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REPÚBLICA PORTUGUESA

SECRETARIA-GERAL DA ASSEMBLEIA NACIONAL

DIÁRIO DAS SESSÕES

SUPLEMENTO AO N.º 88

ANO DE 1967 7 DE NOVEMBRO

ASSEMBLEIA NACIONAL

IX LEGISLATURA

(SESSÃO EXTRAORDINÁRIA)

Projecto de proposta de lei n.º 4/IX

III Plano de Fomento para 1968-1973

Em 31 de Dezembro do ano corrente termina o período de execução do Plano Intercalar de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964.
Na sequência do processo de planeamento económico-social, em que se inserem, com âmbitos sucessivamente mais latos, o I e II Planos de Fomento e o Plano Intercalar, elaborou o Governo o projecto do III Plano, com vista a assegurar, sem solução de continuidade, nem quebra de ritmo, o progressivo desenvolvimento económico-social da Nação.
Prevê-se que o III Plano abranja de novo um período hexenal, mas a dificuldade de nas condições actuais, poder programar-se com segurança para os próximos seis anos aconselha se proceda à revisão do Plano no termo do seu primeiro triénio, sem prejuízo das adaptações a efectuar nos programas anuais, de harmonia com a evolução da economia nacional.
A presente proposta de lei destina-se, pois, a definir as bases em que o Governo deverá organizar e promover a execução do III Plano de Fomento, para o período de 1968-1973.
Nestes termos, formula-se a seguinte

Proposta de lei

BASE I

O Governo, ouvida a Câmara Corporativa, organizará o III Plano de Fomento, para o período compreendido entre 1 de Janeiro de 1968 e 31 de Dezembro de 1973, e promoverá a sua execução, de harmonia com o disposto na presente lei.

Base II

1. O III Plano será concebido como instrumento de programação global do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tendo em vista a formação de uma economia nacional no espaço português e a realização dos fins superiores da comunidade.
2. O carácter global atribuído ao Plano entende-se no quadro dos princípios legais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social.

BASE III

Dentro da concepção referida na base II, o Plano visará os seguintes grandes objectivos:

a) Aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
b) Repartição mais equilibrada do rendimento;
c) Correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.

BASE IV

Para a realização dos objectivos do Plano, o Governo deverá assegurar:

a) A coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) A manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;

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c) O equilíbrio do mercado do emprego;
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

BASE V

1. Do texto do Plano devem constar: a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar para a sua execução e os investimentos previstos, especificando, quanto a estes últimos, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.

2. Serão considerados os seguintes aspectos de natureza global:
Financiamento;
Comércio externo;
Emprego e política, social;
Produtividade;
Sector público e reforma administrativa.

3. Os programas sectoriais abrangerão os capítulos seguintes :

I - Agricultura, silvicultura e pecuária;
II - Pesca;
III - Indústrias extractivas e transformadoras;
IV - Indústrias de construção e obras públicas;
V - Melhoramentos rurais;
VI - Energia;
VII - Circuitos de distribuição;
VIII - Transportes, comunicações e meteorologia;
IX - Turismo;
X - Educação e investigação;
XI - Habitação e urbanização;
XII - Saúde.

4. O Plano incluirá as orientações gerais em que deverá assentar o planeamento regional.
5. Os esquemas referidos nesta base serão observados, com as necessárias adaptações, na parte do Plano respeitante às províncias ultramarinas.

BASE VI

1. No exercício da competência definida nos §-§ 1.º e 2.º do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, cabe em especial ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos:
a) Concretizar, tendo em conta o interesse para o desenvolvimento do País e a sua viabilidade técnico-económica, os empreendimentos incluídos no Plano que devam ser integralmente realizados ou iniciados durante a sua vigência;
b) Aprovar os programas anuais de execução do Plano até 15 de Novembro do ano imediatamente anterior;
c) Aprovar, ouvida a Câmara Corporativa, os planos de desenvolvimento regional;
d) Fixar, sob proposta do Ministro das Corporações e Previdência Social, a parte das reservas das instituições de previdência social obrigatória a colocar em títulos do Estado e na subscrição directa de acções e obrigações de empresas, cujos investimentos se enquadrem nos objectivos do Plano;
e) Proceder, até final de 1970, à revisão do Plano para o seu 2.º triénio.

2. Nos programas anuais de execução do Plano serão discriminados, além dos elementos referidos na base V e respeitantes a cada ano, os empreendimentos a realizar, nesse ano, os recursos financeiros que hão-de custeá-los e as fontes onde serão obtidos, bem como as correspondentes providências legais e administrativas.
3. E aplicável às províncias ultramarinas o disposto nas alíneas a), b) e c) do n.º 1 desta base.

BASE VII

1. Os recursos para o financiamento do Plano serão mobilizados por intermédio das seguintes fontes e instituições:

a) Orçamento Geral do Estado;
b) Fundos e serviços autónomos;
c) Autarquias locais;
d) Instituições de previdência;
e) Organismos corporativos;
f) Empresas seguradoras;
g) Instituições de crédito;
h) Autofinanciamento das empresas;
i) Outros recursos internos de carácter privado;
j) Fontes externas.

2. Relativamente às províncias ultramarinas, serão também considerados como fontes de financiamento os respectivos orçamentos, podendo ainda ser prestadas pelo Ministério das Finanças garantias a financiamentos externos outorgados a empresas privadas.

BASE VIII

Compete- ao Governo, com vista a garantir o financiamento do Plano, promover a mobilização dos recursos financeiros da Nação e, nomeadamente:
1.º Aplicar os saldos das contas de anos económicos findos e, anualmente, os excessos das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza que considerar disponíveis;
2.º Assegurar a orientação preferencial, para os objectivos e empreendimentos referidos no Plano, das disponibilidades dos fundos e serviços autónomos, sem prejuízo das suas finalidades específicas e das aplicações consignadas na lei;
3.º Realizar as operações de crédito que forem indispensáveis;
4.º Coordenar as emissões de títulos e as operações de crédito, exigidas pelo desenvolvimento das actividades não incluídas expressamente no Plano, com as necessidades de capitais requeridas pela sua execução;
5.º Estimular a formação da poupança privada e favorecer a sua mobilização para o financiamento do desenvolvimento económico e, em especial, de empreendimentos considerados no Plano.

BASE IX

1. A fim de assegurar a execução do Plano, compete ainda ao Governo:

a) Promover a gradual execução da reforma administrativa, designadamente no que se refere à formação e aperfeiçoamento profissional dos

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funcionários, à modernização de estruturas e métodos do trabalho dos serviços públicos e a outras acções adequadas;
b) Aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos;
c) Promover, sempre que se reconheça necessário, a criação de órgãos técnicos nos Ministérios e Secretarias de Estado, por forma a completar e coordenar as estruturas necessárias ao acompanhamento da execução do Plano e à elaboração dos programas e relatórios anuais;
d) Prosseguir no aperfeiçoamento da cobertura estatística do espaço português;
e) Estimular e apoiar os esforços de modernização e aumento de produtividade das empresas, mediante prestação de assistência técnica, incentivos fiscais, facilidades de crédito e outras providências;
f) Participar no capital de empresas necessárias ao início ou desenvolvimento de actividades e empreendimentos com interesse para a realização dos objectivos do Plano.

2. O disposto nesta base será executado, no que for da sua competência, pelos órgãos das províncias ultramarinas.

BASE X

1. Cabe ao Governo, quanto às províncias ultramarinas, além da competência prevista nos n.ºs 4.º e 5.º da base viu, providenciar sobre a obtenção de recursos a elas estranhos ou procedentes do estrangeiro.
2. Compete aos órgãos próprios de cada província ultramarina a mobilização dos recursos locais para financiamento do Plano.
3. Os empréstimos serão colocados nas províncias, tornados directamente por empresas cujas actividades aí se desenvolvam, contraídos no continente e ilhas adjacentes, ou concedidos pelo Tesouro àquelas províncias, nos termos do artigo 172.º da Constituição.
4. A assistência financeira do Governo às províncias ultramarinas assumirá a forma de empréstimos, de subsídios reembolsáveis ou de prestação de garantias a financiamentos externos concedidos a empresas privadas, nos termos do n.º 2 da base VII.
5. A assistência do Tesouro à província de Cabo Verde não vencerá juro enquanto se mantiver a actual situação financeira da província.
6. As dotações destinadas ao fomento da província de Timor serão concedidas a título de subsídio, gratuito, reembolsável na medida das possibilidades orçamentais da província.

BASE XI

1. O Governo publicará um relatório anual sobre a execução do Plano, nos dez meses seguintes ao termo de cada ano, e um relatório geral, até ao fim do ano de 1974.
2. O Governo providenciará para que a Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica apresente ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, no decurso de cada ano, informações periódicas sobre a execução do Plano.

Presidência do Conselho, 29 de Junho de 1967. - O Presidente do Conselho. António de Oliveira Salazar.

Projecto do III Plano de Fomento para 1968-1973

SUMÁRIO

Introdução geral

§ 1.º Antecedentes do III Plano de Fomento. Linha geral de evolução do planeamento português.
§ 2.º Trabalhos preparatórios do III Plano. Orgânica e métodos de planeamento.
§ 3.º Características gerais e objectivos do III Plano.
§ 4.º Problemas de execução do III Plano.

Continente e ilhas

I

Programação global

CAPITULO I - Projecções do desenvolvimento económico e social para 1908-1973. CAPITULO II - Financiamento.
CAPITULO III -Comércio externo.
CAPITULO IV -Emprego e política social.

INTRODUÇÃO

SECÇÃO I - Emprego e problemas do trabalho.
SECÇÃO II - Repartição dos rendimentos.
SECÇÃO III - Remuneração do trabalho.
SECÇÃO IV - Previdência social.

CAPITULO V - Produtividade.
CAPITULO VI - Sector público e reforma administrativa.

II

Programas sectoriais

CAPITULO I - Agricultura, silvicultura e pecuária.
CAPITULO II -Pesca.
CAPITULO III - Indústrias extractivas e transformadoras.

SECÇÃO I - Programação geral.
SECÇÃO II - Programação dos principais subsectores.

CAPITULO IV - Indústrias de construção e obras públicas.
CAPITULO V - Melhoramentos rurais.
CAPITULO VI - Energia.
CAPITULO VII - Circuitos de distribuição.
CAPITULO VIII- Transportes, comunicações e meteorologia.

SECÇÃO I - Transportes.
SECÇÃO II - Comunicações.
SECÇÃO III - Meteorologia.

CAPITULO IX - Turismo.
CAPITULO X - Educação e investigação.

INTRODUÇÃO

SECÇÃO I - Educação e investigação ligada ao ensino.

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SECÇÃO II - Investigação não ligada ao ensino.
SECÇÃO III - Formação profissional extra-escolar.

CAPITULO XI - Habitação e urbanização.
CAPITULO XII - Saúde.

III

Planeamento regional

INTRODUÇÃO
CAPITULO I - Evolução recente e situação actual dos desequilíbrios regionais na metrópole.

SECÇÃO I - Continente.
SECÇÃO II - Açores e Madeira.

CAPITULO II - Objectivos e orientações fundamentais.
CAPITULO III - Delimitação das regiões de planeamento.
CAPITULO IV - Caracterização das regiões e linhas gerais de planeamento.

SECÇÃO I - Continente.
SECÇÃO II - Açores e Madeira.

CAPITULO V - Orgânica de planeamento.
CAPITULO VI - Medidas de política regional.

Províncias ultramarinas

I

Cabo Verde

APITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.

X) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

II Guiné

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos.
V) Energia.
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

III

S. Tomé e Príncipe

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

IV

Angola

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

V

Moçambique

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

VI

Estado da Índia

VII Macau

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Indústrias extractivas e transformadoras.

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IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos, de distribuição.
VII) Transportes e comunicações.
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

VIII

Timor

CAPITULO I - Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas.
CAPITULO II - Objectivos.
CAPITULO III - Financiamento do programa provincial de investimentos.
CAPITULO IV - Descrição dos programas de investimentos.

I) Agricultura, silvicultura e pecuária.
II) Pesca.
III) Industrias extractivas e transformadoras.
IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais.
V) Energia.
VI) Circuitos- de distribuição.
VIII) Transportes e comunicações
VIII) Turismo.
IX) Educação e investigação.
X) Habitação.
XI) Saúde.

INTRODUÇÃO GERAL

§ 1.º Antecedentes do III Plano de Fomento. Linha geral de evolução do planeamento português

1. No prosseguimento de uma política iniciada, pode dizer-se, há mais de 30 anos - com a Lei de Reconstituição Económica de 1935 - e continuada, após a segunda guerra mundial, pelo I Plano de Fomento (1953-1958), a que se seguiu o II Plano (1959-1964) e o Plano Intercalar para o triénio que este ano se completa, o Governo apresenta ao País o III Plano de desenvolvimento económico e social, que há-de vigorar nos próximos seis anos, isto é, de 1 de Janeiro de 1968 a 31 de Dezembro de 1973.
Um pensamento constante tem dominado toda esta política do planeamento português - o de orientar os recursos da Nação no sentido do seu melhor aproveitamento, em ordem a aumentar progressivamente a riqueza comum e, com ela,- o nível de vida de todos os portugueses.
Assim, na longa trajectória já percorrida, a cada nova jornada tem correspondido o propósito de procurar atingir metas de progresso económico e social sucessivamente mais vastas e ambiciosas, sem embargo de à sua definição terem presidido sempre critérios de prudência, a fim de os objectivos em vista poderem efectivamente ser alcançados e, se possível, excedidos.
2. A primeira tentativa de programação foi representada, como se disse, pela Lei de Reconstituição Económica (Lei n.º 1914 de 24 de Maio de 1935), muito antes de os países do Ocidente europeu terem iniciado as suas experiências de planeamento.
Tratava-se de programa a executar no período de quinze anos, embora limitado a certo número de investimentos públicos considerados de importância básica e sem a preocupação de enquadrar num conjunto sistemático os empreendimentos e objectivos propostos.
Ao abrigo desse plano, foi lançada e executada, entre 1935 e 1950, uma extensa série de planos administrativos parciais: remodelação dos correios, telégrafos e telefones, fomento hidroagrícola, povoamento florestal, fomento mineiro, abastecimento de água das sedes dos concelhos, apetrechamento portuário, construção de estradas, renovação da marinha mercante.
Previsto inicialmente o investimento de 6 500 000 contos (Lei n.º 1914, base i), os dispêndios globais efectuados ao abrigo da Lei de 1935 atingiram cerca de 14 milhões de contos, e deles advieram os mais relevantes benefícios para o País, no domínio de infra-estruturas fundamentais 1.

3. Com o I Plano de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2058, de 29 de Dezembro de 1952, «pela primeira vez se tenta uma sistematização de recursos metropolitanos e ultramarinos e se faz um estudo conjunto e coordenado das aplicações mais urgentes»2.
O Plano teve o prazo de seis anos e foi definido como «um plano parcial, restrito aos grandes investimentos a efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e nos meios de transporte e aos investimentos a fazer pelos particulares com o auxílio directo ou indirecto do Estado, não só na agricultura e nos meios de transporte, como na instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes»3.
Já então, como hoje, se acentuava o caracter misto do Plano: «plano imperativo no tocante aos investimentos exclusivamente públicos; simples plano programático no que respeita aos investimentos de iniciativa privada.»3.
O I Plano abrangia expressamente seis capítulos: agricultura, energia, indústrias-base, transportes e comunicações, escolas técnicas e empreendimentos da mesma natureza no ultramar.
A execução do Plano ultrapassou largamente as previsões. Na metrópole, os investimentos realizados - 10 347 000 contos - corresponderam a 134,3 por cento das estimativas iniciais; no ultramar, os dispêndios - 4 562 000 contos - excederam em 562 000 contos aquelas estimativas.

4. O II Plano de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2094, de 25! de Novembro de 1958, cobriu o hexénio de 1959-1964. Com este novo Plano alargou-se o âmbito sectorial da programação e aperfeiçoaram-se os métodos de planeamento.
Embora continuasse a ser, como o anterior, predominantemente um plano de investimentos públicos ë de alguns grandes projectos do sector privado, a sua concepção foi já a de um verdadeiro programa de política económica, ao qual se assinalaram certos objectivos fundamentais: aceleração do ritmo de incremento do produto

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1 Cf. Presidência do Conselho, Relatório Final da Execução do I Plano de Fomento, Lisboa, 1959, pp. 12-13.
2 Conferência do Presidente do Conselho no Palácio Foz, em 28 de Maio de 1953.
3 Proposta de lei relativa ao I Plano de Fomento, Diário das Sessões n.º 168, de 21 de Novembro de 1952, p. 1053.

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nacional, melhoria do nível de vida, ajuda à resolução dos problemas de emprego, melhoria da balança de pagamentos.
O II Plano abrangeu, na metrópole, os seguintes capítulos: agricultura, pesca, indústrias extractivas e transformadoras, electricidade, transportes, comunicações, investigação e ensino técnico. No ultramar, as rubricas versadas incluíram o conhecimento científico do território, a agricultura, silvicultura e pecuária, a electricidade e indústrias, o povoamento, as comunicações e transportes, a instrução e saúde, os melhoramentos locais e o equipamento dos serviços públicos.
Os investimentos globais previstos, na metrópole e no ultramar, elevaram-se a 31 274 400 contos. Mas os empreendimentos efectuados atingiram o total de 36 176 185 contos, ou seja 115,6 por cento das estimativas iniciais. A taxa anual de acréscimo do produto nacional, durante o período do Plano, fixada em 4,2 por cento, elevou-se a 6,2 por cento.
Estes resultados traduziram, uma vez mais, a capacidade realizadora da Nação e o realismo das bases em que assentaram as previsões, não obstante o esforço exigido ao País, a partir de 1961, com a defesa da sua integridade territorial.

5. O Plano Intercalar de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, embora continuando fiel ao pensamento inspirador da política iniciada em 1935, marca a abertura de nova fase no processo de planeamento nacional, em execução de princípios definidos a tal respeito no Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962.
Pela primeira vez, o Plano é concebido como instrumento de programação global do desenvolvimento económico-social de todo o espaço português (decreto-lei citado, artigo 4.º, § 1.º), isto é, como grande quadro orientador da evolução da economia e da vida social do País, tanto no que respeita ao sector público como no tocante às actividades privadas, embora, quanto a estas, se mantivesse a natureza essencialmente indicativa do Plano, de harmonia com a tradição anterior e os imperativos constitucionais.
O carácter global atribuído ao Plano significava que, para além da definição coerente e sistemática de objectivos, investimentos e projectos, públicos e privados, aquele documento previa todo um conjunto de medidas de política económica, financeira e social, umas já incluídas no seu texto, outras a inserir nos programas anuais de execução, em ordem a assegurar o cumprimento das metas programadas.
O condicionalismo em que decorreu a preparação deste Plano - designadamente quanto à impossibilidade de prever com segurança, para novo período de seis anos. a evolução da economia portuguesa, quer no respeitante ao esforço financeiro requerido pelas necessidades da defesa, quer no relativo à marcha do processo de unificação dos mercados nacionais e dos movimentos de integração europeia - conduziu o Governo a limitar a três anos o prazo de vigência do Plano, de modo a poder programar-se em definitivo apenas para- esse prazo.
Desde logo, no entanto, se acentuou que o próprio carácter de transição ou «intercalar» atribuído a esse documento aconselhava a aproveitar o triénio da sua aplicação para aperfeiçoar a orgânica e os métodos de planeamento, em ordem a lançarem-se as bases institucionais que permitissem «a elaboração e execução, a partir de 1968, de um novo plano de fomento hexenal, de mais largos horizontes e ambições» 1.
Os grandes objectivos assinalados ao Plano Intercalar foram a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e a repartição mais equilibrada do rendimento (Lei n.º 2123, base II, n.º 1). E a lei acrescentava que, «na organização e execução do Plano, deverá também atender-se, na medida do possível, às exigências de correcção dos desequilíbrios de desenvolvimento regional, em particular no continente e ilhas adjacentes» (base cit., n.º 2).
A realização daqueles objectivos fundamentais ficava, no entanto, sujeita a determinadas condições: coordenação com o esforço de defesa; manutenção da estabilidade financeira e monetária, interna e externa; equilíbrio do mercado de trabalho (lei cit., base III, n.º 1).
O Plano Intercalar abrangeu, no continente e ilhas, os seguintes sectores: agricultura, silvicultura e pecuária, pesca, indústria, energia, transportes e comunicações, turismo, ensino e investigação, habitação e saúde.
Em relação às províncias ultramarinas, o Plano previu fossem tratados todos ou alguns dos seguintes domínios: conhecimento científico do território e das populações; agricultura, silvicultura e pecuária; pesca, indústria, energia, transportes e comunicações, turismo, ensino, habitação de melhoramentos locais, saúde, promoção social. Nesta parte, o Plano reflectiu, na medida do possível, a sua concepção global, imprimindo unidade de estrutura aos programas provinciais, dentro dos grandes objectivos comuns, mas respeitando as particularidades específicas de cada território e o seu grau de desenvolvimento.
Os investimentos prioritários incluídos expressamente no Plano para realização durante o seu triénio somaram, no continente e ilhas, 34 789 000 contos, e, nas províncias ultramarinas, 14 400 000 contos.
A taxa anual de acréscimo do produto nacional, durante o Plano, foi estimada em 6,1 por cento - sensivelmente mais elevada do que a do II Plano - ca percentagem média de incremento da formação de capital fixo, no mesmo período, computou-se em 8,1 por cento. A expansão do consumo privado - índice por excelência de melhoria do nível de vida - deveria processar-se ao ritmo de 5,2 por cento em cada ano do triénio.
Embora o Plano Intercalar não tenha ainda atingido o seu termo e apenas se disponha de elementos definitivos quanto ao primeiro ano da sua execução, há fundados motivos para esperar que os objectivos programados serão praticamente atingidos.
No que se refere ao ano de 1965, o relatório de execução já publicado mostra que, na metrópole, a taxa de crescimento do produto nacional foi de 7 por cento, excedendo assim sensivelmente a fixada no Plano.
Os dispêndios realizados com os investimentos expressamente inscritos .atingiram 85,1 por cento, o que pode considerar-se satisfatório, visto tratar-se do ano de arranque do Plano. A formação bruta de capital fixo apurada para esse ano sómente se afastou em menos 0,1 por cento das estimativas. O consumo privado acusou, no mesmo ano, o incremento de 7,8 por cento, ou seja mais 2,6 do que o previsto.
No que se refere a 1966, os elementos disponíveis respeitam apenas aos investimentos públicos financiados pelo Orçamento Geral do Estado, cujo total ascendeu a

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1 Presidência do Conselho, Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, Lisboa, Imprensa Nacional, 1964, vol. I, p. 11.
2 Presidência do Conselho, Relatório da Execução do Plano Intercalar de Fomento, Metrópole, 1965, Lisboa, 1967.

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2 489 000 contos 1, isto é, mais 331 528 contos do que o inscrito no programa de execução para aquele ano.
Segundo estimativas provisórias, o crescimento do produto nacional, em termos reais, ter-se-ia processado, em 1966, a taxa inferior a 4 por cento, em virtude, principalmente, da contracção do produto agrícola, embora aquela taxa deva tomar-se com as necessárias reservas, dadas as limitações resultantes dos elementos utilizados 2. Todavia, no decurso do biénio 1965-1966 a taxa média do incremento do produto ter-se-ia situado em cerca de 5,õ por cento, por virtude da alta percentagem registada no primeiro daqueles anos, o que excede a progressão verificada no conjunto dos países da Europa ocidental e se aproxima da prevista no Plano.
Espera-se que a execução do Plano no último ano da sua vigência decorra em condições mais propícias e se confirmem, assim, as expectativas de realização satisfatória dos objectivos nele consignados.

6. O III Plano de Fomento irá, de novo, cobrir um período hexenal, inserindo-se, assim, na linha de continuidade da programação a mais largo prazo, que o I e II Planos haviam adoptado.
Para tanto contribuiu, de forma relevante, a experiência de execução do Plano Intercalar, pela aplicação, que proporcionou, de novas técnicas e métodos de planeamento, pelas melhorias entretanto conseguidas nos apuramentos estatísticos de certos dados económicos fundamentais, pelos aperfeiçoamentos introduzidos nos serviços centrais (e em alguns serviços departamentais) de planeamento, e, acima de tudo, pela própria evolução favorável da conjuntura financeira, que permitiu dissipar as incertezas iniciais acerca da compatibilização entre as exigências do esforço de defesa e as necessidades do desenvolvimento económico.
Como se acentuou no relatório da Conta Geral do Estado relativa à gerência de 1966, «o excedente das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza alcançou o alto valor de 5356,5 milhares de contos, que permitiu custear inteiramente - e ultrapassar em vasta medida - os encargos de defesa da integridade nacional»3.
Deve, no entanto, salientar-se que, mesmo no caso de não terem sido, como foram, tão favoráveis os resultados da actividade financeira, nem por isso seria menos imperiosa a. elaboração e execução de um novo plano de fomento, sendo certo que da expansão acelerada do crescimento económico depende essencialmente a sustentação do próprio esforço de defesa.
A orgânica e os métodos de trabalho adoptados na elaboração do novo Plano, as suas características e objectivos gerais serão descritos nos parágrafos seguintes desta introdução. Desde já, no entanto, se acentua que, mais uma vez, houve a preocupação de estruturar um plano que, sendo ambicioso nas metas de progresso económico e social a procurar atingir, não deixasse de ser, como os seus antecessores, realista e prudente na avaliação dos recursos humanos e materiais a utilizar, a fim de que, uma vez mais também, os objectivos propostos viessem a ser plenamente alcançados.

§ 2.º Trabalhos preparatórios do III Plano. Orgânica e métodos de planeamento

7. Por despacho de 23 de Julho de 1965, o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos definiu as linhas gerais a seguir nos trabalhos preparatórios do III Plano, tendo em conta a experiência de elaboração do Plano Intercalar e os princípios estabelecidos, em matéria de planeamento, nos citados Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, e Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964.
De acordo com as directrizes ali traçadas, uma das primeiras tarefas foi a da reorganização dos serviços centrais de planeamento, a fim de poderem corresponder às missões cada, vez mais complexas que lhes eram solicitada?
Por efeito dessa remodelação ampliou-se a orgânica da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica e dos respectivos grupos de trabalho e aperfeiçoaram-se as estruturas e os meios de acção do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, então transformado em verdadeiro serviço nacional, com jurisdição sobre todo o espaço português.
Procedeu-se depois à constituição dos grupos de trabalho da aludida Comissão Interministerial incumbidos de efectuar a análise dos diversos sectores de actividade e estudar os problemas de planeamento e integração económica do respectivo âmbito.
De harmonia com a concepção global, que - como se referiu - já inspirara a feitura do Plano Intercalar e agora se pretendia consolidar e desenvolver, procurou-se que os grupos de trabalho acolhessem, no seu seio, todos os grandes sectores da actividade económica e social e que nessa participação ficasse assegurada a mais larga representação dos interesses em jogo, quer do sector público, por intermédio dos departamentos e organismos directa ou indirectamente ligados às diversas actividades, quer do sector privado, e, quanto a este, sempre que possível, mediante a presença de representantes dos empresários e trabalhadores, a par da dos utilizadores dos bens e serviços produzidos 2.
A fim de promover o mais amplo tratamento dos problemas em causa, a maior parte dos grupos de trabalho desdobrou-se por subgrupos e comissões do estudo, aos quais foi confiada a análise de determinados subsectores ou domínios especializados 3.
No que respeita às províncias ultramarinas, os trabalhos preparatórios do Plano foram cometidos, nos termos dá lei, às respectivas comissões provinciais de planeamento e integração económica, procurando-se igualmente alargar o seu campo de acção e incluir os mesmos sectores e domínios de estudo considerados no plano da metrópole, com a correspondente participação das actividades privadas.
Simultaneamente, foram encarados os problemas relativos ao aperfeiçoamento e modernização da cobertura estatística do espaço português, atendendo, além do mais, à sua primacial relevância para as tarefas do planeamento.

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1 Conta Geral do Estado, Imprensa Nacional, 1967. p. 83.
2 Conta Geral do Estado, cit., p. 8.
3 Conta Geral do Estado, cit, p. 66.

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1 Decreto-Lei n.º 46 909 e Decreto n.º 46 910, ambos de 19 de Março de 1966
2 Foram constituídos, para a metrópole, os seguintes dezanove Grupos de Trabalho permanentes: n.º 1 (Agricultura, silvicultura e pecuária),n.º 2 (Pesca), n.º 3 (Indústrias extractivas e transformadoras), n.º 4 (Indústrias de construção e obras públicas), n.º 5 (Energia), n.º 6 (Comércio), n.º 7 (Transportes e comunicações), n.º 8 (Habitação e urbanização), n.º 9 (Turismo), n.º 10 (Ensino e investigação), n.º 11 (Saúde), n.º 12 (Financiamento e equilíbrio monetário), n.º 13 (Mão-de-obra e problemas sociais), n.º 14 (Reforma administrativa), n.º 15 (Coordenação com o esforço de defesa), n.º 16 (Ordenamento agrícola e condicionamento industrial), n.º 17 (Comércio inter-regional), n.º 18 (Regimes fiscais), n.º 19 (Pagamentos interterritoriais). Além disso, foi criado um grupo de trabalho ad hoc para os estudos de planeamento regional.
3 O número total de participantes nos diversos grupos de trabalho, subgrupos e comissões de estudo andou ao redor de 2000.

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Nesse sentido, o Instituto Nacional de Estatística foi transformado num serviço nacional comum a todo o território metropolitano e ultramarino e os seus meios de trabalho, humanos e materiais, foram convenientemente melhorados 1.

8. Concluída esta primeira fase, a que pode chamar-se de montagem de infra-estruturas do Plano, deu-se início propriamente aos trabalhos de planeamento, mediante a comunicação aos grupos de trabalho de questionários destinados à recolha de informações de base e de apreciações críticas sobre as nossas realidades económico-sociais. Procurou-se deste modo obter os elementos necessários ao diagnóstico preliminar dos principais problemas dos diversos sectores de actividade, que servissem para o Secretariado Técnico preparar um primeiro relatório de programação global, com vista à formulação das grandes linhas orientadoras do desenvolvimento da economia portuguesa no período do novo Plano.
A fase seguinte - necessariamente a mais longa - foi preenchida pelas múltiplas reuniões dos grupos, subgrupos e comissões de estudo, e pela elaboração dos competentes relatórios. Nessas reuniões, bem como na redacção, destes trabalhos, os grupos, subgrupos e comissões dispuseram da mais ampla iniciativa e liberdade de apreciação, a fim de que os vários pontos de vista e correntes de opinião dos representantes dos sectores públicos e particulares pudessem ser largamente debatidos e os relatórios fossem o reflexo fiel desses trabalhos. Procurou-se assim que tais discussões e relatos constituíssem vasta fonte de informação e esclarecimento para o Governo e pudessem habilitar este a tomar as opções mais convenientes na preparação do projecto do Plano.
A fim de acompanhar de perto o andamento do trabalho dos grupos, esclarecer certos aspectos de natureza metodológica e imprimir a desejável unidade de orientação às tarefas em curso, efectuaram-se, ao longo desta fase, sucessivas reuniões dos membros do Governo directamente interessados nos vários sectores e domínios de estudo com os presidentes e relatores dos grupos e subgrupos de trabalho, sob a presidência do Ministro responsável pela coordenação dos trabalhos de planeamento.
Concluídos os relatórios dos grupos e examinados pela Comissão Interministerial, abriu-se a terceira fase, durante a qual, em estreita colaboração com os respectivos presidentes e relatores, preparou o Secretariado Técnico, em primeira versão, os diversos anteprojectos de capítulos do Plano, que constituíram essencialmente trabalhos de síntese e de harmonização entre os vários sectores.
A apreciação desses anteprojectos foi igualmente efectuada em reuniões de estudo, com análoga representação do Governo, dos grupos de trabalho e dos serviços de planeamento. Resultou daí a redacção de novas versões, que, por seu turno, vieram a ser, uma vez mais, examinadas, em outra série de reuniões, pelos mesmos participantes.
Quarta e última fase foi dedicada aos aspectos de natureza global e, designadamente, à compatibilização entre os investimentos previstos pelos diversos sectores e os recursos globais de financiamento. Os ajustamentos requeridos efectuaram-se em nova sequência de reuniões, agora com a representação do Ministério das Finanças.
Com base nesta última revisão, foram reelaborados os projectos dos diversos capítulos do Plano, para apreciação pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.

9. Além dos progressos que foi possível realizar na orgânica e nos métodos de preparação deste III Plano e se deixaram resumidos, houve ainda oportunidade de melhorar as próprias técnicas de planeamento.
Salientam-se, antes do mais, os avanços conseguidos na programação por sectores, não apenas por virtude de análises mais aprofundadas pelos grupos de trabalho, mas em resultado da colaboração prestada por gabinetes técnicos de estudo e planeamento existentes em alguns departamentos públicos.
Pela primeira vez se tornou viável orientar as diversas tarefas especializadas a partir de questionários elaborados pelos serviços centrais de planeamento e indicar normas para apresentação de projectos de investimento.
Em particular, devem referir-se os aperfeiçoamentos introduzidos na análise e planeamento dos mecanismos financeiros e do emprego e política social, donde resultou a possibilidade de dispor de projecções autónomas para a poupança privada, bem como de progredir no conhecimento dos mecanismos e estruturas da formação e redistribuição de rendimentos.
Mencionam-se também as melhorias alcançadas na progressiva revisão das estimativas da contabilidade nacional, designadamente na reavaliação dos quadros do produto interno bruto, a que o Instituto Nacional de Estatística e o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho procederam durante o ano de 1966, em estreita cooperação com diversas entidades privadas.
O melhor conhecimento global da estrutura e evolução das actividades produtivas permitiu dar tradução satisfatória aos avanços metodológicos conseguidos nas técnicas de projecção macroeconómica.
Outro aspecto em que o III Plano completa e desenvolve orientações anteriormente apenas afloradas é o que diz respeito ao estudo das características e tendências de evolução das diversas regiões do continente e ilhas, e a enunciação das orientações necessárias à definição de uma política de fomento regional, no que se refere, nomeadamente, à delimitação e caracterização das regiões de planeamento e às linhas gerais em que aquela política deverá enquadrar-se.
Cumpre aludir, por último, aos progressos obtidos nos métodos respeitantes à compatibilização final das diversas partes do Plano. Tornou-se, com efeito, possível atribuir maior ponderação a critérios técnicos de avaliação e de síntese, assegurando-se a utilização de um esquema orientador de projecções macroeconómicas, designadamente no que respeita aos problemas de financiamento.

10. Quanto à metodologia adoptada na parte do Plano relativa às províncias ultramarinas, a reflexão sobre as características próprias das suas economias e o condicionalismo externo em que se inserem conduziu a orientar os trabalhos de forma diversa, conforme se tratava de províncias de governo simples ou de províncias de governo-geral.
Quanto às primeiras, a dimensão das suas economias, o grau de concentração da respectiva gama produtiva, a acentuada dependência externa e a menor importância relativa da capacidade interna de aforro levaram a considerar preferível, em lugar de tentar definir esquemas globais de base pouco segura, procurar estabelecer um balanço equilibrado das necessidades, dos recursos disponíveis e da capacidade de realização de programas sectoriais de desenvolvimento, convenientemente coordenados e harmonizados entre si, de modo a assegurar que a sua efectivação conduzisse aos objectivos gerais propostos.

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1 Decreto-Lei n.º 46 925 e Decreto n.º 46 926, ambos de 29 de Março de 1966.

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Para as províncias de governo-geral, as características estruturais e dinâmicas das suas economias permitiram ir mais além. Foi possível, a partir dá análise das tendências dos factores e variáveis mais relevantes do desenvolvimento económico dessas províncias, definir modelos quantificados de crescimento, susceptíveis de estabelecer as projecções para o período de 1968-1973 e as linhas mestras de política- económica com vista a atingir as finalidades superiores do Plano.
Realizaram-se assim, no aspecto metodológico, alguns avanços relativamente aos planos anteriores, embora continue a mostrar-se indispensável prosseguir nos esforços de estudo e documentação necessários ao emprego de técnicas de planeamento cada vez mais adequadas às características das nossas províncias de além-mar.
Em especial, cumpre verificar não ter sido ainda viável obter o grau óptimo de coordenação dos planos provinciais entre si, que se pretendia. No entanto, a atribuição ao Secretariado Técnico de funções de serviço nacional permitiu realizar progressos apreciáveis nesse sentido, que se espera poder levar por diante no decurso da execução do Plano.

§ 3.º Características gerais e objectivos do III Plano

11.0 projecto de proposta de lei sobre a organização e execução do III Plano de Fomento, que, conjuntamente com o projecto do mesmo Plano, o Governo submete à apreciação da Câmara Corporativa, condensa nas suas bases as características gerais e os grandes objectivos daquele documento.
A primeira característica diz respeito à concepção global atribuída ao Plano, no prosseguimento e consolidação da experiência do Plano Intercalar e de harmonia com os preceitos legais já referidos.
Significa tal concepção, como também se acentuou, dever o Plano representar verdadeiro quadro orientador do desenvolvimento e progresso do País, aplicável a todo o espaço português e à generalidade dos sectores de actividade económica e social, com base num esquema coerente de projecções macroeconómicas.
O carácter global atribuído ao Plano está directamente relacionado com um objectivo de ordem superior - a progressiva formação de uma economia nacional no espaço português - de acordo com os imperativos constitucionais e os princípios definidos em vários diplomas, designadamente no Decreto-Lei n.º 44 016, de 8 de Novembro de 1961.
O Plano assume., deste modo, a natureza de instrumento por excelência de realização da política de unidade económica nacional em que o País está empenhado.
Mas, acima desta finalidade, o processo de desenvolvimento económico e social planeado, e a própria integração económica nacional, não constituem, em si mesmos, objectivos últimos do planeamento, mas simples meios para a consecução de fins mais altos - de ordem espiritual -, que podem consubstanciar-se na progressiva elevação e dignificação da pessoa humana, dentro da comunidade portuguesa.
E esta concepção que pode ver-se expressa no n.º 1 da base II do mencionado projecto de proposta de lei.

12. Como sé referiu a propósito do Plano Intercalar, o carácter global do Plano de forma alguma pode interpretar-se como um programa imperativo que, durante o período da sua vigência, regulamente toda a actividade económica. A tal se oporiam os princípios informadores da nossa ordem constitucional, que reconhecem na iniciativa privada e na sua liberdade o principal motor do processo de desenvolvimento e reservam para o Estado o papel de orientar superiormente e de completar ou suprir essa iniciativa.
Por isso se declara no aludido projecto de proposta de lei que «o carácter global atribuído ao Plano entende-se no quadro dos princípios gerais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social» (base II, n.º 2).
Mas o que fica exposto também não quer dizer que o Plano revista natureza puramente indicativa ou programática no tocante aos objectivos e empreendimentos directa ou indirectamente dependentes do Estado, ou de entidades controladas) pela Administração. Nessa parte, não pode deixar de entender-se que semelhantes objectivos e projectos, bem como os respectivos investimentos, assumem carácter imperativo, e que o sector público toma, em princípio, o compromisso de assegurar a sua execução durante o período do Plano. O mesmo pode dizer-se relativamente às- providências de política económica, financeira e social que o Governo encara como necessárias à efectivação dos objectivos propostos.
Quanto aos investimentos puramente privados, cujos projectos constam expressamente do Plano, a sua inserção não implica, pois, de harmonia com os princípios enunciados, que as empresas responsáveis pela execução desses projectos fiquem definitivamente vinculadas ao seu cumprimento, mas apenas o alto interesse atribuído pelo Governo à efectiva realização de tais empreendimentos, dada a sua relevância para as finalidades do Plano.

13. Ainda no que se refere aos investimentos e projectos explicitamente discriminados no Plano, tanto públicos como privados, cumpre distinguir, de harmonia com a orientação já perfilhada nos planos anteriores, os que devem considerar-se prioritários, relativamente aos quais se especificam, desde já, os seus custos e as respectivas fontes de financiamento, e os não prioritários, cuja concretização fica condicionada à conclusão dos competentes projectos técnicos e económicos, à definição dos respectivos regimes jurídicos e à obtenção dos recursos financeiros adequados, a determinar nos programas anuais de execução do Plano 1.
Deve ainda sublinhar-se que o carácter prioritário atribuído assim a certo número de projectos e programas de investimento apenas se reporta à sua execução no tempo e não significa que a esses projectos deva atribuir-se maior importância para o progresso económico e social do País do que em relação aos não prioritários, pois «o que fundamentalmente interessa é que os níveis globais de investimento projectados possam ser atingidos mediante a execução dos projectos destacados e de outros que, no decurso do período de vigência do Plano, a iniciativa pública e privada lhes possa vir a juntar, no cumprimento do esquema de desenvolvimento definido no Plano» 1.

14. Os objectivos fundamentais assinalados ao III Plano, tal como sucedeu nos planos precedentes, continuam a corresponder aos nossos mais salientes problemas de natureza económica e social e a ir ao encontro de aspirações já conscientes da comunidade nacional.

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1 Cf. Plano Intercalar de Fomento, cit., vol. I, pp. 15-16.

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Assim, inscrevem-se como grandes objectivos ou finalidades do Plano:

1.º A aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
2.º A repartição mais equitativa dos rendimentos;
3.º A correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.

Semelhantes 1 objectivos conferem ao Plano, nesta parte, carácter normativo, e a ordem por que ficam enunciados não é arbitrária: traduz determinada hierarquia, que, nas circunstâncias presentes, entende dever atribuir-se aqueles objectivos, considerados como meios de realização de finalidades mais altas.
Nessa ordem hierárquica, considera-se que o primeiro objectivo -a aceleração do ritmo de incremento do produto nacional- deve primar sobre os restantes, na medida em que decisivamente os condiciona. Na verdade, como é evidente, não será possível obter mais ampla e equitativa distribuição dos rendimentos, nem promover o desenvolvimento de regiões desfavorecidas, se as fontes de produção não permitirem dispor de bens acrescidos para uma melhor repartição, pessoal e regional, da riqueza criada.
Por isso se colocou em primeira linha, como alvo fundamental do planeamento, a intensificação, em toda a medida do possível, do creescimento do produto nacional Satisfeito este primacial objectivo, a segunda meta apontada -mais equitativa repartição dos resultados da produção- reflecte as finalidades eminentemente humanas e sociais do Plano.
Com efeito, não corresponderia a directrizes basilares da nossa ordem jurídica, nem a imperativos intensamente sentidos da consciência nacional, uma política de desenvolvimento que não se traduzisse na participação, cada vez mais ampla e mais justa, de todos os portugueses nos frutos do progresso. Só deste modo se daria exacto cumprimento ao preceito constitucional que estabelece dever a organização económica da Nação «realizar o máximo de produção e riqueza socialmente útil» (Constituição Política, artigo 39.º).
O terceiro grande objectivo do Plano diz respeito à correcção das disparidades regionais de desenvolvimento.
Semelhante finalidade insere-se na política de crescimento harmónico da sociedade portuguesa, que representa pressuposto essencial do próprio planeamento.
Mas, pelas razões já apontadas, também a promoção regional deve subordinar-se ao primeiro objectivo do Plano - a aceleração do ritmo de acréscimo do produto -, pois este constitui o alicerce fundamental para a elevação progressiva das condições económicas e sociais das zonas de menor grau de desenvolvimento.
A inclusão da política de fomento regional entre as finalidades centrais do Plano representa a evolução lógica do problema, tal como resulta de diversos textos legais e ficou previsto no Plano Intercalar. Com efeito, aí se exprimiu o propósito de que «a consideração sistematizada e decidida do equilíbrio regional» deveria ser encarada no III Plano de Fomento 1.
Assim, o presente Plano inclui no seu texto, como já se aludiu, um título especialmente dedicado aos problemas do planeamento regional.

15. Com vista ao exacto cumprimento dos objectivos consignados no Plano, a proposta de lei sobre a sua organização prevê (base IV) que o Governo deva assegurar:

a) A coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) A manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
c) O equilíbrio do mercado de emprego;
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

Não parecem necessárias largas considerações para justificar a indispensabilidade de articular a realização do Plano com a observância destas coordenadas essenciais.
O esforço de defesa do território pátrio, de que depende a própria sobrevivência nacional, tem de ser íntima e constantemente coordenado com a execução do Plano, pois, se é verdade dever aquela missão primar sobre tudo o mais, também é irrecusável que o desenvolvimento económico constitui o alicerce por excelência da sustentação do mesmo esforço de defesa.
A manutenção da estabilidade financeira e monetária, interna e externa, representa, por seu turno, base im prescindível para a expansão equilibrada da economia e da vida social, pois na sua essência traduz a harmonia entre a totalidade dos recursos produzidos no País e as suas aplicações em consumos e investimentos, assim como entro a oferta e a procura de bens e serviços, sem a qual se geram pressões inflacionistas, com o seu cortejo de perturbações e desperdícios de riqueza.
O equilíbrio do mercado de emprego constitui igualmente requisito da maior importância para conseguir o equilíbrio económico geral e evitar tensões sociais.
A satisfação regular das necessidades de mão-de-obra é, para as diversas actividades, indispensável ao seu desenvolvimento harmónico, sendo certo que as pressões sobre os salários, provenientes de desajustamentos entre oferta e procura de colocações, têm reflexos directos no preço dos bens e serviços e, por intermédio destes, na própria estabilidade monetária e financeira.
Por último, a adaptação gradual, mas em cadência cada vez mais rápida, da economia portuguesa aos movimentos de integração que actualmente se processam, designadamente na Europa, representa, outrossim, necessidade imperiosa dos nossos dias.
A integração em espaços económicos mais vastos, além de exigir transformações de alcance e profundidade de que ainda mal nos apercebemos, abrange simultaneamente o mercado dos factores produtivos, isto é, do trabalho, da técnica e do capital.
A modernização das estruturas produtivas da nossa economia impõe-se, deste modo, não apenas por motivo da pretendida aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, mas também pela urgência de assegurar a essas estruturas condições de competição nos mercados internacionais e, em particular, nos mercados europeus.

16. Os investimentos expressamente previstos no Plano atingem ò montante total de 167 530 000 contos, números redondos, correspondendo 123 050 000 contos à parte do Plano respeitante ao continente e ilhas adjacentes º. 44 480 000 contos às províncias ultramarinas.

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1 Plano Intercalar de Fomento, vol. cit., p. 19; cf. também o citado Decreto-Lei n.º 44 652, artigos 4.º, § 1.º, e 34.º, n.ºs 2 e 3, e o Decreto-Lei n.º 46909, cit., artigos 1.º, 9.º, 28.º e 29.º

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Relativamente ao continente e ilhas adjacentes, aqueles investimentos distribuem-se pelos seguintes sectores:

[Ver tabela de imagem]

Com excepção dos investimentos respeitantes às indústrias extractivas e transformadoras, que resultam essencialmente de estimativas e projectos apresentados pelos industriais, em todos os restantes sectores os quantitativos indicados dizem respeito a empreendimentos e projectos considerados prioritários no sentido que acima &e atribuiu a esta expressão.
O montante total de 123 milhões de contos é cerca de 80 por cento superior ao programado no Plano Intercalar (multiplicando este por 2 para efeitos de comparação) e representa perto de 62 por cento do investimento bruto global, que se prevê venha a realizar-se na metrópole durante o hexénio do Plano.
O sector público (Orçamento Geral do Estado, fundos e serviços autónomos, autarquias locais e previdência social) assume o financiamento de aproximadamente 30 por cento do quantitativo respeitante aos investimentos prioritários, tal como sucedeu no Plano Intercalar.
A distribuição daquela percentagem varia acentuadamente de capítulo para capítulo, conforme a maior ou menor dependência destes em relação ao. financiamento público.
Assim, por exemplo, ao passo que na agricultura é de 48,8 por cento, subindo para 82,2 por cento nos melhoramentos rurais e para 79,8 por cento na educação e investigação e 99,1 por cento na saúde, a participação do sector público baixa para 0,5 por cento nas indústrias, 1,85 por cento na energia e 9,9 por cento no turismo.
Deve, além disso, observar-se, quanto ao Orçamento do Estado, que o esforço financeiro consignado no Plano é apenas o inscrito na despesa extraordinária, e não abrange todo aquele que, em vários capítulos do mesmo Plano, é efectuado por intermédio das dotações ordinárias, como sucede, por exemplo, na agricultura, na habitação e urbanização, na educação e investigação e na saúde.

17. Relativamente à parte metropolitana do Plano, cumpre ainda pôr em relevo outro traço saliente da política de desenvolvimento nele expressa.
É o que diz respeito ao tratamento preferencial atribuído a três sectores agricultura, educação e investigação e saúde.
Quanto ao primeiro, reconheceu-se ser indispensável que o Plano reflectisse o decidido esforço a empreender, mediante estreita colaboração entre o Governo e a lavoura, no sentido de vencer a estagnação do sector nos últimos anos e caminhar resolutamente para uma intensificação do ritmo de crescimento, com base em investimentos substancialmente acrescidos em infra-estruturas e serviços de apoio, completados por uma série de providências de política agrária destinadas a criar as condições necessárias à realização daqueles objectivos fundamentais.
Nesse sentido, os investimentos prioritários programados para o sector atingem 14 600 000 contos, ou seja cerca de quatro vezes os inscritos no Plano Intercalar.
A melhoria das dotações nos capítulos da educação e investigação e da saúde não carece sequer de justificação. Trata-se de dois sectores de relevância essencial e que, pode dizer-se, são o alicerce por excelência do próprio processo de desenvolvimento económico, pois o homem está no princípio e no fim de todo este processo.
O confronto entre o presente Plano e o Intercalar, quanto aos investimentos prioritários naqueles dois capítulos, é o seguinte:

[Ver tabela de imagem]

Os acréscimos são, pois, de 172 por cento na educação e investigação e de 208 por cento na saúde.

18. Dando continuidade a outro aspecto da estratégia de desenvolvimento, já referido no Plano Intercalar e confirmado durante a sua execução, consideram-se como principais núcleos motores da aceleração do. crescimento do produto nacional as indústrias transformadoras e da construção e o turismo, pelas suas elevadas taxas de crescimento e pela influência determinante nas transformações estruturais da nossa economia.
Trata-se de sectores em que predomina largamente a acção da iniciativa privada, sob a orientação e o estímulo do Estado.
Do dinamismo e da colaboração activa dos empresários, bem como da sua consciente adesão aos objectivos do Plano, dependerá, pois, de forma decisiva, a realização desses objectivos e, em grande medida, o futuro da economia portuguesa.

19. Os investimentos programados para as províncias ultramarinas, cujo total já se apontou, apresentam a seguinte distribuição:

[Ver tabela de imagem]

Deste total, que representa acréscimo de 54- por cento relativamente ao Plano Intercalar, prevê-se que perto de 36 por cento sejam financiados pelo sector público, 30 por cento por institutos de crédito, empresas e particulares,

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e o restante por fontes externas. O contributo da Administração Central neste esquema de financiamento é de cerca de 15 por cento, cifrando-se em 6 717 000 contos.

20. De harmonia com a evolução global da economia metropolitana programada para o período do Plano, o produto interno bruto deverá crescer ao ritmo médio anual de 7 por cento, em lugar dos 6,1 por cento do Plano Intercalar, e alcançará em 1973 cerca de 155 milhões de contos.
A capitação do produto situar-se-á, naquele ano, no valor de 17,2 contos, a preços constantes, em confronto com os 11 contos de 1965.
O crescimento estimado para o produto exigirá, de 1968 a 1973, um esforço de investimento global da ordem dos 183,6 milhões de contos, devendo expandir-se, durante aquele período, à taxa média anual de 8,2 por cento, sensivelmente análoga à prevista no Plano Intercalar.
Por virtude daquele esforço de formação de capital fixo, o respectivo valor em 1973 calcula-se em 37 milhões de contos, ao passo que em 1965 não deve ter ultrapassado 17,2 milhões.
De acordo com as mesmas projecções, o consumo privado deverá acusar o incremento médio de 5,9 por cento ao ano, o que traduz melhoria apreciável em relação às previsões do Plano para 1965-1967, atingindo em 1973 o nível dos 111 milhões de contos, contra 74,6 milhões estimados para 1965.

21. Como já se referiu, não se considerou, por ora, viável estabelecer esquemas globais quantificados de crescimento para as províncias ultramarinas de governo simples, dadas as suas características estruturais.
Em relação às províncias de governo-geral, foi já possível estabelecer modelos quantificados de expansão, que permitissem enquadrar harmònicamente os desenvolvimentos sectoriais previstos.
Assim, o programa de Angola assenta na hipótese de crescimento do produto interno à taxa média anual de 7 por cento, idêntica à da metrópole, o que representa significativa aceleração da tendência verificada nos últimos anos, que não tem excedido 5 por cento. O acréscimo da capitação do produto estima-se em 4,8 por cento. Para esse efeito, considera-se necessário acentuar, sobretudo, o esforço de investimento nas actividades motoras da economia angolana - agricultura, pesca, indústrias extractivas e transformadoras -, conferindo primeira prioridade às aplicações que contribuam directamente para a melhoria da balança de pagamentos.
Quanto a Moçambique, o programa assenta na hipótese de incremento do produto interno à taxa média de 7,1 por cento, o que representa ligeira aceleração do ritmo apurado no período de 1953-1962, que foi de 6,5 por cento. Os investimentos necessários para a realização deste esquema são estimados em 15 600 000 contos, não incluindo o aproveitamento integral do Zambeze, empreendimento da maior relevância para a economia da província, mas ainda na fase de estudos finais e negociações.

§ 4.º Problemas de execução do III Plano

22. Segundo as directrizes que ficam expostas, o Plano deverá constituir verdadeira carta orientadora da vida económica e social do País, a ter constantemente presente nas intervenções do sector público e nas decisões dos agonies económicos privados.
Por isso, revestindo embora natureza indicativa a maior parte das actuações previstas, afigura-se indispensável garantir ao novo Plano meios de efectiva execução, sendo certo que um plano de fomento vale sobretudo na medida em que forem realizadas as suas previsões. A execução do III Plano há-de, assim, identificar-se com o próprio funcionamento do sistema económico e medir-se pelos mesmos indicadores que se usam para caracterizar a evolução desse sistema, exigindo do Governo e dos órgãos de planeamento atenção permanente, de diagnóstico e crítica, no acompanhamento conjuntural dos diversos sectores de actividade e da evolução dos equilibrios macroeconómicos fundamentais.
Para tanto, conservar-se-ão em funcionamento os grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica durante o período do Plano. A estes órgãos caberá acompanhar de perto, em colaboração com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, a forma como irão tomando corpo as projecções adoptadas e será dada execução à política definida. Competir-lhes-á, ainda, informar sobre a permanência dos objectivos e esquemas de actuação fixados no início do Plano, com vista a eventuais correcções e ajustamentos que, anualmente, haverá oportunidade de fazer.
Mantendo-se a larga representatividade dos interesses em causa que foi proporcionada a cada grupo, o Governo disporá de meios de consulta especialmente aptos a pronunciarem-se sobre os problemas da execução do Plano, assegurando-se, além disso, a possibilidade de o sector privado continuar a participar activamente, como é indispensável, no esforço de atingir as metas propostas.
Pretende-se, pois, transpor a barreira que separa a preparação mais ou menos elaborada de planos globais de desenvolvimento da vivência efectiva de uma política económica e social orientada segundo os esquemas neles fixados e votada ao cumprimento dos seus objectivos, o que equivale a reconhecer que os esforços futuros hão-de concentrar-se, não já, fundamentalmente, na criação de capacidade técnica de planear, mas antes no fortalecimento da ideia do Plano como obra comum e contínua do Governo e dos agentes económicos.
As actuais condições da orgânica e funcionamento das entidades públicas e privadas com responsabilidades de execução ou orientação em matéria económica e social carecem de diversos aperfeiçoamentos para assegurar ao Plano condições satisfatórias de execução. Torna-se, para tanto, conveniente prever um conjunto de providências, que podem agrupar-se em duas rubricas:

Providências atinentes à progressiva modernização do sector privado;
Providências respeitantes à actualização da estrutura e dos meios de acção da administração pública, em geral, e dos organismos de planeamento, em particular.

23. As empresas privadas representam a base do nosso sistema económico, dentro do quadro de economia de mercado em que se desenrola a estrutura produtiva do País e de harmonia com o princípio constitucional que reconhece na iniciativa particular o mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação.
No contexto do processo geral de desenvolvimento, as empresas defrontam hoje múltiplas dificuldades, até porque sobre elas recai o essencial dos reflexos da concorrência externa. Os nossos empresários confrontam-se com a urgência de conseguir um conjunto de transformações simultâneas: inserir os seus produtos em mercados de âmbito potencialmente europeu, em condições competitivas de preço, qualidade e comercialização; adaptar as técnicas produtivas, que exigem não só equipamentos reno-

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vados, mas também novos métodos de organização, novas qualificações profissionais e, por vezes, ampliação ou concentração das próprias estruturas empresariais.

Aos empresários cumpre atingir níveis de produtividade e capacidade de inovação e progresso equiparáveis aos que são correntes nos países mais avançados. Qualquer tolerância aparentemente limitada poderá ter efeitos muito pesados. Parece não haver outra alternativa senão abandonar a posição tradicional, que consistia em preservar estruturas e métodos antiquados, e prosseguir no caminho de intensificar os esforços requeridos pela sua modernização.
A contrapartida das exigências postas às empresas pelo processo de desenvolvimento encontra-se na eficácia do enquadramento geral que deverá ser-lhes proporcionado. Os nossos empresários têm, por certo, o direito de esperar condições de funcionamento tendencialmente semelhantes às dos países concorrentes: facilidades de crédito, mão-de-obra, matérias-primas, energia e sistema de transportes, equiparáveis em preço, qualidade e características de aprovisionamento; regimes fiscais equivalentes, enquadramento jurídico e administrativo apropriado, investigação tecnológica, acções de produtividade e promoção eficientes, e outros requisitos semelhantes.
Caberá ao sector público, de harmonia com os princípios já enunciados, prosseguir na criação dessas condições institucionais, para o que o III Plano prevê, em cada sector, como se aludiu, um conjunto de medidas de política adequadas.

24. Neste processo, importa sublinhar o papel de grande importância que deverão ser chamadas a desempenhar as corporações, os organismos patronais e os sindicatos de trabalhadores, no que respeita ao- conjunto de acções requeridas pela execução do Plano.
As corporações económicas e os organismos nelas integrados vêm desempenhando papel de relevo na representação das respectivas actividades, muito embora nem sempre disponham da orgânica indispensável para oferecer colaboração tecnicamente válida. Para esse efeito, foi criada uma comissão com o mandato de examinar a forma como a organização corporativa poderá corresponder às exigências do desenvolvimento sócio-económico do País e propor as adaptações a promover nas suas estruturas orgânicas e funcionais à luz dessas exigências, tendo em conta especialmente a sua participação nos planos de fomento.

25. Para além dos problemas postos pela reforma da administração pública, que são versados em capítulo próprio, convém aludir à conveniência de aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. Trata-se, aliás, de providência expressamente contemplada no projecto de proposta de lei sobre o Plano, entre as disposições destinadas a assegurar a respectiva execução [base; IX, alínea b)].
Nos aperfeiçoamentos a introduzir, sobressaem principalmente os relativos ao apoio em matéria de política conjuntural e no acompanhamento macro-económico da execução dos planos de fomento.
Semelhante tarefa exige rápido progresso nos métodos de trabalho do Secretariado Técnico, mas está condicionada pela disponibilidade de suficiente informação estatística conjuntural e de colaboração especializada por parte dos diversos departamentos da Administração.
Também estes aspectos se encontram focados no referido projecto de proposta de lei, tanto no que diz respeito ao prosseguimento dos programas em curso para completar a cobertura estatística do espaço português, como na criação, sempre que se reconheça necessário, de órgãos técnicos de apoio à execução do Plano nos Ministérios e. Secretarias de Estado [base citada, alíneas c) e d)]. Quanto a estes órgãos, convirá em especial definir as suas atribuições por forma a obter-se a conveniente unidade de acção e a necessária coordenação com os serviços centrais de planeamento.
Outrossim, a experiência de funcionamento da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, respectivos grupos de trabalho, aconselha certos reajustamentos na sua estrutura, atribuições e métodos de funcionamento, designadamente com vista ao acompanhamento da execução do Plano. Neste aspecto, desde já se insere na proposta de lei sobre o Plano um preceito que manda providenciar no sentido de aquela comissão interministerial dever apresentar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, no decurso de cada ano, informações periódicas acerca da marcha do Plano (base XI, 2).

26. Corno ficou oportunamente assinalado, o período de vigência do III Plano será novamente de seis anos. Nada parece de observar quanto ao período fixado, mas julga-se conveniente esclarecer que o planeamento em perspectiva não revestirá carácter homogéneo ao longo de toda a vigência do Plano.
As incertezas técnico-económicas que, naturalmente, pairam sobre os últimos anos do seu período, obrigam a considerar como aproximativa e provisória, pelo menos em parte, a programação estabelecida para os anos de 1971 e seguintes. Nesse sentido, os programas anuais irão ocorrer, em certo modo, à indeterminação que agora se defronta, concretizando, ano a ano, parcelas do esquema geral inicialmente fixado. Mas a solução correcta do problema não podia deixar de procurar-se por um dos dois caminhos a que se tem recorrido nos diversos países, ou seja:
Adopção de planos móveis, com períodos anualmente alargados para mais um ano;
Expressa revisão do Plano após os primeiros anos da sua execução.
O Governo inclinou-se para a segunda solução, que o projecto de proposta de lei consagra [base vi, alínea c)], a fim de evitar a dificuldade, e mesmo, em certos casos, a impossibilidade, de efectuar concretizações rigorosas para os últimos anos do período. O Plano será, pois, revisto no fim do seu primeiro triénio.
Aliás, a natureza da maioria das empresas e os seus métodos normais de trabalho não permitem estabelecer esquemas de investimento a mais de dois ou três anos de distância. E são estas empresas que, naturalmente, constituem a base dos sectores económicos abrangidos na parte indicativa no Plano.
Tudo aconselhava, pois, que p planeamento hexenal revestisse a função de quadro geral orientador e de esquema integrante dos projectos de investimento de longo período de realização.
Assim, a programação concreta de certo número de empreendimentos, em especial do sector privado, abrange apenas os três primeiros anos do Plano, diferindo para a revisão prevista a partir do segundo triénio a discriminação dos investimentos relativos a este período.
A revisão será também aproveitada para o ajustamento das projecções globais e sectoriais, de acordo com as informações entretanto obtidas e a evolução da economia nacional. Deve notar-se que, em contexto metodológico e

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conjuntural bastante mais simples, se considerou já necessário proceder à revisão do I Plano de Fomento após os três primeiros anos da sua vigência.
Mas esta fórmula não responde, só por si, a todos os problemas suscitados pelos movimentos económicos de curto prazo. Os objectivos inscritos nó Plano serão assim completados por providências legais e administrativas que enquadrem de perto a evolução conjuntural. Daí que o Plano deva ser, na sua execução, desdobrado, como até aqui, em programas anuais que contenham, além dos projectos definidos para realização imediata, políticas de curto prazo destinadas a encaminhar a evolução efectiva dos diversos sectores para os objectivos de médio prazo consignados naquele documento.

MAPA I

III Plano de Fomento - Síntese dos investimentos previstos

Continente e ilhas

[Ver tabela de imagem]

(a) São 1620 do Fundo de Abastecimento para a cerealicultura, e o restante, do mesmo Fundo, para o fomento pecuário e forrageiro.
(b) Admite-se recorrer ainda a esta fonte para financiamentos adicionais destinados a obras de rega.
(c) Subscrição de obrigações do Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca correspondente às amortizações vincendas de empréstimos obrigacionistas subscritos pelo Estado, relativamente ao período de 1968-1973.
(d) Obrigações do Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca a lançar no mercado financeiro.
(e) Fomento mineiro.
(f) A distribuição por fontes de financiamento é mera estimativa baseada na experiência de anos recentes.
(g) Fundo de Desemprego.
(h) Junta de Energia Nuclear; haverá que contar ainda, eventualmente, com a parte correspondente aos aumentos de capital das empresas um que o Estado tem posição accionista.
(i) Ilhas adjacentes; obras na sua maioria a cargo das autarquias locais.
(j) A repartição por fontes 6 uma primeira estimativa baseada na experiência empresarial de anos recentes.
(l) São 600 milhares de contos a financiar por operações de crédito externo, eventualmente através do Banco Mundial, para nós ferroviários; 600 milhares de contos para subscrição de obrigações do Fundo de Renovação da Marinha Mercante, supondo que se realizam as amortizações vincendas durante o período do Plano.
(m) São 800 contos do Fundo de Desemprego, 2020 do Fundo de Aquisição da APT, 15 do Fundo de Abastecimento, e o restante do Fundo Especial de Transportes Terrestres.
(n) Transportes Colectivos do Porto.
(o) Inclui, eventualmente, a participação de autarquias locais, designadamente para o Metropolitano de Lisboa.
(p) Inclui- crédito por intermédio da construção naval, que pode dizer respeito, em parte não susceptível de destrinça, a estaleiros nacionais; compreende também 1 milhão de contos para projectos extraordinários de estradas.
(q) São 380 milhares de contos do Fundo de Melhoramentos Agrícolas, por meio de empréstimos do Fundo de Abastecimento e da Caixa Geral de Depósitos. O restante é financiado pelo Fundo de Desemprego.
(r) Inclui obras para o abastecimento de água da cidade de Lisboa e seus arredores, estimadas em cerca de 600 milhares de contos, parte dos quais a financiar por recurso ao crédito interno.
(s) Abrange 210 milhares de contos para subscrição de títulos a emitir pelo Fundo de Turismo.
(t) Inclui recursos próprios dos órgãos locais de turismo.
(u) Compreende recurso eventual a capitais externos.
(v) Títulos a emitir pelo Fundo de Turismo.
(x) Inclui uma parte a inscrever no orçamento ordinário por corresponder a despesas de carácter corrente.
(z) São 600 contos do Fundo de Desemprego e 100 do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.
(a') Não compreende as despesas de manutenção.
(b') Arredondado.

MAPA II

III Plano de Fomento-Síntese dos investimentos previstos

(Províncias ultramarinas)

[Ver tabela de imagem]

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[Ver tabela de imagem]

MAPA III

III Plano de Fomento - Fontes de financiamento

Províncias ultramar nas

[Ver tabela de imagem]

CONTINENTE E ILHAS

I

Programação global

CAPITULO I

Projecções do desenvolvimento económico e social para 1968-1973

§ 1.º Lógica geral da programação

1. O III Plano de Fomento traduz um esquema coerente da evolução económica e social do País, que se considerou desejável e possível nos próximos seis anos.
As perspectivas de desenvolvimento para 1968-1973 concretizam-se através de um conjunto de projecções para as diversas variáveis macroeconómicas. A lógica de planeamento adoptada implica se tomem como ponto de partida as projecções do produto interno bruto por sectores. No sentido de assegurar o equilíbrio entre necessidades e disponibilidades de recursos, programam-se seguidamente os crescimentos das diversas componentes autónomas da despesa nacional e obtém-se, por diferença, o comportamento do consumo privado. As tendências projectadas e as metas propostas representam progressos sensíveis relativamente à actual situação económico-social e atendem ainda às características e problemas evidenciados no recente processo de desenvolvimento.
Em 1965, a capitação do produto nacional era, em média, de 11 contos por ano. Tal capitação, embora nos coloque no grupo de países que já se encontram em fase de franca evolução para níveis elevados de progresso económico-social, não nos confere, no entanto, situação favorável nesse conjunto. De facto, e apenas considerando os países europeus, verifica-se ser necessário acelerar a taxa de crescimento da economia nacional, para acompanhar a evolução prevista pelo grupo dos países mediterrânicos e alcançar, o mais rapidamente possível, os níveis de desenvolvimento da Europa ocidental.

2. O esquema que presidiu à elaboração das projecções do desenvolvimento económico e social para o período deste III Plano corresponde, nas suas características básicas, à metodologia de programação ensaiada e adoptada pela primeira vez na preparação do Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.
As projecções macroeconómicas referem-se a um conjunto de variáveis consideradas fundamentais para o desenvolvimento, salientando-se entre estas o produto interno bruto, ao qual se confere papel fulcral no delineamento da evolução económico-social. As projecções das outras variáveis - formação bruta de capital fixo, relações económicas com o exterior e diversas componentes da despesa nacional - consubstanciam resultados que

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de forma directa ou indirecta, se ajustam aos comportamentos admitidos para o produto.
As relações entre estas variáveis referem-se aos valores sectoriais por elas assumidos, pelo que os seus quantitativos globais resultam da soma dos diversos valores sectoriais projectados. Dado o nível de desagregação utilizado, houve ainda que assegurar, para além das relações entre as variáveis, a coerência intersectorial dentro do sistema de informação disponível.
O conjunto das projecções elaborado para o período de 1968-1973 corresponde, em síntese, à intenção do Governo de acelerar o ritmo de desenvolvimento e ainda de corrigir a insuficiência da oferta interna revelada nalguns sectores. A aceleração prevista resultará, por um lado, do maior peso relativo que progressivamente vão adquirindo as actividades mais dinâmicas e, por outro, da elevação das tendências passadas de crescimento, que a política de fomento se proporá conseguir durante a vigência do Plano em sectores de maiores potencialidades e, ainda, naqueles que visam a oferta de bens e serviços essenciais à melhoria geral dos níveis de vida.
Assim, de entre todas as actividades económicas, consideram-se as indústrias transformadoras e da construção e o turismo como constituindo o núcleo central a que se conferiu carácter motor, pelas elevadas taxas de crescimento e pela sua influência decisiva nas transformações estruturais da nossa economia. Num outro grupo incluíram-se sectores cuja evolução irá apresentar carácter essencialmente derivado, com tendência para acompanhar o ritmo das actividades mais dinâmicas (comércio, transportes, habitação e serviços diversos). As restantes actividades foram tratadas autonomamente, quer porque se projectaram taxas baseadas no comportamento do passado ou em previsões de novas tendências, quer porque o Governo aprovou políticas específicas de que as taxas programadas traduzem objectivos de aceleração deliberada (caso da agricultura, da saúde e da educação).
As projecções foram realizadas tomando como ponto de partida os valores estimados para 1967, último ano abrangido pelo Plano Intercalar de Fomento, que se afastam, em geral, dos que constam das projecções do Plano Intercalar pela conjugação de duas ordens de razões.
A primeira reside nas diferenças quanto ao nível de 1964, não só porque para aquele ano se dispunha apenas, aquando da preparação do último Plano, de estimativas provisórias realizadas em conjuntura difícil, mas ainda em virtude da revisão estatística e da alteração da base de preços de 1958 para 1963.
de se ter aplicado ao período de 1965-1967 o mesmo tipo de aceleração aprovado em princípio para 1968-1973 (pois Uma segunda ordem de razões abrange as que resultam se revelaram inoperantes os condicionalismos que, durante a preparação do Plano Intercalar, levaram a encarar os anos de 1965-1967 numa óptica de recuperação do ritmo de evolução da economia nacional), o que implicou terem-se atribuído ao período de 1965-1967 taxas em geral mais elevadas do que as projectadas para o III Plano.

§ 2.º Projecções do produto interno bruto

3. Em resultado dos diversos ritmos sectoriais programados, o produto interno bruto deverá acusar, no período de 1968-1973, o ritmo médio de crescimento anual de 7 por cento, atingindo em 1973 cerca de 155 milhões de contos. Em consequência, a capitação do produto assumirá em 1973 o valor de 17,2 contos a preços constantes de 1963, o que representa acréscimo de 77 por cento em relação ao nível de 1963 (variação nitidamente mais acentuada do que a registada na década anterior - 47 por cento). Esta aceleração do crescimento processar-se-á a par de importantes alterações da estrutura económica e social.
No que se refere às actividades primárias, pretende-se que a agricultura e as indústrias extractivas apresentem taxas capazes de traduzir comportamento diverso do registado no passado. Com efeito, o produto agrícola tem vindo a revelar tendência estagnante, e por isso se encara a necessidade de alterar com urgência a situação mediante um conjunto de acções deliberadas de fomento.
A evolução espontânea do sector agrícola poderia conduzir, na melhor hipótese, à taxa de 1,3 por cento. Em tal caso, o produto agrícola registaria o aumento de apenas 1,4 milhões de contos entre 1967 e 1973. Tendo presentes as múltiplas tensões surgidas no sistema económico nos últimos anos, em virtude do relativo atraso que caracteriza o mundo rural, considera-se insatisfatória aquela evolução, pois corresponderia a ignorar as dificuldades de fundo com que se debate o sector.

UADRO I

Projecções do produto interno bruto por sectores de actividade

[Ver tabela de imagem]

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A procura de alguns bens alimentares de origem agrícola, como a carne, ovos, leite e produtos hortícolas, apresenta elevadas elasticidades de rendimento, pelo que a oferta deverá aumentar sensivelmente, a par da aceleração do progresso económico-social geral.
Neste domínio, a agricultura nacional não tem ainda podido responder às necessidades da população, quer em quantidade, quer em preço, pelo que se tem recorrido a elevadas importações, com a consequente repercussão sobre a balança de pagamentos. Para este aspecto também contribui o facto de a agricultura dificilmente se encontrar em condições de fornecer matérias-primas suficientes às indústrias alimentares.
A aceleração do progresso do sector agrícola é igualmente requerida pela necessidade de atenuar algumas tensões que pesam sobre o meio rural, como o acentuado êxodo da população e as insuficientes capitações do produto.
Desta forma, pareceu ao Governo indeclinável a rejeição das perspectivas espontâneas de evolução do produto agrícola e programou-se sensível aceleração, tendo-se considerado como mínimo desejável o crescimento anual de 3 por cento ao longo do período de 1968-1973. Tal ritmo de evolução é, aliás, de uma ordem de grandeza que se pode considerar realista em confronto com o verificado em grande número de países europeus no passado recente. Com efeito, os ritmos - de crescimento apresentados em 1950-,1960 e 1960-1964 foram, respectivamente, 4,3 e 6,9 por cento na- Grécia, 5 e 2,3 por cento na Turquia e 2,2 e 2,2 por cento na Itália e 1,9 por cento na Espanha em 1960-1964, prevendo-se rápidos desenvolvimentos futuros.
Durante o período de 1968-1973 as indústrias extractivas continuarão a recuperar, embora a ritmo mais atenuado do que no último triénio (3,5 por cento). Tal comportamento tornar-se-á possível desde que venham a concretizar-se as acções que o sector público deverá levar a cabo neste domínio, nomeadamente o reconhecimento da riqueza mineira do País, a política relativa às concessões mineiras inactivas e a promoção dos aspectos de investigação e racionalização das explorações.
Por outro lado, espera-se que os empresários privados tomem iniciativas relevantes nos domínios- da prospecção de mercados e na melhoria das produções.
O sector das indústrias transformadoras destaca-se do conjunto dos sectores motores, pois desempenha papel fundamental na transformação estrutural da nossa economia, cabendo-lhe ainda efeito dinamizador sobre sectores cujo crescimento é arrastado pela expansão industrial. Para o período do III Plano de Fomento prevê-se crescimento a taxa média anual idêntica à do Plano Intercalar (9 por cento), o que constitui ligeira aceleração relativamente ao período precedente, em que aquelas actividades se expandiram ao ritmo de 8 por cento. Não constituindo a evolução programada objectivo sectorial ambicioso, convém salientar que também não representa mera previsão de crescimento espontâneo. Com efeito, nas indústrias transformadoras, há domínios a que se reconhecem possibilidades reais de expansão, mas cuja evolução dependerá largamente de programas específicos que atendam aos problemas e condicionalismos próprios desses domínios.- Por outro lado, o crescimento programado para é conjunto das actividades transformadoras exigirá medidas de política mais eficazes, nomeadamente nas áreas da exportação, do auxílio às pequenas e médias empresas e da assistência técnica à indústria. Os condicionalismos que rodeiam o nosso sector industrial, nomeadamente os resultantes da integração europeia, aconselhariam crescimento mais acentuado, da ordem dos 11 por cento ao ano. No entanto, não se considerou prudente acelerar desde já a expansão industrial sem dispor para alguns domínios estratégicos de elementos de informação e estudo suficientemente elaborados e aprofundados, de forma a basear decisões de tão grande alcance. Tal não implicará, no entanto, que a- política económica, tenha abdicado de enfrentar o problema da promoção da indústria nacional a nível europeu. Será essa uma preocupação a ter em devida conta na preparação dos programas anuais e na oportuna revisão do Plano, especialmente em indústrias como as químicas e metalomecânicas, que, possuindo elevada projecção no futuro, exigem vultosos recursos técnico-económicos.
A indústria da construção, à que também se atribuiu papel motor, apresentará ritmo provável de acréscimo - 9 por cento -, directamente determinado pelo - esforço de investimento. A ordem de grandeza do crescimento do sector será influenciada pela aceleração apresentada por actividades onde é elevado o peso dos investimentos em construção (agricultura, casas de habitação, administração pública e serviços diversos).
Para o conjunto dos serviços de electricidade, gás e água estima-se ritmo de expansão da ordem dos 11,2 por cento, o qual vem essencialmente determinado pelo comportamento da produção e distribuição de energia eléctrica, cujo crescimento representará completa satisfação das previsões dos consumos.
A evolução dos sectores do comércio e dos transportes e comunicações tenderá a acompanhar a aceleração das actividades mais dinâmicas, pelo que se prevê que aqueles sectores cresçam, respectivamente, às taxas de 6 é 5,8 por cento, as quais diferem muito ligeiramente dos ritmos projectados para o período do Plano Intercalar a sector do crédito e seguros tem apresentado no passado recente crescimento substancial, comparado com o do ritmo geral da economia, tendo a sua taxa de 8 por cento sido superior mesmo à do conjunto das actividades motoras. De facto, a banca e os seguros têm patenteado forte incremento para atingir dimensão compatível com o nível de desenvolvimento económico do País. Não parece de esperar nova aceleração do progresso do sector nos próximos anos, pelo que se prevê que no período do III Plano se mantenha o mesmo ritmo de expansão (8 por cento ao ano).
Do desenvolvimento económico geral programado para os próximos anos resultará aceleração da taxa de crescimento das casas de habitação, prevendo-se que a taxa de 5,2 por cento corresponda ao acréscimo de cerca de 340 000 fogos no período de- 1968-1973 (admitindo que o custo médio real por fogo seja igual ao do passado). Quanto ao sector da administração pública e defesa, prevê-se taxa de 5,1 por cento, ritmo de evolução que resulta dos crescimentos previstos para a administração pública (extrapolação da taxa verificada no passado) e para a defesa (baseada em estimativa directa da evolução das despesas militares).
O crescimento projectado para determinados sectores produtores de serviços directamente ligados à satisfação de aspectos básicos do nível de vida - educação e saúde- não constitui consequência directa da aceleração do ritmo geral de desenvolvimento. Em relação a estes sectores, prevêem-se acréscimos, que traduzem decisão deliberada para a progressiva resolução das carências ainda existentes naqueles domínios. De facto, a simples manutenção dos níveis actuais, no que respeita à instrução e formação profissional e à amplitude e qualidades das estruturas sanitárias, viria a provocar rápido agra-

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vamente das tensões existentes, além de se reflectir em cada vez maior vulnerabilidade do nosso sistema económico, perante a concorrência dás economias estrangeiras, com incidências directas nos níveis de produtividade da população e nas determinantes da emigração. Assim, para a educação, apresenta-se o ritmo de expansão de 8 por cento, o qual traduz sensível progresso em relação ao Plano Intercalar (5,9 por cento). Quanto à saúde, prevê-se crescimento de 6,5 por cento, ritmo francamente mais acelerado não só em relação ao passado (3,9 por cento), como também ao programado no Plano Intercalar (4,9 por cento).
O produto dos serviços domésticos foi projectado supondo que tenderá a contrair-se na medida em que se reduzir a respectiva população activa, o que se calcula venha a suceder à taxa média do passado (2,8 por cento).
Por último, a evolução prevista para os serviços diversos resulta dos comportamentos estimados para a procura estrangeira e para a procura dos residentes. Em relação àquela, programou-se um crescimento estimado com base no comportamento recente, considerando-se que haveria inúmeras vantagens -acréscimos substanciais das receitas correntes em divisas, entrada de capitais estrangeiros, etc. - em satisfazer a procura prevista. No que respeita aos serviços que se destinam à satisfação da procura dos - residentes, admitiu-se que a evolução resultaria directamente do ritmo de crescimento previsto para o conjunto das actividades económicas nacionais.

4. Em resultado dos ritmos programados para os diversos sectores, os três grandes ramos da actividade económica assumirão as posições que constam dos quadros II e III.

QUADRO II

Taxas anuais de crescimento e níveis do produto por grandes sectores

[Ver tabela de imagem]

As características do conjunto dos diversos ritmos sectoriais programados asseguram aumento sensível do crescimento das actividades primárias, bem como fortalecimento muito nítido da evolução do sector terciário. Apesar de não sofrer, aceleração muito sensível, o sector secundário continua a apresentar a taxa mais elevada, notando-se, no entanto, atenuação das diferenças entre as taxas dos diversos sectores.
Em consequência, a estrutura produtiva deverá apresentar, entre 1963 e 1973, evolução cujas principais características serão a progressiva perda de posição no sector primário, a par de ligeira quebra da participação das actividades terciárias. Paralelamente, verificar-se-á acentuação nítida da posição das actividades industriais, estimando-se que estas em 1973 venham a representar perto de 48 por cento do produto.

QUADRO III

Composição do produto por grandes sectores

[Ver tabela de imagem]

§ 3.º Projecções da formação bruta de capital fixo

5. O crescimento programado para o produto virá a traduzir-se, no período de 1968-1973, em esforço de investimento da ordem dos 184 milhões de contos, que se distribuirá nos seis anos do 111 Plano à taxa média de cerca de 8,2 por cento ao ano.
Em 1973, a formação bruta de capital deverá atingir o nível de 37 milhões de contos, o que representará 21,8 por cento da despesa nacional. Acentuar-se-á, portanto, o peso das despesas de investimento, que em 1967 terá sido de cerca de 19 por cento.
Para além da formação de capital fixo, o esforço de investimento compreenderá ainda a acumulação de existências. Independentemente de variações anuais muito sensíveis, estima-se que o aumento das existências registará, em 1968-1973, crescimento médio idêntico ao do produto nacional bruto a preços de mercado, visto ter-se admitido que será constante - 0,9 por cento - a participação desta rubrica na despesa nacional.
O crescimento da formação bruta de capital fixo diferirá de sector para sector, em consequência da disparidade de ritmos programados para as produções sectoriais. Para grande número de sectores, as taxas de crescimento previstas para o investimento não diferem sensivelmente das do produto respectivo, tendo no entanto sido outro o critério nos casos em que se tomou como base a extrapolação das tendências do passado e, ainda, sempre que o ritmo de distribuição dos investimentos pelos seis anos, paralelamente ao do produto, comportasse grandes esforços logo no início do III Plano, ou não apresentasse comportamento lógico, de acordo com as características do sector.

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De qualquer modo, as taxas de acréscimo programadas para 1968-1973 não devem ser interpretadas como atribuição rigorosa do esforço de formação de capital pelos seis anos. Quanto aos montantes globais de investimento previstos para cada sector - estimativas de maior significado prático -, deverão ser tomados como os volumes globais de investimentos necessários para atingir as metas apontadas para o produto dos diversos sectores.

QUADRO IV

Projecções da formação bruta de capital fixo por sectores de actividade

[Ver tabela de imagem]

Os coeficientes capital-produto previstos para o período do Plano constituem nalguns sectores instrumento intrínseco da programação, surgindo noutros como resultado da conjugação das metas fixadas para o produto e das consequentes exigências em bens de investimento avaliadas directamente.
Os valores indicados para os coeficientes capital-produto dos sectores dos transportes e comunicações e casas de habitação - 12,2 e 20, respectivamente - afiguram-se ainda demasiadamente elevados, atendendo mesmo à tradicional intensidade de investimento destas actividades.
No primeiro caso, trata-se de valor superior ao do passado, em virtude de elevada parcela dos investimentos programados se destinar a reposição de equipamento. No outro caso, o valor apontado já traduz situação melhor do que a verificada no passado.
Ao longo dos próximos anos tornar-se-á necessário adoptar medidas que favoreçam a reprodutividade do capital nestes sectores, designadamente através de melhor coordenação dos diferentes meios de transporte e do prosseguimento da política de construção de habitações menos dispendiosas, melhor aproveitamento das construções existentes e execução de uma política de terrenos.
Em virtude do rápido crescimento programado para a hotelaria, o sector de serviços diversos exigirá maior proporção de investimentos por unidade de produto, revelando-se necessário também aqui tentar uma economia de capital, quer através da adopção de medidas correctivas quanto ao custo do equipamento hoteleiro, quer pela intensificação do recurso a outras modalidades de instalações.
Pelo contrário, para a agricultura e electricidade, os coeficientes apresentam níveis inferiores aos do passado recente, devendo atribuir-se o aumento de reprodutividade dos investimentos, no primeiro caso, a uma decisão integrada no conjunto de políticas programadas para o sector, e, no segundo, ao peso progressivo que as centrais térmicas virão a ocupar na expansão prevista para os fornecimentos de energia eléctrica.
Convirá ainda referir que, apesar da aceleração conferida aos sectores da educação e saúde, se prevê que os respectivos coeficientes capital-produto registem ligeira quebra, como consequência da cobertura de parte das novas necessidades pelo recurso à utilização de edifícios arrendados e aquisição de construções, já existentes.
No total das despesas em formação de capital fixo, continuarão a destacar-se, como componente de maior peso, as indústrias transformadoras. Devido aos elevados valores que apresentam os respectivos coeficientes capital-produto, outros sectores - electricidade, transportes e casas de habitação- ocuparão também posição saliente no total da formação de capital, bem como a agricultura, em virtude da aceleração conferida ao respectivo produto.
A concentração do investimento por sectores tenderá a atenuar-se. Com efeito, o conjunto das indústrias transformadoras, electricidade, transportes e casas de habitação representará em 1973 cerca de 67,3 por cento do total da formação de capital, quando em 1967 tal percentagem era da ordem dos 72 por cento. Também o conjunto dos serviços de saúde e educação verá atenuada a sua posição no total.

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QUADRO V

Estrutura sectorial da formação bruta de capital fixo

[Ver tabela de imagem]

A estrutura da formação de capital por tipos de bens apresentará evolução no sentido de perda da posição dos investimentos em construção. Assim, enquanto em 1967 os investimentos em construção representarão provavelmente ainda 62 por cento do total, no final do III Plano aquela percentagem será da ordem dos 56 por cento. Paralelamente, deve realçar-se, pelo seu significado, o facto de que o volume de investimentos em bens de equipamento deverá duplicar durante o período do Plano.

QUADRO VI

Níveis e estrutura do investimento por tipos de bens

[Ver tabela de imagem]

§ 4.º Projecções das despesas públicas correntes com bens e serviços

6. A programação cuidada do andamento das despesas com bens e serviços por parte do sector público é indispensável para medir as incidências das melhorias urgentes dos serviços de saúde e educação e da eficácia da administração pública em geral. Acresce que os progressos desejáveis estão em grande parte ligados à revisão doe níveis relativos de remunerações do pessoal daquele sector, em confronto com os correspondentes níveis do sector privado, o que não pode ser satisfatoriamente conseguido no quadro de uma rigorosa programação a preços constantes de 1963, pois é precisamente a proporção entre o valor acrescentado dos sectores público e particular que terá de ser alterada.
Estas projecções devem ser entendidas como meras aproximações às ordens de grandeza das despesas correntes do sector público com bens e serviços, dentro das hipóteses de evolução desejáveis. Saliente-se o seu carácter provisório, atentas as revisões resultantes de informações mais actualizadas e do conhecimento interno dos mecanismos e estruturas do referido sector, que deverão vir a realizar-se no âmbito dos programas anuais de execução e da revisão do Plano.
Refira-se ainda que a óptica agora considerada é diversa da que se contém no capítulo relativo ao financiamento, pois que para a determinação das disponibilidades de poupança do sector público se torna indispensável considerar todas as despesas correntes - não apenas as que resultam da aquisição de bens e serviços - e, por outro lado, entendeu-se oportuno destacar no conjunto das despesas militares as que resultam de necessidades excepcionais.
Os níveis esperados de despesas públicas correntes foram obtidos a partir do produto dos serviços públicos de administração e defesa, saúde e educação, admitindo que no futuro se manterá a relação média entre as despesas com pessoal - única componente do produto no sector público - e as restantes despesas com bens e serviços.
Como se referiu, são diversos os ritmos de evolução do .produto que se prevêem para os serviços públicos. Em relação à Administração, reconhece-se que as necessidades impostas pela reforma administrativa não deverão conduzir a acréscimos sensíveis de recrutamento de pessoal, mas sim a importantes reajustamentos, pelo que o sector deverá manter-se na tendência do passado. Quanto à defesa, tantas previsões das despesas com pessoal como as das despesas totais com bens e serviços partem das necessidades que as condições actuais indicam como mais prováveis. Para a saúde e educação, prevê-se aceleração das despesas globais, de acordo com os ritmos de crescimento adoptados nas projecções do produto.
Mantiveram-se a preços de 1963 as projecções do consumo público em bens e serviços, incluídas adiante na despesa nacional para conciliação com as restantes componentes principais e com o produto interno. No entanto, a correcta estimativa do andamento futuro das despesas públicas impõe que se tome em consideração não só o recente aumento de vencimentos ao funcionalismo público - devidamente deflacionado por meio do índice de preços ao consumidor -, mas também as implicações dos aperfeiçoamentos dos serviços de saúde e educação e de administração pública geral. As reformas deverão ser graduais, embora a situação presente imponha o seu início imediato e a conclusão antes do termo do Plano. Considera-se que as reestruturações dos referidos sectores, implicando embora profundas modificações de métodos de trabalho e organização, venham a ter principal tradução em encargos com o pessoal, e não em compras de bens ao sector privado, pois haverá primordialmente que atender à revisão de remunerações, com evidentes reflexos no recrutamento, aperfeiçoamento, acumulações, horários de produtividade. Em particular, podem prever-se elevações mais acentuadas para certas categorias (v. g. pessoal dos sectores da saúde e da educação).
De qualquer modo, estes acréscimos devem ser entendidos como aumentos relativos dentro de um contexto geral de preços constantes. As eventuais subidas de nível geral de preços e de remunerações do sector privado deverão impor paralelas actualizações do sector público.
A evolução actualizada, de acordo com o recente aumento de vencimentos e a organização prevista do sector público, consta do quadro seguinte, em contraste com as projecções efectuadas estritamente a preços de 1963 e segundo a expansão recente dos serviços.

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QUADRO VII

Despesas públicas correntes (bens e serviços)

[Ver tabela de imagem]

Finalmente, parece ainda necessário tentar enquadrai-os efeitos que a evolução das despesas militares extraordinárias poderá vir a ter no comportamento conjunto do sector público. Torna-se particularmente difícil prever com segurança a evolução neste domínio, mas poder-se-ão quantificar os reflexos do andamento da situação militar em duas hipóteses alternativas. Pode, por um lado, encarar-se a hipótese de a situação militar não apresentar alterações sensíveis ao longo de todo o período do III Plano de Fomento. Por outro lado, poderá considerar-se que os sintomas de melhor aceitação da posição portuguesa no contexto internacional venham a traduzir-se num regresso dos encargos militares a níveis de normalidade.
A condução da política de desenvolvimento económico-social dispõe, assim, antecipadamente, de um referencial orientador alternativo.
A hipótese A corresponde, pois, à estimativa directa das despesas militares dentro de manutenção geral da situação presente. A hipótese B corresponde à gradual normalização após 1970, que, a verificar-se, aconselhará eventual revisão de ritmo das realizações de fomento.

QUADRO VIII

Despesas militares (10 contos)

[Ver tabela de imagem]

(a) Os valores apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística são 2,00 em 1060 e 7,00 em 1905.

A conjugação de ambas as hipóteses com os níveis das despesas civis, que deverão resultar da reestruturação dos serviços de saúde, educação e administração pública no seu conjunto, permite avaliar a incidência sobre o nível das despesas totais e sobre a poupança corrente do Estado, que, no caso da referida redução dos encargos com a defesa, sofreria em 1973 um aumento provável de cerca de 5 milhões de contos.

QUADRO IX

Despesas correntes do sector público

Preços constantes corrigidos

[Ver tabela de imagem]

§ 5.º Projecções das transacções correntes com o exterior

7. A evolução futura da balança de pagamentos entre a metrópole e o exterior resultará da interacção de fenómenos que apresentam orientações e ritmos de desenvolvimento muito diferenciados.
Como especialmente relevante poderá apontar-se o facto de durante o período do Plano, o crescimento programado das receitas de bens e serviços apresentar uma taxa - 10.2 por cento - superior à das despesas - 7,1 por cento.
Para tal concorrerá a prevista quebra no ritmo de aumento tanto das exportações como das importações de - bens em relação ao período passado e ainda a manutenção de altas taxas de desenvolvimento para as rubricas de turismo, da balança de invisíveis correntes, embora o maior peso das receitas tenda a prevalecer sobre a igualmente rápida tendência de aumento das despesas turísticas de nacionais no estrangeiro.
Com efeito, as importações de bens experimentaram nós últimos anos acréscimos vultosos e irregulares, característicos de maior abertura da economia aos mercados externos, coincidindo com crises de abastecimento. Prevê-se que, partindo embora dos níveis bastante elevados que se atingiram nos anos recentes, as importações de bens serão provavelmente objecto, no futuro, de expansão a ritmo inferior (6,7 por cento ao ano), admitindo o não agravamento de crises de abastecimento interno, em larga medida dependente do desenvolvimento agrícola programado, e a manutenção de ritmos apreciáveis de substituição de importações por produção nacional.
Do mesmo modo, prevê-se ligeiro abrandamento das taxas de acréscimo das exportações de bens, por se julgar que a aceleração considerável dos últimos anos não se manterá facilmente sem esforços adicionais muito sensíveis dirigidos à promoção de exportações. Correspondem estes esforços a profunda transformação estrutural do comércio de exportação, de cujas condições de realização não é possível, por enquanto, decidir com segurança.

QUADRO X

Níveis e tendências de evolução das importações

[Ver tabela de imagem]

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As transacções referentes a serviços de turismo têm apresentado nos últimos anos relevo sempre crescente, chegando a constituir a mais importante fonte de divisas no conjunto das receeitas de invisíveis correntes
A abertura do mercado metropolitano às grandes correntes turísticas internacionais, que se processaram no passado recente a ritmos de crescimento excepcionais - superiores a 20 por cento -, foi objecto da definição de uma meta ambiciosa para o período de 1967-1973, com a manutenção da taxa média de crescimento de 20 por cento ao ano. Importa, no entanto, ter presente que, se foi possível obter andamentos excepcionalmente favoráveis, isso se deveu em parte ao muito limitado volume de turistas e de receitas por estes proporcionadas à metrópole anteriormente a 1961 e ao efeito de novidade que desde então caracterizou o surto turístico para o mercado português.
De futuro, uma vez que tais factores tendendo a apresentar influência cada vez menor, terá de prosseguir esforço redobrado de consolidação das posições já conquistadas e do seu alargamento, o que tanto dependerá do volume de financiamento que for possível dedicar à instalação de novos equipamentos turísticos, como da adequação das campanhas de promoção a desenvolver e ainda da medida em que se tornar possível conter dentro de limites razoáveis o fenómeno de crescimento do sistema de preços internos e, por consequência, do custo de vida.
As despesas de turismo dos nacionais no estrangeiro tendem a manter linha de tendência elevada durante o III Plano de Fomento - taxa anual de 12,5 por cento -, embora naturalmente inferior à verificada em período recente, que correspondeu a fase de rápida expansão do intercâmbio turístico com o estrangeiro.

QUADRO XI

Níveis e tendências de evolução das exportações

[Ver tabela de imagem]

(a) Médias de 1957, 1958 e 1959.

As transacções de serviços de transporte e o saldo de rendimentos de capitais constituirão, eventualmente, as únicas parcelas desfavoráveis da balança de invisíveis correntes, podendo conduzir a pagamentos líquidos no montante de 1,3 milhões de contos em 1967 e 2 milhões em 1973.
Isso dever-se-á em parte ao facto de a marinha mercante nacional, apesar, das iniciativas de alargamento e reestruturação da sua capacidade de transporte previstas no Plano, poder manter certas dificuldades em acompanhar o apreciável crescimento das relações de bens com o exterior, para além dos compromissos a que tem de fazer face actualmente. É de supor também que o grande incremento das entradas de capitais estrangeiros no último quinquénio venha brevemente a impor a repatriação de parte dos rendimentos desses capitais, em níveis superiores aos do passado, excedendo assim a compensação esperada das colocações de capitais portugueses no exterior, que atingiram recentemente montantes também consideráveis.
Do movimento global de serviços e de acordo com as tendências presentes deverá, em 19^3, resultar saldo francamente positivo - superior a 12 milhões de contos -, suficiente para cobrir o déficit previsto da balança comercial. Prevê-se que antes do termo do Plano o déficit crescente de mercadorias possa, assim, ser integralmente compensado.

QUADRO XII

Saldos das transacções correntes com o exterior

[Ver tabela de imagem]

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Deve salientar-se que o facto de se prever que a balança de pagamentos correntes continue a apresentar saldos positivos não deve ser encarado corri excessivo optimismo, uma vez que, em face do agravamento da balança comercial, aqueles saldos continuarão a depender fortemente do turismo e das remessas dos emigrantes. Se se verificarem os ritmos de crescimento previstos como mais prováveis, as receitas do turismo representarão em 1967 mais de um quinto das receitas totais provenientes do movimento de bens e serviços e em 1978 constituirão mais de um terço deste movimento. Tanto a ausência de possibilidades de controlo efectivo da orientação das correntes turísticas, como do volume de empregos atribuídos a portugueses nos mercados de trabalho da Europa ocidental, levam a considerar como objectivo desejável atingir ritmos de crescimento das exportações superiores às taxas tendenciais previstas. Assim, para reduzir sensivelmente a dependência da balança de pagamentos da metrópole em relação às receitas do turismo e às remessas dos emigrantes, deverá empreender-se sério esforço adicional para o fomento das exportações a taxas superiores a 10 por cento. Este objectivo constituirá preocupação constante, a merecer programação mais pormenorizada no âmbito da preparação dos programas anuais de execução e na revisão do Plano.

QUADRO XIII

Estrutura das importações

[Ver tabela de imagem]

QUADRO XIV

Estrutura das exportações

[Ver tabela de imagem]

§ 6.º Projecções da despesa nacional

8. As projecções do conjunto da despesa nacional - despesa realizada com o produto nacional bruto a preços de mercado - resumem o equilíbrio, em termos globais, entre a evolução das várias, componentes da despesa e as projecções do produto.
O andamento da despesa deduz-se dos Comportamentos previstos para o produto interno bruto, o rendimento líquido externo e o saldo dos impostos indirectos menos subsídios.
As projecções realizadas para p rendimento líquido externo conduziram a evolução crescente desse saldo, que, para futuro, apresentaria sempre valores positivos. Salienta-se, no entanto, que a parcela do saldo correspondente ao movimento de capitais com o estrangeiro será negativa e apresentará tendência para agravamento ao longo do período do Plano. O produto nacional bruto crescerá, praticamente, à mesma taxa do produto interno, em virtude de o rendimento líquido externo representar apenas cerca de 0,8 por cento da despesa nacional.
Por falta de informações seguras sobre a .evolução do peso relativo da fiscalidade indirecta, considerou-se que o saldo dos impostos indirectos menos subsídios representaria, em média, ao longo do período de 1968-1973, 8 por cento da despesa nacional - percentagem semelhante à registada no período de 1961-1964. Em consequência, a taxa de crescimento da despesa seria idêntica à do produto interno - cerca de 7 por cento.

QUADRO XV

Projecções da despesa nacional

[Ver tabela de imagem]

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Foram já apresentadas em pormenor as previsões relativas ao comportamento de algumas componentes da despesa nacional - consumo público, formação bruta de capital fixo e transacções correntes de bens e serviços com o exterior. Referem-se agora as suas relações com a despesa nacional.
A exigência em bens de capital derivada do crescimento previsto para o produto implicará que, durante o III Plano, o esforço de acumulação de capital vá sucessivamente aumentando e atinja, em 1973, 21,8 por cento da despesa nacional. Assim, como já se apontou, neste ano realizar-se-á um volume provável de formação bruta de capital fixo da ordem dos 37 milhões de contos, ao passo que em 1965 não deve ter ultrapassado os 17 200 000 contos.
O crescimento de 5,7 por cento projectado para as despesas de consumo público a preços de 1963 conduziria a perda de posição no total, sendo, aliás, de notar que a percentagem de 12,6 estimada para 1967 deverá vir ainda influenciada pelo comportamento das despesas militares.
Relativamente ao consumo público, o tratamento a preços constantes pode, no entanto, falsear a sua posição relativa no conjunto da despesa, pois não entra em conta com a revisão dos vencimentos dos funcionários públicos. Ora, como já se referiu, a consideração dos aumentos deflacionado destas remunerações deverá avolumar a posição do consumo público no conjunto da despesa.
Em resultado da evolução prevista para as importações e exportações de bens e serviços, o saldo da balança de transacções correntes da metrópole com o exterior, que ainda em 1967 terá assumido o valor negativo de 4 600 000 contos, tenderá a atenuar-se sensivelmente ao longo do período do III Plano, estimando-se que em 1973 apresente já valor positivo, da ordem dos 700 000 contos. Em consequência, diminuirá sensivelmente o peso do referido saldo na despesa nacional, passando a representar no último ano do III Plano apenas mais 0,4 por cento da despesa nacional, quando, em 1967, tal peso terá sido de menos 4 por cento.
De acordo com as projecções realizadas, o consumo privado alcançaria níveis que traduzem o crescimento médio de 5,9 por cento ao ano em 1968-1973, sensivelmente superior ao do passado recente, mas que conduziria, contudo, a nítida perda de posição na despesa nacional (cerca de 65,1 por cento em 1973), em consequência do andamento ainda mais acelerado previsto para as restantes componentes da despesa.
Uma das facetas da alteração estrutural que acompanhará a nova etapa de desenvolvimento a iniciar com o III Plano de Fomento pode ser traduzida pela posição que as diversas componentes da despesa assumirão após 1967. Tal alteração caracterizar-se-á, fundamentalmente, por quebra acentuada da posição do consumo privado, que, em 1973, representará cerca de 65,1 por cento da despesa nacional, ou seja uma ordem de grandeza aproximada da dos países mais evoluídos. De facto, o peso do consumo privado no total da despesa tende a diminuir à medida que se registam mais altos níveis de progresso económico e social, sendo de admitir que, sem prejuízo dos consumidores, essa posição possa vir a verificar-se. Com efeito, para o conjunto dos países da O. C. D. E., era cerca de 63,6 por cento em 1961-1964.
Para esta evolução contribuirá, por um lado, o aumento da intensidade de formação de capital requerido pelo esforço de desenvolvimento futuro e, por outro, a evolução favorável do saldo da balança de transacções correntes, que, em 1973, provavelmente, assumirá valor positivo.

CAPITULO II

Financiamento

Introdução

A capacidade de financiar o investimento do País depende, fundamentalmente, do nível da poupança formada internamente. Quando, porém, este nível de poupança se revela insuficiente para, por si só, fazer face às necessi-

QUADRO XVI

Estrutura da despesa nacional

[Ver tabela de imagem]

dades de investimento ditadas pela aceleração do processo de crescimento económico, torna-se necessário o recurso à poupança externa.
Com efeito, uma vez formada nos vários sectores - famílias, empresas, Estado-, a poupança interna tem de ser convenientemente orientada para o investimento, quer mediante a sua aplicação directa no próprio sector (autofinanciamento), quer através da sua mobilização de um para outro sector operada por intermédio do Estado e das instituições que actuam no mercado financeiro.
Para eficiente planeamento do processo de financiamento do investimento, necessário se tornaria dispor de um quadro de fluxos financeiros. Tal quadro, porém, não existe ainda entre nós, embora a sua construção esteja

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(25)

incluída entre os trabalhos em curso por virtude da recente reorganização do sistema estatístico.
Entretanto, desconhece-se, de facto, por um lado, o volume da poupança interna formada nos vários sectores - excepto no que se refere ao sector público 1, e, ainda que insuficientemente, às empresas privadas - e, por outro, as exigências de financiamento de cada um deles.
Procurar-se-á, no entanto, analisar, ainda que em termos globais, as necessidades de financiamento ditadas pelo volume de investimento a realizar no período deste III Plano e as potencialidades de financiamento oferecidas pelas várias fontes que se tornou possível identificar, referindo o papel desempenhado pelas diversas instituições e o funcionamento dos mercados que operam a canalização da poupança para o investimento, por forma a determinar as distorções do processo poupança-investimento e a indicar as providências adequadas.

§ 1.° Necessidades e potencialidades de financiamento

A) Análise do passado

1. As necessidades globais de financiamento derivam do volume de investimento realizado, interessando considerar, para esse efeito, além da formação bruta de capital fixo (F. B. C. F.), as. variações de existências, visto comportarem problemas de financiamento semelhantes, embora a prazos menos longos.
Distingue-se entre o investimento do sector privado e o do sector público, ria medida em que envolvem problemas de financiamento diferentes.
A participação do sector privado na F. B. C. F. oscilou rio período de 1953-1965 entre 76 e 82 por cento do total, o que revela Ter-se situado sempre em mais de três quartos do investimento fixo global (quadro I).
A participação do sector público apresentou tendência crescente, devida, em grande parte, à preocupação de dotar o País de infra-estruturas básicas, nomeadamente no domínio das comunicações e no da hidráulica agrícola, apesar do esforço de defesa que foi necessário desenvolver a partir de 1961. Nos dois últimos anos, porém, notou-se certo abrandamento, em virtude da quebra motivada pelo facto de importantes obras públicas se aproximarem da fase de acabamento.
As variações de existências revelam a flutuação de valores imposta pêlos movimentos da produção de bens e do aprovisionamento de matérias-primas conjugados com os do consumo, representando em média entre 3 a 5 por cento da formação interna bruta de capital (F. I. B. C.).

QUADRO I

Formação interna bruta de capital por sectores

(Preços correntes em milhões de contos)

[Ver tabela na imagem]

1 Compreende o sector público administrativo (Estado) - que engloba a Administração Central (Conta Geral do Estado, fundos e servidos autónomos) a administração local e a previdência social - e o sector público produtivo (empresas públicas).

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2. As estatísticas disponíveis não são ainda suficientes para uma análise da formação da poupança, pelo que em cada ano teve de recorrer-se ao conceito de poupança aplicada na formação interna bruta de capital, supondo a igualdade cx post entre poupança e investimento.
Seria necessário considerar outras aplicações da poupança, para além da aplicação na F. I. B. C., nomeadamente na amortização de dívidas e no acréscimo de disponibilidades monetárias, bem como as filtrações mio registadas para o estrangeiro.
Os valores da série relativa à poupança externa líquida não são comparáveis,- em virtude de só a partir de 1964 ter sido possível considerar todas as rubricas da balança de pagamentos entre a metrópole e o ultramar, pelo que os valores até 1963, inclusive, se encontram sobreavaliados. Com efeito, até essa data apenas se contabilizava o comércio especial entre a metrópole e o ultramar (C. I. F.), faltando considerar, portanto, uma parte das rubricas da balança dos invisíveis correntes. Embora se não possa determinar a parte em causa, interessa conhecer o valor do saldo desta balança em 1904 e 1965, que foi de, respectivamente, 1 700 000 e 1 100 000 contos 1.

QUADRO II

Poupança disponível

(Preços correntes em milhões de contos)

[Ver tabela na imagem]

1 Em 1966 baixou para + 0,6 milhões de contos.

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Com as reservas impostas pelo critério utilizado na determinação da poupança, verifica-se, através do quadro II, que a poupança interna bruta tem desempenhado papel de relevo no total da poupança disponível, com dois subperíodos distintos - o primeiro, de 1953 a 1968, ao nível dos 80 por cento, e o segundo, em 1964 e 1965, ao nível de cerca de 100 por cento do total da poupança disponível. Este comportamento é explicado, em grande parte, pela referida alteração na determinação dos valores da série da poupança- externa líquida, mas não parece de excluir a hipótese de se ter verificado aumento da participação da poupança interna bruta no total da poupança disponível, a partir de 1962, inclusive.
Dentro da poupança interna bruta foi diferente o comportamento do sector público e do sector privado. A poupança do Estado - que inclui algumas rubricas («Sisa», «Taxa de compensação» e «Imposto sobre as sucessões e doações») que a contabilidade nacional considera como transferências de capital - representou até 1960 mais de 30 por cento, em média, do total da poupança disponível, tendo diminuído nesse ano a sua participação para 23 por cento e em 1961 para 15 por cento e verificando-se posteriormente certa recuperação, até cerca de 24 por cento em 1965.
Por sua vez, a poupança do sector privado (particulares, instituições sem fim lucrativo e empresas - incluindo as empresas públicas parece apresentar uma evolução crescente desde 1957, apenas interrompida em 1961. A partir de 1962 deve ter compensado inteiramente a redução verificada na poupança do Estado e, nos últimos dois anos, teria substituído quase completamente a poupança externa, o que deve ser atribuído, em parte, a mais correcta avaliação da balança de pagamentos.
A participação da poupança externa líquida não tem apresentado comportamento regular. Verificou-se movimento oscilante de tendência crescente entre 1953 e 1957, atingindo neste ano 28 por cento do total da poupança disponível, a que se seguiu descida para 20 por cento em 1958. Manteve-se à volta deste nível até 1963 (excepto no ano de 1961, que apresenta um comportamento anormal, tendo atingido 54 por cento), para se anular praticamente nos dois últimos anos.
De qualquer modo, a partir de 1964, a evolução da poupança formada internamente tem vindo a mostrar-se capaz de assegurar de forma crescente o financiamento do investimento realizado no País.

3. A análise pormenorizada da conta corrente do conjunto do sector Estado, nos últimos anos, permite interpretar os mecanismos de formação da sua poupança própria.

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1 Só se possuem elementos completos da sua poupança para o ano de 1964, em que atingiu 0,7 milhões de contos, cifrando-se em 0,3 milhões de contos em 1963 e 1960, o que revela uma participação entre 2 e 4 por cento da poupança total.

QUADRO III

Conta de operações correntes do Estado

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) Inclui o imposto sobre as sucessões e doações e taxa de compensação.
(b) Inclui a sisa.

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1662-(28) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

O sensível acréscimo das receitas correntes - cerca de 10 400 000 contos entre 1959 e 1965 - resulta, fundamentalmente, dos impostos directos e indirectos, embora se tenham verificado aumentos em todas as categorias de receitas.
Por sua vez, a proporção entre impostos directos e indirectos, no conjunto da carga fiscal, acusou alteração - de 1959 a 1965 a percentagem referente aos impostos indirectos elevou-se de 46,3 para 48,8 por cento -, em consequência, nomeadamente, do aumento das importações após 1960 e das medidas fiscais promulgadas em 1961.
A pressão, fiscal global tem sido da ordem dos 19 por cento, tendo vindo a crescer ligeiramente no período em análise. À Administração Central pertenceram, em média, 72,5 por cento do total, cabendo o restante à previdência social (cerca de 20 por cento, em média) e à administração local (à volta de 6,5 por cento).

QUADRO IV

Estrutura da fiscalidade do Estado

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) Além dos impostos considerados pelo Instituto Nacional de Estatística nas contas nacionais, engloba o imposto sobre as sucussões e doações, taxa do compensação e sisa.

Entre 1959 e 1965 as despesas correntes do Estado acusaram incremento de cerca de 9 milhões de contos, montante ligeiramente inferior ao observado no capítulo das receitas, mas a sua evolução processou-se de modo mais irregular. De facto, os encargos de natureza militar determinaram considerável aumento das despesas correntes em bens e serviços, em particular nos anos de 1961 e 1962.
Com efeito, ao longo do período em análise, o volume das despesas militares quase triplicou, enquanto nos encargos não militares o acréscimo foi apenas de 28 por cento, tendo-se elevado a importância relativa das despesas com a defesa nacional de 25 para 38 por cento do total das despesas correntes.
Por consequência, a poupança do Estado, que nos dois primeiros anos do hexénio havia atingido valores anuais da ordem dos 3 milhões de contos, computou-se em cerca de 2 100 000 contos em 1961, com sensível, melhoria nos anos seguintes.

QUADRO V

Poupança do Estado

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

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A queda do aforro do sector público em 1961 é imputável exclusivamente à. contracção da poupança proveniente da Conta Geral do Estado, urna vez que nos restantes subsectores a poupança evidenciou tendência ascendente ou não acusou variação significativa. Deve assinalar-se a profunda alteração que se produziu na estrutura da poupança do Estado, traduzida pela posição preponderante que o aforro da administração local e da previdência social assumiu na sua formação desde 1961, tendência que parece ter sofrido ligeira alteração em 1965.

4. Não se dispõe ainda de elementos de informação satisfatórios sobro a poupança de «Particulares e empresas». Foi, contudo, possível progredir sensivelmente em relação à metodologia utilizada no Plano Intercalar de Fomento, embora continue a ser necessário efectuar a determinação do respectivo valor de forma indirecta, com as omissões inerentes.
Definida como o conjunto dos lucros retidos e das amortizações, a poupança bruta das empresas traduz o volume dos recursos próprios para financiar quer os seus investimentos de substituição, quer novos empreendimentos, quer ainda para liquidar dívidas contraídas. Considerando a importância que o autofinanciamento bruto das empresas assume no quadro do financiamento da formação bruta de capital do sector privado na generalidade dos países, como parcela fundamental da poupança aplicada por «Particulares e empresas», reveste-se de muito interesse analisar a evolução da poupança das empresas nos últimos anos. Para este efeito pôde dispor-se, pela primeira vez, de um apuramento provisório, feito pelo Instituto Nacional de Estatística, sobre os lucros retidos pelas empresas sob a forma de sociedades, no ano de 1964, e de informações sobre a poupança das empresas sujeitas a contribuição industrial, em 1963 e 1965, o que permitiu obter uma primeira estimativa para a poupança formada nas sociedades naquele ano. Aplicando aos lucros líquidos dos restantes anos do período em análise a proporção média dos lucros retidos no triénio de 1963-1965, obtiveram-se os lucros não distribuídos, que, adicionados às amortizações, nos deram a poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades. Como mostra o quadro VI, esta poupança parece ter acusado elevada cadência de expansão no período de 1958-1964: a taxa média de acréscimo ascendeu a cerca de 16,7 por cento. Tal comportamento deve imputar-se não apenas à intensa progressão dos lucros retidos - 18,6 por cento -, mas também ao sensível aumento das amortizações - 14,7 por cento.

QUADRO VI

Poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades

(Preços correntes)

[Ver tabela na imagem]

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A expansão dos lucros retidos, como revela o quadro VI, foi determinada, fundamentalmente, pela evolução registada nos sectores «Indústrias transformadoras» e «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis», a que, no conjunto e em média, se devem imputar cerca de 71 por cento do volume total dos lucros não distribuídos durante o período de 1958-1964.
Esta elevada participação relativa tem evidenciado tendência ascendente nos últimos anos - designadamente em 1963 e 1964, em que atingiu valores da ordem dos 77 por cento -, o que se explica, principalmente, pelo ritmo a que se processou o aumento dos lucros retidos no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» naqueles dois anos.
De facto, após o vultoso incremento observado em 1960 na retenção dos lucros por parte das indústrias transformadoras - o respectivo montante quase triplicou em relação ao ano anterior -, verificaram-se nos anos seguintes, se exceptuarmos 1963, acréscimos menos significativos, enquanto nas actividades englobadas no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» parece ter-se registado ritmo de expansão sensivelmente superior.
Relativamente às amortizações, a taxa média de acréscimo foi de 14,7 por cento e proveio essencialmente do incremento registado em 1959, 1963 e 1964. Em particular, neste último ano, o volume de recursos afecto a
amortizações elevou-se de 26,6 por cento, o que traduz ritmo sensivelmente superior ao dos lucros retidos.
Nesta evolução assumiu papel preponderante o sector «Indústrias transformadoras», que concorreu, em média, com cerca de 48 por cento do total das amortizações efectuadas no período em estudo, e, embora em menor escala, os sectores «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis» e «Transportes, armazenagem e comunicações».
Efectivamente, a alta expansão observada em 1963 e 1964 no volume daquela parcela da poupança resultou, em grande parte, de avultados aumentos no ramo das «Indústrias transformadoras», após a contracção de 1962, enquanto a sensível progressão registada em 1959 se deve imputar essencialmente à considerável elevação das amortizações no sector «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis».

5. No confronto entre necessidades e potencialidades de financiamento, dentro de cada sector ou subsector, reside um dos aspectos fundamentais do problema do financiamento. Com efeito, esta comparação permite determinar os sectores superavitários e deficitários em matéria de fundos disponíveis, ao mesmo tempo que introduz o problema da mobilização da poupança dos primeiros e da sua canalização para os segundos.

QUADRO VII

Necessidades e potencialidades de financiamento por sectores (a)

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) As necessidades de financiamento das empresas públicas incluíram-se no sector público, enquanto os suas potencialidades de financiamento se incluíram no sector privado. Porém não se incluíram nas necessidades de financiamento do sector público as variações de existências das empresas públicas, que se cifraram em 0,5 e 0,6 milhões de contos, respectivamente, em 1964 e 1965, o que, de certo modo, compensou a falha anterior.

Como mostra o quadro VII, o sector público apresentou excedente de fundos disponíveis até 1960, tendo sofrido sucessivos e crescentes deficits de 1961 a 1963, para voltar a apresentar superavit em 1965.
O sector privado, por sua vez, e de acordo com as informações disponíveis, apresenta sistemático saldo negativo de fundos disponíveis (excepto em 1964), que tem vindo, no entanto, a decrescer de volume nos últimos anos.
Os deficits do sector privado até 1960 foram em parte compensados pelos excedentes do sector público, mas de 1961 a 1963 ambos os sectores apresentaram deficits de fundos para investimento, tendo-lhes feito face exclusivamente a poupança externa. No último biénio, nota-se tendência para o equilíbrio interno e mesmo sectorial, isto é, os dois sectores internos em conjunto tendem, por um lado, a assegurar o montante suficiente de fundos disponíveis para o investimento global e, por outro lado, cada um dos sectores tende a garantir inteiramente o financiamento do seu próprio investimento.

b) Evolução futura

6. As necessidades de financiamento no período deste III Plano, como mostra o quadro VIII, atingem 199,1 milhões de contos, a preços correntes, 95,8 por cento dos quais inerentes à formação de capital fixo e os restantes 4,2 por cento às variações de existências, de acordo, aliás, com a experiência do passado.
Para a avaliação a preços correntes da formação bruta de capital fixo utilizou-se o índice de preços implícito na comparação desta variável a preços correntes e a preços constantes de 1963, e para a variação de existências adoptou-se o índice de preços por grosso, estimando-se, portanto, que, no futuro, se verificará evolução de preços semelhante à dos anos recentes.

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QUADRO VIII

Formação interna bruta de capital prevista para o período de 1968-1973

(Milhões de contos)

[Ver tabela de imagem]

7. O montante dos investimentos programados e das correspondentes necessidades de financiamento assume mais correcto significado em contraste com o volume previsto da poupança interna bruta, pública e privada, avaliada de acordo com as tendências reveladas no passado recente.
Na determinação da poupança do sector público programou-se, em relação às receitas fiscais incluídas na Conta Geral do Estado, a estabilidade, ao longo do hexénio de 1968-1973, da pressão fiscal estimada para 1967, pois o ano em curso corresponde à plena aplicação da nova estrutura fiscal, que se não antevê venha a sofrer alterações profundas no decurso da execução deste III Plano.
De acordo com estimativas directas dos serviços que têm a seu cargo as respectivas cobranças - nas quais se ponderou o crescimento da matéria colectável inerente ao processo de desenvolvimento económico e os reflexos da desmobilização aduaneira no quadro do movimento da integração económica europeia -, obteve-se um quantitativo da ordem dos 15 milhões de contos para as receitas fiscais em 1967 (imputando cerca de 9,9 milhões a impostos indirectos e provindo o remanescente da tributação directa), que representa, em relação ao produto nacional bruto, a preços correntes, uma pressão fiscal de 12,1 .por cento.
Os quantitativos estimados para os rendimentos fiscais da Conta Geral do Estado no decurso do hexénio de 1968-1973, com base naquela pressão fiscal aplicada aos valores do produto nacional bruto a preços correntes, são os seguintes:

QUADRO IX

Carga fiscal da Conta Geral do Estado

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

Na previsão das receitas fiscais dos fundos e serviços autónomos da Administração Central e nas da administração local, admitiu-se a estabilidade, ao longo do hexénio de 1968-1973, do valor médio assumido pela pressão fiscal no decurso do período de 1958-1965.
Para as restantes receitas da Administração Central e da administração local extrapolou-se o comportamento médio evidenciado pelas cobranças no período de 1959-1965, tomando como base da estimativa os valores observados nos anos de 1964 ou 1965, últimos para os quais o sistema da contabilidade nacional dispõe de valores definitivos.
Por fim, e ao contrário do que sucede no sistema da contabilidade nacional, procurou-se evidenciar as receitas referentes à venda de bens e serviços (C. G. E.), que se têm integrado como parcela negativa nas despesas correntes em bens e serviços.

8. No que toca aos gastos, a estimativa das despesas correntes em bens e serviços de natureza civil, a preços constantes, foi obtida a partir dos níveis projectados do valor acrescentado bruto no sector público (despesas com pessoal), aos quais se adicionaram as outras despesas segundo a proporção verificada nos anos mais recentes. Atendeu-se ainda à elevação dos encargos provenientes da concessão do subsídio eventual aos servidores do Estado, que terá plena realização no ano em curso, e a que advirá da reforma administrativa, segundo as hipóteses indicadas noutro passo deste III Plano. Na conversão para preços correntes atendeu-se à evolução do índice de preços no consumidor nos últimos anos e supôs-se que no futuro se irá verificar evolução semelhante.
A distribuição pelos vários subsectores da Administração destas despesas globais fez-se com base na evolução previsível da estrutura observada nos últimos anos.
Quanto às despesas correntes em bens e serviços de natureza militar, adoptaram-se as estimativas referentes ao volume das despesas ordinárias deste tipo, segundo os valores e a tendência observados antes de 1961, tendo-se feito a sua conversão para preços correntes, através do índice de preços implícito no produto nacional a preços correntes.
Por outro lado, quanto aos juros da dívida pública interna e externa a cargo da Conta Geral do Estado, tomou-se por base o montante despendido em 1964 e optou-se por uma estimativa directa, considerando não só a evolução verificada nos últimos anos, como também o possível agravamento das condições de recurso ao mercado.
Nas restantes rubricas da despesa, a previsão teve por base, consoante os diferentes subsectores, os valores ré-

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1 O produto nacional bruto a preços correntes em 1967 foi obtido a partir do seu valor programado a preços constantes, corrigido pelo índice de preços implícito no produto nacional bruto a preços correntes no passado recente.

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lativos aos anos de 1964 ou 1965 e atendeu-se ao comportamento evidenciado por essas rubricas a partir de 1958, tendo-se procurado, ao calcular o crescimento médio observado no período, expurgar as séries de alguns valores anormais, procedimento que se generalizou, também, ao domínio das receitas.

9. Relativamente às receitas e despesas correntes da previdência social, as estimativas basearam-se nos estudos efectuados pelo Ministério das Corporações e Previdência Social, tendo sido utilizados métodos diferentes na projecção da capacidade de financiamento das instituições, consoante dependem ou não da Direcção-Geral da Previdência.
Assim, enquanto para as instituições não dependentes desta Direcção-Geral - instituições de reduzida importância na formação da poupança do subsector - se admitiu a continuidade da evolução natural apresentada no decurso de anos anteriores, para os organismos dependentes daquele departamento a projecção teve em conta a evolução que se está processando na segurança social. Com efeito, como a capacidade financeira disponível para aplicação resulta, fundamentalmente, das receitas consignadas aos benefícios diferidos, ou seja, das modalidades da previdência cujas contribuições que lhe estão afectas proporcionam ainda aforro, na projecção apenas se consideram as receitas e despesas das modalidades de reforma e morte.
Contudo, em virtude de ainda não se dispor presentemente de elementos ,sobre o resultado da aplicação do novo esquema da Caixa Nacional de Pensões - Portaria
n.º 21 799, de 17 de Janeiro de 1966 - a todas as instituições dessa natureza, não se torna viável efectuar avaliação actuarial do comportamento financeiro dos organismos dependentes da Direcção-Geral da Previdência no hexénio em estudo. Deste modo, a estimativa baseou-se na previsão dos salários sobre que incidirão as contribuições no período de 1968-1973 e no valor que os fundos devem apresentar em cada ano.
Paralelamente, efectuou-se o cômputo das despesas de pensões no decurso do hexénio.
A poupança determinada para o conjunto deste subsector atinge assim cerca de 9 400 000 contos no período deste III Plano. Porém, do ponto de vista da poupança disponível sómente as instituições dependentes da Direcção-Geral da Previdência têm sido incluídas nus financiamentos dos planos de fomento, porquanto a poupança das outras instituições não tem outro significado que não seja o de saldos que transitam de anos anteriores, mas naturalmente comprometidos nos esquemas que praticam.
Assim, para efeitos da poupança a considerar para investimento, e tendo eventualmente em conta o alargamento dos regimes de previdência aos rurais, deve contar-se apenas com o montante de 7 500 000 contos, durante a vigência deste III Plano de Fomento.

10. Convém analisar conjuntamente a evolução que se antevê para as principais categorias de receitas e despesas públicas no decurso do período de 1968-1973. Assinala-se, todavia, que não se incluíram as receitas e despesas das empresas públicas, dado ter apenas sido possível obter a previsão da respectiva poupança.

QUADRO X

Conta de operações correntes do Estado

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) Considerou-se o imposto sobre as sucessões e doações, a sisa e a taxa de compensação.
(b) Propensão marginal à poupança do Estado.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(33)

As receitas correntes do Estado devem manter elevada cadência de aumento durante a execução deste III Piano: de 1967 a 1973 a expansão prevista é de cerca de 17 milhões de contos, o que traduz acréscimo da ordem dos 63 por cento. Deste modo, como no mesmo período se avalia o empolamento das despesas (não contando com as despesas militares extraordinárias) em pouco mais de 9 milhões de contos, a poupança corrente do Estado (salvo aquelas despesas) deverá acusar sensível crescimento.

11. Analisando o conjunto da poupança prevista nos diversos subsectores do sector público durante o período de 1968-1973 - incluindo, portanto, as empresas públicas, cuja estimativa do aforro se baseou na evolução das respectivas componentes nos últimos anos-, é de admitir que a poupança do sector público, a que haverá de deduzir as despesas militares extraordinárias e o auxílio financeiro líquido às províncias ultramarinas, aumente gradualmente durante o período de execução deste III Plano, avaliando-se em cerca de 11 400 000 contos em 1973. Para esta evolução contribuirá, em larga medida, o acréscimo previsto para o aforro da Administração Central, em particular da Conta Geral do Estado, uma vez que a poupança formada nos restantes subsectores parece evidenciar incrementos de menor amplitude.

QUADRO XI

Poupança do sector público

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

Deste modo, a Administração Central manteria posição relevante na formação da poupança do sector público, estimando-se a sua participação relativa, no período de 1968-1973, em cerca de 65,6 por cento, excluindo as despesas militares extraordinárias e o auxílio financeiro ao ultramar:

12. No cálculo das projecções dos valores relativos a lucros retidos e a amortizações das empresas privadas sob a forma de sociedades, para 1968-1973, atendeu-se à evolução da formação bruta de capital no decurso dos últimos anos - de harmonia com os elementos apresentados pelo I. N. E. -, ao comportamento programado para esta componente do produto nacional no Plano Intercalar de Fomento e, principalmente, aos valores registados pelas duas variáveis em causa no período para que se dispõe de elementos de informação - 1958-1964.

QUADRO XII

Poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

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1662-(34) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Prevê-se que a poupança bruta das empresas privadas manterá elevado ritmo de aumento no período em que decorrerá a execução deste III Plano, com a taxa de acréscimo de 13,5 por cento, resultante das taxas de expansão estimadas para os lucros retidos e para as amortizações, respectivamente 15 e 11 por cento.

13. Quanto à rubrica «Particulares, instituições privadas sem fim lucrativo e empresas não societárias», o reduzido significado de que se revestem os respectivos valores até 1963 e o facto de não se dispor de estimativas autónomas seguras levaram a adoptar propensão marginal à poupança análoga à da tendência verificada no período de 1958-1965, o que implicou taxa de crescimento anual de 12,3 por cento. Esta hipótese conduz a um acréscimo da respectiva propensão média à poupança de 4,1 por cento em 1965 1 para 5,9 por cento em 1973.

14. A Conjugação das projecções de poupança das diversas origens permite estimar para o período deste III Plano o volume total de poupança interna bruta de 222 400 000 de contos a preços correntes.

QUADRO XIII

Poupança disponível no período do III Plano de Fomento

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

A poupança do sector público constituiria, em média, no hexénio de 1968-1973, cerca de 26,5 por cento do total da poupança interna disponível, aliás na linha da recuperação que tem vindo a manifestar nos anos mais recentes. Note-se, porém, que grande parte desta poupança terá de ser afectada ao auxílio financeiro ao ultramar - o que se estima em cerca de 6 700 000 contos - e ao financiamento das despesas militares extraordinárias.
Na poupança estimada para o sector privado assume especial relevância a parcela correspondente a sociedades, que atinge mais de 50 por cento do total da poupança interna bruta a formar no período de execução deste III Plano.

15. Comparando as necessidades com as potencialidades de financiamento (quadros VIII e XIII), prevê-se um saldo de cerca de 23 milhões de contos a preços correntes, sem contar com o recurso ao crédito externo.

QUADRO XIV

Necessidades e potencialidades de financiamento no período de 1968 -1973

(Em milhões de contos)

[Ver tabela de imagem]

Admite-se que, na sequência das medidas de política financeira planeadas no sentido de promover mais perfeita mobilização de poupança e da sua canalização para o financiamento do processo de crescimento, se efectue a oportuna revisão das metas actualmente estabelecidas.
Importa ainda ter presente que a compatibilização entre necessidades e potencialidades de financiamento se insere no contexto mais amplo da política que visa a assegurar a estabilidade financeira interna e a solvabilidade externa da moeda - uma das condições essenciais a que se subordina o cumprimento do Plano e cuja observância deverá ser atentamente acompanhada ao estabelecer os programas anuais de execução do mesmo Plano.

§ 2.º Mobilização da poupança para o investimento

16. A poupança formada em qualquer período, para além dos investimentos em capital fixo, pode ser dirigida para diferentes formas de aplicação financeira, ao mesmo tempo que parcela maior ou menor de poupanças de períodos anteriores é susceptível de reflectir-se nos investimentos reais do período em causa.
O completo esclarecimento da problemática que integra a formação da poupança e as suas diversas aplicações exige o estabelecimento de quadros de análise em termos de fluxos e de valores acumulados.
A actual escassez de elementos de informação aconselha, contudo, a restringir o estudo à forma como é financiado o investimento global em cada ano, independentemente do período de formação das poupanças, e obriga a limitar a observação ao período de 1960-1965.
Em qualquer caso, parece conveniente analisar os mecanismos da canalização da poupança para o investimento em duas ópticas distintas, considerando, por um lado, as entidades intervenientes como fontes de financiamento e, por outro, os mercados em que se processam as correspondentes transacções.

A) Análise por fontes de financiamento

17. Os meios financeiros dirigidos para o investimento pelas diversas fontes que actuaram no mercado metropolitano no período indicado podem ser observados no quadro que a seguir se inclui.

1 Em 1964 foi já de 5,6 por cento.

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QUADRO XV

Meios de financiamento canalizados para a F. I. B. C. (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Para evitar duplicações, excluiu-se das várias fontes o seu recurso a outras fontes de financiamento. Assim, exclui-se: do Estado, o seu recurso ao crédito interno (na medida em que proveio fundamentalmente das instituições financeiras) e externo das empresas públicas, o crédito concedido pela C. G. D. C. P. do Banco de Fomento Nacional, o crédito interno concedido pelo Estado e outras instituições financeiras e o crédito externo. No entanto, verifica-se uma diferença de âmbito entre as fontes de financiamento, que se referem à metrópole, e a F. I. B. C., que respeita apenas ao continente.
(b) Trata-se apenas de uma estimativa extremamente precária da participação da banca comercial no financiamento do investimento, baseada na variação anual do saldo de algumas das contas do seu balanço - aquelas que se presumem mais ligadas concessão de fundos a médio e longo prazos -, não incluindo, portanto, a possível contribuição da banca comercial através do crédito a curto prazo renovável.
(c) Valores residuais.
(d) Valores não inteiramente comparáveis com os dos anos seguintes, em virtude de não ter sido possível conhecer a estrutura das importações de capitais a médio e longo prazos do estrangeiro e ter-se tomado o valor global desta rubrica, enquanto nos anos seguintes apenas se incluíram nas operações do sector privado os «Investimentos directos», as «Operações sobre títulos», os «Créditos comerciais» e os «Empréstimos financeiros».

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Importa notar que, enquanto em relação à maioria das fontes apresentadas se consideraram as novas operações de financiamento realizadas em cada ano, os elementos estatísticos disponíveis determinaram que os valores referentes à banca comercial e caixas económicas privadas fossem apresentados em termos líquidos.
Analisa-se seguidamente o comportamento das várias fontes, traduzido no quadro anterior, estimando também a capacidade de financiamento no período de execução deste III Plano daquelas fontes em que tal estimativa se tornou possível.

l. Sector público

a) Estado

18. Os meios de financiamento próprios canalizados por este sector para o investimento na metrópole correspondem à poupança nele formada, adicionada das transferências de capital provenientes dos outros sectores da economia e das variações líquidas dos saldos de tesouraria e deduzidos os empréstimos concedidos ao exterior (fundamentalmente ao ultramar). A capacidade de financiamento directa do Estado, porém, não se limitou a estes valores, visto que pode dispor de fundos obtido? através do recurso ao mercado interno e externo de capitais, excluídos, no entanto, da análise para evitar duplicações.
Os fundos disponíveis são aplicados não só na formação bruta de capital fixo, mas também em transferências de capital, sobretudo para as empresas públicas, além de se destinarem à concessão de empréstimos aos subsectores do sector público e aos particulares (nesta rubrica inclui-se a aquisição de acções e obrigações das empresas privadas).
Verifica-se, pelo quadro XV, que este sector canalizou um pouco mais de 20 por cento do total de meios de financiamento aplicado em investimento metropolitano em 1960, mas diminuiu substancialmente a sua participação em 1961 e ainda mais em 1962, em que se situou ao nível de cerca de 7 por cento, recuperando em 1963, para voltar a colocar-se ao nível dos 12 por cento em 1964, a que se seguiu nova recuperação em 1965, sem, no entanto, atingir o nível anterior a 1961.

QUADRO XVI

Meios de financiamento canalizados pêlo Estado para a metrópole

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) Constituídas na sua grande maioria pela sisa, taxa de compensação e imposto sobre as sucessões e doações, que foram incluídas na poupança do Estado na análise anterior.
Excluíram-se, para evitar duplicações, as transferências de capital provenientes das empresas públicas.

Este comportamento foi devido, por um lado, ao decréscimo verificado em 1961 na poupança formada no sector, a que se tem seguido nítida recuperação, e, por outro lado, à elevação dos montantes dos empréstimos concedidos ao ultramar em 1961, e principalmente em 1962. Notou-se também a preocupação de restabelecer o nível das disponibilidades de caixa do Estado, consideràvelmente reduzido pelo desentesouramento verificado em 1961.
Outra parcela das disponibilidades de caixa do Estado - os depósitos da previdência social na Caixa Geral de Depósitos - tem vindo, por sua vez, a aumentar substancialmente a partir de 1963, passando apenas em dois anos para mais do dobro do montante existente em 1962 e atingindo 1 300 000 contos em 1965 Porém, a alta velocidade de rotação destes depósitos, cujo movimento é condicionado por decisões relacionadas com a política de aplicação de fundos da previdência, tem constituído factor restritivo da sua aplicação em operações de crédito por parte da Caixa.

19. No domínio das operações de financiamento do sector público, importa considerar a actividade dos fundos públicos, que têm vindo a canalizar recursos para empreendimentos em diversos sectores através de operações características do mercado de capitais. De modo geral, os capitais movimentados por estes fundos provêm fundamentalmente do recurso ao Tesouro e de financiamentos concedidos pelas instituições de crédito.
O Fundo de Renovação da Marinha Mercante, criado pelo Decreto-Lei n.º 35 876, de 24 de Setembro de 1946, e reorganizado em 1959, tem por objectivo o financiamento da renovação e ampliação da frota mercante nacional, através da concessão de empréstimos aos armadores

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1 Em 1966 acusou um decréscimo de 243 000 contos, pelo que se reduziu a 1 081 000 contos.

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inscritos na Junta Nacional da Marinha Mercante. Estes créditos, cuja taxa- de juro é de 3 por cento, são reembolsáveis em vinte anuidades com um período de isenção de cinco anos. Com o produto da emissão de obrigações tomadas pelo Tesouro, este Fundo efectuou, no período de 1959-1965, financiamentos no montante global de 485 000 contos.
O Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca, criado pelo Decreto-Lei n.º 39283, de 20 de Julho de 1953, e reorganizado também em 1959, tem como finalidade, nomeadamente, o financiamento da renovação e modernização das frotas de pesca, mediante empréstimos concedidos aos armadores e empresas ligadas a pesca, quer directamente, quer através dos respectivos grémios. Os créditos são reembolsáveis em doze anuidades, com início três anos depois da concessão, e vencem juro à taxa anual de 4 por cento. No período de 1959-1965, os financiamentos concedidos pelo Fundo totalizaram 518 000 contos.
O Fundo de Melhoramentos Agrícolas, cuja criação resultou do Decreto-Lei n.º 33 993, de 23 de Novembro de 1946, destina-se à concessão de créditos para diversas modalidades de melhoramentos no sector agrícola. Os seus recursos provêm designadamente de dotações orçamentais e empréstimos da Caixa Geral de Depósitos e Banco de Fomento. O montante global de financiamentos aprovados por este Fundo, no período referido, foi de 637 000 contos.
Quanto ao Fundo de Turismo, criado pela Lei n.º 2082, de 4 de Junho de 1956, entre os seus objectivos figura o auxílio financeiro aos empreendimentos hoteleiros e turísticos do sector privado e da administração local. Como principais receitas devem mencionar-se o produto de taxas especiais, os subsídios concedidos pelo Estado e o produto de empréstimos. No período de 1959-1965, os financiamentos directos à indústria hoteleira e similares do sector privado atingiram cerca de 115 000 contos. Além disso, o Fundo de Turismo tem prestado garantias a empréstimos concedidos pela Caixa Nacional de Crédito.
O Fundo de Fomento de Exportação tem vindo a conceder vários subsídios para a construção e equipamentos, nomeadamente no sector agrícola. O montante global desses subsídios, no período de 1959-1965, elevou-se a 51 000 contos.
Quanto ao Fundo dos Têxteis, criado nos termos do Decreto-Lei n.º 42 285, de 2 de Outubro de 1963, compete-lhe a assistência ao reequipamento das indústrias têxteis do continente, através de recursos provenientes, designadamente, do produto de taxas sobre a importação do algodões em rama e fibras e fios têxteis, artificiais e sintéticos.
O Fundo de Fomento Florestal e Aquícola foi instituído pelo Decreto-Lei n.º 34 394, de 27 de Janeiro de 1945. Nos termos do Decreto-Lei n.º 45 443, de 16 de Dezembro de 1963, foi modificada a sua estrutura administrativa e financeira. Entre os seus objectivos figura a assistência financeira para reflorestação de terrenos de aptidão predominantemente florestal, através de subsídios e empréstimos. Os recursos provêm, nomeadamente, de dotações orçamentais e da contribuição de certos organismos públicos.
O Fundo Especial de Transportes Terrestres, criado pelo Decreto-Lei n.º 38 247, de 9 de Maio de 1951, e reorganizado em 1962 e 1963, destina-se, em particular, à concessão de subsídios reembolsáveis, com vista à realização de empreendimentos ligados aos sistemas de transportes terrestres. O Fundo pode ainda conceder garantias a empréstimos, com a duração máxima de dez anos, obtidos em instituições de crédito pelas entidades que podem beneficiar da assistência do Fundo. Como recurso do Fundo, figuram o produto de impostos especiais, dotações da Administração Central e da administração local e o produto de operações de crédito.

b) Empresas públicas .

20. Não se conhecendo as contas corrente e de capital das empresas públicas, utilizou-se método indirecto de determinação dos seus fundos próprios canalizados para investimento, supondo que realizam todas as suas operações de transferências de capital e de crédito com o Estado.

QUADRO XVII

Conta de capital das empresas públicas (com excepção dos empréstimos concedidos pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência)

(Preços correntes)

[Ver tabela de imagem]

(a) Novas operações.

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Elaborou-se, assim, .uma conta de capital das empresas públicas (excluindo a Caixa Geral de Depósitos, para evitar duplicações), com base no conhecimento do seu nível de formação bruta de capital fixo, das transferências de capital do e para o Estado e dos empréstimos contraídos no Estado e na Caixa Geral de Depósitos, supondo a não variação das suas disponibilidades líquidas de tesouraria.
A participação média deste sector no período considerado situou-se à volta de: 2 por cento do total dos meios do financiamento postos ao serviço do investimento, à excepção de 1964, em que avultaram as transferências de capital e o crédito provenientes do Estado.

2. Instituições financeiras

21. Este sector compreende, além das instituições de crédito a que se refere o Decreto-Lei n.º 41 403, de 27 de Novembro de 1957, as empresas seguradoras.
Nos termos do citado decreto-lei, além do Estado, através dos Fundos atrás descritos, só as instituições de crédito podem normalmente exercer funções de crédito e praticar os demais actos inerentes à actividade bancária, considerando-se como tais as seguintes:

a) Os institutos de crédito do Estado - a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e a sua instituição anexa, a Caixa Nacional de Crédito;
b) Os bancos emissores, sendo os ultramarinos equiparados aos bancos comerciais quanto à actividade bancária e funções de crédito exercidas na metrópole;
c) Os bancos comerciais, abrangendo esta designação as casas bancárias;
d) Os estabelecimentos especiais de crédito, que compreendem os bancos de investimento, as caixas económicas, as cooperativas de crédito e a Companhia Geral de Crédito Predial Português .

Admitia-se ainda, no mesmo diploma, poder vir a ser permitido, com as necessárias restrições, a fixar em diploma regulamentar, o exercício de funções de crédito a outras entidades. De facto, pelo Decreto-Lei n.º 46 302, de 27 de Abril de 1965, foram estabelecidas as normas para o exercício da actividade creditícia por entidades denominadas «instituições parabancárias».
Como mostra o quadro XV, os meios de financiamento canalizados pelo conjunto das instituições financeiras parecem demonstrar elevada sensibilidade aos movimentos da conjuntura, tendo a sua participação no financiamento dó investimento provavelmente diminuído nos anos de 1961 e 1962, em que se teria cifrado em cerca de 15 por cento do total. No ano imediato, porém, teria iniciado franca recuperação, com nova quebra em 1964, situando-se provavelmente ao nível de cerca de 24 por cento do total dos meios de financiamento canalizados para o investimento em 1965.
Analisar-se-á seguidamente a contribuição para o financiamento do investimento das diversas instituições financeiras que actuam no mercado metropolitano - institutos do Estado (Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito), Banco de Fomento Nacional, caixas económicas privadas, banca comercial e empresas seguradoras.
Note-se que o Banco de Portugal, como banco central, dirige a sua actividade fundamentalmente para as operações com as outras instituições de crédito, no domínio do mercado monetário, como prestamista de última instância, pelo que o seu papel na canalização de meios financeiros para investimento é diminuto. Desde 1960, a sua participação média no total dos meios financeiros canalizados para o investimento cifrou-se em cerca de 1 por cento, como mostra o quadro XV.

QUADRO XVIII

Novas aquisições de títulos pelo Banco de Portugal

[Ver tabela de imagem]

2.1. Institutos de crédito do Estado (Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito)

22. Como se vê pelo quadro XV, a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência (incluindo os serviços privativos e a Caixa Nacional de Crédito) teria sido o único estabelecimento com comportamento de tipo estabilizador no conjunto das instituições financeiras, no período em análise, garantindo por si só em 1961-1962 cerca de 50 por cento, em média, dos fundos dirigidos para o investimento por aquelas instituições. A sua contribuição tem vindo a aumentar sucessivamente desde 1960, em que teria representado 6 por cento do total dos meios de financiamento dirigidos para o investimento, para se situar ao nível de 10 por cento nos dois últimos anos, o que lhe conferiria papel quase tão importante como o de toda a banca comercial em aplicações a médio e longo prazos, sem o inconveniente apresentado por esta, no que se refere à sensibilidade à conjuntura.
Interessa, sobretudo, assinalar a acentuada expansão verificada nas novas operações de empréstimo a médio e longo prazos no último triénio, sobretudo em 1966, duplicando a partir de 1964 as concedidas ao sector público e triplicando em 1966 as concedidas ao sector particular.
As aquisições de títulos, na sua quase totalidade do sector público, aumentaram também consideràvelmente durante p período em referência, em especial em 1965, como pode comprovar-se pelo quadro seguinte, em que, além dos montantes dos títulos adquiridos anualmente, de 1960 a 1965, se indicam os quantitativos dos empréstimos a médio e longo prazos, distinguindo em ambos os casos entre as operações realizadas com o sector público e com o sector privado.

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1 Os organismos corporativos e de coordenação económica realizam também certas operações financeiras, destinadas fundamentalmente a financiamento de stocks e outros modos de intervenção nos mercados.
2 Esta instituição é equiparada aos bancos comerciais quanto às funções de crédito não dependentes ou resultantes da sua actividade como instituição de crédito predial.

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QUADRO XIX

Novas operações realizadas pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência

(Metrópole)

[Ver tabela de imagem]

23. O confronto das taxas de progressão dos depósitos de particulares nos períodos de 1953-1960 e 1962-1964 mostra que a do último foi superior à do primeiro, apesar de a Caixa se estar a ressentir mais intensamente da concorrência bancária na captação de depósitos e, em menor grau, da emissão de certificados de aforro. Todavia, partindo do princípio de que serão tomadas as providências necessárias para limitar a acção dos factores desfavoráveis, admite-se que a taxa anual de crescimento dos depósitos da Caixa se possa estimar em 3,5 por cento, na hipótese de não se verificarem desequilíbrios na balança de pagamentos da zona do escudo. Nesta base, a extrapolação para 1973, a partir do saldo dos depósitos no fim de 1964, daria 10 302 000 contos.
Deste apuramento resulta o acréscimo de 2 743 000 contos para os depósitos de particulares no período de 1964-1973, dos quais cerca de 2 milhões de contos correspondem ao hexénio com termo em 1973.
A estimativa dos depósitos recolhidos pela Caixa deve incluir igualmente um cômputo relativo aos «depósitos necessários», ou sejam os depósitos efectuados ao abrigo de determinações legais. Estes depósitos, originados, na maioria, por disponibilidades do sector público, caracterizam-se por grande velocidade de rotação, o que não obsta a que se encare a sua comparticipação na origem dos fundos disponíveis para financiamentos. A acentuada mobilidade destes depósitos e as causas que impulsionaram as elevações dos saldos de determinados agrupamentos concorrem para que se não fixe em mais de 850 000 contos o montante que se estima poder aplicar em operações de crédito de tipo especial, do ponto de vista da sua rotação e implicitamente de liquidez.
Também o método de avaliação da poupança própria desta instituição financeira, proveniente do reforço anual dos seus fundos de reserva e de previsão, não poderá efectuar-se por mera extrapolação. Por um lado, parece inevitável ter de se contar com maiores encargos de pessoal e, por outro, considera-se a possibilidade de estimular os depositantes com elevações de taxas ou criação de condições especiais para os genuínos depósitos de poupança. Não parece, portanto, prudente aceitar-se que ultrapasse 750 000 contos o reforço dos fundos próprios das duas instituições da Caixa que desempenham funções de crédito -serviços privativos e Caixa Nacional de Crédito - ao longo do hexénio de 1968-1973, o que corresponde à média anual de 125 000 contos.
Assim, dado prever-se que o, volume de acréscimo da poupança formada nesta instituição financeira abrandará nos próximos anos, e não sendo de admitir que os «depósitos necessários», na quase totalidade provenientes do sector público ou por ele comandados, possam progredir em ritmo tão intenso como se verificou desde 1961, justifica-se se estime a expansão do montante das novas operações a taxa ligeiramente inferior à que se utilizou para os depósitos de particulares. Admitindo, portanto, uma taxa da ordem dos 2 3/4, montante das novas operações, calculado na base do valor médio de 1 milhão de contos no período de 1965-1967, situar-se-á em 6,6 milhões de contos de 1968 a 1973.
Para a confirmação deste valor, torna-se necessário supor que poderão aplicar-se em novas operações de crédito 80 por cento do acréscimo dos depósitos de particulares, assimiláveis a poupanças individuais, e um montante proveniente dos «depósitos necessários» que se computou em 850000 contos, a que se deverão adicionar 750000 contos referentes ao reforço dos fundos próprios no período considerado.
Finalmente, atendendo ao ritmo a que se têm processado as amortizações das operações contratadas a médio e longo prazos, estima-se o seu total em 2 milhões de contos no decurso dos seis anos em referência, fixando-se em 1 400 000 contos o reembolso provável das operações a curto prazo renovável.
O resumo dos dados anteriores permite justificar a estimativa da capacidade de financiamento para o período de 1968-1973, obtida por extrapolação:

Finalmente, atendendo a que os montantes das promissórias do fomento nacional que se vencerem no período de 1968-1973 poderão vir a ser reinvestidos em títulos da mesma natureza, na hipótese de a evolução da liquidez da Caixa não exigir a sua representação em disponibilidades

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mais imediatas, podem obter-se os totais daqueles títulos de harmonia com o montante anual dos vencimentos:

[Ver tabela de imagem]

Somando estes 1 750 000 contos ao apuramento anterior, conclui-se que a estimativa da capacidade de financiamento da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência se eleva a 8 350 000 contos para o hexénio de 1968-1973.

2.2. Banco de Fomento Nacional

24. O Banco de Fomento Nacional foi criado com o objectivo de dotar o sistema de crédito nacional com uma instituição especializada no financiamento a médio e longo prazos, destinada a abranger a generalidade das operações financeiras que o processo de desenvolvimento económico requer. Por outro lado, foi-lhe igualmente atribuída a realização de estudos técnicos tendentes à melhor orientação dos investimentos ou ao esclarecimento dos problemas que possam afectar qualquer sector da actividade económica.
Quanto aos seus meios de financiamento, foram considerados em particular, e para além dos seus capitais próprios, a emissão de obrigações, a aceitação de depósitos a prazo superior a um ano e os empréstimos do Estado, para fins específicos de fomento, em aplicação do produto da emissão de títulos públicos, nomeadamente promissórias do fomento nacional.
Foram já realizadas diversas emissões de obrigações, no País e no estrangeiro, e o montante dos depósitos a prazo tem revelado, recentemente, tendência expansionista.
Todavia, o volume de operações realizadas pôr este estabelecimento e destinadas a financiar empreendimentos na metrópole, desde o início da sua actividade - excluindo as «operações de garantia» e as «operações diversas», as primeiras por não constituírem financiamentos e as segundas em virtude do seu carácter de transitoriedade -, tem-se situado em níveis que não podem ainda considerar-se satisfatórios, atentas as finalidades para que esta instituição foi criada, embora tenha registado sensível melhoria em 1966.

QUADRO XX

Meios de financiamento canalizados pelo Banco de Fomento Nacional para a metrópole

[Ver tabela de imagem]

(a) Deduzidos no quadro XV aos financiamentos realizados pelo Banco de Fomento Nacional, a fim de evitar duplicações com os financiamentos realizados por outras fontes incluídas nesse quadro.

sta evolução ficou a dever-se à considerável diminuição, logo a partir do segundo ano de existência, da sua participação líquida na canalização de meios de financiamento para o investimento. Com efeito, deduzidos os recursos financeiros facultados pelo Estado para operações de financiamento na metrópole - 650 000 contos, e apenas em 1961 e 1962 -, os postos à sua disposição pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência - 250 000 contos em 19G3 e 1965, aos quais há a adicionar 277000 contos em 1966 -e os que foram obtidos através de crédito externo - 675 000 contos em 1961 e 1963 -, verifica-se que o Banco de Fomento Nacional colocou, em 1960, na metrópole, 2,5 por cento do total dos meios de financiamento aplicados em investimento. Seguiu-se um período de retraimento crescente, atingindo até valores negativos, para se notar a partir de 1964 nítido esforço de recuperação, mediante uma política de atracção de poupanças, sob as formas de depósitos a prazo e de empréstimo, bem como do reembolso dos financiamentos concedidos pelo Fundo de Fomento Nacional.
Verifica-se, assim, que, no triénio de 1961-1963, o Banco de Fomento Nacional aplicou na metrópole menos fundos do que os que obteve das outras fontes de financiamento, servindo, assim, de veículo de fundos metropolitanos e externos para o ultramar.

25. De harmonia com as actuais previsões do comportamento da instituição no decurso deste III Plano, na sequência, aliás, das admitidas aquando da elaboração do

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Plano Intercalar de Fomento, e não entrando em linha de conta com a eventual contribuição anual do Estado (200 000 contos) para operações de financiamento, os montantes previstos para o hexénio a que o III Plano de Fomento respeita seriam os seguintes:

[Ver tabela de imagem]

Este volume de financiamentos compreende, como é óbvio, toda a actividade creditícia deste Banco no tocante a empréstimos directos e participações financeiras, sejam quais forem os sectores e parcelas do território nacional a que respeitem. De facto, não é possível fazer uma estimativa separada para a metrópole e o ultramar.
Cumpre acentuar ainda, por um lado, que a acção desenvolvida pelo Banco no passado condiciona, em certa medida, a sua acção futura, exigindo continuidade de assistência financeira e técnica a empreendimentos e ramos de actividade que dele mais estreitamente dependem, e que, por outro lado, a área e o âmbito em que se exerce e se espera a intervenção do Banco de Fomento Nacional são tão vastos e as necessidades tão prementes que algumas vezes se não mostra viável recusar apoio financeiro a solicitações porventura menos prioritárias do ponto de vista estritamente económico.
Para a realização deste volume de financiamento o Banco de Fomento Nacional conta com os seguintes recursos:

a) Capital próprio

Atenta a experiência dos anos anteriores e em especial dos anos de 1964 e 1965, prevê-se que a formação de capital próprio atinja, no hexénio que este III Plano abrange, os montantes de:

[Ver tabela de imagem]

b) Fundos de garantia

Os fundos de garantia, que, em princípio, deveriam também ser contados na formação do capital, serão todavia tratados em separado, atenta a circunstância de por disposição estatutária, os valores integrantes daqueles fundos, destinados exclusivamente a cobrir prejuízos das operações realizadas, só poderem aplicar-se em títulos da dívida pública portuguesa ou em obrigações com garantia do Estado.
Os limites rígidos que assim se põem à aplicação de tais recursos restringem de modo notável as suas virtualidades como fonte de financiamento.
As irregularidades da evolução no passado recente e a circunstância de as dotações do fundo de garantia dependerem de deliberações tomadas anualmente impõem alguma prudência na previsão do seu comportamento futuro, pelo que os valores representativos dos recursos anualmente aplicáveis no âmbito dos fundos em causa são estimados como a seguir se apresenta:

QUADRO XXI

Fundos de garantia: recursos aplicáveis

[Ver tabela de imagem]

c) Depósitos a prazo

Os depósitos a prazo ascendiam a 569 500 contos em 31 de Dezembro de 1965. A este montante há, porém, que deduzir depósitos no valor de 428 800 contos, feitos em condições que praticamente os equiparam a verdadeiros empréstimos.
O novo regime a que, no atinente às taxas, o Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto de 1965, sujeitou os depósitos, permitiu ao Banco de Fomento Nacional definir e executar, neste domínio, uma política mais segura, em ordem a intensificar, tanto quanto possível, a captação da poupança.
Resultou, assim, admitir-se que o volume dos depósitos a prazo neste Banco (não considerando os de regime especial a que acima se aludiu) será de 200 000 contos em 31 de Dezembro de 1966, com acréscimos, daí em diante, de 10 por cento ao ano.
Nestes termos, considerando, por um lado, que os vencimentos dos depósitos existentes em 31 de Dezembro de 1966 se distribuem, em duas parcelas iguais, pelos anos de 1967 e 1968 e partindo, por outro lado, do princípio de que os reembolsos das renovações e depósitos contratados em cada um dos anos posteriores se repartirão também igualmente pelos dois anos subsequentes, serão os seguintes os valores a atingir no próximo futuro:

QUADRO XXII

Previsão da evolução dos depósitos

[Ver tabela de imagem]

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Embora a previsão assim estabelecida seja modesta, cumpre notar que, - em face da experiência já obtida, os referidos valores corresponderão à obtenção de novos depósitos e renovações que, no hexénio em causa, se deverão situar em cerca de 844 000 e 450 000 contos, respectivamente.

d) Realização do património

No que se refere à realização do património, os meios libertos no hexénio de 1968-1973, correspondentes à diferença entre os reembolsos dos financiamentos concedidos pelo Banco de Fomento Nacional e os pagamentos a efectuar por este aos seus credores, deverão situar-se seguintes níveis:

[Ver tabela de imagem]

Da comparação entre o volume de financiamentos anteriormente previsto e o montante dos recursos apurado infere-se que este Banco, para poder executar o programa anunciado, necessita de obter, no hexénio em causa, recursos complementares do montante global de 3166000 contos.

QUADRO XXIII

Recursos complementares

[Ver tabela de imagem]

Excluídos os depósitos a prazo e não se havendo considerado, em toda a análise, a realização de quaisquer empréstimos do Estado ou das províncias ultramarinas, restam como fontes possíveis de recursos complementares, essencialmente: a emissão de obrigações, os empréstimos das instituições de crédito nacionais e o crédito externo.
No que respeita às obrigações, a actual estruturação dos mercados do dinheiro em geral, e particularmente do mercado de capitais, tornam inseguríssimas quaisquer previsões que nesse campo pretendam estabelecer-se.
Deve, no entanto, salientar-se desde já que alterações na remuneração desta espécie de títulos pode modificar profundamente o estado das coisas, viabilizando o recurso, em termos satisfatórios, a tal fonte financeira.
Todavia, não estando ainda estabelecida a orientação a seguir nesse domínio, torna-se impossível prever com rigor a medida em que a emissão de obrigações virá a concorrer para a obtenção dos recursos complementarei, em causa.
No que resposta aos empréstimos das instituições de crédito nacionais, os financiamentos obtidos do Banco de Portugal destinam-se normalmente à solução de contas de tesouraria, não desempenhando, portanto, papel relevante nos investimentos realizados.
O Banco de Angola facultou ao Banco de Fomento Nacional, em 1961, um empréstimo de 150 000 contos, aumentado, em 1963, para 160000 contos, e que se destinou a facilitar o arranque da actividade creditícia desta última instituição na província de Angola.
Para fins semelhantes no atinente à província de Moçambique, concedeu o Banco Nacional Ultramarino um empréstimo de 100 000 contos ao Banco de Fomento Nacional, em 1960.
A Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência colocou, através de dois empréstimos sucessivos (um em 1963 e outro em 1965), 250000 contos à disposição do Banco de Fomento Nacional, para apoio das suas operações de financiamento, cedendo mais 277 000 contos em 1966.
Conclui-se, portanto, que, embora se torne necessário estreitar e intensificar as relações com as instituições de crédito referidas e com as demais que constituem o sistema bancário português, não é lícito, nomeadamente na conjuntura actual, esperar daí contributo fortemente representativo para a cobertura das necessidades financeiras do Banco de Fomento Nacional.
Quanto ao crédito externo, este constitui, como é óbvio, fonte de recursos de que não pode prescindir-se. A situação do mercado de capitais estrangeiro não tem sido de molde a viabilizar a realização de operações era termos compatíveis com as taxas de juro que se praticam internamente. Sendo, todavia, legítimo prever uma evolução favorável, a prazo mais ou menos curto, da conjuntura do mercado financeiro internacional e admitindo-se, por outro lado, que a progressiva consolidação da economia portuguesa e o eventual aperfeiçoamento do condicionalismo do mercado interno de capitais venham a atenuar as dificuldades que se sentem agora, tornar-se-á possível recorrer, no futuro, em medida mais ou menos ampla, ao crédito externo.
Como fonte adicional de meios financeiros pode considerar-se ainda a desmobilização da carteira de títulos do Banco de Fomento Nacional. Certo é, todavia, que, por um lado, o recurso a essa solução dependerá da capacidade de absorção do mercado e que, por outro, a venda de títulos tem de processar-se em termos particularmente cautelosos e com adequada lentidão, numa bolsa como a nossa, cuja debilidade a torna hipersensível.

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2.3. Caixas económicas privadas

26. Não obstante a insuficiência dos elementos estatísticos disponíveis, o quadro XV mostra que a participação das caixas económicas privadas no financiamento do desenvolvimento económico nacional teria sido diminuta, situando-se em cerca de 1 por cento do total de meios de financiamento canalizados para o investimento, embora com tendência- crescente nos últimos anos.
Com efeito, como evidencia o quadro XXIV, a variação dos empréstimos concedidos, que na sua maioria são hipotecários, tem atingido valor relativamente reduzido, embora nos dois últimos anos revele mais acentuada tendência crescente. Além disso, segundo informações recentes, cerca de metade do crédito a prazo superior a dois anos - o mais adequado para o financiamento do investimento - dirige-se para o consumo, corri evidente prejuízo da sua aplicação na formação de capital fixo.

Tipo de crédito concedido ao sector privado

[Ver tabela de imagem]

Por seu turno, o valor global, dos títulos em carteira experimentou contracção no decurso do período em estudo.

QUADRO XXIV

Meios de financiamento canalizados pelas caixas económicas privadas da metrópole

[Ver tabela de imagem]

Quanto à tomada de promissórias do fomento nacional, o valor correspondente a este conjunto de instituições cresceu gradualmente ao longo do período em análise, elevando-se no final de 1965 a 61 000 contos.

27. Como não se encontram ainda fixados os requisitos especiais sobre grau de liquidez e composição da cobertura das responsabilidades, previstas no artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 41 403, de 27 de Novembro de 1957, a estimativa da capacidade de financiamento destas instituições baseou-se na estrutura das reservas de caixa e na proporção entre responsabilidades e coberturas observadas nos últimos anos.
Para avaliar a capacidade de aquisição de promissórias do fomento nacional, consideraram-se, em primeiro lugar, as projecções do conjunto dos depósitos à ordem e a prazo, dada a semelhança das suas características, pois representam, na sua maioria, depósitos de poupança com baixa velocidade de rotação. Usando na determinação das projecções a taxa de 15 por cento, que corresponde à média dos últimos anos, e admitindo que as reservas de caixa representam 25 por cento do referido conjunto de responsabilidades, encontram-se os valores de 745 000 e 1 723 000 contos para as reservas de caixa em 31 de Dezembro de 1967 e 1973, respectivamente. Como as promissórias do fomento nacional constituíram, em média, nos últimos anos, cerca de 10 por cento das reservas de caixa, pode supor-se que os montantes destes títulos venham a atingir, naquelas datas, 75 000 e 172 000 contos. Considerando-se, porém, que as promissórias em circula-

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cão em 31 de Dezembro de 1967 serão totalmente amortizadas durante o período em questão, estima-se a capacidade de tomada de promissórias em 172 000 contos.
No que se refere à concessão de empréstimos, uma vez que o montante dos empréstimos e contas correntes caucionados apresentou, em média, nos últimos anos, 73 por cento do valor das responsabilidades - depósitos à ordem e a prazo -, é de admitir que em 31 de Dezembro de 1967 e de 1973 o seu valor se eleve a 2 174 000 e 5 031 000 contos, respectivamente. Deste modo, a variação do montante dos empréstimos das caixas económicas entre as referidas datas pode avaliar-se em 2 857 000 contos.
Por último, quanto à carteira de títulos, admite-se que o seu montante se manterá estacionário durante o período em causa, de acordo com a tendência observada nos últimos anos.
Nestes termos, a estimativa da capacidade de financiamento das caixas económicas no período de 1968-1973 eleva-se a:

Milhares de contos

Tomada de promissórias do fomento nacional ......... 172
Empréstimos e contas correntes caucionados .........2857
3029

28. Entre os estabelecimentos especiais de crédito importa ainda fazer referência às caixas de crédito agrícola mútuo, cujo objectivo consiste na concessão de crédito aos agricultores nelas associados. Todavia, nos empréstimos concedidos devem predominar os empréstimos a curto prazo necessários para financiar a produção agrícola.
Os seus recursos financeiros provêm principalmente de empréstimos da Caixa Nacional de Crédito, a que acresce montante sensivelmente inferior de fundos depositados. Nos últimos anos, o saldo da conta «Empréstimos aos sócios» apresentou a seguinte evolução, que se deve comparar com as dos créditos concedidos pela Caixa Nacional de Crédito e dos depósitos à ordem e a prazo:

QUADRO XXV

Situação das caixas de crédito agrícola mútuo

Saldos em milhares de contos

[Ver tabela de imagem]

A aparente tendência para a estagnação do crédito outorgado por estas instituições resulta da orientação definida no Decreto-Lei n.º 45 223, de 2 de Setembro de 1962, que reduziu os financiamentos para a cultura do trigo. A parcela correspondente a financiamentos efectuados à custa dos fundos próprios ou depositados era, em 31 de Dezembro de 1965, apenas de 320 000 contos.

2.4. Banca comercial

29. A banca comercial, em face dos elementos estatísticos disponíveis, parece ter apresentado elevado grau de sensibilidade à conjuntura, contraindo intensamente, em 1961 e 1962, o montante do saldo das suas operações de crédito suposto a médio prazo e o volume da carteira de títulos, enquanto nos restantes anos do período em análise a sua participação se situaria entre 7 por cento e 12 por cento do total dos meios de financiamento a médio e longo prazos aplicados em investimento.

QUADRO XXVI

Meios de financiamento a médio e longo prazos canalizados através das principais rubricas pelos bancos comerciais e casas bancárias na metrópole

[Ver tabela de imagem]

(x) Em 1962, a estrutura dos quadros das estatísticas financeiras do Instituto Nacional de Estatística foi alterada, autonomizando as rubricas «Empréstimos a mais de um ano» e «Participações financeiras» em relação, respectivamente, a «Empréstimos e contas correntes caucionados» e «Carteira de títulos».

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O total dos empréstimos e contas correntes caucionados, tomado como crédito a médio prazo, inclui uma parto substancial de crédito a curto prazo, que as actuais estatísticas permitem estimar, em média, em cerca de 80 por cento 1, mas que se presume tratar-se em grande parto de crédito renovável.
Ao quadro anterior, por outro lado, haveria que adicionar o crédito a médio prazo englobado na carteira comercial, que, como se verifica pelos dados relativos aos anos de 1965 e 1966 2, atingiria valores significativos, supondo que normalmente o crédito comercial a mais de seis meses é renovável.
Note-se, ainda, que uma fracção, decerto elevada, do crédito concedido pela banca comercial sob a forma da desconto de letras até seis meses beneficia de uma ou mais renovações, constituindo nessa parte crédito a médio prazo.
É certo que nem todo o crédito concedido, mesmo a prazos mais longos, se destinou à formação de capital, pelo que convirá rodear das devidas cautelas este tipo de análise do crédito distribuído.
As carteiras de títulos dos bancos comerciais, cuja variação, calculada ao valor nominal, permite avaliar a intervenção destas instituições no mercado de títulos, evidenciaram, no período em referência, expansão da ordem dos 2 milhões de contos, tendo o incremento dos «Titules do Estado e por ele garantidos» representado cerca de 90 por cento do total.

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1 Informações recentemente vindas a público apresentam as seguintes estruturas dos empréstimos e contas correntes caucionados:

a) Quanto ao prazo:

[Ver tabela de imagem]

b) Quanto aos sectores beneficiários :

[Ver tabela de imagem]

2 Estrutura da carteira comercial quanto ao prazo:

[Ver tabela de imagem]

QUADRO XXVII.

Bancos comerciais

Títulos nacionais em carteira (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Não inclui os valores dos títulos adstritos à cobertura da emissão monetária do Banco Nacional Ultramarino.

O valor nominal das acções em carteira registou .ao período em causa, acréscimo da ordem dos 168 000 contos, que se deverá atribuir aos títulos das empresas metropolitanas, já que as acções ultramarinas somaram reduzido montante, que se manteve praticamente estacionário no último triénio.
No que se refere às obrigações, os títulos da dívida pública representam a parcela mais significativa - 96,3 por cento em 1965. As obrigações privadas apresentam estrutura semelhante à dos títulos de rendimento variável.
A tomada de promissórias do fomento nacional pela banca comercial, de fundamental importância no financiamento do processo de desenvolvimento económico, atingiu no sexénio de 1960-1965 o volume de 1 090 000 contos.
As participações financeiras da banca comercial apresentam estabilidade no triénio de 1962-1964, apenas evidenciando significativo incremento em 1965.
A capacidade para a aquisição de acções e de obrigações não garantidas pelo Estado, bem como para participações financeiras, condicionada pelo Decreto-Lei n.º 42641, de 12 de Novembro de 1959 (artigo 67.º), atingiu, no período considerado, as seguintes expressões:

QUADRO XXVIII

Capacidade para a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado

[Ver tabela de imagem]

(a) Carteira de títulos + Participações financeiras - Fundos públicos.

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Verificou-se, assim, acentuada elevação do capital social em 1963, 1964 e 1966, devida em grande parte às incorporações de reservais, pelo que o valor dos fundos de reserva se manteve relativamente estável entre 1961 e 1964, aumentando de forma nítida em 1965, em consequência da escrituração de «Reservas de reavaliação», bem como em 1966.
A conjugação destes movimentos determinou sensível elevação da capacidade potencial em 1965, e como a capacidade utilizada aumentou em menores proporções, o valor da capacidade por utilizar revelou subida apreciável.

30. A capacidade potencial de financiamento da banca comercial desdobra-se, numa primeira análise, em capacidade para aquisição de títulos e para concessão de crédito com vista, a financiar ou pré-financiar a formação de capital fixo.
Para avaliar a capacidade de tomada de promissórias do fomento nacional, torna-se necessário efectuar previamente as projecções das principais categorias de responsabilidades, a fim de conhecer o valor das reservas mínimas de caixa no fim de 1967 e de 1973.

QUADRO XXIX

Responsabilidades à vista e a prazo da banca comercial

[Ver tabela de imagem]

Para as responsabilidades à vista, os obstáculos que se deparam ao procurar antever a sua evolução provável em 1968-1973 - designadamente os que decorrem da dificuldade de estimar as repercussões do comportamento da balança de pagamentos, tanto na metrópole como no ultramar, das tensões inflacionistas que vem experimentando a economia do continente e de eventuais alterações da estrutura de taxas de juro - levaram a adoptar taxa inferior à da média do hexénio e análoga à considerada para o produto do sector «Bancos e seguros», no período deste III Plano, corrigida para preços correntes.
Quanto aos depósitos a prazo ou com pré-aviso superior a 30 dias, pareço justificar-se a utilização da taxa de 15 por cento, não obstante a tendência revelada nos últimos anos. De facto, os acréscimos verificados, especialmente em 1965 traduzem evolução de características anormais, resultante em larga medida da concorrência interbancária e da transformação de depósitos à ordem em depósitos a prazo é cora pré-aviso, na sequência da publicação do Decreto-Lei n.º 46 492, para além dos efeitos da evolução das relações económicas externas e da expansão do crédito.
Admitindo que se mantenha em 10 por cento a parte dos depósitos a prazo e com pré-aviso correspondente aos prazos de 30 a 90 dias, as reservas mínimas de caixa atingiriam os seguintes valores, em milhares de contos:

[Ver tabela de imagem]

Assim, no caso de se conservar o limite de J/3 para a participação de promissórias nas reservas mínimas de caixa, a banca comercial poderia ter no fim. de 1967 e 1973 promissórias no valor de 2699 e 4997 milhares de contos, respectivamente.
Note-se que o limite da importância total de promissórias em circulação (que é 3,5 milhões de contos até 31 de Dezembro de 1967) depende de contrato a realizar entre o Estado e o Banco de Portugal. Admitindo, porém, que este limite venha a ser elevado de forma a permitir a utilização integral da capacidade potencial para a tomada de promissórias e considerando que o montante das promissórias em circulação em 31 de Dezembro de 1967 (a amortizar totalmente durante o período em causa) poderá ser novamente aplicado nesses títulos, pode estimar-se a referida capacidade em 4 997 000 contos.
Partindo do princípio de que não é alterada a regulamentação vigente, para calcular a capacidade para a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado, há que efectuar, em primeiro lugar, as projecções do capital social e dos fundos de reserva até 1973. Torna-se, assim, necessário considerar determinadas hipóteses baseadas na evolução que se prevê venha a dar-se na elevação do capital social e na incorporação de lucros em reservas durante o período deste III Plano.
O quadro seguinte mostra a evolução nos últimos anos dos lucros líquidos e dos lucros incorporados em reservas:

QUADRO XXX

Lucros dos bancos comerciais

[Ver tabela de imagem]

Dada a forma irregular como se tem processado a expansão dos lucros líquidos, na sua projecção será utilizada a taxa de acréscimo considerada para o produto do sector «Bancos e seguros» no período do III Plano (8 por cento). Por outro lado, admitir-se-á que a parte dos lucros líquidos afectada a reservas será de 1/3 do total, o que corresponde à média dos últimos anos.
Quanto ao capital social, supõe-se que não se verificará qualquer aumento por entrada de numerário e que os aumentos por incorporação de reservas se verifiquem a taxa diminuta (3 por cento).

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QUADRO XXXI

Projecções do capital social e fundos de reserva

[Ver tabela de imagem]

Verificar-se-ia, assim, o seguinte acréscimo da capacidade de aquisição de títulos não garantidos pelo Estado (milhares de contos):

1/5 do aumento do capital social .... 116
Aumento dos fundos de reserva ....... 1 024
1 140

A este aumento de capacidade potencial no período de 1968-1973 acresce a capacidade não utilizada em 31 de Dezembro de 1967, que se estima em 1 311 000 contos, supondo constante até 1967 a capacidade utilizada em 1965.
Assim, o quantitativo global da capacidade para aquisição de títulos não garantidos pelo Estado deverá atingir 2 451 000 contos no período deste III Plano.
A estimativa dos valores das restantes aplicações ligadas ao financiamento directo ou indirecto do investimento (títulos públicos e garantidos pelo Estado e crédito a médio prazo) pode efectuar-se a partir das projecções, apresentadas anteriormente, das principais categorias de responsabilidades.
No que se refere a responsabilidades à vista e depósitos de 30 a 90 dias, admitindo, para a constituição das respectivas coberturas, estrutura idêntica à apurada em 31 de Dezembro do último biénio, obtêm-se os seguintes valores, em milhares de contos:

[Ver tabela de imagem]

Mantendo a participação dos títulos públicos e garantidos pelo Estado nestas garantias observada em 31 de Dezembro de 1965 (6 por cento), estima-se a respectiva capacidade de aquisição, no período de 1968-1973, em 1 732 000 contos.
Quanto à cobertura dos depósitos a prazo superior a 90 dias, admitindo também estrutura das coberturas idêntica à do último biénio, obtêm-se os seguintes valores (em milhares de contos), em confronto com os montantes daqueles depósitos:

[Ver tabela de imagem]

(a) Valores da carteira comercial de seis meses a dois anos e de empréstimos e contas correntes caucionadas entre um e dois anos.

Verifica-se, pois, que o valor total das coberturas é inferior aos valores calculados para os depósitos de mais de 90 dias, pelo que a estrutura das coberturas não poderá manter-se inalterada durante o período considerado. Admitindo, porém, que se verificará aumento de proporção das garantias compostas por valores realizáveis a curto prazo, crescendo, portanto, também o excesso acima indicado, a estimativa da variação do crédito a médio prazo (até dois anos) será então de 6 430 000 contos.
Por sua vez, a capacidade disponível no fim de 1967 para esta espécie de financiamentos deverá englobar o excesso de cobertura das responsabilidades até 90 dias (13 319 000 contos) e ainda o excesso das reservas de caixa afectas aos depósitos a prazo de mais de 90 dias (392 000 contos).
Quanto ao referido excesso de coberturas, afigura-se que para o elevado montante verificado no final de 1965 deverá ter concorrido o interesse de constituir volumosa cobertura, dada a inclusão na carteira comercial até seis meses de apreciável quantitativo de crédito renovável. Uma vez reembolsado este crédito, poderá admitir-se a concessão de novos créditos da mesma modalidade ou genuinamente a médio prazo.
Considerando a existência desta capacidade disponível, obtém-se a estimativa da capacidade global de financiamento a médio prazo de 20.1.41 000 contos.
Por outro lado, uma vez que anteriormente apenas se considerou a aplicação de l/5 do aumento do capital social, pode supor-se que a parte restante desse aumento (463 000 contos) venha a ser aplicada em operações a prazos mais longos.
Em resumo, a estimativa da contribuição da banca comercial para o financiamento de operações ligadas ao investimento, durante este III Plano, é a seguinte:

[Ver tabela de imagem]

2.4. Empresas seguradoras

31. O progressivo desenvolvimento económico do País tem sido acompanhado de crescente expansão da actividade seguradora, com o consequente acréscimo das responsabilidades das empresas do sector, como se pode concluir pela evolução do volume das suas reservas técnicas (matemáticas de seguros de vida, matemáticas das pensões de acidentes de trabalho, de garantia e de seguros vencidos). O total destas reservas, em que avultam as reservas matemáticas de seguros de vida e de pensões de acidentes de trabalho, cifrou-se em 2258 milhares de contos em 1958 e atingiu 3693,7 milhares de contos em 1964. Houve, assim, neste período, um incremento de 39,4 por cento, à taxa média anual de 5,7 por cento.
O conjunto dos depósitos (iniciais e variáveis) registou comportamento idêntico, dado que, de 1958 a 1964, o respectivo valor global passou de 59,6 para 83,3 milhares

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de contos, o que traduz expansão a igual taxa média anual, fundamentalmente determinada pelo crescimento dos depósitos variáveis, que no mesmo período acusaram aumento médio anual de 8,9 por cento - idêntico ao registado no montante dos prémios de seguros de acidentes de trabalho, de que os depósitos variáveis são função.
Por seu turno, os lucros não distribuídos das sociedades de seguros nacionais, após a elevação verificada nos primeiros anos do período de 1958-1964 - 79,9 por cento -, experimentaram sensível contracção a partir de 1962. Esta quebra deve imputar-se, fundamentalmente, ao agravamento das condições de exploração de alguns ramos de seguros, particularmente os de automóveis e responsabilidade civil e de acidentes de trabalho. Importa ainda referir que os resultados dos exercícios das sociedades estrangeiras revelam evolução muito irregular, a que, no entanto, não deve conferir-se significado especial, por apenas respeitarem, em geral, às operações de seguros directos, dado que o movimento do resseguro é feito nas respectivas sedes e, por isso, não é contabilizado em Portugal.
As disponibilidades imediatas das sociedades de seguros, das quais uma pequena parte pode ser investida, são representadas essencialmente por depósitos bancários.
O volume destes depósitos, que em 1958 era de 265,1 milhares de contos, elevou-se a 396,3 milhares de contos em 1964. O seu movimento ascensional apresentou-se algo irregular, por depender da maior ou menor rapidez de cobrança dos prémios de seguros, das liquidações das contas de resseguros e também das oportunidades de se efectuarem investimentos em condições satisfatórias, dos pontos de vista de qualidade e de rendimento.

QUADRO XXXII

Depósitos bancários

[Ver tabela de imagem]

Na sequência do comportamento esquematizado das principais variáveis definidoras da capacidade de financiamento das empresas seguradoras, pode analisar-se, através do quadro XXXII, a forma como se processou a mobilização dessa capacidade no decurso do período de 1958-1964, tanto no que se refere a sociedades de seguros nacionais como a estrangeiras.
Quanto às sociedades nacionais, têm assumido posição preponderante no total das aplicações efectuadas os títulos de crédito e, em especial, os imóveis - cuja importância relativa aumentou, ainda que ligeiramente, nos últimos anos.
No que se refere aos títulos de crédito, assinale-se a preferência conferida aos títulos particulares, entre os quais se destacam os títulos de rendimento variável (acções). Os títulos da dívida pública e equiparados têm revelado ultimamente, em valor absoluto, acentuado progresso - em consequência, designadamente, da exigência de um mínimo de 15 por cento de aplicação das reservas técnicas naqueles títulos, em virtude de disposição legal promulgada em 1961.

QUADRO XXXIII

Investimentos das empresas seguradoras

[Ver tabela de imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(49)

Em relação às sociedades estrangeiras, verifica-se também que cerca de 89 por cento dos seus investimentos se dirigem para títulos de crédito e imóveis, embora a respectiva política de investimentos se revele diversa da seguida pelas sociedades nacionais. Efectivamente, as empresas estrangeiras investem mais em títulos do que em imóveis; mais em títulos da dívida pública ou equiparados do que em títulos particulares; mais em obrigações do que em acções.
Em soma, as empresas seguradoras, cuja contribuição para o total dos meios de financiamento canalizados para o investimento não vai além de 2,5 por cento, orientam as suas poupanças-reservas para aplicações isentas de risco (imóveis, títulos públicos e privados), pelo que o papel que desempenham na orientação da poupança para os sectores produtivos é muito limitado.

32. A capacidade de financiamento das sociedades de seguros para o período deste III Plano terá de ser medida em função de dois grupos de variáveis: num primeiro grupo encontram-se as que> respeitam, a elementos que traduzem a poupança e as disponibilidades ainda não investidas; num segundo grupo reúnem-se as relativas às preferências que têm sido dadas às várias espécies de valores, no uso daquele grau de liberdade que o condicionalismo legal permite e que a natureza das operações aconselha.
Desta forma, as variáveis do primeiro grupo - variação anual das reservas, técnicas, dos depósitos obrigatórios, flutuação dos lucros não distribuídos e, em certa medida, a evolução dos depósitos bancários - conduzem à capacidade potencial de financiamento; as variáveis do segundo grupo - tendências preferenciais para cada uma das espécies em que se operaram os investimentos - levam à capacidade efectiva de financiamento.
Na projecção das reservas técnicas seguiram-se os métodos de extrapolação já utilizados no Plano Intercalar de Fomento, que conduziram à previsão de um montante .de cerca de 6 milhões de contos em 1972, em virtude de um ritmo anual de crescimento de 6,3 por cento.

QUADRO XXXIV

Reservas técnicas previstas para cada um dos anos do período de 1965-1972

[Ver tabela de imagem]

Quanto aos depósitos obrigatórios - iniciais e variáveis -, a sua própria natureza aconselhou a sua projecção separada, obtendo-se a previsão indicada no quadro XXXV. Nele se verifica que, em conjunto, os depósitos obrigatórios deverão elevar-se de 86 300 contos, em 1965, para 121 000 contos, em 1972.

QUADRO XXXV

Depósitos obrigatórios

[Ver tabela de imagem]

Embora nos últimos anos se tenham registado aumentos do capital social em várias sociedades de seguros nacionais, estes têm-se efectuado, na sua quase totalidade, à custa das reservas livres, nas quais se contêm os lucros não distribuídos. Daí o facto de não se considerarem, na determinação da capacidade de financiamento do sector de seguros, os aumentos de capital com entradas de numerário proveniente da subscrição de acções emitidas.
Em face da experiência dos últimos anos, conclui-se, que não se deverá estimar em mais de 33 000 contos os lucros mobilizáveis anualmente no sector de seguros.
Por outro lado, a natureza aleatória que está na base das operações de seguros e os elevados encargos com a administração e com ,a aquisição de carteiras justificam a permanente disponibilidade de fundos de maneio adequados, os quais deverão ser tanto mais elevados quanto maior for a dimensão das empresas. Deste modo, parece conveniente que, em termos de capacidade financeira mobilizável para investimento, se considerem os depósitos que constam do quadro XXXIV reduzidos de 20 por cento. E como, do líquido daqueles depósitos, imposições legais impedem a mobilização de mais de 25 por cento, resulta que a capacidade de financiamento gerada nos depósitos bancários das empresas seguradoras se situa em cerca de 20 por cento do respectivo montante, ou sejam 77 500 contos no período de 1968-1973.
Além destes depósitos, há ainda a considerar os que se encontram na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e

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Previdência como caução, os quais, pela média dos últimos cinco anos, se podem computar em 61 000 contos (45 000 contos das sociedades nacionais e 16 000 contos das sociedades estrangeiras).
A evolução dos empréstimos sobre apólices de seguros do vida respeitam a uma variável do segundo grupo apontado, como condicionamento da capacidade de financiamento das empresas seguradoras. Por outro lado, como estes empréstimos constituem uma antecipação de direitos dos segurados, eles representam uma limitação à capacidade potencial de financiamento. Da comparação dos valores das reservas matemáticas de seguros de vida com os das aplicações feitas em empréstimos sobre apólices, resultou poder computar-se em 148 800 contos o acréscimo destes empréstimos no período de 1968-1973.
Considerando os elementos inicialmente apresentados e o comportamento previsto para cada uma das componentes da capacidade potencial de financiamento, esta deve elevar-se a cerca de 2 milhões de contos no período a que respeita o III Plano de Fomento:

[Ver tabela de imagem]

33. Com as reservas que o seu estudo, evidenciou, a que acresce a respeitante à relação entre os prazos de amortização das promissórias de fomento nacional e os dos investimentos financiados com o produto da sua emissão, resume-se seguidamente a capacidade de financiamento, para 1968-1973, das instituições financeiras consideradas:

[Ver tabela de imagem]

(a) Metrópole e ultramar.

3. Particulares e empresas privadas não financeiras

34. Em virtude do contributo relativamente moderado do sector público na canalização de meios de financiamento para o investimento, bem como do nível limitado de institucionalização da poupança e da sua canalização para o crédito a médio e longo prazos, a que se adiciona a extrema sensibilidade das instituições financeiras à conjuntura, tem correspondido aos particulares e às empresas privadas não financeiras um importantíssimo papel no financiamento do investimento, que se terá cifrado, em média, no hexénio em análise, em cerca de 48 por cento do total da poupança aplicada em investimento, como mostra o quadro XV.
Tendo sido obtido por diferença, reflectem-se neste valor todos os movimentos das outras fontes de financiamento, o que lhe retira parte do significado. Além disso, é natural que se encontre sobreavaliado, na medida em que proporção não determinada, mas muito relê vau te, da procura de financiamento para formação de capital fixo é desviada para o mercado monetário e satisfeita através de concessão de crédito bancário a curto prazo.
De facto, por força das deficiências do mercado de capitais, o crédito bancário a curto prazo, conjuntamente com o autofinanciamento, é chamado a desempenhar papel dominante, mas inapropriado, no crescimento económico português.

É-se conduzido à mesma conclusão -da elevada participação desta fonte no financiamento do investimento - através da análise do financiamento do investimento privado no quadro seguinte, em que se tornou possível individualizar os fundos postos à disposição do sector privado pelo Estado, algumas instituições financeiras e estrangeiro.
Merece especial referência o facto de se ter considerado, quanto à canalização de poupanças para a formação bruta de capital privado através das instituições financeiras, o crédito a médio e longo prazos e a aquisição de títulos privados através das caixas económicas, do Banco de Fomento Nacional e das empresas seguradoras. Com efeito, excluiu-se a banca comercial e o crédito a curto prazo concedido pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, designadamente, com o objectivo de evitar as dificuldades actualmente existentes em avaliar o seu verdadeiro significado do ponto de vista do financiamento do investimento. Por outro lado, não é possível distinguir no crédito distribuído pela banca comercial entre o que se destina ao sector público e ao sector privado, excepto para o ano de 1965.

QUADRO XXXVI

Financiamento da formação interna bruta de capital do sector privado

[Ver tabela de imagem]

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[Ver tabela de imagem]

(a) Compreende as novas aquisições de títulos privados através do Orçamento Geral do Estado e das instituições de Previdência, os financiamentos efectuados pelos Fundos de Melhoramentos Agrícolas, de Turismo, de Fomento da Exportação, de Renovação da Marinha Mercante e de Renovação e Apetrechamento da Indústria da Pesca e os imóveis adquiridos pela Previdência.
(b) Inclui os empréstimos a médio e longo prazos da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, as novas aquisições de títulos privados por esta instituição e o credito hipotecário concedido pela Caixa Económica de Lisboa.
(c) Compreende os empréstimos directos e as participações financeiras efectuadas pelo Banco. Em 1903, deduziu-se a importância de 517 milhares de contos do financiamentos externos obtidos polo Banco de Fomento Nacional e que foram utilizados por esta instituição no financiamento da actividade privada. Em 1963 e 1965, deduziram-se os empréstimos efectuados a esta instituição pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e previdência, no montante de respectivamente, 100 e 150 milhares de contos.
(d) Inclui a variação da carteira de títulos privados, a valores de cotação, e os imóveis adquiridos.
(e) Soma dos movimentos contabilizados em importações das rubricas «Investimentos directos», «Operações sobre títulos» e «Empréstimos financeiros» da balança de pagamentos da metrópole com o estrangeiro. A partir de 1904, inclui também os «Créditos concedidos a operações de mercadorias».

Tendo presentes os elementos de que se dispõe sobre as restantes fontes, quanto ao seu contributo para o financiamento da formação interna bruta de capital privado, parece possível concluir que desempenha influência preponderante nesta variável a poupança das sociedades privadas, anteriormente referida, e o recurso ao crédito dos bancos comerciais. Nestes termos, impõe-se a adopção de medidas no sentido de se tornar possível conhecer a composição desta rubrica residual, que, pela importância relativa, determinará, decisivamente o comportamento do investimento privado no decurso da execução deste III Plano. Merece ainda referência, a partir de 1962, quanto ao Estado e Banco de Fomento Nacional, e, a partir de 1963, no que respeita às caixas económicas e empresas seguradoras, a quebra verificada na participação destas instituições no financiamento da formação interna bruta de capital privado.
Contrapondo-se a esta tendência, o recurso a financiamentos externos experimentou sensível incremento nos últimos três anos do período considerado. Com efeito, o montante das importações de capital mais do que duplicou no período em estudo: elevou-se de 1 102 0.00 contos, em 1961, a 2 583 000 contos, em 1965.
A importância do autofinanciamento na cobertura dos investimentos do sector privado foi evidenciada por recente inquérito da Corporação da Indústria, em relação às actividades do respectivo sector, no âmbito dos trabalhos preparatórios deste III Plano. De um conjunto de 4 300 000 contos investidos por 152 empresas inquiridas, apenas 32 por cento do total constituiu endividamento. O investimento foi financiado sobretudo por recursos próprios (54 por cento do total, provenientes de reservas acumuladas) e por entradas de numerário feitas pelos sócios (aumentos- de capital, 8 por cento, emissões de acções reservadas aos antigos accionistas, 2 por cento, e suprimentos « lucros não distribuídos, 5 por cento).
Das fontes estranhas às empresas, confirma-se a posição de relevo da banca comercial (10 por cento), Caixa Geral de Depósitos (5 por cento), Banco de Fomento Nacional (3 por cento), crédito de fornecedores (5 por cento) e outros empréstimos, incluindo crédito externo (9 por cento).

4. Financiamento externo

35. No decurso dos últimos anos, os capitais estrangeiros têm acorrido ao País de forma crescente, tanto em operações do sector privado como do sector público, com predomínio para as do primeiro, a quem couberam cerca de 55 por cento das entradas de capitais estrangeiros no último hexénio 1.

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1 Não se consideraram as operações de capital a médio e longo prazos da metrópole com o ultramar, em virtude de só existirem dados a partir de 1964 e de só se conhecer a natureza das operações privadas em relação aos anos de 1965 e 1966.

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1662-(52) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO XXXVII

Importação e exportação de capitais a médio e longo prazo da metrópole com o exterior

(Milhares de Contos)

[Ver tabela de imagem]

Com efeito, o financiamento externo tem funcionado como compensação para as insuficiências e retraimentos da poupança interna, tendo o afluxo líquido ao sector privado aumentado de cerca de 1 milhão de contos em 1961, para atingir mais de 2 500 000 contos em 1966. Este afluxo tem assumido a forma quer de empréstimos e outras operações de crédito, quer de investimentos directos (cuja participação se tem vindo a elevar, representando 27 por cento do saldo das operações de capitais privados a médio e longo prazos da metrópole com o estrangeiro em 1966, o que mostra a crescente atracção que a economia portuguesa tem vindo a exercer sobre os capitais estrangeiros) .

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(53)

QUADRO XXXVIII

Operações de capitais privados a médio e longo prazos da metrópole com o estrangeiro

[Ver tabela de imagem]

(a) Inclui 355 000 contos, respeitantes á emissão de obrigações pelo Banco de Fomento Nacional, expressa em unidades de conta.
(b) Só a partir de 1964 foi possível identificar as operações desta natureza e incluir as respectivas utilizações no total das operações de capitais privados a longo prazo na balança de pagamentos.
(c) Nos valores para 1962 e 1963 é possível que se encontrem incluídas liquidações de operações relativas a créditos comerciais concedidos e recebidos.

As importações de capital do sector público apresentaram grande volume em 1962, da ordem dos 2 milhões de contos, e destacaram-se fundamentalmente no financiamento de investimentos no âmbito dos planos de fomento, sobressaindo, pelo seu elevado valor, um empréstimo alemão destinado ao Plano de Rega do Alentejo e a aeroportos. Em 1963, o recurso ao crédito externo decresceu para cerca de 700 000 contos, e voltou a aumentar com os empréstimos relativos à construção da ponte sobre o Tejo, nos dois anos seguintes, os quais contribuíram para a subida do recurso ao crédito externo, para 1 911 000 contos, no ano de 1964.

QUADRO XXXIX

Importações de capital a longo prazo do sector público

[Ver tabela de imagem]

Este afluxo de capitais estrangeiros representa factor de equilíbrio da balança de pagamentos até 1963, e a partir de 1964 contribuiu para a promoção de avultados superavits, que se têm traduzido em sucessivos aumentos das disponibilidades em ouro e divisas estrangeiras.
A análise evidencia que nos últimos anos se intensificou o recurso a capitais estrangeiros para ocorrer às necessidades do processo de crescimento económico - quer directamente para financiar projectos do domínio público, quer indirectamente através da concessão dó seu aval a empréstimos destinados a projectos específicos do sector privado.
Nos quadros XL e XLI agrupam-se, respectivamente, os componentes da dívida pública externa e da dívida privada externa com aval do Governo (valores em 31 de Dezembro de 1965), destacando-se o valor inicial do valor não amortizado e, bem assim, as condições financeiras e as finalidades de cada empréstimo. Pareceu ainda útil especificar as divisas em que cada crédito foi contraído para se poder apreciar a qualidade dos compromissos assumidos.

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QUADRO XL

Divida pública externa em 31 de Dezembro de 1965

(Milhares de contos)

[Ver tabela de imagem]

QUADRO XLI

Divida privada externa com aval do Estado em 31 de Dezembro de 1965

(Milhares de contos)

[Ver tabela de imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(55)

O quadro XLII, por sua vez, mostra a evolução recente, entre 1963 e 1965, das duas principais componentes da dívida externa nacional:

QUADRO XLlI

Dívida externa nacional

[Ver tabela de imagem]

Finalmente, o quadro XLIII, apresentando valores dos encargos anuais (juros e amortizações) com a dívida externa, entre 1968 e 1973 - período do III Plano de Fomento -, permite comparar a situação, neste domínio, em 1963 e em 1965:

QUADRO XLIII

[Ver tabela de imagem]

36. Não se dispõe ainda de elementos que permitam uma previsão do recurso ao financiamento externo no período deste III Plano, tanto mais que se trata de fonte de financiamento supletiva e dependente de elementos estranhos a considerações de ordem puramente económica.
Assinala-se, no entanto, que, em relação ao recurso ao crédito externo, o País ocupa posição particularmente favorável em comparação com outros devedores internacionais: dívida externa reduzida relativamente às mais significativas variáveis macroeconómicas, avultados recursos em ouro e divisas e balança de transacções correntes praticamente sem deficit no período de 1964-1966.
Uma das vantagens que pode justificar a entrada de capitais estrangeiros é o facto de estes trazerem consigo novas técnicas produtivas e administrativas, no que se refere aos investimentos directos em novas empresas, ao mesmo tempo que compensam a falta de espírito de empresa dos nacionais.
Interessa, deste modo, assegurar a possibilidade de continuarem a afluir ao País essas novas técnicas, alcançadas ou não em associações com participações directas de capital, tanto mais que as empresas estrangeiras muitas vezes se encarregam de colocar parte substancial da sua produção nos próprios países de origem, constituindo importante factor de aumento das exportações.
No recurso a esta fonte de financiamento pelo sector privado não devem esquecer-se os perigos e inconvenientes que ele encerra, em especial quando se trate de empresas que não possuam adequada capacidade de negociação com os mutuários estrangeiros.
Parece que o Banco de Fomento Nacional constituiria via apropriada para a recolha no exterior e distribuição interna dos recursos estrangeiros paxá o desenvolvimento económico do País.
Em termos mais amplos, a negociação de financiamentos externos pelas empresas e instituições sem dimensão conveniente não conduz, em regra, às melhores soluções, mostrando-se indicado que uma instituição especializada venha a concentrar, tanto quanto possível, as tarefas de apoio indispensável à realização de tais negociações.

B) Análise do mercado financeiro 1

1. Mercado monetário e mercado de capitais

37. Embora em princípio possa efectuar-se uma separação dos domínios do mercado monetário e do mercado de capitais, com base nas fontes dos recursos e nos prazos de obtenção e aplicação dos mesmos, a delimitação .precisa do âmbito de cada um dos mercados torna-se impossível na prática, devido, nomeadamente, à transferência para o mercado monetário de certas operações específicas do mercado de capitais. Todavia, para analisar, na medida do possível, este mercado - considerado como o conjunto das operações de aplicação de capitais e de financiamento a médio e longo prazos e das instituições que realizam fundamentalmente tais operações -, deverá começar-se por referir o sistema financeiro nacional, que abrange o conjunto dos intermediários financeiros e as suas operações com o resto da economia e o exterior, e que já foi descrito a propósito das instituições financeiras. No conjunto do mercado de capitais, convirá ainda isolar, por um lado, o mercado de títulos - sector de particular importância -, que compreende um mercado primário, respeitante à emissão de novos títulos, e um mercado secundário, que se destina às transacções dos títulos em circulação e, por outro lado, os mercados dos empréstimos hipotecários e da compra e venda de prédios.

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1 Considerado como o conjunto do mercado monetário - a curto prazo, isto é, a menos de um ano - e do mercado de capitais - a médio e longo prazos, isto é, entre um e cinco anos e a mais de cinco anos, respectivamente.

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QUADRO XLIV

Estrutura do sistema financeiro nacional, excepto empresas seguradoras, em 31 de Dezembro de 1965

[Ver tabela de imagem]

(a) Inclui os movimentos na metrópole dos bancos emissores ultramarinos. Compreende oito casas bancárias e duas dependências de bancos estrangeiros. Exclui a Companhia Geral de Crédito Predial Português.

O quadro XLIV evidencia o papel preponderante dos bancos comerciais no sistema financeiro nacional, para o que tem concorrido, em certa medida, a realização de operações específicas do mercado de capitais. De facto, como já se referiu, a banca comercial tem vindo a contribuir para o financiamento do investimento, nomeadamente através da concessão de créditos a médio prazo e, principalmente, de créditos a curto prazo renováveis. Aliás, embora se tenha mantido o princípio da especialização bancária, foi reconhecido, ao reorganizar o sistema de crédito, o interesse da participação dos bancos comerciais no financiamento a médio e longo prazos, subordinada à observância do equilíbrio entre o vencimento dos créditos e o reembolso dos depósitos.
Considerando como valor global do crédito concedido pela banca o conjunto formado por títulos em carteira, promissórias, carteira comercial, empréstimos diversos e contas de devedores e credores em moeda nacional, no fim de 1965 cerca de 65 por cento do total correspondiam a crédito a curto prazo, enquanto a parte do crédito a médio prazo era de 10 por cento, representando o valor restante crédito não identificado quanto ao prazo.
Por sua vez, no crédito a curto prazo predomina o concedido através do desconto de letras (com vencimento até seis meses), que representava naquela data cerca de 91 por cento do total deste crédito.
Acentuou-se nos últimos anos a importância do crédito concedido pela banca comercial no financiamento do investimento. Esta evolução não deveria considerar-se inconveniente, se o sistema financeiro estivesse preparado para ocorrer de forma adequada às necessidades de financiamento da economia. Em geral, predomina, porém, a concessão de crédito a curto prazo, verificando-se insuficiências relativamente ao financiamento a médio e longo prazos.
Quanto à Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, a acentuada proporção do crédito a curto prazo no crédito total ao sector privado, observada até 1965, era determinada, em particular, pelos avultados créditos concedidos à produção agrícola e pelos créditos renováveis destinados à indústria e construção, com períodos de reembolso frequentemente superiores aos do crédito a longo prazo, dadas as condições favoráveis com que normalmente são concedidas as renovações desses créditos 1.

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1 As condições de concessão de crédito nesta instituição foram modificadas recentemente.

QUADRO XLV

Novas operações de empréstimo realizadas pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência

[Ver tabela de imagem]

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A comparação do volume de operações a médio e longo prazos com o volume total de crédito concedido pelas várias instituições evidencia valores bastante reduzidos, entre 2 por cento e 5 por cento, excepto em 1965, em que atinge cerca de 10 por cento. Note-se, porém, que os valores até 1964 se encontram subavaliados, pois, além de não considerarem o crédito a curto para o renovável, não incluíam as operações a médio prazo realizadas através do crédito comercial, nem os empréstimos a mais de um ano concedidos pelas caixas económicas privadas, ao passo que o valor de 1965 se encontra provavelmente sobre avaliado, por conter crédito a curto prazo (entre seis meses e um ano).
Os valores assumidos pela concessão de crédito a médio e longo prazos no passado recente são, de facto, diminutos para as necessidades impostas pela formação de capital, representando pouco mais de 10 por cento no financiamento do investimento total, excepto em 1965, em que atingiram 30 por cento. E isto apesar de a Caixa Geral de Depósitos ter vindo a aumentar substancialmente o volume de operações a médio e longo para os em relação ao do crédito a curto prazo: este era mais do quádruplo daquele em 196Ü, mas não atingia o dobro em 1965.
Além disso, parte importante deste crédito a médio e longo prazos não se terá destinado ao financiamento da formação de capital, como parecem indica os dados que se possuem relativos a 1965 e 1966.
Assim, um dos problemas mais prementes da economia portuguesa é o desajustamento entre a oferta e a procura de fundos a médio e longo prazos, que tende a dificultar o financiamento do investimento produtivo, ao mesmo tempo que gera excessos de liquidez propícios ao desenvolvimento de pressões inflacionistas. Esta situação é semelhante à que se verifica em outras economias que não atingiram ainda elevado grau de integração dos mercados do dinheiro e nas quais, ao lado de um mercado monetário com nível já bastante satisfatório, surge um mercado financeiro incapaz de ocorrer às necessidades de capitais.
Com efeito, a proporção da moeda escriturai para o volume total de meios de pagamento atingiu em Portugal 77,9 por cento em 1964 (e 1965), contra 64 por cento na Espanha, 29 por cento na Grécia e 25 por cento na Turquia. Por outro lado, o valor global dos efeitos descontados no continente elevou-se a 90 milhões de contos em 1964 e a 108 milhões em 1965, tendo esta última cifra ultrapassado o valor do produto nacional bruto a preços de mercado, o que denota apreciável desenvolvimento do apoio concedido à economia pelo sistema de crédito a curto prazo.
O elevado volume de crédito a curto prazo, especialmente na banca comercial, excede as necessidades de financiamento das transacções comerciais, sendo utilizado em grande parte no financiamento de investimentos, como resultado da insuficiência da oferta de crédito a médio e longo prazos no sistema financeiro. Interessa, no entanto, considerar os motivos que explicam este facto.
Deve notar-se, em primeiro lugar, que a legislação em vigor não parece dificultar a expansão do crédito a médio prazo nos bancos comerciais, que se tornaria possível pelo ritmo de crescimento dos depósitos a prazo observado nos últimos anos. Com efeito, no fim de 1965 o crédito à médio prazo na banca comercial, sob a forma de carteira comercial e empréstimos e contas correntes caucionados, até dois anos, representava apenas 25 por cento do montante dos depósitos a prazo superior a 90 dias. Como se conclui da análise efectuada para a determinação da capacidade de financiamento dos bancos comerciais, em 31 de Dezembro de 1965 a respectiva capacidade disponível para a concessão de crédito a médio prazo ultrapassava 10 milhões de contos.
Importa observar, por outro lado, que a formação de elevado deficit na balança de pagamento;» em 1961 e as perturbações entretanto observadas deram origem a certas tensões no mercado monetário, que, por sua vez, determinaram maior recurso ao banco central. No entanto, o funcionamento do mercado regressou em breve à normalidade, ao mesmo tempo que se formaram vultosos excedentes cambiais, o que concorreu para a melhoria da liquidez do mercado. Nestas condições, e como ao banco central cabe a função de prestamista de última instância do sistema bancário, justificava-se, o decréscimo do recurso àquele banco, que foi, entretanto, acompanhado da aplicação de critérios mais rigorosos na aceitação de letras para redesconto. Por estes motivos, é de admitir que os bancos comerciais tenham passado a preferir, a partir de certa altura, os valores mais facilmente realizáveis a outros tipos de crédito a curto prazo. Todavia, como os empréstimos a curto prazo são utilizados também no financiamento de investimentos, uma parte do valor de desconto de letras não constitui, na realidade, crédito a curto prazo, devido aos acordos existentes quanto à renovação das letras vencidas 1.
A preferência pelo desconto de letras nos bancos comerciais explicar-se-á, aliás, pelo seu regime legal, que é mais rígido de que o das outras formas de crédito a curto prazo, o que lhe confere maior segurança, e ainda pelos próprios hábitos existentes.
Por outro lado, parece também verificar-se preferência pelo crédito a curto prazo por parte das empresas. Em particular, a menor procura do crédito a longo prazo, em comparação com a do crédito a curto prazo, poderá atribuir-se à elevada capacidade de autofinanciamento existente em muitas empresas. Como outros motivos, podem apontar-se ainda as próprias insuficiências funcionais do mercado de capitais, bem como as possibilidades de recurso a empréstimos externos e a crédito interno a curto prazo, principalmente sob forma de crédito renovável. Admite-se, porém, que estes motivos não possam explicar totalmente os hábitos de procura de crédito a curto prazo, uma vez que não são independentes, mas antes uma das principais consequências da insuficiente especialização do sistema financeiro.
Esta utilização do crédito a curto prazo para o financiamento de investimentos afigura-se inconveniente para os bancos, que terão dificuldade em determinar claramente as características efectivas dos empréstimos concedidos, especialmente no que se refere ao seu vencimento real. Com efeito, os elevados montantes dos saldos da carteira comercial revelam uma situação de liquidez aparente. Maior importância assume ainda o risco que os empréstimos a curto prazo representam para as empresas, dada a incerteza que existirá quanto à sua renovação, em especial no caso do desconto de letras. É de admitir, portanto, que a referida prática bancária possa exercer influência restritiva na procura de crédito pelas empresas.

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1 Estas rubricas constituem coberturas específicas para os depósitos a prazo superior a 90 dias (Decreto-Lei n.º 46492).

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1 Não existem elementos, disponíveis, acerca do montante dos créditos renováveis e dos seus prazos efectivos de vencimento. Na Caixa Geral de Depósitos é pedido um reembolso de 3 a 5 por cento de seis em seis meses, de maneira que o empréstimo é reembolsado totalmente num período de dez a quinze anos. Nos bancos comerciais são aplicados métodos análogos.

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Importa ainda notar que têm vindo a alterar-se profundamente os termos em que se processam os fornecimentos, quer por efeito da concorrência internacional, lançada na conquista dos mercados externos através de financiamentos de prazo cada vez mais largo, quer pela circunstância de as empresas compradoras, impossibilitadas de obterem por si próprias os capitais de que necessitam, condicionarem a adjudicação das encomendas ao diferimento do respectivo pagamento. Nestas circunstâncias, a indústria portuguesa, se não dispuser de apoio financeiro adequadamente estruturado, terá cada vez maior dificuldade de por falta de crédito à exportação, competir nos mercados exteriores, e corre mesmo o risco de ser eliminada pela concorrência estrangeira no mercado interno.

38. Para além do problema das insuficiências em geral, observadas no domínio do crédito a médio e longo prazos, importa ter em atenção as dificuldades particulares que se deparam às pequenas e médias empresas na obtenção dos capitais necessários à sua instalação ou desenvolvimento.
Saliente-se, todavia, que a Caixa Nacional de Crédito tem desempenhado relevante acção no financiamento deste tipo de empresas, procurando efectuar a distribuição do crédito de forma a beneficiar «simultaneamente elementos de todas as classes sociais», de acordo com o regulamento daquela instituição. Relativamente às garantias dos empréstimos, embora em princípio sejam exigidas condições rigorosas, nomeadamente a realização, em geral, de primeira hipoteca, frequentemente têm sido concedidos a pequenas empresas, que não possuem valores imobiliários, créditos a curto prazo, renováveis, garantidos com penhor de equipamento, matérias-primas ou produtos. Note-se ainda que estes créditos têm amplos prazos de reembolso, devido a sucessivas renovações, que em alguns casos são efectuadas sem amortização.
Por outro lado, não obstante os limites normais dos montantes dos empréstimos, em função das garantias, serem relativamente baixos, foi prevista pelo Decreto-Lei n.º 23 119, de 11 de Outubro de 1933, a possibilidade de os exceder nas operações de crédito industrial, tendo em atenção o valor do conjunto das; garantias prestadas, desde que «o aconselhe a natureza ou importância da indústria».
Relativamente ao Banco de Fomento Nacional, a assistência financeira às pequenas empresas tem-se revelado sensivelmente menor, correspondendo até agora parcela elevada dos seus financiamentos a médio e longo prazos a empreendimentos de grande relevo, principalmente- no âmbito dos planos de fomento.

39. A insuficiência do crédito a médio e longo prazos parece ter-se agravado nos últimos anos, porquanto foi precisamente nas instituições orientadas para a concessão de crédito a curto prazo, isto é, nos bancos comerciais, que se concentrou o principal incremento no volume total de depósitos, ao passo que as caixas económicas viam declinar a sua participação naquele volume. Assim, enquanto os depósitos nestas instituições se elevaram, no período de 1960-1965, à taxa média anual de 6,5 por cento, os depósitos em bancos é casas bancárias cresceram à taxa de 14,3 .por cento.
A concorrência estabelecida pelos bancos comerciais na captação de poupanças; a cujos efeitos as caixas económicas não conseguiram furtar-se, apesar das melhores condições que oferecem aos seus depositantes, traz como consequência grave distorção no processo poupança-investimento, canalizando para operações predominantemente de curto prazo fundos constituídos por genuínas poupanças, que deveriam ser aplicadas a médio e longo prazos.
Acresce que, de modo geral, as poupanças dos particulares parecem revelar nítida preferência por formas de aplicação com elevado grau de liquidez. Admite-se mesmo que proporção apreciável dessas poupanças, cujo montante não se torna possível avaliar, não chegará a movimentar-se, sendo, portanto, objecto de entesouramento, embora tenha vindo a observar-se, segundo se pensa, tendência para melhoria da situação neste domínio. Outra parte, que terá também elevada participação no montante global das poupanças, assume a forma de depósitos à ordem ou a muito curto prazo.
A importância destes depósitos no sistema financeiro pode ser revelada pela comparação dos montantes dos diversos tipos de depósitos. Assim, nos bancos comer-

QUADRO XLVI

Depósitos à vista e a prazo, em moeda nacional
(Em milhares de contos e em 31 de Dezembro)

[Ver tabela de imagem]

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ciais, os depósitos à ordem e com pré-aviso até 30 dias representavam, no fim de 1965, montante mais que duplo do dos restantes depósitos., apesar do nítido acréscimo dos depósitos a prazo e com pré-aviso, em 1965, em conexão com a definição de normas de disciplina para os depósitos pelo citado Decreto-Lei n.º 46492. Por sua vez, na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência era de 92 por cento a participação dos depósitos à ordem rio total dos depósitos voluntários.

40. Relativamente aos motivos que determinam a preferência pela liquidez por parte dos particulares, importa referir que, em elevado número de casos, dado que os rendimentos são aplicados na sua maior parte em consumo, as poupanças não atingem montante adequado para aplicações no mercado de capitais, nem mesmo sob a forma de depósitos a prazo. Nos casos em que se formam poupanças de montante apreciável, verifica-se frequentemente desconhecimento das condições relativas às diferentes modalidades de aplicação de capitais, dúvidas quanto ao respectivo grau de liquidez, ou ainda falta de experiência neste domínio.
Existem, certamente, outras razões que influenciam a preferência pelas aplicações sob formas líquidas e as decisões sobre a modalidade de aplicação. Quanto a estas decisões, reveste-se da maior importância o problema da estrutura das taxas de juro, determinante de algumas das deficiências observadas no funcionamento do mercado de capitais.
A acentuada importância que os depósitos à ordem têm assumido, nomeadamente nos bancos comerciais, explicar-se-á, para além da preferência pela liquidez, também pelo nível de remuneração que lhes era atribuído até data recente. De facto, anteriormente a Agosto de 1965, os bancos comerciais atribuíam a estes depósitos taxas até 2 por cento.

QUADRO XLVII

Taxas efectivas de juro de depósitos

[Ver tabela de imagem]

(a) Até Setembro de 1965, os impostos eram pagos pela Caixa. Esta apenas paga juros sobre depósitos acima de 10 000$. A partir de Outubro de 1905, apenas existe a modalidade de depósitos a prazo de 4 meses.
(b) Foram anunciadas novas taxas de juro, a aplicar desde o princípio de 1966 (entre 3 1/4 e 4 por cento).

Quanto aos depósitos a prazo, as taxas aplicadas pelos bancos comerciais até àquela época atingiam 3 3/4 por cento, enquanto na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência a taxa em vigor era apenas de 1 1/4 por cento, tendo permanecido neste nível até 5 de Abril de 1967, data em que foi publicado o despacho do Ministro das Finanças que a alterou para 3 por cento, embora já anteriormente tivessem sido atribuídas taxas superiores a um quarto por cento em casos especiais.
Durante muito tempo as diferenças entre as taxas de depósitos à ordem e a prazo não eram suficientemente amplas para reduzir a preferência pela liquidez. Nos últimos anos, porém, observou-se sensível alteração na evolução dos depósitos efectuados na banca comercial. De facto, na sequência de levantamentos verificados em 1961, que atingiram elevado volume, os bancos, comerciais começaram a conceder taxas mais altas aos depósitos a prazo, com vista a atrair novas disponibilidades, de que necessitavam para satisfazer a crescente procura de crédito.
Deste modo, a expansão dos depósitos a prazo naquelas instituições revelou-se muito mais acentuada do que

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a dos depósitos à ordem: enquanto estes, entre 1958 e 1965, não chegaram a duplicar, aqueles mais do que quadruplicaram.
Esta tendência para expansão acelerada dos depósitos a prazo na banca comercial acentuou-se mais, em consequência da redução para 0,5 por cento, pelo Decreto-Lei n.º 46492, da taxa máxima para os depósitos à ordem. Aquele diploma teve ainda em vista travar a elevação das taxas de juro dos depósitos a prazo, fixando pela primeira vez taxas máximas, e definir de forma mais clara as suas diferentes modalidades.

QUADRO XLVIII

Taxas de juro de depósitos - máximos legais (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto de 1965, e Portaria n.º 21 477, da mesma data.
(b) Bancos de investimento, caixas económicas, cooperativas de crédito e Companhia Geral de Crédito Predial Português.

A avaliar pelos elementos disponíveis, parece terem sido atingidos efeitos sensíveis com o conjunto de medidas adoptadas, uma vez que se verificou na banca comercial aceleração para os depósitos a prazo e abrandamento da expansão nos depósitos à ordem. Assim, em 1965 os depósitos a prazo e com pré-aviso tiveram acréscimo de 49 por cento, enquanto os depósitos à ordem apenas aumentaram cerca de 5 por cento. Deve, no entanto, notar-se que este comportamento foi parcialmente influenciado por transferências de depósitos à ordem para depósitos a prazo, como consequência do ajustamento realizado nas taxas de juro. Assim, o ritmo de expansão verificado para as duas categorias de depósitos não pode considerar-se normal, devendo sofrer sensível alteração, conforme transparece já dos elementos disponíveis para 1966.
Embora aquelas 1 medidas constituam passo importante no sentido de instituir uma estrutura de taxas de juro mais realista, parece necessário considerar ainda outros aspectos, em especial a criação de uma modalidade de depósitos adequada às pequenas poupanças. Com efeito, a aplicação destas em depósitos à ordem nos bancos comerciais já não se apresenta atractiva, dada a redução das respectivas taxas. Por outro lado, o hábito de realizar depósitos a prazo nos bancos não está vulgarizado entre as classes de menores rendimentos.
Importa considerar igualmente os problemas ligados à diferenciação das taxas de juro dos depósitos, conforme os montantes destes, nos estabelecimentos especiais de crédito. Na Caixa Geral de Depósitos encontram-se fixadas, desde 1945, as actuais taxas decrescentes para quatro classes de depósitos à ordem, sendo de 2 por cento a dos depósitos até 10000$, limite este elevado para 20000$ por despacho do Ministro das Finanças de 1967, e as principais caixas económicas privadas praticam taxas iguais. Por sua vez, o Decreto-Lei n.º 46 492 fixou para os estabelecimentos especiais de crédito a taxa máxima de 2 por cento para depósitos à ordem e com pré-aviso até 30 dias, de montante não superior a 20 000$, e uma taxa mais baixa (l 1/4 Por cento) para depósitos de montante superior.
Estas diferenciações destinam-se, em parte, a permitir às referidas instituições, através da limitação dos montantes até aos quais são pagas taxas mais elevadas, discriminar, no total dos depósitos, as aplicações de poupanças e os fundos utilizados para transacções.
A possibilidade de conhecer a parcela dos depósitos que constitui aplicação de poupança apresentaria nítidas vantagens para a gestão das instituições de crédito, no que se refere, nomeadamente, à determinação do nível de liquidez mais apropriado e da capacidade de concessão de crédito a médio e longo prazos.
Reveste-se ainda de particular importância o problema da fraca captação de depósitos pelas duas principais instituições especializadas no financiamento a médio e longo prazos - a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento Nacional -, em confronto com os bancos comerciais, para o que terá contribuído em parte a estrutura das taxas de juro.
No Banco de Fomento Nacional (que apenas recebe depósitos a prazos superiores a um ano), as taxas de juro foram elevadas recentemente, mas admite-se que esta instituição se encontre ainda em posição desfavorável em relação aos bancos comerciais (em que os depósitos não podem ser realizados a prazos superiores a um ano). Com efeito, parece que a diferença entre a remuneração dos depósitos até um ano e a dos depósitos de" prazo superior não se encontra ainda dimensionada em termos de atrair para esta última modalidade a poupança que aí convinha situar.

41. Relativamente ao crédito bancário, importa igualmente considerar o problema das respectivas taxas de juro máximas, que foram estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 46492, com o objectivo, designadamente, de travar a tendência crescente que se vinha verificando. Cumpre referir, em primeiro lugar, a dificuldade de que se reveste a fiscalização efectiva das taxas de juro de operações activas.
Por outro lado, o Ministro das Finanças foi autorizado por aquele diploma a fixar taxas mais elevadas nos casos de operações por prazos superiores a um ano que envolvam a aplicação de recursos especiais e se destinem a fins de reconhecido interesse para a economia nacional (artigo 11.º, § único). Esta faculdade permitirá que o Ministério das Finanças defina, em face das conclusões dos estudos que sobre a matéria se realizem, um conjunto de orientações que contribuirá, certamente, para a solução de grande parte dos problemas surgidos neste domínio.

QUADRO XLIX

Taxas de juro máximas das operações activas das instituições de credito (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Decreto-Lei n.º 16 492, de 18 de Agosto de 1965.

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2. Mercado de títulos

42. O mercado do títulos constitui sector de particular importância no âmbito do mercado de capitais.
Interessa considerar as novas emissões de títulos públicos, obrigações privadas e acções, bem como as transacções de títulos no seu conjunto.
Em relação aos títulos da dívida pública, apenas reduzida percentagem das emissões efectuadas nos últimos anos tem sido objecto de subscrição pública.

QUADRO L

Produto da venda de títulos públicos

[Ver tabela de imagem]

(a) Deste montante, 500 milhares de contos foram utilizados para amortizações directas de promissórias, nos termos legais.

O produto dos títulos emitidos corresponde, na sua maior parte, à tomada pelo sistema bancário (obrigações do Tesouro e promissórias) e pelas instituições de previdência social (certificados especiais da dívida pública).

QUADRO LI

Títulos públicos em circulação (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) A divida directa interna do Estado compreende ainda a renda perpétua e empréstimos da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência.
(b) Valores nominais.
(c) Valores de reembolso.

Quanto aos possuidores dos títulos públicos em circulação, no final de 1964 os empréstimos consolidados encontravam-se, designadamente, na posse da Caixa Geral de Depósitos (17 por cento), das companhias de seguros (9 por cento) e dos bancos comerciais (8 por cento). Por seu lado, as obrigações do Tesouro distribuíam-se principalmente pelos bancos comerciais (51 por cento), Banco de Portugal (22 por cento) e Caixa Geral de Depósitos (20 por cento). Quanto aos certificados de aforro, criados pelo Decreto-Lei n.º 43 453, de 30 de Dezembro de 1960, especialmente para as pequenas poupanças, o seu montante em circulação é ainda diminuto. Estes títulos permitem segura aplicação de capitais aos seus possuidores, uma vez que não estão sujeitos a oscilações de valor no mercado. Note-se que, dados os objectivos pretendidos com a sua criação, foi fixado um limite máximo de 50 contos para a soma dos valores faciais destes títulos, emitidos a favor da mesma pessoa. Em 31 de Dezembro de 1964 era de 63 884 o número de certificados em circulação, os quais se encontravam na posse de 15 871 aforristas.
No que se refere aos títulos e certificados relativos à dívida com aval do Estado (empréstimos de renovação da marinha mercante e da indústria da pesca), o seu montante em circulação nos últimos anos teve a seguinte evolução:

QUADRO LII

Dívida com aval do Estado

[Ver tabela de imagem]

43. Quanto à emissão de obrigações privadas, a sua autorização compete ao Ministro das Finanças, através da Inspecção-Geral de Crédito e Seguros. Dependem, porém, de prévio parecer favorável do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos as emissões cujo valor exceda, no período de um ano, 10 000 contos.

QUADRO LIII

Capitais emitidos por meio de obrigações

[Ver tabela de imagem]

(a) Inclui uma emissão realizada no estrangeiro (144 milhares de contos).
(b) Valor de uma emissão no estrangeiro.

Nos últimos anos, o valor global das emissões de obrigações tem experimentado evolução irregular e de tendência decrescente.

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Por sua vez, o valor nominal das obrigações em circulação tem-se mantido relativamente estável nos últimos anos, como se verifica pelos valores referentes a 31 de Dezembro de:

[Ver tabela de imagem]

No montante relativo ao final de 1965 era de 93 por cento a parte correspondente a sociedades metropolitanas. Relativamente a estas, as obrigações em circulação repartiam-se principalmente pelos sectores «Electricidade, água e gás» (34 por cento), «Transportes» (34 por cento) e «Indústrias transformadoras» (15 por cento).

