 1969,
d) E de prever o acréscimo anual de 5 por cento sobre os custos de 1967, estimados do seguinte modo:

Contos por quarto

Hotéis de luxo e de l.ª classe.........................................360
Hotéis de 2.ª classe ...................................................200
Hotéis de 3.ª classe....................................................150
Pousadas, estalagens e pensões de luxo e de l.ª classe..................250

Coordenando todos estes dados, chega-se à seguinte estimativa, respeitante ao hexénio de 1968-1973

[ver tabela na imagem]

34. Embora se não disponha de dados suficientes para a previsão exacta de investimentos na instalação de restaurantes e estabelecimentos similares, afigura-se conveniente estimar, ainda que grosseiramente, os investimentos nestes tipos de estabelecimentos com interesse para o turismo, tendo-se adoptado como ordem de grandeza para os seis anos 300 000 contos.

35. Embora se encontre ainda em estudo a planificação urbanístico-turística para algumas regiões do País, é possível definir, em princípio, o desenvolvimento a dar à rede de pousadas e outros estabelecimentos hoteleiros do Estado, a realizar pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Os investimentos corresponderão, neste domínio, à construção de pousadas em edifícios.

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próprios e à adaptação a estabelecimentos hoteleiros de imóveis classificados de monumentos nacionais ou de interesse público.
Esta fórmula do aproveitamento de monumentos justifica a fixação da verba anual de 10 000 contos prevista como necessária para dotar a rubrica "Pousadas e outros estabelecimentos do Estado".

II) Investimentos em promoção turística

36. Uma vez que todo o planeamento tem em vista um desenvolvimento harmónico e que este só se obtém mediante o equilíbrio dinâmico entre a procura e a oferta, terá de ser também através de intenso esforço promocional que o referido equilíbrio deverá ser procurado.
Assim, dado o Importante papel desempenhado no sector do turismo pela publicidade e pelas relações públicas, houve que fixar as verbas a atribuir à promoção turística em níveis adequados à concretização do objectivo de crescimento fixado, a partir do qual, como se referiu, se estimaram as capacidades a instalar e os respectivos investimentos Fixando como critério de atribuição de meios financeiros à promoção turística uma percentagem de 3 por cento das receitas (coeficiente que a experiência de outros países leva a considerar modesto), conclui-se que os dispêndios em acções deste tipo deverão atingir, ao longo do período de vigência do Plano, a ordem dos 1740 000 contos, dos quais caberão no Estado cerca de 0,9 milhões, o que determinará um reforço das dotações ordinárias consignadas ao Comissariado do Turismo.

III) Investimentos na formação profissional

37. O incremento do número de novos estabelecimentos cuja inauguração se prevê para o período do Plano vem realçar a acuidade do problema de formação de pessoal especializado.
Fez-se, assim, a previsão anual das verbas para instalação de novas escolas Nessa previsão não se entrou em conta, por carência de elementos de apreciação, com a necessidade de renovação dos quadros por morte, velhice, invalidez ou abandono da profissão Também se não incluíram as solicitações dos estabelecimentos similares, que se deverão acentuar, mormente no que respeita aos restaurantes independentes (pessoal de mesa e de cozinha).
A estimativa de encargos reportou-se exclusivamente à formação de pessoal para a hotelaria - sector onde o problema é já hoje particularmente grave. Por outro lado, não há dúvida também de que dentro em breve se tornará necessário incrementar a formação de outro tipo de pessoal indispensável no sector turístico, como seja o pessoal das agências de viagens, guias e intérpretes, etc.
O quadro que se segue indica o valor considerado indispensável no que respeita à formação profissional, a acrescer por meio de dotação directa ao Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira prevista no Orçamento Geral do Estado às dotações ordinárias que o Fundo de Turismo e o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra atribuem ao mesmo Centro.

[Ver Quadro na Imagem].

IV) Investimentos em infra-estruturas e complementos turísticos.

38. Muito embora na designação em epígrafe fossem de considerar todas as infra-estruturas urbanísticas e de comunicações, somente se fará aqui menção dos investimentos de interesse específico para o turismo não enquadrados nos programas de outros capítulos do Plano.
Estabeleceram-se, como a seguir vão indicados, valores de previsão para investimentos em obras de conservação e utilização de arribas e praias, regularização fluvial em zonas turísticas, conservação e recuperação de edifícios e monumentos nacionais, pavimentação de caminhos florestais de interesse turístico e, complementarmente, de fomento e protecção da caça e da pesca, como elemento de atracção.

a) Conservação a utilização de arribas e praias.

39. Com o acréscimo de empreendimentos turístico - balneares em toda a orla marítima metropolitana e principalmente no Algarve, acentua-se a necessidade de proceder à defesa conveniente das arribas e praias contra a acção erosiva natuial e derivada do próprio aproveitamento turístico. Para a execução das obras necessárias, serão reforçadas as dotações da Direcção-Geral dos Serviços. Hidráulicos com a verba total de 42 000 contos, escalonada ao longo do período do Plano pela forma seguinte.

Contos

1968 4 000
1969 6 000
1970 7 000
1971 8 000
1972 8 000
1973 9 000
42 000

b) Regularização fluvial em zonas turísticas

40. A fim de obviar a problemas de inundações e formação de zonas pantanosas, com reflexos perniciosos para o turismo, toma-se necessário proceder a obras de regularização fluvial, correcção torrencial e cobertura.
As verbas previstas para o efeito são as seguintes.

Contos

1968 2 000
1969 4 000
1970 6 000

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Contos
1971 7 000
1972 8 000
1973 9 000
36 000

Por se reconhecer aconselhável evitar a dispersão que resultaria de as dotações serem consignadas a mais de um Ministério, serão aquelas atribuídas também a Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, sem prejuízo da colaboração que venha a reconhecer-se necessária com outros departamentos do Estado.

c) Conservação e recuperação de edifícios e monumentos nacionais

41. É óbvio o interesse da conservação e recuperação de edifícios e monumentos que, para além do seu valor histórico e cultural, podem oferecer interesse marcadamente turístico que os valorizem também do ponto de vista económico.
Para tal fim, prevê-se dólar a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais com a verba de 30 000 contos (5000 contos anuais), estando desde já prevista a recuperação do Castelo de Lenia e a instalação do museu do Mosteiro de Alcobaça.

d) Pavimentação de caminhos florestais

42. O aproveitamento turístico de zonas florestais impõe o melhoramento dos caminhos quo lhes dão acesso, os quais, paia oferecerem as necessárias condições de circulação rodoviária em tráfego intenso, exigem a pavimentação com revestimento betuminoso.
Pela Direcção-Geral dos Sei viços Florestais e Aquícolas, prevê-se a realização de obras no montante de 9000 contos (1500 contos anuais).

e) Fomento e protecção da caça e da pesca

43. O fomento da caça e da pesca constitui relevante valorização do património turístico nacional, estimando-se que, pela Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, serão paia o efeito despendidos cerca de 3000 contos (500 contos anuais).

44. Assinalam-se, finalmente, os problemas da construção do redes de esgotos e da captação e distribuição de água, problemas que se põem com especial premência naquelas regiões onde a concentração dos meios de recepção mais se fará sentir, ou seja, as de Lisboa e do Algarve.
Como os problemas acima indicados podem acarretar estrangulamentos muito graves ao ritmo de expansão deste sector, se não forem resolvidos em tempo, com todas as consequências desfavoráveis que de tal facto derivariam, será necessário dotar as câmaras municipais - entidades responsáveis por aqueles tipos de infra-estruturas - com as verbas extraordinárias indispensáveis para fazerem face aos investimentos respectivos.

45. O resumo dos investimentos programados no turismo, para o período de 1968-1973, é o seguinte.

Investimentos.

Indústria hoteleira e similares

Contos

Hotéis de luxo e de 1.ª classe 6 500 000
Hotéis de 2.ª classe 1 050 000
Hotéis de 3.ª classe 20 000

Contos
Pousadas, estalagens, pensões
de luxo e de 1.ª classe 2 000 000
Restaurantes e similares 300 000
9 870 000

Promoção turística 1 740 000
Formação profissional
Hotelaria 120 000

Infra-estruturas e complementos.

Conservação e utilização de arribas e praias 42 000
Regularização fluvial em zonas turísticas 36 000
Conservação e recuperação de edifícios e monumentos nacionais 30 000
Pavimentação de caminhos florestais 9 000
Fomento e protecção da caça e da pesca 3 000
120 000
11 850 000

V) Financiamento

46. Como já se referiu, o nível de participação do sector público na cobertura do investimento previsto calculou-se equacionando a lápida expansão, que se deseja estimular e orientai, com o papel predominante que deve ser desempenhado pela iniciativa privada Assim, os financiamentos por parte do sector público não são colocados em dependência estreita do ritmo de incremento que vier a verificar-se, antes se fez depender esse ritmo do esforço a desenvolver pelo sector público em matéria de promoção (publicidade e relações públicas). Será, pois, a iniciativa privada que competirá adaptar-se à evolução da procura prevista no Plano.
Quanto aos financiamentos a realizar através do Fundo de Turismo e da Caixa Nacional de Crédito, desde já se referem como critérios de preferência a associação dos empreendimentos hoteleiros propriamente ditos à realização de investimentos noutros sectores complementares (uns e outros integrados em centros turísticos), ao impulso de novas legiões turísticas prioritárias, & valorização paisagística, a realização de infra-estruturas urbanísticas ou de comunicações, à efectivação de encomendas as indústrias nacionais de bens de equipamento e a iniciativas de formação profissional.
A aplicação destes critérios de preferência dependerá, no entanto, da prévia verificação de certos pressupostos essenciais no tocante à rentabilidade dos empreendimentos, à observância de determinados parâmetros de custos e a outros elementos a considerar no estudo o apreciação dos pedidos apresentados.
E neste entendimento que se indica a seguinte cobertura financeira para os investimentos previstos

Indústria hoteleira e similares

Contos
Fundo de Turismo (receitas próprias) 450 000
Caixa Nacional de Crédito (empréstimos com garantia do Fundo de Turismo) 750 000
Fundo de Turismo (dotações extraordinárias) 390 000

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Contos

Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (dotações extraordinárias) 60 000
Autofinanciamento privado (a) 8 220 000
9 870 000

Promoção turística

Fundo de Turismo (receitas próprias) 150 000
Fundo de Turismo (dotações extraordinárias) 330 000
Órgãos locais de turismo (receitas próprias) 60 000
Autofinanciamento privado 1 200 000
1 740 000

Formação profissional

Centro Nacional de Formação Turística e
Hoteleira (dotações extraordinárias) 120 000

Infra-estruturas e complementos

Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos
(dotações extraordinárias) 78 000
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (dotações extraordinárias) 30 000
Direcção-Geral dos Serviços Florestais e
Aquícolas (dotações extraordinárias) 12 000
120 000
11 850 000
(a) Com eventual recurso a crédito externo

Prevê-se, em resumo, que o financiamento no turismo para o hexénio de 1968-1973, se distribua pelas seguintes fontes financiadoras Orçamento Geral do Estado (510 000 contos), órgãos locais de turismo (60000 contos), Fundo de Turismo (600 000 contos), mercado financeiro (510 000 contos), Caixa Nacional de Crédito (750 000 contos) e autofinanciamento privado (9 420 000 contos).

CAPITULO X

Educação e investigação

Introdução

1. O presente capítulo abrange as mesmas matéras que constituíram objecto do corresponder te capítulo do Plano Intercalar do Fomento Dá-se assim continuidade à orientação inovadora que nesse Plano se consagraria.
Os dois primeiros planos de fomento haviam tido - pode dizei-se - carácter exclusivamente económico Dava-se neles guando, à investigação, mas só à investigação aplicada ou tecnológica, exercida fora do âmbito da escola, sob a superintendência de outros Ministérios que não o da Educação Nacional, nalguns ramos directamente ligados os actividades produtivas de que se ocupavam os
planos Também se contemplava o ensino técnico, por serem, do mesmo modo, imediatos e particularmente visíveis os, seus laços com a produção económica, ainda assim, apenas se lhe concederam verbas para a aceleração do ritmo das, construções escolares.
Outro foi o caminho por onde enveredou, resoluta e francamente, o Plano Intercalar. Abriu as portas, sem limitações, a todas as formas de actividade educacional e investigadora Estabeleceu o ciai o principio de que nos planos de fomento deviam figurar todas as modalidades de acção tendentes a contribuir para a formação e aperfeiçoamento da personalidade, ainda para além do ângulo puramente intelectual, e bem assim todas as modalidades de acção destinadas a fazer progredir a ciência e a técnica, ou sujam, respectivamente, os conhecimentos desinteressados (investigação fundamental) e os conhecimentos aplicados a fins práticos (investigação aplicada). Outorgou-se, pois, direito de cidade, dentro dos planos de fomento, a toda a educação, mesmo nos aspectos mais espiritualistas, e a toda a investigação, mesmo nos aspectos mais teóricos.
Tal orientação - como então se escreveu - justifica-se plenamente Com efeito, os referidos planos não devem compreender apenas aqueles sectores da educação e da investigação que tenham ligação mais directa com a vida económica Devem abranger todos, porque todos concorrem, já para valorizar intrinsecamente o homem, já para aumentar os meios do acção ao seu dispor. Em particular, no que respeita a investigação, o esforço de fomento não deve limitai-se n aplicada, antes deve recair também na fundamental, aliás verdadeira base ou fundamento da primeira (como o seu nome indica) Além do valor que têm em si os conhecimentos desinteressados, o certo é que não se podem ajustar a fins práticos, no campo técnico, os que não se hajam primeiro adquirido, especulativamente, por via científica Como se acentuou na Conferência Ministerial da Ciência, realizada em Paris em Janeiro de 1966, seria grave eiró fazer recair as atenções exclusiva ou predominantemente sobre a investigação aplicada, que nada significa sem investigação fundamental, terreno fecundo em que a primeira lança necessariamente as suas raízes.
O Plano Intercalar foi ainda mais longe, declarando que estas matérias devem figurar, mesmo, entre as merecedoras de tratamento prioritário Prioridade que bem se justifica, pois a educação e a investigação encontram-se na base de todo o progresso, não só do moral, mas inclusivamente do material ou económico, verdade esta que, hoje, pode já considerar-se axiomática e por isso não necessita aqui de especial fundamentação.
O Plano Intercalar, embora ainda dentro de limites relativamente modestos, veio permitir o lançamento ou a intensificação de certas modalidades de acção pedagógica, cultural e científica. Procurou-se designadamente (para além dos aspectos das instalações e seu apetrechamento) incentivar as actividades de planeamento, de aperfeiçoamento de pessoal docente, investigador e outro, de política social escolar, de investigação científica, manifestações culturais e experiências pedagógicas Para se conhecerem as necessidades e aspirações dos sei viços e escolas, fez o Ministério da Educação Nacional, com referência aos anos do vigência do Plano, três sucessivos inquéritos, que não só permitiram ter um panorama dessas necessidades e aspirações e distribuiu as verbas em harmonia com a sua conveniente graduação e selecção, mas também estimular o estudo ponderado de iniciativas a empreender, que se deseja possam ser cada vez de mais largo alcance

2. Este III Plano continua a percorrer a senda aberta pelo Plano Intercalar Como o seu imediato antecessor,

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procura abarcar, em princípio, todo o vasto campo da educação e da investigação. Mas fá-lo em termos mais completos, possibilitados por toda a acção estruturadora entretanto bastante intensificada, e consagrando investimentos sensivelmente mais elevados. Dentro da mesma linha de continuidade - em que se mantém o carácter prioritário deste sector - dá-se assim novo e importante passo em frente.

3. Também a semelhança do Plano Intercalar, trata-se neste capítulo, separadamente, de certas formas de acção que tendem a uma formação profissional extra-escolar Tais formas de acção podem considerai-se abrangidas rio conceito amplo de educação, porque envolvem um adestramento, mas oferecem natureza peculiar, não se integrando numa verdadeira escola, entendida esta como o deve ser, ou seja como centro formativo, em que a preparação profissional tom uma base intelectual e é acompanhada ainda de ou ti as preocupações educativas.
Por outro lado, e no que respeita a investigação, julgou-se preferível, desta vez, sistematizai as matérias em obediência i distinção entre investigação ligada ao ensino e investigação não ligada ao ensino Essa distinção coincide tendencialmente com a outra, a que atrás se foz referência, entre investigação fundamental e investigação aplicada mas só tendencialmente, bastando pensar, para o reconhecer, que em conexão com o ensino - e dentro de certos limites - também se pode e deve fazer, e faz na realidade, investigação aplicada.
A adopção, para efeitos expositivos, da apontada distinção justifica-se pelo facto de o ensino e a investigação que lhe urda associada decorrerem no mesmo ambiente, interpenetrando-se e exercendo fortes influências recíprocas Essas interdependências que fazem da ciência base do ensino e do ensino estímulo fecundante da ciência - justificam a aproximação e como que integração dos dois termos, com reflexo na subsequente ordenação dos assuntos Mas tal aproximação (acentue-se bem) não deve, obviamente, fazer esquecer as relações que de outro lado existem entre as diferentes modalidades de investigação, exercidas dentro ou fora da escola, relações justificativas de uma acção coordenadora que se está a procurar estruturar.
A investigação aparece neste capitulo diferenciada da educação. Mas, dentro de certos limites, pode dizer-se que se insere nela já na medida em que se traduz na formação de investigadores, já na medida em que, associada ao ensino superior, constitui seu imprescindível esteio e alimento.
De harmonia com o exposto, o presente capítulo compreenderá as seguintes secções

SECÇÃO I - Educação e investigação ligada ao ensino.
SECÇÃO II - Investigação não ligada ao ensino.
SECÇÃO III - Formação profissional extra-escolar
SECÇÃO IV - Investimentos totais

Os investimentos previstos na secção i serão efectuados pelo Ministério da Educação Nacional, salvos os relativos a construção e beneficiação extraordinária de edifícios escolares ou outros, porque esses sê-lo-ão pelo Ministério das Obras Públicas, de acordo e em colaboração com o primeiro Os previstos nas secções n e m serão efectuados por outros departamentos governamentais.
No presente capítulo só se tratará da educação e da Investigação na metrópole, porque as respeitantes ao ultramar têm lugar próprio em outros capítulos. Aproveita-se, aliás, a oportunidade para acentuar que se torna cada vez mais necessário um esforço de coordenação entre as realidades metropolitanas e ultramarinas nestes domínios, como importa estar sempre bem atento ao que se processa no Brasil e intensificar as relações com este, dentro do espírito que deve preside aos destinos da Comunidade Luso-Brasileira.

SECÇÃO I

Educação e investigação ligada ao ensino

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

4. As matérias relativas à educação e a investigação ligada ao ensino são extremamente amplas e complexas, têm estreitas o múltiplas ligações entre si, formam rede vastíssima, e por isso não é fácil fazei uma síntese da sua evolução recente e problemas actuais. Essa síntese tem de ser necessàriamente incompleta e imperfeita. Mas procurar-se-á, em traços muito gerais e muito breves, focar alguns aspectos mais, salientes, de foi ma a dar uma ideia do estado presente, do caminho que mais recentemente se percorreu, dos esforços que se têm estado a fazer, dos obstáculos que se lograram vencer, dos muitos que falta ainda ultrapassar.
Na impossibilidade de tudo descrever, chamar-se-á a atenção para os principais objectivos que se têm ultimamente procurado definir e prosseguir, formulando-os sinteticamente, dando deles algumas explicações sumárias, e bem assim para os mais relevantes meios que se vêm pondo ao serviço desses objectivos, ou seja para as mais significativas providências legais e administrativas adoptados ou em curso, com vista a alcançá-los Nesse esquemático relato serio analisados sucessivamente aspectos comuns à educação e à investigação, aspectos respeitantes especificamente à primeira, aspectos respeitantes especificamente à segunda Por último, enunciar-se-ão as principais deficiências que se deparam aos olhos do observador nos dois domínios, deficiências contra que cumpre continuar a lutar, dentro de uma sequência de finalidades e realizações, que só ela pode ser verdadeiramente eficaz.
Em cada uma das alíneas referentes aos objectivos e providências discriminar-se-ão em números sucessivos várias matérias e, a propósito de cada uma destas, começar-se-á por enunciar o objectivo que a vem dominando e desenvolver-se-á em seguida a ideia nele consubstanciada, esclarecendo-a, se necessário, e apontando alguns meios utilizados ou acções empreendidas para sua consecução.

a) Aspectos comuns a educação e a Investigação

5. Infra-estruturas

Objectivo Desenvolver o renovar as infra-estruturas técnicas e administrativas que servem de apoio e impulso coordenado a toda a actuação, dando-lhes o máximo de condições de eficiência o de adaptação às circunstâncias que vão evoluindo.
A acção educacional, para ser verdadeiramente fecunda e operante, não pode deixar de ter o decidido apoio de adequadas e eficientes infra-estruturas técnicas e administrativas que a impulsionem, sob a forma de serviços dinâmicos, dotados ou não de autonomia, mas todos organizados nos melhores termos e providos dos indispensáveis meios.

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Nesse sentido se tem trabalhado intensamente, seguindo-se dois caminhos For um lado, empreenderam-se estudos - que prosseguem - de restruturação geral da orgânica do Ministério da Educação Nacional For outro lado, tem-se criado vários serviços e reformado outros, atacando os problemas mais urgentes através de acções sucessivas e coordenadas, que no seu somatório representam esforço muito considerável, e têm sido todas conduzidas sem perder de vista o objectivo último da sua integração na aludida remodelação gemi Nesta ordem de ideias.
Criou-se o Gabinete de Estudos o Planeamento da Acção Educativa (Decreto-Lei n.º 46 156, de 16 de Janeiro de 1965) como organismo votado ao estudo e esclarecimento sistemático e permanente dos problemas educacionais, à luz da tríplice ideia de documentação, investigação e informação. O Gabinete de Estudos ainda não pôde dar contribuição efectiva para a generalidade das reformas que se têm operado no âmbito do Ministério da Educação Nacional, mas já vem prestando serviços assinaláveis, nomeadamente o que se traduziu no apoio dado aos trabalhos preparatórios do presente Plano de Fomento na parte respeitante à educação e à investigação ligada ao ensino.
Criou-se o Instituto do Moios Audiovisuais do Ensino (Decreto-Lei n.º 46 135, de 31 de Dezembro de 1964), organismo destinado a promover a utilização dos meios audiovisuais como vias de acção educativa e escolar Simultaneamente criou-se, na dependência desse Instituto, a telescola (Decreto-Lei n.º 46 136, da mesma data), a qual vem exercendo importante papel, que tende a expandir-se, levando certas formas de ensino a muitos que de outro modo não poderiam tê-las E por diploma anterior (Decreto n.º 45 418, de 9 de Dezembro de 1963) instituíra-se o Centro de Estudos do Pedagogia Audiovisual com a missão de servir de apoio científico as mencionadas actividades e, designadamente, promover a formação de pessoal docente adestrado nas respectivas técnicas.
Criou-se o Fundo de Fomento do Desporto (Decreto-Lei n º 46 449, de 23 de Julho de 1965) com o fim de promover o desenvolvimento das actividades gimnodesportivas, o qual tem realizado também importante obra, elaborando planos de fomento para criteriosa aplicação das suas receitas provenientes das apostas mútuas desportivas, promovendo a construção ou beneficiação de instalações, a formação e aperfeiçoamento de agentes de ensino, a organização de assistência médica especializada, o desenvolvimento das actividades competitivas, e tudo isto tanto no domínio do desporto federado como no do desporto escolar.
Criou-se a Direcção de Serviços do Ciclo P r aparato no (Decreto-Lei n.º 47 480, de 2 de Janeiro de 1967), destinada a superintender nas actividades relativas a esse novo ciclo do ensino secundário, que pelo mesmo diploma se instituiu em substituição do l º ciclo do ensino liceal e do ciclo preparatório do ensino técnico (como resultado de estudos efectuados na sequência de outros vindos á de 1959). À nova Direcção de Serviços aliviará algum tanto os serviços com superintendência no ensino liceal e no ensino técnico, pois passará a ocupar-se de extenso conjunto de problemas, hoje a cargo dos segundos, que, apesar de tudo, ainda permanecerão excessivamente carregados, com estrutura inadequada a tarefas tão complexas e volumosas.
Reestruturou-se a Junto Nacional da Educação (Decreto-Lei n.º 46 348, de 22 de Maio de 1965, e Decreto n.º 46349, da mesma data), vasto órgão consultivo chamado a dar parecer sobre os mais variados assuntos de ordem educacional ou cultural, ampliando a sua composição e as suas funções e acentuando o seu carácter representativo.
Reestruturou-se o Instituto de Alta Cultura (Decreto-Lei n º 46 038, de 16 de Novembro de 1964), em ordem a proporcionai-lhe condições de melhor exercer a sua tríplice e importantíssima função de fomento da investigação científica, de fomento da cultura, no plano interno, e de fomento do intercâmbio cultural, no plano externo.
Reestruturou-se a Mocidade Portuguesa (Decreto-Lei nº 47311, de 12 de Novembro de 1966), imprimindo-lhe fisionomia renovada susceptível de permitir contribuição mais eficaz nos sectores tão significativos da acção social escolar e das actividades circum-escolares Muitos dos novos preceitos foram desde logo declarados extensivos à Mocidade Portuguesa Feminina,
Introduziram-se outras remodelações na orgânica e atribuições dos serviços, designadamente as referentes à Direcção-Geral do Ensino Superior e das B elas-Artes, que foi elevada à categoria de serviço nacional, com jurisdição extensiva aos recém-criados Estudos Gerais Universitários de Angola e de Moçambique (Decreto-Lei n.º 44 530, de 21 de Agosto de 1962, e Decreto-Lei n.º 45 180, de 5 de Agosto de 1963), e posteriormente viu os seus quadros bastante alargados (Decreto-Lei n.º 47 319, de 19 de Novembro de 1966);
Merecedoras de referência são ainda certas reformas situadas no âmbito universitário, mas destinadas a desempenhar também papel fundamental no desenvolvimento da política social escolar. Têm-se em vista o Decreto-Lei n º 46 667, de 24 de Novembro de 1965, que definiu o estatuto jurídico do Centro Universitário do Porto (completado pelo Decreto-Lei n.º 47 658, de 28 de Abril de 1967), o Decreto-Lei n.º 47 206, de 16 de Setembro de 1966, que criou os Serviços Sociais da Universidade de Lisboa e os Serviços Sociais da, Universidade Técnica de Lisboa, e o Decreto-Lei n.º 47 303, de 7 de Novembro de 1966, que criou os Serviços Sociais da Universidade de Coimbra,
Fará além dos serviços, no plano da própria orgânica governamental, instituiu-se o cargo de Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos (Decreto-Lei n.º 46008, de 6 de Novembro de 1964), chamado a colaborar no importante sector da política juvenil e gimnodesportiva.

6. Planeamento

Objectivo Definir princípios orientadores, planear acções, com base em elementos de ordem documental e estatística permanentemente actualizados, sempre dentro de imprescindível visão de conjunto, e acompanhar e vigiar a execução dos planos.
Neste sentido, são igualmente intensos os esforços que se vêm desenvolvendo sob o signo da ideia de planeamento educacional, tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo

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Foi o planeamento quantitativo que primeiro se iniciou Deu-se-lhe começo em 1959, em colaboração com a O C D E , sob a forma de um projecto a que se atribuiu o nome, um pouco convencional, de «Projecto Regional do Mediterrâneo». Esse trabalho assenta na previsão das necessidades de mão-de-obra ou, mais concretamente, do pessoal qualificado de que necessitara provavelmente a economia metropolitana portuguesa em 1975 nas diferentes categorias ou ramos, e contém os cálculos da evolução quantitativa que a estrutura escolar portuguesa deveria sofrer até aquela data - número de estudantes, agentes de ensino, escolas e correspondentes meios financeiros - para fazer face às referidas necessidades Contêm-se esta previsão e cálculos no volume intitulado Evolução da Estrutura Escolar Portuguesa (Metrópole) - Previsão para 1975, elaborado pelo Gentio de Estudos de Estatística Económica, do Instituto de Alta Cultura, e precedido de outro, preliminar, também do mesmo Centro, Analse Quantitativa da Estrutura Escolar Portuguesa -1950-1959, aquele traduzido pela O C D E para francas e inglês Ali, no entanto, apenas se apresentam dados globais e não se contemplou o sector agrícola Esta última lacuna está a ser preenchida por um grupo constituído no âmbito do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, entretanto criado. E ao mesmo Gabinete de Estudos foi confiada a tarefa de prosseguir os trabalhos do Projecto Regional do Mediterrâneo (cujas citados publicações são, respectivamente, de 1964 e de 1963) na segunda fase, particularmente difícil e melindrosa, da concretização e regionalização. O Projecto Regional do Mediterrâneo propunha-se inicialmente ser um plano de fomento cultural autónomo (de 1960 a 1975), mas, uma vez que o ensino, como as outras formas educativas e a investigação, ingressou nos planos gerais de fomento - solução muito mais perfeita-, essa autonomia perdeu razão de ser e os trabalhos realizados ou em curso sob aquele titulo passaram a constituir contribuições para estes planos, já aproveitadas no presente capítulo.
Por outro lado, teve-se em dado momento a clara consciência de que o planeamento de ordem quantitativa não era por si suficiente e devia ser acompanhado, e mesmo condicionado, por trabalho mais profundo de definição de uma política educacional, de revisão geral das estruturas escolares, de programação qualitativa de acções Foi assim que em 1963 se lançou iniciativa de largo alcance - a preparação do Estatuto da Educação Nacional Essa iniciativa, que se julga inédita em todo o Mundo, pelo menos com as características e amplitude que se lhe atribuíram, conduziu já - através de estudos-base, em curso de publicação, e de um trabalho de síntese legislativa - à elaboração de um projecto de estatuto com perto de 40O artigos, o qual foi oportunamente objecto de comunicação ministerial, e no momento em que se redige este capítulo está a ser sujeito a cuidadoso exame, tendente & sua revisão e aperfeiçoamento, designadamente por parte da Junta Nacional da Educação.
O Estatuto, sem descei n pormenores regulamentares, abarcará todos os domínios da educação e também a investigação estabelecendo as grandes directrizes a que essas actividades devem obedecer, as formas fundamentais em que se devem processar. Uma vez publicado, ficará constituindo a carta fundamental ou orgânica destes importantíssimos sectores da vida nacional, tanto na sua dimensão metropolitana como ultramarina, consubstanciando a respectiva política «Será uma base indispensável, atendo em grande parte por si, e comandando, dentro de um programa comum bem definido, realizações graduais, tanto mais vastas, no que toca a muitas, quanto mais poderosos puderem ser os meios financeiros postos aã seu serviço» (citada comunicação ministerial). O Estatuto não será meramente pragmático, não se limitará a afirmar princípios, antes fará dele múltiplas aplicações A vasta rede de preceitos contida no respectivo projecto é dominada, além de outros, pelos objectivos anteriormente expostos e pelos mais que a seguir se enunciam.

7. Apelo a iniciativa privada

Objectivo Estimular fortemente a iniciativa privada, chamando-a a colaborar cada vez mais no desenvolvimento da educação e da investigação.
O projecto do Estatuto da Educação Nacional orienta-se decisivamente nesse sentido através de múltiplas fórmulas e soluções.

8. Informação

Objectivo Exercer vasta e persistente acção de esclarecimento dos espíritos sobro os assuntos da educação e investigação, com vista a criar um estado de consciência, cada vez mais generalizado, propicio ao desenvolvimento desses fundamentais domínios da vida humana.
Esta acção insere-se nas funções próprias do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, que entre os seus serviços conta um sector de difusão e publicações, o qual está a ser cuidadosamente organizado.

b) Aspectos específicos da educação

9. Generalização e melhoria da acção educativa

Objectivo Intensificar o esforço de generalização, melhoria de qualidade e aumento de rendimento da acção educativa.
Este objectivo é primordial e, por assim dizer, domina todos os subsequentes Quer-se educar mais gente, melhor e no mínimo tempo compatível com uma preparação adequada Mas há que evitar o grave risco de encarai o problema exclusiva ou predominantemente sob o ponto de vista quantitativo, pois deve-se a todo o custo procurar salvaguardai a qualidade, diligenciar sempre no sentido de a melhorar, e dar o devido i elevo aos aspectos puramente espirituais da educação As soluções que contrariassem estes desideratos podei mm vir a ser fatais, mesmo do ponto de vista económico, porque a própria economia não interessa apenas a quantidade, mas também, e em primeiro lugar, a qualidade. O importante problema da produtividade do ensino está a ser objecto de cuidadoso estudo por parte do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, em ordem a diagnosticar com a possível exactidão as causas que não permitem atingir todo o rendimento desejável e propor as soluções pertinentes.

10. Escolaridade obrigatória

Objectivo Assegurar a efectividade da escolaridade obrigatória

Depois do enorme esforço realizado para tornar efectiva a escolaridade obrigatória, limitada ao ensino pi imano elementar, ampliou-se a mesma em 50 por cento, mediante a criação de duas novas classes de ensino complementar (Decreto-Lei n.º 45 810, de 9 de Julho de

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1964, e Decreto n.º 47 211, de 23 de Setembro de 1966) Com esta matéria relaciona-se o ciclo prepara tono do ensino secundária, recentemente instituído (Decreto-Lei n º 47 480, de 2 de Janeiro de 1967), pois também constitui via de cumprimento da obrigação escolar na sua nova fase pós-elementar. Aliás, essa nova fase ainda não está em vigor, como é sabido, mas o ciclo complementar já começou a funcionar, a título facultativo No Ministério da Educação Nacional vêm a realizar-se cuidadosos trabalhos tendentes à efectivação coordenada dos dois ciclos, no que toca a planos de estudo, programas, compêndios, estatuto e aperfeiçoamento de professores, rede escolar e regulamentação legal. Têm-se realizado já cursos de aperfeiçoamento de professores do ciclo complementar Estão a ser ultimados vários diplomas, entre os quais a reforma das escolas do magistério primário. Há a intenção de ir dando desenvolvimento cada vez maior ao ciclo preparatório, através da disseminação das respectivas escolas, constituindo desígnio expresso na lei, e que se deseja resolutamente prosseguir, o de que exista, pelo menos, um estabelecimento dessa índole, de carácter público ou particular, em cada concelho.

11. Escolaridade facultativa

Objectivo Incrementar a frequência Aos graus de ensino não obrigatórios.
Este objectivo integra-se na finalidade geral, atrás formulada, de generalização do ensino e vem sendo prosseguido pela intensificação dos meios correspondentes a alguns dos objectivos que a seguir se enunciam. Mas essa intensificação, por insuficiência dos meios disponíveis, tem estado longe do que devia sei, não dando satisfação a bodo o anseio e necessidades de elevação cultural que se notam como reflexos do progresso.

12. Acção social escolar

Objectivo Fomentar a acção social escolar noa suas múltiplas modalidades, já em ordem a possibilitar os estudos, para além da escolaridade obrigatória, a todos os que tenham real capacidade para os prosseguir, independentemente das suas condições económicas, já em ordem a proporcionar aos estudantes em geral condições propicias para tirarem dos estudos o máximo rendimento.
Vem tal matei ia merecendo também, da parte do Ministério da Educação Nacional, atenção muito particular Assim o atesta quanto se expôs atrás sobre a criação e fortalecimento das infra-estruturas relativas a este sector Assim o demonstra também o cuidado posto na indispensável definição do regime jurídico a que devem obedecei as várias manifestações da acção social escolar. Pela sua especial importância, começou-se pelo estatuto do alojamento dos estudantes, que ficou definido no Decreto-Lei n.º 46834, de 11 de Janeiro de 1966, n este diploma outros se seja não. Têm-se, além disso, intensificado as iniciativas no que toca a residências, alimentação, saúde, bolsas e subsídios de deslocação (sobre que também se legislou - Decreto-Lei n.º 45 682, de 25 de Abril de 1954, e Portaria n º 20 530, da mesma data), mas as disponibilidades financeiras não têm sido suficientes para obra de tapo vulto. No que toca s& estruturas, praticamente apenas falta um serviço central, destinado a servir de base às decisões governamentais nesta importante matéria, ajudando à concretização e execução de uma política de conjunto, a elaboração de programas, à distribuição de certas verbas, sem entravar iniciativas, antes lhes concedendo todo o apoio e estímulo.

13. Agentes de ensino

Objectivo Promover a melhoria da qualidade e o acréscimo do número de agentes de ensino, melhorando a sua situação, tornando mais cuidada a sua preparação, criando novas condições e estímulos à sua permanente actualização e aperfeiçoamento, aumentando o sentido da sua responsabilidade profissional, imprimindo o maior prestigio à função docente o rodeando-a de todos os possíveis atractivos.
E esta uma matéria de importância vital. As dificuldades que se deparam aqui são em grande medida reflexo da situação geral do funcionalismo público. Mas cumpre resolvê-las o mais urgentemente possível, pois os progressos do ensino estão condicionados de modo muito especial pela qualidade e número dos professores Por isso se dedicou a este assunto atenção muito particular no projecto do Estatuto da Educação Nacional e se confiou ao Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa o encargo de preparar um estatuto do pessoal docente (e investigador), em harmonia com os princípios ali definidos, o qual se encontra já em adiantada fase de elaboração Aspecto muito importante é o que consiste em criar nos agentes de ensino condições de dedicação integral à escola nesse sentido, e quanto ao ensino superior, já o Ministério da Educação Nacional elaborou um primeiro texto.

14. Rede escolar

Objectivo Promover o alargamento da rede escolar e ao mesmo tempo estudá-la cuidadosamente, no conjunto dos vários graus o ramos de ensino, tanto público como particular, acompanhando e orientando permanentemente a sua evolução coordenada, do modo a adensar o número dos estabelecimentos de ensino e distribui-los pelo Pais segundo os melhores critérios de desenvolvimento regional da educação.
O esforço de alargamento da rede escolar tem prosseguido incessantemente, pela abertura de novos estabelecimentos de ensino ou de secções de estabelecimentos já existentes, mas ainda é claramente insuficiente para as necessidades. Por outro lado, e no que toca ao estudo e constante aperfeiçoamento da referida rede, dentro de decididos propósitos coordenadores, o primeiro posso a dar consista no levantamento da carta escolar, com o máximo de elementos elucidativos Por isso se mandou proceder a esse levantamento, que está em vias de se ultimar. E determinou-se ainda a constituição de grupos de trabalho, já em funcionamento, com a incumbência de acompanharem, de forma constante e sistemática, as transformações da lede escalai, fazendo estudos gerais e dando pareceres sobre os casos concretos, sempre dentro de uma perspectiva de conjunto, em que devem entrar em linha de conta todos os dados sócio-económicos pertinentes

15. Instalações escolares e seu apetrechamento

Objectivo Intensificar o esforço de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações escolares e, ao mesmo tempo, realizar estraves permanentes e sistemáticos tendentes a encontrar para essas instalações as melhores soluções sob o tríplice ponto de vista de técnica de construção, pedagógico e económico.
Pretende-se dar ao ensino particular papeaste dentro de um sistema nacional de educação E a essa luz que se encara designadamente, como política a intensificar, a concessão de benefícios ou vantagens no tocante a instalação e funcionamento de estabelecimentos numular com o objectivo de poder vir a tornar
desnecessária ou menos necessária e pode deixar de ser objecto de todas as atenções que concitaria se a primeira não existisse As actividades de formação escolar não podem ser prejudicadas, a nenhuma luz, pelas de formação extra-escolar, que possuem carácter meramente complementar ou subsidiário Só a formação escolar,

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das ciências da Natureza Conforme se reconheceu na já citada Conferência Interministerial da Ciência, realizada em Paris em Janeiro de 1966, as ciências sociais, como de modo geral as ciências humanas, as ciências do espírito, «não devem sofrer obliteração, relegadas para uma zona de penumbra pelos resultados espectaculares alcançados na órbita das chamadas ciências exactos. Às ciências sociais [ ] merecem igual protecção, igual carinho, porque têm por objecto o homem e portanto, inclusivamente, condicionam o próprio esforço que este despenda em prol das ciências da natureza e devem cria as condições da sua adaptação as transformações por estas operadas no mundo económico e físico São imprescindível factor de espiritualização, que deve acompanhar e comandar os conquistas de ordem material» (Temas de Educação, p 393).

23. Centros de investigação

Objectivo Estudar oa diferentes tipos de centros de investigação e promover a criação de novos centros que ofereçam interesse e condições de viabilidade.
Daquele estudo acha-se incumbido o Instituto de Alta Cultura, que deverá realizá-lo em colaboração com a Direcção-Geral do Ensino Superior e o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa.
Temos aqui em vista - ao falar de centros de investigação - todas as organizações oficiais, de maiores ou menores dimensões, que se dedicam à investigação no âmbito do Ministério da Educação Nacional, seja qual for o seu estatuto jurídico e a sua denominação - institutos, centros de estudos, departamentos, laboratórios,- etc Todos esses centros de investigação, estejam na dependência da Direcção-Geral do Ensino Superior, através da Universidade de que fazem parte, ou na dependência do Instituto de Alta Cultura, se este os criou e mantém, todos eles, pela sua natureza e pelo seu fim, se encontram ao serviço da Universidade - de uma ou de mais de uma. Terão de manter sempre com a Universidade as mais estreitas ligações destinam-se fundamentalmente aos docentes universitários, que deles faraó parte como investigadores e, eventualmente, podem mesmo aproveitar com vantagem as respectivas instalações, com o apetrechamento científico, para nelas fazerem os seus cursos universitários aos alunos dos últimos anos Tem de estar aqui sempre presente a ideia da ligação entre a investigação científica e o ensino.
Todo o exposto é exacto, mesmo nas hipóteses em que um princípio de concentração leva a criar unidades relativamente vastos, inclusive pela aglutinação de anteriores unidades menores Ë um fenómeno paralelo ao que se dá na indústria As pequenas unidades têm a sua lazão de ser e são mesmo imprescindíveis em muitos casos, mas noutros só se pode alcançar verdadeiro rendimento, verdadeira produtividade, mediante a concentração, cujos limites devem fixar-se em função das circunstancias. Há que procurar para cada caso n dimensão óptima, susceptível de proporcionar fecundo trabalho de grupo, sem destrua o fundamental princípio da liberdade de investigação Neste pensamento se inspirou a recente criação do Instituto de Física e Matemática (Decreto-Lei n.º 47 424, de 28 de Dezembro de 1966), destinado em primeira linha à aglutinação de centros j& existentes, e cuja orgânica e funcionamento devem obviamente entender-se a luz das ideias acima expendidas. O Instituto terá as suas instalações em Lisboa, como outras organizações científicas que venham a criar-se, em obediência ao mesmo princípio de concentração, podem tê-las, naturalmente, em Coimbra ou no Porto.

24. Instalações dos centros de investigação e seu apetrechamento.

Objectivo Intensificar os esforços de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações dos centros de investigação.
A essas instalações e apetrechamento é extensivo, em parte, o que atrás se disse acerca das instalações e apetrechamento escolares (supra, n.º 15).
É este um ponto da maior importância - mesmo se importância vital para o futuro e o destino da investigação no nosso país. É imprescindível que os investigadores tenham ao seu alcance os meios de trabalho de que necessitam Haverá que evitar, obviamente, o desperdício de duplicações inúteis ou a aquisição de material que acaso fique imobilizado por negligência, por não se dominar bem o modo do seu funcionamento ou por se revelar afinal inadequado Hás, ressalvadas estas hipóteses anómalas, cumpre apetrechar convenientemente os centros de investigação paia poderem produzir todo o rendimento que deles será lícito exigir. No material científico também se compreendem, evidentemente, os livros e revistas, quer façam parte das bibliotecas próprias dos centros, quer das bibliotecas gerais das escolas ou das Universidades.

25. Coordenação da investigação no âmbito do Ministério da Educação Nacional.

Objectivo Coordenar as actividades dos centros de investigação dependentes do Ministério da Educação Nacional, mas com ressalva da liberdade de investigação, que representa valor básico no domínio da investigação ligada ao ensino.
Essa coordenação devo ser exercida pelo Instituto de Alta Cultura, em colaboração com a Direcção-Geral do Ensino Superior, e porque tem de salvaguardar o princípio da liberdade de investigação, não pode assumir carácter imperativo, devendo traduzir-se sobretudo em acção de esclarecimento e estímulo, tendente a tirar a máxima utilidade dos esforços e dos gastos.
Apontam-se de seguida algumas modalidades que a referida acção pode revestir.
Promover a estruturação jurídica mais adequada dos diferentes tipos de centros de investigação.
Elaborar e manter actualizado o cadastro ou rol desses centros, com inventariação dos meios humanos e materiais de que cada um dispõe.
Elaborar e manter actualizada a lista dos trabalhos de investigação realizados ou em curso nos mesmos centros, com menção de todos os dados que possam ajudar a melhor compreender a sua natureza e o seu alcance.
Chamar a atenção para certos temas que se afigurava de grande interesse investigar.
Estimular os centros a programarem, as suas actividades, estudando muito cuidadosamente as iniciativas a lançai e o modo de as porem em pratica, de forma que essas iniciativas se revistam de toda a possível relevância e possam naturalmente ter primazia, numa apreciação de conjunto, as que só mostrem mais bem preparadas e de maior projecção (ideia quo já presidiu aos ti és inquéritos atrás referendos n que se procedeu para efeito das aplicações anuais da verba do Plano Intercalar destinada, entre outras, a actividades científicas).
Assegurar a adequada difusão e circulação de documentos e informações que possam interessar a uma esclarecida acção investigadora (como, além

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minada, o ensino de diminuídos, que sem embargo dos avanços verificados se encontra ainda muito distanciado da amplitude desejável, os planos de estudo, programas, métodos e compêndios, que precisam de ser renovados, na sequência de acções ]á empreendidas, em ordem a actualizá-los e coordená-los, o fomento cultural, que necessita de forte intensificação, etc,.
Carreira de investigador ainda não se encontra institucionalizada, em termos gerais, e - sobretudo como reflexo da falta dessa institucionalização, aliás em estudo - é insuficiente o número de investigadores.
Gentios de investigação não são em número bastante, nem sempre estão convenientemente apetrechados, e alguns acusam estrutura inadequada.
Coordenação da investigação ainda não existe uma coordenação apropriada, que, contudo, está em vias de se estruturar.

e) Conclusão

28. Os vários males de que enfermava a educação e a investigação em Portugal têm estado a ser combatidos, como resulta do que atrás ficou resumidamente exposto Alguns venceram-se, outros atenuaram-se, e contra todos os subsistentes se têm assestadas as baterias, dentro de estratégia perfeitamente definida, que supõe concertada acção de fundo e de conjunto. Há um pensamento orientador, uma doutrina, numa palavra uma política.
Dessa política apontaram-se alguns dos traços mais salientes, em síntese forçosamente imperfeita e incompleta. Tem-se clara consciência dos fins ou objectivos a atingir, que já se vêm prosseguindo, e dos meios aptos para os alcançar, que também já se vêm pondo em prática, sob a forma de estudos, experiências, planos, reformas e outras realizações, tudo integrado num sistema, numa comum ideia norteadora.
As dimensões em que se tem de conter o presente capítulo não consentem ir mais longe na pormenorização aos próprios investimentos adiante programados assentam em minuciosas análises, em cuidadosos cálculos feitos ao longo de exaustivos trabalhos - quer os trabalhos do Projecto Regional do Mediterrâneo, quer os do grupo incumbido dos estudos preliminares do presente capítulo Um motivo de brevidade obriga a omitir essas análises, esses cálculos, que todavia (como os mais de actualização pormenorização que vão continuar a processar-se), não deixai ao de estar presentes na aplicação deste III Plano de Fomento Apenas se apresentai ao adiante (n.º 30) uns tantos quadros-sínteses que dêem ideia resumida de alguns dos principais aspectos da evolução recente na sua expressão numérica ou quantitativa.
Quanto a política em si, além de resultar dos actos de execução que ficaram descritos ou referidos, pode ver-se mais desenvolvidamente exposta numa série de declarações ministeriais compiladas em volume sob o título de Temas de Educação (1066), a que cumpre acrescentar. Reestruturação da Mocidade Portuguesa (1966), Para um Estatuto da Educação Nacional (1966), e Política Social Escolar (1967).

29. Tem-se assim a consciência de estar suficientemente adestrado para meter ombros à execução deste Plano, utilizando paia isso os meios já mobilizados e os mais que continuarão a estruturai-se, numa actuação que tem de ser constante para se tornar cada vez mais profícua.
Não poderá aliás contar-se apenas com os investimentos previstos no Plano e destinados, pela sua própria índole, a aplicações com o carácter de despesas extraordinárias. As receitas afectas às despesas ordinárias vêm aumentando sensivelmente, mas têm de aumentar em ritmo ainda mais acelerado, pois sem isso as actividades educativas e científicas não poderão alcançar todo o desenvolvimento imperiosa e ingentemente reclamado pelas necessidades do País.

30. Em anexo a este capítulo, inserem-se alguns mapas estatísticos que resumem a evolução recente do funcionamento do sistema escolar, através das respectivas frequências por graus e ramos de ensino, taxas de escol andardes podidas e repartição etária de população escolar pelos diferentes graus de ensino

QUADRO N.º 1 (a)

Evolução da frequência escolar entre 1954-1955 e 1964-1966

(Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Sinais convencionais, adoptados nas publicações do Instituto Nacional da Estatística.
O fenómeno não existe
o Resultado Inferior ao módulo adoptado,
x Resultado Ignorado
- Total não correspondente a soma das parcelas Indicadas.

Fonte: Estatística da Educação, do Instituto Nacional do Estatística, de 1954-1966 e de 1964-1965

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QUADRO N.º 2 (a)

Taxas de escolaridade em 1964-1955
(Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Ver nota do quadro n.º 1

Fonte Cálculo sobre dados r acolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1964-1965

QUADRO N.º 3 (a)

Taxas de escolaridade em 1964-1965
(Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem].
(a) Ver nota do quadro n.º 1

Fonte Cálculo sobre dados recolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, do 1964-1965

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QUADRO N.º 4 (a)

Repartição dos alunos segundo grupos etários em 1954-1955 e 1964-1965

(Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Ver nota do quadro n.º 1

Fonte Cálculos sobre dados recolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1955 e de 1964-1965.

QUADRO V (a)

Evolução da frequência escolar nos diversos ramos do ensino superior entre 1954-1955 e 1964-1965

[Ver Quadro na Imagem].

Fonte: Estatística de Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1965 e de 1964-1965

(a) Ver nota do quadro n.º 1
(b) Classificação adoptada nas publicações do Instituto Nacional do Estatística. Inclui os seguintes cursos.
Letras - Cursos das Faculdades do Letras, de Filosofia o Teologia do ensino eclesiástico, o da Faculdade Pontifícia de Filosofia.
Belas-artes - Cursos das Escolas Superiores de Belas-Artes de Lisboa e do Porto e cursos superiores de musica. Eram designados em 1954 - 1955 por «cursos superiores de ensino artístico».
Direito - Cursos das Faculdades de Direito.
Ciências sociais - Em 1954 - 1955 cursos da Faculdade de Economia do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (hoje denominado Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina). Em 1964-1965 além dos cursos de Organização Cientifica do Trabalho do Instituto de Estudos Sociais e do Instituto de Estudos Superiores de Évora.
Ciências exactas e naturais - Cursos das Faculdades de Ciências.
Engenharia - Cursos da Faculdade de Engenharia e do Instituto Superior Técnico.
Ciências relativas á medicina - Cursos das faculdades de Medicina da Faculdade e das Escolas da Farmácia e da Escola Técnica de Enfermeiras. Esta ultima não era considerada em 1954-1955.
Agronomia - Cursos do Instituto Superior de Agronomia e da Escola Superior de Medicina Veterinária.
Militar - Cursos da Academia Militar (em 1954-1956 Escola do Exercito) e da Escola Naval.
Náutica - Cursos da Escola Náutica.

QUADRO VI (a)

Repartição dos alunos do ensino superior em 1954-1955 e 1964-1965

[ver tabela na imagem]

(a) Ver nota do quadro n.º 1.
(b) Ver nota do quadro n.º 5.

Fonte Cálculos sobre dados recolhidos na Estatística de Educação do Instituto Nacional de Estatística de 1954-1955 e de 1964-1965.

§ 2.º Objectivos

31. Os objectivos a prosseguir durante o sexénio do Plano, nos domínios da educação e da investigação ligada ao ensino, não diferem dos que ficaram descritos no parágrafo anterior (n.ºs 5 a 26).
Estes objectivos, que se interligam, formando rede coerente e ordenada, mantêm toda a sua actualidade e pertinência E por isso devem permanecer como desideratos impulsionadores e orientadores da acção, dentro de fecundo principio de continuidade, em ordem a desenvolver cada vez mais a educação e a investigação, e designadamente a levar de vencida as principais deficiências e carências com que se debatem esses primordiais sectores e de que também se fez breve resumo (n.º 27).

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32. Para maior facilidade da consulta, reproduzem-se a seguir os objectivos em referência, limitados fi sua enunciação e desacompanhados pois das notas explicativas que acaram formuladas, a propósito de cada um, nos citados lugares (n.ºs 5 a 26).
Indicar-se-ão sucessivamente

a) Objectivos comuns à educação e á investigação,
b) Objectivos específicos da educação,
c) Objectivos específicos da investigação

a)Objectivos comuns a educação e a investigação

33. Desenvolver e renovar as infra-estruturas técnicas e administrativos que servem de apoio e impulso coordenado a toda a actuação, dando-lhes o máximo de condições de eficiência e de adaptação as circunstâncias que vão evoluindo
Definir princípios orientadores, planear acções, com base em elementos de ordem documental e estatística permanentemente actualizados, sempre dentro de imprescindível visão de conjunto, e acompanhar e vigiar a execução dos planos.
Estimular fortemente a iniciativa privada, chamando-a a colaborar cada vez mais no desenvolvimento da educação e da investigação.
Exercer vasta e persistente acção de esclarecimento dos espíritos sobre os assuntos da educação e investigação, com vista a criar um estado de consciência cada vez mais generalizado, propício ao desenvolvimento desses fundamentais domínios da vida humana

b) Objectivos específicos da educação

34. Intensificar o esforço de generalização, melhoria de qualidade e aumento de rendimento da acção educativa.
Assegurar a efectividade da escolaridade obrigatória.
Incrementar a frequência escolar dos graus de ensino não obrigatórios.
Fomentar a acção social escolar, nas suas múltiplas modalidades, já em ordem a possibilitar os estudos, para além da escolaridade obrigatória, a todos os que tenham real capacidade para os prosseguir, independentemente das suas condições económicas, já em ordem a proporcionar aos estudantes em geral condições propícias para tirarem dos estudos o máximo rendimento.
Promover a melhoria da qualidade e o acréscimo do número de agentes de ensino, melhorando a sua situação, tornando mais cuidada a sua preparação, criando novas condições e estímulos à sua permanente actualização P aperfeiçoamento, aumentando o sentido da sua responsabilidade profissional, imprimindo o maior prestígio à função docente e rodeando-a de todos os possíveis atractivos.
Promover o alargamento da rede escolar e ao mesmo tempo estudá-la cuidadosamente, no conjunto dos vários graus e ramos de ensino, tanto público como particular, acompanhando e orientando permanentemente a sua evolução coordenada, de modo a adensar o número dos estabelecimentos de ensino e distribui-los pelo País segundo os melhores critérios de desenvolvimento regional da educação.
Intensificar o esforço de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações escolares e ao mesmo tempo realizar estudos permanentes e sistemáticos tendentes a encontrar para essas instalações as melhores soluções soo o tríplice ponto de vista de técnica de construção, pedagógico e económico.
Continuar os trabalhos tendentes à reforma das estruturas escolares, na sequência dos diplomas legais que criaram o ciclo complementar do ensino primário e o ciclo preparatório do ensino secundário.
Fomentar o ensino particular, dentro da preocupação de o integrar ou assimilar verdadeiramente num sistema nacional de educação.
Fomentar a educação religiosa, moral, cívica, artística e física.
Fomentar a educação permanente ou contínua.
Promover o aperfeiçoamento constante dos restantes aspectos da acção educativa.
Adaptar a escolaridade as exigências de pessoal qualificado.

c) Objectivos específicos da investigação

35. Promover o aumento do número de investigadores, sem prejuízo, e antes com melhoria, da sua qualidade, institucionalizando em termos gerais a carreira de investigador, como carreira autónoma, distinta da docente, embora com ela relacionada, e tornando-a tanto quanto possível atraente e estimulante.
Estudar os diferentes tipos de centros de investigação e promover a criação de novos centros que ofereçam interesse e condições de viabilidade.
Intensificar os esforços de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações dos centros de investigação.
Coordenar as actividades dos centros de investigação dependentes do Ministério da Educação Nacional, com ressalva da liberdade de investigação, que representa valor básico no domínio da investigação ligada ao ensino.
Promover a coordenação da investigação no seu conjunto, tanto no plano nacional como no internacional.

§ 3.º Providencias legais e administrativas

36. Tal como os objectivos a prosseguir durante a vigência do III Plano de Fomento, no que respeita à educação e a investigação conexa com o ensino, assim também as providências legais e administrativos a adoptar no mesmo período, paia consecução desses objectivos, devem inspirar-se numa ideia de continuidade em relação às que vêm sendo praticadas e que igualmente ficaram resumidas no § l.º (n.ºs 5 a 26).
Tem de persistir-se no caminho que está a ser percorrido, levando por diante os numerosos e complexos estudos em curso, não largando de mão os planos estabelecidos, e antes os sujeitando a permanente esforço de actualização, de concretização, de aperfeiçoamento, acompanhando e vigiando de perto a execução respectiva, prosseguindo na linha das múltiplas reformas que têm sido promulgadas ou estão em vias de preparação.
Há sobretudo que tornar letra de lei o projecto do Estatuto da Educação Nacional, que ficará sendo a grande bússola orientadora das actividades de educação e investigação, e dentro de cujos quadros e em harmonia com cujas directrizes se haverão de situar e desenvolver, futuramente, as demais providências legais e administrativas respeitantes a estas matérias.
No que respeita em particular à investigação, há que traçar as linhas gerais de uma política científica e tecnológica nacional e promover a coordenação das respectivas actividades no espaço português São tarefas que incumbem, em primeira linha, à recém-criada Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, que deverá acompanhar a marcha dos projectos e trabalhos previstos neste Plano, em matéria de investigação, com vista ao desempenho das suas atribuições coordenadoras

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§ 4.º Investimentos

37. São os seguintes os investimentos previstos no âmbito do III Plano de Fomento para o sector da educação e da investigação ligada ao ensino

[ver tabela na imagem]

(a) Inclui 600 000 contos de contribuição extraordinária do Fundo de Desemprego para construções escolares.

38. Para perfeita compreensão deste quadro torna-se necessário formular as seguintes observações.
a) Tal como no Plano Intercalar, os investimentos aqui programados não representam a totalidade dos que virão a efectuar-se, durante o próximo sexénio, em matéria de educação e investigação ligada ao ensino, no nosso país. Efectivamente, o quadro acima contém apenas os investimentos a fazer na metrópole, por iniciativa do Ministério da Educação Nacional, e com carácter de primeira prioridade. Os investimentos a realizar nos territórios ultramarinos constam dos respectivos capítulos. Ainda noutros lugares do presente Plano se prevêem investimentos que se integram também na acção educativa (v. g. adiante, na secção III, sobre formação profissional extra-escolar). E por falta de elementos não se incluem no Plano investimentos não Estaduais, que certamente se elevarão a montante apreciável, como os consistentes na criação e instalação ou ampliação de estabelecimentos de ensino particular Por outro lado, os investimentos discriminados revestem-se de natureza imperativa, devendo entretanto estudar-se a forma de promover a sua ampliação no decurso da vigência do Plano.
b) Sob a rubrica «Instalações e apetrechamento inicial» compreendem-se a construção, compra ou beneficiação extraordinária de edifícios ou instalações de natureza mobiliária, destinados a estabelecimentos de ensino ou outros estabelecimentos, organismos ou serviços dependentes do Ministério da Educação Nacional e, bem assim, o respectivo apetrechamento inicial, incluindo o audiovisual (mas exceptuando o apetrechamento que por lei compete a outras entidades, com o das escolas primárias, a fornecer pelas câmaras municipais). Têm-se em vista as instalações e apetrechamento inicial de estabelecimentos de ensino primário, de ensino secundário (ciclo preparatório, ensino liceal, ensino técnico), de ensino médio, de ensino superior e investigação e ainda instalações e apetrechamento inicial respeitante a acção social escolar (designadamente residências de estudantes e cantinas escolares) e outras. Da verba correspondente a esta rubrica sairão as importâncias destinadas a obras a efectuar pelo Ministério das Obras Públicas por iniciativa e de acordo com o Ministério da Educação Nacional. Aos programas, projectos e execução dessas obras deverá presidir sempre o espírito de maior economicidade, como se acentuou atrás (n.º 15), adoptando-se soluções sóbrias e funcionais que possibilitem a rápida execução dos planos e o máximo aproveitamento dos dinheiros aproveitamento que tem de constituir preocupação dominante em todos os sectores.
c) Sob a rubrica «Reapetrechamento» compreende-se o reapetrechamento que se torna necessário, incluindo o audiovisual, de estabelecimentos de ensino ou outros estabelecimentos, organismos ou serviços dependentes do Ministério da Educação Nacional. O respectivo regime legal, constante do Decreto-Lei n.º 41114, de 16 de Maio de 1957, deve ser revisto, em ordem a actualizar-se e tornar-se mais expedito.
d) Sob a rubrica «Actividades» compreendem-se actividades extraordinárias de fomento da educação e da investigação O seu conteúdo é aproximadamente o mesmo da correspondente rubrica do Plano Intercalar (capítulo VII, n.º 28). Tem-se em vista prosseguir na senda aberta, sob este aspecto, por esse Plano, continuando a estimular, por meio do respectivo financiamento, actividades educacionais ou científicas de carácter extraordinário. Trata-se de actividades pedagógicas (v g experiências didácticas e aperfeiçoamento de pessoal docente e investigador), actividades culturais (no plano interno e externo), formas de acção social escolar, actividades de investigação, trabalhos de planeamento e difusão e outras realizações, que pela sua índole exprimam uma ideia de fomento extraordinário nos domínios da educação e da ciência. Quanto a saúde escolar, que constitui um dos campos de acção social escolar, figura no capítulo sobre a saúde (capítulo XII) uma verba de 87 500 contos, que será aplicada pelo Ministério da Educação Nacional, de cujo jurisdição a saúde escolar depende.
c) A discriminação das verbas feitas no quadro acima poderá vir a sofrer as alterações que se mostrem aconselháveis, como é próprio de um plano de fomento.
d) As dotações ordinárias do Ministério da Educação Nacional deverão evoluir de harmonia com as dotações extraordinárias previstas no Plano de Fomento, em ordem a acompanhar de forma adequada o esforço por este representado

39. Tem interesse confrontar, em breve síntese, os investimentos atrás programados com os correspondentes investimentos previstos no Plano Intercalar. Para o confronto se tornar facilmente compreensível, citar-se-ão as verbas do Plano Intercalar multiplicadas polo factor 2, uma vez que o período de vigência do III Plano de Fomento (seis anos) será duplo do período de vigência do Plano Intercalar (três anos) Temos assim:

[Ver Tabela na Imagem]

Secção II

Investigação não ligada ao ensino

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

45. Os programas (propostos no domínio da investigação não ligada ao ensino para o período do Plano Intercalar de Fomento não puderam ter integral concretização - pelo que mantêm ainda actualidade as considerações de carácter geral e sectorial respeitantes à evolução dos orga-

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nismos de investigação públicos então formuladas. Como se apontava nos trabalhos preparatórios desse Plano, os maiores estrangulamentos do sector continuam a ser consequência, não só do nível das dotações concedidas, mas também da exiguidade dos quadros técnicos de investigadores. Por outro lado, a adopção de providências legislativas básicas, a criação de infra-estruturas científicas e técnicas com incidência especial no aperfeiçoamento dos quadros de investigadores e a coordenação das actividades de investigação pura e aplicada deverão enquadrar-se numa política científica de âmbito nacional ainda a definir, como se refere atrás no n.º 26. Se são estes os problemas fundamentais que se deparam ao desenvolvimento imediato do sector, a previsão das Linhas da sua evolução futura insere aspectos diferentes, pois no momento actual é difícil marcar os domínios prioritários da investigação não ligada ao ensino que deverão estar na base do desenvolvimento tecnológico de certos sectores produtivos. Todavia, os estudos do grupo de trabalho sobre investigação científica e técnica relacionada com o desenvolvimento económico, a que se faz referencia no citado n.º 26 e que, de uma maneira sistemática, tem vindo a debruçar-se sobre o assunto, poderá fornecer durante o período do Plano orientações de valor, que deverão ser consideradas nos programas anuais de execução.

§ 2.º Objectivos

46. Os projectos apresentados pelos vários sectores e a previsão dos respectivos encargos foi um feitos considerando a prioridade dos programas já em curso ou de interesse relevante, de acordo com hipóteses verosímeis de aumento dos quadros dos órgãos de investigação.

47. Estatística - As actividades previstas neste domínio incluem o lançamento de operações estatísticas especiais a cargo do Instituto Nacional do Estatística. As principais operações de base consideradas são as seguintes:

Inquérito às explorações agrícolas no continente em 1968,
Censo da distribuição e serviços para a metrópole em 1969,
Censo da população e da habitação para a metrópole em 1970,
Censo agrícola para a metrópole em 1972.

Programação económica - Prevê-se a realização de diversos estudos destinados ao aperfeiçoamento das técnicas de planeamento económico.
As acções a desenvolver pelas divisões e núcleos técnicos da Direcção de Planeamento do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, em colaboração com o Instituto Nacional de Estatística e os grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, têm por objectivo a recolha de elementos e o aprofundamento de estudos já iniciados relativamente aos seguintes domínios:

Contabilidade nacional,
Programação das principais variáveis e sectores macroeconómicos,
Análises regionais,
Avaliação económica de projectos de investimentos,
Execução dos planos de fomento e políticas conjunturais

Agricultura - Os objectivos fundamentais deste III Plano no sector agrícola visam especificamente o fomento da pecuária, das forragens, da horto-fruti-floricultura e da cerealicultura na continuação dos estudos em curso subordinados ao tema geral do aumento da produtividade agrícola. Reúnem-se nos seguintes grupos:

Solos,
Vegetação e reconhecimentos agrários,
Microbiologia, fisiologia genética e melhoramento de plantas,
Técnicas culturais,
Protecção sanitária das culturas e dos produtos armazenados,
Tecnologia agrícola,
Economia e estatística,
Formação e especialização de técnicos necessários aos referidos trabalhos de investigação1

Além destes objectivos, a selecção dos empreendimentos da investigação aplicada à agricultura teve em vista atacar e resolver aspectos práticos prioritariamente escolhidos de apoio directo às actividades apontadas como de primeira ordem na evolução do sector agrícola.

Silvicultura o aquicultura - Com vista a este III Plano, mantiveram-se praticamente os projectos elaborados para o Plano Intercalar e já em curso. São os seguintes:

Melhoramentos e adaptação das principais essências florestais às diversas zonas ecológicas do País,
Melhoramentos silvo-pastoris,
Estudos de tecnologia florestal,
Investigação aplicada no campo da protecção e defesa das plantas em viveiros e dos arvoredos, abrangendo o combate às doenças, pragas e incêndios,
Melhoramento dos solos florestais,
Estudos agrícolas, tendo em vista a protecção, defesa e fomento da piscicultura nas águas interiores do País.

Pecuária - A investigação neste domínio deverá orientar-se para os grandes problemas da nossa produção animal. Assim, os projectos apresentados, que envolverão vários anos de estudo e observação, relacionam-se em particular com o melhoramento animal, nutrição e fisiopatologia da reprodução, que, além do interesse científico, se revestem de grande importância pela influência directa que podem vir a ter no aumento de produtividade dos gados.
O programa proposto especifica-se nas seguintes rubricas:

Melhoramento animal,
Técnicas e métodos de exploração animal,
Estudos sobre nutrição animal,
Estudos imunogenéticos em bovinos,
Doenças carenciais nos animais domésticos Determinação dos elementos mínimos,
Bases técnico-científicas da produção industrial do frango de mesa,
Estudos de fisiopatologia da reprodução animal,

__________

1As actividades de formação e especialização desses técnicos serão efectuados de acordo com um programa comum a vários serviços dependentes da Secretaria de Estado da Agricultura.

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Estudos tecnológicos e laboratoriais dos produtos de origem animal;
Diagnóstico e estudos imunológicos sobre o vírus da peste suína africana,
Ensaios de técnicas aplicáveis ao diagnóstico laboratorial de doenças de origem bacteriana de grande incidência nos animais;
Imunoprofilaxia dos processos infecciosos não específicos dos animais novos,
Estudo das doenças infecto-contagiosas das aves com repercussões económicas graves,
Estudo sobre o diagnóstico da leucose dos bovinos em Portugal;
Estudo das doenças parasitárias das diferentes espécies animais com repercussões económicas e sanitárias graves.

Indústrias extractivas - Prevê-se que a investigação aplicada nestas indústrias venha a expandir-se consideravelmente nos próximos anos, devido à evolução natural do sector mineiro, pelo facto de estar a processar-se o aproveitamento em maior grau das substâncias metálicas e, sobretudo, das não metálicas.
A acção a desenvolver no período de 1968-1973 incluirá as seguintes rubricas:

Prosseguimento do levantamento da carta geológica de Portugal;
Aplicação de métodos de prospecção geológica, geofísica e geoquímica a jazigos minerais;
Estudos técnico-económicos relativos às explorações minerais, incluindo a utilização racionai de materiais e equipamento,
Estudos de medidas de higiene e segurança a aplicar nas minas e pedreiras,
Aplicação de técnicas físico-químicas a jazigos minerais e outras formações com interesse económico,
Estudos de preparação mecânica de minérios portugueses e outras substâncias minerais.

Indústrias transformadoras - À evolução proposta das actividades de investigação e assistência técnica do Instituto Nacional de Investigação Industrial assenta nos seguintes pressupostos, o desenvolvimento industrial português continuará a processar-se de harmonia com as técnicas consideradas mais aconselháveis para cada grau de evolução e as exigências do desenvolvimento regional, os recursos humanos deverão procurar obter-se em escala crescente para o arranque de novas ou mais amplas actividades à custa de elementos saídos das escolas superiores e médias.
Por estas razões, e tendo em consideração a fase actual de desenvolvimento do Instituto Nacional de Investigação Industrial, consideram-se como objectivos principais das actividades deste organismo, para o sexénio de 1968-1973, os seguintes:

Articulação efectiva da acção do Instituto com a de outras instituições no quadro de uma política nacional de desenvolvimento industrial;
Aperfeiçoamento dos serviços e dos respectivos equipamentos e intensificação da actividade dos grupos de trabalho

A efectivação e conveniente desenvolvimento de cada um destes pontos seriam simultaneamente acompanhados de outras acções e intervenções junto da indústria.
Dentro de tal orientação, os projectos de actividades para o sexénio de 1968-1973 poderão ser classificados nos seguintes grupos estruturação e lançamento de acções de industrial design e de um design conter, estudos de investigação e de laboratório para assistência técnica à indústria; estudos sobre madeiras, estudos de produtividade, organização científica da produção e do trabalho industrial, estudos de economia industrial, novas instalações do Instituto.

Construção e obras públicas. - A experiência colhida, através do notável esforço do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, para o desenvolvimento das actividades de investigação na construção mais relevantes para o progresso do País mostra claramente a necessidade de no período do Plano, além de se prosseguirem os programas já em curso, intensificar o estudo de outros problemas específicos de primordial relevância para o desenvolvimento económico.
Tendo presente também que a difusão dos conhecimentos e experiências já acumulados constitui elo imprescindível da cadeia de actividades de uma instituição de investigação, sem o qual se corre o risco de os resultados e a especialização não serem utilizados ou serem-no com grande atraso, inscreve-se uma verba para a actualização dos serviços de documentação do L. N. E. C.

Dentro desta orientação, foi planeada a actividade incluída nas seguintes rubricas:

Novas concepções, dimensionamento e observação de barragens e suas fundações,
Dimensionamento, construção e exploração de estradas,
Dimensionamento e comportamento de obras fluviais e marítimas,
Propriedades, condição de utilização e comportamento em obras de materiais de construção,
Normalização e regulamentação,
Estudos de natureza geral,
Informação e difusão.

Electricidade - A fase de desenvolvimento já alcançada pela nossa indústria justifica que se inicie a progressiva libertação de grande número de licenças estrangeiras, a que ainda está sujeita, através da conquista da confiança no mercado nacional e da capacidade de concorrência nos mercados externos. O recurso a complexos laboratoriais passou a ser pedra basilar para o aperfeiçoamento da técnica de produção e garantia de segurança nos equipamentos. Porém, os largos investimentos necessários para a montagem desses laboratórios, devidos à vertiginosa evolução da técnica, custo elevado dos equipamentos e sua rápida desactualização, são incomportáveis para a nossa estrutura industrial e por isso exigem certo apoio e orientação por parte do Estado.
O conhecimento de que a investigação aplicada na energia eléctrica influenciaria consideravelmente o progresso do sector e a manifestação, por parte das empresas, da existência de necessidades bem concretas e inadiáveis levam a concluir pela oportunidade da criação de um organismo de investigação e ensaio no domínio da electrotecnia no plano nacional, sob a forma de associação mista de serviços do Estado e actividades particulares e cujos encargos se explicitam no mapa de investimentos.

Energia nuclear - Apontam-se como duas grandes linhas de orientação da investigação neste domínio o aproveitamento dos combustíveis nucleares nacionais e o desenvolvimento de técnicas inerentes à construção e exploração de centrais nucleares. Em relação à primeira,

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trata-se de concretizar a mais conveniente forma de trabalhar os combustíveis nucleares nacionais para o mercado interno e externo, dentro da orientação política que venha a ser definida, quanto à segunda linha, ficou prevista, no capítulo «Energia» do presente Plano, a instalação de uma primeira central nuclear no País por alturas de 1975, pelo que se torna necessário intensificar os estudos relativos ao desenvolvimento das respectivas técnicas.
Estas, em linhas gerais, as razões dos dois primeiros projectos que se apresentam e dão conteúdo aos restantes produção e distribuição de isótopos radioactivos e aplicação de radiações, protecção contra radiações e contribuição para o desenvolvimento tecnológico do País em domínios ligados a energia nuclear.

Pesca, saúde pública - Incluem-se, por memória, as verbas dedicadas à investigação aplicada nestes sectores, de acordo com o que é indicado nos respectivos capítulos.

Meteorologia e geofísica - Os projectos de investigação propostos são:

Atlas climatológico e hidrológico da Península Ibérica,
Estudo climo-hidrológico de grandes bacias portuguesas e luso-espanholas,
Previsão de cheias,
Previsão matemática do tempo,
Investigação da sismotectónica do continente, Açores e Madeira.

Os três primeiros projectos são de particular interesse para o plano de trabalho do Decénio Hidrológico Internacional, em que colabora uma comissão nacional criada pelo Decreto-Lei n º 47 573, de 8 de Março de 1967. A sua realização apresenta a maior importância, não só para as diversas actividades económicas, como para a defesa nacional.

Cartografia. - Os projectos apresentados referem-se á actualização da carta 1/25 000 de Portugal metropolitano, a cargo dos Serviços Cartográficos do Exército, considerada como elemento fundamental para o estudo e apoio na maioria dos trabalhos de fomento e múltiplas actividades particulares. Pretende-se que, no período correspondente a este III Plano, possam ser realizados 60 por cento daquela tarefa.

Urbanização e habitação - Finalmente, apresenta-se uma proposta de investimento relativa a estudos de planeamento nacional e regional nos domínios da habitação e urbanização, cuja realização se impõe com urgência, conforme é indicado no capítulo relativo a este sector.

§ 3.º Providências legais a administrativas

48. Providências gerais - Para que a investigação aplicada possa florescer, considera-se necessária a adopção, entre outras, das seguintes providências.

a) Ampliação e adequação conveniente às necessidades nacionais da formação de pessoal técnico a todos os níveis, em particular de pessoal com formação universitária e média,
b) Melhoria das condições do pessoal de investigação, atribuindo-lhe remunerações condignas que permitam o recrutamento dos elementos mais válidos e garantam a sua permanência na prestação do serviço. A instituição do regime de serviço extraordinário pago constitui fórmula aconselhável para a melhoria dos vencimentos e para a actividade de investigação ser exercida, como se impõe, em regime de tempo integral,
c) Remodelação das leis orgânicas que se encontram desactualizadas e solução dos problemas relativos a situação dos funcionários pagos por verbas extraordinárias,
d) Estabelecimento de condições que permitam ampliar a colaboração entre as Universidades e os institutos de investigação não ligada ao ensino,
e) Fomento da investigação a realizar ou patrocinar pelo sector privado, mediante disposições apropriadas.

49. Medidas especiais que visam a resolução de problemas específicos de certos domínios.

Criação de um organismo nacional de investigação aplicada no domínio da electricidade, sob a forma de associação mista de serviços do Estado e actividades particulares ligadas a electricidade - fórmula que se considera com interesse para se tornar extensiva a outros sectores,
Revisão da lei orgânica do Serviço Meteorológico Nacional e da legislação complementar, na parte relativa à situação dos funcionários técnicos, com vista a tornar viável o seu recrutamento e os ajustamentos dos quadros, para atender à evolução da meteorologia e da geofísica e às necessidades da investigação naquelas disciplinas.

§ 4.º Investimentos

50. Os investimentos relativos aos projectos propostos no parágrafo anterior são apresentados no quadro seguinte, com discriminação das fontes de financiamento, incluindo-se ao mesmo tempo, por memória, as actividades de investigação aplicada contempladas em outros capítulos do Plano.

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(a) Por memória, não totalizado

O carácter prioritário dos sectores da agricultura e indústria e a importância da investigação aplicada paia o desenvolvimento económico aconselham a considerar, em

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prazo tão curto quanto possível, o substancial alargamento do respectivo ritmo de actividades e dos financiamentos que lhes deverão ser atribuídos Contudo, o aumento de dotações devera ser condicionado pela reorganização das estruturas sectoriais de investigação em causa, que será realizada nos próximos anos, de modo a permitia que a desejável expansão seja comtemplada na revisão do Plano. Parece também conveniente generalizar a prática de obter a participação do sector privado no financiamento da investigação aplicada, o que contribuirá, designadamente, para a sua melhor adaptação às necessidades próprias das actividades produtivas. Nesse sentido, consideram-se desde já previsões para o fomento industrial, a electricidade e a programação económica, que correspondem a solicitações mais instantes do sector privado, devendo ainda salientar-se que a investigação relativa a construção civil será em grande medida assegurada por recursos particulares - para além dos montantes previstos no Plano - e à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, em que estes financiamentos representam já mais de 50 por cento das despesas de investigação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Durante a execução do Plano serão considerados os reajustamentos institucionais indispensáveis para assegurar a efectiva concretização destas directrizes nos diversos departamentos interessados.

SECÇÃO III
Formação profissional extra-escolar

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

51. A regularização do mercado do trabalho através da satisfação da procura de mão-de-obra qualificada, incluindo a reconversão dos milhares de trabalhadores rurais que as actividades agrícolas deixam de absorver e tendem a transferir-se para outros sectores produtivos, foi já apresentada no Plano Intercalar de Fomento como uma das acções prioritárias a enfrentar perante o desenvolvimento sócio-económico proposto. A formação profissional extra-escolar, que desde há muito se vem praticando no âmbito de vários Ministérios, tornou-se no momento actual domínio de capital importância, cujas infra-estruturas podem considerar-se lançadas. Com efeito, desde 1962 que no Ministério das Corporações e Providência Social se estuda a problemática da formação extra-escolar e se têm realizado as primeiras recolhas de elementos com visita ao estabelecimento de previsões a curto prazo das principais carências de mão-de-obra. A criação do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e a actividade desenvolvida nos primeiros anos do Plano Intercalar de Fomento permitiram, além do diagnóstico actualizado das distorções existentes no meneado do emprego, um melhor conhecimento da forma como este subsector vem sendo encarado em países com maior experiência, a fim de formular soluções adequadas à nossa actual situação. Aliás, a própria evolução técnica e as transformações económico-sociais que continuamente se processam conferem à educação extra-escolar importante papel na readaptação da população activa à vida profissional, de acordo com o desenvolvimento das aptidões e interesses de cada um e as novas possibilidades de emprego que se apresentem. Deste modo, há todo um conjunto de acções cujo objectivo é completar e actualizar, de harmonia com as necessidades da política do trabalho, a acção desenvolvida pelo sistema escolar. O campo de actuação aberto a este tipo de formação profissional, partindo do conhecimento das necessidades de mão-de-obra, obtido especialmente através da recolha de elementos pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, conduz a adoptar um sistema maleável de cursos relativamente curtos, intensivos e com boa rentabilidade, enquadrados por estruturas que sirvam os beneficiários, tanto no micra - através dos serviços de orientação profissional - como após a formação - mediante serviços de colocação.

52. A realização de esforços neste domínio por parte de vários serviços responsáveis, nomeadamente os organismos corporativos e a iniciativa privada, leva a reconhecer a urgência da elaboração de um plano nacional de formação profissional, a definir de acordo com o Ministério da Educação Nacional, que estabeleça um sistema flexível de equivalências, em concordância com as prioridades verificadas, bem como o reconhecimento legal das qualificações profissionais adquiridas.

53. As actividades a promover pelo Fundo de Desenvolvimento da Mõa-de-Obra ou, com a sua colaboração, pelas empresas particulares e organismos corporativos, até 1973, foram já referidas no respectivo capítulo do Plano Intercalar de Fomento.
A acção daqueles organismos, se bem que represente esforço inicial considerável, mostra, no entanto, resultados ainda abaixo das necessidades, mas a realização dos estudos preparatórios do larçamento das várias acções de formação profissional extra-escolar no âmbito do Plano para 1965-1967 representa notável avanço, com o qual se deve contar em relação à capacidade de realização dos projectos para o sexénio que se segue.
Em 1966, a execução do plano do Ministério das Corporações e Previdência Social para 1965-1967 apresentava a capacidade de foi mação, em diversos domínios, de 4442 profissionais por ano, em 31 centros, já instituídos ou prestes a iniciarem as suas funções, o que é notável, sobretudo considerando o numero de profissões abrangidas. Tais realizações, embora significativas, são, no entanto, ainda insuficientes para as necessidades, que se calculam na formação, por aprendizagem, e com referência a todos os tipos de ensino, de cerca de 450 000 trabalhadores no período de 1960-1973. Desde logo se admitiu não ser viável ao sector público arcar com tamanho empreendimento, e por isso se contou com a indispensável colaboração dos organismos corporativos e da iniciativa privada. A evolução verificada neste aspecto é, todavia, de molde a aconselhar medidas eficazes de fomento que permitam intensificar aquela colaboração.

54. Em síntese, os principais problemas que o desenvolvimento da formação profissional extra-escolar defronta residem na necessidade de melhor coordenação das várias entidades intervenientes nesse domínio, na conveniência em definir uma política de formação profissional à escola nacional, na vantagem em proceder à correspondente regulamentação legal e na premência de recrutar pessoal em quantidade e com o nível qualitativo requerido, em termos que não sejam de molde a envolver prejuízo para a acção escolar.

§ 2.º Objectivos

55. São os seguintes os objectivos gerais propostos neste domínio para o período de 1968-1973

Intensificar o ritmo de realizações, tendo em vista a aceleração do processo de desenvolvimento económico,

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SECÇÃO IV
Resumo dos investimentos

Subsectores Milhares de contos

Educação e investigação ligada ao ensino........ 4 000
Investigação não ligada ao ensino............... 594
Formação profissional extra-escolar............. 1 049,3
5 643,3

CAPITULO XI

Habitação e urbanização

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1.Na sequência do Plano Intercalar e por idênticos motivos, considerou-se indispensável que o III Plano incluísse um capítulo consagrado à habitação, ao mesmo tempo que se reconheceu como condição de viabilidade do progresso do sector o tratamento simultâneo dos problemas urbanísticos. Com efeito, as situações que actualmente se deparam nestes domínios, os reflexos das condições de alojamento da população sobre a actividade económica nacional, a preocupação de obter a melhor rentabilidade dos recursos financeiros existentes, são factores que concorrem para realçar a importância de que continua a revestir-se a intervenção do sector público com vista ao fomento da construção de habitações de finalidade social e à disciplina dos investimentos privados, submetendo-os às exigências fundamentais do bem comum. Este duplo objectivo do planeamento habitacional determina desde logo a perspectiva em que deverá situar-se a efectivação do acesso & casa, índice expressivo do nível de progresso e bem-estar dos povos.

2. Para melhor se avaliar a capacidade de intervenção de que o Estado dispõe no sentido de orientar e influenciar o desenvolvimento do sector, basta verificar que tem cabido a empresas privadas o financiamento da maior parte das novas construções para habitação, ao passo que os capitais investidos neste domínio pelo sector público e semipúblico apenas representaram, em 1965, 12,4 por cento do total1. Por outro lado, o valor médio das percentagens anuais da formação bruta de capital fixo em casas de habitação, em relação ao total, baixou de 20,5 por cento no período de 1953-1958 para 17,7 por cento no hexénio seguinte, o que revela que o investimento global no País tem aumentado mais rapidamente do que a parcela destinada a habitações.
Em termos absolutos, o produto gerado no sector habitacional progrediu, entre 1953 e 1964, à taxa média anual de 3,5 por cento, tendo atingido em 1965 aproximadamente 3 209 000 contos. Paralelamente, a formação bruta de capital fixo em edifícios para habitação cresceu à taxa de 6,9 por cento, situando-se em 3 873 000 contos em 1965.

3. Os dados constantes do X Recenseamento Geral do População, referentes ao ano de 1960, são omissos relativamente a alguns aspectos importantes do sector, não permitindo determinar com rigor as carências actuais de alojamentos. E, porém, de admitir que a situação habitacional do País não tenha melhorado sensivelmente no último hexénio, sendo certo que os elementos utilizados permitem aperfeiçoar as conclusões dos estudos preparatórios do Plano Intercalar2 e facultam o apoio indispensável para a definição dos objectivos que irão orientar as actividades do sector durante o período de 1968-1973

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1 A percentagem indicada inclui cerca de 74 000 contos correspondentes a empréstimos concedidos ao abrigo da Lei n.º 2092.
2 O tomo VI ("Condições de Habitação dos Agregados Domésticos") do X Recenseamento Geral da População teve publicação posterior ao apuramento final dos estimativas que serviram de base para o Plano Intercalar.

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erradicação da varíola, importando, para que assim continue, assegurar a sequência dos programas de vacinação das populações.

9. De entre as endemias rurais e doenças parasitárias, consideram-se praticamente erradicadas na metrópole o paludismo, a bilharziose e a ancilostomíase mineira, está também erradicada a Aedes acgypti de espécie transmissora da febre-amarela e continuam-se a tomar medidas com vista a impedir o seu reaparecimento. Mantém-se igualmente a erradicação do paludismo, não se tendo verificado, desde 1962, qualquer novo caso originado na metrópole. A defesa sanitária contra esta doença tem-se, todavia, intensificado, a fim de ocorrer aos casos de infecção verificados em civis e militares que regressam à metrópole, vindos do ultramar, aspecto que está a merecer particular cuidado e a exigir medidas especiais de protecção. Também quanto ao kala-azar, pode dizer-se que se trata de doença praticamente erradicada, desde que se consiga, como se prevê, a eliminação do foco do Alto Douro, o único actualmente existente na metrópole. Entretanto, a ancilostomíase rural, como as helmintíases, constituem problema sanitário que se impõe resolver. Cumpre, finalmente, aludir a alguns aspectos da saúde pública, relativamente aos quais haverá que intensificar os trabalhos de investigação e os meios de acção. Entre estes, figuram os concernentes á paramiloidose, profilaxia da cegueira e da cárie dentária, higiene de alimentação, bromatologia e higiene do trabalho.

10. Em execução do Plano Intercalar de Fomento e com vista ao desenvolvimento da investigação aplicada, para esclarecimento dos problemas sanitários e criação ou melhoria das técnicas a utilizar, está a preparar-se o projecto para o novo edifício do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, não tendo sido possível caminhar mais rapidamente em virtude das dificuldades surgidas quanto à sua localização e da necessidade de preparar um programa cuidado.
Também, entretanto, foi criada a Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical, cujos primeiros cursos devem ter lugar em Outubro de 1967.

11. No que se refere ao estado de conservação e utilização das instalações, pode dizer-se que, de modo geral, os serviços da Direcção-Geral de Saúde que se ocupam do sector de higiene pública se encontram insatisfatoriamente dotados. Bastará notar que, de entre os edifícios onde funcionam os referidos serviços, apenas um (o Instituto de Malariologia) foi construído para o fim a que se destina. Os restantes foram objecto de simples adaptação, verificando-se ainda que a capacidade de utilização da maior parte das instalações se encontra excedida. Sobressaem, porém, os serviços centrais e a delegação de saúde de Lisboa como os mais urgentemente carecidos de edifício novo.

12. Deve ainda salientar-se que os serviços da Direcção-Geral de Saúde são, no âmbito do Ministério da Saúde e Assistência, os que apresentam, concomitantemente com deficiências de instalação, estruturas mais desactualizadas e necessidade de maior ampliação, com o resultante acréscimo de unidades de pessoal.

c) Protecção materno-infantil

13. A situação do sector materno-infantil, definida pela taxa de mortalidade infantil atrás referida, permite verificar que, apesar dos apreeciáveis progressos realizado neste domínio, ainda não se atingiu o índice desejado. Convém, igualmente, notar que aquela taxa global resulta de valores distritais muito diversos, que vão, no continente, desde 43,8 (Lisboa) até 89,4 (Braga), imediatamente seguido de 87 (Bragança). Nas ilhas adjacentes, é particularmente elevada a taxa correspondente a Angra do Heroísmo (100,6). Pelo que respeita à mortalidade fetal e fetal tardia, as taxas registadas nos últimos anos (respectivamente 32,2 e 23,3 em 1964), traduzem escassez de assistência médica pré-natal e de assistência no parto. Quanto a este último aspecto, tem sido lenta a redução do número de partos ocorridos sem assistência de médico ou parteira, os quais representavam, em 1964, 46,3 por cento do total. Importa sublinhar que os dados estatísticos existentes não incluem as crianças que, sobrevivendo, têm, por falta de cuidados nos primeiros anos de vida, existência precária, com doenças ou diminuições físicas ou mentais que as impedem de se tornarem membros integralmente válidos da sociedade e, por vezes, as condenam a constituir para esta pesado encargo.

14. Neste sector, se os problemas que respeitam ao pessoal técnico são básicos, já, quanto às instalações, eles não assumem relevância de maior. Com efeito, os dispensários materno-infantis podem funcionar em qualquer casa arrendada, em centros de saúde ou em dependências de estabelecimentos hospitalares, havendo apenas que evitar contactos das pessoas assistidas com indivíduos doentes. Também as creches e os jardins de infância podem instalar-se em casas arrendadas Em 1964, existiam na metrópole 524 dispensários e postos de consultas materno-infantis. Nesse ano, era de 317 o numero de creches e jardins de infância.
No decurso do Plano Intercalar foram criados diversos dispensários materno-infantis e remodelados outros, embora o seu número seja ainda insuficiente para as necessidades.

d) Tuberculose

15. Nos últimos 14 anos regista-se descida muito apreciável da taxa de mortalidade por tuberculose, de 133,3 para 31,8, em virtude dos meios com que foram dotados os respectivos serviços. Todavia, o seu valor (31,8 por 100 000 habitantes) deve considerar-se ainda alto, e haverá que caminhar para cifras da ordem dos 10 por 100 000 habitantes.
Por outro lado, os resultados da pesquisa de sensibilidade tuberculínica revelam a existência de percentagem de alérgicos ainda bastante elevada. Verifica-se, contudo, que o número de indivíduos inscritos de novo por tuberculose desceu progressivamente nos últimos anos (de 16 214, em 1956, para 13 601, em 1964, valores que representam, respectivamente, 19,3 e 10,1 por cento do número de primeiras consultas realizadas nos anos referidos).
Os resultados favoráveis obtidos também nos últimos anos têm permitido começar a encerrar enfermarias de tuberculose, que se destinam, agora, a outras finalidades.

16. A luta contra a tuberculose cobre, actualmente, 62 por cento dos concelhos e 80 por cento da população metropolitana. Pelo que respeita a estabelecimentos para internamento de doentes, dispõe o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos de 16 sanatórios (com 4148 camas) e 64 enfermarias-abrigo (com 2372 camas). As casas de saúde para tratamento de tuberculosos pulmonares recebem doentes enviados por aquele Instituto,

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do seguro social, irão igualmente contribuir para o desenvolvimento das medidas de prevenção naqueles domínios.

27. Em 1966, estiveram em actividade 651 Casas do Povo, abrangendo uma população de cerca de 980 583 beneficiários Prestaram serviço nestas instalações 764 médicos, 90 enfermeiras, 60 parteiras e 899 auxiliares de enfermagem.
Algumas Casas do Povo promovem o internamento hospitalar dos beneficiários, mediante acordos com as Misericórdias locais. A assistência clínica prestada pelas Casas do Povo tem sido mais eficiente nos casos em que é realizada em regime de acordo com os serviços médicos das Caixas de Previdência, mediante a utilização recíproca de instalações. Até ao final de 1966, foram celebrados 422 acordos de cooperação, dos quais beneficiaram cerca de 350 000 indivíduos, e o montante dos subsídios de funcionamento pagos pela Previdência às Casas do Povo por força dos acordos realizados foi de 71 647 contos.

h) Assistência social

28. Para a análise da posição ocupada pelo sector assistêncial no processo de desenvolvimento do País, torna-se necessário distinguir as duas modalidades principais em que a assistência é prestada a que visa a correcção de disfunções ou deficiências verificadas nos indivíduos e a que procura facultar aos indivíduos e os colectividades meios que lhes permitam obter níveis mais satisfatórios de bem-estar social. No primeiro grupo incluem-se a assistência pecuniária ou em géneros, a assistência a inválidos, a pessoas idosas privadas de ambiente familiar, a deficientes físicos, sensoriais ou mentais e a menores privados de ambiente familiar. O segundo grupo comporta algumas formas de protecção materno-infantil, programas de cooperação e formação familiar e de promoção social das comunidades, projectos de cooperação social e obras deles derivadas (tais como centros sociais).

29. Os gastos em assistência por disfunção económica, na metrópole, são suportados sobretudo pelo Instituto de Assistência a Família e pela Misericórdia de Lisboa, tendo atingido, em 1964, o total de, aproximadamente, 60 milhares de contos. No mesmo ano, o número de pedidos excedeu o número de casos atendidos em cerca de 20 milhares, dos quais 10 milhares foram devidamente classificados como carecidos de assistência e os restantes ficaram pendentes por falta de possibilidades de estudo. As necessidades, actualmente elevadas, deste tipo de assistência tendem a reduzir-se por efeito da melhoria do nível de salários, maiores possibilidades de emprego e ampliação dos esquemas de segurança social, bem como do incremento de actividades de cooperação familiar e de promoção social desenvolvidas pelo Instituto de Assistência a Família.

30. O decénio de 1951-1960 registou redução substancial do número de cegos no País, particularmente acentuada nos grupos etários inferiores a 20 anos. Esta evolução mostra-se conforme à tendência geral de diminuição do número de cegos de idades jovens e do simultâneo aumento da sua ocorrência nos grupos mais idosos, à medida que se alarga a duração média de vida. No aludido decénio, o número de invisuais que viviam de esmola baixou de 1320 para 653, verificando-se, por outro lado, que o número de invisuais alfabetizados subiu de 2571, em 1950, para 5449, em 1960, valores que representam respectivamente, 28,5 por cento e 68,7 por cento do número total de cegos existentes nesses anos.
Os estabelecimentos de assistência para o ensino especial de invisuais menores comportam presentemente 243 lugares. Admitindo a existência de 450 invisuais em idade escolar, conclui-se que a cobertura integral das necessidades neste domínio requer a criação de mais 200 lugares, aproximadamente. A falta de ensino especial em idade própria registada no passado terá, por seu turno, de ser compensada por centros de reabilitação já instalados para esse efeito.

31. Segundo os valores publicados no último censo, havia, em 1960, 7000 indivíduos surdos, dos quais 1400 eram menores de 20 anos de idade e 77 menores de 10 anos. A acção empreendida com vista à alfabetização de indivíduos surdos maiores de 10 anos permitiu que a percentagem de alfabetizados registasse o notável aumento de 23,9 por cento, em 1950, para 81,6 por cento, em 1960. A actual lotação dos estabelecimentos de educação de crianças surdas é de 500 lugares. A cobertura integral das necessidades actuais requer a criação de mais 200 lugares.

32. Pelo que respeita a educação de débeis mentais, apenas se situam dentro do âmbito do sector assistêncial os casos de debilidade média. Trata-se de deficientes mentais de recuperação médico-pedogógica relativamente demorada, em que a escolaridade não se destina apenas a instrução, mas também serve de meio de integração profissional e social. Estima-se que, na metrópole, cerca de 27 000 crianças em idade escolar sejam portadoras de deficiência mental. Esta cifra, comparada com a lotação dos estabelecimentos existentes (296 lugares em 19651), exprime os progressos que, neste domínio, se tornam ainda necessários.

33. A assistência às crianças cegas e surdas foi objecto de estudo atento, tendo em vista o aproveitamento e a valorização, sempre que possível, dos estabelecimentos existentes e a criação de novas unidades, dentro de planos que prevêem a cobertura das necessidades do País. Fez-se estudo análogo para os débeis intelectuais, muito embora, quanto a estes, não haja qualquer viabilidade de assegurar idêntica cobertura durante o período deste Plano.
Elaborados os programas gerais, foram instalados, no âmbito do Plano Intercalar de Fomento, vários estabelecimentos para deficientes e promoveram-se ainda as condições indispensáveis à próxima criação de dois centros de observação médico-pedagógica, que devem vir a constituir a base de actuação no sector de assistência aos menores.
Paralelamente, entrou em funcionamento um novo centro para reabilitação de pessoas que cegaram em adultos ou que não tiveram, na idade própria, a preparação adequada, muitas delas por terem frequentado estabelecimentos da modalidade ao tempo a funcionar em condições deficientes.
Deu-se também incremento à preparação de pessoal pela abertura de novos cursos para profissões especializadas no ensino de deficientes sensoriais.

34. Pelo que respeita à educação de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, a capacidade dos internatos era, em 1964, de cerca de 12 000 lugares, quase totalmente preenchidos. Os semi-internatos possuíam, naquele ano, cerca de 2000 lugares, também satisfatoriamente utilizados, quase todos pertencentes a entidades.

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1 No âmbito do Plano Intercalar, prevê-se a construção de novo edifício com capacidade para 120 educandos.

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particulares. Ainda no mesmo ano, dos 1327 pedidos de internamento puderam ser atendidos apenas 505. Dos 163 pedidos de colocação em famílias idóneas, foram satisfeitos 53. Entende-se que a insuficiência mais acentuada se verifica no domínio dos semi-internatos, não só porque a existência destes permite reduzir apreciavelmente o número de internamentos, mas também porque, através deles, é possível exercer ampla aceito formativa sobre as crianças abrangidas e respectivas famílias.

35. O estudo das condições de funcionamento destes estabelecimentos, em particular dos internatos, realizado em estreita colaboração com as congregações religiosas que neles actuam e com os respectivos dirigentes, levou a concluir pela necessidade de profunda remodelação, tendente a assegurar que as crianças privadas de meio familiar venham a representar elementos válidos para a sociedade.
Ficou demonstrado que as principais deficiências verificadas tinham origem na falta de pessoal qualificado para o exercício das tarefas a seu cargo, o que levou à criação de um Centro de Preparação de Pessoal, que promoveu uma série de cursos para preparação intensiva de cerca de 400 religiosas, já a trabalharem nos estabelecimentos de menores, e elaborou os planos para a entrada em funcionamento, a partir do ano lectivo de 1967-1968, de cursos de auxiliares de educação e de ajudantes de jardim de infância, a que se seguirão os de educadores e de directores para os mesmos estabelecimentos dependentes do Ministério da Saúde e Assistência.
Mercê deste apoio técnico, podem as instituições particulares às quais está entregue a assistência aos menores na maior parte do País obter maior rentabilidade dos meios de que dispõem.

36. Refere-se, finalmente, a assistência a pessoas idosas. As necessidades quantitativas acusam o déficit de 800 lugares em estabelecimentos asilares para indivíduos do sexo feminino. E, porém, no aspecto qualitativo dos serviços prestados que residem as principais deficiências deste sector.

§ 2.º Objectivos

a) Generalidades

37. A situação presente do sector, caracterizada nos seus aspectos mais relevantes, evidencia as metas a procurar atingir, as quais, entretanto, só poderão alcançar-se a longo prazo, tornando-se, por isso mesmo, forçoso reconhecer a urgência das medidas a tomar, decididamente, nesse sentido.
Antes, porém, de passar a abordar os objectivos a alcançar nos próximos anos, importa sublinhar que, em face dos problemas apontados, se reconhece absoluta prioridade nos aspectos de que depende a eficácia de toda a acção futura, os quais se resumem, fundamentalmente, nos seguintes pressupostos de ordem geral.

Adequada reorganização dos serviços do Ministério da Saúde e Assistência, designadamente pela publicação da respectiva lei orgânica, neste momento já elaborada,
Sistemática e continuada coordenação de todas as medidas respeitantes a saúde e bem-estar social das populações,
Formação de pessoal em número suficiente e criação de condições necessárias à sua fixação.

Foi neste entendimento que se estabeleceram, para o período do Plano, os objectivos e projectos que a seguir se indicam e cuja realização depende da prévia concretização dos pressupostos acima apontados.

b) Saúde publica em geral

38. Os objectivos a prosseguir neste sector podem agrupar-se do seguinte modo:

1.º Extensão efectiva à periferia de serviços de saúde adequados. O Centro de Saúde - entendido como modalidade de associação de serviços actuando na periferia, de forma a assegurar uma acção especializada, mas convergente, no sentido da promoção da saúde das populações - constituirá elemento de base para a protecção e fomento da saúde das comunidades rurais. Com vista à concretização desse objectivo, projecta-se a criação de uma rede de centros de saúde, localizados em sedes de concelho, dando prioridade às áreas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional. Para facilitar o provimento das necessidades de pessoal correspondentes ao eficiente funcionamento desses centros, proceder-se-á, eventualmente, à beneficiação e construção de habitações para médicos e serão criados lares e concedidos subsídios de fixação para os profissionais de enfermagem não residentes no local de trabalho. As melhorias a introduzir nas, delegações de saúde distritais, incluindo a construção de algumas novas instalações, permitirão que estas prestem nos centros de saúde o apoio e orientação convenientes.
2.º Fomento da investigação e desenvolvimento da epidemiologia e da estatística sanitária. Para esse efeito, prevê-se a conclusão dos trabalhos de reorganização do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge e a formação de investigadores, bem como a ampliação da delegação daquele Instituto no Porto, e ainda a criação de uma Inspecção Superior, enquadrada na remodelação prevista para os serviços da Direcção-Geral de Saúde. Serão ainda criados novos laboratórios distritais de saúde pública e aperfeiçoados os actualmente existentes.
3.º Prosseguimento da vacinação e educação sanitária das populações e combate às doenças infecciosas, endemias rurais e doenças parasitárias. O programa inclui a preparação de especialistas de educação sanitária, visitadoras sanitárias (ou pessoal de nível equivalente) e agentes sanitários.

c) Saúde escolar

Neste domínio, encarar-se-á a possibilidade de desenvolver os planos de cobertura do País, em estreita coordenação com os programas de promoção da saúde pública. Serão, por outro lado, realizadas acções de estudo e rastreio em diversos domínios médico-pedagógicos, através dos serviços competentes do Ministério da Educação Nacional.

d) Protecção materno-infantil

39. Os esquemas de protecção materno-infantil não podem deixar de considerar-se prioritários entre os objectivos fixados para o sector. Assim, haverá que dar continuidade à acção desenvolvida ao abrigo do Plano Intercalar, prevendo, na mesma linha de orientação.
1.º Ampliação da rede de dispensários por todo o território metropolitano e alargamento do raio de acção de cada dispensário distrital até ao concelho e freguesia,

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mediante permanências e visitas domiciliárias. Projecta-se desenvolver a rede de dispensários e consultas materno-infantis, fundamentalmente em áreas rurais, dando prioridade às zonas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional e em coordenação com os serviços da Previdência Social,
2 º Colaboração activa nos programas de educação sanitária, sobretudo nos aspectos ligados à protecção da vida da mãe e da criança,
3.º Criação, em colaboração, sempre que possível, com os serviços da Previdência, de creches e jardins de infância, a instalar, de preferência, nas áreas em que se registam taxas mais altas de mão-de-obra feminina e naquelas em que situações particulares exigem urgentes programas especiais de nutrição, sobretudo da população infantil.

e) Tuberculose

40. A diminuição da incidência da tuberculose requer seja aperfeiçoado e alargado o esquema de serviços de carácter preventivo. Nesse sentido, prevê-se.
1 º O estabelecimento de nova orgânica de serviços periféricos, em conformidade com a qual cada dispensário (com o conjunto de consultas-dispensário) será substituído por um centro dispensarial (dispensário e postos avançados), dependendo toda a actividade do dispensário, que deslocará equipas de pessoal aos postos avançados das localidades vizinhos para a realização das consultas necessárias. Dentro desta orgânica, prevê-se a instalação de novos centros dispensarias e o alargamento da rede de postos avançados,
2.º Instalação de postos fixos de radiorrastreio nas capitais de distrito que ainda os não possuam e substituição do edifício do centro de profilaxia de Lisboa,
3.º Melhoramento das instalações de três sanatórios e construção de quatro novos edifícios para serviços anexos a estabelecimentos existentes,
4 º Resolução do problema de ergoterapia e readaptação ao trabalho,
5.º Preparação do pessoal indispensável.

f) Saúde mental

41. A acção a desenvolver para a promoção da saúde mental visa principalmente:
l º A criação de novos centros de saúde mental. A cada centro serão agregados hospitais de dia, lares de convalescentes, cenhos de trabalho e estabelecimentos complementares;
2.º Conclusão das obras do Hospital Psiquiátrico do Dr. Magalhães Lemos, iniciadas durante o período de vigência do Plano Intercalar, e melhoria das instalações dos hospitais psiquiátricos existentes,
3.º Criação de serviços de recuperação de doentes mentais, destinados a casos de evolução prolongada;
4.º Preparação do pessoal indispensável.

g) Oncologia

42. Nesta matéria, os principais objectivos a assinalar são:

1.º Adaptação, ampliação e reapetrechamento das instalações do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil,
2.º Criação de centros regionais no Porto, em Coimbra e em Évora,
3.º Ajustamento da articulação destes serviços com os hospitais gerais.

h) Assistência na doença em geral

I) Hospitais

43. São os seguintes os objectivos previstos:
1.º Reorganização geral dos hospitais, mediante a publicação do Estatuto Hospitalar e do Regulamento Geral dos Hospitais,
2.º Aumento do número e qualidade das camas hospitalares, mediante a construção de dois hospitais centrais (um em Coimbra e outro em Lisboa), com a capacidade de 800 camas cada um, e de quinze hospitais regionais. Destes, nove foram já inicialmente previstos pelo Plano Intercalar, encontrando-se três (Beja, Bragança e Funchal) em conclusão e seis (Faro, Portalegre, Castelo Branco, Viana do Castelo, Aveiro e Évora) em fase de elaboração do projecto ou de início de obras, devendo ficar concluídos no período de vigência deste III Plano, os restantes seis localizar-se-ão em Chaves, Lamego, Guarda, Vila Real, Viseu e Santarém, sendo de prever apenas o seu começo no decurso da execução do Plano. Considera-se ainda a continuação das obras de remodelação e ampliação de alguns hospitais centrais em Lisboa (D. Estefânia, Santa Marta e S. José) e a construção de uma lavandaria geral para os Hospitais Civis de Lisboa;
3.º Estabelecimento de um programa de fixação de pessoal hospitalar, com base na revisão de remunerações e outras regalias, de forma a eliminar ou atenuar a escassez daquele pessoal na periferia,
4.º Realização de cursos intensivos de preparação de administradores hospitalares, de cursos anuais de aperfeiçoamento para pessoal de direcção e chefia e de cursos bienais para outro pessoal administrativo na periferia,
5.º Realização de cursos intensivos de actualização paia médicos, em especial dos hospitais regionais e sub-regionais.

II) Maternidades

44. Sem prejuízo da revisão dos serviços de obstetrícia das grandes cidades, haverá que aproveitar para maternidades, remodelando quando necessário, camas actualmente desaproveitadas em hospitais sub-regionais, nalguns casos, será aconselhável a criação de pequenas maternidades rurais. Projectam-se ainda os seguintes empreendimentos remodelação e ampliação da Maternidade de Júlio Dinis, no Porto, ampliação da Maternidade do Dr. Alfredo da Costa, caso os estudos a realizar o recomendem, e construção de nova unidade para substituição da Maternidade de Magalhães Coutinho.

III) Escolas da enfermagem

45. Para acelerar o ritmo de formação do pessoal de enfermagem, deverão ser criadas novas escolas, quer a nível central quer regional. As capacidades previstas são, em princípio, de 400 alunos para as primeiras e de 60 para as últimas. Não deixou de ser considerado o ensino pós-graduado do pessoal de enfermagem, com cursos de ensino e administração de serviços de enfermagem, de actualização profissional e de especialização

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IV) Lares pua pessoal da enfermagem

46. Reconhece-se que um dos factores que maior influência exerce como atractivo na fixação do pessoal de enfermagem é a facilidade de alojamento. Neste sentido, inclui-se entra os objectivos do Plano a criação de lares para aquele pessoal, próximos dos hospitais centrais e com vista a substituição ou remodelação das instalações existentes.

V) Previdência

47. Prosseguindo no aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo do seguro-doença, sempre que possível em coordenação com os serviços gerais de saúde do Pais, propõem-se as instituições da Previdência Social alcançar, durante o período deste III Plano, os seguintes objectivos:
a) Aperfeiçoamento e alargamento do esquema de prestações na doença.
Recorda-se, a propósito, que a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962, regulamentada pelo Decreto n.º 45 266, de 23 de Setembro de 1963, introduziu substanciais inovações neste domínio, designadamente no que respeita a forma de calcular o subsidio pecuniário, ao alargamento do internamento hospitalar, à duração do período de espera e ao tempo de concessão das prestações.
No seguimento de medidas ultimamente tomadas com vista a obviar à superlotação das consultas médicas, espera poder-se melhorar cada vez mais a qualidade dos serviços clínicos prestados mediante a substituição do sistema de médico de dispensário, que exerce actividade sujeita a horário estabelecido, pelo de médico assistente, que terá a seu cargo certo número de beneficiários, aos quais prestará assistência (ambulatória ou domiciliária) em todas as circunstancias. A referida modalidade proporciona, entre outras, a vantagem de permitir ao doente a escolha do médico assistente dentre os clínicos gerais inscritos na Previdência e adstritos a área respectiva. Este princípio será generalizado, na medida do possível, aos especialistas.
b) Intensificação das actividades de coordenação com os serviços do sector da Saúde e Assistência, designadamente através da revisão de acordos de cooperação já existentes e da eventual celebração de outros que se afigurem necessários.
O esquema de internamento hospitalar nos serviços de medicina, que actualmente abrange apenas os beneficiários activos e os pensionistas, será, numa segunda fase, tornado extensivo aos familiares de uns e de outros.
Pelo que respeita a tuberculose, prevê-se que o acordo celebrado em 23 de Setembro de 1964 entre as instituições da Previdência e o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, abrangendo as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal, seja alargado por forma a incluir outras áreas onde a rede de dispensários e sanatórios do referido Instituto possa assegurar adequada cobertura das necessidades da Previdência neste domínio.
Por outro lado, espera-se poder celebrar, durante o período do Plano, acordo específico entre os sectores da Previdência e da Saúde e Assistência, no respeitante à assistência materno-infantil, na sequência de providências recentemente tomadas, em especial quanto ao seguro-maternidade. Deve ainda admitir-se a eventualidade de futuros acordos nos domínios da psiquiatria é da oncologia.
c) Prosseguimento da política de apoio à construção de hospitais, mediante o sistema da tomada de certificados especiais da dívida pública especialmente consignados a esse efeito, já utilizado no Plano Intercalar.

I) Assistência social

48. Consideram-se prioritários os seguintes domínios de acção.
1.º Educação de crianças deficientes e de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, mediante colaboração, sempre que possível, entre o Ministério da Educação Nacional e o da Saúde e Assistência.
Para este efeito, serão criados, remodelados ou postos em funcionamento estabelecimentos de educação de crianças cegas; a lotação dos estabelecimentos de educação de crianças surdas deverá ser aumentada, e prevê-se a criação de novos estabelecimentos especiais para crianças débeis mentais, no domínio da educação de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, serão remodelados a Casa Pia de Lisboa e diversos estabelecimentos regionais e distritais, não se programando a criação de outros internatos por se considerar mais adequado, em conformidade com orientações pedagógicas modernas, o desenvolvimento dos semi-internatos. Prevê-se ainda a instalação de dois centros de observação médico-pedagógica (um em Lisboa e outro no Porto). Com vista à formação do pessoal necessário, serão criados cursos adequados para os educadores de estabelecimentos de assistência a menores e realizados cursos para dirigentes destes estabelecimentos, bem como para educadores especiais de cegos e de surdos;
2.º Melhoramento da qualidade da assistência prestada a pessoas idosas e instalação de novos estabelecimentos asilares para cerca de 300 pessoas idosas, principalmente do sexo feminino;
3.º Preparação profissional e integração na vida profissional dos cegos, dos deficientes motores reabilitados e de outros diminuídos físicos, sempre que possível mediante colaboração entre os serviços competentes do Ministério das Corporações e Previdência Social e do Ministério da Saúde e Assistência;
4.º Criação de duas oficinas protegidas por parte do Ministério da Saúde e Assistência,
5.º Desenvolvimento das actividades de cooperação familiar tendentes a ajudar a família no desempenho das suas funções próprias e estabelecimento de um programa de promoção social comunitária, destinado sobretudo a acompanhar os planos de desenvolvimento regional, de modo a acelerar a promoção das comunidades mais atrasadas e a contribuir para o desenvolvimento harmónico dos pólos que venham a criar-se, facilitando a sua articulação com as respectivas zonas de influência, designadamente através da cooperação dos organismos corporativos locais e, de modo especial, das Casas do Povo.

§ 3.º Medidas da política

49. Os objectivos propostos para o período de 1968-1973 devem ser acompanhados de um conjunto de medidas de política de saúde, não apenas com vista a assegurar a exequibilidade dos programas estabelecidos e o recrutamento do pessoal indispensável para os novos serviços, mas também a criar, no decurso dos próximos.

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anos, estruturas que apoiem o correcto desenvolvimento do sector. As principais medidas previstas para o período do Plano situam-se nos seguintes domínios:

a) Pessoal médico

50. Encaram-se as seguintes providências:
a) Estruturação de carreiras médicas de saúde pública e hospitalar,
b) Reforma do ensino médico,
c) Estruturação do ensino médico pós-graduado, designadamente a preparação de especialistas,
d) Revisão de sistemas de trabalho e remuneração do pessoal médico de serviços públicos, tendente ao estabelecimento do regime de tempo completo,
e) Atribuição de bolsas de formação e aperfeiçoamento.

b) Pessoal de enfermagem

51. Prevê-se a estruturação de carreiras profissionais de enfermagem, de âmbito nacional, nos domínios hospitalar, da saúde pública e do ensino. A mais curto prazo, haverá que levar a efeito programas especiais de fixação de pessoal nos serviços de periferia, de forma a contrariar a necessidade de recurso a profissionais não diplomados.

c) Coordenação dos serviços de saúdo o assistência

52. O confronto das necessidades do sector com os recursos de que se dispõe para a defesa e promoção da saúde da população revela quanto importa prosseguir no aperfeiçoamento de política de concentração de meios, na consecução dos objectivos em vista. Nesse sentido, prevêem-se as medidas seguintes:

a) Regulamentação do Estatuto da Saúde e Assistência, aprovado pela Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, pelo que respeita a orgânica do Ministério da Saúde e Assistência e ao Estatuto Hospitalar,
b) Coordenação das actividades exercidas no domínio da saúde e assistência pelos serviços dependentes dos vários Ministérios, submetendo-as a programas devidamente articulados e aprovados em Conselho de Ministros,
c) Em especial, intensificação dos meios de coordenação dos sectores da Saúde e Assistência, da Previdência e da Assistência na Doença aos Servidores do Estado.

d) Providências de ordem financeira

53. Para reforço dos recursos financeiros a mobilizar pelo sector, serão adoptadas as seguintes providências:
a) Concessão de tratamento fiscal mais favorável em relação a parte dos lucros de empresas privadas, destinada à constituição de fundações ou à atribuição de donativos para actividades de saúde e assistência,
b) Prosseguimento da cooperação dos instituições da Previdência no desenvolvimento e aperfeiçoamento da política de saúde, particularmente
pelo que respeita ao apetrechamento e alargamento da rede hospitalar do Pais,
c) Estudo da mais rentável aplicação doa fundos das instituições de assistência.

§ 4.º Investimentos

54. A realização dos objectivos enunciados implica, para o período de 1968-1973, investimentos da ordem dos 2 337 500 contos. A cobertura financeira destes investimentos será assegurada pelo Orçamento Geral do Estado (1 937 500 contos), pela Previdência Social (380 000 contos) e pela Fundação de Calouste Gulbenkian (20 000 contos).
Prevê-se que as despesas de manutenção dos novos serviços, que entrarão em funcionamento durante o período do Plano, impliquem a necessidade de reforçar substancialmente as dotações ordinárias do orçamento do Ministério da Saúde e Assistência, a considerar na organização dos programas anuais, por forma a tirar o melhor rendimento possível dos investimentos programados.

55. Seguidamente, indicam-se as dotações atribuída às diversas realizações programadas.

Investimentos prioritários

a) Carreiras médicas e de enfermagem:
Contos

Estruturação das carreiras médicas hospitalares e das carreiras de enfermagem hospitalar, de saúde pública e de ensino........................ 309 000

b) Saúde pública em geral:
Instalações e equipamento do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge.................. 89 000
Instalações e equipamento do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, delegação do Porto............................................ 6 000
Preparação de investigadores..................... 3 600
Preparação de pessoal de educação sanitária e Outro............................................ 13 900
Centros de saúde................................. 15 000
Educação sanitária............................... 5 400
Fixação de pessoal de enfermagem e outro na periferia..................................... 8 100
Programa de vacinação (campanha)................. 12 000
Combate às doenças parasitárias (campanha)....... 40 000
Delegações de saúde.............................. 67 020
Laboratórios distritais.......................... 5 700

c) Saúde escolar................................. 37 500
d) Protecção materno-infantil:

Dispensários (120)............................... 18 000
Creches (100).................................... (a) 4 500
Jardins de infância (300)........................ (a) 13 500

c) Tuberculose:
Centros dispensariais (serviços de profilaxia e terapêutica)..................................... 88 450

f) Saúde mental:
Centros de saúde mental e outros serviços........ 81 625
Serviços de recuperação.......................... 75 000

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Contos
Construção do Hospital do Dr. Magalhães Lemos....... 40 000
Ampliação, remodelação e apetrechamento de hospitais psiquiátricos............................. 11 825
g) Oncologia:
Ampliação e beneficiação do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil....................... 44 175
Instalação e equipamento de centros regionais....... 70 200

h) Assistência na doença em geral:
Construção, remodelação e apetrechamento de hospitais centrais.................................. 800 000
Construção, remodelação e apetrechamento de hospitais regionais................................. 820 700
Beneficiações várias em estabelecimentos hospitalares de Lisboa.............................. 100 000
Ampliação e construção de maternidades.............. 90 000
Criação de escolas de enfermagem.................... 80 000
Criação de lares de enfermagem...................... 87 500
Fixação de pessoal nos hospitais da periferia e cursos de preparação de pessoal..................... 35 610

i)Previdência (b)................................... 200 000
j) Assistência social:

Estabelecimentos para educação de crianças cegas.... 15 000
Estabelecimentos para educação de crianças surdas... 10 500
Estabelecimento para educação de crianças débeis mentais............................................. 39 000
Estabelecimentos para crianças privadas de meio ambiente familiar................................... 17 000
Centros de observação médico-pedagógica............. 6 000
Cursos de preparação de educadores e dirigentes para estabelecimentos de assistência a menores...... 6 925
Cursos para educadoras de ensino especial dos estabelecimentos de menores......................... 1 170
Estabelecimentos de assistência a pessoas idosas.... 8 000
Criação de oficinas protegidas...................... 9 000
Programas de promoção social comunitária............ 6 600
Total............ 2 337 500

(a) Inclui somente as despesos a satisfazer pelo Ministério da Saúde e Assistência.
(b) Inclui apenas a actividade médico-social por conta da Federação Nacional das Caixas de Previdência e Abono de Família.

Resumo dos Investimentos e dos gastos de manutenção previstos para o período de 1968-1973

Estruturação das carreiras médicas hospitalares
e das carreiras de enfermagem........................ 309 000
Saúde pública em geral............................... 265 720
Saúde escolar........................................ 37 500
Protecção materno-infantil........................... 36 000
Tuberculose.......................................... 33 450
Saúde mental......................................... 208 450
Oncologia............................................ 114 375

Contos
Assistência na doença em geral....................... 1 013 810
Previdência.......................................... 200 000
Assistência social................................... 119 195
Total................................... 2 337 500

III

Planeamento regional

Introdução
Pela primeira vez se inclui no Plano de Fomento um estudo específico sobre planeamento regional, considerando a importância que vem sendo atribuída ao problema da harmonia do crescimento e a situação de desigual desenvolvimento das diversas regiões metropolitanas.
O interesse pelas assimetrias regionais de crescimento do continente tem originado nos últimos anos diversos estudos e análises da situação.
Já em 1962 a Câmara Corporativa foi chamada a pronunciar-se sobre um projecto de decreto-lei, apresentado pelo Governo, propondo a criação de uma junta de planeamento económico regional, concluindo o parecer da Câmara então emitido1 por reconhecer a indiscutível necessidade de orientar segundo uma óptica regional a política portuguesa de fomento económico e de progresso social e sugerindo os pontos fundamentais que deveriam ser considerados, dos quais se salientam

O estudo, por critérios objectivos, da divisão do território metropolitano em legiões económicas para planeamento e fomento, cuidando das exigências de dimensão a que hão-de satisfazer tais regiões e da diversidade de condições estruturais e de situações críticas a enfrentar,
A descentralização da orgânica regional a criar, propondo para cada um das regiões, como regra, órgãos consultivos e de coordenação, servidos por departamentos técnicos de planeamento, e ainda instituições especialmente concebidas para realizar ou apoiar os empreendimentos de fomento.

Posteriormente, nos estudos elaborados para o Plano Intercalar de Fomento, procedeu-se a documentada análise por distritos das disparidades regionais, concluindo-se também pela necessidade de definir uma política de desenvolvimento regional, com a finalidade de orientar a expansão económica em função de objectivos definidos quanto ao crescimento harmónico do conjunto de territórios.
Com esse objectivo, afirmou-se na introdução ao referido Plano Intercalar que seria posta em efectivo funcionamento a orgânica administrativa do planeamento regional, dentro do esquema que ao Governo foi a sugerido pela Câmara Corporativa no seu parecer sobre a matéria.
A necessidade de acelerar os ritmos de desenvolvimento nas regiões menos favorecidas vem constituindo, aliás, preocupação do vários departamentos do Estado, embora a natureza e amplitude das acções já executadas ou em curso, assim como dos respectivos órgãos de actuação, tenham sido circunscritas à natureza e funções

_____________

1 Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, ano de 1962, pp. 453 e segs.

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específicas de cada Ministério, por não existirem os meios e estruturas orgânicas necessários à formulação e execução de uma política coordenado de desenvolvimento económico regional.
Não obstante, o Ministério da Economia tem desenvolvido uma acção persistente no campo da análise dos problemas económicos regionais, nos domínios do apoio às autarquias locais, em iniciativas visando a valorização regional (Açores, Mondego, Alentejo) e no âmbito das estruturas orgânicas e da aiticulacfio dos serviços do Ministério no plano distrital, por forma a conseguir-se maior eficiência e coordenação nas actuações (comissões técnicas regionais, criadas por despacho de 31 de Março de 1966).
Do mesmo modo e no seu campo de acção, o Ministério das Obras Públicas tem concebido e executado esquemas de valorização regional de grande importância e projecção, particularmente baseados na criação de infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento (Plano de Rega do Alentejo, Plano de Ordenamento Hidráulico da Bacia do Mondego, etc. ), no aproveitamento e valorização de recursos naturais (planeamento urbanístico do Algarve, por exemplo) ou no ordenamento do crescimento urbano (v g Plano Director de Lisboa).
Acções de relego têm sido também empreendidas por outros Ministérios, que vêm melhorando o apetrechamento e âmbito de acção de serviços regionais e procurando guarnecer as regiões menos favorecidas com as infra-estruturas necessárias à vida económica e social (por exemplo, no campo da educação, da saúde, das comunicações o do turismo), ou manifestando na condução da sua actividade específica persistente preocupação em aspectos relacionados com o desenvolvimento regional (v. g Ministérios das Finanças o das Comunicações).
Deve-se ainda salientar a acção de algumas juntas distritais (de Évora e Portalegre, por exemplo), com iniciativas tendentes à valorização dos seus distritos.
Com o objectivo de coordenar todas estas acções, entendeu o Governo (Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966) que era aconselhável dar os primeiros passos no sentido do estabelecimento de uma orgânica administrativa adequada a realização dos indispensáveis estudos de base, a conveniente articulação entre o serviço central de planeamento, os órgãos dos diversos Ministérios e os interesses locais e à definição das linhas orientadoras dos convenientes programas de fomento regional.
Neste sentido, aquele diploma (artigos 6.º e 9.º) criou no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho uma Divisão de Planeamento Regional e definiu a competência do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos no respeitante a orgânica de planeamento regional (artigos 28.º e 29.º)
Merece também referencia especial o facto de se procurar analisar separadamente a situação das ilhas adjacentes e definir para cada arquipélago as linhas gerais de uma estratégia de desenvolvimento.
Embora tivesse havido sempre a preocupação de analisar os problemas com a mesma profundidade, tanto no continente como nos Açores e Madeira, não houve essa possibilidade quanto a estes arquipélagos, por não haver ainda estudos e elementos estatísticos suficientes.
No entanto, os Açores aparecem, quanto a este aspecto, em posição mais favorecida, visto que, por despacho da Secretaria de Estado da Indústria de 4 de Dezembro de 1961, a solicitação das juntas gerais dos distritos autónomos, foi incumbido o Instituto Nacional de Investigação Industrial de elaborar um plano de valorização regional dos Açores, com o apoio técnico da O. C. D. E. Posteriormente, passaram a colaborar nestes trabalhos a Junta de Colonização Interna e a Junta Nacional das Frutas, aguardando-se agora o apuramento dos resultados dos inquéritos levados a efeito por aqueles organismos, os quais serão da maior importância para a elaboração de um plano de desenvolvimento da região dos Açores.

CAPITULO I

Evolução recente e situação actual dos desequilíbrios regionais na metrópole

SECÇÃO I

Continente
1. A análise mais aprofundada a que se procedeu na preparação deste III Plano de Fomento permite confirmar a existência de vincadas disparidades regionais no continente português e o seu agravamento no ultimo decénio.
Com efeito, utilizando como indicador de síntese a capitação do produto (em contos por habitante) calculada para os anos de 1953 e 1964 (v. quadro I), evidenciam-se claramente as desigualdades que em 1964 caracterizavam a situação regional do continente.

QUADRO I

Estimativas do produto por habitante e comparação com o distrito de maior capitação
[Ver quadro na imagem]

o distrito de Lisboa, com uma capitação quase dupla da média do continente, apenas se aproxima o de Setúbal, que beneficia do desenvolvimento industrial dos concelhos limítrofes da capital. Os distritos do Porto e de Aveiro são, em todo o litoral, os únicos que também ultrapassam a capitação média, mas muito abaixo dos dois primeiros.
De uma maneira geral, os distritos do litoral, desde Braga a Setúbal, e ainda o de Faro, destacam-se dos do interior, que se situam nas últimas posições, entre estes, apenas Castelo Branco, pela sua importância industrial,

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e os distritos de Portalegre e Évora, devido à estrutura do sector agrícola, surgem menos desfavorecidos.
Considerando, porém, os problemas de natureza estrutural que a evolução das capitações em grande parte reflecte, e tomando a capitação de Lisboa como base de comparação, verifica-se que, de 1953 a 1964, apenas dois distritos (Aveiro e Setúbal) revelaram tendência para melhorar a sua posição em relação a Lisboa Em todos os outros, incluindo o distrito do Porto, agravaram-se as disparidades apontadas, acentuando-se com maior nitidez precisamente em relação aos distritos do interior, mesmo quanto a Castelo Branco e a todo o Alentejo.

2. Analisando o valor acrescentado do sector secundário (de acordo com os números do inquérito industrial de 1957-1959 e estimativas para o produto distrital no último decénio), encontram-se grandes desníveis da produção, quer entre os distritos, quer dentro de cada distrito, verificando-se a concentração do desenvolvimento industrial apenas em alguns concelhos.
Além dos distritos de Lisboa, Porto, Aveiro, Setúbal e Braga, com valores muito diferenciados, apenas os distritos de Santarém, Lema, Castelo Branco e Coimbra apresentam alguma importância industrial, aparecendo em posição bastante desfavorável todos os restantes.
Em 1959, todos os concelhos possuindo estabelecimentos industriais importantes, isto é, com 100 ou mais pessoas empregadas e um valor de produção nesses estabelecimentos superior a 5 por cento do respectivo total no continente (v. quadro II), se localizam, salvo raras excepções, na faixa litoral do continente, de Viana do Castelo a Setúbal, agrupados com maior intensidade em redor de Lisboa e do Porto, alguns em torno de Aveiro, salientando-se ainda os de Coimbra e Figueira da Foz e, mais a sul, os de Leiria e Marinha Grande.
No interior do Norte, nenhum concelho apresenta estabelecimentos que possam classificar-se de importantes segundo o critério referido. Na Beira interior, sobressai o concelho da Covilhã e, junto ao vale do Tejo, agrupam-se os concelhos de Torres Novas, Tomar e Abrantes No Sul interior e litoral, por todo o Alentejo e Algarve, nenhum concelho se evidencia.

QUADRO II
Concelhos com valor de produção superior a 5 por mil do total do continente em estabelecimentos com 100 e mais pessoas
[Ver quadro na imagem]

Considerando apenas as indústrias transformadoras e de construção, com exclusão, portanto, das actividades directamente ligadas aos recursos naturais e que só por si não constituem actividades motoras do desenvolvimento (extractivas e produção de energia eléctrica), verse que os concelhos que podem considerar-se industrializados só hierarquizam pela forma constante do mapa I quanto ao valoi acrescentado por aquelas actividades.
Com um valor acrescentado superior a 500 000 contos, destacam-se os concelhos de Lisboa e Porto Com valores entre 300 000 e 500 000 contos, encontram-se quatro concelhos a volta de Lisboa (Oeiras, Loures, Vila Franca e Barreiro), os dois concelhos limítrofes do Porto (Matosinhos e Vila Nova de Gaia) e, ainda no Norte, os concelhos de Guimarães e Vila Nova de Famalicão Entre 100 000 e 300 000 contos, sobressaem, na área de Lisboa, três concelhos (incluindo o de Setúbal), no Centro, os concelhos de Lema e Marinha Grande, Coimbra e Figueira da Foz, seis entre Aveiro e Porto e, já no Norte, Braga e Santo Tirso, no interior, apenas se salienta a Covilhã. Com um valor acrescentado entre 20 000 e 100 000 contos, englobam-se todas as sedes de distritos, com exclusão da Guarda, Bragança e Vila Real, um grupo em redor do Porto e de Guimarães, outro no distrito de Aveiro, um grupo entre Viseu e Covilhã, outra mancha entre Leiria e Abrantes, alguns concelhos à volta de Lisboa e na penín-

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

MAPA I

VALOR ACRESCENTADO DO SECTOR SECUNDÁRIO

(INDUSTRIAS TRANSFORMADORAS E CONSTRUÇÃO)

(1957-1959)

[ver mapa na imagem]

sula de Setúbal, continuando por Montemor-o-Novo até Évora, e seis concelhos no Algarve, além de Faro. E nada mais.
Confirma-se, assim, por estes indicadores, que as indústrias transformadoras do continente se concentram principalmente em dois grupos de concelhos centrados em Lisboa e Porto, junto a Aveiro e Coimbra, e, ainda, de Leiria a Abrantes, no Centro predominantemente litoral. Em todo o interior e no Sul litoral, surge a Covilhã como uma realidade e fica a dúvida sobre Portimão.
Através das estimativas provisórias do produto interno secundário por distritos, verificam-se ritmos desiguais de descimento deste sector em cada distrito, ao longo do período de 1953-1964 (v quadro m). Apenas os distritos de Aveiro, Lisboa e Setúbal têm peso crescente na produção total do secundai 10 (e taxas médias claramente superiores à taxa do conjunto 7,7 por cento). Quatro distritos (Braga, Leiria, Santarém e Faro) conservam aproximadamente a sua posição relativa. Todos os outros, incluindo o Porto, atrasam-se relativamente ao conjunto, por terem crescido com taxas inferiores à média. Quer dizer, os distritos de menor peso da actividade secundária e de menor capitação do produto por activo não revelaram, no passado recente, capacidade para ultrapassar o estado de relativo atraso em que se encontram.

QUADRO III

Estimativa do produto bruto do sector secundário por distritos

[ver tabela na imagem]

Limitando, por fim, a observação às indústrias transformadoras, os únicos distritos com participação crescente, do 1053 a 1964, foram os de Aveiro e Lisboa (de 8 para 11 por cento e de 30 para 33 por cento, respectivamente), mantendo Setúbal a sua posição no conjunto, enquanto diminuiu a participação dos distritos do Porto (de 21,5 para 20 por cento) e de Braga.
Referindo, em especial, as posições ocupadas por cada distrito nos ramos de actividade industrial em que têm importância nacional, verifica-se que o distrito do Porto, e mesmo o de Setúbal, perderam posição em quase todos os ramos. O progresso registado no caso do Porto situa-se apenas em actividades não motoras do desenvolvimento industrial (alimentação e bebidas, madeira e mobiliário). No caso de Setúbal, todavia, salientou-se a produção siderúrgica, que favoreceu a posição assumida pelo grupo da metalurgia e produtos metálicos, naquele distrito em 1964.
Ao contrario dos anteriores, Aveiro e, principalmente, Lisboa conquistaram posições mais destacadas em diversos ramos, incluindo os de maior influência motriz sobre o desenvolvimento.
Considerando, agora, tanto o grau de industrialização já atingido por cada distrito, como a dinâmica do seu crescimento, conclui-se que apenas três distritos apresentam taxas de descimento da produção e níveis de produtividade por activo superiores à média do continente (8,4 por cento e 23 contos) Aveiro (11 por cento e 25,3 contos), Setúbal (10,1 por cento e 24,7 contos) e Lisboa (9,4 por

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cento e 36,7 contos) Em todos os outros, quer as taxas de crescimento, quer os níveis de capitação, silo inferiores àquela média.

Destes últimos, notam-se em posição menos desfavorável os de Lenia, Porto e Braga, mostrando-se Santarém com tendência a integrar-se neste grupo, caso mantenha o crescimento recente Coimbra e Castelo Bronco atrasam-se em relação aos anteriores, embora possuam capitações de nível intermédio Todos os outros (metade, exactamente), situados no interior e no Sul, além de Viana do Castelo, acumulam os dois aspectos desfavoráveis (V quadro IV)

QUADRO IV

Posição relativa dos distritos com ritmos de crescimento
e níveis de produtividade por activo nas indústrias transformadoras
inferiores à média do continente
Classificados em relação às médias do próprio grupo: 6,9 por cento e 17,9 contos

[ver tabela de imagem]

O maior descimento das actividades industriais verifica-se, pois, nas zonas mais industrializadas, encontrando-se ainda relativa expansão daquelas actividades em zonas intermédias e estagnação nas regiões sem importância industrial, pelo que a industrialização surge como um processo cumulativo, que tem vindo a agravar cada vez mais as desigualdades existentes, não só pelo aumento de concentração das actividades económicas, mas também pela atracção exercida pelas principais zonas industriais sobre as populações. Esse facto explica quase completamente a situação revelada pelas capitações do produto total por habitante e respectiva evolução no período analisado, evidenciando a correlação existente entre o crescimento industrial e o desenvolvimento global dos diversos distritos

3. E de acentuar, por outro lado, que a existência de áreas industriais mais evoluídas e dinâmicas, oferecendo melhores condições de vida, contribui para a desigual repartição da população, originando um movimento de despovoamento do interior do Norte e do Centro e do litoral do Sul e uma concentração populacional na faixa litoral de Braga a Setúbal (v mapa n)

ATRACÇÃO E REPULSÃO POPULACIONAIS (1950-1960)

(EM PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO DE 1950)

Apenas as áreas urbano-industriais de Lisboa e Porto demonstram capacidade paia fixar não só o total dos seus saldos fisiológicos, mas ainda os excedentes de outras zonas Alguns concelhos que se podem considerar em vias de industrialização, como Aveiro, Coimbra, Marinha Grande, Setúbal e Faio, conseguiam fixar nos últimos anos uma população mais ou menos igual aos seus saldos fisiológicos Outros, já com certo desenvolvimento industrial, como Braga, Guimarães e Covilhã, mas onde predominam as indústrias ti adicionais e se verificam elevadas densidades populacionais, não conseguiram fixar o total dos seus saldos fisiológicos, embora não tivessem diminuído de população, encontrando-se na mesma situação os concelhos onde se localizam as sedes de alguns distritos que devem os seus aumentos globais de população à função predominante que desempenham na sua zona de influência administrativa

Esta situação evidencia que nem todos os centros industriais importantes do continente constituíram pólos de

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atracção das populações migrantes, mas apenas aqueles que juntam ao maior peso da sua estrutura industrial uma estrutura urbana evoluída e em relação com a sua densidade populacional, ou que se encontram localizados na periferia das grandes cidades.
Com efeito (v quadro v), é nos distritos de Lisboa e do Porto que os indicadores de nível de vida atingem, no seu conjunto, valores mais expressivos, seguindo-se depois os distritos de Setúbal e Aveiro, em grande parte directamente influenciados pelas duas grandes zonas urbanas do continente.
A análise por concelhos das condições mínimas de habitabilidade dos agregados familiares (v mapa m) confirma, aliás, ser nos concelhos integrados nas zonas "urbanas de Lisboa e do Porto, e nalguns concelhos localizados em zonas industriais e urbanas mais evoluídas (principalmente Aveiro, Coimbra e Setúbal), que se encontram as maiores percentagens de agregados familiares beneficiando daquelas condições Para além destes, salientam-se apenas algumas zonas turísticas.

MAPA III

CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE

(AGREGADOS FAMILIARES COM COZINHA E CASA DE BANHO EM 1860)

Nota-se também que a análise da evolução dos indicadores apresentados, entre 1950-1964, mostra que as tendências apresentadas acentuam as desigualdades entre distritos, contribuindo assim paia o agravamento dos desequilíbrios regionais de nível de vida.
É nítida, portanto, a correlação dos movimentos migratórios com o nível de vida das zonas urbano-industriais, salientando-se que, mesmo dentro do litoral industrializado, existem fortes assimetrias de nível de vida, com reflexos directos na intensidade da atracção exercida sobre as populações do interior

QUADRO V

Indicadores do nível de vida

[ver tabela de imagem]

Conclui-se que os desequilíbrios regionais, no que respeita as condições de vida da população, são do mesmo sentido e acentuam até as desigualdades ti aduzidas pelos níveis económicos da produção Além disso, a evolução da situação processa-se em termos de um agravamento das diferenciações existentes, progredindo alguns distritos muito mais rapidamente do que outros nos diversos aspectos
Deste modo, verifica-se que os movimentos migratórios internos são fortemente polarizados pelos centros mais dinâmicos e que melhores condições oferecem para satisfazer as aspirações de um nível de vida crescente, pondo em risco não só o equilíbrio demográfico de algumas zonas (em conjunto com a emigração), mas também criando alguns estrangulamentos e dificuldades adicionais para o ordenamento dos actuais pólos de atracção.

