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REPÚBLICA PORTUGUESA
SECRETÁRIA-GERAL DA ASSEMBLEIA NACIONAL
DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 157
ANO DE 1964 27 DE NOVEMBRO
VIII LEGISLATURA
SESSÃO N.º 157 DA ASSEMBLEIA NACIONAL
EM 26 DE NOVEMBRO
Presidente: Exmo. Sr. Mário de Figueiredo
Secretários: Exmo. Srs. Fernando Cid Oliveira Proença
Luís Folhadela de Oliveira
SUMÁRIO: - O Sr. Presidente declarou aberta a sessão às 16 horas e 15 minutos.
Antes da ordem do dia. - O Sr. Presidente anunciou estarem na Mesa elementos fornecidos pelos Ministérios da Saúde e Assistência e do Exército a pedido do Sr. Deputado Moura Ramos.
O Sr. Deputado Pinto de Mesquita foi autorizado a depor como testemunha na 1.ª vara cível do Porto.
Foi negada autorização para o Sr. Deputado Agostinho Cardoso depor na Relação de Lisboa.
O Sr. Deputado Amaral Neto requereu vários elementos sobre impostos, a fornecer pelo Ministério das Finanças.
O Sr. Deputado José Alberto de Carvalho requereu também diversos elementos, a fornecer pelos Ministérios do Interior e da Educação Nacional, sobre professores primários.
Ordem do dia. - Prosseguiu a discussão na generalidade sobre a proposta de lei relativa ao Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.
Usaram da palavra os Srs. Deputados Sales Loureiro, Mário Galo e Alfredo Brito.
O Sr. Presidente convocou as Comissões de Finanças e de Economia para data a marcar pelos respectivos presidentes e a Comissão Eventual para o dia 28.
O Sr. Presidente encerrou a sessão as 18 horas e 35 minutos.
O Sr. Presidente: - Vai fazer-se a chamada.
Eram 16 horas.
Fez-se a chamada, à qual responderam os seguintes Srs. Deputados:
Agostinho Gonçalves Gomes.
Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.
Alberto Maria Ribeiro de Meireles.
Alberto dos Reis Faria.
Alberto Ribeiro da Costa Guimarães.
Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.
Alfredo Maria de Mesquita Guimarães Brito.
André Francisco Navarro.
Aníbal Rodrigues Dias Correia.
António Augusto Gonçalves Rodrigues.
António Barbosa Abranches de Soveral.
António de Castro e Brito Meneses Soares.
António Júlio de Carvalho Antunes de Lemos.
António Magro Borges de Araújo.
António Maria Santos da Cunha.
António Marques Fernandes.
Armando Cândido de Medeiros.
Armando Francisco Coelho Sampaio.
Artur Águedo de Oliveira.
Artur Alves Moreira.
Artur Augusto de Oliveira Pimentel.
Augusto César Cerqueira Gomes.
Augusto José Machado.
Belchior Cardoso da Costa.
Bento Benoliel Levy.
Carlos Alves.
Carlos Monteiro do Amaral Neto.
Délio de Castro Cardoso Santarém.
Elísio de Oliveira Alves Pimenta.
Ernesto de Araújo Lacerda e Costa.
Fernando António da Veiga Frade.
Fernando Cid Oliveira Proença.
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Francisco António Martins.
Francisco António da Silva.
Francisco José Lopes Roseira.
Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro.
Henrique Veiga de Macedo.
James Pinto Buli.
Jerónimo Henriques Jorge. -
João Rocha Cardoso.
João Ubach Chaves.
Joaquim José Nunes de Oliveira.
José Alberto de Carvalho.
José Augusto Brilhante de Paiva.
José Fernando Nunes Barata.
José Manuel Pires.
José Maria Rebelo Valente de Carvalho.
José de Mira Nunes Mexia.
José Monteiro da Rocha Peixoto.
José Soares da Fonseca.
Luís de Arriaga de Sá Linhares.
Luís Folhadela de Oliveira.
Manuel Amorim de Sousa Meneses.
Manuel Colares Pereira.
Manuel João Cutileiro Ferreira.
Manuel Lopes de Almeida.
Manuel Nunes Fernandes.
Manuel Seabra Carqueijeiro.
Manuel de Sousa Rosal Júnior.
D. Maria Irene Leite dá Costa.
Mário Amaro Salgueiro dos Santos Galo.
Mário de Figueiredo.
Olívio da Costa Carvalho.
Paulo Cancella de Abreu.
Quirino dos Santos Mealha.
Rui de Moura Ramos.
Sebastião Garcia Ramires.
Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães.
Tito Castelo Branco Arantes.
Virgílio David Pereira e Cruz.
O Sr. Presidente: - Estão presentes 70 Srs. Deputados.
Está aberta a sessão.
Eram 16 horas e 15 minutos.
Antes da ordem do dia
O Sr. Presidente: - Estão na Mesa, fornecidos pelos Ministérios da Saúde e Assistência e do Exército, elementos pedidos pelo Sr. Deputado Moura Ramos na sessão de 19 de Março último.
Vão ser entregues àquele Sr. Deputado.
Está na Mesa um ofício do tribunal da 1.º vara cível do Porto a pedir que o Sr. Deputado Pinto de Mesquita seja autorizado a depor como testemunha, no próximo dia 30, nesse tribunal. Consultado o Sr. Deputado sobre se via inconveniente para o exercício das suas funções parlamentares em que lhe fosse concedida autorização, declarou que não via inconveniente. Nestas condições, ponho o problema à Assembleia.
Consultada a Assembleia, foi concedida autorização.
O Sr. Presidente: - Está na Mesa um pedido formulado através da Direcção-Geral da Justiça, enviado pelo Sr. Secretário-Geral, no sentido de que seja concedida autorização para que o Sr. Deputado Agostinho Cardoso possa depor num julgamento a realizar, em 15 de Dezembro próximo, na Relação de Lisboa.
Ouvido o Sr. Deputado sobre se via inconveniente para o exercício das suas funções parlamentares em que lhe fosse concedida autorização, respondeu que via inconveniente. Nestas condições, ponho o problema à Assembleia.
Consultada a Assembleia, foi negada autorização.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra para um requerimento o Sr. Deputado Amaral Neto.
O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente: Pedi a palavra para enviar para a Mesa o seguinte
Requerimento
«Nos termos constitucionais e regimentais, requeiro que, pelo Ministério das Finanças, através da sua Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, me sejam fornecidas as seguintes informações, discriminadas concelho por concelho do continente metropolitano e reportadas a 31 de Outubro último:
A) Quanto a matrizes prediais rústicas:
a) Reorganização das matrizes prevista no § 7.º do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 45 104, de 1 de Julho de 1963:
1) Ficou concluída no prazo contemplado, ou quando?
2) Qual o rendimento colectável total do concelho antes da reorganização e como se decompôs - em rendas fundiárias e lucros de exploração - depois de ela efectuada?
3) Se a organização ainda não está concluída, quando se espera tê-la pronta?
b) Correcção dos rendimentos colectáveis, nos termos do artigo 7.º de mesmo decreto-lei:
1) Quais os rendimentos totais do concelho antes e depois da correcção, ou os totais das rendas fundiárias e dos lucros de exploração, no caso de já estarem determinados em matrizes reorganizadas e sobre elas se ter feito a correcção considerada?
B) Quanto ao imposto sobre a indústria agrícola:
a) Declarações dos contribuintes:
1) Quantos contribuintes apresentaram declarações de exploração nos termos do artigo 367.º do código?
2) Quantos contribuintes foram avisados nos termos do artigo 331.º?
3) Quantos contribuintes apresentaram declarações de resultados nos termos do artigo 329.º?
4) Quantos contribuintes foram autuados por falta de quaisquer destas declarações, relativamente a cada uma delas?
b) Lucros declarados e atribuídos:
1) Quantos contribuintes declararam lucros?
2) Qual a importância total dos lucros declarados?
3) Qual a importância total dos rendimentos fixados nos termos do artigo 337.º do código?
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4) Quantos contribuintes reclamaram ao abrigo do disposto no artigo 341.º?
5) Quantos contribuintes tiveram as suas reclamações parcial ou totalmente atendidas?
6) Quantos contribuintes aguardam ainda decisão sobre as suas reclamações?
7) Quais as importâncias totais, relativamente aos Contribuintes que reclamaram e foram, no todo ou em parte, atendidos, dos lucros atribuídos pela comissão concelhia e dos finalmente fixados pela comissão distrital?
c) Imposto:
1) Qual a importância global dos impostos sobre a indústria agrícola liquidados pela secção de finanças em verba principal?
2) Qual a redução que essa deverá sofrer, ou já sofreu, por virtude das decisões favoráveis às reclamações dos contribuintes?
Relativamente às questões da alínea A), a), 1), 2) e 3), se a matéria não for da competência ou conhecimento individualizado das secções de finanças concelhias, requeiro que a resposta me seja dada globalmente pela Direcção-Geral.
Mais requeiro que as informações me sejam prestadas com a possível celeridade, para poderem eventualmente ser utilizadas como matéria para intervenção parlamentar durante a corrente sessão legislativa».
O Sr. José Alberto de Carvalho: - Sr. Presidente: pedi a palavra para apresentar o seguinte
Requerimento
«Usando da faculdade que me é conferida pelo n.º 7.º do artigo 46.º do Regimento, tenha a honra de requerer que, pelos respectivos Ministérios, me sejam fornecidos os seguintes elementos:
Ministério do Interior:
1) Indicação dos concelhos em que as respectivas câmaras estão a ser presididas por professores do ensino primário, com a indicação dos seus nomes;
2) Indicação dos concelhos em cujas vereações se encontram professores do ensino primário, com a indicação dos nomes;
3) Outras actividades dependentes deste Ministério em que professores primários exercem quaisquer funções, indicando-se, neste caso, os nomes e as funções;
4) Indicação sobre se algumas das actividades referidas nas alíneas 1) e 3) são remuneradas, com a informação, caso a caso, das remunerações.
Ministério da Educação Nacional:
1) Informação numérica, e por sexos, dos professores primários que se encontram matriculados em cursos superiores ou médios;
2) Informação sobre o número de professores primários que nos últimos três anos pediram a exoneração ou passaram à licença ilimitada;
3) Informação sobre o número de professores primários de ambos os sexos que no ano corrente pediram dispensa de serviço;
4) Número de indivíduos, com habilitações iguais ou equivalentes ao 3.º ciclo, que exercem actualmente funções docentes no ensino liceal ou técnico».
O Sr. Presidente: - Vai passar-se à
Ordem do dia
O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei acerca do Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.
Tem a palavra o Sr. Deputado Sales Loureiro.
O Sr. Sales Loureiro: - Sr. Presidente: O Plano Intercalar, pelos objectivos que aponta, pelo núcleo de investimentos que apresenta, pela programação que expende e pela seriedade de estudo que denota, significa, a curto prazo, uma das anais arrojadas iniciativas com que se pode galardoar uma administração.
Trabalho sereno, sério, abrangendo toda a tessitura do universo económico-social, ele é ainda o resultado do trabalho eficaz de uma equipa apostada no progresso do País, sem menosprezo das exigências que as nossas responsabilidades motivam. Ele vem mobilizar nesta hora exacta, que é a nossa, as energias totais da Pátria lusa, galvanizada pela certeza de que nunca como agora, pertencemos «tanto a nós mesmos.
O Plano que aqui se traz, e que ordena no sector público, enquanto reveste forma normativa no domínio privado, é, antes do mais, coordenador dos vários planos parcelares, sob que se fará o Crescimento económico do todo metropolitano e ultramarino, que importa quanto antes acelerar.
A integração económica do espaço português, para luz do actual Plano, ganha novo relevo e exige, tal como agora, o nosso reverenciado reconhecimento à inteligência e notável mérito de quem a supervisionou, o distinto Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho, Doutor José Gonçalo Correia de Oliveira.
E, do mesmo modo, não poderíamos seguir com as nossas considerações se esquecêssemos a palavra de justa e profunda homenagem devida ao labor esclarecido e diligente de quem subscreveu o II Plano de Fomento - o antigo e ilustre Ministro da Presidência Prof. Marcelo Caetano.
De qualquer modo, e por qualquer das vias, a assinatura avalizadora do Sr. Presidente do Conselho, o crédito com que se vem assegurando o despenhor da terra lusíada!
O Plano Intercalar, não obstante a sua Característica de transição, mesmo considerado o esforço militar que de nós vem sendo exigido no ultramar, é, pelas premissas, pelos fins, pelo volume dos investimentos e pelo equilíbrio de termos, encontrado mo binómio metrópole-ultramar, uma rias realizações mais notáveis que o Governo oferece à Nação.
Verdadeiramente, como atrás dissemos, uma segunda etapa mo movimento da integração económica do espaço português - ele é, pelo esforço que denota, pela movimentação que oferece e pelos objectivos que preenche, a substância viva que se oferece à energia a virtualidades de um povo para realizar o seu progresso. Povo altaneiro, brioso na sua condição humana e de português; povo que com igual fé e vigor soube trocar a paz do arado pela clavina de guerra, porque assim o exigia a virtude suprema do País a defesa até ao extremo da integridade nacional.
O Sr. Alves Moreira: - Muito bem!
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O Orador: - Se elogios são devidos aos que o conceberam; louvores à fé que os animou; gratidão creditada ao engenho esclarecido dos que pelo estudo, pela inteligência e labor sonharam tornar Portugal maior - não podem as nossas incidências críticas voltarem-se nem para a sua articulação, nem para os seus «reais propósitos; tanto menos podemos demorar-nos em problemas de pormenor.