44. Relativamente ao funcionamento do mercado de obrigações, importa assinalar, em primeiro lugar, a posição especial que nele ocupa o sector público, a qual parece ter vindo a acentuar-se nos últimos anos. A participação dos títulos da dívida pública interna no conjunto dos capitais emitidos por meio de obrigações atingiu 82 por cento em 1965, contra 50 por cento em 1960. Por seu lado, a importância relativa dos títulos públicos no conjunto das obrigações em circulação passou de 61 para 65 por cento naquele período.
Esta posição do sector público no mercado deve atribuir-se principalmente ao regime vigente para as aplicações de capitais de certas instituições, que têm interesse em ou necessidade de adquirir títulos públicos. Para além de limites máximos fixados, em certos casos esses títulos apresentam vantagens que os privados não proporcionam, como a aceitação pelo banco central para caução de empréstimos. Além disso, existem limites legais à aquisição ou utilização de obrigações privadas por certas instituições. Esta situação tem permitido ao sector público obter fundos no mercado em condições por vezes menos vantajosas para os compradores, do ponto de vista do rendimento directo, do que as oferecidas pelas emissões privadas. As emissões desta natureza realizadas ultimamente dirigiram-se intencionalmente a certos tipos de tomadores, como a previdência.
Relativamente à taxa de juro praticada, parece legítimo afirmar que não tem constituído remuneração satisfatória para a aplicação de capitais a longo prazo.
Enquanto os títulos públicos eram emitidos até 1966, em geral, à taxa de juro nominal de 3,5 por cento (com isenção de imposto), para as obrigações privadas a taxa não excedia 5 por cento, embora não se encontre fixado na legislação qualquer limite máximo. Por outro lado, não se tom realizado praticamente emissões abaixo do par, o que determinaria a elevação do rendimento dos novos títulos, necessária para compensar o aumento observado nas obrigações em circulação, resultante da descida de cotação registada nos últimos anos.
Deste modo, o rendimento das obrigações tem-se situado em nível baixo, relativamente a outras formas de aplicação de capitais, devendo ainda ter-se em atenção os encargos fiscais que incidem sobre as obrigações não registadas. Com efeito, o rendimento destas obrigações, após a dedução de impostos (3,3916 por cento), não é sensivelmente superior ao juro dos depósitos a prazo, a mais de seis meses, nos bancos comerciais, também líquido de impostos.
E note-se que, ao longo dos anos transactos, enquanto as remunerações nos mercados estrangeiros de capitais se elevavam, no nosso verificava-se tendência inversa. De 1962 a 1965, o rendimento das obrigações ao portador não registadas das empresas, para a mesma taxa nominal, decresceu de 0,6584 por cento, em vez de aumentar, com prejuízo do equilíbrio entre as várias zonas do mercado.

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1 Com exclusão das promissórias do fomento nacional.

QUADRO LIV

Rendimento real das obrigações ao portador não registadas das empresas

[Ver tabela de imagem]

(a) Calculado sobre o juro ilíquido.
(b) Calculado sobre o valor do imposto de capitais.
(c) Calculado sobre o juro ilíquido deduzido do valor do imposto de capitais e seus adicionais.

Afigura-se, assim, que o problema das remunerações constitui uma das principais dificuldades que se deparam ao aperfeiçoamento deste sector do mercado de títulos. Para que possam apresentar-se atractivas, as obrigações devem proporcionar remuneração adequada, de acordo com os riscos inerentes à sua posse, nomeadamente no que se refere à liquidez e à desvalorização monetária, além da solvabilidade da empresa que as

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emite. Os riscos relativos à liquidez serão tanto maiores quanto menos desenvolvido for o mercado das novas emissões e quanto menor capacidade tiver o mercado secundário para absorver os títulos que os seus possuidores queiram, vender. Afigura-se, porém, que essa capacidade não será presentemente muito elevada, pelo que o juro das obrigações deveria incluir, além da remuneração correspondente à natureza da aplicação, um prémio suficientemente elevado para compensar as dificuldades que possam, encontrar-se na sua transacção.
A colocação das obrigações privadas depende em particular da atitude do sector público quanto à procura de fundos no mercado de capitais. De facto, devido à necessidade ou interesse que, por diversos motivos, algumas instituições financeiras têm em adquirir títulos públicos, o Estado pode colocar com relativa facilidade os seus títulos, dentro de certos limites, embora a remuneração em regra não difira significativamente dadas obrigações privadas (depois de deduzidos os impostos). Aliás, afigura-se que, até 1966, as emissões de títulos públicos não estavam de acordo com as condições reais do mercado, como revela o diminuto valor da parte dessas emissões adquiridas por particulares. Em especial, quanto aos certificados de aforro, que foram criados com o objectivo de desenvolver as aplicações em títulos de pequenas poupanças, é provável que a relativa exiguidade das aquisições resulte em parte de não ser suficientemente elevada a sua remuneração.
É igualmente de admitir que a diferença de taxas reais de remuneração das obrigações entre o mercado interno e os mercados externos - onde se têm praticado taxas reais superiores a 6 por cento em novas emissões - tenha contribuído para a fuga de fundos para o exterior. Aliás, tudo leva a supor, por exemplo, que uma parte, sem dúvida muito apreciável, dos títulos de empréstimos de empresas nacionais emitidos e colocados em mercados externos nos últimos anos se encontre na posse de residentes nacionais.
Não se dispõe de dados que permitam conhecer o volume de fundos ou valores detidos no exterior por residentes em Portugal. As estatísticas relativas às responsabilidades dos bancos dos Estados Unidos da América para com estrangeiros dão, porém, para o nosso país os seguintes valores, em que se verifica quebra de ritmo no último ano, a atestar a melhoria de condições internas de aplicação de capitais em obrigações, públicas e privadas:

[Ver tabela de imagem]

45. Relativamente aos movimentos de capitais determinados pela constituição de sociedades, apresenta-se no quadro seguinte a evolução dos respectivos valores nos últimos anos, bem como o seu valor líquido:

QUADRO LV

Capital social das sociedades constituídas e dissolvidas

[Ver tabela de imagem]

Destes valores ressalta a preponderância das sociedades anónimas no conjunto das sociedades constituídas, principalmente a partir de 1963. Afigura-se, no entanto, que o afluxo de acções ao mercado, resultante da constituição de sociedades anónimas, deverá atingir quantitativos sensivelmente inferiores. Não se dispõe de elementos sobre as entidades tomadoras das acções emitidas. Todavia, é de admitir que apenas parte do valor dos capitais emitidos anualmente pelas sociedades constituídas corresponda a acções oferecidas à subscrição pelo público em geral.
O quadro seguinte evidencia os valores daqueles capitais, bem como dos aumentos de capital das sociedades anónimas. Aliás, no total desses aumentos devem ter também elevada participação os resultantes de emissões de acções efectuadas por subscrição restrita, com direito de preferência aos antigos accionistas.

QUADRO LVI

Capitais emitidos pelas sociedades anónimas

[Ver tabela de imagem]

Verifica-se, assim, que os capitais emitidos por sociedades anónimas atingiram no período de 1963-1965 elevado volume, tanto em relação às constituídas de novo e por transformação como às que aumentaram os seus capitais por entrada de novos fundos.

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O mercado de acções parece, assim, funcionar de forma mais eficiente do que o de obrigações. Em relação ao avultado número de sociedades anónimas constituídas e dissolvidas em cada ano 1 será difícil determinar se esta situação é ou não inconveniente. Dado que, em princípio, a constituição de sociedades anónimas se destina a reunir capitais de volume relativamente elevado, afigura-se, em face daquele número, que nem sempre este instituto jurídico será utilizado da forma mais conveniente.
Aliás, esta situação resultará, em parte, da inexistência de um mínimo legal significativo para o capital necessário à constituição de sociedades anónimas, excepto em alguns casos especiais, como os de bancos, companhias de seguros, etc. Deste modo, qualquer grupo pode formar uma sociedade anónima, sem lhe serem exigidas referências sobre as aptidões comerciais dos indivíduos que o compõem, nem sobre a viabilidade económica e financeira da sociedade.
Em geral, as acções das novas sociedades constituídas são subscritas na sua totalidade pelos sócios fundadores e por indivíduos de sua família ou a eles ligados por relações de amizade, os quais normalmente as conservam em seu poder. Por outro lado, são pouco frequentes as emissões de acções oferecidas no mercado em lotes apreciáveis relativamente ao montante total do capital.
Parece, assim, poder concluir-se que se encontra desvirtuada, em certa medida, a finalidade básica da constituição de sociedades anónimas, ou seja a recolha de capitais de grande número de accionistas, que normalmente não desejam intervir na gestão da respectiva empresa, mas têm a possibilidade de nela participar ou não, comprando ou vendendo as suas acções.
Importa ainda considerar os possíveis efeitos sobre o mercado de acções da aplicação do imposto de mais-valias sobre os ganhos de capital resultantes da incorporação de reservas no capital das respectivas sociedades.
Não é fácil verificar se o rendimento das acções se mostra ou não suficiente para encorajar esta forma de aplicação de capitais. Como revela o quadro seguinte, em 1965 o dividendo bruto médio, em relação ao valor nominal do capital de todas as sociedades que distribuíram, dividendos, foi de 9,03 por cento.

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1 No sector da construção, designadamente, são constituídas por períodos limitados algumas sociedades anónimas, mas não parece que este facto possa explicar totalmente os elevados números registados.

QUADRO LVII

Taxas dos dividendos distribuídos (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Dividendo bruto sobre o valor do capital social das sociedades que deram dividendo.

Porém, o rendimento efectivo, calculado com base nas cotações médias, situou-se em taxa sensivelmente inferior. Considerando a relação entre a cotação média e o valor nominal das acções, que em Dezembro de 1965 foi de 2,39, aquele rendimento não excedeu 3,8 por cento do valor bruto, e 3,2 por cento, após a dedução de impostos.
Deve atender-se, todavia, a que os dividendos atribuídos são, em regra, sensivelmente inferiores aos lucros totais, uma vez que as sociedades anónimas retêm geralmente parte apreciável dos lucros, afectando-os a contas de reserva. Por isso, ao dividendo distribuído deve adicionar-se a valorização resultante dos ganhos de capital, que assumiu 7 por cento em média no período de 1955-1960, o que eleva para mais de 10 por cento ao ano o rendimento das acções. Note-se, portanto, que o rendimento efectivo não é o único critério, e nem sempre o mais importante, para avaliar o grau de preferência das acções. Com efeito, certas acções com dividendo relativamente elevado não são tão procuradas como outras

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com dividendo inferior, o que se poderá explicar talvez pela maior importância atribuída às perspectivas de expansão da empresa do que à sua situação presente. Deste modo, as acções das empresas mais dinâmicas proporcionam frequentemente reduzido rendimento, por aquelas perspectivas se terem reflectido, em parte, sobre as cotações, enquanto as acções das sociedades menos prósperas, devido às suas cotações relativamente baixas, apresentam muitas vezes rendimentos elevados. Alguns indicadores permitem admitir, no entanto, que a aquisição de acções constitui, de modo geral, forma de aplicação de capitais atractiva. Entre eles, devem referir-se a subida verificada nas cotações, o maior volume de capitais emitido por novas sociedades anónimas constituídas e, principalmente, os aumentos de capital destas sociedades, bem como a necessidade de realização de rateio, em muitos casos, e a importância das emissões efectuadas com reserva para os antigos accionistas. A este respeito, revestir-se-ia de grande interesse a existência de elementos de informação sobre a participação do público em geral na aquisição de novas acções, dado que a maioria das emissões não tem sido oferecida à subscrição pública.

46. Em relação ao mercado secundário, apresentam-se a seguir elementos sobre a evolução das transacções das diversas espécies de títulos, efectuadas no conjunto das bolsas, bancos comerciais e casas de câmbio e ainda sobre a variação das respectivas, cotações.

QUADRO LVIII

Transacções de títulos

[Ver tabela de imagem]

Estes valores demonstram a elevada participação das transacções de acções no conjunto, o qual se acentuou nos dois últimos anos. Por outro lado, o valor das transacções efectuadas na Bolsa de Lisboa representou, naquele período, menos de metade do valor global, ao passo que as transacções na Bolsa do Porto não têm atingido valores significativos. Quanto à Bolsa de Lisboa, os índices de quantidade de títulos transaccionados denunciam sensível recuperação para as acções em 1964 e 1965 e tendência para relativa estagnação, durante o período considerado, no caso dos títulos públicos e das obrigações privadas. Todavia, não parece inconveniente a realização, fora das bolsas, de parte das transacções, desde que a formação das cotações não seja afectada e os possuidores dos títulos não experimentem dificuldades ao pretenderem transaccioná-los.
No quadro que seguidamente se insere pode observar-se que, enquanto o valor global do capital das sociedades anónimas tem experimentado acentuado crescimento (43 por cento entre 1960 e 1964, com taxa média anual de 12,8 por cento), o índice da quantidade de títulos transaccionados na Bolsa de Lisboa acusou nítido decréscimo entre 1960 e 1962, para iniciar depois uma recuperação que só em 1965 atingiu expressão significativa.

QUADRO LIX

[Ver tabela de imagem]

A evolução destas duas séries parece demonstrar que grande parte das emissões, pelo menos dos títulos de rendimento variável, não tiveram reflexo nas operações de bolsa.
De qualquer modo, as transacções de títulos nas bolsas têm atingido montantes relativamente baixos, o que se deve atribuir, em parte, ao reduzido volume de emissões de obrigações privadas e à situação, a que se fez referência, no tocante à colocação dos títulos públicos e das emissões de acções. Aliás, afigura-se que o funcionamento das bolsas de valores tem vindo a reflectir o limitado interesse dos particulares pela aplicação em títulos, em especial de rendimento fixo.
Cabe salientar, todavia, a falta de adaptação da legislação vigente nesta matéria ao presente condicionalismo. A bolsa portuguesa rege-se ainda hoje, fundamentalmente, por um regulamento de 10 de Outubro de 1901, que não será injusto qualificar de anacrónico, por inconciliável com as exigências e necessidades dos tempos modernos.
A sua deficiente estrutura e a sua debilidade são de sobejo conhecidas. Com um movimento ínfimo, hiper-sensível aos mais insignificantes movimentos da oferta e da procura, sem o amparo de uma informação económica e financeira adequada, torna-se presa fácil da especulação, e, assim, em vez de constituir seguro condutor da poupança, não raramente se converte em fonte de desorientação, gerando dúvidas- infundadas sobre a situação das empresas e alienando a confiança que o público nela deveria depositar. Com efeito, as cotações extremas ao longo do ano evidenciam por vezes amplitude consi-

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derável. A evolução recente do valor médio dos índices ponderados de cotações na Bolsa de Lisboa é a seguinte:

QUADRO LX

Cotações na Bolsa de Lisboa

Índices ponderados com base em 30 de Junho de 1950 = 100

[Ver tabela de imagem]

Pode concluir-se que as cotações dos títulos de rendimento fixo, em geral, se têm mantido praticamente estáveis nos últimos anos, após sensível quebra em 1961. Por sua vez, para o conjunto dos títulos de rendimento variável, as cotações, que sofreram acentuado declínio em 1961 e 1962, tiveram nos dois últimos anos apreciável recuperação, imputável à generalidade dos sectores, com excepção do de seguros.

3. Outros mercados

47. Entre as operações características do mercado de capitais incluem-se os empréstimos hipotecários, que, no entanto, devem constituir, em parte, crédito a prazos relativamente curtos. Aliás, é de admitir que a fracção de capitais proveniente deste tipo de empréstimos e aplicada no financiamento da formação de capital fixo é sensivelmente inferior à dirigida para gastos de consumo ou de funcionamento de empresas, pelo que os seus efeitos reprodutivos podem considerar-se limitados.
Os números seguintes mostram a evolução dos empréstimos hipotecários concedidos pelas diferentes entidades, bem como do endividamento líquido anual por hipotecas.

QUADRO LXI

Empréstimos hipotecários e cancelamentos efectuados

[Ver tabela de imagem]

A concessão de empréstimos hipotecários apresenta-se como modalidade de aplicação de capitais particularmente remuneradora. Para além das operações realizadas pelas instituições de crédito, existe um mercado de certa amplitude para empréstimos hipotecários entre particulares, nos quais intervêm, em parte, as entidades mediadoras anteriormente referidas, que recolhem avultados capitais de particulares.
Relativamente à remuneração dos fundos movimentados por particulares nesta modalidade de aplicação de capitais, verifica-se no quadro seguinte que as taxas de juro médias têm atingido cerca de 7 por cento.

QUADRO LXII

Taxa de juro de empréstimos hipotecários

(Médias)

[Ver tabela de imagem]

Estas taxas de juro têm sido, portanto, muito superiores às referentes a outras aplicações e excedem também nitidamente as praticadas pelos estabelecimentos de crédito. Tal situação explica-se, em certa medida, por aquelas taxas serem negociadas livremente entre as partes, de acordo com a situação real do mercado. Os mencionados valores médios foram obtidos a partir de taxas de juro de diversos níveis, predominando, porém, de acordo com as estatísticas existentes, as de 6 e 8 por cento. A diversidade de taxas de juro reflecte naturalmente as condições particulares de cada empréstimo, determinadas pelos riscos inerentes, quantias mutuadas, prazos de vencimento, esquemas de reembolso, etc.
Quanto à diferença entre as taxas de juro relativas a particulares e as cobradas pelos estabelecimentos de crédito, para além da existência de taxas máximas diferentes, fixadas legalmente, é de admitir também como explicação o facto de as instituições de crédito não satisfazerem todos os pedidos de empréstimos desta natureza, o que em certos casos talvez resulte da fixação de condições que os interessados não podem preencher.
Importa também considerar o significado das remunerações dos empréstimos hipotecários concedidos por particulares, no contexto da estrutura das taxas de juro. Não se duvida de que esta forma de aplicação de capitais é atractiva, e os fundos movimentados atingem montantes vultosos. Esta situação, no entanto, não deverá considerar-se inconveniente, se não dificultar a adequada canalização de fundos para empreendimentos com interesse para a economia nacional.
O que se tornará necessário verificar é se o funcionamento deste mercado se processa sem perturbações ou se existem deficiências que devam ser corrigidas, através,

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1 A taxa média dos empréstimos hipotecários realizados pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência situou-se nos últimos anos entre 4 e 4,5 por cento, o que exerceu, naturalmente, uma acção moderadora.

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nomeadamente, de eventual revisão do regime legal e da fiscalização da actividade das entidades mediadoras.

48. Quanto às operações de compra e venda de prédios, que traduzem em parte uma modalidade de aplicação de poupanças, parcela, porventura, apreciável, deve constituir simples movimentação de capitais, determinada por motivos especulativos, de que resultam, portanto, efeitos reprodutivos diminutos.
Apresenta-se no quadro seguinte a evolução dos capitais movimentados nestas operações no decurso dos últimos anos.

QUADRO LXIII

Compra e venda de prédios (a)

[Ver tabela de imagem]

(a) Valor dos prédios vendidos no todo e em parte.

Relativamente a este conjunto de operações - empréstimos hipotecários e compra e venda de prédios -, para a expansão verificada nos últimos anos terá concorrido, em larga medida, a actividade das entidades mediadoras, que intervêm nestas modalidades de operações financeiras. O exercício desta actividade comercial foi regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 43 767, de 30 de Junho de 1961, atenta a sua importância na colocação de capitais alheios e as possíveis tensões sobre os mercados monetários e financeiros dela resultantes.

§ 3.º Medidas de política financeira

A) Medidas de natureza fiscal

49. Constitui necessidade inerente ao processo de desenvolvimento económico o recurso acrescido à política tributária na realização dos objectivos de fomento.
Razões bem conhecidas de ordem económica e de técnica fiscal, assim como exemplos de natureza prática relativos a outros países, militam a favor da orientação referida, a qual tem constituído crescente preocupação da política financeira com vista ao desenvolvimento económico nacional.
Neste sentido se tem trabalhado, e se prosseguirá nos próximos anos, com vista a acelerar a aplicação de medidas, não só de natureza correctiva das tendências conjunturais que vierem a manifestar-se, mas também, e fundamentalmente, de carácter estrutural, aliás, na sua maior parte, já em estudo no Ministério das Finanças, e que envolvem, em maior ou menor grau, importantes aspectos do sistema tributário vigente. Estas serão as providências que importa referir no presente Plano.
Após as alterações de técnica fiscal atinentes a uma maior eficácia da. coordenação com o planeamento económico, apresentar-se-ão os incentivos destinados ao dimensionamento óptimo das empresas, à formação dos investimentos e ao fomento das diferentes actividades económicas e, por último, as medidas referentes a situações específicas, como é o caso das actividades motoras de especial interesse para o Plano, dos benefícios fixados em contratos especiais e dos impostos aduaneiros.

50. O primeiro ponto a salientar é o que respeita à consideração da natureza, frequentemente indiscriminada, dos estímulos fiscais. A sua eficácia, do ponto de vista da política económica, é, na verdade, consideràvelmente restringida pela razão de em regra, se acharem previstos na lei os pressupostos de que depende automaticamente a aplicação concreta de cada preceito, em virtude do princípio da generalidade da lei tributária.
Ora, a concessão dos incentivos fiscais aconselha a verificar, em cada caso, da respectiva utilidade para a política de desenvolvimento, bem como para as exigências da conjuntura.
Torna-se, pois, necessário fazer depender a atribuição da generalidade dos estímulos fiscais com objectivo económico da prévia apreciação do interesse nacional da iniciativa a contemplar.
Assim, a regulamentação, legal deverá revestir-se da necessária maleabilidade, acelerando e simplificando, em favor dos interessados, a aplicação dos benefícios previstos. Simultaneamente, convirá encarar meios de divulgação dos regimes de incentivos fiscais, evitando que, por desconhecimento, deixem de ser utilizados, dadas as razões de interesse nacional que determinaram a sua publicação.
Nesse sentido, proceder-se-á à revisão da Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, por forma a tornar as respectivas disposições mais adequadas às exigências que acabam de apontar-se.
Além da revisão das situações de base, encarar-se-á a possibilidade de estabelecer, por via administrativa, índices de correcção regional - em regra, concelhia - da isenção de contribuição industrial pelo estabelecimento de novas indústrias, ou pela reorganização de indústrias existentes. Aqueles índices serão estabelecidos em estreita coordenação com os serviços de planeamento competentes, em ordem à sua articulação com a política de desenvolvimento regional.

51. Tendo em conta as medidas de defesa da concorrência e de limitação aos excessos do poder económico, haverá que encarar a conveniência de adoptar disposições tendentes ao dimensionamento óptimo das empresas, imposto ainda pela integração económica do espaço português e pela necessidade de acesso aos mercados internacionais- prevendo-se, contudo, a possibilidade de exceptuar empresas que, dadas as condições de produção ou de mercado nacional, apenas com elevada dimensão técnica e financeira possam atingir níveis suficientes de produtividade. Neste sentido, deverão rever-se, de acordo com as condições dos vários sectores, as disposições favoráveis à concentração (como, por exemplo, o artigo 39.º do Código da Sisa), segundo directivas simultaneamente coerentes e maleáveis.
De modo especial no sector agrário, promover-se-á o estudo da adequação da política de estímulos fiscais às fórmulas mais aconselháveis de concentração, por via sucessória e emparcelamento, e de desconcentração, pelo parcelamento, utilizando o critério da dimensão mais adequada segundo a região, o sector, a forma de exploração e as condições do mercado.

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fiscal do crédito ao investimento, designadamente quanto à aplicação dos artigos 42.º e 44.º do Código da Contribuição Industrial 1, em ordem a fomentar mais intensa mente o. autofinanciamento, a participação financeira de umas empresas nas outras e a criação de instituições capazes de dinamizarem os nossos mercados financeiros. Serão também consideradas disposições tendentes a incentivar o investimento das empresas traduzido na promoção de maior qualificação técnica da mão-de-obra, não só através de maiores deduções de lucros, como por meio de desmobilização fiscal.

53. No que se refere aos aspectos específicos do regime de benefícios fiscais de cada sector de actividade, importa salientar que, quanto à agricultura, não se afigura possível considerar alargamento sensível de incentivos, dado que os actualmente existentes constituem já um elenco vasto e susceptível de aplicação não automática a empreendimentos meritórios.
No entanto, prevê-se a criação de alguns benefícios especiais, a atribuir às situações seguintes:

A reconversão de culturas e a alteração dos métodos de exploração e organização, designadamente no que respeita à estrutura da propriedade, aconselhadas pelas necessidades da política agrária definida pelo Governo, poderão ser favorecidas mais intensamente ;
A fruticultura, a horticultura, a floricultura e a primeira transformação feita pela exploração agrícola ou silvícola dos seus produtos que não sejam comerciáveis em natureza, assim como a silvicultura e explorações pecuárias de produção avícola ou de bovinos de carne, deverão beneficiar de redução de taxa, ou isenção, de contribuição predial, imposto complementar, sisa e imposto sobre as sucessões e doações.
Estas medidas poderão abranger outros subsectores, reputados estratégicos pelos departamentos governamentais respectivos, bem como as culturas fundamentais para o abastecimento do mercado interno e para a exportação.

54. No que se refere à indústria, serão estudados regimes especiais de benefícios a alguns sectores (como os têxteis, metalomecânicas, químicas e transformadoras de produtos agrícolas e pecuários), para além de disposições de carácter geral que venham a ser adoptadas relativamente a diversos impostos, como a contribuição industrial, imposto complementar, imposto de capitais, sisa e imposto do selo.

55. Quanto à educação e investigação, o nosso sistema de estímulos tributários revela-se insuficiente. Esta circunstância, aliada à elevada importância do investimento humano na actual fase de desenvolvimento do País, exige remodelação profunda - efectuada em conjunto com o Ministério da Educação Nacional - dos incentivos previstos na actual legislação fiscal.
Neste sentido, encarar-se-á a promulgação de medidas, como as que, exemplificativamente, passam a enumerar-se:

Isenção, total ou parcial, de contribuição industrial a sociedades privadas de investigação, que, embora com fim lucrativo, exerçam exclusivamente actividades de investigação científica ou tecnológica relevantes para o progresso nacional, bem como a quaisquer empresas, pela parte dos lucros resultantes da referida actividade;
Isenção do mesmo imposto concedida a outras instituições privadas de ensino e investigação;
Isenção análoga a favor de instituições que, embora com fim lucrativo, se dediquem a actividades de formação e aperfeiçoamento de técnicos qualificados, e de outras empresas ou instituições, pelos ganhos resultantes de tal actividade;
Isenção, ou redução de taxa (ainda que temporária), do mesmo imposto concedida a empresas que explorem colégios ou estabelecimentos de ensino dotados de determinadas características, ou úteis para a promoção regional de populações anteriormente desprovidas de fácil acesso ao grau de ensino por elas ministrado;
Isenção de sisa na aquisição de prédios, bens ou equipamentos destinados a serem objecto de doação a favor de instituições dos tipos mencionados nas alíneas anteriores, quando lhes sejam efectivamente atribuídos dentro de seis meses, a contar do momento em- que os bens doados entrem na posse do adquirente;
Alargamento das margens de deduções de contribuição industrial para despesas de ensino ou investigação, nos termos do artigo 36.º, alínea a), do Código da Contribuição Industrial; e
Isenção de sisa na aquisição de prédios destinados a serem doados para a construção ou instalação de escolas primárias.

56. Em relação às actividades com relevância no domínio do turismo, procurar-se-á tornar mais selectivo o regime de concessão dos benefícios existentes.

57. No que se refere à habitação, as alterações, que sé reputam indispensáveis, das isenções fiscais actualmente em vigor exigem como condição prévia a revisão do regime de inquilinato, para além da eventual consideração de outras orientações gerais, como as resultantes do desenvolvimento regional e da descentralização de actividades fabris.
De qualquer modo, em relação aos benefícios tendentes a promover a aquisição de casa própria, serão mantidos os estímulos vigentes, dado que se enquadram em importantes finalidades de política social.
A fim de uniformizar o regime legal e facilitar a sua aplicação, promover-se-á a substituição das múltiplas isenções actualmente existentes por uma isenção única, embora o respectivo âmbito continue a ser sensivelmente idêntico ao do sistema actual.
Atribui-se, todavia, interesse especial à realização urgente de um estudo que permita definir uma política de conjunto nesta matéria e no qual sejam reconsideradas a eficácia e razão de ser dos presentes incentivos fiscais, que representam, sobretudo, compensação concedida aos capitais privados, em virtude do bloqueamento das rendas que a legislação vigente mantém nas zonas de Lisboa e do Porto.

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1 Relativos, respectivamente, a deduções ao lucro líquido nos casos de rendimentos de acções, quotas e partes sociais que sejam propriedade do contribuinte, dividendos e juros de títulos, nacionais, quando se trate de sociedades de seguros ou de sociedades de participação financeira e de rendimento de actividades exercidas no ultramar, e ao reinvestimento na própria empresa dos lucros levados a reservas.

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Entretanto, manter-se-á o disposto nos n.ºs 8.º e 9.º do artigo 11.º do Código da Sisa e do Imposto sobre as Sucessões e Doações, mas introduzir-se-á na sua regulamentação maior maleabilidade, para ocorrer às necessidades regionais. Continuarão igualmente em vigor as reduções de taxa previstas nos artigos 34.º e 35.º do mesmo diploma. Por outro lado, deverão rever-se as condições de execução do disposto nos artigos 17.º e seguintes do Código da Contribuição Predial e do Imposto sobre a Indústria Agrícola.

58. Outro aspecto de política de estímulos fiscais que será encarado e directamente se relaciona com a política de fomento é o que respeita à concessão de incentivos aos sectores de acção motora do processo de desenvolvimento, quer no plano regional, quer do ponto de vista global.
Assim, no quadro da revisão da estrutura fiscal, principalmente com o objectivo de promover mais completa utilização da capacidade de produção existente e a expansão dessa capacidade, atenta a importância de que se reveste o equilíbrio do processo de desenvolvimento, estabelecer-se-á, quando as circunstâncias o aconselharem, a dedução, parcial ou total, na matéria colectável do imposto directo parcelar respectivo (contribuição industrial), da parte que exceda o rendimento obtido no ano anterior. Deste modo se premiará a obtenção de melhores resultados, sem diminuição do nível da receita pública cobrada.

59. A existência de múltiplas isenções, constando de contratos de concessão ou atribuídas a determinadas empresas, levanta problemas delicados, por constituírem desvio dos princípios de justiça tributária. Numa perspectiva político-económica, porém, estes benefícios justificam-se na medida em que representam contrapartida de riscos ou sacrifícios que muitas empresas, ou os seus financiadores, aceitam assumir em empreendimentos de acentuada importância para a política de desenvolvimento económico.
Assim, outro dos objectivos da política de reajustamento dos estímulos tributários ao desenvolvimento deverá ser a revisão dos benefícios individualizados, que provenham directamente de diplomas legais, de contrato ou concessão. Nesta matéria, tomar-se-á em conta, não apenas a necessidade de através da isenção temporária de lucros, as empresas se ressarcirem de prejuízos iniciais de elevados encargos de amortização suportados ou de riscos anormais, mas também o papel das respectivas empresas no crescimento económico nacional.

60. No que respeita a incentivos tributários no plano aduaneiro, não é fácil avaliar, do ponto de vista económico e em pormenor,, os resultados da política seguida. Francamente eficaz para alguns sectores de actividade, afigura-se, por outro lado, que, em certos casos, uma excessiva protecção se revela impeditiva do progresso técnico das empresas, pela ausência de estímulo derivado da concorrência exterior. Mais proveitosa parece ser a concessão, quando tal se justifique, de isenções ou reduções dos direitos que incidam sobre bens de equipamento necessários à instalação, reapetrechamento ou laboração dos vários sectores de actividade nacional.
Dado que, na sua grande maioria, os direitos da nossa pauta são específicos e não podem, por isso, acompanhar os preços das mercadorias, é de presumir que, com o decorrer do tempo, a incidência pautai se desactualize para certas posições. A deterioração dos direitos poderá sanar-se por meio de revisões periódicas das pautas ou pela transformação datributação específica em aã valorem.
As revisões periódicas permitirão verificar se, após o período inicial da laboração da indústria, os dados para a determinação do nível protector não sofreram alteração. A necessidade de revisões desaparece, em parte, com a tributação ad valorem, que apresenta ainda a vantagem de simplificar os cálculos da respectiva liquidação, mas importa não esquecer que, entre nós, as taxas pautais com objectivo meramente fiscal são ainda bastante numerosas, razão por que não se afigura possível abandonar por completo a tributação específica.
Por outro lado, o ingresso na E. F. T. A., a adesão ao G. A. T. T. e a possível criação de um único mercado europeu fazem prever que o direito aduaneiro venha a desempenhar função cada vez menos activa.

61. Em conclusão, as diversas providências tributárias a adoptar no período do Plano para estímulo ao investimento podem alinhar-se, esquematicamente, da forma seguinte:
Criação de um sistema que permita apreciar, em cada caso, da utilidade dos incentivos fiscais como factores de desenvolvimento, no plano da política estrutural e conjuntural;
Instituição de novos regimes jurídicos tendentes a assegurar a necessária maleabilidade da concessão de incentivos, com maior simplificação e aceleração, em benefício dos interessados;
Divulgação das normas fiscais mais favoráveis, com vista a evitar que, por desconhecimento, deixem de ser utilizados incentivos estabelecidos por motivo de interesse nacional;
Reajustamento dos critérios fiscais da Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, com apreciação cuidadosa das situações de base, e fixação, por via administrativa, com revisões periódicas, de índices de correcção regional da isenção atribuída pelo estabelecimento de novas indústrias ou por medidas de reorganização;
Providências tendentes a promover o dimensionamento óptimo das empresas;
Criação de novos incentivos especiais ao desenvolvimento da agricultura, com o objectivo de: promover a reconversão das culturas e a alteração dos métodos de exploração e organização aconselhada pelas necessidades da política agrária definida pelo Governo; fomentar a fruticultura, a horticultura, a floricultura,, as explorações pecuárias de produção avícola ou de bovinos de carne; apoiar a primeira transformação de produtos não comerciáveis em natureza feita pelas explorações agrícolas ou silvícolas ;
Concessão de novos estímulos fiscais a várias indústrias, como as têxteis, metalomecânicas, químicas e transformadoras de produtos agrícolas e pecuários;
Remodelação dos estímulos fiscais ao ensino e à investigação científica e tecnológica, designadamente através de isenções, totais ou parciais, a sociedades privadas que se dediquem à formação de técnicos especializados ou a pesquisas de carácter científico ou tecnológico;
Medidas no sentido de tornar mais flexível o regime de concessão dos incentivos já existentes às acti-

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1 Como, aliás, já se encontra previsto no artigo 9.º da Lei n.º 2131, de 26 de Dezembro de 1066.

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vidades com relevância no domínio do turismo;
Revisão do regime fiscal do inquilinato, com vista a introduzir algumas alterações indispensáveis nas isenções actualmente em vigor;
Concessão de estímulos aos sectores com acção motora no processo de desenvolvimento, para incentivar a formação líquida de capital fixo, especialmente pela dedução, parcial ou total, na matéria colectável do imposto parcelar respectivo, da parte que exceda o rendimento tributável obtido no ano anterior;
Revisão dos benefícios individualizados, incluindo os constantes de contrato ou concessão.

B) Medidas no domínio da formação e mobilização da poupança para o investimento

62. Para além das providências adoptadas nos últimos anos com vista ao aperfeiçoamento dos mecanismos monetário - financeiros do País, a análise anteriormente apresentada demonstra a oportunidade e urgência das medidas já em parte enunciadas no relatório da Lei de Meios para 1967, tendentes, em especial, a estimular a actividade do mercado de capitais e a atenuar as pressões que a procura de fundos tem exercido no mercado monetário.

63. Assim, importa, em primeiro lugar, referir as providências que se afiguram indispensáveis para estimular directamente a formação de poupanças, não devendo, todavia, esquecer-se que as medidas que vierem a ser tomadas relativamente ao aperfeiçoamento do mercado de capitais - e que serão seguidamente apresentadas - virão também beneficiar, de forma indirecta, aquela formação.
Entre essas providências, salientam-se as isenções fiscais a determinadas modalidades de aplicação das poupanças de particulares a conceder com base nos capitais aplicados ou nos rendimentos deles resultantes. No primeiro caso, por exemplo, deverá considerar-se na determinação do rendimento colectável a dedução de parte desses capitais até um limite dependente da idade e da situação familiar. Instituir-se-á um sistema de reduções a atribuir na aplicação de poupanças a longo prazo de determinadas espécies. Além disso, considerar-se-á também a adopção nos contratos de trabalho de esquemas que prevejam a aplicação pelas empresas de parte dos aumentos de remuneração do seu pessoal em modalidades a escolher por este, nomeadamente acções da própria empresa.
Por outro lado, e para além da acção tendente a manter a estabilidade financeira interna, tornar-se-á necessário reforçar a protecção das poupanças aplicadas contra diversos riscos de forma directa por uma instituição ou fundo com esse objectivo, ou indirecta, mediante a fiscalização das instituições que captam as poupanças.
Dado ser de particular importância uma melhor adaptação dos serviços das instituições captadoras de poupança à actual realidade económica e social, considerar-se-á a revisão da orgânica e funcionamento da Caixa Geral de Depósitos, que ocupa posição preponderante no domínio destas instituições.
Incentivar-se-á, igualmente, a divulgação dos esquemas possíveis de aplicação da poupança, com vista a estimular a propensão para poupar, bem como a prestação de informações sobre essas aplicações, nomeadamente no domínio dos títulos.

64. O incentivo à formação de poupanças aconselha a criação de novas modalidades de depósitos destinados a determinados fins, como a aquisição de habitações e & constituição de carteiras de títulos.
Por outro lado, a preferência pela liquidez anteriormente assinalada, que determina ampla aplicação de poupanças em depósitos à ordem, justifica a criação de novas modalidades de depósito-poupança.
Com efeito, dado o interesse dos particulares em conservar os seus capitais disponíveis sob a forma de depósitos à ordem, a reduzida remuneração que a estes é atribuída poderá provocar, de futuro, efeito não estimulador na formação de poupanças. Por outro lado, representando elevada proporção dos depósitos à ordem verdadeiras poupanças, a circunstância de as instituições de crédito não as considerarem como fundos estáveis, ou a impossibilidade de avaliarem com precisão em que medida o são, dificulta a aplicação em genuínas operações de crédito a médio prazo.
As referidas modalidades de depósitos, adequadas às pequenas poupanças, deverão distinguir-se claramente de outras espécies, de modo a apresentar maior interesse para os particulares, permitindo, simultaneamente, mais adequada canalização das poupanças para o financiamento do investimento.
Para esse efeito, tais depósitos deverão apresentar características especiais, como a emissão de uma caderneta para a sua movimentação, a aceitação exclusivamente de fundos destinados à aplicação de poupanças por período indeterminado e certas restrições sobre levantamentos.
Põe-se, todavia, o problema da compatibilidade entre a utilização destes depósitos em financiamentos a médio prazo e a manutenção de adequado grau de liquidez nas instituições de crédito.
A experiência de países em que existe esta espécie de depósito - embora as suas características difiram de uns para outros- demonstra que, apesar de sob certas condições, poderem ser movimentados à vista, estes depósitos apresentam, no conjunto, elevado grau de estabilidade e mesmo tendência para crescimento.

65. Como se referiu, com a publicação do Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto de 1965, procedeu-se a importante reajustamento das taxas de juro das instituições de crédito. No intuito de melhor adaptação dos mecanismos financeiros ao condicionamento existente, serão adoptadas medidas complementares, tendo em vista, nomeadamente, os seguintes aspectos:
Relativamente aos depósitos, deve notar-se que para se dispor de um desdobramento das suas diferentes modalidades, de acordo com as respectivas origens e características - o que constituirá requisito essencial para a melhoria do mecanismo da concessão de crédito-, torna-se necessário que a definição dessas modalidades se apoie numa estrutura de taxas de juro adequada.
Por outro lado, a diversidade de modalidades de depósitos que as instituições de crédito podem aceitar não se apresenta favorável a que o público possa proceder à escolha da modalidade mais apropriada em cada caso particular. Nestas condições, deverá realizar-se ampla divulgação das condições de remuneração real das diversas modalidades existentes nas diferentes instituições de crédito, tendo em atenção os privilégios fiscais vigentes nalguns casos.
Note-se ainda que, para promover a conveniente especialização do sistema de crédito, afigura-se conveniente recorrer, de preferência, a medidas indirectas, nomeadamente privilégios fiscais às remunerações dos depósitos.

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Outro aspecto, que deverá ser igualmente considerado, refere-se às taxas de juro dos depósitos com pré-aviso de menos de 15 dias e de 15 a 30 dias nos bancos comerciais, em relação aos quais foram fixados limites máximos relativamente elevados (l e 1/4 por cento, respectivamente). Com efeito, esses depósitos têm características análogas às dos depósitos à ordem, não se afigurando que possam ser mobilizados para modalidades especiais de crédito. Deste modo, para estabelecer distinção mais clara entre depósitos a curto e longo prazos, deverá encarar-se a revisão daqueles limites, por forma a torná-los mais próximos dos fixados para os depósitos à ordem.
Relativamente aos depósitos-poupança, cuja criação se prevê no parágrafo anterior, haverá que atribuir-lhes uma taxa de juro suficientemente atractiva, bem como conceder-lhes privilégios fiscais.
Por sua vez, no domínio das operações activas das instituições de crédito, como se referiu, os limites fixados para as taxas de juro das operações a médio e longo prazos podem vir frequentemente a apresentar-se inferiores aos encargos com os fundos destinados a utilização nestas operações. Em tal hipótese, tornar-se-á necessário elevar tais limites. Todavia, conforme a tendência que venha a verificar-se, poderá encarar-se a eliminação dos referidos limites, permitindo a formação de taxas de juro das operações a médio e longo prazos, de acordo com o mecanismo do mercado.
Será estudada a possibilidade de promover, de modo geral, mais ampla liberalização do mercado de capitais, designadamente no que se refere às obrigações. A este respeito, importa notar que as elevadas taxas de juro praticadas nos empréstimos hipotecários entre particulares permitem admitir que não haverá necessidade de fixar limites muito baixos às taxas de juro do mercado financeiro.
Com vista ao aperfeiçoamento da estrutura das taxas de juro das operações activas, deverá considerar-se ainda a discriminação das taxas máximas, conforme os diferentes riscos que cada modalidade de crédito envolve. E certo que a regulamentação, vigente estabelece limites máximos, abaixo dos quais as instituições podem cobrar taxas diferentes, conforme os riscos, mas a publicação desta medida irá certamente concorrer para o aperfeiçoamento do mecanismo da concessão de crédito, nomeadamente nos bancos comerciais, de que se tratará no parágrafo seguinte.

66. Por outro lado, reconhece-se necessário promover a regulamentação geral das operações de crédito a médio e longo prazos. Neste contexto procurar-se-á evitar a concessão de crédito a curto prazo para financiamento de investimentos, em especial sob a forma de crédito renovável através de desconto de letras, o que dependerá, aliás, de modo decisivo, das possibilidades de aperfeiçoamento do mecanismo de concessão de crédito a médio e longo prazos. Por sua vez, este aperfeiçoamento resultará em parte da criação de depósitos-poupança e, de modo geral, do desenvolvimento da formação de poupanças. Tornar-se-á, portanto, indispensável promulgar medidas tendentes a tornar mais flexíveis as condições de obtenção de crédito a médio e longo prazos, nomeadamente através da articulação entre o Banco de Portugal, a Caixa Geral de Depósitos e o Batoco de Fomento Nacional. Além disso, é de admitir que a restrição à concessão de créditos renováveis, através do desconto de letras, para fins de investimento, possa efectivamente conseguir-se, mediante informações a prestar pelos bancos comerciais sobre o montante dos créditos dessa natureza, a fim de se conhecer melhor a proporção das operações a médio e longo prazos no valor global da respectiva carteira, ou salientando os inconvenientes da volumosa concessão dessa modalidade de crédito e as vantagens de utilizar como garantias de solvabilidade outros valores mais adequados, vou ainda mostrando o interesse que haverá numa utilização do potencial de crédito das referidas instituições em conformidade com a expansão que tem vindo a registar-se nos depósitos a prazo e com as normas estabelecidas sobre garantias de solvabilidade.
Por outro lado, como foi previsto no relatório da Lei de Meãos para 1967, promover-se-á a centralização dos elementos informativos referentes ao risco da concessão e aplicação de créditos, o que se prevê venha a concretizar-se ainda este ano.

67. Dentro do problema geral do crédito a médio e longo prazos, assume especial importância a oferta de financiamento a determinados sectores, relativamente à qual têm vindo a observar-se certas deficiências. Entre esses sectores figuram a actividade agrícola e as empresas industriais de pequena e média dimensão.
Atenta a urgência com que deverão ser corrigidas aquelas deficiências, dados os seus efeitos nocivos na realização de um processo de crescimento harmónico, afigura-se indispensável a adopção de providências que permitam o melhor aproveitamento possível das instituições existentes.
Em particular, .quanto ao sector agrícola, para além da reorganização das caixas de crédito agrícola mútuo, que se encontra já prevista, há que promover o alargamento da sua actividade e a correcção das insuficiências observadas no seu funcionamento. Por outro lado, realizar-se-á a coordenação das diferentes fontes de financiamento à lavoura, com vista a evitar a necessidade de recurso a empréstimos entre particulares, que são realizados frequentemente em condições muito onerosas.
Proceder-se-á ainda à revisão das condições respeitantes a taxas de juro, prazos e garantias e à definição de uma escala de prioridades, nomeadamente para os empréstimos do Fundo de (Melhoramentos Agrícolas, tal como se previa no Plano Intercalar de Fomento. Relativamente às pequenas e médias empresas industriais, dadas as dificuldades que defrontam no recurso ao crédito, em especial para a obtenção de fundos a médio e longo prazos para o financiamento de investimentos, instituir-se-á a prestação de garantias parciais aos empréstimos a longo prazo para essas empresas, por instituições já existentes ou a criar.
Por outro lado, como estas empresas, em regra, experimentam certas dificuldades em promover o autofinanciamento em escala suficiente e em aumentar o capital pela entrada de novos sócios, incentivar-se-ão as instituições especializadas existentes e as que vierem a ser criadas, no sentido de conferirem particular importância, no conjunto das suas operações, às participações financeiras nas. pequenas e médias empresas, com perspectivas de apreciável expansão. A actuação destas instituições terá ainda como efeito melhorar a segurança financeira das empresas financiadas por tais instituições e, portanto, facilitar-lhes a obtenção dos créditos necessários.

68. A fim de criar melhores condições de concorrência para as empresas nacionais no mercado internacional, foram já definidas, pelo Decreto-Lei n.º 46 303, de 27 de Abril de 1965, as bases do sistema de crédito à exportação, que representa acentuado progresso relativamente aos métodos até aqui praticados pelo sistema bancário. Em especial, foi encarada a possibilidade de generali-

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zação das operações de pré-financiamento e definido um regime de crédito a médio e longo prazos baseado em modernas técnicas do comércio internacional. Torna-se agora necessário promover a regulamentação do referido diploma, o que se prevê venha a concretizar-se antes da entrada em execução do III Plano de Fomento.

69. A principal medida a considerar em relação às obrigações diz respeito à elevação do seu rendimento efectivo. Em particular, para as obrigações privadas, esta medida revela-se indispensável, dado que se encontram presentemente em posição desfavorável relativamente a outras formas de aplicação de capitais. Por sua vez, para os títulos públicos, este problema apresenta-se de forma diferente, na medida em que há relativa facilidade para a sua colocação em diversas instituições. Todavia, do ponto de vista da gradual normalização do mercado de capitais e na sequência da política definida no âmbito do Plano Intercalar, de moderação do recurso pelo sector público ao mercado monetário, afigura-se haver vantagem na emissão de títulos que, pelas suas condições de remuneração e amortização, possam ser atractivos para a poupança privada l.
Devem analisar-se as possíveis consequências da elevação do rendimento das obrigações, entre as quais se salienta a que se refere às repercussões sobre a evolução dos depósitos, o que, no entanto, se afigura conveniente, desde que se processe gradualmente, uma vez que representará diminuição da preferência pela liquidez.
Por outro lado, importa considerar o problema dos possíveis reflexos do aumento das taxas de juro sobre a oferta de capitais para investimentos de menor rentabilidade. Nos casos em que se verifique necessidade de recorrer a este tipo de financiamento, serão adoptadas providências para evitar à empresa encargos demasiadamente elevados. Assim, podem conceder-se privilégios fiscais à remuneração das obrigações, de modo a permitir a sua emissão a taxas inferiores às normalmente praticadas, como se prevê no citado Decreto-Lei n.º 46 492, e subsídios directos às empresas, que poderão, assim, recorrer ao mercado em condições normais. A adopção destas medidas rodear-se-á da necessária prudência, a fim de impedir que causem procura excessiva de capitais. Nos casos em que as empresas não beneficiem destes privilégios, a elevação da taxa de juro exercerá efeito selectivo no investimento, que permitirá evitar a inconveniente utilização dos capitais.
Além disso, os efeitos do aumento da taxa de juro sobre a cotação das obrigações em circulação constituem problema de solução difícil. Com efeito, a elevação dos rendimentos das novas emissões irá provocar a baixa das cotações daqueles títulos, a qual, teoricamente, só terminará quando as cotações se ajustarem ao nível actualizado das taxas de juro, de tal modo que as antigas obrigações produzam rendimento real idêntico ao das novas.
Outra medida a publicar com vista à reorganização do mercado de obrigações diz respeito à revisão do regime legal sobre aplicações em títulos dos bancos comerciais e empresas seguradoras.
É certo que os limites fixados para essas instituições, relativamente aos títulos privados, não têm sido algumas vezes inteiramente utilizados, mas esta situação explica-se, nomeadamente, por a sua remuneração ser insuficiente e por apenas serem aceites títulos públicos com garantia de empréstimos no banco central.
A revisão não deverá ter como objectivo reduzir os limites mínimos estabelecidos para aplicações em títulos públicos, mas antes criar maiores possibilidades de aquisição de obrigações privadas.
Relativamente aos bancos comerciais, a limitação legal, anteriormente mencionada, sobre a aquisição de títulos não garantidos pelo Estado, afigura-se excessivamente cautelosa. Com efeito, não parece que as obrigações privadas envolvam riscos significativos desde que seja suficientemente conhecida a situação financeira das respectivas empresas. Assim, aquela limitação deverá aplicar-se apenas à aquisição de acções e às participações financeiras.
Além disso, admite-se que as obrigações privadas, em especial as que possuam aval do Estado, possam ser aceites em caução de empréstimos do banco central, em condições a definir pelas autoridades financeiras. Esta prática implicará a introdução das convenientes alterações nos estatutos do Banco de Portugal.
No que respeita às empresas seguradoras, deverá também efectuar-se a revisão das disposições legais vigentes sobre a aplicação das suas reservas técnicas em títulos privados, parecendo conveniente aumentar de 30 para 50 por cento o limite da participação destes títulos nas referidas reservas. Deste modo, e com a elevação dos títulos, as aplicações em imóveis serão, em certa medida, desencorajadas. Deverá ainda ser limitado o caucionamento de reservas técnicas com empréstimos hipotecários, dada a possibilidade de se verificar, em certas épocas, acréscimo de proporção de imóveis, que prejudique as aplicações em títulos. Serão ainda estabelecidas regras relativas à aprovação dos títulos privados a utilizar no caucionamento das referidas reservas.
Para a dinamização do mercado das obrigações, serão também efectuadas as adaptações legais necessárias para incentivar a criação de novos títulos de rendimento fixo, nomeadamente obrigações convertíveis em acções; a diversificação das obrigações emitidas, em especial quanto ao vencimento; a revisão das técnicas de emissão e amortização.
Convirá ainda, em relação a este mercado, rever o sistema de autorização das emissões de obrigações privadas, que deverá ser adaptado ao presente condicionalismo, tendo em atenção o objectivo, a mais longo prazo, de normalização do mercado, o que exige o recurso, de preferência, a meios indirectos, como os privilégios fiscais anteriormente referidos.

70. Relativamente ao funcionamento do mercado de acções, parece justificar-se a fixação de um limite mínimo para o capital social das sociedades anónimas a constituir, para além da imposição de certas condições à sua constituição, mediante sistema de fiscalização tendente a assegurar a existência de requisitos mínimos para a viabilidade económica e financeira da empresa.
Reveste-se de particular importância regulamentar a legislação já promulgada sobre a fiscalização das sociedades anónimas. Por outro lado, convirá adoptar medidas destinadas a facilitar a participação efectiva dos pequenos accionistas nas deliberações das assembleias gerais

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1 No início do corrente ano foi já realizada a primeira emissão correspondente a um empréstimo público por obrigações à taxa líquida de 5 por cento, tendo a subscrição pública excedido largamente o seu valor. Posteriormente, verificaram-se algumas emissões de obrigações de empresas privadas proporcionando um rendimento líquido de cerca de 5,5 por cento e que igualmente despertaram o interesse do público.

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e a permitir a agrupamentos de accionistas intervir na eleição dos corpos gerentes da respectiva sociedade.
Proceder-se-á à revisão do imposto de mais-valias, que incide sobre o aumento do valor nominal das acções, proveniente da incorporação de reservas no capital das respectivas sociedades, com vista a não ser dificultado o processo de ajustamento do capital social à dimensão da empresa e a tornar mais atractivas as aplicações nestes títulos. Simultaneamente, estudar-se-á a imposição de encargos fiscais mais elevados para os lucros não distribuídos.
Por outro lado, para incrementar a propensão à compra de acções e para estimular o recurso a este mercado, torna-se necessário assegurar maior publicidade à situação das respectivas empresas, sobretudo no que respeito à sua rentabilidade, de forma a facilitar as decisões sobre inversão de capitais, medida que deverá ser completada pela divulgação de informações sobre as diversas possibilidades de aplicação naquele mercado. Convirá também criar as condições necessárias ao desenvolvimento da aplicação em partes sociais dos fundos de investimento mobiliário, a fim de encaminhar o público para futuras aplicações directas em acções.
Do mesmo modo, no que respeita ao recurso pelas empresas ao mercado de acções, devem promover-se certos aperfeiçoamentos quanto às técnicas de emissão e ao custo das emissões.
Relativamente à colocação dos títulos privados em geral, mediante subscrição pública, proceder-se-á à revisão dos limites legais (Decretos-Leis n.ºs 41403 é 42641), sobre a tomada firme pelos bancos comerciais de emissões destes títulos, actualmente fixada no dobro do excesso da soma dos fundos de reserva e da quinta parte do seu capital sobre as aplicações em títulos não garantidos pelo Estado. Com efeito, quanto mais elevado for o montante da carteira de títulos desta natureza, tanto menor será a margem disponível para a indispensável participação daquelas instituições na colocação dos títulos privados.
Por último, e como se referiu na Lei de Meios para 1967, efectuar-se-á a revisão da regulamentação sobre serviços e operações das bolsas de valores, com o objectivo de promover o desenvolvimento das transacções regulares no mercado de títulos e da aplicação de poupanças. Este desenvolvimento dependerá, ainda, da adopção de medidas que permitam aperfeiçoar o funcionamento do mercado de títulos, pelo que a referida revisão deverá ser realizada em ligação com a orientação que for delineada para aquele mercado. Encarar-se-á, também, a concessão de incentivos às cotações de novas acções na bolsa, bem como a obrigatoriedade por parte de novas empresas, que recebam benefícios ou concessões especiais, de oferecerem à subscrição pública proporção razoável das suas acções, promovendo política idêntica para outras empresas.

71. Referem-se, por fim, as medidas que urge tomar relativamente ao planeamento das emissões de títulos.
Com efeito, estudar-se-á a possibilidade de planear o volume e o calendário das novas emissões de acções e obrigações, de forma a evitar a procura de capitais em condições inconvenientes, que possa provocar perturbações no mercado. Assim, promover-se-á a criação de comissões, com o objectivo de apreciar a situação do mercado e aconselhar as empresas sobre a realização das suas emissões.
No domínio do planeamento das emissões de títulos, importará, em particular, ter em atenção que, para as empresas seguradoras, a época mais conveniente para a aquisição de novos títulos é a de Fevereiro a Abril, uma vez que os depósitos para caução das reservas técnicas se efectuam geralmente até ao final deste mês. Salienta-se ainda que o anúncio ou a realização de emissões próximos do fim de cada ano pode determinar uma baixa de cotações, com reflexos no caucionamento das reservas técnicas das referidas empresas.

72. As providências legais e administrativas a adoptar no decurso do Plano, tendentes a incentivar a formação de poupança e aperfeiçoar os mecanismos da sua canalização para o investimento, anteriormente apresentadas, podem sintetizar-se da seguinte forma:

Concessão de isenções fiscais e outros incentivos à poupança;
Criação de novas modalidades de depósitos que estimulem a formação de poupanças;
Reajustamento das taxas de juro das operações activas e passivas realizadas pelas instituições de crédito, em conexão com a reestruturação geral das taxas de juro;
Regulamentação das operações de crédito a médio e longo prazos;
Melhoria das condições de financiamento do sector agrícola e das pequenas e médias empresas industriais ;
Regulamentação do sistema do crédito e de seguro de crédito à exportação;
Reorganização dos mercados de títulos e revisão dos regulamentos das bolsas de valores;
Planeamento das emissões de títulos.

Trata-se, aliás, de providências já enunciadas na Lei de Meios para 1967 e que se encontram em curso de execução.

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1662-(74) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

ANEXO I

Balança de pagamentos externos da metrópole

[Ver Tabela na Imagem]

(a) A este valor ter-se-ia de ^deduzir o valor das rubricas de invisíveis correntes entre a metrópole e o ultramar, que só a partir de 1964 é que passaram a ser contabilizadas.

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ANEXO II

Estado

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO III Estado

Milhares de contos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

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ANEXO V

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO VI

Estado (C. G. E.)

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(78) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO VII

Estado (C. G. E.)

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO VIII

Administração local

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO IX

Administração local

[Ver Tabela na Imagem]

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ANEXO X

Previdência social

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XI

Previdência social

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(82) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XII

Banco de Fomento Nacional

Empréstimos directos realizados

(Milhares de contos)

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XIII

Banco de Fomento Nacional

Participações financeiras

(Milhares de centos)

[Ver Tabela na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(83)

ANEXO XIV

Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito

Empréstimos a médio e longo prazos (novas operações)

Distribuição sectorial

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XV

Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Caixa Nacional de Crédito

Empréstimos a curto prazo (novas operações)

Distribuição sectorial

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Inclui financiamentos realizados aos organismos corporativos e de coordenação económica.

ANEXO XVI

Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência

Novas aquisições de títulos

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(84) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

ANEXO XVII

Bancos comerciais e casas bancárias

Acções em carteira (valor nominal)

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XVII

Bancos comerciais e casas bancárias
Obrigações em carteira de empresas privadas (valor nominal)

[Ver Tabela na Imagem]

ANEXO XIX

Empresas seguradoras Carteira de acções

Sectores de actividade

[Ver Tabela na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(85)

ANEXO XX

Empresas seguradoras

Carteira de obrigações

[Ver Tabela na Imagem]

CAPITULO III

Comércio externo

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. O comércio externo da metrópole encontra-se em período de profunda transformação de estruturas. Quer pelo que respeita à posição dos vários grupos de produtos no conjunto das transacções, quer atendendo às regiões com as quais esse movimento de bens se processa, a situação presente diferencia-se substancialmente da verificada há alguns anos e, segundo se prevê, das circunstâncias que vigorarão no período deste III Plano de Fomento.
Aliás, a evolução verificada reflecte a dinâmica do processo de desenvolvimento económico metropolitano, que tende a fazer sobressair o papel de novas produções, em particular industriais, a limitar a importância dos bens tradicionais e a alterar o esquema de mercados de consumo e de abastecimento. Sendo a metrópole um território de reduzida dimensão, não particularmente dotado quanto a recursos naturais e de nível de produção, e de consumos relativamente modesto, o seu arranque para escalões mais altos de bem-estar envolve necessariamente a progressiva abertura da sua economia às correntes de trocas internacionais por forma a permitir-lhe substituir gradualmente certo número de actividades ineficientes por outras mais próximas dos graus de aperfeiçoamento tecnológico conseguidos nos países industrializados». Compreende-se, assim, que as relações comerciais com o ultramar e com o estrangeiro tenham evoluído no período de 1955-1965 a taxas médias anuais superiores à do produto interno bruto - 8,1 por cento para as importações, 6,9 por cento para as exportações e 4,8 por cento para o produto, interno bruto. Daí o progressivo agravamento do déficit comercial da metrópole, de 2,7 milhões em 1955 para 7,8 milhões em 1965 (considerando também o comércio governamental).
Um resultado dessa natureza não pode deixar de filiar-se nas dificuldades das estruturas produtivas nacionais em se adaptarem às novas condições criadas pelo desenvolvimento económico internacional no período posterior à segunda grande guerra e ao consequente estreitamento das relações comerciais, económicas e políticas à escala inter-regional.
A economia da metrópole só relativamente tarde manifestou sintomas de abertura apreciável às correntes de trocas internacionais. Os sistemas de proteccionismo pautal, justificados, a princípio, pela impiência da produção nacional e pela escassez do mercado interno, converteram-se muitas vezes em facilidades ao espírito rotineiro de certos empresários, mais interessados em desfrutar dos benefícios permitidos por essas limitações à concorrência de produtos estrangeiros do que em modernizar os seus processos de fabrico com vista ao. aumento da produtividade e à incursão nos mercados externos. Efeitos semelhantes resultaram, em certos casos, das acções de condicionamento industrial no plano interno. A limitação da concorrência pelo lado da oferta, com base na exiguidade do mercado, já coberto pelas produções de. unidades mais antigas, veio também tolher o passo à iniciativa e ao dinamismo de alguns empresários, contribuindo para eternizar fabricos em termos de monopólio ou oligopólio., com os inevitáveis custos a suportar pelo conjunto da economia e da sociedade portuguesas. O muito lento progresso da agricultura, dificultado por estruturas agrárias desprovidas de maleabilidade, quer sob o ponto de vista de relações de produção, quer quanto aos tipos de cultivo, ou ainda quanto ao destino dos produtos, não lhe permitiu contrabalançar uma procura de bens de consumo e de matérias-primas em franco crescimento. A coincidência de alguns maus anos agrícolas com o fenómeno do encarecimento da mão-de-obra rural veio precipitar o aparecimento de dificuldades de abastecimento em certos bens de consumo, que se traduziram recentemente em importações de nível excepcional, possivelmente a repetirem-se nos anos próximos.
Na indústria, a evolução foi diferente. A procura de produtos industriais não tem sido .acompanhada inteiramente pela oferta interna, até porque, para lima larga gama desses produtos, o mercado nacional é demasiado restrito para permitir uma produção em condições de custo suportáveis. Apesar disso, tem-se avançado substancialmente no processo de substituição de determinadas importações e tem-se conseguido, em algumas indústrias uma expansão de vendas ao exterior que compensa, em bom parte o aumento verificado nas importações de produtos manufacturados. Por isso, pode dizer-se que o ritmo de evolução da procura interna de produtos indústrias não se tem distanciado muito do ritmo da produção nacional dessa categoria de produtos.

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Verificou-se mesmo que de 1955 a 1965 a exportação de produtos industriais aumentou em percentagem um pouco mais elevada do que a importação desses produtos. Simplesmente, dado- o forte desequilíbrio inicial da balança de importações e exportações de produtos industriais, essa evolução, embora levando a menor desnível relativo, não se mostrou suficiente para evitar um agravamento do valor absoluto do déficit.
A difícil formulação de uma política em matéria de estratégia do desenvolvimento industrial e agrícola provocou o desaproveitamento de algumas oportunidades oferecidas quer pela situação geoclimática da metrópole, quer pela condição de membro da E. F. T. A. - um mercado que, embora pouco homogéneo, abrange cerca de 100 milhões de consumidores. Portugal poderia, por certo, ocupar papel mais importante como fornecedor de primores e conservas alimentares aos países industrializados da Europa, além da multiplicidade de produtos industriais que, por efeito de especialização de actividades, nos venham também a caber.
De tudo resultou o alargamento progressivo do déficit comercial, que, por feliz coincidência, ocorreu em período durante o qual se registaram grandes entradas de invisíveis - receitas turísticas e remessas de emigrantes. Essas condições podem, porém, vir a sofrer alteração futura, além de que não convém tornar o progresso económico do País excessivamente dependente de fenómenos pouco controláveis, como a criação de novas oportunidades de trabalho em mercados do estrangeiro.
Apesar de até agora se terem conseguido aumentos importantes nas exportações para a E. F. T. A., pode afirmar-se que as actividades nacionais não puderam extrair todas as vantagens dos primeiros anos de vigência do regime especial fixado pelo Anexo G da Convenção de Estocolmo. Não se tornou ainda possível realizar as profundas reformas de estrutura do sector privado e da função pública exigidas pela necessidade de exportar a todo o custo produtos de procura internacional suficientemente elástica -máquinas e outros bens de equipamento, manufacturas e produtos alimentares de qualidade superior e técnica refinada -, de valor unitário progressivamente mais elevado e em partidas de grande dimensão. Se dentro do breve período de cerca de quinze anos que resta a Portugal para reconversão da sua economia, em termos de libertar totalmente o mercado interno aos produtos dos países membros da E. F. T. A;, de acordo com a letra dos compromissos assumidos no quadro dessa associação, não se adoptar uma linha de acção mais decidida, haverá que recear pelo afastamento definitivo da hipótese, de acompanhar, mesmo de longe, o crescimento dos níveis de vida dos países do Ocidente europeu, onde a metrópole está geogràficamente inserida, e pela eventualidade de mais graves tensões sobre a balança comercial. E, se se atender ao longo período de maturação que comporta a instalação de parte dos empreendimentos industriais necessários é ao carácter de continuidade de acções que supõe a fixação de objectivos de industrialização minimamente ambiciosos, haverá que reconhecer-se que o começo rápido de equacionação desses objectivos e das medidas a tomar é condição sine que non dos resultados a atingir.

2. A alteração de estruturas do comércio externo da metrópole é particularmente sensível nas exportações e tende a reforçar a posição dos produtos industriais, nomeadamente daqueles que sofreram apreciável grau de transformação. Os artigos manufacturados, os produtos químicos, as máquinas e o material de transporte, que no conjunto representavam, em 1955, 42,9 por cento do total das vendas da metrópole ao exterior, já em 1965 tinham aumentado para 60,8 por cento. Em particular, a participação dos fios e das obras têxteis no total exportado passou de 14,1 por cento em 1955 para 24,2 por cento em 1965.
Em contrapartida, os produtos alimentares, bebidas, matérias-primas e óleos e gorduras não alimentares manifestaram perda de posição relativa no conjunto das vendas de 54,4 por cento em 1955 para 37,5 por cento em 1965, apesar do grande incremento de alguns componentes específicos, como os concentrados de tomate e as pastas celulósicas.

QUADRO I

Comércio de exportação da metrópole

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

Esta descida de importância relativa dos produtos primários na exportação nacional traduz, em parte, falta de progresso suficiente na produção agrícola, nomeadamente no que se refere a transformações da sua estrutura no sentido do aproveitamento das vantagens competitivas potenciais ao nível internacional que entre nós se poderão encontrar. Mas deverá reconhecer-se também que, na generalidade dos casos, a procura dos mercados

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externos para produtos primários se apresenta com baixa elasticidade rendimento e, portanto, com fracas perspectivas de expansão. Além disso, não se devem perder de vista os efeitos das políticas proteccionistas seguidas em relação à agricultura dos países industrializados, que poderiam ser os nossos principais mercados compradores. Também não se podem ignorar as condições verdadeiramente artificiais, e não raro ruinosas, em que decorre o comércio internacional de certos produtos agrícolas em que poderíamos ter boas vantagens competitivas, como é o caso dos vinhos.
Apesar disso, ao estabelecer-se a comparação com outros países de grau de desenvolvimento análogo ao do nosso, nomeadamente os da região mediterrânica, poder-se-á ser tentado a concluir pela excessiva escassez da participação do sector primário no domínio da exportação. Essa escassez é, porém, largamente explicada pelo facto de o nosso país mão dispor de grande abundância de recursos naturais e, principalmente, pelo facto de muitos dos nossos produtos alimentares e das nossas matérias-primas serem exportados já com apreciável grau de transformação e aparecerem, portanto, classificados como produtos industriais. E esse, por exemplo, o caso da madeira em obra, da cortiça em obra e da pasta para papel, que representam proporção apreciável das nossas exportações totais.
Aparentemente, Portugal faz centrar em produtos industriais grande parte da dinâmica das suas exportações. Contudo, é de realçar que a relativa preponderância desses produtos tem por base indústrias pouco influentes do ponto de vista de uma propagação de efeitos de desenvolvimento industrial, dado o grau limitado de inter-relações que afectam as actividades transformadoras da cortiça, da madeira e de certas especializações têxteis, comparadas com as que derivam do fabrico de produtos químicos, metálicos ^ de máquinas e material de transporte. Só à sua parte, os produtos têxteis representam cerca de um quarto das exportações da metrópole, o que, atendendo ainda à fraca proporção de vestuário e de obras de grande qualidade nesse valor contidos, representa risco considerável, tanto pela concorrência que os produtos dos. países em vias de desenvolvimento poderão fazer nos mercados externos, como pelo fraco ritmo de crescimento da procura orientada para esse tipo de bens. Embora o volume de vendas de obras têxteis tenha crescido rapidamente no período de 1955-1965, à taxa anual de 16,2 por cento, a composição do conjunto mostra ainda predomínio das transacções referentes a fios e tecidos e peso relativamente fraco dos artigos de vestuário da qualidade no conjunto das obras.
Na deficiente composição estrutural das exportações da metrópole situa-se, pois, um dos problemas mais graves hoje defrontados, ao qual estreitamente se ligam as condições de sobrevivência de algumas actividades produtivas internas.
O facto de no decurso dos últimos anos, se ter visto sensìvelmente alargada a parcela das nossas exportações de produtos industriais, incluindo também alguns produtos novos, não impede que reduzido número de produtos tradicionais - cortiça e suas obras, vinhos, resinosos, conservas de peixe, fios e tecidos de algodão, madeiras - tenha representado, em 1965, cerca de 42,5 por cento do valor exportado.
Como tais produtos se contam entre aqueles cujo aumento de procura responde com menor elasticidade aos acréscimos de rendimento à escala internacional, não será neles que uma estratégia de rápido desenvolvimento das vendas ao exterior, tornada necessária pelos imperativos de desenvolvimento da economia no seu conjunto, se poderá basear.
Por outro lado, os produtos industriais mais elaborados, que ainda constituem minoria no quadro das exportações da metrópole, têm podido beneficiar das condições de abertura especiais do ultramar, onde, porém, os mercados são: muito limitados.

3. No domínio das relações de importação, verifica-se sensível irregularidade na evolução estrutural. As posições relativas dos diferentes grupos, no passado, sofreram oscilações de moderada amplitude, embora mereçam relevo especial o aumento das compras alimentares e de produtos químicos e a contracção relativa das de matérias-primas, combustíveis e máquinas e material de transporte. Em grande número de casos, não é fácil deduzir-se um comportamento tendencial, parecendo pesarem consideravelmente influências conjunturais, em particular no que se refere aos produtos agrícolas, muito dependentes de factores climáticos e de decisões de produção relativamente descontínuas.

QUADRO II

Comércio de importação da metrópole

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

As compras de produtos intermediários para utilização industrial parece orientarem-se progressivamente para substâncias elementares, que serão objecto de posterior elaboração interna, como acontece em relação aos produtos químicos. A importação de manufacturas têxteis tem crescido a ritmo acelerado, em parte atribuível ao próprio progresso das exportações, dado que alguns produtos adquiridos no estrangeiro são incorporados pela indústria

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têxtil nacional. No domínio dos produtos siderúrgicos e da indústria metalomecânica, tem sido possível dispensar recentemente algumas das aquisições tradicionais, substituídas por produção interna, embora o volume global das necessidades de importação continue a aumentar claramente.
O grupo dos equipamentos -máquinas e material de transporte - manteve importações em ritmo apreciável, a fim de ocorrer ao esforço de reconversão e reequipamento empreendido por múltiplos sectores de actividade nacional, muito sensível nas compras de máquinas agrícolas, máquinas para a indústria têxtil e outros equipamentos não eléctricos.
As compras de máquinas, e aparelhos eléctricos à excepção da aparelhagem electrodoméstica, progrediram a ritmo mais modesto, em função de um processo de substituição de importações por produção nacional; assente numa capacidade de produção francamente subutilizada. As importações de material de transporte não tiveram regularidade apreciável, dado resultarem, em parte, de políticas de alargamento da capacidade de transporte, cujas concretizações se processam com grande descontinuidade, e por a montagem no País de veículos automóveis ter. impulsionado para além do normal, nos últimos anos, a procura interna desses veículos.
No conjunto, parece não poder a metrópole vir a prescindir de aprovisionamentos anuais avultados em todas as grandes categorias de bens de consumo, intermediários e de capital.

4. O comércio externo metropolitano tem-se mantido, em geral, fiel ao conjunto dos mercados tradicionais, mas a posição relativa destes alterou-se substancialmente e pode vir ainda a modificar-se na dependência de novas fases no estreitamento das relações económicas à escala europeia e no quadro do mercado único português.
O mercado ultramarino representou, nos últimos anos, cerca de um quarto das vendas da metrópole. Contudo, no triénio de 1960-1962 registou acentuada tendência para o decréscimo na importância dessas transacções, parcialmente compensado nos dois anos seguintes. É provável que o desarmamento aduaneiro entre a metrópole e o ultramar, executado a partir de 1962, e a melhoria do mecanismo de pagamentos, conseguido também a partir desse ano, além das deslocações de contingentes militares, tenham influído no movimento de recuperação. E de admitir, além disso, que o escasso período de tempo entretanto decorrido seja parcialmente responsável pela modéstia dos resultados alcançados, mas as dificuldades de pagamentos que recentemente passaram a fazer-se sentir de novo com forte acuidade não autorizam grandes optimismos, a menos que seja possível introduzir transformações estruturais de alcance decisivo no sistema actualmente vigente.
Para o período que decorre entre 1960 e 1965, é de assinalar acentuada expansão no movimento exportador da metrópole para o conjunto dos mercados externos, que, durante esse período, se traduziu num aumento de 66,3 por cento.
Todas as zonas geográficas participaram nesse desenvolvimento, sendo de salientar a subida espectacular registada pela E. F. T. A. - 83,6 por cento - e devendo-se ao conjunto dos grupos residuais «outros da Europa» e «resto do Mundos a contribuição mais modesta - 31 por cento.
Em valores relativos, verifica-se inversão de posições entre os conjuntos Mercado Comum e Associação Europeia de Comércio Livre no que se refere à orientação das exportações portuguesas. Com 23,1 por cento do total dos valores exportados pela metrópole em 1965, contra 17,5 por cento em 1958, a E. F. T. A. investe-se na situação desde longa data ocupada pela C. E. E. -redução de 24,7 por cento para 22 por cento no mesmo período - de nosso principal comprador.
Todavia, se as exportações portuguesas têm beneficiado, em termos que anteriormente lhes eram inacessíveis, das oportunidades proporcionadas pela E. F. T. A., não deixa de constituir certo perigo a circunstância de um único país, a Grã-Bretanha, dispor de quota elevadíssima -entre cerca de as e 65 por cento - no total dessas vendas. Resulta daí risco sensível quanto ao volume de transacções a efectuar, no caso de a economia britânica se ver a braços com dificuldades que imponham, por exemplo, medidas de carácter deflacionista para ocorrer ao desequilíbrio da sua balança de pagamentos ou restrições quantitativas para protecção de alguns sectores da sua própria indústria (como aconteceu recentemente com os têxteis).
Mantém-se, assim, todo o interesse em alargar, na medida do possível, as iniciativas de aproximação económica com outros mercados da Europa Ocidental, por forma a garantir maior estabilidade às nossas actividades exportadoras. Como o Governo tem repetidamente assinalado, a adesão à Associação Europeia de Comércio Livre deve considerar-se como fase de transição no respeitante à participação do País no processo de integração dos mercados europeus, sendo, aliás, este um dos próprios objectivos fundamentais a prosseguir pela Associação.

1 Como é usual, não se considera nesta análise o volume de comércio de diamantes não industriais.

QUADRO III

Comércio de exportação da metrópole por regiões de destino (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Percentagens da exportação total, preços correntes. NSo inclui o comércio de diamantes.

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Mas as perspectivas de se chegar a um entendimento económico para toda a Europa Ocidental, no qual o nosso país participe de forma adequada, continuam, por enquanto, demasiado imprecisas para que a esse respeito seja possível formular uma orientação com algum valor operacional.
Para além dos mercados da E. F. T. A. e da C. E. E., as transacções com os restantes países da Europa têm melhorado de posição, embora, no conjunto, representem ainda pequena percentagem das vendas da metrópole.
O mercado norte-americano - Estados Unidos e Canadá - parece acusar certa tendência para perda de posição em valores relativos, facto que deve atribuir-se não a um retrocesso no valor global das suas importações (em firme desenvolvimento), mas sim à expansão extraordinária que se assinalou já para os países da E. F. T. A.
A tendência de evolução aparece muito nítida no que respeita aos mercados do Terceiro Mundo, cujo peso no conjunto das exportações metropolitanas baixou de 17,5 por cento, em 1958, para 9,8 por cento, em 1965. Essa tendência terá, porém, de ser considerada natural, uma vez que os países subdesenvolvidos têm estado recentemente a ver diminuir com grande rapidez as percentagens que traduzem a sua participação no comércio mundial. Por outro lado, os países subdesenvolvidos lutam quase todos com sérias dificuldades de balança de pagamentos e financiam uma grande parte das suas importações à custa de empréstimos, investimentos e auxílios que recebem dos países ricos. Uma tal situação não pode deixar de ter profundos reflexos sobre as possibilidades da exportação portuguesa para a área do Terceiro Mundo, uma vez que o nosso país não tem grandes possibilidades de conceder auxílios financeiros ao exterior o que as mercadorias da nossa exportação pertencem, em regra, às categorias mais fortemente atingidas pelas medidas de disciplina das importações introduzidas em casos de dificuldades da balança de pagamentos- e de substituição das importações. Por tudo isto, não pode contar-se muito com a contribuição dos países subdesenvolvidos para atingir o objectivo de diversificar os mercados de destino, que se impõe tanto do ponto de vista da estabilidade das correntes comerciais, como para garantia de uma posição de relativa independência económica no referente aos grandes blocos.
O comércio de importação da metrópole, do ponto de vista da localização geográfica dos fornecedores, mostra tendências menos nítidas do que as detectadas no caso da exportação.
Dentro de um clima de aumento geral de compras em todas as origens, regista-se ligeira quebra de posição relativa quanto aos países do Mercado Comum - de 39,2 por cento no total das importações em 1958 para 34 por cento em 1964 e 36 por cento em 1965-, que, apesar disso, se mantêm como principais fornecedores da metrópole, em contrapartida de leve aumento relativamente às aquisições na E. F. T. A. e conjunto dos restantes mercados fornecedores europeus. O abastecimento ultramarino, caracterizado por comportamento irregular, acusa acentuado decréscimo de posição relativa: de 14,7 por cento em 1958 para 11 por cento em 1965.
No conjunto, de acordo com a tendência para maior desenvolvimento do comércio dos países industrializados, define-se uma progressiva concentração das importações da metrópole em referência aos mercados da Europa e

1 Não se considerou o comércio de diamantes.
da América do Norte, embora se deva sempre manter aquisições de matérias-primas aos mercados ultramarinos e países do Terceiro Mundo.
A metrópole fornece grande proporção de matérias-primas, alimentos e manufacturas simples aos países industrializados, nos quais adquire produtos industriais de qualidade e bens de produção; o ultramar e outras zonas subdesenvolvidas recebem da metrópole parte importante dos produtos industriais exportados, que retribuem em termos de matérias de base e de produtos alimentares.
O esquema é clássico de uma estrutura económica em nível de desenvolvimento intermédio, mas apresenta aspectos de certa gravidade que deverão ser progressivamente corrigidos em função do progresso industrial.
Será quanto aos bens industriais, sobretudo às produções químicas, metalomecânicas e de construção de máquinas o de material de transporte, que logicamente haverá a esperar superiores ritmos de acréscimo da procura, à escala internacional, nos anos futuros. A metrópole terá dificuldade em beneficiar dessa tendência, uma vez que nos mercados dos países industrializados haverá a conquistar posições inteiramente novas, em concorrência com produtores poderosos já ali acreditados e com altos padrões de qualidade, e uma vez que, quanto a mercados menos desenvolvidos, o dinamismo da procura das actividades ultramarinas é ainda muito fraco e factores de ordem política dificultam o acesso à maioria dos países de independência recente. No domínio dos produtos industriais, que Portugal já está a fornecer em quantidades apreciáveis aos países desenvolvidos,, as perspectivas também não se apresentam isentas de dificuldades, dado haver a contar, nuns casos, com a concorrência de países subdesenvolvidos e, noutros, com as motivações de alta qualidade que nortearão os consumos e decisões de investimento desses países, quando não as suas preocupações de defender de movimentos de reconversão demasiado bruscos algumas actividades internas já em quebra de eficácia (têxteis, obras de cortiça, bens alimentares, etc.).

5. A balança comercial metropolitana, cujo desequilíbrio global foi assinalado, reflecte claramente a ausência de reciprocidade ou, pelo menos, de relativo balanceamento das relações de exportação com as importações dos nossos principais fornecedores. A variedade de produtos que as actividades nacionais podem oferecer nos mercados estrangeiros, em condições de qualidade e preço compatível com a concorrência de outros países, é ainda fraca, embora em constante aumento. A tendência para acompanhar certos consumos vulgarizados em economias evoluídas e a necessidade de obter os equipamentos e as matérias-primas indispensáveis ao andamento das várias actividades provocam uma propensão à importação considerável e difícil de restringir sem graves danos. E não pode pensar-se em tentar utilizar os deficits comerciais existentes como argumentos efectivos para forçar maiores aquisições no mercado português. Para esse efeito, nem sequer será viável jogar com a concorrência entre os possíveis fornecedores dos produtos importados pela metrópole. O multilateralismo nos pagamentos e a quase total ausência de restrições quantitativas que actualmente caracterizam os regimes de comércio internacional dos países da Europa Ocidental e da América do Norte retiram aos governos desses países praticamente todas as possibilidades de, sem desrespeito pelo sistema de economia de mercado em que todos vivem, agirem sobre os desequilíbrios bilaterais de comércio.
Os desequilíbrios bilaterais de comércio, que afligem nomeadamente grande número de países subdesenvolvi-

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dos, têm servido, quando muito, como argumento para obter auxílios financeiros, para negociar esquemas de estabilização e valorização de produtos primários ou para fazer aceitar a ideia, que começa agora a estar bastante divulgada, de que os países de desenvolvimento económico muito diferenciado não podem obedecer a normas de concorrência estritamente idênticas.
Em relação concretamente ao caso de Portugal, a existência de deficits comerciais bilaterais apenas poderá constituir fundamento, conjuntamente com o insuficiente nível de desenvolvimento económico, para se pretender que, , em negociações comerciais com países industrializados, não tenhamos de assegurar perfeito equilíbrio numérico entre, por um lado, as vantagens conseguidas para os produtos da nossa exportação e, por outro lado, os benefícios atribuídos sob a forma de reduções dos nossos direitos e outros obstáculos à importação. Foi a esta luz que se negociou o Anexo G da Convenção de Estocolmo e que o Governo enunciou as condições da nossa participação no Kennedy Round.

6. No domínio da política do comércio externo e de pagamentos internacionais e interterritoriais, suscitam-se dificuldades que importa equacionar, a fim de prevenir uma atitude de exagerada confiança quanto à evolução das relações económicas da zona do escudo com o exterior no futuro próximo.
No que respeita à posição portuguesa, em referência aos movimentos de integração económica em curso à escala europeia, convém aludir, em primeiro lugar, ao problema da necessidade de conciliar a medida do acréscimo de produtividade a obter nas actividades económicas nacionais sujeitas a maior concorrência do exterior com as exigências de desarmamento aduaneiro na E. F. T. A.
Atenda-se a que as disparidades salariais existentes entre a metrópole e os países desenvolvidos da Europa deverão tender para progressiva minoração, sob pena de às actividades produtivas internas vir a faltar, devido à emigração, a mão-de-obra indispensável à sua laboração normal. No passado - período de 1955-1962 -, verificou-se para Portugal um crescimento dos salários industriais de cerca de 40 por cento, enquanto na República Federal Alemã, França, Itália e
Reino Unido se registavam acréscimos de respectivamente, 87 por cento, 78 por cento, 54 por cento e 49 por cento.
Uma vez que o nível dos salários, de acordo com o padrão dos países desenvolvidos, já exerce nítida atracção sobre a mão-de-obra nacional, não é possível manter no futuro próximo um ritmo de aumento dessas remunerações inferior ao que se verificar em países concorrentes.
Como não será viável, na grande maioria dos casos, fazer incidir esses diferenciais de custo de produção sobre os compradores, sobretudo se eles se localizam nos mercados externos, os acréscimos de produtividade a promover deverão ser suficientes para compensar um aumento de salários simultâneo a uma redução ou estabilização dos preços de venda.
Problemas de maior amplitude resultarão eventualmente do alargamento do Mercado Comum (de composição por enquanto incerta e dependente, entre outras condições, de negociações a empreender entre os diferentes membros da E. F. T. A. e a Comunidade Económica Europeia), com a cláusula, que certamente se procurará garantir, relativa ao tratamento preferencial das relações comerciais da metrópole com o ultramar. Como é sabido, o interesse do Reino Unido em salvaguardar o carácter especial das suas relações com a Commonwealth actuou durante muito tempo como um dos principais freios ao seu processo de aproximação com os países da C. E. E., mas no momento actual, ao que parece, a posição britânica é já bastante diferente. O facto de o território nacional se cindir por vários continentes e regiões de nível económico muito diferenciado dificulta enormemente um regime de aproximação estreita com uma entidade desse tipo.
Não se exclui também a hipótese de maior animação do conjunto das trocas com o exterior da metrópole derivada das Negociações Kennedy, actualmente prosseguidas sob os auspícios do G. A. T. T. Contudo, sabe-se já que os resultados finais do Kennedy Round ficarão muito aquém do seu objectivo inicial e há boas razões para crer que a participação de Portugal nessas negociações acabará por ter efeitos muito limitados, quer do lado das vantagens concedidas a outros países na nossa pauta de importação, quer no que respeita aos benefícios conseguidos para os produtos da exportação portuguesa nos principais mercados onde esses produtos são colocados.
Por sua vez, o reforço da política de unidade económica entre a metrópole e o ultramar aponta a necessidade de promover um rápido desenvolvimento das províncias ultramarinas e impõe que seja definido um esquema de incentivos à especialização de actividades produtivas no espaço português.
Para tal, convirá ajudar a progressiva transformação do teor das relações de comércio interterritoriais, que se baseiam fundamentalmente em correntes de produtos industriais exportados pela metrópole, só em parte compensadas por compras de alimentos e matérias-primas.
O problema reconduz-se a determinar formas práticas de cooperação entre economias de grau de desenvolvimento afastado, tanto quanto possível libertas das aleatoriedades que o sistema de fixação de preços no mercado internacional frequentemente introduz.
Outro problema, de incidências largamente sentidas, tem residido na dificuldade em manter condições de liquidez às diferentes províncias, nos termos prescritos pela recente legislação sobre pagamentos interterritoriais no quadro da zona-escudo.
A mecânica prevista tem funcionado em termos muito deficientes, e daí que a situação de certas províncias, nomeadamente Angola, sob o ângulo dos pagamentos, tenha atingido de há muito o ponto de saturação no que respeita à possibilidade de obter empréstimos junto do Fundo Monetário da Zona-Escudo, uma vez processadas as compensações normais, entre receitas a haver e pagamentos a efectuar, de cada uma das parcelas do sistema em relação a todas as outras.
Na base das dificuldades de pagamentos assinaladas encontra-se, em grande parte, o desequilíbrio estrutural da balança do ultramar nas suas relações com a metrópole, tanto em termos de comércio como de invisíveis correntes e, por vezes, de capitais. Provavelmente, a solução deverá ultrapassar opções técnicas de natureza meramente financeira, a fim de que não fique prejudicado o desenvolvimento das relações económicas à escala do espaço português.
Um terceiro problema corresponde às incidências de um dado de facto: o parcelamento do espaço português por múltiplas regiões geográficas, que ocasiona fraca densidade de relações económicas de alguns territórios com a metrópole e, sobretudo, das províncias entre si. Esta última circunstância reflecte também o escasso domínio de possibilidades de relações comerciais entre economias vivendo ainda em grande parte em regime de autosub-sistência.
À marinha mercante portuguesa compete papel fundamental na ligação das diferentes parcelas territoriais,

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e, para minorar as desvantagens dessa fragmentação, impõe-se que a actividade se oriente com vista a atingir altos níveis de eficiência que lhe permitam a prática de fretes moderados, sem prejuízo do equilíbrio económico das empresas desse sector. Tal não será certamente posssível sem o grande esforço de reestruturação e reequipamento previsto no capítulo respectivo do Plano.

7. Não tem sido sempre possível actualizar, na medida necessária, as estruturas e os métodos de trabalho dos serviços públicos que desempenham funções de orientação e d.e execução em matéria de comércio externo de modo a cumprirem com plena eficiência as respectivas missões.
Uma multiplicidade de entidades do sector público tem interferência de relevo maior ou menor sobre a exportação e a substituição de importações. Contudo, a actividade desses serviços não está suficientemente apoiada em instrumentos de coordenação e numa orientação de conjunto.
A Comissão Técnica de Cooperação Económica Externa tem, nas suas funções de ligação com os organismos internacionais do domínio económico dos quais Portugal faz parte, promovido a discussão, no quadro de grupos de estudo especializados, dos problemas respeitantes à eventual participação portuguesa nas negociações multilaterais de comércio internacional, e defendido, por consequência, a abertura negociada dos mercados estrangeiros aos produtos nacionais. A Comissão de Coordenação Económica e os organismos especializados por categorias de produtos na sua dependência têm exercido também funções de relevo no planeamento das posições de negociação referentes a futuros acordos bilaterais e multilaterais e na superior orientação e vigilância de todos os grandes problemas entretanto surgidos nos sectores respectivos de comércio com o exterior. A Direcção-Geral do Comércio procede ao licenciamento e registo prévio de todas as operações comerciais. Os serviços competentes do Ministério do Ultramar acompanham todas as questões referentes ao movimento comercial interterritorial e liquidações dele resultantes. A Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais intervém em aspectos relacionados com a qualidade e as disponibilidades de alguns produtos importados e exportados.
A revisão sistemática das atribuições de cada um desses organismos no domínio do comércio externo e a sua readequação aos condicionalismos presentes tornam-se necessárias, mas importa também melhorar as estruturas de funcionamento do organismo - Fundo de Fomento de Exportação- que está especificamente orientado para a promoção das exportações nacionais e cuja disponibilidade para desenvolver novas iniciativas é, portanto, maior.
Acresce que o Fundo tem, no decorrer dos últimos anos, prestado bons serviços na propaganda dos produtos nacionais no estrangeiro, no estudo das oportunidades abertas a grandes categorias de produção em diferentes mercados, na difusão de conhecimentos de ordem prática, que têm vindo a habilitar muitos exportadores desprovidos de técnica ou de contactos valiosos a estreitar laços comerciais com bons resultados, no subsídio de actividades, muitas delas, com real significado do ponto de vista do fomento da exportação, etc. E não se esquece que o Fundo dispõe de recursos financeiros relativamente avultados, os quais, uma vez integralmente utilizados na prossecução dos seus objectivos, podem constituir ponto de apoio para a definição de um programa completo e coerente de actividades que marque decidido arranque para metas mais ambiciosas de vendas ao exterior.
No entanto, aquele organismo não tem podido cumprir integralmente a sua missão devido um conjunto de estrangulamentos que vêm tolhendo mesmo as mais decididas e bem fundadas intenções de acção.
Por um lado, o Fundo de Fomento de Exportação tem uma definição de funções extremamente pobre, pois o articulado do Decreto-Lei n.º 37 538, de 2 de Setembro de 1949, que criou o Fundo, apenas refere que ele auxiliará, por meio de subsídios ou de empréstimos:

a) As missões, serviços ou organismos nacionais que, no estrangeiro, exerçam ou venham a exercer funções de estudo, informação e observação dos mercados, e
b) A propaganda e a defesa dos produtos portugueses nos mercados externos.
outro lado, quadros funcionais escassos ou insuficientemente preenchidos, dificuldade na fixação de técnicos qualificados, tudo faz avultar a valia do esforço realizado em condições de trabalho muito deficientes e a premência em transformar rapidamente os condicionalismos vigentes.
A falta de pessoal técnico especializado tem igualmente prejudicado a acção dos serviços comerciais do País no estrangeiro, sobretudo no campo da informação comercial.

8. A experiência recente mostra também a necessidade de proceder a alterações na política de comércio externo até agora seguida.
Na generalidade dos países que fizeram da exportação um objectivo fundamental da sua política, planeada ou não, tem-se procurado, mediante a concessão de facilidades de diversa natureza, não deixar perder qualquer iniciativa susceptível de vir a provocar uma animação da produção nacional com vista a trocas com o exterior. Essas facilidades tanto incidem sobre o reconhecimento de prioridades na utilização de créditos a médio e longo prazo, como sobre a concessão de desagravamentos fiscais, facilidades na aquisição de matérias-primas e semi-produtos aos melhores preços de concorrência internacional, garantia do seguro de crédito por riscos políticos, institucionalização do mesmo seguro para obviar a riscos comerciais, assistência financeira e técnica na pesquisa de mercados e publicidade, na embalagem, na concepção do produto mais. adequada às preferências dos mercados externos, etc.
Evidentemente que a concessão de tais benefícios envolve, em contrapartida, um compromisso de abstenção em relação a práticas que possam fazer perigar a posição de outros exportadores nacionais, nomeadamente, a desvalorização injustificada do produto exportado, o desrespeito de normas de qualidade e outras que seria ocioso enumerar. A atribuição selectiva de tais facilidades constitui poderoso motor ao espírito de empresa do exportador e incentivo para a obtenção de mínimos indispensáveis de- dimensão de fabrico, qualidade de produção, prazos de entrega e custos de produção. Os mesmos benefícios são concedidos às associações de exportadores, que proporcionam contributo notável do ponto de vista da melhoria de aptidão para exportar nos casos em que empresários isolados, demasiado desprovidos de experiência e de meios de acção, não podem subsistir na conquista de mercados externos. Em todos estes domínios se definem, no nosso país, sérias lacunas que importa preencher com urgência.
A concessão de facilidades de crédito à exportação foi prevista pelo Decreto-Lei n.º 46303, de 27 de Abril de

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1965, que estabeleceu os princípios básicos para a instituição de um sistema de crédito à exportação e respectivo seguro.
Esse diploma ainda não foi, porém, completado com a regulamentação que nele estava prevista e, por isso, não pôde produzir até agora quaisquer resultados práticos. Por outro lado, reconheceu-se já que o sistema nele articulado só muito dificilmente pode funcionar, nas condições actuais, por forma a preencher satisfatoriamente as necessidades da economia nacional em matéria de créditos e de seguro de créditos à exportação.

9. Finalmente, convém lembrar a falta de equipamentos adequados em matéria de infra-estruturas e material de transporte, de instalações de armazenagem frigorífica de apoio, a carência de estudos de normalização, tanto para a definição de produtos exportáveis, como das suas embalagens, a quase inexistência de estudos sobre a aplicação de técnicas modernas ao fomento das exportações. a insuficiência da acção disciplinadora e fiscalizadora em certos sectores da exportação, a necessidade de manter cursos e seminários de iniciação a problemas de comércio externo.

§ 2.º Projecções e objectivos

10. As projecções da balança comercial, apresentadas no capítulo sobre projecções do desenvolvimento económico para 1968-1973 - e baseadas, em grande parte, nas análises levadas a efeito pelo Grupo de Trabalho n.º 6 (Comércio) da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica -, não correspondem inteiramente a objectivos do planeamento, uma vez que não se dispôs de um conjunto de informações tão lato que permitisse definir ritmos óptimos para o desenvolvimento futuro das exportações e substituição de importações compatíveis com as peculiaridades da nossa estrutura produtiva. A impossibilidade de atribuir o carácter de objectivos de planeamento às projecções de comércio externo resulta, também do facto de o desenvolvimento das exportações e das importações estar condicionado por enorme variedade de factores que escapam, na maior partedos casos, à influência da política económica nacional. Basta lembrar, a esse respeito, a influência que podem ter as variações do ritmo de crescimento económico nos países industrializados e a incerteza quanto aos resultados a que se poderá chegar em matéria de integração económica de todos os países da Europa Ocidental. Por essas e outras razões, os meios de acção de que o Governo dispõe para influenciar as correntes de comércio externo não são suficientemente poderosos, nem produzem efeitos suficientemente precisos, para garantir que tais correntes possam ser orientadas por forma a ajustarem-se estritamente a um padrão predeterminado.
Em face de tudo isto, atribuiu-se elevada ponderação às tendências do comércio externo no passado, embora com a aceleração que será de esperar do mais rápido desenvolvimento económico nacional no período deste Plano. Tal comportamento mais acelerado traduzir-se-á tanto em novas necessidades de importação, como em oportunidades de exportação abertas pelo acréscimo, aperfeiçoamento e diversificação das actividades produtivas.
Considera-se desejável um melhor funcionamento da orgânica de estudos prevista para vigorar no quadro da preparação do Plano. Para tanto, convém assegurar o reforço da cooperação entre o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, os gabinetes de estudo e planeamento existentes ou a criar nos vários Ministérios e os grupos de trabalho da Comissão Interministerial de
Planeamento e Integração Económica, nas matérias em que a problemática do comércio externo tenha incidências.

11. As projecções são apresentadas a preços constantes de 1963 e adoptaram-se hipóteses de base sempre que não existiam ainda opções de política económica bem definidas.
Assim aconteceu com a mão consideração de eventuais consequências sobre o volume do comércio externo metropolitano do desenlace favorável das negociações encetadas sob a égide do G. A. T. T. para o desenvolvimento do comércio mundial (Kenmedy Round) e de uma maior abertura da Comunidade Económica Europeia a transacções com os países da E. F. T. A., para o que concorreu também o incompleto conhecimento das expectativas e condições de concorrência dos vários sectores de actividade nacional.
Não se tiveram, em conta eventuais crises de abastecimento interno de dimensão superior às verificadas nos últimos anos, nomeadamente quanto a cereais e gorduras alimentares, o que depende da evolução do sector agrícola para maiores criveis de eficiência.
Admitiu-se que se registaria no processo de substituição de importações por produção nacional ritmo semelhante ao verificado no passado recente, o que exige se proceda, a profundas reconversões das diferentes actividades no sentido de lhes garantir condições de resistir à concorrência de bens estrangeiros.
Considerou-se o prolongamento de evoluções favoráveis para as rubricas de invisíveis correntes (sobretudo turismo e transferências privadas) e de capitais, sem que se tornariam necessários esforços adicionais de promoção de exportações e de substituição de importações.

12. As projecções elaboradas apontam para considerável aumento do comércio externo da metrópole, tanto pelo que respeita a relações de exportação, como de importação. Se se prolongassem as tendências do passado, o aumento do importações processar-se-ia a taxa superior à das vendas ao exterior: respectivamente 6,7 e 6,5 por cento, em média anual -, o que ocasionaria sensível agravamento do deficit comercial, que, da ordem dos 7,3 milhões de contos em 1967, passaria para cerca de 11,2 milhões em 1973 l.
Tais ritmos de crescimento - que permitiram registar, a preços de 1963, acréscimos de cerca de 8,1 milhões de contos de exportações e de 13,2 milhões de contos de importações no período deste III Plano-não favoreceriam espontaneamente a obtenção de maior equilíbrio da balança comercial, pelo que convirá estimular as exportações para além daqueles limites.
Acresce que a taxa de 6,5 por cento - calculada com base no tipo de evolução das nossas vendas ao exterior no passado e nos factores de correcção considerados como revestindo grau razoável de segurança - não poderá considerar-se como objectivo, uma vez que terá necessariamente de ser ultrapassada, não só para contrabalançar a aceleração prevista no ritmo de aumento das importações, como até por efeito do desenvolvimento e melhoria de condições de produção nos sectores da indústria e da agricultura a efectuar ao longo do período de execução do Plano.

1 Transações estimadas em valores F. O. B., incluindo o comércio governamental.

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De resto, a necessidade, amplamente demonstrada por múltiplas experiências alheias, de os pequenos países como o nosso irem orientando o seu processo de desenvolvimento económico no sentido de maior grau de especialização relativa da sua estrutura industrial, implica para a economia portuguesa crescente dependência em relação às trocas comerciais com o exterior. Deduz-se daí, em particular, ter a taxa média de crescimento das exportações de ser substancialmente superior à taxa de aumento do produto nacional. É por isso que na maior parte dos planos de desenvolvimento de países europeus se prevêem taxas de aumento das exportações da ordem dos 10 por cento ao ano.
O esforço de exportação no caso português deverá centrar-se progressivamente em produções que denotem capacidade de rápida adaptação às exigências do mercado, beneficiando de acções de produtividade específicas que permitam respeitar os níveis de preços e de qualidade correntes no comércio internacional.
No sector primário - e salvo o aparecimento de iniciativas inovadoras em ramos como p da produção de primores e de forragens naturais-, não parece existirem possibilidades de rápido fomento das exportações, embora da criação de novas indústrias alimentares de alta produtividade possa derivar o escoamento para incorporação industrial de muitos produtos agrícolas.
Do ponto de vista das actividades industriais,- julga-se existir maior número de oportunidades de rápido aumento das exportações desde que se cumpra o ritmo de desenvolvimento do produto industrial programado -9 por cento em média anual - e dado que as actividades mais dinâmicas serão aquelas predominantemente abertas à concorrência nos mercados exteriores, o que deverá contrabalançar a considerável influência das actividades tradicionais. Para isso, será necessário fazer esforço consciente, através dos apoios dados à instalação de novas unidades fabris, para orientar a transformação da nossa estrutura industrial no sentido de maior grau de especialização, tendo em conta as condições e tendências dos mercados mundiais.
Pormenorizando a evolução das relações de exportação da metrópole ao nível dos grandes grupos de bens, prevê-se serem as máquinas e material de transporte e os produtos químicos as categorias que maiores acréscimos médios de vendas suscitarão.
A evolução das vendas dos restantes artigos manufacturados também poderá ser razoavelmente rápida, apesar das dificuldades crescentes de concorrência e de proteccionismo, com que se deve contar em alguns casos, nomeadamente o dos têxteis de algodão dos tipos mais simples (fios e tecidos de qualidade pouco elevada). Nas matérias-primas e nos produtos alimentares, prevê-se ritmo de expansão não muito acentuado - à volta de 6 por cento ao ano - e nas bebidas é de crer que a taxa média de aumento seja ainda bastante mais fraca - cerca de 2 por cento.
A razão de ser das disparidades filia-se não só na dificuldade em encontrar escoadouros nos grandes mercados mundiais para certo número de produtos tradicionais de exportação, nomeadamente vinhos, produtos alimentares, cortiças, madeiras» e alguns têxteis, como ainda pelo dinamismo de que têm dado provas as actividades industriais com maior dose de conhecimentos técnicos incorporados - químicas e produção de equipamentos -, apoiadas, aliás, num mercado ultramarino fiel, embora de escassa dimensão.
Desse modo, prevêem-se variações correspondentes na estrutura percentual das relações de exportação durante o período do Plano, salientando-se o decréscimo de peso das bebidas de 6,5 por cento para apenas 5 por cento, enquanto as máquinas, o material de transporte e os produtos químicos, em conjunto, passariam de uns 10 por cento das vendas totais em 1967 para mais de 12 por cento em 1973.
Apenas em dois casos - o fornecimento de matérias-primas às indústrias de conservas hortícolas e às de transformação de madeira - se prevê que o contributo do sector agrícola possa assumir dimensão rapidamente crescente.
Também as actividades extractivas e da pesca deverão comparticipar em limitada escala nos volumes exportados, com excepção dos mármores e do peixe em conserva. O andamento destas categorias da exportação, apenas apoiado em poucas evoluções favoráveis, é susceptível de ser afectado por crises localizadas e conjunturas desfavoráveis, difíceis de determinar com antecedência.
Outras dificuldades se revelam no caso dos têxteis, prevendo-se a necessidade de competir cada vez mais arduamente no agenciamento de mercados externos, em vista, nomeadamente, das protecções de que esses mercados se têm estado a rodear e da pressão sobre os preços exercida pelas exportações de vários países pouco desenvolvidos da Ásia. De qualquer modo, o enorme peso dessa rubrica no conjunto das exportações da metrópole (24 por cento em 1965) é de molde a suscitar oscilações de amplitude considerável nas nossas receitas de comércio externo.
O amortecimento verificado ou previsto na evolução de algumas das mais relevantes rubricas de exportação da metrópole convida a definir uma política selectiva de auxílio a sectores chave que garanta a sobrevivência desses sectores a médio e longo prazo, em condições de rentabilidade satisfatórias, e fomente as necessárias reconversões dos que se revelarem incapacitados para atender às exigências de qualidade e custo expressas nas correntes de trocas internacionais. Essa mesma razão recomenda que na política de incentivos à instalação de novas indústrias se dê a maior prioridade àqueles sectores e estabelecimentos que, pela sua adequação às nossas condições competitivas potenciais, pela sua dimensão e pelo seu apetrechamento tecnológico, comercial e administrativo, mais possam contribuir para um aumento rápido de exportações que incorporem parcelas importantes de valor acrescentado em território nacional.

13. O acréscimo de importações previsto para os próximos anos deverá resultar, por um lado,, das necessidades de investimento, ditadas pela modernização dos vários sectores de actividade económica e que se repercutirão, em grande parte, em bens de produção estrangeira; por outro lado, da satisfação da procura de matérias-primas e outros bens intermediários para a indústria, e, finalmente, da melhoria quantitativa e qualitativa dos consumos.
Admite-se1 crescimento muito mais lento para as compras de produtos alimentares no período do Plano do que o registado no passado - respectivamente 4,5 e 11 por cento, em média anual. Tal previsão deve-se ao
As projecções de importação, bem como o conjunto das análises de comércio externo, foram elaboradas na base de valores C. I. F. Apenas para permitir o cálculo da balança comercial se trabalhou na base de preços F. O. B.

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facto de em anos recentes, se terem verificado compras maciças desses produtos - caso mais notório dos cereais -, que não poderão continuar a desenvolver-se em ritmo semelhante, tanto por motivo da fraca elasticidade-rendimento desses bens, como da margem de auto-abastecimento que se entenda conservar.
As importações de combustíveis minerais e de lubrificantes devem crescer, no conjunto, apenas a uma taxa da ordem dos 2 por cento. Embora tudo faça crer que as aquisições de ramas de petróleo se expandirão mais rapidamente do que no passado, conseguir-se-ão, em contrapartida, importantes economias de divisas em relação a vários produtos acabados que passarão a ser produzidos na refinaria do Norte.
Também as aquisições de produtos químicos tenderão a registar crescimento mais moderado - 6,5 por cento -, tanto pela dimensão que essas transacções já detêm (em 1967 atingirão, segundo se prevê, um valor da ordem dos 2,7 milhões de contos a preços de 1963), como pelas perspectivas de substituição de importações, abertas em particular pela implantação futura da petroquímica.
A compra de artigos manufacturados deve manter crescimento de ritmo elevado no conjunto - mais de 7 por cento ao ano.
As importações de matérias em bruto devem crescer a uma taxa da ordem dos 8 por cento, de acordo com as necessidades de laboração das indústrias nacionais utilizadoras.
Para ocorrer às necessidades de investimento no período do Plano não cobertas por produção nacional, prevê-se aumento das compras de máquinas e material de transporte à taxa média de cerca de 8 por cento.
Podem, assim, esperar-se alterações significativas na estrutura das importações, designadamente o menor peso relativo dos alimentos (10 por cento das compras totais em 1973); a quebra dos combustíveis minerais (9 por cento do conjunto das importações em 1967, para apenas 7 por cento em 1973); a recuperação de peso das compras de máquinas e material de transporte e de matérias-primas, em referência às situações verificadas por vezes no passado, e a continuação dos aumentos atribuíveis às transacções de manufacturas, que em 1973 deverão representar cerca de um quarto das compras totais.

14. A definição dos grandes problemas que se põem à política de comércio externo nacional atrás referida decorre naturalmente a dos objectivos a prosseguir na acção de fomento durante o período do Plano:

1) O objectivo de base deve ser o de promover a obtenção de um ritmo médio anual de crescimento das exportações da ordem dos 10 por cento. Esta taxa é superior à que corresponde ao prolongamento das tendências até aqui verificadas e, por isso, pressupõe actuações mais vastas e mais profundas do que as do passado no campo da promoção das exportações. Haverá que desenvolver acção conjugada dos sectores público e privado no sentido de se estudarem e executarem as providências que melhor possam contribuir para o aumento rápido das nossas vendas em mercados estrangeiros. Essa acção deverá desenrolar-se ao nível da produção, no plano da comercialização e no domínio da política oficial de promoção das exportações.
2) Promover o alargamento da gama dos produtos exportados, em particular no sector das produções industriais metalomecânicas, construção de máquinas e de equipamentos, electrónica, químicas, alimentares, indústrias transformadoras de produtos florestais, etc.), mas também no das produções agrícolas de melhores perspectivas, com vista a elevar, na medida do possível, a posição no total das exportações dos produtos de superior conteúdo técnico e valor incorporado e a impulsionar o desenvolvimento da produção interna em sectores prioritários.
Poderá servir de referência para a concessão de facilidades a certas actividades voltadas à exportação a sua influência na criação de novos empregos, no aproveitamento de produtos agrícolas e na incorporação e difusão interna do progresso técnico.

3) Continuar o programa de substituição de importações, com base em estudos a realizar, com a colaboração do sector privado, sobre a viabilidade de produção interna, para consumo nacional e exportação, de bens em relação aos quais o País disponha de vantagens comparativamente às características e preços da concorrência do exterior. Os critérios enunciados no n.º 2 desta série de objectivos permanecem válidos do ponto de vista da substituição de importações. Não se poderá desligar a problemática da substituição de importações dos níveis de produtividade susceptíveis de serem alcançados internamente nas novas actividades, pois não podemos correr o risco de substituir importações à custa da criação de actividades ineficientes, condenadas a subsistir artificialmente ou a desaparecer a breve prazo. Será, por isso, necessário ter em conta as possibilidades do mercado interno, a viabilidade de se colocar parte da produção em mercados externos e as limitações do emprego de medidas proteccionistas no quadro dos movimentos de integração económica europeia.

4) Favorecer, na medida do possível, maior diversificação por destinos do comércio de exportação da metrópole, para o tornar menos dependente das contingências económico-políticas que possam atingir os seus poucos mercados de dimensão significativa. Na importância a atribuir-se a este objectivo deverá, porém, observar-se que a diversificação geográfica do nosso comércio externo se pode comparar, já bastante favoravelmente, com a de grande número de países europeus e extra europeus. Por outro lado, não devem esquecer-se as grandes dificuldades a vencer para se conseguir maior diversificação geográfica das nossas exportações e que, por isso, os esforços requeridos podem não ser compensados pelo valor dos resultados obtidos. Basta recordar, a tal respeito, as fracas perspectivas de aumento das exportações para países subdesenvolvidos, a natureza das relações comerciais com os países do bloco socialista, os obstáculos de ordem geográfica à intensificação das relações comerciais com países como a Austrália e o Japão, etc.

5) Promover o estudo do tipo de complementaridade a estabelecer entre as economias da metrópole e as das províncias ultramarinas e que, ao mesmo tempo, garanta o acesso de qualquer das parcelas do território, em especial do ultramar, a níveis de desenvolvimento económico elevado. Este objectivo postula o intuito de desenvolver as actividades económicas ultramarinas, em particular novas actividades industriais, e de impulsionar o progresso das actividades metropolitanas para sectores de maior complexidade em técnica e estrutura produtiva.

6) Assegurar com urgência as adaptações institucionais e legais que se revelem indispensáveis ao fomento, fiscalização e disciplina das actividades de comércio externo e, em particular, de exportação.

§ 3.º Medidas de política

15. Referidos os principais problemas que afectam o comércio externo nacional, em particular as relações de exportação, e também os objectivos a prosseguir nesse domínio nos próximos anos, resta apontar as diferentes

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providências que hão-de ser factores directos de realização das metas em vista.
As actuações conduzidas ao nível da produção, com o objectivo de estimular as exportações, são as que se apresentam como mais necessárias e, portanto, aquelas a que se terá de atribuir maior prioridade. As mais sérias dificuldades encontradas na actividade exportadora portuguesa e as limitações que sobretudo afectam o seu desenvolvimento rápido resultam claramente das deficiências actuais da estrutura produtiva nacional. É por insuficiência de especialização, por exiguidade nas dimensões das unidades fabris, por deficiências no equipamento, por atrasos na utilização, de técnicas produtivas avançadas e por outras razões similares que os produtos portugueses, na maior parte dos casos, não podem competir nos mercados internacionais em condições aceitáveis de preço, qualidade, prazos, volumes de entrega, etc. É por falta de capacidade produtiva que determinadas indústrias, com melhores possibilidades de concorrência nos mercados internacionais, não têm conseguido alargar mais rapidamente as suas vendas nesses mercados. É porque numerosas empresas instaladas no nosso país se dimensionaram e equiparam tendo em vista apenas o mercado interno, contando com a protecção desse mercado para suprir a sua insuficiente produtividade, que a estrutura industrial portuguesa só muito lentamente se tem adaptado às exigências de um crescimento rápido das exportações. É por falta de técnica de produção, por insuficiência das redes de distribuição e armazenagem e por deficiências na estrutura agrária que alguns produtos portugueses, nomeadamente os da horticultura e fruticultura, não têm conseguido presença mais significativa nos mercados internacionais.

1) Em face do exposto, enuncia-se, em primeiro lugar, um grupo de providências que, não se referindo directamente ao foro das actividades propriamente comerciais, deverá ter grande relevância na promoção de exportações e na substituição de importações.
É manifesto que só progressivamente, em função do nível de desenvolvimento económico geral, se poderá ir caminhando para uma estrutura produtiva adaptada às necessidades da concorrência internacional e plenamente capaz de alimentar uma corrente de exportações em rápida expansão. No entanto, muito se pode avançar no sentido de tornar mais sólido o sistema das nossas relações comerciais com o exterior se, dentro da política global de desenvolvimento económico, se atribuir alta prioridade às medidas que tenham por efeito reforçar a capacidade exportadora das actividades produtivas portuguesas.
Para o efeito, interessa considerar especialmente os incentivos e intervenções directas do Estado no sentido de:
Criar facilidades especiais à instalação ou melhoramento de empresas industriais cuja actividade venha a apoiar-se essencialmente na exportação;
Promover a reorganização de actividades, a constituição de associações de produtores e a melhoria da produtividade em sectores onde se considere haver potericialidades importantes de expansão das exportações.
As regras de conduta em matéria de apoio à exportação fixadas no G. A. T. I., e na E. F. T. A. restringem bastante o domínio dentro do qual
o Governo pode actuar com vista à realização dos objectivos que acabam de ser mencionados. Mesmo assim, há extensa gama de medidas importantes que podem ser encaradas:

a) Facilidades prioritárias de crédito para instalação, reorganização e funcionamento de empresas que possam contribuir substancialmente para o progresso das exportações;
b) Tratamento fiscal especialmente favorável, durante períodos transitórios, para indústrias que comecem a poder exportar parte apreciável da sua produção (como, por exemplo, certos ramos da indústria metalomecânica e de material eléctrico);
c) Assistência técnica à reorganização e à instalação de empresas em actividades industriais que apresentem perspectivas animadoras de concorrência nos mercados mundiais (apoio dos serviços do I. N.º I. I., pagamento a peritos nacionais e estrangeiros contratados para estudos de reorganização e aumento de produtividade, elaboração de estudos de pré-investimento, etc.);
d) Acolhimento de empresas estrangeiras particularmente favorável quando essas empresas possam, através das suas potencialidades técnicas e das suas ligações comerciais em mercados externos, abrir perspectivas importantes a exportação portuguesa;
e) Adaptação das regras do condicionamento industrial e da política de ordenamento agrário às necessidades de crescimento rápido das exportações;
f) Orientação da política de formação de mão-de-obra especializada e de investigação aplicada a técnicas produtivas no sentido de se beneficiarem amplamente os sectores que mais podem contribuir para alimentar uma acelerada expansão das exportações ou a substituição da importações com grande interesse para a economia nacional;
g) Facilidades no aprovisionamento dê matérias-primas e de outros produtos intermediários a preços de concorrência internacional, seja através da eliminação dos direitos que oneram na pauta essas matérias-primas e produtos, quando tal eliminação não prejudicar excessivamente outras actividades, seja através da utilização do sistema de draubaque para maiores quantidades (embora a tal respeito seja necessário ter em conta certas disposições que se opõem à utilização desse sistema nas exportações para a E. F. I. A, seja finalmente através do apoio às actividades que fornecem matérias-primas e semi-produtos às indústrias de exportação, de maneira a permitir que essas actividades pratiquem preços de concorrência internacional.

2) O acréscimo rápido das exportações, fixado como objectivo que deve procurar atingir-se no quadro

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do Plano, envolve a necessidade de substanciais aperfeiçoamentos na estrutura e métodos de comercialização dos produtos susceptíveis de escoamento nos mercados externos. Nota-se desde há bastante tempo interesse por melhorias desta natureza e alguma coisa se tem avançado no sentido da sua efectivação, em boa parte por virtude da acção do Fundo de Fomento de Exportação. Haverá, porém, que acelerar o processo de modernização dos métodos comerciais das nossas empresas de exportação, tornando-as mais bem informadas, mais resistentes, mais integradas em normas de interesse colectivo e devidamente apoiadas nos equipamentos de infra-estrutura de que precisam para a sua actividade. Para esse efeito, será de encarar, no prosseguimento de actuações já ensaiadas, nomeadamente através do Fundo de Fomento de Exportação, a aplicação de medidas dos tipos seguintes:

a) Assistência técnica por serviços do Estado a empresas exportadoras no que respeita às práticas e formalidades de comércio internacional, nomeadamente por meio de:

Realização de cursos de formação, gerais e especializados, para exportadores;
Edição de publicações e difusão de informações que chamem a atenção dos produtores e comerciantes para as possibilidades existentes em mercados internacionais e que os elucidem sobre as maneiras de operar nesses mercados;

b) Apoio às empresas exportadoras, através de:

Serviços informativos;
Assistência no estudo de mercados para grandes categorias de produção nacional;
Contributo para investigação destinada a orientar a produção em conformidade com a capacidade e exigências dos mercados externos;
Informação e publicidade (centros de informação comercial, promoção e auxílio de contactos periódicos de exportadores e industriais nacionais com importadores estrangeiros, auxílio técnico e financeiro, quando julgado conveniente, aos exportadores que pretendam apresentar os seus produtos em feiras e mercados que mais possam contribuir para a expansão das nossas exportações, edição de catálogos colectivos e outras formas de publicidade);
Realização de estudos sobre as tendências do comércio internacional (nomeadamente técnicas de embalagem, correntes de troca entre grandes regiões geográficas), etc.;
Para tanto, cumpre proceder à revisão das atribuições do Fundo de Fomento
de Exportação (que deverá dispor de um quadro técnico substancialmente alargado e de recursos financeiros superiores aos que lhe têm sido atribuídos nos últimos anos) e à urgente remodelação das funções e tipo de acção dos serviços comerciais no estrangeiro, tanto das secções das Casas de Portugal, como dos Centros Portugueses de Informação, por forma a torná-los instrumento eficaz da política de exportação nacional, aproximá-los mais da administração central do organismo, com vista à intensificação de informações recíprocas e a uma acção programada dentro de orientação uniforme que permita actuações diversas, ditadas pela índole específica dos respectivos mercados, e não perca o traço comum que as deve caracterizar. Serão criadas novas representações do Fundo em mercados que se apresentem como susceptíveis de absorver parte considerável dos nossos excedentes exportáveis e, quando for caso disso, actuar-se-á através de agentes volantes. Procurar-se-á criar uma verdadeira mentalidade comercial em quantos exercem a sua actividade nos diversos serviços comerciais e será instituído um centro-piloto destinado à preparação adequada dos elementos a utilizar;

c) Publicação de normas legislativas que incentivem a formação de associações de exportadores, através da concessão de certo número de benefícios, designadamente:

Facilidades de natureza fiscal;
Apoio técnico e financeiro na prospecção de mercados e publicidade;
Prioridade na atribuição de créditos destinados ao fomento da exportação;
Concessão de outras facilidades, em particular no domínio de acção do Fundo de Fomento de Exportação.

Estes benefícios serão também facultados aos empresários dos diversos ramos da exportação nacional que apresentem condições mínimas de organização comercial;

d) Disciplina das condições do desempenho da actividade exportadora e acesso qualificado ao exercício da mesma actividade mediante a concessão da «carta de exportador», cuja regulamentação legal conferirá também vantagens a definir;
e) Publicação de normas legais e regulamentares que visem promover a garantia e o melhoramento da qualidade dos produtos da exportação nacional (incluindo, sempre que isso for praticável, a definição de mínimos de qualidade e normas de fabrico e sua rigorosa fiscalização);

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f) Constituição de uma rede de equipamentos de armazenagem e transporte, de acordo com as recentes aquisições técnicas da distribuição, com vista a encaminhar para os mercados externos, em boas condições de qualidade e custo, os produtos nacionais. As instalações frigoríficas a integrar na Rede Nacional do Frio devem beneficiar de estatuto que lhes permita servir os interesses da exportação. Importa proceder rapidamente à actualização das condições de exploração permitidas pelos nossos portos e vias férreas, aumentando a sua capacidade na medida do necessário, e difundir a utilização de equipamentos modernos (vagões e navios-frigoríficos e isotérmicos, vagões de eixos intermutáveis, contentores, etc.), como se prevê nos capítulos correspondentes do Plano.

3) Haverá que promover a urgente publicação dos diplomas necessários para efectiva aplicação do sistema de crédito e seguro de crédito à expor- tacão, em condições semelhantes às que vigoram na maioria dos países com os quais as nossas actividades exportadoras, nomeadamente as do sector da produção de bens de equipamento, têm de concorrer. Deverá encarar-se, nomeadamente:

a) A regulamentação do Decreto-Lei n.º 46303, de 27 de Abril de 1965;
b) A definição de regras que assegurem a devida prioridade aos créditos à exportação na concorrência com outros tipos de crédito, seja através de directivas transmitidas para esse efeito às instituições de crédito controladas pelo Estado, seja mediante facilidades especiais atribuídas aos créditos à exportação a conceder por estabelecimentos de crédito particulares;
c) A criação de instituições especializadas, com a participação do Estado, na medida em que esta for necessária, destinadas a garantir contra riscos políticos, cambiais e comerciais as exportações de bens e serviços susceptíveis de financiamento;
d) A preparação dos regulamentos e o apetrechamento dos serviços que se considerem indispensáveis para garantir o adequado funcionamento das facilidades de crédito e seguro de crédito à exportação.

CAPITULO IV

Emprego e política social

Introdução

l. A política social portuguesa tem o seu fundamento legal no artigo 5.º da Constituição Política, onde se estabelece que «o Estado Português é uma república unitária e corporativa, baseada na igualdade dos cidadãos perante
a lei, no livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização e na interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis».
Destes princípios dimanam as grandes linhas de rumo que têm orientado a colectividade portuguesa nos últimos 84 anos, com particular reflexo no desenvolvimento da política social.
Sinal evidente desse reflexo é a fidelidade que a tais princípios têm mantido todos os textos legais entretanto publicados, desde o Estatuto do Trabalho Nacional, promulgado poucos meses depois da Constituição, até ao Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, regulador do contrato individual de trabalho, diploma que mais recentemente se veio inserir na linha dos textos fundamentais da política social portuguesa.

2. O princípio da plena igualdade de todos os cidadãos perante a lei encontra-se assegurado, no plano económico-social, sob múltiplos aspectos, genericamente consagrados no Estatuto do Trabalho Nacional:

O reconhecimento pelo Estado da iniciativa privada como o mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação;
A criação da magistratura do trabalho como garantia da integral aplicação da lei a todos os cidadãos, independentemente da categoria ou classe social a que pertençam;
A liberdade de trabalho e de escolha da profissão em qualquer ramo de actividade; A contratação colectiva, tendente a garantir o justo equilíbrio dos interesses entre os factores da produção, etc.

E se, do plano legal, passarmos para o plano dos factos, fácil será, igualmente, demonstrar que, se há princípio que entre nós tenha obtido plena efectivação, o da igualdade dos cidadãos perante a lei é, sem dúvida, um deles, como resulta, além do mais, do desenvolvimento e aperfeiçoamento alcançados pela magistratura do trabalho e pelo regime das convenções colectivas.
Quanto aos tribunais do trabalho, não pode, com efeito, comparar-se a estrutura inicial daqueles órgãos jurisdicionais com aquela que hoje apresentam, instalados em todas as sedes de distrito, e alguns deles com desdobramentos em mais de uma localidade. De assinalar também, como índice do desenvolvimento e aperfeiçoamento da nossa magistratura laborai, as recentes reformas introduzidas nos textos fundamentais por que se rege a sua actividade, designadamente a Lei n.º 2091, de 9 de Abril de 1958, o Estatuto dos Tribunais do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 41 745, de 21 de Julho de. 1958, o Código de Processo do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 497, de 30 de Dezembro de 1963, que substituiu o Código de Processo nos Tribunais de Trabalho de 1940, e o Código das Custas Judiciais do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 698, de 30 de Abril de 1964.
Pelo que toca à contratação colectiva, notáveis têm sido também os progressos verificados nos últimos anos, podendo afirmar-se que, actualmente, está coberta por convenções de trabalho a generalidade das actividades do comércio e indústria, e o sistema começa a alargar-se já ao sector rural. De acentuar é, outros sim, a facilidade cada vez maior com que são negociados e concluídos esses instrumentos de regulamentação do trabalho, mercê dos quais grande tem sido a uniformização alcançada nos direitos e deveres recíprocos das entidades patronais

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e dos trabalhadores, tornando mais efectivo o princípio da progressiva equiparação de todos perante a lei. Para bem avaliar o progresso realizado, basta dizer que só de 1961 a 1965 foram celebradas cerca de 240 convenções, abrangendo mais de 700 000 trabalhadores.

3. O segundo princípio constitucional acima referido, igualmente essencial na estruturação e desenvolvimento da política social portuguesa, é o do livre acesso de todas as classes aos benefícios da civilização, podendo concretizar-se a sua efectivação não só na garantia da liberdade de profissão, mas também nos aperfeiçoamentos constantemente introduzidos na legislação social e na regulamentação do trabalho,, tendentes a favorecer ou impulsionar a elevação do nível de vida e bem-estar da população portuguesa.
Quanto à legislação do trabalho, cumpre mencionar, além do Estatuto do Trabalho Nacional, a Lei n.º 1952, de 10 de Março de 1937, que constituiu durante muito tempo o texto basilar do contrato individual de trabalho, e o Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, que recentemente revogou e substituiu aquela lei. Por força deste último diploma, torna-se hoje possível ao nosso país subscrever a generalidade das convenções internacionais sobre direito do trabalho.
Como instrumento de acesso aos benefícios da civilização, devem considerar-se igualmente os aperfeiçoamentos introduzidos na legislação reguladora dos riscos do trabalho, matéria que, tendo começado por ser prevista a título genérico no Estatuto do Trabalho Nacional, encontrou depois pormenorizada regulamentação na Lei n.º 1942, de 27 de Julho de 1936, que vigorou durante longo período, e recentemente foi substituída pela Lei n.º 2127, de 3 de Agosto de 1965, cujos preceitos dão ao nosso direito em matéria de acidentes e doenças profissionais posição de particular relevo no contexto legislativo geral.
A legislação da previdência social comprova, com igual relevo, a preocupação que tem dominado a política portuguesa de procurar favorecer, pelos meios ao seu alcance, o acesso de todas as classes aos benefícios da civilização, um dos quais, entre os mais importantes, é, sem dúvida, o benefício da segurança contra os riscos da existência.
Depõe a este respeito toda a evolução operada no domínio da previdência, desde a afirmação programática do artigo 48.º do Estatuto do Trabalho Nacional, até à moderna concepção da segurança social entre nós aceite e praticada.
Constituem diplomas fundamentais do nosso seguro social a Lei n.º 1884, de 10 de Maio de 1935, e a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962, mais conhecida por Reforma da Previdência, e onde, praticamente, estão previstas, como no lugar próprio deste capítulo se dirá, além de importantes reorganizações de estrutura tendentes à concentração dos seguros diferidos e a uma maior aproximação entre os beneficiários e as instituições, todas as modalidades do moderno seguro social, incluindo a doença, a maternidade, o abono de família, a invalidez, a velhice e a morte.
Pela importância de que se revestem, justificam desde já uma referência especial as inovações introduzidas no domínio do seguro doença e da sobrevivência.
O primeiro, procurando constituir um sistema em que todas as enfermidades fiquem a coberto da protecção social, quer através do alargamento da rede sanitária, por forma a poder atender camadas sempre maiores da população, quer mediante o aperfeiçoamento do esquema e seu alargamento à cobertura hospitalar genérica, neste momento já concedida em todas as modalidades aos beneficiários da previdência.
Quanto ao seguro de sobrevivência, é de assinalar a sua introdução entre nós pela citada Lei n.º 2115, embora condicionada pela vontade dos interessados, manifestada em convenção colectiva, o que efectivamente tem vindo a suceder em numerosas actividades, podendo afirmar-se que hoje constitui já preocupação inscrita na generalidade das convenções em estudo.
Deve ainda notar-se a possibilidade, aberta pela nova lei às profissões não dependentes, de favorecer a sua integração no esquema da previdência através de instituições próprias, como se espera em breve venha a suceder com os comerciantes, cuja- Caixa de Reforma e Previdência se encontra em fase muito adiantada de organização.
Por último, merecem realce, como instrumentos de promoção social (devidamente assinalados nos capítulos próprios do presente Plano), o acesso à propriedade da casa, mercê do auxílio da previdência, a política de formação profissional e o acesso à cultura, mediante o apoio que, pelo nosso seguro social, vem sendo prestado através da concessão de bolsas de estudo aos beneficiários do seguro social e seus filhos, o que sem dúvida constitui a forma mais directa e eficiente de favorecer a participação de todos os portugueses nos benefícios da civilização, de que a cultura é o mais valioso. Refere-se, a propósito, que só no ano lectivo de 1965-1966 foram concedidas cerca de 3000 bolsas, em todos os graus de ensino, benefício que recentemente foi alargado aos filhos dos trabalhadores rurais, no prosseguimento da política de generalização efectiva do nosso seguro social a toda a população.

4. O terceiro dos princípios constitucionais apontados como base e fundamento da política social portuguesa é o da interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis.
A forma como essa participação se encontra concebida e estruturada entre nós constitui também uma das características mais salientes da nossa organização político-social. Trata-se da consagração, no direito constitucional português, da orgânica corporativa, que pode definir-se como «sistema de organização social que tem por base o agrupamento dos homens segundo a comunidade dos seus interesses naturais e das suas funções sociais e por necessário coroamento a representação pública e distinta dos organismos assim constituídos».
Toda a estrutura do sistema corporativo tende, com efeito, a assegurar à comunidade, através dos «corpos sociais» que a integram, participação activa na vida nacional, quer defendendo os interesses específicos dos respectivos sectores, quer interferindo, como seus representantes, junto dos Poderes Públicos ou no próprio seio dos órgãos da soberania.
Aquele sistema, consagrado em termos genéricos no Estatuto do Trabalho Nacional, foi seguidamente desenvolvido nos diplomas que, com data de 23 de Setembro de 1933, estruturaram as bases legais dos sindicatos, das Casas do Povo e dos grémios, a que se seguiram os textos relativos às Casas dos Pescadores, grémios facultativos, grémios da lavoura e federações, e que culminaram com a Lei n.º 2086, de 22 de Agosto de 1956, instituidora das corporações económicas, e os recentes Decretos n.ºs 47 213, 47 214 e 47 215, de 23 de Setembro de 1966, que criaram as corporações morais e culturais, da assistência, das ciências, letras e artes e da educação física e desportos.
A actuação desenvolvida pelas corporações na defesa dos interesses que lhes estão confiados, e o facto de a

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Câmara Corporativa, a quem compete importante participação no exercício do Poder Legislativo, ser essencialmente constituída por representantes dessas corporações, são outras tantas fornias de assegurar plena realização ao princípio da efectiva participação dos elementos estruturais da Nação na vida administrativa e na feitura das leis.

5. Não obstante os progressos alcançados no desenvolvimento da política social, existem ainda, entre nós, como na generalidade dos países, certos desequilíbrios nas condições de vida, quer ao nível dos vários estratos sociais, quer à escala regional, que importa corrigir progressivamente e que têm originado intensos fluxos migratórios, não só para o estrangeiro,- como a partir das regiões e sectores económicos menos prósperos para os mais prósperos, designadamente entre o meio rural e o meio urbano.
Isto confirma a necessidade de continuar a intensificar o processo de desenvolvimento, a fim de que se atenuem as desigualdades e se alarguem cada vez mais, a todos os indivíduos, os benefícios já alcançados.
Semelhante progresso, no entanto, impõe-se, não só porque cresçam os movimentos migratórios ou por simples razões de paz social, mas principalmente porque constitui uma das determinantes éticas da nossa vida colectiva. Se, por exemplo, a preocupação de desenvolvimento surgisse apenas porque estes ou aqueles países já oferecem melhores condições aos seus cidadãos, o tipo de desenvolvimento talvez pudesse ser posto em causa, pois com demasiada frequência se vê em outras nações o enriquecimento material ser acompanhado por empobrecimento espiritual. A nossa concepção de vida, mais exigente, impõe que o progresso material constitua parcela do enriquecimento total da pessoa humana.
Outro aspecto importante cumpre também salientar: sempre que possível, é na região onde a pessoa reside que devem surgir as condições de vida desejáveis, a fim de evitar deslocações, que, em geral, põem em causa valores essenciais, quer sob o ponto de vista individual, quer social.

6. Torna-se evidente, através das considerações anteriores, que o desenvolvimento desejável envolverá acções de natureza social (nos campos do ensino, saúde, habitação, previdência, trabalho, reforma da empresa, etc.), a par de actuações de natureza económica, com vista a aumentar o rendimento nacional e, consequentemente, a riqueza colectiva.
Esta distinção, que pode afigurar-se ambígua, uma vez que é o aumento daquele rendimento que deverá possibilitar o incremento de acções no campo do ensino, da habitação e em outros, assume, todavia, importância essencial. Em primeiro lugar, nem todas as acções de carácter social exigem investimento, como é o caso da legislação do trabalho ou da participação dos elementos estruturais da Nação na vida pública. Por outro lado, tal distinção permite ver com clareza que, por exemplo, o desenvolvimento do ensino, no sentido da promoção cultural acima referida, é algo de muito mais amplo do que as exigências que derivem do desenvolvimento estritamente económico, e seria grave se, porventura, se trabalhasse a partir desta última concepção restrita. Do mesmo modo, rio campo da habitação, será muito diferente haver uma preocupação de progresso apropriado às necessidades da população, ou encarar-se o investimento em habitação apenas com base em critérios de reprodutividade e de acréscimo do produto nacional. O mesmo poderia repetir-se em relação a todas as restantes necessidades sociais a satisfazer.
Do que fica dito deduz-se que, tanto o progresso social como o desenvolvimento económico, são objectivos a alcançar em ordem a um objectivo mais elevado a que devem subordinar-se: a realização dos fins superiores da comunidade nacional e da dignificação da pessoa humana. Esta concepção fundamental deverá estar sempre presente II e que se refere à política de desenvolvimento económico, cujas exigências e efeitos sociais podem assumir características negativas se a defesa da dignidade da pessoa não for convenientemente salvaguardada.

7. Dada a escassez de recursos disponíveis, e perante o condicionalismo económico-social que caracteriza a estrutura específica de cada país, a concretização das finalidades apontadas levanta normalmente inúmeros problemas, tácito no que se refere à definição de prioridades para a determinação qualitativa e quantitativa dos bens e serviços a produzir, com vista a satisfazer as múltiplas necessidades da comunidade, como no que diz respeito aos meios a utilizar, a fina de garantir a toda a população a possibilidade de usufruir equitativamente dos resultados da produção.
A solução dessa gama de problemas implica uma série de opções, cujo contexto constitui o contexto de uma política de repartição de rendimentos verdadeiramente humana, ou seja de uma repartição que tenha por objectivo pôr a produção ao serviço do homem. Assim o tem entendido o Governo ao estabelecer, como objectivos centrais do planeamento português, a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e uma mais equitativa repartição dos rendimentos, o que deverá ter incidências directas, não só na fase de distribuição pessoal dos réditos, mas desde a própria origem e aplicação dos recursos da comunidade.
De facto, a repartição pessoal dos rendimentos monetários ou, mais especificamente, a repartição que assegure a cada indivíduo a possibilidade de dispor de uma parcela dos bens criados, exige, para além de simples medidas redistributivas política-fiscal, segurança social, etc.), actuações na própria formação dos rendimentos, designadamente quanto à remuneração dos factores produtivos. Por outro lado, na medida em que se pretenda, ao nível macroeco-nómico, uma aplicação dos rendimentos orientada para o bem-estar da comunidade, deverá garantir-se a disponibilidade dos bens e serviços indispensáveis à satisfação das necessidades presentes e futuras, nos seus múltiplos aspectos - alimentação, vestuário, saúde, instrução, habitação, recreio, etc. -, pois, caso contrário, correr-se-á o risco de um desajustamento entre o tipo -e a quailtidade de bons postos à disposição da comunidade e os procurados pela população, o que, além do mais, poderá desencadear movimentos inflacionistas;
Embora a motivação de uma política de repartição de rendimentos deva ser predominantemente social, isto é, orientada para garantir o bem-estar de toda a população, ela tem sido, em alguns países, tomada em sentido mais restrito e utilizada como instrumento eficaz para garantir o desenvolvimento económico ou, particularmente, para evitar a inflação.
Noutros países, embora se reconheça a vantagem, e mesmo a necessidade, de uma política de rendimentos para garantir o equilíbrio dos preços, e até se considere a "equitativa distribuição do rendimento como instrumento da expansão económica, têm, apesar disso, obtido preferência as considerações de ordem social, ou seja, o objectivo de conseguir a elevação do nível de vida de toda a população e uma maior harmonia social.
Não obstante, como já se salientou, o objectivo fundamental da política de rendimentos deve ser, em última análise, de ordem predominantemente social, dado que se pretende o desenvolvimento integral de todos os membros de uma comunidade, sem dúvida que esse desenvolvimento depende fundamentalmente do volume de bens

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e serviços de que se dispõe e, por tal motivo, está Intimamente ligado ao grau de desenvolvimento económico do País. Sendo assim, afigura-se evidente que, em regra, e especialmente nos países menos desenvolvidos, para elevar o nível de bem-estar se torna indispensável assegurar o aumento do produto, pois só será viável garantir a toda a população a disponibilidade dos bens e serviços de que necessita desde que estes sejam produzidos internamente ou haja possibilidade de os importar. Em suma: só é possível repartir uma riqueza de que efectivamente se disponha, pelo que, na selecção dos meios utilizados pela política de rendimentos com vista à sua repartição equitativa, se deve ter sempre presente a necessidade fundamental de obter a máxima taxa de crescimento do produto.

8. Ainda no que respeita à efectivação do princípio da ampla participação de todos os elementos estruturais do País na vida pública, outro reflexo da política seguida nesse sentido é o que se exprime através da larga colaboração do sector privado no estudo e elaboração deste III Plano de Fomento, designadamente por intermédio das corporações.
Com vista ao aperfeiçoamento dessa colaboração, prevê-se sejam criados centros de estudo ou gabinetes técnicos junto de organismos corporativos e nos vários domínios de carácter sectorial e regional. Para esse efeito, poderá ser recomendável a fusão de organismos, quando uma dispersão excessiva impedir a existência de suficiente capacidade de acção (técnica, financeira, etc.).
Aqueles centros ou gabinetes procederão a análises, equacionação de problemas e propostas de soluções, que, esclarecendo os sectores interessados, facilitarão sem dúvida uma consciente tomada de decisões. Isto, independentemente do esforço, também muito importante, no sentido de os departamentos públicos competentes promoverem a realização de estudos e a recolha de elementos que, contribuindo igualmente para o crescente conhecimento da realidade, facilitem o trabalho daqueles centros ou gabinetes e a integração das perspectivas particulares numa visão cada vez mais ampla da panorâmica geral.

9. No presente capítulo, começa-se por encarar o problema do emprego e do mercado da mão-de-obra, aproveitando-se também a primeira secção do capítulo para abordar diversos problemas directamente relacionados com as condições de trabalho.
Por um lado, há que considerar todo o esforço já despendido - e que deverá incrementar-se - com o objectivo de alargar o âmbito da regulamentação do trabalho em vigor a sectores, regiões e categorias profissionais ainda não abrangidos e manter actualizada a regulamentação existente, tendo em vista os progressos que vão surgindo no campo do direito do trabalho.
Por outro lado, procuram-se delinear várias orientações tendentes a facilitar a reforma da empresa no sentido de esta oferecer condições cada vez mais favoráveis aos seus trabalhadores. Em especial, encara-se o aspecto das relações humanas, tão importante sob o ponto de vista do clima de trabalho existente na empresa.
Numa segunda secção, aborda-se o problema fundamental da repartição dos rendimentos, a que acima se aludiu, procurando analisar a sua evolução recente e definir alguns critérios em matéria de objectivos a alcançar e de providências a propor com vista ao progressivo aperfeiçoamento da nossa política social.
A terceira secção deste capítulo é destinada especialmente aos problemas da remuneração do trabalho, que igualmente se integram no contexto geral das condições de trabalho, mas aos quais, devido à sua importância, é atribuído relevo particular.
Na quarta e última secção, analisa-se a problemática relacionada com o desenvolvimento do nosso seguro social, tendo sobretudo em atenção as perspectivas que lhe são abertas pela recente reforma da Previdência.

SECÇÃO I

Emprego e problemas do trabalho

§ 1.º Evolução recente e situação actual

1. Mercê da concorrência de vários factores, o mercado de emprego atravessa, na metrópole, uma fase de profunda transformação das suas características tradicionais.
Até há pouco, a economia metropolitana caracterizou-se por largos excedentes de mão-de-obra activa, que constituíam fonte de abastecimento dos restantes sectores de actividade e permitiam a manutenção de salários relativamente moderados, designadamente no sector primário, em correspondência, aliás, com a política de estabilização dos preços de certo número de produtos essenciais.
Tanto quanto se pode concluir dos elementos estatísticos disponíveis, as presentes transformações parece resultarem, em grande parte, da aceleração do êxodo agrícola e da emigração, que se intensificaram consideràvelmente na última década.
Por outro lado, como consequência do próprio processo de desenvolvimento, da intensificação da concorrência internacional e dos movimentos de integração europeia, os aspectos da produtividade dos factores - e em especial da mão-de-obra - tendem a ocupar posição dominante entre as preocupações dos empresários. A melhoria da produtividade do trabalho exige, porém, níveis de instrução, geral e profissional, satisfatórios, que cumpre proporcionar à generalidade dos trabalhadores.
O actual mercado de emprego metropolitano caracteriza-se, assim, pela existência de estrangulamentos às escalas profissional, sectorial e regional, com escassez de trabalhadores especializados, enquanto subsistem situações de subemprego, nomeadamente no sector agrícola, cuja mão-de-obra representa ainda peso excessivo em relação ao conjunto da população activa.

2. Outra zona de problemas que se pode delimitar no mercado de mão-de-obra metropolitano diz respeito ao enquadramento social dos trabalhadores.
O desenvolvimento económico-social do País, exigindo a participação de todos os intervenientes no processo produtivo, recomenda se intensifique a participação dos trabalhadores na elaboração e execução dos planos de fomento.
Por outro lado, a formação profissional a fornecer à generalidade da mão-de-obra metropolitana sómente pode ter os reflexos esperados sobre os níveis de produtividade se os trabalhadores viverem em ambientes propícios ao trabalho, no interior ou exterior da unidade de produção em que se encontram integrados.
O caminho percorrido no nosso país em matéria de relações humanas dentro da empresa tem revelado nítidos progressos, mas ainda não atingiu, de modo geral, o nível desejável, impondo-se prosseguir na política em curso com este objectivo.

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3. No que se refere ao êxodo agrícola, verifica-se que, entre 1950 e 1960, saíram da agricultura, pecuária, silvicultura e caça, em média, 8,8 milhares de activos por ano e, entre 1960 e 1965, estima-se que aquela média tenha atingido 44,5 milhares.
A redução média dos activos na agricultura e pecuária, entre 1950 e 1960, deve-se ao decréscimo da população activa feminina no sector (126,2 milhares), que superou o aumento dos activos do sexo masculino (35,9 milhares), não sendo certo em que medida aquele decréscimo possa atribuir-se a alteração dos critérios de classificação dos activos do sexo feminino adoptados nos dois censos. A partir de 1960, as reduções de activos na agricultura têm significado mais profundo e afectam, em especial, a população masculina.
Deve também salientar-se o envelhecimento relativo destas populações, atribuível ao êxodo do sector por parte dos activos nas idades mais produtivas. Dividindo os activos agrícolas segundo as classes etárias 15-39, 40-54 e se e mais, verifica-se que, em 1950, estas classes representavam, respectivamente, 52,4 por cento, 22,8 por cento e 19,9 por cento do total do sector, ao passo que as mesmas proporções eram de respectivamente, 47,3 por cento, 23,7 por cento e 21,8 por cento em 1960.
4. Por seu turno, a emigração tem evoluído, como se disse, a ritmo acentuadamente ascensional, atingindo, a partir de 1962, valores que ultrapassam em muito as estimativas do Plano Intercalar de Fomento, calculadas no saldo anual de 27 milhares de activos, como se vê no quadro I. Os sectores de origem dos activos emigrados podem não corresponder, inteiramente, aos indicados, em parte porque as actividades para onde se dirigem podem não coincidir com aquelas donde provêm. Dê qualquer forma, a alteração estrutural dos fluxos emigratórios é sensível, passando os trabalhadores do sector secundário a emigrar a ritmo acelerado nos últimos anos.

QUADRO I

Estimativa de emigração de activos do continente para o estrangeiro e ultramar no período de 1960-1965

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Valores calculados pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, com base em estatísticas nacionais e estrangeiras.

O Estado tem procurado desenvolver a sua política tradicional de protecção aos emigrantes, a fim de acautelar os seus legítimos direitos e interesses.
Assim, no que se refere à assistência social aos emigrantes, procedeu-se à celebração de acordos e convenções com alguns países de destino, citando-se, entre os primeiros, os acordos assinados no decurso do ano de 1964 com a França, a Holanda e a República Federal da Alemanha, os quais inserem, fundamentalmente, cláusulas relativas às condições de emigração, recrutamento e colocação dos trabalhadores portugueses.
No decurso de 1966, foram ratificadas duas convenções, uma com o Luxemburgo e a outra com a República Argentina, estabelecendo a reciprocidade de tratamento em matéria de segurança social entre os trabalhadores portugueses e os nacionais desses países. A primeira dessas convenções garante, além disso, a continuidade das situações adquiridas ao abrigo da legislação de cada uma das partes contratantes.
Em Julho de 1966, foi assinado um acordo com a frança sobre formação profissional a ministrar nos centros portugueses de formação acelerada, nas categorias específicas das indústrias de construção civil, mediante subvenções concedidas pelo Governo Francês. Assinala-se a importância dos acordos deste tipo como instrumento, para elevar a qualificação profissional dos trabalhadores portugueses.

5. De acordo com as estimativas elaboradas, pode atribuir-se aos elevados valores assumidos pelos movimentos emigratórios a contracção registada no nível de emprego entre 1960 e 1965. Efectivamente, a oferta da mão-de-obra no referido período pode resumir-se da seguinte forma:

QUADRO II

Variação da oferta de mão-de-obra e da emigração de activos (continente)

(Milhares)

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Quadro I e estimativas efectuadas pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra sobre a evolução da oferta de mão-de-obra.

O aumento efectivo da oferta de mão-de-obra no período considerado corresponde ao acréscimo médio anual de cerca de 6 milhares, a que se devem adicionar cerca de 30,6 milhares de activos que, em cada ano, abandonam o sector primário, procurando colocação nos sectores secundário e terciário.
Como a procura de mão-de-obra se avaliou, no mesmo período, na média anual de cerca de 30,4 milhares de postos de trabalho criados nos sectores secundário e terciário, pode concluir-se que a oferta de empregos foi inferior à procura.
O nível de emprego, que, entre 1950 e 1960, passou de 2945 para 3126 milhares, estima-se que em 1965 se tenha reduzido para cerca de 3050,2 milhares. Haverá, no entanto, que ter em atenção a influência que sobre este último valor é exercida pela mobilização de contingentes militares. Deve entender-se que as correspondentes desmobilizações têm contribuído para certa compensação dos contingentes recrutados em cada ano.

1 Valor estimado a partir da oferta de mão-de-obra, descontando contingentes militares e desemprego friccionai, este último estimado em 60 milhares.

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QUADRO III

Estrutura do emprego por sectores

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Os valores relativos a 1950 e 1960 foram extraídos dos IX e X Recenseamento Geral da População.
O quadro anterior permite analisar a evolução das estruturas do emprego pelos grandes sectores da actividade económica.
A mão-de-obra empregada no sector primário, que tem vindo a perder peso no conjunto da população activa com profissão, continuava, porém, a representar fracção excessiva deste total, o que pode comprovar-se através da comparação com os números relativos à estrutura do emprego em alguns países da O. C. D. E.

QUADRO IV

Estrutura do emprego pelos três sectores de actividade em alguns países da 0. C. D. E.

(a) Os valores relativos a Portugal correspondem às estimativas efectuadas para o ano de 1965. Os valores referentes aos outros países foram extraídos da mais recente Statistique de la Main-d'Oenvre, publicada pela O. C. D. E.

Verifica-se também que, no período de 1960 a 1964, o emprego no sector terciário registou aumentos bastante mais acentuados do que no período de 1950-1960, e, por outro lado, que é no sector secundário que o emprego tom evoluído mais aceleradamente, em particular no conjunto das indústrias transformadoras.
A evolução pode ser avaliada com maior nitidez se se considerarem dois grupos de indústrias: ligeiras ou tradicionais - englobando alimentação e bebidas, madeira, cortiça e mobiliário, têxteis, vestuário e calçado, curtumes e indústrias diversas - e pesadas ou modernas, agrupando os sectores restantes, isto é. papel e tipografia, minerais não metálicos, químicas, metalúrgica e metalornecánicas. No primeiro grupo, ao longo do período de 1953-1964, o emprego manteve-se praticamente estacionário, com cerca de 450 mil activos; no segundo, passou de 172 milhares, em 1.953, para 278, em 1964.
Esta evolução pareço significar que os sectores tradicionais da indústria portuguesa estarão perto de esgotar a sua capacidade de criação de empregos, sendo as indústrias mais modernas que oferecem actualmente maiores possibilidades de absorção de mão-de-obra.

6. Como se sabe, a expansão do P. I. B. nas indústrias transformadoras processou-se, no período de 1953-1964, à taxa média anual de 8 por cento, enquanto o emprego e a produtividade evoluíram, no mesmo sector, às taxas médias anuais de 1,5 e 6,4 por cento. Isto significa que para o acréscimo do produto contribuiu mais o aumento da produtividade que o do emprego.
No essencial, a explicação do fenómeno é simples: partindo de níveis de produtividade baixos, a indústria nacional é levada a reorganizar-se, em parte por pressão da concorrência estrangeira, em parte por força da elevação do custo da mão-de-obra. Se bem que o crescimento dos salários industriais em Portugal não seja exagerado, em relação ao observado noutros países - mesmo não completamente industrializados -, tem-se tornado bastante mais rápido nos últimos anos, e isto, em grande medida, como consequência do acréscimo da emigração. Aumentar a produção é, nestes termos, aumentar a produtividade mais do que expandir o emprego; por outras palavras: trata-se mais de melhorar o emprego do que aumentá-lo.
No sector terciário, no período considerado (1953-1964), o produto evoluiu à taxa de 4,9 por cento, enquanto o emprego e a produtividade registaram variações médias de cerca de 1 por cento e 2,8 por cento 1, respectivamente; no caso da agricultura, verificou-se que. o aumento do produto, processado à taxa média de 1 por cento, foi conseguido através do aumento da produtividade, uma vez que o emprego se reduziu à taxa média de 1,5 por cento.

7. A análise anterior leva a considerar mais atentamente os aspectos qualitativos da mão-de-obra, que têm ultimamente atraído a atenção dos meios económicos, públicos e privados, porquanto, para além do aproveitamento dos recursos materiais, importa encarar o problema do desperdício de recursos humanos.
Estes aspectos serão tratados especificamente no capítulo sobre produtividade.
Todavia, cumpre ter em atenção as relações de causalidade entre os níveis de remuneração e de produtividade, que são normalmente recíprocas, pois, se é verdade não poderem, ser atribuídos salários elevados quando a produtividade é baixa, também se verifica que as empresas podem ser conduzidas, em situações de excesso de oferta de mão-de-obra, a considerar mais económico utilizar trabalho a baixo custo do que modernizar as técnicas produtivas.

8. O fluxo emigratório, aliado ao nível de instrução geral e profissional de grande parte da população activa, tem provocado, como se observou, o aparecimento de estrangulamentos por escassez de trabalhadores especializados.
Efectivamente, os inquéritos de conjuntura promovidos pela Corporação da Indústria demonstram que as dificuldades do recrutamento de pessoal, nomeadamente pessoal especializado, têm vindo a constituir preocupação crescente dos empresários metropolitanos. Enquanto, no início de

1 A aparente discrepância entre estas taxas de evolução provém do facto de no emprego não se encontrarem integrados os contingentes militares, enquanto no valor do P. I. B. da administração pública e defesa vêm incluídas todas as despesas militares.

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1964, apenas 5,3 por cento das empresas inquiridas situavam aquelas dificuldades entre os principais obstáculos à expansão da produção, essa percentagem atingiu 10,2 por cento em Abril de 1966.
Nesta data, os sectores que mais acusaram dificuldades no recrutamento de mão-de-obra especializada foram os das indústrias extractivas, material eléctrico, curtumes, mobiliário, vestuário e calçado, e madeira e cortiça.
No conjunto das indústrias, verifica-se deficit de pessoal qualificado da ordem dos 9 por cento em relação aos actuais níveis de emprego, embora em alguns sectores as percentagens de carência sejam consideràvelmente superiores àquela média:

[Ver Tabela na Imagem]

Se, no conjunto das indústrias transformadoras, o problema da escassez de pessoal qualificado não s<_ que='que' de='de' no='no' tanto='tanto' relativamente='relativamente' por='por' se='se' mesmo='mesmo' isto='isto' curtumes='curtumes' sectores='sectores' afirmar='afirmar' sucede='sucede' não='não' modernos='modernos' construção='construção' como='como' a='a' refere='refere' indústrias='indústrias' exemplo='exemplo' e='e' grave='grave' g.='g.' em='em' relação='relação' o='o' considerados.='considerados.' individualmente='individualmente' apresenta='apresenta' pode='pode' máquinas.br='máquinas.br' v.='v.' tradicionais='tradicionais' certos='certos'> Não será possível imputar directa e totalmente estas dificuldades à emigração; mas a evolução desta, concomitante com a pressão, também crescente, das necessidades de mão-de-obra nos planos empresariais, revelada pelos inquéritos de conjuntura, justifica a hipótese da estreita associação entre os dois fenómenos.

9. Numa perspectiva regional, o confronto das evoluções 1950-1960 e 1960-1964 do emprego global por distrito revela que, no último daqueles períodos, o nível de emprego provavelmente apenas aumentou em quatro dos distritos do Continente: Aveiro, Lisboa, Porto e Setúbal. Além destes, também outros distritos haviam registado acréscimos de emprego na década de 1950-1960. Isto é, a redução da oferta de mão-de-obra observada em 1960-1964 deve ter agravado as já acentuadas assimetrias regionais existentes no começo da década.

10. No que respeita aos problemas relacionados com o enquadramento social dos trabalhadores ao nível da empresa, importa, em primeiro lugar, referir o papel relevante que tem vindo a atribuir-se à chamada política de relações humanas. Os instrumentos por excelência desta política são os órgãos decolaboração, cuja estrutura pode ser estabelecida por via legal ou por convenção colectiva de trabalho.
Em Portugal, têm-se registado, neste domínio, nos últimos anos, melhorias sensíveis. Assim, no actual diploma regulador do contrato individual de trabalho-(Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966) enuncia-se o princípio de que «a entidade patronal e os trabalhadores são mútuos colaboradores» (artigo 18.º, n.º 1). Estabelece-se, além disso, que o «Estado fomentará, através da concessão de benefícios de ordem fiscal ou outros, todas as formas de concretizar, nas empresas, a ideia de .cooperação dos trabalhadores e da entidade patronal na realização da obra comum», mediante a «constituição de órgãos de colaboração destinados a apreciar os problemas directamente relacionados com os interesses dos trabalhadores, bem como a participação destes na gestão de obras sociais e nos resultados do empreendimento» (artigo citado, n.ºs 2 e 3).
Ao abrigo da lei, diversas convenções colectivas previram a constituição de comissões de segurança e de outros órgãos de colaboração nas empresas, bem como de processos de resolução de reclamações.
Estes organismos poderão, assim, vir a desempenhar função importante no melhoramento das relações humanas.

11. No plano nacional, a colaboração dos trabalhadores concretiza-se .na medida em que se associam as organizações profissionais à preparação e execução da política social e económica do Governo, pelo que se reveste da maior importância aperfeiçoar o funcionamento dos sindicatos, com vista ao desempenho eficaz das suas atribuições.
A acção das corporações, dos grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica e de vários órgãos consultivos, onde os sindicatos têm participação, como, por exemplo, o Conselho Consultivo do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, reveste-se do maior interesse para a progressiva valorização daqueles organismos corporativos.
O III Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e Previdência Social, realizado em Junho de 1964, dedicou especial atenção ao problema do âmbito e enquadramento sindicais, devendo registar-se que as conclusões votadas o foram no âmbito de uma secção onde se assegurara larga participação de dirigentes das corporações, representantes de entidades patronais e de trabalhadores.
Um dos problemas então considerados foi o da fraca dimensão média dos sindicatos nacionais, em função do número de sindicalizados, aspecto em que se registaram já progressos sensíveis, como pode verificar-se pelo seguinte quadro:

QUADRO V

Sindicatos nacionais e sócios contribuintes inscritos

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social do Instituto Nacional de Estatística.

Em 1965, cerca de 33 por cento do número total de sindicatos tinham menos de 1000 trabalhadores (em 1958 essa proporção era de cerca de 38 por cento), mas prosseguem os esforços tendentes ao melhor dimensionamento das estruturas sindicais, ao mesmo tempo que se procura garantir o seu bom funcionamento e a criação de quadros responsáveis com suficiente formação económica e social.

§ 2.º Objectivos

12. A evolução do emprego nas várias actividades económicas do continente, no período de 1968 a 1973, dependerá, essencialmente, do comportamento do produto interno bruto. Para todas as actividades, com excepção da agricultura, silvicultura e caça, comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis e administração pública e defesa, estima-se que os aumentos ou diminuições do em-

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1662-(104) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

prego estarão relacionados com as respectivas variações do produto, em função de hipóteses específicas sobre o aumento da produtividade.
Calcula-se que o acréscimo anual efectivo da população activa no continente, entre 1967 e 1973, seja de cerca de 18 000. Nesta hipótese, já se consideram os níveis prováveis de emigração no decurso do mesmo período, que se estimam em 59 500 activos para o ano de 1967 e em 28 000 para os anos de 1968 a, 1973, atendendo aos prováveis efeitos do desenvolvimento económico como travão à saída de trabalhadores para o exterior.
Supõe-se que o retorno começará a ser apreciável em 1968-1973 e que o número dê saídas terá sido máximo em 1965.
Sendo a emigração factor extremamente aleatório, não é fácil prever a sua evolução e, consequentemente, as suas incidências sobre a variação futura das populações total e activa. Se a evolução do fenómeno emigratório se processar por forma que se afaste substancialmente da hipótese considerada, os acréscimos da população activa no continente registarão também as consequentes alterações.
Não é de prever que a emigração venha, rios primeiros anos, a exercer influência limitativa no crescimento dos sectores secundário e terciário, o que provavelmente não acontecerá no caso da agricultura, uma vez que o aumento dos fluxos emigratórios se repercute directamente ou indirectamente sobre a mão-de-obra empregada naquele sector.
Em contrapartida, se a emigração assumisse valores inferiores aos estimados, a contracção da mão-de-obra na agricultura processar-se-ia a ritmo mais lento do que o previsto - taxas médias anuais de 3,7 por cento no período de 1964 a 1967 e de 3,9 por cento no período de 1967 a 1973. Os acréscimos de produtividade resultariam, assim, predominantemente, da redução da mão-de-obra no sector em referência.

QUADRO VI

Taxas médias de aumento da produtividade

[Ver Tabela na Imagem]

Quanto a três actividades -serviços domésticos, serviços de saiïde e serviços de educação -, os aumentos de produtividade não serão de considerar, pois o volume de serviços prestados depende directamente do número de pessoas ocupadas nessas actividades.
Para a pesca, indústrias transformadoras e transportes e comunicações estimou-se que a relação entre os aumentos do emprego e do produto se mantém na linha de tendência defínida no período de 1953 a 1964.
No tocante aos sectores das indústrias de construção, electricidade e serviços diversos, adoptaram-se as taxas de evolução da produtividade previstas no Plano Intercalar.
Nas indústrias extractivas, sector que tem sido e se espera continue a ser afectado pelos efeitos da emigração, admitiu-se a manutenção do nível médio de emprego verificado entre 1962 e 1964 e considerou-se que os aumentos do produto terão como contrapartida aumentos correspondentes de produtividade.
Para os restantes sectores - comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis e administração pública e defesa-, efectuaram-se ajustamentos cronológicos, com base nos censos da população, e as adaptações necessárias no caso da administração pública e defesa.
Dado que no nível de emprego deste último sector se não incluíram os contingentes militares, enquanto no valor do P. L B. que lhe corresponde se encontra integrada a parcela respeitante à totalidade das despesas militares, as taxas de evolução da produtividade relativas à administração pública e defesa não são comparáveis com as respectivas taxas de evolução do emprego.

QUADRO VII

Níveis e taxas anuais de variação de emprego por ramos de actividade

[Ver Tabela na Imagem]

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Em consequência, as taxas anuais de variação do emprego assumiriam, para os diversos sectores, nos períodos e hipóteses discriminados, os valores representados no quadro VII.
No sector agrícola, a diminuição da população activa empregada prevê-se venha a registar-se na medida das necessidades de mão-de-obra das restantes actividades e da amplitude das correntes emigratórias. Se os saldos migratórios se não afastarem substancialmente dos valores estimados, calcula-se que a taxa de redução do emprego no sector agrícola seja, como atrás se referiu, de 3,9 por cento no período do III Plano.
De maneira geral, as variações do emprego serão provavelmente mais vincadas nos aspectos qualitativos do que nos quantitativos, o que implicará evolução moderada do nível geral do emprego e aumento mais acentuado da taxa média de produtividade.
Em virtude dos ritmos previstos para a evolução nas várias actividades, regista-se no quadro viu a importância q u e cada sector assumirá nas variações anuais do emprego.

QUADRO VIII

Variações médias anuais do emprego

[Ver Quadro na Imagem]

QUADRO IX

Variações médias anuais da produtividade

[Ver Quadro na Imagem]

Dentro das hipóteses admitidas, o acréscimo de emprego nas actividades industriais e nos serviços sómente será possível pela redução correspondente no sector primário - em média, 35-000 no hexénio do III Plano.
Em contrapartida, os aumentos médios anuais do emprego nos sectores secundário e terciário serão da ordem dos 21800 e 30800, respectivamente.
As actividades onde se prevêem sensíveis aumentos médios anuais de emprego são, no sector secundário, as indústrias transformadoras (14 000) e as indústrias de
construção (7700) e, no sector terciário, os serviços diversos (20 000) e os serviços de saúde e educação (9300).
Os volumes de emprego em cada sector deverão, por-.tanto, sofrer alterações apreciáveis ao longo do período do III Plano. Assim, as actividades da agricultura, que em 1960 ocupavam 1 800 000 activos, e em 1965 cerca de 1 075 000 trabalhadores, passariam a ocupar cerca de 799000 em 1973. Os serviços domésticos registarão também, provavelmente, substanciais reduções de emprego - de 184 000 em 1960 para níveis de 160 000 em 1965 e de 128 000 em 1973. Nas indústrias extractivas, admite-se a permanência do nível de emprego verificado no período de 1962-1964 - cerca de 21 700. Nas restantes actividades prevêem-se aumentos dos respectivos níveis de emprego, devendo, em valor absoluto, salientar se as indústrias transformadoras, que de 737 000 activos em 1965, passarão a ocupar cerca de 845600 em 1973; as indústrias de construção, de 241 000 em 1965 para 295 000 em 1973, e o comércio, de 243 000 para 250000:
Os acréscimos mais rápidos devem registar-se nos serviços diversos, de 160 000 para 274 000, nos serviços de saúde e educação, de 91 000 para 155 000, e nos bancos, seguros e operações sobre imóveis, de 28400 para 43000.
As alterações estimadas na estrutura do emprego para os três grandes sectores resumem-se no quadro X.

QUADRO X

Níveis e distribuição sectorial do emprego

[Ver Quadro na Imagem]

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Prevê-se, assim, que a percentagem da população activa ocupada no sector primário venha a reduzir-se de 43,6 por cento, em 1960, para 35,1 por cento, em 1967, e para 27,3 por cento, em 1973.
Por outro lado, o emprego no sector terciário, que representava cerca de 27,7 por cento do total em 1960, passará provavelmente para 31,3 por cento em 1967 e para 35,9 por cento em 1973. A posição relativa do emprego do sector secundário no emprego total, que em 1960 era de 28,7 por cento, prevê-se aumente para 33,6 por cento em 1967, e para 36,8 por cento em 1973.

13. As acções específicas a desenvolver pelos Poderes Públicos, no hexénio de 1968-1973, para o equilíbrio do mercado do emprego e a resolução dos principais problemas do mão-de-obra, serão orientadas pelos seguintes objectivos:
Aperfeiçoamento dos mecanismos de adaptação da oferta à procura de colocações;
Desenvolvimento das formas de participação dos trabalhadores no processo de crescimento económico-social através da organização corporativa e da melhoria das relações humanas nas empresas.

14. No que respeita ao primeiro objectivo, importa referir as acções empreendidas e a desenvolver pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e serviços dele dependentes (administrativa, financeira e tecnicamente) -Instituto de Formação Profissional Acelerada, Centro Nacional de Formação de Monitores, Serviço Nacional de Emprego e Serviço de Reabilitação Profissional.
Sendo os desequilíbrios do mercado de trabalho provocados, como se disse, pela conjugação dos efeitos do êxodo rural e do aumento dos fluxos emigratórios, bem como do insatisfatório nível de formação profissional dos trabalhadores, importa prosseguir nos objectivos que têm orientado a acção do Governo e podem assim enunciar-se:

Conhecer, por forma permanentemente actualizada, a situação do mercado nacional de trabalho;
Orientar os trabalhadores jovens e adultos para as regiões, sectores ou profissões onde se verifiquem carências;
Dimensionar as acções de formação e reconversão profissional de acordo com o volume de transferências requerido;
Promover o encontro entre as ofertas e os pedidos de emprego.
Entre os factores que têm contribuído para o desequilíbrio do mercado de trabalho, apontou-se a emigração. Note-se, contudo, que ela tem concorrido para a criação de pré-condições de aumento da produtividade do trabalho, através da redução do subemprego e do desemprego. Deverá, portanto, procurar orientar-se a emigração, favorecendo os caminhos legais, porque, sendo convenientemente conduzida, pode produzir efeitos benéficos para o trabalhador e para o País.
Será principalmente pela criação de condições internas, no sentido de elevar gradualmente o nível de qualificação dos trabalhadores, que se conseguirá reduzir o volume das correntes emigratórias.
Entretanto, adoptar-se-ão acções tendentes a assegurar a assistência social aos trabalhadores emigrantes, promovendo o seu enquadramento no regime de previdência dos países de destino, bem como a continuidade das situações adquiridas, quando passem do regime nacional para o estrangeiro e vice-versa.
Encarando já a possibilidade de fortes retornos no período deste III Plano, desenvolver-se-ão acções tendentes a promover a reintegração dos que regressem na vida económica nacional.

15. Os sindicatos deverão contribuir para associar a mão-de-obra aos esforços de crescimento e de elevação da produtividade e para canalizar as tensões e desajustamentos motivados pelas transferências inter-profissionais, intersectoriais e inter-regionais. Todos estes aspectos são comuns à experiência da totalidade dos países mais industrializados e encontram-se na base dos esforços de valorização sindical conduzidos nos últimos anos.
Além do papel genérico de institucionalizar a colaboração necessária à resolução desses problemas, importa, em especial, utilizar as suas possibilidades de intervenção no que respeita à fixação da mão-de-obra, limitando as correntes migratórias. No contexto actual, os sindicatos podem contribuir de modo relevante para integrar efectivamente a mão-de-obra no processo de fomento económico-social.
Para esse efeito, porém, é necessário dotá-los de órgãos técnicos capazes de proporcionar uma participação activa, motivada ruão só pelas exigências da repartição, mas ainda pelas da produção e da estabilidade monetária, e, ao mesmo tempo, assegurar a formação de dirigentes aptos a, entender as tarefas e potencialidades do desenvolvimento.

16. A actuação a realizar nos próximos anos para a melhoria das relações humanas na empresa, além do esforço prioritário tendente à preparação de empresários e quadros, deve orientar-se para o estabelecimento de condições básicas, no que se refere à definição de orientações em matéria de direcção do pessoal e à criação de órgãos mistos de colaboração, recorrendo para tanto aos esforços conjugados dos dirigentes das empresas, dos organismos corporativos, estabelecimentos de ensino e departamentos públicos.
Para o êxito de qualquer política de relações humanas, torna-se indispensável o estabelecimento das aludidas condições, para o que os serviços públicos podem contribuir decisivamente, formulando as normas mínimas a atingir e estimulando a respectiva concretização. Deverão ser considerados, entre outros, os seguintes aspectos: adaptação das tarefas aos indivíduos, nível e sistema de remunerações e esquema de promoções, recompensas e sanções.

§ 3.º Medidas de política

17. Para a resolução a médio prazo dos desequilíbrios existentes no mercado interno de emprego, e no tocante às acções de formação e reconversão profissional, serão incrementadas as actividades do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e serviços dele dependentes.
Ao Serviço Nacional de Emprego incumbirão, prioritariamente, as seguintes funções:
Estudo do mercado do emprego, com vista a detectar as carências e os excedentes de mão-de-obra, pára o que efectuará periodicamente inquéritos à escala nacional;
Instituição e manutenção de serviços públicos gratuitos de colocação e sua coordenação com serviços análogos sem fins lucrativos;
Estímulo à mobilidade- profissional e geográfica dos trabalhadores e suas famílias, orientando-os para actividades onde se verifique escassez, nomeadamente pela concessão de subsídios de deslocação;
Colaboração com as entidades competentes, em ordem assegurar a inscrição, informação e selecção dos trabalhadores que pretendam emigrar para o estran-

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geiro, tendo em vista a orientação do movimento emigratório segundo as conveniências da política de emprego.

Serão ampliados os meios ao dispor do Serviço Nacional de Emprego necessários para o cabal desempenho das suas funções.
O Instituto de Formação Profissional Acelerada e a Divisão de Formação Profissional do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra continuarão a expandir a instalação e funcionamento dos centros de formação profissional acelerada, centros comuns de aprendizagem e de aperfeiçoamento e reciclagem, em toda a medida compatível com os meios disponíveis.
O Centro Nacional de Formação de Monitores providenciará para que a formação dos monitores corresponda às necessidades de funcionamento dos centros de formação profissional, competindo-lhe, também, a realização do estudo dos problemas de ordem técnica com eles relacionados.
Procurar-se-á assegurar a conveniente coordenação dos sistemas de educação e formação tradicionais e de formação profissional extra-escolar, como se prevê no capítulo referente à educação e investigação.
Nas medidas de assistência ao emigrante incluem-se as acções a desenvolver no interior e no exterior do País.
Na resolução do Conselho de Ministros de 14 de Julho de 1965, sobre emigração, prevêem-se medidas a adoptar para a assistência ao emigrante antes da partida, em viagem e no país de destino, devendo, portanto, desenvolver-se os meios de acção preconizados, para o efeito, naquela resolução.
A assistência prestada no País ao trabalhador retornado terá como objectivo a sua reintegração na vida económica nacional, promovendo a sua colocação e, se necessário, a sua formação ou reconversão profissional. Esta assistência será efectuada pelo Serviço Nacional de Emprego e, complementarmente, pelo Instituto de Formação Profissional Acelerada.

18. Na reestruturação e fortalecimento dos sindicatos ter-se-ão em conta, na medida do possível, as recomendações do III Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e da Previdência Social.
Assim, providenciar-se-á para que os sindicatos disponham de meios de actuação mais amplos e eficazes, nomeadamente pela fusão dos organismos de pequena dimensão, reagrupamento este que deverá ser, em princípio, voluntário, muito embora as corporações possam desempenhar uma. acção esclarecedora e orientadora.
Aliás, nas formas de reestruturação que venham a definir-se, ter-se-á em vista que o conceito de profissão utilizado pela lei permite uma gama muito extensa de modos de associação, que na prática já se verificam.
No mesmo sentido, só excepcionalmente deverá admitir-se a constituição de novos sindicatos que associem menos de 1000 trabalhadores.
Por outro lado, sempre que possível, serão criadas uniões e federações de sindicatos, que, em estreita cooperação com os organismos primários, deverão desenvolver estudos relativos às actividades que representam e incrementar meios de aperfeiçoamento profissional que facilitem a formação social dos trabalhadores.
Diligenciar-se-á também por que as corporações se ocupem mais intensamente do estudo sistemático dos problemas de emprego, formação profissional e regulamentação jurídica do trabalho. Isto, porém, não significa, como é óbvio, que as corporações devam caminhar no sentido de se substituírem aos organismos nelas integrados, ou que os sindicatos, uniões e federações fiquem limitados na sua autonomia.

19. A política de melhoria das relações humanas nas empresas - como base para a elevação da produtividade, instrumento de valorização dos recursos humanos e factor de paz e bem-estar social - deverá ter o seu alicerce na colaboração esclarecida e convicta dos empresários e quadros directivos, de cuja acção dependem, em muito larga medida, os objectivos propostos.
Seria ainda desejável que, numa conduta tendente à defesa esclarecida dos seus interesses, viessem a valorizar a sua própria preparação quanto aos problemas de relações humanas e estimulassem a formação de pessoal especializado nesses problemas, favorecendo o treino dos quadros e auxiliando as investigações tendentes a elucidar os problemas psicossociais do trabalho português.
Confia-se na colaboração dos organismos corporativos, tanto patronais como de trabalhadores, para a difusão dos princípios de sãs relações humanas, a preparação dos seus associados para as tarefas de colaboração na empresa e a criação de serviços sociais nas unidades de certa dimensão.
Os organismos patronais poderão ainda, à semelhança do que sucede noutros países, criar serviços consultivos e de assistência às empresas nas referidas matérias.
As relações humanas, antes de constituírem uma técnica, são um princípio de comportamento social que se inspira no reconhecimento do valor de cada pessoa e na aceitação de que toda a obra útil nasce de um esforço colectivo, da cooperação de recursos diversos. Entende-se que uma pedagogia que acentue o valor da pessoa humana e que leve à prática do trabalho de grupo preparará o clima de colaboração na empresa.
Mais directamente, porém, tem a escola papel decisivo na reforma da empresa. Cabe-lhe a preparação dos quadros, quer dos quadros superiores - escolas e institutos superiores -, quer dos quadros intermédios - escolas profissionais e técnicas. A um e outro nível se reconhece a necessidade de uma acção mais intensa.

SECÇÃO II

Repartição dos rendimentos

§ 1.º Considerações gerais

1. Embora continue a verificar-se escassez de elementos de informação estatística em matéria de repartição de rendimentos, os dados actualmente disponíveis e, fundamentalmente, os estudos de base elaborados no âmbito da preparação deste Plano permitem pela primeira vez incluir um esboço de análise da repartição do rendimento, em ordem a assinalar determinadas características da situação actual e a fundamentar as providências encaradas neste domínio. Corresponde-se assim a um dos grandes objectivos do Plano, que é o de procurar obter «mais equitativa repartição do rendimento nacional».
O estudo da estrutura da repartição nos seus variados aspectos - pessoal, funcional, redistributivo e de aplicação dos recursos - tem o maior interesse para a correcta definição e enquadramento das medidas inerentes a uma política de rendimentos. Sem esse estudo básico não será possível diagnosticar com rigor as motivações específicas de certas situações sobre as quais importa actuar em cada caso, e qualquer construção teórica, por mais completa e bem estruturada que se afigure, correrá o risco de na prática, ser inadequada à estrutura sócio-económica em causa.
Como já se salientou, ainda não se dispõe, para o caso português, de elementos completos para o estudo dos múltiplos aspectos da repartição, sendo designadamente muito escassos os dados para a análise da repartição pessoal, que

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exige o conhecimento estratificado da população por classes de rendimento e a discriminação das principais fontes desse rendimento - remunerações, rendas, lucros, pensões, subsídios, etc.
Os programas de aperfeiçoamento da cobertura estatística em curso permitirão certamente preencher estas lacunas em breve prazo.
Assim, a presente secção limita-se a inserir um estudo acerca da aplicação dos recursos nacionais (§ 2.º) e uma análise sobre a política da redistribuição de rendimentos (§ 3.º), com os correspondentes objectivos e medidas de política.

§ 2.º Aplicação dos recursos nacionais

2. Um dos problemas que estão na base da repartição dos rendimentos refere-se à aplicação dos recursos nacionais, ou seja à forma como se reparte o produto bruto do País entre o consumo e o investimento. Dela depende, simultaneamente, o bem-estar da população e o ritmo de crescimento económico, uma vez que o nível de vida é reflexo da massa de bens de consumo efectivamente consumidos e a taxa de desenvolvimento depende do montante de capital investido.
Dada a limitação dos recursos disponíveis, um dos aspectos importantes do planeamento é justamente a opção a fazer ao determinar-se o montante dos recursos que deve ser afecto ao investimento e aquele que deve ser aplicado na satisfação das necessidades imediatas. Esta opção, difícil em qualquer circunstância, reveste particular acuidade nos países, como o nosso, onde se procura intensificar a elevação do nível de vida da população e, paralelamente, se torna indispensável realizar montantes de investimentos suficientes para garantir a aceleração do ritmo de desenvolvimento económico.
Mas, para além da solução deste problema, outras opções se impõem com incidências directas na repartição do rendimento, designadamente no que se refere à distribuição do consumo e do investimento entre a satisfação de necessidades individuais e colectivas e às entidades que efectivam esta satisfação - privadas ou públicas.
Encarando, por exemplo, o aspecto da satisfação de necessidades colectivas através dos Poderes Públicos, verifica-se que, de maneira geral, a parcela destinada ao consumo público é aplicada na satisfação das necessidades colectivas imediatas, nomeadamente saúde, educação, investigação científica e técnica, segurança social, etc. Do mesmo modo, o investimento público corresponde ao imperativo de satisfazer as necessidades colectivas, principalmente as que se ligam com sectores de escassa rentabilidade a curto prazo e que, portanto, são pouco aliciantes para atrair o capital privado, como, por exemplo, a montagem de infra-estruturas em material de transporte e urbanização, a construção de hospitais, escolas, casas de habitação para famílias de menores recursos, etc. Estas responsabilidades do sector público tornam-se tanto mais pesadas quanto mais rápido seja o ritmo de crescimento da população e, consequentemente, surja a necessidade de assegurar bem-estar a cada vez maior número de pessoas. Tais tarefas, para serem, cumpridas, exigem, por outro lado, o aproveitamento intensivo das riquezas nacionais, a fim de se garantir um crescimento económico contínuo. Daí a necessidade de um rateio equilibrado entre as diferentes aplicações dos recursos nacionais e a selecção cuidadosa dos investimentos, segundo as prioridades definidas pelos imperativos de uma política sócio-económica orientada pelo bem comum.
Uma repartição equilibrada das despesas deverá, portanto, ter em conta, fundamentalmente, o nível de satisfação das necessidades, quer individuais, quer colectivas, o seu afastamento em relação ao mínimo desejável e a obtenção de uma taxa mínima de crescimento do produto que garanta, não só a satisfação das necessidades inerentes ao acréscimo populacional, mas também a indispensável melhoria efectiva do bem-estar da população vindoura.
Dentro dos limites impostos por estas condições, a ponderação da aplicação dos recursos nacionais deverá ter como objectivo último a obtenção do máximo bem-estar e do maior ritmo de crescimento económico.

3. Dada a importância que, numa óptica de repartição, assume a modalidade adoptada na aplicação dos recursos, e perante o significado que cada uma das rubricas reveste, afigura-se de particular interesse a análise da aplicação do produto, para se poderem apreciar os resultados da política seguida e, se possível, tentar delinear as orientações fundamentais que importa ter em conta na execução do III Plano.

4. O ritmo de desenvolvimento económico português no período de 1953-1954 a 1963-1964 processou-se à taxa média acumulada de 5 por cento ao ano, percentagem ligeiramente mais alta do que a verificada, em média, quer nos países desenvolvidos (4 por cento), quer nos países em vias de desenvolvimento (4,5 por cento). Note-se, porém, que a taxa de crescimento foi acentuadamente mais elevada no decurso do II Plano de Fomento (6,2 por cento) do que no decurso do I Plano (3,8 por cento) (quadro XI).
A estrutura da aplicação do produto 1 acusa ligeira alteração nos extremos do período. O consumo, que em 1953-1954 absorvia cerca de 86 por cento do produto, passou a utilizar 83 por cento em 1963-1964, tendo, consequentemente, aumentado a posição relativa do investimento; este elevou-se de 14,1 por cento, no início de período, para 17 por cento, no seu termo (quadro XII).
Esta alteração de estrutura foi motivada pelas diferentes evoluções processadas no montante destinado ao consumo e ao investimento. Assim, observa-se que ao aumento de 63,6 por cento no produto correspondeu o crescimento de 97,4 por cento no investimento e de apenas 58,1 por cento no consumo (quadro XI, col. 10). Note-se, contudo, que esta alteração se deu praticamente no decurso do II Plano, conforme revelam os números relativos aos extremos dos períodos de 1953-1954 a 1958-1959 e de 1958-1959 a 1963-1964, e confirmam as estruturas obtidas para a totalidade dos anos de vigência dos respectivos Planos (quadro XII, cols. 11 e 12). No primeiro período, verifica-se evolução bastante harmónica entre as três rubricas (consumos, investimento e produto), enquanto no segundo se nota uma aplicação dos recursos nitidamente no sentido de obter um ritmo de desenvolvimento económico mais acentuado 2, como K a realidade se conseguiu.

1 O conceito adoptado foi o do produto interno bruto utilizado no País, que corresponde à soma dos totais do consumo e do investimento (formação bruta de capital fixo e variação das existências) e difere do produto nacional bruto, por não se entrar em linha de conta com o saldo do comércio externo em bens e serviços. Pensa-se que este conceito, utilizado por F. Paukert, será o mais apropriado aos objectivos em vista, uma vez que se pretende analisar o modo como se repartiu o produto no País pelo consumo e pelo investimento.
2 Entre 1953-1954 e 1958-1959, a um aumento de 21 por cento do produto interno bruto utilizado no País corresponderam acréscimos de 20,2 por cento no consumo e 26,1 por cento no investimento, enquanto no período de 1958-1959 a 1963-1964, a um aumento de 35,2 por cento, corresponderam acréscimos de respectivamente, 31,5 por cento e 56,5 por cento (quadro XI, cols. 2 e 6).

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QUADRO XI

Evolução, em percentagem, da utilização dos recursos nacionais

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Taxas simples

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais

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QUADRO XII

Utilização dos recursos nacionais

Preços de 1963

[Ver tabela na Imagem]

o - Valor inferior à unidade adoptada.

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais

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Esta evolução afigura-se correcta, dado que o tipo de estrutura existente em Portugal era 1953-1954 era nitidamente característico dos países em vias de desenvolvimento, pois se destinavam ao consumo privado cerca de 75 por cento do produto. Apesar de se poder considerar esta percentagem relativamente elevada (os países em vias de desenvolvimento destinam ao consumo privado, em média, 74 por cento, e os industrializados, apenas 66 por cento), na sua apreciação deve ter-se em conta a capitação daquele consumo. O nível desta capitação justifica que se não tivesse alterado a estrutura de 1953-1954 em favor de uma posição relativamente mais elevada da parcela destinada ao investimento, a fim de não sacrificar o teor de vida da população.
No período de vigência do II Plano, verifica-se que o investimento evoluiu a taxa superior à do consumo total (9,4 por cento e 5,6 por cento, respectivamente), conduzindo à melhoria da posição relativa do primeiro que no início do período representava 14,1 por cento do produto, e no final, 17 por cento. Apesar disso, os números mostram ter havido a preocupação de garantir uma elevação efectiva do nível de vida, visto se destinarem ao aumento do consumo privado cerca de 51 por cento do acréscimo do produto (quadro XIII), donde resultou o crescimento anual da capitação do consumo privado de 4,1 por cento.
O factor que permitiu, simultaneamente, destinar ao investimento maiores percentagens do acréscimo do produto e garantir o crescimento razoável do consumo privado e público, em 1958-1959, foi a reduzida taxa de aumento da população registada nesses anos (0,7 por cento ao ano), inferior à dos países industrializados (0,8 por cento) 1.

1 A taxa de crescimento da população foi idêntica no decurso dos I e II Planos. O facto de no primeiro período ter sido necessário retirar 14,4 por cento do aumento do produto e no segundo essa percentagem se ter reduzido para 8,5 (quadro XIII) resultou de em proporção, o aumento do produto em valor absoluto ter sido maior que o aumento do produto da capitação pelo acréscimo de população.

QUADRO XIII

Repartição dos aumentos do produto interno bruto utilizado no País

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Caderno n.º 20 do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra; Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

Outro aspecto a salientar, numa óptica de repartição, é a importância dada no decurso do II Plano ao aumento das despesas em consumo do Estado e em investimento do sector público, que cresceram à taxa média anual de respectivamente, 10,2 por cento e 14,5 por cento (contra 4,1 por cento e 7,8 por cento no decurso do I Plano). Esta evolução é nitidamente mais acentuada do que a das restantes rubricas, com excepção da variação das existências, o que revela actuação nó sentido de se procurar elevar o nível de satisfação das necessidades colectivas. Deve, contudo, ter-se presente que estes índices globais são apenas indicadores de uma acção de promoção social, e de redistribuição, mas a sua concretização só pode ser avaliada através da análise das aplicações.
Comparando as estruturas da aplicação dos recursos nacionais no início e no fim do período, ou seja em 1953-1954 e em 1963-1964, com as estruturas características dos países em vias de desenvolvimento e industrializados (quadro XIV), verifica-se que a primeira é típica dos países em desenvolvimento, enquanto a segunda se aproxima da dos industrializados. Um dos factores que permitiram esta alteração foi a taxa de crescimento populacional, que, como já se referiu, possibilitou uma repartição dos acréscimos dos frutos do desenvolvimento económico no sentido de aumentar o investimento sem sacrificar demasiadamente a parcela destinada ao aumento do consumo per capita (quadro XIII).

QUADRO XIV

Utilização dos recursos em Portugal, nos países em vias de desenvolvimento e nos industrializados

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte : Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

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Embora a repartição dos acréscimos do produto, no decurso do II Plano, se tivesse aproximado bastante da efectivada nos países industrializados (quadro XIII), o que conduziu à obtenção, em 1963-1964, de uma estrutura da aplicação dos recursos próxima da destes países (quadro XIV), não quer dizer que esta seja efectivamente a estrutura mais indicada para o caso português e que, portanto, se deva, necessariamente, caminhar nesse sentido. Torna-se sobretudo necessário que, para além de acções redistributivas, directamente ligadas à repartição pessoal, com vista a reduzir os desníveis existentes nas capitações do consumo, se garanta ao consumo privado e público uma evolução tão acelerada quanto possível. Deste modo, afigura-se desejável procurar elevar a percentagem de 51 por cento do acréscimo do produto obtido pelo consumo privado no decurso daquele Plano (quadro XIII).
Quanto à parcela do acréscimo do produto destinada ao consumo per capita do Estado, dada a acção redistributiva que este pode exercer, julga-se conveniente uma percentagem que se situe entre a observada durante o II Plano (18,4 por cento) e a que se encontra tanto nos países em vias de desenvolvimento (6,9 por cento) como nos industrializados (6,5 por cento). A obtenção desse resultado depende do modo como for aplicado o produto, nomeadamente no que se refere às parcelas destinadas à saúde, educação, segurança social, etc.

5. É a parcela do produto destinada ao consumo, e particularmente a que corresponde ao consumo privado, que traduz o nível de bem-estar médio da população. O consumo público pode, efectivamente, contribuir para a elevação desse nível, na medida em que realize despesas com vista a pôr à disposição da comunidade determinados bens e serviços, revestindo ainda função redistributiva quando esses bens e serviços se destinem especificamente a satisfazer necessidades das classes de rendimento mais baixo.
Mas não interessa apenas analisar qual o valor global do produto atribuído ao consumo privado e público, pois só o desdobramento dessas rubricas poderá revelar o modo como os diferentes estratos da população beneficiam desses consumos e permitir a definição de actuações eficazes para uma repartição equilibrada.
Os elementos estatísticos disponíveis não permitem determinar qual a repartição, por escalões de rendimento, do consumo privado, nem a estrutura da aplicação desse consumo em alimentação, vestuário, etc., nem tão-pouco a maneira como se repartem esses tipos de despesa segundo os níveis de consumo. Apenas em relação às despesas de consumo público é possível analisar o modo como têm sido distribuídas pelas principais rubricas e, portanto, tirar conclusões sobre o tipo de necessidades que se tem procurado satisfazer, muito embora se não possa dispor de elementos relativos à sua atribuição segundo os escalões de rendimento, o que permitiria avaliar o seu efeito redistributivo.
No quadro XV apresenta-se, em percentagem, a distribuição das despesas de consumo público segundo as principais aplicações que os números disponíveis permitiram discriminar. Das rubricas apresentadas, as que revestem maior significado, numa óptica de promoção social e de acção redistributiva, são a saúde, a educação e a segurança social 1.
A parcela dedicada à saúde e educação foi de 15,3 por cento 1 no início da vigência do I Plano, elevando-se em 1958-1959 para 19,2 por cento e descendo novamente nos últimos anos do período considerado (15,4 por cento). A percentagem atribuída à acção social e corporativa, que era de cerca de 11 por cento, em 1953-1954, tem vindo a decrescer (9,9 por cento em 1958-1959 e 8,7 por cento em 1963-1964). Convém, no entanto, observar que, muito embora se tivesse reduzido a posição relativa destas despesas em face do total do consumo público, o valor absoluto das verbas despendidas registou sensíveis aumentos, dado que o global das despesas públicas se elevou consideràvelmente. Verifica-se que, a preços constantes, as despesas com a saúde ê a educação aumentaram de ss por cento entre 1953-1954 e 1958-1959, de 33 por cento, entre 1958-1959 e 1963-1964, e de 106,1 por cento no conjunto do período 2.

QUADRO XV

Distribuição, em percentagem, das despesas de consumo público segundo as principais aplicações

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais; Estatísticas Financeiras.

Em face das considerações anteriores sobre a estrutura actual das despesas do Estado, a concretização do objectivo de uma repartição equitativa dos rendimentos, que se traduza em elevação do nível de bem-estar da população, recomenda se destine à saúde, educação e segurança social uma parcela das despesas públicas proporcionalmente superior à efectivada no período analisado. A determinação da respectiva taxa dependerá, fundamentalmente, do grau de ajustamento possível em relação às necessidades verificadas.

6. Já se salientou a importância que revestem, numa óptica de repartição, as opções. ligadas à aplicação do capital nos vários tipos de investimento e à natureza da entidade que a realiza.
O investimento é indispensável para o desenvolvimento económico e social de uma comunidade, e, muito embora

1 Na segurança social inclui-se a previdência social obrigatória e facultativa, o abono de família, os seguros de acidentes de trabalho e doenças profissionais, a assistência social, pública e particular, a acção assistencial dos organismos corporativos e serviços análogos.

1 Como só foi possível dispor das estimativas das Contas Nacionais sobre despesas públicas com saúde e educação a partir de 1958, houve necessidade de utilizar, para os anos de 1953-1954, a Estatística Financeira. Dado que se verificou que, entre 1959 e 1964, os valores apresentados nas Contas Nacionais para esta rubrica são superiores aos da Estatística Financeira, é provável que a percentagem para 1953-1954 seja também, efectivamente, superior à apresentada no quadro XV.

2 A preços correntes, o aumento foi de 65,1 por cento no primeiro período, de 43,2 por cento no segundo e de 136,5 por cento entre 1953-1954 e 1963-1964.

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todo o investimento tenha simultaneamente repercussões de carácter económico e social, sem dúvida certas aplicações têm incidências sociais mais directas do que outras. Assim, conforme as características predominantes do sector a que se destina, poderão distinguir-se fundamentalmente três tipos: investimentos económicos, os que concorrem para a produção de bens; investimentos sociais, os que se ligam mais directamente à promoção social da população; e investimentos económico-sociais, os que se destinam ao estabelecimento de infra-estruturas, indispensáveis tanto ao desenvolvimento económico como ao social.
Segundo este critério, e dentro das limitações impostas pelo agrupamento de actividades na contabilidade nacional 1, consideram-se:

Investimentos económicos - a formação de capital na agricultura, silvicultura, caça, pesca, indústria e construção;
Investimentos sociais - o capital aplicado na administração pública, educação, saúde, casas de habitação e outros serviços;
Investimentos económico-sociais - o capital destinado aos sectores da electricidade, água, gás e serviços de saneamento, aos transportes e comunicações e ao comércio, bancos e seguros.

Outro aspecto que importa examinar é a natureza das instituições que realizam o investimento - privadas ou públicas -, dadas as finalidades específicas que as caracterizam.
A entidade privada investe preferencialmente nas actividades de mais elevada rentabilidade, enquanto à entidade pública compete, em princípio, investir em sectores que se considerem fundamentais para o desenvolvimento sócio-económico do País, quando se trata da satisfação de necessidades colectivas sem fim lucrativo; quando se conhecem nítidas vantagens, para toda a comunidade, na execução dós investimentos por parte da entidade pública; ou, ainda, quando a iniciativa privada os não realize (em consequência da sua baixa rentabilidade ou por qualquer outro motivo).
Para o problema da repartição, reveste particular interesse a análise da importância dos investimentos sociais e da aplicação dos investimentos públicos, dado que através deles se poderá exercer eficaz acção redistributiva; pondo à disposição das classes económicamente mais desfavorecidas reais possibilidades de promoção social.
A estrutura da aplicação dos investimentos 1, segundo as suas incidências predominantemente económicas, sociais ou económico-sociais, no decurso do I e II Planos, figuram no quadro XVI.

QUADRO XVI

Distribuição, em percentagem, da totalidade do capital fixo formado no período de 1953-1964, segundo o tipo de investimentos

Preços de 1963

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

1 Estas limitações resultam do facto de as rubricas das Contas Nacionais não se. apresentarem suficientemente discriminadas, de modo a permitir um agrupamento correcto dos sectores de acordo com o critério indicado. Por exemplo, não foi possível considerar dentro dos investimentos sociais a distribuição de electricidade, gás, água e serviços de saneamento que tivesse sido de carácter predominantemente social.

1 A noção de investimento utilizada até agora identifica-se com a soma da "formação bruta de capital fixo" e da "variação das existências", mas para uma análise mais pormenorizada da estrutura da aplicação dos recursos destinados ao investimento passa a utilizar-se esta designação no sentido mais restrito de "formação bruta de capital fixo". Isto porque, além de se não dispor de elementos discriminados da rubrica "Variação das existências" ao nível do sector de actividade, a sua eliminação não afecta as conclusões, pois, além de ser uma parcela diminuta, não tem uma influência directa no ritmo de crescimento económico, que é determinado, fundamentalmente, pela "formação bruta de capital fixo".

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1662-(114) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO

Formação bruta do capital fixo privado

(Preços de 1963 -Unidade:

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

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XVII

e público por sectores de actividade

milhares de contos)

[Ver Quadro na Imagem]

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1662-(116) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Conforme revelam as percentagens apresentadas, a aplicação prioritária dos capitais nos vários tipos de investimento é a mesma no período de vigência dos dois planos, destinando-se maior parcela aos investimentos económicos e menor aos sociais. Nota-se, contudo, uma diferença significativa entre as duas estruturas; enquanto a percentagem atribuída, de 1953 a 1958, aos investimentos sociais foi de 31,3 por cento, no período seguinte foi de 28,2 por cento. Esta redução deu-se exclusivamente em benefício do sector económico, uma vez que a percentagem destinada aos investimentos económico-sociais foi praticamente a mesma (cerca de 33 por cento).
Conclui-se daqui que a orientação seguida na vigência do II Plano foi no sentido de formar o capital fixo nos sectores mais reprodutivos a curto prazo, a fim de obter

1 A relação capital-produto obtido no período de 1953-1964 foi de 2,3 para os investimentos económicos, de 4,1 para os investimentos económico-sociais e de 5,6 para os investimentos sociais.

o máximo produto e elevar a taxa de crescimento económico, objectivo que efectivamente foi conseguido, conforme se salientou anteriormente.

7. Analisando, agora, o montante de investimentos segundo a entidade que os realiza -privada ou pública-, verifica-se ser a maior parte dos capitais investida pelas empresas privadas, muito embora tenha vindo a registar-se diminuição na sua importância relativa; em 1953-1954 os investimentos privados representavam 82,2 por cento do total, em 1958-1959 essa percentagem desceu para 80,5 por cento e em 1963-1964 para 76,3 por cento (quadro XX, cols. 3, 7 e 11). Isto deve-se ao facto de a taxa de crescimento médio anual dos investimentos privados, entre 1953-1954 e 1963-1964, ter sido, em média, mais baixa (7,2 por cento) do que a dos investimentos públicos (11,1 por cento) (quadro XIX, cols. 13 e 14).

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7 DE DEZEMBRO DE 1967 1662-(117)

QUADRO XVIII

Distribução, em percentagem, da formação bruta do capital fixo privado e público por sectores de actividade

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(118) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO XIX

Taxas médias de crescimento anual da formação bruta de capital fixo, privado e público, por sectores de actividade

[Ver Tabela na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 162-(119)

De salientar ainda a circunstância de a taxa de crescimento médio anual do investimento privado, no período de 1953-1954 a 1958-1959, ter sido idêntica à do período de 1958-1959 a 1963-1964, enquanto os investimentos públicos cresceram a taxa acentuadamente mais elevada no último período (9,8 por cento entre 1953-1954 e 1958-1959 e 13,1 por cento entre 1958-1959 e 1963-1964).
Semelhante evolução do investimento público corresponde, em princípio, ao imperativo de satisfazer as necessidades crescentes da população, no que se refere a equipamentos colectivos. Interessa, porém, ver quais os sectores a que foi dada prioridade na aplicação dos capitais públicos, e em que medida essa aplicação corrigiu a estrutura do investimento privado e determinou as características da estrutura global.

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1662-(120) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO XX

Importância relativa da formação bruta de capital fixo nas empresas privadas e públicas e no sector público, por actividades

[Ver tabela na imagem]
Actividades

Investimentos económicos ....
Agricultura, silvicultura e caça ....
Pesca ....
Indústrias extractivas ....
Indústrias transformadoras ....
Construção .......

Investimentos económico-sociais ....
Electricidade, gás, água e serviços de saneamento....
Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis ....
Transportes e comunicações ....

Investimentos sociais ....
Saúde e educação ....
Outros serviços....
Administração pública e defesa ....
Casas de habitação .....
Total ....

Fonte: Elementos revistos das Contas Nacionais.

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QUADRO XXI

Distribuição, em percentagem, da totalidade do capital fixo, público e privado, formado no período de 1953-1964

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

Ao nível dos sectores, as actividades que absorveram maiores parcelas dos capitais públicos foram (quadro XVIII, cols. 19 e 24):

[Ver Quadro na Imagem]

comunicações, enquanto se observou redução das parcelas atribuídas à saúde e educação e à agricultura.
Relativamente à actuação no sentido de corrigir a estrutura do investimento privado, comparando as percentagens de aumento que correspondem à totalidade de capital fixo, público e privado, realizado de 1953 a 1958 e de 1959 a 1964 (quadro XX, cols. 18 e 19), nota-se que, efectivamente, nos sectores onde se registaram aumentos mais escassos dos investimentos privados se elevaram proporcionalmente mais os investimentos públicos, e vice-versa. Esta acção correctiva foi concretizada mais eficazmente no caso dos investimentos económico-sociais, e no que se refere aos investimentos sociais, em relação ao sector da habitação.
No tocante à agricultura, sector de que depende elevada percentagem da população activa e que, por esse facto, reveste grande importância numa óptica de repartição de rendimento, o esforço realizado foi, apesar de tudo, ainda insuficiente para garantir uma taxa de investimentos razoável.
A aplicação dos capitais públicos, além da acção correctiva e orientadora na determinação da estrutura da distribuição dos investimentos globais, pode ainda ser eficaz instrumento de redistribuição, na medida em que estabeleça uma infra-estrutura social que corresponda às necessidades das classes mais desfavorecidas. Ora, essas necessidades referem-se particularmente aos sectores da saúde, educação, habitação, electricidade, gás, água e serviços de saneamento. Muito embora qualquer investimento público implique benefícios para toda a comunidade, e apesar de os números disponíveis não possibilitarem uma análise rigorosa no tocante às suas incidências directas sobre as várias classes de rendimento, sem dúvida que as aplicações de capitais públicos naqueles sectores trazem grandes benefícios às populações de menores recursos.
Estas estruturas do investimento público revelam que, no decurso da vigência do II Plano, se verificou acentuada aplicação de capitais no sector dos transportes e 1 Apesar de o aumento de capitais públicos aplicados nesta actividade ter sido relativamente maior (14 por cento) do que o aumento dos capitais privados (9,8 por cento), o aumento global do investimento na agricultura foi apenas de 10,9 por cento.

QUADRO XXII

Estimativa dos investimentos previstos nos planos de fomento

Preços correntes

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Relatórios dos Planos de Fomento; I Plano de Fomento (parecer da Câmara Corporativa).

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Os números mostram que os investimentos públicos em habitações de carácter social e nos sectores da saúde, educação e electricidade representavam, no primeiro período analisado, 29 por cento do total, passando no segundo período para 27,8 por cento; por outro lado, o sector dos transportes e comunicações absorveu cerca de 28 por cento e 35 por cento, respectivamente (quadro XVIII, cols. 19 e 24).
Interessa agora confrontar a. estrutura dos investimentos realizados na vigência dos I e II Planos com a respeitante ao Plano Intercalar. Para esse efeito, inclui-se o quadro XXII.
Conforme se observa neste quadro, os investimentos previstos nos I e II Planos destinavam-se, fundamentalmente, à montagem de infra-estruturas económico-sociais, muito embora no segundo se tenha verificado redução do sector da energia em favor dos investimentos económicos.
A estrutura do Plano Intercalar para 1965-1967 prevê algumas realizações de carácter social que não figuravam nos planos anteriores, nomeadamente no que se refere às casas de habitação e ao sector da saúde, mas continua a verificar-se certa predominância dos investimentos de carácter económico. De salientar a acentuada redução da percentagem atribuída aos transportes e comunicações e à energia.

8. Na selecção dos investimentos, com vista a concretizar o duplo objectivo de efectivar uma repartição orientada para a satisfação das necessidades fundamentais da comunidade e obter, simultaneamente, a máxima expansão económica, devem tomar-se em consideração:
A totalidade das necessidades a satisfazer no futuro, segundo prioridades estabelecidas com vista ao desenvolvimento integral da comunidade l;
O tipo e volume de necessidades que sómente podem ser satisfeitas mediante investimentos realizados no próprio País, tais como as relativas à habitação, saúde, educação, montagem de infra-estruturas e, de maneira geral, todas as ligadas aos investimentos designados por sociais e económico-sociais;
O montante de capitai? destinado a investimentos a realizar em sectores não incluídos na alínea anterior - ou seja, em sectores que produzam bens que também podem ser importados - e que deverá ser aplicado segundo o critério da maior e mais rápida reprodutividade;
A necessidade de conseguir o pleno emprego, dado ser através da retribuição do factor trabalho que a quase totalidade da população (os que trabalham e os que com eles vivem) terá possibilidade de participar na repartição do rendimento criado, participação essa cujo nível dependerá do aproveitamento completo da capacidade produtiva de cada trabalhador;
A localização dos investimentos, que deverá ser orientada de modo a reduzir os desequilíbrios económico-sociais existentes entre as várias regiões do País, condição indispensável para que a repartição se efectue de molde a beneficiar efectivamente toda a população;
Em qualquer dos casos, dada a escassez de recursos e perante a necessidade de obter o máximo desenvolvimento económico-social no mais curto espaço de tempo, torna-se ainda indispensável que a aplicação de todos os capitais, sobretudo os destinados a investimentos sociais, seja feita com vista a obter a máxima reprodutividade, o que implica, evidentemente, a preferência de utilizações mais funcionais do que sumptuárias.

§ 3.º Redistribuição de rendimentos

9. O livre funcionamento dos mecanismos económicos não conduz, normalmente, à distribuição mais desejável dos rendimentos sob o ponto de vista social. Mesmo que se considere a estrutura desses mecanismos capaz de conduzir a uma distribuição equitativa, o livre jogo das forças económicas produz, na prática, muitas distorções que afectam directamente aquela distribuição. Compreende-se, assim, que, na generalidade dos países, se tenha verificado a necessidade de intervenção dos Poderes Públicos em ordem a promover certa redistribuição de rendimentos, sem o que a estrutura destes tenderia a agravar-se por forma inconveniente.
A administração pública dispõe actualmente de instrumentos apropriados, em especial a fiscalidade e a segurança social, para atenuar os efeitos daquelas distorções e contribuir para uma redistribuição mais equitativa do rendimento nacional. A sua acção concretiza-se em duplo aspecto:
Acção correctiva básica, exercida sobre os desníveis existentes, quer na formação dos rendimentos (repartição funcional), quer na sua posse pelos indivíduos (repartição pessoal), quando, através do lançamento de impostos e contribuições, se retira aos detentores de rendimentos mais elevados uma parcela destes;
Acção redistributiva, que reforça a atenuação daqueles desníveis, quando se aplicam os réditos assim obtidos em favor das classes de rendimentos mais baixos, quer pela simples transferência monetária, quer pondo à sua disposição determinados bens e serviços essenciais.
No que se refere à acção correctiva básica, ela pode ser exercida na própria formação dos rendimentos, ou seja, sobre os réditos do factor trabalho e dos outros factores produtivos; ou na fase final da repartição pessoal, isto é, sobre o rendimento auferido. Em geral, as actuações são simultâneas e os seus efeitos complementares, na medida em que, corrigindo basicamente a repartição funcional, essa acção se repercute na própria repartição pessoal.
Por sua vez, a acção redistributiva, sob o ponto de vista social, é o complemento lógico e o instrumento mais

1 A concretização dessas prioridades depende: por um lado, do grau de desajustamento entre o nível de satisfação e o que importa satisfazer em relação a cada necessidade fundamental - alimentação, vestuário, habitação, saúde, recreação, etc.; por outro lado, dos recursos de que a comunidade dispõe.
É evidente que a determinação do referido grau de desajustamento pressupõe: a enumeração das necessidades fundamentais; a definição do nível desejável concretamente para cada uma delas; a inventariação do nível dê satisfação existente.

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eficaz para concretizar os objectivos da repartição do rendimento, cuja finalidade última não consiste propriamente em reduzir o nível de bem-estar de alguns estratos da população, mas antes em dar a todos os homens possibilidades de acesso aos benefícios do desenvolvimento sócio-económico. Daí a importância primacial que reveste a forma como são aplicadas as receitas provenientes dos impostos e contribuições.
Na sequência do esquema que tem vindo a ser adoptado, julga-se de interesse a observação, ainda que sumária, do sistema português de impostos e de contribuições para a segurança social, com vista a determinar as suas linhas fundamentais, no que se refere à acção correctiva sobre a repartição dos rendimentos, e à sua eficácia sobre as principais distorções observadas. Para facilidade de análise, consideram-se separadamente os ónus fiscais correctivos da repartição funcional e da repartição pessoal, designando-se os primeiros por impostos e contribuições directamente imputáveis aos rendimentos dos factores produtivos, e os segundos, por impostos e contribuições que incidem sobre os rendimentos pessoais 1.

QUADRO XXIII

Percentagem dos impostos e das contribuições para à segurança social em relação ao P. I. L e sua evolução

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos; Boletim do Comissariado do Desemprego; Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social; Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

1 Consideram-se directamente imputáveis aos rendimentos dos factores produtivos as contribuições industrial, predial, rústica e urbana; o imposto profissional, os impostos de capitais, de camionagem, de compensação, de trânsito; o imposto complementar sobre pessoas colectivas; os impostos sobre espectáculos e divertimentos públicos, sobre a fabricação e consumo de cerveja; sobre minas e águas minerais; a sisa; e as contribuições para a previdência e para o Fundo de Desemprego.

QUADRO XXIV

Percentagem, em relação ao P. l. L, do total dos impostos que recaem sobre o rendimento dos factores produtivos e sobre os rendimentos pessoais

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos; Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

10. Conforme se observa no quadro XXIII, o total de impostos e de contribuições para a segurança social representou, no período de 1953-1964, uma percentagem anual do P. I. L. que variou entre o mínimo de 7,8 por cento em 1953 e o máximo de 9,5 por cento em 1964. Embora com ligeiras oscilações, o peso relativo do total desses impostos e contribuições tem acusado tendência ascendente, principalmente a partir de 1960. A parcela do P. I. L. retirada pelo Estado para aquele firn, através do imposto, representou, em 1964, cerca de 4,9 por cento, enquanto a percentagem directamente destinada à segurança social totalizou 4,6 por cento, cabendo 4,1 por cento à previdência 1 e 0,5 por cento ao Fundo de Desemprego. De salientar que a evolução crescente verificada nas percentagens relativas ao total se deveu principalmente ao aumento das contribuições para a segurança social, em particular para a previdência.
Quanto à acção correctiva exercida através dos impostos e das contribuições para a segurança social, ela efectua-se previamente na fase de formação de rendimentos (repartição funcional), tanto no sistema fiscal como no de- segurança social, uma vez que, neste último caso, as contribuições recaem exclusivamente sobre os trabalhadores e as entidades patronais e, no primeiro, embora existam alguns impostos que incidem directamente sobre os rendimentos pessoais, eles têm na realidade pouca importância no conjunto (quadro XXIV). Note-se até que, a partir de 1961, a percentagem que esse tipo de impostos representava do P. I. L. tem vindo a reduzir-se, sendo, em 1964, apenas de 0,8 por cento.

1 Esta percentagem inclui os descontos do sector privado e dos funcionários públicos.

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QUADRO XXV

Percentagem do total dos impostos e das contribuições para a segurança social que recaem sobre o rendimento do trabalho e dos outros factores produtivos em relação ao respectivo rendimento

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos; Boletim do Comissariado do Desemprego; Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social; Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

No que se refere à repartição funcional, verifica-se que, efectivamente, o sistema fiscal português tem procurado corrigir os efeitos da distribuição atrás observada, através de uma tributação nitidamente mais pesada sobre o factor capital do que sobre o factor trabalho (quadro XXV), pois, enquanto a parcela retirada ao total do rendimento do trabalho representava 0,5 por cento desse rendimento, em 19623, a percentagem que, nesse ano, incidiu sobre o rendimento líquido dos outros rendimentos foi de 6,4 por cento. Já o mesmo não acontece no caso da segurança social, onde as contribuições que recaem sobre o rendimento do trabalho não diferem, em percentagem, sensivelmente das que incidem sobre o rendimento dos restantes factores, situando-se as primeiras, no ano de 1962, em 3,9 por cento e as segundas em 4,7 por cento.
Isto deveu-se, por um lado, ao facto de o imposto profissional ter abrangido, em 1962, cerca de 156 000 contribuintes, ao passo que as contribuições para a segurança social são pagas por cerca de 1500 000 trabalhadores. Por outro lado, a diferença resulta ainda da divergência de taxas praticadas pelo fisco e pela segurança social; no primeiro caso, a percentagem era apenas de 2 por cento para as remunerações até 60 contos anuais e 3 por cento para as de montante superior, estabelecendo ainda a nova reforma taxas mais baixas para os escalões até 80 contos anuais, enquanto no segundo caso a taxa não só, em média, é mais elevada (5,5 por cento), como é, praticamente, a mesma qualquer que seja o nível de remuneração.
Para além da análise global, importava ainda observar como se tem actuado a nível sectorial sobre a repartição funcional dos rendimentos. Também sob este aspecto não é possível avançar muito, dado que o imposto profissional e os descontos para a segurança social, tanto por parte dos trabalhadores como da entidade patronal, não são apresentados nas estatísticas oficiais ao nível da actividade. Por tal motivo, a análise restringir-se-á à observação da importância relativa da incidência dos impostos sobre os rendimentos líquidos residuais dos vários sectores, isto é, sobre a remuneração dos factores produtivos, com excepção do factor trabalho, havendo ainda necessidade, em certos casos, de proceder, a ajustamentos indispensáveis para o enquadramento dos vários tipos de impostos nos respectivos sectores de actividade.
Assim, pelos números do quadro XXVI pode verificar-se que as actividades onde, em 1963 e 1964, se registaram maiores taxas de imposto sobre o rendimento residual foram os serviços privados, os transportes e os bancos enquanto entre as mais baixas se destacam a agricultura, a pesca e a electricidade.

1 Para facilidade de exposição, designar-se-á apenas por «factor capital» a totalidade de factores produtivos, com excepção do trabalho, ou seja o conjunto de terra, capital e empresa.

2 Em virtude de a partir de 1968, as estatísticas não discriminarem a parcela do imposto que recai sobre as remunerações dos empregados por conta de outrem, não é possível considerar os anos de 1963 e 1964.

1 As taxas fixadas pela recente reforma fiscal são de 1 por cento sobre as remunerações anuais situadas entre 18 e 40 contos; 2 por cento para as compreendidas entre 40 e 80 contos; 3 por cento para as do escalão delimitado por 80 e 120 contos; 5 por cento entre 160 e 200 contos; 6 por cento entre 200 e 250 contos; 7 por cento entre 250 e 300 contos, e 8 por cento para as remunerações superiores a 300 contos anuais.

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QUADRO XXVI

Percentagem dos impostos que recaem sobre o rendimento dos factores produtivos, com excepção do trabalho, em relação ao «rendimento residual liquido», e sua evolução por actividades

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Anuário Estatístico das Contribuições e Impostos. Instituto Nacional de Estatística - Elementos revistos das Contas Nacionais.

§ 4.º Objectivos e medidas de política

11. A aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, a repartição mais equilibrada dos rendimentos e a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais, que constituem os objectivos fundamentais deste III Plano, implicam a formulação de uma política de rendimentos. Esta traduz-se num conjunto de orientações e providências que deverão incidir sobre todas as formas de rendimentos (lucros distribuídos e não distribuídos, salários, rendimentos agrícolas, prestações sociais, juros, etc.) e actuar principalmente:

Nas estruturas e factores determinantes das três fases essenciais da repartição: a da aplicação, a nível macroeconómico, dos recursos nacionais em consumo e investimento; a da formação e distribuição dos rendimentos, isto é, da remuneração dos factores produtivos; e a da redistribuição dos rendimentos pessoais;
Nas estruturas e factores económicos que influenciam directamente a repartição ou possam ser afectados negativamente pelas repercussões das medidas inerentes à política de repartição dos rendimentos.
Tendo presentes as conclusões da análise anterior, essas orientações e medidas deverão, por sua vez, coordenar-se de modo a:

Elevar o nível de bem-estar de toda a população;
Reduzir as diferenças entre os níveis de vida dos vários estratos sociais (especificamente no que se refere à alimentação, vestuário, saúde, cultura, habitação, à participação no consumo de outros bens e no investimento), o que implica a atenuação de disparidades muito acentuadas no rendimento pessoal;-
Ter em conta as necessidades dos grupos mais vulneráveis ;
Partilhar equitativamente as responsabilidades e os frutos do desenvolvimento económico;
Atingir, quanto possível, o pleno emprego dos recursos humanos e naturais, na medida em que são geradores de rendimentos, dado que a expansão do número de empregos válidos é uma forma de melhorar a repartição, seja pela criação de novos lugares, seja pela transformação de ocupações de subemprego em postos de emprego, e a exploração dos recursos naturais é um meio de conseguir o aumento do rendimento nacional.

a) Medidas de política em matéria de aplicação dos recursos nacionais

12. O planeamento da aplicação dos recursos nacionais em consumo e investimento apresenta-se como a 1.ª fase, que logicamente deverá enquadrar, e até certo ponto determinar, as coordenadas fundamentais dos restantes aspectos da política de repartição, sendo certo que a parcela destinada ao consumo traduz o nível de bem-estar de que a população usufruirá efectivamente e o investimento revela a capacidade potencial do desenvolvimento sócio-económico futuro.
Evidentemente que o planeamento de determinado montante de investimento e consumo pressupõe se adoptem providências adequadas à sua execução, as quais, por sua vez, deverão ser seleccionadas de acordo com as exigências de uma política de repartição dos rendimentos que tenha por fim proporcionar a todos os membros da população uma participação equitativa, tanto no consumo como no investimento realizado.
A análise anterior conduz a que, em síntese, a aplicação do produto, no decurso deste III Plano, deva processar-se de modo a conjugar o máximo bem-estar para a população e o maior ritmo de crescimento económico. Para tal importa:

a) Procurar proporcionar a satisfação do nível de necessidades, individuais e colectivas, da popu-

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lação actual, bem como as do acréscimo populacional previsto no decurso do período. Para isso, deverá ter-se em vista o desajustamento entre o nível de satisfação presente e o desejável, bem como a exigência de obter uma taxa de crescimento do produto que assegure, não só a satisfação das necessidades correspondentes à evolução demográfica, mas também uma indispensável melhoria efectiva do bem-estar da população futura;
b) Determinar o montante de investimento necessário à obtenção da taxa de crescimento económico prevista, tendo em conta as possibilidades de importação de capitais e a necessidade de permitir, tanto quanto possível, a elevação dos consumos;
c) Agir no sentido de que a distribuição do consumo entre os vários estratos da população se processe pela forma mais equitativa, mediante intervenções apropriadas, no sentido de atenuar disparidades sensíveis entre os níveis de rendimento, e aumentar o poder de compra das populações com menores recursos, nomeadamente através de adequada política de taxas aduaneiras, impostos indirectos e subsídios. Estas providências deverão ter em vista, por um lado, não estimular o consumo de bens que, dentro de um padrão normal de vida, devam ser classificados como sumptuários; e, por outro, assegurar o equilíbrio de preços dos bens e serviços essenciais -alimentação, vestuário e calçado, habitação, higiene, educação, saúde, transportes, etc. - e facilitar o seu acesso às classes de menores rendimentos;
d) Conseguir que a aplicação do capital se faça de modo a permitir a existência de uma estrutura de investimentos equilibrada, em ordem, antes do mais, à satisfação das necessidades que só podem ser preenchidas através dos investimentos realizados no próprio País, tais como habitação, saúde, educação, montagem de infraestru-turas e, de maneira geral, todas as dependentes de investimentos designados por sociais e económico-sociais; a obtenção da máxima reprodutividade do capital investido; e ainda a necessidade de promover o pleno emprego produtivo e a redução dos desequilíbrios inter-regionais. No que se refere aos investimentos sectoriais, afigura-se importante que, nos casos da saúde, educação e habitação, bem como na distribuição de electricidade, gás, água e serviços de saneamento, se eleve o montante de capitais destinado a estes investimentos, a fim de proporcionar às populações de menores rendimentos a elevação das suas condições de vida.

b) Actuação sobre as estruturas de formação e distribuição dos rendimentos

13. O objectivo de uma repartição funcional equitativa, no que se refere à remuneração dos factores, aconselha a adoptar providências apropriadas para continuar a facultar aos trabalhadores crescente participação no rendimento nacional, na medida compatível com a intensificação do ritmo de acréscimo do produto.
Para tanto, a actuação basilar reside no progressivo aperfeiçoamento da política. salarial, de acordo com o nível de desenvolvimento económico do País e com vista à distribuição conveniente dessa remuneração por classes de trabalhadores; e na execução de uma política de rendimentos não salariais que vise a manter as taxas de remuneração dos factores terra, capital e empresa dentro de limites considerados justos, a fim de permitir uma repartição pessoal cada vez mais equilibrada e a facilitar a difusão da propriedade e o acesso à habitação própria. Por outro lado, reveste-se do maior alcance a política, já iniciada, de estimular a participação dos trabalhadores no autofinanciamento das empresas em que trabalhem, mediante a tomada de títulos emitidos pelas próprias empresas, sem prejuízo da melhoria dos salários orientada pelo acréscimo da produtividade. Assim, independentemente da vantagem de aumentar, de forma indirecta, a remuneração do factor trabalho, aquela política favorece a aplicação de pequenas poupanças em investimentos rentáveis.

c) Actuações relativas aos factores de redistribuição

14. As principais vias através das quais se pode melhorar progressivamente a repartição funcional, a fim de se conseguir uma distribuição pessoal cada vez mais equilibrada, são a política fiscal, o modo como são aplicadas as receitas do Estado e a segurança social.
A política fiscal, através da distribuição equitativa dos impostos, tem acção relevante, principalmente no que se refere aos desníveis existentes na formação dos rendimentos (repartição funcional) e na distribuição pelos vários estratos da população (repartição pessoal). Para esse efeito, continuar-se-á a intervir na própria estrutura da repartição funcional e nas situações de conjuntura económica, mediante tratamento mais favorável aos grupos de menores recursos, utilizando, para esse efeito, os impostos progressivo e sucessório e os impostos indirectos sobre os bens e serviços considerados sumptuários.
Na aplicação das receitas do Estado, tanto no que se refere ao consumo como ao investimento, deverá ser dada prioridade, sempre que possível, aos serviços sócio-económicos, sobretudo aos que vão beneficiar mais directamente os estratos populacionais de menores rendimentos, criando para isso um equipamento colectivo que permita a prestação de serviços essenciais nas diversas regiões do País e continuando a conceder auxílios indirectos (v. g. subsídios) que permitam baixar o custo de certos bens e serviços de procura generalizada.
A segurança social é, por sua vez, um dos meios mais utilizados da política de redistribuição, na medida em que pode contribuir para a progressiva elevação do nível de vida, sobretudo das classes menos abastadas, pondo ao seu dispor, directa ou indirectamente, bens e serviços essenciais. Nesse sentido, a política adoptada, e na qual se prosseguirá, é a de alargar progressivamente o âmbito da previdência, quer às escalas regional e sectorial (especialmente no que se refere à agricultura e à pesca), quer no que respeita aos riscos cobertos; melhorar as condições de atribuição do abono de família e de outros meios de auxílio familiar. Por outro lado, o regime de subsídios de desemprego, criado pelo Decreto-Lei n.º 44 506, de 10 de Agosto de 1962, que presentemente abrange os despedimentos colectivos verificados em empresas industriais normalmente com mais de dez trabalhadores ao seu serviço, deverá aperfeiçoar-se mediante a sua gradual transformação num verdadeiro seguro.

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d) Providências destinadas a assegurar a eficácia das medidas da política de rendimentos e impedir repercussões negativas sobre o desenvolvimento económico.

15. Entre os meios necessários para garantir, simultaneamente, uma repartição equitativa dos rendimentos e uma taxa conveniente de desenvolvimento económico, salientam-se os seguintes:

Procurar obter a disponibilidade de bens e serviços que corresponda, efectivamente, ao tipo de necessidades existentes ou a criar, ou seja, a assegurar o equilíbrio entre a oferta e a procura;
Continuar a planear o investimento global, sectorial e regional, requerido pelo desenvolvimento da comunidade, de modo a orientá-lo no sentido de proporcionar a satisfação das necessidades futuras da população e a conseguir o melhor aproveitamento das potencialidades nacionais;
Promover o aumento da poupança dos particulares, da administração pública e das empresas, a fim de assegurar os recursos suficientes, orientando e incentivando a sua aplicação em investimentos reprodutivos ;
Vigiar atentamente a evolução dos preços, procurando contrariar as tendências altistas injustificadas;
Defender a estabilidade dos preços dos bens e serviços de primeira necessidade, concedendo, entre outras medidas, tratamento fiscal favorável à aquisição de matérias-primas e de equipamento indispensável ao desenvolvimento técnico dos sectores que os produzem, reorganizando os circuitos de comercialização dos produtos e adoptando outras providências adequadas;
Promover a reconversão das explorações agrícolas, mediante facilidades de mecanização, de crédito., de assistência técnica, de associação e de outras condições que favoreçam a elevação da produtividade das empresas, bem como a comercialização e a distribuição dos produtos;
De modo geral, suscitar as transformações culturais e institucionais requeridas pela intensificação do processo de desenvolvimento.