4. A própria actividade agrícola é influenciada pela localização das áreas urbano-industriais mais evoluídas Com efeito analisando a percentagem da população activa com profissão na agricultura, silvicultura e caça (V mapa IV), reconhece-se imediatamente sei apenas

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nos concelhos industriais e à sua volta que se encontram percentagens de população agi í cola inferiores a 50 por cento. No resto do País, mais de metade da população activa trabalha na agricultura ou depende desta natividade, ainda que indirectamente, como é o caso da população lurai empregada, por exemplo, no artesanato e serviços complementares, o que mais acentua o seu peso o a economia daquelas regiões

MAPA IV

PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO ACTIVA COM PROFISSÃO NA AGRICULTURA (1960)

A população activa agrícola só é inferior a 25 por cento em dois concelhos do litoral algarvio, em Setúbal, no núcleo de Lisboa, na Marinha Grande, em Coimbra, Ilhavo, numa área em redor do Porto e de Braga a Ovar.
Entre 25 por cento e 50 por cento, encontram-se mais quatro concelhos do litoral algarvio, alguns concelhos da península de Setúbal, Sines, Évora e Portalegre, o triângulo Santarém-Tomar-Abrantes, Peniche, Nazaré, Lema, Figueira da Foz, Aveiro, Viana do Castelo, alguns concelhos em volta do Porto e de Aveiro, Castelo Branco e Covilhã, com dois concelhos limítrofes, o que corresponde quase exactamente & localização dos principais núcleos industriais, principalmente se retirarmos os concelhos onde a pesca é a actividade dominante
A relação superfície produtiva-população activa agrícola mostra, também, que existe contraste saliente eu t ré os distritos do litoral do Norte e Centro (precisamente os de maior densidade urbana e actividade industrial) e os restantes distritos do interior e do Sul.
Muito embora as diferenças sejam reflexo de um conjunto de factores, onde avultam as condições ecológicas e a pressão demográfica, a presença de baixos valores naquele indicador documenta situações que só permanecem no tempo quando as condições ambientais constituem incentivo à intensificação de culturas.
Tomando como termo de comparação a média do continente (6,3 ha por activo agrícola), verifica-se que os distritos com valores inferiores a esta média, que pressupõem a presença de um certo grau de intensificação na agricultura, são os do Porto (2,2), Braga (2,8), Viana do Castelo (8), Lisboa (8,1), Aveiro (8,7), Coimbra (4,2), Vila Real (4,2), Leiria (4,8) e Viseu (4,8).
Os distritos com valores superiores ao referido valor médio, denotando, portanto, B preponderância de processos extensivos de cultura, são os de Évora (13,2), Beja (12,8), Portalegre (11,8), Bragança (11), Setúbal (10,5), Castelo Branco (10,3), Guarda (8,6) e Faro (7,4).
Nos- números anteriores transparecem, como é compreensível, algumas situações de transição (Vila Real, Viseu, Faro, por exemplo), que resultam principalmente da pronunciada diversidade climática que o continente apresenta.
A análise da composição do produto agrícola reflecte, a seu modo, estes contrastes, mostrando um quadro de intensificação e de policultura em todo o Noroeste e em grande parte do Centro litoral Nos- distritos do interior, a nota predominante é dada por uma agricultura extensiva, frequentemente de carácter monocultural.
Através de outros indicadores -estrutura fundiária, grau de mecanização, produtividade do solo, obtém-se a confirmação dos contrastes já referidos.
Assim, por exemplo, os distritos do litoral do Centro e do Norte testemunham relativo grau de homogeneidade ao apresentarem os valores mais altos de produtividade do solo (VI de quadro VI e mapa V)

QUADRO VI

[ver tabela de imagem]

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[ver tabela de imagem]

MAPA V

PRODUTIVIDADE DOS SOLOS

(PRODUTO INTERNO BRUTO AGRÍCOLA DE 1858 a 1858-SUPERFÍCIE PRODUTIVA)

[ver tabela de imagem]

Ainda neste campo, os valores respeitantes aos distritos do Porto e de Lisboa, demonstrativos de maior rentabilidade da superfície produtiva, traduzem, entre outros, o efeito da influência de estruturas urbanas e industriais mais evoluídas.

O mesmo efeito ganha evidência com o indicador que traduz o grau de mecanização (V quadro VI).

Efectivamente, o distrito de Lisboa destaca-se no contexto agrário do Sul, enquanto o do Porto apresenta certo relevo DO Norte, havendo assim estreita correlação com as relativamente baixa» percentagens de população activa agrícola naqueles distritos.

O estímulo exercido sobre a actividade agrícola, pelas estruturas urbanas e industriais mais evoluídas concretiza-se através de diversas solicitações de mercado, de incentivo & produtividade do trabalho, de maior permeabilidade do empresário ao progresso técnico, etc. -, permitindo especializações culturais com elevado valor específico (fruticultura, leite, etc. ) e motivando o consequente interesse do agricultor.

Saliente-se, no entanto, que estes efeitos nem sempre se reflectem inteiramente nas áreas limítrofes ou de imediata influência dos pólos principais devido aos condicionamentos ecológicos, pelo que os indicadores Dão mostram com nitidez a inteira dimensão daquele estímulo, que muitas vezes encontra resposta em áreas agrícolas mais distanciadas, mas com vocações explícitas e que são naturalmente aproveitadas

Assim, a influência de Lisboa como centro de consumo projecta-se para além dos limites administrativos do distrito, mais imediatamente pelo vale do Tejo e pela península de Lisboa, mas ainda com efeitos em áreas circunscritas e Diais distantes, como é, ,por exemplo, o litoral do Algarve

À evolução nos vários distritos durante o período decorrido entre 1958 e 1964, observado através dos valores da taxa média anual de crescimento do produto agrícola, permite também salientar a existência de algumas situações regionais com tendência depressiva, mesmo em relação aos ritmos moderados a que o sector tem vindo a crescer

Com efeito, a observação das referidas taxas de crescimento (v quadro vil) mostra concretamente a permanência de taxas negativas para os distritos de Portalegre, Évora e Beja (os de maior incidência Já cerealicultura extensiva de sequeiro) em qualquer dos períodos considerados -1953 a 1964 e 1958 a 1964

Muito embora as taxas verificadas mós dois períodos em causa não sejam directamente comparáveis, dado que o primeiro inclui o segundo, é realmente significativo o

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facto de se verificar tendência decrescente nós valores do produto agrícola originado nos distritos de maior predominância da monocultura extensiva e de o referido decréscimo se manter no último quinquénio em análise, período durante o qual se verificou nos restantes distritos certa recuperação dos ritmos de crescimento do produto agrícola

QUADRO VH

Evolução do produto agrícola

Valores a preços de 1963

[ver tabela de imagem]

Para esta regressão do produto agrícola do Alentejo durante o período analisado contribuíram, não só circunstâncias desfavoráveis da natureza conjuntural, mas também, e fortemente, condições climáticas adversas à cerealicultura, as quais se avolumaram particularmente nos últimos anos do referido período

Estes reflexos foram ainda ampliados pela existência de desequilibro» no ordenamento agrário e por uma débil acumulação de capital dentro das próprias unidades de produção, circunstâncias que reduziram a possibilidade de o sector poder atenuar a amplitude dos efeitos desfavoráveis do clima

Em síntese, o território do continente apresenta forte diferenciação ecológica, de acentuada influência climática, que se traduziu por sensíveis contrastes do litoral para o interior e de Norte para Sul, tanto nos regimes de ocupação e de "utilização do solo como na estrutura produtiva

Assim, no litoral do Centro e do Norte, a actividade agrícola aparece, em regra, sob forma intensiva e diversificada, dispondo de solos mais produtivos Nas regiões do interior e do Sul predominam os regimes monoculturais e extensivos, sendo frequentes a cerealicultura e certos desequilíbrios do ordenamento agrário

A influência atlântica é mais pronunciada no Norte e no Centro do território, provocando aí maior penetração das características do litoral na zona do interior, enquanto no terço inferior do território, sob influência mediterrânica, as diferenciações são menos acentuadas

Deste modo, a influência conjugada dos factores climatéricos deu origem a situações móis desfavorecidas nas regiões interiores, particularmente nas do Sul, onde as

zonas de potencialidade agrícola estão circunscritas a extensões de solos mais limitadas e onde as obras de valorização fundiária se impõem No litoral do Algarve, os mesmos factores favoreceram o aparecimento de uma faixa diferenciada coza vocação para especializações próprias do clima mediterrânico e onde o factor precocidade representa apreciável vantagem para a agricultura

A ocupação humana do território acentuou os desequilíbrios naturais já existentes, dando origem a um quadro fundiário de fragmentação e dispersão da propriedade no Norte, enquanto nas zonas interiores, do Centro e do Sul, a propriedade de maior dimensão e a relativa concentração fundiária são nota dominante.

Em todo o litoral da parte Centro e do Norte, onde se encontram as maiores concentrações urbanas e maior projecção do sector secundário, a agricultura acusa certos reflexos benéficos, que resultam principalmente da proximidade e ordem de grandeza dos mercados, da diversificação de empregos e das já referidas condições ecológicas

Neste contexto, os distritos onde se situam os dois principais pólos urbanos e industriais apresentam melhores índices de rentabilidade da superfície produtiva, e o sector evoluiu no sentido de se adaptar, mediante recurso ao equipamento mecânico, a situações onde a mão-de-obra agrícola deixou de ser o factor abundante

Nas regiões interiores a sul do Tejo, os- processos extensivos de cultura e o caracter predominantemente monocultural da actividade têm-se revelado extremamente dependentes dos factores de natureza estacionai, o que revela a necessidade de obras de valorização fundiária que permitam intensificar os processos de cultivo e diversificar as culturas.

O caracter quase exclusivo da actividade agrícola como fonte de ocupação da mão-de-obra disponível aponta também a necessidade de maior incorporação de trabalho e capital no processo produtivo, mediante a transformação dos produtos primários.

5. A situação analisada e a sua evolução durante os últimos dez anos aconselham a definir uma política de desenvolvimento regional para o continente que permita combatei a existência de vastas áreas com taxas de crescimento muito baixas ou mesmo negativas e evite o desperdício de recursos e potencialidade» só muito dificilmente recuperáveis mais tarde e depois de terem provocado sérios reflexos em toda a economia

Esta situação pode sistematizar-se pela enunciação das principais conclusões que ressaltam do presente estudo*

Existe um movimento de despovoamento dos distritos do interior e litoral do Sul, que incide principalmente sobre a população dependente das actividades primárias e também sobre a que trabalha nos serviços complementares daquela actividade, como consequência da situação da agricultura naquelas zonas,

Apenas são centros de atracção das populações as áreas onde, além da concentração industrial, se verifique elevado desenvolvimento urbano -Lisboa e Porto-, sendo também nítida a influência exercida pelos centros urbanos sobre a modernização da agricultura das áreas limítrofes,

Os fenómenos de industrialização e urbanismo surgem como processos cumulativos, susceptíveis de agravar cada vez mais as desigualdades existentes,

Assim, os níveis do produto, bem como os de despesas e rendimento disponíveis, mostram-se cada

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vez mais desequilibrados, e esse desequilíbrio tende a acentuar-se,
O panorama urbano do continente apresenta várias facetas, que realçam o desequilíbrio da rede urbana* por um lado, o crescimento das aglomerações de Lisboa e Porto, em contraste com a reduzida importância urbana do interior e litoral do Sul, por outro, o crescimento desorganizado das áreas suburbanas daquelas aglomerações e o estrangulamento da expansão urbana nas áreas em vias de industrialização, no litoral entre Lisboa e Porto,
Em consequência, acentua-se a dependência excessiva de todo o País em relação a Lisboa e Porto em matéria de equipamentos urbanos, principalmente quanto a saúde, ensino, manifestações culturais, comércio especializado, etc ,
Por outro lado, os distritos do interior e litoral do Sul, pelo menos, oferecem condições infra-estruturais desfavoráveis (habitação, energia, saúde, ensino, transportes, etc ).
Perante este panorama, a harmonização do desenvolvimento económico à escala regional é hoje exigência, não só económica, como social, pelo que se torna necessário definir os princípios que permitam enunciar um conjunto equilibrado de medidas de política regional

SECÇÃO II

Açores e Madeira

6. O arquipélago dos Açores tem a caracterizá-lo, como aspecto dominante da sua estrutura sócio-económica, uma forte repulsão populacional, que se manifesta através da existência de grandes correntes migratórias orientadas quase exclusivamente para a América do Norte, e que, no período de 1950-1960, atingiu os seguintes valores

[ver valores na imagem]

Este fenómeno resulta da influência conjugada de uma forte densidade populacional (142,1 hab/km²), bastante superior à verificada no continente (93,8 hab/km²) e de uma elevada percentagem de população activa ocupada na agricultura, que em 1960 atingia os 60 por cento. Todavia, assumindo os factores referidos dimensão diferente nas diversas ilhas do arquipélago, também o êxodo populacional se manifesta com intensidade que varia de ilha para ilha.
O efeito da densidade populacional é mais evidente na ilha de S Miguel (425,8 hab/km²), onde se conjuga com elevada percentagem de população activa agrícola e ocasiona uma das mais fortes repulsões dos Açores, ultrapassada no período de 1950-1960 apenas pelo êxodo registado na ilha do Faial, que, em grande parte, é imputável aos efeitos da erupção dos Capelinhos

QUADRO VIII

[ver quadro na imagem]

A importância do fenómeno traduz-se pela elevada percentagem de população residente que abandona o arquipélago (15 por cento entre 1950 e 1960) e pelas consequências sobre o crescimento da mesma população
No distrito da Horta, onde se registam baixas taxas de excedentes de vida (9,8 por mil no período de 1950-1960), a população residente sofreu uma redução de 10 por mil nesse mesmo período No distrito de Ponta Delgada, em virtude da elevada taxa de excedentes do
vida (21 por mil), bastante superiores à do continente português (12 por mil), os efeitos foram menos acentuados e a população residente teve o acréscimo de 8,4 por cento Em Angra do Heroísmo, aquela taxa assume valores também elevados (15,2 por mil) e o êxodo populacional é menos intenso, tendo a população aumentado 11 por cento
A dificuldade de o arquipélago fixar a sua população é preponderante nas ilhas mais densamente povoadas e de

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mais elevados saldos fisiológicos A sua origem encontra-se na estrutura produtiva local e na falta de dinamismo da sua economia.
Esta, de base essencialmente agrícola, não permite a criação, fora do sector primário, do número de empregos indispensável à fixação da população Por sua vez, a actividade rural mostra-se incapaz de criar maior número de empregos ou possibilitar maiores rendimentos. A elevada pressão da população agrícola e as deficiências estruturais ocasionam uma produtividade média do trabalhador agrícola sensivelmente mais baixa do que a média continental e uma fraca rentabilidade das explorações, traduzida pelas elevadas percentagens que atingem as empresas familiares, de dimensão insuficiente, sobretudo nas ilhas de Santa Maria, Graciosa e Fico (64 por cento, 66 por cento e 84 por cento do total das explorações, respectivamente)

QUADRO IX

Estrutura agrária

Percentagens

[ver quadro na imagem]

QUADRO X

Sector secundário

[ver quadro na imagem]

A inviabilidade de grande parte das explorações agrícolas deve-se à sua falta de dimensão - em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, 67 por cento das explorações não atingem l ha, percentagem que na Horta se eleva a 80 por cento, agravada neste distrito pela grande dispersão Na ilha de S. Miguel, assume ainda importância o alto nível das rendas, resultante da grande procura de terra e que se reflecte sobre larga fracção da população agrícola.
A actividade piscatória ocupava 6,2 por cento do total da população activa do sector primário. A sua baixa produtividade média (0,75 por cento da do trabalhador agrícola) é reflexo do equipamento das frotas e da desactualização dos processos utilizados
Nos Açores, os factores da industrialização e do urbanismo, que em determinadas regiões do continente mostram possuir força suficiente para fixar populações, são praticamente inoperantes.
O distrito mais industrializado é o de Ponta Delgada, salientando-se, dentro deste, a ilha de S. Miguel, a qual concentra 55,7 por cento da população activa ocupada na indústria transformadora e 75,8 por cento do valor bruto da produção industrial dos Açores, e é formada essencialmente por indústrias tradicionais, destinadas à produção de bens de consumo local. Mencionam-se as seguintes, que representaram 70,3 por cento da produção industrial no l º semestre de 1964, com o valor de 347 718 contos

Percentagem

Lacticínios...................................24,6
Conservação de peixe e outros produtos da pesca em azeite ou molhos ou pelo sal................5,6
Moagem de farinhas espoadas.................12,6
Panificação...................................3,9
Fabricação de açúcar..........................2,9
Produção e refinação de óleos alimentares, com excepção do azeite .............................8,3
Outras indústrias alimentares não especificadas .....5
Tabaco..................................5,8
Bordados..................................2,8
Produtos químicos orgânicos......................3,8

Mas o facto de ser esta ilha a de mais forte repulsão populacional, verificando-se mesmo a saída de elementos para outras ilhas - Santa Mana e Terceira, onde vão encontrar ocupação nos respectivos aeroportos -, mostra que a sua relativa industrialização não atingiu ainda força necessária para desencadear um movimento urbanístico susceptível de oferecer a população local atractivos suficientes para a sua fixação.
De facto, a rede urbana do arquipélago é constituída por pólos de reduzida dimensão Existem apenas três centros com populações que oscilam entre os 7109 e os 23 316 habitantes O de Ponta Delgada é o de maior dimensão, mas concentra apenas 12,8 por cento da população do distrito. A influência destes centros sobre a vida económica dos Açores é, porém, importante Nas três ilhas onde se localizam - S Miguel, Terceira e Faial - encontram-se 87,4 por cento da população activa do arquipélago ocupados na indústria transformadora e 86,5 por cento da população activa do sector terciário.
Nestas ilhas o êxodo populacional atinge valores elevados, confirmando a fraqueza das actividades secundária e terciária, incapazes de fixar as populações.
A debilidade do sector secundário traduz-se na ausência de indústrias motoras As existentes orientam-se quase exclusivamente para o consumo corrente - lacticínios, conservas de peixe, bordados, etc., produtos que constituem também as mais importantes exportações do arquipélago (69,6 por cento do total em 1965) -, como se verifica pelo quadro seguinte.

[ver quadro na imagem]

A reduzida produção industrial, aliada às distorções do sector primário, constituem sérios obstáculos ao desenvolvimento, além dos que provêm da quase-saturação das actuais fontes de energia, da exiguidade das frotas

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que servem a região, quer marítimas, quer aéreas, das deficientes infra-estruturas de transportes, da limitada actividade comercial e turística e da dificuldade de os estabelecimentos bancários atraírem as poupanças e orientarem a sua aplicação dentro dos Açores.
Define-se, assim, uma zona deprimida sem dinâmica própria, que não consegue vencer e ultrapassar o estado de estagnação económica em que se encontra
Esta situação tem reflexos no campo social, onde se registam, principalmente em determinadas ilhas - Pico, S. Jorge, Flores, Graciosa e Corvo -, níveis de educação, saúde e habitação insatisfatórios, por escassez de infra-estruturas, equipamento e pessoal especializado.
A análise da situação sócio-económica do arquipélago permite, assim, concluir

Os Açores apresentam-se como zona deprimida, onde a actividade agrícola se caracteriza por baixos níveis de produtividade e insuficiente rentabilidade das explorações, e o sector secundário revela não existirem indústrias com dinamismo suficiente para apoiar a expansão da sua economia,
Estas condições, conjugando-se com a existência de elevadas densidades demográficas e a manutenção de altos saldos fisiológicos, conduzem ao êxodo continuado das populações para o exterior,
A situação é agravada por circunstâncias de vária ordem, entre as quais se salientam as deficiências dos sectores de transportes, comércio, turismo, educação, saúde e habitação, em paralelismo com o fraco índice urbano do arquipélago

Também aqui se mostra, pois, necessária e urgente uma intervenção, com o objectivo de dotar a economia dos Açores com dinamismo próprio, que lhe permita entrar numa fase de progressivo desenvolvimento sócio-económico.

7. A situação do arquipélago da Madeira, no aspecto demográfico, é também caracterizada pela existência de elevados saldos fisiológicos, no quadro de uma densidade populacional 3,5 vezes superior à média do continente.
Dado que a sua estrutura sócio-económica não permite oferecer a toda a população condições de vida aceitáveis, verificam-se fortes correntes emigratórias para o estrangeiro (América do Norte e América do Sul, em especial), assim como para o continente e ultramar
A emigração registada no decénio de 1951-1960 cifrou-se em 45 131 emigrantes, representando 16,9 por cento da população residente em 1950. A média anual foi de cerca de 4500.
A situação não é idêntica em todos os concelhos do distrito No concelho do Funchal, onde se localiza o único centro urbano do arquipélago, e nos concelhos limítrofes (Santa Cruz e Câmara de Lobos), verifica-se uma densidade populacional superior à média, mas a população continua a aumentar Nos restantes, onde predominam as actividades agrícolas, faz-se sentir mais intensamente o êxodo populacional
Pode, portanto, afirmar-se que na Madeira, como no continente, se verifica o fenómeno da repulsão das populações predominantemente rurais e a atracção destas pelas áreas mais evoluídas
A repulsão da população atinge no meio rural intensidade superior à do continente
O facto deve-se, fundamentalmente, à elevada pressão demográfica sobre a terra e, em grande parte, a deficiências estruturais, que, em relação à dimensão das explorações agrícolas, se traduzem da forma seguinte

[ver quadro na imagem]

Por outro lado, verifica-se que das explorações com gado bovino 67,3 por cento apenas possuem uma cabeça, sendo insignificante a percentagem das que possuem mais de duas cabeças (8,4 por cento).
Nestas condições, raras são as explorações que ocupam a capacidade de trabalho do agregado familiar, verificando--se elevada percentagem (76,8 por cento) de empresas familiares de insuficiente dimensão.
Esta situação origina que número crescente de rurais procurem trabalho noutras actividades, mas estas não se têm mostrado capazes de os ocupar. No decénio referido deixaram o sector primário 3632 activos, tendo os sectores secundário e terciário, no mesmo período, criado apenas 1749 novos empregos
Embora a cidade do Funchal exerça no arquipélago certa atracção sobre as populações, esta não tem sido suficiente para evitar a saída para o exterior Isto resulta, não só da elevada pressão demográfica e das deficiências estruturais do sector primário, mas também da orgânica industrial, assente em actividades que só muito dificilmente podem promover a expansão do sector
Com efeito, a indústria do arquipélago, concentrada no concelho do Funchal e limítrofes, é essencialmente constituída por actividades tradicionais, destinadas à produção de bens de consumo local, salientando-se as que a seguir se indicam e representaram 64,9 por cento do valor da produção no l.º semestre de 1964

Percentagem

Moagem de farinhas espoadas..........................11,9
Açúcar............................................... 8,6
Vinhos licorosos..................................... 7,4
Panificação.......................................... 5
Lacticínios...........................................3,7
Conservas de peixe e outros produtos da pesca.........3,2
Alimentos preparados para animais.....................1,9
Caixas e outras embalagens de madeira.................1,6
Produtos de vime......................................0,4
Bordados.............................................21,3

A indústria de bordados ocupa a posição mais importante dentro das indústrias transformadoras, com 21,3 por cento do valor bruto da produção no período considerado.
Quanto ao sector terciário, verifica-se que a sua posição é preponderante apenas no concelho do Funchal, em consequência da concentração dos serviços e infra-estruturas

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turísticas, comerciais e portuárias na cidade, e ocupa a população referida neste quadro

[ver quadro na imagem]

A actividade turística exerce grande influência sobre o desenvolvimento do distrito, sobretudo nos concelhos do Funchal e Porto Santo.
O arquipélago é já hoje uma das mais importantes regiões turísticas do País, com uma capacidade hoteleira que, em relação ao número total de camas da metrópole, era representada em 1965 pelos valores do quadro que se segue

[ver quadro na imagem]

É de salientar a posição ocupada pelos estabelecimentos hoteleiros, de luxo e de 1.º classe, os quais merecem realce, atendendo a que o turismo é constituído na sua quase totalidade por estrangeiros (82,1 por cento)
As percentagens das dormidas de estrangeiros no arquipélago, em relação à totalidade das dormidas verificadas na metrópole, nos anos que se indicam, são as seguintes

Percentagens

1961.........................9 1962........................11
1963........................12
1964........................10
1965........................10,8

Deve referir-se ainda o comércio com o exterior. Muito embora o arquipélago goze de localização geográfica favorável, têm-se mantido praticamente estáveis, nos últimos anos, os valores das exportações, assentes nos produtos tradicionais (bordados, vinhos licorosos e obras de vime)
Destas exportações, salienta-se a de bordados, com mais de 50 por cento do valor global e destinada na sua maior parte aos Estados Unidos da América, como se verifica pelo quadro seguinte

[ver quadro na imagem]

A situação social da Madeira não mostra disparidades acentuadas, em comparação com a verificada no continente.
Os índices de higiene situam o distrito dentro da média do continente, havendo que referir o elevado número de habitantes (2428) por médico
A taxa de analfabetismo atinge valores menos favoráveis do que os verificados no continente.
O índice de escolaridade, quanto no ensino secundário, não ultrapassava em 1960 os 10,6 por cento, considerando os elementos da população entre os 10 e os 19 anos
A sua distribuição pelos ensinos liceal e técnico (comercial e industrial) era a constante do quadro seguinte*

[ver quadro na imagem]

Da análise realizada pode extrair-se certo número de conclusões sobre a situação económico-social do arquipélago da Madeira, que seguidamente se resumem

Densidade populacional três vezes e meia superior à média do continente,
Elevados saldos fisiológicos,
Forte repulsão populacional, com aspecto dominante nos meios rurais, provocando grandes correntes emigratórias,
Actividade predominantemente agrícola, apresentando a estrutura agrária deficiências estruturais acentuadas,
Debilidade do sector secundário, dominado pelas indústrias tradicionais, produtoras de bens de consumo local, sem poder desempenhar acção motora e absorver a mão-de-obra excedente do sector primário,
Destacada posição do concelho do Funchal e, em menor escala, dos concelhos limítrofes (Santa Cruz e Câmara de Lobos), onde se concentra.

A maior parte da população,
A quase totalidade das indústrias, comércio e infra-estruturas urbanas,

Actividade exportadora estável de bordados, vinhos licorosos e obras de vime,
Influência dominante da actividade turística, em especial sobre o desenvolvimento da cidade do Funchal e, complementarmente, de Porto Santo, constituindo o arquipélago uma das mais importantes regiões turísticas da metrópole.

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Perante a situação actual e o seu previsível agravamento, torna-se necessário um conjunto de providências que procure harmonizar as condições económico-sociais da Madeira com a progressiva correcção das deficiências verificadas.

CAPITULO II

Objectivos e orientações fundamentais

8. Os reflexos do desenvolvimento económico e social para a maioria da população espalhada pelo território metropolitano dependem, em grande parte, da medida em que for possível dar realização a um dos objectivos fundamentais do Plano a harmonização do crescimento à escala regional
Nesta óptica, as actuações a desenvolver durante o período do Plano serão conduzidas com vista aos seguintes objectivos

O equilíbrio da rede urbana, com a finalidade de dotar as populações de equipamentos sócio-económicos mínimos, concentrados a distâncias razoáveis;
A expansão descentralizada da indústria e dos serviços, concretizada pela utilização de pólos de crescimento,
A progressiva especialização da agricultura regional, de acordo com as aptidões dos solos e as influências climáticas, numa óptica de concentração do investimento

Por outro lado, a prossecução destes objectivos implica a necessidade de se aperfeiçoarem determinadas estruturas regionais em ordem a permitir a elaboração de planos concertados. Serão, assim, condições prévias para a realização dos objectivos mencionados a delimitação de regiões de planeamento (regiões-plano ou regiões-programa) e a definição da orgânica adequada.

9. As orientações que hão-de enquadrar a formulação das providências destinadas a alcançar os objectivos apontados terão em conta as aspirações locais, a compatibilidade entre as exigências impostas pela aceleração do desenvolvimento nacional e as que respeitam ao progresso das diferentes regiões, bem como as potencialidades próprias de cada região Tender-se-á, assim a longo prazo, para a atenuação das disparidades regionais pela forma mais favorável ao crescimento do produto nacional, assegurando uma melhor repartição dos grupos humanos em função dos recursos efectivamente utilizáveis
Considerando, pois, que a execução da política regional não pode esquecer as aspirações locais, cumpre definir as orientações necessárias para assegurar a representatividade das populações nas diversas fases do planeamento regional
Por outro lado, a necessidade de harmonizar as exigências do equilíbrio regional com as aspirações nacionais de rápido desenvolvimento implica que a selecção dos projectos de investimento se processe não só através de critérios de rentabilidade, mas também com base na avaliação dos efeitos regionais de cada projecto, permitindo que a prioridade de realização dos empreendimentos seja definida de acordo com a maximização dos seus efeitos sobre o mecanismo de desenvolvimento de cada região, a fim de contribuir, pela forma mais favorável, para o crescimento do produto nacional
Por último, formula-se a orientação de que a procura da harmonia do crescimento à escala regional será condicionada pelas potencialidades próprias de cada região
Na prática, isso traduzir-se-á numa política de concentração dos investimentos naqueles pontos que apresentem maiores potencialidades, contribuindo para uma melhor coerência regional entre recursos efectivamente utilizáveis e estrutura produtiva, na medida em que o investimento é condicionado pelas potencialidades reais de cada sector

10. O equilíbrio da rede urbana é imposto não só pelas exigências da política de desenvolvimento regional, mas ainda, e talvez mais imperiosamente, pelo fenómeno de urbanização das populações, que, se não for controlado, processar-se-á espontaneamente e com consequências difíceis de prever
Aquele equilíbrio conseguir-se-á pelo desenvolvimento ou a criação de centros urbanos, para que toda a população disponha, a distâncias razoáveis, de equipamento sócio-económico mínimo
A distribuição do equipamento deve obedecer à hierarquização da rede urbana, de acordo com a função que cada centro desempenha, ou deverá desempenhar, na sua região, desde as cidades que funcionem como capitais até aos centros de menor dimensão ao serviço da população rural
Mantém-se, portanto, também aqui, a orientação já fixada de concentrar o investimento, a fim de que a expansão da rede urbana regional tenha como consequência a concentração racional das infra-estruturas sociais, permitindo ainda a hierarquização dos transportes e comunicações em função da importância de cada centro dentro da sua região
O objectivo de conseguir o desenvolvimento equilibrado da rede urbana regional implica o estudo do número, dimensão, localização e função dos centros a desenvolver ou a criar, tendo em conta as exigências das populações servidas, as potencialidades naturais e o custo dos equipamentos e infra-estruturas a instalar

11. Dentro desta óptica, a expansão da indústria e dos serviços obedecerá, no decurso do Plano, a uma política de descentralização, definida, para cada área, com base nas indústrias ou serviços considerados como factores básicos ou motores de desenvolvimento e conjugada com a urbanização das populações, dentro do princípio do equilíbrio da rede urbana regional
A orientação assim definida concretiza-se pela utilização de pólos de crescimento, que serão um dos principais instrumentos da política de desenvolvimento regional
Com efeito, a expansão descentralizada da indústria só poderá ser conseguida pela concentração do investimento naqueles pontos que oferecem garantias de maior influência sobre o conjunto da região, não sendo de aceitar, por improfícua e dispendiosa, principalmente quanto ao custo das infra-estruturas, a disseminação do investimento
Por outro lado, da concentração do investimento industrial resultarão economias externas de elevado grau nos aspectos de transporte, mão-de-obra, serviços públicos e assistência técnica, geradoras de um dinamismo auto-sustentado
Nos estudos respeitantes a aplicação deste princípio serão considerados a influência concreta de cada indústria no desenvolvimento da região considerada -examinando para cada caso os complexos industriais mais adequados -, a sua localização na região e ainda critérios urbanísticos, quer quanto à arrumação interna do pólo de crescimento, quer quanto à sua integração na rede urbana
Salienta-se ainda que a utilização dos pólos de desenvolvimento deverá processar-se com a finalidade de dotar

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as regiões de estruturas industriais produtivas e diversificadas, permitindo, por um lado, a sua actividade concorrencial, sem proteccionismos especiais, e evitando, por outro, as crises resultantes da excessiva especialização regional

12. Também na agricultura a política de desenvolvimento regional será orientada, na medida do possível pelo princípio da concentração do investimento em relação com o aproveitamento das potencialidades diagnosticadas em cada região.
Esta a orientação fundamental, que, conjugada com a aplicação de outras medidas, deverá conduzir ao aumento da produtividade do sector, através da especialização da agricultura regional, de acordo com a aptidão dos solos e as influências climáticas.
Considera-se, no entanto, que a concentração do investimento em zonas adequadas deverá ser conjugada com a criação de uma agricultura de maior pendor comercial, voltada para os mercados internos e externos.
Esta orientação implica a necessidade de se estudarem as condições mínimas de rentabilidade da empresa agrícola em cada região, procurando a correcção de estruturas deficientes, que constituem obstáculo ao aumento da produtividade e da capacidade concorrencial do sector.
Saliente-se, no entanto, que o desenvolvimento das actividades agrícolas não pode, por si só, servir de base a uma política regional, pelo que, sendo nítida a diminuição acelerada da população activa na agricultura, deverá considerar-se sempre a conjugação da política agrícola com a criação de novos empregos noutras actividades e com a urbanização das populações rurais.

13. Os objectivos e as orientações definidas só adquirem o seu verdadeiro significado quando conjugados a nível regional e compatibilizados a nível global.
Esta coordenação só é possível através da elaboração de planos regionais a integrar oportunamente no plano nacional.
Entende-se, no entanto, distinguir duas ópticas de planeamento regional - a de médio e a de longo prazo  primeira, que se inicia com este III Plano de Fomento, conduz a preparar e a executar o plano nacional dentro de um princípio de descentralização, por forma a conseguir atenuar os desequilíbrios regionais de acordo com as orientações já definidas.
A segunda, que se procurará considerar também no decurso do Plano, e com a qual se pretende prosseguir o objectivo da harmonização gradual do crescimento & escala regional, assenta na definição de um plano de ordenamento geral do território, com vista a proporcionar a melhor repartição dos factores produtivos em função dos recursos efectivamente utilizáveis
São, no entanto, condições fundamentais para o arranque do planeamento em qualquer das- ópticas referidas, como já se frisou, a delimitação de regiões de planeamento e a definição da correspondente orgânica.
Destas matérias se ocupam os capítulos seguintes

CAPITULO III

Delimitação das regiões de planeamento

14. No que se refere à delimitação de Regiões-Plano, a que se entende proceder, imediatamente sem prejuízo de ulteriores ajustamentos, os elementos orientadores considerados para esse efeito foram essencialmente os seguintes

As possibilidades presentes e potenciais dos centros urbanos da metrópole,
As exigências de um mínimo de dimensão demográfica,
A necessidade urgente de compensar o poder de atracção das duas grandes cidades do continente - Lisboa e Porto,
A unidade resultante da existência de grandes empreendimentos que interessam toda uma região,
A complementaridade entre zonas de economia diferente

Com base nestas directrizes, serão criadas no continente quatro regiões-plano a região do Norte, a região do Centro, a região de Lisboa e a região do Sul (V mapa VI)

MAPA VI

DELIMITAÇÃO DAS REGIÕES DE PLANEAMENTO NO CONTINENTE

[ver mapa na imagem]

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Embora se reconheça que os limites distritais não satisfazem às exigências de delimitação de regiões económicas, aceitam-se como ponto de partida, enquanto se procede aos, estudos complementares para a definição de limites mais de acordo com os objectivos que se pretendem atingir e que melhor satisfaçam os próprios interessados.
Considerando determinadas situações mais evidentes, os estudos mencionados deverão incidir principalmente sobre os concelhos localizados a norte do distrito de Aveiro (provavelmente polarizados pelo Porto) e os abrangidos pela baça hidrográfica do Douro (norte dos distritos de Viseu e Guarda), sobre os situados a sul do distrito de Lema, que parecem sofrer os efeitos directos da atracção de Lisboa, sobre a metade sul do distrito de Castelo Branco, de características alentejanas, e ainda sobre os concelhos alentejanos do distrito de Setúbal e os que separam o Algarve do Alentejo.
A região do Norte abrange os distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança e terá a sua captai na cidade do Porto. A região do Gentio inclui os distritos de Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Guarda e Castelo Branco e a sua capital será a cidade de Coimbra A região de Lisboa abrange os distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém, sendo a sua capital na cidade de Lisboa. A região do Sul abrange os restantes distritos - Portalegre, Évora, Beja e Faro-, funcionando como capital a cidade de Évora.
Consideram-se ainda as ilhas adjacentes, onde se criam duas regiões-plano, a região dos Açores e a região da Madeira, abrangendo cada uma o respectivo arquipélago e ficando a definição dos seus objectivos e políticas para capitulo próprio.
No continente, dentro de cada região, considerando aspectos específicos de intervenção distinguem-se sub-regiões e pequenas zonas de acção, sempre com o objectivo de conseguiu uma melhor integração destas na economia regional.
Desde já se definem, dentro de cada região, as respectivas sub-regiões, confirmando as reservas quanto aos limites que anteriormente se fizeram na do Norte, distinguem-se a sub-região do litoral - distritos do PORTO, Braga e Viana do Castelo - e a do interior - distritos de Vila Real e Bragança, na do Centro, o litoral, abrangendo os distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria e a sub-região do interior, formada por Viseu, Guarda e Castelo Bi anuo, na de Lisboa, a sub-região do litoral inclui ou distritos de Lisboa e Setúbal e a do interior o distrito de Santarém e finalmente na do Sul as sub-regiões do Alentejo - distritos de Portalegre, Évora e Beja- e do Algarve - distrito de Faro.
A definição das capitais das sub-regiões indicadas fica dependente dos estudos em curso sobre a localização dos pólos industriais, e o equilíbrio da rede urbana. Abre-se, no entanto, uma excepção para a sub-região do Algarve, onde, considerando os problemas específicos que levanta o planeamento turístico do distrito e sem prejuízo da necessária coordenação a nível regional, parece possível designar desde já a respectiva capital. Entre as hipóteses encaradas, afigura-se ser a cidade de Faro, sede administrativa do distrito, aquela que melhores condições apresenta para esse efeito, designadamente quanto a infra-estruturais urbanas, sem prejuízo de ulteriores modificações, caso venham a ser consideradas oportunas.

CAPITULO IV

Caracterização das regiões e linhas gerais de planeamento

15. Não é possível, nesta fase, definir para cada região um plano de desenvolvimento. Por um lado, faltam os estudos sobre os recursos naturais, as potencialidade?, as aspirações locais, por outro, dentro da orientação que se traçou, é essencial a colaboração das instituições regionais logo na primeira fase de preparação dos seus planos.
Apontam-se, no entanto, além das principais características e potencialidades, as linhas gerais da estratégia de desenvolvimento de cada legião, procurando enquadrar assim os planos regionais que venham a ser elaborados e salientar desde já empreendimentos de carácter prioritário, cujos estudos se poderão iniciar imediatamente, contribuindo para o mais rápido lançamento de acções de valorização regional.

SECÇÃO I

Continente

§ 1.º Região do Norte a)

Caracterização

16. Já ficou definido que esta região compreende, em princípio, os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila- Real e Bragança. A delimitação da região aparece, assim, estreitamente ligada aos actuais limites administrativos. Todavia, a necessidade de vir a abranger na mesma região o todo geográfico constituído pela bacia do Douro e a intensidade de relações económicas que uma parte do distrito de Aveiro mantém com a zona do Porto apontam para a conveniência de um ajustamento futuro dos limites regionais. No entanto, a inclusão de alguns concelhos dos distritos situados a sul do rio Douro na região do Norte só deverá fazer-se sem prejuízo do equilíbrio da região do Centro.

Da mesma maneira que são diferenciadas as duas sub-regiões, litoral e interior, também as medidas de política económica e social devei ao assumir aspectos e intensidades distintas. Com efeito, as duas sub-regiões não só têm peso muito desigual em termos demográficos e económicos (a sub-região anterior possui 21 por cento da população da região e contribui para a produção total com 13 por cento), como tende a agravar-se o desequilíbrio entre as suas posições relativas.
A sub-região litoral, embora inclua a cidade do Porto como segundo pólo urbano do Pais, não se destaca dos valores médios do continente em termos de desenvolvimento, nem se afasta do nível atingido pela litoral da região do Centro. A sub-região interior, por sua vez, aparece como a mais pobre de todo o continente.
A percentagem de activos agrícolas - a mais elevada do País - e uma produção baseada predominantemente na agricultura são os traços característicos da estrutura desta sub-região, que sofre repulsão populacional muito forte.
Na sub-região litoral não há homogeneidade de condições, porquanto o distrito de Viana do Castelo prolonga a zona deprimida do interior. Apenas os distritos de Braga e Porto, com grandes densidades populacionais, possuem maior dinamismo e até capacidade de atracção populacional (nalguns concelhos limítrofes da cidade do

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Porto), determinados pela posição saliente das actividades industriais e pelas estruturas urbanas mais aptas para fixar os excedentes populacionais.

Neste último aspecto, todavia, a região do Noite carece de rápida transformação, porque a sua cobertura urbana é deficiente. Além do crescimento orientado dos centros de Braga e Guimarães, será necessário promover o desenvolvimento de alguns centros urbanos actuais ou a criação de novos centros, localizados de acordo com um esquema coerente de dependência funcionai das populações e integrados na hierarquia da rede urbana regional.
A expansão dos centros urbanos e o aproveitamento das potencialidades regionais relacionam-se também com as possibilidades de transportes e meios de comunicação que se apresentam mais deficientes, quer quanto a intensidade, quer quanto a utilização, nos três distritos que constituem a zona crítica da região (Viana do Castelo, Vila Real e Bragança).
Nestas condições, torna-se necessário conjugar o prolongamento dos traçados actua s das vias rodoviárias e ferroviárias com o planeamento da rede urbana e da exploração dos recursos regionais, evitando que as comunicações constituam entrave ao aproveitamento integral das potencialidades das regiões mais desfavorecidas.

b) Principais factores e potencialidades

Alguns aspectos serão tidos especialmente em conta na programação concreta da política de desenvolvimento aplicável à região do Norte.
Assim

A existência dos recursos do subsolo, com relevo para os minérios de ferro, com grandes reservas conhecidas, e possibilidades de enriquecimento local para utilização metalúrgica posterior, outros produtos de extracção menos importantes, como o carvão, os minérios de estanho e volfrâmio, o caulino, ardósias e granito, suo também susceptíveis de aproveitamento ma s amplo proporcionado pelo próprio crescimento industrial e da construção,
Um potencial de mão-de-obra não especializada ainda volumoso, apesar da emigração, e que pode beneficiar da valorização profissional dos próprios emigrantes e de uma formação ministrada oportunamente,
A tradição industrial, o experiência adquirida em sectores muito localizados e importantes e a possibilidade de conseguir rápidos progressos da produtividade pela introdução de técnicas modernas de gestão,
Quanto aos transportes além dos aspectos gerais já mencionados, merece realce o estudo da navegabilidade do Douro, em ligação com o seu aproveitamento hidroeléctrico,
Quanto à melhor a do sector agrícola, constituem problemas em toda a região a elevação da produtividade dos factores (sobretudo do trabalho), o aperfeiçoamento da organização da produção, a melhoria da rentabilidade das explorações agrícolas, pecuárias e florestais e o ajustamento da actividade produtiva à capacidade de uso dos solos.

c) Linhas gerais de planeamento

O enquadramento traçado permite definir algumas orientações fundamentais com vista ao progressivo desenvolvimento da região.
Assim, a modernização das estruturas produtivas do litoral industrializado e o seu reordenamento urbano terão tradução sensível na diminuição relativa da população activa do sector primário e na participação crescente do produto dos sectores secundário e terciário na produção global.
Na área do Porto, caracterizada pela concentração industrial e populacional, as providências a encarar devei ao obedecer principalmente a um plano orientador da expansão urbana que delimite as áreas residenciais e industrias.
Na zona Braga-Guimarães-Viana do Castelo, a intervenção tenderá a impulsionar o crescimento industrial e a ordenar a concentração por forma a surgirem centros urbanos bem equipados a menos dependentes da capital regional. As zonas críticas constituídas pelas áreas montanhosas destes distritos exigem estudos quanto às suas possibilidades de reconversão e valorização.
A exploração mais intensa dos recursos naturais e o aproveitamento das possibilidades agro-florestais utilizando esquemas mistos de ordenamento agrícola e de industrialização dos produtos primários, com elevação rápida da produtividade na agricultura e redução do subemprego, apoiados em novos pólos de desenvolvimento económico e urbano, constituem o essencial da política de desenvolvimento paia o anterior. A evolução a favorecer deverá permitir redução sensível do peso excessivo da população activa agrícola, criando novos empregos em número elevado nas actividades secundárias.

Neste caso, a problemática da agricultura e a ausência de indústrias transformadoras e de verdadeiros centros urbanos implicam a necessidade de reconversão da primeira e a criação de pólos urbano-industriais de dimensão e estruturas adequadas, um dos quais desempenhará as funções de capital sub-regional.
A linha principal da estratégia para esta região consistirá, pois, em conseguir a penetração do desenvolvimento industrial no sentido do anterior, provavelmente pela implantação de um pólo de desenvolvimento na zona delimitada pelos centros urbanos de Vila Real e Lamego, tendo em atenção as potencialidades do território e a necessidade de não estimulai a atracção do Porto sobre as respectivas populações.

§ 2.º Região do Centro

a) Caracterização

17. A região do Centro compreende os distritos de Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Guarda e Castelo Branco.
A delimitação da região, feita com base nos limites administrai, vos dos distritos, afasta-se sensivelmente das suas fronteiras naturais a bacia do Douro, a norte, e a bacia do Tejo, a sul. É sobretudo em relação à vertente sul da bacia do Douro, por constituir um prolongamento natural da região do Norte, que se admite a necessidade de optar, no futuro, quanto ao ajustamento dos limites regionais. Analogamente, podem merecer consideração relações económicas intensas com as zonas urbanas do Porto e de Lisboa, nos extremos norte e sul da sua faixa litoral. Todavia, qualquer adaptação futura dos fronteiras regionais terá de atender ao equilíbrio demográfico e económico da região do Centro e à estrutura da sua rede urbana, na qual desempenha papel importante a cidade de Aveiro.
A estratégia geral de desenvolvimento, partindo da situação actual, deverá assentar no conhecimento da respectiva estrutura económica, num inventar o inicial do potencialidades e nas características mais relevantes da evolução recente.

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As duas sub-regiões, litoral e interior, formadas, respectivamente, pelos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria e pelos de Viseu, Guarda e Castelo Branco, têm características diferenciadas, sobretudo quanto às potencialidades e condições naturais e às estruturas económica e urbana.
Embora não tenham populações muito desiguais (cerca de 56 por cento na sub-região litoral), as suas contribuições para a produção total são nitidamente mais desequilibradas, pois na sub-região litoral obtém-se mais de 64 por cento dessa produção
Outros aspectos que justificam acções de promoção do desenvolvimento económico e social da região do Centro resultam do agravamento crescente das disparidades apontadas e de nenhuma das sub-regiões parecer susceptível, no seu conjunto, de reduzir as disparidades que as separam actualmente dos indicadores médios para o continente, embora o distrito de Aveiro, isoladamente, apresente ritmos muito elevados de crescimento
A sub-região litoral, densamente povoada, sofre, no conjunto, repulsão populacional, embora de baixa intensidade, e nalguns concelhos isolados chega a exercer atracção efectiva (Aveiro, Ílhavo, S. João da Madeira e Marinha Grande) devido ao respectivo desenvolvimento industrial
A sub-região interior, porém, possui repulsão populacional muito forte e elevadas percentagens de activos agrícolas, que, mantendo-se estacionárias, demonstram a ausência de dinamismo da economia da zona, centrada na actividade agrícola, embora possua um centro industrial de certa importância (Covilhã)
A estrutura urbana da região é fraca, pois todos os centros principais, à excepção de Coimbra, possuem populações inferiores a 23 000 habitantes, sendo em pequeno número no interior, onde, aliás, servem de locais de passagem temporária para populações migrantes Os equipamentos destes centros tornam necessário o ordenamento urbano, no litoral, tendo em vista a economia de infra-estruturas que certo grau de concentração pode proporcionar, e o desenvolvimento, no interior, dos pólos já existentes (provavelmente Viseu, Covilhã, Guarda e Castelo Branco) onde se localizem actividades industriais geradoras de novos empregos e se exerçam funções urbanas indispensáveis segundo uma hierarquia adequada
O sistema de comunicações apresenta estrangulamentos a incidir nas possibilidades de desenvolvimento da região do Centro, em consequência, nomeadamente, das barreiras montanhosas que dificultam a penetração no interior da Beira em condições de trânsito rápido, principalmente no que se refere as ligações directas da Covilhã e da Guarda com o litoral

b) Principais factores e potencialidades

Com vista ao desenvolvimento da região do Centro, devem considerar-se especialmente.

Os recursos naturais, ainda insuficientemente aproveitados, nomeadamente grandes disponibilidades de material lenhoso, as areias, o calcário e outras rochas de interesse para as indústrias de cerâmica, vidro, cimentes e materiais de construção e os recursos mineiros da sub-região interior, em que se destacam o estanho, o volfrâmio e o urânio,
O dinamismo que caracteriza actualmente a actividade industrial nos distritos de Aveiro e, em menor escala, de Leiria e Coimbra, beneficiando de uma capacidade empresarial crescente,
A posição geográfica dos centros mais progressivos sobre o eixo que liga obrigatoriamente Lisboa ao Porto e a atribuição das funções de capital regional à cidade de Coimbra, o que pode gerar impulso favorável ao desenvolvimento e novo poder de atracção,
O aproveitamento múltiplo do rio Mondego, com reflexos na estrutura da produção agrícola e na transformação industrial de produtos primários, no sistema de comunicações e na produção de energia,
O grande volume de activos agrícolas não especializados que tenderia a abandonar a agricultura, como consta do capítulo respectivo,
As melhorias previstas para os portos da Figueira da Foz e de Aveiro, que deverão concretizar-se a partir de estudos cuidados, tendo em conta quer as coordenadas do sistema geral de transportes, quer as necessidades de distribuição e aproveitamento das novos actividades que o desenvolvimento vai impulsionar

c) Linhas gerais de planeamento

A orientação principal a considerar será a de procurar compensar o poder de atracção das cidades de Lisboa e Porto, fazendo surgir entre elas uma região com bastante autonomia e dinamismo, apoiada em pólos suficientemente estruturados e poderosos. Em segundo lugar, deverá encarai-se a promoção de um eixo industrial em direcção ao interior, aproveitando o fermento de industrialização que já se verifica, a fim de recuperar uma das zonas mais críticas do continente
O processo de industrialização do litoral, uma vez sujeito a orientações adequadas, no sentido da concentração dos investimentos em pólos específicos, tendo em vista a especialização sectorial, a interdependência das produções em fases intermédias, as vantagens da dimensão e, sobretudo, o progresso técnico e a modernização das indústrias actuais, fornecerá a base para o desenvolvimento da sub-região litoral Nesta, haverá ainda que garantir o equipamento social e urbano dos principais centros em nível adequado, proporcionando o crescimento do sector terciário à dimensão das actividades industriais, para evitar que as populações continuem a ser atraídas, em escala crescente, pelas aglomerações de Lisboa e do Porto
Será necessário encaminhar os esforços no sentido de a capital regional vir a possuir todas as condições inerentes à sua função e a constituir um centro polarizador do desenvolvimento da região Do mesmo modo, os outros centros da sub-região carecem de aumentar a sua dimensão (principalmente Aveiro e Leiria), a fim de representarem centros secundários que virão completar o enquadramento urbano da mesma sub-região Pela influência favorável de que se revestem, deverá considerai-se, logo que possível, o início das obras de aproveitamento das bacias do Vouga e do Mondego
As zonas críticas de dimensão relativamente reduzida, situadas na parte montanhosa dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, exigem estudos particulares sobre as respectivas possibilidades de reconversão
A sub-região do interior pode caracterizar-se como zona crítica, embora compreenda um conjunto de concelhos, entre Viseu e a Covilhã, onde já se nota um princípio de industrialização Quer a parte norte do distrito de Viseu, quer o distrito da Guarda, bem como o sul do distrito de Castelo Branco, apresentam problemas na agricultura e carência quase total de indústrias transformadoras dinâmicas e de centros urbanos bem dimensionados
O desenvolvimento da sub-região dificilmente poderá basear-se nas potencialidades exploradas ou nas indús-

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trias existentes Consideram-se, assim, como acções prioritárias, a modernização da agricultura, com particular atenção para as potencialidades da Cova da Beira, o lançamento de infra-estruturas (principalmente quanto as comunicações) e a implantação de novas actividades de maneira coordenada com a selecção dos pólos regionais, que serão objecto de medidas específicas de promoção
Esta selecção deverá ser estreitamente relacionada com a expansão dos centros urbanos da sub-região, convindo, nesse sentido, estudar as suas potencialidades turísticas em especial as da serra da Estrela

§ 3.º Região de Lisboa

a) Caracterização

18. A região de Lisboa abrange os distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém e, à semelhança das anteriores, também se encontra dividida em duas sub-regiões a litoral, ou da Estremadura, compreendendo os distritos de Lisboa e Setúbal, e a interior, ou do Ribatejo, constituída praticamente pelo distrito de Santarém Quanto aos seus limites, admite-se que, no futuro, eles sejam alargados, por forma a abranger a parte sul do distrito de Leiria, e subsistem certas dúvidas quanto a inclusão de alguns concelhos do distrito de Setúbal pertencentes ao Baixo Alentejo. Incluindo o primeiro pólo industrial e demográfico do País, destaca-se no conjunto do continente pela elevada participação no produto (43,3 por cento) e pelo dinamismo de desenvolvimento que apresenta, traduzido numa elevada taxa de crescimento
Estes aspectos, porém, não excluem a existência de situações territoriais muito diferenciadas, que envolvem problemas de desequilíbrio de crescimento da região
De facto, a localização das indústrias tem-se feito predominantemente na cidade de Lisboa e arredores, abrangendo os concelhos da margem esquerda do Tejo
A atracção exercida por esta zona deu origem a concentração muito elevada do sector secundário, que se caracteriza por um conjunto de actividades extremamente diversificado, mas todas de importância nacional
Os estabelecimentos industriais possuem dimensão média a grande, forte intensidade capitalista, bom nível de produtividade, com reflexos nas remunerações médias do trabalho, que são elevadas relativamente ao resto do continente
Concretamente, a sub-região litoral dispõe de um conjunto de economias externas altamente polarizador, cujo desenvolvimento se tem realizado espontaneamente e a ritmo crescente
O distrito de Santarém sofre a influência dinamizadora do primeiro grupo de distritos e, embora a sua estrutura de produção seja ainda muito pouco marcada por actividades motrizes, manteve ao longo do período compreendido entre 1958-1964 a sua posição na produção total (4 por cento)
Porém, a dimensão média dos estabelecimentos é baixa, de pequena concentração e com fraca intensidade capitalista As remunerações do trabalho são satisfatórias, as capitações baixas e os acréscimos da produtividade têm sido relevantes Por outro lado, apresenta ritmo de crescimento do produto de nível médio, mas não suficiente para acompanhar a evolução do conjunto da região
A produção deste distrito é igualmente muito diversificada, mas ainda não possui indústrias de importância nacional
A localização e o desenvolvimento do sector secundário determinaram expansão acentuada do sector terciário, particularmente em actividades importantes, como é o caso dos organismos de crédito e seguros, serviços de administração pública, de habitação e outros
A atracção populacional provocada pela elevada concentração industrial originou uma distribuição demográfica muito desequilibrada no interior da região. Assim, em 34 por cento da superfície acumulam-se 82 por cento da população
Esta concentração demográfica verifica-se sobretudo nos concelhos à volta de Lisboa, prolongando-se para sul, até à península de Setúbal, e para norte, pela margem direita do Tejo, quase sem descontinuidade, até ao limite do distrito de Santarém, originando o aparecimento de centros populacionais com elevadas taxas de crescimento, mas que não desempenham funções económicas e sociais específicas A uma distribuição desequilibrada da actividade secundária alia-se, assim, uma rede urbana deficientemente estruturada, com carências infra-estruturais, nomeadamente no campo da habitação e dos transportes
Por último, no que respeita ao sector primário, os principais obstáculos à sua evolução são postos pelo tipo de produção agrícola (predomínio das culturas extensivas de sequeiro), fortemente dependentes de factores aleatórios, como o clima, e por uma estrutura agrária pouco homogénea
À heterogeneidade de características estruturais apresentadas pela região vêm juntar-se as dissemelhanças ecológicas, contribuindo um e outro destes aspectos para a existência de situações muito diferentes do sector agrícola, conforme as sub-regiões em que se considerou dividida a região
De facto, no litoral a agricultura localiza-se em zonas bem definidas - várzeas de Loures e de Vila Franca, zonas hortícolas da margem esquerda do Tejo -, constituindo uma área de cintura abastecedora de Lisboa e dos restantes centros urbanos e industriais Aqui se encontram as mais baixas percentagens de população activa agrícola do continente, o que proporciona nível razoável de produtividade do trabalho, traduzido pela capitação do produto por actuo agrícola e por um grau de mecanização relativamente elevados.
O distrito de Santarém apresenta a maior percentagem de população activa agrícola e, em termos de produtividade dos solos, os contrastes são acentuados, devido à sua natureza e capacidade produtiva - terras de lezíria e terras de charneca - e também pela natureza das culturas praticadas - a lezíria é utilizada simultaneamente em culturas ricas (tomate) e em culturas pobres (cereais e pastagens espontâneas) A estrutura fundiária revela, como já foi referido, conjuntamente com aspectos de pequena exploração - que ocupam 43 por cento da área -, a presença de certo grau de concentração fundiária (0,79) e de grande exploração - 86 por cento da área.
Além dos problemas da agricultura da região genericamente enunciados, há que destacar dentro da sub-região litoral uma zona deprimida formada pelos concelhos do sul do distrito de Setúbal exteriores à península do mesmo nome Nestes concelhos, a elevada percentagem da população activa agrícola, associada à reduzida fertilidade dos solos (principalmente areias pliocénicas), constituem sérios entraves à evolução da agricultura.
A debilidade acentuada do sector agrícola, conjugada com a ausência de indústrias e serviços, tem determinado

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A situação actual da região caracteriza-se por uma economia quase exclusivamente baseada em actividades do sector primário, com acentuada predominância da agnoulditina, permite ainda contar com aptidão ecológica alguns ramos da fruticultura, especialmente citricada uma zona do Baixo Alentejo interior carecida de

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sensíveis no domínio da transformação dos produtos agrícolas provenientes das novas áreas de regadio da l.ª fase do Plano de Rega do Alentejo (25 000 ha) Efectivamente, neste campo poder-se-á dispor de equipamento moderno e de unidades fabris com elevada produtividade, circunstâncias que se podem traduzir em maior poder competitivo nos mercados externos
Fará alcançar maiores níveis de eficiência, a agricultura terá de orientar-se para actividades cada vez mais adaptadas aos solos e, sempre que possível, mais intensivas Um melhor ordenamento de culturas, com a conveniente expansão da floresta e da pecuária, acompanhando a intensificação que o regadio proporciona, afigura-se inteiramente desejável Para o efeito, a agricultura alentejana dispõe de uma condição vantajosa, que é a de poder contar com áreas suficientemente amplas para implantar esquemas de produção, agrícola ou florestal, em escala industrial
Para além das possibilidades da industrialização, articuladas principalmente com o Plano de Rega e a florestação no Alentejo, a hipótese de a expansão industrial de Lisboa se prolongar por Vendas Novas até Évora será simultaneamente, objecto de estudo
Dedicar-se-á também particular atenção a necessidade de desenvolvimento dos centros urbanos existentes no Alentejo, dentro de uma hierarquia da rede urbana regional, considerando as características da sub-região, a tendência que as populações têm para se concentrarem em centros urbanizados, à medida que o desenvolvimento se processa, e a premência actual de dotar os aglomerados populacionais com o equipamento social e sanitário indispensável
Estes aspectos deverão ser objecto de estudos urbanísticos coordenados com a evolução das actividades económicas e respectivas áreas de maior incidência, porque o facto condicionará as possibilidades de expansão dos actuais centros urbanos
Reveste particular interesse a definição de zonas industriais, a considerar nas áreas de expansão de Évora e Beja No caso desta ultima cidade, o rápido crescimento previsto, como consequência da presença da base militar, é ponto de partida a aproveitar para assentar a expansão do centro urbano em outras fontes criadoras de riqueza
Quanto à sub-região do Algarve, o seu desenvolvimento próximo basear-se-á, como se disse, fundamentalmente na expansão do turismo
Para esse efeito, prosseguirão os estudos e projectos tendentes à salvaguarda de valores ambientais e paisagísticos, particularmente na zona costeira Com igual finalidade de promoção turística, continuarão, também, os estudos e trabalhos de valorização das localidades e zonas onde se prevê a concentração de iniciativas turísticas, hoteleiras e de áreas residenciais, bem como o equipamento em serviços terciários dos centros urbanos actuais
Paralelamente, deverão ser examinados os efeitos regionais da actividade turística, pois não convém basear o desenvolvimento desta sub-região apenas numa actividade dependente de diversos factores externos
Assim, dedicar-se-á particular atenção às possibilidades de desenvolvimento de alguns centros industriais, aproveitando o dinamismo já existente em Portimão, Faro, Olhão e Vila Real de Santo António, com indústrias alimentares e da cortiça de certa dimensão
Considera-se também a necessidade de melhorar as condições de acesso, acostagem e apetrechamento dos principais portos algarvios, o que terá reflexos benéficos,
não só sobre as actividades tradicionais da pesca, mas também no desenvolvimento de indústrias e serviços ligados ao turismo A exiguidade do hinterland limita necessariamente o número de portos, no entanto, os portos de Portimão e de Vila Real de Santo António apresentam boas perspectivas e condições de desenvolvimento, particularmente o primeiro, tanto como porto de pesca como de apoio ao movimento turístico
Merecem também particular atenção os reflexos que a expansão do turismo pode ter sobre a própria actividade agrícola, aliás com vantagens recíprocas
Na verdade, o fornecimento de produtos de qualidade (frutas, flores, primores hortícolas, etc ) às unidades hoteleiras poderá constituir incentivo à agricultura, particularmente a da orla litoral, imprimindo-lhe mais sentido comercial e apuramento da qualidade, desde que as ligações produção-consumo sejam estabelecidas através de contratos de produção e entre organizações de agricultores (cooperativas, por exemplo) e organizações de turismo (hotéis, companhias de aviação, por exemplo).
Neste último aspecto, a presença do aeroporto de Faro representa vantagem para a agricultura regional, desde que os produtores se organizem no sentido de aproveitar a rapidez do transporte aéreo para colocarem nos mercados europeus produtos precoces, que, se forem qualificados, poderão contar com preços compensadores
Saliente-se ainda que toda a serra algarvia se pode considerar como zona crítica", podendo agravar-se a situação por reflexo do turismo, merece, assim, especial cuidado a sua reconversão

§ 5.º Estudos fundamentais

20. Apontaram-se os diversos aspectos que deverão orientar a regionalização do desenvolvimento no continente
Entende-se, no entanto, ser ainda necessário enunciar alguns estudos mais importantes que poderão servir de ponto de partida à realização de acções de fomento regional
Na sua selecção atender-se-á fundamentalmente às prioridades e urgências reveladas pela situação das diversas regiões
Enumeram-se, entre outros, os seguintes temas:

Estudo da melhor localização para a implantação de uma primeira experiência de complexo industrial descentralizado,
Estudo da legislação sobre incentivos e facilidades aplicáveis a pólos de crescimento e áreas industriais
Ultimação dos trabalhos referentes ao plano director da aglomeração urbana do Porto,
Estudo das linhas orientadoras da reorganização e diversificação da indústria na zona têxtil do Norte;
Programação dos efeitos regionais resultantes do aproveitamento integral das potencialidades do rio Douro,
Estudo e avaliação dos efeitos regionais do complexo agro-industrial do Cachão, Estudo do reordenamento urbano-industrial da zona de Aveiro a Leiria;
Estudo e avaliação dos efeitos regionais das obras para o aproveitamento do Mondego,
Ultimação dos projectos de irrigação da Cova da Beira e estudo complementar da implantação de um complexo agro-industrial;

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Estudo das linhas orientadoras de reorganização e diversificação da indústria têxtil da Covilhã,
Melhoramento das comunicações Guarda-Covilhã com Coimbra,
Aplicação do Plano Director da Região de Lisboa,
Estudo e avaliação dos efeitos regionais do aproveitamento do rio Tejo,
Estudo da melhor localização para uma área industrial na zona de Torres Novas-Tomar-Abrantes,
Estudo e avaliação dos efeitos regionais das obras de irrigação do Alentejo,
Conclusão do plano turístico do Algarve e avaliação dos seus efeitos sobre a região,
Estudo das linhas orientadoras da reorganização e diversificação das indústrias de cortiça e conservas de peixe do Algarve

SECÇÃO II

Açores e Madeira

21. A delimitação das regiões da Madeira e dos Açores, que serão constituídas pelos arquipélagos do mesmo nome, obedece mais a razões de ordem geográfica do que às exigências de ordem sócio-económica ditadas pelos critérios aplicáveis à delimitação regional, com vista à elaboração e execução de planos
Com efeito, qualquer destas regiões não atinge a dimensão demográfica mínima usualmente aceite como padrão, mas o seu isolamento e a peculiaridade dos seus caracteres humanos e da estrutura económica impõem a sua definição como regiões-plano autónomas

A escolha de uma capital regional não oferece dúvidas no caso da região da Madeira A posição de relevo da cidade do Funchal indica-a imediatamente para o desempenho daquela função
Na região dos Açores o problema é mais complexo, pois a sua rede urbana é constituída por pequenos centros e nenhum atinge dimensão que a priori o indique para assumir tal posição
O seu maior centro populacional e o de maior dinamismo nas actividades económicas á a cidade de Ponta Delgada, que, no entanto, se localiza na periferia do arquipélago, pelo que a sua escolha para capital regional levanta dificuldades evidentes
Angra do Heroísmo apresenta-se geograficamente como a cidade mais bem localizada, visto ocupar situação central em relação ao conjunto do arquipélago No entanto, embora seja a segunda cidade da região, o volume da sua população e o dinamismo das suas actividades económicas colocam-na em posição menos favorável do que Ponta Delgada
Quer a escolha recaia sobre um quer sobre o outro daqueles centros para o desempenho das funções de capital regional, não oferece dúvidas a necessidade de se criaram duas sub-regiões, uma constituída pelo distrito de Ponta Delgada, de economia relativamente mais evoluída e dinâmica, e outra formada pelos distritos de Angra do Heroísmo e Horta

§ 1.º Região dos Açores

a) Caracterização

22. A região compreende os três distritos açorianos de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, todos eles abrangendo mais de uma ilha, as quais se dispersam por vasta área do Atlântico.
Como já se referiu, em todas elas se registam elevadas densidades demográficas, agravadas pela manutenção de altos saldos fisiológicos, o que tem originado a formação de grandes correntes migratórias para o exterior
A actividade agrícola, que constitui a base da sua economia, apresenta defeitos estruturais resultantes da elevada pressão demográfica sobre a terra e de processos produtivos pouco evoluídos, verificando-se baixas produtividades médias e fraca rentabilidade das explorações.
O sector secundário, composto principalmente por indústrias complementares da agricultura e da pesca, de pequena dimensão, mostra-se pouco dinâmico e sem grandes potencialidades de expansão futura
No conjunto, o secundário e o terciário apresentam-se incapazes de fixar as populações que abandonam a agricultura, apesar da atracção exercida pelas ilhas onde se localizam os aeroportos da região Também o turismo não tem grandes possibilidades de evolução, devido à irregularidade climática que caracteriza o arquipélago.
A repartição distrital do valor bruto da produção industrial põe em relevo determinadas desigualdades internas, verificando-se que Ponta Delgada contribui com mais de 75 por cento daquele valor
A rede urbana é deficiente, pois existem apenas três centros de pequena dimensão, insuficientemente equipados, salientando-se que a cidade de Ponta Delgada, apesar de ser a maior da região e aquela onde se concentra grande parte do seu potencial industrial, não consegue fixar os saldos fisiológicos da ilha de S. Miguel, onde se localiza.

b) Principais factores e potencialidades

A consideração das principais características geo-económicas da região permitem salientar aspectos negativos e positivos a ter em conta na elaboração da sua estratégia de desenvolvimento
Assim, como condicionantes negativos, indicam-se

A dispersão do território, que cria complexos problemas de transportes e dificulta o acesso das populações a um mínimo de equipamento sócio-económico,
A estrutura agrária, que não favorece a exploração da terra em boas condições de rentabilidade,
A ausência de indústrias dinâmicas capazes de exercer uma função motora na expansão do sector,
A deficiente rede urbana, que, conjugada com a debilidade do sector secundário, não permite fácil concretização de pólos de crescimento;
A irregularidade do clima, que dificulta a exploração turística das condições naturais da região para aquela actividade

Por outro lado, devem considerar-se determinadas potencialidades francamente positivas

As boas condições agrícolas e pecuárias do território,
A riqueza piscícola das águas que o rodeiam,
A abundância de mão-de-obra, embora não qualificada,
A sua localização geográfica num cruzamento de vias de comunicação intercontinentais

c) Linhas gorais de planeamento

Trata-se, portanto, de uma região cujos recursos naturais e humanos ainda não se encontram eficazmente aproveitados, mas para a qual não é tarefa fácil seleccionar uma actividade motora sobre que se baseie o seu rápido desenvolvimento económico-social

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Aponta-se, como linha a considerar na definição da sua estratégia, a possibilidade de aproveitar a localização geográfica para transformar os Açores num centro internacional de comércio
Qualquer que seja a viabilidade desta hipótese, é necessário definir orientações que contribuam para atenuar o forte êxodo para o exterior da sua população
Tal objectivo só poderá ser atingido se se conseguir melhorar os condições económicas da grande maioria da população açoriana, a fim de lhe proporcionar um nível de vida semelhante àquele que muitas vezes vão procurar no estrangeiro
Para tanto, será necessário descobrir novas fontes de rendimento e aproveitar melhor as actuais, bem como encarar a progressiva melhoria de equipamento sócio-económico de tipo urbano
O desenvolvimento da rede urbana do arquipélago deverá ser apoiado nos seus três centros mais importantes - as capitais distritais-, a fim de lhes conferir dinamismo e condições sociais suficientes para atrair e fixar as populações locais
Deverá favorecer-se a instalação em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo de novas indústrias e a modernização dos existentes, mediante a aplicação de incentivos adequados Na Horta, será de examinar a viabilidade da implantação de um pólo de menor dimensão, cuja influência se faça sentir com igual intensidade nas ilhas do Pico e Faial, que, pela curta distância que as separa, podem ser encaradas como uma unidade geográfica
Nas ilhas de Santa Maria, Graciosa e Flores, considerando a distância a que se encontram dos principais centros da região, caberá igualmente apoiar a formação de núcleos urbanos de dimensão adequada, de modo a responderem às necessidades da população residente Estas ilhas, onde a indústria é quase inexistente, deverão continuar, todavia, a possuir carácter rural, a fim de evitar a disseminação de pequenos investimentos industriais por todo o arquipélago, os quais, não garantindo uma rentabilidade aceitável, em nada contribuiriam para a solução dos problemas.
Deverá, portanto, ser estudado o tipo de complexos industriais mais adaptado a estrutura económica das ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial, os quais, em face das potencialidades do arquipélago, hão-de basear-se essencialmente na actividade agro-pescuária e na pesca
No campo agrícola, aproveitando-se as condições altamente favoráveis dos Açores para a produção de [...] e criação de bovinos leiteiros, deverá alcançar-se alto grau de especialização neste aspecto Simultaneamente, serão prospectadas novas linhas de desenvolvimento agrícola, em particular no campo da produção de primores e do flores
As medidas tendentes a alcançar-se maior produtividade e viabilidade das explorações agrícolas serão completadas através da ma eficiente divulgação de modernas técnicas, da mecanização, da construção de melhores acessos e do abastecimento de água das explorações.
O desenvolvimento do arquipélago necessita, além disso, de determinadas infra-estruturas de apoio. Nesse sentido, deverão completar-se os estudos para promover o acréscimo da capacidade de produção de energia a eléctrica e para melhorar infra-estruturas de transportes que se mostrarem de primeira prioridade
Entretanto, o turismo, mostrando-se como sector com algumas potencialidades, constitui ainda um campo que será estudado e incrementado de modo a poder desempenhar um papel complementar de relativa importância no desenvolvimento da região
A coordenação destas orientações implica a conclusão, dentro de breve prazo, do Plano de Valorização .Regional dos Açores, actualmente em preparação

§ 2.º Região da Madeira

a) Caracterização

23. A situação actual da Madeira caracteriza-se por uma economia predominantemente baseada em actividades do sector primário, em especial da agricultura
Muito embora não sejam totalmente conhecidas as potencialidades deste sector, a constituição dos solos, aliada às condições climáticas do arquipélago, indica que as mesmas não se encontram em plena utilização, tornando-se necessário o seu estudo para correcção das deficiências estruturais e modernização das técnicas, no sentido de tomar a economia do arquipélago apta a apoiar o desenvolvimento turístico, que de ano para ano se acentua
A pesca, que se supõe com condições para acentuado desenvolvimento, ocupa posição pouco relevante no sector, sendo deficientes quer os seus equipamentos, quer os seus processos
A actividade industrial é dominada pelas indústrias transformadoras de tipo tradicional, destinadas à produção de bens de consumo local, com preponderância das indústrias artesanais, não mostrando o sector secundário capacidade para absorver os excedentes populacionais do sector primário
Verificam-se ainda na região, a par de elevada pressão demográfica, níveis de vida relativamente baixos, provocando forte repulsão populacional, com grandes correntes migratórias
A actividade turística ocupa na Madeira posição de acentuado relevo, cem base no aproveitamento dos suas excepcionais condições climáticas, aliadas a belezas naturais

h) Principais factores e potencialidades

São, portanto, aspectos a considerar como condicionantes das linhas de desenvolvimento da região
A elevada pressão demográfica, com influência sobre as estruturas agrarias.
A inexistência de um sector secundário dinâmico e diversificado, aproveitando as potencialidades naturais do arquipélago,
As excepcionais condições climáticas e a natureza dos solos, o que sugere elevadas potencialidades para um tipo de agricultura de especialidades,
A elevada riqueza piscícola,
As altas potencialidades de mão-de-obra não qualificada e a aceitação nos mercados externos dos produtos do seu artesanato nacional,
O peso dominante da actividade turística, com evolução favorável constante, e as suas potencialidades neste campo,
E, ainda, a existência na região de um centro urbano de apreciável dimensão e equipamento infra-estrutural - a cidade do Funchal

c) Linhas gerais de planeamento

A situação definida conduz a apontar, como principal linha de estratégia de desenvolvimento da região, o incremento da sua actividade turística, que surge como a única com suficiente dinamismo para servir de motor à expansão da economia do aquipélago

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Com efeito, o turismo ocupa já hoje posição preponderante na economia madeirense, tornando-se necessário o melhoramento das infra-estruturas e a defesa da qualidade do turismo internacional, de preferência ao estímulo de um turismo de massa, e procurando-se que o mesmo venha a ocupar o lugar de actividade motora no distrito.
Dentro desta linha, convirá proceder ao ordenamento do centro urbano do Funchal, equipando-o em atenção à sua dupla função de capital regional e de centro turístico.
Em apoio ao desenvolvimento turístico, procurar-se-ão corrigir as deficiências estruturais verificadas nas actividades do sector primário, com maior relevo na agricultura, procedendo-se a sua modernização e desenvolvimento, no sentido de torná-lo apto para o apoio que se lhe pede e intensificando-se a produção de primores fora de época, destinados quer ao abastecimento local, quer à exportação. Ainda dentro do sector, será fomentada a produção de lacticínios, visando em primeiro lugar o abastecimento da região e a produção de flores, considerando as boas perspectivas dos mercados externos e o valor que já actualmente representa a respectiva exportação.
A necessidade de não basear exclusivamente o desenvolvimento da região numa actividade muito dependente de factores externos, como é o turismo, conduz a considerar como urgente a modernização das indústrias tradicionais e a criação de novas indústrias, de maior dinamismo que as existentes, aproveitando as potencialidades de mão-de-obra da região. Dentro desta linha, devem estudar-se as possibilidades de desenvolvimento da actividade pesqueira e da transformação dos seus produtos, não só para abastecimento do mercado interno, mas também com destino à exportação, procurando-se a melhoria do equipamento das armações e a modernização dos seus processos.
Serão igualmente estudadas as possibilidades do desenvolvimento das indústrias de licores e de perfumes, a fim de aproveitar as potencialidades da ilha da Madeira quanto à produção de frutos, plantas aromáticas e flores próprias para aquelas indústrias.
Por outro lado, continuar-se-á a fomentar o desenvolvimento do artesanato local, não só considerando o interesse que ele desperta nas correntes turísticas, mas procurando também expandir a sua exportação, quer nos mercados já conquistados, quer em novos mercados.

CAPITULO V

Orgânica de planeamento

24. Cabe agora definir o esquema institucional de planeamento, de acordo com a orientação fixada pelo Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966 (artigos 28.º e 29.º).
A existência de instituições adequados que apoiem a política de desenvolvimento regional representa uma garantia do funcionamento das economias locais e favorece a sua integração na orgânica do planeamento.
A criação destas instituições e o apoio às existentes será, portanto, um dos aspectos a que se dará maior atenção no decurso do Plano, para caminhar no sentido da harmonia do crescimento à escala regional.
De harmonia com as directrizes definidas nas citadas disposições legais, a orgânica a criar, sem prejuízo de se assegurar a necessária coordenação ao nível das regiões e do País, procurará respeitar sempre a representatividade dos interesses locais em todas as fases do planeamento e a participação dos directamente interessados pela sua execução.
Entende-se na realidade que serão princípios fundamentais desta orgânica:

Que as autoridades regionais colaborem em todas as fases de elaboração do plano da sua região, acompanhando e dinamizando posteriormente a sua execução,
Que seja assegurada a consulta dos interesses públicos e privados locais em todas as fases do planeamento,
Que seja assegurada a coordenação regional de todos os serviços técnicos com competência local,
Que a coordenação técnica dos planos regionais se processe a nível nacional, permitindo a sua compatibilização global e sectorial.

Assim, haverá em cada legião, e localizados nas cidades do Porto, Coimbra, Lisboa e Évora e nos centros urbanos que vierem a ser escolhidos nas ilhas adjacentes, um órgão de informação e consulta, com representação dos diversos sectores interessados, públicos e privados.
O órgão indicado, que se denominará «comissão consultiva regional». será presidido por entidade designada pelo Governo e apoiado tecnicamente pelo Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, que para o efeito se fará representar nas reuniões de todas as comissões. Compete-lhe pronunciar-se sobre as diversas fases de preparação do plano regional, bem como acerca da coordenação dos meios de acção regional, e acompanhar a execução dos planos aprovados.
Na sua composição deverão incluir-se representantes distritais e municipais, bem como dos serviços regionais dos diferentes Ministérios, além de representantes idóneos dos interesses locais, públicos e privados.
A execução dos planos regionais que vierem a ser aprovados caberá, por um lado, às diversas entidades públicas (autarquias, serviços regionais dos Ministérios, etc. ), com competência nas matérias respectivas, e, por outro lado, ao sector privado, a cuja iniciativa e capacidade realizadora deverá, aliás, pertencer a maior parcela naquela execução, designadamente pelo que respeita à descentralização industrial e ao incremento das actividades agrícolas.
Considerando que os aspectos sobre os quais se deverão pronunciar as referidas comissões são de ordem muito diversa, poderão constituir-se no seu âmbito grupos de trabalhos restritos, que se dedicarão a tarefas concretas destinadas a apoiar o desempenho das atribuições da comissão regional.
A definição das grandes linhas de acção em matéria de planeamento regional e o acompanhamento superior e coordenado da sua execução competem ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, cabendo à Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica a articulação das acções regionais da competência dos diversos Ministérios.
Ao Secretariado Técnico da Presidência do Conselho pela Divisão de Planeamento Regional, compete a unificação metodológica da acção regional, o apoio técnico aos órgãos locais, com vista à elaboração dos respectivos planos regionais, e a síntese dos planos entre si e com os planos nacionais.
Integrados nesta estrutura básica, admite-se ainda que, depois de realizados os estudos necessários, venham a criar-se órgãos especialmente apetrechados para fazer face a problemas específicos de determinadas áreas.
Durante a execução do Plano, a estrutura de base agora definida deverá ser aperfeiçoada de acordo com a experiência adquirida através dos trabalhos de planeamento regional que se vão iniciar.

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CAPITULO VI

Medidas de política regional

25. Para atingir os objectivos fixados em matéria de planeamento regional, haverá que adoptar diversas providências de ordem legislativa e administrativa, algumas de âmbito geral e outras específicas, para uma ou mais regiões. Entre as primeiras, muitas das incluídas nos diversos capítulos sectoriais deste Plano têm evidente repercussão no âmbito das diversas regiões do País e na promoção do seu desenvolvimento. No entanto, algumas merecem aqui referência específica, pela sua importância para a política regional.
Estão neste caso as medidas tendentes a impulsionar a expansão da indústria nos pólos de crescimento, com relevo para a criação de condições favoráveis ao estabelecimento de zonas especificamente adaptadas à implantação de novas indústrias.
Como já se acentuou, as zonas industriais, pelas vantagens que apresentam, quer quanto à possibilidade de integração das várias medidas tendentes a favorecer a localização preferencial das actividades industriais, quer quanto às economias de escala e benefícios inerentes à especialização da produção, organização comercial e viabilidade de subcontratos, e ainda quanto à contribuição para ajudar a resolver problemas de urbanização e de emprego da mão-de-obra, consideram-se como um dos instrumentos fundamentais da regionalização da política industrial.
A sua realização, como a dos complexos industriais por sectores, exige, além de estudos adequados, o preenchimento de condições indispensáveis à sua implantação.
Citam-se, entre outras, as seguintes:

A existência de infra-estruturas, o que aconselha como implantação mais adequada a proximidade de capitais regionais ou distritais, ou outros centros com algum desenvolvimento e beneficiando da localização favorável quanto a comunicações,
A especialização e preparação profissional da mão-de-obra, com o auxílio do sector público, dadas as carências existentes a nível global, e sobretudo regional, e as dificuldades apresentadas pelas empresas.

Em relação aos pólos principais, quer como via de reorganização e crescimento industrial, quer como base de um desenvolvimento acelerado, iniciar-se-ão estudos com especial incidência na definição de complexos industriais-tipo e dos incentivos à sua implantação, devendo as medidas de política, neste domínio, enquadrar-se nas disposições tomadas quanto às zonas industriais.
A regionalização da política industrial, como no respectivo capítulo se referiu, aconselha igualmente a alargar e aperfeiçoar os esquemas de incentivos para a indústria, aplicáveis a todos os centros que sejam ou venham a ser considerados como pólos de crescimento e, portanto, susceptíveis de serem beneficiados com a criação de zonas industriais.
Salientam-se, apenas como linhas gerais, as principais facilidades que deverão ser abrangidas pelas disposições a publicar, algumas, aliás, já genericamente mencionadas no capítulo sobre «Financiamento».

Facilidades para obtenção de terrenos destinados à construção de edifícios fabris, a arrendar para a instalação de indústrias que resolvem problemas de mão-de-obra ou contribuem decisivamente para o desenvolvimento da região,
Facilidades na concessão de crédito, quer quanto a taxas, quer quanto a amortizações, para a criação de indústrias complementares da agricultura e outras de interesse regional,
Participação do Estado ou das autarquias locais no capital de empresas de interesse regional,
Isenção ou redução de impostos e direitos alfandegários para indústrias de interesse regional,
Concessão de prémios especiais de equipamento às indústrias que se instalem em região com problemas de desemprego real ou potencial;
Comparticipação em obras de interesse público e particular conjuntamente,
Garantias do Estado a operações de crédito,
Subvenção às despesas de formação ou readaptação dos trabalhadores,
Subvenção às despesas de transferência de mão-de-obra.

Embora tais incentivos se apliquem fundamentalmente à criação de pólos industriais, deverá ser estudada a possibilidade da sua extensão parcial às zonas consideradas críticas, quer pela debilidade da sua economia, quer pela exigência de reconversão das suas actividades predominantes.
Aliás, foi já esta a óptica considerada nos textos básicos da reforma fiscal actualmente em vigor, que contém disposições legais a que correspondem medidas destinadas a favorecer a instalação de novas indústrias de base ou de interesse para a economia nacional, para encorajar investimentos de modernização do material e equipamento das indústrias existentes e para favorecer a construção, ampliação ou reforma dos estabelecimentos hoteleiros e similares de interesse turístico. Além disso, com vista a incentivar os investimentos das regiões rurais economicamente mais desfavorecidas, prevê-se no sistema tributário em vigor um conjunto de reduções nas taxas de contribuição industrial, imposto sobre a indústria agrícola 1, imposto complementar e imposto de capitais. Por outro lado, na Lei de Meios para 1965 admitiu-se, pela primeira vez, um conjunto de medidas com carácter temporário, mas de maior amplitude, a favor dos empreendimentos e empresas que dessem execução aos objectivos do Plano, em especial nas actividades agro-industriais.

26. No que respeita ao sector agrícola, as medidas de política regional terão como objectivo básico o de aumentar a produtividade e a especialização das regiões, de acordo com a aptidão dos solos, com especial preocupação quanto as regiões interiores do continente, cuja economia depende quase exclusivamente daquela actividade e, portanto, também da forma como se aproveitarem as potencialidades ainda não exploradas totalmente.
A definição dessa política, se, por um lado, tem que considerar os problemas geogràficamente localizados da actividade agrícola, obedece, por outro, a um conjunto de normas gerais de actuação da maior importância, cujas directrizes fundamentais se definiram no capítulo «Agricultura, silvicultura e pecuária», merecendo relevo, pelos seus efeitos regionais, as seguintes providências nele consideradas:

Fomento da organização do sector no campo da produção,

1 Pelo Decreto-Lei n.º 46 496, de 18 de Agosto de 1965, foi suspensa a execução das disposições que regulam o imposto sobre a indústria agrícola, criado pelo Decreto-Lei n º 45 104, de l de Julho de 1963.

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Criação de melhores condições de exploração técnico-económica nas unidades produtoras,
Acções especializadas visando a adaptação estrutural.

Deve, no entanto, salientar-se, como orientação da maior importância para a expansão agrícola das sub-regiões interiores, o reconhecimento e delimitação das áreas de maior potencialidade (agrícola, pecuária e florestal), mediante o inventário dos solos e respectiva zonagem segundo as aptidões ecológicas. Este objectivo representa condição prévia necessária para se poder tirar o maior efeito regional das acções sectoriais previstas, coordenando-as e concentrando os investimentos mais produtivos e adequados nas áreas de maior potencialidade, com particular relevo para a necessidade de implantar complexos agro-industriais em estreita ligação com as áreas dominadas pelos empreendimentos hidroagrícolas.

27. Outro aspecto ainda merece ser realçado entre as medidas gerais de política, com relevância para o fomento regional - o da política social.
A primeira orientação a que devem obedecer os estudos em curso para regionalizar a política social nos seus diversos aspectos é o da necessidade de conhecer melhor as estruturas humanas e sociológicas das várias regiões, por forma que cada acção possa ser considerada no seu contexto próprio, evitando assim os choques com os valores locais e correspondendo mais adequadamente às suas aspirações.
Para os efeitos aqui considerados, incluem-se na política social os seguintes problemas: educação e acesso à cultura, saúde, habitação, condições de trabalho e segurança social.
Convirá que as políticas de educação, acesso à cultura, saúde e habitação sejam encaradas, na medida do possível, em estreita relação com o problema da urbanização das populações.
Com efeito, a distribuição do equipamento social tem de planear-se considerando quer a tendência geral das populações rurais para emigrarem para os centros urbanos, quer ainda o facto de somente uma política de equilíbrio da rede urbana regional tornar possível o acesso das populações a um mínimo de condições sociais de vida.
Isso não significa que se restrinja a acção social aos centros urbanos. Há, no entanto, que distinguir entre empreendimentos e acções numa óptica de longo prazo e de ordenamento geral do território e uma óptica de acções imediatas, destinadas a resolver problemas mais urgentes. No primeiro caso, a política social deve ser programada a médio prazo, de acordo com a hierarquia dos diferentes centros urbanos. No segundo caso, os esquemas de actuação baseiam-se em soluções provisórias que permitam o acesso a um mínimo de condições sociais, ainda que mediante a localização com equipamentos de carácter transitório.
Considerando os diversos aspectos mencionados, julga-se de estudar, com vista à regionalização educacional.

O estabelecimento gradual de uma rede primária orientada segundo o princípio da concentração escolar, em condições físico-pedagógicas aceitáveis,
A criação de estabelecimentos de ensino secundário (técnico e liceal) de acordo com as potencialidades de desenvolvimento de cada região,
O lançamento de centros de reconversão de mão-de-obra agrícola e de ensino e aperfeiçoamento profissionais, relacionados com as principais actividades económicas da região.
A instalação, sempre que possível, de institutos de ensino médio nas diversas regiões, localizados de acordo com as potencialidades das sub-regiões.

Seria ainda desejável encarar, com a colaboração de entidades privadas, a criação, de centros de cultura nas aglomerações urbanas de certa dimensão, por forma a tornar permanentemente acessíveis às populações a frequência de bibliotecas devidamente apetrechadas e a assistência a espectáculos de bom nível educacional (teatro, cinema, música).
Quanto à habitação, a política geral do Governo é a de procurar conseguir em todas as regiões mínimos aceitáveis quer quanto ao número de habitações em relação com o número de agregados familiares, quer quanto às condições de habitabilidade (esgotos, casas de banho, luz, água canalizada). Conjuntamente, há que considerar uma acção educativa específica para conseguir a utilização mais funcional da habitação, principalmente nos meios rurais, quanto à comodidade e higiene.
Também neste campo não podem esquecer-se as condições transitórias criadas pelos movimentos populacionais e as perspectivas futuras de maior concentração em centros urbanos, que deverão ser equacionadas dentro dos esquemas do planeamento territorial.
No tocante ao problema da habitação dentro da óptica regional, cumpre aludir aos seguintes aspectos:

A política de intensificação gradual da actividade do sector público e semipúblico em matéria de construção procurará atender sobretudo ao melhoramento das condições de higiene nas zonas rurais, ao passo que nas zonas urbanas e suburbanas deverá procurar-se melhorar a relação agregado familiar-habitação. Deverão ser ainda consideradas as necessidades de habitação decorrentes da criação de pólos de desenvolvimento e do natural crescimento dos centros urbanos,
Definir-se-á, conforme ficou referido no respectivo capítulo sectorial, uma política de terrenos, coordenada com os planos de urbanização das zonas turísticas e com a implantação de pólos de crescimento e áreas industriais.

No campo da saúde, e também de acordo com o previsto no competente capítulo, a política de atenuação dos desequilíbrios regionais tem como principal finalidade a intensificação da cobertura médico-sanitária, em especial fora dos grandes centros. A realização deste objectivo leva a considerar o problema da escassez de médicos e de pessoal de enfermagem, que se faz sentir de modo particularmente sensível na periferia, e o alargamento da rede de estabelecimentos de saúde e assistência, ao mesmo tempo que se estreitará a coordenação entre os serviços dependentes do Ministério da Saúde e Assistência e os de previdência social.
Como é evidente, esta actividade deverá ser também coordenada com a política de equilíbrio da rede urbana regional.
Dentro da orientação definida, salientam-se como aspectos mais importantes:

Estruturação das carreiras médicas, de saúde pública e hospitalar, e da carreira de enfermagem, nos mesmos domínios,
Intensificação dos programas de fixação de médicos e de pessoal de enfermagem nos serviços da periferia,
Criação de uma rede de centros de saúde localizados nas sedes dos concelhos e com projecção nas freguesias,

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Ampliação da rede de dispensários materno-infantis e alargamento do seu raio de acção até ao concelho e à freguesia.
Aumento do número de creches e de jardins de infância,
Reorganização dos serviços da luta contra a tuberculose, de modo a intensificar os seus aspectos preventivos, em relação a toda a população portuguesa,
Criação de novos centros de saúde mental e alargamento das consultas por eles promovidas,
Ajustamento da articulação dos serviços do oncologia com os hospitais gerais.
Construção de novos hospitais regionais, convenientemente dimensionados, e intensificação dos cuidados prestados neste tipo de estabelecimentos,
Criação de mais escolas de enfermagem junto de hospitais regionais,
Criação de novos estabelecimentos para crianças deficientes e crianças normais privadas de adequado [...] familiar,
Melhoramento da qualidade da assistência prestada a pessoas idosas,
Desenvolvimento das actividades de cooperação familiar e estabelecimento de um programa de promoção social comunitária destinado a acelerar a promoção das comunidades mais particularmente atrasadas e a contribuir para o desenvolvimento harmónico dos pólos que venham a criar-se.

Por último, os problemas das condições de trabalho e da segurança social. Aqui, a atenuação dos desequilíbrios regionais confunde-se com a desigualdade de condições existentes entre a população activa agrícola e a dos outros sectores.
Assim, conforme se referiu no capítulo sobre emprego e política social, será aperfeiçoada a regulamentação do trabalho agrícola e intensificado o progressivo alargamento nos trabalhadores rurais e equiparados dos benefícios da previdência social.

PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS

I

Cabo Verde

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização geral da economia

1. A economia da província de Cabo Verde caracteriza-se pela confluência de um complexo de factores particularmente desfavoráveis ao seu desenvolvimento, que os elementos positivos que nela se podem identificar não puderam até agora compensar de forma relevante.

2. Assim, a escassez de recursos do subsolo e de possibilidades de aproveitamento hidroeléctrica aliam-se condições climatéricas, hidrológicas e fisiológicas limitativas de uma exploração agro-pecuária satisfatória, uma extensão territorial que, já de si restrita - 4033,4 Km 2 -, ainda se reparte por dez ilhas e cinco ilhéus e, finalmente, uma evolução demográfica definida por ritmos de crescimento da ordem dos 3 por cento anuais.

3. Por seu lado, os factores positivos sobre os quais se poderá assentar o futuro progresso económico do arquipélago, por sua natureza, só muito recentemente se evidenciaram como susceptíveis de aproveitamento efectivo e rentável. Clima propício ao turismo e localização excepcional com referência aos pesqueiros do Atlântico Sul, constituem, com efeito, elementos que durante muito tempo não se apresentavam como valorizáveis, mas que hoje atingiram relevância suficiente para ser possível contar com eles como fulcros do esforço, a programar e a realizar, do desenvolvimento económico-social do arquipélago.

2. Evolução demográfica

4. A população de Cabo Verde, que no passado se caracterizara por acentuadas oscilações, começou, a partir de 1955, a seguir uma linha de crescimento ininterrupto e muito rápido.
Esta evolução traduz a combinação de taxas de natalidade elevadas e relativamente estáveis -47,6 por mil no decénio de 1951-1960 -, de taxas de mortalidade rapidamente decrescentes -14,9 por mil naquele decénio em confronto com 24 por mil no decénio de 1931-1940 - e de fluxos migratórios irregulares, tendencialmente pendulares e de pouco significado quantitativo.

5. Projecções demográficas baseadas em hipótese, não considerando os movimentos migratórios de difícil definição, indicam, para o ano término do III Plano de Fomento, efectivos oscilando entre 252 700 e 299 200 habitantes.

6. Do ponto de vista estrutural, caracteriza-se a população de Cabo Verde por uma pirâmide demográfica jovem e pela tendência para o restabelecimento de taxas de masculinidade equilibradas.

3. Evolução do produto, rendimento e despesa internos

7. Os valores do rendimento nacional estimados para Cabo Verde são relativamente modestos (a preços constantes 230 600 contos em 1953 e 346 300 contos em 1962). No entanto, não deixa de ser animador verificar-se que a província se vem libertando da situação que os dados do rendimento nacional podem denunciar. Deve fazer-se, aliás, referência à dualidade económica de Cabo Verde, que se caracteriza ainda por um forte predomínio de economia de subsistência, cujos fluxos absorvem, em média, à volta de 50 por cento do rendimento provincial. Se a evolução do grau de monetarização da economia de Cabo Verde tem sido pouco significativa, é possível que o fraco teor da elevação se deva a um acréscimo na produção autoconsumida, o que traduz igualmente melhoria na situação económica das populações.

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8. A despesa de consumo privado engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando, em média, com cerca de 98,3 por cento do total e estas com a percentagem diminuta de 1,7 por cento, o que aponta a pouca importância directa que o sector associativo tem no circuito económico monetário da província.

A importância relativa das principais componentes da despesa de consumo das famílias pode observar-se no quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

Por sua vez, a despesa de consumo dos organismos privados sem fins lucrativos apresenta, ao longo do período, um movimento de tendência ascensional, com uma paragem em 1956 e um valor anómalo em 1960.

9. Verifica-se que, entre 1953 s 1963, apenas as componentes do produto interno bruto «Comércio por grosso e a retalho», «Administração pública e defesa», «Serviços» e «Indústrias manufactureiras» melhorariam a sua participação relativa, tendo as restantes enfraquecido e sendo notável o retrocesso acusado pela «Agricultura, silvicultura, caça e pesca».

[Ver Quadro na Imagem]

Em relação aos valores absolutos, a evolução foi diferente, pois de 1953 para 1963 apenas duas componentes, «Agricultura» e «Transportes, entrepostos e comunicações», apresentaram valores inferiores, tendo aumentado os de todas as outras. É o que se pode observar no quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

(a) A preços correntes

10. Os valores da despesa imputada ao produto nacional bruto mostram uma evolução que não deixa de apresentar flagrante similitude com a do produto interno e especialmente do rendimento nacional.

[Ver Quadro na Imagem]

(a) A preços correntes

A despesa imputada aos fluxos monetários representa, pois, em média, mais de 50 por cento do produto nacional bruto global.
Na participação percentual das várias componentes do produto nacional bruto, a despesa de consumo privado figura em lugar primacial, sendo de referir também o acréscimo do saldo negativo da balança comercial.

[Ver Quadro na Imagem]

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11. A percentagem da formação bruta de capital fixo interior em relação à despesa nacional, além de ser muito elevada, o que reflecte a extensão da assistência financeira dada pela Administração Central, evidenciou uma tendência crescente, tendo o seu ponto mais alto em 1961 e acusando, para além da recessão a partir daquele ano, um anterior ligeiro recuo em 1957.

[Ver Quadro na Imagem]

No decurso do decénio de 1953-1962, a formação bruta de capital fixo, a preços constantes, subiu de 15 300 contos em 1953 para 97 100 contos em 1962, tendo, porém, nos anos de 1960 e 1961, apresentado quantitativos superiores àquele, respectivamente de 120 400 e 126 300 contos (em 1963, a preços correntes, foi apenas de 62 900 contos).

4. Relações económicas com o exterior

12. A característica mais saliente do comércio externo da província reside no aumento constante das importações, mantendo-se, em contrapartida, as exportações praticamente estacionárias

[Ver Quadro na Imagem]

Quanto aos preços unitários da importação verifica-se também uma descida em todos os mais representativos, excepto no que se refere ao milho em grão, farinha de trigo, arroz e automóveis.
O índice das relações de preços tem-se mantido com ligeiras flutuações, salvo de 1958 a 1961, revelando, no entanto, valores quase sempre superiores a 100.
Não se verificou, pois, depreciação nas relações de preços.

[Ver Quadro na Imagem]

13. As principais mercadorias importadas em 1965 são as que se incluem na rubrica «Matérias têxteis e respectivas obras» (13,6 por cento), o açúcar (6,2 por cento), o milho em grão (7,9 por cento), os automóveis (3,3 por cento), o vinho e cerveja (3,7 por cento), o arroz (3,4 por cento), a farinha de trigo (4,8 por cento), seguindo-se o cimento, o petróleo e o feijão. O aumento das compras de milho, feijão, arroz e farinha de trigo reflecte a crescente debilidade relativa da produção interna, em face do crescimento demográfico verificado.
As principais mercadorias exportadas em 1965 foram peixe e derivados (32,2 por cento), sal comum (98 por cento), bananas verdes (12,1 por cento), água à navegação (10,5 por cento) e pozolanas (4,5 por cento), seguindo-se-lhes o _ café, peles e couros, amendoim, purgueira e rícino, que, em conjunto, participaram com 13,5 por cento

14. A repartição geográfica dos mercados fornecedores e consumidores externos revela sensíveis modificações ao longo do período em observação. Dadas certas alterações introduzidas na apresentação estatística do comércio externo da província, torna-se conveniente analisar em especial o período posterior a 1960. Com efeito, a partir desse ano, as importações de óleos combustíveis para fornecimento à navegação e os respectivos fornecimentos passaram a ser contados na rubrica «Trânsito»

Comércio especial

[Ver Quadro na Imagem]

Pode ainda apontar-se, como conclusão da análise do período anterior a 1961, que a metrópole foi ganhando, no conjunto dos mercados fornecedores de Cabo Verde, uma posição cada vez mais relevante.
O índice de crescimento das importações provenientes do restante ultramar (principalmente de Angola) é maior,

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ao passo que o índice referente às importações do estrangeiro baixou sensivelmente. Isto quer dizer que os territórios nacionais vêm ocupando uma posição relativa cada vez mais importante.
Nos anos de 1963 a 1965 a posição da metrópole desceu ligeiramente. A posição do ultramar desceu de 1961 para 1962, mantendo-se estacionária a partir daquela data, enquanto o estrangeiro melhorou, ainda que ligeiramente, a sua posição em 1965; a posição relativa dos sectores foi a seguinte metrópole, 52,2 por cento, ultramar, 19,9 por cento, e estrangeiro, 26,2 por cento.
Quanto à repartição geográfica das exportações cabo-verdianas, as tendências verificadas não são paralelas às registadas para as importações. A posição relativa das exportações para a metrópole em relação ao total oscilou entre 67,3 por cento em 1961 e 54,5 por cento em 1965. A posição relativa do ultramar subiu de 7 por cento em 1961 para 15,3 por cento em 1965. A do estrangeiro variou entre 38,3 por cento em 1962 e 17,5 por cento em 1965.
No que diz respeito aos produtos importados em 1965, a metrópole forneceu 90 por cento dos fios e tecidos, 80,9 por cento da madeira em obra, 83,1 por cento dos medicamentos e a totalidade dos vinhos comuns e azeite, e ainda 19,5 por cento dos automóveis.
O ultramar realizou os fornecimentos de milho (98,9 por cento), açúcar (93,6 por cento) e feijão (81,6 por cento), por intermédio de Angola. Esta província forneceu ainda 20 por cento do arroz.
No que respeita à importação de produtos estrangeiros há a salientar as vendas de automóveis pelo Reino Unido (32,3 por cento) e os fornecimentos de farinha de trigo pelos Estados Unidos da América (44,6 por cento) e Canadá (33,7 por cento).
As principais produções exportadas, também em 1965, para a metrópole foram peixe e derivados (45 por cento), bananas, café em grão (82,8 por cento) e sal comum (71,4 por cento).
Para o ultramar, a província exportou as pozolanas para Moçambique (45,7 por cento) e carne de gado bovino para a Guiné (53 por cento).
O estrangeiro comprou derivados da pesca, nomeadamente os Estados Unidos e a Itália, abrangendo ambos cerca de 48 por cento do total do produto, e ainda sal comum, que se destinou à República do Congo (14,7 por cento).
Caracteriza-se, pois, a exportação cabo-verdiana por uma acentuada concentração geográfica e por produtos.

15. O movimento do Fundo Cambial de 1959 a 1964 foi o seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

As entradas e saídas de cambiais referem-se em grande medida a movimentos de escudos metropolitanos, dizendo respeito a empréstimos da metrópole, aos respectivos encargos de amortização e as transferências pessoais. O saldo favorável de 1964 deve-se, contudo, à entrada de cerca de 20 000 contos em dólares (Estados Unidos da América) e libras (Reino Unido e antiga Federação da Rodésia e Niassalândia).
Dos movimentos de invisíveis, sabe-se apenas que, nos anos de 1954-1963, os vales emitidos nas províncias ultramarinas de África e pagos em Cabo Verde somaram 1833 contos.
As cartas com valores declarados provenientes das províncias ultramarinas de África e recebidas em Cabo Verde registaram a importância total, naqueles dez anos, de 1320 contos.
Outra informação disponível refere-se aos salários enviados por migrantes cabo-
verdianos em outros territórios nacionais. De 1951 a 1963 foram enviados
33 578 contos.
A situação relativamente satisfatória da província, quanto à sua capacidade de importação, baseia-se, fundamentalmente, nos meios de pagamento exteriores facultados pelos empréstimos metropolitanos.

5. Potencialidades da economia da província a desenvolver

16. A actividade mais relevante, no quadro presente da sua economia - a agricultura -, não se oferecem perspectivas muito favoráveis de desenvolvimento. Com efeito, as condições climáticas, hidrológicas e fisiológicas do arquipélago tornam difíceis e incertas as culturas de sequeiro. Por outro lado, são muito limitadas, em área, as possibilidades de culturas de regadio, envolvendo, aliás, investimentos vultosos, como as realizações no âmbito dos planos de fomento anteriores têm demonstrado.
Em tais condições, a expansão do produto sectorial só pode ser alcançada através de um aproveitamento intensivo das áreas regadas, o que significa a necessidade de reconversão, para produtos mais ricos destinados a mercados externos, da gama tradicional da produção cabo-verdiana. Esta reconversão envolve processo inevitavelmente prolongado, no qual as acções de extensão agrária e de formação de apoio técnico prevalecerão, com certeza, sobre os investimentos financeiros.
Não se poderá, pois, esperar que, a curto ou médio prazo, seja possível acelerar acentuadamente o crescimento do produto da agricultura de Cabo Verde.

17. For outro lado, a escassez dos recursos do subsolo e as dimensões restritas do mercado interno limitam consideràvelmente as possibilidades de desenvolvimento industrial ,

18. O quadro seria pessimista se não fosse possível indicar dois factores que, aliados à laboriosidade, à adaptabilidade a novos hábitos e técnicas e ao nível cultural

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da população cabo-verdiana, permitem encarar com confiança o futuro económico da província Tais factores são:

1º Os recursos piscatórios das águas do arquipélago e, de um modo geral, do Atlântico Sul,
2.º As excelentes condições para o desenvolvimento turístico do arquipélago

19. A localização particularmente favorável de Cabo Verde em relação aos pesqueiros do Atlântico Sul permite considerar como modalidade do seu aproveitamento, em favor da economia da província, o fornecimento de apoio logístico a frotas estrangeiras, como vem já sendo feito, e, por outro lado, o desenvolvimento por empresas nacionais de complexos integrados de capturas, de congelação e de industrialização do pescado com destino aos mercados internacionais, desenvolvimento este que já foi iniciado.

20. Quanto ao turismo, a verificação de condições de clima particularmente favoráveis para um turismo que procura o sol, a calma e as actividades náuticas, em ambientes exóticos, não exclui o reconhecimento de que a sua valorização exigirá a concretização de empreendimentos dimensionados em furção de vultosos-fluxos turísticos, o que só é viável através da participação efectiva de interesses estrangeiros, em colaboração com capitais e empresas nacionais
Trata-se, pois, de um campo de acção do qual é lícito esperar resultados favoráveis, mas que exigirá acção ponderada e coordenada de atracção, não directamente de massas turísticas, mas sim indirectamente de organizações estrangeiras de viagens e turismo, aproveitando a procura constante de novos ambientes em áreas ainda não saturadas de turismo.

21. Será, por conseguinte, na base de uma agricultura mais intensiva e virada para mercados externos, num moderado desenvolvimento industrial nas modalidades de transformação de produtos agrícolas e industriais para consumo local e, muito, em especial, no aproveitamento decisivo das potencialidades do arquipélago em matéria de pesca e de turismo que é possível programar, com viabilidade e possibilidades de êxito, o futuro desenvolvimento da economia de Cabo Verde.

CAPITULO II

Objectivos

22. Os pontos fulcrais de actuação no que respeita a Cabo Verde, cuja economia ficou já definida nas suas linhas gerais, e sem esquecer o turismo, com grandes potencialidades, e os transportes, situam-se nos sectores da pesca e da agricultura, esta última pelo papel que desempenha na alimentação da população e porque, apesar de tudo, se prevê a possibilidade de uma reconversão da produção para os mercados externos.

23. As dimensões da economia e o seu alto grau de dependência do exterior, bem como a própria dificuldade técnica de estabelecer modelos foi mais de crescimento em condicionalismos desta natureza, levaram a limitar a definição quantificada de objectivos ao aspecto mais significativo, ou seja o da criação de novos empregos exigidos pela evolução demográfica de Cabo Verde.

24. Projecções demográficas, baseadas nas tendências evolutivas mais prováveis, conduziram a avaliar as necessidades de novos empregos, para o período de 1968-1973, num montante que se situa entre 23 000 e 26 000 novos empregos.
Prevê-se que a agricultura e os serviços domésticos mantenham os níveis absolutos de ocupação verificados em 1960. Os novos empregos deverão ser criados nos sectores da pesca, da indústria e de outros serviços não domésticos (ligados aos transportes, serviços públicos, turismo), já que os empregos a criar na agricultura serão absorvidos pela mão-de-obra subempregada.
No quadro geral do desenvolvimento económico-social do arquipélago, foi este objectivo específico que se considerou na elaboração do programa provincial para o III Plano de Fomento.

CAPITULO III

Financiamento do programa provincial de investimentos

1. Administração Central

25. No I e II Planos de Fomento foi esta a fonte de financiamento que assegurou a cobertura total dos investimentos programados. No Plano Intercalar de Fomento foi considerado também o recurso ao crédito externo, tendo em vista os financiamentos, em curso de negociação, de novos empreendimentos no sector da pesca. Manteve-se, no entanto, em posição de relevo a assistência financeira da metrópole, à qual deve, pois, a província de Cabo Verde a realização de infra-estruturas de que dispõe e os esforços realizados para o desenvolvimento das suas actividades produtivas e a melhoria do nível cultural e sanitário das suas populações.

[Ver tabela na imagem]

Dada a escassez dos recursos mobilizáveis através de outras fontes, é ainda a ajuda financeira da Administração Central chamada a desempenhar, no III Plano de Fomento, o papel de condição essencial da realização financeira dos programas respeitantes a Cabo Verde.
Nestas condições, está previsto que 77 por cento dos investimentos programados, correspondendo em valores absolutos a 758,7 milhares de contos, serão assegurados pelo recurso à assistência financeira da metrópole, assumindo, para tanto, as formas mais adequadas ao condicionalismo financeiro da província e à natureza específica dos empreendimentos previstos.

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2. Administrado provincial

26. O exame da evolução das receitas públicas da província mostra ter a receita ordinária ultrapassado a receita extraordinária apenas nos períodos de 1957-1959 e 1963-1965, revelando insuficiência quantitativa relativamente às necessidades de fomento da província, uma vez que, em média, cerca de 90 por cento da receita extraordinária se compõem de empréstimos metropolitanos destinados a obras de fomento ou a resolver situações que se prendem com o problema da ocupação de mão-de-obra em períodos de seca.
As principais componentes da receita ordinária são, durante o período considerado, os impostos indirectos, em média com 29,2 por cento, a consignação de receitas, com 26 por cento, os impostos directos, com 17,6 por cento, e o rendimento de capitais, com 11,3 por cento.
Uma discriminação mais profunda das principais receitas permite analisar a estrutura tributária de forma mais ampla Nos dois anos extremos do decénio de 1955-1965 as receitas públicas ordinárias apresentaram os valores totais de, respectivamente, 43 663 e 87 913 contos e n seguinte composição.

Composição das receitas públicas ordinárias

[Ver tabela na imagem]

27. As despesas públicas cresceram a ritmo superior ao das receitas, atingindo os seus valores extremos em 1955 (38 428 contos) e 1965 (133 614 contos)

Composição e evolução das despesas públicas

[Ver tabela na imagem]

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890 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[Ver tabela na imagem]

Cotejando estes valores com os das receitas ordinárias, pode-se concluir pela existência de duas curvas sensivelmente paralelas, sendo o movimento ascendente das receitas a nível um pouco superior.

Receitas e despesas ordinárias

[Ver tabela na imagem]

As despesas ordinárias excedem, em geral, as despesas extraordinárias
O quadro dos valores percentuais dá-nos uma imagem mais expressiva dessa evolução no período em análise.

Distribuição percentual das despesas ordinárias e extraordinárias

[Ver tabela na imagem]

Análise aprofundada das rubricas mais representativas nas despesas ordinárias é facultada pelo quadro seguinte, onde constam os indicadores numéricos referentes aos dois anos extremos do período

Discriminação das rubricas mais representativas das despesas ordinárias

[Ver tabela na imagem]

28. A conclusão que pode ser tirada da análise da situação e evolução das finanças públicas da província é a de serem bastante diminutas as possibilidades da poupança pública, não sendo muito favoráveis as perspectivas de, no futuro, tal tendência se ver modificada. A manutenção do equilíbrio orçamental, em face da progressão das despesas ordinárias decorrentes dos esforços a realizar nos sectores sociais e da necessidade de utilizar e conservar os investimentos infra-estruturais efectuados nos passados planos de fomento, constitui, já por si, preocupação com implicações sobre a capacidade de cobertura dos encargos (amortização e juros) de empréstimos contraídos anteriormente, pelo que não se pode contar com esta fonte para o financiamento de investimentos do III Plano de Fomento.

3. Instituições de crédito

29. As instituições de crédito existentes na província são a filial do B N U , a Caixa Económica Postal e a Caixa de Crédito Agro-Pecuário, sendo estas duas as mais adequadas à mobilização de poupanças locais.
No período de 1958-1964 foi concedido crédito aos sectores agrícola, industrial e comercial nos montantes constantes do quadro seguinte.

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Créditos concedidos pela Caixa Económica Postal e pela Caixa de Crédito Agro-Pecuário

[Ver tabela na imagem]

As principais contas respeitantes a operações de crédito movimentadas pela filial do B N U. na concessão de crédito tiveram a evolução seguinte, no mesmo período:

[Ver tabela na imagem]

Devido a razões institucionais, e, no caso da Caixa de Crédito Agro-Pecuário, por escassez de recursos, não é ainda de esperar que as instituições de crédito existentes possam desempenhar papel significativo no financiamento do III Plano de Fomento, mas apenas que tornem mais efectiva a sua intervenção na mobilização de poupanças formadas localmente.

4. Particulares e empresas

30. As dimensões e características da economia do arquipélago não permitem, por agora, encarar a emissão de títulos da divida pública provincial nos moldes adoptados nas províncias de governo-geral.

31. No que se refere a autofinanciamento, o número limitado de empresas de dimensão económica existente e as dificuldades de obtenção de dados sobre os investimentos por exploração familiar e pequenas empresas levou a não explicitar esta fonte de financiamento, como relevante no contexto do III Plano de Fomento.
Apenas se inclui um autofinanciamento por uma empresa agrícola 4000 contos destinados à cultura da banana na ilha de Santiago.

5. Crédito externo

32. O desconhecimento de novos interesses concretizados por investidores estrangeiros na aplicação directa de capitais - ainda que não possam deixar de se registar certas perspectivas significativas no âmbito dos empreendimentos turísticos - levou a considerar, nesta rubrica, apenas a concretização dos financiamentos por crédito externo para os empreendimentos em curso ou em estudo no sector da pesca.

6. Conclusões

33. O esquema de financiamento do programa previsto para o III Plano de Fomento é, pois, o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

34. Pode encarar-se ainda com certo optimismo a activação, no que se refere ao sector privado, de investimentos, porquanto, apesar da situação económico-financeira da província, subsistem ainda potencialidades que poderão ser aproveitadas pelos empresários, através do autofinanciamento ou do aproveitamento de poupanças locais, e que podem tornar-se mais activas.

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

35. Proporção muito elevada da população activa de Cabo Verde trabalha ou depende da agricultura.
O nível produtivo do sector não apresenta, porém, dinamismo suficiente para assegurar o abastecimento local em produtos alimentares, e muito menos exportações necessárias para garantir a conveniente capacidade de importar.

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36. Não se dispõe de dados seguros sobre as produções externo, pode analisar-se quantitativamente a situação agrícolas, mas, recorrendo-se às estatísticas de comércio descrita.

Índices da exportação dos principais produtos agrícolas

[Ver tabela na imagem]

As importações de géneros alimentícios de primeira necessidade têm aumentado substancialmente, com especial relevância para o milho, de valores absolutos muito elevados.

Índices da importação de produtos agrícolas

[Ver tabela na imagem]

37. As exportações de produtos cujo consumo interno não é relevante seguiram, no mesmo período, evolução caracterizada pela acentuada expansão das produções de bananas e de amendoim, correspondendo a uma nítida regressão do café e da purgueira.

38. Quanto à pecuária, os efectivos arrolados mostram tendência para recuperação, depois de uma quebra que atingiu o seu ponto mais baixo em 1962.

39. As limitações dos dados disponíveis não permitem uma avaliação segura, mas parece evidente uma certa estagnação dos níveis de produção e um agravamento do recurso as importações de produtos alimentares.
Por outro lado, conjugando elementos conhecidos, tão--pouco parece lícito assinalar melhoria na produtividade da mão-de-obra.
Em síntese, reconhece-se que o fomento agro-silvo-pastoral em Cabo Verde requer a realização de acções decisivas nas áreas mais sensíveis, das quais se possam esperar resultados imediatos e positivos.

2. Objectivos

40. A agricultura constitui, apesar dos desfavores naturais que sobre ela recaem, o sector principal da economia da província, e também aquele em que os aspectos humanos envolvidos na programação assumem maior relevo, tornando melindrosa a apreciação dos factores dominantes da vida agraria do arquipélago e dificultando previsões, mesmo a curto prazo, sobre os reflexos que a aplicação de um plano de fomento pode trazer à transformação social e económica do sector, por foi ma a atingir-se as metas estabelecidas.

41. O sector agrícola, não sendo susceptível de absorver mais mão-de-obra, pode, todavia, contribuir para a redução significativa do subemprego, nele manifesto Poderá, sobretudo, aumentar de forma substancial o produto, mediante o aproveitamento eficiente dos investimentos já efectuados e a efectuar na irrigação e reconversão de algumas culturas de subsistência em culturas de mercado.
Não se deve, porém, esperar que, mesmo à custa de uma intensificação cultural e alargamento do regadio, o desemprego oculto na agricultura possa ser totalmente eliminado, convindo, por isso, considerar as orientações necessárias à criação dos novos empregos que o sector agrícola não comportará nas suas actividades produtivas.
Para tanto, e enquanto os sectores não agrícolas se preparam para absorver a parcela de população válida que o crescimento demográfico coloca todos os anos no mercado do trabalho, poderá utilizar-se a mão-de-obra agrícola subempregada na construção de grande parte do capital fixo necessário ao desenvolvimento da produção agrícola (surribas, despedregas e socalcos para melhoria de produtividade no regadio e, também, estruturas para captação e/ou armazenamento de água para rega, etc.), sem falar noutras infra-estruturas, designadamente estradas.

42. Parece aconselhável, por outro lado, se não se abandonar todo o propósito de auto-suficiência de produção alimentar, e, dados os baixos preços dos produtos das culturas alimentares, afectar, especialmente no regadio, as áreas cultivadas às produções de elevado rendimento unitário, sobre valorizáveis pela exportação.

43. Admite-se não ser fácil, porém, imprimir novo rumo à agricultura cabo-verdiana, mesmo reconhecendo-se a

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potencialidade oferecida à transformação em agricultura de mercado.
Competirá, pois, ao Estado criar os estímulos necessários para levar um número cada vez maior de agricultores a passar de uma economia de subsistência para uma economia de mercado

44. A melhoria do quadro institucional pode receber contribuição válida da aplicação do regime estabelecido pelo Decreto n º 47 314, de 15 de Novembro de 1966, que visa tornar mais equilibrada a estrutura agrária do arquipélago Outras providências serão, porém, necessárias com vista:
Ao aperfeiçoamento dos meios de comercialização das exportações e da promoção de vendas na metrópole, para já um mercado com perspectivas,
Ao desenvolvimento dos meios de transporte interinsulares e para a metrópole,
E ao estabelecimento da organização cooperativa da comercialização e da agricultura de grupo.

45. A expressão que a silvicultura possa ter no desenvolvimento económico da província é bem pequena, como se compreende.
Escolhida uma orientação que deverá ter em linha de conta as determinantes que condicionam a instalação de coberto lenhoso, este pode efectuar-se a custos comportáveis e com viabilidade, mesmo não esquecendo que Cabo Verde se integra numa região limite para a cultura florestal, como o demonstra a pobreza da flora e da vegetação lenhosa. Mas, dentro das condições meteorológicas normais dessa região, é o relevo o principal factor a condicionar o clima do arquipélago, e daqui a variável aptidão ecológico-agrícola das diferentes zonas.
Desta maneira, convém reter apenas as seguintes ideias básicas.
Em certas localizações das ilhas de maior altitude o povoamento florestal é possível sem necessidade de recurso a processos de custo proibitivo;
Não é prudente generalizar o tratamento do problema a todas as ilhas e, dentro de cada uma, às diferentes micro-regiões ecológicas que a altitude e a orientação, de per si ou conjugadas, determinam, o problema é distinto do das zonas privadas do efeito dos alísios, e, portanto, diferentes hão-de ser as soluções a adoptar e os objectivos a prosseguir,
Não se devem esperar massas arbóreas que se prestem ao registo de números que produzam grande efeito estatístico ou espectacular.

46. Atenta a pobreza de recursos naturais do arquipélago, há que aceitar que, excluídas as pequenas manchas de regadio e as zonas de sequeiro, restam extensas áreas das quais, devido aos condicionalismos de ordem climática e edáfica, só através da pecuária se pode tirar proveito.
Há, porém, problemas de educação de base e de assistência técnica, sem dúvida difíceis, que hão-de anteceder qualquer programa de fomento pecuário.
A experiência continuada de dezoito anos no domínio de fomento pecuário aconselha um reajustamento da acção a empreender.
Assim, de pouco ou nada serve a dispendiosa aquisição de reprodutores de qualidade e a sua cara manutenção se, em primeiro lugar, não se resolverem dois problemas fundamentais a redução das zoonoses que degradam o armentio e a melhoria das condições de apascentamento e, de uma forma geral, de alimentação de gado.
O esforço a despender visa, fundamentalmente, a espécie bovina, com uma extensa campanha de profilaxia da tuberculose.
Por outro lado, não é o mercado local que pode absorver o excedente criado como resultado dos abates. A comercialização para a metrópole é o caminho que se oferece como complemento necessário.
Assim, todas as medidas que a metrópole possa tomar em beneficio da comercialização das carnes que o arquipélago produza terão efeitos beneficamente convergentes Além disso, os subprodutos destes abates podei ao dar matéria-prima para industrialização local tal é o caso dos curtumes.
Também a sunicultura oferece a possibilidade de contribuir com matéria-prima para industrialização.
Quanto ao caracul e angora, se as conclusões que já se puderam tirar sobre o comportamento e grau de adaptação do núcleo importado de Angola e mantido sob observação na Trindade (ilha de Santiago) não são de molde a aceitar, para já, sem reservas, a passagem à fase de exploração, crê-se que só depois de alargada a etapa experimental à ilha de Maio é que se poderá estabelecer - com um mínimo de segurança- qualquer projecto concreto de exploração pecuária visando aquelas espécies.
Como necessário complemento a toda a acção que se desenvolva em benefício da pecuária, o aumento da rede de bebedouros é aspecto que deverá ser levado em linha de conta.
Não existe, na província, qualquer tentativa de exploração avícola O elevado custo do arraçoamento que uma exploração a nível industrial exige, uma vez que todos os concentrados teriam de se importar, toma duvidoso o sucesso económico de qualquer iniciativa do género. Entretanto, e porque a actividade pode vir a merecer melhor interesse, dada a possibilidade de abastecimento de frotas pesqueiras e navegação marítima em geral, por alteração das exigências dos compradores, prevê-se a aquisição de reprodutores para fomento avícola.

3. Investimentos

47. Os empreendimentos programados para este sector são os seguintes

A) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris

a) Fomento de cultural e manutenção dos postos de fomento pecuário. Campanhas sanitárias

São consideradas nesta rubrica as culturas que, em princípio, não estão dependentes de aplicação regular e abundante de água para prosperarem e produzirem
Nestas culturas estão incluídos o amendoim, o feijão longo, as oleaginosas não alimentares, o coqueiro, a tamarena, o cajueiro, a mangueira, o tabaco e o ananás, a desenvolver nas ilhas de Santiago, Fogo, Santo Antão, S. Nicolau, Boa Vista e Maio.
O esforço a desenvolver com a manutenção dos postos de fomento pecuário, com maior incidência na ilha de Santiago e, em menor escala, nas ilhas de S. Nicolau, Boa Vista e Maio, visará fundamentalmente a espécie bovina, em relação à qual haverá que levar a efeito uma extensa campanha de profilaxia da tuberculose, que é, depois da escassez alimentar, o factor que mais influi na desvalorizarão do armento local.
Esta campanha deve incluir não só a ilha de Santiago, mas também a da Boa Vista e a de Maio, englobando

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campanhas profilácticas, tratamento e aquisição de soros, vacinas, equipamentos diversos e assistência técnico-veterinária.
Também a suinicultura oferece a possibilidade de contribuir com matéria-prima para a industrialização.
Quanto ao caracul e angora, a passagem à fase de exploração não será de encarar para já. Inclui-se, no entanto, o estabelecimento de unidades de recuperação, depois de alargada a etapa experimental a ilha de Maio.
Também a avicultura, pela proximidade da Guiné e em face do grande consumo em carne e ovos do porto de S Vicente, devido aos barcos que o escalam, justifica que lhe seja dispensada maior atenção, através, sobretudo, da aquisição de bons reprodutores para fomento avícola.

b) Revestimento vegetal e trabalhos de conservação do solo e da água

No tocante à silvicultura, prevê-se a arborização em zonas de altitude mediante a criação de novas plantações (400 ha) e conservação das existentes e a constituição de cortinas de abrigo em zonas cafeícolas.
Para tirar partido de plantas aparentemente nocivas ou mesmo prejudiciais, será de toda a conveniência instalar em zonas de altitude as espécies arbustivas forrageiras que melhorem e equilibrem o trinómio regadio, pecuária e agricultura.
Cumulativamente, já que a arborização em terrenos declivosos constitui um dos melhores antídotos da erosão, surgem as necessidades de conservação do solo e da água, uns e outros indispensáveis à agricultura de Cabo Verde.
Está prevista a edificação de diques, banquetas e processos de recarga artificial, visando os troços do montante das bacias hidrográficas de maior valor económico. À execução destas tarefas será distribuída pelas ilhas de Santo Antão, Santiago e S. Nicolau.
Está prevista uma verba para constituição de pastagens arbóreas e arbustivas (cerca de 700 ha) e reconstituição de pastagens herbáceas nas ilhas de Boa Vista, Maio, Santiago, Fogo, S. Nicolau e Santo Antão.

c) Construção de bebedouros e tanques-banheiras

O alargamento da rede de bebedouros é aspecto que deverá ser levado em linha de conta, não só pela melhoria que traz às condições de dessedentação dos gados, como também à redução dos percursos, o que diminuirá os efeitos do principal agente da degradação das pastagens o pisoteio desregrado
A construção de bebedouros e tanques-banheiras abrangerá as ilhas de Santiago, Fogo, Boa Vista, Maio, Santo Antão e S. Nicolau.

d) Fomento cafeícola

Existem actualmente em produção cerca de 840 000 cafeeiros, ocupando uma área de 528 ha e produzindo cerca de 785 t por ano.
A importância que o café pode representar paia a economia do arquipélago, aliada às obrigações assumidas pelo País no âmbito do Acordo Internacional do Café, conduz à conclusão de que os esforços a realizar neste campo terão necessariamente de se concentrar na melhoria da produtividade das áreas em cultivo e da qualidade do café produzido.
Com esse propósito se incluem neste programa os investimentos exigidos pelo lançamento e manutenção de uma campanha de fomento cafeícola nos moldes permissíveis e tecnicamente adequados.

e) Fomento bananícola

Durante o III Plano de Fomento os serviços de agricultura darão o seu apoio técnico ao desenvolvimento da cultura da banana, e bem assim prestar-se-á apoio financeiro através das entidades competentes.

B) Esquemas de regadio e povoamento

a) Aquisição de propriedades de regadio

A alteração da estrutura agrária existente, com a aquisição de propriedades de regadio, a constituição de sociedades de regadio da economia mista ou de núcleos de povoamento, assenta na projecção social e humana das obras de rega, a partir das quais se poderá expandir um equilibrado amor à terra e constituir uma sólida sociedade rural.
Na ilha de Santiago, utilizando um dos vales ali existentes, o Estado proporia aos proprietários a constituição de uma sociedade por acções, recebendo cada proprietário, em troca dos seus prédios, um volume de acções que imediatamente lhe garantiam, pelo respectivo juro, uma renda igual à que vinham auferindo com a exploração do arrendamento (o caso mais frequente que se verifica) dos seus prédios, actualmente subaproveitados.

b) Trabalhos de adaptação ao regadio e fomento de bananicultura e horticultura nas explorações societárias ou/e comunitárias.

As propriedades paia a constituição de novas explorações de regadio em regime de sociedade de economia mista ou de núcleos de povoamento carecem de avultadas despesas em trabalhos de adaptação ao regadio, para instalação de bananais e culturas hortícolas em escala industrial.

c) Meios de obtenção de água para rega

Além da intensificação e extensificação da prospecção de águas subterrâneas e dos processos tecnológicos da sua exploração, terá de se avançar ainda mais no domínio do aproveitamento dos recursos hídricos.

C) Crédito agrícola

A concessão de facilidades financeiras ao pequeno e médio proprietário, em especial à exploração familiar de conta própria, constitui o processo de se contribuir para um aumento significativo do produto agrícola e para a subida, mais generalizada, do nível de vida da população.
Contudo, ainda não se criou na província uma tradição na procura de crédito agrícola. Essa tradição é contrariada também pela localização da sede da Caixa de Crédito Agrícola em Santiago, o que cria dificuldades aos possíveis utentes dispersos por outras ilhas Está, pois, prevista a ampliação doa recursos da Caixa e do alargamento do seu- âmbito de acção em modalidades de crédito, obedecendo rigorosamente aos objectivos de desenvolvimento económico-agrícola da província.

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Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

48. As possibilidades reconhecidas de desenvolvimento desta actividade no arquipélago parecem ser apreciáveis, e tanto assim é que atuneiros japoneses e de outras nacionalidades ali se deslocam com certa regularidade, armazenando pescado nos frigoríficos do Mindelo.
Há condições mínimas, no que se refere a campos de pesca, necessárias à instalação de empreendimentos pesqueiros e de fábricas de transformação de peixe.
Além dos tunídeos, fulcro da actividade piscatória, existem outras espécies pelágicas que desempenham importante papel e, embora ainda não haja investigações científicas completas, conclui-se que existem assinaláveis perspectivas na exploração de crustáceos, designadamente lagostas.

49. Prosseguiu no período do Plano Intercalar de Fomento o desenvolvimento deste sector, que actualmente emprega mais de 2000 pescadores, com capturas que excedem as 20001 anuais Dificuldades na concretização dos financiamentos previstos impediram o lançamento do conjunto do empreendimento da Congel, que, no entanto, ampliou consideravelmente a capacidade de armazenagem frigorífica na sua base do Mindelo.

[Ver tabela na imagem]

50. Be um modo geral, as embarcações são obsoletas e deficientemente equipadas, quer se trate das accionadas a motor, quer das que são equipadas com velas ou remos. O grau de autonomia destas embarcações é forçosamente diminuto.

51. A produção indicada deve ser encarada com reserva, porquanto constitui apenas uma parte da produção total, cujo valor se estima pelo quádruplo daquele montante, que se refere apenas ao pescado destinado.

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nos mercados municipais Com efeito, há que entrar em linha de conta, por exemplo, com o pescado absorvido pelo autoconsumo pela população empregada na pesca.
Cerca de 1/4 do total destina-se à preparação rudimentar de peixe seco, mas haverá ainda que considerar o pescado que foi empregado pelo sector industrial, compreendendo a congelação e a fabricação de conservas e farinhas de peixe, pelo que se teria uma produção global da ordem das 9200-9800 t por ano (abstraindo a apanha do isco vivo para a pesca do atum), de que mais de 60 por cento supririam as solicitações do consumo interno.

2. Objectivos

52. Torna-se indispensável, durante o III Plano de Fomento, não só impulsionar o lançamento dos novos empreendimentos em estudo ou já em adiantado curso de realização, como também procurar modernizar e ampliar a frota pesqueira local, de modo a melhorar as suas possibilidades de detecção, de conservação de pescado e de âmbito de acção.

3. Investimentos

53. Os empreendimentos incluídos neste sector são, pois

a) Companhia de Pesca e Congelação de Cabo Verde

A primeira fase do empréstimo externo à Congel, no montante de 74 500 contos, já obteve a concessão do aval do Estado.

[Ver tabela na imagem]

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

54. É restrito o âmbito das actividades industriais, tanto extractivas como transformadoras, em Cabo Verde unidades industriais em pequeno número, baixas produções e reduzida gama de produtos.
Nas indústrias extractivas podem apontar-se as pozolanas, o calcário e o sal, com produções relativamente modestas, com excepção do sal, actividade tradicional nas ilhas do Sal, Boa Vista e Maio.
Destinou-se essa verba para pagamento do fornecimento de quatro atuneiros purse-sainer e respectivo contrato de crédito, nos termos do Decreto-Lei n º 47 537, de 16 de Fevereiro de 1967, integrados no contrato geral que se celebrou em 1962 com a firma Fried Krupp.
Todavia, o financiamento alemão, com a devida autorização do Estado, atingirá os 284 200 contos, nos quais há a descontar os 74 500 contos já concedidos.
Resta, deste modo, uma verba de 209 700 contos, destinada a instalação frigorífica, estruturas complementares, restante frota pesqueira e industrialização, que se torna necessário actualizar por acréscimo de 7,5 por cento baseado no aumento dos custos de produção.
Por outro lado, foi autorizado o Ministério do Ultramar, pelo Decreto n º 46 990, de 2 de Maio de 1966, em nome da província, a contrair, no Banco de Fomento Nacional e no Banco Nacional Ultramarino, dois empréstimos, de 15 000 contos cada um, pagáveis aos semestres e amortizáveis em doze anuidades iguais, vencendo-se as duas primeiras em l de Dezembro de 1970.
O produto dos empréstimos referidos foi integralmente aplicado na subscrição de 30 000 acções da Companhia de Pesca e Congelação de Cabo Verde, SARL.

b) Outros empreendimentos

Além da Congel, outros empreendimentos há que carecem de ser reestruturados, como é o caso da Ultra, L.da, ou podem justificar investimentos vultosos, como, por exemplo, a empresa em projecto para operar com base na Praia, nomeadamente se a localização os tornar recomendáveis como factores de desenvolvimento económico de outras ilhas.
Na transformação de produtos agrícolas contam-se apenas o fabrico de aguardente, preparação de peles e couros e produção de carvão vegetal.
Com base na pesca, regista-se, além da congelação de peixe, a fabricação de conservas de peixe, de farinhas de peixe e de peixe seco.
As restantes indústrias existentes são as de massas alimentícias e bolachas, panificação, tabaco, refrigerantes, calçado e cerâmica.

55. A evolução da produção das indústrias cabo-verdianas no hexénio de 1960-1965 mostra que as várias produções significativas são as pozolanas e o sal destinados ao mercado externo.

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[Ver tabela na imagem]

O quadro seguinte mostra a evolução, em índices (base 1953), das produções principais ao longo do período de 1953-1965.

[Ver tabela na imagem]

As produções industriais que têm revelado tendências no quadro que se refere às exportações são as constantes do quadro seguinte.

[Ver tabela na imagem]

56. Os quantitativos de mão-de-obra empregue nas indústrias extractiva e transformadora são os seguintes

[Ver tabela na imagem]

57. Às realizações no campo industrial não são grandes, nem tão-pouco favoráveis as perspectivas, o que á devido ao pequeno mercado interno e à própria dispersa o e localização geográfica do arquipélago.

58. Os mais importantes recursos de subsolo conhecidos são as pozolanas e o sal. Merecem também atenção os calcários, que fornecem matérias-primas para o fabrico de cimento e de cal.
Importa, para além dos trabalhos de prospecção programados, criar as condições para estimular as iniciativas privadas, para um aproveitamento, em condições rentáveis, dos recursos já identificados e dos que venham a ser localizados, incluindo o apoio directo, pelo menos numa fase inicial de arranque.

2. Objectivos

59. Considera-se como objectivo fundamental de todo o desenvolvimento económico de Cabo Verde a criação de volume de emprego necessário para satisfazer a procura resultante do crescimento demográfico.
Este objectivo geral transpõe-se no plano sectorial da indústria transformadora sob a forma de estabelecimento de indústrias rentáveis que permitam absorver mão-de-obra em proporções tão grandes quanto possível.

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As indústrias que se encontram nestas condições são, além da indústria da construção e das reparações navais, hoje funcionando em condições deficientes e que interessa modernizar e ampliar, as que transformam produtos agrícolas ou se destinam a satisfazer consumos locais oferecendo mercados razoáveis.

3. Investimentos

1. Indústrias extractivas

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

60. Além do aproveitamento de água doce por intermédio da dessalinização da água do mar - caso concreto da cidade do Mindelo, na ilha de S. Vicente, e do aeroporto dos Espargos, na ilha do Sal -, julga-se que a forma mais eficiente para o abastecimento consistirá na captação das águas superficiais, objectivo a considerar noutro capítulo em ligação com outros trabalhos de obras públicas.
Os trabalhos aqui considerados visam unicamente a carta hidrogeológica e a aquisição de equipamento de sondagem e materiais diversos.
A fiscalização ficará cometida ao Centro de Geologia da Junta de Investigações do Ultramar, com a colaboração do Instituto Hidrográfico nos casos em que os trabalhos cartográficos possam interessar à hidrografia.

b) Fomento mineiro

61. A intensificação da produção de sal e da exportação dos calcários e de pozolanas constituem os objectivos mais importantes neste sector, reconhecendo-se que os problemas a resolver se situam, por vezes, mais no sector da comercialização do que no da produção.

2. Indústrias transformadoras

62. Das indústrias susceptíveis de instalação em Cabo Verde, consideram-se com maiores possibilidades de sucesso as seguintes.

a) Curtumes. Aproveitamento de couros e peles para fabrico de calçado e artigos de viagem

Convirá preparar a maior goma possível de produtos curtidos nas condições de apetrechamento existentes, fazer uma tentativa de apuramento de custos de produção, para cotejar com os materiais importados, e verificar ainda em que medida uma pequena oficina de calçado poderia aproveitar economicamente tais produtos.
Por outro lado, deve tentar-se apurar o interesse em preparar o material curtido, mas não depilado, para aproveitamento no fabrico de artigos de viagem.
Evidentemente que o volume de couros e peles a trabalhar - que não é grande- condicionará grandemente a dimensão da unidade industrial de curtimento, a qual deverá localizar-se em Santiago, por ser a ilha maior produtora de couros e peles e também por menor dificuldade no abastecimento de água.
As perspectivas quanto a esta indústria, que incluiria, pois, uma unidade para curtimento e uma pequena oficina para calçado, podem considerar-se favoráveis, pelo menos em face dos elementos de apreciação disponíveis.

b) Industrialização da cana sacarina (melhoramento da aguardente de cana)

Outra indústria que se julga de interesse consiste na valorização da cana sacarina de produção local, já que se considera inviável o aproveitamento do açúcar para a refinação.
Para isso se prevê a comparticipação do Estado numa cooperativa de produtores de cana para transformação em aguardente de qualidade, visando exclusivamente a exportação.

c) Estudo sobre possíveis indústrias a criar

Existem já elementos de estudo acerca de outras possibilidades industriais.
Assim, por exemplo, a Companhia de Pozolanas de Cabo Verde, SARL , com o apoio do Estado, no que se refere ao estudo técnico do aproveitamento dos calcários das ilhas de Maio e Boa Vista, vem procedendo ao exame das possibilidades da instalação da indústria do cimento.
Convirá, no entanto, completar e aprofundar tais elementos e proceder a estudos de novas indústrias, entre os quais se anotarão os seguintes:

Estudos económicos e tecnológicos sobre a extracção do óleo de sementes da purgueira e das aplicações que possam conduzir à valorização do óleo,
Estudos técnico-económicos sobre a viabilidade de extracção, à escala industrial, do bálsamo concreto de babosa (Aloés vera, L.),
Estudos técnico-económicos sobre a ralagem do coco, visando a sua exportação para a metrópole,
Estudo técnico-económico sobre a indústria de salsicharia,
Estudo da viabilidade de produção semiartesanal de açúcar em rama, para consumo interno sobre esta forma.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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IV) Construção, obras publicas e melhoramento rurais

63. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

64. Dadas as pequenas dimensões das ilhas, não há no arquipélago rios dignos desse nome, mas simplesmente alguns caudais diminutos e irregulares Em contrapartida, o arquipélago parece oferecer boas possibilidades de aproveitamento das energias solar e eólica.

65. Como ainda não está realizado significativamente o aproveitamento destes dois tipos de energia, as instalações de energia eléctrica da província são constituídas na sua totalidade por geradores Diesel eléctricos.
A potência instalada em Cabo Verde, em 1963, era de 993 kW, assim distribuídos cidade da Praia, 868 kW, Mindelo, 432 kW, e mais sete localidades, 193 kW. Podem contar-se ainda hoje quatro ilhas sem energia eléctrica.
A potência instalada em 1965 era de 1665 kW, distribuída por treze centrais térmicas. O consumo atingiu no mesmo ano 3 384 000 kW.

2. Objectivos o Investimentos

66. Embora se não disponha de elementos para o cálculo correcto da capitação do consumo de energia eléctrica, pode afirmar-se que esta se situa em nível baixo. Os projectos de electrificação e ampliação das centrais ]á elaborados ou em curso de elaboração pelos serviços oficiais previam uma potência a instalar de cerca de 1500 kW.

67. Considera-se, pois, essencial, além da melhoria das condições de abastecimento de energia das três cidades da província (Praia, Mindelo e S. Filipe), a electrificação das principais povoações rurais, a instalação de aeromotores, prosseguimento dos estudos com vista à utilização da energia solai na desassimilação da água do mar, e, possivelmente, a execução de algumas pequenas instalações, aproveitando os resultados das experiências que venham a ser feitas ainda durante a vigência do Plano Intercalar.
Considera-se ainda o aproveitamento hidroeléctrico da ribeira das Pombas, na ilha de Santo An tão, e o transporte da energia produzida para o Paul (vila das Pombas).

Energia

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

VI) Circuitos de distribuição

68. Os estímulos necessários para acompanhar o agricultor na conversão para uma economia de mercado deverão incidir no desenvolvimento dos meios de comercialização, a fim de facilitar o transporte, a armazenagem e a distribuição dos produtos.
E na comercialização que se encontram os aspectos mais difíceis de resolver num meio em que as cooperativas ou quaisquer associações congéneres ainda não fizeram a sua

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aparição. Além disso, e no contexto mais vasto de todas as actividades interessadas, há que considerar a necessidade do estabelecimento de uma rede de frio adequada às necessidades de uma agricultura produzindo para o exterior.

Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

69. A rede rodoviária tem sofrido consideráveis melhorias e ampliações Em 1966, Cabo Verde dispunha já de 818 km de estradas classificadas, sendo 100 km de estradas pavimentadas e 718 km de estradas de terra. O número de veículos motorizados em circulação em 1965 era de 1469 (incluindo 295 motociclos).