Outrossim, já nos é lícito o critério de lançarmos as nossas críticas sobre o panorama da distribuição das varias verbas ou mesmo sobre a programação prioritária dos investimentos. Também não nos parecem ilícitos os justos comentários, as apreensões legítimas, os reparos dignos sobre qualquer das nótulas no discorrer da nossa intervenção, quando tudo é feito em jeito construtivo e em obediência à norma de por bem, mais querer. Desta forma, vão os nossos juízos incidir de preferência sobre alguns dos aspectos das rubricas oferecidas a agricultura, ao turismo e ao ensino e investigação.
A previsão do aumento do ritmo de crescimento do produto interno nacional para 100 milhões de contos em 1967, com uma mais equitativa repartição dos rendimentos formados, é objectivo que empolga todos aqueles que seriamente se debruçam sobre a presente conjuntura económico-social. Isso só por si - e que não é pouco - bastarda para não regatearmos os nossos aplausos ao incontestável mérito do Plano que agora discutimos!
Só por um progressivo crescimento do produto nacional poderemos encontrar as vias largas que conduzam a um melhor «suporte do esforço de defesa» e, concomitantemente, ao «prosseguimento efectivo da política de justiça a que o País aspira e que o Governo deseja continuamente melhorada e assente em bases cada vez mais amplas e mais firmes» - como muito bem notou o distinto Ministro de Estado.
Que os factores adversos a esse crescimento normal não surjam; porventura que as pressões inflacionistas não cresçam - são esses os nossos votos: os votos de todos os que querem o melhor por Portugal!
Sr. Presidente, Srs. Deputados!
O Plano, ao considerar a indústria transformadora e o turismo como «motores fulcrais» do ritmo de crescimento da produção nacional, relega, mais uma vez, para segundo plano o significado da agricultura como força económico-social, uma vez que não a considera susceptível de acelerar tal ritmo de crescimento, certamente pelo seu evidente atraso. Todavia, ela, para se desenvolver, para ultrapassar os termos de mediania em que vegeta, carece de uma mais acentuada protecção, de uma profunda reforma das suas actuais estruturas, de um conveniente aproveitamento das nossas possibilidades agrológicas.
O alargamento das verbas votadas à investigação e preparação de técnicos é do maior alcance para o progresso do nosso mundo agrário.
O aumento do numero dos nossos técnicos permitirá que estes desenvolvam nos meios rurais aquela educação que urgente e imperiosa se faz para que a agricultura nacional esteja apta e à altura do confronto que a nova política agrária europeia dela vai exigir.
Se o número de técnicos é diminuto, como agora acontece, cada um deles, por maior desenvoltura que possua, não escapa ao poder da organização burocrática dos serviços, que o asfixia, o paralisa, o tritura.
Assim, a uma rotina dos processos agrícolas vem correspondendo um paralelismo de rotina do sector, que prejudica o préstimo e valia que a preparação dos nossos técnicos garante.
Mas, mais que tudo, torna-se necessário, e para já, a apresentação dos dados em que irá fazer-se a nossa futura política agrária, e concomitantemente estabelecerem-se os planos de educação rural, de que há-de resultar o desenvolvimento do espírito associativo entre agricultores, razão primeira e soberana para que os produtos agrícolas tenham a legítima rentabilidade - aspiração ardente que vive na alma sofrida de todos os agricultores.
Por outro lado, também indispensável se torna que o emparcelamento passe dos textos legislativos para acto, convertendo em verdade o conveniente reajustamento da distribuição das terras.
Também permanece sem contestação a necessidade de fixação de preços-base dos produtos agrícolas.
Se os produtos industriais têm subido progressivamente de preço; se, por outro lado, certos produtos alimentares de origem mão agrícola vêm acompanhando essa subida, qual a razão por que se continua negando aos agrícolas aquele mínimo de compensação que garanta os legítimos interesses das empresas e dos trabalhadores que vêm aguardando, de umas décadas atrás, uma aurora de esperança que, dia a dia, hora a hora, tarda na imperiosa exigência da dignificação do seu labor?
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Que a desesperança que a alguns já toma não se converta numa desesperança (nacional do sector agrícola, porquanto é dele que vem partindo tudo o que de estável, de progressivo o até de histórico se vem realizando!
Vimos estudando com grande sabedoria os males da nossa estrutura agrária, mas talvez que não tenhamos feito igual esforço no sentido de adoptarmos as necessárias medidas práticas, susceptíveis de lhes dar remédio!...
E o homem do nosso meio rural, com uma ciência que lhe advém da elaboração empírica, prefere que à sábia organização dos estudos SE. substitua o mínimo de realizações que desafoguem a sua actividade e a elevem à condição de cidadania que tem na maior parte dos países europeus.
Srs. Deputados!
Pode-se discutir a propriedade de investimentos que no binómio agricultura-indústria, «pelo Plano Intercalar, se estabelece a favor do segundo termo.
O Governo, como é evidente, deixou ainda desta vez em aberto a crise aguda em que se debate a agricultura nacional, propendendo compreensivelmente para o sector que, a curto prazo, garanta uma maior aceleração no ritmo de crescimento do produto nacional; galvaniza-o a alevantada ideia de se orientar por imediatos objectivos nacionais.
Comprova-o o facto de à agricultura, silvicultura e pecuária dedicar apenas perto de um quinto (2 829 000 contos) do que é oferecido à indústria (14 791 750 contos). Todavia, nem sequer essa percentagem lhe é garantida, uma vez que, por aquela rubrica, 940 000 contos são votados à viação rural, abastecimento de água das populações rurais e electrificação rural.
Desta forma, reserva-se propriamente à agricultura uma verba inferior a 2 milhões de contos, que no cômputo geral das verbas distribuídas pelo Plano Intercalar demonstram o relance pessimista com que o Governo observou a panorâmica geral das possibilidades dos investimentos no domínio agrário.
Temos entretanto de convir em que as premissas deste raciocínio de certo modo se encontram erradas, conquanto só mediante um esforço mais aturado e mais largo, despendido em maiores dotações e melhor opero-
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sidade, se poderá ganhar no sector agrícola aquela rentabilidade que os melhores propósitos da produção lhe fixem.
Não poderemos esquecer, quando nos debrucemos sobre os objectivos nacionais do Plano, que os braços de 40 por cento, de população válida do País - se ocupam na agricultura, numa agricultura decrépita, de cuja miséria ainda tantos vivem.
Por outro lado, não poderemos ignorar que é desta população activa, verdadeiro cerne do Portugal de sempre - e que sua uma sustentação precária -, que vai saindo aquela avalancha que se escoa para terras estranhas, onde aquieta as mágoas do seu desenraizamento em autênticos bairros de lata, que ladeiam os subúrbios de certas urbes, como Paris!
Necessário se torna olhar de frente o problema da tremenda crise que avassala a nossa boa gente do campo.
2 milhões de contos para o próximo triénio não são nesse caminho algo de animador; representam, quanto muito, um acento de boa vontade.
Vozes: - Muito bem
O Orador: - Fique ao menos nos responsáveis a ideia mais optimista de com maiores investimentos ser possível a recuperação do sector agrário e, em todos aqueles que vivem a magia da terra, a convicção de que o III Plano de Fomento traduzia com mais fidelidade os anseios do nosso mundo rural!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Só mediante uma agricultura viva, progressiva, dinâmica, se poderá encontrar um valor mais alto para o produto bruto nacional, contribuindo-se desta arte para um equilíbrio mais harmónico do compartimento económico português.
Tal tipo de agricultura garantirá ao mercado interno o poder de compra necessário para fazer face às implicações do crescente fluxo industrial.
Indispensável é que no binário agricultura-indústria se encontre a equivalência ou, pelo menos, correspondência precisa, para que o todo das nossas estruturas económicas e sociais não leve por engorgitamento de um dos pólos à rarefacção do outro.
Por outro lado, a verba de 10000 contos que o Plano oferece à rubrica «Assistência técnica e extensão agrícola» é por de mais diminuta para que por essa via surjam resultados palpáveis no objectivo da aceleração do desenvolvimento da agricultura nacional.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E de tamanha transcendência e suma importância para o progresso agrário tal rubrica que sem a sua elevação ao nível prioritário que merece não é possível qualquer avanço no domínio que discutimos. Ou multiplicamos acentuadamente e a breve trecho esse montante, associando-lhe uma soma razoável destinada à investigação, ou pouco restará para fazermos sair do marasmo o sector das nossas fundadas preocupações.
Tem, pois, de conceder-se à investigação e extensão técnicas aquele lugar primacial em que se há-de cimentar a melhor estrutura da nossa organização agrária.
Nesta há que considerar a relevância, o papel eminente que é oferecido à mecanização, quer na produção do trabalho, quer na industrialização dos produtos.
Assim, a emigação progressiva, que apavora alguns elementos dos nossos meios rurais, longe de estar na base de uma suposta crise, antes favorece a nossa lavoura, pois a estimula a novos processos de adaptação, sem os quais a nossa agricultura não sobreviverá às vicissitudes que em breve se lhe hão-de deparar.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:-Por outra via, há exigências técnicas a aplicar no domínio da lavoura que aguardam um espírito mais arejado de muitos dos nossos agricultores, pouco dispostos a varrerem o entorpecimento provocado pela rotina.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não resta dúvida de que ela terá de especializar-se cada vez mais, quer seja no domínio da técnica agrícola, quer no da exploração da empresa.
Sr. Presidente: Se o desenvolvimento industrial visa a suprir a importação de produtos, criando como que uma auto-suficiência de determinados sectores da indústria, compreende-se a ordenação prioritária estabelecida no Plano, mas se em contrapartida se procurou uma rentabilidade maior nas indústrias de bens de investimento talvez que a direcção da opção não seja a mais exacta, já que a mesma depende da rentabilidade das indústrias de consumo, por sua vez tão Intimamente ligadas às condições da oferta agrícola. Deste modo, só um desenvolvimento prioritário e correlativo das três actividades poderá constituir índice seguro de um progresso autêntico da economia nacional.
Todavia, há ainda que acautelar as várias implicações que motivam uma transferência da mão-de-obra agrícola para zonas industriais, além de uma certa medida, porquanto o equilíbrio do mercado de trabalho terá de fazer-se em bases racionais e sem sobressaltos.
E dado o relevante papel que a silvicultura oferece à valorização dos meios essencialmente agrícolas e rurais, supomos ser diminuta a dotação que pelo Plano lhe é destinada. Mas, regressando ao tema agrícola, aditamos:
Há ainda que fazer uma larga série de estudos para cada uma das regiões agrícolas do País.
Neste aspecto, é verdadeiramente grandioso o que no domínio do estudo e da execução se vem fazendo na zona nordeste do País, graças à notável acção, ao esclarecido dinamismo, à elevada competência do Eng.º Camilo de Mendonça.
Ali se iniciam já as bases de um autêntico planejamento, com o desbordante entusiasmo das respectivas populações.
E importa lembrar aqui que um planeamento será tanto melhor aplicado, será tanto menos custoso, quanto mais tiver a adesão das populações. Daí a importância que nele revestem os estudos sociológicos.
E, por extensão, o que ocorre neste aspecto por inteiro se aplica ao turismo.
O planeamento turístico requer: suficiência financeira e de elementos humanos, assim como a formação de uma mentalidade geral.
O turismo, providencial forma de indústria, prodigioso manancial de aquisição de divisas, não obstante o estímulo das entidades oficiais e particulares, não mobilizou no nosso país as energias, os esforços e os estudos necessários e correspondentes ao fluxo turístico que, para breve, se aproxima.
Este fluxo virá trazer tais consequências no domínio da utilização dos recursos humanos e de investimentos que a elaboração dos dados da equação deste problema representa tarefa árdua para os responsáveis por um sector que, depois do militar, talvez seja, com o educativo.
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aquele em que mais estão postos os olhos dos que sonham um Portugal mais robusto - um Portugal mais qualificado e maior!
Daí o resultar como prenhe de toda a lógica a ideia, já aqui lançada, de um Ministério do Turismo e da Informação.
Entretanto, compensa-nos sobremaneira a certeza de tão importante sector ter sido posto em boas mãos: o distinto Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues!
Embora hoje uma tremenda força económica, para a qual se volvem as mais caras esperanças, encerra entretanto o turismo um tal número de implicações de toda a ordem, salientadas as de índole social e educativa, que importa desde já prevenir.
Antes de tudo há que considerar que, ao mostrarmos aos outros o que somas, ao desnudarmos o nosso modo de ser, revelando aquilo que vem sendo sempre idêntico, desde a nossa ancestralidade, iremos perder com o que materialmente ganhamos parte do que fomos, bastante talvez do que hoje somas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Os contactos humanos são inflectores e reflectores; e, ao calor do seu amplexo, muito se ganha e se perde - tende-se para uniformização do pensamento, das ideias, dos costumes, das formas de vida!
Uma vez tomando-se conta deste facto, há que prosseguir no desenvolvimento das nossas possibilidades turísticas, enfrentando as realidades que surgem, observando-as à luz das mossas conveniências económico-sociais.
Mas, primeiro que tudo, há que respondermos à seguinte pergunta: estão criadas as infra-estruturas necessárias ao suporte da avalancha turística que se avizinha?
Melhor: há uma organização turística apta a receber a corrente humana que se prevê para o próximo triénio?
Depois, temos de notar que, para além das actuais insuficiências da nossa indústria turística, necessitamos de criar uma mentalidade própria, fomentando por uma consciencialização do problema turístico o clima favorável ao progresso e florescimento da que virá a &er a nossa mais preciosa, actividade industrial.
Por outro lado, não obstante os largos estímulos das instâncias oficiais, não tem a iniciativa privada nacional correspondido, por vezes, às perspectivas que lhe são oferecidas.
Desta forma, vem o capital estrangeiro suprir essa lacuna, e avisada será a política que o saiba acarinhar.
O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?
O Orador: - Faca favor.
O Sr. António Santos da Cunha: - Quanto a esse ponto queria, dizer a V. Ex.ª que estou um pouco discordante.