SECÇÃO III

Remuneração do trabalho § 1.º Estrutura e evolução

1. A estrutura dos níveis salariais segundo a actividade é revelada pelos índices de dispersão incluídos no quadro XXVII, que traduzem as diferenças existentes entre as remunerações médias anuais pagas em cada sector e a remuneração média ponderada de todas as actividades.
Em 1963-1964, as diversas actividades podiam ordenar se do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

Esta ordem não apresenta alterações sensíveis, em relação à existente em 1953-1954, sendo apenas digna de nota a descida de posição relativa dos serviços públicos e da pesca, que, de segundo e quinto lugar em 1953-1954, passaram, respectivamente, para terceiro e sexto em 1963-1964. Isto, porque as taxas de crescimento anual verificadas nos vários sectores no referido período (entre 1953-1954 e 1963-1964) não se afastaram muito, de maneira geral, da taxa verificada para a média (6 por cento). De salientar apenas o comércio, sector onde se verificou maior aumento médio (7,6 por cento), os serviços públicos (2,3 por cento) e a construção, pesca, bancos e seguros (cerca de 4 por cento).

QUADRO XXVII

Índices de dispersão das remunerações médias anuais por divisões da actividade económica e sua evolução

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Estatística Industrial; Estatística das Sociedades ; Anuário Estatístico; Contas Nacionais; Orçamento Geral do Estado; Recolha de elementos sobre mão-de-obra (Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra), Janeiro de 1965 (dados provisórios).

A observação das taxas médias de crescimento anual dos vários sectores, no decénio em análise, mostra também que, com excepção da agricultura, todas as actividades com remunerações inferiores à média beneficiaram de percentagens de aumento superiores a 6 por cento, o que implica a redução da amplitude máxima do intervalo, de 360,4 para 301,4, e do desvio médio em relação à média, de 79,5 para 62,1 1.
Esta evolução, numa óptica de repartição, deve considerar-se correcta, na medida em que a redução das acentuadas diferenciações intersectoriais conduz a maior harmonia dos níveis de remuneração.
Apesar disso, a amplitude do desvio continua a apontar a necessidade de procurar elevar progressivamente os níveis salariais dos sectores mais desfavorecidos.
A evolução processada no decénio apresenta características diferentes no decurso do I e II Planos.

1 Por amplitude do intervalo entende-se a diferença entre os índices máximo e mínimo em relação à média.
O desvio em relação à média corresponde à média aritmética das diferenças, para 100, dos índices de cada actividade sem atender ao sinal. O valor obtido traduz, portanto, o grau médio de dispersão das remunerações dos vários sectores em relação a média.
Os números apresentados dizem respeito, nuns casos, às principais divisões e, noutros, aos desdobramentos destas que figuram no quadro XXVII; considerando apenas os elementos ao nível das divisões, isto é, abstraindo dos referidos desdobramentos, estes valores reduzem-se bastante, uma vez que a dispersão da média das remunerações dos bancos e do comércio, dos serviços públicos e privados e da agricultura e pesca é menos acentuada que a das respectivas classes que a compõem.

[Ver Quadro na Imagem]

A taxa de crescimento das remunerações foi sensivelmente mais elevada no período de 1958-1959 a 1963-1964 (7,5 por cento) do que no período de 1953-1954 a 1958-1959 (4,5 por cento). De maneira geral, este aumento médio resultou de aumentos mais ou menos acentuados em todos os sectores de actividade *. Salientam-se particularmente os casos da agricultura, dos serviços privados

1 Constituem excepção o sector das indústrias extractivas, cujas taxas baixaram de 7,7 por cento para 5,6 por cento, e o funcionalismo público, que passou de 2,7 por cento para 2 por cento. Note-se, porém, que, neste último caso, as percentagens não traduzem a realidade, pois, na medida em que os aumentos dos ordenados se verificaram em 1958 e as taxas são baseadas na média de 1958-1959, esse método conduz a que o aumento se reparta pelos dois períodos.

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e do comércio, cujas taxas se elevaram, respectivamente, de 2,3, 3,7 e 5 por cento, no decurso de 1953-1959, e de 8,9, 9 e 10,2 por cento, no outro período.
Dada a importância que o sector das indústrias transformadoras assume na determinação do nível médio da remuneração do factor trabalho, e a gama e heterogeneidade das classes de actividade que a compõem, com características específicas muito diversas entre si, proceder-se-á, com os dados disponíveis, a exame mais pormenorizado da estrutura dessas remunerações, em moldes idênticos, ao efectuado à escala das divisões.
Pelo quadro XXVIII, nota-se que as classes que apresentavam salários médios mais elevados, em 1963-1964, eram, por ordem decrescente:

[Ver Tabela na Imagem]

As classes de nível inferior à média ponderada das indústrias transformadoras apresentavam-se, por ordem crescente, do modo que se observa no quadro a seguir.

QUADRO XXVIII

Índices das remunerações médias anuais por classes da indústria transformadora e sua evolução na metrópole

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Estatística Industrial.

Dado que o conjunto das categorias profissionais da indústria transformadora com remunerações inferiores à respectiva média, absorve cerca de 71 por cento da população que trabalha naquele sector, a influência das remunerações destas categorias faz-se sentir consideràvelmente na determinação do nível médio do sector (divisões 2 e 3), que, como já se salientou, era inferior ao da média de todas as actividades.
A ordenação apresentada também não acusa alterações sensíveis em relação à que vigorava em 1953-1954. De salientar apenas o vestuário e calçado e o mobiliário, que, pelo facto de terem evolução salarial moderada (a taxa média do crescimento anual foi apenas de 3,2 por cento no primeiro caso e de 1,9 por cento no segundo), baixaram bastante de posição no fim. do período em relação a 1953-1954; e as bebidas e as metalúrgicas de base, onde, pelo contrário, se notam as mais elevadas taxas (9,4 e 10,8 por cento), o que ocasionou subida das suas posições relativas.
Quanto às taxas anuais de evolução salarial, no período de 1953-1954 a 1963-1964, além das actividades já referidas, salientam-se ainda as transformadoras diversas, petróleos e alimentação, onde os crescimentos médios foram dos mais elevados (12,3, 9,7 e 8,1 por cento, respectivamente), e a tipografia, material de transporte, curtumes e borracha, que, pelo contrário, tiveram acréscimos diminutos (3,8, 4,3, 4,4 e 4,7 por cento).
A observação dos números revela ainda que, com excepção dos têxteis, todas as actividades que, em 1953-1954, tinham, remuneração inferior à média ponderada, registaram taxas de crescimento igual ou superior a 6,3 por cento.

Desvio médio dos índices das classes em relação à média ponderada das indústrias transformadoras

[Ver Tabela na Imagem]

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Amplitude do intervalo de variação das classes

[Ver Tabela na Imagem]

Note-se que estes números revelam um desvio médio e uma .amplitude bastante inferiores aos obtidos anteriormente para os índices das divisões, em relação à média geral de salários (em 1963-1964 cerca do 46 e 163, respectivamente); apesar disso, pode-se considerar ainda elevada a dispersão salarial nas classes das indústrias transformadoras.
Analisando agora mais pormenorizadamente os dados relativos aos I e II Planos, as taxas anuais de crescimento revelam que a evolução processada no decurso de 1953-1954 a 1958-1959 e de 1958-1959 a 1963-1964 acusou, nas indústrias transformadoras, vima taxa de crescimento médio no segundo período (7 por cento) superior à do primeiro (5,6 por cento), à semelhança do que se verificou com o nível geral das remunerações.
Este aumento resultou de subidas na generalidade das classes em que se desdobram as indústrias transformadoras, sendo de salientar, porém, as transformadoras diversas, bebidas, metalúrgicas de base, vestuário e calçado, cujas taxas de crescimento se atenuaram no decurso do II Plano. Importa no entanto acentuar que, com. excepção do vestuário e calçado, as restantes usufruíram, no decurso do primeiro período, de taxas superiores à média e, embora estas tivessem baixado, continuaram, no entanto, superiores à taxa média do respectivo período o que se afigura evolução favorável.
De maneira geral, à semelhança do que se verificou na totalidade do período de 1953-1954 a 1963-1964, tanto no decurso do I Plano como do II Plano, as classes com remunerações mais baixas tiveram taxas de crescimento superiores à média, com excepção apenas dos têxteis e dos produtos metálicos, no primeiro período (2,7 e 4,2 por cento, respectivamente); do vestuário o calçado e dos curtumes, no segundo (2,7 e 6,6 por cento).

1 Exceptuo-se apenas o caso dos derivados do petróleo, cuja taxa baixou de 14,6 por cento para 5 por cento, mas que, dado o seu nível relativamente alto, não afecta negativamente o problema da repartição.

QUADRO XXIX

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada em Janeiro de 1965 pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (dados provisórios).

2. Outro aspecto das remunerações que importa encarar é o das diferenças existentes entre os salários médios dos vários graus de qualificação, cuja análise implica também o conhecimento do grau de dispersão intersectorial das remunerações pagas a cada tipo de qualificação.
Tomando por base o salário do não especializado, por, em princípio, ser o mais baixo da escala hierárquica do trabalhador adulto e ainda porque, segundo a amostra, nesta categoria se incluem cerca de 26 por cento dos trabalhadores dos sectores não agrícolas, elaborou-se o quadro XXIX, onde figuram para cada actividade os índices de dispersão das remunerações médias diárias de cada grau e qualificação em relação ao salário do não especializado. Segundo aqueles índices, verifica-se que, em média, o pessoal especializado ganha mais 49 por cento do que o não especializado, os mestres e capatazes mais 137 por cento, o pessoal administrativo mais 200 por cento e o pessoal técnico e dirigente mais 411 por cento e 631 por cento, respectivamente.
Examinando agora as diferenciações entre os diversos níveis de qualificação em cada uma das actividades que figuram rio mesmo quadro por ordem, decrescente das respectivas médias ponderadas, verifica-se que, com excepção da pesca e dos transportes e comunicações, a amplitude máxima dos índices de dispersão não varia de forma sensível. Complementarmente, no quadro XXX, observa-se que, de maneira geral, a posição relativa das actividades dentro de cada categoria é mais ou menos a mesma da ordenação observada com base nas médias ponderadas de todas as qualificações. Daí a conclusão de que, provavelmente, o nível médio das remunerações de cada sector não tem. influência no grau de dispersão entre qualificações.
Observando agora a oscilação das remunerações inter-sectoriais, segundo o grau de qualificação, em referência à correspondente média ponderada (quadro XXX), conclui-se que a média das diferenças verificadas entre os salários pagos nos vários ramos de actividade a cada categoria não é, de maneira geral, muito acentuada, sobre-

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tudo no que se refere ao pessoal administrativo, dirigente e técnico e aos aprendizes e praticantes. Note-se que, com excepção do pessoal menor, as diferenciações médias intersectoriais (quadro XXX, col. 11) são mesmo bastante inferiores ao desvio médio registado para a média ponderada das remunerações de todas as categorias (32,7 por cento), o que conduz à conclusão de que tais diferenciações, observadas aquando da análise das remunerações médias das actividades, não resultam, fundamentalmente, de disparidades ao nível de cada qualificação, devendo antes ser influenciadas pelas diferenças de estrutura qualitativa dos trabalhadores que as compõem. Aliás, os números confirmam que as mais elevadas percentagens de não especializados se encontram, precisamente, nas actividades onde se observam as mais baixas médias salariais (quadro XXXI).
Dada a importância que a categoria do não especializado assume, tanto na determinação do nível salarial como pelo facto de abranger elevado número de trabalhadores (cerca de um quarto da população empregada por conta de outrem nas actividades não agrícolas), passar-se-ão a analisar, mais pormenorizadamente, os vários aspectos que influenciam o seu nível de remunerações.

QUADRO XXX

Índice de dispersão das remunerações médias diárias de cada actividade em relação à respectiva média ponderada.

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, em Janeiro de 1965 (dados provisórios).

QUADRO XXXI

índices das remunerações médias diárias e percentagem da mão-de-obra não especializada em relação ao total, por actividades

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não inclui os serviços de administração pública, nem os serviços domésticos.

Fonte: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada, em Janeiro de 1965, pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (dados provisórios).

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QUADRO XXXII

índices das remunerações médias diárias e percentagem da mão-de-obra não especializada em relação ao total, por classes da indústria transformadora

1965

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada, em Janeiro de 1965, pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (dados provisórios).

Conforme se observa no quadro XXX, a amplitude entre as remunerações extremas é acentuada e 5 desvio médio em relação à média é também dos mais amplos. Este facto assume importância numa óptica de repartição, na medida em que, como se frisou, o nível médio da remuneração do não especializado é já reduzido e, portanto, sem margem suficiente que lhe permita descer acentuadamente abaixo desse nível.
Assinalam-se, em especial, os casos da pesca, serviços, transformadoras diversas, vestuário e calçado, máquinas e material eléctrico, madeira e cortiça, curtumes e bebidas.

3. O estudo das diferenças inter-regionais das remunerações é outro aspecto que importa encarar na análise da estrutura salarial. Na realidade, o nível de remunerações auferidas pelos trabalhadores varia segundo o local do trabalho, chegando, por vezes, a atingir disparidades acentuadas. Essas diferenciações podem ter motivos diversos, salientando-se, entre eles, a própria estrutura sectorial da economia da região, ou sejam os sectores que predominantemente nela se localizam e que, como se viu, revelam diferenças salariais muito acentuadas, e a estrutura das qualificações, que pode igualmente influenciar, directa ou indirectamente, as divergências observadas entre as regiões.
A avaliação das diferenciações regionais propriamente ditas e a definição das determinantes que as originam constituem, sem dúvida, objecto de análise muito importante para a selecção de medidas de política adequadas.
Os elementos estatísticos disponíveis conduzem a tomar por base regional dessa análise o distrito, avaliando apenas as diferenciações brutas interdistritais e relacionando-as, na medida do possível, com a estrutura sectorial da região, por se julgar ser este o seu factor determinante. Traça-se depois a linha evolutiva das remunerações diárias do sector agrícola e as anuais do sector não agrícola em cada distrito. Salienta-se, porém, desde já, que tanto a análise estática como a dinâmica deverão ser encaradas com certas reservas, na medida em que, devido à insuficiência de ciados, por um lado, a análise estática foi baseada apenas em salários diários, não se entrando, portanto, em consideração com os dias de trabalho e, por outro, a análise dinâmica do sector não agrícola, embora baseada em estimativas anuais, considera-se sujeita a margem de erro sensível .
No relativo às diferenciações regionais propriamente ditas, a tendência actual, em vários países, tem sido a de se procurar reduzi-las progressivamente, por motivos de ordem económica e social.
O principal inconveniente de ordem económica dessas diferenciações salariais ligadas à localização das empresas reside no facto de permitir uma concorrência de preços, resultante de diferenças nos custos de produção, o que poderá dificultar a colocação dos produtos das empresas abrangidas pelas tabelas salariais mais elevadas e, consequentemente, afectar o seu equilíbrio financeiro.

1 As estimativas distritais das remunerações do sector não agrícola foram baseadas nos salários médios anuais de cada divisão da actividade económica, obtidas através de várias fontes estatísticas e ponderadas com a respectiva estrutura do emprego segundo o censo de 1960.

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O problema social liga-se com a repartição do rendimento entre os factores produtivos. Partindo da hipótese de o rendimento global de duas empresas ser idêntico. não se justifica que o simples facto de se localizarem em zonas diferentes determine uma repartição desse rendimento de molde a beneficiar mais o factor capital ou mais o factor trabalho, consoante a região.
Apesar dos inconvenientes de ordem económica e social apontados, que conduzem à orientação geral no sentido de se eliminarem as diferenciações inter-regionais, poderá haver factores que, em certos casos, justifiquem o estabelecimento desse tipo de diferenciações. Salientam-se entre eles:

Diferenças existentes nos preços de aquisição dos elementos intervenientes na produção (matérias-primas, energia, etc.), nos custos de transporte ou no custo de outros elementos inerentes à localização, da empresa, como, por exemplo, uma infra-estrutura mais desenvolvida;
Diferenças de custo de vida, mas apenas nos casos em que o sector não tem possibilidade económica de pagar salário equivalente ao limite mínimo indispensável à satisfação das necessidades básicas do trabalhador na região de custo de vida mais elevado. Como, de maneira geral, as zonas onde o custo de vida é mais alto coincidem com as zonas de maior desenvolvimento económico, as empresas que ficam sujeitas a tabelas de salários mais gravosas são precisamente aquelas que, pelo menos. em parte, encontram certa compensação nos benefícios decorrentes da sua localização em zonas com infra-estruturas mais desenvolvidas.

Para base do estudo dos níveis salariais praticados em cada distrito, apresentam-se no quadro XXXIII os índices das remunerações médias em relação a, Lisboa no ano de 1964, que revelam as posições relativas dos salários diários para o total das actividades económicas do distrito l, discriminando-se- a agricultura, por um lado, e as actividades não agrícolas, por outro.

1 A estimativa das remunerações médias para o total das actividades económicas do distrito foi baseada nos salários médios diários da agricultura relativos à média do ano de 1964 e nos salários diários das outras actividades relativos a Janeiro de 1965. Não foram utilizados os elementos da agricultura de Janeiro de 1965, porque nesse mês os salários agrícolas eram muito mais baixos. Por sua vez, os salários não agrícolas relativos a Janeiro de 1965 são considerados bastante representativos para 1964, por se referirem, pràticamente, ainda à conjuntura económica deste ano e por não estarem tão sujeitos a flutuações sazonais como os salários rurais, pelo que, embora contenham certa margem de erro, esta deverá ser reduzida.

QUADRO XXXIII

Índices das remunerações médias diárias de cada distrito em relação a Lisboa

1964

[Ver Tabela na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(135)

[Ver Tabela na Imagem]

Nota. - As remunerações para o total das actividades foram obtidas ponderando as remunerações das actividades agrícolas e não agrícolas pela respectiva população activa com profissão, segundo o censo de 1960.

Fontes: Anuário Estatístico. Recolha de elementos sobre mão-de-obra (Janeiro de 1965 - Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra - dados provisórios).

Da observação dos referidos elementos ressalta imediatamente o acentuado isolamento do distrito de Lisboa em relação aos restantes, no que se refere à remuneração média do factor trabalho. Assim, no distrito do Porto, que figura em segundo lugar na ordenação decrescente dos distritos, segundo o seu nível de remuneração, pagavam-se em média salários que correspondiam a 66,2 por cento dos praticados, em Lisboa e, em Portalegre, o salário representava apenas 44,1 por cento da média de Lisboa.
A distribuição dos distritos entre esses dois extremos, embora com grau de dispersão bastante uniforme entre eles, permite constituir três grupos: um, com salários inferiores a 50 por cento do salário que vigorava em Lisboa; outro, constituído pelos distritos cujas médias salariais se situavam entre 50 por cento e 60 por cento, e, por último, um grupo que, engloba os distritos com salários superiores a 60 por cento, com excepção de Lisboa. Deste modo, resultam quatro zonas geográficas, com as remunerações médias ponderadas e a constituição seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Estes índices revelam a existência de acentuado grau de diferenciação entre o nível de vida médio dos trabalhadores do distrito de Lisboa e das restantes zonas, diferenciação traduzida pelas percentagens de 35,3 por

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1662-(136) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

cento, 44,1 por cento e 52,9 por cento, respectivamente para as zonas II, III e IV. Se se considerarem como base a& remunerações distritais, obtém-se um desvio médio em relação a Lisboa da ordem dos 45 por cento. Estas diferenças, muito embora se atenuem no que se refere ao poder de compra real do salário, na medida em que o custo de vida de Lisboa é mais elevado do que nos restantes distritos, devem, mesmo assim, ser consideradas excessivas.
Tendo em conta a distribuição populacional dos trabalhadores pelas várias zonas salariais atrás definidas, chega-se à conclusão de que:

Apenas 18,7 por cento da população trabalhadora vive no distrito de Lisboa;
34,4 por cento localiza-se na zona II;
22,9 por cento situa-se na zona III;
24 por cento dos trabalhadores do continente localizam-se na zona IV, onde os níveis salariais são mais baixos.

As médias salariais dos distritos são determinadas, se não fundamentalmente, pelo menos em grande parte, pela estrutura sectorial em que assenta a economia da região. Assim, vê-se pelo quadro XXXIII que, com excepção de Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro e Braga, mais de 50 por cento da população activa dos restantes distritos trabalham na agricultura. Afigura-se, portanto, com muito interesse o desdobramento da análise das remunerações distritais da agricultura e das actividades não agrícolas.
Pelo referido quadro verifica-se que o nível das remunerações pagas pelas actividades não agrícolas é, de maneira geral, mais elevado do que o pago na agricultura, exceptuando-se apenas os distritos de Vila Real e Viseu, onde, pelo contrário, os salários rurais são, em média, superiores aos não agrícolas, e Bragança, Leiria e Viana do Castelo, em que os dois grupos de actividades têm níveis idênticos.
O grau de dispersão dos vários distritos em relação a Lisboa difere também consideràvelmente. Enquanto, para as actividades não agrícolas, o desvio médio em relação a Lisboa (43,8 por cento) se assemelha bastante ao do nível geral de salários (44,9 por cento), este desvio na agricultura é sensìvelmente mais reduzido (35,2 por cento).
A constituição de zonas específicas, quer para as actividades agrícolas, quer para as não agrícolas, para além da zona formada pelo distrito de Lisboa, que em qualquer dos casos se isola em relação aos restantes, afigura-se ainda mais difícil e menos precisa do que a observada anteriormente para a média geral dos salários, sobretudo no caso da agricultura.
Aplicando, porém, os mesmos limites das zonas traçadas para o nível geral de salários, obtém-se um agrupamento de distritos com algumas alterações em relação à constituição anterior:

Zona I:

Actividades não agrícolas:

Lisboa.

Agricultura:

Lisboa.

Zona II:

Actividades não agrícolas:

Porto.
Setúbal.
Coimbra.
Santarém.
Castelo Branco.
Leiria.
Guarda.
Aveiro.
Faro.

Agricultura:

Leiria.
Santarém.

Zona III:

Actividades não agrícolas:

Bragança.
Évora.
Beja.

Agricultura:

Vila Real.
Guarda.
Setúbal.
Coimbra.
Bragança.
Aveiro.

astelo Branco.

Zona IV:

Actividades não agrícolas:

Viana do Castelo.
Braga.
Vila Real.
Viseu.
Portalegre.

Agricultura:

Faro.
Viana do Castelo.
Viseu.
Porto.
Évora.
Beja.
Portalegre.
Braga.

Depreende-se que, com excepção do distrito de Lisboa, enquanto nas actividades não agrícolas nove dos dezassete distritos se situam na zona II (além dos cinco já considerados anteriormente, passam a fazer parte desta zona Faro, Aveiro, Guarda e Castelo Branco), na agricultura apenas Leiria e Santarém nela se incluem; por outro lado, em relação à zona IV, nota-se que na agricultura, pelo contrário, 50 por cento dos distritos se inserem neste grupo, enquanto nos sectores não agrícolas os distritos de Beja e Évora, que anteriormente estavam nele incluídos, passaram a fazer parte da zona III.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(137)

QUADRO XXXIV

Evolução das remunerações médias na agricultura e nas actividades não agrícolas, por distritos

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Anuário Estatístico; Estatística Industrial; Estatística das Sociedades.

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1662-(138) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Calculando as médias ponderadas dos distritos que constituem as quatro zonas, obtêm-se as seguintes médias de afastamento em relação a Lisboa:

[Ver Tabela na Imagem]

Ao longo do período delimitado pelas médias dos anos de 1953-1954 e 1963-1964, observa-se no quadro XXXIV que, no caso da agricultura e das actividades não agrícolas, os oito distritos que tiveram taxas de crescimento mais elevadas foram os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

QUADRO XXXV

Percentagem de diferenciação das remunerações médias da agricultura e das actividades não agrícolas de cada distrito em relação às respectivas remunerações no distrito de Lisboa e sua evolução.

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Anuário Estatístico; Estatística Industrial; Estatística das Sociedades.

Como se verifica, parece não ter havido, de maneira geral, qualquer evolução coordenada, idêntica ou complementar, dos salários distritais nos dois grupos de actividades.
Além disso, em qualquer dos casos, as respectivas evoluções conduziram ao agravamento das diferenciações brutas dos salários em relação a Lisboa, na medida em que este distrito, que serviu de base de comparação, por ser o de mais altos salários, beneficiou também de taxas relativamente elevadas.
Os números revelam, portanto, que, ao longo do decénio de 1953-1954 a 1963-1964, a evolução das remunerações distritais se processou de modo a acentuar as diferenças salariais já existentes entre Lisboa e os restantes distritos (quadro XXXV).
Parece, pois, de concluir que o equilíbrio regional nas remunerações do factor trabalho deverá ser conseguido pela redução das diferenciações regionais, através da melhoria progressiva dos níveis salariais na maior parte dos distritos, particularmente nos que constituem a zona IV.
Essa elevação deverá efectuar-se actuando, simultâneamente, no sentido de reduzir de forma gradual as diferenciações salariais pròpriamente ditas em relação a Lisboa; de elevar o nível das remunerações dos sectores em que assenta fundamentalmente a actividade económica e de reestruturar a economia regional em bases mais dinâmicas, revigorando a estrutura dos sectores tradicionais e fomentando a implantação de actividades com níveis salariais mais elevados.

4. Uma das causas de discriminação nas remunerações foi, no nosso país, como é frequente em economias de idêntico estádio de desenvolvimento, o sexo do trabalhador.
O Decreto-Lei n.º 47 032, de 27 de Maio de 1966, no seu artigo 115.º, veio, porém, estabelecer o direito de a mulher «receber, em absoluta igualdade de condições e idêntico rendimento de trabalho, a mesma retribuição dos homens».
Em cumprimento desta disposição legal, é de esperar o progressivo desaparecimento das diferenças que ainda se verifiquem.

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QUADRO XXXVI

Diferenciações entre as remunerações médias diárias dos homens e das mulheres por graus de qualificação

1965

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, em Janeiro de 1965 (dados provisórios); X Recenseamento Geral da População.

QUADRO XXXVII

Diferenciação entre as remunerações médias diárias dos homens e das mulheres por divisões da actividade económica

1965

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não inclui os serviços de administrarão pública nem os serviços domésticos.

Fontes: Recolha de elementos sobre mão-de-obra realizada pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra em Janeiro de 1965 (dados provisórios); X Recenseamento Geral da População.

5. Apesar de a taxa de crescimento das remunerações sei encarada como indicador corrente da evolução do aumento do nível de vida dos trabalhadores, na medida em que o salário é a sua fonte principal de rendimento, sem dúvida que só o valor real das remunerações traduz efectivamente esse aumento, pois a sua expressão monetária está sujeita a depreciações em consequência do aumento dos preços, o que implica a redução do poder de compra real daquelas remunerações. Assim, a evolução do nível de vida do trabalhador sómente poderá ser avaliada com alguma correcção através da taxa de acréscimo dos salários reais, isto é, das remunerações nominais deflacionadas através do custo de vida.
Tomando para base a taxa de inflação utilizada nas Contas Nacionais 1, elaborou-se o gráfico I, onde figuram, para o período de 1953-1964, as evoluções dos salários nominais, do custo de vida e dos salários reais, ou seja, dos salários deflacionados.
Segundo os elementos publicados, o agravamento do custo de vida entre 1953 e 1964 foi apenas de 15,1 porcento, o que corresponde u taxa de inflação anual de 1,33 por cento e conduz à redução da taxa de aumento dos salários nominais (que, como já se salientou, foi de 5,96 por cento para 4,51 por cento). Note-se que a redução da taxa de acréscimo dos salários nominais foi mais acentuada no decurso do II Plano do que no I, na medida em que a taxa de inflação se elevou de 1 por cento para 1,6 por cento. Daí que as taxas de crescimento dos salários nominais nos referidos períodos (4,46 por cento e 7,47 por cento, respectivamente) se tivessem aproximado ligeiramente 2. Pode, assim, concluir-se que, apesar de as remunerações nominais terem evoluído em ritmo acentuadamente mais elevado no decurso do II Plano, o acréscimo de benefício real de que o trabalhador usufruiu foi efectivamente mais reduzido do que o sugerido por aquela diferença.

1 Está taxa corresponde aproximadamente à verificada na cidade de Lisboa, entre 1953 e 1958, segundo os índices do custo de vida do Instituto Nacional de Estatística. A partir desta data, porém, os índices de custo de vida de Lisboa são ligeiramente mais acentuados, pois, enquanto naquele período o índice de Lisboa foi de 105,5 e o utilizado nos Contas Nacionais de 105,1, em 1964 os mesmos índices elevaram-se, respectivamente, para 120,8 e 115,8.
Deu-se preferência aos elementos das Contas Nacionais na medida era que, sendo de âmbito continental, em princípio deveriam traduzir com maior rigor a evolução do valor da moeda.
2 As taxas, depois de deflacionadas polo índice do custo de vida, baixaram para 3,17 no período do I Plano e para 5,88 no decurso do II Plano.

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1662-(140) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

GRÁFICO I

EVOLUÇÃO EM ÍNDICE DA PRODUTIVIDADE E DAS REMUNERAÇÕES NOMINAIS E REAIS NO PERÍODO E DO CUSTO DE VIDA DE 1953-1964

[Ver Gráfico na Imagem]

Outro aspecto que importa salientar é o facto de tanto a nível sectorial como distrital, a evolução das remunerações nominais ter sido de modo genérico suficiente para garantir o poder de compra real existente no início do período.

6. Os factores que, teoricamente, deverão constituir as determinantes fundamentais da evolução das remunerações são, por um lado, o custo de vida, que deverá estar na base da fixação do limite mínimo do aumento salarial, a fim de assegurar aos trabalhadores a manutenção do poder aquisitivo das suas remunerações e, por outro, a produtividade do trabalho, que se apresenta, actualmente, como o indicador mais apropriado para permitir avaliar qual o aumento do valor real das remunerações compatível com o ritmo de desenvolvimento económico processado. Note-se, porém, que, enquanto as evoluções do custo de vida e dos salários, em princípio, se poderão identificar, o mesmo não acontece com as evoluções da produtividade e dos salários, em relação às quais os objectivos de uma política de repartição podem impor ritmos diversos.
Admite-se, em geral, que uma das formas de repartir o acréscimo de rendimento resultante do desenvolvimento económico pelos factores que o originam - trabalho e capital -, sem afectar a estabilidade de preços, é pautar a evolução dos salários pela da produtividade, a fim de garantir a cada factor a parcela que, em proporção, lhe cabia anteriormente. É evidente, porém, que um procedimento deste género conduz, em princípio, à manutenção da repartição base já existente 1; por tal motivo, parece que só serão de considerar evoluções coincidentes das variáveis produtividade salários desde que a repartição base do rendimento se possa considerar satisfatória.
Quando a repartição base se processe em detrimento do factor trabalho, deverá procurar-se que os salários evoluam mais do que proporcionalmente em relação à produtividade, a fim de tornar mais equitativa a repartição funcional. Quanto ao equilíbrio dos preços, uma actuação deste género não deverá, em princípio, afectá-lo, pois incide apenas sobre os acréscimos de produtividade, isto é, sobre a riqueza criada.
Da observação do quadro XXXVIII conclui-se que, em média, a taxa de crescimento anual dos salários para a totalidade do período foi pràticamente idêntica à da produtividade (5,96 por cento no primeiro caso e 5,56 por canto no segundo), verificando-se essa semelhança tanto no decurso do primeiro período (4,46 por cento e 4,16 por cento, respectivamente) como no do segundo (7,47 por cento e 6,98 por cento). Apesar disso, vê-se pelo gráfico I que as curvas ajustadas aos valores nominais, pelo método dos mínimos quadrados, sugerem uma evolução da produtividade, no primeiro período, pràticamente coincidente com a dos salários, e, no segundo, um pouco inferior. A nível sectorial, verifica-se certo desajustamento entre as conclusões a que se chega através das taxas de crescimento apresentadas no quadro XXXVIII e as que se inferem da observação do gráfico II. As diferenças resultam do facto de as taxas serem calculadas com base nas médias dos dois anos extremos, enquanto as curvas mostram os desajustamentos anuais. Por esta razão, consideram-se os gráficos mais aptos para revelar como, ao longo do período, se repartiu entre os factores capital e trabalho o acréscimo do produto, pois, apesar de as taxas salariais e da produtividade serem baseadas na média dos dois anos extremos, elas nada revelam quanto ao facto de esse aumento se ter dado uniformemente ao longo do período ou apenas nos últimos anos 1.

1 A afirmação só é rigorosamente certa desde que a comparação seja estabelecida entre a produtividade e o montante global de salários. No caso de se comparar com a evolução das remunerações individuais, é provável que a parcela que venha a caber ao factor trabalho aumente na medida em que se eleve o número de trabalhadores.

1 Evidentemente que, numa óptica de repartição, tem importância o conhecimento desse facto, pois, se a evolução da produtividade tiver sido em vários anos mais acentuada que a dos salários, só se identificando, portanto, no fim do período, sem dúvida que a repartição se efectuou a favor do factor capital, o vice-versa. É o caso flagrante da electricidade, em que as taxas sugerem ter havido uma evolução paralela entre os salários e a produtividade, quando o gráfico II mostra que, efectivamente, a evolução desta última foi sempre superior, tendo-se apenas verificado uma aproximação no último ano.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(141)

QUADRO XXXVIII

Evolução da produtividade e das remunerações médias anuais, por divisões da actividade económica

Preços correntes

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Estatística Industrial; Estatística das Sociedades; Anuário Estatístico; Contas Nacionais; Orçamento Geral do Estado; Recolha de elementos sobre mão-de-obra relativa a Janeiro de 1965 e estimativas efectuadas pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.

Tomando para base as curvas evolutivas dos salários nominais e da produtividade para cada sector da actividade económica (gráfico II), verifica-se certa diversidade no comportamento das suas variáveis

GRÁFICO II

EVOLUÇÃO EM ÍNDICE DA PRODUTIVIDADE E DAS REMUNERAÇÕES NOMINAIS E REAIS POR ACTIVIDADE NO PERÍODO DE 1953-1964

[Ver Gráfico na Imagem]

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1662-(142) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

1 -INDÚSTRIAS EXTRACTIVAS

[Ver Gráfico na Imagem]

61 -COMÉRCIO

[Ver Gráfico na Imagem]

4-CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS

[Ver Gráfico na Imagem]

7 - TRANSPORTES, ARMAZENAGEM E COMUNICAÇÕES

[Ver Gráfico na Imagem]

2/3 - INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS

[Ver Gráfico na Imagem]

5 - ELECTRICIDADE, GÁS, ÁGUA E SERVIÇOS DE SANEAMENTO

[Ver Gráfico na Imagem]

8- Serviços

[Ver Gráfico na Imagem]

62/3/4 - BANCOS, SEGUROS E OPERAÇÕES SOBRE IMÓVEIS

[Ver Gráfico na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(143)

Depreende-se que:

Na pesca, na electricidade e nas indústrias transformadoras, a evolução da produtividade foi, ao longo de 1953-1964, superior, à dos salários nominais;
Nas indústrias extractivas, na agricultura e nos bancos, seguros e operações sobre imóveis l, pelo contrário, nota-se, ao longo do mesmo período, uma evolução da produtividade predominantemente inferior à dos salários nominais;
No comércio, nos serviços e nos transportes verificam-se, a partir de 1958-1959, evoluções mais ou menos opostas e, até certo ponto, complementares das existentes até essa data. As duas primeiras actividades, que registaram evolução da produtividade superior à dos salários no primeiro período, tiveram, no decurso do segundo, aumentos de salários superiores aos da produtividade, sobretudo no caso do comércio; nos transportes verificou-se o contrário;
Na construção, a produtividade, até 1963, teve crescimento inferior ao dos salários, registando-se apenas no último ano uma acentuada subida daquela em relação a estes.

QUADRO XXXIX

Evolução da produtividade e das remunerações médias anuais, por classes da indústria transformadora, segundo a amostra total da estatística industrial

Preços correntes

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Estatística Industrial.

Dentro das indústrias transformadoras, os sectores onde se verificou uma evolução da produtividade superior à dos salários foram, designadamente:

A1:

Têxteis.
Transformadoras diversas.
Produtos metálicos.

B1:

Papel.
Produtos minerais não metálicos.
Borracha.
Bebidas.
Tabacos.
Químicas.

C1:

Máquinas e material eléctrico.

7. Muito embora os factores que, teòricamente, devem condicionar a evolução das remunerações sejam, como já se salientou, os aumentos do custo de vida e da produtividade, sem dúvida que, na prática, um dos principais factores determinantes é a situação do mercado de trabalho. Com efeito, enquanto a evolução do custo de vida e, em parte, os aumentos de produtividade constituem instrumentos de uma política de rendimentos

1 Para facilitar, designar-se-á esta divisão apenas pela primeira expressão, ou seja, bancos.

1 A - actividades que, em 1963-1964, tinham remunerações anuais inferiores à média das indústrias transformadoras e que, simultaneamente, tiveram uma evolução da produtividade superior à dos salários no período de 1953-1964.
B - actividades nas condições de A, mas com níveis entre a média e mais 40 por cento dessa média.
C - actividades nas condições de A, mas com remunerações superiores a mais de 40 por cento da média.

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1662-(144) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

mais teóricos do que operacionais, dado que têm como utilidade principal aferir em que medida se concretizou a evolução desejável para se efectivar uma repartição equitativa, a situação do mercado de trabalho, deficitária ou excedentária, é factor com maiores repercussões práticas do que os anteriores, sendo certo que, por si só, é suficiente para desencadear uma reacção imediata da parte do empresário. Por um lado, a situação de escassez de mão-de-obra força o empresário a elevar as remunerações, a fim de obter o número de trabalhadores de que necessita; por outro, o facto de existir um mercado excedentário, não constituindo estímulo para a elevação dos salários, actua como elemento estabilizador ou retardador da evolução das remunerações, na medida em que pode anular ou reduzir a eficácia das providências tendentes a concretizar uma repartição equitativa de acordo com os indicadores enumerados l.
Deste modo, o equilíbrio do mercado de trabalho, tanto a nível sectorial como regional, constitui uma das condições básicas para permitir uma evolução das remune. rações compatível com os objectivos da repartição. Simultâneamente, deverá ter-se presente que o nível de salários tem, por sua vez, influência sobre esse mercado de trabalho, podendo até ser considerado como um dos factores que directamente o afectam, sendo certo que os altos salários constituem um pólo de atracção e as baixas remunerações uma causa dá fuga da mão-de-obra. Assim, a análise da influência dos vários tipos de desequilíbrio existentes nesse mercado sobre o nível salarial e vice-versa é necessária para determinar os tipos de correlações existentes entre os vários fenómenos e descobrir os meios eficazes para garantir a evolução das remunerações de acordo com as determinantes teóricas.
Apesar da importância evidente dessa análise, os dados estatísticos disponíveis não permitem, por ora, efectuá-la. Assim, far-se-á apenas o estudo da possível relação entre o nível e a evolução dos salários distritais e o respectivo volume de emigração.
A observação do quadro XLII revela que os distritos onde se verifica maior importância relativa do saldo líquido com o exterior, em relação à população total, foram, por ordem decrescente:

[Ver Tabela na Imagem]

Nestes distritos, que apresentam percentagens superiores à média aritmética para o continente (4,2 por cento), quando se observam os salários rurais e as remunerações não agrícolas que neles vigoravam em 1958-1959, ou seja no início do período em análise, verifica-se que, na sua maioria, tinham níveis do remuneração inferiores à média do continente. Constituem apenas excepção os distritos de Leiria, Aveiro e, no que diz respeito às actividades não agrícolas, o de Castelo Branco.

QUADRO XL

Percentagem da emigração total efectivada no período de 1958-1964 em relação à população total do distrito

Índices de remunerações e sua evolução

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Inclui o saldo líquido do movimento com o ultramar.

Fontes: Anuário Estatístico; Estatística Industrial; Estatística das Sociedades; Estimativas realizadas polo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.

No que se refere à evolução dos salários no período de 1958-1959 a 1963-1964, mostra-se também que, especìficamente no caso dos salários rurais, em todos os distritos enumerados se verificou taxa de crescimento anual superior à da média (8,94 por cento) 1, ao passo que em relação às remunerações não agrícolas apenas o distrito de Bragança teve evolução mais acentuada do que a observada para a média geral das remunerações, excluindo os serviços públicos (8,3 por cento).
Assim, os números parecem comprovar que um dos factores que ocasionaram a saída da mão-de-obra foi o nível salarial existente nos respectivos distritos, particularmente no que se refere ao sector agrícola. Por outro lado, essa saída de trabalhadores reflectiu-se sobretudo no nível dos salários rurais, intensificando o seu crescimento em ritmo superior ao da média geral.
Do exposto, pode inferir-se a necessidade de valorizar progressivamente o nível das remunerações, de acordo com a evolução da produtividade e do custo de vida, em ordem a obstar às repercussões negativas, tanto sob o ponto de vista social como económico, que, em geral, são inevitáveis quando as alterações salariais resultam de tensões existentes no mercado de mão-de-obra.

10. As convenções colectivas podem constituir poderoso instrumento coordenador da política salarial, desde que seja possível mante-las actualizadas em relação àquela política.

1 Note-se que, como já se salientou, também a própria evolução da produtividade pode ser considerada, na prática, como elemento dinamizador que conduz à elevação dos salários, na medida em que o empresário reconheça que esse aumento é um estímulo para a maior rentabilidade do trabalho e, portanto, gerador do novos aumentos de produtividade de cujos resultados ele próprio beneficiará.

1 Vide quadro XXVII.

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Na maioria dos países europeus, a via convencional é utilizada eficazmente para fixar as remunerações mais adequadas ao respectivo nível de desenvolvimento económico.
Em Portugal, o número de profissionais abrangidos por regulamentação convencional e normativa, segundo apuramentos provisórios, que se supõe pecarem por defeito, é de cerca de 900 000 trabalhadores (dos sectores da pesca, indústria e serviços). Este número representa cerca de 59 por cento dos empregados por conta de ou trem dos referidos sectores.
Não é possível dispor, por enquanto, de elementos estatísticos que elucidem sobre o desajustamento existente entro os níveis de salários convencionais e os efectivos, nem da sua possível repercussão no nível destes.
Apesar disso, deverá ter-se presente o facto, já salientado aquando da análise das remunerações segundo o grau de qualificação, de as diferenciações intersectoriais verificadas no pessoal administrativo e comercial serem das mais reduzidas.

§ 2.º Objectivos e medidas de política

11. A efectivação dos objectivos fundamentais fixados ao planeamento nacional no domínio da repartição do rendimento exige a formulação da um conjunto de orientações e medidas que assegurem, não só a justa remuneração do factor trabalho no seu conjunto, mas ainda a harmonização das estruturas salariais.
Deste modo, as actuações a desenvolver no período deste Plano de Fomento, no que se refere à política salarial, serão conduzidas com vista aos seguintes objectivos:

Elevar progressivamente a participação do trabalho no rendimento nacional, através da evolução dos salários;
Atenuar as assimetrias sectoriais, profissionais e regionais, a fim de garantir uma distribuição equitativa das remunerações.

12. A concretização destes objectivos torna necessário, designadamente:

A valorização dos salários, à medida que vá melhorando o nível de produtividade do trabalho e tendo ainda em conta o custo de vida, o nível de emprego e a necesidade de atenuar gradualmente as disparidades verificadas entre as diversas actividades e regiões. Para tanto, afigura-se conveniente definir metas de aumento de produtividade por sectores e adaptar medidas de carácter económico e tecnológico destinadas a permitir a esses sectores progresso económico compatível com a elevação do nível de vida dos seus trabalhadores. O estudo das diferenciações inter-regionais deve ser enquadrado no contexto do planeamento regional;
A intensificação das acções de formação profissional, de forma a tornar a mão-de-obra mais produtiva e a permitir o acesso do maior número possível de trabalhadores à categoria de especializados, sem prejuízo da fixação de um salário justo para os não qualificados;
A alteração gradual das estruturas qualitativas da mão-de-obra, nos sectores onde o número de não qualificados se afigure elevado, através da definição de quadros de densidade por categorias profissionais devidamente estudadas e fixadas de acordo com as características de cada sector;
O alargamento do âmbito sectorial e regional da regulamentação do trabalho, fomentando a celebração e actualização periódica das convenções colectivas, aperfeiçoando o sistema de negociação e estabelecendo o recurso à arbitragem nos casos em que se verificar ser impossível ou muito demorado o acordo entre as partes.

13. Para se alcançarem os objectivos anteriormente definidos, deverá encarar-se, no período do Plano, a adopção dás seguintes principais providências:

a) Ultimação pelo Serviço Nacional de Emprego da classificação nacional de profissões, para se assegurar base estável à fixação de remunerações mínimas de acordo com a função efectivamente exercida;
b) Definição de quadros de densidade, por categorias profissionais, de acordo com as características específicas de cada sector;
c) Progressiva execução do disposto no Decreto-Lei n.º 47 302, de 4 de Novembro de 1966, que estabelece a igualdade de remunerações para a mão-de-obra masculina e feminina, em identidade de tarefas e qualificações;
d) Intensificação do esforço que o Governo tem vindo a desenvolver no sentido de manter sempre actualizada a regulamentação salarial em vigor, alargando-se, na medida do possível, a sectores, regiões e categorias ainda não abrangidos.

SECÇÃO IV

Previdência social

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

a) As instituições e o seu âmbito

1. O sistema nacional de previdência apresenta estrutura diversificada. Efectivamente, de acordo com a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962 (Reforma da Previdência Social), as suas instituições agrupam-se em quatro categorias. Na primeira incluem-se às instituições de inscrição obrigatória, fundamentalmente destoadas a proteger os trabalhadores da actividade privada, as quais se classificam em:

a) Caixas sindicais de previdência, para os trabalhadores de conta de outrem do comércio, indústria e serviços;
b) Casas do Povo, para os trabalhadores rurais e equiparados;
c) Casas dos Pescadores, para os trabalhadores do sector da pesca.

À segunda categoria correspondem as caixas de reforma ou de previdência, considerando-se como tais as instituições de inscrição obrigatória das pessoas que, sem dependência de entidades patronais, exerçam determinadas profissões, serviços ou actividades.
Constituem a terceira categoria as associações de socorros mútuos, abrangendo as instituições de previdência de inscrição facultativa, capital indeterminado, duração indefinida e número ilimitado de sócios, tendo por base o auxílio recíproco.
Finalmente, pertencem à quarta categoria as instituições de previdência do funcionalismo público, civil ou

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militar, e demais pessoas ao serviço do Estado e dos corpos administrativos, criadas ao abrigo de diplomas especiais, das quais a mais importante é a Caixa Geral de Aposentações, de inscrição obrigatória.

2. Quanto às caixas sindicais de previdência, a Lei n.º 2115 admite três espécies:

a) Caixas de previdência e abono de família, destinadas à protecção dos beneficiários e seus familiares na doença e na maternidade e à concessão de abono de família;
b) Caixas de pensões, destinadas à protecção dos beneficiários ou seus familiares na invalidez, velhice e morte;
c) Caixas de seguros, destinadas à cobertura de riscos especiais, sempre que não seja aconselhável a inclusão de tais eventualidades nos esquemas de outras caixas sindicais.

As caixas de previdência e abono de família são organizadas em base regional, sem prejuízo da manutenção de caixas privativas de uma empresa ou grupos de empresas, ou de certo ramo de actividade económica.
O âmbito das caixas regionais de previdência e abono de família compreende as profissões exercidas pelos trabalhadores da respectiva área, e o das caixas de actividade ou empresa inclui o pessoal normalmente ao serviço das empresas interessadas.
As caixas de previdência e abono de família, nos termos da mesma lei, integram-se numa federação - a Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família -, destinada a coordenar a acção das instituições federadas, a representá-las nos acordos a celebrar com os serviços de saúde e as instituições ou estabelecimentos de assistência social e a efectuar a compensação financeira do seguro de doença.
A concessão de pensões aos beneficiários das caixas de previdência e abono de família incumbe a uma instituição de âmbito nacional - a Caixa Nacional de Pensões.
A Caixa Nacional de Pensões assegura um esquema de prestações comuns a todos os beneficiários das caixas de previdência e abono de família que nela devam ser inscritos, sem prejuízo do possível estabelecimento de esquemas superiores, com contabilidade própria, para os beneficiários de algumas daquelas caixas ou de certas categorias profissionais mediante a correspondente contribuição complementar.
Relativamente às caixas de seguros, destinadas à cobertura de riscos especiais, foi instituída pelo Decreto-Lei n.º 44 307, de 27 de Abril de 1962, a Caixa Nacional de Seguros de Doenças Profissionais, com regulamento aprovado por despacho ministerial de 28 de Março de 1963.
A esta Caixa incumbe assegurar a reparação das doenças profissionais, competindo-lhe especialmente:

a) Garantir a prestação de assistência médica e medicamentosa;
b) Conceder indemnizações por incapacidade temporária;
c) Pagar pensões por incapacidade permanente;
d) Pagar pensões de sobrevivência aos familiares das vítimas de doenças profissionais;
e) Colaborar com as entidades competentes na prevenção de doenças profissionais;
f) Promover, na medida das suas possibilidades, a readaptação profissional dos beneficiários e diligenciar no sentido da sua colocação em ocupações compatíveis com o seu estado de saúde e capacidade de trabalho.

Pelo Decreto-Lei n.º 46 813, de 30 de Dezembro de 1965, foi ainda constituída, na dependência do Ministério das Corporações e Previdência Social, mas fora da classificação das instituições de previdência prevista na Lei n.º 2115, a Caixa Central de Segurança Social dos Trabalhadores Migrantes, destinada a assegurar a aplicação das convenções e acordos internacionais sobre segurança social de que o Estado Português seja signatário. O estatuto desta Caixa foi aprovado por alvará de 30 de Dezembro de 1965 e entrou em vigor em 1 de Janeiro de 1966.

h) População abrangida

3. Embora, no seu conjunto, a população abrangida pela previdência social seja aquela que está a coberto das respectivas instituições de seguro obrigatório, para facilidade de apreciação será considerada apenas a população inscrita nas caixas sindicais de previdência e caixas de reforma ou previdência, segundo a classificação da Lei n.º 1884, de 16 de Março de 1935, a que correspondem, pràticamente, no actual esquema da Lei n.º 2115, as caixas sindicais de previdência.
Não será, portanto, incluída a população abrangida pelo seguro social dos servidores do Estado, nem pelas Casas do Povo e Casas dos Pescadores, nem pelas caixas de abono de família e associações de socorros mútuos 1.
Em todos os casos, os números referidos dizem apenas respeito aos beneficiários directos, com exclusão, portanto, dos respectivos familiares.
Acentua-se ainda que a definição da população abrangida pelas instituições de previdência interessa sob dois aspectos: a identificação do seu montante, conjuntamente com a respectiva evolução, e o seu confronto ou apreciação no contexto total da população activa metropolitana.

4. Segundo as estimativas efectuadas, a população activa nacional com profissão, na metrópole, não incluindo os isolados e os serviços domésticos, apresentou a seguinte evolução de 1960 a 1965:

1960 .................. 2 688 300
1961 .................. 2 648 500
1962 .................. 2 675 000

1 Segundo os dados estatísticos disponíveis, a população activa, com profissão, correspondente ao esquema de seguro do Estado, das Casas do Povo e das Casas dos Pescadores apresentou a seguinte evolução no período correspondente a 1960-1965:

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

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1963 ................ 2 701 000
1964 ................ 2 710 200
1965 ................(a) 2 697 700

(a) Por sectores e com referência ao período de 1960-1965, foi a seguinte a distribuição da população activa (não incluindo os isolados e os serviços domésticos):

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

A esta população activa correspondem nos mesmos anos os seguintes números de beneficiários identificados nas caixas sindicais de previdência e de reforma ou de previdência:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Caixas sindicais de providência e caixas de reforma ou de previdência.

Número de instituições, beneficiários e contribuintes em 31 de Dezembro de cada ano

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte : Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Do confronto destas duas séries de números, duas conclusões se podem tirar:

1.ª Enquanto a população activa nacional se manteve mais ou menos estacionária, a população coberta pela previdência aumentou cerca de 57 por cento;
2.ª Enquanto em 1960 a população abrangida pelas caixas sindicais e caixas de reformas ou de previdência correspondia apenas a cerca de 33 por cento da população activa, em 1965 essa percentagem elevou-se para 51 por cento.

Esclarece-se de novo não estarem a ser considerados os beneficiários quer da previdência estadual, quer das Casas do Povo, Casas dos Pescadores e caixas de abono, num total, em 1965, de mais de meio milhão de pessoas (589 000), número que, somado ao conjunto coberto pelas caixas, dará um total da ordem dos 2 milhões de pessoas, ou sejam 73 por cento da população activa. Daí a conclusão de que apenas cerca de um quarto da população activa (pràticamente toda ela rural.) não está a coberto do seguro social em algumas das suas modalidades.
No entanto, o que sobretudo se afigura de assinalar é o aumento da cobertura a cargo das caixas, que em cinco anos cresceu 57 por cento, passando de um total de 870 502 beneficiários para 1 377 927, número este que, adicionado aos beneficiários das caixas de abono do família ainda existentes (14 256, em 1965), dará o total de 1 392 183, o que representa 93 por cento da população activa exterior ao Estado, à agricultura e às pescas 1.
Do exposto conclui-se que as caixas de previdência nas suas diferentes modalidades estão prestes a cobrir a totalidade da população no sector do comércio, indústria e serviços, da qual. apenas faltava abranger, em 1965, cerca de 7 por cento, percentagem que possivelmente estará eliminada no início do III Plano se se mantiver o ritmo de crescimento daquelas instituições nos últimos anos.
Considerando-se pràticamente coberta pela previdência toda a população activa dos sectores que lhe estão confiados, chegou a altura de ponderar a possibilidade do alargamento daquela cobertura aos restantes sectores, designadamente os serviços domésticos e o sector agrícola, este último actualmente apenas abrangido em parte, pela acção de assistência e previdência das Casas do Povo. Acentuar-se-á, no entanto, que a dificuldade do alargamento do nosso seguro social em toda a sua plenitude não é apenas técnica, como por vezes se supõe, mas também económica.
Quanto à população já coberta pelas caixas de previdência, acrescentar-se-á que, sendo os números referidos apenas respeitantes aos beneficiários, isso significa que a população efectivamente abrangida por essas instituições deverá ser calculada adicionando àqueles números os dos respectivos familiares, o que, tudo somado, dá o total de 3 061 316 em 1965, contra 1 766 852 em 1960.

c) Esquemas de prestações

5. Nas suas linhas gerais, o esquema praticado pelas caixas de previdência pode subdividir-se, essencialmente, em dois grandes ramos: benefícios imediatos e benefícios diferidos. Compreendem-se nos primeiros os seguros de doença e maternidade e o abono de família e nos segundos, os seguros de invalidez, velhice e morte.
O seguro de doença concede subsídios pecuniários e prestações em espécie (assistência médica e medicamentosa). Era assim no domínio da Lei n.º 1884 e assim continuou a ser no regime da Lei n.º 2115.
Dentro deste quadro geral, algumas importantes inovações foram introduzidas pela reforma da previdência, designadamente no que se refere à for iria de calcular o subsídio pecuniário (cujo montante, mantendo-se em 60 por cento do salário médio, passou, no entanto, a ser calculado com base em remunerações mais actualizadas),

1 A população activa nacional com profissão, exterior ao Estado, à agricultura e às pescas, não incluindo os isolados e os serviços domésticos, apresentou, no período de 1960-1965, a seguinte evolução:

[Ver Tabela na Imagem]

(Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social).

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pelo que respeita ao alargamento do direito ao interna mento hospitalar (que actualmente já é concedido, para efeitos de cirurgia, a todos os beneficiários e familiares e em medicina geral aos beneficiários) e ainda no tocante à duração do período de espera (que de seis dias úteis passou para três dias), e ao prazo de concessão das prestações pecuniárias (que de 270 dias se elevou para 4 anos, após o que se converte em pensão de invalidez, sem limite de tempo preestabelecido).
No capítulo da doença, devem ainda ser referidas as inovações introduzidas no domínio da tuberculose, cuja assistência médica e medicamentosa deixou de ter limite de tempo (abrangendo o internamento em sanatório e o tratamento cirúrgico), tendo sido simultâneamente elevado o montante do subsídio pecuniário até ao máximo de 80 por cento do salário do trabalhador (contra 60 por cento na doença comum).
O seguro de maternidade recebeu igualmente importantes inovações, das quais as mais importantes são a autonomização da maternidade em relação à doença e a concessão às parturientes de um subsídio pecuniário equivalente a 100 por cento do salário durante um período que poderá ir até 60 dias (anteriormente esse subsídio era pago pelas entidades patronais e tinha duração muito menor).
Finalmente, quanto ao abono de família, alargou-se o conceito de coabitação para efeitos da sua concessão, e mais recentemente abandonaram-se os escalões de 40$ e 60$, passando o mínimo para 80$.
Além do abono de família, pelo novo regime da previdência passaram também a ser concedidos, de forma generalizada, subsídios de casamento, nascimento, aleitação e funeral, em condições mais vantajosas do que no regime anterior.
Relativamente aos benefícios diferidos, apontam-se como melhorias mais importantes as introduzidas na duração do prazo de garantia e na forma de cálculo das pensões de invalidez (em que os 80 por cento do salário médio geral foram acrescidos de 10 por cento do salário médio dos dez anos de maiores vencimentos), melhorias extensivas às pensões de reforma, merecendo ainda ser citada, de modo especial, a inovação introduzida quanto à possível revisão das pensões em função do custo de vida, à sombra da qual já se procedeu à primeira actualização.
Quanto ao seguro por morte, os aperfeiçoamentos introduzidos pela reforma da previdência são essencialmente de três ordens: alargamento do círculo das pensões beneficiadas com o direito ao subsídio por morte, aumento do seu montante (em geral seis meses de salário) e criação do seguro de sobrevivência, este último, no entanto, dependente de fixação em convenção colectiva.

d) Evolução das receitas e despesas

6. O regime financeiro da previdência social portuguesa, depois de ter sido de capitalização, pode hoje caracterizar-se, por força das alterações introduzidas pela reforma, como de repartição mitigada.
A demonstrá-lo basta o simples facto de a taxa de contribuição para pensões ter baixado de 7 por cento, antes da reforma, para 4,5 por cento presentemente, o que só por si permitiu já lançar no circuito da redistribuição mais 400 000 contos, sem os quais certamente muitas das inovações introduzidas no esquema não teriam sido possíveis. Lembra-se que só o custo do internamento hospitalar, concedido aos beneficiários e seus familiares, deve ultrapassar, quando completo, 200 000 contos anuais.
O que acaba de dizer-se é comprovado pela evolução, nestes últimos anos, da relação existente entre as despesas e as receitas gobais das instituições, pois que, enquanto aquelas absorviam apenas 54,6 por cento destas em 1960, as despesas passaram a representar, em 1965, 67 por cento das receitas, incluindo nestas os rendimentos das reservas actuariais. Isto é, a absorção das receitas pelas despesas teve uma mais-valia de 12,4 por cento em cinco anos. Esta evolução tende a acentuar-se, pois só agora algumas das inovações apontadas (como, por exemplo, o internamento hospitalar) começam a ter repercussão financeira 1.
Igual demonstração poderia obter-se a partir da evolução percentual das capitações das receitas e das despesas, visto que, enquanto as capitações das receitas (dividindo a totalidade das receitas pelo número médio de beneficiários) aumentaram de 1960 a 1965 apenas 24 por cento, as capitações das despesas com prestações (obtidas pelo mesmo processo), cresceram, no mesmo período, 55 por cento, isto é, mais do dobro daquelas 2.
No mesmo espaço de tempo, enquanto as receitas totais subiram 87 por cento, as despesas com prestações experimentaram, a elevação de 134 por cento 3.
Por outro lado, ao passo que o índice de crescimento da capitação das receitas nos últimos três anos apenas aumentou dois pontos, tendo-se mantido estacionário nos anos de 1964-1965, o índice da capitação das despesas ao mesmo período subiu vinte pontos, evolução que continua actualmente a verificar-se.

1 Foi a seguinte a evolução operada (a):

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

2 A evolução das capitações das receitas e das despesas com prestações, em percentagens, foi a seguinte (a):

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

3 Índices de crescimento das receitas e das despesas (caixas sindicais de previdência, caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência - Serviços Médico-Sociais) (a):

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

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Julga-se ter interesse para apreciação do sistema seguido entre nós a decomposição das verbas que integram a receita e a despesa.
Quanto à despesa, a sua repartição é feita essencialmente pelas seguintes rubricas: pensões, subsídios (doença, maternidade, tuberculose, morte, abono e prestações complementares e subsídios de assistência), além das prestações não pecuniárias, da administração e outras (comparticipação para a Federação de Caixas de Previdência - Obras Sociais, etc.).

Distribuição percentual das diferentes rubricas da despesa em cada ano, de 1960 a 1965

Caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência - Serviços Médico-Sociais

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Valores obtidos a partir dos números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, deduzindo a «Outras despesas» as importâncias transferidas para outras caixas ou para outros fundos da própria caixa, bem como as quotas para os Serviços Médico-Sociais.

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Despesas (em contos) das caixas de previdência e Federação de Caixas de Previdência - Serviços Médico-Sociais

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Valores obtidos a partir dos números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, deduzindo a «Outras despesas» as importâncias transferidas para outras caixas ou para outros fundos da própria caixa, bem como as quotas para os Serviços Médico-Sociais.

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Despesas de 1965 (a)

Discriminadas por modalidades

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos servidos do Ministério das Corporações e Previdência Social.

A partir dos números referidos, verifica-se ter crescido a percentagem da verba correspondente às pensões no conjunto das despesas, o que não surpreende se se atender ao envelhecimento natural das instituições e, consequentemente, ao aumento do número de beneficiários que vão atingindo a idade de reforma, bem como à política seguida de melhoria de pensões e de estabelecimento de pensões mínimas para a invalidez e velhice.
Tem-se mantido pràticamente estacionária a percentagem das prestações não pecuniárias, o que se explica, em face do aumento global das despesas, pelo crescimento proporcional, já referido, das prestações no sector da assis-

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tência médica e medicamentosa; e tem decrescido o valor relativo das despesas de administração e dos subsídios pecuniários, o que igualmente se justifica, em grande parte, pelo aumento das restantes rubricas.
Quanto às despesas de administração, verifica-se que a sua capitação tem diminuído nos últimos três anos, ao contrário do que sucede com a evolução das restantes despesas.
Procedendo agora de igual modo quanto às receitas, começa-se também por referir que estas se encontram repartidas por três rubricas fundamentais: «Contribuições», «Rendimentos dos capitais acumulados» e «Subsídios e outras receitas».

Distribuição percentual das rubricas da receita em cada ano de 1960 a 1965

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Evolução das receitas (em contos) no período considerado (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Deduziram-se as importâncias transferidas de outras caixas ou outros fundos da Caixa, liem como os subsídios do Fundo Nacional do Abono de Família.

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Analisando os números precedentes, tal como se fez para a despesa, conclui-se que, no seu conjunto, a responsabilidade relativa do cada uma das rubricas da receita se tem mantido estável, apenas com ligeiro aumento da posição relativa das contribuições em relação aos rendimentos (a percentagem das contribuições dentro das receitas globais elevou-se de 79 por cento para 80 por cento, entre 1061 e 1965, e os rendimentos baixaram de 15 porcento para 14 por cento), sem dúvida devido ao aumento entretanto verificado nas retribuições salariais, já que, como adiante se verá, a percentagem da taxa líquida dos rendimentos tem-se conservado estacionária (4 por cento).

e) Capitalização de valores

7. Corno é sabido, existem sobre o regime financeiro do seguro social duas orientações fundamentais: o sistema de repartição e o sistema de capitalização. Em termos muito simples, pode dizer-se que, pelo primeiro, se pretende que todas as verbas recebidas através das contribuições, sejam imediatamente distribuídas em benefícios; de acordo com o segundo, pelo menos durante certo período, uma parte dessas verbas deve ser capitalizada, com o fundamento de que, aumentando durante bastante tempo os encargos com os benefícios (sobretudo à medida que vão passando à reforma os trabalhadores activos), seguir desde o início o sistema da repartição significa ter de aumentar constantemente, até ao ponto de estabilização, as contribuições pagas para o seguro. Este inconveniente evitar-se-á, podendo manter-se estáveis as contribuições, se uma parte destas, durante certo período, mais ou menos longo, forem acumuladas, para mais tarde e progressivamente irem atendendo, com os seus rendimentos, ao aumento das despesas.
A estas razões de pura técnica financeira acrescentam ainda os partidários da capitalização outras, designadamente a necessidade que há de constituir reservas como medida cautelar de administração contra o risco eventual de um aumento anormal e inesperado das despesas e, ainda, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, a possibilidade que tal capitalização oferece de mobilizar poupanças susceptíveis de aumentarem os capitais disponíveis (o que, por sua vez, pode sor fonte de novos rendimentos).
Contra o sistema da capitalização, por seu turno, costumam os técnicos apontar, essencialmente, dois argumentos: a dificuldade de administração dos capitais acumulados (o que implica a existência de pesada máquina administrativa) e a inevitável desvalorização da moeda (pondo em risco o valor real das reservas constituídas).
O sistema português, tendo começado por adoptar, como se disse, o regime da capitalização, aceita hoje, em grande medida, a técnica da repartição, lançando verbas cada vez maiores das suas receitas no circuito das despesas. Foram, já apontados os aspectos pelos quais mais se evidencia essa orientação, designadamente a baixa da taxa de contribuição para pensões, de 7 por cento para 4,5 por cento, e o alargamento de esquemas de benefícios, provocando o constante crescimento da percentagem das receitas absorvidas pelas despesas com prestações, que nos últimos cinco anos subiu cerca de 25 por cento, com tendência para continuar.
Em paralelismo com essa orientação, tornada possível, de resto, em virtude da acumulação de valores verificada até hoje (os rendimentos têm facilitado o alargamento dos esquemas de benefícios sem um equivalente aumento das contribuições), outras providências têm sido também adoptadas para mitigar os inconvenientes apontados ao sistema da capitalização.
Assim, pelo que respeita aos encargos com a administração dos capitais acumulados, atenuou-se o seu montante, mercê da natureza dos valores escolhidos para os investimentos, concentrados geralmente em títulos de fácil gerência (como e o caso dos títulos do Estado). A melhor prova de que assim tem acontecido demonstra-o a diminuição acima referida das capitações das despesas

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de administração, não obstante o aumento verificado nos valoras entretanto capitalizados (cerca de 66 por cento em cinco anos).
Por outro lado, tem-se igualmente procurado assegurar, quer a rentabilidade dos capitais acumulados, quer a estabilidade do seu real valor contra a eventual desvalorização da moeda. Quanto à rentabilidade, a demonstração do que acaba de ser dito resulta do facto de se ter mantido absolutamente estacionária, desde 1961 a 1965, a taxa de rendimento dos capitais da previdência, equivalente ao juro de 4. por cento líquido durante todo esse período, o que é, sem dúvida, notável se se atender à massa de bens capitalizados, cerca de 15 839 000 contos. Melhor ainda se apreciará o alcance dessa taxa se se disser que tem sido exclusivamente com os rendimentos dos capitais acumulados (e sem recorrer, portanto, a outras receitas) que foram pagas, até 1964, as pensões de reforma e invalidez, como se poderá ver no quadro seguinte:

Rendimento tios capitais e pensões (em contos) (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos fornecidos pelos servidos do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Apenas no ano de 1965 começou o montante das despesas com as pensões a ultrapassar o rendimento dos bens acumulados, exigindo comparticipação, para o efeito, das próprias contribuições e, consequentemente, redução da capitalização.
Além da garantia da rentabilidade, importa pôr os capitais acumulados a coberto da desvalorização da moeda, risco que constitui, sem dúvida, o maior inconveniente apontado ao sistema de capitalização, já que aquela desvalorização é pràticamente inevitável, provocando a depreciação dos capitais imobilizados.
Entre nós pode dizer-se que esse risco se tem verificado em muito pequena escala, dada a natureza dos investimentos feitos (em que participam capitais de rendimento variável) e a estabilidade que tem caracterizado a nossa moeda. Atendendo, no entanto, a que, mesmo assim, dado o grande volume de certificados tomados ao Estado, de rendimento fixo, algum risco existe, a questão está a ser considerada, e encontra-se em estudo a adopção de medidas susceptíveis de anular tal perigo quanto aos valores acumulados em certificados especiais, procurando garantir a sua revalorização permanente contra a eventual desvalorização monetária. Além disso, deve referir-se o aumento, já estabelecido, de 4 para 5 por cento, da taxa de juro praticada pelo Estado para com os dinheiros tornados à previdência.
Deixa assim de existir pràticamente um dos mais graves problemas da administração financeira da previdência, como era o dos investimentos dos respectivos capitais, para os quais se tem de exigir sempre a maior segurança. E tão grande era essa preocupação que toda a política dos investimentos tem sido superiormente orientada pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, a quem apenas é lícito autorizar a efectivação das aplicações que ofereçam as necessárias garantias e apresentem relevante interesse para a economia nacional. Daí também, a marcada preferência que de há muito vinha a manifestar-se pelos investimentos de rendimento fixo (e como tal garantido), já que pela sua natureza os capitais da previdência não devem, ser envolvidos em operações de índole especulativa.
Além da estabilidade dos rendimentos e da garantia contra a desvalorização, à administração dos bens da previdência depara-se ainda outro problema, que, tanto quanto possível, tem de ser conciliado com o primeiro: trata-se da natureza dos investimentos realizados, que devem, por um lado (sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, como o nosso), procurar impulsionar o progresso económico, provocando assim o aumento da riqueza útil, e, por outro lado, atender também a objectivos sociais. Daí que, uma vez assegurada a sua rentabilidade, valor primacial a defender, pois sobre ele assenta o desenvolvimento de todo o seguro, são em geral os capitais disponíveis canalizados para investimentos de carácter económico e social.
Como é natural, também assim se tem procedido entre nós, mercê, principalmente, da participação dos capitais da previdência na execução dos Planos de Fomento (directamente ou por intermédio dos certificados tomados ao Estado) e dos investimentos no domínio da habitação económica. Sobre o primeiro aspecto basta dizer que, dos valores acumulados pela previdência no sexénio correspondente ao II Plano de Fomento (1958-1964), 35 por cento destinaram-se directamente ao desenvolvimento económico (cerca de 6 641 000 contos).
Pelo que respeita, por sua vez, aos investimentos em habitações de carácter social, a evolução operada no período considerado revela-nos que, em relação às três rubricas fundamentais (casas económicas, casas de renda económica e empréstimos para construção, aquisição ou beneficiação de moradias), o montante investido subiu de 600 752 contos, em 1960, para 1 546 162, em 1965, ou seja um acréscimo da ordem dos 157 por cento. Esta percentagem elevar-se-á ainda mais se for tomado já em consideração o ano de 1966, no fim do qual os montantes investidos nas diferentes modalidades acima referidas passaram a ser os seguintes (incluindo os fogos em construção) 1:

Contos

Casas económicas (construídas com
capitais da previdência) ........... 505 601
Casas de renda económica ........... 1 255 735
Empréstimos ........................ 877 270
2 638 606

Melhor se compreenderá a evolução operada neste aspecto dos investimentos em habitações de carácter social, se se analisarem os correspondentes valores em percentagem, no conjunto total investido em imóveis durante o período considerado. É o que ressalta dos quadros que seguem.

1 Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

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Investimentos e financiamentos em imóveis no final de cada um dos anos

(Em contos)

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Percentagem dos investimentos em imóveis

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos fornecidos pelos serviços do Ministério das Corporações e Previdência Social.

Transparece deste último quadro que, enquanto a percentagem, de valores investidos em imóveis de renda livre (de que não foram feitas quaisquer aquisições praticamente desde 1962), baixou entre 1960 e 1965 de 39,1 por cento para 21,8 por cento do conjunto, a percentagem dos valores investidos em casas de renda económica, casas económicas e empréstimos subiu, entre 1960 e 1965, de 55 para 73,7 por cento.
A igual resultado se chega se se confrontar a percentagem dos valores investidos em habitações de carácter económico sobre os valores totais da previdência em 1960-1965, o que mostra estarem em 1960 investidos em habitações económicas cerca de 6 por cento daqueles valores, percentagem que subiu para perto de 10 por cento em 1965.

Valores acumulados em 31 de Dezembro de cada ano e investimentos em habitações económicas

(em contos)

[Ver Tabela na Imagem]

f) Casas do Povo

8. As Casas do Povo, como instituições de previdência, destinam-se a proteger os trabalhadores rurais e equiparados. O alargamento da previdência social aos meios rurais apresenta-se particularmente difícil, encontrando-se em estudo adiantado, na Comissão de Política Social Rural, um sistema adequado de previdência para os rurais.

Casas do Povo

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Estatística da Organização Corporativa e Previdência Social.

Em 1960, o número dos beneficiários das Casas do Povo representava 19 por cento do total da população activa agrícola, tendo essa percentagem, em 1965, subido para 22 por cento.
As receitas arrecadadas provêm da quotização dos trabalhadores e dos produtores agrícolas, de taxas sobre produtos, de recursos próprios e de contribuição anual do Fundo de Desemprego. Em 1965, 47 por cento do total das receitas provieram das quotizações, e 18 por cento dos rendimentos de bens próprios.
Por despacho ministerial de Novembro de 1962, o Fundo Nacional do Abono de Família comparticipa com a verba anual de 15 000 contos para a Federação das Casas do Povo, a aplicar em benefícios dirigidos à defesa da família.
A legislação posterior a 1963 veio abrir melhores perspectivas quanto ao enquadramento dos sócios das Casas do Povo no regime das caixas regionais de previdência e da Caixa Nacional de Pensões.

g) Casas dos Pescadores

9. As Casas dos Pescadores são, como as Casas do Povo, simultâneamente organismos corporativos e insti-

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tuições de previdência, mas abrangem toda a população do sector respectivo.

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Estatística cia Organização Corporativa o Providência Social.

As receitas provêm das quotizações dos sócios, subsídios dos organismos representativos das empresas de pesca, produto de quinhões ou partes de pesca e subsídios do Ministério da Marinha para uns de previdência.
O esquema de eventualidades e prestações seguido pelas Casas dos Pescadores atribui direito a subsídios nas doenças de curta duração (incluindo prestações sanitárias), por nascimento de filhos ou por morte.
A cargo da Junta Central das Casas dos Pescadores encontram-se as modalidades de abono de família e pensões de reforma, beneficiando da primeira os trabalhadores da pesca do bacalhau, arrasto, atum e cetáceos e, da segunda, os trabalhadores da pesca do bacalhau e do arrasto.
A Junta Central tem promovido o desenvolvimento dos serviços e actividades de assistência e acção social aos trabalhadores da pesca, mercê da aplicação das suas receitas próprias.
A legislação posterior a 1963 veio, também neste domínio, abrir novas perspectivas no que respeita à possibilidade de inclusão dos sócios das Casas dos Pescadores no regime das caixas regionais de previdência e abono de família e da Caixa Nacional de Pensões.

h) Previdência Social dos Funcionários Públicos

10. Quanto à previdência social dos funcionários públicos, cujas instituições são classificadas na Lei n.º 2115 como instituições de previdência da 4.ª categoria, existem algumas diferenças no seu esquema de benefícios, em comparação corri os atribuídos aos trabalhadores da actividade privada.
As prestações generalizadas são a pensão de reforma, a protecção na tuberculose e o abono de família.
Quanto à assistência na doença - para além do caso especial das vítimas de tuberculose, que é objecto de regulamentação especial e generalizada a todos os servidores do Estado -, o Decreto-Lei n.º 45 002, de 27 de Abril de 1963, previu um esquema geral de assistência médica.
Encontra-se, contudo, restrito, por ora, aos casos de assistência cirúrgica, com exclusão dos funcionários que pertencem a serviços com autonomia administrativa e financeira, cuja inscrição está dependente de acordos a realizar com o Ministério das Finanças. A extensão parcial ou total do esquema previsto naquele diploma aos familiares depende ainda de autorização.
De benefícios mais amplos dispõem os funcionários de organismos do Estado onde existem serviços sociais, como acontece já em vários Ministérios.

§ 2.º Objectivos e medidas de política

11. De acordo com a actual situação do sistema português de segurança social e os progressos verificados nos anos recentes, estabelecem-se os seguintes objectivos para o III Plano, neste domínio:

Alargamento gradual da previdência a todos os trabalhadores ainda não abrangidos;
Melhoria progressiva dos esquemas de eventualidades e prestações dentro dos princípios que orientam a reforma da previdência;
Reforço efectivo das finalidades de natureza social nos esquemas de aplicação das poupanças acumuladas.

A concretização destas finalidades exigirá estudos programáticos cuidados, assentes no conhecimento actualizado das contas das instituições de previdência de todas as categorias e dos reflexos, a curto e médio prazos, das políticas orientadoras das aplicações de capitais.

12. Com vista à concretização destes objectivos e considerando que a previdência social portuguesa cobre a quase totalidade da população activa exterior ao Estado, à agricultura e às pescas (cerca de 3 100 000 pessoas), tomar-se-ão, no decurso do Plano, as seguintes medidas de política:

Enquadramento progressivo da população rural num regime de previdência através das Casas do Povo.
A Comissão de Política Social Rural efectuará o estudo relativo às condições específicas que hão-de regular este enquadramento; dada a natureza dos regimes de trabalho (carácter estacionai e mudança frequente de entidade patronal);
Enquadramento do funcionalismo público que desconta para a Caixa Geral de Aposentações num regime de previdência com um esquema mais amplo e mais aperfeiçoado;
Revisão do Decreto-Lei n.º 44 506, de 10 de Agosto de 1962, relativo à concessão de subsídios de desemprego, nomeadamente no que se refere ao seu campo de aplicação;
Formulação de directrizes concretas para que na aplicação das poupanças se atenda predominantemente a critérios de natureza social, e em especial à construção de habitações económicas;
Gradual normalização das contas anuais e estatísticas correntes das diversas instituições de previdência, que deverão ser publicadas com o grau de clareza e discriminação requerido pelos estudos relativos ao sector.

CAPÍTULO V

Produtividade

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. O desenvolvimento industrial e, pode dizer-se, a expansão da economia portuguesa assentou, em grande parte, até há poucos anos, na disponibilidade de volumes consideráveis de mão-de-obra e de baixas remunerações

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médias, a par do proteccionismo alfandegário, o que garantia poder concorrencial a parcela apreciável das nossas empresas.
O recurso ao mercado de capitais para a realização dos investimentos era ainda limitado, a mentalidade empresarial aberta ao risco mostrava-se, salvo casos excepcionais, em estado incipiente, a tecnologia das actividades produtivas internas só limitadamente acompanhava o avanço que em muitos sectores caracterizava a evolução das congéneres estrangeiras.
A situação presente mostra já apreciáveis progressos em relação a este conjunto de factores, mas começa a verificar-se um elemento novo: a progressiva escassez de certas categorias de mão-de-obra especializada e até, por vezes, a rarefacção de trabalhadores não especializados.
Concorrem para este fenómeno razões apontadas em diversos capítulos do Plano, mas importa aqui salientar que, a persistir a carência de profissionais qualificados perante as necessidades da economia nacional, concomitantemente à disparidade dos salários médios praticados no continente e ilhas em relação aos dos países industrializados da Europa ocidental, não poderiam deixar de agravar-se os problemas ligados ao emprego.
É neste contexto que adquire particular relevo a problemática da produtividade, entendida como resultado de uma pluralidade de acções sobre a qualidade e o volume dos factores da produção, elemento de avaliação muito concreto do estádio de desenvolvimento atingido por determinada estrutura produtiva.
Esta visão geral do problema não deve fazer esquecer as dificuldades sentidas em múltiplos sectores da actividade económica e que conferem aos temas de produtividade toda a sua ressonância actual. De facto, o processo de desenvolvimento económico do País tem-se traduzido em ritmos de evolução diferenciados para os vários sectores produtivos, havendo alguns que manifestam autêntica função motora, em relação ao andamento do conjunto da economia e outros que se limitam a um crescimento lento, como se evidencia nos correspondentes capítulos sectoriais.
Ora, se, em relação às actividades que se encontram enquadradas em processos de crescimento rápido, poderá esperar-se razoável conhecimento e aplicação prática das tecnologias mais avançadas, já no que respeita a actividades tradicionais (muitos sectores industriais e dos serviços, grande parte do sector agrícola) tal expectativa não se verifica, notando-se, pelo contrário, lenta adequação das estruturas de produção às necessidades decorrentes da abertura dos mercados nacionais à concorrência dos produtos do exterior.
Evidencia-se, pois, a urgência de obter largos ganhos de produtividade em quase todos os sectores, quer eles se destinem a defender condições de competitividade já existentes, quer a criá-las nas actividades onde ainda não existam.
De acordo com estudo recentemente elaborado pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial, verificou-se aceleração do ritmo de acréscimo da produtividade do trabalho entre o período de 1953-1959, durante o qual o seu crescimento se processou à taxa média de 3,7 por cento, e o de 1959-1964, no qual se registou uma taxa de 6 por cento.
Se os resultados para o conjunto da actividade económica se situam, assim, em boa posição, sob o ponto de vista dos ritmos de crescimento comparados com os de outros países, já a situação se revela diferente quando se procede à desagregação dos elementos globais do produto e do emprego pelos três grandes sectores da divisão tradicional.
Enquanto no secundário e terciário se definem taxas de evolução de produtividade bastante satisfatórias (nos dois períodos citados foram, respectivamente, de 4,2 e 6,9 por cento para as actividades industriais e de 4,2 e 4,5 por cento para os serviços), no primário os ritmos de crescimento são claramente menores (1,1 e 3,7 por cento nos mesmos períodos), devendo salientar-se que resultaram mais do êxodo rural do que de melhorias na capacidade técnica e gestão administrativa das empresas agrícolas. Daí o especial cuidado que o sector da agricultura merece a este III Plano, como se dirá no capítulo respectivo.
Resulta do exposto ser imperativo do Plano dedicar especial atenção ao acréscimo de eficiência produtiva que possibilite rápida melhoria do nível de vida da população nacional e condições de competitividade às actividades económicas internas perante a crescente concorrência que defrontam.

2. A obtenção desses acréscimos de eficiência pressupõe o preenchimento de determinado número de funções, das quais cumpre salientar as de investigação pura e aplicada, organização racional da produção e distribuição, formação de mão-de-obra a todos os níveis e aquisição dos equipamentos materiais requeridos por tecnologias rapidamente mutáveis.
A importância decisiva que tem o atingir níveis elevados de instrução de base e técnica, em paralelo com a necessidade de conferir às tarefas de investigação meios suficientes para a obtenção de rápidas inovações, são problemas versados em capítulo próprio do Plano.
Mas convém aqui chamar a atenção para o alto valor da correlação obtida cotejando os níveis de produtividade definidos para o conjunto da actividade económica com o número médio de anos de estudo da população activa em diversos países. Estudo recente, realizado pela Direcção de Serviços Científicos da O. C. D. E., evidencia que o número médio de anos de estudo efectivo da mão-de-obra varia, por exemplo, entre oito a dez anos em países industrializados, como os Estados Unidos, a Noruega, a Inglaterra, o Japão e a França, e entre três a quatro anos em países de grau médio de desenvolvimento, como o Peru, a Jugoslávia e o Equador.
Outro estudo da O. C. D. E. comprova, de igual modo, o carácter necessário da ligação entre o esforço de investigação e a obtenção de ritmos apreciáveis de desenvolvimento económico. Assim, se se relacionarem as despesas de investigação e desenvolvimento l, calculadas em percentagem do produto nacional bruto, com a capitação por habitante desse mesmo produto em anos correspondentes, observa-se paralelismo muito estreito, com elevado coeficiente de correlação.
Deve, pois, concluir-se não ser possível proporcionar às actividades económicas nacionais o ritmo de desenvolvimento de que urgentemente necessitam sem proceder a esforços vultosos e persistentes no domínio da investigação pura e aplicada. Aliás, o facto torna-se muito claro quando se pensa que o nosso desenvolvimento económico assentará, sobretudo, no efeito motor de alguns sectores mais dinâmicos, já existentes ou a criar, e que estes são, por natureza, exigentes em matéria de recursos orientados para a investigação. Tal é o caso, por exemplo, das indús-

1 Incluem as despesas correntes e de capital para a investigação e desenvolvimento realizadas no interior de um dado país, mós excluem as referentes às actividades científicas sem carácter de investigação, como a documentação, a compilação estatística, a formação profissional da mão-de-obra, a realização de testes, etc., e a investigação nas ciências sociais e nas letras.

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trias electrónicas, de construções eléctricas, químicas, de construção de máquinas e de material de transporte, comparadas com as nossas indústrias têxteis ou alimentares, que representam ainda grande parte da estrutura industrial portuguesa.

3. Se se pretender sintetizai: o complexo dos problemas que estão na base dos níveis de produtividade verificados em Portugal, encontraremos duas categorias de questões: a primeira referente a deficiências de informação e de investigação no domínio das técnicas de produtividade; a segunda ligada a omissões ou a insuficiências de acções neste domínio, tanto por falta de meios financeiros como pela não convergência dos objectivos prosseguidos e dos processos utilizados nas iniciativas que tiveram lugar até aqui.
O tratamento, com alguma intensidade e amplitude, das questões de produtividade do nosso país iniciou-se em 1959, tendo sido a partir dessa época lançadas pelo Estado, através do Instituto Nacional de Investigação Industrial (I. N. I. I.), numerosas acções de informação e de formação de dirigentes e quadros, não só na indústria, mas também em muitas outras actividades nacionais.
Desse esforço concertado tendente a estabelecer um sistema permanente de iniciação, aperfeiçoamento. e reciclagem em diversas técnicas, nomeadamente de organização, gestão e administração de empresas e serviços para dirigentes e quadros, superiores, merecem ser mencionadas algumas iniciativas que o Instituto desenvolveu por si ou em colaboração com outras entidades:

Realização de dois ciclos de conferências sobre produtividade e planeamento, que tiveram lugar em 1960 e 1961, nas Escolas Superiores de Engenharia e Economia e nas Associações Industriais de Lisboa e Porto;
Organização, desde Outubro de 1960 até Dezembro de 1966, de 250 cursos sobre ternas de interesse directo para o incremento da produtividade, em que participaram mais de 5000 dirigentes e quadros empresariais;
Realização de dois cursos pós-universitários de direcção, gestão e organização de empresas, em Lisboa e Porto, e onze séries de sessões de informação sobre modernas técnicas de direcção e gestão de empresas, nas Faculdades de Engenharia e Economia do Porto e nos Institutos Superiores Técnico, de Ciências Económicas e Financeiras e de Ciências Sociais e Política Ultramarina;
Organização de três debates para o progresso técnico, realizados em. Lisboa, Porto e Marinha Grande, com uma assistência total de mais de 500 industriais;
Organização de cinco estágios em França sobre técnicas de produtividade, com a duração de quatro a seis meses e o apoio da Embaixada da França e da Association pour l'Organisation des Stages en France.

No domínio da promoção e assistência técnica, têm-se efectuado diligências constantes junto de serviços, empresas, organismos profissionais o outros com vista a interessá-los em acções de produtividade, e promoveram-se colóquios e missões de produtividade ao estrangeiro nas indústrias do serração de madeiras, cerâmica (barro vermelho) e construção civil, em colaboração com os respectivos grémios, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e Direcção-Geral dos Serviços Industriais.
Tem-se também realizado o diagnóstico e a solução de problemas particulares em algumas dezenas de empresas industriais, nomeadamente no aspecto de organização geral, organização da produção e selecção do pessoal, e apoiado grupos de estudo e de auto-organização constituídos por dirigentes e técnicos de empresas e serviços, tendo ainda o I. N. I. I. procedido à distribuição de bibliografia e informação sobre temas de produtividade.
No domínio dos estudos deve referir-se a realização de espectrogramas industriais (conservas de sardinha, fiação de algodão e serração de madeiras), medidas directas e indirectas de produtividade (na indústria de fiação e tecelagem de algodão e na indústria de fundição) à escala nacional e sectorial, e de dois estudos de natureza psicossociológica sobre «Razões do abandono da vida agrícola e dificuldades de adaptação do trabalhador de origem rural ao meio industrial e urbano» e «O aprendiz no meio industrial português».
Ainda no âmbito da Secretaria de Estado da Indústria, funciona, desde 11 de Outubro de 1965, o Grupo de Estudos de Produtividade Administrativa (G. E. P. A.), que tem desenvolvido diversas actividades em colaboração com o Gabinete de Organização e Métodos do Ministério das Obras Públicas (O. M. O. P.), designadamente a realização de dois colóquios para directores-gerais em Julho de 1965 e Novembro de 1966, com 40 participantes, e um primeiro curso do formação sobre produtividade administrativa, com a duração de três meses, de Abril a Julho de 1966.
No que diz respeito à Presidência do Conselho e outros Ministérios, cumpre salientar os estudos realizados pelo Grupo de Trabalho n.º 14 (Reforma Administrativa) da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, nos quais o problema do incremento da produtividade dos serviços públicos é estudado nas suas linhas gerais e sugeridas providências de execução imediata.
No Ministério das Finanças, a Direcção-Geral da Contabilidade Pública, que foi o primeiro organismo oficial a ocupar-se em Portugal de problemas de produtividade, embora no exclusivo domínio da administração pública, mantém em funcionamento, desde 24 de Maio de 1945, o Gabinete de Estudos de António José Mealheiro, onde, ao lado de cursos de aperfeiçoamento do pessoal (11 cursos, quinze palestras, quatro colóquios e seminários), se têm estudado e posto em prática novos métodos de trabalho, com vista à simplificação da acção administrativa e maior eficácia da Administração.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (L. N. E. C.), do Ministério das Obras Públicas, além da colaboração e apoio prestados a iniciativas de interesse comum, promoveu uma série de reuniões de sensibilização sobre técnicas modernas de produtividade nos estaleiros, a que assistiram cerca de 300 empreiteiros, e pôs em funcionamento, no seu Serviço de Edifícios e Pontes, um sector de produtividade e economia na construção civil e obras públicas, através do qual têm curso as seguintes principais actividades:

Estudo e divulgação dos métodos de programação de obras, com recurso às técnicas mais evoluídas, tais como as baseadas na análise do caminho crítico (P. E. R. T.);
Directivas para a coordenação dos diferentes intervenientes nas obras de construção civil e sua divulgação no meio técnico nacional;
Aperfeiçoamento dos principais documentos necessários para o projecto e execução das obras, mediante

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o estabelecimento de regras para a elaboração de projectos, caderno de encargos tipo, circulares de informação técnica, fichas de características, etc.; Determinação e divulgação dos custos de trabalhos da construção, dos rendimentos de mão-de-obra e de equipamento e da produtividade de estaleiros.

Da maior importância se reveste igualmente a acção desenvolvida pelo Ministério da Educação Nacional.
Mercê do programa regional do Mediterrâneo - inquérito às necessidades gerais de ensino e formação - foi possível tomar conhecimento, em termos gerais e a médio prazo, das mais instantes daquelas necessidades, estimadas a nível nacional. Como resultado deste estudo, tornou-se evidente a conveniência da criação de um departamento especializado e de carácter permanente. Assim, pelo Decreto-Lei n.º 46 156, de 16 de Janeiro de 1965, foi instituído o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa (G. E. P. A. E.), cuja actividade se reflectiu, no âmbito do sector, em toda a preparação deste Plano.
Na parte que ao presente capítulo interessa directamente, as actividades deste Gabinete têm estado a ser especialmente orientadas no que respeita a:

a) Evolução do sistema escolar português (metrópole) prevista para 1975, por graus e ramos de ensino, e quanto a efectivos escolares, pessoal docente, meios materiais e encargos financeiros;
b) Planos de desenvolvimento nos domínios da investigação científica, da acção social escolar e das actividades culturais e de educação permanente;
c) Diagnóstico dos principais problemas que condicionam o desenvolvimento do sector educacional e das correspondentes providências a adoptar durante o período deste III Plano de Fomento.

Numa segunda fase dos trabalhos prevê-se efectuar estudos mais especializados, cujo interesse se localizará, a médio prazo, também na execução do Plano. Estes trabalhos incidirão, designadamente, sobre as seguintes questões:

a) Definição de prioridades regionais;
b) Definição de prioridades de mão-de-obra.

Em ambos estes domínios será encarado com o devido relevo o problema do desenvolvimento industrial, prevendo-se na realização dos respectivos estudos uma estreita ligação entre o Ministério da Educação Nacional - por intermédio do referido Gabinete de Estudos - e organismos de outros departamentos do Estado, nomeadamente o I. N. I. I., o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho e outros.
No Ministério das Corporações e Previdência Social, o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra (F. D. M. O.), através da sua Divisão de Formação Profissional, do Instituto de Formação Profissional Acelerada e do Centro Nacional de Formação de Monitores e, nalguns casos, em colaboração com outras entidades, especialmente organismos corporativos, tem levado a cabo um vasto plano de realização no âmbito da formação profissional extra-escolar, cuja apreciação consta do capítulo do Plano dedicado à «Educação e investigação».
O Fundo vem desenvolvendo ainda outras acções que podem influenciar, mais ou menos directamente, a produtividade da economia nacional.
Assim, o Serviço Nacional de Emprego, criado pelo Decreto-Lei n.º 46 713, de 9 de Dezembro de 1965, conta entre as suas atribuições: organizar e manter em funcionamento serviços públicos gratuitos de colocação; assegurar a orientação profissional dos jovens no. início da sua vida activa, bem como dos trabalhadores adultos; facilitar a mobilidade profissional e geográfica dos trabalhadores e suas famílias, na medida conveniente ao equilíbrio da oferta e da procura de emprego. Trata-se, pois, de funções em que, a par de objectivos sociais, estão presentes as necessidades de mão-de-obra decorrentes do desenvolvimento económico, procurando estabelecer-se a melhor correspondência com as disponibilidades existentes, com reflexos directos na produtividade geral.
Para o desempenho mais cabal de algumas das referidas funções existe o Gabinete de Psicologia e Medicina do Trabalho, onde, através de exames psicotécnicos e médios, se ajuízam as aptidões dos trabalhadores.
O Ministério da Saúde e Assistência está, igualmente, a dedicar o maior interesse aos problemas da actualização dos processos de trabalho nos seus serviços e nas instituições que dele dependem.
Foram criados, junto das Direcções-Gerais da Assistência e dos Hospitais, centros de preparação de pessoal, precisamente com o objectivo de organizar cursos de aperfeiçoamento para os funcionários e dirigentes desses serviços e instituições.
Além dos cursos de especialização já realizados pelo centro da Direcção-Geral da Assistência e dos quais resulta, naturalmente, maior produtividade do trabalho, destaca-se, particularmente, o plano de estágios e cursos de produtividade elaborado pela Direcção-Geral dos Hospitais, em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Este plano, cobrindo extensa área de aspectos do trabalho administrativo nos hospitais, abrange, as matérias seguintes: organização e administração hospitalar, aprovisionamento e gestão dos stocks nos estabelecimentos hospitalares, contabilidade hospitalar, economato dos hospitais, organização o mecanização do trabalho administrativo nos hospitais, pessoal hospitalar, órgãos de administração e de direcção do hospital, organização interna do hospital, financiamento hospitalar, planeamento e programação hospitalar.
Os estágios e cursos, dirigidos por monitores nacionais e estrangeiros, estão a transformar profundamente os clássicos e antiquados métodos de trabalho dos nossos hospitais e a aumentar a sua produtividade.
O plano, agora em pleno desenvolvimento, terminará no próximo mês de Novembro.
Esta breve apreciação do importante trabalho já realizado pelo sector público não exclui, no entanto, a preocupação resultante de se verificar que em outros departamentos se não generalizou ainda uma política tendente à criação de autêntico clima de melhoria da produtividade, quer em relação aos próprios serviços, quer junto das actividades privadas que orientam.
Independentemente de acções valiosas, mas cujo carácter esporádico lhes retira sentido de verdadeira integração de esforços, pode referir-se que em muitos serviços oficiais subsiste ainda aparente desinteresse pela promoção decisiva do incremento da produtividade nacional e das providências capazes de o assegurar.
No decurso do Plano serão tomadas medidas no sentido de procurar modificar tal estado de espírito, pois se tem como irreversível axioma que, a curto prazo, só poderão sobreviver as actividades com maior capacidade de competição, o que equivale a dizer de mais altos níveis de conhecimentos, de organização e de produtividade.

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4. Importante significado tem o interesse de várias entidades privadas, ou não dependentes do Estado, que se vêm dedicando ao incremento da produtividade nas actividades que representam.
A Corporação tia Indústria criou, em 1964, o seu centro do produtividade, cujas iniciativas se desenvolvem no campo da formação de dirigentes de empresas e de contramestres, em colaboração com o F. D. M. O., o I. N. I. I. e os organismos corporativos que integram a Corporação. Em 1965 efectuaram-se «Jornadas de produtividade» em Coimbra, Aveiro e Leiria, iniciativa que se julga dever prosseguir pela projecção que este tipo de acção directa tem nos núcleos industriais da província.
Finalmente, pode vir a revestir-se de largo alcance a decisão da mesma Corporação, que se espera ver perfilhada por outras, de promover a criação de centros técnicos e gabinetes de estudos de produtividade nos organismos corporativos primários (grémios e sindicatos).
Muito embora o I. N. I. I. se tenha empenhado, desde a sua criação, em interessar a maior soma possível de organismos corporativos na fundação de centros de produtividade, através dos quais se possam, difundir e ampliar as acções de estudo, formação, promoção e assistência técnica naquele domínio, são muito poucos ainda os que possuem departamentos destinados a esse tipo de funções e, os que existem, ocupam-se, de maneira geral, quase exclusivamente com actividades de formação.
É este um aspecto das nossas actuais infra-estruturas sócio-económicas que exige particular ponderação, pois sem. uma adequada rede de centros de produtividade não será fácil levar ràpidamente até aos dirigentes e técnicos das empresas o somatório de conhecimentos e conselhos capazes de os ajudar a resolver os respectivos problemas técnicos, a modernizar a organização e os métodos de trabalho.
Por isso, a iniciativa da Corporação da Indústria, desde que coordenada com as acções de outras entidades, poderá, na verdade, vir a ter os mais benéficos efeitos sobre o incremento da produtividade em Portugal, embora se deva condicionar o êxito da actividade destes centros à prévia existência de número suficiente de técnicos devidamente especializados em cada organismo e dos meios materiais e financeiros proporcionados à extensão e responsabilidade das tarefas a realizar.
Aliás, alguns grémios de industriais iniciaram já acções que demonstram a receptividade que tal iniciativa lhes pode vir a merecer. Assim, o Grémio. Nacional dos Industriais de Electricidade, além de colaborar em diversas comissões e grupos de trabalho (Planeamento, Tarifas, Coordenação de Protecção, Normalização e Normas de Qualidade, Revisão dos Regulamentos de Segurança, etc.), tem dedicado particular atenção aos problemas da formação e aperfeiçoamento profissional, com o apoio da Electricité de Franca. O Grémio dos Industriais de Cerâmica promoveu, após o 1.º Colóquio ide Produtividade na Indústria do Barro Vermelho, a criação, em 1966, do Centro Técnica da Indústria de Cerâmica, destinado a impulsionar a sua modernização através de adequadas acções de estudo, formação, promoção e assistência técnica. O Grémio Nacional dos Industriais de Serração de Madeiras colaborou no colóquio da especialidade promovido pelo I. N. I. I. e dispõe hoje de uma escola de limagem e afinação de máquinas, um centro de aprendizagem e um gabinete, de estudos de problemas (de produtividade. Os Grémios Regionais dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas da Norte e Sul realizaram uma série de cursos para encarregados de obras da construção civil e,, em colaboração com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, levaram a cabo uma série de conferências para empreiteiros. Os Grémios dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos do Norte e do Sul, em colaboração com o I. N. I. I. e a Corporação da Indústria, realizaram cursos sucessivos de formação, de que beneficiaram já várias dezenas de contramestres. Os Grémios Nacionais dos Industriais de Construção e Reparação Naval, de Produtos Químicos para a Agricultura e para a Indústria e de Montagem e Fabricação de Veículos Automóveis, utilizando monitores da Corporação da Indústria ou do I. N. I. I, têm igualmente, efectuado cursos para contramestres, com dezenas de participantes.

5. A Comissão de Produtividade da Associação Industrial Portuguesa desenvolveu, desde Outubro de. 1963 até 31 de Dezembro de 1966, uma acção já concretizada em 67 cursos, jornadas e sequências de estudo, nos quais participaram cerca de 1200 pessoas, trabalhando em mais de 400 empresas, em que foram tratados temas interessando especialmente a administração e direcção superior das empresas. À mesma Comissão se deve igualmente a realização, em Lisboa e Porto, da Semana da Qualidade, que congregou, pela primeira vez no nosso país, as atenções e esforços de numeroso grupo de pessoas interessadas nos problemas da qualidade dos produtos.
Tem especial interesse referir que a Associação Industrial de Moçambique, através do Gabinete, de Estudos Técnicos, organizou em Lourenço Marques, em Julho de 1966, um ciclo preparatório de formação de produtividade. A esta iniciativa seguiu-se o l.º Ciclo de Formação em Produtividade, constituído por quatro cursos, regidos por técnicos do I. N. I. I. ou seus colaboradores.
O Centro de Estudos de Gestão e Organização Científica (C. E. G. O. C.), da Associação Comercial de Lisboa, realizou, nos seus quatro anos de existência, 107 estágios (cursos) de formação e aperfeiçoamento dos dirigentes e quadros superiores e médios de empresas, com o total de 2369 participantes.
A Junta Central das Casas dos Pescadores e, por seu intermédio, a Organização Corporativa das Pescas têm vindo a desenvolver, desde 1940, uma acção de formação, que se traduziu pela criação da rede de escolas elementares e profissionais de pesca em diversos portos do litoral do continente e ilhas. A Organização dispõe ainda, desde 1952, do Gabinete de Estudos das Pescas.
O Grémio dos Industriais de Transportes em Automóveis criou, no início de 1966, um centro de selecção e formação profissional para o pessoal das empresas rodoviárias.
O Centro de Cooperação dos Industriais de Máquinas e Ferramentas (C. I. M. A. F.) organizou já dezenas de cursos para preparação de contramestres da especialidade, e a Associação Portuguesa de Fundição, a quem se deve o 1.º Congresso de Fundição, em 1965, e a preparação do segundo, a realizar em 1967, mantém em funcionamento comissões técnicas dedicadas aos problemas da formação profissional, desenvolvimento dos mercados, vocabulário técnico e ferro fundado e ainda o Instituto de Soldadura.
Finalmente, o Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório do Distrito de Lisboa desenvolve, com apreciável extensão e nível, uma actividade formativa profissional que deve constituir exemplo para outros sindicatos, organismos de que tanto há a esperar no campo da preparação profissional dos seus associados.

6. Deve ainda referir-se que funcionam hoje em Portugal cerca de duas dúzias de gabinetes consultores particulares em assuntos de organização, tecnologia e eco-

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nomia, em contraste com a escassa meia dúzia que existia em 1960.
Por inquérito directo, realizado pelo I. N. I. I. junto de uma «amostra» destes centros, concluiu-se que os respectivos trabalhos se têm desenvolvido principalmente no âmbito da organização e gestão das principais funções da empresa; direcção, geral, comercial, financeira, etc., e se realizam nos mais diversos ramos de actividade.
Verificou-se ainda que, de modo geral, os gabinetes nacionais de consultores actualmente existentes no País estão aptos a dar resposta satisfatória a grande parte dos problemas de organização moderna que se põem às empresas que exercem a sua actividade em território nacional, muito embora seja ainda reduzido o número de técnicos portugueses especializados relativamente às necessidades existentes e convenha regulamentar o funcionamento dos gabinetes.
Lacuna importante é a falta de suficientes escolas que ministrem ensino sobre técnicas modernas de organização, gestão e administração de empresas, pelo que tem de recorrer-se a escolas estrangeiras ou às pouquíssimas escolas particulares dedicadas a esse tipo de ensino (como, por exemplo, a Escola Superior de Organização Científica do Trabalho, de Lisboa, e os Institutos Económico e Social do Instituto de Estudos Superiores de Évora).
Parece desejável a institucionalização de cursos especializados em escolas superiores já existentes e, logo que possível, a criação de escolas superiores de organização e administração de empresas.

7. No que respeita ao tratamento das questões de produtividade em Portugal, conclui-se da análise anterior encontrar-se o País numa situação que, a traços muito gerais, pode sor caracterizada da seguinte forma:

A indústria tem sido (embora não em todos os seus sectores) a actividade que beneficiou especialmente das acções empreendidas, o que, dadas as relações de interdependência existentes entre a agricultura e a indústria, por exemplo, não pode deixar de se considerar aspecto a melhorar;
As acções têm incidido fundamentalmente sobre formação de dirigentes e quadros, muito embora se tenha começado já a encarar, com alguma amplitude, a formação profissional, problema da maior importância, pois dele depende, em grande parte, a melhoria progressiva do nível da produtividade do trabalho e dos salários;
Independentemente do mérito das acções realizadas por numerosos departamentos oficiais e organismos particulares, existem lacunas a preencher e considerável dispersão de iniciativas a corrigir;
Não existem suficientes escolas para o ensino de técnicas modernas de organização, gestão e administração de empresas.

§ 2.º Objectivos

8. Dentro do contexto anteriormente resumido, os grandes objectivos do Plano neste capítulo podem enunciar-se assim:

1.º Promover, em ritmo mais acentuado, o aumento da produtividade a fim de que as nossas actividades possam tirar a máximo rendimento das estruturas existentes e efectuar as transformações necessárias, em ordem a obter a indispensável capacidade concorrencial nos mercados internacionais.
2.º Desenvolver as acções de produtividade na indústria, cuidando especialmente dos sectores ainda não atingidos com a profundidade e o dinamismo necessários, como é o caso da construção civil e obras públicas, mas iniciando idêntica acção no sector da agricultura, dos transportes e serviços (privados e públicos), pois o crescimento dos níveis de produtividade não é menos importante em tais actividades.
3.º As iniciativas a tomar com a finalidade de promover o crescimento das taxas de produtividade, em todos os sectores, devem estar de acordo com os objectivos gerais e as medidas incluídas nos respectivos capítulos do Plano, de forma a assegurar a coerência e a rentabilidade das acções a empreender.
4.º Garantir a preparação de largas categorias da população activa e a correlativa programação dos investimentos e meios humanos indispensáveis para que o complexo de acções a desenvolver no sector público e pelas entidades privadas atinja o grau de eficiência requerido.
5.º Assegurar a coordenação e orientação unitária nesta matéria, pelo que os sectores público e privado deverão, por todos os meios ao seu alcance, unir esforços na equacionação dos problemas, no estudo de soluções, na sua aplicação prática e na crítica dos resultados. O alargamento, ao nível das estruturas empresariais, da capacidade de previsão e o planeamento em bases científicas da actividade futura devem correr paralelamente ao propósito de compatibilizar os resultados da empresa ou do sector com o do desenvolvimento da economia nacional no seu conjunto.

§ 3.º Medidas de política

9. Para o cumprimento dos objectivos propostos, e independentemente de estudos cuja realização irá processar-se no decurso do Plano, parece poderem, desde, já, referenciar-se as seguintes medidas de política:

l.º O sector pública, para além da acção que lhe compete desenvolver (nomeadamente nos domínios do ensino, da investigação, da formação profissional extra-escolar, do planeamento económico), poderá, no exercício da sua função legislativa em matéria económica e financeira, e por acção directa, contribuir para a melhor adequação das estruturas de enquadramento (institucionais, de infra-estruturas, legislativas e regulamentares, etc.) às exigências de um sector privado dinâmico.

Mais concretamente, e tomando por base o resultado de trabalhos em curso deste domínio, parece de especial importância:

Fazer depender a concessão de empréstimos, a médio e longo prazos, pelas instituições bancárias, da apresentação de projectos com os suficientes elementos de natureza técnica, económica e financeira para poderem, fundamentar a análise da sua viabilidade;

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Regulamentar a atribuição de créditos e de incentivos fiscais para fins de organização e de investigação;
Realizar estudos de base que interessem, por uru lado, à definição dos níveis óptimos de produtividade e das condições a criar para permitir a integração racional das pequenas e médias empresas no desenvolvimento dos respectivos sectores e, por outro lado, à remoção dos obstáculos que possam limitai-os benefícios das acções programadas;
Elaborar um plano contabilístico de aplicação geral que ajude à modernização dos métodos de gestão administrativa das empresas, permita apreciar com segurança a respectiva situação económica e financeira e proporcione o melhor aproveitamento dos elementos de informação disponíveis para a construção dos quadros dá contabilidade nacional;
Intensificar realizações (cursos, estágios, etc.) que facultem vasta informação a largas camadas de técnicos sobre os mais actualizados métodos de gestão empresarial, criando, se tal vier a ser julgado útil, disciplinas próprias em estabelecimentos universitários onde tais temas possam ser devidamente estudados;
Alargar as acções de formação empreendidas no quadro de instituições já existentes, nomeadamente de acordo com os programas de trabalho do Instituto Nacional de Investigação Industrial e do Fundo, de Desenvolvimento da Mão-de-Obra.
2.º A organização profissional deverá ser estimulada no sentido de continuar a desenvolver as suas iniciativas em matéria de estudos e acções de produtividade, embora evitando duplicações e descoordenação.
3.º Na generalidade dos ramos de actividade, deverá ser fomentada a cooperação entre empresas, com vista à efectivação de programas de investigação em comum, criação de associações de exportadores, promoção de estudos de mercados, etc.
4.º A criação do Centro Nacional de Produtividade, prevista no artigo 20.º do Decreto-Lei n.º 44652, de 27 de Outubro de 1962, deverá constituir o fulcro de animação de todo o sistema de actuações orientadas para obtenção de rápidos progressos de produtividade, no conjunto das actividades económicas nacionais. Por intermédio do Centro tornar-se-á possível a definição de políticas e objectivos de promoção generalizada dos níveis de produtividade das nossas actividades, em concordância com as determinações do Plano, e ainda a coordenação e dinamização das iniciativas empreendidas naquele sentido pelas diversas instituições existentes e a criar, evitando-se os aludidos desperdícios de meios e dispersão de esforços. Para tanto, e dada a complexidade da matéria, entende-se necessário encarregar do estudo das bases em que deve vir a ser estabelecido o Centro Nacional de Produtividade um grupo de trabalho a criar no âmbito da Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica, ao qual competirá igualmente o exame das medidas concretas atrás apontadas. Não sendo, pois, a altura própria para sugerir, em pormenor, a estrutura interna do Centro Nacional de Produtividade, salienta-se apenas a necessidade de o tornar um organismo dinâmico e gozando de geral aceitação no exercício das suas funções, o que aconselha o planeamento cuidado da sua implantação no quadro das instituições económicas nacionais.

CAPÍTULO VI

Sector público e reforma administrativa

SECÇÃO I

Situação actual do sector público

§ 1.º Generalidades

1. Para além dos seus campos de acção tradicionais - defesa nacional, representação externa, administração da justiça e outros serviços que correspondem às mais antigas das suas atribuições -, o Estado tem vindo a assumir responsabilidades cada vez mais vastas em múltiplos domínios, tais como o ensino e a investigação, os transportes, as vias de comunicação e outras infra-estruturas, o funcionamento das organizações sanitárias e mais equipamentos sociais, bem como de todos os serviços que os cidadãos, só por si, não poderiam assegurar. Acrescem várias atribuições impostas pela exigência de relações sociais e económicas cada vez mais complexas, como sejam a regulamentação do uso dos recursos naturais, a disciplina do comércio externo, a fiscalização dos movimentos cambiais, o controle do volume monetário e do crédito, a influência nas variações de conjuntura, a defesa da concorrência, a vigilância contra o excessivo poderio económico, a promoção do pleno emprego, a protecção dos consumidores, a redistribuição dos rendimentos, o equilíbrio das relações de trabalho - tudo com vista à justiça social e ao progresso e bem-estar da comunidade, de acordo com o preceito constitucional que atribui ao Estado a missão de «coordenar, impulsionar e dirigir todas as actividades sociais, fazendo prevalecer uma justa harmonia de interesses, dentro da legítima subordinação dos particulares ao geral».
O Estado desempenha, assim, funções primaciais na vida económico-social, não só como gestor do bem comum, mas também como participante directamente activo em domínios económicos, financeiros e sociais, exercendo ainda função dinamizadora de apoio e complemento da iniciativa privada, suprindo-a «quando isso se mostrar essencial à realização de interesses superiores e gerais» (Constituição, artigos 31.º a 33.º; Estatuto do Trabalho Nacional, artigos 4.º a 7.º; Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, artigos 8.º, 9.º, 18.º e 19.º).
Daí o recurso aos planos de fomento, com antecipação à maioria dos países europeus, visando a coordenação das actividades públicas e privadas, em colaboração estreita que contribui para a definição e execução das políticas mais adequadas ao progresso da comunidade nacional.

2. O desenvolvimento das funções do Estado conduziu-o, assim, a posição de crescente relevo na sua qualidade de agente económico, como se pode comprovar por

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diversos indicadores. Efectivamente, em termos de contabilidade nacional, o sector detém elevadas participações nas variáveis mais relevantes (quadro i).

QUADRO I

Participação do sector «Estado» na economia

Percentagens apuradas em algumas variáveis macroeconómicas

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Apenas a partir de 1960 se passou a conhecer o investimento público em material diverso, pois, anteriormente, só eram considerados os investimentos em construções de natureza civil.

Fonte: Contas Nacionais do I. N. E.

A participação do sector público no produto interno tem acusado sensível incremento ao longo do período de 1953 a 1964, e o mesmo se verifica no tocante ao valor acrescentado pelas empresas públicas, o qual, somado ao daquele sector, quase atinge, no último quadriénio considerado, a percentagem de 11 por cento. No que se refere às despesas correntes do sector público (consumo público total), do mesmo modo se regista crescente participação na despesa nacional, também mais acentuada no quadriénio de 1961 a 1964, em que atingiu 14 por cento. Note-se, porém, que o consumo público civil não acompanhou aquela evolução, mantendo-se a sua participação estabilizada no período de 1953-1964.
Importa ainda referir que o consumo público total evoluiu às taxas de crescimento anual de 4,6 por cento no período de 1953-1960 e de 5,3 por cento no quadriénio de 1961-1964, ao passo que a. progressão do consumo privado foi de 4 por cento, ao longo de todo o período de 1953 a 1964.
Quanto à formação de capital fixo, a posição relativa do sector «Estado» parece ainda mais significativa, na medida em que as percentagens que lhe são imputadas rondam - e ultrapassam no último quadriénio considerado - os 20 por cento, desde que ao investimento do sector público administrativo se acrescente o das empresas públicas.

3. Este desenvolvimento da importância do sector na economia está ìntimamente relacionado, como é natural, com uma crescente complexidade da estrutura interna da máquina do Estado.
Considerando, em primeiro lugar, o sector público administrativo, o quadro II revela a importância relativa dos seus subsectores, verificando-se principalmente: a predominância da Administração Central - especialmente do «Estado (C. G. E.)»-, acentuada nos últimos anos; o decréscimo do peso relativo da administração local, e o significado da previdência social. Aquele quadro -cujos valores representam uma combinação de quatro indicadores, com vista a mais relevante expressão económica - não inclui, portanto, outros importantes domínios em que se manifesta a acção do Estado, como é o caso das empresas públicas e dos organismos de coordenação económica, que não cabem no conceito económico do sector público, mas serão adiante referidos.

QUADRO II

Estrutura do sector público (a)

Em milhares de contos a preços correntes

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Os valores indicados no quadro são o somatório das despesas correntes, mais formação bruta de capital fixo, mais empréstimos concedidos, menos empréstimos contraídos.
(b) Não se distinguem as autarquias locais dos serviços autónomos a estas ligados.

Fonte: Contas Nacionais do I. N. E.

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É no subsector «Estado (C. G. E.)» que se concentra a grande maioria dos órgãos que compõem o sector público. Se se pretendesse resumir a extensão do subsector aos seus órgãos civis, poderia observar-se a variabilidade quantitativa das principais estruturas existentes nos diferentes departamentos. Importa, aliás, ter em atenção que o número de organismos principais não define claramente a extensão orgânica e o volume de tarefas de cada departamento, pois, por exemplo, enquanto há direcções-gerais com numerosas repartições e responsabilidades que penetram toda a Administração Central - como a Direcção-Geral da Contabilidade Pública -, outras existem com uma só repartição e muito menor significado global.
Por outro lado, a substância das atribuições confiadas a este subsector é demasiadamente vasta para poder ser abarcada em descrição sucinta, como deve ser a de um documento desta índole. Desde os organismos com competência nos domínios tradicionais da função pública - tribunais, representação externa, forças armadas, segurança, serviços financeiros, etc. - até aos que mais directamente reflectem o apontado alargamento das funções económicas e sociais do Estado, a estrutura interna do sector estende-se por uma gama extremamente vasta e complexa de organismos. Assim - a título meramente ilustrativo e citando apenas alguns de mais evidente significado económico - recordem-se os de planeamento, de estatística e de informação afectos à Presidência do Conselho; os dilatados e primaciais serviços de educação; a extensa orgânica das três Secretarias de Estado do Ministério da Economia; as estruturas que disciplinam e orientam o domínio dos transportes e das comunicações, e o Ministério do Ultramar, cuja acção se estende pelas mais vastas parcelas do território nacional.
Todo este aparelho administrativo corresponde a reais necessidades da vida colectiva, e a sua extensão pouco difere da existente na generalidade dos países, havendo apenas que continuar o esforço de adaptação da estrutura administrativa à evolução económica, dentro de critérios de racionalidade e eficiência.
Quanto ao subsector composto pelos serviços autónomos da Administração Central, a última estimativa conhecida apontava o número de 555, cobrindo numerosas actividades públicas de assistência 1, fomento, investigação, ensino e outras, como o exemplificam os Hospitais Civis de Lisboa, as Casas Pias, o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, o Instituto Hidrográfico, o Colégio Militar, o Instituto Nacional de Investigação Industrial, o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, a Emissora Nacional de Radiodifusão, etc.
Segundo a mesma estimativa, existem 27 fundos autónomos, como o Fundo de Abastecimento, o Fundo do Cinema Nacional, o Fundo de Desemprego, o Fundo de Fomento de Exportação, o Fundo de Turismo, o Fundo de Renovação da Marinha Mercante e outros de variável importância económica.
A previdência social desenvolvesse rapidamente, e a sua complexidade e importância crescentes estão bem documentadas noutro capítulo do Plano.
No tocante às empresas públicas, cuja importância económica global já ficou anotada, podem identificar-se mais de 150 2, entre as quais são de salientar: as Administrações-Gerais dos Correios, Telégrafos e Telefones e do Porto de Lisboa e a Administração dos Portos do Douro e Leixões; Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência; Casa da Moeda; Imprensa Nacional; estabelecimentos fabris de carácter militar; etc., cuja participação nos principais ramos de actividade produtiva o quadro III claramente documenta.

QUADRO III

Posição relativa das empresas públicas nos diferentes ramos de actividade (a)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não se considera o património florestal do Estado, ainda não estudado sob a forma de empresa pública, nem as casas de habitação, os serviços de educação e outros, dado que, sob a forma empresarial, se traduzem em volumes relativamente diminutos.

Fonte: Contas Nacionais do I. N. E.

Finalmente, os organismos de coordenação económica - institutos públicos em cuja administração participam representantes das actividades privadas directamente interessadas - são em número de dezoito e a sua importância pode de certa maneira avaliar-se mencionando que os seus orçamentos representam, globalmente, um valor que atinge, em média, cerca de 14 por cento do Orçamento Geral do Estado e recordando que lhes estão atribuídas funções de dinamização e equilíbrio económico em domínios como a marinha mercante, o comércio de frutas e de vinhos, as exportações de conservas de peixe e de vinho do Porto, etc.
Dentro da política que se impõe intensificar para ocorrer à desactualizarão de estruturas e métodos, deve salientar-se a oportunidade de continuar as revisões iniciadas pelo Ministério da Economia, no sentido de substituir intervenções conjunturais por actuações destinadas a orientar a evolução a longo prazo das actividades económicas.

4. Com a complexidade e a importância económica que ficam evidenciadas, o sector «Estado» precisa, obviamente, de manter estruturas e métodos de acção adaptados às exigências do desenvolvimento, da Nação, ou seja em termos de conseguir os mais elevados níveis de eficiência.

5. Em todos estes domínios se têm registado sucessivos esforços no sentido de resolver os múltiplos problemas sócio-económicos postos ao País, tendo-se em geral ordenado o desenvolvimento da orgânica da Administração com vista à consecução de tal objectivo. No entanto, para que se possa caminhar resolutamente nesse sentido, torna-se necessário efectuar o diagnóstico da situação actual da Administração, procurando detectar os seus problemas e dificuldades mais salientes e encontrar-lhes as soluções adequadas.
Indicam-se em seguida, embora muito sumàriamente, algumas das notas mais salientes desse diagnóstico.

1 Incluem-se naquele número 271 comissões municipais de assistência, 39 centros de assistência social e 34 dispensários de higiene social.
2 Este número abrange 77 serviços municipalizados.

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§ 2.º Problemas comuns aos diferentes subsectores públicos

6. Refere-se, em primeiro lugar, o espírito formalista que prevalece em grande parte do sector, umas vezes na ausência de adequada preparação do pessoal, outras vezes por imperfeita compreensão da índole e dos objectivos da actuação administrativa, outras ainda como resultado de disposições concebidas em épocas em que o Estado não tinha as responsabilidades de hoje - quando não por influência conjunta destes e outros factores. A rotina e o formalismo fazem, por vezes, que se reaja com menos prontidão do que seria desejável às múltiplas solicitações da sociedade em geral e da economia em particular, com risco de comprometer iniciativas públicas e privadas que exigem celeridade e eficiência.
Outro problema do sector «Estado» é a insuficiência de pessoal, por vezes no aspecto quantitativo, mas sobretudo no qualitativo, particularmente nos sectores públicos mais exigentes em habilitações. A elevação dos níveis de vida, o desenvolvimento das actividades particulares e os progressos da previdência social tornaram o emprego público muito menos atraente do que no passado, em virtude das sensíveis diferenças verificadas em relação às remunerações e restantes benefícios proporcionados pelo emprego privado.
Aliás, o desinteresse pelo serviço público resulta não só da depreciação das retribuições directas e indirectas - designadamente em relação à importância intrínseca das funções desempenhadas -, mas de não estarem muitas vezes reunidas as melhores condições de satisfação humana no trabalho, como é o caso de faltas de estímulo, dificuldades de acesso, excessiva rigidez nas relações de serviço, insuficiências de informação quanto aos fins a atingir, etc.

7. Os problemas até aqui enumerados mostram a importância primacial do factor humano, ao qual terá por isso de atribuir-se primeira prioridade nas soluções a encarar. Além destes, existem, porém, outros problemas gerais, ligados ao funcionamento dos serviços, que importa por igual considerar.
Relativamente à gestão administrativa, a Administração manifesta frequente tendência para a centralização dos poderes de decisão e a concentração dos mesmos nos mais elevados órgãos. Isto ocasiona enorme acumulação de trabalho aos altos funcionários, com prejuízo evidente das atribuições que envolvem maior grau de reflexão, como as que respeitam à função de prever e planear, e à supervisão crítica dos respectivos departamentos, assim como dá origem a demoras nas decisões, a perdas importantes no espírito de iniciativa e no sentido de responsabilidade dos funcionários de menor categoria, a dificuldades para o público e a quebras significativas na eficiência e na economia da própria actividade administrativa.
Outro aspecto a corrigir no funcionamento dos serviços e o isolamento em que alguns se mantêm relativamente ao público. A Administração, embora respeitando as chamadas garantias individuais, tende a fazer a síntese dos interesses particulares com o interesse geral, procedendo às vezes com algum pendor para o autoritarismo, fundamentado embora no domínio das técnicas ao seu serviço.
Segundo o princípio da legalidade - que é outra característica inerente a um. «Estado de direito» como o nosso -, nenhum agente da administração pública tem a faculdade do praticar actos que possam contender com interesses alheios senão em virtude de norma geral anterior e de harmonia com o que nela se houver estatuído.
A este respeito, os funcionários tendem por vezes a orientar-se mais no sentido da estrita legalidade do que no da produtividade, mercê da excessiva sujeição a princípios formais e a ritos consuetudinários. Daí exigências e demoras nem sempre necessárias, de que os administrados, designadamente os empresários, por vezes se queixam, assim como dispêndios públicos de difícil avaliação, mas certamente avultados.
Podem também apontar-se: insuficiências no controle dos serviços, por vezes limitado aos aspectos formais e burocráticos; predomínio da improvisação sobre o procedimento programado e coordenado; excessiva preferência pela forma escrita no desenvolvimento do processo administrativo; gratuitidade da maior parte dos actos processuais; baixo custo de taxas por serviços prestados; etc.
É ainda de mencionar o deficiente equipamento material de numerosos serviços, tanto no tocante a instalações (edifícios inadequados, mal situados, ou de renda dispendiosa) como a outros equipamentos, com reflexos no rendimento dos funcionários, na dificuldade de racionalizar os serviços, na incomodidade do público e, até, em desperdícios consideráveis.
Importa, portanto, que neste domínio se adoptem critérios de rentabilidade, enquadrados numa orientação lógica a longo prazo, em que se definam prioridades e se antecipem, decisões que, não sendo tomadas a tempo, podem resultar mais dispendiosas.
O isolamento de alguns serviços em relação aos particulares, a que já se aludiu, resulta, em grande parte, da falta de conveniente actuação no domínio das relações públicas, que promova, por um lado, as melhores formas de esclarecimento das actividades estaduais, de maneira a suscitar melhor compreensão e mais decisiva colaboração do público, e, por outro lado, facilite o esclarecimento, o acolhimento e a participação dos interessados nas actividades administrativas, como parece próprio da vida moderna, tão exigente em matéria de comunicação social como em simplicidade e celeridade de procedimentos.
Outro aspecto, que afecta tanto a Administração como os administrados, é a complexidade dos textos legislativos e regulamentares por que se regem muitas actividades do Estado. De acordo com. as exigências modernas, quanto a comunicação social, fácil e singeleza de processos, o pesado conjunto de textos - ao qual deve acrescentar-se o complexo das instruções internas dos serviços - contribui para os inales da lentidão e escassa produtividade da máquina administrativa, assim como representa, factor de incomodidade e desperdício de recursos para os particulares.
Cumpre, por último, referir o desconhecimento existente em numerosos sectores da Administração e do público a respeito da actividade, das estruturas e do funcionamento do aparelho estadual e paraestadual, reflectindo-se em muitos aspectos práticos de racionalização (como a repartição de funções pelos diferentes subsectores públicos, a determinação da formação básica necessária ao funcionalismo, etc.) e originando dificuldades aos cidadãos, em geral, e aos empresários, em particular.

3.º Problemas específicos da Administração do Estado

8. Quanto à Administração do Estado, são-lhe aplicáveis, de modo genérico, as observações registadas nos números precedentes, com especial relevo para as que se referem ao factor humano.

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O quadro IV, que dá a composição dos quadros civis e militares (não compreendendo pessoal assalariado ou contratado por verbas globais), revela:

a) A pirâmide, que geométrica e esquematicamente pode representar a composição dos quadros, mostra uma base excessivamente larga, como reflexo do elevado número de agentes menos qualificados;
b) Inversa e correlativamente, a mesma pirâmide apresenta forma excessivamente adelgaçada para cima da letra Q (ou seja acima dos terceiros-oficiais e equiparados), o que reflecte a tendência concentradora da Administração;
c) Abstraindo das mais altas categorias (acima, por exemplo, da letra E), a relativa escassez de pessoal técnico qualificado, normalmente distribuído palas categorias K a F, parece facto incontroverso, o que, conjugado com o referido na alínea anterior, não está de harmonia com o grau do intervenção e a responsabilidade crescente da Administração;
d) Há notória irregularidade numérica entre categorias contíguas - especialmente na zona média -, o que pode denotar certa imprecisão de critérios na classificação dos diferentes cargos, já que o escalonamento destes deveria reflectir mais claramente as reais diferenças de responsabilidade e de exigência profissional, numa óptica que integrasse as múltiplas hierarquias ao serviço do Estado.

QUADRO IV

Composição dos quadros permanentes da Administração Central (Estado - C. G. E.)

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 47 137, do 5 de Agosto de 1966.

Deve, todavia, frisar-se que estas observações são por demais genéricas, parecendo necessário reexaminá-las à luz de análises mais profundas das estruturas dos diferentes quadros, o que será tarefa a realizar no contexto da reforma administrativa.

9. Como já se referiu, as actuais estruturas da Administração Central traduzem a extensão e diversidade da acção do Estado. Como o seu crescimento nem sempre obedeceu a critérios uniformes, parece oportuna uma reflexão crítica que procure detectar as imperfeições existentes, no sentido de preencher algumas lacunas, de corrigir possíveis tendências para a dispersão e de eliminar certas duplicações que podem existir, não só no seio da Administração Central, como no conjunto de órgãos de carácter público formado por esta e por outros subsectores. A título meramente exemplificativo, apresentam-se desde já alguns pontos a considerar:

a) São em número restrito os órgãos de coordenação interministerial, o mesmo acontecendo quanto à coordenação ao nível dos serviços dentro de cada Ministério; como exemplos de iniciativas recentes neste domínio, citam-se entre outros organismos, a Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica (com os seus dezanove grupos de trabalho permanentes), o Conselho Coordenador do Ministério da Saúde e Assistência, o Conselho dos Directores-Gerais e as Comissões Técnicas Regionais do Ministério da Economia, o Conselho dos Directores-Gerais e o Conselho Coordenador para os Problemas do Ensino do Ministério do Ultramar, e bem assim a função coordenadora atribuída às Secretarias-Gerais do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério do Ultramar;
b) Nota-se que, além dos órgãos centrais de planeamento da Presidência do Conselho e dos do Comissariado do Turismo, apenas três Ministérios - Ultramar, Educação Nacional e Comunicações - possuem órgãos formal e especìficamente encarregados de trabalhos de planeamento;
c) Reconhece-se a necessidade de órgãos destinados à melhoria de técnicas administrativas e à racionalização das estruturas; a Intendência-Geral do Orçamento, concebida para desempenhar funções neste domínio, não tem tido funcionamento efectivo, ao passo que algumas tentativas recentes, por parte de diversos Ministérios, ainda não obtiveram consagração legislativa;
d) Existem domínios de actividade repartidos por diversos Ministérios, o que necessàriamente provoca dificuldades de orientação e coordenação;
e) Na localização e hierarquia de certos órgãos com funções análogas, notam-se disparidades entre Ministérios e, até, no seio destes, como é o caso de vários organismos consultivos;
f) Aponta-se a insuficiência de organismos com competência horizontal, através dos quais se compatibilizem as atribuições dos diversos sectores e se centralizem tanto os contactos com o público como a orientação de negócios comuns, relativos a mais de um departamento.

§ 4.º Problemas específicos de outros subsectores públicos

10. No que respeita aos outros subsectores públicos - serviços e fundos autónomos, administração local autárquica, organismos de coordenação económica, empresas

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públicas -, não foi ainda possível reunir elementos que permitam apresentar, mesmo em termos esquemáticos, um diagnóstico seguro dos respectivos problemas. Trata-se de pontos muito importantes a considerar em futuros trabalhos da reforma administrativa, dentro do planeamento geral que vier a ser adoptado, além dos aspectos que caibam na alçada dos departamentos competentes dos diversos Ministérios em matéria económica.
Quanto à previdência social, mais uma vez se recorda que a análise pormenorizada da sua problemática específica ficou incluída em capítulo próprio. Neste lugar cabe apenas mencionar que algumas das deficiências atrás apontadas - como, por exemplo, no tocante ao formalismo das actuações e à iniciativa dos dirigentes - aparecem sensìvelmente atenuadas neste sector.
Os fundos e serviços autónomos, bem como os organismos de coordenação económica, assumem relevo particular dentro do sector público, em consequência, não apenas do volume dos seus orçamentos e meios de acção próprios, mas também devido à sua índole de instrumentos específicos de actuação do Estado em domínios prioritários da actividade económica nacional. A sua posição actual e as respectivas estruturas orgânicas são o resultado de sucessivas iniciativas destinadas a ocorrer, em especial nos últimos decénios, a importantes domínios em que, por motivos de coordenação e fomento económico, se tornara requerida a intervenção do sector público segundo modalidades distintas das formas tradicionais da administração do Estado.
As potencialidades oferecidas por este conjunto diversificado de instrumentos públicos parecem de especial valor estratégico para o conveniente impulso e orientação das transformações previstas para os próximos anos, em virtude da aceleração programada do desenvolvimento económico e social, da integração nos espaços nacionais e europeus, bem como dos objectivos de equilíbrio regional. O conhecimento de que se dispõe em relação a estes subsectores evidencia a oportunidade de acções de modernização e sistematização rio sentido de maior eficácia nas áreas que lhes são próprias e de modo a favorecer a perfeita articulação com o sector público administrativo e as actividades produtivas.
A administração local autárquica, de acção insubstituível nos domínios social, político e económico, apresenta também algumas deficiências, que a falta de estudos sistemáticos não permite definir com exactidão, mas que parecem referir-se em particular à insuficiência dos recursos financeiros, à inadequação de certas estruturas orgânicas às actuais exigências funcionais e técnico-económicas, às carências de recursos humanos e à necessidade de traduzir neste domínio as exigências da política de desenvolvimento regional.
No que se refere a empresas públicas, verifica-se a necessidade de assegurar o estudo e a definição de tipos e regimes claramente adaptados à função produtiva que lhes é comum e à multiplicidade de situações reais que terá provàvelmente de reconhecer-se. Neste sentido, alguns problemas podem ser genèricamente apontados, como a necessidade de sistematizar a respectiva coordenação com a política económica geral e, em especial, a política de fomento, a conveniência de normalizar os critérios contabilísticos, de planeamento e de administração empresariais, bem como os regimes de pessoal, por vezes inadaptados à função económica das empresas públicas. Por outro lado, no que se refere às empresas de economia mista e concessionárias, levanta-se, por vezes, a conveniência de encontrar fórmulas de articular mais eficazmente a gestão empresarial com os fins de interesse público em causa.

SECÇÃO II

A reforma administrativa

§ 1.º Conceito e princípios gerais

11. Porque o panorama sucintamente descrito constitui um dado de observação corrente, pode considerar-se adquirida entre nós, tanto nos meios responsáveis como entre o público em geral, a consciência da necessidade de revisão dos métodos de trabalho administrativo e do estudo em bases técnicas da organização dos serviços públicos, com vista a aumentar a sua produtividade e a diminuir-lhes o custo do funcionamento.
Na fase do processo de expansão económica e social em que se encontra a comunidade portuguesa, reconhece-se geralmente como imprescindível dispor de uma infra-estrutura administrativa racionalmente organizada, de uma burocracia ágil, eficiente e progressiva - apta a fornecer às actividades públicas e privadas o suporte de que necessitam para se desenvolverem e atingirem as suas finalidades próprias.
O ritmo crescente do progresso do País, designadamente no campo económico, técnico, educacional e social, ao multiplicar os contactos dos cidadãos e das organizações privadas com a administração pública, tem proporcionado um conhecimento mais profundo e generalizado da forma como esta exerce a sua acção. Por outro lado, o Governo não tem ocultado em várias circunstâncias os seus propósitos de promover os estudos e diligências conducentes à obtenção de mais elevado grau de eficiência da administração pública.

12. A esse objectivo de conversão e adaptação da administração pública às finalidades concretas que o Estado lhe propõe prioritariamente, à evolução do meio social, às inovações introduzidas pela técnica - a isso se tem chamado «reforma administrativa», que entre nós já foi definida como «conjunto de providências tendentes a assegurar de forma permanente e sistemática a renovação e o aperfeiçoamento da administração pública no tríplice aspecto do rendimento do factor humano, da estrutura dos serviços e das técnicas do seu funcionamento, tendo em vista a sua melhor adaptação ao prosseguimento dos fins do Estado e às exigências dos processos de transformação social».

13. Conforme já se referiu, a necessidade da reforma administrativa, por toda a parte sentida com maior ou menor agudeza, resulta, bàsicamente, da complexidade das funções do Estado, da sua crescente intervenção na vida sócio-económica e do ritmo cada vez mais intenso do progresso técnico. Ficou também claramente estabelecido que a acção da reforma é exigida pela realização cabal dos fins do Estado, especialmente no tocante ao desenvolvimento económico e social, que apenas poderá sor conseguido no quadro de uma administração eficiente.
Além destas ideias fundamentais, foi possível criar em torno da problemática da reforma administrativa um substrato de princípios elementares, que podem igualmente considerar-se de aceitação generalizada. Convém enunciá-los, pois ajudarão a compreender melhor os desenvolvimentos subsequentes:
1.º A reforma administrativa deve ter em conta o condicionalismo social, económico e político, as tradições, os

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hábitos, as mentalidades do país que a promove. Quer dizer: não podemos abalançar-nos a modificações repentinas e radicais daquilo que existe, sob ,pena de criar tensões e dificuldades que podem, comprometer gravemente a consecução dos objectivos visados. A reforma é ciência aplicada, é política e é também uma arte: não pode desligar-se das realidades do meio onde irá processar-se.
2.º A. reforma administrativa é um processo de execução progressiva. Não se pode esperar que ela se desentranhe em resultados rápidos e espectaculares a alcançar em prazos prèviamente fixados. A reforma terá de processar-se gradual e cautelosamente, embora com firmeza e sem pontos mortos, nem atrasos susceptíveis de lançar a d lívida sobre o êxito do empreendimento.
3.º A reforma administrativa exige rigoroso planeamento. Não é possível partir para uma reforma administrativa sem planear prèviamente, com o maior cuidado, a acção a empreender e as fases sucessivas em que ela se desdobrará. Efectuar um rigoroso planeamento da reforma significa delinear a sua estratégia geral e marcar-lhe as fases principais, as prioridades a observar e a cadência do desenvolvimento.
4.º A execução da reforma implica a criação de órgãos técnicos permanentes. Não pode haver reforma administrativa sem instrumentos adequados, e estes requerem a instituição de um serviço ou serviços de carácter permanente e com adequada organização técnica.
5.º A execução da reforma supõe a formação de pessoal especializado nas técnicas modernas da administração pública. Não será viável lançar com bases seguras uma reforma administrativa se não se dispuser dos especialistas que hão-de estudar os problemas e assegurar a correcta aplicação das providências reformadoras.
6.º Na base de toda a reforma administrativa encontram-se os problemas relativos ao funcionalismo público. Trata-se de reconhecer a importância primordial do factor humano na Administração. Das qualidades do pessoal que a serve e do seu regime de prestação de serviços depende em larga medida o rendimento de toda a máquina administrativa.
7.º A reforma administrativa deve ser precedida e acompanhada - junto dos dirigentes, dos funcionários e do público - de uma campanha de preparação psicológica, tendente a criar um estado de espírito de receptividade às providências a adoptar. A reforma não poderá vingar se não se conseguir suscitar entre a generalidade dos interessados a compreensão da sua necessidade e o desejo de nela colaborar.
8.º Não obstante a acção que se empreenda no sentido indicado, haverá sempre que contar, ao menos de início, com atitudes de cepticismo, de controvérsia e até de resistência às inovações reformadoras. É que toda a ideia de reforma, implicando a alteração de velhos hábitos, o abandono de rotinas e um esforço de adaptação a novos ordenamentos, vem naturalmente contrariar as leis da inércia a que está sujeita a máquina administrativa.

§ 2.º Antecedentes da reforma administrativa em Portugal

14. Também no nosso país o estudo e resolução destes problemas vem despertando interesso crescente, podendo dizer-se que a eficiência da Administração de há muito constitui preocupação do Governo, com reflexo visível na massa dos funcionários e no público em geral. Convém recordar, embora muito sumàriamente, os marcos principais da evolução registada entre nós, que conduziu às modernas concepções da reforma administrativa.
Passando sobre as reformas de base publicadas durante os anos trinta 1, nos domínios financeiro e administrativo, que serviram de fundamento para as subsequentes tarefas de reconstrução nacional, e sem deixar de lembrar que a década de 40 foi profundamente marcada pelas preocupações e perturbações advenientes da segunda guerra mundial e suas consequências, anotar-se-ão as seguintes principais providências planeadas e adoptadas no nosso país nos últimos 25 anos, com vista a aumentar a eficiência da administração pública, no tríplice aspecto da condição e rendimento do factor humano, da revisão da estrutura e orgânica dos serviços e do aperfeiçoamento dos métodos de trabalho e técnicas de funcionamento. Sem intuito de sistematização, proceder-se-á ao mero enunciado dessas providências, por ordem cronológica:

A) Pelo Decreto n.º 38503, de 12 de Novembro de 1951, foi criada a Comissão Central de Inquérito e Estudo da Eficiência dos Serviços Públicos, com a finalidade de averiguar e estudar os factores de que depende a produtividade dos mesmos serviços e propor as medidas que tendam a aumentá-la. Os principais trabalhos da Comissão versaram sobre organização das secretarias-gerais dos Ministérios (1952), fornecimentos aos serviços públicos (1953) e recrutamento e formação do pessoal dos serviços administrativos da Administração Central (1955).
Ainda no ano de 1951 veio a ser regulada, pelo Decreto-Lei n.º 38 523, de 23 de Novembro, a matéria de acidentes em serviço; e pelo artigo 18.º do Decreto n.º 38 586, de 29 de Dezembro, foi atribuído um novo suplemento sobre as remunerações base dos funcionários (o anterior fora concedido pelo Decreto-Lei n.º 37 115, de 26 de Outubro de 1948) ;
B) Em 1954 foi revisto, através do Decreto-Lei n.º 39 844, de 7 de Outubro de 1954, o regime do abono de família, que havia sido instituído pelo Decreto-Lei n.º 32 688, de 20 de Fevereiro de 1943;
C) No ano de 1957 há a registar o seguinte:

Criação da Comissão Coordenadora das Publicações do Estado 2 (Decreto-Lei n.º 41241, de 24 de Agosto);
Revisão e actualização das disposições legais relativas a aquisições do Estado, autorização de despesas e dispensa de concurso público e contrato escrito (Decreto-Lei n.º 41 375, de 19 de Novembro);

1 É oportuno referir que já o Decreto com força de lei n.º 16 670, de 27 de Março de 1929, atribuía a um organismo do Estado (a Intendência-Geral do Orçamento) o encargo de «estudar as fórmulas mais económicas do emprego dos dinheiros públicos, propondo as modificações na organização ou na técnica dos serviços que julgar necessárias ou convenientes para que seja observada a maior economia dentro da maior eficiência».
2 Anteriormente haviam sido já criadas no Ministério das Finanças outras comissões destinadas a ocupar-se de problemas concretos ligados à organização e funcionamento dos serviços do Ministério. É o caso da Comissão de Estudo para Uniformização de Impressos (Decreto-Lei n.º 36 897, de 2 de Junho de 1948) e da Comissão para a Instalação e Estudo dos Serviços Mecanográficos (Decreto-Lei n.º 39 530, de 6 de Fevereiro de 1954).

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Criação da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho (Decreto-Lei n.º 41 383, de 22 de Novembro), como primeiro esboço de centralização e coordenação administrativas na Presidência do Conselho, com inclusão de um serviço embrionário para o planeamento económico (a Inspecção Superior do Plano de Fomento), donde mais tarde resultou o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, adiante referido;
Previsão da «criação de um serviço permanente encarregado de estudar e propor o que julgar mais conveniente à progressiva racionalização dos serviços públicos» (artigo 10.º da Lei n.º 2090, de 21 de Dezembro).

D) Em 1958, através dos Decretos-Leis n.ºs 41 523, do 6 de Fevereiro, e 41 671, de 11 de Junho, foi unificado o quantitativo do abono de família e introduziram-se diversos aperfeiçoamentos no respectivo regime. E o Decreto-Lei n.º 42 046, de 23 de Dezembro, promulgou o reajustamento das condições de remuneração dos servidoras do Estado;
E) Mediante resolução do Conselho de Ministros de 18 de Março de 1959, constituíram-se nos Ministérios civis comissões de simplificação administrativa, incumbidas de rever os métodos de trabalho burocrático e os processos de contacto com o público, propondo as providências atinentes à simplificação de uns e de outros. As finalidades visadas com os trabalhos das comissões seriam, essencialmente, a eficiência dos serviços públicos, a produtividade dos funcionários e a comodidade do público:
F) Um dos resultados do labor dessas comissões foi a publicação do Decreto-Lei n.º 42 800, de 11 de Janeiro de 1960, que veio determinar ou permitir diversas transferências e delegações de poderes, com vista a «atenuar uma concentração de competências nem sempre justificada e conferir aos funcionários de chefia, nos vários graus hierárquicos, maior autoridade e maior responsabilidade».
Nesse mesmo ano há a registar a adopção das seguintes providências, em benefício dos funcionários o suas famílias, todas por meio de diplomas publicados em 27 de Abril:

Atribuição às pessoas de família a cargo dos servidores do Estado, por morte destes, do direito de receberem o vencimento completo do mês do falecimento e do seguinte (Decreto-Lei n.º 42 947);
Revisão das pensões de reserva, aposentação, reforma e invalidez (Decretos-Leis n.ºs 42 948 e 42 950);
Regime da aquisição e construção de imóveis destinados aos funcionários do Estado e dos corpos administrativos (Decreto-Lei n.º 42951);
Extensão dos benefícios da assistência na tuberculose aos cônjuges e descendentes a cargo dos servidores do Estado (Decreto-Lei n.º 42 953);
Concessão de pensões de sobrevivência aos funcionários ultramarinos (Decreto n.º 47 109).
G) Pelo artigo 26.º da Lei n.º 2111, de 21 de Dezembro de 1961, ficou o Governo autorizado a «promover a reorganização dos serviços públicos, a fim de melhorar a sua eficiência, aumentar as garantias dos particulares e assegurar mais efectiva cooperação do público com a Administração». Na parte respectiva do relatório da proposta do Governo faz-se uma exposição «completa e exaustivamente elucidativa» (segundo o parecer da Câmara Corporativa) da motivação do preceito, focando-se em especial os seguintes pontos: tendência dominante na evolução recente da administração pública; necessidade e antecedentes da reforma geral da Administração em Portugal; sentido, oportunidade e âmbito da reforma a empreender; seus objectivos imediatos e programa inicial; instrumentos da respectiva realização.
De notar que neste documento se consagra oficialmente a expressão «reforma administrativa», ao mesmo tempo que se apresenta uma esclarecida síntese dos principais problemas em que se desdobra o delineamento e a prossecução dessa reforma no nosso país;
H) O Decreto-Lei n.º 45 002, de 27 de Abril de 1963, criou o serviço da Assistência na Doença aos Servidores Civis do Estado (A. D. S. E.), regulamentado um ano mais tarde pelo Decreto n.º 45 688, mas que só em Outubro de 1965 logrou concretizar o seu primeiro benefício: assistência hospitalar em serviços de obstetrícia e cirurgia, geral e especializada, em regime de internamento e ambulatório;
l) Pelo Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, foi criada, na Presidência do Conselho, a orgânica de planeamento e integração económica, na qual se integrou a respectiva Comissão Interministerial e o Secretariado Técnico daquela Presidência. Os seus serviços foram reorganizados pelo Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966, passando o Secretariado Técnico a actuar também como «serviço nacional destinado a preparar, para apreciação do Governo, os projectos dos planos de desenvolvimento económico e social, à escala do espaço português ou de âmbito regional, e dos esquemas de realização da integração económica daquele espaço»;
J) O Decreto-Lei n.º 47 137, de 5 de Agosto de 1966, concedeu, a título transitório, a todos os servidores do Estado, um subsídio eventual de custo de vida. Conforme resulta do preâmbulo, trata-se de providência destinada a atenuar, na medida do possível, as dificuldades do funcionalismo em face da alta do custo de vida - isto sem prejuízo da «pugnada reforma administrativa» considerada necessária para que as administrações modernas procedam à «revisão e reestruturação dos seus quadros e de novos métodos de trabalho, por forma a aumentar-se o rendimento e a evitar-se pessoal em excesso ou de baixa produtividade».

15. Além das providências de ordem legislativa, outras há a citar de que têm resultado estudos preliminares de grande utilidade para a realização de futuras reformas de estrutura e funcionamento dos serviços públicos e que

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simultâneamente contribuem, para criar um «clima» e uma mentalidade propícios à aceitação dessas reformas. Suo dignos de menção:

A actividade e as publicações emanadas do Gabinete de Estudos de António José Malheiro;
Os cursos e colóquios sobre organização e simplificação do trabalho nos serviços públicos, promovidos pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial e pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil;
A criação de núcleos embrionários de serviços de organização e métodos em alguns departamentos públicos.

Não deve igualmente passar sem referência a realização de reformas sectoriais, como a Reforma Fiscal e a de serviços dependentes do Ministério da Justiça, a publicação do Estatuto do Funcionalismo Ultramarino, a reorganização do Ministério do Ultramar, etc.
Salienta-se também que o Conselho Ultramarino dedicou a sua última sessão plenária ao estudo dos «problemas fundamentais ligados à reforma administrativa no tríplice aspecto do factor humano, da estrutura e orgânica dos serviços e das técnicas e métodos, com vista à definição das soluções adequadas na parte relativa ao ultramar».
E há igualmente a registar numerosas reorganizações parcelares de serviços públicos, levadas a efeito nos últimos anos, em que se tem procurado acudir às novas necessidades e exigências da vida administrativa através de soluções inovadoras, que, por vezes, excepcionam mais ou menos profundamente os padrões tradicionais.

16. Esta intensa actividade no campo dos estudos, e mesmo no das providências concretas, significa existir a consciência da necessidade de actuar neste domínio, e verificar-se mesmo aquilo a que se poderá chamar uma caracterizada tendência reformadora. Sucede, porém, que (abstraindo das reformas sectoriais, que procuram abranger, em visão global, todo um campo especializado de actividades) têm predominado tentativas fragmentárias, esforços dispersos e isolados, que não obedecem a uma visão uniforme, a uma directriz coerente, a um plano de conjunto. A tendência dos serviços é no sentido de se reorganizarem ao sabor da sua visão particularista e dos seus interesses imediatos, ainda que algumas vezes actuando como que em «flecha operacional», precursora de uma reforma geral devidamente estruturada. Isso resulta, fundamentalmente, de não ter sido ainda possível criar, conforme mais de uma vez foi preconizado, um órgão técnico central incumbido de efectuar os estudos pertinentes à reforma administrativa e velar pela aplicação dos critérios gerais superiormente estabelecidos na matéria.
Nesse sentido se deu passe importante com a criação, em Outubro de 1965, de um grupo de trabalho interministerial dirigido ao estudo e planeamento da reforma administrativa.

17. Já a base IX da Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, relativa ao Plano Intercalar de Fomento, autorizara o Governo a promover, entre outras diligências, «a modernização das orgânicas e métodos de trabalho nos serviços públicos». Foi, todavia, no âmbito dos trabalhos preparatórios do III Plano de Fomento que veio a constituir-se, mediante resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, um grupo de trabalho para a reforma administrativa, que recebeu como mandato, essencialmente:

Elaborar um relatório analisando a situação da eficiência da administração pública e propondo as linhas gerais da reforma administrativa imposta pela necessidade de adaptação das funções do Estado aos imperativos da vida de uma sociedade moderna e em função das exigências do desenvolvimento económico da Nação numa situação aberta à concorrência internacional.

Elaborado pelo grupo um relatório preliminar sobre as linhas gerais da reforma administrativa, ainda antes mesmo de concluídos os relatórios parcelares cometidos aos cinco subgrupos em que o plenário se cindiu, sobre aquele documento vieram a recair os pareceres, não só da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, como ainda das diversas corporações, dado o interesse que se reconheceu em dar audiência ao sector privado, por via representativa, em assunto de tanta monta para o público em geral.
À luz das considerações do relatório preliminar e das apreciações que sobre ele incidiram, formulam-se seguidamente as linhas gerais dos objectivos e das medidas de política a prosseguir em matéria de reforma administrativa.

§ 3.º Objectivos

18. Entre os objectivos a considerar neste domínio, quanto ao sector «Estado», salientam-se os seguintes:

a) Maior produtividade dos serviços e organismos públicos, procurando insuflar à Administração um «espírito empresarial» harmónico com as características e exigências do nosso tempo;
b) Progressiva melhoria das condições económico-sociais dos servidores do Estado, de acordo com a função social que desempenham e em ordem ao melhor rendimento do trabalho;
c) Cuidadosa e persistente acção formativa dos mesmos servidores, tendo em especial atenção o ensino das modernas técnicas administrativas;
d) Racionalização das áreas de competência de todos os organismos com intervenção na função pública, de maneira a eliminar possíveis conflitos positivos e negativos, a esclarecer as intervenções e a simplificar as estruturas;
e) Descentralização de atribuições e desconcentração de competências, por forma a aproximar tanto quanto possível os centros de decisão da respectiva execução, a libertar os escalões hierárquicos superiores para o estudo e a decisão dos assuntos mais importantes e a eliminar o congestionamento e o dispêndio ocasionados nos serviços;
f) Melhorias substanciais nas práticas administrativas, designadamente no tocante ao planeamento, à coordenação, ao apoio técnico e ao controle nos sectores em que tal se torne necessário; paralelamente, procurar-se-á simplificar os processos e práticas burocráticos, adequando-os estreitamente aos fins a satisfazer;
g) Instalação e equipamento conveniente dos serviços e organismos públicos, tendo em consideração a melhor produtividade com o menor dispêndio, a eficiência do serviço e a comodidade do público., de acordo com planos de conjunto em que se escalonem as necessidades e os recursos;

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h) Progressivo aperfeiçoamento das relações públicas, em ordem a obter a compreensão e a adesão dos administrados, e bem assim o esclarecimento e a efectiva participação do público nos actos da Administração;
i) Revisão e simplificação dos textos legislativos que regulam a actividade administrativa, de modo a facilitar tanto o funcionamento dos serviços como o conhecimento do público, especialmente nos domínios mais ligados ao desenvolvimento económico-social.

19. Sem prejuízo de orientações específicas para os diversos sectores e ramos de actividade, entende-se ainda conveniente - em coincidência, aliás, com pareceres expressos em recente estudo da O. C. D. E. sobre a economia portuguesa 1 - continuar a substituir os controles directos de natureza administrativa por esquemas de actuação subordinados a regras gerais susceptíveis de particularização e fiscalização rigorosa, na medida em que as iniciativas privadas utilizem facilidades ou apoios directos proporcionados pelo Estado. Substitui-se, assim, a uma intervenção preventiva outra de carácter igualmente selectivo, mas de mais segura verificação e liberta de critérios meramente administrativos. Aquela orientação - que, no domínio da indústria, se prende com a execução dos princípios consagrados no Decreto-Lei n.º 46 666, de 24 de Novembro de 1965 - servirá para orientar a reorganização administrativa dos correspondentes sectores do Estado, designadamente no sentido de poderem dispor de pessoal qualificado, em situações, pelo menos, equiparadas às oferecidas pelo sector privado.
As referências anteriormente incluídas em relação a outros subsectores públicos evidenciam a necessidade de estender a reforma administrativa a esses subsectores, assegurando a sua modernização por esforços convergentes destinados à obtenção das imprescindíveis melhorias nos domínios dos recursos humanos e materiais, estruturas e funcionamento.
Por outro lado, desenvolver-se-ão também, pelos departamentos competentes, os estudos necessários ao ajustamento da administração local, dos fundos e serviços autónomos, dos organismos de coordenação económica, das empresas públicas e das empresas de economia mista, ou em que o Estado tem intervenção, às exigências de uma política económica progressiva e coordenada, assegurando maior eficiência dos instrumentos de actuação do sector público, de molde a estimular e orientar as transformações da economia impostas pela aceleração do desenvolvimento nacional.
De modo geral, estes estudos deverão ser prosseguidos com vista a promover melhor enquadramento de funções entre os subsectores referidos e conjuntamente com a Administração Central do Estado, por forma a simplificar e evitar duplicações e, ainda, a prevenir possíveis conflitos positivos e negativos de competências. No tocante à administração local autárquica, o objectivo principal será o de vitalizar a sua acção, mediante acréscimo de recursos e outros reajustamentos, no sentido da elevação do nível das populações e das economias locais e da melhor participação no desenvolvimento regional. No que especialmente se refere às empresas públicas, procurar-se-á valorizar a sua função produtiva, aperfeiçoando os respectivos instrumentos de controle, melhorando a participação nos planos de fomento, adoptando sistemas de contabilidade analítica industrial e reajustando os regimes de pessoal. E no tocante às empresas privadas em cujo capital o Estado participa, ou cuja administração é, a outros títulos, controlada por este, promover-se-ão os estudos respeitantes à definição do melhor ajustamento entre os fins empresariais e públicos das explorações.

§ 4.º Medidas de política

20. Entre as providências que se encaram para dar efectivação gradual aos objectivos da reforma administrativa, a começar pelos serviços da Administração Central, e constam essencialmente das «recomendações» formuladas no citado relatório do grupo de trabalho, salientam-se, como prioritárias, as seguintes:

A) Relativas aos órgãos de reforma:

1.ª Criação do Secretariado da Reforma Administrativa como órgão com competência para, de modo geral, proceder ao estudo e planeamento dás providências tendentes a assegurar, de forma permanente e sistemática, a revisão e o aperfeiçoamento da administração pública l.
2.ª Constituição de núcleos experimentais de organização e métodos (O. M.) nos Ministérios com atribuições no domínio económico e social e nos organismos autónomos e direcções-gerais que ofereçam melhores condições de receptividade.

B) Relativas ao factor humano:

a) Quanto à situação económico-social dos servidores do Estado:

1.ª Revisão e reajustamento de remunerações no contexto da reforma do regime geral dos funcionários e da reestruturação dos quadros administrativos;
2.ª Alargamento das regalias de segurança social, designadamente no que respeita à ampliação dos benefícios da assistência na doença; à intensificação da política de habitação económica; à revisão e aperfeiçoamento do regime da aposentação, e à melhoria das condições de protecção da família dos servidores do Estado em caso de morte.

1 Portugal, O. C. D. E., Paris, 1966.

1 A esta recomendação foi já mandada dar execução pelo Governo, que, por resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, determinou a criação do Secretariado da Reforma Administrativa «como órgão central impulsionador desta reforma, com atribuições de estudo, planeamento, coordenação e acompanhamento da execução das providências tendentes a promover, de forma permanente e sistemática, a modernização e o aperfeiçoamento da administração pública no que respeita, designadamente, ao estatuto jurídico e às condições económico-sociais dos servidores do Estado, à estrutura de quadros e serviços, à racionalização de métodos de trabalho e às relações com o público». Prevê-se que o respectivo diploma seja publicado ainda em 1967.

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b) Quanto à formação e aperfeiçoamento profissional dos funcionários:

1.ª Formação acelerada de técnicos administrativos, dando prioridade a especialistas em O. M. Trata-se da urgente formação, nomeadamente através da realização de cursos intensivos, dos técnicos indispensáveis, não só para colaborarem na fase de planeamento, como sobretudo para garantirem a sua execução nos vários Ministérios, segundo as orientações que vierem a ser traçadas, e, além disso, para promoverem a progressiva racionalização dos gastos públicos;
2.ª Realização de palestras, colóquios e seminários, especialmente para auxiliar a formação a curto prazo de pessoal directivo;
3.ª Promoção de visitas de estudo e estágios no País e no estrangeiro, designadamente no âmbito da formação acelerada;
4.ª Promoção e difusão de publicações de carácter formativo.

c) Quanto ao regime jurídico geral dos servidores do Estado:

1.ª Estatuto dos Funcionários Civis do Estado - preparação de um diploma que defina, de modo uniforme e sistemático, o regime jurídico que vier a ser aplicável à generalidade dos agentes civis do Estado - sem prejuízo dos regimes especiais que se justifiquem para alguns sectores, nem da diversificação que em determinadas matérias se mostre aconselhável ;
2.ª Situação do pessoal assalariado - deve igualmente promover-se com brevidade a revisão do regime deste pessoal, definindo orientações de conjunto que evitem disparidades de regulamentação não apoiadas em fundamentos plausíveis.

C) Relativas à organização e funcionamento da Administração:

1.ª Estudos acerca das reformas de estrutura da Administração, designadamente nos seguintes aspectos:

Revisão de categorias e classes do funcionalismo;
Racionalização dos quadros do pessoal;
Delimitação e repartição de competências entre os organismos e serviços públicos e entre os vários graus e escalões da hierarquia administrativa;
Desconcentrarão e delegação de poderes;
Descentralização de funções;
Coordenação das actividades administrativas;
Simplificação de trâmites processuais e de formalidades burocráticas.

2.ª Enquanto esses estudos não atinjam o seu termo, serão adoptadas providências avulsas nos domínios acima indicados, do tipo das introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 42 800, de 11 de Janeiro de 1960, dada a premência de resolver casos mais graves de congestionamento da Administração e de libertar os escalões superiores de direcção e chefia para o estudo e decisão dos assuntos mais importantes da sua competência 1;
3.ª Preparação de um código de processo administrativo gracioso com base jurídica indispensável a um funcionamento eficaz dos serviços e à defesa dos interesses e das garantias dos particulares;
4.ª Estudo dos processos de melhorar as relações com o público, tanto no que respeita aos problemas da informação (por via ascendente e descendente) como aos da colaboração entre a Administração e os administrados;
5.ª Definição dos critérios a que devem obedecer a instalação e o equipamento dos serviços públicos e análise das incidências destes problemas na eficiência da Administração.

As providências que acabam de preconizar-se para a Administração Central deverão tornar-se gradualmente extensivas, com as necessárias alterações, aos restantes subsectores públicos, tendo em conta as observações formuladas e os estudos a empreender quanto aos seus problemas específicos.

21. Olhadas no seu conjunto, constituem estas providências um esquema geral de reforma, a que procurará dar-se execução sistemática e gradual, com observância de uma ordem de prioridades a definir oportunamente em concreto, atendendo aos recursos de vária ordem - humanos, materiais e financeiros - que hão-de ser exigidos por empresa de tão grande vulto.
Quer isto dizer que, de harmonia com um dos princípios fundamentais atrás enunciados, a reforma administrativa não será um acto instantâneo, nem uma série de meras disposições legais, nem uma sequência de acções avulsas, mas antes todo um longo processo evolutivo, que procurará cobrir gradualmente os domínios de acção respeitantes aos factores de que depende a eficiência da administração pública.
O esquema traçado é de tal forma vasto e complexo que a sua execução não pode deixar de exigir rigoroso planeamento prévio, definição das prioridades a observar, apurado sentido das oportunidades de acção, cuidadosa

1 Também a acima referida resolução do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos determinou a elaboração de «um primeiro projecto de diploma legal contendo providências genéricas de aplicação mais urgente, com vista, nomeadamente, à simplificação de formalismos e desconcentração de competências na administração pública».

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avaliação dos recursos disponíveis, formação urgente de técnicos administrativos, utilização de múltiplas colaborações, coordenação de actividades dispersas.

22. Na escolha, de prioridades a que acima se alude - trabalho prévio que obviamente se reveste de fundamental interesse -, haverá que não perder de vista os seguintes critérios de base:

a) Proporcionar um arranque tão seguro e efectivo quanto possível do movimento da reforma, administrativa;
b) Criar alguns pólos de dinamização para esse movimento susceptíveis de garantir a sua gradual, expansão e fortalecimento;
c) Preparar psicològicamente os dirigentes, os funcionários e em geral e o próprio público para as acções de B. A., ou seja criar um verdadeiro espírito de renovação;
d) Acudir aos pontos nevrálgicos e às necessidades mais instantes reveladas pelo diagnóstico da situação presente;
e) Atribuir importância primordial ao factor humano, quer no aspecto da formação dos funcionários, quer no das suas condições económico sociais;
f) Escolher, dimensionar e organizar cuidadosamente os instrumentos básicos da reforma.

23. Quanto às próprias providências a adoptar, não poderá esquecer-se que algumas das prioridades foram já fixadas pelo Governo no artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 47 137, de 5 de Agosto de 1966, que concedeu o subsídio eventual de custo de vida, e nos artigos 20.º e 21.º da Lei n.º 2131, de 26 de Dezembro do ano findo (Lei de Meios para 1967).
São, fundamentalmente, as seguintes:

A reestruturação dos quadros do funcionalismo;
A realização de um inquérito geral sobre a situação dos servidores do Estado;
A intensificação da assistência na doença aos mesmos servidores;
A. concessão de outras regalias de carácter económico-social.

24. Urna vez criado o órgão técnico central anteriormente referido - o Secretariado da Reforma Administrativa -, a este caberá actuar, sob o impulso e a orientação da Presidência do Conselho, como instrumento principal do planeamento e dinamização da mesma reforma. Importa, no entanto, não perder de vista que esta começa por ser um «estado de espírito» e implica uma «tomada de consciência» antes de se desentranhar em frutos palpáveis. E vem a traduzir-se numa actuação continuada e persistente, devidamente programada, que há-de abranger todos os sectores e escalões administrativos e exigirá dos servidores do Estado, em especial dos mais responsáveis, apurado sentido crítico, luta contra a rotina e a estagnação, poder de iniciativa, actualização permanente, espírito de colaboração, capacidade para o trabalho de grupo, integração em planos de conjunto e em acções coordenadas.
A reforma administrativa não virá do exterior da administração pública; ela terá de operar-se no seio da própria Administração, mediante um esforço permanente de adaptação às condições da vida social, às exigências do desenvolvimento económico e às aquisições do progresso técnico.

II

Programas sectoriais

CAPÍTULO I

Agricultura, silvicultura e pecuária

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. Os dados estatísticos disponíveis não são suficientemente expressivos para caracterizar a situação estrutural e conjuntural da agricultura metropolitana. Daí ser difícil determinar a verdadeira sintomatologia da situação das várias regiões, muito embora só a nível regional se possam definir prioridades de acção que a nível nacional deixam de ser perceptíveis, pela compressão e frieza dos números de apuramento geral. Se este aspecto tem interessa na análise de outras actividades, assume relevância especial no sector agrícola, pois a evolução que tem vindo a processar-se nalgumas regiões influi significativamente nas directrizes de todas a acção a empreender.
Importa ainda acentuar que nem todos os problemas afectos à agricultura podem ser resolvidos no seu âmbito, uma vez que se relacionam e, quantas vezes, se prendem, a outros sectores e actividades integradas no processo de desenvolvimento global e não raramente encontram neles a sua própria solução. É o caso da formação profissional nos meios rurais, do alargamento das regalias sociais, da fruição de comodidades e serviços exigidos polo bem- estar, em igualdade com os mais ramos de actividade, e ainda da equiparação gradual do nível de rendimentxos.

2. De modo geral, pode referir-se que o continente português, no que respeita às condições mesológicas, apenas revela aptidão especial para a produção agrícola em cerca de um torço da superfície total.
Quanto à distribuição da população activa no sector agro-silvícola, os últimos censos acusam ainda elevada percentagem, não obstante o decréscimo que se verificou nos últimos anos. De facto, a participação da agricultura no volume total, do emprego, que em 1950 era de 47 por cento, passou para aproximadamente 35 por cento em 1905, mas cabe-lhe ainda a posição mais saliente no confronto com os outros sectores.
Quem tenha conhecimento directo das condições em que efectivamente se desenvolve a actividade agrícola nas diversas regiões do País chegará à conclusão de que essas condições não correspondem, com rigor àquelas que os apuramentos estatísticos exprimem. Poder-se-á, por exemplo, dizer que no Norte do País raro será o trabalhador agrícola que vive exclusivamente do trabalho por conta de outrem: bem ao contrário, raro será aquele que não participe também numa exploração familiar agrícola, assente em terra própria ou arrendada.
Pelo censo de 1960 verifica-se que correspondiam ao grupo de trabalhadores por conta de outrem quase 60 por cento do total da população activa agrícola, com excesso acentuado do trabalhadores sobro os agricultores (agriculto-

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res patrões e agricultores isolados) e, dentro da classe dos trabalhadores, uma quase exclusiva representação dos não especializados (97,7 por cento). Ainda no mesmo censo, apenas cerca de 6 por cento da população activa agrícola constituíam o grupo dos empresários-patrões, conjunto que não pode considerar-se homogéneo, razão por que nem sempre nele se situam os mais elevados padrões da vida agrícola e se verificam as situações mais vantajosas do ponto de vista económico e social. E, entre os trabalhadores por conta do ou trem, apenas S por cento eram representados por empregados e assalariados ao ano - aos quais, portanto, a agricultura oferece relativa estabilidade -, abrangendo os restantes 92 por cento os assalariados eventuais, socialmente o estrato menos qualificado.
Ainda, no que respeita ao volume da população empregada na agricultura, é de referir que a diminuição observada, se bem que em globo contribua para o aumento da produtividade, se tem processado nos últimos anos a ritmo elevado e de forma desordenada, ocasionando graves problemas nalgumas regiões do continente, nomeadamente o envelhecimento das populações e as variações bruscas de salários, com reflexos desfavoráveis na rentabilidade e nos custos de produção das empresas agrícolas.
A incidência de vários factores, entre os quais avulta o demográfico, contribuiu para dar à exploração agrícola e à propriedade rústica uma estrutura que constitui indiscutível embaraço à integração da agricultura portuguesa no quadro de desenvolvimento geral do País. Tipos de empresa, áreas que lhe servem de suporte, seu fraccionamento e formas de exploração oferecem numerosas situações que revelam quadros estruturais inconvenientes à aceleração do necessário processo de desenvolvimento do sector.

3. Delineado sucintamente o quadro em que se tem processado a actividade agrícola, analise-se agora mais concretamente a contribuição desse sector para o crescimento económico do País.
Com base nas contas nacionais, observa-se que a expansão calculada para o produto originado na agricultura, avaliado a preços constantes, foi, entre 1953 e 1964, de cerca de 561 000 contos, equivalente a um acréscimo de 3,5 por cento, à taxa anual cumulativa de aproximadamente, 1 por cento. No decurso do período identificaram-se fases de retrocesso e expansão, assinando-se nesta, entre 1959 e 1964, um crescimento da ordem dos 6,3 por cento, à taxa anual de 1,8 por cento.
O lento crescimento do sector reflectiu-se na pequena contribuição relativa da agricultura, silvicultura e pecuária para o produto interno bruto, a qual, no decurso de 1953-1964, se cifrou em 1,6 por cento, consequência da grande disparidade entre os crescimentos dos sectores agrícola e não agrícola (3,5 e 97,8 por cento, respectivamente), apesar de se registar diminuição do contributo do sector para o produto interno bruto, que, de 29,2 por cento em 1953-1955, passou para 20,5 por cento em 1962-1964.
A contribuição do sector agrícola para o acréscimo da produtividade do trabalho total no período de 1953-1964 foi de 13,8 por cento, dos quais apenas 7,3 por cento resultam de contribuição directa da actividade do sector e os restantes 6,5 por cento provêm da transferência da população activa agrícola para outros sectores da actividade económica.
A relativa estagnação observada no produto agrícola tem, sem dúvida, limitado o ritmo de desenvolvimento necessàriamente inerente à transformação que se opera na estrutura produtiva, evidenciada pela participação percentual decrescente do sector primário na origem, do produto interno e peso crescente assumido pelo sector industrial.

Contribuição do sector agrícola para o produto nacional

Em percentagem

[Ver Tabela na Imagem]

(a) lucros constantes de 1963.

Factores climáticos adversos são determinantes desta evolução; são-no também defeitos estruturais já aludidos e, ainda, falta de investimentos, inadequado sistema de crédito, bem como deficiente sistema de comercialização.
Não obstante este condicionalismo de que se rodeia a produção agrícola, denota-se progresso definido nalguns ramos, o que, aliás, se torna patente numa análise mais pormenorizada da composição do produto agrícola.

Composição do produto agrícola (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) A preços de 1963.

Pode, em linhas genéricas, inferir-se do quadro anterior tendência para se elevar a participação dos produtos pecuários e silvícolas na origem do produto agrícola, notando-se, no entanto, serem ainda os produtos vegetais os que oferecem maior contributo.
São as produções tradicionais que mais têm concorrido para o lento crescimento do produto agrícola, salientando-se os cereais, cuja produção se tem revelado decrescente. Estão apenas abrangidos os cereais de pragana de

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sequeiro, pois as produções de milho e arroz têm-se mostrado progressivas. Além destes últimos produtos, observa-se certo dinamismo nas produções de frutas, nos produtos hortícolas e no conjunto das produções pecuária e silvícola. São estes os ramos cuja actividade se tem revelado mais promissora, mas a sua fraca representatividade no produto agrícola dilui o progresso neles assinalado.
As estimativas do produto em 1965 indicam melhoria da situação conjuntural, mas não alteram as asserções formuladas.
Confrontada a situação com a de outros países de agricultura evoluída, ela mostra-se desfavorável, não só quanto ao nível da taxa de acréscimo do produto, como também no que toca às posições relativas dos produtos de origem vegetal e animal, com uma desproporção muito acentuada nas parcelas que lhes correspondem.

4. Como se aludiu, o nível baixo dos investimentos realizados na agricultura do continente constitui uma das causas, se não a fundamental, do fraco progresso atingido no sector.
Na verdade, considerando as estimativas das contas nacionais, a taxa média de acréscimo anual da formação bruta de capital fixo, no período de 1953-1964, no sector agrícola, terá sido de 2,2 por cento; o crescimento foi apenas de 1,3 por cento na parte relativa a «construções», praticamente devido a investimentos no sector público, e um pouco mais expressivo em «material de transporte» e «material diverso», a que corresponderam taxas médias de respectivamente, 4,4 e 5,1 por cento.
O baixo nível dos investimentos globais e o que respeita a «construções» deve-se em parte ao grave problema de que enferma a lavoura: as dificuldades de financiamento. São estas dificuldades, provàvelmente, que levam a dar prioridade a investimentos em material, a fim de compensar os efeitos da redução dos efectivos de trabalho, o que se torna patente no acréscimo de 63 por cento observado no parque de tractores, no hexénio de 1960-1965.
Para o desenvolvimento da agricultura é essencial aumentar o potencial produtivo dos solos e das culturas, mediante o recurso a fertilizantes e a sementes e plantas seleccionadas. Tem-se verificado crescimento no consumo de fertilizantes, mas o seu ritmo decaiu nos últimos anos. Quanto à utilização de sementes seleccionadas, observa-se certo incremento, mas apenas em relação a número limitado de espécies e, ainda assim, de forma insuficiente.

5. Apreciando, rias suas linhas gerais, o comportamento da oferta dos principais produtos da agricultura frente à procura interna, pode afirmar-se ser o continente português deficitário, qualitativa e quantitativamente, em alguns grupos de produtos.
Tal situação tem-se observado nos cereais, particularmente no trigo, batata, azeite, carne de bovinos, e por vezes de suínos, leite e lacticínios, peles, couros e lãs. Nas frutas registam-se algumas importações de frutos exóticos do ultramar e ilhas adjacentes. Apenas acusam saldo excedentário as leguminosas secas, o vinho, a carne e leite do ovinos, os produtos avícolas e os florestais.
A manterem-se as actuais condições de produção, tenderá a intensificar-se a situação deficitária dos aludidos produtos, tendo presente a tendência crescente do consumo global, com a consequente evolução das capitações, e o desenvolvimento industrial.
É certo que se esperam resultados favoráveis das medidas preconizadas recentemente para os cereais e alguns produtos pecuários; obras de irrigação em curso fomentarão culturas de regadio; e é evidente também o progresso conseguido na produção frutícola e no domínio da ovinicultura, avicultura e produção florestal.
Contudo, os esforços despendidos, alguns ainda recentemente, não se mostram suficientes para conseguir a transformação profunda das condições de produção, por forma que ela possa corresponder, em volume e qualidade, às exigências do mercado.
Os produtos em que se têm verificado excedentes de produção sobre o consumo interno têm sido canalizados para os mercados externos, directamente ou após transformação industrial; estão neste caso os vinhos, frutas secas, madeira, cortiça e resinosos.
Assinale-se, todavia, a expansão observada na procura externa de tomate em massa e em sumo e na de frutos o produtos hortícolas preparados e conservados, em que o valor das exportações mais do que quintuplicou no triénio de 1963-1965. Desenvolvimento análogo se observou nas vendas de pasta para papel.
Não obstante a situação evidenciada nos primeiros produtos e a evolução observada nos últimos, eles enfermam ainda de problemas que impedem a sua valorização comercial.

6. Sistema deficiente de comercialização de alguns produtos agrícolas e florestais constitui, como se acentuou, outro óbice ao desenvolvimento do sector.
Exceptuados os casos em que a distribuição se encontra já regulamentada, aqueles produtos seguem vários canais distintos e sem estrutura definida, originando circuitos de distribuição por vezes complicados.
Tratando-se de produtos perecíveis e de fraco valor unitário, o transporte e a armazenagem têm apreciável incidência nos respectivos custos de distribuição, e estes nem sempre são realizados com a devida eficácia.
O elevado número de intermediários origina ainda afastamento entre os preços no produtor e no consumidor, sem que daí advenha qualquer vantagem para o primeiro.
Também o carácter aleatório da produção agrícola torna mais difícil a determinação prévia do volume que conduza a maior rentabilidade da empresa.
Essa irregularidade, além dos reflexos ocasionados nos custos de produção, tem a mais sensível repercussão nos preços de venda, dada a decisiva influência que, na formação destes, desempenha o mecanismo da lei da oferta e da procura.
Impossibilitada de ajustar permanentemente as quantidades dos bens produzidos às exigidas pelo consumo, por força da essência própria das suas condições de produção, a agricultura sofre muitas vezes, por esse facto, as duras consequências das profundas oscilações dos preços de venda, consoante o volume da oferta lançado no mercado.
Além disso, o carácter perecível da maioria dos produtos e a carência de meios de conservação e armazenagem impõem ao agricultor a rápida comercialização dos produtos, sob pena de deterioração mais ou menos grave ou perda completa, facto que o obriga a aceitar, quantas vezes, preços irrisórios.

7. Não obstante as dificuldades assinaladas, a integração do sector agrícola, em condições de igualdade com os demais sectores, nos complexos esquemas de economia e de produção exigidos pelo desenvolvimento económico do País, constitui fim primordial a atingir, tão ràpidamente quanto seja possível.
E a justificá-lo não está sòmente a exigência imposta ao seu crescimento para que seja possível um desenvolvimento global harmónico, mas também o imperativo de garantir a alimentação das populações cada vez mais

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numerosas e o abastecimento das matérias-primas destinadas às indústrias transformadoras.
O sentido técnico e económico deve, portanto, imprimir característica dominante a todos os empreendimentos que levem à modernização da actividade agrícola.
Daí terem papel preponderante, por um lado, os meios técnicos agronómicos e a formação profissional necessária para os utilizar racionalmente; por outro, os preços dos produtos, que deverão não só cobrir as despesas efectivas da exploração, mas também remunerar convenientemente os factores e os riscos da produção, por forma a garantir a viabilidade económica da actividade.
Importa, por isso, assegurar a correcção dinâmica do efeito dos factores que possam influenciar, de algum modo, quer o preço de custo, quer a margem justa entre este e o preço de venda. Para isso não basta a acção e o incentivo, que está na missão do Estado promover a bem de todos os sectores da actividade económica. São também os outros sectores de actividade que, por formas diversas e ajustadas, têm, para sobreviver, de comparticipar na compensação de irregularidades, quer da produção, quer da oferta e da procura dos produtos agrícolas e florestais.
Mas a agricultura carece de se estruturar e organizar de molde a vencer as dificuldades inerentes à essência do seu sistema produtivo, sem o que difìcilmente conseguirá usufruir a legítima posição económica em confronto com as demais actividades. E essa estruturação só pode ser conseguida reforçando os incentivos que levem à criação ou manutenção de empresas dotadas dos necessários atributos para alcançar a máxima rentabilidade do processo produtivo, a fim de poderem remunerar justamente os factores de produção e, simultâneamente, enfrentar com êxito a batalha dos mercados.
É à luz destes conceitos e destas finalidades, das realidades sociais e demográficas e das potencialidades produtivas, efectivamente existentes ou previsíveis em cada uma das regiões, que pode e deve equacionar-se a designada «adaptação estrutural».
A adaptação estrutural não tem sòmente, por isso, que visar os problemas relacionados com a estrutura da propriedade. Ela terá, antes do mais, que estabelecer as grandes bases em que assentará o aproveitamento racional, técnico e económico do território, tendo por alicerces as potencialidades produtivas e a protecção destas contra os factores adversos.
Serão o racional ordenamento cultural para cada uma das regiões e as possibilidades qualitativas e quantitativas das suas produções que permitirão traçar as linhas orientadoras de actuação, quer no que respeita à estrutura fundiária, quer às formas de exploração mais convenientes.
Por seu turno, a justiça inerente à necessária repartição da riqueza - neste caso do rendimento da terra - deixou há muito de se poder conseguir pela divisão da propriedade, pois esta, cada vez mais contingente pela natural evolução dos factores económicos, deixou de ser, como o foi durante milénios, a verdadeira fonte de manutenção da riqueza. Razão por que a propriedade rústica, como vínculo jurídico que é e continuará a ser, transferiu para a «empresa» ou para a «exploração» agrícolas, económica e tècnicamente viáveis, a «função» de actividade que lhe competia.
Sendo a empresa agro-pecuária e florestal a unidade base do processamento de todo o desenvolvimento económico do sector, quando se reconhece que importa em muitas regiões promover a reorganização empresarial quer significar-se que essa reestruturação terá de visar não só os mais ajustados ordenamentos culturais, mas também o sistema de exploração mais consentâneo ao seu melhor aproveitamento técnico e económico. A reestruturação fundiária só será de verdadeiro interesse desde que abranja simultâneamente os dois aspectos essenciais focados: ordenamento racional de culturas e sistema de exploração que permita condições de garantida rentabilidade.
A adaptação estrutural das actuais empresas deve, portanto, orientar-se segundo critérios de dimensão económica mínima e de sistemas de exploração.
Pouco interessará definir o tipo de empresa se se aceitar que ela deverá corresponder ao processo mais racional de gestão e de exploração, dentro do seu quadro estrutural e respeitando o tradicionalismo da região.
De facto, verifica-se certa interdependência entre o tipo de empresa e o grau de intensificação cultural. Mas, actualmente, ela perde um pouco o seu significado, pois são as formas de exploração e da organização da produção que essencialmente conduzem a melhores resultados técnicos e económicos.
Repare-se que sòmente deste modo se conseguirá o necessário ajustamento, no tempo, entre as exigências de desenvolvimento económico do sector e a extrema variância das dimensões económicas das explorações, difìcilmente determináveis, uma vez que dependem, em cada momento, não só da diversidade de condições de produção e da receptividade da procura, mas também da eficiência directiva dos próprios empresários.
Daí o grande interesse das várias formas de associação, quer ao nível das explorações (agricultura de grupo), quer ao nível da produção (associações de produtores, cooperativas de produção, comercialização e industrialização de produtos agrícolas, etc.), que, não obstante perturbações motivadas pelo espírito individualista dos agricultores, não deixam também de contribuir para a criação de infra-estruturas, indispensáveis ao desenvolvimento económico do sector e de todas as mais actividades.
Aliás, tais sistemas de exploração, desde que sejam os mais ajustados em cada caso, criarão o necessário ambiente ao desenvolvimento e consolidação das funções empresariais, sem que tenha de se intervir directamente - sempre de modo artificial e à custa de elevados investimentos, considerando uma actuação a nível nacional - no património fundiário.

8. São, portanto, as acções indirectas promotoras do fomento da reorganização fundiária que deverão ser apoiadas, desde que visem o dimensionamento da exploração capaz de auferir, embora no mínimo, os benefícios técnicos e económicos susceptíveis de se obterem nas condições mais favoráveis.
Na verdade, seria impensável, pela grandeza do problema, pela dificuldade de correcta intervenção e pela oportunidade dessa intervenção, atentas as mudanças que se estão operando na agricultura, que a reestruturação fundiária figurasse como processo da acção directa.
A repartição actual da propriedade fundiária constitui o fruto de um processo evolutivo, e portanto vivo, em que intervieram vários factores, tendo o demográfico marcado posição saliente, sem, contudo, constituir o único importante.
Consequentemente, a análise da estrutura física da posse da terra não pode ser orientada sem considerar todos os factores intervenientes e a sua evolução e sem admitir que a participação de cada um desses factores se processe, actualmente, por forma diferente da de outros tempos.
Verifica-se, assim, a importância de estabelecer a necessária correlação entre os aspectos potenciais produti-

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vos, as estruturas da propriedade e da exploração e os problemas demográficos - todos eles encarados numa base regional. Sòmente deste modo serão possíveis opções que definam uma adequada política estrutural ou conjuntural.
Uma análise simples do modo como se processa no País a divisão da propriedade permite verificar que, de maneira geral, no Norte, como no Sul, as zonas e regiões minifundiárias correspondem a áreas que consentem as maiores potencialidades produtivas, sob o ponto de vista de intensificação cultural; razão por que aqui importa actuar de molde a que não se impeça a obtenção de melhores condições de valorização, mesmo numa estrutura deficiente.
Essa actuação apenas necessita de que se criem condições de exploração e de organização viáveis. E quando se verifiquem circunstâncias que permitam a reorganização estrutural, esta só será de admitir desde que excedidos os limites de dimensionamento capazes de promover esquemas de exploração de garantida rentabilidade técnico-económica.
Em contrapartida, nas regiões e zonas onde o minifúndio não existe, as condições de potencialidade produtiva são normalmente reduzidas, pelo que as condições técnicas de viabilidade económica das explorações só poderão obter-se na medida em que o dimensionamento compense a baixa produção unitária.
Nestes casos, e em grandes áreas, terá igualmente de se intervir, pois sòmente através de sistemas de exploração devidamente fundamentados e da organização da produção podem criar-se as condições que consintam, a melhor produtividade e a desejada intensificação cultural.
Competirá à iniciativa privada, às suas virtudes e possibilidades, aproveitando todo o apoio concedido sob várias formas, a missão de se estruturar ou reorganizar em empresas, quer nos moldes das designadas «familiares», pela sua estrutura orgânica e correspondente método de trabalho, quer nos da empresa patronal, de técnica evoluída.
E, como se afirmou, deverá o Estado apoiar e incentivar estas iniciativas, pois sòmente deste modo atingirá reforma estrutural válida, não sujeita a situações demográficas conjunturais.

9. No que se refere ao ordenamento agrário, ao comparar os números fornecidos pelo Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário relativos à utilização actual e prevista do solo do continente, infere-se que a cultura agrícola abrange superfície muito superior à que se considera com aptidão para tal, o que, em termos simplistas, levaria a concluir terem, de desviar-se para a cultura florestal mais de 2 milhões de hectares.
No entanto, sem diminuir a necessidade da intensificação, um larga escala, do povoamento florestal, anote-se que a indicação facultada por aqueles números deve ser tomada com reserva, porquanto nem toda a área considerada não agrícola será forçosamente florestal. Urna certa percentagem não permitirá mesmo tal tipo de povoamento e, por outro lado, admite-se a necessidade de modificar as actuais aptidões culturais, mediante o recurso a meios técnicos que, exigindo embora grandes investimentos iniciais, poderão conduzir a aproveitamento de maior rentabilidade.
Para o estudo da revisão do aproveitamento do território, tem indiscutível oportunidade a análise concreta do «meio físico», pois caracteriza os vários elementos do ambiente e, assim, evidencia os aspectos positivos de cada uma das diferentes regiões. Sòmente pelo perfeito conhecimento das várias condições ambientais existentes de norte a sul do País e nas ilhas é possível encarar os meios técnicos e de investigação indispensáveis para suprir deficiências e aproveitar benefícios, defendendo umas e outras de condições adversas.
Será, portanto, o estudo da correlação entre o aproveitamento do território e as características do meio físico que definirá as potencialidades produtivas efectivamente existentes ou a criar e permitirá a selecção das que se mostrem técnica e econòmicamente viáveis, mediante esquemas de actuação racionalmente determinados. Não só se promoverá, assim, o mais conveniente ordenamento cultural, como se realizará quanto possível a vocação regional sob o ponto de vista agro-pecuário e florestal.
Deste modo, abranger-se-ão os diferentes esquemas que sucessivamente deverão ser postos em execução, ordenada e selectivamente, e que hão-de conduzir à reconversão das áreas imperfeitamente aproveitadas.
Não podem ainda esquecer-se os problemas conjunturais suscitados por factores adversos, que têm afectado a agricultura e ocasionado a grave crise de confiança que nela existe quanto ao seu próprio destino. Por consequência, nos anos imediatamente futuros, terão de continuar a concentrar-se esforços para resolver questões que, embora conjunturais, se ligam a problemas de base, pois assim se contribuirá também para a solução destes últimos.

§ 2.º Objectivos

I) Objectivos gerais

10. Como objectivos gerais, cuja validade persiste e se afirma de novo para o período deste III Plano, salientam-se:

A elevação da taxa média de acréscimo do produto agrícola;
A elevação do nível de vida da população ligada ao sector;
A melhoria da contribuição da agricultura para a balança comercial, pela satisfação em maior grau da procura interna de bens aumentares e pelo aumento das exportações.

11. A premência de que se reveste a consecução destes objectivos e, também, a consideração dos inconvenientes de vária ordem, designadamente o progressivo agravamento de deficits, que resultariam da manutenção, durante mais um hexénio, de ritmo de crescimento tão baixo como o que houve de admitir para o Plano Intercalar, levou a adoptar, como objectivo a atingir durante o III Plano, o crescimento médio anual de 3 por cento para o produto agrícola. Tal objectivo afigura-se atingível, dadas, por um lado, as consequências benéficas que é legítimo esperar das medidas postas em prática no âmbito do Plano Intercalar, cuja plena frutificação irá recair no novo período, e, por outro lado, a firme intenção de prosseguir no caminho da remoção definitiva das causas profundas que têm entravado o desenvolvimento do sector.

12. Com base nesta projecção de desenvolvimento para o período de 1967 a 1973, o produto agrícola deverá registar o acréscimo de 3 300 000 contos. A participação do sector na formação do produto interno bruto passará a ser, em média, de 13 por cento, e a contribuição do acréscimo do produto bruto do sector para o acréscimo global do produto nacional será de 5,6 por cento.

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A contribuição para o aumento da produtividade do trabalho total situar-se-á em 11,3 por cento, e a resultante da transferência de cerca de 1/2 da população activa agrícola para outros sectores será apenas de 8,6 por cento.
Deverá ser muito significativa a contribuição do sector para reduzir as carências que têm vindo a registar-se nos últimos anos. Assim, entende-se que, com os conhecimentos técnicos actuais e as medidas já tomadas e a promover, se procurará:

Obter o crescimento do produto da cerealicultura (o nível médio verificado nos últimos doze anos foi de cerca de 2 380 000 contos), apesar da redução que se está a promover da área votada à mesma, cultura;
Elevar a taxa de acréscimo anual do produto dos legumes e tubérculos (tem sido, em média, 1 por cento);
Não diminuir o produto relativo aos «vinhos e aguardentes» (calculado em cerca de 1 850 000 contos);
Manter, se não se puder elevar, a taxa de crescimento do produto do «azeite e azeitonas», que no período de 1953-1964 foi de 0,7 por cento;
Acelerar consideràvelmente o crescimento do produto originado pelas frutas e pelos produtos hortícolas o horto-industriais para taxas de 3,5 e 3 por cento (no período de 1953-1964 as taxas médias foram de 2,9 e 1,5 por cento, respectivamente);
Imprimir ritmo particularmente intenso ao crescimento dos produtos relativos a carne, leite e ovos, para taxas nunca inferiores a 3 e 3,5 por cento, respectivamente (no período de 1953-1964 as percentagens foram de 0,9 e 2), e manter a taxa registada no período de 1953-1964 para o caso da lã (0,3 por cento);
Não baixar as taxas de crescimento do produto originado pela cortiça (1,6 por conto) ao nível verificado nos anos de 1953 a 1964 e acelerar o crescimento do produto do material lenhoso para a taxa de 2,5 por cento; admite-se, por outro lado, certa perda de velocidade no crescimento do produto relativo a resina e cascas de tanantes, cuja taxa média anual passará de 7,4 para 5 por cento.

13. Para a consecução dos objectivos globais propostos haverá que visar-se a realização das condições de base de que depende o desenvolvimento acelerado que pretende obter-se. Pela maior importância de que se revestem, refere-se, em especial, a necessidade urgente de rever o actual aproveitamento do território e, tendo por base a definição de macrozonas e microzonas, em função da melhor aptidão e utilização técnico-económica do solo e da caracterização das demais condições ambientais, intensificar nelas a acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro com vista à reconversão cultural, à obtenção de elevados índices de produtividade e à correcção das condições adversas; promover e incentivar o melhoramento fundiário e infra-estrutural (rega, drenagem, acessos, etc.) das áreas abrangidas pelas obras de rega realizadas pelo Estado ou por iniciativa privada; intensificar o aproveitamento das potencialidades produtivas, existentes e a criar nas várias regiões do País, pelo alargamento das áreas regadas e pelo melhor ajustamento entre a cultura e as condições ecológicas que lhe forem mais próprias; elevar o grau de qualificação dos empresários e da mão-de-obra agrícola de modo a atingirem-se níveis de produtividade consentidos pela utilização mais conveniente dos meios e factores de produção; fomentar a organização do sector produtivo ao nível do produto e da empresa, tendo em vista a obtenção das melhores condições de exploração e a maior valorização dos produtos, em natureza e transformados; incentivar a motomecanização agrícola e floresta! como meio acelerado da modernização do sector e da sua reconversão técnico-económica; apoiar a adaptação das estruturas por processo natural, através de acções especializadas, quando conduza à constituição de empresas bem dimensionadas que se integrem em planos de desenvolvimento regional.

II) Objectivos por subsectores de actividade

14. Para a concretização das condições de base acima indicadas haverá que ter em linha de conta a criação, nos diversos subsectores produtivos e, em especial, nos considerados de algum, modo estratégicos, de condições que permitam a sua participação efectiva na concretização dos objectivos globais, a fim de que seja atingido o ritmo de crescimento médio anual mínimo de 3 por cento para o produto agrícola.
Ainda importa considerar medidas concretas que, directa e indirectamente, influem significativamente na obtenção das condições necessárias ao desenvolvimento dos vários subsectores produtivos. Entre outras adiante referidas, insere-se a necessidade de se acelerarem os estudos de base, de ordem económica e de outra natureza, de modo a definir o racional ordenamento cultural do território que permita, em cada momento, a orientação mais adequada na programação do desenvolvimento do sector.

15. A necessidade inadiável de se melhorarem as condições que se verificam no aproveitamento dos regadios estabelecidos pelas obras de rega já concluídas aconselha a tomar providências que visem a realização de obras complementares conducentes ao melhoramento fundiário e à criação de infra-estruturas indispensáveis à intensificação cultural a que conduz a rega.
Por outro lado, a entrada em funcionamento da 1.ª fase do Plano de Rega do Alentejo exigirá, igualmente, as indispensáveis medidas para que, no mais curto prazo de tempo, se atinjam os índices de produtividade indispensáveis à rentabilidade da obra.
Deste modo, espera-se que seja significativa a comparticipação das áreas regadas e das que virão a sê-lo no aumento do produto bruto durante a execução deste Plano, quer através do acréscimo anual do produto de legumes e tubérculos, das frutas, de produtos hortícolas e horto-industriais, quer no crescimento dos produtos relativos à carne e ao leite.

16. Atendendo à elevada importância da cerealicultura e à grande necessidade de se intensificar a sua produção, respeitando as inadiáveis exigências de reconversão cultural, particularmente evidentes nas áreas normalmente ocupadas por cereais em cultura de sequeiro, considera-se de grande oportunidade este empreendimento, que terá em vista, especialmente, a melhoria de condições de exploração nos solos que lhe sejam adequados, difundindo o uso de sementes seleccionadas ou de boa qualidade e as normas, racionais de cultura com vista a substancial aumento de produtividade.
O regime cerealífero em vigor (Decreto-Lei n.º 46 595, de 15 de Outubro de 1965) traça claramente o rumo de reconversão e de melhoria das condições de exploração, apontando os meios para esse efeito. Mas existem medidas que pela sua natureza carecem de acção especializada, e elas dizem respeito às necessidades de conserva-

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ção do solo, de fertilização, de drenagem e de despedrega de solos com grandes potencialidades para a cultura cerealífera.
Entre os objectivos definidos, insere-se, como foi referido, o crescimento do nível actual do produto originado no ramo «cereais», embora tenha de verificar-se a redução da área de cultura de alguns deles, o que só será possível mediante a execução de um cuidado programa de reconversão, que favoreça a cerealicultura em terras adequadas e difunda o uso de sementes de boa qualilade, a fim de se obter substancial aumento da produção unitária.

17. Também ao fomento pecuário caberá papel de grande relevo, uma vez que se espera tornar a pecuária um dos ramos dinamizadores do sector agrícola.
A influência marcada que o fomento pecuário e forrageiro pode ter na reconversão das explorações agro-pecuárias e na solução da crise económica em que se encontra o sector requer a intensificação de acções já iniciadas em planos anteriores, em que se incluem as expressas nos programas do Serviço da Campanha de Fomento Pecuário e nos despachos ministeriais de 30 de Abril de 1965, de 7 de Abril de 1967 e outros diplomas legais já publicados e a publicar.
Este empreendimento proporcionará o acréscimo da produção animal e dos seus produtos a níveis nunca antes atingidos, e o aumento considerável da oferta irá permitir não só a satisfação das necessidades de abastecimento interno, como a exportação e a participação no abastecimento das províncias ultramarinas.

18. As acções a desenvolver no fomento da fruticultura, horticultura e floricultura assumem no Plano relevo especial, dado tratar-se também de ramo do sector agrícola que se espera venha a desempenhar papel motor. Com efeito, admitiu-se que a fruticultura e horticultura iriam crescer a taxas anuais de pelo menos, 3,5 e 3 por cento, respectivamente.
A actividade a desenvolver neste campo, a cargo da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas e da Junta Nacional das Frutas, visará:

O prosseguimento, sob a rubrica «pomóideas e prunóideas», da execução do programa de renovação e estruturação da fruticultura nacional, de acordo com o Plano de Fomento Frutícola, iniciado ainda na vigência do II Plano de Fomento;
A continuação do aperfeiçoamento da cultura dos citrinos e o início da renovação das principais espécies produtoras de frutas secas, tendo em vista melhorar e, tanto quanto possível, uniformizar a qualidade dos frutos de todas estas espécies, assegurando também a obtenção de melhores produtividades;
O fomento da produção de uva de mesa em escala e em moldes de verdadeira economia de mercado e de acordo com a capacidade do território nacional e as previsões dos consumos interno e externo;
O aperfeiçoamento das culturas hortícolas, de plantas ornamentais e produtoras de flores, com vista ao fomento das regiões do País que ofereçam melhores condições ecológicas e também de acordo com as solicitações e exigências do mercado;
A prossecução do programa de infra-estruturas indispensáveis à conveniente comercialização da fruta e, simultâneamente, o fomento da criação de circuitos comerciais capazes de satisfazer as exigências do consumo interno e da exportação.
São manifestas as condições favoráveis de algumas regiões para a intensificação da fruticultura, da floricultura e da horticultura.
O desenvolvimento da fruticultura nas regiões incluídas na zonagem específica para as várias espécies prevê-se não sòmente dentro dos planos de intensificação cultural e com vista a melhor aproveitamento das potencialidades existentes, mas também como medida do maior interesse económico na reconversão cultural de grandes zonas, tendo em vista o seu racional ordenamento.
Igualmente, as condições de excepção que sob o ponto de vista climático possui o território continental e insular para a floricultura (em campo e em forçagem) tornaram imprescindível que não se perdesse mais tempo a tomar posição definida, quer no mercado interno, quer sobretudo no mercado internacional.
Enfim, as culturas hortícolas e horto-industriais desempenham papel relevante e insubstituível no equilíbrio cultural e económico dos regadios.

19. A reestruturação da vitivinicultura exige revisão profunda, quer dos aspectos que se relacionam com a cultura da vinha, quer daqueles que se prendem com a transformação e comércio dos seus produtos.
Num país com vocação muito especial para a vitivinicultura, torna-se indispensável realizar essa reestruturação sem perda de tempo e no sentido que melhor se adapte às exigências qualitativas e quantitativas da oferta e da procura. Constitui, além disso, empreendimento com lugar de realce nos programas de reconversão cultural, o que se impõe uma vez que grandes superfícies vitícolas terão de ser ocupadas por diferentes aproveitamentos de maior interesse económico e outras áreas surgirão por imperativos simultâneamente de ordem económica e de qualidade dos produtos obtidos.
Prosseguirão os estudos iniciados no decurso do Plano Intercalar, com vista à generalização do uso de máquinas nas vinhas e à redução dos custos de produção, procurando definir as modalidades de estabelecimento de novos vinhedos e a adaptação dos existentes às condições determinadas pela utilização da maquinaria e pela conservação do solo. Os estudos a desenvolver incidirão ainda sobre a determinação do valor cultural das castas e porta-enxertos, sobre alguns aspectos de sanidade vitícola e sobre a promoção da melhoria de qualidade dos nossos vinhos.
No que respeita ao aproveitamento de subprodutos, pré vê-se começar a sua laboração industrial ainda na vigência do Plano, na sequência da experimentação a desenvolver; para tal deverá dar-se início, com a construção de sete unidades, ao estabelecimento de uma rede de instalações de aproveitamento.
Prosseguir-se-á na execução dos planos, já em curso, de construção, ampliação e apetrechamento de adegas cooperativas e de fomento da comercialização directa dos produtos dessas organizações, pela concessão de conveniente apoio técnico e financeiro.

20. A importância atribuída à olivicultura na economia do sector agrícola e na ocupação do solo, a sua participação possível e desejável na reconversão de grandes áreas de aptidão agrícola e as possibilidades de valorização da azeitona de conserva levaram à inclusão da olivicultura nos empreendimentos considerados no Plano. Nos estudos realizados aquando da elaboração do capítulo em que se trata da investigação não ligada ao ensino considerou-se um projecto de investimento - a incluir em próximo programa de execução anual- que abrange os aspectos que mais interessam, de momento, à olivi-

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cultura. Deste modo, importa unicamente referir aqui os investimentos respeitantes a equipamento de lagares e a armazenagem fixa, prosseguindo na política de organização do sector da produção e de apoio às organizações de olivicultores.

21. A silvicultura constitui empreendimento prioritário dada a necessidade de impulsionar o desenvolvimento da arborização, a compartimentação paisagística e o melhoramento silvo-pastoril, quer dos terrenos particulares, a que se atribui primazia, quer dos terrenos afectos ao Estado.
Tem-se em vista dar, dó forma decisiva, maior cabimento às exigências da reconversão das áreas de aptidão não agrícola que têm sido ocupadas especialmente pela cultura cerealífera e muitas vezes pelas culturas de vinha e de olival.
Ainda pela arborização e pela compartimentação dos terrenos de aptidão agrícola se conseguirão as condições ambientais indispensáveis à conservação do solo e à defesa das culturas, contribuindo de modo relevante para o acréscimo do produto bruto agrícola e .florestal. O povoamento piscícola, o fomento da caça e as normas destinadas à sua protecção e exploração integram-se igualmente dentro dos esquemas previstos, tendo em vista as exigências de reconversão de áreas hoje afectadas a culturas agrícolas sem viabilidade económica, que poderão adquirir através da arborização parcial é da exploração turística e desportiva.
Da execução deste empreendimento espera-se obter, para além dos benefícios da defesa do solo contra a erosão, sensível aumento da rentabilidade dos terrenos beneficiados e, por consequência, contribuição relevante para o projectado acréscimo do produto bruto agrícola.

22. No período deste Plano prosseguirão as tarefas, já em curso, de apetrechamento da rede fitossanitária, bem como as medidas de defesa, no sector da agricultura e das florestas, contra pragas e doenças; proceder-se-á à homologação dos produtos fitofarmacêuticos e ao estudos dos herbicidas.

23. No domínio da sanidade pecuária, serão mantidas as campanhas de luta contra a febre carbunculosa, doenças rubras clássicas dos suínos, febre-de-malta, tuberculose bovina de castas não leiteiras, parasitoses, mamites e outras zoonoses e saneamento dos aviários; desenvolver-se-á a luta contra a tuberculose e brucelose bovinas nos Açores e proceder-se-á ao apoio laboratorial e preparação do pessoal indispensável.

24. Pela mecanização agrícola e florestal pode dispor-se de equipamento técnico que permite novos meios de trabalho impostos não sómente por exigências de intensificação cultural e de aumento da produtividade, mas também pela evolução, nem sempre ordenada, do êxodo rural, característico dos países em desenvolvimento.
A máquina, além de contribuir para a modernização do sector agrícola pela própria valorização do trabalho e consequente reacção ao êxodo desordenado, desempenha ainda importante acção no mais racional ordenamento cultural onde sòmente seja possível, técnica e economicamente, aumentar o potencial produtivo dos solos e das culturas com os meios de produção disponíveis.
Deste modo, a motomecanização agrícola e florestal constitui empreendimento dinamizador do desenvolvimento dos vários subsectores produtivos, razão por que, no decorrer deste Plano, se intensificarão as necessárias medidas promotoras do seu fomento.

25. A extensão agrícola e a formação profissional constituem empreendimentos indispensáveis ao progresso do sector.
Será pela formação profissional dos agricultores e dos empresários e pela divulgação das boas normas de gestão de empresas que hão-de conseguir-se os níveis de produtividade desejados pela utilização mais conveniente dos meios e factores de produção.
A colaboração entre os serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura e os do Ministério das Corporações e Previdência Social reveste-se do maior interesse, tanto mais que se torna necessária e oportuna a preparação de empresários orientados para zonas de povoamento nas províncias ultramarinas.
Continuará a acção dos «centros de gestão», que se estabeleceram durante o Plano Intercalar, e promover-se-á a montagem de novos centros, por forma a melhorarem-se os resultado» económicos de várias explorações agrícolas em diferentes zonas do País. A acção assim desenvolvida, permitindo a realização da «análise de grupo», fornece bases para uma assistência técnica mais eficaz e facilita aos agricultores a tomada de decisões sobre a melhor orientação a seguir na condução das suas empresas.
Considera-se também o estabelecimento de 50 explorações de demonstração nas dezasseis regiões agrícolas do continente, com o fim de ensaiar uma assistência técnica total à empresa agrícola e de recolher elementos que sirvam de base às medidas a tomar no campo da política agrária.
Deverá proceder-se à montagem experimental de um sistema de extensão agrícola integral, em dois concelhos a seleccionar, em três zonas dos novos regadios do Alentejo (Caia, Mira e Roxo) e nos campos do Baixo Mondego; prestar-se-á ainda o necessário apoio à acção de fomento da cerealicultura e à manutenção de acções visando a formação de dirigentes das organizações da lavoura.
No capítulo que trata da formação profissional extra-escolar foram incluídos projectos de investimentos especializados abrangendo todas as classes profissionais do meio rural.

26. A rentabilidade da exploração agrícola e florestal não pode dispensar o recurso a instalações funcionais, embora rudimentares, e ao equipamento. Daí a urgência em se tornar facilmente acessível ao produtor agrícola o crédito e o apoio financeiro, não só para o apetrechamento de novas explorações, mas também, e muito especialmente, para adaptação e reconversão das explorações existentes.
As dotações consignadas para reforço do Fundo de Melhoramentos Agrícolas destinam-se, efectivamente, a dinamizar todo o processo económico da actividade agro-pecuária e florestal de que as explorações agrícolas são as verdadeiras células vivas. E a necessidade de acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro determinará posição prioritária para as empresas agro-pecuárias e florestais que se integrem e cumpram os planos de reconversão e de melhoramento das condições de exploração estabelecidas regionalmente pelas comissões técnicas regionais e aprovadas superiormente.
O Fundo de Melhoramentos Agrícolas constitui, assim, no âmbito da Secretaria de Estado da Agricultura, a fonte de financiamento dos empreendimentos que interessam à iniciativa privada e também de crédito destinado às instalações e equipamento das explorações, ao mais racional aproveitamento das potencialidades produtivas e à melhoria das condições de exploração.

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A indispensabilidade da acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro, tendo em vista a melhor utilização dos meios disponíveis e a consecução dos objectivos a atingir, aconselha a centralizar no Fundo de Melhoramentos Agrícolas todos os meios financeiros de que se possa dispor para fomento das explorações agro-pecuárias e silvo-pastoris em condições de garantida rentabilidade.
Deste modo, na execução dos vários empreendimentos previstos no sector da agricultura, da pecuária e da silvicultura, os financiamentos e créditos respectivos serão realizados através do Fundo de Melhoramentos Agrícolas.
É de prever que a intensificação cultural resultante da revisão do actual aproveitamento do território e os incentivos que vão ser dados, especialmente à fruticultura, horticultura e floricultura, ao fomento pecuário e forrageiro, à vitivinicultura e à cerealicultura, determinem um aumento de pressão na procura de crédito por parte da lavoura.
No ano de 1966, o Fundo de Melhoramentos Agrícolas atingiu a maior sorna de empréstimos feitos à lavoura e às suas organizações, no total de 220 000 contos, tendo sido necessário adiar para o ano corrente a concessão de grande número de financiamentos.
Além dos empreendimentos específicos previstos no Plano, importa ainda considerar inúmeros outros aspectos também relacionados com o aumento das condições técnico-económicas do sector. Serão de referir especialmente os respeitantes ao equipamento das explorações agro-pecuárias e às suas instalações, os quais possuem, na fase de evolução da nossa agricultura, importância primordial no desenvolvimento da actividade agrícola e da sua economia.
De acordo com a acção regional prioritária definida pelas referidas comissões técnicas, interessa anualmente consignar o parcelamento das verbas globais disponíveis, a fim de que mais facilmente se possam seleccionar e concentrar os investimentos segundo planos aprovados pelo Secretário de Estado da Agricultura.

27. Para que se não constituam estrangulamentos à expansão programada para o sector agrícola, será indispensável ainda criar novos instrumentos de trabalho.
A assistência técnica, em íntima ligação com adequada política de crédito e medidas fiscais proteccionistas, permitirá, sem dúvida, incentivar o espírito associativo, quer ao nível da produção (associação de produtores), quer ao nível da exploração (várias formas de agricultura de grupo), impulso esse que se considera do maior interesse, desde que integrado na organização corporativa da lavoura.
De facto, sòmente a organização concreta da produção possibilitará não só o estabelecimento de indispensáveis infra-estruturas, mas também a viabilidade de racionais circuitos económicos, criando-se, assim, as necessárias condições para que se verifique salutar equilíbrio entre a produção agrícola e a indústria transformadora dos produtos agrícolas e florestais.
A associação ao nível da exploração, além de abrir perspectivas de rentabilidade onde presentemente ela se não mostra viável, pela possibilidade de utilização dos meios de produção, poderá ainda, dentro da evolução demográfica a que se assiste, acelerar significativamente processos de adaptação estrutural do maior interesse e necessidade, de modo especial nas regiões de minifúndio.
Importa ainda considerar aspectos relativos à assistência técnica e ao crédito: a oportuna protecção a formas indirectas de exploração (parceria e arrendamento, colónia da Madeira, etc.) só será obtida pela igualdade de benefícios concedidos aos empresários proprietários e ainda pela necessaria regulamentação contratual, numa base justa de repartição dos rendimentos e de garantia de execução das normas de reconversão.
Ora, pelo Decreto-Lei n.º 44 720, de 23 de Novembro de 1962, foi criado o Fundo de Fomento de Cooperação, que tem por finalidade proporcionar às associações de produtores fundos de maneio susceptíveis de facilitar o seu arranque inicial na fase de instalação, altura sempre difícil de vencer para que ràpidamente se possa atingir o desenvolvimento desejado.
Sendo pertinente a sua finalidade, importa alargar as possibilidades de crédito, a fim de se incentivarem os referidos tipos de associação, particularmente aqueles que se verificarem ao nível da exploração.

28. Crédito para acesso à propriedade, desde que constitua exploração perfeita de qualquer tipo ou corresponda a reagrupamento fundiário, e apresente, em qualquer caso, no conjunto, condições de exploração técnica e econòmicamente mais favoráveis; acções de emparcelamento da propriedade rústica, desde que empreendimentos de valorização regional as aconselhem, mas sempre de molde a que só constituam empresas de dimensão suficiente para garantir, pelas condições existentes, altos índices de produtividade e plena utilização dos meios de produção - são meios de que se dispõe na vigência do presente Plano e se consideram ajustados à presente conjuntura.
A evolução demográfica a que se assiste nos meios rurais, o predomínio da empresa familiar imperfeita, por mal dimensionada, e a sua preponderância nas regiões que apresentam maiores potencialidades produtivas, mas onde se verifica escassez de área em relação ao número do explorações, aponta a oportunidade de se encararem medidas que facilitem a adaptação estrutural - por processos naturais - através da reestruturação fundiária.
A concessão de crédito aos lavradores para aquisição de propriedades a fim de se constituírem explorações bem dimensionadas, especialmente quando situadas em regiões de aptidão agrícola susceptível da alta produtividade, terá inegável interesse, tanto mais que será de esperar, dentro em pouco, o completo abandono de muitos terrenos susceptíveis de aproveitamento intensivo.
Considera-se indicada a constituição de um Fundo Especial de lie estruturação Fundiária, que, mediante empréstimos a curto e médio prazos e comparticipações, poderá dar valioso contributo à solução dos problemas que a adaptação estrutural venha a criar em algumas regiões.
Evidentemente que a aplicação dos créditos do referido fundo será restrita à regiões ou zonas onde aquela transformação se julgue oportuna ou se entenda absolutamente necessária. As comissões técnicas regionais terão de se pronunciar sobre o interesse local e regional dos empréstimos e comparticipações propostas.
Pensa-se, deste modo, tornar verdadeiramente rentáveis e reprodutivos os investimentos sobre adaptação estrutural e, com a publicação de outras medidas legislativas (revisão do direito sucessório, evitando a pulverização das explorações, diploma que facilite a troca de prédios e a resolução de terrenos encravados, etc.), impelir a iniciativa privada ao processo natural de reestruturação agrária.

§ 3.º Medidas de política

29. Em face do exposto, a orientação da política agrícola não pode deixar de assentar em medidas conducentes a uma acção conjugada de todos os factores secto-

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riais que intervenham, directa ou indirectamente, na participação harmónica da agricultura, da silvicultura e da pecuária no desenvolvimento global do País.
Em primeira linha, a política agrícola terá de visar meios e acções indispensáveis ao fomento da produção agro-pecuária e florestal, técnica e econòmicamente viável. A determinação das vocações culturais em cada uma das regiões e as medidas de reconversão e de melhoramento das técnicas agronómicas e florestais hão-de garantir o necessário aumento de produtividade e a intensificação cultural.
Dentro desta preocupação, tão ligada à zonagem selectiva como ao melhor aproveitamento das várias regiões, e tendo em vista também as exigências de produções específicas, dar-se-á plena realidade à programação do fomento pecuário e forrageiro, do fomento frutícola, hortícola, florícola e vitícola (mesa e vinho); do fomento olivícola (azeite e conserva); do fomento racional da cerealicultura, culturas industriais hortícolas o horto-industriais; do fomento florestal e silvo pastoril; do fomento das práticas de sanidade vegetal; dos aspectos de fertilidade e conservação do solo, e dos inúmeros problemas que, em relação à produção racional, se enquadram nos relativos à hidráulica agrícola e à adaptação ao regadio.
Para o perfeito aproveitamento das potencialidades produtivas, estabelecidas para cada região, através do racional ordenamento cultural, importa orientar a necessária adaptação estrutural, que deverá assentar em critérios técnico-económicos e demográficos qualitativos. Deste modo, quer a reestruturação fundiária, quer o fomento das várias formas de associação ao nível da exploração, só terão sentido quando estejam garantidas exigências simultâneamente técnicas e económicas.
Será difícil atingir esse objectivo se não forem realizados investimentos relativos à formação profissional de cada um dos sectores, à extensão e vulgarização agrícola e florestal e, ainda, à organização técnica e económica da produção, bem como à comercialização e industrialização dos produtos agrícolas e florestais.
Importa salientar a importância do fomento da motomecanização, a indispensável intensificação e extensão dos sectores especializados dedicados à investigação. aplicada, ao equipamento racional das explorações, aos melhoramentos agrícolas e rurais e, finalmente, ao fomento, em autêntico regime de campanha nacional, de todas as formas de associação, quer ao nível da produção, quer da exploração. Apenas pela organização concreta da produção serão possíveis, não só o estabelecimento de indispensáveis infra-estruturas, mas também os mais convenientes circuitos económicos e as necessárias condições para que decorram com indispensável equilíbrio as relações entre a agricultura e a indústria na transformação dos produtos agrícolas e florestais.

§ 4.º Investimentos

30. A fim de tornar possível a concretização dos objectivos enunciados, dentro da orientação da política agrícola já em curso e a prosseguir neste III Plano, e tendo também em conta a situação estrutural e conjuntural do sector, programaram-se os investimentos que a seguir se indicam de forma resumida e que, sendo na sua maioria financiados, directa ou indirectamente, pelo Estado, constituem a contribuição do sector público para o desenvolvimento da agricultura. Espera-se que a iniciativa privada devidamente estimulada e orientada venha completar esta parte imperativa do Plano, por forma a que se atinja o nível global de investimentos em capital fixo estimado como necessário ao crescimento projectado - cerca de 19 milhões de contos (preços constantes).
Do dispêndio global discriminado no Plano - 14,6 milhões de coutos - , a quase totalidade corresponde à formação bruta de capital fixo e 144 000 contos destinam-se à realização de estudos considerados imprescindíveis para o aproveitamento das obras e empreendimentos planeados.
Como se poderá verificar, a selecção dos investimentos caracteriza uma orientação definida, que importa seguir nos anos futuros, tendente à concentração dos esforços e dos meios para a solução de problemas que afectam os mais valiosos produtos e actividades da agricultura, mas sempre no sentido de se atingirem soluções que cumulativamente contribuam, por força da sua própria concepção, para a evolução mais favorável das questões de base.
Assim, toda a acção directa e indirecta (fomento agrícola, pecuário e florestal, crédito, assistência técnica, etc.) deverá orientar essa evolução, em que tomará decisiva importância a já referida revisão do actual aproveitamento do território, a intensificação cultural pelo melhor e mais racional aproveitamento das potencialidades produtivas existentes e a criar nas várias regiões, a acção selectiva de assistência técnica e de apoio financeiro, tendo em vista a consecução dos objectivos a atingir, as medidas de fomento para a organização do sector da produção ao nível do produto e da exploração e o apoio às acções especializadas que visem a adaptação estrutural.
Em fichas de projectos enumeram-se sucintamente os investimentos previstos para cada um dos empreendimentos que se integram na consecução dos objectivos referidos anteriormente.

a) Empreendimento n.º 1 - Estudos de base para revisão do aproveitamento do território

31. A necessidade, já referida, de se obter, com a maior brevidade, a caracterização regional, quer sob o ponto de vista das potencialidades produtivas e demais condições ambientais, quer sob o das situações estruturais e conjunturais, para que se intensifiquem e utilizem da melhor forma os meios técnicos e financeiros no fomento agrícola, florestal e pecuário econòmicamente viável, justifica a inclusão no Plano deste empreendimento.
Nos estudos de base a intensificar, utilizando as técnicas mais apropriadas para a aceleração dos trabalhos, será despendido o montante de 12 000 contos, correspondendo à média de 2000 contos por ano, destinado a pessoal técnico e auxiliar, à aquisição de material, incluindo equipamento, e a outros encargos.
A execução deste empreendimento estará a cargo dos serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura, em reforço da actividade própria do Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário, e será financiada pelo Orçamento Geral do Estado.
Ao empreendimento ficam inteiramente ligadas as comissões técnicas regionais, com o apoio dos competentes serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura.

b) Empreendimento n.º 2 - Hidráulica agrícola

32. No prosseguimento da política de valorização pela rega de vastas áreas do território continental, o Governo continuou a considerar entre os investimentos programados uma rubrica de hidráulica agrícola, na qual se incluem empreendimentos que, atendendo às condições ecológicas predominantes do continente, assumem particular relevo pela beneficiação que proporcionam às terras regadas.

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I) Plano de Rega do Alentejo (2.ª fase)

33. A par da conclusão de alguns trabalhos em obras da 1.ª fase, especialmente no aproveitamento do Mira, deverá iniciar-se a 2.ª fase do Plano de Rega do Alentejo, constituída pelos aproveitamentos do Alto Sado, de Odivelas, do Grato e do Guadiana.
O aproveitamento do Alto Sado destina-se a regar 3600 ha de várzeas do curso superior do Sado, desde Torre Vã até Alvalade, onde se faz a ligação das terras beneficiadas por este aproveitamento, pelo de Campilhas e pelo sistema de rega do Baixo Alentejo.
O aproveitamento de Odivelas beneficiará 7300 ha, situados entre as ribeiras de Odivelas e de Figueira, perto de Ferreira do Alentejo, e em terras de várzeas ao longo da margem esquerda do rio Sado, entre a foz daquela ribeira e Santa Margarida do Sado. Simultâneamente, com a criação das duas albufeiras previstas neste aproveitamento, resolver-se-á o abastecimento de água de diversas povoações.
O aproveitamento do Grato, a integrar posteriormente no sistema de rega do Alto Alentejo, regará 4000 ha de terras entre Alter do Chão e a ribeira de Seda.
A primeira parte do aproveitamento do Guadiana, além da construção da barragem neste rio e da respectiva central hidroeléctrica, abrangerá o sistema de rega de todo o bloco da margem esquerda e de um primeiro bloco na margem direita, interessando 45 100 ha dos 109 700 ha que virão a ser regáveis a partir da mesma albufeira do Guadiana.
Com o aproveitamento do Alto Sado, a que se confere prioridade, por ser complementar da obra dos vales de Campilhas e de S. Domingos, e com a conclusão dos trabalhos da 1.ª fase do Plano, despender-se-á a importância de 380 000 contos.
A execução dos restantes empreendimentos fica condicionada à obtenção de meios financeiros adequados, nomeadamente através da utilização de crédito externo.

II) Outros aproveitamentos hidroagrícolas

34. Em seguimento do previsto no Plano Intercalar, dar-se-á início às obras do aproveitamento hidroagrícola do Mondego, que permitirão, no futuro, a defesa, enxugo e rega de 14 930 ha de terras ricas do seu vale.
Para se atingirem tais objectivos, as obras primárias serão a construção de duas barragens, dominando parte importante das bacias do Mondego, Dão e Alva.
Na vigência do Plano será elaborado o plano geral de regularização do rio Tejo, tendente ao ordenamento dos caudais líquidos e sólidos da respectiva bacia que, por não estarem disciplinados, com frequência ocasionam prejuízos elevados.
Deverá ser intensificada, na medida do possível, a actividade da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos no domínio dos pequenos regadios colectivos, a realizar nos termos do Decreto n.º 8 de 1 de Dezembro de 1892 e do Decreto-Lei n.º 39 775, de 12 de Agosto de 1954.
Serão igualmente levadas a cabo diversas obras fluviais de defesa e estabilização de margens e leitos, bem como a recuperação e enxugo de diversas zonas apauladas, actuando-se nomeadamente nas bacias do Tejo, Lima, Vouga, Mondego e Caia e ainda no Vale da Vilariça e na Cova da Beira.
Outros investimentos incluídos nesta rubrica abrangem a conclusão de projectos e o início das obras dos seguintes empreendimentos: rega dos campos de Vila Real de Santo António e de Castro Marim, que tem agora a maior actualidade, por se tornar necessário o recurso a uma albufeira para abastecimento de água do sotavento algarvio; albufeira da Retorta, que constitui necessário complemento da albufeira de Arade, da obra de rega dos campos de Silves, Lagoa e Portimão; defesa, enxugo e rega dos campos do Lima; 1.ª fase da obra de rega do Vale da Vilariça; estabelecimento de um regadio de cerca de 15 000 ha na Cova da Beira.
Além do recurso a outras fontes de financiamento, prevê-se um investimento de 430 000 contos pelo Orçamento Geral do Estado.