70. Os principais portos do arquipélago são o Porto Grande, em S Vicente, e o Porto Novo, em Santo An tão Entre 1959 e 1964 foram melhorados e beneficiados outros pequenos portos e adquiridas embarcações Estão actualmente em conclusão obras acostáveis acessórias para o serviço de pesca no Porto Grande, onde já está concluído o cais acostável para combustíveis líquidos, e em curso a construção do porto de Cavaleiros, na ilha do Fogo.
A tonelagem de arqueação bruta da navegação que frequentou o Porto Grande - porto que movimenta cerca de 92 por cento da tonelagem de arqueação bruta - foi, no ano de 1965, de 10 milhões.

71. A província conta actualmente, além do aeroporto da ilha do Sal, com cinco aeródromos os de Maio, Boa Vista e S. Nicolau, com 1400 m de pista cada um, e os da Praia e de S. Vicente, com 1200 m cada um, todos podem receber aviões tipo DC-3 Dakota. As duas últimas pistas têm, cada uma, 800 m de tratamento betuminoso No aeroporto da ilha do Sal estão em curso obras de beneficiação, de forma s poder receber aviões a jacto.

72. Dispõe a província de um navio-motor com condições boas e de alguns veleiros, mas a navegação aérea entre ilhas (e com o exterior) é de grande interesse.

73. Quanto às telecomunicações, o panorama tem-se apresentado estacionário nestes últimos anos. Existiam, em 1965, 29 estações telegráficas e 2 radiotelegráficas, além de 2 estações telefónicas e 578 postos.

2. Objectivos

74. Os objectivos deste sector poderão parecer exagerados em relação aos demais. Procedei de maneira diferente seria ignorar a situação geográfica da província, repartida numa série de ilhas de reduzidas dimensões, exigindo, assim, especiais cuidados todo o fenómeno que se relacione com os meios de comunicação.
Sem a sua prossecução não é possível atingir os objectivos gerais que se propõem.

1. Transportes rodoviários

75. O incremento a dispensar à agricultura requer apreciável alargamento dos transportes rodoviários, sobretudo nas ilhas em que a mesma se torne possível Santo Antão, o maior alfobre da província em produtos alimentares, dispõe ainda de óptimos tractos de terrenos, mas o correspondente transporte utilizável confina-se apenas ao dorso do animal.
Santiago é possivelmente aquela ilha que melhores potencialidades económicas oferece, dado que a disposição do relevo não é tão desfavorável como em Santo Antão ou no Fogo.
Nestas ilhas, como nas demais, há necessidade de incrementar actividades directamente produtivas, quer se trate do sector agrícola, quer do industrial, ou mesmo do turístico, o que postula a necessidade de dispor de transportes rodoviários adequados, já como processo de escoamento dos produtos, já como meio geral de comunicação.

2. Portos e navegação

76. A localização da província em pleno Atlântico e a sua distribuição por ilhas a distâncias apreciáveis entre si justifica plenamente que aos portos e cais acostáveis de menor dimensão seja dada particular relevância Na medida em que Cabo Verde importa grande porte do que consome e exporta bens de fraco valor unitário, mas em grande quantidade, como o sal, as pozolanas e as bananas, foi de todo o interesse a remodelação do porto do Mindelo, que permite já a atracação da quase totalidade dos barcos que cruzam o Atlântico, de idêntico interesse a construção do novo molhe do Porto Novo, em Santo Antão, local de embarque das pozolanas.
Assim, ao abrigo do III Plano de Fomento, em relação ao Porto Grande, foram fixados os seguintes objectivos principais:

Aquisição de instalações, máquinas, ferramentas e equipamento de laboratório,
Recargas de enrocamento do molhe n.º 2,
Serviços de atracação, compreendendo a aquisição de um rebocador e de uma lancha,
Serviços de abastecimento de géneros alimentícios e combustíveis,
Serviços de sinalização, de armazenamento para mercadorias e retenção de passageiros,
Serviços de administração.

77. O Porto Novo de Santo Antão, que virá a ser o porto de encontro das estradas que atravessam a ilha, e por onde já hoje se exporta a pozolana, cujas instalações fabris se situam a cerca de 2 km, será, também, depois de um mais racionai aproveitamento da produção agrícola, um grande porto de exportação de géneros alimentares de que o arquipélago carece No entanto, há que dotá-lo com equipamento portuário e edifícios próprios.

78. A ilha do Fogo carece urgentemente de ver solucionados os seus prementes problemas portuários, de modo que os embarques e desembarques de pessoas e mercadorias, por via marítima, deixem de constituir tão arris-

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cada aventura. Para o efeito foi considerada a conclusão das obras do porto de Vale de Cavaleiros já iniciadas, incluindo os edifícios e equipamentos afins.

79. Sendo o sal um dos produtos que mais pesam nas exportações cabo-verdianas, é justo considerar obras acostáveis mais próximas da sua exploração. Não faz sentido, com efeito, que a exploração se efectue num extremo da ilha e a exportação no outro, quando tão próxima daquela existem condições favoráveis para um cais acostável.
Tratando-se de um produto pobre em valor unitário, são de todo o interesse as reduções dos custos resultantes de permanência no porto e dos evitáveis transportes.
Independentemente das razões analisadas, a prevista zona da Murdena para o lançamento de um cais acostável na ilha do Sal oferece as garantias de um local abrigado, com bons fundos para manobras.

80. Há também que executar obras portuárias na cidade da Praia, cujo projecto está ainda dependente de definição do que se pretende em matéria de novos empreendimentos piscatórios com base na ilha de Santiago.

3. Transportes aéreos e navegação

81. É essencial a conclusão dos trabalhos já previstos no Plano Intercalar, mas que, por motivos de vária ordem, não puderam ser levados a cabo, dizendo respeito à ultimação das pistas de aterragem nas diversas ilhas, à aquisição de material de voo, material de telecomunicações, fornecimento de energia, sinalização, esgotos, e bem assim ao material de combate a incêndios.

82. Além disso, as pistas da cidade da Praia e de S Vicente, pela importância turística que apresentam, merecem arranjo especial, de modo a serem utilizadas por aviões vindos do exterior.

83. Constitui ainda objectivo visado a ampliação da capacidade de transporte dos serviços aéreos da província.

3. Investimentos

1. Transportes rodoviários

84. Na elaboração do programa dos investimentos rodoviários de certo montante, mercê da descontinuidade geográfica do arquipélago (o que dispensa qualquer outra justificação), atendeu-se à capacidade de execução, condicionada pelas disponibilidades de mão-de-obra da província em período normal.
Na selecção das estradas incluídas no III Plano de Fomento deu-se prioridade às que mais possam contribuir para o desenvolvimento económico da província:

a) Por permitirem o escoamento de zonas agrícolas de regadio, aptas para a cultura de produtos de exportação,
b) Por servirem zonas susceptíveis de aproveitamento turístico.

A ilha mais beneficiada é a de Santo Antão, por ser aquela em que é mais acentuada a carência de vias de comunicação. Vales como os da Ribeira da Cruz, Altomira, Figueiras e Graça não têm qualquer saída, por mar ou por terra, para os seus produtos.
Seguem em valor global de empreendimentos a de Santiago, maior, mas já mais bem servida por vias rodoviárias, e a do Fogo, onde a zona mais produtiva (Norte) não é acessível a veículos automóveis.

Resumo geral

[Ver resumo na imagem]

2. Portos e navegação

85. O programa estabelecido foi devidamente condicionado pela programação do Plano Intercalar de Fomento.
Para o Porto Grande de S. Vicente distribuíram-se os investimentos pelos diferentes serviços essenciais a uma adequada exploração.

Serviços de atracação - aquisição de um rebocador de 600 C. V. e de uma lancha a motor de 50 C.V. e de 6 t, para passagem de cabos à terra;
Serviços de electricidade e comunicações - instalação eléctrica de iluminação exterior (2.ª fase - terraplenos e cais de pesca);
Urbanização de terraplenos - pavimentação, esgoto de águas pluviais e vedação dos terraplenos;
Serviços portuários (de mercadorias, de passageiros, de pesca, de saúde, aduaneiros, marítimos e de administração) - edifícios e equipamento portuário, incluindo a aquisição de lanchas a motor, de 50 C. V. e de 5 t a 8 t, para assegurar os diversos serviços;
Serviços de abastecimento de água - equipamento portuário;
Serviço de abastecimento do combustíveis líquidos - apetrechamento a cargo das empresas abastecedoras;
Serviço de abastecimento de víveres - a cargo das empresas frigoríficas;
Serviço de incêndios - aquisição de moto-bombas.

86. Para o Porto Novo de Santo Antão inclui-se, no equipamento portuário, a aquisição de um guindaste auto móvel para 6 t, compreende-se ainda a construção de edifícios portuários.

87. Para o porto de Vale de Cavaleiros, na ilha do Fogo, programaram-se obras acostáveis (2.º fase) e edifícios e equipamento portuários.

88. Quanto ao porto da Praia, na ilha de Santiago, torna-se imperioso que as obras acostáveis a levar a efeito no III Plano de Fomento não deixem de assegurar adequada serventia a unidades mercantis da ordem das 10 000 t brutas, o que determina a necessidade de se dispor de cais situados em fundos úteis de (-10 m). Para a concretização de tais objectivos está afecta ao Plano Intercalar de Fomento a execução do respectivo projecto.
O inventário das necessidades deste porto inclui, além de obras acostáveis e de edifícios, no equipamento portuário, a aquisição de um rebocador de 600 C V e de uma lancha de 50 C V para passagem de cabos à terra

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902 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

89. Na ilha do Sal, é sem dúvida a baía da Murdeira, situada na costa ocidental (a mais abrigada) e distando 7 km do aeroporto e cerca de 12 km de cada um dos dois centros de produção de sal, a que melhores condições oferece para a construção do porto para a exportação do sal, produto que, pela sua abundância, pode pesar sensivelmente na balança económica da província.
Com vista à indispensável planificação, tomou-se como tipo dos navios que frequentemente poderão assegurar a drenagem do sal os que possam carregar cerca de 15 000 t, o que corresponde a tonelagem bruta de 10 a 11 000 t e que em média calam cerca de 30 pés e têm aproximadamente 160 m de comprimento.
Consequentemente, há que dispor de cais com fundos úteis situados à cota (-10 m) e desenvolvimento mínimo da ordem dos 210 m. Assim, para se atingirem os fundos convenientes, o molhe terá um desenvolvimento total entre os 400 e os 500 m.
Há que construir, ameia, os edifícios portuários, e no equipamento inclui-se uma lancha a motor de 60 C. V.

90. Para o porto de Sal-Rei, na ilha da Boa Vista, programam-se investimentos para obras acostáveis, edifícios e equipamento portuários. No Porto Inglês, na ilha de Maio, no porto da Preguiça, na ilha de S. Nicolau, e no porto da Fuma, na ilha Brava, também se consideram obras acostáveis, edifícios e equipamento portuários.

8. Transportes aéreos

91. No que se refere a infra-estruturas, há que proceder às seguintes obras: extensão das pistas da Praia e S. Vicente, para 2000 m, instalação de energia, água e esgotos, equipamentos, melhoramentos nas pistas de Maio, Boa Vista e S. Nicolau, edifícios; telecomunicações, e aquisição de material contra incêndios.
Os T A. C. V. possuem dois aviões DH 104 - Dove. Os trabalhos de revisão e beneficiação executados permitirão que estes aviões prestem, sob o aspecto operativo, serviços durante mais alguns anos.
Há que atender-se, porém, a que são aviões de capacidade reduzida - nove lugares para passageiros -, e, como as solicitações aumentam, é de toda a conveniência a adopção de material de voo oferecendo maiores disponibilidades.
No estabelecimento de prioridades, julga-se mais conveniente a conclusão e o equipamento dos aeródromos existentes, de conformidade com o plano director inicial, tendo-se em atenção o serviço dos aviões ora existentes, seguindo-se a sua ampliação e adaptação ao esperado serviço do exterior.
Pelo que respeita a material de voo, tudo depende do que vier a ser estabelecido face ao novo contrato assinado com a TAP, que passará a ocupar-se dos aspectos técnicos da exploração de carreiras entre ilhas.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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VIII) Habitação e melhoramento locais

1. Objectivos e Investimentos

2. Habitação

92. Segundo estudo levado a efeito pelo Trabalho, Previdência e Acção Social, são as necessidades de moradias económicas nos diversos concelhos da província:

Fogos

Ribeira Grande............................. -
Paul....................................... -
Porto Novo................................. 350
S. Vicente................................. 875
S. Nicolau................................. 250
Sal........................................ 200
Boa Vista.................................. 100
Maio....................................... 80
Praia...................................... 895
Santa Catarina............................. 800
Tarrafal................................... 300
Fogo....................................... 300
Brava...................................... 150
3 660

estimando-se o custo provável em cerca de 110 000 contos.
Prevê-se, nas condições actuais de trabalho, a possibilidade da construção de 150 fogos por ano, sendo 40 na Praia, 40 em S. Vicente e os restantes 70 distribuídos pelos outros concelhos.
As necessidades de moradias para funcionários, excluindo a Praia e S. Vicente, por concelhos, são as que constam do seguinte mapa:

[Ver mapa na imagem]

Considera-se possível realizar este programa no período de 1968-1973.

2. Melhoramentos locais

93. Tendo-se realizado na ilha de Santo Antão abastecimentos de água, sobretudo na zona norte, neste Plano prosseguirão os abastecimentos no Sudoeste e Noroeste, praticamente iniciados com a obra da Coxa, em conclusão na vigência do Plano Intercalar.
Assim, incluem-se os aglomerados de Monte Trigo, Pascoal Alves, Chã de Carneiro, Água Amargosa, Ribeira da Cruz, Ribeira Fria, Ribeira Larga e Morro de Vento.
É de salientar a construção de uma cisterna em Pascoal Alves, já que as pesquisas de nascentes feitas em 1960 se revelaram pouco frutíferas, e a reconstrução da captação de Água Amargosa, destruída pelas cheias, a qual serve os aglomerados de Água das Patas, Aldeia e Agua Amargosa, com cerca de 1000 habitantes no total.
No concelho do Paul consideram-se os abastecimentos de Campo de Cão e Figueiral, Ribeira das Pombas, Fajã da Janela, densamente habitada, e Pontinha da Janela.

94. Nos diversos abastecimentos a realizar na ilha de S. Nicolau, considera-se em primeiro lugar o abastecimento de água domiciliário da vila da Ribeira Brava, das mais importantes da província e sede de concelho. A construção da rede está dependente da existência de água em quantidade suficiente.
Prevê-se o abastecimento da povoação do Tarrafal, segundo centro populacional da ilha, já com mais de 800 habitantes, por adução gravítica ou bombagem de captações por poços.
Dependente de aproveitamento das águas do Torno, de esplêndida qualidade, e dos maiores caudais da ilha, e sua adução para fins hidroagrícolas, encara-se o abastecimento das povoações ao longo do percurso do Espigão até ao Calejão.
Os lugares de Fontainhas, Palhal, Hortelã e Cabeçalinho, com cerca de quatro centenas de habitantes cada um, dispõem de nascentes utilizadas para rega, sendo, no entanto, necessário melhorar as condições higiénicas, canalizando, independentemente, água para abastecimento, construindo reservatórios próprios e fontanários. Os aglomerados da Julunga, no Leste, Pomba e Mofina também são incluídos neste Plano.
Inclui-se igualmente o melhoramento do abastecimento da estância de Brás e regiões vizinhas, em íntima ligação com a elevação da água dos Anjos para fins hidroagrícolas, possivelmente por aeromotores.

95. Vila de Santa Maria, na ilha do Sal, sede do concelho, com 600 a 700 habitantes, dispõe de um abastecimento por fontanário, sendo a água proveniente de poços de captação no Algodoeiro. Por falta de recarga dos lençóis, as águas tornam-se cada vez mais salobras, pelo que a administração do concelho vem pondo o problema de outros meios de obtenção de água doce, designadamente por dessalinização, já que as pesquisas localmente realizadas têm conduzido a água de maior teor salino.
Considera-se, pelo exposto, justificada a necessidade de instalar um dessalinizador, que, com a produção diária de 10 m3 a 15 m3, resolveria o problema.

96. Prevêem-se abastecimentos de água nas regiões de nordeste da ilha de Santiago ainda não beneficiadas (Salto Acima, Pilão Cão e S. Miguel), construção de cisternas de captação de águas pluviais na zona central (serra da Malagueta e zona alta da Figueira das Naus) e o abastecimento do Porto do Rincão, no concelho de Santa Catarina, ainda neste concelho consideram-se obras de defesa da povoação da Ribeira da Barca, constantemente ameaçada pelas cheias.

97. Os empreendimentos considerados na ilha do Fogo são o aproveitamento das águas de Nossa Senhora do Socorro, a extensão do abastecimento de água de Praia Ladrão para o norte e a construção de algumas cisternas nas regiões altas.
A nascente de Nossa Senhora do Socorro, grande manancial que aflora à beira-mar, deverá ser captada e elevadas os suas águas até à zona do Patim, cerca da cota 550, o que permitirá abastecer os aglomerados do Sul, de Patim a Cova Figueira, numa extensão linear de 18 km.
A execução dos trabalhos que acabam de ser referidos permitirá aliviar o sistema de Praia Ladrão de aproximadamente três milhares de consumidores potenciais, tornando possível prolongar para o norte, de S. Pedro até Afira, a rede projectada no ano que decorre.

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904 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

IX) Turismo

1. Objectivos

98. A província reúne boas condições naturais para o turismo.
A aliar às óptimas condições do clima e do ambiente, há que fazer referência ao aspecto paisagístico (contrastes de vegetação e de relevo), às francas possibilidades das praias e da pesca submarina e ao folclore local.

99. Não se ignorando o interesse suscitado por estrangeiros, nomeadamente os Nórdicos, aquando das suas visitas ao arquipélago, reconhece-se que, para atracção de fluxos turísticos, as infra-estruturas fundamentais terão de sofrer grande desenvolvimento. Ter-se-á de proceder, por exemplo, a uma reestruturação de tudo quanto se relacione com a obtenção de água doce e de promover o lançamento de meios de comunicação e a construção de estabelecimentos hoteleiros.

2. Investimentos

100. Não é, porém, possível programar este desenvolvimento no seu conjunto, já que muito depende da concretização de intenções já manifestadas e de projectos em vias de elaboração. Por isso se limitam, por agora, as realizações programadas ao completamento das infra-estruturas turísticas disponíveis.

Praia

a) Ampliação do piso inferior da pousada e construção de um segundo piso;
b) Equipamento, apetrechamento e imprevistos;
c) Arranjo da zona balnear;
d) Apetrechamento e instalação do C. I. T., incluindo um carro privativo.

Outras zonas

e) Subsídios para outras pequenas pousadas, em Santa Catarina e Tarrafal (Santiago), Fogo, Santo Antão e ampliação da de S Vicente.

A juntar ainda, o aproveitamento do Curralinho, onde se construiriam seis bungalows (1.ª fase), e a construção da estrada Mindelo-Baía das Gatas.

101. Prevê-se ainda o estudo urgente do aproveitamento das possibilidades de desenvolvimento turístico, ficando a realização de empreendimentos públicos no sector condicionada pelos investimentos efectuados por empresas privadas.

Turismo

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem)

X) Educação e investigação

1. Educação

1. Evolução recente e problemas actuais

102. Em 1953 o número de alunos inscritos no ensino primário (oficial e particular) era de 6167; em 1964 era de 18 150, o que significa que quase triplicou em relação a 1953. Aquele quantitativo representa mais de 55 por cento da população escolar da província.
Por seu turno, o pessoal docente passou de 149 professores em 1953 para 378 em 1964, ou seja, cresceu a uma taxa anual de 8,8 por cento. O número de salas cresceu a uma taxa inferior a l por cento (0,9 por cento) por ano, e para o número de escolas a taxa homóloga era de 1,2 por cento. Tendo em conta a taxa de crescimento demográfico, verifica-se que a capacidade de escolas, de equipamento e pessoal existentes atingiu o ponto de saturação.

[Ver tabela na imagem]

O número de alunos a cargo de cada professor e o número de alunos por sala de aula são crescentes. A percentagem de aproveitamento, que em 1953 era de 62 por cento, tinha em 1964 o valor de 61 por cento. Daqui se infere que, embora as salas de aula e os professores tenham aumentado em número, são ainda manifestamente insuficientes para as necessidades decorrentes do aumento de alunos inscritos.

103. Quanto ao ensino secundário, o esforço feito no período de 1953 a 1964 foi ainda maior. Até 1960 existia um só liceu na província, o do Mindelo, que tinha desde 1955 uma secção a funcionar na cidade da Praia, a partir de 1960 passaram a existir dois liceus (Praia e Mindelo).
O ensino técnico e profissional é ministrado numa escola industrial e comercial, funcionando no Mindelo desde 1957.
Existem ainda um seminário (Praia), duas escolas de enfermagem (Praia e Mindelo), uma escola de aprendizado agrícola (S. Jorge dos Órgãos - Santiago), uma escola de artes e ofícios (Praia) e institutos de cursos especiais.
É o seguinte o movimento do ensino secundário durante o período considerado.

[Ver tabela na imagem]

104. Em resumo, verifica-se que os problemas do ensino em Cabo Verde são prementes, mormente no que se refere ao ensino primário, sector em que é necessário um grande esforço de recuperação. Quanto ao ensino secundário, parece que, a efectivar-se um programa acelerado de desenvolvimento económico, conviria incrementar-se para isso o ensino técnico (industrial, agrícola e comercial).

2. Objectivos

105. Os objectivos no subsector Educação para o III Plano de Fomento são:
1.º No ensino primário generalização progressiva ao ensino, de forma a escolarizar 70 por conto da população em idade escolar, em 1973.
Para atingir tal objectivo e partindo das seguintes hipóteses de base:

a) Desenvolvimento da população com variações decenais de crescimento, a década de 1961-1970 sem crises; movimento migratório não considerado;
b) A população escolar primária (dos 6 aos 14 anos) corresponde a 18 por cento da população total;

torna-se necessário que:

a) A população escolar cresça à taxa anual de 8 por cento;

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b) O quadro de pessoal docente compreenda:

45 por cento de professores primários,
45 por cento de professores de posto escolar,
10 por cento de monitores escolares

c) A província disponha, por si só ou em colaboração com outras províncias, designadamente a Guiné, de um órgão de orientação pedagógica e de apoio ao seu quadro docente.

2.º Educação de adultos; intensificação da educação de adultos

a) A formação social dos indivíduos;
b) O desenvolvimento e melhor aproveitamento das potencialidades humanas das comunidades rurais, designadamente a capacidade de cooperação e auxílio mútuo;
c) Alfabetização;
ã) Valorização do «investimento humano», com fundamento na ideia de que a falta de capital pode ser compensada com mais amplo apelo à oferta de mão-de-obra abundante, todas as vezes que o trabalho pode substituir o capital nos programas de valorização dos recursos locais.

Reconhecido o valor estimulante representado pela quantificação de objectivos na realização dos programas de empreendimentos, definem-se como metas a atingir nesta parte do sector, no fim do sexénio, as seguintes:

1) Abranger 10 por cento a 15 por cento da população adulta (dos 15 aos 60 anos) com as campanhas de educação de adultos;
2) Contribuir para proporcionar aos pequenos empreendimentos de interesse local de 180 000 a 240 000 dias-homem de trabalho.

A definição de tais objectivos parte das seguintes hipóteses de base:

a) A população adulta (15 aos 60 anos) cresce de 127,1 para 150,8 milhares de indivíduos no período do III Plano de Fomento;
b) Após o primeiro ano de preparação, a campanha de educação de adultos decorre em cada ano numa zona previamente definida, compreendendo uma população adulta de 8000 a 4500 indivíduos;
c) Cada indivíduo contribui com dois dias de trabalho por mês para realização dos pequenos empreendimentos de interesse colecto o local;
d) A campanha de educação de adultos decorre em cada zona em três fases de duração anual: preparação, actuação e consolidação.

8 º Ensino secundária, médio e superior ampliação doa possibilidades de acesso, ao ensino secundário e aos ensinos médio e superior.
Num plano a mais longo prazo - 15 anos - 30 por cento dos alunos que concluam o ensino primário deverão ter acesso ao ensino secundário.
A acção a desenvolver deverá estimular a preferência pelo ensino técnico (industrial, agrícola e comercial), com o fim de preparar mão-de-obra qualificada, quer para corresponder às exigências do desenvolvimento económico da província, quer para permitir maior defesa aos emigrantes, devendo incluir a preparação de pessoal de hotelaria, modalidade cuja integração no sistema educacional da província oferece perspectivas na projecção para o conjunto do espaço económico nacional.
No âmbito dos ensinos médio e superior, o objectivo deverá concretizar-se essencialmente através de:

a) Criação de uma escola de magistério primário;
b) Aumento do número de bolsas de estudo para frequência de estabelecimentos de ensino médio e superior em Angola e na metrópole, com vista especialmente à formação dos quadros docentes necessários.

4.º Criação e difusão dos meios necessários de leitura e de conhecimento destinados a impedir os alfabetizados de esquecerem o que aprenderam e a estimular o pensamento e as atitudes positivas na linha do desenvolvimento económico-social que se prossegue.
A realização deste objectivo deverá ser encarada ao nível interprovincial ou mesmo nacional.

5.º Bolsas de estudo.

Sob esta designação cabem todas as medidas que possam conduzir ao aperfeiçoamento profissional - sobretudo no sentido de uma especialização - do pessoal de formação universitária que presta serviço de carácter não eventual na província.

3. Investimentos

106. Teve-se em conta, para a cobertura escolar primária, o recenseamento escolar referente ao ano de 1965, que acusou uma população de 31 553 crianças, discriminadas por ilhas, como segue:

Ilha de S. Vicente....................... 4 465
Ilha de S. Nicolau....................... 2 620
Ilha do Sal.............................. 420
Ilha de Santo Antão...................... 5 069
Ilha da Boa Vista........................ 574
Ilha de Maio............................. 498
Ilha de Santiago......................... 12 424
Ilha do Fogo............................. 4 809
Ilha Brava............................... 674
31 558

Assim conclui-se que devem ser construídos 97 edifícios escolares, sendo 65 do tipo P, ou seja, com uma sala de aula, 29 do tipo 2, isto é, com duas salas de aula, e 3 do tipo 4, quer dizer, com quatro salas de aula, o que perfaz 185 salas.
Para dotar estes novos edifícios escolares são necessários, numa primeira fase, 9 professores com o curso do magistério primário e 125 professores de posto escolar.

107. Pela insuficiência de instalações e devido à afluência escolar, que de ano para ano vem aumentando, necessita o Liceu de Adriano Moreira de:

Bloco de aulas especiais,
Ampliação das instalações,
Instalações para a Mocidade Portuguesa e Mocidade Portuguesa Feminina.

108. Considera-se também indispensável a ampliação da escola técnica.

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2. Investigação não ligada ao ensino

109. Não havendo na província estabelecimentos de ensino universitário, as actividades de investigação circunscrevem-se ao âmbito não ligado ao ensino. Por outro lado, o estádio e as perspectivas mais favoráveis do desenvolvimento económico do arquipélago levam a concentrar os esforços a realizar nos domínios mais ligados à cartografia, à hidrologia, à investigação agrícola, aos estudos de biologia piscatória e de pesca exploratória e experimental e aos estudos geológicos. Além disso, houve que considerar as necessidades em matéria de estudos de base e de valorização de pessoal de formação universitária.

2.1. Cartografia

a) Cartografia geral

110. Torna-se necessário levar a efeito um levantamento geral das ilhas, à escala e com rigor indispensáveis, em que possam assentar outros empreendimentos, designadamente os que se relacionem com os estudos hidrológicos e o cadastro geométrico da propriedade rústica, para o que poderá utilizar-se, na medida do possível, a cobertura fotográfica disponível para quase todas as ilhas do arquipélago. A extensão da tarefa torna difícil realizá-la para todas as ilhas, sendo, por isso, indispensável estabelecer ordem de prioridades, de modo que, ao findar o III Plano de Fomento, já se disponha de tais instrumentos de trabalho relativamente às ilhas de maior importância.

b) Carta geológica

111. Embora existam já alguns trabalhos sobre a geologia do arquipélago, o que representa um apreciável contributo de valor para execução da sua cartografia geológica, o conhecimento dessa especialidade na província é ainda incompleto. São conhecidas apenas, com certo pormenor e permitindo já um esboço, as ilhas de S. Vicente e de Maio. As ilhas de Santiago, Sal, Boa Vista e Brava são mal conhecidas.

c) Hidrologia

112. Dada a importância dos recursos hidráulicos sobre as condições de vida e de actividade económica que se verificam nas ilhas, constituindo um dos mais importantes problemas de Cabo Verde, é fácil convir que se justifica a existência de um dispositivo afecto à investigação hidrológica e que possa contribuir para um aumento e uma mais racional utilização de um dos mais escassos recursos naturais do arquipélago, o que lhe confere preferência numa escala de prioridades.

2.3. Investigação aplicada à agricultura

a) Carta de solos

113. Revela-se conveniente completar e aprofundar a cartografia pedagógica para efeito de um mais perfeito conhecimento das aptidões agrícolas do arquipélago.

b) Investigação básica

114. Os trabalhos de investigação de base visarão essencialmente a intensificação dos estudos de adaptação ao regadio dos vales de Santiago, onde se prevê ser possível impulso considerável ao seu potencial produtivo, assim como dos estudos de climatologia agrícola que aqueles se ligam.
A reconstituição das pastagens herbáceas visando as ilhas de Maio e Boa Vista, bem como os manejos de cultivos que originem produtos agrícolas susceptíveis de exportação em natureza ou depois de industrializados, como o tabaco, o ananás, o rícino, o coqueiro e a tamarena, são, por outro lado, tarefas que devem também constituir objecto de estudo.

2.3. Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

115. Para entrar na fase inicial de realização do III Plano de Fomento, torna-se necessário, em primeiro lugar, a instalação de uma base em terra, onde os serviços possam ser montados de forma a oferecerem a eficiência que lhes vai ser exigida. Para tal será imprescindível a aquisição de todo o material e equipamento cientifico. Terá também de ser montado, logo de início, um pequeno laboratório em terra, destinado a apoiar os trabalhos de mar.
No âmbito dos trabalhos de mar a efectuar com base na província, está prevista a prospecção de uma área com o raio de aproximadamente 2000 milhas e centro no arquipélago. Essa tarefa consistirá, essencialmente, em trabalhos de pesca exploratória e experimental, indispensáveis ao estudo da pesca de tunídeos e das pescas pelágicas com redes envolventes (cerco). Haverá talvez a possibilidade de fazer deslocar a Cabo Verde o navio de estudos Goa.
O programa de pesquisas que se desenvolverá nos anos seguintes obriga à aquisição de um barco com as características mais aconselhadas para o fim a alcançar, isto é, um purse sciner-stern de 30 m a 32 m (100 pés), de aço, ou outro tipo equivalente.

2.4. Coordenação de Investigação cientifica

a) Centro de Estudos

116. Prevê-se que o Centro de Estudos - que é um órgão dependente da Junta de Investigações do Ultramar - possa actuar como pólo de convergência e coordenação dos estudos e trabalhos de natureza científica que interessem a Cabo Verde.
Não está, todavia, prevista a existência de qualquer quadro de pessoal investigador, ficando, pois, a acção a desenvolver condicionada em grande parte à colaboração que lhe possa ser prestada pelos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar e de outras instituições nacionais, e tudo será função dos problemas concretos postos para estudo.
Mesmo assim, e dentro da modalidade sugerida, ser-lhe-ão proporcionados meios - através do Plano de Fomento - para a actividade que se propõe desenvolver.

b) Estudos de base

117. Embora sejam muitas as lacunas a preencher quanto ao conhecimento e recolha de dados básicos, os três pontos que adiante se relacionam são aqueles que parecem respeitar os questões de imediato interesse.
São eles:

Obtenção de elementos meteorológicos de base para o estudo de eventual aproveitamento de formas de energia não clássicas, especialmente a solar;
Estudos sobre a população, particularmente nos aspectos ligados à sua nutrição e produtividade,
Estudos de natureza etnográfica, a promover pelos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar.

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Educação e Investigação

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

118. De acordo com as estatísticas dos serviços de saúde, a taxa de mortalidade tem diminuído sensivelmente de 18,3 por mil e 20,6 por mil, em 1953 e 1954, respectivamente, decaiu para 14,5 por mil em 1963 e 10,5 por mil em 1964, depois de ter acusado 11,9 por mil e 11,4 por mil em 1961 e 1962, respectivamente. Parece, assim, poder deduzir-se uma melhoria substancial do nível sanitário, devido nos progressos do sistema hospitalar e ao combate às endemias.
Registam-se, efectivamente, nos vários tipos de formações sanitárias, aumentos quantitativos e expansão dos serviços prestados à comunidade no período de 1953-1964. Os postos sanitários fixos aumentaram de 12 (1953) para 18 (1964), os postos de consulta e tratamento passaram de 9 no primeiro ano considerado para 17 no último ano, o número de dispensários de puericultura triplicou, as enfermarias regionais passaram de 5 para 7, tendo sido criadas, em 1960, uma nova maternidade e uma nova enfermaria de lepra.
O número de crianças inscritas nos dispensários de puericultura aumentou de 1011 (1953) para 2712 (1964), isto é, de 168 por cento, enquanto o número de crianças falecidas baixou de 209 para 89, isto é, diminuiu de 68 por cento.
O paludismo está em franca regressão: de 286 e 175 óbitos registados em 1953 e 1954 passou-se para apenas 2 óbitos em 1964, já desapareceu completamente em várias ilhas.
Foram feitas vacinações pelo B. C. G. nas ilhas do Sal e S. Vicente. Entrou em funcionamento em 1960 uma brigada móvel de vacinação pelo B C. G. e, até 1962, 78 por cento da população foi vacinada. Outras campanhas contra endemias foram realizadas com maior ou menor extensão.

119. Os três hospitais existentes na província dispõem de 380 leitos. Praia, 200, S. Vicente, 150, e Fogo, 80. As cinco enfermarias regionais dispõem de 89 leitos, dos quais 15 na de Santa Catarina (ilha de Santiago). Em conjunto, estavam disponíveis, em 1962, 419 camas, o que equivale a um leito hospitalar para 512 habitantes.

120. Os médicos que trabalhavam no sector oficial eram em número de 18 de 1953 a 1956, de 20 entre 1958 e 1961, e 21 em 1964.
Enquanto a população aumentou, entre 1958 e 1962, de 37,9 por cento, o pessoal médico e paramédico aumentou de 15,7 por cento no mesmo período.
Quanto à formação de pessoal paramédico, registam-se progressos apreciáveis na escola de enfermagem do hospital da Praia. Formaram-se, em 1962, 17 novos enfermeiros nesta escola e 21 na do hospital do Mindelo.

2. Objectivos

121. Os objectivos neste sector são

a) O prosseguimento da luta contra as endemias através de campanhas sanitários que visem, não só o combate a essas doenças, como também a divulgação de educação sanitária básica e a conquista da confiança das populações;
b) O desenvolvimento da rede dos serviços de saúde pelo espessamento da sua malha e pela melhoria progressiva dos estabelecimentos existentes,

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c) A formação do pessoal sanitário dos vários níveis exigidos para o adequado funcionamento dos serviços.

3. Investimentos

122. Na selecção dos objectivos acima definidos teve-se em vista a acção específica dos Serviços de Saúde e Assistência, que continuará criteriosamente a desenvolver-se dentro de uma política geral de progresso económico e social desejado para a província. Por outro lado, não se pode deixar de sublinhar a repercussão benéfica que trarão aos problemas de saúde outras acções dentro dos programas para outros sectores, cuja influência na promoção da saúde é evidente, tais como os planos de habitação, de transportes e comunicações, de fomento agro-pecuário, educacionais e de saneamento básico.

a) Campanhas sanitárias

123. As directrizes gerais que deverão nortear toda a acção neste sector são as seguintes:

A acção principal a desenvolver em Cabo Verde, dentro de um programa de saúde a realizar nos anos mais próximos, deverá mostrar-se orientada no sentido da prevenção das doenças, tanto no âmbito da higiene pública (saneamento) como no que mais directamente incumbe aos serviços de saúde através da medicina preventiva.
A partir destas directrizes, prevêem-se como objectivos concretos de acção os seguintes:
Tuberculose.

1) Intensificação da profilaxia, resultante de uma campanha sanitária de carácter geral, com vista a educar as populações e a ensinar-lhes as regras basilares contra a doença;
2) Busca activa de doentes através de rastreios, designadamente radiofotográficos e bacteriológicos,
3) Funcionamento da conveniente assistência médico-cirúrgica aos enfermos.

Lepra - Prosseguimento da campanha que vem sendo desenvolvida até completa extinção dos casos existentes.
Ancilostomíase.

1) Intensificação da campanha de controle que vem sendo realizada, designadamente nas mais ilhas meridionais;
2) Desparasitação de massa periódica, para esta e para outras verminoses, e paciente acção educativa das populações rurais, continuando ao mesmo tempo a proporcionar às massas populacionais sistemas simples e pouco onerosos, como retretes e fossas para dar destino adequado aos dejectos.

Malária - Continuação da acção profiláctica contra o vector.
Dermatomicoses

1) Prosseguimento dos estudos sobre a etiologia,
2) Controle da propagação destas infecções.

Vacinações - Intensificação da vacinação antivariólica num ritmo que permita obter a protecção integral da população, com vista à erradicação da pestilência.
Protecção materno-infantil - Visa-se fundamentalmente a criação escalonada de novos dispensários materno-infantis nas áreas onde eles não existam e o reequipamento e remodelação de alguns dos existentes que ofereçam escassos rendimentos, por forma a torná-los em órgãos mais activos, de finalidade essencialmente profiláctica.

Alimentação e nutrição. - Visa-se proporcionar aos grupos populacionais mais embrionários o equilíbrio nutritivo desejável.

b) Assistência hospitalar

124. As directrizes gerais que deverão nortear toda a acção neste sector são as seguintes:

1} Continuação da construção de hospitais centrais e regionais, com vista à concentração de todos os meios técnicos adequados às suas funções, sem prejuízo de conclusão de obras em curso nos hospitais sub-regionais;
2) Promoção do estabelecimento de carreiras de médicos, e de técnicos auxiliares e de condições para a sua fixação nos centros regionais;
3) Estruturação de uma rede de transportes de doentes com elementos do sistema hospitalar;
4) Prosseguimento da política de reapetrechamento hospitalar.

A partir destas directrizes prevêem-se os seguintes objectivos concretos de acção:

1) Continuação das obras do hospital de S. Vicente,
2) Hospital da Ribeira Grande (Santo Antão);
3) Hospital do Sal;
4) Enfermaria para T. P. em S Vicente;
5) Enfermaria para T. P. em Santa Catarina;
6) Hospital central da Praia;
7) Outras obras a fazer eventualmente;

c) Formação de pessoal técnico e alargamento dos quadros.

125. Enquanto as novas instituições do nosso país (escolas técnicas dos Serviços de Saúde e Assistência, tanto na metrópole como no ultramar, bem como a Escola Nacional de Saúde Pública) não principiarem a produzir profissionais do nível desejado, será preciso acudir às necessidades mais próximas, nomeadamente as que vão resultando do impulso concedido à máquina assistêncial, e cuja rentabilidade máxima só pode esperar-se depois de devidamente dotada de pessoal capaz.
A partir desta directriz prevêem-se os seguintes objectivos concretos de acção:

1) Concessão de bolsas a médicos, para seguirem cursos de saúde pública, realizarem estágios de aperfeiçoamento ou tirarem especialidades clínicas, no território nacional ou estrangeiro;
2) Concessão de bolsas a pessoal técnico e administrativo, em geral, dos Serviços de Saúde e Assistência, para várias formas de aperfeiçoamento, em qualquer parte do território nacional;
3) Apoio ao ensino na escola técnica de enfermagem, sob as formas que forem julgadas mais convenientes;

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910 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

4) Assalariamento de diplomados pela mesma escola, para estágios de adestramento nos hospitais ou noutras formações sanitárias da província.
Quanto ao alargamento dos quadros de pessoal dos serviços de saúde, ele será extensivo a todas as categorias de pessoal de qualquer dos ramos técnico, administrativo e de assistência.

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

Programa de Investimentos

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

II

Guiné

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia
Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia da Guiné

1. A economia da província da Guiné situa-se num quadro físico caracterizado por acentuada pobreza orográfica, por uma rede hidrográfica extensa - cerca de 4000 km2 de superfície e susceptível de larga utilização, já que mais de 50 por cento do curso dos seus principais rios são navegáveis -, pela uniformidade das condições climatéricas, por uma gama restrita de recursos do subsolo e por uma grande variedade de solos.

2. Verdadeiro mosaico racial, a população da Guiné apresenta uma estrutura etária do tipo progressivo com predomínio quase absoluto - perto de 90 por cento
da população activa - do sector primário, ou mais particularmente da agricultura, silvicultura e pecuária. O ritmo de crescimento não é muito elevado, resultando predominantemente da existência de fluxos migratórios normalmente significativos.
Do ponto de vista social e cultural, verifica-se na população não alienígena, como reflexo de complexidade da sua composição étnica, grande variedade e variabilidade de características sociais e culturais.

3. Dotada de uma rede infra-estrutural, se não perfeita, pelo menos satisfatória para o nível de actividade presente, a economia guineense assenta fundamentalmente no sector agrícola, cuja gama produtiva, em razão do efeito combinado dos factores mesológicos e do processo de desenvolvimento económico, se caracteriza por alto grau de concentração.
A inviabilidade, até agora verificada, da exploração dos recursos mineiros conhecidos, entre os quais se salienta a bauxite, com jazidas estimadas em 110 milhões de toneladas, as limitações postas pelas características estruturais e dinâmicas da economia a um desenvolvimento significativo da indústria, a natureza essencialmente artesanal das actividades piscatórias, acentuam a importância relativa e absoluta da agricultura no panorama económico da Guiné.

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Apenas, com efeito, o comércio pode ser apontado como actividade relevante neste panorama, no que, aliás, desempenha papel propulsor na incentivação da produção e na progressiva monetarização da economia.

4. Predomínio da economia de subsistência e escassez de espírito empresarial, aliás concentrado nos sectores secundário e terciário, constituem factores de retardamento no processo de crescimento que, não obstante, vem desenhando curva ascendente apreciável.

5. Na óptica das relações económicas externas, a Guiné não se afasta do padrão usual em economias deste tipo. As suas exportações são, de facto, caracterizadas por alto grau de concentração e dependência geográfica e por um ritmo de expansão mais lento do que o observável quanto às importações
A assistência financeira da Administração Central e a circunstância de uma proporção muito elevada das suas exportações ser absorvida em condições favoráveis pelo mercado metropolitano dão a este quadro feição favorável do ponto de vista da balança de pagamentos

6. A relativa rigidez das receitas públicas em confronto com a nítida tendência para o crescimento das despesas estaduais, nomeadamente resultante dos aumentos dos encargos com os sectores sociais, torna a província dependente, no que se refere a investimentos, da ajuda financeira da Administração Central E ainda que se reconheça não ter ainda sido objecto de prospecção aprofundada, não se afigura provável encontrar na poupança local, nas condições actuais, possibilidades muito latas de mobilização para fins de formação de capital fixo

2. Evolução demográfica

7. A população, segundo o censo de 1960, á de 544 715 habitantes, correspondendo a uma densidade média de 15 hab/km2.

E escasso o elemento alienígena A população autóctone compreende cerca de 98 por cento do total e é constituída por diversos agrupamentos étnicos bem diferenciados Os principais são os Balantas, que representam cerca de 80 por cento do total de habitantes, os Fulas, 20 por cento; os Manjados, 14 por cento, os Mandingas, 12,5 por cento, os Papéis, 7 por cento, e os Brames, Beafadas, Bijagós, Felupes, Baiotes e Nalus, todos com quantitativos menores.
A população activa reparte-se pelos três sectores de actividade económica, segundo a proporção de*

Sector primário, 87,8 por cento,
Sector secundário, 8,2 por cento,
Sector terciário, 9 por cento.

8. A taxa anual média de crescimento demográfico situou-se, na década de 1950-1960, em cerca de 0,7 por cento Este acréscimo natural, obtido a partir dos dados dos censos, deve estar subavaliado, porquanto ignora os fluxos migratórios para o Senegal
Processam-se migrações de umas regiões para outras, em razão da pressão demográfica, que força os populações a procurarem novas áreas para cultura, e do tipo de agricultura itinerante frequentemente praticado
As correntes migratórias com o exterior têm tido normalmente duas razões principais* as actividades agrícolas sazonais e a cultura da mancarra nos territórios vizinhos (em particular as transacções comerciais com a Gâmbia e o Senegal).

9. Partindo de uma hipótese, que se reconhece como aceitável, de crescimento demográfico a uma taxa anual cumulativa de l por cento, pode estimar-se em 620 000 habitantes a população total em 1978
A estrutura etária não deverá modificar-se, prevendo--se que a respectiva distribuição, em 1978, atinja os seguintes efectivos

Grupos de idades:
Milhares
Até aos 6 anos ......................... 155
7-14 anos .............................. 80,6
15-60 anos . ........................... 859,6
Mais de 60 anos.........................24,8

3. Evolução do produto, rendimento e despesas Internas

10. Os valores do rendimento nacional estimados para a Guiné traduzem-se em capitações da ordem de 8400$, em 1958, e 4700$, em 1963
A evolução do rendimento provincial, a preços constantes, no período de 1953 a 1962, caracterizou-se por movimento (nitidamente ascensional.
A distribuição percentual do rendimento nacional pelas suas principais categorias oferece o esquema constante do quadro seguinte

[ver tabela na imagem]

O desdobramento do rendimento global em fluxos monetários e fluxos não monetários e a respectiva repartição percentual dos dois circuitos põem em relevo a importância relativa da economia de subsistência, como se pode observar nos quadros seguintes-

[ver tabela na imagem ]

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912 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

11.O produto interno bruto revela o predomínio dos ramos de actividade da «agricultura, silvicultura, caça e pesca»,«Comércio por grosso e a retalho»,«administração pública e defesa» e «serviços» (que em conjunto representam mais de 95 por cento do produto) sobre os restantes alguns dos quais, como«Electricidade, gás e água»,«Transportes, entrepostos e comunicações»
e «Propriedades de casas de habitação», não atingem sequer 1 por cento na sua participação relativa no quadro seguinte indica-se essa participação relativa de cada um dos ramos de actividade económica na formação do produto interno bruto aos preços do mercado nos anos de 1953, 1962, e 1963.

[ver tabela na imagem]

Pode concluir-se que, com excepção das componentes «Administração pública e defesa» e «Serviços», que melhoraram, e de «Electricidade, gás e água», que estacionou, todas as restantes viram reduzir, em favor daquelas, a sua participação relativa no produto interno bruto.

[ver tabela na imagem ]

Preços constantes

(a) A preços correntes

12. A despesa de consumo privado, que constitui a principal componente da despesa imputada ao produto nacional bruto (72, 85 e 96 por cento, respectivamente em 1953, 1962 e 1963), engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando com cerca de 98,9 por cento do total e estas com uma diminuta percentagem, que, em regra, pouco excede 1 por cento, mostrando como é pequena a importância directa que o sector associativo tem no circuito económico monetário da província.
A despesa de consumo privado, a preços correntes, revela ao longo do período considerado (1953, 1962 e 1963) um movimento ininterruptamente ascensional, que se mantêm para os valores a preços constantes, se exceptuarmos uma breve paragem em 1955. Este movimento foi fundamentalmente imprimido pela aquisição de géneros alimentícios, cuja participação total é, em média, da ordem dos 56 por cento e sofre a influência dos bons e maus anos agrícolas, que fazem variar a importância do autoconsumo na economia da Guiné.

A preços correntes

[ver tabela na imagem]

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A importância relativa das principais componentes da despesa de consumo das famílias pode ser observada no quadro seguinte

[ver tabela na imagem]

Os valores da despesa imputada ao produto nacional bruto, cuja evolução apresenta natural similitude com a do produto interno e do rendimento possível, são também relativamente modestos, embora revelando um acréscimo bastante satisfatório (à volta de 6 por cento) por ano E o dualismo económico da província, com um carácter predominantemente de subsistência, que faz aparecerem baixos esses valores A inclusão dos fluxos não monetários elevá-los-ia para um nível mais adequado à verdadeira realidade económica

Despesa imputada ao produto nacional bruto

A preços correntes

[ver tabela na imagem]

Como se observa, a despesa imputada aos fluxos monetários representa apenas, em média, 81,5 por cento do produto nacional bruto global.

No quadro seguinte pode agora ver-se a participação percentual das várias componentes do produto nacional bruto, no qual, como é evidente, a despesa de consumo privado figura em lugar cimeiro com mais de 80 por cento, em média, do total, revelando, como noutro momento se acentuou, uma satisfatória cadência de crescimento

[ver tabela na imagem]

13. Manteve a formação bruta de capital fixo uma cadência acelerada, paralela e semelhante á despesa do sector público, o que se explica por Ter sido o sector estado o principal responsável por essa cadência.

[ver tabela na imagem]
1008

No decurso do decénio de 1958-1062 a formação bruta
de capital fixo interior, a preços constantes, subiu de
48,4 milhares de contos para 122,2 milhares em 1962

4. Relações económicas com o exterior

14. O desequilíbrio estrutural há muito acusado pela balança comercial tem-se agravado sensivelmente a partir de 1962.

[ver tabela na imagem]

(a) Não Inclui a Importação do Estado a partir de Abril de 1964.

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O índice de cobertura das importações pelas exportações, salvo o ano excepcional de 1960, tem vindo a retroceder: de 81,6 por cento em 1959 passou para 25,2 por cento em 1965. Este indicador traduz com clareza e simultaneidade os seguintes fenómenos crescimento rápido das importações no último quadriénio e contracção das exportações.
A dependência da metrópole é muito elevada. Exceptuando 1959, a posição do movimento comercial com o território metropolitano tem sido sempre deficitária, acentuando-se a partir de 1962.
A exportação para os mercados estrangeiros, que nunca foi relevante tem-se reduzido (8920 contos em 1965)
Em contrapartida, as importações têm sofrido notável acréscimo nos últimos quatro anos (119 617 contos em 1965).
Analogamente, as relações comerciais, como as restantes parcelas do ultramar, de pequena importância, têm diminuído quanto a exportações (914 contos em 1965) e aumentado quanto a importações (17 439 contos em 1965).
Entre os produtos importados avultam o arroz, a farinha de trigo, a batata, o vinho, a cerveja, o tabaco, a gasolina, o gasóleo, os medicamentos, os tecidos de algodão, os tambores vazios ou servindo de tara e as viaturas automóveis.

[Ver quadro na Imagem]

Entre os territórios de origem ocupam posição de relevo a metrópole, o Reino Unido, os Estados Unidos da América, o Malawi, a República Federal da Alemanha, a Holanda, a França e o Canadá. A exportação de quase todos os produtos evidencia certa tendência decrescente.

[Ver Quadro na Imagem]

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[ver tabela na imagem]

(a) Inclui também m bagaços de coconota.
(b)Refere-se apenas á exportação para a metrópole.
(c) Previsão para o total do ano

È extraordinariamente elevado o grau de concentração das exportações dois únicos produtos - o amendoim e o coconote - polarizam os fornecimentos da Guiné ao exterior, o que faz com que a sua economia seja altamente vulnerável as condições climatéricas e às flutuações da procura externa. Com a pronunciada baixa na exportação de madeira em bruto e serrada verificou-se um agravamento do nível da concentração em torno dos dois produtos básicos 89,8 por cento do valor total exportado em 1966 couberam ao amendoim e ao coconote.
O grosso dos produtos exportados pela Guiné tem o seu mercado na metrópole  província de Cabo Verde é um importador tradicional de óleo de amendoim, madeira e arroz descascado. Entre os raros países importadores estrangeiros apenas interessa fazer menção à República Federal da Alemanha, à Holanda, à Checoslováquia, à França e ao Reino Unido.
Após ter acusado deterioração lenta, o valor médio da tonelada evidenciou uma nítida melhoria em 1964 e 1965.

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Pode considerar-se este indicador significativo, dada a natureza bastante uniforme e concentrada das suas exportações.
Em contrapartida, notou-se um decréscimo sensível no valor da tonelada importada a partir de 1961, conclusão,
em primeira análise, pouco representativa, em virtude da natureza diversificada das importações e diferentes pesos das suas componentes Deve-se ter registado, em qualquer caso, uma ligeira melhoria das razões de troca de economia externa guineense.

[ver imagem na tabela]

15. Apesar dos deficits da balança comercial, a posição face ao exterior, no que respeita aos pagamentos internacionais e internacionais, é satisfatória e a província tem podido solver os seus compromissos cambiais, como pode
observar-se no quadro seguinte O déficit considerável apurado em 1963 encontra-se, no presente, totalmente absorvido, mostrando a balança cambial um saldo francamente credor.

[ver imagem na tabela]

(a) Em março de 1068 entrou em vigor na província o sistema de pagamentos Interterritoriais o que provocou uma alteração na contabilização do movimento cambial
(b) No período do Janeiro - Outubro.

Esta situação favorável de pagamentos externos deve-se à arrecadação de invisíveis e, particularmente, em 1964 e 1965, às transferências realizadas pelo Estado.
Quanto à origem e proveniência das divisas, as relações com a metrópole dominam o quadro das transacções correntes e dos movimentos de capitais da Guiné Seguem-se-lhe em importância, mas ]á muito distanciados, o estrangeiro e as províncias de Cabo Verde, Angola e Moçambique.

5. Perspectivas de crescimento económico

16. No panorama económico da Guiné nota-se como sector fundamental, no passado, no presente e no futuro, o sector agrícola. Não parece, com efeito, lícito contar com os restantes sectores (com excepção da pesca e da indústria extractiva, neste último caso na condição de se encontrar situação rentável para a exploração das bauxites do Boé e de se confirmarem as expectativas de jazidas de hidrocarbonetos) como propulsores desta economia, mas sim como sectores susceptíveis de expansão induzida.

A análise genérica das características essenciais da agricultura guineense leva a indicar como sentidos mais prometedores da expansão do seu produto, e, por conseguinte, do produto interno global, o aumento da produtividade por unidade de superfície e por agricultor e a diversificação da gama produtiva. Tais sentidos de acção não envolvem volumes de investimentos proporcionais aos acréscimos de produção resultantes, mas implicam a possibilidade de disposição de recursos técnicos amplos, flexíveis e perfeitamente adaptados ao meio em que vão agir através de um esforço intenso de extensão agrária, de combate às doenças e parasitas das plantas e dos animais, de distribuição de sementes e reprodutores melhorados, etc.
Há, além disso, que levar em conta a necessidade de vencer a resistência, alicerçada em práticas rotineiras e em fundamentos etno-culturais, às inovações, aos métodos de trabalho não familiares, o que é característica das sociedades agrícolas tradicionais em todas as latitudes.

17. A aceleração do processo de integração da economia de subsistência e a propagação do espírito da empresa, tão escasso em estruturas sócio-económicas deste tipo, deverão, por outro lado, constituir, na programação do desenvolvimento da província, outra linha de preocupação e de es-

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Forços a prosseguir, não apenas através do efeito de demonstração e do apoio decidido às novas iniciativas e aos novos empresários, mas também por uma intensa actividade de informação e educação
Daí o significado económico de toda a acção a desenvolver no campo da promoção social através da educação, da melhoria das condições de vida, da assistência sanitária, do combate às grandes endemias e da subida e enriquecimento do nível alimentar das populações não alienígenas, acção esta cujo impulso essencial se encontra no propósito de valorização humana que constitui constante da acção portuguesa no mundo.

18. Como apoio a todo este complexo de acções, haverá que prosseguir e ampliar a obra realizada em matéria de infra-estruturas, nomeadamente no que diz respeito ao completamento da rede rodoviária e de comunicações, a melhoria dos portos disponíveis e a aceleração dos investimentos de natureza social, cuja disponibilidade representa normalmente para as populações guineenses sinal mais evidente da utilidade do planeamento sócio-económico e impulso mais decisivo para uma maior comparticipação na obra a realizar.

CAPITULO II

Objectivos

19. No caso particular da Guiné, os objectivos gerais devem ser explicitados atendendo à necessidade de:

a) Assegurar um ritmo de acréscimo do produto provincial mais acelerado do que na metrópole, de modo a tentar diminuir o desnível verificado;
b) Procurar reduzir as disparidades de padrões de vida e níveis de rendimento dos estratos sócio--económicos em que se reparte a estrutura social da população, nomeadamente através de três grandes ordens de esforços
Promoção social da população do sector tradicional, em particular dos pontos de vista cultural, sanitário e alimentar;
Fomento de actividades que promovam a integração do autóctone nos circuitos de economia de mercado;
Dar muito vincada ênfase às medidas e incentivos que concorram para a expansão do sector empresarial.

Neste contexto, importa, porém, notar ter sido considerado urgente que através do III Plano se realizasse um equilíbrio entre classes de investimentos programados, por forma a que não fossem prejudicados os seus objectivos, nem um grau suficiente de produtividade dos empreendimentos, nem a estabilidade financeira provincial. Houve que ponderar a selecção dos novos investimentos, com a preocupação dominante de evitar desperdícios e resolver de maneira satisfatória a opção ao nível das prioridades, entre investimentos de menor período de maturação e mais directa reprodutividade e investimentos de repercussões menos visíveis e mais diferidas (investigação, experimentação, estudos básicos incidentes sobre os vários sectores e infra-estruturas económicas e sociais).

20. Em virtude da presente conjuntura e da dificuldade em se aproveitarem as tendências do passado e as perspectivas do presente para extrapolar as projecções de desenvolvimento futuro, afigurou-se pouco operante a aplicação da metodologia correntemente seguida na construção de modelos de crescimento.
O grau de relevância da economia monetária e a fraca densidade da estrutura e cobertura empresarial não permitem a formulação em termos válidos de modelo formal de desenvolvimento.

21. Convém ainda referir que, para absorver o acréscimo demográfico no período do III Plano, sem entrar em linha de conta com uma eventual política de transferência de população activa subempregada no sector primário, haverá que criar os seguintes novos empregos nos sectores secundário e terciário.

[ver tabela na imagem]

A política económica em geral, e a agrícola em particular, deverão, pois, contar com um aumento substancial da população na agricultura e visar uma utilização mais intensiva da população activa rural subempregada e em expansão, em ordem à melhoria das produtividades da terra e do trabalho.

CAPITULO III

Financiamento do programa provincial de investimentos

I. Administração Central

22. O recurso a esta fonte de financiamento assegurou nos anteriores planos de fomento a cobertura quase total dos investimentos nela inscritos.
Com efeito, aquela ajuda só não cobriu integralmente, como se pode ver no quadro seguinte, os investimentos no II Plano, em que abrangeu apenas 64,4 por cento do total.

[ver imagem na tabela]

(a) para todo o plano.
(b) Dotação ajustada.

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23. Fará o III Plano a única hipótese de financiamento para os empreendimentos previstos no programa imperativo reside na assistência financeira da Administração Central.
De facto, não se afigura possível esperar qualquer contribuição de poupança pública local para o financiamento de programas de investimentos para o III Plano Poderão, no entanto, vir a ser afectadas para este efeito as rendas a pagar pela concessionária de pesquisas petrolíferas.
Não se oferecendo às finanças provinciais quaisquer possibilidades de financiamento, também não haverá lugar a referências às possibilidades da administração local, daquela tão Intimamente dependente, ou de entidades para-públicas.

2. Administração provincial

24. De acordo com as estimativas provisórias das contas provinciais em 1962, era de 21,8 por cento a razão entre as despesas públicas (ordinárias e extraordinárias) e a despesa imputada ao produto provincial bruto a preços- de mercado (despesa provincial), e de 26,8 por cento a proporção entre as receitas públicas (ordinárias e extraordinárias) e o rendimento provincial. A despesa de consumo do Estado participava em 18,4 por cento na despesa provincial.

25. O quadro seguinte esclarece sobre a evolução das receitas ordinárias e extraordinárias arrecadadas

[ver tabela na imagem]

Receitas públicas

Observa-se que, a despeito da situação anormal, as receitas totais cresceram regularmente, tendo contribuído especialmente para o acréscimo global o incremento das receitas extraordinárias As receitas ordinárias cobradas evoluíram, por classes, da forma seguinte:

[ver tabela na imagem]

26. A tendência de evolução das receitas extraordinárias foi dominada, no hexénio em análise, por duas forças de sentidos opostos o decrescimento, até à anulação em 1964, do rendimento de concessões petrolíferas» e o acentuado crescimento dos empréstimos da metrópole ao abrigo dos planos de fomento. Em 1966 foi afectada ao financia-

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mento do Plano Intercalar de Fomento a importância de 40 000 contos, correspondente à renda de concessão petrolífera, renovada no princípio do ano, devida pelo ano de 1966 e pela antecipação de 25 por cento das rendas dos quatro anos imediatamente seguintes.

[ver tabela na imagem]

27. È de frisar a «recuperação» das despesas públicas, quer ordinárias. quer extraordinárias, a partir de 1962, e em especial de 1963 para 1964.

[ver tabela na imagem]

No mapa abaixo discriminam-se as variações das despesas ordinárias por
Capítulos.

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[ver imagem na tabela]

28. As despesas extraordinárias foram quase exclusivamente cobertas pelas verbas provenientes das fontes do financiamento indicadas na rubrica relativa a despesas extraordinárias

[ver imagem na tabela]

29. Do exposto se conclui que a província não pode contar com segurança com recursos financeiros próprios para cobertura dos investimentos para o seu desenvolvimento.

3. Instituições de crédito

30. O crédito privado é praticado quase exclusivamente pelo único estabelecimento bancário da província, a filial do Banco Nacional Ultramarino, sob a forma de crédito comercial a curto e médio prazos Este Banco contribuiu também para o financiamento do Plano Intercalar de Fome, to através de um empréstimo ao Governo provincial no montante de 12 000 contos, aplicado no sector dos transportes e comunicações.
Funciona também uma Caixa Económica Postal, que outorga crédito sobre garantia imobiliária e vencimentos. A escassez do seu volume de depósitos impõe-lhe um papel muito limitado como eventual fonte de financiamento do desenvolvimento.
A «Caixa de Crédito», já criada e cujo objectivo é a concessão de crédito agrícola, pecuário, industrial e imobiliário com vista ao desenvolvimento económico-social da Guiné, é o primeiro instituto de crédito especializado verdadeiramente orientado para a satisfação das necessidades do financiamento da economia provincial.
Para além do financiamento dos empreendimento» previstos no III Plano, nos sectores de obras pública» em autarquias locais e da comparticipação no crédito predial, há ainda possibilidade de os bancos comparticiparem também no capital e investimentos no sector privado.

4. Particulares e empresas

31. Admite-se poder dispor-se, em capitais de origem externa, de um montante de 894 000 contos para a pesquisa de hidrocarbonetos naturais A este quantitativo poderão juntar-se, provenientes de autofinanciamento das empresas, da mobilização da poupança local ou do recurso destes ao crédito externo, os montantes necessários para financiar, com o sector público, a instalação de novas empresas de pesca e transformação de pescado, da primeira fase do entreposto frigorífico de Bissau e para montagem de outros complexos fabris de bebidas refrigerantes.
A mobilização da poupança local de empresas e famílias é ponto a considerar, assim como, no processo de desenvolvimento, a possível participação do Banco de Fomento Nacional.

Resumo do programa de financiamento

[ver imagem na tabela]

CAPÍTULO IV

rogramas sectoriais

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

32. A Guiné apresenta uma estrutura típica das economias do continente africano. Efectivamente, observa-se a coexistência de um sector da economia de subsistência ou

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tradicional, no qual vive a grande massa da população, e de um sector de economia de mercado ou monetário. Segundo estimativas de 1962, o primeiro participa com 71,2 por cento no rendimento nacional e o segundo com 28,9 por cento.
Por isso, o desenvolvimento económico terá de processar-se alicerçado no fomento e comercialização da agricultura tradicional e na implantação de indústrias transformadoras de produtos agrícolas.

33. Para já, importa sobremaneira, em ordem ao estabelecimento das funções de uma lavoura racional e ao incremento da sua produtividade.

a) Promover a transformação das técnicas agrícolas, mediante um esforço simultâneo de investigação básica, experimentação e vulgarização;
b) Tomar medidas para a conservação da fertilidade dos solos,
c) Introduzir métodos intensivos de cultivo e culturas regadas (hortas e pomares) que ajudem, paralelamente, à resolução dos problemas do desemprego estacional;
d) Abandonar o puro regime colector, substituindo-o, progressivamente, por uma economia de plantação,
e) Vencer a monocultura, realizando uma diversificação de culturas que subtraia a província b vulnerabilidade do seu comércio exportador,
f) Rever o regime de comercialização dos produtos;
g) Montar um sistema de crédito e do incentivos à criação de unidades básicas cooperativas (armazéns e celeiros comerciais, cooperativas agro-pecuárias, etc ), sobre as quais ele se possa apoiar para actuar eficazmente.

34. Julga-se oportuno dar uma nota sobre os principais produtos da actividade agrícola e silvícola e programas de valorização em curso de execução, a par de uma breve análise prospectiva Tentar-se-á apenas chamar a atenção para os aspectos fundamentais, limitando, tanto quanto possível, o âmbito das considerações

Arroz de bolanha

O arroz constitui a base da alimentação dos povos guineenses Sendo a cultura alimentar de maior interesse, é também a cultura mais rendosa para o agricultor.

Médias máximas - 1800-2000 kg/ha;
Médias mínimas - 800-600 kg/ha

Culturas de sequeiro

Nas culturas de sequeiro, o esforço desenvolvido não é de forma alguma compensado pelos magros resultados que se conseguem, utilizando as técnicas tradicionais. Atente--se só nas produtividades atingidas.

Arroz de sequeiro

Área cultivada - 28 265 ha (5,9 por cento da área total).
Produção total - 10 080 t.
Produção unitária geral - 855 kg/ha

Milhos (asíl, cavalo e preto)

Área cultivada - 154 621 ha (32,1 por cento da área total),
Produção total - 49 796 t,
Produção unitária geral - 822 kg/ha.

Precedida frequentemente de derruba e queimada, a cultura do arroz de sequeiro e de milhos tem sido um dos principais responsáveis pelos danos causados na floresta e factor importante de destruição da fertilidade dos solos.
O arroz de sequeiro e os milhos são frequentemente cultivados em sistema de rotação com a mancarra (cereal-mancarra-pousio) ou em regime de consociação com ela.

Fundo

Área cultivada - 88 488 ha (6,9 por cento da área total),
Produção total - 9717 t;
Produção unitária geral - 291 kg/ha.

Mandioca

O fomento da mandioca reveste-se de uma certa relevância, pela riqueza de virtualidades que apresenta nos aspectos alimentar e industrial. Efectivamente, na mandioca, praticamente, tudo é aproveitável. Do ponto de vista nutricional, o tubérculo constitui um alimento relativamente pobre e desequilibrado, embora de valor calórico suficiente, é escasso o seu conteúdo de proteínas, sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e vitaminas Porém, resiste bem às irregularidades climáticas e supre, sem grandes inconvenientes, a falta de outras substâncias alimentares Já, ao contrário, as folhas da mandioca são mais ricas naqueles componentes que qualquer das hortaliças vulgares.
O fomento da sua cultura»estaria indicado, pois

a) Actuaria como mola diversificadora da agricultura tradicional,
b) Constituiria uma aplicação rendosa para o trabalho do agricultor Segundo estudos efectuados, são vulgares produtividades da ordem das 20-25 t/ha, para o que é apenas suficiente uma certa disciplina nas técnicas de cultivo e uma conveniente selecção de variedades Em culturas evoluídas, recorrendo a uma intensificação de capital, atingem-se produções unitárias entre 40-60 t/ha e superiores.

Convém, todavia, frisar que uma política de cultura de mandioca deve ser apontada à luz de dois factores.

Possibilidades de absorção da produção pelos mercados interno e externo, posto que a sua colocação poderá encontrar dificuldades, em confronto não só com os grandes exportadores (Brasil, Indonésia, Madagáscar), mas também com outras províncias ultramarinas (Angola e Moçambique).
Flutuações das cotações internas e, sobretudo, internacionais, visto que a procura da mandioca está fortemente condicionada pela produção de outros amidos, designadamente dos extraídos da batata, do milho e do arroz.

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Amendoim

Numa estimativa efectuada recentemente pelos Serviços de Agricultura e Florestas, com base nos quantitativos do sementes distribuídos, calculou-se a área actualmente cultivada como sendo superior a 28 500 ha
A cultura da mancarra é, em regra, feita pelo agricultor autóctone, sem boas sementes, nem adubações ou estrumações Trata-se de uma cultura que lhe proporciona fracos réditos e é das que lhe exigem maior esforço na sementeira, monda e colheita. A rigidez do aparelho de comercialização da mancarra, de que depende o grosso da exportação guineense, as baixas cotações e as produções unitárias são factores desencorajantes, que apenas se mantêm devido ao regime monocultural dominante e, por consequência, à precariedade ou inexistência de outras fontes de rendimento.
Abstraindo do objectivo primário, que é o combate á monocultura, as medidas a tomar a favor do fomento desta araquídea deverão visar.

A disseminação de sementes melhoradas,
O recurso às adubações, O emprego de métodos racionais de cultivo, A industrialização.

Palmeira- do - azeite

Os povoamentos naturais de palmeira-do-azeite - Elacus guineensis - encontram-se dispersos em florestas e savanas por quase todo o território, mas concentram-se, especialmente, em mais vastas e densas manchas, no arquipélago dos Bijagós, na circunscrição de S Domingos (regiões de Varela e Susana), no concelho de Cacheu (regiões de Cacheu, Calequisse, Catió, ilhas de Jeta e Pecixe) e no concelho de Bissau (Prábis) Encontram-se ainda, aglomerados de certa importância nas regiões de Bissorã e Olossato, na floresta do Oio, junto dos nos Geba e Corubal, em Bedanda, Empada e Catió.
As linhas mestras que devem reger a política de fomento e aproveitamento desta oleaginosa já estão traçadas em variados estudos.
O desenvolvimento da oleicultura só é viável pela actuação em profundidade e intensidade numa única região, com o fim de estabelecei, a curto prazo, uma plantação suficiente para o abastecimento de uma unidade de produção de óleo de polpa, coconote e tourtcaux, e dimensionada à escala do mercado internacional
Em 1966, foi recuperada e posta a funcionar, a expensas e sob administração directa do Governo provincial, a antiga fábrica de óleo de Bubaque, parecendo impor-se um prévio estudo técnico-económico com o objectivo de montar uma nova unidade, dimensionada em moldes modernos, não descurando embora o reaproveitamento do complexo infra-estrutural já existente.
Na ilha Formosa estão também a funcionar duas pequenas unidades fabris de óleo de palma, apoiadas na colecta dos palmares naturais, cada qual com uma capacidade de laboração diária de 8 t de fruto.

Fruteiras. Bananeira

São pouco variadas as culturas frutícolas na Guiné, bananeira, ananás, citrinas (laranjeira e limoeiro), Pa pareira, mangueira, coleira, cajueiro e coqueiro. Contrariamente ao que seria de desejar, nenhuma delas jamais foi objecto de programa que se possa qualificar como de valorização e de expansão.
O ananás apresenta perspectivas merecedoras de atenção, quanto mais não seja, numa fase inicial, para consumo interno A papaieira e a mangueira são espécies cuja abundância e adaptabilidade particular à ecologia guineense justificam, só por si, desde que sujeitas a uma prévia selecção e intensificação das variedades mais apreciadas, um aproveitamento orientado directamente para o mercado e fabrico de compotas A cola poderia também vir a ocupar lugar de relevo na exportação provincial, para o que se carece de medidas apropriadas de intensificação e racionalização da cultura.
Na Guiné, as zonas do litoral sul, especialmente a região de Cacine, parecem apresentar condições mais favoráveis paia o fomento bananícola Convém frisar, porém, que as zonas eleitas deverão ter superfícies capazes de produzir quantitativos tais que justifiquem economicamente as infra-estruturas de escoamento que haja que criar, e a consideração desta determinante elimina automaticamente a prática de uma bananicultura dispersa.
A industrialização da banana, nomeadamente no que concerne ao fabrico de farinha de banana, tem um carácter meramente subsidiário, não se crendo que seja determinante muito válida para o fomento da cultura.

Florestas

Embora se encontrem algumas manchas de floresta seca densa em S Domingos, nas regiões de Catió, Castanhês e Cacine, é a floresta seca aberta que constitui o tipo dominante na província, desenvolvendo-se principalmente nas regiões do sublitoral e cobrindo uma faixa no sentido norte-sul, que abrange as regiões de Farm., Olossado, Mansabá, Mansoa, parte do concelho de Bafatá e Fulacunda São conhecidas, pela sua importância, as florestas de Guedage, Oio, Xime e Fulacunda Depara-se também floresta hidrófila ao longo das margens dos cursos de água (florestas de galeria) e do litoral.
De momento não será viável lançar uma política da repovoamento florestal através de uma acção conjugada nos domínios da investigação e da execução No entanto, dadas as relações fundamentais que existem entre florestas, fertilidade do solo, erosão e bualização, afigura-se ser a floresta, para além dos aspectos económicos, uma das formas de ocupação da terra guineense mais justificada.

Outras culturas e actividades agrícolas

a) Cultural alimentares

Cultiva-se o feijão um pouco por toda a província, muitas vezes em sistema de rotação ou de consociação com a mancarra e os milhos A despeito das baixas pro duções unitárias, conviria talvez, do ponto de vista nutricional, incentivar o cultivo desta leguminosa Encontra-se, também, com certa frequência, a batata-doce e o inhame.

b) Culturas industriais

No ramo das oleaginosas, o gergelim e a purgueira são de diminuto interesse comercial e peso insignificante na exportação O primeiro fornece um óleo alimentar, a segunda é empregada no levantamento de sebes e o seu óleo tem aplicação na indústria de saboaria.
Relativamente às possibilidades da indústria açucareira na Guiné, parece estar demonstrada a inviabilidade da instalação racional de um empreendimento à escala industrial.

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A cultura do cajueiro tem tomado, nos últimos anos, um grande desenvolvimento, dando lugar à exportação da castanha de caju para Moçambique, onde é industrializada, enquanto não se justifica a montagem de uma unidade fabril na província.
A borracha na Guiné é principalmente extraída de uma trepadeira, a Landolphia, cuja dispersão pelas matas da província torna pouco rendosa a recolha. Também aqui, a semelhança dos palmares naturais, dominou sempre o regime meramente colector, a produção, muito irregular, andou sempre ao sabor das flutuações das cotações internacionais e das perturbações político-económico-sociais nos grandes centros produtores. De uma maneira geral, a linha de tendência da exportação tem sido pronunciadamente decrescente.

Apicultura

As áreas de Bafatá e do Gabu e as extensas savanas e florestas da região de Farim parecem apresentar condições particularmente favoráveis para o desenvolvimento apícola. A criação de apiários experimentais está ainda numa fase muito embrionária - alguns foram montados recentemente no Posto Agrícola do Pessubé.

A produção pecuária

Em 1961, os efectivos pecuários da província eram os seguintes

Espécies. Número de cabeças

Bovina 230 286
Ovina 53 859
Caprina 143 712
Suína 98 206
Asinina 3 858
Equina 64
Galináceos 492 865
Palmípedes 7 566
Perus 210
Pintadas 2 571
Coelhos 137

Face a estes números, não se mostrará paradoxal a afirmação de que o gado existente parece ser suficiente para as necessidades actuais, se bem que uma mais fácil acessibilidade aos centros consumidores e uma radicação ou generalização do hábito de comer carne por parte dos autóctones fossem susceptíveis de incrementarem sensivelmente o consumo. Mas a asserção é tanto mais verdadeira quanto é certo que a província, por ora, não apresenta condições propícias ao desenvolvimento pecuário, designadamente por falta de pastos, forragens e de assistência técnico-sanitária apropriada.
Os objectivos que devem guiar a política pecuária são os seguintes:

a) Promover o estabelecimento e alargamento de um serviço operante de assistência técnica por meio de agentes pecuários,
b) Educar o proprietário ou criador de gado em moldes realistas, segundo as modernas concepções da técnica.

Ainda dentro do sector da pecuária, falta fazer uma referência à produção de couros e peles, que o ganadeiro autóctone curte por processos rudimentares. Estes dois produtos têm um certo peso na exportação.

2. Objectivos

35. Consideram-se os seguintes objectivos

1. Agricultura

Promover a transformação das técnicas agrícolas tradicionais, vencendo a quase monocultura e tomando medidas para a conservação da fertilidade dos solos,
Rever o regime de comercialização dos produtos e montar um sistema de crédito que leve à criação de novas empresas agrícolas e de estruturas pré-cooperativas ou cooperativas.

2. Silvicultura

Melhoria da utilização dos produtos florestais;
Protecção e regeneração do coberto arbóreo,
Expansão da plantação de árvores fornecedoras de recursos suplementares (frutos, forragens e lenhas).

3. Pecuária

Melhoramento das raças locais,
Melhoramento da exploração das mesmas,
Intensificação da assistência veterinária,
Combate às doenças enzoóticas e epizoóticas

3. Investimentos

36. Estabelece-se o seguinte programa de actuação.

1. Fomento da recursos agro-silvo-pastoris

1 1. Agricultura

a) Montagem de um parque de utensilagem agrícola manual e de tracção animal, adaptado às condições tropicais e promoção do fabrico local da mesma utensilagem,
b) Remodelação e ampliação do parque de tractores agrícolas, de modo a poder cumprir os trabalhos de desbravamento necessário à expansão dos cultivos da palmeira-do-azeite, cajueiro e mandioca, ou de novas áreas para arroz onde a disponibilidade da mão-de-obra o justifique,
c) Organização da secção de vulgarização e animação rural,
d) Ampliação e manutenção do viveiro de palmeira-do-azeite (Elaeis guincensis) na ilha de Bubaque e estabelecimento de um viveiro na ilha das Galinhas,
e) Reconversão dos 1043 ha de palmar natural da reserva da ilha de Bubaque,
f) Plantação de 200 ha de palmeira-do-azeite na região do Prábis (ilha de Bissau), de acordo com o plano do centro piloto,
g) Plantação de um núcleo de 10 ha de bananeiras na ilha de Bissau para multiplicação de plantas e estudo,
h) Estabelecimento de 400 ha de mandioca nos concelhos de Bafatá e Gabu, acompanhando a expansão do cajueiro,
i) Estabelecimento de 800 ha de mandioca no concelho de Bissau;

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924 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

j) Lançamento de uma campanha de intensificação da cultura de amendoim através do recurso à animação, tracção animal e adubação,
l) Desenvolvimento da apicultura nos concelhos de
Bissau, Cacheu, Bafatá e Gabu,
m) Lançamento de uma acção de intensificação de cultura orizícola.

1.2. Silvicultura

a) Delimitação de uma reserva integral,
b) Recolha de sementes das espécies mais valiosas para ensaios de germinação;
c) Construção e manutenção de cinco pequenos viveiros florestais contíguos às cinco explorações «escola-granja» previstas,
d) Plantação nas comunidades rurais de Gabu e Ba-
fatá de 2400 ha de cajuais;
e) Plantação na ilha de Bissau de 2000 ha de cajuais,
f) Plantação de 200 ha de cajuais na ilha das Galinhas.

1.3. Pecuária

a) Aproveitamento de terrenos na Estação de Fomento Pecuário do Pessubé e Estação Zootécnica de Bissorã para a produção de forragens,
b) Ocupação pecuária e técnica dos postos de sanidade pecuária de Bolama, Mansoa e S. Domingos;
c) Aquisição de material para a conservação de rações,
d) Construção e apetrechamento de um laboratório em Bissorã,
e) Aquisição de soros, vacinas e carracicidas,
f) Montagem de seis chuveiros aspersores,
g) Aquisição de medicamentos;
h) Aquisição de suplementos alimentares.

2. Esquema de regadio e povoamento

Estabelecimento de um centro-piloto de desenvolvimento rural para 25 famílias autóctones na região de Prábis (concelho de Bissau) com 100 ha de terra regados pelo aproveitamento de águas subterrâneas.

3. Crédito agrícola

Dotação da Caixa de Crédito Agrícola da Guiné com o objectivo de financiar empreendimentos privados.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

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II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

37. A evolução da actividade piscatória foi, nas suas linhas gerais, a seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

38. Estes dados reportam-se em exclusivo à chamada «pesca industrial». A par desta, há que contar com a pesca de subsistência, ou artesanal, feita em pirogas - «dondos» -, segundo as rudimentares artes tradicionais, e que ocupará à volta de um milhar de pescadores, cada um dos quais deve retirar, em média, das águas piscosas em que opera (Bijagós, Bissau, Bolama e Cacheu, principalmente), cerca de 600 kg/ano. A faina piscatória, neste sector, evidencia o carácter tipicamente estacional na época seca, em especial no período de Fevereiro a Maio, a quase total paralisação dos trabalhos agrícolas motiva uma maior participação da população activa na pesca.

39. O número de actividades complementares ou induzidas pela pesca é diminuto e de pouco relevo.
Existe, com efeito, apenas uma fábrica de farinha de extracção de óleo de peixe, de reduzida dimensão e dotada de equipamentos obsoletos. Está instalada na ilha de Caravela (Bijagós). De produção e exportação intermitentes, a fábrica deve absorver, em época de funcionamento normal, cerca de 2400 t de peixe por ano. Além disso, regista-se a existência de unidades artesanais de preparação rudimentar de peixe seco ou fumado para consumo e uma pequena unidade de produção de gelo para conservação do pescado. Dentro da preocupação de dotar a província com rede de frio, criaram-se, no âmbito do Plano Intercalar, instalações frigoríficas com o dimensionamento conveniente para o abastecimento interno.

2. Objectivos

40. Os fins a alcançar no III Plano de Fomento visam:

Povoamento piscícola das águas interiores,
Regularização do consumo interno de peixe, com medidas que promovam o aumento e melhoria da frota pesqueira,
Montagem de rede de frio, a efectivar em esquema de conjunto no quadro dos investimentos a realizar no sector do comércio,
Renovação das indústrias transformadoras do pescado,
Regulamentação do exercício das entidades de pesca e afins.

3. Investimentos

41. No âmbito deste sector prevê-se o seguinte programa

1. Pesca

a) Povoamento piscícola das águas interiores,
b) Construção de pequenas embarcações,
c) Subsídios a armadores - aquisição de embarcações de pesca de arrasto e de moderno equipamento de bordo,
d) Ajudas à navegação de pesca

2. Industrialização

Instalação de novas empresas de pesca e de transformação de pescado.

Pesca

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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926 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Indústrias extractivas

42. Os estudos de geologia de superfície, realizados por numerosos geólogos nacionais e estrangeiros, e os trabalhos de geologia profunda efectuados por iniciativa do Governo da província levaram a um conhecimento geológico da Guiné Portuguesa que permite desde já a publicação de uma carta geológica, o estabelecimento de um programa de prospecção mineira e a elaboração de um esboço hidrogeológico.

43. Até agora a prospecção de jazigos minerais incidiu apenas sobre o petróleo e os conjuntos ilmenite-zircónio e alumínio-vanádio, aos quais se atribuíram reservas totais da ordem dos 110 milhões de toneladas de minério, que se considera pobre, mas aproveitável. Na pesquisa e exploração de petróleo, procedeu-se ao pré-reconhecimento geológico de toda a província e ao reconhecimento sistemático da mancha ceno-mesozóica, efectuando para o efeito estudos gravimétricos e sísmicos, sondagens estratigráficas e profundas, algumas acompanhadas de diagramas sónicos, nucleares e eléctricos, não se tendo descoberto petróleo. Reiniciados os trabalhos de 1966, após nova concessão, vem sendo feita intensa prospecção sísmica na área marítima.

2. Indústrias transformadoras

44. É diminuto o significado das indústrias transformadoras existentes na economia da província, com efeito, absorvem uma parcela minúscula da população activa pelo censo de 1950, não deveria sequer atingir os 2 por cento, e abrangia um número escasso de actividades e unidades, reduzindo-se praticamente ao aproveitamento de três produtos - o amendoim, o arroz e o cachéu - e a algum artesanato de carácter mais ou menos rudimentar. Muito baixo é também o grau de transformação operado e a laboração é, em geral, intermitente. Por conseguinte, é pouco importante o valor acrescentado. Em 1962, a parte do produto interno bruto a preços de mercado originados pelas indústrias manufactureiras não excederia 1,2 por cento.
A produção industrial no período de 1959-1965 foi a que consta do mapa seguinte:

[Ver Mapa na Imagem]

(a) Esta dados referem-se só à produção das principais explorações fabris declarada aos serviços de economia. A exportação de amendoim descascado tem sido muito superior.
b) Quantidade exportada
c) A produção de limonadas ocupa o l º lugar, seguida da de laranjadas
d) Quantidade exportada para a metrópole.

[Ver Mapa na Imagem]

Nos últimos três anos, as produções de arroz descascado, óleo de palma e farinha de peixe caíram verticalmente. Decresceram também as produções de sabão e refrigerantes. Apenas manteve um passo regular de crescimento a extracção de óleo de amendoim.

45. Sobre as perspectivas, a mais ou menos largo prazo, no campo das indústrias transformadoras e complementares da agricultura, silvicultura, pecuária e pesca, apresenta-se a seguir um quadro de potencialidades, que não tem, de forma alguma, a pretensão de ser exaustivo.

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30 DE JUNHO DE 1967 927

a) Com base na oferta interna disponível de matérias-primas

Industrialização integral do amendoim (expansão do descasque, extracção completa de óleo e valorização dos bagaços esgotados),
Extracção do óleo de coconote e produção de tour-teaux

b) Com base na oferta interna potencial de matérias-primas

Farinação de mandioca (por via seca, numa primeira fase), como integrante do desenvolvimento da cultura em curso, prevendo-se uma unidade com a capacidade mínima de 1500 t anuais (1200 t para consumo interno - incorporação de 20 por cento de farinha de mandioca no fabrico do pão - e 300 t para exportação com destino a Cabo Verde), Extracção de óleo de palma no arquipélago de Bijagós, (recorrendo a um sistema de exploração simultânea do palmar natural e do palmar plantado até ao completo abandono do primeiro, ao cabo de dez anos,
Melhoria e expansão da produção de refrigerantes, Preparação de álcool industrial e aguardente, Melhor aproveitamento dos produtos florestais

Reestruturação (e possível concentração) e modernização da indústria de serração de madeira,
Desenvolvimento da carpintaria e da confecção de mobiliário,

Intensificação do fabrico de sabões,
Extracção e preparação industrial do mel e cera,
Curtimenta artesanal,
Conservação, farinação e extracção de óleos de peixe

c) Com base na laboração local de matérias-primas predominantemente importadas e com o objectivo fundamental de substituição de importações de produtos acabados

Produção de cervejas,
Moagem,
Mossas alimentícias, bolachas e biscoitos,
Fabrico de artefactos de plástico (nomeadamente utensílios domésticos e sandálias),
Calçado,
Fabricação de material e utensilagem agrícola simples,
Fabrico de produtos cerâmicos e modernização de cerâmica (telhas e tijolos),
Montagem de uma unidade metalúrgica de fundição (2.ª fusão) e de uma pequena unidade metalomecânica eventualmente integradas.

d) Outras indústrias

Vulcanização e recauchutagem,
Modernização da pequena indústria de construções e reparações navais,
Aperfeiçoamento e valorização de artesanato no que se refere a ourivesaria, cestaria, tecelagem e estampagem de panos

2. Objectivos

46. Os objectivos em vista são os seguintes

1. Indústrias extractivas

Elaboração da carta hidrogeológica do plano geral de captação de águas,
Verificação do interesse dos diversos objectivos minerais,
Pesquisas de hidrocarbonetos naturais

2. Indústrias transformadoras

Lançamento de novas indústrias transformadoras, em especial as complementares da agricultura,
Canalização de capitais internos e externos para a indústria

3. Investimentos

47. No decorrer do III Plano de Fomento prevêem-se os seguintes trabalhos:

1. Indústrias extractivas

a) Estudo e aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

1) Elaboração da carta hidrogeológica,
2) Execução do plano da captação de águas

b) Fomento mineiro

1) Estudo em relação com os objectivos já consignados no Plano Intercalar de pesquisa de ilmenites, colites ferruginosas, fosfatos e quartzo,
2) Pesquisas de hidrocarbonetos naturais

2. Indústrias transformadoras

a) Estudos,
b) Ampliação, renovação e criação de novas indústrias

1) Montagem de novos complexos fabris,
2) Dotação de uma sociedade financeira de fomento

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

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928 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

IV) Construção, obras públicas a melhoramentos rurais

48. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, te ido sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII «Habitação e melhoramentos locais»

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

49. Sendo o relevo da Guiné muito simples, dominando as planícies, peneplanícies e os planaltos baixos - só no região do Boé, nos contrafortes do Futa-Jalon, adquire algum vigor, apesar de as elevações não ultrapassarem 300 m de altitude -, não há, em geral, lugar para aproveitamentos hidroeléctricos. Apenas se tem insistido na necessidade de averiguar as possibilidades de aproveitamento dos rápidos do Saltinho do rio Corubal.
Toda a energia eléctrica da província é produzida por via térmica. Em 31 de Dezembro de 1964 estavam ao serviço as centrais térmicas enunciadas no quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

Em 1965 a potência instalada era de 3284 kW e o consumo atingia 4 219 000 kWh.

2. Objectivos

50. A valorização urbana e rural constitui o objectivo fundamental, a obter mediante o fornecimento de energia eléctrica a diversas povoações, quer com a aquisição e montagem de grupos geradores, quer com a remodelação e ampliação de redes já existentes.

3. Investimentos

51. Estabelece-se o seguinte programa de actuação:

1. Estados, produção, transporte e distribuição

a) Câmara Municipal do Bissau

1) Central eléctrica - Montagem de um 4.º gerador, edifícios e obras no recinto vedado da central e apetrechamento da oficina;
2) Linha do aeroporto - Fornecimento e montagem do cabo de alimentação da zona até ao aero-

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30 DE JUNHO DE 1967 929

porto, em 15 kV, transformadores, material de corte e protecção,
3) Ampliação e remodelação gradual da rede de distribuição de baixa tensão existente, incluindo a eventual alimentação de novos bairros a construir nas zonas de desenvolvimento previstas na cidade de Bissau.

b) Bafatá

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 160 kVA e um quadro eléctrico;
2) Remodelação e ampliação da rede de distribuição eléctrica.

c) Bambadinca

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 49,5 kVA e outro de 50 kVA;
2) Edifício para a central,
3) Rede de distribuição

d) Bubaque

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 60 kVA e um quadro eléctrico;
2) Remodelação e ampliação da rede eléctrica de distribuição

c) S. Domingos

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 80 kVA e quadro eléctrico,
2) Adaptação e ampliação do edifício da central,
3) Rede eléctrica de distribuição.

f) Ingorei

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição

g) Susana

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição

h) Mansoa.

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 100 kVA e um quadro eléctrico,
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

j) Catró

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 75 kVA e respectivo quadro eléctrico,
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição

l) Bissorã

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 60 kVA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição

m) Bolama

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 160 k VA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição

n) Teixeira Pinto

1) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição

o) Calequisse.

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

p) Pelundo.

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

g) Pecixe

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 15 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

r) Nova Lamego

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 113 k VA e um quadro eléctrico,
2) Rede eléctrica de distribuição

s) Sonago

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 32 kVA e respectivo quadro eléctrico,
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição

t) Piche

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 20 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

u) Pirada

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 20 kVA e respectivo quadro eléctrico,
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

v) Farim

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 100 kVA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição

x) Mansabá

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico,
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição

z) Olossado

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central,
3) Rede eléctrica de distribuição.

a) Fulacunda.

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 75 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

b) Empada

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 50 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição

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930 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Energia

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

Rede de armazenagem e de frio

52. Na província havia, em 1964, 70 celeiros comunais para mancarra, com a capacidade de armazenagem de 4775 t e 10 para arroz, com capacidade para 500 t.
A actual capacidade de fabrico de gelo das principais empresas privadas de Bissau, que se dedicam a esta actividade para conservação de pescado e fornecimento ao público, é de 13 800 kg/24 horas. Em 1965 esta capacidade ficou acrescida com a montagem de mais uma máquina de produção de gelo. Na ilha Caravela existe uma instalação com a capacidade de 1800 kg/24 horas.

2. Objectivos

53. A regularização do abastecimento interno está dependente da montagem de mais câmaras frigoríficas em Bissau, para frescos (câmaras para frutos e para legumes), paia peixe (câmaras de refrigeração e armazenagem) e para carne (túnel de congelação e câmaras de refrigeração e de armazenagem).
Nos objectivos compreende-se também a instalação de pequenos armários refrigeradores em diversas localidades.

3. Investimentos

54. A dotação compreendida no Plano destina-se a custear os empreendimentos na coluna a seguir discriminados

1. Frescos

a) Câmara para conservação de frutas com capacidade para 6000 kg (temperatura. +1º/+5ºC);
b) Câmara para conservação de legumes com capacidade para 4000 kg (temperatura +1º/+5ºC)

2. Peixe

a) Câmara de refrigeração com capacidade para 15 000 kg (temperatura 0ºC),
b) Câmara de armazenagem com capacidade para 10 000 kg (temperatura - 20ºC)

3. Carne

a) Túnel de congelação rápida com a capacidade de congelação de 500 kg/24 horas (temperatura no evaporador -40º/45ºC),
b) Câmara de beneficiação e armazenagem com capacidade para 15 000 kg (temperatura -20ºC),
c) Câmara de refrigeração com capacidade para 5000 kg (temperatura 0ºC)

Finalmente, a instalação foi a de Bissau, e especialmente em Nova Lamego, Teixeira Pinto, Farim, Bafatá, Bissorã, Bubaque e Catró, de pequenos armários refrigeradores com capacidade para 500 kg de pescado, semelhantes ao que já existe em Bolama.
A distribuição de peixe fresco pelos centros potencialmente consumidores localizados no interior está condicionada pelo acesso rápido a esses centros, quer por via aérea, quer por via fluvial, e pelo tipo de embalagem que será forçoso adoptar (caixa isotérmica ou não).

Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

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VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Rede rodoviária

55. A. extensão total da rede de estradas é de 8102 km,
assim distribuídos.

[ver tabela na imagem]

Em 1965 estavam em circulação na província 2642 veículos automóveis, sendo 1632 ligeiros, 672 pesados e 838 motociclos.
A rede de carreiras regulares de transporte colectivo de passageiros tem, no presente, uma baixa densidade de circuitos, explorados por empresas que dispõem, salvas raras excepções, de uma frota de viaturas sem condições adequadas de conforto ou de higiene Os itinerários actuais cobrem apenas Bissau-Mansoa, Bissau-Biambo, Bissau-Cacheu (via João Landim, servindo Safim, Bula, Co, Felundo, Tenxeira Finto e Cacheu), Teixeira Finto-Caió e Bissau-Prábis

b) Portos, navegação marítima, fluvial e costeira

56. O porto de Bissau é o único conjunto portuário da província Polariza o grosso da importação, exportação e cabotagem Está ]á em execução a construção de um novo cais de cabotagem e pesca (cais de Bolola), com 320 m de muralha ao longo da margem direita, para montante da ponte existente, que ira substituir o velho cais do Pijiguiti (agora asfaltado) Neste serão implantadas novas edificações dos Serviços de Marinha, e será abandonado logo que o novo entre ao serviço Fará jusante das oficinas navais estão a ser iniciados os trabalhos de construção de um plano inclinado, que muito beneficiará a assistência técnica, alagens, carenagens, fabricos diversos aos navios e embarcações com um comprimento e uma arqueação bruta até cerca de 45 m e 300 t, respectivamente. As dragagens que vão ser efectuadas na testa da actual ponte possibilitarão a atracação de navios de maior calado. No entanto, a curto prazo, e em face do elevado investimento que isso representará, não se prevê a ampliação dos braços do T. Vão ser erguidos mais quatro armazéns de tráfego e estabelecido um novo parque de material.
Em 1964 escalaram o porto 85 navios de longo curso, provenientes do exterior da província. O movimento de carga e descarga ascendeu a 124885 t de produtos, embarcaram-se 29 576 t, desembarcaram-se 69 682 t, o cabotagem participou no total com 25 677 t No l º semestre de 1965, o tráfego de navios e de carga registado foi de 46 e 70 833 t, respectivamente.
Depois de Bissau, os principais portos abertos à navegação são Bambadinca, Binta, Buba e Bolama Os três primeiros vão ser dotados com obras acostáveis que lhes propiciem um mínimo de condições de desenvolvimento Bambadinca, quando se concretizar a abertura da estrada asfaltada ligando a Mansoa, virá presumivelmente a ocupar o segundo lugar entre os portos da província, por ora detido por Bmta (rio Cacheu), que possui já um cais com dois pontões de madeira Bolama, porto de excelentes condições naturais, dispõe de uma ponte fixa descimento com cerca de 130 m de comprimento.
Encontram-se ainda cais acostáveis de estrutura muito rudimentar em Binar, Cabedu, Cachil, Cacme, Enxudé, Empada, Farim, Jeta, Bubaque, S Domingos, S João e Teixeira Finto, entre outras localidades.

c) Transportes aéreos e aeroportos

57. Além do aeroporto internacional de Bissau, com uma pista asfaltada de 2400 m, a província está suficientemente ocupada por campos de aterragem de teria batida, de comprimento variável entre 2200 m e 500 m.
A TAP explora as carreiros semanais com a metrópole O tráfego interior está a cargo dos T A G P , que desfrutam agora de autonomia administrativa e financeira.
A frota dos T A G F compõe-se, actualmente, de dois aviões Heron (quadrimotores com lotação paia 17 passageiros ou capacidade para 1800 kg de carga), três Dornier 27 (monomotores para 5 passageiros ou disponibilidade de 500 kg), um Cessna (monomotor paia 8 passageiros ou uma disponibilidade de 300 kg) e dois Anatar (monomotor para 2 passageiros).
Apesar da modéstia dos meios disponíveis, a cobertura aérea da província parece satisfazer as necessidades actuais, no entanto, o desenvolvimento esperado das actividades á requerer ampliação da frota.

d) Telecomunicações

58. Estão em curso de execução ou estudo os empreendimentos já previstos no Flano Intercalar, tais como rede interna de VHF e emissores regionais da Emissora Nacional e seu apetrechamento (baixa frequência).
As actuais dificuldades de transporte terrestre tom agravado o problema da conservação da rede interna de VHF e impedido que os equipamentos sejam submetidos aos ensaios de rotina recomendados pelos fabricantes.

2. Objectivos

1. Transportes rodoviários

59. Tem-se em vista fundamentalmente o alargamento e a melhoria da rede rodoviária, quer pela abertura de novas estradas pavimentadas, quer pela pavimentação de estradas já existentes, quer ainda pela construção de obras de arte especiais (pontes) Assim, o apetrechamento e manutenção da brigada de estudos e construções de estradas, a aquisição de equipamento mecânico para os Serviços de Obras Públicas e a reorganização das oficinas de obras públicas tornam-se indispensáveis.

2. Portos e navegação marítima, fluvial e costeira Porto.

60. Os objectivos compreendem a ampliação e beneficiação dos infra-estruturas dos portos secundários e de Bissau, incluindo dragagens de acessos, melhoria de obras acostáveis, construções de pontes-cais e aquisição de material portuário diverso.
Nos portos secundários estão englobados os de Teixeira Finto, Cacheu, S Domingos, Binta, Bigene, Fanm, Bambadinca, Buba, Empada, Catió, Fulacunda e Cacme.

Navegação marítima, fluvial e costeira

61. Pretende-se melhorar o sistema de transportes pelo aperfeiçoamento das comunicações fluviais e interinsulares

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932 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

8. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

62. Os objectivos incluem o conveniente melhoramento do aeroporto de Bissau, de forma a satisfazer as necessidades do tráfego aéreo.

Transportes aéreos

63. A actividade da TAP evoluirá no sentido de estabelecer a ligação com Cabo Verde.

4. Telecomunicações

64. Tem-se em vista o melhoramento das comunicações telefónicas de Bissau, o adensamento da rede interna de VHF e a melhoria das comunicações com o exterior, em especial com a metrópole.

3. Investimentos

65. A dotação consignada no III Plano de Fomento destina-se a custear os seguintes empreendimentos.

l- Transportes rodoviários

a) Obras de arte especiais

1) Ponte sobre o no Geba, em Bambadinca;
2) Ponte sobre o no Cacheu, em Farim;
3) Ponte sobre o rio Pulon, em Xitole;
4) Ponte sobre o no Cole,
5) Ponte sobre o no Corubal;

b) Terraplanagens, obras de arte correntes e pavimentação.

1) Troço Bambadinca-Jugudul (58 km),
2) Troço Bafatá-Nova Lamego (51 km),
3) Troço Safim-Bula (23 km),
4) Troço Bambadinca-Aldeia Formosa (70 km),
5) Troço Nova Lamego-Buruntuma (66 km),
6) Troço Bula-Varela (125 km),
7) Troço Cacme-Aldeia Formosa (67,6 km);
c) Aquisição de equipamento mecânico,
d) Apetrechamento das oficinas de obras públicas, c) Manutenção da brigada de estudos e construção de estradas

2. Portos e navegação marítima, fluvial e costeira

a) Dragagem do porto de Bolada,
b) Dragagem do acesso à ponte-cais de Bissau,
c) Melhoria dos portos da zona central (Bissau, Bambadica, Bafatá, Enxudé, Bolama e Bubaque);
d) Melhoria dos portos da zona norte (Teixeira Pinto, Cacheu, 8 Domingos, Binta, Bigene e Fanm),
e) Melhoria dos peitos da zona sul (Buba, Empada, Catió e Cacine),
f) Construção de estacarias em cibes na área dos Bijagós,
g) Construção da ponte-cais de Fulacunda,
h) Apetrechamento do porto de Bambadinca;
i) Aquisição de um bate-estacas,
j) Aquisição de um rebocador para o porto de Bissau,
l) Aquisição de dois ferry-boats,
m) Aquisição de uma embarcação para pilotos,
n) Aquisição de sobressalentes para jangada;
o) Aquisição de uma jangada tipo Mansoa

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

a) Construção de um novo hangar e despesas com a infra-estrutura provincial,
b) Iluminação da plataforma, equipamento contra incêndios, equipamento de desobstrução, equipamento de limpeza e conservação, equipamento oficina!, mobiliário técnico, viaturas, telecomunicações, ampliação do terminal, beneficiação e aproveitamento de infra-estruturas

Transportes aéreos

Os investimentos estão em relação com o melhoramento do aeroporto de Bissau

4. Telecomunicações

a) Comunicações telefónicas de Bissau,
b) Melhoria das comunicações com o exterior

1 Telecomunicações com a metrópole: aquisição de um segundo emissor de 7,5/10 kW e de um receptor HB 21,
2 Transferência do centro receptor,
3 Aquisição do grupo electrogéneo de 100 kWA para a céu ti ai privativa do centro emissor,
4 Três conjuntos de máquinas teleimpressoras,

c) Adensamento da rede interna na de VH1 (equipamentos T 700),
d) Edifícios para as estações telégrafo-postais de Bafatá e Farim,
e) Encargos com a execução dos empreendimentos,/) Montagem de um centro apetrechado com dois sistemas emissores de ondas médias de 50 kW, com sistema especial de antenas direccionais, aquisição do respectivo equipamento e construção das instalações.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 933

Contos

Empreendimentos

[ver tabela na imagem]

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934 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

f) Concelho de Catió

1) Construção de um bairro popular na vila de Catió e ampliação do bairro para guardas da polícia administrativa

g) Concelho de Gabu

1) Construção de um bani o popular, tipo Bairro da Ajuda, em Nova Lamego,
2) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Sonaco,
3) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Piche,
4) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Pirada

h) Concelho de Mansão,
1) Construção de bairros para a população autóctone,
2) Bairro de seis moradias para funcionalismo.

i) Circunscrição de S. Domingos

1) Habitação para funcionários administrativos,

2) Habitações para policia em Ingorel;
3) Habitações para polícia no posto Susana,
4) Habitações paia polícia no posto de Sedengal

b) Melhoramentos locais

a) Administração do concelho de Bafatu

1) Abastecimento de agua do Bairro da Rocha,
2) Abastecimento de água de Bambadinca,
3) Consolidação e encascalhamento das ruas dos Bairros da Rocha, Ponta Nova e Nema,
4) Asfaltagem dos traçados da Avenida do Império e da fim de 28 de Maio
b) Administração do concelho do Bissau 1) Abastecimento de água das populações de Safim, Biombo e Prábis

c) Câmara Municipal de Bissau

1) Aumento da capacidade de captação de água e beneficiação da estrutura ]á existente,
2) Ampliação e remodelação da rede urbana de distribuição de Agua, com eventual constituição de depósitos elevados,
3) Execução da rede de esgotos para a zona urbana e suburbana,
4) Constituição de uma estação de tratamento do afluente dos esgotos,
5) Pavimentação e drenagem dos arruamentos principais dos bairros suburbanos e melhoramento dos arruamentos existentes,
6) Construção de um novo mercado municipal;
7) Construção de um novo estádio municipal com
capacidade para 12 000 pessoas,
8) Construção de um parque municipal com piscina

d) Administração do concelho de Bissorã

1) Melhoria da captação de Agua e do abastecimento da vila

e) Administração do concelho de Bolama

1) Construção de fontes e poços em povoações,
2) Substituição de parte do sistema de abastecimento de água

f) Administração do concelho de Cacheu

1) Abastecimento de água das povoações de Calequisse, Caio e Cacheu,
2) Rede de esgotos dos bairros a construir,
3) Asfaltagem da rua principal de Teixeira Pinto.

g) Administração do concelho de Caio

1) Abastecimento de água da vila de Catió

h) Administração do concelho de Gabu

1) Abastecimento de água da vila de Nova Lamego,
2) Abastecimento de água da povoação de Sonaco,
3) Abastecimento de água de outras localidades do concelho,
4) Construção de uma fonte e pequeno lavadouro,
5) Início da construção de uma rede de esgotos na vila de Nova Lamego,,
6) Asfaltamento de ruas na vila de Nova Lamego,
7) Urbanização da zona onde se instalarão os futuros bairros

i) Administração do concelho de Mansoa

1) Ampliação e apetrechamento do sistema de abastecimento de água da vila de Mansoa,
2) Construção de sanitários colectivos, balneários e fontanários públicos,
3) Redes de esgotos pluviais,
4) Melhoramentos dos arruamentos e alinhamento das edificações nos Bairros de Luanda e S Tomé,
5) Urbanização de povoações para populações reinstaladas.

j) Administração da circunscrição de Bijagós

1) Ampliação do actual sistema de abastecimento de água em Bubaque

l) Administração da circunscrição do 8 Domingos

1) Abastecimento de água das povoações da circunscrição,
2) Construção de um mercado em Ingorei.

Habitação e melhoramentos locais

Programas da Investimentos

[ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 935

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

69. Factores vários têm condicionado a expansão da procura turística interna e externa e a acção no domínio turístico.

2. Objectivos

70. O objectivo primário é a valorização progressiva dos pólos de atracção turística potenciais - Bissau, arquipélago dos Bijagós (ilhas de Bubaque Bubane e Caravela), ilha de Bolama e praia de Varela, com o lançamento das infra-estruturas indispensáveis.

3. Investimentos

71. São os seguintes os empreendimentos turísticos para os próximos seis anos:

a) Construção de uma pousada na ilha de Bubaque;
b) Construção de residências para turistas tipo bungalow em Bubaque,
c) Alargamento e beneficiação da estrada de Bubaque-Bruce,
d) Beneficiação do hotel de turismo de Bolama, do restaurante e demais instalações da praia de Ofir (Bolama),
e) Construção de uma piscina em Ofir,
f) Valorização da praia de Quinhamel (Biombo, ilha de Bissau), com restaurante, esplanada e piscina,
g) Restauração e beneficiação das instalações da praia de Varela;
h) Aquisição de uma embarcação veloz para ligações rápidas entre Bissau, Bolama e Bubaque:
i) Aquisição de uma embarcação para carreiras interinsulares e excursões turísticas,
j) Aquisição de uma pequena embarcação para pesca desportiva;
l) Aquisição de dois autocarros turísticos, um para Bubaque e outro para Bolama,
m) Criação e manutenção de uma oficina de artesanato em Bissau,
n) Edição de literatura turística de propaganda (pequenas publicações, cartazes, folhetos e desdobráveis);
o) Aquisição de aparelhagem cinematográfica de .projecção

Turismo

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

X-Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais
2.
3. Educação

a) Ensino primário

72. As taxas de escolaridade têm-se mantido constantes Admitindo que a população em idade escolar (7-14 anos) representa cerca de 18 por cento da população total, virá:

[ver tabela na imagem]

b) Ensino secundário

Ensino liceal

73. Há um único estabelecimento de ensino liceal na província, o Liceu de Honóno Barreto, que entrou em funcionamento no ano lectivo de 1958-1959 Os dados sobre o respectivo movimento constam do quadra seguinte.

[ver tabela na imagem]

Ensino técnico e profissional

74. A Escola Industrial e Comercial de Bissau foi instituída em 1959. Funcionam nesta escola, além do ciclo preparatório, os cursos de formação feminina, comercial, de serralheiros e de montadores electricistas.

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936 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

A frequência total de alunos, o número de professores e a percentagem de aproveitamento, evoluiu da forma seguinte desde a fundação da escola
Algumas conclusões imediatas se podem inferir.

[ver tabela na imagem]

a) A frequência tem aumentado substancialmente, em particular nos dois últimos anos,
b) O curso que tem despertado maior interesse á o comercio (curso geral de comércio),
c) Até ao presente ano lectivo, apenas funcionavam duas secções de formação industrial; já depois de mercado o ano, foi criado um curso de carpintaria, a frequência destes cursos é ainda manifestamente insuficiente para ocorrer às necessidades de formação acelerada de operários especializados de que a província tanto carece.
Importa ainda referir que as instalações e o apetrechamento escolares são satisfatórios.

75. Dentro do ensino técnico podem ainda inserir-se os seguintes estabelecimentos escolares:

1) Escola de artes e ofícios
2) Escola de enfermagem - Funciona no Hospital de Bissau No período de 1059-1964 formou 29 enfermeiros (curso geral), 44 enfermeiras auxiliares (curso elementar) e 57 parte rãs auxiliares (curso elementar).
3) Escola-Oficina da Repartição Provincial dos Serviços de Obras Públicas e Transportes - Começou a funcionar em 1959 nas oficinas das obras públicas Dos alunos matriculados naquele ano, em número de 19, concluíram o GUISO, que tem a duração de 5 anos.
7 em mecânica (dos quais l em desenho de máquinas),
l em electricidade;
l em montador-electricista.

76. Para ocorrer às necessidades de pessoal técnico especializado de formação universitária atribuíram-se no decorrer do Plano bolsas de estudo.
A evolução nos anos seguintes pode examinar-se ao quadro junto:

[ver tabela na imagem]

2. Objectivos

i. Educação

77. Pretende-se fundamentalmente elevar o nível cultural da população, com a generalização progressiva do ensino primário, o incremento da frequência do ensino secundário e o aumento das possibilidades de acesso ao ensino médico e superior (bolsas de estudo).

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral e geológica

78. Prevê-se o prosseguimento dos trabalhos com vista à elaboração da carta de solos, estudo da fertilidade de solos, inventariação de zonas com interesse para o povoamento agrário, melhoramento de plantas alimentares, conhecimento dos recursos mineiros do território, e estudo do aproveitamento dos meios de obtenção de água doce.

b) Meteorologia

79. Como objectivos a visar indica-se

1) Apetrechamento do aeroporto de Bissau, com vista a satisfazer as necessidades operacionais dos aviões de reacção,
2) Apetrechamento do Serviço Meteorológico, por forma a poder cumprir as recomendações da I C. A O , relativas à elaboração de previsões meteorológicas;
3) Ampliação e melhoria da rede meteorológica Interna;
4) Melhoria da estação solarigráfica de Bissau,
5) Levantamento geomagnético complementar.

c) Investigação aplicada à agricultura

80. Tem-se em vista estabelecer um equilíbrio entre as disponibilidades das pastagens e a densidade de pé-

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(...)curação, determinar o valor forrageiro das plantas a introduzir e dos resíduos de exploração agrícola, estudar a fenação e a ensilagem e estabelecer prados artificiais para gado.

d) Estudos de biologia piscatória

81. O objectivo a alcançar no III Plano de Fomento é o conhecimento do inventário da fauna marinha.

e) Coordenação de investigação cientifica

82. Sob esta rubrica incluem-se:

Estudos de base:

Estudos sobre problemas demográficos da província, trabalhos no campo da contabilidade nacional e documentação técnico-económica;
Bolsas de estudo para pessoal com formação universitária

3. Investimentos

83. Incluem-se os seguintes empreendimentos a serem custeados durante o III Plano de Fomento.

1. Educação

a) Escolas em Farim, Chão de Papel e Santa Luzia;
b) Escolas-granjas em Bandm, Contubo-El, Teixeira Pinto, Mansaja, Galoupa-Agirar,
c) Postos escolares em Casse, Binar, Bula, Caio, Calequisse, GoLna do Norte, Mansabó, Galoupa, Cã-Sissé, Porto Gole, ilha Roxa, Buba, Tite, Sedengal e Susana,
d) Apetrechamento das novas unidades escolares,
e) Apetrechamento do liceu,
f) Apetrechamento da escola técnica,
g) Apetrechamento de um lar para 40 raparigas;
h) Bolsas de estudo.

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral e geológica

1) Continuação do levantamento hidrográfico,
2) Carta de vegetação,
3) Cobertura fotogeológica,
4) Elaboração da carta geológica

b) Meteorologia

1) Um radar-vento, um radar-tempo e um gerador de hidrogénio,
2) Telémetro de nuvens, visbilímetro, termómetros eléctricos e cabos,
3) Uma pôs cão de radioteleimpressão,
4) Instalações para as estações meteorológicas a criar em Madma do Boé, Caravela e Cacine,
5) Material de telecomunicações para as mesmas estações, instrumentos meteorológicos,
6) Instrumentos meteorológicos para cinco postos meteorológicos e oito postos udométricos,
7) Aparelhagem para a estação solangráfica de Bissau,
8) Levantamento geomagnético complementar

c) Investigação ligada à agricultura:

I) Investigação agro-silvícola

1) Finalização da carta de solos e de vegetação,
2) Execução da carta de solos por foto interpretação,
3) Traçado das cartas de aptidão agrícola;
4) Levantamento, à escala adequada, das bolanhas mais importantes da ilha de Bissau;
5) Estudo da fértilidade dos solos,
6) Continuação da produção de sementes híbridas da palmeira-do-azeite e controla de genitores,
7} Continuação dos estudos sobre a bananeira;
8) Introdução de plantas alimentares e industria s,
9) Introdução de plantas forrageiras
10) Apetrechamento e adaptação do posto agrícola do Pessubé para a estação experimental e estabelecimento de campos experimentais regionais

II) Investigação veterinária

1) Determinação das possibilidades de encabeçamento para as pastagens naturais, a fim de se estabelecer um equilíbrio entre disponibilidades alimentares naturais e densidade de pecuração,
2) Determinação do valor forrageiro das espécies gramíneas e leguminosas a introduzir - com vista a seleccionar as mais aptas- e dos resíduos da exploração agrícola,
3) Determinação da época óptima de fenação;
4) Ensaios de preparação de ensilagem,
5) Estabelecimento de prados artificiais ou naturais de composição melhorada,
6) Preparação de concentrados alimentares com produtos de exploração agrícola ou subprodutos da indústria local.

d) Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

1) Inventário da fauna marinha;
2) Determinação e estudo biológico do ponto de vista quantitativo e qualitativo das espécies ictiológicas de maior valor comercial;
3) Localização de pesqueiros (reconhecimento de fundos-cardumes, bancos e áreas de pesca),
4) Determinação dos rendimentos médios de captura;
5) Estudo experimental das possibilidades de pesca de arrasto, designadamente pelo ensaio e selecção de artes apropriadas.

e) Coordenação de investigação científica1

1) Estudos de base

Estudos económicos, Coordenação técnico-económica, Reorganização da cultura regional dos serviços de agricultura e florestas.

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938 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Educação e investigação

[ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Em relação a 1960, as principais causas de morte foram, por ordem decrescente, as seguintes paludismo, doenças do aparelho digestivo e gastrites, enterites e colites, tuberculose e tétano.
Ainda que as populações disponham dos' alimentos necessários a uma alimentação equilibrada, os costumes tradicionais e a imprevidência ou deficiência na armazenagem desses alimentos provocam desequilíbrios na nutrição, com as mais graves sequelas no aspecto sanitário e noutros aspectos sociais, como, por exemplo, o fraco rendimento do trabalho e a baixa resistência às doenças infecciosas.
Nas crianças, as doenças carenciais são mais frequentes, constituindo a principal causa da mortalidade infantil.

85. No que se refere a tipos e números de estabelecimentos hospitalares e congéneres, por áreas e delegacias de saúde, é o que se segue o panorama da ocupação sanitária da província.

[ver tabela na imagem]

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86. O quadro não abrange o número de formações sanitárias da Missão de Combate às Tripanossomíases (ex-Missão Permanente de Estudo e Combate à Doença do Sono e outras Endemias), porquanto a sua acção assistencial se desenvolve fundamentalmente sob forma itinerante, com circuitos de tratamento que cobrem boa parte do território (áreas de Bissau, Quinhamel, Mansos, Bula, Teixeira Pinto, Bolama, Bafatá, Bambadinca, Contubo-El, Galomaró e Nova Lamego) As suas formações sanitárias reduzem-se, na maioria dos casos, a tabancas-enfennarias, com postos de tratamento e de internamento Localizam-se no Biombo, Bolama, Bubaque, Uno (Bijagós), sector I (Mansoa s Bissorã), sector n (Fanm e Susana), sector m (Nova Lamego, Bafatá, Cossé, Bambadinca e Contubo-El) e sector IV (Teixeira Pinto e Bula), além da sede da Missão, em Bissau.

2. Objectivos

87. Melhoria das condições de saúde da população e redução da mortalidade geral e infantil, através de uma actuação simultânea sobre os domínios complementares dos factores determinantes e imediatos do estado de saúde e da estrutura médico-sanitária.

3. Investimentos

88. Os empreendimentos previstos para os próximos seis anos são:

a) Campanhas sanitárias e profilácticas:

1) Campanha antituberculosa,
2) Campanha para a erradicação do paludismo,
3) Campanha contra a doença do sono,
4) Campanha contra a filaríase linfática,

b) Construção, ampliação, equipamento e apetrechamento de hospitais, postos e pavilhões sanitários, enfermarias, centros de recuperação, reabilitação e materno-infantis,
c) Construção de um pátio para recolha de viaturas

Saúde e assistência

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[ver tabela na imagem]

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940 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

III

8. Tomé e Príncipe

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. Território insular de pequena extensão, orografia muito acidentada, clima equatorial com relativa variabilidade em função da altitude, pluviosidade abundante, subsolo de origem vulcânica insuficientemente reconhecido, mas não oferecendo possibilidades muito latas, fede hidrográfica de características torrenciais, grande variedade de solos agrícolas, tais os traços fundamentais do quadro físico em que se situa a economia de 8 Tomé e Príncipe.

2. Na sua população evidenciam-se dois componentes a população natural do arquipélago, caracterizada por rápido ritmo de crescimento, e a mão-de-obra imigrada, de efectivos variáveis, com tendência para a regressão.

3. No sector agrícola, que é o sector predominante de toda a economia, coexistem uma agricultura empresarial, baseada em explorações de dimensões apreciáveis e produção virada para a exportação, na qual são absorvidos os efectivos da mão-de-obra imigrada, e uma agricultura de subsistência, assente em pequenas explorações de projecção económica muito restrita.

4. Na óptica das relações económicas externas, S Tomé e Príncipe D Io se afasta do padrão usual em economias deste tipo As suas exportações são caracterizadas por alto grau de concentração e dependência geográfica, enquanto as importações são, na sua maioria, constituídas por bens de consumo corrente.
Tais características reflectem-se na vulnerabilidade de toda a economia e evolução das cotações internacionais dos produtos de base, entre os quais avulta o cacau.
A balança comercial está normalmente equilibrada, reflectindo-se tal quadro na balança de pagamentos, na qual não são relevantes outras rubricas de crédito além da exportação.

5. A relativa rigidez das receitas públicas, em confronto com a nítida tendência para o crescimento das despesas estaduais, tem tornado a província dependente, no que se refere a investimentos infra-estruturais, da ajuda financeira da Administração Central Os investimentos nos sectores produtivos têm sido assegurados por autofinanciamento ou por capitais entrados através das empresas agi (colas, não se registando aplicações apreciáveis da poupança privada local, cujas potencialidades não se encontram, aliás, suficientemente determinadas

2. Evolução demográfica

6. As vicissitudes da história económica de S Tomé e Príncipe projectam-se com notável fidelidade na evolução da sua população através quer da variação dos seus efectivos quer de modificações na sua composição étnica.
Constituída por sete grupos com características próprias que se diferenciam entre si nos aspectos somático, linguístico e etnográfico - forros, angolares, tongas, cabo-verdianos, angolanos e moçambicanos e europeus e descendentes - esta população tem apresentado, ao longo dos últimos decénios, um ritmo de expansão baixo.

População total

[ver tabela na imagem]

Deve fazer-se uma distinção entre população total e população natural Interessa acentuar que a população total apresenta um aumento global da ordem dos 11,7 por cento no período de 15 anos (1950 a 1965), crescendo, durante aquele período, à taxa média anual de 0,74 por cento, notando-se, porém, uma grande irregularidade anual, resultante especialmente do movimento migratório.
Por seu turno, a população natural, admitindo ser menos passível de qualquer mutação brusca na sequência do seu desenvolvimento normal do que a população imigrada, teia crescido a uma taxa média anual de 2,9 por cento.

7. Na ilha de 8 Tomé há uma grande irregularidade na distribuição da população cerca de 75 por cento dos habitantes vivem no quadrante nordeste enquanto os restantes 25 por cento se distribuem pelos outros três.

8. É difícil fazer projecções com base numa população desta natureza, em que duas componentes apresentam taxas evolutivas demasiado oscilatórias para poderem constituir qualquer base de estudo. Assim, respeita-se a taxa média anual de 2,9 por cento para a população local, efectuando-se, porém, um ligeiro ajustamento para 2,95 por cento, já que é possível que, no presente, a população local esteja a crescer mais rapidamente, pela quebra nítida da mortalidade.
A população europeia, por seu turno, tem crescido a taxa média anual de 2,8 por cento.
Pelo censo de 1960 foram apurados os dados sectoriais relativamente à população assalariada e empregada da província, que se cifra em 32 milhares de indivíduos, representando 46,2 por cento da população total (estima-se, para 1960, que o extracto etário dos 15 aos 59 anos seja idêntico ao de 1950 - 72,8 por cento da população total).

[ver tabela na imagem]

Mas em 1960 cerca de dois terços da população assalariada e empregada eram oriundos do exterior, ao passo que em 1965 seguramente cerca de dois terços da população activa eram constituídos por indivíduos naturais e apenas cerca de um terço composto por mão-de-obra do exterior.
Um fenómeno se verificou pois a participação mais firme da população natural no conjunto das actividades económicas da província.

9. Postas estas considerações, ponderado o movimento migratório que ainda se encontra em fase de ajustamento às realidades prementes, com tendência ainda decrescente, e o nível estável do contributo da população europeia, pode estimar-se que a população atingirá em 1973 efectivos totais da ordem dos 78 000 habitantes, dos quais cerca de 50 por cento activos.

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3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

10. Os valores do rendimento nacional estimados para 8 Tomé e Príncipe, considerados em função da exiguidade territorial e demográfica e da dimensão económica da província, podem considerar-se altos (a preços constantes 335,3 milhares de contos em 1953, 288,7 milhares em 1962 e 303,1 milhares em 1968).
Quanto à evolução do rendimento, a preços constantes, no período de 1953 a 1962, verifica-se que o mesmo decresceu & taxa média anual de 1,7 por cento, facto que originou um abaixamento nas capitações, que só não se tornou grave por aquelas capitações se incluírem entre as mais elevadas do continente africano.
Com efeito, entrando apenas em linha de conta com o circuito monetário da economia, apuraram-se as seguintes capitações de rendimento para 1962.

[ver tabela na imagem]

O valor destas capitações elevar-se-ia de 25 a 30 por cento, caso fossem considerados os fluxos não monetários.
Na evolução do produto e na capitação exerce um efeito predominante a evolução das cotações do cacau.

11.0 quadro da distribuição percentual do rendimento da província pelas suas componentes e da taxa de variação anual média dos respectivos valores absolutos é o seguinte

[ver tabela na imagem]

12. As duas principais componentes do rendimento provincial - remuneração de trabalho e rendimento de empresas e propriedade - decresceram, de 1958 para 1962, em benefício das receitas resultantes da aplicação dos impostos directos sobre as sociedades, que cresceram à taxa anual de 5 por cento.

13. Também o Estado viu aumentados os seus réditos como entidade privada a uma taxa que, sendo reduzida (0,2 por cento), traduz, no entanto, conjuntamente com o aumento das receitas provenientes daqueles impostos,
o grau da contribuição do sector público para o rendimento provincial.

14. As contas económicas fornecem para 1963 volumes que parecem querer contrariar a tendência decrescente assinalada ao rendimento De 1962 para 1963 assiste-se, de facto, a um acréscimo da ordem dos 5 por cento (a preços correntes), correspondente a 14,4 milhares de contos, resultante da subida das duas principais componentes.

15. A despesa de consumo privado engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando com mais de 98 por cento no total e estas com a reduzida percentagem de aproximadamente 2 por cento, em média, o que mostra a pouca importância que o sector associativo ocupa na economia da província Os consumos das famílias parecem não ter revelado a passividade observada relativamente ao rendimento, muito embora acusassem redução do valor global da procura À percentagem de 97,8 por cento que apresentava em 1958 no conjunto da despesa privada baixou para 96,8 por certo em 1962, mas logo em-1963 se elevou aos maiores valores de sempre - 98,4 por cento -, tendo assim recuperado e eliminado o ligeiro decréscimo verificado no decénio de 1953-1962, na sua importância relativa Os valores absolutos aumentaram, porém, neste mesmo período, em mais de 23 por cento, tendo o acréscimo de 1962 para 1963 sido da ordem dos 15 por cento, o que é notável Também as respectivas capitações subiram sensivelmente, o que significa melhoria no nível de vida da população.

16. Analisando a despesa de consumo das famílias, verifica-se que ela apresenta, na sua repartição percentual, uma estrutura análoga à que é típica dos países subevoluídos de clima quente.

[ver tabela na imagem]

O quadro mostra que as despesas com os consumos alimentares representam cerca de metade das despesas totais, seguindo-se as despesas com vestuário, bebidas e rendas e consumo de água O consumo de energia é diminuto, embora apresente um ritmo de crescimento favorável, e tal facto deve residir nos elevados custos tarifários, não susceptíveis, aliás, de redução antes da entrada ao serviço do aproveitamento do Contador.
Igualmente é diminuto o consumo de bens não primários, como sejam despesas com transportes e comu(...)

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942 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

meações, despesas com distracções e divertimentos e outras. Justifica-se a pequena percentagem atribuída aos cuidados médicos, por ser gratuita a assistência pública em todos os estabelecimentos hospitalares O consumo de bens sumptuários á diminuto.

17. Uma análise mais profunda da estrutura e da evolução da despesa de consumo privado em S. Tomé e Príncipe conduziria à evidência, não só de uma melhoria no nível de vida dos seus habitantes - o consumo aumentou no decénio de 1953-1962 a uma taxa anual média de 3 por cento, taxa que de 1962 para 1963 se aproximou, porém, dos 15 por cento -, como de uma provável mais equitativa distribuição do rendimento (excluindo, é claro, a hipótese de uma redução na poupança), porquanto aquele não acompanhou o ritmo de crescimento da despesa de consumo De qualquer modo, permanece válida a conclusão de que se verificou um razoável aumento do nível de vida das populações, traduzido pela subida das capitações da despesa de consumo das famílias.

18. A preços constantes, o produto interno bruto aos preços de mercado apresenta uma taxa de variação média anual de -1,6 por cento no decénio de 1953-1962 Para o período de 1953-1968, a preços correntes, aquela taxa apresenta-se mais favorável (0,3 por cento), não deixando embora de confirmar o decréscimo do produto interno nos últimos anos São acentuadas as variações de ano para ano, com especial relevância nos anos de 1958 a 1960, cujos valores atingem os pontos mais elevados do período em análise (respectivamente 389,1 e 365,6 milhares de contos, a preços correntes), motivados por bons anos agrícolas, demarcando o primeiro o cume ascensional do período, a partir do qual se processou uma queda sensível, que o segundo apenas retardou.

19. No quinquénio de 1959-1963, a taxa média de variação aproxima-se da encontrada, a preços correntes, para o decénio de 1953-1962 (0,2 por cento), mostrando acentuado colapso nos anos de 1961 e 1962 e recuperação em 1963, conforme se pode observar no seguinte quadro.

[ver tabela na imagem]

Parece poder deduzir-se desde já que se exerceu um esforço de recuperação no âmbito da estrutura económica vigente no último ano do quinquénio, receando-se, porém, que em 1964-1965 o valor do produto tenha regredido de novo, pela quebra ainda mais acentuada nas cotações do cacau.

20. Em 1968 o produto interno bruto aos preços de mercado apresentou um valor mais elevado do que no ano anterior (a preços correntes, 350,8 e 828,1 milhares de contos, respectivamente em 1962 e 1963), exibindo uma taxa de acréscimo muito próxima dos 7 por cento, para o que contribuiu especialmente o comportamento da componente Agricultura, silvicultura, caça e pesca», ou, em termos objectivos, o cacau. O quadro seguinte apresenta a participação relativa de cada um dos ramos de actividade económica na formação do produto interno bruto aos preços.

[ver tabela na imagem]

21. Verifica-se, pela análise do quadro anterior, que a recuperação devida, em parte, à melhoria da posição da componente Agricultura, silvicultura, caça e pesca» (o comércio acerta por aquela a sua evolução) deve ter assentado numa ligeira subida observada nas cotações do produto base e nas positivas reacções em cadeia que a mesma originou.
A quebra do produto em 1964-1965 está em correspondência com a quebra da cotação do cacau, o qual representa mais de 70 por cento da exportação da província
As capitações do produto interno bruto vêm, assim, decrescendo Para um decréscimo médio anual de 1,6 por cento do produto, no período de 1953-1962 e para uma taxa média anual de crescimento da população total, durante o mesmo período, de 1,5 por cento, obtém-se uma taxa anual de variação per capita do produto de - 3,1 por cento, o que traduz um acentuado decréscimo.
Sem esquecer que aquela taxa de -1,6 por cento foi obtida a preços constantes com base em 1962, a análise das capitações obtidas também a preços constantes não difere, em grande medida, dos valores encontrados. Com efeito, as capitações do produto em 1953 e 1962, respectivamente de 7046$ e 5208$, fornecem uma taxa variada anual de -3,4 por cento, que pouco se afasta da anterior.
Se tomarmos como base os valores do ano de 1968, teremos que, a preços correntes, como vimos, o produto interno bruto cresceu à taxa média anual de 0,3 por cento no período de 1953-1963; a população, no mesmo período, cresceu a 1,8 por cento, o que fornece um decréscimo per capita de - 1,6 por cento Cotejadas as respectivas capitações - 6341$ em 1953 e 5601$ em 1963 -, apresenta-se uma taxa de - 1,3 por cento.
Elementos mais recentes indicam que, a preços constantes, o produto interno bruto aos preços de mercado decresceu no período de 1958-1968 à taxa anual média de 0,9 por cento, tendo o decréscimo das respectivas capitações sido da ordem de 1,2 por cento.

22. Da análise dos dados da contabilidade económica verifica-se que, ao longo do decénio de 1958-1962, o com(...)

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tributo dos diversos sectores para a formação do produto interno exprime-se pela forma seguinte.

[ver tabela na imagem]

23. Para além das referências ]á feitas ao rendimento nacional, despesa de consumo privado e produto interno bruto, convém abordar a aplicação do produto nacional, cuja análise evidenciará também alguns aspectos reveladores da realidade económica de S Tomé e Príncipe.

No quadro seguinte pode encontrar-se a participação relativa (em percentagens) das várias componentes do produto nacional bruto.

Distribuição percentual

24. Mais especialmente, no tocante à formação bruta do capital fixo, no período de 1953-1962 (de que se possuem dados referentes à aplicação de capital por sectores), o capital investido repartiu-se pelos seguintes sectores:

Os factos mais notáveis consistem na extraordinária quebra na formação do capital no sector agrícola e na forma de compensação aplicada por meio de investimento através do sector público, os quais contribuíram, no último ano, com cerca de seis sétimos dos investimentos globais

4. Relações económicas com o exterior.

25. A evolução do comércio especial ao longo do período de 1961-1965 pode examinar-se nos dois quadros seguintes, relativos às importações e as exportações por territórios estatísticos

Importações

[ver tabela na imagem]

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944 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 66

26. Fará as mercadorias exportadas, os números são os seguintes

Exportações

[ver tabela na imagem]

Importações

[ver tabela na imagem]

27. O comércio externo é a razão de ser da economia de S Tomé e Príncipe, exclusivamente orientada para o exterior.
Como se viu, a província exporta matérias-primas e importa bens de consumo final
E o seguinte o quadro do seu movimento geral no período de 1953-1965
A tendência geral revela incremento nas importações, essencialmente de bens de consumo corrente, recessão do movimento exportador.
Os preços médios por quilograma/F O B dos principais produtos de exportação da província no mesmo período são prova evidente da deterioração no mercado exportador.

[ver tabela na imagem]

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Este quadro sintetiza afinal toda a crise que DOS últimos tempos tem afligido a economia são-tomense o problema das cotações, muito em especial as do cacau, que atingiram em 1965 o valor mais baixo do período.

28. No que à importação diz respeito, e embora se verifique uma menor concentração global, o ultramar parece vir a perder a sua posição como fornecedor, aumentando em contrapartida a da metrópole e a do estrangeiro
Grande parte dos produtos importados destinam-se ao consumo alimentar
Se se adicionarem a estes os outros bens de consumo importados e constituídos por material electrodoméstico, vestuário s calçado, combustíveis, automóveis e outros veículos e medicamentos, obter-se-á para o conjunto um valor correspondente a cerca de 90 por cento do total das imputações da província
Deste modo, pode dizer-se que somente uma pequena percentagem da importação absorve a compra de bens de equipamento, com destino sobretudo & agricultura e, eventualmente, à indústria, que, com outra pequena parcela de bens intermediários, preenche os l0 por cento restantes.

29. Uma análise ú comparticipação dos produtos que integram o comércio especial da província mostra uma acentuada concentração na exportação, onde domina o cacau, com a média de 71,7 por cento das vendas totais, seguido a grande distância pela copra, com 12,5 por cento, o coconote, com 8,6 por cento, o café e o óleo de palma, com 3,6 por cento cada um.
Nos mercados consumidores dos produtos da província também se assinala acentuada concentração geográfica.

30. No que se refere à balança de pagamentos da província, os movimentos das divisas do Fundo Cambial ao longo do período de 1958-1965 constam do quadro seguinte.

[ver tabela na imagem]

As entradas e saídas de cambiais referem-se em grande medida a movimentos de escudos metropolitanos, isto é, compreendem empréstimos recebidos da metrópole (entradas) e amortizações e respectivos encargos (saídas).
Quanto a balança comercial, verifica-se uma tendência decrescente do seu movimento.
Em contrapartida, parece consolidar-se o movimento positivo da balança de pagamentos.

5. Perspectivas de crescimento económico

31. No panorama económico da província de S Tomé e Príncipe destaca-se, como fundamental, o sector agrícola Não parece poder dar-se grande relevo aos restantes sectores, ressalvados os casos da indústria extractiva, se as pesquisas de petróleo forem profícuas, e, em menor escala, da pesca, se se atingir a fase da pesca industrial.

32. A análise genérica das características essenciais da agricultura são-tomense leva a indicar como sentidos mais prometedores uma diversificação de culturas, acompanhada de melhoramento cultural e intensificação das existentes, o encaminhamento da mão-de-obra local para a completa cobertura do sector, dispensando, tanto quanto possível, a mão-de-obra exterior, e a ocupação efectiva da terra, por meio da propriedade de tipo familiar.

33. As estruturas económicas da província e as suas características não têm acompanhado a evolução das necessidades do seu progresso e desenvolvimento Simultaneamente, porém, reconhece-se que são elas que permitem a vida da província e que, não se dispondo de outras que as possam substituir a curto prazo, haverá que prever uma modificação gradual e lenta.
Desta forma, alguns dos investimentos terão de ser orientados, numa primeira fase, não directamente para um acréscimo do produto, mas sim paia uma substituição de estruturas, permitindo que o vácuo criado pelo desaparecimento das existentes possa ser preenchido, em tempo oportuno, por novas estruturas convenientemente preparadas.
A falta de espírito empresarial constitui factor grandemente limitativo do desenvolvimento económico da província Existem, de facto, empreendimentos potenciais altamente tentadores que só a falta de empresários justifica não se terem já efectivado Uma acção de propaganda da província e das possibilidades que a mesma oferece- mostra-se como muito necessária.

34. Tem-se em conta também o significado económico de toda a acção a desenvolver no campo da promoção social, através da educação, da melhoria das condições de vida, da assistência sanitária e da subida e enriquecimento do nível alimentar das populações, acção esta cujo impulso essencial se encontra, porém, no propósito de

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946 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

valorização humana que constitui constante da acção portuguesa no Mundo
Como apoio a todo este complexo de acções, haverá que prosseguir e ampliar a obra realizada em matéria de infra-estruturas, com vista a criar condições para a utilização de recursos que se considera conveniente explorar. Daqui resulta a estreita articulação entre os empreendimentos infra-estruturais a realizar pelo sector público e o respectivo índice de aproveitamento directo ou indirecto por parte do sector privado.

CAPITULO II

Objectivos

35. Be veste-se da maior acuidade, sob ressalva de importantes incidências no esquema económico-administrativo da província, a comparticipação activa da população natural na formação e usufruto do rendimento e do produto interno, como corolário lógico da evolução da política de promoção social de toda a comunidade portuguesa.
E sintoma francamente positivo de que se está no bom caminho a mais vasta contribuição da população local para o conjunto da população activa e, sobretudo, o afluxo crescente ao mercado de mão-de-obra, que se tem feito sentir durante o último lustro, por parte daquela população, articulando-se, de forma favorável, com o decréscimo de mão-de-obra importada.

36. Adentro dos objectivos gerais a prosseguir, enquadra-se perfeitamente esta problemática no esquema geral dedicado à definição de metas de ordem económico-social e que se podem sintetizar em três tópicos fundamentais.

1.º Formação cultural e social das populações, nomeadamente através da generalização da educação de base, de ensino elementar agrícola, da extensão do ensino secundário (liceal e técnico), da preparação dos quadros da Administração e do recurso a técnicas de desenvolvimento comunitário,

2.º Incremento e mais equitativa distribuição dos rendimentos, assim como melhoria das condições de vida da população, mediante um esforço directo a realizar no domínio da saúde, assistência, nutrição, ordenamento agrícola, etc. e indirecto, pela construção de infra-estruturas que melhor dimensionem o desenvolvimento económico e social que se pretende,

3.º Melhoria das condições de prestação do trabalho e extensão e aperfeiçoamento dos mecanismos de assistência e previdência, sem descurar, contudo, os problemas inerentes à estrutura social, como, por exemplo, os relativos à forma como se constitui a família e à perfilhação e ainda ao melhor ordenamento social das condições de habitação.

37. De uma forma genérica pretende-se conseguir a aceleração do ritmo de acréscimo do produto interno mediante o aproveitamento mais racional dos recursos humanos e materiais. Efectivamente, as variáveis estratégicas do desenvolvimento económico de S. Tomé e Príncipe residem na forma de intervenção nas duas principais componentes da sua estrutura* a terra e o trabalho O capital desempenha função de variável aleatória e tal se compreende na medida em que se está em presença de um fenómeno económico-social que se reveste da particularidade de fazer incidir determinado esforço no sentido de promover maior reprodutividade marginal do capital já investido e, por outro lado, também em realizar investimento efectivo, como réplica positiva à quebra verificada em diversos sectores e que se traduz, em certos casos, por completa dissipação de valor do capital fixo ou social investido.

CAPITULO III

Financiamento do programa provincial de investimentos

1. Administração Central

38. Em relação ao sector público admite-se como fonte de financiamento capaz de oferecer a cobertura necessária aos empreendimentos do programa imperativo a Administração Central Com efeito, sendo o aspecto financeiro condição essencial da aceleração do processo de desenvolvimento económico e verificando-se tradicionalmente a insuficiência da iniciativa privada para impulsionar tal processo, surge sempre focalizado o papel do Estado, cuja necessidade de reforço é cada vez maior Mas, para isso, necessita o sector público de dispor de recursos financeiros amplos Ora, debatendo-se o Governo provincial com dificuldades para manter o equilíbrio orçamental, precisa de recorrer ao Governo Central para o financiamento dos investimentos, recurso este que, não obstante as condições favoráveis em que se faz, não deixa de pesar sobre as receitas ordinárias.

2. Administração provincial

39. Foi a seguinte a evolução da receita no período de 1958-1965.

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[ver tabela na imagem]

40. O quadro das despesas públicas apresenta-se da seguinte forma:

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41. No tocante às receitas, construindo um quadro elucidativo da divisão percentual das receitas em ordinárias e extraordinárias, ter-se-á

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A receita ordinária sobreleva quase sempre a receita extraordinária, com excepção apenas dos anos de 1955 e 1966, em que houve necessidade de cobrir despesas relacionadas com o aumento dos encargos resultantes da reorganização dos serviços militares e outras despesas.