Sem dúvida que nós precisamos de atrair o capital estrangeiro, mas temos de teu- muito cuidado. E a que se passa no Algarve, para mim, é verdadeiramente alarmante, porque daqui a pouco temos aquela linda província hipotecada aos Americanos, Ingleses e Alemães.
Entendo que deve a lei dar possibilidades de desenvolvimento de empresas onde a capital português esteja em maioria, mais a mais que nalguns pontos do nosso país o caso é verdadeiramente alarmante.
Peço a V. Exa, tão lúcido no seu raciocínio, que tenha estas palavras em consideração, parque são verdadeiras quanto a mim.
O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado. Mas, não obstante a contestação de V. Ex.ª, permaneço na minha ideia, porquanto, nessa altura, estaria na lei que permitis-se os investimentos do capital estrangeiro acentuar as limitações que implicam que esses rendimentos do capital investido fiquem em grande parte no nosso país.
O Sr. António Santos da Cunha: - Não me quero referir só aos rendimentos dos capitais, mas à preponderância que essas empresas vêm a exercer numa região como aquela e que forçosamente tem os seus reflexos de nacionalização. Isso, para mim, é o mais grave, porque vai activar aquele mal que V. Ex.ª apontou ao turismo, de virem essas empresas ao nosso encontro com ideias que não são as nossas.
O Orador: - O mal não está na vinda dos capitais estrangeiros, quando os nossos não acorrem; está sim nas consequências do fluxo turístico a que aludi. Quando os nossos capitais não acorrem, não parece que esteja no recurso ao capital externo a grande mal.
O Sr. António Santos da Cunha: - Quando acorrem capitais estrangeiros, entendo que é preciso grande cuidado .com eles sempre que se trate da compra de grandes extensões de terreno do nosso Algarve.
O Orador: - Afinal, verifico que estamos de acordo!
O Sr. Pinto de Mesquita: - Temperará o receio do Sr. Deputado António Santos da Cunha o facto de o investimento de capitais estrangeiros se fazer por vários países. Quando é assim, o periga não é tamanho, embora, já se vê, seja de considerar.
O Orador: - Muito obrigado pelo reforço da sua posição.
Também se revela como urgente a necessidade de criar mais numerosas e amplas vias de comunicação e rápidos meios de transporte - sectores a que o Plano não oferece largas perspectivas -, assim como um maior número de unidades de alojamento e de hospedagem, distribuídos pelos centros urbanos ou estâncias que são - ou poderão vir a ser - pólos de atracção turística.
Não é de somenos importância, neste rumar ao melhor norte do progresso turístico, a organização rápida de um quadro de técnicos e de dirigentes, fornecidos dos conhecimentos necessários, profissionalmente habilitados para o bom desempenho da sua missão.
Entretanto, impõe-se rever o ponto de relações entre os órgãos centrais e locais de acção turística, no planeamento do turismo nacional.
Em contrapartida, impõe-se a publicação do inventário das possibilidades turísticas do País, nele se considerando a riqueza paisagística, monumental e artística, ao passo que, em íntima cooperação com os órgãos locais, poderiam publicar-se roteiros regionais de turismo, realçadas neles, a par das riquezas atrás apontadas, as manifestações etnográficas e folclóricas e deles constando os marcos de interesse histórico, os museus, as estâncias balneares e termais, os centros de diversão e de artesanato, cujos primores em algumas localidades estão em risco de se perder!
A tudo isto há que acrescer uma nova política de crédito, mais ampla, sobretudo, quando os investimentos se
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destinem a centros que, pelas suas específicas condições, revelem tornar-se locais de especial futuro.
Das particulares que reservadas estão à zona privilegiada da Beira Alta nesse futuro promissor, já aqui falámos, nesta tribuna, quando da discussão do aviso prévio sobre o turismo, mas entretanto não poderia encerrar este apontamento sem destacar como de magna importância para o desenvolvimento do turismo regional a revisão imediata do esquema de ligações rodoviárias e ferroviárias dessa vasta região. Região cujo Aeródromo Gonçalves Lobato, não obstante: as suas condições de aeroporto à escala nacional, continua a aguardar, com mágoa de todos os viseenses, que seja aberto a um tráfego normal, com o que ficavam servidas, por um meio de transporte rápido e moderno, vastas áreas populacionais da zona nordeste e do Centro do País!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Da mesma forma, é do maior alcance paira a valorização das Beiras que a estrada nacional e internacional Vilar Formoso-Aveiro apresente traçado condigno no troço de S. Pedro do Sul-Albergaria-a-Velha, para o que bastaria pôr em execução competente estudo que liga pela margem direita do Vouga a povoação das Termas a Pessegueiro do Vouga.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Esse troço rectilíneo de características internacionais ganhava à estrada nacional n.º 16 novo sentido, canalizando para Aveiro, Porto e Minho uma parte do tráfego turístico, que com esse desdobramento descongestionava as rodovias do Sul.
O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?
O Orador: - Faça favor.
O Sr. António Santos da Cunha: - Considero da maior importância, para o Norte, aquilo que V. Ex.ª está a advogar.
O Orador: - Muito obrigado. Tal evento representaria um balizamento sugestivo e poderoso, nos legítimos anseios da boa gente beira.
Sr. Presidente! Srs. Deputados!
No que concerne ao ensino e investigação, há que salientar a esclarecida visão da proposta do Governo, quando afirma: «Entende-se que o ensino e a investigação, no seu todo, não só devem figurar nos planos de fomento, como devem mesmo alinhar entre as matérias merecedoras de tratamento prioritário».
O incremento da escolaridade obrigatória, até às seis classes, aspiração que norteou a acção dos diversos Deputados quando da discussão do aviso prévio sobre a educação, e a que o Sr. Ministro da Educação Nacional deu forma, é um contributo poderoso, pelas inerências que comporta, para a elevação do nível da produtividade nacional.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Daí resultará um importante subsídio para a realização dos objectivos que o Plano visa, enquanto, por outro lado, proporciona o alargamento da selecção de um escol, que, devidamente estimulado e auxiliado, trará uma elevação do nível cultural do País.
Já em tempo aqui destacámos que não vêm sendo aproveitados convenientemente, no ensino secundário, os melhores valores, pelo que urgia rever a actual orgânica da concessão de bolsas de estudo.
Definida uma nova política no domínio dos transportes dos alunos de debilidade económica, pelo ilustre Ministro Prof. Galvão Teles, com o que se alargou o âmbito da escolaridade útil, mais esta fica reforçada com a adopção dos meios áudio-visuais no ensino, que, assim ganha maior dinamismo, mais extensão e não menor interesse e entusiasmo.
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Alargada a escolaridade a maiores escalonamentos populacionais, de acordo com as normas impostas pela natural aspiração de promoção social e em ordem às exigências da moderna formação profissional, importa, quanto antes, saber se no capítulo das instalações, do apetrechamento e da docência estamos aptos a responder à chamada.
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Se no ensino primário a construção se vem fazendo em nível levemente atrasado, no domínio secundário, a dar-se o acesso populacional previsto, semelhante ao que encontramos na quase totalidade dos países europeus, estamos próximos do impasse do super-lotamento.
Difícil será ao Estado acorrer as exigências de construção que o aumento da população do grau secundário vai motivar.
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - O mesmo se aplica quanto ao pessoal docente deste sector, que a não longo prazo carece de 2500 professores para o ensino liceal e de 3300 professores para o ensino técnico médio.
A escassez das instalações e do pessoal docente do ensino liceal poderia ser suprida, se ao ensino particular fossem concedidas aquelas, garantias que constitucionalmente lhe são conferidas e a que, por direito, tem jus.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Mas, longe de ser incentivado, antes o coarctam medidas discriminatórias em relação ao chamado ensino clandestino, o único neste país que tem foros de cidadania!
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Da mesma sorte o atrofia uma legislação recente - de duvidosa constitucionalidade -, que tributando-o ignora a essência da sua missão, o conjunto das actuais dificuldades e a excelência do seu préstimo.
Desonerando-o dos actuais impostos, concedendo assim ao ensino particular aquela dignidade que o Estado oferece à indústria turística, encontrava o ensino privado, com a dignificação do seu labor e a protecção do seu exercício, aqueles estímulos que o haveriam de fomentar, com o que bastante ganharia a Administração, poupando dotações mais úteis, noutros sectores.
Vozes: - Muito bem!
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O Orador: - Entretanto, ligada à docência, aparece a ideia da sua preparação, do seu recrutamento e da sua valorização.
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Ou se encara de frente a necessidade de rever toda a orgânica que leva à preparação e recrutamento do professorado, ou continuamos perante o fenómeno de ano a ano vermos baixar até o inverosímil o nível dos professores do ensino secundário.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Nele já vão acampando elementos cuja preparação é em certos casos inferior à que possuem muitos dos professores do ensino primário elementar!
O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!
O Orador: - Disso se ressente o aproveitamento escolar, cujas causas poderemos ir também buscar às deficiências da nossa organização de estudos, de programas, de livros e de métodos, como já aqui apontámos.
Parece-nos imperiosa urgente, a criação dos cursos de Psicopedagogia nas nossas Faculdades de Letras - como em tempos aqui dissemos - para desta forma habilitarmos o nosso professorado a orientar os alunos segundo as suas vocações.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Mas não podem exigir-se novos títulos à docência enquanto não se remunerar convenientemente o seu trabalho.
O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!
O Orador: - Os professores dos vários graus de ensino estão geralmente mal remunerados.
Conceda-se ao professor a valorização que lhe é devida como agente de uma magistratura tão elevada que lhe é confiadamente entregue o tesouro mais alto que ostentam as pátrias: o da formação da juventude!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Sr. Presidente: Não obstante estas considerações, não deixo de prezar no mais alto grau todo esse precioso ordenamento de acrisoladas aspirações que o Plano Intercalar, executando, põe ao serviço do País. Por isso, concedo à proposta do Governo o meu mais inteiro e nunca regateado aplauso.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Mário Galo: - Sr. Presidente, prezados Colegas: Começo, obedecendo aos ditames do dever e da devoção, por saudar V. Ex.ª, Sr. Presidente, ao tomar a palavra pela primeira vez neste período dos trabalhos da Assembleia Nacional, a que tão ilustremente V. Ex.ª tem presidido; e a mesma saudação, sob os mesmos impulsos, para todos os meus prezados Colegas.
Temos para apreciação entre nós uma peça - projecto de Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 - que não podemos deixar de reconhecer que se reveste da mais notória relevância, bastando, para tal se considerar, constituir um veículo de formação e orientação de grandes volumes de realizações em mente e dos respectivos investimentos. Volumes numa ordem tal, que, para meros três anos, vão muito além dos volumes conjuntos respeitantes aos dois Planos de Fomento (I e II) que marcaram a sua presença no País ao longo de dez anos (1953-1964), acrescendo a circunstância de o Plano Intercalar, que ora nos ocupa, haver sido concebido e dado às linhas de futura concretização numa fase delicada da nossa história - aquela fase que estamos a atravessar e que deflagrou nesse nefando 15 de Março de 1961 -, fase delicada, sim, porque a mobilização dos recursos nacionais se tem de voltar também para imensos esforços de defesa de terras que são portuguesas de há já séculos e que todos queremos que continuem a sê-lo.
O Sr. Sonsa Meneses. - Muito bem!
O Orador: - Da bondade do Plano Intercalar não me proponho falar em especial - porque a tem toda. O seu alcance é de ordem a devermos dar-lhe a nossa aprovação - e eu a dou, desde já - com um voto de que seja conferida ao Governo a faculdade de, ao longo dos três anos da vigência da execução do mesmo Plano, utilizar da melhor forma o critério da elasticidade e da consequente adaptação a circunstâncias prementes que surjam, até porque essas elasticidade e adaptação a circunstâncias supervenientes se antolham de utilidade indiscutível, dado que estamos a viver um momento em que há dispersão de pensamentos: «esforço de defesa do ultramar esforço de erguimento económico do todo nacional». Dispersão que pode, por sua vez, vir a ser modificada por motivos às vezes insólitos - e isso até porque nos tempos que vão correndo, com a integração de mercados e algumas surpresas de calibre vário (e estou a lembrar-me, naturalmente, da celebrada sobretaxa inglesa de 15 por cento em mercadorias importadas ...), a estratégia pode obrigar a mudanças (às vezes umas atrás das outras) na condução das nossas coisas económicas.
Por outro lado, o tempo para apreciação do projecto do Plano Intercalar e do respectivo parecer da Câmara Corporativa - apreciação nas suas linhas de grau sucessivamente mais compreensivo, no «leque» das suas irradiações a partir dos grandes pontos gerais -, esse tempo para apreciação foi muito curto, excessivamente curto, convenhamos.
Isto é, menos do que apreciar, exaustivamente ou não, o projecto e o parecer, resta-nos principalmente confiar em que os estudos pelos grupos de trabalho e pelas sucessivas instâncias de coordenação intermédias e de apresentação final tenham sido o que melhor se poderia conseguir para a concretização do pensamento governamental (que, aliás, é coincidente com o de todos nós) de se anteceder o III Plano de Fomento de um de funções de ligação e de decisiva preparação.
Por isso, meus senhores, permitir-me-ei trazer para aqui apenas algumas considerações que suponho não serem de todo descabidas, já que, com elas, pretendo, acima de tudo, focar a necessidade muito grande da adesão de todos os portugueses ao Plano Intercalar - adesão a qualquer medida, de resto, que tenda a erguer a nossa economia dentro dos saudáveis princípios de uma boa distribuição social e geográfica.
Sr. Presidente, prezados Colegas: No mais recente relatório dedicado pela O. C. D. E. a Portugal - relatório que
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vem datado de Agosto já deste ano - lê-se o que sabemos:
No seu estado actual de desenvolvimento, a economia portuguesa não pode oferecer possibilidades de emprego suficientes à população em idade de trabalhar.