III) Aproveitamentos hidroagrícolas da Madeira

35. Proceder-se-á à ampliação e disciplina do regadio do concelho do Funchal, abrangendo 2000 ha, mediante o aproveitamento das águas captadas no túnel dos Tornos, para o que serão construídos dois canais de irrigação.
Prevê-se ainda a execução das redes de rega dos aproveitamentos da 2.ª fase do plano definido pelo Decreto-Lei n.º 33 158, de 21 de Outubro de 1943.
A execução destes empreendimentos ficará a cargo da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, atingindo o investimento previsto de 15 000 contos.

IV) Renovação do material de sondagens hidrogeológicas

36. Dado o interesse que tem vindo a ser manifestado, por parte da lavoura, pela pesquisa e captação de águas subterrâneas, prevê-se o alargamento das actividades de sondagens hidrogeológicas da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, o que torna necessária a aquisição de novas sondas no valor de 10 000 contos.

V) Diversos estudos e ensaios, incluindo vencimentos, salários e outras despesas com o pessoal

37. Visando assegurar a continuidade dos planos de fomento, também no tocante a realização dos estudos que permitam obter das obras já construídas ou em execução todos os benefícios económicos e sociais possíveis, continuar-se-ão os estudos e ensaios de diversa ordem já em curso.
Com esta finalidade despender-se-ão 60 000 contos.

c) Empreendimento n.º 3 - Aproveitamento dos regadios

38. A urgente necessidade de se intensificarem as condições de produção criadas pelas obras de hidráulica já em exploração, promovidas pelo Estado tendo em atenção a entrada em funcionamento, no período abrangido pelo Plano, de novos empreendimentos hidroagrícolas no Plano de Rega do Alentejo, torna indispensável promover o financiamento da iniciativa privada e a concessão de créditos tendentes ao fomento da produção agro-pecuária intensiva das áreas regadas.
Nesta acção, especialmente dirigida ao racional aproveitamento dos regadios, passará a ter missão saliente a Junta de Hidráulica Agrícola, de acordo com as atribuições que lhe estão conferidas pelo Decreto-Lei n.º 46 913, de 19 de Março de 1966.

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Os investimentos previstos, de acordo com estimativas feitas, são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

O valor total, nos seis anos de vigência do Plano, anda, portanto, por 750 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e por outras fontes internas de crédito, através do Fundo de Melhoramentos Agrícolas.

d) Empreendimento n.º 4 - Cerealicultura

39. Em ordem à realização dos objectivos visados, programaram-se para o hexénio de 1968-1973 acções tendentes à reconversão das rotações culturais, adoptadas, ao melhoramento e conservação do solo, à intensificação e racionalização da cultura do milho e à determinação das condições em que deve processar-se o fomento da cultura do sorgo.
Porque estas acções exigem aquisição prévia de toda uma série de conhecimentos de base, planearam-se ainda estudos e ensaios tendentes ao melhoramento dos cereais e à obtenção de novos cultivares.
Por outro lado, programou-se a ampliação e remodelação da rede de postos de selecção mecânica de sementes, a ampliação e beneficiação da rede de armazenagem, de cereais e de secagem de arroz e a construção e apetrechamento da Estação de Cerealicultura de Braga e completo apetrechamento da de Beja.
O montante dos investimentos considerados prioritários, neste domínio, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado, Fundo de Abastecimento e outras fontes internas de capital, atinge 1 804 700 contos, assim distribuídos:

[Ver Tabela na Imagem]

A execução material destes empreendimentos fica a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura, da Federação Nacional dos Produtos de Trigo e da Comissão Reguladora do Comércio do Arroz.

e) Empreendimento n.º 5 - Fomento pecuário e forrageiro

40. O investimento a realizar prioritariamente deverá elevar-se a 3 458 000 contos e ser financiado pelo Orçamento Geral do Estado, Fundo de Abastecimento e por outras fontes internas de capitais, discriminando-se da seguinte forma:

[Ver Tabela na Imagem]

A execução destas acções fica a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

f) Empreendimentos n.ºs 6 e 7 - Fruticultura, floricultura e horticultura

41. Na vigência do Plano os investimentos prioritários previstos para promover o ritmo de crescimento visado para este subsector totalizam 332 000 contos, distribuídos da forma seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Estes investimentos serão financiados pelo Orçamento Geral do Estado e outras fontes internas de capitais.

g) Empreendimento n.º 8 - Vitivinicultura

42. A execução dos empreendimentos prioritários que hão-de dar corpo aos objectivos atrás enunciados implica o investimento de 424 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e outras fontes internas de capitais e distribuído do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

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h) Empreendimento n.º 9 - Olivicultura

43. Como se referiu anteriormente, este empreendimento relaciona-se com o prosseguimento da política de fomento e apoio às associações de olivicultores e a outras organizações da lavoura, para o efeito de montagem de lagares e de armazenagem fixa para azeite e outros óleos vegetais.
Estima-se que, no decorrer do Plano, seja necessário o montante de 10 000 contos, cabendo 2000 contos a equipamento de lagares e 8000 contos a armazenagem fixa, a conceder em comparticipações pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas, mediante parecer da Junta Nacional do Azeite.

j) Empreendimento n.º 10 - Silvicultura, povoamento piscícola e caça

44. Calcula-se que o montante dos investimentos prioritários a realizar neste domínio atinja 1 877 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e outras fontes internas de crédito, como passa a indicar-se:

[Ver Tabela na Imagem]

A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

j) Empreendimento n.º 11 - Mecanização da agricultura

45. Procurar-se-á completar o apetrechamento da Estação de Cultura Mecânica com os meios indispensáveis ao seu pleno funcionamento, de modo a permitir-lhe estudar e experimentar o material agrícola, divulgar os métodos racionais da sua utilização, colaborar na formação profissional de técnicos e condutores, regular o comércio de máquinas agrícolas e prestar cooperação técnica à respectiva indústria.
Levar-se-ão ainda a efeito, através dos organismos regionais da Secretaria de Estado da Agricultura, campanhas de fomento da motomecanização agrícola e florestal.
Prevê-se venham a ser despendidos 20 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e de acordo com a seguinte distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

Admite-se ainda a possibilidade de recurso a outras fontes de financiamento, até ao montante de 900 000 contos, com a finalidade de desenvolver a motomecanização das empresas agrícolas.
A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

I) Empreendimento n.º 12 - Melhoramentos agrícolas

46. De acordo com a referida necessidade de ampliação da acção do Fundo de Melhoramentos Agrícolas, para ocorrer à procura de crédito, verificou-se a necessidade de o reforçar com o montante de 1 430 000 contos, destinando-se anualmente 180 000 contos para empréstimos e comparticipações e 25 000 contos para o pessoal e outros encargos de manutenção e reestruturação dos serviços regionais de apoio técnico-financeiro.
Anote-se que o Fundo de Melhoramentos Agrícolas suporta já encargos de juros de empréstimos e outros de quase 30 000 contos, que se pretendem cobrir com o montante de 200 000 contos incluídos na verba global acima indicada, e possui capacidade autónoma de financiamento que ainda não atinge os 25 000 contos.
Prevê-se a necessidade de financiamento, pelo Orçamento Geral do Estado, para cobrir despesas com o pessoal e restantes encargos fixos, e através de outras fontes para garantir o crédito ao fomento agrícola, pecuário e florestal, abrangido ou não nos empreendimentos previstos no Plano.

m) Empreendimentos n.ºs 13 e 14 - Sanidade das plantas e dos animais

47. Prevê-se que o investimento prioritário a realizar atinja 214 000 contos, a financiar pelo Orçamento Geral do Estado e assim discriminados:

A) Sanidade das plantas:

[Ver Tabela na Imagem]

B) Sanidade de animais:

[Ver Tabela na Imagem]

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A execução destes empreendimentos ficará a cargo dos competentes serviços da Secretaria de Estado da Agricultura.

n) Empreendimento n.º 15 - Extensão agrícola

48. O financiamento dos empreendimentos que constituem os objectivos neste domínio será assegurado pelo Orçamento Geral do Estado, prevendo-se que os investimentos prioritários a fazer atinjam o total de 58 000 contos, assim distribuídos:

[Ver Tabela na Imagem]

o) Empreendimento n.º 16 - Fundo de Fomento de Cooperação

49. Em conformidade com a referida intenção de intensificar a acção deste Fundo, considera-se essencial o seu reforço, durante a vigência do Plano, no montante de 120 000 contos, inteiramente reintegráveis, uma vez que a atribuição de empréstimos irá fazer-se através da estrutura estabelecida pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas e com o apoio especializado dos serviços regionais da Secretaria de Estado da Agricultura, incluídos nas comissões técnicas regionais.

p) Empreendimento n.º 17 - Fundo Especial de Reestruturação Fundiária

50. Atendendo a que se destina, fundamentalmente, à reorganização fundiária nas áreas de elevada potencialidade produtiva, levada a cabo pela iniciativa privada ou promovida por empreendimentos integrados no desenvolvimento regional, o Fundo será constituído por dotações anuais do montante de 80 000 contos, em média, destinando-se 70 000 contos a empréstimos e 10 000 contos a comparticipações.
O montante global na vigência do Plano atingirá, portanto, 480 000 contos e será gerido pelos serviços afectos ao Fundo de Melhoramentos Agrícolas.

q) Empreendimento n.º 18 - Estudos de ordem económica

51. A importância fundamental atribuída às comissões técnicas regionais na coordenação distrital dos serviços do Ministério da Economia e na acção selectiva destes serviços exige o conhecimento especializado da situação económica o demográfica das várias regiões.
Sòmente deste modo será possível orientar-se com eficiência a programação do desenvolvimento do sector o dar decidida participação aos planos de valorização regional que venham a definir-se.
Tendo presente a possibilidade de obter grande número de elementos de base que caracterizam as diferentes regiões, admite-se que o montante de 18 000 contos, correspondendo a 8000 contos por ano, em média, será suficiente para cobrir os encargos de pessoal técnico e auxiliar, aquisição de material de estudo e consumo, e outros encargos.
A execução deste empreendimento estará a cargo dos serviços especializados da Secretaria de Estado da Agricultura, particularmente dos que se ocupam de problemas do desenvolvimento regional.

52. Considerando, por último, os valores totais nos seis anos de vigência do Plano, o investimento global do sector ascende a 14 600 000 contos.
No mapa seguinte resumem-se os investimentos programados, indicando-se para cada rubrica as fontes de financiamento previstas. Verifica-se que 3 600 000 contos cabem ao Orçamento Geral do Estado, 6 266 000 contos a financiamentos a obter em instituições de crédito, 1 708 000 contos correspondem a autofinanciamento, fundamentalmente de origem privada, 2 796 000 contos provirão de fundos autónomos e 230 000 contos de crédito externo.

[Ver Mapa na Imagem]

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CAPÍTULO II

Pesca

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. No decénio de 1956 a 1965 a pesca descarregada nos portos do continente e ilhas adjacentes passou de 324 914 t para 424 982 t, tendo o produto bruto gerado no sector crescido, no referido período, à taxa média anual de 2,2 por cento. A análise da evolução do produto mostra ter havido anos de relativa expansão e anos de contracção. Assim, enquanto em 1960, 1962, 1963 e 1964 se assinalam, respectivamente, taxas de crescimento de 18,6, 1,9, 4,3 e 7,4 por cento, em cada um dos anos de 1961 e 1965 aquelas taxas apresentam os valores de - 2,3 e - 0,8 por cento.
A contribuição da pesca para o produto nacional bruto tem oscilado, nestes últimos anos, entre as percentagens de 1,3 e 1,1. De 1961 a 1964 a participação do sector foi de 1,2 por cento, e em 1965 de 1,1 por cento. A relativa estabilidade desta percentagem significa que o produto das pescas tem podido, nos últimos cinco anos do referido decénio, acompanhar a expansão global da economia, embora esteja ainda longe da saturação da procura.

2. O número de pescadores matriculados em 31 de Julho de 1965 (época em que estão em actividade todos os meios de produção) era de 46 100 homens e corresponde à média anual do período de 1956-1965. A taxa média de acréscimo anual do emprego no sector durante o referido decénio foi de 0,1 por cento. O facto de esta percentagem se apresentar tão baixa deve-se à descida do volume absoluto de emprego verificada nos últimos anos do período em análise, dada a maior mecanização das embarcações e sistemas de pesca, que provocou a redução e maior especialização das tripulações. Começou entretanto a notar-se carência de mão-de-obra, nomeadamente no que respeita ao pessoal mais qualificado, cuja emigração se tem acentuado ùltimamente.
A produtividade média da mão-de-obra empregada, utilizando como medida a relação entre a tonelagem de pescado descarregado e o número de homens matriculados, manifesta acentuado acréscimo. Em 1965 o aumento observado em relação a 1956 foi de 30,4 por cento, resultante, principalmente, do aperfeiçoamento tecnológico e da modernização da frota.

3. Quanto à formação bruta de capital, a participação da pesca no investimento total apresenta algumas oscilações. A partir de 1961 a participação do sector situa-se em cerca de 1,5 por cento, com excepção do ano de 1963, cuja percentagem foi apenas de 0,8 devido a investimento anormalmente baixo - 128 000 contos. Prevê-se que no período de 1968-1973 a formação bruta de capital fixo atinja, em média anual, a ordenei dos 400 000 contos, pelo que a participação do sector no investimento total poderá ser mais elevada do que a observada anteriormente.

4. No período de 1956-1965 a frota pesqueira nacional em actividade passou de 10 338 embarcações (1720 com motor e 8618 sem motor) para 11 074 (3136 com motor t; 7938 sem motor). Nesse mesmo período a tonelagem de arqueação bruta subiu de 119 730 para 147 814 (quadro I).

QUADRO I

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Estatística Industrial e Estatísticas Agrícolas e Alimentares (Instituto Nacional de Estatística).

Dos números indicados, verifica-se que, relativamente ao ano de 1956, o incremento da frota pesqueira foi de 7 por cento, e que, enquanto as embarcações com motor aumentaram 82 por cento, as sem motor diminuíram cerca de 8 por cento, o que revela bem o resultado dos esforços despendidos para a motorização das pescas artesanais.
No que se refere à força motriz, assinala-se que a potência instalada nos navios em actividade teve o aumento de 106 por conto durante o decénio em análise.

5. No que respeita ao destino do pescado descarregado, verifica-se prevalecer o consumo imediato em fresco, seguido do fornecimento à indústria conserveira e da exportação.
O quadro II mostra a evolução das quantidades e destinos da produção.
Em 1965, do pescado descarregado no continente e ilhas adjacentes - 424 982 t, a que correspodeu o valor de 1 845 953 contos - destinaram-se a consumo interno

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58,8 por cento, à industrialização, 36,1 por cento, e ao mercado externo, 5,1 por cento.

QUADRO II

Destino da produção

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Estatística Industrial, Estatísticas Agrícolas e Alimentares e Comércio Externo (Instituto Nacional de Estatística).

6. Apesar de a evolução da produção do sector se apresentar bastante satisfatória, tendo as quantidades de pescado descarregado aumentado cerca de 31 por cento durante o período que decorre de 1956 a 1965, continua a verificar-se a importação de certas espécies destinadas directamente ao consumo, como o bacalhau, e de outras - atum, por exemplo - para a indústria conserveira. Em 1965 as importações de pescado somaram 22 460 t, no valor de 329 662 contos, com grande preponderância do bacalhau verde e seco.

7. Conforme ficou referido no Plano Intercalar de Fomento, o primeiro programa de desenvolvimento das pescas, cuja execução se prolongou desde 1953 a 1958, visou o prosseguimento Ha substituição das frotas já envelhecidas e a modernização dos instrumentos de captura e tratamento do pescado. Durante esse período, o total dos investimentos realizados atingiu 536 509 contos.
Ao abrigo do II Plano de Fomento investiram-se 733 700 contos, com os quais se acelerou o ritmo de progresso tecnológico, em particular no que respeita à aplicação do frio e, ainda, à construção de numerosas embarcações, à reparação e modernização de outras e à aquisição de artes e apetrechos.
O Plano Intercalar fixou para o sector da pesca três objectivos principais a serem alcançados durante o triénio de 1965-1967:

Desenvolvimento quantitativo global da produção;
Desenvolvimento da pesca longínqua;
Desenvolvimento das condições que permitam a melhoria da qualidade do pescado, o seu melhor acesso ao consumidor e a sua correspondente valorização.

Programaram-se para o período de vigência do Plano Intercalar 318 160 contos, tendo sido investidos em 1965 ]33 940 contos. No decorrer desse ano procedeu-se à construção de novas embarcações e modernizaram-se outras, introduzindo-se-lhes aperfeiçoamentos, tanto no que se refere a operações de referenciação de cardumes (sondagem electroacústica) como à manobra das redes (introdução de aladores mecânicos) e ainda na parte respeitante à conservação a bordo, com a utilização do frio. Desenvolveu-se igualmente o emprego do frio em terra, com a construção de instalações frigoríficas de grande capacidade, em Lisboa e Matosinhos. Igualmente com vista à melhoria da qualidade e à valorização do pescado, promoveu-se a instalação de postos de venda em diversos locais na costa do continente e no Funchal.

8. Os problemas de maior relevo a que terá de fazer face o sector da pesca são os seguintes:
a) A política de alargamento das áreas reservadas à pesca pelos países ribeirinhos em cujas águas as nossas frotas realizam grande parte das suas capturas. A adopção de tal política dificultou a exploração de pesqueiros de características já conhecidas e afectou sensìvelmente os resultados do esforço de pesca. Com efeito, o afastamento desses pesqueiros teve como consequência capturas inferiores, tanto em quantidade como em qualidade, a maior duração das viagens dos navios, em virtude do menor rendimento do esforço de pesca, e, portanto, uma percentagem mais elevada de inutilizações à descarga. Essas inutilizações chegaram a atingir, nos meses de Verão e em alguns navios que não dispõem de porões refrigerados, 25 por cento dos carregamentos.
A necessidade de assegurar o abastecimento alimentar e o aumento crescente da procura de peixe, a par de uma política de expansão do sector, encaminham para o desenvolvimento da pesca longínqua, sem perder de vista o equilibrado crescimento das pescas artesanais e costeiras;
b) As imposições de natureza fiscal e parafiscal que incidem sobre o pescado nacional descarregado nos portos do continente e ilhas. Se é de admitir que o pescador individual pague o imposto de pescado (7 por cento), correspondente à contribuição industrial das empresas, e o adicional de 3 por cento para os municípios, correspondente ao imposto de comércio e indústria, não faz sentido que às empresas se exija o pagamento de idênticos impostos de pescado, uma vez que são colectadas por contribuição industrial e imposto de comércio e indústria. Esta anomalia parece acarretar uma duplicação tributária das empresas armadoras, cujas consequências justificam a revisão do sistema actual, aliás já em curso no Ministério das Finanças.
Por outro lado, fazendo a comparação entre os ónus que incidem sobre o pescado importado e o nacional, verificam-se disparidades que tornam desvantajosa a concorrência da produção nacional com a estrangeira, situação que, igualmente, carece de reajustamento, tanto mais que se prevê para breve a desmobilização aduaneira dos produtos da pesca constantes do Anexo E da Convenção de Estocolmo;
c) A política de tabelamento de preços na produção. Ao contrário do que acontece na generalidade dos países, a produção nacional de pescado tem tabelados os preços máximos na primeira venda para espécies de maior procura e que constituem elevada percentagem da pesca longínqua e do alto. O preço médio proveniente destas pescas é fortemente afectado pelo tabelamento da maior parte das suas espécies, precisamente as de maior procura e interesse comercial.

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QUADRO III

Preços médios, por quilograma, do pescado descarregado (Continente)

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Estatísticas Agrícolas e Alimentares (Instituto Nacional de Estatística).

A análise do quadro III mostra que o preço médio no produto se manteve, durante o período de 1956-1965, relativamente estável. Este facto afecta profundamente a rentabilidade do sector e reflecte os efeitos do tabelamento do pescado que não teve em conta a evolução geral dos preços. Ora, enquanto o preço médio do pescado na produção se conservou pràticamente invariável, o índice de preços no consumidor, para a cidade de Lisboa, no citado decénio, subiu de 104,3 para 127,3; e os índices respeitantes à rubrica «Alimentação» assinalam, para aquela cidade, a seguinte evolução: 100,8 em 1956 e 130,5 em 1965.
Sem prejuízo de o pescado dever continuar a constituir elemento moderador na subida do custo de vida, afigura-se viável e necessário proceder a uma revisão dos preços no produtor, designadamente no que se refere aos limites máximos impostos para determinadas espécies, de forma p, compensar o encarecimento dos factores; as largas margens que a comercialização actualmente absorve, hão-de permitir fazê-lo sem alteração dos preços de venda ao público;
d) A estrutura empresarial do sector quanto a alguns tipos de actividade, designadamente nas pescas costeiras, nas quais se observa elevada pulverização. No que se refere à pesca da sardinha, estudos realizados em 1964 permitiram concluir que a dimensão empresarial de maior produtividade se verifica no grupo de empresas que dispõem de três a cinco traineiras. Relativamente à pesca artesanal, estudos levados a efeito por organismos internacionais recomendaram, como forma de aumentar a rentabilidade daquela pesca, a constituição de cooperativas. A sua concretização apresenta, porém, sérias dificuldades, dada a falta de preparação e de espírito empresarial por parte dos pescadores interessados;
e) A escassez de mão-de-obra. O sector da pesca começa a sentir falta de pessoal, nomeadamente do mais qualificado, cuja emigração se tem acentuado ùltimamente. A fim de suprir este inconveniente, haverá que preparar profissionalmente maior número de pescadores e tripulantes e procurar garantir à produção meios que lhe permitam proporcionar retribuição mais favorável ao pessoal, sem comprometer uma rentabilidade razoável. No que respeita aos encargos com a preparação profissional, interessa salientar que a partir de 1966 o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra passou a contribuir para a construção e manutenção das Escolas Profissionais de Pesca, aliviando, assim, a participação a cargo dos organismos corporativos do sector, cujas possibilidades
não permitiam continuar a suportar integralmente aquelas despesas e as que derivam do desenvolvimento a imprimir às referidas escolas;
f) A complexidade da estrutura de comercialização, comportando demasiados intermediários. Em quase todos os países que se dedicam à pesca, é normal verificar-se a falta de um sistema eficaz de distribuição e comercialização do pescado; Portugal não foge a esta regra. A intervenção de numerosos comerciantes, actuando sobre pequenas quantidades do produto, não só afecta as suas condições hígio-sanitárias, mas também eleva o preço no consumidor. De notar, porém, que já foram adoptadas algumas medidas no sentido de influir favoravelmente na comercialização do pescado. Entre elas, há a referir a actividade desenvolvida pelo Serviço de Abastecimento de Peixe ao País, organizado pelo Grémio dos Armadores da Pesca de Arrasto. A acção desse Serviço tem-se exercido através do estabelecimento de uma rede de postos reguladores de venda, os quais actuam no mercado retalhista em paralelo com os demais distribuidores do pescado, com o propósito de evitar manobras de especulação. O Serviço de Abastecimento de Peixe ao País está a tentar ampliar o referido sistema de vendas directas ao consumidor, integrado num esquema de comercialização estabelecido de acordo com os serviços oficiais responsáveis pela coordenação da distribuição dos produtos alimentares;
g) Por último, cumpre referir a insuficiência de meios que permitam manter um serviço de investigação económica e tecnológica, em condições de poder satisfazer melhor as necessidades do sector, bem como os compromissos internacionais assumidos nas convenções e outros instrumentos regulamentadores das pescas marítimas, no que respeita à conservação dos recursos.

§ 2.º Objectivos

9. Tendo em atenção a situação actual do sector e as perspectivas desejáveis da sua evolução, prevê-se que, no período de vigência deste III Plano, o produto bruto possa crescer à taxa anual média próxima dos 3 por cento, programando-se um investimento global da ordem dos 310 000 contos anuais, dos quais cerca de 267 000 para aumento dos meios de produção. Trata-se, portanto, de esforço relevante no sentido de ultrapassar as tendências do passado recente, no que respeita à média anual de investimento. Será indispensável, no entanto, acompanhar o esforço de investimento com a intensificação do ritmo de formação de pessoal capaz de garantir a plena utilização da capacidade produtiva das novas embarcações e instalações de apoio. Por outro lado, o financiamento dos empreendimentos previstos terá de assegurar-se, não apenas pelo acréscimo substancial dos créditos fornecidos através do Fundo de Renovação e de Apetrechamento, como também pelo estímulo ao autofinanciamento do sector - aspecto que se liga com as visadas melhorias da produtividade e as correcções dos preços pagos ao produtor.

10. São os seguintes os objectivos de ordem geral fixados para o hexénio 1968-1973, no sector das pescas:
a) Aumentar a produção de pescado e fomentar o seu consumo, o que permitirá melhorar as dietas alimentares em proteínas de origem animal. Atendendo ao acréscimo da população, para que a capitação de consumo de pescado tenha, por hipótese, o aumento médio anual de cerca de 1,5 kg por habitante, o total da pesca a descarregar em 1973 terá do atingir 339 000 t no que respeita às ne-

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cessidades de consumo interno. A esta produção haverá ainda que adicionar as estimativas referentes aos fornecimentos à indústria conserveira e à exportação, 206 300 t e 29 000 t, respectivamente. Considerou-se, assim, que o desenvolvimento do sector acusaria, em 1973, a produção total de 574 300 t (no valor aproximado de 3 660 000 contos), as quais se distribuiriam da seguinte forma:

[Ver Tabela na Imagem]

b) Assegurar a estabilidade do preço do pescado no consumidor;
c) Garantir ocupação a número elevado de pescadores e outros trabalhadores que em terra se ocupam em actividades ligadas à pesca;
d) Prosseguir o desenvolvimento do sistema de previdência e da obra assistencial em benefício dos pescadores;
e) Assegurar o fornecimento de matérias-primas às indústrias transformadoras, mediante a celebração de acordos entre os sectores interessados;
f) Proteger os recursos naturais das águas territoriais e colaborar nos esforços internacionais para a exploração racional dos recursos biológicos do mar;
g) Dar realidade, no domínio das pescas, a um plano de actuação nacional, em função dos objectivos da integração económica do espaço português.

11. A realização destes objectivos reparte-se essencialmente pelas seguintes actividades:

A) Investigação e assistência técnica;
B) Pesca de arrasto;
C) Apoio à pesca longínqua;
D) Pesca do atum;
E) Pesca da sardinha;
F) Pesca do bacalhau;
G) Pesca local e artesanal;
H) Exploração de ostras e outros bivalves;
I) Instalações de tratamento de pescado;
J) Comercialização do pescado.

Descreve-se seguidamente o que se prevê realizar e os objectivos específicos que se pretende atingir em cada um destes domínios.

A) Investigação e assistência técnica

12. Uma organização científica e técnica convenientemente estruturada à escala nacional constitui condição basilar para se obter a utilização mais racional dos meios de produção. O desenvolvimento dos processos tecnológicos, tais como os respeitantes a métodos de prospecção e de captura, transporte e transformação do pescado, contribui de forma muito importante para a elevação do índice de produtividade global do sector.
O programa a levar a efeito compreende as seguintes realizações:

1. Instalações e apetrechamento do Instituto de Biologia Marítima e do Gabinete de Estudos das Pescas e Estacão de Tecnologia. As novas instalações destes organismos localizar-se-ão em terrenos anexos ao porto de pesca de Pedrouços;
2. Construção e equipamento de um navio de investigação. Já no Plano Intercalar de Fomento se considerara a necessidade de construir um navio destinado à investigação bioceanográfica. A actividade deste navio, de 25 m de comprimento e 400 TAB, incidirá principalmente sobre as regiões costeiras.

B) Pesca de arrasto

13. Sob esta rubrica incluem-se as seguintes pescas: de arrasto costeiro, do alto e longínqua.
De acordo com a estimativa de produção, prevê-se que as pescas de arrasto possam contribuir, no período de 1968 a 1973, com as quantidades a seguir indicadas:

[Ver Tabela na Imagem]

Durante o referido período procurar-se-á desenvolver e Valorizar a frota de arrastões, segundo a seguinte distribuição pelos seis anos do Plano:

Construção de dez arrastões congeladores de 1750 tAB e 1000 t de carga. Será iniciada a construção da cinco arrastões em 1968, de dois em 1970 e de um em cada um dos anos de 1969, 1971 e 1972;
Construção de dois navios transportadores frigoríficos. Está previsto que a construção do primeiro navio fique concluída em 1969 e a do segundo em 1971;
Construção de quinze arrastões costeiros de 200 tAB. O programa de construção destes arrastões obedece ao seguinte esquema: duas unidades em cada vim dos anos de 1968, 1969 e 1973 e três unidades em cada um dos anos de 1970, 1971 e 1972;
Construção de cinco arrastões de 120 tAB para a pesca de crustáceos. Programou-se a construção de uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1970, 1971 e 1973;
Construção de seis navios lagosteiros. Prevê-se construir uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1971 e 1972 e duas unidades em 1973;
Transformação de seis arrastões em congeladores. Proceder-se-á à transformação de uma unidade em cada um dos anos de 1968, 1969, 1970 e 1973 e de duas unidades em 1972;
Instalação de refrigeração nos porões de dez arrastões. Prevê-se que o escalonamento da instalação de refrigeração nos porões dos arrastões se faça da forma que se indica: uma em cada um dos anos de 1968, 1969 e 1970, duas em cada um dos anos de 1971 e 1973 e três em 1972.

C) Apoio à pesca longínqua

14. A formação de sociedades de pesca com capitais e mão-de-obra da metrópole e do ultramar parece constituir a forma ideal para se concretizar o desenvolvimento rias pescas a nível nacional. Assim, relativamente a Angola, está já em construção em Moçâmedes uma instalação frigorífica para 4500 t, onde os arrastões congeladores que vão pescar no Sul do Atlântico descarregarão o pescado congelado. Também alguns navios da frota de arrasto do alto poderão descarregar naquelas instalações

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pescado fresco proveniente dos pesqueiros existentes ao largo de Angola.
Aquele pescado irá satisfazer, em primeiro lugar, as necessidades de Angola e, seguidamente, as da metrópole, utilizando-se para isso o transporte em navios frigoríficos, já em construção, e as quantidades que o consumo interno possa dispensar serão destinadas à exportação.
Existe também possibilidade de. se desenvolver em Angola a construção de embarcações de pesca dos tipos mais modernos, o que irá proporcionar a criação de novos empregos e contribuir para o povoamento da província com populações portuguesas.
No que se refere a Moçambique, o programa inclui o estabelecimento de diversas instalações frigoríficas, sendo a principal na Matola, com a capacidade de 700 t, e outras, secundárias, em diferentes pontos da costa, com o fim de servir igualmente as pescas locais. Entre as vantagens deste programa, conta-se a possibilidade de libertar a economia da província da importação de produtos da pesca.
Deve notar-se que os navios transportadores frigoríficos, sempre que regressem de Angola, podem descarregar em S. Tomé e Príncipe e em Cabo Verde as quantidades de pescado necessárias ao abastecimento local.
O apoio à pesca longínqua, nos termos em que está projectado, contribuirá valiosamente para o desenvolvimento do ultramar, permitindo, ao mesmo tempo, assegurar o abastecimento de pescado à metrópole e realizar uma política de expansão global.

D) Pesca do atum

15. No último decénio a actividade da pesca do atum teve como principal ponto de apoio os arquipélagos da Madeira e dos Açores. No continente, a produção das armações fixas tem diminuído.
Tudo indica que o desenvolvimento a imprimir à captura de tunídeos, de interesse muito especial para a indústria conserveira, deve concretizar-se na pesca oceânica, com embarcações e artes adequadas.
O programa a executar durante este III Plano terá em vista o desenvolvimento da pesca oceânica de tunídeos. A produção prevista para o período do Plano é a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Durante o hexénio proceder-se-á à construção de seis embarcações tipo Baby-Clipper e de seis atuneiros congeladores. Programou-se a construção de um Baby-Clipper para cada um dos anos de 1969, 1970, 1971 e 1972 e de dois para 1973. Quanto aos atuneiros, pré vê-se que seja possível iniciar a construção de duas unidades em nada um dos anos de 1968, 1970 e 1972.

E) Pesca da sardinha

16. A pesca da sardinha é das mais importantes que se praticam em Portugal. Essa importância revela-se não só pelo número de pessoal utilizado, que em 1965 foi superior a 15 000 pescadores, mas também pelos valores de produção, os quais, nesse mesmo ano, atingiram cerca de 368 523 contos para a sardinha e 158 200 contos para as espécies similares.
A estimativa de produção calculada para a pesca da sardinha apresenta, para 1968-1973, a distribuição que se indica:

[Ver Tabela na Imagem]

O programa previsto compreende as seguintes realizações: construção de duas traineiras em cada um dos anos de 1968 a 1973; valorização, durante o hexénio, dos equipamentos de pesca, nomeadamente no que respeita à instalação de aladores mecânicos e aparelhagem de detecção de cardumes.

F) Pesca do bacalhau

17. A política de restrições às áreas de pesca, no que respeita a esta actividade, tem obrigado a substituir a maior parte dos navios de linha por arrastões. O futuro da pesca à linha depende, fundamentalmente, de serem prolongadas as concessões obtidas da Dinamarca e do Canadá para capturar o bacalhau nos fundos apropriados àquele sistema. De facto, em 1956 havia 50 navios de pesca à linha e 22 arrastões. Em 1965, os números são, respectivamente, 39 e 32.
A tonelagem de arqueação bruta dos arrastões teve acentuado desenvolvimento: 27 974 em 1956 e 41 857 em 1965.
As produções da frota bacalhoeira nacional foram, em 1956, 78 830 t (em verde), às quais correspondeu o valor, à descarga, de 466 690 contos; em 1965 os totais obtidos foram 71 280 t e 475 307 contos.
Apesar de os números indicados serem relativamente elevados, a tendência estacionária da produção tem-na tornado insuficiente para satisfazer as necessidades de consumo, determinando o recurso à importação, que em 1965 se cifrou em 20 635 t, no valor de 319 312 contos. Destas, 16 274, no valor de 265 450 contos, correspondem a bacalhau seco, e as restantes, a salgado verde. Tal como aconteceu noutros países, é de prever que o aumento do nível de vida e as facilidades de conservação oferecidas pelos produtos congelados, venham, também em Portugal a transferir a procura do bacalhau seco para o pescado fresco e congelado. Por outro lado, o enfraquecimento dos recursos nos pesqueiros do bacalhau, as medidas de protecção dele resultantes e, ainda, as disposições sobre áreas reservadas à pesca impõem que o desenvolvimento da produção incida, sobretudo, no pescado fresco e congelado. Assim, no programa para o período de vigência deste III Plano foi atribuída maior expressão aos investimentos destinados à pesca de arrasto e às infra-estru-turas da respectiva comercialização.
A previsão do produto da pesca do bacalhau (seco, congelado e derivados) para ò período de vigência do Plano é a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

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O programa, que prevê a construção de novas unidades, a valorização de outras e a conversão de navios de linha em arrastões, desenvolve-se como a seguir se indica:

Construção de três arrastões de 2800 tAB. Em cada um dos anos de 1968, 1970 e 1972 será iniciada a construção de um destes navios;
Construção de um navio long liner em 1973;
Construção, nos anos de 1972 e 1973, de quatro unidades para a pesca em parelha, à razão de uma parelha por ano;
Recondicionamento dos arrastões em serviço e conversão dos navios de linha em arrastões. Este empreendimento irá sendo realizado ao longo dos seis anos do Plano.

G) Pesca local e artesanal

18. Em Portugal, esta pesca assume grande relevância, devido ao elevado número de pescadores que nela se emprega - cerca de 35 000 - e ao facto de provirem dela as espécies mais valiosas.
Em virtude dos investimentos realizados ùltimamente, os rendimentos obtidos têm crescido de ano para ano.
Assim, o rendimento das pescas locais foi em 1956 de 193 244 contos, e em 1965 de 283 780 contos.
Também o número de embarcações, que em 1956 era de 9548 unidades, comportando um total de 22 630 tAB, passou, em 1965, para 10 314, às quais correspondiam 31 570 tAB. Para o período do III Plano, a produção prevista para esta pesca apresenta a distribuição a seguir indicada:

[Ver Tabela na Imagem]

Estes quantitativos poderão, no entanto, sofrer oscilações devidas aos condicionalismos muito particulares que caracterizam a pesca local.
Durante o hexénio proceder-se-á à motorização e reparação de embarcações e à renovação de apetrechos de pesca.

H) Exploração de ostras e outros bivalves

19. No decénio de 1956-1965 a exportação de ostras vivas rendeu mais de 134 800 contos. Prevê-se que este valor seja, de futuro, muito mais elevado, dado o aumento que se verifica na procura externa.
Calcula-se que nos seis anos de vigência do Plano se obtenha a produção de 6000 t/ano, em 1968 e 1969, de 7000 t/ano, em 1970 e 1971, e de 7500 t/ano, em 1972 e 1973.
A acção a desenvolver durante aquele período respeita a parques de criação e a instalações de depuração e afinação.

I) Instalações de tratamento de pescado

20. Em virtude do programa de desenvolvimento previsto para a frota pesqueira, que terá como consequência lógica o aumento da produção, torna-se indispensável proceder, em terra, à construção e melhoria das instalações de tratamento de pescado, bem como à armazenagem frigorífica dos produtos das pescas longínquas.
Para o período de 1968-1973, considerou-se a construção de viveiros para lagostas e o melhoramento de instalações industriais para o aproveitamento de cetáceos e de secagem de bacalhau.

J) Comercialização do pescado

21. Devido ao aperfeiçoamento dos meios de captura, o sector da produção tem registado, ùltimamente, importantes progressos. Já o mesmo, porém, não pode dizer-se relativamente à comercialização do pescado. Além do empolamento exagerado dos preços no consumo proveniente da injustificada acumulação de margens comerciais, o tabelamento das espécies de maior procura não tem permitido aos armadores, conforme já foi referido, vender o pescado a preço compensador.
Diversas medidas foram postas em prática para melhorar o sistema, salientando-se as respeitantes à montagem de instalações frigoríficas portuárias e à acção já mencionada do Serviço de Abastecimento de Peixe ao País. Haverá, no entanto, que prosseguir a obra iniciada, racionalizando os circuitos de distribuição e promovendo novas realizações, até se conseguir que o peixe fresco e congelado atinja todos os pontos do País nas melhores condições hígio-sanitárias, que os preços se mantenham acessíveis a todos os estratos da população e que o produtor aufira o justo rendimento do trabalho e capital investidos.
Para o período de 1968-1973, prevê-se a montagem de diversas instalações frigoríficas portuárias e de venda, nos centros de descarga e, ainda, a integração dos produtos da pesca na Rede Nacional do Frio, cujo delineamento, pelo Ministério da Economia, é previsto para os primeiros anos deste III Plano.
O programa obedece ao esquema seguinte:
As instalações do porto de pesca de Lisboa e as de Matosinhos, cuja capacidade frigorífica é, respectivamente, de 11 000 m3 e 12 600 m3, servirão de base à distribuição do pescado, pois só nesses dois portos se podem descarregar com facilidade e armazenar convenientemente grandes quantidades de peixe. Aqueles portos passarão a assegurar o abastecimento dos grandes centros urbanos do País, denominados «centros principais», donde partirão circuitos menores para outros pontos do continente, designados por «centros secundários» e que correspondem, em geral, às cidades e vilas.
O programa prevê ainda a utilização de transportes frigoríficos e isotérmicos e de peixarias itinerantes automóveis para melhorar as actuais condições de distribuição ambulante do pescado, tanto no que se refere a preços como, muito especialmente, às condições hígio-sanitárias.

§ 3.º Medidas de política

22. O facto de Portugal estar integrado nos grandes blocos económicos ocidentais determina, no que respeita à pesca, ter de se caminhar para uma declarada política de expansão, sem, contudo, se perder de vista a satisfação da procura de pescado no mercado interno, a qual, sendo uma das maiores da Europa, se prevê susceptível de aumentar nos próximos anos, dado quê aquele produto constitui fonte acessível de alimentos ricos em matéria proteica. Tal política deverá basear-se principalmente no desenvolvimento da produção de pescado fresco e congelado, para satisfação do consumo interno, e de uma procura que se acentua, por parte dos mercados externos.
Quanto ao consumo interno, deverá ainda atender-se ao projectado desenvolvimento da indústria conserveira.
A exportação de pescado fresco ou congelado proveniente das pescas costeiras só é de encarar na medida em que o desenvolvimento destas não afecte sensìvelmente a conservação dos recursos, e desde que as quantidades a exportar possam ser substituídas pelas produções das pescas longínquas.

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A concretização desta política implica a adopção de um conjunto de medidas, entre as quais se salientam as seguintes:

Desenvolvimento e modernização das frotas de pesca e incremento da produtividade da actividade piscatória, designadamente através de estímulos financeiros ao reequipamento e reestruturação empresarial;
Apoio aos vários sectores da investigação;
Criação de empresas que associem interesses das actividades radicadas nas várias parcelas do território nacional, de forma a obterem-se bases nas localizações reputadas mais convenientes à. integração económica e consequente aproveitamento das potencialidades disponíveis.

§ 4.º Investimentos e projectos

23. A fim de tornar possível a realização dos objectivos enunciados no § 2.º deste capítulo, programaram-se os investimentos a seguir descriminados, os quais, totalizando 1 862 000 contos, representam uma parcela do montante global que se prevê venha a ser investido no sector da pesca durante a vigência deste III Plano.
Além dos investimentos a cargo dos armadores e de empresas privadas, outros se propõem para desenvolver as infra-estruturas científica e técnica e para melhorar o actual sistema de distribuição e comercialização do pescado.

24. Os investimentos a realizar no período de 1968-1973 são os que a seguir se indicam:

[Ver Tabela na Imagem]

25. O total de 1 862 000 contos a investir no período de 1968-1973 será financiado pelo Orçamento Geral do Estado (420 000 contos), por bancos comerciais e entidades particulares, mediante a tomada de obrigações a emitir pelo Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca (600 000 contos), por crédito externo (376 000 contos) e por autofinanciamento privado (466 000 contos).
A comparticipação do Orçamento Geral do Estado corresponde ao valor total das amortizações vincendas no período de 1968-1973, respeitantes às obrigações emitidas pelo Fundo de Renovação e de Apetrechamento da Indústria da Pesca e tomadas pelo Estado.

26. Não se prevê qualquer dificuldade, por parte dos estaleiros nacionais, no que respeita à construção das unidades programadas. Tendo já sido definida orientação no sentido de se prosseguir uma política de normalização das unidades de pesca, a execução dos trabalhos de construção naval ficará facilitada e o seu custo diminuído.

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CAPÍTULO III

Indústrias extractivas e transformadoras

SECÇÃO I

Programação geral

§ 1. Evolução recente e problemas actuais

1. As indústrias extractivas e transformadoras contribuíram com 48 por cento, a preços de 1963, para o acréscimo do produto nacional bruto, no período de 1953-1965. Mercê desse incremento, a sua representação no referido agregado subiu naquele período de 22 para 34 por cento.
Numa análise mais pormenorizada, deve distinguir-se a evolução sofrida pelas indústrias extractivas da verificada nas transformadoras, muito embora tendam a acentuar-se as relações de interdependência entre elas.

2. No passado recente, o nível, de actividade da indústria extractiva foi influenciado adversamente pelas oscilações das cotações de minérios no mercado mundial.
Em consequência dessas oscilações, o valor bruto da produção de substâncias concessíveis a preços correntes passou da média de 490 000 contos no triénio de 1953-1955 para cerca de 380 000 contos em 1963-1965. A extracção- de substâncias não concessíveis, impulsionada pelo desenvolvimento das industrias transformadoras de minérios não metálicos, que as utilizam como matéria-prima, e pela procura externa de mármores em bruto, tem vindo a expandir-se com firmeza.
A produção daquelas substâncias em 1965 é estimada ao redor de 700 000 contos, embora os dados estatísticos oficiais refiram valores substancialmente inferiores. Correspondendo-lhe mais de 60 por cento da produção extractiva total e crescendo a produção de substâncias não concessíveis em estreito paralelo com o desenvolvimento- da indústria transformadora de produtos minerais não metálicos, que registou a taxa de expansão de 7,4 por cento em 1953-1965, é lícito afirmar que o sector, no seu conjunto, se tem desenvolvido nos últimos anos a ritmo elevado.
Volume considerável das substâncias minerais extraídas escoa-se nos mercados externos (100 por cento dos minérios de. chumbo e zinco, 75 por cento do tungsténio, 50 por cento da pirite e do manganês, 40 por cento do mármore em bruto e do feldspato, 30 por cento do quartzo). A já aludida quebra de cotações fez descer a exportação de 592 000 contos em 1953 para 321 000 contos em 1965. Concomitantemente, operaram-se importantes alterações, devido à subida de peso relativo das substâncias não concessíveis, designadamente o mármore em bruto. Em 1953, as substâncias concessíveis dominavam a exportação com 580 000 contos, apenas cabendo às não concessíveis o escasso valor de 12 000 contos, ao passo que, decorridos doze anos, o valor exportado de urnas e outras - 167 000 contos e 157 000 contos, respectivamente - quase se igualou. No período em análise, não foram apenas as condições de mercado que sofreram alterações, mas também os factores que condicionam a economia da produção, com particular relevo para a disponibilidade de mão-de-obra não qualificada. A queda do volume de emprego no sector, de 41 000 pessoas em 1953 para 23 500 em 1965, reflecte a evolução estrutural já assinalada para a produção e exportação e a subida de salários para níveis justificativos de maior mecanização.
O exame das reservas existentes indica a possibilidade de imprimir ao sector elevado ritmo de crescimento durante este III Plano, se se confirmarem as tendências recentes quanto à evolução dos mercados externos e forem levadas a cabo algumas iniciativas de grande envergadura, actualmente em fase de preparação de projecto ou de execução de estudos de pré-investimento. Todavia, no que respeita, às possibilidades de concorrência externa da nossa indústria, convirá não esquecer a precariedade das estimativas que neste momento se fazem sobre os níveis de certos preços e outros parâmetros definidores da situação do mercado, sujeitos a amplas flutuações por força do jogo do volume de existências e da oferta maciça de produtores e negociantes, do aparecimento de produtos de substituição, da especulação comercial e de factores de ordem política. Nestas condições, não deverá estranhar-se se as perspectivas agora antevistas não vierem a ser confirmadas.

3. A indústria transformadora cresceu à taxa de 8,8 por cento no período de 1953-1965. Este ritmo médio foi excedido, ao nível dos sectores industriais, pelas metalúrgicas de base (16,2 por cento), produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e material de transporte (11,5 por cento), transformadoras diversas 1 (11 por cento) e borracha, químicas e petróleo (10,2 por cento). Abaixo do incremento médio relativo situaram-se os produtos minerais não metálicos (7,5 por cento), o& têxteis, vestuário e calçado (8,4 por cento), a madeira, cortiça e mobiliário (4,4 por cento) e as alimentares, bebidas e tabaco (5,3 por cento).

QUADRO I

Taxas de crescimento e posição relativa das indústrias transformadoras

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Elementos da contabilidade nacional fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística.

Parece oportuno estabelecer, por um lado, a comparação entre a estrutura industrial do País e a da E. F. T. A. e Mercado Comum e, por outro, entre aquela estrutura e a da Europa Mediterrânica 2. Obtêm-se, assim, dois termos de referência, o primeiro reflectindo, de certo modo, a possível configuração do futuro e o segundo

1 Inclui as classes do papel e artigos do papel, curtumes, imprensa e artes gráficas e outras.
2 Excepto a Itália.

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auxiliando a ajuizar melhor da situação presente pelo confronto com países de grau de desenvolvimento semelhante.
Relativamente à E. F. T. A. e ao Mercado Comum, é muito elevada, na estrutura industrial portuguesa, a participação dos têxteis, vestuário e calçado, madeira, cortiça e mobiliário e «produtos minerais não metálicos. No primeiro grupo, a posição portuguesa em 1965 correspondia a pouco mais do dobro da que se verificava em 1961 na E. F. T. A. ou no Mercado Comum e igualava a situação da Europa meridional em 1953. No segundo grupo, o nível relativo é semelhante ao da Europa meridional, mas duplo do da E. F. T. A. e Mercado Comum. Finalmente, nos produtos minerais não metálicos, Portugal aparece nìtidamente acima da média destas duas regiões e da Europa meridional.
Em posição inversa, isto é, com valores inferiores, encontram-se as metalomecânicas, as metalúrgicas e químicas e os derivados do petróleo, que nos países mais desenvolvidos representam, respectivamente, 35 a 37 por cento, cerca de 8 por cento e 10 a 12 por cento do produto industrial, enquanto em Portugal representavam 25 por cento, 4 por cento e 9 por cento em 1965. Relativamente à Europa meridional, a percentagem que nos cabia nas metalomecânicas não denotava inferioridade, ao contrário do que se passava nas químicas e no petróleo.
É ainda de assinalar que a alimentação, bebidas e tabaco registam, entre nós, percentagem igual à dos países mais industrializados, facto que indica relativo desequilíbrio dentro da estrutura industrial portuguesa.
A análise da estrutura do produto das transformadoras sublinha escassez de actividades que constituem a base das economias industriais modernas, afigurando-se excessiva a participação relativa das indústrias ligeiras.
Nos últimos anos houve melhoria, traduzida pela diminuição das percentagens dos sectores tradicionais («Alimentação, bebidas e tabaco», «Têxteis, vestuário e calçado», «Cortiça e mobiliário» e «Produtos minerais não metálicos») e pelo aumento da parte relativa das metalúrgicas e, sobretudo, das metalomecânicas. Os sectores mencionados em primeiro lugar passaram de 55,4 por cento em 1953 para 49,5 por cento em 1965, e as metalúrgicas e metalomecânicas, de 20 para 28 por cento. Esta evolução processa-se no sentido desejável, mas continua a fazer-se sentir a necessidade de mais largas iniciativas, e em maior número, voltadas para produções que nos aproximem dos padrões da Europa industrializada.

4. Mais de três quartos da exportação portuguesa provêm da indústria transformadora. E, na análise da evolução recente, o primeiro aspecto a realçar é ainda o da preponderante contribuição da indústria transformadora para o seu aumento absoluto. De 1961 a 1965 verificou-se o acréscimo de 7 milhões de contos no total das exportações, dos quais 5,9 milhões devidos a produtos manufacturados. O principal incremento registou-se nos artigos classificados segundo a matéria-prima (+3,3 milhões de contos), em virtude, sobretudo, do aumento das vendas de produtos minerais não metálicos ( + 1,2 milhões de contos) e de têxteis ( + 1,4 milhões). Assinale-se também a elevação verificada nos artigos manufacturados diversos - 0,9 milhões de contos -, dos quais 0,6 milhões no vestuário. A exportação de máquinas e equipamento subiu igualmente de cerca de 0,3 para 0,6 milhões de contos. Em consequência deste acréscimo, a percentagem dos produtos industriais no total exportado passou de 73 por cento em 1961 para cerca de 78 por cento em 1965.
Quanto ao impacte da evolução sobre a estrutura das exportações de artigos industriais, salienta-se a diminuição de peso relativo das conservas de peixe, madeira e cortiça. Estes produtos detinham, em 1961, 26 por cento da exportação total e 36 por cento das exportações de produtos industriais. Quatro anos volvidos, as percentagens respectivas foram de 18 e 23 por cento. O período de 1961-1965 não trouxe alteração significativa à enorme projecção que os têxteis têm no nosso comércio externo. Tal facto não é, porém, sinónimo de imobilismo estrutural, porque, embora as exportações de fios têxteis e de tecidos de tipo padrão se encontrem ainda em posição dominante (55 por cento), a tendência parece apontar o incremento substancial da exportação de artigos mais elaborados.
Outras evoluções estruturais a registar dizem respeito ao notável surto da exportação de vestuário, à influência exercida pela indústria de lapidação de diamantes sobre a exportação (931 milhares de contos de pedras em bruto), ao incremento das exportações de produtos minerais não metálicos, de derivados de tomate e de pasta de papel. As máquinas e material de transporte também melhoraram a sua posição relativa, mas a sua participação é ainda modesta, Com efeito, o peso relativo das máquinas e equipamentos, em relação às manufacturas exportadas, é de 5,8 por cento, ou seja cerca de sete vezes inferior à das nações mais industrializadas. Em contrapartida, no que toca aos têxteis, cabe-nos uma percentagem de 36 por cento, cerca de quatro vezes a dos países industrializados e uma vez e meia a dos países em desenvolvimento.
A composição das exportações enferma de larga dependência em relação a produtos de fraca elasticidade de procura. Na realidade, 53 por cento do total das exportações nacionais cabem a quatro tipos de produtos industriais, todos eles destinados a mercados pouco dinâmicos a longo prazo - conservas de peixe, madeira e cortiça, têxteis e vestuário.
No que toca ao destino das exportações, o estrangeiro, designadamente a E. F. T. A., vem assumindo importância crescente.
A participação no movimento de integração europeia suscitou ampla revisão das perspectivas de expansão industrial e traduziu-se numa série de realizações já programadas, a maior parte em estreita associação com o capital externo, que contam fundamentalmente com os mercados europeus para o escoamento da sua produção.
Em consequência, a exportação para o estrangeiro, que atinge já três quartos do total, deverá beneficiar de novos impulsos durante este III Plano. As novas exportações ajudarão a corrigir o desajustamento estrutural que actualmente ainda se verifica entre a oferta nacional e as importações dos países desenvolvidos, pois quase metade destas últimas é constituída por máquinas e equipamentos.
Essa correcção facilitará, além disso, a complementaridade das indústrias da metrópole e do ultramar, na medida em que a procura de artigos de maior nível tecnológico, por parte dos países industrializados, irá contribuir para a expansão de estruturas metropolitanas aptas a apoiar, em vez de substituir, empreendimentos ultramarinos. O ultramar, embora absorva apenas um quarto da exportação total, é mercado de grande importância para muitas das nossas indústrias. Ao nível de divisão da Classificação Tipo do Comércio Internacional 1, mais de metade da exportação total para o ultramar corresponde a

1 Incluindo-se no cômputo as exportações de tecidos de algodão.

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produtos para os quais as províncias ultramarinas representam 50 por cento ou mais do total dos mercados de exportação. A forte concentração da exportação nos mercados ultramarinos verifica-se em torno de produtos de actividades transformadoras características dos estádios iniciais da industrialização, não podendo considerar-se satisfatória a parte relativa aos produtos associados à complementaridade, a mais largo prazo, das economias da metrópole e do ultramar.
Por outras palavras: a exportação para o ultramar terá de evoluir em virtude da industrialização de territórios como Angola e Moçambique, visto muitos dos seus componentes serem artigos cuja importação virá a ser substituída ràpidamente pela produção local, afigurando-se pouco relevantes os artigos cuja procura será complementar desse esforço de industrialização.
Se, por um lado, o desenvolvimento do ultramar virá a fechar alguns mercados, por outro, abrirá novas oportunidades. O desenvolvimento tenderá a efectuar-se no sentido de actividades mais categorizadas na hierarquia do processo de industrialização, o que deve considerar-se benéfico para os interesses das economias metropolitana e ultramarina.
Assim, é de prever a redução de actividades com algum relevo, mas a exportação para o ultramar continuará provàvelmente a crescer em valor absoluto, devido à criação de novos mercados.

5. Para a correcta apreciação da situação actual e das perspectivas da indústria transformadora, importa ainda referir a falta de capacidade concorrencial que numerosas unidades revelam, a par de outras perfeitamente competitivas que têm vindo a ser montadas e nada ficam a dever às suas congéneres estrangeiras. Decorridos apenas três anos sobre a elaboração do Plano Intercalar, permanecem válidos em larga medida alguns elementos fundamentais do diagnóstico então feito, que seguidamente se resumem 1:

Predomínio acentuado de unidades de pequena dimensão, com fabricos muito diversificados, voltadas quase exclusivamente para o mercado interno e defendidas da concorrência externa pela protecção pautal;
Dificuldades crescentes no recrutamento de mão-de-obra especializada em muitas categorias profissionais;
Baixo nível de conhecimentos de gestão, de capacidade técnica e de mentalidade industrial em muitos sectores industriais, dificultando a colocação dos produtos nos mercados externos;
Abastecimento de certo modo oneroso quanto a algumas matérias-primas e, em relação a diversos sectores da produção, custos relativamente mais elevados de energia e combustíveis;
Inexistência de normas de fabricação e de padrões de qualidade e controle desta para a maioria dos produtos fabricados.

A estes pontos outros devem acrescentar-se, como os que dizem respeito às dificuldades de financiamento dos investimentos, da produção corrente e das exportações, ao carácter incipiente da investigação tecnológica e à falta de organizações públicas e particulares destinadas a promover novas iniciativas de desenvolvimento industrial e a apoiar a actividade das empresas em funcionamento.

§ 2.º Objectivos

6. O desenvolvimento industrial tem sido o principal motor do crescimento económico português nos últimos quinze anos, e, para o futuro, é ainda à industrialização que terá de pedir-se o contributo decisivo para a obtenção de elevados ritmos de crescimento e rápida melhoria do nível de vida da generalidade da população - objectivos fulcrais deste III Plano.
Mas o enunciado das finalidades que hão-de orientar o desenvolvimento industrial no período do Plano assenta em alguns pressupostos e directrizes de base que cumpre explicitar desde já.
A primeira directiva resulta de princípios consagrados em leis fundamentais do País e diz respeito à posição do Estado e ao papel da iniciativa privada no nosso sistema económico e social. De harmonia com esses princípios, cabe essencialmente àquela iniciativa, considerada como o «mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação» (Estatuto do Trabalho Nacional, artigo 4.º), ou seja às empresas privadas, a responsabilidade pelo desenvolvimento do sector industrial, na medida em que a elas compete escolher e realizar os investimentos e decidir sobre os planos de produção. Ao Estado pertence, por seu turno, apontar os rumos desejáveis para a expansão do sector e criar as condições institucionais que permitam orientar e incentivar os empresários, de modo que as realizações destes se aproximem tanto quanto possível dos objectivos propostos. Para esse efeito, cumpre aos Poderes Públicos adoptar medidas de política industrial adequadas, isto é, providências legais e administrativas com vista a assegurar as referidas condições e estímulos; mas não lhes cabe, em princípio, uma acção directa na concretização dos programas de desenvolvimento. Assim, o que no Plano se inscreve como taxas de crescimento previstas para o sector, bem como as projecções do investimento, constituem elementos indicativos e orientadores da iniciativa privada, de quem se esperam confiadamente as acções positivas no sentido de se alcançarem as metas programadas.
A segunda orientação de base refere-se à necessidade de preparar a indústria nacional para enfrentar o embate resultante do movimento de integração económica europeia. Segundo compromissos já assumidos, Portugal deverá, dentro de poucos anos, concorrer, em paridade da condições, com países mais industrializados. Beneficiará de mercados muito mais vastos, mas, em contrapartida, sofrerá a ameaça de uma concorrência cuja dimensão não tem paralelo na experiência pretérita. Impõe-se, assim, como exigência vital, a difusão de uma mentalidade industrial voltada sobretudo para o exterior e para a conquista de novos mercados, abertos à livre circulação das mercadorias.
Finalmente, nas presentes circunstâncias, é imperioso assegurar o máximo aproveitamento das estruturas existentes, procurando obter delas a mais alta produtividade, pela racional utilização dos factores disponíveis. Isto não significa, no entanto, que a indústria deva desinteressar-se da actualização e aperfeiçoamento da sua orgânica estrutural, designadamente no que se refere ao dimensionamento mais económico das suas unidades e empresas. O Estado continuará a dar todo o apoio ao seu alcance a tais iniciativas, de harmonia com os princípios acima expostos.

7. As perspectivas que os mercados europeus abrem à actividade nacional conjugam-se com alguns factores

1 Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, Lisboa, Imprensa Nacional, vol. I, pp. 282-283.

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propícios à obtenção, nos próximos anos, de fortes taxas de crescimento do produto industrial. A realização de alguns empreendimentos à escala desses mercados permitirá alcançar, em diversos sectores, substanciais incrementos relativos, e o aproveitamento de reservas dó produtividade latentes na grande maioria das empresas também poderá conduzir a notável expansão, pelo alargamento dos mercados em que essas empresas se mostrem competitivas.
São objectivos deste III Plano a aceleração do desenvolvimento industrial, pela promoção de novos empreendimentos de provada capacidade concorrencial, e o fortalecimento do poder competitivo das unidades actualmente em laboração, bem como a criação de condições de elevado ritmo de crescimento para além do III Plano, mediante os investimentos intelectuais necessários para que no País se possam gerar e difundir os conhecimentos que estão na base das modernas sociedades industriais.
Trata-se de estimular novas iniciativas, orientar os recursos, nomeadamente financeiros, para os empreendimentos de maior e mais rápida reprodutividade, impedir práticas restritivas prejudiciais ao desenvolvimento económico, reorganizar, dinamizar e coordenar as intervenções do sector público na orientação do desenvolvimento industrial.

8. Relativamente às indústrias extractivas, as projecções elaboradas pelos serviços competentes, de acordo com os estudos próprios e a colaboração prestada pelos empresários, indicam a possibilidade de se obter, durante este III Plano, a taxa de crescimento de cerca de 11 por cento para o valor bruto da produção, embora este ritmo dependa da confirmação das tendências de evolução do mercado mundial e da concretização da exploração do jazigo de Moncorvo. Os resultados a que se chegou sintetizam-se nos dois quadros seguintes (quadros II e III).

QUADRO II

Projecções da indústria extractiva por actividade no período de 1968-1973

(Valores em contos, referidos a 1963)

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Elementos colhidos no relatório da Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos «Projecções da indústria para o período do III Plano de Fomento». Não são considerados os minérios radioactivos.

QUADRO III

Investimentos previstos

[Ver Quadro na Imagem]

9. Quanto à indústria transformadora, os objectivos a que se subordina este III Plano foram estabelecidos em estreita colaboração com o sector privado, através da larga representação que lhe foi assegurada no grupo de trabalho respectivo.
Como já se referiu, o ritmo de crescimento anual observado no período de 1953-1065 foi de 8,8 por cento. Os trabalhos preparatórios deste III Plano revelaram a possibilidade de melhorar aquela taxa. Assim, afigura-se possível fixar a expansão anual de 9 por cento como objectivo desejável a alcançar no hexénio que termina em 1973. Este objectivo poderá vir a ser ultrapassado, mas a prudência aconselha a toma-lo como referência enquanto não se conhecerem os resultados das medidas de política industrial tendentes a criar, como há pouco se apontou, condições favoráveis à iniciativa privada e que são enunciadas nas linhas seguintes deste capítulo.
Para esse efeito, as indústrias metalomecânicas produtoras de bens de equipamentos, os ramos novos da indústria química, as actividades transformadoras de produtos agrícolas e silvícolas que mais ràpidamente possam, contribuir para a desejada reestruturação do sector primário e a indústria têxtil devem considerar-se prioritários. As empresas que neste domínio se proponham acções de expansão ou de aumento de competitividade, de acordo com condicionalismos específicos a fixar nos programas

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anuais de execução do Plano, terão preferência na concessão dos incentivos e estímulos previstos para o apoio ao desenvolvimento industrial. Poderão ainda beneficiar de prioridade, sempre em termos a definir nos programas anuais, as iniciativas de diversificação ou de reconversão a que se reconheça interesse.
No condicionalismo a estabelecer para a concessão do regime prioritário, atender-se-á sobretudo à reprodutividade dos investimentos, em termos de contribuição para o produto e para a exportação.

10. As projecções do produto da indústria e a sua estrutura em 1973 constam do quadro IV e foram obtidas a partir dos seguintes elementos: estudos conduzidos sectorialmente e a nível horizontal pelo Grupo de Trabalho da Indústria; decisões tomadas em matéria de política industrial; e participação que, nos estudos de planeamento global, foi atribuída à indústria no incremento do produto nacional.
Como já se referiu no Plano Intercalar, o crescimento das diferentes actividades industriais processar-se-á a ritmos muito diversos, determinados fundamentalmente pela natureza dos diferentes sectores, pelo seu papel estratégico, pelas suas modalidades e pelas tendências do passado recente. As respectivas taxas de crescimento são coerentes com a de 9 por cento fixada para a totalidade da indústria transformadora e confirmam a sua possibilidade.

QUADRO IV

Projecção do produto e estrutura da indústria transformadora

[Ver Quadro na Imagem]

Fontes: Coluna 1: Instituto Nacional de Estatística, Contabilidade Nacional. Para 1965 procedeu-se à desagregação das indústrias da borracha, calçado e tabacos, de acordo com a estrutura respectiva em 1965;
Coluna 2: Taxas previstas para o período de 1966-1967 de acordo com a programação industrial S. E. I. As indústrias têxteis, do vestuário e calçado foram projectadas para 1967, em conjunto, à taxa de 8 por cento, tendo-se desagregado a do calçado, de acordo com a estrutura de 1966.
Coluna 6: Taxas fixadas tendo em conta os estudos sectoriais do Grupo de Trabalho da Indústria.

11. A indústria da alimentação e das bebidas aparece com a taxa de crescimento de 6 por cento, igual à que se previa para o Plano Intercalar e um pouco superior à verificada no período 1953-1965.
Dentro das prioridades fixadas, as acções a desenvolver no domínio do sector primário aparecem secundadas pela industrialização dos seus produtos, o que permitirá realizar a taxa de acréscimo de 6 por cento admitida.
A percentagem desta actividade na formação do produto da indústria baixará para 7,9 em 1973, devido ao desenvolvimento favorável que deverão tomar os outros ramos industriais num estádio mais evoluído.

12. O Grupo de Trabalho (Subgrupo das Indústrias Têxteis) indica que, para o conjunto do sector têxtil e do vestuário, é de admitir, durante o Plano, um crescimento à taxa anual média de 5 por cento (limite inferior de 4 por cento e superior de 6 por cento). Adoptou-se a taxa de 5 por cento recomendada pelo sector, dado a situação actual não ser favorável a previsões mais optimistas. Também o peso deste ramo no produto industrial acusa a evolução conveniente, baixando para 16,1, em confronto com 25,9 e 22,8, respectivamente, em 1965 e 1953.

13. As indústrias da pasta, papel e cartão, imprensa e artes gráficas cresceram, no período de 1953-1965, à taxa de 8,5 por cento. Previu-se que no período do Plano Intercalar este crescimento sofresse aceleração, passando para 17 por cento. A sua posição no produto industrial foi de 4,4 por cento e 5 por cento, respectivamente, em 1953 e 1965, e será de 5,6 por cento em 1967. O Subgrupo de Trabalho que se ocupou desta actividade apre-

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sentou previsões que constam do relatório sectorial e que classificou de modestas. Efectivamente, tendo em consideração que nesse mesmo trabalho se admitia poderem alguns novos projectos ter escapado à apreciação, procedeu-se à extrapolação desagregada das tendências de crescimento das varias actividades, que se ajustaram em conformidade com a informação do Subgrupo, tendo-se chegado à taxa de 13,4 por cento para o seu crescimento. Nesta conformidade, o peso deste grupo na produção industrial em 1973 será de 7,1 por cento.

14. As indústrias químicas e dos derivados do petróleo e do carvão não acusaram no passado taxa de crescimento que as conduzisse a nível satisfatório, dentro de uma estrutura industrial que se pretende modernizar.
Aos estudos conduzidos na especialidade, e que constam do respectivo relatório, se remete a apreciação do panorama que se antolha para a indústria química nos próximos seis anos, com base nos projectos, anteprojectos e ideias de desenvolvimento que foi possível estabelecer.
Das conclusões dos referidos trabalhos e do facto de se considerar prioritário este ramo de produção industrial resulta ter-se adoptado como taxa de crescimento da indústria química e dos derivados do petróleo e do carvão a de 9,5 por cento; a sua participação no produto industrial será de 9,3 por cento, o que representa um avanço no bom sentido, embora em medida ainda insuficiente.
Dado o esclarecimento do problema e as atenções que para ele ficam dirigidas, é de admitir que nos programas anuais possam ser previstos progressos mais significativos.

15. A indústria dos produtos minerais não metálicos acusou, no período de 1953-1965, a taxa de crescimento de 7,5 por cento. O Subgrupo de Trabalho respectivo fez o estudo da projecção, para 1973, do produto, do investimento e do emprego neste subsector, e admitiu que a taxa de expansão do produto para o período de 1968-1973 se possa fixar em 8 por cento. O incremento da construção comanda o desenvolvimento desta actividade.
A exportação tem especial influência na produção manual de vidro e cerâmica artística e na dos mármores trabalhados.

16. As indústrias metalúrgicas de base acusaram no período de 1953-1965 taxa de acréscimo espectacular, devido à instalação da Siderurgia Nacional, cujo peso neste subsector foi relevante, melhorando assim a sua participação no produto industrial de 1,6 por cento, em 1953, para 3,6 por cento, em 1965.
A evolução continuará a ser dominada pela expansão da unidade siderúrgica do Seixal, já porque ela prepondera na estrutura do subsector, já porque o seu crescimento é substancialmente superior ao dos restantes, devendo atingir em 1973 a produção de 1 milhão de toneladas de aço bruto. Espera-se que o crescimento se processe, entre 1965 e 1973, à taxa média anual de 17 por cento.
Na indústria de fundição de metais ferrosos admitem-se, no mínimo, aumentos anuais de produção de 10 por cento, o que representa a manutenção da tendência actual.
Quanto às restantes actividades, sómente se poderá adiantar uma quantificação na laminagem do zinco, com a estimativa de acréscimo global da produção, até 1973, de 50 por cento em relação ao actual.

17. As indústrias dos produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e material de transporte são projectadas, em conjunto; à taxa de 12 por cento, atingindo em 1973 o peso de 30,5 por cento no produto industrial. O estudo destas actividades foi feito separadamente por três subgrupos de trabalho, cujos estudos concorreram para admitir como possível a referida taxa de 12 por cento, se as medidas de promoção industrial a aplicar prioritàriamente a este subsector não forem descuradas.

18. As restantes indústrias transformadoras, pelo seu carácter residual, apresentam extrema heterogeneidade, impossibilitando uma análise de conjunto.
As indústrias da madeira e mobiliário de madeira, cortiça, borracha e matérias plásticas, calçado e tabaco preponderam pelo valor da sua produção, condicionando o crescimento global, que se prevê seja realizado à taxa média anual de 9 por cento.
O tabaco, a borracha e as matérias plásticas serão os sectores mais dinâmicos.

19. A estimativa da formação bruta de capital fixo no período do Plano foi deduzida dos objectivos de produção por duas vias diferentes, mas complementares.
Pediu-se aos subgrupos especializados do Grupo de Trabalho da Indústria, nos quais se deu ampla representação às entidades privadas, que indicassem os investimentos correspondentes aos projectos que previam realizar no período do Plano ou que resultariam da previsão de desenvolvimento esperada para cada sector.
As informações colhidas por esta via, das quais se extraiu um resumo que se inclui neste texto, foram de valor variável, segundo os sectores. Constituíram todas útil material de trabalho, mas a sua comparação com os valores das projecções deve fazer-se com certas reservas.
Compreende-se a dificuldade de alguns sectores darem indicações relativas aos últimos anos do período do Plano, nesta altura em que a conjuntura não é favorável e a evolução é imprevisível.
O valor do investimento programado para o período de 1968-1973, relativo a cada grupo de indústrias, como consta da coluna 4 do quadro V, foi obtido por coeficientes capital-produto que se aplicaram à sua contribuição para o produto nacional em termos de acréscimo do valor acrescentado durante aquele período. Os coeficientes capital-produto determinaram-se a partir de séries de doze anos (1953-1964), fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística nos seus elementos da contabilidade nacional.
O total de investimentos obtidos por esta via atinge 53,1 milhares de contos, valor a ser tomado como elemento indicativo, admitindo-se que a taxa de 9 por cento de acréscimo do produto da indústria possa ser atingida com investimento inferior. Para esse efeito, considera-se a possibilidade de melhor aproveitamento das infra-estruturas e equipamentos instalados.
Entretanto,, é difícil determinar com suficiente precisão, para os diferentes ramos de indústria, a rentabilidade dos investimentos, sobretudo porque estes, além de se destinarem ao acréscimo da produção, têm também em vista aumentos de competitividade, através da melhoria de qualidade e preço. Este último aspecto, de especial relevo, visto que durante o período do Plano a indústria deve preparar-se para enfrentar uma concorrência sem precedentes, é de ter particularmente em atenção quanto ao tipo de investimentos.
Nos programas anuais de execução do Plano caberá introduzir as correcções nos coeficientes capital-produto que as circunstâncias indiquem, designadamente as que resultem da evolução estrutural e tecnológica da indústria.

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QUADRO V

Formação bruta de capital fixo (milhares de contos)

(Comparação dos investimentos em planos de fomento anteriores)

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Colunas l, 2, 3 - Dados da Contabilidade Nacional, Instituto Nacional de Estatística. (Estes elementos resultam de uma primeira tentativa feita pelo Instituto Nacional de Estatística para apresentar, desdobrados por grupos de indústrias, o total de investimentos nas industrias transformadoras.)

20. Referem-se seguidamente algumas indicações recebidas dos sectores:
O sector das indústrias de alimentação e bebidas indica no seu relatório os seguintes investimentos, pelos diversos ramos de actividade, no total de 1 015 000 contos:

[Ver Tabela na Imagem]

Em relação a estes valores, foram feitas as seguintes restrições:
Para as massas alimentícias e conservação de frutos e produtos hortícolas, os investimentos referem-se apenas aos três primeiros anos do Plano; para a fabricação de malte e cerveja, o investimento reporta-se a melhorias de condições de transporte, dependendo os restantes investimentos das condições conjunturais.
Aponta ainda expressamente o relatório um tipo de investimento, a que atrás se fez referência, relativo à indústria de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, e à das águas mineromedicinais, que, para diminuírem a mão-de-obra e melhorarem o seu nível tecnológico, deverão reequipar-se com maior mecanização; não se indica, entretanto, qualquer estimativa para este investimento.
O sector das indústrias têxteis e de vestuário insere no relatório uma estimativa das necessidades de investimento em máquinas, excluindo os edifícios e instalações. O seu valor global é de 6 300 000 contos, assim distribuídos:

[Ver Tabela na Imagem]

Prevê-se a participação da indústria metalomecânica nacional nestes fornecimentos, da ordem dos 1 200 000 contos.
Para as indústrias de pasta para papel, papel e tipografia, inclui o respectivo relatório, para a totalidade do investimento a efectuar no período do Plano, o valor de 3 797 950 contos, admitindo que possa ser excedido, na medida em que apenas inclui os projectos de que havia conhecimento naquela data.
A sua distribuição durante os seis anos do Plano fez-se da forma seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Os estudos levados a efeito pelo Subgrupo da Indústria Química e dos Derivados do Petróleo e do Carvão conduziram às seguintes previsões para o período de 1968-1973:

[Ver Tabela na Imagem]

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Na indústria dos minerais não metálicos, os estudos realizados permitiram programar os seguintes investimentos:

[Ver Tabela na Imagem]

Entrando em linha de conta com possíveis correcções a introduzir nas modalidades referidas e considerando ainda algumas não incluídas na relação anterior, foi estimado o montante global de investimentos, para o período de 1968-1973, na ordem dos 2 500 000 contos, o que coincide com a programação do quadro IV.
Não se tem conhecimento de dificuldades na obtenção de capitais para investimento, nem de projectos devidamente elaborados do ponto de vista técnico e económico, aos quais tenham sido recusados financiamentos.
Na indústria vidreira, as fontes de financiamento foram as reservas, o aumento de capital por incorporação das mesmas e os suprimentos dos sócios.
Os investimentos previstos pelo sector das indústrias metalúrgicas de base referem-se apenas a algumas unidades fabris de que se conhecem os planos de expansão, e são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Quanto ao conjunto do sector de produtos metálicos, máquinas, material eléctrico a de transporte, as informações directas foram muito limitadas. Na fabricação de máquinas não eléctricas apenas se releva o investimento de 450 000 contos numa importante actividade prioritária - a indústria de máquinas-ferramentas.
Na indústria de material eléctrico, o investimento foi estimado em 3 190 000 contos, assim distribuídos:

[Ver Tabela na Imagem]

A indústria de material de transporte avalia as suas necessidades de investimentos em 472 000 contos, destinando-se 172 000 contos à construção naval e 300 000 contos aos restantes sectores.
Sintetizam-se no quadro VI os investimentos referidos directamente pelos Subgrupos da Indústria Tranformadora.
Totalizam cerca de 28,4 milhões de contos 1, dos quais 6,3 milhões deverão ser investidos no período de 1968-1970.

QUADRO VI

Investimentos referidos directamente pelos Subgrupos da Indústria Transformadora

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Este total corresponde a cerca de 57 por cento da projecção relativa à formação bruta de capital fixo na indústria transformadora para o mesmo período.
(b) Inclui projectos e anteprojectos de investimentos, os últimos dos quais se desconhece se virão ou não a concretizar-se na vigência do Plano, e que totalizam 2 959 000 contos. Não inclui algumas ideias de investimento, no montante de 1029,8.

§ 3.º Medidas de política

21. Para alcançar a meta fixada ao sector industrial, torna-se indispensável todo um conjunto de providências, algumas das quais competem à Secretaria de Estado da Indústria e outras dizem respeito a diversos departamentos, tais como as que se relacionam com o financiamento e a tributação (Ministério das Finanças), com a comercialização, nomeadamente as exportações (Secretaria de Estado do Comércio), com a intensificação e alargamento dos meios de ensino (Ministério da Educação), com a formação profissional acelerada e a exe-

1 Incluindo cerca de 4 milhões de contos de anteprojectos referentes às indústrias químicas, mas excluindo cerca de 1 milhão de contos relativos a ideias de desenvolvimento apresentadas para as mesmas actividades.

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cução de uma política activa de mão-de-obra (Ministério das Corporações e Previdência Social), com as infra-estruturas de transportes e comunicações (Ministérios das Comunicações e da Marinha) e, ainda, com os esquemas de política social (Ministério das Corporações e Previdência Social). Esta multiplicidade de factores e incidências do desenvolvimento industrial deverá ser cuidadosamente harmonizada no quadro da execução do Plano. Nos capítulos respectivos vão indicadas as medidas de política financeira, comercial, educacional, social e de transportes que interessam, em maior ou menor escala, à realização da política industrial aqui exposta.

22. No que se refere à indústria extractiva, o levantamento de cartas geológicas e minerais, a identificação de zonas favoráveis a determinados tipos de mineralização de valor económico, a prospecção geológica, geofísica e geoquímica de áreas prometedoras, a resolução de problemas mineiros fora do alcance do concessionário comum, o estudo das características e distribuição geográfica das substâncias minerais úteis, o esclarecimento de produtores e consumidores sobre as possibilidades de substituição de produtos minerais importados por produtos nacionais, a avaliação de reservas dos minerais mais importantes são pontos em que a acção oficial continuará a incidir. Também serão desenvolvidos os serviços comuns de fiscalização e assistência aos trabalhos de minas e pedreiras, de higiene e segurança e de estatística.
A Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos será reorganizada e dotada dos meios necessários para poder fiscalizar e orientar todos os trabalhos de investigação, prospecção e exploração mineira, bem como os de actualização de cartas geológicas.
No campo da produção, dedicar-se-á especial cuidado ao lançamento de novos empreendimentos, desde que baseados em estudos que demonstrem a sua viabilidade económica, em ligação com o desenvolvimento de outras indústrias. A exportação directa das substâncias minerais será substituída, sempre que possível, pelo seu processamento em instalações fabris nacionais. Dentro destas orientações, estudar-se-á o melhor aproveitamento das reservas minerais reconhecidas, nomeadamente de ferro, pirite e sal-gema, e estimular-se-á a prospecção de novos jazigos.
Tem sido - e continuará a ser - política oficial a de que ao Serviço de Fomento compete apenas a definição de áreas favoráveis e a sua prospecção e pesquisa até ao momento em que se manifeste o interesse das empresas, cabendo sempre a estas a exploração industrial dos jazigos descobertos.
Com a obrigação expressa da transformação dos produtos minerais que vierem á ser encontrados e o direito do Estado a uma comparticipação nos benefícios das explorações, foram já dados exclusivos de pesquisa a entidades privadas em largas áreas do Alentejo, com condições favoráveis à ocorrência de mineralizações, especialmente de pirites, havendo fundadas esperanças de que os resultados se traduzam em realidade de marcado interesse no campo mineiro e até no da indústria em geral. Outras áreas cativas poderão ser outorgadas em condições idênticas a empresas de reconhecida idoneidade que se disponham a proceder a pesquisas mineiras no território metropolitano.
Como já vão passados os tempos em que se podia esperar dos simples registos, possíveis a todos, a descoberta e criação de novas unidades mineiras, alargar-se-á, no futuro, a realização de pesquisas em áreas cativas a empresas, nacionais ou estrangeiras, que disponham dos vastos capitais, da técnica e do acesso aos mercados exigidos pelo objectivo do melhor aproveitamento da nossa riqueza mineira.
E porque não se prevê que o capital nacional possa suprir as necessidades do sector, continuará justificada a política de atracção de capitais estrangeiros. As isenções definidas no recente Código da Contribuição Industrial já traduzem essa orientação. Ela deverá manter-se e até reforçar-se, se assim o aconselhar a evolução das condições de desenvolvimento do sector.
Outro aspecto importante para o desejado incremento da indústria extractiva diz respeito às concessões mineiras inactivas. É necessário aplicar as sanções previstas na lei aos concessionários que não trabalham as minas, por incapacidade manifesta ou espírito de especulação. Contam-se por mais de 1000 as concessões não produtivas e são frequentes as situações de impedimento do seu estudo e valorização por entidades idóneas, em resultado da falta de colaboração dos detentores dos respectivos alvarás. A consciência da missão do concessionário como responsável por uma quota-parte da produção nacional é ponto da maior importância.
No elenco das medidas previstas por este III Plano, inclui-se ainda a actualização da legislação referente a pedreiras e minas e a regulamentação da Lei n.º 2080, de 21 de Março de 1956, de modo a permitir a pesquisa de petróleo e gás natural na plataforma continental.

23. Muitos dos elementos do sistema funcional que tem orientado a indústria transformadora foram concebidos para fazer face aos problemas postos pelo início do processo de industrialização.
Com o Plano Intercalar de Fomento anunciaram-se os primeiros passos para a revisão daquele sistema, e com a publicação do Decreto-Lei n.º 46 666, de 24 de Novembro de 1965, definiram-se algumas linhas do rumo que se entendeu seguir em tal matéria. Este III Plano dá continuidade às orientações enunciadas com vista a criar o condicionalismo propício à intensificação do ritmo de acréscimo do nosso produto industrial.

24. Considerando os factores que impõem uma nova política de condicionamento industrial, o preâmbulo do citado Decreto-Lei n.º 46 666 anunciou a intenção de assegurar «a restrição progressiva, mas tão rápida quanto possível, do âmbito do condicionamento, substituindo uma decisão e uma responsabilidade do Estado em matéria que dominantemente importa à iniciativa privada e ao seu interesse pela própria decisão e pela própria responsabilidade dessa mesma iniciativa». Durante este III Plano será revista a legislação sobre o condicionamento industrial com o objectivo de concretizar esta orientação.
Como se sublinhou no referido preâmbulo, a revisão do regime do condicionamento industrial afigura-se inadiável por força da «enorme transformação que nos últimos anos se verificou, quer no potencial industrial do País - fruto da política seguida e da nova mentalidade e capacidade dos empresários -, quer nas actuais e diferentes perspectivas das relações internacionais». No momento em que a indústria portuguesa tem de conseguir o alargamento substancial dos seus mercados através da exportação, sujeitando-se, em contrapartida, à progressiva concorrência estrangeira, carece de justificação, na maior parte dos casos, a aplicação de um instrumento preventivo concebido e posto em prática para proteger o início de um processo de industrialização voltado para o mercado interno.
Apesar de todas estas razões, não pode esquecer-se, contudo, que o regime do condicionamento industrial tem

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constituído trave mestra da política industrial portuguesa, e que o seu abandono repentino, sem as medidas cautelares adequadas, poderia causar graves perturbações.
Por isso, não pode efectuar-se bruscamente a liberalização do condicionamento industrial, mas é indispensável caminhar por adaptações graduais e sucessivas.
Para algumas indústrias que deixem de ser abrangidas pelo regime de condicionamento serão publicados regulamentos de exercício, mas procurar-se-á evitar que tais regulamentos acarretem entraves artificiais, a uma concorrência regular e bem ordenada ou imponham esquemas inadequados ao normal funcionamento do mecanismo dos preços. Por outro lado, evitar-se-á, tanto quanto possível, a imposição de normas tecnológicas rígidas acerca das características e apetrechamento das empresas dos ramos a considerar, salvo na medida em que essas normas sejam indispensáveis para garantir a qualidade apropriada dos produtos fabricados ou para evitar erros de concepção de novas unidades industriais, em escala perigosa para o equilibrado desenvolvimento da indústria nacional.
Finalmente, entende-se acompanhar a alteração do regime de condicionamento de outras medidas de política industrial que mais adequadamente visem os objectivos que até agora têm sido a razão de ser daquele regime.
A este propósito importa recordar quais têm sido esses objectivos, para que, com base na sua enunciação, melhor se possam apreciar as medidas de substituição que convém adoptar. Como é bem sabido, as razões mais relevantes normalmente apresentadas para justificar a vigência do condicionamento industrial têm sido:

a) Evitar o sobreequipamento das instalações industriais e o desperdício de capitais em que esse sobreequipamento se traduz;
b) Garantir a confiança dos industriais contra os malefícios de uma concorrência desregrada, nomeadamente a que é exercida através de deterioração da qualidade dos produtos fabricados ou através de rebaixamento das normas de higiene, de segurança e de política social aplicadas em relação aos trabalhadores;
c) Orientar a localização dos novos estabelecimentos industriais em harmonia com as directrizes da política regional que o Governo deseja promover;
d) Permitir a disciplina das aplicações de capitais estrangeiros, evitando desnacionalizações inconvenientes em diversos ramos da indústria portuguesa;
e) Servir de instrumento de reorganização industrial, de forma a melhorar o nível técnico das instalações e a prevenir os insucessos de empresas concebidas sem suficientes bases técnicas ou garantias financeiras.

25. Afigura-se conveniente apreciar os fundamentos de cada uma destas razões e analisar até que ponto será possível adoptar medidas de substituição que proporcionem os resultados que até aqui se têm procurado conseguir com o condicionamento industrial.

1.º Sobreequipamento e má aplicação de capitais. - Não se pode dizer que o condicionamento industrial tenha tido grande sucesso como meio de evitar o sobreequipamento das indústrias que abrange. E bem sabido, com efeito, que muitos casos de capacidade excessiva se localizam precisamente nas indústrias condicionadas. E é de admitir que o interesse em ascender às posições privilegiadas, que a posse dos alvarás proporciona, possa ter sido exactamente uma das causas do sobreinvestimento em vários dos sectores condicionados.
Por outro lado, o problema do equipamento excessivo e o da má aplicação de capitais que daí resulta perderam, como já se disse, muito da sua acuidade nas condições económicas que o País actualmente está a viver. Quer isto dizer que, por virtude dos movimentos de integração económica europeia e pela necessidade de a indústria nacional exportar uma parte substancial da sua produção, os parâmetros do mercado interno, que até aqui serviam de orientação, perderam muito do seu significado. E, de maneira geral, ressalvado o caso da utilização de matérias-primas nacionais escassas, não fará sentido falar-se de sobreequipamento em relação a industrias que vivam em grande parte da exportação.
Não se deve, contudo, esquecer que a insuficiente difusão de uma mentalidade industrial verdadeiramente progressiva é susceptível de conduzir a casos de imitação injustificada e a desperdícios de capitais que o País precisa de ver mais racionalmente aplicados. Cumpre, na medida do possível, contrariar essas tendências. Simplesmente, em vez de se usar um instrumento rígido, como o condicionamento industrial, o Estado pode lançar mão de algumas medidas orientadoras mais apropriadas aos princípios informadores do sistema económico português. De entre essas medidas, deverá atribuir-se especial consideração às seguintes:

a) Preparação periódica de relatórios sobre a situação dos vários ramos da indústria no que respeita a equipamentos, mercados, perspectivas de evolução da produção, etc.;
b) Recusa de quaisquer incentivos fiscais, de isenções aduaneiras e de facilidades de crédito, sobre os quais o Estado tenha intervenção, aos estabelecimentos fabris que pretendam instalar-se em sectores já suficientemente equipados;
c) Exigência da apresentação de projectos em que se analisem os mais relevantes aspectos técnicos e económicos das unidades de produção a instalar em determinados sectores.

2.º Regularização da concorrência. - Os argumentos sobre a regularização da concorrência em que o condicionamento industrial se tem apoiado estão também hoje substancialmente enfraquecidos pelo condicionalismo que os esquemas de integração económica europeia impõem ao nosso país. Esses argumentos perdem muito da sua significação na medida em que o mercado nacional passe a estar mais aberto à concorrência externa e também, em parte, na medida em que as exportações terão necessàriamente de passar a absorver proporção cada vez maior da produção industrial portuguesa.
No entanto, os riscos de desorganização da concorrência através da deterioração da qualidade dos produtos vendidos, ou através do desrespeito pelas normas sobre as condições de trabalho, têm de ser cuidadosamente evitados. O condicionamento industrial terá dado alguma contribuição nesse sentido, mas não há dúvida de que os meios mais adequados são a generalização da imposição de normas de qualidade a um número, de fabricos tão grande quanto possível e a rigorosa fiscalização do cumprimento dessas normas e das que se referem às condições de trabalho nos aspectos de segurança e higiene das instalações, salários, horários de trabalho, contribuições para a previdência, etc.
No que respeita à fiscalização do cumprimento das normas de trabalho, não haverá grandes inovações a introdu-

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zir. A situação pode considerar-se satisfatória por virtude da actividade dos serviços de inspecção dos Ministérios das Corporações, da Saúde e da Economia, e também, em parte, por influência da maior escassez de mão-de-obra que se tem feito sentir. Além disso, a correcção dos desvios porventura ainda existentes não levanta problemas de maior. Os organismos corporativos interessados poderão, a todo o tempo, chamar a atenção para os casos em que se imponham, com maior premência, medidas correctivas.
Já quanto à imposição de normas de qualidade aos produtos fabricados o caso é diferente, como adiante se dirá, estando previstas providências adequadas para acelerar o esforço de normalização.
As disposições agora referidas, complementadas pelas providências a contemplar por uma lei de defesa da concorrência, constituirão factor básico do. desenvolvimento industrial.

3.º O condicionamento industrial e a localização dos novos estabelecimentos.
Tem pouco peso o argumento de que o condicionamento industrial, tal como tem vigorado até aqui, é necessário para orientar a localização das novas, unidades de produção, em harmonia com as directrizes da política regional. O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 46 666 expõe, de forma clara, as razões que retiram validade a esse argumento. Diz-se aí:

A aplicação do condicionamento com as suas características actuais, como processo de evitar a localização de empreendimentos em determinadas regiões, dirigindo-as para outras, pode ser substituída, com vantagem, pelo recurso a outros tipos de medidas de política regional. O ideal seria que a política de localização industrial assentasse num sistema de incentivos (isenções fiscais, facilidades em infra-estruturas, etc.), e não em medidas de proibição ao estabelecimento. Dado, porém, que o sistema de incentivos levanta problemas de resolução prática extremamente difícil, será necessário, pelo menos durante alguns anos, recorrer ao condicionamento. Mas então estaremos perante um condicionamento requerido pela necessidade de assegurar um desenvolvimento regional equilibrado e, neste caso, o condicionamento de localização deverá estender-se a todos os estabelecimentos fabris de algum vulto, e não, como hoje acontece, apenas àqueles que, em nome de objectivos de outra natureza, se encontram sujeitos ao condicionamento industrial. E também esse condicionamento com fins de equilíbrio regional deverá ser aplicado através de regras automáticas que definam as localizações inconvenientes, « não com base num poder discricionário da Administração semelhante ao que actualmente se aplica ao condicionamento industrial.

4.º A disciplina das aplicações de capitais estrangeiros. - O objectivo que inicialmente se apontou ao condicionamento industrial de evitar as desnacionalizações de alguns sectores importantes da economia portuguesa perdeu hoje muita importância. Actualmente o País está muito mais empenhado do que há alguns anos em atrair um volume considerável de capitais estrangeiros que completem os recursos internos e tragam consigo contribuições importantes para resolver algumas dificuldades da indústria nacional em matéria de conhecimentos e experiências sobre técnicas de produção e organização, bem como de relações comerciais com o exterior. Nesse aspecto, a liberalização do regime de condicionamento vigente pode mesmo vir a ser um benefício, na medida em que as formalidades exigidas podem ter anulado o interesse de alguns eventuais investimentos estrangeiros pela aplicação de capitais na indústria portuguesa. Apesar disso, não deve excluir-se a necessidade de controlar a aplicação de capitais estrangeiros em determinados sectores da indústria nacional. Não pode, no entanto, sustentar-se que a modificação do. regime anterior do condicionamento venha necessariamente impedir a realização de objectivos desse género. Com efeito, a disciplina das aplicações de capitais estrangeiros em determinados sectores da produção industrial portuguesa, na medida em que for considerada desejável, poderá normalmente conseguir-se através de disposições legais especialmente apropriadas a essa finalidade. É verdade que as obrigações internacionais de Portugal, em matéria de movimentos de capitais, podem levantar alguns obstáculos à aplicação de práticas discriminatórias contra investimentos estrangeiros. Mas também é verdade que as regras de condicionamento nunca poderiam só por si garantir uma defesa contra desnacionalizações indesejáveis de alguns sectores da actividade produtiva. Basta, a esse respeito, considerar as possibilidades de transferências de estabelecimentos ou de obtenção de alvarás por interposta pessoa.

5.º O condicionamento e a reorganização industrial. - Na medida em que tem impedido a instalação de estabelecimentos mal concebidos sob o ponto de vista económico e técnico, o regime de condicionamento industrial representa, sem dúvida, um instrumento de reorganização industrial. A sua acção sob este aspecto tem sido, porém, necessariamente lenta, pois afecta principalmente a natureza e as1 características das novas unidades a instalar, e não as das que já existiam.
O condicionamento visava também a permitir as reorganizações industriais ao abrigo da Lei n.º 2005 e a assegurar a continuidade dos resultados dessas reorganizações mediante a disciplina na instalação de novas unidades que ameaçassem vir a prejudicar os1 equilíbrios obtidos. Simplesmente, como desde a publicação dessa lei nenhuma reorganização se efectivou nos moldes que ela previa, nunca tal função do condicionamento foi posta em prática.
Finalmente, os impedimentos à formação de capacidades excessivas de produção terão decerto contribuído para melhorar a organização da indústria portuguesa. Mas esse é aspecto que já foi tratado e relativamente ao qual, como se frisou, os resultados conseguidos estão longe de ser inteiramente satisfatórios.
De qualquer maneira, é indubitável que o problema da melhor organização tecnológica e da viabilidade económica e comercial dos estabelecimentos da nossa indústria continua a ser da maior importância. Será, por isso, necessário evitar que a liberalização do regime de condicionamento industrial que até agora tem vigorado venha a trazer dificuldades à progressiva solução desse problema. Trata-se, porém, de assunto que, pela sua projecção, convém tratar em exame conjunto dos diversos aspectos da política de reorganização industrial, como passa a fazer-se.

26. É sabido que os esquemas de reorganização industrial previstos na Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945, não produziram resultados práticos dignos de serem assinalados. E, no entanto, os problemas que a referida lei visava solucionar subsistem ainda em larga escala. A deficiência das dimensões e do apetrechamento de muitas unidades fabris continua a impedir frequentemente uma produtividade satisfatória, e a necessidade de se alcançar um poder competitivo que permita resistir à concorrência

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externa tornou-se mais imperiosa, agora que o proteccionismo aduaneiro está em vias de desaparecer. A experiência mostra que importa encontrar outras soluções para esses problemas. Para tanto, terá de se ponderar, por um lado, o resultado de iniciativas que muitas empresas têm vindo a tomar, sem que o Estado tivesse promovido a reorganização do sector, e, por outro, o enquadramento já estabelecido para o próximo hexénio. Muitos industriais compreenderam que, em vez de esperarem por soluções que abrangessem todo o sector e fossem, em grande parte, resultantes da acção do Estado, era mais prático irem aperfeiçoando por si próprios as condições de funcionamento das soías empresas, sem exigirem quaisquer ligações a esquemas globais que transcendessem o seu poder de decisão. É graças a atitudes destas que hoje, apesar das deficiências que ainda existem, se pode falar em substanciais progressos na estrutura e no modo de funcionamento dos estabelecimentos da indústria portuguesa. Há na acção particular dos empresários importantes potencialidades de reconversão que importa aproveitar e estimular.
Isto não significa, de forma alguma, que o Estado deva alhear-se das. tarefas de reconversão industrial, de cujo sucesso depende, em larga medida, a viabilidade da expansão esperada durante este III Plano. Simplesmente, o que não se deve, em face das lições da experiência já colhida, é adoptar soluções que tenham de abranger obrigatoriamente todas as unidades de cada um das sectores a reorganizar. Em vez de se procurar obter directamente a reorganização de indústrias, ter-se-á antes de pensar em termos de reconversão de empresas. Em vez de se procurarem concentrações promovidas pelo Estado, deverão antes estimular-se os agrupamentos voluntários sob uma das modalidades possíveis, mesmo que a esses agrupamentos não adiram muitas das empresas do respectivo sector. Em vez de se tentar suprimir pequenas unidades através de esquemas de reorganização impostos pelo Estado, será preferível ajudá-las, dentro de limites razoáveis, a vencer as suas próprias limitações de ordem técnica, comercial, financeira e administrativa.

27. As preocupações com o eficiente dimensionamento dos estabelecimentos industriais dificilmente podem servir de justificação para se forçarem as pequenas empresas a incorporar-se em organizações maiores ou para as impedir artificialmente de funcionar. As razões para esta afirmação filiam-se em argumentação já abundantemente exposta: a dimensão das empresas industriais não é um fim em si mesmo, e, se está certo que se imponham às pequenas empresas - como às grandes - exigências quanto às qualidades dos produtos que fabricam ou quanto às condições de trabalho oferecidas ao pessoal, raramente será acertado que os actos da Administração discriminem contra essas empresas, impedindo-as de se estabelecer ou condenando-as a desaparecer só porque são pequenas. O interesse económico e social das pequenas e médias empresas justifica mesmo que o Estado institua a seu favor esquemas especiais de auxílio. 35 inegável que em muitos ramos da produção as empresas pequenas serão sempre inviáveis e seriam perdidos todos OiS esforços para manter tais empresas nessas actividades. Também é verdade que a necessidade de estimular a formação de unidades poderosas em muitos sectores da indústria não consente que os auxílios: a pequenas ou médias empresas redundem em prejuízos ou discriminações contra as firmas de maior dimensão. Mas estas observações não retiram significado às razões que normalmente se apontam para fundamentar as políticas de auxílio às unidades pequenas e médias. Estas podem agrupar-se da seguinte forma:

a) Empresas que vivem em condições marginais, com rentabilidade e produtividade exíguas, e cujo funcionamento perturba seriamente o mercado;
b) Empresas que se localizam em sectores que admitem, no presente e no futuro, unidades de pequena dimensão, desde que funcionem em boas condições de eficiência;
c) Empresas que, sendo, de momento, pequenas ou médias, apresentam, por si próprias ou pelos sectores em que actuam, potencialidades de desenvolvimento.
Entende-se que qualquer acção compreendida numa política de pequenas e médias empresas deverá incidir apenas, e tanto quanto possível, sobre as que se incluem nos dois últimos grupos.
Sem prejuízo da maleabilidade necessária para atender a aspectos particulares ou imprevistos, serão esteios básicos de uma política de pequenas e médias empresas a coordenação dos esforços dos centros de investigação e documentação no sentido de lhes fornecerem elementos de carácter tecnológico e comercial com vista à sua expansão, a realização de cursos de formação especialmente orientados para os seus empresários, a organização de um serviço de consulta em matéria de gestão e de produtividade, a concessão de empréstimos, em condições especialmente favoráveis, através de instituições especializadas, o fornecimento de garantias para obtenção de créditos, quando o empresário, por escassez de bens, as não puder oferecer, o incentivo a novas condições de equipamento, como as proporcionadas pelas sociedades de leasing, em especial quando estas servirem de apoio à colocação de bens de equipamento nacionais, a sua articulação com as medidas de fomento regional, nomeadamente no que toca à instalação de zonas industriais, e, finalmente, a criação de condições jurídicas que favoreçam o seu esforço de investimento.
O estudo dos problemas postos e a escolha das soluções adequadas requerem ponderação quanto ao aspecto institucional.
A existência de instituições1 públicas em cujas atribuições se incluem essas matérias para a generalidade das indústrias, em colaboração com os organismos profissionais em que a média empresa está, ou pode vir a estar, inserida, torna desnecessária, pelo menos numa primeira fase, a organização de novas instituições especialmente orientadas para este tipo de empresa. Apenas será de prever a constituição de um pequeno centro ou serviço coordenador das várias intervenções.
Um último aspecto é o da escolha dos sectores sobre os quais inicialmente se deverá actuar. Por motivos de ordem pragmática, deverão preferir-se sectores já com certo grau de modernização, em que o ritmo de crescimento, e em particular as exportações, apresentem perspectivas animadoras.

28. Dentro desta orientação renovada da política industrial, as medidas positivas tendentes a criar ambiente favorável à sua execução hão-de traduzir-se por intervenções do sector público no sentido de valorizar social e profissionalmente a população activa, criar infra-estruturas que reduzam custos de produção e distribuição, incentivar realizações a que, sem apoios adequados, a iniciativa

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privada se não lançaria e assegurar, de um modo geral, condições de competitividade, sobretudo no plano das relações económicas internacionais.

29. Em primeiro lugar, o que parece mais urgente: a educação e formação profissional. O actual nível de qualificação da mão-de-obra é ainda baixo e as acções em curso necessitam de ser intensificadas, pois a grande maioria dos sectores industriais ressente-se da escassez de mão-de-obra qualificada. Embora deva reconhecer-se o grande esforço já realizado, verifica-se a necessidade de acelerar os programas de expansão do ensino e da formação profissional. Neste último aspecto, as escolas do ensino técnico e o Instituto de Formação Profissional Acelerada têm papel decisivo a desempenhar. O Serviço Nacional de Emprego contribuirá também para facilitar, na medida do possível, a articulação entre oferta e procura de empregos.
A par destas providências, é necessário continuar a acção do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra no sentido de suscitar a colaboração das próprias empresas, quer estabelecendo facilidades ao pessoal para a frequência de cursos de formação profissional, quer concedendo subsídios às empresas para a manutenção de centros próprios de aprendizagem e formação, nos casos em que essa solução for mais aconselhável.
No que toca às necessidades de pessoal, os estrangulamentos mais importantes devem-se, porém, à carência de técnicos de nível médio e superior.
E importante observar que, há 15 anos, quando se iniciou o surto de desenvolvimento industrial, o número de engenheiros que concluíam anualmente o curso era de cerca do dobro do actual (861 e 428 alunos, respectivamente, nos triénios de 1951-1953 e 1963-1965). Por força das exigências do processo tecnológico e do volume de iniciativas a lançar, a proporção necessária de indivíduos com os níveis superiores de qualificação ocupados em actividades industriais ou a elas ligadas deverá crescer espectacularmente nos próximos anos.
A situação actual é ainda agravada pelo facto de haver em Portugal grande número de engenheiros universitários que se dedicam a funções que, noutros países, cabem a técnicos não universitários. Este último problema relaciona-se com a circunstância anómala de haver maior número de formaturas de engenheiros do que de agentes técnicos. O número destes agentes saídos anualmente tem oscilado à volta de 70 (66 em 1960 e 74 em 1965). No primeiro desses anos formaram-se 243 engenheiros e no segundo 125.
Por um lado, há que formar técnicos de nível médio em número superior ao dos engenheiros e, por outro, aumentar o número de novos engenheiros, mas deve também ter-se presente que, do ponto de vista das necessidades da indústria, as modificações a introduzir ultrapassam largamente os aspectos quantitativos para se situarem no plano da reestruturação de concepções básicas quanto ao conteúdo dos diferentes tipos de formação a que o desenvolvimento industrial faz apelo e às características das instituições em que essa formação se processa.
As providências encaradas com vista à intensificação das acções de formação técnica e profissional vão indicadas no capítulo do Plano dedicado à educação e investigação.

30. No que diz respeito às infra-estruturas, cabe lembrar o que se espera da continuidade da política que vem sendo seguida no domínio das obras públicas, transportes e comunicações e referir novas iniciativas, como as que se
promoverão à volta do estabelecimento de zonas industriais a instalar de acordo com a política de desenvolvimento regional. As zonas industriais poderão abranger indústrias motoras e indústrias complementares e permitirão o estabelecimento de formas de colaboração entre grandes, médias e pequenas empresas, através da generalização de subcontratos e do uso comum de instalações de serviço, contribuindo assim para um processo equilibrado de industrialização.

31. A acção do sector público sobre a oferta de pessoal devidamente qualificado e a ampliação da rede de infra-estruturas serão completadas mediante concessão de facilidades de crédito e incentivos fiscais.
Adoptar-se-á uma política mais activa no que respeita à canalização para o investimento industrial do capital externo e das poupanças internas.
Proceder-se-á ao estabelecimento de contactos no sentido de divulgar as oportunidades e garantias que se oferecem aos investimentos, as isenções fiscais e outras facilidades de que podem beneficiar. Neste campo, as representações diplomáticas e consulares portuguesas no estrangeiro, bem como as Casas de Portugal em alguns países, serão chamadas a desempenhar papel de relevo no estabelecimento desses contactos. Mas isto não excluirá a organização de um corpo de especialistas na matéria, que poderão, com maior conhecimento de causa, informar e orientar os interessados, evitando assim que uma parte dos investimentos potenciais se dirija para outros países que lhes oferecem maiores garantias ou que, mediante acção bem desenvolvida, exercem forte atracção sobre eles. Será este um dos objectivos da criação de um serviço de economia e desenvolvimento industrial no Instituto Nacional de Investigação Industrial, em substituição da Divisão de Economia Industrial e como primeira fase de um serviço de promoção industrial. Promover-se-á igualmente a realização de contratos entre empresas nacionais e estrangeiras na, base de concessão de patentes e de assistência técnica e comercial.
Problema conexo é o da necessidade de estudos de pré-investimento ou de anteprojectos. Com efeito, é frequente ter-se conhecimento de disponibilidades internas e externas que procuram formas de investimento, sem que se saiba como aconselhar a aplicação desses capitais em novos empreendimentos. Assim, ficará também a cargo do referido serviço, a criar no Instituto Nacional de Investigação Industrial, a preparação de anteprojectos suficientemente elaborados para motivar os inversores potenciais., nacionais e estrangeiros, como prolongamento natural da primeira tarefa estabelecida para o mesmo serviço.

32. Com o objectivo de acelerar o desenvolvimento industrial, em apoio da iniciativa privada e em estreita colaboração com ela, poderá o Estado promover empreendimentos de reconhecido interesse, cujo lançamento dependa da sua intervenção directa.
Com efeito, tem-se verificado, em circunstâncias diversas, a participação do sector público em actividades de produção, nomeadamente em economias com problemas semelhantes aos do nosso país - é o caso da Espanha e da Grécia, cujos planos de desenvolvimento prevêem a constituição de empresas públicas ou com a participação directa do Estado. Uma sã colaboração entre o sector público e o privado baseia-se, antes de mais, na existência de uma economia dinâmica, podendo as empresas públicas ou de economia mista constituir meio particularmente eficaz de aceleração do crescimento eco-

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nómico, como, aliás, já se tem verificado em Portugal, por exemplo, no domínio da energia (electricidade e petróleo).
Semelhantes fórmulas permitem a fiscalização pública da aplicação dos fundos, mas evitam sobrecarregar a Administração com tarefas que, por sua natureza, lhe são estranhas.

33. Dado que a preferência pelos produtos nacionais pode facilitar a implantação no País de estruturas modernas, procurar-se-á estabelecer normas que defendam. os justos interesses da nossa indústria, designadamente quando se trate de aquisições por parte do Estado ou destinadas a empreendimentos de vulto que beneficiem de concessões especiais dos Poderes Públicos.

34. Em face das perspectivas que se apresentam quanto à integração em grandes espaços económicos e à concorrência, tanto no plano interno, como internacional, outro problema a solucionar no mais curto prazo, e que é comum, por assim dizer, a todos os sectores da indústria, é o da normalização. Trata-se não só de reduzir o número de variedades produzidas, mas principalmente de estabelecer marcas de qualidade, sujeitas a sistemas rigorosos de verificação.
Este método permitirá, por .um lado, a eliminação das empresas marginais, saneando as condições em que a concorrência se processa, e, por outro, conduzirá ao acréscimo sensível da produtividade nos ramos industriais que se dedicam a tipos de fabrico excessivamente diversificados, bem como ao aperfeiçoamento tecnológico das unidades fabris, e contribuirá de forma notável para prestigiar a indústria portuguesa, quer no mercado interno, quer nos mercados internacionais. Em especial no que se refere aos sectores de exportação, tornar-se-á necessário harmonizar a legislação nacional, neste campo, com as legislações estrangeiras sobre produtos similares.
É indispensável acelerar consideràvelmente os trabalhos de elaboração e publicação de normas para os produtos industriais portugueses. Para que se possa andar mais depressa, examinar-se-á a possibilidade de oficializar e tornar obrigatórias as normas estrangeiras mais adaptáveis às condições da economia portuguesa. Muitas dessas normas já são, aliás, frequentemente usadas em estabelecimentos nacionais de elevado nível tecnológico.
O impulso a imprimir à política de normalização terá de se apoiar em acrescida colaboração com os industriais e os organismos corporativos em que se integram. Neste sentido, estimular-se-á a apresentação de sugestões sobre as medidas que mais urgentemente careçam de efectivação, quer no que diz respeito à publicação de normas, quer no que toca à fiscalização do seu cumprimento.
Caberá à Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais o desempenho das funções relacionadas com as providências a adoptar neste domínio, para o que será dotada dos meios materiais e humanos necessários, nomeadamente no que se refere à missão do Centro de Normalização.

35. Na era de intensa concorrência que se avizinha, é igualmente essencial melhorar de forma sensível as condições de abastecimento que a indústria actualmente defronta no respeitante a certas matérias-primas e algumas formas de energia, em ordem a assegurar o seu fornecimento a preços de nível internacional.
Esta política deverá ser aplicada prioritariamente nos sectores exportadores ou com perspectivas favoráveis no domínio da exportação, bem como noutros que, produzindo fundamentalmente para o mercado interno, sejam, ou se preveja venham a ser, em futuro próximo, objecto de intensa concorrência internacional, devendo tal política ser executada em correspondência com o calendário do nosso desarmamento aduaneiro. Dos programas de execução anual do Plano deverá constar a lista dos produtos a beneficiar destas acções.
Serão também simplificadas as formalidades aduaneiras e facilitadas as concessões de draubaque e de regime de importação temporária das matérias-primas e semiprodutos a incorporar na exportação.

36. A obtenção, no período do III Plano, de elevada taxa de crescimento é condição necessária, mas não suficiente, dentro da estratégia de desenvolvimento industrial traçada. Com efeito, a longo prazo, a indústria portuguesa só poderá expandir-se se os seus produtos resultarem de combinações de factores em que a matéria cinzenta vá gradualmente assumindo o relevo que já tem noutros países de pequena dimensão, mas altamente industrializados. E certo que não são apenas as grandes nações, mas também as pequenas, que ligam o futuro das suas principais indústrias a vasto esforço de investigação. Para as pequenas nações, o esforço próprio assume, na realidade, o papel de garantia da sua capacidade concorrencial em domínios especializados, para os quais o grande volume de produção inicial não constitui condição necessária de acesso ao mercado mundial. Nestas condições, considera-se a aquisição e difusão de novas possibilidades tecnológicas como uma das tarefas que mais importa impulsionar nos próximos anos, tanto mais que, nesta matéria, o início da acção precede de largos anos a colheita dos primeiros resultados.
A aquisição e difusão da tecnologia moderna envolve longa cadeia de esforços, desde a investigação de base até à exploração industrial de novos produtos, novos processos ou novas combinações de factores. Para além das vantagens que, a longo prazo, a indústria poderá colher da existência de centros de investigação de base que acompanhem de perto o labor de centros estrangeiros associados à expansão de actividades industriais relevantes para o caso português, faz-se sentir a necessidade imediata de orientar os centros nacionais de investigação aplicada e de desenvolvimento no sentido de definirem o seu programa de trabalho em função das realidades da evolução para uma economia aberta. Assim, estabelecer-se-á adequada comunicação entre a Universidade, os centros de investigação e a indústria, a fim de concretizar novas ideias com real interesse prático e para que os resultados obtidos em laboratórios ou investigações-piloto possam ser levados ao conhecimento dos interessados.
Finalmente, a prossecução de uma política activa de informação técnica e económica reflectir-se-á benéficamente neste campo, através da contribuição para o melhor conhecimento, por parte das empresas, sobretudo as de média e pequena dimensão, do avanço das técnicas e suas consequências no plano económico.
Com a constituição do Instituto Nacional de Investigação Industrial deu-se um passo muito importante para o encaminhamento de alguns dos problemas enunciados. Passado o período, sempre difícil, dos esforços iniciais, é natural que as tarefas ligadas directamente à tecnologia e à assistência tecnológica venham a absorver a actividade do Instituto em proporção crescente, de acordo com a extrema importância que elas assumem para a melhoria do nível concorrencial da indústria portuguesa.

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A Secretaria de Estado da Indústria, por seu intermédio e em estreita colaboração com os esforços de planeamento da investigação actualmente em curso, providenciará para que venha a ser organizado um programa de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de interesse para as indústrias do País, muito em especial dos ramos que forem considerados prioritários. O Instituto Nacional de Investigação Industrial encontra-se também preparado para alargar as suas actividades no campo da assistência técnica e montar um serviço de informação que muito poderá contribuir para uma melhor apreciação do impacte que a evolução tecnológica exerce sobre a capacidade concorrencial das unidades industriais.

37. A produtividade da nossa indústria transformadora é ainda baixa, mesmo em comparação com a verificada em países com um grau de industrialização próximo do nosso. Muito embora seja notável a série de esforços e de iniciativas tomadas, desde 1960, com vista à promoção de um autêntico clima de produtividade, muito mais se torna ainda necessário fazer, sobretudo mais vigorosa, extensa e concertadamente. Para este efeito, e como se referiu no capítulo respectivo, serão estudadas as bases em que há-de funcionar o Centro Nacional de Produtividade, reforçar-se-á a actuação do Instituto Nacional de Investigação Industrial e apoiar-se-ão, por meio de assistência técnica e incentivos adequados, as iniciativas do sector privado, quer ao nível das empresas ou agrupamentos de empresas, quer ainda no âmbito dos centros técnicos e dos organismos corporativos.

38. A promoção das exportações constitui tarefa de que é. essencialmente responsável a iniciativa privada, mas que necessita, por parte do Estado, de tratamento marcadamente favorável, como sucede na generalidade dos países, sobretudo nos mais industrializados. No caso concreto de Portugal, a actuação do sector público é fundamental para o progresso da actividade exportadora, dado que dele depende primordialmente a remoção das dificuldades existentes e a concessão de incentivos e assistência, a par da mentalização dos industriais exportadores, por forma a colocar a indústria nacional em condições de competir nos mercados externos.
As medidas a adoptar nesta matéria constam dos capítulos respectivos do Plano, designadamente do «Financiamento», quanto aos incentivos fiscais, e do «Comércio externo», relativamente à promoção das exportações.

39. A aceleração do desenvolvimento industrial pressupõe mais amplo apetrechamento técnico, tanto do sector privado como do sector público.
No que diz respeito ao sector privado, será estimulada a criação de estruturas técnicas de índole profissional susceptíveis de servirem os objectivos de expansão e modernização prosseguidos por este III Plano. Como se referiu no capítulo sobre «Produtividade», a Corporação da Indústria, a Associação Industrial Portuguesa e a Associação Industrial Portuense mantêm gabinetes e centros especializados já com tradições. A tendência será para alargar aos diversos ramos industriais a criação de gabinetes técnico-económicos com base em mais estreita colaboração .entre as empresas, o que, de resto, vai ao encontro de uma iniciativa em que a Corporação da Indústria está empenhada.
A modernização das estruturas produtivas portuguesas e a sua adaptação a uma economia aberta à concorrência internacional ficará imensamente facilitada se os industriais puderem dispor de centros técnicos que apoiem directa e eficazmente a produção e a comercialização dos seus produtos e estudem as perspectivas e condições para um correcto desenvolvimento de todo o sector.
Os centros técnicos poderão contribuir para o conhecimento das condições de evolução do sector, colaborar com os organismos oficiais na criação de meios de assistência técnica -, estudar as necessidades de formação de pessoal das empresas e organizar sistemas de informação técnica e económica à escala dos respectivos ramos industriais.
O C. I. M. A. F., a Associação Portuguesa de Fundição e o Instituto de Soldadura são já exemplos da utilidade de tais instituições.
Quanto à situação dos organismos públicos e respectivos quadros técnicos, reconhece-se que o seu desapetrechamento constituiria sério entrave na medida em que os impossibilitaria de exercer efectiva orientação em relação ao desenvolvimento industrial ou de acompanhar a capacidade de iniciativa e diálogo dó sector privado no dia a dia da política económica corrente. Para fazer face a tal eventualidade, conta-se, por um lado, com a efectivação gradual da reforma administrativa e, por outro, com a reestruturação de departamentos e a criação de novos serviços habilitados com os meios necessários ao desempenho das tarefas que lhes sejam confiadas. Já foram enunciadas as medidas que serão tomadas neste domínio no que toca à Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos, Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais e Instituto Nacional de Investigação Industrial.
Além disso, um gabinete de planeamento industrial, funcionando na dependência directa do Secretário- de Estado da Indústria, garantirá a continuidade dos trabalhos de planeamento, estabelecendo a ligação com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, os serviços da Secretaria de Estado, os restantes departamentos por onde se realiza a política industrial e o sector privado.

§ 4.º Projectos

40. Lignites de Rio Maior.

Encontra-se projectada a utilização das lignites de Rio Maior para queima à boca da mina numa central de produção de electricidade, conforme se pormenoriza no capítulo referente à energia.

41. Minas de Moncoroo.

A Companhia Mineira de Moncorvo deverá realizar um programa de produção de milhão e meio a dois milhões e meio de toneladas de pellets anualmente.
Considerando a grande envergadura do jazigo, a sua facilidade de exploração e a natural integração no espaço económico europeu, conta-se com forte contingente de exportação.
Existe outro projecto, ligado à Siderurgia Nacional, S. A. K. L., que prevê para fins de 1968 a produção de 750 000 t de pellets.
A parte do investimento total que se estima necessário despender com a exploração da mina e o escoamento do minério computa-se em cerca de 2 milhões de contos.
Para não se perturbar a execução dos programas de exploração mineira, devem preparar-se as infra-estruturas necessárias a tão vasto empreendimento com a indispensável coordenação, designadamente as de carácter comum, em que é fundamental o problema dos transportes, de

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resolução sempre morosa. Deverá, portanto, avançar-se desde já na preparação das estruturas ferroviárias para assegurar o escoamento das grandes tonelagens previstas.

42. Exploração e industrialização de pirites.
Contando-se com avultadas reservas e estando em curso intensivas campanhas de prospecção e pesquisa de novos jazigos de pirites, é de prever se acelere fortemente a sua produção e se incremente a sua industrialização, quer nas unidades já existentes, quer mediante a criação de novos complexos industriais, com integral aproveitamento destes minérios, matéria-prima essencial para o fabrico de adubos fosfatados e fonte de produção de metais básicos, como chumbo, zinco, cobre e ferro.

43. Alimentos preparados para animais.
A produção de alimentos preparados para animais constitui requisito básico para o aumento da produtividade das explorações pecuárias. Torna-se assim necessário acautelar a existência de matérias-primas de elevado teor proteico, como sejam os bagaços de oleaginosas, além dos cereais forrageiros e das sêmeas de trigo. Entre aquelas matérias-primas, conta-se a soja, a cuja industrialização, para a extracção de óleo e aproveitamento de tourteaux, vão dedicar-se duas empresas, com projectos de instalações fabris, respectivamente, em Almada e em Alhandra, empreendimentos a considerar nos primeiros anos do Plano e com relevante sinal positivo no desenvolvimento sectorial. Envolvendo um investimento da ordem dos no 000 contos, tais empreendimentos irão contribuir para fazer face à expansão prevista no consumo interno de alimentos preparados para animais de alto valor proteico, e de muita importância para a execução da política de fomento pecuário. As instalações projectadas para Almada fazem parte de um complexo que deverá incluir um silo destinado a facilitar o abastecimento não só de indústrias nacionais, como também de unidades instaladas noutros países.

44. Refinação de açúcar.
A indústria de refinação de açúcar instalada no continente era constituída por demasiado número de pequenas unidades antiquadas, laborando em condições técnicas muito deficientes, cuja substituição se impunha.
Reconhecidas essas deficiências pela própria indústria, realizou-se uma primeira concentração, que deu origem a nova unidade industrial, instalada na zona industrial do Porto, aliás autorizada já a ampliar as suas instalações, tendo as restantes refinarias seguido posteriormente a mesma orientação no sentido de se concentrarem ou renovarem.
Das soluções concertadas entre os diversos industriais e já superiormente sancionadas resultou o estabelecimento de duas refinarias na zona do Porto e duas na de Lisboa, com a capacidade total de laboração de 300 000 t anuais, embora fosse apontada pela Secretaria de Estado da Indústria a conveniência de se levar mais longe a concentração.
Os investimentos previstos para estes empreendimentos computam-se em cerca de 300 000 contos.

45. Pasta para papel.
Durante o Plano será montada em Vila Velha de Ródão (Castelo Branco) uma unidade destinada ao fabrico de pasta celulósica pelo sulfato e de pasta semiquímica, com uma capacidade total de 85 000 t/ano. O investimento previsto é da ordem dos 550 000 contos e o pessoal necessário à sua laboração está orçado em 250 pessoas.
No Minho, será instalada uma fábrica de pasta celulósica pelo sulfato, com a capacidade anual de 120 000 t. O investimento previsto é da ordem dos 600 000 contos e o pessoal que ocupará está estimado em 400 pessoas.
A política de repovoamento florestal resultante da iniciativa dos particulares e da acção do Estado, através da Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e do Fundo de Fomentai Florestal e Aquícola, permitirá ainda a montagem de uma terceira unidade no Nordeste transmontano.
A crescente concorrência verificada nos mercados internacionais obrigará a indústria existente a realizar, durante o período do Plano, reformas de estrutura através do aumento da dimensão a níveis que lhe permitam uma utilização racional e económica da matéria-prima, tendo em consideração que uma unidade de pasta celulósica pelo sulfato não pode ser econòmicamente dimensionada para capacidades inferiores a 150 000 t/ano.
Para que o desenvolvimento da indústria de pasta de celulose se possa processar em termos de manter a sua competitividade nos mercados internacionais, será durante o período do Plano posta em execução uma adequada política de fomento e exploração florestal. A florestação será feita em ritmo que se coaduna com o necessário desenvolvimento da indústria consumidora de matéria-prima lenhosa e serão adoptadas medidas técnicas e legislativas tendentes a promover a exploração ordenada e racional da floresta.
A adopção de medidas de fomento florestal é de primordial importância, tanto mais que, só na Europa ocidental, o déficit no que respeita a pasta para papel atingirá 2,5 milhões de toneladas em 1970, valor que se deve elevar a 9 milhões em 1980.

46. Papel.
De entre os projectos referidos na indústria do papel destacam-se o da Indústria Nacional de Papéis, S. A. E. L., no montante de 230 000 contos, para uma produção de 30 000 t/ano, o da União do Comércio Exportador, Lda., para uma ampliação de 16 000 t/ano, com o investimento de 140 000 contos, o da Indústria de Papel da Abelheira, S. A. E. L., para uma ampliação de 15 500 t/ano, com o investimento de 140 000 contos, e o da Fábrica de Papel do Almonda, Lda., para a produção de 20 000 t/ano, com o investimento de 150 000 contos. Este último investimento encontra-se condicionado à possibilidade da sua integração num complexo que inclua uma unidade produtiva de pasta.
Novos projectos poderão concretizar-se em breve, nomeadamente em ligação com investimentos em actividades relacionadas verticalmente com a indústria do papel. Convirá acompanhar a indústria, estimulando a concretização de projectos que visem a exportação de produtos de maior elaboração a partir de matérias-primas e semi-produtos nacionais.

47. Refinaria do Norte e produção de aromáticos.
Para fazer face à evolução da procura de combustíveis líquidos verificada no País, entrará em funcionamento, durante o período do Plano, uma nova refinaria instalada no distrito do Porto, com a possibilidade de refinar anualmente 2 milhões de toneladas de petróleo bruto.
O investimento previsto ultrapassa 2 milhões de contos. O valor total da produção correspondente à capacidade nominal, aos preços actuais dos produtos, totaliza 1 700 000 contos.

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Esta unidade, que, além de combustíveis líquidos, produzirá anualmente 100 000l de lubrificantes, ocupará 940 pessoas.
Para se poder concretizar o plano de desenvolvimento da indústria petroquímica, a refinaria será equipada com uma unidade de reforming catalítico dimensionada não só para a produção de gasolinas de elevado índice de octana, mas também com a possibilidade, através da instalação de uma unidade B. T. X., de produzir simultaneamente benzeno, tolueno e xilenos, os quais podem ser utilizados para fabrico de matérias plásticas ou de fibras sintéticas através das necessárias transformações.
A instalação de aromáticos, cuja montagem se prevê tenha realização durante o período do Plano, possuirá uma capacidade de 150 000 t/ano, das quais 100 000 t/ano ficarão disponíveis para a indústria petroquímica. O investimento previsto é da ordem dos 400 000 contos e, dada a flexibilidade da instalação de aromáticos, poder-se-á produzir, a partir das 100 000t da mistura B. T. X., além áe quantidades variáveis de benzeno e tolueno, 9000 t ou 40 000 t de paraxileno, bastando, no último caso, fazer a isomerização de parte da mistura.
Prevê-se que a instalação de extracção e separação dos aromáticos entre em laboração ainda dentro da vigência do Plano.
Enquanto se não realizar no País o fabrico de produtos intermédios obtidos a partir do benzeno e do paraxileno, isto é, enquanto se não fecharem os ciclos «matérias-primas-fibras sintéticas» e «matérias-primas-matérias plásticas», proceder-se-á à colocação desses produtos nos mercados externos.

48. Fibras sintéticas.

No sector de fibras sintéticas, montar-se-á no Porto, em colaboração com uma firma alemã da especialidade, uma unidade destinada ao fabrico de fibras poliéster inteiramente integrada com a refinação do petróleo. Na l.ª fase, será montada uma unidade de spinning com a capacidade anual de 72001, a que corresponderá um investimento de 430 000 contos. Na 2.ª fase, será elevada a capacidade anual de spinning a 12 0001 e iniciar-se-á não só o fabrico de polímero poliéster, por policondensação do tereftalato de dimetilo (D. M. T.) e do etilenoglicol, mas também o fabrico do IX M. T. a partir do paraxileno.
Com a concretização da 2.º fase, o investimento elevar-se-á a cerca de 800 000 contos. O valor anual de produção correspondente a cada uma das fases referidas atingirá, respectivamente, os valores de 400 000 e 600 000 contos. Ficará assegurada desde o arranque da l.ª fase a colocação no estrangeiro do paraxileno que vier a produzir-se enquanto não for montada a unidade de D. M. T., isto é, enquanto não for fechado o ciclo «paraxileno-fibra poliéster».
A unidade que em Portalegre fabrica fibras poliéster em colaboração com uma firma inglesa elevará a capacidade anual de fibras contínuas e descontínuas de 3000 t para 12 000 t. Numa 2.ª fase, procederá à montagem das instalações necessárias ao fabrico do polímero poliéster, por policondensação do tereftalato de dimetilo (D. M. T.) e do etilenoglicol, e à produção do D. M. T. a partir do ácido tereftálico. Está previsto que o investimento total orçará por 750 000 contos. Esta unidade propõe-se exportar 10 000 t/ano de p-xileno e estudar a possibilidade de utilizar parte dos excedentes de p-xileno que vierem a ser produzidos no País.
Em Aveiro, com a colaboração de uma firma suíça, prevê-se a montagem de uma unidade de nylon 6, de fibras poliéster e de fibras acrílicas, a partir dos respectivos polímeros. O investimento é da ordem dos 700 000 contos. A firma adquirirá os produtos que a indústria petroquímica nacional lhe puder fornecer a preços concorrenciais.

49. Matérias plásticas (resinas sintéticas).
A unidade que actualmente produz em Aveiro P. V. C. de suspensão iniciará o fabrico de P. V. C. de emulsão num quantitativo de 2000 t/ano. O investimento previsto é da ordem dos 36 000 contos. A unidade actual passará a ocupar mais 20 pessoas.
Em colaboração com uma empresa francesa, instalar-se-á uma unidade de produção de poliestireno com uma capacidade inicial de 8000 t/ano, prevendo-se a sua duplicação passados quatro anos. Essa produção será distribuída por uma linha de polimerização em massa, de forma a cobrir todas as especificações do mercado. Com base na, utilização do benzeno - um dos aromáticos da refinaria do Porto -, prevê-se a montagem de estireno ou etilbenzeno logo que as instalações de polimerização atinjam dimensão suficiente. Na 2.ª fase, na qual será fechado o ciclo benzeno-poliestireno, prevê-se um investimento da ordem dos 80 000 contos. A unidade a montar terá uma capacidade de 25 000 t/ano.
Prevê-se também a montagem, durante a vigência do Plano, de uma unidade para produção de 30000 t/ano de polietileno a partir do etileno importado, até ser económicamente possível a montagem no País de um stcam-cracking para a produção de etileno. O investimento previsto é da ordem dos 260 000 contos.
Além de se passarem a produzir cá os três principais polímeros (P. V. C., poliestireno e polietileno) consumidos pela indústria transformadora de matérias plásticas, o País ficará dotado de um laboratório de aplicação de plásticos, iniciativa que se reveste do maior interesse e contribuirá fortemente para o desenvolvimento técnico e económico do referido sector industrial.

50. Amoníaco petroquímico e ureia.
Foi estudada durante a vigência do Plano Intercalar a reorganização das nossas fábricas produtoras de amoníaco.
O elevado preço do amoníaco electrolítico e a falta de dimensão das nossas unidades produtoras de amoníaco foram os factores que mais contribuíram para nos impedir, durante largo tempo, de fabricar adubos amoniacais a preço de concorrência internacional.
O Governo teve, por vezes, necessidade de criar taxas de compensação para que a nossa lavoura não fosse gravemente lesada pela circunstância de se produzirem adubos no País.
O aparecimento do amoníaco petroquímico, de preço de custo muito inferior ao do electrolítico, contribuiu de forma eficaz para permitir dar condições de vida salutar ao sector dos adubos amoniacais.
As unidades europeias de amoníaco, a fim de se tornarem competitivas, têm vindo a concretizar uma política de reorganização, montando unidades de 500 a 1000 t/dia por concentração ou ampliação de unidades existentes com capacidade inferior a 300 t/dia.
Teremos de realizar idêntica política se quisermos que o sector de adubos sobreviva à concorrência futura. A conjuntura actual obriga-nos, na realidade, a conjugar esforços para dar aos nossos empreendimentos as melhores condições de concorrência.
No sector do amoníaco, durante o período do Plano, será apenas ultimada a política de reconversão do amoníaco electrolítico em petroquímico realizada, em. grande parte, durante o período do Plano Intercalar. Serão inves-[Continuação]

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tidos 300 000 contos para ampliar em 170 000 t/ano a capacidade de produção de NH3 petroquímico da unidade sita em Cabo Ruivo.
Logo após a reorganização do sector do amoníaco e ainda dentro do período do Plano, prevê-se que a capacidade de produção de ureia obtida a partir do amoníaco petroquímico e do anidrido carbónico petroquímico aumente de 235 000 t/ano, para o que se fará, no respectivo sector, um investimento da ordem dos 750 000 contos.

51. Siderurgia.
Um dos mais importantes empreendimentos previstos para o período do Plano diz respeito à Siderurgia Nacional, S. A. B. L., com um investimento da ordem dos 4 milhões de contos, compreendendo a coquefacção e aproveitamento dos respectivos subprodutos, o reforço da produção de oxigénio, o aumento da produção de aço, a extensão dos produtos de laminagem e perfis pesados (carris, etc.) e a produção de planos (chapa/folha-de-flandres, etc.).
Ultrapassadas as possibilidades produtivas da primeira fase do complexo siderúrgico do Seixal, torna-se necessário proceder à ampliação desta indústria-base, fundamental para o desenvolvimento económico do País, de modo que ela possa exercer toda a sua acção de estímulo sobre outras actividades produtivas, nomeadamente nos sectores das indústrias metalúrgicas e metalomecânicas. O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 47-521, de 2 de Fevereiro de 1967, elucida claramente sobre os objectivos e o alcance do empreendimento.

52. Armas.
A Fundição e Construção Mecânicas, S. A. R. L., propõe-se efectuar um investimento de cerca de 110 milhares de contos com uma unidade de fabrico de armas para exportação. Prevê-se que as exportações anuais devidas a este projecto, no termo do Plano, serão da ordem dos 100 milhares de contos.

53. Material eléctrico.
A Standard Eléctrica deverá fazer ao longo do Plano investimentos que permitirão atingir um total de 900 000 contos em 1973. O valor de produção projectada para o mesmo ano é de cerca de 1,5 milhões de contos, dos quais cerca de 1 milhão destinados à exportação. Trata-se de um dos projectos mais importantes a empreender durante o Plano no que toca ao reflexo sobre a balança comercial.

SECÇÃO II

Programação dos principais subsectores

I) Indústrias extractivas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1- Âmbito das Indústrias extractivas

De harmonia com a C. I. T. A., as indústrias extractivas repartem-se pelas seguintes classes:

11 - Extracção de carvão;
12 - Extracção de minérios metálicos;
13 - Extracção de petróleo bruto e gás natural;
14 - Extracção de pedra, argila, saibro e areia;
19 - Extracção de outros minerais não metálicos.

Não se incluem na classe 12 os minérios radioactivos, da jurisdição da Junta de Energia Nuclear e considerados no capítulo «Energia». O sal marinho, actividade cujo acompanhamento é da competência da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos, está compreendido na classe 19.
As três primeiras classes abrangem apenas substâncias concessíveis (minas). As duas últimas incluem concessíveis e não concessíveis (pedreiras), além do sal marinho.
Dada a escassez de elementos estatísticos relativos a pedreiras e sal marinho, estas actividades serão tratadas separadamente das substâncias concessíveis.

1.2 - Produção Análise do passado e projecções até 1973

No quadro I, compilado essencialmente a partir de elementos do I. N. E., apresenta-se de forma discriminada a evolução da produção em toneladas e contos, a preços correntes, no período de 1953-1966.
Os elementos referentes às substâncias não concessíveis que figuram neste quadro estão subavaliados, como é sabido.
O quadro II foi transcrito do trabalho Projecções da Indústria Extractiva para o Período do III Plano de Fomento, subscrito pelo director-geral de Minas e Serviços Geológicos em 15 de Fevereiro de 1967.
Neste quadro apresenta-se uma síntese dos dados estatísticos e estimativas de produção, em valores de 1963.

QUADRO I

Volume e valor da produção a preços correntes (período de 1953-1965)

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

Notas. - Não se incluem os minérios radioactivos.
As classes 11 e 12 só contêm substâncias concessíveis.
As substâncias concessíveis e as não concessíveis são do âmbito da Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos. O sal marinho é do âmbito da Comissão Reguladora do Produtos Químicos e Farmacêuticos.

QUADRO II

Síntese das projecções das indústrias extractivas

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

zTaxa média de crescimento referida a 1964 - 9,5 por cento.
Nota. - Os minérios radioactivos não estão incluídos.

QUADRO III

Projecções da indústria extractiva por actividade no período de 1963-1973 (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a)Elementos colhidos no relatório da Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos «Projecções da indústria extractiva para o período do III Plano de Fomento».
(b)Não são considerados os minérios radioactivos.

1.3 -Carvão

Após terem atravessado um período de prosperidade, as nossas minas de antracite levam há vários anos vida irregular e difícil. Hoje vivem com o auxílio de subsídios oficiais.

A situação das minas de lignite tem sido ainda mais desfavorável. A do cabo Mondego tem sobrevivido integrada num complexo cimenteiro. A mina de Rio Maior mantém-se por via de subsídios oficiais.
A produção das .nossas minas de carvão está cada vez mais dependente do consumo de centrais térmicas produtoras de energia eléctrica.
Se as dificuldades actuais forem superadas com a utilização das antracites na central da Tapada do Outeiro e a das lignites de Rio Maior numa central térmica à boca

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da mina, as projecções e taxas de crescimento da produção de carvões (antracites e lignites) poderão ser as que constam do quadro III.
As reservas de antracites, da ordem dos 30 a 40 milhões de toneladas, e as de lignites, de cerca de 27 milhões de toneladas, não constituem obstáculo ao desenvolvimento projectado. São amplamente suficientes.

1.4- Minérios metálicos

Os minérios de ferro, de que temos três tipos diferentes - hematite (Moncorvo), magnetite (Marão e Orada) e minério manganífero de ferro (Cercal do Alentejo) -, têm tido alguns problemas.
Em 1959 arrancou a siderurgia do Marão e em 1961 a Siderurgia Nacional, no Seixal, iniciando-se então a importação de minérios de ferro. A exportação de hematite e magnetite teve certas facilidades até 1.960, mas a partir desta data as hematites deixaram de ter aceitação no estrangeiro e a exportação das magnetites, por motivos vários, entrou em declínio. Em 1964 cessou a exportação de minérios de ferro.
Os minérios manganíferos de ferro do Cercal do Alentejo, totalmente destinados à Siderurgia Nacional, começaram a ser produzidos em 1961.
Não há elementos seguros quanto às previsões de minérios de ferro, a não ser a contribuição dos minérios do Cercal do Alentejo para a Siderurgia Nacional.
As hematites de Moncorvo estão repartidas por duas empresas: Companhia Mineira de Moncorvo (alemã) e Ferrominas (hoje dependente da Siderurgia Nacional). Ambas estas empresas encaram a produção de pellets (reservas superiores a 500 milhões de toneladas).
A Ferrominas prevê uma produção de 750 000 t/ano para fins de 1968, sendo metade destinada à Siderurgia Nacional e a outra metade para exportação; a Companhia Mineira de Moncorvo encara a produção anual de 1 500 000 t a 2 500 000 t de pellets a partir de 1972, totalmente destinadas à exportação.
Há, porém, um problema fundamental que ainda não está resolvido: os transportes. Sem prejuízo da solução já preconizada - a fluvial -, deverá também encarar-se a do caminho de ferro, por ser a mais rápida, dada a premência das soluções.
No quadro III indicam-se as previsões, partindo do princípio de que entretanto ficará solucionado o problema dos transportes e se concretizarão as realizações projectadas.
A produção dos restantes minérios metálicos registou queda acentuada em 1958, consequência da baixa cotação dos minérios de tungsténio e outros e dó esgotamento das minas de cassiterite de Maçainhas. A produção de cassiterite manteve-se em declínio até 1965, mas já cresceu em 1966. Os minérios de tungsténio estão em recuperação à taxa de 9 por cento em relação a 1963 (a preços correntes, a taxa foi de 42 por cento). Além destes minérios, que representam o maior peso da produção da classe, referem-se também as previsões de minérios de zinco, cuja produção sofreu grande aumento com a abertura de novas minas, o mesmo sucedendo com os minérios de chumbo. Os sulfuretos complexos de ouro e prata mantêm há muitos anos características de estabilidade.
É difícil e aleatório fazer previsões de crescimento, dado o peso da extracção de volfrâmio, volúvel nas cotações e movimentos, e dada a situação no domínio da mão-de-obra.
No quadro III apresenta-se uma tendência que, no momento actual, representa boa probabilidade. O comportamento dos mercados internacionais pode, porém, alterar o que se projecta, tanto para melhor como para pior. Apenas se pode garantir que a evolução prevista está perfeitamente dentro da nossa actual capacidade de produção.

1.5 - Petróleo e gás natural

Ainda não foi descoberto qualquer jazigo de petróleo bruto ou gás natural na metrópole, e daí a impossibilidade de formular previsões.
Se vier a encarar-se decisivamente a prospecção e pesquisa de petróleo da área metropolitana com possibilidades potenciais, tanto na parte emersa como na submersa, a primeira há muito concedida à Companhia Portuguesa de Petróleos e a segunda inteiramente livre de concessões ou licenças, pode acontecer que os resultados sejam animadores. Não faltam empresas de reputada categoria internacional interessadas em lançar-se neste empreendimento. Haverá apenas que diligenciar no sentido de se criarem condições para a execução dos indispensáveis trabalhos.

1.6 -Pedra, argila, saibro e areia

Desta classe, em que apenas o caulino é concessível, a análise do passado referente à produção das restantes substâncias foi efectuada a partir da observação dos consumos da indústria transformadora, em que têm papel relevante, e da exportação. Os elementos estatísticos constantes do quadro I estão igualmente subavaliados.
A produção de caulino tem vindo a cair. Espera-se que, com a entrada em produção dos novos jazigos de Viana de Castelo e outros do Norte do País, aumentem as exportações e se dê satisfação ao crescente desenvolvimento das indústrias que dele dependem.
Quanto às substâncias não concessíveis - areia e saibro, calcário, argila, granito, lousa, mármore, dolomite, etc. -, a sua importância é essencial, quer ao desenvolvimento industrial do País, quer ao sector das obras públicas e construção civil, com peso acentuado na exportação. Pode afirmar-se que representam actualmente um dos sectores mais importantes da indústria extractiva.
A sua evolução tem sido ascensional e não se prevê qualquer quebra. No entanto, as projecções da produção estão inteiramente ligadas:
1) Ao campo da construção civil e obras públicas (calcários, granitos, mármores, areias, etc.) e indústrias que os servem, como a dos cimentos e cal hidráulica (calcário, areia, argila), cerâmica de construção (argila), serração de pedras (mármore, granito, lousa);
2) Às indústrias de porcelana, faiança e refractários (argilas, areias, dolomite, calcário), do vidro (areia, calcário, dolomite), indústrias químicas e adubos (calcário, areia), metalúrgicas de base e fundição (calcário, areia, argila, etc.), pasta de papel, têxteis, borracha, abrasivos, etc.;
3) À exportação de pedras (mármore em bloco o obra, granito aparelhado e polido, ardósia, etc.).

1.7 - Outros minerais não metálicos

A pirite, que representa cerca de 90 por cento do valor total da produção, é a principal substância mineral desta classe.
O valor máximo da produção, a preços de 1963, verificou-se em 1960, notando-se quebra para o nível dos 117 000 contos em 1966, consequência de diminuição na procura de adubos fosfatados.

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As perspectivas futuras, não obstante a prudência nas estimativas dos nossos principais produtores de pirites, afiguram-se francamente boas, quer para consumo interno (cerca de 50 por cento da produção actual), quer para exportação. Internamente, é de esperar uma maior procura para satisfação das crescentes necessidades da produção de ácido sulfúrico; externamente, as limitadas disponibilidades em enxofre e a subida verificada no seu preço concorrem para uma renovação do interesse pelas pirites.
Enquanto os produtores mais prudentes prevêem um crescimento em relação a 1965, à taxa de 3,5 por cento, os fabricantes nacionais de ácido sulfúrico admitem que ele se faça à taxa de 6,5 por cento. A procura externa poderá acompanhar a interna e, assim, o crescimento é susceptível de atingir o milhão de toneladas em 1973. As reservas já conhecidas não constituem óbice ao crescimento projectado, podendo ainda vir a verificar-se evolução mais espectacular se se vierem a descobrir novos jazigos no decurso das campanhas de prospecção e pesquisa actualmente em curso no Alentejo.
O sal-gerna, bastante abundante no nosso subsolo, só em 1957, com a entrada em actividade de uma nova mina, começou a ter relevância na produção. De então para cá tem-se verificado crescimento moderado, mas contínuo, da produção. Uma nova unidade mineira no Algarve está a iniciar, muito lentamente, a sua lavra.
Prevê-se para 1973 uma produção de 3 milhões de toneladas, principalmente destinadas à exportação.
Das restantes substâncias concessíveis desta classe (diatomite, barita, talco e amianto), só as duas primeiras tiveram algum significado, aliás pequeno, na produção passada.
As substâncias não concessíveis da classe são o gesso, o quartzo e o feldspato. As estatísticas, em geral subava-liadas, não permitem fazer ideia segura do valor da produção destas substâncias.
As projecções da produção figuram no quadro III.
Finalmente, deve referir-se o sal marinho, relativamente ao qual não há elementos válidos para a sua apreciação. Trata-se de indústria muito primitiva, com extrema pulverização empresarial. Os condicionalismos que a dominam - condições atmosféricas muito .variáveis e necessidade de mão-de-obra abundante - não permitem que se encare com optimismo o seu futuro desenvolvimento.

1.8 - Exportações e importações

Nos últimos anos, as exportações globais das substâncias concessíveis mostravam, até 1963, perspectiva geral de declínio e, a partir de 1964, progressiva melhoria, com tendência a aumentar regularmente até 1972. Em 1973 deverá- verificar-se forte impulso, resultante do início das exportações das pellets de Moncorvo.
As substâncias não concessíveis têm tido evolução ascensional, bastante acentuada nos últimos anos e com boas perspectivas futuras.
Em 1965, as exportações totalizaram 323 657 contos, dirigindo-se 84,6 por cento para a C. E. E. e 9,3 por cento para os países da E. F. T. A.
As principais exportações de substâncias concessíveis foram:

Contos
Pirites ................. 86 282
Volframite ............... 56 501
Blenda ................. 14 844

Das não concessíveis, as principais foram:
Contos
Mármore em bruto ........... 131 353
Ardósia em folha ........... 13 327

As previsões para 1973 indicam 800 000 contos, sendo 800 000 contos de substâncias concessíveis e 200 000 contos de não concessíveis. Entre as primeiras, a exportação das pellets de Moncorvo atinge posição de relevo, com 300 000 contos.
As importações de produtos das indústrias extractivas têm vindo a processar-se em ritmo crescente, atingindo em 1965 o valor de 1 476 222 contos.
As principais substâncias foram:
Contos
Petróleo em bruto .......... l 018 352
Hulha ...................... 166 390
Fosfates naturais . ........ 134 944
Enxofre .................... 56 349

A repartição das importações por origem, em 1965, foi a seguinte:

Percentagens
Ultramar .......................... 4
E. F. T. A. ....................... 3
C. E. E. .......................... 4
Estados Unidos da América e Canadá 5
Outros ............................ 84

A acumulação na última rubrica é devida às importações de petróleo (970 874 contos de Bareiu, Irão e Iraque), de fosfatos (130 713 contos de Marrocos), de hulha (87 097 contos da Checoslováquia e da Polónia).
O peso das importações de petróleo constitui matéria para séria reflexão. Se não se encontrar petróleo na metrópole, as importações em 1973 deverão atingir cerca de 3 milhões de contos. Ao petróleo caberão 2 153 000 contos, às bulhas 559 000 contos e aos fosfatos 140 000 contos.
Relativamente ao sal marinho, não tem havido praticamente exportações, nem se espera alteração quanto ao futuro.
As importações de sal marinho comum e refinado têm sido variáveis, mas apresentam tendência para crescer.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 -Sector público

A Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos não dispõe, actualmente, de pessoal nem de estrutura para poder desempenhar-se bem das funções que lhe cabem, sejam, as funções normais de entidade fiscalizadora e orientadora de toda a mineração, sejam as funções de investigação e fomento, através do seu Serviço de Fomento Mineiro, sejam os trabalhos de actualização da cartografia geológica, pelo departamento dos Serviços Geológicos.
A reestruturação em moldes actualizados desta Direcção-Geral é, pois, objectivo a fixar em ordem a melhor valorização do sector das indústrias extractivas.
Ao Serviço de Fomento Mineiro continuará competindo a investigação das potencialidades minerais do subsolo até ao limite que despertará o interesse de empresas privadas técnica e financeiramente capazes, às quais caberá a exploração industrial dos jazigos.
A assistência técnica e laboratorial aos exploradores será também actividade importante do Serviço.

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A estatística da actividade de mineração, incluindo não só as minas, mas também as pedreiras, deverá ser revista de modo a eliminarem-se as suas actuais deficiências.

2.2- Sector privado

É geral em todo o Mundo o fenómeno da fuga da mão-de-obra ao duro trabalho nas minas e pedreiras. Começou já a fazer-se sentir entre nós. Aos industriais compete enfrentá-lo com medidas atinentes ao aumento constante da produtividade, designadamente a mecanização das explorações.
O estudo e a aplicação das técnicas mais modernas não devem ser descurados.
O máximo processamento da matéria-prima produzida pela incorporação das maiores quantidades de mão-de-obra e energia deve ser objectivo em vista, sobretudo quando o destino é a exportação.
Os industriais devem activamente organizar e apoiar os seus organismos corporativos, a fim de promover a defesa dos seus ramos de actividade, pôr ordem na concorrência mútua e facultar meios de penetração nos mercados.
Como objectivos específicos, podem citar-se os seguintes:
A produção de antracites deve ser mantida e destinada, na maior quantidade possível, à produção de energia eléctrica, devendo as minas fazer todos os esforços para obviar ao aumento do custo resultante do encarecimento da mão-de-obra.
Igualmente deverá encaminhar-se para a queima em centrais térmicas a produção de lignites dos nossos jazigos do Centro do País.
O jazigo de ferro de Moncorvo deverá entrar quanto antes em exploração, para alimentação da Siderurgia Nacional, eliminando a necessidade de importação de minérios, e para exportação em larga escala.
Deverá incentivar-se a transformação no País dos minérios metálicos produzidos, nomeadamente os de tungsténio, chumbo e zinco.
Cumpre promover o aumento substancial da produção de pirites, não só para exportação, mas sobretudo para processamento em instalações fabris nacionais, com vista à exportação de produtos finais.
Deverá incrementar-se a exploração racional e a valorização dos produtos das reservas de arguas, areias, dolomites, diatomites, caulinos e outros não metálicos, de modo a satisfazer convenientemente as necessidades da indústria transformadora, substituir dispendiosas importações e exportar os excedentes.

2.3 - Legislação

É preciso actualizar a legislação, quer a referente a pedreiras, quer a relativa às minas.
A mera declaração de exploração de uma pedreira, como único acto exigido pela lei, é demasiado simplista nos casos de verdadeiro interesse industrial. Torna-se necessário um processo de licenciamento, embora reduzido ao essencial (plano de lavra, dimensionamento bastante), quando a exploração envolva certo número de operários ou determinada potência instalada.
Também é de preconizar regime especial, com maior intervenção do Estado, regulando direitos e deveres de exploradores e de proprietários, para os casos de exploração que pelo seu desenvolvimento ganhem projecção regional, ou mesmo nacional, no enquadramento económico-social (mármores de Estremoz, ardósias de Valongo e outras).
Quanto a concessões mineiras, será necessário rever-se o critério da sua atribuição, que hoje pode ser feita a qualquer, sem o mínimo de condições técnicas e económicas exigidas por uma exploração séria.
É necessário dar aplicação prática ao preceito legal que faz reverter para o Estado as minas paralisadas sem justificação aceitável. Actualmente, de cerca de 2000 unidades mineiras concedidas, mais de 1800 estão paradas na posse de concessionários, que, para as manter nessa situação, não precisam mais do que pagar a quantia irrisória de 250$ anuais por cada concessão.
Outro ponto muitas vezes focado é a conveniência de incluir na categoria de concessíveis certas substâncias que hoje são exploráveis no regime de pedreiras: feldspato, quartzo, gesso e outras.

§ 3.º Projecções dos investimentos e emprego

3.1 - Investimento de entidades particulares

A este respeito, apresenta-se a síntese que figura no Relatório Final das Indústrias Extractivas.

Investimentos previstos

[Ver Tabela na Imagem]

A distribuição aproximada do total destes investimentos é a seguinte, em contos:

[Ver Tabela na Imagem]

Estima-se que os financiamentos serão efectuados do modo seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

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Estes números são os somatórios das indicações dadas pelos empresários.

Nas concessíveis, avulta o projecto de 2 milhões de contos da Companhia Mineira de Moncorvo. Os investimentos suficientes para garantir o desenvolvimento esperado neste sector.

3.2 - Investimentos do Estado

As verbas presvistas para o Serviço de Fomento Mineiro são as seguintes:

Investimento no fomento mineiro

[Ver Tabela na Imagem]

3.3 - Evolução do nível de emprego

Transcreve-se do trabalho citado sobre Projecções da Indústria Extractiva, capítulo 6.1.2 - Nível de emprego.
Produtividade 1:

Numa tentativa de avaliação, poderíamos indicar os seguintes números para 1965, relativos a pessoas efectivamente ocupadas e à produtividade a preços de 1963:

[Ver Tabela na Imagem]

Para 1973, se a evolução não se afastar muito da que desenhámos, a estimativa seria:

[Ver Tabela na Imagem]

Supõe-se tratar-se de pessoal efectivamente ocupado, isto é, trabalhando o ano inteiro.
O grande crescimento da produtividade admitido para os metálicos radica-se sobretudo nas hipóteses de lançamento das explorações altamente mecanizadas de Moncorvo. Quanto às não concessíveis, é de prever o gradual desaparecimento das numerosíssimas microexplorações em proveito das bem equipadas, assim como uma melhoria no grau de mecanização.

1 Valor bruto da produção por pessoa ocupada.

§ 4.º Projectos

Há projectos de entidades particulares e do sector público. Apresentam-se, em síntese, os principais.

4.1 - Carvões

As duas minas de antracite da bacia carbonífera do Douro (S. Pedro da Cova e Pejão) prosseguirão, na medida do possível, com a mecanização, em ordem ao aumento de produtividade.
Os projectos estão dependentes, na sua execução, do compromisso, por parte da Empresa Termoeléctrica Portuguesa, em consumir volume substancial da produção das minas.
Nas lignites, o principal projecto centra-se em Rio Maior, com a sua utilização numa central térmica à boca da mina.
O Serviço de Fomento Mineiro concluirá o estudo geológico-mineiro da bacia carbonífera do Douro, com vista a uma reavaliação das reservas de antracite e das condições de exploração. Executará eventualmente sondagens na bacia de lignites de Rio Maior, no caso de se prosseguir o esquema de aproveitamento destes carvões, e investigará outras ocorrências de lignites, se se concluir pelo interesse de aumentar as reservas (Caldas da Rainha, etc.).

4.2 - Minérios metálicos

Minérios de forro. - Em Moncorvo, concluídos os estudos em curso com a oficina-piloto, que se prevê venham a confirmar a viabilidade do empreendimento, calcula-se a produção de milhão e meio a dois e meio milhões de toneladas de pellets. Outro projecto, ligado à Siderurgia Nacional, prevê, para fins de 1968, a produção de 750 000 t de pellets. Pode admitir-se que, entretanto, se venha a acordar num único programa. Trata-se do plano de maior vulto de toda a indústria extractiva, mas está condicionado, como se disse, pela resolução do problema dos transportes. A colocação da produção é assegurada, quer pela Siderurgia Nacional, quer pela exportação.
Quanto às duas outras empresas que projectam fazer investimentos - Cofena, na zona de Orada, e Empresa Metalúrgica da Serra do Cercal, nas minas ferro-manganíferas do Cercal -, a primeira destina-os a equipamento de minas que venham eventualmente a ser reveladas pelas prospecções em curso e a segunda a um aumento de produção necessária à Siderurgia Nacional.

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O Serviço de Fomento Mineiro prosseguirá, no Alentejo, a prospecção geológica, geofísica e geoquímica de jazigos e subsequentes reconhecimentos de ocorrências encontradas. Em Trás-os-Montes, com relevo especial para Moncorvo, serão feitos ou acompanhados trabalhos tendentes ao melhor conhecimento do valor económico dos jazigos.
Minérios de estanho e volfrâmio. - Os principais projectos centram-se nas minas de estanho de Montezinho e de volfrâmio da Panasqueira.
O Serviço de Fomento Mineiro fará a investigação geológico-mineira nas zonas favoráveis à ocorrência de jazigos e prestará assistência aos concessionários na resolução de problemas geológicos e de exploração.
Minérios de chumbo e zinco, ouro, praia e antimónio.- Os mais importantes projectos centram-se na mina de chumbo, zinco e prata de Terramonte e de ouro e prata de Jales.
O Serviço de Fomento Mineiro prosseguirá na realização de estudos geológicos, prospecções gêoquímicas e geo-físicas, quando indicadas, e eventualmente em trabalhos de pesquisa nas regiões de ambiente geológico favorável à ocorrência destes minérios e nas concessões inactivas existentes no País.
Minérios de manganés e cobre. - O principal concessionário de manganês do Alentejo projecta aumentar a produção das suas minas, com o fundamento em que se incrementará o consumo interno.
Os serviços oficiais têm no seu programa o estudo das concessões inactivas de cobre a norte do Tejo e o prosseguimento da prospecção nas diversas áreas cupríferas do Alentejo.

4.3 - Petróleos

Não existem projectos concretos. Há boas possibilidades de virem a realizar-se trabalhos de prospecção e pesquisa, pelo menos na plataforma continental.

4.4 - Pedra, argila, saibro e areia

Caulino. - A principal empresa concessionária - Companhia Anglo-Portuguesa de Caulinos - projecta aumentar largamente a produção com a entrada em exploração dos jazigos de Viana do Castelo. Prevê-se que outras empresas a seguirão, modernizando os seus equipamentos.
Calcário, mármore, argilas, dolomites, ardósias, granitos, areias, etc. - Foi impossível conseguir uma panorâmica geral dos projectos a realizar neste sector, quer por os principais empresários se absterem de fornecer elementos, quer por alguns industriais os englobarem no conjunto das suas empresas, que envolvem, em muitos casos, os sectores de extracção e transformação.
Seguramente, haverá intensificação da mecanização em numerosas pedreiras e abertura de novas, com relevância especial para os calcários, mármores, areias o ardósias.
O Serviço de Fomento Mineiro elaborará o catálogo geral das areias, argilas e caulinos metropolitanos, fazendo os estudos químico-mineralógicos e ensaios tecnológicos requeridos, definirá zonas de argilas com características de interesse imediato para a indústria e delimitará, com referência especial para as áreas de Rio Maior, Coina, Figueira da Foz e litoral norte do País, as formações arenosas com aplicação nas indústrias vidreira e de fundição.
Por fim, caracterizará as diferentes manchas de calcários e margas, definindo zonas com variedades de interesse para os diversos tipos de consumo actual e futuro, prevendo-se o estudo, até definição das reservas, de dolomites e calcários dolomíticos, e demarcará as manchas com características favoráveis à exploração, tendo em vista quer a exploração, quer o abastecimento da indústria de serração. Serão objecto de atenção especial a mancha lousífera de Valongo, a mancha de sienitos nefelínicas de Monchique e as áreas com mármores comerciais (Estremoz - Vila Viçosa, Viana do Alentejo - Alvito, Trigaches, Santiago do Escoural, Pêro Pinheiro e Porto de Mós).

4.5- Outros minerais não metálicos

Pirites. - É de esperar que, em resultado da prospecção no Alentejo, actualmente realizada por três poderosas companhias, e que prosseguirá no período do Plano, venham a ser criadas novas minas, que haverá que equipar. As actuais empresas exploradoras prosseguirão com a mecanização das suas minas (Aljustrel e Lousal).
Os serviços oficiais, por sua vez, continuarão a prospectar pirites em zonas favoráveis do Alentejo.
Não deve perder-se de vista a possibilidade de maior industrialização de pirites (as reservas já conhecidas, da Ordem dos 100 milhões de toneladas, permitem muito mais do que exigem os projectos anunciados), com relevante influência não só numa indústria de base - a dos adubos fosfatados -, como ainda pela obtenção de subprodutos, como as cinzas (bom minério de ferro já hoje ao serviço da Siderurgia Nacional), o cobre, chumbo, zinco, etc.

Sal-gema. - Projecta-se o aumento da produção da mina de Matacães, ligado ao crescimento da indústria química, e da mina de Loulé, com produção destinada à exportação. Admite-se que diversas empresas venham a explorar outros jazigos.
Quartzo, feldspato e mica. - Prevê-se a mecanização da exploração das numerosas pedreiras existentes. Os serviços oficiais procederão à inventariação dos jazigos existentes, sua caracterização e avaliação das reservas.

II) Indústrias de alimentação e bebidas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

A análise das várias modalidades industriais que integram o sector da alimentação e bebidas mostra que apenas as seguintes actividades:

Moagem de trigo com peneiração;
Refinação de açúcar;
Margarina;
Fermentos e leveduras;
Cerveja;

apresentam valor bruto médio da produção, por fábrica, superior a 20 000 contos.
Dado que, ao nível europeu, sómente acima deste volume, de vendas se situa a grande indústria, pode afirmar-se que, entre nós, a grande indústria alimentar é ainda incipiente e exclusivamente constituída pelas citadas modalidades.
Note-se, no entanto, que, por exemplo, nos sectores da moagem de trigo ou da refinação de açúcar, se encontram ainda unidades caseiras ou artesanais e, inversamente, nem todas as unidades de conservas de carne ou lacticínios assumem o carácter caseiro ou artesanal característico de tais actividades.
O facto de serem até as actividades mais caracteristicamente caseiras, como a panificação, que maior contributo

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trazem ao valor bruto da produção das indústrias alimentares, traduz um aspecto genérico destas actividades que deriva do enorme número de unidades existentes em cada modalidade e da circunstância de viverem, na maioria dos casos, de olhos postos apenas no mercado interno. Tal circunstância acarreta as mais diversas consequências estruturais.
As unidades rotuladas de industriais levam uma vida frequentemente apagada de artesanato anacrónico. Falta-lhes dimensão para se especializarem e evoluírem tecnologicamente, não aproveitam suficientemente as matérias-primas que utilizara e, incapazes de atingir um nível de produtividade razoável, não alcançam o porte que as lance na exportação.
Este sector, de produção tão diversificada, pode agrupar-se nas seguintes subdivisões:

1.ª Indústrias caracterizadamente de consumo interno:

C. A. B.:

201 - Conservas de carne.
202 - Lacticínios.
205 - Moagem e descasque de arroz.
206 - Panificação e bolachas e biscoitos.
207 - Refinação de açúcar.
209.3 - Massas alimentícias.
209.4 - Torrefacção.
209.7 - Alimentos preparados para animais.
209.9.2 - Gelo.
2.14 - Engarrafamento de águas mineromedicinais e de mesa.

2.ª Indústrias que actuam já nos mercados externos:

C. A. E.:

203 - Conservas de frutos e produtos hortícolas.
204 - Conservas de peixe.
209.6 - Moagem de pimentão.

3.ª Indústrias com expansão, favorável nos mercados externos, a médio ou longo prazo:

C. A. E.:

208.1 - Chocolates e cacau.
208.2 - Produtos de confeitaria.
209.2 - Produção e refinaria de azeite e outros óleos alimentares.
209.8 - Fermentos e leveduras.
209.9.1 - Amidos, féculas, dextrinas e produtos afins.
213 - Cerveja.

Na generalidade, todas as actividades não abrangidas no grupo da grande indústria alimentar incipiente apresentam, na maioria das suas unidades - incluindo a refinação de açúcar -, uma estrutura deficiente, apoiada na utilização de excessivo volume de mão-de-obra, o que acarreta, por via de regra, o pagamento de salários médios relativamente baixos.
Uma das características básicas da indústria alimentar portuguesa é a de as matérias-primas utilizadas concorrerem em elevada percentagem (cerca de 80 por cento) para a formação do custo.
Resultam daqui, em quase todas as modalidades, problemas ligados ao abastecimento de matérias-primas, que, nos seus aspectos fundamentais, podem resumir-se nas seguintes alíneas:

a) Qualidade inapropriada;
b) Escassez ou irregularidade de abastecimento;
c) Circuitos de comercialização inadequados;
d) Preços elevados ou artificiais.

Outro denominador comum da indústria alimentar é a pequena dimensão do mercado nacional em referência ao excessivo número de unidades industriais.
Do exposto, conclui-se pela necessidade da publicação de regulamentos adequados e da normalização urgente dos produtos como meios saneadores da concorrência e do exercício da actividade industrial.

1.1- Indústrias caracterizadamente de consumo interno

Dada a complexidade deste subsector e o numeroso grupo de actividades que o constituem, analisaremos cada uma de per si, tentando, contudo, sempre que possível, a agregação de número maior ou menor de indústrias.
No sector da matança do gado, preparação e fabrico de conservas de carne, foram analisadas as empresas que se dedicam ao fabrico e preparação destas conservas, que incluem os produtos tratados apenas pelo sal, fumados e cozidos, enchidos e ensacados, pastas e diversos, os quais, rio período de 1958-1964, apresentaram a taxa média acumulada de crescimento de 0,2 por cento. Esta taxa reflecte a grande quebra de produção que se verificou em 1964, pois no período de 1958-1963 o seu valor fora de 2,75 por cento, apesar de o volume da produção em 1963 ter sido mais baixo.
De notar, no entanto, que os enchidos e ensacados e os fumados ou cozidos mantiveram os seus volumes de produção no seu nível normal de crescimento, pelo que a diminuição do volume total da produção em 1963 e 1964 foi consequência imediata das reduzidas produções de salgados, produtos diversos e produtos vendidos em fresco.
A indústria de lacticínios foi abordada na sua generalidade por não ter sido possível recolher elementos referentes à indústria de gelados e sorvetes e por não se poder, por enquanto, considerar a pasteurização e engarrafamento de leite como indústria tipicamente diferenciada.
Salienta-se de modo notório que a produção de leite em pó passou de 1372 t em 1956 para 4733 t em 1964, manifestando um crescimento de mais de 3,5 vezes, à taxa de acréscimo acumulado de 17 por cento.
A produção de farinhas lácteas cresceu à taxa de 12 por cento, tendo-se ampliado também em 7 a 8 por cento a produção de queijo, produtos dietéticos e leite condensado; os «outros produtos» manifestaram, a partir de 1962, um acréscimo que se supõe atribuir-se à produção de gelados e sorvetes. A partir de 1959, a produção de manteiga começou a decrescer e em 1964 encontrava-se ao nível de 1956.
No sector da moagem, trituração e preparação de cereais e leguminosas é de salientar, em 1964, a existência de numerosas instalações de moagem de farinhas em rama de carácter rudimentar, dado que cerca de 91 por cento das unidades existentes são moinhos de vento ou azenhas, trabalhando, em grande parte, para uso próprio dos seus proprietários ou laborando, à tarefa ou à maquia, os cereais de utilizadores industriais.
Nesse mesmo ano existiam no continente 39 moagens de milho e centeio com peneiração, das quais 12 estavam inactivas. A moagem espoada de centeio tem incrementado a sua produção, nos últimos nove anos, à taxa média acumulada de 5,5 por cento, e a espoada de milho a taxa de 38,6 por cento. As taxas médias acumuladas de crescimento dos vários produtos da indústria das moa-[Continuação]

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gens de trigo com peneiração foram, no período de 1955-1964, as seguintes:

Percentagens

Farinha para panificação e outros usos ........ 1,6
Farinha para usos culinários .................. 0,9
Farinha para massas alimentícias .............. 1,8
Farinha para bolachas ......................... 12,2

apresentando-se as capitações dos principais produtos ligeiramente ascendentes.
No sector de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, produz-se e vende-se arroz descascado, branqueado, matizado ou glaciado como produto principal; trincas de arroz (particos) como principal subproduto, podendo dizer-se que a produção deste subproduto anda ao redor dos 5 a 10 por cento das quantidades do produto principal; sêmeas de arroz (cerca de 10 por cento do produto principal), e casca de arroz.
Em 1954, a venda do produto principal foi de 89 000 t e, em 1964, de no 000 t. O crescimento não foi regular e dependeu não só da produção da lavoura orizícola, como da maior ou menor quantidade dos produtos agrícolas concorrentes, cujo preço ascendente explica o aumento do consumo do arroz, de preço estacionário, o que determinou a importação deste produto. A capitação do continente e ilhas adjacentes anda perto dos 12 kg de arroz descascado, glaciado e branqueado, em conjunto, correspondentes a cerca de 19 kg de arroz em casca. A produção agrícola de arroz não deverá subir muito nos próximos anos, a não ser que se torne mais Compensadora. Dela está dependente o aumento da produção do sector.
Deve acrescentar-se no sector de descasque, branqueamento glaciagem do arroz a necessidade de se aumentar a área dos regadios, o que elevaria a produtividade, não só por se obterem maiores espaços para cultivos, como também por mais facilmente se poder evitar a sua repetição nos mesmos terrenos para além do conveniente.
Incluindo o grupo das indústrias de padaria e pastelaria, actividades um tanto ou quanto heterogéneas, limitou-se o âmbito do estudo da panificação ao fabrico do pão e de produtos afins, cuja produção passou das 504 840 t em 1953 para 594 730 t em 1964, ou seja, de uma capitação de 60 kg para 65 kg nesse período.
O fabrico mecânico de bolachas e biscoitos é exercido na metrópole por 28 estabelecimentos, tendo, no período do 1954-1964, apresentado a taxa média acumulada de crescimento de 10,4 por cento e sendo o consumo per capita, no primeiro daqueles anos, de 0,358 kg e, no último, de 0,900 kg.
Como as unidades produtoras de açúcar (ramas) se situam no ultramar, apenas foi considerado o sector da refinação de açúcar. A produção, em 1964, foi de 163 678 t, apresentando, no período de 1953-1964, um crescimento à taxa média acumulada de 4,6 por cento.
No ano de 1964, os estabelecimentos produtores de massas alimentícias e produtos similares existentes no continente eram 16 e 11 nas ilhas adjacentes, dos quais 4 estavam inactivos. O produto principal fabricado cresceu, no período de 1953-1964, à taxa média acumulada de 2,4 por cento, verificando-se que, no último destes anos, a quantidade produzida de massas alimentícias de qualidade superior ultrapassou a produção das de consumo corrente, que representam sómente dois quintos da produção total. As capitações em 1964 foram de 3,1 kg para massas de qualidade superior e de 3 kg para massas de consumo corrente.
A actividade torrefactora é exercida no continente por 156 estabelecimentos, dispondo cada um de uma capacidade total de carga superior a 15 kg por operação, além de muitos outros abaixo deste escalão, que, por assim dizer, não atingem sequer o nível de indústria caseira. Esta actividade cresceu, no período de 1953-1964, à taxa média acumulada de 2,33 por cento. No entanto, a evolução não foi idêntica para todos os produtos. Assim, no período de 1953-1964, a torra do grão manteve-se estacionária, o mesmo acontecendo à da chicória, enquanto as torras do café e da cevada, depois de se terem mantido estacionárias, apresentaram subidas sensíveis nos últimos anos do período considerado. Na torra do amendoim, a produção mantém um acréscimo regular, tendo sido, em 1964, superior ao dobro da de 1953.
A preparação das folhas de chá, actividade industrial sómente exercida nos Açores, tem uma produção com tendência para diminuir nos últimos anos, reflexo da redução da área cultivada, tendo chegado a atingir, no período de 1956-1960, média de produção anual superior a 150 t, enquanto em 1963 e 1964 pouco ultrapassou as 100 t.
Em 1964, eram 48 os estabelecimentos existentes de preparação de alimentos compostos para gado, cujo produto principal cresceu, no período de 1953-1964, à taxa média acumulada de 19,6 por cento. Embora esta indústria tenha evoluído rapidamente nos últimos cinco anos, há ainda um longo caminho a percorrer na sua expansão em Portugal, dado o armentio nacional.
A actividade de fabricação de gelo é constituída por 32 estabelecimentos que se dedicam à produção de gelo como actividade principal. A produção destes estabelecimentos teve quebra sensível em 1962, mantendo-se, nos dois anos seguintes, a nível idêntico. Tal quebra não representa, no entanto, uma diminuição do consumo total do gelo, devendo-se ao facto de os estabelecimentos classificados noutros ramos industriais, cujas produções até 1961 excepcionalmente atingiram 900 t, terem produzido nos anos de 1962, 1963 e 1964 quantidades que ultrapassaram 34 000 t para auto-abastecimento.
A produção total dos estabelecimentos da indústria de gelo, que em 1953 fora de 79 921 t, em 1964 atingiu 89 954 t.
No sector das bebidas, as águas mineromedicinais engarrafadas constituem actividade acessória do sector termal, no qual os problemas são versados em quadro económico diferente; trata-se aqui apenas das águas que, embora oferecendo interesse terapêutico, se põem à venda com finalidade dominantemente comercial. No período, foi possível considerar (1955-1964), apesar da depressão verificada em 1963, de que foi responsável o imposto de consumo, pode considerar-se amplamente ascensional a produção metropolitana, que, de 17 720 000 1 em 1955, se elevou a 24 999 000 1 em 1964, tendo-se aproximadamente nos extremos da curva correspondente ao período referido, a capitação de 1,97 1 por habitante e de 2,5 1 por habitante, com manifesta tendência para o crescimento nos anos subsequentes.
Com um comportamento, do ponto de vista económico, que acompanha de perto o que respeita às águas minerais, a evolução da produção de águas de mesa engarrafadas no período de 1958-19G4, apesar da depressão verificada em 1963, por virtude do imposto de consumo, apresentou evolução ascensional.
De 2 478 000 l em 1955, atingiu 5 150 000 l em 1964, tendo-se, respectivamente, a capitação de 0,275 l e de 0,515 l.

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1.2 -Indústrias que actuam já nos mercados externos

No sector conservação de frutos e produtos hortícolas, as considerações resumem-se à indústria do concentrado de tomate, de longe a mais representativa no conjunto. A produção observada nos sete anos do período de 1959-1965 apresenta crescimento à taxa média acumulada superior a 50 por cento durante o período dos últimos cinco anos. Assim, o total da produção, que era em 1959 de 6672 t e em 196.1 de 14 272 t, já ascendia a 81 000 t em 1965. Não são conhecidos os números representativos das capitações, uma vez que não é possível destrinçar as quantidades que são utilizadas pela indústria de conservas de peixe das consumidas em usos culinários. A indústria de concentrado de tomate e a conserva de tomate pelado, que lhe anda normalmente ligada, encontram-se em franco desenvolvimento, tendo-se verificado acentuado crescimento da exportação à custa do declínio de concorrentes, em especial da Itália.
No sector de enlatamento e conservação de peixe e outros produtos da pesca, o âmbito da actividade estudada limitou-se à conservação em azeite ou molhos e pelo sal, exercida no continente e nas ilhas adjacentes. De notar a elevada participação das conservas de sardinha e similares na produção total de conservas, 90,7 por cento do valor ide custo e 92,7 por cento da quantidade. A taxa média acumulada de crescimento da produção de conservas de peixe e outros produtos de pesca foi, no período de 1953-1964, de 9,3 por cento, apresentando o sector das conservas de sardinha e similares, nesse período, uma taxa de crescimento de 9,9 por cento.
Verifica-se neste sector clara tendência para o aumento do volume da produção, sendo a variação anual consequência do maior ou menor favor da pesca das espécies industrializáveis.

A moagem do pimentão, indústria com índice de localização acentuada em Portalegre e Santarém, cresceu nos últimos onze anos a uma taxa acumulada de 6,1 por cento. A produção média anual por estabelecimento em actividade foi de 6.2 t em 1964, número que indica dimensão técnico-económica aceitável.

1.3 - Indústrias com expansão favorável nos mercados externos a médio ou longo prazo

A indústria de fabricação de chocolates e cacau dedica-se, em quase todos os estabelecimentos, também ao fabrico de produtos que, de acordo com a classificação da C. A. E., são incluídos noutras indústrias, como a confeitaria (bombons, caramelos, drops) e, por vezes, na de gelados. Os produtos mais significativos desta indústria tiveram, no período de 1953-1964, as seguintes taxas médias acumuladas de crescimento:

Percentagens
Cacau em pó .................. 8,4
Chocolate em pó .............. 9,6
Massa de chocolate ........... 7,1
Chocolate moldado ............ 7,2
Manteiga de cacau ............ 9,8

O potencial da produção de chocolate foi fortemente aumentado nos últimos anos, não tendo essa capacidade suplementar sido completamente utilizada.
Designa-se entre nós por confeitaria a actividade das empresas agrupadas no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria, compreendendo as actividades dedicadas ao fabrico de amêndoas e confeitos, drops, caramelos, rebuçados e semelhantes, frutos cristalizados, doces e demais conservas de fruta, bolos secos, pastelaria e toda a qualidade de doçaria.
Segundo os dados apurados em 1964, o valor total da produção foi de 262 920 contos, que, por dificuldades de apuramento, se estima, na realidade, em mais de 300 000 contos. No conjunto, são as conservas de frutas que apresentam certo aspecto industrial, porque o resto (maioria das actividades) se reveste de acentuada característica artesanal. No período de 1956-1964, a produção do conjunto dos produtos aumentou segundo um ritmo que se traduz por um acréscimo médio anual da ordem dos 4,1 por cento. A evolução da produção depende directamente da evolução do nível de vida e dos hábitos alimentares das populações.
Entendeu-se considerar no sector da produção e refinação de azeite e outros óleos alimentares apenas o azeite e o óleo de amendoim, por dificuldades várias, e ainda porque no período considerado (1953-1964) foram os únicos que, na realidade, tiveram significado. A produção de azeite refinado era em 1953 de 6660 t e em 1964 de 18 514 t, sendo a capitação, respectivamente, de 7,856 kg e 7,996 kg1. A produção do óleo de amendoim elevou-se de 12 469 t em 1953 a 19 675 t em i!964, às quais corresponderam capitações de 1,303 kg e 2,212 kg, respectivamente. Na produção do azeite nota-se desenvolvimento, verificando-se o progressivo encerramento de lagares obsoletos, para darem lugar a unidades modernas mais bem dimensionadas e equipadas.
Apenas existem três fábricas de óleo de amendoim, todas elas comparáveis às melhores de outros países.
Embora em 1964 existissem quatro estabelecimentos de fabricação de margarinas, a produção em escala industrial resulta da actividade de apenas dois deles. No período de 1953-1964, a sua produção cresceu à taxa média acumulada de 23,8 por cento. No período de 1961-1964, as produções de shorteninys e de gorduras- hidrogenadas cresceram a taxas médias acumuladas de respectivamente, 29,4 por cento e 26 por cento. A capitação de margarina evoluiu de 0,132 kg nesse período.
No sector da fabricação de fermentos e leveduras, foi abordada apenas a indústria de leveduras seleccionadas, sem que se tenha procedido ao estudo dos chamados «fermentos químicos», pela ausência de elementos estatísticos e pelo pouco reflexo que tal actividade manifestará na nossa economia. Em 1964 existiam em actividade quatro estabelecimentos, tendo a produção - 7779 t -- sido elevada de 6023 t em 1960. O crescimento deu-se a uma taxa média acumulada de 6,6 por cento.
A indústria de fabricação de amidos, féculas, dextrinas e produtos afins era exercida em 1964 por seis estabelecimentos. Verificou-se que a produção de amiláceos cresceu, nos últimos dez anos, a uma taxa média acumulada de 5,25 por cento, sendo essa taxa de 2,8 por cento para os destinados a alimentação e indústrias alimentares e de 11,6 por cento para indústrias não alimentares.
Procurou-se, sempre que possível, fazer o estudo conjunto da indústria de malte e cerveja metropolitana. A produção continental de cerveja em 1964 foi de 500660001, da qual 462460001 (92,4 por cento do total) foi de cerveja branca. A taxa média acumulada de crescimento no período de 1953-1964 foi de 11,6 por cento, tendo sido a de cerveja branca de 12,4 por cento e a de cerveja preta e escura de 5,1 por cento. A pro-[Continuação]

1 Para o cálculo das capitações deduziu-se às produções referidas o azeite refinado utilizado pela indústria de conservas.

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dução das ilhas adjacentes em 1964 foi de 3 071 000 l, da qual 2 493 000 l (81,2 por cento do total) foi de cerveja branca. A taxa média acumulada foi, no período de 1953-1964, de 6,1 por cento, tendo sido a de cerveja branca de 7,7 por cento e a de cerveja preta e escura de 1,2 por cento. O consumo metropolitano per capita de cerveja em 1964 não chegou a atingir os 5,5 1. No período atrás referido verificou-se uma nítida tendência para o aumento da produção de cerveja, embora alguns factores independentes das empresas produtoras tivessem contrariado essa tendência, como foi o aumento do imposto de consumo verificado em 1962. A evolução da qualidade foi notável, tendo sido introduzido um novo tipo de cerveja, com o objectivo de o consumidor dispor de todos os tipos que desejar.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Indústrias caracterizadamente de consumo interno

A orientação básica a seguir no sector das conservas de carne é ditada pelas consequências graves devidas à epizootia (que grassa já há dez anos) da peste suína africana, cujos reflexos são bem notórios e fizeram que a taxa média acumulada do crescimento, já deficiente, da indústria - 2,7 por cento - passasse nos últimos anos, após 1958, para 0,2 por cento.
É preciso, portanto, ocorrer à falta de matéria-prima tentando reconstituir os efectivos porcinos. Para isso, supõe-se aconselhável a importação de sementais de raças muito precoces, com o objectivo de constituir efectivos que, em virtude da sua precocidade, permitam, em certa medida, obviar um pouco aos inconvenientes da epizootia.
Ao mesmo tempo, a actividade, que é constituída por inúmeros estabelecimentos - 1363 -, a maioria sem condições técnicas e higiénicas recomendáveis, carece de ser regulamentada nestes aspectos, devendo tal regulamentação ser acompanhada de fiscalização eficaz. Sobretudo, é importante fixar para os produtos os graus máximos de contaminação bacteriológica e, ao mesmo tempo, fiscalizar a análise bromatológica das matérias-primas utilizadas.
Evidentemente que a ausência de inspecções médicas periódicas para todos os operários pode também ser causa grave de disseminação de doenças infecciosas para o homem.
Igualmente se recomenda prosseguir e ampliar as providências que conduziram à produção, pelo sector primário, de porcos tipo carne, em vez de porcos tipo gordura, que são ainda os que predominam em virtude da sua origem alente j anã.
Dado que a expansão da indústria de lacticínios se tem dado a taxa média acumulada notável, através das modalidades de leite em pó - 17 por cento -, farinhas lácteas - 12 por cento - e até mesmo por intermédio da produção de queijo, produtos dietéticos e leite condensado - 8 por cento -, compreende-se, não obstante a baixa capitação de consumo de leite em natureza - 201 em Lisboa, 121 no continente - quando comparada com a de outros países -Espanha 561, Finlândia 3001-, que a indústria se debata com o grave problema de falta de matéria-prima.
O objectivo básico a atingir para solucionar os problemas deste ramo industrial tem de ser realizado através do sector primário. É urgente produzir-se mais leite, até porque as capitações de consumo de lacticínios em Portugal são muito baixas em confronto com as da Europa evoluída - manteiga: Portugal 0,7 kg, Alemanha 7 kg, França 7 kg, Suécia 9 kg, Bélgica 10 kg; queijo de vaca: Portugal 0,5 kg, Holanda 7 kg, Suécia 8 kg, França 9 kg.
Embora a produção de leite no nosso país tenha duplicado nos últimos vinte anos, o Governo, consciente da necessidade urgente da realização de uma política intensificadora neste sector, publicou os diplomas necessários para se promover o fomento pecuário, com vista a incrementar a produção de carne e leite, e preparou nova legislação sobre rações, em vias de publicação.
A obtenção de leite mais gordo por uma alimentação mais racional aconselha ao aumento da produção forrageira qualificada, incluindo os alimentos compostos para arraçoamento de gado.
Conviria, sobretudo, interessar a indústria de lacticínios no fomento pecuário leiteiro, promovendo ao mesmo tempo uma concentração da indústria, actualmente dispersa por 215 fábricas.
A produção de farinhas de trigo com peneiração tem apresentado crescimento muito reduzido, consequência da tendência evolutiva do consumo de pão, sendo o acréscimo verificado no período - 1961-1964 - imputado, praticamente, ao correspondente aumento da população.
São vários os factores que contribuem para esta estagnação, além da melhoria do nível de vida.
A inferior qualidade das matérias-primas em face do critério de valorização do cereal em função do peso do hectolitro, sistema este já abandonado no estrangeiro, tem conduzido a lavoura à cultura de variedades de reduzido valor tecnológico. Simultaneamente, as importações frequentes, de trigo, função do mais baixo preço, têm também colaborado na má qualidade das farinhas e sêmolas produzidas, o que tem tido nocivo reflexo sobretudo na indústria de massas alimentícias e bolachas, com prejuízo tanto para o consumo interno, como para a exportação.
Apesar das concentrações de empresas e fábricas verificadas neste sector, está-se longe de ter atingido o regime de trabalho, universalmente aceite, de 24 horas por dia, dado que ainda hoje não chegam a utilizar 50 por cento da sua capacidade de produção. Para tal tem contribuído a existência paralela de uma indústria de moagem de ramas, que, mercê de artificialismos impostos à moagem de espoadas, atrofia a estrutura deste sector.
Todavia, se a indústria com peneiração, tècnicamente actualizada, for libertada de condicionalismo de preços que servem de obstáculo à sua expansão, parece fora de dúvida que, por evolução natural, a moagem de ramas acabará por ficar reduzida a uma posição semelhante à de outros países, ou seja, o simples abastecimento privado, com o que a economia muito lucrará, dadas as maiores extracções conseguidas.
A remuneração da indústria de moagem espoada, que desde 1948 não recebia qualquer melhoria, foi bastante beneficiada com a publicação do despacho do Ministério da Economia de 10 de Maio de 1966, que definiu as bases do apoio técnico e financeiro à lavoura e da concessão de dotações à cultura cerealífera.
Outras providências para ajudar à resolução dos problemas desta indústria serão as seguintes:

1) Revisão do circuito de comercialização das sêmeas, possibilitando à indústria uma compensação para o agravamento do custo de produção;
2) Actualização da taxa de transformação;
3) Criação de cursos técnicos de moagem para a preparação conveniente de pessoal especializado;
4) Remoção das dificuldades do transporte ferroviário a granel, que é a modalidade mais rentável;

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5) Prosseguimento da orientação estabelecida pelos Decretos-Leis n.ºs 43 023 e 43 834, com vista à articulação entre as moagens de ramas e as moagens espoadas.

Para a indústria de descasque de arroz, como indústria individualizada, não se descortinam possibilidades imediatas de grande desenvolvimento, o qual depende da resolução de diversos problemas, entre os quais se salientara os seguintes:

a) Os fretes do arroz, desde a produção às fábricas, dependentes dos altos custos dos transportes, especialmente ferroviários, adicionados às dificuldades práticas da sua utilização, carecem de ser revistos;
b) Os salários do pessoal fabril aconselham maior índice de mecanização;
c) As contribuições e impostos devem ser harmonizados com as demais imposições (taxas diferenciais, etc.), de modo a não sobrecarregarem demasiadamente a actividade;
d) As amortizações do equipamento e a remuneração do capital poderão baixar se se caminhar no sentido de melhor dimensionamento das empresas e de uma maior possibilidade de integração horizontal.

Não se vislumbra, neste momento, a possibilidade de exportação do produto acabado pela falta de matéria-prima, que não acompanhou o aumento do consumo e tem obrigado à importação de cerca de 10 a 15 por cento do volume consumido.
A escassez de mão-de-obra na indústria da panificação especialmente aos níveis menos especializados, terá certamente tendência a intensificar-se nos próximos anos, pelo que a solução indicada está no incremento da mecanização em todas as operações onde isso for possível e, simultaneamente, na melhoria da produtividade do trabalho.
Como se sabe, o sector da panificação é integrado ainda por grande número de unidades, apesar dos agrupamentos constituídos e em constituição. Aliás, esta política de agrupamentos só poderá prosseguir nas zonas onde predomina acentuadamente o consumo de pão espoado de trigo.
Não obstante, a dispersão por inúmeros estabelecimentos conduz necessariamente à baixa utilização da maquinaria, sobretudo acentuada em virtude de apenas se proceder a uma cozedura diária, em vez das duas que eram habituais antes da última guerra e são o número menor de cozeduras feitas nos países da Europa. Em virtude desta circunstância, a maquinaria a instalar é de capacidade muito superior e, consequentemente, de custo mais elevado do que seria necessário para servir o público em melhores condições.
Na zona de Lisboa existe também um problema de distribuição do produto que tem ocasionado práticas de concorrência não recomendáveis entre os industriais. É que estes não procedem, como no Norte, à distribuição domiciliária por sua conta, admitindo um intermediário -o vendedor-, a quem oferecem descontos anormais no sentido de ampliarem as suas vendas.
Espera-se que a mentalidade industrial introduzida pela constituição dos agrupamentos elimine progressivamente este inconveniente processo de comercialização.
Reina certo clima de confusão no sector das bolachas e biscoitos, pela falta de definição clara e precisa do âmbito dos seus fabricos e das actividades afins, sobretudo de confeitaria e pastelaria, o que, além do mais, implica uma precária fiscalização das condições higiénicas e sanitárias das instalações.
Outro aspecto perturbador da actividade é o regime de preços vigente, através de um tabelamento feito em 1943, com ligeira correcção em 1947. Trata-se de um regime de compensação semelhante ao asado para outros derivados dos cereais: farinhas, sêmolas e pão. Pelo que respeita à indústria bolacheira, este tabelamento traduziu-se em acentuado prejuízo, na medida em que a proporção dos fabricos foi alterada no sentido mais desfavorável, registando-se completo afastamento dos nossos preços em, relação aos que se praticam nos outros países.
Dado que a indústria tem tido apreciável acréscimo de produção, embora mantendo ainda reduzida capitação de consumo, aqueles óbices devem ser removidos o mais brevemente possível a fim de a actividade poder fazer frente à concorrência que no seu próprio mercado lhe poderá ser movida pela indústria similar da E. F. T. A.
Torna-se igualmente necessário promover a regulamentação do sector, de modo a conduzi-lo a uma dimensão adequada das empresas que possibilite elevada mecanização e acréscimo da produtividade, ao mesmo tempo que se deverá generalizar o transporte a granel das principais matérias-primas.
O crescimento da produção das refinadoras de açúcar tem-se feito à taxa média acumulada de apenas 3,3 por cento, o que é devido, além da baixa capitação do consumo (20 kg), ao preço elevado a que o açúcar é adquirido peia indústria sua utilizadora (confeitaria, pastelaria, conservas de frutos, etc.
A produção de açúcar refinado distribui-se por três tipos de açúcar: granulado e areados branco e amarelo. A produção de areados branco e amarelo permite uma refinação sem subprodutos (melaços), circunstância que, aliada ao maior grau de humidade destes tipos de açúcar em .relação às ramas donde provém, conduz a uma produção de refinados de baixa qualidade.
Esta situação deverá ser regularizada no período do Plano, logo que estejam reorganizadas as 2 unidades . que são mantidas e entrem em funcionamento as 2 novas, resultantes da reorganização em curso, que conduziu à concentração de 23 em 4 unidades.
Os problemas da indústria de massas alimentícias não se podem dissociar dos da indústria moageira no que respeita ao artificialismo de preços na matéria-prima - semolinas e farinhas. Tal artificialismo atinge mesmo os cereais, que, como se sabe, são onerados por regimes de compensação quando importados.
A indústria com matéria-prima a preço superior ao internacional está condenada a servir exclusivamente o mercado interno, onde o consumo apenas tem crescido à taxa média acumulada de 2,4 por cento, com forte tendência para a estagnação e substituição do consumo da massa corrente pela qualidade superior.
A expansão que se vislumbra é de amplitude muito reduzida e consubstancia-se na produção, pela indústria existente, de massas especiais, recheadas e dietéticas, assim como, a prazo mais longo, a produção de conservas com massas alimentícias.
Outro objectivo a atingir seria a concentração das fábricas existentes, de modo a atingir o regime de 24 horas de trabalho diário. A indústria carece, portanto, de continuar a renovar e remodelar o seu apetrechamento, para o que seria conveniente a concessão de crédito a longo e médio prazos que permitisse acompanhar a tempo os processos tecnológicos, assim como isenções fiscais para

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os direitos de importação da maquinaria que não se produz no País.
A actividade torrefactora tem feição característica, que é a de trabalhar em grande parte à tarefa ou à maquia, o que lhe confere certa peculiaridade de carácter artesanal.
Esta dependência da indústria perante as produções de conta alheia apresenta-se como refreadora da evolução da actividade.
Não possuindo, na generalidade, marcas próprias para os seus produtos, as respectivas unidades não exercem entre si uma concorrência de qualidade, movendo-se apenas dentro da concorrência de preços.
Esta falta de mentalidade industrial leva também à existência de apetrechamento inadequado. Efectivamente, é enorme a incidência de torradores a fogo directo, que não permitem uma condução rigorosa da operação e ocasionam maus reflexos sobre a qualidade dos produtos e sobre o seu custo, além de consequências de insalubridade para o pessoal.
A orientação básica a seguir resumir-se-á, numa primeira fase, à regulamentação do exercício da actividade que conduza indirectamente a uma concentração de empresas.
Outro aspecto a ter em consideração será a revisão das disposições legais referentes às características dos lotes de cafés moídos, donde poderia resultar o desenvolvimento da actividade e o estímulo para a sua transformação a médio ou longo prazo. Além disso, o maior consumo de café seria vantajoso para incrementar as trocas de mercadorias entre o ultramar e a metrópole.
Embora a produção de alimentos preparados para animais tenha evoluído rapidamente nos últimos cinco anos, há ainda largo caminho a percorrer na sua expansão em Portugal. Falta resolver muitos problemas que lhe comprometem o desenvolvimento, sobretudo no campo da melhoria tecnológica e no abastecimento das matérias-primas.
Para atender ao primeiro aspecto, vai ser posto em vigor o Regulamento do Exercício da Indústria de Alimentos Compostos, de forma a eliminar todas as unidades consideradas obsoletas - 37 por cento das fábricas existentes - e criar o clima propício ao aparecimento de unidades técnica e econòmicamente evoluídas que, pela qualidade e preço dos produtos apresentados, possam colaborar no Plano de Fomento Pecuário.
No abastecimento de matérias-primas, deverá ser revisto e simplificado o circuito de comercialização de vários produtos, designadamente de milho nacional, para não onerar o seu custo com operações de transporte e armazenamento.
A Federação Nacional dos Produtores de Trigo deverá encarar a manutenção de um stock mínimo de 20 000 t, para garantir permanente abastecimento do País em cereais forrageiros.
Note-se, ainda, que os bagaços de oleaginosas são indispensáveis ao desenvolvimento desta indústria.
A produção de gelo está a deslocar-se de fábricas isoladas para os estabelecimentos que têm necessidade da sua utilização. Deste modo, a actividade tem tendência a perder a sua antiga autonomia.
Limita-se praticamente ao fornecimento a navios, o nos portos de pesca, à conservação de peixe.
Esta evolução natural não deverá ser contrariada, pois deste modo facilita-se o estabelecimento mais rápido de uma cadeia frigorífica nacional.
Pensa-se que o sector das águas mineromedicinais se desenvolverá espontaneamente.
Em todo o caso, a actividade entende que as elevadas tarifas da via férrea, assim como da rodovia, representam peso significativo na economia do sector, questão que se agrava com a manutenção das frotas privativas de viaturas para distribuição, sujeitas a impostos a que os custos das mercadorias são sensíveis.
Um objectivo a prosseguir será completar a mecanização das instalações, de modo a elevar-se o nível tecnológico e incrementar a produtividade, criando, ao mesmo tempo, facilidades de crédito a longo prazo.
Relativamente ao sector das aguas de mesa, formulam-se idênticas considerações, a que acresce a necessidade de suprimir o envasilhamento em garrafões. Condenados no consenso geral e pela legislação, admite-se que venham a substituir-se gradualmente por vasilhas que permitam lavagem e esterilização mais eficiente.

§ 3.º Projecções dos investimentos e emprego.
Projectos

Justifica-se agrupar as projecções do investimento e emprego e os projectos dentro do mesmo parágrafo, por ser difícil, se não impossível, destrinçá-los com base no relatório vertical, que, por vezes, os apresenta em estreita interligação.
No sector da matança de gado, preparação e fabrico de conservas de carne, o estabelecimento da rede de matadouros principais importará em 300000 contos. A esses matadouros fundamentais - dois ou três matadouros expedidores comerciais e doze ou quinze regionais - há a juntar um certo número de pequenos matadouros locais e de casas de matança.
Prevê-se que durante o período do Plano sejam investidos na indústria de lacticínios cerca de 100 000 contos. Importa salientar a instalação de novas unidades fabris em Avis, ilha Terceira e ilha da Madeira, já em execução.
No sector da moagem, trituração e preparação de cercais e leguminosas, verifica-se, no que respeita ao centeio, a tendência para a estagnação e, não sendo de esperar aumento de consumo de pão de centeio, a evolução só poderá resultar de uma política que amplamente fomente, através do regime cerealífero, o consumo de pães de centeio e trigo e centeio e milho. Quanto ao milho, os primeiros passos para a sua industrialização são de molde a permitir encarar o futuro desta modalidade industrial com elevado optimismo. Necessário é não estimular a sobrevivência das moagens de ramas, em oposição MO desenvolvimento da citada industrialização. Se considerarmos que, entre nós, a indústria de aproveitamento dos produtos a extrair do milho está limitada à primeira fase, é fácil prognosticar para este sector um desenvolvimento acelerado. Prevê-se que durante os três primeiros anos do Plano sejam investidos cerca de 370 000 contos na indústria de moagem de trigo com peneiração, assim distribuídos:

Contos

Infra-estrutura para recepção de cereais
Importados.............................. 70 000
Reorganização das moagens de ramas...... 200 000
Continuação da reorganização da indústria
De moagens de trigo com peneiração...... 100 000

Impõe-se dar destino, no futuro próximo, às moagens de ramas, o que pode ser resolvido por duas vias:

Libertar o ciclo do pão do artificialismo que o onera, para permitir que aquela actividade se reduza

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à sua verdadeira expressão - trabalho exclusivo à maquia - ou:

Estabelecer um plano de amortizações, ficando a regularização a cargo das indústrias com peneiração.

A falta de escolas de preparação profissional que ministrem cursos técnicos de moagem tem obrigado a indústria a recorrer a especialistas estrangeiros e, no impedimento destes, a entregar a direcção de algumas fábricas a pessoas com preparação inadequada, pelo que se torna indispensável a criação de uma escola.
Na indústria de descasque, branqueamento e glaciagem de arroz, deve, além do mais, ser estudada a possibilidade do aumento de produção agrícola a preços compensadores, porque esse aumento, acompanhado da exportação, permitiria aumentar o índice de utilização das unidades fabris existentes ou a constituir-se por integração horizontal. A carência de mão-de-obra, especialmente aos níveis menos especializados, terá certamente tendência a intensificar-se no futuro, pelo que a solução indicada está no incremento da mecanização em todas as operações onde isso for possível.
Na indústria de panificação não se prevêem quaisquer investimentos que mereça a pena assinalar.
Também se não antolham investimentos no fabrico de bolachas e biscoitos que mereçam ser referidos, pois apenas se conta com pequenas substituições de maquinaria não essenciais. São crescentes as dificuldades do recrutamento de mão-de-obra, uma vez que o nosso ensino técnico, elementar e médio não pôde ainda considerar este sector das indústrias alimentares.
Está computado em cerca de 300 000 contos o custo total da reorganização da indústria de refinação de açúcar, dos quais cerca de 60 000 se destinariam a edifícios e silos. Prevê-se, através da instalação de unidades tecnicamente bem apetrechadas e de uma profunda alteração dos actuais processos de fabrico, ser possível obter melhorias consideráveis, quer quanto à qualidade dos produtos fabricados, igualando-a aos padrões internacionais, quer quanto à sua embalagem.
Para os primeiros três anos do Plano, prevê-se um investimento total de cerca de 58 000 contos na fabricação de massas alimentícias e produtos similares, com a seguinte distribuição:

Investimentos em 1968-1970

[Ver Quadro na Imagem]

Calcula-se que a indústria venha a manter uma taxa média acumulada de crescimento idêntica à do período de 1961-1964. No que se refere à mão-de-obra, o problema é idêntico ao do fabrico mecânico de bolachas e biscoitos.
Deverá encarar-se a regulamentação da indústria de torre f acção, a fim de estabelecer mínimos técnico-económicos abaixo dos quais o mesmo exercício não seja consentido. Em complemento de tal política, admite-se a concessão de vantagens fiscais e facilidades de crédito às empresas que resultem da fusão das existentes e satisfaçam aqueles mínimos a curto prazo. Nota-se a ausência de projectos de investimento para o período do Plano. Aliás, os investimentos, nos últimos anos, têm sido praticamente nulos nesta indústria, mesmo em remodelações e renovações, com excepção de uma empresa que investiu cerca de 4300 contos.
Dado que a preparação de folhas de chá constitui actividade em estagnação e até mesmo em risco de desaparecimento, não é de prever a realização de qualquer projecto no período do Plano.
No que se refere à preparação de alimentos preparados para animais, tomando como base as perspectivas das novas instalações em face dos pedidos pendentes e das autorizações já concedidas, mas cujas instalações se estenderão para dentro daquele período, os investimentos andarão à roda dos 40 000 contos, com a seguinte discriminação:

Contos

Bens de origem estrangeira........................ 15 000
Bens de origem nacional........................... 15 000
Construção civil.................................. 10 000

Considera-se que o desenvolvimento da indústria da fabricação de gelo venha a sofrer grandes impulsos aquando da publicação da legislação referente à criação da Rede Nacional do Frio.
É de prever, no entanto, a redução do número de estabelecimentos existentes, os quais deverão ser absorvidos pelas unidades de maior dimensão técnico-económica.
No sector das águas mincromedicinais engarrafadas, de evolução produtiva segura, admite-se que a produção se desenvolva a ritmo mais acelerado. No que se refere à tecnologia, exceptuando as empresas que ainda não fizeram a mecanização das suas instalações, o sector pode considerar-se, desse ponto de vista, tão evoluído como os estrangeiros. Importa, porém, que todas as empresas do sector se apetrechem ao nível tecnológico que se impõe e está. determinado no respectivo regulamento. A escassez de capitais próprios recomenda que, para a realização dos objectivos que estão na base do cumprimento desse regulamento, seja facilitado o crédito a longo prazo.
Dado que as nascentes se situam em zonas rurais e é predominante o recurso ao trabalho de mulheres, não têm sido significativas as dificuldades no recrutamento da mão-de-obra, pelo que respeita a trabalho não qualificado.
O quadro económico em que se inserem as águas de mesa é de tal forma semelhante ao das águas minerais que não requer menção específica.
Prevê-se que no sector do enlatamento e conservação de frutos e produtos hortícolas sejam investidos, nos três primeiros anos do Plano, cerca de 71 000 contos, com a seguinte distribuição:

Contos

Bens de origem estrangeira.................... 36 000
Bens de origem nacional....................... 15 000
Construção civil.............................. 20 000

O sector espera a regularização das relações entre a indústria e a lavoura que a abastece, solucionando problemas que têm surgido, nomeadamente no que se refere a preços e qualidades do tomate. Tornar-se-á também necessário o estabelecimento de regulamentação ou legislação conveniente que venha a evitar possíveis infestações e a exaustação de grandes áreas de terreno, as quais, certamente, virão a verificar-se em futuro próximo, se não forem tomadas a tempo as providências necessárias.

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No sector da conservação de peixe e outros produtos da pesca em azeite ou molhos e pelo sal, o incremento das exportações depende do acréscimo da produção. Basta, para tanto, que possa industrializar-se proporção superior aos 50-60 por cento habituais das capturas de sardinha.
A estrutura do sector dever-se-á manter durante o período do Plano sem grande alteração. E possível que o aumento de salários e a maior dificuldade de recrutamento forcem a uma mecanização dos transportes internos nas fábricas, por implantação de órgãos de manutenção industrial. Também não é de esperar grande modificação na constituição e número de unidades industriais em cada um dos centros piscatórios. Espera-se, todavia, que as unidades continuem a apetrechar-se com instalações de frio que regularizem o seu trabalho. Solucionados os problemas actualmente existentes, é de admitir como limite superior, para o período do Plano, um crescimento à taxa acumulada de 10 por cento, aproximadamente. Tal crescimento não requererá, no mesmo período, novas estruturas industriais, dada a capacidade do parque actual.
Não se prevêem quaisquer investimentos na indústria de moagem e preparação de especiarias, cujas perspectivas de sobrevivência são diminutas, devido à falta da matéria-prima principal: o pimentão.
Tendo em vista as necessidades de capital para apetrechar convenientemente a indústria de chocolates, torna-se indispensável que o mercado de capitais facilite o recurso ao crédito, em condições favoráveis quanto ao prazo e ao juro. Ao mesmo tempo, seria da maior utilidade que os interessados pudessem dispor do conselho e da ajuda de técnicos económicos dos organismos financiadores, para orientação nos estudos justificativos do alargamento ou modernização da sua actividade industrial. Faz-se também sentir, como já se disse, a falta de operários e de mestres com a necessária preparação. Não se prevêem para esta indústria quaisquer novos projectos. No entanto, julga-se que no período do Plano sejam despendidos cerca de 10 000 contos em substituição de maquinaria, que deverão provocar ligeiro aumento na capacidade de produção do sector.
Uma previsão quanto aos projectos a realizar na fabricação de produtos de confeitaria no período do Plano tem de ser necessariamente aceite com reservas, não só por se tratar de uma previsão, mas também porque, no caso dos sectores considerados, os investimentos sofrerão largamente a influência de outros factores. Além destes, há ainda a considerar a atitude das entidades financiadoras e a posição da Administração quanto ao problema da concentração, cuja solução depende, em parte, das facilidades e estímulos que puderem ser proporcionados. Considerando, porém, a evolução verificada nos últimos anos, são de admitir os seguintes valores para o período do Plano:

Contos

Confeitaria.................................. 50 000
Conservas de frutos.......................... 50 000
Pastelaria................................... 25 000

A tendência quanto à produção e refinação de azeite - em apreciável medida as cooperativas de olivicultores têm contribuído para a melhoria neste campo - é para o desaparecimento das unidades de pequena dimensão, e não parece ousado prever que dentro de algum tempo a quase totalidade dos lagares será constituída por unidades bem dimensionadas, tendo apenas que continuar a
existir unidades menores nas zonas de pequena produção de azeitona. Quanto ao óleo de amendoim, um dos mais directos, se não o mais directo, substituto do azeite, o aumento que se verificou na sua produção afigura-se reflectir a influência dos seguintes factores: estagnação da produção e aumento do consumo do País em óleos comestíveis.
A produção da indústria de fabricação de malte e cerveja no período de 1968-1973 deverá situar-se à volta de 80 milhões de litros para o primeiro dos anos considerados e de 150 milhões de litros para o último; sendo mais difícil prever o volume de exportações, pensa-se que poderá variar, naquele período, de 3 milhões de litros, no primeiro ano, a 12, no último. A expansão do consumo interno depende fundamentalmente do aumento do potencial do mercado.
Há que considerar, para o período de 1968-1973, que a liberalização do comércio no seio da E. F. T. A. pode criar problemas à indústria nacional no que diz respeito à cevada, pois o seu preço no País é muito mais elevado do que nos restantes países europeus. Assim, se a situação se mantivesse, a indústria nacional teria desvantagem nítida na concorrência que certamente se irá estabelecer. Uma solução a encarar poderá ser a de se assegurar à indústria portuguesa um preço de cevada idêntico ao praticado no estrangeiro, por exemplo através do Fundo de Abastecimento.
Prevê-se, na vigência deste plano, a construção de uma nova fábrica de cerveja. Em matéria de transportes, projecta-se, neste sector, um investimento de cerca de 5000 contos.

III) Indústrias têxteis e do vestuário

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

Este conjunto de indústrias abrange a totalidade do grupo 23 da C. I. T. A. (indústrias têxteis) e parte do grupo 24 (fabrico de vestuário e têxteis em obra, com exclusão do calçado). Estão, pois, incluídas as indústrias de lanifícios, algodão e fibras artificiais e sintéticas, fibras duras (juta, linho e cânhamo), tapeçarias, passamanarias, malhas, cordoaria e redes de pesca, fabrico de telas impermeáveis, corte e preparação do pêlo, fabrico de seiras e capachos, confecção, chapelaria e, ainda, bordados da Madeira e fabrico de guarda-sóis.
Em todo este conjunto sobressai, pela sua grande importância no parque industrial português, a indústria têxtil algodoeira, sendo também particularmente importantes os sectores dos lanifícios, das malhas, da confecção e da cordoaria.
Do ponto de vista da sua localização geográfica, caracteriza-se este conjunto por grande concentração: quase toda a têxtil algodoeira se situa nos distritos de Braga e Porto, os lanifícios têm os seus maiores centros na Covilhã, Gouveia e Lisboa, e a juta, no Barreiro e no Porto. As indústrias de malhas e confecção situam-se também predominantemente nos distritos do Porto, Braga e Lisboa.

1.2 - Evolução de produção

Foi muito importante o crescimento total das indústrias têxteis e do vestuário durante o período de 1953-1964, crescimento que, em termos do respectivo valor

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bruto de produção, se traduziu pelo aumento médio anual da ordem dos 7 a 8 por cento.
Esta evolução foi, contudo, muito desigual ao longo do período, sendo, na generalidade, muito mais forte a partir de 1960.
São números significativos os dos valores brutos da produção dos seguintes sectores (em milhares de contos, a preços correntes):

Algodão e fibras artificiais e sintéticas - 4832 em 1964 (2460 em 1954). Lanifícios (fios + tecidos) -1506 em 1964 (659 em 1953).
Malhas - 1151 em 1904 (341 em 1953).
Cordoaria - 517 em 1964 (42 em 1953).
Juta - 405 em 1964 (199 em 1960).

Para além destes, são de registar os crescimentos espectaculares das tapeçarias, das passamanarias e da confecção com carácter industrial. Em contrapartida, outros sectores, aliás de menor expressão no conjunto, registaram crescimentos muito menores (casos do linho, das redes de pesca, do corte e preparação de pêlo, da chapelaria e dos bordados da Madeira), e mesmo regressão (caso do cânhamo).

1.3 - Estrutura de custos e valor acrescentado

Não se alterou significativamente, de 1953 para 1964, a estrutura de custos das indústrias têxteis, sendo apenas de assinalar o maior valor relativo que passaram a assumir as amortizações, como reflexo do grande reequipamento característico dos últimos anos.
As matérias-primas representam a maior parcela do custo: em percentagem de valor de produção, atingem 48 por cento nos artigos de algodão, 61 por cento nas malhas e cerca de 80 por cento nos fabricos de cordoaria e confecções.
O consumo de energia eléctrica e combustíveis cifra-se por percentagens pequenas dos valores de produção (entre 1 a 3 por cento), com a excepção muito importante do sector têxtil algodoeiro, onde essa percentagem sobe a cerca de 6 por cento.
Quanto à mão-de-obra, representa de 13 a 16 por cento do valor de produção das indústrias mais significativas (algodão, lanifícios, juta, malhas), sendo de notar que. nestas percentagens não estão incluídos os encargos da entidade patronal para a Previdência, Fundo de Desemprego, etc.
Parcela muito importante das matérias-primas incorporadas é de origem estrangeira, constituindo peso apreciável no quadro das importações portuguesas. Tem particular relevo a importação de algodão em rama, de que apenas cerca de metade cabe às províncias ultramarinas, tendo-se comprado ao estrangeiro, em 1964, ramas de algodão no valor de mais de 990 000 contos. Outras matérias-primas de relevo são as fibras artificiais e sintéticas, que surgem nas indústrias de lanifícios, algodoeira e das malhas, além de outras pequenas participações. Em 1964 foi superior a 600 000 contos o respectivo consumo, de que uma pequena parcela foi já de produção nacional.
É particularmente significativo o valor acrescentado por este conjunto de indústrias, pois constitui um dos mais expressivos indicadores da sua importância no plano da indústria portuguesa. À falta de cálculos mais exactos, estima-se que, em 1964, o valor acrescentado terá sido da ordem dos 3 800 000 a 4 000 000 contos. O sector têxtil algodoeiro contribui com mais de metade deste total (2 281 000 contos), sendo também importantes as parcelas dos lanifícios, malhas e confecção.

1.4 - Mão-de-obra e produtividade

O total de operários e empregados atingiu, em 1964, cerca de 140 000, não considerando os alfaiates e costureiras, cujo número é certamente de vários milhares, mas que não foram incluídos nos estudos agora efectuados. O sector algodoeiro conta com 69 000 operários e empregados, ou seja metade do total. É importante verificar que o aumento da população fabril foi relativamente pequeno, de 1953 para 1964, nos dois sectores mais importantes (algodão e lã). Nos lanifícios havia 15000 pessoas em 1.953 e 21 000 em 1964, e no algodão os números equivalentes foram 61 000 e 69 000.
Atendendo à evolução da produção, este facto revela apreciável aumento da produtividade do trabalho, que se estima ter sido da ordem dos 5 por cento por ano durante o período de 1953 a 1964, apresentando nos três últimos anos valores superiores (6 a 7 por cento por ano).
As remunerações atingem totais bastante elevados, sã bem que os salários médios registados ao longo deste período sejam relativamente modestos. Os totais pagos a operários e empregados (não incluída a parte patronal dos encargos da Previdência) atingiram, em 1964, mais de 725 000 contos no sector algodoeiro e mais de 290 000 nos lanifícios. Para o conjunto, o total de remunerações deve ter ultrapassado nesse ano 1 400 000 contos.

1.5 - Equipamento e investimentos

É muito importante o parque de máquinas da indústria têxtil, representando um capital fixo de muitos milhões de contos. De 1953 a 1964 verificaram-se investimentos muito volumosos, que se traduziram por aumento do número de máquinas instaladas e j principalmente, por substituição de equipamento antiquado. Os teares manuais desapareceram quase por completo e assistiu-se à progressiva substituição dos mecânicos pelos automáticos. Existiam em 1964 mais de 4000 teares de lanifícios, e de 240 000 fusos de fiação de lã; no sector algodoeiro registavam-se mais de 1 160 000 fusos de fiação e de 33 000 teares, dos quais 10 000 automáticos; nas malhas contavam-se mais de 5000 teares de vários tipos. Em relação a 1953, verificaram-se aumentos de 30 por cento nos fusos para lã e 15 por cento nos respectivos teares; de 32 por cento nos fusos para algodão e de *6 por cento nos respectivos teares; nos teares de malhas o aumento foi superior a 100 por cento.
Apesar, das volumosas substituições efectuadas, ainda permanece uma grande parcela de equipamento antiquado, que pode avaliar-se grosseiramente pelas máquinas existentes instaladas antes de 1953:

Percentagens
aproximadas

Fusos de lanifícios................. 50
Teares.............................. 67
Fusos de algodão.................... 65
Teares mecânicos de algodão......... 95
Teares automáticos de algodão....... 30
Fusos de juta....................... 26
Teares de juta...................... 33
Teares de malha..................... 40

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Verifica-se, assim, que a necessidade de reequipamento é uma constante desta indústria e constitui mesmo o seu problema mais agudo, face às dificuldades de financiamento que se lhe deparam.
O grau de utilização do equipamento instalado é muito apreciável, situando-se acima dos 80 por cento na generalidade dos sectores mais representativos, e deve notar-se que uma parte muito importante das máquinas em actividade trabalha em regime de três turnos, ou, pelo menos, em dois turnos diários.
Os valores anuais de investimento atingem valores extremamente elevados, que em 1965 se cifraram em mais de 900 mil contos (só máquinas e seus acessórios).
Para fazer face a esta necessidade, a indústria tem contado com o autofinanciamento, com o apoio da banca comercial e com o recurso aos financiamentos da Caixa Nacional de Crédito.
A emissão de acções e obrigações quase não se verifica, por várias razões, entre as quais avulta o cunho familiar da maioria das empresas, sendo raras as que se constituíram em sociedades anónimas. Deve ainda mencionar-se uma forma de financiamento efectivamente usada e que consiste nas facilidades de aquisição de equipamento importado, que, com aval bancário, permitem o pagamento diferido por períodos de cinco e mais anos.

1.6 - Mercados

Os produtos têxteis destinam-se fundamentalmente ao consumo final interno e à exportação.
Já no Plano Intercalar se assinalou o grande incremento das exportações têxteis a partir de 1960, principalmente no sector algodoeiro, e a mudança verificada nos países de destino, que passaram a ser os nossos parceiros na E. F. T. A., os Estados Unidos e o Canadá, em substituição dos tradicionais mercados africanos. Mais recentemente, tomou corpo a exportação de confecções e malhas, aquelas primeiro sob a forma de reexportações de tecidos importados e confeccionados em Portugal. Contudo, o aumento da confecção industrial tende a fazer maior uso dos tecidos portugueses, o que pode vir a provocar alteração sensível na estrutura das nossas exportações têxteis: aumento das confecções e abrandamento do ritmo exportador de fios e tecidos, com o correspondente aumento do consumo interno aparente de tecidos, por virtude dos que se destinam às fábricas de confecção, e não ao consumo final.
No período deste plano vamos assistir, certamente, a muito mais complexo movimento de artigos têxteis, com maior interpenetração de actividades, até aqui bastante independentes entre si.
Em 1964 a exportação absorveu já mais de 60 por cento da produção algodoeira, sendo agora uma determinante imperiosa para este sector. Também os sectores da confecção, da cordoaria e dos bordados da Madeira vivem em estreita dependência da exportação; no sector da juta a exportação atingiu igualmente cerca de 45 por cento da respectiva produção, e nos lanifícios a tonelagem exportada começa a assumir significado do total produzido.
Os valores da exportação de têxteis em 1964 alcançaram grande projecção no conjunto do comércio externo nacional, sendo de registar os valores seguintes como mais significativos:

Algodão e fibras sintéticas e artificiais - 2 333 000 contos, sendo 935 000 para o ultramar;
Cordoaria - 482 000 contos;
Confecção (1965) - 339000 contos, sendo 76000 - para o ultramar;
Malhas - 180 000 contos, sendo 6000 para o ultramar;
Bordados da Madeira - 138 000 contos;
Lanifícios - 129 000 contos, sendo 41 000 para o ultramar.

A exportação total situa-se, assim, na ordem dos 3 800 000 contos, cabendo pouco mais de 1 milhão ao ultramar.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Produção e factores de produção

A característica dominante das indústrias têxteis é serem cada vez mais dependentes dos mercados externos, o que, se por um lado lhes proporciona boas perspectivas de expansão, por outro obriga-as a permanente esforço de actualização de equipamento, de redução de custos de produção, de racionalização de fabricos e de reestruturação comercial, esforço para o qual nem todas as empresas se encontram devidamente preparadas.
É certa a perspectiva de vir a intensificar-se ainda mais a concorrência no mercado internacional, nomeadamente por parte dos chamados países novos, que começam a dispor de indústria têxtil algodoeira e surgem no mercado com «preços políticos», a fim de assegurar um volume de divisas essencial ao seu processo de desenvolvimento. Face aos produtos que predominantemente constituem a produção desses países, parece evidente que a indústria têxtil portuguesa deverá orientar-se progressivamente para o fabrico de artigos de qualidade, e, portanto, de maior preço unitário, com incremento da utilização das novas fibras e processos.
Isso acarretará ainda maior necessidade de reequipamento, como, aliás, se tem vindo a verificar nos sectores têxteis dos outros países europeus, a tal ponto que, em estudo recente da O. C. D. E. (1965), esta organização modificou as suas previsões quanto ao futuro da indústria algodoeira europeia, chamando-lhe agora indústria de capital, e ante vendo-lhe um futuro muito menos sombrio do que lhe profetizara em 1955.
A indústria têxtil nacional está particularmente bem situada para poder vir a consolidar uma posição relativamente forte no panorama têxtil europeu, desde que sejam satisfeitas algumas condições básicas, mormente no que respeita ao financiamento do seu indispensável reequipamento permanente. Em relação aos factores da produção, são de assinalar resumidamente as seguintes condições:

a) Dispor das matérias-primas pelo menos aos preços da concorrência internacional. Entenda-se preços dentro das fábricas, eliminando-se, pois, as taxas de importação e outras que oneram as matérias-primas importadas;
b) Fomentar a cultura do algodão no ultramar, que já corresponde apenas a menos de metade das necessidades da indústria metropolitana, situação que se agravará se vierem a ser instaladas mais fábricas têxteis em Angola e Moçambique. Problema semelhante se põe quanto à cultura de sucedâneos da juta (actualmente comprada no Paquistão e na Tailândia), que parece viável na província de Moçambique. É evidente o interesse destas medidas, quer para a economia das províncias, quer para a balança portuguesa de pagamentos;

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c) Desenvolver intensamente a formação profissional nos ramos têxteis, em todos os níveis da Hierarquia profissional. São particularmente sentidas as necessidades de centros de aprendizagem das profissões básicas nas escolas industriais: fiação, tecelagem, debuxo, afinadores, tintureiros, etc.; criação de cursos médios nos institutos industriais especificamente dirigidos à actividade têxtil, e extensão da especialização têxtil nas escolas superiores de engenharia;
d) Intensificar os esforços já iniciados de promoção do aumento de produtividade nas empresas têxteis. Uma aceleração do ritmo de aumento de produtividade será imperativo da actividade têxtil no período do Plano. Só através da modernização de equipamento, da organização interna da produção e da especialização de fabricos poderá a indústria garantir uma posição de competitividade, tendo em atenção o sentido ascensional das remunerações salariais, que não deixará de se fazer sentir;
e) Os enormes investimentos que será necessário fazer, não só para manter a indústria (já vimos o volume que atinge a simples substituição de equipamento antiquado), mas também para conseguir que a modernização assuma feição generalizada, dão a este assunto importância ímpar, uma vez que são deficientes as condições actuais de recurso ao mercado financeiro. A este respeito, referem-se, entre outras, as seguintes medidas:

Revisão dos critérios de concessão de empréstimos a longo prazo;
Solução do problema dos direitos de importação de equipamento;
Dinamização do sector metalomecânico nacional de fabrico, de máquinas têxteis. É facto que já entre nós se produzem algumas das máquinas necessárias à actividade têxtil, e para o comprovar basta dizer que, em 1964, as compras do sector à metalomecânica portuguesa atingiram a ordem dos 100 000 contos. Convém, no entanto, ponderar que a indústria metalomecânica nacional não poderá, de um ano para o outro, corresponder à procura total, e há máquinas que é duvidoso ela possa vir a produzir nos anos mais próximos. Por outro lado, a indústria metalomecânica portuguesa não tem tido a possibilidade de conceder aos industriais têxteis as facilidades de crédito para aquisição de equipamento que os fabricantes estrangeiros facultam. Prevê-se, no entanto, que esta situação possa vir a alterar-se, a curto prazo, em sentido favorável.

2.2 - Organização do sector

Do ponto de vista da sua estrutura empresarial, é muito diversa a situação no interior do grupo das indústrias têxteis. Assim, ao lado de sectores bastante concentrados, como é o caso dos fabricos de juta, cordoaria, corte e preparação de pêlo, e até de todo o sector têxtil algodoeiro, onde, praticamente, os problemas típicos do subdimensionamento empresarial têm relevo muito pequeno, outros sectores, como os lanifícios e as malhas, apresentam-se com estrutura empresarial muito disseminada, com predominância das unidades pequenas e muito pequenas. Principalmente por motivos de natureza comercial, seria desejável mais elevada percentagem de empresas de maior dimensão. No sector dos lanifícios, para um total de mais de 400 empresas, não atinge três dezenas o número das que têm mais de 150 operários. Nas malhas, de 386 unidades em actividade, em 1964, havia 242 com menos de 20 operários e apenas 5 possuíam mais de 400 operários. Em contrapartida, no sector têxtil algodoeiro o panorama é bastante diferente: no ramo de fiação apenas 40 fábricas possuem menos de 6000 fusos, correspondendo a cerca de 11 por cento dos fusos instalados; nas tecelagens, apesar de haver grande número de unidades com poucos teares, o grau de concentração é elevado, pois as fábricas com menos de 20 teares correspondem apenas a 6 por cento do total de teares, e as que têm menos de 100 teares não vão além de 29 por cento dos teares instalados.
O problema da estruturação dos respectivos sectores e da definição das regras de acesso à indústria tem constituído preocupação dos seus organismos representativos, nomeadamente da Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios e do Grémio Nacional dos Industriais Têxteis, que submeteram ao Governo projectos de regulamentação das indústrias no âmbito da Lei do Condicionamento Industrial.
Ainda no tocante à actividade exportadora do sector, e atendendo à evolução que vai continuar a verificar-se nas zonas de comércio E. F. T. A. e C. E. E. e no Acordo Geral das Tarifas (G. A. T. T.), prevê-se que os organismos profissionais representativos das indústrias do sector sejam chamados a participar nas negociações (bilaterais e outras) em que o Governo Português haja de tratar dos produtos têxteis. Sendo o sentido dessas negociações, quase sempre, o de limitar as nossas exportações, e descendo a grande pormenor no contingentamento, não só do total a exportar, mas das parcelas que vêm a caber a cada tipo de artigos, reconhece-se a necessidade de colaboração dos órgãos que representam as indústrias interessadas.

