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1 DE ABRIL DE 1955 741

Só quem, como eu, assistiu e foi envolvido naquele período parlamentai!1 de 1UÜG pode fazer ideia da luta que João Franco os seus homens do Estado, seus amigos, tiveram de travar; só quem esteve, como eu, no Parlamento ou leu -dia a dia os jornais daquele tempo pode ter uma pequena impressão do que se dizia e se escrevia. porque os jornais não tinham censura.
O Ministério estava -presente na Assembleia à mercê dos ataques da oposição.
No Parlamento tinham pendido o respeito a tudo e a todos e -não se poupavam nem as instituições, nem o rei. como chefe do Estado, nem os membros da família real na própria vida privada, espalhando-se as piores

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Afonso Costa, António José de Almeida, Alexandre Braga. João de Meneses e muitos doa monárquicos dissidentes e mesmo vários regeneradores, despeitados por terem sido afastados do Poder, combatiam uma batalha constante, à qual tinham, sem trégua, de responder, conforme as ocasiões e os Ministérios visados, os diversos Ministros: Sechroeter, José Novais, Teixeira de Abreu, Magalhães, Malheiro Reimão, Vasconcelos Porto, Aires de Orneias, que não tinham tempo de fazer outra coisa, e todos os outros Deputados franquistas, distinguindo-se entre eles especialmente aquele vigoroso e subtil argumentado]- que. era Martins de Carvalho, só tinham que fazer uma coisa: defender-se e demolir calúnias.
Mas, acima de todos, o mais ardente, o mais vigoroso. o mais arguto e o mais oportuno, nos momentos mais árduos, era o chefe - João Franco -, que, com a sua dialéctica e a sua vivacidade de controvérsia, com a sua palavra fulgurante, com a sua memória sem falha acudia a tudo.
Porém, o Governo esgotava-se nesta batalha permanente sem trégua. Qualquer incidente servia para discussões e diatribes.
A discussão do orçamento, com a desgraça da injusta que tão dos adiantamentos, foi um dos grandes pretextos para diatribes, e assim cada capítulo do orçamento era. discutido com má fé, artigo por artigo - o do armamento, das colónias, da. marinha; por fim a questão do contratos com a Companhia dos Tabacos, última e final grande batalha antes do encerramento das Câmaras, antes da deserção dos progressistas.
A oposição enchia as galerias de povoléu, que chegava a interferir nos debates com gritos e ameaças.
E então todo o problema da administrarão da Nação, as obras de fomento, as estradas, as escolas primárias, os liceus, a Universidade, os aproveitamentos hidráulicos, a electrificação, o progresso agrário, as obras civis, a colonização africana, os portos, os vinhos, o comércio, a navegação, a pesca, o Exército. a marinha de guerra, todos os assuntos aos quais nós os novos de então, nos dedicávamos e já então estudados, não puderam avançar, porque, sempre atrapalhado por inoportunas intervenções, o Governo não lhes podia ligar a necessária atenção; João Franco, porém, com a sua energia indomável, fazia frente a tudo.
Ao Parlamento vinha os Ministros, que eram constantemente interpelados e atacados a todo o momento. Sem trégua, o presidente Pizarro protestava, agitando a sua campainha, e as coisas chegaram a ponto que um mau dia teve de intervir a Guarda Municipal para expulsar os Deputados republicanos, que tinham insultado o rei. Por todos os meios, todos os monárquicos oposicionistas e os republicanos queriam demolir o Governo com o fim de se criar uma opinião pública favorável, ajudados por uma propaganda jornalística sem freio. Conscientemente um e os outros inconscientemente, trabalhavam todos para interesses recônditos, contrários aos interesses da, Pátria.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - E assim a obra de reconstrução que então se encetara não pôde nem crescer nem amadurecer, mas. como mesmo assim não conseguiam seus fitos, pouco tempo depois, preparado nas alfurjas o regicídio, o rei D. Carlos era imolado, Roto o dique, a aluvião republicana submergiu tudo.
Só a grande guerra entre a Alemanha e a Inglaterra nos veio salvar: Inter [...]
Não esqueçam, amigos colegas, que este homem singular e grande, quando com o seu "rei se meteu pelo caminho de iniciar uma forma de governar mais robusta e menos sujeita ao capricho das eleições, dos partidos e das maiorias parlamentares, males de que sofríamos então e continuámos a sofrer nos primeiros quinze anos de república, males de que sofreu a Espanha e de que ainda hoje sofrem a França e a Itália, não fazia senão encetar a senda que muitos anos depois nos levou à larga estrada pela qual marchamos hoje.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A ideia, a tentativa, o início desta obra de reconstrução, de reconstrução, deve-se a el-rei D. Carlos e; ao seu grande ministro João Franco, e não há dúvida de que foi esta a primeira tentativa feita na Europa, e no Mundo, para reconstituir os países enfraquecidos por longos períodos de paz.
E é a experiência do sistema moderado que nos rege temperado pela experiência destes desastres passados o dos males dos sistemas demagógicos, que prova CIHIIO el-rei D. Carlos e João Franco, tinham razão, tinham visto o perigo e procurado o remédio, mas só os acontecimentos foram mais forte do que eles e os surpreenderam e venceram.
Depois de mais de quarenta anos de ter encetado a minha vida política permite-me Deus vir aqui dizer estas desadornadas palavras de saudade à memória de João Franco, ao qual não posso deixar de associar a memória do nosso grande rei D. Carlos e do inocente príncipe Luís Filipe, vítimas todos do grande amor da Pátria que os animava e da coragem que os levou, conscientes, ao lugar do suplício, infelizmente..
D. Carlos sabia do perigo, eu próprio o avisei, mas deu a na vida em holocausto à Pátria, como D. Sebastião em Alcácer Quibir mas lá quem matou furam os Mouros e aqui os antipátridas.
Que este sacrifício ao menos sirva para aos Portugueses lembrar quanto devemos a estes reis pelo seu sacrifício e ao homem que com eles pensou um tempo em criar um Portugal cada vez maior e mais digno parece-me que à sua memória deveríamos neste Parlamento, onde tanto lutou, uma memória mais duradoura que as minhas palavras.

Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Urgel Horta: -Sr. Presidente: o mandato que a cidade do Porto nos confiou impõe-nos responsabilidades que voluntariamente assumimos, dando cumprimento às Aluía nobres aspirações e aos seus justificados anseios. Dando-lhe inteira satisfação, procuramos, com inteira consciência, dignificar e honrar a posição em que nos encontramos investidos.

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