42. A evolução das componentes das principais receitas ordinárias nos anos de 1953 e 1964 foi a seguinte

[ver tabela na imagem]

Verifica-se que reside na recolha das receitas originadas nos impostos alfandegários a principal fonte dos réditos do Estado, quer se ti ate da prática da aplicação de direitos aduaneiros (impostos indirectos 30,5 por cento em 1953 e 20,2 por cento em 1964), quer de taxas e emolumentos ligados ao mesmo ramo (15,6 por cento em 1953 e 1,7 por cento em 1964).
O maior incremento nas receitas ordinárias da província incidiu na contribuição industrial, cujo crescimento se cifra em 15 por cento ao ano, no imposto do selo (11,9 por cento), nas receitas eventuais (21,9 por cento), nos emolumentos alfandegários (4,1 por cento) e no imposto de defesa (3 por cento).
No capítulo «Indústrias em regime tributário especial» sobressai o imposto de consumo, responsável em 1964 por 92 por cento das receitas respectivas.

43. For outro lado, uma análise da distribuição percentual das despesas ordinárias e extraordinárias apresenta o seguinte aspecto.

[ver tabela na imagem]

A linha de tendência reside na larga superação das despesas ordinárias em relação às extraordinárias.

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44. A composição das principais despesas ordinárias em 1953 e 1954 era a seguinte

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45. O facto que merece referir é constituído pelo notável incremento dos encargos com a dívida pública da província, principal responsável pela taxa de crescimento anual das despesas de 4,3 por cento (superior ao dobro da das receitas = 2 por cento).
Este fenómeno de natureza financeira está causando sérias preocupações à província, porquanto a dívida pú-bl.ca, que em 1964 absorvia 13,8 por cento das despesas ordinárias totais, a que correspondia o elevadíssimo índice do 27 752, tomou à sua conta 28,3 por cento do total das mesmas no ano seguinte, prevendo-se que este desgaste no erário se processe a idêntico ritmo para além do hexénio correspondente ao III Plano de Fomento, sem entrar em linha de conta com os empréstimos que sei á necessário contrair para a execução deste Plano.
Quanto às restantes despesas ordinárias, com uma só excepção, e esta sem consistência, dada a sua natureza flutuante, acusaram formas mais ou menos acentuadas de crescimento, mas sempre de teor elevado, ou seja desde 5,1 por cento até 27,5 por cento, não contando com a impressionante taxa de descimento da dívida, expressa por 58,5 por cento.
Reside, portanto, e quase exclusivamente, na dívida pública o esforço, de duração imprevisível, que a província está fazendo para alçar as receitas a nível que lhe permita satisfazer os encargos com as despesas, nomeadamente com a mesma dívida pública.

46. Parece poder concluir-se que a província não dispõe de recursos financeiros próprios para a cobertura dos investimentos exigidos pelo seu desenvolvimento

3. Instituições de crédito

47. O quadro institucional da província no que respeita aos mercados do dinheiro apresenta-se assim constituído

a) Banco Nacional Ultramarino,
b) Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S Tomé e Príncipe,
c) Caixa Económica Postal,
d) Fundo de Fomento de Pequenas Empresas Agrícolas e Industriais,
e) Caixa de Crédito

a) Banco Nacional Ultramarino

48. É o banco emissor e reteve o privilégio do crédito até 1963 Cumpre-lhe regular a distribuição do crédito, que reveste quase sempre a forma de crédito comercial e também agrícola, através de empréstimos em conta corrente, praticando igualmente o desconto de letras, cheques e livranças A evolução do crédito concedido, com ligeira retracção no ano de maior crise de cotações (1965), acompanhado do maior coeficiente de letras protestadas (embora modesto), reflecte com fidelidade a tendência regressiva verificada no âmbito das actividades económicas privadas, acompanhadas de maior recorrência ao capital

b) Caixa de Providência dos Funcionários Públicos do S. Tomo e Príncipe

49. Esta instituição de crédito tem por finalidades conceder pensões vitalícias e temporárias a sócios, subsídios diversos, empréstimos a sócios e particulares, ao Estado e aos corpos administrativos.

c) Caixa Económica Postal

50. Concede empréstimos a funcionários, por fianças e caucionados por letras Entrou em funcionamento em 1963 e o seu movimento, embora modesto, tem sido ascensional.

d) Fundo de Fomento de Pequenas Empresas Agrícolas e Industriais

51. Esta instituição, criada em 1964, visa a concessão de pequenos empréstimos, à taxa anual de 2 por cento, a {ó ao montante de 12 000$ e destinados à agricultura, pesca e outras actividades, excluindo o empréstimo comercial

e) Caixa de Credito

52. A Caixa de Crédito de S. Tomé e Príncipe, criada em 1965, tem por objectivo a concessão de crédito agrícola, pecuário, industrial e imobiliário.
As operações de crédito referidas são feitas no regime de longo, médio e curto prazo.

53. Não parecem poder oferecer grandes perspectivas para o financiamento do III Plano as instituições de crédito provinciais.

4. Particulares e empresas

54. Não tendo a província capacidade de crédito interno, não há lugar a que se fale na sua capacidade de

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2. Esquemas de regadio e povoamento
Instalação de cerca de 250 a 300 famílias em empresas de tipo familiar, ocupando áreas unitárias de três quartos de hectare.

S. Credito agrícola

Alargamento de crédito agrícola, a conceder por forma que se contribua para dar impulso necessário à realização dos objectivos visados no sector.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programas de Investimentos

[ver tabela na imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

72. A actividade piscatória processa-se num ritmo irregular e modesto, embora ultimamente se esteja a desenhar um incremento no sector, em especial no que diz respeito à forma de aquisição dos meios de captura Á população afecta às actividades fornece ainda pequeno contingente de pescadores (596) e produz um quantitativo global que está muito longe de satisfazer as necessidades de consumo interno.

73. Os elementos estatísticos para o período de 1960 a 1965 são os seguintes

[ver tabela na imagem]

Os valores da produtividade correspondem ao tipo elementar da pesca de subsistência.
Dada a escassa produção, e em virtude da procura interna de peixe e derivados ser substancial, a província vê-se forçada a importar considerável tonelagem de derivados de pesca.

2. Objectivos

74. Considerando o estado actual das pescas na província, os objectivos em vista são os seguintes

[ver tabela na imagem]

Substancial aumento da produção local pelo fomento da actividade piscatória e seus derivados,
Estímulo da iniciativa particular, no sentido de a interessar em tudo o que se refira & exploração piscatória e industrialização dos seus derivados.

3. Investimentos

75. No âmbito deste sector prevê-se o seguinte programa.

1. Pesca artesanal

Construção de 40 embarcações do tipo preconizado pela F. A O para a pesca artesanal, e respectivo apetrechamento, de forma a atinge-se uma produção de 2000 t anuais.

2. Pescas Industriais

a) Aquisição de cinco traineiras para uma produção, por cerco e arrasto, de 2000 t anuais,
b) Aquisição de dois atuneiros destinados à pesca oceânica do atum, com uma produção da ordem das 40 000 t anuais,
c) Instalações industriais para a farinação e extracção de óleos de peixe

3. Câmaras de refrigeração e entrepostos frigoríficos

Instalação de quatro câmaras de refrigeração em S Tomé e uma no Príncipe, com uma capacidade média, por câmara, de 12 t, destinadas a favorecer a recepção e distribuição do pescado do sector artesanal.
Instalação de entrepostos frigoríficos para a pesca industrial.

4. Oficinas de salga e secagem

Instalação de pequenas oficinas de salga e secagem, para o tratamento de parte do pescado capturado pelo sector artesanal.

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Pesca

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

III) Indústrias extractivas a transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Indústria extractiva

76. Tem sido restrito o âmbito de actuação neste sector
Parece, contudo, merecerem a maior atenção os estudos geológicos, o fomento mineiro e o estudo e aproveitamento dos meios de obtenção de água doce, perante a evolução possível do sector, e as necessidades de água para rega no período seco, que surgirão com o incremento das culturas de banana, ananás e produtos hortícolas.
Escassa será a rentabilidade directa do sector, a menos que as pesquisas petrolíferas conduzam a resultados favoráveis.

2. Indústria transformadora

77. O crescimento global deste sector, expresso por uma taxa média anual de 3,8 por cento no decénio de 1953-1962, considera-se muito modesto, comparando-o com o de qualquer sector industrial ao mesmo nível económico.
No quadro junto indicam-se as principais produções sectoriais, com realce somente para o fabrico de pão, indústria de madeiras e produção de sabão, laborando todos os subsectores em precárias condições técnicas, com excepção apenas de algumas seriações de madeiras, do fabrico de pio e de certas unidades particulares de fabrico de óleo de palma (que, no entanto, se encontra em regressão), além do fabrico de gelo.
As causas principais desta situação resumem-se na restituição própria do mercado interno, na inexistência de espirito empresarial ao nível privado, na ausência de crédito orientado para o sector e na preparação deficiente da mão-de-obra local.

[ver tabela na imagem]

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954 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

78. As séries de índices que se apresentam seguidamente mostram a pouca importância das actividades industriais e a tendência para a sua estagnação

[ver tabela na imagem]

As indústrias que registam progressão nas quantidades produzidas são as da saboaria, gelo, madeiros e panificação As restantes actividades apresentam taxas ou índices de regressão.

79. Entre as várias hipóteses de industrialização sugeridas para a província sobressaem as seguintes, cuja exequibilidade, pela possível rentabilidade, baixos custos e favoráveis coeficientes capital-produto, aliados a segura colocação dos produtos em mercados de procura, se justifica plenamente

a) Industrialização do coco, compreendendo o coco ralado e a transformação de fibra (cairo e fibra diversa).
b) Refrigerantes, conservas e sumos concentrados de frutos com utilização de larga gama de frutos existentes na província,
c) Farinação de banana,
d) Fabrico de sabão em unidade dimensionalmente mais económica por meio de provável integração ou fusão das diversas pequenas unidades existentes,
e) Fabrico de farinhas e óleos de peixe e estabelecimento de oficinas de salga e secagem em estreita articulação com o desenvolvimento do sector de pesca,
f) Moagem de milho, com vista & importação e laboração de cereal produzido ou a produzir na província, com implicações na modificação de certos hábitos de consumo locais,
g) Laboração de produtos vegetais pelo desenvolvimento da horticultura,
h) Provável laboração do cacau, em natureza, por forma a transformá-lo em produtos semiacabados (cacau em pasta e em pó) ou finais (manteiga), com vista ao abastecimento, respectivamente, da indústria de chocolate e derivados da metrópole e de outros mercados,
i) Aproveitamento da casca do fruto do cacaueiro, destinando-se o produto transformado à participação na confecção de rações para animais.
Igualmente se menciona o aproveitamento da farinha de bagaço do coconote e a construção de uma fábrica de tijolo, bem como aferição das possibilidades, em articulação com o desenvolvimento da horticultura, da preparação de feijão verde e tomate em conserva, para exportação, e ainda o aproveitamento diferenciado da indústria de madeiras.

2. Objectivos

Indústria extractiva

80. Além dos estudos geológicos, mencionam-se as pesquisas petrolíferas, já a cargo de uma empresa concessionária.

Indústria transformadora

81. O lançamento de novas indústrias transformadoras, em especial as complementares da agricultura, constitui o objectivo a atingir.

3. Investimentos

82. Prevêem-se os seguintes investimentos

Indústria extractiva

Prospecção e pesquisas petrolíferas

Indústria transformadora

Industrialização de oleaginosas, consequente fábrica de sabão e aproveitamento dos bagaços,
Fábrica de conservas de sumos de frutos e refrigerantes,
Fábrica para o aproveitamento integral do coco.

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Indústrias extractivas a transformadoras

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

IV) Construção, obras publicas e melhoramentos rurais

83. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo viu «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Os meios de produção de serviço público existentes na ilha de S Tomé (central térmica e aproveitamento hidroeléctrico do Guegue), com uma potência total disponível de 840 kW, ficaram saturados em 1965, pelo que está em vias de entrar em exploração o aproveitamento do no Contador (2400 k VA), que poderá satisfazer os pedidos da rede em energia e potência até, possivelmente, 1971.
A cidade de Santo António é presentemente alimentada com um grupo gerador de recurso.
A grande maioria das roças dispõe de centrais hidroeléctricas ou termoeléctricas privativas: em 1965 existiam 38 instalações (das quais 32 do tipo térmico), que totalizavam 2344 kW.

85. A produção e o consumo do sector, relativamente ao período de 1953-1965, foram os seguintes

[ver tabela na imagem]

2. Objectivos

86. O desenvolvimento do sector ficará na estreita dependência do arranque que se verificar, nomeadamente DO sector das indústrias de transformação, incluindo as ligadas à pesca No entanto, pretende-se a aquisição de instalações de produção própria para Santo António do Príncipe.

3. Investimentos

87. No programa inclui-se uma verba «por memória» destinada ao estudo em curso da eventual construção de um pequeno aproveitamento hidroeléctrico na ilha do Príncipe, com capacidade média de 2000 a 2500 kWA.

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Rede da armazenagem

88. Sendo os produtores locais normalmente os exportadores dos seus produtos, dispõem de instalações de tratamento e de armazenagem nas suas explorações, donde são enviados directamente para o exterior. E o que se passa com o cacau, copra, café, coconote e o óleo de palma.
A rede de frio tem sido deficiente, obstando a boa comercialização de certos produtos, nomeadamente u peixe e a carne, mas a ampliação em curso das actuais câmaras frigoríficas municipais de S. Tomé, de 200 m para 600 m3, com uma amplitude entre 300 t e 400 t irá prover satisfatoriamente as necessidades locais de comercialização.

2. Objectivos

89. Pretende-se reduzir os riscos dos ataques de parasitas às existências para consumo ou para exportação, com a construção de alguns armazéns.

3. Investimentos

90. Construção de armazéns de produtos agrícolas, com capacidade para 5000 t

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Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Rede rodoviária

91. A província de S Tomé e Príncipe dispõe de uma rede rodoviária de indiscutível valor 323 km de estrada, dos quais 117 km asfaltados
Do total, cabem a ilha de S. Tomé 275 km
É, no entanto, necessário que os Serviços de Obras Públicas se equipem por forma a poderem assegurar a boa conservação das estradas, em termos de delas tirar o mais economicamente possível todo o rendimento que de tais infra-estruturas seja legítimo espetar.
Em 1965 havia na província 821 automóveis ligeiros, 218 camiões, 53 tractores e 156 motociclos.

b) Portos e navegação

92. À construção das instalações portuárias de Ana Chaves (ilha de S. Tomé), não obstante os importantes investimentos realizados, não resolveu o problema de dotar a província com instalações portuárias de acostagem para barcos de longo curso Há ainda a contar com outros pequenos portos das povoações exclusivamente agrícolas, como Fernão Dias e Mono Carregado, não apetrechados.
O porto da ilha do Príncipe (na cidade de Santo António) não tem quaisquer instalações e somente as suas apreciáveis condições naturais permitem que seja frequentado esporadicamente pela navegação de longo curso e sirva normalmente à navegação de cabotagem (com a ilha de S Tomé).

c) Transportes aéreos e aeroportos

93. A infra-estrutura aeronáutica de S Tomé e Príncipe é essencialmente constituída pelo aeroporto de S Tomé e pelo aeródromo do Príncipe Existe ainda um outro pequeno aeródromo -o de Porto Alegre - servindo à vida interna da província.
O aeroporto de S Tomé está classificado como rede nacional E de todo o interesse que este aeroporto esteja apto a dar apoio em rota e a poder ser utilizado por jactos em emergência.
Quanto ao aeródromo do Príncipe, está a ser convenientemente apetrechado.

d) Telecomunicações

94. No final do ano de 1965 existiam na província 325 telefones automáticos, 2 postos telefónicos públicos e 111 telefones manuais.
A rede telegráfica e radiotelegráfica está coberta com duos estações, uma em S Tomé e outra no Príncipe.

2. Objectivos

95. São os seguintes os objectivos em vista

1. Transportes rodoviários

Pretende-se o alargamento da já razoável rede de estradas da província com vias de penetração para o interior.

2. Portos e navegação

Portos

Tem-se em vista dispor em S Tomé de um porto de mar, que contenha em si todos os requisitos necessários à movimentação dos produtos de e para o exterior e que permita a atracação de navios de grande porte Na ilha do Príncipe pretende-se melhorar o porto de Santo António.

Navegação

Pretende-se uma maior segurança na navegação (farolagem) e a melhoria das ligações marítimas entre as duas ilhas.

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

Os objectivos a alcançar incluem melhoramentos nos aeroportos existentes

Transportes aéreos

Há que proceder à remodelação do material de voo, com a substituição dos aviões em serviço por outros de constituição recente

4. Telecomunicações

Pretende-se a automatização e a ampliação da rede; telefónica existente.

3. Investimentos

96. A dotação consignada no III Plano de Fomento destina-se a custear os seguintes empreendimentos:

1. Transportes rodoviários

Construção de 88 km de novas estradas, sendo 80 km em S Tomé e 8 km no Príncipe

2. Portos e navegação

Instalação de um porto de longo curso em S Tomé,
Melhoramento do porto de Santo António;
Farolagem dos portos e costas.

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3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

Reapetrechamento oficinal no aeroporto de S. Tomé,
Construção e apetrechamento de um anexo ao hangar do mesmo aeroporto,
Conclusão da asfaltagem da pista do aeródromo do Príncipe,
Construção e apetrechamento de edifícios próprios no mesmo aeródromo.

Transportes aéreos

Aquisição de dois aviões de seis a oito lugares e dos respectivos sobresselentes

4. Telecomunicações

Automatização da rede telefónica da ilha de S Tomé; Ampliação da rede telefónica da cidade de S Tomé, Instalação da central telefónica automática de Santo António e lançamento da respectiva rede; Melhoramento da estação de radiodifusão local.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VIII) Habitação a melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

97. Existe actualmente em S Tomé e Príncipe um problema de habitação cuja solução só será viável através da própria população, e não por meio de investimentos maciços do Estado.
De facto, o problema carece de ser abordado pelo estabelecimento de um programa dirigido, não apenas à construção de moradias por porte do Estado, mas também - e principalmente - ao estímulo das actividades privadas e à mobilização dos poupanças ou dos esforços familiares.
Assim, sugere-se a criação e desenvolvimento de sistema de auxílio ou participação (sob a forma de subsídios ou créditos a conceder a entidades individuais ou colectivas) e a instalação e propaganda de modalidades da edificação de baixo custo, designadamente através da autoconstrução em locais tidos por convenientes.
Quanto a melhoramentos locais, ao longo do I e do II Planos de Fomento e ainda do Plano Intercalar foram levadas a cabo importantes realizações, e, se não ficaram supridas todas as necessidades, pelo menos não são exigidos investimentos de maior.
Assim, e no que respeita a abastecimento de água, redes de distribuição de energia eléctrica, etc. , o que está ainda por realizar não constitui grande problema.

2. Objectivos

98. Tem-se em vista a melhoria do nível habitacional e das condições apresentadas pelos centros populacionais

3. Investimentos

99. Dirigem-se ao financiamento da constituição de casas e de um conjunto de obras de interesse público, assim discriminado.
a) Regularização da margem esquerda do rio Papagaio (Príncipe),
b) Rede de distribuição de energia eléctrica distribuição pelas vilas que se encontram no traçado resultante do aproveitamento hidroeléctrico do no Contador,
c) Abastecimento de água de povoados,
d) Urbanização de vilas e povoados

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958 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 66

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

100. Embora exista uma diversidade de factores naturais de atracção turística, a estrutura de apoio é insuficiente para um desenvolvimento de tal actividade
O apetrechamento hoteleiro reduz-se praticamente a uma pousada situada a cerca de 900 m de altitude, em excelente localização, nas vizinhanças da capital
As ligações de S. Tomé com o exterior constituem os mais importantes factores que dificultam o desenvolvimento da actividade turística.

2. Objectivos

101. Pretende-se melhorar as instalações existentes, em especial a pousada, onde há que construir algumas infra-estruturas complementares, que constituam motivos de atracção.

3. Investimentos

102. Aquisição da propriedade adjacente à pousada de S Tomé e seu melhoramento, incluindo a instalação de um aldeamento turístico

Turismo

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

X) Educação e Investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Educação
2.
3. a) Ensino primário

103. O ensino primário em S. Tomé e Príncipe tem apresentado, nos últimos anos, um ritmo de expansão muito apreciável, tendo-se já atingido a escolaridade total O número de alunos tem vindo a aumentar, assim como o de professores.
O movimento escolar nos anos lectivos de 1968-1964 e 1964-1965 foi o constante dos quadros seguintes, o primeiro relativo ao ensino oficial e o segundo ao ensino particular.

[ver tabela na imagem]

O ensino primário oficial encontra-se actualmente a cargo de professores do quadro efectivo (diplomados com o curso do magistério primário), de professores contratados (habilitados com o exame de professores de posto escolar ou preparados pelas respectivas escolas de habilitação) e de professores eventuais (chamados a leccionar consoante as necessidades do ensino) Têm-se realizado cursos de férias especialmente destinados aos professores do quadro eventual para melhoria das suas habilitações pedagógico-didácticas.
A mencionar também a existência do ensino infantil

104. Os elementos estatísticos de que se dispõe permitem traçar as perspectivas que se apresentam para a evolução do ensino primário.

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[ver tabela na imagem]

b) Ensino secundário

Ensino liceal

105. O ensino secundário é ministrado no Liceu de D João II, situado na capital Apesar de instalado em edifício próprio, mas não expressamente construído para o efeito, crescem de ano para ano as dificuldades no que respeita a capacidade e condições de funcionamento das suas actuais instalações.
Além do curso ordinário diurno, funciona também um curso extraordinário nocturno
Para os anos lectivos de 1968-1964 e 1964-1965, os números são os seguintes

[ver tabela na imagem]

Ensino técnico e profissional

106. Em 1965 foi criada uma escola técnica elementar de frequência mista em S Tomé, a qual, em 1967, foi elevada a escola comercial e industrial, encontrando-se ainda na fase preliminar do seu funcionamento.
Mas o ensino profissional elementar dispunha já de uma escola de artes e ofícios, em 1964-1965 tinha 7 professores e 93 alunos
A referir também uma escola de enfermagem anexa ao hospital central

2. Investigação não ligada ao ensino

107. No caso particular de S Tomé e Príncipe, predominam, no âmbito da investigação, os trabalhos já efectivados nos anteriores planos de fomento, ou a efectuai de futuro, alguns relacionados directa ou indirectamente com o sector agrícola, quer no sentido de uma melhoria nas práticas e técnicas de cultivo, quer constituindo formas de avaliações de produtividade e dimensão na propriedade, com vista a ulteriores aplicações de diversa natureza, sempre implícitas no âmbito do desenvolvimento económico.

2. Objectivos

1. Educação

108. Pretende-se fundamentalmente elevar o nível cultural da população, através de

Melhoria das condições do ensino primário,
Ampliação das possibilidades de acesso ao ensino secundário,
Maior acesso ao ensino médio e superior, com a concessão de um número mais elevado de bolsas para estudos fora da província,
Educação de adultos - promoção social, formação profissional e alfabetização.

2. Investigação não ligada ao ensino

109. São os seguintes os objectivos em vista

a) Cartografia geral
Prevê-se ó prosseguimento dos trabalhos com vista à conclusão das cartas geral e cadastral.

b) Hidrologia

Pretende-se executar os trabalhos de investigação sobre a existência e localização de águas, designadamente com vista às necessidades de irrigação na estação seca.

c) Meteorologia

Tem-se em vista o aperfeiçoamento dos métodos de análise na rede meteorológica da província e o levantamento geomagnético complementar do iniciado em 1960.

d) Investigação aplicada a agricultura

Pretende-se a elaboração de uma nova carta dos solos em menor escala do que a já existente A investigação básica, a cargo da Estação Agrária e Florestal e dos postos agrícolas, deve prosseguir com o incremento conveniente.

c) Estudos de biologia piscatória

Os objectivos consistem no prosseguimento das investigações sobre a biologia piscatória nas águas de 8 Tomé, para um apoio científico e tecnológico à pesca, e no estudo sobre o estabelecimento de um porto de pesca com as indispensáveis infra-estruturas logísticas e que possa fornecer apoio e abrigo à navegação de pesca oceânica.

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f) Coordenação de investigação cientifica

Têm-se em vista os estudos económicos de base, análises sectoriais, inquéritos técnico-económicos e demográficos, etc. , a realizar por intermédio de um centro de estudos e concessão de bolsas de estudos.

3. Investimentos

110. Prevêem-se os seguintes investimentos

1. Educação

Construção e apetrechamento de novos edifícios escolares,
Meios de educação audiovisuais, Formação profissional, Bolsas de estudo

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral

Impressão das cartas 1/25 000 e 1/10 000 e estudos geológicos com a finalidade de elaborar a carta geológica.

b) Hidrologia

Estudos sobre a existência e localização de águas

c) Meteorologia

Rede meteorológica, levantamento geomagnético complementar

d) Investigação aplicada a agricultura

Elaboração de nova carta dos solos,
Investigação básica

e) Estudos de biologia piscatória

Aquisição de uma embarcação polivalente para estudos de apoio tecnológico, Estudos da biologia piscatória, Estudos sobre o estabelecimento de um porto de pesca.

f) Coordenação de investigação cientifica

Centro de estudos de base

Educação e investigação

Programa de Investimentos

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XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

111. A assistência médica na província é prestada pela rede sanitária do Estado, pelas autarquias locais (câmaras municipais), pelo Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura, pela Caixa de Aposentações e Pensões dos Funcionários Públicos, pela Casa dos Pescadores, pela Associação de Socorros Mútuos da Trindade, e nas propriedades agrícolas (roças).

112. À organização sanitária oficial compreende um hospital central (cidade de S. Tomé), um hospital regional (cidade de Santo António do Príncipe), quatro delegacias de saúde (três na ilha de S Tomé e uma na ilha do Príncipe), um centro de assistência materno-infantil (cidade de S Tomé), um dispensário antituberculoso (idem), uma leprosaria (idem), novos postos sanitários e três maternidades na ilha de S Tomé, e mais uma maternidade em Santo António.
Este conjunto oferece, no total, 393 leitos, 362 em S Tomé e 21 no Príncipe.

113. Devido a evolução do sentido das responsabilidades sociais e a uma maior exigência da legislação do trabalho e de assistência ao trabalhador, a actividade privada foi lentamente constituindo um conjunto sanitário privativo bastante vasto Existem, na província, 29 estabelecimentos hospitalares, dos quais 25 em S Tomé, 19 postos sanitários (17 em S Tomé) e um total de 1769 camas (1631 em S Tomé e 138 no Príncipe).
Não se deve, contudo, considerar este conjunto como uma organização sanitária, porquanto os estabelecimentos não funcionam articuladamente, variando o seu nível por falta de pessoal técnico, ou por outras razões.

114. A manutenção e funcionamento dos estabelecimentos sanitários oficiais e particulares está a cargo de 20 médicos, l farmacêutico, 74 enfermeiros (enfermeiros, praticantes e ajudantes) e diverso pessoal administrativo.
A província tem desde 1946 uma escola de enfermagem, mas com reduzida frequência e funcionando no hospital central Existe também uma secção de educação e serviço social pertencente ao Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social, onde funciona um curso de monitores de família, com vista a promover a divulgação de princípios sanitários.

115. A taxa de mortalidade vem indicando nos últimos anos uma tendência francamente degressiva De 27,3 por cento em 1951 desceu para 14,8 por cento em 1965.
No quadro nosológico, não obstante verificasse já uma manifesta diminuição do grau de endemicidade palustre, é ainda o paludismo que nos aparece à frente de todos os males que afligem a população de S Tomé, logo seguido das outras doenças infecciosas e parasitárias, boubas e tuberculose.
Forçoso se torna assim acentuar a urgência em catalisar a acção da campanha contra o paludismo e contra outras endemias até a sua completa erradicação

116. A actividade dos serviços de saúde tem-se traduzido pelos seguintes números

[ver tabela na imagem]

2. Objectivos

117. Torna-se necessário reorganizar a estrutura médico-sanitária da província, o que implica, fundamentalmente. Promover a articulação adequada dos recursos do Estado e dos meios de que dispõem, ou podem vir a dispor, as entidades privadas, Sistematizar e racionalizar as funções das unidades médico-sanitárias disponíveis.
Contrariar ou impedir a tendência que hoje se verifica para a concentração dos médicos na cidade.
Há também que actuar sobre os factores que mais directa e decisivamente influem nas causas de mortalidade geral e infantil.

3. Investimentos

118. Prevêem-se investimentos para

Intensificação da campanha contra o paludismo, Ampliação do hospital central e remodelação dos pavilhões existentes,
Apetrechamento e equipamento de diversas instalações hospitalares

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

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Programa de investimentos

Resumo por sectores

[ver tabela na imagem]

IV Angola

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. A economia de Angola pode ser caracterizada, do ponto de vista físico, por dois traços fundamentais grandeza de recursos oferecidos pela natureza e extraordinária variedade de condições e possibilidades.
Com efeito, se, de um lado, à extensão do território se associam enormes potencialidades energéticas de origem hídrica, um subsolo que, apesar de incompletamente inventariado, já revela realidades e potencial idades muito relevantes de exploração económica, abundantes recursos piscatórios nas águas próximas e proporção favorável de solos com aptidão agrícola, a extraordinária variedade de climas, de solos, de zonas susceptíveis de aproveitamento económico, abre, por seu lado, um panorama rico de possibilidades para um desenvolvimento económico de largas e variadas perspectivas.

2. Uma população limitada em relação a superfície, com tendência para concentração nas áreas planálticas e nas zonas de influência dos grandes portos marítimos e para um crescimento a ritmo rápido, não suscita situações de pressão demográfica, antes poderá criar condições de escassez de mão-de-obra de todos os níveis de qualificação, nem sempre supríveis pelos fluxos migratórios inter-territoriais.

3. No quadro produtivo, onde a participação da industria se vai firmando, domina ainda o sector agro-pecuário Às industrias extractivas, ]á de relevante contribuição para o produto interno, apresentam perspectivas de grande expansão no futuro próximo.

4. Nas relações económicas com o exterior, assinalam-se como aspectos salientes o elevado grau de concentração de exportação, o ritmo rápido de expansão das exportações e das importações e a dificuldade de manutenção de um equilíbrio operacional da balança de pagamentos, dada a insuficiência dos fluxos de entradas de invisíveis.

5. As infra-estruturas económicas, que têm sido objecto de esforços crescentes, acompanham, com as insuficiências próprias de economias dinâmicas e da extensão do território a servir, a evolução, não só dos pólos e eixos de desenvolvimento económico, como, de um modo geral, dos agregados populacionais distribuídos pela província Três caminhos de ferro de penetração tendo como pontos de partida portos modernos, uma rede de estradas em rápida progressão, três sistemas básicos de produção hidroeléctrica, uma dezena de centros urbanos de relevância suficiente para servir focos de desenvolvimento regional, facultam à economia angolana a quadrícula do seu crescimento, que se tem processado a ritmo acentuado e se poderá ainda acelerar decisivamente no futuro próximo.

6. No aspecto social, a estrutura, na qual se identificam os grandes estratos sócio-económicos normalmente presentes em sociedades duais, tende, em resultado dos progressos alcançados no âmbito da acção educacional, da promoção social, da melhoria do nível económico das populações e da progressiva monetarização da economia do subsistência, para uma cada vez maior integração nas tradições da presença portuguesa A este respeito são de realçar os resultados espectaculares alcançados no esforço de dar resposta à procura crescente da promoção cultural por parte da população.

7. O sector público, ao qual o condicionalismo sócio-económico de Angola exige responsabilidades particularmente pesadas no campo dos serviços sociais e das infra-estruturas, tem assegurado, com reconhecidas dificuldades e insuficiências, o papel que se pode classificar de decisivo como enquadramento e apoio da iniciativa privada Os principais estrangulamentos do sector situam-se no plano do pessoal qualificado, sempre escasso, e da capacidade de participação da economia empresarial na realização das infra-estruturas económicas e sociais
No aspecto financeiro, a economia da província tem reagido favoravelmente no encaminhamento, de proporções crescentes - mas ainda longe de limites extremos -do seu produto, para satisfação de necessidades colectivas.

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Desta forma, os concelhos mais povoados localizam-se nos distritos de Luanda, Huambo e Benguela, verificando-se situação idêntica para as densidades populacionais No quadro seguinte inserem-se, por ordem, os concelhos que apresentam valores extremos na escala do número absoluto de habitantes e das densidades.

Distribuição da população por concelhos e circunscrições

[ver tabela na imagem]

Verifica-se, portanto, que, excepção feita para Luanda e Lobito, os maiores valores, absolutos e relativos, pertencem a concelhos do interior e quase todos da zona planáltica As densidades populacionais, que já apresentavam diferenças relativas consideráveis ao nível dos distritos, vêem acrescer agora a amplitude dessa variação ao nível das unidades administrativas menores.
A distribuição espacial da população de origem europeia caracteriza-se por acentuada concentração, como mostra o quadro seguinte.

Distribuição por distritos da população branca

[ver tabela na imagem]

O distrito de Luanda ocupa, como se vê, posição de relevo Em 1960 cerca de um terço dos europeus da província residia neste distrito, na proporção de 16,8 por cada 100 habitantes Foi este o valor mais alto registado em toda a província, apenas seguido a pequena distância por Moçâmedes, com 16,1 A grande distância vêm os outros distritos.
Da observação destes valores se verifica que a ocupação europeia se localiza de preferência nas zonas do Sul, de colonização tradicional, e nas regiões de Lua [...] guela-Lobito, de maior desenvolvimento industria.

13. A aglomeração da população total de zonas planálticas e em algumas regiões do a acentuar-se, não só pela acção dos [...] urbanos, mas também como resultado de autónomos.
População urbana da província 1960

[ver tabela na imagem]

No que se refere à distribuição da [...] o distrito de Luanda surge bastante destacantes pertencem-lhe 43,8 por cento da população da província e 64,8 por cento da população e são urbanos Com valores já notoriamente mi ainda muito afastados dos outros distrito Benguela, que possui 18,1 por cento da população total Em Moçâmedes, 82,3 por cento da urbanos, mas esta apenas representa 2,7 por e da província.
Não existem elementos que permitam d evolução da população urbana. Pode, todavia que em 1940 esta representava cerca de 5,4 população total, o que dá um acréscimo d cento para o período de 1941-1960 e, porta mento médio anual da ordem dos 7,6 por cento.

Principais aglomerados populacionais

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Lobito, Luanda e Malanje foram as cidades que mais cresceram em média, mas, em termos absolutos, nenhuma se equipara ao crescimento de Luanda.
No Sul, o crescimento foi mais lento Segundo os elementos do censo de 1960, as dezasseis cidades de Angola reuniam 428 652 habitantes, ou seja 10,6 por cento da população total da província Dos residentes em cidades, 52,4 por cento viviam em Luanda.

14. No que respeita a projecções demográficas, importa considerar que a população da província é composta por grupos étnicos de características próprias, apresentando um dinamismo distinto no seu crescimento, o que leva a ter de se encarar a evolução de cada grupo em separado As projecções apresentadas devem apenas ser encaradas como mera hipótese de trabalho, de significado sempre limitado Conforme as hipóteses básicas adoptadas para cada um dos grupos considerados, a população de Angola atingirá em 1973 os níveis de 6 375 000 e 6 729 000 habitantes, correspondendo o nível mais alto a hipóteses plausíveis de evolução de taxas de mortalidade e natalidade da população não alienígena.
Não se afigura provável a alteração significativa da estrutura etária da população até ao termo do sexénio.

3. Evolução do produto, rendimento e despesa interna Produto interno bruto

15. O produto interno bruto ao custo dos factores evoluiu entre 1953 e 1963, para preços constantes de 1963, da forma que a seguir se apresenta, incluindo números-índices para cada ano, respectivamente em relação ao ano anterior e em relação ao ano inicial.

[ver tabela na imagem]

Em dez anos o produto interno bruto cresceu 88,4 por cento, à média anual não acumulativa de 8,84 por cento; de 1958 a 1963 o acrescimento foi de 16,3 por cento, a uma média anual não acumulativa de 8,28 por cento.
O ajustamento linear da série de valores disponíveis, o qual tende a desprezar as flutuações anuais, feito pelo método dos mínimos quadrados, conduziu à determinação da taxa de crescimento anual de 8,62 por cento.

1 Os dados que serviram de base para a presente análise foram as estimativas da Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar, que englobam tanto os circuitos monetários como os não monetários, o que exige que os dados apresentados sejam objecto de tratamento para fazer face às dificuldades encontradas na utilização das estimativas do produto gerado pela economia de subsistência

taxa que pode ser tomada como a taxa média mais significativa para a evolução do produto interno bruto de Angola no período em análise.
A distribuição percentual deste agregado pelos dois circuitos - monetário e não monetário - foi, nos anos mais relevantes do penado considerado, o seguinte

[ver tabela na imagem]

16. A despesa imputada ao produto nacional bruto evoluiu entre 1953 e 1963, para preços constantes de 1968, da forma que se pode observar no quadro seguinte

[ver tabela na imagem]

17. A evolução do produto nacional bruto apresenta uma natural similitude com a do produto interno, com as mesmas pequenas quebras em 1954, 1956 e 1962, das quais apenas a primeira não foi provocada essencialmente pela variação dos preços, pois, para preços correntes, somente se assinala um ligeiro recuo em 1954 O valor máximo foi atingido em 1963.

[ver tabela na imagem]

Considerando apenas os fluxos monetários da despesa imputada ao produto nacional bruto, as taxas seriam maiores e até mais significativas, na medida em que punham em evidência uma sólida tendência monetariamente na economia O dualismo económico da província já assi(...)

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Balança de pagamentos externos

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24. Decompondo este quadro global nos seus dois elementos componentes básicos -balança de pagamentos interterritorial e balança de pagamentos internacional -, verifica-se que os saldos apurados silo resultantes da combinação sistemática de saldos negativos na primeira destas balanças com saldos fortemente favoráveis na Segunda.

[ver tabela na imagem]

For uma análise mais pormenorizada das diversas operações com os territórios nacionais, verifica-se que a única lúbrica que apresenta saldo positivo, digno de ser considerado, é a do Estado, contribuindo mais fortemente para o saldo negativo global as rubricas «Transferências privadas», «Rendimento de capitais», «Turismo» e «Mercadorias» Esta última denuncia o desequilíbrio de troca comerciais com o espaço económico nacional, embora o valor apoiado apareça um pouco superior à realidade, na medida em que não estão contabilizados todos os cambiais, em virtude da manutenção de regimes contra tais especiais.

Balança de pagamentos com territórios nacionais

[ver tabela na imagem]

As rubricas «Transferências privadas» e «Turismo» ré flectem os efeitos de estrutura demográfica caracterizada por um largo sector da população fortemente ligado ainda aos territórios de naturalidade, além da propensão & exportação de poupanças verificada, em regra, nas economias em vias de desenvolvimento
A rubrica «Rendimento de capitais» mostra o grande dependência em que o investimento na província se encontra do mercado de capitais metropolitano.
ara normalizar a situação dos pagamentos interterritoriais de Angola, foram recentemente tomadas pelo

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Governo Central medidas que se traduzem na concessão a província de dois empréstimos de 500000 contos cada um, um pela Companhia de Diamantes de Angola e outro através do Fundo Monetário da Zona do Escudo.

25. Passando à análise da balança das operações com o estrangeiro, verifica-se que o saldo positivo apurado para o período em exame se deve não só ao valor do saldo derivado das trocas de mercadorias, como ainda ao saldo da rubrica «Transportes» Para a formação do saldo desta rubrica contribuíram essencialmente os fretes com mercadorias que proporcionados pelo caminho de ferro de Benguela E o que consta no quadro seguinte.

Balança de pagamentos com territórios estrangeiros

[ver tabela na imagem]

26. Numa definição dos aspectos da balança de pagamentos da província mais relevantes para o processo do seu desenvolvimento económico, salienta-se, pois, com nitidez, o papel determinante desempenhado pela atracção de capitais externos, pela fixação de poupanças locais e, em especial, pela expansão das exportações, na manutenção de um equilíbrio dinâmico compatível com a expansão visada.
Com efeito, não sendo de prever possibilidades relevantes em matéria de pagamentos correntes de serviços, a cobertura das crescentes importações impostas pelas necessidades de equipamento e de bem-estar das populações e dos encargos com a remuneração e amortização de capitais externos, cuja liquidação imediata constitui condição essencial e forte incentivo para atrair novos investimentos, será nos sentidos indicados que com maior segurança se poderá agir com vista a alcançar os objectivos estabelecidos.
De entre eles sobressai, porém, como mais susceptível de resposta rápida e adequada, o sector das exportações, ao qual se tem de pedir um ritmo de aceleração superior ao das importações, de modo a facultar cobertura adequada às restantes rubricas da balança de pagamentos.
Será, pois, neste aspecto que incidirá uma análise mus aprofundada, através da qual se procurará caracterizar a tendência dominante e apontar as linhas de acção susceptíveis de conduzem à realização dos fins visados e que constituem, afinal, uma das condições de realização do ITT Plano de Fomento.

Apreciação da balança comercial

27. A balança comercial de Angola tem apresentado uma evolução irregular, muito embora predomine, no conjunto dos anos a ocorrência de saldos positivos de maior ou menor volume.

Balança comercial de Angola

[ver tabela na imagem]

Verifica-se, assim, que, em relação ao período indicado, se registou, com ligeiras oscilações, um crescimento firme, quer das exportações, quer das importações e, ainda, um certo paralelismo nesta evolução, na medida em que as exportações se expandiram à taxa média anual de 8,3 por cento e as importações, revelando um ritmo mais acentuado, à taxa média anual de 8,6 por cento.
Relativamente à série apresentada, interessará ainda destacar a expansão verdadeiramente notável operada a partir de 1961, quer nas exportações, quer nas importações, e que só em 1965 apresentou uma sensível quebra quanto às exportações, motivada, fundamentalmente, pela diminuição registada com o sisal (-205699 contos), os minérios de ferro (-87281 contos) e o petróleo (-118909 contos).

28. A exportação tem-se caracterizado, quanto à sua composição, por um elevado predomínio de bens primários ou matérias-primas Assim, em 1965, o café em grão (47 por cento), os diamantes em bruto (16 por cento), o milho (5 por cento), o sisal (5 por cento) e os minérios de ferro (3 por cento) representaram 76 por cento desse montante, o que evidencia, além de uma estrutura fortemente primária das actividades orientadas para a exportação, a existência de uma forte vulnerabilidade às frequentes oscilações de preços que caracterizam as cotações dos produtos básicos no mercado mundial, em consequência da elevada concentração observada.
A verificação desta estrutura põe em evidência a necessidade que existe de se adoptarem as medidas convenientes destinadas a conseguir-se uma maior diversificação dos produtos exportados, a fim de se obviar às consequências, sempre de ampla repercussão na economia interna, que resultam das frequentes oscilações das cotações mundiais dos produtos primários, e ainda, o que é mais grave, a tendência para a baixa de cotações que os mesmos e velam.
A elevada concentração por produtos acresce uma alta concentração na distribuição geográfica do comércio externo.
Assim, se considerarmos a repartição pelos principais mercados consumidores i ela ti vá ao último quinquénio, desde logo se vislumbra uma forte dependência em relação a um número muito reduzido de clientes, facto bem traduzido pela circunstância de, por exemplo em 1965, apenas quatro mercados absorverem 75,8 por cento das exportações totais Dos territórios estrangeiros pertencentes a este grupo ressalta a posição assumida pelos Estados Unidos, com uma percentagem média no quinquénio em referência acima dos 20 por cento, que se pode atri(...)

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(...)buir, na quase totalidade, às vendas de café para aquele mercado
Quanto aos espaços económicos com os quais mantemos um comércio intenso de exportações, interessará referir.
separadamente, analisando-as especialmente sob o aspecto de evolução, as vendas para o espaço económico nacional, para a C E E e para a E. F T A (com exclusão da metrópole).

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Repartição geográfica das exportações

Principais territórios clientes e zonas; quinquénio de 1961-1965

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Desta modo, o espaço económico português detém uma progressiva participação, muito embora, considerando isoladamente a metrópole e o ultramar, se tenha assistido a uma evolução em sentidos opostos assim, enquanto as vendas com destino ao mercado metropolitano conheceram no quinquénio forte expansão, as exportações para os territórios ultramarinos apresentaram uma evolução regressiva, se bem que pouco acentuada Este surto das vendas à metrópole filia-se essencialmente no processo de integração económica, através da qual se tem operado uma progressiva eliminação dos obstáculos à livre circulação de mercadorias.
Relativamente às associações económicas europeias, observa-se, no que respeita à C E E , uma certa estagnação do nosso comércio. Quanto à E F T A , a quebra detectada resulta do desvio que se tem operado na exportação de diamantes em bruto do Reino Unido para a metrópole, mercê da instalação da indústria de lapidação neste território.

29. Do mesmo modo que na exportação, também nas compras ao exterior se assinala uma certa concentração quanto a determinadas categorias de bens, relevando-se as que seguidamente se indicam, escalonadas por ordem decrescente dessa sua posição relativa, representativas de 73,2 por cento do valor global importado no quinquénio de 1961-1965.

[ver tabela na imagem]

Interessa saber, em relação a estas classes de bens, quais os produtos que mais contribuíram para a formação do valor global de bens no exterior, com vista a planificação, dentro do possível, das medidas que conduzam à implantação de uma política tendente a diminuir, progressivamente, a dependência do exterior em relação a estes produtos.
Assim, trabalhando com valores globais referentes ao quinquénio de 1961-1965, a estrutura em relação aos grupos de mercadorias mais relevantes no quadro das importações é a seguinte.

[ver tabela na imagem]

Entre os produtos mencionados, interessa referir, dadas as potencialidades existentes na província para um aumento substancial da produção local a prazo mais curto, a importância assumida pelos tecidos de algodão no conjunto das exportações.
Quanto às restantes mercadorias, verifica-se, de um modo geral, que os possibilidades de produção na província são ainda bastante limitadas para os próximos anos, dado o grau de industrialização que exigem.
No que respeita à repartição geográfica das importações, verifica-se ainda uma certa concentração, assumindo posição de especial relevo o volume das compras efectuadas em território nacional.
Assim, para o quinquénio de 1961-1965 registou-se a distribuição que seguidamente se aponta, por territórios fornecedores.
Repartição geográfica das Importações Principais territórios e zonas; quinquénio de 1961-1966.

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30. Em relação ao decénio de 1956-1965, apresentaram as exportações e as importações uma taxa média de crescimento anual da ordem, respectivamente, dos 8,8 e 8,6 por cento Prevê-se que as taxas de crescimento a observar para os próximos anos sejam substancialmente mais elevadas. Efectivamente, se atentarmos na série de valores, para o decénio em causa, apresentada pelas duas variáveis da balança comercial, identificaremos desde logo a existência de dois períodos distintos um, situado entre 1956 e 1961, caracterizado por uma estagnação relativa, durante a qual as exportações denunciaram um acréscimo anual médio da ordem dos 3,6 por cento e as importações um aumento médio, bastante menos acentuado, de 0,7 por cento, outro, posterior a 1961, simbolizado por uma saudável reacção de natureza económica ao surto terrorista, em cujo decurso as exportações atingiram o notável acréscimo médio anual de 12,1 por cento e os importações um aumento médio, verdadeiramente excepcional, de 17,9 por cento.
Julga-se, pois, que terá de ser com base nesta evolução recente que se deverá enquadrar o comportamento para os próximos anos das duas componentes em apreço (importação e exportação).
Assim, quanto à importação, é provável que a taxa de crescimento médio anual se situe nas proximidades dos 15 por cento, previsão que, a concretizar-se, forneceria os valores de 6,7 milhões de contos em 1968 e 9,1 milhões de contos em 1973.
Quanto à exportação, será previsível, desde que se concretizem alguns dos empreendimentos adiante preconizados, que venha a conhecer taxa ainda mais elevada do que a calculada para os anos mais recentes posteriores a 1961 Efectivamente, estimando, só com base no projecto de exploração mineira de Cassinga, uma exportação de minério de ferro para 1968 da ordem dos 2 milhões de toneladas e um crescimento médio anual destas exportações do nível dos 25 por cento, o que não parece exagerado e permite um volume de vendas deste produto em 1973 da ordem dos 4,5 milhões de toneladas, poder-se-ia atingir para o período de execução do Plano uma taxa de crescimento dos exportações - desde que as exportações dos restantes produtos crescessem ião mesmo ritmo do período posterior a 1961 - do nível dos 14,1 por cento, a que corresponderia, em 1973, um valor exportado próximo dos 10,4 milhões de contos.
Com base nestas estimativas, necessariamente muito grosseiras, poder-se-ão esperar os níveis seguintes.

Níveis da balança comercial

[ver tabela na imagem]

Fomento da exportação

31. Como medida principal neste campo, situa-se a expansão da produção, que será necessário processar a ritmo mais intenso, em especial a daqueles sectores com reflexo na exportação Assim, apontam-se duas ordens de acção, consoante a sua execução se deva realizar a médio ou a longo prazo.

a) Objectivos a médio prazo

1. Intensificação ou inicio do aproveitamento das jazida minerais já identificadas s com características de exploração economicamente rentável.
Parecem residir nesta lúbrica os possibilidades de se conseguir, no decurso dos próximos anos, um aumento mais espectacular do valor das exportações Oferecem tais perspectivas a exploração dos minérios de ferro e a extracção do petróleo.

32. Os fosfatos naturais de Cabinda já assinalados merecem especial referência entre uma gama ampla de possibilidades, pois, além de poderem vir a ter razoável incidência na exportação, poderiam ainda constituir fonte de matéria-prima para a produção local de fertilizantes.

2. Expansão das produções do sector agro-pecuário em relação às quais se sabe existir |á um conjunto de factores produtivos favoráveis e boas perspectivas de colocação no exterior.
Nesta categoria podem enquadrar-se diversos produtos, merecendo especial relevo o açúcar, o algodão, as frutas, carnes do bovinos e produtos de palmar

33. Quanto ao açúcar, embora a comercialização mundial deste produto se tenha caracterizado até agora por uma super produção -com o inevitável reflexo numa tendência para uma progressiva baixa de cotações -, o facto é que, enquadrando o problema no âmbito nacional, as perspectivas existentes para a colocação da expansão da produção de Angola são favoráveis.

34. Efectivamente, não obstante o acréscimo que SB tem registado na produção da província de Moçambique, o déficit do consumo da metrópole, que tem vindo a ser suprido com produtos de origem estrangeira atingiu em relação ao ano de 1965 o quantitativo de 47 481 t, no valor de 125 193 contos, sem mencionar as potencialidades reveladas pelas baixas capitações de consumo em quase todos os territórios nacionais.
Como veremos, será considerada a instalação de mais uma fábrica de açúcar em Angola.
Quanto ao algodão, será necessário levar a cabo esforço notável para que a exportação desta obra conheça expansão razoável.
No que respeite às frutas, aquelas que para os próximos anos apresentam maiores perspectivas de virem a constituir fonte de receita em cambiais apreciáveis são n banana e o abacaxi, muito embora para a exportação em fresco a primeira assuma papel muito mais relevante Efectivamente, quanto à segunda, os possibilidades de exportação em volume mais significativo residem na colocação dos produtos já industrializados (rodelas, sumos, compotas, etc.).

35. O crescimento do consumo que se tem operado no mercado metropolitano tenderá a aumentar nos próximos anos, mercê de acção positiva, não só no âmbito da distribuição, como também no da política de baixo preço ao consumidor, que se espera levar a cabo E legítimo esperar que a exportação de frutas frescas atinja em 1968.

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Importação de tabaco

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Nota-se o recurso crescente às ramas exóticas À penetração das mesma? no mercado externo tem-se revelado difícil.
Seria, assim, de tentar um esforço das manipuladoras no sentido de, gradualmente, se procurar uma utilização cada vez mais completa das ramas locais

5. Perspectivas de desenvolvimento

46. As características estruturais e dinâmicas que a análise da economia permitiu pôr em relevo apontam de forma clara quais os sentidos em que, com maior probabilidade de sucesso, se deverão orientar os esforços a realizar para alcançar a desejada aceleração do seu processo de crescimento económico

47. A expansão do seu produto interno, a ritmo suficiente para permitir uma redução progressiva da disparidade hoje verificada relativamente ao nível da capitação observada na metrópole, constitui objectivo atingível através de esforços concentrados e concertados essencialmente em três campos.
A intensificação, aliás já realidade, do aproveitamento dos recursos do subsolo para exportação e, sempre que economicamente possível e rentável, para transformação local,.
A melhoria da produtividade da agricultura, sector sobre o qual a economia angolana continua fundamentalmente a assentar e cujas potencialidades se oferecem suficientemente variadas para permitir segura escolha das culturas a fomentar ou a introduzir e das acções a realizar com vista a promovei técnica e humanamente os agricultores tradicionais e a integrar as suas actividades na economia de mercado,
O fomento industrial, que, não obstante a autonomia do seu carácter motor, terá de se apoiar no desenvolvimento das indústrias extractivas e da agricultura, com vista quer a valorizar as suas produções, dentro das possibilidades oferecidas pela receptividade dos mercados externos, quer à satisfação dos consumos locais Este processo de industrialização deverá, em qualquer caso, ter como condição essencial a rentabilidade e viabilidade técnica, económica e financeira das unidades fabris.

48. A concretização de um esquema baseado nestas linhas genéricas de acção tem como condicionantes a satisfação paralela das exigências em matéria de infra-estruturas económicas e sociais e um esforço determinado no sentido da projecção, a ritmo ainda mais acelerado, do futuro da obra extraordinária de promoção social quê vem sendo realizada nos mais diversos aspectos das populações da província.
A este respeito reconhece-se haver difícil equilíbrio a estabelecer entre as vantagens económicas de concentrar investimentos e acções nos pólos, zonas e eixos de desenvolvimento económico já existentes e a indispensabilidade de considerar simultaneamente a melhoria das condições de vida e de trabalho dos restantes núcleos populacionais.
A cuidadosa gestão dos recursos disponíveis e a congregação da colaboração das populações interessadas permitirá, certamente, resolver esta difícil compatibilização dos interesses puramente económicos com os de ordem política, social e humana.

49. O desenvolvimento das infra-estruturas económicas poderá, para além dos seus efeitos directos, desempenhar papel de relevo na formação do espírito empresarial, na medida em que a realização da obra e o fornecimento de equipamentos possam ser satisfeitos localmente Uma programação cuidada poderá, com algum apoio, criar condições de vida básicas para novas indústrias e para o aparecimento ou consolidação de novas empresas.

50. As perspectivas abertas a um povoamento autónomo, determinado pelo próprio processo de desenvolvimento económico, ainda que não excluindo a vantagem da assistência e promoção oficiais, podem qualificar-se de muito favoráveis em si mesmas e susceptíveis de terem efeitos induzidos de relevo, através, nomeadamente, do alargamento e diversificação do consumo interno

51. A efectivação das perspectivas apontadas implicará o prosseguimento de uma política financeira dominada pela preocupação de estabelecer equilíbrio entre uma tributação que, sendo dinâmica e adequada para cobertura dos encargos correntes e com os empreendimentos programados, não desincentive o investimento e, em particular, a atracção de capitais externos.

52. A manutenção de um equilíbrio da balança de pagamentos externos constituirá segunda, e não menos importante, preocupação, cuja concretização está condicionada pelo sucesso que venha a ser alcançado no domínio da expansão das produções. para exportação ou para substituição de importações e de fixação de poupanças formadas localmente em empreendimentos na província.

CAPITULO II

Objectivos

1. Objectivos gerais

53. A efectivação no condicionalismo particular de Angola dos objectivos que foram definidos para o III Plano de Fomento traduz-se pelos seguintes objectivos
do aproveitamento dos recursos ao subsolo - A posição já alcançada neste sector, nomeadamente no que concerne ao empreendimento mineiro de Cassinga, e o conhecimento das grandes potencialidades de aproveitamento a curto e médio prazo levam a considerar este sector como sendo um dos sectores motores do desenvolvimento da economia de Angola, com reflexos particularmente favoráveis da respectiva balança de pagamentos.

2 º Melhoria do nível de produção e produtividade do sector agro-pecuário - A aceleração do crescimento do produto deste sector constitui objectivo fundamental, quer no aspecto económico, quer

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no aspecto social Com efeito, não só nele se registam possibilidades de grande expansão de produção para consumo interno, para exportação e para transformação industrial mediante investimentos nem sempre vultosos, como tão--pouco se pode deixar de ter em conta o factor da promoção social das populações agrícolas, que no conjunto atingem cerca de 90 por cento da população activa, o qual está condicionado estreitamente pelo nível económico correspondente.
3.º Aumento e valorização da produção piscatória - As actividades piscatórias desempenham já papel importante na vida económica de Angola. A riqueza piscatória das suas costas e a localização favorável, em relação aos pesqueiros do Atlântico sul, permitem considerar como objectivo fundamental o aumento do volume das capturas, através da modernização das frotas de pesca e seu equipamento, e o melhor aproveitamento qualitativo do pescado através da industrialização e comercialização convenientes.
4 º Desenvolvimento paralelo do processo do industrialização -Visando a valorização de produtos agrícolas, piscatórios ou mineiros para a exportação ou a sua transformação com vista a satisfazer o consumo interno, a industrialização está chamada a desempenhar papel de multiplicador do desenvolvimento económico de Angola, se conduzida num critério de estrita rentabilidade e viabilidade técnico-económica.

54. Estes objectivos, cuja efectivação corresponde essencialmente ao propósito de assegurar n aceleração do ritmo de descimento do produto nacional da província, permitirão realizar simultaneamente as condições básicas para o aperfeiçoamento do esquema de repartição dos rendimentos, qual seja o aumento absoluto dos produtos e a melhoria do nível de produtividade da mão-de-obra nos sectores motores.

55. Mais como condição do que como objectivo, haverá que apontar ainda

5 º Completamente e ampliação da rede das infra-estruturas - A rede actualmente disponível de infra-estruturas carece de acompanhar e mesmo preceder o desenvolvimento programado nos diversos sectores económicos e as necessidades crescentes em matéria de equipamento social Qualquer desfasagem nesta ligação poderá traduzir-se em estrangulamentos e de economias externas, que importa evitar a todo o custo.

56. Para além destes objectivos essencialmente económicos, há que referi como objectivo prioritário e em grande medida condicionante de toda a acção de progresso económico o seguinte.
6 º Promoção a, ritmo cada vês mais acelerado das populações - A valorização humana é, com efeito, fim essencial a atingir e condição de sucesso de todos os empreendimentos que assentem na modificação de atitudes ou exijam melhores qualificações profissionais e culturais ou mais elevado nível sanitário ou nutricional Registar-se-á, em especial, a estreita conexão existente entre a promoção social e a integração em economias de mercado.

2. Projecção

Projecções do produto

57. A partir dos dados da contabilidade económica da província, foi verificada uma taxa média de crescimento anual do produto interno bruto de 8,62 por cento até 1963 Atendendo, porém, a que o ritmo de crescimento deveria ter-se acentuado em 1964 e 1965, é de aceitar como tendência normal do crescimento, em média, a taxa de 4,5 por cento Foi esta última a taxa considerada na extrapolação feita e apresentada na 2º coluna do quadro seguinte:

Estimativa da evolução de crescimento do produto interno bruto

[ver tabela na imagem]

58. Admitiu-se, pois, que no domínio do Plano Intercalar o esforço desenvolvido seria intensificado em relação aos anos anteriores, pelo que se tomou n taxa anual de crescimento de 5 por cento para o período de 1966-1968. Tal taxa de crescimento anual corresponde a um acréscimo anual correspondente a um crescimento do produto per capita a uma taxa anual de cerca de 4,8 por cento Pareceu conveniente apresentar uma estimativa para uma hipótese menos optimista, considerando a taxa de acréscimo anual de 6,5 por cento, ou seja um crescimento do produto per capita da ordem de 4,8 por cento.
Não parecendo ser possível atingir, no domínio do III Plano de Fomento, taxa de crescimento anual superior a 7 por cento, haverá que prever a necessidade de substanciais esforços em planos futuros, de forma a visar-se como meta, a longo prazo, o nivelamento das capitações do produto interno bruto relativamente ao nível metropolitano, que, para já, implicaria uma taxa de acréscimo superior a 7 por cento.

59. Para a projecção global e projecções sectoriais, até ao início do III Plano de Fomento, considerou-se que 1963 foi o ano de retoma no ritmo de desenvolvimento da actividade económica (acentuada provavelmente nos anos posteriores) e atendeu-se ao comportamento do nível da produção registada nalguns sectores, tais como indústrias transformadoras, indústrias extractivas e a exportação de produtos agrícolas Não se deixou também de tomar em conta o ritmo de crescimento que se vinha verificando nalguns sectores antes de 1961
No quadro seguinte indicam-se os valores de produção estimados para os sectores de actividade acima referidos (conquanto os dados estatísticos disponíveis não permitam o cálculo exacto do valor global).

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A falta de elementos que permitam cálculos concretos levou a considerar como mais lógico e operacional tomar um coeficiente médio a partir do somatório das variações anuais do produto interno bruto. As estimativas 'feitas conduziram aos seguintes resultados.

a) Considerando o período de um ano de maturação dos investimentos 3,51,
b) Fará o período de dois anos de maturação 3,06.

O método de médias móveis é susceptível de ser convertido para compensar as autuações produzidas por perturbações conjunturais, as quais são responsáveis, neste caso, pela irregularidade dos valores achados.
Escolhida uma base de médias móveis trienais, obtiveram-se os coeficientes capital-produto variando entre 2,2 e 8,9 na hipótese de dois anos de maturação e entre 2,5 e 10,3 na de um só ano.
O valor médio é de 3,07 para um ano de maturação e de 2,96 para dois anos de maturação.

64. Esta analise das tendências do passado sugere que para Angola o coeficiente capital-produto estaria entre 3 e 3,5.
O coeficiente capital produto global peide, no entanto, parte do seu significado só se atentar na dualidade da economia angolana. É óbvio que a economia tradicional, que praticamente desconhece o factor capital, introduz uma baixa no coeficiente que se obteria se se considerasse apenas o circuito monetário Mas tal facto representa uma poderosa arma para efeitos de planeamento, ]á que durante a fase de transição da economia de subsistência para a economia de mercado se tornam possíveis aumentos sensíveis do produto com aplicações relativamente modestas de investimento.
Por outro lado, a circunstancia de os números achados serem inferiores aos que se observam paia economias subdesenvolvidas justifica-se, em porte, pelo facto de se trabalhai com valores brutos, quer para o investimento, quer para o produto.
A partir dos valores extrapolados para o produto interno bruto as taxas consideradas, e admitindo o valor 3 para o coeficiente capital-produto, determinaram-se valores de investimentos a realizar na vigência do III Plano de Fomento, considerando-se o período de maturação de um ano.
No quadro seguinte indicam-se os níveis de investimentos estimados.

[ver tabela na imagem]

A hipótese que mais interessa considerar é a B, isto é, para a taxa de crescimento programada de 7 por cento.

65. Parece pertinente pôr-se a questão de saber qual deve ser, grosso modo, a acção do sector público para se atingir a taxa de crescimento desejada de 7 por cento Depara-se, porém, a dificuldade de que, embora o Plano procure ser global, há uma boa parte de investimentos que, no mesmo, não poderão ser especificamente indicados, pela falta de dados estatísticos convenientemente trabalhados

[ver tabela na imagem]

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66. A queda de 1963 para 1964 no valor da construção não significa diminuição da actividade do sector E que só se tomou em conta o valor dos edifícios construídos, quando é certo que muitas dezenas de prédios de grandes proporções foram iniciados em 1964 e só concluídos em 1965. Assim, parece serem mais significativos os números respeitantes a pedidos de autorização para construção nos principais centros urbanos, conforme consta do quadra seguinte

[ver tabela na imagem]

Pode admitir-se, atendendo à tendência verificada, que os investimentos do sector público e do privado a fazerem-se no III Plano poderão não andar muito longe da proporção de 25 por cento para 75 por cento, respectivamente Não se deixa de ter presente o facto de que o investimento público exercerá, até certa medida, um efeito incentivador sobre o investimento privado.
A aceitar-se a relação acima referida, sendo os investimentos públicos da ordem de 11 milhões de contos, seriam os investimentos particulares da ordem de 33 milhões de contos, perfazendo o total de 43 300 000 contos. Nesta ordem de ideias, não estariam expressamente incluídos no Plano investimentos privados da ordem dos 15 a 20 milhões de contos.
Parece, no entanto, aceitável concluir-se que não seria difícil atingirem-se investimentos globais da ordem de 43 300 000 contos, o que permitiria alcançar a meta programada de um crescimento segundo uma taxa de 7 por cento ao ano, que se julga possível atingir.

Projecções relativas ao sector público

67. No que se refere ao sector público, os objectivos a visar consistem fundamentalmente em compatibilizar o crescimento das despesas correntes, imposto pelo desenvolvimento económico-social, com um acréscimo de participação pública na formação bruta de capital fixo, sem no entanto, implicar carga fiscal excessiva.
Admitida a necessidade de contei o ritmo de expansão das despesas correntes em limites mais estreitos do que os verificados no período de 1953-1963 - o que exigirá reconhecidamente esforço considerável de austeridade e de reforma administrativa e um nível de financiamento externo da ordem de meio milhão de escudos por ano -, a cobertura com fundos públicos de 25 por cento dos investimentos totais previstos exígua que as receitas públicas venham a atingir em 1973 o montante de 6850 ou 7120 milhares de contos, conforme se trate das hipóteses A ou B.
Man tendo-se, por outro lado, a relação verificada no passado entre os impostos indirectos cobrados e o produto interno bruto - isto é, cerca de 6 por cento -, os restantes réditos públicos terão de crescer no período do III Plano de Fomento ao ritmo médio anual de 18 por cento Alternativamente, poder-se-á considerar uma hipótese de crescimento mais rápido dos impostos indirectos, de modo a manter a posição relativa quanto às outras fontes de receitas públicas ou ainda um aumento de ajuda financeira externa.
A carga fiscal sofrerá, assim, no seu conjunto, agravamento, ao passar de 13 por cento em 1963 para 17 por cento, nível que, sem ser excessivo (o valor comparável para a metrópole em 1965 era de 10,6 por cento), não deixará de exigir significativo esforço no campo da fiscalidade.

Projecção das despesas e receitas correntes do sector público

[ver tabela na imagem]

Projecções das balanças do comércio e do pagamentos

68. A concretização, em condições de equilíbrio externo, do esquema do desenvolvimento considerado implica um aumento muito acentuado das exportações. Com efeito, para que seja possível assegurar a cobertura desejada ao acréscimo das importações resultantes das necessidades de equipamento e da expansão dos consumos privados e ao saldo negativo verificado nas transacções correntes, as exportações teriam de crescer no período do III Plano de Fomento de modo a atingir em 1973 o nível dos 10,4 milhares de contos, o que equivaleria a um aumento médio anual de 14,1 por cento.

69. Esta expansão de exportação, que exigirá um esforço considerável tanto no campo da produção como no da conquista de mercados, será comportável com um aumento das importações a uma taxa média de 15 por cento e um saldo negativo das restantes rubricas da balança de pagamentos da ordem de 1,8 milhões de contos.
A expansão considerada das exportações assenta na combinação de uma extrapolação da tendência verificada no período seguinte ao ano de 1961 com o lançamento de novos empreendimentos voltados para os mercados externos, como, por exemplo, a exploração mineira de Cassinga, que exportará 5 milhões de toneladas anuais, o aumento previsto das exportações de carnes, de frutas, de produtos das indústrias de madeira e celulose e o arranque de novas produções industriais, alumínio electrolítico, etc.

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Há a assinalar um descimento ligeiramente menos sensível do que nas receitas l 694 000 contos em valores absolutos e um acréscimo médio anual da ordem dos 20 por cento

75. A poupança do Estado foi, pois, nesse período, a seguinte

Poupança do Estado

[ver tabela na imagem]

O quadro assim estabelecido a partir da análise das contas gerais da província condiz, nas suas linhas tendências, ainda que, como é natural, a um nível absoluta mais baixo, com o que resulta da conta de operações correntes do sector público, de âmbito mais amplo.
Nas projecções destas tendências para o hexénio de 1968-1973 há que levar em conta a circunstância de a fase de rápido crescimento das receitas públicas no período antecedente ter correspondido à criação de novas formas de fiscalidade, o que obriga a considerar taxas mais baixas de crescimento futuro No que se refere às despesas públicas, a necessidade de cobertura de encargos crescentes com a dívida pública, com a manutenção das infra-estruturas sociais e económicas criadas pelos planos de fomento, com a defesa nacional e segurança e com a adequada dotação de meios de actuação aos serviços públicos não poderá deixar de ter de ser compatibilizada, através de uma gestão cada vez ma» cuidadosa e de medidas de reforma administrativa, com a capacidade resultante do acréscimo de receitas ordinárias.
O exame da situação, à luz destas observações, levou a considerar como valores prováveis para as receitas e despesas ordinárias da província em 1973, respectivamente, 11,5 e 11 milhões de contos, devendo as linhas prováveis de crescimento possibilitar uma poupança média anual da ordem dos 500 000 contos
Deste valor estimado para a poupança do Estado, que assenta na análise crítica sobre o comportamento dos diversos capítulos de receitas e despesas ordinárias, reserva-se para o financiamento do III Plano de Fomento o montante de 2 500 000 contos no III Plano de Fomento ou para a sua futura ampliação.
Tal contribuição está condicionada, até ao montante de 40 000 contos, & aprovação de projectos pelo Acordo Internacional do Café, ficando, a partir desse montante, vinculada apenas pela finalidade geral para que o Fundo foi criado e que o torna susceptível de latas aplicações no financiamento do sector agro-pecuário da província.
Por isso se incluiu este Fundo «por memória» na lista das fontes de financiamento, abrangido na designação «Administração provincial»

Novas receitas para financiamento do Plano

77. Para além da contribuição do sector público fixada em 3 900 000 contos, tornar-se-á necessário obter novos recursos, num montante de cerca de l 891 700 contos, através da criação de novas fontes de rendimento.

3. Instituições de crédito a) Promissórias de fomento

78. A emissão destes títulos poderá permitir que o sector público mobilize recursos adicionais apreciáveis. Tendo sido admitido que virá a tornar-se extensiva às províncias ultramarinas a disposição legal segundo a qual as instituições de crédito poderão vir a mobilizar um terço de 20 por cento das suas responsabilidades à vista para aquisição de promissórias, estimou-se que poderiam ser obtidos recursos da ordem dos 600 000 contos, repartidos entre os bancos em actividade na província.

b) Empréstimos

79. A contribuição potencial dos bancos através da subscrição de títulos provados e de dívida pública (com exclusão das promissórias e obrigações de fomento) poderá atingir, segundo estimativas baseadas na análise de evolução dos balanços dos principais bancos da província, um valor à roda de 300 000 contos. Deste montante admite-se que o sector público possa mobilizar 100000 contos

c) Empresas seguradoras

80. Estima-se que as empresas seguradoras poderão concorrer para o financiamento do III Plano pela tomada de títulos da dívida pública até ao montante de 180 000 contos Porém, se forem revistas as condições em que são oferecidas as obrigações de fomento, a contribuição financeira prestada pelas empresas seguradoras poderá vir a ser ainda ampliada.

c) Fundo de Diversificação e Desenvolvimento

76. No que se refere ao Fundo de Diversificação e Desenvolvimento, criado pelo Decreto n º 47 602, de 24 de Março de 1967, está prevista explicitamente a sua aplicação para o financiamento de planos de fomento nos empreendimentos que conduzam ou promovam a diversificação da agricultura Este Fundo foi estabelecido indo ao encontro de obrigações nacionais decorrentes do Acordo Internacional do Café, não se dispondo ameia de elementos que permitam quantificar a sua eventual contribuição para a cobertura de projectos já incluídos.

4. Particulares e empresas

a) Autofinanciamento

81. Relativamente aos empreendimentos particulares, incluídos no Plano a título indicativo, prevêem-se auto-financiamentos no valor de 5 189 340 contos, distribuídos pela pesca (496000 contos), energia (581290 contos), indústrias extractivas (1365000 contos), indústrias transformadoras (2142 450 contos), caminhos de ferro (551600 contos) e turismo (53 000 contos).

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b) Emissão de obrigações de fomento

82. Se realmente o sector público vier a recorrer em larga medida à emissão de promissórias, a tomada de obrigações por parte do sector bancário poderá vir a ser limitada.
Deste modo, a subscrição de obrigações poderá não ir muito além de 900 000 contos. A revisão das condições oferecidas ao público subscritor de tais títulos melhoraria estas perspectivas.

5. Fontes externas

a) Comparticipação financeira externa

83. Prevê-se que capitais estrangeiros, no valor de 8 084 000 contos, venham a ser associados a capitais nacionais com vista a intensificar a exploração de recursos mineiros.

b) Empréstimo externo

84. Sob a forma de crédito de equipamento e ainda financiamento puro, a contribuição financeira externa, sob esta modalidade, deverá ascender a 2 600 000 contos, destinados ao esquema do aproveitamento do Cunene e & 2 B fase do projecto de Cassinga.
O esquema geral de financiamento é, pois, o seguinte:

[ver tabela na imagem]

(a) Saldos dos exercícios findos, receitas consignadas a operações do fomento o lucros de amoedação. Incluindo 1891,7 milhares de contos, correspondentes a novos recursos a obter Internamente pela criação de receitas consignadas ao financiamento do III Plano de Fomento.

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimento

I) Agricultara, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

85. A produção de Angola tem sido predominantemente agrícola. De um total do valor de exportação da ordem doa 6 milhões de contos em 1964, mais de 4 milhões couberam ao sector agro-pecuário Toda a restante exportação da província, incluindo produtos industrializados e minérios, não atinge metade dos valores agro-pecuários.
A evolução, por quinquénios, da exportação dos principais produtos agrícolas do período de 1940-1965 manteve-se ao longo do período considerado com um acentuado grau de concentração.

Exportação dos principais produtos agrícolas

[ver tabela na imagem]

86. A diversificação cultural em Angola deve basear-se em produtos que aliem à facilidade cultural elevados rendimentos unitários Aliás, os elementos agronómicos actualmente disponíveis limitam, no presente, a escolha a poucas espécies. Não há, na verdade, elementos de base suficientes para proceder ao fomento de novas culturas e que pos(...)

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Em relação & dimensão dos grupos que se pretende promover, de difícil cálculo, só o concatenamento cu.da-doso dos elementos colhidos em inquéritos agrícolas pode dar a ideia correcta do volume de agricultores À pequena densidade da cobertuta técnica dos serviços tiadicionnis e a escassez de especialização para este tipo de assistência sugerem, de outro lado, o estabelecimento de metas inicialmente modestas

20. Crédito normal

150. Em fins de 1967, a Caixa de Crédito Agrícola de Provisões de Angola deve possuir fundos pióprios que rondai ao a importância de 180 000 contos Se se tiver em conta que a sua função é o financiamento de todo o subsector empresarial estiuturado de Angola e o estabelecimento de indústrias complementares do sector em que actua, terá de se considerar a necessidade de ampliação dos recursos de que pode dispor

O nível dos encaigos com capitais mutuados impede que a relação capitais pióprios-capitais alheios seja superior a 1/1

Para alterar esta situação haverá que fomentar a ocor-lência de depósitos a prazo e aumentar a dotação com fundos públicos

A C C A P A tem sido objecto de pedidos de financiamento para o estabelecimento de indústrias complementares da agiicultura, nem sempre concretizados em piojectos Com esta base pode estimar-se que a Caixa poderá, facilmente, com a sua actual organização e dentro do ritmo de crescimento económico agora piocessado na província, praticar empiéstimos, de médio e longo pia-KOS, no montante anual de 40000 a 50000 contos

Se se fcivei, porém, em conta a necessidade de reconverter as economias de alguns produtos de exportação — café e sisal —, a premência de investimentos no ds-senvolvimento do potencial pecuário e frutícola da província e a urgência de fomentar as mclústiias complementares do sector agrário, reconhece-se que o montante acima citado i&pidamente poda ser ultrapassado.

Agricultura, silvicultura e pecuária (Programa de Investimentos)

[ver tabela na imagem]

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[ver tabela na imagem]

II)

Pesca

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

151. A pesca de Angola caracteriza-se por especial incidência na captura de pelágicos - sardinhas e carapaus- destinados, na sua maior pai te, b. fabricação de farinhas e óleos de peixe e, subsidiariamente, a salga e secagem.

152. Da tonelagem de arqueação da frota de pesca com propulsão mecânica, 70 por cento cabem, com efeito, às trameiras do tipo convencional, operando com cerco para bordo, que no último triénio concorreram para a captura de cerca de 90 por cento do pescado.
Nos últimos anos verificou-se regressão nas capturas das artes fixas e sacados, que se destinavam à produção de peixe seco.
A pesca do atum e afins, que na zona de Benguela se destina à fabricação de conservas, atinge nível satisfatório no conjunto da pesca desembarcada Tem havido, por isso, nos últimos anos, aumentos da frota de pequenas baleeiras (atuneiras) Em Moçamedes, o nível das capturas tem-se mantido.
Nos últimos seis anos, apenas foram constituídas 12 embarcações em 1959, 6 em 1960, 2 em 1962 e l em 1963 Tendo em conta os abates ao efectivo verificado no referido período, pode afirmar-se que o número de embarcações, que era de 234 em 1959, se manteve Manteve-se também inalterado o tipo das novas embarcações.

153. A diminuição, relativamente aos anos anteriores, verificada no total da pesca desembarcada no período de 1959-1961 foi devida a crise que atingiu o seu ponto máximo em 1961 e de que resultou a paralisação de muitas traineiras. E de salientar o volume registado em 1964, atribuído a maior acessibilidade dos cardumes.

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Pesca desembarcada

[ver tabela na imagem]

O valor em escudos, por tonelada do produto desembarcado, sofreu a seguinte variação.
510 em 1059, 510 em 1960, 580 em 1061, 600 em 1062, 630 em 1963, 620 em 1964 e 690 em 1965.
O baixo nível dos pi ecos apurados confirma ter a maior percentagem de capturas incidido sobre os pelágicos destinados & fabricação de farinhas e óleos.
O valor do peixe desembarcado caracteriza-se por um contínuo crescimento desde 1959, com ligeiras imersões em 1963 e em 1965, devido a decréscimo no volume das quantidades desembarcadas.
No que respeita ao peixe seco, refere-se ainda o valor médio da unidade do produto, superior em 1965 ao dos anos anteriores Tal facto foi devido a um aumento do preço autorizado. Em relação às farinhas de peixe verificaram-se também melhores cotações nesse ano.

154. No que respeita à exportação de produtos de pescado, a variação das quantidades e valores exportados por sectores, tomando como ano base o de 1959, foi a seguinte.

Exportação da produtos de pesca

[ver tabela na imagem]

Exportação de produtos de pesca

Variação em relação ao ano base (1958-100)

[ver tabela na imagem]

Os valores da exportação, ainda que acompanhando a evolução do produto desembarcado, revelam, no entanto, algumas particularidades, devido, entre outros factores, ao aumento de consumo inteiro no que respeita
peixe seco. Na realidade, o consumo interno tem melhorado e, do ponto de vista quer quantitativo, quer qualitativo, não só consumiu maiores quantidades de peixe, como também melhores qualidades.

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155. Não existe propriamente problema de carência de pescado As flutuações verificadas nos níveis das capturas dos pelágicos devem-se, com efeito, principalmente às dificuldades de detectar os cardumes com os meios disponíveis
A pesca de arrasto ao largo e ao longo da costa é, por outro lado, praticamente inexplorada pela frota nacional, tendo-se, no entanto, notícia do exercício por frotas estrangeiras Tal facto recomenda a necessidade de se estudarem estas pescas, para o que a recente aquisição de um navio de investigação será instrumento de maior valia.
Dado que tais estudos não poderão deixar de ser demorados, há que concentrar uma solução de compromisso entre os departamentos científicos o a indústria, consistindo a solução aconselhável na adopção, nesta primeira fase, de barcos polivalentes.
Tais barcos, aptos cumulativamente a fazer em pesca de cerco, dão ao armador possibilidade diversificada, se o arrasto costeiro não se mostrai compensado!
Quanto ao atum, há grandes possibilidades de aumentai as capturas- ao largo e ao longo da costa, oferecendo Angola pontos de apoio importantes para o sou desenvolvimento.

156. No apoio às indústrias de pesca, processa-se a renovação da frota de pesca, tendo sido elaborado, como trabalho preliminar, inventário das embarcações de pesca de cerco e arrasto com mais de 12 m de comprimento matriculadas na província.
Foi entregue ao Instituto das Indústrias de Pesca o armazém de Moçamedes e a construção dos de Benguela e de Porto Alexandre Pode assinalar-se o começo de funcionamento dos armazéns de Benguela paia as conservas de peixe e do de Moçâmedes para todos os produtos Tem o Instituto procurado, por outro lado, favorecer a selecção de equipamento, sendo este um dos aspectos que é justamente tomado em conta quando se trata do financiamento a fazer pelo Fundo de Apoio
Em 1965 foi elaborado um plano para o Fundo de Apoio às Indústrias de Pesca, em que se propunha fazer um financiamento a toda a indústria no sentido de equipar as traineiras com aladores mecânicos, eco-sondas e radiotelefones e as fábricas com queimadores de fuel para as caldeiras e centrifugadoras para a produção de óleo.
No tocante à reestruturação e concentração da indústria, o Instituto favorece a constituição de cooperativas de produção nos principais centros pesqueiros da província ou de empresas que associem outras de pequena dimensão Assim foi proposto o financiamento pulo Fundo de Apoio da instalação de uma fábrica de farinha e óleos de peixe em Porto Alexandre, em substituição de cinco fábricas de eira.
Procura-se, por outro lado, fomentar a instalação de equipamento para farinhas e óleos, com a característica de não utilizarem caldeira, trabalhando pequenas quantidades de matéria-prima, nas unidades industriais de dimensão razoável que pela sua situação isolada não estejam em condições de vender os detritos de peixe.

157. No que se refere às possibilidades de expansão das capturas das principais espécies, registar-se-á.
Pelágicos (peixes do superfície). - O esforço destas pescas incide em zonas pouco afastadas da costa, exclusivamente de noite, com esporádico auxílio de electrónicos e utilização de companhas numerosas Reduzindo os elementos da companha em, pelo menos, 50 por cento e conseguindo a utilização dos aparelhos de que dispõem (o que lhes permitirá a pesca diurna), poder-se-á incrementai esta pesca sem investimentos adicionais.
Há, no entanto, que ter em conta que os pescadores são foi temente tradicionalistas Para modificação de tal atitude torna-se necessário, a cinto prazo, enquadrá-los com pescadores mais evoluídos e, a médio prazo, criarem-se escolas técnicas de pesca.
Atuns e afins - É evidente, perante as amplas áreas transoceânicas, que a captura do atum com longline (palangre) por embarcações japonesas vem revelai, desde 1957, no Atlântico tropical, a modéstia da produtividade da extracção desta espécie em Angola.
Assim, e como factores de ordem biológica e ecológica recomendam, poder á a frota de isco vivo ser expandida paia exercício, praticamente, entre o Sul da província e o equador, em exploração analógica a da frota atuneira já existente em territórios vizinhos.
Poder-se-ia contar, por outro lado, dada a distribuição oceânica dos atuns, com atuneiros congeladores de maior porte, paia cerco e isco vivo, e cuja acção poderia ser conduzida ao longo do ano no Atlântico oriental tropical.
Demersais (pomos de fundo) - Procura-se incrementar o arrasto costeiro com utilização de embarcações polivalentes, que simultaneamente se destinam também ao cerco na safra própria A rentabilidade destas embarcações informará a política a seguir na matéria.
No que se refere ao arrasto do alto, ainda que até ao presente só exista um barco registado na província, tem-se notícia que empresas projectam apetrechar-se para a concorrência no Sueste atlântico, onde a rentabilidade das capturas se tem situado a nível muito satisfatório.

158. No que respeita a fábricas de farinhas e óleos de peixe, tem-se processado, nos últimos tempos, movimento tendente h concentração das pequenas empresas em novas empresas de dimensão adequada para a produção mecânica de farinhas
Verifica-se forte tendência para incrementar a indústria do frio, com instalação de câmaras de congelação e armazenamento, e contando ainda com os peixes de menor porte -carapaus e cachuchos- e algum peixe de fundo capturado pelas armações, tal tecnologia deverá sei- fortemente expandida, para o que o próximo registo na província de novos arrastões muito irá contribuir.

2. Objectivos

159. Enquadrado nos objectivos gerais definidos superiormente para o III Plano de Fomento no que à pesca se refere, pretendem-se atingir os seguintes objectivos.

a) Regularização e abastecimento interno do pescado - Não só se entende necessário conseguir a regularização do abastecimento interno, mas também a exportação de peixe seco.
b) Estabilização da exportação de óleos - Tem-se verificado uma certa instabilidade nas vendas destes produtos em consequência de má conservação e inadequada embalagem.
c) Estruturação da pesca artesanal - Preconiza-se dar uma estrutura adequada a este sector, tendo em vista um maior rendimento familiar e um melhor abastecimento das populações.
d) Fomento da pesca de arrasto - Com o início na vigência do Plano, modifica-se totalmente a panorâmica das pescas de Angola ao estenderem a sua actividade e província empresas da metrópole Prevê-se um aumento

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mento de mão-de-obra de cerca de 600 pescadores e pessoal de teria (nas câmaras de congelação e refrigeração de apoio) e um rendimento global aproximado de 20000 contos anuais O produto capturado destina-se, na sua maior parte, à exportação, deixando, no entanto, a província de importar a chamada «pescada do Cabo»;

e) Melhoria na técnica de construção do embarcações de madeira - Com a construção de novos estaleiros e com a eliminação de estaleiros originais, mal apetrechados, espera-se uma melhoria na construção cie embarcações,
f) Melhoria das condições de recepção o refrigeração ao pescado - Pretende-se conseguir um incremento na produção de conservas de atum, garantindo um abastecimento regular às fábricas ao longo do ano.
g) Reorganização do serviço de abastecimento de peixe a província - Pretende-se uma melhoria sensível na dieta das populações pela aquisição de maior quantidade de peixe, proporcionando o abastecimento de peixe fresco a zonas mais afastadas do litoral.

3. Investimentos

3.1. Fomento piscícola nas águas Interiores

160. São ainda muito limitados os conhecimentos no campo da aquicultura, factor que inibe, em parte, o estabelecimento de um plano fundamentado de fomento aquícola.
É, no entanto, geral a convicção do papel importante que pode e deverá ter a aquicultura na província, como arma contra as carências alimentares de certas populações, especialmente das que vivem mais afastados do mar
Será no sector tradicional que haverá que concentrar as acções a realizar com vista a conduzi-las populações a «fazer peixe», não só como possível fonte de rendimento, mas muito especialmente para melhoria de alimentação, por vezes deficitária em proteínas.
Será tarefa árdua e morosa fazer compreender a estas populações que se pode cultivar peixe como se cultivam produtos agrícolas.
O melhor sistema deste ensino fundamenta-se na demonstração directa, paia o que haverá que constituir, nas zonas de reconhecida falta de proteínas no meio rural, pequenos tanques de cultura de peixe, cuja produção reverterá para a população do aglomerado Não bastará fazer tanques e povoá-los, tornando-se necessário ensinar a explorá-los, porque, caso contrário, na primeira colheita retirarão todo o peixe existente e haverá necessidade de os repovoar assídua e periodicamente.

161. Pode prever-se a instalação anual de 25 tanques de 1000 m1, o que pode dar anualmente, por tanque, uma produção, para - cada aldeia, de 1000 kg de peixe Este investimento incidirá, em especial, nos distritos da Lunda, Moxico, Bié, Malanje, Cuanza Norte e Cuanza Sul.
Em certas regiões da província, especialmente nas de café, nota-se no sector empresarial certo interesse pela piscicultura, tendo em vista especialmente o problema da alimentação da mão-de-obra.
Relativamente a este sector, manter-se-á a orientação até aqui seguida, que é a de se sustentar e ampliar em certas regiões a rede de centros de «alevinagem» existente, tendo em vista o fornecimento de «alevins» das espécies mais aconselháveis para cada região.
Estes centros de «alevinagem» permitirão ainda aos serviços o repovoamento piscícola dos rios e lagos onde for considerado conveniente executar tais trabalhos.
Esta lede será mantida e ampliada de acordo com as necessidades nos distritos da Lunda, Urge, México, Malanje e Cuanza Sul.

3.2. Regularização e abastecimento interno do pescado e Instalações em terra

3. 2.1. Construção de armazém e depósitos de óleo

162. Este empreendimento permitirá dispor de armazéns próprios a fim de receber os produtos acabados dos industriais, sobre os quais o I. I P A poderá emitir títulos transmissíveis, por endosso, denominadas conhecimentos de depósitos e warrants, descontava s nos bancos ou outras instituições de crédito da província
Nestes termos, dos referidos armazéns e depósitos, cujo programa de construção já se vem cumprindo desde o II Plano de Fomento, imediatamente resultará maior estabilidade do sector, por dar oportunidade ao produtor de aguardar cotações para vendei os seus produtos Cumulativamente oferece ao I I P A maiores possibilidades de controle da qualidade do produto.
No caso dos óleos ainda se beneficia de uma melhor cotação na exportação a granel e resulta também economia de taras.
Serão construídos armazéns em Luanda e Porto Amboim, depósitos para óleos de peixe no porto de Luanda e baía dos Tigres e aumentados os depósitos de Porto Alexandre, Lobito e, eventualmente, Moçamedes.

3.3. Recepção e refrigeração do pescado

3.3.1. Produção de gelo e câmaras para pescado refrigerado em portos de pesca e outros centros do litoral

163. E necessidade premente a construção de câmaras de congelação e armazenamento em Luanda que, com o equipamento actual disponível, sirvam para abastecimento de peixe à cidade e sua zona de influência.
Estando prevista a construção do porto de pesca de Luanda, prevê-se ainda a constituição simultânea de câmaras de congelação e armazenamento com posto de inspecção sanitário anexo e edifício de venda de pescado por grosso.
Em Porto Alexandre de igual modo se deverão instalar, durante a vigência do Plano, câmaras de congelação e armazenamento.

3 3.2. Câmaras de congelação e armazenamento com fábrica de gê o e secção de conservas, farinhas e óleos

164. A iniciativa privada assegura a construção de câmaras de congelação e armazenamento com fábricas de gelo em Moçamedes e Benguela, que servi ao de suporte, na primeira localidade, e pesca de arrasto, a qual terá grande expansão nos próximos anos, transformando grandemente o quadro das pescas de Angola Em Benguela as referidas câmaras destinam-se, fundamentalmente, a apoiar a indústria de conservas.
Este empreendimento facilitará o abastecimento da província de peixe de fundo, anulando a importação da chamada «pescada do Cabo», e aumentará a exportação da província com benéfico reflexo na sua balança de pagamentos Por outro lodo, favorecerá a frequência dos

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portos de transportes frigoríficos para a exportação de peixe congelado, que poderão ser aproveitados para outras cargas, e no retomo favorece a importação de produtos congelados.
A recente constituição de uma empresa armadora nacional votada ao transporte frigorífico, que deverá demandar também portos de Moçambique, possibilitará o transporte de peixe seco, meia cura, para aquela província.

Os investimentos previstos incluem, além de outros

a) Congelação rápida e conservas de peixe, unidades de farinação de subprodutos, empreendimento a levar a efeito no Saco do Giraul (Moçamedes),
b) Câmaras frigoríficas, com a capacidade de 5000m3, com fabrico de gelo e secção de farinhas e óleos de peixe, empreendimento a levar a efeito em Moçamedes,
c) Fábrica de conservas de atum com o necessário apoio de frio, empreendimento a levar a efeito por sociedade, em constituição, de vários industriais do sector de Moçamedes,
d) Conservas e congelação de atum, a levar a efeito em Benguela pela Conserveira de Benguela,
e) Congelação na Baía Farta

3.1. Pesca local artesanal e do alto

3.4.1. Pesca artesanal

165. Existem ao logo da costa, principalmente no Norte, largas camadas de população exclusivamente votadas a pesca, utilizando meios precários e sem estrutura comercial de apoio Havendo que modificar tal quadro, pretende-se facultar a estes pescadores os meios necessários para uma pesca mais rendosa, apoiada em estrutura comercial conveniente.

166. Prevê-se que a contribuição de tais pescarias resolverá o abastecimento ao Noite de peixe fresco e refrigerado, destinando-se o remanescente às oficinas cooperativas de salga e seca que o Instituto fomentará e apoiará.
De morte para sul, a organização da pesca artesanal será feita nos seguintes pontos lagoa de Massabi, Luanda, Cabinda, Santo António do Zaire, Ambuzete, Musserra, Ambaz, Luanda, Egipto e Lobito.
Serão fornecidas aos pescadores embarcações, paia companhas de oito a dez homens, de modelo especialmente desenhado para o efeito
Na lagoa de Massabi, Sazaire, Ambuzete, Musserra e Egipto favorecer-se-á a constituição de oficinas de salga e seca cooperativas para transformação do excedente de peixe.
Para apoio aos núcleos de Lândana, Cabinda, Sazaire, Ambuzete, Musserra, Ambaz e Lobito prevê-se a instalação de pequenas unidades de fabricação de gelo em Lândana, Cabinda e Ambaz, câmaras de congelação e conservação.

3.4.2. Renovação da frota e artes de pesca

167. Contando a frota de Angola com cerca de 245 trameiras de pesca de cerco com comprimento superior a 12 m, das quais 45 por cento têm idade superior a dez anos e 20 por cento superior a quinze anos, preconiza-se a sua substituição gradual, com financiamento do Fundo de Apoio.

3.4.3. Embarcações para arraste costeiro

168. Este investimento particular poderá, por si só, modificar a estrutura da indústria da pesca de Angola, favorecendo um movimento DO sentido de se desenvolver uma pesca mais rendosa do que aquela que actualmente se pratica Com efeito, as estruturas actuais baseiam-se na pesca de pelágicos, que se destinam quase exclusivamente à fabricação de subprodutos, tais como as farinhas e óleos da peixe Com o desenvolvimento do arrasto do alto e cos teu o entrará a província decisivamente no caminho certo, fazendo uma exploração mais racionar do mar.
Tais pescarias terão o suporte de não adequado, que, cumulativamente, possibilitará a congelação de quantidades apreciáveis de pelágicos -carapaus-, que são bem aceites pelos estratos da população menos favorecida.

3.4.4. Atuneiros

169. Situando-se a captura do atum ao largo e ao longo da costa da área de Benguela a nível satisfatório, preconiza-se o incremento destas pescas com barcos melhor apetrechados paia o efeito De igual modo, na zona de Moçamedes, têm estas pescas reais possibilidades de expansão O apetrechamento do sector com câmaras de congelação, que se processará no decurso do Plano, muito contribuirá para um maior e melhor aproveitamento destas pescas.
Está, desde já, prevista a construção de seis atuneiros, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro, e mais dez, das duas empresas de congelação e conservas, a constituir pelos industriais do distrito de Benguela.

3.4.5. Atuneiros congeladores

170. Este empreendimento particular dá à- província posição nas pescas atlânticas do atum.
Estando programado o equipamento dos portos de pesca de Luanda e Porto Alexandre com câmaras de congelação e conservação, ficará Angola a dispor de bases perfeitas para a pesca do atum do alto Deste modo, está desde ]á prevista a construção de três unidades, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro e pela Empresa de Congelação dos Industriais de Benguela (a constituir).

3 4.6. Arrastões congeladores

171. Está prevista a constituição inicial de duas unidades, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro, e, além de outros, possivelmente alguns arrastões da Sociedade dos Armadores de Pesca de Angola, S.A R. L.

3.6. Estaleiros para a construção e reparação de embarcações

172. A frota de pelágicos da província carece de ser gradualmente substituída, adoptando-se modelo diferente do tradicional, que não serve, por inadequado
Tais barcos não podem ser construídos por meros carpinteiros, que não oferecem as garantias que são de

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exigir em empreendimento de tal monta Esta dificuldade, aliás, já foi sentida no V Congresso Nacional de Pesca, que recomendou ao Governo o favorecimento da constituição de empresas para tal fim.
Tem-se notícia de que uma empresa de Luanda e outra do Lobito se propõem construir estaleiros com as características preconizadas, o que muito favorecerá a possibilidade de renovar a frota.

Pesca

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Indústria extractiva

1.1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1.1.1. Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas

173. Grande parte do território de Angola é semiárido ou árido Suo pouco numerosos os cursos de água de carácter permanente e pode dizer-se que quase todos os rios têm regime torrencial.
As condições hidrológicas são, pois, de natureza a atribuir às águas subterrâneas papel de grande relevo no abastecimento das populações e para as restantes utilizações, com relevância para o desenvolvimento económico
Nas regiões do Sul e do Sudoeste da província a água é, em particular, factor determinante de qualquer política de desenvolvimento económico social e condicionamento da economia das populações existentes.

174. Os estudos hidrogeológicos têm de ser levados a efeito segundo programas regionais, de acordo com as solicitações inerentes aos planos de desenvolvimento da pecuária, da agricultura, da construção de infra-estruturas, do estabelecimento de núcleos de povoamento, etc.
Têm sido assim resolvidos, até agora, problemas de abastecimento de água de carácter urgente, o que tem exigido a execução simultânea da prospecção, da pesquisa e da captação de águas subterrâneas A efectivação de estudos hidrogeológicos regionais que permitissem a definição de princípios e critérios gerais de ocorrência das águas e a determinação das suas características não seria, aliás, possível sem a execução das operações de prospecção e pesquisa. Aquela definição, que constitui uma valiosa aquisição do ponto de vista do conhecimento cientifico do território, vem, portanto, sendo feita à medida que decorrem estes trabalhos.
Em virtude da vastidão dos recursos aquíferos subterrâneos existentes, o inventário dos mesmos é um objectivo de primordial importância para o desenvolvimento do território Este inventário só poderá processar-se mediante estudos hidrogeológicos sistemáticos e intensivos.

175. O programa a estabelecer deve, por isso, condicionar-se a um objectivo de carácter geral (o inventário dos recursos aquíferos) e a objectivos de carácter regional ou local (dependentes dos empreendimentos que se pretender servir), numa solução de compromisso, em que não se vise efectuar o estudo hidrogeológico sistemático do conjunto do território, mas sim realizar os estudos que permitam o aproveitamento racional dos recursos aquíferos necessários a concretização dos esquemas de desenvolvimento económico.

176. A província adquiriu, ao longo de cerca de vinte anos, uma grande experiência em questões de hidrogeologia, prospecção, pesquisa e captação de águas subterrâneas, dispondo hoje de técnicos especializados e de equipamento moderno Todavia, perante a grandeza do empreendimento em causa - decorrente, naturalmente, da vastidão do território -, há que prosseguir no sentido da ampliação da estrutura técnica já existente, aperfeiçoando constantemente os métodos de trabalho.
Data de 1963 a criação de um dispositivo capaz de permitir a execução rápida dos estudos e das obras necessários ao abastecimento de água das regiões pastoris

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do Sul de Angola Este dispositivo intitula-se «Plano de Coordenação para Abastecimento de Agua das Regiões Pastoris do Sul de Angola» Teve reflexos em outras medidas estabelecidas paia procurar fomentai e disciplinar a pastorícia nos distritos do Sul, tais como, por exemplo, o estabelecimento de um regime de taxas aplicáveis aos possuidores de gado, beneficiários dos trabalhos de abastecimento de água levados a efeito, e a definição de «normas gerais paia o planeamento e ordenamento da pastorícia», com vista a planear os trabalhos a realizar e a ordem a utilização dos já existentes.
Este plano de coordenação foi dotado dos meios necessários para concretizar a criação do infra-estruturas, que constituição pólos de atracção das, populações tradicionais e dos seus gados.
São as seguintes as perspectivas que o desenvolvimento do aproveitamento dos recursos aquíferos oferece.
a) Aumento de produção no sector pecuário e agro-pecuário,
b) Aumento do meio de pedidos de demarcação de terrenos destinados ao estabelecimento de empreendimentos pecuários e agro-pecuários,
c) Fixação progressiva das populações nómadas e seminómadas em volta dos pontos de água,
d) Ordenamento progressivo da pastorícia, em consequência, reordenamento progressivo,
c) Melhora das, condições de assistência sanitária às populações e gado
Do surto de desenvolvimento que ]á se nota na pecuária do Sul de Angola, provocado pelo estabelecimento de 550 pontos de abastecimento de água, bem como da nítida tendência das populações à sua fixação nas proximidades.
daqueles pontos do água, o dos numerosos pedidos de trabalhos idênticos em outras regiões da província, verificados nos últimos anos, conclui-se que a evolução das situações no que respeita ao aproveitamento dos recursos aquíferos será dominada por um grande e progressivo aumento de solicitações neste sector, quer nas regiões ]á beneficiadas, quer noutras.

l 1.2. Fomento mineiro

177. A produção das indústrias extractivas evoluiu no período de 1900 a 1965 como se apresenta no quadro seguinte.

Valor bruto da produção mineira

[ver tabela na imagem]

O valor bruto da produção registou, no período em análise, um acréscimo da ordem dos 72 por cento Para este acréscimo contribuíram os três grandes produtos do sector - diamantes, minérios de ferro e petróleo em bruto -, embora em escala diferente.
A exportação dos produtos mineiros evoluiu como consta do mapa seguinte

Exportação de produtos de origem mineral

[ver tabela na imagem]

Verifica-se que de 1962 a 1964 o valor global das exportações mostrou-se oscilante, muito embora o volume tenha registado aumentos crescentes, provocados essencialmente pelos minérios de ferio, diamantes e petróleo em bruto. Em 1965, os produtos mineiros registaram, em relação a 1964, uma baixa de 637 295 t e 18 844 contos, à excepção dos diamantes e dos minérios de cobre, praticamente todos os outros apresentaram quebras sensíveis.
Em 1964 da produção mineira angolana, apenas 27 por cento em peso e 13,9 por cento em valor se destinaram ao consumo interno (na sua maioria produtos derivados dos petróleos, que, só por si, constituíram cerca de 26,8 por cento em peso e 13,7 por cento em valor).
Em 1965, a percentagem da produção mineira consumida no mercado inteiro foi de
38 por cento em peso e 20,9 por cento em valor,
para os combustíveis derivados do petróleo, 2,5 por cento em peso e 0,1 por cento em valor, para outros produtos minerais, 40,5 por cento em peso e 21 por cento em valor, para a totalidade dos produtos minerais.
As actuais actividades mineiras em Angola distribuem-se por seis regiões

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Região mineira da Lunda

178. Situa-se no Nordeste da província, onde se explora a maior parte dos jazigos de diamantes da Companhia de Diamantes, de Angola. A sua produção correspondia, em 1965, a cerca de 65 por cento da produção mineira de Angola
Em face das reservas já conhecidas, é do prever que a produção das minas de dimantes possa prosseguir no mesmo nível durante, pelo menos, quinze anos. No entretanto, os trabalhos de prospecção e pesquisa ao ritmo actual, deverá a produção manter-se por um maior período.

Região mineira, do Cazengo

179. Na Zona de influência do caminho de forro de Luanda situam-se jazigos de minério de ferro, actualmente explorados pela Companhia do Manganês de Angola Em 1965 n sua produção correspondia a cerca de 5,3 por cento do valor da produção mineira angolana.
Em face das reservas já conhecidas e dos meios, de produção existentes, supõe-se que a produção actual se podará manter por mais alguns anos Existe, todavia, ainda a possibilidade de concretização do aproveitamento dos minérios de ferro de baixo teor (tipo tacanites) da faixa entre Cassalas, e Lucala.
Os minérios desta região são transportados pelo caminho de ferio de Luanda, aguarda-se a conclusão da rectificação do traçado e a modernização dos equipamentos, de modo a aumentar a capacidade de escoamento Através do porto de Luanda têm sido embarcados os minérios de feiro desta zona, mas as condições actuais não permitem ir além das 500 000 t/ano Prevê-se a ampliação das instalações actuais e a montagem de instalações de cartegamento mecânico de minérios, logo que as necessidades o exijam

Região mineira do Dande

180. Na zona Lifune-Dande, acompanhando o contorno da bacia sedimentar do Cuanza, encontram-se os jazigos de substâncias betuminosas e a cintura pegmatítica do Donde, na qual se localizam os principais jazigos de mica conhecidos em Angola Em 1965, paralisadas as explorações de mica, a produção desta zona representou apenas 0,1 por cento da produção mineira total da província.
Poderá prever-se um ligeiro decréscimo na exploração da rocha asfáltica para pavimentação, dada a preferência concedida ao asfalto de refinação No entanto, se se concretizar a viabilidade económica da produção de combustíveis, em curso de estudo, a partir da rocha asfáltica, prevê-se um aumento substancial na sua produção mineira rentável

Região mineira de Luanda

181. Nesta região dos jazigos de petróleo e gás natural (em exploração nos plateaux de Luanda e da Quissama) foram obtidos cerca de 23,5 por cento do valor da produção mineira da província em 1965
Prevê-se um decréscimo na produção dos jazigos de petróleo actualmente em exploração No entanto, como prosseguem os trabalhos de pesquisa, é de esperar que novos jazigos venham a substituir os que actualmente mantêm o nível da produção, de modo a conservá-la na posição que presentemente ocupa

Região mineira do Cuíma e de Cassinga

182. Na região do Cuíma, no distrito de Huambo, estão sendo explorados jazigos de minérios de ferio da Companhia Mineira do Lobito, A exploração destes jazigos conduziu à obtenção, em 1965, de cerca de 3 por cento do valor da produção mineira total de Angola.
Os jazigos de ferro da área do Cuíma aproximam-se do esgotamento e, nestas condições, o caminho de ferro de Benguela tem tido capacidade (e continuará a tê-la) paia o transporte deste minério
Por sua vez, o porto do Lobito dispõe de instalações mecânicas de carregamento de minérios que têm sido suficientes para a assegurar o seu escoamento
Existem nu mesma legião ocorrências de outros minérios (volframites, romenos de estanho, metais radioactivos, terias raras e ocorrência de ouro), cujas possibilidades de produção e aproveitamento ainda são pouco conhecidas

183. Na legião mineira de Cassinga, por sua vez, encontram-se em exploração minas de minério de ferro da Sociedade Mineira do Lombige, onde foram localizados e medidos mais de 100 milhões de toneladas de minério de ferro de alto teor e excelentes características metalúrgicas Muitas centenas de milhares de toneladas foram colocadas desde 1962 nos mercados externos, tornando o minério conhecido e apreciado
Em 1965 a produção destas minas representou em valor cerca de 1,7 por cento da produção mineira total da província
A alta qualidade do minério, a facilidade e economia da sua extracção e tratamento, que a feição das jazidas permite, as excelentes condições do porto de Moçâmedas para o serviço dos grandes cargueiros de minério, somam-se ao volume dos recursos determinados para conferir ao produto condições favoráveis de competição nos mercados internacionais A produção de Cassinga tem assegurada a colocação total nos mercados mundiais até à quantidade fixada de 5 a 5,5 milhões de toneladas/ano.
Para o transporte do volume previsto foram estabelecidas as infra-estruturas convenientes, em condições de permitir carga muito rápida dos maiores navios previsíveis, infra-estruturas estas que ficaram concluídas no 1.º semestre de 1967, incluindo os principais apetrechamentos números

As receitas provenientes da exploração representam mais de 1300000 contos anuais e um ingresso de cambiais que, não sendo inferior nos primeiros dez anos a um saldo líquido anual de 500000 contos, virá a fixar-se posteriormente em mais ou menos 1 milhão de contos

1.2. Objectivos

121 Estudos hidrogeologicos e aproveitamento de águas

184. A definição dos objectivos gerais, no sector dos estudos hidrogeologicos e do aproveitamento de águas, pode sintetizar-se do modo seguinte
Obtenção gradual do conhecimento hidrogeológico do território e o concomitante inventário dos seus recursos aquíferos,
Resolução de problemas regionais e locais de abastecimento de água de núcleos de povoamento, cenhos urbanos, instalações militares e indústrias, com particular incidência nas regiões áridas e semiáriadas

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122. Fomento mineiro

185. Pretende-se durante o II Plano um aumento substancial da actividade extractiva activa, de forma a atingir o valor de 6 000000 de contos no filial do hexénio Tal acréscimo fundamenta-se na previsão dos êxitos que se esperam do trabalho dos pesquisadores e concessionários mineiros e também dos levantamentos geológicos e da prospecção sistemática, na medida em que venham a descobrir novos índices de mineralização.
Será de prever, portanto, uma maior disponibilidade de matéria para o desenvolvimento da indústria e ainda um benefício a outro prazo para as balanças comercial e de pagamentos.

1.3. Investimentos

13.1. Estudar hidrogeológicos e aproveitamento de aguas

186. No que se refere à hidrogeologia e ao aproveitamento dos recursos aquíferos, torna-se indispensável fazer depender os programas dos empreendimentos que se pretendo servir das necessidades que se vão verificar nos próximos anos em relação a infra-estruturas, núcleos de povoamento, desenvolvimento da agro-pecuária, etc.
Apenas num caso 6 possível estabelecer desde já programa em todos os seus aspectos técnico-económicos - o do abastecimento de água da região pastoril do Sul de Angola, visto estar-se perante um empreendimento já objectivado e concretizado mediante medidas legislativas e regulamentares que exprimem uma orientação perfeitamente definida.
Mas o facto de ser difícil estabelecer outros programas, em condições idênticas, não significa que não devam ser considerados os estudos dos recursos aquíferos Pelo contrário, é indispensável prever a criação de uma estrutura técnico-económica que garanta a possibilidade de resolução dos múltiplos problemas de aproveitamento de águas de que depende o desenvolvimento económico e social de Angola.

a) Abastecimento de água da região pastoril do Sul de Angola

187. A área cujo abastecimento de água constitui o objectivo deste empreendimento corresponde a um conjunto de áreas parciais que apresentam grande identidade de características geoeconómicas
Dada, porém, a grande extensão daquela área - 167900 km2 -, foram feitos estudos aturados com vista á selecção de "zonas prioritárias", isto é, zonas onde a falta de água se reveste de maior acuidade.
Para o abastecimento de toda a área de 167900 km2 seria necessário considerar 4000 pontos de água, número extremamente elevado Mas para as zonas prioritárias, que compreende uma área total de 60560 km2, supondo um aproveitamento de 80 por cento desta área, o abastecimento completo necessitaria de cerca de 1600 pontos de água, considerando um ponto de água por cada 30 km2, em média, número obtido a partir da capacidade média dos pastos (8 ha por cabeça) e do consumo de água médio por cabeça normal.
Na realidade, a evolução da pecuária, numa área tão extensa e com características tão peculiares, não é previsível a longo prazo. Por outro lado, o Estado pretende dar um impulso ao desenvolvimento económico e social do Sul de Angola, mas tal impulso deverá produzir efeitos que criarão condições para a emancipação económico- de muitos criadores, que passarão a dispensar, logicamente, o auxílio do Estado.
A estrutura existente garante meios de acção pata a exercício de cerca de 90 obras as por ano Durante o período de 1968-1973, sei á possível construir, portanto, cerca de 540 obras, que, juntas ás, 700 que deverão existir até fins do Plano Intercalai, proporcionarão a existência de 1240 pontos do água, número este que se aproxima já do que se estima necessário para zonas prioritárias.
A par deste objectivo, o programa inclui o estudo técnico-económico de comportamento das obras, estudo este que só poderá ser efectuado com alguns anos de observações contínuas e sistemáticas.

b) Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas subterrâneas

188. Este programa sei vê objectivos que não é possível definir imediatamente de fornia completa, dado que o mesmo se destina a manter uma estrutura capaz de ocorrer aos múltiplos problemas de aproveitamento de águas subterrâneas impostos por programas dos domínios mais variados, com particular relevo nos da agro-pecuária, e a efectuar, gradual e sistematicamente, o reconhecimento da hidrogeologia da província
Dentro do primeiro objectivo incluem-se os seguintes trabalhos, além de outros que não é possível concretizar
Estudo hidrogeológico e pesquisa de águas subterrâneas destinados à construção de 50 captações para abastecimento de um núcleo de povoamento na região da Cela (fazendas médias), pedidas pela Junta Provincial de Povoamento,
Estudo hidrogeológico e das possibilidades de obtenção de águas subterrâneas nas embocaduras dos rios Coporolo, Aquimina, Carunjamba, Inamangando, Nicolau, Giraul e Coruca, destinados ao abastecimento de Dombe Grande, Equemina, Lucira, S. Nicolau e outros núcleos de povoamento, estudos idênticos noutros locais de acordo com solicitações futuras,
Compilação e divulgação de elementos de informação sobre a hidrogeologia do território,
Preparação e especialização de pessoal técnico no campo da hidrogeologia e nos métodos de prospecção, pesquisa e captação de águas subterrâneas, desenvolvimento das técnicas utilizáveis,
Aquisição de aparelhagem de prospecção geofísica especialmente adequada às águas subterrâneas, sondas e aparelhagem paia observações hidrogeológicas.
Auxílio às províncias mais pequenas e que não podem, por isso, dispor de estruturas que lhes permitam abordar problemas que, em certos casos, como o de Cabo Verde, assumem particular acuidade e dificuldade Dispondo das dotações propostas, julga-se possível a utilização da experiência já adquirida em Angola noutras parcelas do território nacional.

1.3.2. Fomento mineiro

189. De um modo geral, espera-se que todos os empreendimentos a seguir discriminados conduzam à melhoria sensível das balanças de pagamentos e comei ciai, bem como ao aumento substancial do produto interno bruto

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a) Valorização de jazigos já conhecidos (iniciativa do Estado)

Valorização dei jazigos do cobra

190. São conhecidos muitos índices de mineralização da cobre No entanto, com excepção de algumas ocorrências no distrito de Uíge, que foram estudadas por uma empresa concessionária - a Empresa de Cobre de Angola -, todas as demais ocorrências e índices são desconhecidos ou, pelo menos, deficientemente conhecidos. Além disso, o mercado mundial de cobre metal encontra-se sujeito a violentas crises no abastecimento. A indústria transformadora nacional necessita de cobre metal, que não é produzido actualmente no território nacional em quantidade suficiente Torna-se, por isso, necessário, não só verificar os valores que efectivamente possam existir dentro do território nacional, como valorizar aqueles que forem merecedores de interesse económico
O empreendimento deverá ser orientado no sentido de uma prospecção regional e estudo regional dos índices, suas extensões possíveis e reconhecimento por pesquisas mineiras, onde justificadas.
O investimento pi opôs to, embora muito insuficiente para um estudo sistemático completo, permitirá, no entanto, manter permanentemente no campo duas equipas de pesquisas e uma sonda para reconhecimentos

Valorização de jazigos do carvão (distritos do México o Cuando-Cubango)

191. Suo conhecidas já algumas, ocorrências de lignites nas legiões cobertos pela formação do Kalahari, no distrito do México. Em trabalhos já realizados durante a vigência do Plano Intercalar de Fomento, outras ocorrências foram descobertas e estudadas as relações genéticas e possibilidades quanto a quantidades exploráveis Afigura-se indispensável prosseguir estes trabalhos, impondo-lhes um ritmo mais intenso, particularmente no respeitante à execução de sondagens, de reconhecimento e avaliação das reservas.
O investimento proposto é inferior às necessidades pré vistas, mas tal foi estabelecido prevendo-se a possibilidade de vir a utilizar equipamento já existente, embora este não seja o mais indicado para este género de trabalhos

Valorização do jazigos de substanciai betuminosas (distritos do Luanda o Zaire)

192. As grandes reservas de rocha asfáltica existentes nas formações sedimentares marinhas, principalmente na bacia do Cuanza, impõem que se faça um inventai 10 dos volumes disponíveis e das condições geológicas e topográficas que condicionarão o seu aproveitamento potencial como produtor do combustíveis líquidos destinados a garantir o abastecimento a todo o território nacional, se vierem a estar ameaçadas as outras fontes de abastecimento Como os detentores dos d u eitos mineiros - Companhia dos Betuminosos de Angola e Companhia dos Asfaltos de Angola - não dispõem de meios técnicos nem financeiros para efectuarem esses estudos, propõe-se que os mesmos sejam realizados pelo Estado. O investimento previsto é reduzido, mas afigura-se que o mesmo permitirá, em quatro campanhas, efectuar esse inventário

Estudo de aproveitamento Industrial das substancias betuminosas (distritos do Luanda e Zaire)

193. Consiste no estudo laboratorial e em oficinas--piloto especializadas dos vários tipos de rochas asiáticas existentes na província, com vista e obtenção de combustíveis líquidos e elaboração dos projectos das respectivas instalações e estudo económico do empreendimento Este estudo terá de sei realizado em laboratórios estrangeiros, possivelmente nos Estados Unidos da América ou Canadá, onde as técnicas se encontram mais desenvolvidas.

Estudo do aproveitamento industrial dos minérios do ferro titanado

194. Este estudo consiste na colheita de amostras em escala semi-industrial dos minérios de ferro titanado que se encontram, em grande abundância, na região dos Gambos até ao Cunene, no distrito de Huíla, e na região de Cazengo, no distrito de Cuanza Noite, e sua remessa paia laboratórios especializados estrangeiros -Estados Unidos da América, Alemanha, França ou Suécia-, onde possam ser estudadas no sentido do seu aproveitamento para produção de pelets de minério de ferro e simultaneamente de concentrados de ilmenite (minério de titânio). Além deste estudo prévio e respectivos ensaios em escala semi-industrial, faz parte do investimento o estudo económico do empreendimento necessário e projecto das instalações industriais.

Valorização dos Jazigos de ouro o pedras preciosas (na reserva do Estado)

195. Existem em toda a província numerosas ocorrências e indicações de existências de ouro aluvionar e filoniano. No entanto, nunca foi executado um trabalho sistemático de actualização dos conhecimentos e do pesquisa sistemática que permita chegar a conclusão da existência ou não existência de importantes jazigos deste metal.
Dado o grande interesse nacional que haverá em iniciar-se em escala industrial qualquer exploração de jazigos de ouro de valor que venham a ser descobertos ou valorizados, há absoluta urgência em dar-se início a pesquisa sistemática dos índices de ouro conhecidos O investimento proposto permitirá manter permanentemente duas brigadas trabalhando neste metal, o que, embora seja ainda inferior às necessidades, já representa um passo importante
Do mesmo modo, sabe-se que na área da reserva do Estado existem índices de mineralização diamantífera, alguns dos quais de relativo interesse. Além disso, convirá realizar uma pesquisa sumária, por métodos modernos, da área cos teu a da plataforma continental, não só paia pesquisa da indicação de diamantes como da possível existência de outros minei ais de depósitos aluvionares

Estude e Investigação das possíveis fontes de minério de alumínio

196. Não se conhecem ainda jazigos ou até simples ocorrências de minérios aluminíferos na província No entanto, a existência de muitas massas de rochas que, por alteração meteórica, podem produzir concentrações minerais exploráveis do alumínio impõe a pesquisa das regiões onde afloram tais tipos de tochas, com vista à descoberta de possíveis concentrações, susceptíveis de constituírem jazigos desses minérios, a utilizar pela indústria do alumínio a instalar em Angola.

Avaliação dos recursos minerais associados as formações (distritos de Huíla, Benguela o Huambo)

197. O interesse crescente pelos minerais de terras raras, e ainda pelos minerais radioactivos que lhes estão associados, além das possibilidades de aproveitamento local como correctores do solo na agricultura, aconselha a efectuar a pesquisa, tanto quanto possível completa, das

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inúmeras estruturas dessas rochas já conhecidas em Angola Este trabalho envolve tarefas laboratórias intensas, de custo elevado, e duvida-se que o investimento proposto permita, como se deseja, manter permanentemente duas brigadas

Valorização dos Jazigos do outros minérios - tungsténio e estanho (distrito da Benguela e Huambo)

198. Conhecem-se na área do exclusivo de pesquisas que pertence a Companhia Mineira do Lobito ocorrências de estanho e tungsténio

ado o interesse económico desses minérios e havendo indicação de outras origens e algumas daquelas ocorrências têm características que as indicam como prováveis grandes jazigos, deve o Estado providenciai pelo seu estudo e valorização, ficando a companhia concessionária obrigada ao pagamento das despesas executadas pelo Estado no caso de, em resultado dos trabalhos feitos, se demonstrar a existência de jazigos exploráveis economicamente. Prevê-se a actuação simultânea de duas brigadas de pesquisas e trabalhos minérios, incluindo a execução de sondagens Ë possível que ainda durante o III Plano do Fomento essas brigadas possam, actuar esporadicamente na valorização de descobertas que venham a ser feitas pelas brigadas de cartografia geológica e prospecção geral.

b) Desenvolvimento do aproveitamento dos jazigos ia conhecidos (iniciativa particular)

Região mineira do Cassinga (projecto Cassinga)

199. À produção prevista deste jazigo do ferio (tipos pebble, eluvial e maciço) e que constitui concessão da Sociedade Mineira de Lombige, iniciada em 1967, é do 5000000t a 5500000t. Os investimentos necessários foram na sua maior parte já efectuados no âmbito do Plano Intercalar de Fomento, estando ainda prevista a construção de um novo traçado do caminho de ferro de Moçâmedes destinado a reduzir a lampa máxima e rectificação do traçado e ainda a renovação do material de via, para o qual se prevê um elevado desgaste pelo excesso de carga a que vai ficar sujeito.

Região mineira do Mavoío (projecto Mavele)

200. As reservas conhecidas destes jazigos de cobre, suja exploração está concedida à Empresa de Cobre do Angola, montam a 10000000 t de tout venant com, 2 e 3 por cento de cobre metal, localizadas a cerca de 300m de profundidade.
Nos três primeiros anos realizar-se-ão pesquisas e preparação do jazigo e, se por comprovada a explorabilidade económica, será executada a preparação e traçagem da mina, instalações de extracção, carga e preparação mecânica do minério, destinadas produção anual de 15000t de cobre metal sob a forma do concentrados. Destes concentrados poderá ser destinada á indústria metalúrgica uma parte até 20 por cento, destinando-se a parte restante á exportação.

Regiões mineiras do Luanda o do Zaire (projecto Pofrangel-Angel)

Luanda

201. Os jazigos de hidrocarbonetos entre Cacuaço e Porto Amboim, localizados na bacia sedimentar do Cuanza, constituem esta zona, que inclui a área terrestre (onshore) e plataforma continental (offshore). A produção actual de 550 000 t de ramas para abastecimento da refinaria de Luanda é proveniente, principalmente, de dois campos petrolíferos Tobias e Galinda Para se poder manter e expandir a produção actual, novos jazigos terão de ser descobertos e colocados em piodução Parte das estruturas terrestres já foram pesquisadas, mas algumas serão ainda retomadas. A maior esperança parece localizar-se na plataforma continental

Zaire

202. Nas pesquisas por sondagens, iniciadas em 1960, foram encontrados índices de hidrocarbonetos que a empresa concessionária supõe de interesse, pelo que será iniciada uma campanha de sondagens para os comprovar Se, entretanto, forem descobertos jazigos exploráveis, deverão ser ampliados os investimentos nesta área, não só para execução dos trabalhos de desenvolvimento e produção, como ainda para montagem das infra-estruturas oleadutos, centrais de bombagem, eca line e instalações de carga em navios-tanques no rio Zaire

Região mineira de Cabinda

203. Os jazigos de hidrocarbonetos, localizados na plataforma continental do distrito de Cabinda, suo objecto de pesquisas, que já foram realizadas na área terrestre pela Cabinda Golf Oil Company, não dando indicações que pudessem ser consideradas favoráveis A concessionária iniciou em 1966 sondagens na plataforma continental, com perspectivas muito favoráveis
Exigir-se-á, portanto, um investimento maior com a montagem do instalações de cutga, sca Imo e duques de ulba para carregamento, ao largo, de navios-tanques

Região mineira do Dande (Betumina-Astal)

204. A Companhia de Betuminosos de Angola e a Companhia dos Asfaltos de Angola, que, no seu conjunto, possuem direitos mineiros sobre quase toda a área entre os rios Lifune e Dande, onde suo conhecidas ocorrências de rocha asfáltica, associaram-se num empreendimento que pretendem executar, destinado a extrair da rocha asfáltica o asfalto que contém, colocando-o em condições vendáveis, isento de produtos inertes Este asfalto poderá ser utilizado paia uso interno, em pavimentações, ou para exportação, ou como matéria-prima de uma indústria de refinação para produção de combustíveis líquidos leves

Região mineira do Cazengo (projecto Cassalas)

205. Quanto a esta concessão da Companhia do Manganês de Angola, de jazigos de minério de ferro pobres susceptíveis de exploração mineira económica a céu aberto, catita ainda era curso os estudos relativos às características técmco-económicas do empreendimento com vista à produção anual de 1000000 t a 1500000 t de pelets de minério de feiro com 65 a 67 por cento de ferro Só depois de estudada a rentabilidade económica do empreendimento se podei á decidir se o mesmo será levado a execução.
Será necessário melhorar o traçado do caminho de ferro do Luanda e instalar o equipamento de carregamento mecânico do minérios no porto de Luanda adequado a tonelagem a transportar e exportar - 1 a 1,5 milhões de

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toneladas/ano. Espera-se que toda a produção se destine à exportação. O financiamento sei á feito normalmente por empréstimo externo

Região mineira da Cabinda (projecto Cabinda)

206. Estes jazigos de sais de potássio referem-se como possivelmente susceptíveis de exploração económica, pelo seu teor, continuidade e localização em profundidade. Espera-se, no entanto, que com a execução de mais algumas sondagens se consiga definir melhor a extensão dos jazigos e avaliar as reservas existentes, bem como as características dos mesmos jazigos Calcula a Cabinda Gulf Oil Company que poderá vir a ser necessário investir cerca de 12000000 de contos para se realizar a exploração destes jazigos, com uma capacidade anual de 1000000 t de concentrados de cloreto de potássio.
A produção anual de 1000000t de concentrados de cloreto do potássio corresponde a cerca de 600 000 contos por ano.
Será necessário montar infra-estruturas de transporte ferroviário e um porto de mar para carregar estes concentrados, cujos custos estão incluídos no investimento previsto A mão-de-obra será de 300 unidades A totalidade da produção destina-se à exportação O financiamento será externo.

Região mineira do Cabinda (projecto fosfatos)

207. Os principais jazigos de fosfatos sedimentares já estudados encontram-se, um, junto da fronteira com a República do Congo (Kinshasa) e, outro, junto da fronteira com a República do Congo (Brazzaville). A sua exploração mineira será relativamente fácil e barata, mas o transporte será mais dispendioso, exigindo a montagem de uma infra-estrutura de transporte ferroviário e a construção de um porto de mar adequado ao transporte e carregamento de, pelo menos, 1000000 t por ano.
O valor F O B da produção anual de 100000 t será de cerca de 3000000 de contos Toda a produção deverá ser destinada a exportação. O financiamento será externo.

Região mineira de Ambrzote-Quinzau (projecto fosfatos)

208. A exploração mineira destes jazigos de fosfatos sedimentares será relativamente fácil e pouco dispendiosa, mas os encargos com o transporte e carregamento em navios terão de ser elevados Exigem a montagem de uma infra-estrutura de transporte dos concentrados desde a mina até ao navio, provavelmente mais dispendiosa que no caso de Cabinda, embora não haja estudos feitos.
Por isso, apenas a título comparativo, se estima o investimento num valor superior em 50 por cento do valor do investimento equivalente do empreendimento de Cabinda, também para 1000000 t por ano. Apenas 50 por cento da produção serão. Só destinados á exportação. A fonte de financiamento seria externa.

Indústria transformadora

2.1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

209. A produção industrial de Angola caracterizou-se, a partir de 1960, por um rápido crescimento, traduzido pela duplicação do valor bruto da produção no sexénio de 1060-1965, mesmo sem abranger actividades importantes, como serralharia, serração de madeiras, extracção de óleo de palma, panificação e cerâmica.

[ver quadro na imagem]

O capital investido em 1960 era de 2430000 contos, tendo subido em 1965 para 3894 000 contos, ou seja mais 60 por cento. Esse acréscimo diz respeito, principalmente, às indústrias alimentares, dos1, derivados do petróleo e carvão, de bebidas e de madeiras.
O valor acrescentado das indústrias transformadoras foi estimado, a parte de indicadores, entre 1,3 e 1,7 milhões de contos.

210. Uma análise dos valores de exportação das indústrias transformadoras a partir de 1962 mostra que os maiores contributos provieram, justamente, das indústrias de alimentação e das indústrias químicas Nas indústrias têxteis também aparecem valores elevados, atribuíveis á exportação de sisal, assim, d maior contributo provém do sector agrícola.
A ligeira quebra registada em 1965 no total das exportações deve-se ao sisal, pois nos outros sectores houve um nítido acréscimo, que não foi maior em resultado do aumento do consumo interno (açúcar, óleos alimentares e algodão em rama)

211. No que respeita ao emprego, verifica-se no sexénio um acréscimo da população activa da ordem das 12 900. pessoas, o que equivale a uma expansão anual de, aproximadamente, 1,7 por cento.
Observando a evolução seguida, desde 1956, do número de estabelecimentos industriais, do pessoal utilizado e do capital investido, verifica-se que em dez anos o número de estabelecimentos industriais quase duplicou, enquanto o capital investido aumentou mais do dobro. O pessoal empregado aumentou de 62,5 por cento

Evolução na montagem de estabelecimentos industriais

[ver quadro na imagem]

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Em 1965, o aumento anual do número de estabelecimentos foi o menor desde 1956 O acréscimo do capital investido foi, todavia, superior ao triplo do maior acréscimo anual até então registado (1961) Ë a transição da fase da repartição dos investimentos em numerosas pequenas indústrias para o período dos investimentos industriais de maior vulto Dos estabelecimentos industriais instalados, 45 por cento correspondem a indústrias da alimentação, com um capital investido de 1045000 contos.

Principais exportações dos produtos industrializados da província

[ver tabela na imagem]

O sector das indústrias químicas, apenas com 169 estabelecimentos, é responsável por um investimento de 1129000 contos

2.2. Objectivos

212. No âmbito do III Plano deverá procurar-se.

a) Promover e apoiar a instalação de novas indústrias e ampliação das existentes nas convenientes condições de rentabilidade, com vista a, dentro do esquema geral do desenvolvimento económico da província, assegurarem um acréscimo do produto sectorial de mais de 1500000 contos no último ano do hexénio,
b) Criar, de acordo com o objectivo anterior, as bases para o desenvolvimento de futuras zonas industriais da província, de forma a obter-se adequado aproveitamento dos recursos existentes.

213. Enumeram-se, como possíveis zonas industriais, as seguintes

Zona norte

No Ambrizete, com a instalação da indústria de descasque e aproveitamento integral da castanha de caju,
Em Carmona, com a criação e desenvolvimento de indústrias complementares, designadamente para enlatamento de abacaxi, de sumos de frutos e descasque e beneficiamento de café.

Zona de Luanda

Este é já o mais importante pólo de crescimento industrial da província, dispondo de infra-estruturas de transporte e energia susceptíveis de aproveitamento mais eficiente

Zona do Dondo

O facto de a central de Cambambe se situar a poucos quilómetros da povoação do Dondo pode tornar esta região num importante centro de desenvolvimento.

Zona de Malanje

À construção de estiadas até fronteira leste, para o Noite e paia o Sul da província, poderá tomai Malanje num dos mais importantes centros indústrias de Angola, as possibilidades de aproveitamento das quedas do Cuanza (a 60 km) e do Duque de Bragança (110 m de altura, a 80 km), n fertilidade dos solos da região, as suas potencialidades pecuárias (gado bovino) e agrícolas (algodão, amendoim, mandioca, arroz, e to ), constituem factores favoráveis ao desenvolvimento da região.

Zona da Cela

É a zona propícia à criação do indústrias complementares da agricultura (conservas de frutos) e da pecuária (lacticínios e salsicharia)

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Zona Labite-Benguela

À indústria, já bastante desenvolvida nesta região, poderá ainda ser consideràvelmente incentivada, aproveitando as infra-estruturas existentes

Zona de Neva Lisboa

Esta zona contém já estabelecimentos industriais de relevância para servir de base à futura expansão industrial

2.2 1. Medidas de política

214. Para assegurar as condições exigidas para possibilitar a concretização dos empreendimentos considerados neste sector, torna-se necessário realizar determinado conjunto de acções e de medidas tendentes a

a) Melhorar e expandir as actividades de formação acelerada de mão-de-obra especializada,
b) Be ver e actualizar os regimes de incentivos aduaneiros e fiscais à instalação de novas indústrias,
c) Melhorar as condições de financiamento da indústria, através da criação de entidades especializadas e de mercado provincial de capitais;
d) Estabelecer sistemas de assistência técnica e financeira as pequenas e médias indústrias.

2.3. Investimentos

215. Os empreendimentos incluídos neste Plano a titulo indicativo no sector das indústrias transformadoras para o sexénio de 1068-1973 foram seleccionados de entre os que apresentam maiores possibilidades, tendo em conta os seguintes critérios importunem para o desenvolvimento económico da província, contribuição para o equilíbrio da balança de pagamentos, rentabilidade e viabilidade técnico-económica e, em particular, possibilidades de concretização.
Foram ainda englobados alguns empreendimentos de boas perspectivas e de interesse em virtude da sua localização.
Esta lista, de natureza puramente indicativa, não significa que outros empreendimentos industriais não possam merecer interesse para efeitos do III Plano de Fomento, mas apenas que neste foi considerado válido, com base em elementos disponíveis, explicitá-los.
O volume global de investimentos considerado necessário para alcançar o aumento do produto do sector é da ordem dos 4500000 contos
Os projectos apresentados são, à excepção de muito poucos, de iniciativa privada

2.3.1. Indústria de alimentação, com excepção dai industriai das bebidas

216. Prevêem-se os seguintes investimentos

a) Matadouro - frigorífico (Nova Lisboa) - Sei á destinado a abate, congelação e frigorificação de carne de bovinos, com capacidade máxima de laboração de 15000 cabeças por ano O capital ainda a investir por autofinanciamento é de 25 000 contos, para uma produção líquida anual de 12500 contos e um volume de emprego de 150 unidades,

b) Matadouro-frigorífico (entre Malanje e Camabatela) - Destinado a abate, congelação e frigorificação de carne de bovinos Tal iniciativa virá a possibilitar o aproveitamento do gado disponível em Camabatela. A iniciativa poderá ser pública ou privada,
c) Salsicharia (Cela) - Dadas as possibilidades que reúne o pólo de desenvolvimento da Gela, propõe-se que seja aí instalada uma unidade fabril,
d) Apoio à fabrica de lacticínios de Nova Lisboa - Impõe-se o apoio a esta unidade, que se dedica ao fabrico de queijo, manteiga, leites aromatizados, caldos nutritivos à base de leite e farinha, etc.

c) Fábrica de lacticínios (região da Ganda) - Este empreendimento tem em vista tirar partido do facto de o leite na região da Ganda ter um preço relativamente baixo À iniciativa poderá pertencer ao sector público ou ao sector privado,
f) Fábricas de produtos frutícolas e hortícolas - Seriam instaladas duas na Cela uma em Carmona e outra no concelho do Bocoio. Estas unidades teriam em vista o enlatamento do abacaxi, do tomate, etc. À excepção da fábrica de Carmona, cuja iniciativa deverá pertencer ao Estado, todas as outras sei fio de iniciativa privada,

g) Fábricas de sumos do frutos (concelho do Huambo) - O capital a investir nesta instalação é de cerca de 7000 contos, poderá empregar cerca de 50 pessoas. Prevê-se uma produção líquida anual de cerca de 8500 contos, o que é perfeitamente de admitir pelo facto de a matéria-prima sei de produção local. A exportação deverá atingir 80 por cento da produção bruta,

h) Fabrica do massa ao tomate (Moçâmedes). - A iniciativa pertence á cooperativa local. Sei ao investidos 2930 contos, devendo originar uma produção anual líquida do mesmo valor O pessoal a empregar seta de 30 pessoas Calcula-se que 90 por cento da produção bruta sei ao objecto de exportação,
i) Aumento da capacidade da moagem de trigo de Luanda - Trata-se da ampliação da respectiva capacidade de produção,
j) Fábrica de açúcar (zona do Mucoso-Lucala) - Este empreendimento, como já foi dito, visa cobrir o déficit previsto na exportação de açúcar para a metrópole, que em 1970 deverá atingir 60000 t
Os estudos já realizados sobre a localização da nova açucareira indicaram as seguintes regiões, por ordem de maior interesse Mucoso-Lucala, Mucoso-Muangu, antiga demarcação da Companhia Açucareira do Cuanza, faixa aluvionar da margem direita do Bengo Assim, em princípio, a açucareira deverá localizar-se na região do Mucoso-Lucala, na margem direita do Cuanza, entre este rio e o Lucala, com óptimas possibilidades de localização nos aspectos pedológicos e climáticos.
Em relação à nova açucareira, é difícil calcular o valor adicionado bruto em cada ano Por estimativa, pode estabelecer-se 80000 contos anuais Na parte agrícola, prevê-se um valor acrescentado de igual montante,

h) Fábrica de manjarmos e de hidrogenação de óleos (Luanda) - Este empreendimento justifica-se

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na medida em que se pretende limitar a importação de margarinas, que foi em 1965 de 884 t, no valor de 10 247 contos O consumo na província, no mesmo ano, atingiu 11441 e prevê-se que em 1968 venha a ser de 1800 t,

l) Fábrica do massas alimentícias (Luanda) -Dado que se prova, paia 1971 ou 1972, um aumento de consumo de massas alimentícias de mais de 8000t por ano, impõe-se a instalação de mais uma unidade fabril O empreendimento devei á sei totalmente autofinanciado,
m) Aumento da capacidade da fábrica de leveduras frascas (Luanda) - Impõe-se a ampliação da fábrica em questão, dado que a produção actual é insuficiente para satisfazer o consumo,
n) Fábrica de higienização do sal (Lobito) -O Grémio dos Industriais do Sal pretende instalar no Lobito uma fábrica de higienização do sal,
o) Descasque o aproveitamento integral da castanha do caju (Ambmotc) - Esta iniciativa visa desenvolver uma legião onde existe uma produção de 300 a 500 t de caju em 1965, provocou um dispêndio de divisas da ordem de 115000 contos

a) Aumento da capacidade da fábrica de calçado de Luanda,
b) Fabricas de calçado em Benguela, Nova Lisboa
e Sá da Bandeira,
e) Fábrica de malhas e vestuário do algodão
(Luanda),
d) Fabrica do malhas e, vestuário de algodão (Sá da Bandeira)

2.3.5 Indústrias da madeira

220. Aglomerados de madeira, folheados e contraplacados (Cabinda) - A fim de se aproveitar a riqueza florestal de Cabinda, propõe-se também a instalação destas indústrias em 1970

23.6. Industriai químicas

221. Industrias químicas, óleos essenciais (planalto central) e hormonas (Lobito e Benguela)

237. Indústrias dos derivados do petróleo

222. Refinação de petróleo (aumento de capacidade o nova refinaria no Lobito - Propõe-se não só fazer fuce ao descimento do consumo interno dos produtos petrolíferos, como também promover a exportação de produtos refinados

238. Indústria dos produtos minerais não metálicos

223. a) Nova linha de fabrico de vidraria (ou nova fábrica) - A actual produção mostra-se insuficiente para atender ao consumo Admite-se que se verificará a ampliação da fábrica de Luanda ou haverá lugar à instalação de uma nova fábrica;
b) Nova linha de fabrico de cimento (Luanda) -Devido ao facto de a fábrica de Luanda estar prestes a esgotar a sua capacidade de fabrico, propõe-se a mesma ampliar essa capacidade.

2 3.9. Indústrias metalúrgicas de base

224. a) Siderurgia (Luanda) - A instalação da indústria siderúrgica tem a recomendá-la o facto de existirem na província óptimos minérios de ferro e energia a baixo preço Foi, assim, considerada a localização da indústria na zona do caminho de ferro de Luanda, onde existem minérios de alta qualidade, facilidade de transporte e disponibilidades de energia (Gambambo) Prevê-se uma produção bui ta de 100000 t de gusa e 100000 t de aço laminado,
b) Fabrico do ferro-ligas o carbureto de cálcio (Luanda) - Ti ala-se de uma indústria de elevado interesse para a província e com boas condições de rentabilidade Cerca dá 95 por cento da produção bruta deverão destina-se à exportação,
c) Electrometrolurgia de alumínio (Dando ou. Luanda) - A instalação desta indústria encontra-se nas fases finais de lançamento A esquematização geral aproximada do empreendimento é a seguinte:
Capital a investir 900 000 contos, a financiar por capital próprio e crédito externo, Produção bruta, 2.º fase 25 000 t/ano,
Produção líquida 250 000 contos,

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Pessoal a empregar 400 pessoas,
Consumo anual de energia eléctrica: 72000 contos

A indústria deverá ficar localizada no Dondo Praticamente, toda a produção será destinada a venda em outros territórios nacionais e a exportação.

2.3.10. Construção do máquinas, com excepção dai eléctricas

225. Apoio às indústrias de máquinas e ferramentas já instaladas (1.ª "tranche", em 1968, e 2.ª "tranches"). - Sugere-se a concretização do apoio aos industriais já estabelecidos, de preferência, e localizados nas zonas de Luanda ou Lobito-Benguela, com vista a contribuir para a formação de operários e desenvolvimento da prática de trabalhai o feiro, técnica base de uma industrialização.

2.3.11 Construção de materiais de transporte

226. Complexo industrial para a montagem de veículos automóveis (Luanda) -'Este complexo industrial, requerido já por uma firma, abrange linhas de montagem e fabrico, com a capacidade máxima anual de
3600 velomotores e 2500 motociclos, 800 cai rinhas e 600 camiões, 3000 "turismos", 5000 carroçarias para veículos automóveis, etc.

2.3 12. Fomento industrial regional

227. Sob esta designação incluem-se os empreendimentos destinados a satisfazer os seguintes objectivos do Plano

a) Apoio ao desenvolvimento regional,
b) Apoio às indústrias complementares da agricultura

Deve notar-se que nestas verbas globais não se enquadram as que foram consideradas para um fim específico, embora dentro da finalidade geral a que a verba se destina.
Quanto ao desenvolvimento regional, há a considerar neste campo variadíssimas indústrias, como sejam cerâmicas, padarias (na zona afectada), fabrico de cal, conservação de frescos, etc., além de qualquer indústria que possa haver interesse em instalar, como, por exemplo, a industrialização de maqueta no Baixo Cubango, zona que interessa desenvolver
As entidades executoras dos empreendimentos (sobretudo no sector industrial), o total dos recursos necessários, as fontes de financiamento, etc. são problemas a considerar.
De notar que um esquema de desenvolvimento distrital terá de atender às diversas actividades que se poderão desenvolver nos distritos, para além da instalação de pequenas indústrias

Industrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

[ver quadro na imagem]

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[continuação ver quadro na imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

228. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII "Habitação e melhoramentos locais"

V) Energia

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

229. As estatísticas disponíveis permitiram a elaboração do quadro seguinte, em que se indica a evolução presumível do consumo energético de Angola em milhares de toneladas de equivalente carvão.