2.3 - Acção do sector público

Para fazer face aos problemas enunciados, encararam-se as seguintes providências:

a) Facilidades de crédito para reequipamento, em conjugação com as possibilidades e perspectivas do sector metalomecânico de fabrico de máquinas têxteis e em paralelo com um regime de isenções de direitos na importação de equipamento;
b) Revisão das condições de abastecimento de matérias-primas, em ordem a procurar assegurar a sua obtenção pelo menos aos preços da concorrência internacional. Manutenção do regime de draubaque para importações temporárias;
c) Definição de um regime de reduções fiscais para as empresas que exportem acima de uma dada percentagem da sua produção;
d) Comparticipação dos organismos profissionais nos encargos de representação dos exportadores portugueses em feiras internacionais de maior importância para o sector e na realização de estudos de mercados à escala internacional

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que interessem aos principais produtos têxteis portugueses;
e) Desenvolvimento dos esquemas de formação operária e de aprendizagem já em curso e seu alargamento a todas as actividades do ramo têxtil. Organização de cursos médios nos institutos industriais, especialmente destinados à indústria têxtil. Consolidação das especialidades têxteis nas escolas superiores de engenharia;
f) Criação de um instituto especializado para promover a investigação aplicada de que a indústria necessita, de preferência com a participação dos organismos públicos e privados ligados ao sector;
g) Aperfeiçoamento da informação estatística relativa ao conjunto deste sector, principalmente no tocante à cobertura do movimento dos fornecimentos dos diversos ramos uns aos outros e de cada um deles ao exterior.

§ 3.º Projecções da produção e emprego.
Investimentos

3.1 - Previsões para a produção

Em relação ao consumo final interno, deve continuar a verificar-se a reduzida taxa de aumento da procura, que tem sido característica dos últimos anos: 2,5 por cento ao ano para a têxtil algodoeira e valores semelhantes para lanifícios e juta. Com taxas de crescimento possivelmente superiores situar-se-ão as indústrias de confecção, malhas e telas impermeáveis. Como já se assinalou, o incremento da exportação de confecções de tecidos nacionais pode dar origem a aumento aparente do consumo interno de tecidos, principalmente de algodão. Isolando este efeito, o consumo interno de artigos de algodão e fibras artificiais e sintéticas deve situar-se na ordem das 38 000 t em 1968, subindo depois à taxa média estimada de 2,5 por cento ao ano.
Em relação às exportações, as previsões são extremamente aleatórias, quer pela escassez de elementos de análise, quer por se tratar de mercados relativamente recentes e sujeitos a modificações de vulto por via de restrições e contingentamentos, quer ainda pela já visível alteração da estrutura das nossas exportações têxteis, com maior relevo para os artigos confeccionados, e, consequentemente, abrandamento nos produtos primários (fios e tecidos). Assim, é de esperar que as exportações de fios e tecidos de algodão e fibras artificiais não cresçam a taxas anuais superiores a 4 ou 5 por cento. Por outro lado, as exportações de confecção, malhas, juta. cordoaria e mesmo de lanifícios podem vir a crescer a taxas anuais médias entre os 5 e 10 por cento. Nas procuras totais, e em resultado das estimativas indicadas, prevê-se um crescimento à taxa média anual da ordem dos 4 por cento para o sector do algodão e fibras artificiais e sintéticas, enquanto para os lanifícios a taxa média de expansão poderá vir a situar-se nos 5 ou mesmo 6 por cento.
No conjunto do sector têxtil e do vestuário é de admitir um crescimento durante o Plano, traduzido pela taxa anual média de 5 por cento (limite inferior de 4,5 por cento e superior de 6 por cento).
Pela grande importância que assumem na nossa balança de pagamentos, interessa registar os valores absolutos a que provavelmente conduzirá a expansão do sector têxtil algodoeiro e que, expressos em, toneladas das matérias-primas básicas (algodão e fibras artificiais), serão das seguintes ordens de grandeza:

Toneladas

1968................................ 95 000
1970................................ 102 000
1973................................ 115 000

A repartição entre o algodão em rama e as fibras artificiais e sintéticas, aquele fornecido parcialmente pelas províncias ultramarinas e o restante importado do estrangeiro, e as outras fibras a importar e a adquirir à nascente indústria portuguesa da especialidade será muito aproximadamente a seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

É possível, no entanto, que, principalmente a partir de 1970, se verifique maior participação das fibras artificiais e sintéticas em substituição do algodão.

3.2 - Previsão de emprego

Apenas no relatório preliminar da indústria têxtil algodoeira se contêm indicações sobre esta matéria. Com base nelas, e admitindo um aumento de produtividade de cerca de 7 por cento por ano durante o período do Plano, que será verdadeiro imperativo para a indústria, a população fabril (operários e empregados) diminuirá sensivelmente, passando de cerca de 67 000 em 1968 para cerca de 60000 a 61000 em 1973. Nestes números inclui-se uma parcela crescente de empregados (de cerca de 4000 em 1968 para 5000 em 1973) e um correspondente decréscimo de operários.
Quanto aos restantes sectores, é natural verificar-se também alguma redução de efectivos nos lanifícios e aumentos nos sectores da confecção, malhas e tapeçarias, pelo que é possível que o número total (cerca de 140 000 operários e empregados) não sofra grande alteração.

3.3 - Investimentos

Com excepção do sector da juta, que no respectivo relatório apresentou o número de 130 000 contos, como previsão do investimento total a realizar no período de 1968 a 1973, nada de concreto se conhece neste capítulo fundamental das previsões para o Plano.
O sector têxtil algodoeiro apresentou uma estimativa para o aumento da capacidade instalada, que se transcreve:

[Ver Quadro na Imagem]

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Isto significa mais cerca de 50 000 fusos e 1700 teares por ano, não contando os necessários para a renovação do equipamento antiquado.
Dada a escassez de elementos, e na falta de projectos de investimentos individualizados, apresenta-se uma estimativa global dos investimentos em máquinas, baseada nas importações dos anos recentes e na expansão prevista para a indústria durante o período do Plano. Assim, e apenas como indicação de ordens de grandeza, os investimentos em equipamento (excluindo os edifícios e instalações) serão:

Nos anos de 1968, 1969 e 1970 - média anual de 800 000 a 900 000 contos;
Nos anos de 1971, 1972 e 1973 - média anual de 1 100 000 a 1 200 000 contos.

Independentemente da imprecisão destes valores, tem interesse ver qual pode ser a participação da indústria metalomecânica nacional nos respectivos fornecimentos (caso se verifiquem as providências de apoio já referidas):

De 1968 a 1970 - média anual de 150 000 contos;
De 1971 a 1973 - média anual de 260 000 contos.

IV) Indústrias da pasta para o papel, do papel e da imprensa e artes gráficas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito do sector

Este sector abrange as seguintes indústrias:
Classe 27 da C. A. E., compreendendo o fabrico de pasta para papel e cartão e o fabrico de artigos de papel e cartão, com excepção dos trabalhos de qualquer processo de impressão.
Classe 28, grupo 280 da C. A. E., compreendendo a tipografia e encadernação, a gravura, fotografia e estereotipia, as editoriais e os trabalhos tipográficos editoriais e conexos.
Também foi incluída no âmbito deste sector a indústria de pasta solúvel. O conjunto compreendia, em 1954 e 1964, respectivamente 1967 e 2120 unidades, distribuídas como segue:

QUADRO I

Número de unidades em 1954 e 1964

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Inscritos nos grémios respectivos.
(b) Fonte: Instituto Nacional de Estatística.

O número total aumentou de 453 unidades, ou seja cerca de 27 por cento durante o período considerado.
Como perspectiva futura não se afigura conveniente um aumento sensível das unidades existentes, pois na maioria das indústrias consideradas o número é excessivo para a correspondente produção. Assim, a razoável evolução do sector aconselha redução do número de unidades, pela eliminação ou concentração das unidades de produtividade mais baixa.
Apenas no caso de fabrico de pasta para papel se deseja, e espera, um aumento considerável em relação ao número actualmente existente.

1.2 - Produção

O panorama da evolução da produção das indústrias do sector, no período de 1954 a 1964, pode traduzir-se pelo quadro seguinte:

QUADRO II

Evolução da produção bruta

Valores a preços correntes

[Ver Quadro na Imagem]

Indicam-se os valores brutos da produção a preços correntes, não sendo possível referi-los a preços de qualquer dos anos indicados, visto que, por deficiência de elementos estatísticos, não é possível quantificar a produção das indústrias de artigos de papel e cartão e das artes gráficas.
O quadro mostra que a produção bruta aumentou cerca de 150 por cento de 1954 a 1964. Neste último ano, o

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sector tinha um valor acrescentado de 655 000 contos, cabendo à pasta para papel 199 000 contos, ao papel, cartolina e cartão 263000 contos, aos artigos de papel, cartolina e cartão 125 000 contos e à imprensa e artes gráficas 655 000 contos.
Considerando o número de unidades existentes em cada um dos referidos anos, verificou-se um aumento de produção por unidade de 690 para 1380 contos, ou seja cerca de 100 por cento.
Esta tendência, como já se referiu em 1.1, deverá acentuar-se no futuro, e tudo indica que assim aconteça nas diversas indústrias do sector.
Em cada uma das indústrias consideradas, verifica-se o seguinte:

QUADRO III

Aumentos da produção e da produção por unidade, por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

No caso particular da indústria para papel, se se considerarem os anos de 1953 a 1965, vê-se que foi de cerca de 27 vezes o aumento da produção e de cerca de 7 vezes o aumento da produção por unidade.
Há que referir também uma acentuada melhoria, quer em qualidade, quer em variedade da produção.
A produção de pasta, papel e artigos de papel em 1958 e 1964 localizava-se em Aveiro, em proporção superior a 40 por cento.

QUADRO IV

Repartição distrital da produção de pasta, papel e artigos de papel em 1958 e 1964

[Ver Quadro na Imagem]

Quanto às indústrias de imprensa e artes gráficas, os centros produtores mais importantes situam-se no distrito de Lisboa.

QUADRO V

Repartição distrital da produção das indústrias de imprensa e artes gráficas

[Ver Quadro na Imagem]

A evolução da mão-de-obra utilizada no sector consta do quadro seguinte:

QUADRO VI

Evolução da mão-de-obra

[Ver Quadro na Imagem]

Em relação a este quadro, há a referir que apenas os elementos a partir do ano de 1962 podem ser considerados como muito próximos da realidade. Os elementos relativos aos restantes anos baseiam-se nos dados do Instituto Nacional de Estatística. Tais limitações não impedem, porém, de considerar sensivelmente exacta a evolução do pessoal afecto às actividades do sector que consta do quadro precedente.
A mão-de-obra aumentou, pois, cerca de 58 por cento no período considerado, verificando-se que a percentagem do pessoal administrativo e técnico, em relação ao pessoal operário, aumentou de 9 para 12 por cento nos últimos anos.
É a tendência natural, por efeito da mecanização e racionalização do trabalho.

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Este aumento foi, como é natural, mais acentuado na produção de pasta, papel e artigos de papel (9 para 13 por cento), do que na produção da imprensa e artes gráficas (9 para 11 por cento).
O número de pessoas ocupadas em cada instalação variou de 11,5 para 14,5, o que demonstra evolução favorável na grandeza das unidades.
Esta variação foi de 30 para 38 no caso das indústrias da pasta, do papel e de transformação de papel, e de 8,4 para 9,2 para a imprensa e artes gráficas.
Os números mostram também a diferença de grandeza média das instalações de um e de outro grupo de indústrias consideradas.
O sector acusa acentuada falta de mão-de-obra, especialmente de pessoal, qualificado, por insuficiência de preparação técnica e profissional.
Também se deparam dificuldades provenientes da analfabetização nos quadros das fábricas antigas, bem como falta de mentalização industrial a quase todos os níveis.
A perspectiva da evolução da mão-de-obra necessária para acompanhar a evolução da produção melhorará com o aumento do nível educacional que se espera por acção dos sectores responsáveis.
Em 1964 as remunerações pagas pelo sector somaram 533 milhares de contos, dos quais 339 milhares pelas indústrias, de imprensa e artes gráficas, 55 milhares pelas indústrias de fabricação de artigos de papel, cartolina e cartão, 108 milhares pela fabricação de papel, cartolina e cartão e 31 milhares pela indústria de pasta para papel.

1.3 - Equipamento

A capacidade produtiva das instalações vem sendo utilizada em bom grau no caso das indústrias do papel e dos artigos de papel, atingindo 100 por cento no caso da indústria de pasta para papel.
No caso das indústrias gráficas já se não pode dizer o mesmo, visto que se admite não exceder os 60 por cento a utilização da capacidade instalada.
A capacidade produtiva está quase exclusivamente absorvida pela procura interna, salvo no caso da indústria da pasta para papel, em que mais de metade da produção se destina à exportação.
É elevado o grau de obsolescência de numerosas unidades, mas, a par destas, há considerável número de unidades modernas, especialmente no caso do fabrico de pasta para papel.

1.4 - Investimentos e respectivos financiamentos

O valor dos investimentos não é fácil de avaliar, a não ser no caso da indústria de pasta para papel. O quadro a seguir indicado pode dar uma ideia grosseira dos investimentos a preços correntes (contos) dos últimos anos.

QUADRO VII

Investimentos efectuados em 1961-1964 por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

Estes investimentos, nos casos das indústrias de papel e cartão, de artigos de papel e das artes gráficas, representara os investimentos de que é possível ter a certeza, mas, na realidade, devem ter sido bastante superiores. Não é possível obter dados concretos sobre o financiamento do sector. Tem predomínio, no entanto, o autofinanciamento, seguido do recurso à Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, à banca comercial e ainda ao estrangeiro.

1.5 - Investigação

Apenas no que respeita ao aproveitamento de matérias florestais e outras com vista ao fabrico de pastas papeleiras se tem feito alguma investigação, quer no sector privado, quer no sector público.

1.6 - Mercados

O mercado do sector reparte-se pelo consumo final interno, pelos fornecimentos a outros sectores e pela exportação, na proporção de respectivamente, 56, 33, 12 e 11 por cento. Actualmente, a exportação apenas assume particular relevo na indústria de pasta para papel, tendo representado em 1964 cerca de 70 por cento do mercado desta actividade.

QUADRO VIII

Destino e produção em 1964

[Ver Quadro na Imagem]

Nota. - Não se consideraram as existências em armazém.

QUADRO IX

Mercado externo em 1964

Contos

[Ver Quadro na Imagem]

Nota. - A exportação das indústrias gráficas representada por livros e impressos destinou-se em cerca de 90 por cento ao Brasil.

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A importação de produtos concorrentes tem crescido consideràvelmente nos últimos anos, como se depreende do quadro x.

QUADRO X

Importação de produtos concorrentes no período de 1962 a 1964

[Ver Quadro na Imagem]

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Produção

A orientação seguida pelo sector, no que se refere à produção, não tem sido a mesma em todas as indústrias abrangidas.
Na indústria da pasta para o fabrico de papel, logo de início a produção se orientou para a exportação. Com o desenvolvimento da indústria, a partir de 1954, esse critério não se alterou, embora tivesse crescido grandemente o interesse pelo mercado interno.
Idêntica orientação se impõe no futuro, e tudo parece conduzir ao enorme desenvolvimento desta actividade industrial. Verifica-se, no entanto, a necessidade de matérias-primas, quer em quantidade, quer em qualidade e a preço de nível internacional.
Nas outras indústrias do sector apenas se tem procurado a satisfação do mercado interno, e, como este é muito limitado, o seu crescimento tem sido bastante lento. A expansão da indústria das pastas conduzirá necessariamente ao incremento da indústria do papel orientado para a exportação pela integração das unidades destas duas actividades.
Por sua vez, a produção de certos artigos de papel levará a acentuado desenvolvimento da respectiva actividade.

2.2 - Aperfeiçoamento técnico

O aperfeiçoamento tecnológico acusa grau diverso em cada uma das indústrias do sector. Assim, o recente desenvolvimento da indústria da pasta para papel empresta a esta actividade, nas últimas instalações mondadas, uma tecnologia equivalente à das modernas instalações estrangeiras.
A indústria de pasta solúvel, em início de laboração, corresponde certamente ao que de mais moderno há na produção deste tipo de pasta, sendo a primeira instalação a usar como matéria-prima o eucalipto glóbulos.
Na indústria do fabrico do papel não tem havido alterações de grande monta, mas algumas fábricas têm-se apetrechado no sentido de acompanharem as mais modernas técnicas de fabrico.
Também no caso da indústria dos artigos de papel, diversas unidades têm procurado acompanhar a evolução das técnicas produtivas.
Nas indústrias gráficas nota-se notável aperfeiçoamento na actividade litográfica e um início de aperfeiçoamento na tipografia.
Qualquer progresso tecnológico está Intimamente ligado à dimensão da instalação e esta à grandeza dos mercados. Por isso, o uso das modernas tecnologias pressupõe um conveniente dimensionamento e este só é realizável com as possibilidades de alargamento dos mercados.

2.3 - Matérias-primas

A disponibilidade de matérias-primas em quantidade e boas condições de qualidade e preço é fundamental para o desenvolvimento do sector.
A indústria da pasta para papel não tem tido problemas relativos à qualidade das matérias-primas disponíveis, mas tem vivido em permanente preocupação no que diz respeito à futura disponibilidade de madeiras e evolução do seu preço. Também a tem preocupado a insuficiente produção de enxofre no País e o elevado preço do sulfato de sódio nacional. Por sua vez, a indústria do papel queixa-se dos preços das matérias-primas, nomeadamente do preço das pastas nacionais.
Já quanto à indústria dos artigos de papel, bem como às indústrias gráficas, as dificuldades incidem, não só no que diz respeito ao preço, mas também quanto à quantidade e qualidade das matérias-primas disponíveis, nomeadamente no que diz respeito ao papel nacional.
A florestação do País e a produção de produtos químicos constituem problemas cujo desenvolvimento é fundamental para o sector.
A evolução das indústrias da pasta e do papel resolverá certamente, mais tarde ou mais cedo, as deficiências que as outras indústrias do sector pretendem ver resolvidas.

2.4 - Energia

É fundamentalmente eléctrica a energia consumida pelo sector, sendo de produção própria a maioria utilizada pelas indústrias de pasta para papel e de pasta solúvel.
Não se têm registado problemas de disponibilidade, mas sim de irregularidades (cortes), acarretando graves prejuízos, especialmente na indústria do papel.
O preço da energia eléctrica, bem como o do fuel-oil, largamente consumido em algumas indústrias do sector, tem acentuada influência no custo da produção.
O preço do fuel-oil nacional é de 1,6 vezes o preço médio dos países europeus e de 1,9 vezes o preço na Suécia.
O desenvolvimento das indústrias do sector impõe a revisão dos preços destes elementos do custo da produção.

2.5 - Mão-de-obra

O recrutamento da mão-de-obra tem apresentado dificuldades do tipo qualitativo e quantitativo, mas principalmente do primeiro.
A emigração tem grande responsabilidade na escassez da mão-de-obra masculina, mas esta também se deve à falta de pessoal com considerável grau de instrução, quer técnica, quer profissional, quer ainda de mentalização industrial.
Neste sector, como em todos os outros, é a educação, sob todos os aspectos, que contribui para a maior ou menor eficiência do factor humano na produção.
A intensificação da formação técnica e profissional é, pois, ponto basilar, que o sector espera com o mais vivo interesse.

2.6 - Transportes

É variável a influência do custo dos transportes no preço das principais matérias-primas e produtos das indústrias deste sector.

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Essa influência pode, para alguns casos, traduzir-se como segue:

Madeiras - 30 por cento sobre o custo médio no produtor. 17 a 20 por cento sobre o custo quando entregues nas fábricas de pasta.

Pastas - razoável.
Papéis - 100$ a 150$ por tonelada.
Artigos de papel - 5 a 15 por cento.
Imprensa e artes gráficas - pequena.

Nas indústrias da imprensa e editoriais tem considerável importância o custo das taxas de cobrança, que se considera muito elevado.
O transporte mais utilizado é a camionagem, embora o caminho de ferro o seja também em grau considerável.
No caso das pastas destinadas à exportação há que considerar ainda o transporte por via marítima e, portanto, a utilização das instalações portuárias.
É fundamental, pois, o progresso das correspondentes infra-estruturas, nomeadamente no que se refere a material circulante e organização do transporte ferroviário, manutenção e melhoria das estradas mais utilizadas, eliminação de passagens de nível, estabelecimento de novas vias e alargamento e melhoria das instalações portuárias.

2.7 - Investimentos e respectivos financiamentos

O quadro indicado em 1,5 está longe de corresponder à realidade, no que se refere aos investimentos realizados pelo sector. A dificuldade em obter elementos relativos a este aspecto é compreensível. Salvo no caso da indústria das pastas para papel, cujos investimentos representam o estabelecimento de novas unidades, nas restantes indústrias do sector os investimentos significam, na sua maior parte, ampliação ou renovação das instalações existentes. Os valores indicados no citado quadro, dadas as fontes donde foram colhidos, podem considerar-se como os valores mínimos de que se tem conhecimento.
Os investimentos realizados, salvos os que foram aplicados em novas instalações, não seguiram o rumo mais aconselhável na maior parte dos casos, visto não terem sido aplicados com base num planeamento racional.
Os autofinanciamentos predominaram neste sector, mas não é verosímil que assim continue a acontecer, dado que os grandes investimentos necessários ao desenvolvimento das indústrias em causa impõem o recurso ao crédito.
Tem-se feito sentir dificuldade, principalmente por parte das pequenas empresas, no recurso à banca comercial e a outras fontes financeiras, esperando-se que de futuro seja possível melhorar as condições de acesso às referidas pontes.

2.8 - Investigação

Verifica-se que, fundamentalmente no que respeita ao aproveitamento das matérias-primas florestais e outras, com vista ao fabrico de pastas papeleiras, se tem feito alguma investigação, quer no sector privado, quer no sector público.
Existem vários laboratórios oficiais que trabalham em assuntos ligados às actividades do sector, cuja centralização se considera conveniente para promover o desenvolvimento da investigação necessária ao sector.

2.9 - Organização e competitividade do sector

Salvo no caso da indústria das pastas, a estrutura do sector é francamente insatisfatória no que respeita ao número de unidades, impondo-se uma substancial redução no futuro, para que possam atingir um nível de produtividade que lhes consinta custos de produção à escala internacional.
Em face do desarmamento aduaneiro, a estrutura actual não poderá competir, mesmo no mercado interno, com as produções dos países mais desenvolvidos.
Para esse efeito, serão de encarar, entre outras, as seguintes providências:

Regulamentação do aproveitamento florestal;
Concessão de novas licenças para o fabrico de pastas condicionadas a determinados mínimos técnico-económicos e às disponibilidades de matérias-primas (madeira);
Localização das unidades produtoras de pasta condicionadas às possibilidades mais económicas de obtenção das matérias-primas fundamentais (madeiras) e à garantia da não poluição de águas;
Apoio às iniciativas dos industriais papeleiros, no sentido de resolverem os seus problemas, desde que reunam as seguintes condições:

Associação de várias empresas, visando o estudo e racionalização das suas operações comerciais e industriais;
Orientação para a exportação parte da capacidade
adicional que venha a ser instalada;
Completamento das suas actividades com a produção de pastas;

Revisão dos preços da energia eléctrica, dos combustíveis e de algumas matérias-primas;
Revisão das taxas aplicadas pelos CTT nas cobranças relativas a publicações;
Fomento da mão-de-obra especializada;
Negociação de um acordo colectivo de trabalho para a indústria das pastas;
Regulamentação do exercício das actividades do sector ainda não disciplinadas;
Aperfeiçoamento de alguns regulamentos existentes e sua aplicação.

A regulamentação ou a sua falta tiveram nítida influência na estrutura do sector.
Assim, o condicionamento industrial teve meritória influência na actual estrutura da indústria de pastas. Já no que se refere à indústria do papel não é fácil avaliar qual o grau de influência que o mesmo condicionamento poderá ter tido na sua defeituosa estrutura. Igualmente é difícil avaliar da influência que, na estrutura da indústria do papel, tiveram as várias portarias que têm regulamentado a indústria e o comércio do papel, mas o seu exacto cumprimento teria evitado algumas dificuldades que àquelas actividades se deparam quanto ao seu futuro.
Na maior parte das outras indústrias do sector, a ausência de condicionamento ou regulamentação, no período considerado, é responsável pela sua estrutura pulverizada.
As condições de comercialização no mercado interno têm influência de vária ordem nas diversas indústrias do sector.
Na indústria de pastas, a diminuta taxa que onera a importação leva ao nivelamento do preço da produção interna com o preço C. I. F.
Na indústria do papel, e na quase totalidade dos casos, o preço interno é mais elevado do que os preços C. I. F. praticados pelos principais produtores estrangeiros, o que é possível em virtude das consideráveis taxas ainda existentes, aplicáveis à importação.
Nas indústrias dos artigos de papel e das artes gráficas, as vendas são feitas directamente, sendo muito acentuadas as flutuações dos preços de alguns dos produtos, designa-

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damente dos tipográficos. Estas indústrias não sentem a concorrência externa por ser forte a barreira alfandegária.
A conquista dos mercados externos terá de intensificar-se, no caso da pasta para papel, e a indústria do papel deverá confirmar as suas possibilidades durante o período do Plano.
Quanto às outras indústrias, não se espera alteração sensível do panorama actual, salvo numa ou noutra actividade impressora.
As modernas técnicas de organização e de gestão, tais como estudos dos mercados, verificação de existências, racionalização dos circuitos de fabrico, estudo e organização de postos de trabalho e selecção de pessoal, têm sido utilizadas, em maior ou menor grau, nas empresas de maior dimensão e mais actualizadas.
A prática, de elaboração de orçamentos financeiros não está generalizada, mas é já seguida em algumas unidades. Diversas empresas têm organizado cursos rápidos de formação profissional do pessoal e as mais progressivas dispõem de estrutura conveniente e promovem estágios no estrangeiro dos mais directos colaboradores.
A Corporação da Imprensa e Artes Gráficas, como coordenadora dos organismos corporativos do sector, tem promovido e colaborado em iniciativas de formação profissional, organização técnica e gestão (Centros de Formação Profissional de Artes Gráficas de Lisboa e do Porto), estudos e visitas ao estrangeiro.

2.10 - Acção do sector público

As principais medidas a encarar são as que a seguir se enumeram, sendo umas específicas de cada uma das indústrias abrangidas pelo sector e outras comuns a todo o sector:

Relativas à indústria de pastas

1.º Estabelecimento de infra-estruturas adequadas no que respeita à florestação, transporte- e comercialização de madeiras;
2.º Revisão da capacidade de produção da indústria, quer pelo aumento de capacidade das actuais unidades, quer pela concessão de novas licenças condicionadas a mínimos técnico-económicos.

Relativas à indústria do papel

1.º Incentivos ao melhor dimensionamento e especialização das unidades papeleiras, de modo a alcançarem uma estrutura racional e econòmicamente válida;
2.º Estímulo à integração com unidades produtoras de pasta das unidades papeleiras, cujas produções assim aconselhem;
3.º Criação de um centro técnico de investigação da indústria papeleira;
4.º Fomento de especialização pós-universitária de técnicos papeleiros.

Relativas à imprensa e artes gráficas

1.º Providências com vista a facilitar, a exportação de livros e publicações periódicas, como, por exemplo, a fundação e manutenção no Rio de Janeiro de uma Casa do Livro Português, dirigida e administrada pelo Grémio Nacional dos Editores e Livreiros; fundação de Casas do Livro em Angola e Moçambique; encurtamento dos prazos necessários para as transferências de créditos das províncias ultramarinas;
2.º Extensão ao ultramar do serviço de cobranças de assinaturas por parte dos CTT e revisão das taxas pagas por este serviço no continente;
3.º Introdução do estudo aprofundado das técnicas de impressão nos cursos superiores;
4.º Promoção do hábito da leitura nas camadas mais jovens;
5.º Estudo com vista à concessão de facilidades fiscais para a imprensa.

Relativas a todo o sector

1.º Estabelecimento de infra-estruturas adequadas no que respeita a transportes em geral e instalações portuárias;
2.º Revisão de preços dos combustíveis e da energia eléctrica;
3.º Revisão das taxas e direitos de importação aplicados a determinadas matérias-primas;
4.º Revisão dos preços de algumas das matérias-primas produzidas no País;
5.º Formação de pessoal especializado;
6.º Intensificação da normalização, quer dos produtos fabricados pelo sector, quer das matérias-primas por ele consumidas;
7.º Facilidades de recurso ao crédito para investimentos a longo prazo.

2.11 - Projecções da produção

E difícil de prever a evolução da produção do sector, dado que a marcha de cada uma das indústrias consideradas não se processará, com certeza, no mesmo ritmo, durante o período do Plano.
Com base na evolução de 1954 a 1964 e no conhecimento de algumas produções relativas aos anos de 1965 e 1966, estabeleceram-se as seguintes projecções:

[Ver Quadro na Imagem]

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A análise dos projectos indicados no § 4.º prevê um aumento de produção para 1971 da ordem das 400 000 t, mas é natural que este nível só venha a ser atingido em 1973. Sendo assim, a produção em 1973 seria da ordem das 600 000 t. Trata-se, pois, para a pasta, de uma previsão modesta, mas prudente, que pode ser tomada como mínimo a atingir, mas que é de admitir seja excedido.
Também a análise dos projectos relativos ao papel mostra um aumento de produção em 1970 e em 1971 da ordem das 80 000 t, a que corresponderá uma produção de cerca de 230 000 t, sensivelmente a perspectiva prevista.

§ 3.º Projecções dos investimentos e emprego

3.1 - Projecções dos investimentos

A perspectiva de investimentos durante o período do Plano, a partir dos elementos constantes em 1.4, conduzia a valores que estariam longe de qualquer significado. No entanto, a não ser o que se conhece relativamente aos projectos referidos no § 4.º, nenhuma outra base foi possível obter para o efeito.
Sem qualquer juízo de certeza, pode fazer-se uma previsão formulando as seguintes hipóteses:

Os investimentos na indústria das pastas terão o seu máximo nos dois primeiros anos do período do Plano e descerão depois para nível inferior ao dos anos de 1961 a 1964;
Os investimentos na indústria do papel terão o seu máximo no primeiro ano do período do Plano e cairão depois para um nível correspondente à média dos anos de 1963 e 1964;
Os investimentos na indústria dos artigos de papel baixarão nos últimos anos do período do Plano para um nível correspondente à média dos anos de 1963, 1964 e 1965;
Os investimentos nas indústrias gráficas conservarão o nível que atingiram em 1965.

Investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

3.2 - Projecção do emprego

De análogas dificuldades se reveste a projecção da mão-de-obra durante o período do Plano. A sua evolução durante o período de 1954-1964 e o andamento da produção durante o período do Plano permitem prever a seguinte evolução:

Pessoal empregado

[Ver Quadro na Imagem]

Esta projecção é válida na medida em que for válida a projecção feita para a. produção, bem como a hipótese de que se mantêm, quer a proporcionalidade entre o pessoal administrativo e técnico e o pessoal operário, quer entre o pessoal e a produção.
A evolução técnica conduzirá, necessariamente, a um aumento de produtividade, e, portanto, a projecção feita deve pecar por excesso. No entanto, como se considera que a previsão da produção acusa erro por defeito, julga-se que o desvio que daqui advém para a mão-de-obra será, em certa medida, compensado pelo que resulta do aumento da produtividade.
Daí poderem tomar-se estes números como próximos da realidade, embora se espere acentuado aumento de produtividade na indústria de pastas.

§ 4.º Projectos

Os serviços oficiais competentes apenas têm conhecimento dos projectos de empreendimentos sujeitos a condicionamento. Mesmo para esses projectos, os elementos existentes são deficientes, e nada impede que os planos iniciais sejam alterados.
Por meio de uma sondagem junto das empresas, foi possível estabelecer os quadros que se seguem.

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Projectos na indústria de pasta de papel

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Admite-se que virão a ser unidades produtoras de papel, o que virá influenciar consideràvelmente os projectos da indústria de papel

Projectos na indústria de papel

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Investimento condicionado à possibilidade da sua integração com uma unidade produtora de pastas.
(b) Operários.
(c) Técnicos.

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Projectos na indústria de artigos de papel

[Ver Quadro na Imagem]

Estes são, pois, os projectos que se julga virem a ser realidade e que contribuirão para a evolução do sector durante o período do III Plano de Fomento. Alguns, como se vê, já investiram em 1966 e 1967, outros iniciarão os seus investimentos durante o Plano.
É possível que o início da laboração das instalações a que se referem estes projectos, num ou noutro caso, venha a ser retardado em relação à data que o plano de investimento deixa prever, mas os quadros atrás indicados não deixam dúvidas de que os dois primeiros anos (1968 e 1969) do período do Plano serão anos de grandes investimentos no sector.
E também natural que uma ou outra iniciativa, ainda não perfeitamente definida, se atrase de modo a iniciar a laboração já depois de findo o período do Plano. Acrescenta-se que novos projectos poderão vir a concretizar-se em breve, nomeadamente no sentido de uma maior integração vertical, com reflexos benéficos no desenvolvimento das indústrias de papel e artigos de papel. Por este motivo, convirá acompanhar as actividades do sector, estimulando a concretização dos projectos que visem em particular a exportação de produtos de maior grau de elaboração a partir das matérias-primas e semiprodutos nacionais.

V) Indústrias químicas e dos derivados do petróleo e do carvão

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

A delimitação das actividades consideradas nesta síntese fez-se segundo as classificações da C. A. E. e a tabela de classificação dos estabelecimentos industriais (Diário do Governo n.º 73, 1.ª série, de 28 de Março de 1966).

1.1 - Produção bruta

O valor global da produção em 1964, a preços de mercado, atingiu cerca de 6 300 000 contos, assim distribuídos:

a) Indústrias químicas - 5 milhões de contos;
b) Indústrias dos derivados do petróleo bruto e do carvão - 1 300 000 contos.

O quadro seguinte (quadro I) faculta uma análise pormenorizada relativamente à produção dos diversos sectores. Observe-se, porém, que os valores de produção indicados incluem apenas as produções destinadas a outros sectores distintos daqueles que são abrangidos no âmbito das indústrias químicas.
Fez-se a dedução das produções consumidas dentro da própria indústria química. Apurou-se, assim, que a indústria química portuguesa consumiu em 1964 matérias-primas fornecidas pela própria indústria num total de 900 000 contos, o que significa ter o valor aditivo das produções individualizadas do sector atingido cerca de 5 900 000 contos.
O total corrigido que se indica no final do quadro difere em 86,7 milhares de contos da soma dos totais (I) e (II), pela dedução dos valores dos produtos químicos de fabricação nacional consumidos na indústria de refinação de petróleo e dos produtos desta indústria utilizados como matéria-prima de indústria química. Refira-se ainda que na produção de adubos se encontram também incluídos os ácidos azótico e fosfórico.

QUADRO I

Indústrias químicas e dos derivados do petróleo e carvão

Valor da produção

[Ver Quadro na Imagem]

No período de 1960 a 1964, a taxa de crescimento da indústria química foi de 9,5 por cento, com realce para as indústrias do azoto (amoníaco e adubos azotados), fibras artificiais e sintéticas, especialidades farmacêuticas, e tintas, vernizes e lacas. As indústrias que praticamente tomaram corpo no período em análise - detergentes e resmas sintéticas - apresentam também crescimento muitíssimo elevado, em termos de unidades físicas, característico da fase da arranque.

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Frise-se, ainda, a quase estacionariedade que se verificou no campo dos adubos fosfatados (por motivo da diminuição do consumo interno de fósforo devido a factores de conjuntura) e dos óleos vegetais e sabões (por virtude da concorrência de outros produtos de substituição, como é tendência geral no Mundo).
Por último, a diminuição de produção de sulfato de cobre e enxofre traduz igualmente evolução marcada no campo dos pesticidas em favor de produtos mais novos de substituição.
Para a indústria de derivados de petróleo e carvão, calculou-se, com base em unidades físicas, uma taxa média de crescimento de 3,4 por cento para o período referido.
Para avaliar a importância e desenvolvimento alcançado pela indústria química portuguesa no contexto das indústrias químicas europeias, pode tomar-se como medida a capitação anual da produção, que, nos países europeus da O. C. D. E., é da ordem dos 2300$ por habitante (à excepção de Portugal e Espanha).

QUADRO II

Capitação da produção global das indústrias químicas

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Produção: Portugal - relatórios dos sectores (incluíram-se apenas as produções dos sectores abrangidos no âmbito das estatísticas da O. C. D. E.); outros países - L'Industrie Chimique, O. C. D. E., 1963-1964 o 1964-1965.

População: Principaux Indicateurs Économiques, O. C. D. E., Dezembro do 1965. Câmbio usado.: 1 dólar - 28$80.

O valor da capitação de produção da indústria química portuguesa representava em 1964 cerca de um quarto do valor dos países da O. C. D. E. Apenas na indústria dos sabões a capitação do nosso país é a mais elevada, sendo em contrapartida a mais baixa nas indústrias da soda cáustica, cloro, plásticos e fibras artificiais e sintéticas.

1.2 - Custos de produção

A estrutura de custos de produção da indústria química e da indústria dos derivados do petróleo bruto e do carvão pode avaliar-se pelo quadro que a seguir se apresenta:

QUADRO III

Estrutura dos custos de produção (1964)

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Instituto Nacional de Estatística - Estatística Industrial.

Nota. - Incluem-se indústrias que representam mais de 90 por cento do valor global de produção.

As matérias-primas representam em quase todas as indústrias químicas uma percentagem muito elevada do valor de produção; apenas nas indústrias do amoníaco, fibras artificiais e sintéticas, fósforos, especialidades farmacêuticas, perfumes e produtos de higiene não atingem 50 por cento do valor de produção.
A mão-de-obra representa cerca de 12,5 por cento do valor de produção, as amortizações, cerca de 8,8 por cento, e a energia, cerca de 5 por cento. Salienta-se neste último caso a indústria do amoníaco, em que a contribuição da
energia é superior a 30 por cento. Por outro lado, os encargos de amortização mais elevados correspondem às indústrias que exigem maiores investimentos, com relevo para:

Amoníaco - 39,4 por cento do valor de produção.
Ácido sulfúrico - 22 por cento do valor de produção.
Especialidades farmacêuticas - 13 por cento do valor de produção.
Fibras artificiais e sintéticas - 11,1 por cento do valor de produção.

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1.3 - Valor acrescentado

Com base nos elementos de custo referidos, é possível elaborar o quadro que a seguir se apresenta:

QUADRO IV

Valor acrescentado (1964)

[Ver Quadro na Imagem]

Extrapolando para os sectores omissos, verifica-se que o valor acrescentado da indústria química em 1964 representou aproximadamente 7,2 por cento do valor acrescentado da indústria transformadora (a preços correntes), e o valor acrescentado pela indústria dos derivados do petróleo e do carvão, cerca de 1,2 por cento do mesmo valor, num total de 8,4 por cento para o sector das químicas e derivados do petróleo e do carvão.

1.4 - Matérias-primas e energia

O valor das matérias-primas consumidas na indústria química em 1964 (quadro v) atingiu cerca de 2700 milhares de contos, representando os fornecimentos metropolitanos cerca de 61 por cento, dos quais mais de metade foi imputada aos sectores da própria indústria química.
No quadro que se apresenta discrimina-se por actividades de origem o valor das matérias-primas consumidas em 1964.

QUADRO V

Origem e valor das matérias-primas consumidas (1964)

Valores em milhares de contos

[Ver Quadro na Imagem]

O quadro acima representa apenas uma aproximação dos valores input para a constituição de uma matriz das indústrias químicas; está longe de ser exaustivo.
Além dos fornecimentos feitos pela própria indústria química do País, verifica-se uma predominância de matérias-primas importadas, sobressaindo entre estas os produtos orgânicos de síntese. A participação interna de matérias-primas (abstraindo dos fornecimentos da própria indústria química) é dominada por uma proveniência agrícola, principalmente gema de pinheiro, oleaginosos, figos e melaços, o que reflecte predomínio de indústrias tradicionais.
De entre as matérias-primas importadas em 1964, 22,1 por cento provieram do ultramar português.
A energia total consumida nas indústrias em causa ascendeu em 1964 a 288 milhares de contos, sendo 63 por cento respeitantes a energia eléctrica e 37 por cento a combustíveis. As indústrias químicas absorveram 255 milhares de contos, com uma participação mais elevada de electricidade (70 por cento), e a indústria dos derivados do petróleo e do carvão, 31 milhares de contos, com incidência mais forte (87 por cento) dos combustíveis líquidos.

1.5 Mão-de-obra e produtividade

QUADRO VI

Estrutura do emprego (1964)

[Ver Quadro na Imagem]

Nota. - Na indústria dos derivados do sódio e do cloro apenas foi possível obter o total de pessoal empregado, não se encontrando o mesmo discriminado por categorias; deste modo, a agregação feita no presente quadro só inclui a referida indústria na coluna do total.

Em 1964 o volume de pessoal ocupado pela indústria química e pela dos derivados do petróleo bruto e do carvão era, respectivamente, de cerca de 22 000 e 1200 pessoas. Existem certamente omissões e diferenças de critério relativamente ao pessoal não afecto directamente à actividade fabril, mas pode aceitar-se como válida a ordem de grandeza dos totais obtidos (vide quadro v).
Relativamente à qualificação e estrutura etária, sabe-se que 50 por cento do pessoal possuem apenas a instrução primária, e igual percentagem deverá ter menos de 40 anos de idade.
A contribuição da mão-de-obra (incluindo encargos sociais) para o produto da indústria química ultrapassou em 1964 os 690 000 contos, o que corresponde a mais de 12 por cento do valor da produção. No mesmo ano, os valores recolhidos para a indústria dos derivados do petróleo e do carvão rondaram os 50 000 contos, representando cerca de 4 por cento do valor da produção. De acordo com as informações apuradas, verifica-se que a produtividade média das indústrias químicas em 1964 foi de cerca de 272 contos por empregado. A indústria de refinação de petróleos apresenta uma produtividade superior: 1475 contos por empregado. Em termos de valor acrescentado, ter-se-á para a indústria química cerca de 95,4 contos por empregado e para a dos derivados do petróleo 281,2 contos por empregado.

1.6 - Investigação

A actividade da investigação na indústria química portuguesa é pouco relevante. Não existe uma tradição, nem nas escolas, nem na indústria, orientada no sentido da

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investigação ou desenvolvimento das técnicas e processos químicos. Os sectores caracterizados por uma participação tecnológica reduzida no seu processo de fabrico, e que são numerosos entre nós, não podem, por sua natureza, impulsionar uma actividade de investigação significativa. Por outro lado, as instalações mais complexas, sendo fornecidas por empresas de engenharia estrangeiras e utilizando processos de fabricação patenteados por firmas internacionais, apoiam todo o desenvolvimento no know-how e na organização dos fornecedores.
São de apontar, no entanto, alguns movimentos incipientes de investigação, particularmente no campo da química orgânica fina (por exemplo, produtos químicos farmacêuticos) e na aplicação dos produtos (por exemplo, experimentação de adubos através de ensaios de campo e em vasos), mas não se conhece a extensão destes trabalhos, nem os resultados positivos que foram atingidos.

1.7 - Mercados

Cerca de 80 por cento da produção da indústria química foram absorvidos pelo mercado interno, sendo os principais sectores consumidores a agricultura e a própria indústria química, com uma absorção, cada uma delas, de cerca de 15 por cento da produção total. As exportações cifraram-se, em 1964, em cerca de 1100 milhares de contos, o que representa acréscimo de 25 por cento relativamente a 1963. As importações foram, em 1964, cerca de 2,5 vezes superiores às exportações e acusaram diminuição de 17 por cento em relação a 1963. O quadro seguidamente inserto dá-nos uma ideia da repartição do produto da indústria química; pode-se por ele avaliar que a parte mais significativa da indústria química se destina a consumo directo, o que caracteriza, até certo ponto, uma indústria pouco evoluída, onde dominam as actividades que se 1 inserem na parte final dos ciclos produtivos.

QUADRO VII

Repartição do mercado da indústria química (1964)

[Ver Quadro na Imagem]

Nota. - Classes: 31 - Indústrias químicas; 32 - Derivados do petróleo e do carvão; 33 - Produtos minerais não metálicos; 34 - Metalúrgicas de base; 35 - Fabricação de produtos metálicos; 36 - Máquinas, excepto eléctricas; 37 - Máquinas eléctricas; 38 - Material de transporto; 39 - Transformadoras diversas.

1.8 - Características gerais do sector

Uma apreciação sobre a actual situação da indústria química portuguesa e sua evolução recente permite fazer ressaltar os aspectos seguintes:

a) A indústria de síntese orgânica, que representa actualmente o sector mais progressivo no panorama mundial da indústria química, tem em Portugal representação diminuta. Como produtos de base ou intermédios, apenas se fabrica desde há poucos anos o cloreto de vinilo. Os restantes produtos (zinebe, sulfureto de carbono, ftalatos, D. D. T. e tricloroetileno) não são dos mais representativos de uma indústria orgânica desenvolvida e utilizam na sua maioria matérias-primas importadas. Na química orgânica fina desenvolvem-se algumas iniciativas, principalmente no campo dos produtos farmacêuticos.
b) A indústria química mineral, que constitui o sector mais importante da indústria química portuguesa e para a qual existe já entre nós certa experiência e tradição, está fundamentalmente ligada ao fabrico dos produtos intermédios (ácido sulfúrico, amoníaco, ácidos nítrico o fosfórico, carboneto de cálcio) destinados à produção de adubos. Em menor escala, desenvolveu-se também há alguns anos a indústria de electrólise do cloro e a fabricação de alcalis (carbonato de sódio e soda cáustica).
c) Grande parte da indústria química portuguesa apoia-se no aproveitamento de produtos naturais, constituindo em geral actividade pouco dinâmica e com fracas perspectivas de expansão

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futura. E o caso dos óleos não alimentares, resinosos, álcool, óleos essenciais, produtos amiláceos, bem como do ágar-ágar e outros produtos marinhos.
Certo número de factores conjunturais pode limitar a expansão destas indústrias, como seja a concorrência de produtos de síntese, que dominam cada vez mais os campos de utilização dos produtos de origem animal, e os encargos de mão-de-obra das operações de colheita ou recolha das matérias-primas, como gravame do custo de produção. Continuará no entanto a verificar-se, para determinadas aplicações específicas, preferência pelos produtos de origem natural.
d) Outro aspecto característico importante é o que resulta de um predomínio de actividades de formulação, cujo objectivo é a preparação de produtos finais. Como geralmente é reduzida a tecnologia dos processos de fabrico, houve lugar ao aparecimento de grande número, de unidades produtoras, pelo que se reconhece presentemente necessidade de reorganização em certos sectores.
e) No que respeita aos polímeros de síntese e sua transformação em produtos semi-acabados, a indústria química portuguesa inclui o fabrico de resinas sintéticas (de polimerização e policondensação) e a produção de fios e fibras artificiais e sintéticas.
No campo das resinas, as primeiras iniciativas foram marcadas pelo aproveitamento dos recursos naturais - a colofónia -, seguindo-se a produção de resinas de condensação.
Os produtos de polimerização são mais recentes na nossa indústria e limitam-se praticamente a duas classes - acetato de polivinilo e PVC -, exigindo tecnologia mais complexa e capacidade de produção mais elevada.
A produção de fibras sintéticas pode considerar-se na infância e o seu fabrico limita-se por enquanto às operações de spinning de nylon e de poliéster.
f) A indústria de refinação de petróleos tem-se desenvolvido fundamentalmente como produtora dos combustíveis corrente (líquidos e gasosos), tendo iniciado há poucos anos o fornecimento de algumas fracções à indústria do amoníaco. A expansão em curso inclui a produção de óleos lubrificantes e prevê a obtenção de outras matérias-primas para a indústria química.

1.9 - Evolução da produção

Em Portugal, ao contrário do que se passa na maioria dos países da O. C. D. E., a indústria química tem crescido a ritmo inferior ao da indústria no seu conjunto.
Ao analisar-se a evolução de produção nos diferentes sectores da indústria química, pode adoptar-se o esquema de classificação preconizado por alguns autores, que compreende:

Os produtos químicos tradicionais destinados à indústria;
Os produtos químicos tradicionais destinados à agricultura;
Os produtos químicos novos já referidos.

A evolução dos dois primeiros grupos de produtos está Intimamente relacionada com a evolução da economia em geral, enquanto os produtos novos (fundamentalmente plásticos e fibras sintéticas) acusam crescimento muito superior ao da indústria no seu conjunto.
Entre os produtos químicos de base para a grande indústria figuram a soda cáustica, cloro, carbonato de sódio, ácido sulfúrico, amoníaco, fenol, metanol e ureia.
Na maioria dos países que dispõem já de uma indústria química bem estabelecida, o ritmo de produção destes produtos acompanha geralmente de perto a evolução dos índices de produção industrial.
O ritmo de produção dos produtos destinados à agricultura - fundamentalmente os pesticidas, adubos e os produtos intermediários do seu fabrico (como ácido sulfúrico e amoníaco) - está evidentemente relacionado com a expansão da actividade agrícola de cada país, mas podemos afirmar que no momento presente esse ritmo é mais determinado nos países tradicionalmente produtores de adubos, pelas oportunidades de exportação que se têm apresentado nos últimos anos.
No sector dos pesticidas, tem-se operado em todo o mundo evolução marcada no sentido da substituição dos produtos tradicionais (como o sulfato de cobre) por outros produtos orgânicos activos. A actual evolução na produção de pesticidas em Portugal reflecte grandemente essa tendência, mas é ainda pouco significativa a produção de compostos orgânicos activos.
A própria actividade de formulação tem crescido de forma lenta, pois há ainda alguns domínios de aplicação onde os pesticidas não penetraram.

1.10 - Aperfeiçoamento tecnológico

Sendo a indústria química uma das mais dinâmicas actividades do mundo moderno, importa avaliar até que ponto a indústria portuguesa tem aproveitado os aperfeiçoamentos tecnológicos e os resultados da investigação científica, que se situam na base daquele dinamismo de evolução. As consequências dessa evolução fazem da indústria química uma indústria em constante mutação, quer por virtude de novos processos de fabrico, quer pela descoberta de novos produtos de síntese, quer ainda por motivo das pesquisas tecnológicas, que se reflectem na construção do equipamento e no automatismo do fabrico.
Uma das consequências mais sensíveis do progresso técnico que afecta a indústria química, e mais familiares nos meios económicos, ligados a este ramo da indústria, é a que se refere às dimensões unitárias e se traduz muitas vezes pelo conceito tão corrente de «capacidade mínima económica».
Em determinados casos (por exemplo, amoníaco, etileno) a incidência da capacidade instalada sobre os custos de fabrico é tão acentuada que se tem assistido ultimamente a uma verdadeira corrida às grandes capacidades. Assim, no caso do etileno, enquanto há poucos anos eram normais unidades de 50000 e mesmo 20 000 t/ano, tem-se hoje por antieconómica a consideração de novas instalações com capacidade inferior a 100 000-200 000 t/ano, e estão já em montagem unidades de 400 000 t/ano.
Para se apreciar de forma genérica a indústria química portuguesa sob o ângulo do aperfeiçoamento tecnológico, poderemos considerar dois grandes grupos de sectores:

Indústrias de participação tecnológica intensiva (ácido sulfúrico, amoníaco, adubos, cloro, alcalis e cloreto de vinilo);
Indústrias cujo processo de fabrico é menos complexo, com elevada incorporação de matéria-prima e mão-de-obra.

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Para o primeiro grupo de indústrias, pode-se afirmar que não existe no País qualquer grave problema de obsolescência tecnológica que mereça ser referido. Os produtos mais atingidos pela evolução tecnológica têm sido o amoníaco, o cloreto de vinilo, a ureia e os adubos nítricos. As instalações existentes encontram-se bem equipadas a procuram utilizar as técnicas mais recentes. As principais obsolescências verificadas são de natureza mais económica do que técnica e resultam de problemas de dimensão.
Para o segundo grupo de indústrias, dado que o equipamento necessário pode ser bastante rudimentar e a tecnologia de fabrico é facilmente acessível, desenvolveu-se atracção generalizada de iniciativas, donde resultou em muitos sectores uma disseminação excessiva de instalações, com as mais diversas capacidades e tecnologias. Os progressos verificados nestas indústrias provêem da evolução em determinados equipamentos e da tendência para a utilização de processos contínuos e sistemas automáticos de produção. Estão neste caso os sectores das tintas, sabões, amideiros, óleos e resinosos.

1.11 - Matérias-primas

Os recursos metropolitanos em matérias-primas com utilização na indústria química são bastante escassos e não se vêem grandes possibilidades de que esta situação possa ser francamente melhorada. Excluindo as pirites e os produtos minerais mais correntes (calcário e sal), apenas a agricultura, pecuária e silvicultura contribuem como fornecedores internos da indústria química.
A participação das províncias ultramarinas no fornecimento de matérias-primas é já hoje significativa, especialmente em produtos naturais, como sementes de oleaginosas e matérias amiláceas.
Há fortes esperanças (e algumas iniciativas foram já tomadas) de que possam vir a ser explorados outros recursos no nosso ultramar. A produção de petróleo foi já iniciada e está em curso um programa de desenvolvimento da sua prospecção; as perspectivas em fosforites aparecem também com certo optimismo. Existem, portanto, razões que permitem considerar poder o ultramar português vir a assumir papel preponderante no futuro desenvolvimento da nova indústria química. As actuais condições de transportes dos produtos ultramarinos agravam, no entanto, significativamente, os preços das matérias-primas, por os fretes que aplica a nossa marinha mercante serem mais elevados do que os internacionais. Esta situação encontrará por certo solução natural à medida que se for desenvolvendo e renovando a nossa frota e se intensifiquem as trocas comerciais com o ultramar.

1.11.1 - Matérias-primas naturais

Dentro dos produtos minerais com interesse para a indústria química, excluindo o sal e o calcário, os recursos da metrópole limitam-se praticamente aos produtos sulfurosos (pirites), dispondo-se de reservas suficientes para satisfazer as necessidades desta indústria.
Ainda dentro das matérias-primas minerais, merece referência o sal, base da fabricação do cloro e da soda.
O cloro, a seguir aos hidrocarbonetos, constitui o produto base de maior interesse para o desenvolvimento da química orgânica. Têm sido anunciadas ultimamente algumas descobertas de jazigos de sal-gema no território metropolitano. É de extrema importância que sejam conhecidas as suas possibilidades de exploração, de modo a constituírem um apoio de matéria-prima necessária ao desenvolvimento futuro da indústria de electrólise.
Outro produto mineral de extrema importância para a indústria química portuguesa é a fosforite, que tem sido importada de Marrocos, e em relação à qual parece haver grandes probabilidades de o subsolo angolano conter reservas substanciais. Torna-se necessário estabelecer um programa intensivo de prospecção, de forma a conhecerem-se os jazigos existentes e as condições da sua exploração.
O petróleo bruto que se refina no País é proveniente, na quase totalidade, de países estrangeiros. As explorações ultramarinas foram já iniciadas e, se bem que a produção seja por enquanto ainda limitada, parece haver indícios animadores, quer em petróleo, quer em gás natural. É de prever que os trabalhos de prospecção, que agora se intensificam com o regime de concessões que o Governo tem vindo a estabelecer, consigam nos próximos anos resultados positivos.
O petróleo é um dos principais agentes de produção da indústria química, quer sob a forma de combustível, quer como matéria-prima para os produtos petroquímicos. Haverá, no entanto, que rever o problema dos fretes nacionais do petróleo bruto, visto não ser possível estabelecer-se no País uma indústria petroquímica se a matéria-prima for onerada com um valor de frete superior ao das escalas internacionais.

1.11.2 - Produtos de origem animal e vegetal

Para a nossa indústria química assume relevância a gema do pinheiro e os produtos fornecedores de matérias gordas.
A produção de resinosos representa papel preponderante pela sua incidência na balança comercial; a longo termo, porém, a sua posição pode ser reduzida pela expansão de produtos de síntese e pelos encargos crescentes de mão-de-obra necessária à extracção da goma. Espera-se que, através de uma regulamentação dos processos de compra de gema e pela promoção da resinagem das matas nacionais pela ruptura da tensão criada no sistema oferta-procura, se possam resolver os problemas existentes sobre fornecimentos da matéria-prima.
Relativamente às matérias-primas oleaginosas e amiláceos, o seu abastecimento é feito no ultramar, e o principal problema deriva do peso dos fretes da nossa marinha mercante (a incidência do transporte no preço das sementes postas na fábrica é de cerca de 12 por cento).
Dentro dos produtos naturais, caberá ainda uma referência às matérias-primas utilizadas na fabricação do álcool, que têm merecido a atenção do Governo. Criada recentemente a Administração-Geral do Álcool, espera-se que da sua actuação se verifique evolução favorável no panorama das matérias-primas alcoogénicas.

1.11.3 - Produtos químicos de base

É ainda relativamente limitada a gama de produtos químicos de base que se fabricam no País, pelo que a participação de fornecimentos externos é bastante significativa. Os fornecimentos externos são onerados com encargos de transporte e taxas alfandegárias, que os tornam bastante mais caros do que os que a indústria estrangeira encontra nos mercados locais. Não será possível à indústria nacional, como se compreende, satisfazer, a curto prazo, integralmente, as necessidades da enorme gama de produtos químicos para a própria indústria química. Haverá, no entanto, tendência progressiva para aumentar essa participação, e deverá fomentar-se por meios directos a fabricação nacional de produtos intermediários e de base, sem-

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pre que as condições de produção se possam aproximar das que são apresentadas a nível de concorrência internacional.

1.12 - Energia

1.12.1 - Energia eléctrica

É no sector da electroquímica que a participação da energia é mais acentuada. Actualmente existem neste sector unidades de produção de amoníaco, cloro e carboneto de cálcio, sendo, contudo, de importância primordial encarar com atenção as condições de fornecimento de electricidade à indústria do cloro, por ser a única produção para a qual se não encontrou ainda processo comercialmente viável que dispensasse a via electrolítica, e por se tratar de produto fundamental para determinados sectores químicos e outras actividades industriais, nomeadamente a celulose. Na eventual impossibilidade de generalizar a redução do preço da electricidade a toda a indústria química, convirá encarar a possibilidade de além da produção do cloro, beneficiar daquela redução a quota-parte das produções químicas que se dirigem para os mercados de exportação.

1.12.2 - Combustíveis

Os combustíveis utilizados na indústria química limitam-se praticamente ao fuel-oil, que tem entre nós preço oficialmente fixado superior ao que se pratica na Europa e nos Estados Unidos, o que tem criado limitações à expansão e competitividade da indústria.
Convirá, pois, encarar a revisão daquele preço, de forma que, através da redução de taxas e fretes, o fornecimento de combustíveis à indústria possa ser feito em condições idênticas às das indústrias europeias com que terá de competir. Este problema de taxas e fretes, que se aplica a quase todos os produtos petrolíferos, é particularmente importante para a indústria petroquímica, onde aqueles produtos, além de se utilizarem como combustíveis, constituem matéria-prima de fabrico.

1.13 - Mão-de-obra e produtividade

Embora não existam dificuldades de natureza quantitativa, elas apresentam-se, no entanto, no recrutamento de mão-de-obra qualificada em quase todos os sectores. A formação profissional é feita em geral nas empresas, sendo as menos produtivas que lutam com maiores dificuldades, dentro do condicionalismo do mercado do trabalho, visto que, dispondo de menor capacidade para elevar os salários, vêem os seus efectivos reduzirem-se em benefício de empresas nacionais mais progressivas ou de empresas estrangeiras. A falta de cursos profissionais também agrava o problema. Dado que o problema da insuficiência de mão-de-obra qualificada se reflecte na elevação dos salários, espera-se que os ganhos de produtividade por melhoria das técnicas e equipamentos consigam estabelecer o equilíbrio económico.
As melhorias de produtividade conseguem-se com o aumento da escala de produção, com modernização e automatização, com melhor organização, ou ainda com melhor qualificação profissional.
As diferenças de produtividade entre empresas nacionais são explicadas por diferenças de capacidade e de especialização. As nossas empresas de maior capacidade e tecnicamente mais evoluídas têm produtividades médias comparáveis às das empresas do mesmo sector em países mais industrializados.

1.14 - Investimentos e financiamento

Afigura-se, apesar da escassez de dados, que a relação entre os investimentos e a produção, na maior parte dos sectores, é relativamente baixa.
Quanto ao financiamento dos empreendimentos da indústria química portuguesa, verifica-se que, de maneira geral, tem havido algumas dificuldades. Em relação aos problemas de natureza fiscal que se deparam aos industriais, parece ter especial relevo o da dupla tributação suportada pelas empresas estrangeiras que queiram associar-se às nacionais, o que pode ser impeditivo da realização de investimentos em condições satisfatórias.

1.15 - Estrutura e possibilidades concorrenciais do sector

Em Portugal, a par de elevado número de pequenas empresas, existem outras de maior dimensão, abarcando entre as suas diversificadas produções os produtos químicos de base. A estrutura existente, tal como nos países tradicionalmente mais industrializados, encontra-se presentemente em evolução, que se orienta no sentido de:

Concentração em unidades de grande dimensão;
Integração de fases do processo de fabrico.

Não obstante a pequenez do nosso mercado, sempre que ela atingiu dimensão aceitável, as empresas actuaram no sentido de renovar e ampliar as suas instalações, com vista a acompanhar a referida evolução. São exemplo disso as indústrias do ácido sulfúrico e do amoníaco, produtos básicos da fabricação de adubos.
Grande parte das paraquímicas, cuja produção se encontra disseminada por elevado número de pequenas instalações, tem sido objecto de particular atenção, estando em funcionamento comissões especializadas para o estudo da reorganização desses sectores.
As indústrias mais jovens, como as resinas sintéticas e as fibras artificiais, apresentam ainda uma estrutura que não se pode considerar estável, esperando-se venha a ser bastante alterada no decurso dos próximos anos pelas solicitações dos mercados consumidores internos, constituídos pelos sectores dos têxteis e dos plásticos.
Examinando os elementos do comércio externo, verifica-se que os sectores que dominam o volume total de importações dizem respeito às fibras artificiais e sintéticas, às resinas sintéticas, às especialidades farmacêuticas e aos pigmentos e corantes, que no seu conjunto representam 60 por cento dos produtos da indústria química importados. Como existem boas possibilidades de se desenvolver entre nós a produção de todos estes sectores, exceptuando, talvez, o campo dos corantes, pela extrema diversidade de produtos, espera-se que seja reduzido o déficit actualmente existente.
Quanto às exportações, os resinosos, adubos e especialidades farmacêuticas contribuem com 75 por cento do valor total da exportação da indústria química.

§ 2.º Providências legais e administrativas

A legislação do condicionamento industrial satisfez os objectivos a que se destinava, mas, na actual conjuntura da indústria, torna-se necessária a revisão dos diplomas que mais interferem com a forma de expansão da actividade industrial, no sentido de ocorrer às exigências do desenvolvimento.
Preconizam-se, para tal efeito, as seguintes providências:

1) Estudo permanentemente actualizado dos projectos de desenvolvimento da indústria química do

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País, mediante um sistema de planeamento permanente, com a activa colaboração do sector privado.
2) Apreciação dos projectos privados nos seguintes aspectos:

Inventariação e disponibilidades de matérias-primas;
Interligação com outros sectores; Reflexos no emprego, na produtividade e na
economia nacional; Capacidades mínimas económicas;

3) Estímulo das realizações programadas, mediante, entre outras providências:

Incentivos fiscais;
Facilidades de crédito;
Apoio à exportação e à importação de matérias-primas e equipamento;
Promoção de condições favoráveis nos fretes marítimos ; Auxílio a programas de investigação ou de fomento da prospecção e produção de matérias-primas;

4) Definição dos projectos complementares da iniciativa privada necessários ao desenvolvimento;
5) Reajustamento da acção de conjunto, por exame permanente da concretização dos projectos.

Nos domínios do crédito, fiscalidade e apoio à exportação, encaram-se, designadamente, as seguintes medidas:

Revisão das condições de concessão de crédito a longo prazo;
Regulamentação de diplomas legais sobre crédito à exportação e respectivo seguro;
Fomento da exportação, quer pelo tratamento fiscal favorável das actividades de exportação, quer mediante a acção dos serviços oficiais competentes no estrangeiro;
Revisão dos direitos de importação das matérias-primas que não se fabricam no País e do sistema de aplicação de taxas que actualmente vigora para determinados produtos de base;
Concessão de facilidades às indústrias químicas consideradas essenciais ao fomento da economia nacional, quanto à importação de equipamento que a indústria nacional não possa fornecer em condições satisfatórias.

Prevêem-se ainda medidas de carácter geral tendentes à modernização e desenvolvimento da indústria, seja por melhoramento dos meios de transporte e condições portuárias, seja por adopção de técnicas modernas de gestão e direcção.

§ 3.º Projecções

Numa indústria tão diversificada como é a química, julga-se que o tratamento da análise projectiva por cada sector individualizado constitui método mais adequado do que o assente na correlação de índices globais com outros indicadores económicos.
Verifica-se que a evolução do consumo aparente dos produtos da indústria química no período de 1960 a 1964, referido a valores de cada ano, acusou o crescimento anual médio de 10 por cento.
As importações subiram no mesmo período (1960-1964) a uma média de 10 por cento por ano, taxa muito próxima da que acusou a exportação (11 por cento anual), mas o volume de importações é ainda 2,5 vezes superior ao das exportações.
Atendendo a que as estimativas de exportação são bastante aleatórias, se se confirmar a hipótese que se apresenta, verificar-se-á, ao longo do período de 1964-1973, o crescimento médio anual de exportações de 9,5 por cento, que pode considerar-se bastante satisfatório.
Analisando a evolução do consumo interno no período de 1960-1964, observa-se que os produtos químicos inorgânicos, que acusaram ultimamente uma expansão de 15 por cento, deverão tender para baixa sensível de crescimento, por não existir ainda no País certo número de indústrias suficientemente desenvolvidas que solicitem o consumo substancial desses produtos.
O ácido sulfúrico poderá encontrar novas diversificações de utilização, para além dos adubos, pela viabilidade de se virem a produzir alguns produtos que dele necessitam como agente de fabrico (bióxido de titânio, sulfato de alumínio, tripolifosfato de sódio).
Quanto ao amoníaco, a capacidade que está a ser instalada deverá ser acompanhada da concretização de esquemas que levem à expansão do fabrico de adubos azotados, além de se ter contado nas infra-estruturas estabelecidas com a possibilidade de exportação de amoníaco.
O sulfato de sódio acusará também forte incremento, como componente necessário à indústria da pasta de celulose.
Dado que grande número de produtos químicos inorgânicos está ligado a enorme gama de utilizações (fundamentalmente industriais), prevê-se que no conjunto o mercado destes produtos acompanhe o ritmo de crescimento da actividade industrial.
Dentro da nossa estrutura, a maioria dos produtos orgânicos é utilizada directamente ou como elemento de transformação que não envolve a sua conversão, por síntese, noutra categoria de produto.
A expansão deste sector só poderá assumir relevo significativo quando se instalarem as unidades de transformação que solicitem o consumo dos produtos considerados como matérias de base em cada uma dessas etapas.
Ainda que algumas iniciativas venham a concretizar-se, não se espera que no período deste III Plano de Fomento a indústria de síntese orgânica possa assumir expansão notória. Por tal motivo, a estrutura dos mercados desses produtos não deverá alterar-se profundamente, parecendo razoável aceitar uma taxa de crescimento semelhante à verificada no passado recente.
Para o sector de pigmentos e corantes, admitiu-se, em valor, um crescimento de consumo superior ao que se registou nos últimos anos, não só pela expansão dos consumidores tradicionais (tintas, estampagens e tinturaria de têxteis), mas também da indústria de plásticos, que fará sentir os seus reflexos no consumo de pigmentos.
A produção de resinosos continuará a dirigir-se fundamentalmente para a exportação.
Um dos sectores que durante o próximo período se apresenta com melhores oportunidades de expansão é o que compreende os polímeros de síntese (plásticos, borracha sintética e fibras químicas), visto ter ultrapassado a fase de introdução, à qual se seguiu em diversos países um período de crescimento muito intensivo, longe ainda da saturação.

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Dentro dos produtos para a agricultura -adubos e pesticidas-, assistir-se-á possivelmente a evolução diferente. da acusada pelos índices do período passado. Enquanto para os pesticidas se espera crescimento relativamente satisfatório, não se encontraram para os adubos razões que pudessem fazer estimar um aumento de consumo superior ao que figura no quadro adiante inserto.
A intensificação da taxa de acréscimo do produto agrícola, prevista no capítulo respectivo deste Plano, deverá reflectir-se na expansão do consumo interno de adubos, que assim deverá acusar níveis mais elevados que os do passado, durante o período do Plano.
Por outro lado, como se prevê que as necessidades mundiais de adubos continuarão a crescer em ritmo acelerado e se verifica da parte da indústria portuguesa uma
orientação no sentido de não abrandar uma expansão que lhe foi possível adquirir, admite-se que prossigam os esforços no sentido de continuar a desenvolver as suas exportações, como compensação das limitações que encontre no mercado interno em relação às suas possibilidades produtivas.
Nas actividades relacionadas com os produtos de lavagem - óleos não alimentares, sabões e detergentes - continuarão a acentuar-se, durante o período do Plano, os reflexos já marcados na estrutura do consumo, onde o campo tradicional dos sabões cederá a sua posição em favor dos detergentes de síntese.
Espera-se que o consumo de produtos farmacêuticos continue a crescer em ritmo satisfatório que possibilite à indústria nacional o prosseguimento da expansão até agora verificada.

QUADRO VIII

Perspectivas de evolução dos mercados da indústria química

[Ver Quadro na Imagem]

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1662-(244) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

As alterações de estrutura que poderão ocorrer durante este III Plano de Fomento têm de ser encaradas de acordo com a natureza específica de cada sector.
Assim, as indústrias mais antigas, consideradas de maior intensidade capitalista, não deverão alterar fundamentalmente a sua estrutura actual, podendo, no entanto, em certos casos, justificar-se mais estreita colaboração dos industriais, no sentido de ajustarem os seus planos de desenvolvimento a um esquema mais consentâneo com as necessidades da concorrência externa.
Para os sectores tradicionais, onde o investimento não constitui factor determinante, é de esperar que continue a observar-se um movimento de concentração, com vista a eliminar as unidades de menor dimensão em benefício das instalações de maior capacidade e mais bem apetrechadas;
Outro aspecto que interessa referir é o movimento de integração, que se espera venha a acentuar-se durante o próximo período, não só no sentido de as empresas existentes passarem a estar interessadas na exploração ou fabrico dos produtos de base, como também no de desenvolverem as produções que actualmente exploram.
No quadro que se segue apresentam-se estimativas do crescimento da produção do sector durante o período do Plano.

QUADRO IX (a)

Estimativas do crescimento da produção

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Neste quadro incluem-se as produções que constituem fornecimentos do sector à própria indústria química.

De acordo com os valores apurados, parece aceitável uma taxa anual média de crescimento da ordem dos 9 por cento, isto é, entre o máximo de 9,5 por cento, que poderá ser atingido se se concretizar certo número de iniciativas, e o mínimo de 8,5 por cento.

§ 4.º Investimentos

A indústria forneceu indicações, quanto a investimentos no período do Plano, que podem resumir-se, consoante as várias fases de estudo em que se encontram, do modo seguinte (em milhares de contos):

Indústrias químicas:

Projectos.................................. 1 760
Anteprojectos.............................. 2 609
Ideias de desenvolvimento.................. 1 030

Indústrias dos derivados do petróleo e do carvão:

Refinação de petróleos (investimentos
incluídos também no sector energia):

Projectos.................................. 1 040
Anteprojectos.............................. 350

Do total de investimentos indicados pelo sector, verifica-se que sòmente cerca de 1800 milhares de contos correspondem a empreendimentos em fase de projecto, o que de certo modo pode justificar-se pelo dilatado número de anos que medeia entre o final do Plano e o período de colheita dos diversos elementos informativos junto da indústria.
Quanto aos anteprojectos, embora em certos casos bastante indefenidos, é provável que alguns passem à fase de projecto e, subsequentemente, à fase de realização ainda no período considerado.
O acréscimo de produção bruta nas indústrias químicas previsto para o período do III Plano, com base numa taxa média de crescimento da ordem dos 9 por cento, é de cerca de 5000 milhares de contos.

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Conclui-se, portanto, que, se se atender apenas aos empreendimentos já em fase de projecto, em relação aos quais se prevê um aumento de produção da ordem dos 2000 milhares de contos, eles não poderão satisfazer o crescimento considerado.
Considera-se, por isso, indispensável o estudo dos restantes empreendimentos, no sentido de se realizarem os anteprojectos programados e se definirem novos projectos, baseados nas ideias de desenvolvimento encaradas ou noutras oportunidades que se apresentem viáveis.
Note-se, no entanto, que, mesmo com o ritmo de 9 por cento ao ano, a indústria química portuguesa, embora crescendo a cadência semelhante à verificada nos últimos anos nos países europeus da O. C. D. E., continuará muito desfasada em capitações, e seria necessária marcha mais acelerada para atingir em 1973 capitações semelhantes à média dos países em causa.
Torna-se, pois, necessário e urgente definir quais as necessidades prioritárias da indústria química face aos restantes sectores económicos. Isto implica a criação de estruturas e meios que possibilitem o conhecimento permanente e actualizado da respectiva posição em relação aos outros sectores de actividade que mais directamente interferem com o seu desenvolvimento.
Sistematizando os objectivos fundamentais a alcançar pela indústria química durante o Plano, podem eles enunciar-se assim:

1.º Redução do ritmo de crescimento das importações mediante a intensificação da produção interna. Neste sentido, a indústria química portuguesa deverá preparar-se para enfrentar a concorrência, cada vez mais forte, por parte dos exportadores estrangeiros;
2.º Crescimento da produção de forma equilibrada, de modo a corrigirem-se algumas das desproporções existentes entre os vários sectores industriais;
3.º Preparação das bases necessárias a um desenvolvimento mais significativo, que se espera ter boas oportunidades no período imediatamente posterior ao III Plano, nomeadamente através da criação de estruturas orientadas para o campo da investigação;
4.º Redução dos custos de produção através de medidas, como as de concentração, que permitam maior escala de fabrico e obtenção de condições que possibilitem a aquisição das matérias-primas e de outros bens de produção a preços inferiores aos actualmente praticados;
5.º Desenvolvimento do mercado de consumo através da expansão de outras actividades relacionadas com a indústria química e de uma acção concreta da própria indústria no sentido de fomentar, em quantidade e qualidade, a utilização de produtos químicos;
6.º Aproveitamento de todas as oportunidades no sentido de cada vez maior abertura aos mercados externos.

VI) Indústrias dos produtos minerais não metálicos, com excepção dos derivados do petróleo e do carvão

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

O âmbito do sector foi fixado em correspondência com a classe 33 da classificação das actividades económicas portuguesas por ramos de actividades, C. A. E., e compreende: a fabricação de produtos de barro, vidro, porcelanas e faianças, cimento, fibrocimento, cal hidráulica e lousa. Os fabricos de artigos de cimento e marmorite também aqui incluídos são muito dispersos e não se pôde obter para eles estudo pormenorizado, pelo que, em alguns pontos deste trabalho, o respectivo valor é referido ao do conjunto do sector.

1.2 - Produção e valor acrescentado

a) Produção

O quadro I dá, para cada grupo de indústrias, o valor bruto da produção, a preços de 1963, em vários anos, e a taxa de crescimento no período de 1953-1964, tendo em atenção os elementos recolhidos pelas comissões de trabalho.

QUADRO I

Valor da produção e taxa de crescimento no período de 1953-1964

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não inclui os artigos de cimento e marmorite.

No barro vermelho a produção bruta subiu de 117 000 contos em 1953 para 300 000 contos em 1964, ou seja a uma taxa de 9,5 por cento no período considerado.
A produção de tijolos por metro quadrado de superfície dos pavimentos dos edifícios construídos passou de 213 kg em 1953 para 302 kg em 1964.

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No que se refere à produção de telhas e artigos similares, este indicador manteve-se, nos dois anos considerados, em cerca de 60 kg/m2.
O aumento da percentagem de tijolos na construção deve-se sobretudo à expansão de alvenarias de tijolo e à generalização da sua aplicação noutros elementos construtivos, sobretudo nos pavimentos em vigotas pré-fabricadas. A indústria de construção civil e obras públicas é praticamente o único sector de consumo do barro vermelho.
Os distritos de Aveiro, Leiria e Lisboa produziram, de 1953 a 1964, cerca de 60 por cento da produção total do País.
A produção bruta de vidro aumentou à taxa média de 7,2 por cento no período de 1953-1964. As percentagens, em 1964, para as principais divisões da produção vidreira são as seguintes: garrafaria, 31,4 por cento; artigos de uso doméstico, 35,5 por cento; vidro plano, 20,8 por cento, e artigos diversos, 13,3 por cento.
No mercado interno, parte considerável da produção - cerca de 66 por cento - é destinada a outras indústrias, constituindo embalagens, bem como à construção civil e obras públicas.
A produção encontra-se concentrada em três zonas, com as seguintes percentagens, em 1964: zona norte, 20 por cento; zona centro, 60 por cento; distrito de Lisboa, 20 por cento.
A capitação da produção vidreira duplicou no período de 1953-1964, passando de 4,2 kg para 8,3 kg.
Nas porcelanas e faianças, a taxa de acréscimo da produção bruta, segundo os elementos fornecidos pela indústria, foi de 9,4 por cento, devendo-se tal incremento sobretudo à maior aplicação de azulejos na construção.
Em 1964, as percentagens da produção por produtos em relação ao total foram as seguintes: louça doméstica, 28,4 por cento; louça sanitária, 15,5 por cento; azulejos e acessórios, 34,4 por cento; porcelanas e faianças, 9,1 por cento; artigos decorativos, 9,7 por cento; mosaicos, 1,2 por cento, e produtos sanitários, 1,3 por cento.
Cerca de 90 por cento da produção estão localizados nos distritos de Aveiro, Coimbra, Lisboa e Porto.
O cimento acusou a taxa de acréscimo de 8 por cento no período de 1953-1964. A capitação da produção passou de 90 kg para 200 kg no mesmo período.
A indústria encontra-se localizada nos distritos de Coimbra, Leiria, Lisboa e Setúbal, concentrando-se nestes dois últimos cerca de 72 por cento da produção total.
A produção de fibrocimento tem crescido lentamente, sòmente com o acréscimo de 36 por cento entre 1953-1964.
Segundo informação do sector, a produção de cal hidráulica cresceu no período de 1953-1964 à taxa de 3,6 por cento, mas é possível que essa informação peque por defeito, porque outras fontes indicam um crescimento à volta dos 7 por cento.
A actividade da indústria transformadora, no tocante a mármores, granitos, rochas similares, lousas e cantarias, encontra-se mal delimitada relativamente à indústria extractiva e com deficiente cobertura estatística.
O seu valor tem vindo a aumentar sensivelmente, em especial devido à exportação.

b) Valor acrescentado

Os quadros II-A e II-B dão respectivamente, com base nos dados da contabilidade nacional, o valor acrescentado e a sua estrutura para as indústrias do sector. Em virtude de os elementos dos quadros I e II-A provirem de fontes distintas e não compatibilizadas, não é possível tirar conclusões quanto a níveis, sendo entretanto utilizáveis as que se referem à estrutura e ao ritmo de crescimento no período considerado.

QUADRO II-A

Valor acrescentado a preços constantes de 1963

Grupos de Indústrias

[Ver Quadro na Imagem]

QUADRO II-B

Estrutura do valor acrescentado

[Ver Quadro na Imagem]

No período de 1953-1964, a contribuição do sector para o produto industrial bruto subiu à taxa de 7,1 por cento.
Para o ano de 1964, e no conjunto do sector, cabem às indústrias de cimento 41 por cento do valor acrescentado, às do vidro, 20 por cento, e às das porcelanas e faianças, 17 por cento.
Durante o período em análise a estrutura do sector não se alterou sensivelmente.

1.3 - Comércio externo

As exportações das diversas indústrias dos produtos minerais não metálicos alcançaram em 1964, a preços correntes, cerca de 364,1 milhares de contos, correspondentes a 460,1 milhares de toneladas. Em 1953, as exportações tinham alcançado cerca de 154,4 milhares de contos - preços correntes - para um volume físico de 174,2 milhares de toneladas.
O aumento em termos físicos, entre 1953 e 1964 (cerca de 164 por cento), não foi acompanhado de acréscimo paralelo em valor, o que se deve, fundamentalmente, a quebra no valor unitário da exportação do cimento, que, dos 0,41 milhares de escudos por tonelada em 1953, passou para 0,26 milhares de escudos por tonelada em 1964.
O conjunto dos produtos das indústrias das porcelanas e faianças exportados sofreu, igualmente, redução no seu

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valor unitário (2 contos por tonelada em 1953, 1,1 contos por tonelada em 1964).
Das indústrias consideradas, a que maior percentagem ocupa no valor total das exportações no período de 1953-1964 tem sido a indústria do vidro.
Nos anos limites do período considerado, a sua participação cifrava-se em cerca de 40 por cento.
A indústria de cimento surge, de 1953, a 1964, como a segunda mais importante no capítulo das exportações (38,4 por cento do total em 1953 e 28 por cento em 1964), tendo, no entanto;, registado, como já se referiu, acentuada diminuição de vendas no exterior, nomeadamente a partir de 1957.
Este quadro coincide com o abastecimento dos mercados das províncias ultramarinas em cimentos de produção local e com maior dependência dos mercados internacionais, onde a colocação do cimento reveste carácter aleatório e os preços praticados sofrem os efeitos da concorrência internacional.
A indústria das porcelanas e faianças, ao longo do período, dado o aumento acentuado que registaram as suas exportações, nomeadamente no último ano, alcançou o terceiro posto.
Para dar uma ideia mais clara da evolução da estrutura das exportações, registam-se, para três anos do período em causa, as posições relativas das diversas indústrias com base nos valores das exportações correntes.

QUADRO III

Estrutura das exportações das indústrias dos produtos minerais não metálicos

[Ver Quadro na Imagem]

A análise da distribuição regional das exportações, a partir de 1960, mostra crescente independência dos mercados ultramarinos para a colocação dos produtos das indústrias do subgrupo.
Em 1960, 45,8 por cento das exportações foram destinados às províncias ultramarinas, contra 28 por cento em 1964.
As exportações para a E. F. T. A. estabilizaram-se em cerca de 13 por cento, enquanto para a C. E. E., Estados Unidos e Canadá sofreram ligeira redução.
Para os restantes países registou-se nos últimos anos aumento das exportações, com bastante relevo para a Espanha.
As importações de produtos minerais não metálicos pouco ultrapassaram, em 1964, a centena de milhares de contos.
Ao longo do período de 1953-1964, o sector de maior participação no conjunto das exportações foi o vidro. Em 1964 aquela participação alcançou 63 por cento.
Por ordem decrescente de participação no conjunto das importações, seguem-se-lhe a indústria do barro vermelho, porcelanas e faianças e cimento. As indústrias da cal hidráulica e fibrocimento registaram valores de reduzida importância, não se verificando quaisquer importações de produtos de lousa. A posição relativa das importações das diversas indústrias consideradas no período de 1953-1964 não se modificou, tendo-se apenas verificado alterações nos níveis de participação nos vários anos do período.
Em 1964, mais de metade das importações de produtos das indústrias do sector tiveram como origem países do Mercado Comum, seguindo-se a E. F. T. A. com cerca de 30 por cento.

1.4 - Emprego, produtividade e remunerações

a) O nível de emprego, no período de 1953-1964, segundo elementos fornecidos pela indústria, é o constante do quadro que segue.

QUADRO IV

Efectivos

[Ver Quadro na Imagem]

b.) A produtividade do trabalho nas diferentes indústrias do subgrupo foi medida através do quociente do valor bruto da produção pelos efectivos. A série do valor da produção foi calculada a preços constantes de 1963.

QUADRO V

Produtividade (1953-1964)

Valor bruto da produção por pessoa ocupada (contos/efectivo)

[Ver Quadro na Imagem]

c) As remunerações pagas no conjunto das indústrias do subgrupo, para as quais se dispõe de elementos, alcançaram, em 1964, o montante de 468,8 milhares de contos (a preços de 1963). Em relação a 1953, verificou-se o aumento de cerca de 85,4 milhares de contos, medido em termos reais.
Interessa agora fazer a comparação entre a evolução das remunerações por pessoa ocupada e o andamento da produtividade.

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QUADRO VI

Índices com base em 1953

[Ver Quadro na Imagem]

Verifica-se que, ao longo do período, para um aumento de 112,3 por cento do valor bruto da produção por pessoa ocupada - que atingiu em 1964, no conjunto das indústrias do subgrupo, 67,1 contos por efectivo -, a capitação das remunerações sofreu o acréscimo de 71,3 por cento.

QUADRO VII

Evolução do valor bruto da produção por pessoa ocupada e das remunerações por pessoa no período de 1953-1964

[Ver Quadro na Imagem]

1.5 - Investimentos

Os relatórios das diversas comissões nem sempre mencionaram os montantes investidos no período de 1953-1964, devendo observar-se que: os elementos fornecidos são a preços correntes; no sector dos cimentes não se dispôs de dados quanto a uma das empresas; para as porcelanas e faianças indicaram-se estimativas, sujeitas a rectificação, relativas a cerca de 90 por cento das empresas, em 1964; a comissão do vidro apresentou estimativas para o período de 1959-1964, e a da cal hidráulica, para os anos entre 1961 e 1964.
Para as indústrias do barro vermelho e lousas não foi possível obter qualquer informação.

Quadro VIII

Montante de investimentos referidos nos relatórios de comissões para o período de 1953-1964 (preços correntes)

[Ver Quadro na Imagem]

A soma dos diversos valores indicados para 1963 atinge 122,8 milhares de contos.
O nível apresentado pelas estimativas do Instituto Nacional de Estatística para o total do subgrupo (209 milhares de contos) ultrapassa aquela soma em 86,2 milhares de contos.

1.6 - Perspectivas

Nas indústrias do sector, a iniciativa privada mostra-se suficientemente activa para promover o seu desenvolvimento sem o recurso a outros meios. Conta-se com os incentivos que o Plano preconiza para a generalidade da indústria e com a concretização das medidas de política nele encaradas.
No barro vermelho, um regulamento de exercício da indústria recentemente publicado tem actuado favoravelmente em benefício da sua estrutura e da qualidade dos produtos. Embora com as cautelas que tal tipo de legislação requer, há que reconhecer as vantagens da sua aplicação.
Na indústria vidreira, a produção do vidro plano tem melhorado as suas instalações, mas espera-se que no período do III Plano possa garantir maior capacidade competitiva. A produção de vidro plano liso tem vivido há longo período sem concorrência interna nem externa, benefício este cuja contrapartida deverá traduzir-se na capacidade para enfrentar, na devida altura, a concorrência externa, tanto no País como em relação à exportação.
A produção de embalagens de vidro é feita em unidades de dimensões sensivelmente inferiores às das congéneres estrangeiras; esta circunstância, aliada à baixa especialização, deverá criar-lhe dificuldades logo que a protecção aduaneira seja menor. O aumento da procura actuou nos últimos anos em benefício da dimensão das unidades que progrediram na sua automatização, mas receia-se que numa maior integração de mercados se revelem ainda insuficientes as medidas tomadas e haja que proceder a consideráveis investimentos numa altura em que idêntico

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fenómeno se passa quanto a muitas outras indústrias e a capacidade de financiamento total do País seja insuficiente.
Na produção de vidro para usos domésticos, há uma gama de fabricos que pode ser produzida em grandes séries por processos automáticos ainda não utilizados no País. É de admitir que no decurso do Plano sejam tomadas resoluções sobre o assunto que levem a caminhar naquele sentido.
A produção de vidro neutro entra na gama de vidros especiais de alto teor em sílica e a sua maior utilização é sob forma de tubo. Também nesta modalidade a competição europeia disporá de unidades de grande nível técnico e dimensional, que não encontram de momento contrapartida no nosso país.
Para a indústria vidreira, o Estado dispõe de orgânica própria de assistência técnica, através de uma fábrica-escola e de um departamento de investigação dependentes do Instituto Nacional de Investigação Industrial, que poderão prestar-lhe valioso auxílio.
No cimento, o esforço de apetrechamento do sector, traduzido em vultosos investimentos, vem conduzindo a índices de produtividade comparáveis, em alguns casos, aos dos países mais evoluídos. As unidades instaladas nos últimos vinte anos correspondem, geralmente, às concepções que actualmente se adoptam. As unidades mais antigas estão desactualizadas e têm papel de unidades de reserva.
A dimensão das actuais fábricas é inferior à das suas congéneres europeias, mas sabe-se que nesta indústria as economias de escala têm de ser ponderadas à luz das economias de transporte, entre centros produtores e consumidores; o estímulo do poder competitivo e o ajuste de preços a nível internacional poderão ser obtidos, se necessário, através de conveniente ajustamento da protecção pautal.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Providências de política industrial

Encaram-se, entre outras, as seguintes:

a) Definição de orientações em matéria de construção de edifícios e obras públicas, que proporcione certa continuidade de produção às indústrias de materiais de construção ou que, pelo menos, evite as descontinuidades verificadas no período de 1953-1964;
b) Desenvolvimento da política de energia (eléctrica e de combustíveis), no sentido de favorecer a competitividade externa dos produtos nacionais, em conformidade com o calendário do nosso desarmamento aduaneiro;
c) Revisão do Decreto-Lei n.º 45 331, de 28 de Outubro de 1963, que instituiu o regime de licenciamento para os veículos de carga particulares e o imposto de circulação, com vista à ponderação dos encargos que recaem sobre as indústrias em que as matérias-primas têm volumes ou pesos consideráveis;
d) Medidas de fomento das exportações, tais como as incluídas no capítulo do Plano sobre comércio externo e outras providências adequadas;
c) Desenvolvimento da produtividade; intensificação da formação profissional de dirigentes, técnicos e operários; aperfeiçoamento da organização fabril. O capítulo do Plano sobre educação e investigação insere as principais disposições a adoptar quanto àquela formação;
f) Facilidades de crédito (cf. capítulo «Financiamento»);
g) Maior desenvolvimento das actividades de investigação e de normalização;
h) Estudo e execução de um programa de assistência técnica à indústria e aplicação de incentivos fiscais apropriados.

§ 3.º Projecções

3.1 - Produção

As previsões da produção, no período do Plano, foram obtidas a partir da extrapolação das tendências do passado, corrigidas de acordo com as opiniões dos industriais. Se bem que nalguns casos se tivesse comparado o andamento da produção de algumas modalidades do sector com a evolução prevista para outros sectores de destino, não foi possível apoiar sistematicamente esse trabalho num quadro de relações intersectoriais.
O quadro IX indica os níveis de produção previstos para 1973 e as taxas adoptadas.
Neste quadro não figuram os artigos de cimento e marmorite, cujo valor acrescentado representava em 1954, como se viu, 5 por cento em relação ao total do sector.

QUADRO IX

Valor bruto da produção (previsão para 1973)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não inclui artigos de cimento e marmorite.

A taxa de acréscimo da produção admitida para o barro vermelho é inferior à da tendência, porque esta correspondeu a um período em que se operou uma mudança no sistema de construção, como atrás se referiu.
Também quanto às porcelanas e faianças, por motivo análogo, se tomou uma taxa inferior à tendência.
Para a cal hidráulica procedeu-se inversamente, quer por se admitir que a taxa de 3,6 por cento do passado deve estar subavaliada, quer por se aceitar que o nível de produção a atingir em 1973 implica uma taxa de 7,9 por cento.

3.2 - Projecções do investimento e do emprego

3.2.1 - Investimentos

A indústria forneceu as seguintes indicações quanto a investimentos no período do Plano:

Milhares de contos

Grupos de indústrias:

Barro vermelho........................... 280
Vidro.................................... 385

280

385

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Milhares de Contos

Porcelanas e faianças......................... 150
Cimento....................................... 1 320
Fibrocimento.................................. 18
2 153

Entrando em linha de conta com possíveis correcções a introduzir nas referidas modalidades e considerando ainda as não incluídas na relação anterior, estima-se o montante global de investimento para o período de 1968-1973 na ordem dos 2500 milhares de contos.
Utilizando o coeficiente capital-produto obtido para o período de 1953-1965, e partindo do acréscimo esperado durante o período do Plano para o produto do sector, a formação bruta de capital fixo necessária para aquele período é sensivelmente igual aos 2500 milhares de contos estimados pelo sector.

3.2.2 - Produtividade e emprego

As taxas de acréscimo da produtividade (quociente do valor bruto da produção por pessoa ocupada) adoptadas para os diferentes grupos de indústrias do sector e o seu valor em 1973 encontram-se resumidos no quadro x:

QUADRO X

Produtividade (1964-1973)

Contos/efectivo

[Ver Quadro na Imagem]

A adopção das taxas de produtividade para o período de 1964-1973 baseou-se numa análise de pormenor sobre as modernizações que será possível introduzir nas indústrias do sector, mas não se pode deixar de referir que as previsões dependem muito das condições económicas existentes no momento em que se estabelecem e as que vigoram actualmente não são as mais favoráveis.
A determinação dos níveis de emprego em 1973 foi efectuada com base nas previsões dos valores da produção para aquele ano e nos valores da produtividade que se espera atingir, admitindo-se que a duração do trabalho se mantém sem alteração. A previsão de emprego para 1973 é de 36 633 pessoas ocupadas.

QUADRO XI

Efectivos

[Ver Quadro na Imagem]

VII) Indústrias metalúrgicas de base

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

No subgrupo "Indústrias metalúrgicas de base", a que corresponde a classe 34 da C. A. E., agrupam-se as "Indústrias básicas do ferro e do aço" (grupo 341) e as "Indústrias básicas de metais não ferrosos" (grupo 342).
Ao grupo 341 pertencem sectores com acentuada relevância 1.1 a indústria, principalmente como produtores de bens intermediários, de que dependem importantes actividades industriais, nomeadamente a metalomecânica e a construção, civil e naval.
No grupo 342 estão incluídos os metais não ferrosos e suas ligas.

Indústrias metalúrgicas de base:

Indústrias básicas do ferro e do aço:

Siderurgia.
Fundição.
Ferro-gusa.
Ferro-ligas.
Trefilagem e tubos de aço.

Indústrias básicas de metais não ferrosos:

Cobre e latão.
Alumínio.
Chumbo.
Zinco.
Estanho.
Carboneto de tungsténio.

1.1 - Produção

No quadro seguinte observa-se a evolução dos valores da produção desde 1957, devendo assinalar-se que os valores, dos dois primeiros anos (1957 e 1958) devem ser tomados com algumas reservas.

Evolução das produções (valores em contos)

[Ver Quadro na Imagem]

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Partindo do índice base 100 em 1957, a evolução das taxas índices no período de 1957-1965 é a seguinte:

[ver tabela na imagem]

O crescente aumento, a partir de 1962, nas indústrias básicas do ferro e do aço deve-se ao início de laboração da Siderurgia Nacional.

1.2 - Exportações e importações

Na exportação registou-se, em 1964, apreciável aumento em relação ao ano anterior, quer em tonelagem, quer em valor. Atingiu-se 68 por cento em valor e mais de 100 por cento em peso. Aquele valor é duplo do observado em 1961.
Assim, as exportações das nossas indústrias metalúrgicas de base alcançaram, em 1964, 22,5 por cento das importações respectivas, quando em 1963 representavam 17,4 por cento, e em 1961 apenas 10,8 por cento. Note-se, porém, que o preço médio da tonelada exportada acusou tendência decrescente.

Preço médio da
tonelada exportada
1961 ..................... 5 530$17
1962 ..................... 3 780$67
1963 ..................... 4 684$44
1964 ..................... 3 641$78

Analisando os quadros respeitantes aos destinos das exportações, nota-se que couberam aos mercados não tradicionais 159 000 contos (contra 95 000 contos em 1963), seguindo-se o ultramar com 155 000 contos (122 000 contos em 1963), o Mercado Comum com 119 000 contos (66 000 contos em 1963) e os Estados Unidos da América, que atingiram 54 000 contos em 1964, contra 20 000 em 1963.
O maior aumento verifica-se nos mercados não tradicionais.
As indústrias básicas do ferro e do aço (ferro fundido, ferro macio e aço) contribuíram, na maior parte, para a melhoria da situação; os metais não ferrosos têm peso menor.
Nas importações, registou-se aumento apreciável, de 1963 para 1964, nos artigos das indústrias metalúrgicas de base, como se observa no quadro respectivo: de 295 000 t para 330 000 t e, nos valores, de 1 835 000 contos para 2 385 000 contos, respectivamente. O aumento de valor cifrou-se em 30 por cento, aproximadamente.
A rubrica que maior peso apresenta é a das indústrias básicas do ferro e do aço.
Os ferros e aços importados são provenientes, na maior parte, dos países do Mercado Comum. Deve assinalar-se que a posição relativa desse mercado abastecedor se tem reduzido progressivamente (69 por cento em 1962, 62 por cento em 1963 e 57 por cento em 1964). O mesmo acontece com as importações de ferros e aços dos países da E. F. T. A.

Indústrias metalúrgicas de base

Mercados-Importação e exportação no período de 1961-1964

[ver tabela na imagem]

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Indústrias básicas do ferro e do aço

Mercados - Importação e exportação no período de 1961-1964

[ver tabela na imagem]

Indústrias básicas de metais não ferrosos

Mercados - Importação e exportação no período de 1961-1964

[ver tabela na imagem]

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Estas tendências são consequência do aumento em valor absoluto e relativo das importações dos Estados Unidos da América, em 1963 e 1964, dos artigos destinados, na sua quase totalidade, à ponte sobre o Tejo.
Nas indústrias básicas de metais não ferrosos têm sido pequenas as oscilações no valor das importações, cabendo cerca de 50 por cento ao cobre.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - O desenvolvimento da indústria tem por principal motor a exportação, mas esta não é possível sem um mercado interno de base que funcione como volante, absorvendo as oscilações verificadas na procura externa.
Semelhante regra só deixa de ser válida a partir do momento em que determinada indústria criou, à escala mundial, uma tradição e um nome que a põem ao abrigo dessas flutuações. Mas tal situação apenas se verifica, de modo geral, nos países altamente industrializados, pois está relacionada com os investimentos que a indústria consagra à investigação.
O nosso país dispõe desse mercado interno, mas só potencialmente. Importa, pois, fazer decididos esforços no sentido de abrir à indústria nacional o nosso próprio mercado. Somente assim se garantirá uma laboração estável, com rentabilidade e que permita à indústria o investimento de somas avultadas na investigação.
Seria, deste modo, possível aperfeiçoar progressivamente a nossa técnica e acabar com a dependência dos processos de fabrico estrangeiro, e, por outro lado, alicerçar uma estrutura que nos tornasse menos vulneráveis nas actividades ligadas à exportação.
Embora com aspectos favoráveis nos custos de produção, mão-de-obra e encargos fiscais, os seus efeitos são contrariados pela baixa produtividade da mão-de-obra, por má organização das empresas e imperfeito conhecimento de técnicas de fabrico mais evoluídas, excepto num ou noutro sector.
No que respeita ao financiamento da indústria, convirá encarar a revisão das condições em que se processa a concessão de crédito a médio e longo prazo, a fim de facilitar o acesso ao mercado de capitais.
Essa revisão afigura-se indispensável para que a indústria possa manter e aumentar durante o período do Plano a taxa de crescimento evidenciada nos últimos três anos.
2.2 - Dado que certos empreendimentos previstos no Plano requerem financiamentos externos, em virtude dos seus altos custos, há que procurá-los em termos e fontes que não prejudiquem a indústria, já que o fomento económico e social do País reside tanto na criação de novas actividades como na defesa e desenvolvimento das existentes.
2.3 - Reconhece-se a conveniência de não onerar com pesados direitos alfandegários a importação de equipamentos. A revisão em curso das condições de atribuição das isenções fiscais previstas na lei para esses bens de produção permitirá ocorrer àquele objectivo.
2.4 - Merece atenção especial o custo da energia para as indústrias do subgrupo que aplicam ou podem aplicar a fusão eléctrica, a fim de evitar a importação de combustíveis, com apreciável economia de divisas.

ambém deverá encarar-se a revisão do preço do coque de fundição, que entre nós é cerca de 80 por cento superior ao de alguns países do Ocidente europeu, onerando sensivelmente os custos de exploração.
Caso semelhante se passa com os combustíveis líquidos: o thick-fuel é vendido a cerca de 600$/t nos portos do mar do Norte.
2.5 - Reveste-se do maior interesse a formação profissional a todos os níveis, com as especializações adstritas aos diversos sectores. Só assim será possível aumentar a produtividade, mediante a reconversão de grande parte do pessoal actual no sentido de profissões mais especializadas.
Quanto a pessoal de quadros superiores (engenheiros e agentes técnicos de engenharia), nota-se acentuada escassez. Torna-se, por isso, indispensável encarar a formação escolar e universitária nos institutos e Universidades portuguesas de técnicos em metalurgia.
Será também aconselhável que os técnicos nacionais possam visitar empresas modelares de países desenvolvidos, exposições e congressos, para que acompanhem o progresso tecnológico em cadência cada vez mais rápida. A mecanização, a racionalização, o controle, etc., são factores a ter permanentemente em atenção e que obrigam a uma evolução dos processos e das técnicas.
2.6 - Deverá intensificar-se a política de normalização e generalizar-se a exigência da qualidade dos produtos. Em complemento das normas, cumpre estabelecer marcas de qualidade, a exemplo do que sucede em certos países.
2.7 - Com vista à expansão dos sectores, convirá apoiar a exportação e a sua promoção através dos organismos públicos e representações comerciais no estrangeiro.
2.8 - Na investigação aplicada, através das instituições e organismos oficiais competentes, considera-se de interesse imediato efectuar trabalhos sobre os seguintes aspectos:

a) Beneficiação das matérias-primas nacionais para melhoria da sua qualidade;
b) Novas técnicas de fabrico e controle da qualidade;
c) Ensaios industriais diversos;
d) Estudos das condições técnicas dos fabricos para melhoria da qualidade da produção, etc.

Será, além disso, da maior utilidade manter contactos frequentes e abertos entre as empresas metalúrgicas e os organismos oficiais que disponham dos meios de actuação necessários à resolução dos problemas postos.
2.9 - No que se refere à indústria de fundição de ferrosos, deverão encarar-se as seguintes providências:

a) Estudo pelo sector de um projecto de regulamento do exercício da indústria;
b) Esse regulamento, além de disposições comuns para as fundições de todos os tipos, deverá prever condições especiais para as fundições de ferro cinzento, por um lado, e para as de ferro maleável e aço vazado, por outro, em função das especiais características daqueles sectores;
c) Constituição de uma comissão de estudo para elaborar um plano de reorganização do sector, com a participação da Associação Portuguesa de Fundição.

2.10 - Reconhece-se a necessidade de gabinetes coordenadores da política económica e comercial dos diversos sectores.
A nível das empresas, convirá instalar gabinetes de prospecção de mercados, de informação técnico-económica e de laboração estatística, sem o que não poderão aquelas tomar medidas pré visionais adequadas.
Estes gabinetes serviriam de apoio aos gabinetes a nível macroeconómico.

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§ 3.º Projecção do investimento e emprego

3.1 - Projecções do Investimento

3.1.1 - Figuram no quadro seguinte os investimentos previstos:

Estimativa dos investimentos para os anos de 1968-1973

[ver tabela na imagem]

(a) A Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos condiciona aquele investimento, para complemento de programas iniciados na vigência do Plano Intercalar, às possibilidades e às medidas tomadas em relação à exportação.

As indústrias metalúrgicas de base desempenham acção relevante no processo de desenvolvimento, como produtoras de bens de consumo e, principalmente, de bens intermediários, e o seu peso na produção industrial do País tende a acentuar-se progressivamente.
3.1.2 - A capacidade produtiva da unidade siderúrgica do Seixal tem de caminhar para uma dimensão que a coloque em condições menos desvantajosas, com preços que se aproximem das cotações internacionais e permitam aos consumidores condições mais favoráveis.
A expansão prevista da Siderurgia Nacional implica o crescimento normal da gama actual dos seus produtos e o lançamento de novos, devendo a sua produção evoluir, a preços do mercado, de 1 350 000 contos em 1968 para 3 748 000 contos em 1973, em que deve atingir o milhão de toneladas de aço bruto.
No hexénio do Plano, o crescimento do valor da sua produção, a preços do mercado, espera-se se processe às seguintes taxas anuais médias:

Percentagens
1965 a 1968............. 25
1969 a 1973............. 11
1965 a 1973............. 17

Nos investimentos necessários ao seu plano de expansão conta a Siderurgia Nacional com autofinanciamento, crédito dos fornecedores, crédito externo e crédito bancário nacional.
O fluxo de pagamentos correspondente aos investimentos previstos e às decisões anteriores a 1968, incluindo amortizações de capital e juros, concretizadas as previsões quanto ao crédito do fornecedor, poderá ser o seguinte :

[ver tabela na imagem]

Se as previsões se não modificarem, este fluxo conter-se-á nas possibilidades de autofinanciamento da empresa, com a ajuda do crédito bancário de curto e médio prazo.
3.1.3 - O sector da fundição -ferrosos e não ferrosos -, que padece de defeito de estrutura, requer medidas que procurem superar a permanência de índices técnico-económicos desfavoráveis.
É notório o reapetrechamento técnico do subsector dos ferrosos, e certas unidades de grandes dimensões, ao nível nacional, estão a evoluir decisivamente para se colocar a par de empresas estrangeiras de elevado nível. É neste sentido que deve orientar-se a nova estrutura do sector.
As fundições de qualidade, no conjunto do sector, devem desenvolver-se com equilíbrio, evitando-se a dispersão dos programas de fabrico, com planos a médio e longo prazo e base em previsões seguras.
A produtividade é francamente insuficiente, pelo que os custos não podem ser competitivos.
Com aumentos de produção anuais não inferiores a 10 por cento nos últimos três anos, não é demasiado esperar que nos anos do Plano se mantenha a mesma taxa anual de crescimento (cerca de 10 por cento).
Partindo das 60 000 t/ano actuais, devem atingir-se 100 000 t em 1971 e cerca de 120 000 t em 1973.
As possibilidades de alargamento do mercado nacional de fundidos estão relacionadas, directa e principalmente, com os programas de expansão da siderurgia, das indústrias cimenteira, química, petroquímica, de máquinas-ferramentas e, ainda, da construção de tractores, que se pensa vir a ter valor significativo no decorrer deste Plano. Apenas com os crescimentos esperados para a Siderurgia Nacional, cimentos, máquinas-ferramentas e construção de tractores, podem avaliar-se, assim, as expansões dos consumos dos seguintes principais factores:

[ver tabela na imagem]

(a) Número de tractores previstos: 4000. Tonelagem de pecas a fundir em Portugal para os mesmos: 4000 t.

Com uma boa estrutura do sector e com encomendas dos países europeus de apenas 1 por cento das suas necessidades em ferrosos, a nossa produção poderia atingir rapidamente 200 000 t/ano.
A fundição de não ferrosos encontra-se em posição extremamente insatisfatória (com excepção de algumas empresas de bom nível técnico), o que torna praticamente impossível a recolha de informações exactas sobre a sua produção e também o registo de particularidades específicas.

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Apenas, se dispõe dos números da estatística oficial, que possivelmente pecam por defeito, atendendo à grande proliferação de pequenas empresas.
Apesar de ser difícil formular uma previsão assente em valores seguros, é de crer que a evolução se processará no sentido da redução do número de unidades, aumento da sua dimensão média e melhoria técnica progressiva.
3.1.4 - O sector da trefilagem é prejudicado pelo aumento de capacidade da oferta sem correspondente desenvolvimento da procura. Este sobreequipamento diminui a rentabilidade das empresas, das quais a maior tem capacidade para abastecer o País na maioria dos arames correntes e até especiais.
O desenvolvimento das indústrias transformadoras de arame tenderá a acentuar maior procura daquele produto para transformação (cabos, redes, colchões, molas).
As perspectivas de evolução dos mercados do sector conduzem ao consumo final interno (privado e público) em arames de aço de alta resistência para a construção, zincado para as vinhas, recozidos para enfardamentos, etc., e nos fornecimentos a outros sectores (prego, rebites, parafusos, redes, colchões, etc.).
As perspectivas de exportação dependem da forma como evoluir o mercado da matéria-prima (fio-máquina), preços da Siderurgia Nacional e preços do mercado internacional. As importações excedem largamente as reduzidas exportações feitas presentemente. Tem-se verificado ultimamente um crescimento das importações de arames destinados à indústria (molas, cabos, pesca, rede electrossoldada), devido a presumível prática de dumping pelos fornecedores estrangeiros.
A integração económica no espaço português não conduzirá a alteração sensível na procura e, paralelamente, nas condições de oferta. Mas a integração económica na E. F. T. A., pela diminuição de direitos alfandegários, porá a questão do mercado de matérias-primas.
3.1.5 - Qualquer das unidades produtoras de ferro-gusa (Minas de Vila Cova e Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos) pode abastecer com larga margem o mercado interno. As nossas necessidades cifram-se, actualmente, em 20 000 t/ano, e não devem ultrapassar as 30 000 t no fim da vigência do Plano. Nessa data, aquele número representa um terço da nossa capacidade anual de produção.
Presentemente, e no futuro próximo, não se vislumbram perspectivas da exportação económica do excedente.
3.1.6 - No sector das ferro-ligas haverá aumento de capacidade da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos, se se realizar o complemento das instalações e a montagem de um novo forno de ferro-ligas afinadas.
Seria aconselhável o estudo do aumento de produção de ferro-tungsténio (Minas da Borralha), se a indústria extractiva o assegurasse.
As unidades produtoras de ferro-ligas existentes abastecem com folga o mercado interno, e o facto de exportarem grande parte da sua produção demonstra condições de concorrência. No entanto, é indispensável ^apoiar a exportação.
3.1.7 - Relativamente aos não ferrosos, não se prevê o aumento da capacidade de refinação electrolítica do cobre na C. U. F., mas apenas, para breve, alguns aperfeiçoamentos, principalmente a construção de um segundo forno para o tratamento do cemento de cobre e sua transformação em cobre negro.
A produção de cobre electrolítico depende do mercado internacional de matérias-primas de cobre, que provoca, por vezes, retracções da produção.
Na indústria do chumbo antevê-se um bom desenvolvimento com o tratamento de poeiras de chumbo, próprias (C. U. F.) e das restantes fábricas de ácido sulfúrico.
Com o aumento de capacidade nominal do tratamento de cinzas de pirite (300 000 t/ano), que envolve a construção de um quinto forno e ampliação das secções complementares, calcula-se ser possível produzir as seguintes quantidades de metais:

7000 t de zinco metal (99,95 por cento Zn);
50 t de cobalto metálico;
10 t de cádmio metálico;

o que, durante a execução do Plano, representa um aumento de produção no zinco superior a 50 por cento da actual, e permitirá satisfazer as necessidades nacionais. Será então possível, em princípio, tratar os concentrados de zinco da indústria extractiva do País naquela instalação, deixando esta produção de ser enviada para o mercado externo.
A única unidade para a laminagem do zinco que existe no País (Compagnie Eoyale Asturienne dês Mines), embora com pequena dimensão económica, é suficiente para acompanhar o provável aumento do consumo interno, prevendo-se o alargamento do fabrico a alguns tipos de produtos até agora importados e a colocação do excedente no mercado externo.
Na laminagem do zinco será possível um aumento de produção de mais de 50 por cento no período de 1968-1973, em que serão destinados ao mercado interno 70 por cento da produção, em vez dos 98 por cento actuais, mas a construção civil condicionará, o consumo final interno de zinco laminado.

3.2 - Nível de emprego

3.2.1 - Não se conseguiram dados satisfatórios para todas as indústrias, e, por isso, com base em elementos sobre mão-de-obra recentemente publicados 1, indicam-se a seguir os valores referentes a 1965:

1965 - Nível de emprego na metrópole:

Homens - 15 079 - 92 por cento;
Mulheres - 1306 - 8 por cento.

A distribuição pelos distritos é a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

A percentagem de estabelecimentos com escassez de pessoal especializado, .por categorias profissionais mais

1 Boletim do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra - Suplemento aos n.ºs 11-12.

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solicitadas nas metalúrgicas de base, foi, em 1965, a que segue:

Percentagem
Serralheiro ............... 6,4
Torneiro .................. 13,5
Fundidor .................. 11,1

com a seguinte distribuição distrital:

[Ver tabela na imagem]

3.2.2 - Os números para 1965 relativos a pessoas efectivamente ocupadas e à produtividade são:

Pessoas ocupadas (total) ........ 16 385
Pessoal operário ................ 14 255
Produtividade bruta ............. 166,5
Produtividade operária .......... 191,3

3.2.3 - É sensível a falta de qualificação do pessoal operário nas metalúrgicas de base e, por isso, a escassez de mão-de-obra é mais- de ordem qualitativa do que quantitativa. A emigração, que leva ao êxodo do pessoal mais jovem, e muitas vezes qualificado, agrava, concomitantemente, o envelhecimento médio do operariado.
Em alguns sectores, na fundição, por exemplo, apesar de se preverem altas taxas de crescimento, o número de pessoal não deve evoluir de modo que a produtividade possa aumentar, mas haverá uma. reconversão de grande parte dos seus efectivos no sentido de profissões mais especializadas.
Quanto a pessoal de quadros (engenheiros e agentes técnicos de engenharia), as necessidades crescerão sensivelmente, tornando-se indispensáveis técnicos especialistas em metalurgia.
O ramo da indústria das metalúrgicas de base exige, para o seu correcto funcionamento, um conjunto diversificado de categorias profissionais, desde o especialista técnico até ao operário qualificado ou não.
Ao nível do operário, impõe-se a instalação urgente de centros de aprendizagem e formação acelerada, com certas especialidades adstritas a diversos sectores.
São principalmente os aumentos programados na capacidade de produção da Siderurgia Nacional que devem influenciar em maior medida o número de pessoas ocupadas no período do Plano.

§ 4.º Projectos

Apenas no sector siderúrgico, e de modo incompleto em outros sectores, é possível indicar a finalidade dos investimentos e a sua distribuição no período do Plano.
Apresentam-se os valores globais dos investimentos em programas previstos, mas ainda não desenvolvidos, nos sectores em que tal foi possível, alguns deles com os condicionamentos a que estão sujeitos em muitos aspectos:

a) Siderurgia Nacional

1968 e 1969 - Complemento das instalações e ampliações em curso. (Laminagem a frio; forno eléctrico; central de oxigénio; fabricação de carris.)
Investimento - 908 000 contos.

970-1973 - Aumento de capacidade. (2.º trem ds fio; 2.º alto-forno; 2.ª acearia; laminagem a quente; coquearia; amoníaco).
Investimento - 3 030 000 contos.

b) Fundição

1968-1973 - Melhoria e ampliação das instalações fabris, onde tal se justifique e as condições económicas o permitam.
Investimento - 430 000 contos, escalonados pelos seis anos do Plano.

c) Ferro-ligas

1968-1973 - Complemento das instalações e aumento de capacidade da Companhia Portuguesa de Fomos Eléctricos, Moagem de ferro-ligas; nova alimentação de matérias-primas das fábricas n.ºs 1 e 2; forno n.º 13 de ferro-ligas afinadas (3000 kVA), cujos equipamentos se encontram na unidade fabril].

Investimento - 30 000 contos (dependente da resolução de diversos problemas oficiais e de exportação).

d) Indústrias de não ferrosos (C. U. F.)

1968 e 1969 - Aumento de capacidade da instalação para o tratamento de cinzas de pirite (300 000 tf ano), com ampliações na lixiviação e na precipitação do cobre.

Investimento - 15 000 contos.

1970-1973 - Eficiente exploração da instalação de tratamento de cinzas de pirite, para recuperação económica de diversos metais (zinco, cobalto e cádmio).

Investimento - 120 000 contos (dependente dos custos de certos factores - energia eléctrica, cloro e fuel-oil).

VIII) Indústria de fabricação de produtos metálicos e de construção de máquinas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito

O sector abrange as classes 35 e 36 da C. A. E., correspondendo-lhe, portanto, larga gama de indústrias metalomecânicas, mas não a sua totalidade. As outras actividades metalomecânicas, as indústrias de material eléctrico (classe 37 da C. A. E.) e da construção do material de transporte (classe 38) são tratadas em capítulos próprios.

1.2 - Produção

A escassez de dados estatísticos sobre o sector dificulta o conhecimento da evolução sofrida nos últimos anos.
Todavia, estimativas do valor bruto de produção construídas sobre elementos facultados por empresas que pertencem ao sector e constantes do quadro seguinte permitem supor que ele cresceu, de 1959 a 1964, à taxa média anual muito próxima dos 1.1 por cento.
Maior interesse terá, porém, analisar a forma como se processou esta evolução para cada um dos subsectores que o integram e dividindo aquele período em dois: 1959-1962 e 1962-1964.

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QUADRO I

Estimativa do valor bruto da produção

[Ver tabela na imagem]

Na realidade, se para a construção de equipamento a variação média anual não apresenta diferenças sensíveis de um período para outro (10,4 e 11,5, respectivamente), o mesmo não se pode afirmar para o subsector de fabricação de produtos metálicos, onde o ritmo de crescimento, que se cifrava em 6,9 no período de 1959-1962, se elevou para 16,4 entre 1962-1964.
Para o conjunto do sector, tem-se, pois, uma taxa de crescimento anual de 8,6 por cento entre 1959 e 1962, e uma outra de 13,9 por cento de 1962 a 1964.
Apesar de se terem verificado alguns progressos na estruturação e organização do sector, nomeadamente ao nível das empresas mais importantes, admite-se, contudo, que aquelas taxas tenham diminuído consideràvelmente no período posterior a 1964.
Continuando a observar separadamente os dois subsectores, apresenta-se em seguida a estrutura dos custos de produção, em percentagem do valor bruto desta.

QUADRO II

Estrutura dos custos de produção

[Ver tabela na imagem]

A principal conclusão a extrair deste quadro é que a relação valor acrescentado valor bruto de produção, no subsector da construção de equipamento (52,3 por cento), é superior à da fabricação dos produtos metálicos (43,2 por cento). Admitindo como válidas as estimativas do valor de produção, obter-se-á para valor acrescentado do sector 834 200 contos em 1964, repartido em 391 800 contos para a fabricação de produtos metálicos e 442 400 contos para a construção de equipamento.

1.3 - Mão-de-obra, produtividade e remunerações

Avalia-se em cerca de 23 200 o número de pessoas ao serviço no sector, em 1964, com a seguinte repartição por classes:

QUADRO III

Mão-de-obra por categorias

[Ver tabela na imagem]

Verifica-se, assim, que o quociente pessoal não operário-pessoal operário é, no subsector de produtos metálicos (0,16), menos de metade do que na construção de equipamento (0,38).
Por outro lado, calcula-se em 36 contos o valor acrescentado por pessoa ocupada no sector (32 contos nos produtos metálicos e 41 na construção de equipamento).
Observando a evolução dos efectivos do sector, encontram-se os seguintes índices:

QUADRO IV

Evolução dos efectivos no período 1959-1964

[Ver tabela na imagem]

A grande maioria das indústrias encontra sérias dificuldades no recrutamento de mão-de-obra qualificada, quer por deficiente formação desta, quer por a emigração desfalcar o mercado de trabalho nacional.
As empresas têm tentado solucionar este problema mediante formação interna e aumento de salários. Contudo, os encargos assim assumidos não são compensados por correspondente aumento da produtividade, o que conduz a uma incidência proporcionalmente mais forte do factor trabalho nos custos de produção, quando comparada com a dos outros factores.
As remunerações ao pessoal do sector atingiram em 1964 a ordem dos 460 000 contos. Sabe-se que os ordenados têm subido a ritmo relativamente lento, enquanto os salários beneficiaram de aumentos que, em algumas indústrias, se traduziram por taxas anuais entre 10 e 20 por cento.

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1.4 - Investimentos

Considerando as perspectivas que se ofereciam ao sector durante a vigência do Plano Intercalar, calcula-se que os investimentos realizados nos últimos anos tenham atingido quantitativos relativamente importantes, financiados por meio de capitais próprios ou mediante créditos concedidos pela banca comercial, Caixa Geral de Depósitos, Banco de Fomento e, eventualmente, pelo recurso ao mercado de capitais. Estes investimentos permitiram assim a algumas das indústrias do sector equiparem-se por forma a satisfazerem o aumento acentuado de procura que esperavam encontrar, tanto no mercado interno como nos mercados externos. Não tendo, por motivos vários, esses aumentos correspondido por vezes às previsões, verifica-se a existência de capacidade produtiva excedentária em algumas empresas.

1.5 - Comércio externo

Também a este respeito interessa distinguir entre os subsectores de fabricação de produtos metálicos e de construção de equipamento. Na realidade, sendo a procura total satisfeita sensivelmente em partes iguais pela produção nacional e por importações concorrentes, estas são, no subsector de construção de equipamento, quase o dobro daquela. Na fabricação de produtos metálicos as importações não chegam a atingir um quinto da produção nacional.
Por seu turno, as exportações totais do sector situam-se também ao nível de um quinto da produção nacional, sem grande disparidade entre os dois subsectores considerados. Salienta-se, entretanto, que cerca de metade dessas exportações se destina às províncias ultramarinas.
Tratando-se de parcela de um sector chave para o desenvolvimento económico nacional, como foi definido no Plano Intercalar de Fomento, é de esperar que ao sector (e em especial à construção de equipamento) se ofereçam perspectivas de um rápido ritmo de crescimento. Todavia, os industriais manifestam algumas preocupações sobre as possibilidades de manutenção do ritmo de crescimento dos últimos anos, não só porque em grande parte desconhecem a provável evolução dos" sectores clientes, como também por existirem ainda problemas pendentes de solução, nomeadamente quanto à disciplina do mercado, à mão-de-obra, ao financiamento dos investimentos e à exportação.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

Para que o sector possa retomar o ritmo de crescimento que lhe é próprio e, deste modo, contribuir para o desenvolvimento industrial do País, de acordo com as suas reais potencialidades, deve encarar-se a regulamentação de algumas das actividades nele incluídas, por forma a melhorar a tecnologia de produção, as condições de concorrência interna e, consequentemente, a tirar o máximo partido dos movimentos de integração em curso. Nesta tarefa, sabe-se estarem já empenhados os industriais, através dos seus órgãos representativos.
Para além disto, porém, importa não descurar a solução de outros problemas que têm vindo a condicionar fortemente o desenvolvimento do sector. Entre estes, salientam-se as disponibilidades de mão-de-obra e a sua formação profissional, as condições de fornecimento de matérias-primas básicas e de algumas formas de energia, a coordenação do desenvolvimento dos vários sectores fia economia, a fim de assegurar maior participação da indústria nacional, a criação ou dinamização de mecanismos financeiros que permitam canalizar os fundos disponíveis para as necessidades da indústria segundo a evolução conjuntural e tendo, designadamente, em conta as condições de concorrência nos mercados externos.

§ 3.º Projecções dos Investimentos e emprego

Atendendo às circunstâncias anteriormente mencionadas - preocupação dos industriais sobre o futuro próximo do sector e existência de capacidade produtiva em excesso, por virtude de investimentos realizados nos últimos anos-, prevê-se ritmo de investimentos mais lento do que o verificado até aqui.
Assim, não tendo sido viável formular projecções do investimento, apenas se indicam estimativas para algumas indústrias, que não corresponderão, possivelmente, ao conjunto do sector.

[Ver tabela na imagem]

Estes investimentos, bem como outras estimativas que não foram indicadas, estão condicionados pela solução dos problemas já referidos.

IX) Indústrias de material eléctrico

§ -1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito do sector

O sector abrange as seguintes actividades:

Máquinas e aparelhos industriais;
Fios e cabos isolados;
Material de iluminação;
Material de telecomunicações, electrónica e de medida;
Aparelhagem ligeira e material electrodoméstico;
Elevadores e outro material eléctrico de tracção;
Diversos.

1.2 - Valor de produção e vendas

Em 1965, as indústrias produtoras de material eléctrico compreendiam 135 empresas, que registaram valores de vendas e de produção da ordem dos 1440 e 1470 milhares de contos, respectivamente. O valor acrescentado por este grupo de indústrias alcançou, naquele ano, cerca de 576 000 contos (40 por cento do valor das vendas), dos quais 267 000 contos (46,9 por cento) corresponderam a remunerações do trabalho, cujo volume se cifrou em 13 400 pessoas ocupadas.
O valor da produção e das vendas, da ordem do milhão e meio de contos anuais, é extremamente fraco em relação ao dos países que habitualmente se tomam como padrão.

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Segundo um estudo publicado em 1965 por um grupo de bancos europeus, os valores das vendas e a sua capitação por habitante atingiram em 1963, naqueles países, os níveis indicados no quadro seguinte:

QUADRO I

Vendas totais e por habitante e taxa de acréscimo do valor de produção em diversos países em 1963

[Ver tabela na imagem]

Para dar uma ideia do ritmo de expansão das vendas, calcularam-se taxas de crescimento anual acumuladas para diversos períodos entre 1955 e 1965, tendo-se obtido as taxas de 16,4 por cento para 1955-1960, 17,2 por cento para 1960-1965 e 15,3 por cento para 1963-1965.
A evolução do valor das vendas em cada ramo, para o período de 1960-1965 e entre os anos de 1963 e 1965, indica-se no quadro II.
Nesse ano (1963), a produção nacional de material eléctrico foi da ordem dos 1100 milhares de contos, a que correspondem cerca de 120$ por habitante.
A taxa de crescimento anual da produção, que se mantém em cerca de 16 por cento, a preços correntes, desde há uma dezena de anos, parece dever ser considerada satisfatória; mas é ainda muito baixa para permitir uma recuperação não excessivamente demorada em relação aos países mais evoluídos, porque estes, além de partirem de uma posição muito mais. avançada, também crescem a taxas elevadas.
O valor das vendas das empresas pertencentes às várias actividades do subgrupo atingiram, em diversos anos do período e 1955-1965, os níveis a seguir indicados:

QUADRO II

Valor das vendas, número de empresas e estrutura das vendas por actividades

[Ver tabela na imagem]

1.3 - Matérias-primas

O material eléctrico, talvez mais do que qualquer outro, tem conseguido melhorias de concepção e, portanto, reduções de pesos de matérias-primas e melhorias de produtividade de fabrico que lhe têm permitido recuperar nos custos parcela importante dos aumentos constantes de vencimentos e preços de matérias-primas.
Isto impõe, além de projectos sempre melhorados, matérias-primas e semifabricados cada vez de mais elevada tecnicidade, organizações em que a produção se processe com um mínimo de imprevistos e despesas de stocks, grandes velocidades de escoamento de fabricos, etc., quer dizer, fornecedores que saibam garantir produtos de elevada técnica e qualidade uniforme, prazos curtos e sempre respeitados, além de outros requisitos semelhantes.

1.4 - Emprego e remunerações

Em relação ao total dos sectores do subgrupo, apresenta-se seguidamente a evolução, em níveis e em taxas, do emprego e das remunerações para diversos anos do período de 1955-1965. No mesmo quadro figuram a evolução das remunerações médias e das incidências das remunerações sobre as vendas.

QUADRO III

Taxa de crescimento anual acumulado das vendas

[Ver tabela na imagem]

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Quanto ao valor acrescentado, para o total das indústrias do subgrupo, estima-se, como já se referiu, que seja da ordem dos 40 por cento do valor das vendas. Esta grandeza foi calculada com base no valor acrescentado bruto médio de 1963-1964 e 1965.

QUADRO IV

Emprego, remunerações e sua incidência sobre as vendas no período de 1955-1965

[Ver tabela na imagem]

Em 1965, a distribuição das remunerações e do pessoal, nos diversos ramos do subgrupo, vem indicada no quadro seguinte:

QUADRO V

Remunerações e pessoal em 1965

[Ver tabela na imagem]

Parece assistir-se ultimamente ao aumento da incidência das remunerações nos custos, o que revela acréscimo daquelas superior à melhoria da produtividade e aconselha a encarar melhorias substanciais desta última.
Neste tipo de indústria tem-se caminhado, em sectores de técnica mais avançada, para uma cada vez maior percentagem de quadros e engenheiros no conjunto do pessoal empregado. A estes; quadros e engenheiros tem-se vindo a exigir consideráveis somas de conhecimentos que os tornem aptos a acompanhar de perto as últimas conquistas do saber nos ramas da sua especialidade.
A formação do pessoal continua a ser essencial e tem de acompanhar a dos quadros, com a qual tem de estar em certo equilíbrio, mas, em comparação com a dos quadros, é mais fácil de realizar.
Entre nós, tem-se assistido a um esforço pronunciado na formação de operários especializados, mas é necessário esforço paralelo nos graus mais elevados, pois estes são necessários ao enquadramento dos primeiros.

1.5 - Produtividade

Para o conjunto das indústrias do subgrupo, em 1965 ter-se-ia verificado o valor acrescentado de 43 contos por pessoa ocupada. O valor das vendas igualmente por pessoa ocupada no mesmo ano foi de 107 contos.
A produtividade do trabalho nos diferentes ramos vem expressa através do valor das vendas por pessoa ocupada e também pela razão entre o valor acrescentado e os efectivos de cada sector.
O quociente entre o VAB e os efectivos são só apresentados em relação a 1965.
Quer o valor das vendas, quer o VAB, são medidos a preços correntes:

QUADRO VI

Vendas e VAB por pessoa ocupada em 1965

Valores em contos a preços correntes

[Ver tabela na imagem]

A relação das vendas por pessoa ocupada foi calculada para anos intermédios do período de 1955-1965, tendo-se determinado taxas de expansão para alguns subperíodos. Obtiveram-se as taxas de 7,6 por cento para 1955-1960, 7,6 por cento para 1960-1965 e 3,24 para 1963-1965.

1.6 - Concentração, organização e capacidade de competição

Pode ter-se ideia aproximada da estrutura empresarial das indústrias do subgrupo através de um quadro onde se indique qual a participação nas vendas e a absorção de emprego por certo número de empresas. Os dados referem-se a 1965.

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QUADRO VII

Concentração da indústria de material eléctrico

[ver tabela na imagem]

Em todos os países da Europa ocidental têm sido promovidas concentrações às escalas mais elevadas. Pode, assim, avaliar-se o poder económico e financeiro e a dimensão relativa dos concorrentes com que a nossa indústria irá defrontar-se nos anos próximos.
Não significa isto que os nossos empreendimentos actuais não possam singrar e até desenvolver-se, porque dimensão muito grande, acima de certos mínimos, não é sinónimo de baixos custos, nem de capacidade de competição.
Mas a liberalização das trocas entre esses países e o nosso irá, sem dúvida, pôr problemas de especialização fabril e comercial - e muitos outros - para os quais cada vez se torna mais urgente que os industriais portugueses se preparem, pois haverá que ensaiar colaborações que demoram muito tempo a promover e a experimentar.

1.7 -Exportação e Importação

A exportação das indústrias em análise atingiu o valor de 175 000 contos em 1964, da ordem dos 14 por cento do valor da produção, tendo sido de 17 por cento em 1960 e de 12 por cento em 1963. Em 1964, a exportação para o ultramar atingiu 128 000 contos, ou seja 9 por cento das vendas e 73 por cento da exportação total.
Quanto às importações, é de notar o seu elevado peso. Alcançaram no ano de 1964 o montante de 1 270 000 contos, ou seja o valor da ordem do da produção, tal como no ano precedente.
Todavia, em 1960 foram de 160 por cento da produção, o que parece revelar melhoria notável. Tiveram significado relativamente importante, como se vê pelo respectivo quadro, em 1964, as importações de máquinas e aparelhos industriais (sectores 1, 2 e 3), 250 000 contos, as de lâmpadas, 36 000 contos, as de material de telecomunicações e electrónica, 430 000 contos, as de aparelhos de medida, 62 000 contos, as de aparelhagem electródoméstica, 240 000 contos, e as de diversos, no 110 000 contos.
Indicam-se seguidamente os valores, a preços correntes, das exportações (c) importações em 1960 e 1964, evidenciando-se a participação do ultramar nas trocas de material eléctrico com a metrópole. Os dados são apresentados em relação aos produtos dos diversos sectores do subgrupo.

QUADRO VIII

Exportação e importação totais e com o ultramar em 1960 e 1964

[ver tabela na imagem]

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Principais problemas que a indústria defronta

O mais importante dos problemas que o sector defronta é o da formação de quadros. As características próprias destes ramos de indústria, com os reflexos sobre a estrutura do pessoal já apontados, requer a existência de um núcleo de técnicos altamente especializados.
O progresso das indústrias do material eléctrico assenta numa cadência de inovações a ritmo acentuado, que só é possível manter através de indivíduos habilitados com uma preparação superior e actualizada em cada momento.
O problema financeiro surge imediatamente a seguir ao problema da preparação dos técnicos. Pode ser esquematizado da seguinte forma: O sector nacional produtor de material eléctrico poderá, dentro das suas capacidades próprias de financiamento, assegurar a médio prazo uma taxa de crescimento da produção da ordem dos 12 por cento anuais. Um esforço maior por parte desta industria para se aproximar mais rapidamente de um nível de produção que lhe permita melhor posição de concorrência com as suas congéneres europeias, num futuro em que a protecção à indústria nacional cesse, em virtude de compromissos

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internacionais já assumidos, implicará o recurso a capitais externos às empresas.
A falta de investigação aplicada neste sector, quer a nível do empresa, quer a nível universitário, reflecte-se na dependência técnica da indústria em relação ao estrangeiro.
As providências a adoptar para favorecer a conveniente expansão do sector durante o período do Plano deverão enquadrar-se nas seguintes orientações básicas:

Promover a investigação pela criação de um organismo próprio, à escala nacional, com a participação do Estado e das indústrias de electricidade e material eléctrico;
Incentivar, para além das disposições já em vigor nesse sentido, a aquisição preferencial de produtos das indústrias nacionais;
Aplicar por forma eficaz a legislação vigente contra o dumping.

§ 3.º Projecções da produção e do emprego

Os números que seguem devem ser considerados com as necessárias reservas, dada a escassez de elementos sobre que tiveram de fazer-se as estimativas.
Em especial, há que ter em conta que os números apresentados são expressos a preços correntes.
Não se dispôs de dados que permitissem fazer a sua redução a uma base constante, até porque, para elevada percentagem do produto, não há unidades físicas que possam servir de padrão.
Se, por aproximação, se corrigirem os valores das vendas, tendo em conta a variação do índice dos preços por grosso, as taxas de evolução anual relativas aos períodos mais recentes seriam reduzidas de 1 a 2 por cento. Dado que estas variações são pouco significativas, e da ordem dos erros prováveis, considera-se mais correcto tomar por base as taxas de expansão a preços correntes.
As estimativas em valor que vão ser apresentadas para o período do Plano pressupõem, consequentemente, uma taxa de depreciação idêntica à que se tem verificado nos últimos anos.
Admite-se que em 1966 se verificou uma taxa de crescimento da produção de 15 por cento, idêntica à média de 1963-1965, mas prevê-se que para as empresas existentes baixará posteriorimente, passando a 13 por cento em 1967 e a 12 por cento nos anos seguintes. Estas taxas poderão, no entanto, vir a ser acrescidas se vier a concretizar-se o plano de expansão das actividades da Standard Eléctrica no período de 1968 a 1973, o qual, segundo as expectativas da empresa, se traduzirá em exportações que deverão atingir 1 milhão de contos no final do período de vigência do Plano.
Estima-se em cerca de 5 por cento por ano a taxa de aumento da produtividade.
Nesta hipótese, serão os seguintes os valores previstos para a produção, em milhares de contos:

1966................ 1 700
1967................ 1 900
1968................ 2 600
1969................ 3 110
1970................ 3 570
1971................ 4 000
1972................ 4 600
1973................ 5 300

Serão criados cerca de 1300 novos empregos por ano, devendo a sua estrutura actual evoluir no sentido de um aumento de quadros e da redução do pessoal operário não qualificado.
No fim do período, em 1973, a previsão conduz a uma produção de 5300 milhares de contos e a cerca de 30 500 pessoas ocupadas, a 174 contos de produção por ano e pessoa ocupada e cerca de 640$ de produção por habitante.

§ 4.º Projecções do investimento

Prever os montantes dos capitais necessários durante o período do Plano consiste em estabelecer previsões dos activos dos balanços nos várias anos, decompostos nas suas parcelas essenciais - capitais fixos e circulantes.
Uma hipótese grosseira, mas a única que é possível estabelecer, consiste em supor que as proporções actuais destes capitais se mantêm em relação à produção, o que significa que não haverá economia relativa de capitais, nem por melhor utilização dos imobilizados, nem dos capitais circulantes.
A decomposição média relativa aos anos de 1963, 1964 e 1965 dos valores activos, em percentagem dos da produção, foi a seguinte:

Percentagem
Imobilizado líquido............... 35,5
Activo realizável................. 77
112,5

No activo realizável incluíram-se devedores, armazéns e laboração em curso, mas deduziram-se eventuais adiantamentos de clientes, como é lógico.
Incluindo 2 por cento para disponibilidades e arredondando os números, os capitais investidos totais passarão a ter a decomposição seguinte:

Percentagem
Imobilizado líquido ......... 35
Activo realizável............ 80
115

correspondendo a 30 por cento de capitais fixos e 70 por cento de capitais circulantes.
Tendo em atenção os números indicados no parágrafo anterior, o quadro seguinte indica os valores previstos dos novos capitais necessários em cada um dos anos do Plano, em milhares de contos, incluindo-se nesta estimativa os números respeitantes ao referido projecto da Standard Eléctrica, de que resulta uma sensível descontinuidade entre os valores apresentados para 1966 e 1967 e os referentes aos anos seguintes, especialmente 1968:

[Ver tabela na imagem]

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Trata-se, evidentemente, como já atrás ficou dito e se repete, de uma avaliação grosseira.
Quanto à forma como os capitais poderão ou deverão ser realizados, e à falta dos elementos de base - a decomposição actual do passivo -, pode admitir-se que o financiamento da expansão obedecerá à decomposição seguinte:

QUADRO I

Equipamento e valor acrescentado bruto por indústrias em 1964

Percentagem
Fundos próprios ................. 50
Outros recursos a longo prazo ... 25
Idem a curto prazo .............. 25
100

Daqui resultam os números seguintes, em milhares de contos:

[Ver tabela na imagem]

X) Indústria de construção de materiais de transporte

1.º Evolução recente e perspectivas actuais

1.1 - Âmbito do sector

O sector é delimitado de acordo com a C. A. E. (classe 38); a quase totalidade dos dados estatísticos refere-se ao ano de 1964 e às indústrias de construção naval e fabricação e montagem de veículos a motor, em razão da impossibilidade de dispor de séries cronológicas mais completas. Não são considerados elementos referentes à indústria de construção de aviões.

1.2 - Produção

Tomando os dados referentes à produção bruta deste sector em anos recentes, verifica-se acentuado acréscimo do valor da produção bruta a preços de mercado (de 1130 milhares de contos em 1962 para cerca de 3300 milhares de contos em 1965), o que se deve ao incremento do subsector de construção e reparação de veículos a motor.
Sob o ponto de visto de localização, nota-se serem os distritos de Lisboa e Setúbal os que detêm maior parcela da produção, cabendo-lhes, respectivamente, 50 e 19 por cento do total em 1964. Tais valores são sintoma de um significativo grau de concentração na região de Lisboa, com realce para as indústrias de construção naval e fabricação e montagem de veículos a motor. Aliás, são estas as mais significativas indústrias do sector, não apenas pelo valor da sua produção, mas ainda pelo nível do seu equipamento e pelo contributo para o emprego no sector. Atente-se, para elucidação, no quadro seguinte, referido ainda ao ano de 1964.

QUADRO I

Equipamento e valor acrescentado bruto por indústrias em 1964

[Ver tabela na imagem]

1.3 - Custos de produção

QUADRO II

Estrutura dos custos de produção

Unidade: milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

A análise da estrutura dos custos de produção revela os seguintes elementos típicos:

Absorção de matéria-prima e subsidiária com elevados custos incorporados por outros sectores intermédios.
Significativa incorporação de mão-de-obra (27,6 por cento ao preço dos factores) e fraca incidência de energia no valor de produção.

A importação das matérias-primas faz-se principalmente (para qualquer dos subsectores) da C. E. E. Os dados fornecidos pelo Grémio Nacional dos Industriais de Montagem e Fabricação de Veículos Automóveis constam do seguinte quadro:

QUADRO III

Importação de matérias-primas para montagem e fabricação de automóveis

[Ver tabela na imagem]

1.4 - Mão-de-obra e produtividade

Os elementos seguidamente indicados referem-se ao pessoal em actividade na última semana de 1964.

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1662-(264) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO IV

Mão-de-obra por indústrias

[Ver tabela na imagem]

Atente-se no facto de grande parte da mão-de-obra ser semiqualificada ou não qualificada, e na posição de predomínio quanto a emprego que a indústria de construção naval ocupa.
Em 1964, o total de remunerações pagas pelo sector foi de 471,7 milhares de contos, representando cerca de 48 por cento do valor acrescentado, o que confirma a posição relevante da mão-de-obra como elemento do custo de produção. Tomando como medida de produtividade da mão-de-obra a relação V AB/emprego, obtém-se para o ano de 1964 cerca de 50 contos.

1.5 - Investimentos e seu financiamento

Os investimentos no sector até ao fim de 1965 cifravam-se em 1365 milhares de contos, assim discriminados:

Milhares de contos
Terrenos ............ 91
Edifícios ........... 336
Equipamento.......... 819

Os financiamentos destes investimentos têm sido feitos através dos meios que se indicam:

QUADRO V

Investimentos em 1965

[Ver tabela na imagem]

O sector não necessita de investimentos em grande escala, mas sim da reestruturação da organização fabril, administrativa, comercial e pessoal, com vista a uma melhoria de produtividade.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

Os objectivos a propor para o período do III Plano relacionam-se directamente com a situação actual do sector, cujos dados essenciais podem assim resumir-se:

Existem dificuldades de recrutamento de pessoal qualificado. A emigração tem ocasionado problemas neste domínio, à excepção do subsector da construção e montagem de veículos automóveis, que tem recrutado pessoal no sector primário;
No subsector dos motociclos e bicicletas predomina a pequena empresa com rentabilidade baixa;
No que respeita a matérias-primas, verifica-se a instabilidade frequente nos fornecimentos de materiais nacionais, quer quanto a irregularidades de entrega, quer quanto a deficiências de qualidade, a que será necessário obviar mediante medidas legislativas adequadas;
Em relação à mão-de-obra, os salários médios revelam forte tendência para crescimento, o que poderá criar sérias dificuldades à competitividade do sector a longo prazo, se não se fizer um esforço de racionalização da produção.

A evolução tem sido no sentido da utilização de técnicas modernas de organização e gestão de empresas, no que diz respeito, principalmente, ao subsector de fabricação e montagem de veículos automóveis.
No subsector dos motociclos e bicicletas, o emprego dessas técnicas não se tem feito sentir, dada a sua pequena dimensão; o mesmo sucede nos subsectores de material circulante, construção e reparação naval, dada a dificuldade de programação, por as encomendas não serem conhecidas com a necessária antecedência.
Para a construção e montagem de veículos, partindo de uma taxa de progressão das vendas de 8 por cento para veículos comerciais e 10 por cento para automóveis de passageiros, poderão definir-se os seguintes objectivos de produção para o período de 1968 a 1973:

[Ver tabela na imagem]

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Deve referir-se a instabilidade frequente nos fornecimentos de materiais nacionais, quer quanto à irregularidade das entregas, quer ainda quanto às variações qualitativas. Quanto ao subsector de montagem e fabricação de veículos automóveis, os preços dos fornecimentos nacionais são quase sempre muito elevados, circunstância que, dada a necessidade de assegurar preços competitivos, dificulta frequentemente maiores incorporações de componentes ou materiais nacionais nos veículos montados.
No que se refere a providências legais e administrativas a adoptar para o sector durante o período do Plano, prevê-se se encarem, entre outras:

a) Medidas com vista a favorecer a utilização máxima das estruturas existentes e a evitar dispersão de unidades. Isto tem particular aplicação no que se refere à indústria automóvel;
b) Apoio à exportação para o ultramar, por forma a permitir alargamento do mercado e mais económico aproveitamento da capacidade instalada;
c) Isenção de direitos para equipamentos que não possam ser fornecidos pela indústria nacional;
d) Aperfeiçoamento da cobertura estatística do sector.

§ 3.º Investimentos previstos

Os investimentos suplementares a efectuar durante o período do Plano na construção e montagem de veículos automóveis estimam-se em 40 000 a 50 000 contos anuais. Este montante pode, contudo, ser superior, se for possível o alargamento da utilização dos meios de produção, quer por mais completa integração do sector, quer pela extensão a outros fabricos.
Na vigência do Plano prevê-se ainda que o volume dos capitais estrangeiros no sector atingirá cerca de 60 por cento do total de investimentos.

XI) Indústrias transformadoras diversas

§ 1.º Evolução recente e perspectivas actuais

Este sector engloba todas as indústrias que não foram consideradas nos capítulos anteriores. Apresenta, por isso, carácter residual e não se identifica com o correspondente agrupamento da C. I. T. A.
São as seguintes as actividades abrangidas:

Tabaco;
Curtumes, calçado e artigos de pele;
Cortiça;
Madeira e mobiliário de madeira;
Borracha e transformação de matérias plásticas;
Instrumentos de precisão;
Ourivesaria;
Material fotográfico e instrumentos ópticos.

A extrema heterogeneidade daqui resultante impossibilita uma análise de conjunto, motivo por que as várias rubricas serão objecto de tratamento individualizado relativamente a cada uma das indústrias que o compõem e de acordo com os elementos informativos disponíveis.
A evolução registada nos últimos anos da produção, emprego e exportação é a que se indica nos dois quadros seguintes:

QUADRO I

Evolução da produção e emprego (base 1963 = 100)

I. P. = Índice de produção a preços correntes; I. E, = Índice de emprego

[Ver tabela na imagem]

(a) Sòmente pessoal operário. Em 1963 e 1964 representavam, respectivamente. 85,5 e 34,5 por cento do total do emprego na indústria de folheados e contraplacados.
(b) Efectivos médios mensais de pessoal operário unicamente na classe 399.5 -Artigos de matérias plásticas.

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QUADRO II

Exportações (quantidade e valor em contos) em cada ano, com indicação do destino

[Ver tabela na imagem]

1.1 - Tabaco

Nos últimos anos a produção tem apresentado crescimento lento e mais ou menos uniforme, enquanto o emprego, devido a maior automatização dos fabricos, decresceu substancialmente a partir de 1956, do que resultou maior produtividade do trabalho.
Para os próximos anos prevê-se evolução lenta na produção, uma vez que se espera crescimento igualmente moderado do consumo.
A médio prazo, a tendência será para grande incremento da produção de cigarros com filtro, sucedendo o inverso relativamente ao consumo de picados.

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Relativamente à exportação, as possibilidades de concorrência são grandes, esperando-se que, pelo menos, os grandes núcleos de portugueses no estrangeiro prefiram as marcas nacionais, quando tiver lugar mais ampla abertura de mercados.

1.2 - Curtumes, calçado e artigos de pele

Curtumes. - Esta indústria está muito dependente da do calçado, o que torna a sua expansão estreitamente ligada à evolução desta última actividade. Prevê-se, contudo, ritmo de crescimento da produção da ordem dos 10 por cento anualmente e, simultaneamente, diminuição do pessoa] ao serviço do sector.
No que se refere à exportação, embora crescente a partir de 1960, não parece viável qualquer alteração nos próximos anos, e o seu volume não excederá os 20-80 por cento da produção.
Pode concluir-se, em síntese, que os próximos anos se caracterizarão: pela diminuição do fabrico de solas; aumento no fabrico de artigos de cromo (calfs e camurças) e de peles para vestuário e luvas; concentração processada pelo desaparecimento de pequenas unidades e especialização de fabricos; e ainda pela redução da mão-de-obra utilizada.

Calçado. - As perspectivas de produção estão dependentes das medidas apontadas no parágrafo seguinte, salientando-se ainda que, não obstante as potencialidades de exportação, ela deve ser orientada essencialmente para o mercado interno, servindo a exportação como meio de escoamento dos excedentes.

1.3 - Cortiça

Foi notória a oscilação da produção, emprego e. exportação nos últimos anos.
Como perspectivas para os próximos anos, admite-se, no que se refere à cortiça amadia, um aumento de produção de 10 por cento em relação a cada um dos anos correspondentes do novénio anterior.
Quanto à produção de cortiça virgem, as previsões são difíceis de estabelecer; supõe-se que, independentemente das medidas de fomento da subericultura, a produção virá a sofrer certa quebra relativamente aos últimos anos, admitindo-se que esta possa atingir os 10 por cento.
Em relação à exportação, espera-se para os próximos anos uma quebra de cerca de 10 por cento em relação a 1964 e ainda uma alteração na sua estrutura, traduzida em incremento sensível nos manufacturados e semimanufacturados, em detrimento de um volume correspondente de matéria-prima.

1.4 - Madeira e mobiliário de madeira

Serração e carpintaria. - Não existem estatísticas disponíveis, pois 90 por cento do material produzido provêm de empresas não sujeitas a controle.
Quanto a perspectivas de produção, estas não deverão ser baseadas em termos absolutos, mas tendo em linha de conta a influência das matérias de substituição, que hoje já se fazem sentir.
As perspectivas de exportação para a Europa não devem afastar-se do volume dos últimos anos. Será, portanto, fora deste continente que se devem procurar os novos mercados, nomeadamente no Próximo e Médio Oriente.
Preservação de madeiras. - A quantidade de madeiras tratadas anualmente até 1961 era de 50 000 m3, dos quais 40 000 m3 pertenciam à C. P.; deste ano até 1965 subiu para 60 000 m3, mantendo-se o mercado estacionário. Contudo, a capacidade de produção é de 170 000 m3 por ano, atingindo brevemente 200 000 m3 com os investimentos em curso.

Folheados e contraplacados. - A produção diminuiu nos anos de 1961 e 1962 em relação a 1960; contudo, em 1964 ultrapassou a de 1960. Relativamente ao emprego, verificou-se decréscimo a partir de 1960.

Aglomerados. - A partir de 1960 a produção e o emprego têm registado ritmos de crescimento elevados. O mesmo se verifica para as exportações, prevendo-se substancial expansão nos próximos anos, principalmente de placas finas (3-4 mm e 5 mm).

1.5 - Borracha e transformação de matérias plásticas

Borracha. - A produção total tem crescido a ritmo apreciável, à excepção de 1962, em que houve uma quebra em relação ao ano anterior. No último quinquénio (1960-1965) a evolução da produção de «outros artigos» (excepção para câmaras-de-ar e pneus) teve um crescimento muito rápido, em especial no calçado (10 a 12 por cento).
O nível de emprego aumentou cerca de 20 por cento de 1963 para 1964, prevendo-se que haverá nos próximos anos escassez de mão-de-obra em qualidade e quantidade.
No que se refere à exportação, registou-se decréscimo em 1960, retomando em 1964 o nível deste último ano; 90 por cento destas exportações são constituídas por câmaras-de-ar e pneus, existindo para estes últimos algumas perspectivas de incremento de vendas para a área da E. F. T. A.

Transformação de matérias plásticas. - A produção tem evoluído a um ritmo crescente, e prevê-se que nos próximos anos se intensifique.

1.6 - Instrumentos de precisão

Em face da tendência para a liberalização do comércio com outros países, o futuro apresenta-se duvidoso, não permitindo prever a evolução dos próximos anos. Salienta-se ainda que os produtos desta indústria estão Intimamente ligados com a indústria da construção e, portanto, na dependência desta.

1.7 - Ourivesaria

De 1958 a 1962 verificou-se contracção da produção, retomando nos dois anos seguintes - 1963 e 1964 - um ritmo crescente. No entanto, prevê-se quebra na procura e consequente contracção da produção.
Relativamente à exportação, os industriais do Norte prevêem a sua expansão para o estrangeiro, enquanto os do Sul admitem efectuá-la para o ultramar.

1.8 - Material fotográfico e Instrumentos ópticos

Material fotográfico. - A produção destina-se ao mercado interno, mas a sua evolução depende do crescimento do nível de vida da população, calculando-se que possa atingir o valor de 6000-8000 contos anualmente.

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Instrumentos ópticos. - Verifica-se que a produção tem evoluído a ritmo favorável, acentuando-se a partir de 1961 o seu crescimento, devido às possibilidades de exportação que se vieram a concretizar a partir de 1963.
Este ritmo de crescimento manter-se-á, visto no momento actual existirem grandes possibilidades de substituição das importações, em especial para o caso das lentes bifocais, cujos equipamentos para a sua produção acabam de ser montados.

§ 2.º Objectivos e orientações básicas

2.1 - Tabaco

No custo da produção, pesam essencialmente dois elementos - o tabaco (matéria-prima) e os direitos aduaneiros -, o que torna a rentabilidade das empresas dependente destes dois factores.
Visando a melhoria da produtividade do sector, salientam-se as seguintes orientações:

Redução ao mínimo de marcas fabricadas por cada unidade;
Melhoria da organização fabril, com a colaboração de organismos oficiais;
Formação profissional dentro das empresas e no Centro de Formação Profissional Acelerada, recorrendo-se a este nas profissões que não sejam específicas do sector.

No âmbito da integração económica do espaço português, deve estudar-se ainda a possibilidade da harmonização fiscal em todo o território.

2.2 - Curtumes, calçado e artigos de pele

Curtumes. - As pelarias nacionais são em quantidade insuficiente e fornecidas em qualidade precária (esfola, salgadura, humidade, etc.), pelo que se preconiza:

Organização do comércio importador e distribuidor de couros em bruto;
Evitar a exportação de pelarias necessárias ao consumo interno;
Campanhas de valorização da produção ultramarina;
Estabelecimento de normas para os matadouros e para os comerciantes de couros e peles, e respectivas sanções;
Fiscalização eficiente junto dos comerciantes de couros verdes.

Para uma estruturação empresarial e da produção, impõe-se:

Ajustamento da produção ao consumo, pois as potencialidades de produção excedem bastante o consumo real;
Normalização do comércio e modernização progressiva das pequenas unidades de tipo artesanal através de agrupamentos, devendo estudar-se a fixação das dimensões mínimas da empresa com viabilidade técnico-económica;
Estabelecimento de contactos de cooperação com as indústrias utilizadoras dos curtumes, de forma a poder-se programar com antecedência os tipos e qualidades preferidos, evitando-se assim os stocks desnecessários.

Devido à falta de pessoal especializado, dever-se-ão criar cursos destinados a mestres e capatazes nas escolas técnicas dos principais centros (Lisboa, Porto, Coimbra, Guimarães e Santarém).
No campo da investigação, prevê-se que o Instituto Nacional de Investigação Industrial e o Grémio dos Industriais de Curtumes estudem os problemas que se relacionam com a associação do couro às matérias sintéticas, desagregação e constituição uniformizada do couro. Importa ainda realizar estudos de organização, de gestão de stocks, de programação da produção, marketing, etc.

Calçado. - É necessário proceder à normalização das formas e tipos de fabrico de sapatos, de acordo com as regras de podologia, visando a colocação nos mercados externos e a utilização de pré-fabricados. Interessa igualmente que o Grémio estude a regulamentação económica para o sector.
Deverá encarar-se a montagem de um laboratório, de maneira que a indústria possa aproveitar dos benefícios tecnológicos e pôr em prática uma campanha de gestão de empresa, realizada por um grupo de técnicos, actuando directamente nos principais centros.
Para a valorização da mão-de-obra, dada a necessidade actual de operários e monitores qualificados, torna-se necessário o apetrechamento conveniente da Escola Industrial de S. João da Madeira.
Atendendo às vastas possibilidades de o sector concorrer nos mercados estrangeiros, julga-se conveniente a adopção de medidas que completem a acção dos empresários, no que se refere à prospecção de mercados e propaganda através de exposições nos centros compradores.

2.3 - Cortiça

O facto de praticamente 70 por cento dos custos da produção incidirem sobre as matérias-primas e de a quase totalidade da produção corticeira se destinar ao estrangeiro faz com que as questões mais importantes se centralizem sobre a comercialização do produto e sobre a incentivação do fomento florestal.
Como medidas de fomento florestal, tendentes a maior valorização quantitativa e qualitativa do património suberícola nacional, salientam-se as seguintes:

Alargamento da área do sobro, através de facilidades de crédito e assistência à produção;
Selecção de zonas consideradas de melhor produção e estabelecimento de explorações extensivas em regime de talhadia, de povoamentos densos e de normas de cultivo e exploração;
Estudo da utilização do sobreiro na produção de pasta celulósica em associação com o pinho ou o eucalipto.

Em relação à comercialização e exportação, refere-se:

Normalização da comercialização da matéria-prima, evitando a concorrência exagerada que se verifica;
Saneamento do sector exportador nacional, com vista à eliminação da concorrência desleal e à cooperação, que se poderá pôr em prática, nas vendas, na gestão, na armazenagem, etc.;
Campanhas de propaganda dos produtos de cortiça no estrangeiro, utilizando tipos de publicidade de características acentuadamente técnicas;
Colaboração com técnicos estrangeiros e empresas especializadas de outros países.

Atendendo a que o coeficiente de utilização da capacidade produtiva é de 23 por cento, deverão as empresas

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orientar-se para a concentração, em ordem a obter certa dimensão técnico-
económica e conveniente aperfeiçoamento tecnológico, para o que será de encarar:

O reapetrechamento do Gabinete de Estudos e Ensaios de Cortiça, em ordem à melhoria das características de alguns produtos e descobertas de no vos campos de aplicação;
A constituição de uma sociedade entre os interessados, de forma a mobilizar o apoio financeiro e técnico necessário à investigação tecnológica:
O estudo e elaboração de esquemas tipos de gestão, de implantação-movimentação, de instalações ou reorganizações modelos, planos contabilísticos, etc.;
O recurso à colaboração estrangeira e instituição de prémios para os investigadores.

Sendo este sector caracterizado pelo predomínio de capitais circulantes em relação aos fixos, a escassez de capitais resulta da falta de recursos próprios, da instabilidade financeira e do limitado recurso ao crédito. Assim, a montagem de um sistema geral de concessão de financiamentos à indústria e à exportação, segundo o processo de warrantagem ou de créditos directos, será solução a adoptar com vista a atenuar as dificuldades presentes.

2.4 - Madeira e mobiliário de madeira

Serração e carpintaria. - A indústria de serração tem sentido a falta de madeira de grandes dimensões, pelo que deverão adoptar-se medidas tendentes a suprimir essa escassez de matéria-prima. Para uma valorização da madeira, dever-se-á adoptar técnicas que lhe aumentem a durabilidade e estimular a sua utilização.
Quanto à caixotaria, além do fomento de espécies mais aptas para o fabrico de caixotes, dever-se-á estabelecer critérios destinados a disciplinar a concorrência, no domínio da produção, feita pelos aglomerados e pela celulose.
Relativamente à parque teria, as madeiras devem ser classificadas segundo classes de qualidade e os produtos normalizados, principalmente os elementos de construção, tais como portas, janelas, tacos, etc.
Como problema geral e comum às diversas indústrias do sector da serração e carpintaria, salienta-se a necessidade de formação profissional conveniente, de assistência de pessoal com formação média e superior e do estudo de modelos fabris correctamente dimensionados e equilibrados, permitindo conveniente estruturação das empresas.

Preservação da madeira. - Os organismos competentes devem divulgar, pelos meios ao seu alcance, as vantagens de utilização de madeiras de pinho impregnadas em autoclave. Impõe-se a constituição de uma comissão para estudo da normalização, da qualidade e dimensão conveniente das madeiras de pinho.

Aglomerados. - Entre as principais medidas tendentes a promover o progresso tecnológico, interessa salientar:

Normalização dos aglomerados e suas utilizações;
Estabelecimento de uma marca nacional de qualidade;
Montagem de laboratórios para ensaios de controle da qualidade;
Divulgação de trabalhos já efectuados, reunião de documentação, promoção de cursos de especialização, estágios, contactos internacionais, exposições fixas e itinerantes, etc.

Para incrementar as exportações, torna-se necessário promover a apresentação dos produtos em feiras internacionais e o apoio, por parte das entidades oficiais competentes, em matéria de propaganda dos produtos portugueses e de prospecção de mercados externos.

2.5 - Borracha e transformação de matérias plásticas

Borracha. - Tendo em atenção a estrutura das empresas e da produção, com excepção do sector de pneus e câmaras-de-ar, serão de encarar as seguintes disposições:

Normalização, concentração industrial e especialização. Prospecção de mercados;
Identificação dos produtos com marcas próprias e verificação periódica da qualidade.

No campo da investigação e assistência, referem-se os seguintes objectivos:

Montagem de um laboratório tecnológico da borracha, que estabeleça normas de qualidade mínima;
Instalação de um gabinete de estudo e planeamento, ao nível gremial, através do qual se promovam, em especial, estudos de mercado e de comercialização no estrangeiro, campanhas de vendas, exposições, idas de comissões ao estrangeiro, feiras, etc.

Transformação de matérias plásticas. - Para que o sector possa corresponder e acompanhar o progresso tecnológico, torna-se necessário:

Prosseguir uma política de saneamento da estrutura empresarial, de maneira a não permitir a saturação do mercado, favorecendo a concentração e especialização das empresas e a obtenção de uma dimensão julgada conveniente;
Normalização da qualidade e estandardização;
Estímulo à criação de sociedades para a exportação;
Criação de um departamento técnico dos plásticos, dispondo de laboratório e serviços técnico-económicos, com apoio oficial e privado.

Atendendo às necessidades de pessoal qualificado do sector, conviria encarar a criação de um curso sobre tecnologia de matérias plásticas no Instituto Superior Técnico, de cursos acelerados para formação de encarregados e capatazes, em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação Industrial e o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra. Interessaria ainda promover cursos por correspondência, através do grémio dos industriais.
Em particular, p fomento da exportação deverá efectuar-se através de subsídios e apoio de organismos públicos de representação no estrangeiro.

2.6 - Ourivesaria

As actividades deste sector são essencialmente manuais, calculando-se em 5 por cento a parte mecanizada. Por isso, importa defender as indústrias que assentam na criação artística, original e individualizada e em técnicas tradicionais de uma mecanização ruinosa. Por outro lado, deverá encorajar-se a mecanização nos sectores com características diferentes.
Em particular, importa criar condições de utilização colectiva de equipamentos ou serviços, levando os produ-

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tores à formação de cooperativas, e a efectivação de estudos de organização interna das empresas, financiamento das exportações, etc.

2.7 - Material fotográfico e Instrumentos ópticos

Material fotográfico. - A totalidade das matérias-primas utilizadas é importada, pelo que a indústria está na dependência dos importadores, das agências das fábricas estrangeiras e suas sucursais. Como medidas para a reestruturação do sector apontam-se:

Regulamentação da actividade;
Incentivo à concentração de unidades sem um mínimo de viabilidade económica; Adopção de normas de comercialização apropriadas.

Instrumentos ópticos. - Atendendo às dimensões do mercado interno e à capacidade de produção existente, importa regulamentar a actividade, disciplinando tecnologicamente a entrada de novas unidades no sector e favorecendo a concentração das existentes.
Admite-se que facilidades de representação e prospecção através de serviços portugueses no estrangeiro e o apoio à exportação pelos métodos habituais podem incentivar a exportação.

§ 3.º Projecções

Por falta de dados quantificáveis referentes às previsões para o período de 1968-1973, limita-se a análise a um grupo reduzido de indústrias que compõem o sector.

3.1 - Tabaco

QUADRO III

Previsão do consumo, produção e emprego das indústrias de tabaco (1966-1973)

[Ver tabela na imagem]

Os aumentos previstos baseiam-se no ritmo do crescimento dos anos recentes, no aumento de 0,5 por cento na população e no de 3 por cento na capitação.
Estimou-se ainda que o custo unitário da produção sofreria acréscimo gradual, para alcançar em 1973 valor superior em 10 por cento ao de 1964.

3.2 - Curtumes, calçado e artigos de pele

Curtumes. - Prevê-se ritmo de crescimento da produção similar ao dos anos anteriores, situando-se à volta de 10 por cento anualmente. No caso de a exportação se desenvolver, a indústria está em condições de elevar esta produção para 50 por cento (dentro de um ano).
Os investimentos necessários serão obtidos por autofinanciamento.

3.3 - Cortiça

Produção de cortiça amadia:

[Ver tabela na imagem]

Na cortiça amadia admite-se o aumento de 10 por cento em relação a cada um dos anos correspondentes do novénio anterior.
Na cortiça virgem estima-se uma quebra de 10 cento, situando-se à volta das 93 000 t.
A exportação deve atingir em 1973 as 200 000 t.

3.4 - Madeira e mobiliário de madeira

Aglomerados

Previsão da produção de aglomerados (1968-1973)

[Ver tabela na imagem]

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Nos números mencionados não estão incluídos os consumos próprios de alguns fabricantes.
Há ainda a considerar os aglomerados que são vendidos já folheados e que devem equivaler a:

Toneladas
1968 ................... 2000
1973 .................. 4000/5000

Preservação da madeira. - Prevê-se que em 1973 a produção da madeira não aumentará mais de 50 por cento em relação ao valor actual.
Se a produção projectada for totalmente absorvida, é possível que uma ou duas fábricas ampliem as suas instalações.

3.5 - Borracha e transformação de matérias plásticas

Transformação de matérias plásticas. - Em comparação com a indústria italiana e com um desfasamento de cinco anos, projectaram-se as produções (I) (em milhares de contos).

Previsão da produção de aglomerados para o período de 1968-1973

[Ver tabela na imagem]

Adoptando uma atitude de maior prudência e tendo em conta as diferenças de estrutura, dimensão de mercado e desenvolvimento da indústria, em relação à congénere italiana, os industriais apontam uma segunda estimativa corrigida (II) (à volta de 20 por cento para menos).
As exportações poderão atingir cerca de 25 por cento da produção.

§ 4.º Projectos

Neste aspecto, os dados são ainda mais escassos do que os anteriores, pelo que sómente se referirão os projectos de investimentos de três indústrias:

4.1 - Tabaco

Investimentos previstos (1968-1973)

[Ver tabela na imagem]

As necessidades de produção previstas serão conseguidas com os investimentos indicados até à sua utilização total (100 por cento) durante o período normal de trabalho.
Numa segunda fase, a capacidade duplicará com a introdução do 2.? turno.

4.2 - Instrumentos científicos

Em 1970, prevê-se que os investimentos a realizar serão:

Contos
Equipamento a substituir .......... 6 500
Equipamento para novas produções .. 5 000
Edifícios e instalações ........... 7 000
18 500

O autofinanciamento cobrirá um terço dos investimentos previstos.

4.3 - Material fotográfico

Existe um projecto para a criação de um laboratório de fotografia industrial, com o investimento do 5000 a 6000 contos.

CAPITULO IV

Indústrias de construção e obras públicas

§ 1.º Evolução recente o problemas actuais

1. A importância da indústria de construção na economia do País justifica plenamente que lhe seja consagrado um capítulo próprio neste Plano.
Com efeito, as actividades do sector concorrem, de modo essencial, nas suas múltiplas formas, para a realização dos investimentos públicos e privados que estão na base de todo o processo de desenvolvimento económico: as vias de comunicação, a produção de energia, os aproveitamentos hidroagrícolas, as zonas industriais, são alguns exemplos de infra-estruturas físicas cuja execução pertence em grande parte ao domínio deste sector.
Por outro lado, a realização das infra-estruturas de natureza social assume o maior relevo no conjunto destas actividades, salientando-se a edificação de habitações - o principal mercado da construção civil -, a que se vem juntar a construção de equipamentos escolares, culturais, de salubridade, etc.
Do ponto de vista das relações intersectoriais, a indústria de construção exerce igualmente acção preponderante na economia nacional, na medida em que domina a actividade de outras indústrias que a ela se encontram Intimamente ligadas. Assim, por exemplo, a produção de cimento, a siderurgia, o barro vermelho, as faianças, a carpintaria e serração mecânicas, a extracção de pedra e areia - que garantem o trabalho de cerca de 100 000 empregados e operários -, dependem quase integralmente da indústria de construção.
Além disso, a incidência das obras da indústria de construção, sobretudo das obras públicas, na política económica conjuntural adquire particular relevância, dado

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que uma programação adequada daquelas obras permite compensar as flutuações que se manifestam em relação às taxas dinâmicas de crescimento económico.
Finalmente, como actividade em que predomina a mão-de-obra, a indústria de construção constitui o sector por onde passa, tradicionalmente, grande número de operários agrícolas, que depois se transferem para a indústria transformadora e para o sector terciário, quando já enquadrados na disciplina do trabalho industrial e na vida urbana. Acresce que a actividade da construção pode exercer influência considerável sobre a oferta e procura de mão-de-obra, sobretudo nos períodos de depressão, em que uma política de obras públicas utilizando fortes proporções de mão-de-obra contribui, em particular à escala das regiões, para atenuar os efeitos da crise.

2. As actividades da indústria de construção são tradicionalmente repartidas em duas grandes categorias - construção civil e obras públicas -, tornando-se, todavia, praticamente impossível marcar, com precisão, os limites que correspondem a cada uma delas.
Com base nos elementos estatísticos disponíveis, verifica-se, quanto ao produto do sector, que em 1953 o seu valor era de 2093 milhares de contos, passando em 1964 para 4508 milhares, o que representa uma taxa média de crescimento anual de 7,5 por cento. A participação da indústria no produto interno bruto, que era de 4 por cento em 1953, sofreu aumentos progressivos ao longo do período, fixando-se em 5,15 por cento no ano de 1964.
Quanto à formação de capital fixo, o respectivo montante passou de 70 000 contos, em 1953, para 270 000 contos no final do período referido, o que traduz um ritmo anual de acréscimo de 10,3 por cento.

3. No que respeita ao valor das obras realizadas pela indústria de construção, o relatório anual publicado pelo Ministério das Obras Públicas constitui a fonte de informação mais completa sobre as realizações - do Estado, municípios e outras entidades - em que aquele departamento intervém.
Assim, o valor global das obras públicas realizadas passou de 945 milhares de contos, em 1954, para 2,1 milhões de contos, em 1964.
Repartindo esta evolução por três períodos, registam-se os valores anuais médios seguintes:

Milhares de contos
1954-1957 ................. 1 063,2
1958-1961 ................. 1 358,3
1962-1964 ................. 1 924

Em relação ao valor total das obras realizadas entre 1954 e 1964, verifica-se a seguinte distribuição, em percentagem, segundo a natureza das obras:

[Ver tabela na imagem]

Além das realizações do Ministério das Obras Públicas, outras obras de carácter público são executadas por diversas entidades. Os valores que atingiram alguns dos principais tipos de obras, em 1964, são os seguintes 1:

Contos
Aproveitamento de energia eléctrica .... 790 571
Caminhos de ferro ...................... 235 000
Aeroportos ............................. 119 288
Porto de Lisboa ........................ 39 390
Portos do Douro e Leixões .............. 37 206

4. No que se refere às obras de construção civil, a evolução da área coberta, segundo os elementos publicados na Estatística Industrial, processou-se a ritmo muito irregular, com fases de rápido crescimento alternadas com períodos de estabilização ou de recessão.
Depois da subida verificada de 1951 a 1953, registou-se certa estabilidade em 1954-1955, seguindo-se rápido crescimento de 1956 a 1958. No período de 1959 a 1962, a indústria atravessou uma fase de estagnação, mas, a partir de 1963, regista-se novamente grande incremento das actividades do sector.
A Estatística Industrial distingue entre edifícios para habitação e destinados a outros fins, consoante os sectores de actividade económica. A evolução respectiva processou-se do seguinte modo:
a) A superfície dos pavimentos dos edifícios destinados & habitação representou, em média, no período de 1950-1964, cerca de 78 por cento da superfície total dos pavimentos.
O número total de fogos foi de 311 265, com a média de 20 751 fogos por ano.
O número de edifícios com um e dois pavimentos constitui cerca de 85 por cento do total dos edifícios construídos, o que evidencia *a grande dispersão do mercado neste sector.
A tendência crescente para a construção de edifícios com um e dois pavimentos constitui, de resto, um dos problemas importantes da indústria de construção civil.
b) A superfície dos edifícios construídos para outros fins manteve-se praticamente: estacionária, a partir de 1952, tendo atingido o máximo de 772 508 m2 em 1964.
Assume a maior importância a superfície dos pavimentos dos edifícios destinados à indústria transformadora, que se elevou a 400 450 m2 naquele ano.
A superfície média dos pavimentos foi de 50 m2 nos edifícios para o sector primário, 500 m2 nos do sector secundário e 200 m2 no terciário.

5. No referente ao emprego na indústria de construção, não existem estatísticas correntes que permitam conhecer, com segurança, o volume e a qualificação do pessoal ao serviço. Apenas é possível dispor dos dados dos censos populacionais, segundo os quais a mão-de-obra empregada nesta indústria passou de um total de 142,2 milhares de pessoas, em 1950, para 214 milhares, em 1960.
A escassez de técnicos de nível superiora médio (engenheiros, arquitectas, agentes técnicos) afecta, de forma sensível, a marcha da indústria de construção. A situação actual pode caracterizar-se pela inexistência, na quase generalidade das empresas, de quadros técnicos convenientemente estruturados, e, como consequência, pode dizer-se, de modo geral, que é deficiente a assistência técnica implícita nos termos de responsabilidade que as câmaras exigem.

1 Estes valores representam os investimentos totais, e não apenas a parte relativa à construção.

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Quanto ao pessoal operário, as dificuldades de recrutamento não foram consideráveis até 1961. Todavia, a partir desse ano, tem-se verificado escassez de operários, designadamente com certo grau de especialização.
Além disso, nota-se grande instabilidade desta mão-de-obra, não só devido à passagem frequente dos operários de uma empresa para outra, mas também porque muitos operários transitam para outras indústrias que pagam salários mais elevados e oferecem condições de trabalho mais estáveis.
A evolução de salários, na indústria de construção civil acusou relativa estabilidade até 1961, mas a partir deste ano tem-se verificado tendência para o seu rápido incremento. No período de 1961-1964, as taxas anuais médias de acréscimo dos salários das diferentes profissões oscilaram entre 3 e 8 por cento.
A elevação dos salários e dos preços dos materiais, nos últimos anos, constitui um dos problemas mais delicados com que se debatem os empreiteiros, pois provocou o agravamento do custo global dos trabalhos, sem que tenha havido o correlativo reajustamento dos preços das empreitadas.

6. Sobre a estrutura empresarial do sector da indústria de construção, os elementos disponíveis referem-se ao inquérito industrial de 1957-1959.
Apesar de desactualizados, podem, todavia, considerar-se significativos para retratar a estrutura extremamente dispersa e pulverizada em que se mantém o sector.
Com efeito, a análise desses elementos permite concluir que:

Os estabelecimentos com menos de seis operários (37,6 por cento do total) realizavam 2 por cento da produção bruta e abrangiam 6 por cento do pessoal ao. serviço;
Os estabelecimentos com 6 a 100 operários (52,9 por cento do total) executavam 43 por cento da produção bruta, com 46 por cento do pessoal;
Os estabelecimentos com mais de 100 operários (3,5 por cento do total) detinham 55 por cento da produção bruta, com 48 por cento do pessoal.

Em valores médios, pode considerar-se que os estabelecimentos com menos de 6 pessoas efectuavam obras no valor de 53 contos por ano, enquanto as empresas com mais de 100 pessoas as realizavam no valor de 16 000 contos.
Apesar da relativa similitude nos meios utilizados, é muito diferente a estrutura das empresas de construção civil e das obras públicas.
A construção civil emprega, ainda, fundamentalmente, métodos tradicionais baseados na mão-de-obra, sendo muito reduzida a parte dos equipamentos, embora se notem tendências de melhoria.
Por outro lado, a multiplicidade de trabalhos que exige a construção de edifícios conduz; à proliferação de empresas dedicadas à execução de certos elementos de construção e à montagem de instalações, sendo a sua coordenação um dos problemas mais importantes no andamento daqueles trabalhos.
A grande maioria destas empresas é de pequena dimensão e não possui organização, capacidade financeira ou meios de estudo suficientes para assumir, com eficiência, a responsabilidade de construção e execução das obras de maior envergadura.
Em contrapartida, na indústria de construção de obras públicas, pelo facto de a natureza dos trabalhos possibilitar a utilização de máquinas de média e grande potência e de o volume de obras exigir técnicas mais evoluídas, existem empresas especializadas de certa dimensão, com capacidade de financiamento e de organização e com possibilidade de realização de estudos especializados e dó apoio técnico às obras.
Além disso, o exercício das actividades das empresas de obras públicas ;está já regulamentado por uma série de diplomas legais que tem conduzido à selecção gradual das empresas.
Desta modo, as empresas que executam obras públicas são em número muito menor do que na construção civil e, também, de estrutura mais bem dimensionada, o que conduz a mais elevados níveis de produtividade.

§ 2.º Objectivos

7. Torna-se difícil neste Plano fixar à indústria de construção determinadas metas de produção, produtividade, emprego e investimento e, ainda, ia indicação das correspondentes medidas a tomar para que essas metas venham a ser atingidas durante a vigência do Plano, em virtude das limitações, de natureza estatística.
Todavia, estas limitações não, impedem que se definam determinados objectivos e orientações gerais a prosseguir pelo sector ao longo do período de 1968-1973.
Assim, como objectivo fulcral, procurar-se-á que a indústria de construção corresponda às exigências impostas pelo desenvolvimento económico nacional, nomeadamente as decorrentes dos investimentos públicos e privados inscritos no Plano.
Tais exigências implicam, acima de tudo, a realização de grande esforço no sentido de se obterem maiores níveis de produtividade e, por consequência, a redução dos custos de construção.
A prossecução deste objectivo torna necessária a adopção de uma série de. medidas concretas, tanto ao nível oficial como dos empresários, as quais terão de incidir sobre vasto campo, como seja a programação global do sector, a continuidade da actividade das empresas, a normalização, a estrutura empresarial, a simplificação de regimes jurídicos e administrativos, etc. A todas estas acções se fará referência adequada no parágrafo seguinte.

8. No que respeita às variáveis globais do sector, tomando como base os dados da contabilidade nacional recentemente publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, prevê-se que o produto da construção cresça no período de 1968-1973 à taxa média anual de 9 por cento, sensivelmente mais alta do que a verificada no passado recente, que foi, como oportunamente, se referiu, de 7,5 por cento.
Sendo assim, espera-se que o1 valor acrescentado pela indústria no ano final daquele período atinja o montante aproximado de 9 milhões de contos.
Quanto à formação de capital fixo, calcula-se que o seu crescimento ao longo do período de 1968-1973 se processe à taxa anual média de 9 por cento, ligeiramente superior à estimada para a vigência do Plano Intercalar (8,5).
Nestas condições, será da ordem dos 580 000 contos o capital fixo que virá a formar-se em 1973.
Relativamente ao emprego, admitindo que a produtividade global do trabalho evoluirá à taxa anual ide 6 por cento, conclui-se que o volume, da mão-de-obra ao serviço do sector em 1973 será da ordem dos 295 000 empregados e operários, ou sejam mais de 80 000 que os revelados pelo censo populacional de 1960.
Para além das projecções das variáveis macroeconómicas, interessará especialmente conhecer o valor dos

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1662-(274) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

principais tipos de obras a realizar no período do Plano, distinguindo a parte relativa à construção do total dos investimentos programados em cada uma das seguintes rubricas:

[Ver tabela na imagem]

§ 3.º Medidas de política

9. A caracterização atrás esboçada do estado em que se encontra actualmente a indústria de construção civil e obras públicas pôs em relevo uma série de estrangulamentos e de obstáculos ao desenvolvimento do sector, que importa, na medida do possível, procurar remover de forma coordenada e progressiva.
É certo que alguns passos importantes foram já dados nesse sentido, sobretudo no referente à regulamentação da actividade das empresas, estando para muito breve a publicação da legislação, correspondente.
Outras medidas, porém, há que pôr em execução, designadamente as que visam obviar aos inconvenientes resultantes da actividade extremamente irregular a que a indústria se encontra sujeita e, também, as que se destinam a promover novos métodos de construção, utilizando técnicas modernas, hoje generalizadas nos países mais avançados.
Deverá, todavia, acentuar-se que muitas destas medidas necessitam de estudos aprofundados antes de serem postas em execução, dado tratar-se de matérias complexas sobre as quais não existe ainda suficiente experiência no nosso pais. Por isso, no texto do Plano, em alguns casos se prevê a constituição de comissões de trabalho, a designar pelo Ministério das Obras Públicas, encarregadas de estudar aspectos específicos da indústria de construção antes de publicar legislação adequada que passe a regular a matéria.
A seguir se mencionam as principais linhas de rumo que se prevê seguir durante a execução do Plano:

A) Criação no Ministério das Obras Públicas de um gabinete de estudo e planeamento, à semelhança do que já acontece noutros Ministérios.

Como elemento fundamental de apoio às tarefas ligadas à preparação e execução dos planos, de fomento, a este gabinete será confiada, essencialmente, a missão de efectuar a programação a médio e longo prazo e a coordenação das obras em que o Estado intervém, por intermédio dos diferentes serviços do Ministério das Obras Públicas, de modo a assegurar maior rentabilidade dos investimentos.
De igual modo, procurará este órgão estudar as acções que importa, em cada momento, promover a fim de evitar as flutuações que se têm verificado na indústria, para o que ,será necessário conhecer os múltiplos factores que condicionam esta actividade.

B) Criação de um centro técnico de produtividade da indústria de construção.

Paralelamente à criação de um gabinete de estudos e planeamento no Ministério das Obras Públicas, importa que, do lado dos industriais, se disponha de um núcleo técnico comum que estude as perspectivas e as condições para o são desenvolvimento de todo o sector e apoie, com alto grau de tecnicidade, a defesa de interesses comuns.
As empresas de construção, ao contrário do que sucede na maioria dos outros sectores industriais, procedem à execução das obras, mas têm pouca influência na concepção dos produtos que constróem, a qual pertence, geralmente, aos proprietários dessas obras.
Assim, será aos organismos profissionais e às empresas de maior dimensão que caberá promover as iniciativas necessárias para que a indústria possa agir directa e rapidamente no seu mercado.
Em particular, os progressos da produtividade, quer ao nível do estaleiro, quer da empresa, quer ainda do conjunto do sector, se forem suficientemente acentuados, poderão permitir preços mais baixos, obviando assim aos aumentos verificados nos custos da mão-de-obra e proporcionando maior rentabilidade dos investimentos.
Tudo isto concorre para sublinhar a importância de que se reveste a criação de um centro técnico de produtividade da indústria de construção, o qual, funcionando com o apoio do Estado, mas directamente ligado aos organismos profissionais representativos do sector, impulsionará e coordenará os estudos e as acções necessárias ao desenvolvimento e modernização da indústria. Concretamente, a criação desse centro técnico, além de auxiliar de forma directa a resolução dos problemas que afectam directamente os empresários, como sejam os respeitantes à assistência técnica, à formação profissional e à formação técnica e económica, responderá ainda à necessidade de criar uma estrutura eficiente e representativa que apoie tecnicamente a iniciativa privada nos trabalhos de planeamento.

C) Providências destinadas a assegurar a continuidade das actividades da indústria.

Tem-se em vista obviar, em parte, às flutuações a que a indústria está sujeita e que, como se referiu, foram especialmente notórias no período de 1953-1964.
Nesta matéria caberá ao Estado importante papel, na medida em que, pelo menos em relação às obras públicas, se deverá procurar ir além da simples enunciação nos planos de fomento das principais obras a realizar durante a sua vigência.
Torna-se, com efeito, necessário dar a conhecer, com antecedência, o escalonamento, no tempo, da realização dessas obras, o que, por seu turno, implica o conhecimento antecipado do eventual fraccionamento das empreitadas e a data das realizações.
Assim, os planos de fomento serão, na medida do possível, completados por diplomas que definam, com a conveniente antecedência e para cada obra principal,

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o conjunto de disposições a que deve estar submetido o programa de financiamento, com a indicação das respectivas fontes.
Por outro lado, sempre que a natureza dos trabalhos o permita, procurar-se-á nestes diplomas a efectivação das obras sem descontinuidade, pelo menos para as operações de execução repetida.
Deste modo, as empresas responsáveis pelas empreitadas poderão orientar, com a antecedência necessária, a organização das suas actividades, o que virá a reflectir-se benèficamente na rentabilidade das explorações.
Estes dispositivos permitirão igualmente contrariar a tendência actual para o fraccionamento excessivo do conjunto de certas operações, o que certamente contribuirá para o aperfeiçoamento da estrutura empresarial do sector, na medida em que estimula o aparecimento de empresas de maior dimensão ou o seu agrupamento.
Com vista à progressiva realização deste conjunto de medidas, proceder-se-á:
Ao estudo, pelo Ministério das Obras Públicas, das suas condições de aplicação. Procurar-se-á, designadamente, definir as condições técnicas a que deve obedecer o escalonamento, no tempo, das várias fases de realizações dos principais tipos de empreendimentos a cargo do sector público, desde a elaboração do projecto ao acabamento da obra;

Ao estudo e publicação, pelos Ministérios das Obras Públicas e das Finanças, de leis-programas, numa base de financiamento plurianual, para a execução das obras mais Importantes;
À constituição de uma comissão de estudo, formada por representantes de entidades oficiais e organismos profissionais, com o encargo de propor medidas no sentido de obter maior regularidade na evolução da indústria de construção e, assim, evitar os excessos ou insuficiências acentuadas que se verificam ria utilização dos equipamentos e do pessoal ao serviço das empresas.

D) Regulamentação da indústria da construção civil particular.

Esta regulamentação terá por objectivo disciplinar a indústria, no domínio das obras particulares, em termos semelhantes aos que o Decreto-Lei n.º 40 623, de 30 de Maio de 1956, instituiu para as obras públicas.
Em Setembro de 1962 o Governo enviou à Câmara Corporativa o projecto de Decreto-Lei n.º 500, sobre a «extensão aos industriais de construção civil particulares das medidas de disciplina aplicáveis aos empreiteiros de obras públicas, nos termos da legislação em vigor», sobre o qual aquela Câmara emitiu parecer, em Abril de 1963, rejeitando o citado projecto.
O Ministério das Obras Públicas sugeriu à Corporação da Indústria a preparação de novo projecto de regulamento que tivesse em conta, na medida do possível, as observações feitas pela Câmara. O trabalho foi já entregue e encontra-se pendente de decisão.

E) Revisão da legislação geral de empreitadas.

Para além da revisão do contrato administrativo de empreitadas de obras públicas, trata-se de definir as novas bases em que deve assentar o contrato de fornecimento de materiais e equipamento para aquelas obras e, ainda, as normas de funcionamento interno dos serviços públicos no que se refere aos dois citados contratos.
A comissão encarregada de estudar o assunto deu já por concluídos os seus trabalhos, aguardando-se para muito breve a sua apresentação e a publicação da legislação respectiva.

F) Elaboração de contratos tipo para obras particulares.

Dado que actualmente se verifica grande variedade e certa imprecisão nas condições jurídicas e administrativas dos contratos de obras particulares, prevê-se a aplicação a estas obras de regime semelhante ao vigente para as obras públicas.
O Grémio dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas do Sul tem. em curso a recolha de elementos de estudo para a elaboração de um projecto de contrato tipo, o qual contemplará os seus principais aspectos, como sejam, modalidades de pagamento, prazos e condições de reclamação, indemnizações, etc.
Após o seu exame por uma comissão de trabalho a designar para o efeito, será elaborada legislação em ordem a estabelecer, com clareza, as condições a que devem obedecer os contratos entre as empresas construtoras e os donos das obras.

G) Elaboração de cadernos de encargos tipo (especificações técnicas).

A uniformização de cadernos de encargos, definindo, para os principais tipos de trabalho, as regras construtivas a adoptar, facilita a elaboração dos projectos e a sua interpretação; além disso, reduz as possibilidades de litígios na execução e recepção das obras.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil iniciou já a elaboração de documentos base de alguns cadernos de encargos. Em seguimento destes estudos, constituir-se-á uma comissão de trabalho, com representantes oficiais e das empresas, para apreciar cada documento, após o que será elaborado projecto de normas legislativas com vista a que os cadernos de encargos aprovados sejam convenientemente adoptados pelos proprietários das obras e autores dos projectos.
A comissão de trabalho funcionará com carácter permanente e definirá as prioridades a observar no estudo dos diferentes cadernos de encargos, ao mesmo tempo que promoverá a sua actualização de acordo com a evolução das técnicas.

H) Revisão dos sistemas adoptados na consulta às empresas para adjudicação de obras.

Os sistemas de concurso das obras e a selecção das empresas têm cada vez maior interesse, à medida que aumenta a complexidade funcional das obras e o desenvolvimento das técnicas.
O critério do preço mais baixo apresentado a concurso, que é prática generalizada, conduz frequentemente a perturbações durante a execução das obras, por carência da capacidade das empresas, e muitas vezes à deficiente qualidade das construções, que onera os encargos de conservação dos edifícios.
A revisão dos sistemas adoptados na consulta às empresas e na adjudicação das obras tornará necessária a actualização da legislação vigente e uma definição mais ampla da responsabilidade das empresas e dos autores dos projectos.
Para o efeito, proceder-se-á aos estudos necessários com vista a determinar o tipo de informações a colher junto das empresas, sobre capacidade técnica e finan-

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ceira, prazos a conceder para apresentação de propostas, pormenorização de elementos que devem servir de base à consulta, discriminação dos documentos a apresentar pelas empresas para serem admitidas aos concursos, etc.

I) Simplificação das operações administrativas de aprovação dos projectos das construções e dos planos de urbanização.

Actualmente, a aprovação dos planos de urbanização e dos projectos de obras está sujeita a circuitos de operações administrativas que dificultam seriamente a sua rápida execução.
Haverá que proceder à análise objectiva das actividades de todos os intervenientes por forma a introduzir métodos que simplifiquem as respectivas intervenções e evitem demoras injustificadas.
Efectuada essa análise, estabelecer-se-ão em diploma legal apropriado os prazos de exame dos projectos por parte das diferentes entidades, consoante a sua importância e natureza.

J) Publicação de regras mínimas de apresentação de projectos.

Tem-se em vista eliminar as ambiguidades que hoje se verificam na execução das obras, por falta de normas comuns na apresentação de projectos.
Torna-se necessária a elaboração de diploma legal que estabeleça essas normas, de modo a possibilitar a preparação de orçamentos, a selecção de materiais e a programação e coordenação do esquema das obras.
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil completará os estudos que para o efeito vem realizando, após o que os submeterá à apreciação de uma comissão de trabalho constituída por elementos representativos do sector oficial e das empresas.
Seguir-se-á a preparação, pelo Ministério das Obras Públicas, do projecto de diploma legal acima mencionado.

K) Obtenção de informação estatística mais perfeita.

São os seguintes os domínios em que se procurará realizar um esforço intenso no sentido de se obter melhor cobertura estatística do sector:
a) Acção do Instituto Nacional de Estatística em ordem à publicação de estatísticas correntes sobre a indústria de construção, nomeadamente nos aspectos referentes à produção, estrutura das empresas, equipamento utilizado, investimentos realizados e materiais consumidos - segundo os principais tipos de construção civil e obras públicas. A Comissão Consultiva de Estatística do Ministério das Obras Públicas definiu já, em colaboração com o Instituto Nacional de Estatística, o programa estatístico a realizar nos próximos anos;
b) Acção conjugada do Instituto Nacional de Estatística e do Serviço Nacional de Emprego em ordem à apresentação de estatísticas sobre a mão-de-obra ao serviço do sector, por qualificações profissionais;
c) Publicação, pelos organismos responsáveis pela execução de obras públicas, de relatórios anuais em que darão conta dos resultados das suas actividades, com a indicação das verbas despendidas, trabalhos realizados e sua repercussão no desenvolvimento económico-social do País;
d) Elaboração, pelo Gabinete de Planeamento do Ministério das Obras Públicas, em colaboração com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, o Instituto Nacional de Investigação Industrial e outras entidades oficiais e particulares, de uma matriz pormenorizada de relações interindustriais do sector da construção e dos materiais de construção - instrumento básico para a definição de uma política coerente de desenvolvimento destes sectores.

L) Adopção de medidas que possibilitem a industrialização da construção civil.

A construção de edifícios só evoluirá no sentido da industrialização quando se verificar certo número de condições que não dependem directamente das decisões das empresas. Estas condições supõem uma modificação profunda nos processos administrativos e nos métodos de construção tradicionais, nomeadamente nos aspectos seguintes:

Estudo pormenorizado dos projectos antes da sua execução, a fim de impedir modificações no decorrer dos trabalhos, salvo em casos especiais;
Dimensionamento das empreitadas postas a concurso, de modo a evitar o fraccionamento de lotes semelhantes, a fim de que uma mesma empresa possa executar vários edifícios com idênticas características construtivas;
Intensificação da normalização de materiais e respeito pelas normas estabelecidas;
Utilização de elementos de construção tipificados - portas, janelas, escadas, paredes divisórias e de fachada, casas de banho, cozinhas, etc.

A coordenação dos diversos órgãos da Administração que adjudicam obras, de modo a tornar efectiva a realização destas medidas, deverá constituir o primeiro passo no sentido da industrialização.
Em face do estado pouco avançado em que se encontram estas matérias, torna-se conveniente constituir uma comissão que estude as acções necessárias em ordem ao desenvolvimento da industrialização da construção civil em Portugal.
Por outro lado, o lançamento de estaleiros experimentais é um tipo de acção complementar que terá de levar-se por diante neste domínio e se reputa do maior significado, uma vez que permitirá verificar directamente as vantagens económicas e as condições de viabilidade de certos métodos de industrialização da construção de edifícios, em confronto com os processos tradicionais.
A comissão indicada anteriormente estudará os meios de pôr em prática esta sugestão, definindo as entidades responsáveis pelo lançamento dos estaleiros experimentais e o modo do seu financiamento, em ordem a averiguar a viabilidade da industrialização em domínios precisos de actividade.

M) Desenvolvimento das actividades de investigação.

A indústria de construção, sobretudo no sector da construção civil, é actividade em que ainda predominam as técnicas tradicionais e onde existe certa relutância na aplicação dos resultados da investigação, sobretudo nos casos em que é necessário introduzir modificações nos materiais, na organização ou nos métodos de trabalho.
Todavia, a indústria tem relações com um domínio científico extremamente vasto. As propriedades físicas, mecânicas e químicas dos materiais de construção, a resistência e estabilidade das estruturas, a mecânica dos solos, a racionalização da produção e a organização cien-

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tífica do trabalho constituem alguns domínios que interessam particularmente a este sector.
Nestas condições, competirá ao sector público fomentar o desenvolvimento da investigação e realizar os esforços necessários para adaptar os seus resultados às necessidades práticas das empresas.
Em especial, importa salientar o papel a desempenhar pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, cuja acção permitiu já a solução de alguns problemas que muito interessara ao desenvolvimento do sector.
O programa pormenorizado de investigação na indústria de construção está incluído no capítulo do Plano dedicado a «Educação e investigação».

N) Maior desenvolvimento das actividades de normalização.

A normalização constitui requisito indispensável para fomentar a industrialização do sector, sobretudo da construção civil.
Até ao momento, as normas existentes no País dizem respeito apenas a certos materiais utilizados na construção tradicional.
Importará, por isso, impulsionar o ritmo actual de estabelecimento de normas dos materiais e alargar o seu domínio a certos elementos primários dos edifícios. Nesse sentido, prevê-se o aumento substancial das dotações destinadas a tal objectivo durante a vigência do III Plano, figurando a lista dos trabalhos a realizar no capítulo referente a «Educação e investigação».

O) Coordenação da elaboração dos projectos e da execução das obras.

Por motivos que se prendem fundamentalmente com os métodos actuais de elaboração dos projectos e da execução das obras, a racionalização da construção só pode ser abordada actualmente no início da instalação dos estaleiros, quando devia ser considerada, em toda a sua amplitude, a partir do início da elaboração do projecto.
Com efeito, a incorporação de grande variedade de equipamentos e os imperativos da qualidade das construções têm transformado radicalmente a estrutura dos edifícios e tornado mais complexo o trabalho nos estaleiros.
A construção de um edifício necessita, portanto, do concurso de número cada vez mais elevado de especialistas, que deveriam ser, pelo menos, associados em equipas, uma vez que qualquer deles não pode agir autonomamente.
Assim, haverá que proceder ao estudo das técnicas de coordenação na indústria de construção civil, tanto na fase de estabelecimento do projecto como na de execução das obras, o que implicará a revisão das normas de elaboração dos projectos, das técnicas construtivas e dos princípios fundamentais da organização do trabalho.
Ao Ministério das Obras Públicas competirá o estudo e a divulgação das técnicas de coordenação da indústria de construção do País e, ao mesmo tempo, providenciar no sentido da sua progressiva aplicação, sobretudo na construção de edifícios.

P) Providencias relativas à mão-de-obra.

São as seguintes as acções a empreender no domínio da mão-de-obra:
a) Contrato colectivo de trabalho. - O projecto encontra-se já aprovado pelas entidades intervenientes na sua elaboração (grémios de industriais da construção civil e de obras públicas e sindicatos de operários da construção civil), aguardando-se para muito breve a sua homologação;
b) Formação profissional. - É assunto da mais alta importância, em face da carência actualmente existente em certas qualificações profissionais. No capítulo do Plano dedicado especificamente a esta matéria encontra-se o programa relativo à indústria de construção;
c) Férias pagas. - O facto de os operários da construção civil, trabalharem, -frequentemente, durante o ano em mais de uma empresa tem como resultado serem muito poucos os que auferem efectivamente as regalias da concessão de férias. Estudar-se-á o modo de solucionar este problema no âmbito do contrato colectivo de trabalho, designadamente a viabilidade da criação de uma caixa de compensação para pagamentos de férias, na qual todas as empresas entregariam as importâncias correspondentes às férias do seu pessoal, qualquer que fosse o período de trabalho prestado;
d) Habitações para operários. - O nomadismo dos estaleiros tem como consequência o aumento das necessidades de habitação, pelo afluxo temporário dos operários da construção civil. Há que analisar este problema e as soluções mais convenientes, em particular as que se baseiam na instalação do pessoal dos estaleiros em casas desmontáveis; para esta solução será necessário estudar a normalização dessas casas e a contribuição a dar pelo sector público através, por exemplo, da constituição de parques de casas desmontáveis, que seriam alugados ou vendidos às empresas.

CAPITULO V

Melhoramentos rurais

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. O sector dos melhoramentos rurais têm sido objecto de tratamento sistematizado a partir do II Plano de Fomento.
Todavia, a integração desta problemática nos planos de fomento obedeceu a critérios de certo modo restritivos, uma vez que, tanto no II Plano como no Plano Intercalar, apenas foram contemplados os aspectos referentes à electrificação rural, abastecimento de águas e viação rural, ficando, assim, de lado - ou sendo tratados, separadamente, em outros capítulos dos planos- diversos problemas que influem directamente na melhoria das condições de vida das meios rurais, e vão desde a habitação e a escola aos equipamentos de natureza colectiva.
Como característica comum às obras de electrificação, abastecimento de água e viação rural, e que as distingue de todas as outras que o Estado executa directamente ou fomenta por intermédio da actividade particular, há a salientar tratar-se de obras municipais, a projectar e executar pelas câmaras nos respectivos concelhos, no uso de atribuições que expressamente lhes são conferidas pelo Código Administrativo, em especial no seu artigo 40.º
No entanto, o Estado, além de intervir na aprovação dos projectos do ponto de vista da segurança e da salvaguarda de interesses de terceiros, auxilia as câmaras, mediante comparticipações gratuitas, no custo das obras, e dá-lhes frequentemente assistência técnica, quer na realização dos estudos, quer na própria execução das obras, através dos serviços competentes.
Dado, porém, que os municípios metropolitanos têm, em muitos casos, jurisdição sobre concelhos extensos e com meios financeiros reduzidos, há frequentemente di-

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ficuldades, em especial por parte das câmaras municipais de menores recursos, em satisfazer os encargos resultantes da construção e exploração daqueles melhoramentos, embora em alguns casos a comparticipação do Estado para as respectivas obras chegue a atingir percentagens muito elevadas.
Daí resulta que, apesar da esforço feito, os nossos aglomerados rurais apresentam ainda um grau de cobertura relativamente modesto no que respeita a cada um dos tipos de melhoramentos indicados.

2. No referente à electricidade rural, de acordo com o critério adoptado; na Estatística das Instalações Eléctricas em Portugal - segundo o qual «Freguesia electrificada» é aquela que tem, pelo menos, um consumidor de energia eléctrica -, das 3823 freguesias do País faltavam ainda electrificar 922 em 31 de Dezembro de 1965.
Todavia, se tomarmos por unidade territorial o lugar de 100 ou mais habitantes, em vez da freguesia, verifica-se que dos 13 387 aglomerados nessas condições, 5807 ainda não estavam atendidos naquela data.
Ao longo do período de 1953-1965 podem considerar-se três ordens de grandeza do valor médio das obras de electrificação rural em que o Estado comparticipou: cerca de 30 000 contas de 1953 a 1956, de 70 000 contos de 1957 a 1960 e de 100 000 contos de 1961 a 1965.
A explicação dos acréscimos observados reside, essencialmente, nas verbas pastas à disposição da Direcção-Geral dos Serviços Eléctricos para as comparticipações, factor que tem determinado a maior ou menor cobertura em electrificação dos aglomerados rurais. Em 1964 e em 1965 tais valores fixaram-se em €0 000 contos.

3. No que respeita ao abastecimento de água das populações rurais, dos 13 387 aglomerados existentes com mais de 100 habitantes, apenas se encontram abastecidos domiciliàriamente com caudal satisfatório cerca de 1600, mas a população servida é dai ordem de 3,2 milhões de habitantes, e dispõem de abastecimento por fontanários cerca de 3530 lugares. Dos restantes, muitos não têm ainda sistema regular de abastecimento de água e recorrem por vezes a poços e fontes primitivas para satisfazerem a& suas necessidades de água. Todavia, nos últimos seis anos, graças à acção dos serviços competentes no sentido da beneficiação destas origens de água rudimentares, a situação sanitária das respectivas populações sofreu sensível melhoria, pois as fontes de chafurdo estão a ser sistematicamente transformadas em poços munidos de bomba, manual ou em captações devidamente protegidas, ligadas a um fontanário. Espera-se que este importante plano esteja muito em breve concluído.
No que se refere a esgotos, embora estas obras não tenham sido incluídas até ao presente nos planos de fomento, sabe-se que até final de 1965 era cerca de 200 o número de aglomerados que dispunham de rede completa de esgotos, dos quais 29 possuíam estação depuradora, correspondendo aquele número de aglomerados a perto de 2,5 milhões de habitantes.
No período de 1962-1965, as dotações disponíveis permitiram encarar dispêndios da ordem dos 60 000 contos no sector do abastecimento de água dos aglomerados rurais e 21 000 contos no sector dos esgotos.

4. Pelo que toca à viação rural, apurou-se que, ao longo do hexénio 1959-1964, ficaram com acesso 1070 povoações, sendo 247 912 o número de habitantes beneficiados. Isso correspondeu a que cerca de 27,1 por cento do total das povoações com mais de 100 habitantes, que não tinham acessos em princípios de 1959, ficassem com esse problema resolvido.
Os investimentos considerados para a viação rural no II Plano de Fomento e no Plano Intercalar foram de 140 000 contos anuais, cabendo ao Estado 105 000 contos e a parte restante - 35 000 contos - às câmaras municipais.
Em média, o Estado despendeu, nos seis anos do II Plano de Fomento, 75 por cento do valor global das obras, ou seja 521 759 contos, cumprindo-se praticamente nesse período o programa de construção previsto no Plano de Viação Rural, que, no seu conjunto, teve em vista resolver o problema dos acessos rodoviários aos aglomerados com mais de 100 habitantes, para o que seria necessário construir 6310 km de vias municipais num período de 18 anos (de 1959 a 1976) e reparar 5940 km da rede municipal existente. No que respeita à reparação, aquele programa não se cumpriu inteiramente, uma vez que se repararam menos 766 km do que o programado.

§ 2.º Objectivos

5. Como já se aludiu, os problemas ligados ao bem-estar das populações rurais não devem restringir-se aos três sectores habitualmente considerados nos planos de fomento (electrificação, viação e abastecimento de água), em que o Estado comparticipa com determinadas dotações, no custo, das respectivas obras, e com a prestação de assistência.
Na verdade, os melhoramentos rurais englobam múltiplos domínios de acção, cuja finalidade se destina à melhoria das condições de vida das populações e do nível da economia rural.
Uma das possíveis enumerações dos aspectos que a problemática do bem-estar rural integra poderá ser a seguinte:

Equipamento e manutenção de actividades de saúde e assistência (centros e postos de saúde, infantários, jardins de infância, etc.);
Equipamento dos serviços de carácter público: águas, esgotos, electricidade, calcetamento de ruas, vias de comunicação, edifícios de serviços públicos, postos da G. N. E., lavadouros, instalações sanitárias públicas, mercados, etc.;
Construção de balneários públicos;
Construção de postos e subpostos dos C. T. T. e outros serviços indispensáveis às comunicações rurais;
Programas de apoio à construção ou melhoria de instalações sanitárias no meio rural;
Programas de industrialização (descentralização industrial);
Programação e realização de estudos inerentes à política do bem-estar rural e beneficiação dos actuais alojamentos rurais, instalação de centros de preparação de empresários agrícolas, etc.;
Construções de centros de formação profissional agrícola e extensão familiar rural e, ainda, apoio técnico e financeiro na execução de infra-estruturas de natureza comunitária, com vista, especialmente, à cooperação;

1 Consideram-se providos de redes de esgoto os aglomerados que desfrutam de colectores em mais de 50 por cento dos seus arruamentos,

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Realização de infra-estruturas tias zonas já florestadas ou a florestar;
Outras medidas de fomento agrário;
Construção de escolas, centros recreativos e de convívio e parques desportivos.

Com a execução, por forma concentrada e coordenada, destes empreendimentos tem-se em vista obviar ao carácter disperso dos aglomerados rurais e estabelecer assim entre as cidades e o campo certa igualdade de oportunidades no plano económico, demográfico, social e cultural, através da criação, que se torna urgente entre nós, de centros rurais com dimensão, dinamismo e equipamento suficientes para fixar as populações.
Na verdade, é sabido que quando as populações rurais encontram nas suas regiões empregos estáveis e remuneradores, conforto na habitação, estabelecimentos de ensino, nomeadamente de carácter profissional, e possibilidades de cultura são menos tentadas a engrossar o afluxo que ameaça o equilíbrio das grandes cidades, ou a emigrar para outros países.

6. A perspectiva ampla, atrás enunciada, em que o sector dos melhoramentos rurais deve ser encarado,. exige, como é óbvio, profundo esforço de ordenamento e coordenação, uma vez que os diversos tipos de empreendimentos, pelo menos os de natureza pública, dependem de uma multitude de organismos oficiais pertencentes a departamentos ministeriais diferentes. Sendo assim, a política de melhoramentos rurais deve ser realizada através de uma acção conjunta e solidária, devidamente coordenada, com base na estreita colaboração entre os vários departamentos interessados.
Considera-se que o enquadramento mais apropriado para as obras de melhoramentos rurais deverá ser o dos planos estabelecidos à escala regional, nos quais os programas de ordenamento rural se deverão inserir por forma a coordenarem, com base em inventários das necessidades e balanço dos recursos de cada região,- todas as acções públicas e privadas que concorrem para o bem-estar das populações.
E uma das primeiras fases desse ordenamento será a delimitação dos centros rurais, ou seja a definição dos aglomerados que obedeçam a determinada unidade económica e social e exerçam ou possam vir a exercer influência preponderante na vida das populações.

7. Em relação ao presente Plano de Fomento, não será possível, desde já, estabelecer um tipo de programação que inclua os diferentes aspectos da política de melhoramentos rurais. Os estudos sobre planeamento regional, em curso no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, e a orgânica de planeamento a adoptar ao nível das várias regiões do continente virão a constituir os elementos básicos em que deverá assentar a política a seguir neste sector.
Sendo assim, por agora apenas serão contemplados no Plano os aspectos tradicionalmente considerados - electrificação, abastecimento de água e viação rural - e ainda os referentes a esgotos e outros melhoramentos, sobre os quais, aliás, mesmo antes de uma definição precisa dos planos de desenvolvimento regional, importa que o Estado actue mais intensamente em novos moldes, visto constituírem necessidades essenciais das povoações e ser apreciável o número destas que ainda não beneficia de regalias que o progresso generalizou.
De harmonia com uma regra fundamental de planeamento, procurar-se-á, em especial, concentrar o esforço de investimento público em determinados núcleos devidamente dimensionados que ofereçam maiores potencialidades de desenvolvimento e de fixação das populações, evitando-se assim, na medida do possível, a disseminação dos gastos com a execução destes empreendimentos.

§ 3.º Medidas de política

8. A situação em que se encontra a grande maioria dos aglomerados rurais no que respeita às suas infra-estruturas resulta, como já se disse, das dificuldades com que lutam as câmaras, especialmente as de menores recursos, para corresponder às atribuições que a lei lhes confere neste domínio.
De facto, muitas das autarquias locais não dispõem de meios que lhes permitam fazer face aos seus encargos na execução e exploração das obras, o que, por sua voz, deriva da a grande maioria dos nossos aglomerados rurais não possuir as dimensões mínimas compatíveis com. uma exploração económicamente equilibrada.
Por outro lado, as câmaras municipais, por carência de técnicos, não dispõem, em regra, de organização adequada ao lançamento de uma obra de certa envergadura, à sua fiscalização eficaz e ao controle do seu funcionamento e exploração. Só as câmaras apetrechadas com serviços técnicos podem rapidamente organizar os projectos e lançar e executar as obras, aproveitando, assim, da melhor forma, o auxílio técnico e financeiro que lhe é dispensado pelo Estado. Torna-se, pois, urgente retomar o problema da organização dos serviços técnicos municipais, assunto já estudado por uma comissão, que apresentou os seus trabalhos em 1958.
Para além deste ponto, as principais medidas de política a levar a efeito durante a vigência deste III Plano, com vista a obviar aos mais importantes problemas de cada um dos sectores, são as que a seguir se indicam:

a) Electrificação rural

9. É talvez neste capítulo que o condicionalismo legal atrás apontado se reflecte mais acentuadamente.
Com efeito, mercê das prerrogativas conferidas às câmaras pelo Código Administrativo, a situação pode caracterizar-se por grande dispersão de concessões de distribuição, de que resulta a impossibilidade de as explorações se fazerem em condições satisfatórias do ponto de vista técnico-económico, dadas as reduzidas áreas daquelas concessões; por isso, muitas explorações vivem dificilmente quanto a rentabilidade e qualidade do serviço. A situação ainda mais se agrava quando, por força das circunstâncias, são as próprias câmaras as entidades exploradoras de instalações eléctricas.
Impõe-se, portanto, uma revisão da actual estrutura, no sentido da concentração progressiva das explorações de vida mais precária, de modo a evitar a existência de distribuidores sem a conveniente dimensão económica.
Mas, para isso, torna-se indispensável modificar o condicionalismo legal que rege a outorga de concessões. E tal modificação deverá operar-se no sentido de o Estado vir a exercer maior acção neste domínio, tendo sempre em vista a máxima rentabilidade das explorações de distribuição.
Assim, para além da obrigatoriedade de federação de várias câmaras - prevista, aliás, no artigo 189.º do Código. Administrativo -, as novas soluções para o problema da electrificação rural poderão ter por base maior intervenção do sector privado, dado que a electrificação dos

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aglomerados rurais é ainda empreendimento onde pode conseguir-se o interesse das actividades particulares.
De entre as soluções possíveis, salienta-se a de aproveitar para o efeito as empresas distribuidoras com dimensão suficiente, as quais têm maiores possibilidades de integrar explorações menos rentáveis quando isoladas e, mercê da sua capacidade técnica, promover a melhoria do serviço. Para o estudo do problema foi já solicitado o parecer do Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade, de harmonia com o disposto no Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966.

10. Independentemente das concentrações a promover, importa igualmente efectivar a revisão do Decreto-Lei n.º 40 212, no que se refere ao limite máximo de 50 por cento para a relação entre o valor global das comparticipações a conceder em cada ano e o valor global das obras a comparticipar.
A elevação de tal limite permitirá deslocar verbas destinadas a obras cujas comparticipações têm taxas inferiores a 50 por cento (ou sejam, fundamentalmente, as ampliações e remodelações) para obras cujas comparticipações têm percentagens superiores àquele valor; de entre estas últimas, aquela providência permitirá ainda dar prioridade aos concelhos de mais débeis recursos.
A redução do valor das comparticipações para obras de remodelação obrigará as câmaras municipais distribuidoras a obedecer ao princípio básico de que as receitas da venda de energia deverão suportar os encargos com a manutenção das respectivas redes, o que, por seu turno, implicará, nalguns casos, a elevação de tarifas.

11. Apontam-se, finalmente, mais duas ordens de medidas:

Regulamentação da Lei n.º 2122, de 14 de Janeiro de 1964, de modo a definir claramente a situação dos consumidores que pagam um ramal à sua custa e ao qual se vêm ligar posteriormente outros consumidores;
Revisão das tarifas de distribuição em baixa tensão, de modo a cobrir os respectivos encargos.

b) Abastecimento de águas e esgotos

12. Na realização de obras de abastecimento de água ou de drenagem e tratamento de esgotos deparam-se também grandes dificuldades, devido a não disporem as autarquias locais, na maioria dos casos, de meios que lhes permitam fazer face aos encargos de execução e exploração.
De resto, se tivermos em atenção que a obra de esgotos não fornece receita compensadora dos encargos com a amortização do empréstimo que obriga a contrair, e que a economia da obra de abastecimento de água assenta na cobrança de mínimos de consumo que a população interessada nem sempre pode pagar, facilmente se explica que as autarquias locais procurem fugir à execução de esgotos e evitem fazer empréstimos para realizarem obras de abastecimentos de água, recorrendo, para estas últimas, ao aproveitamento de ofertas de mão-de-obra e materiais feitas pela população interessada.
Em suma, é o valor das dotações que o Estado destina para o efeito que tem determinado, de forma decisiva, maior cobertura no abastecimento de água das populações rurais.
Por isso interessa melhorar, na medida do possível, as condições de funcionamento destas obras por parte do Estado, tornando-as compatíveis com a economia da obra, os recursos das autarquias interessadas e o nível de vida da população servida.

13. Para além dos aspectos financeiros, igualmente as questões ligadas à educação e mentalidade das populações têm profunda influência neste domínio.
Impõe-se, por isso, a realização de uma campanha de esclarecimento e educação sanitária dos meios rurais, por todas as vias a que é possível recorrer, em especial através das escolas, da imprensa; da rádio e da televisão. Competirá aos Ministérios da Saúde e Assistência e do Interior, com a colaboração das câmaras municipais e dos departamentos militares, promover, orientar e levar a cabo tal campanha.

14. Por outro lado, é sabido como a defesa da saúde de uma população tem de alicerçar-se no abastecimento de água potável e no tratamento conveniente dos esgotos.
Fazer educação sanitária, prevenção de doenças ou instalação de serviços profilácticos sem cuidar decisivamente daqueles problemas básicos é comprometer verbas sem delas tirar a devida rentabilidade.
Tratando-se de problema de tanta importância para o bem-estar das populações, há que criar formas de solução novas que, dentro do período do Plano, permitam efectivamente dar resposta decisiva ao problema.
A participação das populações na consecução destes melhoramentos locais é uma via que se aponta para consolidar os projectos que a Administração realiza, ao mesmo tempo que se multiplicam os recursos disponíveis para investimento, em virtude do possível contributo dos interessados em dinheiro e mão-de-obra.
Nestas circunstâncias, os projectos comunitários, como meio de multiplicar o grau de cobertura em abastecimento de água e esgotos, serão estabelecidos em colaboração entre os Ministérios da Saúde e das Obras Públicas, garantindo o primeiro a mentalização e dinamização das populações e assegurando o segundo a comparticipação financeira e o apoio técnico dos projectos em causa.

15. Outras medidas a prosseguir neste sector:

Organização de projectos tipo de elementos normalizados, com vista a atenuar as dificuldades que se deparam aos técnicos das autarquias afastadas de Lisboa e Porto;
Adopção de programas de concursos e cadernos de encargos normalizados. Dado já existirem programas e cadernos com estas características, haverá que completá-los de forma a serem utilizados sistematicamente.

c) Viação rural

16. No que respeita à execução das obras de viação rural, igualmente as dificuldades financeiras das câmaras municipais constituem sensível estrangulamento.
Além disso, o ritmo de execução das obras comparticipadas é excessivamente lento, sobretudo quando em regime de administração directa, por falta de organização e equipamento.
Para as câmaras do interior do País com menores recursos financeiros e mais vasto programa rodoviário a realizar, haverá, pois, toda a conveniência em melhorar também, na medida do possível, e à semelhança do que foi dito quanto às obras de abastecimento de água e de esgotos, as condições de financiamento das obras de viação rural.

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17. Outra lacuna que se tem observado no sector das comunicações rodoviárias é a de não terem sido inscritas as verbas suficientes para a construção das estradas nacionais que directamente virão dar acesso a povoações de mais de 100 habitantes, ou a que se virão ligar os novos acessos rodoviários municipais a construir pelo Plano de Viação Rural para que fiquem servidas aquelas povoações.
É evidente que, se, paralelamente com o Plano de Viação Rural, não fossem construídos os lanços das estradas nacionais necessários para receberem e ligarem à rede geral do País os futuros acessos municipais de povoações isoladas, não seria possível atingir os objectivos de dar acesso a todas as povoações com mais de 100 habitantes além do erro económico que se poderia cometer.
Por este motivo, os planos anuais de estradas nacionais e de viação rural deverão ser preparados, em conjunto, pela Junta Autónoma de Estradas e pela Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização (esta com a cooperação das câmaras municipais) e em colaboração também com a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, tendo em conta o plano de desenvolvimento dos caminhos florestais a cargo deste departamento.

§ 4.º Investimentos

Prevê-se que os investimentos a realizar no domínio dos melhoramentos rurais, durante os seis anos do Plano, atinjam 2880 milhares de contos, assim discriminados pelos diferentes sectores:

Milhares do contos
Electrificação ................. 1 220
Abastecimento de água .......... 400
Esgotos ........................ 180
Viação ......................... 960
Outros melhoramentos ........... 120
2880

Este total será financiado pelo Orçamento Geral do Estado (440 000 contos), pelo Fundo de Desemprego (850 000 contos), pelas autarquias locais (l 077 000 contos) e, ainda, pelas entidades concessionárias no caso da electrificação rural (513000 contos). De salientar que, em relação ao modo como foram financiados estes empreendimentos tanto no II Plano de Fomento como no Plano Intercalar, se prevê que no próximo hexénio o Fundo de Desemprego venha a participar mais activamente nos encargos com a execução das obras incluídas neste capítulo.

CAPITULO VI

Energia

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. A consideração global do sector que Compreende a produção e distribuição das diversas formas de energia, iniciada com o Plano Intercalar de Fomento, parece ter correspondido bem à necessidade de uma programação integrada para aquele conjunto de actividades e justificar a continuidade e o aperfeiçoamento do método ensaiado para o triénio de 1965-1967.
É certo que, na prática, as circunstâncias não têm permitido que a preocupação de raciocinar globalmente sobre as questões energéticas se traduza num texto integrado dos relatórios preparatórios e do respectivo capítulo dos planos; mesmo assim, este III Plano de Fomento marca progresso importante relativamente ao Plano Intercalar, pois os trabalhos preparatórios processaram-se sempre com o concurso simultâneo dos pontos de vista dos subsectores da electricidade, dos combustíveis líquidos e dos combustíveis sólidos. É evidente o enriquecimento da informação mútua que assim foi possível adquirir no decorrer dos trabalhos que levaram à preparação deste capítulo, o qual, embora formalmente dividido nos três subsectores referidos, traduz o equacionamento paralelo das respectivas problemáticas.
Não se julga, contudo, ter atingido uma solução metodológica inteiramente satisfatória, pois falta ainda poder quantificar, para o conjunto do sector, as variáveis económicas agregadas que descrevam o seu funcionamento e constituam os instrumentos de uma programação verdadeiramente global. Besta ainda bastante a fazer quanto à preparação de uma base estatística susceptível de permitir atingir tal objectivo, embora, neste aspecto, os esforços devam incidir sobretudo no sentido de racionalizar os métodos de colheita e as finalidades do tratamento, não se afigurando necessário explorar novas fontes nem empolar sensivelmente as exigências dos inquéritos.

2. Outro aspecto em que a preparação do Plano, neste capítulo, marcou nítido progresso foi o ter-se reconhecido indispensável considerar as influências possíveis dos recursos energéticos ultramarinos nos problemas da metrópole, no sentido de procurar as directrizes de uma desejável coordenação interterritorial. Dentro deste espírito, seleccionaram-se, numa primeira fase, três domínios em que se justifica iniciar essa coordenação: a expansão concertada das refinarias metropolitanas e ultramarinas, a colocação na metrópole dos carvões de Moçambique e a instalação preferencial no ultramar de algumas indústrias grandes consumidoras de electricidade. A permanência dos órgãos interministeriais de planeamento facilitará certamente o prosseguimento do estudo destas questões, em termos de permitir ao Governo tomar as decisões necessárias para que se atinjam, aqueles objectivos, desde já incluídos no âmbito do Plano.

a) Electricidade

3. Os recursos hidroeléctricos económicamente utilizáveis no continente português estão avaliados em cerca de 15 000 GWh anuais. A produtibilidade média, anual do sistema hidroeléctrico em exploração é de cerca de 6000 GWh, isto é, 40 por cento dos recursos em energia de origem hídrica estão já aproveitados.
Esta situação sómente pode ser avaliada em todo o seu significado se confrontada com a expansão exponencial dos consumos, que tem vindo a verificar-se a um ritmo regular, correspondente à duplicação em cerca de seis anos. Isto implica que, até 1973, será preciso pôr em funcionamento instalações geradoras de energia eléctrica com capacidade produtiva de uma ordem de grandeza próxima da de todo o sistema (hidráulico-térmico) actualmente em exploração e iniciar a construção de instalações que assegurem a satisfação das procuras nos primeiros anos do IV Plano.
Ora, a satisfação das necessidades Io consumo apenas à custa da instalação de centrais hidroeléctricas implicaria, por forma rapidamente crescente, a mobilização de volumosos equipamentos de construção, sendo, mesmo assim, duvidosa a viabilidade de construir simultaneamente, os numerosos aproveitamentos necessários. Acresce que, esgotados assim, em prazo relativamente curto, os

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recursos aproveitáveis, ocorreria brusca situação de inactividade para os meios construtivos (e de estudo e projecto) que tivessem sido mobilizados.
Estas circunstâncias, bem como a consideração das reconhecidas vantagens que advêm, para a exploração de um sistema produtor, da adequada conjugação hidráulico-térmica e, ainda, o facto de a evolução da conjuntura financeira ter, de certa forma, desfavorecido as soluções produtivas de maior intensidade capitalística, conduziram a uma fase de nítida transição; com efeito, de .quase exclusivamente hídrico, que foi até há pouco, o sistema está a evoluir actualmente no sentido de uma crescente participação térmica.