Ainda no mesmo relatório da O. C. D. E. dedicado a Portugal podemos ler que a circunstância de não proporcionarmos emprego bastante à população em idade de trabalhar tem provocado uma emigração muito vasta, sobretudo para França - muitos dos emigrantes saindo por vias clandestinas e aos milhares, conforme se conclui da diferença de estatísticas portuguesas e francesas, pois só em 1962 saíram oficialmente do nosso território para França uns 6400 trabalhadores, mas as autoridades francesas concederam nesse ano perto de 13 000 autorizações de trabalho a naturais de Portugal.
Sabem, ao mesmo tempo, na O. C. D. E. (e é verdade), que a emigração de portugueses está já a colocar-se ao abrigo de tratados bilaterais, tornando-se oficiais em maior escala as vultosas emigrações - e pensa-se também por lá que o êxodo se processará por muitos anos ainda. Ora, se é verdade que o facto traz, ao menos, a Portugal a vantagem de algum crescimento das nossas receitas de invisíveis - não menos verdade é que o doloroso da questão reside na circunstância de tão farta emigração servir para atenuar o subemprego ou o desemprego, particularmente na agricultura, que todos sabemos existir por cá.
Refira-se, então, aqui, a própria expressão com que a O. C. D. E. termina um dos capítulos que dedicou a Portugal:
Mais l'augmentation de l'émigration souligne le besoin fondamental d'un accroissement rapide du potenciel productif du Portugal dans le secteur industriel et agricole.
E, claro, a solenidade da expressão original está bem em paralelo com a solenidade das expressões que, implícita e explicitamente, ressaltam de tudo quanto se tem dito entre nós a propósito de planos de fomento e outros instrumentos de monta quanto ao progresso industrial e agrícola, por que tanto ansiamos - o Governo à frente.
Mais somos levados, pois, a dizer que a adesão de todos a qualquer plano - é o caso do próprio Plano Intercalar - que contenha a semente do desenvolvimento do País não nos pode custar a aceitar. Realmente, entre nós, essa necessidade tem imponências do maior vulto - aliás, mais adiante o veremos ainda.
Meus senhores: Entendemos que a adesão tem as suas exigências - principalmente quanto à forma de as peças que a pretendem ou impõem se apresentar à apreciação de quem quer que seja. Há, essa forma, que ser expressiva e imediata de entendimento. Lemos todos no parecer da Gamara Corporativa sobre o projecto do Plano Intercalar considerações da mais legítima preocupação quanto ao que direi o «aspecto funcional» da adesão a planos de fomento por aqueles que mais directamente se sentem focados nos mesmos: os industriais. Indica-nos judiciosamente o referido parecer que as projecções no campo da indústria dariam muito melhor acesso à sua compreensão pelos industriais se fossem adoptadas sínteses de apreciação expeditas. Uns passos do parecer são concludentes. Gostosamente - além de por conveniência para os pontos de vista que defendo - vou transcrever esses passos:
Não se defrontará a dificuldade grave de cada industrial conhecer ou as conservas de peixe, ou a moagem ou a cerveja, mas nunca o sector total «alimentação e bebidas», que é uma construção de gabinete, indispensável, mas desligada do real? E o mesmo quanto aos outros casos.
De modo que a Câmara Corporativa sugere - para se tirar proveito da linha metodológica ensaiada, construindo resultados susceptíveis da indispensável crítica por parte dos industriais - que se façam projecções ao nível das indústrias, dando a esta palavra o sentido que tem na prática do sector. Não se pensa numa análise entradas-saídas exaustiva; mas aconselha-se o traçado de perspectivas de crescimento do consumo aparente e, por aí, da produção recorrendo às tendências anteriores, «o exame das suas causas e ao provável comportamento dessas mesmas causas no futuro, devendo interessar particularmente a substituição de importações e a abertura de novas exportações; e também se recomenda o estabelecimento de balanços materiais, em matriz, pelo menos para os produtos estratégicos. Parecem dois tipos de trabalho ao alcance do grupo de programação industrial que já funciona para as projecções no âmbito da Secretaria de Estado da Indústria; e precisamente números desses é que mereceriam a crítica vinda dos industriais, pois estariam à sua escala de cálculo.
Eis que, de tais passos, se pode dizer que são a expressão de uma sabedoria do mais elevado apreço, no sentido de todo um trabalho de captação, de adesão, de críticas construtivas - que não de «silêncios» da parte daqueles que, ao fim e ao cabo, são os que constituem as peças fundamentalmente motoras e nervosas dos planos: os industriais ou outros elementos humanos dirigentes de empresas de ordem diferente, mas, como aqueles, integrados no Plano.
Anseio por que, na confecção final do Plano Intercalar, seja ouvida e seguida a sábia palavra do relator do parecer - do relator a quem daqui presta a mais viva homenagem um indivíduo que, além de Deputado, tem um curso superior, é industrial e dirigente corporativo, mas que se vê embaraçado, não raro (ai de mim!), perante formas de apresentação desenvolvidas em quase criptogramas, fora do alcance da maioria dos mortais, só porque se dá essencialmente como conhecido de todos um inventário completo de conceitos, velhos uns, mas com palavras novas (quantas vezes impressionantes neologismos!), novos outros, empregando palavras que já nos acostumáramos a ver aplicadas para conceitos diferentes! E - o que é mais exasperante para a quase totalidade da população do País - dando como conhecido de todos o que afinal fica no repouso dos gabinetes, apenas se permitindo que venham para a luz da observação e da crítica meros trechos que se apresentam com o gosto do esoterismo ou do hermetismo.
Exprimo a opinião de que aquilo que tem de concitar a adesão de todos não pode nem deve ser dado à estampa em termos de só ser entendido rapidamente por poucos. Há, sim, que nos gabinetes trabalhar-se em altas temperaturas conceituais e demonstrativas - mas, em seguida, vir-se a público apresentar o trabalho contando com a temperatura ambiente ..., se é que realmente queremos a adesão franca, consciente e alentadora de todos os membros da Nação. E apraz-me, neste ponto, prestar as minhas homenagens ao Sr. Ministro das Finanças, Prof. Pinto Barbosa, pela meridiana linguagem (a par de não menos meridianas demonstrações) que usa sempre nos seus relatórios e outras peças que todos os anos tem dado à consideração do País. Linguagem e demonstrações através das quais não deixamos de ver o professor ilustre que é, ao
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mesmo tempo que entrevemos nos seus desenvolvimentos informativos a profundidade do labor de gabinete sob a égide dos mais actualizados conceitos e moldes da ciência financeira e económica. Dignidade científica e exposição acessível ao vulgo não são (muito longe disso!) incompatíveis - podendo acontecer que seja coisa difícil de processar-se esse binómio, valha a verdade.
Sr. Presidente, prezados Colegas: É para mim ponto de convicção profunda que muito se ganhará em, além do mais, se promover, por meio de informação sistemática e não menos sistemática instrução junto das grandes camadas que devem formar a audiência necessária e conveniente, que estas tenham a noção exacta da que significam afirmações fartas vezes feitas de que, por exemplo, o nosso crescimento industrial se tem processado a uma taxa anual dupla da do conjunto da E. F. T. A., e uns 33 por cento mais elevada do que a da O. C. D. E. (parte europeia) e o mesmo, quase, em relação a todo a Mundo (e para o caso já o douto parecer da Câmara Corporativa foi chamando a atenção de todos, pondo bem os pontos nos ii a tal respeito, quando ao confronto chamou exactamente o conjunto dos países em vias de industrialização de todos os continentes, que se apresenta, este último conjunto, com um ritmo de crescimento um quase nada mais elevado do que o nosso, afinal).
Não cheguei nunca a saber se foi por ironia ou com plena convicção que certo indivíduo que seguia de comboio em conversa com outro - este. parecendo-me algo entendido em questões de economia nacional - disse que:
... dado, então, que na produção industrial no continente estamos a crescer a um ritmo da ordem dos 7 a 8 por cento, enquanto o conjunto da E. F. T. A o tem da ordem dos 3 a 4 por cento, e o da O. C. D. E. (países da Europa) é de uns é por cento - dado que assim é, porque é que nos estamos a mostrar tão «afobados» na" procura de «tanto que já temos»? ...
Enfim: há que não esquecermos o ensinamento de que o pouco dobra mais rapidamente do que o que já é muito. Esta noção deve ser bastante difundida, para que no espírito dos desprevenidos não fique a ideia de que estamos a trabalhar por um erguimento económico só pelo prazer de virmos a ser mais desenvolvidos do que os que já são grandes em matéria industrial. Os pontos de partido foram diferentes, acontecendo que, no próprio tempo, já uns andam tranquilamente pelo Mundo, enquanto outros procuram ainda a forma de o fazerem também.
Posto isto, meus senhores, passo, com vossa permissão, a outro assunto - aliás, assunto de que já me ocupei nesta sala.
Sr. Presidente: A desperequação dos rendimentos por pessoa, consideradas as regiões de uma mesma nação ou das nações de um mesmo continente ou das nações de todo o Mundo, coisa é ela que, sem dúvida, muito deve preocupar os governantes respectivos. E a todas as regiões ou nações englobo, porque tenho na mente o conjunto não apenas das de menor rendimento, mas também das que o tem mais elevado, naquele jeito (a que julgo já ter-me referido noutras falas aqui mesmo) de que não pode, diga-mos, uma nação sentir-se bem quando à sua volta as outras não estão assim. Naquele jeito que levou um antigo presidente dos Estados Unidos da América o afirmar, categoricamente, não poderem os Norte-America nos sentir-se repousadamente prósperos se as demais nações não estivessem prósperas também - indo mesmo ao ponto de considerar essas tais demais nações não sómente as que lhes ficam próximas, mas também: as que ficam nos restantes continentes. E, com isto, naturalmente, estou a considerar que, dentro da mesma nação, também uma sua região não deverá sentir-se bem se o resto nacional não se encontra à mesma altura de bem-estar.
Então, é messes termos que não posso deixar de continuar a pugnar por uma decidida e rápida disseminação pelo País de pólos de desenvolvimento económica - entendendo-se por tal não uma anárquica disseminação ou descentralização geográfica da indústria, não uma disseminação levada ao infinito, mas sim conduzida dentro dos mais convenientes princípios de aproveitamento racional das potencialidades nacionais em todas as facetas predominantes de um crescimento harmónico. Sou, naturalmente, contrário a que se instalem fábricas indiscriminadamente - mas sou a favor de um estudo muito rápido para o assentamento das grandes premissas do êxito industrial do todo nacional pelo êxito de cada um dos nós da rede que se forme, ponto sendo que a rede seja tecida convenientemente.
Sou, pois, para já, contrário a que o distrito de Lisboa tenha o seu habitante -critério «capitação» - com um poder aquisitivo cerca de cinco vezes maior do que o dos distritos de Bragança, Vila Real e Viseu - exactamente os conjuntos geográfico-administrativos, estes três distritos, de menor poder aquisitivo per capita de todos os conjuntos similares da Europa a que pertencemos, que não apenas a Europa da E. F. T. A. e do Marcado Comum.
Ora, se é preciso que os planos de fomento dados si Nação para seu erguimento económico tenham aceitação tão plena quanto possível de todos, bem julgo que preciso se torna, da mesma sorte, que o poder económico per capita atinja ponto elevado e o mais homogéneo que possa ser por todo o País, para isso se formando convenientes pólos de desenvolvimento industrial, numa estratégia de prospecção, projecção e execução que não deixe margem a dúvidas quanto à necessidade de nos distritos de Lisboa e Porto não se inserir todo o alfobre das possibilidades do crescimento económico em Portugal.
Meus senhores: Não nos esqueçamos desta verdade: a uma nação não basta que saber-se inferiorizada no campo económico perante as demais é motivo para se desfazer a desigualdade ou pelo menos, atenuá-la. Há, sim, que trabalhar muito para tal - mesmo com muitas renúncias -, uns promovendo o surto de planos que não se limitem a ser sérios, mas que se apresentem a altura de concitarem, pelo sugestivo dos seus termos de fácil entendimento, a adesão imediata, firme, consciente, de todos, em especial dos industriais e outras pessoas ligadas a estes e com os quais é normal contar-se para constituírem pedras de interesse no tablado económico do País; e outros englobando os observadores e divulgadores o máximo da população - que, todos, quererão colocar-se ao lado das nacionais dos outros países, desfazendo-se os fossos económicos que os separam. E que fossos, Santo Deus, eles são!: e que fossos, sim, nos estão a separar, do ponto de vista económico, de todos os restantes países da E. F. T. A., dos do Mercado Comum e de tantas das demais nações que, como a nossa, pertencem à chamada Europa ocidental!