Consumo de energia

[ver quadro na imagem]

Nota. - Estimativa.

Note-se, desde ]á, que este quadro - permitindo, embora, algumas conclusões sobre o panorama energético da província - não pode deixar de sei olhado com reservas, dado que os elementos nele constantes, excepção feita aos referentes a petróleo e seus derivados e B energia hidráulica, vêm afectados de apreciáveis erros por defeito, uma vez que não incluem, por falta de elementos seguros, as
madeiras, lenhas e carvões consumidos pela população autóctone.
Mesmo assim, dele se pode deduzir.

a) Do consumo total, a maior parte cabe aos petróleos e seus derivados e ti lenha, porém, enquanto que o consumo desta última tem evo-

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luído lenta e regularmente, o consumo daqueles apresenta um aumento fume, que, nos últimos cinco anos, se traduz por uma taxa média anual de crescimento de 12 por cento,
b) O consumo de carvão importado é muito 11 regular. A média dos últimos 10 anos anda à volta das 40 000 t, das quais entre um quarto e um meio consumidos no caminho de ferro de Benguela,
c) O carvão de madeira, de produção local, tem sido pouco utilizado, no entanto, de 1962 para cá verifica-se um aumento de consumo à taxa média anual de 26 por cento,
d) O consumo de energia por habitante e por ano subiu de 166,9 kg de equivalente carvão, em 1960, para 201,7, em 1965

230. Em 1965, n energia hidroeléctrica, não obstante a sua utilização ter duplicado nos últimos cinco anos, con para o consumo total com pouco mais de 10 por cento, enquanto a lenha preenchia 26,3 por cento, cabendo aos petróleos e seus derivados 55,4 por cento.
Entre estes, o consumo do fuel-oil aumentou mais rapidamente que o da gasolina e do gasóleo, e o de jet-fuel teve um crescimento espectacular - passando de 4858 1, em 1962, para 46 378 l, em 1965 -, em virtude da afluência dos aviões a jacto (Nos mesmos anos, o consumo de gasolina foi de 65 037 e 731741 e o do gasóleo de 123559 e 1649331).
Em conjunto, o gasóleo e o fuel-oil foram consumidos nas seguintes percentagens sobre o total de produtos petrolíferos gastos na província

Percentagem

1962 ............... 64
1963 ............... 62,5
1964 ............... 61,5
1965 ............... 62,1

Dado que em 1965 a produção de energia eléctrica de origem térmica (cerca de 45 GWh) corresponderia ao consumo de 13 500 t de gasóleo, e tendo em vista que o consumo total na província foi, naquele ano, de 141 000 t, há que concluir que nas centrais eléctricas se queimou, no máximo, 10 por cento de gasóleo utilizado em Angola

231. Em confronto com a de outros territórios africanos, a situação da província, no capítulo "Energia", é satisfatória
Com efeito, quanto a potência instalada, Angola vem logo a seguir à África do Sul, República Árabe Unida, Rodésia, República Democrática do Congo e Argélia, e quanto ao consumo específico, situa-se mais ou menos a meio da tabela formada por todos os países do continente negro
Actualmente, porém, à capacidade de produção já atingida não corresponde, ainda e pelo menos nalguns casos, ura suficiente aproveitamento, enquanto, por outro lado, regiões há, foi a do raio de acção dos actuais centros produtores, às quais falta a energia eléctrica indispensável às necessidades que já enfrentam ou virão a enfrentai a curto prazo.

Factos tais impõem uma perfeita coordenação da produção, do transporte e da distribuição de energia eléctrica, problema que, nos seus múltiplos aspectos, a Administração - através dos seus órgãos competentes - vem já encarando e cuja consideração está na base do programa de realizações mais adiante apresentado

232. Actualmente, a produção, o transporte e a grande distribuição estão a cargo quer de empresas privadas, em regime de concessão, quer do próprio Estado, por intermédio da Junta Provincial de Electrificação de Angola, a pequena distribuição compete aos serviços municipais ou municipalizados e, em alguns casos, a empresas privadas concessionárias.
A zona de desenvolvimento Luanda-Dondo-Malanje é área de actividade da concessionária Sonefe, que explora as centrais das Mabubas e de Cambambe, ligadas a Luanda por linhas a 60 e 220 kV, respectivamente.
A Hidroeléctrica do Alto Catumbela (H E A. C J exerce a sua actividade na área Lobito-Benguela-Alto Catumbela-Nova Lisboa, explorando as centrais do Biópio e do Lomaum, no distrito de Benguela, e abastecendo a sua zona de influência por meio de uma linha a 150 kV.
A central da Matala está a caro da Junta provincial de Electrificação de Angola e serve o Colonato do Cunene e as regiões de Humpata, Sá da Bandeira, Caracolo e Moçâmedes.
Finalmente, na zona nordeste do distrito da Lunda, a Companhia dos Diamantes explora a central de Luachimo, fornecendo energia à sua área mineira por meio de uma rede a 60, 30 e 15 kV.
No mapa que se segue indica-se não só a localização das centrais referidas, mas também as suas características de maior interesse.

Características das principais centrais hidráulicas em 31 de Dezembro de 1365

[ver quadro na imagem]

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233. Além dos meios de produção acima mencionados, cabe referir, pela sua relativa importância, a existência de numerosas centrais Diesel, servindo pata a electrificação de pequenos aglomerados populacionais.
Estas centrais serão objecto de considerações que oportunamente se apresentarão

Comparticipação das fontes de energia e consumo total

[ver quadro na imagem]

234. Importa observar o facto de que em 1965 a energia hidráulica ocupava o 3 º lugar no conjunto das fontes de energia utilizadas, não obstante o respectivo consumo ter quadruplicado nos últimos quatro anos.

235. Luanda e respectivas subestações terminais estuo ligadas ás Mabubas por uma linha dupla de 60 kV e a Cambambe por uma linha- simples de 220 kV.
Nesta zona a distribuição é constituída pela rede suburbana, a 15 kV, para Cucuaco, Belas e Viana, pelas linhas Cambambe-Dondo, também a 15 kV, e pela rede de grande e pequena distribuição da cidade de Luanda.
Na área da H E A C o transporte de energia está assegurado pelas linhas Biópio-Catumbela, a 60 kV, e Biópio-Lomarim-Alto Catumbela e Alto Catumbela-Nova Lisboa, a 150 kV.
A rede de distribuição compõe-se das linhas iniciais, a 20 kV, ligando a subestação de Catumbela a Lobito e Benguela, às quais se juntaram mais recentemente duos ou ti as, a 30 kV, e da linha Benguela-Baía Farta, também a 30 kV, isto além das ledes de distribuição existentes nas cidades antes mencionadas
Na zona Moçâmedes Sá da Bandeira-Gunene o transporte utiliza as linhas Matala-Sá da Bandeira (150 kV) e Sá da Bandeira-Moçâmedes (60 kV)

É ainda de referir a rede de grande distribuição, a 15 kV, que se estende por todo o planalto de Humpata-Chibia-Tchivinguiro e povoações daquela área, estando já concluída a ligação ao posto do Caraculo
A regularização dos caudais do Cunene, a montante de Matala, apresenta-se como empieendimento urgentemente necessáuo por ser já insuficiente a energia que, nas condições actuais, é possível produzir

236. Numa visão de conjunto quanto ao nível actual de electrificação, pode dizer-se que, no momento, estão electrificadas todas as cidades da província, 93 por cento das vilas e 89 por cento das restantes sedes de divisões administrativas
Os distritos menos electrificados são os do Bié, Benguela, Huambo e Guando Cubango e os que têm mais povoações servidas suo os do Uíge, Zaire, Cuanza Norte, Cabmda e Luanda
O meio rural, dada a grande dispersão dos seus centros populacionais, apresenta grandes dificuldades ao abastecimento em energia e pode dizer-se que, praticamente, não está electrificado.
Um caso, no entanto, é de referir o de um abastecimento na região da Humpata, através de uma lede a 15 k V e com cerca de 60 km de extensão que serve Chibra, Palanca, Humpata e sua estação agrícola, Caholo, Escola agro-pecuária do Tchivinguiro, Huila e Jamba

237. Em territórios em franco desenvolvimento, como o de Angola, qualquer previsão de evolução dos consumos é extraordinariamente arriscada e sujeita a volumosos erros.
Apesar disso, com base em valores fornecidos pela Sonofe, quanto à região de Luanda, tomando em consideração o próximo estabelecimento da indústria do alumínio e admitindo uma taxa constante de crescimento, de J3 por cento paia a zona de Lobito-Benguela e de 15 por cento para as restantes, foi possível estabelecer a seguinte projecção de evolução do consumo de energia eléctrica

Previsão do consumo de energia eléctrica GWh

[ver quadro na imagem]

Observação - Os valores do 1964 e 1965 são reais, tendo as taxas de crescimento referidas no texto tomado 1965 por ano de partida
Este quadro deverá ser naturalmente encarado com as devidas reservas, importando que a evolução real seja seguida poi foi ma a evitar desajustamento entre a produção e as necessidades impostas pelo desenvolvimento económico que se visa atingir

238. Um outro aspecto que será prudente não perder de vista, e em relação ao qual são também muito falíveis todas as pi e visões, é o que se refere a electrificação de pequenos aglomerados populacionais, que se projecta fazei em parte à custa de modestos aproveitamentos hidroeléctricos (casos do Tchicapa, Luso, etc. ), mas que, por outro o lado, hão-de continuar a ter de recorrer ainda a centrais Diesel.
Estes elementos obrigam apenas a um investimento inicial pequeno, tom bom rendimento e são de fácil manutenção
No entanto, a sua utilização é quase sempre prejudicada pela- deficiente conservação que lhe dispensam as entidades exploradoras - facto que justificará a criação de um serviço especial de assistência, cuja acção deverá estender-se a toda a província.
Tal serviço, foi coso ó que seja acompanhado por actuação conveniente nos campos da preparação e recrutamento cio pessoal técnico necessário.

2. Objectivos

239. Frente à situação que acaba de ser descrita muito sumariamente podem definir-se no âmbito do III Plano de Fomento os seguintes objectivos.

a) Continuação o intensificação do inventário dos recursos energéticos de Angola - Importa obter um conhecimento tão amplo quanto possível

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dos recursos hídricos, em petróleo e em carvões, com vista a um adequado planeamento da electrificação da província.
b) Conveniente aproveitamento dos sistemas de produção, transporte e distribuição já existentes e instalação de novos, quando necessário - Tal imposto pela evolução dos consumos, por um lado, e pela indispensabilidade de levar a energia a zonas dela ainda carecidas

3. Investimentos

a) A cargo da Administração Central Estudos

1. Estudos

240. No sentido de possibilitar um adequado aproveitamento dos recursos existentes, forçoso ó que a Administração promova a realização de estudos (hidrométricos e outros), com vista à recolha de elementos e sua conveniente utilização.
Esta a razão da inscrição, em local próprio, das verbas correspondentes

2 Produto

Aproveitamento do Tchicapa

241. No sentido de se garantir o abastecimento da energia eléctrica a Henrique de Carvalho, ultimamente objecto de iniciativas de maior importunem, tem-se por necessário proceder ao aproveitamento do Tchicapa, instalando dois grupos de 500 k W, que, em média e nos primeiros seis anos, havei ao de fornecei 1,2 GWh
Em tal empreendimento prevê-se gastar a soma de 8000 contos, verba cuja inscrição no III Plano de Fomento se propõe

Aproveitamento do Cunje

242. Trata-se de um iniciativa já em curso que VISA promover o fornecimento de energia eléctrica a General Machado, Nova Sintra, Silva Porto e Vouga
A verba de 17 000 contos pretendida destina-se à instalação de mais um grupo de 650 kW na central de General Machado e à execução de trabalhos de regularização do no Cunje.

Aproveitamento do Cunene

243. Quanto lespeita a este aproveitamento deve ser considerado & luz dos acoidos já estabelecidos e a estabelecer com a Bepública da África do Sul
No momento, dada a actual situação da central da Matala e a necessidade de assegurai o fornecimento de energia a Sá da Bandeira e a Moçâmedes, dois empreendimentos se devem ter já como absolutamente necessários a ampliação da central da Matala, com mais um grupo de 14,2 MW, e a construção da barragem do Gove.

Central térmica de Moçâmedes

244. Enquanto não se concretizar o aproveitamento do Cunene, acima referido, o abastecimento regular de energia a Moçâmedes e ao seu porto mineiro haverá de ser garantido por apoio térmico à central da Matala.
Tal leva a prever a instalação de dois grupos Diesel eléctricos, cujo custo se avalia em 19500 contos.
E, no entanto, de referir que, ao abrigo do Projecto Mineiro de Cassinga, está prevista a instalação de uma central termoeléctrica, que, numa l * fase, será equipada com dois grupos de 1800 kVÁ.
A oportuna coordenação das duas iniciativas conduzirá, certamente, a uma conveniente limitação de encargos

3. Transporte e distribuição

Linha do Sudoeste Africano

245. A construção desta linha, dependendo de acordo com a República da África do Sul, é por agora muito duvidosa.
Assim, a sua inscrição no III Plano de Fomento parece que só "por memória" deverá ser feita

Segundo termo da linha Sá da Bandeira-Mocâmedes e terceiro transformador em Moçâmedes

Este empreendimento complementa as obras recomendadas para aproveitamento do Cunene, isso bastando para o justificar

Linha Tchicapa-Henrique de Carvalho e esquema regional de grande distribuição no Cuanza Sul

Complemento indispensável do aproveitamento do Tchicapa, que em tal facto encontra justificação bastante.

4. Diversos

Apetrechamento de um serviço de assistência técnica

246. Aceitável pelo melhor aproveitamento que trará a pequenas instalações espalhadas pela província

Saneamento financeiro da Sonefe

247. A verba prevista corresponde à adopção de medidas já superiormente definidas "Por memória", será prudente também verba adequada para o saneamento financeiro da Hidroeléctrica do Alto Catumbela, que se encontra, neste momento, em estudo.

b) A cargo das autarquias locais

248. Cabe as autarquias locais papel relevante na electrificação das povoações em relação às quais não é economicamente viável fornecer energia a partir dos sistemas de produção e distribuição já existentes Para bem o desempenharem, contam elas com o apoio da Fundo de Melhoramentos Locais - recentemente reorganizado e valorizando, prevendo-se a instalação e ampliação de diversas centrais térmicas (Santo António do Zaire, Cabinda, Negage, Ambrizeto, Nóqui e Salvador), a construção de pequenos aproveitamentos hidioeléctricos (visando o fornecimento de energia a Artur de Paiva, Duque de Bragança, Camabatela, Andulo, etc ); e a electrificação de cerca de centena e meia de povoações, por meio de adequadas centrais Diesel Este programa será naturalmente acrescido com instalação e remodelação de pequenas linhas de transporte e de distribuição ligando Andulo à Missão Católica, Cubango a Artur de Paiva, Dala ao Luso, e servindo Negage, Malanje, Silva Porto, Luanda, Nova Lisboa, Henrique de Carvalho, etc.

o) Investimento privado

Produção

Ampliação de Cambambe

249. No III Plano de Fomento forçoso é encara ampliação de Cambambe, por forma a corresponder não só ao pi e visto aumento de consumo da região de Luanda, mas também as necessidades resultantes da instalação que se prevê da indústria do alumínio, necessidades que se avaliam em 436 GWh e que se admite venham a verificar-se a partir de 1970
Nestas condições, os investimentos a ter em conta atingirão 482000 contos, conforme o quadro seguinte

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[ver quadro na imagem]

Aproveitamento do Biópio

250. No sentido de garantir a conservação das obras de construção civil e do equipamento instalado, a província prevê a inscrição de uma verba da ordem dos 84 000 contos destinados ao Biópio Tal verba não se afigura suficientemente justificada, entendendo-se que a sua consideração deverá ser feita simplesmente
"por memória"

Aproveitamentos do Lomaum e do Chicuma

251. Estes empreendimentos não poderão ser olhados isoladamente, já que a sua aceitação é inteiramente dependente de política a definir sobre os factos que a seguir se apontam.
Admite-se que, para satisfação dos consumos normais das regiões de Lobito-Benguela e de Nova Lisboa, em 1969 haja de entrar em serviço no Lomaum um terceiro grupo de 15 MW, o que implicará um investimento de cerca de 27 000 contos.
Para futuro mais distante, porém, haverá que considerar

a) A possibilidade de, uma vez construída, a barragem do Gove sei vir o centro da província (área da Hidroeléctrica do Alto Catumbela) com energia proveniente da sua centra!,
b) A conveniência do interligar o sistema produtor da Sonefe com o da H E A C (Hidroeléctrica do Alto Catumbela),

e que, se qualquer destas soluções for escolhida, deixará de haver razão para construir a barragem do Chicuma, no rio Catumbela - barragem que se destinaria a, pela regularização dos caudais, garantir, durante a estiagem, o fornecimento regular de energia às áreas de Benguela, Lobito, Alto Catumbela e Nova Lisboa.
Nestas condições, por agora parece que o empreendimento em causa - fornecimento de energia ao centro da província - só "por memória" pode ser inscrito, embora se saiba já que a solução correspondente a central do Gove e ligação à rede da H E. A. C implica um investimento da ordem dos 125 000 contos.

2. Transporte e distribuição

Linha Cambambe-Salazar, subestação de Salazar e linhas Salazar-Lucala o Salazar-Golungo Alto - 39000 contos

2.ª Linha Cambambe-Luanda e 3.º transformador de Luanda - 70 000 contos.
Redes do grande distribuição dos distritos de Benguela e do Huambo - 49 490 contos.
0utras redes - 37800 contos

252. Todos estes empreendimentos constituem, afinal, o complemento dos meios de produção instalados, previstos na província, estando, em consequência, justificados em razão mesmo da sua existência

3 Estudos

253. De acordo com o seu contrato, à Sonefe cabe continuar com os estudos relativos à elaboração dos planos gerais do médio Cuanza e de toda a sua bacia
Há, pois, que inscrever no III Plano de Fomento uma verba da ordem dos 10 000 contos, destinada àquele fim.
Também a H E À C deverá prosseguir com os estudos i ela ti vos ao plano geral de aproveitamento hidroeléctrico do no Catumbela, nos quais desejável será que inclua também os aspectos hidroagrícolas.
Haverá, pois, que admitir verba semelhante à anterior - 10000 contos

Energia Programa de Investimentos

[ver quadro na imagem]

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[ver quadro na imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

254. Um dos elos de interpenetração das economias de subsistência e de mercado é constituído pelo comércio, que promove não só a drenagem dos produtos da economia de subsistência, não autoconsumidos, para os centros de consumo ou para a exportação, como também a satisfação das necessidades que não podem ser realizadas através da produção familiar.
Daqui deriva a importância das actividades comerciais, em particular no contexto de uma progressiva integração das duas economias, mediante a gradual monetarização da economia de subsistência. Os indicadores de ordem estatística sobre a matéria são, como aliás é corrente, insuficientes. Difícil se torna, pois, caracterizar devidamente a estrutura e dinâmica do sector.
O confronto dos elementos referentes aos períodos de 1948-1958 e 1948-1966 (Junho) mostra que em pouco mais de sete anos o número de estabelecimentos quase que duplicou.

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Estabelecimentos comerciais licenciados a província

[ver quadro na imagem]

Note-se que os valores indicados reterem-se apenas aos estabelecimentos que foram licenciados e não compreendem os que funcionam ilegal ou clandestinamente e que na" cidades principais são relativamente numerosos.
O número de estabelecimentos comerciais existentes na província parece ser excessivo - um para cada 240 pessoas -, o que, considerando o poder de compra das populações, significa viabilidade económica difícil. A concentração de estabelecimentos atinge especial relevância dos distritos de Luanda, Benguela e Huambo.

255. Dentro da limitação dos dados disponíveis, pode--se avaliar a importância económica do sector comercial com base nos apuramentos conseguidos através do inquérito realizado em 1963 pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar, de colaboração com os serviços de estatística, relativamente à actividade desenvolvida durante o ano de 1961 pelas empresas comerciais
Os resultados, a aceitar com as devidas reservas, abrangeram apenas um total de 3871 empresas e forneceram os seguintes elementos.

Actividades das empresas comerciais em 1961

[ver quadro na imagem]

256. Estes elementos, apesar de circunscritos a uma parte do sector, certamente o mais significativo, denunciam claramente características da estrutura existente.

O comércio por grosso é exercido predominantemente por sociedades comerciais e atinge, por empresa, em média, a soma de 17473 contos de mercadorias transaccionadas, enquanto as empresas em nome individual não excederam, em média, os 1328 contos de mercadorias transaccionadas durante o mesmo período,
O comércio a retalho é exercido, em percentagem que atinge quase 80 por cento no conjunto das empresas inquiridas, por empresas em nome individual,
O movimento médio de transacções realizado durante o ano de 1961 por cada sociedade exercendo o comércio a retalho foi de 2038 contos, ao passo que o das empresas em nome individual, em grande maioria, como se viu, apenas atinge 293 contos, o que representa um movimento médio mensal de cerca de 24 contos

257. A distribuição geográfica, na província, dos estabelecimentos comerciais, por distritos, era a seguinte, segundo a espécie de comércio:

Repartição geográfica dos estabelecimentos comerciais por espécie de comercio

[ver quadro na imagem]

A predominância dos estabelecimentos por grosso, relativamente aos de retalho, nos distritos de Luanda e Benguela, revela a tendência para a localização, junto dos portos, dos grandes grossistas que actuam como grandes distribuidores em relação ao hinterland.

258. O sistema tradicional da comercialização, com a dupla função de compra dos produtos da terra e da pecuária e distribuição de géneros ao consumidor, desempenhou papel valioso na ocupação e valorização económica de Angola, mas é de reconhecer a necessidade da sua evolução com vista à adaptação a níveis mais avançados de desenvolvimento Têm sido desenvolvidos intensos esforços no sentido da progressiva monetarização do sector da economia de subsistência, nomeadamente através da criação dos mercados rurais.
A anterior estrutura mostrou-se insuficiente, sob o ponto de vista económico, para provocar o aumento das pró-

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duções derivadas do sector de substância e para promover a sua progressiva transformação num sistema de economia do mercado.

259. A fim de atingir os objectivos a que se propõem os mercados rurais, foi a legislação promulgada informada pelos princípios seguintes:

Eliminação da troca directa,
Atracção dos produtos rurais aos mercados, através da sua localização junto dos locais de produção,
Regularização dos preços dos produtos da terra e disciplina das transacções,
Fixação de preços de sustentação para os produtos destinados a exportação ou de significado no consumo interno,
Garantia de aquisição pelos organismos oficiais dos produtos destinados ao mercado no caso de falta de procura.

Previu-se ainda o dispositivo legal que atribui aos governadores de distrito a competência para exigir que a venda de certos produtos tenha lugar exclusivamente em mercados.

260. Embora se esteja ainda numa fase de arranque, os mercados alcançaram já certo significado Este facto pode ser comprovado pelos números a seguir apresentados, que, além de indicarem a evolução dos mercados rurais, podem dar ideia do que há que esperar da sua evolução futura.

Mercados rurais realizados

[ver tabela na imagem]

O aumento foi, no último ano, de cerca de 50 por cento, o que mostra a aceitação que os mercados começam a merecer ao produtor.
Os valores das transacções apurados nos diversos distritos foram os seguintes:

Valores transaccionados nos mercados rurais

[ver tabela na imagem]

Verificou-se que dos produtos transaccionados foram o café, o algodão, o amendoim, a crueira, o tabaco o a purga os mais representativos. No que diz respeito ao algodão, é animador notar a importância do valor transaccionado (55 000 contos), tendo em consideração o aumento da produção dessa fibra.

261. A análise feita permite que se realce, como principais deficiências do sector comercial.

A pulverização dos estabelecimentos comerciais;
A insuficiência de organização e falta de preparação do comerciante

. Objectivos

Comercialização e política de mercados

262. Sendo os problemas da comercialização de extrema importância para o desenvolvimento sócio-económica da província, torna-se pertinente salientar quais são os objectivos essenciais que devem ser visados no III Plano.

Com reflexo na comercialização interna

Reestruturação, disciplina e controle da actividade comercial tendente a contrariar o crescente aumento do nível geral de preços, muito em especial os das mercadorias com incidência no custo de vida ou destinadas à utilização como bens de produção;
Aceleração do processo de monetarização do sector da economia de subsistência, nomeadamente através da generalização do esquema dos mercados rurais e sua abertura aos industriais e exportadores

Com reflexo no comércio externo

Promoção dos esforços conducentes à expansão das exportações, que permita fazer face, conjuntamente com as rubricas tradicionalmente positivas da balança de pagamentos, às crescentes exigências de disponibilidades de pagamento ao exterior impostas pelo desenvolvimento económico.

3. Investimentos

263. Com vista a alcançar os objectivos acima definidos, o III Plano de Fomento foi dotado de verba para custear os seguintes empreendimentos:

Construção de dois armazéns para recolha de fibra, semente de algodão, insecticidas, etc , em Catete e no Dondo,

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Passar-se-á, em seguida, ao exame das condições actuais de cada um dos portos da província

Porto de Luanda

271. O porto de Luanda encontra-se dentro de uma baía protegida por uma restinga de areia, dispondo actualmente de 1260 m de cais acostável, assim distribuídos.

100 m de cais de cabotagem à profundidade de 5,50 m,
1000 m de cais de longo curso à profundidade de 10,5 m,
160 m de cais de longo curso à profundidade de 11,50 m

Possui ainda um antigo cais em fundos de 3 m, com 830 m de comprimento, para a pesca, e uma ponte-cais.
O porto de Luanda pode receber sete navios de longo curso de tamanho médio.
As áreas cobertas totalizam 29 500 m2, os terraplenos pavimentados ocupam 78 000 m2, sendo 24 000 m2 utilizados para depósitos a descoberto das mercadorias e os restantes 54 000 m2 simples arruamentos.
Recentemente ganharam-se ao mar 210 000 m2 de terraplenos, que serão ocupados com armazéns, outros edifícios destinados a facilidades portuárias, arruamentos e espaços livres paia armazenamento a descoberto.
O cais que constituía o travessão encontra-se deficientemente equipado para a movimentação vertical e horizontal das cargas.
Com a entrada em exploração do novo cais (410 m, a 10,5 m de profundidade, já incluídos na relação anterior) o factor equipamento mecânico assume maior relevância, pois se verifica que passará a haver necessidade de mais 21 guindastes eléctricos, 28 tractores de cais e 21 empilhadores.
Na panorâmica do porto de Luanda não pode deixar de se referir a inadequada utilização que está sendo dada a um dos postos de acostagem e seu respectivo equipamento, já que, em virtude de a tonelagem de minérios exportados pelo porto não justificar ainda a construção de instalações próprias, a sua movimentação é feita nas instalações de carga geral.

272. O movimento de carga geral verificado entre 1950 e 1965 traduz-se nos números seguintes:

Movimentação de carga geral no porto de Luanda

Milhares de toneladas

[ver tabela na imagem]

a coluna relativa à exportação foram excluídos o petróleo em rama e os minérios, pelo facto de o primeiro se movimentar em instalações próprias da Petrangol e os minérios necessitarem de uma análise especial.
Tem-se observado uma certa regularidade no crescimento do tráfego do porto de Luanda, cujo valor médio de crescimento é da ordem de 9,6 por cento, embora, pelos últimos quatro anos, pudesse ser deduzida uma taxa de crescimento mais elevada (12,6 por cento). Se a referida taxa média de 9,6 por cento for projectada no período da vigência do III Plano de Fomento, verifica-se que, em 1973, o porto movimentai á, exclusivamente em carga geral, 1 300 000 t.
O rendimento que se tem atingido nos cais em exploração, considerando só carga geral, é de 850 tm/ano, número este que excede os valores médios correntes Nesta base, verifica-se que em 1973 serão necessários nove postos de acostagem para um crescimento de 9,6 por cento Se for considerado o rendimento médio correntemente adoptado de 600 tm/ano, serão necessários doze postos de acostagem, com um crescimento médio de 9,6 por cento.
O porto dispõe actualmente de oito postos de acostagem, um dos quais com profundidade de 5,50 m.

273. Pelo que respeita à cabotagem, o mapa que se segue traduz a carga movimentada, em milhares de toneladas, entre os anos de 1955 e 1965.

Carga de cabotagem no porto de Luanda

Milhares
de toneladas

1955................................ 76
1956................................ 84
1957................................ 94
1958................................ 120
1959................................ 89
1960................................ 91
1961................................ 113
1962................................ 180
1963................................ 207
1964................................ 205
1965................................ 204

Para o movimento actual de 204 000 t, em relação aos cais destinados a cabotagem (100 m à profundidade de 5,50 m), o rendimento é de 2040 tm/ano, explicável pela ocupação permanente do cais e pela realização de operações de carga e descarga de barcos de cabotagem atracados nos espaços sobrantes das zonas do cais de longo curso.
No que se refere a infra-estruturas de apoio ao desenvolvimento das indústrias de pesca, faltam obras acostáveis especializadas, suficientes e eficientes.

274. O porto de Luanda tem já um movimento de pesca bastante grande, o que justifica a construção de infra-estruturas próprias e adequadas.

Movimento de pescado em milhares de toneladas

[ver tabela na imagem]

Prevê-se que em 1973 haverá que movimentar no porto de pesca um total de 113 000 t, assim distribuídas:

Peixe para consumo em fresco - 13 000 t;
Peixe para industrialização - 100 000 t

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30 DE JUNHO DE 1967 1021

Porto do Lobito

275. Lobito é o principal porto da província e um dos melhores da costa ocidental da África.
Como Luanda, beneficia da existência de uma restinga de areia, mas, contrariamente ao que acontece naquele porto, esta restinga cresce em direcção à costa, tendendo a fechar a baía.
O porto possui dois cais acostáveis, dispostos em L e destinados à navegação de longo curso, com uma extensão de 1122 m em fundos de 10,5 m. No topo do cais norte existe uma estacada com 150 m de comprimento em fundos de 3 m destinada à cabotagem. Para fundeadouro de navios a baía dispõe de 4,5 km de área, com profundidades que variam entre 11 m e 34 m.
O porto do Lobito pode receber sete navios de tamanho médio, ou seja o mesmo número que Luanda, embora tenha menos 138 m de cais.
Dispondo actualmente de 24 guindastes eléctricos, o porto do Lobito encontra-se relativamente bem equipado.
Na movimentação horizontal de mercadorias, o porto possui actualmente 19 empilhadores, 9 tractores e 6 auto-trucks, estando em déficit em relação a uma proporção normal relativa ao número de guindastes Deveria passar a ter, portanto, como mínimo, mais 15 auto-trucks ou tractores, bem como igual número de empilhadores. Como óptimo, necessitaria de mais 23 unidades, quer de tractores ou auto-trucks, quer de empilhadores.

276. Quanto à movimentação de cargas através do porto, o Lobito conta com instalações mecânicas que facilitam o tráfego e lhe dão possibilidades de obter elevados rendimentos globais por metro linear de cais.

Movimento de carga geral no porto do Lobito

Milhares de toneladas

[ver tabela na imagem]

A movimentação de mercadorias nacionais nos últimos cinco anos mostra uma tendência para descer, bem como a da exportação nacional Somente a da importação nacional apresenta tendência para se manter uniforme.
Procurando o desenvolvimento previsto nas tendências atrás descritas, determinou-se que a tonelagem a movimentar em 1968, como carga geral (subtraindo a quantidade de milho que se prevê seja exportada pelo Lobito como granel), atingiria valores da ordem das 875 000 t.
O valor assim estimado mostra-nos que até 1968 o porto do Lobito não necessitará de ampliação, mesmo considerando a ocupação pelos navios à carga de graneis.
Partindo do valor estimado para 1968 - 875 000 t - e fazendo a projecção para 1973, estimou-se que a tonelagem a movimentar como carga geral em 1973 será da ordem de 1 215 000 t. Mesmo este volume de tráfego não obrigará ainda à construção de novos cais no porto do Lobito, porque, tendo em atenção o tempo de estacionamento dos navios à carga de graneis, tem-se um rendimento de cais de 940 tm/ano, que se considera suportável, se entretanto o porto for dotado do equipamento necessário.

Carga movimentada em cabotagem pelo porto do Lobito

Milhares
de toneladas
1955.................................... 83
1956.................................... 100
1957.................................... 95
1958.................................... 99
1959.................................... 71
1960.................................... 84
1961.................................... 96
1962.................................... 126
1963.................................... 158
1964.................................... 159
1965.................................... 130

277. Nota-se certa irregularidade na movimentação das cargas por cabotagem entre 1955 e 1965, podendo atribuir-se a quebra de movimento no período a partir de 196H à concorrência da camionagem, que, em muito maior escala, atingiu aquele porto através das rodovias, que a partir de Luanda se dirigem ao seu hinterland.

278. O porto de Moçâmedes é, de entre os portos com obras fixas definitivas para receber o longo curso e a cabotagem, aquele que se encontra mais a sul da província.
O hinterland próximo do porto é constituído por uma zona desértica de poucas possibilidades económicas no concernente à produção de cargas a transportar e à absorção de mercadorias Á partir de Sá da Bandeira entra-se na zona planáltica, de desenvolvimento incipiente, mas de grandes potencialidades.
O porto de Moçâmedes está instalado numa baía completamente aberta. Deste facto resulta que a ondulação pode penetrar no seu interior, provocando, em certos dias, agitação junto às obras portuárias, que são atingidas por ondas de curto e longo período.
A modificação deste estado de coisas através da realização de obras de protecção adequadas apresenta grandes dificuldades de ordem técnica e executiva.

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1022 ACTAS DA CAMARÁ CORPORATIVA N.º 56

Actualmente este porto possui os seguintes cais:

480 m à profundidade de 10,5 m,
130 m à profundidade de 6,10 m,
265 m à profundidade de 3 m.

As obras acima descritas destinam-se à movimentação de carga geral de longo curso e cabotagem. Para a exportação dos minérios provenientes de Cassinga, está em execução uma obra acostável especial em fundos de 16 m, capaz de receber os grandes mineraleiros necessários ao transporte de uma tonelagem que se prevê de 5 milhões de toneladas/ano numa 1.ª fase.

Carga geral movimentada no porto de Moçamedes

Milhares de toneladas

[ver tabela na imagem]

279. Nos últimos anos (com excepção de 1965), o movimento da carga geral aumentou de forma apreciável. Há que ter em linha de conta, porém, que o tráfego actualmente feito pelas instalações de carga geral virá a conhecer um substancial decréscimo, devido à instalação do novo cais de minério, decréscimo que não deverá muito provavelmente vir a ser compensado pelo crescimento do volume de exportação do milho.
Nos últimos anos a exportação de minérios atingiu os seguintes números:

Milhares de
Toneladas
1962 .................................... 44,7
1963 .................................... 46,8
1964 ....................................309,9
1965 .................................... 91,6

Por outro lado, as exportações de produtos de pesca por Moçamedes serão reduzidas ao fabrico local logo que Porto Alexandre venha a ser dotado de ponte-cais.

Carga movimentada em cabotagem no porto de Moçamedes

Milhares de
toneladas
1956..................................... 34
1957..................................... 37
1958..................................... 46
1959..................................... 39
1960..................................... 32
1961..................................... 27
1962..................................... 41
1963..................................... 42
1964..................................... 46
1965..................................... 53

280. O movimento de cabotagem pelo porto de Moçamedes não oferece para já quaisquer problemas, não só porque ele poderá ter tendência a diminuir -como acontece relativamente aos outros portos da província-, mas também porque, ainda que o contrário sucedesse, Moçamedes dispõe de cais largamente suficientes e, quando muito, seria então necessário adquirir algum equipamento.

Porto da Cabinda

281. Os transportes marítimos e aéreos assumem particular importância no que respeita a Cabinda, dada a separação geográfica existente entre o distrito e o resto da província. Esta circunstância confere especial relevo aos problemas portuários daquele território. Nele se encontram as baías de Lândana, Malembo e Cabinda, todas possuindo fundeadouros para navegação de longo curso, no entanto sem condições de abrigo suficientes. Nas baías de Lândana e Cabinda existem pequenas obras acostáveis, apenas acessíveis a alguma navegação de cabotagem.
As possibilidades da instalação de um cais de longo curso têm sido activamente estudadas, dado que o potencial económico do distrito não poderá ser devidamente aproveitado enquanto não for construído um porto de longo curso que o ponha em contacto fácil, seguro e regular com os mercados consumidores da sua produção em perspectiva.

Cabotagem movimentada no porto de Cabinda

Milhares de
toneladas
1960........................... 27,8
1961........................... 25
1962........................... 80,6
1963........................... 32,1
1964........................... 52,9
1965........................... 53,2

282. Verifica-se, pois, um crescimento contínuo. O facto de as obras actualmente existentes servirem simultaneamente a cabotagem e o longo curso (este através da barcagem) tornou premente a sua ampliação, levada a cabo na vigência do Plano Intercalar de Fomento. Logo que estejam construídas as obras de longo curso, a ponte-cais existente poderá movimentar, em cabotagem, 85 000 t.

Porto Alexandre

283. Porto Alexandre é uma cidade com uma população crescente e activa, que se dedica quase exclusivamente à pesca e às indústrias correlativas.
Está situada na orla do deserto de Namibe, que se prolonga para o interior e para o sul numas centenas de quilómetros. Ao norte, a cerca de 100 km e ligado por estrada asfaltada, encontra-se o porto de Moçamedes.
Depois de executadas as pequenas obras necessárias, Porto Alexandre poderá ser considerado como porto misto de pesca e longo curso, dada a circunstância extremamente favorável de os fundos apropriados se encontrarem a duas ou três dezenas de metros da praia.
Além dos portos acima referidos, encaram-se ainda os investimentos necessários aos portos de Zaire, Porto Amboim, Baía dos Tigres, Ambriz, Ambrizete, Novo Redondo, Benguela, Baía Farta e Baía dos Elefantes, em relação aos quais se prevê a realização de estudos ou pequenas obras.

d) Transportes fluviais

284. Não são muitos os rios de Angola que oferecem possibilidades de aproveitamento como vias de comunicação.
Entre eles merecem referência o rio Chiloango, que é navegável para embarcações de pequeno calado (2 a 3 pés), num pequeno troço de uma centena de quilómetros, a montante de Lândana, onde desagua O troço final, junto à foz, tem profundidades que permitiriam instalar um porto interior para o longo curso se fosse economicamente aconselhável e tecnicamente seguro eliminar a barra que o separa de iguais profundidades na baía.

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O rio Zaire só é navegável pelo longo curso ata Nóqui, onde foi construída uma ponteciais, em exploração, capaz de dar acostagem a navios de tamanho médio nas épocas de cheios e a navios de cabotagem nas estiagens.

285. A navegabilidade do no Cuanza a jusante de Cambambe é um facto comprovado, só tendo como óbice a barra existente na foz. Este problema será, porventura, resolúvel, ligando o rio, por meio de um canal, à baía que nasce no Farol das Palmeirinhas Porém, tal empreendimento pressupõe a fixação de indústrias ou explorações de números, bem como a intensificação da ocupação agro-pecuária das margens, de modo a originarem um tráfego fluvial volumoso e constante

286. O no Cunene apresenta também possibilidades de aproveitamento, como via navegável, entre o Mulondo e Calueque, no percurso de cerca de 150 km, após a regularização dos respectivos caudais.
A navegabilidade dos nos Cubango, Cuito, Longa, Lungué-Bungo, Guando e Zambeze tem sido prospectada, encontrando-se o primeiro em exploração - precária, no entanto

Carenagem

287. Os maiores planos inclinados existentes na província são os da Sorefame, no Lobito, que estão normalmente ocupados na construção de barcos Esta empresa dispõe de dois planos inclinados com 700 t de capacidade e, recentemente, construiu outro para 500 t. Existem ainda dois em Luanda, de fraca capacidade e em mau estado.
Outros planos inclinados existem espalhados pela costa, mas trabalhando normalmente em cascos de madeira com uma capacidade inferior a 100 t.
Esta escassez de meios de alagem impõe que se construa, com a possível brevidade, pelo menos um plano inclinado (ou doca seca) para navios de 2000 a 3000 t.

e) Transportes aéreos

288. A província possui já uma das melhores infra - estruturas aeronáuticas de toda a África. Concebida inicialmente no sentido de, sem prejuízo das indispensáveis condições de segurança, a curto prazo, servir às necessidades, mais prementes dos principais núcleos populacionais, tem ela vindo a ser ininterruptamente melhorada, preocupação que se mantém viva através do propósito de a completar, sobretudo pela construção e beneficiação de aerogares com vista a instalar definitivamente - e em condições de proporcionar o melhor rendimento técnico operacional- alguns serviços até agora em fase de exploração provisória.

289. Em 1961 foi definida uma linha de actuação provincial, que se pode resumir nos dois seguintes pontos:

1) Ampliação de estruturas existentes ou construção de novas, com vista à materialização de um dispositivo aeronáutico capaz de suportar a operação das aeronaves civis;
2) Fomento aeronáutico provincial pela criação e desenvolvimento de aeroclubes, escolas de instrução aeronáutica, empresas de táxis aéreos e cursos de formação e especialização aeronáutica

290. Os aeroportos internacionais abertos à exploração de todas as aeronaves nacionais e internacionais, nos termos dos artigos 5.º, 6.º e 68.º da Convenção de Chicago, são os de Luanda e Nova Lisboa

291. Como aeródromos principais, servindo as capitais de distrito ou pontos de maior tráfego das carreiras internas regulares, tem-se Cabinda, S. Salvador, Malanje Henrique de Carvalho, Novo Redondo, Luso, Serpa Pinto, Lobito, Carmona, Salazar, Benguela, Silva Porto e Sá da Bandeira.

292. Quanto aos aeródromos secundários, que são os utilizados nas carreiras internas regulares, mas não englobadas nas classificações anteriores, e ainda outros onde se verifica maior tráfego aéreo de aviões de empresas de táxis aéreos, aeroclubes e outros, mencionam-se os seguintes Santo António do Zaire, Negage, Ambrizete, Maquela, Cela, Porto Amboim, Pereira de Eça, Sanza Pombo, Camaxilo, Cacolo, Camabatela, Ambriz, Totó, Damba, Portugália, Boçadas, Teixeira de Sousa, Caconda e Cazombo.

293. Os aeródromos e pistas de recurso, que são em número aproximado de três centenas, são utilizáveis por pequenos aviões.
Existem já na província vinte aeroclubes (aos quais foram distribuídos pelos Serviços de Aeronáutica Civil quinze aviões Auster 160) e encontram-se devidamente estruturadas cinco empresas de táxis aéreos, as quais cobrem dez distritos.

294. O tráfego aéreo das carreiras privativas da província tem vindo a aumentar de forma considerável nos últimos anos, como se pode verificar no quadro seguinte

Evolução do tráfego aéreo nas carreiras privativas da província

[ver tabela na imagem]

O contacto da província com o exterior é feito, sobretudo, através do aeroporto de Luanda, que em 1962 foi dotado de mais uma pista, de 3700 m, para os aviões a jacto tipos DC 8 e Boeing 707. Além dos da T A P , escalam o mesmo aeroporto aviões de várias empresas estrangeiras.

Evolução do tráfego aéreo de/e para o exterior da província

[ver tabela na imagem]

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1024 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

295. Quanto ao movimento de receitas, o Aeroporto de Craveiro Lopes ocupou, em 1965, o 2.º lugar da rede nacional, com um montante de cobrança no valor de 12 122 contos.
Importa realçar a acção desenvolvida pela D. T. A , que mantém carreiras regulares - no total de 44 - para os diversos pontos da província.
O tráfego por ela desenvolvido nas carreiras regulares é sei vido por uma frota composta por um Beechcraft D 18 S, sete Douglas DC 3 e dois Fokker Friendship 27, prevendo-se a entrada em serviço de mais um aparelho deste tipo.
Em 1961, ano em que foi definida a actual política aérea provincial, a infra-estrutura aérea era constituída por uma pista de 2250 m, com estacionamento e acessos pavimentados em rocha asfáltica, permitindo a operação de aviões DG 6 (em Luanda), outra de 2000 m, com estacionamento e acessos em rocha asfáltica, permitindo a operação de aviões DG 4 e, eventualmente, DO 6 (no Luso), mais 5 pistas de dimensões diversos (entre 900 e 1500 m), permitindo o acesso de aviões DG 3 (Novo Redondo, Porto Amboim, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Cabinda), mais 21 pistas de terra, em geral mal construídas e orientadas, com comprimentos variando entre 850 e 1200 m, permitindo a operação de Beechcraft e, em alguns casos, de DG 3, e, por último, cerca de uma centena de pistas de recurso em terreno natural. Quanto a ajudas-rádio, energia eléctrica e sinalização luminosa, telecomunicações, controle, serviço de protecção e apoio às aeronaves em terra, só o aeroporto de Luanda se encontrava apetrechado, embora em condições deficientes. A mencionar ainda, quanto a ajudas-rádio, Luso, Carmona, Camabatela, Portugália, Toto e Henrique de Carvalho

296. Na província existiam então 12 aeroclubes com 29 aviões, uma empresa de transportes aéreos - a D T A -com 10 aviões (DC 3 e Beechcraft] e duas empresas de táxis aéreos com 4 aviões, embora só uma estivesse em actividade normal.

f) Telecomunicações

297. Os correios, telégrafos e telefones dispõem já de uma rede de VHF que, na sua maior parte, tem capacidade para 48 canais telefónicos e que, dada a existência de uma reserva passiva, poderá ser aumentada para sensivelmente o dobro.
Entendeu-se que não sei ia económica nem vantajosa a substituição da actual rede por outra de UHF ou SHF, nem a instalação de uma ligação troposférica entre Luanda e Nova Lisboa, como inicialmente considerado.
Apesar de todas as ampliações ou transformações efectuadas, não tem sido possível, neste sector, um desenvolvimento que permita um grau operacional correspondente a completa satisfação das crescentes necessidades de um território em franco desenvolvimento - fenómeno, aliás, natural nas regiões em condições semelhantes às que se verificam em Angola. O recurso a soluções óptimas que o extraordinário incremento das telecomunicações tem algumas vezes permitido a países ou grupos de países de grande desenvolvimento técnico não constituirá por agora a solução ideal para o problema angolano, pois que obrigaria a elevados investimentos de duvidosa rentabilidade e que só se justificariam por razões políticas, que, a apresentarem-se, carecerão de cuidada análise, dadas as implicações de coordenação que acarretariam.
Em 1964 foram executados os seguintes empreendimentos- ampliação da estação telefónica interurbana de Luanda, estacões telefónicas automáticas de Nova Lisboa, Benguela e Pereira de Eça e rede telefónica desta localidade Em 1965 adquiriram-se cabos para as centrais automáticas de Benguela, Lobito e Catumbela, procedeu-se à montagem de acessórios das centrais de Nova Lisboa, Lobito e Catumbela, instalaram-se 400 novos números na estação satélite do Bungo, em Luanda, e procedeu-se ainda à instalação de centrais automáticas em Nova Lisboa, Benguela, Lobito e Catumbela.
Pelo que respeita ao apoio à navegação, é necessário proceder à remodelação do equipamento das estações radioeléctricos de Cabinda, Santo António do Zaire, Luanda, Novo Redondo, Lobito, Moçâmedes e Baía dos Tigres, abertas à exploração há cerca de 20 anos. A oportunidade de passarem estas estações a ser exploradas pelos serviços de marinha convirá que seja encarada.

298. Encontra-se concluída a rede primária de VHF, que estabelece a ligação entre Luanda, Salazar, Carmona, Malanje, Cela, Nova Lisboa, Lobito, Benguela e Sá da Bandeira. Além desta, encontra-se também já concluída a rede secundária de VHF nos circuitos entre

a) Luanda-Barra do Dande-Caxito-Mabubas-Ambriz-Ambrizete,
b) Lobito-Egito-Novo, Redondo-Porto Amboim-Gabela

Prevê-se a execução de dois circuitos desta rede secundária, um entre Nova Lisboa-Silva Porto-General Machado e outro entre Sá da Bandeira-Moçâmedes.
A rede HF em SSB tem já montada a ligação entre Luanda e o Luso e estão em montagem os circuitos entre Luanda-S Salvador e Luanda-Serpa Pinto.
Em 1965 continuou-se a construção do edifício de Nova Lisboa, concluiu-se o da central automática de Benguela e iniciou-se o da central de Lobito e o da estação telégrafo-postal e central automática da Catumbela.

2. Objectivos

2.1. Transportes rodoviários

299. No III Plano de Fomento pretende-se prosseguir os programas de realizações já em curso de execução, beneficiando zonas da província ainda não dotadas da desejável estrutura rodoviária
Assim, proceder-se-á

a) A construção do troço entre o rio Quióvua e Henrique de Carvalho (para conclusão da estiada Luanda-Henrique de Carvalho), do lanço Tchua-Ochicango (para ligação de Sá da Bandeira a África do Sul), da estrada Silva Porto--Luso (como continuação da estrada Lobito-Silva Porto), do troço Matala-Serpa Pinto (no seguimento da estrada de Sá da Bandeira a Matala), e do lanço Munhinso (proximidades) a Sá da Bandeira, integrado na estrada Moçâmedes-Serpa Pinto,
b) Ao lançamento de novos troços para servir os territórios do Este da província, satisfazer as necessidades do Norte e atender a objectivos diversos de interesse económico, turístico e outros

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No planeamento feito só foram consideradas rodovias com pavimento definitivo, por se entender que os planos de fomento não devem suportar encargos com obras provisórias, pelo menos neste sector.

2.2. Caminhos de feno

300. O programa proposto contém apenas os investimentos considerados prioritários.
Quanto aos caminhos de ferro de Luanda e Mocâmedes, considera-se urgente melhorar as suas condições de exploração, de modo a torná-las mais eficientes e económicas, e nesse sentido convergem os empreendimentos propostos.
Para o caminho de ferro de Benguela, além de outros melhoramentos importantes, prevê-se a construção da variante do Cubal, que em muito virá melhorar as suas condições de exploração e a sua capacidade de tráfego.

2.3. Portos, transportes marítimos e fluviais

301. Os objectivos a atingir durante o III Plano visam Melhorar o aproveitamento das infra-estruturas existentes,
Construir outras instalações com vista a acompanhar a evolução do tráfego e a estimular o desenvolvimento da província.

2.4. Infra-estruturas e fomento aeronáutico e transportes aéreos

302. São objectivos do III Plano de Fomento, relativamente a cada um dos subsectores já diferenciados, os seguintes

a) Infra-estrutura aeronáutica

Conseguir o total apetrechamento dos aeroportos internacionais e a satisfação dos compromissos internacionais assumidos,
Melhorar, tanto quanto possível, a rede de aeródromos do dispositivo provincial principal, de modo que as aeronaves disponham de condições de operação mais seguras e eficientes,
Melhorar a rede de aeródromos provinciais secundários, satisfazendo simultaneamente as necessidades de defesa e o desenvolvimento económico-social das diversas regiões,
Melhorar a rede de aeródromos e pistas de recurso, de acordo com as necessidades militares surgidas e o desenvolvimento económico e social das regiões,
Melhorar as condições em que se processam a direcção, inspecção, coordenação e controle de todas as actividades aeronáuticas

b) Fomento aeronáutico

Intensificar a preparação de técnicos de aeronáutica, dentro de todas as especialidades que a mesma encerra, a preparação de pilotos das diversas especialidades e a criação de escolas de pilotagem, pára-quedismo, voo sem motor, aeromodelismo, etc ,
Criar novas oficinas aeronáuticas e remodelar as existentes, por forma a satisfazerem totalmente as necessidades da D. T A , bem como as da Força Aérea,
Ampliação de áreas operacionais e criação de condições para a melhoria dos serviços da D T A

c) Transportes aéreos

1) Transporte aéreo regular

Organizar o transporte aéreo regular de acordo com os seguintes objectivos

Quanto à rede

Estabelecimento em Nova Lisboa de uma base secundária com meios necessários à manutenção dos aviões que nela estacionam,
Reestruturar e ampliar as ligações internas.

Quanto aos meios

Iniciar a substituição dos aviões DC 3, já obsoletos, por material mais moderno, seguro e adequado às correntes de tráfego existentes

2) Transporte aéreo não regular

Impulsionar a acção das pequenas empresas de transporte aéreo (actuais táxis aéreos) por forma a completarem a rede de transporte aeronáutico da província.

2.5. Telecomunicações

303. Podem sintetizar-se os seguintes objectivos fundamentais

Estabelecimento de um esquema de identificação de uma maior rede de novas centrais telefónicas automáticas,
Estabelecimento de um grupo de centros fixos de assistência à navegação marítima,
A normal interligação perfeita e adequada de todos os centros fixos pelo sistema de altas frequências de VHF,
Comparticipação, na actual rede de comunicações pelo sistema convencional em HF, de um sistema em SSB ou BLU,
Estabilização do futuro sistema telegráfico telex na província e previsíveis ampliações,
Estabelecimento de um lote de peças de reserva destinadas à manutenção dos quatro sistemas de comunicações,
Programação de edificações imprescindíveis a recepção e instalação dos equipamentos a adquirir com a aplicação directa nos vários sistemas em uso nos
serviços,
Quanto à radiodifusão, considera-se, com base nos elementos obtidos nos quatro anos de trabalho efectivo do Plano de Radiodifusão de Angola, como
objectivos a atingir, os seguintes

Cobertura, como recurso mais consentâneo com as possibilidades económicas e distribuição da população, de todo o território de Angola em ondas decamétricas,
Cobertura dos territórios vizinhos, em ondas decamétricas, às horas que forem julgadas convenientes ;
Cobertura, em ondas hectométricas e FM, por meio de repetidores ou regionais de pequena potência, das áreas mais densamente povoadas
Estando já assente a instalação de novos emissores de 100 kW e antenas, ficar-se-á a dispor dos meios necessários a esta emissão;

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Página não processada!

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Página não processada!

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1028 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

c) Caminho de ferro de Benguela

324. A Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, além dos empreendimentos e investimentos já estimados para a vigência do III Plano de Fomento, prevê, em função da evolução do tráfego e das disponibilidades financeiras, os seguintes como obras e aquisições

Contos
Edifícios ............ 21 300
Material circulante .. 82 000
Via .................. 422 000
Diversos ............. 22 700

d) Caminho de ferro de Moçâmedes

325. Encontram-se em curso obras de monta no caminho de ferro com a finalidade de permitir a exportação de, pelo menos, 5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano Estas obras deverão terminar no decurso do III Plano de Fomento e são financiadas pelo empreendimento mineiro de Cassinga
No entanto, outros melhoramentos são necessários para se garantir a eficiente exploração, independentemente do transporte de minérios, melhoramentos estes a financiar pelas verbas do III Plano de Fomento e que a seguir se indicam

Melhoramentos da via

Ligações variante norte da Cheia

Pelo Projecto Mineiro de Cassinga será executada a variante norte da serra da Cheia, sensivelmente entre os actuais quilómetros 165 e 333 Para manter, a partir dessa variante, o acesso ferroviário a Sá da Bandeira, haverá que estabelecer as ligações ao novo traçado do lado de Moçâmedes, cerca do apeadeiro da Quinlemba, numa extensão de 10 km, e do lado de Serpa Pinto, depois da passagem da ponte sobre o rio Caculovar, num percurso de 5 km

Renovação de travessas

A via vai ser muito melhorada - incluindo a substituição do material actualmente em uso - até ao quilómetro 525 pelo empreendimento mineiro de Cassinga. Quanto ao troço entre os quilómetros 525 e 755 (actualmente término), verifica-se a deterioração de grande número de travessas de madeira, que urge substituir

Balastragem

Torna-se urgente, para maior economia da exploração, e maior segurança, completar a balastragem, a brita, do troço em que tal balastragem ainda não existe (entre os quilómetros 525 e 580) e reforçar e completar a balastragem entre os quilómetros 0 e 165

Equipamento

Locomotivas e automotoras

Pelo Projecto Mineiro de Cassinga vão ser adquiridas as locomotivas Diesel necessárias ao transporte do minério de ferro Convirá, pois, adquirir as locomotivas necessárias para as restantes necessidades da exploração. Tais locomotivas deverão ser também Diesel, para evitar o uso simultâneo de dois tipos (vapor e Diesel), que seria antieconómico. Estima-se como necessária, para o efeito, a aquisição de cinco locomotivas, sendo prioritária a aquisição, dentro da vigência do III Plano de Fomento, de três. Prevê-se ainda a aquisição de três automotoras, para atender ao crescente tráfego de passageiros

Carruagens e vagões

Em razão do aumento de tráfego de passageiros, afigura-se necessária a aquisição urgente de, pelo menos, uma carruagem de 2.ª classe
O aumento de tráfego resultante do Projecto Mineiro de Cassinga exigirá constante actuação ao longo da linha, e, para isso, torna-se indispensável apetrechar a exploração com os necessários meios Para tal, propõe-se a aquisição de duas carruagens de serviço

Investimentos do Projecto Mineiro de Cassinga

Esses investimentos não terminarão em 1967, pois haverá, pelo menos, que contar com a construção da grande variante norte da serra da Cheia. Este empreendimento é inscrito «por memória», visto estar incluído nos investimentos considerados no capítulo das indústrias extractivas

3.3. Portos, transportes marítimos e fluviais Luanda

Obras exteriores

326. Para o período do Plano há a considerar os trabalhos para a consolidação da «ilha» de Luanda, já iniciados, a fim de manter as condições de abrigo do porto
Há ainda que substituir o ramo de ligação entre a «ilha» e o continente, actualmente designado por «ponte», por uma verdadeira obra de arte que permita restabelecer condições hidráulicas destruídas pela construção do aterro.

Obras interiores

Longo curso e cabotagem

327. Tendo em vista os condicionamentos actuais, considera-se prudente estabelecer o seguinte programa de actuação para o período do III Plano de Fomento

a) Construção de 885 m de cais para carga geral, desde já tidos por necessários a curto prazo, dotando-os com as indispensáveis instalações em terra e equipamento,
b) Inscrição de verba para estudos de desenvolvimento do porto, atentas as necessidades que efectivamente venham a demonstrar-se, nomeadamente as respeitantes à movimentação de minérios (de ferro e de alumínio), à cabotagem e à pesca,
c) Consideração «por memória» dos restantes empreendimentos propostos pela província, já que a sua realização pode vir eventualmente a justificar-se por força dos estudos referidos em b),
d) Conclusão das instalações em terra, complementares dos cais terminados em 1966,
e) Aquisição e montagem do equipamento tornado necessário em razão da construção desses mesmos cais.

Lobito

Obras exteriores

328. Para evitar o contínuo crescimento da restinga, que ameaça fechar o porto, está em construção, como já foi referido, um campo de esporões, que terá de ser continuado.

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Obras interiores

Longo curso e cabotagem

329. As instalações de acostagem do porto do Lobito são actualmente suficientes para o movimento que lhes á imposto Admite-se, no entanto, que a partir de 1069 venha a verificar-se a necessidade de as ampliar, pelo que se recomenda sejam levados a efeito os estudos necessários a um completo conhecimento da situação Naturalmente, todos os futuros empreendimentos havei ao de ficar dependentes dos resultados de tais estudos
Quanto n instalações em terra e equipamento, considerou-se justificada a conclusão do apetrechamento iniciado ao abrigo do Plano Intercalar
A necessidade de tudo o mais que se deseja haverá de ser confirmada pelos estudos que acima se preconizam

Moçâmedes

330. Já que as obras relativas ao movimento mineiro deste porto não constituirão encargos do III Plano de Fomento, Moçâmedes encarar-se-á aqui, com exclusão dos efeitos directos que as exportações de Cassinga sobre ele produzirão
Assim sendo, pode dizer-se que o porto dispõe de superabundância de cais, pelo que nenhumas obras deste tipo haverá que executar entre 1968-1973. Em tais condições, os investimentos que se prevêem terão apenas em vista completar empreendimentos já iniciados no Plano Intercalar, havendo que, como para os outros portos, prever a verba para estudos a levar a cabo no período do III Plano de Fomento

Cabinda

331. O distrito de Cabinda justifica e necessita de um porto de longo curso, que haverá de ser construído no período do 111 Plano de Fomento
Há, no entanto, ainda problemas a resolver quanto à sua localização e quanto a outros pontos de importância, pelo que é necessário aguardar decisão superior
A construção de um porto de acostagem para fosfatos rodeia-se ainda de incertezas, que só estudos adequados removerão, isto até porque a exportação de tais produtos poderá influenciar grandemente a solução que venha a adoptar-se para o porto do distrito, no qual as respectivas instalações hão-de ficar incluídas

Porto Alexandre

332. As condições actuais deste porto indicam a necessidade de nele estabelecer, desde já, obras acostáveis - uma ponte-cais de longo curso para o serviço da pesca, integrável num eventual e futuro porto comercial, cuja construção haverá de ficar dependente de estudos integrados no planeamento portuário da província agora em elaboração.

Lâdana

333. Torna-se necessária a defesa contra a erosão da costa em que se encontra enraizada a ponte-cais. Para o efeito, foi construído um campo de esporões, cuja conservação há que prever

Zaire

334. Não há, por enquanto, elementos que permitam uma justificação bastante deste porto, desejado em alguns sectores da província
Por isso, só estudos tendentes à sua recolha serão de inscrever no III Plano de Fomento.

Baía dos Tigres

335. Prevendo-se que a movimentação dos produtos deste centro pesqueiro seja feita através de uma cabotagem que os concentre em Porto Alexandre, qualquer acção deve aguardar a definição da política a adoptar quanto a este último porto.

Outros portos

336. Há que prever a realização de estudos em alguns dos outros portos secundários, na medida das necessidades

e) Transportes fluviais

337. Inscrevendo, embora, verba para estudos, obras s instalações de meios vários, há que prever a necessidade de ajustamentos, sobretudo em razão de actividades que virão a desenvolver os recém-criados serviços hidráulicos da província

f) Carenagem

338. Os poucos meios de alagem existentes na província impõem a construção, com a possível brevidade, de, pelo menos, um plano inclinado ou doca seca para navios de 2000 a 3000 t

3.4. Infra-estrutura e fomento aeronáutico e transporte aéreo

Órgãos de direcção, coordenação, apoio e instrução

339. Pretende-se apetrechar o Centro de Controle Regional (Luanda) com a instalação de circuitos telempressores e A T C , adquirindo também mobiliário e equipamento Deste modo, satisfazendo os compromissos internacionais, conseguir-se-ia melhor e maior eficiência operacional, sob os aspectos aeronáuticos e meteorológicos, nas ligações radioeléctricas entre Luanda e Kinshasa, Brazzaville, Salisbúria, Lisboa e Nova Lisboa
De acordo com os objectivos pi opôs tos para o III Plano, e com vista a suprir a grande falta de técnicos nas diferentes especialidades aeronáuticas, projecta-se a realização de cursos de preparação aeronáutica

a) Aeroportos internacionais

Aeroporto do Luanda

340. Projecta-se a ampliação e o melhoramento da aerogare, com vista a proporcionar melhores condições aos passageiros em trânsito. Dadas as exigências do grande tráfego interno e internacional, prevêem-se ainda os seguintes empreendimentos conclusão dos trabalhos de drenagem nas áreas adjacentes à pista, completamente da estacão de sei viço de incêndio, melhoramento da vedação periférica e construção de caminhos de ronda, aquisição e instalação de uma ajuda-rádio I L S e melhoria dos sistemas de comunicações, aquisição de equipamento de desobstrução de áreas operacionais e construção de parques e armazéns

Aeródromo do Nova Lisboa

341. A fim de satisfazer as necessidades mínimas dos passageiros, empresas aéreas e serviços de aeronáutica e meteorológico, projecta-se a construção da aerogare e torre de controle. Encara-se ainda a materialização dos seguintes empreendimentos construção da 2.ª fase da (...)

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1030 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 66

(...) central eléctrica, remodelação e instalação de telecomunicações e controle no edifício da aerogare, melhoramento da vedação periférica e construção do caminho de ronda, aquisição de viaturas e beneficiação do actual hangar.

b) Aeródromos do dispositivo provincial principal

342. Prevê-se a construção de novos aeródromos em Moçâmedes, S Salvador e Lobito, em substituição dos actuais, já insuficientes para as necessidades do momento e, ainda mais, para as que se prevêem num futuro próximo.
De forma a satisfazer aos imperativos de defesa e necessidades civis, prevêem-se grandes reparações no aeródromo de Cabinda, prolongamento da pista do aeródromo do Luso e pavimentação das áreas operacionais do aeródromo de Serpa Pinto, facilitando a utilização destes últimos pelos aviões DC 6. Há ainda a considerar melhoramentos na área operacional do aeroporto de Novo Redondo e no de Silva Porto
Quanto à construção, melhoramento e apetrechamento de aerogares, torres de controlo e abrigos para passageiros, projectam-se obras nos aeródromos de Malanje, Novo Redondo, Carmona, Benguela, Moçâmedes, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Silva Porto, Sá da Bandeira e Serpa Pinto.
Prevêem-se investimentos em instalações e melhoramentos respeitantes a telecomunicações e ajudas-rádio nos aeródromos de Cabinda, Malanje, Novo Redondo, Carmona, Benguela, Moçâmedes, S Salvador e Silva Porto, em obras de vedação e caminhos de ronda nos aeródromos de Malanje, Carmona, Benguela, Moçâmedes e S Salvador, em energia e sinalização nos aeródromos de Novo Redondo, Benguela, Moçâmedes e Serpa Pinto; e em aquisição de viaturas para todos os aeródromos indicados

c) Aeródromos do dispositivo provincial secundário

343. Para satisfação das necessidades operacionais da D T A , encara-se o tratamento superficial das áreas operacionais nos aeródromos de Pereira de Eça, Roçadas e outros
Prevê-se ainda a construção e melhoramento de abrigos para passageiros em quase todos os aeródromos da classe considerada.
Projecta-se também a instalação de telecomunicações e controle em Portugália, a construção e instalação de uma central eléctrica e radiofarol em Santo António do Zaire, a execução de obras anexas no mesmo aeródromo e a aquisição de viaturas para quase todos os aeródromos

d) Transportes aéreos

344. Está programada a aquisição de três aviões para a rede de transportes provinciais, de sobresselentes iniciais e ferramenta especial para os mesmos, bem como a construção e apetrechamento de uma oficina de electrónicos, de uma oficina especial de motores de turbina, e ainda a aquisição e montagem de um banco de ensaios de motores de turbina.

4. Telecomunicações

345. Para a realização dos objectivos atrás enunciados, será necessária, durante o período do III Plano de Fomento, a execução dos empreendimentos que adiante se enumeram

a) Sistema telefónico

346. Pretende-se levar a cabo a ampliação das estações de Luanda, Nova Lisboa, Benguela e Lobito, bem como a criação da satélite de Vila Alice (Luanda), e a criação de novas centrais automáticas em Cabinda, Carmona, Malanje, Salazar, Novo Redondo, Porto Amboim, Silva Porto, Luso, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Gabela, Cela, Mariano Machado, Cubal e Vila Robert Williams Estas realizações proporcionarão a instalação de 8500 a 14 900 números
Impõe-se também a ampliação das estações interurbanas de Luanda, Nova Lisboa, Benguela e Lobito e a instalação dos PAXS para terminais de VHF, a que correspondem as redes telegráficas de Vila Nova, Bela Vista, Chinguar, Vouga, Nova Sintra, barra do Donde, Caxito, Mabubas, Ambriz, Ambizete, Zaire, Quibala e Calulo, com capacidade para 660 a 1060 números
Há igualmente que proceder à aquisição de telefones com marcador.
Com vista a uma limitação dos períodos de conversação, o que terá a dupla vantagem do descongestionamento do tráfego e de maior rendimento do sistema, prevê-se a montagem de um sistema de temporização de chamadas
Como consequência da instalação de centrais, e uma vez que as ledes completam aquelas, há que proceder à aquisição (incluindo acessórios) e montagem de redes novas em cabo, bem como de cabos carregados para VHF, e de cabos de junção carregados para a estação principal de Luanda.
A aquisição de um relógio falante permitirá aos utentes das redes telefónicas a consulta da hora certa, o que se traduzirá na arrecadação de consideráveis receitas.

b) Estações costeiras

347. Como já foi dito, o crescente movimento de tráfego marítimo impõe a necessidade de se apetrecharem convenientemente as estações de apoio a navegação, uma vez que o material em uso está em precárias condições Porém, e pelas razões já expostas, apenas se consideram prioritárias as estações de Luanda e Lobito, às quais, no entanto, se imporá juntar a da Baía dos Tigres

o) Sistema YHF

348. A instalação de novas centrais telefónicas e a ampliação das existentes obriga, logicamente, a que se reconsidere a necessidade urgente da sua interligação, utilizando-se diversos sistemas e tendo em conta a economia, qualidade e rapidez das ligações. Também dentro em pouco sei ao montadas as centrais telex, que igualmente necessitam de interligação. Tanto para a interligação de umas como de outras, pensa-se em utilizar o sistema VHF, não só pela qualidade de transmissão, como pela número de canais disponíveis
Consideram-se, pois, necessárias as ampliações de canais telefónicos e telegráficos e a ligação Nova Lisboa-General Machado. A ampliação de canais telefónicos proporcionará um aumento de 70 canais, e a de canais telegráficos, um aumento de 41 canais.
A ligação Nova Lisboa-General Machado utilizará um sistema de doze canais telefónicos e oito telegráficos principais, servindo Nova Lisboa, Bela Vista, Chinguar, Vouga, Silva Porto, Nova Sintra e General Machado

d) Sistema HF (BLU)

349. Embora considerado, pela qualidade de emissão, um sistema subsidiário, a transmissão por BLU será

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(...) o elo de ligação entre as pequenas localidades e os grandes centros populacionais Será, portanto, uma rede do maior interesse sob os aspectos administrativos de segurança estratégica da província Compreende a aquisição de emissores de seis canais pré-sintonizados, de 100 W, providos de amplificadores lineares de 2000 W, destinados aos centros de distribuição dos redes-
Zona norte Luanda, Cabinda, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Malanje e Carmona.
Zona sul, Nova Lisboa, Lobito, Benguela, Silva Porto, Luso, Novo Redondo, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Serpa Pinto.

e) Sistema «telex»

350. Este sistema automático, um dos móis evoluídos do sector telegráfico, vai pela primeira vez fazer parte do sistema estrutural do conjunto da rede de comunicações dos CTT.
O empreendimento envolve a seguinte rede de estações e respectivas capacidades*

Uma central automática e uma central internacional em Luanda - 225 assinantes
Uma central automática em Nova Lisboa -165 assinantes.
Nove estações de concentradores, iguais, para Carmona, Salazar, Malanje, Cela, Lobito, Benguela, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Silva Porto - 32 assinantes cada uma.

f) Peças de rasura

351. Impõe-se a existência de um número mínimo de peças de reserva susceptível de assegurar uma exploração regular.

g) Edifícios

352. Será necessário construírem-se edifícios para as centrais automáticas de Vila Alice, Cabinda, Salazar, Porto Amboim, Silva Porto, Luso, Serpa Pinto, Gabela, Cela, Mariano Machado, Cubai, Robert Williams, Sá da Bandeira e Novo Redondo Há ainda que construir os edifícios das estacões repetidoras e terminais de VHF de Luanda e das ligações Nova Lisboa-General Machado, Sá da Bandeira, Moçâmedes, Luanda-Lobito e Nova Lisboa-Robert Williams

h) Radiodifusão

353. Para a prossecução dos objectivos já enunciados, é necessário que se realizem os seguintes empreendimentos
Instalação dos emissores regionais das zonas norte e leste, que se julga dever implantar em Cabinda, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Luso e Serpa Pinto. Estes centros deverão dispor de emissores de ondas médias de 5 ou 10 kW (com excepção de S. Salvador, cujo caso deverá ser estudado posteriormente, dada a sua especial posição) e de emissores de FM de média potência, além de pequenos estúdios com facilidades para transmissão local de programas e reprodução de bobinas gravadas nos estúdios centrais. Além disso, deverão dispor de um sistema de recepção especial para captar os programas de outros centros (particularmente de Luanda), para os retransmitir
Instalação da rede de FM paralela com a rede de VHF primária dos CTT (cerca de 25 retransmissores de pequena potência -100 a 250 W - e de média potência-100 a 250 W). Dela beneficiarão os distritos de Carmona, Salazar, Malanje, Novo Redondo, Nova Lisboa, Silva Porto, Benguela e Sá da Bandeira
Criação do centro de programas de Luanda, a iniciar ainda no Plano Intercalar. A falta deste centro, há muito sentida, muito mais se acentuou com as primeiras realizações levadas a cabo pelo Plano de Radiodifusão de Angola Nele se deverão preparar todos os programas radiofónicos a transmitir de Luanda ou a fornecer aos regionais e outras estações de radiodifusão
Instalação do centro de recepção e medida, do maior interesse para o desenvolvimento de planos futuros.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

(ver tabela na imagem)

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(ver tabela na imagem)

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

354. O problema da habitação na província assume aspectos particulares, conforme o sector de incidência é rural, suburbano e urbano.

355. O meio rural, caracterizado pela existência de habitações autoconstruídas com materiais locais, patenteia um problema de evolução, isto é, a modificação da casa segundo as novas necessidades económicas e sociais resultantes da transição da economia de subsistência para a de economia de mercado, no sentido da construção de casas definitivas integradas em aglomerados de dimensões variáveis, de acordo com o tipo de economia e recursos locais
Para isso torna-se indispensável definir, a partir da análise dos vários factores relevantes com referência a uma dada unidade socio-económica, o tipo de «povoamento» aconselhável - concentrado, misto ou disperso - e dos consequentes programas de reordenamento rural a de beneficiamento habitacional.
As acções a desenvolver deverão resultar da actividade das equipas móveis de desenvolvimento comunitário, do tipo de mão-de-obra disponível e da criação de pequenas caixas de crédito, na sequência das experiências já efectuadas pela Junta Provincial de Povoamento de Angola e pelo Fundo de Acção Social no Trabalho de Angola

356. A zona circular que envolve as principais vilas e cidades de Angola, com seus bairros de habitações provisórias, constitui problema dos mais sérios e delicados, que merece tratamento próprio, distinto do urbano, porquanto se trata de populações que, não vivendo já em economia monetária pura, para ela caminham Os seus elementos soo fundamentalmente trabalhadores não especializados o semiespecializados, ainda ligados, em muitos aspectos, à vida tradicional, mas dependentes economicamente do salário
O programa de desenvolvimento destas zonas suburbanas deverá sor global, no sentido de proporcionar a formação profissional, a colocação acessível, o aproveitamento dos recursos locais através do fomento do artesanato e da pequena indústria, dos ofícios, da agricultura e da pecuária intensiva, etc. O elemento enraizador deste programa deve ser justamente a casa construída em moldes definitivos
Os métodos a adoptar no sector da habitação são, em vasta medida, os indicados para as zonas rurais, uns e outros fazendo largo apelo às técnicas do desenvolvimento comunitário. Contudo, a forma de actuação terá de ser, nos dois casos, diferente, porquanto se trata de tipos populacionais com diversa caracterização. Terá de recorrer-se mais fortemente ao crédito, à organização de equipas de mão-de-obra especializada (que poderão constituir núcleos de aperfeiçoamento profissional), a maior ajuda técnica, etc.

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357. O empolamento nos centros urbanos das actividades económicas e administrativas exerce uma grande atracção nas populações rurais em crise, as quais aspiram o acesso a nível de vida superior. Daí surge a proliferação dos bairros suburbanos, em Angola conhecidos por «muceques»
O crescimento dos aglomerados urbanos, resultante do desenvolvimento económico, tem assim impulsionado a expansão das necessidades em matéria de habitação
Se a iniciativa privada tem respondido a estas necessidades na medida em que pode dispor de terrenos e urbanização assegurada e em que as expectativas de rendimento são suficientemente atractivas para o capital, em Angola, como em quase todo o Mundo, o ritmo de construção, apesar do elevado ritmo de expansão nos investimentos imobiliários, não tem sido, porém, suficiente em relação às necessidades habitacionais, registando-se tendência para considerar apenas o sector da população capaz de pagar rendas altas
Para mais, a acção das cooperativas de habitação em Angola tem visado e atingido, fundamentalmente, as classes médias, sem reflexos sensíveis, portanto, sobre a situação habitacional das classes economicamente débeis.

358. Relativamente à intervenção pública na resolução do problema, as possibilidades são escassas, quer por falta de terrenos, como acontece em Luanda, quer por limitações de carácter financeiro.

2. Objectivos

Em resumo, o problema da habitação, nas várias zonas, consubstancia-se nos seguintes objectivos a alcançar

a) Nas zonas rurais, melhorar a habitação tradicional, dando-se prioridade às áreas em que for possível desenvolver uma acção de desenvolvimento integral,
b) Nas zonas suburbanas, o programa de actuação deve abranger o conjunto de meios necessários equipamento para o fabrico de materiais e, para as construções, equipas de trabalho que constituam núcleos de formação e aperfeiçoamento profissional no sector da construção civil,
c) Nas zonas urbanas a existência de escalões sociais em que as comunidades urbanas se estruturam exige que toda a planificação tenha em conta tais escalões e que deva ser basilar a preocupação de os fazer integrar e conviver numa comunidade harmónica.

Há um conjunto de aspectos, directa ou indirectamente ligados ao problema da habitação, a considerar ainda distribuição de água e de electricidade, esgotos, acessos, transportes colectivos, mercados e abastecimentos, equipamento social e serviços públicos.
No delineamento de uma programação, a longo prazo, no sector da urbanização e, portanto, no da habitação, há também a considerar1 a evolução demográfica global e as migrações internas de mão-de-obra, que importa prever com a possível exactidão, nos aspectos de volume e de direcção.

359. Entre as entidades que podem ser chamadas a colaborar nesta acção figura o Fundo de Melhoramentos Locais, pelo qual podem ser concedidas comparticipações para diversos empreendimentos, entre os quais a construção de habitações populares. A comparticipação do Fundo de Melhoramentos Locais para a construção de habitações deste tipo poderá atingir o máximo de 75 por cento do valor das obras, exigindo-se o reembolso apenas de 75 por cento da verba comparticipada, no prazo de quinze anos, sem qualquer juro
O Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social poderá vir a desempenhar também valioso papel na solução do problema habitacional das classes trabalhadoras, possibilitando a ampliação do fomento da habitação económica através de empréstimos reembolsáveis
Entretanto, o Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social caminha já mesta linha de rumo, concedendo pequenos empréstimos aos interessados (normalmente em materiais) e o apoio técnico e social que se mostre necessário, assim como ajuda para fabrico de materiais que possam ser obtidos directamente pelos interessados nas zonas onde decorre a acção
O Fundo de Casas para Funcionários também assegura o financiamento da construção de habitações em todo o território da província, ainda que a sua acção se tenha vindo a limitar às áreas onde se põem problemas especiais
É de assinalar existirem sob a administração da Comissão Administrativa do Fundo de Bairros Populares de Angola cerca de 60 bairros populares, com mais de 5000 habitações. Em Luanda foram construídos dois bairros de realojamento - Prenda e Rangel - com perto de 800 fogos

360. Não está ainda esclarecido se os grandes imóveis colectivos, construídos para as populações de fracas posses, são preferíveis às construções unifamiliares Há que atender, entre outros factores, ao custo da construção em altura e aos acabamentos necessários para dar aos prédios colectivos as suficientes condições de isolamento, conforto e higiene.
Isto não significa que, em casos específicos, não exista vantagem nos grandes imóveis habitacionais colectivos, que, contudo, para oferecerem condições de conforto e habitabilidade, terão forçosamente de ser de mais elevado custo.
O núcleo urbano elementar a considerar deverá abranger 50 a 150 famílias, vivendo numa área cujas distâncias lineares não excedam os 300 m, ou seja o escalão denominado «bairro».
Estas unidades primárias integram-se em escalão superior, «unidade de vizinhança», com cerca de 1500 famílias, tendo a uni-las elementos que as caracterizam espiritual e administrativamente em relação aos restantes escalões do mesmo tipo que completam a urbe. Cada unidade de vizinhança deve ser, em muitos aspectos, auto-suficiente e ter os seus serviços próprios.
Neste esquema, cada bairro deverá ser dotado de equipamento social privativo, constituído por escolas primárias, balneários, sanitários, postos de assistência médico-social. Cada unidade de vizinhança deverá ser dotada, por sua vez, de mercados, correios, zonas comerciais privativas, espaços livres públicos, etc., complementando os elementos que constituem o equipamento social dos bairros a integrar.

361. Os objectivos a atingir no III Plano de Fomento são, pois, fundamentalmente:

a) Melhoria das condições de vida das populações rurais e a consequente contribuição para a diminuição do êxodo rural,
b) Estruturação de uma política habitacional de reordenamento urbano,
c) Realização de um programa de empreendimentos prioritários de reconhecido interesse social, atra- (...)

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(...) vês de um esquema de investimento assegurado pelas entidades públicas e instituições de previdência social. As finalidades de tal programa seriam: reordenar as zonas habitacionais conhecidas por «muceques» e reduzir a actual carência de casas definitivas para as classes modestas.

Medidas de política

362. Seria necessário que, entretanto, fossem adoptadas as seguintes medidas

1) Estabelecimento de planos do urbanização para os principais núcleos urbanos da província - O trabalho a efectuar é premente, visto que as construções clandestinas surgem, por toda a parte, em terrenos ocupados irregularmente,
2) Aquisição de terrenos. - O Estado tem de obter os terrenos necessários para resolver o problema habitacional de classes economicamente débeis e para dotar as populações com equipamentos sociais, assim, é indispensável que em todos os forais novos e na expansão dos actuais o Estado reserve para si os terrenos que considera indispensáveis para os efeitos indicados,
3) Financiamento do construção de habitações económicas - Torna-se indispensável coordenar e reforçar, através das instituições de crédito e de previdência, recursos financeiros disponíveis paia o financiamento a ritmo acelerado da construção de bairros populares e de habita coes para as classes sociais economicamente mais débeis

3. Investimentos

3.1. Reordenamento urbano

363. Prevê-se o reordenamento das zonas habitacionais mais conhecidas por «muceques», dando às populações casas com um mínimo de conforto e dignidade, dotando os respectivos núcleos com o equipamento social indispensável e libertando os terrenos onde hoje se situam para construção de bairros de reordenamento e realojamento em Luanda, Lobito, Benguela, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Malanje e Moçâmedes.

3.2 Construção de casas para funcionários

364. No Norte e Leste da província, onde se pretende um esforço em infra-estruturas básicas, a falta de casas para funcionários é um dos motivos impeditivos de preenchimento dos quadros. Será, portanto, nelas que incidirá o esforço inicial.
Prevê-se nos distritos de Cabinda, Zaire, Uíge, Lunda, Moxico e Cuando Cubango a construção de alojamentos para 120 famílias.

3.3. Execução dos anteprojectos de habitações para trabalhadores

3.4. Fomento e apoio à autoconstrução, habitação melhorada ou de transição

365. Como medida de promoção económica e social, há que simplificar o processo de construção, evitando todas as exigências desnecessárias, para construção nas zonas urbanas, suburbanas das cidades, vilas e povoações. Nas áreas dos postos, concelhos ou distritos destas zonas residenciais surgirão construções simples, na linha de evolução das casas tradicionais, mas agora definitivas e com um mínimo de condições higiénicas, que possam ser feitas pelo sistema de entreajuda apenas com pequenos empréstimos reembolsáveis e ajuda técnica de organismos próprios.
No investimento estão inscritas verbas para a construção de bairros para trabalhadores, integrando Casas dos Pescadores e outros serviços sociais. Tais empreendimentos justificam-se no contexto de formação económica e social dos trabalhadores, de um modo geral, e ainda pelo facto de se verificar que o pescador português, quando não se lhe favorece habitação para instalação das famílias, sente--se apenas temporariamente ligado a terra em que trabalha, e, ao mais ligeiro contratempo, regressa à origem.

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

(ver tabela na imagem)

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IX) Turismo

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

366. Apresentam-se em Angola possibilidades apreciáveis de desenvolvimento turístico concentradas em zonas com interesse apenas potencial, mas que noutros casos pode já ser considerado como realidade, embora ainda em fase incipiente Entoe estas poderão incluir-se as zonas de turismo de Luanda, Lobito-Benguela, Sá da Bandeira e Nova Lisboa. Entre as primeiras, as de Cabinda, Novo Redondo, Moçâmedes, Malanje, Moxico, Bié e Guando Cubango Os factores de atracção são essencialmente dois a caça e a pesca desportiva.

367. Existem actualmente em Angola os parques nacionais da Quiçama, da Cameia (distrito do Luso), de lona (distrito de Moçâmedes), de Bicuar e da Mupa, cuja área, no seu conjunto, abrange cerca de 5 milhões de hectares, as reservas naturais integrais do Luando e da Cangandala, num total de 888 000 ha, as reservas parciais de Milando e Moçâmedes, num total de mais de 2 milhões de hectares, e as coutadas públicas do Ambriz, Longa-Mavinga, Luengué, do Luiana e do Mucusso, num total de mais de 9 milhões de hectares
Os parques nacionais da Quiçama e da Cameia estão apetrechados com acampamentos para visitantes

368. A existência abundante de peixe-prata nas águas de Angola representa, por si só, elemento bastante para atrair turistas, não só de África, como de outros continentes. Tal atracção poderá ser substancialmente ampliada desde que sejam definidas as zonas e épocas de frequência de outras espécies: atum, albacora e patudo, espadins e veleiros
De um modo geral, todas estas espécies existem ao longo de toda a costa de Angola. As águas de Moçâmedes, pelo seu enrocamento e limpidez, apresentam condições ideais para a caça submarina e fotografia subaquática.
Seria igualmente de interesse ensaiar o povoamento de espécies, tais como o peixe-tigre e o adrigã, em albufeiras e lagos do interior

369. O equipamento hoteleiro era em meados de 1966 o seguinte.

(ver tabela na imagem)

Os hotéis de 1.ª classe, unicamente existentes em Luanda, Sá da Bandeira e Lobito, têm uma capacidade de utilização que se pode classificar de boa. Em Luanda a taxa média de ocupação anual deve oscilar por volta dos 95 por cento, descendo ligeiramente nas outras duas cidades.

370. A situação actual da indústria hoteleira de Angola é difícil no que respeita a pessoal especializado. A falta de profissionais qualificados constitui séria dificuldade para o exercício da hotelaria portuguesa. Dada a dificuldade de recrutar pessoal habilitado no continente, onde se luta com problema semelhante, não se oferece outra forma de enfrentar a falta de pessoal especializado senão a de intensificar a formação profissional na indústria hoteleira através de escolas hoteleiras, das quais a primeira, em Luanda, ensaia os seus primeiros passos

2. Objectivos

371. Considera-se que haverá fundamentalmente que promover o desenvolvimento da actividade turística em três zonas prioritárias, que são zonas potenciais de atracção do turismo interno (em especial de fluxos de origem metropolitana) e internacional, principalmente da África do Sul, Sudoeste Africano e Rodésia

Região em forma de pentágono irregular, com vértices na barra do Dande, Duque de Bragança, Malanje, Santa Comba e Novo Redondo,
Região triangular, cuja base se supõe compreendida entre as pontas do Diabo e Grossa e o vértice em Folgares,
Região triangular, cuja base se estende do Farol das Salinas ao Lobito, com vértice em Nova Lisboa

3. Investimentos

3.1. Caça

372. A necessidade de melhorar as reservas e coutadas existentes, pelas razões que já ficaram expostas, implica que sejam construídos, nalgumas delas, alojamentos, picadas, bebedouros e abastecimentos de águas.

3.2. Hotelaria

373. Prevê-se a construção de um hotel de luxo em Luanda, destinado a servir o turismo internacional, com cerca de 100 quartos, e uma pousada na barra do Cuanza, restaurante e ancoradouro (para apoio à pesca desportiva). Estes dois empreendimentos deverão ser da iniciativa do sector privado
Prevê-se ainda a construção de três hotéis de turismo destinados a servir o turismo internacional e interno Farte do investimento será assegurado pelo Estado

3.3. Centra de preparação hoteleira a de turismo

374. A falta de preparação do pessoal hoteleiro exige que se dê especial atenção a este empreendimento, aproveitando a experiência já adquirida com a escola hoteleira e beneficiando da colaboração e apoio técnico dos serviços de turismo nacionais

3.4. Estudos e publicidade

375. Conforme já foi salientado, impõe-se que se proceda a um estudo que estabeleça a forma de utilização mais racional das potencialidades existentes e a uma racional informação através da imagem e da rádio.

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Turismo

Programa de Investimentos

(ver tabela na imagem)

X) Educação e Investigação

1. Educação

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

376. A análise das realizações no campo da educação faz ressaltar, com clareza, o grande esforço realizado e os resultados notáveis que já foi possível alcançar De facto, a escolaridade tem crescido em proporção muito rápida em todos os graus de ensino, com as implicações daí resultantes.

a) Ensino Infantil

377. Limitado à frequência de crianças dos 3 aos 6 anos de idade, não pôde ainda fornecer solução totalmente satisfatória este grau de ensino, em virtude da necessidade de dar prioridade ao ensino primário São, no entanto, de assinalar os já apreciáveis progressos, como mostra o quadro seguinte

Frequência no ensino infantil de 1958 a 1965

(ver tabela na imagem)

(a) Com referencia a 31 de Dezembro do 1964

b) Ensino primário

378. A partir de 1964-1965, todo o ensino primário foi remodelado, constituindo-se quatro classes, precedidas de uma classe pré-primária (5 anos). A frequência é obrigatória para os alunos de ambos os sexos, de idades entre os 5 e os 12 anos.

Frequência do ensino primário de 1960 a 1965

(ver tabela na imagem)

(a) Com referencia a 31 de Dezembro de 1964.

Num período de dez anos, a evolução sofrida neste sector do ensino foi de vulto. O número de escolas, de professores e de alunos aumentou, respectivamente, de 94,5, 103,6 e 186,3 por cento
A população escolarizava foi estimada (dos 6 aos 12 anos), respectivamente, para 1950 e 1960, em 708277 e 852 095 indivíduos, a que correspondem taxas de escolarização indicadas no quadro seguinte, em confronto com as perspectivas para o período do III Plano de Fomento.

Perspectivas de escolarização até 1973

(ver tabela na imagem)

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30 DE JUNHO DE 1967 1037

c) Magistério primário e habilitação da professores de posto

379. As três escolas de magistério primário existentes na província tiveram o seguinte movimento em 1963-1964 e 1964-1965.

(ver tabela na imagem)

No que se refere às escolas de habilitação de professores de posto - existem quatro femininas, uma mista e uma masculina -, houve uma frequência de 470 alunos em 1963-1964 e de 548 alunos em 1964-1965 Nestes mesmos dois anos, concluíram os seus cursos, com aproveitamento, 909 indivíduos. De notar que ao iniciar-se o ano lectivo de 1965-1966 havia já em exercício de funções
1685 monitores, dos quais 597 apenas estavam habilitados a ministrar o ensino na classe pré-primária.

d) Ensino de artes e ofícios

380. Actualmente funcionam 34 escolas de artes e ofícios - 4 oficiais e 30 a cargo das missões, mas subsidiadas pelo Estado -, absorvendo 100 professores e 2094 alunos

e) Ensino liceal

381. Até meados do decénio da 1950-1960 existiam na província dois liceus oficiais e dezoito colégios particulares ministrando ensino liceal Desenvolveu-se a seguir uma evolução nitidamente dinâmica.
Contando com a frequência do ensino liceal particular, é de prever, com base na evolução verificada desde 1955 a 1965, que a frequência atinja, em 1967 e 1973, respectivamente, 18 225 e 26 510 alunos
Se considerarmos a provável evolução do ensino oficial, teremos que essa frequência atingiria, nos mesmos anos, o número de 9 400 alunos

Frequência no ensino liceal de 1960 a 1966

(ver tabela na imagem)

Embora, como já ficou dito, o ensino liceal tenha sofrido grande incremento nos últimos anos, enferma ainda de deficiências que urge minorar ou eliminar, entre as quais se devem salientar deficiência de pessoal docente habilitado e de instalações.
Presentemente, funcionam nove liceus em Angola, alguns em regime de desdobramento, por a sua capacidade não comportar a respectiva frequência em regime normal.

f) Ensino técnico

382. Teia de ser dada atenção especial as necessidades crescentes de mão-de-obra qualificada, muito particularmente no caso de Angola, pois a insuficiência qualitativa dos recursos humanos disponíveis é de tal modo que, a não ser adoptada uma política de rápida e generalizada formação de trabalhadores qualificados, ficará seriamente comprometido o êxito de boa parte dos empreendimentos a realizar
Reveste-se, pois, de enorme preponderância o papel a desempenhar pelo técnico profissional, tanto no campo industrial como no agrícola e comercial
Não obstante o esforço que tem vindo a ser realizado em prol do ensino técnico, não tem sido possível a satisfação integral das necessidades da província Assim, enquanto o número de alunos anualmente diplomados nos cursos industriais não atingiu ainda o milhar, o número de novos empregos, nas indústrias instaladas e a instalar, cresce já ao ritmo de mais de 3000 por ano.
Mais grave é a situação no sector da agricultura, onde existe uma única escola de regentes agrícolas, que por si só não permite a formação dos técnicos de nível médio indispensáveis.

g) Ensino industrial e comercial

383. No quinquénio de 1960-1965, o acréscimo de escolas e de professores pouco excedeu os 100 por cento, enquanto o de alunos foi superior a 160 por cento.

h) Ensino médio Industrial, comercial e agrícola

384. A partir do ano lectivo de 1963-1964, a província passou a dispor de dois institutos comerciais e dois industriais Verifica-se que a frequência respectiva tem vindo a aumentar num ritmo muito rápido, passando de 48 alunos em 1961-1962 para 410 em 1964-1965.

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Quanto ao ensino agrícola, observa-se que a única escola de regentes agrícolas existente é insuficiente para as necessidades da província. O número de alunos nesta escola passou de 21 em 1956-1957 para 212 em 1964-1965

1) Ensino superior

O ensino universitário iniciou-se em 1963-1964 com o 1.º ano dos seguintes cursos, Engenharia Civil (em Luanda), Engenharia Mecânica (em Luanda), Engenharia Electrotécnica (em Luanda), Engenharia de Minas (em Luanda), Engenharia Químico-Industrial (em Luanda), Médico-Cirúrgico (em Luanda), Medicina Veterinária (em Luanda, actualmente em Nova Lisboa), Agronomia e Silvicultura (em Luanda, actualmente em Nova Lisboa), Ciências Pedagógicas (em Luanda e Sá da Bandeira, actualmente em Sá da Bandeira)
Actualmente existe também em funcionamento o curso de professores adjuntos do 8.º e 11.º grupos do ensino técnico profissional em Sá da Bandeira

2. Objectivos

385. Os objectivos a visar são

2.1. No que se refere ao ensino primário

1.º Escolaridade em massa no grau primário, através das várias categorias de agentes docentes,
2.º Instalação progressiva de escolas de preparação de agentes docentes que, em prazo relativamente curto, possam contribuir para melhorar a cobertura escolar da província,
3.º Criação de escolas de artes e ofícios para formação complementar do ensino primário, espalhadas pelas povoações mais importantes que não sejam sedes de distritos

O programa destinado à realização de tais objectivos corresponderá a
a) Instalação de 742 postos escolares e 158 escolas primárias com quatro salas de aula cada uma Tais edifícios permitiriam a admissão de 109 920 alunos. A este número haveria que adicionar cerca de 60 000 alunos, correspondentes ao ensino ministrado nas missões e nas escolas das unidades militares
Atendendo a que foi estimado em l 038 088 o número de indivíduos dos 6 aos 12 anos existentes em 1978, a taxa de escolarização correspondente será de 44,5 por cento,
b) Formação de mais 4800 professores As estimativas feitas, admitindo a proporção de l professor para 40 alunos e a taxa de escolarização de 87 por cento, indicam que se torna necessário o total de 10 200 professores. Dado que já existem 5400 professores, tornar-se-iam assim necessários mais 4800
Só há, porém, possibilidades de serem formados 3000 professores, sendo 2400 provenientes das três escolas do magistério existentes e de mais três cuja construção é proposta e 600 provenientes de escolas de professores de posto O déficit existente será preenchido pelos monitores escolares, cuja formação se preconiza em ritmo acelerado;
c) Criação de 117 escolas de artes e ofícios, o que permitirá a absorção de, aproximadamente, 9400 indivíduos
A preparação do pessoal docente conseguir-se-ia mediante a criação, junto de cada escola industrial, de cursos especiais de mestrança com a duração de um a dois anos, de modo a poderem preencher-se os lugares de mestre de ofício

2.2. No que se refere ao ensino liceal

O objectivo a atingir consiste em facultar o ingresso, no ensino oficial, do maior número possível de indivíduos. Sendo assim, julga-se indispensável a construção de liceus com capacidade para, pelo menos, 7000 alunos
Além disso, haverá que melhorar as condições de trabalho, visto que o elemento docente em serviço na província não satisfaz quantitativamente às exigências do ensino, pelo que se impõe a ampliação dos quadros e a melhoria da preparação pedagógica dos professores e de remuneração

2.3. Quanto ao ensino técnico

A carência de trabalhadores qualificados impõe que o programa a estabelecer tenha em vista dois objectivos fundamentais
a) Expansão do ensino técnico tradicional, especialmente do elementar e secundário agrícola,
b) Instituição nas escolas técnicas de cursos de formação profissional acelerada

Intimamente ligado com o incremento que se pensa venha a sofrer o sector da pesca durante o III Plano de Fomento, é proposta a construção de uma escola de pesca em Moçâmedes, destinada a preparação de indivíduos qualificados
Pensa-se que o número de alunos do ensino técnico possa atingir, atendendo ao ritmo actual e às novas escolas a construir, os 24 000 indivíduos em 1973
Estes, juntamente com os 26 000 do ensino liceal, dar-nos-ão uma frequência, no ensino secundário, de cerca de 50 000 alunos em 1973.
Como realizações complementares no sector do ensino, importa considerar-se a necessidade de estabelecer lares para estudantes que, por motivo do prosseguimento dos seus estudos, se têm de separar do lar familiar, e de auxiliar os que carecem de ajuda económica, além do interesse de criar clubes de juventude, de molde a proporcionar ao jovem um ambiente são, onde possa recrear-se através de actividades culturais e gimnodesportivas

2.4. Relativamente ao ensino superior

Como objectivos, preconizam-se os seguintes
a) A instalação dos Estudos Gerais em edifícios especialmente concebidos para as funções que lhes são assinaladas,
b) Esforço no sentido de alcançar os efectivos do pessoal docente dos Estudos Gerais

3. Medidos de política

386. A fim de garantir a viabilidade dos objectivos propostos, há que atender à necessidade da adopção de diversas providências de carácter legislativo, nomeadamente.

Regulamentação e planificação dos cursos de formação profissional acelerada a criar;
Regulamentação do ensino a ministrar na escola de pesca.

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4. Investimentos

387. Em face dos objectivos que atrás ficaram definidos, torna-se necessário que seja dada realização aos empreendimentos a seguir enunciados.

a) Ensino primário

Para as construções escolares necessárias prevêem-se os seguintes tipos de edifícios

Edifícios para escolas primárias com quatro salas de aula,
Edifícios para escolas de ambiência rural com uma sala de aula e residência para professor,
Edifícios para escolas do magistério com doze salas,
Edifícios para escolas de habilitação de professores de posto com oito salas de aula, dormitório, refeitório, granja, igreja e residências para professores,
Edifícios para escolas de artes e ofícios com oito salas, dormitório, refeitório, granja, igreja e residências para professores.

Postos escolares

Prevê-se a construção de postos escolares em diferentes distritos

Escolas do magistério primário

É necessária a construção de edifícios para escolas do magistério, mas deve salientar-se que três deles se destinam a alojar alunos de outras tantas escolas que actualmente funcionam nas sedes das associações de classe em Luanda, Silva Porto e Sá da Bandeira.

Escolas de habilitação de professores de posto

Prevê-se a construção de escolas deste tipo em diversas partes da província

Escolas de artes e ofícios

Prevê-se a construção de escolas deste tipo distribuídas pelos diferentes distritos

b) Ensino liceal

O programa previsto inclui a construção e apetrechamento de liceus distribuídos pelas cidades de Carmona, Luanda, Luso, Silva Porto, Salazar, Novo Redondo e Cabinda.

c) Ensino técnico

Secundário industrial e comercial

Está prevista a construção de escolas industriais e comerciais, uma escola técnica elementar e uma escola industrial

Secundário agrícola

Prevê-se a construção e apetrechamento das seguintes escolas

Uma escola prática de agricultura;
Três escolas elementares de agricultura

Escolas de pesca

Prevê-se a construção de uma escola de pesca em Moçâmedes

Médio industrial, comercial e agrícola

Neste grau de ensino prevê-se a construção e respectivo apetrechamento de:

Um instituto industrial,
Um instituto comercial,
Uma escola de regentes agrícolas.

d) Ensino superior

Os Estudos Gerais devem ser instalados em edifícios funcionais especialmente concebidos
Considerando-se que as instalações representam uma primeira prioridade, foi-lhe consignada a maior percentagem da verba destinada a este grau de ensino e prevista, na distribuição anual, concentração de verbas nos dois primeiros anos do Plano
Para as instalações e apetrechamento dos cursos de Ciências Pedagógicas, de professor adjunto do 8.º e 11.º grupos do ensino técnico profissional, Médico-Cirúrgico, de Engenharia, de Agronomia e Silvicultura e de Medicina Veterinária, é de considerar a necessária dotação.

e) Problemas da Juventude

Prevê-se a construção de lares e pousadas para estudantes e a criação de clubes de juventude de estabelecimentos de ensino secundário.

2. Investigação ligada ao ensino

Estudos Gerais Universitários

388. Tradicionalmente ligadas, investigação científica e ensino superior constituem duas actividades interdependentes e, num sentido, indissociáveis. Se é possível admitir, sobretudo nos domínios da aplicação e da tecnologia, instituições dedicadas exclusivamente à investigação científica sem quaisquer funções docentes (embora quase sempre articuladas mais ou menos directamente com o ensino), parece inconcebível uma Universidade estática e passiva, limitada a ensinar tardiamente aquilo que os outros descobriram.
Os Estudos Gerais Universitários, parte própria da Universidade portuguesa, não podiam alhear-se deste principio fundamental Assim o entendeu o legislador, que no artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 44 530 e no artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 45 180 prevê a integração dos organismos de investigação científica com sede nas respectivas províncias, assim o entenderam o Senado Universitário e os Governos central e provincial, ao aproximar diversos cursos das instituições responsáveis pela investigação nos domínios correspondentes

389. Os Estudos Gerais Universitários cobrem todos os tipos de investigação, mas é sobretudo no sentido da pesquisa fundamental que se exercerá a sua actividade
No entanto, os Estudos Gerais Universitários encontram-se ainda na fase de organização Não é, pois, realista pretender estruturar desde já um pormenorizado plano de investigações, mesmo para o prazo relativamente próximo abrangido pelo III Plano de Fomento
Julgou-se antes mais razoável procurar obter as condições mínimas de trabalho e realizar progressivamente os projectos que se revelarem praticáveis com os meios próprios disponíveis e os recursos de outros organismos do investigação.

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390. No que diz respeito a instalações e apetrechamento técnico na generalidade, o previsto para o ensino será utilizável pelos investigadores, sem excluir a hipótese de que, em alguns casos, possa ser necessário recorrer a meios autónomos para a investigação

391. Gabe ao corpo docente a realização das funções normais de pesquisa No entanto, em muitas situações tornar-se-á indispensável contratar além dos quadros, subsidiar e, inclusive, proceder à preparação do pessoal exigido por determinadas tarefas especializadas
Assim, foram consideradas numa única rubrica, intitulada «Apoio à investigação», essas situações particulares em matéria de instalações, apetrechamento e, sobretudo, preparação e manutenção de pessoal especializado

3. Investigação não ligada ao ensino

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

392. As tarefas cometidas aos Serviços Geológicos e Cadastrais de Angola durante o II Plano de Fomento e o Plano Intercalar de Fomento consistiram essencialmente na construção da carta da província, à escala de l 100 000, a oeste do meridiano 18.º (E G). A parte leste do mesmo meridiano foi adjudicada a duas empresas particulares, sob a supervisão da Junta de Investigações do Ultramar.
No fim da campanha em curso todas as folhas a leste do meridiano 15º (E G.) e a norte do paralelo 9º S terão os trabalhos completamente realizados
No início do III Plano de Fomento poderá dispor-se do apoio fotogramétrico para a elaboração de, pelo menos, metade das folhas a oeste do meridiano 15º (E G.) e norte do paralelo 8º S
Tendo como base as folhas do leste de Angola, à escala de l 100 000, foram construídas todas as folhas possíveis à escala de 1-250 000 Por redução fotográfica desta, obtiveram-se folhas a escala de l 500 000. Também se fez uma provisória da carta da província à escala de 1 100 000, 1 2 000 000 e outras escalas menores
Presentemente, está executada a carta geológica de 192 000 km2 (cerca de 15,3 por cento do território)
Nos últimos três anos, os trabalhos executados envolveram a utilização sistemática de métodos específicos de prospecção (geológicos, geoquímicos e geofísicos)

b) Hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

393. A actividade do sector hidrológico tem visado o alargamento e adensamento da rede de observações, bem como a melhoria do nível técnico dos observadores Foram feitas observações hidrométricas e meteorológicas e incrementada a ocupação hidrográfica de diversos rios.
No rio Cuito-Cuanavale identificaram-se cerca de 1000 km com possibilidades de utilização. O Cuito é valioso como estrada natural, uma vez que é a única via de comunicação ao longo de todo o seu vale. Após a execução de diversas obras, tiveram início carreiras experimentais
Na escala 1 20 000 foi apresentado o reconhecimento do rio Curto desde Cuito-Guanavale à foz do Hanha, numa extensão de 850 km
No rio Cubango efectuou-se a limpeza e regularização do leito e outras obras necessárias à manutenção das carreiros existentes
Também se fez o reconhecimento hidrográfico do rio Longa, num percurso de 200 km, navegável desde Galando até Cuito-Cuanavale, praticamente durante todo o ano
No Cunene foi realizado o reconhecimento de 800km, entre Folgares e o Calueque. Fez-se a ocupação hidrográfica deste no, mediante a instalação de postos limnigráficos e limnimétricos e estações de medição de caudais, o mesmo se verificando no Guando, Cubango e Cuangar.
De igual modo foram efectuados reconhecimentos nas bacias do Colui e Cuvelais.

e) Meteorologia

394. O levantamento geomagnético de Angola está a ser feito, desde 1965, com uma rede de malha de 75 km. Foram já ocupadas 90 estações, faltando ocupar 115, que sê-lo-ão em 1967.
O Centro Geofísico de Luanda, que dispõe de dois pavilhões para magnetismo, um pavilhão de sismologia, um pavilhão de radioactividade do ar e um para radiação solar, tem já prestado a sua colaboração em estudos ao nível internacional, havendo, no entanto, que proceder à sua ampliação
Por intermédio do sistema de telecomunicações, tem-se procedido à recepção e emissão de informações meteorológicas de base para o interior da província, informações meteorológicas para a exploração aeronáutica, etc., no entanto, as condições de recepção não são as melhores.
Com vista à protecção aeronáutica, estão já montadas e em funcionamento algumas estações da rede sinóptica internacional, mas em número ainda insuficiente

d) Investigação aplicada a agricultura

Carta dos selos

395. Com base na observação de perfis típicos, sondagens e descrição de itinerários, e recorrendo a processos de generalização apoiados nas inter-relações solo-litologia-clima-vegetação, continuou a Missão de Pedologia de Angola e Moçambique os seus trabalhos com vista à total cobertura pedológica do território.

Instituto de Investigação Agronómica

396. O Instituto de Investigação Agronómica iniciou as actividades em Janeiro de 1962, tendo sido necessário seleccionar os projectos de trabalhos que passaram a constituir as suas linhas fundamentais de actuação.
Além de diversos estudos referentes a várias culturas especializadas, estudos florestais, agro-pecuários, de genética e melhoramento, de zoologia apícola, fitopatologia, botânica, etc., há que salientar a comparticipação do Instituto em jornadas silvo-agronómicas e reuniões internacionais
Sendo de longo prazo a maioria dos projectos em estudo e dada a necessidade imediata da conclusão de alguns trabalhos, seria de ioda a conveniência que o Instituto de Investigação Agronómica de Angola pudesse contar com os meios materiais e humanos para conseguir ultimar determinados estudos no mais curto prazo de tempo

Instituto de Investigação Veterinária

397. O Instituto de Investigação Veterinária de Angola tem produzido trabalho de validade indiscutível, cujos reflexos se patenteiam, em alguns casos de forma exuberante, no fomento da actividade agro-pecuária da província.

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É igualmente notória a transformação que se vem verificando no campo da saúde pública veterinária e no da tecnologia dos produtos e subprodutos de origem animal

e) Estados de biologia piscatória e pesca experimental

398. O Centro de Estudos Tecnológicos e de Análises do Instituto das Indústrias de Pesca de Angola foi inaugurado em Maio de 1966, com o equipamento requerido e com o pessoal necessário. Foram-lhe fixadas como tarefas principais o aproveitamento do peixe de anhara, a secagem artificial de peixe e o acompanhamento da investigação mundial no que respeita a farinha de peixe para o consumo humano
Deverá também procurar resolver os problemas específicos da indústria, dando-lhes o apoio técnico necessário
Instalado em edifício provisoriamente adaptado às necessidades imediatas, foi para ele transferido o pessoal que vinha prestando serviço no Laboratório Regional de Luanda, da Direcção dos Serviços de Veterinária, e que tinha a seu cargo as análises de rotina dos produtos
No que respeita a Benguela e Moçâmedes, procurar-se-á no ano corrente dotar os respectivos laboratórios regionais com o equipamento indispensável e recrutar as unidades técnicas necessárias.

399. Pela Portaria n.º 21 916, de 16 de Março de 1966, foram criados o Centro de Biologia Aquática Tropical e o Centro de Bioceanologia e de Pescas do Ultramar - que coordena a acção da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Angola -, os quais substituem, respectivamente, a Missão de Biologia Marítima e o Centro de Biologia Piscatória. Este Centro, que começou a ser dotado com verbas do II Plano de Fomento em 1960, desenvolveu a sua acção no campo da investigação fundamental e aplicada, salientando-se, pela sua importância o estudo intensivo do método de alagem mecânica de redes de cerco, a prospecção de algas marinhas e estudo 2o plâneton da costa de Angola; ensaios de pesca com auxilio de luzes artificiais, prospecção e estudo de métodos de pesca do camarão ao longo da costa de Angola, da lagosta na Baía Farta e da pesca do atum com redes de cerco.
A execução destes estudos é fundamental como ponto de partida de tão necessário fomento da actividade pesqueira da província.
Durante o período de execução do Plano Intercalar foi adquirido o navio bioidrográfico Goa, que se destina a apoiar a investigação a levar a cabo pela Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Angola.

f) Laboratório de Engenharia de Angola

400. A existência do Laboratório de Engenharia de Angola vem tornando possível a diversos organismos responder, com maior eficiência, às solicitações que lhe soo feitas, por lhes fornecer os necessários meios científicos de trabalho.
A actuação do Laboratório de Engenharia de Angola tem sido fundamentalmente orientada no âmbito da engenharia civil, dado o enorme incremento do ritmo de construção.
Salienta-se ainda a acção levada a efeito nos campos do conhecimento científico do território (estudo das condições de fundação das principais cidades de Angola, das possibilidades dos solos principais, estudos de habitabilidade, etc.), da investigação científica (estudo do comportamento físico-químico dos solos argilosos total e parcialmente saturados), da indústria transformadora (de materiais de construção), dos transportes rodoviários, caminhos de ferro, pontes e aeródromos (execução de estudos de base, ensaios de materiais e assistência técnica) e da habitação, onde a colaboração vai do projecto à execução directa (no programa de reordenamento urbano).
O Laboratório de Engenharia de Angola disporá em breve de terreno para as suas instalações, de nove pavilhões, logradouros, postos de transformação e câmaras de saturação. No capitulo de apetrechamento, existe equipamento, para ensaios e analises de fundações, estradas e materiais de construção, estruturas, química e geologia
No campo da investigação, no âmbito da engenharia civil, em Angola orientação julgada mais conveniente é a de estudar os problemas específicos da província e aplicar os conhecimentos científicos gerais, se se pretender competir na investigação com os grandes centros científicos.

g) Instituto de Investigação Científica

401. Data de 1957 a sua instalação na província. É organismo polivalente, distribuindo as suas actividades no campo das ciências biológicas, geográfico-geológicas e humanas
Foram nele integrados os Museus de Angola e da Huíla, o Arquivo Histórico e a Biblioteca
Com excepção do edifício de ciências naturais do Museu de Angola, aliás já insuficiente, o Instituto não possui instalações apropriadas às suas necessidades
O Instituto de Investigação Científica de Angola atingiu já uma projecção relevante, de que são indicadores o volume do seu intercâmbio com instituições nacionais e estrangeiras e os trabalhos já publicados.

h) Instituto de Investigação Médica

402. O Instituto de Investigação Médica de Angola não pôde até agora ainda dispor dos elementos de trabalho necessários à ampla acção que se pretendia, pelo que a sua acção não atinge o desenvolvimento desejável

1) Estudos de base

403. Nesta rubrica inserem-se, além das operações estatísticas de base e dos investimentos necessários ao equipamento dos serviços de estatística, a realização de estudos económicos com vista & obtenção de elementos essenciais ao planeamento (designadamente o apoio à Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar) e outros no âmbito da Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica de Angola
Continua a verificar-se a situação menos satisfatória no que se refere à documentação estatística, de modo a permitir alicerçar devidamente os estudos técnico-económicos necessários.
A recente integração dos serviços de estatística da província no Serviço Nacional de Estatística contribuirá para resolver estas dificuldades e deficiências

J) Documentação

404. Existem centros de documentação e informação científicas e técnicas junto dos Institutos de Investigação Agronómica, Científica, Médica e Veterinária e

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(...) do Laboratório de Engenharia de Angola, sendo indispensável coordená-los entre si e com os organismos homólogos de outros territórios nacionais.

2. Objectivos

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

405. Como objectivos para o III Plano enunciaram-se neste aspecto a conclusão das cartas da província à escala de l 100 000 e à escala de l 250 000, com excepção da parte sul do paralelo 12º S e a leste do meridiano 18º (E G ), e a construção de cartas parciais de interesse cadastral das áreas da província mais densamente povoadas.
Na vigência do III Plano, procurar-se-á atingir a recolha dos elementos geológicos relativos à prospecção para, pelo menos, 50 por cento do território da província

b) Estados sobre hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

406. Há que proceder a conclusão da ocupação hidrológica da província e à intensificação e aumento da densidade de ocupação já existente

c) Meteorologia

407. Os objectivos fundamentais a visar neste campo são

Aperto da malha no levantamento geomagnético;
Ampliação do Centro Geofísico de Luanda e da rede de estações solarigráficas e de postos climatológicos,
Ampliação e melhoria da rede sinóptica internacional e do serviço de apoio aos transportes aéreos

d) Investigação aplicável à agricultura

408. Com vista a uma selecção das áreas ou regiões que mereçam estudos mais pormenorizados, deverão prosseguir os trabalhos no sentido de completar a cobertura pedológica total do território - o que se espera atingir ainda no decurso do III Plano de Fomento -, e a revisão de folhas já publicadas, de forma a conseguir-se a necessária uniformidade de critérios

e) Instituto da Investigação Agronómica de Angola

409. Criado em 1961, o Instituto iniciou as suas actividades em 1962, segundo um esquema estabelecido de acordo com critérios de prioridade definidos, em função das necessidades mais instantes da agricultura de Angola
Nesta orientação, as actividades do Instituto desenvolveram-se, com relevância especial, nos âmbitos seguintes

1) Solos

Cartografia dos solos, estudos da fertilidade, estudos do fósforo, matéria orgânica, azoto e enxofre do solo,
Determinação das disponibilidades hídricas,
Escolha de núcleos de solos com interesse para o povoamento agrário,
Análise bromatológica de forragens

Z) Agronomia

Experimentação na fazenda da Cela;
Estudos de introdução e adaptação de espécies florestais;
Estudos apícolas;
Estudos de forragens e de alimentação de gado bovino;
Melhoramento genético e cultural do cafeeiro,
Ensaios de variedades fruteiras (laranjeiras, bananeiras, etc.).

3) Biologia agrícola

Estudo da fertilidade dos solos;
Cartografia da vegetação;
Melhoramentos do trigo, do milho e da palmeira-do-azeite;
Inventariação das doenças e pragas das principais culturas

Há, além disso, que salientar a comparticipação em jornadas silvo-agrícolas e em reuniões internacionais

f) Instituto de Investigação Veterinária

410. O trabalho a realizar por cada um dos departamentos deste Instituto deverá ser orientado fundamentalmente pelos seguintes objectivos
No campo da patologia, prioridade à produção de imunígeos e de alérgenos e à realização de análises com fins de diagnóstico,
Procurar-se-á pôr a funcionar os laboratórios regionais em regime de pleno trabalho, em íntima ligação com os departamentos centrais de patologia e tecnologia,
Procurar-se-á ainda melhorar as condições de prospecção das diferentes entidades mórbidas grassantes na província, de forma a permitir o estabelecimento da carta nosológica de Angola,
No que respeita à tecnologia, instalar um serviço laboratorial eficaz, com capacidade para apoiar as necessidades crescentes da tecnologia dos produtos de origem animal, e conseguir a sua padronização,
Quanto à zootecnia, intensificar os estudos sobre nutrição animal, dando prioridade à continuação dos trabalhos ]á em curso nos diferentes estabelecimentos zootécnicos,
Quanto ao sector da fauna selvagem, iniciar prospecções da patologia comparada, em particular, de raiva, febre aftosa catarral maligna, peste suína africana e doenças

g) Estudo de biologia piscatória e pesca experimental

411. Os objectivos da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola podem sintetizar-se, com vista à orientação das expedições de captura, estabelecendo locais e épocas próprias, nos seguintes

Definição das características e dimensões dos mananciais que constituem as populações existentes;
Determinação do limite de capturas que corresponda à maximização da rentabilidade,
Informação sobre a época de arribação, localização das melhores concentrações de peixe, rumo que seguem, profundidade a que se encontram e volume provável das capturas,
Demarcação de novas áreas de pesca, extensão das actuais e introdução de novos tipos de pesca ainda não explorados,
Melhoramento de eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados localmente.

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h) Laboratório de Engenharia de Angola

412. Os objectivos em vista podem resumir-se do seguinte modo

Apoio laboratorial às obras de engenharia civil,
Investigação, nomeadamente na geotecnia de estradas e pavimentos, em edifícios e habitações, em obras de retenção de águas.

1) Instituto de Investigação Cientifica

413. No domínio do III Plano, visa-se a dotação deste Instituto com vista a instalações que permitam o funcionamento e o desenvolvimento convenientes de todos os seus serviços

J) Instituto de Investigação Médica

414. A linha de rumo fundamental do Instituto deverá ser a de contribuir para o esclarecimento dos problemas médico-sanitários mais prementes, tendo em vista dar sólida base científica à acção de combate a realizar pela Direcção Provincial dos Serviços de Saúde e Assistência e seus órgãos especializados.

3. Investimentos

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

415. Os investimentos incluídos no Plano são os seguintes
1) Execução das operações de apoio geodésico, topográfico e fotogramétrico e respectivo cálculo. Esta rubrica inclui aquisição de materiais de laboratório e consumo corrente, reparações, subsídios, etc.
2) Equipamento e apetrechamento das brigadas de campo e voo. Esta rubrica inclui a aquisição de um novo avião e respectivo equipamento, sobressalentes, material técnico e de acampamento (telurómetros, equipamento de poligonação, material de sinalização, torres bilby, hélios, etc.) e viaturas.
3) Instalações de gabinete e arquivos fotográficos e de restituição. Entre outro material, será incluído um este-reocomparador para triangulação planimétrica em Economia II e perfurador de cartões, um coordimat para prospecção automática de pontos com servomotores, um Ecomat II, contador e registador automático de coordenadas, um Planimat D-1, restituidor de precisão de 2.ª ordem, um Planimat D-LLL e um profilómetro com comando automático para perfis. Inclui ainda a construção de edifícios para instalação das oficinas, depósitos de material de consumo, técnico, fotográfico e cartográfico.
4) Equipamento para desenho, montagem e impressão de folhas. Esta rubrica inclui a aquisição de um restituidor plano para fotografia aérea com foco automático e motor de rotação, uma prensa para impressão por contacto de fotografia aérea e um furador para acerto de películas.

416. Para a realização da carta geológica está previsto o seguinte programa

Aquisição de aparelhagem de análise físico-química e fotográfica, de amostras geológicas e geoquímicas, de material de acampamento, viaturas, diverso material de campanha e gabinete;
Recrutamento de, pelo menos, dois especialistas de grande experiência, Preparação intensiva de alguns técnicos dos S. G. M., mediante cursos ou estágios de aperfeiçoamento em organismos especializados,
Recrutamento de 20 técnicos de formação universitária,
Recrutamento e preparação de 50 auxiliares técnicos e de 25 auxiliares de gabinete;
Recrutamento de motoristas e pessoal jornaleiro.

b) Estudos sobre hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

417. Não é possível concretizar desde já os investimentos a realizar no período de 1968-1973 Por isso se pode indicar apenas uma estimativa de custos.

c) Meteorologia

418. De acordo com os objectivos propostos, há que proceder aos seguintes empreendimentos
Conclusão do levantamento geomagnético, incluindo trabalhos complementares de gravimetria e de geoelectricidade;
Desenvolvimento do Centro Geofísico de Luanda (em Belas) construção de edificações, arruamentos, muro de vedação e arborização do terreno e aquisição e instalação de material para apetrechamento do Centro de Geofísica de Luanda (em Belas) e para ampliação da rede solarigráfica;
Construção de infra-estruturas para instalação de estações meteorológicas (já existentes e a montar) da rede sinóptica internacional; aquisição e instalação de material para ampliação das redes de estabelecimentos meteorológicos, incluindo material para o trabalho de observações de interesse para o Decénio Hidrológico Internacional, e um sistema de telecópia (dois emissores e dois receptores) o meios de telecomunicações para as estações meteorológicas da rede sinóptica internacional, e instalações para o desenvolvimento da rede aerológica - equipamento a adquirir e a instalar em Luanda, Moçâmedes e Luso;
Aquisição e aluguer de material mecanográfico para processamento e cálculo de apuramento;
Estudos hidrometeorológicos e preparação do atlas climo-hidrológico de Angola - encargos com pessoal e material.

d) Investigação aplicável à agricultura

Carta geral dos solos

419. Conforme decorre dos objectivos já expressos, a verba a incluir na rubrica «Carta geral dos solos» é destinada a

Intensificação dos trabalhos a cargo da Missão de Pedologia de Angola e Moçambique, visando a realização da carta dos solos e a revisão das folhas já publicadas;
Estudos de base a cargo do Centro de Estudos de Pedologia Tropical para apoio aos trabalhos de cartografia geral dos solos, incluindo colaboração: nos trabalhos de campo e de laboratório

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Instituto de Investigação Agronómica

420. É o seguinte o programa de empreendimentos para este Instituto

Instalações - No grupo «Fertilidade e zonagem», pretende-se proceder à construção de uma bateria de lisímetros, de baterias triplas de evapotranspirómetros, à ampliação do departamento de solos e química e à instalação de parques de meteorologia agrícola
Está prevista a construção de laboratórios e estufas para o futuro departamento de sanidade vegetal.
No grupo «Melhoramentos», está considerada a construção de um armazém no Centro de Estudos da Chianga e de instalações, em Salazar e Novo Redondo, para os estudos de melhoramentos da palmeira dendém, e, em Oeiras, junto do Centro de Estudos das Ferrugens do Cafeeiro, para o estudo da resistência do cafeeiro ao fungo Colletotrinchum coffcanum.
No grupo «Estudos agronómicos e agro-pecuários», proceder-se-á ao estabelecimento de fazendas experimentais nos distritos de Huambo, Malanje, Huíla e Guando Cubango, à criação de centros de estudos na zona do Cavaco e entre Caiu e Roçadas e a instalações destinadas a um laboratório de tecnologia da madeira.

Apetrechamento. - No grupo «Fertilidade e zonagem», há que adquirir equipamento científico de base destinado às divisões de química e física dos solos, de fitoquímica, de fisiologia vegetal, de climatologia e de botânica e ecologia
No grupo «Sanidade vegetal», há que proceder à aquisição de equipamento científico para as divisões de zoologia agrícola e de fitopatologia.
No grupo «Melhoramentos», há que adquirir equipamento científico destinado à divisão de genética e melhoramento
No grupo «Estudos agronómicos e agro-pecuários», há que proceder a aquisição de material vivo para a divisão de estudos agro-pecuários e à aquisição de equipamento destinado às fazendas experimentais e aos novos e actuais centros de estudos
No grupo «Estudos florestais, apícolas e piscícolas», haverá que adquirir equipamento científico para o laboratório de tecnologia de madeiras
Haverá também que adquirir equipamento para a divisão de biometria.

Instituto de Investigação Veterinária

421. Instalações - O Instituto de Investigação Veterinária de Angola dispõe de instalações de base aptas para conter a maioria dos sectores que tem em funcionamento. No entanto, alguns dos seus departamentos precisam de ser transformados e reinstalados isoladamente. Assim, haverá que proceder à construção de um pavilhão de zootecnia, de um pavilhão de tecnologia animal, de uma enfermaria e isolamentos, de um pavilhão de anatomia patológica, necropsias e forno ciematório, de um pavilhão para a produção da vacina antivariólica humana, de um pavilhão para estudo e combate às doenças produzidas por carraças, de uma instalação para uma central de liofilização, asfaltagem de arruamentos para evitar levantamentos de poeiras, construção de dependências para os laboratórios regionais de Luanda, Benguela e Moçâmedes, adaptação do aviário de Malanje a um centro de estudos dos problemas zootécnicos, transformação do posto de Cavaco num centro de estudos de apoio às regiões de Benguela, Lobito e Catumbela, e pequenas transformações e melhoramentos nas instalações das Estações Zootécnicas Central e do Sul e nos postos zootécnicos de Quilengues, Cunene, Lungo e Caracul.

Apetrechamento - A maior parte da aparelhagem de laboratório dos departamentos centrais, em virtude dos muitos anos de uso intensivo, precisa de ser substituída por ou ti a mais moderna que permita executar, de forma mais perfeita e com melhor rendimento, os diferentes trabalhos de investigação e de rotina
Os laboratórios regionais ou estão insuficientemente dotados de material para cobrir a gama de solicitações nos vários íamos da sua esfera de acção ou, nalguns casos, nunca foram apetrechados, por falta de técnicos especializados para o seu funcionamento
Há, pois, que contar com o apetrechamento dos serviços que se pretende criar e dos que se necessita ampliar.
Há também que dotar o Instituto com um laboratório móvel, com autonomia funcional de, pelo menos, uma semana, e com quatro laboratórios móveis ligeiros, com menos exigências técnicas de apetrechamento, para apoiar trabalhos de rotina de prospecção e de ensaios terapêuticos, feitos a partir dos laboratórios centrais e regionais
Há ainda que dotar cada um dos centros de estudos com, pelo menos, meios de transporte ligeiro e pesado
Há, finalmente, que substituir maquinaria agrícola há muitos anos em uso nos estabelecimentos zootécnicos
Apoio à investigação - Estreitamente ligado ao apoio à investigação está o problema de pessoal. Na verdade, a carência de pessoal qualificado é uma das mais sérias preocupações, não só do Instituto de Investigação Veterinária de Angola, como de todos os outros organismos de investigação. Tais dificuldades poderão ser resolvidas através de
Recurso a elementos qualificados, nacionais e estrangeiros, convidando-os por espaços de tempo variáveis e remunerando-os condignamente, em troca da elaboração de relatórios ou realização de cursos e conferências de interesse primordial,
Promoção de estágios dos técnicos superiores nos centros de estudos nacionais e estrangeiros, com duração de 2 a 12 meses, para especialização nos assuntos de maior importância e urgência,
Concessão de bolsas de estudo ao pessoal técnico auxiliar mais qualificado e que dê garantias de bom aproveitamento futuro na instituição,
Promoção de colaboração entre os técnicos do Instituto e os da carreira académica universitária na resolução dos problemas que carecem de esclarecimento, considerando estes últimos como colaboradores remunerados,
Abertura de acesso franco aos laboratórios do Instituto de Investigação Veterinária de Angola, aos alunos dos anos mais adiantados do ensino da Medicina Veterinária, de forma a despertar-lhes o interesse pela investigação,
Criação de prémios escolares para alunos do curso superior veterinário e remuneração dos trabalhos com real interesse produzidos na Universidade, sobre o avanço da ciência veterinária, em especial, no âmbito das actividades do Instituto;
Organização de cursos pós-universitários e seminários de especialização, cuidadosamente planificados e tendentes a despertar vocações que possam ser aproveitadas futuramente pelo Instituto

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e) Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

Instituto das Industriai da Pesca

422. No seguimento do programa iniciado no decurso do II Plano de Fomento, deverá terminar, durante a vigência do III Plano, o apetrechamento do sector no que respeita ao equipamento para apoio tecnológico do pescado
Assim, tendo sido inaugurado o centro de estudos tecnológicos e de análises com o equipamento indispensável, logo ficou definida a necessidade de, em devido tempo, se instalarem os serviços em edifício próprio Haverá também que considerar o apetrechamento do laboratório regional de Luanda.
Da mesma maneira, tendo ]á sido adquirido parte do material necessário aos laboratórios regionais de Benguela e Moçâmedes, haverá que providenciar no sentido de se arranjar instalação adequada em Benguela, já que em Moçâmedes se poderá adaptar uma parte dos armazéns aí construídos para o efeito.

Missão da Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola e Centro de Biologia Aquática Tropical

423. Os programas a empreender pela Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola durante o hexénio de 1968-1973 são os seguintes:
Programas de dinâmica das populações (P D P), que visam o estudo das variações dos parâmetros biométricos das populações exploradas, através da análise bioestatística das capturas, a definição das características e dimensões dos mananciais que constituem as populações existentes e a determinação do limite de capturas que corresponde à maximização de rentabilidade,
Programa de pesca exploratória e experimental (P. P. E. E.), que visa a demarcação de novas áreas de pesca e extensão das actuais,
Programa de bioceanologia de pescas (P B P ), que visa a determinação das variações oceanográficas que permitam a previsão das deslocações das frentes térmicas, da formação de domos, de localização de zonas de maior produtividade primária do meio marinho, das épocas e áreas de reprodução, bem como definição dos factores que condicionam a distribuição e concentração dos cardumes e rotas de imigração,
Programa de táctica de pesca (P. T. P.), que tem por objectivo a informação, à indústria respectiva, sobre a época de arribação, localização das melhores concentrações de peixe, rumo que segue, profundidade e provável volume das capturas,
Programa de tecnologia de artes e barcos de pesca (P T A B P ), que tem em vista melhorar a eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados,
Programas de culturas em áreas protegidas (P. G A. P ), que visa a propagação de moluscos, crustáceos e peixe em zonas interiores e baías abrigadas

f) Laboratório de Engenharia de Angola

424. No capítulo «Instalações», há que adquirir uma área de 1,6 ha para ampliação das instalações actuais e construir um pavilhão geral de ensaios mecânicos
No capítulo «Apetrechamento», há que proceder a substituição de aparelhagem de análise térmica diferencial, ao reforço da aparelhagem de ensaios toraxiais, à aquisição de sondas, etc. Dentro da aparelhagem de grande custo salienta-se prensa de 5001 para ensaios de elementos de construção, prensa de ensaios dinâmicos, espectrografia de raios X e espectrógrafo da absorção atómica. Haverá ainda que proceder à aquisição de medidores-registadores de tensões e de deformações de pavimentos, medidor-registador de ondulação de pavimentos, aparelhagem física dos solos, etc. Por último, resta considerar a aquisição de viaturas e material de campanhas, sem os quais não se conseguirá manter em funcionamento as brigadas de campo.
Na rubrica «Apoio à investigação», incluem-se estágios, visitas de estudo e doutoramentos de pessoal, vencimentos de pessoal colaborador e eventual, subsídios ou prémios a investigadores e despesas com trabalhos de investigação

g) Instituto de Investigação Científica

425. Durante o período de execução do III Plano de Fomento pensa-se executar as seguintes obras sede do Instituto, em Luanda, Centro de Estudos de Sá da Bandeira, Museu da Huíla, Arquivo Histórico de Angola, ampliação do Museu de Angola, com a criação das secções de Ciências Naturais e de Ciências Humanas e Biblioteca Nacional
Para tal fim, impõe-se a aquisição de material necessário ao funcionamento de alguns dos edifícios mencionados, e para apoio à investigação há que suportar encargos com pessoal, nomeadamente

Pessoal contratado fora do quadro,
Subsídios a pessoal científico colaborador,
Bolsas de estudo e subsídios de viagem para preparação de pessoal científico e técnico auxiliar,
Colaboração com Universidades na preparação de pessoal

h) Estudos de base

426. Está prevista durante a vigência do ni Plano a realização de operações estatísticas de base e, além disso, proceder aos estudos económicos indispensáveis aos ajustamentos anuais que certamente serão feitos aquele Plano, bem como à sua revisão trienal e ao arranque dos estudos de desenvolvimento regional indispensáveis a uma programação
Igualmente se prevê o apoio que será necessário dar à Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica da província e impõe-se também completar e desenvolver os estudos sobre a contabilidade económica da província, que têm vindo a ser efectuados pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar.
No âmbito dos estudos de carácter social, proceder-se-á à realização de inquéritos e estudos, nomeadamente nos sectores do desemprego, subemprego, trabalho especializado, trabalho rural e mercado de trabalho e política da mão-de-obra, do planeamento da instalação de novos povoadores, do ordenamento agrário e da promoção económico-social das populações rurais já instaladas

1) Documentação cientifica

427. As complexas funções de um centro de documentação exigem instalações com dimensão adequada, concentradas de modo a permitir a eficiência funcional, e que deverão obedecer a determinados requisitos de construção, garantindo a segurança e boa conservação do património que encerram
Por outro lado, torna-se necessário prever o reforço das verbas destinadas à manutenção dos centros de documentação já existentes.

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Educação e Investigação

Programa de Investimentos

(ver tabela na imagem)

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Saúde

428. À excepção da assistência médica dispensada pelas empresas aos trabalhadores e seus familiares, pelos sindicatos e organismos autónomos aos seus associados e empregados e pelas missões religiosas nas suas áreas de influência, toda a restante assistência curativa e preventiva cabe aos Serviços de Saúde e Assistência da província, cuja orgânica foi profundamente remodelada em 1964, desde os quadros orgânicos à criação de novos serviços
Para este efeito, está o território dividido em delegacias de saúde, correspondentes, na generalidade, aos concelhos e circunscrições administrativas, agrupadas em distritos sanitários coincidentes com os distritos administrativos. Por sua vez, os delegacias de saúdo integram um certo número de postos sanitários, correspondentes também em regra aos postos administrativos
Funcionam ainda, em certas regedorias ordenadas, postos sanitários de assistência rural, a cargo de agentes sanitários de assistência rural, orientados sobretudo para as práticas de medicina preventiva

429. Dos serviços especializados estão em funcionamento a Missão de Combate às Tripanossomíases e os Serviços de Combate à Tuberculose e à Lepra

430. A assistência médica é assegurada, através de hospitais centrais, regionais, sub-regionais e rurais, a toda a população da província Nos formações sanitárias periféricas - hospitais rurais e postos sanitários -, à medicina curativa alia-se a medicina preventiva
Ao nível distrital, muito embora sob chefia única - chefe da Repartição Distrital de Saúde e Assistência-, já se verifica uma distinção nítida entre os organismos destinados à assistência clínica - hospitais regionais ou centrais - e aqueles através dos quais se processam as actividades de natureza preventiva, constituídos pelas delegacias de saúde e pelas brigadas ou serviços que nelas se apoiam
No quadro seguinte verifica-se ter havido um aumento de dez delegacias de saúde entre 1962 e 1966

Divisão sanitária em 1962 e 1966

(ver tabela na imagem)

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431. Por sua vez, as instalações sanitárias evoluíram entre os anos de 1962 e 1965, de acordo com o quadro seguinte

Instalações sanitárias do Estado

(ver tabela na imagem)

Sendo o hospital rural a instalação tipo de delegacia de saúde, não há coincidência entre os respectivos números porque as delegacias de saúde das sedes dos distritos e de alguns aglomerados urbanos mais importantes (Lobito) têm instalações adequadas apenas ao exercício das práticas de saúde pública
Algumas das delegacias de saúde rurais ainda n 3o dispõem de instalações próprias que possam ser classificadas como hospitais rurais As dotações orçamentais e os meios do III Plano de Fomento permitirão, até ao fim do sexénio, que todas as delegacias de saúde rurais fiquem dispondo das instalações necessários
No número de maternidades indicadas estão incluídas, não só as maternidades instaladas em edifícios próprios, como também os pavilhões a tal fim destinados nos hospitais regionais, sub-regionais e rurais

432. Ao conjunto dos estabelecimentos assistenciais do Estado há que adicionar os do sector privado, a cargo das missões religiosas, das empresas particulares, destinados aos seus trabalhadores e familiares, e ainda dos sindicatos e outras associações de classe, para os seus associados
No quadro seguinte discriminam-se as várias categorias das instalações existentes e o seu número

Estabelecimentos de assistência do sector privado

1965

(ver tabela na imagem)

Quanto ao número de leitos oferecidos, o sector privado não só dispõe de um maior número em valor absoluto, como a sua evolução se tem processado a um ritmo maior do que o do sector público

Número de leitos hospitalares

(ver tabela na imagem)

433. Considerando, no seu conjunto, o número de leitos hospitalares do sector público e do sector privado, dispunha a província em 1964 de 11 943 leitos hospitalares, ou sejam 2,34 leitos por 1000 habitantes Com as construções e ampliações em curso e com as que se prevêem no III Plano de Fomento, apenas no sector público deverá atingir-se no fim do hexénio uma percentagem de 3 leitos por 1000 habitantes, média considerada como suficiente pela comissão de peritos da Organização Mundial da Saúde

434. A análise dos elementos sobre a nosonecrologia do território põe bem em evidência

1.º A grande predominância das doenças infecciosas e parasitárias, que constituem um quarto de todas as causas mórbidas registadas,
2.º Que a mortalidade é devida, sobretudo, a estas doenças, às do aparelho digestivo (em especial diarreia infantil) e a outras causas mal definidas. No seu conjunto, constituem mais de três quartos das causas de morte

Os elementos estatísticos relativos às causas das doenças não caracterizam completamente a situação sanitária dos territórios porque pecam bastante por defeito
Finalmente, devem referir-se as situações que felizmente não se registam, mas que podem constituir perigo para o território - é o caso da peste ao sul, da varíola ao noite e a leste e da bilharziose manzoni a leste e a sul
A tripanossomíase constitui outro caso deste tipo, que se diferencia dos anteriores por já ter sido reduzida ao nível de controle no seio do próprio território

435. Sob o ponto de vista nutricial, os elementos colhidos de 1957 a 1961 põem em evidência que, de um modo geral, a alimentação angolana é suficiente em calorias e ferro, mas insuficiente em cálcio Quanto aos restantes nutrientes, as carências e suficiências dispersam-se em zonas, algumas vezes bastante irregulares
As proteínas animais abundam em toda a zona litoral e nas zonas de pesca marítima, são suficientes nas zonas pastoris do Sul, escasseiam na quase totalidade dos planaltos centrais, com excepção de zonas muito circunscritas, ricas em espécies piscícolas de água doce

436. A montagem de um departamento especializado para diagnóstico e tratamento precoce do cancro justifica-se em Angola não só porque a afecção apresenta incidência crescente no território, mas também porque a falta de recursos locais apropriados força a enviar para fora da província uma grande parte de indivíduos, o que, para os economicamente débeis, cria problemas de solução difícil

437. Além da actividade dos serviços de saúde no campo da medicina curativa, importa assinalar a sua acção no domínio da medicina preventiva Esta respeita particularmente aos serviços autónomos especializados (combate a tuberculose, combate à lepra e combate às tripanossomíases) e aos que actuam no âmbito especializado, como a assistência materno-infantil Importa também assinalar a actividade preventiva que decorre nas delegacias de saúde, que, embora atendam também doentes, têm uma acção especialmente orientada para as funções administrativa e preventiva

2. Assistência.

438. A assistência social desenvolve-se pela actuação dos Serviços de Saúde e Assistência e do Instituto de Assistência Social

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1048 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

O Instituto de Assistência Social corresponde à concentração, num só organismo, daquelas actividades, que, na metrópole, se dividem pelo Instituto de Assistência à Família, pelo Instituto de Assistência aos, Menores e pelo Instituto de Assistência nos Inválidos
A assistência materno-infantil está essencialmente confiada a estabelecimentos dos próprios Serviços de Saúde e Assistência
Projecta-se, para breve, a instalação de um serviço especializado de medicina física e de reabilitação de diminuídos físicos o sensoriais
A panorâmica dos estabelecimentos assistenciais boje integrados no Instituto de Assistência Social de Angola, ou dele dependentes, ó a seguinte

a) Assistência na invalidez Beiral de Luanda, Hospício do Cacuaco, Berial de Benguela, Berial do Lobito, Hospício de S Filipe, Mansão dos Velhos Colonos, Hospício do Cangalo, Beiral de Novo Redondo, Obra de Assistência a Inválidos e Indigentes de Novo Redondo, Beiral de Nova Lisboa, Beiral de Sá da Bandeira, Beiral de Malanje, Beiral de Moçâmedes, Beiral do Luso e Beiral de Carmona
Esta utensilagem respeita a dez distritos, sendo de registar que no do Zaire, onde não existem estabelecimentos desta natureza, a missão católica masculina sustenta um pequeno internato paia velhos e inválidos e que a missão católica feminina, apoiada pelo Instituto de Assistência Social de Angola, alimenta um núcleo de anciãs sem recursos
b) Assistência a menores Casa Pia de Luanda e Casa dos Rapazes da Muíla (para indivíduos do sexo masculino), Instituto Feminino de D Fernanda Silva Carvalho e Instituto de Artur de Paiva (para raparigas)
c) Assistência à criança duas creches e três jardins infantis, em Luanda, «Ninho dos Pequeninos» no Bié, em Malanje e em Carmona, creche em Moçâmedes, e creches e jardim infantil em S Salvador
d) Assistência pós-escolar a raparigas Lar das Raparigas, em Sá da Bandeira

Além disto, o Instituto de Assistência Social de Angola apoia financeiramente muitos outras instituições assistenciais particulares

2. Objectivos

1. Saúde

439. Julga-se dever dar prioridade, nas actividades a desenvolver no domínio do III Plano de Fomento, as campanhas sanitárias contra as endemias reinantes, quer pela dinamização dos serviços especializados já existentes e extensão da sua acção, quer pela criação de novos serviços já previstos e pela constituição de brigadas ou grupos móveis paia o combate de outras endemias que constituem ameaça permanente ao território
Haverá que promover não só o espessamento da rede sanitária da província, com a criação de novas delegacias de saúde e postos sanitários, mas também a construção e equipamento das instalações. Assim, será considerada a construção de novos dispensários antituberculosos, de assistência materno-infantil, e nas zonas suburbanas de algumas cidades sei ao constituídos dispensários polivalentes em coordenação com o seu reordenamento urbano, com a dupla finalidade de pi estação de cuidados médicos e aplicação das várias técnicas da medicina preventiva
Por outro lado, haverá que oferecer maior número de leitos hospitalares e elevar o nível técnico e funcional dos estabelecimentos existentes. Atingir o nível de três leitos por 1000 habitantes, que a Organização Mundial de Saúde preconiza, será a meta que se propõe atingir até 1973
Na sequência das obras de construção previstas, necessário se toma também o respectivo apetrechamento
A falta de pessoal constitui um problema de cuja solução depende a exequibilidade do Plano, e que, por tanto, terá de ser objecto de medidas adequadas
Resumindo poder-se-ão sintetizar os principais objectivos a atingir pela execução dos projectos a incluir no III Plano de Fomento, como só segue

1.º Intensificação da luta contra as endemias reinantes de maior incidência na morbilidade e mortabilidade da província, através de campanhas sanitárias a lançar nas áreas rurais e urbanas ordenadas,
2.º Extensão e dinamização dos serviços especializados existentes; de maneira a cobrir-se, dentro dos seus planos de acção, todas as áreas da província de população estável, ou, pelo menos, aquelas em que se verifique uma maior incidência da doença,
3.º Intensificação da assistência materno-infantil com base nos dispensários e maternidades existentes e a construir,
4.º Estruturação e dinamização do serviço de saúde mental,
5.º Completamento da cobertura hospitalar da província do sector público, pela construção de novas instalações e ampliação das existentes, até se atingir, com a adição do sector privado, uma média de três leitos hospitalares por 1000 habitantes,
6.º Equipar e apetrechar as instalações hospitalares existentes e a construir,
7.º Promover a formação, especialização e recrutamento do pessoal técnico dos vários níveis, sem o que nenhum dos projectos enunciados será exequível,
8.º Dotar as formações sanitárias e os serviços especializados com meios de deslocação rápidos

2. Assistência

440. Os objectivos a atingir dentro da vigência do III Plano de Fomento são

1.º Generalização dos centros coordenadores de assistência aos principais centros urbanos e intensificação da actividade já desenvolvida pelos centros existentes,
2.º Evolução dos beirais para centros multivalentes de assistência social.