4. O crescimento dos consumos de electricidade (excluídos os consumos especiais electroquímicos e electrometalúrgicos) processou-se, na última década, à taxa média anual de 11,4 por cento, ritmo que se manteve de forma bastante regular ao longo do referido período.
Os consumos especiais estacionaram, em ordem de grandeza, a partir de 1958. Em 1965, o consumo total no continente ascendeu a 4256 GWh, dos quais as indústrias extractivas e transformadoras absorveram 2926 (514 no regime «não permanente» que vigora para certas indústrias electroquímicas e electrometalúrgicas), o consumo final (doméstico, público, comercial, etc.) 1134 e a tracção eléctrica os restantes 196. Exceptuado o caso das parcelas «permanente» e «não permanente» dos consumos industriais, são pouco marcadas as tendências para alteração da estrutura global dos consumos, que se tem mantido nos 70 por cento para as indústrias extractivas e transformadoras, 25 por cento para os consumos finais e 5 por cento para os serviços de transporte.

5. A análise das tendências verificadas por tipos de consumo e das suas determinantes leva a admitir que a taxa da expansão anual prevista para o conjunto dos consumos normais, que se cifrou em 11,4 por cento, possa ser integrada por crescimentos da ordem dos 10 por cento para os consumos finais, 4,8 por cento para a tracção e 12,5 por cento para os outros consumos industriais. Não se verificou expansão muito significativa da capacidade das instalações consumidoras em regime de fornecimento não permanente, pelo que os consumos reais evoluirão sobretudo em dependência dos programas de fabrico, por um lado, e da hidraulicidade dos anos, por outro, admitindo-se que os fornecimentos venham, normalmente, a situar-se entre 600 e 800 GWh anuais.

6. Muito embora as taxas de crescimento dos consumos que se têm registado no passado e as que é legítimo prever para o período do Plano sejam sensivelmente mais altas do que as actualmente observadas na generalidade dos países europeus, a capitação anual do consumo é ainda, em Portugal, comparativamente baixa (cerca de 500 kWh). Esta posição é agravada por acentuada heterogeneidade na distribuição regional dos consumos, cuja grande maioria se localiza em número reduzido de centros urbanos e industriais. Com efeito, cerca de 90 por cento dos consumos provêm de uma terça parte da superfície do continente - a faixa litoral que vai do distrito de Braga ao de Setúbal. Outro índice desta situação -ó dado pela electrificação das freguesias: excluídas as sedes de concelho, estão ainda por electrificar cerca de 25 por cento.

7. O subsector da electricidade tem vindo a satisfazer a procura de energia eléctrica sem restrições e com um nível de qualidade dos serviços que se tornou, de forma geral, francamente satisfatório. O problema mais sério que nos últimos anos se pôs à continuidade da expansão deste ramo de actividades residiu nas dificuldades de ordem financeira experimentadas quanto à obtenção, no mercado interno, de capitais a longo prazo; daí resultou o recurso a empréstimos cujas condições nem sempre se têm adequado às características da indústria e, por outro lado, a celebração de contratos de financiamento junto de institutos de crédito estrangeiros, nomeadamente o Banco Mundial. Esta última solução acarretou, aliás, a necessidade de reforçar as possibilidades de autofinanciamento das empresas da rede primária. Se bem que esteja ultrapassada a fase mais exigente da conjuntura financeira que originou as dificuldades referidas, justifica-se todo o cuidado em acautelar as possibilidades de acesso da indústria da electricidade ao mercado financeiro interno, nas condições exigidas pelos elevados investimentos requeridos e pelos dilatados períodos de vida útil das instalações a financiar.

b) Combustíveis líquidos e gasosos

8. O consumo dos principais produtos energéticos vem acusando o crescimento médio de 7 por cento ao ano, desde 1958. Dentre os combustíveis líquidos, as gasolinas acusam a expansão mais rápida (8,3 por cento), seguidas do fuel (6,7 por cento) e do gasóleo (6 por cento); mas são os consumos dos gases liquefeitos (butano e propano) que têm crescido mais espectacularmente, com taxas médias de 30 e 45 por cento, no mesmo período. O consumo de petróleo de iluminação tem vindo a diminuir, lenta mas regularmente, desde 1960. A estrutura dos consumos foi, em 1965, a seguinte: 590 0001 de fuel, 430 000 t de gasóleo, 290 000 t de gasolinas, 125 000 t de petróleo iluminante, 105 000 t de butano e 24 000 t de propano.
Prevê-se uma evolução dos consumos que, de modo geral, continue as tendências observadas; registar-se-ão, porém, fortes acréscimos no caso particular do fuel, devido à entrada em funcionamento dos grupos térmicos da central do Carregado, esperando-se, por outro lado, abrandamento sensível das elevadas taxas que se têm verificado para os gases liquefeitos - o que traduzirá a passagem do período de lançamento P rápida expansão deste tipo de combustíveis para uma fase de crescimento já mais ligada ao incremento global da procura de energia.
Os estudos efectuados levaram à adopção das seguintes taxas como valores médios prováveis para o período do III Plano: 8,5 por cento para as gasolinas, 7,5 por cento para o gasóleo, 14,5 por cento para o fuel (valor este fortemente determinado pelos consumos dos grupos térmicos que entrarão em funcionamento), 3,7 por cento para o petróleo de iluminação, cerca de 10 por cento para o butano e cerca de 20 por cento para o propano.
Durante o período considerado, o consumo interno tem sido assegurado predominantemente por produtos da refinaria de Cabo Ruivo e, em cerca de 25 por cento, por importação. As ramas tratadas na metrópole provêm, na sua maior parte, do Médio Oriente; a participação do petróleo de Angola, significativa a partir de 1962, atingiu, em 1964, 20 por cento do total refinado (310 000 t em 1 560 000 t).

9. A capacidade de refinação instalada no continente é da ordem de 1 700 000 t e encontra-se saturada, facto que começou já a reflectir-se no volume de importações de produtos refinados. Prevê-se para 1968 a entrada em funcionamento da nova refinaria do Porto, empreendi-

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mento incluído no Plano Intercalar e que se espera permitirá cobrir praticamente os consumos metropolitanos durante o III Plano; no entanto, haverá que estudar novas ampliações de capacidade que poderá ser necessário instalar nos últimos anos do hexénio de 1968-1973, para satisfazer os consumos posteriores.

c) Combustíveis sólidos

10. O consumo de carvões nacionais em 1965 cifrou-se em 430 000 t de antracite e 90 000 t de lignite (peso antes da secagem); consumiram-se ainda as seguintes quantidades de carvões importados: 430 000 t de hulha, 220 000 t de coque e 10 000 t de antracite. Estes números, em ordem de grandeza, não se afastam muito das médias do último decénio, excepto para a importação de coque, que sofreu acréscimo brusco a partir da entrada em funcionamento da Siderurgia Nacional. Ao longo daquele período, observa-se, com efeito, relativa estabilidade dos valores à volta da média, sem tendência definida de crescimento ou decréscimo sustentados.
Em percentagens, verificou-se que, em 1965, os carvões nacionais representaram 20 por cento do poder calorífico total dos combustíveis sólidos consumidos (18 por cento as antracites, 2 por cento as lignites); os carvões estrangeiros satisfizeram 44 por cento daqueles consumos (28 por cento as hulhas, 15 por cento o coque e 1 por cento as antracites).
Os principais consumidores das antracites nacionais foram, naquele ano, a central térmica da Tapada do Outeiro e a indústria dos cimentos: 70 por cento do consumo total; as lignites destinam-se também, sobretudo, à indústria cimenteira, a qual é ainda o principal consumidor da hulha importada.
Espera-se, e está definida já orientação nesse sentido, que a produção nacional de antracites aumente ligeiramente e se destine, por forma cada vez mais preponderante, à produção de energia térmica. Quanto às lignites, a instalação prevista de uma central térmica à boca da mina de Rio Maior elevará a extracção a níveis muito superiores aos actuais.

11. Quanto à lenha e resíduos vegetais, combustíveis que, em 1965, segundo estimativa grosseira, representaram 54 por cento em peso e 86 por cento em poder calorífico dos consumos totais de combustíveis sólidos, não se prevêem alterações significativas nos valores absolutos actuais, o que corresponderá a diminuição em valores relativos. Com efeito, nas actividades industriais a competitividade dos outros combustíveis, especialmente dos líquidos, é muito grande; nos usos domésticos, em que sobressai o consumo de lenha nas zonas rurais, a crescente concorrência dos gases liquefeitos e a atracção da população rural pelos centros urbanos conjugam-se rio sentido de tornar pouco provável o aumento do consumo actual.

§ 2.º Objectivos

12. À produção de energia cabe satisfazer, nas melhores condições económicas e com risco de restrições quanto possível reduzido, as necessidades directamente geradas pelo desenvolvimento das actividades produtoras de bens e serviços que a utilizam como factor de produção e também as procuras que o processo geral de desenvolvimento activamente estimula, como é o caso dos usos domésticos.
A optimização económica do problema da produção energética depende da adequação das formas e fontes de energia aos fins em vista, para o que se torna necessário equacionar os rendimentos da respectiva utilização, os custos de produção, as disponibilidades nacionais e regionais, a viabilidade e os encargos das importações, os requisitos técnicos e financeiros dos equipamentos produtores e utilizadores, as tecnologias utilizáveis, etc.
Em economia de mercado, a escolha dos utilizadores far-se-á, naturalmente, através do preço unitário de cada uma das formas de energia por que podem optar e dos custos finais resultantes do rendimento de utilização que o seu equipamento permita. Entretanto, o funcionamento dos mecanismos de mercado, no caso da energia, tem sido fortemente condicionado pela maneira como só formam os preços em relação aos quais o consumidor reage; com efeito, é possível inflectir as opções dos consumidores em sentidos não coincidentes com os que resultariam da estrutura de preços moldada sobre a dos custos de produção, mas que, por motivos de interesse nacional não redutíveis a critérios económicos imediatos, se julguem preferíveis em determinado momento. Tal inflexão podo obter-se, nomeadamente, através de imposições fiscais e aduaneiras, de imputações de custos de produção mais ou menos arbitrárias, de condicionalismos financeiros decorrentes da oportunidade conjuntural das tecnologias de maior ou menor intensidade capitalística, de subsídios de exploração ou investimento.

13. Ao traçar, de forma muito geral, os objectivos a que deve obedecer o desenvolvimento das infra-estruturas produtoras de energia, tem do colocar-se em pé de igualdade duas preocupações fundamentais: por um lado, a satisfação das procuras com um grau de garantia económicamente julgado razoável; por outro, uma atenção crítica constante sobre a necessidade e a propriedade das inflexões que, através das tarifas, se reflectem na estrutura dos consumos das diversas formas de energia - necessidade e propriedade essas que são, por seu turno, funções de circunstâncias que o tempo continuamente modifica.

a) Electricidade

14. A procura de energia eléctrica continuará a ser, basicamente, satisfeita a partir de produções internas, já que as possibilidades facultadas pelas interligações internacionais apenas permitem fazer face a certas carências temporárias resultantes de regimes hidrológicos desfavoráveis, circunstâncias em que, aliás, aquelas interligações se revestem de grande e comprovado interesse. O programa de construções de novos centros produtores, a realizar durante os próximos seis anos, continuará a visar a garantia da satisfação dos consumos permanentes em ano muito seco, com uma probabilidade de 95 por cento, assegurando, além disso, aos consumidores especiais, certo nível mínimo de fornecimentos anuais.

15. A projecção para os consumos permanentes foi feita, como se referiu, à taxa de 11,4 por cento de acréscimo anual, o que, contando com as perdas, conduz, para os anos do Plano, aos seguintes valores de produção, expressos em milhões de kilowatts-hora:

[Ver tabela na imagem]

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Para efeitos de planeamento, aceitou-se que a garantia adoptada deveria permitir, mesmo em ano muito seco, aquelas produções, acrescidas de fornecimentos mínimos da ordem dos 220 GWh aos consumidores não permanentes.
O programa de novos centros produtores, cuja construção se iniciará no último ano do Plano Intercalar e nos primeiros anos deste III Plano, foi já aprovado pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. Esse ordenamento de novas construções, previsto no próprio Plano para 1965-1967, fez-se com a antecedência indispensável para obras de vulto, como são as de centros produtores de electricidade, e teve em conta, além da satisfação dos consumos previstos nos trabalhos preparatórios do III Plano, as orientações oportunamente traçadas pela Secretaria de Estado da Indústria quanto às prioridades a observar.
São os seguintes os empreendimentos já previstos, cuja construção se prolongará pelo período do Plano:

Centros produtores e datas aproximadas de entrada em serviço:

Complementos da bacia do Cávado - fins de 1969.
3.º Grupo da Central do Carregado - meados de 1970.
Vilarinho das Furnas - estiagem de 1970.
Grupo térmico de Rio Maior - fins de 1971.
Régua - estiagem de 1972.
Fratel - estiagem de 1972.
4.º Grupo da Central do Carregado - fins de 1972.
Crestuma - estiagem de 1973.
Alvarenga - estiagem de 1974.

Reconhece-se, além disso, a conveniência de encarar o início, durante a vigência do Plano, dos aproveitamentos de fins múltiplos do Mondego (1.º escalão) e do Guadiana, em data a fixar oportunamente (com prioridade para o primeiro), no contexto geral da política de atribuição de concessões legalmente estabelecida (Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966).
A ratificação ou os ajustes de ordenamento e de datas de entrada em serviço irão constando dos programas anuais de execução deste III Plano, sendo especialmente importante o exame crítico do significado dos valores de consumo em 1966, os quais se situaram francamente abaixo das tendências projectadas.
As características daqueles centros produtores figuram nas fichas de projecto respectivas, incluídas em anexo ao presente capítulo1. A potência instalada subirá de 1900 MW para a ordem dos 3150, durante o hexénio.

16. Os ensaios de simulação do sistema produtor constituído pelas centrais actualmente em exploração mais os dois primeiros grupos térmicos do Carregado, os do aproveitamento de Carrapatelo, a produtibilidade adicional da bacia do Cávado e os centros produtores constantes do programa referido, ensaios feitos no âmbito dos trabalhos preparatórios deste Plano de Fomento, permitem prever, em ano hidrológico (Novembro-Outubro) muito seco, os seguintes saldos energéticos:

[Ver tabela na imagem]

17. O programa apresentado comporta os centros produtores cuja entrada em serviço se considera necessária, em face das previsões estabelecidas, até ao termo do último ano hidrológico abrangido pelo Plano (1973-1974). E, porém, evidente a necessidade de iniciar, ainda durante o período de 1968-1973, novos e importantes empreendimentos, com vista a assegurar os consumos de energia eléctrica nos anos posteriores. Convindo proceder, logo que possível, a uma primeira selecção dos centros produtores que deverão entrar em serviço nos quatro ou cinco anos imediatos ao termo deste III Plano, apenas se fez, por agora, uma avaliação global dos investimentos complementares correspondentes. Nos programas anuais ir-se-ão concretizando, com a desejável antecedência, as obras a executar; a revisão do Plano, a efectuar, eventualmente, no termo do seu primeiro triénio, permitirá ainda rectificar ou ajustar as orientações adoptadas para esta primeira estimativa.

18. Os investimentos complementares adiante apresentados calcularam-se por via indirecta, a partir de uma previsão de consumos extrapolada e utilizando o mesmo grau de garantia de 95 por cento. Reconhece-se o carácter precário desta previsão a longo prazo, mormente por ser feita extrapolando a taxas acumulativas elevadas; trata-se apenas, porém, de uma primeira visão prospectiva de ordens de grandeza.
De acordo com a política traçada e que este III Plano ratifica, admitiram-se acréscimos anuais de produtibilidade hidroeléctrica garantida aproximadamente constantes e da ordem dos 300 GWh; a restante capacidade necessária será de origem térmica, conduzindo aos seguintes acréscimos garantidos totais:

[Ver tabela na imagem]

Vê-se a importância rapidamente crescente da participação térmica na satisfação dos consumos, a justificar prioridade na preparação para a montagem e exploração de centrais nucleares a partir dos recursos nacionais de materiais cindíveis.
Para o cálculo dos investimentos nos anos do Plano a partir das hipóteses acima, adoptaram-se parâmetros e uma hipótese de escalonamento temporal determinados a partir da experiência já existente na execução de obras deste tipo.

19. O desenvolvimento da rede de transporte de energia eléctrica e de interligação dos centros produtores será condicionado pela necessidade de ligar à rede as novas centrais e de acompanhar a evolução dos consumos das diferentes zonas, o que implica a construção de novas linhas e subestações e a ampliação da potência de transformação. O programa de desenvolvimento da rede de transporte engloba, pois, número elevado de empreendimentos de importâncias diversas, não sendo necessário apresentar um programa completamente definido das novas instalações a montar. Assim, além da estimativa do investimento global adiante apresentada, apenas se referem concretamente as principais realizações previstas, cujas características se discriminam a seguir, em virtude de os projectos relativos à rede de transporte não figurarem nas fichas de investimento anexas a este capítulo.

1 Figuram nas fichas os centros produtores destinados exclusivamente à produção de energia.

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Subestação do Focinho - entrará ao serviço em 1968, funcionando inicialmente como simples posto de seccionamento da rede de 220 kV; permitirá estabelecer o paralelo permanente da rede portuguesa com a rede europeia e poderá fazer face ao aparecimento de consumos importantes naquela zona.
Linha de 150 kV Ferreira do Alentejo-Tunes; subestação de Times - para a alimentação do Algarve; prevê-se a entrada em funcionamento em 1969, à tensão de 60 kV e em paralelo com a linha já existente; a elevação para 150 k V está prevista para 1973, entrando nesse ano em serviço a subestação de Tunes para a ligação à rede de grande distribuição regional, à tensão de 60 kV.
Linha Carrapatelo-Pereiros e autotransformador de Carrapatelo - a linha, a 220 kV, entrará ao serviço em 1968; fechar-se-á a malha Douro Internacional-Porto-Coimbra, passando à tensão nominal (220 kV) a linha Carrapatelo-Vermoirn, o que implicará a instalação, em Carrapatelo, de um autotransformador de 150/220 kV, para a ligação da central de Tabuaço.
Ligação das novas centrais - mencionam-se desde já as linhas Vilarinho-Caniçada (150 kV), a ligação da central da Régua às linhas de 220 kV que passam no local, as linhas Aguieira-Pereiros (150 kV), Crestuma-Tapada do Outeiro (60 kV) e Carregado-Alto do Mira (2.ª linha); sob reserva dos resultados de estudos em curso, refere-se também a ligação de Frater à rede de 220 kV.

20. Conhecida a evolução previsível da parte da energia produzida que entrará nas redes de grande distribuição para satisfazer os seus consumos, fez-se uma estimativa global do desenvolvimento necessário dessa rede para assegurar o escoamento das crescentes quantidades de energia que por ela transitarão. Como hipóteses de planeamento, admitiu-se uma estabilização do rendimento da rede na ordem dos 93 por cento e, para o cálculo do investimento, o valor unitário de $65/kWh; esta última hipótese implica a constância do valor verificado, por amostragem, no período de 1962-1965, o que é admissível se se continuar a registar certo equilíbrio entre a instalação de novas redes e o aumento de utilização das já existentes.

21. Os objectivos a prosseguir através do desenvolvimento das redes de electrificação rural figuram no capítulo «Melhoramentos rurais»; aqui apenas se refere a expansão necessária para servir o acréscimo do número de clientes abastecidos através de redes de pequena distribuição não comparticipadas pelo Estado - fundamentalmente as das regiões de Lisboa e do Porto; o estudo efectuado levou a projectar aquele acréscimo às taxas de 4,3 por cento e 2,3 por cento, respectivamente, o que elevará o número de clientes, no termo do Plano, a cerca de 500 000 na região de Lisboa e a cerca de 115 000 na do Porto. Como valores específicos de investimento, adoptados com base no passado recente, utilizaram-se 4 e 5,4 contos por cliente, respectivamente.

22. A satisfação dos objectivos apontados para o sub-sector da energia eléctrica implicará a expansão do valor acrescentado pelo subsector ao produto nacional bruto segundo um ritmo próximo do previsto para o aumento dos consumos; a crescente participação da energia de origem térmica, porém, tenderá a afastar progressivamente as duas taxas; com efeito, parte do valor da energia produzida nas centrais térmicas corresponde à incorporação de aquisições feitas às indústrias extractivas ou transformadoras, tendendo, pois, em condições normais, a reduzir-se a percentagem do valor da energia produzida que é acrescentado pelas próprias centrais. Com os elementos actualmente disponíveis, foi-se conduzido aos seguintes valores, para os anos deste III Plano:

Valor acrescentado ao produto nacional bruto (preços de 1963):

[Ver tabela na imagem]

b) Combustíveis líquidos e gasosos

23. A cobertura das procuras internas previsíveis para os combustíveis derivados do petróleo continuará a fazer-se, quanto possível, com produtos refinados no País, de forma que o valor a pagar em divisas estrangeiras se restrinja à importação de ramas, indisponíveis em território nacional.
A capacidade de produção instalada no território europeu de Portugal subirá para a ordem dos 3 700 000 t durante o primeiro ano do Plano; esta acrescida capacidade, conjugada com as ampliações previstas para as refinarias ultramarinas, na medida em que certas complementaridades de programas de fabrico e estruturas regionais de consumos o permitam, deverá tornar praticamente irrelevantes, em condições normais, as importações de produtos refinados do estrangeiro durante a maior parte do período de 1968-1973; exceptua-se parte do primeiro ano - antes do arranque da nova refinaria do Porto - e, possivelmente, o último; oportunamente se decidirá sobre nova ampliação da capacidade refinadora instalada no Sul do País, de acordo com a evolução dos consumos internos que venha a verificar-se.

24. As projecções obtidas através de correlações com as principais variáveis associadas ao consumo deste tipo de combustíveis levaram, para o mercado interno da metrópole, aos resultados aproximados seguintes, em milhares de toneladas:

[Ver tabela na imagem]

(a) Arredondado.

Não se incluíram naqueles totais os fornecimentos a fazer à navegação marítima e aérea que se abastece na metrópole por os elementos estatísticos disponíveis não permitirem a destrinça da parte destinada às frotas nacionais.

25. A consecução dos objectivos definidos para a produção metropolitana de refinados exigirá que se importem

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para a metrópole ramas nas quantidades e valores aproximados seguintes:

[Ver tabela na imagem]

A refinação destas ramas e sua distribuição acrescentará ao produto nacional bruto um valor que se prevê progrida à taxa média acumulativa de 7 por cento ao ano, o que conduz, em preços de 1963, aos valores aproximados seguintes:

[Ver tabela na imagem]

26. Os empreendimentos concretos desde já previsíveis para o sector dos combustíveis líquidos a realizar no período de 1968-1973 são, além da conclusão da refinaria do Norte (que exigirá ainda investimentos em 1968 e 1969), os destinados à expansão da rede de distribuição do continente (postos de venda, frotas de veículos-tanques, estações de enchimento e armazenagem de gases liquefeitos, terminais, etc). Interessará apenas individualizar as principais características económico-financeiras do projecto da nova refinaria1. Incluir-se-á de forma global a avaliação do investimento requerido pelos outros empreendimentos, de natureza comercial.

c) Combustíveis sólidos

27. A evolução prevista para a produção vendável das antracites metropolitanas, atendendo já às providências referidas na parte relativa às indústrias extractivas (conversão da estrutura dos consumos, preços e outras medidas complementares), deverá ser a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

De acordo com a orientação definida pela Secretaria de Estado da Indústria, a produção das minas de S. Pedro da Cova. da ordem das 180 000 t a 210 000 t anuais, destinar-se-á inteiramente à central da Tapada do Outeiro; da produção do Pejão, 80 000 t anuais completarão os fornecimentos àquela central, destinando-se o restante a outros utilizadores, entre os quais a indústria cimenteira ocupará lugar de grande relevo (cerca de 120 000 t anuais).
As estimativas de produção apresentadas são prudentes, pois não contaram com o aumento que pode ser proporcionado pela mecanização em curso nas minas do Pejão, com o objectivo primordial de melhorar a produtividade da lavra; neste caso, os fornecimentos à indústria dos cimentos elevar-se-ão para a ordem das 160 000 t anuais, aproximando-se do valor actual dos respectivos consumos (190 000 t).
Os empreendimentos a realizar, cujo investimento se refere, por memória, no § 4.º, são, nas minas de S. Pedro da Cova, a sua mecanização e o equipamento da secção de Midões; no Pejão, tratar-se-á fundamentalmente de preparar o jazigo para a utilização de métodos de lavra mais eficazes e de adquirir e instalar o equipamento correspondente.

28. É a extracção de lignites que virá a sofrer espectacular acréscimo com a entrada em serviço da central térmica de Rio Maior, programada, como se indicou, para fins de 1971. A preparação da mina e seu equipamento para os níveis de produção que serão requeridos, da ordem das 500 000 t anuais, será o empreendimento de maior vulto quanto à produção de combustíveis sólidos na metrópole durante este III Plano.

29. A previsão das importações de carvão (do estrangeiro ou, em parte, do ultramar) para completar a satisfação dos consumos metropolitanos é a que segue.

1 Cf. capítulo «Indústrias extractivas e transformadoras».

[Ver tabela na imagem]

(a) Os primeiros valores correspondem ao inicio da produção de coque; os segundos admitem, além disso, que a Siderurgia Nacional inicie o fabrico de chapa a quente em 1970.

Nos valores apontados tomaram-se por base os preços de 1964.

d) Coordenação metrópole-ultramar

30. Durante a execução deste III Plano procurar-se-á, como já se referiu, estreitar a coordenação do aproveitamento dos recursos energéticos existentes no espaço português, tanto do ponto de vista das complementaridades de produção, como da distribuição espacial de certos consumos industriais.
Visam-se, desde já, três objectivos concretos:

Coordenação da expansão das refinarias metropolitanas e ultramarinas;

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Estudo da colocação na metrópole dos carvões de Moçambique;
Instalação preferencial no ultramar de indústrias grandes consumidoras de electricidade.

31. Para a consecução do primeiro objectivo, procurar-se-á sobretudo conhecer os produtos sobrantes, dentro dos programas de expansão que cada refinaria prevê; espera-se assim poder avaliar em que medida esses saldos, designadamente os de produtos pesados (fuel), que naturalmente aparecerão nas refinarias ultramarinas, de expansão orientada pelo consumo local de produtos leves, poderão ser utilizados na metrópole, cujas necessidades vão aumentar substancialmente com a progressiva entrada em funcionamento de grupos térmicos a fuel.
Será também encarada a coordenação das fases de expansão previstas e, eventualmente, da instalação de novas unidades, de modo a escalonar os investimentos globais pela forma mais vantajosa para o conjunto dos territórios nacionais.
Os resultados da confrontação dos elementos recolhidos das empresas interessadas durante a fase preparatória deste III Plano e dos que vierem a ser ainda coligidos serão tidos em conta, na medida julgada conveniente, na preparação dos programas anuais da execução do Plano.

32. O problema da colocação na metrópole das hulhas do jazigo de (Moatize depende, como se sabe, além das condições de extracção, fundamentalmente do custo de transporte, quer por terra, até ao embarque na Beira, e respectivas taxas de porto, quer por mar, em virtude dos fretes relativamente elevados e da capacidade irregular dos navios.
A análise preliminar sobre a viabilidade técnica e económica de substituir por carvões de Moçambique uma parte da importação metropolitana justifica se prossiga imediatamente no estudo do problema, conjuntamente pela Secretaria de Estado da Indústria e pelo Ministério do Ultramar, mo âmbito da orgânica de planeamento económico nacional.

33. O terceiro objectivo da coordenação resulta do facto de a natureza dos recursos energéticos da metrópole não aconselhar a instalação de novas indústrias grandes consumidoras de electricidade do tipo electroquímico ou electrossiderúrgico, ao passo que no ultramar há poderosos recursos energéticos, alguns já em aproveitamento (Cambambe), além de importantes recursos minerais, que poderiam abastecer de matérias-primas as indústrias daquele tipo que aí se instalassem. A consecução deste objectivo exigirá se ponderem, de harmonia com o disposto no regime de condicionamento nacional, os projectos de novas instalações industriais que porventura surjam e cuja localização será sistematicamente considerada como elemento fundamental de apreciação. O Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos incentivará pelos meios adequados a localização no ultramar dos projectos para os quais se conclua ser essa, do ponto de vista nacional, a solução mais conveniente.
Para a construção da nova refinaria, as primeiras estimativas indicam que poderá implicar cerca de 340 000 contos de obras de construção civil e 595 000 contos de encomendas à indústria metalomecânica nacional; a importação de técnica e de equipamentos poderá ascender à ordem do milhão de contos.
Quanto à distribuição de combustíveis, os investimentos previstos conduzem às seguintes primeiras estimativas de repartição por origens:
Encomendas à indústria nacional:

[Ver tabela na imagem]

§ 3.º Medidas de política

34. O sector da energia é constituído por um conjunto de. actividades cuja concorrência de objectivos e conveniente coordenação de programas lhe confere realidade autonomizável como domínio de estudo e planeamento. Este facto foi, pela primeira vez entre nós, reflectido na metodologia de planeamento económico aquando da preparação do Plano Intercalar, segundo uma orientação que agora se confirma.
Assim, na orgânica de planeamento propriamente dita, a referida orientação corporizou-se na criação de um grupo de trabalho autónomo, permitindo dar a desejável audiência às entidades privadas e estabelecer o seu contacto com os organismos oficiais.
O carácter permanente que foi atribuído aos grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica permite dispor constantemente de um órgão representativo -o grupo da energia-, da maior importância para o estudo e informação, designadamente de decisões de alcance nacional a tomar pelo Conselho de (Ministros para os Assuntos Económicos. A natureza predominantemente representativa desse grupo aconselha a prever a criação de uma estrutura permanente de apoio técnico e material a instituir na Secretaria de Estado: da Indústria e destinada, nomeadamente, em colaboração com o sector privado, à centralização e organização de informações sobre a execução e programação anuais dos planos de fomento.

35. O funcionamento regular deste núcleo de apoio ao grupo de trabalho, em ligação permanente e estreita com a Comissão Interministerial de Planeamento, o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho e os organismos do (Ministério do Ultramar e da Secretaria de Estado da Indústria, constituirá, além dos aspectos já referidos, contribuição importante para a viabilidade de execução de uma política da energia no espaço económico português durante o período deste III Plano.
Com efeito, medem-se em anos os períodos de realização dos empreendimentos destinados à produção de energia, o que implica, para as entidades que têm a seu cargo essa realização, a necessidade de programarem as suas actividades a longo prazo. Esta programação abrange, além dos aspectos técnicos específicos do sector da energia, outros que transcendem este domínio - como são os financeiros e os das relações interindustriais a estabelecer com os empreiteiros subcontratados e com os fornecedores de equipamento. Tudo concorre para sublinhar a importância de que se reveste a definição de uma política orientadora projectada bem para lá do futuro imediato, política a partir da qual os órgãos de planeamento possam programar o desenvolvimento do sistema produtor a tempo de permitir o estudo adequado das soluções concretas para cada empreendimento e a maximização das contribuições da técnica e da indústria nacionais.

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Como pontos fundamentais a equacionar na formulação dessa política energética nacional, indicam-se desde já os seguintes:

Segurança e estabilidade do abastecimento e valorização dos recursos nacionais;
Carácter progressivo na substituição de fontes de energia, vantajoso não só sob o ponto de vista da produção, mas também para as próprias instalações utilizadoras;
Repartição dos consumos entre as diversas formas de energia;
Continuidade na utilização do potencial técnico nacional e preparação da sua conversão, quando necessária;
Coordenação interterritorial na produção e utilização dos recursos energéticos nacionais.

a) Electricidade

36. O desenvolvimento do sistema produtor de electricidade prosseguirá durante este III Plano sob a orientação actualmente em vigor quanto a uma adequada conjugação hidráulico-térmica; com efeito:

A conveniência em manter a continuidade do programa hidroeléctrico, atendendo, por um lado, às favoráveis condições económicas do aproveitamento de grande parte do potencial energético dos nossos rios ainda por utilizar e, por outro lado, a que se trata de recursos inteiramente nacionais, cujo aproveitamento não pode descurar-se;
O interesse de adequar esse programa à capacidade realizadora do País, assegurando bom aproveitamento dos quadros técnicos e dos meios de acção das empresas e dos empreiteiros e procurando estabilizar, quanto possível, os mercados das indústrias de construção civil e metalomecânicas e favorecer as possibilidades de concorrência desta última com as congéneres estrangeiras;
A necessidade de ser prudente quanto à eventual aceleração do ritmo de construções hidroeléctricas, que poderia conduzir a um empolamento de meios de acção muito especializados;
A consideração, como contrapartida do aspecto anterior, de que as características inerentes aos aproveitamentos hidroeléctricos implicam que a sua realização seja económicamente tanto mais interessante quanto .mais próxima no tempo, em face da inevitável tendência a um agravamento geral dos custos em termos comparativos, designadamente por força da importante participação de mão-de-obra;
O conhecimento da estrutura típica dos encargos de investimento e de exploração dos aproveitamentos e das centrais térmicas,

são factores que, ponderados conjuntamente, continuam a indicar como solução equilibrada a manutenção do ritmo de construção de aproveitamentos em valor absoluto próximo do máximo verificado no passado. Esta manutenção implicará que a diferença, exponencialmente crescente, entre as exigências do consumo e a produtibilidade hidráulica, vá sendo preenchida com produções térmicas - estas, de qualquer modo, uma necessidade em breve inelutável para o preenchimento normal do diagrama de cargas. No entanto, deverá ser devidamente atendida a prioridade que o carácter de fins múltiplos possa conferir a determinados empreendimentos.
A exploração conjugada dos dois tipos de fontes produtoras resultará na sua recíproca valorização; por outro lado, ser-se-á conduzido a encargos anuais de investimento sensivelmente mais moderados - embora com contrapartida em maiores encargos de exploração - do que os inerentes a uma solução que mantivesse a predominância hídrica até ao esgotamento dos respectivos recursos.

37. Ainda para o subsector da electricidade, além da revisão do Decreto-Lei n.º 40212, de 30 de Junho de 1955, referido no capítulo «Melhoramentos rurais», serão tomadas as seguintes providências:

Revisão da orgânica dos serviços da Secretaria de Estado da Indústria relacionados com a energia, tanto consultivos», como executivos, com vista à melhor conjugação das suas actividades no plano nacional;
Início, com elevada prioridade e com base nos estudos já em curso, nos termos do Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966, do processo de reestruturação da rede eléctrica primária, tendo em vista o aperfeiçoamento da orgânica actual, o melhor aproveitamento do conjunto de meios de estudo e execução disponíveis e o estímulo das economias de gestão e de investimento;
Revisão do regime legal que regula o equilíbrio económico das empresas em ordem a possibilitar a intensificação do respectivo autofinanciamento, sem prejuízo das remunerações ao capital accionista e independentemente do nível tarifário;
Reestruturação, também com elevada prioridade, do regime legal das concessões de pequena distribuição, por forma a torná-lo semelhante ao das concessões de grande distribuição e a permitir a integração daquelas nestas, sem prejuízo do equilíbrio económico do conjunto e com benefício para a qualidade do serviço;
Atribuição das concessões de produção hidroeléctrica ainda não outorgadas, nos termos do citado Decreto-Lei n.º 47 240;
Sistematização geral dos regimes tarifários dê alta e baixa tensão;
Concretização da partilha do aproveitamento dos rios de interesse comum a Portugal e a Espanha não abrangidos pelo convénio vigente;
Coordenação com as políticas prosseguidas noutros sectores e para outros aspectos da actividade económica, nomeadamente o desenvolvimento regional e os transportes.

b) Combustíveis líquidos

38. No que respeita aos combustíveis líquidos, encontrando-se já aprontado o regulamento da Lei n.º 2080, de 21 de Março de 1956, atribui-se a maior urgência à prospecção sistemática e com garantias de indiscutível idoneidade técnica do território europeu do País, quer na parte emersa, quer na sua plataforma continental.
Outros pontos para estudo e eventual intervenção serão os seguintes:

Revisão crítica dos aspectos fiscais que condicionam a estrutura dos consumos, em especial de carburantes (gasolina e gasóleo), mas também o do fuel, na medida em que a sua utilização pela indústria esteja sendo desfavorecida pelo sobrecusto que o

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onera (e que afecta a competitividade dos produtos nos mercados estrangeiros) e atendendo à necessidade de prevalência das razões de ordem económica na política de preços a seguir;
Ponderação, à luz das realidades actuais, das vantagens e inconvenientes do regime de fretes vigente para o transporte de combustíveis em navios-tanques nacionais;
Disciplina da actividade distribuidora, nomeadamente quanto às características, número e distribuição espacial, de postos de venda.

c) Combustíveis sólidos

39. Para os combustíveis sólidos, prosseguir-se-á na política de aproveitamento dos carvões pobres das minas metropolitanas, sobretudo através da sua queima nas centrais termoeléctricas. Intensificar-se-á a mecanização quanto possível, tanto para melhorar a produtividade da lavra, como para fazer face à escassez de mão-de-obra Procurar-se-á, por esta forma e por outros meios que se revelem convenientes, nomeadamente pela integração vertical, carvão-energia eléctrica, assegurar condições de viabilidade à continuação da exploração das minas, enquanto o interesse nacional o aconselhar.

d) Energia nuclear

40. Ao terminar este capítulo, cumpre aludir a uma questão que virá ao primeiro plano das preocupações do sector da energia durante o próximo hexénio: o aproveitamento dos combustíveis nucleares produtíveis no País e o estudo do papel das centrais nucleares na produção térmica.
O recurso, rapidamente crescente, à produção térmica, impõe, efectivamente, que se investigue desde já qual a posição relativa que convirá atribuir às soluções clássicas (em que não poderá deixar de predominar a solução a fuel, dada a limitação, das reservas de carvões) e às nucleares.
Importa, com efeito, reduzir quanto possível os encargos em divisas imputáveis à exploração das centrais a fuel; isto significa que o recurso a essas centrais não deverá exceder muito o que for permitido pela expansão das refinarias nacionais para a satisfação da procura global de combustíveis líquidos e gasosos, nem distorcer demasiadamente os respectivos programas de fabrico.
A análise preliminar do problema nos seus variados aspectos parece indicar que terá justificação a ligação à rede da primeira central nuclear portuguesa por volta do 1975. Nestas circunstâncias, virá a ser necessário tomar uma decisão definitiva para a construção da central dentro de um prazo de um ia. dois anos, devendo aproveitar-se entretanto o tempo que resta para uma cuidadosa ponderação da data definitiva da sua inserção na rede e das soluções tecnológicas a adoptar. Além disso, importa resolver em tempo útil outros problemas fundamentais na matéria:

1.° A preparação de pessoal altamente especializado e diferenciado, a todos os níveis, que será .exigido pela integração das centrais nucleares na rede nacional;
2.° A necessidade de se abrirem novas minas e de se incentivarem os estudos da valorização das nossas reservas de combustível nuclear, analisando cuidadosamente a viabilidade de instalação no País das indústrias do ciclo de combustível e preparando o pessoal necessário a estas actividades. Com efeito, é sabido que o nosso país possui no continente reservas muito importantes de minério uranífero, que se elevam a cerca de 8000 t de óxido de urânio, para só mencionar as reservas certas e exploráveis com custos inferiores a 500 000$ por tonelada de óxido sob a forma de concentrados ricos, e que terão de ser um factor a considerar na escolha da solução mais conveniente a adoptar para as centrais nucleares nacionais;
3.° A conveniência de preparar com tempo suficiente a regulamentação técnica específica das questões nucleares, necessária à introdução na rede nacional das novas centrais.

Prosseguindo na orientação já traçada de chamar o sector privado à colaboração activa com a Junta de Energia Nuclear na preparação dessas decisões, já que àquele virá a caber a construção e exploração das futuras centrais nucleares, haverá que activar, coordenar e dotar convenientemente os sectores a desenvolver, repartindo claramente competências de acordo com a vocação e possibilidades práticas dos organismos intervenientes e o papel que (a cada um caberá no desenvolvimento do programa energético nuclear. Mas, como é óbvio, neste período de preparação, os dispêndios mais importantes terão de caber essencialmente ao Estado, uma vez que não competirá naturalmente ao sector privado a realização de despesas com características de reprodutividade indirecta ou a longo prazo.

§ 4.° Investimentos e projectos

41. São os seguintes os investimentos que correspondem à realização dos objectivos programados para o sector da energia no continente, durante o hexénio de 1968-1973 (em milhares de contos):

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Total do sector da energia ............. 17 612

(a) A iniciar em data a fixar oportunamente (cf. o capitulo «Agricultura, silvicultura o pecuária»).
(b) Parto a cargo da Junta do Energia Nuclear; será oportunamente concretizada a parte empresarial.
(c) Inclui os trabalhos do preparação o instalação da primeira central nuclear.
(d) Não inclui o investimento em redes comparticipadas da ordem de, pelo monos, 12(10000 contos, compreendido na electrificação rural, capitulo «Melhoramentos rurais».
(e) Não totalizado; incluído no capítulo «Indústrias extractivas o transformadoras».
(f) Laboratório de Electricidade, incluído no capitulo da «Investigação não ligada ao ensino».

42. As fichas de investimento, numeradas de 1 a 10, que se juntam em anexo a este capítulo, resumem as características mais relevantes, sob o ponto de vista do planeamento, dos principais projectos que foi possível, desde já, concretizar. Nos programas anuais de execução ir-se-ão incluindo os restantes projectos a definir, designadamente os que hão-de integrar o programa complementar de centros produtores de energia eléctrica.

43. A realização de projectos já incluídos e a iniciar na vigência deste Plano implicará incidências de vária ordem noutros sectores da economia - além dos aspectos financeiros resultantes da mobilização dos recursos necessários. Salientam-se as mais importantes dessas incidências, apenas em ordens de grandezas aproximadas por não estarem ainda exaustivamente concretizados todos os projectos.
Assim, as obras de construção de novos centros produtores de energia eléctrica poderão representar empreitadas de construção civil da ordem dos 4 milhões de contos, originar encomendas à indústria metalomecânica nacional que orçarão pelos 2,5 milhões e requerer importações no montante aproximado de 1,5 milhões.
As montagens de redes de transporte e distribuição lê electricidade (incluída a electrificação rural) poderão determinar importações no montante de aproximadamente 1.0 por cento do investimento total, correspondendo o restante a pagamentos internos.

Quadro-resumo dos investimentos globais do sector da energia

[Ver tabela na imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

(a) Cf. capítulo da agricultura, silvicultura e pecuária.(b) O investimento correspondente à primeira central nuclear está incluído na estimativa global do programa complementar de centros produtores.
(c) Junta de Energia Nuclear (havendo ainda que juntar a verba necessária, no plano empresarial, à preparação do projecto da primeira central nuclear, quando a sua realização estiver concretamente definida).
(d) O processo de calculo da verba do programa complementar de centros produtores que se destina a fazer a transição do III ao IV Plano foi determinado pelo Grupo de Trabalho Energia da C. I. P. I. E. O valor aqui indicado é o limite superior da banda considerada nesse cálculo.
(e) Não inclui o investimento em redes comparticipadas.
(f) Estas verbas não estuo incluídas nos totais do sector dos combustíveis sólidos, nem no total global da energia (cf. capítulo das indústrias extrativas e transformadoras: indústrias extractivas).
(g) Estas verbas não estão incluídas nos totais do sector dos combustíveis líquidos, nem no total global da energia, destinando-se as de 1968 e de 1969 à conclusão da refinaria de Leixões e a verba do período de 1970-1973 a prevista ampliação da refinaria de Cabo Ruivo (cf. capítulo das indústrias extractivas e transformadoras).
(h) Inclui as verbas relativas aos projectos de extracção de urânio apresentados pela Junta de Energia Nuclear. O valor por memória refere-se à prospecção de combustíveis líquidos no continente e respectiva plataforma.

Notações:

Valor não indicado.
Indicação por memória.
valor não somável.

ANEXO.Ficha de investimento n.º 1Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.Designação - Aproveitamento hidroeléctrico de Alvarenga.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Hidroeléctrica do Douro, S. A. R. L.

1.2. Localização:

Alvarenga, no rio Paiva.

1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Estudo dos principais elementos de obra em fase adiantada.
Datas de:
Início de construção - Maio de 1968.
Início de exploração - meados de 1974.
2. Produção:
Potência a instalar - 100 MW.
Produtibilidade média anual - 400 X 106 kWh.

3. Materiais:

Na exploração.
Valor irrelevante.
4. Emprego:
4.1. Volume de emprego na construção a atingir em cada um dos anos do III Plano:
1968 ............... 500 1969 ............... 1 0001970 ............... 1 5001971 ............... 2 000
1972 ............... 2 500
1973 ............... 1 000

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em regime normal de exploração:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............. -
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo, de escritório e outros empregos ..................... -3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes . -4. Operários qualificados ........................... -5. Operários semiqualificados ....................... 4
6. Não qualificados ................................. 4
8

5. Investimento:

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6. Financiamento:

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Particulares e empresas.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

Atribuição da concessão do aproveitamento.
Relativamente a problemas de coordenação de planeamento, financiamento e expropriações, consideram-se aplicáveis as observações feitas para a Régua (ficha n.º 4).

8. Reflexos sobre outras actividades:

As indústrias favorecidas pela realização de Alvarenga serão, nomeadamente, a construção civil, cimentos, siderurgia, metalomecânicas e eléctricas, transportes, materiais de construção diversos, óleos combustíveis, explosivos, equipamentos para estaleiros, etc.
A barragem permitirá dispor de um novo atravessamento sobre o rio Paiva.
A construção do aproveitamento dará lugar, certamente, a importantes beneficiações na rede rodoviária na região. Turisticamente, a albufeira de Alvarenga poderá vir a demonstrar grandes possibilidades.
Do ponto de vista social, é de assinalar que os salários pagos na região, da ordem dos 150 000 a 200 000 contos, terão reflexos importantes na economia local.

Ficha de investimento n.º 2

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico de Crestuma.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Hidroeléctrica do Douro, S. A. R. L.

1.2. Localização:

No Rio Douro, perto de Crestuma.

1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Projecto em adaptação, a partir do elaborado para Atães.
Datas de:

Início de construção - Maio de 1968.
Início de exploração - 1973-1974.

2. Produção:

Potência a instalar - 3X26 MW.
Produtibilidade média anual - 370X106 kWh.

3. Materiais:

a exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

[Ver Tabela na Imagem]

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1973-1974), no sector da exploração:

Categorias profissionais:

[Ver Tabela na Imagem]

5. Investimento:

[Ver Tabela na Imagem]

6. Financiamento:

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(293)

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

Alargamento da zona abrangida pela concessão da Hidroeléctrica do Douro às freguesias atingidas por este aproveitamento.
Relativamente a problemas de coordenação do planeamento, financiamento e expropriações são aplicáveis as observações feitas para a Régua.

8. Reflexos sobre outras actividades:

A realização deste aproveitamento traduzir-se-á por aquisições da ordem das 100 000 t de cimento e 3000 t de aço para betão armado, além de compras avultadas às indústrias metalomecânicas, eléctricas, de transportes, de materiais de construção diversos, de óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, de equipamento para estaleiro, etc., e principalmente em encomendas à indústria da construção civil.
Permite a abertura do troço de jusante da via navegável do Douro.
O aproveitamento permitirá o estabelecimento de uma ligação entre as duas margens do rio através do viaduto sobre a barragem.
Este escalão a fio de água permite dispor de consideráveis massas de energia temporária utilizáveis pelas indústrias electroquímicas e electrometalúrgicas.
O volume de salários a distribuir na região orçará pelos 150 000 contos.

Ficha de investimento n.º 3

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico do Fratel.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:
Hidroeléctrica do Zêzere, S. A. R. L,
1.2. Localização:
Rio Tejo.
1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:
Projecto em reelaboração.
Datas de:
Início de construção - estiagem de 1968.
Início de exploração - estiagem de 1972.
2. Produção:
Potência a instalar - 3X25 MW.
Produtibilidade média anual - 362 GWh.
3. Materiais:
Na exploração.
Valor irrelevante.
4. Emprego:
4.1. Volume de emprego na construção a atingir em cada um dos anos do III Plano (p. m.).
4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal, no sector da exploração (estimativa):

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............. 1
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos ..................... 4
. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes . 2
. Operários qualificados ........................... 19
. Operários semiqualificados ....................... 6
6. Não qualificados ................................. 18
50

5. Investimento:

Estimativa sujeita a revisão - 855 000 contos.

6. Financiamento:

Em primeira aproximação, podem-se admitir fontes semelhantes às de Vilarinho das Furnas ou da Régua.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

Aspectos comuns aos centros produtores hidroeléctricos.

8. Reflexos sobre outras actividades:

Comuns à generalidade dos aproveitamentos hidroeléctricos (ver, por exemplo, o da Régua).

Ficha de investimento n.º 4

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento. hidroeléctrico da Régua.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Hidroeléctrica do Douro, S. A. R. L.

1.2. Localização:

Cerca de 4 km a montante da Régua.

1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Projecto executivo em realização.
Datas de:

Início de construção - Fevereiro de 1967.
Início de exploração - 1972-1973.

2. Produção:

Potência a instalar - 3X50 MW.
Produtibilidade média anual - 700X106 kWh.

Página 294

1662-(294) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

3. Materiais:

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

[Ver Tabela na Imagem]

4.2. Emprego por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1973), no sector da exploração:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............. -
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos ..................... 4
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes . 2
4. Operários qualificados ........................... 19
5. Operários semiqualificados ....................... 6
6. Não qualificados ................................. 19
50

5. Investimento:

Estimativa de custo na fase actual de estudo, mas- sujeita a eventual rectificação - cerca de 1 430 000 contos.

6. Financiamento:

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessaria para a sua resolução em tempo útil:

Para a realização do aproveitamento nos prazos indicados será necessário que o arranque da obra se verifique na data prevista e, nomeadamente, que não seja demorada a aprovação do desvio do caminho de ferro e da estrada nacional na zona do estaleiro.

8. Reflexos sobre outras actividades:

Os reflexos mais salientes da construção deste aproveitamento hidroeléctrico sobre as fontes de matérias-primas podem traduzir-se, aproximadamente, pelo emprego de cerca de 150 000 t de cimento e 5000 t de aço para betão armado. Contribuirão apreciavelmente para esta realização as indústrias metalomecânicas, de transportes, de materiais de construção diversos, de óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, de equipamentos para estaleiros, etc., e sobretudo a indústria de construção civil.
Este aproveitamento influenciará mais directamente a infra-estrutura dos transportes na região através da criação de um troco da via navegável do Douro e da melhoria da estrada nacional n.º 222, que terá de ser substituída numa extensão apreciável.
Este escalão a fio de água permite dispor de consideráveis massas de energia temporária utilizáveis pelas indústrias electroquímicas e electro-metalúrgicas.
Do ponto de vista social, importa referir o facto de virem a ser distribuídos cerca de 200 000 contos de salários na região, principalmente a mão-de-obra não especializada.

Ficha de investimento n. 5

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Hidroeléctrica do Cávado, S. A. R. L.

1.2. Localização:

Rio Homem, a jusante da povoação de Vilarinho das Furnas.

1.3. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Projecto completo e aprovado pelas entidades competentes.
Datas de:

Conclusão do projecto - Maio de 1964.
Homologação do parecer do C. S. O. P. - Outubro de 1965.
Início de construção - princípios de 1967.
Início de exploração - estiagem de 1970.

2. Produção:

Potência a instalar - 100 MW.
Produtibilidade média anual - 250Xl06 kWh.

3. Materiais:

Na exploração.
Valor irrelevante.

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano.

Página 295

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(295)

[Ver Tabela na Imagem]

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1970), no sector da exploração:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior .............. 2
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos ...................... 12
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes .. 4
4. Operários qualificados ............................ 13
5. Operários semiqualificados ........................ 8
6. Não qualificados .................................. 16
55

5. Investimento e encargos gerais:

[Ver tabela na Imagem]

6. Financiamento:

Em princípio, admite-se recorrer às seguintes fontes de financiamento:

Caixa Nacional de Crédito.
Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Particulares e empresas.
Autofinanciamento.
Crédito estrangeiro.

7. Reflexos sobre outras actividades:

Os reflexos mais salientes da construção deste aproveitamento, relativamente a fontes nacionais de matérias-primas, podem traduzir-se no emprego de aproximadamente, 100 000 t de cimento e 1200 t de aço para betão armado e perfilados.
Entre os sectores industriais que hão-de contribuir para esta realização salientam-se as indústrias da construção civil, obras públicas, metalomecânicas, eléctricas, de transporte, de materiais de construção diversos, de óleos combustíveis e lubrificantes, de explosivos, equipamentos para estaleiro, etc.
Este aproveitamento terá directa influência na infra-estrutura das comunicações regionais através da construção de estradas e obras de melhoramentos, estabelecimento do linhas de transporte de energia, telefones, etc.
A sua acção no campo social pode traduzir-se pela distribuição de cerca de 100 000 contos de salários na região, com grande aplicação de mão-de-obra não especializada. É ainda de salientar a acção no campo do ensino (ao nível do ensino primário e profissional), saúde - através da assistência hospitalar dos estaleiros estendida às populações locais - e outras acções com efeitos benéficos no nível de vida económico e social das populações da região.

Ficha de investimento n.º 6

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Extracção mineira e produção de energia eléctrica. Designação - Mina e central térmica de Rio Maior.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S. A. R. L.

1.2. Finalidade do investimento:

Instalação de uma central termoeléctrica para queima das lignites de Eio Maior.

1.3. Localização:

Junto a Rio Maior.

1.4. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Na fase final de estudos preliminares de viabilidade técnico-económica.
Datas de:

Início de construção - Maio de 1968.
Início de exploração - Novembro de 1971.

2. Produção:

Potência a instalar - cerca de 125 MW.

3. Materiais:

Valor do consumo de matérias-primas e outros materiais na exploração (incluindo conservação):

[Ver tabela na Imagem]

Nota. - Dado que se prevê a exploração em conjunto da mina e da central, o valor do combustível é dado a título indicativo e na base do. uma utilização de 6500 horas por ano.

Página 296

1662-(296) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano:
Exploração
1968 ............ -
1969 ............ -
1970 ............ 350
1971 ............ 470
1972 ............ 470
1973 ............ 470

Nota. - Não é possível indicar neste momento o volume de empregos afecto à construção.

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1971), no sector da exploração:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............. 7
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos ..................... 21
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes . 18
4. Operários qualificados ........................... 155
5. Operários semiqualificados ....................... 164
6. Não qualificados ................................. 105
470

5. Investimento:

[Ver tabela na Imagem]

Nota. - Valores do estudo preliminar.

6. Fontes de financiamento:

Banco de Fomento Nacional.
Previdência.
Banca comercial e entidades particulares.
Autofinanciamento.
Créditos estrangeiros.

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

A realização deste investimento está dependente da obtenção das respectivas autorizações e da definição de concessões de extracção de lignites e de instalação da central termoeléctrica. Um atraso na resolução destes problemas traduzir-se-á em correspondente atraso da data de início da exploração indicada em 1.4.

8. Reflexos sobre outras actividades:

A instalação de uma central termoeléctrica para queima das lignites de Rio Maior terá reflexo nas indústrias nacionais metalomecânicas, de electricidade e de construção civil, dado que se espera forte participação nacional na sua construção.

Ficha de investimento n.º 7

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Central do Carregado - Grupo 3.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S. A. R. L.

1.2. Finalidade do investimento:

Instalação de um 3.º grupo, idêntico aos dois primeiros da central do Carreio.

1.3. Localização:

Junto da povoação da Meirinha, freguesia de Santo Estêvão, concelho de Alenquer.

1.4. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Anteprojecto da central elaborado em Junho de 1964.
Início do lançamento de encomendas que condicionam a realização do projecto:
Novembro de 1966.
Início de construção: Junho de 1967.

2. Produção:

Potência a instalar - 125 MW.

3. Materiais:

Valor do consumo de matérias-primas e outros materiais na exploração (incluindo conservação).
Valor dos materiais:

Por ano
Contos
De origem nacional ....... 50 000
De origem externa ........ 33 000
83 000

Nota. - O funcionamento da central será bastante irregular, pois que condicionado pelo regime hidrológico. Considerou-se que, um média, é de prever uma utilização da potência instalada da ordem das 4000 horas, o que conduza, um custo de combustível anual de cerca de 75 000 contos. Admitiu-se ainda que na composição do preço do fuel-oil a parte que implica saída de divisas é da ordem dos 83 por cento.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(297)

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano:
Exploração
1968 .................... -
1969 .................... 26
1970 .................... 26
1971 .................... 26
1972 .................... 26
1973 .................... 26

Nota. - Os números indicados não têm em conta o pessoal admitido ou a admitir para os dois primeiros grupos do Carregado.

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (1969), no sector da exploração:

Categorias profissionais:

[Ver Tabela na Imagem]

5. Investimento:

[Ver Tabela na Imagem]

6. Financiamento:

Banco de Fomento Nacional ................. 39,5
Previdência ............................... 27
Banca comercial e entidades particulares .. 103
Autofinanciamento ......................... 55,5
Créditos estrangeiros ..................... 330
555

7. Aspectos que condicionam ou a concretização dos anteprojectos ou a realização dos projectos. Acção necessária para a sua resolução em tempo útil:

Nada a assinalar.

8. Reflexos sobre outras actividades:

Fontes nacionais de matérias-primas - A instalação do 4.º grupo do Carregado implicará coordenação com as refinarias nacionais fornecedoras de fuel-oil.

Outras indústrias - O 4.º grupo do Carregado) como os anteriores, terá reflexos nas indústrias nacionais metalomecânicas, de electricidade e de construção civil, dado que se espera forte participação nacional na sua construção.

Ficha de investimento n.º 8

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de energia eléctrica.
Designação - Central do Carregado - Grupo 4.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Empresa Termoeléctrica Portuguesa, S. A. R. L.

1.2. Finalidade do investimento:

Instalação de um 4.º grupo, idêntico aos três primeiros da central do Carregado.

1.3. Localização:

Junto da aprovação da Meirinha, freguezia de santo Estêvão, concelho de Alenquer.

1.4. Situação dos trabalhos de estudo e de projecto:

Anteprojecto da central elaborado em Junho de 1964.
Início do lançamento de encomendas que condicionam a realização do projecto:
Novembro de 1966, com o 3 grupo, mas com opção.
Início de construção: construção civil - com o 3.º grupo, Junho de 1967; equipamento: dois anos antes da data prevista para a entrada em exploração.
Início de exploração: Agosto de 1972 (previsão condicionada).

2. Produção:

Potência a instalar: 125 MW.

3. Materiais:

Valor do consumo de matérias-primas e outros materiais na exploração (incluindo conservação).
Valor dos materiais:
Por ano
Contos
De origem nacional .......... 50 000
De origem externa ........... 33 000
83 000

Nota. - O funcionamento da central será bastante irregular, pois que condicionado pelo regime hidrológico. Considerou-se que, em média, é de prever uma utilização da potência instalada da ordem das 4000 horas, o que conduz a um custo de combustível anual de cerca de 75 000 contos.
Admitiu-se ainda que na composição do preço do fuel-oil a parte que implica saída de divisas é da ordem de 35 por cento.

Página 298

1662-(298) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

4. Emprego:

4.1. Volume de emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano:
Exploração
1968 .................. -
1969 .................. -
1970 .................. -
1971 .................. -
1972 .................. 19
1973 .................. 19

Nota.. - Os números indicados não têm em conta o pessoal admitido ou a admitir para os três primeiros grupos do Carregado.

4.2. Emprego, por categorias profissionais, no ano de entrada em funcionamento em regime normal (J972), no sector da exploração:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............. -
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos ..................... 2
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes . 4
4. Operários qualificados ........................... 6
5. Operários semiqualificados ....................... 7
6. Não qualificados ................................. -
19

Ficha de investimento n.º 9

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Extracção de urânio.
Designação - Regiões uraníferas das Beiras e do Alto Alentejo.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidade promotora do projecto:

Junta de Energia Nuclear.

1.2. Finalidade dos investimentos:

Pretende-se continuar a avaliação das reservas de urânio do continente, preparar minas para exploração e extrair as quantidades de minério necessárias para alimentar a instalação de tratamento químico.

1.3. Produtos a fabricar:

Minérios de urânio.

1.4. Localização:

Regiões da Guarda, Urgeiriça e Alto Alentejo.

2. Produção:

2.1. Capacidade.
2.2. Valor da produção:

Admite-se que a quantidade de minérios extraídos durante a vigência do III Plano seja da ordem das 200 000 t, cujo valor à boca da mina será de cerca de 70 000 contos.

3. Materiais:

As matérias-primas principais utilizadas durante o III Plano e os respectivos valores (em milhares de escudos) indicam-se a seguir:

Madeiras - 100 000.
Explosivos - 4000.

4. Emprego:

4.1. Volume dó emprego a atingir em cada um dos .anos do III Plano. Os trabalhos de prospecção, pesquisa e exploração envolvem o seguinte pessoal:
Número
1968-1969 .......... 780
1970-1973 ........... 920

4.2. Emprego por categorias profissionais:

A composição destas equipas indica-se a seguir:

[Ver Tabela na Imagem]

5. Investimento:

Prevê-se que durante o III Plano se efectuem investimentos em prospecção, pesquisa, reconhecimento e preparação das minas para exploração da ordem de 100 000 contos.

6. Financiamento:

Pelo Orçamento Geral do Estado.

7. Reflexos sobre outras actividades:

Do ponto de vista social, importa referir o facto de virem a ser distribuídos cerca de 80 000 contos em salários em regiões de economia débil.

Ficha de investimento n.º 10

Grupo de Trabalho n.º 5 (Energia).
Actividade industrial - Produção de concentrados de urânio.
Designação - Instalação de tratamento químico de minérios de urânio.

Informações

1. Informações gerais:

1.1. Entidades promotoras do projecto:

Junta de Energia Nuclear, eventualmente em colaboração com a indústria privada.

Página 299

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(299)

1.2. Finalidade dos investimentos:

Pretende-se produzir concentrados de urânio a partir dos minérios nacionais, com a principal finalidade de abastecer as futuras centrais nucleares do País.

1.3. Produtos a fabricar:

Concentrados ricos de urânio (com cerca de 80 por cento de U3 O3).

1.4. Localização:

Urgeiriça, Canas de Senhorim.

2. Produção:

2.1. Capacidade:

Cerca de 120 t de minério por dia.

2.2. Valor da produção:

Admite-se que a produção de concentrados ricos de urânio durante a vigência do III Plano seja equivalente a cerca de 300 t U, que, na base de cerca de 500$/kg U, representa um valor de 150 000 contos.

3. Materiais:

As matérias-primas principais utilizadas durante o III Plano e os respectivos valores em milhares de escudos indicam-se a seguir:

Minério .................... 70 000
Acido sulfúrico ............ 9 000
Petróleo, álcool e amina ... 1 500
Outras matérias-primas ..... 2 500
83 000

. Emprego:

4.1. Volume do emprego a atingir em cada um dos anos do III Plano:

A exploração da instalação de tratamento químico envolve uma equipa de cerca de 130 indivíduos, que trabalhará durante a vigência do III Plano.

4.2. Emprego por categorias profissionais:

A composição da equipa referida indica-se a seguir:

Categorias profissionais:
Número
1. Pessoal dirigente e técnico superior ............ 4
2. Outro pessoal técnico, pessoal administrativo,
de escritório e outros empregos .................... 16
3. Contramestres, mestres, encarregados e capatazes 12
4. Operários qualificados .......................... 45
5. Operários semiqualificados ...................... 30
6. Não qualificados ................................ 23
130

5. Investimento:

Da ordem de 36 000 contos por parte da Junta de Energia Nuclear, havendo a acrescentar a verba correspondente ao sector privado, a determinar oportunamente.

6. Financiamento:

Orçamento Geral do Estado, pela Junta de Energia Nuclear.

7. Reflexos sobre outras actividades:

Do ponto de vista social, é de assinalar que os salários pagos na região durante o III Plano, da ordem de 20 000 contos, terão reflexos sensíveis na economia local.

CAPITULO VII

Circuitos de distribuição

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. No período de 1953-1964, a taxa de crescimento do valor acrescentado bruto do sector comercial foi da ordem dos 5 por cento ao ano, ligeiramente superior ao ritmo de acréscimo do produto interno bruto total, em média 4,8 por cento. No ano de 1965, a participação do comércio na formação do produto interno bruto foi de 12,1 por cento, percentagem semelhante às verificadas naquele período, cujos valores oscilaram entre 12,1 e 12,5 por cento.
Para o futuro, prevê-se lenta diminuição da importância do sector comercial no produto interno bruto, com base na hipótese de o valor .acrescentado do sector progredir a ritmo sensivelmente inferior ao do produto interno. Admite-se que em 1973 a participação do comércio se cifre em 11,6 por cento.
O significado que poderá ser extraído de tais elementos necessita, porém, de ser prudentemente interpretado. Em primeiro lugar, parte considerável das operações de distribuição é levada a cabo por entidades privadas dos sectores agrícola e industrial, pelo que os números apresentados não traduzem completam ente a incidência do fenómeno em estudo. Por outro lado, o que fundamentalmente interessa na produção de um serviço é a obtenção de qualidade adequada às necessidades da utilização, em condições de custo quanto possível baixas.
Sendo assim, não será viável relacionar simplesmente o fenómeno do aumento dos custos de distribuição, eventualmente devido a reajustamentos das margens de lucro dos intermediários, com o da melhoria da qualidade dos serviços prestados, pois esta só poderá definir-se pela análise dos circuitos de distribuição correspondentes às grandes categorias da produção nacional e nacionalizada.

2. As perspectivas futuras de desenvolvimento dos circuitos de distribuição internos parece estarem condicionadas por dois factores de incidência diferente. De um lado, o processo de desenvolvimento da economia nacional tenderá a promover a integração no sistema de mercado das comunidades da metrópole que ainda vivem parcialmente em regime de auto-subsistência, e daí poderá derivar animação considerável das trocas internas. De outro lado, o resultado da análise dos diferentes circuitos de distribuição irá certamente revelar a urgência de proceder a reconversões de base, que pode-

Página 300

1662-(300) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

rão traduzir-se, em muitos casos, na supressão de intermediários inúteis e na consequente redução dos circuitos.

3. Não existem elementos de conjunto suficientes para fundamentar uma repartição rigorosa das actividades da distribuição pelas diferentes regiões da metrópole. À escala do sector comercial, é possível dispor de estimativas, certamente grosseiras, que situam em plano excepcional os distritos de Lisboa e do Porto, do ponto de vista da sua contribuição para o produto bruto. Com efeito, essa participação situava-se recentemente em cerca de 68 por cento do produto interno bruto do referido sector. Tal situação justifica-se por se tratar de distritos de grande densidade populacional, associada a poder de compra relativamente elevado - o que favorece a eclosão de novos tipos de necessidades característicos das sociedades de abundância - e por neles estar concentrada a maioria das funções que respeitam às relações comerciais com o exterior.
É de esperar que a repartição pelas diferentes regiões se processe de modo mais homogéneo (segundo a relação entre o número de empresários e o de habitantes) quanto ao comércio de retalho; o comércio grossista, por seu turno, localizar-se-á sobretudo de acordo com as necessidades inerentes à distribuição de cada categoria de produtos, que tanto poderão fazer convergir essas actividades para os grandes centros populacionais da periferia - nomeadamente para os produtos objecto de trocas com o exterior -, como, em certa medida, para alguns núcleos do interior, quando se registe grande dispersão das unidades produtivas.

4. A estrutura dimensional das actividades comerciais de retalho da metrópole caracteriza-se por acentuada pulverização e escasso poder económico das .empresas. Ao contrário do que acontece em países de nível de desenvolvimento económico mais elevado, são ainda muito raros em Portugal os casos de cadeias de estabelecimentos comerciais racionalmente organizadas e dispondo de solidez financeira e, também, os casos de venda no mesmo estabelecimento de extensa gama de bens de consumo final, é evidente que a boa organização comercial e financeira constitui requisito essencial para a qualidade do serviço prestado, com apreciáveis repercussões no custo da actividade e nos preços de venda praticados. Do mesmo modo, a diversificação da gama de produtos transaccionados permite mais segura compensação dos capitais investidos e mais rápida rotação das existências, o que também ,se traduz pela possibilidade de retribuir eficazmente a função de distribuição sem se onerar o nível de preços de retalho; o abastecimento, feito sempre que possível junto do produtor, contribui também para a manutenção de preços relativamente moderados.

5. Será possível admitir que, tendencialmente, venha a verificar-se certo progresso no volume total de vendas dos supermercados e estabelecimentos de auto-serviço (em particular se estes procurarem adequar-se ao serviço de uma clientela cujas características e possibilidades financeiras não são, de modo algum, comparáveis com as dos países mais desenvolvidas), bem como a diversificação dos bens comercializados, a normalização desses mesmos bens e das suas embalagens e, ainda, melhor informação e assistência técnica ao consumidor, acompanhada da criação de facilidades de transporte e estacionamento.
Deve notar-se que os supermercados não substituem completamente os retalhistas, nem o pretendem fazer, constituindo para estes estímulo para melhor apresentação das suas lojas e para mais elevado nível de higiene dos produtos transaccionados. Presentemente, existem no continente apenas 23 supermercados, dos quais 15 nas cidades de Lisboa e do Porto. As oportunidades de abertura de novos estabelecimentos congéneres parecem limitar-se, por enquanto, aos núcleos populacionais com maior poder de compra, devido às características de qualidade (selecção e, embalagem adequada) dos bens ali transaccionados, e aos centros onde será possível encontrar maior densidade de consumidores potenciais.
O desenvolvimento dos supermercados, assente na possibilidade de trabalharem com custos mais reduzidos, encontra-se ainda dependente dos .seguintes factores:

Aumento do número de produtos embalados pelos próprios industriais produtores, o que evitará uma secção de embalagem no supermercado, necessariamente mais cara;
Progressiva adaptação do consumidor a este tipo de estabelecimento, que muitas vezes evita por supor que os produtos são aí mais caros;
Eliminação dos entraves postos em relação à venda de determinados produtos por parte de entidades não económicas e sem delegação do Ministério da Economia, designadamente os alvarás municipais.

6. Para comprovar a aludida pulverização e reduzido poder económico das empresas comerciais da metrópole, basta referir que nesta existem 1,55 estabelecimentos de retalho por 100 habitantes e que, na própria área de Lisboa, mais de metade do comércio de retalho paga contribuição industrial inferior a 1000$ por ano, o que supõe um volume de vendas extremamente fraco.
Uma amostragem estabelecida com base na observação de grande número de casos - 65 000 estabelecimentos comerciais - permitiu concluir que cerca de 88,8 por cento dessas unidades pertencem a comerciantes que exploram um único estabelecimento; 10,7 por cento da amostra respeitam a empresários dispondo de dois ou três estabelecimentos; apenas 0,5 por cento abrange comerciantes explorando quatro ou mais estabelecimentos.
O comércio grossista já não sofre da pulverização que afecta a venda directa ao público. O volume de negócios é muito superior, e em diversos ramos dessa actividade, tanto no plano interno, como, sobretudo, no das transacções com o estrangeiro, verifica-se certa concentração das vendas em unidades de grande dimensão. Aliás, este tipo de comércio tem vindo a desempenhar recentemente funções de financiamento e assistência técnica em relação ao sector retalhista e tende a cooperar mais estreitamente com a produção, nomeadamente na concepção do produto (qualidade, estudo das embalagens adequadas, prospecção de mercados e publicidade).

7. Em múltiplos sectores da distribuição notam-se os efeitos perniciosos de entidades que, inserindo-se nos circuitos com fins meramente especulativos e, por vezes; sonegando bens de consumo essenciais em épocas de escassez para os vender em condições exorbitantes, constituem elementos de perturbação que não tem sido possível reprimir eficazmente. Os esforços a desenvolver nesse sentido representariam certamente contribuição útil para o saneamento da distribuição e racionalização dos seus circuitos.
Estas anomalias verificam-se sobretudo com os bens de consumo que têm a sua produção concentrada nalgumas épocas do ano e com aqueles cuja abundância ou escassez são influenciadas por factores naturais sobre os quais é limitada a possibilidade, de controle - além dos

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casos em que o facto se verifica, aparentemente, por mera tradição. Encontram-se nestas condições quase todos os produtos alimentares, em cuja comercialização, envolvendo necessariamente grandes quantitativos, por se tratar de produtos de consumo muito generalizado, encontram os oportunistas vasto campo de acção.
Tais factos justificam, parcialmente as grandes oscilações de preços sofridas ao longo do ano pelas frutas e legumes, pelo peixe, pela batata e por alguns outros produtos. Essas variações, se algumas vezes podem traduzir a escassez real do produto, reflectem quase sempre a rigidez e o anacronismo do sistema de distribuição, incapaz de assegurar um fluxo de abastecimento constantemente adaptado às necessidades dos consumidores.

8. As associações voluntárias de armazenistas e retalhistas, dirigidas em especial para o comércio dos géneros alimentícios, vão já tendo alguma expansão em Portugal, enquanto na maioria dos outros países da Europa ocupam posição predominante em relação aos comerciantes não associados. Na República Federal Alemã, por exemplo, a percentagem do volume de negócios respeitantes aos bens alimentares feita através dos comerciantes associados é superior a 90 por cento, e são vulgares, noutros países, percentagens da ordem dos 00 a 70 por cento.
O comércio retalhista deste ramo, entregue ainda, entre nós, ao clássico estabelecimento de mercearia, tem sofrido nas economias mais desenvolvidas uma evolução que certamente virá a reflectir-se no nosso país. Trabalhando em média com margens reduzidas, só a racionalização dos métodos utilizados e uma sólida formação profissional, aliadas a elevado volume de vendas, permitirão uma administração sã, da qual resultarão vantagens para os retalhistas e para o público.
Para atingir estes objectivos, os armazenistas pertencentes a uma cadeia voluntária de distribuição, ao mesmo tempo que pretendem abastecer em exclusivo os respectivos retalhistas, prestam a estes toda a cooperação no sentido de lhes facultar aumento de vendas e de actualizar os seus processos de trabalho; deste modo, poderão pretender superar, com êxito, os problemas derivados do aparecimento, cada vez mais frequente, de novas cooperativas, cantinas, supermercados - estabelecimentos que adoptam métodos comerciais rejuvenescidos, não se compadecendo com os antigos usos, os quais, apesar das suas notórias insuficiências, ainda têm larga aplicação por parte dos retalhistas de géneros alimentares. Será, pois, da máxima conveniência uma acção esclarecedora junto destes comerciantes no sentido de os prevenir quanto à evolução provável do sector e de facultar meios aos que pretendam aperfeiçoar-se mas careçam de capacidade financeira para o fazer.

9. Outra técnica de distribuição, de emprego por enquanto muito limitado em Portugal, é à criação de cooperativas, tanto ao nível da produção como do consumo. Em países de alto nível de vida, a difusão de instituições cooperativas tem provocado apreciável animação e aperfeiçoamento dos circuitos de distribuição, na base de métodos de organização e gestão mais económicos e de compressão das margens de lucro. As dificuldades principais levantadas à criação e difusão, no nosso país, das cooperativas de consumo têm sido: a carência de fontes de financiamento acessíveis, a incompleta consciencialização das vantagens a esperar de tais instituições, alguns atrasos na adopção de modernas técnicas de gestão e certa desconfiança injustificada perante os objectivos do fenómeno cooperativo.
As cooperativas de consumo encontram-se principalmente concentradas nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal. No primeiro destes, no entanto, depara-se-nos o obstáculo adicional dos exorbitantes alugueres reclamados por estabelecimentos de área limitada, o que dificulta a adopção do regime de vendas em auto-serviço, caminho que as cooperativas tentam decididamente trilhar.
Não parece viável a criação de cooperativas de consumo fechadas em torno de um número restrito de indivíduos exercendo determinada profissão ou trabalhando em dada empresa. A sua escassa dimensão impede a obtenção de grandes reduções nos preços, embora possa beneficiar de algumas vantagens (transportes a baixo custo, instalações gratuitas, etc.) que parcialmente compensem a perda de economias de escala.
Quanto às cooperativas de produção, nota-se ainda, nos meios rurais, um .apego às formas tradicionais de exploração da terra, que tem inibido o maior desenvolvimento de tais iniciativas.

10. Dadas as características da evolução previsível no comércio dos géneros alimentares, a que atrás já sei fez ligeira referência, e que podem traduzir-se no aparecimento cada vez mais frequente de estabelecimentos vendendo gamas progressivamente mais largas de produtos, é de antever que venham a perder operacionalidade os mercados municipais, arreigados a um sistema muito tradicionalista de venda, nem sempre feita nas melhores condições de higiene, ocupando extensas áreas de terreno muito valioso e provocando, inclusivamente, problemas de trânsito, por vezes difíceis, em especial nas cidades mais importantes.

11. Os recursos financeiros habituais do comércio são o autofinanciamento das empresas, o crédito dos fornecedores, o crédito comercial corrente das instituições bancárias e, eventualmente, o crédito hipotecário. Fora dos meios próprios a que as unidades comerciais recorrem para os seus investimentos, estas quase só têm acesso ao crédito a curto prazo, o que, obviamente, dificulta os esforços no sentido da modernização das empresas. Esta obrigará a realizar vultosos investimentos, nomeadamente na aquisição de equipamentos de transporte e de produção de frio e na instalação de unidades polivalentes, como os supermercados.
As projecções elaboradas para a formação bruta de capital fixo a realizar no sector comercial, no período deste III Plano, montam, como se verá adiante, a 10,3 milhões de contos. Tão avultado montante de recursos financeiros para investimento a médio prazo deverá certamente ser obtido, em grande parte, dentro das possibilidades de autofinanciamento do próprio sector. Simplesmente, a fim de limitar os desperdícios frequentemente verificados, parece oportuna a constituição de organismos de financiamento de tipo cooperativo, no âmbito do sector comercial, alimentados pelas contribuições dos empresários. Este e outros métodos de acção deverão, no entanto, considerar como coordenada fundamental a inconveniência de favorecer unidades económicamente ineficazes por escassez de capacidade financeira e técnica.

12. Em 1964, o comércio metropolitano abrangia pouco mais de 8 por cento da população activa total - cerca de 261 000 indivíduos -, donde se infere, conjugando este dado com o facto de no sector, ter sido formado cerca de 12,3 por cento do produto interno bruto daquele mesmo ano, a relativamente elevada capitação de produto que cabe a cada trabalhador do comércio. Parece, todavia, inseguro tentar concluir por uma maior produti-

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vidade do comércio em relação a outras actividades. A própria base numérica de que teria de partir-se - séries do valor acrescentado pelo sector comercial ao produto interno bruto - revela-se manifestamente insuficiente para se poder progredir com utilidade nessa via. Aliás, estudo recente elaborado pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial, assinala para o comércio uma taxa de crescimento da produtividade inferior a da economia nacional no seu conjunto - respectivamente 3,6 e 4,3 por cento -, o que confirma as reservas postas à interpretação da referida capitação.
Pode dizer-se que não se prevêem dificuldades especiais na renovação do pessoal empregado no sector, embora este. não tenha deixado de sentir a pressão actualmente exercida sobre o mercado de trabalho nacional, devida, designadamente, à falta de mão-de-obra qualificada em múltiplas especializações. A actividade pôde, no entanto, registar, no passado recente,, um ritmo de criação de novos empregos de cerca de 3300 em média anual.

13. Importa realçar ainda a grande importância de que se revestirá a análise geral dos principais circuitos de distribuição metropolitanos, a verificação das margens comerciais praticadas e o apuramento, em bases seguras, do valor acrescentado pelo comércio ao produto interno bruto. Só quando tais trabalhos estiverem concluídos será possível avaliar correctamente a incidência relativa dos grandes problemas que afectam a distribuição no nosso país, podendo entretanto adiantar-se algumas hipóteses, que, como é evidente, não substituem o conhecimento exacto das condições existentes.
Tal estudo deverá começar pelos produtos alimentares mais importantes, por serem de consumo generalizado a toda a população e indispensáveis à manutenção da saúde pública: carne, peixe fresco, bacalhau, arroz, batata, fruta, ovos, aves., queijo, leite, etc., estendendo-se depois aos produtos industriais de comercialização importante.

14. Os factores que, internacionalmente, mais têm contribuído para a dinamização da distribuição são o acréscimo demográfico, a elevação gradual do nível de vida (traduzida em novas necessidades de consumo), a modificação dos métodos tradicionais de venda (visando satisfazer clientelas cada vez mais vastas), o aumento dos índices de produtividade dos circuitos de distribuição, nomeadamente cem base na cooperação comercial e na expansão das cadeias voluntárias armazenista-retalhista, e a crescente gama de produtos colocados à disposição do público.
As insuficiências verificadas na evolução da economia nacional em relação a alguns desses factores ocasionaram, em parte, deficiente grau de racionalização dos circuitos de distribuição metropolitanos, nos quais não é difícil encontrar conjuntos de elementos perturbadores que só por si justificam pesada oneração dos produtos até ao consumidor, em contradição com os objectivos de produtividade que as actividades económicas devem propor-se. De acordo com a experiência recente de dificuldades surgidas em relação a vários grupos de produtos, importa explicitar alguns pontos de estrangulamento que justificam a adopção de providências urgentes e podem contribuir para a análise crítica de> conjunto da distribuição na metrópole, análise que importa levar a cabo com brevidade.

15. Em primeiro lugar, põe-se o problema da indisciplina do diversos circuitos de distribuição, facilitada pela vetustez da legislação aplicável e que se traduz, nomeadamente, pela proliferação de intermediários inúteis, de feição parasitária, cuja entrada no comércio não requer nenhum grau de habilitação técnica nem de capacidade económica e é motivada, quase sempre, pela ambição de lucro fácil e rápido, pondo de lado quaisquer outras preocupações. Como já se referiu, é no campo dos produtos alimentares que mais se fazem sentir estes aspectos, vindo a reflectir-se no empresário agrícola ou no consumidor final as consequências desfavoráveis da insuficiência de regulamentação das actividades comerciais. Assinale-se que a insuficiência, reconhecida no capítulo respectivo, do ritmo de crescimento das produções agrícola e pecuária, é também causa de escassez relativa, o que auxilia as manobras de especulação.
Deste modo, assiste-se ao prolongamento excessivo dos circuitos de distribuição internos, com o consequente agravamento do custo do serviço prestado. Por outro lado, da inadequação dos meios de acção disponíveis resulta não ser possível um acompanhamento suficientemente maleável da conjuntura, o que faculta a prática de margens comerciais muito elevadas, quer por as condições de concorrência se encontrarem demasiadamente restringidas (predomínio de uma ou de poucas empresas na distribuição de dada categoria de produtos), quer pela existência de desajustamentos, ocasionais ou de carácter permanente, entre a oferta e a procura, quer ainda devido a movimentos puramente especulativos.

16. Outro problema importante é o da insuficiência de equipamentos de armazenagem e transporte apropriados, nomeadamente nos casos de géneros de natureza perecível (carne, peixe, frutas e legumes, etc.), para os quais essas operações têm de obedecer a requisitos especiais, A Junta Nacional dos Produtos Pecuários, a Junta Nacional, das Frutas, a Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau e os organismos da pesca têm procurado, nos respectivos sectores, fomentar a construção de equipamentos de frio, indispensáveis à conservação dos produtos em cuja comercialização intervêm, parecendo, no entanto, terem seguido, até aqui, caminhos relativamente independentes. Por isso, urge definir, em conjunto, as condições de estabelecimento da Rede Nacional do Frio, em especial no que diz respeito à localização dos centros de frio e sua dimensão e à possibilidade de um mesmo centro poder ser utilizado, simultaneamente ou em épocas diferentes, para mais de uma categoria de produtos. Tal deve ser um dos objectivos mais importantes do Placo, neste domínio.

17. Paralelamente com o plano da Rede Nacional do Frio, importa considerar e delinear a rede de transportes frigoríficos, pois os cuidados tidos na conservação dos alimentas poderão ser, em parte, inúteis, se os produtos não chegarem em boas condições aos centros do consumo. Para não haver soluções de continuidade na cadeia de frio, terão ainda de existir nesses centros, pelo menos para determinados; produtos, instalações apropriadas de recepção e curta armazenagem.
A necessidade de boa coordenação das ligações rodoviárias ou ferroviárias, referida no capítulo «Transportes», assume neste contexto especial relevância, pois dela depende importante economia na comercialização dos produtos. Alguns deles, obtidos no litoral, precisam de ser levados para o interior, como é o caso do peixe; outros necessitam de transportes para o litoral, onde se localizam os principais centros de consumo. Deste modo, em muitos casos, um mesmo veículo terá carga tanto na ida, como na volta.
Dadas as pequenas distâncias médias que no território metropolitano haverá a vencer nos circuitos de distribui-

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cão, apresenta especial interesse o transporte rodoviário em camiões-frigoríficos, refrigerantes ou simplesmente isotérmicos. A realização e exploração de uma rede assim constituída deverá ser cometida, bàsicamente, a empresas especializadas, já constituídas ou a constituir, não se pondo de lado, a hipótese de haver um apoio, quer técnico, quer económico, por parte do Estado, designadamente sob a forma de empresas de economia mista.

18. A falta de estruturas modernas de apoio à distribuição no termo dos circuitos, que se traduz designadamente na inexistência de mercadas centrais de frutas, na concepção ineficiente e ultrapassada da rede de matadouros municipais (com reflexos importantes no aproveitamento de subprodutos), na insuficiente valorização dos produtos transaccionados, constitui outra ordem de problemas a requerer solução urgente.
Também a adopção sistemática de embalagens para os produtos que ainda não sofrem esta operação e a normalização das já existentes simplificarão várias operações comerciais, reduzindo custos e dificultando a prática de fraudes no peso e na qualidade dos produtos.

19. O enunciado dos principais estrangulamentos verificados na distribuição das grandes categorias de produtos não é, evidentemente, exaustivo, admitindo-se que, além dos problemas agora apontados em resultado dos estudos preparatórios do Plano, outros venham ainda a revelar-se de importância semelhante, à medida que se for ampliando a informação disponível.

§ 2.º Objectivos

20. Em síntese, os objectivos a prosseguir nas domínios da análise e da política da distribuição durante o período do Plano serão os seguintes:
a) Continuar urgentemente, no quadro do Grupo de Trabalho n.º 6 da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, os estudos encetados no sentido de fazer a análise crítica dos problemas que incidem sobre os circuitos de distribuição metropolitanos Q de obter mais exacta integração do sector comercial nos esquemas da contabilidade nacional;
b) Elaborar as medidas legislativas que permitam cobrir as lacunas verificadas na distribuição de certos produtos, em especial os alimentares, e, dentro destes, a carne, o peixe, os lacticínios, a fruta e os produtos hortícolas, de modo a poder dispor-se de uma verdadeira política de conjunto nesse domínio;
c) Planificar o abastecimento público nas diversas categorias de bens de consumo e, em especial, naquelas cuja disponibilidade em cada momento se considera mais urgente e cujos circuitos de distribuição apresentam deficiências mais flagrantes;
d) Fiscalizar o cumprimento estrito da disciplina que vier a ser estabelecida, assegurando suficiente publicidade às normas legais e regulamentares aplicáveis e reprimindo severamente as infracções verificadas;
e) Criar no Ministério da Economia, de acordo com as conclusões do grupo de trabalho para o efeito constituído em 1965, um organismo autónomo com as seguintes funções principais:

Delinear a Rede Nacional do Frio e actualizá-la de acordo com a evolução económica;
Dar execução a um plano de equipamento nacional, promovendo a criação de instalações, em colaboração com os organismos de coordenação económica;
Coordenar as diferentes iniciativas particulares com vista a evitar implantações supérfluas e apoiar as reconhecidas como válidas e de utilidade nacional;
Articular todas as actividades ligadas ao frio, desde a elaboração das estatísticas julgadas necessárias até às diversas informações sobre os problemas do seu âmbito;
Promover a publicação de legislação sobre os produtos animais ou vegetais, quanto a métodos de trabalho e tipos de embalagem, de modo a equipar mecanicamente e de maneira racional os frigoríficos e seus anexos com o material de acondicionamento e manutenção mais indicado para os produtos a tratar;
Fomentar a especialização de técnicos frigoristas e proporcionar estágios em organizações que possibilitem a valorização profissional dos técnicos e a sua melhor qualificação;
Organizar congressos, colóquios ou reuniões periódicas, com o objectivo de dar a conhecer e pôr em discussão temas ou questões de interesse relacionados com o frio;
Representar o País perante o Instituto Internacional do Frio e entidades similares estrangeiras, assim como em congressos e reuniões internacionais;

f) Promover a progressiva melhoria de produtividade das empresas com funções de distribuição, nomeadamente pelo seu melhor dimensionamento e pela realização de investimentos de interesse individual ou colectivo - rede de frio, sistema de transportes, etc. - decisivos para a racionalização da actividade;
g) Estimular a constituição de cooperativas de produção, consumo, abastecimento e distribuição, especialmente dos dois primeiros tipos, de modo a promover e garantir condições de eficácia ao desenvolvimento das actividades produtivas, limitando o nível de encargos que oneram o custo dos produtos. Nomeadamente, no que respeita à produção agrícola e pecuária, a existência de uma produção abundante feita económicamente é condição essencial para se conseguir limitar a incidência de tais encargos.

§ 3.º Medidas de política

21. Não sendo, evidentemente, possível definir um modelo-tipo de circuito válido para todos os casos, importa ter em conta, na orientação de uma política de distribuição coerente, pelo menos, os aspectos seguintes:

Flexibilidade do circuito escolhido, permitindo a sua adequação às evoluções da conjuntura;
Situação financeira dos intervenientes, dada a influência que tal factor exerce sobre a extensão do circuito;
Grau de concentração geográfica da oferta e da procura, susceptível de explicar, por si só, o aparecimento de intermediários;
Natureza dos clientes e dos fornecedores, que pode justificar a intervenção de especialistas para estabelecer os contactos;
Tecnicidade do produto, que eventualmente determinará se o contacto deve processar-se por via directa ou por intermédio de um agente exclusivo do produtor.

É de acentuar, neste contexto, que o circuito tradicional produtor-grossista-retalhista-consumidor, ainda muito em uso no País para grande número de mercadorias, não deve ser considerado obrigatório. Sempre que uma das entidades intervenientes alcance dimensão suficiente para

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chamar a si funções que habitualmente eram desempenhadas por outrem, sem agravamento ou com redução do preço no consumidor, não devem ser levantados obstáculos a tal integração de funções.

22. Outros factores, além dos indicados, deverão influenciar a definição dos circuitos de distribuição possíveis. Em particular, as dificuldades em conseguir uma rede de transportes densa, rápida e económica representam pesado encargo sobre as actividades produtivas e o consumo final, na medida em que são causa de quebras dos produtos, atrasos de entrega de vendas e de movimentação de existências e propiciam a multiplicação de intervenientes dispensáveis. Considera-se ser este um dos pontos que merece, pelas suas implicações sobre o conjunto da vida económica nacional, a mais séria atenção e rápidas providências - segundo a orientação traçada no capítulo respectivo.

23. Uma política de distribuição não poderá ser coerente e completa sem a execução de medidas aptas a corrigir as fugas que eventualmente se desenhem à disciplina estabelecida. Impõe-se levar a cabo o acompanhamento muito directo das actividades de distribuição, incluindo a ampla difusão das normas vigentes e a repressão dos abusos que contra elas se pratiquem. Ao mesmo tempo, a política de distribuição deve ser dotada de suficiente dinamismo para se adaptar aos diferentes condicionalismos que pesam sobre a economia em cada momento e basear-se, portanto, directamente sobre elementos de informação estatística (emprego, investimentos, variação de existências, volume de negócios, valor acrescentado bruto da actividade) que a habilitem a tomar em tempo as decisões mais adequadas.
A colheita desses dados supõe substanciais aperfeiçoamentos do sistema estatístico vigente, inclusivamente do próprio sistema de contas nacionais, como já atrás se apontou, exigindo também requisitos especiais no processo de prestação de contas pelos empresários privados. Em certos sectores de maior dimensão deverá mesmo caminhar-se rapidamente para uma normalização contabilística que facilite a integração das contas de gerência no esquema da contabilidade nacional do sector. É evidente que o principal benefício do esforço de racionalização administrativa a desenvolver reverterá para o próprio sector.
Para a prossecução dos objectivos em vista e dado o condicionalismo pendente sobre os circuitos de distribuição metropolitanos, julga-se da maior oportunidade adoptar um conjunto coerente de medidas de política económica, de cujos aspectos mais importantes se fará a seguir menção.

24. Na prossecução dos objectivos de estudo dos circuitos de distribuição e de integração do sector comercial no sistema de contas nacionais, será dada prioridade à constituição de equipas de trabalho dotadas de meios suficientes e à definição do respectivo mandato. Esses trabalhos tornarão possível a elaboração de uma linha de conduta coerente e abrirão caminho a tarefas mais ambiciosas, mas igualmente indispensáveis, de planeamento da distribuição em bases tanto quanto possível rigorosas.
Ainda num plano de generalidade, assumirá o maior relevo a publicação do estatuto do comerciante, abrangendo designadamente a definição de comerciante, a classificação e definição das diversas categorias de empresários, a enunciação das actividades que podem ser exercidas pelos comerciantes em nome individual e pelas sociedades, a obrigatoriedade da carteira profissional e o estabelecimento das normas para a sua concessão, a determinação das condições gerais a observar para o exercício da actividade comercial (contribuição industrial, matrícula no registo comercial, capacidade moral, comercial e financeira, pessoal e instalações adequadas) e a fixação em regulamentos próprios dos requisitos específicos, de ordem técnica, económica, financeira e deontológica, para o exercício de cada actividade comercial.
No que respeita aos comerciantes exportadores, as regras de disciplina da actividade ficaram referidas no capítulo do «Comércio externo».
Espera-se que estas providências permitam contribuir para a disciplina da actividade e para a sua melhor estruturação no futuro, tanto no ponto de vista técnico, como no plano económico-financeiro.

25. Na especialidade e quanto aos diferentes circuitos de distribuição, as principais medidas a adoptar serão as seguintes:

a) Produtos pecuários

1) Propiciar a expansão de cooperativas de produtores com vista a eliminar intervenientes dispensáveis e a encorajar a evolução gradual dos talhos de Lisboa e do Porto para o auto-abastecimento individual;
2) Favorecer a modificação da estrutura dos estabelecimentos de venda, no sentido de unidades comerciais polivalentes (produtos de origem animal destinados à alimentação humana);
3) Eliminar as restrições impostas ao trânsito de carnes com destino a Lisboa;
4) Substituir a actual rede de matadouros municipais, problema que já foi objecto de estudo concluído em 1965 e elaborado pela Comissão e organizador a da Indústria de Abate; é da maior vantagem económica que os estabelecimentos preconizados naquele estudo sejam equipados para conservar em boas condições os subprodutos da exploração, nomeadamente peles e couros;
5) Regulamentar as condições de inscrição na Junta Nacional dos Produtos Pecuários dos intermediários ha comercialização das peles e couros e promover a sua concentração e melhoria de eficiência;
6) Garantir transporte rápido e à temperatura conveniente aos produtos ovícolas, a fim de preservar a sua qualidade;
7) Regulamentar, por entidade a designar oportunamente, a distribuição de gado ovino, caprino e equídeo para consumo público.

b) Cereais

Promover a gradual concentração do comércio armazenista rio arroz com vista a reduzir os encargos de distribuição do produto.

c) Produtos horto-frutícolas

1) Estimular as iniciativas mais susceptíveis de conduzir à rápida dinamização do sector, concedendo apoio técnico e financeiro (designadamente subsídios e empréstimos) às associações de produtores que pretendam agrupar-se com vista à comercialização em comum dos seus produtos;
2) Fomentar ou executar directamente a construção de infra-estruturas susceptíveis de criar condições mais favoráveis de comercialização, inclusive novos canais de distribuição que melhor sirvam o produtor e o consumidor e facilitem a incorporação no produto de novos serviços

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(conservação, congelação, calibragem, embalagem, etc.). Para tanto, será promovida a construção de mercados centrais em Lisboa, no Porto e no Algarve e definir-se-á a respectiva administração. Admite-se desde já que uma das formas mais aconselháveis paro, a organização desses mercados seja a de sociedades de economia mista, onde as responsabilidade e os poderes de decisão dos sectores público e privado estejam conjugados e nas quais a Junta Nacional das Frutas, como organismo mais qualificado no sector, tenha naturalmente papel de relevo. Outros esquemas orgânicos podem também ser encarados, incluindo aqueles que confiem a gestão a um organismo do sector público;
3) Estabelecer normas de qualidade e de disciplina da concorrência;
4) Apoiar o equipamento da rede de transportes com navios fruteiros e vagões-frigoríficos, para preservação da qualidade do produto e sua valorização económica.

d) Açúcar

1) Promover a concentração progressiva dos armazenistas do produto;
2) Melhorar as condições de trabalho e a produtividade da indústria de refinação.

e) óleos vendais

1) Constituir cooperativas de olivicultores, dotadas de armazenagem própria, para embalagem do azeite e sua distribuição directa ao comércio de retalho;

) Promover o financiamento de iniciativas regionais para a comercialização dos óleos de bagaço de azeitona, milho, bolota e grainha de uva.

f) Sal

Além da construção, a curto prazo, de armazéns de sal, encara-se a possibilidade de facilitar a inscrição na Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos dos armazenistas do continente e ilhas adjacentes localizados fora dos salgados e das regiões de forte consumo.

g) Produtos farmacêuticos

Será revisto o Regulamento do Comércio dos Medicamentos Especializados, aprovado por despacho ministerial de 15 de Abril de 1941, no sentido de facultar às farmácias mais fácil acesso directo aos fabricantes e importadores.

h) Adubos e pesticidas

1) Programar os investimentos que permitam dotar a organização corporativa da lavoura da rede de armazenagem destinada a possibilitar, na época própria e em regiões mal servidas de transportes ferroviários, melhor distribuição de adubos;
2) Publicar disposições legais com vista a:

Uniformizar as margens comerciais, definindo as que respeitam aos superfosfatos de cal;
Estabelecer condições mais favoráveis na aquisição dos adubos por parte do pequeno consumidor;
Criar um sistema de preços escalonados, por forma a encaminhar as aquisições para épocas de menor consumo;
Rever o sistema de venda de adubos à lavoura, tendo em vista garantir o regular abastecimento do mercado e a prática de condições de venda tanto quanto possível favoráveis;
Proceder à actualização do regulamento aprovado pelo Decreto n.º 21 204, de 4 de Maio de 1932;
Alterar a Portaria n.º 15 639, de 13 de Outubro de 1955, em termos de permitir a comercialização e a utilização pela lavoura de outros tipos de correctivos agrícolas calcários, nomeadamente os calcários magnesianos, e, para tanto, definir as respectivas características;
Modificar as condições de inscrição na Comissão Reguladora de Produtos Químicos e Farmacêuticos, a fim de substituir a categoria de importador pela de armazenista-importador, criar a modalidade de importador-armazenista de correctivos agrícolas e estabelecer a obrigatoriedade de inscrição dos armazenistas naquela Comissão;
Rever a Portaria n.º 17 780, de 30 de Setembro de 1960, por forma a definir novas regras de comercialização dos pesticidas segundo as classes de toxicidade, e a estabelecer a obrigatoriedade de condições adequadas de armazenagem, tomando em consideração o que vier a ser legislado sobre homologação dos produtos fitofarmacêuticos;
Fixar as margens máximas admitidas na comercialização dos pesticidas.

i) Produtos resinosos

Haverá que vigiar as margens de lucro praticadas o disciplinar o circuito de distribuição respectivo, desde o produtor até ao industrial utilizador, de modo a obstar, na medida do possível, à adopção de práticas lesivas para qualquer das categorias de empresários intervenientes no circuito.

j) Cortiças

1) Rever os requisitos para a inscrição dos comerciantes-intermediários na Junta Nacional da Cortiça, de modo a tornar mais exigente o acesso à actividade;
2) Exercer, pelos grémios dos industriais e pela organização corporativa da lavoura, uma acção conducente a que a indústria adquira directamente a cortiça no mato, credenciando para tanto os seus agentes e organizando cooperativas de compras com vista a neutralizar os perniciosos efeitos da actividade comercial dos intermediários;
3) Interessar a lavoura em assumir o encargo da selecção e embalagem da cortiça;
4) Apoiar a organização corporativa da lavoura no sentido de em determinadas regiões, suprir a função desempenhada pelo comerciante, promovendo a recolha, concentração e organização da venda de partidas diminutas e de comercialização difícil;
5) Pela Junta Nacional da Cortiça, em colaboração com a organização corporativa da lavoura, proceder ao estudo das medidas tendentes a um melhor ordenamento geral dos descortiçamentos, à regulamentação do processo de avaliação quantitativa da cortiça no mato e à normalização das dimensões das respectivas pilhas;
6) Relativamente à actividade industrial da cortiça:

Facilitar às empresas transformadoras de cortiça natural por simples talha, que observem a dimensão mínima prevista nos regulamentos dos exportadores, um financiamento por campanha não inferior a 50 por cento do valor das matérias-primas adquiridas à produção, para utilização própria, na campanha anterior;
Proporcionar às empresas transformadoras que não atinjam aquela dimensão mínima, mas entendam

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agrupar-se com esse objectivo, um financiamento por campanha, nos três primeiros anos, não inferior a 75 por cento do valor das compras da campanha anterior para consumo próprio dos respectivos associados.

À Junta Nacional da Cortiça competirá a atribuição daqueles financiamentos, na base de um regulamento a elaborar em breve. Calcula-se, provisoriamente, em cerca de 100 000 contos por ano o encargo resultante da execução destas medidas.

§ 4.º Investimentos e projectos

a) Investimentos

26. A referida dispersão do sector comercial, onde predominam as unidades de muito pequena dimensão e as inversões de relativamente escasso valor unitário, não torna operacional a apresentação de uma lista de investimentos que traduza as perspectivas da formação bruta de capital fixo no sector - cerca de 10,3 milhões de contos durante o período do Plano.
Competirá a cada empresário realizar uma pequena parcela daquela previsão, na prossecução dos objectivos de aumento de dimensão e de produtividade que devem nortear no futuro o conjunto das empresas do sector.

b) Projectos

27. A fim de se completar a fase inicial da Rede Nacional do Frio, deverá proceder-se à realização de empreendimentos que permitam aumentar as possibilidades de armazenagem e conservação dos produtos perecíveis para níveis a indicar pela Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau, pela Junta Nacional dos Produtos Pecuários, pela Junta Nacional das Frutas e por outras entidades e a incluir eventualmente nos programas anuais de execução do Plano.
Deverá ser dado apoio a alguns programas de construção de armazéns, encarando-se desde já os seguintes casos concretos:

Armazéns de adubos, ao cuidado da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos;
Armazéns para concentração de lãs, com vista a reduzir os encargos da distribuição e a valorizar o produto, nomeadamente pela composição de grandes lotes homogéneos;
Armazéns de sal, para apoio ao comércio armazenista Situado fora dos salgados, bem como para permitir a absorção de excedentes regionais e a constituição de reservas de compensação interanual.

CAPITULO VIII

Transportes, comunicações e meteorologia

SECÇÃO I

Transportes

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

I) Considerações gerais

1. O sistema de transportes nacional contribui para o produto bruto com cerca de 5,5 por cento, percentagem que tem vindo a manter-se com certa continuidade.
A população activa empregada neste sector representa 2,3 por cento do total, donde resulta uma produtividade maior do que a média do País. A formação bruta de capital fixo, da ordem de 16 por cento do total do País, é das mais elevadas entre os sectores de actividade individualizados nas contas nacionais. A produtividade deste capital mostra-se, no entanto, relativamente baixa, sendo da ordem de 10 o valor estimado para o coeficiente capital-produto. Semelhante facto, conjugado com a produtividade do trabalho relativamente elevada e com a utilização de pequena percentagem da população activa, indica estar-se perante um sector que necessita de grandes volumes de capitais, aos quais não oferece remunerações elevadas, mas. que é de importância fundamental para o desenvolvimento económico.
Convém, a este respeito, fazer duas distinções cuja importância mais adiante avultará: entre investimentos de renovação e investimentos de aumento de capacidade ou produtividade, por um lado, e entre infra-estrutura e exploração, por outro. Refere-se desde já, porém, que, em relação à primeira, parece legítima a dúvida sobre a propriedade das amortizações praticadas pelo sector, as quais têm conduzido, e conduzirão ainda durante este III Plano, salvo algumas excepções, à necessidade de aplicar elevados montantes em investimentos de renovação.

2. Quanto à formação de capital no sector, são reveladoras as indicações do seguinte mapa:

Investimentos em transportes interiores em relação aos investimentos totais do sector:

Média dos anos de 1953 a 1962:

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Conferência Europeia de Ministros dos Transportes - CM (64) 6.

Verifica-se que em Portugal o investimento em transportes interiores tem sido insuficiente, o que afecta o nível de produção e explica em grande parte o volume de verbas destinadas a este sector no presente Plano.
A análise comparada com os países europeus revela também que existe desproporção acentuada entre o que tem sido investido em infra-estruturas, por um lado, e em material circulante, por outro, a favor desta última rubrica; o que se deve sem dúvida às importantes aquisições de veículos automóveis, mas também a investimentos realmente baixos em infra-estruturas.

3. Outros dados importantes a ter em conta são a escassez de alguns tráfegos nacionais, a sua assimetria no

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espaço geo-económico e as situações diversas das várias entidades transportadoras. Quanto à «longa distância», nota-se que o comércio externo do continente pouco ultrapassa os 10 milhões de toneladas., sendo 98 por cento realizado por via marítima, disperso por alguns portos, com predomínio de Lisboa e Leixões, e múltiplas empresas de navegação, designadamente estrangeiras, e situando-se em posição inferior à da tonelagem tratada por grande número de portos europeus. Acresce que o turismo internacional proporciona também tráfegos ainda pouco significativos para o sistema de transporte nacional, sobretudo em relação ao desenvolvimento que as economias de escala aconselham para os transportes aéreos e marítimos nacionais.
Na «pequena distancia», isto é, nos transportes interiores, verifica-se que os tráfegos nacionais correspondem aos da grande maioria dos países europeus quando correlacionados com os respectivos produtos internos, assinalando-se, contudo, quatro realidades a ter em conta:
a) Sendo relativamente baixo o produto interno, são também reduzidos os tráfegos interiores;
b) Existe assimetria na respectiva distribuição geográfica, o que se traduz por tráfegos relativamente elevados nas regiões de Lisboa e Porto, na larga faixa litoral que as une e, ainda, no litoral algarvio. No interior e sul do continente os tráfegos são diminutos;
c) Os tráfegos, quer de passageiros, quer de mercadorias, fazem-se na grande maioria através do transporte rodoviário, sendo relativamente reduzidos os .que utilizam o transporte ferroviário; as previsões acentuam esta disparidade;
d) No transporte rodoviário de passageiros predomina o que se realiza em automóveis ligeiros (60 por cento).
Importa notar, no entanto, que a referida assimetria da distribuição geográfica dos transportes corresponde às das actividades económicas, da densidade populacional e da riqueza; além disso, afigura-se necessário concentrar os investimentos na rede de transportes, para defender a sua rentabilidade. Deve ainda ter-se em conta que o transporte rodoviário, se se considerarem exclusivamente os custos de exploração, sem os encargos de infra-estrutura, é mais oneroso por unidade de tráfego do que o ferroviário; contudo, ao considerarem-se os custos globais (onde entram os custos das infra-estruturas), já o problema se põe noutros termos, abaixo de determinados níveis de tráfego compatíveis sòmente com modestas soluções rodoviárias.
Em relação aos «pontos de interligação de transportes», destacam-se os portos e aeroportos pela importância vital que possuem na ligação dos transportes da longa distância com os de pequena distância. Através dos portos, efectua-se, assim, conforme se depreende de considerações anteriores, a quase totalidade do comércio externo, com grande predomínio do porto de Lisboa (67,5 por cento) e dos do Douro e Leixões (24,9 por cento) em relação ao movimento total dos portos do continente. O aeroporto de Lisboa detém, no continente, a grande maioria do movimento total de passageiros de longa distância do País. Os crescimentos dos tráfegos, quer de passageiros, quer de mercadorias, no aeroporto de Lisboa são muito elevados.

II) Transportes terrestres

a) Transportes ferroviários

4. O transporte ferroviário tem-se adaptado com lentidão à forte concorrência que lhe é movida pelo transporte rodoviário.
Ao tratar deste modo» de transporte, há que ter em atenção duas realidades dominantes:
1.º Deve considerar-se o seu estado actual, com reduzidos tráfegos (os suburbanos de passageiros quantitativamente razoáveis mas realizados através de serviços de insatisfatória qualidade); com material circulante em grande parte não renovado e infra-estruturas antiquadas e em mau estado; com uma situação económica e sobretudo financeira preocupante, aliás comum a outras explorações ferroviárias europeias. Como a evolução dos tráfegos tem sido modesta, as previsões não apontam modificações substanciais.
2.ª Pela elevada produtividade de trabalho e de energia, e pelas grandes velocidades que permite, um caminho de ferro moderno apresenta-se com sensíveis vantagens económicas e sociais para grandes tráfegos e grandes distâncias; existem desde já possibilidades de tais tráfegos, mas não sobre todas as actuais linhas e estações da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Em presença destas realidades, tem de concluir-se pela necessidade de acelerar decididamente a reconversão global daquela Companhia, já iniciada nalguns dos seus sectores fundamentais; adiante se definirá .em que sentidos se afigura imperioso intervir.

b) Transportes rodoviários

5. Os transportes rodoviários são objecto da actividade de empresas de transporte de mercadorias e de passageiros (em Regime regular ou não regular) e processam-se, também, através do transporte por conta própria. Neste último, destacam-se o transporte em automóveis ligeiros de passageiros e o de carga em veículos pesados.
Ainda que só recentemente se tenha começado a dispor de estatísticas suficientemente pormenorizadas de tráfegos, foi possível verificar que o transporte rodoviário continua a acentuar o seu grande predomínio sobre os outros modos de transporte, tanto de passageiros como de mercadorias
Só no tráfego internacional de mercadorias é que a sua posição relativa é inferior (0,21 por cento), mas regista o maior índice de crescimento (1075 com base 100 em 1956). No entanto, quer neste caso, quer no que se refere a transporte público de passageiros, as empresas nacionais ocupam lugar bastante modesto na concorrência internacional. Põe-se assim novamente o problema da concentração e fomento de grandes empresas dinâmicas lê modernas, que, aliás, já existem mas em escala diminuta.
Em outra perspectiva, encontra-se novamente a assimetria de distribuição geográfica de tráfegos, que são mais densos e crescem mais rapidamente nos acessos de Lisboa e do Porto & na faixa litoral entre estas duas regiões.
Quanto à estrutura empresarial do sector, verifica-se que a pequena empresa, de tipo artesanal e individualista, dificilmente se moderniza e pode constituir, em alguns casos, um processo de empobrecimento lento do empresário; de resto, situação similar se verifica noutros países onde igualmente prevalece uma exploração artesanal. Este tipo de empresas representa a maioria: em 1964, 91,9 por cento dos industriais de transporte de aluguer em automóveis ligeiros e pesados de carga possuíam menos de 4 veículos e cerca de 70 por cento possuíam um único veículo; no transporte público colectivo de passageiros a situação é um pouco melhor, mas ainda deficiente, pois 40,2 por cento dos empresários possui de 1 a 10 veículos e 31 por cento de 10 a 20 veículos.

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c) Transportes urbanos e suburbanos

6. Existem, também neste domínio, certas realidades fundamentais que convém ter presentes:
1.º A urbanização crescente e irreversível das populações, que se acentuará no período do Plano, sobretudo no sentido das regiões de Lisboa e Porto;
2.º Existência nestas cidades, como acontece na generalidade das cidades europeias, de um forte centro urbano, normalmente com valor histórico e cultural, onde se concentram as actividades terciárias;
3.º A formação periférica de «dormitórios», com maior crescimento do que as cidades-centro e atraindo populações com poder económico relativamente baixo.
Resulta daqui a importância crescente dos transportes suburbanos e a sua característica de transportes pendulares. Estes transportes pendulares são onerosos pelos baixos coeficientes de utilização que originam, o que não se conjuga com a tendência de se criarem ou manterem tarifas sociais para corresponderem ao fraco poder económico das populações servidas.
Existe, portanto, neste domínio um problema grave que pode, aliás, ser extensivo aos restantes transportes urbanos colectivos, na medida em que sofrem também períodos de ponta e servem populações económicamente mais débeis.
De qualquer forma, os referidos transportes colectivos continuam a ser menos onerosos para a colectividade do que os transportes individuais, públicos ou privados. Do ponto de vista do interesse da economia nacional, é óbvio que existem já nesta altura, ou virão a aparecer, estrangulamentos em relação aos transportes urbanos, que necessitam de ser solucionados, sem fomentar no entanto a proliferação dos transportes particulares, designadamente os individuais.

III) Transportes marítimos

a) Considerações gerais

7. Em relação aos transportes marítimos, referem-se três problemas actuais que se consideram importantes:
1.º O estado de envelhecimento da frota nacional, em consequência de investimentos muito inferiores aos necessários, a par de uma estrutura empresarial por vezes não actualizada e com fraco poder de concorrência;
2.º A especialização crescente dos navios de carga e um acentuado fenómeno de economia de escala, provocado pelo aumento de capacidade e elevado custo de cada unidade transportadora; daí baixos custos unitários de transporte e elevados custos horários do navio;
3.º Repercussões destes últimos fenómenos na concepção, equipamento e exploração dos portos, onde se exigem grandes fundos, menor número de posições de acostagem para igual volume de carga tratada, equipamentos muito potentes de carregamento e descarregamento de mercadorias, especialização dos cais, racionalização de todas as operações portuárias.
Esta problemática ganha maior força quando se considera o papel que o transporte marítimo desempenha no comércio externo do País, prevendo-se o seu aumento em valores absolutos; o grande débito que trazem à balança de invisíveis os fretes realizados por marinhas mercantes estrangeiras; e a indispensabilidade das ligações marítimas entre o continente e o ultramar. Verifica-se, por outro lado, um crescimento do transporte marítimo que levará a prestar a maior atenção ao estudo e realização dos vários investimentos.

b) Marinha mercante

8. O transporte de passageiros realizado pela marinha mercante nacional, não contando com os transportes militares, diminuiu em valor relativo, mas cresceu em valor absoluto - embora com algumas irregularidades e segundo ritmo com tendência para abrandar.
Quanto ao transporte de mercadorias, observa-se crescimento regular proveniente dos transportes de e para o ultramar. Crê-se que a regularidade deste crescimento se manterá, embora com ritmo lento. Contudo, a maioria da frota nacional atingiu já, ou está prestes a atingir, idades limites de exploração (35,6 por cento dos navios possuem mais de 20 anos e 57 por cento estão entre os 5 e os 20 anos), além de se encontrar desactualizada pela rápida evolução tecnológica e económica. Existem 47 armadores inscritos, com 160 navios, num total de 559 864 t de arqueação bruta. Embora 6 empresas armadoras detenham 95,7 por cento desta tonelagem, deve acentuar-se que é ainda desfavorecida a posição da nossa marinha mercante, quer ao comparar-se esta estrutura empresarial com as dimensões de empresas estrangeiras, quer ao terem-se presentes os baixos custos unitários de transporte já oferecidos por navios altamente especializados ou de grandes capacidades.

c) Portos

1) Porto de Lisboa

9. O movimento do porto cifrou-se, em 1964, na ordem dos 7,3 milhões de toneladas de mercadorias e 340 milhares de passageiros.
O movimento de mercadorias tende a crescer à taxa média anual de 4 por cento, com relevo para os combustíveis líquidos e lubrificantes, os quais já representam 40,7 por cento do movimento marítimo do porto.
Prevê-se que o movimento de passageiros continue também a aumentar com certa regularidade, embora com predomínio progressivo dos passageiros em trânsito.
De acordo com a tendência marcada pelos grandes portos modernos, haverá que polarizar maiores tráfegos no porto de Lisboa, tornando-o concorrencial.
Para esse efeito, cumpre, no entanto, considerar os seguintes factores condicionantes:

Limitação de fundos na barra do Tejo para os grandes petroleiros e mineraleiros;
Pequenos fundos e elevado grau de assoreamento no cais de graneis;
Estrangulamento do desenvolvimento do porto em terraplenos e dos acessos, ao porto, na margem direita, devido à má situação em relação à cidade;
Acentuadas deficiências de equipamento operacional e institucionais - não só as próprias da exploração portuária, aliás em vias de solução, como outras nela intervenientes - que determinam movimentação demorada de mercadorias e retenções exageradas dos navios no porto;
Necessidade de aumentar as possibilidades de movimentar graneis, substituindo o seu tratamento como mercadorias de carga geral e contentores.

2) Portos do Douro e Leixões

10. O tráfego de mercadorias (2,6 milhões de toneladas em 1964) apresenta-se com taxas de incremento médio anual relativamente elevadas: 5 por cento para o Douro e 6 por cento para Leixões. As previsões acentuam o desen-

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volvimento deste último porto, mas indicam diminuição no ritmo de crescimento do primeiro.
O porto do Douro possui uma barra bastante difícil, fundos insuficientes e grande assoreamento, pelo que oferece desfavoráveis condições de desenvolvimento. Pelo contrário, o porto de Leixões possui fundos e acesso marítimo razoáveis, embora com certas limitações quanto a terraplenos, extensão de cais e equipamento de terra. Será dentro em breve um porto com elevado movimento de combustíveis líquidos e mantém-se a possibilidade de serem escoados por eles minérios de Moncorvo; constitui desde já importante porto de pesca. Deve considerar-se, portanto, como porto regional, com boas aptidões para a navegação e a pesca, sendo necessário adaptá-lo rapidamente a tráfegos especializados de longa distância que possam surgir.
Tal como foi referido em relação ao porto de Lisboa, também se verificam nestes portos deficiências institucionais, quer da sua própria orgânica administrativa (c) de exploração, quer dos organismos e serviços que nesta intervém.

3) Pequenos portos

11. Parece aconselhável agrupar os pequenos portos do continente segundo as suas funções. Assim, consideram-se três grupos: portos comerciais e de pesca, portos de pesca e portos com importância para as navegações de turismo, recreio e desporto.
O primeiro grupo engloba todos os portos que possuem tráfego comercial, além do pescado. Aquele tráfego mereceu maior atenção, não só para se ajuizar do seu valor relativo quanto ao movimento portuário comercial de todo o continente, mas também com o fim de contribuir para o estabelecimento das bases gerais que serviram na avaliação dos investimentos projectados.
Quanto ao segundo grupo - portos unicamente de pesca -, ter-se-á em atenção que a avaliação dos seus projectos depende mais da política de pesca do que da política de transportes marítimos, embora se justifique rio futuro análise mais profunda das suas potencialidades.
No que respeita aos portos que possuem, ou podem vir a possuir, importância para a navegação de turismo, recreio e desporto, apenas se focarão alguns aspectos gerais mais relevantes. É domínio em que se actuará em colaboração íntima com as entidades responsáveis pela indústria turística nacional.
Os quadros que se seguem dão ideia bastante concreta quanto à importância relativa dos portos com tráfego comercial:

Movimento portuário do continente

1964

[Ver Tabela na Imagem]

Média de 1957 a 1964

[Ver Tabela na Imagem]

Os pequenos portos com. maior movimento representam 14 por cento dos tráfegos totais dos portos do continente, mas apenas 10 por cento do tráfego de mercadorias de longo curso. É na movimentação por cabotagem e ma do pescado que estes portos assumem maior importância, pois em. ambos os casos abrangem 31 por cento do total.
Verifica-se que, da média anual do período de 1957-1960 para a média anual do período de 1961-1964 o crescimento dos movimentos dos portos de Aveiro e de Portimão foi, respectivamente, de 87 por cento e 26 por cento, ao passo que nos outros portos a taxa de acréscimo da produção foi muito menor: cerca de 8 por cento nos portos da Figueira da Foz e de Setúbal e de 15 por cento no de Vila Real de Santo António. Nos portos de Viana do Castelo e de Faro-Olhão o tráfego no mesmo período diminuiu cerca de 32 por cento e 26 por cento, respectivamente.
Segundo os dados que actualmente se possuem, parece serem os portos de Aveiro, Setúbal e Portimão que apresentam melhores perspectivas e mais fáceis condições de desenvolvimento, com especial relevo para o de Aveiro. Este último poderá mesmo assumir, em relação ao porto de Leixões, uma significativa função de porto complementar do hinterland industrial do litoral centro-norte. Quanto a Setúbal e a Portimão, dadas para o primeiro as suas características dominantes de porto regional de

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exportação ligado a uma área em franca industrialização e para o segundo as suas funções de porto de pesca e de apoio ao surto turístico do Algarve, justifica-se igualmente a prioridade que lhes foi atribuída no investimento portuário programado.
Em relação aos restantes portos secundários, do tipo regional, apesar de desiguais crescimentos nos tráfegos movimentados, merecem atenção especial, ao longo deste Plano, os de Viana do Castelo, Figueira da Foz, Peniche e Vila Real de Santo António: o primeiro, para assegurar um mínimo de operacionalidade às principais actividades económicas da região; o segundo, a exigir continuidade dos investimentos já feitos em obras exteriores e subsequente apetrechamento interno; finalmente, os portos de Peniche e de Vila Real de Santo António, por se entender conveniente melhorar as condições de apoio à indústria da pesca, polarizada no primeiro, e garantir, quanto ao segundo, a satisfação de compromissos internacionalmente assumidos com a, Espanha.

12. Quanto aos portos das ilhas ao movimento de mercadorias.

IV) Transportes aéreos

a) Considerações gerais

13. O transporte aéreo tornou-se o principal meio de tráfego de passageiros de longo curso do País, detendo quase 50 por cento do total. Mostra-se ainda reduzido o tráfego de mercadorias, mas o seu crescimento é rápido.
A participação do transportador nacional nos tráfegos internacionais tem vindo a progredir à medida que a frota vai permitindo utilizar os direitos de tráfego que lhe são reconhecidos nos acordos bilaterais; a situação actual afigura-se promissora, dada a sensível extensão que as rotas têm vindo a sofrer, o equipamento actualizado que a concessionária tem posto ao seu serviço e o equilíbrio financeiro atingido pela exploração. Os problemas actuais põem-se no domínio das infra-estruturas, atendendo sobretudo ao risco de desencorajar o tráfego internacional, designadamente o transatlântico.

14. No transporte aéreo, depara-se de novo o fenómeno de progressivas economias de escala, mediante o rápido crescimento das velocidades e capacidades de produção por unidade transportadora, donde resultam abaixamentos de custos e tarifas. Por seu turno, estes abaixamentos conjugam-se com a progressiva valorização do factor tempo e com o crescente poder de compra de camadas cada vez mais vastas da população. Semelhantes factos têm originado aumentos espectaculares do tráfego aéreo; com repercussões no desenvolvimento da aviação comercial e dos aeroportos, aumentos, aliás, necessários para se atingirem coeficientes de utilização compensadores das unidades transportadoras. Por sua vez, tais fenómenos exigem grandes empresas de aviação comercial e grandes aeroportos concorrenciais.
Entram assim em jogo elevados volumes de capitais, que tornam imperativa a necessidade de planeamento cuidadoso das actividades e empreendimento; daqueles dois tipos de entidades. Planeamento difícil devido a duas características opostas, mas complementares: por um lado, o intenso ritmo de progresso tecnológico origina a entrada em serviço de unidades transportadoras de construção cada vez mais cara e demorada, exigindo encomendas feitas com muitos meses (é normal exigirem-se dois anos) de antecedência; por outro lado, a rapidez de evolução deste mercado e das condições técnicas que o servem torna muito complexa a formulação de encomendas com tais antecedências. Ao fazê-las, corre-se, portanto, um risco tanto maior quanto mais incompletos os estudos de planeamento, mais incertas as previsões e maior o peso da unidade a adquirir no conjunto dos meios de cada empresa. Este risco tende a aumentar com a nova era que se aproxima nos anos 70: entrada em exploração comercial dos aviões jumbo jet e super-sónicos.

b) Aviação comercial

15. Os Transportes Aéreos Portugueses, empresa concessionária desde 1953, apresentam-se com bons indicadores de actividade, sendo apenas a produtividade do trabalho que suporta menos favoravelmente a comparação internacional. A empresa tem aliado bom nível técnico a uma exploração que conseguiu amortizar os aviões retirados do serviço, apesar da rapidez da evolução técnica a que se fez referência. A exploração económica obteve resultados espectaculares nos últimos anos: no período de 1960-1964 as receitas de passageiros (que constituem três quartos das receitas de exploração) aumentaram 149 por cento, enquanto as despesas cresceram 127 por cento no mesmo período. É, portanto, uma empresa em expansão, com elevado nível técnico e a caminho de um lugar de relevo no plano internacional.

c) Aeroportos e apoio à navegação aérea

16. Em Portugal, está a passar-se da fase da construção das indispensáveis infra-estruturas aeronáuticas, de início quase reduzidas ao essencial - as pistas -, a fim de encurtar os prazos em que se atingiu o mínimo necessário, para a fase de construção de aerogares e áreas de estacionamento convenientemente dimensionadas, respectivo apetrechamento geral, apoio urbanístico e desenvolvimento dos serviços de ajuda à navegação aérea. É uma segunda fase de importância também fundamental para que se tire, proveito dos elevados investimentos que a primeira implicou.
Como são cada vez maiores as exigências em relação à operacionalidade de um aeroporto, com grandes reflexos nos capitais necessários para o montar e manter, mais se faz sentir, exactamente nesta altura, a necessidade de planear segundo critérios económicos seguros. É de especial importância, neste contexto, o caso do aeroporto de Lisboa, que tem vindo a conhecer aumentos de tráfego da ordem dos 20 por cento por ano - tendência extremamente favorável e que importa não contrariar. A premência de obviar imediatamente à saturação das instalações actuais não fará esquecer, no entanto, a necessidade de estudar também, desde já, qual a solução futura a adoptar para o nosso principal aeroporto internacional.

§ 2.º Objectivos

I) Objectivos gerais

17. Há objectivos que se situam no âmbito da política geral de transportes e constituem metas dinamizadoras da acção: são objecto de tratamento no § 3.º do presente capítulo.

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Para além desses objectivos, porém, há outros que, ao localizarem-se em certos domínios do Plano, dão corpo a determinada concepção do desenvolvimento sectorial e das principais transformações estruturais previstas e possíveis. São estes objectivos, de natureza vincadamente operacional, que a seguir se formulam:
1.º Adequar reciprocamente os tráfegos e os modos de transporte. Esta adequação pressupõe, enquanto o planeamento do desenvolvimento regional não propuser necessidades mais prementes e dada a assimetria regional já referida:
a) A concentração dos investimentos, de forma a acautelar a sua rentabilidade e a obter de economias de escala geradoras da diminuição dos custos da exploração e capazes de assegurar, ao nível internacional, poder competitivo à organização do sistema de transportes;
b) A garantia às actividades económicas e sociais localizadas em regiões periféricas e menos evoluídas de condições mínimas de capacidade e de qualidade dos serviços prestados, especialmente quando ditadas por exigências do comércio externo, das indústrias de base, do turismo e do desenvolvimento regional;
2.º Promover e fomentar o aumento de complementaridade entre modos, ramos e tipos de transporte, designadamente na conjugação de infra-estruturas e explorações nos pontos de interligação de transportes e na aquisição do material circulante, operando, simultaneamente, especialização crescente dos modos e empresas de transportes;
3.º Acelerar a concentração das empresas, tendo sempre em devida atenção as condições mínimas de rentabilidade das explorações e tutelando os legítimos interesses dos pequenos empresários, através de forniu ias eficazes de colaboração interempresarial (cooperativas, acordos de exploração, fusões, etc.);
4.º Desenvolver uma acção global concertada no sentido da melhoria dos transportes em comum de passageiros, nomeadamente dos urbanos e suburbanos (rodoviários e ferroviários), dada a sua eminente função social;
5.º Apoiar, no quadro de um mercado harmonizado, a adequação da exploração ferroviária aos tráfegos para que está funcional e económicamente mais adaptada, em particular no de grandes massas de mercadorias a grandes distâncias e no de passageiros, suburbano e de longo curso.;
6.º Imprimir organização empresarial aos serviços públicos industriais, concedendo-lhes adequada autonomia de gestão e efectivo poder de negociação;
7.º Prosseguir firmemente na reconversão das estruturas administrativas, institucionais e mentais, tanto do sector público, como do sector privado e profissional;
8.º Fomentar os investimentos de carácter intelectual e apoiar iniciativas profissionais ou empresariais nestes domínios, como meio de satisfazer as exigências da formação de quadros técnicos e da investigação aplicada aos transportes;
9.º Aperfeiçoar a coordenação económica intersectorial através da conjugação do transporte com. as políticas de desenvolvimento regional, de energia, de mão-de-obra e de educação .e estudar a sua relacionação com a balança de pagamentos e o mercado financeiro;
10.º Programar a ligação do sector com as indústrias nacionais de construção de material de transporte e de construção de infra-estruturas.
A prossecução destes objectivos permitirá resolver alguns dos principais problemas e estrangulamentos do sector, sobretudo os relacionados com os investimentos, a idoneidade dos agentes económicos, a coordenação técnica e económica e a organização dos transportes em comum.

18. Como se afirmou já, está-se perante um sector estratégico de forte intensidade capitalística, com baixas remunerações do capital.
Tendo em conta, por um lado, estas circunstâncias, e, por outro, o carácter induzido do investimento em transportes, há que assegurar permanentemente uma repartição equilibrada entre os investimentos de renovação e de capacidade (ou de produtividade) e os de infra-estrutura e de exploração, de forma a tirar deles o máximo rendimento económico.
No domínio das infra-estruturas de interesse geral, uma parte substancial dos encargos deverá ser suportada pelo Estado, em percentagem dos valores totais calculada segundo critérios tanto quanto possível rigorosos e neutrais. Dever-se-á, paralelamente, promover a harmonização efectiva da repartição dos custos de infra-estrutura entre os respectivos utilizadores, harmonização que se impõe com o fim de que nenhum modo de transporte se apresente beneficiado em relação aos demais, o que decorrerá de uma organização do sistema de transportes económicamente neutra.
Resultará daí, nos casos em que as explorações se mostrem deficitárias por motivos imputáveis ao seu carácter de serviço público e, como tal, incapazes de contribuir para os encargos dos equipamentos fixos que utilizam, a necessidade de lhes atribuir subvenções de exploração compensadoras daquelas obrigações. Operam-se, assim, meras transferências financeiras, que não falsearão as condições de concorrência.
Ainda no domínio das explorações, para além das transformações de estruturas anteriormente referidas, dever-se-á assegurar uma programação de investimentos, a concretizar nos sucessivos programas anuais de execução deste III Plano, que estabeleça, a conjugação das infra-estruturas com as explorações e de ambas, com os tráfegos - estes a valorizar em função do seu volume e do seu significado económico.
Dentro desta orientação, procurar-se-á seleccionar e escalonar os investimentos consoante sejam, rentáveis, estritamente necessários, independentemente de estudos prévios de rentabilidade, ou parcialmente substituíveis pelos benefícios obtidos através de remodelações da exploração.

II) Transportes de longa distância

19. Os transportes de longa distância devem ser coordenados entre si e com os respectivos pontos de interligação de transportes, a fim de os tornar concorrenciais e contribuir para o equilíbrio da balança de invisíveis. A orientação de base que se deduz do sentido da evolução actual é a de favorecer, no transporte de passageiros, o desenvolvimento crescente do transporte aéreo. O transporte de carga, cuja quase totalidade continuará a procurar a via marítima, deverá ser assegurado por uma frota progressivamente modernizada e especializada.

a) Transportes terrestres

20. São transportes pouco volumosos, mas em intenso progresso e com importância crescente para a economia nacional. Dever-se-á continuar a expandir e a modernizar um número reduzido de eixos internacionais, que sirvam também de eixos de penetração nas regiões interiores do

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continente, e criar condições para o desenvolvimento de empresas nacionais que possam competir com as estrangeiras.

b) Transportes marítimos

21. Tal como no Plano Intercalar de Fomento, o objectivo fundamental é o de definir um programa coerente para o transporte marítimo, no contexto mais amplo dos transportes de longa distância. Esta programação deve englobar não só os portos do continente, mas também os das ilhas adjacentes e do ultramar, e dedicar especial atenção ao desenvolvimento imediato, em cada uma destas parcelas do território nacional, de apenas um ou dois portos modernos, concorrenciais e estudados de modo a obter na sua exploração o maior proveito e rentabilidade dos investimentos. Haverá, assim, que definir os portos polivalentes quê servirão os transportes de longa distância, os portos especializados em número muito reduzido de tipos de tráfego de longa distância e os portos regionais para pesca, cabotagem, turismo e recreio. Foi este o critério seguido para o continente neste III Plano, no prosseguimento da orientação já preconizada no Plano Intercalar de Fomento. Consideram-se, na actual fase dos estudos, como portos polivalentes para longa distância, os de Lisboa, Douro e Leixões; nos pequenos portos, classificam-se como regionais e eventualmente especializados para transportes de longa distância os de Aveiro, Setúbal e Portimão.
Finalmente, o incremento do turismo aconselha a desenvolver e melhorar determinadas zonas do litoral (portos, estuários, enseadas, etc.) que, pelas suas condições naturais, possuem interesse turístico ou têm importância para a navegação desportiva e de recreio.

22. Quanto à marinha mercante, impõe-se utilizar as suas possibilidades próprias de renovação e fomentar o seu desenvolvimento e especialização essencialmente para o transporte de mercadorias. Procurar-se-á que tais acções de fomento sejam plenamente aproveitadas, no futuro, por mais reduzido número de empresas.

c) Transportes aéreos

23. Cabendo a estes parcela crescente no transporte de passageiros, acentua-se a necessidale de dispor de um aeroporto moderno devidamente estudado do ponto dê vista económico, em articulação com aeroportos de apoio a longa distância e com aeroportos regionais. Simultaneamente, importará continuar a favorecer a expansão da concessionária nacional do transporte aéreo, incluindo planos de apoio financeiro a longo prazo.

24. Com efeito, como já se referiu, nos anos 70 abrir-se-á nova era para a aviação comercial, era que está aprazada pelo elevado número de encomendas já em curso, apesar das dificuldades e incertezas que rodeiam o caminho ainda a percorrer até à entrada em serviço comercial dos transportes supersónicos. Não é difícil verificar, através das produtividades horárias, que, designadamente, os jumbo jets só serão económicos para grandes tráfegos e longas distâncias; o fenómeno de economia de escala traduz-se, concretamente, nos seguintes exemplos: o Boeing 747 pode substituir três Boeing 707 ou treze Super Constellation, com custos específicos mais baixos, mas preços do avião bastante mais elevados.
Para sobreviver em boas condições económicas, a concessionária terá de continuar a aumentar sensivelmente o seu nível de actividade por forma a tornar viável a
utilização das grandes unidades - o que dará base firme ao apoio financeiro que o Estado terá de proporcionar-lhe para que a programação das suas actividades possa processar-se pela forma que melhor sirva o sistema de transportes do País. Concomitantemente, continuará o Estado a apoiar os T. A. P. nos esforços que desenvolva para obter associações e contratos vantajosos com outras empresas estrangeiras.

25. Mais uma vez se põe a preocupação de concentrar tráfegos e investimentos em poucos aeroportos, mas eficientes. Haverá assim que definir, na rede nacional de aeroportos, uma hierarquia em função do tipo ou intensidade de tráfego que recebem ou pretendem captar: aeroportos que sirvam a todos os tráfegos e se mantenham sempre nitidamente concorrenciais; aeroportos para apoio ao tráfego de longo curso; e aeroportos regionais, como complemento das duas primeiras categorias.
Tal classificação não será, porém, estática nem rígida, mas antes baseada nos estudos integrados sobre os transportes de longa distância, e deverá também atender a factores de ordem estratégica - não só política, como turística, técnica e comercial.
Entretanto, é indiscutível que, na metrópole, o aeroporto de Lisboa deverá possuir carácter concorrencial e situar-se, portanto, no primeiro dos tipos enunciados. Além da já referida solução imediata para a sua actual saturação e dos estudos a empreender com vista a futura mudança de local ou desdobramento, será encarada a possibilidade de alargar a autonomia da sua gestão por forma a proporcionar-lhe maior flexibilidade.

III) Transportes interiores

26. Para estes transportes propõem-se os seguintes objectivos:

Criar condições para o desenvolvimento de uma concorrência sã, sobretudo no eixo Braga-Porto-Lisboa-Setúbal, entre transportes ferroviários e rodoviários, fomentando a complementaridade entre ambos;
Nas restantes regiões, deverão ser consideradas as condições de prestação dos serviços de transportes com vista ao apoio do seu desenvolvimento, sem prejuízo da vocação própria de cada um dos modos de transporte e da melhor utilização das infra-estruturas, de modo a estimular a organização de um mercado concorrencial;
Criar condições que levem os transportes ferroviários a captar e satisfazer as procuras para tráfegos que lhes sejam adequados, designadamente os de grandes massas de mercadorias a grandes distâncias e os suburbanos de passageiros;
Resolver progressivamente os problemas dos transportes colectivos de passageiros e, de forma especial, os urbanos.

a) Transportes ferroviários

27. Quer devido à situação económica e financeira da empresa concessionária, quer atendendo aos vultosos capitais necessários para a renovação imprescindível das principais infra-estruturas, parece oportuno intensificar a reconversão global da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses através de uma programação a longo prazo, rigorosamente escalonada, de modo que as acções a empreender sejam coerentes entre si e permitam obter as maiores rentabilidades e as melhores condições de pres-

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tacão do serviço. Os objectivos gerais a prosseguir, mediante providências e intervenções orientadoras que vão indicadas no § 4.º, serão os seguintes:
1.º Reforçar o poder competitivo da exploração ferroviária partindo de prévia harmonização do mercado fundada na igualização das condições de concorrência entre os vários modos de transporte, de forma que os elevados investimentos programados encontrem no mercado e numa exploração actualizada e dinâmica as garantias da sua rentabilidade económica e financeira;
2.º Fomentar o enquadramento activo da exploração ferroviária no conjunto do sistema de transportes mediante o estabelecimento e promoção de complementaridades técnicas e funcionais com os restantes modos de transporte, aperfeiçoando os pontos de interligação das explorações (instalações auxiliares de coordenação técnica) e apoiando, directa ou indirectamente, as manifestações, contratuais ou institucionais, de colaboração interprofissional;
3.º Prosseguir a reorganização dos serviços e intensificar a formação do pessoal a todos os níveis, para que a capacidade de estudo aumente na escala desejada e os processos de actuação melhorem consideràvelmente, garantindo sensíveis acréscimos na produtividade do pessoal e do equipamento.

b) Transportes rodoviários

28. A reconversão do transporte por caminho de ferro trará vantagens ao transporte profissional por via rodoviária, que ficará assim com maiores zonas de expansão, quer geográficas, quer propriamente económicas, realizando os transportes para os quais está mais apto (distribuição e concentração, pequenas partidas de mercadorias, transportes especializados), além de se passar a processar com maior flexibilidade, sobretudo na pequena e média distância. Nestas bases, haverá também que acelerar intensamente a execução e a melhoria do conjunto das infra-estruturas rodoviárias, adequando-as aos tráfegos e aos custos, e relacionando-as com os outros modos e tipos de transporte. Não se perderá de vista, no entanto, a necessidade de manter eixos razoáveis de penetração regional e de servir o turismo, designadamente o internacional; aliás, estas duas exigências podem conjugar-se em parte, já que as estradas de ligação internacional poderão ser, simultaneamente, vias de penetração regional. Por outro lado, procurar-se-á ir corrigindo a apontada pulverização empresarial, de ruinosas consequências, através de acções de concentração a levar a cabo em colaboração com os organismos profissionais.
Além das medidas necessárias ao saneamento da produção e do mercado, importa desenvolver os estudos sobre a actividade deste modo de transporte com base em estatísticas adequadas e cálculo seguro de custos.

c) Transportes urbanos e suburbanos

29. Pelos motivos que se expõem no § 4.º, os transportes urbanos e suburbanos das regiões de Lisboa e do Porto serão considerados como ura todo a optimizar mediante articulação progressivamente mais perfeita dos vários modos de deslocamento urbano entre si e destes com os suburbanos e interurbanos.
Resultam daqui os seguintes objectivos gerais, para cuja consecução serão adoptadas as providências adiante referidas:
1.º Organizar e planear os transportes em comum, urbanos e suburbanos, de modo a conseguir-se melhor complementaridade das infra-estruturas e da exploração, e concorrência disciplinada entre os diversos operadores - uma e outra sempre atentas à convergência das funções desempenhadas pelos modos e tipos de transporte intervenientes;
2.º Coordenar, dinâmica e reciprocamente, os planos, de transportes com os planos de urbanização e, portanto, cora o equipamento social dos agregados urbanos;
3.º Promover a participação activa do Estado e das autarquias locais nestas acções, segundo fórmulas eficazes, nomeadamente quanto ao financiamento das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias e à cobertura do diferencial entre os preços reais, ligados aos custos de produção, e as tarifas sociais;
4.º Definir, para os aglomerados urbanos, uma política de trânsito coerente, em que se atribuam aos transportes em comum condições mínimas compatíveis com o eficaz desempenho das suas funções sócio-económicas de movimentação de grandes massas populacionais.

IV) Pontos de interligação de transportes

30. Em virtude do agravamento progressivo que os tempos de imobilização do material circulante podem acarretar para o custo total do transporte e ainda pela importância crescente das economias do tempo na comodidade dos passageiros, os pontos de interligação de transporte assumem, como foi referido, a maior importância. Entende-se, assim, que deverá aumentar-se o dinamismo das respectivas explorações e criar as infra-estruturas necessárias, algumas já previstas no Plano Intercalar de Fomento, tal como portos, aeroportos, estações de camionagem, estações terminais de caminho de ferro e outras.

§ 3.º Medidas de política

I) Considerações gerais

31. O presente Plano de Fomento enquadra-se no conjunto da acção planificadora realizada pelo Governo e, como o que o antecedeu, tem em vista garantir a coerência e a continuidade do esforço da valorização económica e social em que a Nação se encontra empenhada. O Plano para 1965-1967 foi de transição e, portanto, o programa de acção nele contido não pode ser considerado como unidade independente, sem ligação com a cadeia de planeamento que vem. do passado e continuará no futuro; por isso a programação do Plano Intercalar não se circunscreveu ao tempo da sua vigência, antes se inseriu numa linha de evolução económica e social a longo prazo.
É, pois, natural que, no presente esquema de planeamento, se retomem os princípios firmados anteriormente e se assinalem à política geral de transportes sensivelmente os mesmos objectivos.
O novo Plano, no domínio dos transportes, mantém um carácter director, essencialmente programático, respeitando, assim, a liberdade dos sujeitos económicos e fazendo voto de confiança na iniciativa dos particulares. Apresenta-se com a natureza de um plano activo, estendendo a sua influência, para além do sector público, de modo a orientar, persuasivamente, também a actividade privada.

32. O transporte, ao realizar o deslocamento geográfico de pessoas e de bens materiais, intervém, necessariamente, em todas as actividades e desempenha função importante nos vários estádios do desenvolvimento. Para além desta sua função mediadora, o serviço de transportes ocupa

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posição estratégica no quadro económico geral, impondo-se garantir-lhe condições de capacidade e de qualidade mínimas, por forma que as prestações oferecidas não constituam estrangulamentos críticos para as actividades sócio-económicas e possam contribuir, assim, para um maior dinamismo dos comportamentos humanos e empresariais.
Ao definirem-se as medidas de política de transportes, e deslocamento de pessoas e de bens não pode ser olhado apenas como um fim em si, mas é preciso operar a sua integração sistemática no quadro da política económica geral, com a preocupação de conferir maior eficácia ao seu contributo para o conjunto da economia.
Na organização do mercado de transportes, é indispensável ter em conta que a livre concorrência e as forças do mercado não estabelecem, só por si, o equilíbrio entre a oferta e a procura, nem o equilíbrio concorrencial. Daí a necessidade de intervenção dos poderes públicos, não só com a preocupação de organizar o mercado, mas também de prosseguir outros fins de política económica e social.
A evolução do sistema de transportes será, assim, enquadrada por determinados princípios que condicionam a actividade económica dos sujeitos interessados e introduzem limitações à intervenção do Estado ou das entidades profissionais. Nestes princípios, convém distinguir entre os que decorrem das relações do sector com as mais actividades económicas e aqueles que se situam no domínio próprio dos transportes.
Assim, temos, entre os princípios do primeiro tipo, os seguintes:

Integração sistemática da actividade de transporte no contexto geral da vida económica;
Promoção de igualdade de tratamento entre o transporte e os outros ramos de actividade;
Tratamento preferencial do transporte público, por este constituir a forma normal de satisfação das necessidades colectivas de deslocamento e por desempenhar um papel relevante na prossecução de objectivos sociais.

No domínio próprio dos transportes, é preciso assegurar:

A unidade funcional do sistema, pois os diversos meios de transporte não devem ser considerados isoladamente, mas como partes integrantes de um conjunto chamado a satisfazer as necessidades pelo mínimo custo económico e social;
A realização das trocas segundo regras que garantam o respeito e a promoção de uma concorrência sã, fomentando-se previamente a igualdade das condições competitivas de* base como pressuposto da adequada liberdade concorrencial, salvas, porém, as diferenças estruturais e as obrigações de serviço público consideradas necessárias;
O direito de livre escolha por parte do utente, incluindo o recurso ao transporte por conta própria;
A igualdade de tratamento dos utentes que se encontrem nas mesmas condições económicas e sociais.

Os objectivos da política de transportes inscrevem-se no quadro anteriormente traçado e podem formular-se assim:
1.º A estrutura produtiva do sistema deve permitir uma adequação constante dos modos de transporte às necessidades justificadas dos utentes, cuidando da qualidade e quantidade das prestações oferecidas, o que implica grande receptividade às inovações da técnica e particular atenção às condições de segurança da exploração do serviço;
2.º O sistema de transportes deve garantir à colectividade o mínimo custo económico, realizando a conveniente repartição do tráfego e a complementaridade entre os diversos meios de movimentação;
3.º A organização do mercado de transportes deve promover as condições mínimas de rentabilidade das empresas, designadamente através de tarifação adequada, tendo em conta os custos de produção e a situação do mercado.
Finalmente, é de realçar que a política de transportes ocupa posição relevante no quadro dos esquemas gerais de desenvolvimento. Nos períodos de expansão, o sistema é chamado a desempenhar importante função impulsionadora, que deverá ser convenientemente aproveitada, tanto nas suas incidências económicas como sociais.
Mas a execução de uma política de transportes com a amplitude e os reflexos estruturais que se delinearam pressupõe a possibilidade de exercer permanente acção coordenadora dos principais centros de decisão interessados, para se lograr real consistência entre os fins assinalados aos programas dos sectores dos transportes e destes com os de outros sectores da economia e garantir a necessária simetria dos efeitos, directos e induzidos, resultantes das diferentes medidas adoptadas.
Assim, no âmbito da política de transportes, procurar-se-á acautelar e estimular a efectiva coordenação económica das decisões e planos dos diversos sujeitos nela intervenientes, de modo que, no termo deste Plano, estejam criadas as bases de uma economia dos transportes devidamente concertada. Em traços gerais, será esta uma das principais funções do Plano, enquanto manifestação temporal de uma linha coerente de planeamento.

33. A natureza pluricontinental do território nacional, o desenvolvimento e a importância crescentes do turismo internacional e do comércio externo, designadamente no âmbito das integrações económicas, as transformações estruturais da própria actividade económica e cultural, acentuam o essencial papel estratégico dos transportes de longa distância, interterritoriais e internacionais.
No entanto, a garantia de um mínimo de serviços imposto pela unidade de soberania deve ser completada pela optimização económica deste ramo do sistema nacional de transportes. Resultarão, consequentemente, complexos problemas de organização da produção e do mercado e de criação de complementaridades eficazes nos chamados «pontos de interligação de transportes», designadamente portos e aeroportos.
Os problemas que actualmente se equacionam são, tipicamente, os de uma economia de dimensão: grandes unidades transportadoras, com elevadas produtividades horárias, exigindo apreciáveis volumes de capitais fixos o grandes tráfegos, com encargos totais elevados, mas produzindo a custos unitários muito baixos. Há que progredir, portanto, na concentração crescente das empresas de transporte e no aumento e concentração de tráfegos, quer nas empresas transportadoras, quer naqueles pontos de interligação. Quanto a estes últimos, verifica-se dupla exigência: possibilidades físicas e económicas para a recepção de mais unidades transportadoras, por um lado, e operações terminais mais rápidas do que as actuais, por outro.
Está-se, pois, em face de uma problemática complexa, a requerer o estudo cuidadoso, completo e urgente dos transportes de longa distância e respectivos pontos de ligação. Entretanto, haverá que iniciar desde já, com firmeza, o processo de concentração de tráfego num ou

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dois grandes portos e num ou dois aeroportos internacionais, definindo, conforme a orientação do Plano Intercalar em relação aos portos, uma programação flexível e atenta às realidades económicas e tecnológicas.

34. No tocante aos transportes interiores - terrestres, marítimos e aéreos - deverá aperfeiçoar-se igualmente a articulação com os pontos de interligação e estar atento às mesmas realidades, por constituírem, repete-se, componentes dinâmicas do sistema de transportes.
Haverá, também aqui, que adequar da melhor maneira a oferta à procura, tendo presente, como principais linhas de orientação, além dos ensinamentos da teoria económica e da experiência acumulada, as vocações próprias de cada modo e tipo de transporte, que desde logo se traduzem nos seguintes parâmetros directores:
1.º Um transporte ferroviário modernizado, capaz de alcançar elevadas produtividades e altas velocidades, só é rentável no transporte de grandes massas, tanto maiores quanto menor a distância; deverá tender cada vez menos a ser meio de transporte indiferenciado, de tudo e para todo o lado, e evoluir, progressivamente, para um transporte eficiente de certos tipos de tráfegos (tráfegos pendulares, do tipo suburbano, e de grandes massas, a elevadas velocidades e a longa distância);
2.º No transporte de grandes massas de mercadorias a granel, a cabotagem pode competir com o transporte ferroviário;
3.º Este, finalmente, deve ser completado pela exploração rodoviária, a qual operará, assim, dentro da sua vocação de transporte maleável para médias e curtas distâncias, ou para distâncias maiores desde que os tráfegos não justifiquem os elevados custos fixos do transporte ferroviário.

35. Por último, autonomizaram-se os transportes urbanos e suburbanos, cuja separação conceptual em relação ao interurbano constitui, em si mesma, um progresso no equacionamento e tratamento da problemática dos transportes.
Com efeito, encarar conjuntamente os transportes suburbanos e os urbanos pressupõe que a conjugação da oferta com a procura tenha de ser considerada em relação a um todo, cujas condições de funcionamento devem ser substancialmente melhoradas. A estruturação de organismos capazes de tratar, nesta ampla perspectiva, o conjunto dos problemas suscitados pelo tráfego nas grandes regiões de concentração urbana - problemas cuja complexidade técnica e económica transcende as possibilidades de estudo, planeamento e execução da actual organização das autarquias locais - será atentamente ponderada pelo Governo, com vista aos reajustamentos institucionais e às providências regulamentares e financeiras que se reconheçam adequadas.
No que respeita, porém, aos transportes por via rodoviária, do tipo pendular, que sirvam os arredores dos principais aglomerados populacionais, é imprescindível regulamentá-los de forma diferente da actual - que os reduz a meras ligações interurbanas. A nova regulamentação impõe-se, tanto por se lhes reconhecer plena autonomia económica e funcional, como para permitir melhorias apreciáveis- nos serviços prestados mediante a consagração de soluções de concentração da exploração. Quanto aos transportes ferroviários de ligação com subúrbios das cidades de Lisboa e do Porto, haverá que proceder a ampla reestruturação, encarando-se mesmo quando o tráfego movimentado revista característica, claramente urbanas, o recurso a outros meios de transporte mais apropriados.

II) Orientações específicas

36. Não se enunciam desde já providências concretas, mas simples directrizes de tipo operacional, que, nos programas anuais de execução, serão convertidas em medidas de política. Segue-se orientação diferente da adoptada no Plano Intercalar, devido à maior amplitude temporal deste III Plano e ao profundo significado estrutural da actuação prevista.
Adoptou-se também uma sistematização de tipo funcional, por modos de transporte, entendidos como conjuntos homogéneos de técnicas de deslocamento. Por sua vez, as providências agrupam-se consoante dizem respeito aos domínios dos equipamentos fixos ou da exploração. Nalguns subsectores pareceu, todavia, útil autonomizar as providências relativas à administração da função transportes.
Formulam-se, no entanto, algumas directrizes, que, por serem de carácter geral ou por não terem cabimento directo em nenhum dos domínios do esquema adoptado, se inventariam assim:

1) Elaboração de uma lei-quadro reguladora da coordenação geral dos transportes, onde viria a receber expressão normativa o esquema de política de transportes definido no Plano Intercalar e já traduzido em algumas realizações concretas;
2) Regulamentação de novas técnicas de deslocamento - nomeadamente dos transportes passivos ou contínuos -, tendo em conta os problemas de concorrência e de coordenação por elas levantados;
3) Disciplina da exploração dos transportes fluviais de passageiros, promovendo a concentração empresarial e a combinação das explorações interessadas;
4) Impulsionamento dos meios instrumentais de coordenação técnica dos vários meios de deslocamento, designadamente através da realização de estudos de conjunto, na sequência dos estudos parcelares levados a cabo pelos diversos subsectores e empresas interessadas;
5) Reforço da assistência às pequenas e médias empresas (divulgação de métodos de produção e de técnicas de organização, assistência financeira, programas de formação profissional, etc.), com eventual institucionalização dos apoios oficial e profissional;
6) Estabelecimento de uma contabilidade nacional de transportes, devidamente discriminada por espécies e modos de deslocamento, e elaboração de estudos sobre custos e procura de transportes.

III) Transportes terrestres

a) Transportes ferroviários

37. No âmbito do transporte ferroviário, apontam-se as seguintes linhas de acção:

1) Contribuição do Estado no financiamento das infra-estruturas ferroviárias de interesse geral e de longa duração;
2) Continuação da elaboração de planos de modernização e equipamento, sucessivamente aperfeiçoados, tendo em vista a evolução do tráfego e a rentabilidade económica dos investimentos;

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3) Estudo de exploração económica da rede, segundo critérios não estritamente empresariais, mas antes tendo em conta também as necessidades e acções de desenvolvimento regional, com vista às correspondentes opções sobre a manutenção ou o encerramento de linhas e de estações;
4) Desenvolvimento, em função quer dos tráfegos actuais, quer de previsões de tráfegos futuros, do eixo Braga-Lisboa e das ligações internacionais, a constituírem linhas de penetração a partir daquele eixo, e especialização conveniente de certas estações ou recintos para o tráfego internacional de mercadorias e de outras instalações de exploração fundamentais para o tráfego interno;
5) Melhoria das ligações ferroviárias com as instalações portuárias;
6) Criação de condições favoráveis ao desenvolvimento de ramais particulares;
7) Saneamento da situação financeira da empresa ferroviária, designadamente através de um reforço considerável do seu capital social;
8) Contrôle permanente da evolução das despesas de exploração, reduzindo ao máximo os gastos não directamente rentáveis, sem, contudo, afectar a boa conservação do seu equipamento fixo e móvel;
9) Eliminação gradual das subvenções económicas de exploração e sua substituição por indemnizações compensatórias;
10) Prosseguimento da normalização das contas ferroviárias e da contabilidade analítica de exploração;
11) Adopção gradual de uma tarifação baseada nos custos e de uma maior publicidade dos preços;
12) Promoção de colaboração interprofissional através de integrações horizontais, participações financeiras e acordos de exploração conjunta;
13) Reorganização administrativa e económica de forma a incutir à empresa maior dinamismo empresarial e adequada autonomia de gestão, com eventuais repercussões no seu estatuto jurídico;
14) Dinamização da gestão comercial da empresa, promovendo a captação dos tráfegos mais adequados, em especial os de mercadorias em comboios completos e os de passageiros a grandes velocidades para longas distâncias;
15) Racionalização das operações de carácter técnico e administrativo, tirando partido da organização científica do trabalho e da mecanização em todos os domínios das suas actividades;
16) Finalmente, resolução de alguns dos problemas que se colocam no domínio da tecnologia:

Renovação da via e dos respectivos traçados de forma a garantir segurança, a permitir velocidades mais elevadas ou a eliminar certos estrangulamentos de capacidade, ao menos nas linhas ou troços de maiores tráfegos actuais e futuros;
Substituição progressiva da tracção a vapor pela tracção diesel e correspondente reestruturação das instalações oficinais;
Substituição do parque de material rebocado (carruagens e vagões) que, devido à sua longa utilização, não se encontre em condições de exploração satisfatória;
Especialização do material circulante;
Aumento da produtividade pela mecanização das operações terminais e simplificação e metodização destas;
Melhoria da sinalização.

b) Transportes rodoviários

38. Consideram-se em separado os objectivos respeitantes à infra-estrutura, à exploração e sua administração.

Infra-estruturas

1) Reestruturação orgânica e técnica da Junta Autónoma de Estradas de modo a assegurar a avaliação e selecção, em termos de rentabilidade económica, dos projectos técnicos de investimento e a elaboração de programas ajustados às exigências do sistema de transportes;
2) Aperfeiçoamento da coordenação e centralização da elaboração e controle do planeamento das infra-estruturas rodoviárias, actualmente disperso por vários departamentos públicos;
3) Institucionalização das relações das entidades responsáveis pela construção e manutenção das infra-estruturas com os outros sectores da actividade económica;
4) Revisão do Plano Rodoviário à luz da evolução sofrida pela estrutura dos tráfegos e dos meios de acção mobilizáveis.

Exploração

1) Institucionalização de uma concorrência sã no mercado de transportes, baseada nos custos reais e na qualidade do serviço, mediante as seguintes providências:

Fixação do estatuto de acesso ao mercado e à profissão, de tipo predominantemente qualitativo, baseado na selecção e promoção empresariais a cargo da Administração e da organização corporativa;
Adopção de um sistema regional de concessões para serviços regulares de passageiros e mercadorias;
Definição de uma política de capacidade para os transportes não regulares, fundada em sistema flexível de contingentamento regional, periodicamente revisto com base em indicadores económicos seguros;
Reestruturação do sistema tarifário (preços reais, ou seja, preços baseados nos custos), com adopção progressiva, nomeadamente nos transportes não regulares, do sistema de preços de referência, fiscalizado pela organização corporativa em colaboração com o Estado;
Aperfeiçoamento da transparência do mercado, através da adequada publicidade dos preços;
Harmonização das condições de concorrência entre empresas e modos de transporte, designadamente nos domínios técnico, fiscal e das obrigações de serviço público;
Obrigatoriedade e normalização da contabilidade geral das empresas de transporte, sujeita a fiscalização estadual e profissional.

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2) Fomento da concentração económica das empresas rodoviárias de serviços regulares ou não regulares, de modo a conferir-lhe estrutura empresarial idónea e dimensão económica competitiva, mediante, designadamente:

Difusão de métodos modernos de gestão empresarial e das novas técnicas de transporte;
Realização, por parte do Estado e da organização corporativa, de programas intensivos de formação, qualificação e reconversão de mão-de-obra;
Prestação de assistência técnica e concessão de reduções ou isenções fiscais, como estímulo, nomeadamente, aos investimentos de produtividade à coordenação técnica e aos programas de formação e selecção profissional;
Apoio à criação de cooperativas e às integrações económicas verticais e horizontais das empresas de transporte.

3) Assistência técnica, pública e profissional, às pequenas e médias empresas nos ramos em que tenham justificação económica (v. g., transporte de mercadorias regionais a curta distância, de passageiros em táxis, etc.);
4) Divulgação intensiva, por parte do Estado, das facilidades concedidas, dos conhecimentos técnicos e económicos básicos, dos mercados potenciais, nacionais ou estrangeiros, e organização de um sistema eficaz de informação económica conjuntural;
5) Fomento de desenvolvimento da indústria de transporte turístico e promoção da especialização dos transportes profissionais (v. g., transporte de produtos perecíveis, de elevada qualidade, etc.) através de equipamentos circulantes adequados e da própria especialização empresarial;
6) Definição e execução de uma política de viação rodoviária adequada às exigências de expansão dos transportes colectivos;
7) Actualização, harmonização e fiscalização eficiente do cumprimento da legislação social;
8) Conjugação mais eficaz da política de transportes e dos correspondentes programas de acção com outras políticas e programas sectoriais (v. g., políticas turística e de desenvolvimento regional), quer pela via institucional (por exemplo, participação do sector em organismos ou entidades, públicas ou para-estaduais, de desenvolvimento regional), quer no plano da disciplina normativa das actividades económicas privadas (v. g., coordenação funcional da indústria turística, designadamente da actividade das agências de viagens, com a indústria transportadora).
9) No campo da administração da exploração, mostra-se indispensável:

A nível da administração pública, prosseguir os esforços de revigoramento da capacidade técnica e administrativa, em especial dos sectores executivo e de administração consultiva, dados os graves desequilíbrios existentes entre estes e os de concepção e planeamento;
A nível da administração profissional, vitalizar os organismos corporativos do sector, reforçando as suas funções de disciplina da produção e do mercado, supletivas da acção estadual, e intensificando assim a sua colaboração com a administração pública;
Dar expressão institucional aos utentes de transportes em comum mediante a sua participação efectiva na definição da política sectorial e a sua representação em órgãos superiores de administração consultiva.

c) Transportes urbanos e suburbanos

39. Neste domínio, prevêem-se as intervenções seguintes:

1) Regulamentação da exploração dos sistemas organizados de deslocamento rodoviário urbano e suburbano, tendo em vista concretizar a unidade de exploração e tornar mais eficiente a articulação das duas espécies de transporte;
2) Apoio à organização e expansão do transporte de passageiros em comum mediante a concessão de subvenções de equipamento, especificamente as de infra-estruturas, e de exploração, quando destinadas a compensar custos sociais;
3) Reorganização do acesso ao mercado do transporte de passageiros em regime de aluguer (serviço de táxis);
4) Reestruturação da indústria de distribuição urbana de mercadorias, com o fim de se instituírem unidades económicamente idóneas, actuando em perfeita conjugação com os operadores de médio e longo curso rodoviários e ferroviários;
5) Institucionalização da conjugação dos planos de transporte urbano com os planos urbanísticos, nomeadamente nas regiões de Lisboa e do Porto.

IV) Transportes marítimos

a) Marinha mercante

40. A evolução deste sector, ao longo do Plano, obedecerá às seguintes principais directrizes:

1) Prosseguimento da política de transportes marítimos adaptada ao condicionalismo nacional e internacional, compreendendo os seguintes aspectos:

Desenvolvimento da indústria da navegação marítima de modo a dispor-se de tonelagem que satisfaça 60 por cento das necessidades nacionais de transporte por mar;
Adequação permanente dos meios ou técnicas de transportes marítimos, em capacidade e em qualidade dos serviços, às necessidades da economia nacional, designadamente as de integração do espaço económico;
Consolidação de empresas económicamente bem dimensionadas e, tanto quanto possível, especializadas, com poder competitivo internacional e susceptíveis de assegurar, da forma mais económica e com o máximo rendimento social, a autonomia efectiva dos transportes ultramarinos;
Formulação das principais coordenadas da política comercial global orientadora das poli-

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ticas comerciais dos diversos operadores e impulsionadora da protecção eficiente à navegação nacional.

2) Concessão, sempre que possível, de prioridade ao pavilhão nacional no tráfego de e para o estrangeiro, promovendo-se paralelamente que as aquisições de mercadorias sejam feitas, quando as circunstâncias o permitam, na base F. O. B. (è não C. I. F., como presentemente se verifica);

3) Apoio à renovação e expansão da frota como meio indispensável para garantir a realização dos imperativos políticos e de defesa decorrentes da natureza pluricontinental do espaço nacional;
4) Conjugação dos programas da indústria nacional de construção naval com os da renovação e ampliação da frota de modo que os armadores possam recorrer aos estaleiros nacionais em condições técnicas e económicas internacionalmente competitivas;
5) Promoção de complementaridades eficazes nos transportes de longa distância, sobretudo entre a marinha mercante e a aviação comercial, designadamente através da conjugação de explorações e da disciplina da concorrência;
6) Melhoria das condições de exploração portuária com vista ao apoio eficiente à marinha mercante nacional.

b) Portos

41. Concretizar-se-á um conjunto de medidas que se impõem com premência na programação de complexos portuários eficientes. Visar-se-ão primordialmente as explorações portuárias de Lisboa e do Porto por forma a enquadrar os seguintes objectivos:

1) Completar o ciclo de reestruturação das orgânicas administrativas e dos métodos de gestão, na linha de uma administração portuária económicamente responsável e comercialmente activa, fundando as suas decisões em estudos técnicos e económicos devidamente fundamentados;
2) Valorizar a participação das actividades económicas interessadas na elaboração dos programas de gestão portuária;
3) Criar ou fornecer a expansão de serviços comerciais e de serviços instrumentais de organização e métodos e de estudo e planeamento convenientemente apetrechados de meios humanos e materiais;
4) Centralizar numa única autoridade a coordenação e o planeamento das diversas actividades operacionais do porto;
5) Definir as condições e os incentivos apropriados à concessão, a empresas idóneas, de explorações autónomas especializadas nas zonas portuárias;
6) Estabelecer um sistema de contabilidade analítica de exploração padronizada como contributo básico para uma gestão racional e, por consequência, para maior segurança nas decisões e nos programas de investimentos;
7) Reorganizar a Divisão de Dragagens, do Ministério das Obras Públicas, em termos de serviço público industrial ou empresa pública, dotando-a, simultaneamente, dos meios financeiros indispensáveis ao seu reapetrechamento;
8) Finalmente, rever e actualizar os planos portuários vigentes de acordo com a política de desenvolvimento delineada para o conjunto dos portos metropolitanos.

V) Transportes aéreos

a) Aviação comercial

42. A evolução do sector obedecerá às seguintes directrizes:

1) Definição, em termos flexíveis, de uma política aeronáutica estruturada e coerente com as principais coordenadas da política económica geral e de outras políticas sectoriais (v. g. a política de turismo), para o que serão reestruturados os organismos aos quais competirá a respectiva elaboração, revisão e interpretação, em função dos interesses, públicos ou particulares, em jogo;
2) Apoio oficial, no quadro da política definida, à continuidade do desenvolvimento da concessionária nacional por forma que se mantenha eficiente, com uma situação económico-financeira equilibrada e adaptada ao conveniente desempenho das suas funções;
3) Adequação da capacidade técnica e administrativa da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil às exigências de coordenação e fomento das diversas acções de desenvolvimento da aviação civil (em especial no domínio da formação profissional), às exigências de acompanhamento e fiscalização qualificada da actividade da concessionária e às de coordenação com outras actividades e organismos estaduais;
4) Prosseguimento dos estudos e das diligências já encetados para a mais íntima colaboração das empresas nacionais de serviços aéreos regulares, seja através de concentrações do tipo institucional, seja por acordos de exploração, seja por organização de serviços técnicos ou económicos comuns.

43. No desenvolvimento da rede de ligações internacionais regulares com o território nacional, continuará a procurar seguir-se uma política de partilha equitativa dos tráfegos entre as companhias dos países interessados, ou, pelo menos, de obtenção de garantias e direitos que oportunamente permitam tal partilha. Com efeito, só progressivamente a concessionária nacional poderá ir assumindo as posições que lhe cabem, mas é indispensável que, paralelamente, se protejam estas posições nas negociações bilateriais sobre direitos de tráfego que entretanto se realizem. Considera-se, com efeito, que para o estabelecimento de um fluxo importam igualmente os dois pólos que o geram, é tudo se fará para que a esta atitude correspondam serviços e facilidades que a justifiquem e façam aceitar.
A celeridade com que os Transportes Aéreos Portugueses possam ir assumindo as posições a que têm direito em todas as rotas regulares com direitos de tráfego em Portugal depende, em larga medida, das possibilidades de ir dispondo de uma frota cada vez mais ampla e actualizada - problema a que já se aludiu.

44. Prevê-se que durante este III Plano possam iniciar-se no continente e ilhas adjacentes novas ligações regulares interiores e serviços de táxi aéreo - regulamen-

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tados pelo Decreto-Lei n.º 46 898, de 10 de Março de 1966. Do interesse e da idoneidade da iniciativa privada dependerá fundamentalmente, a criação desses novos serviços. Dado o âmbito nitidamente regional das novas ligações a estabelecer, haverão as empresas licenciadas do contar com as autoridades administrativas, distritais e municipais e, até, com entidades privadas, para, sob a fiscalização e, eventualmente, o auxílio da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil, poderem dispor de infra-estruturas adequadas.
Procurar-se-á estimular a eficiência dos serviços, evitando situações de exclusivo que eliminem a concorrência, mas não poderá esquecer-se que uma área como a do Portugal europeu é incompatível com a proliferação desregrada de empresas de transporte aéreo.
No que respeita às ligações entre as ilhas dos Açores, ir-se-ão desenvolvendo em função de critérios para o estabelecimento dos quais se deverá contar com os planos de desenvolvimento regional a delinear.
Em qualquer caso, porém, tem de prever-se uma acção do sector público coordenada com a da Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos, por forma a obter a solução económicamente mais vantajosa quanto às características dos aeródromos a construir e do material a explorar.

45. Reconhece-se o papel de promoção de novos centros e correntes de tráfego que têm desempenhado os voos de fretamento, designadamente os organizados por agentes de viagens segundo o regime de «tudo incluído». O crescimento das indústrias turísticas metropolitanas, designadamente no Algarve e na Madeira, terá de continuar a contar com a contribuição que esta modalidade de transporte lhe tem assegurado - e nada se fará, a médio prazo, para coarctar essa contribuição, a não ser na medida em que a concessionária nacional possa ir assegurando parte dessa capacidade de transporte. Não pode esquecer-se, com efeito, que a progressiva estabilização das novas zonas turísticas como centros de tráfego poderá levar à solicitação de autorizações para séries de voos de fretamento com frequências que os convertam praticamente em ligações regulares. Nestes casos, tanto a protecção dos legítimos interesses da concessionária, já reconhecida e praticada para as rotas que actualmente explora, como o próprio interesse nacional, aconselharão se procure converter essas ligações em verdadeiros serviços regulares, a explorar nos termos dos acordos bilaterais de tráfego aéreo firmados com os países. de origem dos voos.
Adoptar-se-á, portanto, uma atitude de prudente liberalização, que há-de subordinar-se, segundo critérios a estabelecer com clareza e em harmonia com as convenções internacionais aplicáveis, à certeza prévia de que aos passageiros transportados para Portugal em voos fretados são proporcionadas condições de segurança, de cobertura de riscos e de garantia de retorno ao local de origem do voo equivalentes às dos passageiros dos voos regulares.

b) Aeroportos e apoio a navegação aérea

46. Até agora, têm-se dotado os aeroportos da rede nacional, na medida do possível, de condições que lhes consintam receber toda a espécie de tráfegos e satisfazer as exigências respectivas, mas sem critérios rigorosos que permitam estabelecer prioridades. Pensa-se que, com a rápida evolução tecnológica e respectivos aumentos de custos de infra-estruturas e equipamentos, confrontada aquela evolução com a relativa escassez de tráfegos nalguns desses aeroportos, dificilmente se poderá manter essa política. Chegar-se-á, assim, à selecção de aeroportos com interesse económico ou estratégico, que serão mantidos em constante nível de modernização, a par de aeroportos e serviços regionais, como será possivelmente o caso do Porto e de Faro, a não ser que se desenvolva nesta região, com grande intensidade, um turismo de qualidade.
Assim, cumpre ter presente, como condicionamento geral do esforço de expansão e actualização das nossas infra-estruturas destinadas à aviação comercial internacional, que não é viável, neste domínio, adoptar sistematicamente soluções de compromisso ou de transição - a menos que se queira correr o risco de ver o tráfego das grandes linhas internacionais desinteressar-se progressivamente de escalar o nosso país. O transporte aéreo internacional requer, para a sua eficiência e segurança, instalações aeroportuárias e de ajuda à navegação de impecável qualidade - e não lhe faltarão soluções alternativas, se os aeroportos portugueses, sobretudo o de Lisboa, deixarem de satisfazer os exigentes padrões internacionalmente praticados.
Aos aeroportos concorrenciais será dada maior autonomia administrativa e maior poder de decisão em rapidez e em latitude, além de grande poder contratual. Como orientações concretas para o exercício - e o controle - da actividade respectiva, apontam-se as seguintes:

Adopção de uma contabilidade analítica padronizada e fiscalizada;
Prática de preços baseados nos custos, tanto quanto a concorrência o permitir;
Participação substancial do Estado no estabelecimento das infra-estruturas.

Nada obsta - antes haverá vantagem, desde que os tráfegos cresçam o suficiente para permitir a administração autónoma - a que os aeroportos de apoio ao tráfego de longo curso ou os regionais passem a aeroportos concorrenciais, regendo-se pelas normas que acabam de ser enunciadas.

§ 4.º Investimentos

I) Considerações gerais

47. Os objectivos atrás enunciados explicam e justificam o elevado volume de capitais que se prevê investir no sector durante o período deste III Plano. Tais investimentos devem, no entanto, subordinar-se a três condições fundamentais, que constituíram já preocupação dominante na elaboração do Plano Intercalar de Fomento:

Estudos técnicos e económicos globais acerca dos grandes empreendimentos e do enquadramento em que estes se inscrevem;
Capacidade de realização para a efectivação de cada projecto;
Medidas que permitam obter o máximo rendimento da exploração de cada projecto.

Nos casos em que não exista ainda uma análise económica devidamente fundamentada dos projectos, a sua concretização iniciar-se-á logo que esses estudos estejam concluídos, excepto nos casos de marcado interesse nacional, de investimentos de oportunidade e rentabilidade indiscutíveis e quando se trate de eliminar estrangulamentos vitais para o País. A finalidade destes estudos será garantir que os objectivos fixados se atinjam com a melhor economia de meios, mesmo nos casos em que não seja a rentabilidade directa dos empreendimentos a razão determinante da sua inscrição no Plano.
O quadro que segue resume os investimentos prioritários estimados para o sector.

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Quadro-resumo dos investimentos globais do sector dos transportes

[Ver Tabela na Imagem]

(a) O quantitativo destes três anos é de 70 COO contos, que foi dividido equitativamente entre eles.

48. Verifica-se, em primeiro lugar, a posição relativamente baixa dos valores programados para investimentos em transportes aéreos e aeroportos (15 por cento), quando comparados com os dos transportes terrestres (46 por cento) ou marítimos (39 por cento). Chama-se também a atenção para o elevado volume de capitais requerido pela marinha mercante (cerca de 29 por cento do total), o que se justifica, dado que apenas foi dotada com cerca de 15 por cento do previsto no II Plano de Fomento e que não foi possível cumprir o programa delineado para o Plano Intercalar, por dificuldades de financiamento.
Devo ainda notar-se que cerca de 54 por cento dos investimentos são realizados no sistema de transportes de longa distância, com 14 por cento do total geral para os pontos de interligação: portos e aeroportos.
Nos transportes terrestres, os maiores investimentos correspondem ao sistema ferroviário (48 por cento), o que exigirá a reconversão preconizada para a C. P., ainda que à custa do acréscimo dos gastos; a infra-estrutura rodoviária absorverá 34 por cento dos dispêndios, o que está em relação com os elevados tráfegos que suporta. Quanto aos transportes urbanos de Lisboa e do Porto, a verba apresenta-se proporcionada aos tráfegos, sobretudo se se tiver em consideração que estes são exclusivamente de passageiros em transportes colectivos e incluem as centrais de camionagem, as quais não se localizarão só naquelas duas cidades.

II) Transportes terrestres

a) Transportes ferroviários

1) Rede geral

49. Para habilitar a C. P. a proceder à sua reconversão, será indispensável elaborar um plano global, com fases devidamente escalonadas nos programas anuais de execução.
Será a seguinte a distribuição dos investimentos:
Vias e obras de arte:
Estes elementos de infra-estruturas são factores condicionantes da velocidade, das cargas e da segurança; o estado actual da via justifica os investimentos programados, que se concentram, aliás, nas linhas de maiores tráfegos.
O projecto de renovação da via compreende a renovação integral de 1250 km de linha da rede básica (cerca de 65 por cento desta rede) e a renovação, com aplicação de carris recuperados em 767 km, dos troços prioritários da rede restante.

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O projecto de reforço e substituição de pontes constitui adicional ao projecto anterior.

[Ver Tabela na Imagem]

Electrificação, sinalização e telecomunicações:

Estes investimentos requerem estudos complementares atentos, rigorosos e globais, destacando-se a importância da aquisição de equipamento de telecomunicações e a sinalização de plena via e estações.
O projecto de aquisição de equipamento de telecomunicações enquadra-se no projecto de melhoria geral da rede.
O projecto de aquisição de equipamento para electrificação das linhas destina-se a tornar mais eficiente a ligação da linha do Norte às cidades de Braga, Figueira da Foz e Tomar.
O projecto de sinalização e de estudos enquadra-se no projecto de melhoria geral da rede.

Contos
Aquisição de equipamento de telecomunicações ......... 48 000
Aquisição de equipamento para electrificação das linhas ........................................... 45 000
Sinalização de plena via e estações .................. 105 000
198 000

Aquisição de material de tracção:

20 locomotivas Diesel ................................ 130 000
18 locomotivas eléctricas ............................ 126 000
24 composições de automotoras eléctricas ............. 290 000
10 automotoras Diesel ................................ 30 000
22 locotractores de manobras ......................... 40 000
616 000

Aquisição de 2 barcos ................................ 40 000

Aquisição de material rebocado:

240 carruagens ....................................... 650 000
650 vagões ........................................... 130 000
Furgões .............................................. 30 000
810 000

Instalações de exploração:
Contos
Equipamento para mecanização de cargas e
descargas ............................................ 7 000
Estações especiais ................................... 9 000
Melhorias gerais ..................................... 138 000
154 000

Instalações oficinais ................................ 50 000

Compromissos anteriores .............................. 182 000

Melhoria de explorações. - Pretende-se automatizar maior número de operações nas linhas de grande movimento, fomentar a circulação de vagões especializados de outras empresas, concentrar o movimento de mercadorias e passageiros em menor número de estações devidamente equipadas e estimular o desenvolvimento dos serviços comerciais (p. m.).
Total global - 4 110 000 contos.
Prevê-se que o financiamento seja assegurado pelas seguintes fontes: Fundo Especial de Transportes Terrestres (1 250 000 contos), crédito interno (1 860 000 contos) e crédito externo (1 000 000 contos).

2) Nós ferroviários de Lisboa e do Porto

50. A individualização destes dois nós ferroviários justifica-se pela sua importância e pelas incidências que têm na prestação de serviços internacionais, interurbanos e suburbanos. Dentre os estudos económicos e projectos técnicos já elaborados, entende-se que as seguintes realizações devem merecer prioridade, além do plano global da C. P. anteriormente preconizado:

Anulação de estrangulamentos nos grandes tráfegos suburbanos, melhoria das ligações para os tráfegos portuários de mercadorias, primeira fase de implantação das triagens e novas linhas - 600 000 contos.

Aprovado o programa pela entidade financiadora, prevê-se que o financiamento seja assegurado por intermédio do Orçamento Geral do Estado, possivelmente mediante operações de crédito externo.

3) Sociedade Estoril

51. Prevê-se que a Sociedade Estoril realize os seguintes investimentos:
Contos
Aquisição de material circulante ........... 69 000
Melhoria de sinalização .................... 10 000
Ampliação do equipamento oficinal .......... 1 500
Adaptações da via às necessidades do tráfego 18 900
98 400

Fonte de financiamento: autofinanciamento privado.

b) Transportes rodoviários

52. Nesta alínea só se tratará das estradas nacionais.
A indispensabilidade de obviar a estrangulamentos já existentes, de dar às vias principais características que lhes permitam satisfazer as necessidades de um tráfego em rápido crescimento e de reduzir o atraso na execução do Plano Rodoviário obriga a fazer decidido esforço na remodelação das infra-estruturas rodoviárias e na construção de novas vias, designadamente nas regiões em que os estudos económicos indiquem que a sua baixa densidade entrava o desenvolvimento económico.
Propõe-se, assim, o Governo, além da realização de reformas da Junta Autónoma de Estradas, a efectuar com a possível brevidade, proceder aos seguintes investimentos:

1) Estradas do continente:

Construção de estradas do Plano Rodoviário, incluindo as do Plano Coordenador com o Plano de Viação Rural e as do Plano do Nordeste Transmontano (700 km) ........................................... 900 000

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[Ver Tabela na Imagem]

Os investimentos relativos às estradas no continente serão financiados pelo Orçamento Geral do Estado (l 605 000 contos), Fundo de Desemprego (800 000 contos) e autarquias locais (24 000 contos), prevendo-se ainda a possibilidade de recurso ao crédito externo, designadamente para obras nas estradas de acesso a Lisboa e ao Porto, nas grandes estradas de tráfego internacional e em outras vias de acentuado interesse turístico.
A viação rural é tratada no capítulo «Melhoramentos rurais» e os caminhos florestais estão incluídos no capítulo «Agricultura, silvicultura e pecuária».
Quanto aos investimentos referentes às ilhas adjacentes, prevê-se que tenham a seguinte distribuição (em contos):

[Ver Tabela na Imagem]

c) Transportes urbanos e suburbanos

53. Os maiores investimentos, tanto de organismos oficiais, como de empresas particulares, efectuar-se-ão sobretudo nas duas grandes cidades de Lisboa e do Porto.

d) Metropolitano de Lisboa

54. A resolução dos problemas de transportes existentes na cidade, cuja tendência é para agravamento, e o equilíbrio económico desta empresa, requerem a aceleração do ritmo de construção das suas infra-estruturas. Considerando-se este investimento de alta prioridade, não se aguardará o termo dos estudos de rentabilidade económica, que vão iniciar-se com o III Plano, e prossegue-se desde já a fase imediata dos trabalhos. O programa considerado contempla a instalação da linha n.º 2, ou seja, a linha marginal entre Alcântara e Madre de Deus, numa extensão de cerca de 8 km, o que corresponde a completar a 1.ª fase. Com esta instalação, promover-se-á o estabelecimento de correspondências com eléctricos nos términos provisórios de Alcântara e da Madre de Deus, enquanto se não levarem a efeito os previstos prolongamentos da linha. A verba prevista para a conclusão da 1.ª fase da rede do metropolitano é a seguinte:

Construção e equipamento de 9,75 km de linha - 1 200 000 coutos.

Fontes de financiamento previstas: autarquias locais e recurso ao crédito interno e externo.

2) Companhia Carris de Ferro de Lisboa

55. Esta empresa realizará os seguintes investimentos.
Contos
Estudos .................. 500
Edifícios ................ 12 500
Infra-estruturas ......... 16 500
Equipamentos ............. 149 600
Diversos ................. 25 300
204 400

Fonte de financiamento: autofinanciamento privado.

3) Serviço de Transportes Colectivos do Porto (S. T. C. P.)

56. Os S. T. C. P. encontram-se na fase de conclusão de um plano de cinco anos, aprovado pelo Governo. No âmbito desse plano e na sua continuação, propõem-se aqueles serviços realizar os seguintes investimentos:

[Ver Tabela na Imagem]

Financiamento: Emissão de obrigações coberta pelas instituições da providencia- (63 000 contos), empréstimo do Fundo Especial do Transportes Terrestres (80 000 contos; o autofinanciamento (21 900 contos).

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4) Estações centrais de camionagem

57. Mantêm-se, agravadas pela evolução natural dos problemas de transportes, as razões expostas no Plano Intercalar de Fomento para o estabelecimento destes projectos.
Assim, de acordo com as prioridades estabelecidas em função dos tráfegos a servir, em que se salientam as das cidades de Lisboa e do Porto, preconiza-se o seguinte plano de investimentos:
Contos
Lisboa (Entrecampos, Alcântara, Areeiro e outras) .................................. 93 000
Porto (sul, leste e outras) .............. 68 000
Outros locais (Braga, Guimarães, Tomar, Viseu e outras) .......................... 80 000
Total ......... 241 000

Fonte de financiamento: Fundo Especial de Transportes Terrestres.

III) Transportes marítimos

a) Marinha mercante

58. Os investimentos que passam a enunciar-se têm por base os estudos preliminares das necessidades já efectuados, sem prejuízo do seu reajustamento, nos programas anuais, em lace dos estudos complementares a realizar. Por agora, apenas se inscrevem expressamente os investimentos destinados à renovação e modernização da frota; nos programas anuais de execução, ir-se-ão considerando as possibilidades de expandir a tonelagem total, por forma a atingir, em prazo razoável, o objectivo fixado quanto à percentagem de mercadorias a transportar pela frota nacional.

Passageiros:
Contos
Quatro navios para substituir os de 13 200 t. a. b. Pátria e Importo e os de 21 000 t. a. b. Vera Cruz e Santa Maria ............ 2 000 000
Dois navios para substituir os de 13 000 t. a. b. Angola e Moçambique ................... 1 000 000
Dois navios para substituir os navios de cerca de 7650 t. a. b. Índia e Timor ........ 340 000

Carga:

Cinco navios de 12 500 t. dw. para substituir os cargueiros de cerca de 9400 t. dw. Amboim, Benguela, Ganda, Luanda (9820 t. dw.) e Lugela (8200 t. dw.) ........................ 700 000
Dois navios para substituir os cargueiros S. Tomé e Sofala (10 000/12 000 t. dw.) ..... 200 000
Três navios de 2500/3000 t. dw. tipo Ponta Garça ....................................... 120 000
Quatro navios de 7000/9000 t. dw ............ 450 000
Quatro navios de 9000/10-000 t dw ........... 520 000
Três navios de 4500 t. dw. tipo Açores ...... 240 000
Três navios de 3000 t. dw ................... 150 000
Dois navios de 2000 t. dw ................... 80 000

Tanques:

Três navios de 70 000/100 000 t. dw ......... 600 000
Total: 37 navios ...... 6 400 000

Fontes de financiamento: Paru a aquisição destes navios prevê-se que os financiamentos se efectuem:
Contos
Pelo Fundo de Renovação da Marinha Mercante (emissão de obrigações, sendo metade a tomar por intermédio do Orçamento Geral do Estado e metade a colocar no mercado de capitais) .. 1 200 000
Por autofinanciamento privado ............... 2 050 000
Por recurso ao crédito da construção (interno e externo) ......................... 3 150 000
6 400 000

b) Portos

59. Os investimentos â realizar em portos que vão referir-se foram estimados com base no estudo preliminar dos transportes de longa distância e em planos nacionais específicos para cada porto.

1) Porto de Lisboa

60. É a seguinte a discriminação dos investimentos previstos:

Estudos e planeamento do porto

A verba para os estudos de fisiografia foi reforçada, a fim de facilitai: a rápida conclusão desses estudos. Também se melhorou a verba para o estudo do planeamento global do porto, a fira de que este se conclua, em moldes técnicos e económicos modernos, nos primeiros anos do período do Plano.

Conclusão de obras em zonas especializadas - porto de pesca

Além da conclusão dos trabalhos previstos no contrato com a empresa concessionária, dever-se-á iniciar o estudo e a solução do problema dos fundos e do abrigo da entrada da doca.

Melhoramentos diversos nas infra-estruturas e superstruturas

A localização, dimensionamento e tipo de obras ficam dependentes das conclusões do plano do porto.

Equipamento portuário

O equipamento constitui, sem dúvida, em conjunto com uma exploração dinâmica e empresarial racionalmente coordenada, um dos aspectos essenciais para o funcionamento eficaz do porto. Haverá que desenvolver as especializações dos cais, equipando-os, designadamente, para o melhor tratamento de mercadorias a granel. A verba a investir não corresponde a todo o equipamento a adquirir, sendo a parte restante realizada através de concessões de zonas do porto a empresas idóneas, segundo contratos devidamente elaborados.

Estudos e planeamento geral do porto:
Contos
Estudo da fisiografia do estuário do Tejo 15 000
Planeamento geral ....................... 30 000

Conclusão de obras especializadas:

Conclusão do porto de pesca ............. 25 000
Obras de melhoramentos de praias ........ 20 000

Melhoramentos diversos de infra-estruturas e de superstruturas:

Secção de Alcântara-Rocha ............... 40 000
Secção a montante de Santa Apolónia .... 150 000

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Contos
ecção do Terreiro do Paço-Santos ............ 120 000
Outras secções ............................... 70 000

bras novas de terminais portuários .......... 200 000
Equipamento portuário, flutuante e terrestre . 130 000
800 000

Fontes de financiamento: Fundo de Abastecimento (15 000 contos), crédito interno e/ou crédito externo (500 000 contos) e autofinanciamento (285 000 contos).

2) Portos do Douro e Leixões

61. Há, em primeiro lugar, que concluir trabalhos iniciados:

Apetrechamento do cais de 700 III em Leixões;
Construção e apetrechamento do cais de 300 III em Leixões;
nstalações para descarga da sardinha;
Dragagem da doca n.º 2.
Na medida do possível, porém, aguardar-se-á a conclusão do Plano dos Portos do Douro e Leixões, a que se seguirá imediatamente a respectiva execução. O mesmo acontecerá com os seguintes projectos:

Prolongamento do cais de Gaia;
Cais de 370 m no lado norte da doca n.º 2;
Primeiro lanço da doca n.º 4;
Ampliação do plano de querenagem;
Linhas férreas;
Compra de terrenos.

Propõem-se os seguintes investimentos:

Porto do Douro:
ontos
bras de infra-estruturas .......... 30 000
Porto de Leixões:
Estudos e diversos .................... 41 600
Instalações para pescado .............. 72 600
Aprofundamentos e dragagens ........... 13 400
Cais e apetrechamentos ................ 303 900
Linhas férreas ........................ 14 000
Edifícios e instalações para serviços . 20 000
Compra de terrenos .................... 56 000
Terminal de petróleos ................. 107 400
Plano de querenagem (ampliação) ....... 23 000
Renovação de material ................. 21 000
702 900

Fontes de financiamento: autofinanciamento (505 400 contos) e recurso ao crédito interno (197 500 contos).
3) Pequenos portos
62. Quanto aos pequenos portos do continente, houve, por um lado, a preocupação de concentrar investimentos, segundo a orientação definida, nos portos comerciais, tais como os de Aveiro, Setúbal e Portimão, assim como no sistema de portos de pesca, tornando-os operacionais. Reconhece-se, contudo, que os resultados dos estudos de conjunto já referidos poderão originar reajustamentos do programa agora esboçado, designadamente com vista ao estudo do sistema de portos das ilhas adjacentes. São as seguintes as obras já previstas:

Pequenos portos do continente:
Contos
veiro, Setúbal, Portimão, Viana do Castelo,
Figueira da Foz, Peniche, Vila Real de Santo
António e outros; turismo e protecção litoral .. 320 000

equenos portos das ilhas adjacentes:
Funchal, Ponta Delgada, Praia da Vitória,
ilha do Pico, Vila do Porto e outros; turismo
e protecção litoral ............................ 112 000

Estudos, ensaios e projectos ................... 36 000
Frota de dragagens ............................. 100 000
568 000

Fontes de financiamento previstas: Orçamento Geral do Estado (300 000 contos), autofinanciamento (110 500 contos) e recurso ao crédito interno (157 500 contos).
Poderão ainda ser autorizadas obras portuárias de reconhecido interesse a executar por iniciativa privada nas zonas prioritárias de turismo, designadamente no Algarve (por exemplo, em Quarteira), e destinadas à navegação de recreio; o respectivo financiamento deverá ser predominantemente assegurado peias entidades privadas promotoras dos empreendimentos.

IV) Transportes aéreos

63. Como acontece com todos os modos de transporte de longa distância, também aqui os estudos deverão fazer-se integrados no conjunto dos problemas postos por esses transportes. Haverá, no entanto, investimentos que devem e podem realizar-se desde já, com margem de segurança suficiente:

a) Aviação comercial

64. Os investimentos a efectuar pelos T. A. P. em material de voo, incluindo motores e peças de reserva, a partir da capacidade resultante das encomendas já passadas e da evolução prevista para o tráfego, são da seguinte ordem de grandeza:
Contos
1968 ............... 415 000
1969 ............... 405 000
1970 ............... 22 300
1971 ............... 409 000
1972 ............... 795 000
1973 ............... 420 000
2 466 300

Este programa entende-se como suficientemente maleável para permitir as adaptações aconselháveis em face de novos tipos de aviões que entrem em exploração comercial.
Fontes de financiamento previstas: autofinanciamento privado (493 300 contos), crédito externo (1 773 000 contos) e crédito interno (200 000 contos).

b) Aeroportos e apoio à navegação aérea

65. Apontam-se quatro acções fundamentais:
Em primeiro lugar, verificar-se-á a tendência para uma concentração de investimentos no aeroporto de Lisboa,

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(325)

para a qual contribuem a nova aerogare e os estudos técnico-económicos que é indispensável realizar com vista ao futuro desdobramento ou mudança de local deste aeroporto. Porque estes estudos podem indicar a conveniência de o aeroporto de turismo e o Centro Aeronáutico ficarem localizados, numa primeira fase, no aeroporto da Portela, estes dois investimentos deverão realizar-se apenas no 2.º triénio do Plano.
A criação de um centro de estudos e formação profissional deverá começar a ser estudada e executada na vigência deste Plano.
Deverão, além disso, ser devidamente equipados os centros regionais de telecomunicações, assim como todas as actividades de apoio à navegação aérea, a fim de garantir a segurança de navegação dos vários tipos de aviões.
A estrutura orgânica da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil deverá ser reforçada de forma a aumentar-se-lhe a capacidade de realização.

66. A verba global de 901. 200 contos tem a seguinte discriminação:

Investimentos em aeroportos e apoio à navegação aérea

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Inclui equipamentos e material para instrução e treino do pessoal o encargos com instrução a ministrar no estrangeiro.

Fonte de financiamento: Orçamento Geral do Estado (841 200 contos) e autofinanciamento do aeroporto de Lisboa (60 000 contos).

Duas indicações significativas cumpre sublinhar: cerca de 75 por cento dos investimentos serão em obras e o volume de investimentos no aeroporto de Lisboa (37 por cento) é muito mais elevado do que os investimentos nos outros aeroportos. No entanto, até ao fim do II Plano de Fomento o predomínio de investimentos no aeroporto de Lisboa foi ainda maior,, se bem que, em valor absoluto, da ordem dos 25 240 contos/ano - enquanto no III Plano passará a ser de 56 066 contos/ano. Estes investimentos são justificados pelo volume do tráfego e pela regularidade e grandeza do seu crescimento, facto que não se verifica em nenhum outro aeroporto.
Os elevados investimentos realizados e propostos para o aeroporto do Sal, cujo tráfego tem manifestado tendência decrescente, justificam-se pela grande importância que se lhe atribui nas rotas de África, no condicionalismo actual. Por motivos de ordem turística, foram criados dois aeroportos novos, Faro e Madeira, que importa agora completar do ponto de vista das edificações e equipamentos.
Os montantes inscritos para o desenvolvimento da infra-estrutura a criar no arquipélago dos Açores ascendem a 161 700 contos, a investir nos novos aeroportos de S. Miguel e da Horta. Com os investimentos previstos para Santa Maria (47 100 contos), a participação dos Açores no total cifra-se em 23 por cento. O problema da rede de aeroportos açorianos é típico da nova fase de planeamento que tem de enfrentar-se. Garantido o acesso dos grandes aviões de reacção a Santa Maria, importa agora determinar a solução mais vantajosa para o transporte entre ilhas, equacionando características do material de voo, dos tráfegos e dos aeroportos - estes, nalguns casos, limitados por factores naturais. Parece, em princípio, que não se justificará ter no arquipélago mais de um aeroporto capaz de satisfazer as exigências operacionais dos aviões de longo curso, embora se reconheça que a situação actual não é a melhor.

67. São ainda os investimentos em obras que requerem as maiores verbas neste Plano de Fomento, com predomínio para a construção de edifícios. Entre estes, avulta a nova aerogare do aeroporto de Lisboa, que, com as obras complementares que implica, absorverá cerca de 40 por cento do valor total das obras a realizar.
Importa salientar, a tal respeito, que, mesmo admitindo o desdobramento do aeroporto de Lisboa durante o IV Plano de Fomento, é indispensável e urgente a construção da nova aerogare, sob pena de as grandes companhias internacionais se desinteressarem de vir a Lisboa, onde aos seus passageiros se deparariam instalações e serviços absolutamente incapazes. Acresce que, se a construção for decidida e executada com a celeridade que se impõe, o tempo de exploração que se antevê garante a recuperação do investimento, pois a própria existência de uma aerogare adequada permitirá que continue a regular expansão de tráfego que se vem registando em Lisboa.
A construção de pistas, caminhos de circulação e plataformas de estacionamento surge ainda com expressão significativa na Horta, S. Miguel, «outros aeródromos» e aeroporto de turismo de Lisboa. Ao verificar-se que existe uma ordem cronológica que começa por expropriações, seguida da construção de pistas e de edifícios e, finalmente, da compra de equipamentos mais aperfeiçoados ou potentes, devem ter-se em atenção as implicações futuras de cada expropriação, cada nova pista ou cada novo edifício, traduzidas em novos investimentos. Tudo isto constitui ponderosas razões para que se elabore um plano a longo prazo, coerente e completo, baseado em critérios rigorosos, necessidade que se torna ainda mais aguda na fase de evolução em que se está entrando.

SECÇÃO II

Comunicações

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

I) Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (C. T. T. e A. P. T.)

68. O correio e as telecomunicações são serviços reconhecidamente indispensáveis às actividades económicas e administrativas, à defesa, à segurança das pessoas e das coisas e à vida social, bem como ao turismo. O seu desenvolvimento eficiente é basilar, designadamente no nosso país, na fase de valorização económica em que se encontra.

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1662-(326) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

69. Os quadros seguintes dão uma ideia geral da procura e dos investimentos no período de 1955-1964:

Tráfego

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Cartas, bilhetes-postais, impressos, amostras e jornais.
(b) Chamadas locais sem limite de duração e chamadas interurbanas por períodos de taxação de custo igual ao das chamadas locais.

Receitas

[Ver Tabela na Imagem]

Instalações

[Ver Tabela na Imagem]

Valor das instalações (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Valores de balanço aos preços de custo.

A evolução das instalações telefónicas e de telex, em relação à população, encontra-se expressa no quadro que segue.

[Ver Tabela na Imagem]

O número de telefones e postos telex por atender tem também vindo a avolumar-se:

[Ver Tabela na Imagem]

Apesar do elevado ritmo de desenvolvimento do serviço telefónico e telegráfico, verifica-se ainda atraso apreciável na satisfação das necessidades públicas, dado não ter sido possível adquirir e instalar todo o equipamento necessário.
Não obstante a instalação do cabo coaxial Lisboa-Porto em 1961, com considerável aumento de circuitos, e do acréscimo do seu rendimento devido à automatização interurbana, a procura aumentou em tal medida que a situação é de novo difícil.
A situação actual evidencia, de forma geral, inadaptação da oferta à procura. Como a oferta é insuficiente, a procura, apesar de muito elevada, não se manifesta em toda a extensão, sendo normalmente importante o volume das necessidades em potencial, que só se revelam totalmente quando é pouco demorada a sua satisfação.

70. A contribuição da indústria nacional no fornecimento do material correspondente à expansão registada no valor das instalações tem aumentado constantemente. Ultimamente, o recurso à importação foi apenas de 35 por cento nos C. T. T. e de 20 por cento na A. P. T.

71. Quanto à evolução do pessoal e sua produtividade, o quadro seguinte traduz o desenvolvimento observado no período de 1955-1964:

[Ver Tabela na Imagem]

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

72. A C. P. E. M. é concessionária do Estado para a exploração das telecomunicações com o estrangeiro, ultramar e ilhas adjacentes, utilizando meios radioeléc-

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tricos e cabos submarinos. Pelo Decreto-Lei n.º 47 038, de 2 de Junho de 1966, foi autorizada a prorrogação da concessão desta Companhia até 31 de Dezembro de 1991, alargando o seu âmbito, que até então abrangia sòmente ligações radioeléctricas.
A evolução das receitas de exploração no período de 1955-1964 foi a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Os índices com base em 1955 mostram que a receita nacional, excluindo o ultramar, ultrapassou em 1964 o dobro da do ano de 1955 e que a receita internacional e ultramarina duplicou no mesmo período.

73. No que respeita ao apetrechamento das instalações no período de 1955-1964, o volume dos investimentos realizados totaliza 61 520 contos, a que corresponde a média anual de 6152 contos.

§ 2.º Objectivos

I) Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (C. T. T. e T. L. P.) (1)

74. Para os postos telefónicos e telex, o desenvolvimento previsto para o período de 1968-1973, baseado no crescimento da população e da procura por habitante, é o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Tal desenvolvimento conduz às seguintes densidades de postos telefónicos e telex:

[Ver Tabela na Imagem]

Como se verifica, o crescimento projectado para os postos telefónicos conduz à densidade de 11,1 telefones por 100 habitantes em 1973, correspondente a um incremento anual da densidade telefónica de cerca de 8 por cento e a 60 por cento no conjura to dos seis anos deste III Plano.

75. O desenvolvimento das telecomunicações, representado pelo aumento de postos telefónicos e telex, implica:

a) A ampliação de centrais telefónicas e telex automáticas, a automatização de centrais telefónicas manuais, a ampliação de redes telefónicas locais e redes regionais;
b) O progresso da automatização do serviço telefónico local, aumentando sucessivamente o número de telefones com serviço permanente;
c) A ampliação da rede telefónica interurbana, no sentido de atingir o índice de escoamento de 1 km de circuito por posto, e a substituição por cabos de mais alguns traçados telefónicos interurbanos em fios nus, para melhorar a qualidade e a segurança do serviço;
d) O prosseguimento da automatização do serviço telefónico interurbano, aproveitando as facilidades que a evolução da técnica já oferece, com a dupla vantagem de se conseguirem soluções económicas e cómodas para os utentes, e o início dessa automatização ao serviço internacional.

76. Para o correio, prevê-se alargar o serviço por forma a cobrir todo o País. O desenvolvimento do correio exige pequenos investimentos, mas, em contrapartida, impõe grande aumento das despesas de exploração, devido à elevada utilização de mão-de-obra em muitas operações manuais insubstituíveis por mecanização.

77. Os efectivos de pessoal cujo volume se prevê indispensável no período de 1968-1973 são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

78. Tendo em conta a recente prorrogação da concessão outorgada a esta Companhia, o alargamento do âmbito dessa concessão a outros meios de comunicação - não só meios radioeléctricos, mas também cabos submarinos - e o facto de se encontrarem numa fase inicial os estudos de várias hipóteses quanto ao estabelecimento de novas ligações através desses meios, não se torna possível uma previsão segura relativamente ao período de 1968-1973; nos programas anuais de execução deste III Plano ir-se-ão referindo os resultados concretos desses estudos em matéria de investimentos e projectos.

1 Dado que a concessão da A. P. T. termina em 31 de Dezembro de 1987 e o Estado adquire o seu estabelecimento, conforme o Decreto-Lei n.º 46 083, de 24 de Novembro de 1964, indica-se a organização que sucederá à A. P. T., a partiu de 1 de Janeiro de 1968, por T. L. P. - Telefones de Lisboa e Porto.

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79. As necessidades de pessoal durante o período de vigência do Plano traduzem-se no recrutamento de 100 unidades, conforme o quadro seguinte:

Qualificação:
Número de unidades
Pessoal técnico superior ........... 5
Pessoal técnico médio .............. 30
Pessoal de exploração .............. 20
Pessoal de escritório .............. 20
Pessoal auxiliar ................... 25
100

§ 3.º Medidas de política

0. Serão postas em prática as seguintes providências, tendentes a fomentar o desenvolvimento do sistema de comunicações:
1) Criação de um organismo coordenador da política nacional de correios e telecomunicações;
2) Reestruturação da Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones, fundamentalmente melhorando as condições de admissão e fixação do pessoal, sobretudo dirigente, requisito indispensável para assegurar o serviço corrente e para que se executem os programas de expansão planeados;
3) Elevação das possibilidades de autofinanciamento, a fim de evitar que os vultosos investimentos exigidos pelas instalações de telecomunicações, satisfeitos com chamadas de capital, possam pesar excessivamente sobre o mercado financeiro.

§ 4.º Investimentos

I) Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (C. T. T. e T. L. P.)

81. A completa satisfação da procura dos serviços de correio e telecomunicações implica, no período de 1968-1973, a necessidade de investir 2 960 000 contos nos C. T. T.; quanto aos T. L. P., a integral satisfação da procura dos serviços telefónicos nos grupos de redes de Lisboa e do Porto, no mesmo período, exige o investimento de 2 020 000 contos.
Os investimentos totais- previstos para o período de vigência deste III Plano, no continente e ilhas adjacentes, são os seguintes:

a) C. T. T.:
Contos
Grupos de redes telefónicas automatizadas
a ampliar .............................................. 777 000
Grupos de redes telefónicas manuais a automatizar ...... 823 000
Grupos de redes telefónicas manuais a ampliar .......... 36 000
Cabos interurbanos ..................................... 388 000
Estações telefónicas interurbanas automáticas .......... 88 000
Telegrafia ............................................. 218 000
Edificações ............................................ 466 000
Material diverso ....................................... 164 000
2 960 000

B) T. L. P.:

Grupos de redes de Lisboa e do Porto ................. 2 020 000
4 980 000

Quanto aos C. T. T., prevê-se o seguinte esquema de financiamento:
Contos
Autofinanciamento ....................... 2 060 000
Empréstimo externo ...................... 200 000
Emissão de obrigações no mercado interno 700 000

Em relação aos T. L. P., está previsto o recurso a autofinanciamento e ao Fundo de Aquisição da A. P. T., de harmonia com o Decreto-Lei n.º 46 033, de 24 de Novembro de 1964.

II) Companhia Portuguesa Rádio Marconi

82. Já se referiram as razões por que não é possível a definição de um programa individualizado de investimentos.
Julga-se, no entanto, que o montante global do investimento se situe entre 180 000 a 200 000 contos, incluindo as importâncias relativas à execução dos planos normais de modernização e ampliação das instalações actuais, bem como ao investimento incorpóreo necessário por virtude da prorrogação da concessão.
Prevê-se que o montante deste investimento venha a ser inteiramente coberto por autofinanciamento.

SECÇÃO III

Meteorologia

§ único. Serviço Meteorológico Nacional

83. O Serviço Meteorológico Nacional, instituído pelo Decreto-Lei n.º 35 836, de 29 de Agosto de 1946, assegura em plano nacional a satisfação das necessidades e obrigações do Estado nos domínios da meteorologia e da geofísica; as pesquisas e os estudos que realiza e as informações que fornece são indispensáveis à produção e circulação da riqueza, à salvaguarda da vida humana em terra, no mar e no ar e ainda à eficácia e ao progresso das actividades de interesse económico (aproveitamento de recursos naturais, agricultura, pecuária, pesca, indústria, transportes e turismo).
Para que o S. M. N. se comporte com o grau de eficiência indispensável, para o que se torna imprescindível o apetrechamento do serviço com o material técnico e científico adequado, será necessário investir, no período de 1968-1973, a importância de 25 000 contos na metrópole.
Os investimentos previstos no equipamento para a meteorologia, para o período de vigência do Plano, na parte respeitante à metrópole, repartem-se, ao longo do respectivo hexénio, pela forma seguinte:

Serviço Meteorológico Nacional - Investimentos em meteorologia (continente e ilhas):
Contos
1968 ................... 8 000
1969 ................... 7 700
1970 ................... 4 700
1971 ................... 2 000
1972 ................... 1 400
1973 ................... 1 200
25 000

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Nos orçamentos ordinários anuais deverão ser previstas as verbas necessárias para o reapetrechamento destinado à geofísica.

Fonte de financiamento: Orçamento Geral do Estado.

CAPITULO IX

Turismo

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. A partir de 1961, a exportação de serviços de turismo tem vindo a assumir relevo rapidamente crescente na economia metropolitana, traduzido expressivamente pela posição da rubrica no crédito da balança de transacções correntes: de menos de 8 por cento das exportações naquele ano até cerca de 25 por cento em 1966. Os respectivos valores absolutos passaram de 890 000 contos para 7 476 000 contos, a preços correntes, o que corresponde, em preços constantes, à elevadíssima taxa média de acréscimo anual de 48 por cento.

2. Recorrendo, como indicador, ao número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros, confirma-se o progresso muito considerável e especialmente acelerado, também nos últimos seis anos, no que respeita aos turistas estrangeiros.
O quadro seguinte permite observar esse crescimento e identificar as principais nacionalidades representadas no conjunto das dormidas de estrangeiros em hotéis e pensões, no continente e ilhas adjacentes:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Valores provisórios.

Vê-se a importância dos resultados da promoção turística nos cinco países discriminados, que representam, conjuntamente, cerca de três quartos do total. Só à sua parte, o turismo inglês absorveu cerca de 25 por cento das dormidas totais, na sequência de comportamento recente muito dinâmico, também verificado, aliás, nos casos norte-americano e alemão. Em contrapartida, importa ter presente a inconveniência de exagerada concentração do número de visitantes em poucas nacionalidades; com efeito, a crescente concorrência internacional no agenciamento de correntes turísticas e a volubilidade de alguns factores determinantes desse fenómeno encerram perigos que não seria avisado menosprezar, descurando o adequado financiamento de uma indispensável promoção.

3. Não é ainda possível medir de forma inteiramente satisfatória a evolução do turismo interno durante os últimos anos. Os dados estatísticos disponíveis para 1964, 1965 e 1966 revelam, entretanto, que o número de dormidas de residentes no continente e ilhas adjacentes, em hotéis e pensões, desceu 0,2 por cento (de 3550 para 3545 milhares) entre 1964 e 1965 e aumentou 0,6 por cento (de 3545 para 3565) entre 1965 e 1966.
Trata-se, porém, de indicação muito incompleta, porquanto se sabe que boa parte dos turistas nacionais utiliza meios complementares de alojamento (casas particulares, parques de campismo, colónias de férias, etc.), ainda não inteiramente cobertos pela informação estatística.

4. Se distribuirmos pelas diversas regiões o número de dormidas na hotelaria registado em 1966, verifica-se que, para os turistas estrangeiros, 54 por cento se verificaram na região de Lisboa (36 por cento na cidade), 4 por cento no Porto, 13 por cento no Algarve, 7 por cento nas praias da costa ocidental, 10 por cento na Madeira e 12 por cento nas restantes regiões. O sentido da evolução recente corresponde à perda de importância relativa da cidade de Lisboa, parcialmente compensada pela subida dos seus arredores; o Algarve tem progredido rapidamente (representava apenas 3 por cento em 1961). As outras regiões mantiveram, sensivelmente, a sua participação no total.
Quanto aos nacionais que utilizam estabelecimentos hoteleiros, nota-se procura muito disseminada fora dos grandes centros (46,1 por cento em 1966) e, por outro lado, forte afluxo à capital (29,2 por cento) e ao Porto (8,6 por cento). Salientam-se ainda o Algarve, as praias do litoral ocidental e a Madeira, com 5,2 por cento, 3,8 por cento e 1,4 por cento, respectivamente.

5. Embora as flutuações estacionais do movimento de turistas estrangeiros não se tenham agravado em anos recentes, elas constituem ainda factor desfavorável para a exploração das indústrias turísticas, o que, sem querer minimizar o problema, pode dizer-se constituir característica universal, como adiante se verá. Continua, com efeito, a verificar-se, em relação ao continente, grande concentração das dormidas nos meses de Agosto e, em menor grau, nos meses de Julho e Setembro, registando-se em 1966, nos meses citados, respectivamente 18 por cento, 15,5 por cento e 13,2 por cento, em relação ao total anual das dormidas. Quanto às ilhas adjacentes, observa-se um desequilíbrio estacionai muito menos acentuado do que no continente, com a época de ponta situada, na Madeira, durante os meses de Inverno (Janeiro a Março).
Salienta-se, no entanto, a especial incidência das flutuações estacionais nas regiões interiores do continente e nas praias situadas fora do Algarve e dos arredores de Lisboa.
As variações estacionais das dormidas de nacionais na hotelaria são também relativamente importantes e com andamento paralelo às referidas para os estrangeiros, embora menos pronunciadas.
É evidente que este fenómeno da desigualdade de utilização da capacidade de alojamento ao longo do ano não é específico do nosso país; em escala maior ou menor, verifica-se em quase todos os centros de interesse turístico. O seu estudo e a aplicação das medidas julgadas necessárias são, porém, condição essencial para se obter uma exploração económica da rede hoteleira existente ou a instalar, e da eficácia das acções empreendidas dependerá, em grande parte, o valor dos frutos a obter da política de turismo.

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6. Relativamente à distribuição das dormidas de estrangeiros por classes de estabelecimentos hoteleiros, verifica-se que as proporções de dormidas em hotéis e pensões de 2.ª e 3.ª classes têm vindo a decrescer continuamente; em contrapartida, tem subido do forma muito substancial a percentagem de dormidas em pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe; a taxa de dormidas em hotéis de luxo e de 1.ª classe tem-se mantido, grosso modo, estacionária, dos anos recentes. Em 1966, a distribuição foi a seguinte: hotéis de luxo e de 1.ª classe, 54 por cento; hotéis de 2.ª classe, 16 por cento; hotéis de 3.ª classe, 3 por cento; pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe, 21 por cento; pensões de 2.ª e 3.ª classes, 6 por cento.
As dormidas de nacionais tendem, a concentrar-se, muito mais do que as de estrangeiros, em estabelecimentos hoteleiros de baixo preço; com efeito, a repartição foi, em 1966, a seguinte: hotéis do luxo e de 1.ª classe, 9,7 por cento; hotéis de 2.ª classe, 6,8 por cento; hotéis de 3.ª classe, 8,5 por cento; pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe, 24,9 por cento; pensões de 2.ª e 3.ª classes, 50,1 por cento.

7. A capacidade hoteleira aumentou, no período de 1964-1966, a ritmo substancialmente mais rápido do que anteriormente, e o aumento médio anual do número de camas verificou-se sobretudo em hotéis de luxo e de 1.ª classe (10,3 por conto) e em pousadas, estalagens, pensões de luxo e de 1.ª classe (4,4 por cento); a capacidade dos hotéis de 2.ª classe progrediu (5,2 por cento) e a das pensões de 2.ª classe diminuiu (-3 por cento).
Os aumentos da capacidade hoteleira no citado período fizeram-se sentir especialmente na região do Algarve e no distrito de Lisboa, regiões nas quais se concentrou praticamente todo o acréscimo das categorias superiores de estabelecimentos hoteleiros, sendo de admitir, em face dos projectos em curso, que durante os anos mais próximos se continue a verificar o mesmo facto.
Em 1966 registou-se a existência de cerca de 13 439 camas em hotéis de luxo e de 1.ª classe, 12 546 nas restantes categorias de hotéis, 13 026 em pousadas, estalagens e pensões de luxo e de 1.ª classe e 22 028 nas restantes pensões.
Apesar do crescimento recente da procura ter sido mais rápido do que o da capacidade, foram ainda baixas as ocupações médias verificadas em 1966: 30 por cento na metrópole, com um máximo de 53 por cento em Lisboa (cidade) e um mínimo de 21 por cento nas outras regiões não diferenciadas. Para este facto contribuiu em forte medida a desigualdade estacionai da procura a que já se fez referência, mas deve também salientar-se que a capacidade hoteleira é ainda constituída, em mais de metade do total, por estabelecimentos situados fora das regiões turísticas e centros urbanos mais procurados, os quais nem nas épocas de ponta atingem índices de ocupação muito elevados; torna-se, pois, necessário, ao confrontar procuras com capacidades, proceder, no futuro, à análise regional que permita fundamentar essa comparação e evitar os erros grosseiros a que os números globais poderiam conduzir.

8. A evolução recente das indústrias turísticas portuguesas traduz, indubitavelmente, o alargamento ao País "dos movimentos internacionais de turistas, cuja expansão acelerada é uma das manifestações mais características da progressiva capacidade das populações para a procura de serviços de carácter cultural, propiciadores de repouso intelectual e físico, ou simplesmente recreativos. Nos primeiros anos de arranque, o esforço concentrou-se na fixação e estímulo das correntes turísticas que nos procuravam, bem como na sua selecção, sendo certo que, inicialmente, esta operou de forma natural, em virtude de a situação geográfica do País encarecer relativamente as deslocações de turistas europeus. Outro factor que tende a garantir a estabilidade potencial dos acréscimos da procura é a relativa saturação do interesse por outras regiões, designadamente centro-europeias, de há longa data frequentadas pelo turismo internacional; isso tenderá a desviar para a periferia da Europa as preferências dos turistas de países com mais elevados rendimentos per capita, fenómeno que já se observa em escala apreciável e de que o País pode beneficiar, como está acontecendo no Médio Oriente, Europa de Leste e Norte de África. Afigura-se, pois, permanecerem as razões que no Plano Intercalar de Fomento levaram a considerar o turismo como actividade motora do desenvolvimento económico nacional e a dedicar-lhe a atenção correspondente.

§ 2.º Objectivos

9. Durante o período deste III Plano continuará o turismo a desempenhar papel de sector estratégico do crescimento económico, sob o duplo aspecto da exportação de serviços geradora de importantes afluxos de divisas estrangeiras e de catalisador de múltiplos efeitos induzidos noutras actividades, às quais proporcionará mercados importantes.
Permanece, pois, como objectivo fundamental, o tentar obter o máximo de vantagens da exploração de recursos naturais cuja valorização beneficia da preferência internacional, mas haverá que procurar racionalizar cada vez mais essa exploração e o esforço, designadamente financeiro, que se lhe dedique. Com efeito, se é certo que a metrópole oferece actualmente condições muito favoráveis à rentabilidade dos investimentos turísticos, é de esperar que a iniciativa privada, interna ou externa, continue, de modo crescente, a manifestar-se neste tipo de empreendimentos. O Estado, que tem vindo a encorajar por todos os meios o esforço de intensificação das actividades turísticas, em escala adequada à procura rapidamente crescente, poderá assim, progressivamente, remeter-se às funções que naturalmente lhe competem, designadamente a promoção e propaganda sistemáticas, o asseguramento de infra-estruturas básicas (de transporte, urbanísticas, etc.) nas regiões e sub-regiões prioritárias, a orientação e informação técnicas e, evidentemente, a fiscalização atenta do bom uso dos recursos e da exploração criteriosa deste tipo de actividades.

10. Será, por conseguinte, à iniciativa privada que virá a caber o mais importante esforço de investimento em actividades hoteleiras e similares; a própria natureza .exportadora das indústrias turísticas permite encarar francamente a possibilidade de boa parte do respectivo financiamento ser de origem externa, já que os rendimentos em divisas que a exploração das instalações origina compensarão largamente os encargos correspondentes.

11. O apoio financeiro do Estado às indústrias hoteleiras e similares continuará a exercer-se através do Fundo de Turismo; a importância desse apoio em valores absolutos deverá crescer, dada a rápida expansão que se espera continue a verificar-se; a posição relativa destes

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financiamentos deverá, no entanto, ir diminuindo e tornar-se-ão certamente mais exigentes as condições para o acesso na actual conjuntura a capitais em condições tão vantajosas como as que o Fundo toai proporcionado até agora. Dentre essas condições, assumirão particular relevo as incidências sobre outras actividades produtivas nacionais - agrícolas, pecuárias, industriais, de transportes e outras - que a realização dos empreendimentos a apoiar porventura acarrete.
Paralelamente, porém, continuará a atribuir-se grande importância à concessão das- facilidades e isenções decorrentes do instituto da utilidade turística, a fim de manter o estímulo das entidades oficiais aos empreendimentos de valor turístico verdadeiramente nacional.

12. Os objectivos programados em matéria de turismo para o período de 1968-1973 assentam essencialmente nas previsões do afluxo de turistas estrangeiros à metrópole, pois é o mercado estrangeiro que comanda a expansão da capacidade, hoteleira e das actividades turísticas complementares. O papel do sector público ao planear a expansão deste sector consiste essencialmente em delinear as perspectivas possíveis do aumento da procura e esclarecer em que medida irá intervir para o seu estímulo e para o apoio das iniciativas que a referida procura suscite; à actividade privada será assim possível, por seu turno programar os empreendimentos com um conhecimento mais seguro das condições que irá defrontar.
Reconhece-se, no entanto, a incerteza de previsões deste tipo, dada a já referida volubilidade dos fluxos turísticos internacionais e a sua estreita dependência de variáveis económicas e sociais, para não referir as de carácter puramente subjectivo, alheias ao próprio sector das actividades e políticas turísticas. O esforço de promoção e de publicidade que irá intensificar-se visa também reduzir essa margem de incerteza, mas tem de contar-se, em. qualquer caso, com a capacidade de resposta do sector privado para a realização dos vultosos investimentos requeridos pela previsão que o referido esforço de promoção fundamenta.

13. Adoptou-se, como variável definidora da evolução prevista e que com andará o investimento a realizar, o número do dormidas ma- hotelaria em território metropolitano. Para os turistas estrangeiros, prevê-se que a taxa anual de acréscimo respeitante ao número de dormidas se aproxime dos 20 por cento, o que se afigura viável, atendendo aos 17,9 por cento realmente verificados no período de 1061-1966. Admitiu-se ainda que as proporções das dormidas de turistas de cada nacionalidade nas várias categorias de estabelecimentos hoteleiros permanecerão estáveis ao nível médio registado em anos recentes, estabilidade que, de resto, já tem vindo a verificar-se.
A previsão resultante para as dormidas de estrangeiros e nacionais e sua repartição por categorias de estabelecimentos hoteleiros é a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

14. A estimativa das receitas que poderão ser proporcionadas pela exportação de serviços de turismo carece de base estatística suficientemente rigorosa; com efeito, os processos geralmente seguidos para a recolha não permitem dispor de dados que definam tendências nítidas quanto à evolução das receitas médias por turista e por dia. Para situar ordens de grandeza, no entanto, adoptou-se o valor resultante para 1965 da divisão das receitas globais registadas (4,7 milhões de contos) pelo número de dormidas de estrangeiros na hotelaria (2,7 milhões), o que conduz aproximadamente a 1,7 contos.
Receitas provenientes da exportação de serviços de turismo:
Milhares de contos
1968 .................... 7,5
1969 .................... 8,9
1970 .................... 10,5
1971 .................... 12,5
1972 .................... 14,9
1973 .................... 17,8

15. A previsão da capacidade hoteleira necessária, expressa em número de quartos, foi obtida a partir das previsões de dormidas indicadas anteriormente, tendo-se admitido que 10 por conto dos quartos serão de pessoa só o que a taxa de ocupação por classes de estabelecimentos em Agosto será a seguinte: hotéis de luxo e de 1.ª classe, 85 por cento; hotéis de 2.ª classe, 95 por cento; outras categorias, 100 por cento.
Estas hipóteses são justificadas pelo facto de em princípio, parecer menos inconveniente encaminhar para meios complementares de alojamento, se necessário, os clientes que procuram os hotéis de menor categoria ou as pensões. Em contrapartida, considera-se necessário manter nos hotéis de luxo e de 1.ª classe uma margem de capacidade disponível, mesmo nos meses de ponta, que permita não ter que deslocar uma parte dos respectivos clientes para alojamentos de conforto inferior.
É-se conduzido aos resultados seguintes.

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[Ver Tabela na Imagem]

16. A estimativa das necessidades de mão-de-obra teve por base a previsão da capacidade hoteleira, os resultados de um inquérito efectuado pela Corporação dos Transportes e Turismo e ainda elementos apurados- pelo Sindicato dos Profissionais da Indústria Hoteleira e Similares do Distrito de Lisboa. Admitiu-se que a relação entre o número de empregados e o número de quartos necessários se manterá, em cada uma das categorias de estabelecimentos hoteleiros, ao nível evidenciado pelo inquérito a que acaba de se fazer referência.

Total de pessoal por classes de hotéis

Milhares

[Ver Tabela na Imagem]

Foi possível, no decurso dos trabalhos preparatórios do Plano, estimar a repartição destes números pelas diversas categorias profissionais; é, porém, para os postos mais qualificados que os empresários da indústria hoteleira encontram maiores dificuldades no recrutamento do pessoal, dado que o equipamento hoteleiro cresce mais rapidamente do que a oferta de profissionais nesta indústria, não só pelas dificuldades actualmente observadas neste domínio em todas as actividades económicas, como também pela falta de estabilidade no emprego em relação a certas épocas do ano. Para obviar a possíveis .estrangulamentos na expansão do turismo em Portugal, torna-se, pois, indispensável prosseguir e acelerar os esforços da formação profissional em curso, assegurando simultaneamente condições estáveis e atraentes ao exercício das profissões hoteleiras e turísticas em geral.