Em recente trabalho que trouxe a público sobre aspectos que tocam a Portugal no âmbito da Convenção de Estocolmo - trabalho muito sério, na esteira de outros, e que mereceu do prestigioso diário O Século um dos seus sempre oportunos e esclarecedores artigos de fundo o conhecido publicista Prof. Guilherme Rosa, sem dúvida (é o próprio O Século que o diz, nas apreciações que dele tem feito) um dos nossos mais ilustres economistas e financeiros e mais qualificados observado-
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rés que temos nesses aspectos quanto à vida do País, nesse seu trabalho o Prof. Guilherme Rosa teceu considerações dignas da maior meditação, o que me levou a procurá-lo (honro-me, aliás, com a sua amizade) para me documentar sobre certos pontos desse trabalho e da sua oportunidade. Apraz-me dizer que a sua biblioteca de estatísticas mundiais não tenho dúvidas em a considerar como das mais completas do País em mãos particulares. E coube-me ver o que, para continuação do mesmo trabalho, estava já construído. Toda uma interessante e cuidada análise do poder económico da Europa, quer nos seus grandes agrupamentos, quer nas suas divisões geográfico-administrativas menores, à escala de regiões, departamentos, províncias, etc. Amavelmente me proporcionou a oportunidade de me servir de algumas das suas construções, que me permito tomar para um dos fulcros desta minha intervenção, já que as tenho como da mais alta pertinência no momento que passa. Sr. Presidente, prezados Colegas: Com efeito, indo-se mais longe do que à consideração do assunto do poder económico à escala de nação - subindo-se à consideração da escala por agrupamentos maiores (Mercado Comum, por um lado, E. F. T. A., por outro, e também o conjunto dos dois agrupamentos e ainda mais longe), e descendo-se à consideração das próprias grandes divisões geográfico-administrativas dos países em causa (portanto: distritos, províncias, departamentos, cantões, etc.) -, verificaremos (os números básicos constam de um notável estudo vindo a lume sob a égide do prestigioso instituto de crédito norte-americano The Chase Manhattan Bank nos princípios já deste ano de 1964 e reportado ao ano de 1962), pois, que das 433 divisões geográfico-administrativas das nações que constituem o Mercado Comum, das que, com excepção de Portugal, formam a E. F. T. A. e da Espanha, da Finlândia, da Grécia e da Irlanda: 363 dessas divisões (isto é, 84,2 por cento) estão, quanto ao por capita económico, em plano superior ao do distrito de Lisboa; 21 dessas divisões (isto é, 4,9 por cento) estão num plano entre os dos distritos de Lisboa e Porto, e apenas 47 das mesmas divisões (isto é, 10,9 por cento) estão abaixo do distrito do Porto!
Atentemos nisto: 84,2 por cento das divisões geográfico-administrativas das nações que ficaram apontadas têm uma economia activa por habitante superior ao distrito de Lisboa!, acontecendo que o comportamento da capitação do distrito de Lisboa anda hoje na ordem dos 16 contos - exactamente a meta que nos propomos alcançar para a capitação de Portugal continental lá para 1973, após cumprirmos o Plano Intercalar em apreciação e o mais que vier depois!
Mas, se da Europa ocidental formos para apenas o conjunto Mercado Comum + resto da E. F. T. A. (excluindo-nos, pois), então verificaremos que 97,2 por cento das suas 357 divisões geográfico-administrativas têm uma capitação superior à do distrito de Lisboa.
E (cada vez mais impressionante para nós, e mais impetrante de esforços nossos), se considerarmos apenas os países com os quais nos associámos na E. F. T. A. (isto é: Áustria, Dinamarca, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça), veremos que 99,5 por cento das suas 189 divisões geográfico-administrativas têm uma capitação superior à que está consignada ao distrito de Lisboa, ficando o resto (0,5 por cento) ainda acima do distrito do Porto!
Para não ser fastidioso, passo adiante de um quadro - que os prezados colegas poderão ver no Diário das Sessões - no qual se insere, nação por nação, a capitação das divisões geográfico-administrativas da Europa ocidental, tomando-se como base de comparação as dos distritos de Lisboa e do Porto.
1962 - Poder de compra - Capitações
[Ver Tabela na Imagem]
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Meus senhores: Gostaria de antever o desenvolvimento das linhas mestras do lançamento - que, não me canso de dizê-lo, considero necessário e urgente - de pólos de desenvolvimento regionais na base primordial de indústrias. E não deixo de considerar o quanto de difícil isso poderá também ser se a legislação - que o próprio projecto de Plano Intercalar regista como uma das promessas a curto prazo - que venha a reger o condicionamento industrial entre nós não se puser logo de entrada a toda a altura das circunstâncias.
Como todos lemos nas peças em apreciação - aliás, já há muito se sabia -, a linha de política industrial do Governo tem, entre o mais, a emissão prometida de um diploma sobre o condicionamento industrial (à escala nacional). Isto quer dizer que está na mente do Governo a reforma da nossa legislação actual sobre o condicionamento industrial, reforma não já com uma base restrita, como até aqui, mas considerando o todo nacional. Devo confessar que considero o alargamento da base de incidência como uma medida mais de tese querida ao nosso espírito de indiscriminação quanto ao todo que forma o País do que tese de sentimento prático, de sentido funcional.
O Sr. André Navarro: - V. Ex.ª dá-me licença?
O Orador: - Faz favor.
O Sr. André Navarro: - Tenho estado a ouvir com muito interesse as considerações de V. Ex.ª acerca desses dados estatísticos que nos colocam nessa situação quanto ao nível económico dessas regiões e faço uma pergunta. Esses dados incluem só os países da E. F. T. A. e do Mercado Comum ou também a Europa mediterrânica?
O Orador: - Incluem também a Europa mediterrânica, e tenho aqui o mapa, editado pelo Chase Manhattan Bank que reproduz graficamente as afirmações que acabo de produzir e que V. Ex.ª poderá consultar.
O Sr. André Navarro: - O que está no mapa não está muito de acordo com aquilo que eu deduzi das suas palavras e tenho receio de que elas possam induzir muita gente em erro.
O Orador: - Eu citei percentagens obtidas a partir dos elementos que serviram para elaborar o mapa que V. Ex.ª acaba de ver.
E que, em boa verdade, quando se considera o condicionamento territorial, circunscrito, portanto, à actividade industrial de cada uma das parcelas nacionais, cada uma destas terá de lutar internamente como o «mal» e o «bem» que cá encontrámos e encontramos desde 1954; mas, quando se passa ao condicionamento nacional, em que todas as parcelas entram na consideração e na luta com esse «mal» e esse «bem», antevejo dificuldades insuperáveis na obtenção dos resultados que desejamos, tudo por causa de conflitos de apreciação que irão desde a batalha de interesses já criados até à própria aceitação pacífica da gama de indústrias dadas a essa apreciação.
As dificuldades serão imensas - insuperáveis, sim, quase sempre -, até porque, com os tempos - e todos os dias isso poderia acontecer (exagero, sem dúvida, mas a ideia é essa) -, uma indústria tida como de mera projecção no contexto territorial pode passar imponentemente a ter projecção no contexto nacional. E, sim, na verdade, porque pode mesmo passar a ter projecção no contexto internacional, mormente quando tenhamos de pôr em funcionamento certas cláusulas das convenções integradoras a que Portugal haja aderido (e já o caso se pode ter como previsto na própria Convenção de Estocolmo).
Eu, que tenho vivido a marcha do condicionamento industrial em Portugal nas suas passadas fundamentais, considero-me na obrigação de recomendar, na reforma que se tem em mente, não apenas um conteúdo válido de todos os pontos de vista, mas também uma prudente consideração dos factores que possam e devam dar à reforma condições funcionais.
E essa prudência, por muita monta que já tenha, eis que parece que deve crescer ainda se, além da consideração de dois âmbitos do condicionamento (nacional e territorial), nos lembrarmos de que, em cada território, teremos de considerar também o esquema do lançamento de pólos de desenvolvimento económico na base da implantação de indústrias. Isto é: a prudência a adoptar pelo legislador atingirá certamente premência tão grande que começo por ver tudo o que respeita à reforma como impetrante de um trabalho ciclópico, pois até poderá acontecer que a falta de prudência arraste para a inconsistência todos os anseios da descentralização geográfica das indústrias. Que Deus ilumine o legislador - até porque o condicionamento tem suscitado, mesmo em tempos repousados, as opiniões mais contraditórias! Uns o consideram a grande mola que faz saltar o sistema industrial (portanto, o económico) para a frente, mas outros o consideram a grande mola que faz saltar o sistema para trás ...
Sr. Presidente, prezados Colegas: Vou terminar, dizendo não me parecer que seja despiciendo qualquer esforço que façamos no sentido de uma completa adesão de todos os portugueses aos objectivos do Plano Intercalar que ora estamos a apreciar e dos que, numa linha de sucessão absolutamente necessária, absolutamente imprescindível, vierem depois, ponto sendo que ponhamos ao alcance de todos, em termos de fácil entendimento, o seu conteúdo; ponto sendo, também, que essa adesão se opere por modo franco, firme, caloroso, total.
Mas, para que essa adesão se defina mais sincera ainda, bom será que esclareçamos o País quanto ao propósito que há de desfazermos desigualdades do potencial económico de distrito para distrito, promovendo a descentralização geográfica racional da indústria - com algum estudo, sim, mas, sobretudo, com toda a urgência.
Vozes: - - Muito bem, muito bem!
O Orador: - E que, além da disseminação racional de desenvolvimento pelo Pais, se promoverá escolha conveniente das indústrias, por forma que não se vá de maneira nenhuma às cegas para as indústrias com mira única ou quase das exportações, dado o quanto de contingente haverá nisso, mesmo quando a exportação parece estar solidamente apoiada em tratados ou outros arranjos comerciais, por muito respeitáveis que pareçam ser; para as indústrias cujas matérias-primas fundamentais não sejam predominantemente nacionais (metropolitanas e ultramarinas); para as indústrias que não se destinem, em primeiro lugar, a substituir importações vultosas.
Um resumo final, meus senhores: façamos uma boa propaganda do Plano Intercalar de Fomento para 1965-. 1967, pois, assim, prepararemos o próprio bom caminho para os planos que vierem depois!
Eis os votos que formulo, na certeza de que, na formulação desses votos, não estarei só.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
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O Sr. Alfredo Brito: - Sr. Presidente: A proposta de lei presente à Assembleia Nacional refere-se única e simplesmente à autorização solicitada pelo Governo (para elaborar e promover a execução do Plano Intercalar de Fomento. Como se pode verificar pelo n.º 2 do preâmbulo que antecede esta proposta de lei, tanto a Câmara Corporativa como esta Assembleia não virão a ser chamadas a interferir na elaboração ou execução do Plano. O mesmo é dizer que as intervenções dos Deputados no plenário sobre este documento serão tão-sòmente debates, visto que este dá competência ao Governo, através do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, para elaborar o programa de execução do Plano, eliminando a comparticipação directa da Assembleia Nacional quanto à indicação de prioridades nos investimentos, etc.
As considerações que se seguem constituem, portanto, uma análise crítica, que se deseja seja construtiva, das linhas gerais que presidiram à estruturação do Plano Intercalar de Fomento tal como se encontram expressas no documento fornecido a esta Câmara.
Seguindo a ordem dos assuntos tratados na «Introdução» do projecto de Plano Intercalar, temos de referir-nos à evolução recente do produto nacional bruto. Aí se diz que «como resultado da evolução favorável do produto nacional bruto, e ainda em virtude de o crescimento populacional se ter processado a um ritmo inferior ao previsto, a taxa média de crescimento do produto bruto per capita foi de 5,7 por cento superior, portanto, à prevista, que era de 3.5 por cento. Assim, esta capitação, ao custo dos factores, registou um incremento de 24,7 por cento entre 1958 e 1962, acréscimo este superior à,- própria elevação prevista para o período total de vigência do TI Plano. No ano de 1962 a capitação atingira 8343$. quando a estimativa indica para 1964 o valor de 7750$».
Porém, se há razão para nos congratularmos pelo facto de o nosso rendimento per capita se ter expandido a um ritmo superior ao previsto, parece-me que, por diversas razões, se trata de um ritmo ainda assaz baixo, sendo desejável que se progrida mais depressa.
Senão, confrontemos a evolução do nosso produto nacional com a de dois dos nossos parceiros da E. F. T. A., que são a Suíça e a Inglaterra.
Em 1954 Portugal acusava uma capitação de rendimento da ordem dos 200 dólares, tendo aumentado para 265 dólares em 1962. Isto corresponde a um crescimento médio anual de 8 dólares, ou ainda 4 por cento. Quanto à Suíça, os números referentes a 1954 e 1962 são, respectivamente, de 1010 e 1622 dólares. O crescimento médio anual foi, portanto, de 76 dólares, ou seja 7,5 por cento. Quanto à Inglaterra, no mesmo período, o rendimento per capita aumentou de 780 para 1189 dólares, tendo crescido, portanto, à taxa de 5,2 por cento, ou seja 51 dólares por ano.
Por estes números, colhidos da publicação da E. F. T. A., denominada The, European Froc Tradc Association, Today and Tomorrow, verifica-se que o crescimento do rendimento por habitante no referido período de oito anos foi, naqueles dois países, respectivamente, superior a 3,5 por cento e 1,2 por cento ao observado no nosso país. Isto é: percentualmente, o produto per capita elevou-se na Suíça a uma taxa superior à nossa em 87,5 por cento e na Inglaterra em 30 por cento. Porém, o contraste entre o ritmo do nosso desenvolvimento e o destes países é mais notório se cotejarmos não os números relativos, mas sim os números absolutos: cada habitante, em média, viu o seu rendimento ser acrescido à razão de 76 dólares no primeiro daqueles países, 51 dólares no segundo e apenas 8 dólares em Portugal.
Logo, se, por um lado, é de nos congratularmos pelo crescimento que se tem vindo a verificar no nosso país, porquanto ele corresponde a um esforço, que de maneira nenhuma deve ser menosprezado, por outro lado, temos profundas razões para nos preocuparmos, visto que não visionamos quando atingiremos a meta já atingida pelos nossos outros associados da E. F. T. A.
De um mapa extraído da publicação acima referida e que, Sr. Presidente, solicito seja anexado a esta intervenção, refiro os números seguintes:
O rendimento por habitante é na Aústria 2.93 vezes maior do que em Portugal, 4,81 na Dinamarca. 3,58 na Finlândia. 4.11 na Noruega, 6,4 na Suécia, 6,12 na Suíça e 4.48 na Inglaterra;
O montante anual das importações por capita é na Aústria 3,38 vezes superior ao de Portugal, 7,06. na Dinamarca, 4,18 na Finlândia, 6,95 na Noruega, 6,27 na Suécia, 8,38 na Suíça e-3,63 na Inglaterra;
O consumo da energia por habitante é 5,43 vezes superior na Aústria, em relação ao nosso país, 7,29 na Dinamarca. 4,28 na Finlândia. 7.08 na Noruega, 8,69 na Suécia. 4,81 na Suíça e 12,16 na Inglaterra.