Os centros coordenadores de assistência são serviços de assistência polivalentes mantidos pelo Instituto de Assistência Social de Angola, cuja acção se tem feito sentir junto das populações da cidade de Luanda, funcionando já três centros para os bairros excêntricos e populosos de S Paulo (n.º 1). Sambizanga-Lixeira e Mota (n.º 2) e Cazenga (n.º 3), estando em plena actividade de formação o do bairro Prenda

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Para o III Plano está previsto que seja intensificada a acção assinalada aos ditos centros, visando os seguintes objectivos

Triagem das carências sociais e resolução dos problemas de assistência social, individual ou familiar,
Protecção à criança, através de assistência e actividades educativas adequadas,
Educação da mulher, da rapariga, de jovens e adultos e ainda actividades com interesse para a sua formação,
Intensificação do convívio entre os vários grupos constitutivos da população

Os beirais são, não só estabelecimentos de internamento, mas também elementos multivalentes funcionais de assistência
Esta polivalência tem de acentuar-se nos aspectos de acção complementai da assistência sanitária (agasalho de indivíduos que buscam a consulta hospitalar ou que recebem alta nos hospitais), de descentralização da assistência sanitária (abarcando postos destinados às populações carecidas), de apoio às instituições de assistência não oficial (possibilidades de eliminação da multiplicidade de cozinhas e de maior colaboração no sentido de economizar recursos)

3. Investimentos

441. Os investimentos previstos são os seguinte»:

1. Saúde

1. Construção e equipamento

Conclusão de obras em curso

De entre as obras iniciadas, ou a iniciar, no domínio do Plano Intercalar, julga-se que transitarão para o domínio do in Plano de Fomento as seguintes*

a) Lar para enfermeiras, em Luanda, com conclusão prevista para 1968,
b) Maternidade de Luanda, cuja conclusão se prevê para 1969,
c) Hospital-Sanatório de Luanda, cuja conclusão se prevê para 1968,
d) Hospital Central de Sá da Bandeira, cuja construção se deverá estender até 1970,
e) Depósito central de medicamentos e laboratório farmacotécnico, que só deve ficar concluído em 1968,
f) Prevê-se ainda necessário assegurar, em 1968, os meios necessários para a conclusão de hospitais rurais, postos sanitários e obras complementares em outras instalações.

Obras novas

442. Dentro do critério de dar prioridade às campanhas de saúde pública, houve que programar a construção de instalações destinadas ao seu apoio logístico e a construção de algumas instalações hospitalares de necessidade premente. Por outro lado, há que fazer um sério esforço no sentido de dotar as formações sanitárias existentes, sobretudo nas áreas miais, de residências para o pessoal médico, de enfermagem e auxiliar que nelas trabalha, como meio de atracção das respectivas carreiras profissionais, para as quais cada vez há menos candidatos E de notar que a maior parte das obras agora propostas já o haviam sido para o Plano Intercalar, não tendo sido realizadas por insuficiência de recursos, o que móis evidencia a sua necessidade
São os seguintes os programas das obras novas a considerar durante o sexénio

a) Dispensários antituberculosos de Luso e Carmona, necessários para a assistência ambulatória e para apoio às campanhas de vacinação e radiorrastreio,
b) Enfermarias-abrigo para tuberculosos em Nova Lisboa e Malanje, com capacidade, respectivamente, de 200 e 100 camas, que proporcionarão a hospitalização dos casos contagiosos,
c) Dispensários de assistência materno-infantil em Malanje e Silva Porto,
d) Maternidades em Nova Lisboa, Cabinda, Henrique de Carvalho, Malanje e Moçâmedes, uma vez que os respectivos hospitais apresentam condições muito precárias, a de Nova Lisboa devera ter capacidade paia 100 camas, as de Malanje e Moçâmedes, capacidade para 50 camas e as restantes capacidade para 80 camas,
e) Dispensário de higiene mental em Nova Lisboa, o que permitirá um começo de descentralização da assistência psiquiátrica,
f) Pavilhão hospitalar para doentes mentais de ambos os sexos em Nova Lisboa, complemento indispensável do dispensário de higiene mental,
g) Dispensários polivalentes em Luanda, Nova Lisboa, Benguela, Lobito, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Malanje, relacionando-se a sua localização nestas cidades com os projectos de reordenamento urbano serão unidades indispensáveis, particularmente nas cidades de maior densidade populacional, como extensão da assistência dispensada nas consultas externas dos hospitais e do apoio às componhas sanitárias a conduzir pelas delegacias de saúde,
h) Edifícios para a instalação das delegacias das sedes de distrito s das repartições distritais de saúde e assistência nas cidades de Luso, Benguela, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Nova Lisboa, Silva Porto e Novo Redondo, tais instalações, com o seu parque sanitário e oficinas anexas destinadas à conservação do material utilizado, servirão igualmente de apoio logístico às campanhas sanitárias de âmbito distrital,
i) Hospital pediátrico em Luanda, com vista à resolução do problema da hospitalização de crianças,
j) Construção de hospitais rurais em Santo António do Zaire, Negage, Caombo, Forte República, Cassongue, Norton de Matos, Caluquembe, Artur de Paiva, Vila Nova e Nova Sintra, embora não fiquem ainda dotados de instalações adequadas todas as delegacias de saúde - o hospital rural é a instalação tipo de delegacia -, as que se incluem são as de necessidade mais pi emente,
l) Construção de postos sanitários rurais s outras instalações sanitárias, segundo programas anuais a estabelecer, impostos pela necessidade de se ampliai a lede de postos sanitários rurais, tendo por vezes anexas pequenas enfermarias e maternidades rurais e, bem assim, construções de outros tipos destinadas a servirem de base logística às campanhas sanitárias previstas,

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m) Hospital regional de Benguela as instalações existentes, já muito antigas, não consentem qualquer beneficiação ou ampliação economicamente viável, pelo que se entendeu optar pela construção, em 1977, de um novo hospital com a capacidade de 250 camas e serviços das especialidades,
n) Residências paia o pessoal médico, de enfermagem e técnico auxiliar

Ampliação e remodelação de instalações hospitalares
443:
a) Ampliação e remodelação do Hospital Central de Maria Pia com quase 100 anos de existência, carece ingentemente aquele hospital de ser ampliado e remodelado de acordo com a sua condição de hospital central da capital da província,
Na alternativa de, após os estudos em curso, se optar pela manutenção do Hospital de Mana Pia na sua forma actual e consequente construção de um outro hospital com uma capacidade de 400 a 500 camas, poder-se-á utilizar, para esse efeito, com os reajustamentos necessários, o investimento que se prevê paia a sua ampliação,
b) Ampliação e remodelação dos hospitais regionais de Malanje, Henrique de Carvalho, Luso, Carmona, Moçâmedes e Cabinda e sub-regional da Gabela, para o de Malanje prevê-se a construção de um novo corpo no seu topo nascente, paia instalação das consultas externas, banco de urgência, serviço de radiologia e agentes físicos, bloco operatório, farmácia, laboratório de análises clínicas e centro de hemoterapia, para os do Luso, Carmona, Moçâmedes e Cabinda prevê-se a construção de pavilhões para internamento de infecto-contagiosos, para o de Henrique de Carvalho será construído um pavilhão destinado ao serviço de radiologia e agentes físicos, para o da Gabela haverá que proceder a profundas alterações de modo a torná-lo funcionalmente aceitável,
c) Ampliação de hospitais rui ais e postos sanitários há necessidade de ampliar os hospitais de Vila Bocados, João de Almeida, Vila Arriaga, Paiva Couceiro, Cacuso e Golungo Alto. Por outro lado, há necessidade de ampliar com enfermarias alguns dos postos sanitários existentes

2. Campanhas sanitárias

Extensão do combate à tuberculose

444. Os sei viços actualmente prestados são-no ainda em zonas muito limitadas e têm-se caracterizado pela sua acção fixa Foi isso pretende-se

Dinamização dos serviços através de brigadas móveis de vacinação pelo B C G e do radiorrastreio,
Criação de formações fixas ao nível de distritos, segundo uma ordem de prioridade definida pela estratégia da implantação e pela grandeza das taxas distritais de incidência e mortalidade por tuberculose,
Extensão do esquema assistencial a toda a população acessível.
Prospecção da tuberculose, que necessita ser complementada por instalações de internamento e esquemas de tratamento ambulatório. do que resulta a necessidade de instalações senatoriais pura os casos recuperáveis, e do tipo enfeimaria-hospício para os irrecuperáveis

Será, portanto, necessário, para este conjunto de actividades, proceder à construção de instalações adequadas o ao seu equipamento, a aquisição de aparelhagem técnica, ao recrutamento de pessoal, etc.

Extensão do combate à lepra

445. Existem serviços de combate à lepra organizados desde 1960, embora de acção ainda limitada a uma parte do território
O tratamento faz-se quer nas formações sanitárias da lede geia], quer por circuitos móveis, mantendo-se assim o doente vigiado e tratado no seu meio familiar e social. Adopta-se a forma de concentrar os doentes (em aldeias ou bospitais-granja), de modo a torná-los acessíveis a uma terapêutica e vigilância regulares
O programa a desenvolver consiste em estender esta acção a todo o território provincial, em fases sucessivas, de que as primeiras serão iniciadas ainda dentro do Plano Intercalar
Deste modo, atendendo às limitações impostas pelas disponibilidades de pessoal especializado, particularmente de nível superior, consideram-se, de início, três centros, que atingirão não só os distritos onde se localizam, mas também os limítrofes mais próximos Luanda (Cuanza Norte, Urge, Zaire, Malanje, Lunda e Cabinda), Nova Lisboa (Huambo, Moxico, Benguela, Cuanza Sul e Bié) e Sá da Bandeira (Huíla, Guando Cubango e Moçâmedes). O esquema previsto assentará essencialmente numa acção móvel através de brigadas de prospecção e circuitos de tratamento e vigilância, actividades terapêuticas nas formações sanitárias da rede geral e em concentrações estratégicas de doentes

Combate às tripanossomíases

446. Entre as actividades sanitárias de âmbito preventivo, o combate às tripanossomíases humanas ocupa lugar de prioridade
No Norte tem sido utilizada a prospecção sistemática e em profundidade dos casos, o seu tratamento e aplicação, em profundidade também, da quimioprofilaxia pela pentamidina. Haverá, pois, que dar especial atenção à prospecção e quimioprofilaxia nos moldes em que vêm sendo efectuadas, a hm de que se não venham a perder os resultados já obtidos. Para isso, conta-se com parte das verbas inscritas nas lúbricas «Construção e equipamento» e «Pessoal»
Por outro lado, o combate ao insecto vector começou a ser encarado, mais recentemente, em zonas limitadas do Centro e Sudoeste da província
Há possibilidade, pela derruba florestal planificada, de deter a progressão da mosca ao longo dos vales dos rios Cubango e Cuito, em largas zonas do Sudoeste angolano Será também necessário proceder-se ao estudo destas zonas sob o ponto de vista entomológico, no sentido de se estabelecerem indicações precisas de actuação.
Em consequência, será necessário o recrutamento de pessoal especializado, sobretudo técnicos de entomologia, a preparação do que for possível e o equipamento e apetrechamento das estruturas básicas de apoio

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Combate ao paludismo

447. Esta endemia merece saliência especial, não só pela sua relevante importância, como pela dificuldade da sua erradicação, mercê da extensão do território e da distribuição frequentemente instável da população
As armas a usar serão a aplicação de insecticidas de acção residual, a quimioprofilaxia em massa e as companhas antimosquito, a empregar simultaneamente em todos os pontos onde for possível chegar As fases em que se prevê processar o programa de combate ao paludismo em Angola podem resumir-se como segue

Elaboração do cadastro provincial dos aglomerados onde é possível fazer luta antimalária,
Preparação das unidades de infra-estruturas, agentes sanitários de assistência rural, agentes polivalentes urbanos, agentes de combate ao paludismo microscopistas, etc., e estrutura intermediária (inspectores sanitários e inspectores de malariologia),
Estudo malariométrico preliminar,
Montagem da logística de apoio (viaturas, pulverizadores, insecticidas, material de laboratório, etc.);
Regulamentação funcional,
Elaboração de planos zonais de actuação em pormenor,
Execução.

3. Assistência materno-infantil

448. É esta uma das actividades da saúde pública onde mais influem factores circunstanciais do meio, e de tal modo que leva os peritos a desaconselhar a criação de serviços especializados neste campo enquanto os territórios não estiveram desembaraçados das grandes doenças transmissíveis - paludismo, verminose, tuberculose, etc.
Pensa-se que o programa deverá atender, numa 1.ª fase, sobretudo ao problema das maternidades urbanas e lurais, seu apetrechamento, provimento em pessoal e accionamento, sem perder de vista a necessidade de uma acção educativa nos meios menos evoluídos
Reconhece-se, todavia, que em alguns centros urbanos será útil o funcionamento de instituições especialmente adaptadas a modalidade preventiva (centros materno-infantis)
Por outro lado, entre os centros existentes alguns há que funcionam de maneira pouco satisfatória, em virtude de deficiências de instalações, havendo, por conseguinte, todo o interesse em ampliá-los e adaptá-los melhor à função a que se destinam. Está neste caso, por exemplo, o centro do Luso
Assim, nestes centros, nos dispensários polivalentes, nas formações sanitárias da rede geral, nas próprias maternidades e nos postos de assistência rural, se completará a 1.ª fase desta modalidade de assistência, a qual, por enquanto, não parece indicado dar maior amplitude.

Higiene rural

449. A promoção da higiene rural implica a utilização de uma larga gama de medidas, nomeadamente o saneamento do meio, profilaxia (vacinas, aplicação de insecticidas, isolamento e vigilância sanitária, etc.), educação sanitária (motivação, aconselhamento, repartição, etc.), produção alimentar orientada (culturas específicas, horticultura, pisicultura, etc.)
Não parece ser possível atingir estes fins sem unidades de infra-estruturas especialmente preparados para exercer funções pela sua natureza incorporadas na vida comunal
Os Serviços de Saúde e Assistência prepararam e apetrecharam, em 1963, 167 unidades deste tipo, que foram designadas como agentes sanitários de assistência rural
Contudo, a experiência veio demonstrar que os agentes não Sei iam eficazes se não tivessem uma supervisão e apoio logístico através de uma estrutura intermediária conveniente (enfermeiros gerais, enfermeiros de saúde pública, inspectores sanitários)
Nos aglomerados rurais maiores torna-se necessária uma unidade mais evoluída, como o enfermeiro de saúde pública

Higiene urbana

450. A indisciplina urbanística dos bairros periféricos das cidades maiores, com deficientes condições, constituem um cinturão de salubridade insatisfatória, sem a supressão do qual as condições sanitárias das próprias cidades não poderão melhorar
A capacidade de atendimento de doentes pelos hospitais urbanos será sempre ultrapassada, como está acontecendo ]á, a despeito de sucessivas ampliações, se não for possível disciplinar o crescimento dos aglomerados periurbanos
Daqui a grande importância dos empreendimentos no âmbito da habitação e urbanização, aos quais se pretende prestar todo o possível apoio através do dispensário polivalente, unidade mista de medicina curativa e preventiva Neles serão os enfermos atendidos em primou o escalão, enviando-se aos hospitais somente os que necessitem de exames complementares ou de internamento. Daqui também irradiarão todas as actividades de saúde pública (assistência materno-infantil, educação sanitária, etc.), que constituem a medicina preventiva e social. A limitada área geográfica e humana de actuação descongestionará os serviços dos hospitais e delegacias urbanas

Saúde escolar

451. A protecção da população das escolas não será totalmente eficiente enquanto o escolar não encontrar no meio onde vive a maior parte do dia as condições que lhe permitam colher o benefício daquela actividade. E, ocupando este grupo populacional situação de relevo, imperativo se toma dedicar-lhe especial atenção
Dada a dificuldade de dispor de todos os meios necessários para uma cobertura integral, considera-se preferível iniciar a actuação neste campo por um esforço concentrado nos principais centros urbanos Prevê-se, pois, por ordem de prioridade, a extensão de actividades às cidades de Luanda, Benguela, Sá da Bandeira, Nova Lisboa, Moçâmedes o Malanje

Saúde mental

452. A natureza dos problemas de saúde mental implica, que consideremos, em sucessivos escalões, a profilaxia, o atendimento dos doentes clinicamente recuperáveis e os cuidados a dispensai aos irrecuperáveis Em grande parte, foi a não consideração da primeira e terceira situações que progressivamente tem levado as instalações de Luanda, e que são as únicas da província, à saturação.
Embora se não possa pensar em cobrir a totalidade do território, será de toda a conveniência descentralizar esta modalidade de assistência, pelo que se pensa, de início, também em Nova Lisboa

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Nesta conformidade, além das realizações já incluídas em «Constituição e equipamento», consideram-se ainda necessárias.

Ampliação das instalações de doentes recuperáveis, em Luanda,
Construção e instalação de uma colónia para psicopatas clinicamente irrecuperáveis, em Luanda,
Instalação de uma colónia de ergoterapia para recuperação, em Luanda

4. Preparação, actualização e aperfeiçoamento de pessoal

453. liste é o capítulo que mais influência terá no sucesso de todos os restantes Na verdade, muito pouco poderá ser feito sem a existência, em número suficiente, de pessoal devidamente habilitado
Os quadros actuais são exíguos, mas, mesmo assim, sempre com vagas, principalmente nos lugares que exigem maiores habilitações profissionais e literárias, há falta de candidatos nas novas carreiras profissionais
As soluções possíveis para o provimento dos quadros seriam o aumento de remunerações, quer por reclassificação ou pagamento de horas extraordinárias, quer ainda por gratificações ou aumento da comparticipação nos honorários por serviços prestados aos doentes particulares, uma maior propaganda antecedendo o recrutamento, aprovação para o recrutamento do pessoal superior simultaneamente na metrópole o na província, garantia de direito a habitação gratuita ou de renda simbólica e de possível estabilidade nas colocações, e, finalmente, concessão de bolsas de estudo para formação profissional nos ramos em que se verifique carência
Mas, mesmo conseguindo-se o preenchimento da totalidade das vagas, seria ainda insuficiente o pessoal, pelo que haverá que proceder-se ao alargamento dos quadros existentes. Este alargamento poderia conseguir-se.

Pelo aumento das dotações do orçamento ordinário,
Pela inscrição de uma verba global do III Plano de Fomento que permita, a título transitório, o recrutamento além dos quadros das unidades de pessoal indispensável,
Pela inscrição de uma verba anual, em cada ano da vigência do Plano de Fomento, para formação, especialização o cursos da actualização para o pessoal existente ou a admitir

454. Para além das dificuldades sentidas, não apenas em Angola, mas, de um modo geral, em todo o mundo, em matéria de recrutamento de pessoal médico e paramédico, e cuja solução se terá de pôr em plano de acção ultrapassando o âmbito específico deste sector, há que considerar os investimentos necessários para garantir a preparação do pessoal paramédico exigido pela expansão dos serviços e a actualização e aperfeiçoamento do pessoal dos vários escalões, através de bolsas de estudo, de estágios, de cursos, etc.

2. Assistência

1 Centros coordenadores de assistência

455. Integrando trabalhadores sociais qualificados e ainda apoiados por estagiários do Instituto de Educação e Serviço Social de Pio XII, estes centros multifuncionais de assistência directa e de promoção social constituem eficientes instrumentos de descentralização da assistência social
Os centros penetraram nos meios modestos e «abriram» populações para uma colaboração confiante e interessada, entregando-se ao Instituto de Assistência Social a tarefa de apoio caracterizadamente assistência! Paralelamente, fizeram-se funcionar actividades recreativas com crianças das escolas (fora dos períodos escolares), manifestações práticas de interesse social dirigidas as massas, «salas de estudo», cursos intensivos de preparação doméstica, manifestações lúdicas para jovens e reuniões de convivência para adultos
É dentro desta estrutura que se justifica a criação de novos cenhos em todas as outras capitais de distrito

2. Evolução dos beirais para centros multifuncionais de assistência social

456. De certo modo, os estabelecimentos de internamento destinados i invalidei melhor ficariam entregues à assistência de natureza não oficial, embora subsidiados, quando necessário. Os beirais deverão rumar para uma função social mais dinâmica, sobretudo tendo em conta a necessidade de apoio aos estabelecimentos de assistência sanitária e às instituições de assistência não oficial (confecção de refeições, por exemplo), sem prejuízo de um mínimo de internamentos acidentais o passageiros
Dentro desta linha de orientação, há a intenção de contemplar os seguintes beirais Benguela, Lobito, Novo Redondo, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Moçâmedes, Luso, Carmona, Bié, e a Obra de Assistência aos Indigentes em Novo Redondo.

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

(ver tabela na imagem)

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(ver tabela na imagem)

Programa de investimentos

Resumo por sectores

(ver tabela na imagem)

V

Moçambique

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia.
Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. A população de Moçambique era em 1960 de 6 593 000 habitantes, de acordo com os resultados provisórios do Recenseamento Geral da População. Estima-se para o fim de 1966 a população em 7 250 000 habitantes, o que, considerando a área de 778 000 km2, corresponde a uma densidade populacional de 9,3 habitantes por quilómetro quadrado Esta densidade, baixa, como em todos os tem tonos da África intertropical, é, todavia, superior à média registada na África oriental

2. Como em todos os territórios com características semelhantes, a propinou revela uma estrutura económica dualista, com largos estratos da população vivendo em fracas relações com a economia monetária ou mantendo com ela relações de carácter intermitente

3. As características essenciais da economia podem ainda ser inferidas do facto de 88 por cento da população activa residente estar adstrita a actividades do sector primário, contra 3 por cento na indústria transformadora e electricidade e 9 por cento nos restantes sectores. O grau de industrialização à assim baixo, como podo ainda ser aferido pela contribuição da indústria transformadora para o produto interno bruto da província (integrando neste os circuitos não monetários).

4. O nível de poder de compra da população, aliado à ainda incompleta integração económica interna - por sua vez radicada no dualismo económico apontado e na insuficiência dos meios de transporte -, dá origem a um mercado interno de dimensões reduzidas com as consequentes implicações para a escala a que se realizam as actividades económicas e, particularmente, para as possibilidades de desenvolvimento da indústria transformadora e dos serviços

5. À importância do sector externo na economia pode ser medida pela participação das exportações e das importações de bens e serviços no produto interno bruto, que foi, em 1962, respectivamente, de 22 e 24 por cento
A balança comercial é ainda deficitária, tendo sido o coeficiente de cobertura das importações pelas exportações de apenas 62 por cento em 1965. O excedente da (...)

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1054 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

(...) balança de invisíveis compensa, em grande parte, o déficit das trocas, devido especialmente ao movimento de trânsito com os territórios vizinhos

6. O sector pi imano caracteriza-se pela existência do dualismo económico ]& assinalado uma maioria da população em sistema de transição e uma minoria em sistema de economia de mercado. A este propósito pode indicai-se que o valor relativo do autoconsumo dos produtos alimentares na produção total é estimado do seguinte modo
Percentagens
Mandioca ............ 97
Milho ............... 87
Amendoim ............ 77
Arroz ............... 32
Castanha de caju .... 18

7. A exploração agrícola é efectuada por três tipos de estruturas as empresas de tipo familiar tradicional, com importante autoconsumo, as médias empresas e as grandes empresas agro-industriais. Em relação aos principais produtos verificam-se os seguintes elementos

Produção relativa

Percentagem

(ver tabela na imagem)

Tem-se, além disso, um total ali l 500 000 empresas familiares contra cerca de 3000 outras empresas, as primeiras cultivando mais de 3 milhões de hectares e as segundas menos de 0,5 milhões de hectares
Em consequência dos métodos de cultivo utilizados pela estrutura produtiva predominante, a produtividade é, em geral, baixa Salientam-se as produções médias por hectare dos principais produtos de cultura estreme1
Kg/ha-1
Algodão ...................... 339
Arroz (2430 médias empresas) . 1 680
Milho ........................ 740
Amendoim ..................... 380

(ver tabela na imagem)

As actividades económicas agro-silvo-pecuárias ocupam uma reduzida área da província

(ver tabela na imagem)

Assim, tem-se que a área agricultada, relativamente ao total das terras imersas, teoricamente aproveitáveis, orça pelos 4,7 por cento Em contrapartida, a área aproveitável representa 95,3 por cento
Note-se que, do total de florestas naturais, apenas 10 a 15 por cento são aproveitáveis a curto prazo, havendo, quanto à parte restante, que esclarecer as suas possibilidades de aproveitamento económico
Do total de 3,5 milhões de hectares aproveitados cabem cerca de 0,5 milhões aos agricultores evoluídos (3000 empresários) e cerca de 3 milhões aos não evoluídos (1,5 milhões de agricultores)
A área aproveitada pela agricultura evoluída é avaliada em cerca de um terço da área concedida

8. Na caracterização do sector agrícola são aspectos dominantes a insuficiência de infra-estruturas de apoio (crédito, assistência técnica, etc.) e de organização da comercialização para a recolha dos produtos
Verifica-se não ser completo ainda o conhecimento dos recursos silvícolas, cuja utilização se limita ao corte para fins quase exclusivamente de exportação da madeira em bruto ou serrada
Na avaliação dos recursos pecuários são os bovinos que ocupam a posição do maior relevo Os efectivos são de 1133 milhares de cabeças, registando-se uma evolução praticamente estacionária nos últimos anos (1962-1965), com incremento anual médio de 0,8 por cento. Como indicador da capacidade de expansão dos efectivos, pode citai-se a percentagem de vacas no total dos efectivos, cujo valor do 36 por cento se tem mantido praticamente constante. Os efectivos na posse de criadores autóctones representam 64 por cento do total. Destes criadores, apenas uma pequena percentagem se pode considerar como tal, já que a maioria exerce a simples detenção do gado sem exploração comercial do mesmo Esta situação terá tendência a melhorar principalmente no Sul do Save, em consequência da classificação e garantia de preços mínimos para o gado transaccionado em feitas
No que se refere a recursos do subsolo, há que assinalar especialmente não se dispor ainda de inventariação completa das potencialidades da província, não obstante os trabalhos de cartografia geológica e de prospecção mineira já efectuados Salienta-se o trabalho de inventariação do recursos efectuados na bacia do Zambeze e a perspectiva de importantes jazigos de gás natural e, eventualmente, petróleo
A produção mineira atinge valores ainda baixos, apenas tendo relevância as minas de carvão do Moatize e as pegmatites da Zambézia O valor acrescentado do sector não representa mais que 0,5 por cento do produto interno bruto
Também na pesca sobressai a insuficiência de estudos de base, agora em desenvolvimento, salientando-se as prometedoras perspectivas de expansão do sector, nomeadamente no que respeita a crustáceos.

9. A importância da indústria transformadora no quadro da actividade económica de Moçambique pode ser avaliada pela sua contribuição para o produto interno bruto Em 1962 a participação teria sido de 9 por cento, que, todavia, sobe a 15 por cento se forem considerados apenas os circuitos monetários.
Ressalta o predomínio de certos sectores industriais que convencionalmente podem ser considerados como tradicionais. Se se considerai o valor de produção do conjunto de indústrias correspondentes aos sectores de alimentação e bebidas, tabaco, têxteis, calçado e madeira,

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(...) obtém-se 71 por cento do valor de produção total da indústria transformadora
A indústria está altamente concentrada nos distritos de Lourenço Marques e Manica e Sofala (na realidade, trata-se essencialmente das cidades de Lourenço Marques e Beira e suas extensões industriais)
A medida desta concentração pode deduzir-se através da participação do valor da produção industrial originada nestes dois distritos sobre o valor total da produção industrial. A respectiva participação foi de 69 por cento em 1963, cabendo a Lourenço Marques 46 por cento e a Manica e Sofala 23 por cento Se a estes juntarmos os distritos da Zambézia e Moçambique, obtém-se 93 por cento do total
A dimensão média das unidades industriais é muito variável de sector paia sector Não obstante, tem significado a dimensão média que resulta para o conjunto da indústria transformadora da província, que se pode classificar de extremamente baixa. De facto, a participação dos estabelecimentos utilizando menos de dez operários é de 54 por cento do total
Pode assinalar-se, igualmente, que o mesmo índice, paia os estabelecimentos utilizando mais de 50 operários, representa apenas 16 por cento do conjunto
O carácter elementar de transformação realizada na maioria das actividades industriais pode ser avaliada, na ausência de informações que permitam avaliá-lo com maior rigor, pela participação das matérias-primas no valor de produção, que atinge, em geral, valores muito elevados, como se pode confirmar pela indicação dessa participação nalgumas indústrias
Percentagens
Moagem de farinha em lama ............... 87
Descasque de arroz ...................... 71
Panificação ............................. 74
Fabricação de açúcar .................... 54
Produção de óleos de sementes oleaginosas 75
Preparação das folhas de chá ............ 62
Fabricação de sabões e detergentes ...... 81

Refere-se para finalizar, a necessidade de intensificar a acção supletiva e dinâmica do Estado no processo de desenvolvimento industrial

10. A configuração da província, caracterizada por uma forma alongada, com larga extensão de orla marítima, aliada à tendência das populações para se instalarem ao largo da mesma orla, terá adiado o estabelecimento de vias de comunicação longitudinais, uma vez que os grandes centros populacionais se podiam ligar pela via marítima
Essa tendência explica o florescimento de uma apreciável actividade de cabotagem que, presentemente, continua a revestir-se de grande importância, na medida em que promove a distribuição, ao longo de toda a costa, de grande volume de mercadorias que entram na província através dos portos oceânicos
Foi assim que a estruturação da rede de comunicações se veio a materializar, predominantemente, em vias de penetração Esta orientação foi reforçada pela existência de territórios vizinhos com apreciáveis riquezas mineiras, cujo acesso aos grandes centros consumidores das suas produções só seria possível desde que se utilizassem os portos da costa moçambicana
Assim se estabeleceram as principais linhas da rede ferroviária de Moçambique voltadas essencialmente para o tráfego de trânsito, essas linhas ligam as ledes dos países fronteiros e têm como terminais os principais portos oceânicos da província - Lourenço Marques, Beira e Nacala
A insuficiência de vias de comunicação longitudinais está, em boa medida, relacionada com a deficiente integração económica interna, podendo considerar-se que o território está ainda parcelado em economias mais paralelas que complementares Assim, nota-se a fraca intensidade das relações de interdependência de carácter económico entre as regiões a sul do Save e as regiões dos distritos de Manica e Sofala e Tete, e, por sua vez, destas com as regiões ao noite do Zambeze, nas quais se distinguem ainda compartimentações que convém eliminar
Esta situação terá tendência a atenuar-se, na medida em que for possível estabelecer vias de transporte orientadas no sentido norte-sul, de que a estrada nacional n.º 1, cuja conclusão até a Beira se prevê para o ano de 1968, constituirá, nos anos mais próximos, a concretização de maior relevo

11. Pela importância que o sector dos transportes e comunicações apresenta, quer do ponto de vista da sua participação no produto nacional, quer do ponto de vista da balança de pagamentos (contribuição positiva de 1113 milhares de contos em 1965), as principais actividades deste sector - caminhos de ferio e portos - têm sempre beneficiado do maior interesse por parte da administração pública
A exploração dos portos e caminhos de ferio e, em parte, do tráfego rodoviário (carga e passageiros) está confiada a um serviço autónomo - a Administração dos Portos e Caminhos de Feiro e transportes. Este serviço autónomo arrecada receitas que representam cerca de 50 por cento do orçamento geral da província
Os seguintes indicadores dão uma ideia da importância do sector na vida económica da província
Ano do 1965
Principais portos (Lourenço Marques, Beira e Nacala)
Número de navios movimentados ..... 3 203
Tonelagem de carga manuseada ...... 13 426 086
Receita (milhares de escudos) ..... 664 899

Ano de 1964
Cominhos de ferro
Extensão total (quilómetros) .... 3 612

Unidades-quilómetro oferecidas
Passageiros-quilómetro ........ 865 000 000
Toneladas-quilómetro .......... 4 386 000 000

Unidades-quilómetro das transportadas
Passageiros-quilómetro .... 236 000 000
Toneladas-quilómetro ...... 2 358 000 000

Unidades transportadas
Passageiros ............. 4 500 000
Toneladas ............... 11 000 000

Do transporte de passageiros, apenas uma pequena parcela diz respeito a serviço combinado (cerca de 20 por cento dos Passageiros-quilómetro), pelo contrário, nas mercadorias, a contribuição interna é extremamente reduzida (perto de 5 por cento da tonelagem-quilómetro transportada). Em termos de receitas - 575 000 contos em 1964 - pode dizer-se que o tráfego interno contribui com 10 por cento da receita total do tráfego ferroviário

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12. Quanto a rede de estiadas, além da estrada nacional n.º 1, poucas estradas com expressão existem orientadas no sentido norte-sul. Neste sentido predominam os pequenos troços ligando povoações próximas
Entre 1960 e 1965 constituíram-se 721 km de estradas, tendo-se elevado paia 26 666 km o património rodoviário da província. Essa extensão desdobra-se em

1359 km de estiada asfaltada
819 km de estrada definitiva em teria
24 488 km de outras estradas

Em relação à superfície da província, verifica-se que a densidade rodoviária, além de desigualmente repartida, é ainda baixa - menos de 30 m de estiada por quilómetro quadrado

13. Um outro meio de transporte que vem ganhando importância é o avião, que, vencendo rapidamente as grandes distâncias, está a tornar-se preferido principalmente para o transporte de pessoas de 1961 para 1965 quase duplicou o número de passageiros transportados que, neste último ano, foi de 43 600 em correu as internas e de 16 400 nas carreiras internacionais

14. As receitas públicas têm evoluído lentamente, a uma taxa de 4,5 por ano, que é bastante inferior à taxa de crescimento do rendimento nacional, apesar de uma boa parcela dessas receitas estarem estreitamente correlacionadas com aquela grandeza
A parte principal dessas receitas - 57 por cento em 1965 - respeitou a receitas consignadas, merecendo referência especial a contribuição dos portos, caminhos do feiro e transportes, que representa cerca de 70 por cento da receita consignada
Nas outras classes de receitas salientam-se os impostos directos (670000 milhões de escudos em 19G5), os impostos indirectos, com um volume de 816 000 milhares de escudos em 1965 (dos quais a parcela maior se refere a direitos aduaneiros), e os impostos de consumo, que se situam ao nível de 349 000 milhares de escudos no mesmo ano
No campo de despesas ordinárias têm relevo especial os encargos com pessoal, a defesa nacional, os subsídios e transferências e os encargos da dívida pública
As despesas têm vindo a crescer a um ritmo mais acelerado que as receitas, tendo sido de +7,8 por cento a taxa média anual do período 1962-1965
O aumento nos encargos com pessoal teve particular incidência nos Sei viços de Educação e nos Serviços de Saúde, em consequência do alargamento do ensino o da acção sanitária

15. A organização do sistema de mobilização das poupanças não está adequada às necessidades de um desenvolvimento rápido da economia, sendo de referir, especialmente, a insuficiência de meios de recolha das pequenas poupanças e a quase inexistência desses meios no que se refere à população em economia de transição
A canalização da poupança para os investimentos mais produtivos não é facilitada pela estrutura de crédito existente, que não possibilita ainda a concessão de crédito a médio e longo prazos em condições satisfatórias
É de salientar a insuficiência do crédito agrícola, manifestada, quer pela exiguidade dos recursos financeiros aplicados, quer pelas modalidades de crédito praticadas, problema a que se procurou, no entanto, dar já solução através de uma regulamentação mais adequada às necessidades e condições actuais da Caixa de Crédito Agrícola

16. A inversão de capitais externos na economia moçambicana revela-se necessária, dada a escassez de poupanças locais mobilizadas, independentemente dos benefícios originados pela técnica trazida, muitas vezes concomitante
Considera-se a legislação actual favorável, de um modo geral, a atracção de capitais externos, todavia, é de aconselhar a intensificação de uma acção de captação de investimentos externos

17. Em Moçambique encontram-se instituídos todos os graus de ensino, podendo assegurai-se que se ocupa uma posição equilibrada em relação a outros territórios africanos no que respeita à escolarização nos graus primário e secundário
No ensino primai 10 a população escolar cresceu desde 1959-1960 ao ritmo de 8,5 por cento em cada ano, situando-se no ano lectivo de 1964-1965 ao nível de 412 000 alunos para 5500 agentes de ensino
A taxa de escolarização é de 37,2 por cento
No ensino liceal - oficializado e particular - existiam, em 1964-1965, 45 unidades escolares e 520 professores, sendo a frequência de 7900 alunos
Ainda no âmbito do ensino secundário, inscrevem-se o ensino técnico dementai e o ensino de artes e ofícios, com uma frequência certamente superior a 10 000 alunos em 1964-1965
O ensino agrícola é incipiente, no entanto existe uma escola elementar, uma escola prática de agricultura e uma escola de regentes agrícolas e estão em estudo mais duas escolas elementares
Como estabelecimento de ensino técnico médio funcionam tios institutos, que, no ano lectivo de 1964-1965, eram frequentados por 450 alunos
Cite-se, por fim, os Estudos Gerais Universitários, abrangendo já os íamos das Ciências Pedagógicas, Engenharia, Medicina e Cirurgia, Agronomia, Silvicultura e Veterinária, existindo ainda os cursos de professores adjuntos do ensino técnico do 8.º e 11.º grupos Com um corpo docente de 50 elementos, a frequência em 1964-1965 atingiu os 322 alunos

18. O panorama sanitário da província considera-se satisfatório quando comparado com o de outros territórios africanos

Anos de 1964 e 1965

(ver tabela na imagem)

A rede de ocupação sanitária é excelente, mas torna-se necessário intensificar a cobertura da província
Também é indispensável intensificar n acção no campo da medicina preventiva, para o que a lei prevê a actividade de serviços especiais destinados a servir de efi- (...)

1 Valor considerado na publicação Catholic Educacion in the Service of África - 0ffice International de l'Ensergnement Catholique e que tem utilidade para comparações internacionais, dado que foi obtido por processos de cálculos feitos com este fim

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ciente instrumento de prospecção e luta contra as endemias predominantes
E necessário maior esforço quanto a dotações relativas as infra-estruturas criadas, especialmente no que respeita a estabelecimentos hospitalares
A assistência médica, embora de bom nível, carece de actualização, de modo a acompanhar o ritmo acelerado da evolução da medicina

19. Os indicadores que a seguir se apresentam caracterizam a situação em 1965
Por 100 000 habitantes
Médicos ....................... 5,8
Farmacêuticos ................. 1,3
Parteiras ..................... 3,9
Enfermeiros ................... 13
Camas ......................... 163,8
Estabelecimentos hospitalares . 20,8

Existe a necessidade de alargar os quadros do pessoal dos serviços de saúde e assistência, completando os quadros do pessoal médico constantes da lei e diferenciando os quadros de pessoal de enfermagem e outro pessoal paramédico
Já se enfrenta o problema delicado de pôr a funcionar grandes hospitais de recente construção e convém prevenir, portanto, maiores dificuldades que eventualmente surjam com a execução do Plano

20. A economia de Moçambique apresenta uma forte dependência em relação ao exterior, sobretudo em matéria de comércio externo e balança de pagamentos
Como característica mais relevante, tem-se que os sal dos estruturalmente negativos da balança de pagamentos suo da ordem dos 200-270 milhares de contos e neles pesam sobretudo do lado positivo, os transportes (trânsito pelos portos e cominhos de ferro -1113 milhares de contos) e o turismo, do lado negativo, as transferências privadas, os rendimentos de capitais e os movimentos de mercadorias. Desta forma, os saldos da balança de pagamentos são agravados, sobretudo, pelos saldos da balança comei cia] (1870 milhares de contos) e das transferências, e compensados pelas receitas de transportes (trânsito vindo do exterior e movimento dos portos) e pelo turismo
Na formação dos saldos da balança comercial, verifica-se que do lado das receitas são predominantes (64 por cento) as que respeitam a sete produtos (algodão, castanha de caju, açúcar, chá, sisal, copra e amêndoa de caju) e três t em tonos (metrópole, União Indiana e África do Sul), equivalendo a 63 por cento do total, do lado das despesas há menor dependência externa, se bem que cinco produtos apenas (tecidos de algodão, vinhos, petróleo, ferro em bruto e ferro ou aço em obra). Representem 25 por cento das impai tacões e três territórios (metrópole, África do Sul e Remo Unido) representam 55,5 por cento das mesmas
Em termos de razão de troca (sobre preços médios), verifica-se uma posição desfavorável relativamente no exterior, tendo sido o respectivo valor da ordem dos 0,76 no último triénio

21. Noutros aspectos ainda se detecta a dependência da província em relação ao exterior, como seja na aquisição de bens de equipamento, na obtenção de técnicos e na formação de capitais para investimento público (metrópole)

22. No que se refere à população, verifica-se uma forte irregularidade na sua distribuição pelas diversas regiões do território, podendo apontar-se como características principais as seguintes

a) Três distritos apresentam densidades superiores a 9,3 habitantes por quilómetro quadrado, média do território Lourenço Marques, 35,2, Moçambique, 19,5, e Zambézia, 13,3. A alta densidade do primeiro é influenciada sobretudo pela concentração populacional na capital. Os outros dois distritos, contíguos e cobrindo 23 por cento do território, representam 42 por cento da população total

b) Verifica-se uma concentração muito marcada nas ai cãs litorais, pois nos concelhos e circunscrições situados no litoral com densidade superior a 20 habitantes por quilómetro quadrado se encontra a terça pai te da população total da província Em contrapartida, têm uma população muito rarefeita o interior dos distritos, de Gaza e Inhambane, as regiões a norte da Beira e no interior do distrito de Tete e grande parte do distrito do Niassa

23. Sob o ponto de vista de condições naturais, pode considerar-se, em termos muito gerais, a divisão do território nas seguintes regiões

a) Distritos do Niassa, Gabo Delgado, Moçambique e Zambézia (com excepção da bacia do Zambeze),
b) Distritos do Teto e Mímica e Sofala (com excepção da bacia do Zambeze, a jusante da confluência Chire-Zambeze),
c) Bacia do Zambeze, a jusante da confluência com o Chire
d) Regiões a sul do Save

Na realidade, não há homogeneidade nas regiões naturais definidas, podendo distinguir-se em cada uma delas sub-regiões, que, em certa medida, explicam as condições de ocupação económica do território

Região I

I-A- Terras altas do Niassa - acima dos 800 m
1-B - Planaltos dos Macondes e Macomia
I-C - Terras baixas (do litoral, até a Maganja da Costa (até aos 100 m)
I-D - Terras altas da Zambézia (Milanje, Tacuane e Guruè)

Região II

II-A - Terras altas do Tete - Angónia, Marávia (Chofombo e Vasco da Gama), Macanga (sede e Bene), Zumbo (Zâmbuè)
II-B - Terças altas de Manica e Sofala (Báruè, Manica e Mossurize)

Região IV

1V-A - Litoral de Inhambane e Gaza, até ao Bilene
IV-B - Interior de Inhambane e Noite de Gaza
IV-C - Vales dos grandes rios

24. No quadro da distribuição populacional e da diferenciação de condições naturais se insere o processo de ocupação económico-agrícola do território.

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Assim, na região I há que diferenciar os distintos do Niassa e Cabo Delgado, legiões de baixa densidade populacional e onde se denota uma ausência quase total de explorações agrícolas evoluídas
Os distritos de Moçambique e da Zambésia apresentam uma maior densidade populacional e um maior grau de ocupação da teria, particularmente em Moçambique  exploração agrícola evoluída tem grande importância nesta zona, havendo a distinguir a sub-região já assinalada - terras altas da Zambézia (Milange, Tacuane e Guruè) -, em que assume relevância a agricultura evoluída ú base do chá
Na região II, afora a parte da Angónia, das terras altas de Teto, e as terras altas de Manica e Sofala, domina uma ocupação essencialmente autóctone, assumindo importância, também, a exploração florestal. Em qualquer das sub-regiões indicadas existem condições muito favoráveis para a ocupação evoluída e para culturas de sequeiro, mas só na segunda - nos núcleos de Vila Pery e de Manica - se legista uma ocupação significativa.
Na região III - constituída pela bacia do Zambeze, a jusante da confluência com o Chire - denota-se um predomínio da ocupação evoluída, à base da copra e do açúcar
Finalmente, na região IV, a zona litoral indicada revela uma alta densidade da população autóctone, terias leves e poucos férteis, os vales dos grandes rios proporcionam uma ocupação autóctone e europeia importante, com culturas de regadio, no interior de Inhambane e Noite de Gaza, a densidade populacional é baixa e a manutenção dos importantes efectivos pecuários existentes defronta problemas graves de abastecimento de água, nas restantes regiões do Sul do Sá vê também tem importância a ocupação pecuária

2. Evolução demográfica

1. População total

25 A evolução da população de Moçambique foi, desde 1930, a que se mostra no quadro da página seguinte

Evolução da população de 1930 a I965, por distritos

Unidade: milhar de habitantes

(ver tabela na imagem)

Os números apresentados suo extraídos dos recenseamentos gerais da população, com excepção dos referentes ao ano de 1965, que foram estimados, entrando simultaneamente em conta com as taxas de acréscimo verificadas entre 1950 e 1960 e os resultados dos recenseamentos administrativo e missionário referentes a 1964
A taxa média anual de crescimento entre os dois últimos censos foi de 1,4 por cento

26. Para o mesmo período, foi a seguinte a evolução da população alienígena

Evolução da população alienígena, por distritos, no período de 1930 a 1960

Unidade: milhar de habitantes

(ver tabela na imagem)

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Desde 1960 os efectivos totais da população alienígena seguiram a seguinte evolução

1961 ........ 159 344
1962 ........ 167 576
1963 ........ 178 224
1964 ........ 188 918
1965 ........ 199 453

A população branca tem aumentado a sua participação relativa no total da população alienígena, sendo especialmente de referir a rápida expansão que se verificou entre 1950 e 1960 nos distritos do Sul do Sá vê e nos distritos de Manica e Sofala.

2. Distribuição espacial

27. A densidade populacional da província era de 9,1 habitantes por quilómetro quadrado, de acordo com a estimativa da população total efectuada para 1965
O distrito de Lourenço Marques é o primeiro em ocupação relativa, seguido dos distritos de Moçambique e da Zambézia. O distrito do Niassa é o de menor densidade populacional
Apresenta-se a seguir, por ordem decrescente, a densidade populacional de cada um dos distritos

Ano de 1965

Habitantes por quilómetro quadrado

(ver tabela na imagem)

Ao nível do concelho ou circunscrição, verifica-se que as áreas de maior densidade se situam no litoral, com excepção dos concelhos dos Mochopes e do Baixo Limpopo.
A distribuição das densidades populacionais dos concelhos e circunscrições da província é apresentada no quadro seguinte, onde se mostra que 50 por cento dos concelhos e circunscrições tinham em 1960 uma densidade inferior a 10 habitantes por quilómetro quadrado e apenas 20 por cento superavam 30 habitantes por quilómetro quadrado

Densidade populacional em 1960

(ver tabela na imagem)

Por sua vez, a análise circunscrita apenas à população alienígena permite concluir que a sua ocupação espacial relativa tem pouco significado, com excepção do distrito de Lourenço Marques, em que atingiu 4,1 habitantes por quilómetro quadrado, em 1960

3. Estrutura etária

28. A repartição dos habitantes em três grandes classes etárias - 0-14, 15-59 e 60 e mais anos - permite considerar a população de Moçambique pertencente ao tipo progressivo elevada proporção de valores potenciais (grupo I) e reduzida percentagem do grupo III, conforme é evidenciado pela distribuição por idades para 1940 e 1950, completada, para efeitos de comparação, com a que resultaria da aplicação de uma estrutura etária típica dos países da África oriental à população total constante do censo de 1960.

Estrutura etária nos anos de 1940,1950 e 1960
Unidade: milhar de habitantes

(ver tabela na imagem)

29. A estrutura demográfica da população alienígena é uma resultante das características, em termos de dinâmica populacional, dos diversos tipos somáticos que a constituem. Entre estas características avulta, em especial,
a relativamente forte corrente imigratória da população branca, que origina um predomínio das idades adultas, tal como se verifica no quadro que a seguir se apresenta, para os anos de 1940 a 1955

Estrutura etária da população alienígena nos anos de 1940,1950 e 1955
Unidade: milhar de habitantes

(ver tabela na imagem)

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Também esta população é do tipo progressivo, independentemente dos vai01 es excessivos do grupo II, que, como se referiu, advém de uma elevada imigração

4 Níveis de natalidade e mortalidade

30. Não é possível caracterizar a natalidade e a mortalidade da população autóctone através das respectivos taxas, dado a circunstância de os registos de nascimentos e óbitos não serem ainda completos paia todo o território
Por este motivo, a presente análise refere-se unicamente à população alienígena, para a qual já é possível calcular as taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade, visto que os elementos disponíveis suo suficientes para o estudo dos fenómenos referidos
A seguir se apresenta um quadro com os referidos elementos i dativos aos anos de 1940 n 1964

Movimento fisiológico de população alienígena no período da 1940 a 1964

(ver tabela na imagem)

Como se verifica pelo quadro, a natalidade cresce no período de 1940 a 1960, para apresentar posteriormente um movimento regular, de tendência ainda não definida Todavia, no ano de 1964, regista-se uma taxa comparativamente muito baixa, e que é inferior às taxas encontradas para n população europeia de outros territórios africanos
A elevação da taxa de natalidade desde 1940 deve-se essencialmente à maior participação das mulheres em idade de iniciar no conjunto da população
Por sua vez, a taxa de mortalidade é decrescente, situando-se em 1964 a um nível inferior & da quase totalidade das populações europeias dos demais países africanos, sendo mesmo mais baixa que na generalidade dos países europeus

5. Projecções da população para o período de 1968-1973

31. Em relação a população total, tomou-se como base de projecção as taxas médias anuais de descimento, por distritos, que resultam do confronto entre os recenseamentos de 1950 e 1960. Em seguida fez-se a comparação entre as populações distritais em 1964 - resultantes da aplicação destas mesmas taxas - e os elementos conhecidos, para esse ano, dos recenseamentos administrativo e missionário, no sentido de detectar a validade da aplicação daquelas taxas para efeitos de projecção. É certo que, quer o recenseamento administrativo, quer o missionário, não se revestem de um grau de rigor tal que permita utilizar directamente os seus resultados. Todavia, tem o maior interesse o confronto que se estabeleceu
Através da comparação estabelecida desta forma, foi possível estimar novas taxas de crescimento, que se adoptam paia efeitos de projecção, e que, se supõem mais realistas do que as tendências de crescimento do período de 1950 a 1960, tal como resultam dos censos. Aliás, em grande parte dos casos, as taxas adoptadas são idênticas ou não se afastam sensivelmente das anteriores

Estimativa da população total, por distritos, no período de 1960 a 1966

Unidade: milhar de habitantes

(ver tabela na imagem)

A aplicação destas taxas permite supor que a população total de Moçambique se tenha elevado a cerca de 7250 milhares de habitantes em 1966, o que corresponde a uma taxa de descimento anual de 1,6 por cento, taxa que se adoptará para a projecção da população no período do III Plano de Fomento
Assim, a população total em 1973 será aproximadamente de 8 100 milhares de pessoas

32. A evolução da população alienígena está condicionada a variação que se verifique no fluxo migratório, melhor dizendo, ao volume de imigrantes que, das diversas partes do território nacional, acorrem à província para fixação de residência
A estimativa que se possa fazer é, pois, limitada pela circunstância acima exposta
Desta forma, estimou-se o saldo migratório em 6000 unidades anuais, de acordo com a evolução de 1960 a 1964 e admitindo que o povoamento rural se mantém ao nível anterior, e tomou-se a taxa de 2,6 por cento que foi a verificada no saldo fisiológico do ano de 1964, ainda que esta pareça um pouco baixa em relação ao que se conhece, de 1960 em diante, no que respeita a saldos fisiológicos Todavia, admitindo-se como normal uma tendência decrescente da taxa de natalidade, entendeu-se preferível não considerar um valor superior paia o saldo fisiológico
Conhecida a população em 1965 -199 453 habitantes - foi a partir deste valor que se projectou para o período de 1908 a 1973
Seria, pois, aproximadamente, de 297 milhares de habitantes a população alienígena no ano de 1973

3. Evolução do produto, rendimento e despesa interna

1. Crescimento o níveis do produto por grandes sectores

33. Considerando apenas os circuitos monetários, o crescimento do produto interno bruto ao custo dos factores processou-se à taxa média anual acumulada de 6,5 por cento no período de 1953-1962 1

1 Os elementos utilizados silo resultantes da elaboração de uma série estatística com base nos apuramentos efectuados pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar

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A esta taxa corresponde um acréscimo médio da capitação do produto de 5,1 por cento. Este ritmo de crescimento tem a sua explicação, quer na expansão verificada na capacidade produtiva da província, quer na progressiva passagem a economia monetária de largos estratos da população, vivendo até aí, quase que exclusivamente, em regime de autoconsumo.

34. Esta dupla explicação é mais claramente evidenciada pela decomposição do produto por actividades de origem, em que se verifica um descimento do sector primário superior ao do conjunto da economia no mesmo período. De facto, a taxa média do crescimento foi de 0,7 por cento, valor que não se afasta, senão ligeiramente, da taxa global.
O sector secundário revela no mesmo período uma expansão muito rápida - 11,1 por cento em média cada ano -, ao passo que o crescimento do sector terciário se processou a taxa de 5,4 por cento.
Como resultado desta variabilidade de comportamento, alterou-se a estrutura da composição do produto no período em análise, como se pode verificar no quadro abaixo, mantendo-se a participação relativa do sector primário, e sendo a elevação da participação do sector secundário compensada por um movimento contrário do sector terciário.

Decomposição do produto por grandes sectores
(circuitos monetários)

Participações relativas

[ver tabela na imagem]

35. Esta estrutura da composição do produto não reflecte a «verdade» da economia moçambicana, atendendo a importância que revestem os fluxos não monetários, estando muito subestimada a importância da agricultura. De facto, a integração no produto do valor estimado do autoconsumo, bem como da prestação de sei viços que não dão origem a circuitos monetários, permite apresentar o seguinte quadro, de estrutura análoga h do anterior, em que se pode verificai a importância acrescida do sector primário no conjunto da economia, bem como o processamento da sua evolução, a ritmo de crescimento inferior ao dos outros sectores.

Decomposição do produto por grandes sectores

Participações relativas

[ver tabela na imagem]

2. Estrutura e evolução das componentes da despesa, nacional

36. No período de 1058-1962, a variação das componentes da despesa nacional (com exclusão da variação de existências e do movimento com o exterior) processou-se como se segue:
Percentagens

Consumo privado 6,7
Consumo do Estado 7,7
Formação bruta de capital fixo 5,6

A nota mais flagrante respeita ao menor ritmo de acréscimo da formação de capital fixo, comparativamente as restantes rubricas da despesa, traduzindo uma situação de escassez de formação de capital, desproporcionada em relação à expansão de rendimentos gerada neste período. Note-se, porém, que a taxa de crescimento apurada se ressente muito da evolução desfavorável verificada nos últimos anos. De facto, pode observar-se, no decorrer do período, uma tendência para o decréscimo da participação do consumo privado em favor de uma maior acumulação de capital fixo, tendência esta que é contrariada pelo verificação nos últimos anos, de tal modo que em 1962 ó o inverso que se verifica.

Estrutura da despesa nacional

[ver tabela na imagem]

37. Atendendo à importância da acumulação de capital fixo no processo de crescimento, há vantagem em analisar mais detidamente a sua evolução no período em estudo, bem como a sua decomposição pelos vários sectores. Apresenta-se primeiro a tendência de crescimento dos diversos ramos de actividade no período de 1958-1962, expressa em taxas médias anuais cumulativas de crescimento. Dado que os dois últimos anos do período implicaram comportamentos algo diferentes nalgumas das rubricas, apresentam-se também as suas taxas de crescimento no período de 1953-1960.

Taxas de crescimento das componentes da formação bruta de capital fixo

[ver tabela na imagem]

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1062 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

A primeira coluna é preenchida precisamente por aqueles sectores que maior influência tiveram no comportamento desfavorável verificado nos últimos anos do período. Deve, aliás, dizei-se que a tendência regressiva se vinha já a verificar desde 1960. Pareceu, porém, aconselhável, considerai o período de 1958-1960, atendendo a que o ano de 1950 foi excepcional, assistindo-se a um progresso notável na formação de capital fixo do sector terciário.
Aliás, é esta a nota dominante na análise da contribuição dos diferentes sectores para a formação de capital fixo no período de 1958-1962 o maior ritmo de formação do capital fixo verifica-se nas actividades terciárias.

4. Relações económicas com o exterior

38. Da análise do quadro seguinte ressalta uma evolução das importações regularmente ascendente em valores e oscilatória em termos de quantidades

Importações totais de Moçambique

Índices-base 1961-100

[ver tabela na imagem]

As importações apresentam um acréscimo médio anual entre 6 e 8 por cento em valor e cerca de 2 por cento em quantidade

39. Transparece tendência diversificadora no quadro das importações Em particular, ganham maior importância os bens de equipamento e, consequentemente, reduz-se a importância dos outros tipos de bens, embora em valor absoluto continuem a verificar-se aumentos em quase todos.

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Análise das importações de Moçambique de 1961 a 1965

[ver tabela na imagem]

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Projectes do valor das importações dos principais produtos

Milhares de contos

[ver tabela na imagem]

44. Segundo as perspectivas estabelecidas com base nas tendências verificadas no quinquénio de 1961-1965, as importações elevar-se-iam dos 4,2 milhões de contos (média de 1961-1960) para o nível dos 8,2 milhões em 1978.
Em termos de volume, parece mais realista optar pelas projecções com base nas médias móveis modificadas, para acerto com as projecções sobre legiões, o que leva a esperar um volume de 1,68 milhões de toneladas em 1978 contra 1,24, média do quinquénio (1961-1965).
As importações previsíveis serão, pois:

[ver tabela na imagem]

45. No que diz respeito às regiões fornecedoras, obteve-se uma projecção linear de valores, baseada na regressão com o rendimento nacional, que sofre de grau de erro não exagerado. Projecção separada paia o estrangeiro conduz a que as importações do estrangeiro já pouco superarão as da zona do escudo.
Ter-se-iam, então, em 1973, 4 milhões da zona do escudo e 4,2 milhões do estrangeiro.

46. Em termos de quantidades, apenas a regressão linear feita com os valores da zona do escudo tem um grau de erro aceitável Tomaram-se assim essas projecções, as que respeitam ao estrangeiro foram obtidas por diferença para o total.

Ter-se-iam então como projecção, por regiões, para 1968-1973.

Milhares de contos e milhares de toneladas

[ver tabela na imagem]

47. No que respeita a valores globais de exportação, adoptaram-se as projecções com base no ajustamento linear Ter-se-iam 4459 milhares de contos de exportações em 1973, contra 2842 milhares no quinquénio-base.
Em termos de volumes também se optou pelas projecções resultantes de ajustamento linear. Ter-se-iam, pois, 2264 milhares de toneladas em 1973, contra 980 milhares no quinquénio-base.
O preço médio assim previsto para 1973 será de 1,98 contos por tonelada exportada, o que não é incoerente com a prevista pequena variação do preço.
Em síntese, a situação esperada será:

[ver tabela na imagem]

48. Segundo as projecções, em regiões-clientes as exportações para a zona do escudo atingiram 1410 milhares

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de contos em 1978, e 3049 milhares seria a verba para o estrangeiro. Em termos de quantidades Ter-se-iam 562 000 t para a zona do escudo e 1702 milhares para o estrangeiro.

Exportações regionais

Milhares de contos e milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem].

Projecções do valor das exportações dos principais produtos

Milhares de contos

[Ver Quadro na Imagem].

Grau de erro.

[Ver Quadro na Imagem].

O - Médias móveis
P - R. N. ou P. N B

49. Não se vai tentar proceder propriamente a um estudo da balança de pagamentos, pois que o único objectivo visado foi o de apreciar a posição da balança comercial no conjunto da balança de pagamentos e definir para as mais importantes rubricas a sua evolução provável.
A balança comercial apresenta-se estruturalmente deficitária.

Situação em 1961-1965

Milhares de contos

[Ver Quadro na Imagem].

50. As projecções, baseadas na evolução tendencial, conduziram, tomando como projecções todo o campo de variação entre as colunas 2 e 3. A do quadro seguinte, a saldos evoluindo negativamente entre 1,8 e 2,5 milhões de contos em 1968, até 2,2 a 3,8 milhões em 1973.

Evolução esperada dos saldos da balança comercial

Milhares de contos

[Ver Quadro na Imagem].

Considerando agora a posição dos saldos da balança comercial para regiões, zona do escudo e estrangeiro, tem-se o quadro que segue

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1070 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Milhares de contos

[ver tabela na imagem]

No período de 1961-1965 o saldo negativo mais elevado registou-se com o estrangeiro, embora de tendência oscilatória levemente crescente. Os saldos com a zona do escudo, embora mais baixos, crescem a ritmo acelerado, tendo quadruplicado em quatro anos.
As projecções que se encontram no quadro anterior originam aproximadamente os saldos globais apresentados na coluna 3 a do quadro que o precedeu.

Trânsitos em Moçambique

[ver tabela na imagem]
(a) Não publicados.

51. Os trânsitos são feitos pelos portos de Lourenço Marques e Beira em relação á África do Sul Rodésia Malawi e Republica Democrática do Congo.

Apresenta-se uma perspectiva da posição dos trânsitos no período do Plano, adoptando um crescimento regular idêntico ao registado no triénio em termos de médias de períodos

Projecções para o período de 1968 a 1973 dos trânsitos de Moçambique

[ver tabela na imagem]

52. O quadro seguinte retrata a estrutura da balança de pagamentos no ano de 1965

Balança de pagamentos em 1965

Unidade: milhão de escudos

[ver tabela na imagem]

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Para além de uma situação deficitária que, embora não exagerada, é de considerar, verifica-se desde logo que é na balança de transacções com mercadorias que se manifesta o maior déficit Do mesmo modo, ressalta imediatamente que é nos invisíveis de transportes que se tem o maior superavit, aliás inferior àquele.
Quanto aos saldos globais são os seguintes.

Saldos da balança de pagamentos

Milhares de contos

(Ver Quadro na Imagem).

53. Tem-se, pois, uma evolução muito variável em virtude do resultado dos anos de 1061 e 1962 Considerando os sete anos, a fim de suavizar o efeito dessas perturbações, tem-se um saldo médio negativo de 268 milhares de contos pouco inferior ao do quinquénio 270 milhares de contos. Há, no entanto, uma tendência decrescente embora lenta, que faz levar a prever uma melhoria, pelo menos a curto prazo. Se se excluir os anos de 1961 e 1962, obtém-se ainda mais acelerada tendência decrescente.

54. A balança de pagamentos, apesar da melhoria observada, não tende, pois, a um equilíbrio futuro A tendência, a manter-se com regularidade, levaria a tal situação apenas a longo prazo.
As projecções regionais conduzem a uma projecção para o saldo global que é muito mais realista.

Saldos da balança por territórios

(Ver Quadro na Imagem).

Pela observarão dos saldos tem tonais verificam-se saldos positivos com o estrangeiro, saldos esses que aparentam crescimento.
Quanto aos saldos com a zona do escudo, apresentam-se em geral crescentes, mas de natureza negativa.
Para os primeiros saldos e sua natureza positiva, contribuem largamente a África do Sul, a Rodésia e a União Indiana São negativos os saldos com os países europeus, o Japão e a Austrália (deficits individuais da ordem dos 50 000 contos).
Na contribuição para os saldos negativos da zona do escudo sobressaem as balanças com a metrópole e Macau.
As balanças de mercadorias e de invisíveis correntes (explicam quase totalmente a ordem de grandeza e a evolução daqueles saldos. Distinguem-se, sobretudo, os pagamentos de invisíveis a metrópole (transferências privadas) e as receitas de turismo e transportes com o estrangeiro. A balança comercial com a União Indiana e, praticamente, a única não deficitária.
As previsões que podem decorrer, por uma fria analise estatística dos saldos antes apresentados, são as que constam do quadro seguinte.

Evolução esperada dos saldos da balança de pagamentos

Milhares de contos

(Ver Quadro na Imagem).

55. Como conclusões gerais podo prever-se que os saldos negativos da balança comei ciai aumentem consideràvelmente, variando entre duas linhas limites. Em 1073 situar-se-ão entre 2160 e 3800 milhares de contos

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É de esperar, em particular, que os saldos negativos com a zona do escudo acabem por superar os registados no estrangeiro.
Quanto à balança de pagamentos, são de esperar as seguintes posições.

Comparação de saldos da balança de pagamentos (1965-1973)

Milhares de contos

(Ver Quadro na Imagem).

CAPITULO II

Objectivos

I. Objectivos gerais

56. Os objectivos do III Plano de Fomento para Moçambique devem, naturalmente, ser integrados nos objectivos genéricos definidos para todo o espaço económico português, de harmonia com as directivas definidas pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.
A fim de assegurar que estes objectivos fossem cumpridos da melhor maneira, houve que adoptar uma linha de acção estratégica que estivesse em harmonia com as características específicas do território e o seu actual estado de desenvolvimento.
Com base na análise cuidadosa a que se procedeu sobre a estrutura económica e social de Moçambique e as características mais relevantes da evolução em curso, considerou-se que a acção a desenvolver deveria visar os objectivos específicos a seguir descritos.

57. A dinâmica de desenvolvimento de um território como Moçambique, com as características de dualismo económico já assim aladas, postula em primeiro lugar um esforço no sentido do alargamento do mercado interno. Este objectivo parece à primeira vista redundante, na medida cm, que só pode derivar de um acréscimo de produção e de rendimentos nas mãos da população, o que constitui um objectivo de todos os planos de desenvolvimento.
É, todavia, essencial considerá-lo como um objectivo primário De facto, a existência de um sector moderno na economia, formado por uma fracção já significativa da população, com uma mentalidade receptiva ao progresso, mantendo contactos frequentes com os centros mais evoluídos, se por um lado revela problemas de dualismo económico e social, por outro lado deve ser encarado como um elemento valioso. Um técnico competente, uma organização eficiente e um espírito aberto são peças de importância muito grande num território subdesenvolvido. Ora esse sector pode, em princípio, se lhe forem proporcionados os necessários estímulos, corresponder as novas solicitações da população, através da extensão e diversificação da produção agrícola e industrial e das actividades terciárias correspondentes.
O dinamismo de crescimento das actividades secundárias e terciárias teia de assentar numa procura em rápida expansão e, portanto, num aumento de poder de compra e numa progressiva integração da população em economia de transição na economia de mercado.
A expansão de rendimentos procurada vai assentar essencialmente no aumento substancial da produção e da produtividade do sector agro-silvo-pecuário, através da criação e melhoria das estruturas de apoio a esse desenvolvimento, completadas pelo aperfeiçoamento da organização da comercialização para a recolha dos produtos primários, condicionadora do desenvolvimento da produção, e pela criação de condições de existência às actividades de transformação dos produtos primários naturalmente aptas a criar, a estabilizar e a valorizar o mercado correspondente ao acréscimo da oferta.
Mas esse aumento da produção e da produtividade postula também uma atitude da população, um desejo operante de melhor de condição material, que só pode existir se lhe for proporcionada uma melhoria significativa das suas condições económicas, sociais e culturais, que despeitem os três propensões básicas de que depende o descimento económico a propensão ao trabalho, ao consumo e à inovação.
Eis porque a promoção humana e a elevação do nível de vida da população (em que naturalmente se integra a melhoria das suas condições económicas e sociais), que constitui o objectivo último de desenvolvimento e foi indirectamente consagrada no próprio Plano ao ser apontado como um dos seus grandes objectivos, a «mais equitativa repartição dos rendimentos formados», não está em contradição com as possibilidades de um crescimento rápido da economia. Pelo contrário, essa tarefe de promoção aparece com uma condição essencial de progresso económico.

58. O progresso de expansão de uma economia subdesenvolvida é normalmente refreado pela existência de «estrangulamentos» nos seus circuitos económicos, correspondentes à escassez de certos recursos. Neste capítulo, assume maior relevância em Moçambique o que se refere ao capital financeiro, as divisas externas e aos quadros técnicos especializados.
Eis porque se torna indispensável uma política destinada e eliminar a carência de recursos, já que o fomento dos sectores primários e suas implicações no desenvolvimento dos, outros sectores da economia sei á forçosamente refreado se não forem usadas medidas aptas a favorecer a oferta de recursos escassos.

59. No que se refere ao capital financeiro, considera-se de maior significado um acréscimo da capacidade de financiamento do sector público, com o qual se prendem aspectos tão importantes como a revisão de regimes fiscais em vigor e a reorganização de certos sei viços Numa perspectiva mais restrita, procedeu-se no decorrer da elaboração do Plano à pesquisa sistemática das possibilidades de autofinanciamento em coda sector de actividade.
A carência de divisas externas, face às necessidades de desenvolvimento, implica um esforço de substituição das importações e, por outro lado, um acréscimo e diversificação das exportações. Nesta linha se integra também a criação de condições com vista ao fomento do turismo.
Por outro lado, a carência de quadros técnicos especializados impõe a expansão do ensino técnico (elementar, médio e superior) e o lançamento de programas de formação profissional.

60. Considerando como agentes de desenvolvimento simultaneamente a Administração e o investidor privado,

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entende-se prioritária a criação de condições para uma maior racionalidade e eficiência da acção de uma e de outro.
É indispensável completar a reforma de estruturas administrativas e de métodos da administração, já iniciada através da reorganização de sectores importantes, como sejam, por exemplo, os Serviços de Economia, de Veterinária e de Estatística, as juntas provinciais de povoamento, e da criação de organismos de investigação nos âmbitos da agricultura e veterinária, mediante esforços que se deverão concretizar especialmente ao nível da reestruturação de serviços públicos, da colaboração entre organismos que se debruçam sobre problemas relacionados, de um acréscimo geral da produtividade de acção aos serviços e de uma intervenção activa no lançamento de novos empreendimentos.
Por outro lado, considerando especialmente o que se refere a actividade industrial, é indispensável a criação de condições favoráveis ao investidor industrial, nomeadamente no relativo aos aspectos fiscais e aduaneiros, crédito, pesquisa de oportunidades industriais e de mercados externos, definição de zonas onde estejam asseguradas as infra-estruturas básicas.

61. A necessidade de assegurar um crescimento económico rápido, conjuntamente com as actuais dificuldades de capitais, impõe cuidadosos critérios de selecção dos empreendimentos e da sua localização Com esse objectivo, procedeu-se no decorrer da elaboração do Plano a atenta avaliação dos projectos de investimentos elaborados, procurando, tanto quanto possível, respeitar os seguintes critérios.

a) Preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida produtividade.
b) Escolha das infra-estruturas que mais directamente contribuem para o aperfeiçoamento do potencial produtivo, procurando igualmente, proporcionar um maior coeficiente de utilização às infra-estruturas existentes, de preferência a novas instalações.
c) Polarização do desenvolvimento, procurando tirar o maior pai tido das economias externas inerentes aos empreendimentos instalados nas zonas mais desenvolvidas e a desenvolver.
Com esse objectivo tentou-se uma definição das zonas de desenvolvimento, ao mesmo tempo que se fez uma compatibilização interegional dos empreendimentos previstos nos diferentes sectores, de modo a favorecer uma concentração por zonas dos investimentos ou simplesmente a criar condições para que actuem com proveito os relações de interdependência existentes.

62. A finalizai, apresentam-se duas orientações gerais que decorrem dos princípios da política nacional.
Em primeiro lugar, espera-se que variadas consequências de maior relevo a resultar da intensificação de actividades produtivas programada consistirá no povoamento espontâneo, que há posteriormente que estimular por medidas de apoio & produção e & comercialização Assim se cumpre um dos impera tu os da presença portuguesa em África, ao mesmo tempo que se asseguram ao autóctone as condições de enquadramento que tomem possível a sua progressiva familiarização com técnicas e processos mais produtivos.
Finalmente, a consolidação da unidade económica nacional exige que se conceda uma especial relevância aos investimentos ou modalidades de política que criem ou fortaleçam relações de interdependência ou de carácter complementar da economia das diferentes parcelas do território português.

2. Projecções

63. A fixação de metas quantificadas para os sectores de actividade, a que se pi acedeu na elaboração do Plano para Moçambique, permite supor, por comparação com iguais tendências registadas no passado, que se dê uma elevação no ritmo de acréscimo do produto nacional no período do III Plano de Fomento tentar-se-á analisar se essa elevação é compatível com a previsível evolução de ou ti as grandezas económicas globais, para as quais existem algumas informações relativas ao seu comportamento no passado.

64. Os trabalhos preparatórios do 111 Plano de Fomento para Moçambique não forem conduzidos segundo métodos de programação descendente, quer por impossibilidade de o fazei no momento presente por insuficiência de elementos estatísticos básicos, incluindo os de contabilidade nacional, quer por se ter achado mais conveniente tentar um método ascendente, que seria aferido, sempre que possível, por métodos macroeconómicos de análise.
A tentativa efectuada não tem, portanto, a pretensão de substitui! grosseiramente uma análise daquela ordem, mas apenas a de ensaiar uma hipótese de evolução, relativamente u qual se possam tirar ilações úteis em termos de política económica, na medida em que se tomem salientes determinados factores condicionantes de uma evolução mais favorável da economia moçambicana.
Ainda aqui se supõe estar a ser coerente com aquilo que pode ser designado uma «dominante» do processo de planeamento adoptado, isto é, a averiguação, a todos os níveis, das dependências e carácter complementar que os projectos (entendidos num sentido amplo) mantêm entre si e com o complexo económico De facto, esta averiguação conduziu, muitas vezes, a suscitar novas necessidades, a reformular os projectos apresentados e também a fornecer orientações para a política económica.

65. Os elementos de base utilizados para esta análise resultam dos trabalhos efectuados pela Missão de Estudo do Rendimento Nacional do Ultramar (M E R N U.), com ligeiras adaptações necessárias para o seu melhor manuseamento.
Os primeiros elementos divulgados durante o ano de 1965 abrangem apenas os circuitos monetários, deixando de fora fluxos de grande importância paia a economia provincial, como seja a fracção representada pela produção paia autoconsumo.
Apesar de se ter recorrido à utilização de processos expeditos de cálculo e de, portanto, serem de admitir correcções posteriores, conforme prevenção inicial feita pela própria Missão, estes resultados foram acolhidos com o maior interesse, por se tratar da primeira tentativa de contabilização das grandezas económicas globais de Moçambique, em todos os anos do período de 1953 a 1962.
Muito recentemente foram elaboradas novas séries estatísticas pela Missão, integrando já o ano de 1963, mas não possibilitando comparação com as primitivas séries, por passarem a abranger indistintamente fluxos monetários e não monetários Sucede, por outro lado, que

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para a consideração dos fluxos não monetários foi utilizado um critério que se pode qualificar de demasiado amplo.
Após atenta avaliação de uns e outros elementos, foi decidido que seria mais útil aos propósitos existentes considerar quase exclusivamente as grandezas consubstanciadas em fluxos monetários, apesar do carácter precário que a Missão atribui a tais dados.
Sobre estes elementos de base foram então elaboradas novas séries estatísticos, a preços constantes, que constituem a fonte das tendências de crescimento adiante apontadas. Para o ano de 1963 foi feita uma estimativa com base nos valores indicados para o conjunto dos fluxos monetários e não monetários.

66. O crescimento do produto interno bruto processou-se, no período de 1953 a 1962, à taxa média anual acumulada de 6,5 por cento. Este ritmo está, no entanto, muito dependente do forte acréscimo verificado no ultimo ano, de facto, se o ano de 1962 for excluído, a tendência será apenas de 5,8 por cento.
Já anteriormente se referiu que este ritmo rápido de crescimento se explica quer pela expansão verificada na capacidade produtiva da província, quer pela progressiva passagem à economia monetária de extractos da população vivendo até ai quase exclusivamente em regime de autoconsumo.
Quer dizer a evolução das grandezas macroeconómicas, considerando apenas os fluxos monetários, inclui precisamente um factor de grande importância para o estudo da evolução da economia moçambicana, que é a progressiva integração da população em economia de transição na economia do mercado.
Ao mesmo tempo esta indicação permite animar que é algo inferior o ritmo de progresso verificado na economia moçambicana no seu todo.
De facto, as mesmas taxas para os valores indicados pela Missão como respeitando ao conjunto de fluxos monetários e não monetários são apenas de 3,6 por cento para o período de 1953 a 1962, e de 8,2 por cento, se for excluído o último ano.
As taxas de crescimento elevadas com que se vai trabalhar - correspondentes apenas aos fluxos monetários - não devem, pois, permitir a ilusão de que se está a atravessar uma fase de progresso muito rápido da economia provincial.
Segundo os últimos duelos publicados pela Missão, no ano de 1963 ter-se-ia mantido um ritmo de descimento superior ao do anterior decénio De acordo com a destrinça efectuada, avalia-se em 7,5 por cento a taxa de acréscimo comparativamente ao ano anterior.
À evolução do período de 1964 a 1967 será objecto de uma análise posterior, por agora dir-se-á apenas que se deve ter verificado um abrandamento na expansão, particularmente nos primeiros anos deste período.

67. A hipótese de passagem para um ritmo de acréscimo superior no período de 1968 a 1973 corresponde às previsões sectoriais efectuadas, em que se teve particularmente em atenção o programa de investimentos públicos proposto. Teria assumido o maior interesse. O desdobramento do produto interno bruto pelos diferentes sectores de actividade e que, portanto, se tivesse considerado de uma forma mais precisa o previsível comportamento da actividade privada no mesmo período. Porém, a deficiência dos elementos estatísticos disponíveis para o efeito não o permite.
Ao mesmo tempo, leve-se em mente a orientação genérica, já várias vezes expressa, de redução das disparidades do nível de vida entre as diversas parcelas do território nacional.
Se se quiser exprimir quantitativamente esta orientação, ocorre naturalmente a comparação com o ritmo de crescimento programado para a metrópole. No Plano Intercalar de Fomento havia sido previsto um descimento do produto interno bruto de 6,5 por cento por ano, se se tiver em consideração, por um lado, que é muito superior a fala de crescimento demográfico em Moçambique (a previsão paia o período de 1968 a 1973 é de 1,6 por cento por ano, ao passo que na metrópole é inferior a 1 por cento por ano) e, por outro lado, que, de acordo com as considerações atrás expostas, o ritmo de crescimento para o conjunto da economia é muito inferior ao da fracção susceptível de sei traduzida em termos monetários, verifica-se que o aumento do produto interno bruto (fluxos monetários) em Moçambique teria de progredir um taxa superior a 10 por cento por ano para que tal objectivo fosse atingido.
Não parece realista supor um descimento desta ordem ou mesmo aproximado
Por outro lado, a disponibilidade de meios humanos, técnicos e financeiros em que se baseou a preparação do Plano não parece possibilitar a manutenção de uma taxa de crescimento para o produto (fluxos monetários, o não monetários) a um nível idêntico ao da metrópole.
Deste modo - e com base unicamente no produto interno bruto a preços de mercado (fluxos monetários), sobre a evolução do qual vai incidir toda a análise posterior -, não parece possível prever mais que uma aceleração do crescimento até agora verificado, u um nível compatível com as previsões sectoriais efectuadas.
Admite-se que o crescimento se processe no período de 1968 a 1973 a uma taxa média anual na vizinhança dos 7 por cento, com tendência para um ligeiro acréscimo na parte final do mesmo período, que se concretizai ia uma taxa de 7,2 por cento no biénio de 1972-1973 - Já se acentuou que estes elementos têm um relativo carácter programático, pi e tendendo-se apenas fornecer enquadramento que permita ajuizar da sua compatibilidade com a evolução de outras grandezas económicas que poderão ser objecto de uma previsão aproximada.
A verificação da compatibilidade global da evolução adoptada em princípio vai ser efectuada através da projecção do modelo geral da economia, relacionando a soma dos recursos e das aplicações, para todo o período do III Plano de Fomento.
A projecção será feita tomando como base as tendências registadas no passado e as implicações mais importantes dos programas sectoriais estabelecidos.
Considerando que os últimos elementos referentes a estas grandezas se acham reportados a 1962, havendo ainda algumas informações paia 1968, é também necessário adoptai determinadas hipóteses de evolução para o período intermédio, isto é, para os anos de 1964 a 1967.

68. Como elementos de base, apresentam-se no quadro seguinte os valores absolutos e relativos para os anos inicial e final do período de 1953 a 1962, a que se acrescenta o do ano de 1963, elaborado da maneira já exposta, e ainda o de 1960, considerado característico, já que, a partir daí, a evolução das diversas grandezas sofre uma alteração de comportamento relativamente ao período anterior Esta última afirmação pode ser documentada pela comparação das taxas médias anuais de crescimento para os períodos do 1954 a 1960 e 1954 a 1%2, que também constam do mesmo quadro

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Estrutura e evolução das componentes da despesa nacional (1963-1963)

Preços de 1962 (unidade - milhão de escudos)

(Ver Quadro na Imagem).

(a) Estimativa.

As notas mais flagrantes da evolução neste período podem ser sintetizadas assim.

Até 1960 só o consumo privado cresce a um ritmo inferior ao do conjunto da despesa como consequência, diminui a sua participação na despesa total e aumenta, correspondentemente, a participação dos outros sectores.
A formação bruta do capital fixo cresce a um bom ritmo, atingindo a elevada participação de 18 por cento em 1960, a balança de transacções correntes passa a apresentar um saldo francamente negativo.
Após 1960 (na realidade não há mas demarcação rígida, sucedendo até que, em grande parte dos casos, os efeitos mais sensíveis se verificaram após 1961), dá-se uma aceleração no ritmo de crescimento da produção interna, mas diminui sensivelmente o volume de recursos destinados à formação de equipamento em favor dos consumos privado e público, é particularmente relevante a subida verificada no consumo privado, que passa a representar 69,5 por cento da despesa em 1962, percentagem superior a de todo o decénio anterior.
Segundo a estimativa realizada para 1963, com base nos valores indicados para o conjunto dos fluxos monetários, o produto teria acusado um acréscimo, importante relativamente a 1962, de cerca de 7,5 por cento, e mantinham-se ou agravavam-se as tendências definidas para os dois anos anteriores.
A fim de realizar a projecção paia o período do III Plano, houve, como se disse, que adaptar uma hipótese para a evolução no triénio de 1964 a 1966, para o qual só existem elementos parcelares.
Em linhas gerais, a evolução ter-se-ia processado do seguinte modo.
O produto interno bruto terá acusado uma redução no ritmo de crescimento, que orçaria sensivelmente polo mesmo ritmo do período de 1953-1960.
O consumo público teria continuado a absorver uma fracção minto elevada dos recursos, que se situaria mesmo acima dos 20 por cento, a partir de 1965.
Manter-se-ia sensivelmente o deficit da balança de transacções correntes.
A formação bruta de capital fixo acusaria a mesma tendência regressiva nos primeiros anos do período, para recuperar para o final.
O consumo privado, finalmente, teria crescido a um ritmo inferior ao do triénio anterior, mas correspondendo a um ritmo anual de acréscimo de cerca de 7,5 por cento, a partir de 1960.
Em resumo, tender-se-ia, na parte final do período de 1964 a 1966 (e também se prevê que tal se posse em 1967) v para um reequilíbrio na composição da despesa total, voltando o consumo privado a assumir uma importância relativa comparável à do decénio anterior e aproximando-se a formação bruta de capital fixo da participação normal, embora ficando ainda um pouco aquém, no mesmo período

69. No quadro a seguir, de estrutura análoga ao anterior, são quantificadas estas hipóteses, e também se indicam os valores correspondentes para o período de 1968 a 1973.

Estrutura e evolução das componentes da despesa nacional (1963-1973)

Preços do 1962 (unidade: milhão de escudos)

(Ver Quadro na Imagem).

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70. No processo de feitura destas previsões elaboraram-se duas projecções relativamente autónomas as referentes ao consumo do Estado e ao movimento com o exterior Por sua vez, as projecções do consumo privado e da formação bruta de capital não foram feitas de modo a assegurar a coerência do modelo, tomando como base o aumento da produção interna no ritmo previsto e as respectivas tendências detectadas em períodos anteriores.
Quanto ao consumo do Estado, utilizaram-se os valores conhecidos do período de 1963 a 1965 e seguiram-se as previsões contidas no estudo financeiro para o período posterior, tendo sido necessário fazer a redução a preços constantes. Em qualquer dos casos, foi feita análise particularizada no que se refere aos encargos dos serviços autónomos.
No que se refere às exportações e importações de bens e serviços, calculou-se primeiramente a tendência de crescimento das duas grandezas no passado Em seguida procurou determinar-se para que nível evoluiriam essas taxas, com base na projecção das componentes, em especial transacções de mercadorias, turismo e transportes, integrando os efeitos conhecidos dos projectos que consubstanciam o Plano Após a redução a preços constantes, estimaram-se as taxas de descimento das exportações e das importações no período do III Plano de Fomento e, como resultado, derivaram os saldos que suo indicados no quadro.

71. Pelo quadro anterior se pode verificar que o esforço de investimento a um ritmo acrescido constitui uma das bases do modelo proposto. Após a ligeira recuperação que só espera ter-se verificado no período final do triénio de 1964 a 1966 e se mantenha no ano seguinte, mas que não deve conseguir elevar a formação de capital fixo para uma participação no conjunto da despesa nacional superior a 15,5 por cento, admite-se que o seu crescimento se processe a uma taxa anual de 10,8 por cento, de modo a elevar a sua participação na despesa nacional para cerca de 19 por cento em 1973.
Esta participação pode considerar-se muito favorável, mas deve notar-se que não se afasta muito da verificada nalguns anos do período de 1953 a 1960 e particularmente nos últimos.
Do mesmo modo se notará que o coeficiente marginal capital/produto correspondente a esta projecção se pode considerar bastante baixo, mas funda aqui não há uma diferença sensível em relação no período anterior, segundo os elementos da contabilidade nacional conhecidos. Por outro lado, não pode esquecer-se que o aumento da produção interna, derivado do das culturas tradicionais da população autóctone, que constitui um dos pólos dominantes da programação sectorial efectuada, se considera possível com um montante de investimentos relativamente reduzido Acrescente-se também que, em relação ao programa de investimento público proposto, se procurou seguir, tanto quanto possível, o critério da preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida reprodutividade, o que se espera venha a reflectir-se beneficamente no período do III Plano de Fomento.
Aliás, não parece ter grande significado paia Moçambique, como também para outros territórios africanos, raciocinar em termos de coeficiente capital/produto. De facto, os efeitos mais significativos no campo da proclamação podem ser obtidos através de simples tarefas de organização, de assistência e de vulgarização técnica, e, por outro lado, parte do aumento da produção interna esperada resulta de uma entenda no merendo de produção actual. Ao mesmo tempo, não devem esquecer-se as possibilidades, ainda tão insuficientemente exploradas, de conversão directa do trabalho em investimento, através de uma inteligente orientação do esforço das populações, o que obviamente resultará num reforço do capital fixo acumulado sem contrapartida na utilização de recursos financeiros anteriormente criados.
Referindo agora o consumo privado, notar-se-á a taxa de acréscimo reduzido do período do 1964 a 1967. A redução no ritmo de crescimento, que se supõe ter-se verificado, corresponderá, por um lado, ao abrandamento na expansão do produto e, por outro lado, a um reequilíbrio da sua participação normal na defesa nacional De facto, muito embota o ritmo anual de descimento seja inferior a 5 por cento neste período, o valor indicado para 1967 corresponde 11 um ritmo de acréscimo elevado relativamente a 1960 - cerca, de 7,5 por cento ao ano.
No período do III Plano de Fomento assistir-se-á, provavelmente, a uma elevação no ritmo de acréscimo do consumo privado, que passaram a ser 6,4 por cento ao ano, correspondendo a expansão do produto, mas estando implícita uma coita contracção - a promovei por medidas apropriadas de modo que n sua participação na despesa nacional não exceda 04 por cento no final do III Plano do Fomento.
Por sua vez, o consumo público, cuja participação .na despesa aumenta nos últimos anos, de acordo com elementos conhecidos, veria a sua importância diminuída no período do III Plano de Fomento, de modo que pouco excederia 18 por cento no ano terminal.
Manter-se-á, provavelmente, o desequilíbrio da balança de transccões correntes, mas espera-se que actue uma tendência para o equilíbrio.
De facto, segundo o processo anteriormente descrito, as taxas anuais de crescimento das exportações e das importações, no período de 1968 a 1973, seriam de 7,25 e 6,75 por cento, respectivamente. Quer dizer o déficit da balança, que se exprimiria entre 400 e 450 milhões de escudos anuais, tenderia a uma diminuição, mas o equilíbrio só viria a ocorrer muito mais tarde, cerca de 1983 e 1984.

72. Eis como é considerada, em termos aproximados a evolução das componentes da despesa nacional no período do III Plano de Fomento, na hipótese de que o ritmo de acréscimo da produção interna se situe ao nível anual dos 7 por cento, subindo para 7,2 por cento nos dois falamos anos do Plano.

73. Salientem-se, agora, as, principais exigências do modelo apresentado.
A primeira nota importante diz respeito & necessidade de mobilização dos recursos financeiros disponíveis para investimento a uma cadência francamente superior a verificada a partir de 1960 Admite-se que o Estado e as instituições de crédito desempenhem um papel mais activo no processo de recolha das poupanças e as orientem para os investimentos mais reprodutivos. O problema assume aspectos muito diferentes conforme se trinta das poupanças provenientes do sector evoluído do economia ou das provenientes do pequeno empresário rural, qualquer deles, todavia, podendo ser objecto de formas de actuação para as quais existe um largo campo de experiências alheias que convém analisar e ensaiar

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Intimamente ligada a este problema está a necessidade de adopção de uma política decidida de refreamento da expansão dos consumos supérfluos, sem o que não será possível a descida da participação do consumo privado no conjunto da despesa nacional, ao ritmo assinalado, bem como ficará comprometida a evolução prevista para o saldo da balança de transacções correntes. Refere-se especialmente o ajustamento do regime fiscal.
Deve referir-se, por outro lado, que, dentro da óptica em que este Plano foi elaborado - em que se concede marcada importância à expansão das culturas tradicionais de população autóctone - e dada a elevada propensão ao consumo desta população, é de espetar um reforço substancial do seu poder de compra, que se traduza numa pressão adicional sobre o mercado da bens de consumo. Por isso mesmo se estima que o consumo privado progredida a um ritmo não muito inferior ao da despesa nacional, sendo, portanto, o comportamento daquele resultante de duas tendências opostas.
E também essencial à efectivação do modelo de desenvolvimento proposto a redução do ritmo de crescimento das despesas de consumo do Estado, quo atinge valores relativos elevados no momento presente A este respeito se anota aqui a necessidade da reorganização administrativa, insistindo-se na avaliação sistemática das desposas dos diversos serviços públicos em termos da produtividade.
Finalmente, o ritmo previsto da evolução dos saldos da balança de transacções correntes está estreitamente relacionado com a possibilidade de um forte acréscimo das exportações, chamando-se a atenção, especialmente, para a necessidade de o Estado desempenhar papel activo e complementar da iniciativa privada, promovendo a realização de estudos do mercado e de divulgação no estrangeiro e metrópole dos produtos de exportação moçambicana Com este objectivo, será atribuída alta prioridade a constituição, no organismo que for considerado mais adequado, de um departamento especializado em estudos de mercado A actual escassez de meios de pagamento sobre o exterior, característica, aliás, de todos os territórios subdesenvolvidos, actuará certamente como obstáculo a um crescimento rápido da economia, se não forem mobilizados esforços consideráveis na promoção e diversificação da exportação.

74. Os efeitos directos do Plano sobre a balança de pagamentos revestem-se da maior importância pelo facto de a balança se ter vindo a apresentar deficitária, afectando as reservas de divisas.

75. Nas componentes da balança de pagamentos o mais maior relevância a balança comercial e os invisíveis correntes, originados pelo sector dos transportes, cujos valores, por isso, se apresentam nos dois quadros seguintes em relação aos últimos anos.

Balança comercial de 1957 a 1965

Unidade: milhão da escudos

(Ver Quadro na Imagem).

Saldo dos invisíveis de transportes

Unidade: milhão de escudos

(Ver Quadro na Imagem).

É bem claro que a balança comercial é estruturalmente negativa e com tendência para se agravarem os saldos. Em 1965 o saldo negativo computou-se em 1 874 000 contos, ou seja, a balança sofreu um agravamento de cerca de 700 000 contos em quatro anos, apesar das medidas tomadas para modificar esta evolução.
Os transportes apresentam saldos positivos, que tendem a estabilizar-se a roda de 1,1 milhões de contos.

76. Nas projecções feitas a seguir, limita-se a análise, no aspecto de entradas e saídas de divisas, ao investimento público afecto ao III Plano, deixando-se de fora, uma análise específica relativa a alguns sectores, como o da indústria transformadora. Não se fez uma análise específica porque na previsão da evolução da balança de pagamentos, elaborada com base numa evolução do passado, contém-se também, pelo menos, parte da necessidade de divisas dos vários sectores de actividade e, portanto, do de transformação.

77. Uma das restrições a que está sujeito o III Plano de Fomento é o «equilíbrio monetário e financeiro, interno e externo». Sendo esta uma das condições básicas a que deve satisfazer o Plano, vai verificar-se quais serão os possíveis aumentos de entradas e saídas de divisas previstas, em resultado das medidas e projectos propostos.
O quadro seguinte contém os efeitos adicionais, anuais, em divisas, que resultarão da execução do Plano

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Efeitos estimados dos empreendimentos imperativos, constitutivos do III Plano, sobre a balança de pagamentos

Unidade: milhar da escudos

(Ver Quadro na Imagem).

Os valores que, com sinal negativo, aparecem nas colunas de saídas de divisas correspondem à substituição de importações.

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Para os cálculos dos efeitos em divisas foram deduzidos aos valores globais previstos com a execução do Plano aqueles que se obteriam sem a intervenção, isto é, subtraíram-se os valores dos saldos resultantes naqueles anos de uma evolução normal São, pois, resultados devidos unicamente à execução do Plano.
Pelos montantes anuais de entradas e saídas de divisas previstas no quadro, tem-se que, em 1968, primeiro ano do Plano, o efeito adicional será negativo (- 269 224 contos), pelo facto de os resultados só aparecerem com um certo diferimento, como é natural.
Nos anos que se seguem, os saldos suo positivos G sempre crescentes, com valores que vão de 17 000 contos, em 1959, a l 586 000 contos, em 1973.
Por outro lado, a partir de 1970, há uma substituição de importações, cujos montantes vão de 87 000 contos, em 1970, a 156 000 contos, em 1973, com valores que crescem regularmente ao longo do período.
Assim, espera-se que, no período de 1968 a 1973, o Plano contribua com um efectivo líquido positivo, para a balança de pagamentos, da ordem dos 3 630 000 contos, acrescidos de 490 000 contos resultantes de substituição de importações Isto é, os investimentos previstos para o III Plano de Fomento contribuem de forma acentuada para a melhoria do saldo da balança de pagamentos, verificando-se que, com a excepção do primeiro ano do Plano, a entrada de divisas é sempre superior às saídas, obtendo-se um efeito líquido directo francamente positivo e anualmente crescente.

78. Uma análise sumária dos sectores permitiu tirar as seguintes conclusões.
Os sectores de agricultura e povoamento são os que mais contribuem para o efeito adicional global - cerca de 76 por cento.
As substituições de importações são devidas apenas à agricultura, povoamento e pecuária, com relevo para a primeira.
A energia, os transportes (apenas os investimentos em estradas) e a saúde apresentam valores negativos, contudo, na energia não foram considerados os possíveis efeitos indirectos resultantes da sua utilização principalmente no sector das indústrias.
Na agricultura são notoriamente importantes os projectos de algodão e caju, cujos efeitos somam cerca de 2,9 milhões de contos, ou soja, cerca de 67,5 por cento do efeito do sector e 61 por cento do efeito total, o que denota a importância destes projectos, além desses, suo também importantes os casos do milho, regadios, banana e amendoim, cujos valores, embora inferiores aos anteriores, são, contudo, vultosos, atingindo cada um algumas centenas de milhares de contos.
Nos outros sectores são de realçar os seguintes casos

Zona D de povoamento (300 000 contos),
Jazigos de (...) de Pebane (132 000 contos) e aproveitamento hidroeléctrico do Alto Molócuè, cujo efeito, embora vultoso, como se prevê, foi, contudo, impossível determinar.

79. O turismo, que não é incluído no cômputo do quadro anterior, apresentou no quinquénio de 1960 a 1964 um saldo negativo de cerca de 390 000 contos Calcula-se que no período do Plano tenha um saldo positivo de 544 500 contos, passando de 40 500 contos em 1968, para 135 000 em 1973. Estes efeitos previstos não se podem considerar somente ligados ao Plano, por não se poder distinguir que efeitos serão devidos ao mesmo.

80. No que respeita aos transportes, no quadro anterior só se considerou o dispêndio, em divisas, na compra de equipamento para execução das estradas Não foi possível determinar o efeito proveniente da intervenção do Plano, mas fez-se uma previsão de entradas e saídas totais de dividas em cada um dos anos do III Plano de fomento.
A partir de 1968 espera-se que a evolução dos saldos dos invisíveis de transportes seja francamente favorável, passando dos 1 100 000 a 1 200 000 contos do período de 1959 a 1965 pai n 1450000 em 1968 e 1850000 em 1973.

Movimento de entradas e saídas de divisas previsto nos sectores de turismo e transporte no período de 1968 a 1973.

Unidade: milhar de escudos

(Ver Quadro na Imagem).

81. A evolução da balança de pagamentos prevista, sem a intervenção do Plano, no período de 1968 a 1973, se se admitir um desenvolvimento progressivo da tendência actual de forma regular, é a expressa no quadro seguinte, em que, por qualquer das três hipóteses consideradas, a balança se apresenta anualmente negativa

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Previsão dos saldos da balança de pagamentos sem intervenção do Plano

Unidade: milhar de contos

(Ver Quadro na Imagem).

Admitindo a evolução exponencial dos saldos globais (hipótese pessimista), o resultado a que se chegou, somando os efeitos adicionais estimados com a execução dos empreendimentos do Plano, embora se não considere a substituição de importações, é, de forma importante, corrector da evolução desfavorável, como se vê no quadro seguinte.

Previsão dos saldos da balança de pagamentos com a intervenção do Plano

Unidade: milhar de contos

(Ver Quadro na Imagem).

82. No período do III Plano, e apesar de não se ter considerado o efeito de substituição de importações e o efeito adicional dos sectores do turismo e transportes, os saldos obtidos a partir do terceiro ano (em que é praticamente nulo) são, pois, fortemente positivos, ultrapassando, em 1973, 1 milhão de contos.
Note-se que se não atendeu a que a subida de nível de vida, como consequência do desenvolvimento provocado pela execução do Plano, implicará maiores importações, não só de equipamento, como também de bens sumptuários, mas julga-se que tal estará compensado pela forma cautelosa como todos os valores foram estornados e com a esperada actuação dos serviços que intervêm na condução das importações.
Poder-se-á com relativa segurança concluir que os dispêndios em divisas na execução do III Plano de Fomento em investimentos públicos são compatíveis com a previsível disponibilidade de divisas no mesmo período e, mais do que isso, o Plano contribuirá de forma anualmente crescente para tornar positiva a balança de pagamentos, que se vem apresentando em posição de deterioração

83. Do balanço dos resultados previstos dos projectos imperativos e medidas constitutivos do III Plano, em termos do factor mão-de-obra e pessoal técnico, podem extrair-se os dados mais salientes.
Total de empregos criados pelas estruturas a aparecer devido a projectos e medidas.
Total de empregos criados nas empresas formadas.
Em 115 000 pequenas empresas familiares ............... 463 000
Em 3850 empresas médias ............................... 11 550
Total 493 787

Verifica-se, ainda, que o pessoal nos empregos criados pelas estruturas previstas pelos projectos e medidas será, por níveis de qualificação, o seguinte.

Indivíduos

Não evoluído ou autóctone não especializado 6 770
Não evoluído ou autóctone especializado 5 368
Evoluído ou alienígena especializado 4 854
Não classificado 2 250

84. No que respeita à mão-de-obra autóctone não especializada, teve-se em conta que os projectos recrutariam o pessoal nos próprios locais onde se executavam, já por serem em geral zonas sem problemas de mão-de-obra, já porque, na maioria dos casos, os próprios autóctones são os beneficiai ias dos projectos, constituindo-se em pequenas empresas familiares ordenadas e apoiadas pelas acções planeadas.
Assim, os 463 000 indivíduos que se espera virão a contactar com a economia de mercado sob uma forma mais intensa dizem respeito a mais de 115 000 pequenas empresas constituídas de novo ou, na maioria dos casos, simplesmente polarizadas pela acção de planeamento encarada.
No que, respeita aos 6770 indivíduos a contratar para as estruturas e meios de acção previstos pelos projectos, entendeu-se não existirem problemas, dada a experiência passada e o conhecimento das zonas onde actuarão essas estruturas.
Pelo que toca a mão-de-obra especializada - 5863 unidades -, antevê-se a sua formação em moldes simplificados, conforme foi encarado nos projectos sempre que se referiu a formação de monitores e práticos agrícolas ou pecuários.
Entende-se que, a medida das necessidades, será possível escalonar a sua formação acelerada com a colaboração dos serviços de extensão e a experiência que na matéria de formação de monitores autóctones se possur.

85. No que se refere aos 11 550 indivíduos alienígenas que se admite venham a ter colocação nas 3850 empresas médias a criar, foi entendido que não haverá inviabilidade na sua consideração Aliás, durante os trabalhos de compatibilização sectorial e regional, procedeu-se à redução das metas inicialmente previstas para certas zonas quanto a número de famílias a instalar. Nas restantes zonas e nos projectos de produções agrícolas e pecuárias tiveram-se também em atenção certas reduções, quer porque se pretendesse reduzir as metas a níveis considerados viáveis, em face da experiência exterior, quer porque se entendesse pouco conveniente engrossar exageradamente os caudais de migração já existentes em certas zonas da província Espera-se que nas forças armadas (desmobilizadas) e nas correntes imigratórias da província se encontrarão os colonos indicados para tais fins.
No relativo aos 4854 indivíduos especializados previstos para as estruturas de execução dos projectos e medidas, há que distinguir as suas diferentes categorias.

De formação superior .............. 330
De formação média ............... 1 307
De formação secundária ........... 2 873
De formação primária ............. 344
Total 4 854

Quanto ao pessoal de formação primária e mesmo secundária, entende-se que os saldos migratórios actuais, os desmobilizados e o aumento previsto de caudal de

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30 DE JUNHO DE 1967 1083

imigração proveniente da metrópole poderão satisfazer as necessidades determinadas pelo Plano.

86. No que respeita a técnicos de nível médio e superior é que o problema se pode considerar mais delicado.
Para a satisfação das necessidades previstas conta-se não só com um possível recrutamento de técnicos metropolitanos, mas também com a formação de técnicos nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique e institutos médios.

87. Prevê-se que a necessidade de técnicos de formação média só repartirá assim:

Professores primários 1 131
Regentes agrícolas (inclui regentes pecuários de
formação especial por cursos previstos nos projectos
de pecuária e educação) 98
Agentes técnicos 17
Topógrafos 29
Diversos (contabilistas, etc) 32
Total 1 307

No que respeita aos agentes técnicos, topógrafos o diversos, entende-se que as necessidades não excedem, pelo contrário, as capacidades de formação das respectivas escolas nos seis anos do Plano.
Em geral, o escalonamento é curto, visto os primeiros anos, de 1968 e 1969, serem os de maiores exigências Porém, ns necessidades são também reduzidas.
No relativo a regentes agrícolas, as necessidades correspondem a 17 indivíduos por ano Entrará em funcionamento, este ano, uma escola de regentes agrícolas.

Alunos que frequentam os Estudos Gerais Universitários de Moçambique no ano lectivo de 1966-1967

(Ver Quadro na Imagem).

(a) Estes cursos não existem nos Estudos Gerais Universitários do Moçambique. Os alunos indicados para eles estão a frequentar cadeiras dos cursos existentes que são comuns as dos cursos pretendidos.

Quaisquer saldos não satisfeitos poderão ser supridos, a titulo provisório, por indivíduos com cursos secundários com formação prática.
Quanto aos professores, há 800 indivíduos formados que não estão exercendo a profissão, por os quadros os não comportarem. Os 813 adicionais estão dentro das dimensões da formação das escolas do magistério da província (cerca de 60 professores por ano, em média).

88. Onde surgem as maiores dificuldades quanto a técnicos a contratar é no relativo a pessoal de formação superior.
Segundo as necessidades previstas para o Plano, ter-se-ão de conseguir.

Médicos ...................... 152
Agrónomos ..................... 19
Veterinários .................. 27
Silvicultores ................. 2
Engenheiros de minas .......... 11
Geólogos ...................... 19
Engenheiros petrógrafos ....... 2
Engenheiros geógrafos ......... 6
Engenheiros químicos .......... 8
Engenheiros geofísicos ....... 2
Engenheiros civis ............. 17
Engenheiros electrotécnicos .... 3
Engenheiros mecânicos .......... 3
Diversos - para leccionar em cursos secundários e médicos .... 59
Total ..... 330

No tocante aos licenciados com maior número exigido - os médicos - foi reconhecido que os Estudos Gerais Universitários poderão contribuir, em média, com vinte médicos por ano Tal facto implica que os Serviços de Saúde tenham de conseguir o contrato de cerca de cinco médicos por ano nas Universidades metropolitanas.
No relativo a técnicos de formação muito especializada, como sejam os petrógrafos, geofísicos e outros, como os

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1084 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

geógrafos, há que recorrer à metrópole, para o que deverão ser envidados esforços pelos próprios serviços que deles necessitam.
No que respeita aos engenheiros silvicultores, electrotécnicos e mecânicos, reconhece-se a possibilidade da sua formação pelos Estudos Gerais, já pelo seu reduzido número, já pela possibilidade de escalonamento de preenchimento de lugares.
Quanto a engenheiros de minas, geólogos e parte dos engenheiros químicos, a sua necessidade surge devido à cartografia geológica e prospecção, que, por vir a sei entregue por empreitadas, não constituirá problema estatal.
No tocante a veterinários, tem-se uma necessidade de cinco indivíduos, em média, por ano, contando-se com a possibilidade de desempenho de tarefas duplas» por alguns dos veterinários que forem sendo contratados, até ao total preenchimento dos quadros. Os Estudos Gomis têm capacidade para satisfação destas necessidades até ao fim dos seis anos.
No relativo aos engenhou os civis e agrónomos, crê-se que é possível a sua formação nos Estudos Gerais.
Os outros licenciados diversos poderão ter de ser recrutados na metrópole, em número que se prevê à volta de 40.

89. Em síntese, ter-se-á de recorrer a metrópole na obtenção de cerca de

30 médicos,
60 outros indivíduos com cursos superiores,
50 a 60 regentes agrícolas, se se admitir o desempenho provisório do certos lugares que deveriam ser preenchidos por indivíduos de formação secundária, preparados em cursos de formação prática acelerada, com o auxílio dos serviços de extensão.

90. Interpõe-se aqui problema que se enquadra também dentro da questão da reorganização administrativa de que carece a província, pois poder-se-á diminuir as necessidades a que se chegou, para a execução do III Plano, quanto a técnicos superiores, com relevo para os agrónomos e veterinários, visto ser admissível dar-se melhor aproveitamento aos actuais.
Sabe-se que há técnicos absorvidos por problemas burocráticos, sabe-se também que mesmo o trabalho técnico poderia ser multiplicado pela utilização conveniente de técnicos médios e mesmo práticos, tanto nos casos dos agrónomos como nos dos veterinários.
Para não se deixar completamente desapoiadas as ideias que se expressaram, dá-se o exemplo da veterinária.
O quadro que se insere a seguir permite verificai ser em Moçambique que se encontra o maior número de veterinários por animais de exploração, comparando este território com Angola e os países da parte meridional de África.
Chama-se a atenção para o seguinte.

Em Moçambique há 20 000 bovinos por veterinário, vindo a seguir a África do Sul, com 24 000, Angola, com 29 000, e o Malawi, com 51 000.
Em termos de cabeças normais, vem outra vez Moçambique à frente, com 22 000 cabeças por veterinário, depois Angola, com 32 000 cabeças, a África do Sul, com 33 000, e o Quénia, com 36 000.

Visto de outro modo, Moçambique dispõe de 54 veterinários para 1 209 000 cabeças normais, dispondo a Tanzânia dos mesmos veterinários para 9 529 000 cabeças normais Com mais de 54 veterinários só aparece a Rodésia, com 64 (mas tendo 3 981 000 cabeças normais), e a África do Sul.

Animais de exploração e numero de veterinários existentes na zona sul da África no ano de 1965

Unidade: milhar de cabeças

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Para a redução a cabeças normas foram utilizados os coeficientes do arrolamento feito em 1955 na metrópole 1 cabeça normal = 1 bovino - 1 equino ou ninar - 2 anímicos - 11 ovinos - 11 caprinos - 4 suínos.
(b) Verifica-se que não há coincidência entre os números aqui considerados e aqueles com que se trabalhou no decorrer destes estudos. Entendeu-se não se deverem fazer correcções, pois, desconhecendo-se o método de recolha utilizado pela F A O, poder-se-ia eliminar a comparabilidade entre aqueles países, Angola e Moçambique.

Fonte Anuário de Sanidade Animal da F A O

Pode concluir-se que Moçambique tem disponibilidades em técnicos paia fazer face a efectivos pecuários muito superiores aos existentes, o que significa que os técnicos estão a trabalhar a nível de produtividade inferior ao que poderiam, sejam quais forem as condições em que a pecuária se insere na economia.
Daqui se poderá concluir que o número de técnicas superiores não constituirá estrangulamento ao III Plano, desde que se proceda às reorganizações que se impõem.

91. Sintetizando do ângulo de visão que se considerou - o da mão-de-obra e técnicos - só no pessoal

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técnico o problema se mostra delicado, verificando-se uma carência mais difícil de solucionar no caso dos regentes agrícolas, o que obrigará a tomarem-se medidas adequadas para o efeito Outro tanto será necessário considerar no problema dos restantes técnicos superiores.

Efeitos globais a escala regional e definição de zonas do desenvolvimento no período de 1968-1973

1. Estratos de desenvolvimento

92 Um balanço final das realizações pi ejectadas no III Plano de Fomento e da sua localização permitiu a definição dos seguintes tipos de estratos na província de Moçambique.

Esbato A

Nele predominam as regiões de mais intensa produção, onde se localizam precisamente as principais culturas e efectivos pecuários da economia da província. Envolve também as zonas industriais, as zonas de influência do comércio do interior e as zonas de influência das principais vias de comunicação.

Estrato A'

Ao procurar, no III Plano, actuar decisivamente sobra a pecuária e sobre as principais culturas que não oferecem problemas de mercado, programou-se um acção que tem como objectivo um aumento de produtividade das explorações já existentes e um alargamento das áreas cultivadas por agricultai. Os programas estabelecidos consistiram, fundamentalmente, em intensificar a acção e os meios de trabalho dos serviços de extensão, bem como melhorar as possibilidades de recolha das produções, procurando, tonto quanto possível, garantir preços mínimos e dar vida aos serviços de armazenagem.

Estrato A''

Este estrato envolve regiões que já tinham algum desenvolvimento, mas necessitam, para evoluir para outro estádio, de uma actuação concentrada. Tal é o caso das zonas incluídas nos projecto dos regadios e das zonas A1, D, F e K1 dos esquemas de povoamento.

Estrato B'

Compreende as regiões em que, por via do alargamento dos meios de acção anteriormente referidos, se tem em vista conseguir um aumento das áreas em exploração económica Tais novas áreas virão, assim, a adquirir a natureza das regiões actualmente incluídas no estrato ª

Estrato B''

Compreende as regiões que, não estando incluídas no estrato A, e podendo, portanto, considerar-se como economicamente inactivas no presente, se pretende estimular através dos projectos e medidas contidas no III Plano.
São zonas que, tendo boas condições ecológicas para as finalidades propostas, serão chamadas a actividade económica através de medidas de acção mais concentradas, prevendo-se para elas a mesma evolução que só prevê para as zonas do estrato A".

Estrato C

Após esta caracterização, restam no território da província diversas regiões que integram o estrato C Nelas não está prevista acção especial no III Plano, exceptuando a criação de vias de transporte que garantam a ligação das zonas activadas ou das actualmente activas, ou de vias justificados por motivos extra-económicos.
Estas regiões caracterizam-se, aliás, por terem, na generalidade, piores condições ecológicas e muito baixa densidade de população, ou exigirem para o seu aproveitamento um grande volume de investimentos.
Incluem-se regiões que, paia o seu aproveitamento, exigem grandes trabalhos ou investimentos de base de efeito retardado, tais como:

Obras de regadio (foz do Zambeze),
Trabalhos de hidrogeologia (zonas M e O no Sul do Save)

2. O equilíbrio entre os estratos activos e as vias de transporte

93. Quando se efectuou a compatibilização intersectorial, o programa das estradas foi considerado à luz das necessidades de se garantirem ligações entre os zonas economicamente activas.
Daí resultou uma autêntica espinha dorsal de estradas no sentido norte-sul e de alguns ramos penetrantes, tais como os dos distritos de Tete e de Cabo Delgado e Niassa Como, por motivos extra-económicos, foram sugeridas ou ti as vias de transporte, verificou-se que mesmo as legiões de estrato C ficam dotadas de estradas que garantem a circulação todo o ano.
Daqui se pode inferir que no próximo Plano eventualmente poderá ser chamada à actividade económica boa parte do estrato C.

3. As zonas deprimidas

Norte doa distritos do Niassa e Cabo Delgado (com excepção do planalto dos Macondes e da região litoral)

94. Trata-se de região de baixíssima densidade populacional, de condições ecológicas em geral pouco favoráveis e que não era servida por uma rede de estiadas de carácter permanente.
A região ficará, com o presente Plano, servido por uma rede de vias de transporte, o que possibilitará a progressão, para o Norte, das actividades económicas centradas nas zonas D e A, em modalidades de aproveitamento que sejam compatíveis com a ecologia Cita-se em especial o vale do rio Lugenda, que represento especiais características para aproveitamento em regadios com pequenas bombagens.
A razão por que não se propuseram regadios na zona em causa, mas antes no Sul do província, reside no facto de este não oferecer garantia pluviométrica para as culturas de sequeiro, tornando-se aqui muito mais premente a necessidade do regadio.

Zona central do distrito de Tete

95. Nesta zona, o maior problema tem sido o da inexistência de uma cultura de rendimento que sirva de suporte ao desenvolvimento da região, a qual não justificou o estabelecimento de uma rede de vias de transporte permanentes. À própria pecuária nunca foi possibilitada uma expansão, por falta de um sistema de preços incentivador.
No futuro vislumbra-se, para a legião, todo um desenvolvimento assente noutras perspectivas o aproveitamento da Cabora-Bassa, com produção de energia a custos muito baixos, que possibilitará a expansão da actividade transformadora de minérios e sua extracção (carvão, feno, manganês, etc. ).

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ACTAS DA CAMARÁ CORPORATIVA N.º 56 1086

Outro tipo de aproveitamento a mais longo prazo é o do estabelecimento de grandes regadios, com base em barragens a construa. Tal realização considera-se remota pelo facto de, eventualmente, se virem a realizar em primeiro lugar na província os regadios por bombagem, de investimentos muito mais baixos.

Delta de Zambeze e seu prolongamento até à Beira e vale do Urema

96. No que respeita ao aproveitamento do delta do Zambeze e valo do Urema, são necessárias grandes obras de rega e de enxugo Pêlos investimentos que tais trabalhos implicariam, o desenvolvimento desta região tornava-se incompatível com a dimensão do presente Plano.

Zona a norte do Save

97. De Nova Sofala até um pouco ao sul de Espungabera, a zona irá beneficiar grandemente da melhoria do sistema de comunicações, se bem que a sua parte mais próxima do litoral não tenha grandes possibilidades de evolução por serem bastante fracas as condições ecológicas.

Região a sul do Save (zonas M e O)

98. Estas zonas têm aptidão para a criação de godo, mas com deficientes condições de abeberamento.
Para o período do III Plano de Fomento estão previstos os estudos hidrogeológicos necessários à execução posterior de captações de água que permitam transformar o Sul do Save na grande regulo pecuária de Moçambique.
Entretanto, os projectos da pecuária prevêem, também, uma intensificação da assistência sanitária, da organização da comercialização e das condições de abeberamento.
A expansão das zonas de relhos e novos regadios nos rios Limpopo e dos Elefantes está dependente das obras de represamento no Massingir.

99. Crê-se, pois, que, concretizados os empreendimentos propostos para o III Plano de Fomento, se terão criado as condições necessárias para, no Plano seguinte, se chamar à actividade económica grande parte do território agora considerado deprimido.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

100. Foiam previstos empréstimos directos da Administração Central no montante global de 2 240 000 contos, ou seja cerca de 370 000 contos anuais.

101. Dado o esquema de investimentos que está previsto paia o sexénio de 1968-1973 e consideradas as possibilidades das outras fontes financeiras, há necessidade de que estes empréstimos se escalonem do seguinte modo.

Milhares
de
contos
1968 .............................. 471,2
1969 .............................. 389,5
1970 .............................. 372,7
1971 .............................. 278,7
1972 .............................. 355,3
1973 .............................. 372,6
Total ........................... 2 240
_____________
Verifica-se assim que para se concretize o programa de investimentos é necessário exceder o valor médio de 370 000 contos anuais em 1968, o que é compensado por uma menor contribuição em 1971.

2. Administração provincial

102. Considerando-se o estudo elaborado sobre a evolução financeira da provirem, verifica-se que a poupança do Estado no período de 1968 a 1973 totaliza 3 043 800 contos, obtidos conforme o quadro seguinte (elaborado com base nos elementos dos cinco quadros que se juntam em sua sequência).

Primeira previsão da poupança do sector público no período de 1968-1973

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 1087

Previsão da receita ordinária (excluídas as receitas consignadas)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Considerando que só recomeça a cobrança da taxa de 1 por cento do emolumentos gerais aduaneiros do artigo 22.º da tabela aprovada pelo Decreto n.º 31 863.

Previsão das receitas ordinárias consignadas (excluídas as receitas dos serviços autónomos)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui-se a receita proveniente de multas cobradas por violação da lei sobre a utilização do selo de defesa nacional

Previsão das despesas ordinárias

(a) Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Excluem-se as despesas dos serviços autónomos

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 1088

Previsão das receitas dos serviços autónomos (a)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Em relação às receitas dos serviços autónomos não estão consideradas as verbas relativas à utilização de saldos dos exércitos findos, subsídios e, também, as verbas concedidas ao abrigo do Plano de Fomento.

Previsão das despesas dos serviços autónomos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

103. As receitas arrecadadas pelo lançamento de alguns impostos encontram-se, porém, correlacionadas com o rendimento nacional da província. Estimativas dessas receitas foram obtidas considerando uma taxa anual de 6 por cento para o descimento do rendimento nacional. Essa taxa foi inferior à de 6,5 por cento observada no período de 1955 a 1961.
Ora um dos objectivos do programa que se propõe consiste, exactamente, em se aumentar o ritmo de crescimento do rendimento nacional. As estimativas já estabelecidas a este respeito fazem prever que, durante os seis anos de vigência do III Plano do Fomento, aquela grandeza crescerá ao ritmo anual de cerca, de 7 por cento, a preços constantes, o que dá, origem a um ritmo de acréscimo superior, tendo em conta a normal elevação dos preços.
Se desde logo se tomarem as medidas convenientes, é de prever que as finanças públicas venham a beneficiar desse acréscimo de riqueza.
Tendo em conta essa aceleração da evolução do rendimento nacional, corrigiram-se os saldos orçamentais previstos para os valores seguintes, passando a taxa anual de acréscimo de 6 por cento para 7 por cento, que, como se disse, ainda é inferior ao ritmo que se considera possível em termos de preços correntes, nos quais tem sido realizada toda a análise financeira.

Poupança do sector público no período de 1968-1973, corrigida (em milhões de escudos)

1968 ...................................................... 495,9
1969 ...................................................... 543,5
1970 ...................................................... 619,1
1971 ...................................................... 660,9
1972 ...................................................... 693,2
1973 ...................................................... 701,1
____________
3 713,7
____________
104. Sabe-se que boa parte da actividade a que se tem entregado o Fundo de Fomento Pecuário está considerada no programa proposto para o III Plano de Fomento.
Deste modo, deverá desafectar-se deste Fundo grande pai te das receitas que arrecadará (estima-se em cerca de 20 000 contos anuais), pois de outra forma estaria a errar-se por duplicação de verbas.
Entende-se assim possível retirar, no período do III Plano de Fomento, perto de 100 000 contos, que serão afectados ao financiamento do mesmo.

105. Terá também de se considerar que o acréscimo esperado da produção agro-pecuária deverá exercer efeitos sobre o montante das taxas cobradas pelos fundos e institutos ligados ao sector. Entendeu-se que, à medida que se materializassem, essas receitas adicionais seriam em parte afectadas a empreendimentos previstos no mesmo sector. As estimativas feitas levam a admitir, desde já, as seguintes verbas susceptíveis de serem usadas para financiar parcialmente aqueles empreendimentos.

Contos

Fundo de Fomento Orizícola ................................ 10 000
Instituto dos Cereais ..................................... 10 000
Taxa de Exportação do Caju ................................ 28 000
Fundo de Fomento Algodoeiro ............................... 31 000
Instituto do Algodão ...................................... 74 000
_____________
Total ............... 153 000
_____________

106. Haverá que referir também a possibilidade de aumento de receitas dos correios, telégrafos e telefones.
Este departamento autónomo fez já algumas propostas susceptíveis de aumentarem as suas receitas com um acréscimo anual de 5400 contos.
Cautelosamente e para cômputo, considerou-se somente aquele acréscimo de receitas a partir de 1969, inclusive.

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30 DE JUNHO DE 1967 1089

107. Ainda há que citar uma receita adicional de 4000 contos anuais que o Estado auferirá a partir de 1969, inclusive, por participar numa empresa de economia mista destinada à exploração de "ranchos de caça".

108. As verbas que se referiram poderão adicionar-se à poupança segundo consta do quadro seguinte.

Verbas provenientes de fundos de fomento e outras

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

Chega-se assim ao valor mobilizável de 40 13,7 milhares de contos, sendo necessário proceder a duas deduções.

109. Nos cálculos para obtenção da primeira previsão da poupança consideram-se incluídos os saldos que se prevêem disponíveis pelos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes.
Como estes Serviços se propõem investir os seus saldos e houve que os considerar mobilizados para o III Plano, considerou-se que através da obtenção de um empréstimo externo da ordem dos 2 milhões de contos se iriam suprir as suas necessidades de capital.
Dado que se estimou que para liquidação daquele empréstimo externo será necessário fornecer aos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes 100 000 contos anuais, serão estes valores deduzidos da poupança.

110. Por outro lado, há que corrigir os quantitativos anteriormente previstos para despesas ordinárias não ligadas ao III Plano de Fomento, para os anos de 1968 a 1970, com os acréscimos seguintes.

1968 .................................. 174,4
1969 .................................. 112,8
1970 .................................. 45,8
Total ................................. 333
___________

111. O quadro seguinte inclui as deduções referidas e firma a distribuição anual do quantitativo de 3080,7 milhares de contos que se mobilizam na província de Moçambique para im estamento imperativo no decurso do III Plano.

Poupança da província de Moçambique mobilizada para o financiamento do III Plano de Fomento

[Ver tabela na imagem]

112. Verificou-se no estudo-base sobre os aspectos financeiros da província que a incidência do conjunto "impostos directos + impostos indirectos + indústrias em regime tributário especial", medida em termos de "escudos arrecadados por mil escudos de produto nacional bruto", é muito baixa, comparativamente com o que se observa noutras regiões.
A carga fiscal, derivada daquelas três classes de impostos, ainda que se situe ao nível dos 100$/1000$ de rendimento nacional - circuitos monetários (cerca de 90$/1000$ de produto nacional bruto), é bastante baixa em confronto com outros, territórios estrangeiros.
Considerando, com efeito, a taxa anual de crescimento de rendimento nacional, em média, de 7 por cento, encontra-se, para a incidência de 110$/1000$ de rendimento nacional, um acréscimo de poupança do Estado superior ao considerado em 2 700 000 contos no período do Plano.

113. Em síntese, fica aberta à província a possibilidade de obter, para além do que se considerou paia o Plano, recursos financeiros apreciáveis mais de 2 300 000 contos durante o período de 1968 a 1973.

114. As possibilidades financeiras consideradas apresentam a maior importância como meio de manobra, porquanto não só serão necessárias para enfrentar as despesas recorrentes resultantes do Plano, como também há a considerar que havia sido previsto inicialmente um dispêndio em estradas, no decurso do III Plano,

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ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56 1090

superior ao valor que veio a ser programado, esperando-se, porém, que venha a exceder volumosamente aquele primeiro investimento previsto em estradas no decurso do sexénio de 1968-1973, dada a forma cautelosa como se demonstrou que foi feita a mobilização financeira das verbas provenientes desta fonte de administração provincial.

115. É muito importante notar que se procurou dar vida permanente, do ponto de vista financeiro, a vários empreendimentos, pois parte das verbas e, nalguns casos, a totalidade das verbas a conceder pelo Plano destinam-se a ser aplicadas como recuperação no tempo, o que vem a tomar maior o investimento que se fará efectivamente, por rotação do capital mobilizado no decurso de 1968 a 1973, embora por prudência não se contabilizem no investimento previsto no período. Estão neste caso a generalidade dos empreendimentos de povoamento e das verbas dos projectos agrícolas e pecuários que se destinam a conceder um apoio creditício aos agricultores, quer instalados, quer a instalar. É evidente que se pode afirmar que se aliviará assim o IV Plano de Fomento, pois o mesmo capital continuará a rodar para além de 1973.

116. Do mesmo modo se espera no período do Plano uma comparticipação das autarquias locais de cerca de 56 000 contos em complemento dos 95 000 contos a serem investidos pelo Plano em obras públicas (melhoramentos locais). Aqueles 56 000 contos não entraram no cômputo conjunto dos investimentos do Plano.

117. No sector da habitação, o problema, como será referido adiante, deve envolver uma procura de crédito interno, pela Junta de Bairros e Casas Populares, da ordem dos 128 000 contos, para serem investidos na obtenção de terrenos e urbanização dos mesmos, o que se não contabilizou também a favor do Plano Este investimento deve originar, por porte dos futuros possuidores dos lotes para construção, um outro investimento que não foi objecto de estimativa. Não se deixa de fazer referência ao caso, nomeadamente pela importância que tem no aspecto social.

118. Também não se considerou incluído no Plano o empreendimento de Cabora Bassa, cujo investimento deve oscilar entre os 6 e 10 milhões de contos a encontrar externamente.

3. Instituições de crédito

119. Relativamente a estas instituições, apenas se refere a capacidade de absorção de promissórias do fomento ultramarino, que se considera poder atingir perto de 100 000 contos no ano de 1968, e a possibilidade de subscrição de obrigações de fomento por parte destas instituições e também de entidades particulares, o que se estimou em 400 000 contos, a serem cobertos com o seguinte escalonamento.

Percentagens
1969 ............................. 200
1970 ............................. 100
1971 ............................. 100
___________
Total ........... 400
___________

4. Particulares e empresas

a) Autofinanciamento privado

120. Foi estimado que o investimento bruto em indústrias transformadoras no decurso do sexénio de 1968 a 1973 atingiria o quantitativo de 5,21 milhões de contos, assim repartidos.

Previsão do investimento bruto em indústrias transformadoras no período do III Plano em milhares de contos

1968 ..................................... 650
1969 ..................................... 725
1970 ..................................... 810
1971 ..................................... 900
1972 ..................................... 1 005
1973 ..................................... l 120
__________
Total ................. 5 210
__________

121. Não se considerou para cômputo de investimento do Plano o autofinanciamento que se espera dos agricultores e criadores, o qual será importante, porquanto só no caso do povoamento orientado se estima que sejam auto-investidos cerca de 50 000 contos pelos colonos.

b) Participação privada nas sociedades do financiamento do desenvolvimento

122. Inscreve-se no III Plano o valor de 150 000 contos, que foi julgado ser possível por "participação privada nas previstas sociedades de financiamento do desenvolvimento".

5. Fontes externas

123. Só se firmou como necessário ao III Plano o recurso ao crédito e provavelmente ao critério externo, nos casos dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes (2 milhões de contos sob a forma de empréstimo externo, provavelmente puro, e 1290 milhares de contos sob formas de outros tipos de empréstimos) e, no caso da energia (380 000 contos para realização do aproveitamento do Alto Molócuè e 380 000 contos para a construção da barragem do Massingir).

124. O calendário anual do financiamento restrito aos investimentos estaduais, com excepção dos que se prevê que sejam efectuados pelos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes da província e caminho de ferro da Beira, é o seguinte:

Previsão do financiamento do III Plano pelas fontes expressas

[Ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 1091

O esquema geral de financiamento é o seguinte*

[ ver esquema de financiamento na imagem ]

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimento

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

125. No que se refere à agricultura, as culturas sobra as quais uma intervenção é susceptível de produzir rápidos efeitos reprodutivos são as culturas de algodão, caju, coqueno, amendoim e banana e as culturas de regadio, que incluem, nas suas rotações, o trigo, o arroz, o milho, a batata, as forragens e o algodão
Julga-se fundamental para o desenvolvimento do sector agrícola a criação de uma estrutura de apoio ao desenvolvimento agrário e de um organismo que coordene a comercialização dos produtos agrícolas ainda não disciplinados, com relevo, particularmente, para os frutos tropicais

126. Certas zonas, onde se poderá actuar no sentido do fomento dos citrinos (secção B - plantio de 1000 ha em Moamba, Magude e Vila Pery), são também abrangidos pelos projectos do fomento bananícola Entendeu-se assim que haveria que conceder prioridade ao fomento da bananicultura e considerar o dos citrinos como dependente daquele na execução, visto admitir-se que pudesse vir a haver colisão parcial entre as áreas a afectar à produção dos dois tipos de frutos
Verificou-se, no entanto, que, em conjunto, os programas para o fomento das frutas só terão viabilidade se os problemas de comercialização puderem ser resolvidos em perspectivas global e especializada Nesse sentido, entendeu-se que seria condição sinc qua non da, viabilidade prática dos projectos de fomento frutícola, com especial relevo para o caso da bananicultura, a constituição de um organismo, com acção à escala de toda a província, que se ocupasse da comercialização desses produtos

127. No que se refere ao fomento dos cereais e outros produtos secundários, verificou-se, no caso do arroz, que a acção a desenvolver tinha de incidir sobre três zonas Dessas, porém, apenas uma poderá ser considerada com desenvolvimento a do Baixo Maputo Este projecto exigia, aliás, rotações de culturas e tinha implicações na produção de trigo e milho Por outro lado, a política de assistência técnica e alargamento de áreas de produção terá de ser enquadrada no domínio da acção do Instituto dos Cereais, dado que a Bugada do Arroz, hoje a actuar naquela região e dependente da Junta Provincial de Povoamento, competem somente as instalações dos agricultores e obras de adaptação a regadio
Estudos levados a efeito quanto ao fomento da produção de trigo levaram à conclusão de que só interessava, do ponto de vista do custo de produção, produzir trigo em integração com outras culturas, num esquema amplo de pequenos regadios Com este projecto conseguir-se-á alcançar não só uma produção de 48 000 t de trigo em 1973, como de 72 000 t de arroz, 66 000 t de milho e ainda importantes produções de algodão e forragens
Prevê-se, pois, a realização de um projecto conjunto que procura conciliar as metas de produção dos três projectos dos cereais sob a forma de regadio, minimizando o investimento total

128. Quanto à mandioca, prevê-se que irá evoluir de harmonia com o desenvolvimento programado para os outros produtos, não havendo vantagem em estimular a produção

129. O amendoim, cujo fomento é da competência do Instituto dos Cereais, liga-se mais com outros produtos como o caju e o algodão, etc, quer pelas zonas de produção, quer pelas condições ecológicas requeridas
Para esse produto entende-se que será preferível fomentar a produção por apoio e intensificação da acção já actualmente desenvolvida e que consiste em acção junto dos agricultores, multiplicação e distribuição de sementes, experimentação agronómica e descasque mecânico, para o que bastará concertar a actividade do Instituto dos Cereais, com apoio dos sistemas de extensão já criados e dos que se propõem, nomeadamente para o caju
Verificou-se, em virtude das acções a desenvolver relativamente ao caju, incidindo em zonas onde a produção de amendoim é a mais importante, que será possível a utilização simultânea da estrutura de apoio ao fomento do caju a este produto e ao amendoim
130. A recessão actualmente verificada quanto ao coqueiro deve-se fundamentalmente à deterioração da qualidade do material vegetal, à propagação com sementes degeneradas obtidas do material já deteriorado e, por isso, à diminuição da relação amêndoa-fruto nos coqueiros de Moçambique, o que reflecte baixa de rendimento As perspectivas no mercado mundial não se apresentam, tão pouco, favoráveis Contudo, no Sul do Save a acção da Brigada de Fixação das Populações Rurais tem conseguido, pela criação de viveiros e venda de plantas, introduzir novos palmares, por exemplo, no distrito de Gaza
Concluiu-se, pois, que as medidas a tomar seriam fundamentalmente

Investigação das doenças e da melhoria das variedades,

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1092 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Fomento do povoamento do coqueiro,
Melhoria de fabrico da copra por parte das pequenas empresas familiares

Esta acção deveria ser concertada com a que se desenvolve para outros produtos pelos diversos serviços e brigadas encarregadas da extensão agrícola.

