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25 DE JANEIRO DE 1962 509

espírito de unidade que, forçosamente, tem de dominar todos os bons portugueses de modo a formarmos um amplo quadrado, um amplo quadrado que possa resistir às investidas dos que, a todo o custo e pelos mais miseráveis processos, em todas as frentes, querem destruir a existência desta velha nação - para a necessidade mais do que nunca premente, dizia, de olharmos a sério pelos centros populacionais de portugueses que em todo o Mundo, nas mais distantes latitudes, podem e devem ser os grandes agentes da nossa verdade com que, no estrangeiro, temos de fazer face à ofensiva que contra nós, sem descanso, se desenvolve.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sirva-nos de exemplo o portuguesismo, indesmentível e impermeável à intriga da traição, e os altos serviços prestados à causa nacional, da colónia portuguesa do Brasil, que quero saudar com fraternal orgulho.
É, Sr. Presidente, nas grandes capitais do Mundo, onde tantos portugueses labutam, que começa a defesa das nossas fronteiras, e é necessário que esses milhares e milhares de portugueses sintam mais do que nunca o bafo carinhoso da Mãe-Pátria, tendo eu - e comigo muita gente - sérias dúvidas de que em muitos casos as nossas representações diplomáticas e consulares estejam à altura da tarefa que delas temos a esperar e das circunstâncias do momento que atravessamos. Como breve elucidação recordarei que no Colóquio de Turismo, oportuna e meritòriamente organizado pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, foi revelado que um grupo de portugueses em viagem por um país nórdico não conseguiu arranjar, por empréstimo, uma bandeira nacional com que se pudesse apresentar numa festa em sua honra organizada, pois a nossa embaixada ou legação não a possuía, por há muito ter sido esfarrapada pelos ventos glaciais, que ao fazê-lo, e pelo visto, tinham também gelado o portuguesismo do coração dos que ali nos representavam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Lá do cimo do continente americano chega-nos notícia de que uma autoridade consular obstinadamente se negou a tomar parte numa determinada festa em que bons portugueses não queriam, a exemplo de colonos de outras nações, que o nome de Portugal fosse esquecido.
Em Paris, que continua sendo o centro do Mundo, calculam-se em mais de 25 000 os portugueses que ali trabalham sem qualquer espécie de controle da nossa parte senão aquele que forçadamente as autoridades consulares são obrigadas, sem qualquer protecção oficial e completam ente abandonados à propaganda do partido comunista, que, como aqui foi dito há dias, exerce sobre os nossos trabalhadores ali residentes séria pressão e já considerável e cada vez maior influência.
O tempo, Sr. Presidente, em que os diplomatas usavam punhos de renda e casacas de cetim todos sabemos ter passado. O tempo em que os embaixadores de Sua Majestade se deslocavam em coches dourados, mirando de longe a populaça e limitando-se a pisar os salões dos palácios, não é forçosamente aquele em que
vivemos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Hoje torna-se necessário, na diplomacia como em todos os campos onde se deseja o triunfo, uma acção vigorosa, atenta e contínua.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A presença de Portugal em Paris -não me refiro à acção que na propaganda turística a Casa de Portugal tem desenvolvido - é, sob o ponto de vista oficial, distante daquilo que seria de desejar. E é preciso que a presença de Portugal ali se efective de maneira a fazer face à propaganda que na imprensa, na rádio e em todos os órgãos de informação é feita contra nós. Precisamos, além do mais, de não deixar corromper totalmente a massa de portugueses que para ali foi arrastada pelas necessidades da vida, que por vezes é dura para muitos, vida dura que os de vida fácil muitas vezes esquecem.
O que têm feito as entidades oficiais nesse sentido?
Paris é a cidade da luz, é uma cidade que a todos nos encanta e alicia e porventura nos faz esquecer os mais instantes e sagrados deveres.
Que eu saiba, e gostaria de ser desmentido, só a Missão Católica Portuguesa, de Paris, desajudada do Estado e dos seus representantes, se tem preocupado com os portugueses humildes que ali abundam cada vez mais.
Já por duas vezes nesta sala se apelou para o Governo no sentido de, a exemplo do que faz a vizinha Espanha, que exuberantemente e pelos mais variados meios protege, auxilia e subsidia a missão de padres espanhóis que trabalham no meio dos seus compatriotas, acompanhar condignamente, como é seu dever e o interesse nacional reclama, a magnífica acção que ilustres sacerdotes da Congregação do Coração de Maria - os padres Joaquim (Monteiro Saraiva e José Vilaça Vaz Pinto, este meu conterrâneo- desde 1958, data em que o primeiro fundou a Missão, vêm desenvolvendo em prol do levantamento do nível religioso, social e patriótico dos portugueses que se estendem por toda a vasta região de Paris e Versalhes.

O Sr. Nunes de Oliveira: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Sim senhor, com todo o prazer.

O Sr. Nunes de Oliveira: - Apenas umas breves palavras, para corroborar aquilo que V. Exa., e muito bem, está a dizer.
Conheço alguma coisa da acção que vem desenvolvendo em Paris a Missão Católica Portuguesa, no aspecto religioso, social e patriótico, junto dos portugueses emigrados.
Pena é que lá se encontrem somente dois padres e, mesmo assim, a viver e trabalhar com as maiores dificuldades, sendo a sua presença apenas possível pelo auxílio generoso que lhes tem sido dispensado por algumas entidades particulares.
Essa acção é tanto mais útil na medida em que todos sabemos do amparo que os núcleos comunistas procuram facultar aos trabalhadores português, com o fim evidente de os aliciar.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Nunes de Oliveira: - E é assim que muitos portugueses começam a militar no partido comunista e alguns se perdem irremediavelmente.

Vozes: - Muito bem!