Dada a desproporção entre as nessas capitações e as dos nossos companheiros da Associação Europeia de Comércio Livre, muito difícil será para nós recuperarmos este atraso. O nosso esforço de industrialização não nos permite ir além de uma importação per capita de 65 dólares: e o desenvolvimento do sector energético, ainda que digno dos nossos maiores elogios, dificilmente conseguirá que nos ponhamos a par dos nossos parceiros da E. F. T. A.
Em relação às importações e exportações dos países da zona de trocas livres, Sr. Presidente, peço para juntar outro mapa, cujos números foram tirados da citada publicação.
Entre 1960 e 1962 Portugal aumentou as suas importações com proveniência dos países associados da E. F. T. A. apenas em 3 por cento, diminuiu 2 por cento quanto ao Mercado Comum e 1 por cento no resto do Mundo. Em relação às exportações não houve alteração na E. F. T. A., aumentou 1 por cento no Mercado Comum e diminuiu 1 por cento no resto do Mundo. Julgo poder concluir que a nossa adesão à Associação Europeia de Comércio Livre não veio alterar de uma maneira significativa as tendências do nosso comércio externo. A política recentemente seguida, pela Inglaterra, que não só contingentou as importações - facto verificado com os tecidos e fios de algodão exportados por Portugal -, como também praticou um agravamento pautai de 15 por cento, que, além de sair fora do acordo, virá deteriorar a nossa posição na Associação Europeia de Comércio Livre, se levarmos em linha de conta que as nossas exportações para a Grã-Bretanha representam aproximadamente 60 por cento das nossas exportações para a E. F. T. A.
Não se julgue que os números que acabo de referir têm por finalidade tão-sòmente criticar a nossa política económica, pois, como industrial que sou, sei bem que um sem-número de factores têm influído para que os factos apontados sejam uma realidade. Tenho simplesmente a pretensão de demonstrar que ainda não estamos estruturados de molde a podermos aderir a uma zona económica onde tão longe nos encontramos dos nossos associados.
As dificuldades da nossa integração no concerto económico dos chamados «Sete» foram sucintamente expostas na referida publicação, onde se afirma:
Para a maioria das indústrias internacionais Portugal vem acrescentar muito pouco no mercado da E. F.
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T. A. Representa quase 10 por cento da população da área, mas apenas 2 por conto do produto bruto conjunto e uma fracção similar das suas importações. A economia está subdesenvolvida segundo os padrões europeus e os níveis de consumo estão muito abaixo dos dos outros países da E. F. T. A.
E mais adiante:
Algumas indústrias irão fatalmente sucumbir. Outras - tirando vantagens dos baixos custos de mão-de-obra, baixos impostos e possibilidades de protecção inicial para as indústrias novas ou já existentes ao abrigo do anexo G - poderão aguentar o choque, aproveitando assim as oportunidades da E. F. T. A. Mas, mesmo nestes sectores de concorrência actual ou potencial, os benefícios reverterão unicamente a favor daquelas firmas que puderem elevar a produtividade através de uma maior especialização, de uma organização no sentido de maiores unidades produtivas, de uma modernização de equipamentos e de uma melhor utilização do equipamento instalado. O capital estrangeiro terá um papel vital a desempenhar neste processo, não só no provimento de capitais e de técnica, mas também facilitando a promoção de vendas e a criação de redes de distribuição para toda a E. F. T. A., sem o que Portugal não poderá explorar as novas oportunidades.
As nossas perspectivas de desenvolvimento económico, tal como são visionadas no texto que acabo de transcrever, não são de modo algum sorridentes. Na qualidade de parceiro menos evoluído econòmicamente no concerto dos denominados «Sete», as indústria* que poderemos desenvolver serão as que puderem beneficiar dos baixos salários, da fraca carga fiscal e da protecção inicial ao abrigo do anexo G, sendo, entretanto, um bom mercado (10 por cento da população total) para algumas indústrias há muito radicadas e desenvolvidas nos nossos parceiros da E. F. T. A. Os meus receios são, portanto, que venham a sucumbir muitas indústrias sem que outras tenham vindo substituí-las de uma forma mais vantajosa para o País. E não apenas em razão da concorrência das indústrias mais poderosas dos nossos parceiros da E. F. T. A., como também porque essa substituição requer um esforço de investimento que na actual conjuntura se me afigura difícil de realizar.
E, sabendo-se que o investimento é que vem aumentar o stock de capital de que o País dispõe para gerar o produto bruto, que o investimento, quando se não recorre a capitais externos, resulta da poupança nacional e que a poupança nacional é o somatório da poupança do Estado com a poupança privada, conclui-se que qualquer diminuição de aforro num destes dois sectores irá automaticamente reduzir a taxa de formação do capital.
Considerando-se que na actual conjuntura o Estado não se encontra em condições de formar poupanças canalizáveis para o nosso desenvolvimento económico - pois a integridade do solo pátrio a isso obriga -, conclui-se que a poupança que virá a permitir a formação do capital será sómente aforro privado. Se o Estado vier a comparticipar, como se propõe, no Plano de Investimentos, através do crédito interno, lógico é que irá desviar poupanças privadas para outros fins que alternativamente o Estado considera mais úteis - mas, em qualquer caso, irá reduzir o investimento privado. Se, ao invés, o Estado, a fim de obter os fundos necessários à sua participação no financiamento dó Plano, preferir o recurso ao agravamento da carga tributária, teremos, como consequência, um aumento de custos, que poderá gerar tensões inflacionistas, se a produtividade não compensar aquele aumento. Em conclusão, parece-nos que. pana mantermos o equilíbrio, o financiamento do Estado deverá ser realizado mediante o crédito externo.
É certo que este sistema também revela inconvenientes.
Mas na actual conjuntura e numa época em que os povos aspiram por uma rápida melhoria dos seus padrões de vida esses inconvenientes são mínimos em confronto com as vantagens que proporcionam. Essas vantagens, como se pode ler a p. 169 da «Introdução», dependem fundamentalmente de três factores:
a) Maior ou menor eficiência com que os recursos (incluindo os externos) se transformam em rendimento;
b) Propensão marginal à poupança e utilização da nova poupança no financiamento de investimentos;
c) Rapidez com que se realizam os ajustamentos estruturais internos com reflexo na composição das importações e das exportações.
Mas não é apenas no capítulo do financiamento por parte do Estiado que os capitais estrangeiros se tornam imprescindíveis na actual conjuntura e no presente estádio do desenvolvimento económico nacional. Como salientava a publicação da E. F. T. A. já referida, o capital estrangeiro tem um papel vital a desempenhar, não só como fonte de financiamento e como elemento introdutor de novas tecnologias, como também na criação de cadeias de distribuição externa dos produtos fabricados em Portugal. E é sobretudo a indústria que mais carece desse complexo de factores externos, visto que só esse sector poderá absorver os excedentes de mão-de-obra que desejam transferir-se para o estrangeiro - transferência que a longo prazo produzirá os mais maléficos efeitos na economia portuguesa e de que já começa, aliás, a ressentir-se.
Para estancarmos a «sangria humana», que é mais uma fonte de debilidade da nossa estrutura económica, convirá, numa óptica de desenvolvimento económico regionalmente equilibrado, localizar as futuras unidades industriais fora das zonas onde já existe uma grande concentração industrial. Nesse sentido será publicada a legislação que favoreça a descentralização da indústria, mediante incentivos à instalação de estabelecimentos fabris em novos pólos ou em zonas industriais a criar em regiões- onde se considere conveniente e viável a montagem das infra-estruturas necessárias à recepção das novas unidades industriais.
A este propósito é pertinente referir o plano de desenvolvimento da nossa vizinha Espanha para 1964-1967, que previu a criação de um número de pólos não superior a sete. Com esta restrição pretendeu-se congregar os esforços de desenvolvimento e de criação de infra-estruturas num número limitado de regiões que, não sendo actualmente caracterizadas por uma excessiva concentração industrial, revelassem potencialidades de um rápido crescimento.
Sobre este premente assunto do equilíbrio regional do nosso desenvolvimento já tive a oportunidade de me ocupar, na minha intervenção de 31 de Janeiro do ano passado, devendo reeditar aqui a estranheza que nessa ocasião manifestei acerca da morosidade com que esse momentoso problema tem, entro nós, sido encarado. Na verdade, a proposta de lei elaborada pelo Ministério da
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Economia sobre a criação de uma junta t de planeamento regional foi submetida à Câmara Corporativa em 22 de Fevereiro de 1961, tendo levado quase dois anos a ser apreciada. E, decorridos outros dois anos, é anunciado no Plano de Investimentos para 1964-1967 um diploma sobre o planeamento de acção económica regional I Haja a esperança de que o próximo Plano de Fomento encare devidamente o problema da repartição espacial do nosso esforço de desenvolvimento económico e social.
Ora, a maior fracção deste esforço terá de concentrar-se no sector industrial, porquanto este é que estará apto a absorver braços em condições que permitam ao País uma elevação do produto bruto real e um incremento do nível de vida da população.
A nossa política industrial é, portanto, em minha opinião - que creio não estar deformada pela minha actividade -, a mola real do nosso desenvolvimento económico. E, neste particular, a situação com que nos deparamos - que já foi objecto de diversas intervenções minhas nesta Assembleia - é sucintamente descrita no documento em apreciação, querendo destacar as características seguintes:
a) Existe um predomínio muito acentuado de unidades de pequena dimensão, laborando quase exclusivamente para o reduzido mercado interno e fora da concorrência externa, da qual, aliás, se encontram defendidas pela protecção pautai. Agrava esta situação estrutural, em muitos casos, a grande diversificação de gamas de fabrico, impedindo a produção em massa, para o que concorre o carácter muito individualista dos consumidores nacionais.
Sobre este assunto tenho insistido nesta Câmara na necessidade de se pôr em prática o estabelecido na Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, referente à reorganização industrial. A premência deste problema foi reconhecida no II Plano de Fomento, onde foram consignadas as quantias de 80 000 contos para os estudos e 2 milhões de contos para a execução dos esquemas de reorganização industrial. Entretanto, este Plano chegou ao seu termo e não há notícia de que alguma indústria tenha sido reorganizada, à parte a indústria de lacticínios da Madeira, e não obstante terem sido nomeadas, desde Agosto de 1947, 32 comissões reorganizadoras, conforme lista que peço a V. Ex.ª, Sr. Presidente, para anexar a esta intervenção.
Deverá caminhar-se decidida e firmemente no sentido da aplicação da Lei n.º 2005, ou, se se considerar que a mesma não se adapta à actual conjuntura, se introduzam as alterações convenientes para a prossecução daquele objectivo. E, se certos industriais não quiserem abdicar das suas actuais posições, quando é certo que as suas indústrias marcham inevitavelmente para a ruína, deve a reorganização ser efectuada coercivamente depois de devidamente estudada e ponderada. Assim se defenderá não só o interesse nacional, como também, o dos próprios industriais, que, muitas vezes, se agarram com um saudosismo irracional às suas instalações e aos seus métodos fabris ultrapassadíssimos e prejudiciais para eles, para os trabalhadores e para a economia nacional.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Neste mesmo sentido deverá ser revista a legislação sobre o condicionamento industrial, de molde a ser adaptada à reestruturação da economia nacional, tornando-se extensivo o condicionamento a todas as indústrias reorganizadas, a fim de lhe conferir um «proteccionismo interno de infância».
e) O abastecimento de matérias-primas é, em certos casos, um pouco oneroso. Apontam-se ainda em alguns sectores de produção custos relativamente mais elevados de energi-a e combustíveis.
Nesta ordem de ideias, a montagem de qualquer nova indústria de base ou ampliação de algumas já existentes deverá ser devidamente estudada e ponderada. Na verdade, o caso da Siderurgia Nacional é bem exemplificativo: mesmo ao abrigo da protecção pautai, foi necessário um agravamento de preços internos das matérias-primas siderúrgicas, o que colocou muitas indústrias nacionais fora da concorrência com artigos importados. E, não obstante esta protecção, a indústria siderúrgica portuguesa continua a não ser econòmicamente viável.
O Sr. Amaral Neto: - V. Ex.ª dá-me licença?
O Orador: - Faz favor.
O Sr. Amaral Neto: - Tenho ouvido citar as vantagens da instalação da siderurgia em Portugal e a algumas posso ser muito sensível, como as do auto-abastecimento do País em mercadoria essencial, pois pretenderei chamar ao benefício de análogas razões a produção agrícola.
Entre outras, porém, tenho visto referir também a possibilidade de favorecer o desenvolvimento das indústrias metalomecânicas pelo fornecimento de matérias-primas nacionais em condições mais vantajosas.
V. Ex.ª, que, como industrial do ramo, está certamente bem informado, pode esclarecer-me sobre este ponto: é de concluir da instalação da siderurgia em Portugal, como tem funcionado até aqui ou como se pode esperar que venha ainda a funcionar um efectivo benefício para a laboração da indústria consumidora dos seus produtos?
O Orador: - É absolutamente necessária em qualquer país a instalação de indústrias básicas para que elas não fiquem dependentes de mercados externos, como acontece em situações de crise ou de guerra. Mas é preciso verificarmos se isso se torna possível numa situação de continuidade, porque temos de pensar que uma guerra é um período transitório. O problema da instalação da siderurgia é muito delicado, mas, a meu ver, passou-se pela estruturação de uma unidade que tinha uma capacidade excessivamente reduzida, para a poder tornar rentável.