131. Para o quenafe, a resolução do problema da maceração é condição ame qua non do fomento da cultura Para tal, necessita-se de um apoio financeiro do Estado para a resolução desse problema. Só depois será possível pensar-se no fomento, em grande escala, da cultura
Esta produz anualmente cerca de 5000 t de fibra, podendo subir até algumas dezenas de milhares de toneladas, sem conflito com o algodão ou outras culturas (apesar de requerer terrenos de natureza idêntica aqueles que servem ao algodão), visto existirem terras em quantidade suficiente O fomento assentará fundamentalmente na assistência técnica à produção agrícola, o que, uma vez mais, pode ser conseguido com os serviços de extensão que igualmente assistem o arroz, o algodão e outros produtos

132. O fomento do algodão constitui empreendimento que se pode considerar autónomo e exequível. Apenas há a notar que as brigadas de apoio e os serviços de assistência a esta cultura podem ser aproveitadas para igualmente colaborarem no apoio a outras culturas quenafe, amendoim, trigo (nas zonas de regadio) e milho

133. Quanto ao caju, verificou-se ser um dos produtos relativamente ao qual se- podem obter melhores resultados mediante apenas a limpeza das árvores e assistência técnica A acção a exercer pode ser aplicada igualmente ao amendoim e, eventualmente, a outros produtos As estações agrícolas previstas podem servir para assistência em geral à agricultura das zonas onde se localizarão Além disso, seriam de aproveitar algumas infra-estruturas dessa natureza já existentes nas áreas do Chibuto, Manjacaze, Gaza, etc

134. Quanto a outras culturas (açúcar, tabaco, chá, sisal, batata, rícino, gergelim, mapira, mafurra, mexoeira, aleurites, etc ), entende-se que a acção das entidades competentes se deve orientar no sentido de, pelo menos, manter os ritmos de crescimento actuais e resolver problemas mais instantes

135. Quanto ao povoamento florestal nas zonas da Penhalonga, Espungabera e Tsetsera, apenas se torna necessário apontar uma localização definitiva, verificando-se que as zonas escolhidas para povoamento florestal são compatíveis e complementares de uma das zonas prioritárias de povoamento

136. No campo do fomento pecuário há que dar relevo à bovinicultura dirigida para a produção da carne, embora se considere igualmente a suinicultura, a avicultura e a bonivicultura dirigida para a produção de leite Não é de esquecer a possibilidade de se fazer o aproveitamento de algumas espécies de animais selvagens
Encara-se a necessidade de se tentar resolver alguns problemas ligados à pecuária, que são considerados factores importantes e responsáveis pelo estrangulamento da sua expansão, nomeadamente os problemas de abeberamento, de sanidade e de comercialização, de cuja resolução satisfatória depende a possibilidade de se proceder a um povoamento programado das espécies pecuárias
No campo do abeberamento tornou-se necessário prever investimentos para aplicação na construção de represas, poços e furos
Do ponto de vista de sanidade pecuária, os problemas a encarar são o da erradicação da tuberculose, nas regiões do Chimoio e da Manhiça, e o da brucelose A profilaxia é também essencial, para o que se elaborou um programa de construção de tanques carracicidas, especialmente nos zonas onde há maior concentração de efectivos.
O povoamento do Norte da província com espécies bovinas destinadas a produção de carne e de leite constitui objectivo muito importante, sendo de ponderar a acção dos postos de fomento pecuário Por outro lado, merece ser encarado o povoamento avícola, a instalar em Nampula
Julga-se também ser necessário proceder a um estudo criterioso das condições de exploração das espécies suínas, arietinas e caprinas, tendo merecido especial atenção a suinicultura, para cujo desenvolvimento se propôs a criação de um centro de contraste de descendência, que muito deverá contribuir para a produtividade das explorações.
Aos serviços de extensão, como apoio ao fomento, competirá suprir as dificuldades que possam surgir durante a execução dos projectos e medidas que se integram no programa de expansão da pecuária

137. As medidas de fomento básicas são as que dizem respeito a bovinos de corte e leitenos Contudo, são ainda importantes as medidas relatvas a suínos e a animais de capoeira, havendo que se promover, o mais rápidamente possível, o desenvolvimento das outras espécies

138. Como condições fundamentais para a realização do fomento pecuário, considera-se a criação de um organismo de comercialização dos produtos pecuários, a estudar, quanto a uma possível integração na Direcção dos Serviços de Veterinária e conjugação desse organismo ou repartição com o organismo de comercialização proposto para os produtos agrícolas, e uma acção coordenadora, fiscalizadora e de administração, por parte da Direcção dos Serviços de Veterinária, sobre a execução conjugada das medidas de fomento da pecuária

139. Há que dar continuidade aos esquemas de povoamento em curso, embora submetendo-os, nalguns casos, a alterações

140. Ligado ao colonato do Limpopo, há um novo empreendimento que merece referência especial a barragem do Massingir, a levar a cabo no rio dos Elefantes, afluente do rio limpopo
Esta barragem permitirá regularizar os caudais com vista ao aproveitamento em regadios do vale do Limpopo para jusante da sua confluência com o rio dos Elefantes Procura-se assim solucionar também o problema da carência de água de rega que se estava a verificar no colonato do Limpopo

141. Prevê-se também a reconversão de regadios existentes, dedicados a culturas arvenses, e a criação de novas áreas adaptadas a regadio, com investimentos de cerca de cinco contos por hectare, em média, os quais conduzirão ao aumento da produção das culturas que nelas virão a ser praticadas e à fixação de agricultores à terra, uma agricultura, estável e progressiva, especialmente nas zonas onde a agricultura só é garantida com rega

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30 DE JUNHO DE 1967 1093

As regiões em que se pretende fazer aquele tipo de rega foram seleccionadas, atendendo também às infra-estruturas já existentes, sendo as tarefas distribuídas aos organismos a que já compete a orientação neste campo Estas regiões são as dos rios Maputo, Incomáti, Limpopo, Save, Búzi, Pungue e regiões subplanálticas de Manica e da Zambézia

142. No que se refere ao povoamento agrário, foram seleccionadas zonas prioritárias, o que levou à definição de "zonas de povoamento", e, bem assim, aos tipos de actividades mais recomendadas em cada uma delas
Situam-se especialmente nas regiões dos distritos do Norte onde se faz sentir a necessidade de fixação de colonos e onde existem as condições ecológicas mais favoráveis, exigindo menores investimentos, pois é possível fazer culturas em sequeiro, já que as chuvas garantem a sua viabilidade, atendendo-se a factores económicos e sociais e ainda a outros do tipos extra-económicos

143. Além de uma ocupação humana mais intensa visa-se

A valorização, por povoamento orientado, da zona potencialmente mais rica do distrito de Cabo Delgado, à volta de Montepuez,
O aproveitamento das regiões de Mecanhelas e Lioma, no Niassa, esta já com muita área derrubada e sem caça,
A ocupação, por povoamento orientado, da zona de Vila Cabral, também no Niassa,
O apoio nas zonas planálticas da Angónia, Macanga, Marávia e Zumbo, destinado a fomentar a colonização livre com base na agricultura de sequeiro. na criação e engorda de gado, na exploração leiteira e na criação de suínos com base no milho,
O aproveitamento programado com base em povoamento livre e orientado na região alta de Manica e Sofala, com boas condições ecológicas, situada numa zona fronteiriça e que pode garantir o abastecimento da zona litoral, tanto mais que se trata de uma região servida por vias de comunicação para a drenagem dos produtos para o litoral,
O aproveitamento pecuário da região limitada pela fronteira, rio Limpopo e rio Save, que, embora de baixa pluviosidade, permite a criação de gado em regime extensivo e a cultura de regadios

144. Verifica-se uma coincidência, em geral, entre as zonas seleccionadas e as regiões de localização da maior parte dos projectos e medidas elaboradas no âmbito da agricultura e pecuária

145. Em suma, na óptica do povoamento foram consideradas prioritárias as zonas seguintes, que se definem como "zonas de povoamento"

A¹ e tentativa de ligação com o caminho de ferro e alargamento a A³,
Zona D (viabilidade económica e prática imediata),
Zona F,
Zona G,
Zona K (zona de desenvolvimento silvícola e agrícola),
Zona M,
Zonas B¹, E e L, com vista apenas ao estudo mais completo das suas possibilidades e das formas viáveis de aproveitamento económico

146. Incluem-se também no Plano outras formas de fomento do povoamento além do agrário A ideia que preside é a de facilitar a fixação noutros tipos de actividades além da exploração da terra Por isso se estabelecem
Créditos para pequenas iniciativas, que terão um limite máximo de empréstimo de 15 contos e destinar-se-ão, sobretudo, a apetrechar os artesãos, através do fornecimento de ferramentas e matérias-primas
O reembolso será efectuado em cinco anos, devendo ser pago em prestações semestrais ou anuais, acrescidas de um juro de 3 por cento ao ano
Prevê-se a seguinte distribuição destes empréstimos

100 empréstimos, por ano, nos l º e 2 º anos,
150 empréstimos, por ano, nos 3 º e 4 º anos,
200 empréstimos, poi ano, nos 5 º e 6 º anos

Crédito a médias iniciativas, que serão previstos para um montante máximo individual de 300 contos, a reembolsar em quinze anos consecutivos, vencendo um juro de 3,5 por cento ao ano
Adiantamentos a custo de passagens para o ultramar. Prevê-se que um valor de 12 500 contos anuais suportará o encargo correspondente ao custo das passagens de cerca de 2500 indivíduos por ano
O reembolso, sem juros, será efectuado em sete anos, considerando, para famílias de quatro pessoas, pagamentos (em contos) de O no l º ano, 2 no 2 º ano, 3 no 3 º ano, 3 no 4 º ano, 4 no 5 º ano, 4 no 6 º ano e 4 no 7 º ano, num total de 20

147. Como apoio a todas as formas de povoamento e para tornar mais fácil a solução dos problemas dos colonos, cria-se, experimentalmente, um serviço de procuradoria
Este serviço trabalhará no âmbito da Junta Provincial de Povoamento, o seu funcionamento implica uma despesa da ordem dos 330 contos anuais, em parte amortizáveis pelas taxas que os colonos pagarão ao recorrer a tal serviço

2. Objectivos

148. Em referência aos empreendimentos a realizar no subsector da "Agricultura e silvicultura", os projectados aumentos de produção constam do mapa a seguir apresentado Salienta-se que se considerou apenas aquilo que poderia ser objecto de quantificação, não se tendo referido actuações específicas em relação a determinadas culturas ou produtos, que terão certamente reflexos ao nível da produção, mas não podem ser objecto da avaliação em bases seguras.

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Metas em 1973

[ ver metas na imagem ]

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149. No que se refere à pecuária, os objectivos visados são
a) No domínio dos bovinos de corte, atingiu em 1973, um efectivo de 1663,7 milhares de cabeças, que, confrontando com a existência em 1965 (1133), representa um acréscimo de 46,8 por cento no período do III Plano de Fomento
b) Para os bovinos leiteiros, o objectivo para 1973 consiste em proceder ao aproveitamento de 1 milhão de litros de leite provenientes da pecuária tradicional, avaliados em 1800 contos, prevendo-se para esse efeito a instalação de postos de recepção e o aumento do número de cabeças de bovinos leiteiros (mais 8200) com a correspondente produção leiteira, calculada em 16,4 milhões de litros anuais, em 1973, avaliados em cerca de 30 000 contos.
c) Através do aproveitamento racional das espécies selvagens existentes na área de Marromeu para a produção de carne, peles, marfim e outros subprodutos, sob a forma de "ranchos de caça", atingir um valor de produção anual de 5740 contos.
d) Para os projectos regionais do Mutuáli e do Muda e Save, relativamente aos quais deve ser feita a ressalva de que a parte das famílias a instalar é considerada no projecto dos regadios, a estimativa dos resultados que se pretende atingir em 1973 é a seguinte

[ ver estimativa na imagem ]

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1096 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

150. No campo do povoamento, a meta a atingir consiste numa média anual, no período do III Plano, de 12 500 indivíduos imigrados, contra os 6000 indivíduos esperados pela evolução normal
Para esse efeito, conta-se com

A criação do um ritmo anual de entrada de 2500 indivíduos, com viagens financiadas por crédito, o que, no final, em 1973, permite estimar como entrados cerca de 15 000 indivíduos,

O desenvolvimento da produção e instalação de novas famílias nas "zonas de povoamento", com carácter imperativo para um mínimo cauteloso de cerca de 1650 famílias, conforme o constante do quadro que se segue Há que contar também que, através dos projectos incluídos no sector agrário, se encontra a oportunidade de colocação directa de um mínimo de 2200 famílias Daqui resulta um total de indivíduos que se pode estimar em 17 000, a entrar no sexénio.

Metas imperativas em 1973 quanto a empresas médias a criar "zonas de povoamento"

[ ver metas na imagem ]

Resultados quanto a famílias a valorizar ou instalar nos campos de fomento agrário e povoamento

[ ver resultados na imagem ]

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30 DE JUNHO DE 1967 1097

[ ver resultados na imagem ]

3. Medidos de política

151. As medidas cuja realização se considera indispensável para alcançar os objectivos definidos são as seguintes, no que se refere à produção agrícola

a) Quenafe

152. Apoio à resolução do problema da maceração do quenafe através de

Estabelecimento de centros de maceração em lugares estratégicos, a explorar por cooperativas e agricultores ou por entidades privadas,
Investigação dos problemas agronómicos desta cultura, sobretudo no relativo a melhoramento de variedades, estabelecimento de centros de multiplicação de sementes e respectiva rede de distribuição,
Assistência técnica a esta cultura, em geral pelas mesmas estruturas que assistirão às culturas de algodão e do arroz,
Crédito aos agricultores para a cultura e para aquisição de máquinas.

b) Coqueiro

153:
Estudo, com alta prioridade, pelo Instituto de Investigação Agronómica, dos problemas de variedades, fertilizações e, sobretudo, de sanidade (gangrena terminal do coqueiro),
Intensificação de propaganda entre os pequenos empresários no sentido de se proceder a novas plantações, de preferência ordenadas, e de serem dispensados cuidados culturais às plantas existentes,
Divulgação de ensinamentos sobre as melhores formas de produção da copra.

c) Açúcar

154:
Intensificação da produção das unidades açucareiras já instaladas
Aceleração da montagem e arranque das unidades em vias de estabelecimento, Orientação da produção, em face do nível de vida da população do ultramar, no sentido do fabrico de tipos de açúcar de baixos preços, permitindo consumo directo de ramas amarelas

d) Arroz

155. Estudo do problema das relações entre o produtor de arroz das médias empresas no Sul e os seus financiadores - os industriais de descasque

e) Amendoim

156:
Intensificação da acção de fomento da cultura, apoiada nas estruturas e nas propostas já existentes para o fomento de caju e dos cereais;
Garantia de preços mínimos, em especial nas regiões do Norte,
Mais racional distribuição da produção do amendoim industrializável pelas unidades fabris, evitando transportes desnecessários e deterioração de preços do produtor,

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1098 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Investigação agronómica dos problemas interessando esta cultura, especialmente em matéria de multiplicação e distribuição de sementes,
Estudo da solução, a breve trecho, pelo organismo competente, do problema do descasque do amendoim, que hoje é feito manualmente pelo agricultor

f) Mandioca

157:
Melhoramento do rendimento por hectare, pela procura de melhores variedades e utilização de melhores técnicas culturais,
Análise do problema da necessidade de se promover diversificação de produções,
Entrada em actividade da fábrica de Dougane, apta a produzir farinha de mandioca,
Estudo da possibilidade da incorporação de farinha de mandioca nas massas alimentares e no pão

g) Citrinos

158:
Análise das produções por planta das regiões citrícolas de Inhambane e de Maganja da Costa, formadas essencialmente por pequenas empresas (que, em conjunto, possuem 1,1 milhão de plantas), a fim de possibilitar a futura propagação e o melhor aproveitamento da fruta, através de inquéritos pela Missão de Inquérito Agrícola,
Análise dos custos de estabelecimento e de manutenção dos pomares nas duas principais regiões citrícolas (Lourenço Marques e Vila Pery), com vista ao conhecimento dos custos de produção da fruta e da rentabilidade do capital investido,
Pesquisa agronómica dos citrinos pelo Instituto de Investigação Agronómica, especialmente no que diz respeito à introdução de novas variedades, fertilidade do solo, economia da água e defesa fotossanitária das plantas e frutos, e elaboração da carta de aptidão das principais regiões citrícolas;
Estudo, pelo Instituto de Investigação Agronómica, das possibilidades de incorporação dos sumos nas bebidas gasosas e do fabrico de bebidas alcoólicas cítricas (já produzidas em Angola)

h) Ananás

159:
Prospecção de mercados, especialmente do europeu, quanto a preços de consumo de produtos industrializados a partir do ananás,
Estudo da cultura do ananás em Moçambique, nomeadamente nos aspectos de variedades, regiões ecológicas, técnicas culturais e outros conhecimentos indispensáveis para a futura promoção de uma campanha de fomento da cultura,
Estudo tecnológico das variedades cultivadas e inclusão do ananás dentro de um esquema de industrialização de outros frutos

i) Papaia

160. Estudo das perspectivas do consumo da papaia no espaço português, na Rodésia e na República da África do Sul

j) Abacate

161. Estudo das perspectivas da colocação do abacate de Moçambique na Europa, com vista a, no caso de tal estudo conduzir a resultados positivos, ser possível lançar as bases técnicas do cultivo

l) Manga

162. Estudo das técnicas de conservação que permitam o transporte por via marítima para os mercados europeus e das condições para futura instalação de plantações ordenadas

m) Outras culturas

163. Estudo pelo Instituto de Investigação Agronómica dos seguintes problemas
Cultivares, práticas culturais, utilização da mão-de-obra, áreas ecológicas, etc, tendentes a aumentar a produtividade das culturas seguintes sisal, chá, tabaco, gergelim, batata, aleuntes, girassol e soja,
Da mecanização da cultura do sisal, de colaboração com os agricultores,
Da produtividade da mão-de-obra utilizada na cultura do sisal, de colaboração com os agricultores e com o organismo encarregado dos problemas do trabalho,
De culturas a introduzir como intercalares do sisal, de forma a contribuir para a amortização do custo do estabelecimento da cultura,
Da tecnologia do chá e do tabaco,
Das regiões com aptidão para a produção de batata de semente.

164. Igualmente se entende que os organismos encarregados da extensão actuem no sentido de

Apoiar as culturas de mafurra, gergelim e rícino, de forma a aumentar o interesse dos agricultores pela cultura, o que só será viável com a melhoria da estrutura de comercialização destes produtos,
Fornecer cultivares melhorados aos agricultores,
Divulgar entre os agricultores as práticas culturais recomendadas pelo organismo de investigação.

165. Também é conveniente que um organismo encarregado da comercialização estude

A comercialização do tabaco, tanto no mercado interno, como externo,
A comercialização e disciplina de produção e abastecimento da batata aos mercados consumidores da província, bem como os problemas de transporte,
A melhoria das condições de comercialização da mafurra, gergelim, rícino e, eventualmente, girassol, com vista a tornar-se melhor partido da produção, que, no caso da mafurra, nem sempre é totalmente recoletada.

166. No que diz respeito à silvicultura, as medidas previstas compreendem o apoio, por todas as formas possíveis, às iniciativas privadas tendentes à industrialização da madeira, nomeadamente quanto às formas seguintes

Móveis, carrocerias, outros produtos de carpintaria e marcenaria,
Preservação de madeira.
Aproveitamento industrial dos desperdícios das indústrias existentes, a fim de produzir painéis fertilizantes e melhoradores do solo, briquetes, produtos químicos da destilação da madeira, rações alimentares, etc.,

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Painéis de estilhas;
Ampliação da indústria do parquet;
Ampliação da indústria de folheados e contraplacados

167. No âmbito da pecuária há a considerar

Concentração na Direcção dos Serviços de Veterinária da responsabilidade da execução das medidas de fomento pecuário e da administração dos investimentos e respectiva fiscalização,
Avaliação da mão-de-obra especializada necessária e sua preparação com antecedência, através da Direcção dos Serviços de Veterinária, Estudos da pecuária nas diversas regiões da província, com vista ao conhecimento em pormenor dos problemas de produção, circulação e consumo, tais como
Possibilidade de povoamento pecuário das regiões ecologicamente favoráveis ao desenvolvimento das espécies, nomeadamente bovinos, suínos, arietinos e animais de capoeira,
Necessidade de apoio pecuário ao povoamento humano,
Comercialização de gado e suas carnes,
Necessidade de consumo interno,

Recolha dos elementos necessários aos estudos específicos nos campos da produção, comercialização e consumo, a efectuar, tanto quanto possível, pelas brigadas consideradas no projecto respectivo,
Estudo da possibilidade de expansão da criação de arietinos e caprinos nas regiões ecologicamente favoráveis,
Estudo das melhorias a introduzir no campo da comercialização de carnes, tendo em consideração que se julga serem importantes a criação de talhos onde se faça a venda exclusiva de arietinos, caprinos e miudezas de bovinos e suínos, e a introdução destas espécies nas feiras de gado já existentes ou a criar,
Estudo do programa de compras de harmonia com as épocas mais favoráveis para o criador ultramarino, enquanto não foram completadas as cadeias de frio que permitam armazenamento até aos limites tecnologicamente aconselháveis;
Estabelecimento de preços ao produtor de modo a proporcionar o desenvolvimento pecuário no território,
Classificação das carcaças por categorias, a fim de que a preços mais elevados correspondam qualidades superiores, dado que cotações médias por partidas, diferenças de critérios ou afastamentos provocados por factores subjectivos ou individuais não estimulam o melhoramento da produção, o que se deve pretender levar a cabo,
Estudo pormenorizado dos problemas relacionados com transportes marítimos especializados e dos fretes, tornando-os comportáveis pelos produtos de origem animal, libertando-os das contingências dos navios das carreiras regulares,
Estudo, planificação e coordenação do sector pecuário no espaço português,
Revisão do actual regime de concessão de terras para exploração pecuária, já que a actual concessão por arrendamento não permite a obtenção de crédito sobre a propriedade e a obtenção de capitais não é possível com o gado como penhor,
Revisão da extensão de terras pedidas e concedidas, já que está tecnicamente comprovado que as dimensões das áreas pedidas para fins pecuários devem ser dimensionalmente superiores àquelas que se destinam à exploração agrícola;
Estudo do problema de transporte de gado, com a finalidade de obter sugestões achadas convenientes e necessárias para aumentar a possibilidade de transporte do gado nos navios costeiros, recomenda-se também a revisão das tarifas,
Criação de um organismo de comercialização dos produtos pecuários, a estudar quanto a uma possível integração ou não na Direcção dos Serviços de Veterinária, e conjugação desse organismo na repartição com o organismo de comercialização proposto para os produtos agrícolas

168. Nos aspectos essenciais do desenvolvimento agrário deve ser considerado o estudo da melhor e mais eficiente estrutura dos serviços de apoio a actividade agrária, sem aumento da totalidade das verbas hoje concedidas a generalidade desses organismos, este estudo poderá ser feito por comissões ad hoc, que deverão avaliar o número de técnicos necessários para se poder exigir dos serviços eficiência e rapidez na sua acção, para o sector agrícola a partir do volume de produção, e, para o sector pecuário a partir do número de cabeças normal

169. Na rubrica de investigação e experimentação agrária, as medidas a considerar são

Actuação dos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária em colaboração com os Estudos Gerais e com os organismos congéneres em território nacional e estrangeiro, e com os serviços de extensão, especialmente para uma eficiente e oportuna divulgação dos conhecimentos básicos,
Localização de estações e postos experimentais agrários nas regiões que os planos de povoamento e desenvolvimento agrário aconselharem,
Apetrechamento das estações e postos agrários para experimentação, de modo a poderem prestar um eficiente apoio técnico aos serviços de extensão, e, por outro lado, sempre que possível, poderem as suas áreas de cultivo servir de quintas-modelo aos agricultores e criadores da região,
Dotação das estações e postos agrários com fundos de maneio que lhes permitam funcionar dinamicamente e, por outro lado, possam permitir aliviar as despesas orçamentais, para tal, será de criar incentivos ao pessoal dos seus quadros, através de uma comparticipação nos resultados financeiros de cada estação ou posto agrário;
Assegurar que os estabelecimentos de investigação e experimentação estejam aptos a fornecer sementes e plantas seleccionadas, a experimentar técnicas de cultivo mais rentáveis, bem como a experimentar as espécies e raças animais que permitam, na respectiva região, maior rentabilidade e a possibilitar a utilização de reprodutores pelos criadores

170. Quanto à assistência técnica à actividade agrária, as medidas a considerar são

Sincronização da actividade dos serviços de agricultura e de veterinária, especialmente a nível local, com o objectivo de obter uma racional e rentável actividade das explorações agro-pecuárias, quer de dimensão média, quer de pequenas empresas, através da extensão, assistência técnica e vulgarização agrária,

Armazenagem da produção agrária dos associados;
Aluguer de máquinas e alfaias agrícolas aos associados,
Beneficiação ou transformação dos produtos dos associados,

a considerar são

Revisão da política de povoamento, especialmente a da colonização dirigida, tendo em consideração as diversas experiências já existentes na província,

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1100 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Aumento do número de unidades do pessoal técnico dos serviços de extensão, especialmente as de mais baixos escalões, com conveniente qualificação e preparação para a sua missão junto do agricultor e criador,

ntrega das funções burocráticas a pessoal de remu-

Paralelamente a essas empresas especializadas, fomento, junto das associações agrícolas bem organizadas, da criação de parques de máquinas,
Fomento, apoio e preparação, pela Junta Provincial de Povoamento, dos associações agrícolas, para estas poderem assumir com rentabilidade a respon-

1102 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Dinamização, pela Junta Provincial de Povoamento, da colaboração de todos os outros serviços do Estado, bem como do sector privado, para a execução do programa de povoamento,
Estudo, a nível central, provincial e local, das diversas soluções de colaboração entre as Forças Armadas e a Junta Provincial de Povoamento no sector do povoamento,
Criação do serviço de colocação de colonos na Junta Provincial de Povoamento, com as seguintes funções específicas
Estabelecer um inventário das necessidades de pessoal das actividades privadas, organismos oficiais e autarquias,
Divulgar na metrópole e na província as possibilidades de absorção da mão-de-obra reveladas pelo inventário referido,
Promover o recrutamento de colonos,
Dirigir um centro de recepção de colonos com o fim de os acolher, orientar e ajudar, a garantia de instalação e alimentação será oferecida por este centro, prevendo-se, contudo, que os colonos reembolsarão o Estado, uma vez colocados e em condições de suportar o pagamento dos encargos que com eles foram assumidos,
Encarar o estudo da criação de centros de adestramento destinados aos colonos não profissionalmente qualificados,

Revisão da legislação vigente sobre a concessão de terrenos, que, pela sua essência e pela usual interpretação contribui para que os processos relativos a concessões se arrastem por longos períodos,
Concessão aos colonos recém-chegados, pelos serviços oficiais, de prioridade absoluta e máxima urgência nos assuntos que por eles sejam postos, visando-se assim o maior desembaraço em tudo que, directa ou indirectamente, diga respeito à sua fixação;
Intervenção directa do Estado no desenvolvimento industrial da província, pelas vias mais convenientes e eficazes,
Promoção, em moldes práticos e eficientes, de uma assistência técnica efectiva nas pequenas explorações mineiras, com cedência ou aluguer de equipamento mineiro, orientação no comércio dos minérios e apoio à obtenção de créditos, devendo os Serviços de Geologia e Minas facultar a assistência preconizada logo que as medidos que se referem no campo mineiro o permitam, dado que se trata de um activo meio de povoamento,
Fixação dos preços dos produtos resultantes das actividades dos colonos,
Estudo de tarifas de fretes rodoviários, de modo a tornar certas áreas atraentes e susceptíveis de fixar colonos,
Criação de um distrito-piloto onde possam ser ensaiadas algumas das recomendações sugeridas

4. Investimentos

180. Os investimentos previstos são os constantes do mapa seguinte

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de Investimentos

[ Vêr programa na imagem ]

Página 1101

Página não processada!

Página 1102

Página não processada!

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30 DE JUNHO DE 1967 1103

[ver cont. Do programa na imagem]

II) Pesca

181. Os objectivos a defenir na vigência do III Plano de Fomento para incrementar a actividade do sector, além dos que se mencionam em "Estudos de biologia piscatória e pesca experimental", são os seguintes

Exercer a pesca da lagosta, camarão e outros crustáceos com artes adequadas, Dotar a pesca de arrasto com barcos adequados;
Industrializar os produtos da pesca por congelação conservas por enlatamento e farinação,
Fomentar a distribuição do produto por todas as regiões da província.

As verbas a despender durante o Plano são as que mencionam os referidos "Estudos de biologia piscatória", além dos investimentos de origem privada, sobre os quais não foi possível dispor de elementos completos É de assinalar, no entanto, como projecto já em realização o empreendimento da Arem - Sociedade dos Armadores das Pescas em Moçambique, em cujo âmbito estão previstos investimentos da ordem dos 50 000 contos no período do III Plano de Fomento para aquisição de embarcações e instalações frigoríficas e fabris

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Indústria extractiva

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

182. A situação actual e os objectivos no que se refere ao problema do abastecimento de água às populações rurais e ao gado não é desafogada, com reflexos nas condições de vida da população e na manutenção e qualidade dos efectivos pecuários existentes, verifica-se ainda a insuficiente articulação das diferentes entidades públicas com responsabilidades na orientação deste sector
Foi considerado fundamental para o desenvolvimento do Sul do Save e para a exploração do gado bovino do Tete a resolução do problema de abastecimento de água, passando, portanto, estas zonas a constituir pólo de preocupações.
Era de considerai-se igualmente a situação do problema do abastecimento de água de pequenos núcleos populacionais
Reconhece-se que os problemas a encarar são de ordem muito diversa De facto, há, por um lado, que proceder a estudos hidrogeológicos de base, sem os quais são forçosamente pouco produtivos, por vezes impossíveis, os trabalhos concretos de execução das captações Por outro lado, o deficiente sistema de conservação actual inutiliza uma grande parte das captações existentes Finalmente, deve ser definido o próprio regime e ritmo a que deve obedecer a execução das captações
No que se refere a estudos hidiogeológicos, o problema assume feição muito diversa, conforme a região de que se trate De facto, se para o Sul do Save existem elementos que, para cada zona, permitem já o equacionamento de cada problema de pesquisa, há agora necessidade de o completar com um estudo hidrogeológico de pormenor e realizar os projectos de captações No distrito de Tete, o conhecimento é muito mais imperfeito e em grande parte dos outros distritos a informação é praticamente inexistente

183. Havendo que seriar o programa de objectivos a atingir, considera-se que neste Plano se deveria abordar prioritàriamente tudo o que respeitasse a investigação de base e de pormenor, ao mesmo tempo que se procurava uma maior coordenação entre a acção dos diversos serviços interessados Esta coordenação deveria existir, quer ao nível dos próprios estudos, quer nos trabalhos concretos de captações a efectuar, quer ainda no regime de conservação das captações

184. A execução das captações, cujo interesse se põe com maior acuidade, é contemplada neste Plano através do sector de "Melhoramentos rurais" -no que refere ao abastecimento dos pequenos núcleos populacionais - e pelo subsector da "Pecuária" - no que se refere às necessidades de abeberamento de gados Estes programas não cobrem a totalidade dos empreendimentos que serão efectuados no período do Plano, admitindo-se que a comparticipação dos interessados possa levar a um aumento sensível do ritmo a que se tem procedido na execução das captações
Para este facto espera-se que contribua em larga medida a acção das comissões distritais de águas, que, baseadas num conhecimento mais perfeito das necessidades e possibilidades locais, poderão estimular a execução das

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1104 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

captações nas respectivas regiões Espera-se, também, que a definição de prioridade dentro do distrito que lhes compete e que constituirá o elemento base de orientação do gabinete coordenador daquelas comissões poderá assegurar a compatibilização com os programas dos sectores relacionados, já que resultará de um acordo estabelecido entre os representantes dos diversos serviços intervenientes, que estarão conscientes, como entidades executoras do Plano, das metas a atingir

185. Deste modo, procurou-se que nos trabalhos de elaboração de estudos e projectos se procedesse a uma conjugação dos meios de acção e das estruturas existentes, de modo a aproveitar tanto quanto possível as actuais especializações. É assim que as três brigadas a constituir ou a reforçar -Hidrogeologia, Sondagem de Pesquisa Geofísica e Aproveitamentos Superficiais e Poços- serão organizadas, respectivamente, pelos Serviços de Geologia e Minas, Laboratório de Ensaios de Materiais e Mecânica do Solo e Serviços de Obras Públicas.

b) Fomenta mineiro

186. Não se dispondo ainda do conhecimento completo da potencialidade mineira de uma vasta área da província, há, pois, que proceder à elaboração das cartas que constituem alicerce indispensável para futuros trabalhos mineiros
Há também que suprir deficiências do pequeno e médio pesquisador, dando-lhes o apoio dos serviços públicos, e, além disso, criar um sector técnico capaz de garantir uma eficiente assistência às brigadas de campo

187. A exploração dos minérios de ilmenite e zircão existentes nas áreas de Moebase e Pebane exigirá ainda a realização de obras no porto de Pebane
A exploração das ilmenites, cuja produção anual por empresas privadas se prevê que atinja o valor de cerca de 93 000 contos, só será possível desde que se executem obras de dragagem e apetrechamento daquele porto, e, apesar de a medida de fomento dever ser, nesta parte, integrada no sector dos "Transportes", propôs-se o investimento pelo sector das "Indústrias extractivas"

188. Convém prever também estudos de diversos minérios quanto a possibilidade da sua industrialização, que, nalguns casos, é condição básica para incremento da sua exploração, como é o caso das microlites, tantalites fluentes, pedras semipreciosas, ferro-ligas, etc.

2. Objectivos

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

189. Em consequência das medidas de fomento propostas, deverá ficar assim assegurado

Realização de 100 sondagens mecânicas e 10 000 geoeléctricas de pesquisa e prospecção, para resolver todos ou a grande maioria dos problemas de capitação das zonas sobre que incide o estudo, as duas mais necessitadas são as do Sul do Save e do Tete.
Realização de projectos.

De represas de terra,
De poços e respectivas instalações superficiais anexas

Conservação das captações

Conservação anual de cerca de 1800 captações e respectivos sistemas elevatórios.

b) Fomento mineiro

190. Os objectivos visados podem definir-se como segue

Exploração dos minérios de ilmenite e zircão na área de Pebane, correspondendo a um volume de produção anual de 125 000 t e a um valor de 93 000 contos

Estima-se em 33 820 contos a entrada líquida anual de divisas, dado que a diferença para os 98 000 contos será transferida para o exterior como pagamento de fretes e transferências de lucros A exploração tornar-se-á possível como consequência de obras de dragagem no porto de Pebane, que o tornarão acessível a navios de 8000 t

3. Medidas de política

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

191. Da falta de organismos coordenadores dos problemas suscitados pelas necessidades de abastecimento de água das populações rurais e gados e sua satisfação e de organismos responsáveis pela conservação das captações existentes resulta a multiplicidade de serviços públicos que têm competência para se dedicar ao estudo e à solução destes problemas e resulta também um mau aproveitamento dos meios de acção existentes, porquanto os planos de trabalho são elaborados ao sabor das solicitações da iniciativa privada, sem um critério de selecção dos problemas por ordem prioritária e sem possibilidades de se dispor da totalidade da informação colhida.

Prevê-se, assim, para este sector, a coordenação da informação e da acção dos organismos interessados e competentes. Sem essa coordenação não é possível atingir plenamente os objectivos traçados no projecto, pelo que se considera necessária a criação de comissões distritais de águas e de uma comissão ou gabinete coordenador provincial, em que estariam representados os serviços e organismos interessados Nestas condições, deverão ser criadas Comissões distritais de águas nos distritos de Lourenço Marques, Gaza, Inhambane, Tete e, eventualmente, Manica e Sofala, com a missão de ficarem responsáveis pela conservação das captações existentes, podendo delegar essa responsabilidade, colher elementos quanto às necessidades de abastecimento, recomendar prioridades e propor a forma de pagamento da execução das captações pelos utentes,
Uma comissão ou gabinete coordenador ao nível provincial, funcionando, eventualmente, junto de um dos serviços interessados, em representação destes, com o fim de coordenar os elementos e propostas provenientes das comissões distritais e propor os planos de acção e os serviços a que devem ser cometidos

b) Fomento mineiro

192. As medidas impulsionadoras do sector, nomeadamente no que se refere à valorização de minérios e transformação industrial, que se consideram indispensáveis são

Realização de estudos técnico-económicos das operações de concentração de minérios de tântalo das empresas particulares em actividade, em particular da Empresa Mineira de Marropino;
Estudo laboratorial e económico da transformação das microlites e tantalites em óxido de tântalo ou tântalo metal,

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Estudo técnico-económico de produção de ferro-ligas, com o objectivo de facilitar a exploração de minérios de titânio,
Estudos de coqueficação de carvões, com vista à obtenção de um produto que possa vir a ser requerido por indústrias a criar com base no aproveitamento hidroeléctrico de Cabora-Bassa;
Estudo técnico-económico da obtenção de criolite artificial e ácido fluorídrico a partir de fluorites, com vista a uma possível montagem da indústria do alumínio,
Criação de um fundo de fomento mineiro em Moçambique,
Criação de um núcleo informativo, permanentemente actualizado, relativamente a mercados, cotações e aplicações industriais das matérias-primas minerais,
Preparação e especialização de pessoal técnico,
Estudo de problemas de transportes e de tarifas que possam impedir o escoamento dos produtos,
Organização de um centro de documentação científica especializada em assuntos respeitantes às ciências geológicas e a indústria mineira,
Criação nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique das licenciaturas em Ciências Geológicas e Engenharia de Minas,
Estudo de actividades subsidiárias, por forma a promover uma equilibrada ocupação económica da província

2. Industria transformadora

1. Evolução recente e problemas actuais

193. Numa economia de baixo grau de industrialização, como é o caso de Moçambique, o afastamento entre a produção local e a procura interna é muito considerável em numerosos sectores de actividade Este facto tem implicações sérias para a economia moçambicana, pensando-se que a definição dos sectores e subsectores da indústria em que a produção local poderá substituir as importações e as condições em que tal substituição poderá ser realizada seja um dos problemas cruciais do desenvolvimento industrial, devido aos limitados meios técnicos, financeiros e humanos disponíveis

2. Objectivos

194. Apenas com carácter indicativo, admite-se que seja feito pelas entidades privadas neste sector, no período do III Plano de Fomento, um investimento bruto da ordem dos 5210 milhares de contos, assim repartidos

1968 ........................... 650
1969 ........................... 725
1970 ........................... 810
1971 ........................... 900
1972 ........................... 1005
1973 ........................... 1120

Dado o tipo do planeamento escolhido - indicativo no sector industrial - e porque este investimento só pode ser considerado como uma sequência do passado, entende-se desejável que os organismos oficiais promovam e aporem a actividade privada, com o objectivo de não afastar do previsto o investimento verificado a posteriori

3. Medidas de política

195. As medidas necessárias neste sector são

Pesquisa por organismo estadual de novas oportunidades industriais com o objectivo de as divulgar,
Adopção, para cada caso, dos meios de protecção ou estímulo adequados,
Estudo dos problemas de formação de pessoal especializado,
Melhoria das condições de oferta de crédito a longo prazo,
Prospecção de mercados,
Apoio à criação do empresas especializadas em estudos económicos e de organização,
Análise das necessidades das zonas definidas como de "desenvolvimento industrial" (Lourenço Marques, Beira-Vila Pery, Nacala),
Apoio às oportunidades industriais a surgir no seio das definidas "zonas de povoamento",
Utilização das capacidades desaproveitadas nas indústrias transformadoras dos produtos agrícolas e pecuários e do preenchimento das capacidades normais, de laboração de algumas instalações industriais previstas,
Estudo do artesanato, dadas as possibilidades que encontra já na província e considerando a vantagem que advirá do exercício desta actividade em meio rural e nas cinturas urbanas, com vista a poder-se vir a considerar a sua formação

Investimentos

196. Os casos de desenvolvimento de empreendimentos industriais específicos sugeridos pela análise dos vários sectores deverão ser objecto de pormenorizadas análises posteriores, incluídas nos estudos a efectuar relativos a oportunidades industriais
Os investimentos previstos no sector da indústria extractiva e transformadora são os seguintes

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa da Investimentos

[ver quadro de investimentos na imagem]

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[Vêr contuação Quadro de investimentos]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

1. Evolução recente e problemas actuais

197. Através deste sector não se procura a obtenção de rendimentos, mas sim assegurar condições adequadas de vida às populações Incidindo o programa estabelecido sobre abastecimento de água de povoações grandes e pequenas, represas e poços, electrificação, urbanização, esgotos e saneamento, há que ter a preocupação de que corresponda aos melhoramentos absolutamente necessários para atender a necessidades inadiáveis

198. É desejável uma intervenção estadual que permita acelerar a promoção social, especialmente das populações que vivem em meio rural, criando-se para esse fim uma estrutura administrativa que promova a coordenação dos serviços que têm intervenção no problema da promoção. Procura-se que a população contribua directamente para a sua promoção económica e social, obtendo-se "investimentos humanos" que permitam acelerar o desenvolvimento económico-social

199. Numa economia monetarizada, tanto o consumo como o investimento são realizados utilizando "dinheiro". Com excepção de uma pequena parte da população que é empresária no sector agrário e que produz, por vezes, boa parte dos bens alimentares de que necessita, os restantes indivíduos quase não podem proceder a autoconsumo.

200. Em economias menos evoluídas predomina, na generalidade, a actividade agrária e o autoconsumo
É por isso que se considera tão importante actuar em meio rural, melhorando as técnicas produtivas, e, simultaneamente, ir aproveitando a mão-de-obra em subemprego visível e aquela que vai ficando disponível pelo aperfeiçoamento técnico, pelo menos enquanto a população não ingressar num sistema económico monetarizado
A mobilização deste subemprego traz um maior aproveitamento do potencial humano existente, tornando-se assim úteis à Nação os recursos humanos desaproveitados

201. A relação entre o consumo e o investimento, nestes casos, situa-se numa posição intermédia entre o ponto de vista clássico e o keynesiano, pois é possível aumentar a formação de capital sem diminuir nem aumentar o consumo, no caso de se considerar só a mobilização da população em subemprego visível

202. Os serviços de Moçambique já procuram actuar neste campo de promoção, embora de uma forma não coordenada, sendo desejável uma acção dinamizadora e
coordenada dos vários serviços com fundamento em programas concretos de actuação para as diversas regiões do território.

203. Actuam mais directamente junto das populações os Serviços de Saúde, com os seus programas de educação sanitária; os Serviços de Educação, com os serviços extra-escolares envolvendo o ensino de adultos, a promoção da mulher, etc, os Serviços de Obras Públicas, com a realização de melhoramentos locais, os Serviços de Administração Civil, com outros objectivos, incluindo também obras locais; os serviços de extensão agrícola e pecuária (Serviços de Agricultura, Instituto do Algodão, Instituto dos Cereais, Serviços de Veterinária, Junta Provincial de Povoamento), através de intervenção de vários tipos, apoiados por vezes em monitores e visando a organização da produção, a melhoria das técnicas culturais, a comercialização, etc.
O que se pretende atingir é exactamente que tais serviços actuem em dadas regiões, tendo na base da sua actuação um programa comum em que todas as acções a empreender se coordenem, e, por outro lado, que se procure obter a participação da população através do fornecimento do seu esforço em trabalho e, até, em contribuição monetária, quando a população o desejar, quando aquela for necessária para obter a satisfação daquilo que a população considera as suas necessidades

204. O desenvolvimento comunitário, como processo, tem os seguintes elementos principais
Um programa planeado com alvo central nas necessidades totais da comunidade,
O encorajamento da auto-ajuda, que é a base de todo o programa,
Assistência técnica efectiva de organismos estaduais ou de organizações voluntárias;
Integração das várias especialidades, para ajudar as comunidades

Estes quatro elementos são os pilares em que assenta o processo de desenvolvimento da comunidade, segundo as técnicas de desenvolvimento comunitário.

É necessário, porém, notar-se que o sucesso dos programas só será possível se se adaptar o estado de espírito dos técnicos ao tipo de trabalho que vão realizar
É evidente que se faria um regadio muito mais rápido recorrendo a maquinaria que recorrendo ao transporte de terra à cabeça ou abrindo valas a pá e picareta
O bom senso e a necessidade de empregar pouco capital no investimento dirão quando se deverá dar uma ajuda com máquina, mas só supletivamente
É caso para ponderar o das dezenas de furos e poços para obtenção de água feitos no Sul do Save pelos serviços

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públicos, em que se montou uma bomba manual, e que estão, na maioria, inactivos, em virtude de a população não procurar evitar que as crianças os inutilizem, fazendo ver que tudo aquilo, sendo do Estado, é para benefício da própria população.
Uma obra em que estivesse integrado o suor do rosto das populações seria certamente conservada

205. A procura dos investimentos humanos faz-se com o objectivo de se poder multiplicar o "dinheiro" que se mobiliza para os Planos, pois, com base numa coordenação de serviços, procura-se ir buscar directamente ao esforço dos homens, especialmente dos que vivem em meio rural, a obtenção de realizações que se teriam de relegar para mais tarde, se houvesse que esperar até o Estado ter "dinheiro" disponível para as fazer

206. Entende-se que a população só aderirá ao esforço se sentir as obras que realizar com essas pequenas ajudas como sendo suas ou realizadas para seu beneficio directo, imediatamente perceptível o caso de uma ponte que possibilita a ida do gado, durante todo o ano, ao tanque-banheiro, o celeiro feito em termos de se não perder um terço da produção, o armazém da aldeia em que se possam recolher os produtos e classificá-los de modo a haver uma valorização dos mesmos, a casa em materiais duráveis que evita a reconstrução, em períodos curtos, da palhota, a estrada que vai facultar a passagem do médico ou da ambulância, um regadio que liberta da incerteza das chuvas e permite obter a produção agrícola garantida, a enfermaria ou maternidade que permite cobrir directamente os riscos de uma futura necessidade de assistência, o edifício para a escola, etc, são normalmente necessidades perfeitamente sentidas pela população e, em geral, há aderência das comunidades para a sua realização

207. Em Moçambique há uma carga geral de subemprego entre as populações rurais autóctones, quer por razões de ordem técnica (primitivismo dos métodos de cultura, uso de variedades menos produtivas ou de menor valor comercial, emprego de alfaias inadequadas, falta de água para rega em regiões impróprias para a cultura de sequeiro, etc ), quer em consequência das características da própria actividade agrícola numa grande parte da província (a época das culturas é limitada pela estação chuvosa e, mesmo dentro desta, por razões várias, o agricultor permanece inactivo durante os dias que medeiam entre as várias fases do trabalho agrícola), quer ainda por razões de ordem social, em virtude de o rural, no seu contexto cultural actual, não ter ainda, na maioria dos casos, motivações ou perspectivas para despender energias para além das necessárias a satisfação das necessidades básicas
Em certas regiões há mesmo desemprego, muitas vezes quase total, dado que a falta de chuva inibe, com frequência, qualquer actividade agrícola Então os homens válidos emigram em grande número para as regiões urbanas e nos campos quase só ficam os velhos, as mulheres e as crianças Ou então vai toda a família e, quando voltam da migração periódica, encontram as suas terras e palhotas deterioradas, falta de reservas alimentares e um ano de dificuldades a suportar
Ora, é perfeitamente possível mobilizar o subemprego visível, isto é, excluindo o subemprego técnico, tal como é definido com base na limitação de produtividade, e, consequentemente, dos réditos individuais por insuficiência de ordem técnica
Vai, portanto, tentar-se, através de uma estrutura administrativa, promover a coordenação de certos serviços provinciais com o objectivo de canalizar o subemprego visível com vista a obterem-se obras de interesse para as comunidades

2. Objectivos

208. Visa-se instituir um sistema coordenador, orientador e estimulador da promoção social, desejando-se atingir, somente através desse sistema, 100 000 contos de investimentos humanos durante o período de 1969 a 1973 Excluem-se deste valor de 100 000 contos os investimentos do tipo similar que estão programados no sector agrícola
Além disso, prevê-se o abastecimento de água, a electrificação, a urbanização, construção da rede de esgotos e saneamento das povoações mais importantes, destacando-se, em especial, a zona de Vila Pery.

3. Medidas de política

209. A legislação actual não impede que a população promova os investimentos do seu interesse e que os resultados do investimento se integrem no património comum Será mais difícil proceder-se ao pagamento directo ou indirecto pela população de despesas de funcionamento, no caso dos agentes, como professores, enfermeiros, etc , especialmente quando esse pagamento seja só parcial
O assunto será, pois, analisado do ponto de vista da adaptação legislativa com objectivos de que os investimentos humanos, quando realizados, não fiquem por utilizar, dada uma eventual dificuldade que surja no pagamento de parte das despesas de funcionamento

4. Investimentos

210. Os programas de investimentos em melhoramentos rurais são os seguintes

Construção, obras publicas e melhoramentos rurais

Programa da Investimentos

[Vêr programa na imagem]

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V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

211. A visão integrada dos problemas energéticos que se procurou constitui o problema de compatibilização mais importante que se pôs neste sector
Por sua vez, a relação com outros sectores é forçosamente muito estreita, dado que a energia constitui uma infra-estrutura básica de toda a actividade económica Não constituindo a produção de energia um fim em si mesmo, mas simplesmente um serviço prestado, é evidente que todo o trabalho de programação foi conduzido no sentido de assegurar a satisfação dos consumos previstos nos restantes sectores de actividade

212. A este respeito, deve salientar-se a dificuldade de realizar previsões de consumo com razoável segurança, já que as características próprias do território, o dinamismo do crescimento de certos centros populacionais, os próprios valores do consumo reduzidos de que se parte, implicam uma dissemelhança temporal muito grande nos ritmos de crescimento do consumo
Por vezes, acontece que a simples montagem de uma ou duas unidades industriais em dada zona faça subir sensivelmente o consumo de energia eléctrica nessa zona Mesmo no que se refere aos centros urbanos mais importantes da província, são muito falíveis as previsões de consumo que se fazem nesta altura
Este facto obrigou a que se procurasse utilizar todos os elementos conhecidos que de algum modo podem influir no ritmo de crescimento dos consumos das diferentes regiões da província, muito particularmente no que se refere a novas instalações industriais, mesmo que não sejam objecto de decisões definitivas Esta preocupação foi patente, pois chegou-se a abordar concretamente a instalação de uma ou outra unidade fabril nova, porque, na realidade, pode ter uma importância decisiva no programa energético da respectiva região
Deste conjunto de circunstâncias derivam dois pontos importantes
O primeiro refere-se ao carácter de relativa incerteza que reveste o plano de investimentos propostos, não quanto aos empreendimentos indicados, mas no que se refere às datas de entrada em serviço, já que são pouco seguras as previsões de consumo de que parte De notar que, em caso de previsões pessimistas, há que antecipar investimentos, o que, independentemente do carácter de maleabilidade a conceder ao calendário anual proposto (donde deriva a necessidade da sua revisão periódica), implica que os respectivos estudos tenham sido já levados a um grau de adiantamento que não permita soluções de improviso
O segundo ponto refere-se à necessidade de conceder uma especial atenção a melhoria dos métodos de estabelecimento de previsões do consumo e, particularmente, à possibilidade de se utilizarem todas as informações sobre a evolução da actividade económica da província que, de algum modo, possam contribuir para uma mais conecta previsão Há também a salientar a vantagem em que essas previsões sejam regularmente divulgadas, como meio de proceder a sua elaboração numa base cada vez mais perfeita

213. A compatibilização do programa de novos empreendimentos no campo da energia eléctrica, com as previsões da evolução da actividade industrial nas zonas que foram consideradas com potencialidade para um maior desenvolvimento industrial, foi realizada especialmente com vista a definir as necessidades em matéria de infra-estruturas básicas nas zonas de desenvolvimento industrial, o que, indirectamente, permitiu estabelecer uma certa coordenação nos programas de energia, transportes e abastecimentos de água para cada uma das zonas seleccionadas

214. Um dos pontos tratados merece uma referência pormenorizada
Atenta a necessidade de impulsionar a instalação de novas unidades industriais no Norte da província, uma grande parte do trabalho realizado consistiu em precisar as condições de que dependeria a expansão industrial ao longo do eixo Nacala-Nampula
O problema assumia particular relevância para a programação no campo da energia eléctrica, dado que esta tem constituído, de certo modo, um factor limitante, podendo considerar-se elevadas as tarifas a que é fornecida para a indústria
No que se refere a Nampula, reconheceu-se que as possibilidades de uma melhoria significativa neste campo estavam estreitamente associadas à execução do aproveitamento do Alto Molócuè
Mais controvertido foi o que se referiu a Nacala e à zona Monapo-Namialo, em que se poderia admitir uma relativa preferência pelos empreendimentos que se localizassem mais para o interior, aproveitando o interesse que esses centros começam a assumir para a indústria e criando-lhes condições para uma expansão vigorosa Na realidade, admitiu-se que, dentro do eixo Nacala-Nampula, seria para Nacala que deveriam convergir os maiores esforços no período do III Plano de Fomento Porque essa conclusão tem grandes implicações para o planeamento energético naquela zona e também porque foi motivada por condicionalismos próprios deste sector, abordam-se seguidamente algumas dessas implicações
De facto, entrará brevemente em exploração uma central térmica a fuel-oil em Nacala, que se julga dever ser ampliada durante o período do III Plano Não está ainda determinada a dimensão da ampliação, já que esta estará dependente do crescimento do parque industrial da vila, bem como da decisão final de irradiar da sua central uma rede de transporte que sirva a zona de Monapo-Namialo Deve notar-se, porém - e esse foi um factor que pesou bastante na posição adoptada-, que a duplicação da potência instalada na central dará à sua exploração condições económicas muito favoráveis, convindo, portanto, criar condições para que o consumo de energia eléctrica na zona atinja valores verdadeiramente significativos
É nesta perspectiva que se integra a instalação da rede de transportes ligando Nacala ao Monapo e o Monapo a Namialo Na verdade, poderia admitir-se, atendendo à relativa extensão da rede de transporte - cerca de 100 km -, a hipótese alternativa do estabelecimento de uma central localizada no Monapo, o que teria, porventura, modificado a preferência definida para Nacala, já que o Monapo apresentava, sob vários aspectos, condições mais favoráveis
Porém, a análise comparativa a que se procedeu levou a considerar mais vantajosa a instalação da rede de transporte que, aliás, poderá ser o primeiro passo para um esquema regional de transporte de energia que virá a materializar-se pelo seu prolongamento para o Lumbo e ilha de Moçambique e pela interligação, em Nampula, com a rede a servir pelo aproveitamento hidroeléctrico do rio Molócué
A análise referida contribuiu, em parte, para as conclusões a que se chegou ao tratar das zonas de desenvolvimento industrial Ao mesmo tempo, essas conclusões

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vieram conceder especial importância à criação e desenvolvimento das infra-estruturas de energia eléctrica na zona de Nacala, importância que é reflectida pelos empreendimentos relativos a esta zona contidos no III Plano de Fomento

215. Outros problemas de compatibilização se levantaram no que respeita aos aproveitamentos de fins múltiplos, relativamente aos quais houve que proceder a um acerto de posições com os problemas da agricultura
O problema pôs-se especialmente no caso dos aproveitamentos hidroeléctricos dos rios Messalo e Malema, que terão igualmente finalidades hidroagrícolas Estes aproveitamentos serão estudados no período de 1968 a 1973, esperando-se iniciar a construção do primeiro no final do período A conjugação com os estudos que ao mesmo tempo tinham sido propostos com o objectivo de regularização do rio e de rega levou a alterar a data que primitivamente tinha sido pensada para início dos estudos e, correspondentemente, da construção Assim, foi decidido que os estudos fossem iniciados em 1969, e houve igualmente que proceder a um acerto das verbas que deveriam ser imputadas a cada um dos sectores Foi considerado muito importante que existisse uma estreita conjugação entre os estudos de produção de energia e de possibilidades hidroagricolas relativas a estes aproveitamentos, o que se pensa poder ser conseguido, em parte, pela atribuição a uma empresa dos estudos que podem ser realizados conjuntamente

216. Também houve necessidade de proceder a uma certa harmonização quanto à proposição de um programa de inventariação de recursos hidráulicos De facto, um dos trabalhos consistiu precisamente no definição de prioridades para o estudo das bacias hidrográficas, tendo-se procurado, para esse efeito, utilizar critérios que tivessem em vista simultaneamente as finalidades hidroagrícolas e de produção de energia

217. Problemas mais delicados se levantam no que se refere ao transporte de combustíveis para a costa da província e ao transporte do carvão de Moatize

primeiro destes problemas diz respeito à necessidade de proporcionar às centrais térmicas disseminadas pela província a possibilidade de produzirem energia eléctrica a preços bastante inferiores aos obtidos em muitas outras centrais deste tipo consumindo gasóleo, o que se reconheceu estar intimamente dependente do fornecimento do fuel-oil a granel em condições favoráveis A primeira solução encarada consistiu na aquisição de um petroleiro para este fim, solução que encontrava correspondentes instalações de armazenagem de produtos petrolíferos em alguns portos da província
Para resolução do problema foi possível utilizar o método da programação linear, de cuja aplicação resultaram conclusões opostas a esta solução
Em linhas gerais, esta conclusão, conjuntamente com a possibilidade revelada no decorrer dos trabalhos de movimentação de Fuel-oil, pela utilização dos navios de longo curso, deu um novo aspecto ao problema, que terá de ser analisado em profundidade.

218. Por sua vez, ligado ao campo das actividades extractivas, verifica-se que o carvão de Moatize tem defrontado problemas de comercialização cuja resolução não parece fácil Atendendo a vários factores de incerteza, não foi possível, como era desejo inicial, definir uma "zona de influência" para o carvão de Moatize, a tornar posteriormente operacional por medidas de política apropriadas
Reconheceu-se, todavia, que não era possível fornecer-lhe uma base mínima de competitividade económica com outros combustíveis utilizados na produção de energia por via térmica se não fossem revistos profundamente certos factores determinantes desta situação Entre eles avultam as tarifas de caminho de ferro actualmente praticadas, os encargos que oneram o armazenamento e manuseamento do carvão nos diversos portos da província e os próprios preços praticados pela navegação de cabotagem
O problema, porém, necessita de ser integrado numa óptica mais geral, conjugando todos os elementos que envolvem a exploração das minas de carvão de Moatize em condições económicas, o que constituía precisamente uma das principais atribuições dos estudos relativos a indústrias extractivas

2. Objectivos

219. Com referência aos projectos cobertos pelo investimento público, exceptuando, portanto, as obras a cargo das concessionárias (Sociedade Nacional de Estudo e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos, S A R L , e Sociedade Hidroeléctrica do Revuè, S A R L ), com a ressalva do aproveitamento hidroeléctrico do Alto Zambeze em Cabora-Bassa e do aproveitamento do rio dos Elefantes em Massingir, os empreendimentos propostos significarão o seguinte progresso relativamente à situação actual
Aumento da produção de energia eléctrica mediante

Instalação de uma potência térmica adicional de cerca de 8 MW, correspondente a três centrais,
Construção do aproveitamento hidroeléctrico do Alto Molócuè, com uma potência instalada de 39 MW e uma produtibilidade média de 90 GWh por ano,

Construção de uma rede de transporte e distribuição, com as respectivas subestações, correspondendo a
420 km de linhas à tensão de 150 kV, funcionando a 110 kV,
100 km de linhas à tensão de 110 kV, funcionando inicialmente a 60 kV.
125 km de linhas à tensão de 60 kV,
Cerca de 200 km de linhas e ramais de grande distribuição,
Potência dos transformadores instalados nas subestações de cerca de 100 MUA

Reconhecimento de 22 bacias hidrográficas consideradas prioritárias, consubstanciado num inventário para cada uma, do qual conste especialmente - como orientação para os empreendimentos a levar posteriormente a cabo - o seguinte
Primeira avaliação das possibilidades de produção de energia eléctrica, de aproveitamento hidroagrícola e de abastecimento de água, navegação e outros fins,
Sugestão para execução das obras de maior interesse, imediato ou a longo prazo, com estimativa grosseira do respectivo custo,
Recomendação da ocupação hidrológica mais conveniente.

3. Medidas de política

220. As centrais térmicas da província, excluída a da Sociedade Nacional de Estudo e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos, S A. R L, consomem produtos petrolíferos - gasóleo, em grande maioria.

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Os custos da energia eléctrica produzida por estas centrais são função fundamentalmente do tipo de central, do custo do combustível e do factor de capacidade, mas pode dizer-se, de um modo geral, que os custos são elevados e, em certos casos, desencorajadores para novas instalações industriais
Sucede que a utilização de grupos electrogéneos consumindo fuel-oil pode possibilitar a produção de energia eléctrica a preços bastante inferiores aos obtidos em muitas centrais térmicas consumindo gasóleo, desde que o fuel-oil seja fornecido a granel, em condições favoráveis. Dada a importância do assunto, foram especialmente analisados os problemas do transporte dos produtos petrolíferos por cabotagem, seu fornecimento e armazenagem
Por outro lado, deve ser encarada com todo o interesse a possibilidade de utilização dos carvões de Moatize na produção de energia eléctrica, visto tratar-se de um combustível da província, devendo notar-se, todavia, que as centrais a carvão apenas são competidoras com as centrais a Diesel a partir de consumos da ordem dos 50 kWh a 60 kWh, dados os maiores encargos de instalação para pequenas potências instaladas.
Nestas circunstâncias, o problema da produção de energia por via térmica terá de se convenientemente estudado para cada caso, tendo em vista a possibilidade de utilização de combustíveis da província -carvão de Moatize e refinados de petróleo da Sonarep-, ficando a escolha do combustível a utilizar subordinada ao valor da potência e utilização anual da ponta máxima, bem como as vantagens e desvantagens que em cada caso oferece o uso dos referidos combustíveis, atendendo sempre, porém, a que é do máximo interesse nacional depender o menos possível de fontes externas de energia, de modo a evitar saída de divisas Em particular no caso da nova central térmica a instalar para abastecimento da região de Lourenço Marques (C T. III), que poderá laborar com carvão importado, de origem sul-africana, em boas condições de preço, tem muito interesse considerar a possibilidade de projectar a central de modo a serem consumidos indiferentemente os dois combustíveis - carvão e fuel-oil.

221. Considera-se indispensável a resolução a curto prazo do problema do fornecimento a granel de combustíveis, sobretudo de fuel-oil, atendendo especialmente aos benéficos efeitos que daí podem resultar nos custos de produção de energia eléctrica de muitas centrais térmicas. A descida de preço dos produtos petrolíferos pode beneficiar outros importantes sectores da actividade económica
Nestas circunstâncias, atendendo a que não parece haver vantagem em que a frota da cabotagem da província seja dotada de um petroleiro com características apropriadas para esta finalidade, recomenda-se que seja devidamente esclarecida a possibilidade de os navios de longo curso transportarem fuel-oil a granel
Sendo isto possível, ficaria assegurado o abastecimento dos portos da Beira, Nacala e Porto Amélia, considerando-se suficientes a frota de cabotagem existente e os transportes rodoviários e ferroviários para o tráfego deste combustível entre os demais portos e para o hinterland.

222. Embora ainda nada de concreto seja conhecido quanto à existência de petróleo em Moçambique, de que só foram encontrados, até agora, pequenos vestígios, foi unanimemente reconhecida a conveniência em prosseguir com as pesquisas petrolíferas, dada a repercussão que terá na economia da província a descoberta de tão valiosa fonte de energia
Nestas condições, independentemente da continuação das prospecções em curso, promoveu-se o alargamento das prospecções a novas áreas, considerando a participação neste trabalho de outras empresas especializadas

223. O distrito de Manica e Sofala corresponde praticamente, no que diz respeito a produção e grande distribuição de energia, à área de concessão da Sociedade Hidroeléctrica do Bevuè, S A R L
Nesta área põem-se alternativas de grande importância, para a elucidação das quais não existem ainda suficientes elementos de analise, na escolha dos meios de produção que deverão seguir-se ao alteamento da barragem da Chicamba Real à cota definitiva, nomeadamente

Outros aproveitamentos na bacia hidrográfica do Revuè (centrais do Mavúzi II, Mavúzi III, etc ),
Aproveitamentos hidráulicos de fins múltiplos no Pungue,
Centrais térmicas, a localizar, possivelmente, no Dondo ou na Beira

Acresce que a circunstância de se prorrogar ou não o actual contrato de exportação de energia para a Rodésia vai afectar as decisões que vierem a ser tomadas, mais concretamente as datas em que as novas fontes de produção de energia terão de entrar em serviço
Nestas circunstâncias, é indispensável, para melhor basear quaisquer opções futuras, que a concessionária apresente, o mais rapidamente possível, o projecto de obras a executar na zona de concessão

4. Investimentos

224. Os empreendimentos da iniciativa privada incluídos no sector "Energia", isto é, tudo o que diga respeito ao carvão e combustíveis líquidos e às instalações de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica a cargo das empresas concessionárias, não foram considerados na relação de projectos incluídos no Plano, nem, consequentemente, na síntese de investimentos, pela dificuldade de obtenção dos elementos de informação necessários a sua inclusão no sector indicativo do Plano

Energia

Programa de Investimentos

[Vêr programa na imagem]

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[Ver Quadro na Imagem].

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

225. No que se refere à comercialização, toma-se necessário prever investimentos que permitam, em especial, estruturar uma organização que conduza ao funcionamento coordenado dos circuitos de distribuição dos produtos agrícolas e pecuários.

226. Não podem ser esquecidos os problemas relacionados com o comércio do ulterior e as disposições legais sobre condicionalismo comercial e especialização do comércio.

227. Para procurar resolver os problemas relacionados com a comercialização dos produtos agrícolas, é indicada na criação de postos de recepção desses produtos, garantindo preços mínimos, fazendo incidir a sua acção onde não haja instalações de armazenagem, as quais passarão também a funcionar nos mesmos moldes daqueles postos, quanto a preços. Assim, possibilitar-se-á aos produtores a colocação dos seus produtos a preços incentivadores da produção, fazendo-os entrar no circuito de economia monetária.

228. A comercialização dos produtos agrícolas requer, além de uma rede de transportes, o apoio de infra-estruturas de armazenagem. A rede de armazenagem programada competirá receber os produtos, assegurar a sua conservação em boas condições até ao consumo e executar as necessárias operações de limpeza, secagem, acondicionamento, classificação, etc, por forma a constituir lotes homogéneos de maior valor comei ciai e mais fácil venda Considerou-se, portanto, a necessidade de reajustamento da rede de armazenagem, quer por instalação de novas unidades, quer por ampliação das já existentes, tendo-se previsto o investimento exigido tanto para ampliação, como para construção de armazéns simples e silos.
A construção de armazéns frigoríficos foi prevista nos investimentos a fazer nos sectores dos caminhos de ferro e portos.

229. O trabalho de compatibilização deste sector com os restantes foi norteado pela preocupação de se atender não só aos planos dos organismos responsáveis pelos problemas de mercados, preços mínimos e armazenagem, mas também às novas exigências determinadas pelas medidas e projectos sobre produção.
Foi outro lado, compatibilizaram-se também os projectos relativos a armazenagem com os relativos à comercialização dos produtos agrícolas (postos de recepção), limitaram-se os novos postos de recepção àqueles pontos onde não tinham sido previstos armazéns e recomendou-se que estes armazéns e os dos institutos funcionem supletivamente como postos de recepção para as áreas onde estes não existam.

230. Os projectos elaborados para o estudo das principais produções agrícolas da província prevêem, nalguns casos, importantes aumentos de produção, desde que sejam facultados os meios indicados como necessários paia intensificar a assistência à produção agrícola.
A comercialização de tais aumentos de produção carecerá do necessário apoio às infra-estruturas de transporte e armazenagem da província, sem o que se verificarão situações graves, com reflexos imediatos no sector agrícola, será, pois, necessário procurar determinar as solicitações futuras resultantes da realização do III Plano de Fomento.
De acordo com aqueles projectos, as produções agrícolas a considerar no que se refere a problemas de armazenagem são amendoim, arroz, caju, milho e trigo.
O caso do algodão não foi considerado, visto que se admite que a indústria assegure a armazenagem requerida pelo aumento de produção previsto, à semelhança do que já faz presentemente para a produção, a fim de definir os quantitativos a armazenar e respectivas localizações.

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1112 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

231. A produção de amendoim que é comercializada deve situai-se em cerca de 25 000 t de amendoim descascado. Prevê-se um aumento de produção de 65 000 t de amendoim descascado, das quais 43 0001 ser Haveria, assim, em 1973, um total de 68 0001 de amendoim descascado, que seria comercializado e utilizado no abastecimento da indústria das zonas deficitárias ou, eventualmente, exportado.

232. A produção comercializada de arroz situa-se actualmente ao nível das 50 000t de arroz em casca.
Prevê-se que através da ampliação e reconversão dos regadios existentes na província se obterá um aumento de produção de cerca de 35 000 t de bate, o qual, dadas as condições de produção, pode considerar-se que venha a ser totalmente industrializado. Assim, em 1973 seriam comercializadas 85 000 t de base.

233. Dado que a maior parte da produção do milho se destina ao autoconsumo, interessa apenas considerar a estimativa das quantidades comercializadas actualmente e das que poderão vir a ser comercializadas em 1973 considerados os aumentos projectados.
Estima-se o quantitativo comercializado na campanha de 1966 em cerca de 102 0001 e os aumentos previstos até 1973 em 56 000 t da cultura em sequeiro e 35 000 t em regadio. Esclarece-se que não se considerou o total dos aumentos previstos nos projectos elaborados sobre "milho" e "regadios" por se admitir uma certa sobreposição dos mesmos em algumas áreas. Esclarece-se também que parte dos aumentos de produção se destina a autoconsumo, nomeadamente nas zonas onde a cultura hoje está pouco divulgada.
O total comercializado em 1973 seria, portanto, da ordem das 193 000 t de milho.
Como base nos elementos existentes, estima-se a seguinte localização para os quantitativos a comercializar em 1973.

Milho-Áreas de comercialização

Unidade: tonelada

[Ver Quadro na Imagem].

234. A produção actual de trigo, após as necessárias reservas de semente, deve fornecer um total comercializado, em média, de cerca de 6500 t.
O aumento de produção previsto pela reconversão de actuais regadios e criação de novos pode considerar-se, deduzidas as reservas de semente, em 18 0001, sendo o total comercializado de 24 500 t.
Em face da produção actual e da distribuição dos aumentos resultantes da cultura em regadio, estima-se que aquele total se localize do seguinte modo.

Toneladas

Distrito de Lourenço Marques

Vale do Maputo 3 200
Vale do Incomáti 7 500

Distrito de Gaza

Vale do Limpopo (médio superior) 6 500
Vale do Limpopo (inferior) 4 000

Distrito de Inhambane

Vale do Save 500

Distrito de Manica e Sofala

Planalto 800
Vale do Búzi 500
Vale do Fungue 1 000

Distrito da Zambézia 500
24 500

235. Segundo o projecto elaborado, a produção em 1973 será de 210 0001 de castanha de caju, ou seja cerca de 70 000 mais que a actual. Admite-se que aqueles dois quantitativos se referem a produção comercializada. Considerando a produção actual e os aumentos previstos, estima-se que em 1973 a distribuição dos quantitativos comerciais seja.

Toneladas

Zona costeira de Bilene e Massinga 74 000
Distrito de Moçambique 110 000
Distrito de Cabo Delgado 26 000
Total 210 000

236. Considerando as perspectivas de produção e respectivas localizações esquematizadas e atendendo às instalações existentes, definiram-se as exigências quanto a novas instalações de armazenagem. Procedeu-se a este estudo por distritos, considerando, quando justificado, não só o armazenamento da produção própria, como também problemas eventualmente postos pelo abastecimento e distribuição dos mesmos produtos

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30 de junho de 1967 1113

Projecto de armazenagem de apoio à produção agrícola

Rede a criar durante o III Plano de Fomento

[Ver Quadro na Imagem].

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1114 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

2. Objectivos

237. Entre os objectivos visados, figura o conhecimento da estrutura do comércio interno, seus circuitos e pontos de estrangulamento e a tomada de medidas de política comercial com base nos conhecimentos adquiridos.
Propõe-se exercer uma actuação concreta nos compus em que for possível detectar problemas que se centrem especialmente na comercialização dos produtos agrícolas, em que toma papel importante a armazenagem.
No que se refere a organismos oficiais que se consideram imprescindíveis para o progresso da província, o problema já foi considerado no sector da «Agricultura», onde se sumariam na criação de um organismo que trata da comercialização das frutas tropicais, com relevo para as bananas, e na integração, neste ou nos organismos actuais, de vários produtos agrícolas que necessitam de apoio estadual organizado paia se valorizarem e se expandir a produção.
Há, aliás, margem em muitos produtos agrícolas para se poderem cobrar as taxas necessárias a manutenção destes organismos organizadores da comercialização.

238. Como consequência das medidas de fomento e dos projectos elaborados no âmbito do sector da «Agricultura», é de prever, em muitos casos, importantes aumentos das principais produções.
A comercialização destes aumentos de produção, apoiada pelas necessárias infra-estruturas de transporte e armazenagem, é a finalidade que se pretende atingir, mas julgou-se necessária garantia do escoamento dos excedentes comercializáveis a pi ecos mínimos.
Pretende-se, pois, com os catorze postos de recepção de produtos agrícolas a criar, ajudar a resolver os problemas de comercialização anual da produção, a suscitar especialmente em economia de transição, dos seguintes produtos, cujos quantitativos abaixo se julgam facilmente atingíveis em 1973.

Toneladas
Amendoim 68 000
Arroz 85 000
Milho 91 000
Trigo 18 000

Nos distritos do norte do rio Save, onde a influência dos postos de comercialização de produtos agrícolas se vai fazer sentir mais intensamente, os produtos a comercializar podem sei avaliados, em 1973, em

Toneladas
Amendoim 56 000
Arroz 25 000
Milho 68 000
Trigo 18 000

239. A armazenagem compete assegurar a conservação dos produtos agrícolas em boas condições até ao seu consumo.
Nas diversas localidades indicadas pelo projecto, pretende-se que, no período de 1968-1973, se proceda à instalação de armazéns e silos com as seguintes capacidades.

[Ver Quadro na Imagem].

Com a realização destas capacidades de armazenagem, a capacidade total disponível será

[Ver Quadro na Imagem].

No cálculo da percentagem de aumento de capacidade de armazenagem proposta em relação à capacidade actual não foi considerada a capacidade de armazenagem dos caminhos de ferio e portos, que, é de 118 200 t. Aumentar-se-á, no período, de forma estratégica, em relação às produções esperadas, de 20 por cento a capacidade de armazenagem simples e de 109 por cento a capacidade de armazenagem em silos não portuários Será montado um sistema de armazenagem em silos portuários, presentemente inexistente.

240. E essencial que, pelos organismos oficiais competentes, sejam realizados estudos, os quais, inicialmente, poderão concretizar-se nos seguintes trabalhos.
Análise crítica dos requerimentos em que as empresas solicitem a passagem de alvará correspondente aos seus estabelecimentos, na medida em que, em muitos casos, esses requerimentos não estão correctos, por incluírem classes do artigo 10.º do Diploma Legislativo n.º 2022, de 5 de Novembro de 1960, que não conotam da autorização concedida.
Inventário dos organismos que fiscalizem as empresas por regiões.
Relação entro a concentração das lojas do interior e a natureza das culturas nas diversas regiões.
Inventário dos proprietários ou detentores das lojas do interior, conforme o respectivo grupo étnico.

241. A indústria moçambicana tem encontrado, por vezes, dificuldades no normal escoamento das suas produções.
A fim de favorecer uma maior expansão dos produtos nacionais e, simultaneamente, salvaguardar os interesses legítimos de ambas as partes, sugere-se que se estabeleçam contactos directos entre representantes das actividades comercial e industrial em que seja dada prioridade ao estudo dos problemas referentes à colocação dos seguintes artigos de fabricação local candeeiros, cimento, enchidos (salsicharia), garrafas, lacticínios, limas, malhas, papel de embrulho, sabões, sacana, sal, tecidos e vestuário.

242. No que se refere a comercialização dos produtos agrícolas, há que estabelecer um programa do estudo e da acção adequados e criar, eventualmente, organismos especializados que coordenem a comercialização, fazendo dependei deles não só a fiscalização, como também a programação e dentro dos produtos que afluam aos postos da recepção e a eventual exploração da rede de armazenagem afecta a esta actividade

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243. E conveniente, quanto a armazenagem.

Entregar a exploração das novas unidades de armazenagem ao organismo oficial adequado, prevendo-se a sua eventual transferência, quando tal se justifique, para organizações de tipo cooperativo ou com finalidades semelhantes.
Que a utilização das novas instalações seja feita mediante o pagamento de taxas, calculadas segundo critérios idênticos e atendendo não só aos custos de exploração como à amortização dos investimentos feitos, e que essas taxas sejam aplicadas também nos armazéns já existentes.
Estabelecer uma regulamentação geral sobre colheita de amostras, taxas, analiso comercial, acondicionamento do produto, etc , para os produtos que ainda a não possuam, considerando na sua elaboração as normas já estabelecidas para o efeito, quer noutras parcelas do território nacional, quer no estrangeiro, de acordo com o que for mais conveniente.
Promover que a Direcção dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes considere o seu equipamento, a curto prazo, com material rolante adequado ao transporte de cereais a granel, e a execução dos silos portuários que se recomendam em Lourenço Marques e na Beira, para esta última prioritária.
Determinar aos organismos actuantes na extensão agrícola que divulguem, junto dos agricultores situados nas áreas de influência dos silos regionais a instalar, as vantagens dos mesmos, orientando as suas explorações de forma a poderem efectuar a entrega dos cereais produzidos transportando-os a granel.
Dotar as instalações de armazenagem com equipamento indispensável à limpeza, secagem, acondicionamento, desinfestação, etc, dos produtos que sejam armazenados em maior quantidade.
Recomendar que os projectos das novas instalações sejam elaborados de modo a possibilitar a armazenagem de diversos produtos, sempre que viável, em boas condições de conservação, a permitir um manuseio fácil e lapido dos produtos armazenados e que conduzam a instalações tanto quanto possível normalizadas.
Recomendai que a exploração de instalações de finalidades semelhantes se faça segundo regulamento idêntico e observando uma contabilidade de tipo industrial, baseada em adequado plano contabilístico, por forma a ser possível a comparação dos custos de exploração verificados em cada unidade.

3. Investimentos

244. Com a montagem de postos de recepção de produtos agrícolas, assegura-se a compra de determinados produtos agrícolas a preços mínimos garantidos pelo Estado nas regiões onde se prevê que venham a existir problemas ligados à comercialização, possibilitando aos produtores a colocação dos seus produtos a preços incentivadores da produção e fazendo-os entrar no circuito de economia monetária.
Promove-se, assim, o aumento de rendimento das populações.
Para fundo de maneio, com vista a aquisição dos produtos e despesas de exploração, não é fácil indicar um quantitativo, porquanto não se pode conhecer a priori as quantidades que irão afluir».
No entanto, refere-se que o fundo de maneio para todos os postos de recepção (os existentes e os que se recomendam) não deverá ser inferior a 150 000 contos, o qual poderá ser encontrado na banca privada.
Considera-se que este problema terá de ser estudado ao nível regional e pôr produto, o que caberá, portanto, fazer

___________________________

No primeiro ano só começarão a funcionar sem postos, no segundo mus cinco e no terceiro mais três, num total de catorze, a partir do terceiro ano.

Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

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1118 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

a) Portos

254. Os objectivos a alcançar são os seguintes

Apetrechamento da doca seca da Bena, que permitirá a docagem de todos os navios que se dedicam & cabotagem na costa de Moçambique, bem como dos navios de guerra em sei viço na província, prevê-se também a aquisição de equipamento flutuante para os principais portos de Moçambique, além de se considerarem diversos trabalhos de farolagem,
Adaptação do serviço de cabotagem às necessidades reais da província, atendendo-se principalmente nos baixos coeficientes de utilização da frota, à escalagem de portos que o não justificam e à inadequação do tipo de navios
d) Transportes aéreos
255 O principal objectivo incluído no programa de aeroportos reside em tornar-se possível a navegação aérea nocturna com segui (inça, mesmo em más condições meteorológicas, donde resulte melhor utilização da frota aérea de Moçambique
Assim, os aviões das carreiras regulares da Divisão de Exploração de Transportes Aéreos passarão das 2000 horas de voo por avião F 27 por ano, para 25 000 horas, o que corresponde a eliminai o estrangulamento de tráfego que hoje se verifica sem aumento de frota
A viabilidade dos voos nocturnos implica a necessidade dos melhoramentos considerados mais do ponto de vista de segurança aérea (comunicações, ajudas-rádio, emergência e sinalização) do que em melhoramentos nas infra-estruturas, com excepção dos aeródromos que se pretende que estejam feitos de novo no período do Plano Quelimane, Porto Amélia e Loureuço Marques
Pretende-se, por aquisição pela Divisão de Exploração de Transportes Aéreos de novos aviões, atender às necessidades da evolução do tráfego, que aumenta de 15 por cento em relação a cada ano anterior
Está prevista a aquisição de um Foklr 27 em 1968, um jacto para 60-70 lugares em 1970 e outro em 1972, estas aquisições poderão, no entanto, sofrer alteração, se foi possível dar concretização urgente, como está previsto, no voo nocturno. Deste modo, todo o programa de aquisições sofrera um diferimento, pela possibilidade que adviria de voar mais durante as 24 horas
Prevê-se também o reequipamento geral das oficinas da Divisão de Exploração de Transportes Aéreos
e) Telecomunicações 256. Os objectivos são os seguintes
Estabelecimento do equilíbrio da exploração dos correios, telégrafos e telefones de Moçambique,
Melhoria das redes telefónicas urbanas rentáveis de Lourenço Marques e Beira,
Instalação de telex na província adora e orientados na direcção este-oeste (linhas de Bessano Garcia, Goba, Limpopo e Beira), e caminhos de ferro nitidamente deficitários as linhas de Gaza e Inhambane,
A linha de Tete, cujo interesse dependerá do desenvolvimento do distrito do Tete, o qual, por sua vez, neste momento, está subordinado ao programa de desenvolvimento do Zambeze,
Ao caminho de feiro de Quehmane, cuja viabilidade de existência não se pode ainda julgar, dada a falta de elementos para tal efeito,
A linha de Moçambique, que sofreu prejuízos anuais de tendência crescente (cerca de 160 000 contos de 1960 a 1965, cabendo só a este último ano 33 330 coutos), a qual, dada a sua extensão, as legiões que serve e a sua ligação ao Malnui, tenderá certamente para melhor situação,
A um conjunto de portos na província, alguns dos quais com tráfegos irrisórios, todos com tarifas desarmonizadas (pesando as mesmas excessivamente nos custos de cabotagem) e com uma oferta de serviços em condições muito diversas, julga-se que, especialmente para o norte de Quelunane, é necessário o encerramento de alguns deles, concentrando o tráfego noutros, ligado a e&te problema, vem o do equacionamento da rede de estiadas, que deverá aparecer como consequência lógica,
A um serviço de cabotagem, importante como factor de integração do território, por ser a via actual de transporte na direcção norte-sul, serviço este cujos problemas necessitam de ser reconsiderados em novos moldes,
A uma rede de estradas desligada na direcção norte-sul e não garantindo passagem durante todo o ano em grandes superfícies da província
Através das medidas previstas, tomaram-se em consideração, dentro do possível, os problemas de conjunto, havendo, porém, insuficiências por não ter sido possível coligir todos os elementos que permitissem definir uma política geral de transportes.
Dada a evolução que se prevê para a província de Moçambique, é necessário que o tráfego interno passe a ser considerado sob óptica que lhe dê o relevo conveniente, visto até ao presente ter-se dado maior importância aos problemas de tráfego internacional
Têm as verbas referentes aos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes foi te incidência no orçamento geral da província, pelo que se apresenta a seguir um quadro comparativo das receitas arrecadadas através do orçamento ordinário em 1963, 1964 e 1965 e das verbas com que tais Serviços participam naqueles totais
Receitas arrecadadas Unidade: milhar de escudos

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Dados estes valores muito significativos, pode considerar-se que estes serviços suo estratégicos, pelo lado financeiro, na economia da província Reconhecem os próprios serviços a necessidade de melhorarem a sua produtividade Deve, portanto, obter-se o mais rapidamente possível a mais adequada organização dos serviços, esperando-se que daí resultem benefícios financeiros.

a) Transportes rodoviários

258. Os concursos para a construção de estradas devem incluir obras em regiões perturbadas e não perturbadas, a fim de se minorar o inconveniente de os empreiteiros pedirem altos preços por empreitada em regiões perturbadas.
Deve-se ainda explicitar uma política relativamente à camionagem dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes e das entidades privadas.

b) Caminhos de ferro

259. Recomenda-se o uso de vagões de tipo apropriado às diferentes espécies de mercadorias transportadas.
Quanto a coda uma das linhas, referir-se-ão apenas sugestões inteiramente novas, dado que estão em curso várias beneficiações no sistema ferroviário da província que melhorarão as respectivas capacidades de transporte.
Na linha de Ressano Garcia poderá aumentar-se sensivelmente a capacidade de tráfego, ampliando as possibilidades de recepção e expedição dos comboios, sobretudo na estação de Ressano Garcia Interessa manter o esforço que se está a fazer no sentido de se melhorar o tipo e a potência de reboque das locomotivas, sendo de prever pequenos melhoramentos no sistema de exploração de algumas estações no que respeita a comando de agulhas, mais vias sinalizadas, etc.
Na linha de Goba, se o aumento de tráfego com a Suazilândia o justificar, deverão levar-se a efeito algumas correcções em perfil, com vista à uniformização dos valores de rampa integral máxima, limitando-se a 15 por cento.
Há que fazer um reajustamento na densidade dos apeadeiros e estações, eliminando alguns e melhorando os restantes, de forma n conseguirem-se boas condições de cruzamento de comboios.
Na linha do Tete, na hipótese de um aumento substancial de tráfego, será indispensável ampliar consideravelmente a estação de ligação do Trans-Zambezian-Railway (Munhava).
No caso de o tráfego aumentar, haverá que prever a substituição do equipamento por outro mais pesado.
Como é relativamente fraca a densidade de apeadeiros e estações, será de considerar, em caso de necessidade, a sua correcção.
Quando o aumento de tráfego o justificar, será de prever a instalação de sinalização automática.
É importante considerar que esta linha apresenta prejuízos anuais acumulados da ordem dos 96 000 contos no período de 1960 a 1965, cabendo a este último ano cerca de 16 500 contos
Estas melhorias só serão de encarar se o Trans-Zambezian-Railway efectuar, como está previsto, beneficiações correspondentes na sua linha.
Quanto a rede de Moçambique, dadas as características do traçado, com rampas muito acentuadas, qualquer aumento de tráfego obriga a Trabalhos de correcção do perfil, forçosamente muito dispendiosos.
Sistema de ti acção permitindo aumentar a capacidade de carga dos comboios tracção dupla ou locomotivas de grande potência Esta segunda solução obriga também à substituição do carril de 30 kg por outro mais pesado. Sugere-se, no entanto, havendo um aumento substancial de tráfego, que se proceda a um estudo económico para verificar se são será preferível a introdução da sinalização automática.

A densidade dos apeadeiros e estações é baixa, pelo que conviul conseguir os espaçamentos de 15 km a 20 km.
Ás explorações ferroviárias de Inhambane e Gaza são muito deficitárias, tendo o prejuízo, no ano de 1965, atingido cerca de 15 por cento do valor do inventário, o que monta anualmente a cerca de 9000 contos (de 1962 a 1965 o prejuízo acumulado é de 36 800 contos).
A zona é bem servida por transportes terrestres, que estão longe do limite da sua capacidade.
Não é de encarar a hipótese de ligação destas explorações à exploração de Lourenço Marques, pelos elevados investimentos necessários e ausência de rentabilidade.
Recomenda-se o encerramento destas linhas como solução mais conveniente.

e) Portos

260. Além da já referida necessidade de se definirem quais os portos necessárias e quais os que podem ser eliminados, pretende-se o estabelecimento de um conjunto de medidas com vista à eficiência dos serviços portuários.
A eliminação de determinados portos de cabotagem não justificáveis permitirá diminuição de despesas de funcionamento e investimento.
Devem prosseguir os estudos relativos a cabotagem, com vista a atinge-se a maior produtividade no subsector.
Entretanto, seria conveniente que entre as empresas detentoras da frota de cabotagem se estabelecesse acordo que levasse a definir escalas nos vários portos, dentro de um plano comum e com o objectivo de lhes serem proporcionadas melhores condições de exploração, resultando dai a eliminação dos baixos coeficientes de utilização da frota actual.
Será ainda necessário encarar-se o problema da adequação do tipo de navios os quantidades de trafego a transportar.
Deve também ser encarado o problema do transporte de combustíveis líquidos na costa de Moçambique

d) Transportes aéreos

261. Devem completar-se os quadros dos Serviços de Aeronáutica Civil para haver correspondência entre os altos valores investidos em material e o pessoal para o explorar.
Pretende-se verificar em que medida se poderão restringir os investimentos propostos em aquisição de aviões paia a Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos, com uma mais intensiva utilização da frota actual. Aliás, a concretizar-se o voo nocturno, já será possível conseguir um diferimento nos prazos das compras dos novos aviões.

e) Comunicações

262. Recomendou-se o estudo do problema dos correios, telégrafos e telefones, do ponto de vista das suas

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1122 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

EIR - BPPTA

Macaloge-Panila-Mazoco.
Valadim-Milepa
Candulo-Mecula
Mecula-Gomba
Candulo-Chamba
Mazoco-Milepa
Milepa-Chamba
Chamba-Gomba
Panila-Cachepa
Macaloge-Valadim
Maniamba-Augusto Cardoso

Cabe Delgado

EN 243-PA-Sunate-Macomia-Diaca (220 km)
(Projecto concluído)
EN 106

TOAC e PA - Metorro-Rio Lúrio (75 km)
(Prazo de execução 15 meses Projecto em curso)
TOAC e PA - Metorro-Porto Amélia (100 km) (Prazo de execução 20 meses
Projecto a iniciar)

EN 242

TOAC - Metorro-Montepuez (125 km)
TOAC e PA - Limite do distrito-Montepuez (110 km) (Prazo de execução 22 meses Projecto a iniciar)

EIR - BPPTA

Mataca-Macomia
Macomia-Quissanga.

Moçambique

EN 8

TOAC e PA - Variante de Nampula (6 km)
(Prazo de execução 6 meses. Projecto concluído).
TOAC - Ribauè-Entre-Bios (110 km) (Projecto a iniciar)

EN 105 - TOAC e PA - Nacala-Monapo (62 km)
(Prazo de execução 12 meses Projecto concluído)
EN 106

TOAC e PA - Namapa-Nacaroa (90 km)
TOAC e PA - Namialo-Nacaroa (64 km)
(Prazo de execução 13 meses Projecto em curso)

EN 231 - TOAC e PA - Mutuáh-Limite do distrito (20 km)
EIR - BPPTA

Lúrio-Namapa
Namapa-Muriote.
Muíte-Ponto E
Lalaua-Ponto D-Ribauè
Ponto C-Namecuna
Ponto B-Entre-Rios
B-C-D (Prolongamento da ER 512).
Ponto E-Salana.
Ponto F-Muíte

Zambézia

EN 7 - TOAC e PA - Namacurra-Chitungo (79 km) (Prazo de execução 16 meses Projecto concluído)

EN 104

TOAC e PA - Chitungo-Mocuba (29 km)
(Prazo de execução 7 meses Projecto concluído)
PA - Mugeba-Nampevo (30 km) (Prazo de execução 4 meses Projecto concluído).

EN 231 - TOAC e PA

Nampevo-Moliquela-Vila Junqueiro (142 km)
(Prazo de execução 28 meses Projecto em curso)
Lioma-Vila Junqueiro (50 km)
Lioma-Limite do distrito (55 km)

ER 474 - TOAC - Molumbo-Lioma (65 km).
EN 225 - TOAC e PA

Vila Fontes-Compo (50 km) (Prazo de execução 10 meses Projecto em curso)
Campo-Nicuadala (60 km) (Prazo de execução 12 meses Projecto em curso)

EIR - BPPTA

ilange-Zalimba
Molumbo-Medina
Zaimba-Chirombo-Chire

EIL - BPPTA

Gilé-Iutúti
Malei-Maganja da Costa

Tete

TOAC - Tete-Moatize (24 km)
PA - Changara-Tete (100 km)

EN 221 - TOAC

Fingoè-Zumbo (220 km) (Prazo de execução 44 meses Projecto a iniciar)
Matema-Cruzamento de Cabora-Bassa (120 km) (Prazo de execução 24 meses Projecto em curso).

EN 222 - TOAC -Tete-Matema (34 km) (Prazo de execução 8 meses Projecto em curso).
EN 223 - TOAC - EN 105 - Vila Coutinho (118 km) (Prazo de execução 24 meses Projecto em curso).

EIR - BPPTA

Ponto A-Messandaluz
Cassacatiza-Vila Gamito
Furancungo-Vila Coutinho
Zumbo-Puato
Màgoé-Chissico
Chicoa-Màgoé
Mucanha-Messandaluz.
Tete-Furancungo
Messandaluz-Chofombo-Cassacatiza
Changara-Chissico

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Manica e Sofala

EN 6 - TOAC e PA

No acesso aos viadutos na Baixa do Fungue (6 km) (Prazo de execução 6 meses Projecto a iniciar)
Outros melhoramentos

EN 102 - PA

EN 6 - Vila Gouveia (110 km) (Prazo de execução 30 meses Projecto concluído) Vila Gouveia-Changara (150 km)

EN 215

TOAC e PA - Inchope-Vila Paiva de Andrade (81 km) (Prazo de execução 20 meses Projecto concluído)
TOAC e PA - Vila Paiva-Vila Fontes (200 km) (Prazo de execução 40 meses Projecto em curso)

EN 216 - TOAC e PA - Vila Pery-Sussundenga (60 km)
EIR - BPPTA

Dombe-Espungabera
Espungabera-Algeirão-Massangena
Algeirão-Machaze-Chibabava-Estaquinha.

EIL - BPPTA

Dombe-EN 1
Dombe-Sussundenga
EN 1 - Nova Sofala
Canxixe-Chiremba-Chemba
Chemba-Vila Sena-EN 1.
Mavita-EN 216
Maringuè-EN 1

Inbambane

EIL - BPPTA - Chigubo-Funhalouro

Gaza

EN 205 - TOAC e PA-Macia-Folgares (43 km).
EIL - BPPTA

Massangena-Machaíla-Chigubo.
Machaíla-Limite do distrito
Mapulanguene-Migude
Jantigué-EN 208-EN 1 (Prazo de execução 9 meses Projecto a iniciar)
Chibuto-Jantigué (Prazo de execução 10 meses Projecto a iniciar)

Lourenço Marques

EN 4 - TOAG e PA - Moamba-Ressano Garcia (38 km)
EN 251 - TOAC e PA - Lourenço Marques-Moamba (46 km)
EIL - BPPTA - Bela Vista-Ponta do Ouro

Abreviaturas

TOAC - Terraplanagens e obras do arte correntes
PA - Pavimentação asfáltica
BPPTA - Beneficiações permitindo passagem todo o ano.
EN - Estradas nacionais
ER - Estrados regionais
EIR - Estrados de interesse regional
EIL - Estradas de interesse local.

b) Transportes rodoviários

264. Para camionagem, os empreendimentos considerados para o sexénio de 1968-1973 compreendem a aquisição de material automóvel (camiões e ónibus) e aquisição de equipamentos oficiais e a construção de casas para o pessoal.

265. Tal programa provém de

Haver necessidade de renovar a frota da camionagem automóvel, boje composta de mais de 300 unidades, camiões e autocarros, visto as disponibilidades financeiras não terem tornado possível a substituição progressiva de viaturas que há muito ultrapassaram o seu limite de vida (a medida inclui a aquisição de 60 camiões de carga e 40 autocarros).
Sei necessário equipar convenientemente as oficinas das cinco secções da camionagem automóvel.
Haver necessidade de construir casas paia o pessoal da camionagem, quer nas localidades onde se situam as sedes de cada uma das cinco secções, quer nos pontos terminais de algumas carreiras muito longas.

c) Caminhos de feno

266. Consideraram-se melhoramentos no traçado e beneficiações no material, com relevo para n aquisição de locomotivas mais potentes e de vagões apropriados ao tipo de mercadorias a transportar.
Procurou-se assim, atender fundamentalmente ao aumento do tráfego previsto, oriundo dos países vizinhos.
Ira incidir o principal esforço em caminhos de ferro, na lede de Lourenço Marques, caminho de ferro da Beira, caminho de ferro do Teto, caminho de ferro de Moçambique e caminho de ferro de Quelimane, atendendo-se também às necessidades da rede interna.
No que se refere ao tráfego interno, fizeram-se várias recomendações, pois será possível trazer economias ao subsector se se fecharem algumas linhas de caminho de ferro.

267. Os investimentos previstos em caminhos de ferro distribuem-se pela rede de Lourenço Marques, rede da Beira, lede de Quelimane e rede de Moçambique

d) Portos e navegação

268. Estão previstas beneficiações nos acessos portuários e facilidades de manobra no interior dos portos.
O maior esforço incidirá nos portos de Lourenço Marques, Beira e Nacala, tendo ainda sido considerado o apetrechamento da doca seca da Beira, cujas dimensões permitirão docar qualquer dos navios de cabotagem existentes ou mesmo qualquer dos navios de guerra actualmente em serviço ou previstos para actuai na costa de Moçambique.
Também no caso dos portos - tal como para os caminhos de ferro -, no que se refere ao tráfego interno, se fizeram várias recomendações, pois será possível trazer economias ao subsector se se fecharem alguns portos de tráfego diminuto, o qual pode ser desviado sem afectar a economia da província.

269. Por compatibilização deste programa com os dos outros sectores, verificou-se que somente no aspecto de armazenagem seria necessário considerar a construção de um silo para cereais, no porto da Beira, com a capacidade de 12 0001 e cujo custo se estimou em 25 000

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1124 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

contos. Por isso, tal empreendimento foi incluído no programa de investimentos dos Serviços de Peitos, Caminhos de Ferro e Transportes.
Ligado ao problema dos transportes dos cereais daqueles pontos até ao porto da Beira, surgiu a necessidade de se recomendar o equipamento com material ferroviário adequado para transportes a granel nos percursos Vila Pery-Beira e Tete (Moatize e Caldas Xavier)-Beira

270. No programa dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes está prevista a criação de um silo para cereais no porto de Lourenço Marques, para servir os territórios vizinhos.
Considera-se, por isso, que os silos a construir nos vales do Incomáti e Limpopo disporão de material ferroviário adequado para transporte a granel ato ao porto de Lourenço Marques, podendo os cereais provenientes daquelas e de outras zonas do Sul e do Norte utilizar aquele silo.

271. Os totais dos investimentos previstos em portos abrangem os portos de Lourenço Marques, Beira, Nacala, Quelimane e outros.

272. Quanto aos Serviços de Marinha, pretende-se que se equipem no essencial, incidindo grande porte do programa para o sexénio no apetrechamento da doca seca da Beira, prevendo-se também a aquisição de equipamento flutuante para os portos de Lourenço Marques, Beira, Nacala e Quelimane, além de diversos trabalhos de farolagem.
O programa para o sexénio envolve também a aquisição de dois rebocadores e uma dragueta de sucção, além de varias embarcações para balizagem, pilotos e polícia marítima Isto no que respeita a equipamento flutuante

273. Assim, neste capitulo dos Serviços de Marinha, os investimentos previstos são, portanto.

1 Porto de Lourenço Marques

Um rebocador de 600/800 HP

2. Porto da Beira

Um rebocador de 600/800 HP,
Uma barcaça para balizagem,
Apetrechamento da doca seca, construção e apetrechamento das oficinas navais da Capitania

3. Porto de Nacala

Construção e apetrechamento das oficinas da Capitania

4. Porto de Quelimane

Uma embarcação para transporte de pilotos e polícia marítima

5. Serviço de farolagem

Bóias AGA WIGHM, amarrações e material óptico

6. Serviço de dragagens

Uma dragueta de sucção estacionária

7. Estudos em modelo reduzido

Porto de Lourenço Marques,
Porto da Beira,
Porto de Quelimane.

d) Transportes aéreos e aeroportos

274. Com o programa estabelecido procura-se fundamentalmente.

Conseguir a utilização dos aeródromos em qualquer altura do ano, independentemente das condições meteorológicas,
Tornar possível o voo nocturno,
Operar com aviões de tipos maiores;
Aumentar as condições de segurança

Obter-se-á assim um melhor aproveitamento do material, havendo apenas que estabelecer a necessária correspondência com o pessoal para explorar.
Quanto aos aeródromos, prevê-se maior actuação, durante o III Plano de Fomento, nos de Mocímboa da Piaia, Porto Amélia, Vila Cabia!, Vila Coutinho, Lumbo, Nam-puln, Tete, António Enes, Quelimane, Vila Pery, Beira, Vilanculos, Inhambane, João Belo, S. Martinho do Bilene e Lourenço Marques.
No que respeita à D E T A (Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos), dada a evolução do trafego, dirige-se o programa para a aquisição de novas aeronaves e respectivo equipamento oficial.

275. Como pelos Serviços de Aeronáutica Civil foi apresentado um programa de investimentos em aeroportos, elaborado em conjunto com os utilizadores dos aeródromos (elementos dos serviços dos transportes aéreos da província - D. E T A. - e dos táxis aéreos), os respectivos programas (Aeronáutica Civil e D E T A surgiram já compatibilizados entre si e atendendo à complementaridade do serviços dos táxis aéreos.
E de salientar que a concretização urgente do apetrechamento dos aeródromos que possibilite o voo nocturno terá a vantagem de diferir o programa de compras de novos aviões, o que levou a considerar-se como urgente a execução daquele apetrechamento, previsto na medida de fomento relativa a aeródromos.
Não houve que proceder a compatibilização com outros sectores, visto que os serviços da D E T. A que tratam das carreiras aéreas consideram que os programas que têm permitem ir correspondendo às necessidades crescentes de trafego.

276. O plano da acção dos Serviços de Aeronáutica Civil diz respeito a aeroportos e no período de 1968 a 1973 o seu programa considera-se dividido nas seguintes finalidades áreas de manobra, edificações e montagens, segurança aérea, equipamento e serviços gerais.

277. Pormenorizando por aeródromos, os investimentos distribuem-se por

Mocímbos da Praia

Áreas de manobra

Pavimentação dos topos,
Pavimentação geral.

Equipamento de segurança aérea da área-SSB

Serviços gerais

Urbanização, etc.

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30 DE JUNHO DE 1967 1125

Porto Amélia

Áreas de manobra

Terraplenagem e pavimentação

Energia e sinalização luminosa.
Equipamento de segurança aérea SSB

Serviços gerais:

Urbanização, etc

Vila Cabral

Áreas de manobra

Beneficiação da pista secundária e construção do caminho de circulação.
Energia e sinalização luminosa Edificações e montagens.
Abrigo de bombeiros e viaturas.
Habitação.

Equipamento de segurança aérea:
SSB.

Serviços gerais

Urbanização, etc.

Vila Coutinho

Áreas de manobra
Edificações e montagens

Abrigo e casa do capataz,
Radiofarol

Equipamento de segurança aérea

Radiofarol,
Comunicações,
Grupos.

Serviços gerais

Urbanização, etc

Lumbo

Energia e sinalização luminosa
Equipamento de segurança aérea
SSB

Nampula

Áreas de manobra

Pavimentação do caminho de circulação.

Energia e sinalização luminosa

Energia (VOR e NDB),
Energia para o centro emissor

Edificações e montagens

Centro emissor, cabos telefónicos, grupos e casa do guarda,

Aerogare (beneficiação),
Bombeiros (viaturas e abrigo);
Abrigo do VOR e casa do guarda,
Habitações

Equipamento de segurança aérea.
Instrumentos de medida,
Gravadores,
Torres de antenas

Serviços gerais.

Urbanização, etc

Tete

Edificações e montagens

Aerogare,
Central,
Abrigo de viaturas;
Oficinas,
Habitações

Equipamento de segurança aérea:
SSB,
Equipamento de controle do aeródromo.

António Enes

Serviços gerais
Urbanização, etc

Quelimane

Áreas de manobra
Construção.

Energia e sinalização luminosa.
Edificações e montagens

Aerogare,
Central,
Abrigo de viaturas;
Bombeiros,
Viaturas contra incêndios,
Oficinas;
Habitações

Equipamento de segurança aérea:

SSB e lanterna de sinais,
Comunicações, torre, cabo telefónico e instrumentos de medida,
Gravadores

Serviços gerais

Água e luz,
Urbanização, etc

Vila Pery

Expropriação e construção
Edificações e montagens

Aerogare e hangar,
Habitações,
Abrigo de máquinas e viatura contra incêndios.
Máquinas e equipamento de conservação.
Central, armazém e abrigo de material de placa,
Radiofarol

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1126 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Equipamento de segurança aérea
SSB e comunicações

Serviços gerais

Beira

Edificações e montagens

Controle de aeródromos e de aproximação

Equipamento de segurança aérea
ILS ou radar,
Circuito rádio teleimpressor,
Automatização,
DME,
Equipamento complementar

Serviços gerais

Arruamentos e urbanização,
Terraplanagens,
Vedações

Vilanculos

Áreas de manobra

Construção

Energia e sinalização luminosa
Edificações e montagens
Equipamento de segurança aérea

SSB

Serviços gerais

Vedações,
Urbanização, etc

Inhambane

Áreas de manobra

Expropriação e construção

Edificações e montagens
Equipamento de segurança aérea

SSB

João Belo

Serviços gerais
Vedações

João Belo

Áreas de manobra

Consolidação

Edificações e montagens
Serviços gerais

Bilene

Áreas de manobra
Edificações e montagens
Equipamento de segurança aérea

Equipamento de comunicações e radioajudas.

Serviços gerais

Abastecimento de água,
Vedações e urbanizações

Lourenço Marques

Áreas de manobra
Energia e sinalização luminosa

Edificações e montagens

Bombeiros,
Viaturas contra incêndios, desobstrução e limpeza,
Habitações

Equipamento de segurança aérea

ILS ou radar,
Automatização,
Equipamento meteo,
DME,
Equipamento complementar

Serviços gerais

Outros

Áreas de manobra
Edificações e montagens
Equipamento de segurança aérea

Equipamento para comprovação de radioajudas,
Radioajudas,
Equipamento complementar (CTA do Tete).

Serviços gerais

278. Para aeronaves, os empreendimentos compreendem a aquisição de novos aviões e a aquisição de equipamento.

279. A aquisição de novos aviões será imposta pelas necessidades da evolução do tráfego, que vem aumentando de 15 por cento em cada ano, conjugada com as tendências da construção aeronáutica e a política de material de voo que vêm seguindo as companhias dos territórios limítrofes que mantêm acordos de tráfego em pool (South África Airways e Central África-Airways), permite, além disso, ligações mais apropriadas aos jactos da T A P (a programação inclui a aquisição de um Fokkcr F 87 - Fnend-ship - em 1968, um jacto para 60 a 70 lugares em 1970 e outro igual em 1972, a aquisição do segundo jacto será efectuada por troca com um F 27, se se verificar não ser necessário), verifica-se ainda a necessidade de equipar as oficinas da D E T A (inclui equipamento e ferramentas para instalação da oficina de reparação de motores de turbina e outro equipamento oficinal de carácter geral).

280. O estudo dos fluxos do tráfego interno tem em vista a recolha de elementos para o estabelecimento de uma política geral dos transportes internos (estiada, caminho de ferro, cabotagem e avião), visto ser necessário obter maior rentabilidade dos investimentos por coordenação entre estes e a oferta de melhores serviços Por isso se prevê a realização daquele estudo.

e) Telecomunicações

281. O programa estabelecido visa a melhoria das redes telefónicas urbanas rentáveis (Lourenço Marques e Beira) e a instalação de centrais telex também nestas duas cidades.

282. Para facilitar uma visão de pormenor dos investimentos a efectuar pelos transportes e comunicações apresenta-se o quadro seguinte

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30 DE JUNHO DE 1967 1127

Transportes e comunicações

Programa da Investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

283. Segundo estimativa feita pela Junta dos Bairros de Casas Populares, cifra-se em cerca de 300 000 o número de indivíduos que vivem actualmente nas zonas de cintura dos mais importantes centros urbanos da província.
Em termos de fogos, considerando 4,5 como número médio de habitantes por fogo, a repartição das necessidades é a seguinte.

Fogos

Lourenço Marques 35 000
Beira 9 000
Quelimane 6 000

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1128 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

António Enes 5 000
Nampula 3 000
João Belo 3 000
Vila Cabral 1 500
Vila Pery 1 500
Inhambane 1 000
Tete 1 000
Total 66 000

284. Considerar-se-á, no período do III Plano de Fomento, a criação de, pelo menos, 20 000 novos fogos, a repartir como segue

Fogos

Lourenço Marques 6 700
Beira 6 700
Outras localidades 6 600
Total 20 000

2. Objectivos

Estimam-se em 700 ha as necessidades em terrenos para a construção desses 20 000 fogos.
As características das construções serão diferentes, consoante se situam em Lourenço Marques e Beira ou noutras localidades. Em Lourenço Marques e Beira considerar-se-ão construções de edifícios de 8 fogos, construções unifamiliares e construções para fins comerciais (60 por cento, 20 por cento e 20 por cento, respectivamente), enquanto nos demais localidades predominarão as construções unifamiliares.
Tendo em conta esta diferenciação, aqueles 700 ha virão a distribuir-se como se segue.

Hectares

Lourenço Marques 150
Beira 150
Outras localidades 400
Total 700

Excepção feita a Lourenço Marques e a Quelimane, considera-se possível a obtenção gratuita dos terrenos necessários.

285. Logo que se tenha concluído a urbanização dos terrenos, considera-se a possibilidade da venda dos mesmos, em condições de preços favoráveis, aos directamente interessados empreiteiros, cooperativas, eto -, que se encarregariam da construção das habitações.

3. Medidas de política

286. As medidas de política enquadram-se nos seguintes termos.
Para execução harmónica do programa, haverá que assegurar a colaboração das várias câmaras municipais para solucionar os problemas emergentes.
Para que o programa proposto possa iniciar-se, torna-se necessário que previamente seja feito um estudo financeiro pormenorizado do problema e que se incremente a apresentação dos necessários planos de urbanização.

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

287. De entre as zonas já detectadas como de interesse sob o ponto de vista turístico, seleccionaram-se aquelas que, pelas infra-estruturas já existentes, permitem um esforço de promoção com um investimento reduzido e que são.

Ponta do Ouro, reserva do Maputo, lagoas da Bela Vista,
Zona de influência de Lourenço Marques, S. Martinho do Bilene, Chongoene, lagoas de Zavala, cabo das Correntes, Inhambane,
Vilanculos, Inhassoro, Bazaruto, Bartolomeu Dias, Zona de influência da Beira, Parque Nacional da Gorongosa.

Actuando imediatamente nestas zonas, há a certeza de virem a melhorar-se as condições em locais dos mais receptivos no panorama turístico da província e que beneficiam já de um afluxo considerável de turistas.
Finalmente, foi considerado necessário contribuir para a construção de uma escola de profissionais de hotelaria.

288. Este sector contém implícitos vários problemas de compatibilização sectorial.
Recorreu-se, por medidas de fomento, ao estabelecimento de um certo número de acções que permitam obter os elementos necessários à programação do sector, para além da previsão do afluxo de turistas, e, portanto, no decorrer do III Plano de Fomento poder-se-ão concretizar, tais empreendimentos, os quais deverão ser enquadrados nos sectores respectivos (casos de estradas, transportes aéreos, planos de urbanização, águas e electricidade, saúde, etc ). Tomou-se, porém, como solução intermédia, a consideração de uma verba global para se fazer face às necessidades que realmente venham a explicitar-se melhor, a qual poderá ser reforçada com os meios financeiros do Fundo de Fomento Turístico, citado recentemente.

289. Assim mesmo, ainda foi possível verificar que algumas das estradas, dos abastecimentos de água e electrificações que, por outros motivos, se propunham fazer, coincidiam, em muitos casos, com as necessidades do sector de turismo, como, por exemplo, as electrificações da Ponta do Ouro, S. Martinho do Bilene, Vilanculos, Inhassoro, a urbanização em Ponto do Ouro, região de Inharrime, Quissco, Chindenguele, Bazaruto, etc.
O caso da estiada da Bela Vista para a Ponta do Ouro constitui um caso diferente, pois foi incluída no programa rodoviário exactamente por razões turísticas, pretendendo-se que nesta estiada se façam as beneficiações necessárias para garantir o trânsito durante todo o ano.

2. Objectivos

290. Com base no movimento de entradas de turistas nos anos de 1962 a 1965, extrapolou-se, mediante uma regressão linear, o volume de turistas, de forma a definirem-se as metas a atingir no período do III Plano de Fomento (1968-1973).
Os valores aproximados da projecção são os seguintes:

Turistas
1968 258 000
1969 274 000
1970 290 000
1971 306 000
1972 323 000
1978 339 000

Esclarece-se, desde já, que não se tomou a taxa de crescimento do período de 1962-1965, que era de 8,5

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30 DE JUNHO DE 1967 1129

por cento, mas fixou-se a taxa de 5,6 por canto para esta linha de tendência dos anos de 1968-1978, bastante inferior, portanto, à que anteriormente se verificou.
Esta prudência na projecção deve-se a serem muito elásticas as circunstâncias condicionantes do fenómeno turístico em geral e, portanto, de difícil previsão Factores de natureza económica, social e política, nas origens dos fluxos turísticos externos, podem alterar substancialmente o seu volume sem viabilidade de, por medidas internas do mercado receptor do turismo, facilmente se poder retomar a posição anterior.
Aliás, a curta extensão do período de tempo-base da análise do sector não permite que se possa, com relativa certeza, viver a evolução futura do quantitativo de turistas no mercado turístico da província.
Por estes motivos se adoptou uma taxa anual de crescimento de 5,6 por cento e se admitiu que poderão ocorrei flutuações, com efeito negativo, de amplitude que se arbitrou em cerca de 10 por cento dos valores estimados, donde resultaram os seguintes intervalos anuais, que se tomam como meta a atingir

Turistas

1968 .................. 230 000 a 260 000
1969 .................. 240 000 a 270 000
1970 .................. 260 000 a 290 000
1971 .................. 270 000 a 300 000
1972 .................. 290 000 a 320 000
1973 .................. 300 000 a 340 000

291. Em relação ao numero de dormidas foi apurado um valor médio entre 1,55 e 1,91 para 1961 e 2,5 e 2,97 para 1965 Como á abertura da ligação Lourenço Marques-Beira permite o estabelecimento de circuitos turísticos fechados em lelação aos fluxos externos mais relevantes (África do Sul e Rodésia), necessariamente que a média de estada terá de subir Assim, tomou-se como meta facilmente alcançável e seguramente excedível a média anual de três dormidas.
A previsão para o período do III Plano de Fomento é, pois, de

Dormidas

1968 ........................ 690 000 a 780 000
1969 ....................... 720 000 a 810 000
1970 ........................ 780 000 a 870 000
1971 ........................ 810 000 a 900 000
1972 ........................ 870 000 a 960 000
1973 ..................... 900 000 a 1 040 000

292. Não é possível, por os dados existentes não o permitirem, estimar-se o desenvolvimento que necessariamente a indústria hoteleira terá de sofrer paia absorver o aumento de turistas. Mas, a verificar-se a projecção referida, tal desenvolvimento será uma necessidade imperiosa.

293. Por outro lado, um incremento como o que se espera teia reflexos fortes e benéficos na balança de pagamentos da província. Assim, calculando-se a despesa média diária do turista em Moçambique em cerca de 450$, estima-se na perspectiva já exposta que as receitas de divisas atingirão.

Contos

1968 310 500 a 351 000
1969 324 000 a 364 000
1970 351 000 a 391 500
1971 364 500 a 405 000
1972 391 500 a 432 000
1978 405 000 a 459 000

Pelo exposto se vê que, se a saída de divisas resultante da despesa do turismo se mantiver no nível dos 270000 coutos, valor à volta do qual variou no período de 1960 a 1964, serão os seguintes os valores do saldo da rubrica «Turismo».

Contos
1968 + 40 500 a + 81 000
1969 + 54 000 a + 94 500
1970 + 81 000 a + 121 500
1971 + 94500 a + 186000
1972 + 121500 a + 162000
1973 + 135 000 a + 189 000

3. Medidas de política

294. As medidas a tomar são

Estudo e reorganização da pesca e caça desportivas, com especial atenção paia a fixação, com antecedência, das espécies de caça a abater anualmente, permitindo assim o estabelecimento, com a antecedência requerida, dos contratos entre as empresas de safaris e os seus clientes.
Realização fie campanhas publicitárias no sentido de obter uma económica utilização da capacidade hoteleira fora dos períodos de ponta.
Incentivo da indústria hoteleira e similar, não somente quanto ao seu desenvolvimento, como ao seu melhoramento técnico e profissional.
Maior projecção das agências de viagem e turismo no desenvolvimento e promoção da actividade que é a razão fundamental da sua existência - o turismo.
Autorização para particulares podei em alojar turistas nas suas residências, desde que sejam satisfeitos certos requisitos, aumentando-se assim a capacidade de recepção de turistas, já esgotada nos períodos de ponta.
Aplicação de medidas de carácter legal de protecção e fomento do património t místico da província, como seja a declaração de utilidade turística nos casos em que tal seja conveniente.
Promoção da realização de manifestações de carácter cultural, desportivo, recreativo e mundano (necessidade de factores de captação nos épocas foi a de estação).
Aproveitamento do património histórico e monumental isto da província e melhor aproveitamento das riquezas da fauna e da flora.
Utilização, como meio de atracção, das actividades regionais e regionalistas (grupos folclóricos, cozinha típica, etc ).
Formação profissional hoteleira ao nível inferior e médio, através da criação de uma escola hoteleira.
Política de trabalho relativamente ao pessoal da indústria hoteleira e similar.
Centralização numa única entidade pública dos aspectos gerais da fiscalização de interesse turístico dispersos por vários serviços, como medida para obter uma maior eficiência, coordenação e rendimento.

4. Investimentos

295. Apresenta-se a seguir o programa de investimentos do sector

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1130 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Turismo

Programa de Investimentos
Unidade, milhar da escudos

[Ver Quadro na Imagem].

X) Educação e investigação

1. Educação

1. Evolução recente e problemas actuais

296. No sentido de, no espaço de vinte anos, Be conseguir uma escolaridade generalizada na província, prevê-se que em 1973 se haja atingido uma taxa de escolaridade de, pelo menos, 40 por cento, o que constitui largo passo no intuito de se alcançar o fira em vista.
As campanhas de alfabetização das massas rurais, previstas mormente entre adultos, através dos serviços extra-escolares e dos cursos nocturnos e de ensino primário, permitirão obter um indico mais elevado na luta contra e analfabetismo.
Foi também dada glande atenção as necessidades de pessoal técnico qualificado a todos os níveis no sector agro-pecuário, pelo que se espera, com as escolas a criai, atender às necessidades deste tão importante sector na economia de Moçambique durante o período do III Plano de fomento.
Nos outros tipos de ensino procurou-se eliminai algumas deficiências no capitulo de instalações, alargando-se mais a malha de cobertura da província. Quanto ao ensino universitário, pretendeu-se contribuir para a continuação da melhoria das construções e aspectos complementares, bem como do equipamento científico.

297. Nos aspectos da compatibilização com outros sectores, deve mencionar-se que as necessidades da agricultura, silvicultura e pecuária levaram a que o esforço educacional se de preferência para o tipo de ensino que permite a formação, a diversos graus, de técnicos agro-pecuários.
Planeou-se por isso, a ampliação das escolas primai ias rurais com granjas agrícolas e pecuárias, permitindo que 03 alunos comecem, desde os primeiros bancos escolares, a aprendizagem e o despertar de interesse pela parte literária, juntamente com as técnicas rurais, próprias do seu melo ambiente.
No que respeita às necessidades quanto a educação noutros sectores, verificou-se que o programa proposto satisfaria, tanto no campo do ensino técnico, em que se dará relevo às escolas de artes e ofícios, como no campo do ensino liceal e superior.
No caso da formação acelerada de pessoal que mais interessa à indústria de transformação, fez-se uma recomendação com vista a obter-se apoio das entidades oficiais da metrópole e das privadas de Moçambique.

2. Objectivos

298. Com a execução do programa que se propõe, conseguir-se-á atingir em 1973 uma taxa de escolarização de 49 por cento O número de alunos por professor (no ensino primário) manter-se-á em 75, o que corresponde a cerca de 30 alunos por classe.
Considere-se que, se essa taxa for atingida, se terá dado um passo importante no sentido da escolarização generalizada.
Tendo em consideração a taxa de escolarização que se propõe como meta a atingir na vigência do III Plano de Fomento e a estimativa da população escalonável e admitindo, como hipótese, que n percentagem dessa população ó sensivelmente semelhante em todos os distritos, construiu-se o seguinte quadro, que contém a repartição daquela meta por distritos.

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Adoptou-se a taxa de 40 por cento para o cálculo da população escolarizável, tendo em vista o alargamento desta população com a aplicação ao ultramar do ensino primário complementar.

Outro objectivo a atingir consiste no alargamento da alfabetização pela acção do serviço extra-escolar e dos cursos nocturnos de ensino primário a maior número de indivíduos do que o verificado nos últimos anos Espera-se, assim, conseguir.

20 000 alunos/ano nos cursos nocturnos do ensino primário,
50 000 alunos/ano por acção do serviço extra-escolar

299. Quanto ao ensino secundário, tem importância referir que com o programa proposto se consegue dotar a província com uma rede de ensino agrícola e pecuário a nível elementar, secundário e médio que se considera adequada às necessidades esperadas em técnicos destas especialidades

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300. Nas demais especialidades do ensino secundário e médio a acção encarada pelo programa visa a melhoria das condições em que funcionam os cursos, quer por aumento dos quadros, quer por alargamento das instalações em que esses cursos são ministrados, possibilitando-se assim dar vazão aos alunos que se prevê procurem esses tipos de ensino.

301. Quanto ao ensino universitário, julga-se ser possível conseguir o funcionamento, em melhores condições, dos actuais cursos de Agronomia, Veterinária e Medicina e alguns cursos de Letras que se pretende sejam criados.

3. Medidas de política

302. As medidas neste sector são as seguintes.

Educação de adultos de foi ma a alcançar a grande massa populacional aglomerada na periferia dos centros urbanos mais importantes e quantos, na dependência sócio-económica da população ocidentalizada, queiram aprender a ler.
No que respeita a instalações para professores, favorecer a colocação de casais na mesma localidade, fornecendo-lhes uma residência.
Execução integral, em todas as escalas rurais, dos programas de educação feminina e de divulgação da língua portuguesa entre a massa feminina nativa.
Efectivação de uma campanha de promoção junto das mulheres, na periferia das cidades, por meio de cursos que especialmente lhes serão destinados, com a duração de 4 a 6 meses e a frequência máxima de 40 elementos por grupo ou turma.
Melhoria pedagógica da formação docente, estendendo-se a província os estágios profissionais em vigor na metrópole.
Organização de cursos periódicos de actualização pedagógicos e distribuição às escolas do actual didáctico indispensável as exigências de ensino, fomentando-se a utilização de material audiovisual.
Criação de uma comissão técnica permanente para apetrechamento de material didáctico.

4. Investimentos

303. Segue-se um quadro-síntese do sector

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Página não processada!

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Página não processada!

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2. Investigação ligada ao ensino

304. Dada a necessidade de se investir em Moçambique, atendendo à mais rápida reprodutividade, é de aconselhar que as instituições que se dedicam à investigação cientifica e os Estados Gerais Universitários coordenem os seus programas entre si e com as instituições que fazem a investigação básica.
É indispensável que as entidades que tratam de investigação, científica ou básica, elaborem programas orçamentados específicos de investigação dentro de cada instituição.

3. Investigação não ligada ao ensino

1. Cartografia geral

2. a) Cartografia geral e especial

305. Assentou a programação dos empreendimentos incluídos nesta rubrica na necessidade de se manter a execução da cobertura fotográfica da província, além dos trabalhos de cadastro.
No que respeita a cartografia, a tarefa de maior envergadura continua a ser a elaboração da carta da província, à escala 1/50 000, envolvendo trabalhos de apoio de campo, completarem, toponímia, desenho e impressão, a partir da qual se procederá ao desenho e impressão das cartas 1/250 000, 1/500 000 e 1/1 000 000.
Procura-se que fiquem cartografadas todas as zonas não cobertas a sul do paralelo 14 e, a norte, as zonas consideradas de povoamento.
Quanto ao cadastro, é um problema que apresenta maior acuidade nas regiões em que a propriedade é de constituição antiga ou está pulverizada.
Assim, houve necessidade de se tomarem em consideração, em primeiro lugar, o distrito de Lourenço Marques e certas zonas dos distritos de Gaza, Inhambane, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique.

306. A compatibilização nos casos de obtenção de elementos de cartografia ficou estabelecida para os casos das zonas de povoamento a norte do paralelo 14 sul, pois fica consignado que os trabalhos de cartografia a fazer naquela área deverão incidir sobre as zonas referidas.
No caso da restante área da província, nos trabalhos a fazer terão prioridade os que dizem respeito não só às áreas de povoamento, como também as de desenvolvimento agrícola, silvícola, pecuário, industrial e turístico fica, aliás, expresso que o programa de pormenor a estabelecer, tanto no campo da cartografia, como no do cadastro, pelos Serviços Geográficos e Cadastrais, entidade executora neste campo, deverá ser elaborado em reuniões, preliminares à execução, com os utentes e outros departamentos estaduais, com vista a melhor se poderem atingir as metas fixadas para cada caso e, portanto, os objectivos do III Plano de Fomento.
Estes problemas são enquadrados, aliás, nos que se tratarem respeitantes ao regime de terras, ligando-se, por isso, intimamente.

307. As dotações que têm sido atribuídas à «Revisão da cartografia geral da província», integrada na rubrica «Conhecimento científico do território», não tem permitido uma produção aceitável e económica.
Pensa-se que a solução mais adequada, já hoje aceite em princípio, é a execução parcial dos trabalhos por empreitada, para o que há empresas idóneas, embora só equipem os serviços com material e pessoal, de modo a poder exercer-se a indispensável fiscalização e, simultaneamente, executar-se uma parte dos empreendimentos por administração directa,- nomeadamente a restituição, o desenho e a toponímia.

308. Para melhor aproveitamento do equipamento e do potencial humano especializado, há necessidade absoluta de rever as condições de trabalho com vista a acelerar-se a produção Assim, pelo menos para as operações de restituição e de desenho, é indispensável entrar no regime de tarefa

309. O quadro junto dá a posição do problema de cartografia.

Cartografia

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem]

(a) Actualização
(b) Concluída
(c) Arredondamento

310. O problema do cadastro não apresenta, no conjunto, a mesma urgência que o da cartografia, nem tem, por enquanto, a sua amplitude. Porém, se não for tratado a tempo, poderá vir a cair-se numa situação crítica.
A parte as regiões em que a propriedade é de constituição antiga ou está pulverizada, os elementos fornecidos pelas demarcações definitivas e pelos correspondentes processos legais são suficientes para identificação da propriedade e análise da sua situação jurídica São os elementos que constam dos Atilas de Cadastro e do Tombo Geral da Propriedade e não têm surgido problemas de grande importância. Assim, há necessidade de se tomarem em consideração, em primeiro lugar, o distrito de Lourenço Marques e certas zonas dos distritos de Gaza, Inhambane, Mamca e Soíala, Zambézia e Moçambique, fazendo-se a revisão e actualização (conservação do cadastro), corrigindo defeitos e enquadrando tudo num plano de conjunto.
No distrito de Lourenço Marques, com a área de 16 184 km, já foram cadastrados 2562 km* nas legiões do Maputo e da Namnacha Excluindo a área de 226 km ocupada pelos forais, restam cadastrar 13 396 km. No programa de trabalho apresentado incluem-se apenas 1000 km.
No distrito de Gaza ainda nada foi feito e há necessidade de se dar início aos trabalhos.
Prevê-se a possibilidade de se cadastrar, durante o período, a área de 700 km.
No distrito de Inhambane foram cadastrados 1600 km, tendo sido publicadas onze topo-cadastrais, nove à escala de 1/25 000 e dois à escala de 1/50 000. A continuação dos trabalhos deve abranger, pelo menos, a área de 600 km, trabalho que tem possibilidades de se executar durante o período de 1968-1973.
No distrito de Manica e Sofala deu-se início ao cadastro do Chimoío. Foram cadastrados 265 km. Há necessidade de se rever toda a área das concessões da antiga Companhia de Moçambique. No programa inclui-se H área de 700 km a cadastrar durante o período.
Foram já iniciados os trabalhos de cadastro no distrito da Zambézia, tendo-se começado pelos arredores de Quelimane, onde a propriedade, de constituição antiga e por vezes duvidosa, está pulverizada E um dos distritos que parece merecer maior atenção, pelos problemas que podem surgem em consequência da ausência de um cadastro geo-métrico e jurídico actualizado e correcto.
Uma brigada convenientemente constituída poderá cadastrar, durante os seis rios do Plano de Fomento, uma área de 300 km.
No distrito de Moçambique deve continuar-se o cadastro da Lunga e atacarem-se outras regiões em que a ocupação é densa, nomeadamente os arredores de Nampula Prevê-se o cadastro da área de 300 km.
Quanto aos distritos de Tete, Niassa e Cabo Delgado, não se justifica que se realizem operações de cadastro.

311. No fim de 1967 estarão cadastrados 5200 km2 na província.
Pretende-se cadastrar mais 3600 km2 no período do III Plano, nos distrito de Lourenço Marques, Gaza, Inhambane, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique, além das zonas consideradas de povoamento, área essa distribuída são seguinte modo.

Quilómetros quadrados
Distrito de Lourenço Marques 1 000
Distrito de Gaza 700
Distrito de Inhambane 600
Distrito de Manica e Sofala 700
Distrito da Zambézia 300
Distrito de Moçambique 300
3 600

312. Para concretização dos programas apresentados toma-se necessário equipar os serviços com mais algum material técnico de campo, material de acampamento e, sobretudo, viaturas.

313. As instalações dos serviços centrais já são hoje insuficientes, as dos serviços distritais são insuficientes e deficientes. Para instalação dos serviços centrais está aprovado um projecto de edifício constituído por dois corpos contíguos, cada um deles com nove pisos. Deste projecto já foram construídos três pisos de um dos corpos,

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tornando-se necessário a execução de uma 2 a fase de obras, ampliando-se com dois pisos em altura e dois pisos em superfície.
Numa 1.ª fase, há necessidade de se instalarem definitivamente as repartições distritais de Manica e Sofala e da Zambézia, na Beira e em Quelimane, respectivamente.

314. O programa financeiro para o período do III Plano de Fomento implica a continuação de pagamentos (15 000 contos) para além do período. Tal deferimento espera-se que seja encontrado com os empreiteiros.

b) Carta geológica

315. Nas medidas propostas para o sector das indústrias extractivas não se pôs, por assim dizer, o problema de compatibilização intra-sectorial, dado que as mesmas se dirigem principalmente à cartografia geológica e prospecção regional Porém, um factor houve a considerai a prevista escassez de pessoal técnico especializado, o que, nu caso de reconhecimento geológico, levou a optai-se já pela solução da empreitada, e não pela administração directa, como interessava.
O programa compreende.

Cartografia geológica na escala 1 250 000 de cerca de 160 000 km2 da área ciistalofílica nos distritos de Tete, Zambézia, Moçambique e Niassa (entre os paralelos 14 S e 16 S) e levantamento cintilométrico e de magnometria na mesma área.

Da área da província, 58 por cento, ou sejam 455 000 km2, é constituído por rochas cristalofílicas, as de maior interesse económico-mineiro. Desses, 118 000 km2 foram já cartografados na vigência dos I e II Planos de Fomento. Se no III Plano de Fomento se cartografai em 160 000 km2 da área cristalofílica, como está pi e visto, restarão por cartografai 177 000 km2, ou seja, 39 por cento da área cristalofílica total.

2. Hidrologia

316. Considerou-se, através desta rubrica, a continuação dos estudos hidrológicos, mas em maior ritmo, devendo a sua divulgação ser feita de forma regular por meio de anuários impressos.
Para a inventariação dos recursos hidráulicos, é necessário que os elementos hidrológicos essenciais sejam obtidos segundo um plano ordenado e coordenado Adequados registos hidrológicos, estendendo-se por períodos suficientemente extensos, são indispensáveis em qualquer aproveitamento hidráulico.
Por outro lado, dispondo de elementos de confiança, poder-se-á projectar obras hidráulicas com maior segurança, economia e utilidade, de resultando um melhor benefício económico-social paia as populações servidas.
Nestes termos, o objectivo principal é emir meios de modo a conseguir uma ocupação eficiente, tanto em profundidade, como em extensão.
Incluir-se assim.

Disponibilidade de cartas hidrogeológicas

Na escala de 1 500000, dos três distritos do Sul do Save e do Tete,
De reconhecimento, na escala de 1 500 000, na Zambézia,
Na escala de 1 250 000, preparadas paia publicação, aquelas em que o número de pontos fie águas existentes o justifique.

317. Não obstante não se definir o programa de trabalhos, é reconhecido que as verbas despendidas com a ocupação hidrológica da província são insuficientes.
Para se poder recuperar, em certa medida, esto atraso e se poder também aumentar indispensável mente o ritmo dos trabalhos, necessário se torna reforçar bastante as dotações até agora concedidas para o efeito.

3. Meteorologia

318. Previu-se nesta rubrica

A actualização de equipamento para que as observações de altitude com radiossonda possam acompanhai a evolução da técnica e satisfazer os requisitos futuros da exploração aeronáutica e dói trabalhos da análise e previsão do tempo, esta actualização de veia ser feita de forma coordenada, a nível nacional, nomeadamente em ligação com a dos estabelecimentos congéneres da metrópole e do ultramar, de modo a atender-se às condições de fabrico de material fixo e de abastecimento de material de consumo corrente (radiossondas),
A introdução do sistema A P T para recepção directa das informações fornecidas pelos satélites meteorológicos.
A participação de Portugal no Decénio Hidrológico Internacional (1965-1975), iniciativa da UNESCO, com o apoio de diversas organizações internacionais, entre as quais a FAO e a OMN. Trata-se de um empreendimento de grande escala, destinado a obter, segundo um programa de âmbito mundial, informações de base que contribuam para o progresso da ciência hidrológica e, portanto, para o bem-estar das populações, pelo aproveitamento racionai dos recursos de água, dentro do programa geral, competem aos vários serviços meteorológicos observações e estudos no campo da hidrometeorologia.

4. Investigação aplicada à agricultura e pecuária

319. A intensificação do desenvolvimento económico de Moçambique aconselha dar-se, no sexénio de 1968-1973, à investigação agronómica, a relevância e a projecção necessárias para se conseguir obter os conhecimentos essenciais à realização das obras de fomento agro-silvícola.
Os trabalhos de investigação de base que hão-de servir à expansão e intensificação dos cultivos destinados ao mercado interno e à exportação serão executados no Instituto de Investigação Agronómica e sectores regionais, como estações experimentais, postos agronómicos e laboratórios regionais.
A necessidade de intensificar a investigação agronómica levou à criação do Instituto de Investigação Agronómica de Moçambique, que constitui alicerce indispensável do desenvolvimento agrícola da província, sem o qual as acções do Plano no campo agrícola não poderiam atingir os objectivos pretendidos.
Considera-se a intervenção do Instituto de Investigação Agronómica em dois campos distintos.
Dar especial atenção às culturas que o III Plano de Fomento visa, tais como milho, trigo, atroz, amendoim, mandioca, algodão, coqueiro, caju, quenafe, cana-de-açúcar, frutas (banana, ananás e citrinos, chá, sisal, tabaco, batata, gergelim, aleurites, girassol, soja e produtos silvícolas.
Tratar outras culturas e as de subsistência, tais como sorgo, inhame e batata doce

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320. Por se encontrar o Instituto de Investigação Agronómica na sua face inicial de estruturação o montagem, não tendo sido ainda realizada totalmente a transição legal dos seus técnicos dos serviços e organismos a que pertencem e não tendo sido definidos os respectivos programas de trabalho, a curto e a longo prazo, não é possível discriminar as verbas necessárias, mas apenas estabelecer um calendário dos dispêndios a efectuar no decurso do III Plano de Fomento.

321. A investigação dos problemas relacionados com a produção pecuária em Moçambique, tendo sempre em vista o aspecto económico e o apoio à acção de extensão dos serviços de veterinária pela produção de vacinas, elementos de diagnóstico e de informação, constituem as missões a cargo do Instituto de Investigação Veterinária.
Foi a necessidade de intensificai a investigação veterinária que levou à criação daquele Instituto, que constitui alicerce indispensável do desenvolvimento pecuário da província, sem o qual as acções do Plano não poderão atingir os objectivos pretendidos.
Os vários trabalhos propostos executar-se-ão no próprio Instituto de Investigação Veterinária e nos sectores regionais como estações zootécnicas e laboratórios regionais.
Considera-se a intervenção do Instituto de Investigação Veterinária útil no reconhecimento do potencial, no aumento e no melhoramento das produções de

Bovinos de corte arretinos e caprinos,
Bovinos leiteiros,
Suínos,
Animais de capoeira

Atendeu-se também. à sua interferência nos aspectos relacionados com a conservação da natureza, com o aproveitamento económico das espécies faunísticas e com a introdução de novas espécies.

322. Faz-se a seguir uma discriminação do programa para intensificação da investigação veterinária.

Produção de agentes imunogénicos e de diagnóstico, Inseminação artificial e investigação dos problemas da infecundidade,
Ensaios de nutrição relacionados com recria, engorda e produção de leite, Ensaios-adaptação e cruzamentos de raças bovinas e suínas,
Instalação do posto de fomento avícola,
Ensaios de adaptação do búfalo-d'água;
Ensaios de adaptação do carneiro caraculo,
Reconhecimentos e estudos sobre o Parque Nacional da Gorongosa e reserva do Maputo.

323. Criado recentemente, o Instituto não dispõe do pessoal para o seu funcionamento e para apoio de todo o trabalho de investigação a seu cargo.
Esclarece-se que o Instituto de Investigação Veterinária, com o pessoal de que actualmente dispõe, não pode dar cumprimento integral às tarefas previstas Apesar dos muitos lugares vagos nos seus quadros, não tem possibilidade de os preencher, visto que as verbas destinadas aos seus orçamentos são insuficientes.
Estabelece-se, por isso, uma dotação permanente para o pessoal, que permita alargar o seu quadro.

5. Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

324. Paia o estudo do sector e seu posterior desenvolvimento considerou-se ser necessária a criação da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Moçambique.
Procurai á a Missão estudar os recursos naturais do meio marinho na costa de Moçambique, com vista a sua avaliação e exploração racional, de modo a garantir a estabilidade das reservas e a máxima rentabilidade dos mesmos numa área na qual estudos efectuados recentemente provaram ser de alto valor económico.
Para este fim, a Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Moçambique efectuará estudos sobre Natureza, distribuição e densidade dos recursos marinhos vivos, em especial daqueles que se suspeita existirem em abundância nus águas dn costa de Moçambique e que têm, ou podem vir a lei, um mercado potencial, sua extensão, limites dos stocks e efeitos da pesca.
Melhoramento dos métodos de pesca e, consequentemente, da concepção e desenho dos barcos e artes de pesca, através de demonstrações e experimentação directa com protótipos.
Fomento de cultura de peixes, moluscos e crustáceos em zonas protegidas, quer através de organizações de pescadores, quer de experiências-piloto a escala industrial.
Economia da exploração e comercialização do pescado e produtos de pesca, dando especial atenção aos problemas de manuseamento, transporte e distribuição que dificultam a venda do pescado e produtos da pesca nos mercados da província e outros.
Criação de escolas de pesca e instituições que melhorem a aptidão profissional dos pescadores.
Estabelecimento de um serviço de estatística de pesca que assista aos estudos biológicos e económicos.

325. O programa para o sexénio apresenta um valor médio de dispêndios elevados, da ordem dos 21 000 contos anuais.
E, no entanto, justificadamente previsível pensar em valores da exportação, só para o camarão, de ordem dos 300 000 contos anuais.
A produtividade da pesca do camarão parece ser extraordinariamente promissora em comparação com outras boas regiões do globo para pesca feita em condições semelhantes. Assim

Quilograma por hora

Moçambique 60
Golfo do México 30
Austrália 40

Convém ainda lembrai que a exportação da lagosta passai á seguidamente de uma fase de incipiente para valores consideráveis, existindo também esperanças na pesca de tunídeos e pescado branco.
Parece, pois, que os números elevados que se estimam para os dispêndios poderão ter uma compensação quase imediata, podendo encarar-se a sua satisfação directa através de taxas a cobrar às empresas de pesca.
É de admitir que a indústria da pesca de Moçambique colabore nas despesas dos programas, depois de estar certa dos benefícios da assistência técnica que se lhe proporcionará

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Os programas de trabalho a executar são os seguintes:

Programa da dinâmica da população

Estudo das variações dos parâmetros biométricos das populações exploradas e em exploração, através da análise bioestatística das capturas, dos desembarques e dos ensaios de pesca comparativos, definição das características e dimensões dos mananciais ou actuais que constituem as populações existentes, com o auxílio de métodos biométricos e genéticos, determinação do limite de capturas que corresponde à maximização da rentabilidade (esforço de pesca, unidade de esforço, rendimento horário).

Programa de táctica da pesca

Informação da respectiva indústria sobre a época de animação, localização das melhores concentrações de pescado, rumo que segue, profundidade a que se encontra o volume provável das capturas, em conjunção com a dinâmica das populações.

Programa de pesca exploratória e experimental

Demarcação de novas áreas de pesca e extensão das actuais, introdução de novos tipos de pesca que visem espécies ainda não exploradas (atuns, caranguejos e lulas) e de novas técnicas, quando aconselháveis.

Programa de broceanologia de pescas

Determinação das variações oceanográficas que permitem definir os factores que condicionam a distribuição e o grau de concentração dos cardumes, as rotas de emigração e o comportamento biológico das espécies de valor comercial-base da táctica de pesca.

Programa de tecnologia de artes e barcos de pesca

Melhoria da eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados localmente, introduzindo novas técnicas, quando aconselháveis.

Programa de culturas em áreas protegidas

Propagação de moluscos, crustáceos e peixes em zonas interiores e em baías abrigadas, com vista ao abastecimento público ou ao fornecimento de isco vivo aos pescadores.

Programa de tecnologia da transformação

Estudo dos métodos actualmente em uso pela indústria e artesanato, procurando contribuir paia o seu melhoramento e introdução de novas técnicas.

6. Estudos de base

I Estatística

326. Os elementos estatísticos disponíveis paia quase todos os sectores da economia da província são ainda imperfeitos. Assim, reputa-se como indispensável que as lacunas sejam o mais depressa possível colmatadas de foi ma a dispor-se de um conjunto de elementos estatísticos que sejam de real utilidade para estudos.
Necessitam os Serviços de Estatística da província de equipamento e pessoal técnico qualificado, de tal modo que possuam os instrumentos que lhes permitam atender às solicitações dos demais departamentos da província que carecem dos elementos estatísticos indispensáveis a realização do trabalho que a cada um compete. Mormente no campo do planeamento, estes elementos são base e a contabilidade provincial é fundamental.

327. Nestas condições, considerou-se que, para o efeito de se obterem estatísticas que são instrumento comum a todos os serviços da província, seria necessário, no decorrer do III Plano de Fomento (1968-1973) atribuir uma verba aos Serviços de Estatística Geral que permitisse a realização dos estudos que venham a entender-se mais necessários.
Essa verba teria, pois, por fim possibilitar aos serviços a realização dos agrupamentos estatísticos requeridos para os diversos sectores sócio-económicos da província, de cuja necessidade se tem pleno conhecimento, e a aquisição de máquinas que completassem o stock já existente e que são indispensáveis a um alargamento de aceito dos Serviços de Estatística.
O problema de pessoal técnico, por ultrapassar os limites do Plano, recomenda-se que seja resolvido.
O investimento a efectuar traduz-se especificamente em aquisição de material e inquéritos, publicações, etc.
Neste campo recomenda-se:

Que seja aumentado e preenchido o quadro comum e privativo dos Serviços de Estatística Geral da Província, de forma a ser possível dispor-se de todas as informações estatísticas indispensáveis no estudo e planeamento dos diversos sectores sócio-económicos da província,
Que se inicie, com bases fundamentadas, a elaboração da contabilidade provincial, com uma equipa devidamente preparada e apetrechada com o material necessário.

Faz-se notar que para melhorar a informação estatística relativamente ao sector agrário (Missão de Inquérito Agrícola) se consagrou uma verba que suplementará as dotações daquela entidade.

2. Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica

328. Será necessário dar seguimento a estudos relativos nos vários sectores, que através de grupos de trabalho ad hoc e permanentes, quer pelo recurso a especialistas em regime de colaboração eventual.
Também será necessário proceder a divulgação de trabalhos ou outras publicações que promovam a vivência do Plano, que transmitam a soma de conhecimentos que uma fase de trabalho como a da preparação de um plano proporciona e que possibilitem ainda entrar numa fase de regionalização do mesmo.

3 Estudos regionais

329. Ao abordarem-se problemas relativos aos vários sectores, surgem sistematicamente dúvidas sobre a futura orientação do desenvolvimento na zona que se enquadra dentro do quadrilátero Quelimane-Milange-Nova Freixo-Nacala.
O principal elemento de perturbação consiste na falta de visualização de uma futura movimentação de cargas dentro da mesma área, que tem na sua base uma série de condicionalismos não esclarecidos.