17. Prevê-se que em 1968 estejam a funcionar as seguintes escolas hoteleiras:
Alunos por ano
Escola de Alexandre de Almeida .... 250
Escola do Algarve ................. 120
Escola do Funchal ................. 100
Escola do Porto ................... 100
570

Este número é manifestamente insuficiente, apesar de a indústria hoteleira contar com o afluxo de largo contingente anual que ingressa directamente na profissão e faz auto-aprendizagem nos estabelecimentos onde trabalha. O número de indivíduos legalmente admitidos apenas na área do Sindicato dos Profissionais da Indústria Hoteleira do Distrito de Lisboa atinge anualmente mais de 3000 inscrições e no continente esse número deverá subir a cerca de 4000 por ano. Estima-se, no entanto, que sòmente 30 por cento desse total se conservam na profissão, enquanto os restantes 70 por cento se deslocam para outras actividades. Revestem-se da maior importância as acções tendentes ao. aperfeiçoamento e consequente fixação destes profissionais, o que se espera conseguir designadamente através da realização de cursos móveis e exames periódicos, que proporcionarão ensino paralelo ao ministrado pelas escolas hoteleiras.

§ 3.º Medidas de política turística

18. Já se deixaram apontadas as razões que levam a julgar pertinente defender a qualidade do turismo internacional que nos procura. Crê-se ser ainda possível percorrer longo caminho sem abandonar esta orientação, mas impõe-se, para tal, que ao predomínio de instalações hoteleiras de elevada categoria corresponda um serviço de qualidade e eficiência equivalentes. O estímulo do verdadeiro profissionalismo, em todos os níveis da exploração da indústria hoteleira, é, assim, uma das funções de maior alcance que aos serviços oficiais cabe desempenhar, mediante acções e providências de política turística que vão da formação e aperfeiçoamento profissionais à fiscalização propriamente dita.

19. Continuarão a considerar-se como regiões prioritárias aquelas onde é possível fazer turismo durante todo o ano ou em que a estação alta se estende por largo período: o Algarve, a Madeira e a região de Lisboa. Durante o período abrangido pelo Plano proceder-se-á, no entanto, ao estudo do fomento turístico de outras regiões. Ter-se-á em atenção que interessa promover o aproveitamento turístico de todo o resto do território, procedendo para tal os serviços de turismo à fixação de itinerários de circuitos por onde se poderá desenvolver o turismo de passagem, a partir não só das regiões prioritárias, como dos diversos pontos da fronteira, e indicando nos referidos circuitos os pontos de apoio para a instalação preferencial de estabelecimentos hoteleiros e similares. Não deixará também de ser tomada em conta a evolução do movimento turístico nas províncias ultramarinas, cujas potencialidades são pràticamente

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inesgotáveis: a natureza do clima, a beleza da paisagem, a originalidade dos costumes, as enormes possibilidades desportivas, nomeadamente no que respeita à caça e à pesca, tudo se conjuga para que, no período do Plano, o turismo registe no ultramar expansão verdadeiramente importante. Acresce que, na sequência do Congresso Nacional de Turismo, realizado em Outubro de 1966, em Lourenço Marques, o Comissariado do Turismo e a Agência-Geral do Ultramar têm procurado estreitar o seu intercâmbio com vista à elaboração de um programa de acção conjunta.

20. Nas medidas de política turística que se sugerem teve-se em vista tudo aquilo que, havendo sido incluído no Plano Intercalar de Fomento, não foi possível concretizar até final do respectivo período de vigência, e, além disso, tomaram-se em consideração as novas exigências em face da evolução registada na actividade turística e da experiência do trabalho já realizado.

21. Crédito turístico. - Neste domínio, além do reforço das disponibilidades financeiras do Fundo de Turismo, encara-se a adopção das seguintes medidas:
a) Prosseguimento dos trabalhos destinados ao aperfeiçoamento das normas de concessão de crédito, tendo em vista o que se previu no Plano Intercalar quanto à revisão da Lei n.º 2073, de 23 de Dezembro de 1954;
b) Aceleração dos trabalhos em curso no Fundo de Turismo no que se refere, designadamente, à obtenção de um contrôle efectivo da administração dos fundos mutuados.

22. Regulamentação e incentivos no sector das actividades turísticas:
a) Na sequência de estudos em curso, proceder-se-á à, regulamentação das actividades de guias e intérpretes e das agências de viagens; será também ultimada a elaboração da carta hoteleira portuguesa e dos regulamentos para as várias formas de alojamento complementar;
b) Tendo em vista as dificuldades que se levantam quanto aos elevados preços dos terrenos, prevê-se a fixação de normas de utilização de parcelas do domínio do Estado e, bem assim, a publicação de legislação que estabeleça efectivos obstáculos à especulação sobre terrenos. O problema é especificamente tratado no capítulo «Habitação»;
c) Algumas formas de alojamento complementar deverão beneficiar de incentivos especiais, sempre que a sua instalação se imponha, quer como componente do equipamento de centros turísticos (tendo em vista a proporção desejada entre as várias formas de alojamento, e atendendo ao nível que se pretende conferir a determinados centros), quer como únicas formas de alojamento econòmicamente viáveis em zonas com aptidões naturais mas com estações turísticas curtas;
d) No tocante a facilidades fiscais para o fornecimento de equipamento à indústria hoteleira e similares, traduzidas na concessão de isenções e reduções tributárias, proceder-se-á à revisão da regulamentação do instituto da «utilidade turística» e, paralelamente, dos benefícios fiscais a conceder.

23. Política de transportes aéreos. - Os princípios orientadores da política aérea nacional durante o Plano, incluídos no capítulo «Transportes e comunicações», indicam que virá a ser possível contar com a contribuição dos voos fretados (em regime de «tudo incluído»), de especial importância na correcção das flutuações estacionais.

24. Publicidade. - A publicidade, no que respeita ao turismo, tem papel de excepcional relevo como meio de criação e manutenção de mercados, devendo, na sua aplicação ao sector, ter-se em conta os seguintes objectivos e critérios:
a) Conseguir melhor distribuição estacionai, a fim de evitar a excessiva saturação da oferta nas épocas de ponta e obter uma taxa de ocupação média anual na hotelaria cada vez mais elevada;
b) Proceder ao estudo dos mercados em ordem a conhecer os que devem ser trabalhados prioritariamente, os meios publicitários a adoptar para cada um e as motivações a evidenciar, completando-o com o estudo da penetração da propaganda por forma a tirar desta o maior efeito útil;
c) Promover a expansão do turismo interno, tendo em vista não só evitar a saída, em ritmo crescente, de turistas portugueses para o estrangeiro, mas também fomentar maiores níveis médios anuais de utilização do equipamento;
d) Fixar as verbas a atribuir à, publicidade turística e relações públicas em função das receitas turísticas; considerando a provável evolução das receitas do turismo externo, as verbas que se previram para a promoção turística ao longo do período de vigência do Plano atingem valores que frisam bem a intensidade do esforço a despender neste domínio.

25. Formação profissional. - Com a criação do Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira, pelo Decreto-Lei n.º 46 354, de 26 de Maio de 1965, procurou-se alargar, intensificar e aperfeiçoar a preparação dos. profissionais do turismo e das actividades com ele mais directamente relacionadas. Haverá que prosseguir na tarefa de ampliação do número de escolas, na concessão de bolsas de estudo e na organização de cursos de aperfeiçoamento a todos os escalões, sendo de salientar a organização de cursos para pessoal dirigente, principalmente na hotelaria, pois só assim será possível incutir em muitos empresários a mentalidade indispensável para uma colaboração efectiva na resolução dos problemas existentes.

26. Política de núcleos turísticos. - De modo genérico, a meta a atingir traduzir-se-á no equilíbrio entre as necessidades da concentração e os inconvenientes da aglomeração excessiva. A salvaguarda dos valores naturais .e humanos constituirá também preocupação permanente.
Deverá ser elaborado um conjunto de normas essencialmente destinadas a orientar a ordenação urbanística das zonas e centros de desenvolvimento turístico intensivo. Serão adoptadas medidas de promoção de carácter selectivo, para tentar o encaminhamento da iniciativa privada, embora de forma não compulsiva, e que irão desde o simples factor psicológico que representa a publicação de um programa oficial e a inscrição de investimentos prioritários que se pretende ver concretizados até incentivos mais concretos.

27. Abastecimento de produtos alimentares nas zonas turísticas. - A forte estacionalidade que caracteriza a actividade turística, a par do fraco volume de procura por parte dos residentes em algumas regiões, o que acen-

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tua o desequilíbrio entre a baixa e a alta estação, dificulta o estabelecimento de circuitos de distribuição, pela fraca rentabilidade que ao longo do ano estes teriam.
Em tais casos, afigura-se de especial interesse ensaiar a adopção de medidas conducentes ao estabelecimento de associações, quer de hoteleiros, quer de produtores, que facilitem a celebração de contratos.
A organização da procura permitirá maior e mais estável volume de compras e este criará Incentivos à própria produção, que assim verá minorados os riscos que advêm da incerteza quanto à colocação dos seus produtos.
A par destas iniciativas e em coordenação com. outros sectores de actividade, estudar-se-ão medidas de fomento da produção e estabelecimento de circuitos de comercialização adequados.

28. Reorganização dos serviços responsáveis pela concepção e execução da política de turismo. - Proceder-se-á ao estudo da reorganização dos órgãos locais de turismo,, com vista, por um lado, a mais atonta consideração dos problemas de ordem regional nas soluções nacionais, e, por outro, à integração das soluções de âmbito regional nas directrizes definidas para todo o território.

29. Preços. - Deverá prosseguir-se adequada e vigilante política de preços, dado que estes constituem um dos motivos fundamentais da atracção turística. As necessidades de actuação implicam a prática de um regime de preços maleável por parte dos próprios empresários, antecedido do necessário esclarecimento da actividade privada.

30. Facilidades administrativas. - Deverão ser ampliadas na medida do possível, sobretudo no que respeita ao aligeiramento de formalidades, as facilidades que neste domínio têm vindo a ser concedidas.

31. Termas. -Dado que boa parte da- capacidade hoteleira da metrópole se localiza em. estâncias termais, serão estudadas providências conducentes à renovação desse equipamento, já que os estudos realizados nesta matéria deixam antever maiores possibilidades de aproveitamento dos recursos termais.

32. Recolha de dados estatísticos. - Em face do desenvolvimento verificado no sector do turismo e das suas repercussões na economia nacional, deverão prosseguir os esforços para a obtenção de dados de natureza estatística. cada- vez mais completos, a fim de permitir programar e executar com segurança a política nacional de turismo.

§ 4.º Investimentos

I) Investimentos na indústria hoteleira e similares

33. Para estabelecer as estimativas de investimentos na indústria hoteleira, tomou-se por base a- previsão do número de quartos correspondente à capacidade de alojamento necessária no período de vigência do Plano, a capacidade prevista para o fim de 1967 e os valores de custo de instalação das várias classes de estabelecimentos. Tais elementos foram conjugados com factores de ordem conjuntural e de viabilidade material de realização, traduzidos nos seguintes pressupostos:
a) Será de dois anos o período médio para construção e apetrechamento de uma unidade hoteleira;
b) A capacidade a atingir em. cada ano deverá verificar-se no início desse ano, por forma a podei fazer-se o adestramento funcional antes da época de maior actividade turística;
c) A capacidade prevista para 1968 presume-se atingível por forca de investimentos a efectuar no biénio de 1966-1967, anterior ao período de vigência do Plano, considerando-se ainda suportados em 1967 encargos par: ciais com a primeira fase de instalação dos estabelecimentos que poderão iniciar a sua- actividade em 1969;
d) É de prever o acréscimo anual de 5 por cento sobre os custos de 1967, estimados do seguinte modo:

Contos por quarto
Hotéis de luxo e de 1.ª classe ....... 360
Hotéis de 2.ª classe ................. 200
Hotéis de 3.ª classe ................. 150
Pousadas, estalagens e pensões de
luxo de 1.ª classe ................... 250

Coordenando todos estes dados, chega-se à seguinte estimativa, respeitante ao hexénio do 1968-1973:

[Ver Tabela na Imagem]

34. Embora se não disponha de dados suficientes para a previsão exacta de investimentos na instalação de restaurantes e estabelecimentos similares, afigura-se conveniente estimar, ainda que grosseiramente, os investimentos nestes tipos de estabelecimentos com interesse para o turismo, tendo-se adoptado como ordem de grandeza para os seis anos 300 000 contos.

35. Embora se encontre ainda em estudo a planificação urbanístico-turística para algumas regiões do País, é possível, definir, em princípio, o desenvolvimento a dar à rede de pousadas e outros estabelecimentos hoteleiros do Estado, a realizar pela Direcção-Geral, dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Os investimentos corresponderão, neste domínio, à construção de pousadas em edifícios

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próprios e à adaptação a estabelecimentos hoteleiros de imóveis classificados de monumentos nacionais ou de interesse público.
Esta fórmula do aproveitamento de monumentos justifica a fixação da verba anual de 10 000 contos prevista como necessária para dotar a rubrica «Pousadas e outros estabelecimentos do Estado».

II) Investimentos em promoção turística

36. Uma vez que todo o planeamento tem era vista um desenvolvimento harmónico e que este só se obtém mediante o equilíbrio dinâmico entre a procura e a oferta, terá de ser também através de intenso esforço promocional que o referido equilíbrio deverá ser procurado.
Assim, dado o importante papel desempenhado no sector do turismo pela publicidade e pelas relações públicas, houve que lixar as verbas a atribuir à promoção turística em níveis adequados à concretização do objectivo de crescimento fixado, a partir do qual, como se referiu, se estimaram as capacidades a instalar e os respectivos investimentos. Fixando como critério de atribuição de meios financeiros à promoção turística uma percentagem de 3 por cento das receitas (coeficiente que a experiência de outros países leva a considerar modesto), conclui-se que os dispêndios em acções deste tipo deverão atingir, ao longo do período do vigência do Plano, a ordem dos 1 740 000 contos, dos quais caberão ao Estado cerca de 0,9 milhões, o que determinará um reforço das dotações ordinárias consignadas ao Comissariado do Turismo.

III) Investimentos na formação profissional

37. O incremento do número de novo estabelecimentos cuja inauguração se prevê para o período do Plano vem realçar a acuidade do problema de formação de pessoal especializado.
Fez-se, assim, a previsão anual das verbas para instalação de novas escolas. Nessa previsão não se entrou em conta, por carência de elementos de apreciação, com a necessidade de renovação dos quadros por morte, velhice, invalidez ou abandono da profissão. Também se não incluíram as solicitações dos estabelecimentos similares, que se deverão acentuar, mormente no que respeita aos restaurantes independentes (pessoal de mesa e de cozinha).
A estimativa de encargos reportou-se exclusivamente à formação de pessoal para a hotelaria - sector onde o problema é já hoje particularmente grave. Por outro lado, não há dúvida também de que dentro em breve se tornará necessário incrementar a formação de outro tipo de pessoal indispensável no sector turístico, como seja o pessoal das agências de viagens, guias e intérpretes, etc.
O quadro que se segue indica o valor considerado indispensável no que respeita à formação profissional, a acrescer por meio de dotação directa ao Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira prevista no Orçamento Geral do Estado às dotações ordinárias que o Fundo de Turismo e o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra atribuem ao mesmo Centro:

[Ver Tabela na Imagem]

IV) Investimentos em infra-estruturas e complementos turísticos

38. Muito embora na designação em epígrafe fossem de considerar todas as infra-estruturas urbanísticas e de comunicações, sòmente se fará aqui menção dos investimentos de interesse específico para o turismo não enquadrados nos programas de outros capítulos do Plano.
Estabeleceram-se, como a seguir vão indicados, valores de previsão para investimentos em obras de conservação e utilização de arribas e praias, regularização fluvial em zonas turísticas, conservação e recuperação de edifícios e monumentos nacionais, pavimentação de caminhos florestais de interesse turístico e, complementarmente, de fomento e protecção da caça e da pesca, como elemento de atracção.

a) Conservação e utilização de arribas e praias

39. Com o acréscimo de empreendimentos turístico balneares em toda a orla marítima metropolitana e principalmente no Algarve, acentua-se a necessidade de proceder à defesa conveniente das arribas e praias contra a acção erosiva natural e derivada do próprio aproveitamento turístico. Para a execução das obras necessárias, serão reforçadas as dotações da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos com a verba total de 42 000 contos, escalonada ao longo do período do Plano pela forma seguinte:
Contos
1968 ................... 4 000
1969 ................... 6 000
1970 ................... 7 000
1971 ................... 8 000
1972 ................... 8 000
1973 ................... 9 000
42 000

b) Regularização fluvial em zonas turísticas

40. A fim de obviar a problemas de inundações e formação de zonas pantanosas, com reflexos perniciosos para o turismo, torna-se necessário proceder a obras de regularização fluvial, correcção torrencial e cobertura.
As verbas previstas para o efeito são as seguintes.
Contos
1968 ................... 2 000
1969 ................... 4 000
1970 ................... 6 000

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Contos
1971 ............ 7 000
1972 ............ 8 000
1973 ............ 9 000
36 000

Por se reconhecer aconselhável evitar a dispersão que resultaria de as dotações serem consignadas a mais de um Ministério, serão aquelas atribuídas também à Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, sem prejuízo da colaboração que venha a reconhecer-se necessária com outros departamentos do Estado.

c) Conservação e recuperação de edifícios e monumentos nacionais

41. É óbvio o interesse da conservação e recuperação de edifícios e monumentos que, para além do seu valor histórico e cultural, podem oferecer interesse marcadamente turístico que os valorizem também do ponto de vista económico.
Para tal fim, prevê-se dotar a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais com a verba de 30 000 contos (5000 contos anuais), estando desde já prevista a recuperação do Castelo de Leiria e a instalação do museu do Mosteiro de Alcobaça.

d) Pavimentação de caminhos florestais

42. O aproveitamento turístico de zonas florestais impõe o melhoramento dos caminhos que lhes dão acesso, os quais, para oferecerem as necessárias condições de circulação rodoviária em tráfego intenso, exigem a pavimentação com revestimento betuminoso.
Pela Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, prevê-se a realização de obras no montante de 9000 contos (1500 contos anuais).

e) Fomento e protecção da caça e da pesca

43. O fomento da caça e da pesca constitui relevante valorização do património turístico nacional, estimando-se que, pela Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, serão para o efeito despendidos cerca de 3000 contos (500 contos anuais).

44. Assinalam-se, finalmente, os problemas da construção de redes de esgotos e da captação e distribuição de água, problemas que se põem com especial premência naquelas regiões onde a concentração dos meios de recepção mais se fará sentir, ou seja, as de Lisboa e do Algarve.
Como os problemas acima indicados podem acarretar estrangulamentos muito graves ao ritmo de expansão deste sector, se não forem resolvidos em tempo, com todas as consequências desfavoráveis que de tal facto derivariam, será necessário dotar as câmaras municipais - entidades responsáveis por aqueles tipos de infra-estruturas - com as verbas extraordinárias indispensáveis para fazerem face aos investimentos respectivos.

45. O resumo dos investimentos programados no turismo, para o período de 1968-1973, é o seguinte:

Investimentos:

Indústria hoteleira e similares:
Contos
Hotéis de luxo e de 1.ª classe .... 6 500 000
Hotéis de 2.ª classe .............. 1 050 000
Hotéis de 3.ª classe .............. 20 000
Pousadas, estalagens, pensões de
luxo e de 1.ª classe .............. 2 000 000
restaurantes e similares .......... 300 000
9 870 000
Promoção turística ................ 1 740 000
Formação profissional:
Hotelaria ......................... 120 000

Infra-estruturas e complementos:

Conservação e utilização de arribas
e praias .......................... 42 000
Regularização fluvial em zonas
turísticas ........................ 36 000
Conservação e recuperação de
edifícios e monumentos nacionais .. 30 000
Pavimentação de caminhos florestais 9 000
Fomento e protecção da caça e da
pesca ............................. 3 000
120 000
Total ....... 11 850 000

V) Financiamento

46. Como já se referiu, o nível de participação do sector público na cobertura do investimento previsto calculou-se equacionando a rápida expansão, que se deseja estimular e orientar, com o papel predominante que deve ser desempenhado pela iniciativa privada. Assim, os financiamentos por. parte do sector público não são colocados- em dependência estreita do ritmo de incremento que vier a verificar-se, antes se fez depender esse ritmo do esforço a desenvolver pelo sector público em matéria de promoção (publicidade e relações públicas). Será, pois, à iniciativa privada que competirá adaptar-se à evolução da procura prevista no Plano.
Quanto aos financiamentos a realizar através do Fundo, de Turismo e da Caixa Nacional de Crédito, desde já se referem como critérios de preferência a associação dos empreendimentos hoteleiros propriamente ditos à realização de investimentos noutros sectores complementares (uns e outros integrados em centros turísticos), ao impulso de novas regiões turísticas prioritárias, à valorização paisagística, à realização de infra-estruturas urbanísticas ou de comunicações, à efectivação de encomendas às indústrias nacionais de bens de equipamento e a iniciativas de formação profissional.
A aplicação destes critérios de preferência dependerá, no entanto, da prévia verificação de certos pressupostos essenciais no tocante à rentabilidade dos empreendimentos, à observância de determinados parâmetros de custos e a outros elementos a considerar no estudo e apreciação dos pedidos apresentados.
É neste entendimento que se indica a seguinte cobertura financeira para os investimentos previstos:

Indústria hoteleira e similares:
Contos
Fundo de Turismo (receitas próprias) ............ 450 000
Caixa Nacional de Crédito (empréstimos com
garantia do Fundo de Turismo) ................... 750 000
Fundo de Turismo (dotações extraordinárias) ..... 390 000

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Contos
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (dotações extraordinárias) ....... 60 000
Autofinanciamento privado (a) .............. 8 220 000
9 870 000

Promoção turística:

Fundo de Turismo (receitas próprias) ................ 150 000
Fundo de Turismo (dotações extraordinárias) ......... 330 000
Órgãos locais de turismo (receitas próprias) ........ 60 000
Autofinanciamento privado ........................... 1 200 000
1 740 000

Formação profissional:

Centro Nacional de Formação Turística e
Hoteleira (dotações extraordinárias) ................ 120 000

Infra-estruturas e complementos:

Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos
(dotações extaordinárias) ........................... 78 000
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(dotações extraordinárias) .......................... 30 000
Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas
(dotações extraordinárias) .......................... 12 000
120 000
Total ....... 11 850 000

(a) Com eventual recurso a crédito externo.

Prevê-se, em resumo, que o financiamento no turismo, para o hexénio de 1968-1973, se distribua pelas seguintes fontes financiadoras: Orçamento Geral do Estado (510 000 contos), órgãos locais de turismo (60000 contos), Fundo de Turismo (600 000 contos), mercado financeiro (510 000 contos), Caixa Nacional de Crédito (750 000 contos) e autofinanciamento privado (9420000 contos).

CAPITULO X

Educação e investigação

Introdução

1. O presente capítulo abrange as mesmas matérias que constituíram objecto do correspondente capítulo do Plano Intercalar de Fomento. Dá-se assim continuidade à orientação inovadora que nesse Plano se consagrara.
Os dois primeiros planos de fomento haviam tido - pode dizer-se - carácter exclusivamente económico. Dava-se neles guarida à investigação, mas só à investigação aplicada ou tecnológica, exercida fora do âmbito da escola, sob a superintendência de outros Ministérios que não o da Educação Nacional, nalguns ramos directamente ligados às actividades produtivas de que se ocupavam os planos. Também se contemplava o ensino técnico, por serem, do mesmo modo, imediatos e particularmente visíveis os seus laços com a produção económica; ainda assim, apenas se lhe concederam verbas para a aceleração do ritmo das construções escolares.
Outro foi o caminho por onde enveredou, resoluta e francamente, o Plano intercalar. Abriu as portas, sem limitações, a todas as formas de actividade educacional e investigadora. Estabeleceu o claro princípio de que nos planos de fomento deviam figurar todas as modalidades de acção tendentes a contribuir para a formação e aperfeiçoamento da personalidade, ainda para além do ângulo puramente intelectual, e bem assim todas as modalidades de acção destinadas a fazer progredir a ciência e a técnica, ou sejam, respectivamente, os conhecimentos desinteressados (investigação fundamental) e os conhecimentos aplicados a fins práticos (investigação aplicada). Outorgou-se, pois, direito de cidade, dentro dos planos de fomento, a, toda a educação, mesmo nos aspectos mais espiritualistas, e a toda a investigação, mesmo nos aspectos mais teóricos.
Tal orientação -- como então se escreveu - justifica-se plenamente. Com efeito, os referidos planos não devem compreender apenas aqueles sectores da educação e da investigação que tenham ligação mais directa com a vida económica. Devem abranger todos, porque todos concorrem, já para valorizar intrinsecamente o homem, já para aumentar os meios de acção ao seu dispor. Em particular, no que respeita à investigação, o esforço de fomento não deve limitar-se à aplicada, antes deve recair também na fundamental, aliás verdadeira base ou fundamento da primeira (como o seu nome indica). Além do valor que têm em si os conhecimentos desinteressados, o certo é que não se podem ajustar a fins práticos, no campo técnico, os que não se hajam primeiro adquirido, especulativamente, por via científica. Corno se acentuou na Conferência Ministerial da Ciência, realizada em Paris em Janeiro de 1966, seria grave erro fazer recair as atenções exclusiva ou predominantemente sobre a investigação aplicada, que nada significa sem a investigação fundamental, terreno fecundo em que a primeira lança necessariamente as suas raízes.
O Plano Intercalar foi ainda mais longe, declarando que estas matérias devem figurar, mesmo, entre as merecedoras de tratamento prioritário. Prioridade que bem se justifica, pois a educação e a investigação encontram-se na base de todo o progresso, não só do moral, mas inclusivamente do material ou económico, verdade esta que, hoje, pode já considerar-se axiomática e por isso não necessita aqui de especial fundamentação.
O Plano Intercalar, embora ainda dentro de limites relativamente modestos, veio permitir o lançamento ou a intensificação de certas modalidades de acção pedagógica, cultural e científica. Procurou-se designadamente (para além dos aspectos das instalações e seu apetrechamento) incentivar as actividades de planeamento, de aperfeiçoamento de pessoal docente, investigador e outro, de política social escolar, de investigação científica, manifestações culturais e experiências pedagógicas. Para se conhecerem as necessidades e aspirações dos serviços e escolas, fez o Ministério da Educação Nacional, com referência aos anos de vigência do Plano, três sucessivos inquéritos, que não só permitiram ter um panorama dessas necessidades e aspirações e distribuir as verbas em harmonia com a sua conveniente graduação e selecção, mas também estimular o estudo ponderado de iniciativas a empreender, que se deseja possam ser cada vez de mais largo alcance.

2. Este III Plano continua a percorrer a senda aberta pelo Plano Intercalar. Como o seu imediato antecessor,

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procura abarcar, em princípio, todo o vasto campo da educação e da investigação. Mas fá-lo em termos mais completos, possibilitados por toda a acção estruturadora entretanto bastante intensificada, e consagrando investimentos sensivelmente mais elevados. Dentro da mesma linha de continuidade - em que se mantém o carácter prioritário deste sector - dá-se assim novo e importante passo em frente.

3. Também à semelhança do Plano Intercalar, trata-se neste capítulo, separadamente, de certas formas de acção que tendem a uma formação profissional extra-escolar. Tais formas de acção podem considerar-se abrangidas no conceito amplo de educação, porque envolvem um adestramento, mas oferecem natureza peculiar, não se integrando numa verdadeira escola, entendida esta como o deve ser, ou seja como centro formativo, em que a preparação profissional tem uma base intelectual e é acompanhada ainda de outras preocupações educativas.
Por outro lado, e rio que respeita à investigação, julgou-se preferível, desta vez sistematizar as matérias em obediência à distinção entre investigação ligada ao ensino e investigação não ligada ao ensino. Essa distinção coincide tendencialmente com a outra, a que atrás se fez referência, entre investigação fundamental e investigação aplicada: mas só tendencialmente, bastando pensar, para o reconhecer, que em conexão com o ensino - e dentro de certos limites - também se pode e deve fazer, e faz na realidade, investigação aplicada.
A adopção, para efeitos expositivos, da apontada distinção justifica-se pelo facto de o ensino e a investigação que lhe anda associada decorrerem no mesmo ambiente, interpenetrando-se e exercendo fortes influências recíprocas. Essas interdependências - que fazem da ciência base do ensino e do ensino estímulo fecundante da ciência - justificam a aproximação e como que integração dos dois termos, com reflexo na subsequente ordenação dos assuntos. Mas tal aproximação (acentue-se bem) não deve, obviamente, fazer esquecer as relações que de outro lado existem entre as diferentes .modalidades de investigação, exercidas dentro ou fora da escola, relações justificativas de uma acção coordenadora que se está a procurar estruturar.
A investigação aparece neste capítulo diferenciada da educação. Mas, dentro de certos limites; pode dizer-se que se insere nela: já na medida em que se traduz na formação de investigadores, já na medida em que, associada ao ensino superior, constitui seu imprescindível esteio e alimento.
De harmonia com o exposto, o presente capítulo compreenderá as seguintes secções:

SECÇÃO I - Educação e investigação ligada ao ensino.
SECÇÃO II - Investigação não ligada ao ensino.
SECÇÃO III - Formação profissional extra-escolar.
SECÇÃO IV - Investimentos totais.

Os investimentos previstos na secção I serão efectuados pelo Ministério da Educação Nacional, salvos os relativos a construção e beneficiação extraordinária de edifícios escolares ou outros, porque esses sê-lo-ão pelo Ministério das Obras Públicas, de acordo e em colaboração com o primeiro. Os previstos nas secções II e III serão efectuados por outros departamentos governamentais.
No presente capítulo só se tratará da educação e da Investigação na metrópole, porque as respeitantes ao ultramar têm lugar próprio em outros capítulos. Aproveita-se, aliás, a oportunidade para acentuar que se torna cada vez mais necessário um esforço de coordenação entre as realidades metropolitanas e ultramarinas nestes domínios, como importa estar sempre bem atento ao que se processa no Brasil e intensificar as relações com este, dentro do espírito que deve presidir aos destinos da Comunidade Luso-Brasileira.

SECÇÃO I

Educação e investigação ligada ao ensino

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

4. As matérias relativas à educação e à investigação ligada ao ensino são extremamente amplas e complexas, têm estreitas e múltiplas ligações entre si, formam rede vastíssima, e por isso não é fácil fazer uma síntese da sua evolução recente e problemas actuais. Essa síntese tem de ser necessariamente incompleta e imperfeita. Mas procurar-se-á, em traços muito gerais e muito breves, focar alguns aspectos mais salientes, de forma a dar uma ideia do estado presente, do caminho que mais recentemente se percorreu, dos esforços que se tem estado a fazer, dos obstáculos que se lograram vencer, dos muitos que falta ainda ultrapassar.
Na impossibilidade de tudo descrever, chamar-se-á a atenção para os principais objectivos que se têm ultimamente procurado definir e prosseguir, formulando-os sinteticamente, dando deles algumas explicações sumárias, e bem assim para os mais relevantes meios que se vêm pondo ao serviço desses objectivos, ou seja para as mais significativas providências legais e administrativas adoptadas ou em. curso, com vista a alcançá-los. Nesse esquemático relato serão analisados sucessivamente aspectos comuns à educação e à investigação, aspectos respeitantes especificamente à primeira, aspectos respeitantes especificamente à segunda. Por último, enunciar-se-ão as principais deficiências que se deparam aos olhos do observador nos dois domínios, deficiências contra que cumpre continuar a lutar, dentro de uma sequência de finalidades e realizações, que só ela pode ser verdadeiramente eficaz.
Em cada uma das alíneas referentes aos objectivos e providências discriminar-se-ão em números sucessivos várias matérias e, a propósito de cada uma destas, começar-se-á por enunciar o objectivo que a vem dominando e desenvolver-se-á em seguida a ideia nele consubstanciada, esclarecendo-a, se necessário, e apontando alguns meios utilizados ou acções empreendidas para sua consecução.

a) Aspectos comuns à educação e à investigação

5. Infra-estruturas:

Objectivo: Desenvolver e renovar as infra-estruturas técnicas e administrativas que servem de apoio e impulso coordenado a toda a actuação, dando-lhes o máximo de condições de eficiência e de adaptação às circunstâncias que vão evoluindo.

A acção educacional, para ser verdadeiramente fecunda e operante, não pode deixar de ter o decidido apoio de adequadas e eficientes infra-estruturas técnicas e administrativas que a impulsionem, sob a forma de serviços dinâmicos, dotados ou não de autonomia, mas todos organizados nos melhores termos e providos dos indispensáveis meios.

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Nesse sentido se tem. trabalhado intensamente, seguindo-se dois caminhos. Por um lado, empreenderam-se estudos - que prosseguem - de reestruturação geral da orgânica do Ministério da Educação Nacional. Por outro lado, têm-se criado vários serviços e reformado outros, atacando os problemas mais urgentes através de acções sucessivas e coordenadas, que no seu somatório representam esforço muito considerável, o tora. sido todas conduzidas sem perder de vista o objectivo último da sua integração na aludida remodelação geral.
Nesta ordem de ideias:

Criou-se o Gabinete do Estudos e Planeamento da Acção Educativa (Decreto-Lei n.º 46 156, de 16 de Janeiro de 1965) como organismo votado ao estudo e esclarecimento sistemático e permanente dos problemas educacionais, à luz da tríplice ideia de documentação, investigação e informação. O Gabinete de Estudos ainda não pôde dar contribuição efectiva para a generalidade das reformas que se têm operado no âmbito do Ministério da Educação Nacional, mas já vera. prestando serviços assinaláveis, nomeadamente o que se traduziu no apoio dado aos trabalhos preparatórios do presente Plano de Fomento na parte respeitante à educação e à investigação ligada ao ensino;
Criou-se o Instituto de Meios Audiovisuais do Ensino (Decreto-Lei n.º 46 135, de 31 de Dezembro de 1964), organismo destinado a promover a utilização dos meios audiovisuais como vias de acção educativa e escolar. Simultaneamente criou-se, na dependência desse Instituto, a telescola (Decreto-Lei n.º 46 136, da mesma data), a qual vem exercendo importante papel, que tende a expandir-se, levando certas formas de ensino a muitos que de outro modo não poderiam- tê-las. E por diploma anterior (Decreto n.º 45 418, de 9 de Dezembro de 1963) instituíra-se o Centro de Estudos de Pedagogia Audiovisual com a missão de servir de apoio científico às mencionadas actividades e, designadamente, promover a formação de pessoal docente adestrado nas respectivas técnicas;
Criou-se o Fundo de Fomento do Desporto (Decreto-Lei n.º 46 449, de 23 de Julho de 1965) com o fim de promover o desenvolvimento das actividades gimnodesportivas, o qual tem realizado também importante obra, elaborando planos de fomento para criteriosa aplicação das suas receitas provenientes das apostas mútuas desportivas, promovendo a construção ou beneficiação de instalações, a formação e aperfeiçoamento de agentes de ensino, a organização de assistência médica especializada, o desenvolvimento das actividades competitivas, e tudo isto tanto no domínio do desporto federado como no do desporto escolar;
Criou-se a Direcção de Serviços do Ciclo Preparatório (Decreto-Lei n.º 47 480, de 2 de Janeiro de 1967), destinada a superintender rias actividades relativas a esse novo ciclo do ensino secundário, que pelo mesmo diploma se instituiu em substituição do 1.º ciclo do ensino liceal e do ciclo preparatório do ensino técnico (como resultado de estudos efectuados na sequência de outros vindos já de j.959). A nova Direcção de Serviços aliviará algum tanto os serviços com superintendência no ensino liceal e no ensino técnico, pois passará a ocupar-se de extenso conjunto de problemas, hoje a cargo dos segundos, que, apesar de tudo, ainda permanecerão excessivamente carregados, com estrutura inadequada a tarefas tão complexas e volumosas;
Reestruturou-se a Junta Nacional da Educação (Decreto-Lei n.º 46348, de 22 de Maio de 1965, e Decreto n.º 46349, da mesma data), vasto órgão consultivo chamado a dar parecer sobre os mais variados assuntos de ordem educacional ou cultural, ampliando a sua composição e as suas funções e acentuando o seu carácter representativo;
Reestruturou-se o Instituto de Alta Cultura (Decreto-Lei n.º 46 038, de 16 de Novembro de 1964), em ordem a proporcionar-lhe condições de melhor exercer a sua tríplice e importantíssima função de fomento da investigação científica, de fomento da cultura, no plano interno, e de fomento do intercâmbio cultural, no plano externo;
Reestruturou-se a Mocidade Portuguesa (Decreto-Lei n.º 47311, de 12 de Novembro de 1966), imprimindo-lhe fisionomia renovada susceptível de permitir contribuição mais eficaz nos sectores tão significativos da acção social escolar e das actividades circum-escolares. Muitos dos novos preceitos foram desde logo declarados extensivos à Mocidade Portuguesa Feminina;
Introduziram-se outras remodelações na orgânica e atribuições dos serviços, designadamente as referentes à Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, que foi elevada à categoria de serviço nacional, com jurisdição extensiva aos recém-criados Estudos Gerais Universitários de Angola e de Moçambique (Decreto-Lei n.º 44 530, de 21 de Agosto de 1962, e Decreto-Lei n.º 45 180, de 5 de Agosto de 1963), e posteriormente viu os seus quadros bastante alargados (Decreto-Lei n.º 47 319, de 19 de Novembro de 1966);
Merecedoras de referência são ainda certas reformas situadas no âmbito universitário, mas destinadas a desempenhar também papel fundamental no desenvolvimento da política social escolar. Têm-se em vista o Decreto-Lei n.º 46 667, de 24 de Novembro de 1965, que definiu o estatuto jurídico do Centro Universitário do Porto (completado pelo Decreto-Lei n.º 47 658, de 28 de Abril de 1967), o Decreto-Lei n.º 47 206, de 16 de Setembro de 1966, que criou os Serviços Sociais da Universidade de Lisboa e os Serviços Sociais da Universidade Técnica de Lisboa, e o Decreto-Lei n.º 47 303, de 7 de Novembro de 1966, que criou os Serviços Sociais da Universidade de Coimbra;
Para além dos serviços, no plano da própria orgânica governamental, instituiu-se o cargo de Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos (Decreto-Lei n.º 46008, de 6 de Novembro de 1964), chamado a colaborar no importante sector da política juvenil e gimnodesportiva.

6. Planeamento:

Objectivo: Definir princípios orientadores, planear acções, com base em elementos de ordem documental e estatística permanentemente actualizados, sempre dentro de imprescindível visão de conjunto, e acompanhar e vigiar a execução dos planos.

Neste sentido, são igualmente intensos os esforços que se vêm desenvolvendo sob o signo da ideia de planeamento educacional, tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo.

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Foi o planeamento quantitativo que primeiro se iniciou. Deu-se-lhe começo em 1959, em colaboração com a O. C. D. E., sob a forma de um projecto a que se atribuiu o nome, um pouco convencional, de «Projecto Regional do Mediterrâneo». Esse trabalho assenta na previsão das necessidades de mão-de-obra ou, mais concretamente, do pessoal qualificado de que necessitará provavelmente a economia metropolitana portuguesa em 1975 nas diferentes categorias ou ramos; e contém os cálculos da evolução quantitativa que a estrutura escolar portuguesa deveria sofrer até àquela data - número de estudantes, agentes de ensino, escolas e correspondentes meios financeiros - para fazer face às referidas necessidades. Contêm-se essa previsão e cálculos no volume intitulado Evolução da Estrutura Escolar Portuguesa (Metrópole) - Previsão para 197o, elaborado pelo Centro de Estudos de Estatística Económica, do Instituto de Alta Cultura, e precedido de outro, preliminar, também do mesmo Centro, Análise Quantitativa da Estrutura Escolar Portuguesa - 1950-1959, aquele traduzido pela O. C. D. E. para francês e inglês. Ali, no entanto, apenas se apresentam dados globais e não se contemplou o sector agrícola. Esta última lacuna está a ser preenchida por um grupo constituído no âmbito do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, entretanto criado. E ao mesmo Gabinete de Estudos foi confiada a tarefa de prosseguir os trabalhos do Projecto Regional do Mediterrâneo (cujas citadas publicações são, respectivamente, de 1964 e de 1963) na segunda fase, particularmente difícil e melindrosa, da concretização e regionalização. O Projecto Regional do Mediterrâneo propunha-se inicialmente ser um plano de fomento cultural autónomo (de 1960 a 1975); mas, uma vez que o ensino, como as outras formas educativas e a investigação, ingressou nos planos gerais de fomento - solução muito mais perfeita -, essa autonomia perdeu razão de ser e os trabalhos realizados ou em curso sob aquele título passaram a constituir contribuições para estes planos, já aproveitadas no presente capítulo.
Por outro lado, teve-se em dado momento a clara consciência de que o planeamento de ordem quantitativa não era por si suficiente e devia ser acompanhado, e mesmo condicionado, por trabalho mais profundo de definição de uma política educacional, de revisão geral das estruturas escolares, de programação qualitativa de acções. Foi assim que em 1963 se lançou iniciativa de largo alcance - a preparação do Estatuto da Educação Nacional. Essa iniciativa, que se julga inédita em todo o Mundo, pelo menos com as características e amplitude que se lhe atribuíram, conduziu já - através de estudos-base, em curso de publicação, e de um trabalho de. síntese legislativa - à elaboração de um projecto de estatuto com perto de 40O artigos, o qual foi oportunamente objecto de comunicação ministerial, e no momento em que se redige este capítulo está a ser sujeito a cuidadoso exame, tendente à sua revisão e aperfeiçoamento, designadamente por parte da Junta Nacional da Educação.
O Estatuto, sem descer a pormenores regulamentares, abarcará todos os domínios da educação e também a investigação, estabelecendo as grandes directrizes a que essas actividades devem obedecer, as formas fundamentais em que se devem processar. Uma vez publicado, ficará constituindo a carta fundamental ou orgânica destes importantíssimos sectores da vida nacional, tanto na sua dimensão metropolitana como ultramarina, consubstanciando a respectiva política. «Será uma base indispensável, valendo em grande parte por si, e comandando, dentro de um programa comum bem definido, realizações graduais, tanto mais vastas, no que toca a muitas, quanto mais poderosos puderem ser os meios financeiros postos ao seu serviço» (citada comunicação ministerial). O Estatuto não será meramente pragmático, não se limitará a afirmar princípios, antes fará dele múltiplas aplicações. A vasta rede de preceitos contida no respectivo projecto é dominada, além de outros, pelos objectivos anteriormente expostos e pelos mais que a seguir se enunciam:

7. Apelo à iniciativa privada:

Objectivo: Estimular fortemente a iniciativa privada, chamando-a a colaborar cada vez mais no desenvolvimento da educação e da investigação.

O projecto do Estatuto da Educação Nacional orienta-se decisivamente nesse sentido através de múltiplas fórmulas e soluções.

8. Informação:

Objectivo: Exercer vasta e persistente acção do esclarecimento dos espíritos sobre os assuntos da educação e investigação, com vista a criar um estado de consciência, cada vez mais generalizado, propicio ao desenvolvimento desses fundamentais domínios da vida humana.

Esta acção insere-se nas funções próprias do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, que entre os seus serviços conta um sector de difusão e publicações, o qual está a ser cuidadosamente organizado.

b) Aspectos específicos da educação

9. Generalização e melhoria da acção educativa:

Objectivo: Intensificar o esforço de generalização, melhoria de qualidade e aumento de rendimento da acção educativa.

Este objectivo é primordial e, por assim dizer, domina todos os subsequentes. Quer-se educar mais gente, melhor e no mínimo tempo compatível com uma preparação adequada. Mas há que evitar o grave risco de encarar o problema exclusiva ou predominantemente sob o ponto de vista quantitativo, pois deve-se a todo o custo procurar salvaguardar a qualidade, diligenciar sempre no sentido de a melhorar, e dar o devido relevo aos aspectos puramente espirituais da educação. As soluções que contrariassem estes desideratos poderiam vir a ser fatais, mesmo do ponto de vista económico, porque à própria economia não interessa apenas a quantidade, mas também, e em primeiro lugar, a qualidade. O importante problema da produtividade do ensino está a ser objecto de cuidadoso estudo por parte do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, em ordem a diagnosticar com a possível exactidão as causas que não permitem atingir todo o rendimento desejável e propor as soluções pertinentes.

10. Escolaridade obrigatória:

Objectivo: Assegurar a afectividade da escolaridade obrigatória.

Depois do enorme esforço realizado para tornar efectiva a escolaridade obrigatória, limitada ao ensino primário elementar, ampliou-se a mesma em 50 por cento, mediante a criação de duas novas classes de ensino complementar (Decreto-Lei n.º 45 810, de 9 de Julho de

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1964, e Decreto n.º 47 211, de 23 de Setembro de 1966). Com esta matéria relaciona-se o ciclo preparatório do ensino secundário, recentemente instituído (Decreto-Lei n.º 47 480, de 2 de Janeiro de 1967), pois também constitui via de cumprimento da obrigação escolar na sua nova fase pós-elementar. Aliás, essa nova fase ainda não está em vigor, como é sabido, mas o ciclo complementar já começou a funcionar, a título facultativo. No Ministério da Educação Nacional vêm a realizar-se cuidadosos trabalhos tendentes à efectivação coordenada dos dois ciclos, no que toca a planos de estudo, programas, compêndios, estatuto e aperfeiçoamento de professores, rede escolar e regulamentação legal. Têm-se realizado já cursos de aperfeiçoamento de professares do ciclo complementar. Estão a ser ultimados vários diplomas, entre os quais a reforma das escolas do magistério primário. Há a intenção de ir dando desenvolvimento cada vez maior ao ciclo preparatório, através da disseminação das respectivas escolas, constituindo desígnio expresso na lei, e que se deseja resolutamente prosseguir, o de que exista, pelo menos, um estabelecimento dessa índole, de carácter público ou particular, em cada concelho.

11. Escolaridade facultativa:

Objectivo: Incrementar a frequência dos graus de ensino não obrigatórios.

Este objectivo integra-se na finalidade geral, atrás formulada, de generalização do ensino e vem sendo prosseguido pela intensificação dos meios correspondentes a alguns dos objectivos que a seguir se enunciam. Mas essa intensificação, por insuficiência dos meios disponíveis, tem estado longe do que devia ser, não dando satisfação a todo o anseio e necessidades de elevação cultural que se notam como reflexos do progresso.

12. Acção social escolar:

Objectivo: Fomentar a acção social escolar nas suas múltiplas modalidades, já em ordem a possibilitar os estudos, para além da escolaridade obrigatória, a todos os que tenham real capacidade para os prosseguir, independentemente das suas condições económicas, já em ordem a proporcionar aos estudantes em geral condições propicias para tirarem dos estudos o máximo rendimento.

Vem tal matéria merecendo também, da parte do Ministério da Educação Nacional, atenção muito particular. Assim, o atesta quanto se expôs atrás sobre a criação e fortalecimento das infra-estruturas relativas a este sector. Assim o demonstra também o cuidado posto na indispensável definição do regime jurídico a que devem obedecer as várias manifestações da acção social escolar. Pela sua especial importância, começou-se pelo estatuto do alojamento dos estudantes, que ficou definido no Decreto-Lei n.º 46834, de 11 de Janeiro de 1966; a este diploma outros se seguirão. Têm-se, além disso, intensificado as iniciativas no que toca a residências, alimentação, saúde, bolsas e subsídios de deslocação (sobre que também se legislou - Decreto-Lei n.º 45 682, de 23 de Abril de 1954, e Portaria n.º 20 536, da mesma data); mas as disponibilidades financeiras não têm sido suficientes para obra de tanto vulto. No que toca às estruturas, praticamente apenas falta um serviço central, destinado a servir de base às decisões governamentais nesta importante matéria, ajudando à concretização e execução de uma política, de conjunto, à elaboração de programas, à distribuição de certas verbas, sem entravar iniciativas, antes lhes concedendo todo o apoio e estímulo.

13. Agentes de ensino:

Objectivo: Promover a melhoria da qualidade e o acréscimo do número de agentes de ensino, melhorando a sua situação, tornando mais cuidada a sua preparação, criando novas condições e estímulos à sua permanente actualização e aperfeiçoamento, aumentando o sentido da sua responsabilidade profissional, imprimindo o maior prestigio à função docente e rodeando-a do todos os possíveis atractivos.

É esta uma matéria de importância vital. As dificuldades que se deparam aqui são em grande medida reflexo da situação geral do funcionalismo público. Mas cumpre resolvê-las o mais urgentemente possível, pois os progressos do ensino estão condicionados de modo muito especial pela qualidade e número dos professores. Por isso se dedicou a este assunto atenção muito particular no projecto do Estatuto da Educação Nacional e se confiou ao Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa o encargo de preparar um estatuto do pessoal docente (e investigador), em harmonia com os princípios ali definidos, o qual se encontra já em adiantada fase de elaboração. Aspecto muito importante é o que consiste em criar nos agentes de ensino condições de dedicação integral à escola: nesse sentido, e quanto ao ensino superior, já o Ministério da Educação Nacional elaborou um primeiro texto.

14. Rede escolar:

Objectivo: Promover o alargamento da rede escolar e ao mesmo tempo estudá-la cuidadosamente, no conjunto dos vários graus e ramos de ensino, tanto público como particular, acompanhando e orientando permanentemente a sua evolução coordenada, de modo a adensar o número dos estabelecimentos de ensino e distribuí-los pelo País segundo os melhores critérios de desenvolvimento regional da educação.

O esforço de alargamento da rede escolar tem prosseguido incessantemente, pela abertura de novos estabelecimentos de ensino ou de secções de estabelecimentos já existentes; mas ainda é claramente insuficiente para as necessidades. Por outro lado, e no que toca ao estudo e constante aperfeiçoamento da referida rede, dentro de decididos propósitos coordenadores, o primeiro passo a dar consistia no levantamento da carta escolar, com o máximo de elementos elucidativos. Por isso se mandou proceder a esse levantamento, que está em vias de se ultimar. E determinou-se ainda a constituição de grupos de trabalho, já em funcionamento, com a incumbência de acompanharem, de forma constante e sistemática, as transformações da rede escolar, fazendo estudos gerais e dando pareceres sobre os casos concretos, sempre dentro de uma perspectiva de conjunto, em que devem entrar em linha de conta todos os dados sócio-económicos pertinentes.

15. Instalações escolares e seu apetrechamento:

Objectivo: Intensificar o esforço de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações escolares e, ao mesmo tempo, realizar estudos permanentes e sistemáticos tendentes a encontrar para essas instalações as melhores soluções sob o tríplice ponto de vista de técnica de construção, pedagógico e económico.

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Persiste-se no esforço de dotar os estabelecimentos de ensino de instalações apropriadas e de beneficiar as existentes, esforço que, no entanto, em parte por limitações financeiras, em parte por dificuldades verificadas no mercado da construção civil, não tem tido toda a amplitude necessária. Além disso, vêm-se realizando aturados estudos tendentes à formulação de soluções que tornem as instalações escolares, ao mesmo tempo e tanto quanto possível, perfeitas, sob os pontos de vista técnico e pedagógico, e económicas, despidas de todas as preocupações sumptuárias. Esses estudos têm decorrido em plano de estreita colaboração entre os Ministérios das Obras Públicas e da Educação Nacional, e, numa primeira fase, em cooperação também com a O. C. D. E.. Constituiu-se para o efeito um grupo formado por arquitectos, engenheiros, educadores e pedagogos, além dos necessários auxiliares, o qual trabalhou em ligação com especialistas daquela organização internacional e apresentou extensos relatórios extremamente esclarecedores. Em concretização parcial dos estudos feitos, construiu-se em Mem Martins o edifício destinado a uma escola piloto (não escola tipo) do ensino primário, segundo solução considerada como progressiva, mesmo em relação às melhores estrangeiras, solução que já foi reproduzida em S. Tomé e Príncipe e está a ser objecto de interesse por parte de vários países. Acham-se em curso os trabalhos para a construção, em Mafra, do edifício destinado a uma escola piloto do ciclo preparatório. A iniciativa encontra-se em vias de institucionalização, mediante a criação, no Ministério das Obras Públicas, de um Gabinete de Estudos de Construções Escolares, com a participação de representantes do Ministério da Educação Nacional.
Estes estudos têm em vista soluções de fundo, que permanentemente se devem ir actualizando e aperfeiçoando. Pensa-se que eles virão a permitir, não só melhor adaptação dos edifícios aos fins de uma pedagogia evolutiva, como também maior celeridade e economia de construção. Mas pensa-se também que estes estudos, dirigidos às soluções ideais, não devem excluir a adopção de soluções de emergência, particularmente expeditas, em ordem a acompanhar, sem atrasos, o enorme afluxo estudantil a que se assiste e que cumpre intensificar ainda mais. Essas soluções vêm sendo praticadas nalguns casos, mas torna-se imperioso estudar com urgência a sua adopção mais generalizada, em execução do propósito já definido nesse sentido.
Todas as economias que se possam conseguir em matéria de instalações escolares oferecem enorme interesse, visto que são muitas as necessidades a atender, e aquelas instalações, pelo seu volume, representam o maior peso nos investimentos educacionais. A celeridade é igualmente factor decisivo para se poder acompanhar o ritmo acelerado de aumento das frequências.
Como resulta da epígrafe do presente número, têm-se em vista aqui, não só os edifícios, mas também o seu apetrechamento em mobiliário e material didáctico. Para além do apetrechamento inicial, já em si muitas vezes insuficiente, vem-se realizando esforço apreciável de reapetrechamento, através da comissão instituída pelo Decreto-Lei n.º 41 114, de 16 de Maio de 1957 (esforço que abrange também o material de investigação); mas os meios financeiros de que a comissão dispõe, embora nos últimos tempos sensivelmente aumentados, não têm sido bastantes para acudir a todas as múltiplas e vultosas necessidades, agravadas pela rápida evolução a que está sujeito o equipamento em referência.

16. Graus e ramos de ensino:

Objectivo: Continuar os trabalhos tendentes à reforma das estruturas escolares, na sequência dos diplomas legais que criaram o ciclo complementar do ensino primário e o ciclo preparatório do ensino secundário .

A linha geral da referida reforma contém-se no projecto do Estatuto da Educação Nacional, estando desde já a estudar-se a sua concretização e pormenorização. Prossegue-se assim um metódico trabalho de renovação de estruturas. Fizeram-se primeiro incidir as atenções no ciclo complementar do ensino primário e no ciclo preparatório do ensino secundário, porque era preciso chamar à escolaridade, obrigatoriamente, toda a camada etária imediatamente seguinte à que possui a 4.ª classe. O esforço principal tinha, e terá por bastante tempo, de se concentrar aí, pois a elevação educacional, por definição, obtém-se mediante sucessivos impulsos vindos de baixo.
O ciclo preparatório pretende constituir um ciclo de observação e orientação, que permita escolha mais esclarecida do subsequente curso a frequentar.
O ensino secundário, na sua fase ulterior, deve continuar a ter duplo fim, respeitante quer à preparação para o ensino superior quer à formação de profissionais para que se considere suficiente uma preparação relativamente abreviada. A primeira finalidade pertencerá especificamente ao curso liceal. Â segunda, porém, deverá corresponder maior variedade de cursos do que a actual, como reflexo da variedade de profissões que há necessidade de alimentar - não só cursos propriamente técnicos como outros: cursos comerciais, cursos de administração, cursos artísticos, cursos especiais. Atribui-se grande importância à expansão de todos esses cursos profissionais, integrados nos quadros do ensino secundário, pela premente necessidade de corresponder às fortes solicitações do mercado de emprego, que exige pessoal devidamente preparado de vários níveis.
A mesma razão aconselha também - passando agora ao grau subsequente
- a dar enorme expansão e a imprimir maior variedade ao ensino médio, situado entre o secundário e o superior. O ensino médio deverá, de futuro, absorver muitos alunos que hoje enveredam por estudos superiores sem para eles terem verdadeira vocação, permitindo a formação mais rápida de pessoal qualificado, dentro do respectivo nível, pessoal de que tanta necessidade existe. A este pensamento obedecem os esforços que se vêm fazendo (por enquanto sem toda a necessária projecção) No sentido da criação de novos estabelecimentos de ensino médio. Entendeu-se, aliás, que não se devia manter este domínio praticamente reservado ao Estado, como anteriormente acontecia, e por isso resolveu-se criar condições e estímulos ao concurso da iniciativa privada, publicando-se para tanto legislação adequada (Decreto-Lei n.º 47222, de 30 de Setembro de 1966). Tal iniciativa surtiu os seus efeitos, pois já foram apresentados ao Ministério da Educação Nacional e deferidos vários pedidos de criação de institutos particulares e encontram-se pendentes outros.
Quanto ao ensino superior, as reformas devem orientar-se sempre no sentido de ele proporcionar preparação cultural, científica, e técnica actualizada, integrando os novos saberes, mas sem a precipitada aceitação de modalidades ainda não suficientemente amadurecidas ou desprovidas do necessário nível, e decorrendo em ambiente vivo de investigação e irradiação de conhecimentos. Por outro lado, deve auxiliar-se a Universidade na resolução de um

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dos mais cruciantes problemas com que se debate hoje e que consiste na necessidade de atender a massa crescente de alunos, sem abaixamento de nível. «Uma das soluções insistentemente preconizadas (lê-se na comunicação ministerial sobre o projecto do Estatuto da Educação Nacional) é o sistema, que vai sendo adoptado por toda a parte, da criação de mais de um grau académico, sistema por força do qual muitos alunos são lançados na vida mais rapidamente, para o exercício de misteres que não requerem preparação tão longa, e as atenções, no campo do ensino e da investigação, se concentram depois em número mais reduzido de estudantes». Mas o grau mais baixo deve ter carácter verdadeiramente universitário ou superior - e não médio e muito menos secundário -, assentando também, como o mais elevado, em sólida formação científica de base. Foi a estrutura que já se imprimiu aos estudos professados nas Faculdades de Ciências, segundo a reforma operada pelo Decreto n.º 45 840, de 31 de Julho de 1964. Análogas «hipóteses de trabalho» (que não passam, por enquanto, de tais) estão a ser objecto de exame e apreciação, relativamente a outros cursos. É de notar que nem todos os cursos se compadecem com semelhante estrutura.
Em qualquer dos graus e ramos de ensino os estudos não devem ter duração desnecessária, operando-se a economia de tempo que num caso ou noutro possa porventura conseguir-se com a mais adequada organização dos respectivos planos e a intensificação da escolaridade anual. Mas há mínimos abaixo dos quais não se pode descer, sob pena de regressão de nível, confundindo o ensino superior com o médio e o médio com o secundário. O que deve é pôr-se ao alcance dos interessados maior gama de cursos, criando um estado de consciência cada vez mais favorável ao reconhecimento do valor social dos cursos secundários e médios e dos cursos superiores de 1.º grau. E deve outrossim criar-se maior permeabilidade entre os cursos do mesmo nível, para tornar mais fácil corrigir erros de vocação.

17. Ensino particular:

Objectivo: Fomentar o ensino particular, dentro da preocupação de o integrar ou assimilar verdadeiramente num sistema nacional de educação.

Pretende-se dar ao ensino particular papel mais importante dentro de um sistema nacional de educação. É a essa luz que se encara designadamente, como política a intensificar, a concessão de benefícios ou vantagens no tocante a instalação e funcionamento de estabelecimentos de ensino particular, com o objectivo de poder vir a tornar esse ensino tão acessível como o público - pelo menos para os económicamente carecidos - e assim, mediante a igualação ou aproximação de custos, proporcionar aos interessados real liberdade na opção a fazer. Por essa via, fomentar-se-á o alargamento da rede escolar (de forma menos trabalhosa e menos onerosa para o Estado), facilitar-se-á a escolha entre as duas modalidades de ensino e realizar-se-á ao mesmo tempo um fim de acção social escolar. Integra-se neste pensamento a Portaria n.º 20 904, de 13 de Novembro de 1964, que regula a concessão de subsídios para construção de edifícios destinados ao ensino particular. Outras providências, cujo estudo está desde já a merecer as atenções do Governo, são as tendentes a facilitar o recurso ao crédito e criar incentivos fiscais neste domínio.

18. Educação religiosa, moral, cívica, artística e física:

Objectivo: Fomentar a educação religiosa, moral, cívica, artística e física.

A acção educativa não deve tender apenas a desenvolver a inteligência; cumpre-lhe actuar também sobre os restantes atributos da personalidade. Nesta ideia se filiam múltiplas iniciativas adoptadas, como o fomento do ensino da moral e religião nas escolas primárias (Portaria n.º 21 490, de 25 de Agosto de 1963), as reformas já referidas da Junta Nacional da Educação e da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, a legislação ultimamente publicada sobre museus (Decreto-Lei n.º 46 758, de 18 de Dezembro de 1965) e sobre direitos de autor (Código dos Direitos de Autor, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 46 980, de 27 de Abril de 1966), o projecto de reforma do Conservatório Nacional, pendente na Junta Nacional da Educação, o Primeiro Esboço da Carta Desportiva (1962-1963), o Plano de Fomento Gimnodesportivo para 1966-1970, etc.

19. Educação permanente:

Objectivo: Fomentar a educação permanente ou continua.

A acção educativa não deve confinar-se no ensino propriamente dito, antes deve processar-se para além da escola ou das matérias curriculares, desenvolvendo-se ao longo da existência, em ordem a elevar o nível cultural ou evitar a regressão desse nível, aperfeiçoar ou actualizar conhecimentos, suprir como emergência a falta de escolaridade, manter o indivíduo apto, constantemente, a fazer face às novas exigências nascidas da evolução social e do progresso científico e técnico. Não se perdeu de vista este importante conceito de educação permanente ou contínua ao legislar-se, recentemente, sobre bibliotecas e arquivos (Decreto-Lei n.º 46 350, de 22 de Maio de 1965), sobre museus (citado Decreto-Lei n.º 46 758) e sobre direitos de autor (citado Código). À mesma ideia se reconduz a cuidadosa atenção que vem sendo dada às actividades circum-escolares, aliás de perto aparentadas com a acção social escolar.
A educação permanente, que comporta variedade infinita de manifestações, não deve nunca estruturar-se de modo a substituir-se organicamente à escolaridade e sobretudo a criar, nos responsáveis e nos interessados, a convicção de que a segunda, em face da primeira, é desnecessária ou menos necessária e pode deixar de ser objecto de todas as atenções que concitaria se a primeira não existisse. As actividades de formação escolar não podem ser prejudicadas, a nenhuma luz, pelas de formação extra-escolar, que possuem carácter meramente complementar ou subsidiário. Só a formação escolar, como formação integral, permite o desenvolvimento harmónico dos vários atributos da personalidade, fazendo verdadeiros homens, e não meros técnicos; e só ela, fornecendo preparação de base, possibilita ou favorece o progresso, a actualização ou adaptação a novas técnicas e a reconversão ou adaptação a novos empregos: vantagens tanto mais, apreciáveis quanto é certo que correspondem a necessidades cada vez mais prementes, determinadas pelos vertiginosos avanços tecnológicos.

20. Outros aspectos da acção educativa:

Objectivo: Promover o aperfeiçoamento constante dos restantes aspectos da acção educativa.

Todos os mais aspectos da acção educativa - para além dos atrás especificados - devem ser também ob-

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jecto de atenção permanente. A esta preocupação obedecem estudos que se vêm fazendo, estruturas que se vêm criando, iniciativas que se vêm pondo em prática, textos legais que se vêm publicando ou preparando, sobre matérias como: orientação escolar e profissional; expansão da educação infantil; especialidades do ensino de deficientes e maior desenvolvimento deste ensino; actualização coordenada de planos de estudo, programas e compêndios e renovação de métodos; utilização de novas técnicas educativas, designadamente as audiovisuais; férias lectivas e escolares; aproveitamento máximo das instalações; intensificação de cursos nocturnos e de cursos de férias, de cursos para adolescentes e adultos, de cursos de aperfeiçoamento e actualização; fomento cultural; expansão da cultura portuguesa no estrangeiro; cobertura escolar e cultural das comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo; etc.
Muito haveria a dizer sobre estes vários temas, todos de grande importância; mas o desejo de não alargar excessivamente o presente capítulo leva a omitir essas considerações. Não se deixará, no entanto, de escrever algo sobre a educação dos diminuídos, assim como das crianças normais privadas de ambiente familiar. Em relação aos primeiros, importa que o Ministério da Educação Nacional estruture cada vez melhor a acção educativa especializada de que elas necessitam e a que têm jus, a fim de poderem tornar-se elementos úteis e produtivos e realizar as suas legítimas aspirações. No que toca às segundas, deve quanto possível a sua educação vir a decorrer em convívio espontâneo com os restantes jovens, tendo as mesmas liberdades de opção de que estes beneficiam e recebendo daquele convívio os estímulos naturais indispensáveis ao desenvolvimento normal da personalidade e à sua regular integração no meio social.
Não se deixará também de sublinhar, entre tantas outras, a preocupação de intensificar a assistência cultural e escolar às comunidades portuguesas que vivem noutros países e de estreitar cada vez mais os laços espirituais com o Brasil. No que respeita, em especial, a este último aspecto, continuar-se-á a política de aproximação que se tem seguido - e de que é claro expoente o Acordo Cultural assinado em 7 de Setembro de 1966 -, política traduzida em múltiplas actividades de intercâmbio e colaboração, na concessão de bolsas, na atracção de estudantes brasileiros para as nossas Universidades, nos esforços ultimamente desenvolvidos em ordem à uniformização ortográfica e de nomenclatura gramatical, etc. Para além do prosseguimento e intensificação de previdências que se vêm adoptando, encaram-se outras, tais como a fundação no Brasil de um Instituto Português de Cultura (cujo diploma se está a preparar), a construção em Portugal de uma casa destinada a estudantes brasileiros e onde estes possam conviver com colegas portugueses, etc.
Muitas das inovações pedagógicas a adoptar ganham em se irem processando através de experiências vivas que as vão pondo à prova e orientando, permitindo assim a sua introdução gradual, ao mesmo tempo que criam ambiente favorável à sua aceitação e adestram convenientemente os que hão-de executá-las. Por isso se está a seguir esse caminho, nomeadamente na renovação de programas, métodos e compêndios. Vem-se realizando com o maior êxito, e grande repercussão no País e mesmo no estrangeiro, uma experiência tendente à modernização do ensino liceal da Matemática, e outras análogas se estão preparando, com o maior cuidado, relativamente às Ciências Naturais, Química, Física e Línguas Vivas (salientando-se, entre estas últimas, a relativa ao ensino do Português, na sequência da iniciativa que culminou na aprovação da Nomenclatura Gramatical Portuguesa, pela Portaria n.022 664, de 28 de Abril de 1967). Dada a extraordinária importância das experiências didácticas como processo da renovação da acção educativa, entendeu-se dever estabelecer sobre elas adequadas normas legais, e daí a publicação do Decreto-Lei n.º 47 587, de 10 de Março de 1967.

21. Exigências de pessoal qualificado:

Objectivo: Adaptar a escolaridade às exigências de pessoal qualificado.

Procurou-se prever essas exigências - como uma hipótese - no Projecto Regional do Mediterrâneo; e sem perder de vista as constantes mutações ocorridas em terreno tão movediço, dever-se-á tê-las em conta na criação de novos cursos, na organização dos planos de estudo e programas, numa acção esclarecedora sobre os cursos cuja frequência, do ponto de vista nacional, mais importa aumentar. A essas exigências dever-se-á atender também (já fora do âmbito educacional) pela concessão de adequadas vantagens às profissões para que há necessidade de atrair maior número de pessoas.

c) Aspectos específicos da investigação

22. Investigadores:

Objectivo: Promover o aumento do número de investigadores, sem prejuízo e antes com melhoria da sua qualidade, institucionalizando em termos gerais a carreira de investigador, como carreira autónoma, distinta da docente, embora com ela relacionada, e tornando-a, tanto quanto possível, atraente e estimulante.
Neste pensamento se integra o projecto do Estatuto da Educação Nacional, que procede à referida institucionalização e declara ter o investigador direito a remuneração que lhe permita dedicar-se inteiramente ao trabalho científico, embora reconhecendo a possibilidade de cumulação dessas funções com as docentes. E a mesma ideia será desenvolvida no estatuto do pessoal docente e investigador, em preparação.
Com dinheiros advindos do Plano Intercalar, nos últimos anos alargou-se de modo sensível o programa de bolsas destinadas à formação de investigadores; mas esse programa está ainda longe de corresponder às necessidades do País.
Por outro lado, cumpre generalizar os cursos de pós-graduação, especialmente propícios à formação do investigadores, podendo os respectivos alunos exercer simultaneamente funções docentes na qualidade de segundos-assistentes, como nalgumas escolas já sucede.
De todas estas providências oferece relevo muito especial a primeira, pois sem a institucionalização da carreira de investigador, como carreira atractiva, continuarão a perder-se para a investigação muitos que nela poderiam ser particularmente úteis. À falta dessa institucionalização, à falta de estabilidade e forte melhoria da condição de investigador, os cursos para pós-graduados com exclusiva finalidade científica terão escassos alunos, e dificilmente haverá candidatos válidos a bolsas de investigação em número muito superior aos actualmente contemplados.
Neste ponto convém fazer uma advertência, aliás de ordem geral e, portanto, aplicável também às matérias que constituem objecto dos números seguintes. Essa advertência consiste em chamar a atenção para que não há investigadores, não se faz investigação, só no domínio

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das ciências da Natureza. Conforme se reconheceu na já citada Conferência Interministerial da Ciência, realizada em Paris em Janeiro de 1966, as ciências sociais, como de modo geral as ciências humanas, as ciências do espírito, «não devem sofrer obliteração, relegadas para uma zona de penumbra pelos resultados espectaculares alcançados na órbita das chamadas ciências exactas. As ciências sociais [...] merecem igual protecção, igual carinho, porque tem por objecto o homem e portanto, inclusivamente, condicionam o próprio esforço que este despenda em prol das ciências da natureza e devem criar as condições da sua adaptação às transformações por estas operadas no mundo económico e físico. São imprescindível factor de espiritualização, que deve acompanhar e comandar as conquistas de ordem material». (Temas de Educação, p. 398).

23. Centros de investigação:

Objectivo: Estudar os diferentes tipos de centros de investigação e promover a criação de novos centros que ofereçam interesse e condições de viabilidade.

Daquele estudo acha-se incumbido o Instituto de Alta Cultura, que deverá realizá-lo em colaboração com a Direcção-Geral do Ensino Superior e o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa.
Temos aqui em vista - ao falar de centros de investigação - todas as organizações oficiais, de maiores ou menores dimensões, que se dedicam à investigação no âmbito do Ministério da Educação Nacional, seja qual for o seu estatuto jurídico e a sua denominação - institutos, centros de estudos, departamentos, laboratórios, etc. Todos esses centros de investigação, estejam na dependência da Direcção-Geral do Ensino Superior, através da Universidade de que fazem parte, ou na dependência do Instituto de Alta Cultura, se este os criou e mantém, todos eles, pela sua natureza e pelo seu fim, se encontram ao. serviço da Universidade - de uma ou de mais de uma. Terão de manter sempre com a Universidade as mais estreitas ligações: destinam-se fundamentalmente aos docentes universitários, que deles farão parte como investigadores e, eventualmente, podem mesmo aproveitar com. vantagem as respectivas instalações, com o apetrechamento científico, para nelas fazerem os seus cursos universitários aos alunos dos últimos anos. Tem de estar aqui sempre presente a ideia da ligação entre a investigação científica e o ensino.
Todo o exposto é exacto, mesmo nas hipóteses em que um princípio de concentração leva a criar unidades relativamente vastas, inclusive pela aglutinação de anteriores unidades menores. É um fenómeno paralelo ao que se dá na indústria. As pequenas unidades têm a sua razão de ser e são mesmo imprescindíveis em muitos casos; mas noutros só se pode alcançar verdadeiro rendimento, verdadeira produtividade, mediante a concentração, cujos limites devem fixar-se em função das circunstâncias. Há que procurar para cada caso a dimensão óptima, susceptível de proporcionar fecundo trabalho de. grupo, sem destruir o fundamental princípio da liberdade de investigação. Neste pensamento se inspirou a recente criação do Instituto de Física e Matemática (Decreto-Lei n.º 47424, de 28 de Dezembro de 1966), destinado em primeira linha à aglutinação de centros já existentes, e cuja orgânica e funcionamento devem obviamente, entender-se à luz das ideias acima expendidas. O Instituto terá as suas instalações em Lisboa, como outras organizações científicas que venham a criar-se, em obediência ao mesmo princípio de concentração, podem tê-las, naturalmente, em Coimbra ou no Porto.

24. Instalações dos centros de investigação e seu apetrechamento:

Objectivo: Intensificar os esforços de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações dos centros de investigação.

A essas instalações e apetrechamento é extensivo, em parte, o que atrás se disse acerca das instalações e apetrechamento escolares (supra, n.º 15).
É este um ponto da maior importância - mesmo de importância vital para o futuro e o destino da investigação no nosso país. É imprescindível que os investigadores tenham ao seu alcance os meios de trabalho de que necessitam. Haverá que evitar, obviamente, o desperdício de duplicações inúteis ou a aquisição de material que acaso fique imobilizado por negligência, por não se dominar bem o modo do seu funcionamento ou por se revelar afinal inadequado. Mas, ressalvadas estas hipóteses anómalas, cumpre apetrechar convenientemente os centros de investigação para poderem produzir todo o rendimento que deles será lícito exigir. No material científico também se compreendem, evidentemente, os livros e revistas, quer façam parte das bibliotecas próprias dos centros, quer das bibliotecas gerais das escolas ou das Universidades.

25. Coordenação da investigação no âmbito do Ministério da Educação Nacional:

Objectivo: Coordenar as actividades dos centros de investigação dependentes do Ministério da Educação Nacional, mas com ressalva da liberdade de investigação, que representa valor básico no domínio da investigação ligada ao ensino.
Essa coordenação deve ser exercida pelo Instituto de Alta Cultura, em colaboração com a Direcção-Geral do Ensino Superior; e porque tem de salvaguardar o princípio da liberdade de investigação, não pode assumir carácter imperativo, devendo traduzir-se sobretudo em acção de esclarecimento e estímulo, tendente a tirar a máxima utilidade dos esforços e dos gastos.
Apontam-se de seguida algumas modalidades que a referida acção pode revestir:

Promover a estruturação jurídica mais adequada dos diferentes tipos de centros de investigação;
Elaborar e manter actualizado o cadastro ou rol desses centros, com inventariação dos meios humanos e materiais de que cada um dispõe;
Elaborar e manter actualizada a lista dos trabalhos de investigação realizados ou em curso nos mesmos centros, com menção de todos os dados que possam ajudar a melhor compreender a sua natureza e o seu alcance;
Chamar a atenção para certos temas, que se afiguraria de grande interesse investigar;
Estimular os centros a programarem as suas actividades, estudando muito cuidadosamente as iniciativas a lançar e o modo de as porem em prática, de forma que essas iniciativas se revistam de toda a possível relevância e possam naturalmente ter primazia, numa apreciação de conjunto, as que se mostrem mais bem preparadas e de maior projecção (ideia que já presidiu aos três inquéritos atrás referidos, a que se procedeu para efeito das aplicações anuais da verba do Plano Intercalar destinada, entre outras, a actividades científicas);
Assegurar a adequada difusão e circulação de documentos e informações que possam interessar a uma esclarecida acção investigadora (como, além

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de tantos mais, os acima mencionados, respeitantes à inventariação dos centros de investigação e dos trabalhos neles efectuados ou em curso).

O que se diz dos centros de investigação é naturalmente extensivo, mutatis mutandis, aos investigadores individuais.
A acção exposta, que deve assentar em cuidadosos estudos e programações, tem sido assinalada como função essencial do Instituto de Alta Cultura, nas directrizes ministeriais que vêm sendo dadas a esse organismo desde a sua reforma, operada em 1964, directrizes ultimamente consubstanciadas em despacho doutrinário de 5 de Abril de 1967.

26. Coordenação da investigação em geral:

Objectivo: Promover a coordenação da investigação no seu conjunto, tanto no plano nacional como internacional.

A investigação, nas suas múltiplas modalidades - fundamental ou aplicada, científica ou meramente tecnológica, estadual ou particular, metropolitana ou ultramarina -, deve ser objecto de esforço de coordenação, tendente à definição de uma verdadeira política nacional que ressalve sempre a imprescindível liberdade da investigação conexa com o ensino. Esse esforço deverá estender-se ao terreno internacional, procurando estruturar-se sobretudo com os países a que nos ligam maiores afinidades, como o Brasil e a Espanha.
Um primeiro passo, e passo importante, no sentido da coordenação pretendida foi o representado pelo projecto sobre investigação científica e técnica em função das necessidades económico-sociais, em ordem a preparar o planeamento dessa investigação, projecto que - por iniciativa do Ministério da Educação Nacional e em colaboração com a O. C. D. E. - está a ser estudado e elaborado por um grupo de trabalho sob a superintendência de uma comissão interministerial (Portaria n.º 21 570, de 14 de Outubro de 1965).
A coordenação da investigação em geral acha-se prevista e regulada no projecto do Estatuto da Educação Nacional, que sobre ela estabelece as adequadas directrizes.
Atendendo, porém, à importância e urgência da matéria, e em antecipação e desenvolvimento dos preceitos que hão-de figurar no Estatuto, foi, em 11 de Julho de 1967, publicado o Decreto-Lei n.º 47 791, que criou, na Presidência do Conselho, a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, com a função de planear, coordenar e fomentar a investigação científica e tecnológica em todo o território nacional.

d) Principais deficiências da educação e da investigação em Portugal

27. Não obstante o esforço realizado e os progressos obtidos, que acabam de documentar-se, a educação e a investigação acusam ainda em Portugal certas deficiências, algumas das quais foram sendo postas em evidência ao longo da explanação anterior. Muitas de tais deficiências são comuns à generalidade dos países, pode dizer-se que a todos, em maior ou menor grau, e resultam de inadaptação das estruturas a novos fenómenos quantitativos e qualitativos, como o enorme afluxo estudantil, os progressos científicos e técnicos, o desenvolvimento económico, as crescentes necessidades de pessoal qualificado. Outras não têm esse mesmo carácter universal ou tão generalizado, ou assumem entre nós maior gravidade do que noutros países, como a investigação científica, que está longe de ter atingido o nível que seria de desejar e as necessidades modernas reclamam.
Se se quiser fazer enunciação muito rápida das principais deficiências, podem apontar-se as seguintes:

Infra-estruturas técnicas e administrativas: apesar dos assinalados progressos alcançados ultimamente nesse domínio, o aparelho director de que se impõe não possui ainda a amplitude e potencialidade necessárias;
Colaboração da iniciativa privada: esta inciativa tem aumentado, mas está longe do grau desejável, em parte por não se lhe proporcionarem todas as convenientes condições, em parte por não se lhe fazer apelo insistente e persistente;
Informação: ainda não se encontra organizada em termos de criar um estado de espírito generalizado que favoreça a resolução dos problemas respeitantes à educação e à investigação;
Produtividade do ensino: a fraca produtividade do ensino, traduzida no excesso, de repetências e portanto no alongamento real dos cursos, resulta de causas complexas, que estão a ser diagnosticadas para melhor poderem ser combatidas, pois envolve grande prejuízo para a Nação (não podendo o remédio achar-se num afrouxamento de exigência, fora de todos aqueles casos em que esta seja excessiva);
Cumprimento integral da escolaridade obrigatória: a efectivação dessa escolaridade é de modo geral uma realidade, mas apresenta algumas falhas, tais como abandonos que se verificam antes de concluída;
Escolaridade facultativa: tem-se expandido muito apreciavelmente nos últimos anos, mas precisa de ser ainda fortemente intensificada;
Meios de acção social escolar: também tem aumentado, mas não atingem, de modo algum, o enormíssimo volume de que se necessita;
Estatuto dos agentes de ensino: falta um adequado estatuto (aliás já em preparação) tendente a proporcionar aos agentes de ensino situação mais propícia ao cabal desempenho das suas funções; e - em larga medida como reflexo dessa falta - verifica-se insuficiência do seu número, preparação não suficientemente idónea de bastantes, percentagem excessiva dos puramente eventuais;
Rede escolar: apesar dos enormes progressos de que vem beneficiando, não corresponde às exigências (daí a enorme carência de pessoal qualificado que só verifica) e acusa, no confronto de certas regiões com outras, desníveis exagerados;
Instalações escolares e seu apetrechamento: sem embargo dos progressos muito sensíveis também aqui verificados, estão longe de dar satisfação completa; ainda há bastantes escolas a funcionar com instalações provisórias; os edifícios de muitas outras, expressamente construídos, já se encontram em mau estado ou superlotados; é precário o apetrechamento do número apreciável delas, sobretudo o material didáctico das escolas primárias, a cargo das câmaras municipais, que em regra as dotam insuficientemente, desse, material, dificultando a aplicação integral dos programas em vigor;
Outros aspectos da acção educativa: também se revelam deficientes outros aspectos, como a orientação escolar e profissional, que não dispõe das amplas estruturas e meios de que necessita; a educação infantil, que corresponde a lima necessidade cada vez maior e não está suficientemente disse-

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minada; o ensino de diminuídos, que sem embargo dos avanços verificados se encontra ainda muito distanciado da amplitude desejável; os planos de estudo, programas, métodos e compêndios, que precisam de ser renovados, na sequência de acções já empreendidas, em ordem a actualizá-los e coordená-los; o fomento cultural, que necessita de forte intensificação; etc.;
Carreira de investigador: ainda não se encontra institucionalizada, em termos gerais, e - sobretudo como reflexo da falta dessa institucionalização, aliás em estudo - é insuficiente o número de investigadores;
Centros de investigação: não são em número bastante, nem sempre estão convenientemente apetrechados, e alguns acusam estrutura inadequada;
Coordenação da investigação: ainda não existe uma coordenação apropriada, que, contudo, está em vias de se estruturar.

c) Conclusão

28. Os vários males de que enfermava a educação e a investigação em Portugal têm estado a ser combatidos, como resulta do que atrás ficou resumidamente exposto. Alguns venceram-se, outros atenuaram-se, e contra todos os subsistentes se têm assestadas as baterias, dentro de estratégia perfeitamente definida, que supõe concertada acção de fundo e de conjunto. Há um pensamento orientador, uma doutrina, numa palavra: uma política.
Dessa política apontaram-se alguns dos traços mais salientes, em síntese forçosamente imperfeita, e incompleta. Tem-se clara consciência dos fins ou objectivos a atingir, que já se vêm prosseguindo, e dos meios aptos para os alcançar, que também já se vêm pondo em prática, sob a forma de estudos, experiências, planos, reformas e outras realizações, tudo integrado num sistema, numa comum ideia norteadora.
As dimensões em que se tem de conter o presente capítulo não consentem ir mais longe na pormenorização. Os próprios investimentos adiante programados assentam em minuciosas análises, em cuidadosos cálculos feitos ao longo de exaustivos trabalhos - quer os trabalhos do Projecto Regional do Mediterrâneo, quer os do grupo incumbido dos estudos preliminares do presente capítulo. Um motivo de brevidade obriga a omitir essas análises, esses cálculos, que todavia (como os mais de actualização e pormenorização que vão continuar a processar-se), não deixarão de estar presentes na aplicação deste III Plano de Fomento. Apenas se apresentarão adiante (n.º 30) uns tantos quadros-sínteses que dêem ideia resumida de alguns dos principais aspectos da evolução recente na sua expressão numérica ou quantitativa.
Quanto à política em si, além de resultar dos actos de execução que ficaram descritos ou referidos, pode ver-se mais desenvolvidamente exposta numa série de declarações ministeriais compiladas em volume sob o título de Temas do Educação (1966), a que cumpre acrescentar: Reestruturação da Mocidade Portuguesa (1966); Para um Estatuto da Educação Nacional (1966); e Política Social Escolar (1967).

29. Tem-se assim á consciência de estar suficientemente adestrado para meter ombros à execução deste Plano, utilizando pára isso os meios já mobilizados e os mais que continuarão a estruturar-se, numa actuação que tem de ser constante para se tornar cada vez mais profícua.
Não poderá aliás contar-se apenas com os investimentos previstos no Plano e destinados, pela sua própria índole, a aplicações com o carácter de despesas extraordinárias. As receitas afectas às despesas ordinárias vêm aumentando sensivelmente; mas tem de aumentar em ritmo ainda mais acelerado, pois sem isso as actividades educativas é científicas não poderão alcançar todo o desenvolvimento imperiosa e urgentemente reclamado pelas necessidades do País.

30. Em anexo a este capítulo, inserem-se alguns mapas estatísticos que resumem a evolução recente do funcionamento do sistema escolar, através das respectivas frequências por graus e ramos de ensino, taxas de escolaridade por idades e repartição etária de população escolar pelos diferentes graus de ensino.

QUADRO N.º 1 (a)

Evolução da frequência escolar entre 1954-1955 e 1964-1965 (Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Sinais convencionais, adoptados nas publicações do Instituto Nacional de Estatística:

.. O fenómeno não existe.
o Resultado inferior ao módulo adoptado.
x Resultado ignorado.
- Total não correspondente à soma das parcelas indicadas.

Fonte: Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1955 e de 1964-1965.

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QUADRO N.º 2 (a)

Taxas de escolaridade em 1954-1955

(Ensino público e particular)

[Ver quadro na Imagem]

(a) Ver nota do quadro n.º 1.

Fonte: Cálculos sobre dados recolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1955.

QUADRO N.º 3 (a)

Taxas de escolaridade em 1964-1965

(Ensino público e particular)

[Ver quadro na imagem]

(a) Ver nota do quadro n.º 1.

Fonte: Cálculo sobre dados recolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1964-1965.

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QUADRO N.º 4 (a)

Repartição dos alunos segundo grupos etários em 1954-1955 e 1964-1965

(Ensino público e particular)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Ver nota no quadro n.º 1.

Fonte: Cálculos sobre dados recolhidos na Estatística da Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1955 e de 1964-1965.

QUADRO V (a)

Evolução da frequência escolar nos diversos ramos do ensino superior entre 1954-1955 e 1964-1965

[Ver Quadro na Imagem]

Fonte: Estatística de Educação, do Instituto Nacional de Estatística, de 1954-1955 e de 1964-1965.

(a) Ver nota do quadro n.º 1.
(b) Classificação adoptada nas publicações do Instituto Nacional de Estatística. Inclui os seguintes cursos:

Letras. - Cursos das Faculdades de Letras, de Filosofia e Teologia do ensino eclesiástico, e da Faculdade Pontifícia de Filosofia.

Belas-artes. - Cursos das Escolas Superiores de Belas-Artes de Lisboa e do Porto e cursos superiores de música. Eram designados em 1954-1955 por «cursos superiores de ensino artístico».

Direito. - Cursos das Faculdades de Direito.

Ciências sociais. - Em 1954-1955: cursos da Faculdade de Economia, do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (hoje denominado Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina). Em 1964-1965: além dos cursos mencionados, os do Instituto de Serviço Social, da Escola Superior de Organização Científica do Trabalho, do Instituto de Estudos Sociais e do Instituto de Estudos Superiores de Évora.

Ciências exactas e naturais. - Cursos das Faculdades de Ciências.

Engenharia. - Cursos da Faculdade de Engenharia e do Instituto Superior Técnico.

Ciências relativas à medicina. - Cursos das Faculdades de Medicina, da Faculdade e das Escolas de Farmácia e da Escola Técnica de Enfermeiras. Esta última não era considerada em 1954-1955.

Agronomia. - Cursos do Instituto Superior de Agronomia e da Escola Superior de Medicina Veterinária.

Militar. - Cursos da Academia Militar (em 1954-1955 Escola do Exército) e da Escola Naval.

Náutico. - Cursos da Escola Náutica.

QUADRO VI (a)

Repartição dos alunos do ensino superior em 1954-1955 e 1964-1965

(a) Ver nota do quadro n.º 1.
(b) Ver nota do quadro n.º 5.

Fonte: Cálculos sobre dados recolhidos na Estatística de Educação, do Instituto Nacional do Estatística, de 1954-1955 e de 1964-1965.

§ 2.º Objectivos

31. Os objectivos a prosseguir durante o sexénio do Plano, nos domínios da educação e da investigação ligada ao ensino, não diferem dos que ficaram descritos no parágrafo anterior (n.ºs 5 a 26).
Estes objectivos, que se interligam, formando rede coerente e ordenada, mantêm toda a sua actualidade e pertinência. E por isso devem permanecer como desideratos impulsionadores e orientadores da acção, dentro de fecundo princípio de continuidade, em ordem a desenvolver cada vez mais a educação e a investigação, e designadamente a levar de vencida as principais deficiências e carências com que se debatem esses primordiais sectores e de que também se fez breve resumo (n.º 27).

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32. Para maior facilidade de consulta, reproduzem-se a seguir os objectivos em referência, limitados à sua enunciação e desacompanhados pois das notas explicativas que ficaram formuladas, a propósito de cada um, nos citados lugares (n.ºs 5 a 26).
Indicar-se-ão sucessivamente:

a) Objectivos comuns à educação e à investigação;
b) Objectivos específicos da educação;
c) Objectivos específicos da investigação.

a) Objectivos comuns à educação e à investigação

33. Desenvolver e renovar as infra-estruturas técnicas e administrativas que servem de apoio e impulso coordenado a toda a actuação, dando-lhes o máximo de condições de eficiência e de adaptação às circunstâncias que vão evoluindo.
Definir princípios orientadores, planear acções, com base em elementos de ordem documental e estatística permanentemente actualizados, sempre dentro de imprescindível visão de conjunto, e acompanhar e vigiar a execução dos planos.
Estimular fortemente a iniciativa privada, chamando-a a colaborar cada vez mais no desenvolvimento da educação e da investigação.
Exercer vasta e persistente acção de esclarecimento dos espíritos sobre os assuntos da educação e investigação, com vista a criar um estado de consciência cada vez mais generalizado, propício ao desenvolvimento desses fundamentais domínios da vida humana.

b) Objectivos específicos da educação

34. Intensificar o esforço de generalização, melhoria de qualidade e aumento de rendimento da acção educativa.

ssegurar a efectividade da escolaridade obrigatória.
Incrementar a frequência escolar dos graus de ensino não obrigatórios.
Fomentar a acção social escolar, nas suas múltiplas modalidades, já em ordem a possibilitar os estudos, para além da escolaridade obrigatória, a todos os que tenham real capacidade para os prosseguir, independentemente das suas condições económicas, já em ordem a proporcionar aos estudantes em geral condições propícias para tirarem dos estudos o máximo rendimento.
Promover a melhoria da qualidade e o acréscimo do número de agentes de ensino, melhorando a sua situação, tornando mais cuidada a sua preparação, criando novas condições e estímulos à sua permanente actualização e aperfeiçoamento, aumentando o sentido da sua responsabilidade profissional, imprimindo o maior prestígio à função docente e rodeando-a de todos os possíveis atractivos.
Promover o alargamento da rede escolar e ao mesmo tempo estudá-la cuidadosamente, no conjunto dos vários graus e ramos de ensino, tanto público como particular, acompanhando e orientando permanentemente a sua evolução coordenada, de modo a adensar o número dos estabelecimentos de ensino e distribuí-los pelo País segundo os melhores critérios de desenvolvimento regional da educação.
Intensificar o esforço de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações escolares e ao mesmo tempo realizar estudos permanentes e sistemáticos tendentes a encontrar para essas instalações as melhores soluções sob o tríplice ponto de vista de técnica de construção, pedagógico e económico.
Continuar os trabalhos tendentes à reforma das estruturas escolares, na sequência dos diplomas legais que criaram o ciclo complementar do ensino primário e o ciclo preparatório do ensino secundário.
Fomentar o ensino particular, dentro da preocupação de o integrar ou assimilar verdadeiramente num sistema nacional de educação.
Fomentar a educação religiosa, moral, cívica, artística e física.
Fomentar a educação permanente ou contínua.
Promover o aperfeiçoamento constante dos restantes aspectos da acção educativa.
Adaptar a escolaridade às exigências de pessoal qualificado.

c) Objectivos específicos da investigação

35. Promover o aumento do número de investigadores, sem prejuízo, e antes com melhoria, da sua qualidade, institucionalizando em termos gerais a carreira de investigador, como carreira autónoma, distinta da docente, embora com ela relacionada, e tornando-a tanto quanto possível atraente e estimulante.
Estudar os diferentes tipos de centros de investigação e promover a criação de novos centros que ofereçam interesse e condições de viabilidade.
Intensificar os esforços de construção, beneficiação e apetrechamento das instalações dos centros de investigação.
Coordenar as actividades dos centros de investigação dependentes do Ministério da Educação Nacional, com ressalva da liberdade de investigação, que representa valor básico no domínio da investigação ligada ao ensino.
Promover a coordenação da investigação no seu conjunto, tanto no plano nacional como no internacional.

§ 3.º Providências legais e administrativas

36. Tal como os objectivos a prosseguir durante a vigência do III Plano de Fomento, no que respeita à educação e à investigação conexa com o ensino, assim também as providências legais e administrativas a adoptar no mesmo período, para consecução desses objectivos, devem inspirar-se numa ideia de continuidade em relação às que vêm sendo praticadas e que igualmente ficaram resumidas no § 1.º (n.ºs 5 a 26).
Tem de persistir-se no caminho que está a ser percorrido, levando por diante os numerosos e complexos estudos em curso, não largando de mão os planos estabelecidos, e antes os sujeitando a permanente esforço de actualização, de concretização, de aperfeiçoamento, acompanhando e vigiando de perto a execução respectiva, prosseguindo na linha das múltiplas reformas que têm sido promulgadas ou estão em vias de preparação.
Há sobretudo que tornar letra de lei o projecto do Estatuto da Educação Nacional, que ficará sendo a grande bússola orientadora das actividades de educação e investigação, e dentro de cujos quadros e em harmonia com cujas directrizes se haverão de situar e desenvolver, futuramente, as demais providências legais e administrativas respeitantes a estas matérias.
No que respeita em particular à investigação, há que traçar as linhas gerais de uma política científica e tecnológica nacional e promover a coordenação das respectivas actividades no espaço português. São tarefas que incumbem, em primeira linha, à recém-criada Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, que deverá acompanhar a marcha dos projectos e trabalhos previstos neste Plano, em matéria de investigação, com vista ao desempenho das suas atribuições coordenadoras.

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§ 4.º Investimentos

37. São os seguintes os investimentos previstos no âmbito do III Plano de Fomento para o sector da educação e da investigação ligada ao ensino:

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Inclui 600 000 contos de contribuição extraordinária do Fundo de Desemprego para construções escolares.

38. Para perfeita compreensão deste quadro torna-se necessário formular as seguintes observações:
a) Tal como no Plano Intercalar, os investimentos aqui programados não representam a totalidade dos que virão a efectuar-se, durante o próximo sexénio, em matéria de educação e investigação ligada ao ensino, no nosso país. Efectivamente, o quadro acima contém apenas os investimentos a fazer na metrópole, por iniciativa do Ministério da Educação Nacional, e com carácter de primeira prioridade. Os investimentos a realizar nos territórios ultramarinos constam dos respectivos capítulos. Ainda, noutros lugares do presente Plano se prevêem investimentos que se integram também na acção educativa (v. g. adiante, na secção III, sobre formação profissional extra-escolar). E por falta de elementos não se incluem no Plano investimentos não estaduais, que certamente se elevarão a montante apreciável, como os consistentes na criação e instalação ou ampliação de estabelecimentos de ensino particular. Por outro lado, os investimentos discriminados revestem-se de natureza imperativa, devendo entretanto estudar-se a forma de promover a sua ampliação no decurso da vigência do Plano.
b) Sob a rubrica «Instalações e apetrechamento inicial» compreendem-se a construção, compra ou beneficiação extraordinária de edifícios ou instalações de natureza mobiliária, destinados a estabelecimentos de ensino ou outros estabelecimentos, organismos ou serviços dependentes do Ministério da Educação Nacional e, bem assim, o respectivo apetrechamento inicial, incluindo o audiovisual (mas exceptuando o apetrechamento que por lei compete a outras entidades, com o das escolas primárias, a fornecer pelas câmaras municipais). Têm-se em vista as instalações e apetrechamento inicial de estabelecimentos de ensino primário, de ensino secundário (ciclo preparatório, ensino liceal, ensino técnico), de ensino médio, de ensino superior e investigação e ainda instalações e apetrechamento inicial respeitante à acção social escolar (designadamente residências de estudantes e cantinas escolares) e outras. Da verba correspondente a esta rubrica sairão as importâncias destinadas a obras a efectuar pelo Ministério das Obras Públicas por iniciativa e de acordo com o Ministério da Educação Nacional. Aos programas, projectos e execução dessas obras deverá presidir sempre o espírito de maior economicidade, como se acentuou atrás (n.º 15), adoptando-se soluções sóbrias e funcionais que possibilitem a rápida execução dos planos e o máximo aproveitamento dos dinheiros - aproveitamento que tem de constituir preocupação dominante em todos os sectores.
c) Sob a rubrica «Reapetrechamento» compreende-se o reapetrechamento que se torna necessário, incluindo o audiovisual, de estabelecimentos de ensino ou outros estabelecimentos, organismos ou serviços dependentes do Ministério da Educação Nacional. O respectivo regime legal, constante do Decreto-Lei n.º 41114, de 16 de Maio de 1957, deve ser revisto, em ordem a actualizar-se e tornar-se mais expedito.
d) Sob a rubrica «Actividades» compreendem-se actividades extraordinárias de fomento da educação e da investigação. O seu conteúdo é aproximadamente o mesmo da correspondente rubrica do Plano Intercalar (capítulo VIII, n.º 23). Tem-se em vista prosseguir na senda aberta, sob este aspecto, por esse Plano, continuando a estimular, por meio do respectivo financiamento, actividades educacionais ou científicas de carácter extraordinário. Trata-se de actividades pedagógicas (v. g. experiências didácticas e aperfeiçoamento de pessoal docente e investigador), actividades culturais (no plano interno e externo), formas de acção social escolar, actividades de investigação, trabalhos de planeamento e difusão e outras realizações, que pela sua índole exprimam uma ideia de fomento extraordinário nos domínios da educação e da ciência. Quanto à saúde escolar, que constitui um dos campos de acção social escolar, figura no capítulo sobre a saúde (capítulo XII) uma verba de 37 500 contos, que será aplicada pelo Ministério da Educação Nacional, de cuja jurisdição a saúde escolar depende.
e) A discriminação das verbas feitas no quadro acima poderá vir a sofrer as alterações que se mostrem aconselháveis, como é próprio de um plano de fomento.
f) As dotações ordinárias do Ministério da Educação Nacional deverão evoluir de harmonia com as dotações extraordinárias previstas no Plano de Fomento, em ordem a acompanhar de forma adequada o esforço por este representado.

39. Tem interesse confrontar, em breve síntese, os investimentos atrás programados com os correspondentes investimentos previstos no Plano Intercalar. Para o confronto se tornar facilmente compreensível, citar-se-ão as verbas do Plano Intercalar multiplicadas pelo factor 2, uma vez que o período de vigência do III Plano de Fomento (seis anos) será duplo do período de vigência do Plano Intercalar (três anos). Temos assim:

[Ver Quadro na Imagem]

SECÇÃO II

Investigação não ligada ao ensino

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

45. Os programas propostos no domínio da investigação não ligada ao ensino para o período do Plano Intercalar de Fomento não puderam ter integral concretização - pelo que mantém ainda actualidade as considerações de carácter geral e sectorial respeitantes à evolução dos orga-

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nismos de investigação públicos então formuladas. Como se apontava nos trabalhos preparatórios desse Plano, os maiores estrangulamentos do sector continuam a ser consequência, não só do nível das dotações concedidas, mas também da exiguidade dos quadros técnicos de investigadores. Por outro lado, a adopção de providências legislativas básicas, a criação de infra-estruturas científicas e técnicas com incidência especial no aperfeiçoamento dos quadros de investigadores e a coordenação das actividades de investigação pura e aplicada deverão enquadrar-se numa política científica de âmbito nacional ainda a definir, como se refere atrás no n.º 26. Se são estes os problemas fundamentais que se deparam, ao desenvolvimento imediato do sector, a previsão das linhas da sua evolução futura insere aspectos diferentes, pois no momento actual é difícil marcar os domínios prioritários da investigação não ligada ao ensino que deverão estar na base do desenvolvimento tecnológico de certos sectores produtivos. Todavia, os estudos do grupo de trabalho sobre investigação científica e técnica relacionada com o desenvolvimento económico, a que se faz referência no citado n.º 26 e que, de uma maneira sistemática, tem vindo a debruçar-se sobre o assunto, poderá fornecer durante o período do Plano orientações de valor, que deverão ser consideradas nos programas anuais de execução.

§ 2.º Objectivos

46. Os projectos apresentados pelos vários sectores e a previsão dos respectivos encargos foram feitos considerando a prioridade dos programas já em curso ou de interesse relevante, de acordo com hipóteses verosímeis de aumento dos quadros dos órgãos de investigação.

47. Estatística. - As actividades previstas neste domínio incluem o lançamento de operações estatísticas especiais a cargo do Instituto Nacional de Estatística. As principais operações de base consideradas são as seguintes:

Inquérito às explorações agrícolas no continente em 1968;
Censo da distribuição e serviços para a metrópole em 1969;
Censo da população e da habitação para a metrópole em 1970;
Censo agrícola para a metrópole em 1972.

Programação económica. - Prevê-se a realização de diversos estudos destinados ao aperfeiçoamento das técnicas de planeamento económico.
As acções a desenvolver pelas divisões e núcleos técnicos da Direcção de Planeamento do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, em colaboração com o Instituto Nacional de Estatística e os grupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, têm por objectivo a recolha de elementos e o aprofundamento de estudos já iniciados relativamente aos seguintes domínios:

Contabilidade nacional;
Programação das principais variáveis e sectores macroeconómicos;
Análises regionais;
Avaliação económica de projectos de investimentos;
Execução dos planos de fomento e políticas conjunturais.

Agricultura. - Os objectivos fundamentais deste III Plano no sector agrícola visam especificamente o fomento da pecuária, das forragens, da horto-fruti-floricultura e da cerealicultura na continuação dos estudos em curso subordinados ao tema geral do aumento da produtividade agrícola. Reúnem-se nos seguintes grupos:

Solos;
Vegetação e reconhecimentos agrários;
Microbiologia, fisiologia genética e melhoramento de plantas;
Técnicas culturais;
Protecção sanitária das culturas e dos produtos armazenados;
Tecnologia agrícola;
Economia e estatística;
Formação e especialização de técnicos necessários aos referidos trabalhos de investigação 1.

Além destes objectivos, a selecção dos empreendimentos da investigação aplicada à agricultura teve em vista atacar e resolver aspectos práticos prioritariamente escolhidos de apoio directo às actividades apontadas como de primeira ordem na evolução do sector agrícola.

Silvicultura e aquicultura. - Com vista a este III Plano, mantiveram-se praticamente os projectos elaborados para o Plano Intercalar e já em curso. São os seguintes:

Melhoramentos e adaptação das principais essências florestais às diversas zonas ecológicas do País;
Melhoramentos silvo-pastoris;
Estudos de tecnologia florestal;
Investigação aplicada no campo da protecção e defesa das plantas em viveiros e dos arvoredos, abrangendo o combate às doenças, pragas e incêndios;
Melhoramento dos solos florestais;
Estudos agrícolas, tendo em vista a protecção, defesa e fomento da piscicultura nas águas interiores do País.

Pecuária. - A investigação neste domínio deverá orientar-se para os grandes problemas da nossa produção animal. Assim, os projectos apresentados, que envolverão vários anos de estudo e observação, relacionam-se em particular com o melhoramento animal, nutrição e fisiopatologia da reprodução, que, além do interesse científico, se revestem de grande importância pela influência directa que podem vir a ter no aumento de produtividade dos gados.
O programa proposto especifica-se nas seguintes rubricas:

Melhoramento animal;
Técnicas e métodos de exploração animal;
Estudos sobre nutrição animal;
Estudos imunogenéticos em bovinos;
Doenças carenciais nos animais domésticos.
Determinação dos elementos mínimos;
Bases técnico-científicas da produção industrial do frango de mesa;
Estudos de fisiopatologia da reprodução animal;

1 As actividades de formação e especialização desses técnicos serão efectuadas de acordo com um programa comum a vários serviços dependentes da Secretaria de Estado da Agricultura.

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Estudos tecnológicos e laboratoriais dos produtos de origem animal;
Diagnóstico e estudos imunológlcos sobre o vírus da peste suína africana;
Ensaios de técnicas aplicáveis ao diagnóstico laboratorial de doenças de origem bacteriana de grande incidência nos animais;
Imunoprofilaxia dos processos infecciosos não específicos dos animais novos;
Estudo das doenças infecto-contagiosas das aves com repercussões económicas graves;
Estudo sobre o diagnóstico da leucose dos bovinos em Portugal;
Estudo das doenças parasitárias das diferentes espécies animais com repercussões económicas e sanitárias graves.

Indústrias extractivas. - Prevê-se que a investigação aplicada nestas indústrias venha a expandir-se consideràvelmente nos próximos anos, devido à evolução natural do sector mineiro, pelo facto de estar a processar-se o aproveitamento em maior grau das substâncias metálicas e, sobretudo, das não metálicas.
A acção a desenvolver no período de 1968-1973 incluirá as seguintes rubricas:

Prosseguimento do levantamento da carta geológica de Portugal;
Aplicação de métodos de prospecção geológica, geofísica e geoquímica a jazigos minerais;
Estudos técnico-económicos relativos às explorações minerais, incluindo a utilização racional de materiais e equipamento;
Estudos de medidas de higiene e segurança a aplicar nas minas e pedreiras;
Aplicação de técnicas físico-químicas a jazigos minerais e outras formações com interesse económico;
Estudos de preparação mecânica de minérios portugueses e outras substâncias minerais.

Indústrias transformadoras. - A evolução proposta das actividades de investigação e assistência técnica do Instituto Nacional de Investigação Industrial assenta nos seguintes pressupostos: o desenvolvimento industrial português continuará a processar-se de harmonia com as técnicas consideradas mais aconselháveis para cada grau de evolução e as exigências do desenvolvimento regional; os recursos humanos deverão procurar obter-se em escala crescente para o arranque de novas ou mais amplas actividades à custa de elementos saídos das escolas superiores e médias.
Por estas razões, e tendo em consideração a fase actual de desenvolvimento do Instituto Nacional de Investigação Industrial, consideram-se como objectivos principais das actividades deste organismo, para o sexénio de 1968-1973, os seguintes:

Articulação efectiva da acção do Instituto com a de outras instituições no quadro de uma política nacional de desenvolvimento industrial;
Aperfeiçoamento dos serviços e dos respectivos equipamentos e intensificação da actividade dos grupos de trabalho.

A efectivação e conveniente desenvolvimento de cada um destes pontos seriam simultaneamente acompanhados de outras acções e intervenções junto da indústria.
Dentro de tal orientação, os projectos de actividades para o sexénio de 1968-1973 poderão ser classificados nos seguintes grupos: estruturação e lançamento de acções de industrial design e de um design center; estudos de investigação e de laboratório para assistência técnica à indústria; estudos sobre madeiras; estudos de produtividade, organização científica da produção e do trabalho industrial; estudos de economia industrial; novas instalações do Instituto.

Construção e obras públicas. - A experiência colhida, através do notável esforço do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, para o desenvolvimento das actividades de investigação na construção mais relevantes para o progresso do País mostra claramente a necessidade de no período do Plano, além de se prosseguirem os programas já em curso, intensificar o estudo de outros problemas específicos de primordial relevância para o desenvolvimento económico.
Tendo presente também que a difusão dos conhecimentos e experiências já acumulados constitui elo imprescindível da cadeia de actividades de uma instituição de investigação, sem o qual se corre o risco de os resultados e a especialização não serem utilizados ou serem-no com grande atraso, inscreve-se uma verba para a actualização dos serviços de documentação do L. N. E. C.
Dentro desta orientação, foi planeada a actividade incluída nas seguintes rubricas:

Novas concepções, dimensionamento e observação de barragens e suas fundações;
Dimensionamento, construção e exploração de estradas;
Dimensionamento e comportamento de obras fluviais e marítimas;
Propriedades, condição de utilização e comportamento em obras de materiais de construção;
Normalização e regulamentação;
Estudos de natureza geral;
Informação e difusão.

Electricidade. - A fase de desenvolvimento já alcançada pela nossa indústria justifica que se inicie a progressiva libertação de grande número de licenças estrangeiras, a que ainda está sujeita, através da conquista da confiança no mercado nacional e da capacidade de concorrência nos mercados externos. O recurso a complexos laboratoriais passou a ser pedra basilar para o aperfeiçoamento da técnica de produção e garantia de segurança nos equipamentos. Porém, os largos investimentos necessários para a montagem desses laboratórios, devidos à vertiginosa evolução da técnica, custo elevado dos equipamentos e sua rápida desactualização, são incomportáveis para a nossa estrutura industrial e por isso exigem certo apoio e orientação por parte do Estado.
O conhecimento de que a investigação aplicada na energia eléctrica influenciaria consideràvelmente o progresso do sector e a manifestação, por parte das empresas, da existência de necessidades bem concretas e inadiáveis levam a concluir pela oportunidade da criação de um organismo de investigação e ensaio no domínio da electrotecnia no plano nacional, sob a forma de associação mista de serviços do Estado e actividades particulares e cujos encargos se explicitam no mapa de investimentos.

Energia nuclear. - Apontam-se como duas grandes linhas de orientação da investigação neste domínio o aproveitamento dos combustíveis nucleares nacionais e o desenvolvimento de técnicas inerentes à construção e exploração de centrais nucleares. Em relação à primeira,

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trata-se de concretizar a mais conveniente forma de trabalhar os combustíveis nucleares nacionais para o mercado interno e externo, dentro da orientação política que venha a ser definida; quanto à segunda linha, ficou prevista, no capítulo «Energia» do presente Plano, a instalação de uma primeira central nuclear no País por alturas de 1975, pelo que se torna necessário intensificar os estudos relativos ao desenvolvimento das respectivas técnicas.
Estas, em linhas gerais, as razões dos dois primeiros projectos que se apresentam e dão conteúdo aos restantes: produção e distribuição de isótopos radioactivos e aplicação de radiações; protecção contra radiações e contribuição para o desenvolvimento tecnológico do País em domínios ligados à energia nuclear.

Pesca; saúde pública. - Incluem-se, por memória, as verbas dedicadas à investigação aplicada nestes sectores, de acordo com o que é indicado nos respectivos capítulos.

Meteorologia e geofísica. - Os projectos de investigação propostos são:

Atlas climatológico e hidrológico dá Península Ibérica;
Estudo climo-hidrológico de grandes bacias portuguesas e luso-espanholas;
Previsão de cheias;
Previsão matemática do tempo;
Investigação da sismotectónica do continente, Açores e Madeira.

Os três primeiros projectos são de particular interesse para o plano de trabalho do Decénio Hidrológico Internacional, em que colabora uma comissão nacional criada pelo Decreto-Lei. n.º 47 573, de 3 de Março de 1967. A sua realização apresenta a maior importância, não só para as diversas actividades económicas, como para a defesa nacional.

Cartografia. - Os projectos apresentados referem-se à actualização da carta 1/25 000 de Portugal metropolitano, a cargo dos Serviços Cartográficos do Exército, considerada como elemento fundamental para o estudo e apoio na maioria dos trabalhos de fomento e múltiplas actividades particulares. Pretende-se que, no período correspondente a este III Plano, possam ser realizados 60 por cento daquela tarefa.

Urbanização e habitação. - Finalmente, apresenta-se uma proposta de investimento relativa a estudos de planeamento nacional e regional nos domínios da habitação e urbanização, cuja realização se impõe com urgência, conforme é indicado no capítulo relativo a este sector.

§ 3.º Providências legais e administrativas

48. Providências gerais. - Para que a investigação aplicada possa florescer, considera-se necessária a adopção, entre outras, das seguintes providências:

a) Ampliação e adequação conveniente às necessidades nacionais da formação de pessoal técnico a todos os níveis, em particular de pessoal com formação universitária e média;
b) Melhoria das condições do pessoal de investigação, atribuindo-lhe remunerações condignas que permitam o recrutamento dos elementos mais válidos e garantam a sua permanência na prestação do serviço. A instituição do regime de serviço extraordinário pago constitui fórmula aconselhável para a melhoria dos vencimentos e para a actividade de investigação ser exercida, como se impõe, em regime de tempo integral;
c) Remodelação das leis orgânicas que se encontram desactualizadas e solução dos problemas relativos à situação dos funcionários pagos por verbas extraordinárias;
d) Estabelecimento, de condições que permitam ampliar a colaboração entre as Universidades e os institutos de investigação não ligada ao ensino;
e) Fomento da investigação a realizar ou patrocinar pelo sector privado, mediante disposições apropriadas.

49. Medidas especiais que visam a resolução de problemas específicos de certos domínios:

Criação de um organismo nacional de investigação aplicada no domínio da electricidade, sob a forma de associação mista de serviços do Estado e actividades particulares ligadas à electricidade - fórmula que se considera com interesse para se tornar extensiva a outros sectores;
Revisão da lei orgânica do Serviço Meteorológico Nacional e da legislação complementar, na parte relativa à situação dos funcionários técnicos, com vista a tornar viável o seu recrutamento e os ajustamentos dos quadros, para atender à evolução da meteorologia e da geofísica e às necessidades da investigação naquelas disciplinas.

§ 4.º Investimentos

50. Os investimentos relativos aos projectos propostos no parágrafo anterior são apresentados no quadro seguinte, com discriminação das fontes de financiamento, incluindo-se ao mesmo tempo, por memória, as actividades de investigação aplicada contempladas em outros capítulos do Plano.

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Por memória; não totalizado.

O carácter prioritário dos sectores da agricultura e indústria e a importância da investigação aplicada para o desenvolvimento económico aconselham a considerar, em

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prazo tão curto quanto possível, o substancial alargamento do respectivo ritmo de actividades e dos financiamentos que lhes deverão ser atribuídos. Contudo, o aumento de dotações deverá ser condicionado pela reorganização, das estruturas sectoriais de investigação em causa, que sara realizada DOS próximos anos, de modo a permitir que a desejável expansão seja contemplada na revisão do Plano. Parece também conveniente, generalizar a prática de obter a participação do sector privado no financiamento da investigação aplicada, o que contribuirá, designadamente, para a sua melhor adaptação às necessidades próprias das actividades produtivas. Nesse sentido, consideram-se desde já previsões para o fomento industrial, a electricidade e a programação económica, que correspondem a solicitações mais instantes do sector privado, devendo ainda salientar-se que a investigação relativa à construção civil será em grande medida assegurada por recursos particulares - para além dos montantes previstos no Plano - e à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, em que estes financiamentos representam já mais de 50 por cento das despesas de investigação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Durante a execução do Plano serão considerados os reajustamentos institucionais indispensáveis para assegurar a efectiva concretização destas directrizes nos diversos departamentos interessadas.

SECÇÃO III

Formação profissional extra-escolar

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

51. A regularização do mercado do trabalho através da satisfação da procura de mão-de-obra qualificada, incluindo a reconversão dos milhares de trabalhadores r mais que as actividades agrícolas deixam de absorver e tendem a transferir-se para outros sectores produtivos, foi já apresentada no Plano Intercalar do Fomento como uma das acções prioritárias a enfrentar perante o desenvolvimento sócio-económico proposto. A formação profissional extra-escolar, que desde há muito se vem praticando no, âmbito de vários Ministérios, tornou-se no momento actual domínio de capital importância, cujas infra-estruturas podem considerar-se lançadas. Com efeito, desde 1962 que no Ministério das Corporações e Previdência Social se estuda a problemática da formação extra-escolar e se têm realizado as primeiras recolhas de elementos com vista ao estabelecimento de previsões a curto prazo das principais carências de mão-de-obra. A criação do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra e a actividade desenvolvida nos primeiros anos do Plano Intercalar de Fomento permitiram, além do diagnóstico actualizado das distorções existentes no mercado do emprego, um. melhor conhecimento da forma como este subsector vem sendo encarado em países com maior experiência, a fim de formular soluções adequadas à nossa actual situação. Aliás, a própria evolução técnica e as transformações económico-sociais que continuamente se processam conferem à educação extra-escolar importante papel na readaptação da população activa à vida profissional, de acordo com o desenvolvimento das aptidões e interesses de cada um e as novas possibilidades de emprego que se apresentem. Deste modo, há todo um conjunto de acções cujo objectivo é completar e actualizar, de harmonia, com as necessidades da política do trabalho, a acção desenvolvida pelo sistema escolar. O campo de actuação aberto a este tipo de formação profissional, partindo do conhecimento das necessidades de mão-de-obra, obtido especialmente através da recolha de elementos pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, conduz a adoptar um sistema maleável de cursos relativamente curtos, intensivos e com boa rentabilidade, enquadrados por estruturas que sirvam os beneficiários, tanto no início - através dos serviços de orientação profissional - como após a formação - mediante serviços de colocação.

52. A realização de esforços neste domínio por parte de vários serviços responsáveis, nomeadamente, os organismos corporativos e a iniciativa privada, leva a reconhecer a urgência da elaboração de um plano nacional de formação profissional, a definir de acordo com o Ministério da Educação Nacional, que estabeleça um sistema flexível de equivalências, em concordância com as prioridades verificadas, bem como o reconhecimento legal das qualificações profissionais adquiridas.

53. As actividades a promover pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra ou, com a sua colaboração, pelas empresas particulares e organismos corporativos, até 1973, foram já referidas no respectivo capítulo do Plano Intercalar de Fomento.
A acção daqueles organismos, se bem que represente esforço inicial considerável, mostra, no entanto, resultados ainda abaixo das necessidades; mas a realização dos estudos preparatórios do lançamento das várias acções de formação profissional extra-escolar no âmbito do Plano para 1965-1967 representa notável avanço, com o qual se deve contar em relação à capacidade de realização dos projectos para o sexénio que se segue.
Em 1966, a execução do plano do Ministério das Corporações e Previdência Social para 1965-1967 apresentava a capacidade de formação, em diversos domínios, de 4442 profissionais por ano, em 31 centros, já instituídos ou prestes a iniciarem as suas funções, o que é notável, sobretudo considerando o número de profissões abrangidas. Tais realizações, embora significativas, são, no entanto, ainda insuficientes para as necessidades, que se calculam na formação, por aprendizagem, e com referência a todos os tipos de ensino, de cerca de 450 000 trabalhadores no período de 1960-1973. Desde logo se admitiu não ser viável ao sector público arcar com tamanho empreendimento, e por isso se contou com a indispensável colaboração dos organismos corporativos e da iniciativa privada. A evolução verificada neste aspecto é, todavia, de molde a aconselhar medidas eficazes de fomento que permitam intensificar aquela colaboração.

54. Em síntese, os principais problemas que o desenvolvimento da formação profissional extra-escolar defronta residem na necessidade de melhor coordenação das várias entidades intervenientes nesse domínio, na conveniência em definir uma política de formação profissional à escala nacional, na vantagem em proceder à Correspondente regulamentação legal e na premência de recrutar pessoal em quantidade e com o nível qualitativo requerido, em termos que não sejam de molde a envolver prejuízo para a acção escolar.

§ 2.º Objectivos

55. São os seguintes os objectivos gerais propostos neste domínio para o período de 1968-1973:

Intensificar o ritmo de realizações, tendo em vista a aceleração do processo de desenvolvimento económico;

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Aperfeiçoar o sistema da formação extra-escolar, prevendo acções imediatas no tocante a:

Encarregados, chefes de equipa, contramestres e equiparados;
Desenhadores, preparadores de trabalho e controladores de qualidade;

Tornar o sistema maleável, de modo a corresponder às exigências que & política de mão-de-obra terá de acompanhar;
Desenvolver as acções de formação extra-escolar na agricultura, onde os problemas de mão-de-obra justificam pronta intervenção;
Tornar as acções de formação extensivas a toda a metrópole, de acordo com a ordenação do desenvolvimento regional apresentada neste Plano, fixando, em pólos estratégicos de desenvolvimento, os Centros fixos, de acordo com as actividades económicas locais, e fazendo irradiar a acção desses centros através do incremento de cursos itinerantes, centros móveis e de apoio aos cursos dos organismos corporativos;
Promover a investigação de novos métodos, material e instalações, que melhor se coadunem com os objectivos da formação profissional extra-escolar;
Fomentar a participação das empresas e intensificar a colaboração das entidades particulares e corporativas, através da rede de órgãos já criados ou propostos neste capítulo.

O programa para o período de 1968-1973, que se descreve no quadro de investimentos, resultou de escolha cuidadosa dos projectos apresentados, tomando por base o critério da hierarquia das actividades com maior reflexo no desenvolvimento da economia nacional.
Os dados posteriormente fornecidos, no âmbito dos trabalhos preparatórios deste III Plano, pelos numerosos órgãos técnicos consultivos e directivos criados não modificam sensivelmente a hierarquia então proposta, proporcionando apenas melhor conhecimento do interesse das actividades relativamente aos projectos agora previstos, o que mais facilmente permite aprontar os planos de estudo e adiantar a elaboração de muitos programas. Salienta-se a importância atribuída neste III Plano ao sector agrícola e ao turismo, ambos considerados prioritários, entre as actividades carecidas, no domínio da aprendizagem e qualificação profissional. O ordenamento dos outros ramos de actividade, sob este ponto de vista, não difere sensivelmente do que resultaria do alinhamento das actividades económicas, segundo a ordem decrescente do seu contributo para o produto nacional bruto, com relevo para os sectores das indústrias matalomecânicas, construção civil e pescas.

§ 3.º Providências legais e administrativas

56. Em complemento do programa proposto e como síntese das considerações feitas ao longo do presente capítulo, propõe-se que na vigência do Plano sejam adoptadas as seguintes medidas de política, em matéria de formação profissional, pela via legislativa ou regulamentar adequada:

1) Criação do Conselho Nacional de Formação Profissional, com representação de todos os departamentos e entidades públicas ou privadas com responsabilidades na matéria;
2) Intensificação, em estreita colaboração com o Ministério da Educação Nacional, dos estudos tendentes à necessária coordenação das actividades de formação extra-escolar com a política de educação nacional definida por aquele Ministério;
3) Providências no sentido de:

a) Assegurar à formação escolar um desenvolvimento que permita à formação extra-escolar dedicar-se, em princípio, ao aperfeiçoamento e reconversão profissionais;
b) Estabelecer entre os cursos de uma e de outra as relações possíveis;

4) Regulamentação da concessão de empréstimos pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra às empresas, para fomento das suas acções de formação profissional;
5) Regulamentação geral das relações de aprendizagem, sem prejuízo do aperfeiçoamento das normas constantes das convenções colectivas, que deverão mais frequentemente fixar condições de apoio à formação profissional extra-escolar de cada sector, quer assegurando a sua comparticipação financeira e técnica, quer reconhecendo prioridade de emprego aos indivíduos assim formados;
6) Estabelecimento da obrigatoriedade de as empresas sem serviços próprios de formação facilitarem aos seus aprendizes e profissionais a frequência dos centros, em condições a estabelecer, sem prejuízo das suas obrigações relativamente às escolas técnicas, nos termos dos artigos 57.º a 61.º do Regulamento do Ensino Técnico Profissional;
7) Desenvolvimento da política de associação da Organização Corporativa às responsabilidades da formação profissional extra-escolar, pela sua participação directa no estudo, planeamento, execução, gestão e financiamento das acções em que esteja sectorialmente interessada.

§ 4.º Investimentos

57. Apresentam-se, nos quadros seguintes, os projectos e respectivos investimentos, cuja execução ficará a cargo da Secretaria de Estado da Agricultura e do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, em associação, sempre que possível, com os organismos corporativos.
Às acções programadas pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, segundo os objectivos propostos, corresponderá o investimento global de 619 653 contos. Tendo em conta, no entanto, a cobertura dos custos de funcionamento das secções instaladas em prosseguimento do Plano para 1965-1967, o volume das necessidades financeiras elevar-se-á a 895 353 contos.

58. Do programa proposto pelo Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, a executar em colaboração com os organismos corporativos, autarquias locais e iniciativa privada, cabem ao primeiro organismo 89,3 por cento do financiamento total, tornando-se indispensável para o efeito a elevação de 15 para 20 por cento da percentagem sobre as receitas do Fundo de Desemprego para o Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, de harmonia com o disposto no Decreto-Lei n.º 44 506, de 10 de Agosto de 1962.

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[Ver Quadro na Imagem]

SECÇÃO IV

Resumo dos investimentos

Subsectores:

Milhares de contos
Educação e investigação ligada ao ensino ....... 4 000
Investigação não ligada ao ensino .............. 594
Formação profissional extra-escolar ............ 1 049,3
5 643,3

CAPITULO XI

Habitação e urbanização

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

1. Na sequência do Plano Intercalar e por idênticos motivos, considerou-se indispensável que o III Plano incluísse um capítulo consagrado à habitação, ao mesmo tempo que se reconheceu como condição de viabilidade do progresso do sector o tratamento simultâneo dos problemas urbanísticos. Com efeito, as situações que actualmente se deparam nestes domínios, os reflexos das condições de alojamento da população sobre a actividade económica nacional, a preocupação de obter a melhor rentabilidade dos recursos financeiros existentes, são factores que concorrem para realçar a importância de que continua a revestir-se a intervenção do sector público com vista ao fomento da construção de habitações de finalidade social e à disciplina dos investimentos privados, submetendo-os às exigências fundamentais do bem comum. Este duplo objectivo do planeamento habitacional determina desde logo a perspectiva em que deverá situar-se a efectivação do acesso à casa, índice expressivo do nível de progresso e bem-estar dos povos.

2. Para melhor se avaliar a capacidade de intervenção de que o Estado dispõe no sentido de orientar e influenciar o desenvolvimento do sector, basta verificar que tem cabido a empresas privadas o financiamento da maior parte das noivas construções para habitação, ao passo que os capitais investidos neste domínio pelo sector público e semipúblico apenas representaram, em 1965, 12,4 por cento do total 1. Por outro lado, o valor médio das percentagens anuais da formação bruta de capital fixo em casas de habitação, em relação ao total, baixou de 20,5 por cento no período de 1953-1958 para 17,7 por cento no hexénio seguinte, o que revela, que o investimemto global no País tem aumentado mais rapidamente do que a parcela destinada a habitações.
Em termos absolutos, o produto gerado no sector habitacional progrediu, entre 1953 e 1964, à taxa média anual de 3,5 por cento, tendo atingido em 1965 aproximadamente 3 209 000 contos. Paralelamente, a formação bruta de capital fixo em edifícios para habitação cresceu à taxa de 6,9 por cento, situando-se em 3 873 000 contos em 1965.

3. Os dados constantes do X Recenseamento Geral da População, referentes ao ano de 1960, são omissos relativamente a alguns aspectos importantes do sector, não permitindo determinar com rigor as Carências actuais, de alojamentos. É, porém, de admitir que a situação habitacional do País não tenha melhorado sensivelmente no último, hexénio, sendo certo que os elementos utilizados permitem aperfeiçoar as conclusões dos estudos preparatórios do Plano Intercalar 2 e facultam o apoio indispensável para a definição dos objectivos que irão orientar as actividades do sector durante o período de 1968-1973.

1 A percentagem indicada inclui cerca de 74 000 contos correspondentes a empréstimos concedidos ao abrigo da Lei n.º 2093.
2 O tomo VI ("Condições de Habitação dos Agregados Domésticos") do X Recenseamento Geral da População teve publicação posterior ao apuramento final das estimativas que serviram de base para o Plano Intercalar.

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4. Entre as necessidades mais instantes figura a respeitante a famílias sem habitação ou com habitação sem ser em prédio. Trata-se de situação que assume particular acuidade nos centros urbanos. Com efeito, metade daquelas famílias encontram-se no distrito de Lisboa e, quase um quinto no de Setúbal. De modo geral, são os distritos mais desenvolvidos do litoral que contribuem com maior número de famílias nas condições apontadas. Dos casos verificados nas ilhas adjacentes, mais de metade correspondiam ao distrito do Funchal.
Outro aspecto igualmente ligado às zonas mais densamente urbanizadas refere-se a famílias que ocupam parte de fogo. Verifica-se que 53 por cento destas famílias vivem no distrito de Lisboa e 13,1 por cento no do Porto.
Pelo que respeita ao grau de ocupação dos fogos, observa-se que o número médio de habitantes por divisão era de 1,11 em 1960, cifra comparável às correspondentes a países como a Espanha (0,93), a França (1,01), a Itália (1,14) e a Grécia (1,45). No mesmo ano, existiam 228 000 agregados domésticos habitando fogos superlotados 1.

5. As situações atrás analisadas reflectem as carências momentâneas registadas em 1960, sem referência, portanto, à parcela resultante da formação de novos lares, das migrações internas da população e do envelhecimento do património imobiliário, parcela estimada, no total, em aproximadamente 40 000 fogos por ano, correspondendo cerca de 24 000 a aglomerados urbanos e 16 000 às zonas rurais.

6. A cobertura estatística dos fogos anualmente construídos no País não é suficiente para cifrar com segurança a evolução d>a actividade construtora de habitações. Os valores fornecidos pelos dois últimos censos permitem, contudo, observar o aumento de cerca de 286 000 fogos entre 1950 e 1960, valor que representa um crescimento médio anual de aproximadamente 29 000.

7. Entre os múltiplos factores de que depende o correcto equacionamento da problemática deste sector, figura o respeitante ao desnível verificado entre a capacidade económica de alguns sectores da população e o custo da habitação. Sabe-se, com efeito, que muitas famílias não dispõem de rendimentos que permitam suportar a renda de um fogo com satisfatórias condições de alojamento. É aspecto que assume particular importância, sobretudo quando se tem presente, como se referiu, ser a maior parte dos fogos construída pela iniciativa privada, que não tem conseguido compatibilizar as suas preocupações de rendimento dos capitais investidos com a satisfação das necessidades reais da comunidade. À instituição do regime de casas de renda limitada, estabelecido com vista a corrigir essa situação, depararam-se circunstâncias que dificultaram a sua aplicação e reduziram, assim, os benefícios pretendidos.
Por outro lado, a actividade construtora torna cada vez mais necessária a definição de uma política de terrenos que facilite a adopção de soluções estabelecidas segundo critérios de rentabilidade social. A especulação no mercado de terrenos não se coaduna com a necessidade de construir casas acessíveis às- famílias de mais fracos recursos e origina atrasos sempre inconvenientes na execução dos programas estabelecidos.

8. Deve ainda notar-se que o desenvolvimento do sector habitacional está em estreita ligação com a resolução de problemas urbanísticos. Com efeito, a existência de infra-estruturas - água potável, acessos, saneamento, electrificação -, a proximidade de escolas, espaços livres e locais de trabalho, os transportes, são aspectos não menos importantes do que os das características da casa ou edificação. Assim, só a actuação conjugada nos dois domínios em causa pode permitir a obtenção prévia de terrenos devidamente localizados e a construção oportuna das infra-estruturas essenciais e do equipamento urbano elementar.
Não deve esquecer-se o esforço despendido nos últimos anos em estudos urbanísticos de âmbito regional, mas reconhece-se que a eficácia dos planos elaborados, tanto regionais, como locais, tem de ser aperfeiçoada, pois a maior parte das soluções neles propostas reveste carácter meramente indicativo, sujeitando-se às alterações que lhes determine a acção concreta do sector privado, o qual, em muitos casos, conserva a iniciativa das realizações e estabelece, em larga medida, opções fundamentais de política habitacional e urbanística.

9. O Plano Intercalar incluiu nos objectivos fixados para o triénio de 1965-1967 um conjunto de empreendimentos prioritários e medidas de política a fim de ocorrer às necessidades mais urgentes e criar as condições requeridas para a ordenada expansão do sector, tendo-se previsto a construção de 21 671 fogos, com investimentos públicos de cerca de 2 milhões de contos.
Todavia, os resultados conseguidos nos dois primeiros anos de vigência daquele Plano parecem indicar que os programas inscritos dificilmente poderão cumprir-se na íntegra. Com efeito, os organismos responsáveis pelas realizações previstas defrontaram com estrangulamentos semelhantes àqueles que ao sector se deparavam no passado: dificuldades e demoras na obtenção de terrenos, aumento do custo das construções e consequentes atrasos no cumprimento dos contratos. Semelhantes factos aconselham, a que durante o período deste III Plano se atribua especial importância à revisão dos aspectos que condicionam a execução dos programas anuais em que se irão concretizando os objectivos a atingir.

§ 2.º Objectivos

10. A análise do sector e, sobretudo, da sua evolução nos últimos anos, leva a concluir que as bases que fundamentaram os objectivos estabelecidos para o Plano Intercalar não sofreram alteração apreciável, pelo que a directriz então fixada continua válida para este III Plano. Nota-se apenas que os estudos recentemente elaborados permitem definir orientações mais concretas para a acção a empreender.
Por outro lado, a natureza dos problemas suscitados neste domínio recomenda se dê a mais alta prioridade à revisão das estruturas em que se processa a actividade do sector, uma vez que dessa reforma orgânica depende e êxito da concepção e da execução de qualquer programa de empreendimentos para melhorar a situação actual.
Assim, retomando a linha de orientação esboçada no Plano Intercalar, estabelecem-se para o período de 1968-1973 os objectivos principais a seguir enunciados.

11. Com vista à revisão das estruturas do sector:
a) Definição das bases orientadoras de uma política global da habitação e adopção das correspondentes me-

1 Classificaram-se de superlotados os fogos com três ou mais pessoas por divisão.

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didas de carácter institucional, financeiro e técnico que permitam pôr ao serviço dessa política todos os meios humanos, materiais e financeiros com que o sector possa contar;
b) Actualização e elaboração sistemática de planos urbanísticos;
c) Estabelecimento de uma política de terrenos que permita dispor, oportunamente e a preços não especulativos, dos terrenos necessários à realização de planos de desenvolvimento urbanístico 6 habitacional;
d) Preparação de técnicos especializados e promoção da investigação de base e aplicada, bem como da difusão de conhecimentos em matéria respeitante ao sector.
Por se reconhecer o carácter decisivo da reforma a efectuar nestes aspectos básicos da problemática do sector, foi prevista, no Plano Intercalar, a criação de um órgão destinado a orientar a política de habitação e as acções de urbanização com ela relacionadas, o qual continua a impor-se como necessidade imperiosa para poderem ser desempenhadas, em condições de eficácia, as funções de estudo, planeamento e coordenação requeridas pelos fins em vista e presentemente exercidas de forma dispersa e insatisfatória.

12. Sem prejuízo da acção que o mencionado órgão venha a exercer durante o hexénio de vigência deste III Plano, haverá, entretanto, que dar continuidade à actividade construtora de habitações e infra-estruturas urbanas, para ocorrer a situações mais urgentemente carecidas de solução.
O programa estabelecido para o período de 1968-1973 baseia-se, em primeiro lugar, na continuação das actividades do sector público e semipúblico - o qual, dentro dos regimes legais existentes, deverá ter a seu cargo a construção de cerca de 50 000 fogos - e na prestação de apoio à actividade privada, de maneira a obter resultados de alcance social de parte das habitações por ela construídas. Os empreendimentos previstos localizam-se nas áreas urbanas e suburbanas onde reside a maior parte das famílias com alojamento sem ser em prédio e nas áreas rurais, segundo prioridades a estabelecer em conformidade com os planos de desenvolvimento regional.
No domínio urbanístico, proceder-se-á ao planeamento das zonas urbanas cuja evolução se processou desordenadamente, dotando-as com equipamento adequado, e serão elaborados e executados planos de urbanização dos locais em que se preveja a construção dos fogos programados, em ritmo que acompanhe o crescimento da procura. Ao mesmo tempo, deverá alargar-se o âmbito dos estudos respeitantes ao planeamento físico do território, assegurando, assim, conhecimentos mais profundos num domínio que muito influi nos programas de valorização regional.

§ 3.º Medidas de política habitacional

13. As necessidades de alojamento determinam que, no prosseguimento da orientação apontada pelo Plano Intercalar, sejam tomadas várias providências legais e administrativas destinadas a criar condições necessárias à execução dos programas que irão sendo estabelecidos para o período do Plano e a remover as causas que presentemente impedem que a expansão do sector se faça segundo os critérios mais convenientes. A política habitacional a seguir nos próximos seis anos incluirá, entre as suas preocupações dominantes, decidida intervenção nos domínios que a seguir se mencionam.

a) Orientação da iniciativa privada

A orientação, coordenação e estímulo da iniciativa privada no sentido da construção de habitações de interesse social serão tarefas fundamentais do organismo central atrás referido, com vista ao aumento da participação dos capitais particulares na resolução do problema habitacional, particularmente pelo que respeita aos sectores populacionais de mais modestos recursos, onde, por razões de ordem económica e financeira, se tem feito sentir quase em exclusivo a acção dos organismos estaduais e para-estaduais, naturalmente incapazes, por si sós, de resolver a situação. Os objectivos propostos de orientação dos capitais privados para o investimento no sector da habitação social deverão concretizar-se através de medidas de disciplina, condicionamento e incentivo, como sejam a concessão de facilidades na aquisição de terrenos, designadamente de ordem judicial ou mediante a atribuição de prioridades nos planos de urbanização, o estabelecimento de condições favoráveis na obtenção do crédito, mercê de um particular regime de protecção quando orientado para a habitação social, e à definição de normas a respeito da qualidade e custo das construções e do nível das rendas. Sem prejuízo das soluções adoptadas no sentido proposto, deverão em particular ser também estudadas medidas de ordem fiscal susceptíveis de constituir poderoso incentivo para a construção social, recorrendo eventualmente a sistemas de compensação, como igualmente deve ser estudada a viabilidade da adopção entre nós de fórmulas de compensação de juros sobre os capitais de empréstimo orientados pela iniciativa privada para a construção de habitações de índole social.
A política a executar visará a disciplina do financiamento genérico das habitações construídas pelo sector privado com vista a conseguir mais justa e equitativa compatibilização entre o rendimento dos capitais investidos e o desejável nível das rendas.
Acentua-se, por último, que o financiamento directo da construção de habitações pelo sector público e semi-público terá de conjugar-se necessariamente com as modalidades de acção acima referidas, garantindo unidade de objectivos.

b) Coordenação do sector habitacional e do planeamento urbano

Destinado a intervir na coordenação das actividades do sector, o órgão central assegurará a integração dos seus próprios programas em planos urbanísticos mais amplos, dado que uma política racional de habitação beneficiará o planeamento urbano e será, reciprocamente, favorecida por este. Conhecem-se, com efeito, as consequências nocivas de uma actuação insuficiente neste domínio, designadamente a elevação do preço dos terrenos, a adopção de soluções de emergência e os mais prejuízos decorrentes da improvisação e da falta de acção coordenada. Não pode, além disso, ignorar-se que, com o desenvolvimento industrial do País, terão cada vez maior vulto e agudeza os problemas a enfrentar nesta matéria.

c) Disciplina da construção civil

A orgânica conveniente da indústria de construção é objectivo que transcende o âmbito deste sector e mereceu análise pormenorizada em capitulo próprio. Dada, porém, a sua evidente conexão com os programas de fomento habitacional, não poderá aqui deixar de salientar-se a necessidade de a curto prazo, se proceder à racionalização e normalização dos métodos de trabalho, à actuali-

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zação dos processos e à estabilização da sua actividade relativamente aos quadros técnicos e de mão-de-obra e à produção de materiais.

d) Política de terrenos

A intenção de dar decidido impulso à actividade do sector confere primacial importância à política de terrenos para a execução de planos habitacionais e urbanísticos consentâneos com a magnitude dos problemas existentes e a acção que é mister empreender. Nestas condições, deverão ser estudadas e publicadas, durante o período do III Plano, providências em ordem a facilitar a constituição de reservas de terrenos, a aumentar a celeridade do processo de expropriação, a promover a estabilização dos preços dos terrenos e a assegurar as mais condições necessárias para incrementar a rentabilidade social dos investimentos realizados em casas de habitação e conseguir ocupação pré-ordenada do território. Este objectivo poderá, eventualmente, requerer medidas especiais, como sejam a revisão do sistema de avaliação dos terrenos e a das normas legais tendentes a impedir a especulação.

e) Promoção do planeamento urbanístico

Trata-se de problema que requer providências especiais, não só nos aspectos inerentes à problemática habitacional, mas também em sentido amplo de planeamento físico a nível nacional, tendo em vista assegurar a adequada utilização do território com base em critérios de ordenação urbana e regional dos estabelecimentos e edificações.
Para a consecução do primeiro objectivo - designadamente a elaboração e coordenação dos planos de urbanização locais e parciais e a construção de infra-estruturas e equipamento essencial nas zonas abrangidas pelos programas habitacionais deste III Plano -, haverá que conjugar a acção dos organismos responsáveis pela orientação geral neste domínio (Direcção-Geral dos Serviços do Urbanização o autarquias locais) com a actividade das entidades que têm a seu cargo a execução dos referidos programas, os quais deverão ser submetidos à apreciação daqueles organismos orientadores com a antecedência necessária para o efeito. Em face da escassez de técnicos e recursos que actualmente se depara à maioria das câmaras municipais, deverá ser estudada a viabilidade da criação de gabinetes técnicos capazes de abranger conjuntos de municípios convenientemente agrupados.
Pelo que respeita às tarefas de planeamento das regiões e sub-regiões que hão-de enquadrar os mencionados planos de urbanização, torna-se necessário assegurar activa participação dos serviços responsáveis nos trabalhos atribuídos ou a atribuir à Divisão de Planeamento Regional, do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, e aos órgãos regionais de planeamento a criar. Haverá igualmente que proceder à reorganização interna dos vários serviços de modo que possam desempenhar as respectivas tarefas de forma conveniente.

§ 4.º Investimentos e projectos

14. Indicam-se, em primeiro lugar, os programas atribuídos aos organismos públicos e semipúblicos para o hexénio de 1968-1973. Estes empreendimentos incluem a realização de cerca de 50 000 fogos, repartidos pelas várias entidades interessadas segundo o mapa seguinte, no qual também figuram os correspondentes investimentos em terrenos, construção e urbanização.

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não inclui as casas para funcionários públicos e dos corpos administrativos, a cargo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, por não ser possível estimar desde já as disponibilidades financeiras para esse eleito. Os planos referentes a esta rubrica serão inscritos nos programas anuais de execução do Plano. Prevê-se ainda que, pelo Ministério da Justiça, através dos seus fundos próprios, seja intensificada a construção de habitações para funcionários de justiça.
(b) Empreendimentos comparticipados pelo Estado, através da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização.
(c) Inclui a construção de casas de renda económica (10 600 fogos) e as habitações adquiridas, construídas ou beneficiadas com empréstimos concedidos ao abrigo da Lei n.º 2092 (14 400 fogos).

15. Os investimentos do quadro anterior discriminam-se como a seguir se indica:

1) Os 5000 fogos a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais correspondem à actividade construtora de casas económicas e serão financiados pelo Orçamento Geral do Estado (70 000 contos), pelas autarquias locais (120 000 contos) e pelas instituições de Previdência (570 000 contos).
2) Os empreendimentos atribuídos às câmaras municipais, Misericórdias, etc., e comparticipados pelo Estado, através da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, incluem habitações para famílias de menores recursos, a construir ao abrigo do Decreto-Lei n.º 35 578, casas destinadas aos Serviços Sociais da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana, habitações para o Património dos Pobres e iniciativas de autoconstrução referidas no Decreto-Lei n.º 44 645. Os investimentos previstos, no valor de 470 000 contos, serão financiados pelo Orçamento Geral do Estado (6000 contos), pelo Fundo de Desemprego (84 000 contos), pelas autarquias locais (330 000 contos) e pela iniciativa particular (50 000 contos).
3) Na sequência da actividade que tem vindo a desenvolver no domínio da, construção de habitações de renda económica, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 42 454, prevê a Câmara Municipal de Lisboa a execução de 3600 fogos, aos quais correspondem investimentos de cerca de 340 000 contos, financiados pela referida autarquia local.
4) A cargo da Câmara Municipal do Porto estará a construção de 3600 fogos. O financiamento das verbas necessárias para esse efeito será assegurado pelo Fundo de Desemprego (40 000 contos) e pelas autarquias locais (290 000 contos).
5) No domínio da habitação rural, prevê-se a construção de 4500 fogos, a cargo da Junta de Colonização Interna. Espera-se que estes investimentos, no valor de 440 000 coutos, sejam financiados pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas, mediante empréstimos a obter junto do Fundo de Abastecimento, da Caixa Geral de Depósitos, Crédito

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e Previdência e de outras instituições de crédito (no total de 410 000 contos) e pela iniciativa particular (30 000 contos).
6) Está prevista, a cargo da Junta Central das Casas dos Pescadores, a construção de 2000 fogos destinados a pescadores. Estes empreendimentos implicam investimentos de 140 000 contos, que se admite sejam financiados por empréstimos da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência (114 000 contos), pelas autarquias locais (20 000 contos) e por comparticipação do Fundo de Desemprego (6000 contos).
7) A cargo dos Serviços Socais das Forças Armadas, encontra-se a construção de casas de renda económica para militares. O programa estabelecido para o hexénio de 1968-1973 prevê investimentos de cerca de 180 000 contos na construção de 1200 fogos. O montante indicado será financiado pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência.
8) Os investimentos a financiar pelas instituições de Previdência abrangem dois tipos de actividade: a construção de casas de renda económica (10 600 fogos) e a concessão de empréstimos, ao abrigo da Lei n.º 2092, para aquisição, construção ou beneficiação de habitações (14 400 fogos). O valor global dos investimentos é de 3 540 000 contos, a suportar pelas instituições de Previdência (2 600 000 contos), pelas autarquias locais (280 000 contos), pelo Fundo de Desemprego (100 000 contos) e pela iniciativa particular (560 000 contos).

16. Além dos investimentos expressamente incluídos no Plano, será de referir que o número de fogos a construir pelo sector privado, no período de 1968-1973, deverá atingir, pelo menos, a ordem dos 200 000. Os investimentos correspondentes estimam-se em cerca de 40 milhões de contos, incluindo o custo da urbanização, parcialmente suportado pelas autarquias locais.

17. No domínio urbanístico, além dos empreendimentos incluídos nas rubricas anteriores, prevêem-se os seguintes investimentos:
1) Reforço do abastecimento de água da região de Lisboa: o financiamento e a realização deste empreendimento, no valor de 600 000 contos, encontra-se a cargo da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa.
2) Melhoramentos urbanos: o programa inclui a construção de equipamento urbano elementar (mercados, matadouros, etc.) e implica investimentos de 1 200 000 contos, financiados pelo Fundo de Desemprego (320 000 contos) e pelas autarquias locais (880 000 contos).

18. Os investimentos prioritários previstos para o período de 1968-1973 podem assim resumir-se:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Esta verba terá inscrição prioritária no orçamento ordinário.

CAPITULO XII

Saúde

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

a) Generalidades

1. Da importância dos problemas sanitários decorre a necessidade, crescente e largamente sentida, de assegurar o seu enquadramento no desenvolvimento económico-social do País, bem como o reconhecimento da prioridade inerente à saúde, simultaneamente objectivo e factor de progresso. Com efeito, a saúde constitui um dos aspectos fundamentais do bem comum, e nela reside um direito que entrou, de facto, na consciência dos povos. E não pode, por outro lado, ignorar-se a forte incidência do estado sanitário da população sobre o próprio processo de desenvolvimento nacional. O recurso aos serviços sanitários não deverá, portanto, estar condicionado pela capacidade económica de cada pessoa, cabendo ao Estado papel preponderante no sentido de garantir a qualquer indivíduo os cuidados de que precisa para atingir, manter ou recuperar um estado de saúde que se traduza em bem-estar físico e mental.
Foi o reconhecimento destas realidades que levou o Governo a criar, em 1958, o Ministério da Saúde e Assistência e a promover a aprovação pela Assembleia Nacional da Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, que promulgou as bases da política da saúde e assistência, a qual se encontra em execução gradual, através de medidas da mais diversa natureza, cuja enumeração não cabe neste contexto. Pelos mesmos motivos, a acção a desenvolver no campo da saúde e assistência foi incluída no âmbito dos planos de fomento, orientação que o Plano Intercalar iniciou e agora se confirma. Espera-se que a execução deste III Plano marque progresso sensível, nos métodos e nas realizações, em relação ao que se pôde levar a cabo no triénio 1965-1967. Com efeito, o sector dispõe actualmente de uma estrutura de apoio técnico suficiente e de um grupo de trabalho permanente, no âmbito da Comissão Interministerial de Planeamento; está, pois, desta vez assegurada a sua inserção na orgânica coordenadora da programação do desenvolvimento económico e social, o que certamente se reflectirá num equacionamento mais amplo dos problemas e na preparação mais eficaz dos empreendimentos - designadamente nos casos em que houver competências departamentais a fazer convergir para objectivos comuns.
Esta acrescida eficiência executiva será o natural complemento de uma preparação que, sem dúvida, se fez em moldes mais compreensivos e sistematizados.

2. No período de 1953-1964, o produto dos serviços de saúde cresceu à taxa anual média de 3,9 por cento, tendo atingido em 1965 cerca de 1049 milhares de contos. No mesmo período, a formação bruta de capital fixo no sector apresentou evolução irregular, sem tendência marcada de crescimento, tendo atingido em 1965 o valor de aproximadamente, 145 milhares de contos 1, dos quais 123 milhares couberem ao sector público e 22 milhares à iniciativa privada.
Os valores absolutos dos gastos do Estado em actividades de saúde e assistência sofreram no período de 1959-1964, evolução marcadamente favorável, embora o nível

1 O valor anual médio correspondente ao período de 1961-1965 é de 167 milhares de contos

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atingido em 1965 (1 897 100 contos) não ultrapasse 2 por cento do rendimento nacional.
A participação do Ministério da Saúde e Assistência 1 nos gastos públicos do sector (não incluindo a colaboração com a Previdência) representava em 1965 apenas 56,6 por cento do total, o que evidencia a dispersão que continua afectando o conjunto dos serviços directamente ligados às actividades respectivas 2.

3. A situação do sector na metrópole pode apreciar-se através de alguns indicadores gerais comummente utilizados para exprimir o nível sanitário das populações. Assim, a taxa de mortalidade geral equipara-se hoje à da generalidade dos países europeus. Trata-se, porém, de índice condicionado pela composição etária da população, mais favorável, portanto, quando aplicado a países em que predominam os grupos etários jovens, como é o caso de Portugal. A taxa de mortalidade infantil - mais significativa quanto à salubridade do meio ambiente e ao próprio nível social - tem decrescido na metrópole gradualmente, desde 1955. Mas o seu valor em 1964 (69,0) era ainda elevado. À mortalidade de 1 a 4 anos de idade corresponderam, no continente, em 1962, taxas de 7,3 para o sexo masculino e de 6,7 para o sexo feminino. O seu valor médio baixou de 15,2 no período de 1948-1952, para 8,5 no período de 1958-1962, o que significa redução apreciável. Paralelamente, os valores médios respeitantes à metrópole acusavam variação de 13,9 para 9,4 3. Continuam igualmente a verificar-se taxas de mortalidade insatisfatórias nos restantes grupos etários inferiores a 14 anos, embora também nestes casos se observe tendência decrescente. Pelo que respeita à esperança de vida, os progressos realizados reflectiram-se sobretudo no índice referido à nascença, para o que terá, certamente, contribuído a melhoria registada no domínio da mortalidade infantil. Todavia, o seu valor (60,7 anos para homens e 66,4 anos para mulheres em 1959-1962) é ainda baixo.
Pelo estudo comparativo das taxas de mortalidade por causas, conclui-se que é no domínio das doenças evitáveis que se verificam valores relativamente mais altos, não obstante a redução ocorrida no decénio 1955-1964 nas taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, designadamente tuberculose do aparelho respiratório, febre tifóide, difteria e tosse convulsa. No que respeita à poliomielite aguda, sabe-se que o programa de vacinações em curso contribuiu já, de forma decisiva, para a redução do número de casos desta doença no continente, que baixaram de cerca de 95 por cento num só ano. Também, em virtude do mesmo programa, houve diminuição sensível, embora não tão acentuada, dos casos de difteria, tétano e tosse convulsa.

4. O território europeu de Portugal dispunha em 1964 de 7967 médicos, ou seja 1 médico por 1146 habitantes, taxa próxima da recomendada pela Organização Mundial dá Saúde (1 médico por 1000 habitantes). A situação é, no entanto, desfavorecida pela pronunciada assimetria que caracteriza a distribuição distrital dos médicos existentes, bem como pelo reduzido número de especialistas (2879 em 1964) e pela escassez de pessoal de enfermagem. Se se considerar o conjunto enfermeiros-auxiliares de enfermagem, a relação em 1964 era de 1/1027, ao passo que a relação aconselhada é de 1/500. Verifica-se, assim, um deficit de profissionais de enfermagem de cerca de 9000 unidades. Para ocorrer a este problema, o Ministério da Saúde e Assistência remodelou os cursos de enfermagem, criou novas escolas, determinou que estas realizassem dois cursos anuais para auxiliares de enfermagem, melhorou as remunerações nos hospitais gerais e nos sanatórios e lançou um programa de bolsas de estudo em colaboração com o Ministério das Corporações e Previdência Social.
Os índices que acabam de referir-se - os quais, repete-se, não revelam as assimetrias regionais existentes - mostram que, de entre as dificuldades mais importantes a que o sector da saúde terá de fazer face, sobressai a do recrutamento e estabilidade do pessoal. O problema afecta praticamente todos os ramos da actividade sanitária e ocorre em todas as especialidades. O número de profissionais existentes, o nível das suas remunerações, a concorrência do exercício liberal das profissões, os problemas próprios das zonas periféricas, são factores que contribuem para que as dificuldades de carácter geral de que se reveste o recrutamento do pessoal para os serviços públicos assumam notória agudeza neste sector. O problema tem merecido a melhor atenção, dentro das possibilidades existentes, mas é indispensável intensificar, a curto prazo, essas medidas, a fim de atenuar as distorções mais graves, a par de providências de outra ordem que hão-de permitir ultrapassar as dificuldades actuais.

5. Seguidamente se considera individualizadamente cada um dos domínios de actividade do sector.

b) Saúde pública em geral

6. Neste domínio incluem-se as questões referentes à salubridade, doenças contagiosas, endemias rurais, doenças parasitárias e outras, comummente relacionadas com a saúde pública em geral.

7. Os aspectos respeitantes à salubridade são abordados noutros capítulos, pelo que não se lhes faz aqui referência pormenorizada. Não pode, entretanto, deixar de salientar-se a existência de muitas pequenas localidades que ainda não dispõem de condições satisfatórias de abastecimento de água para consumo, bem como de elevado número de aglomerados de certa importância desprovidos de abastecimento domiciliário; e ainda a insuficiência de redes de esgotos e de estações para tratamento de efluentes.

8. Pelo que respeita a doenças contagiosas, em consequência dos programas nacionais de vacinação e de educação sanitária em curso, continuam a registar-se progressos decisivos nos domínios da difteria, tétano e tosse convulsa, doenças que revelavam forte incidência, tanto pela frequência com que ocorriam como pelo número de mortes que provocavam, à semelhança do que se verificava, anteriormente aos referidos programas, com a poliomielite. Poderá igualmente conseguir-se acção benéfica sobre as febres tifóides e paratifóides, desde que, ao mesmo tempo, se proceda ao saneamento das regiões abrangidas, particularmente nos meios rurais, e se intensifique a fiscalização dos géneros alimentícios. Em doenças como a tinha e a lepra regista-se melhoria acentuada da situação, embora haja ainda importante trabalho a realizar. Mantém-se a

1 Incluindo as dotações do Fundo de Socorro Social e da Misericórdia de Lisboa.
2 Não se dispõe, até à presente data, de dados definitivos sobre a contribuição da Previdência nos gastos do sector. Com base em elementos provisórios, conclui-se que o valor daqueles gastos terá sido em 1963 de cerca de 419,8 milhares de contos em saúde e 78,2 milhares de contos em assistência.
3 Embora se conheça o número de óbitos anual, apenas se podem calcular as taxas de mortalidade de 1 a 4 anos referentes aos anos do censo. Para correcção de eventuais erros, consideraram-se valores médios dos quinquénios 1948-1952 e 1958-1962.

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erradicação da varíola, importando, para que assim continue, assegurar a sequência dos programas de vacinação das populações.

9. De entre as endemias rurais e doenças parasitárias, consideram-se praticamente erradicadas na metrópole o paludismo, a bilharziose e a ancilostomíase mineira; está também erradicada a Aedes acgypti de espécie transmissora da febre-amarela e continuam-se a tomar medidas com vista a impedir o seu reaparecimento. Mantém-se igualmente a erradicação do paludismo, não se tendo verificado, desde 1962, qualquer novo caso originado na metrópole. A defesa sanitária contra esta doença tem-se, todavia, intensificado, a fim de ocorrer aos casos de infecção verificados em civis e militares que regressam à metrópole, vindos do ultramar, aspecto que está a merecer particular cuidado e a exigir medidas especiais de protecção. Também quanto ao Kala-azar, pode dizer-se que se trata de doença praticamente erradicada, desde que se consiga, como se prevê, a eliminação do foco do Alto Douro, o único actualmente existente na metrópole. Entretanto, a ancilostomíase rural, como as helmintíases, constituem problema sanitário que se impõe resolver. Cumpre, finalmente, aludir a alguns aspectos da saúde pública, relativamente aos quais haverá que intensificar os trabalhos de investigação e os meios de acção. Entre estes, figuram os concernentes à paramiloidose, profilaxia da cegueira e da cárie dentária, higiene de alimentação, bromatologia e higiene do trabalho.

10. Em execução do Plano Intercalar de Fomento e com vista ao desenvolvimento da investigação aplicada, para esclarecimento dos problemas sanitários e criação ou melhoria das técnicas a utilizar, está a preparar-se o projecto para o novo edifício do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, não tendo sido possível caminhar mais rapidamente em virtude das dificuldades surgidas quanto à sua localização e da necessidade de preparar um programa cuidado.
Também, entretanto, foi criada a Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical, cujos primeiros cursos devem ter lugar em Outubro de 1907.

11. No que se refere, ao estado de conservação e utilização das instalações, pode dizer-se que, de modo geral, os serviços da Direcção-Geral de Saúde que se ocupam do sector de higiene pública se encontram insatisfatòriamente dotados. Bastará notar que, de entre os edifícios onde funcionam os referidos serviços, apenas um (o Instituto de Malariologia) foi construído para o fim a que se destina. Os restantes foram objecto de simples adaptação, verificando-se ainda que a capacidade de utilização da maior parte das instalações se encontra excedida. Sobressaem, porém, os serviços centrais e a delegação de saúde de Lisboa como os mais urgentemente carecidos de edifício novo.

12. Deve ainda salientar-se que os serviços da Direcção-Geral de Saúde são, no âmbito do Ministério da Saúde e Assistência, os que apresentam, concomitantemente com deficiências de instalação, estruturas mais desactualizadas e necessidade de maior ampliação, com o resultante acréscimo de unidades de pessoal.

c) Protecção materno-infantil

13. A situação do sector materno-infantil, definida pela taxa de mortalidade infantil atrás referida, permite verificar que, apesar dos apreciáveis progressos realizados neste domínio, ainda não se atingiu o índice desejado. Convém, igualmente, notar que aquela taxa global resulta de valores distritais muito diversos, que vão, no continente, desde 43,8 (Lisboa) até 89,4 (Braga), imediatamente seguido de 87 (Bragança). Nas ilhas adjacentes, é particularmente elevada a taxa correspondente a Angra do Heroísmo (100,6). Pelo que respeita à mortalidade fetal e fetal tardia, as taxas registadas nos últimos anos (respectivamente 32,2 e 23,3 em 1964), traduzem escassez de assistência médica pré-natal e de assistência no parto. Quanto a este último aspecto, tem sido lenta a redução do número de partos ocorridos sem assistência de médico ou parteira, os quais representavam, em 1964, 46,3 por cento do total. Importa sublinhar que os dados estatísticos existentes não incluem as crianças que, sobrevivendo, têm, por falta de cuidados nos primeiros anos de vida, existência precária, com doenças ou diminuições físicas ou mentais que as impedem de se tornarem membros integralmente válidos da sociedade e, por vezes, as condenam a constituir para esta pesado encargo.

14. Neste sector, se os problemas que respeitam ao pessoal técnico são básicos, já, quanto às instalações, eles não assumem relevância de maior. Com efeito, os dispensários materno-infantis podem, funcionar em qualquer casa arrendada, em centros de saúde ou em dependências de estabelecimentos hospitalares, havendo apenas que evitar contactos das pessoas assistidas com indivíduos doentes. Também as creches e os jardins de infância podem instalar-se em casas arrendadas. Em 1964, existiam na metrópole 524 dispensários e postos de consultas materno-infantis. Nesse ano, era de 317 o número de creches e jardins de infância.
No decurso do Plano Intercalar foram criados diversos dispensários materno-infantis e remodelados outros, embora o seu número seja ainda insuficiente para as necessidades.

d) Tuberculose

15. Nos últimos 14 anos regista-se descida muito apreciável da taxa de mortalidade por tuberculose, de 133,3 para 31,8, em virtude dos meios com que foram dotados os respectivos serviços. Todavia, o seu valor (31,8 por 100 000 habitantes) deve considerar-se ainda alto, e haverá que caminhar para cifras da ordem dos 10 por 100 000 habitantes.
Por outro lado, os resultados da pesquisa de sensibilidade tuberculínica revelam a existência de percentagem de alérgicos ainda bastante elevada. Verifica-se, contudo, que o número de indivíduos inscritos de novo por tuberculose desceu progressivamente nos últimos anos (de 16 214, em 1956, para 13 601, em 1964, valores que representam, respectivamente, 19,3 e 10,1 por cento do número de primeiras consultas realizadas nos anos referidos).
Os resultados favoráveis obtidos também nos últimos anos têm permitido começar a encerrar enfermarias de tuberculose, que se destinam, agora, a outras finalidades.

16. A luta contra a tuberculose cobre, actualmente, 62 por cento dos concelhos e 80 por cento da população metropolitana. Pelo que respeita a estabelecimentos para internamento de doentes, dispõe o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos de 16 sanatórios (com 4148 camas) e 64 enfermarias-abrigo (com 2372 camas). As casas de saúde para tratamento de tuberculosos pulmonares recebem doentes enviados por aquele Instituto,

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que para tal paga quantias previamente estipuladas. Existem actualmente 34 casas de saúde e estabelecimentos dependentes de instituições particulares que se dedicam ao tratamento de tuberculosos, destinando-se 30 ao tratamento de tuberculosos pulmonares.

e) Saúde mental

17. A promoção da saúde mental em Portugal está a organizar-se em moldes actualizados desde a publicação da Lei n.º 2118, de 3 de Abril de 1963. Da concepção anterior, expressa na Lei n.º 2006, de 11 de Abril de 1945, e segundo a qual os doentes confiados a dispensários ou hospitais psiquiátricos eram tratados por médicos privativos, está a passar-se à concepção moderna, de acordo com a qual o doente deverá ser assistido pela mesma equipa médica desde que se apresenta no dispensário, mesmo antes da eclosão de qualquer doença do foro psíquico, até à sua hospitalização ou passagem por hospitais de dia, lares de convalescentes, centros de trabalho ou outros estabelecimentos afins.

18. Pode admitir-se que, numa população de cerca de 9 milhões de habitantes, haverá, aproximadamente, 36 000 casos de doença mental propriamente dita e 108 000 de doença ou anomalia mental, psiconeurose, etc. Nem todos os casos do primeiro grupo requerem hospitalização; muitos poderão ter assistência domiciliária ou ambulatória, ou mesmo recorrer a estabelecimentos diferentes de hospitais psiquiátricos. Dispõe-se actualmente de 9607 camas para doentes mentais, calculando-se o deficit em cerca de 4000 unidades, irregularmente repartido pelos distritos do País.
Admitindo como suficiente a relação de 1 psiquiatra por 20 000 habitantes, verifica-se actualmente um deficit de cerca de 3.17 especialistas. É igualmente reduzido o pessoal de enfermagem, podendo dizer-se o mesmo no que respeita a trabalhadores sociais e pessoal técnico e auxiliar de outras especialidades complementares.
Por outro lado, não pode deixar de referir-se o problema das instalações dos hospitais psiquiátricos em face das necessidades da psiquiatria moderna, bem como o facto de que certos serviços de apoio, designadamente lavandarias e cozinhas, não oferecem o rendimento desejável.

19. Em execução da Lei n.º 2118, foram criados diversos centros de saúde mental, movimento este que prossegue e se destina a dotar o País de uma rede mais completa de assistência psiquiátrica, em especial no que se refere à, periferia.
Também a psiquiatria infantil tem merecido particular atenção, visto ser um dos sectores mais carecidos neste domínio.
Ao mesmo tempo, intensifica-se a preparação de pessoal médico, através do alargamento dos quadros dos principais hospitais psiquiátricos e providencia-se no sentido de rever e estimular os cursos de enfermagem psiquiátrica.

f) Oncologia

20. A falta de inquérito geral sobre a morbilidade cancerosa dificulta a determinação da frequência do cancro em Portugal. A escassez de elementos de informação é originada, em parte, por o cancro não ser doença de declaração obrigatória. Todavia, com base em dados colhidos pelo Instituto Português de Oncologia em quatro distritos do continente, concluiu-se que a frequência cancerosa poderá situar-se, no País, em cerca de 140 casos por 100 000 habitantes. O acréscimo de casos conhecidos permite, por outro lado, observar um aumento real daquela frequência, como, aliás, sucede na generalidade dos países. Com efeito, o número de novos casos de tumores malignos cresce anualmente, tendo já ultrapassado 3000 em 1964, quando 20 anos atrás não atingia sequer metade desse número. Trata-se de frequência elevada, se se atender a que a estrutura demográfica do País apresenta predominância das idades mais jovens. O previsível aumento de morbilidade cancerosa acarretará certamente o acréscimo da correspondente mortalidade.
Está prevista a cobertura sanitária do País., sob o ponto de vista oncológico, por meio de centros regionais de tratamento e de centros de diagnóstico, uns e outros em estreita ligação com as restantes estruturas hospitalares e de saúde pública. E urgente a efectivação dessa cobertura, a fim de evitar que continue a afluir ao Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, um número de doentes que as instalações e as possibilidades de tratamento dificilmente podem observar e tratar.

g) Assistência na doença em geral (hospitais, maternidades, serviços médicos da previdência)

21. O mapa seguinte apresenta o número e a lotação dos hospitais gerais existentes em 1964:

[Ver mapa na imagem]

O índice global de camas dos hospitais gerais (2,5/1000 habitantes) deve considerar-se baixo, verificando-se, ao mesmo tempo, que é reduzida a frequência hospitalar (em 1964, 37,1 por 1000 habitantes). Das três zonas em que se encontra dividido o sector hospitalar da metrópole, é a zona sul que dispõe de melhor cobertura global (3 camas por 1000 habitantes), sendo a zona norte a menos favorecida (2 camas por 1000 habitantes).

22. A evolução dos índices de funcionamento dos serviços hospitalares no decénio de 1955-1964 pode ser avaliada através dos valores apresentados no mapa seguinte, do qual se extraem algumas conclusões:
Apenas os hospitais regionais apresentam percentagens de ocupação próximas do valor aconselhável (cerca de 80 por cento das camas existentes). Os hospitais centrais e sub-regionais afastam-se daquele padrão, os primeiros por excesso (100,06 por cento, em 1964) e os últimos por defeito (50,87 por cento, no ano referido). O forte acréscimo da taxa apontada, à medida que se, passa dos hospitais sub-regionais para os regionais e destes para os centrais, merece ponderação, porquanto esse aumento de procura, comparável a tendências registadas noutros países, pode também resultar de deficiência de meios nas unidades periféricas. Verifica-se, finalmente, que as elevadas demoras médias praticadas nos hospitais centrais prejudicam o seu melhor aproveitamento. Nas unidades regionais e sub-regionais este aspecto acusa evolução favorável.

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[Ver quadro na Imagem]

23. Pelo que respeita a maternidades, existiam 1236 camas em 1965, distribuídas pelos serviços de obstetrícia dos hospitais centrais (366), regionais (318) e sub-regionais (552), e 415 nas maternidades do Dr. Alfredo da Costa, em Lisboa, de Júlio Dinis, no Porto, do Dr. Bissaia Barreto, em Coimbra, e da Casa da Mãe, na Figueira da Foz. A percentagem de partos efectuados em hospitais foi de 2-1,05 no biénio de 1961-1962, correspondendo às várias regiões do País valores que variam de 4,32 (Chaves) a 51,58 (Lisboa). Para se conseguir cobertura média que atinja 40 a 60 por cento em determinadas regiões, serão necessárias cerca de 2000 camas de maternidade.

24. A política prosseguida levou à reorganização dos serviços da Direcção-Geral dos Hospitais, o que tem permitido o equacionamento sistemático dos problemas hospitalares. Assim, foi possível preparar uma série de estudos de base, utilizados depois na programação da actividade dos mesmos serviços.
Os problemas de financiamento tiveram adequado tratamento através do novo regime legal (Decreto-Lei n.º 46301, de 27 de Abril de 1965), das novas tabelas de encargos, dos acordos com a Previdência Social e a Assistência na Doença aos Servidores do Estado e, ainda, do incentivo e orientação dados ao lançamento das derramas municipais.
Os problemas de instalações provocaram intenso trabalho de estudo e planeamento. Nos hospitais centrais, sistematizou-se o trabalho da comissão mista dos Ministérios das Obras Públicas e da Saúde e Assistência para a remodelação dos Hospitais Civis de Lisboa e criou-se a comissão que vai planear o esquema hospitalar da «Grande Lisboa».
Nos hospitais regionais, houve que começar por uma análise geral da situação, à qual se seguiu um plano de prioridades de construção. Em seguida, elaboraram-se programas-tipo para as várias categorias de hospitais. Depois, fizeram-se programas individualizados para cada unidade. Finalmente, um grupo misto da Direcção-Geral dos Hospitais e da Comissão de Construções Hospitalares acompanha o desenvolvimento dos projectos.
Os problemas de pessoal foram encarados nos domínios da formação, remuneração e aperfeiçoamento profissional. Citam-se, sumariamente, as seguintes medidas: esquemas de fixação de pessoal médico, farmacêutico, de enfermagem e administrativo, na periferia, os quais estão agora a desenvolver-se; reorganização do ensino da enfermagem geral e especializada, de base e pós-base; reorganização do ensino dos técnicos auxiliares dos serviços clínicos, incluindo as recentes profissões do pessoal de reabilitação; melhoria de vencimentos de pessoal de assistência directa através da atribuição de verbas cobradas a pensionistas; amplo plano de bolsas de estudo para a formação de enfermeiras; início de programas de bolsas de estudo para a formação de médicos e para cursos de enfermagem pós-básica; plano de actualização profissional do pessoal administrativo.

Os problemas de reorganização levaram a iniciar a revisão do funcionamento interno de serviços nos hospitais centrais, com a colaboração de uma empresa especializada em organização e métodos; a preparar a revisão do internato hospitalar em nível nacional; a elaborar um plano geral de serviços de reabilitação financiado pelas Apostas Mútuas Desportivas; a proceder a estudos para a coordenação dos transportes de doentes em todo o País; e a criar os Serviços de Utilização Comum (S. U. C. H.), já em funcionamento nalgumas das suas divisões e que se mostram altamente promissores nos resultados.

25. Cumpre ainda referir os serviços prestados, no domínio da assistência na doença em geral, pelas instituições de previdência. A cobertura dos trabalhadores do comércio e da indústria, até há pouco assegurada pela Federação de Caixas de Previdência - Serviços Médico-Sociais e actualmente pela Federação Nacional de Caixas de Previdência e Abono de Família, abrangia, em 1964, uma população de cerca de 2 255 500 indivíduos, tendo ao seu serviço 2283 médicos, dos quais 1564 clínicos gerais. A situação referente a 1966 era caracterizada por uma população de 3 255 254 indivíduos (Federação, Caixas não federadas e «zonas brancas») com 3286 médicos, dos quais 1766 clínicos gerais. O número global de beneficiários correspondentes a cada clínico geral ou especialista baixou de 1942, em 1964, para 1325, em 1966. Os valores mais desfavoráveis das zonas distritais respeitavam aos distritos de Aveiro, Guarda e Leiria. O número total de locais de consulta a que os beneficiários podiam recorrer, em 1964, era de 1059, dos quais 866 se destinavam apenas ao exercício de clínica geral.
Sendo ainda acentuada a assimetria que caracteriza a cobertura da população pelos referidos serviços, verificam-se, nalgumas áreas, consultas superlotadas que prejudicam a qualidade do trabalho médico. Para obviar a esta deficiência, estabeleceu-se, recentemente, o desdobramento, de consultas, sempre que as circunstâncias o justifiquem, o que levou a aumentar o quadro do pessoal médico, só em 1966, com mais 126 unidades.

26. A medicina preventiva, no que respeita designadamente à profilaxia de acidentes de trabalho e doenças profissionais, beneficiou recentemente de decidido impulso, mediante o funcionamento de um curso de medicina do trabalho no Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, a publicação de diplomas respeitantes àquele ramo de actividade sanitária e à prevenção da silicose e ainda a criação da Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical.
Organismos e serviços como a Caixa Nacional de Seguros de Doenças Profissionais e o Gabinete de Higiene e Segurança no Trabalho, ultimamente criados no âmbito

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do seguro social, irão igualmente contribuir para o desenvolvimento das medidas de prevenção naqueles domínios.

27. Em 1966, estiveram em actividade 651 Casas do Povo, abrangendo uma população de cerca de 980 583 beneficiários. Prestaram serviço nestas instalações 764 médicos, 90 enfermeiras, 60 parteiras e 399 auxiliares de enfermagem.
Algumas Casas do Povo promovem o internamento hospitalar dos beneficiários, mediante acordos com as Misericórdias locais. A assistência clínica prestada pelas Casas do Povo tem sido mais eficiente nos casos em que é realizada em regime de acordo com os serviços médicos das Caixas de Previdência, mediante a utilização recíproca de instalações. Até ao final de 1966, foram celebrados 422 acordos de cooperação, dos quais beneficiaram cerca de 350 000 indivíduos, e o montante dos subsídios de funcionamento pagos pela Previdência às Casas do Povo por força dos acordos realizados foi de 71 647 contos.

h) Assistência social

28. Para a análise da posição ocupada pelo sector assistêncial no processo de desenvolvimento do País, torna-se necessário distinguir as duas modalidades principais em que a assistência é prestada: a que visa a correcção de disfunções ou deficiências verificadas nos indivíduos e a que procura facultar aos indivíduos e às colectividades meios que lhes permitam obter níveis mais satisfatórios de bem-estar social. No primeiro grupo incluem-se a assistência pecuniária ou em géneros, a assistência a inválidos, a pessoas idosas privadas de ambiente familiar, a deficientes físicos, sensoriais ou mentais e a menores privados de ambiente familiar. O segundo grupo comporta algumas formas de protecção materno-infantil, programas de cooperação e formação familiar e de promoção social das comunidades, projectos de cooperação social e obras deles derivadas (tais como centros sociais).

29. Os gastos em assistência por disfunção económica, na metrópole, são suportados sobretudo pelo Instituto de Assistência à Família e pela Misericórdia de Lisboa, tendo atingido, em 1964, o total de aproximadamente, 60 milhares de contos. No mesmo ano, o número de pedidos excedeu o número de casos atendidos em cerca de 20 milhares, dos quais 10 milhares foram devidamente classificados como carecidos de assistência e os restantes ficaram pendentes por falta de possibilidades de estudo. As necessidades, actualmente elevadas, deste tipo de assistência tendem a reduzir-se por efeito da melhoria do nível de salários, maiores possibilidades de emprego e ampliação dos esquemas de segurança social, bem como do incremento de actividades de cooperação familiar e de promoção social desenvolvidas pelo Instituto de Assistência à Família.

30. O decénio de 1951-1960 registou redução substancial do número de cegos no País, particularmente acentuada nos grupos etários inferiores a 20 anos. Esta evolução mostra-se conforme à tendência geral de diminuição do número de cegos de idades jovens e do simultâneo aumento da sua ocorrência nos grupos mais idosos, à medida que se alarga a duração média de vida. No aludido decénio, o número de invisuais que viviam de esmola baixou de 1320 para 653, verificando-se, por outro lado, que o número de invisuais alfabetizados subiu de 2571, em 1950, para 5449, em 1960, valores que representam, respectivamente, 28,5 por cento e 68,7 por cento do número total de cegos existentes nesses anos.
Os estabelecimentos de assistência para o ensino especial de invisuais menores comportam presentemente 243 lugares. Admitindo a existência de 450 invisuais em idade escolar, conclui-se que a cobertura integral das necessidades neste domínio requer a criação de mais 200 lugares, aproximadamente. A falta de ensino especial em idade própria registada no passado terá, por seu turno, de ser compensada por centros de reabilitação já instalados para esse efeito.

31. Segundo os valores publicados no último censo, havia, em 1960, 7000 indivíduos surdos, dos quais 1400 eram menores de 20 anos de idade e 77 menores de 10 anos. A acção empreendida com vista à alfabetização de indivíduos surdos maiores de 10 anos permitiu que a percentagem de alfabetizados registasse o notável aumento de 23,9 por cento, em 1950, para 81,6 por cento, em 1960. A actual lotação dos estabelecimentos de educação de crianças surdas é de 500 lugares. A cobertura integral das necessidades actuais requer a criação de mais 200 lugares.

32. Pelo que respeita à educação de débeis mentais, apenas se situam dentro do âmbito do sector assistêncial os casos de debilidade média. Trata-se de deficientes mentais de recuperação médico-pedagógica relativamente demorada, em que a escolaridade não se destina apenas à instrução, mas também serve de meio de integração profissional e social. Estima-se que, na metrópole, cerca de 27 000 crianças em idade escolar sejam portadoras de deficiência mental. Esta cifra, comparada com a lotação dos estabelecimentos existentes (296 lugares em 1965 1), exprime os progressos que, neste domínio, se tornam ainda necessários.

33. A assistência às crianças cegas e surdas foi objecto de estudo atento, tendo em vista o aproveitamento e a valorização, sempre que possível, dos estabelecimentos existentes e a criação de novas unidades, dentro de planos que prevêem a cobertura das necessidades do País. Fez-se estudo análogo para os débeis intelectuais, muito embora, quanto a estes, não haja qualquer viabilidade de assegurar idêntica cobertura durante o período deste Plano.
Elaborados os programas gerais, foram instalados, no âmbito do Plano Intercalar de Fomento, vários estabelecimentos para deficientes e promoveram-se ainda as condições indispensáveis à próxima criação de dois centros de observação médico-pedagógica, que devem vir a constituir a base de actuação no sector de assistência aos menores.
Paralelamente, entrou em funcionamento um novo centro para reabilitação de pessoas que cegaram em adultos ou que não tiveram, na idade própria, a preparação adequada, muitas delas por terem frequentado estabelecimentos da modalidade ao tempo a funcionar em condições deficientes.
Deu-se também incremento à preparação de pessoal pela abertura de novos cursos para profissões especializadas no ensino de deficientes sensoriais.

34. Pelo que respeita à educação de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, a capacidade dos internatos era, em 1964, de cerca de 12 000 lugares, quase totalmente preenchidos. Os semi-internatos possuíam, naquele ano, cerca de 2000 lugares, também satisfatoriamente utilizados, quase todos pertencentes a entidades

1 No âmbito do Plano Intercalar, prevê-se a construção de novo edifício com capacidade para 120 educandos.

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particulares. Ainda no mesmo ano, dos 1327 pedidos de internamento puderam ser atendidos apenas 505. Dos 163 pedidos de colocação em famílias idóneas, foram satisfeitos 53. Entende-se que a insuficiência mais acentuada se verifica no domínio dos semi-internatos, não só porque a existência destes permite reduzir apreciavelmente o número de internamentos, mas também porque, através deles, é possível exercer ampla acção formativa sobre as crianças abrangidas e respectivas famílias.

35. O estudo das condições de funcionamento destes estabelecimentos, em particular dos internatos, realizado em estreita colaboração com as congregações religiosas que neles actuam e com os respectivos dirigentes, levou a concluir pela necessidade de profunda remodelação, tendente a assegurar que as crianças privadas de meio familiar venham a representar elementos válidos para a sociedade.
Ficou demonstrado que as principais deficiências verificadas tinham origem na falta de pessoal qualificado para o exercício das tarefas a seu cargo, o que levou à criação de um Centro de Preparação de Pessoal, que promoveu uma série de cursos para preparação intensiva de cerca de 400 religiosas, já a trabalharem nos estabelecimentos de menores, e elaborou os planos para a entrada em funcionamento, a partir do ano lectivo de 1967-1968, de cursos de auxiliares de educação e de ajudantes de jardim de infância, a que se seguirão os de educadores e de directores para os mesmos estabelecimentos dependentes do Ministério da Saúde e Assistência.
Mercê deste apoio técnico, podem as instituições particulares às quais está entregue a assistência aos menores na maior parte do País obter maior rentabilidade dos meios de que dispõem.

36. Refere-se, finalmente, a assistência a pessoas idosas. As necessidades quantitativas acusam o deficit de 300 lugares em estabelecimentos asilares para indivíduos do sexo feminino. É, porém, no aspecto qualitativo dos serviços prestados que residem as principais deficiências deste sector.

§ 2.º Objectivos

a) Generalidades

37. A situação presente do sector, caracterizada nos seus aspectos mais relevantes, evidencia as metas a procurar atingir, as quais, entretanto, só poderão alcançar-se a longo prazo, tornando-se, por isso mesmo, forçoso reconhecer a urgência das medidas a tomar, decididamente, nesse sentido.
Antes, porém, de passar a abordar os objectivos a alcançar nos próximos anos, importa sublinhar que, em face dos problemas apontados, se reconhece absoluta prioridade nos aspectos de que depende a eficácia de toda a acção futura, os quais se resumem, fundamentalmente, nos seguintes pressupostos de ordem geral:

Adequada reorganização dos serviços do Ministério da Saúde e Assistência, designadamente pela publicação da respectiva lei orgânica, neste momento já elaborada;
Sistemática e continuada coordenação de todas as medidas respeitantes à saúde e bem-estar social das populações;
Formação de pessoal em número suficiente e criação de condições necessárias à sua fixação.

Foi neste entendimento que se estabeleceram, para o período do Plano, os objectivos e projectos que a seguir se indicam e cuja realização depende da prévia concretização dos pressupostos acima apontados.

b) Saúde pública em geral

38. Os objectivos a prosseguir neste sector podem agrupar-se do seguinte modo:
1.º Extensão efectiva à periferia de serviços de saúde adequados. O Centro de Saúde - entendido como modalidade de associação de serviços actuando na periferia, de forma a assegurar uma acção especializada, mas convergente, no sentido da promoção da saúde das populações - constituirá elemento de base para a protecção e fomento da saúde das comunidades rurais. Com vista à concretização desse objectivo, projecta-se a criação de uma rede de centros de saúde, localizados em sedes de concelho, dando prioridade às áreas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional. Para facilitar o provimento das necessidades de pessoal correspondentes ao eficiente funcionamento desses centros, proceder-se-á, eventualmente, à beneficiação e construção de habitações para médicos e serão criados lares e concedidos subsídios de fixação para os profissionais de enfermagem não residentes no local de trabalho. As melhorias a introduzir nas delegações de saúde distritais, incluindo a construção de algumas novas instalações, permitirão que estas prestem aos centros de saúde o apoio e orientação convenientes.
2.º Fomento da investigação e desenvolvimento da epidemiologia e da estatística sanitária. Para esse efeito, prevê-se a conclusão dos trabalhos de reorganização do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge e a formação de investigadores, bem como a ampliação da delegação daquele Instituto no Porto, e ainda a criação de uma Inspecção Superior, enquadrada na remodelação prevista para os serviços da Direcção-Geral de Saúde. Serão ainda criados novos laboratórios distritais de saúde pública e aperfeiçoados os actualmente existentes.
3.º Prosseguimento da vacinação e educação sanitária das populações e combate às doenças infecciosas, endemias rurais e doenças parasitárias. O programa inclui a preparação de especialistas de educação sanitária, visitadoras sanitárias (ou pessoal de nível equivalente) e agentes sanitários.

c) Saúde escolar

Neste domínio, encarar-se-á a possibilidade de desenvolver os planos de cobertura do País, em estreita coordenação com os programas de promoção da saúde pública. Serão, por outro lado, realizadas acções de estudo e rastreio em diversos domínios médico-pedagógicos, através dos serviços competentes do Ministério da Educação Nacional.

d) Protecção materno-infantil

39. Os esquemas de protecção materno-infantil não podem deixar de considerar-se prioritários entre os objectivos fixados para o sector. Assim, haverá que dar continuidade à acção desenvolvida ao abrigo do Plano Intercalar, prevendo, na mesma linha de orientação:
1.º Ampliação da rede de dispensários por todo o território metropolitano e alargamento do raio de acção de cada dispensário distrital até ao concelho e freguesia,

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mediante permanências e visitas domiciliárias. Projecta-se desenvolver a rede de dispensários e consultas materno-infantis, fundamentalmente em áreas rurais, dando prioridade às zonas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional e em coordenação com os serviços da Previdência Social;
2.º Colaboração activa nos programas de educação sanitária, sobretudo nos aspectos ligados à protecção da vida da mãe e da criança;
3.º Criação, em colaboração, sempre que possível, com os serviços da Previdência, de creches e jardins de infância, a instalar, de preferência, nas áreas em que se registam taxas mais altas de mão-de-obra feminina e naquelas em que situações particulares exigem urgentes programas especiais de nutrição, sobretudo da população infantil.

e) Tuberculose

40. A diminuição da incidência da tuberculose requer seja aperfeiçoado e alargado o esquema de serviços de carácter preventivo. Nesse sentido, prevê-se:
1.º O estabelecimento de nova orgânica de serviços periféricos; em conformidade com a qual cada dispensário (com o conjunto de consultas-dispensário) será substituído por um centro dispensarial (dispensário e postos avançados), dependendo toda a actividade do dispensário, que deslocará equipas de pessoal aos postos avançados das localidades vizinhas para a realização das consultas necessárias. Dentro desta orgânica, prevê-se a instalação de novos centros dispensariais e o alargamento da rede de postos avançados;
2.º Instalação de postos fixos de radiorrastreio nas capitais de distrito que ainda os não possuam e substituição do edifício do centro de profilaxia de Lisboa;
3.º Melhoramento das instalações de três sanatórios e construção de quatro novos edifícios para serviços anexos a estabelecimentos existentes;
4.º Resolução do problema de ergoterapia e readaptação ao trabalho;
5.º Preparação do pessoal indispensável.

f) Saúde mental

41. A acção a desenvolver para a promoção da saúde mental visa principalmente:
1.º A criação de novos centros de saúde mental. A cada centro serão agregados hospitais de dia, lares de convalescentes, centros de trabalho e estabelecimentos complementares;
2.º Conclusão das obras do Hospital Psiquiátrico do Dr. Magalhães Lemos, iniciadas durante o período de vigência do Plano Intercalar, e melhoria das instalações dos hospitais psiquiátricos existentes;
3.º Criação de serviços de recuperação de doentes mentais, destinados a casos de evolução prolongada;
4.º Preparação do pessoal indispensável.

g) Oncologia

42. Nesta matéria, os principais objectivos a assinalar são:
1.º Adaptação, ampliação e reapetrechamento das instalações do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil;
2.º Criação de centros regionais no Porto, em Coimbra e em Évora;
3.º Ajustamento da articulação destes serviços com os hospitais gerais.

h) Assistência na doença em geral

I) Hospitais

43. São os seguintes os objectivos previstos:

1.º Reorganização geral dos hospitais, mediante a publicação do Estatuto Hospitalar e do Regulamento Geral dos Hospitais;
2.º Aumento do número e qualidade das camas hospitalares, mediante a construção de dois hospitais centrais (um em Coimbra e outro em Lisboa), com a capacidade de 800 camas cada um, e de quinze hospitais regionais. Destes, nove foram já inicialmente previstos pelo Plano Intercalar, encontrando-se três (Beja, Bragança e Funchal) em conclusão e seis (Faro, Portalegre, Castelo Branco, Viana do Castelo, Aveiro e Évora) em fase de elaboração do projecto ou de início de obras, devendo ficar concluídos no período de vigência deste III Plano; os restantes seis localizar-se-ão em Chaves, Lamego, Guarda, Vila Real, Viseu e Santarém, sendo de prever apenas o seu começo no decurso da execução do Plano. Considera-se ainda a continuação das obras de remodelação e ampliação de alguns hospitais centrais em Lisboa (D. Estefânia, Santa Marta e S. José) e a construção de uma lavandaria geral para os Hospitais Civis de Lisboa;
3.º Estabelecimento de um programa de fixação de pessoal hospitalar, com base na revisão de remunerações e outras regalias, de forma a eliminar ou atenuar a escassez daquele pessoal na periferia;
4.º Realização de cursos intensivos de preparação de administradores hospitalares, de cursos anuais de aperfeiçoamento para pessoal de direcção e chefia e de cursos bienais para outro pessoal administrativo na periferia;
5.º Realização de cursos intensivos de actualização para médicos, em especial dos hospitais regionais e sub-regionais.

II) Maternidades

44. Sem prejuízo da revisão dos serviços de obstetrícia das grandes cidades, haverá que aproveitar para maternidades, remodelando quando necessário, camas actualmente desaproveitadas em hospitais sub-regionais; nalguns casos, será aconselhável a criação de pequenas maternidades rurais. Projectam-se ainda os seguintes empreendimentos: remodelação e ampliação da Maternidade de Júlio Dinis, no Porto; ampliação da Maternidade do Dr. Alfredo da Costa, caso os estudos a realizar o recomendem, e construção de nova unidade para substituição da Maternidade de Magalhães Coutinho.

III) Escolas de enfermagem

45. Para acelerar o ritmo de formação do pessoal de enfermagem, deverão ser criadas novas escolas, quer a nível central quer regional. As capacidades previstas são, em princípio, de 400 alunos para as primeiras e de 60 para as últimas. Não deixou de ser considerado o ensino pós-graduado do pessoal de enfermagem, com cursos de ensino e administração de serviços de enfermagem, de actualização profissional e de especialização.

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IV) Lares para pessoal de enfermagem

46. Reconhece-se que um dos factores que maior influência exerce como atractivo na fixação do pessoal de enfermagem é a facilidade de alojamento. Neste sentido, inclui-se entre os objectivos do Plano a criação de lares para aquele pessoal, próximos dos hospitais centrais e com vista à substituição ou remodelação das instalações existentes.

Y) Previdência

47. Prosseguindo no aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo do seguro-doença, sempre que possível em coordenação com os serviços gerais de saúde do País, propõem-se as instituições da Previdência Social alcançar, durante o período deste III Plano, os seguintes objectivos:
a) Aperfeiçoamento e alargamento do esquema de prestações na doença.
Recorda-se, a propósito, que a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962, regulamentada pelo Decreto n.º 45 266, de 23 de Setembro de 1963, introduziu substanciais inovações neste domínio, designadamente no que respeita à forma de calcular o subsídio pecuniário, ao alargamento do internamento hospitalar, à duração do período de espera, e ao tempo de concessão das prestações.
No seguimento de medidas ultimamente tomadas com vista a obviar à superlotação das consultas médicas, espera poder-se melhorar cada vez mais a qualidade dos serviços clínicos prestados mediante a substituição do sistema de médico de dispensário, que exerce actividade sujeita a horário estabelecido, pelo de médico assistente, que terá a seu cargo certo número de beneficiários, aos quais prestará assistência (ambulatória ou domiciliária) em todas as circunstâncias. A referida modalidade proporciona, entre outras, a vantagem de permitir ao doente a escolha do médico assistente dentre os clínicos gerais inscritos na Previdência e adstritos à área respectiva. Este princípio será generalizado, na medida do possível, aos especialistas.
b) Intensificação das actividades de coordenação com os serviços do sector da Saúde e Assistência, designadamente através da revisão de acordos de cooperação já existentes e da eventual celebração de outros que se afigurem necessários.
O esquema de internamento hospitalar nos serviços de medicina, que actualmente abrange apenas os beneficiários activos e os pensionistas, será, numa segunda fase, tornado extensivo aos familiares de uns e de outros.
Pelo que respeita à tuberculose, prevê-se que o acordo celebrado em 23 de Setembro de 1964 entre as instituições da Previdência e o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, abrangendo as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal, seja alargado por forma a incluir outras áreas onde a rede de dispensários e sanatórios do referido Instituto possa assegurar adequada cobertura das necessidades da Previdência neste domínio.
Por outro lado, espera-se poder celebrar, durante o período do Plano, acordo específico entre os sectores da Previdência e da Saúde e Assistência, no respeitante à assistência materno-infantil, na sequência de providências recentemente tomadas, em especial quanto ao seguro-maternidade. Deve ainda admitir-se a eventualidade de futuros acordos nos domínios da psiquiatria e da oncologia.
c) Prosseguimento da política de apoio à construção de hospitais, mediante o sistema da tomada de certificados especiais da dívida pública especialmente consignados a esse efeito, já utilizado no Plano Intercalar.

i) Assistência social

48. Consideram-se prioritários os seguintes domínios de acção:
1.º Educação de crianças deficientes e de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, mediante colaboração, sempre que possível, entre o Ministério da Educação Nacional e o da Saúde e Assistência.
Para este efeito, serão criados, remodelados ou postos em funcionamento estabelecimentos de educação de crianças cegas; a lotação dos estabelecimentos de educação de crianças surdas deverá ser aumentada, e prevê-se a criação de novos estabelecimentos especiais para crianças débeis mentais; no domínio da educação de crianças normais privadas de meio ambiente familiar, serão remodelados a Casa Pia de Lisboa e diversos estabelecimentos regionais e distritais, não se programando a criação de outros internatos por se considerar mais adequado, em conformidade com orientações pedagógicas modernas, o desenvolvimento dos semi-internatos. Prevê-se ainda a instalação de dois centros de observação médico-pedagógica (um em Lisboa e outro no Porto). Com vista à formação do pessoal necessário, serão criados cursos adequados para os educadores de estabelecimentos de assistência a menores e realizados cursos para dirigentes destes estabelecimentos, bem como para educadores especiais de cegos e de surdos;
2.º Melhoramento da qualidade da assistência prestada a pessoas idosas e instalação de novos estabelecimentos asilares para cerca de 300 pessoas idosas, principalmente do sexo feminino;
3.º Preparação profissional e integração na vida profissional dos cegos, dos deficientes motores reabilitados e de outros diminuídos físicos, sempre que possível mediante colaboração entre os serviços competentes do Ministério das Corporações e Previdência Social e do Ministério da Saúde e Assistência;
4.º Criação de duas oficinas protegidas por parte do Ministério da Saúde e Assistência;
5.º Desenvolvimento das actividades de cooperação familiar tendentes a ajudar a família no desempenho das suas funções próprias e estabelecimento de um programa de promoção social comunitária, destinado sobretudo a acompanhar os planos de desenvolvimento regional, de modo a acelerar a promoção das comunidades mais atrasadas e a contribuir para o desenvolvimento harmónico dos pólos que venham a criar-se, facilitando a sua articulação com as respectivas zonas de influência, designadamente através da cooperação dos organismos corporativos locais e, de modo especial, das Casas do Povo.

§ 3.º Medidas de política

49. Os objectivos propostos para o período de 1968-1973 devem ser acompanhados de um conjunto de medidas de política de saúde, não apenas com vista a assegurar a exequibilidade dos programas estabelecidos e o recrutamento do pessoal indispensável para os novos serviços, mas também a criar, no decurso dos próximos

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anos, estruturas que apoiem o correcto desenvolvimento do sector. As principais medidas previstas para o período do Plano situam-se nos seguintes domínios:

a) Pessoal médico

50. Encaram-se as seguintes providências:

a) Estruturação de carreiras médicas de saúde pública e hospitalar;
b) Reforma do ensino médico;
c) Estruturação do ensino médico pós-graduado, designadamente a preparação de especialistas;
d) Revisão de sistemas de trabalho e remuneração do pessoal médico de serviços públicos, tendente ao estabelecimento do regime de tempo completo;
e) Atribuição de bolsas de formação e aperfeiçoamento.

b) Pessoal de enfermagem

51. Prevê-se a estruturação de carreiras profissionais de enfermagem, de âmbito nacional, nos domínios hospitalar, da saúde pública e do ensino. A mais curto prazo, haverá que levar a efeito programas especiais de fixação de pessoal nos serviços de periferia, de forma a contrariar a necessidade de recurso a profissionais não diplomados.

c) Coordenação dos serviços de saúde e assistência

52. O confronto das necessidades do sector com os recursos de que se dispõe para a defesa e promoção da saúde da população revela quanto importa prosseguir no aperfeiçoamento de política de concentração de meios, na consecução dos objectivos em vista. Nesse sentido, prevêem-se as medidas seguintes:

a) Regulamentação do Estatuto da Saúde e Assistência, aprovado pela Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, pelo que respeita à orgânica do Ministério da Saúde e Assistência e ao Estatuto Hospitalar;
b) Coordenação das actividades exercidas no domínio da saúde e assistência pelos serviços dependentes dos vários Ministérios, submetendo-as a programas devidamente articulados e aprovados em Conselho de Ministros;
c) Em especial, intensificação dos meios de coordenação dos sectores da Saúde e Assistência, da Previdência e da Assistência na Doença aos Servidores do Estado.

d) Providências de ordem financeira

53. Para reforço dos recursos financeiros a mobilizar pelo sector, serão adoptadas as seguintes providências:

a) Concessão de tratamento fiscal mais favorável em relação à parte dos lucros de empresas privadas, destinada à constituição de fundações ou à atribuição de donativos para actividades de saúde e assistência;
b) Prosseguimento da cooperação das instituições da Previdência no desenvolvimento e aperfeiçoamento da política de saúde, particularmente pelo que respeita ao apetrechamento e alargamento da rede hospitalar do País;
c) Estudo da mais rentável aplicação dos fundos das instituições de assistência.

§ 4.º Investimentos

54. A realização dos objectivos enunciados implica, para o período de 1968-1973, investimentos da ordem dos 2 337 500 contos. A cobertura financeira destes investimentos será assegurada pelo Orçamento Geral do Estado (1 937 500 contos), pela Previdência Social (380 000 contos) e pela Fundação de Calouste Gulbenkian (20 000 contos).
Prevê-se que as despesas de manutenção dos novos serviços, que entrarão em funcionamento durante o período do Plano, impliquem a necessidade de reforçar substancialmente as dotações ordinárias do orçamento do Ministério da Saúde e Assistência, a considerar na organização dos programas anuais, por forma a tirar o melhor rendimento possível dos investimentos programados.

55. Seguidamente, indicam-se as dotações atribuídas às diversas realizações programadas:

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui sòmente as despesas a satisfazer pelo Ministério da Saúde e Assistência.
(b) Inclui apenas a actividade médico-social por conta da Federação Nacional das Caixas de Previdência e Abono de Família.

Resumo dos investimentos e dos gastos de manutenção previstos para o período de 1968-1973

[Ver tabela na imagem]

III

Planeamento regional

Introdução

Pela primeira vez se inclui no Plano de Fomento um estudo específico sobre planeamento regional, considerando a importância que vem sendo atribuída ao problema da harmonia do crescimento e a situação de desigual desenvolvimento das diversas regiões metropolitanas.
O interesse pelas assimetrias regionais de crescimento do continente tem originado nos últimos anos diversos estudos e análises da situação.
Já em 1962 a Câmara Corporativa foi chamada a pronunciar-se sobre um projecto de decreto-lei, apresentado pelo Governo, propondo a criação de uma junta de planeamento económico regional, concluindo o parecer da Câmara então emitido por reconhecer a indiscutível necessidade de orientar segundo uma óptica regional a política portuguesa de fomento económico e de progresso social e sugerindo os pontos fundamentais que deveriam ser considerados, dos quais se salientam:

O estudo, por critérios objectivos, da divisão do território metropolitano em regiões económicas para planeamento e fomento, cuidando das exigências de dimensão a que hão-de satisfazer tais regiões e da diversidade de condições estruturais e de situações críticas a enfrentar;
A descentralização da orgânica regional a criar, propondo para cada uma das regiões, como regra, órgãos consultivos e de coordenação, servidos por departamentos técnicos de planeamento, e ainda instituições especialmente concebidas para realizar ou apoiar os empreendimentos de fomento.

Posteriormente, nos estudos elaborados para o Plano Intercalar de Fomento, procedeu-se a documentada análise por distritos das disparidades regionais, concluindo-se também pela necessidade de definir uma política de desenvolvimento regional, com a finalidade de orientar a expansão económica em função de objectivos definidos quanto ao crescimento harmónico do conjunto de territórios.
Com esse objectivo, afirmou-se na introdução ao referido Plano Intercalar que seria posta em efectivo funcionamento a orgânica administrativa do planeamento regional, dentro do esquema que ao Governo fora sugerido pela Câmara Corporativa no seu parecer sobre a matéria.
A necessidade de acelerar os ritmos de desenvolvimento nas regiões menos favorecidas vem constituindo, aliás, preocupação de vários departamentos do Estado, embora a natureza e amplitude das acções já executadas ou em curso, assim como dos respectivos órgãos de actuação, tenham sido circunscritas à natureza e funções

1 Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, ano de 1962, pp. 453 é segs.

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específicas de cada Ministério, por não existirem os meios e estruturas orgânicas necessários à formulação e execução de uma política coordenada de desenvolvimento económico regional.
Não obstante, o Ministério da Economia tem desenvolvido uma acção persistente, no campo da análise dos problemas económicos regionais, nos domínios do apoio às autarquias locais, em iniciativas visando a valorização regional (Açores, Mondego, Alentejo) e no âmbito das estruturas orgânicas e da articulação dos serviços do Ministério no plano, distrital, por forma a conseguir-se maior eficiência e coordenação nas actuações (comissões técnicas regionais, criadas por despacho de 31 de Março de 1966).
Do mesmo modo e no seu campo, de acção, o Ministério das Obras Públicas tem concebido e executado esquemas de valorização regional de grande importância e projecção, particularmente baseados na criação de infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento (Plano de rega do Alentejo, Plano de Ordenamento Hidráulico da Bacia do Mondego, etc.), no aproveitamento e valorização de recursos naturais (planeamento urbanístico do Algarve, por exemplo) ou no ordenamento do crescimento urbano (v. g. Plano Director de Lisboa).
Acções de relevo têm sido também empreendidas por outros Ministérios, que. vêm melhorando o apetrechamento e âmbito de acção de serviços regionais e procurando guarnecer as regiões menos favorecidas com as infra-estruturas necessárias à vida económica e social (por exemplo, no campo da educação, da saúde, das comunicações e do turismo), ou manifestando na condução da sua actividade específica persistente preocupação em aspectos relacionados com o desenvolvimento regional (v. g. Ministérios das Finanças e das Comunicações).
Deve-se ainda salientar a acção de algumas juntas distritais (de Évora e Portalegre r por exemplo), com iniciativas tendentes à valorização dos seus distritos.
Com o objectivo de coordenar todas estas acções, entendeu o Governo (Decreto-Lei n.º 46909, de 19 de Março de 1966) que era aconselhável dar os primeiros passos no sentido do estabelecimento de uma orgânica administrativa adequada à realização dos indispensáveis estudos de base, à conveniente articulação entre o serviço central de planeamento, os órgãos dos diversos Ministérios e os interesses locais e à definição das linhas orientadoras dos convenientes programas de fomento regional.
Neste sentido, aquele diploma (artigos 6.º e 9.º) criou no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho uma Divisão de Planeamento Regional e definiu a competência do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos no respeitante a orgânica de planeamento regional (artigos 28.º e 29.º).
Merece também referência especial o facto de se procurar analisar separadamente a situação das ilhas adjacentes e definir para cada arquipélago as linhas gerais de uma estratégia de desenvolvimento.
Embora tivesse havido sempre a preocupação de analisar os problemas com a mesma profundidade, tanto no continente como nos Açores e Madeira, não houve essa possibilidade quanto a estes arquipélagos, por não haver ainda estudos e elementos estatísticos suficientes.
No entanto, os Açores aparecem, quanto a este aspecto, em posição mais favorecida, visto que, por despacho da Secretaria de Estado da Indústria de 4 de Dezembro de 1661, a solicitação das juntas gerais dos distritos autónomos, foi incumbido o Instituto Nacional de Investigação Industrial de elaborar um plano de valorização regional dos Açores, com o apoio técnico da O. C. D. E. Posteriormente, passaram a colaborar nestes trabalhos a Junta de Colonização Interna e a Junta Nacional das Frutas, aguardando-se agora o apuramento dos resultados dos inquéritos levados a efeito por aqueles organismos, os quais serão da maior importância para a elaboração de um plano de desenvolvimento da região dos Açores.

CAPITULO I

Evolução recente e situação actual dos desequilíbrios regionais na metrópole

SECÇÃO I

Continente

1. A análise mais aprofundada a que se procedeu na preparação deste III Plano de Fomento permite confirmar a existência de vincadas disparidades regionais no continente português e o seu agravamento no último decénio.
Com efeito, utilizando como indicador de síntese a capitação do produto (em contos por habitante) calculada para os anos de 1953 & 1964 (v. quadro I), evidenciam-se claramente as desigualdades que em 1964 caracterizavam a situação regional do continente.

QUADRO I

Estimativas do produto por habitante e comparação com o distrito de maior capitação

[Ver Quadro na Imagem]

Do distrito de Lisboa, com uma capitação quase dupla da média do continente, apenas se aproxima o de Setúbal, que beneficia do desenvolvimento industrial dos concelhos limítrofes da capital. Os distritos do Porto e de Aveiro são, em todo o litoral, os únicos que também ultrapassam a capitação média, mas muito abaixo dos dois primeiros.
De uma maneira geral, os distritos do litoral, desde Braga a Setúbal, e ainda o de Faro, destacam-se dos do interior, que se situam nas últimas posições; entre estes, apenas Castelo Branco, pela sua importância industrial,

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e os distritos de Portalegre e Évora, devido à estrutura do sector agrícola, surgem menos desfavorecidos.
Considerando, porém, os problemas de natureza estrutural que a evolução das capitações em grande parte reflecte, e tomando a capitação de Lisboa como base
de comparação, verifica-se que, de 1953 a 1964, apenas dois distritos (Aveiro e Setúbal) revelaram tendência para melhorar a sua posição em relação a Lisboa. Em todos os outros, incluindo o distrito do Porto, agravaram-se as disparidades apontadas, acentuando-se com maior nitidez precisamente em relação aos distritos do interior, mesmo quanto a Castelo Branco e a todo o Alentejo.

2. Analisando o valor acrescentado do sector secundário (de acordo com os números do inquérito industrial de 1957-1959 e estimativas para o produto distrital no último decénio), encontram-se grandes desníveis da produção, quer entre os distritos, quer dentro de cada distrito, verificando-se a concentração do desenvolvimento industrial apenas em alguns concelhos.
Além dos distritos de Lisboa, Porto, Aveiro, Setúbal e Braga, com valores muito diferenciados, apenas os distritos de Santarém, Leiria, Castelo Branco e Coimbra Santarém: apresentam alguma importância industrial, aparecendo em posição bastante desfavorável todos os restantes.
Em 1959, todos os concelhos possuindo estabelecimentos industriais importantes, isto é, com 100 ou mais pessoas empregadas e um valor de produção nesses estabelecimentos superior a 5 por cento do respectivo total no continente (v. quadro II), se localizam, salvo raras excepções, na faixa litoral do continente, de Viana do Castelo a Setúbal, agrupados com maior intensidade em Setúbal, agrupados com maior intensidade em redor de Lisboa e do Porto, alguns em torno de Aveiro, salientando-se ainda os de Coimbra e Figueira da Foz e, mais a sul, os de Leiria e Marinha Grande.
No interior do Norte, nenhum concelho apresenta estabelecimentos que possam classificar-se de importantes segundo o critério referido. Na Beira interior, sobressai o concelho da Covilhã e, junto ao vale do Tejo, agrupam-se os concelhos de Torres Novas, Tomar e Abrantes. No Sul interior e litoral, por todo o Alentejo e Algarve, nenhum concelho se evidencia.

QUADRO II

Concelhos com valor de produção superior a 5 por mil do total do continente em estabelecimentos com 100 e mais pessoas

[Ver Quadro na Imagem]

Considerando apenas as industrias transformadoras e de construção, com exclusão, portanto, das actividades directamente ligadas aos recursos naturais e que só por si não constituem actividades motoras do desenvolvimento (extractivas e produção de energia eléctrica), vê-se que os concelhos que podem considerar-se industrializados se hierarquizam pela forma constante do mapa I quanto ao valor acrescentado por aquelas actividades.
Com um valor acrescentado superior a 500 000 contos, destacam-se os concelhos de Lisboa e Porto. Com valores entre 300 000 e 500 000 contos, encontram-se quatro concelhos à volta de Lisboa (Oeiras, Loures, Vila Franca e Barreiro), os dois concelhos limítrofes do Porto (Matosinhos e Vila Nova de Gaia) e, ainda no Norte, os concelhos de Guimarães e Vila Nova de Famalicão. Entre 100 000 e
300 000 contos, sobressaem, na área de Lisboa, três concelhos (incluindo o de Setúbal), no Centro, os concelhos de Leiria e Marinha Grande, Coimbra e Figueira da Foz, seis entre Aveiro e Porto e, já no Norte, Braga e Santo Tirso; no interior, apenas se salienta a Covilhã. Com um valor acrescentado entre 20 000 e 100 000 contos, englobam-se todas as sedes de distritos, com exclusão da Guarda, Bragança e Vila Real, um grupo em redor do Porto e de Guimarães, outro no distrito de Aveiro, um grupo entre Viseu e Covilhã, outra mancha entre Leiria
e Abrantes, alguns concelhos a volta de Lisboa e na penín-

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MAPA I

VALOR ACRESCENTADO DO SECTOR SECUNDÁRIO

(INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS E CONSTRUÇÃO)

(1957-1959)

[Ver mapa na imagem]

sula de Setúbal, continuando por Montemor-o-Novo até Évora, e seis concelhos no Algarve, além de Faro. E nada mais.
Confirma-se, assim, por estes indicadores, que as indústrias transformadoras do continente se concentram principalmente em dois grupos de concelhos centrados em Lisboa e Porto, junto a Aveiro e Coimbra, e, ainda, de Leiria a Abrantes, no Centro predominantemente litoral. Em todo o interior e no Sul litoral, surge a Covilhã como uma realidade e fica a dúvida sobre Portimão.
Através das estimativas provisórias do produto interno secundário por distritos, verificam-se ritmos desiguais de crescimento deste sector em cada distrito, ao longo do período de 1953-1964 (v. quadro III). Apenas os distritos de Aveiro, Lisboa e Setúbal têm peso crescente na produção total do secundário (e taxas médias claramente superiores à taxa do conjunto: 7,7 por cento). Quatro distritos (Braga, Leiria, Santarém e Faro) conservam aproximadamente a sua posição relativa. Todos os outros, incluindo o Porto, atrasam-se relativamente ao conjunto, por terem crescido com taxas inferiores à média. Quer dizer, os distritos de menor peso da actividade secundária e de menor capitação do produto por activo não revelaram, no passado recente, capacidade para ultrapassar o estado de relativo atraso em que se encontram.

QUADRO III

Estimativa do produto bruto do sector secundário por distritos

[Ver Quadro na Imagem]

Limitando, por fim, a observação às indústrias transformadoras, os únicos distritos com participação crescente, de 1953 a 1964, foram os de Aveiro e Lisboa (de 8 para 11 por cento e de 30 para 33 por cento, respectivamente), mantendo Setúbal a sua posição no conjunto, enquanto diminuiu a participação dos distritos do Porto (de 21,5 para 20 por cento) e de Braga.
Referindo, em especial, as posições ocupadas por cada distrito nos ramos de actividade industrial em que têm importância nacional, verifica-se que o distrito do Porto, e mesmo o de Setúbal, perderam posição em quase todos os ramos. O progresso registado no caso do Porto situa-se apenas em actividades não motoras do desenvolvimento industrial (alimentação e bebidas, madeira e mobiliário). No caso de Setúbal, todavia, salientou-se a produção siderúrgica, que favoreceu a posição assumida pelo grupo da metalurgia e produtos metálicos, naquele distrito, em 1964.
Ao contrário dos anteriores, Aveiro e, principalmente, Lisboa conquistaram posições mais destacadas em diversos ramos, incluindo os de maior influência motriz sobre o desenvolvimento.
Considerando, agora, tanto o grau de industrialização já atingido por cada distrito, como a dinâmica do seu crescimento, conclui-se que apenas três distritos apresentam taxas de crescimento da produção e níveis de produtividade por activo superiores à média do continente (8,4 por cento e 23 contos): Aveiro (11 por cento e 25,3 contos), Setúbal (10,1 por cento e 24,7 contos) e Lisboa (9,4 por

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cento e 86,7 contos). Em todos os outros, quer as taxas de crescimento, quer os níveis de capitação, são inferiores àquela média.
Destes últimos, notam-se em posição menos desfavorável os de Leiria, Porto e Braga, mostrando-se Santarém com tendência a integrar-se neste grupo, caso mantenha o crescimento recente. Coimbra e Castelo Branco atrasam-se em relação aos anteriores, embora possuam capitações de nível intermédio. Todos os outros (metade, exactamente), situados no interior e no Sul, além de Viana do Castelo, acumulam os dois aspectos desfavoráveis (v. quadro IV).

QUADRO IV

Posição relativa dos distritos com ritmos de crescimento e níveis de produtividade por activo nas indústrias transformadoras inferiores à média do continente

Classificados em relação às médias do próprio grupo: 6,9 por cento e 17,9 contos

[Ver Quadro na Imagem]

O maior crescimento das actividades industriais verifica-se, pois, nas zonas mais industrializadas, encontrando-se ainda relativa expansão daquelas actividades em zonas intermédias e estagnação nas regiões sem importância industrial, pelo que a industrialização surge como um processo cumulativo, que tem vindo a agravar cada vez mais as desigualdades existentes, não só pelo aumento de concentração das actividades económicas, mas também pela atracção exercida pelas principais zonas industriais sobre as populações. Esse facto explica quase completamente a situação revelada pelas capitações do produto total por habitante e respectiva evolução no período analisado, evidenciando a correlação existente entre o crescimento industrial e o desenvolvimento global dos diversos distritos.

3. É de acentuar, por outro lado, que a existência de áreas industriais mais evoluídas e dinâmicas, oferecendo melhores condições de vida, contribui para a desigual repartição da população, originando um movimento de despovoamento do interior do Norte e do Centro e do litoral do Sul e uma concentração populacional na faixa litoral de Braga a Setúbal (v. mapa II).

MAPA II

ATRACÇÃO E REPULSÃO POPULACIONAIS (1950-1960)

(EM PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO DE 1950)

[Ver Mapa na Imagem]

Apenas as áreas urbacno-industriais de Lisboa e Porto demonstram capacidade para fixar não só o total dos seus saldos fisiológicos, mas ainda os excedentes de outras zonas. Alguns concelhos que se podem considerar em vias de industrialização, como Aveiro, Coimbra, Marinha Grande, Setúbal e Faro, conseguiram fixar nos últimos anos uma população mais ou menos igual aos seus saldos fisiológicos. Outros, já com certo desenvolvimento industrial, como Braga, Guimarães e Covilhã, mas onde predominam as indústrias tradicionais e se verificam elevadas densidades populacionais, não conseguiram fixar o total dos seus saldos fisiológicos, embora não tivessem diminuído de população, encontrando-se na mesma situação os concelhos onde se localizam as sedes de alguns distritos que devem os seus aumentos globais de população à função predominante que desempenham na sua zona de influência administrativa.
Esta situação evidencia que nem todos os centros industriais importantes do continente constituíram pólos de

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atracção das populações migrantes, mas apenas aqueles que juntam ao maior peso da sua estrutura industrial uma estrutura urbana evoluída e em relação com a sua densidade populacional, ou que se encontram localizados na periferia das grandes cidades.
Com efeito (v. quadro V), é nos distritos de Lisboa e do Porto que os indicadores de nível de vida atingem, no seu conjunto, valores mais expressivos, seguindo-se depois os distritos de Setúbal e Aveiro, em grande parte directamente influenciados pelas duas grandes zonas urbanas do continente.
A análise por concelhos das condições mínimas do habitabilidade dos agregados familiares (v. mapa III) confirma, aliás, ser nos concelhos integrados nas zonas urbanas de Lisboa e do Porto, e nalguns concelhos localizados em zonas industriais e urbanas mais evoluídas (principalmente Aveiro, Coimbra e Setúbal), que se encontram as maiores percentagens de agregados familiares beneficiando daquelas condições. Para além destes, salientam-se apenas algumas zonas turísticas.

MAPA III

CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE

(AGREGADOS FAMILIARES COM COZINHA E CASA DE BANHO EM 1960)

[Ver Mapa na Imagem]

Nota-se também que a análise da evolução dos indicadores apresentados, entre 1950-1964, mostra que as tendências apresentadas acentuam as desigualdades entre distritos, contribuindo assim para o agravamento dos desequilíbrios regionais de nível de vida.
É nítida, portanto, a correlação dos movimentos migratórios com o nível de vida das zonas urbano-industriais, salientando-se que, mesmo dentro do litoral industrializado, existem fortes assimetrias de nível de vida, com reflexos directos na intensidade da atracção exercida sobre as populações do interior.

QUADRO V

Indicadores do nível de vida

[Ver Quadro na Imagem]

Conclui-se que os desequilíbrios regionais, no que respeita às condições de vida da população, são do mesmo sentido e acentuam até as desigualdades traduzidas pelos níveis económicos da produção. Além disso, a evolução da situação processa-se em termos de um agravamento das diferenciações existentes, progredindo alguns distritos muito mais rapidamente do que outros nos diversos aspectos.
Deste modo, verifica-se que os movimentos migratórios internos são fortemente polarizados pelos centros mais dinâmicos e que melhores condições oferecem para satisfazer as aspirações de um nível do vida crescente, pondo em risco não só o equilíbrio demográfico do algumas zonas (em conjunto com a emigração), mas também criando alguns estrangulamentos e dificuldades adicionais para o ordenamento dos actuais pólos de atracção.

4. A própria actividade agrícola é influenciada pela localização das áreas urbano-industriais mais evoluídas. Com efeito, analisando a percentagem da população activa com profissão na agricultura, silvicultura e caça (v. mapa IV),- reconhece-se imediatamente ser apenas

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nos concelhos industriais e à sua volta que se encontram percentagens de população agrícola inferiores a 50 por cento. No resto do País, mais de metade da população activa trabalha na agricultura ou depende desta actividade, ainda que indirectamente, como é o caso da população rural empregada, por exemplo, no artesanato e serviços complementares, o que mais acentua o seu peso na economia daquelas regiões.

MAPA IV

PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO ACTIVA COM PROFISSÃO NA AGRICULTURA (1960)

[Ver Mapa na Imagem]

A população activa agrícola só é inferior a 25 por cento em dois concelhos do litoral algarvio, em Setúbal, no núcleo de Lisboa, na Marinha Grande, em Coimbra, Ílhavo, numa área em redor do Porto e de Braga a Ovar.
Entre 25 por cento e 50 por cento, encontram-se mais quatro concelhos do litoral algarvio, alguns concelhos da península de Setúbal, Sines, Évora e Portalegre, o triângulo Santarém-Tomar-Abrantes, Peniche, Nazaré, Leiria, Figueira da Foz, Aveiro, Viana do Castelo, alguns concelhos em volta do Porto e de Aveiro, Castelo Branco e Covilhã, com dois concelhos limítrofes, o que corresponde quase exactamente à localização dos principais núcleos industriais, principalmente se retirarmos os concelhos onde a pesca é a actividade dominante.
A relação superfície produtiva-população activa agrícola mostra, também, que existe contraste saliente entre os distritos do litoral do Norte e Centro (precisamente os de maior densidade urbana e actividade industrial) e os restantes distritos do interior e do Sul.
Muito embora as diferenças sejam reflexo de um conjunto de factores, onde avultam as condições ecológicas e a pressão demográfica, a presença de baixos valores naquele indicador documenta situações que só permanecem no tempo quando as condições ambientais constituem incentivo à intensificação de culturas.
Tomando como termo de comparação a média do continente (6,3 ha por activo agrícola), verifica-se que os distritos com valores inferiores a esta média, que pressupõem a presença de um certo grau de intensificação na agricultura, são os do Porto (2,2), Braga (2,8), Viana do Castelo (3), Lisboa (3,1), Aveiro (3,7), Coimbra (4,2), Vila Real (4,2), Leiria (4,3) e Viseu (4,3).
Os distritos com valores superiores ao referido valor médio, denotando, portanto, a preponderância de processos extensivos de cultura, são os de Évora (13,2), Beja (12,8), Portalegre (11,3), Bragança (11), Setúbal (10,5), Castelo Branco (10,3), Guarda (8,6) e Faro (7,4).
Nos números anteriores transparecem, como é compreensível, algumas situações de transição (Vila Real, Viseu, Faro, por exemplo), que resultam principalmente da pronunciada diversidade climática que o continente apresenta.
A análise da composição do produto agrícola reflecte, a seu modo, estes contraístes, mostrando um quadro de intensificação e de policultura em todo o Noroeste e em grande parte do Centro litoral. Nos distritos do interior, a nota predominante é dada por uma agricultura extensiva, frequentemente de carácter monocultural.
Através de outros indicadores - estrutura fundiária, grau de mecanização, produtividade do solo -, obtém-se a confirmação dos contrastes já referidos.
Assim, por exemplo, os distritos do litoral do Centro e do Norte testemunham relativo grau de homogeneidade ao apresentarem os valores mais altos de produtividade do solo (vide quadro VI e mapa V).

QUADRO VI

[Ver Quadro na Imagem]

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QUADRO VI

[Ver Quadro na Imagem]

[Continuação]

MAPA V

PRODUTIVIDADE DOS SOLOS

(PRODUTO INTERNO BRUTO AGRÍCOLA DE 1955 a 1958 - SUPERFÍCIE PRODUTIVA)

[Ver Mapa na Imagem]

Ainda neste campo, os valores respeitantes aos distritos do Porto e de Lisboa, demonstrativos de maior rentabilidade da superfície produtiva, traduzem, entre outros, o efeito da influência de estruturas urbanas e industriais mais evoluídas.
O mesmo efeito ganha evidência com o indicador que traduz o grau de mecanização (v. quadro VI).
Efectivamente, o distrito de Lisboa destaca-se no contexto agrário do Sul, enquanto o do Porto apresenta certo relevo no Norte, havendo assim estreita correlação com as relativamente baixas percentagens de população activa agrícola naqueles distritos.
O estímulo exercido sobre a actividade agrícola pelas estruturas urbanas e industriais mais evoluídas concretiza-se através de diversas solicitações - de mercado, de incentivo à produtividade do trabalho, de maior permeabilidade do empresário ao progresso técnico, etc. -, permitindo especializações culturais com elevado valor específico (fruticultura, leite, etc.) e motivando o consequente interesse do agricultor.
Saliente-se, no entanto, que estes efeitos nem sempre se reflectem inteiramente nas áreas limítrofes ou de imediata influência dos pólos principais devido aos condicionamentos ecológicos, pelo que os indicadores não mostram com nitidez a inteira dimensão daquele estímulo, que muitas vezes encontra resposta em áreas agrícolas mais distanciadas, mas com vocações explícitas e que são naturalmente aproveitadas.
Assim, a influência de Lisboa como centro de consumo projecta-se para além dos limites administrativos do distrito, mais imediatamente pelo vale do Tejo e pela península de Lisboa, mas ainda com efeitos em áreas circunscritas e mais distantes, como é, por exemplo, o litoral do Algarve.
A evolução nos vários distritos durante o período decorrido entre 1953 e 1964, observado através dos valores da taxa média anual de crescimento do produto agrícola, permite também salientar a existência de algumas situações regionais com tendência depressiva, mesmo em relação aos ritmos moderados a que o sector tem vindo a crescer.
Com efeito, a observação das referidas taxas de crescimento (v. quadro VII) mostra concretamente a permanência de taxas negativas para os distritos de Portalegre, Évora e Beja (os de maior incidência da cerealicultura extensiva de sequeiro) em qualquer dos períodos considerados - 1963 a 1964 e 1958 a 1964.
Muito embora as taxas verificadas nos dois períodos em causa não sejam directamente comparáveis, dado que o primeiro inclui o segundo, é realmente significativo o

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facto de se verificar tendência decrescente nos valores do produto agrícola originado nos distritos de maior predominância da monocultura extensiva e de o referido decréscimo se manter no último quinquénio em análise, período durante o qual se verificou nos restantes distritos certa recuperação dos ritmos de crescimento do produto agrícola.