O Sr. Ulisses Cortês: - Peço desculpa a V. Ex.ª de intervir no diálogo, tanto mais que esta forma de intervenção me não é pessoalmente grata nem está nos meus métodos habituais. Mas a responsabilidade não me pertence; endosso-a, e julgo que com legitimidade, ao ilustre Deputado e meu prezado amigo Sr. Eng.º Amaral Neto.
A justificação do grande empreendimento de interesse nacional, que é a siderurgia, não assenta apenas na segurança do abastecimento em períodos de emergência. Essa é, sem dúvida, uma das razões, mas não é a única nem tão-pouco a mais importante. Os motivos essenciais da montagem dessa indústria no País são outros e de natureza mais complexa.
O País importava anualmente cerca de 300 000 t de ferro e aço, com tendência para subir, dado o progresso nacional e a nossa reduzida capitação de produtos siderúrgicos. O valor dessas importações tendia para o oneroso quantitativo de 2 milhões de contos, anualmente. E eu pergunto a V. Exa: em face da situação da ba-
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lança comercial e do seu elevado deficit, seria comportável para o País esta hemorragia de divisas?
Mas, ao decidir estabelecer a siderurgia, o Governo ponderou também a circunstância de existirem na metrópole e no ultramar quase todas as matérias-primas utilizáveis para o fabrico de ferro e aço e disponibilidades de energia, que seriam valores económicos improdutivos se não fossem destinados a essa aplicação.
E não será também de considerar o volume de emprego ocasionado pela instalação dessa actividade, a formação de quadros técnicos, a eclosão de outros fabricos subsidiários e a própria ascensão do País na hierarquia da industrialização?
Por mim afirmo que uma nação sem siderurgia não pode, economicamente, aspirar à dignidade de nação, sobretudo de nação progressiva.
Afirmou V. Ex.ª que a indústria siderúrgica não é rentável ou. por outras palavras, que os custos de produção não são competitivos e que esta indústria carece, assim, de ser protegida. É exacto.
Mas eu pergunto ainda: a protecção pautal existe apenas para esta indústria?
Se existe para outras - e existe -, como se justificaria que dela fosse isenta a metalurgia de ferro?
Pretende-se uma discriminação, precisamente contra uma actividade do mais elevado interesse colectivo, onde se investiram quantiosos capitais e cuja produção é preciosa para a economia nacional?
Mas é precisamente, segundo as regras económicas clássicas, nas indústrias nascentes que mais se justifica o amparo aduaneiro que as acompanhe e tutele até atingirem a maturidade.
O custo mais elevado é a doença infantil das actividades no período inicial da sua vida. De resto, o dimensionamento actual da siderurgia não corresponde ao esquema integral do empreendimento; é apenas uma fase da sua realização.
Mas eu insisto nas minhas perguntas: pode o País, sem risco para a sua independência económica, para o seu progresso e para a sua própria moeda, ser inteiramente tributário do estrangeiro num domínio essencial do seu abastecimento?
Pode ele delapidar as suas divisas em comprar produtos que pode fabricar, principalmente quando essas compras se situam na zona dos milhões de contos?
É a siderurgia a única indústria protegida em Portugal?
Agradecia muito a V. Ex.ª se tivesse a gentileza de responder a estas interrogações, de forma que a Câmara seja esclarecida, como é indispensável.
O Orador: - Tenho muito prazer em responder a V. Ex.ª sobre o meu ponto de vista, quanto ao problema da siderurgia, no que se refere à necessidade de abastecimento quando temos uma indústria-base. Há um ponto muitíssimo importante a considerar. Nós fizemos uma integração dentro da Associação Europeia do Comércio Livre e parece-me que dentro dessa convenção se vai fazer um desarmamento pautal até que se chegue ao momento em que desapareçam as incidências de direitos sobre os produtos importados. Dada a circunstância de estarmos na presença de duas economias separadas dentro da Europa - por um lado o Mercado Comum e por outro a Associação Europeia de Comércio Livre -, acontece que Portugal se vê forçado a fazer a aquisição de matérias-primas dentro do Mercado Comum, pagando as pautas normais e sofrendo por sua vez a concorrência dos produtos acabados da zona da E. F. T. A. libertos de direitos.
Assim, os custos não diminuem para a indústria nacional. Em contrapartida verificam-se vantagens para o exportador da zona da E. F. T. A. liberto dos encargos aduaneiros. E nesse sector está a indústria metalomecânica.
Posso citar uma empresa que estava a exportar conjuntos para o estrangeiro, mas, dada a elevação do preço do ferro que lhe era fornecido pela Siderurgia Nacional em relação aos mercados internacionais, por um lado, e o agravamento de custos motivados por ter de utilizar materiais com dimensões superiores às que seriam ideais, em consequência de a gama quanto a dimensões fornecida pela Siderurgia Nacional ser muito reduzida, ficou impossibilitada de fornecer os equipamentos completos, pois o comprador no país de origem incorporava no conjunto os acessórios que pelas circunstâncias acima apontadas deixavam de fazer parte do equipamento exportado.
O Sr. Ulisses Cortês: - V. Ex.ª conhece a dimensão da Siderurgia, a sua escala de fabrico e o nível de consumo nacional. V. Ex.ª sabe que a Siderurgia não cobre todas as necessidades nacionais, cobre apenas cerca de metade.
Ora, eu pergunto: está vedada a importação de matérias-primas do estrangeiro, a custo mais favorável?
Outra pergunta: V. Ex.ª sabe as condições em que está a trabalhar a indústria da trefilaria? Eu queria pedir a V. Ex.ª o favor de me responder se o preço da aquisição da matéria-prima para a trefilaria é mais baixo ou mais alto que os preços que se praticam na Europa. Eu poderia responder desde já afirmativamente.
O Orador: - A Siderurgia tem dois tipos de preços: a tabela geral e, para casos específicos, estabelece umas condições muito especiais, sejam os preços F. O. B. Anvers com 15 por cento de encargos. Mas V. Ex.ª sabe muito bem que não é só uma trefilaria que funciona no País no sector da indústria metalomecânica. Há muitas indústrias subsidiárias, mas que não atingem quantitativos que lhes permitam aquisições em quantidade, de forma a poderem beneficiar desses preços.
O Sr. Ulisses Cortês: - De acordo. Quis apenas significar que, para algumas indústrias, os preços dos laminados nacionais permitem uma laboração normal; para os outros há a possibilidade de importação. De resto, a divisão da Europa em dois blocos económicos é um facto lamentável, mas que é de esperar seja transitório. E no que respeita ao nosso país, há ainda a considerar que a desmobilização alfandegária se processará a ritmo lento, ao abrigo do estatuto especial criado em relação a nós. Acrescentarei que a Siderurgia nunca poderá satisfazer em gama de fabricos todas as necessidades nacionais. Nem isso é possível economicamente, nem seria aconselhável. Está, porém, salvaguardado o recurso à importação.
O Orador: - Diz V. Ex.ª, muito bem, que não é vedada a importação de produtos estrangeiros para compensar aquelas dimensões que a Siderurgia Nacional não fabrica. Isso é verdade, mas, como sabe, os direitos sobre o ferro eram à roda dos 9 centavos por quilograma e processam-se actualmente a 1 escudo. Portanto, o produto estrangeiro, que era importado com um direito estatístico, é hoje importado com uma incidência proteccionista. Mas isso encarece o produto.
O Sr. Ulisses Cortês: - Esse encarecimento é a consequência da protecção. Mas eu insisto nas minhas per-
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guntas: Não se verifica o mesmo facto noutras indústrias? Não é a siderurgia uma actividade vital para o País?
O Orador: - Eu só tenho uma resposta para isso. Talvez com a instalação de uma indústria siderúrgica em Portugal haja uma redução quanto ao escoamento de divisas para a obtenção da necessária matéria-prima. O que me preocupa é que as incidências de custo que, se vêm a verificar sobre os semiprodutos de ferro no nosso país ocasionem uma transposição do escoamento de divisas para as importações dos produtos anteriormente fabricados no País, pelas circunstâncias acima apontadas, o que irá desequilibrar a nossa balança de pagamentos e também prejudicar em grande parte a actividade da indústria nacional.
O Sr. Ulisses Cortês: - Já respondi a essa parte das considerações de V. Ex.ª
O Sr. Amaral Neto:- Pode V. Ex.ª, Sr. Deputado Alfredo de Brito, informar-me se a Siderurgia utiliza matérias-primas nacionais? É que eu vi mencionar, aliás com grande surpresa, que até as castinas seriam importadas.
O Orador: - Não posso responder a V. Ex.ª
O Sr. Ulisses Cortês: - Se V. Ex.ª me permite, e se não esgotou ainda o seu espírito de gentileza, talvez eu possa dar uma modesta contribuição em resposta à pergunta formulada pelo Sr. Eng.º Amaral Neto. Mais uma vez solicito desculpa da minha forçada impertinência, cuja responsabilidade, aliás, não me pertence, como tive já ensejo de acentuar. Mas vamos ao problema: a matéria-prima essencial da indústria siderúrgica é constituída pelos minérios de ferro. Ora, neste aspecto, são vastas e valiosas as reservas nacionais.
O Sr. Águedo de Oliveira: - Esse é o primeiro problema.
O Sr. Ulisses Cortês: - Tem inteira razão o Sr. Dr. Águedo de Oliveira, e nesse sentido vou fazer as minhas considerações.
Temos em primeiro lugar as hematites de Moncorvo, que, pelo seu volume, constituem autêntica riqueza nacional, não obstante o seu elevado teor de sílica. Dispomos ainda das cinzas de pirite - outra matéria-prima que podemos utilizar em abundantes proporções. Há também os minérios do Cercal, de Guadramil e da Orada. Citarei também as magnetites do Marão, se se articularem, como cumpre, num esquema coerente, as duas unidades siderúrgicas nacionais. Para além destes recursos, há ainda as amplas possibilidades de Angola, cujas reservas certas ultrapassam 100 milhões de toneladas e estão a alimentar a indústria alemã, podendo igualmente ser utilizadas pela indústria metropolitana. Nesse aspecto, pois, as possibilidades são praticamente ilimitadas.
Temos também energia nacional.
E não esqueçamos, neste aspecto, que a energia temporária, empregada sobretudo em Vila Cova, se não fosse utilizada na laboração siderúrgica, se perderia, em grande parte, na inutilidade do mar.
Há ainda ao nosso alcance outra matéria-prima nacional - as castinas, em que o País é excepcionalmente rico, embora se não tenham concluído ainda as prospecções sistemáticas. Para o fabrico de aço falta-nos apenas a hulha coquificável.
Foi um lamentável esquecimento de Deus ...
Aliás, a importação de hulha, se montarmos uma unidade de coquefacção, pode ser um valioso catalisador de outras actividades, sobretudo no campo das indústrias químicas e dos plásticos.
Volto a perguntar a V. Ex.ª: podiam todas estas riquezas - não aludi, aliás, aos carvões de Moçambique - ficar ociosas, inactivas, quando é possível e proveitoso transformá-las e valorizá-las?
Relativamente às matérias-primas concretamente utilizadas neste momento pela Siderurgia Nacional, direi apenas que, como estranho à empresa, não conheço os pormenores da sua laboração.
Seria, todavia, muito estranho - direi mesmo paradoxal - que ela recorresse a abastecimentos externos, tendo, como tem, superabundância de recursos nacionais.
Concluo: Afirmo a existência de matérias-primas nacionais para a produção siderúrgica. Exprimo a minha convicção de que elas estão a ser utilizadas. Mas nesta última parte formulo apenas um convencimento; não posso, por ausência de informações, afirmar qualquer certeza.
O Sr. Martins da Cruz: - Se bem entendi, o Sr. Deputado Ulisses Cortês restringe a sua afirmação às disponibilidades da matéria-prima e não à sua utilização efectiva.
O Sr. Ulisses Cortês: - Exactamente.
O Sr. Amaral Neto: - Nunca pus em dúvida a vantagem do princípio da instalação da indústria siderúrgica no nosso país.
O Sr. Ulisses Cortês: - Registo com aprazimento essa declaração.
O Orador: - No momento em que a siderurgia foi estabelecida em Portugal considerava-se necessário para uma unidade rentável o mínimo de 600 000 t de produção. O processamento actual aconselha o estabelecimento mínimo de unidades para uma produção de 800 000 t.
O Sr. Ulisses Cortês: - Não estou de acordo. Suponho que um volume de produção de 500 000 t é já suficiente. Esta opinião é confirmada pelo parecer de uma missão técnica americana de alta qualificação que visitou recentemente o nosso pais. A mesma posição é de outros siderurgistas, de reputação mundial, com quem tenho estado em contacto. Essa é a minha própria conclusão pessoal. Mas admitamos como certa a afirmação de V. Ex.ª
O volume de consumo, metropolitano e ultramarino, deve já andar à roda de meio milhão de toneladas. E a expansão de consumo deverá processar-se a ritmo célere. Não vem longe o dia em que as necessidades do País atinjam e ultrapassem o milhão de toneladas. Podemos, pois, começar a pensar em função deste número e a visionar a possibilidade de uma instalação siderúrgica desta dimensão. O que importa é caminhar para esse objectivo, por métodos de prudência e por fases sucessivas.
O Orador: - Deus o oiça. Mas tenho a impressão de que quando chegarmos a esse termo, se continuarem a processar-se os preços que se praticam actualmente no mercado português em relação ao ferro, muitas das indústrias metalomecânicas já há longo tempo terão desaparecido e outras terão grandes dificuldades de sobrevivência. Conhece
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V. Ex.ª o caso da siderurgia do Marão e a situação lamentável em que ela se encontra?