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Além da dificuldade em definir o modo como se deve orientai uma estrada que, grosso modo, ligue Quelimane a Nacala, verifica-se existir no interior da zona um caminho de ferro - o do Quelimane - que tem 146 km de comprimento e que tem vindo a acumular deficits de tendência crescente. (No peitado de 1959 a 1965, os deficits acumulados somam cerca de 90 000 contos, sendo, só em 1965, de cerca de 14 000 contos ). Sabe-se que nos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes existe um estudo pelo qual se procurou avaliar a vantagem de prolongar este cominho de ferro até ao caminho de ferro do Niassa, tendo-se chegado a conclusão negativa.
Também não estuo definidos, por causa das condições naturais, os portos de saída da zona Aliás, a correspondente zona de costa possui, como característica, grande instabilidade.
Espera-se, por outro lado, que nas zonais naturais adjacentes se desenvolvam dois portos, Nacala e Chinde, este último ligado à exploração de minérios que venha a concretizar-se em seguimento do aproveitamento hidroeléctrico de Cabora-Bassa. Espera-se também que Nacala venha a tornar-se o terceiro centro industrial da província.
Dentro da zona programa-se um aproveitamento hidroeléctrico no Alto Molócuè.
A Zambézia é a região da província que detém maior valor de produção de produtos agrícolas, estando-se a expandir a criação de gado, feita pelas grandes empresas exploradoras de palmares, admitindo-se que passo em breve a exportar carne congelada de bovino.
Sabe-se da existência de uma saída dos produtos da região que se considera defeituosa, utilizando-se, para o efeito, portos que não parecem coerentes com o critério de utilização das mais adequadas vias de transporte.
Há uma exploração mineira na zona - minérios das pegmatites - que poderá ser mais bem aproveitada. Na costa (Pebane e Moebase), há, potencialmente, possibilidades de explorar almenite.
De tudo o que se referiu surge a necessidade de um conhecimento mais perfeito da zona no que se refere aos seus recursos naturais e potencialidades, com o objectivo de se poder integrar o seu desenvolvimento dentro dos problemas gerais da província. Sem este conhecimento e persistindo as dúvidas, as decisões que se tomem, relativas a zona, suo impregnadas de incerteza quanto à sua adequação económica.
Por isso, é necessário que se reúna sobre a região toda a informação disponível, com vista a propor que um corpo técnico, formado por elementos das diversas formações necessárias, estabeleça um esquema de desenvolvimento regional que possibilite a eliminação das dúvidas existentes, o que é fundamental para a necessidade de planear o desenvolvimento da província. Caberá também determinar se esse corpo técnico deverá ser formado com elementos dos serviços públicos ou ser obtido recorrendo a empresas especialistas.

4 Política industrial dos produtos pecuários

330. Ao estabelecimento de uma política industrial de produtos pecuários - carnes - depara-se uma série de dificuldades que só podem ser resolvidas por um perfeito conhecimento dos problemas ligados ao sector. Na realidade, haveria que equacionar um conjunto de questões e parâmetros de acção cujo escasso conhecimento impede a formação de uma política. Assim, regista-se que existe um matadouro industrial na Beira, explorado pela respectiva Câmara Municipal, vários matadouros de aves em Lourenço Marques e em Manica e Sofala, um matadouro de suínos, catorze salsicharias distribuídas por seis distritos e uma salsicharia cooperativa no colonato do Limpopo e uma unidade de fabrico de conservas de come, esperando-se a próxima montagem de outro matadouro na Matola, em Lourenço Marques ou na Machava.
Por outro lado, reconhece-se a necessidade de aumentar a capacidade frigorífica dos actuais matadouros, com vista a uma futura exportação de carne de bovinos pelos portos de Lourenço Marques e Beira, a qual está a ser enviada para a metrópole, julgando-se conveniente e complementar montar junto aos matadouros industriais unidades de produção de conservas de carne. Porém, é necessário definir que tipo de conservas se deverão produzir, atendendo aos mercados existentes e as possibilidades de produção em condições económicas.
Recentemente foram tomadas ou preconizadas medidas que podem alterar os dados básicos desta situação. Assim, tomaram-se medidas no sentido de fomentar a criação de bovinos de corte relativamente a parte da província e pretende-se fomentar a criação das pequenas espécies com vista a substitua em certa medida o consumo de bovinos e incrementar um sector de produção que se afigura com possibilidades económicas.
Deduz-se do que foi exposto que a actual indústria das carnes é incipiente e resulta de um esforço limitado de algumas, autarquias locais ou iniciativas privadas, mas sempre de âmbito restrito.

331. Para o estabelecimento de uma política industrial coordenada, que defina o tipo de indústrias a instalar, sua localização e capacidade, bem como a gama de produtos a fabricar, seria necessário resolver algumas questões prévias e dispor de um certo tipo de informações técnicas para o esclarecimento das quais não existem técnicos especializados na província, nem nos sei viços públicos, nem na actividade privada. Acontece que tais estudos e tal definição de uma política são urgentes, na medida em que se estão a autorizar matadouros para pequenas espécies e matadouros camarários sem uma submissão a qualquer política industrial.
A adopção de tais decisões conduz a realizações simultâneas separadas na concepção e sem coordenação, o que pode ocasionai o aparecimento de problemas no futuro. Por exemplo, não se definiu ainda se as unidades produtoras de conservas de carne deverão funcionar junto dos matadouros, se a capacidade frigorífica destes deve ser utilizada para outras exportações de congelados, fazendo-se ou não o aproveitamento integral das espécies sacrificadas, etc. Este último objectivo - o aproveitamento integral, no caso das aves - não poderá ser facilmente atingido, caso se verifique útil, na medida em que proliferarem os matadouros.

332. Atribui-se, portanto, em 1968, uma verba com vista ao estudo de uma política industrial de carnes na província por recurso à consulta dos especialistas, nacionais e estrangeiros, que se entenda necessários.
Ficaria como incumbência a concretização dos projectos, medidas ou recomendações a formular com vista a criação de um subsector industrial harmónico e completo para os produtos pecuários e derivados. Em particular para o caso dos matadouros de Lourenço Marques e Beira, caberia formular recomendações às respectivas autarquias locais, indicando-lhe as características que tais unidades deverão possuir e propondo o financiamento necessário para as modificações a fazer eventualmente nas instalações actuais.

5. Reorganização da estrutura administrativa

333. O espírito aberto à reorganização administrativa permite uma nova perspectiva para a melhoria da eficiên-

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cia dos serviços públicos, na medida em que, a seguir ao trabalho proposto, outros do mesmo género sejam encarados para outros sectores da administração.

334. Refere-se que deve merecer cuidadosa atenção do sector público a eliminação da descoordenação entre vários serviços da província, que se devem considerar como fazendo parte de uma engrenagem que tem por objecto impulsionar o desenvolvimento do território e ajudar os particulares como seus principais motores, e a eliminação do espírito de que a função fiscalizadora predomina na acção dos serviços.
Outra questão muito relevante consiste na produtividade dos serviços ou, melhor, nos resultados dos dispêndios dos vários serviços. É evidente que os agentes estaduais se devem imbuir da ideia de que têm de atender ao que produzem ou se fez nos serviços em favor do progresso económico.

335. Além de se considerar susceptível de se melhorar a produtividade e eficiência dos serviços, é preciso também atender na produtividade, especialmente dos técnicos, que se sabe cada vez mais escassos. Estes, hoje, estão, em parte, absorvidos por funções burocráticas, que podiam ser deixadas a pessoal menos preparado tecnicamente e mais bem preparado no campo burocrático. Além disso, de veia procurar-se multiplicar a actividade dos técnicos de formação superior pela utilização de maior número de técnicos de formação média.
Das funções dos agentes estaduais em geral e das funções dos serviços de fomento em especial, é necessário levei as que podem e devem ser exercidas por pessoal menos qualificado.
Por outro lado, sabendo-se já e prevendo-se também que a situação piorará no que se refere à escassez de pessoal técnico, é preciso encarar que é necessário havei um estatuto especial para este pessoal

Educação e investigação

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

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1142 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Objectivos

336. Neste sector, foram as medidas distribuídas de foram que se conseguisse melhoria e alargamento da extensão na rede sanitária.
Assim, pretende-se incentivar a acção da campanha contra as endemias (paludismo, lepra, serviços de combate às endemias, tripanossomíases, tuberculose) por se tratar de doenças com elevada prevalência e intensa agressividade social e de imediatos reflexos sobre o bem-estar das populações.
O aumento de população escolarizada leva ao alargamento da acção da saúde escolar.
Da mesma forma, a necessidade de pessoal paramédico, para a cobertura da província, conduz a que se tente aumentar o ritmo de formação deste pessoal na Escola Técnica dos Serviços de Saúde e Assistência.
No que respeita à ampliação da rede de hospitais, incido a acção na construção e alargamento dos diversos tipos de hospitais (centrais, regionais, sub-regionais e rurais), de forma a obter-se a necessária melhoria da rede geral dos Serviços de Saúde e, como reflexo, uma elevação nos indicadores da assistência sanitária da província
Na assistência materno-infantil procurar-se-á vir a reduza o coeficiente de mortalidade infantil e materna, bem como o de morbiletalidade da criança e da mãe.
Ainda se tomam em atenção os casos de assistência a inválidos e doentes crónicos, assim como se entendeu participar na construção de um centro de combate ao cancro, para o qual se conta já com donativos privados, e erigir um laboratório farmacológico, que se reputa de interesse para a província pelos reflexos que virá a ter na balança de pagamentos.

337. Na definição dos programas do sector foi seguida a orientação seguinte.

Manter e intensificar a acção das varias brigadas que têm por missão combater as principais endemias que atacam as populações, em particular, foi manifesto o desejo de não se reduzir de modo algum o combate ao paludismo,
Desenvolver as ramificações periféricas de assistência, por sei em as que mais próximas se encontram das populações necessitadas, especialmente as rurais, e serem também aquelas que envolvem menor volume do investimentos e gastos de funcionamento unitários,

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Desenvolvei a actividade da educação sanitária, pois se considerou que, se as populações forem instruídas neste campo, poderão reduzir-se apreciavelmente os problemas que surgem no âmbito da assistência médico-sanitária,
Dar ênfase à formação em maior escala de pessoal paramédico,
Quanto às grandes unidades, não propor novos estabelecimentos antes de se concluírem aqueles que estão em fase de finalização ou de alargamento.

338. Os indicadores de assistência médico-sanitária virão a tomar os seguintes valores, em 1973:

Número de habitantes por médico............... 11 300
Número de habitantes por cama................. 430
Número de camas por enfermeiro................ 4,4

2. Medidos de política

339. Deve proceder-se ao registo da população com vista a assegurar-se uma cobertura integral no que respeita a medicina preventiva e combate às endemias, pois assim poderá alargar-se o período das revacinações.

340. É de toda a conveniência treinar agentes sanitários dos serviços da rede geral, por forma a habilitá-los a colaborar com as campanhas de combate as endemias, e tornar obrigatório um estágio nos hospitais centrais e delegacias de saúde para os profissionais de enfermagem provenientes da metrópole.

341. Deve estabelecer-se, em relação a luta contra a tuberculose, centros-piloto de estudos epidemológicos, vacinação e tratamento, como forma rápida de extensão dos trabalhos a zonas cada vez maiores, e zonas-piloto de assistência à mãe e à criança, onde se faça a preparação de pessoal local.

342. É de pôr em relevo que no campo da saúde se tentou obter informação por outra via ao analisarem-se as legiões alimentares da província e as possíveis carências nas mesmas
Daí foi possível chegai a umas hipóteses de zonas em que, através de inquéritos aos consumos, se deverão confirmar as deficiências aparentes encontradas, para depois se poder estabelecer um programa de actuação que envolverá não só os serviços de saúde, através das suas campanhas de educação sanitária, mas também os serviços de extensão, com vista a adaptarem-se as produções das regiões às necessidades qualitativas e quantitativas alimentares, e os outros serviços que eventualmente se ligam ao problema educação, obras públicas, etc.

3. Investimentos

343. O calendário anual de investimentos em capital fixo firmou-se no seguinte:

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

Calendário anual de Investimentos previstos para o III Plano de Fomento

Resumo por sectores

Unidade milhar de escudos

[ver tabela na imagem]

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1144 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[ver tabela na imagem]

VI

Estado da índia

1. O território da província continua subtraído ao exercício efectivo e pleno da soberania nacional, pelo que se mantém o condicionamento justificativo da publicação da Lei n.º 2112, de 17 de Fevereiro de 1962.

2. Não foi, ,por isso, estabelecido programa provincial a integrar no presente Plano.

VII

Macau

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia.
Evolução recente, situação actual e perspectivas.

1. Caracterização da economia

1. De pequena extensão territorial e reconhecida pobreza de recursos do subsolo, a província tem na sua localização um dos factores basilares da sua economia.
Esta caracteriza-se pelo predomínio dos sectores secundário e terciário e, por outro lado, do sector privado. Com uma insignificante agricultura, dada a exiguidade territorial, sem silvicultura nem pecuária, a economia assenta numa actividade comercial intensa, nas indústrias transformadoras e da pesca e no turismo.
Comércio, indústria transformadora e turismo, em especial, são actividades que, além de emprestarem solidez à economia da província, evidenciam perspectivas de forte expansão, por beneficiarem do condicionalismo favorável proporcionado por diversos factores, avultando essa localização geográfica e a livre circulação de mercadorias no espaço português.

2. Evolução demográfica

2. A província de Macau caracteriza-se, do ponto de vista demográfico, por uma elevadíssima densidade populacional, por uma acentuada variabilidade dos efectivos populacionais, resultante de movimentos migratórios extremamente variáveis no sentido e na intensidade, e pelo predomínio do elemento chinês na composição da sua população, a qual, segundo o censo de 1960, é a que consta do quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

3. A análise dos resultados dos vários recenseamentos populacionais levados a efeito em Macau revela ter-se a evolução demográfica desta província caracterizado, até 1940, por um crescimento rápido e contínuo, especialmente acentuado a partir de 1920, seguido por uma fase de contracção, que leva os efectivos populacionais apurados em 1960 para um nível inferior ao apurado no fim do primeiro quartel do século.
Tais variações estão em correspondência com os fluxos migratórios

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4. As flutuações observadas nos nascimentos e óbitos registados reflectem as variações sofridas pelos efectivos populacionais com maior fidelidade do que modificações nos próprios níveis de natalidade e mortalidade. Tais níveis oferecem, aliás, tendência para uma estabilização em valores próximos dos 30 por mil para a natalidade e 9 por mil na mentalidade, tal como sucede com os observados em Hong-Kong, de características demográficas semelhantes.

5. O confronto entre as distribuições etárias apuradas nos censos de 1950 e 1960 põe em evidência alterações significativas que, pela sua natureza, vêm confirmar a identificação feita dos factores determinantes da evolução da população de Macau. Observa-se especialmente que a redução dos efectivos populacionais verificada entre os dois censos resulta da diminuição dos efectivos das classes etárias entre os 15 e os 44 anos, isto é, nas idades válidas.

[ver tabela na imagem]

A estrutura social da população assenta nas bases tradicionais chinesas. O seu nível cultural é bastante elevado. Na verdade, a população de Macau caracteriza-se, do ponto de vista do nível educacional por uma taxa de analfabetismo muito baixa, pouco mais de 5 por cento da população com sete e mais anos em 1960, marcando um nítido progresso em relação à taxa apurada em 1950, que foi de cerca de 25 por cento, por uma escolarização praticamente integral, e por uma proporção relativamente elevada de indivíduos tendo atingido, pelo menos, grau secundário de ensino.
Esta posição reflecte a preocupação observada, em geral, nas populações chinesas com a educação.

7. Na distribuição por ramos de actividade, apurada em 1960, as actividades que maiores efectivos absorvem ião as indústrias transformadoras e comércio, representando no seu conjunto mais de 60 por cento dos efectivos totais, e os serviços, que cobrem 20 por cento destes efectivos.

[ver tabela na imagem]

8. Reparte-se a população de Macau por três parcelas territoriais a zona peninsular e as ilhas de Taipa e Coloane, havendo, além disso, que considerar, do ponto de vista de distribuição espacial, a existência de uma massa populacional significativa vivendo permanentemente em embarcações, concentradas, em grande parte, no porto interior e áreas contíguas.
A parte mais substancial da população de Macau, correspondente a 90 por cento do total, concentra-se no concelho de Macau, ou seja na zona peninsular.

[ver tabela na imagem]

9. Quanto ao nível económico da população, é bastante significativa de bem-estar a capitação do rendimento provincial apurada em 1963, que foi de 6179$. Deve reconhecer-se, no entanto, a existência de desequilíbrio na distribuição do rendimento é o que sucede, por exemplo, relativamente às populações da zona marítima e aos refugiados, cuja assistência e manutenção constituem pesado encargo para a Administração.

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3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

10. O rendimento nacional da província de Macau, avaliado caos preços correntes», aumentou moderadamente entre 1953 e 1938, com um ligeiro recuo em 1956, devido a uma baixa generalizada das suas componentes, com especial relevância nas «Remunerações de trabalho», que, pelo seu volume, influenciaram decisivamente o movimento.
O mesmo rendimento teve um surto rápido no período compreendido entre 1959 e 1963, sendo 1962 o ano em que a taxa de crescimento foi a maior do decénio em analise Para este surto contribuíram, de uma maneira geral, todas as componentes, para o alto valor da taxa de descimento de 1962 contribuíram, particularmente, e por ordem decrescente de importância, as remunerações de trabalho, o rendimento das empresas não constituídas em sociedade, os rendimentos da propriedade e o rendimento do Estado proveniente do seu domínio privado e empresas.

Capitações do rendimento nacional na província

1953-1963

[ver tabela na imagem]

Por estes números se vê que a situação económica da população de Macau vem melhorando ininterrupta e seguramente, revelando uma tendência francamente animadora. O acréscimo médio anual do rendimento per capita foi, em Macau, de cerca de 9,8 por cento.
As capitações do rendimento e o respectivo acréscimo anual merecem, pois, ser comparados com os de outros territórios daquela zona do Globo, porquanto desta comparação fica em evidência a relativamente boa posição de Macau
A «Despesa de consumo privado», calculada aos «preços correntes», mostra, ao longo do período em análise, tendência francamente crescente, como se pode observar no quadro seguinte:

Evolução da despesa de consumo privado

[ver tabela na imagem]

11. Por outro lado, analisando a importância relativa das componentes da «Despesa de consumo das famílias», encontramos como dominante a aquisição de «géneros alimentícios» (que atinge, no período, uma média de cerca de 49 por cento do total daquela mesma despesa), seguindo-se-lhe «rendas e consumo de água», cujo volume é, sobretudo, influenciado pela renda imputável de prédios ocupados pelos seus proprietários.
Das outras componentes, as duas que nos últimos anos mostram um maior desenvolvimento são as despesas com a aquisição de «artigos de vestuário e outros objectos de uso pessoal» e com «distracções e divertimentos», estas últimas com grande expressão no conjunto ao longo de todo o decénio em análise, atestando o bom nível económico da população da província.

Distribuição percentual da despesa de consumo das famílias

[ver tabelas nas imagens]

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[ver tabela na imagem]

12. A análise do comportamento do produto interno bruto permite focalizar duas fases distintas

1.ª Entre 1953 e 1958, durante a qual a tendência, embora crescente, foi moderada, havendo mesmo a assinalar um recuo em 1956, resultante da quebra simultânea de diversas componentes do produto, entre as quais a «Indústria manufactureira», «Casas de habitação» e «Serviços»,
2.º A partir de 1958, em que o produto interno bruto definiu vincadamente o seu movimento ascendente, de modo ininterrupto e com um não progressivamente acelerado.

Nesta segunda fase, cujas características tudo demonstra terem continuado a manifestar-se nos anos posteriores a 1963, o aumento real traduziu-se em cerca de 75 por cento, o que corresponde a um acréscimo médio anual de 13,4 por cento. Para este bom resultado contribuíram, de uma maneira espectacular, as indústrias transformadoras, que, depois de uma ligeira recessão entre 1956 e 1958, iniciaram em 1959 uma vigorosa recuperação, resultante da boa adaptação às novas condições criadas as exportações de Macau pela legislação tendente a unificação do mercado português. As indústrias transformadoras, cuja contribuição percentual para o produto interno bruto era em 1958 de cerca de 14 por cento, passaram essa contribuição para aproximadamente 21,7 por cento em 1963, objectivando-se o acréscimo anual médio na ordem dos 35 por cento. Mas, para o surto do desenvolvimento económico tão bem traduzido no aumento do produto interno bruto, contribuíram ainda decisivamente o «Comércio» - tão favorecido pela circunstância de Macau ser um porto franco, ao encontro da qual vieram ainda as medidas legislativas atrás citadas (especialmente o Decreto n.º 41 026, de 9 de Março de 1957) - e os «Serviços», nos quais o turismo constitui a realidade mais positiva e que se distinguiu precisamente depois de 1963.

13. As capitações do produto interno bruto mantêm-se relativamente elevadas, superiores às da média geral para a Ásia e para todo o mundo subdesenvolvido e da maioria dos países daquela região do Globo.

4. Relações económicas com o exterior

14. Macau é o território nacional de maior capitação no comércio externo. Dada a sua reduzida superfície e altíssima densidade populacional, a economia da província está estritamente dependente da economia internacional.
Esta dependência evidencia-se nas elevadas percentagens do seu comércio em relação ao produto interno bruto.
No período de 1958 a 1965, as importações passaram de 584 669 contos paia 1 349 000 contos, registando um avanço de mais de 130 por cento, enquanto as exportações variaram entre 215 000 contos e 615 000 contos, acusando um acréscimo de 186 por cento.
Na evolução física, os acréscimos registados nas importações e exportações foram, respectivamente, 131,7 por cento e 92,6 por cento. A valorização nas exportações foi bastante acentuada, facto que contribui para a situação mais favorável nas relações económicas externas da província.
Na verdade, se os índices de preços das importações, tomando por base o ano de 1958, nunca, à excepção de 1965, se situaram abaixo de 100, com um máximo de 121,5 em 1959 e um mínimo de 101,6 em 1968, os das exportações atingiram coeficientes muito mais elevados subiram de 300 a 135,5 (1960), para baixarem em 1961 até 131,1 e subiram progressivamente, a partir de então, até atingem 159,1 em 1964:

[ver tabela na imagem]

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1148 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

15. Em 1965 a província importou 817 5511, correspondendo a 1 349 256 contos, sendo as principais mercadorias importadas as seguintes.

[Ver Quadro na Imagem].

A escassez de recursos do solo e subsolo de Macau é compensada pela existência de águas relativamente piscosas e de um porto franco que permite a importação, em condições favoráveis, da maior parte dos produtos indispensáveis à vida de uma população industriosa, e de matérias-primas destinadas a transformações mais ou menos complexas com vista à exportação.
Os farináceos, animais vivos, hortaliças e legumes, bebidas, tabaco e substâncias alimentares diversas, madeira, carvão vegetal, fios, tecidos e outras matérias-primas de origem vegetal têm um peso significativo nas importações, naturalmente diversificadas.
De realçar que, a partir de 1957, a rubrica «Fios e tecidos» subiu ao primeiro lugar, devido à instalação e ampliação de diversas unidades dedicados à estampagem de tecidos e confecção de vestuário, após a promulgação das medidas que liberalizaram a circulação de mercadorias entre as províncias ultramarinas.

16. Em 1965 a província exportou 81 496 t, correspondendo a 614 623 contos, sendo as principais mercadorias exportadas as seguintes.

[Ver Quadro na Imagem].

17. Desde 1958 até 1965, os dois territórios estatísticos China e Hong-Kong forneceram entre 95,1 por cento e 98,5 por cento no valor global das importações.
Entre 1960 e 1964, a China forneceu mais de 60 por cento do total.
A distância que separa Macau da metrópole tem impedido que a contribuição desta seja significativa, pó s limita-se ao fornecimento de 1 por cento a 1,5 por cento.
A. parte do ultramar, praticamente preenchida por Timor, que vende especialmente café, é ínfima 0,2 por cento e 0,6 por cento do total.
Na exportação - onde a diversificação de mercado é cada vez mais acentuada - o ultramar tem uma posição de relevo a partir de 1957 Em 1960 absorveu cerca de 50 por cento do valor exportado, ultrapassando, assim Hong-Kong, que nesse ano figurava apenas em 37,2 por cento.
Entre as províncias ultramarinas, merecem i elevo Moçambique, cujas aquisições variaram entre 32 por cento em 1960 e ]3 por cento em 1965, e Angola, que absorveu 11 m máximo de 18,5 por tento em 1062 P um mínimo de 11,2 por cento em 1965. Das restantes, merece referência Timor, cujas compras alcançai em o máximo em 1965. 1,8 por cento do valor global das exportações de Macau Hong-Kong, apesar de não ter como comprador o mesmo peso que legista como fornecedor, continua a sei o maior cliente.
O valor relativo das suas aquisições vem, porém, baixando E, assim, enquanto em 1958 absorvia 60,8 por cento, em 1965 esta percentagem descia para 27,5 por cento.
A esta baixa na posição de Hong-Kong corresponde uma diversificação e consolidação de outros mercados, entre os quais se salientam os Estados Unidos da América, para onde se dirigem dois terços dos artigos pirotécnicos, República Federal Alemã, Canadá, França e Itália.
A participação conjunta destes últimos tomava 83,8 por cento do volor das exportações de Macau em 1965.
As compras da metrópole, tal como as vendas, têm valor reduzido, embora em 1965 atingissem um máximo de 20 590 contos - o que corresponde a 3,4 por cento do total.
Menos valor têm ainda as exportações para a China, que, como se viu, é o principal fornecedor.

18. No quadro seguinte observam-se as percentagens que couberam aos países importadores e exportadores nos referidos anos de 1964 e 1965.

[Ver Quadro na Imagem].

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5. Perspectivai de crescimento

19. O exame feito pôs em relevo as características de uma economia abei ta que, assentando essencialmente na iniciativa privada, é levada, pela escassez de recursos naturais e pela localização, a concentrar-se nos sectores da industria transformadora e do turismo.
Os resultados alcançados no último decénio permitem encarar para um futuro próximo um panorama favorável de desenvolvimento da província, pela intensificação dos esforços realizados naqueles dois campos de actividade económica, bem como no das infra-estruturas de apoio.
Complementarmente, a necessidade de prosseguir na melhoria das condições de vida das populações tornou possível prever investimentos vultosos nos sectores de habitação, de melhoramentos locas, de energia, de saúde e de educação.
Nas condições específicas desta economia, será o sector privado, por iniciativa própria e em cumprimento das obrigações contratuais, que assegurará normalmente proporções mais relevantes nos financiamentos a efectuar.
Não deixa, contudo, de ser muito importante o papel reservado ao sector público, não só na realização de infra-estruturas, como para assegurar o conjunto de medidas susceptíveis de tornar mais aliciante ainda esta província aos capitais externos e mais atractiva para os fluxos turísticos.

CAPITULO II

Objectivos

20. No caso particular da província de Macau, está-se perante uma economia de recursos naturais limitados cujo factor produtivo mais abundante é o trabalho e cujas possibilidades de desenvolvimento residem em actividades viradas para o exterior, tomando como ponto de partida a utilização óptima da mão-de-obra disponível ou aplicável, a sua localização geográfica e o facto de se integrar no espaço económico nacional com uma gama larga de possibilidades.
O factor fulcral do desenvolvimento desta economia situa-se no sector privado, sendo muito limitadas as possibilidades de intervenção estadual.

21. Todo o esforço a empreender deverá, pois, concentrar-se no propósito de dar à província um ambiente o mais favorável possível a eclosão e desenvolvimento de iniciativas privadas, quer partindo de elementos locais, quer de elementos de outras origens Para tanto, os objectivos a visar traduzem-se, essencialmente, como já foi apontado, em 1.º Dotação da província com as infra-estruturas económicas (produção de energia, instalações portuárias, etc) e sociais (habitação, melhoramentos locais, saúde, educação, etc ), favoráveis ao desenvolvimento de iniciativas privadas no campo das indústrias transformadoras.
2.º Desenvolvimento das condições propícias à transformação de Macau num grande entreposto comercial, servindo de ponta de lança para a penetração nos mercados orientais dos produtos do espaço económico português e de outras origens.
3.º Fomento do turismo, aproveitando e respeitando a feição característica de Macau.
4.º Desenvolvimento das pescas e, com carácter marginal - margem deixar, por isso, de ter interesse -, da horticultura e da avicultura.
5.º Melhoria das condições de vida da sua população no plano habitacional, sanitário e cultural.

22. A todo o esforço a realizar devei ao, por ou ti o lado, presidir dois critérios portámos, impostos pelas condições particulares da província e pela necessidade de assegurar perfeita continuidade à execução dos planos sucessivos Tais critérios, são:

1.º A conclusão dos trabalhos em custo ou previstos no Plano Intercalar e que se admite não estejam concluídos até fins de 1967.
2.º A realização de outros empreendimentos já definidos como de execução urgente, em especial nos sectores de saúde, assistência social, educação e melhoramentos locais.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

23. As possibilidades financeiras da província dispensaram o recurso à ajuda financeira da Administração Central durante o Plano Intercalar de Fomento. As perspectivas do sexénio 1968-1973 não fizeram também pi e ver, em princípio, a necessidade de financiamento desta fonte.

2. Administração provincial

24. 13 pouco significativa a intervenção do Estado na economia de Macau O facto de a província constituir um porto franco limita ainda a possibilidade de uma intervenção estadual na sua vida económica Por outro lado, a gravitação desta economia em torno dos dois pólos de atracção económica, Hong-Kong e Cantão, restringe também a viabilidade de uma intervenção indirecta - por via fiscal ou pela acumulação de meios financeiros no Estado para efeito de investimentos de natureza económica.
O papel do Estado na economia de Macau é relativamente pequeno, em resultado da rápida expansão do sector privado* a despesa de consumo do Estado, que em 1958 representava cerca de 20 por cento da despesa total, em pouco excedia os 12 por cento em 1963. As receitas do Estado representavam, no entanto, mais de 20 por cento do rendimento nacional da província em 1962, o que significa considerável aligeiramento do peso fiscal relativo, em confronto com os níveis verificados em 1953.
A despesa de consumo público representava, em 1963, cerca de 11 por cento da despesa total imputada ao produto nacional bruto, tendo crescido a um ritmo muito inferior ao desta.
O rendimento do Estado proveniente do seu domínio privado, que é insignificante, aumentou em relação ao total no período em análise, sendo a sua taxa de crescimento superior à do rendimento nacional da província.
A poupança corrente do Estado, de volume considerável, cresceu a uma taxa anual média de cerca de 15 por cento.

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1150 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

[Ver Quadro na Imagem].

25. O quadro seguinte traduz, um percentagens, a evolução dos receitas ordinárias e extraordinárias, em relação aos valores totais.

[Ver Quadro na Imagem].

O quadro anterior revela o movimento crescente das receitas ordinárias ao longo do período de 1955-1965, com ligeiros recuos em 1957 e 1960.
O aumento torna-se bastante pronunciado a partir deste último ano, acelerando o seu outro após 1961.
De cerca de 93 000 contos em 1955, passaram as receitas ordinárias a 260 000 contos em 1965, o que representa um acréscimo de 179,6 por cento.
Para este aumento contribuíram todas as categorias de receitas, sendo os maiores montantes os de «Consignações de receitas», «Taxas - Rendimentos de diversos serviços», «Indústrias em regime tributário especial» e «Impostos directos gerais».

26. As principais receitas ordinárias cobradas nos anos extremos do período em análise foram.

[Ver Quadro na Imagem].

27. Apresenta-se seguidamente o quadro das despesas ordinária e extraordinária de 1955 a 1965.

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[ver tabela na imagem]

28. Expressa em percentagens relativamente aos valores globais, foi a seguinte a evolução das despesas no período de 1955-1965.

[ver tabela na imagem]

O acréscimo sofrido pela despesa ordinária foi de cerca de 127 000 contos, ou seja do 138 por cento Faia esse aumento contribuíram, principalmente, as despesas com «Administração geral e fiscalização», «Serviços de fomento», «Serviços de marinha» e «Encargos gerais».

29. Comparando as receitas e despesas ordinárias encontra-se uma poupança de volume muito irregular até 1961. A parte deste ano aumenta consideràvelmente, atingindo no fim do período em análise cerca de 41 000 contos.

[ver tabela na imagem]

30. Na esteira do que aconteceu com o Plano Intercalar, propõe-se a província financiar inteiramente o III Plano de Fomento com os seus próprios recursos, já que a situação financeira tem perspectivas de evolução favorável, o que permite encarai a efectivação do programa imperativo de investimentos propostos paia o período de 1968-1973 sem considerar a necessidade do recurso a financiamentos externos. O financiamento por conta do orçamento geral (extraordinário), no valor de 130 900 contos, terá como contrapartida as poupanças orçamentais (saldos orçamentais e de exercício), que constituirão a fonte principal e se admite sejam suficientes para cobrir os encargos, e, subsidiariamente, outras receitas extraordinárias, a saber lúcios de amoedação ou de valores monetários retirados da circulação e recurso ao fundo de reserva.
É de admitir, no entanto, que a situação financeira dispensará o recurso a estas fontes subsidiárias, por desnecessário, visto a fonte principal evidenciar capacidade para satisfazei n cobertura total dos financiamentos previstos Essa capacidade decorre da evolução tendencial das receitas e despesas ordinárias, que denunciam uma poupança ascensional cada vez mais relevante, como se pode

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1152 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

observar nos seguintes números e resultados referentes ao período de 1955-1965.

[ver tabela na imagem]

Muito embora parecendo estar a atingir-se o máximo de elasticidade das possibilidades dos réditos, e tendo aumentado de maneira notória as despesas públicas no ano findo, em virtude de ajustamentos nos quadros e vencimentos, a situação deverá manter-se e permitir o financiamento integral do programa imperativo de investimentos através desta fonte.

3. Administração local

31. Não se possuem elementos disponíveis que permitam apreciar a capacidade de financiamentos desta fonte Ü valor indicado pelas autarquias locais foi de 860 contos.

32. Sendo de admitir que, ao longo de um período de seis anos, o Leal Senado se empenhe na realização de outros empreendimentos englobáveis num programa de fomento, para além da construção de um matadouro e de um mercado e ampliação de outro mercado, e partindo da capacidade decorrente do programa no Plano Intercalai, poderá estimar-se que a contribuição desta fonte, no período do III Plano, virá ainda a ampliar-se.

4. Assistência pública

33. É desafogada a situação financeira desta instituição, que, mercê de uma administração prudente, vem sabendo manter ininterruptamente ascensionais os saldos acumulados nos últimos anos, como pode ver-se no quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

Os saldos acumulados definem a capacidade de cobertura para os encargos provenientes dos investimentos, cuja realização está atribuída a assistência pública A situação e também a tendência detectadas nos números do quadro antecedente deixam pressupor até que na programação se poderia ter ido mais além dos 16 000 contos previstos, tentando-se solucionar os problemas de habitação, saúde e assistência que porventura subsistirem

5. Sector privado

Particulares e empresas

34. Os financiamentos por entidades privadas, para efectivação do programa de investimentos, que foi possível identificar a título indicativo, totalizam 266 300 contos. A mesma rubrica atingiu no Plano Intercalar o quantitativo de 520 000 contos. É de esperar, portanto, que aquela verba possa subir para um nível compatível com as expectativas desenhadas pelo surto de desenvolvimento económico que se verifica, nomeadamente no campo industrial, cuja verba se cifra em 30 600 contos.

35. O financiamento será assegurado pelas entidades com obrigações para com a província, no montante de 89 000 contos, por outras empresas cujas possibilidades foram já estimadas em 100 000 contos e ainda pelo crédito externo recolhido pelo sector empresarial que pode cobrir e ultrapassar os 77 300 contos.

36. Julga-se que se pode contai ainda com outras fontes de financiamento que realizem a mobilização das poupanças locais (famílias e empresas), vindo assim reforçar as fontes atrás referidas.

6. Conclusões

37. Do que precede pode concluir-se, em relação ao financiamento do programa provincial para o III Plano de Fomento, o seguinte

a) Sector publico

1º Os empreendimentos previstos no programa imperativo de investimentos podem ser integralmente financiados pela administração provincial, através de recursos próprios provenientes dos saldos orçamentais (saldo do orçamento e do exercício) e, subsidiariamente, de outras receitas extraordinárias,
2º A província revela capacidade de financiamento superior às necessidades de cobertura dos encargos dos investimentos propostos no programa provincial, pelo que, embora com definida capacidade de crédito externo, se considera desnecessário o recurso a fontes de financiamento exteriores paia a execução dos empreendimentos do III Plano de Fomento,
3º A mesma conclusão do número anterior poderá ser extraída para a Provedoria da Assistência Pública e, eventualmente, para a administração local,
4º Em face das anteriores conclusões dos n.ºs 2º e 3º e aceitando-se, no seu quantitativo, o esquema proposto, poderá admitir-se que os recursos financeiros adicionais venham a ser uti-

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[...] JUNHO DE 1967 1153

lizados para o reforço do III Plano ou, pelo menos, no que diz respeito à Administração Central e provincial, para aplicação noutras províncias mais necessitadas (empréstimos e aquisição de obrigações de fomento).

b) Sector privado

5º Os empreendimentos previstos no relativamente modesto programa indicativo, em quantitativo considerado baixo para as possibilidades financeiras do sector privado local (que poderia recorrer mais expressivamente ao crédito externo para empreendimentos rapidamente rentáveis), oferecem como fonte principal o autofinanciamento das empresas, apresentando, no entanto, as restantes fontes capacidade superior às necessidades financeiras do sector,
6º Poderá o sector privado utilizar ainda outras fontes subsidiárias - embora de recursos limitados - que realizem, em especial, a mobilização das poupanças locais (de famílias e empresas)

38. Os empreendimentos previstos no programa de investimentos serão financiados da forma que se apresenta no quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultara, silvicultura e pecuária

39. Dada a limitação do espaço, mesmo que se prossiga em Macau um tipo intensivo de agricultura, nunca esta actividade poderá ter perspectivas futuras de relevo, e jamais influenciará sensivelmente a vida económica da província.
As produções actuais são as seguintes na península - géneros hortícolas, nas ilhas - géneros hortícolas, junca ou junco, arroz e algumas frutas. Também se encontram nas ilhas pinhais, muito jovens ainda, cuja plantação obedeceu ao propósito de combater a erosão.

40. Os elementos disponíveis referem-se a 1960 e foram obtidos por estimativa Indicam-nos para aquele ano as seguintes produções e áreas cultivadas

Produções Toneladas
Arroz 26
Géneros hortícolas 55 790
Junça
24
Áreas cultivadas

Península 68 ha com hortas,
Ilhas 10 ha com hortas e 27 ha com junções

41. Não se conhecem quaisquer elementos sobre o efectivo pecuário da província, que, evidentemente, e com excepção de escassíssimas unidades isoladas, se encontrara estabulada. As considerações feitas para a produção agro-florestal são válidos paia a pecuária Afigura-se inviável qualquer projecto de instalação de um aumento com capacidade para resolver problemas de abastecimento de carne, lacticínios ou outros produtos animais.

42. Nestas condições, a verba consignada a «Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris» durante o III Plano de Fomento, destina-se praticamente a manter o património agro-florestal das ilhas e garantir o repovoamento.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

II) Pesca

43. O único sector onde os recursos naturais disponíveis se apresentam com interesse económico é o dos recursos piscatórios Neste aspecto, e ainda que não tenha sido levada a efeito uma prospecção sistemática e aprofundada da riqueza piscatória das águas de Macau, podem identificai-se como espécies mais abundantes o safio (Muraenascx arabicus), o salmonete (Nemiptcrus virgatus), o robalo (Elcutheronema tetradactylus), o roncador (Poma-dasys hasta), o peixe-pedra-encarnado (Taius tunifrons) e, entre as espécies pelágicas, a sardinha (Sardinnella aurita), o chichairo (Deccptenus lajanga) e o «choc-pág» (llisha alongata)

44. A exploração dos recursos marinhos constitui actividade tradicional da província.
Com uma produção constituída principalmente por peixes de fundo e crustáceos (camarões e caranguejos), verifica-se que cerca de trás quartos são escoados para o exterior, na sua quase totalidade para Hong-Kong.
Por outro lado, a província recorre ainda à importação, designadamente da China Continental e de Hong-Kong, para satisfazer o consumo interno, com aquisições de produtos de pesca de valor compreendido entre 28 463 e 36 184 coutos por ano, de 1962 a 1964.

45. Assim, ocupando a actividade posição de grande relevo em Macau, a expansão das capturas e a montagem

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1154 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º [...]

de indústrias afins terão os mais salutares reflexos na economia da província, quer procurando suprir a procura interna de pescado, quer ampliando a importante fonte de divisas que a sua colocação no exterior representa.

46. O predomínio, neste sector, da iniciativa privada e n dificuldade na obtenção de elementos significativos relativos aos projectos de futuros empreendimentos levam a indicar este sector apenas «por memória»

III) Indústrias extractivas e transformadoras

47. No sector industrial a posição dominante pertence actualmente a indústrias novas, bem dimensionadas, utilizando modernos processos de fabrico, que procuram tirar o maior proveito da óptima posição que a província detém quanto aos mercados externos.

48. Os investimentos na indústria transformadora vêm a efectuai-se, em bom ritmo, pelo sector privado. Não se pôs, assim, o problema de suprir a falta de iniciativa dos empresários particulares, a quem a província tem oferecido condições que funcionam como excelente estímulo para novos empreendimentos.
A dispensabilidade de investimentos estatais, substanciais e directos, no sector da indústria transformadora, não significa, porém, que as infra-estruturais actuais se devem considerar adequadas - impõe-se a sua revisão, nomeadamente no aspecto das fontes de energia, que começam a constituir um estrangulamento à expansão do sector industrial, bem como no da construção de um bom porto.

49. No entanto, não surgem aqui, como já se referiu, os problemas que normalmente afectam a indústria transformadora das outras províncias ultramarinas. A circunstância de Macau ser um porto franco, aliada & abundância de mão-de-obra relativamente especializada e barata, determinou um enorme surto de industrialização, a partir do momento em que foi decretada a livre circulação de mercadorias entre as províncias ultramarinas.
Este condicionamento reflecte-se, como é óbvio, nos mercados nacionais, com grande relevância em Angola e Moçambique, e, reflexamente, nos seus sectores industriais, que estuo a ser afectados por problemas de concorrência.

50. Como já se referiu, a pujança da iniciativa privada - influenciada por factores que escapam ao domínio da Administração - dispensa substanciais investimentos públicos na indústria transformadora.
Daí a inclusão, sob a rubrica «Estudos, projectos e outras despesas paia a instalação, modernização e ampliação de indústrias de interesse para a província», de uma verba destinada a estudos e projectos de novas indústrias não existentes ainda no meio ou pouco generalizadas nele.

51. No que se refere a iniciativas privadas, não foi possível levar a efeito estudos que permitissem definir com segurança perspectivas futuras de investimentos no sector, considerando-se, no entanto, investimentos na criação, ampliação ou modernização de estabelecimentos industriais, em montantes que parecem aceitáveis em face dos elementos disponíveis.

Industrias extractivas e transformadoras

Programa da Investimentos

[Ver tabela na imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

52. Os problemas respeitantes a este sector não foi ara abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo viu «Habitação e melhoramentos locais»

V) Energia

53. A concessão da produção e da distribuição da energia eléctrica da cidade de Macau no decorrei dos próximos anos deverá, dentro de muito pouco tempo, ser renovada a Melco (The Macao Electric Lighting Company, Ltd ), que é já a actual concessionária.

54. A potência instalada em 1964 na cidade de Macau e nas ilhas de Taipa e Coloanc era de 10,8 MW.

A potência total assegurada pelas duas centrais existentes nas ilhas, embora reduzida - apenas de 414 KW-, vem satisfazendo as necessidades de consumo Com a instalação de novas actividades e o desenvolvimento dos consumos, torna-se, no entanto, indispensável, não só aumentar a capacidade produtiva do sistema, como melhorar a distribuição, tanto na cidade como nas ilhas.

55. A produção de energia daquela empresa em 1966 e a pi e vista paia o período compreendido entre os anos de 1967 e 1973 são as seguintes:
10 KWH
1966 46,50
1967 55,80
1968 67
1969 80,4
1970 96,50

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30 DE JUNHO DE 1967 1155

1971 ..............115.80
1972 ..............189
1978 ..............116.80

O fornecimento de energia ao concelho das ilhas está a cargo da respectiva câmara municipal.

56. A electrificação, tanto da Taipa como de Coloane, processou-se no decurso do II Plano de Fomento.
Do início, a energia em produzida na Taipa e transportada depois entre ilhas por meio de um cabo submarino de 6 kW Posteriormente, porém, houve necessidade 116,80 de instalar um gerador em cada ilha.

57. Nestas condições, programam-se investimentos destinados a aumentar a potência instalada em cada ilha e a promover o seu conveniente transporte e distribuição, tendo em vista, além do mais, o desenvolvimento turístico que se prevê fomentar.

Energia

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VI) Circuitos de distribuição

58. Em Macau, o comércio local depende, sobretudo, de importações recebidas da China Continental e de outras que efectue via Hong-Kong, com as quais se provê ao abastecimento das indústrias locais, das populações da província e das regiões fronteiriças.
Campo exclusivo da iniciativa privada, não se consideram necessários investimentos no sector

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

59. As deficientes condições oferecidas pelo porto da Macau aos navios de grande tonelagem têm constituído obstáculos a expansão das trocas comerciais, que, juntamente com a pesca e a indústria transformadora, estão na base da economia da província.
A navegação de longo curso apresenta, pois, posição muito secundária no movimento do porto
Do movimento anual, 99 por cento devem-se às embarcações de navegação costeira, de nacionalidades estrangeiras na sua totalidade, devendo apontar-se as tendências nitidamente dinâmicas reveladas pela evolução do tráfego portuário
O movimento de passageiros por via marítima acusa também um rápido crescimento

A ligação marítima com Hong-Kong é ainda assegurada por carreiras de hidroplanadores, o que representa, em relação aos meios do transporte usuais, notável melhoria e economia de tempo.
A navegação fluvial ocupa, por seu lado, lugar de certo relevo

60. Os transportes aéreos, em virtude de as condições locais dificultai em o estabelecimento de um aeroporto com melhores condições, desempenham papel secundário nas ligações da província com o exterior.

61. A rede rodoviária das ilhas, pouco extensa, mas adequada as dimensões da província, muito beneficiai á com a conclusão do istmo de ligação entre ilhas
O número de veículos automóveis em circulação em 1965 era de 2341, sendo 1624 ligeiros, 396 pesados e 321 motociclos.

62. Os C T T asseguram de modo satisfatório as comunicações dentro da província e com o exterior, sendo o movimento caracterizado por uma contínua e rápida expansão.

2. Investimentos

1. Transportes rodoviários

63. Os investimentos incluem o desenvolvimento da rede rodoviária das ilhas de Taipa e Coloane e sua ligação, incluindo a execução de aterros, pois, terminada a ligação em fins de 1968 ou princípios de 1969, conforma está previsto, torna-se seguidamente necessário melhorar todas as condições rodoviárias, o que muito virá também contribuir para aquele desenvolvimento turístico que a Taipa e Coloane se pretende dar.

64. Incluem-se também nesta rubrica a execução de aterros nas, zonas contíguas ao istmo de ligação Segundo opinião de técnicos, especializados, o desvio de correntes motivado pela ligação terá como consequência, vantajosa para o meio, o assoreamento, num futuro próximo, das áreas que lhe são contíguas  acontecer o previsto, impõe-se, como medida paia uma completa recuperação daquelas áreas, a constituição de um dique, que possibilitai á dispor de grandes espaços de terrenos.

2. Portos e navegação marítima

65. Apenas quatro objectivos aparecem como novos nesta lúbrica Os restantes transitam do Plano Intercalar de Fomento, pois que, tendo sido atingido ainda os objectivos previstos, há que prosseguir com n bua execução da forma que parece mais aconselhável.

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1156 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Os quatro novos empreendimentos que aparecem no actual Plano são os seguintes:

a) Substituição da draga de garras e da cábrea, com a aquisição de uma escavadora a montar num pontão a construir,
b) Aquisição de uma vedeta pequena paia a polícia marítima e fiscal,
c) Construção de um plano inclinado para desembarque de viaturas na ilha da Taipa,
d) Reparação da ponte-cais de Coloane

66. Quanto a investimentos atribuídos ao sector privado, há que referir

Canal de acesso ao porto interior

À dragagem deste canal, nos termos das alíneas das cláusulas 7 ª e 9 ª do contrato com a concessionária dos jogos, compete à mesma concessionária

Canal de acesso ao porto exterior

A dragagem do canal de acesso à ponte-cais, bem como a de um canal no porto exterior que permita manter condições de descolagem e amai agem de aviões das ligações aéreas entre Macau e Hong-Kong, cabe também à concessionária dos jogos, nos termos da cláusula 7 ª do contrato.

Canal de acesso de Macau a Taipa e Coloane

Esta dragagem está também prevista

Fundeadouros nos portos exterior e interior

A concessionária dos jogos está ainda obrigada a dragar e a conservar os fundos necessários à navegação nos fundeadouros.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

67. Enquanto a zona citadina suporto uma exagerada carga demográfica, as reduzidas áreas disponíveis encontram-se ocupadas por habitações provisórias.

68. Não obstante os obstáculos e condicionamentos gerados por uma estrutura social su generis, o problema vem sendo enfrentado com decisão, prevendo-se uma
melhoria da situação em pi azo não muito longo. Em 1967 é já possível assegurar a 50 por cento dos servidores do Estado habitações condignas, a rendas de nível satisfatório, mantendo-se a acção desenvolvida pela assistência pública para resolver o problema habitacional das classes economicamente débeis, desalojados e refugiados.

69. O problema habitacional dos funcionários do Estado é das classes economicamente débeis vem sendo uma constante preocupação da província, que tem tentado,

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30 DE JUNHO DE 1967 1157

por todos os meios, proporcionar a estes sectores da população de Macau uma habitação que, embora económica obedeça aos princípios de higiene e de conforto.

2. Investimentos

1. Habitação

70. Com as verbas inscritas nesta rubrica, espera-se resolver definitivamente o problema habitacional do funcionalismo público, prevendo-se, no que se refere à construção de casas para classes economicamente débeis, uma acção decisiva da assistência pública.
Deve referir-se, aliás, que, em Macau, o interesse do capital particular pela edificação se mostra vivo, porquanto tal actividade proporciona satisfatória remuneração.
Os terrenos livres do porto exterior, pertencentes ao Estado, formam a zona onde se poderá promover desde ]á a construção de grandes conjuntos habitacionais, até porque dispõem de um plano parcial de urbanização em condições de ser executado.

2. Melhoramentos locais

Rede de esgotos (3.º fase)

71. Encontrando-se já executada a 1ª fase e em vias de acabamento a 2ª, torna-se agora necessário assegurar integralmente disponibilidades financeiras para a completa execução da 3ª fase, já iniciada. A necessidade do executar este empreendimento está bem patente no que se verifica nos dias de chuva em toda a zona que envolve, pois áreas há que ficam completamente intransitáveis.

Outros empreendimentos

72. Para além dos empreendimentos referidos, prevê-se a execução de outros melhoramentos

1) Construção de um matadouro,
1) Construção de um mercado no Bairro de Tamagnim Barbosa,
3) Remodelação do Mercado da Mitra,
4) Protecção dos taludes da estrada da Penha,
5) Aterro e saneamento da zona da doca do Lamau, entre a Avenida de Demétrio Cinatti e a Travessa dos Estaleiros,

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

73. Outro sector de importância para a economia de Macau, mas ainda com enormes possibilidades intuías, é o turismo

74. O movimento de turistas caracteriza-se por uma evolução nitidamente dinâmica.

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Movimento de hóspedes não residentes nos hotéis e pousadas

[ver tabela na imagem]

75. Macau é um meio essencialmente turístico, como está bem patente nos resultados ultimamente obtidos.

Não se tem verificado, no entanto, a intervenção directa do Estado neste sector, a não ser no aspecto do embelezamento da cidade, porque a iniciativa privada tem correspondido satisfatoriamente naquilo que se pode considerar como sendo as estruturas basilares indispensáveis do turismo a indústria hoteleria e a dos transportes marítimos rápidos, que parecem ser suficientes para a grande afluência que há hoje em Macau.
Anota-se que em Macau entram e soem anualmente mais de l 250 000 pessoas.

2. Investimentos

76. Pelas companhias concessionárias dos jogos e das corridas de galgos, aparecem-nos, nesta rubrica, investimentos durante o sexénio, nos termos dos contratos em vigor, que se destinam ao desenvolvimento turístico de Macau, segundo planos a aprovar pelo Governo da província.

Turismo

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

X) Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

77. Escolarização praticamente integral, baixa taxa de analfabetismo e proporção relativamente elevada de indivíduos que tenham atingido pelo menos grau secundário de ensino caracterizam, sob o ponto de vista cultural, a província de Macau.

78. A contribuição dos institutos educacionais missionários e, em particular, das escolas particulares da comunidade chinesa é extremamente importante para o ensino primário e liceal, pois cerca de 96 por cento das escolas que ministram estes graus de ensino integram-se naquelas categorias. O Liceu Nacional do Infante D. Henrique é o estabelecimento do Estado para o ensino secundário liceal.

79. Quanto ao ensino técnico profissional, está a cargo de duas escolas particulares oficializadas e subsidiadas pelo Estado - a Escola Comercial de Pedro Nolasco e o Colégio de D. Bosco, e, entre outros institutos do Estado, da Escola do Magistério Primário, das escolas de promoção de quadros dos serviços públicos - dos C T T e dos Serviços de Portos e Transportes Terrestres -, da Academia de Música de Pio X, onde se ministra o ensino artístico.

[ver tabela na imagem]

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[ver tabela na imagem]

2. Investimentos

1. Educação

80. Os objectivos fixados para o sector deverão ser alcançados através da realização progressiva dos seguintes empreendimentos, em relação aos quais não parece viável definir, desde já, metas quantificadas.

1 º Adaptação da Escola do Magistério Primário à finalidade da formação de professores da Língua Portuguesa, destinados ao ensino nas escolas chinesas,
2 º Formação de mestres para os centios de aprendizagem profissional junto das empresas privadas,
3 º Criação de centros do aprendizagem profissional junto das empresas privadas carecidas de mão-de-obra qualificada,
4 º Valorização do ensino ministrado nas escolas técnicas profissionais, quer por uma melhor adequação de natureza técnico-profissional dos cursos às necessidades locais de mão-de-obra especializada, quer por meio de um reforço de elevação do nível técnico desses cursos,
5 º Aumento substancial de bolsas paia n frequência, por naturais, de cursos médios e superiores na metrópole, em Moçambique ou em Angola,
6 º Construção de uma escola primaria oficial,
7 º Participação num programa editorial e do produção radiofónica, ao nível interprovicional ou nacional, destinado à criação e difusão de meios de leitura em língua portuguesa e de meios de conhecimento.

2. Investigação não ligada ao ensino

81. Torna-se indispensável, para efeito de planeamento económico e para orientação geral da Administração, realizar, além dos estudos necessários à concretização e fundamentação de empreendimentos, estudos de base, no âmbito das seguintes actividades:

Documentação estatística, demografia, contabilidade económica e documentação técnico-económica.

Educação e investigação

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

82. A peculiar estrutura demográfica de Macau - resultante da conjugação de uma altíssima densidade populacional com a existência de intensos fluxos migratórios- gera graves problemas de saúde, a que os serviços competentes da província vêm prestando a sua melhor atenção, mediante uma perseverante luta contra o paludismo e a adopção de medidas preventivas da tuberculose, poliomielite, tifo, varíola, cólera, paratifóide e difteria.

83. Os quadros seguintes documentam os esforços desenvolvidos no período de 1953 a 1964, com o objectivo de assegurar a Macau uma eficiente cobertura sanitária.

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Pessoal

[ver tabela na imagem]

Estabelecimentos

[ver tabela na imagem]

A partir de 1966 a província ficou ainda a dispor de um pavilhão para tuberculosos e de duas escolas de enfermagem, destinadas, respectivamente, a alunos de língua portuguesa e chinesa.

2. Investimentos

84. Os objectivos fixados no domínio da administração sanitária serão cumpridos mediante a realização dos empreendimentos seguintes:

1º Formação de pessoal de enfermagem,
2º Construção de um pavilhão de alienados,
3º Construção de um asilo para doentes crónicos e irrecuperáveis,
4º Remodelação e ampliação do Centro de Saúde da Taipa,
5 º Construção de um edifício para os Serviços de Saúde e Assistência,
6 º Aquisição de equipamento

85. No domínio da saúde da população, é o seguinte o programa cuja realização permitirá alcançar os objectivos fixados

1 º Combate contra a tuberculose,
2 º Combate contra a maldita,
3 º Combate às doenças transmissíveis (excepto a tuberculose),
4 º Ampliação da assistência materno-infantil,
5 º Educação sanitária da população, Vacinação contra a poliomielite

86. Nesta linha de orientação, inclue-se uma série de variados empreendimentos visando, no seu conjunto, a realização dos objectivos definidos

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

Programa de investimentos

(Resumo por sectores)

[ver tabela na imagem]

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30 DE JUNHO DE 1967 1161

[ver tabela na imagem]

VIII

Timor

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. Dimensões territoriais relativamente restritas, orografia muito acidentada e uma hidrografia dominada pela multiplicidade de pequenos cursos de água de características torrenciais constituem, com o grande afastamento em relação a todos os outros territórios nacionais, as características físicas relevantes da província.

2. Do ponto de vista humano, assinalar-se-á a conjugação de uma estrutura primária caracterizada pela concentração no sector da agricultura, silvicultura e pecuária, em regime de economia de subsistência e de tendência demográfica para um crescimento rápido.

3. No que se refere ao subsolo, embora se encontrem ainda insuficientemente conhecidas as suas potencialidades, regista-se a existência de jazigos, que possuem interesse económico, de manganês e de hidrocarbonetos. A província dispõe de uma elevada percentagem de solos com boas aptidões para fins agrícolas.
Os recursos piscatórios das costas de Timor, que se consideram abundantes, parecem susceptíveis de aproveitamento, não só pela pesca artesanal como por empreendimentos de mais largos horizontes.
As características do sistema hidrográfico levam a classificar de modestas as possibilidades de aproveitamento hidroenergético.

4. A uma grama limitada de produções para o mercado corresponde, como aliás sucede normalmente em economias deste tipo, um excessivo grau de concentração e de vulnerabilidade das exportações da província. A balança de pagamentos mantém-se equilibrada pela ajuda financeira da Administração Central, que contrabalança uma situação deficitária da balança comercial.

5. A incipiência do sector empresarial, aliada às dificuldades de mobilização de poupança interna, faz, por outro lado, recair no sector público o papel motor do desenvolvimento económico.

2. Evolução demográfica

6. A população, que, segundo o censo de 1960, era de uns 517 000 habitantes, cifra-se, segundo o arrolamento administrativo de 1965, em cerca de 555 000 almas A taxa média de crescimento anual situa-se à volta de 1,7 por cento

7. Do ponto de vista da distribuição espacial, a população de Timor caracteriza-se por acentuada variabilidade de densidade por quilómetro quadrado.

8. Anota-se seguidamente a distribuição etária de que se dispõe, com base nos arrolamentos administrativos, e referente ao ano de 1963

[ver tabela na imagem]

9. A evolução da população da província de Timor, segundo os dados disponíveis, foi a seguinte, no período de 1936 a 1960.

[ver tabela na imagem]

(a) Estimativa baseada arrolamento administrativo

A circuntância de o período de 1936-1950 ter incluído a II Guerra Mundial e a ocupação do território da província retira o significado à redução observada nesse período.
É de notar, além disso, que os dados disponíveis relativos ao ano de 1936 não resultam de recenseamento demográfico, mas sim de simples estimativas baseadas em arrolamento administrativo.

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1162 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

10. Para o estudo da provável evolução da população de Timor até 1973 foram consideradas as hipóteses seguintes:

a) Prolongamento no futuro das tendências observadas no período de 1950-1960, ou seja, crescimento à taxa anual de 1,7 por cento,
b) Crescimento à taxa calculada por comparação dos resultados do censo de 1960 com os apurados no arrolamento administrativo de 1963 (com os necessários ajustamentos).

Os efectivos populacionais atingiam, pois, em 1973, nível situado entre os limites de 651,6 e 671,6 milhai es, não sendo de prever modificações relevantes da estrutura etária.

3. Evolução do produto, rendimento o despesas internas

11. Os valores do rendimento nacional estimados para Timor são baixos (a preços constantes 159,8 milhares de contos em 1953 e 212,6 milhares de contos em 1962 - ME B N U ). Estes valores não se traduzem em capitações baixas se se tiver em consideração que a situação económica dos habitantes se espelha antes na economia de subsistência, de onde retiram o justificativo de um relativo bem-estar. A dualidade económica de Timor caracteriza-se, efectivamente, por fonte predomínio da economia de subsistência, cujos fluxos ultrapassam os 80 por cento do rendimento provincial total (a preços constantes 830,1 milhares de contos em 1953, 1064,3 milhares de contos em 1962 e 1105,6 milhares de contos em 1963).

12. Analisando a evolução do rendimento no decénio considerado (1953-1962), verifica-se que, apesar de alguns recuos - 1959, 1960 e 1962 (a preços correntes haveria a assinalar outro em 1954) -, a mesma foi favorável, de movimento ascendente. O acréscimo médio anual foi da ordem dos 3,2 por cento, aceitável para aquela zona do Globo Articulado este acréscimo com a taxa de variação da população, que teria aumentado a 1,6 por cento, fica evidenciado que o nível médio do rendimento monetário melhorou. Esta melhoria pode, aliás, comprovar-se pela variação das capitações que, com um acréscimo decenal de 16,6 por cento (a pi ecos correntes 29 por cento), exibiram assim um aumento anual médio da ordem dos 1,7 por cento (a preços correntes 2,9 por cento).
A distribuição percentual do rendimento provincial pelas suas principais componentes dá-nos o seguinte esquema

[ver tabela na imagem]

Este esquema mostra-nos o predomínio do rendimento do trabalho sobro as restantes categorias de rendimento, ao absorver à volta de 55 por cento do total (57,7 por cento em 1958, 54,5 por cento em 1962). O declínio da posição do rendimento do trabalho ao longo do decénio é acompanhado pelo de todas as restantes categorias do rendimento, em benefício do das empresas e propriedades, que, de 26,4 por cento em 1953, subiu para 33 por cento em 1962.
As contas nacionais para 1963 fornecem-nos valores que confirmam a tendência assinalada ao rendimento e mostram um ritmo do crescimento mais forte. De 1962 para 1963, deu-se um acréscimo de aproximadamente 11 por cento, correspondente a 28,3 milhares de contos (em 1962 212,6 milhares de contos, em 1968 285,9 milhares de contos), tendo sido esse acréscimo reflexo da melhoria verificada em todas as componentes de rendimento, nomeadamente a «Remuneração do trabalho», o «Rendimento de empresas» e o «Rendimento da propriedade».

13. A «Despesa de consumo privado» engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando com cerca de 98 por cento do total e estas com a diminuta percentagem de 2 por cento, em média, o que põe em destaque a pouca importância directa que o sector associativo tem no encurto económico monetário da província.
A «Despesa de consumo privado» revela ao longo do período considerado (1953-1962) uma evolução moderadamente ascendente, mas conturbada por movimentos alternados de descida e subida que só mostram excepção no triénio de 1956-1958. Para tais evoluções e movimento contribui decisivamente a componente «Géneros alimentícios», cuja variação, decorrente de bons e maus anos agrícolas, evidencia a importância do autoconsumo na economia de Timor. Por esse motivo, a «Despesa de consumo privado», relativa apenas aos fluxos monetários, é pouco significativa e não traduz o nível económico das populações, pois, como já se afirmou, tais fluxos representarem apenas cerca de 20 por cento de rendimento provincial global.
A preços constantes, a «Despesa de consumo privado» passou de 137,5 milhares de contos em 1953 para 175 milhares de contos em 1962, mostrando um acréscimo anual médio da ordem dos 3 por cento. Confirmando e vincando a tendência ascensional que lho foi a assinalada, o acréscimo de 1962 para 1963 foi de aproximadamente 5,4 por cento, para o que também deve ter contribuído o aparecimento de uma população adventícia metropolitana, com maior poder de compra, ligada à defesa do território e ao seu fomento.
Analisando a importância relativa dos componentes da «Despesa de consumo das famílias», encontramos como dominante a aquisição de «Géneros alimentícios», que atinge, no período, a média de cerca de 51 por cento do total daquela mesma despesa, percentagem que, no entanto, não é elevada, dado o relevo da economia de subsistência na província. É a variação desta componente que imprime & «Despesa de consumo privado» o movimento acima descrito. Das outras componentes podem destacar-se como de maior importância as «Rendas e consumo de água», cujo volume foi especialmente influenciado pelo - valor das lendas imputáveis aos prédios ocupados pelos seus proprietários, a aquisição de «Artigos de vestuário e outros objectos de uso pessoal», de grande expressão ao longo de todo o período, mas acusando uma curiosa tendência decrescente que parece ser contrariada a partir de 1960, e ainda«Bebidas» e «Transportes e comunicações», tanto uma como outra apresentando movimentos alternados de subida e descida pouco pronunciados.
A importância relativa, em percentagens, das principais componentes da «Despesa de consumo das famílias» pode observar-se no quadro seguinte

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[ver tabela na imagem]

A «Despesa de consumo dos organismos privados sem fins lucrativos», que pouca expressão assume na «Despesa de consumo privado» (cerca de 2 por cento), apresenta, ao longo do período analisado, um movimento ininterrupto e regular de crescimento.

A inclusão dos fluxos não monetários na «Despesa de consumo privado» faria quase sextuplicar os valores estimados para aquela despesa (em 1963 184,9 e 1049,2 milhares de contos, respectivamente, sem e com inclusão de fluxos não monetários).

14. O quadro da origem do produto interno bruto revela o predomínio dos ramos de actividade «Agricultura, silvicultura, caça e pesca», «Comércio por grosso e a retalho», «Administração pública e defesa» e «Serviços», que, em conjunto, representam mais de 92 por cento do total do produto sobre os restantes, alguns dos quais («Transportes, entrepostos e comunicações» e «Propriedade de casas de habitação») não atingem l por cento na sua participação relativa. No quadro seguinte indica-se essa participação relativa a cada um dos ramos de actividade na formação do «Produto interno bruto aos preços do mercado» nos anos extremos do decénio 1953-1962.

[ver tabela na imagem]

Sendo a economia de Timor essencialmente agrícola, não surpreende a posição de «Agricultura, silvicultura, caça e pesca» (32,5 por cento em 1962), mas poderia esperar-se que, pelo menos, a indústria transformadora dos seus produtos contribuísse para uma melhor posição do respectivo ramo do que aquela que apresenta. O comércio ocupa posição destacada (25,8 por cento), em natural paralelismo com a agricultura e silvicultura, e destacada é também a posição do Estado na formação rio produto interno (17,9 por cento) e da economia geral De assinalai o pouco relevo do ramo da «Propriedade de casas de Habitação», praticamente sem contribuição no produto (0,2 por cento), já que toda a actividade neste ramo tem sido desenvolvida pelo Estado. Os «Serviços» são o outro ramo de actividade com saliente participação no produto interno bruto, mas é, de certo modo, um mau sintoma o facto de a sua importância relativa ter decaído (em 1953 18,7 por cento, em 1962 15,9 por cento).
Analisando a evolução do «Produto interno bruto ao custo dos factores» (a preços constantes) no período considerado (1958-1962), observa-se que o mesmo apresenta um movimento alternado de descida e subida, bastante perturbado, mas sem deixar de revelar uma tendência ascendente Assim, entre 1953 e 1955, o produto baixa, subindo em 1956, para no ano seguinte voltar a descer, em 1958 sobe novamente, tornando a baixar em 1959 e 1960. Nos dois últimos anos (1961 e 1962) elevou-se aos seus maiores valores, o que permitiu definir-se a tendência ascendente assinalada.
Entre 1953 (198 milhares de contos) e 1962 (229,1 milhares de contos), o aumento foi apenas de 18,7 por cento (36,1 milhares de contos), o que corresponde a um acréscimo anual médio à volta de 2 por cento Para este aumento contribuíram, de uma maneira geral, a maioria dos ramos de actividade económica. Excluem-se as «Indústrias extractivas», «Indústrias manufactureiras» e «Bancos, seguros o transacções sobre imobiliários», que apresentaram recessão, e «Transportes, entrepostos e comunicações» e «Serviços», que se mostram praticamente estacionários A evolução mais firme foi a de «Administração pública e defesa», porquanto a «Agricultura, silvicultura, caça e pesca» esteve dependente de vários factores climatéricos e de comercialização, que lhe imprimiram um movimento muito perturbado, o «Comércio por grosso e a retalho» acompanhou paralelamente o movimento da actividade agrícola.
Em 1963, definiu-se melhor a tendência ascensional do produto interno bruto, que apresentou, nesse ano, o maior valor de sempre (268,9 milhares de contos), com uma taxa de acréscimo em relação ao ano anterior de 17,4, por cento, verdadeiramente notável se não fora o baixo nível do produto.
Este acréscimo foi devido, em especial, aos quatro ramos de actividade já referidos, acompanhados, no entanto, por todos os restantes O maior aumento foi o acusado pela «Administração pública e defesa», por razões já deduzidas a propósito do rendimento nacional da província.

4. Relações económicas com o exterior

15. Constituem características fundamentais do comércio externo da província a forte dependência do sector primário e a fraca projecção das exportações, traduzida por uma balança comercial normalmente deficitária.
A partir de 1960 - ano em que mais baixaram tanto as importações como as exportações - regista-se uma progressão gradual do comércio externo.

16. As dez primeiras rubricas de importação indicadas no quadro seguinte denunciam uma certa concentração, com a posição máxima em 1965, perfazendo 56,8 por cento das importações totais

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[ver tabela na imagem]

(a) As bebidas incluem vinhos, aguardentes, cervejas e bebidas gasosas

17. Com as exportações, a concentração só não é maior devido à quebra sofrida pelo preço do café. No período de 1958-1965 este produto representou, em média, em relação às exportações totais, cerca de 73 por cento, seguindo-se a copra, com 12 por cento, a borracha, com 8.4 por cento, a cera, com 2.1 por cento, e por fim o camim, com 0.5 por cento.
Aos anos de menor contribuição de café-1960 e 1961- correspondeu uma maior participação da copra e da borracha, a primeira com 14.3 e 13.8 por cento e a Segunda com 13.6 e 13.1 por cento, respectivamente, como consta do quadro seguinte

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[ver tabela na imagem]

18. Dada a situação geográfica longínqua de Timor em relação á metrópole e às províncias, ultramarinas, com excepção de Macau, é natural que as relações externas com o território nacional não atinjam proporções semelhantes às das outras parcelas nacionais. Em 1963, 22,2 por cento das importações de Timor passaram a ser feitas da metrópole, apesar de, nos anos anteriores, em média, não irem além de 19,1 por cento. Em 1964, no entanto, desce para 15,8 por cento o valor das importações com tal origem, subindo em 1965 para 32,2 por cento.
Do ultramar, apenas Macau e Moçambique podem ser considerados fornecedores de Timor, já que Angola só em alguns anos. contribuiu com cerca de 0,1 por cento nos importações da província e com 1,4 por cento em 1964. A posição de Moçambique, conquistada em 1963 (sobretudo por intermédio da cerveja), passando de 2,9 para 5,1 por cento, baixou em 1964 para 4 por cento, para atingir em 1965 o valor mais elevado do período 6,1 por cento.
Macau, dada a sua proximidade e a natureza das suas exportações, comportou-se como o melhor fornecedor ultramarino.
É, porém, o estrangeiro o grande fornecedor de Timor Ao longo do período de 1958-1965, foram as seguintes as participações totais da província Hong-Kong, 16,5 por cento, Singapura, 15,2 por cento, Austrália, 9,2 por cento, Reino Unido, 8,6 por cento, Japão, 10,6 por cento, Estados Unidos da América, 2,5 por cento, Republica Federal Alemã, 8,2 por cento, e Holanda, 2,7 por cento.

19. Nas exportações há igualmente grandes variações. Começando pela metrópole, cuja absorção variou entre 6,5 s 36,8 por cento das mesmas, pode dizer-se que consegue ter vantagens nas suas trocas externas com Timor, pois que coloca muito mais mercadorias do que as que adquire.
O ultramar vem a participai nas exportações com os mesmos territórios referidos para as importações- Macau e Moçambique Macau aumentou o consumo de bens da província, passando de 2,5 por cento em 1958 para 11 por cento em 1964. Em 1965 a sua participação desceu para 1,3 por cento.
Analisando o território nacional como cliente de Timor e verificando o crescimento gradual das suas aquisições à província, há que registar a recessão das compras no estrangeiro até 1962 (a quota-parte das suas compras passou de 89,9 por cento em 1958 para 54,7 em 1962), seguida de uma retoma nos últimos três anos do período considerado.
Tanto em 1964 como em média, a Dinamarca foi o primeiro cliente de Timor, com as taxas respectivas de 24,6 e 24,9 por cento. Segue-se-lhe a Holanda, ocupando o segundo lugar em 1964 (15,7 por cento) e ficando anualmente com cerca de 17,8 por cento das exportações timorenses Singapura é igualmente um bom cliente de Timor (1965 - 24,9 por cento), em média importou cerca de 12 por cento das exportações totais da província. O comportamento do Japão é muito variável, circunstância ocorrida com os restantes países ora nada importam em certos anos, ora tomam posições de relevo, é o que acontece com os Estados Unidos da América, a Republica Federal Alemã, a Noruega. Entre outros consumidores podem apontar-se Bélgica-Luxemburgo. Grécia, Hong-Kong, Austrália, Itália e França Seguidamente se indicam as percentagens referentes às importações e exportações relativos à metrópole, ultramar e estrangeiro

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Importações

[Ver tabela na imagem]

Exportações

[Ver tabela na imagem]

20. A balança de pagamentos tem sido equilibrada em resultado essencialmente da assistência financeira da Administração Central para a realização dos planos de fomento. Como os quadros a seguir insertos mostram, os saldos negativos da balança de pagamentos correntes têm sido contrabalançados pelos movimentos de cambiais do Estado.

Movimento cambial

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui 15 190 contos de saldos que transitaram do 1954.

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Cambiais do Estado

[Ver tabela na imagem]

Movimento cambial com exclusão do movimento com fundos do Estado

[Ver tabela na imagem]

As exportações e as entregas do Estado constituem, com efeito, as únicos fontes de divisas da província, predominando nas saídas as resultantes das importações, a que se seguem, a nível consideràvelmente inferior, as destinados o pagamentos do Estado, de mesadas e pensões, e de transferências de lucros, rendas e dividendos.

21. A execução dos planos de fomento tem permitido melhorar o poder de compra da população e dotar a província com certas infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento económico, tudo se traduzindo no crescimento das importações, que ainda não pode encontrar compensação num crescimento paralelo das exportações provenientes do esforço de desenvolvimento.
Por outro lado, embora o volume de produção dos principais produtos exportáveis tenho vindo a aumentar consideravelmente, o nível das cotações internacionais não tem permitido que tal facto tenha maior projecção no volume de divisas entrados.
São estas duas ordens de factores - uns ligados ao esforço de desenvolvimento económico de Timor, outros às flutuações das, cotações internacionais - que levam ao desequilíbrio da balança comercial da província.
Nada impedirá, entretanto, que uma alta dos cotações internacionais venho acrescer consideràvelmente os disponibilidades da província em meios de pagamento sobre o exterior.

22. No período de 1958-1965 a circulação monetária na província passou de 44 a 78,9 milhares de contos, o que corresponde a um aumento de 88 por cento. Tal acréscimo foi produto de aumentos que tiveram lugar nos últimos dois anos considerados, sobretudo no último, visto que a circulação se manteve, anteriormente, sempre inferior ao valor de 1958.

5. Perspectivas de crescimento

23. Da análise feita às características essenciais da economia do província ressalta a dificuldade de na situação actual provocar a curto prazo a aceleração do acréscimo do produto interno, em termos de gerar um processo cumulativo de desenvolvimento autónomo. Faltam para tanto os apoios de um sector empresarial relevante e de uma produção agrícola dinamizada para o mercado.

24. Os investimentos prioritários efectuados no âmbito dos planos de fomento passados permitiram dar impulso à criação de infra-estruturas essenciais ao lançamento do processo de crescimento desejado.
À luz desta verificação apontam-se, como perspectivas razoáveis, o fomento do sector agrícola tradicional através de um aumento de produtividade, de uma maior diversificação e de uma mais acentuada monetarização, e o fomento de todos os empreendimentos rentáveis, que seja possível auxiliar ou mesmo estimular, nos sectores das indústrias extractivas, das indústrias agrícolas, da pesca e do turismo.
A este linha de acção puramente económica serviria de suporte o prosseguimento intensificado dos esforços realizados e em curso para dotar a província com uma rede de infra-estruturas adequada, e para a promoção cultural e sanitária das populações.

CAPITULO II

Objectivos

25. A análise da estrutura económico permite destacar como características fundamentais da economia timorense as seguintes:

Deficiente conhecimento dos recursos naturais,
População progressivamente crescente, mas praticando uma economia de subsistência,
Concentração da população - mais de 90 por cento - no sector primário,
Ausência de um sector empresarial motor do desenvolvimento económico,
Actividades comerciais ocupando um lugar anormalmente grande na repartição do rendimento,
Elevado grau de vulnerabilidade às flutuações das cotações internacionais, consequência do excessivo grau de concentração das suas exportações,
Balança comercial crònicamente deficitária e com tendência para o aumento dos saldos negativos,
Balança de pagamentos equilibrada à custa da ajuda financeira da metrópole,
Poupança interno praticamente inexistente.

26. A criação das pré-condições para o arranque da província terá de assentar nos quatro factores estratégicos que a seguir se indicam:

a) Aumento da produtividade na agricultura,
b) Melhoria do nível cultural, sanitário e técnico das populações,
c) Desenvolvimento das infra-estruturas,
d) Expansão do sector empresarial.

a) Aumento da produtividade na agricultura

27. Considera-se que a província, dada a estrutura e densidade da sua população, poderá, em certa medida, suprir investimentos em capital recorrendo a não menos proveitosos investimentos em trabalho. Crê-se que o meio mais eficaz e de resultados já largamente comprovados

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consisto na aplicação das técnicas de desenvolvimento comunitário que induzam a população a tomar consciência individual e colectiva das suas necessidades, dos recursos de que dispõe, dos novos métodos de trabalho e das suas possibilidades, para que, através de um esforço conjunto, possam ser edificadas as estruturas necessárias e aproveitados esses recursos e métodos pelo trabalho e esforço próprios.

b) Melhoria do nível cultual, sanitário e técnico da população

28. A melhoria do nível cultural, sanitário e técnico da população é simultaneamente finalidade e condição do progresso económico.
Por isso se considera que as actividades a realizar neste campo deverão merecer posição de relevo no conjunto de qualquer plano de desenvolvimento económico da província.

c) Desenvolvimento das infra-estruturas

29. A província sofre de grandes deficiências em infra-estruturas no que se refere a transportes e tal facto constitui um estrangulamento decisivo no desenvolvimento económico de Timor.
As dificuldades opostas pelo relevo à implantação de uma rede satisfatória de transportes terrestres aconselham uma cuidadosa combinação de várias soluções, de modo a obter-se um razoável compromisso entre as necessidades e as possibilidades de investimentos.

d) Expansão do sector empresarial

30. Em Timor, o sector empresarial limita-se, para além de duas ou três empresas agrícolas, a um número muito restrito de pequenas indústrias.
Sabe-se, por outro lado, que o sector empresarial constitui geralmente o motor do desenvolvimento de uma dada economia. Assim, importa estimular o aparecimento de novos empresárias e empresas - que em muitos casos poderão ser de economia mista - como meio de apoiar e de aproveitar a melhoria de produtividade que se espera obter da agricultura, criando novos rendimentos em divisas e gerando possibilidades de emprego da mão-de-obra que vá sendo libertada pelo processo de modernização do sector agrícola.

31. Da análise feita às características estruturais e conjunturais da economia da província infere-se que a situação actual não é ainda de molde a possibilitar e provocar acréscimos rápidos do produto interno, em termos de gerar, pelos seus próprios meios, um processo cumulativo de desenvolvimento autónomo, assente no ciclo produção-poupança-investamento, sem o qual não existe verdadeiramente desenvolvimento económico.
Por outro lado, os investimentos prioritários efectuados ao abrigo do actual e anteriores planos de fomento permitiram dar certo impulso na criação de infra-estruturas, cuja contribuição é essencial para o estabelecimento das condições básicas do lançamento de um processo de descimento tendencialmente autónomo.
A combinação destas duas premissas leva, desde já, a definir um duplo objectivo geral a que se subordina o III Plano de Fomento.
Assim, em primeiro lugar, o plano cuja execução irá decorrer no período de 1968-1978 visa o completamento das condições em que há-de assentar o planeamento económico futuro. Em segundo lugar e paralelamente, o plano prossegue a finalidade essencial que consiste em lançar e estimular, por todos os meios, empreendimentos directamente reprodutivos, tendentes ao aparecimento e desenvolvimento do espírito de empresa.

32. Nesta ordem de ideias, o III Plano de Fomento em Timor visa os seguintes objectivos essenciais:

1.º Elevação do nível cultural, sanitário e alimentar da população,
2.º Continuação dos estudos tendentes a inventariar os recursos do subsolo e aprofundamento do conhecimento científico do território e desenvolvimento da investigação científica aplicada nos aspectos concernentes ao progresso de Timor,
3.º Melhoria da produtividade da agricultura tradicional,
4.º Estabelecimento de redes de infra-estruturas de transportes e energia adequadas às necessidades da província e programadas concertadamente com os desenvolvimentos previstos nos vários sectores,
5.º Estímulo e apoio a todas as iniciativas viáveis e rentáveis de natureza empresarial que seja possível lançar em qualquer sector, nomeadamente nas indústrias extractiva e transformadora, na pesca e no turismo.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

33. É já tradicional o recurso a esta fonte de financiamento nos anteriores planos de fomento, cujos investimentos têm sido e são integralmente cobertos pela ajuda financeira da metrópole, por meio de subsídios ou empréstimos reembolsáveis.

[Ver tabela na imagem]

(a) Dotações orçamentadas para todo o Plano.

2. Administração provincial

34. Regista-se nos quadros seguintes a evolução da receita pública ordinária e extraordinária e a importância relativa destas duas categorias de receitas.

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[Ver tabela na imagem]

As receitas ordinárias acusam, ao longo do período, um movimento crescente, com ligeiros recuos em 1958 e 1960.
O acréscimo registado no período em análise foi de 88 milhares de contos, ou seja de aproximadamente 74 por cento.
Em 1965, as contribuições de «Impostos directos gerais», «Impostos indirectos» e «Taxas - Rendimento de diversos serviços» para o total da receita ordinária foram de 23, 10 e 15 por cento, respectivamente.

35. A discriminação destas receitas torna possível uma análise do sistema tributário da província e da respectiva evolução no período considerado.

[Ver tabela na imagem]

De 49 milhares de contos em 1955, a despesa ordinária da província passou a 73 milhares de contos em 1965, o que representa um acréscimo de 50 por cento.
«Encargos gerais», «Serviços de fomento», «Serviços de saúde» e «Serviços de administração civil» acusam, em 1965, as mais fortes percentagens em relação ao volume total da despesa ordinária.
Os índices de crescimento mais elevados (ano-base 1955) referem-se a «Governo da província e representação nacional», «Encargos gerais» e «Serviços aduaneiros».

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

36. O quadro dos valores percentuais dá uma imagem exacta da evolução das despesas no decénio em análise.

[Ver tabela na imagem]

37. A análise aprofundada das rubricas mais representativas das despesas ordinárias é feita no quadro seguinte.

[Ver tabela na imagem]

38. A análise comparativa das receitas e despesas públicas, especialmente as ordinárias, e das respectivas tendências, põe em evidência a impossibilidade da administração provincial de participar no financiamento do III Plano de Fomento.

3. Particulares e empresas

39. A participação privada na realização dos empreendimentos do III Plano que é possível identificar limita-se às obrigações contratualmente já assumidas (à volta de 21 800 contos durante o sexénio) no sector mineiro.

contribuição de capitais estrangeiros poderá vir ainda a caracterizai-se relativamente à concessão de pesquisas e exploração de petróleos e minérios.
O estado das negociações relativo a este sector e do conhecimento de outros projectos não permite quantificar o montante de investimento.

4. Conclusões

40. Do que precede, resulta o seguinte esquema de financiamento do programa provincial de empreendimentos para o III Plano de Fomento.

[Ver tabela na imagem]

CAPITULO IV

Descrição do programa de investimentos

I) Agricultara, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

41. São três os produtos que mais relevância têm na vida económica da província o café, a copra e a borracha. Eles contribuem para o valor das exportações de Timor com 95 por cento.

42. Representando o café mais de 50 por cento das exportações de Timor, é inegável a sua importância, não obstante o seu peso na balança comercial da província apresentar sérios riscos, devido às flutuações das cotações no mercado internacional Julga-se, porém, que a alta qualidade do café, aliada ao facto de representar quantidade insignificante na produção mundial, evitará dificuldades de colocação no mercado externo, mesmo que se

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verifique um considerável aumento da produção, que se espera conseguir sem detrimento de outras culturas ricas a desenvolver e susceptíveis de promoverem uma necessária e útil diversificação das exportações.
Prevê-se que este aumento de produção seja obtido pela ampliação da área cultivada e introdução de variedades altamente produtivas, perfeitamente adaptadas ao meio, bem como a utilização de processos culturais mais aperfeiçoados.

43. A copra ocupa o segundo lugar entre as exportações de Timor, embora o seu valor represente apenas um décimo do do café. Oferecendo a província boas condições para o desenvolvimento da cultura do coqueiro, convém expandi-la, com vista à satisfação das necessidades de consumo interno de óleo vegetal, obtido localmente, e à exportação, quer sobre a forma bruta, quer de óleo extraído. Prevê-se, para o período do III Plano, a plantação de 1900 ha de coqueiros, a que deverá corresponder um acréscimo de produção da ordem das 1500 t. Avaliada a produção de copra em 8500 t/ano, é de admitir que lhe corresponda uma produção de cairo da ordem das 1200 t, a exportar de acordo com as possibilidades de colocação.

44. A borracha ocupa, na exportação, o terceiro lugar, depois do café e da copra A sua boa qualidade garante uma fácil colocação nos mercados externos, com relevância para o de Singapura. Nestes termos, é de prever um programa de acção tendente a melhoria dos processos de exploração e à criação de novas plantações, que se espera permita, no final do Plano, um aumento de cerca de 70 t na quantidade de boi racha extraída actualmente, e, a mais longo prazo, um acréscimo da ordem das 600 t Prevê-se que em cada ano do Plano sejam plantados, em média, cerca de 35 ha de novas árvores.

45. Está praticamente assegurada a produção da quantidade de tabaco necessária ao consumo interno - cerca de 550 t - pelo que o seu desenvolvimento dependerá das possibilidades de colocação nos mercados externos

46. Embora ainda não tenha sido lançada a cultura do algodão na província, considera-se que ela pode sei introduzida no decurso deste in Plano de Fomento, prevendo-se que, dois anos após o seu início, se alcance uma produção de 1000 t anuais.

47. Tem-se como possível uma produção anual de cerca de 300 t de camim, a serem exportadas em bruto ou sob a forma de óleo a extrair localmente.

48. Estima-se a produção anual de tuaca em cerca de 3 milhões de litros, destina-se à obtenção de álcool.

49. Quanto ao arroz, a produção média dos últimos anos anda à volta das 15 000 t anuais, prevendo-se que as necessidades de consumo no final do III Plano atinjam níveis que ultrapassem as 25 000 t.
No entanto, admite-se que os trabalhos de investigação e fomento desta cultura, em vias de execução ou a realizar 110 III Plano, elevem a actual produção para um nível muito próximo das 30 000 t, o que permitirá a exportação de 5000 t.

50. O milho constitui um dos alimentos básicos da população, e, embora se possa esperar um gradual aumento de consumo da arroz, deverá intensificar-se a cultura até um nível suficiente para assegurar o abastecimento do mercado interno, que se prevê atinja, em 1973, valores superiores a 42 000 t. Para este aumento de produção deverão contribuir, além das medidas de ordenamento agrário e de selecção de sementes, a limpeza mecânica e arroteamento de zonas de planície e a introdução de sistemas racionais de rotação

51. A batata-doce, cultura bastante difundida, tem uma produção que oscila pelas 15 000 t anuais Estando calculadas em cerca de 30 000 t as necessidades de consumo interno em 1973, torna-se necessário duplicar a produção, o que se considera possível.

52. A batata europeia é alimento que, talvez pela escassez de produção, ainda não entrou nos hábitos alimentares da população autóctone. Crê-se que, com a manutenção e garantia de preço compensador para toda a produção, e resolvido o problema de armazenagem e distribuição de sementes seleccionadas, se poderão verificar aumentos sucessivos do volume de produção que eliminem as importações.

53. A produção actual de mandioca situa-se nas 90001, mas, tendo em atenção as condições favoráveis do meio, os poucos cuidados que exige e as elevadas produções unitárias, julga-se possível obter produções anuais da 01 dom das 40 000 t, o que excederá em muito as necessidades de consumo calculadas para 1973 Prevê-se ainda a transformação local dos excedentes, o que leva a admitir uma possível exportação anual de cerca de 5000 t de farinha de mandioca.

54. O feijão d alimento essencial paia o equilíbrio da dieta alimentar do Timorense. Prevê-se, por isso, a intensificação e o alargamento da sua cultura, para o que se apontam, como medidas a adoptar, a distribuição de sementes melhoradas, a introdução de sistemas rotacionais, a escolha de terrenos propícios e a prestação de assistência técnica.

55. A província está a importar anualmente mais de 14001 de farinha de trigo, num valor aproximado de 2000 contos Paru obviar a este inconveniente, e dada a existência de terrenos potencialmente aptos, a cultura do trigo deverá ser uma cultura a difundir intensamente durante o III Plano.

56. O amendoim, pelo lugar excepcional que pode vir a ocupai, quer directamente na alimentação, quer na industrialização e exportação, será uma cultura merecedora de uma atenção e interesse especiais nos próximos anos. Calculando-se em cerca de 24 0001 as necessidades de consumo interno ao findar o III Plano de Fomento e limitando-se a produção actual a cerca de 650 t tem-se uma ideia do desnível que sei á necessário preencher durante a vigência do Plano

57. Existe na província um campo vastíssimo para cultivo do rícino, admitindo-se como possível uma produção da ordem das 300 t, a exportar em bruto ou então a transformar internamente.

58. A província oferece condições óptimas para todas as variedades da cultura hortícola, estando o volume de produção condicionado apenas pela intensificação cultural e, sobretudo, pelas possibilidades do colocação, em boas condições e com regularidade, nos mercados consumidores, dos quais se destaca o de Díli.

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59. Aproveitando as boas condições oferecidas por certas regiões, iniciou-se em 1966 um programa de alargamento da fruticultura pela plantação de algumas centenas de árvores oriundas da metrópole.
É programa a continuar, interessando os particulares na constituição de pomares de exploração racional e oferecendo-lhes os serviços públicos todo o apoio e assistência técnica.

60. Pimenta, canela, açafrão, papaína, etc., são outras culturas cuja produção interessa intensificar, prevendo-se que, no seu conjunto, possam vir a contribuir com cerca de 70 t para a exportação.

61. A produção e exportação de cera apresenta até 1960 um acréscimo anual da ordem dos 50 por cento, que prossegue nos anos seguintes, atingindo o seu máximo em 1962, com 160 t Cai, em seguida, para 28 t em 1963, ano a partir do qual retoma o nível de aumento anterior, cifrando-se no ano de 1965 em 74 t a quantidade exportada.
Os valores médios da tonelada baixaram de 23,52 contos em 1958 para 6,78 em 1962, ano a partir do qual se iniciou uma vigorosa recuperação que levou esses valores a 22,35 contos em 1965, sem que, no entanto, se atingisse os valores assinalados em 1958. O ritmo de acréscimo posterior a 1962 faz antever, porém, um bom futuro paia esta produção.

62. A partir de 1958, tem-se registado uma nítida melhoria na pecuária, em todas as espécies, embora mais acentuada nos bovinos e nos caprinos, cujos efectivos têm vindo a crescer progressivamente, não obstante o aumento gradual e constante do número de cabeças abatidas.

[Ver tabela na imagem]

A província tem em actividade um centro de criação de gado em Same, com cerca de 1000 cabeças de gado bovino balinês, e outro em Lospalos, com 600 cabeças de gado bovino balinês e 90 de gado Jersey.
Não se espera que, a curto prazo, o consumo de carne sofra incrementos anormais, e, por consequência, a província poderá neutralizar com a exportação de gado ou de conservas de carne, caso seja montada a indústria respectiva, as importações de produtos pecuários que não possam ser obtidos localmente.
Embora pareça haver boas condições paia a exploração de gado leiteiro, a verdade é que até hoje pouco ou quase nada se fez neste sentido, continuando as importações de leite a aumentar de modo progressivo. Carecem, pois, de estudo as condições de manutenção e exploração deste gado com fins económicos, porquanto os resultados até hoje obtidos na produção de leite têm sido fracos.

Prevê-se que no decurso do III Plano possam ser constituídos alguns núcleos de gado leiteiro em legiões da província julgadas favoráveis.

2. Objectivos

63. Na agricultura, os objectivos a alcançar visam necessariamente, e em primeiro lugar, o aumento da produção dos géneros alimentícios de que a população carece, quer sejam de consumo directo, quer indirecto, pela transformação local, e ao mesmo tempo a obtenção de produtos que possibilitem um considerável aumento da exportação e, consequentemente, da capacidade da província para importar.
Conquanto existam algumas poucas empresas de tipo capitalista, produzindo para o mercado, pode dizer-se que a estrutura agrária da província é caracterizada pela proliferação de pequenas empresas de tipo familiar, orientadas para a subsistência, sem direito de propriedade e por vezes mesmo nomádicas. Nas zonas intensamente ocupadas, nota-se uma extrema subdivisão da terra.

64. No campo florestal, o duplo objectivo que se pretende atingir, de defesa contra a erosão e de produção de riqueza silvícola, desdobra-se em dois aspectos.

1.º Protecção dos povoamentos naturais e artificiais existentes,
2.º Criação de novos povoamentos artificiais

65. No campo da pecuária, espera-se que as necessidades de consumo de carne previstas para 1970, calculadas ,em cerca de 11 156 t, sejam satisfeitas pelos efectivos pecuários da província esfaimados paru a mesma data, neles entrando as espécies bovina, bufalina, suína, ovina e caprina.

Na verdade, em faço das existências em 1965 e anos anteriores, pode concluir-se que, embora a criação e exploração do gado não se esteja a processar de modo racional

1.º O efectivo pecuário da província é mais do que suficiente para o abastecimento da população, em carne, ao nível actual,

2.º Há possibilidade de vir a exportar quantidades consideráveis de carne,

3.º E possível alimentar indústrias de congelação ou de conservas de carne e de curtumes, a criar na província.

Evidentemente que a situação descrita e os objectivos visados impõem tomar medidas que, no seu conjunto, levam a melhorar as espécies existentes e racionalizar a criação e exploração de gado

66. No que respeita à industrialização, refira-se em especial que a indústria de salsicharia terá viabilidade e poderá ser regularmente abastecida, tendo como base os efectivos actuais de godo suíno e prevendo-se que absorva, de início, cerca de dez cabeças por dia.

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3. Investimentos

1. Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris

67. O programa de fomento agrário a executar no período 1968-1973 engloba assistência agrícola, experimentação agrícola, reconhecimentos e estudos agrícolas e defesa contra a erosão
A primeira implica a prestação de assistência técnica aos agricultores, a criação de campos de multiplicação e selecção de sementes, o combate a pragas que destroem ou danificam as culturas e a criação de quatro parques de máquinas.
A experimentação agrícola inclui a criação, apetrechamento e manutenção de seis campos experimentais.
A defesa contra a erosão compreende, além da protecção que naturalmente resulta do repovoamento florestal, a preservação das condições agrícolas, por meio da construção de terraços, sebes e culturas em faixas.

68. Em continuação do programa de fomento cafeícola em curso nos concelhos de Ermera, Liquiçá, Díli, Same e Amaro, prosseguir-se-á a intensificação cultural, através da produção de sementes melhoradas, do estabelecimento de viveiros e da distribuição de plantas.
Procurar-se-á igualmente continuar a dotar as regiões produtoras de café de uma rede de instalações próprias ao beneficiamento e melhoria tecnológica do produto.
Nos primeiros três anos do Plano, e enquanto decorrerem os trabalhos de selecção e melhoramento de plantas, prevê-se a continuação do programa do estabelecimento de pequenas unidades de despolpa do café, contando-se que nos anos seguintes possa ser montada, na vila de Ermera, uma unidade central, com capacidade para despolpar entre 25 t a 30 t de cereja, servindo ainda de apoio às pequenas unidades na fase de secagem e beneficiamento ulterior, incluindo a comercialização do produto.

69. O fomento da cultura do arroz será realizado através da multiplicação e distribuição de sementes melhoradas a sair dos campos experimentais, da demonstração de técnicas culturais evoluídas a efectuar na granja piloto da brigada e em campos particulares e da introdução de alfaias aperfeiçoadas.

70. O fomento silvícola inclui no sexénio compreendido pelo III Plano o repovoamento florestal, a constituição de reservas florestais e reconhecimentos e estudos.

71. Ao analisar-se a situação actual e perspectivas de evolução do sector pecuário da província, concluiu-se que, partindo dos efectivos existentes, será possível abastecer o mercado interno de carne e ainda exportar quantidades consideráveis, quer de animais vivos, quer de carne congelada ou em conservas, sendo, neste último caso, necessária a montagem das respectivas indústrias.
Prevê-se, portanto, a par da assistência técnica e da distribuição, por troca, de animais seleccionados nos centros de criação de gado do Estado, a regulamentação da exploração pecuária, que abrangerá o aforamento dos terrenos de pastoreio, a fixação da proporção óptima entre animais machos e fêmeas e a perfeita comercialização.
No que se refere à exploração leiteira, em particular, prevê-se a constituição de dois núcleos de gado Jersey para o que terão de importar-se alguns animais.

2. Esquemas de regadio e povoamento

72. Desde há longos anos que os regadios existentes na província destinados à cultura orizícola estão entregues ao agricultor, que constrói os canos e faz as várzeas por processos primitivos, conseguindo, dados os recursos que possui, verdadeiros milagres para levar das ribeiras a água que há-de regar as suas terras.
Para realização dos aproveitamentos hidroagrícolas, indicam-se a seguir os trabalhos a realizar nos próximos anos.

1.º Conclusão de todas as obras em curso,
2.º Execução do projecto de aproveitamento das águas da ribeira de Lacló, para irrigação das baixas de Manatuto,

3.º Ampliação das obras existentes e execução de novas obras que permitam um maior e melhor aproveitamento das imensas possibilidades oferecidas por toda a bacia da ribeira de Lóis,
4.º Beneficiação dos planícies adjacentes à foz de algumas ribeiras da costa noite, tais como. Laleia, Vemasse, Larvai, etc.,
5.º Estudo e execução de alguns aproveitamentos na costa sul, pela seguinte ordem Natar-Bora ribeira de Bé-Lulic (região de Cassa), Uato-Lari e Mape (região de Beco),

6.º Estudo e execução de empreendimentos de menor vulto, mas nem por isso de menor interesse, como é o caso de Ira-Quic, Luça e outros,
7.º Nas regiões onde se executarem todas estas obras, efectuar o repovoamento florestal, tendo em vista a regularização dos cursos de água e a defesa contra a erosão do solo.

3. Crédito agrícola

73. Dentro do programa de fomento agro-pecuário a executar no período de 1968-1973, e dado o grande incremento que se está a imprimir às políticas creditícia e de investimento neste sector económico, há interesse em conceder a Caixa de Crédito Agro-Pecuário um subsídio gratuito, a sair das dotações do III Plano de Fomento, que lhe permita desempenhar uma acção relevante no desenvolvimento económico da província.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

74. No que se refere a espécies com maior ocorrência nas águas de Timor, indicam-se o tubarão, a corvina, o atum, a albacora, o bonito, a garoupa, o peixe-serra, a saída, a cavala, a sardinha, o salmonete, o linguado e a pescada, além de outros peixes de pequeno porte.
Os crustáceos - lagosta, camarão, caranguejo e sapateira- e os moluscos, com particular relevância para as ostras, completam o quadro geral das espécies mais frequentes.
As águas timorenses estão incluídas na área de alta produtividade biológica, pelo que há razões para se crer que a província dispõe de certas potencialidades piscatórias ainda não aproveitadas.

75. A actividade da pesca é desenvolvida pelos autóctones mediante a utilização de processos muito rudimentares, como rudimentares são as embarcações e os aparelhos que utilizam na sua fama.
Esteve, porém, em Timor uma missão paia o estudo da pesca, pelo que se espera melhorar tal situação, tendo já sido iniciados trabalhos nesse sentido.
Os centros piscatórios localizam-se todos na costa norte, onde, de modo geral, as condições de tempo são favoráveis durante todo o ano.
O produto da pesca é normalmente consumido em fresco

2. Objectivos

76. Os, estudos efectuados e a experiência e o conhecimento já existentes não são de molde a possibilitarem a planificação e o lançamento de um programa de grande escala, antes aconselham a realização de programas experimentais, que, para serem adaptados às actuais possibilidades da província, terão forçosamente de ser modestos na sua finalidade, sobretudo tendo em conta que as necessidades de consumo interno de peixe fresco foram calculadas, para o final do III Plano, em cerca de 21 000 t anuais e que o volume do capturas não excedeu as 80 t em 1965.
Prevê-se que, em resultado das medidas convenientes, o volume anual médio de capturas por pescador se eleve dos 0,3 t actuais paia cerca de 5 t em 1973.

77. A falta de conhecimentos, de experiência e de possibilidades financeiras dos actuais artesãos da pesca exige que toda uma organização que vai da faina piscatória até à comercialização, passando pela armazenagem, seja montada e estruturada pelo Estado, sob cuja orientação funcionará tanto tempo quanto o necessário a preparação do pessoal orientador e dirigente das cooperativas a criar, que se prevê venham a substitui-lo, embora não dispensem a sua ajuda na orientação da pesca e actividades afins.

78. O meio mais rápido e seguro para levar este sector económico até um grau de desenvolvimento compatível com as necessidades e aspirações da província, traduzidas na satisfação integral do consumo interno e na exportação de excedentes consideráveis, seria a criação de empresas de pesca com fins industriais.
Caso não venham a ser constituídas empresas de pesca e os resultados do programa de pesca artesanal se mostrem encorajadores, considera-se, em princípio, que talvez nos últimos anos do Plano haja conveniência em adquirir uma embarcação com possibilidades para a prática da pesca industrial.

79. O fomento piscícola em tanques de cultura espalhados pelo interior é outro objectivo a considerar, como reforço da acção a empreender no que se refere à exploração dos recursos marinhos. Espera-se, para tanto, o apoio e a orientação técnica dos Centros de Biologia Aquática e tropical e de Bioceanologia e Pescas do Ultramar.

80. O processo de modernização da pesca artesanal, pela introdução de barcos motorizados e de novos métodos e artes de pesca obriga a que se encare, durante o Plano, a formação de pessoal. Prevê-se com esse fim o funcionamento de cursos de arrais de pesca costeira e de motoristas auxiliares.

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81. Conta-se que em 1068 possa ficai concluído o bloco frigorífico de Díli

3. Investimentos

1. Pescas

82. O programa a executar nesta rubrica inclui, fundamentalmente, a construção e apetrechamento de embarcações e a aquisição de aparelhos e artes de pesca.
Prevê-se que nos primeiros anos do Plano sejam construídas embarcações, do tipo das recomendadas pela F. A. O. para países subdesenvolvidos da África e da Ásia, em número suficiente para equipar a pesca artesanal. Nos últimos anos, e de acordo com a evolução e progressos dos pescadores, prevê-se que possa iniciar-se a construção de embarcações de maior porte e convenientemente apetrechadas para a pesca industrial.
Paralelamente, e do mesmo modo, as dotações dos primeiros anos serão aplicadas para equipar a pesca artesanal com redes de diversos tipos e artes compatíveis com as suas dimensões.

Nos últimos anos prevê-se, então, a aquisição de redes de cercar para bordo, que deverão equipar as embarcações de pesca com fins industriais.

2. Instalação frigorifica

83. Estando previsto o início da construção e equipamento do bloco frigorífico a montar em Díli e ainda a instalação das primeiras câmaras frigoríficas, o programa que se prevê realizar durante o Plano de Fomento consistirá em continuar a execução dos empreendimentos já referidos, de modo que, à medida que vão aumentando as capturas, se vá dispondo das necessárias instalações em terra que permitam a conservação e distribuição do pescado.

Pesca

Programa da Investimentos

[Ver tabela na imagem]

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Pelo relatório dos resultados das pesquisas minerais efectuadas pela Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, L.da, ao abrigo do contrato celebrado em 26 de Outubro de 1064 entre esta empresa e a província de Timor, concluiu-se que, não havendo razões para considerar de interesse quaisquer eventuais ocorrências de ferro e zircónio que venham a detectar-se, e sendo os resultados de eventual prosseguimento de estudos relativos ao crómio demasiado problemáticos para que sejam aceitáveis, o interesse mineiro das áreas concessionadas na província fica circunscrito ao manganês.
Por outro lado, inúmeras emanações na província levaram a supor a existência de petróleo economicamente explorável.
Na indústria transformadora estão actualmente em laboração unidades rudimentares de fabrico de sabões, descasque de arroz, tabaco, refrigerantes, álcool e extracção de óleo, todas de baixa produtividade.

2. Objectivos

85. Uma vez que a empresa concessionária das explorações mineiras apenas encontrou motivo de interesse na possível exploração de manganês, com base na sua utilização para fins químicos, que não metalúrgicos, os objectivos a atingir devem consistir na extracção daquele minério, de acordo com as possibilidades das mineralizações ocorrentes.
Em relação a hidrocarbonetos, prevê-se a continuação das prospecções e estudos a cargo da empresa concessionária.
Têm-se funda como metas a alcançar durante o III Plano, no que se refere a indústrias extractivas, a realização de estudos de pedreiras de mármore e outros materiais com vista ao seu aproveitamento, a reorganização da indústria de fabrico de cal, a continuação da remodelação da indústria de cerâmica o a montagem da indústria de extracção e refinação de sal.

86. Insere-se uma lista das indústrias transformadoras cuja criação ou reorganização se considera necessário operar-se no decurso do III Plano de Fomento.

Matança de gado, preparação e fabrico de conservas de carne, fabricação de gelados e sorvetes; fabricação de sumos de frutos e de produtos hortícolas e respectivos concentrados, congelação e secagem de peixe e outros produtos da pesca; moagem de farinhas espoadas, descasque, branqueamento e glaciagem do arroz; descasque e beneficiamento do café, panificação, fabricação de bolachas e biscoitos, produção e refinação de óleos alimentares, com excepção do azeite, torrefação, preparação das

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folhas do chá, fabricação de gelo, refinação de sal, produção de álcool (aproveitamento de matérias-primas da província), produção de aguardentes não preparadas, produção de licores e outros espirituosos, produção de refrigerantes, indústria do tabaco, fabricação de calçado de coiro e pele, fabricação de alpergatas, reparação de calçado, alfaiataria de homem e senhora, fabricação de artigos de vestuário não especificados, serração de madeira, carpintaria, fabricação de mobiliário de madeira e operações conexas, fabricação de mobiliário de vime e de junco, tipografia e encadernação, indústria de curtimenta; recauchutagem, recauchutagem e vulcanização, produção de óleos de sementes e de frutos oleaginosos não alimentares, fabricação de sabões, detergentes e outras substâncias tensoactivas e suas preparações; preparação de colas, grudes e gelatinas, fabricação de materiais de barro para construção, olaria, fabricação de cal, fabricação de lataria e embalagens metálicas.

Para além destas, há ainda a considerar algumas produções obtidas era regime de artesanato, como é o caso da tecelagem de panos de algodão, execução de trabalhos diversos em prata e chifre, olaria, cestaria, etc. Uma referência especial cabe aqui à indústria de confecção de mobiliário, que tem registado ura desenvolvimento e aperfeiçoamento tais que satisfaz já perfeitamente o mercado interno, podendo mesmo, em breve, pensar-se na exportação.

3. Investimentos

1. Indústria extractiva a) Aproveitamento dói meios de obtenção de água doce

87. Ainda em 1967 serão iniciados os trabalhos de prospeção e captação de água no planalto de Fuiloro, com vista ao abeberamento e apascentação dos gados, cuja exploração racional e intensiva ali se pretende levar a efeito.

A par dos trabalhos a realizar no referido planalto de Fuiloro, outros de menor envergadura se pretende executar tendo em vista o abastecimento de água de povoações.

b) Fomento mineiro

88. A escassez de pessoal técnico e a falta de elementos positivos constituem limitações em Timor para a execução do programa do fomento mineiro. Julga-se, no entanto, que durante o III Plano poderão ser estudados alguns jazigos minerais já conhecidos, tendo em vista o apuramento da viabilidade económica da sua exploração.
No respeitante a petróleo, admite-se que, ao abrigo de contrato a celebrar com a concessionária do exclusivo de pesquisas, venham a ser feitos investimentos cujo montante se não pode ainda calcular.
Prevêem-se ainda estudos de pedreiras de mármores e outros materiais e a reorganização da indústria de fabrico de cal.

2. Indústrias transformadoras

a) Estudos

89. A efectivação de estudos tão completos quanto possível para cada uma das indústrias a criar ou reorganizar é o objectivo que se tem em vista atingir

b) Ampliação, renovação e criação de novas indústrias

90. A pretensão de se melhorar a situação de Timor no que se refere à indústria transformadora e as vantagens de se financiai em empreendimentos industriais que interessem a economia interna e que não atraiam completamente os capitais privados implicaram n necessidade de no III Plano de Fomento se preverem meios financeiros que permitam ao Estado desempenhar uma função activa no fomento industrial, quer através da concessão de crédito, quer através de participação no capital social das empresas, quer ainda através de apoio legislativo e fiscal.

Industrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

Contos

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Página não processada!

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2. Objectivos e investimentos

1. Comercialização e armazenagem

96. Dentro da política de apoio ao sector agrícola, têm sido postas em pi ática algumas medidos de comercialização dos excedentes, com base no seu escoamento a preços que compensem os esforços das populações e encorajem os agricultores a aumentar a produção.
Com estas medidas, que garantem ao produtor a compra a um preço mínimo estabelecido oficialmente, tem-se evitado o aviltamento nos preços resultante de especulações da procura ou da produção de excedentes.
Prevê-se durante o III Plano a ampliação e aperfeiçoamento do sistema de comercialização que vem sendo seguido e que necessita de ser completado por uma razoável e eficiente rede de armazenagem.

2. Rede de frio

97. Prevê-se a montagem de câmaras frigoríficas em todos os núcleos pesqueiros que as justifiquem, bem como a criação de transportes apropriados, dotados igualmente de câmaras frigoríficas, que tornem possível a distribuição do peixe pelos mercados consumidores.

Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

98. A rede rodoviária - constituída por 1956 km de estradas, em que estão incluídos 655 km de itinerários principais -, embora de extensão adequada às dimensões de província, não corresponde, no seu estado actual, às necessidades de Timor.
Dificilmente transitáveis na época seca, as estradas tornam-se quase impraticáveis no período das chuvas as numerosas ribeiras que constituem o sistema hidrográfico da ilha transformam-se em torrentes, dificultando as comunicações, tanto ao longo da costa como entre as zonas férteis do Sul e os principais centros consumidores do Norte.

99. Portos -Dotado de um cais acostável para navios de longo curso, o porto de Díli tem um movimento anual de carga da ordem de 20 000 t.
Porto de acesso das mercadorias importadas, por ele se escoa também quase toda a produção das ricas áreas do café - a região de Ermera e a zona norte do concelho de Suro.
O navio Arbiru, com cerca de 400 t e calando aproximadamente 3,2 m, assegura a ligação, entre si, dos pequenos portos da província, e destes com o porto principal de Díli.

100. Aeródromos -A rede da província é constituída por um aeroporto em Baucau e por pistas de aterragem em Dilí, Oé-Cusse, Ataúro, Suai, Maliana, Some, Fuiloro e Viqueque. Apenas o aeródromo de Baucau, com uma pista asfáltica de 2500 m, oferece condições para ser escalado por aviões de qualquer tipo, desde que as condições de visibilidade o permitam, pois não existem quaisquer ajudas terrestres.
As restantes pistas, cuja extensão varia entre 800 m e 1500 m, são de terra batida, não oferecendo garantias para o regular funcionamento dos transportes. Quanto a material de voo, Timor dispõe de dois aviões Dove e de três Auster (com a capacidade respectiva de oito lugares ou 800 kg de carga e de dois lugares ou 150 kg de carga), e ainda do dois aviões Cub, o que, dado o aumento progressivo do tráfego aéreo, não satisfazem já as exigências da província.

2. Objectivos

b) Transportes rodoviários

101. Para a movimentação, em boas condições, das mercadorias de produção local, tem-se como objectivo a atingir a construção de 80 km de estrada em cada ano Plano.

Pretende-se obter ligações satisfatórias, em qualquer estação, entre os principais centros da costa norte, prevendo-se, em primeiro lugar, a conclusão da estrada Díli-Loré Seguidamente serão construídas as transversais que ligam à costa norte os centros produtores da costa sul, servindo simultaneamente as zonas do café e da borracha.
A execução das obras pressupõe a adequada dotação da Brigada de Estudos e Construção de Estradas e Pontes e a existência do pessoal e equipamento mecânico necessários.

2. Portos e navegação

102. Ao iniciar-se o III Plano de Fomento estará concluído o porto de Díli, infra-estrutura basilar para o desenvolvimento económico da província.

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Concebido para uma capacidade de 180 000 t anuais, movimentou em 1965 apenas 20 000 t, prevendo-se assim que possa satisfazer durante muitos anos as necessidades da província.
No que se refere aos pequenos portos, cujos trabalhos topo-hidrográficos se encontram quase concluídos, faltando apenas recolher alguns elementos referentes à ondulação, não se prevê a construção de cais acostáveis durante o próximo Plano.
Abre-se uma excepção para o pequeno porto de Pante Macassar, no enclave de Oé-Cusse, que se admite venha a ser dotado com obras acostáveis ligeiras ou com cais flutuantes que permitam a atracação de barcos ou batelões.
Afigura-se também de grande necessidade o estabelecimento de um pequeno porto na ilha de Ataúro.
No que respeita aos meios marítimos, eles exigem, para a sua conservação e reparações, um plano inclinado (em Díli) e apetrechamento, além de oficinas e edifícios diversos

3. Transportes aéreos e aeroportos

103. A descontinuidade territorial do Oé-Cusse e da ilha de Ataúro, o facto de outras regiões ficarem isoladas nas épocas chuvosas, as deficiências do sistema rodoviário e a irregular idade dos transportes por mar conferem aos transportes aéreos uma importância excepcional no contexto económico e político da província.
Contando que as ligações com o exterior continuem a ser feitas por empresa australiana, o objectivo primeiro a atingir, no que se refere a material de voo, é dotar os serviços de transportes aéreos dos meios que lhes permitam satisfazer em pleno as necessidades da província. Deste modo haverá que prever, no mínimo, a aquisição de um avião com capacidade para vinte lugares.
Em infra-estruturas terrestres, os objectivos a atingir estão, em princípio, condicionados pela orientação definida para pequenos aeroportos, que é função dos aviões que se deverão utilizar.
Relativamente ao novo aeroporto de Díli, cuja construção deverá ser iniciada em 1967, na região de Mador, prevê-se dotá-lo de características que lhe permitam vir a constituir o término de ligação com a Austrália.
No que se refere a ligações externas, crê-se que é de manter o actual sistema de fretamento semanal de um avião australiano, pois esta parece constituir a solução mais económica e mais segura. Torna-se necessário melhorar e ampliar as instalações do aeroporto de Baucau.

4. Telecomunicações

104. Prevendo-se que ainda no período do Plano Intercalar de Fomento fique montado e a funcionar o novo centro de telecomunicações em Díli, estão os objectivos a atingir com o III Plano circunscritos a montagem de uma central telefónica automática em Díli, incluindo também o melhoramento da respectiva rede, ao melhoramento da rede telefónica geral da província e ao aperfeiçoamento do serviço postal, incluindo a criação de ambulância postal.

3. Investimentos

1. Transportes rodoviários

105. O programa a executar no período 1968-1978 consistirá no prosseguimento da execução das obras rodoviárias da província já definidas, importando apenas estabelecer uma ordem de prioridade de acordo com o ritmo de desenvolvimento que se prevê para cada uma das regiões servidas pelas estradas principais. Assim, prevê-se a construção de.

160 km na estrada Díli-Tibar-Ermera-Atsabe-Bobonaro-Maliana,
130 km na estrada Díli-Aileu-Maubisse-Same-Betano,
109 km na estrada Baucau-Venilale-Ossú-Viqueque-Beaço,
150 km na estrada Díli-Loré

Nesta última foram já construídos (rectificados e melhorados) cerca de 30 km, estando mais 13 km em construção.
Prevê-se ainda a aquisição do seguinte equipamento mecânico, indispensável à execução das obras referidas e ao funcionamento das brigadas de conservação três tractores D7 com bulldozer e escarificador, dois moto-crapcrs (médios), duas motoniveladoras, quatro carregadoras, quinze camiões basculantes, quatro betoneiras, três compressores, um cilindro, quatro camiões-tanques e acessórios e sobresselentes.
Não esquecendo que a construção exige conservação, prevê-se, para este efeito, a criação e construção de quatro zonas de conservação de estradas, cada uma equipada com o seguinte material uma motoniveladora, um camião de 6t, um cilindro pequeno, um camião-tanque, uma betoneira pequena, material diverso e sobresselentes.
Por seu lado, a manutenção dos meios de transporte terrestres exige a montagem, em cada sede do concelho, de uma pequena oficina tendo anexos depósitos de combustíveis Preconiza-se ainda a aquisição de dois prontos-socorros para Díli.

2. Portos e navegação

106. As obras a executar no porto de Díli durante o III Plano constituem melhoramentos complementares, de que sobressai a conclusão do plano inclinado para reparação de pequenas embarcações e a montagem de uma oficina naval anexa, destinada à conservação e reparação de embarcações, cujo número se prevê venha a aumentar consideràvelmente.
Embora a aquisição do rebocador para auxiliar as manobras dos navios venha a dar a estas uma segurança aceitável, podendo assim dispensar-se o elevado custo de remoção do banco de coral que dificulta a entrada no porto, achou-se conveniente, prevenindo qualquer eventualidade de a situação se vir a agravar, incluir no III Plano uma dotação destinada a dragagens.
Algum equipamento se considera ainda necessário.

107. As obras a executar nos pequenos portos limitam--se à construção de rampas em alvenaria, que permitam às barcaças varar em quaisquer condições de mate Relativamente ao porto de Macassar, prevê-se a conclusão das obras acostáveis ligeiras. Tem-se ainda como absolutamente indispensável a construção de pequenas instalações acostáveis na ilha de Ataúro.
No que se refere a navegação, e a fim de melhorar as condições de segurança nos pequenos portos, prevê-se a construção de enfiamentos e marcas e a balizagem de baixios.

108. Foi já adquirida uma barcaça, que está em serviço, para garantir as carreiras regulares entre os portos

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1180 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

da costa norte, a ilha de Ataúro e o enclave de Oé-Cusse.
Está também encomendada uma outra.

Considerando que o navio Arbiru ao findar o III Plano de Fomento já atingiu mais de metade da sua vida útil, prevê-se a aquisição de um novo navio, de tonelagem um pouco superior, a fim de garantir as ligações com os portos da costa sul e ainda com o exterior, nomeadamente Macau, Austrália e Singapura.

3. Transportes aéreos e aeroportos

109. Haverá que promover a substituição dos aviões Dove existentes por dois aparelhos que, entre outras condições, possam transportar cerca de vinte passageiros.
No que se refere a aeroportos, há que concluir as obras no aeroporto de Baucau e construir um novo aeroporto internacional perto de Díli.
Quanto aos aeródromos da rede interna, prevê-se a introdução de melhoramentos nas pistas, por forma que possam ser utilizadas em condições satisfatórias

4. Telecomunicações

110. Prevê-se.

a) Concluir a montagem da estação telefónica automática de Díli e da respectiva rede;
b) Construir o edifício receptor do centro de telecomunicações;
c) Remodelar a rede telefónica do interior,
d) Completar a rede de rádio interurbana,
e) Construir estações dos correios, telégrafos e telefones nas localidades mais importantes do interior,
f) Criar ambulâncias postais para transporte e distribuição de correio

6. Radiodifusão

111. Previram-se para o III Plano realizações que hão--de permitir, à emissora de radiodifusão, cumprir cabalmente a sua missão cultural. Nele se incluem a construção de instalações definitivas e a aquisição de equipamento que lhe permita uma cobertura eficaz de toda a província e o aumento de período diário de emissão.
Prevê-se assim que, no III Plano, a emissora regional seja dotada com edifício próprio adequado às suas funções, considerando-se igualmente a ampliação das actuais instalações, por forma a poderem comportar, a partir de 1968 e enquanto não for construído aquele edifício, o novo aparelho emissor.
No que se refere a equipamento, conta-se com a aquisição de vário material de estúdio, incluindo mobiliário, prevendo-se igualmente a aquisição de um emissor de 250 kW de frequência modulada, destinado a cobrir a área de Díli, de um amplificador de 4 kW para acopular ao emissor de 1 kW actualmente existente, de antenas e de alguns acessórios e sobresselentes.
Relativamente a manutenção e reparação do material, reputa-se fundamental a montagem de uma pequena oficina.

Transportes e comunicações

Programa de Investimentos

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30 DE JUNHO DE 1967 1181

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VIII) Habitações e melhoramentos locais

1. Habitação

1. Evolução recente e problemas actuais

112. A. construção de habitações não tem merecido o interesse de particulares e somente o Estado vem chamando a si a resolução do problema habitacional.
O número de residências para funcionários, quer em Díli, quer no interior, tem aumentado de ano para ano. No entanto, dada a grande disparidade ainda existente entre o número de funcionários e o de casas disponíveis, há necessidade de manter um bom ritmo de construção nos anos mais próximos, pelo que foi criado o Fundo de Habitações Económicas, com autonomia financeira, destinado a promover a construção e a assegurar a administração de habitações económicas.

2. Objectivos e Investimentos

113. Poder-se-ão desdobrar as necessidades habitacionais em três grupos, a saber.

1.º Habitações propriedade do Estado e destinadas aos seus servidores, quer em Díli, quer no interior, totalmente custeadas pelo Plano de Fomento,

2.º Habitações destinadas a servidores dos organismos estatais e paraestatais ou a autoridades regionais, em sistema de propriedade resolúvel, e financiadas, total ou parcialmente, pelo Fundo de Habitações Económicas, através de subsídios do Plano de Fomento, do orçamento ordinário da província e dos organismos corporativos,
3.º Habitações destinadas a outras camadas sociais

2. Melhoramentos locais

114. A falta de estudos e projectos relativamente a abastecimento de água das povoações, a saneamento urbano e a urbanização dificulta a estruturação de um programa de empreendimentos concretos a executar.
No entanto, poder-se-á referir que, no que respeita a abastecimento de água, eles serão executados de acordo com a capacidade de realização da província e segundo a ordem de importância das povoações.
Relativamente a saneamento, será concedida prioridade a cidade de Díli, estando o escalonamento dos trabalhos a realizar dependente do projecto em elaboração.
Fazendo parte do programa de melhoramentos na capital, prevê-se a continuação da asfaltagem das ruas e o arranjo de passeios, largos e jardins.
Para outras povoações, nada foi ainda estudado
Em urbanização, pretende-se continuar o programa de elaboração de planos para todas as localidades sedes de concelho ou de posto administrativo, em curso nos serviços de obras públicas, aos quais se deverão subordinar as obras futuras.

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

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1182 ACTAS DA GAMARA CORPORATIVA N.º 66

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

115. Timor possui condições naturais favoráveis à exploração turística, tais como estâncias termais, cascatas, festas regionais, estações pré-históricas e policromia paisagística, constituindo motivo de atracção para os turistas australianos que a têm visitado.
A fraca infra-estrutura existente tem dificultado o desenvolvimento desta importante fonte de divisas.
Com esta ideia sempre presente, empreendeu o Governo a execução de um programa de fomento turístico, fundamentalmente com a construção de alojamentos, criação de divertimentos e montagem de um sistema eficiente de transportes internos.
regista-se que o Governo, à custa de incentivos de todo o género e de algum apoio financeiro, tem obtido a cooperação de algumas entidades privadas, seja no aspecto de construções hoteleiras e de habitações residenciais, seja no que se refere a transportes na capital ou no interior.
Com a publicação do Diploma Legislativo n.º 720, que cria o quadro privativo do Centro de Informação e Turismo, passa-se do amadorismo ao profissionalismo indispensável para que se possa dispor de pessoal permanente e capaz.

2. Objectivos

116. O desenvolvimento desta indústria, baseado na atracção que as belezas naturais da ilha possam exercer na população australiana e de outras regiões vizinhas, com as entradas de invisíveis que se espera venha a proporcionar, poderá constituir um dos mais poderosos elementos equilibradores da deficitária balança comercial da província.

3. Investimentos

117. O programa de fomento turístico para o período compreendido entre 1968 e 1973 engloba, fundamentalmente realizações tendentes a aumentar e alargar a rede hoteleira da província, concedendo empréstimos reembolsáveis a particulares que se mostram interessados na construção de hotéis, pousadas, restaurantes, etc.; acção a empreender para o desenvolvimento do artesanato local, cuja produção começa a ter procura considerável entre os turistas, criação de divertimentos, pela construção de campos de ténis, parques de campismo, aquisição de barcos de recreio e de pesca desportiva, introdução de melhoramentos nas praias que servem zonas onde se espera uma maior afluência turística, comparticipação no arranjo de troços de estradas que beneficiam pontos de interesse turístico, etc.
Além dos investimentos públicos a efectuar com finalidade turística, os particulares e empresas comparticiparão nas realizações de turismo, em particular na construção hoteleira e na aquisição de material de transporte e barcos de recreio.

Turismo

Programa de Investimentos

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X) Educação a Investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

118. Compulsando os elementos, estatísticos existentes, verifica-se que, de uma população em idade escolar que se cifra à volta das 94 000 crianças, cerca de 20 por cento frequentam as escolas.

119. Apresenta-se a seguir um quadro que dá uma ideia da distribuição, por concelhos e circunscrições, da população em idade escolar, da parte desta que frequenta escolas e dos professores e monitores que ministram o ensino (1964-1965)

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[Ver tabela na imagem]

(a) Concelho recentemente criado, pelo que não se dispõe de dados

Confrontando o número de alunos propostos a exame da 4.ª classe no ano lectivo de 1964-1965 com o total dos que frequentavam escolas, verifico-se que apenas cerca de 1,5 por cento destes estavam em condições de prestar aquelas provas.

120. No quadro seguinte indica-se, para cada estabelecimento de ensino secundário, a frequência de alunos e o número de professores.

[Ver tabela na imagem]

121. No ano lectivo de 1964-1965 a província dispunha, para o ensino primária, de 147 salas de aula de construção definitiva, assim distribuídas.

Estado e corpos administrativos 51
Missões católicas 78
Comunidade chinesa 18

Total 147

A par destas, funcionam inúmeras escolas em edifícios de construção provisória, sobre cujo número não se dispõe ainda de elementos.
Pelo que respeita a escolas em edifícios de construção definitiva, todas elas estão de um modo geral bem mobiladas, sendo no entanto bastante deficiente o seu apetrechamento em material didáctico.

122. À província dispõe actualmente de um liceu, uma escola técnica industrial e comercial, uma escola de professores de posto escolar, um seminário e uma escola técnica de enfermagem, todos localizados em Díli, além de uma escola elementar de agricultura e de uma escola de artes e ofícios.

2. Objectivos

123. Prevê-se que possa ser mantido o actual ritmo de construções escolares primárias, quer do Estado, quer das missões católicas.

Relativamente ao ensino secundário, prevê-se a ampliação do liceu de Díli, a conclusão da escola industrial e comercial e seu apetrechamento e a aquisição de equipamento para a escola elementar agrícola e para a escola de professores de posto escolar.
Tendo em vista debelar em alguma medida o problema do alojamento de alunos do interior que frequentam estabelecimentos de ensino em Díli, prevê-se a ampliação do lar feminino e a construção de idêntico lar para rapazes.
Prevê-se também a concessão de subsídios destinados à ampliação e construção de internatos no interior, a cargo das missões católicas.
Encara-se ainda como possível a construção de um edifício destinado a servir de sede aos comissariados da Mocidade Portuguesa (masculina e feminina) e a criação de uma escola de artes e ofícios.
No que se refere a pessoal docente aos vários níveis, e auxiliar, conta-se poder dispor dos elementos necessários - vindos da metrópole e de outras províncias ultramarinas ou preparados localmente - para que se possa tirar completo rendimento das construções e equipamento escolar que ficaram considerados.
Aspecto a encarar no decurso do III Plano de Fomento é o que se relaciona com a assistência as crianças em idade escolar, fornecendo aos mais necessitados alimentação, roupas, material escolar, criando-lhas assim boas condições de estudo.

3. Investimentos

1. Educação

124. Relativamente ao ensino primário, julga-se desejável e possível aumentar a frequência de 3000 alunos em cada ano, atingindo-se em 1973 um acréscimo total de 100 por cento sobre o actual número de alunos.
Este aumento de escolaridade implicará, em cada ano, a construção de 30 salas de aula e a preparação de três professores com o curso de magistério primário, 30 professores de posto escolar e, sendo necessário, 6 monitores de utilização temporária.

125. No que se refere ao ensino secundário prevê-se.
Elevar a frequência do liceu, dos seus actuais 500 alunos para 650, aumentando o número de alunos que frequentam o curso normal e diminuindo a frequência do curso extraordinário,
Levar a frequência da escola industrial e comercial até aos 350 alunos,

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1184 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 56

Manter em 120 alunos o total da frequência da escola de professores de posto escolar,
Aumentar progressivamente, de acordo com as necessidades da província, a frequência da escola elementar agrícola,
Funcionamento de uma escola de artes e ofícios,
Realização de uma campanha de educação de adultos, fazendo apelo às técnicas de desenvolvimento comunitário com vista à formação social dos indivíduos, ao melhor aproveitamento das potencialidades humanas das comunidades e à valorização dos investimentos humanos.
Difusão da língua portuguesa mediante adequada política de colaboração com o sistema escolar próprio da comunidade chinesa.

126. Relativamente ao ensino médio e superior, as necessidades terão de ser satisfeitas fora da província, prevendo-se para isso a concessão de bolsas de estudo orientadas no sentido dos cursos que mais possam contribuir para o desenvolvimento económico e social de Timor.
Durante os seis anos da vigência do Plano, a concessão de bolsas de estudo terá em vista beneficiar estudantes que, no futuro, possam vir a preencher as necessidades de pessoal técnico da província.

127. Melhorar e ampliar as possibilidades de alojamento dos alunos do interior que em Díli frequentam o ensino secundário é mais um objectivo a atingir Prevê-se, assim, além do aumento da capacidade do lar feminino, construir na capital um lar destinado a rapazes e contribuir financeiramente para a instalação de novos internatos, a cargo das missões católicas, no interior.

128. A par de todas as medidas que se podem considerar de carácter geral, conta-se com o esforço particular de cada um dos serviços técnicos, no sentido de continuarem a preparar o próprio pessoal de que necessitam.

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral

Cartografia especial

129. A carta geográfica de Timor em l 50 000 ficará concluída em 1967, prevendo-se que ainda no ano em curso se possa dispor das folhas correspondentes à área compreendida entre a fronteira com o Timor indonésio e o meridiano que passa por Manatuto.
Embora uma carta na escala indicada seja um elemento valioso como base para determinados estudos a levar a efeito em outros sectores, não se presta àrepresentação pormenorizada de certas áreas cujo estudo se pretende mais pormenorizado.
Com vista ao aproveitamento hidroagrícola, onde se torna imprescindível, para o bom êxito das realizações, que sejam efectuados levantamentos na escala l 10 000 e superiores, esperando-se que as áreas a levantar totalizem cerca de 100 000 ha, prevê-se a elaboração de uma carta geral na escala 1. 500 000, a obter por redução da carta l. 50 000, o que implica a aquisição de materiais, operações fotogramétricas de redução, a gravação de matrizes e a impressão das duas folhas em que a carta será representada.
Enquanto não forem constituídos ou criados os serviços geográficos e cadastrais de Timor, haverá que continuar com a organização do cadastro geométrico da propriedade, começando pelas áreas anexas aos núcleos populacionais mais importantes.
Tendo em vista a execução destes trabalhos e procurando debelar, em alguma medida, a falta de pessoal especializado, prevê-se o funcionamento de um curso rudimentar de topografia.

Carta geológica

130. Os estudos geológicos existentes sobre Timor foram limitados a determinadas zonas de interesse sobretudo mineiro.
Impõe-se, por tanto, a elaboração de uma carta geológica da província em escalas a definir.
Se os serviços de geologia e minas, já criados, não forem constituídos em breve, a elaboração da carta geológica será tarefa a cometer à Junta de Investigações do Ultramar.

b) Hidrologia

131. O conhecimento das potencialidades hidrológicas exige a verificação contínua do comportamento das ribeiras, para o que a província dispõe de dois técnicos hidrometristas.
Pretende-se assim que durante todo o III Plano possam ser colhidos elementos úteis no que se refere ao estudo de algumas ribeiras, entre as quais se apontam

1º Aquelas que, correndo na área circundante de Díli. ameaçam, com as suas enxurradas torrenciais, a segurança de certas zonas da cidade Estão neste caso as ribeiras de Comoro e Malua a oeste de Díli e as de Lahane, Taibesse, Bene-Mauc e Bé-Mori a sul e leste da cidade.
2º Aquelas onde estão em execução ou projectadas obras de pontes ou de aproveitamentos hidroagrícolas. Este grupo inclui as ribeiras de Lacló, Manolede, Seiçal, Lóis e seus afluentes Buloloho e Nunura, Laleia, Vemasse, Sarim, Oé-Clereque (Oé-Berec) e ainda outros cursos de água mais pequenos, como Lete-Foho, de Same, cujo aproveitamento esteja previsto.

e) Meteorologia

Previsão do tempo

132. Em Timor ainda não se faz previsão do tempo, serviço de que dispõem as regiões vizinhas, Austrália e Indonésia, e desnecessário se torna encarecer a utilidade de tal serviço para a navegação aérea e marítima, para outras actividades ligadas à agricultura, pecuária e pesca, e ainda para o público em geral.
A recolha de elementos que habilitem o Serviço Meteorológico de Timor a fornecer informações desta natureza obriga a encarar a instalação de um serviço de previsão do tempo que disponha de cartas meteorológicas e outras informações de base, acerca de uma vasta região em redor da província, recebidas através de um sistema próprio de telecomunicações.
Prevê-se que a recepção de cartas e outro material em forma gráfica, processados e difundidos por centros para tal fim designados pela Organização Meteorológica Mundial, seja feita por telecópia, uma vez que esta parece ser a solução mais eficiente e económica.
Haverá, assim, que contar com a aquisição de duas estações de recepção em telecópia, que receberão programadamente as emissões que interessam

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Material meteorológico

133. A inexistência, nas estações do interior ou no Observatório, de Díli, de aparelhos que se consideram fundamentais e o mau estado de outros, que necessitam de ser substituídos, leva a que se encare a aquisição de anemógrafos Dines, um anemómetro eléctrico e um teodolito para sondagens aerológicas

d) Investigação aplicada a agricultura

Cartas de solos

134. Concluída, durante o período do Plano Intercalar de Fomento, a carta geral do solos, o programa para o III Plano incluirá a elaboração de cartas parciais referentes a determinadas zonas de que se prevê o aproveitamento agrícola, silvícola ou com fins pecuários.
Prevê-se ainda a criação de um pequeno laboratório de análise de solos, que certamente em muito poderá contribuir, não só para a elaboração destas cartas parciais, mas também para o planeamento dos trabalhos a executar, tendo em vista o aproveitamento de cada uma das áreas.

Investigação agrícola

135. Durante a vigência do III Plano serão continuados e intensificados os estudos e experiências relativos ao fomento das culturas do café e do arroz, mediante um sensível aumento de produtividade da terra e do trabalho e, paralelamente, um certo alargamento da área cultivada.
No campo da sanidade vegetal, em que urge actuar, pois as perdas causadas por pragas e doenças representam uma parte considerável das produções agrícolas, prevê-se o levantamento da entomofauna da província, começando pelas principais pragas e doenças relacionadas com as culturas do arroz e do café.

Investigação pecuária

136. No que se refere à investigação aplicada à pecuária, prevê-se a continuação e ampliação do programa de identificação e estudo das principais doenças infecto-contagiosas de origem bacteriana e parasitárias que afectam o armentio da província, com vista à realização e intensificação de novas campanhas de sanidade pecuária, traduzidas em vacinações e outras medidas profilácticas e curativas a difundir.
Prevê-se, por outro lado, a realização de estudos e a colheita de elementos estatísticos, baseados em fecundidade, precocidade, mortalidade, desenvolvimento, produção leiteira, etc., tendentes à melhoria das várias espécies de gado, a partir de uma selecção cuidada.

e) Estudos do biologia piscatória o pesca experimental

137. Com o apoio da Junta de Investigações do Ultramar, prevê-se a continuação do estudo da fauna e da riqueza ictiológica das águas de Timor, a prospecção de pesqueiros e a selecção das artes e métodos da captura adequadas às condições dos pescadores.

f) Coordenação de investigação cientifica

Centro de estudos

138. Muitas peças raras e artigos dignos de figurarem num museu estão a desaparecer, pelo que se justifica a criação de um organismo que coordene todas as actividades relacionadas com o assunto.
No entanto, a província não dispõe de pessoal qualificado para o efeito e, por conseguinte, só a colaboração dos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar, a quem interessam estudos desta natureza e ainda de etnografia e etnologia, poderá possibilitar a estruturação e o funcionamento eficiente do centro de estudos de Timor.

Estudos económicos de base

139. Entre os estudos que o planeamento do desenvolvimento económico da província exige salientam-se a análise dos mercados por produtos actuais ou potenciais, o estudo das motivações económicas da população autóctone e o estudo dos vários sectores económicos, tendo em vista nomeadamente o fomento da agricultura, pecuária, indústrias e turismo.

Educação e Investigação

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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1186 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 66

[Ver tabela na imagem]

XI) Saúde a assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

140. Timor dispõe actualmente de 10 hospitais, dos quais 2 se classificam como urbanos - hospital de Baucau e Hospital Central do Dr. Carvalho, em Díli - e 8 como rurais, localizados em Amaro, Lospalos, Bobonaro (Maliana), Ermera, Viqueque, Oé-Cusse, Liquiça e Laclubar.
Este último será brevemente transformado em hospital-sanatório, ficando assim a servir toda a provínci
A capacidade de internamento dos 10 hospitais existentes é actualmente de 500 camas.
Além dos hospitais referidos, a província dispõe de 9 maternidades, localizadas em Díli, Baucau, Amaro, Lospalos, Bobonaro (Maliana), Ermera, Oé-Cusse, Mana-tuto e Viqueque, com a capacidade actual de 80 camas.
As localidades sedes de posto administrativo são servidas por postos sanitários, num total de 46, dos quais 26 têm possibilidades de hospitalização, com uma capacidade total de 100 camas.
Em Batugadé (área do posto de Balibó) e em Nuno-Heno (circunscrição de Oé-Cusse) funcionam postos de consulta e tratamento.
O apetrechamento de hospitais, maternidades e postos sanitários carece de ser melhorado.
A província dispunha em 1966 de 19 unidades médicas e de 101 unidades de enfermagem.

2. Objectivos

141. No intuito de difundir conhecimentos e de interessar a população a contribuir para a melhoria das suas condições sanitárias, prevê-se uma actuação operante por intermédio de métodos unilaterais de educação sanitária, entre os quais se poderá referir a distribuição, para os que sabem ler, de livros rudimentares de higiene e, para todos, a projecção de filmes adequados e de fácil compreensão.
No que a campanhas de saúde diz respeito, pretende--se continuar a intensificar as campanhas contra a tuberculose e a poliomielite e iniciar uma campanha com vista à erradicação do paludismo.
Poder fabricar na província os medicamentos mais correntemente utilizados é objectivo que se espera alcançar nos primeiros anos de execução do III Plano.
No que se refere à construção e equipamento de instalações hospitalares, a política seguida, a que se pretende dar continuidade, consiste em aperfeiçoar as condições funcionais das instalações existentes e construir outras, dando prioridade às que servem as zonas de maior densidade populacional.

142. A existência, em número e qualidade, de pessoal médico e paramédico é condição sine qua non para a efectivação prática de qualquer programa que se trace e condiciona de modo absoluto os objectivos que se pretende atingir.

143. Um último objectivo a ter em conta consistirá na introdução de certas reformas institucionais e de estrutura, a operar com a publicação de alguns regulamentos, entre os quais se contam.

Regulamento interno dos hospitais da província,
Regulamento da actividade farmacotécnica;
Regulamento dos serviços sanitários e de salubridade
urbana e rural, Regulamento de sanidade marítima.

144. No capítulo da assistência, as realizações são limitadas pelas possibilidades das entidades que têm a seu cargo a acção assistência! - Cruz Vermelha, assistência pública e social de Díli e missões católicas. Pretende-se a intensificação dessa acção.
A criação de um centro feminino em Díli destinado a mulheres desamparadas e a de parques infantis onde aã mães que trabalham possam deixar os seus filhos são realizações que se têm em vista para os anos próximos.

3. Investimentos

150. O programa a executar nesta rubrica compreende, fundamentalmente, a construção de instalações, a aqui-

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sição de equipamento hospitalar, a realização de campanhas de saúde pública, a produção de medicamentos e a formação de pessoal.
No que se refere a construções, prevê-se

Ampliação do hospital de Baucau,
Construção de maternidade, secção cirúrgica e anexos no hospital de Viqueque,
Edificação do hospital do Suar,
Ampliação e adaptação do hospital de Laclubar,
Ampliação do hospital de Lospalos,
Adaptação e ampliação do actual posto sanitário de Same, de modo a conferir-lhe características de hospital,
Construção de uma enfermaria de isolamentos e de um pavilhão de enfermarias para serviços de medicina, no Hospital do Dr. Carvalho, em Díli,
Construção de postos sanitários e maternidades nas sedes de posto administrativo que venham a revelar maiores necessidades,
Construção de anexos em alguns postos sanitários já existentes,
Construção de alguns postos de consulta e tratamento,
Construção do laboratório farmacotécnico,
Construção do centro materno-infantil de Díli,
Edificação do hospital de Manatuto.

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

IMPRENSA NACIONAL DE LISBOA

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