O Sr. Ulisses Cortês: - Conheço e posso prestar também algumas elucidações. A unidade de Vila Cova foi localizada junto de jazigos de minério importantes pela quantidade e qualidade. E um elemento valioso de desenvolvimento regional, numa área desprotegida e pobre. Ocupa muitas centenas de operários e contribui para a salutar diversificação da distribuição local de mão-de-obra. Utiliza técnica moderna e progressiva e a sua capacidade de produção é da ordem de 45 000 t. Sucede, porém, que o consumo interno absorve menos de metade da produção. Há, pois, excedentes, que necessitam de escoamento para os mercados externos. A unidade em questão tem, pois, uma utilidade no aspecto cambial: poupa divisas, no que respeita à produção para o mercado nacional; é fonte de réditos cambiais, no que se refere às exportações que faculta.
Sucedo, porém, que as cotações de gusa no mercado internacional são oscilantes e caprichosas, e actualmente encontram-se aviltadas. Qual a solução? Facilitar, por ajudas apropriadas, a exportação dos excedentes.
O País ganha e o Governo cumpre o seu dever - o seu dever imperativo - de acautelar o interesse do País e a sobrevivência de uma actividade a todos os títulos útil e meritória.
Estamos, uma vez mais, perante o problema da natural debilidade de uma indústria que ensaia os primeiros passos e não pode ser abandonada, inerme, às duras leis da concorrência.
Os estudos mostram, todavia, e eu julgo conhecê-los, que, superada a fase do arranque e mediante a especialização de fabricos, a unidade do Marão é viável e pode adquirir o equilíbrio da exploração.
O Sr. Presidente: - Quero avisar os Srs. Deputados de que o orador já atingiu o tempo regimental, embora me congratule com as interessantes intervenções que têm estado a ser produzidas.
Dou, por isso, mais um quarto de hora ao orador para acabar o seu discurso, conforme o Regimento permite.
O Orador: - Do mesmo modo, a instalação ou ampliação das indústrias de base deverá ser precedida de um rigoroso exame das condições económicas de funcionamento das similares estrangeiras (nos países mais evoluídos ou nos países com um nível de desenvolvimento aproximado do nosso), desistindo-se da sua instalação quando se verificar que estas atravessam uma crise económica duradoura, como, pôr exemplo, sucede com a indústria do aço em Espanha.
Deverá também proceder-se a um estudo minucioso quanto aos sectores da energia eléctrica, lançando-se assim as bases para o estabelecimento da política energética mais conveniente para a actual fase do nosso desenvolvimento, visto que as instalações de emergência só poderão agravar os custos dos produtos cuja transformação tem como elemento fundamental a energia eléctrica, com graves repercussões no desenvolvimento da indústria nacional.
g) A pulverização de empresas nos vários sectores conduz a uma concorrência desregrada na colocação dos produtos e a condições defeituosas de comercialização. Além disso, não existem normas de fabricação, nem padrões de qualidade para a maioria dos produtos fabricados. A falta de normalização e a impunidade com que muitos produtos de qualidade inferior imitam outros de boa qualidade, com o consequente aviltamento dos preços, geram a confusão e contribuem para o descrédito da indústria.
Quanto à melhoria da qualidade dos produtos de fabricação nacional, necessário se torna que a Administração procure obtê-la incentivando o estudo de normas, publicando-as e tornando-as em muitos casos obrigatórias, porquanto as existentes raramente são aplicadas, dado o seu carácter facultativo. E, nos casos em que seja conveniente a manutenção das normas facultativas, se procure pôr em uso a «marca em conformidade com as normas».
Trata-se, aliás, de assunto por mim minuciosamente tratado na intervenção que fiz nesta Assembleia em 17 de Abril de 1963, e que continua a ter a premência que lhe reconheci em 1952, quando publiquei um artigo na revista Indústria Portuguesa subordinado ao título «O valor da normalização como elemento da economia nacional».
O interesse da normalização não só no domínio do desenvolvimento económico dos povos, como também na cooperação económica internacional, foi recentemente posto em evidência num artigo publicado no Boletim da E. F. T. A. de 5 de Julho do corrente ano, no qual se refere a recomendação de um grupo de trabalho nomeado pelo Conselho da Associação Europeia de Comércio Livre para que as novas normas com caracter obrigatório ou as emendas às normas existentes dessem lugar a consultas prévias no seio da E. F. T. A. Por outro lado, se as novas normas se afastarem das normas internacionais existentes, o governo em causa deverá expor em que consistem as diferenças e quais os motivos que justificam essas diferenças. E, não havendo normas internacionais aplicáveis, o governo em questão deverá expor, os motivos que o levam a criar essas normas nacionais e indicar se deseja propor uma nova norma internacional ao organismo internacional competente.
Estas recomendações, em minha opinião, assumem uma importância excepcional, tendo em conta o facto de grande número de normas estrangeiras ou internacionais não poderem transpor-se para o caso português sem a necessária adaptação.
h) Convirá melhorar as condições de obtenção de crédito a médio e longo prazo.
Para este fim, deve ser revista a legislação bancária, a fim de que a banca privada possa estar apta a conceder empréstimos a médio e longo prazo, que são os únicos que podem dar viabilidade ao investimento industrial.
Na verdade, esta necessidade é tanto mais premente quanto é certo que a banca beneficia, desde a crise provocada pelos acontecimentos de Angola, de um afluxo considerável de poupanças, sob a forma de depósitos à ordem e a prazo, que não são convenientemente canalizados para os investimentos produtivos. Neste mesmo sentido, conviria com urgência tomar medidas para o revigoramento do nosso mercado de capitais a longo prazo, sobretudo na parte referente às obrigações, que deveriam constituir uma poderosa fonte de financiamento dos empreendimentos industriais de grande e média envergadura. Como consequência deste débil funcionamento do mercado de capitais e da inaptidão da banca para conceder o tipo de crédito que interessa ao desenvolvimento da nossa indústria, sucede que esta se apoia fundamentalmente em capitais próprios, com franco prejuízo paira a rentabilidade da exploração, e, por essa via, para u viabilidade dos empreendimentos
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industriais. A este respeito devo referir que a proporção do financiamento através do capital próprio nas grandes empresas alemãs em 1962 era apenas de cerca de 40 por cento, sendo de 48 por cento na Itália (1961), de 50 por cento na França (1961), de 60 por cento na Inglaterra (1962) e de 65 por cento nos Estados Unidos (1961). Ora, se quisermos realmente progredir depressa, teremos de fornecer meios financeiros às empresas» progressivas. Nesse particular, poderiam proporcionar excelentes frutos as sociedades de colocação de capitais, que o Código do Imposto de Capitais isentou deste imposto, na parte relativa aos) lucros atribuídos aos respectivos sócios e até ao montante dos juros e dividendos de títulos nacionais recebidos por essas sociedades. Parece que nem esta isenção nem a dedução, para efeitos do cálculo da matéria tributável em contribuição industrial, consignada na alínea b) do artigo 42.º do respectivo código, foram suficientes parai que, até à data, se tivesse constituído alguma destas sociedades de investimento ou financiamento, pelo que urge, com a comparticipação do Estado, se criem algumas dessas sociedades, que tão bons frutos têm produzido lá fora no capítulo do apoio financeiro a longo prazo às actividades industriais.
Nestas minhas considerações talvez me tenha ultrapassado, aconselhando um relativo intervencionismo do Estado, por exemplo, no que respeita à reorganização coerciva e à fiscalização da qualidade dos produtos. Sou, por princípio, respeitador da liberdade dos direitos do homem, da empresa privada e da livre iniciativa. Nunca poderia aceitar uma planificação do tipo soviético. Mas, tal como um pai tem direito de interditar judicialmente qualquer dos seus filhos quando os mesmos cometam actos de prodigalidade, também o Estado deverá intervir quando verificar que uma inconsciente gestão, num dado sector industrial, possa vir a prejudicar a economia nacional, principalmente na presente conjuntura.
E, se consideramos a indústria a mola real do nosso desenvolvimento económico, temos de fornecer-lhe, além de capitais, a indispensável mão-de-obra, com um grau de qualificação profissional conveniente - e sendo de notar que todo e qualquer plano de fomento não pode deixar de ter como finalidade a valorização do trabalhador e a elevação do seu padrão de vida, a qual só é possível mediante o aumento da produtividade do trabalho.
Ora, precisamente quanto a este ponto, desejo manifestar a minha satisfação, que deve ser a de todos os portugueses, pelo facto de o programa de investimentos para o triénio de 1965-1967 incluir pela primeira vez na história dos nossos planos de fomento as rubricas «Formação profissional», «Ensino e investigação», «Habitação» e «Saúde». Trata-se, na verdade, de sectores prioritários, a fim de que possamos alinhar pelas nações mais evoluídas da Europa e para que possamos orgulhar-nos de dignos representantes da civilização ocidental.
Mas, a par do esforço para tornar mais produtivo o trabalho nacional e para que o trabalhador possa participar de uma maneira progressiva no consumo dos produtos fabricados pela indústria nacional, é indispensável que se trace uma política de salários que, entre nós, é algo que só tem surgido fragmentàriamente e à medida que se vai tornando imperiosa a revisão deste ou daquele contrato colectivo de trabalho.
Um plano de fomento, para ser credor desse nome, não pode ser um mero plano de conjuntura; terá de ser o pilar em que assentará a estrutura económica do futuro. Um plano que atenda apenas à situação conjuntural pode prejudicar, e até mesmo comprometer, a economia futura. O investimento deve, portanto, ser programado visionando a situação futura da economia nacional, e não ser considerado como um dispêndio de capitais sem qualquer ligação com os futuros planos de fomento.
Nesta ordem de ideias, as comissões relatoras nomeadas, pela primeira vez, para elaborarem relatórios sectoriais para o Plano de investimentos deverão funcionar permanentemente, a fim de se carrearem desde já os materiais para a edificação dos futuros planos. Na verdade, os organismos oficiais e corporativos, as associações económicas e as empresas não se encontravam, quando da elaboração do plano em análise, em condições de formularem previsões em termos quantitativos, donde resulta uma programação imperfeita e incompleta. Isto é, torna-se necessário, «institucionalizar» a elaboração do plano de fomento, em vez de o «improvisar».
Mas um programa de desenvolvimento, para ser elaborado nesta base, carece de uma prévia determinação da política económica e, em particular, da política industrial, para que os industriais portugueses (e mesmo os eventuais investigadores estrangeiros) saibam para onde se dirigir.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Presidente: - Convoco as Comissões de Finanças e de Economia para estudo da proposta de lei de receitas e despesas para 1965. Ainda não podem, como é natural, utilizar o parecer da Câmara Corporativa, mas têm elementos, de que o Sr. Ministro das Finanças fez acompanhar essa proposta de lei, suficientes, creio eu, para iniciar esse estudo. Tem o relatório, notável como todos os que nós estamos habituados a receber do Sr. Ministro dias Finanças; item a Conta Geral do Estado referente a 1963 e a conta provisória relativa a 1964. Têm, portanto, digo eu, elementos suficientes para poderem trabalhar.
Ficam, pois, convocadas as Comissões de Finanças e de Economia. Os Srs. Presidentes das referidas Comissões regularão os trabalhos das mesmas.
Convoco também a Comissão Eventual para o próximo sábado, dia 28, para continuar com o estudo da proposta de lei de execução do Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.
Vou encerrar a sessão.
Amanhã haverá sessão à hora regimental, com a mesma ordem do dia.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 35 minutos.
Srs. Deputados que entraram durante a sessão:
Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.
Antão Santos da Cunha.
António Calheiros Lopes.
António Manuel Gonçalves Bapazote.
António Martins da Cruz.
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Armando José Perdigão.
Artur Proença Duarte.
Augusto Duarte Henriques Simões.
Carlos Coelho.
Domingos Rosado Vitória Pires.
Francisco Lopes Vasques.
Henrique dos Santos Tenreiro.
João Nuno Pimenta Serras e Silva Pereira.
Joaquim de Sousa Birne.
Jorge Augusto Correia.
Jorge Manuel Vítor Moita.
José Dias de Araújo Correia.
José Luís Vaz Nunes.
José Manuel da Costa.
José dos Santos Bessa.
Júlio Alberto da Costa Evangelista.
Manuel Herculano Chorão de Carvalho.
Manuel Homem Albuquerque Ferreira.
D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Beis.
Rogério Vargas Moniz.
Ulisses Cruz de Aguiar Cortês.
Srs. Deputados que faltaram à sessão:
Agnelo Ornelas do Rego.
Alberto Henriques de Araújo.
Alberto Pacheco Jorge.
Alberto da Rocha Cardoso de Matos.
Alexandre Marques Lobato.
António Burity da Silva.
António Gonçalves de Faria.
António Moreira Longo.
António da Purificação Vasconcelos Baptista Felgueiras.
António Tomás Prisónio Furtado.
Carlos Emílio Tenreiro Teles Grilo.
D. Custódia Lopes.
Jacinto da Silva Medina.
João Mendes da Costa Amaral.
Joaquim de Jesus Santos.
Jorge de Melo Gamboa de Vasconcelos.
José Guilherme de Melo e Castro.
José Pinheiro da Silva.
José Pinto Carneiro.
Júlio Dias das Neves.
Manuel João Correia.
Purxotoma Ramanata Quenin.
Urgel Abílio Horta.
Vítor Manuel Dias Barros.
Voicunta Srinivassa Sinai Dempó.
O REDACTOR - António Manuel Pereira.
Mapas utilizados pelo Sr. Deputado Alfredo Brito no seu discurso:
Cotejo do rendimento, importação e produção de energia «per capita» entre os países da E. F. T. A.
[Ver Tabela na Imagem]
Orientação das importações e exportações dos países da E. F. T. A.
[Ver Tabela na Imagem]
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Comissões reorganizadoras nomeadas desde 1947
[Ver Tabela na Imagem]
IMPRENSA NACIONAL DE LISBOA