QUADRO VII

Evolução do produto agrícola Valores a preços de 1963

[Ver Quadro na Imagem]

Para esta regressão do produto agrícola do Alentejo durante o período analisado contribuíram, não só circunstâncias desfavoráveis de natureza conjuntural, mas também, e fortemente, condições climáticas adversas à cerealicultura, as quais se avolumaram particularmente nos últimos anos do referido período.
Estes reflexos foram ainda ampliados pela existência de desequilíbrios no ordenamento agrário e por uma débil acumulação de capital dentro das próprias unidades de produção, circunstâncias que reduziram a possibilidade de o sector poder atenuar a amplitude dos efeitos desfavoráveis do clima.
Em síntese, o território do continente apresenta forte diferenciação ecológica, de acentuada influência climática, que se traduziu por sensíveis contrastes do litoral para o interior e de Norte para Sul, tanto nos regimes de ocupação e de utilização do solo como na estrutura produtiva.
Assim, no litoral do Centro e do Norte, a actividade agrícola aparece, em regra, sob forma intensiva e diversificada, dispondo de solos mais produtivos. Nas regiões do interior e do Sul predominam os regimes monoculturais e extensivos, sendo frequentes a cerealicultura e certos desequilíbrios do ordenamento agrário.
A influência atlântica é mais pronunciada no Norte e no Centro do território, provocando aí maior penetração das características do litoral na zona do interior, enquanto no terço inferior do território, sob influência mediterrânica, as diferenciações são menos acentuadas.
Deste modo, a influência conjugada dos factores climatéricos deu origem a situações mais desfavorecidas nas regiões interiores, particularmente nas do Sul, onde as zonas de potencialidade agrícola estão circunscritas a extensões de solos mais limitadas e onde as obras de valorização fundiária se impõem. No litoral do Algarve, os mesmos factores favoreceram o aparecimento de uma faixa diferenciada com vocação para especializações próprias do clima mediterrânico e onde o factor precocidade representa apreciável vantagem para a agricultura.
A ocupação humana do território acentuou os desequilíbrios naturais já existentes, dando origem a um quadro fundiário de fragmentação e dispersão da propriedade no Norte, enquanto nas zonas interiores, do Centro e do Sul, a propriedade de maior dimensão e a relativa concentração fundiária são nota dominante.
Em todo o litoral da parte Centro e do Norte, onde se encontram as maiores concentrações urbanas e maior projecção do sector secundário, a agricultura acusa certos reflexos benéficos, que resultam principalmente da proximidade e ordem de grandeza dos mercados, da diversificação de empregos e das já referidas condições ecológicas.
Neste contexto, os distritos onde se situam os dois principais pólos urèanos e industriais apresentam melhores índices de rentabilidade da superfície produtiva, e o sector evoluiu no sentido de se adaptar, mediante recurso ao equipamento mecânico, a situações onde a mão-de-obra agrícola deixou de ser o factor abundante.
Nas regiões interiores a sul do Tejo, os processos extensivos de cultura e o carácter predominantemente monocultural da actividade têm-se revelado extremamente dependentes dos factores de natureza estacionai, o que revela a necessidade de obras de valorização fundiária que permitam intensificar os processos de cultivo e diversificar as culturas.
O carácter quase exclusivo da actividade agrícola como fonte de ocupação da mão-de-obra disponível aponta também a necessidade de maior incorporação de trabalho e capital no processo produtivo, mediante a transformação dos produtos primários.

5. A situação analisada e a sua evolução durante os últimos dez anos aconselham a definir uma política de desenvolvimento regional para o continente que permita combater a existência de vastas áreas com taxas de crescimento muito baixas ou mesmo negativas e evite o desperdício de recursos e potencialidades só muito dificilmente recuperáveis mais tarde e depois de terem provocado sérios reflexos em toda a economia.
Esta situação pode sistematizar-se pela enunciação das principais conclusões que ressaltam do presente estudo:

Existe um movimento de despovoamento dos distritos do interior e litoral do Sul, que incide principalmente sobre a população dependente das actividades primárias e também sobre a que trabalha nos serviços complementares daquela actividade, como consequência da situação da agricultura naquelas zonas;
Apenas são centros de atracção das populações as áreas onde, além da concentração industrial, se verifique elevado desenvolvimento urbano - Lisboa e Porto -, sendo também nítida a influência exercida pelos centros urbanos sobre a modernização da agricultura das áreas limítrofes;
Os fenómenos de industrialização e urbanismo surgem como processos cumulativos, susceptíveis de agravar cada vez mais as desigualdades existentes;
Assim, os níveis do produto, bem como os de despesas e rendimento disponíveis, mostram-se cada

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vez mais desequilibrados, e esse desequilíbrio tende a acentuar-se;
O panorama urbano do continente apresenta várias facetas, que realçam o desequilíbrio da rede urbana: por um lado, o crescimento das aglomerações de Lisboa e Porto, em contraste com a reduzida importância urbana do interior e litoral do Sul; por outro, o crescimento desorganizado das áreas suburbanas daquelas aglomerações e o estrangulamento da expansão urbana nas áreas em vias de industrialização, no litoral entre Lisboa e Porto;
Em consequência, acentua-se a dependência excessiva de todo o País em relação a Lisboa, e Porto em matéria de equipamentos urbanos, principalmente quanto a saúde, ensino, manifestações culturais, comércio especializado, etc.;
Por outro lado, os distritos do interior e litoral do Sul, pelo menos, oferecem condições infra-estruturais desfavoráveis (habitação, energia, saúde, ensino, transportes, etc.).

Perante este panorama, a harmonização do desenvolvimento económico à escala regional é hoje exigência, não só económica, como social, pelo que se torna necessário definir os princípios que permitam enunciar um conjunto equilibrado de medidas de política regional.

SECÇÃO II

Açores e Madeira

6. O arquipélago dos Açores tem a caracterizá-lo, como aspecto dominante da sua estrutura sócio-económica, uma forte repulsão populacional, que se manifesta através da existência de grandes correntes migratórias orientadas quase exclusivamente para a América do Norte, e que, no período de 1950-1960, atingiu os seguintes valores:

[Ver Quadro na Imagem]

Este fenómeno resulta da influência conjugada de uma forte densidade populacional (142,1 hab./km2), bastante superior à verificada no continente (93,8 hab./km2) e de uma elevada percentagem de população activa ocupada na agricultura, que em 1960 atingia os 60 por cento. Todavia, assumindo os factores referidos dimensão diferente nas diversas ilhas do arquipélago, também o êxodo populacional se manifesta com intensidade que varia de ilha para ilha.
O efeito da densidade populacional é mais evidente na ilha de S. Miguel (425,8 hab./km2), onde se conjuga com elevada percentagem de população activa agrícola e ocasiona uma das mais fortes repulsões dos Açores, ultrapassada no período de 1950-1960 apenas pelo êxodo registado na ilha do Faial, que, em grande parte, é imputável aos efeitos da erupção dos Capelinhos.

QUADRO VIII

[Ver Quadro na Imagem]

A importância do fenómeno traduz-se pela elevada percentagem de população residente que abandona o arquipélago (15 por cento entre 1950 e 1960) e pelas consequências sobre o crescimento da mesma população.
No distrito da Horta, onde se registam baixas taxas de excedentes de vida (9,8 por mil no período de 1950-1960), a população residente sofreu uma redução de 10 por mil nesse mesmo período. No distrito de Ponta Delgada, em virtude da elevada taxa de excedentes de vida (21 por mil), bastante superiores à do continente português (12 por mil), os efeitos foram menos acentuados e a população residente teve o acréscimo de 3,4 por cento. Em Angra do Heroísmo, aquela taxa assume valores também elevados (15,2 por mil) e o êxodo populacional é menos intenso, tendo a população aumentado 11 por cento.
A dificuldade de o arquipélago fixar a sua população é preponderante nas ilhas mais densamente povoadas e de

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mais elevados saldos fisiológicos. A sua origem encontra-se na estrutura produtiva local e na falta de dinamismo da sua economia.
Esta, de base essencialmente agrícola, não permite a criação, fora do sector primário, do número de empregos indispensável à fixação da população. Por sua vez, a actividade rural mostra-se incapaz de criar maior número de empregos ou possibilitar maiores rendimentos. A elevada pressão da população agrícola e as deficiências estruturais ocasionam uma produtividade média do trabalhador agrícola sensivelmente mais baixa do que a média continental e uma fraca rentabilidade das explorações, traduzida pelas elevadas percentagens que atingem as empresas familiares, de dimensão insuficiente, sobretudo nas ilhas de Santa Maria, Graciosa e Pico (64 por cento, 66 por cento e 84 por cento do total das explorações, respectivamente).

QUADRO IX

Estrutura agrária Percentagens

[ver tabela na imagem]

QUADRO X

Sector secundário

[ver tabela na imagem]

A inviabilidade de grande parte das explorações agrícolas deve-se à sua falta de dimensão - em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, 67 por cento das explorações não atingem 1 ha, percentagem que na Horta se eleva a 80 por cento, agravada neste distrito pela grande dispersão. Na ilha de S. Miguel, assume ainda importância o alto nível das rendas, resultante da grande procura de terra e que se reflecte sobre larga fracção da população agrícola.
A actividade piscatória ocupava 6,2 por cento do total da população activa do sector primário. A sua baixa produtividade média (0,75 por cento da do trabalhador agrícola) é reflexo do equipamento das frotas e da desactualização dos processos utilizados.
Nos Açores, os factores da industrialização e do urbanismo, que em determinadas regiões do continente mostram possuir força suficiente para fixar populações, são praticamente inoperantes.
O distrito mais industrializado é o de Ponta Delgada, salientando-se, dentro deste, a ilha de S. Miguel, a qual concentra 55,7 por cento da população activa ocupada na indústria transformadora e 75,3 por cento do valor bruto da produção industrial dos Açores, e é formada essencialmente por indústrias tradicionais, destinadas à produção de bens de consumo local. Mencionam-se as seguintes, que representaram 70,3 por cento da produção industrial no 1.º semestre de 1964, com o valor de 347 718 contos.

Percentagens

Lacticínios ............................ 24,6
Conservação de peixe e outros produtos da pesca em azeite ou molhos ou pelo sal .. 5,6
Moagem de farinhas espoadas ............ 12,6
Panificação ............................ 3,9
Fabricação de açúcar ................... 2,9
Produção e refinação de óleos alimentares, com excepção do azeite ................. 3,3
Outras, indústrias alimentares não especificadas .......................... 5
Tabaco ................................. 5,8
Bordados ............................... 2,8
Produtos químicos orgânicos ............ 3,8

Mas o facto de ser esta ilha a de mais forte repulsão populacional, verificando-se mesmo a saída de elementos para outras ilhas - Santa Maria e Terceira, onde vão encontrar ocupação nos respectivos aeroportos -, mostra que a sua relativa industrialização não atingiu ainda força necessária para desencadear um movimento urbanístico susceptível de oferecer à população local atractivos suficientes para a sua fixação.
De facto, a rede urbana do arquipélago é constituída por pólos de reduzida dimensão. Existem apenas três centros com populações que oscilam entre os 7109 e os 23 316 habitantes. O de Ponta Delgada é o de maior dimensão, mas concentra apenas 12,8 por cento da população do distrito. A influência destes centros sobre a vida económica dos Açores é, porém, importante. Nas três ilhas onde se localizam - S. Miguel, Terceira e Faial - encontram-se 87,4 por cento da população activa do arquipélago ocupados na indústria transformadora e 86,5 por cento dá população activa do sector terciário.
Nestas ilhas o êxodo populacional atinge valores elevados, confirmando a fraqueza das actividades secundária e terciária, incapazes de fixar as populações.
A debilidade do sector secundário traduz-se na ausência de indústrias motoras. As existentes orientam-se quase exclusivamente para o consumo corrente - lacticínios, conservas de peixe, bordados, etc., produtos que constituem também as mais importantes exportações do arquipélago (69,6 por cento do total em 1965) -, como se verifica pelo quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

A reduzida produção industrial, aliada às distorções do sector primário, constituem sérios obstáculos ao desenvolvimento, além dos que provêm da quase-saturação das actuais fontes de energia, da exiguidade das frotas

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que servem a região, quer marítimas, quer aéreas, das deficientes infra-estruturas de transportes, da limitada actividade comercial e turística e da dificuldade de os estabelecimentos bancários atraírem as poupanças e orientarem a sua aplicação dentro dos Açores.
Define-se, assim, uma zona deprimida sem dinâmica própria, que não consegue vencer e ultrapassar o estado de estagnação económica em que se encontra.
Esta situação tem reflexos no campo social, onde se registam, principalmente em determinadas ilhas - Pico, S. Jorge, Flores, Graciosa e Corvo -, níveis de educação, saúde e habitação insatisfatórios, por escassez de infra-estruturas, equipamento e pessoal especializado.
A análise da situação sócio-económica do arquipélago permite, assim, concluir:

Os Açores apresentam-se como zona deprimida, onde a actividade agrícola se caracteriza por baixos níveis de produtividade e insuficiente rentabilidade das explorações, e o sector secundário revela não existirem indústrias com dinamismo suficiente para apoiar a expansão da sua economia;
Estas condições, conjugando-se com a existência de elevadas densidades demográficas e a manutenção de altos saldos fisiológicos, conduzem ao êxodo continuado das populações para o exterior;
A situação é agravada por circunstâncias de vária ordem, entre as quais se salientam as deficiências dos sectores de transportes, comércio, turismo, educação, saúde e habitação, em paralelismo com o fraco índice urbano do arquipélago.

Também aqui se mostra, pois, necessária e urgente uma intervenção, com o objectivo de dotar a economia dos Açores com dinamismo próprio, que lhe permita entrar numa fase de progressivo desenvolvimento sócio-económico.

7. A situação do arquipélago da Madeira, no aspecto demográfico, é também caracterizada pela existência de elevados saldos fisiológicos, no quadro de uma densidade populacional 3,5 vezes superior à média do continente.
Dado que a sua estrutura sócio-económica não permite oferecer a toda a população condições de vida aceitáveis, verificam-se fortes correntes emigratórias para o estrangeiro (América do Norte e América do Sul, em especial), assim como para o continente e ultramar.
A emigração registada no decénio de 1951-1960 cifrou-se em 45 131 emigrantes, representando 16,9 por cento da população residente em 1950. A média anual foi de cerca de 4500.
A situação não é idêntica em todos os concelhos do distrito. No concelho do Funchal, onde se localiza o único centro urbano do arquipélago, e nos concelhos limítrofes (Santa Cruz e Câmara de Lobos), verifica-se uma densidade populacional superior à média, mas a população continua a aumentar. Nos restantes, onde predominam as actividades agrícolas, faz-se sentir mais intensamente o êxodo populacional.
Pode, portanto, afirmar-se que na Madeira, como no continente, se verifica o fenómeno da repulsão das populações predominantemente rurais e a atracção destas pelas áreas mais evoluídas.
A repulsão da população atinge no meio rural intensidade superior à do continente.
O facto deve-se, fundamentalmente, à elevada pressão demográfica sobre a terra e, em grande parte, a deficiências estruturais, que, em relação à dimensão das explorações agrícolas, se traduzem da forma seguinte:

[ver tabela na imagem]

Por outro lado, verifica-se que das explorações com gado bovino 67,3 por cento apenas possuem uma cabeça, sendo insignificante a percentagem das que possuem mais de duas cabeças (8,4 por cento).
Nestas condições, raras são as explorações que ocupam a capacidade de trabalho do agregado familiar, verificando-se elevada percentagem (76,8 por cento) de empresas familiares de insuficiente dimensão.
Esta situação origina que número crescente de rurais procurem trabalho noutras actividades; mas estas não se têm mostrado capazes de os ocupar. No decénio referido deixaram o sector primário 3632 activos, tendo os sectores secundário e terciário, no mesmo período, criado apenas 1749 novos empregos.
Embora a cidade do Funchal exerça no arquipélago certa atracção sobre as populações, esta não tem sido suficiente para evitar a saída para o exterior. Isto resulta, não só da elevada pressão demográfica e das deficiências estruturais do sector primário, mas também da orgânica industrial, assente em actividades que só muito dificilmente podem promover a expansão do sector.
Com efeito, a indústria do arquipélago, concentrada no concelho do Funchal e limítrofes, é essencialmente constituída por actividades tradicionais, destinadas à produção de bens de consumo local, salientando-se as que a seguir se indicam e representaram 64,9 por cento do valor da produção no 1.º semestre de 1964:

Percentagem

Moagem de farinhas espoadas ....... 11,9
Açúcar ............................ 8,6
Vinhos licorosos .................. 7,4
Panificação ....................... 5
Lacticínios ....................... 3,7
Conservas de peixe e outros produtos da pesca.................. 3,2
Alimentos preparados para animais . 1,9
Caixas e outras embalagens de madeira ........................... 1,6
Produtos de vime .................. 0,4
Bordados .......................... 21,3

A indústria de bordados ocupa a posição mais importante dentro das indústrias transformadoras, com 21,3 por cento do valor bruto da produção no período considerado.
Quanto ao sector terciário, verifica-se que a sua posição é preponderante apenas no concelho do Funchal, em consequência da concentração dos serviços e infra-estruturas

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turísticas, comerciais e portuárias na cidade, e ocupa a população referida neste quadro:

[ver tabela na imagem]

A actividade turística exerce grande influência sobre o desenvolvimento do distrito, sobretudo nos concelhos do Funchal e Porto Santo.

O arquipélago é já hoje uma das mais importantes regiões turísticas do País, com uma capacidade hoteleira que, em relação ao número total de camas da metrópole, era representada em 1965 pelos valores do quadro que se segue:

[ver tabela na imagem]

É de salientar a posição ocupada pelos estabelecimentos hoteleiros, de luxo e de 1.a classe, os quais merecem realce, atendendo a que o turismo é constituído na sua quase totalidade por estrangeiros (82,1 por cento).
As percentagens das dormidas de estrangeiros no arquipélago, em relação à totalidade das dormidas verificadas na metrópole, nos anos que se indicam, são as seguintes:
Porcentagens

1961 ............... 9
1962 ............... 11
1963 ............... 12
1964 ............... 10
1965 ............... 10,8

Deve referir-se ainda o comércio com o exterior. Muito embora o arquipélago goze de localização geográfica favorável, têm-se mantido praticamente estáveis, nos últimos anos, os valores das exportações, assentes nos produtos tradicionais (bordados, vinhos licorosos e obras de vime).
Destas exportações, salienta-se a de bordados, com mais de 50 por cento do valor global e destinada na sua maior parte aos Estados Unidos da América, como se verifica pelo quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

A situação social da Madeira não mostra disparidades acentuadas, em comparação com a verificada no continente.
Os índices de higiene situam o distrito dentro da média do continente, havendo que referir o elevado número de habitantes (2423) por médico.
A taxa de analfabetismo atinge valores menos favoráveis do que os verificados no continente.
O índice de escolaridade, quanto ao ensino secundário, não .ultrapassava em 1960 os 10,6 por cento, considerando os elementos da população entre os 10 e os 19 anos.
A sua distribuição pelos ensinos liceal e técnico (comercial e industrial) era a constante do quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

Da análise realizada pode extrair-se certo número de conclusões sobre a situação económico-social do arquipélago da Madeira, que seguidamente se resumem:

ensidade populacional três vezes e meia superior à média do continente;
Elevados saldos fisiológicos;
Forte repulsão populacional, com aspecto dominante nos meios rurais, provocando grandes correntes emigratórias;
Actividade predominantemente agrícola, apresentando a estrutura agrária deficiências estruturais acentuadas;
Debilidade do sector secundário, dominado pelas indústrias tradicionais, produtoras de bens de consumo local, sem poder desempenhar acção motora e absorver a mão-de-obra excedente do sector primário ;
Destacada posição do concelho do Funchal e, em menor escala, dos concelhos limítrofes (Santa Cruz e Câmara de Lobos), onde se concentra:
A maior parte da população; A quase totalidade das indústrias, comércio e infra-estruturas urbanas;

Actividade exportadora estável de bordados, vinhos licorosos e obras de vime;
Influência dominante da actividade turística, em especial sobre o desenvolvimento da cidade do Funchal e, complementarmente, de Porto Santo, constituindo o arquipélago uma das mais importantes regiões turísticas da metrópole.

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Perante a situação actual e o seu previsível agravamento, torna-se necessário um conjunto de providências que procure harmonizar as condições económico-sociais da Madeira com a progressiva correcção das deficiências verificadas.

CAPITULO II

Objectivos e orientações fundamentais

8. Os reflexos do desenvolvimento económico e social para a maioria da população espalhada pelo território metropolitano dependem, em grande parte, da medida em que for possível dar realização a um dos objectivos fundamentais do Plano: a harmonização do crescimento à escala regional.
Nesta óptica, as actuações a desenvolver durante o período do Plano serão conduzidas com vista aos seguintes objectivos:

O equilíbrio da rede urbana, com a finalidade de dotar as populações de equipamentos sócio-económicos mínimos, concentrados a distâncias razoáveis;
A expansão descentralizada da indústria e dos serviços, concretizada pela utilização de pólos de crescimento ;
A progressiva especialização da agricultura regional, de acordo com as aptidões dos solos e as influências climáticas, numa óptica de concentração do investimento.

Por outro lado, a prossecução destes objectivos implica a necessidade de se aperfeiçoarem determinadas estruturas regionais em ordem a permitir a elaboração de planos concertados. Serão, assim, condições prévias para a realização dos objectivos mencionados a delimitação de regiões de planeamento (regiões-plano ou regiões-programa) e a definição da orgânica adequada.

9. As orientações que hão-de enquadrar a formulação das providências destinadas a alcançar os objectivos apontados terão em conta as aspirações locais, a compatibilidade entre as exigências impostas pela aceleração do desenvolvimento nacional e as que respeitam ao progresso das diferentes regiões, bem como as potencialidades próprias de cada região. Tender-se-á, assim, a longo prazo, para a atenuação das disparidades regionais pela forma mais favorável ao crescimento do produto nacional, assegurando uma melhor repartição dos grupos humanos em função dos recursos efectivamente utilizáveis.
Considerando, pois, que a execução da política regional não pode esquecer as aspirações locais, cumpre definir as orientações necessárias para assegurar a representatividade das populações nas diversas fases do planeamento regional.
Por outro lado, a necessidade de harmonizar as exigências do equilíbrio regional com as aspirações nacionais de rápido desenvolvimento implica que a selecção dos projectos de investimento se processe não só através de critérios de rentabilidade, mas também com base na avaliação dos efeitos regionais de cada projecto, permitindo que a prioridade de realização dos empreendimentos seja definida de acordo com a maximização dos seus efeitos sobre o mecanismo de desenvolvimento de cada região, a fim de contribuir, pela forma mais favorável, para o crescimento do produto nacional.
Por último, formula-se a orientação de que a procura da harmonia do crescimento à escala regional será condicionada pelas potencialidades próprias de cada região.
Na prática, isso traduzir-se-á numa política de concentração dos investimentos naqueles pontos que apresentem maiores potencialidades, contribuindo para uma melhor coerência regional entre recursos efectivamente utilizáveis e estrutura produtiva, na medida em que o investimento é condicionado pelas potencialidades reais de cada sector.

10. O equilíbrio da rede urbana é imposto não só pelas exigências da política de desenvolvimento regional, mas ainda, e talvez mais imperiosamente, pelo fenómeno de urbanização das populações, que, se não for controlado, processar-se-á espontaneamente e com consequências difíceis de prever.
Aquele equilíbrio conseguir-se-á pelo desenvolvimento ou a criação de centros urbanos, para que toda a população disponha, a distâncias razoáveis, de equipamento sócio-económico mínimo.
A distribuição do equipamento deve obedecer à hierarquização da rede urbana, de acordo com a função que cada centro desempenha, ou deverá desempenhar, na sua região, desde as cidades que funcionem como capitais até aos centros de menor dimensão ao serviço da população rural.
Mantém-se, portanto, também aqui, a orientação já fixada de concentrar o investimento, a fim de que a expansão da rede urbana regional tenha como consequência a concentração racional das infra-estruturas sociais, permitindo ainda a hierarquização dos transportes e comunicações em função da importância de cada centro dentro da sua região.
O objectivo de conseguir o desenvolvimento equilibrado da rede urbana regional implica o estudo do número, dimensão, localização e função dos centros a desenvolver ou a criar, tendo em conta as exigências .das populações servidas, as potencialidades naturais e o custo dos equipamentos e infra-estruturas a instalar.

11. Dentro desta óptica, a expansão da indústria e dos serviços obedecerá, no decurso do Plano, a uma política de descentralização, definida, para cada área, com base nas indústrias ou serviços considerados como factores básicos ou motores de desenvolvimento e conjugada com a urbanização das populações, dentro do princípio do equilíbrio da rede urbana regional.
A orientação assim definida concretiza-se pela utilização de pólos de crescimento, que serão um dos principais instrumentos da política de desenvolvimento regional.
Com efeito, a expansão descentralizada da indústria só poderá ser conseguida pela concentração do investimento naqueles pontos que oferecem garantias de maior influência sobre o conjunto da região, não sendo de aceitar, por improfícua e dispendiosa, principalmente quanto ao custo das infra-estruturas, a disseminação do investimento.
Por outro lado, da concentração do investimento industrial resultarão economias externas de elevado grau nos aspectos de transporte, mão-de-obra, serviços públicos e assistência técnica, geradoras de um dinamismo auto-sustentado.
Nos estudos respeitantes à aplicação deste princípio serão considerados: a influência concreta de cada indústria no desenvolvimento da região considerada -examinando para cada caso os complexos industriais mais adequados -, a sua localização na região e ainda critérios urbanísticos, quer quanto à arrumação interna do pólo de crescimento, quer quanto à sua integração na rede urbana.
Salienta-se ainda que a utilização dos pólos de desenvolvimento deverá processar-se com a finalidade de dotar

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as regiões de estruturas industriais produtivas e diversificadas, permitindo, por um lado, a sua actividade concorrencial, sem proteccionismos especiais, e evitando, por outro, as crises resultantes da excessiva especialização regional.

12. Também na agricultura a política de desenvolvimento regional será orientada, na medida do possível. pelo princípio da concentração do investimento em relação com o aproveitamento das potencialidades diagnosticadas em cada região.
Esta a orientação fundamental, que, conjugada com a aplicação de outras medidas, deverá conduzir ao aumento da produtividade do sector, através da especialização da agricultura regional, de acordo com a aptidão dos solos e as influências climáticas.

onsidera-se, no entanto, que a concentração do investimento em zonas adequadas deverá ser conjugada com a criação de uma agricultura de maior pendor comercial, voltada para os mercados internos e externos.
Esta orientação implica a necessidade de se estudarem as condições mínimas de rentabilidade da empresa agrícola em cada região, procurando a correcção de estruturas deficientes, que constituem obstáculo ao aumento da produtividade e da capacidade concorrencial do sector.
Saliente-se, no entanto, que o desenvolvimento das actividades agrícolas não pode, por si só, servir de base a uma política regional, pelo que, sendo nítida a diminuição acelerada da população activa na agricultura, deverá considerar-se sempre a conjugação da política agrícola com a criação de novos empregos noutras actividades e com a urbanização das populações rurais.

13. Os objectivos e as orientações definidas só adquirem o seu verdadeiro significado quando conjugados a nível regional e compatibilizados a nível global.
Esta coordenação só é possível através da elaboração de planos regionais a integrar oportunamente no plano nacional.
Entende-se, no entanto, distinguir duas ópticas de planeamento regional - a de médio e a de longo prazo. A primeira, que se inicia com este III Plano de Fomento, conduz a preparar e a executar o plano nacional dentro de um. princípio de descentralização, por forma a conseguir atenuar os desequilíbrios regionais de acordo com as orientações já definidas.
A segunda, que se procurará considerar também no decurso do Plano, e com a qual se pretende prosseguir o objectivo da harmonização gradual do crescimento à escala regional, assenta na definição de um plano de ordenamento geral do território, com vista a proporcionar a melhor repartição dos factores produtivos em função dos recursos efectivamente utilizáveis.
São, no entanto, condições fundamentais para o arranque do planeamento em qualquer das ópticas referidas, como já se frisou, a delimitação de regiões de planeamento e a definição da correspondente orgânica.
Destas matérias se ocupam os capítulos seguintes.

CAPITULO III

Delimitação das regiões de planeamento

14. No que se refere à delimitação de regiões-plano, a que se entende proceder imediatamente sem prejuízo de ulteriores ajustamentos, os elementos orientadores considerados para esse efeito foram essencialmente os seguintes:

As possibilidades presentes e potenciais dos centros urbanos da metrópole;
As exigências de um mínimo de dimensão demográfica;
A necessidade urgente de compensar o poder de atracção das duas grandes cidades do continente - Lisboa e Porto;
A unidade resultante da existência de grandes empreendimentos que interessam toda uma região;
A complementaridade entre zonas de economia diferente.

Com base nestas directrizes, serão criadas no continente quatro regiões-plano: a região do Norte, a região do Centro, a região de Lisboa e a região do Sul (v. mapa vi).

MAPA VI

DELIMITAÇÃO DAS REGIÕES DE PLANEAMENTO NO CONTINENTE

[ver mapa na imagem]

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Embora se reconheça que os limites distritais não satisfazem às exigências de delimitação de regiões económicas, aceitam-se como ponto de partida, enquanto se procede aos estudos complementares para a definição de limites mais de acordo com os objectivos que se pretendem atingir e que melhor satisfaçam os próprios interessados.
Considerando determinadas situações mais evidentes, os estudos mencionados deverão incidir principalmente: sobre os concelhos localizados a norte do distrito de Aveiro (provavelmente polarizados pelo Porto) e os abrangidos pela bacia hidrográfica do Douro (norte dos distritos de Viseu e Guarda); sobre os situados a sul do distrito de Leiria, que parecem sofrer os efeitos directos da atracção de Lisboa; sobre a metade sul do distrito de Castelo Branco,, de características alentejanas; e ainda sobre os concelhos alentejanos do distrito de Setúbal e os que separam o Algarve do Alentejo.
A região do Norte abrange os distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança e terá a sua capital na cidade do Porto. A região do Centro inclui os distritos de Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Guarda e Castelo Branco e a sua capital será a cidade de Coimbra. A região de Lisboa abrange os distritos de Lisboa» Setúbal e Santarém, sendo a sua capital na cidade de Lisboa. A região do Sul abrange os restantes distritos - Portalegre, Évora, Beja e Faro-, funcionando como capital a cidade de Évora
Consideram-se ainda as ilhas adjacentes, onde se criam duas regiões-plano, a região dos Açores e a região da Madeira, abrangendo cada uma o respectivo arquipélago e ficando a definição dos seus objectivos e políticas para capítulo próprio.
No continente, dentro de cada região, considerando aspectos específicos de intervenção, distinguem-se sub-regiões e pequenas zonas de acção, sempre com o objectivo de conseguir uma melhor integração destas na economia regional.
Desde já se definem, dentro de cada região, as respectivas sub-regiões, confirmando as reservas quanto aos limites que anteriormente se fizeram: na do Norte, distinguem-se a sub-região do litoral - distritos do Porto, Braga e Viana do Castelo - e a do interior - distritos de Vila Real e Bragança; na do Centro, o litoral, aaran-gendo os distritos de Aveiro. Coimbra e Leiria, e a sub-região do interior, formada por Viseu, Guarda e Castelo Branco; na de Lisboa, a sub-região do litoral inclui os distritos de Lisboa e Setúbal e a do interior o distrito de Santarém: e. finalmente, na do Sul. as sub-regiões do Alentejo - distritos de Portalegre, Évora e Beja - e do Algarve - distrito de Faro.
A definição das capitais das sub-regiões indicadas fica dependente dos estudos em curso sobre a localização dos pólos industriais e o equilíbrio da rede urbana. Abre-se, no entanto, uma excepção para a sub-região do Algarve, onde, considerando os problemas específicos que levanta o planeamento turístico do distrito e sem prejuízo da necessária coordenação a nível regional, parece possível designar desde já a respectiva capital. Entre as hipóteses encaradas, afigura-se ser a cidade de Faro, sede administrativa do distrito, aquela que melhores condições apresenta para esse efeito, designadamente quanto a infra-estruturas urbanas, sem prejuízo de ulteriores modificações, caso venham a ser consideradas oportunas.

CAPITULO IV

Caracterização das regiões e linhas gerais de planeamento

15. Não é possível, nesta fase, definir para cada região um plano de desenvolvimento. Por um lado, faltam os estudos sobre os recursos naturais, as potencialidades, as aspirações locais; por outro, dentro da orientação que se traçou, é essencial a colaboração das instituições regionais logo na primeira fase de preparação dos seus planos.
Apontam-se, no entanto, além das principais características e potencialidades, as linhas gerais da estratégia de desenvolvimento de cada região, procurando enquadrar assim os planos regionais que venham a ser elaborados e salientar desde já empreendimentos de carácter prioritário, cujos estudos se poderão iniciar imediatamente, contribuindo para o mais rápido lançamento de acções de valorização regional.

SECÇÃO I

Continente

§ 1.º Região do Norte

a) Caracterização

16. Já ficou definido que esta região compreende, em princípio, os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança. A delimitação da região aparece, assim, estreitamente ligada aos actuais limites administrativos. Todavia, a necessidade de vir a abranger na mesma região o todo geográfico constituído pela bacia do Douro e a intensidade de relações económicas que uma parte do distrito de Aveiro mantém com a zona do Porto apontam para a conveniência de um ajustamento futuro dos limites regionais. No entanto, a inclusão de alguns concelhos dos distritos situados a sul do rio Douro na região do Norte só deverá fazer-se sem prejuízo do equilíbrio da região do Centro.
Da mesma maneira que são diferenciadas as duas sub-regiões, litoral e interior, também as medidas de política económica e social deverão assumir aspectos e intensidades distintas. Com efeito, as duas sub-regiões não só têm peso muito desigual em termos demográficos e económicos (a sub-região interior possui 21 por cento da população da região e contribui para a produção total com 18 por cento), como tende a agravar-se o desequilíbrio entre as suas posições relativas.
A sub-região litoral, embora inclua a cidade do Porto como segundo pólo urbano do País, não se destaca dos valores médios do continente em termos de desenvolvimento, nem se afasta do nível atingido pelo litoral da região do Centro. A sub-região interior, por sua vez, aparece como a mais pobre de todo o continente.
A percentagem de activos agrícolas - a mais elevada do País - e uma produção baseada predominantemente na agricultura são os traços característicos da estrutura desta sub-região, que sofre repulsão populacional muito forte.
Na sub-região litoral não há homogeneidade de condições, porquanto o distrito de Viana do Castelo prolonga a zona deprimida do interior. Apenas os distritos de Braga e Porto, com grandes densidades populacionais, possuem maior dinamismo e até capacidade de atracção populacional (nalguns concelhos limítrofes da cidade do

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Porto), determinados pela posição saliente das actividades industriais e pelas estruturas urbanas mais aptas para fixar os excedentes populacionais.
Neste último aspecto, todavia, a região do Norte carece, de rápida transformação, porque a sua cobertura urbana é deficiente. Além do crescimento orientado dos centros de Braga e Guimarães, será necessário promover o desenvolvimento de alguns centros urbanos actuais ou a criação de novos centros, localizados de acordo com. um esquema coerente de dependência funcional das populações e integrados na hierarquia da rede urbana regional.
A expansão dos centros urbanos e o aproveitamento das potencialidades regionais relacionam-se também com as possibilidades de transportes e meios de comunicação, que se apresentam mais deficientes, quer quanto a intensidade, quer quanto a utilização, nos três distritos que constituem a zona crítica da região (Viana do Castelo, Vila Real e Bragança).
Nestas condições, torna-se necessário conjugar o prolongamento dos traçados actuais das vias rodoviárias e ferroviárias com o planeamento da rede urbana e da exploração dos recursos regionais, evitando que as comunicações constituam entrave ao aproveitamento integral das potencialidades das regiões mais desfavorecidas.

b) Principais factores e potencialidades

Alguns aspectos serão tidos especialmente em conta na programação concreta da política de desenvolvimento aplicável à região do Norte.
Assim:

A existência dos recursos do subsolo, com relevo para os minérios de ferro, com grandes reservas conhecidas, e possibilidades de enriquecimento local, para utilização metalúrgica posterior; outros produtos de extracção menos importantes, como o carvão, os minérios de estanho e volfrâmio, o caulino, ardósias e granito, são também susceptível? de aproveitamento mais amplo proporcionado pelo próprio crescimento industrial e da construção;
Um potencial de mão-de-obra não especializada ainda volumoso, apesar da emigração, e que pode beneficiar da valorização profissional dos próprios emigrantes e de uma formação ministrada oportunamente;
A tradição industrial, a experiência adquirida em sectores muito localizados e importantes e a possibilidade de conseguir rápidos progressos da produtividade pela introdução de técnicas modernas de gestão;
Quanto aos transportes, além dos aspectos gerais já mencionados, merece realce o estudo da navegabilidade do Douro, em ligação com o seu aproveitamento hidroeléctrico;
Quanto à melhoria do sector agrícola, constituem problemas em toda a região a elevação da produtividade dos factores (sobretudo do trabalho), o aperfeiçoamento da organização da produção, a melhoria da rentabilidade das explorações agrícolas, pecuárias e florestais e o ajustamento da actividade produtiva à capacidade de uso dos solos,

c) Linhas gerais de planeamento

O enquadramento traçado permite definir algumas orientações fundamentais com vista ao progressivo desenvolvimento da região.
Assim, a modernização das estruturas produtivas do litoral industrializado e o seu reordenamento urbano terão tradução sensível na diminuição relativa da população activa do sector primário e na participação crescente do produto dos sectores secundário e terciário na produção global.
Na área do Porto, caracterizada pela concentração industrial e populacional, as providências a encarar deverão obedecer principalmente a um plano orientador da expansão urbana que delimite as áreas residenciais e industriais.
Na zona Braga-Guimarães-Viana do Castelo, a intervenção tenderá a impulsionar o crescimento industrial e a ordenar a concentração por forma a surgirem centros urbanos bem equipados e menos dependentes "da capital regional. As zonas críticas constituídas pelas áreas montanhosas destes distritos exigem estudos quanto às suas possibilidades de reconversão e valorização.
A exploração mais intensa dos recursos naturais e o aproveitamento das possibilidades agro-florestais utilizando esquemas mistos de ordenamento agrícola e de industrialização dos produtos primários, com elevação rápida da produtividade na agricultura e redução do subemprego, apoiados em novos pólos de desenvolvimento económico e urbano, constituem o essencial da política de desenvolvimento para o interior. A evolução a favorecer deverá permitir redução sensível do peso excessivo da população activa agrícola, criando novos empregos em número elevado nas actividades secundárias.
Neste caso, a problemática da agricultura e a ausência de indústrias transformadoras e de verdadeiros centros urbanos implicam a necessidade de reconversão da primeira e a criação de pólos urbano-industriais de dimensão e estruturas adequadas, um dos quais desempenhará as funções de capital sub-regional.
A linha principal da estratégia para esta região consistirá, pois, em conseguir a penetração do desenvolvimento industrial no sentido do interior, provavelmente pela implantação de um pólo de desenvolvimento na zona delimitada pelos centros urbanos de Vila Real e Lamego, tendo em atenção as potencialidades do território e a necessidade de não estimular a atracção do Porto sobre as respectivas populações.

§ 2.º Região do Centro

a) Caracterização

17. A região do Centro compreende os distritos de Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Guarda e Castelo Branco.
A delimitação da região, feita com base nos limites administrativos dos distritos, afasta-se sensivelmente das suas fronteiras naturais: a bacia do Douro, a norte, e a bacia do Tejo, a sul. É sobretudo em relação à vertente sul da bacia do Douro, por constituir um prolongamento natural da região do Norte, que se admite a necessidade de optar, no futuro, quanto ao ajustamento dos limites regionais. Analogamente, podem merecer consideração relações económicas intensas com as zonas urbanas do Porto e de Lisboa, nos extremos norte e sul da sua faixa litoral. Todavia, qualquer adaptação futura das fronteiras regionais terá de atender ao equilíbrio demográfico e económico da região do Centro e à estrutura da sua rede urbana, na qual desempenha papel importante a cidade de Aveiro.
A estratégia geral de desenvolvimento, partindo da situação actual, deverá assentar no conhecimento da respectiva estrutura económica, num inventário inicial de potencialidades e nas características mais relevantes da evolução recente.

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As duas sub-regiões, litoral e interior, formadas, respectivamente, pelos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria e pelos de Viseu, Guarda e Castelo Branco, tem características diferenciadas, sobretudo quanto às potencialidades e condições naturais e às estruturas económica e urbana.
Embora não tenham populações muito desiguais (cerca de 56 por cento na sub-região litoral), as suas contribuições para a produção total são nitidamente mais desequilibradas, pois na sub-região litoral obtém-se mais de 64 por cento dessa produção.
Outros aspectos que justificam acções de promoção do desenvolvimento económico e social da região do Centro resultam do agravamento crescente das disparidades apontadas e de nenhuma das sub-regiões parecer susceptível, no seu conjunto, de reduzir as disparidades que as separam actualmente dos indicadores médios para o continente, embora o distrito de Aveiro, isoladamente, apresente ritmos muito elevados de crescimento.
A sub-região litoral, densamente povoada, sofre, no conjunto, repulsão populacional, embora de baixa intensidade, e nalguns concelhos isolados chega a exercer atracção efectiva (Aveiro, Ilhavo, S. João da Madeira e Marinha Grande) devido ao respectivo desenvolvimento industrial.
A sub-região interior, porém, possui repulsão populacional muito forte e elevadas percentagens de activos agrícolas, que, mantendo-se estacionárias, demonstram a ausência de dinamismo da economia da zona, centrada na actividade agrícola, embora possua um centro industrial de certa importância (Covilhã).
A estrutura urbana da região é fraca, pois todos os centros principais, à excepção de Coimbra, possuem populações inferiores a 23000 habitantes, sendo em pequeno número no interior, onde, aliás, servem de locais de passagem temporária para populações migrantes. Os equipamentos destes centros tornam necessário o ordenamento urbano, no litoral, tendo em vista a economia de infra-estruturas que certo grau de concentração pode proporcionar, e o desenvolvimento, no interior, dos pólos já existentes (provavelmente Viseu, Covilhã, Guarda e Castelo Branco) onde se localizem actividades industriais geradoras de novos empregos e se exerçam funções urbanas indispensáveis segundo uma hierarquia adequada.
O sistema de comunicações apresenta estrangulamentos a incidir nas possibilidades de desenvolvimento da região do Centro, em consequência, nomeadamente, das barreiras montanhosas que dificultam a penetração no interior da Beira em condições de trânsito rápido, principalmente no que se refere às ligações directas da Covilhã e da Guarda com o litoral.

b) Principais factores e potencialidades

Com vista ao desenvolvimento da região do Centro, devem considerar-se especialmente:

Os recursos naturais, ainda insuficientemente aproveitados, nomeadamente grandes disponibilidades de material lenhoso, as areias, o calcário e outras rochas de interesse para as indústrias de cerâmica, vidro, cimentos e materiais de construção e os recursos mineiros da sub-região interior, em que se destacam o estanho, o volfrâmio e o urânio;
O dinamismo que caracteriza actualmente a actividade industrial nos distritos de Aveiro e, em menor escala, de Leiria e Coimbra, beneficiando de uma capacidade empresarial crescente;
A posição geográfica dos centros mais progressivos sobre o eixo que liga obrigatoriamente Lisboa ao Porto e a atribuição das funções de capital regional à cidade de Coimbra, o que pode gerar impulso favorável ao desenvolvimento e novo poder de atracção;

aproveitamento múltiplo do rio Mondego, com reflexos na estrutura da produção agrícola e na transformação industrial de produtos primários, no sistema de comunicações e na produção de energia;
O grande volume de activos agrícolas não especializados que tenderão a abandonar a agricultura, como consta do capítulo respectivo;
As melhorias previstas para os portos da Figueira da Foz e de Aveiro, que deverão concretizar-se a partir de estudos cuidados, tendo em conta quer as coordenadas do sistema geral de transportes, quer as necessidades de distribuição e aproveitamento das novas actividades que o desenvolvimento vai impulsionar.

c) Linhas gerais de planeamento

A orientação principal a considerar será a de procurar compensar o poder de atracção das cidades de Lisboa e Porto, fazendo surgir entre elas uma região com bastante autonomia e dinamismo, apoiada em pólos suficientemente estruturados e poderosos. Em segundo lugar, deverá encarar-se a promoção de um eixo industrial em direcção ao interior, aproveitando o fermento de industrialização que já se verifica, a fim de recuperar uma das zonas mais críticas do continente.
O processo do industrialização do litoral, uma vez sujeito a orientações adequadas, no sentido da concentração dos investimentos em pólos específicos, tendo em vista a especialização sectorial, a interdependência das produções em fases intermédias, as vantagens da dimensão e, sobretudo, o progresso técnico e a modernização das indústrias actuais, fornecerá a base para o desenvolvimento da sub-região litoral. Nesta, haverá ainda que garantir o equipamento social e urbano dos principais centros em nível adequado, proporcionando o crescimento do sector terciário à dimensão das actividades industriais, para evitar que as populações continuem a ser atraídas, em escala crescente, pelas aglomerações de Lisboa e do Porto.
Será necessário encaminhar os esforços no sentido de a capital regional vir a possuir todas as condições inerentes à sua função e a constituir um centro polarizador do desenvolvimento da região. Do mesmo modo, os outros centros da sub-região carecem de aumentar a sua dimensão (principalmente Aveiro e Leiria), a fim de representarem centros secundários que virão completar o enquadramento urbano da mesma sub-região. Pela influência favorável de que se revestem, deverá considerar-se, logo que possível, o início das obras de aproveitamento das bacias do Vouga e do Mondego.
As zonas críticas de dimensão relativamente reduzida, situadas na parte montanhosa dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, exigem estudos particulares sobre as respectivas possibilidades de reconversão.
A sub-região do interior pode caracterizar-se como zona crítica, embora compreenda um conjunto de concelhos, entre Viseu e a Covilhã, onde já se nota um princípio de industrialização. Quer a parte norte do distrito de Viseu, quer o distrito da Guarda, bem como o sul do distrito de Castelo Branco, apresentam problemas na agricultura e carência quase total de indústrias transformadoras dinâmicas e de centros urbanos bem dimensionados.
O desenvolvimento da sub-região dificilmente poderá basear-se nas potencialidades exploradas ou nas iudús-

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trias existentes. Consideram-se, assim, como acções prioritárias, a modernização da agricultura, com particular atenção para as potencial idades da Cova da Beira, o lançamento de infra-estruturas (principalmente quanto às comunicações) e a implantação de novas actividades de maneira coordenada com a selecção dos pólos regionais, que serão objecto de medidas específicas de promoção.
Esta selecção deverá ser estreitamente relacionada com a expansão dos centros urbanos da sub-região, convindo, nesse sentido, estudar as suas potencialidades turísticas, em especial as da serra da Estrela.

§ 3.º Região de Lisboa

a) Caracterização

18. A. região de Lisboa, abrange os distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém e, à semelhança das anteriores, também se encontra dividida em duas sub-regiões: a litoral, ou da Estremadura, compreendendo os distritos de Lisboa e Setúbal, e a interior, ou do Ribatejo, constituída praticamente pelo distrito de Santarém. Quanto aos seus limites, admite-se que, no futuro, eles sejam alargados, por forma a abranger a parte sul do distrito de Leiria, e subsistem certas dúvidas quanto à inclusão de alguns concelhos do distrito de Setúbal pertencentes ao Baixo Alentejo. Incluindo o primeiro pólo industrial e demográfico do Pais, destaca-se no conjunto do continente pela elevada participação no produto (43,3 por cento) e pelo dinamismo de desenvolvimento que apresenta, traduzido numa elevada taxa de crescimento.
Estes aspectos, porém, não excluem a existência de situações territoriais muito diferenciadas, que envolvem problemas de desequilíbrio de crescimento da região.
De facto, a localização das indústrias tem-se feito predominantemente na cidade de Lisboa e arredores, abrangendo os concelhos da margem esquerda do Tejo.
A atracção exercida por esta zona deu origem a concentração muito elevada do sector secundário, que se caracteriza por um conjunto de actividades extremamente diversificado, mas todas de importância nacional.
Os estabelecimentos industriais possuem dimensão média a grande, forte intensidade capitalista, bom nível de produtividade, com reflexos nas remunerações médias do trabalho, que são elevadas relativamente ao resto do continente.
Concretamente, a sub-região litoral dispõe de um conjunto de economias externas altamente polarizador, cujo desenvolvimento se tem realizado espontaneamente e a ritmo crescente.
O distrito de Santarém sofre a influência dinamizadora do primeiro grupo de distritos e, embora a sua estrutura de produção seja ainda muito pouco marcada por actividades motrizes, manteve ao longo do período compreendido entre 1953-1964 a sua posição na produção total (4 por cento).
Porém, a dimensão média dos estabelecimentos é baixa, de pequena concentração e com fraca intensidade capitalista. As remunerações do trabalho são satisfatórias, as capitações baixas e os acréscimos da produtividade têm sido relevantes. Por outro lado, apresenta ritmo de crescimento do produto de nível médio, mas não suficiente para acompanhar a evolução do conjunto da região.
A produção deste distrito é igualmente muito diversificada, mas ainda não possui indústrias de importância nacional.
A localização e o desenvolvimento do sector secundário determinaram expansão acentuada do sector terciário, particularmente em actividades importantes, como é o caso dos organismos de crédito e seguros, serviços de administração pública, de habitação e outros.
A atracção populacional provocada pela elevada concentração industrial originou uma distribuição demográfica muito desequilibrada no interior da região. Assim, em 34 por cento da superfície acumulam-se 82 por cento da população.
Esta concentração demográfica verifica-se sobretudo nos concelhos à volta de Lisboa, prolongando-se para sul, até à península de Setúbal, e para norte, pela margem direita do Tejo, quase sem descontinuidade, até ao limite do distrito de Santarém, originando o aparecimento de centros populacionais com elevadas taxas de crescimento, mas que não desempenham funções económicas e sociais específicas. A uma distribuição desequilibrada da actividade secundária alia-se, assim, uma rede urbana deficientemente estruturada, com carências infra-estruturais, nomeadamente no campo da habitação e dos transportes.
Por último, no que respeita ao sector primário, os principais obstáculos à sua evolução são postos pelo tipo de produção agrícola (predomínio das culturas extensivas de sequeiro), fortemente dependentes de factores aleatórios, como o clima, e por uma estrutura agrária pouco homogénea.
À heterogeneidade de características estruturais apresentadas pela região vêm juntar-se as dissemelhanças ecológicas, contribuindo um e outro destes aspectos para a existência de situações muito diferentes do sector agrícola, conforme as sub-regiões em que se considerou dividida a região.
De facto, no litoral a agricultura localiza-se em zonas bem definidas - várzeas de Loures e de Vila Franca, zonas hortícolas da margem esquerda do Tejo -, constituindo uma área de cintura abastecedora de Lisboa e dos restantes centros urbanos e industriais. Aqui se encontram as mais baixas percentagens de população activa agrícola do continente, o que proporciona nível razoável de produtividade do trabalho, traduzido pela capitação do produto por activo agrícola e por um grau de mecanização relativamente elevados.
O distrito de Santarém apresenta a maior percentagem de população activa agrícola e, em termos de produtividade dos solos, os contrastes são acentuados, devido à sua natureza e capacidade produtiva - terras de lezíria e terras de charneca - e também pela natureza das culturas praticadas - a lezíria é utilizada simultaneamente em culturas ricas (tomate) e em culturas pobres (cereais e pastagens espontâneas). A estrutura fundiária revela, como já foi referido, conjuntamente com aspectos de pequena exploração - que ocupam 43 por cento da área -, a presença de certo grau de concentração fundiária (0,79) e de grande exploração - 36 por cento da área.
Além dos problemas da agricultura da região genericamente enunciados, há que destacar dentro da sub-região litoral uma zona deprimida formada pelos concelhos do sul do distrito de Setúbal exteriores à península do mesmo nome. Nestes concelhos, a elevada percentagem da população activa agrícola, associada à reduzida fertilidade dos solos (principalmente areias pliocénicas), constituem sérios entraves à evolução da agricultura.
A debilidade acentuada do sector agrícola, conjugada com a ausência de indústrias e serviços, tem determinado

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o despovoamento acelerado desta zona e um desenvolvimento económico muito fraco, a contrastar com a taxa de crescimento da região.

b) Principais factores e potencialidades

É indiscutível que um conjunto de factores e potencialidades tem favorecido o crescimento mais acelerado da região de Lisboa e constituído ponto de partida impulsionador de novos desenvolvimentos.
A sub-região de Lisboa-Setúbal dispõe de economias externas altamente polarizadoras, cujo desenvolvimento se tem processado espontaneamente.
Ao serviço deste desenvolvimento industrial encontra-se uma estrutura terciária mais aperfeiçoada do que em qualquer das outras regiões, com particular relevo para o comércio, organismos de crédito e seguros e administração pública, e uma infra-estrutura desenvolvida de comunicações dos diversos tipos.
O nível técnico e a capacidade de organização empresarial são elevados e têm beneficiado de abertura internacional e de maior penetração dos efeitos estimulantes do conhecimento de técnicas e processos divulgados no exterior.
A dimensão económica do mercado consumidor da região favorece o aperfeiçoamento da produção e á elevação dos níveis de produtividade.
No caso particular de Santarém, e mesmo no distrito de Setúbal, constituem factores importantes de desenvolvimento os novos empreendimentos industriais em ligação com a agricultura, os projectos hidroagrícolas executados ou simplesmente previstos, de que são exemplo as obras do Sorraia (Cooperativa Agrícola dos Produtores do Vale do Sorraia). Refira-se, nomeadamente, o recente desenvolvimento, nos dois distritos, da produção do concentrado de tomate.
Os recursos naturais da região de Lisboa não têm importância decisiva para o desenvolvimento futuro, embora se possam referir o calcário e outros produtos de pedreiras, o mármore da região de Sintra, o sal-gema (já aproveitado directamente por unidades industriais no concelho de Vila Franca de Xira, por exemplo, mas existente também na zona de Torres Vedras) e o carvão de Rio Maior.
As potencialidades ecológicas do vale do Tejo e da bacia hidrográfica do Sado, com manifesta aptidão para as culturas do tipo horto-industrial, e a existência de solos arenosos nas formações pliocénicas do sul do distrito de Setúbal, de forte aptidão florestal, são factores a aproveitar no desenvolvimento agrícola da região, a que se conjuga a proximidade e acessibilidade a centros de consumo para o escoamento dessas produções.

c) Linhas gerais de planeamento

Tendo em atenção os aspectos que caracterizam a actividade económica da região e as potencialidades de que dispõe, a principal linha de estratégia de desenvolvimento será a de uma expansão descentralizada da indústria da capital, de modo a obter-se um crescimento económico espacial mais equilibrado, não só dentro da região, como no continente.
Todavia, esta orientação não deverá prejudicar o dinamismo de Lisboa, mas mante-lo, favorecendo a implantação de actividades secundárias e terciárias de nível internacional, beneficiando das vantagens da dimensão, dos níveis de produtividade e do progresso técnico, e transferindo para outras zonas actividades menos complexas, susceptíveis de aproveitar os recursos materiais e humanos existentes.
Em segundo lugar, o ordenamento do território da região deverá assentar também numa descentralização urbana regional, no sentido das Caldas da Rainha, Abrantes e Évora. Com efeito, a localização de novas indústrias fora da capital tem vindo a processar-se espontaneamente sobre estes eixos, que denotam, assim, a existência de condições de fixação e desenvolvimento de actividades secundárias.
A atracção populacional, que será originada por novos pólos de crescimento, aconselha o dimensionamento apropriado dos centros urbanos localizados nos referidos eixos, considerando o seu apetrechamento em matéria de equipamentos e infra-estruturas que favoreçam a fixação populacional e contrariem a atracção de Lisboa, nomeadamente, pela transferência para estes centros de serviços públicos que correspondam ao grau de necessidades criadas pelo desenvolvimento industrial e sirvam de modo eficiente as populações locais.
Neste sentido, deverá estudar-se a criação de um pólo de crescimento, de nível intermédio, no triângulo Torres Novas-Tornar-Abrantes, onde existem já alguns elementos de implantação industrial que revelam certo dinamismo.
O ordenamento urbano deverá iniciar-se pela própria cidade de Lisboa, com a criação e o desenvolvimento das infra-estruturas necessárias à sua dimensão, nomeadamente em matéria de habitação e transportes colectivos, em condições adequadas aos níveis de rendimento dos utentes.
Por último, aos centros populacionais que surgiram à volta da capital, resultantes da concentração industrial e que acusam certo desordenamento, quer no crescimento, quer nas infra-estruturas de que dispõem, deverão ser atribuídas funções económica e socialmente mais relevantes, dando-lhes dimensão adequada e oportunidades de emprego e dotando-os com equipamento urbano suficiente. Nesta linha, assumem grande importância as decisões tornadas quanto ao Plano Director da Região de Lisboa, já apreciado pela Câmara Corporativa (Actas da Câmara Corporativa n.º 51, de 10 de Maio de 1967).
Relativamente ao sector primário, as orientações a seguir quanto ao desenvolvimento da agricultura terão de considerar, por um lado, as potencialidades naturais da região e, por outro, a satisfação da capacidade de consumo existente em condições satisfatórias de rentabilidade.
As orientações a seguir deverão, pois, atender ao melhor aproveitamento de grandes manchas de solos com aptidões agrícolas e florestais especializadas (caso do vale do Tejo e da bacia hidrográfica do Sado) e das manchas arenosas do sul do distrito de Setúbal, ao dimensionamento adequado das explorações agrícolas, de modo a melhorar as suas produções e rentabilidade, e à criação de infra-estruturas favoráveis à comercialização dos produtos.

§ 4.º Região do Sul

a) Caracterização

19. Considera-se a região constituída pelos distritos de Portalegre, Évora, Beja e Faro. Admite-se, no entanto, a possibilidade de os limites agora definidos se adaptarem a uma evolução das actividades económicas que dê maior consistência à inclusão da parte norte da área polarizada por Lisboa, agregando, por sua vez, à região os concelhos do Baixo Sado.

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A situação actual da região caracteriza-se por uma economia quase exclusivamente baseada em actividades do sector primário, com acentuada predominância da agricultura. Verifica-se, todavia, que mesmo esta actividade está longe de corresponder à utilização plena das potencialidades existentes, não conseguindo, em grandes extensões da área cultivada, assegurar a conveniente manutenção do fundo de fertilidade dos solos.
Os recursos extractivos são pouco diversificados, mas, dos existentes (pirites, por exemplo), as reservas já detectadas são apreciáveis.
A pesca tem-se desenvolvido principalmente no litoral do Algarve, provocando o aparecimento da actividade industrial conexa. Contudo, a reduzida área marítima que habitualmente explora e as limitações dos meios de detecção e capacidade de captura, que caracterizam grande parte da frota pesqueira da região, têm impedido, entre outras razões, que se atenue a natureza cíclica que ainda caracteriza a actividade.
A actividade industrial da região, nomeadamente a que respeita às indústrias transformadoras, está, em grande parte, baseada nas indústrias alimentares tradicionais e noutras que se dedicam principalmente à transformação de matérias-primas regionais (cortiça, por exemplo), não sendo representativos os ramos industriais mais dinâmicos e de mais elevado nível tecnológico.
Em consequência do grau de evolução referido e que ainda caracteriza os principais sectores produtivos da região, os níveis populacionais, quer em densidades, quer em padrões de vida, são, em geral, relativamente baixos, e o facto reflecte-se na actual rede urbana.
Na realidade, a hierarquia dos centros urbanos apresenta lacunas e é sobretudo deficiente a rede de centros de segunda ordem, com reflexos no apetrechamento em serviços terciários de vastas áreas e populações, principalmente no Alentejo.

h) Principais factores e potencialidades

Verifica-se, assim, que as potencialidades naturais e humanas da região estão insuficientemente aproveitadas, pelo que uma valorização mais ampla e intensiva dos recursos naturais, dentro de critérios de prioridade ditados pela economia dos investimentos, deverá constituir ponto fundamental da respectiva estratégia de desenvolvimento.
Com efeito, no que respeita aos solos, existem reconhecidas potencialidades na área litoral do Algarve e em determinados grupos pedológicos (barros, por exemplo) do Alentejo, capazes de suportarem processos intensivos de cultura, mesmo em regime de sequeiro. Os potenciais hidráulico e energético aproveitáveis para a rega e os valores apreciáveis da irradiação solar em toda a região permitem valorizar alguns grupos de solos de menor fundo de fertilidade, mas com localização e topografia favoráveis para. o regadio.
Quanto aos solos de mais baixo fundo de fertilidade, pode contar-se com aptidões florestais na zona ocidental, em particular nas areias pliocénicas, e em grandes extensões do interior, ligadas, principalmente, à latitude e à altitude, e cuja área global se avalia em cerca de 200 000 ha.
Nas zonas interiores do Alentejo é possível intensificar a cultura de leguminosas forrageiras, que assegurem a exploração pecuária, sob forma extensiva, mas valorizadora, de solos que actualmente se encontram em vias de degradação.
A penetração do clima mediterrânico, desde o litoral do Algarve para o interior, através do encaixe do Guadiana, permite ainda contar com aptidão ecológica para alguns ramos da fruticultura, especialmente citrinos, numa zona do Baixo Alentejo interior carecida de funções valorizadoras.
Os recursos extractivos, embora pouco diversificados, apresentam potenciais apreciáveis de pirites e mármores. As primeiras, com elevadas reservas já assinaladas e perspectivas favoráveis, tanto no mercado interno (ácido sulfúrico, principalmente) como no externo (limitadas disponibilidades actuais de enxofre). Os mármores, já corri valor de exportação apreciável, mas carecidos de regulamento da respectiva exploração, por forma a alcançar-se um aproveitamento mais completo dos recursos e mais conforme com o interesse nacional.
Nestas condições, verifica-se ser possível um melhor aproveitamento dos solos, agrícolas e florestais, e também dos recursos extractivos. Paralelamente, os respectivos produtos primários poderão ser objecto de maior transformação tecnológica, como uma das vias ao alcance da actividade regional, para se atingirem maiores uiveis de industrialização.
As condições do litoral do Algarve, nomeadamente o clima e o recorte natural da costa, constituem valioso conjunto de potencialidades no domínio turístico e podem constituir, por acumulação de efeitos, factores de acentuado progresso.

c) Linhas gerais de planeamento

Deste modo, a estratégia da região, deverá basear-se, fundamentalmente, a curto e médio prazo, na valorização dos recursos naturais, com expressão, para o Alentejo, no melhor aproveitamento dos recursos do solo e do subsolo e na industrialização dos produtos derivados das actividades primárias. Para o Algarve, o desenvolvimento turístico e o aproveitamento dos respectivos reflexos constituem os factores básicos a aproveitar.
Será, com efeito, da evolução do aproveitamento dos potenciais apontados e da possível complementaridade entre o Baixo Alentejo e o Algarve que resultará a possibilidade de o crescimento económico da região do Sul adquirir maior dinamismo, vindo a dispor de um conjunto mais diversificado de actividades motrizes.
O aproveitamento das potencialidades atrás referidas conduz a salientar algumas infra-estruturas fundamentais. É o caso dos aproveitamentos hidroagrícolas do Plano de Rega do Alentejo, dado possibilitarem não só a, intensificação de culturas no regadio, mas também a industrialização dos correspondentes produtos.
Para o Algarve, considera-se em igual plano de importância a construção dê uma via rápida que, saindo de Lisboa, corra paralelamente à costa ocidental e continue, depois, em sentido longitudinal até à fronteira espanhola.
A importância de determinados aspectos específicos na estratégia de desenvolvimento das sub-regiões do Alentejo e Algarve implica a necessidade de os considerar independentemente.
Assim, e quanto ao Alentejo, uma vez que a sua economia é quase exclusivamente baseada em actividades do sector primário, aponta-se, como condição prévia da evolução para fases ulteriores do desenvolvimento e melhores níveis de industrialização e de equipamento interno, favorecer a recuperação da sua principal actividade - a agricultura -, cujo revigoramento poderá, como é óbvio, dar maior impulso à referida evolução.
O indispensável incremento da actividade agrícola é também condição necessária para se alcançarem melhorias

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sensíveis no domínio da transformação dos produtos agrícolas provenientes das novas áreas de regadio da 1.a fase do Plano de Rega do Alentejo (25 000 ha). Efectivamente, neste campo poder-se-á dispor de equipamento moderno e de unidades fabris com elevada produtividade, circunstâncias que se podem traduzir em maior poder competitivo nos mercados externos.
Para alcançar maiores níveis de eficiência, a agricultura terá de orientar-se para actividades cada vez mais adaptadas aos solos e, sempre que possível, mais intensivas. Um melhor ordenamento de culturas, com a conveniente expansão da floresta e da pecuária, acompanhando a intensificação que o regadio proporciona, afigura-se inteiramente desejável. Para o efeito, a agricultura alentejana dispõe de uma condição vantajosa, que é a de poder contar com áreas suficientemente amplas para implantar esquemas de produção, agrícola ou florestal, em escala industrial.
Para além das possibilidades da industrialização, articuladas principalmente com o Plano de Rega e a florestação no Alentejo, a hipótese de a expansão industrial de Lisboa se prolongar por. Vendas Novas até Évora será, simultaneamente, objecto de estudo.
Dedicar-se-á também particular atenção à necessidade de desenvolvimento dos centros urbanos existentes no Alentejo, dentro de uma hierarquia da rede urbana regional, considerando as características da sub-região, a tendência que as populações têm para se concentrarem em centros urbanizados, à medida que o desenvolvimento se processa, e a premência actual de dotar os aglomerados populacionais com o equipamento social e sanitário indispensável.
Estes aspectos deverão ser objecto de estudos urbanísticos coordenados com a evolução das actividades económicas e respectivas áreas de maior incidência, porque o facto condicionará as possibilidades de expansão dos actuais centros urbanos.
Reveste particular interesse a definição de zonas industriais, a considerar nas áreas de expansão de Évora e Beja. No caso desta última cidade, o rápido crescimento previsto, como consequência da presença da base militar é ponto de partida a aproveitar para assentar a expansão do centro urbano em outras fontes criadoras de riqueza.
Quanto à sub-região do Algarve, o seu desenvolvimento próximo basear-se-á, como se disse, fundamentalmente na expansão do turismo.
Para esse efeito, prosseguirão os estudos e projectos tendentes à salvaguarda de valores ambientais e paisagísticos, particularmente na zona costeira. Com igual finalidade de promoção turística, continuarão, também, os estudos e trabalhos de valorização das localidades e zonas onde se prevê a concentração de iniciativas turísticas, hoteleiras e de áreas residenciais, bem como o equipamento em serviços terciários dos centros urbanos actuais.
Paralelamente, deverão ser examinados os efeitos regionais da actividade turística, pois não convém basear o desenvolvimento desta sub-região apenas numa actividade dependente de diversos factores externos.
Assim, dedicar-se-á particular atenção às possibilidades de desenvolvimento de alguns centros industriais, aproveitando o dinamismo já existente em Portimão, Faro, Olhão e Vila Real de Santo António, com indústrias alimentares e da cortiça de certa dimensão.
Considera-se também a necessidade de melhorar as condições de acesso, acostagem e apetrechamento dos principais portos algarvios, o que terá reflexos benéficos,
não só sobre as actividades tradicionais da pesca, mas também no desenvolvimento de indústrias e serviços ligados ao turismo. A exiguidade do hinterland limita necessariamente o número de portos; no entanto, os portos de Portimão e de Vila Real de Santo António apresentam boas perspectivas e condições de desenvolvimento, particularmente o primeiro, tanto como porto de pesca como de apoio ao movimento turístico.
Merecem também particular atenção os reflexos que a expansão do turismo pode ter sobre a própria actividade agrícola, aliás com vantagens recíprocas.
Na verdade, o fornecimento de produtos de qualidade (frutas, flores, primores hortícolas, etc.) às unidades hoteleiras poderá constituir incentivo à agricultura, particularmente à da orla litoral, imprimindo-lhe mais sentido comercial e apuramento da qualidade, desde que as ligações produção-consumo sejam estabelecidas através de contratos de produção e entre organizações de agricultores (cooperativas, por exemplo) e organizações de turismo (hotéis, companhias de aviação, por exemplo).
Neste último aspecto, a presença do aeroporto de Faro representa vantagem para a agricultura regional, desde que os produtores se organizem no sentido de aproveitar a rapidez do transporte aéreo para colocarem nos mercados europeus produtos precoces, que, se forem qualificados, poderão contar com preços compensadores.
Saliente-se ainda que toda a serra algarvia se pode considerar como «zona crítica», podendo agravar-se a situação por reflexo ,do turismo; merece, assim, especial cuidado a sua reconversão.

§ 5.º Estudos fundamentais

20. Apontaram-se os diversos aspectos que deverão orientar a regionalização do desenvolvimento no continente.
Entende-se, no entanto, ser ainda necessário enunciar alguns estudos mais importantes, que poderão servir de ponto de partida à realização de acções de fomento regional.
Na sua selecção atender-se-á fundamentalmente às prioridades e urgências reveladas pela situação das diversas regiões.
Enumeram-se, entre outros, os seguintes temas:

Estudo da melhor localização para a implantação de uma primeira experiência de complexo industrial descentralizado; Estudo da legislação sobre incentivos e facilidades aplicáveis a pólos de crescimento e áreas industriais ;
Ultimação dos trabalhos referentes ao plano director da aglomeração urbana do Porto; Estudo das linhas orientadoras da reorganização e diversificação da indústria na zona têxtil do Norte; Programação dos efeitos regionais resultantes do aproveitamento integral das potencialidades do rio Douro; Estudo e avaliação dos efeitos regionais do complexo agro-industrial do Cachão; Estudo do reordenamento urbano-industrial da zona de Aveiro a Leiria; Estudo e avaliação dos efeitos regionais das obras para o aproveitamento do Mondego; Ultimação dos projectos de irrigação da Cova da Beira e estudo complementar da implantação de
um complexo agro-industrial;

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Estudo das linhas orientadoras de reorganização e diversificação da indústria têxtil da Covilhã;

Melhoramento das comunicações Guarda-Covilhã com Coimbra;
Aplicação do Plano Director da Região de Lisboa;
Estudo e avaliação dos efeitos regionais do aproveitamento do rio Tejo;
Estudo da melhor localização para uma área industrial na zona de Torres Novas-Tomar-Abrantes;
Estudo e avaliação dos efeitos regionais das obras de irrigação do Alentejo;
Conclusão do plano turístico do Algarve e avaliação dos seus efeitos sobre a região;
Estudo das Linhas orientadoras da reorganização e diversificação das indústrias de cortiça e conservas de peixe do Algarve.

SECÇÃO II

Açores e Madeira

21. A delimitação das regiões da Madeira e dos Açores, que serão constituídas pelos arquipélagos do mesmo nome, obedece mais a razões de ordem geográfica do que às exigências de ordem sócio-económica ditadas pelos critérios aplicáveis à delimitação regional, com vista à elaboração e execução de planos.
Com efeito, qualquer destas regiões não atinge a dimensão demográfica mínima usualmente aceite como padrão, mas o seu isolamento e a peculiaridade dos seus caracteres humanos e da estrutura económica impõem a sua definição como regiões-plano autónomas.
A escolha de uma capital regional não oferece dúvidas no caso da região da Madeira. A posição de relevo da cidade do Funchal indica-a imediatamente para o desempenho daquela função.
Na região dos Açores» o problema é mais complexo, pois a sua rede urbana é constituída por pequenos centros e nenhum atinge dimensão que a priori o indique para assumir tal posição.
O seu maior centro populacional e o de maior dinamismo nas actividades económicas é a cidade de Ponta Delgada, que, no entanto, se localiza na periferia do arquipélago, pelo que a sua escolha para capital regional levanta dificuldades evidentes.
Angra do Heroísmo apresenta-se geogràficamente como a cidade mais bem localizada, visto ocupar situação central em relação ao conjunto do arquipélago. No entanto, embora seja a segunda cidade da região, o volume da sua população e o dinamismo das suas actividades económicas colocam-na em posição menos favorável do que Ponta Delgada.
Quer a escolha recaia sobre um quer sobre o outro daqueles centros para o desempenho das funções de capital regional, não oferece dúvidas a necessidade de se criarem duas sub-regiões, uma constituída pelo distrito de Ponta Delgada, de economia relativamente mais evoluída e dinâmica, e outra formada pelos distritos de Angra do Heroísmo e Horta.

§ 1.º Região dos Açores

a) Caracterização

22. A região compreende os três distritos açorianos de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, todos eles abrangendo mais de uma ilha, as quais se dispersam por vasta área do Atlântico.
Como já se referiu, em todas elas se registam elevadas densidades demográficas, agravadas pela manutenção de altos saldos fisiológicos, o que tem originado a formação de grandes correntes migratórias para o exterior.
A actividade agrícola, que constitui a base da sua economia, apresenta defeitos estruturais resultantes da elevada pressão demográfica sobre a terra e de processos produtivos pouco evoluídos, verificando-se baixas produtividades médias e fraca rentabilidade das explorações.
O sector secundário, composto principalmente por indústrias complementares da agricultura e da pesca, de pequena dimensão, mostra-se pouco dinâmico e sem grandes potencial idades do expansão futura. No conjunto, o secundário e o terciário apresentam-se incapazes de fixar as populações que abandonam a agricultura, apesar da atracção exercida pelas ilhas onde se localizam os aeroportos da região. Também o turismo não tem grandes possibilidades de evolução, devido à irregularidade climática que caracteriza o arquipélago.
A repartição distrital do valor bruto da produção industrial põe em relevo determinadas desigualdades internas, verificando-se que Ponta Delgada contribui com mais de 75 por cento daquele valor.
A rede urbana é deficiente, pois existem apenas três centros de pequena dimensão, insuficientemente equipados, salientando-se que a cidade de Ponta Delgada, apesar de ser a maior da região e aquela onde se concentra grande parte do seu potencial industrial, não consegue fixar os saldos fisiológicos da ilha de S Miguel, onde se localiza.

b) Principais factores e potencialidades

A consideração das principais características geo-económicas da região permitem salientar aspectos negativos e positivos a ter em conta na elaboração da sua estratégia de desenvolvimento.
Assim, como condicionantes- negativos, indicam-se:
A dispersão do território, que cria complexos problemas de transportes e dificulta o acesso das populações a um mínimo de equipamento sócio-económico;
A estrutura agrária, que não favorece a exploração da terra em boas condições de rentabilidade;
A ausência de indústrias dinâmicas capazes de exercer uma função motora na expansão do sector;
A deficiente rede urbana, que, conjugada com a debilidade do sector secundário, não permite fácil concretização de pólos de crescimento;
A irregularidade do clima, que dificulta a exploração turística das condições naturais da região para aquela actividade.
Por outro lado, devem considerar-se determinadas po-tencialidades francamente positivas:

As boas condições agrícolas e pecuárias do território;
A riqueza piscícola das águas que o rodeiam;
A abundância de mão-de-obra, embora não qualificada ;
A sua localização geográfica num cruzamento de vias de comunicação intercontinentais.

c) Linhas gerais de planeamento

Trata-se, portanto, de uma região cujos recursos naturais e humanos ainda não se encontram eficazmente aproveitados, mas para a qual não é tarefa fácil seleccionar uma actividade motora sobre que se baseie o seu rápido desenvolvimento económico-social.

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Aponta-se, como linha a considerar na definição da sua estratégia, a possibilidade de aproveitar a localização geográfica para transformar os Açores num centro internacional de comércio.
Qualquer que seja a viabilidade desta hipótese, é necessário definir orientações que contribuam para atenuar o forte êxodo para o exterior da sua população.
Tal objectivo só poderá ser atingido se se conseguir melhorar as condições económicas da grande maioria da população açoriana, a fim de lhe proporcionar um nível de vida semelhante àquele que muitas vezes vão procurar no estrangeiro.
Para tanto, será necessário descobrir novas fontes de rendimento e aproveitar melhor as actuais, bem como encarar a progressiva melhoria de equipamento sócio-económico de tipo urbano.
O desenvolvimento da rede urbana do arquipélago deverá ser apoiado nos seus três centros mais importantes - as capitais distritais-, a fim de lhes conferir dinamismo e condições sociais suficientes para atrair e fixar as populações locais.
Deverá favorecer-se a instalação em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo de novas indústrias e a modernização das existentes, mediante a aplicação de incentivos adequados. Na Horta, será de examinar a viabilidade da implantação de um pólo de menor dimensão, cuja influência se faça sentir com igual intensidade nas ilhas do Pico e Faial, que, pela curta distância que as separa, podem ser encaradas como uma unidade geográfica.
Nas ilhas de Santa Maria, Graciosa e Flores, considerando a distância a que se encontram dos principais centros da região, caberá igualmente apoiar a formação de núcleos urbanos de dimensão adequada, de modo a responderem às necessidades da população residente. Estas ilhas, onde a indústria é quase inexistente, deverão continuar, todavia, a possuir carácter rural, a fim de evitar a disseminação de pequenos investimentos industriais por todo o arquipélago, os quais, não garantindo uma rentabilidade aceitável, em nada contribuiriam para a solução dos problemas.
Deverá, portanto, ser estudado o tipo de complexos industriais mais adaptado à estrutura económica das ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial, os quais, em face das potencialidades do arquipélago, hão-de basear-se essencialmente na actividade agro-pecuária e na pesca.
No campo agrícola, aproveitando-se as condições altamente favoráveis dos Açores para a produção de forragens e criação de bovinos leiteiros, deverá alcançar-se alto grau de especialização neste aspecto. Simultaneamente, serão prospectadas novas linhas de desenvolvimento agrícola, em particular no campo da produção de primores e de flores.
As medidas tendentes a alcançar-se maior produtividade e viabilidade das explorações agrícolas serão completadas através da mais eficiente divulgação de modernas técnicas, da mecanização, da construção de melhores acessos e do abastecimento de água das explorações.
O desenvolvimento do arquipélago necessita, além disso, de determinadas infra-estruturas de apoio. Nesse sentido, deverão completar-se os estudos para promover o acréscimo da capacidade de produção de energia eléctrica e para melhorar infra-estruturas de transportes que se mostrarem de primeira prioridade.
Entretanto, o turismo, mostrando-se como sector com algumas potencialidades, constitui ainda um campo que será estudado e incrementado de modo a poder desempenhar um papel complementar de relativa importância no desenvolvimento da região.
A coordenação destas orientações implica a conclusão, dentro de breve prazo, do Plano de Valorização Regional dos Açores, actualmente em preparação.

§ 2.º Região da Madeira

a) Caracterização

23. A situação actual da Madeira caracteriza-se por uma economia predominantemente baseada em actividades do sector primário, em especial da agricultura.
Muito embora não sejam totalmente conhecidas as potencialidades deste sector, a constituição dos solos, aliada às condições climáticas do arquipélago, indica que as mesmas não se encontram em plena utilização, tornando-se necessário o seu estudo para correcção das deficiências estruturais e modernização das técnicas, no sentido de tornar a economia do arquipélago apta a apoiar o desenvolvimento turístico, que de ano para ano se acentua.
A pesca, que se supõe com condições para acentuado desenvolvimento, ocupa posição pouco relevante no sector, sendo deficientes quer os seus equipamentos, quer os seus processos.
A actividade industrial é dominada pelas indústrias transformadoras de tipo tradicional, destinadas à produção de bens de consumo local, com preponderância das indústrias artesanais, não mostrando o sector secundário capacidade para absorver os excedentes populacionais do sector primário.
Verificam-se ainda na região, a par de elevada pressão demográfica, níveis de vida relativamente baixos, provocando forte repulsão populacional, com grandes correntes migratórias.
A actividade turística ocupa na Madeira posição de acentuado relevo, com base no aproveitamento das suas excepcionais condições climáticas, aliadas a belezas naturais.

b) Principais factores e potencialidades

São, portanto, aspectos a considerar como condicionantes das linhas de desenvolvimento da região.

A elevada pressão demográfica, com influência sobre as estruturas agrárias;
A inexistência de um sector secundário dinâmico e diversificado, aproveitando as potencialidades naturais do arquipélago;
As excepcionais condições climáticas e a natureza dos solos, o que sugere elevadas potencialidades para um tipo de agricultura de especialidades;
A elevada riqueza piscícola;
As altas potencialidades de mão-de-obra não qualificada, e a aceitação nos mercados externos dos produtos do seu artesanato nacional;
O peso dominante da actividade turística, com evolução favorável constante, e as suas potencialidades neste campo;
E, ainda, a existência na região de um centro urbano de apreciável dimensão e equipamento infra-estrutural - a cidade do Funchal.

c) Linhas gerais de planeamento

A situação definida conduz a apontar, como principal linha de estratégia de desenvolvimento da região, o incremento da sua actividade turística, que surge como a única com suficiente dinamismo para servir de motor à expansão da economia do arquipélago.

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Com efeito, o turismo ocupa já hoje posição preponderante na economia madeirense, tornando-se necessário o melhoramento das infra-estruturas e a defesa da qualidade do turismo internacional, de preferência ao estímulo de um turismo de massa, e procurando-se que o mesmo venha a ocupar o lugar de actividade motora no distrito.
Dentro desta linha, convirá proceder ao ordenamento do centro urbano do Funchal, equipando-o em atenção à sua dupla função de capital regional e de centro turístico.
Em apoio ao desenvolvimento turístico, procurar-se-ão corrigir as deficiências estruturais verificadas nas actividades do sector primário, com maior relevo na agricultura, procedendo-se à sua modernização e desenvolvimento, no sentido de torná-lo apto para o apoio que se lhe pede e intensificando-se a produção de primores fora de época, destinados quer ao abastecimento local, quer à exportação. Ainda dentro do sector, será fomentada a produção de lacticínios, visando em primeiro lugar o abastecimento da região e a produção de flores, considerando as boas perspectivas dos mercados externos e o valor que já actualmente representa a respectiva exportação.
A necessidade de não basear exclusivamente o desenvolvimento da região numa actividade muito dependente de factores externos, como é o turismo, conduz a considerar como urgente a modernização das indústrias tradicionais e a criação de novas indústrias, de maior dinamismo que as existentes, aproveitando as potencialidades de mão-de-obra da região. Dentro desta linha, devem estudar-se as possibilidades de desenvolvimento da actividade pesqueira e da transformação dos seus produtos, não só para abastecimento do mercado interno, mas também com destino à exportação, procurando-se a melhoria do equipamento das armações e a modernização dos seus processos.
Serão igualmente estudadas as possibilidades do desenvolvimento das indústrias de licores e de perfumes, a fim de aproveitar as potencialidades da ilha da Madeira quanto à produção de frutos, plantas aromáticas e flores próprias para aquelas indústrias.
Por outro lado, continuar-se-á a fomentar o desenvolvimento do artesanato local, não só considerando o interesse que ele desperta nas correntes turísticas, mas procurando também expandir a sua exportação, quer nos mercados já conquistados, quer em novos mercados.

CAPITULO V

Orgânica de planeamento

24. Cabe agora definir o esquema institucional de planeamento, de acordo com a orientação fixada pelo Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966 (artigos 28.º e 29.º).
A existência de instituições adequadas que apoiem a política de desenvolvimento regional representa uma garantia do funcionamento das economias locais e favorece a sua integração na orgânica do planeamento.
A criação destas instituições e o apoio às existentes será, portanto, um dos aspectos a que se dará maior atenção no decurso do Plano, para caminhar no sentido da harmonia do crescimento à escala regional.
De harmonia com as directrizes definidas nas citadas disposições legais, a orgânica a criar, sem prejuízo de se assegurar a necessária coordenação ao nível das regiões e do País, procurará respeitar sempre a representatividade dos interesses locais em todas as fases do planeamento e a participação dos directamente interessados pela sua execução.
Entende-se na realidade que serão princípios fundamentais desta orgânica:

Que as autoridades regionais colaborem em todas as fases de elaboração do plano da sua região, acompanhando e dinamizando posteriormente a sua execução;
Que seja assegurada a consulta dos interesses públicos e privados locais em todas as fases do planeamento;
Que seja assegurada a coordenação regional de todos os serviços técnicos com competência local;
Que a coordenação técnica dos planos regionais se processe a nível nacional, permitindo a sua compatibilização global e sectorial.

Assim, haverá em cada região, e localizados nas cidades do Porto, Coimbra, Lisboa e Évora e nos centros urbanos que vierem a ser escolhidos nas ilhas adjacentes, um órgão de informação e consulta, com representação dos diversos sectores interessados, públicos e privados.
O órgão indicado, que se denominará «comissão consultiva regional», será presidido por entidade designada pelo Governo e apoiado tecnicamente pelo Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, que para o efeito só fará representar nas reuniões de todas as comissões. Compete-lhe pronunciar-se sobre as diversas fases de preparação do plano regional, bem como acerca da coordenação dos meios de acção regional, e acompanhar a execução dos planos aprovados.
Na sua composição deverão incluir-se representantes distritais e municipais, bem como dos serviços regionais dos diferentes Ministérios, além de representantes idóneos dos interesses locais, públicos e privados.
A execução dos planos regionais que vierem a ser aprovados caberá, por um lado, às diversas entidades públicas (autarquias, serviços regionais dos Ministérios, etc.), com competência nas matérias respectivas, e, por outro lado, ao sector privado, a cuja iniciativa e capacidade realizadora deverá, aliás, pertencer a maior parcela naquela execução, designadamente pelo que respeita à descentralização industrial e ao incremento das actividades agrícolas.
Considerando que os aspectos sobre os quais se deverão pronunciar as referidas comissões são de ordem muito diversa, poderão constituir-se no seu âmbito grupos de trabalhos restritos, que se dedicarão a tarefas concretas destinadas a apoiar o desempenho das atribuições da comissão regional.
A definição das grandes linhas de acção em matéria de planeamento regional e o acompanhamento superior e coordenado da sua execução competem ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, cabendo à Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica a articulação das acções regionais da competência dos diversos Ministérios.
Ao Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, pela Divisão de Planeamento Regional, compete a unificação metodológica da acção regional, o apoio técnico aos órgãos locais, com vista à elaboração dos respectivos planos regionais, e a síntese dos planos entre si e com os planos nacionais.
Integrados nesta estrutura básica, admite-se ainda que, depois de realizados os estudos necessários, venham a criar-se órgãos especialmente apetrechados para fazer face a problemas específicos de determinadas áreas.
Durante a execução do Plano, a estrutura de base agora definida deverá ser aperfeiçoada de acordo com a experiência adquirida através dos trabalhos de planeamento regional que se vão iniciar.

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CAPITULO VI

Medidas de política regional

25. Para atingir os objectivos fixados em matéria de planeamento regional, haverá que adoptar diversas providências de ordem legislativa e administrativa, algumas de âmbito geral e outras específicas, para uma ou mais regiões. Entre as primeiras, muitas das incluídas nos diversos capítulos sectoriais deste Plano têm evidente repercussão no âmbito das diversas regiões do País e na promoção do seu desenvolvimento. No entanto, algumas merecem aqui referência específica, pela sua importância para a política regional.
Estão neste caso as medidas tendentes a impulsionar a expansão da indústria nos pólos de crescimento, com relevo para a criação de condições favoráveis ao estabelecimento de zonas especificamente adaptadas à implantação de novas indústrias.
Como já se acentuou, as zonas industriais, pelas vantagens que apresentam, quer quanto à possibilidade de integração das várias medidas tendentes a favorecer a localização preferencial das actividades industriais, quer quanto às economias de escala e benefícios inerentes à especialização da produção, organização comercial e viabilidade de subcontratos, e ainda quanto à contribuição para ajudar a resolver problemas de urbanização e de emprego da mão-de-obra, consideram-se como um dos instrumentos fundamentais da regionalização da política industrial.
A sua realização, como a dos complexos industriais por sectores, exige, além de estudos adequados, o preenchimento de condições indispensáveis à sua implantação. Citam-se, entre outras, as seguintes:

A existência de infra-estruturas, o que aconselha como implantação mais adequada a proximidade de capitais regionais ou distritais, ou outros centros com algum desenvolvimento e beneficiando da localização favorável quanto a comunicações;
A especialização e preparação profissional da mão-de-obra, com o auxílio do sector público, dadas as carências existentes a nível global, e sobretudo regional, e as dificuldades apresentadas pelas empresas.

Em relação aos pólos principais, quer como via de reorganização e crescimento industrial, quer como base de um desenvolvimento acelerado, iniciar-se-ão estudos com especial incidência na definição de complexos industriais tipo e dos incentivos à sua implantação, devendo as medidas de política, neste domínio, enquadrar-se nas disposições tomadas quanto às zonas industriais.
A regionalização da política industrial, como no respectivo capítulo se referiu, aconselha igualmente a alargar e aperfeiçoar os esquemas de incentivos para a indústria, aplicáveis a todos os centros que sejam ou venham a ser considerados como pólos de crescimento e, portanto, susceptíveis de serem beneficiados com a criação de zonas industriais.
Salientam-se, apenas como linhas gerais, as principais facilidades que deverão ser abrangidas pelas disposições a publicar, algumas, aliás, já genericamente mencionadas no capítulo sobre «Financiamento»:

Facilidades para obtenção de terrenos destinados à construção de edifícios fabris, a arrendar para a instalação de indústrias que resolvem problemas de mão-de-obra ou contribuem decisivamente para o desenvolvimento da região;
Facilidades na concessão de crédito, quer quanto a taxas, quer quanto a amortizações, para a criação de indústrias complementares da agricultura e outras de interesse regional;
Participação do Estado ou das autarquias locais no capital de empresas de interesse regional;
Isenção ou redução de impostos e direitos alfandegários para indústrias de interesse regional;
Concessão de prémios especiais de equipamento às indústrias que se instalem em região com problemas de desemprego real ou potencial;
Comparticipação em obras de interesse público e particular conjuntamente;
Garantias do Estado a operações de crédito;
Subvenção às despesas de formação ou readaptação dos trabalhadores;
Subvenção às despesas de transferência de mão-de-obra.

Embora tais incentivos se apliquem fundamentalmente à criação de pólos industriais, deverá ser estudada a possibilidade da sua extensão parcial às zonas consideradas críticas, quer pela debilidade da sua economia, quer pela exigência de reconversão das suas actividades predominantes.
Aliás, foi já esta a óptica considerada nos textos básicos da reforma fiscal actualmente em vigor, que contém disposições legais a que correspondem medidas destinadas a favorecer a instalação de novas indústrias de base ou de interesse para a economia nacional, para encorajar investimentos de modernização do material e equipamento das indústrias existentes e (para favorecer a construção, ampliação ou reforma dos estabelecimentos hoteleiros e similares de interesse turístico. Além disso, com vista a incentivar os investimentos das regiões rurais economicamente mais desfavorecidas, prevê-se no sistema tributário em vigor um conjunto de reduções nas taxas de contribuição industrial, imposto sobre a indústria agrícola, imposto complementar e imposto de capitais. Por outro lado, na Lei de Meios para 1965 admitiu-se, pela primeira vez, um conjunto de medidas com carácter temporário, mas de maior amplitude, a favor dos empreendimentos e empresas que dessem execução aos objectivos do Plano, em especial nas actividades agro-industriais.

26. No que respeita ao sector agrícola, as medidas de política regional terão como objectivo básico o de aumentar a produtividade e a especialização das regiões, de acordo com a aptidão dos solos, com especial preocupação quanto às regiões interiores do continente, cuja economia depende quase exclusivamente daquela actividade e, portanto, também da forma como se aproveitarem as potencialidades ainda não exploradas totalmente.
A definição dessa política, se, por um lado, tem que considerar os problemas geogràficamemte localizados da actividade agrícola, obedece, por outro, a um conjunto de normas gerais de actuação da maior importância, cujas directrizes fundamentais se definiram no capítulo «Agricultura, silvicultura e pecuária», merecendo relevo, pelos seus efeitos regionais, as seguintes providências nele consideradas:

Fomento da organização do sector no, campo da produção;

1 Pelo Decreto-Lei n.º 46496, de 18 de Agosto de 1965, foi suspensa a execução das disposições que regulam o imposto sobre a indústria agrícola, criado pelo Decreto-Lei n.º 45104, de 1 de Julho de 1963.

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Criação, de melhores condições de exploração técnico-económica nas unidades produtoras; Acções especializadas visando a adaptação estrutural.

Deve, no entanto, salientar-se, como orientação da maior importância para ,a expansão agrícola das sub-regiões interiores, o reconhecimento e delimitação das áreas de maior potencialidade (agrícola, pecuária e florestal), mediante o inventário dos solos e respectiva zonagem segundo as aptidões ecológicas. Este objectivo, representa condição prévia necessária para se poder tirar o maior efeito regional das acções sectoriais previstas, coordenando-as e concentrando os investimentos miais produtivos e, adequados nas áreas de maior potencialidade, com particular relevo para a necessidade de implantar complexos agro-industriais em estreita ligação com as áreas dominadas pelos empreendimentos hidroagrícolas.

27. Outro aspecto ainda merece ser realçado entre as medidas gerais de política, com relevância para o fomento regional - o da política social.
A primeira orientação a que devem obedecer os estudos em curso para regionalizar a política social nos seus diversos aspectos é o da necessidade de conhecer melhor as estruturas humanas e sociológicas das várias regiões, por forma que cada acção possa ser considerada no seu contexto próprio, evitando assim os choques com os valores locais e correspondendo mais adequadamente às suas aspirações.
Para os efeitos aqui considerados, incluem-se na política social os seguintes problemas: educação e acesso à cultura, saúda, habitação, condições de trabalho e segurança social.
Convirá que as políticas de educação, acesso à cultura, saúde e habitação sejam, encaradas, na medida do possível, em estreita relação com o problema da urbanização das populações.
Com efeito, a distribuição do equipamento social tem de planear-se considerando quer a tendência geral das populações rurais para emigrarem para os centros urbanos, quer ainda o facto de sómente uma política de equilíbrio da rede urbana regional tornar possível o acesso cias populações a um mínimo de condições sociais de vida.
Isso não significa que se restrinja a acção social aos centros urbanos. Há, no entanto, que distinguia entre empreendimentos e acções numa óptica de longo, prazo e de ordenamento geral do território e uma óptica de acções imediatas, destinadas a resolver problemas mais urgentes. No primeiro caso, a política social deve ser programada a médio prazo, de acordo com a hierarquia dos diferentes centros urbanos. No segundo caso, os esquemas de actuação baseiam-se em soluções provisórias que permitam o acesso a um mínimo de condições sociais, ainda que mediante a localização com equipamentos de carácter transitório.
Considerando os diversos aspectos mencionados, julga-se de estudar, com vista à regionalização educacional:

O estabelecimento gradual de uma rede primária orientada segundo o princípio da concentração escolar, em condições físico-pedagógicas aceitáveis;
A criação de estabelecimentos de ensino secundário (técnico e liceal) de acordo com as potencialidades de desenvolvimento de cada região;
O lançamento de centros de reconversão de mão-de-obra agrícola e de ensino e aperfeiçoamento profissionais, relacionados com as principais actividades económicas da região;
A instalação, sempre que possível, de institutos de ensino mediu nas diversas regiões, localizados de acordo com as potencialidades das sub-regiões.

Seria ainda desejável encanar, com a colaboração de entidades privadas, a criação de centros de cultura nas aglomerações urbanas de certa dimensão, por forma a tornar permanentemente acessíveis às populações a frequência de bibliotecas devidamente apetrechadas e a assistência espectáculos de bom nível educacional (teatro, cinema, música).
Quanto à habitação, a política geral do Governo é a de procurar conseguir em todas as regiões mínimos aceitáveis, quer quanto ao número de habitações em relação com o número de agregados familiares, quer quanto às condições de habitabilidade (esgotos, casas de banho, luz, água canalizada). Conjuntamente, há que considerar uma acção educativa específica para conseguir a utilização mais funcional da habitação, principalmente nos meios rurais, quanto à comodidade e higiene.
Também neste campo não podem esquecer-se as condições transitórias criadas pelos movimentos populacionais e as perspectivas futuras de maior concentração em centros urbanos, que deverão ser equacionadas dentro dos esquemas do planeamento territorial.
No tocante ao problema da habitação dentro, da óptica regional, cumpre aludir aos seguintes aspectos:

A política de intensificação gradual da actividade do sector público e semipúblico em matéria de construção procurará atender sobretudo* ao melhoramento das condições de higiene nas zonas rurais, ao passo que nas zonas urbanas e suburbanas deverá procurar-se melhorar a relação agregado familiar-habitação. Deverão ser ainda consideradas as necessidades de habitação decorrentes da criação de pólos de desenvolvimento e do natural crescimento dos centros urbanos;
Definir-se-á, conforme ficou referido no respectivo capítulo sectorial, uma política de terrenos, coordenada com os planos de urbanização das zonas turísticas e com a implantação de pólos de crescimento e áreas industriais.
No campo da saúde, e também de acordo com o previsto no competente capítulo, a política de atenuação dos desequilíbrios regionais tem como principal finalidade a intensificação da cobertura médico-sanitária, em especial fora dos grandes centros. A realização deste objectivo leva a considerar o problema da escassez de médicos e de pessoal de enfermagem, que se faz sentir de modo particularmente sensível na periferia, e o alargamento da rede de estabelecimentos de saúde -e assistência, ao mesmo tempo que se estreitará a coordenação entre os serviços dependentes do Ministério da Saúde e Assistência e os de previdência social.
Como é evidente, esta actividade deverá ser também coordenada com a política de equilíbrio da rede urbana regional.
Dentro da orientação definida, salientam-se como aspectos mais importantes:

Estruturação das carreiras médicas, de saúde pública e hospitalar, e da carreira de enfermagem, nos mesmos domínios;
Intensificação dos programas de fixação de médicos e de pessoal de enfermagem nos serviços da periferia;
Criação de uma rede de centros de saúde localizados nas sedes dos concelhos e com projecção nas freguesias ;

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Ampliação da rede de dispensários materno-infantis e alargamento do seu raio de acção até ao concelho e à freguesia;
Aumento do número de creches e de jardins de infância;
Reorganização dos serviços da luta contra a tuberculose, de modo a intensificar os seus aspectos preventivos, em relação a toda a população portuguesa;
Criação de novos centros de saúde mental e alargamento das consultas por eles promovidas;
Ajustamento da articulação dos serviços de oncologia com os hospitais gerais;
Construção de novos hospitais regionais, convenientemente dimensionados, e intensificação dos cuidados prestados neste tipo de estabelecimentos;
Criação de mais escolas de enfermagem junto de hospitais regionais;
Criação de novos estabelecimentos para crianças deficientes e crianças normais privadas de adequado meio familiar;
Melhoramento da qualidade da assistência prestada a pessoas idosas;
Desenvolvimento das actividades de cooperação familiar e estabelecimento de um programa de promoção social comunitária destinado a acelerar a promoção das comunidades mais particularmente atrasadas e a contribuir para o desenvolvimento harmónico dos pólos que venham a criar-se.

Por último, os problemas das condições de trabalho e da segurança social. Aqui, a atenuação dos desequilíbrios regionais confunde-se com a desigualdade de Condições existentes entre a população activa agrícola e a dos outros sectores.
Assim, conforme se referiu no capítulo sobre emprego e política social, será aperfeiçoada a regulamentação do trabalho agrícola e intensificado o progressivo alargamento aos trabalhadores rurais e equiparados dos beneficias da previdência social.

PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS

Cabo Verde

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia.

Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização geral da economia

1. A economia da província de Cabo Verde caracteriza-se pela confluência de um complexo de factores particularmente desfavoráveis ao seu desenvolvimento, que os elementos positivos que nela se podem identificar não puderam até agora compensar de forma relevante.
2. Assim, à escassez de recursos do subsolo e de possibilidades de aproveitamento hidroeléctrico aliam-se condições climatéricas, hidrológicas e fisiológicas limitativas de uma exploração agro-pecuária satisfatória, uma extensão territorial que, já de si restrita -4033,4 km2 -, ainda se reparte por dez ilhas e cinco ilhéus e, finalmente, uma evolução demográfica definida por ritmos de crescimento da ordem dos 3 por cento anuais.

3. Por seu lado, os factores positivos sobre os quais se poderá assentar o futuro progresso económico do arquipélago, por sua natureza, só muito recentemente se evidenciaram como susceptíveis de aproveitamento efectivo e rentável. Clima propício ao turismo e localização excepcional com referência aos pesqueiros do Atlântico Sul, constituem, com efeito, elementos que durante muito tempo não se apresentavam como valorizáveis, mas que hoje atingiram relevância suficiente para ser possível contar com eles como fulcros do esforço, a programar e a realizar, do desenvolvimento económico-social do arquipélago.

2. Evolução demográfica

4. A população de Cabo Verde, que no passado se caracterizara por acentuadas oscilações, começou, a partir de 1955, a seguir uma linha de crescimento ininterrupto e muito rápido.
Esta evolução traduz a combinação de taxas de natalidade elevadas e relativamente estáveis -47,6 por mil no decénio de 1951-1960 -, de taxas de mortalidade rapidamente decrescentes - 14,9 por mil naquele decénio em confronto com 24 por mil no decénio de 1931-1940 - e de fluxos migratórios irregulares, tendencialmente pendulares e de pouco significado quantitativo.

5. Projecções demográficas baseadas em hipótese, não considerando os movimentos migratórios de difícil definição, indicam, para o ano término do III Plano de Fomento, efectivos oscilando entre 252 700 e 299 200 habitantes.

6. Do ponto de vista estrutural, caracteriza-se a população de Cabo Verde por uma pirâmide demográfica jovem e pela tendência para o restabelecimento de taxas de masculinidade equilibradas.

3. Evolução do produto, rendimento e despesa internos

7. Os valores do rendimento nacional estimados para Cabo Verde são relativamente modestos (a preços constantes: 230 600 contos em 1953 e 346 300 contos em 1962). No entanto, não deixa de ser animador verificar-se que a província se vem libertando da situação que os dados do rendimento nacional podem denunciar. Deve fazer-se, aliás, referência à dualidade económica de Cabo Verde, que se caracteriza ainda por um forte predomínio de economia de subsistência, cujos fluxos absorvem, em média, à volta de 50 por cento do rendimento provincial. Se a evolução do grau de monetarização da economia de Cabo Verde tem sido pouco significativa, é possível que o fraco teor da elevação se deva a um acréscimo na produção autoconsumida, o que traduz igualmente melhoria na situação económica das populações.

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8. A despesa de consumo privado engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando, em média, com cerca de 98,3 por cento do total e estas com a percentagem diminuta de 1,7 por cento, o que aponta a pouca importância directa que o sector associativo tem no circuito económico monetário da província.
A importância relativa das principais componentes da despesa de consumo das famílias pode observar-se no quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

Por sua vez, a despesa de consumo dos organismos privados sem fins lucrativos apresenta, ao longo do período, um movimento de tendência ascensional, com uma paragem em 1956 e um valor anómalo em 1960.

9. Verifica-se que, entre 1953 e 1963, apenas as componentes do produto interno bruto «Comércio por grosso e a retalho», «Administração pública e defesa», «Serviços» e «Indústrias manufactureiras» melhoraram a sua participação relativa, tendo as restantes enfraquecido e sendo notável o retrocesso acusado pela «Agricultura, silvicultura, caça e pesca».

[ver tabela na imagem]

Em relação aos valores absolutos, a evolução foi diferente, pois de 1953 para 1963 apenas duas componentes, «Agricultura» e «Transportes, entrepostos e comunicações», apresentaram valores inferiores, tendo aumentado os de todas as outras. E o que se pode observar no quadro seguinte:

[ver tabela na imagem]

10. Os valores da despesa imputada ao produto nacional bruto mostram uma evolução que não deixa de apresentar flagrante similitude com a do produto interno e especialmente do rendimento nacional.

[ver tabela na imagem]

A despesa imputada aos fluxos monetários representa, pois, em média, mais de 50 por cento do produto nacional bruto global.
Na participação percentual das várias componentes do produto nacional bruto, a despesa de consumo privado figura em lugar primacial, sendo de referir também o acréscimo do saldo negativo da balança comercial.

[ver tabela na imagem]

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11. A percentagem da formação bruta de capital fixo interior em relação à despesa nacional, além de ser muito elevada, o que reflecte a extensão da assistência financeira dada pela Administração Central, evidenciou uma tendência crescente, tendo o seu ponto mais alto em 1961 e acusando, para além da recessão a partir daquele ano, um anterior ligeiro recuo em 1957.

[ver tabela na imagem]

No decurso do decénio de 1953-1962, a formação bruta de capital fixo, a preços constantes, subiu de 15 300 contos em 1953 para 97 100 contos em 1962, tendo, porém, nos anos de 1960 e 1961, apresentado quantitativos superiores àquele, respectivamente de 120 400 e 126 300 contos (em 1963, a preços correntes, foi apenas de 62 900 contos).

4. Relações económicas com o exterior

12. A característica mais saliente do comércio externo da província reside ,no aumento constante das importações, mantendo-se, em contrapartida, as exportações praticamente estacionárias.

[ver tabela na imagem]

Quanto aos preços unitários da importação verifica-se também uma descida em todos os mais representativos, excepto no que se refere ao milho em grão, farinha de trigo, arroz e automóveis.
O índice das relações de preços tem-se mantido com ligeiras flutuações, salvo de 1958 a 1961, revelando, no entanto, valores quase sempre superiores a 100.
Não se verificou, pois, depreciação nas relações de preços.

[ver tabela na imagem]

13. As principais mercadorias importadas em 1965 são as que se incluem na rubrica «Matérias têxteis e respectivas obras» (13,6 por cento), o açúcar (6,2 por cento), o milho em grão (7,9 por cento), os automóveis (3,3 por cento), o vinho e cerveja (3,7 por cento), o arroz (3,4 por cento), a farinha de trigo (4,8 por cento), seguindo-se o cimento, o petróleo e o feijão. O aumento das compras de milho, feijão, arroz e farinha de trigo reflecte a crescente debilidade relativa da produção interna, em face do crescimento demográfico verificado.
As principais mercadorias exportadas em 1965 foram peixe e derivados (32,2 por cento), sal comum (98 porcento), bananas verdes (12,1 por cento), água à navegação (10,5 por cento) e pozolanas (4,5 por cento), seguindo-se-lhes o café, peles e couros, amendoim, purgueira e rícino, que, em conjunto, participaram com 13,5 por cento.

14. A repartição geográfica dos mercados fornecedores e consumidores externos revela sensíveis modificações ao longo do período em observação. Dadas certas alterações introduzidas na apresentação estatística do comércio externo da província, torna-se conveniente analisar em especial o período posterior a 1960. Com efeito, a partir desse ano, as importações de óleos combustíveis para fornecimento à navegação e os respectivos fornecimentos passaram a ser contados na rubrica «Trânsito».

Comércio especial

[ver tabela na imagem]

Pode ainda apontar-se, como conclusão da análise do período anterior a 1961, que a metrópole foi ganhando, no conjunto dos mercados fornecedores de Cabo Verde, uma posição cada vez mais relevante.
O índice de crescimento das importações provenientes do restante ultramar (principalmente de Angola) é maior,

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ao passo que o índice referente às importações do estrangeiro baixou sensivelmente. Isto quer dizer que os territórios nacionais vêm ocupando uma posição relativa cada vez mais importante.
Nos anos de 1963 a 1965 a posição da metrópole desceu ligeiramente. A posição do ultramar desceu de 1961 para 1962, mantendo-se estacionária a partir daquela data, enquanto o estrangeiro melhorou, ainda que ligeiramente, a sua posição em 1965; a posição relativa dos sectores foi a seguinte: metrópole, 52,2 por cento; ultramar, 19,9 por cento, e estrangeiro, 26,2 por cento.
Quanto à repartição geográfica das exportações cabo-verdianas, as tendências verificadas não são paralelas às registadas para as importações. A posição relativa das exportações para a metrópole em relação ao total oscilou entre 67,3 por cento em 1961 e 54,5 por cento em 1965. A posição relativa do ultramar subiu de 7 por cento em 1961 para 15,3 por cento em 1965. A do estrangeiro variou entre 38,3 por cento em 1962 e 17,5 por cento em 1965.
No que diz respeito aos produtos importados em 1965, a metrópole forneceu 90 por cento dos fios e tecidos, 80,9 por cento da madeira em obra, 83,1 por cento dos medicamentos e a totalidade dos vinhos comuns e azeite, e ainda 19,5 por cento dos automóveis.
O ultramar realizou os fornecimentos de milho (98,9 por cento), açúcar (93,6 por cento) e feijão (81,6 por cento), por intermédio de Angola. Esta província forneceu ainda 20 por cento do arroz.
No que respeita à importação de produtos estrangeiros há a salientar as vendas de automóveis pelo Reino Unido (32,3 por cento) e os fornecimentos de farinha de trigo pelos Estados Unidos da América (44,6 por cento) e Canadá (33,7 por cento).
As principais produções exportadas, também em 1965, para a metrópole foram peixe e derivados (45 por cento), bananas, café em grão (82,8 por cento) e sal comum (71,4 por cento).
Para o ultramar, a província exportou as pozolanas para Moçambique (45,7 por cento) e carne de gado bovino para a Guiné (53 por cento).
O estrangeiro comprou derivados da pesca, nomeadamente os Estados Unidos e a Itália, abrangendo ambos cerca de 48 por cento do total do produto, e ainda sal comum, que se destinou à República do Congo (14,7 por cento).
Caracteriza-se, pois, a exportação cabo-verdiana por uma acentuada concentração geográfica e por produtos.

15. O movimento do Fundo Cambial de 1959 a 1964 foi o seguinte:

[ver tabela na imagem]

Às entradas e saídas de cambiais referem-se em grande medida a movimentos de escudos metropolitanos, dizendo respeito a empréstimos da metrópole, aos respectivos encargos de amortização e às transferências pessoais. O saldo favorável de 1964 deve-se, contudo, à entrada de cerca de 20 000 contos em dólares (Estados Unidos da América) e libras (Reino Unido e antiga Federação da Rodésia e Niassalândia).
Dos movimentos de invisíveis, sabe-se apenas que, nos anos de 1954-1963, os vales emitidos nas províncias ultramarinas de África e pagos em Cabo Verde somaram 1833 contos.
As cartas com valores declarados provenientes das províncias ultramarinas de África e recebidas em Cabo Verde registaram a importância total, naqueles dez anos, de 1.320 contos.
Outra informação disponível refere-se aos salários enviados por migrantes cabo-verdianos em outros territórios nacionais. De 1951 a 1963 foram enviados 33 578 contos.
A situação relativamente satisfatória da província, quanto à sua capacidade de importação, baseia-se, fundamentalmente, nos meios de pagamento exteriores facultados pelos empréstimos metropolitanos.

5. Potencialidades da economia da província a desenvolver

16. À actividade mais relevante, no quadro presente da sua economia - a agricultura -, não se oferecem perspectivas muito favoráveis de desenvolvimento. Com efeito, as condições climáticas, hidrológicas e fisiológicas do arquipélago tornam difíceis e incertas as culturas de sequeiro. Por outro lado, são muito limitadas, em área, as possibilidades de culturas de regadio, envolvendo, aliás, investimentos vultosos, como as realizações no âmbito dos planos de fomento anteriores têm demonstrado.
Em tais condições, a expansão do produto sectorial só pode ser alcançada através de um aproveitamento intensivo das áreas regadas, o que significa a necessidade de reconversão, para produtos mais ricos destinados a mercados externos, da gama tradicional da produção Cabo-Verdiana. Esta reconversão envolve processo inevitavelmente prolongado, no qual as acções de extensão agrária e de formação de apoio técnico prevalecerão, com certeza, sobre os investimentos financeiros.
Não se poderá, pois, esperar que, a curto ou médio prazo, seja possível acelerar acentuadamente o crescimento do produto da agricultura de Cabo Verde.

17. Por outro lado, a escassez dos recursos do subsolo e as dimensões restritas do mercado interno limitam consideràvelmente as possibilidades de desenvolvimento industrial.

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da população cabo-verdiana, permitem encarar com confiança o futuro económico da província. Tais factores são:
1.º Os recursos piscatórios das águas do arquipélago e, de um modo geral, do Atlântico Sul;
2.º As excelentes condições para o desenvolvimento turístico do arquipélago.
19. A localização particularmente favorável de Cabo Verde em relação aos pesqueiros do Atlântico Sul permite considerar como modalidade do seu aproveitamento, em favor da economia da província, o fornecimento de apoio logístico a frotas estrangeiras, como vem já sendo feito, e, por outro lado, o desenvolvimento por empresas nacionais de complexos integrados de capturas, de congelação e de industrialização do pescado com destino aos mercados internacionais, desenvolvimento este que já foi iniciado.
20. Quanto ao turismo, a verificação de condições de clima particularmente favoráveis para um turismo que procura o sol, a calma e as actividades náuticas, em ambientes exóticos, não exclui o reconhecimento de que a sua valorização exigirá a concretização de empreendimentos dimensionados em função de vultosos fluxos turísticos, o que só é viável através da participação efectiva de interesses estrangeiros, em colaboração com capitais e empresas nacionais.
Trata-se, pois, de um campo de acção do qual é lícito esperar resultados favoráveis, mas que exigirá acção ponderada e coordenada de atracção, não directamente de massas turísticas, mas sim indirectamente de organizações estrangeiras de viagens e turismo, aproveitando a procura constante de novos ambientes em áreas ainda não saturadas de turismo.
21. Será, por conseguinte, na base de uma agricultura mais intensiva e virada para mercados externos, num moderado desenvolvimento industrial nas modalidades de transformação de produtos agrícolas e industriais para consumo local e, muito em especial, no aproveitamento decisivo das potencialidades do arquipélago em matéria de pesca e de turismo que é possível programar, com viabilidade e possibilidades de êxito, o futuro desenvolvimento da economia de Cabo Verde.

CAPITULO II Objectivos

22. Os pontos fulcrais de actuação no que respeita a Cabo Verde, cuja economia ficou já definida nas suas linhas gerais, e sem esquecer o turismo, com grandes potencialidades, e os transportes, situam-se nos sectores da pesca e da agricultura, esta última pelo papel que desempenha na alimentação da população e porque, apesar de tudo, se prevê a possibilidade de uma reconversão da produção para os mercados externos.
23. As dimensões da economia e o seu alto grau de dependência do exterior, bem como a própria dificuldade técnica de estabelecer modelos formais de crescimento em condicionalismos desta natureza, levaram a limitar a definição quantificada de objectivos ao aspecto mais significativo, ou seja o da criação de novos empregos exigidos pela evolução demográfica de Cabo Verde.
24. Projecções demográficas, baseadas nas tendências evolutivas mais prováveis, conduziram a avaliar as necessidades de novos empregos, para o período de 1968-1973, num montante que se situa entre 23 000 e 26 000 novos empregos.
Prevê-se que a agricultura e os serviços domésticos mantenham os níveis absolutos de ocupação verificados em 1960. Os novos empregos deverão ser criados nos sectores da pesca, da indústria e de outros serviços não domésticos (ligados aos transportes, serviços públicos, turismo), já que os empregos a criar na agricultura serão absorvidos pela mão-de-obra subempregada.
No quadro geral do desenvolvimento económico-social do arquipélago, foi este objectivo específico que se considerou na elaboração do programa provincial para o III Plano de Fomento.

CAPITULO III

Financiamento do programa provincial . de investimentos

1. Administração Central

25. No I e II Planos de Fomento foi esta a fonte de financiamento que assegurou a cobertura total dos investimentos programados. No Plano Intercalar de Fomento foi considerado também o recurso ao crédito externo, tendo em vista os financiamentos, em curso de negociação, de novos empreendimentos no sector da pesca. Manteve-se, no entanto, em posição de relevo a assistência financeira da metrópole, à qual deve, pois, a província de Cabo Verde a realização de infra-estruturas de que dispõe e os esforços realizados para o desenvolvimento das suas actividades produtivas e a melhoria do nível cultural e sanitário das suas populações.

[ver tabela na imagem]

Dada a escassez dos recursos mobilizáveis através de outras fontes, é ainda a ajuda financeira da Administração Central chamada a desempenhar, no III Plano de Fomento, o papel de condição essencial da realização financeira dos programas respeitantes a Cabo Verde.

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2. Administração provincial
26. O exame da evolução das receitas públicas da província mostra ter a receita ordinária ultrapassado a receita extraordinária apenas nos períodos de 1957-1959 e 1963-1965, revelando insuficiência quantitativa relativamente .às necessidades de fomento da província, uma vez que, em média, cerca de 90 por cento da receita extraordinária se compõem de empréstimos metropolitanos destinados a obras de fomento ou a resolver situações que se prendem com o problema da ocupação de mão-de-obra em períodos de seca.
As principais componentes da receita ordinária são, durante o período considerado, os impostos indirectos, em média com 29,2 por cento, a consignação de receitas, com 26 por cento, os impostos directos, com 17,6 por cento, e o rendimento de capitais, com 11,3 por cento.
Uma discriminação mais profunda das principais receitas permite analisar a estrutura tributária de forma mais ampla. Nos dois anos extremos do decénio de 1.955-1965 as receitas públicas ordinárias apresentaram os valores totais de respectivamente, 43 663 e 87 913 contos e a seguinte composição:

Composição das receitas públicas ordinárias

[ver tabela na imagem]

27. As despesas públicas cresceram a ritmo superior ao das receitas, atingindo os seus valores extremos em 1955 (38428 contos) e 1965 (133614 contos):

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[ver tabela na imagem]

Cotejando estes valores com os das receitas ordinárias, pode-se concluir pela existência de duas curvas sensivelmente paralelas, sendo o movimento ascendente das receitas a nível um pouco superior.

[ver tabela na imagem]

As despesas ordinárias excedem, em geral, as despesas extraordinárias.

O quadro dos valores percentuais dá-nos uma imagem mais expressiva dessa evolução no período em análise.

Distribuição percentual das despesas ordinárias e extraordinárias
[ver tabela na imagem]

Análise aprofundada das rubricas mais representativas nas despesas ordinárias é facultada pelo quadro seguinte, onde constam os indicadores numéricos referentes aos dois anos extremos do período.

Discriminação das rubricas mais representativas das despesas ordinárias

[ ver tabela na imagem]

28. A conclusão que pode ser tirada da análise da situação e evolução das finanças públicas da província é a de serem bastante diminutas as possibilidades da poupança pública, não sendo muito favoráveis as perspectivas de no futuro, tal tendência se ver modificada. A manutenção do equilíbrio orçamental, em face da progressão das despesas ordinárias decorrentes dos esforços a realizar nos sectores sociais e da necessidade de utilizar e conservar os investimentos infra-estruturais efectuados nos passados planos de fomento, constitui, já por si, preocupação com implicações sobre a capacidade de cobertura dos encargos (amortização e juros) de empréstimos contraídos anteriormente, pelo que não se pode contar com esta fonte para o financiamento de investimentos do III Plano de Fomento.
3. Instituições de crédito
29. As instituições de crédito existentes na província são a filial do B. N.º U., a Caixa Económica Postal e a Caixa de Crédito agro-pecuário, sendo estas duas as mais adequadas à mobilização de poupanças locais.

No período de 1958-1964 foi concedido crédito aos sectores agrícola, industrial e comercial nos montantes constantes do quadro seguinte.

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Créditos concedidos pela Caixa Económica Postal e pela Caixa de Crédito agro-pecuário

[ver tabela na imagem]

As principais contas respeitantes a operações de crédito movimentadas pela filial do B. N.º U. na concessão de crédito tiveram a evolução seguinte, no mesmo período:

Operações de crédito da filial do Banco Nacional Ultramarino

[ver tabela na imagem]

Devido a razões institucionais, e, no caso da Caixa de Crédito agro-pecuário, por escassez de recursos, não é ainda de esperar que as instituições de crédito existentes possam desempenhar papel significativo no financiamento do III Plano de Fomento, mas apenas que tornem mais efectiva a sua intervenção na mobilização de poupanças formadas localmente.

4. Particulares e empresas

30. As dimensões e características da economia do arquipélago não permitem, por agora, encarar a emissão de títulos da dívida pública provincial nos moldes adoptados nas províncias de governo-geral.

31. No que se refere a autofinanciamento, o número limitado de empresas de dimensão económica existente e as dificuldades de obtenção de dados sobre os investimentos por exploração familiar e pequenas empresas levou a não explicitar esta fonte de financiamento, como relevante no contexto do III Plano de Fomento.
Apenas se inclui um autofinanciamento por uma empresa agrícola: 4000 contos destinados à cultura da banana na ilha de Santiago.

5. Crédito externo

32. O desconhecimento de novos interesses concretizados por investidores estrangeiros na aplicação directa de capitais - ainda que não possam deixar de se registar certas perspectivas significativas no âmbito dos empreendimentos turísticos - levou a considerar, nesta rubrica,

apenas a concretização dos financiamentos por crédito externo para os empreendimentos em curso ou em estudo no sector da pesca.

6. Conclusões

33. O esquema de financiamento do programa previsto para o III Plano de Fomento

[ver tabela na imagem]

34. Pode encarar-se ainda com certo optimismo a activação, no que se refere ao sector privado, de investimentos, porquanto, apesar da situação económico-financeira da província, subsistem ainda potencialidades que poderão ser aproveitadas pelos empresários, através do autofinanciamento ou do aproveitamento de poupanças locais, e que podem tornar-se mais activas.

CAPÍTULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária 1. Evolução recente e problemas actuais

35. Proporção muito elevada da população activa de Cabo Verde trabalha ou depende da agricultura.
O nível produtivo do sector não apresenta, porém, dinamismo suficiente para assegurar o abastecimento local em produtos alimentares, e muito menos exportações necessárias para garantir a conveniente capacidade de importar.

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36. Não se dispõe de dados seguros sobre as produções externo, pode analisar-se quantitativamente a situação agrícolas, mas, recorrendo-se às estatísticas de comércio descrita.

índices da exportação dos principais produtos agrícolas Base: 1958 = 100

[ver tabela na imagem]

As importações de géneros alimentícios de primeira necessidade têm aumentado substancialmente, com especial relevância para o milho, de valores absolutos muito elevados.
índices da importação de produtos agrícolas Base: 1958 = 100

[ver tabela na imagem]

37. As exportações de produtos cujo consumo interno não é relevante seguiram, no mesmo período, evolução caracterizada pela acentuada expansão das produções de bananas e de amendoim, correspondendo a uma nítida regressão do café e da purgueira.

38. Quanto à pecuária, os efectivos arrolados mostram tendência para recuperação, depois de uma quebra que atingiu o seu ponto mais baixo em 1962.

39. As limitações dos dados disponíveis não permitem uma avaliação segura, mas parece evidente uma certa estagnação dos níveis de produção, e um agravamento do recurso às importações de produtos alimentares.
Por outro lado, conjugando elementos conhecidos, tão-pouco parece lícito assinalar melhoria na produtividade da mão-de-obra.
Em síntese, reconhece-se que o fomento agro-silvo-pastoril em Cabo Verde requer a realização de acções decisivas nas áreas mais sensíveis, das quais se possam esperar resultados imediatos e positivos.

2. Objectivos

40. A agricultura constitui, apesar dos desfavores naturais que sobre ela recaem, o sector principal da economia da província, e também aquele em que os aspectos humanos envolvidos na programação assumem maior relevo, tornando melindrosa a apreciação dos factores dominantes da vida agrária do arquipélago e dificultando previsões, mesmo a curto prazo, sobre os reflexos que a aplicação de um plano de fomento pode trazer à transformação social e económica do sector, por forma a atingir-se as metas estabelecidas.

41. O sector agrícola, não sendo susceptível de absorver mais mão-de-obra, pode, todavia, contribuir para a redução significativa do subemprego, nele manifesto. Poderá, sobretudo, aumentar de forma substancial o produto, mediante o aproveitamento eficiente dos- investimentos já efectuados e a efectuar na irrigação e reconversão de algumas culturas de subsistência em culturas de mercado.
Não se deve, porém, esperar que, mesmo à custa de uma intensificação cultural e alargamento do regadio, o desemprego oculto na agricultura possa ser totalmente eliminado, convindo, por isso, considerar as orientações necessárias à criação dos novos empregos que o sector agrícola não comportará nas suas actividades produtivas.
Para tanto, e enquanto os sectores não agrícolas se preparam para absorver a parcela de população válida que o crescimento demográfico coloca todos os anos no mercado do trabalho, poderá utilizar-se a mão-de-obra agrícola subempregada na construção de grande parte do capital fixo necessário ao desenvolvimento da produção agrícola (surribas, despedregas e socalcos para melhoria de produtividade no regadio e, também, estruturas para captação e/ou armazenamento de água para rega, etc.), sem falar noutras infra-estruturas, designadamente estradas.

42. Parece aconselhável, por outro lado, se não se abandonar todo o propósito de auto-suficiência de produção alimentar, e, dados os baixos preços dos produtos das culturas alimentares, afectar, especialmente no regadio, as áreas cultivadas às produções de elevado rendimento unitário, sobrevalorizáveis pela exportação.

43. Admite-se não ser fácil, porém, imprimir novo rumo à agricultura cabo-verdiana, mesmo reconhecendo-se a

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potencialidade oferecida à transformação em agricultura de mercado.
Competirá, pois, ao Estado criar os estímulos necessários para levar um número cada vez maior de agricultores a passar de uma economia de subsistência para uma economia de mercado.

44. A melhoria do quadro institucional pode receber contribuição válida da aplicação do regime estabelecido pelo Decreto n.º 47 314, de 15 de Novembro de 1966, que visa tornar mais equilibrada a estrutura agrária do arquipélago. Outras providências serão, porém, necessárias corri vista:
Ao aperfeiçoamento dos meios de comercialização das exportações e da promoção de vendas na metrópole, para já um mercado com perspectivas;
Ao desenvolvimento dos meios de transporte interinsulares e para a metrópole;
E ao estabelecimento da organização cooperativa da comercialização e da agricultura de grupo.

45. A expressão que a silvicultura possa ter no desenvolvimento económico da província é bemm pequena, como se compreende.
Escolhida uma orientação que deverá ter em linha de conta as determinantes que condicionam a instalação de coberto lenhoso, este pode efectuar-se a custos comportáveis e com viabilidade, mesmo não esquecendo que Cabo Verde se integra numa região limite para a cultura florestal, como o demonstra a pobreza da flora e da vegetação lenhosa. Mas, dentro das condições meteorológicas normais dessa, região, é o relevo o principal factor a condicionar o clima do arquipélago, e daqui a variável aptidão ecológico-agrícola das diferentes zonas.
Desta maneira, convém reter apenas as seguintes ideias básicas:
Em certas localizações das ilhas de maior altitude o povoamento florestal é possível sem necessidade de recurso a processos de custo proibitivo;
Não é prudente generalizar o tratamento do problema a todas as ilhas e, dentro de cada uma, às diferentes micro-regiões ecológicas que a altitude e a orientação, de per si ou conjugadas, determinam; o problema é distinto do das zonas privadas do efeito dos alísios, e, portanto, diferentes hão-de ser as soluções a adoptar e os objectivos a prosseguir;
Não se devem esperar massas arbóreas que se prestem ao registo de números que produzam grande efeito estatístico ou espectacular.

46. Atenta a pobreza de recursos naturais do arquipélago, há que aceitar que, excluídas as pequenas manchas de regadio e as zonas de sequeiro, restam extensas áreas das quais, devido aos condicionalismos de ordem climática e edáfica, só através da pecuária se pode tirar proveito.
Há, porém, problemas de educação de base e de assistência técnica, sem dúvida difíceis, que hão-de anteceder qualquer programa de fomento pecuário.
A experiência continuada de dezoito anos no domínio de fomento pecuário aconselha um reajustamento da acção a empreender.
Assim, de pouco ou nada serve a dispendiosa aquisição de reprodutores de qualidade e a sua cara manutenção se, em primeiro lugar, não se resolverem dois problemas fundamentais: a redução das zoonoses que degradam o armentio e a melhoria das condições de apascentamento e de uma forma geral, de alimentação de gado.

O esforço a despender visa, fundamentalmente, a espô-cie bovina, com uma extensa campanha de profilaxia da tuberculose.

Por outro lado, não é o mercado local que pode absorver o excedente criado como resultado dos abates. A comercialização para a metrópole é o caminho que se oferece como complemento necessário.

Assim, todas as medidas que a metrópole possa tomar em benefício da comercialização das carnes que o arquipélago produza terão efeitos benèficamente convergentes. Além disso, os subprodutos destes abates poderão dar matéria-prima paru industrialização local: tal é o caso dos curtumes.

Também a suinicultura oferece a possibilidade de contribuir com matéria-prima para industrialização.

Quanto ao caracul e angora, &e as conclusões que já se puderam tirar sobre o comportamento e grau de adaptação do núcleo importado de Angola e mantido sob observação na Trindade (ilha de Santiago) não são de molde a aceitar, para já, sem reservas, a passagem à fase de exploração, crê-se que só depois de alargada a etapa experimental à ilha de Maio é que se poderá estabelecer

- com um mínimo de segurança- qualquer projecto concreto de exploração pecuária visando aquelas espécies. Como necessário complemento a toda a acção que se desenvolva em benefício da pecuária, o aumento da rede de bebedouros é aspecto que deverá ser levado em linha de conta.

Não existe, na província, qualquer tentativa de exploração avícola. O elevado custo do arraçoamento que uma exploração a nível industrial exige, uma vez que todos os concentrados teriam de se importar, torna duvidoso o sucesso económico de qualquer iniciativa do género. Entretanto, e porque a actividade pode vir a merecer melhor interesse, dada a possibilidade de abastecimento de frotas pesqueiras e navegação marítima em geral, por alteração das exigências dos compradores, prevê-

-se a aquisição de reprodutores para fomento avícola.

3. Investimentos

47. Os empreendimentos programados para este sector são os seguintes:

A) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris

a) Fomento de culturas e manutenção dos postos de fomento pecuário. Campanhas sanitárias

São consideradas nesta rubrica as culturas que, em princípio, não estão dependentes de aplicação regular e abundante de água pa.ra prosperarem e produzirem.

Nestas culturas estão incluídos o amendoim, o feijão longo, as oleaginosas não alimentares, o coqueiro, a tamareira, o cajueiro, a mangueira, o tabaco e o ananás, a desenvolver nas ilhas de Santiago, Fogo, Santo Antão, S. Nicolau, Boa Vista e Maio.

O esforço a desenvolver com a manutenção dos postos de fomento pecuário, com maior incidência na ilha de Santiago e, em menor escala, nas ilhas de S. Nicolau, Boa Vista e Maio, visará fundamentalmente a espécie bovina, em relação à qual haverá que levar a efeito uma extensa campanha de profilaxia da tuberculose, que é, depois da escassez alimentar, o factor que mais influi na desvalorização do armentio local.

Esta campanha deve incluir não só a ilha de Santiago, mas também a da- Boa Vista e a de Maio. englobando

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campanhas profilácticas, tratamento e aquisição de soros, vacinas, equipamentos diversos e assistência técnico-veterinária.
Também a suinicultura oferece a possibilidade de contribuir com matéria-prima para a industrialização.
Quanto ao caracul e angora, a passagem à fase de exploração não será de encarar para já. Inclui-se, no entanto, o estabelecimento de unidades de recuperação, depois de alargada a etapa experimental à ilha de Maio.
Também a avicultura, pela proximidade da Guiné e em face do grande consumo em carne e ovos do porto de S. Vicente, devido aos barcos que o escalam, justifica que lhe seja dispensada maior atenção, através, sobretudo, da aquisição de bons reprodutores para fomento avícola.

b) Revestimento vegetal e trabalhos de conservação do solo e da água

No tocante à silvicultura, prevê-se a arborização em zonas de altitude mediante a criação de novas plantações (400 ha) e conservação das existentes e a constituição de cortinas de abrigo em zonas cafeícolas.
Para tirar partido de plantas aparentemente nocivas ou mesmo prejudiciais, será de toda a conveniência instalar em zonas de altitude as espécies arbustivas forrageiras que melhorem e equilibrem o trinómio reggadio, pecuária e agricultura.
Cumulativamente, já que a arborização em terrenos declivosos constitui um dos melhores antídotos da erosão, surgem as necessidades de conservação do solo e da água, uns e outros indispensáveis à agricultura de Cabo Verde.
Está prevista a edificação de diques, banquetas e processas de recarga artificial, visando os troços do montante das bacias hidrográficas de maior valor económico. A execução destas tarefas será distribuída pelas ilhas de Santo Antão, Santiago e S. Nicolau.
Está prevista uma verba para constituição de pastagens arbóreas e arbustivas (cerca de 700 ha) e reconstituição de pastagens herbáceas nas ilhas de Boa Vista, Maio, Santiago, Fogo, S. Nicolau e Santo Antão.
Com esse propósito se incluem neste programa os investimentos exigidos pelo lançamento e manutenção de uma campanha de fomento cafeícola nos moldes permissíveis e tecnicamente adequados.

e) Fomento bananícola
Durante o III Plano de Fomento os serviços de agricultura darão o seu apoio técnico ao desenvolvimento da cultura da banana, e bem assim prestar-se-á apoio financeiro através das entidades competentes.

B) Esquemas de regadio e povoamento a) Aquisição de propriedades de regadio
A alteração da estrutura agrária existente, com a aquisição de propriedades de regadio, a constituição de sociedades de regadio da economia mista ou de núcleos de povoamento, assenta na projecção social e humana das obras de rega, a partir das quais se poderá expandir um equilibrado amor à terra e constituir uma sólida sociedade rural.
Na ilha de Santiago, utilizando um dos vales ali existentes, o Estado proporia aos proprietários a constituição de uma sociedade por acções, recebendo cada proprietário, em troca dos seus prédios, um volume de acções que imediatamente lhe garantiam, pelo respectivo juro, uma renda igual à que vinham auferindo com a exploração do arrendamento (o caso mais frequente que se verifica) dos seus prédios, actualmente subaproveitados.

b) Trabalhos de adaptação ao regadio e fomento de bananicultura e horticultura nas explorações societárias ou/e comunitárias
As propriedades para a constituição de novas explorações de regadio em regime de sociedade de economia mista ou de núcleos de povoamento carecem de avultadas despesas em trabalhos de adaptação ao regadio, para instalação de bananais e culturas hortícolas em escala industrial.

c) Construção de bebedouros e tanques-banheiras
O alargamento da rede de bebedouros é aspecto que deverá ser levado em linha de conta, não só pela melhoria que traz às condições de dessedentação dos gados, como também à redução dos percursos, o que diminuirá os efeitos do principal agente da degradação das pastagens: o pisoteio desregrado.
A construção de bebedouros e tanques-banheiras abrangerá as ilhas de Santiago, Fogo, Boa Vista, Maio, Santo Antão e S. Nicolau.

d) Fomento cafeícola
Existem actualmente em produção cerca de 840 000 cafeeiros, ocupando uma área de 528 ha e produzindo cerca de 785 t por ano.
A importância que o café pode representar para a economia do arquipélago, aliada às obrigações assumidas pelo País no âmbito do Acordo Internacional do Café, conduz à conclusão de que os esforços a realizar neste campo terão necessariamente de se concentrar na melhoria da produtividade das áreas em cultivo e da qualidade do café produzido.

c) Meios de obtenção de água para rega
Além da intensificação e extensificação da prospecção de águas subterrâneas e dos processos tecnológicos da sua exploração, terá de se avançar ainda mais no domínio do aproveitamento dos recursos hídricos.

C) Crédito agrícola
A concessão de facilidades, financeiras ao pequeno e médio proprietário, em especial à exploração familiar de conta própria, constitui o processo de se contribuir para um aumento significativo do produto agrícola e para a subida, mais generalizada, do nível de vida da população.
Contudo, ainda não se criou na província uma tradição na procura de crédito agrícola. Essa tradição é contrariada também pela localização da sede da Caixa de Crédito Agrícola em Santiago, o que cria dificuldades aos possíveis utentes dispersos por outras ilhas. Está, pois, prevista a ampliação dos recursos da Caixa e do alargamento do seu âmbito de acção em modalidades de crédito, obedecendo rigorosamente aos objectivos de desenvolvimento económico-agrícola da província.

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Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

48. As possibilidades reconhecidas de desenvolvimento desta actividade no arquipélago parecem ser apreciáveis, e tanto assim é que atuneiros japoneses e de outras nacionalidades ali se deslocam com certa regularidade, armazenando pescado nos frigoríficos do Mindelo.
Há condições mínimas, no que se refere a campos de pesca, necessárias à instalação de empreendimentos pesqueiros e de fábricas de transformação de peixe.
Além dos tunídeos, fulcro da actividade piscatória, existem outras espécies pelágicas que desempenham importante papel e, embora ainda não haja investigações científicas completas, conclui-se que existem assinaláveis perspectivas na exploração de crustáceos, designadamente lagostas.

49. Prosseguiu no período do Plano Intercalar de Fomento o desenvolvimento deste sector, que actualmente emprega mais de 2000 pescadores, com capturas que excedem as 20001 anuais. Dificuldades na concretização dos financiamentos previstos impediram o lançamento do conjunto do empreendimento da Congel, que, no entanto, ampliou consideràvelmente a capacidade de armazenagem frigorífica na sua base do Mindelo.

[Ver tabela de imagem]

50. De um modo. geral, as embarcações são obsoletas e deficientemente equipadas, quer se trate das accionadas a motor, quer das que são equipadas com velas ou remos. O grau de autonomia destas embarcações é forçosamente diminuto.

51. A produção indicada deve ser encarada com reserva, porquanto constitui apenas uma parte da produção total, cujo valor se estima pelo quádruplo daquele montante, que se refere apenas ao pescado destinado

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aos mercados municipais. Com efeito, há que entrar em linha de conta, por exemplo, com o pescado absorvido pelo autoconsumo pela população empregada na pesca.
Cerca de 1/5 do total destina-se à preparação rudimentar de peixe seco, mas haverá ainda que considerar o pescado que foi empregado pelo sector industrial, compreendendo a congelação e a fabricação de conservas e farinhas de peixe, pelo que se teria uma produção global da ordem das 9200-9300 t por ano (abstraindo a apanha do isco vivo para a pesca do atum), de que mais de 60 por cento supririam as solicitações do consumo interno.

2. Objectivos

52. Torna-se indispensável, durante o III Plano de Fomento, não só impulsionar o lançamento dos novos empreendimentos em estudo ou já em adiantado curso de realização, como também procurar modernizar e ampliar a frota pesqueira local, de modo a melhorar as suas possibilidades de detecção, de conservação de pescado e de âmbito de acção.

3. Investimentos

53. Os empreendimentos incluídos neste sector são, pois:

a) Companhia de Pesca e Congelação de Cabo Verde

A primeira fase do empréstimo externo à Congel, no montante de 74 500 contos, já obteve a concessão do aval do Estado.
Destinou-se essa verba para pagamento do fornecimento de quatro atuneiros pursc-seiner e respectivo contrato de crédito, nos termos do Decreto-Lei n.º 47 537, de 16 de Fevereiro de 1967, integrados no contrato gerai que se celebrou em 1962 com a firma Fried Krupp.
Todavia, o financiamento alemão, com a devida autorização do Estado, atingirá os 284 200 contos, nos quais há a descontar os 74 500 contos já concedidos.
Besta, deste modo, uma verba de 209 700 contos, destinada a instalação frigorífica, estruturas complementares, restante frota pesqueira e industrialização, que se torna necessário actualizar por acréscimo de 7,5 por cento baseado no aumento dos custos de produção.
Por outro lado, foi autorizado o Ministério do Ultramar, pelo Decreto n.º 46990, de 2 de Maio de 1966, em nome da província, a contrair, no Banco de Fomento Nacional e no Banco Nacional Ultramarino, dois empréstimos, de 15 000 contos cada um, pagáveis aos semestres e amortizáveis em doze anuidades iguais, vencendo-se as duas primeiras em 1 de Dezembro de 1970.
O produto dos empréstimos referidos foi integralmente aplicado na subscrição de 30 000 acções da Companhia de Pesca e Congelação de Cabo Verde, S. A. E. L.

b) Outros empreendimentos

Além da Congel, outros empreendimentos há que carecem de ser reestruturados, como é o caso da Ultra, L.da, ou podem justificar investimentos vultosos, como, por exemplo, a empresa em projecto para operar com base na Praia, nomeadamente se a localização os tornar recomendáveis como factores de desenvolvimento económico de outras ilhas.

Pesca

Programa de Investimentos

[Ver tabela de imagem]

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

54. É restrito o âmbito das actividades industriais, tanto extractivas como transformadoras, em Cabo Verde: unidades industriais em pequeno número, baixas produções e reduzida gama de produtos.
Nas indústrias extractivas podem apontar-se as pozolanas, o calcário e o sal, com produções relativamente modestas, com excepção do sal, actividade tradicional nas ilhas do Sal, Boa Vista e Maio.
Na transformação de produtos agrícolas contam-se apenas o fabrico de aguardente, preparação de peles e couros e produção de carvão vegetal.
Com base na pesca, regista-se, além da congelação de peixe, a fabricação de conservas de peixe, de farinhas de peixe e de peixe seco.
As restantes indústrias existentes são as de massas alimentícias e bolachas, panificação, tabaco, refrigerantes, calçado e cerâmica.

55. A evolução da produção das indústrias cabo-verdianas no hexénio de 1960-1965 mostra que as várias produções significativas são as pozolanas e o sal destinados ao mercado externo.

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[Ver tabela de imagem]

O quadro seguinte mostra a evolução, em índices (base 1953), das produções principais ao longo do período de 1953-1965:

[Ver tabela de imagem]

As produções industriais que tem revelado tendências no quadro que se refere às exportações são as constantes do quadro seguinte:

[Ver tabela de imagem]

56. Os quantitativos de mão-de-obra empregue nas indústrias extractiva e transformadora são os seguintes:

[Ver tabela de imagem]

57. As realizações no campo industrial não são grandes, nem tão-pouco favoráveis as perspectivas, o que é devido ao pequeno mercado interno e à própria dispersão e localização geográfica do arquipélago.

58. Os mais importantes recursos de subsolo conhecidos são as pozolanas e o sal. Merecem também atenção os calcários, que fornecem matérias-primas para o fabrico de cimento e de cal.
Importa, para além dos trabalhos de prospecção programados, criar as condições para estimular as iniciativas privadas, para um aproveitamento, em condições reatáveis, dos recursos já identificados e dos que venham a ser localizados, incluindo o apoio directo, pelo menos numa fase inicial de arranque.

2. Objectivos

59. Considera-se como objectivo fundamental de todo o desenvolvimento económico de Cabo Verde a criação de volume de emprego necessário para satisfazer a procura resultante do crescimento demográfico.
Este objectivo geral transpõe-se no plano sectorial da indústria transformadora sob a forma de estabelecimento de indústrias rentáveis que permitam absorver mão-de-obra em proporções tão grandes quanto possível.

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As indústrias que se encontram nestas condições são, além da indústria da construção e das reparações navais, hoje funcionando em condições deficientes e que interessa modernizar e ampliar, as que transformam produtos agrícolas ou se destinam a satisfazer consumos locais oferecendo mercados razoáveis.

3. Investimentos

1. Indústrias extractivas

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

60. Além do aproveitamento de água doce por intermédio da dessalinização da água do mar - caso concreto da cidade do Mindelo, na ilha de S. Vicente, e do aeroporto dos Espargos, na ilha do Sal -, julga-se que a forma mais eficiente para o abastecimento consistirá na captação das águas superficiais, objectivo a considerar noutro capítulo em ligação com outros trabalhos de obras públicas.
Os trabalhos aqui considerados visam unicamente a carta hidrogeológica e a aquisição de equipamento de sondagem e materiais diversos.
A fiscalização ficará cometida ao Centro de Geologia da Junta de Investigações do Ultramar, com a colaboração do Instituto Hidrográfico nos casos em que os trabalhos cartográficos possam interessar à hidrografia.

b) Fomento mineiro

61. A intensificação da produção de sal e da exportação dos calcários e de pozolanas constituem os objectivos mais importantes neste sector, reconhecendo-se que os problemas a resolver se situam, por vezes, mais no sector da comercialização do que no da produção.

2. Indústrias transformadoras.

62. Das indústrias susceptíveis de instalação em Cabo Verde, consideram-se com maiores possibilidades de sucesso as seguintes:

a) Curtumes. Aproveitamento de couros e peles para fabrico de calçado e artigos de viagem

Convirá preparar a maior gama possível de produtos curtidos nas condições de apetrechamento existentes, fazer uma tentativa de apuramento de custos de produção, para cotejar com os materiais importados, e verificar ainda em que medida uma pequena oficina de calçado poderia aproveitar economicamente tais produtos.
Por outro lado, deve tentar-se apurar o interesse em preparar o material curtido, mas não depilado, para aproveitamento no fabrico de artigos de viagem.
Evidentemente que o volume de couros e peles a trabalhar - que não é grande - condicionará grandemente a dimensão da unidade industrial de curtimenta, a qual deverá localizar-se em Santiago, por ser a ilha maior produtora de couros e peles e também por menor dificuldade no abastecimento de água.
As perspectivas quanto a esta indústria, que incluiria, pois, uma unidade para curtimenta e uma pequena oficina para calçado, podem considerar-se favoráveis, pelo menos em face dos elementos de apreciação disponíveis.

b) Industrialização da cana sacarina (melhoramento da aguardente de cana)

Outra indústria que se julga de interesse consiste na valorização da cana sacarina de produção local, já que se considera inviável o aproveitamento do açúcar para a refinação.
Para isso se prevê a comparticipação do Estado numa cooperativa de produtores de cana para transformação em aguardente de qualidade, visando exclusivamente a exportação.

c) Estudo sobre possíveis indústrias a criar

Existem já elementos de estudo acerca de outras possibilidades industriais.
Assim, por exemplo, a Companhia de Pozolanas de Cabo Verde, S. A. E. L., com o apoio do Estado, no que se refere ao estudo técnico do aproveitamento dos calcários das ilhas de Maio e Boa Vista, vem procedendo ao exame das possibilidades da instalação da indústria do cimento.
Convirá, no entanto, completar e aprofundar tais elementos e proceder a estudos de novas indústrias, entre os quais se anotarão os seguintes:
Estudos económicos e tecnológicos sobre a extracção do óleo de sementes da purgueira e das aplicações que possam conduzir à valorização do óleo;
Estudos técnico-económicos sobre a viabilidade de extracção, à escala industrial, do bálsamo concreto de babosa (Alões vera, L.);
Estudos técnico-económicos sobre a ralagem do coco, visando a sua exportação para a metrópole;
Estudo técnico-económico. sobre a indústria de salsicharia;
Estudo da viabilidade de produção semiartesanal de açúcar em rama, para consumo interno sobre esta forma.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

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IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

63. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo viu. «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

64. Dadas as pequenas dimensões das ilhas, não há no arquipélago rios dignos desse nome, mas simplesmente alguns caudais diminutos e irregulares. Em contrapartida, o arquipélago parece oferecer boas possibilidades de aproveitamento das energias solar e eólica.

65. Como ainda não está realizado significativamente o aproveitamento destes dois tipos de energia, as instalações de energia eléctrica da, província são constituídas na sua totalidade por geradores Diesel eléctricos.
A potência instalada em Cabo Verde, em 1963, era de 993 KW, assim distribuídos: cidade da Praia, 368 KW, Mindelo, 432 KW, e mais sete localidades, 193 KW. Podem contar-se ainda hoje quatro ilhas sem energia eléctrica.
A potência instalada em 1965 era de 1665 KW, distribuída por treze centrais térmicas. O consumo atingiu, no mesmo ano 3 384 000 KW.

2. Objectivos e investimentos

66. Embora se não disponha de elementos para o cálculo correcto da Capitação do consumo de energia eléctrica, pode afirmar-se que esta se situa em nível baixo. Os projectos de electrificação e ampliação das centrais já elaborados ou em curso, de elaboração pelos serviços oficiais previam uma potência a instalar de cerca de 1500 KW.

67. Considera-se, pois, essencial, além da melhoria das condições de abastecimento de energia das três cidades da província (Praia, Mindelo e S. Filipe), a electrificação das principais povoações rurais, a instalação de aeromotores, prosseguimento dos estudos com vista à utilização da energia solar na dessalinização da água do mar, e, possivelmente, a execução de algumas pequenas instalações, aproveitando os resultados das experiências que venham a ser feitas ainda durante a vigência do Plano Intercalar.
Considera-se ainda o aproveitamento hidroeléctrico da ribeira das Pombas, na ilha de Santo Antão, e o transporte da energia produzida para o Paul (vila das Pombas).

Energia

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

VI) Circuitos de distribuição

68. Os estímulos necessários para acompanhar o agricultor na conversão para uma economia de mercado deverão incidir no desenvolvimento dos meios de comercialização, a fim de facilitar o transporte, a armazenagem ee a distribuição dos produtos.
É na comercialização que se encontram os aspectos mais difíceis de resolver num meio em que as cooperativas ou quaisquer associações congéneres ainda não fizeram a sua

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aparição. Além disso, e no contexto mais vasto de todas as actividades interessadas, há que considerar a necessidade do estabelecimento de uma rede de frio adequada às necessidades de uma agricultura produzindo para o exterior.

Circuitos de distribuição

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

69. A rede rodoviária tem sofrido consideráveis melhorias e ampliações. Em 1966, Cabo Verde dispunha já de 81.8 km de estradas classificadas, sendo 100 km de estradas pavimentadas e 718 km de estradas de terra. O número de veículos motorizados em circulação em 1965 era de 1469 (incluindo 295 motociclos).

70. Os principais portos do arquipélago são o Porto Grande, em S. Vicente, e o Porto Novo, em Santo Antão. Entre 1959 e 1964 foram melhorados e beneficiados outros pequenos portos e adquiridas embarcações. Estão actualmente em conclusão obras acostáveis acessórias para p serviço de pesca no Porto Grande, onde já está concluído o cais acostável para combustíveis líquidos, e em curso a construção do porto de Cavaleiros, na ilha do Fogo.
A tonelagem de arqueação bruta da navegação que frequentou o Porto Grande - porto que movimenta cerca de 92 por cento da tonelagem de arqueação bruta - foi, no ano de 1965, de 10 milhões.

71. A província conta actualmente, além do aeroporto da ilha do Sal, com cinco aeródromos: os de Maio. Boa Vista e S. Nicolau, com 1400 III de pista cada um, e os da Praia e de S. Vicente, com 1200 III cada um; todos podem receber aviões tipo DC-3 Dakota. As duas últimas pistas têm, cada uma, 800 III de tratamento betuminoso. No aeroporto da ilha do Sal estão em curso obras de beneficiação, de forma a poder receber aviões a jacto.

72. Dispõe a província de um navio-motor com condições boas e de alguns veleiros, mas a navegação aérea entre ilhas (e com o exterior) é de grande interesse.

73. Quanto às telecomunicações, o panorama tem-se apresentado estacionário nestes últimos anos. Existiam, em 1965, 29 estações telegráficas e 2 radiotelegráficas, além de 2 estações telefónicas e 578 postos.

2. Objectivos

74. Os objectivos deste sector poderão parecer exagerados em relação aos demais. Proceder de maneira diferente seria ignorar a situação geográfica da província, repartida numa série de ilhas de reduzidas dimensões, exigindo, assim, especiais cuidados todo o fenómeno que se relacione com os meios de comunicação.
Sem a sua prossecução não é possível atingir os objectivos gerais que se propõem.

1. Transportes rodoviários

75. O incremento a dispensar à agricultura requer apreciável alargamento dos transportes rodoviários, sobretudo nas ilhas em que a mesma se torne possível. Santo Antão, o maior alfobre da província em produtos alimentares, dispõe ainda de óptimos tractos de terrenos, mas o correspondente transporte utilizável confina-se apenas ao dorso do animal.
Santiago é possivelmente aquela ilha que melhores potencialidades económicas oferece, dado que a disposição do relevo não é tão desfavorável como em Santo Antão ou no Fogo.
Nestas ilhas, como nas demais, há necessidade de incrementar actividades directamente produtivas, quer se trate do sector agrícola, quer do industrial, ou mesmo do turístico, o que postula a necessidade de dispor de transportes rodoviários adequados, já como processo de escoamento dos produtos, já como meio geral de comunicação.

2. Portos e navegação

76. A localização da província em pleno Atlântico e a sua distribuição por ilhas a distâncias apreciáveis entre si justifica plenamente que aos portos e cais acostáveis de menor dimensão seja dada particular relevância. Na medida em que Cabo Verde importa grande parte do que consome o exporta bens de fraco valor unitário, mas em grande quantidade, como o sal, as pozolanas e as bananas, foi de todo o interesse a remodelação do porto do Mindelo, que permite já a atracação da quase totalidade dos barcos que cruzam o Atlântico; de idêntico interesse a construção do novo molhe do Porto Novo, em Santo Antão, local de embarque das pozolanas.
Assim, ao abrigo do III Plano de Fomento, em relação ao Porto Grande, foram fixados os seguintes objectivos principais:

Aquisição de instalações, máquinas, ferramentas e equipamento de laboratório;
Recargas de enrocamento do molhe n.º 2;
Serviços de atracação, compreendendo a aquisição de um rebocador e de uma lancha;
Serviços de abastecimento de géneros alimentícios e combustíveis;
Serviços de sinalização, de armazenamento para mercadorias e retenção de passageiros;
Serviços de administração.

77. O Porto Novo de Santo Antão, que virá a ser o ponto de encontro das estradas que atravessam a ilha, e por onde já hoje se exporta a pozolana, cujas instalações fabris se situam a cerca de 2 km, será, também, depois de um mais racional aproveitamento da produção agrícola, um grande porto de exportação de géneros alimentares de que o arquipélago carece. No entanto, há que dotá-lo com equipamento portuário e edifícios próprios.

78. A ilha do Fogo carece urgentemente de ver solucionados os seus prementes problemas portuários, de modo que os embarques e desembarques de pessoas e mercadorias, por via marítima, deixem de constituir tão arris-

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cada aventura. Para o efeito foi considerada a conclusão das obras do porto de Vale de Cavaleiros já iniciadas, incluindo os edifícios e equipamentos afins.

79. Sendo o sal vim dos produtos que mais pesam nas exportações cabo-verdianas, é justo considerar obras acostáveis mais próximas da sua exploração. Não faz sentido, com efeito, que a exploração se efectue num extremo da ilha e a exportação no outro, quando tão próxima daquela existem condições favoráveis para um cais acostável.
Tratando-se de um produto pobre em valor unitário, são de todo o interesse as reduções dos custos resultantes de permanência no porto e dos evitáveis transportes.
Independentemente das razões analisadas, a prevista zona da Murdeira para o lançamento de um cais acostável na ilha do Sal oferece as garantias de um local abrigado, com bons fundos para manobras.

80. Há também que executar obras portuárias na cidade da Praia, cujo projecto está ainda dependente de definição do que se pretende em matéria de novos empreendimentos piscatórios com base na ilha de Santiago.

3. Transportes aéreos e navegação

81. É essencial a conclusão dos trabalhos já previstos no Plano Intercalar, mas que, por motivos de vária ordem, não puderam ser levados a cabo, dizendo respeito à ultimação das pistas de aterragem nas diversas ilhas, à aquisição de material de voo, material de telecomunicações, fornecimento de energia, sinalização, esgotos, e bem assim ao material de combate a incêndios.

82. Além disso, as pistas da cidade da Praia e de S. Vicente, pela importância turística que apresentam, merecem arranjo especial, de modo a serem utilizadas por aviões vindos do exterior.

83. Constitui ainda objectivo visado a ampliação da capacidade de transporte dos serviços aéreos da província.

3. Investimentos

1. Transportes rodoviários

84. Na elaboração do programa dos investimentos rodoviários de certo montante, mercê da descontinuidade geográfica do arquipélago (o que dispensa qualquer outra justificação), atendeu-se à capacidade de execução, condicionada pelas disponibilidades de mão-de-obra da província em período normal.
Na selecção das estradas incluídas no III Plano de Fomento deu-se prioridade às que mais possam contribuir para o desenvolvimento económico da província:

a) Por permitirem o escoamento de zonas agrícolas de regadio, aptas para a cultura de produtos de exportação;
b) Por servirem zonas susceptíveis de aproveitamento turístico.

A ilha mais beneficiada é a de Santo Antão, por ser aquela em que é mais acentuada a carência de vias de comunicação. Vales como os da Ribeira da Cruz, Altomira, Figueiras e Graça não têm qualquer saída, por mar ou por terra, para os seus produtos.
Seguem em valor global de empreendimentos a de Santiago, maior, mas já mais bem servida por vias rodoviárias, e a do Fogo, onde a zona mais produtiva (Norte) não é acessível a veículos automóveis.

Resumo geral

[Ver tabela de imagem]

2. Portos e navegação

85. O programa estabelecido foi devidamente condicionado pela programação do Plano Intercalar de Fomento.
Para o Porto Grande de S. Vicente distribuíram-se os investimentos pelos diferentes serviços essenciais a uma adequada exploração:

Serviços de atracação - aquisição de um rebocador de 600 C. V. e de uma lancha a motor de 50 C.V. e de 6 t, para passagem de cabos à terra;
Serviços de electricidade e comunicações - instalação eléctrica de iluminação exterior (2.ª fase - terraplenos e cais de pesca);
Urbanização de terraplenos - pavimentação, esgoto de águas pluviais e vedação dos terraplenos;
Serviços portuários (de mercadorias, de passageiros, de pesca, de saúde, aduaneiros, marítimos e de administração) - edifícios e equipamento portuário, incluindo a aquisição de lanchas a motor, de 50 C. V. e de 5 t a 8 t, para assegurar os diversos serviços;
Serviços de abastecimento de água - equipamento portuário;
Serviço de abastecimento de combustíveis líquidos - apetrechamento a cargo das empresas abastecedoras;
Serviço de abastecimento de víveres - a cargo das empresas frigoríficas;
Serviço de incêndios - aquisição de moto-bombas.

86. Para o Porto Novo de Santo Antão inclui-se, no equipamento portuário, a aquisição de um guindaste automóvel para 6 t; compreende-se ainda a construção de edifícios portuários.

87. Para o porto de Vale de Cavaleiros, na ilha do Fogo, programaram-se obras acostáveis (2.ª fase) e edifícios e equipamento portuários.

88. Quanto ao porto da Praia, na ilha de Santiago, torna-se imperioso que as obras acostáveis a levar a efeito no III Plano de Fomento não deixem de assegurar adequada serventia a unidades mercantis da ordem das 10 000 t brutas, o que determina a necessidade de se dispor de cais situados em fundos úteis de ( - 10 m). Para a concretização de tais objectivos está afecta ao Plano Intercalar de Fomento a execução do respectivo projecto.
O inventário das necessidades deste porto inclui, além de obras acostáveis e de edifícios, no equipamento portuário, a aquisição de um rebocador de 600 C. V. e de uma lancha de 50 C. V. para passagem de cabos à terra.

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89. Na ilha do Sal, é sem dúvida a baía da Murdeira, situada na costa ocidental (a mais abrigada) e distando 7 km do aeroporto e cerca de 12 km de cada um dos dois centros de produção de sal, a que melhores condições oferece para a construção do porto para a exportação do sal, produto que, pela sua abundância, pode pesar sensivelmente na balança económica da província.
Com vista à indispensável planificação, tomou-se como tipo dos navios que frequentemente poderão assegurar a drenagem do sal os que possam carregar cerca de 15 000t, o que corresponde à tonelagem bruta de 10 a 11 000t e que em média calam cerca de 30 pés e têm aproximadamente 160 m de comprimento
Consequentemente, há que dispor de cais com fundos úteis situados à cota (- 10 m) e desenvolvimento mínimo da ordem dos 210 m. Assim, para se atingirem os fundos convenientes, o molhe terá um desenvolvimento total entre os 400 e os 500 m.
Há que construir, ainda, os edifícios portuários, e no equipamento inclui-se uma lancha a motor de 50 C. V.

90. Para o porto de Sal-Rei, na ilha da Boa Vista, programam-se investimentos para obras acostáveis, edifícios e equipamento portuários. No Porto Inglês, na ilha de Maio, no porto da Preguiça, na ilha de S. Nicolau, e no porto da Furna, na ilha Brava, também se consideram obras acostáveis, edifícios e equipamento portuários.

3. Transportes aéreos

91. No que se refere a infra-estruturas, há que proceder às seguintes obras: extensão das pistas da Praia e S. Vicente, para 2000 m; instalação de energia, água e esgotos; equipamentos; melhoramentos nas pistas de Maio, Boa Vista e S. Nicolau; edifícios; telecomunicações, e aquisição de material contra incêndios.
Os T. A. C. V. possuem dois aviões DH 104 - Dove. Os trabalhos de revisão e beneficiação executados permitirão que estes aviões prestem, sob o aspecto operativo, serviços durante mais alguns anos.
Há que atender-se, porém, a que são aviões de capacidade reduzida - nove lugares para passageiros -, e, como as solicitações aumentam, é de toda a conveniência II adopção de material de voo oferecendo maiores disponibilidades.
No estabelecimento de prioridades, julga-se mais conveniente a conclusão e o equipamento dos aeródromos existentes, de conformidade com o plano director inicial, tendo-se em atenção o serviço dos aviões ora existentes, seguindo-se a sua ampliação e adaptação ao esperado serviço do exterior.
Pelo que respeita a material de voo, tudo depende do que vier a ser estabelecido face ao novo contrato assinado com a TAP, que passará a ocupar-se dos aspectos técnicos da exploração de carreiras entre ilhas.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

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VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Objectivos o investimentos

Habitação

92. Segundo estudo levado a efeito pelo Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social, são as seguintes as necessidades de moradias económicas nos diversos concelhos da província:

[Ver tabela de imagem]

estimando-se o custo provável em cerca de 110 000 contos.

Prevê-se, nas condições actuais de trabalho, a possibilidade da construção de 150 fogos por ano, sendo 40 na Praia, 40 em S. Vicente e os restantes 70 distribuídos pelos outros concelhos.
As necessidades de moradias para funcionários, excluindo a Praia e S. Vicente, por concelhos, são as que constam do seguinte mapa:

[Ver tabela de imagem]

Considera-se possível realizar este programa no período de 1968-1973.

2. Melhoramentos locais

93. Tendo-se realizado na ilha de Santo Antão abastecimentos de água, sobretudo na zona norte, neste Plano prosseguirão os abastecimentos no Sudoeste e Noroeste, praticamente iniciados com a obra da Coxa, em conclusão na vigência do Plano Intercalar.
Assim, incluem-se os aglomerados de Monte Trigo, Pascoal Alves, Chã de Carneiro, Agua Amargosa, Ribeira da Cruz, Ribeira Fria, Ribeira Larga e Morro de Vento.
É de salientar a construção de uma cisterna em Pascoal Alves, já que as pesquisas de nascentes feitas em 1960 se revelaram pouco frutíferas, e a reconstrução da captação de Água Amargosa, destruída pelas cheias, a qual serve os aglomerados de Agua das Patas, Aldeia e Agua Amargosa, com cerca de 1000 habitantes no total.
No concelho do Paul consideram-se os abastecimentos de Campo de Cão e Figueira!, Ribeira das Pombas, Fajã da Janela, densamente habitada, e Pontinha da Janela.

94. Nos diversos abastecimentos a realizar na ilha de S. Nicolau, considera-se em primeiro lugar o abastecimento de água domiciliário da vila da Ribeira Brava, das mais importantes da província e sede de concelho. A construção da rede está dependente da existência de água em quantidade suficiente.
Prevê-se o abastecimento da povoação do Tarrafal, segundo centro populacional da ilha, já com mais de 800 habitantes, por adução gravítica ou bombagem de captações por poços.
Dependente de aproveitamento das águas do Torno, de esplêndida qualidade, e dos maiores caudais da ilha, e sua adução para fins hidroagrícolas, encara-se o abastecimento das povoações ao longo do percurso do Espigão até ao Calejão.
Os lugares de Fontainhas, Palhal, Hortelã e Cabeçalinho, com cerca de quatro centenas de habitantes cada um, dispõem de nascentes utilizadas para rega, sendo, no entanto, necessário melhorar as condições higiénicas, canalizando, independentemente, água para abastecimento, construindo reservatórios próprios e fontanários. Os aglomerados da Julunga, no Leste, Pomba e Mofina também são incluídos neste Plano.
Inclui-se igualmente o melhoramento do abastecimento da estância de trás e regiões vizinhas, em íntima ligação com a elevação da água dos Anjos para fins hidroagrícolas, possivelmente por aeromotores.

95. Vila de Santa Maria, na ilha do Sal, sede do concelho, com 600 a 700 habitantes, dispõe de um abastecimento por fontanário, sendo a água proveniente de poços de captação no Algodoeiro. Por falta de recarga dos lençóis, as águas tornam-se cada vez mais salobras, pelo que a administração do concelho vem pondo o problema de outros meios de obtenção de água doce, designadamente por dessalinização, já que as pesquisas localmente realizadas têm conduzido a água de maior teor salino.
Considera-se, pelo exposto, justificada a necessidade de instalar um dessalinizador, que, com a produção diária de 10 m3 a 15 m3, resolveria o problema.

96. Prevêem-se abastecimentos de água nas regiões de nordeste da ilha de Santiago ainda não beneficiadas (Salto Acima, Pilão Cão e S. Miguel), construção de cisternas de captação de águas pluviais na zona central (serra da Malagueta e zona alta da Figueira das Naus) e o abastecimento do Porto do Rincão, no concelho de Santa Catarina; ainda neste concelho consideram-se obras de defesa da povoação da Ribeira da Barca, constantemente ameaçada pelas cheias.

97. Os empreendimentos considerados na ilha do Fogo são o aproveitamento das águas de Nossa Senhora do Socorro, a extensão do abastecimento de água de Praia Ladrão para o norte e a construção de algumas cisternas nas regiões altas.
A nascente de Nossa Senhora do Socorro, grande manancial que aflora à beira-mar, deverá ser captada e elevadas as suas águas até à zona do Patim, cerca da cota 550, o que permitirá abastecer os aglomerados do Sul, de Patim a Cova Figueira, numa extensão linear de 18 km.
A execução dos trabalhos que acabam de ser referidos permitirá aliviar o sistema de Praia Ladrão de aproximadamente três milhares de consumidores potenciais, tornando possível prolongar para o norte, de S. Pedro até Mira, a rede projectada no ano que decorra.

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Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

[Ver tabela de imagem]

IX) Turismo

1. Objectivos

98. A. província reúne boas condições naturais para o turismo.
A aliar às óptimas condições do clima e do ambiente, há que fazer referência ao aspecto paisagístico (contrastes de vegetação e de relevo), às francas possibilidades das praias e da pesca submarina e ao folclore local.

99. Não se ignorando o interesse suscitado por estrangeiros, nomeadamente os Nórdicos, aquando das suas visitas ao arquipélago, reconhece-se que, para atracção de fluxos turísticos, as infra-estruturas fundamentais terão de sofrer grande desenvolvimento. Ter-se-á de proceder, por exemplo, a uma reestruturação de tudo quanto se relacione com a obtenção de água doce e de promover o lançamento de meios de comunicação e a construção de estabelecimentos hoteleiros.

2. Investimentos

100. Não é, porém, possível programar este desenvolvimento no seu conjunto, já que muito depende da concretização de intenções já manifestadas e de projectos em vias de elaboração. Por isso se limitam, por agora, as realizações programadas ao completamento das infra-estruturas turísticas disponíveis:

Praia:

a) Ampliação do piso inferior da pousada e construção de una segundo piso;
b) Equipamento, apetrechamento e imprevistos;
c) Arranjo da zona balnear;
d) Apetrechamento e instalação do C. I. T., incluindo um carro privativo;

Outras zonas:

e) Subsídios para outras pequenas pousadas, em Santa Catarina e Tarrafal (Santiago), Fogo, Santo Antão e ampliação da de S. Vicente.

A juntar ainda: o aproveitamento do Curralinho, onde se .construiriam seis bungalows (1.ª fase), e a construção da estrada Mindelo-Baía das Gatas.

101. Prevê-se ainda o estudo urgente do aproveitamento das possibilidades de desenvolvimento turístico, ficando a realização de empreendimentos públicos no sector condicionada pelos investimentos efectuados por empresas privadas.

Turismo

Programa de Investimentos

[Ver tabela de imagem]

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[Ver tabela de imagem]

X) Educação e investigação

1. Educação

1. Evolução recente e problemas actuais

102. Em 1958 o número de alunos inscritos no ensino primário (oficial e particular) era de 6167; em 1964 era de 18 150, o que significa que quase triplicou em relação a 1953. Aquele quantitativo representa mais de 55 por cento da população escolar da província.
Por seu turno, o pessoal docente passou de 149 professores em 1953 para 378 em 1964, ou seja, cresceu a uma taxa anual de 8,8 por cento. O número de salas cresceu a uma taxa inferior a 1 por cento (0,9 por cento) por ano, e para o número de escolas a taxa homóloga era de 1,2 por cento. Tendo em conta a taxa de crescimento demográfico, verifica-se que a capacidade de escolas, de equipamento e pessoal existentes atingiu o ponto de saturação.

[Ver tabela de imagem]

O número de alunos a cargo de cada professor e o número de alunos por sala de aula são crescentes. A percentagem de aproveitamento, que em 1953 era de 62 por cento, tinha em 1964 o valor de 61 por cento. Daqui se infere que, embora as salas de aula e os professores tenham aumentado em número, são ainda manifestamente insuficientes para as necessidades decorrentes do aumento de alunos inscritos.

103. Quanto ao ensino secundário, o esforço feito no período de 1953 a 1964 foi ainda maior. Até 1960 existia um só liceu na província, o do Mindelo, que tinha desde 1955 uma secção a funcionar na cidade da Praia; a partir de 1960 passaram a existir dois liceus (Praia e Mindelo).
O ensino técnico e profissional é ministrado numa escola industrial e comercial, funcionando no Mindelo desde 1957.
Existem ainda um seminário (Praia), duas escolas de enfermagem (Praia e Mindelo), uma escola de aprendizado agrícola (S. Jorge dos órgãos - Santiago), uma escola de artes e ofícios (Praia) e institutos de cursos especiais.
É o seguinte o movimento do ensino secundário durante o período considerado:

[Ver tabela de imagem]

104. Em resumo, verificasse que os problemas do ensino em Cabo Verde são prementes, mormente no que se refere ao ensino primário, sector em que é necessário um grande esforço de recuperação. Quanto ao ensino secundário, parece que, a efectivar-se um programa acelerado de desenvolvimento económico, conviria incrementar-se para isso o ensino técnico (industrial, agrícola e comercial).

2. Objectivos

105. Os objectivos no subsector Educação para o III Plano de Fomento são:
1.º No ensino primário: generalização progressiva do ensino, de forma a escolarizar 70 por cento da população em idade escolar, em 1973.
Para atingir tal objectivo e partindo das seguintes hipóteses de base:

a) Desenvolvimento da população com variações decenais de crescimento; a década de 1961-1970 sem crises; movimento migratório não considerado;
b) A população escolar primária (dos 6 aos 14 anos) corresponde a 18 por cento da população total;

torna-se necessário que:

a) A população escolar cresça à taxa anual de 8 por cento;

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b) O quadro de pessoal docente compreenda:

45 por cento de professores primários;
45 por cento de professores de posto escolar;
10 por cento de monitores escolares.

c) A província disponha, por si só ou em colaboração com outras províncias, designadamente a Guiné, de um órgão de orientação pedagógica e de apoio ao seu quadro docente.

2.º Educação de adultos: intensificação da educação de adultos.

a) A formação social dos indivíduos;
b) O desenvolvimento e melhor aproveitamento das potencialidades humanas das comunidades rurais, designadamente a capacidade de cooperação e auxílio mútuo;
c) Alfabetização;
d) Valorização do «investimento humano», com fundamento na ideia de que a falta de capital pode ser compensada com mais amplo apelo a oferta de mão-de-obra abundante, todas as vezes que o trabalho pode substituir o capital nos programas de valorização dos recursos locais.

Reconhecido o valor estimulante representado pela quantificação de objectivos na realização dos programas de empreendimentos, definem-se como metas a atingir nesta parte do sector, no fim do sexénio, as seguintes:

1) Abranger 10 por cento a 15 por cento da população adulta (dos 15 aos 60 anos) com as campanhas de educação de adultos;
2) Contribuir para proporcionar aos pequenos empreendimentos de interesse local de 180 000 a 240 000 dias - homem de trabalho.

A definição de tais objectivos parte das seguintes hipóteses de base:

a) A população adulta (15 aos 60 anos) cresce de 127,1 para 150,8 milhares de indivíduos no período do III Plano de Fomento;
b) Após o primeiro ano de preparação, a campanha de educação de adultos decorre em cada ano numa zona previamente definida, compreendendo uma população adulta de 3000 a 4500 indivíduos;
c) Cada indivíduo contribui com dois dias de trabalho por mês para realização dos pequenos empreendimentos de interesse colectivo local;
d) A campanha de educação de adultos decorre em cada zona em três fases de duração anual: preparação, actuação e consolidação.

3.º Ensino secunda rio, médio e superior: ampliação das possibilidades de acesso, ao ensino secundário e aos ensinos médio e superior.
Num plano a mais longo prazo - 15 anos - 30 por cento dos alunos que concluam o ensino primário deverão ter acesso ao ensino secundário.
A acção a desenvolver deverá estimular a preferência pelo ensino técnico (industrial, agrícola e comercial), com o fim de preparar mão-de-obra qualificada, quer para corresponder às exigências do desenvolvimento económico da província, quer para permitir maior defesa aos emigrantes, devendo incluir a preparação de pessoal de hotelaria, modalidade cuja integração no sistema educacional da província oferece perspectivas na projecção para o conjunto do espaço económico nacional.
No âmbito dos ensinos médio e superior, o objectivo deverá concretizar-se essencialmente através de:

a) Criação de uma escola de magistério primário;
b) Aumento do número de bolsas de estudo para frequência de estabelecimentos de ensino médio e superior em Angola e na metrópole, com vista especialmente à formação dos quadros docentes necessários.

4.º Criação e difusão dos meios necessários de leitura e de conhecimento destinados a impedir os alfabetizados de esquecerem o que aprenderam e a estimular o pensamento e as atitudes positivas na linha do desenvolvimento económico-social que se prossegue.
A realização deste objectivo deverá ser encarada ao nível interprovincial ou mesmo nacional.

5.º Bolsas de estudo.

Sob esta designação cabem todas as medidas que possam conduzir ao aperfeiçoamento profissional - sobretudo no sentido de uma especialização - do pessoal de formação universitária que presta serviço *de carácter não eventual na província.

3. Investimentos

106. Teve-se em conta, para a cobertura escolar primária, o recenseamento escolar referente ao ano de 1965, que acusou uma população de 31 553 crianças, discriminadas por ilhas, como segue:

[Ver tabela de imagem]

Assim, conclui-se que devem ser construídos 97 edifícios escolares, sendo 65 do tipo P, ou seja, com uma sala de aula, 29 do tipo 2, isto é, com duas salas de aula, e 3 do tipo 4, quer dizer, com quatro salas de aula, o que perfaz 135 salas.
Para dotar estes novos edifícios escolares são necessários, numa primeira fase, 9 professores com o curso do magistério primário e 125 professores de posto escolar.

107. Pela insuficiência de instalações e devido à afluência escolar, que de ano para ano vem aumentando, necessita o Liceu de Adriano Moreira de:

Bloco de aulas especiais;
Ampliação das instalações;
Instalações para a Mocidade Portuguesa e Mocidade Portuguesa Feminina.

108. Considera-se também indispensável a ampliação da escola técnica.

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2. Investigação não ligada ao ensino

109. Não havendo na província estabelecimentos de ensino universitário, as actividades de investigação circunscrevem-se ao âmbito não ligado ao ensino. Por outro lado, o estádio e as perspectivas mais favoráveis do desenvolvimento económico do arquipélago levam a concentrar os esforços a realizar nos domínios mais ligados à cartografia, à hidrologia, à investigação agrícola, aos estudos de biologia piscatória e de pesca exploratória e experimental e aos estudos geológicos. Além disso, houve que considerar as necessidades em matéria de estudos de base e de valorização de pessoal de formação universitária.

2.1. Cartografia

a) Cartografia geral

110. Torna-se necessário levar a efeito um levantamento geral das ilhas, à escala e com rigor indispensáveis, em que possam assentar outros empreendimentos, designadamente os que se relacionem com os estudos hidrológicos e o cadastro geométrico da propriedade rústica, para o que poderá utilizar-se, na medida do possível, a cobertura fotográfica disponível para quase todas as ilhas do arquipélago. A extensão da tarefa torna difícil realizá-la para todas as ilhas, sendo, por isso, indispensável estabelecer ordem de prioridades, de modo que, ao findar o III Plano de Fomento, já se disponha de tais instrumentos de trabalho relativamente às ilhas de maior importância.

b) Caria geológica

111. Embora existam já alguns trabalhos sobre a geologia do arquipélago, o que representa um apreciável contributo de valor para execução da sua cartografia geológica, o conhecimento dessa especialidade na província é ainda incompleto. São conhecidas apenas, com certo pormenor e permitindo já um esboço, as ilhas de S. Vicente e de Maio. As ilhas de Santiago, Sal, Boa Vista e Brava são mal conhecidas.

c) Hidrologia

112. Dada a importância dos recursos hidráulicos sobre as condições de vida e de actividade económica que se verificam nas ilhas, constituindo um dos mais importantes problemas de Cabo Verde, é fácil convir que se justifica a existência de um dispositivo afecto à investigação hidrológica e que possa contribuir para um aumento e uma mais racional utilização .de um dos mais escassos recursos naturais do arquipélago, o que lhe confere preferência numa escala de prioridades.

2.2. Investigação aplicada à agricultura

a) Carta de solos

113. Revela-se conveniente completar e aprofundar a cartografia pedológica para efeito de um mais perfeito conhecimento das aptidões agrícolas do arquipélago.

b) Investigação básica

114. Os trabalhos de investigação de base visarão essencialmente a intensificação dos estudos de adaptação ao regadio dos vales de Santiago, onde se prevê ser possível impulso considerável ao seu potencial produtivo, assim como dos estudos de climatologia agrícola que aqueles se ligam.
A reconstituição das pastagens herbáceas visando as ilhas de Maio e Boa Vista, bem como os manejos de cultivos que originem produtos agrícolas susceptíveis de exportação em natureza ou depois de industrializados, como o tabaco, o ananás, o rícino, o coqueiro e a tamareira, são, por outro lado, tarefas que devem também constituir objecto de estudo.

2.3. Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

115. Para entrar na fase inicial de realização do III Plano de Fomento, torna-se necessário, em primeiro lugar, a instalação de uma base em terra, onde os ser viços possam ser montados de forma a oferecerem a eficiência que lhes vai ser exigida. Para tal será imprescindível a aquisição de todo o material e equipamento científico. Terá também de ser montado, logo de início, um pequeno laboratório em terra, destinado a apoiar os trabalhos de mar.
No âmbito dos trabalhos de mar a efectuar com base na província, está prevista a prospecção de uma área com o raio de aproximadamente 2000 milhas e centro no arquipélago. Essa tarefa consistirá, essencialmente, em trabalhos de pesca exploratória e experimental, indispensáveis ao estudo da pesca de tunídeos e das pescas pelágicas com redes envolventes (cerco). Haverá talvez a possibilidade de fazer deslocar a Cabo Verde o navio de estudos Goa.
O programa de pesquisas que se desenvolverá nos anos seguintes obriga à aquisição de um barco com as características mais aconselhadas para o fim a alcançar, isto é, um purse sciner-stern trawler de 30 m a 32 m (100 pés), de aço, ou outro tipo equivalente.

2.4. Coordenação de investigação científica

a) Centro de Estudos

116. Prevê-se que o Centro de Estudos - que é um órgão dependente da Junta de Investigações do Ultramar - possa actuar como pólo de convergência e coordenação dos estudos e trabalhos de natureza científica que interessem a Cabo Verde.
Não está, todavia, prevista a existência de qualquer quadro de pessoal investigador, ficando, pois, a acção a desenvolver condicionada em grande parte à colaboração que lhe possa ser prestada pelos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar e de outras instituições nacionais, e tudo será função dos problemas concretos postos para estudo.
Mesmo assim, e dentro da modalidade sugerida, ser-lhe-ão proporcionados meios - através do Plano de Fomento - para a actividade que se propõe desenvolver.

b) Estudos de base

117. Embora sejam muitas as lacunas a preencher quanto ao conhecimento e recolha de dados básicos, os três pontos que adiante se relacionam são aqueles que parecem respeitar as questões de imediato interesse. São eles:
Obtenção de elementos meteorológicos de base para o estudo de eventual aproveitamento de formas de energia não clássicas, especialmente a solar;
Estudos sobre a população, particularmente nos aspectos ligados à sua nutrição e produtividade;
Estudos de natureza etnográfica, a promover pelos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar.

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Educação e investigação

Programa de investimentos

[Ver tabela de imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

118. De acordo com as estatísticas dos serviços de saúde, a taxa de mortalidade tem diminuído sensivelmente: de 18,3 por mil e 20,6 por mil, em 1953 e 1954, respectivamente, decaiu para 14,5 por mil em 1963 e 10,5 por mil em 1964, depois de ter acusado 11,9 por mil e 11,4 por mil em 1961 e 1962, respectivamente. Parece, assim, poder deduzir-se uma melhoria substancial do nível sanitário, devido aos progressos do sistema hospitalar e ao combate às endemias.
Registam-se, efectivamente, nos vários tipos de formações sanitárias, aumentos quantitativos e expansão dos serviços prestados à comunidade no período de 1953-1964. Os postos sanitários fixos aumentaram de 12 (1953) para 18 (1964), os postos de consulta e tratamento passaram de 9 no primeiro ano considerado para 17 no último ano, o número de dispensários de puericultura triplicou, as enfermarias regionais passaram de 5 para 7, tendo sido criadas, em 1960, uma nova maternidade e uma nova enfermaria de lepra.
O número de crianças inscritas nos dispensários de puericultura aumentou de 1011 (1953) para 2712 (1964), isto é, de 168 por cento, enquanto o número de crianças falecidas baixou de 209 para 89, isto é, diminuiu de 58 por cento.
O paludismo está em franca regressão: de 286 e 175 óbitos registados em 1953 e 1954 passou-se para apenas 2 óbitos em 1964; já desapareceu completamente em várias ilhas.
Foram feitas vacinações pelo B. C. G. nas ilhas do Sal e S. Vicente. Entrou em funcionamento em 1960 uma brigada móvel de vacinação pelo B. C. G. e, até 1962, 78 por cento da população foi vacinada. Outras campanhas contra endemias foram realizadas com maior ou menor extensão.

119. Os três hospitais existentes na província dispõem de 380 leitos: Praia, 200; S. Vicente, 150, e Fogo, 30. As circo enfermarias regionais dispõem de 39 leitos, dos quais 15 na de Santa Catarina (ilha de Santiago). Em conjunto, estavam disponíveis, em 1.962, 419 camas, o que equivale a um leito hospitalar para 512 habitantes.

120. Os médicos que trabalhavam no sector oficial eram em número de 18 de 1953 a 1956, de 20 entre 1958 e 1961, e 21 em 1964.
Enquanto a população aumentou, entre 1953 e 1962, de 37,9 por cento, o pessoal médico e paramédico aumentou de 15,7 por cento no mesmo período.
Quanto à formação de pessoal paramédico, registam-se progressos apreciáveis na escola de enfermagem do hospital da Praia. Formaram-se, em 1962, 17 novos enfermeiros nesta escola e 21 na do hospital do Mindelo.

2. Objectivos

121. Os objectivos neste sector são:

a) O prosseguimento da luta contra as endemias através de campanhas sanitárias que visem, não só o combate a essas doenças, como também a divulgação de educação sanitária básica e a conquista da confiança das populações;

b) O desenvolvimento da rede dos serviços de saúde pelo espessamento da sua malha e pela melhoria progressiva dos estabelecimentos existentes;

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c) A formação do pessoal sanitário dos vários níveis exigidos para o adequado funcionamento dos serviços.

3. Investimentos

122. Na selecção dos objectivos acima definidos teve-se em vista a acção específica dos Serviços de Saúde e Assistência, que continuará criteriosamente a desenvolver-se dentro de uma política geral de progresso económico e social desejado para a província. Por outro lado, não se pode deixar de sublinhar a repercussão benéfica que trarão aos problemas de saúde outras acções dentro dos programas para outros sectores, cuja influência na promoção da saúde é evidente, tais como os planos de habitação, de transportes e comunicações, de fomento agro-pecuário, educacionais e de saneamento básico.

a) Campanhas sanitárias

123. As directrizes gerais que deverão nortear toda a acção neste sector são as seguintes:

A acção principal a desenvolver em Cabo Verde, dentro de um programa de saúde a realizar nos anos mais próximos, deverá mostrar-se orientada no sentido da prevenção das doenças, tanto no âmbito da higiene pública (saneamento) como no que mais directamente incumbe aos serviços de saúde através da medicina preventiva.
A partir destas directrizes, prevêem-se como objectivos concretos de acção os seguintes:
Tuberculose:

1) Intensificação da profilaxia, resultante de uma campanha sanitária de carácter geral, com vista a educar as populações e a ensinar-lhes as regras basilares contra a doença;

2) Busca activa de doentes através de rastreios, designadamente radiofotográficos e bacteriológicos;

3) Funcionamento da conveniente assistência médico-cirúrgica aos enfermos.

Lepra. - Prosseguimento da campanha que vem sendo desenvolvida até completa extinção dos casos existentes.
Ancilostomíase:

1) Intensificação da campanha de controle que vem sendo realizada, designadamente nas mais ilhas meridionais;

2) Desparasitação de massa periódica, para esta e para outras verminoses, e paciente acção educativa das populações rurais, continuando ao mesmo tempo a proporcionar às massas populacionais sistemas simples, e pouco onerosos,, como retretes e fossas para dar destino adequado aos dejectos.

Malária, - Continuação da acção profiláctica contra o vector.
Dermatomicoses:

1) Prosseguimento dos estudos sobre a etiologia;

2) Contrôle da propagação destas infecções.

Vacinações. - Intensificação da vacinação antiva-riólica num ritmo que permita obter a protecção integral da população, com vista à erradicação da pestilência.
Protecção materno-infantil. - Visa-se fundamentalmente a criação escalonada de novos dispensários materno-infantis nas áreas onde eles não existam e o reequipamento e remodelação de alguns dos existentes que ofereçam escassos rendimentos, por forma a torná-los em órgãos mais activos, de finalidade essencialmente profiláctica.
Alimentação e nutrição. - Visa-se proporcionar aos grupos populacionais mais embrionários o equilíbrio nutritivo desejável.

b) Assistência hospitalar

124. As directrizes gerais que deverão nortear toda a acção neste sector são as seguintes:

1) Continuação da construção de hospitais centrais e regionais, com vista à concentração de todos os meios técnicos adequados às suas funções, sem prejuízo de conclusão de obras em curso nos hospitais sub-regionais;
2) Promoção do estabelecimento de carreiras de módicos e de técnicos auxiliares e de condições para a sua fixação nos centros regionais;
3) Estruturação de uma rede de transportes de doentes com elementos do sistema hospitalar;
4) Prosseguimento da política de reapetrechamento hospitalar.

A partir destas directrizes prevêem-se os seguintes objectivos concretos de acção:

1) Continuação das obras do hospital de S. Vicente;
2) Hospital da Ribeira Grande (Santo Antão);
3) Hospital do Sal;
4) Enfermaria para T. P. em S. Vicente;
5) Enfermaria para T. P. em Santa Catarina;
6) Hospital central da Praia;
7) Outras obras a fazer eventualmente.

c) Formação de pessoal técnico e alargamento dos quadros

125. Enquanto as novas instituições do nosso país (escolas técnicas dos Serviços de Saúde e Assistência, tanto na metrópole como no ultramar, bem como a Escola Nacional de Saúde Pública) não principiarem a produzir profissionais do nível desejado, será preciso acudir às necessidades mais próximas, nomeadamente as que vão resultando do impulso concedido à máquina assistêncial, e cuja rentabilidade máxima só pode esperar-se depois de devidamente dotada de pessoal capaz.
A partir desta directriz prevêem-se os seguintes objectivos concretos de acção:

1) Concessão de bolsas a médicos, para seguirem cursos de saúde pública, realizarem estágios de aperfeiçoamento ou tirarem especialidades clínicas, no território nacional ou estrangeiro;
2) Concessão de bolsas a pessoal técnico e administrativo, em geral, dos Serviços de Saúde e Assistência, para várias formas de aperfeiçoamento, em qualquer parte do território nacional ;
3) Apoio ao ensino na escola técnica de enfermagem, sob as formas que forem julgadas mais convenientes;

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1662-(424) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

4) Assalariamento de diplomados pela mesma escola, para estágios de adestramento nos hospitais ou noutras formações sanitárias da província.
Quanto ao alargamento dos quadros de pessoal dos serviços de saúde, ele será extensivo a todas as categorias de pessoal de qualquer dos ramos: técnico, administrativo e de assistência.

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[Ver tabela de imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver tabela de imagem]

II

Guiné

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia da Guiné

1. A economia da província da Guiné situa-se num quadro físico caracterizado por acentuada pobreza orográfica, por uma rede hidrográfica extensa - cerca de 4000 km2 de superfície e susceptível de larga utilização, já que mais de 50 por cento do curso dos seus principais rios são navegáveis -, pela uniformidade das condições climatéricas, por uma gama restrita de recursos do subsolo e por uma grande variedade de solos.

2. Verdadeiro mosaico racial, a população da Guiné apresenta uma estrutura etária do tipo progressivo com predomínio quase absoluto - perto de 90 por cento da população activa - do sector primário, ou mais particularmente da agricultura, silvicultura e pecuária. O ritmo de crescimento não é muito elevado, resultando predominantemente da existência de fluxos migratórios normalmente significativos.
Do ponto de vista social e cultural, verifica-se na população não alienígena, como reflexo de complexidade da sua composição étnica, grande variedade e variabilidade de características sociais e culturais.

3. Dotada de uma rede infra-estrutural, se não perfeita, pelo menos satisfatória para o nível de actividade presente, a economia guineense assenta fundamentalmente no sector agrícola, cuja gama produtiva, em razão do efeito combinado dos factores mesológicos e do processo de desenvolvimento económico, se caracteriza por alto grau de concentração.
A inviabilidade, até agora verificada, da exploração doa recursos mineiros conhecidos, entre os quais se salienta a bauxite, com jazidas estimadas em no milhões de toneladas, as limitações postas pelas características estruturais e dinâmicas da economia a um desenvolvimento significativo da indústria, a natureza essencialmente artesanal das actividades piscatórias, acentuam a importância relativa e absoluta da agricultura no panorama económico da Guiné.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(425)

Apenas, com efeito, o comércio pode ser apontado como actividade relevante neste panorama, no que, aliás, desempenha papel propulsor na incentivação da produção e na progressiva monetarização da economia.

4. Predomínio da economia de subsistência e escassez de espírito empresarial, aliás concentrado nos sectores secundário e terciário, constituem factores de retardamento no processo de crescimento que, não obstante, vem desenhando curva ascendente apreciável.

5. Na óptica das relações económicas externas, a Guiné não se afasta do padrão usual em economias deste tipo. As suas exportações são, de facto, caracterizadas por alto grau de concentração e dependência geográfica e por um ritmo de expansão mais lento do que o observável quanto às importações.
A assistência financeira da Administração Central e a circunstância de uma proporção muito elevada das suas exportações ser absorvida em condições favoráveis pelo mercado metropolitano dão a este quadro feição favorável do ponto de vista da balança de pagamentos.

6. A relativa rigidez das receitas públicas em confronto com a níbida tendência para o crescimento das despesas estaduais, nomeadamente resultante dos aumentos dos encargos com os sectores sociais, torna a província dependente, no que se refere a investimentos, da ajuda financeira da Administração Central. E ainda que se reconheça não ter ainda sido objecto de prospecção aprofundada, aão se afigura provável encontrar na poupança local, nas condições actuais, possibilidades muito latas de mobilização para fins de formação de capital fixo.

2. Evolução demográfica

7. A população, segundo o censo de 1960, é de 544 715 habitantes, correspondendo a uma densidade média de 15 hab./km2.
É escasso o elemento alienígena. A população autóctone compreende cerca de 98 por cento do total e é constituída por diversos agrupamentos étnicos bem diferenciados. Os principais são: os Balantas, que representam cerca de 30 por cento do total de habitantes; os Fulas, 20 por cento; os Manjacos, 14 por cento; os Mandingas, 12,5 por cento; os Papéis, 7 por cento, e os Brames, Beafadas, Bijagós, Felupes, Baiotes e Nalus, todos com quantitativos menores.
A população activa reparte-se pelos três sectores de actividade económica, segundo a proporção de:

Sector primário, 87,8 por cento;
Sector secundário, 3,2 por cento;
Sector terciário, 9 por cento.

8. A taxa anual média de crescimento demográfico situou-se, na década de 1950-1960, em cerca de 0,7 por cento. Este acréscimo natural, obtido a partir dos dados dos censos, deve estar subavaliado, porquanto ignora os fluxos migratórios para o Senegal.
Processam-se migrações de umas regiões para outras, em razão da pressão demográfica, que força as populações a procurarem novas áreas para cultura, e do tipo de agricultura itinerante frequentemente praticado.
As correntes migratórias com o exterior têm tido normalmente duas razões principais: as actividades agrícolas sazonais e a cultura da mancarra nos territórios vizinhos (em particular as transacções comerciais com a Gâmbia e o Senegal).

9. Partindo de uma hipótese, que se reconhece como aceitável, de crescimento demográfico a uma taxa anual cumulativa de 1 por cento, pode estimar-se em 620 000 habitantes a população total em 1973.
A estrutura, etária não deverá modificar-se, prevendo-se que a respectiva distribuição, em 1973, atinja os seguintes efectivos:

Grupos de idades:

Milhares

Até aos 6 anos .............. 155
7-14 anos ................... 80,6
15-60 anos .................. 359,6
Mais de 60 anos ............. 24,8

3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

10. Os valores do rendimento nacional estimados para a Guiné traduzem-se em capitações da ordem de 3400$, em 1953, e 4700$, em 1963.
A evolução do rendimento provincial, a preços constantes, no período de 1953 a 1962, caracterizou-se por movimento nitidamente ascensional.
A distribuição percentual do rendimento nacional pelas suas principais categorias oferece o esquema constante do quadro seguinte:

[Ver tabela de imagem]

O desdobramento do rendimento global em fluxos monetários e fluxos não monetários e a respectiva repartição percentual dos dois circuitos põem em relevo a importância relativa da economia de subsistência, como se pode observar nos quadros seguintes:

[Ver tabela de imagem]

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1662-(426) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver tabela de imagem]

11.0 produto interno bruto revela o predomínio dos ramos de actividade «Agricultura, silvicultura, caça e pesca», «Comércio por grosso e a retalho», «Administração pública e defesa» e «Serviços» (que, em conjunto, representam mais de 95 por cento do produto) sobre os restantes, alguns do quais, como «Electricidade, gás e água», «Transportes, entrepostos e comunicações» e «Propriedade de casas de habitação», não atingem sequer 1 por cento na sua participação relativa. No quadro seguinte indica-se essa participação relativa de cada um dos ramos de actividade económica na formação do produto interno bruto aos preços do mercado nos anos de 1953, 1962 e 1963:

[Ver tabela de imagem]

Pode concluir-se que, com excepção das componentes «Administração pública e defesa» e «Serviços», que melhoraram, e de «Electricidade, gás e água», que estacionou, todas as restantes viram reduzir, em favor daquelas, a sua participação relativa no produto interno bruto.

[Ver tabela de imagem]

(a) A preços correntes.

12. A despesa de consumo privado, que constitui a principal componente da despesa imputada ao produto nacional bruto (72, 85 e 96 por cento, respectivamente em 1953, 1962 e 1963), engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando com cerca de 98,9 por cento do total e estas com uma diminuta percentagem, que, em regra, pouco excede 1 por cento, mostrando como é pequena a importância directa que o sector associativo tem no circuito económico monetário da província.
A despesa de consumo privado, a preços correntes, revela ao longo do período considerado (1953, 1962 e 1963) um movimento ininterruptamente ascensional, que se mantém para os valores a preços constantes, se exceptuarmos uma breve paragem em 1955. Este movimento foi fundamentalmente imprimido pela aquisição de géneros alimentícios, cuja participação total é, em média, da ordem dos 56 por cento e sofre a influência dos bons e maus anos agrícolas, que fazem variar a importância do autoconsumo na economia da Guiné.

A preços correntes

[Ver tabela de imagem]

Página 427

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(427)

A importância relativa das principais componentes da despesa de consumo das famílias pode ser observada no quadro seguinte:

[Ver tabela de imagem]

Os valores da despesa imputada ao produto nacional bruto, cuja evolução apresenta natural similitude com a do produto interno e do rendimento possível, são também relativamente modestos, embora revelando um acréscimo bastante satisfatório (à volta de 6 por cento) por ano. E o dualismo económico da província, com um carácter predominantemente de subsistência, que faz aparecerem baixos esses valores. A inclusão dos fluxos não monetários elevá-los-ia para um nível mais adequado à verdadeira realidade económica.

Despesa imputada ao produto nacional bruto

A preços correntes

Ver tabela de imagem]

Como se observa, a despesa imputada aos fluxos monetários representa apenas, em média, 31,5 por cento do produto nacional bruto global.
No quadro seguinte pode agora ver-se a participação percentual das várias componentes do produto nacional bruto, no qual, como é evidente, a despesa de consumo privado figura em lugar cimeiro com mais de 80 por cento, em média, do total,, revelando, como noutro momento se acentuou, uma satisfatória cadência de crescimento:

[Ver tabela de imagem]

13. Manteve a formação bruta de capital fixo uma cadência acelerada, paralela e semelhante à despesa do sector público, o que se explica por ter sido o sector Estado o principal responsável por essa cadência.

[Ver tabela de imagem]

No decurso do decénio de 1953-1962 a formação bruta
de capital fixo interior, a preços constantes, subiu de
48,4 milhares de contos para 122,2 milhares em 1962.

4. Relações económicas com o exterior

14. O desequilíbrio estrutural há muito acusado pela balança comercial tem-se agravado sensivelmente a partir de 1962.

[Ver tabela de imagem]

(a) Não inclui a importação do Estado a partir de Abril de 1964.

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1662-(428) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

O índice de cobertura das importações palas exportações, salvo o ano excepcional de 1960, tem vindo a retroceder: de 81,6 por cento em 1959 passou para 25,2 por cento em 1965. Este indicador traduz com clareza e simultaneidade os seguintes fenómenos: crescimento rápido das importações no último quadriénio e contracção das exportações.
A dependência da metrópole é muito elevada. Exceptuando 1959, a posição do movimento comercial com o território metropolitano tem sido sempre deficitária, acentuando-se a partir de 1962.
A exportação para os mercados estrangeiros, que nunca foi relevante tem-se reduzido (8920 contos em 1965).
Em contrapartida, as importações têm sofrido notável acréscimo nos últimos quatro anos (119 617 contos em 1965).
Analogamente, as relações comerciais, como as restantes parcelas do ultramar, de pequena importância, têm diminuído quanto a exportações (914 contos em 1965) e aumentado quanto a importações (17 439 contos em 1965).
Entre os produtos importados avultam o arroz, a farinha de trigo, a batata, o vinho, a cerveja, o tabaco, a gasolina, o gasóleo, os medicamentos, os tecidos de algodão, os tambores vazios ou servindo de tara e se viaturas automóveis.

Contos

Designações gerais das mercadorias agrupadas por secções
1961
1962
1963
1964
1965
Animais vivos e produtos do reino animal
Produtos do reino vegetal
Produtos das indústrias alimentares, bebidas alcoólicas e tabacos
Produtos minerais
Produtos de indústrias químicas e conexas
Matérias têxteis e respectivas obras
Metais comuns e respectivas obras
Máquinas e aparelhos; material eléctrico
Material de transporte
Armas e munições
[Ver Tabela na Imagem]

Entre os territórios de origem ocupam posição de relevo a metrópole, o Reino Unido, os Estados Unidos da América, o Malawi, a República Federal da Alemanha, a Holanda, a França e o Canadá. A exportação de quase todos os produtos evidencia certa tendência decrescente.

Produtos
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
Amendoim com casca:

Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Amendoim descascado:

Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Coconete:

Toneladas
Contos
[Ver Tabela na Imagem]

Madeira em bruto:

Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Madeira serrada:

Toneladas
Contos
[Ver Tabela na Imagem]

Couros de gado bovino:

Toneladas
Contos
[Ver Tabela na Imagem]

Peles de outros animais:

Toneladas
Contos

Página 429

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1962-(429)

Produtos

Bagaços de amendoim:

Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Óleo de palma:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Cera animal:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Óleo de amendoim:
Toneladas
contos

[Ver Tabela na Imagem]

Borracha em bruto e prensada:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Castanha de caju:
Toneladas
contos

[Ver Tabela na Imagem]

Gergelim:
Toneladas
contos
[Ver Tabela na Imagem]

Farinha de peixe:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Arroz:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Farelo de arroz:
Toneladas
contos

[Ver Tabela na Imagem]

Bagaços de Coconete:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Purgueira:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

Massa saponificada:
Toneladas
Contos

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Inclui também os bagaços de coconete.
(b) Refere-se apenas à exportação para a metrópole.
(c) Previsão para o total do ano.

É extraordinariamente elevado o grau de concentração das exportações: dois únicos produtos - o amendoim e o coconete - polarizam os fornecimentos da Guiné ao exterior, o que faz com que a sua economia seja altamente vulnerável à condições climatéricas e às flutuações da procura externa. Com a pronunciada baixa na exportação de madeira em bruto e serrada verificou-se um agravamento do nível da concentração em torno dos dois produtos básicos: 89,3 por cento do valor total exportado em 1965 couberam ao amendoim e ao coconete.

O grosso dos produtos exportados pela Guiné tem o seu mercado na metrópole. A província de Cabo Verde é um importador tradicional de óleo de amendoim, madeira e arroz descascado. Entre os raros países importadores estrangeiros apenas interessa fazer menção à República Federal da Alemanha, à Holanda, à Checoslováquia, à França e ao Reino Unido.
Após ter acusado deterioração lenta, o valor médio da tonelada evidenciou uma nítida melhoria em 1964 e 1965.

Página 430

1662-(430) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Pode considerar-se este indicador significativo, dada a natureza bastante uniforme a concentrada das suas exportações.
Em contrapartida, notou-se um decréscimo sensível no valor da tonelada importada a partir de 1961, conclusão, em primeira análise, pouco representativa, em virtude da natureza diversificada das importações e diferentes pesos das suas componentes. Deve-se ter registado, em qualquer caso, uma ligeira melhoria das razões de troca de economia externa guineense.

Preço toneladas exportadas
Preço toneladas exportadas
Anos
Valor escudos
Índice
Valor escudos
Índice
Razão entre
(2) e (4)
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965

[Ver Tabela na Imagem]

15. Apesar dos deficits da balança comercial, a posição face ao exterior, no que respeita aos pagamentos interterritoriais e internacionais, é satisfatória e a província tem podido solver os seus compromissos cambiais, como pode observar-se no quadro seguinte. O deficit considerável apurado em 1963 encontra-se, no presente, totalmente absorvido, mostrando a balança cambial um saldo francamente credor.

Cambiais
1959
1960
1961
1962
1963
(a)
1964
1965
(b)
Arrecadadas:
Crédito da província

[Ver Tabela na Imagem]

Despendidas:
Débito da província
Saldo do exercício
Saldo do ano anterior
Saldo que transita

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Em Março de 1963 entrou em vigor na província o sistema pagamentos interterritoriais, o que provocou uma alteração na contabilidade do movimento
Cambial.
(b) No Período de Janeiro-Outubro.
Esta situação favorável de pagamentos externos deve-se à arrecadação de invisíveis e, particularmente, em 1964 e 1965, às transferências realizadas pelo Estado.
Quanto à origem e proveniência, das divisas, as relações com a metrópole dominam o quadro das transacções correntes e dos movimentos de capitais da Guiné. Seguem - se - lhe em importância, mas já muito distanciados, o estrangeiro e as províncias de Cabo Verde, Angola e Moçambique.

5. Perspectivas de crescimento económico

16. No panorama económico da Guiné nota-se como sector fundamental, no passado, no presente e no futuro, o sector agrícola. Não parece, com efeito, lícito contar com os restantes sectores (com excepção da pesca e da indústria extractiva, neste último caso na condição de se encontrar situação rentável para a exploração das bauxites do Boé e de se confirmarem as expectativas de jazidas de hidrocarbonetos) como propulsores desta economia, mas sim como sectores susceptíveis de expansão induzida.
A análise genérica das características essenciais da agricultura guineense leva a indicar como sentidos mais prometedores da expansão do seu produto, e, por conseguinte, do produto interno global, o aumento da produtividade por unidade de superfície e por agricultor e a diversificação da gama produtiva. Tais sentidos de acção não envolvem volumes de investimentos proporcionais aos acréscimos de produção resultantes, mas implicam a possibilidade de disposição de recursos técnicos amplos, flexíveis o perfeitamente adaptados ao meio em que vão agir através de um esforço intenso de extensão agrária, de combate às doenças o parasitas das plantas e dos animais, de distribuição de sementes e reprodutores melhorados, etc.

Há, além disso, que levar em conta a necessidade de vencer a resistência, alicerçada, em práticas rotineiras e em fundamentos etno-culturais, às inovações, aos métodos de trabalho não familiares, o que é característica das sociedades agrícolas tradicionais em todas as latitudes.

17. A aceleração do processo de integrado da economia do subsistência e a propagação do espírito da empresa, tilo escasso em estruturas sócio-económicas deste tipo, deverão, por outro lado, constituir, na programação do desenvolvimento da província, outra linha de preocupação e de os-

Página 431

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(431)

forços a prosseguir, não apenas através do efeito de demonstração e do apoio decidido às novas iniciativas e aos novos empresários, mas também por uma intensa actividade do informação e educação.
Daí o significado económico de toda a acção a desenvolver no campo da promoção social através da educação, da melhoria das condições de vida, da assistência sanitária, do combate à a grandes endemias e da subida o enriquecimento do nível alimentar das populações não alienígenas, acção esta cujo impulso essencial se encontra no propósito do valorização humana que constitui constante da acção portuguesa no mundo.

18. Como apoio a todo este complexo de acções, haverá que prosseguir e ampliar a obra realizada em matéria de infra-estruturas, nomeadamente no que diz respeito ao completamento da rede rodoviária e de comunicações, a melhoria dos portos disponíveis e a aceleração dos investimentos de natureza social, cuja disponibilidade representa normalmente para as populações guineense sinal mais evidente da utilidade do planeamento sócio-económico e impulso mais decisivo para uma maior comparticipação na obra a realizar.

CAPITULO II

Objectivos

19. No caso particular da Guiné, os objectivos gerais devem ser explicitados atendendo à necessidade de:

a) Assegurar um ritmo de acréscimo do produto provincial mais acelerado do que na metrópole, de modo a tentar diminuir o desnível verificado;
b) Procurar reduzir as disparidades de padrões de vida e níveis de rendimento dos estratos, sócio-económicos em que se reparte a estrutura social da população, nomeadamente através de três grandes ordens de esforços:

Promoção social da população do sector tradicional, em particular dos pontos de vista cultural, sanitário o alimentar;
Fomento de actividades que promovam a integração do autóctone nos circuitos de economia de mercado;
Dar muito vincada ênfase às medidas e incentivos que concorram para a expansão do sector empresarial.

Neste contexto, importa, porém, notar ter sido considerado urgente que através do III Plano se realizasse um equilíbrio entre classes de investimentos programados , por forma a que não fossem prejudicados os seus objectivos, nem um grau suficiente de produtividade dos empreendimentos, nem a estabilidade financeira provincial. Houve que ponderar a selecção dos novos investimentos, com a preocupação dominante de evitar desperdícios e resolver de maneira satisfatória a opção ao nível das prioridades, entre investimentos de menor período de maturação e mais directa reprodutividade e investimentos de repercussões menos visíveis e mais diferidos (investigação, experimentação, estudos básicos incidentes sobre os vários sectores e infra-estruturas económicas o sociais).

20. Em virtude da presente conjuntura a da dificuldade em se aproveitarem as tendências do passado e as perspectivas do presente para extrapolar as projecções de desenvolvimento futuro, afigurou-se pouco operante a aplicação da metodologia correntemente seguida na construção de modelos de crescimento.
O grau de relevância da economia monetária e a fraca densidade da estrutura e cobertura empresarial não permitem a formulação em termos válidos de modelo formal de desenvolvimento.

21. Convém ainda referir que, para absorver o acréscimo demográfico no período do III Plano, som entrar em linha de conta com uma eventual política de transferência de população activa subempregada no sector primário, haverá que criar os seguintes novos empregos nos sectores secundário e terciário:

Anos: Empregos

1968 3 388
1969 3 422
1970 3 455
1971 3 491
1972 3 525
1973 3 560

A política económica em geral, e a agrícola em particular, deverão, pois, contar com um aumento substancial da população na agricultura a visar uma utilização mais intensiva da população activa rural subempregada e em expansão, em ordem à melhoria das produtividades da terra e do trabalho.

CAPITULO II

Financiamento do programa provincial
de investimentos

1. Administração Central

22. O recurso a esta fonte de financiamento assegurou nos anteriores planos de fomento a cobertura quase total dos investimentos nela inscritos.
Com efeito, aquela ajuda só não cobriu integralmente, como se pode ver no quadro seguinte, os investimentos no II Plano, em que abrangeu apenas 64,4 por cento do total.

Ajuda financeira da metrópole
Percentagens
Planos de fomento
Total de investimentos
Orçamentada
Despendidas
(2)em(1)
(3)em (1)
I Plano
II Plano
Plano Intercalar(a
Plano Intercalar(1965-1966-1967)

Página 432

1662-(432) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

23. Para o III Plano a única hipótese de financiamento para os empreendimentos previstos no programa imperativo resido na assistência financeira da Administração Central.
De facto, não se afigura possível esperar qualquer contribuição de poupança pública local para o financiamento de programas de investimentos para o III Plano. Poderão, no entanto, vir a sor afectadas para este efeito as- rendas a pagar pela concessionária de pesquisas petrolíferas.
Não se oferecendo às finanças provinciais quaisquer possibilidades de financiamento, também não haverá lugar a referências às possibilidades da administração local, daquela tão Intimamente dependente, ou de entidades para
públicas.

2. Administração provincial

24. De acordo com as estimativas provisórias das contas provinciais em 1962, era de 21,3 por cento a razão entre as despesas públicas (ordinárias o extraordinárias) e a despesa imputada ao produto provincial bruto a pregos de mercado (despesa provincial); e de 26,8 por cento a proporção entre as receitas públicas (ordinárias e extraordinárias) e o rendimento provincial. A despesa de consumo do Estado participava em 18,4 por cento na despesa provincial.

25. O quadro seguinte esclarece sobre a evolução das receitas ordinárias e extraordinárias arrecadadas:

Receitas públicas

Receitas
1959
1960
1961
1962
1963
1964
Ordinárias (valores em contos)

Números - índices

Extraordinárias (valores em contos)

Números - Índices

Total (valores em contos)

Números - Índices

[Ver Tabela na Imagem]

Observa-se que, a despeito da situação anormal, as receitas totais cresceram regularmente, tendo contribuído especialmente para o acréscimo global o incremento das receitas extraordinárias. As receitas ordinárias cobradas evoluíram, por classes, da forma seguinte:

Capitais
Receita
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1.º

Impostos directos gerais (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

2.º
Impostos indirectos
Contos
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

3.º
Indústrias em regime
Tributário especial
(contos)

[Ver Tabela na Imagem]

4.º
Taxas - Rendimentos de diversos serviços
(contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

5.º
Domínio privado, empresas e indústrias do Estado - Participação de lucros (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

6.º
Rendimento de capitais, acções e obrigações de bancos e companhias (contos)

[Ver Tabela na Imagem]

7.º
Reembolso e reposições
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

8.º
Consignação de receitas (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

Soma

129 264
112 705
127 743
134 945
140 676
153 266

26. A tendência de evolução das receitas extraordinárias foi dominada, no hexénio em análise, por duas forças de sentidos opostos: o decrescimento, até à anulação em 1964, do "Rendimento de concessões petrolíferas" e o acentuado crescimento dos empréstimos da metrópole ao abrigo dos planos de fomento. Em 1966 foi afectada ao financia-

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7 DE NOVEMBRO DE 1907 1662-(433)

mento do Plano Intercalar de Fomento a importância de 40 000 contos, correspondente à renda de concessão petrolífera, renovada no princípio do ano, devida pelo ano de 1966 e pela antecipação de 25 por cento das rendas dos quatro anos imediatamente seguintes:

MILHARES DE CONTOS
Fontes de financiamento
1959
1960
1961
1962
1963
1964
Saldos de anos económicos findos

[Ver Tabela na Imagem]

Rendimento de concessões petrolíferas

1[Ver Tabela na Imagem]

Empréstimo da metrópole

[Ver Tabela na Imagem]

Outros recursos
[Ver Tabela na Imagem]

27. É de frisar a "recuperação" das despesas públicas, quer ordinárias, quer extraordinárias, a partir de 1962, e em especial de 1963 para 1964.

Despesas
1959
1960
1961
1962
1963
1964
Ordinárias (contos)
Números - Índices

[Ver Tabela na Imagem]

Extraordinárias (contos)
Números Índices

[Ver Tabela na Imagem]

Total (contos)
Números Índices

[Ver Tabela na Imagem]

No mapa abaixo discriminam-se as variações das despesas ordinárias por capítulos:

capítulos
Designação da despesa
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1.º
Dívida da província (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

2.º
Governo da província e representação nacional (contos)
Índices
[Ver Tabela na Imagem]

3.º
Aposentação, jubilações,
Pensões e reformas (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

4.º
Administração geral e fiscalização (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

5.º
Serviços de Fazenda (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

6.º
Serviços de justiça (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

7.º
Serviços de fomento (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

8.º
Defesa nacional - Forças armadas (contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

9.º
Serviços de marinha (contos)
Índices

Página 434

1662-(434) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Capítulos
Designação da despesa
1959
1960
1961
1962
1963
1964
10.º
Encargos gerais
(contos)
Índices

[Ver Tabela na Imagem]

11.º
Exercícios findos (contos)
Índice

[Ver Tabela na Imagem]

Total de contos
126 250
112 393
123 662
131 456
138 005
148 673

Índices
[Ver Tabela na Imagem]

28. As despesas extraordinárias foram quase exclusivamente cobertas pelas verbas provenientes das fontes de financiamento indicadas na rubrica relativa a despesas extraordinárias:

Milhares de contos
Despesas extraordinárias
[Ver Tabela na Imagem]
Planos de fomento
[Ver Tabela na Imagem]
Aproveitamento de recursos - Agricultura, silvicultura e pecuária

[Ver Tabela na Imagem]

Electricidade e indústria - Pesca

[Ver Tabela na Imagem]

Comunicações e transportes
[Ver Tabela na Imagem]

Instrução
[Ver Tabela na Imagem]

Equipamento de serviços públicos

[Ver Tabela na Imagem]

Outras despesas extraordinárias

[Ver Tabela na Imagem]

29. Do exposto se conclui que a província não pode contar com segurança com recursos financeiros próprios para cobertura dos investimentos para o seu desenvolvimento.

3. Instituições de crédito

30. O crédito privado é praticado quase exclusivamente pelo único estabelecimento bancário da província, a filial do Banco Nacional Ultramarino, sob a forma de crédito comercial a curto e médio prazos. Este Banco contribuiu também para o financiamento do Plano Intercalar de Fomento através de um empréstimo ao Governo provincial no montante de 12 000 contos, aplicado no sector dos transportes e comunicações.
Funciona também uma Caixa Económica Postal, que outorga crédito sobre garantia imobiliária e vencimentos. A escassez do seu volume de depósitos impõe-lhe um papel muito limitado como eventual fonte de financiamento do desenvolvimento.
A "Caixa. de Crédito", já criada e cujo objectivo é a concessão de crédito agrícola, pecuário, industrial e imobiliário com vista ao desenvolvimento económico-social da Guiné, é o primeiro instituto de crédito especializado verdadeiramente orientado para a satisfação das necessidades do financiamento da economia provincial.
Para além do financiamento dos empreendimentos previstos no III Plano, nos sectores de obras publicar em autarquias locais o da comparticipação no crédito predial há ainda possibilidade de os bancos comparticiparam também no capital e investimentos no sector privado.

4. Particulares e empresas

31. Admite-se poder dispor-se, em capitais de origem externa, de um montante de 394 000 contos para a pesquisa de hidrocarbonetos naturais. A este quantitativo
poderão juntar-se, provenientes de autofinanciamento de empresas, da mobilização da poupança local ou do recurso destes ao crédito externo, os montantes necessários para financiar, com o sector público, a instalação de novas
empresas de pesca e transformação de pescado, da primeira fase do entreposto frigorífico de Bissau e para montagem de outros complexos fabris de bebidas refrigerantes.
A mobilização da poupança local de empresas e famílias é ponto a considerar, assim como, no processo de desenvolvimento, a possível participação do Banco de Fomento Nacional.

Resumo do programa de financiamento

[Ver Tabela na Imagem]
Fontes de financiamento
Milhares de contos
Percentagens
Total
Fontes nacionais
Estado
Administração Central
Administração provincial
p. m.
Administração local
Organismos autónomos
Fundos
Institutos de crédito e empresas seguradoras
Caixas económicas
Banco de Fomento Nacional
p.m.
Bancos comerciais
p.m.
Empresas seguradoras
Particulares e empresas
Autofinanciamento
Fontes externas
Financiamentos puros ou para a aquisição de equipamento
Investimentos directos

CAPÍTULO IV

Programas sectoriais

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

32. A Guiné apresenta uma estrutura típica das economias do continente africano. Efectivamente, observa-se a coexistência de um sector da economia de subsistência ou

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7 DE NOVEMBRO DE 19U7 1662-(435)

tradicional, no qual vive a grande massa da população, e de um sector de economia de mercado ou monetário. Segundo estimativas de 1962, o primeiro participa com 71,2 por cento no rendimento nacional e o segundo com 28,9 por cento.
Por isso, o desenvolvimento económico terá de processar-se alicerçado no fomento e comercialização da agricultura tradicional e na implantação de indústrias transformadoras de produtos agrícolas.

33. Para já, importa sobremaneira, em ordem ao estabelecimento das funções de uma lavoura racional e ao incremento da sua produtividade:

a) Promover a transformação das técnicas agrícolas, mediante um esforço simultâneo de investigação básica, experimentação e vulgarização;

b) Tomar medidas para a conservação da fertilidade dos solos;

c) Introduzir métodos intensivo s de cultivo a culturas regadas (hortas e pomares) que ajudem, paralelamente, à resolução dos problemas do desemprego estacional;

d) Abandonar o puro regime colector, substituindo-o, progressivamente, por uma economia de plantação;

e) Vencer a monocultura, realizando uma diversificação de culturas que subtrais a província à vulnerabilidade do seu comércio exportador:

f)Rever o regime de comercialização dos produtos;

g) Montar um sistema de crédito e de incentivos à criação de unidades básicas cooperativas (armazéns e celeiros comerciais, cooperativas agro-pecuárias, etc.), sobra as quais ele fie possa apoiar para actuar eficazmente.

34. Julga-se oportuno dar uma nota sobre os principais produtos da actividade agrícola e silvícola e programas do valorização em curso de execução, a par de uma brava análise prospectiva. Tentar-se-á apenas chamar a atenção para os aspectos fundamentais, limitando, tanto quanto possível, o âmbito das considerações.

Arroz de bolanha

O arroz constitui a base da alimentação dos povos guineenses. Sendo a cultura alimentar de maior interesse, é também a cultura mais rendosa para o agricultor.

Médias máximas - 1800 - 2000 kg/ha;
Médias mínimas - 300 - 600 kg/ha.

Culturas de sequeiro

Nas culturas de sequeiro, o esforço desenvolvido não é de forma alguma compensado pelos magros resultados que se conseguem, utilizando as técnicas tradicionais. Atente-se só nas produtividades atingidas:

Arroz de sequeiro:

Área cultivada - 28 265 ha (5,9 por cento da área total);
Produção total - 10 030 t;
Produção unitária geral - 355 kg/ha.

Milhos (asil, cavalo e preto)

Área cultivada - 154 621 há (32,1 por cento da área total);
Produção total - 49 796 t;

Produção unitária geral - 322 kg/ha.

Precedida frequentemente de derruba e queimada, a cultura do arroz de sequeiro e de milhos tem sido um dos principais responsáveis pelos danos causados na floresta e factor importante de destruição da fertilidade dos soios.
O arroz de sequeiro e os milhos são frequentemente cultivados em sistema de rotação com a mancarra (cereal-mancarra-pousio) ou em regime de consociação com ela.

Fundo

Área cultivada - 33 438 ha (6,9 por cento da área total);

Produção total - 9717 t;

Produção unitária geral - 291 kg/ha.

Mandioca

O fomento da mandioca reveste-se de uma certa relevância, pela riqueza de virtualidades que apresenta nos aspectos alimentar e industrial. Efectivamente, na mandioca, praticamente, tudo é aproveitável. Do ponto de vista nutricional, o tubérculo constitui um alimento relativamente pobre e desequilibrado; embora de valor calórico suficiente, é escasso o seu conteúdo de proteínas, sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e vitaminas. Porém, resiste bem às irregularidades climáticas e supre, sem grandes inconvenientes, a falta de outras substâncias alimentares. Já, ao contrário, as folhas da mandioca soo mais ricas naqueles componentes que qualquer das hortaliças vulgares.
O fomento da sua cultura estaria indicado, pois:

a) Actuaria como mola diversificadora da agricultura tradicional;

b) Constituiria uma aplicação rendosa para o trabalho do agricultor. Segundo estudos efectuados, são vulgares produtividades da ordem das 20-25 t/ha, para o que é apenas suficiente uma certa disciplina nas técnicas de cultivo e uma conveniente selecção de variedades. Em culturas evoluídas, recorrendo a uma intensificação de capital, atingem-se produções unitárias entre 40-60 t/ha e superiores.

Convém, todavia, frisar que uma política de cultura do mandioca deve ser apontada à luz de dois factores:

Possibilidades de absorção da produção pelos mercados interno e externo, posto que a sua colocação poderá encontrar dificuldades, em confronto não só com os grandes exportadores (Brasil, Indonésia, Madagáscar), mas também com outras províncias ultramarinas (Angola e Moçambique).

Flutuações das cotações internas e, sobretudo, internacionais, visto que a procura da mandioca está fortemente condicionada pela produção de outros amidos, designadamente dos extraídos da batata, do milho e do arroz.

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1662-(436) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Amendoim

Numa estimativa efectuada recentemente pelos Serviços de Agricultura e Florestas, com base nos quantitativos de sementes distribuídos, calculou-se a área actualmente cultivada como sendo superior a 28 500 ha.
A cultura da mancarra é, em regra, feita pelo agricultor, autóctone, sem boas sementes, nem adubações ou estrumações. Trata-se de uma cultura que lhe proporciona fracos réditos e é das que lhe exigem maior esforço na sementeira, monda e colheita. A rigidez do aparelho de comercialização da mancarra, de que depende o grosso da exportação guineense, as baixas cotações e as produções unitárias são factores desencorajantes, que apenas se mantêm devido ao regime monocultural dominante e, por consequência, à precariedade ou inexistência de outras fontes de rendimento.
Abstraindo do objectivo primário, que é o combate à monocultura, as medidas a tomar a favor do fomento desta araquídea deverão visar:

A disseminação de sementes melhoradas;
O recurso às adubações;
O emprego de métodos racionais de cultivo;
A industrialização.

Palmeira-do-azeite

Os povoamentos naturais de palmeira-do-azeite - Elaeis guineensis - encontram-se dispersos em florestas e savanas pôr quase todo o território, mas concentram-se, especialmente, em mais vastas e densas manchas, no arquipélago dos Bijagós, na circunscrição de S. Domingos (regiões de Varela e Susana), no concelho de Cacheu (regiões de Cacheu, Calequisse, Catió, ilhas de Jeta e Pecixe) e no concelho de Bissau (Prábis). Encontram-se ainda, aglomerados de certa importância nas regiões de Bissorã e Olossato, na floresta do Oio, junto dos rios Geba e Corubal, em Bedanda, Empada e Catió.
As linhas mestras que devem reger a política de fomento e aproveitamento desta oleaginosa já estão traçadas em variados estudos.
O desenvolvimento da oleicultura só é viável pela actuação em profundidade e intensidade numa única região, com o fim de estabelecer, a curto prazo, uma plantação suficiente para o abastecimento de uma unidade de produção de óleo de polpa, coconote e tourteaux, e dimensionada à escala do mercado internacional.
Em 1966, foi recuperada e posta a funcionar, a expensas e sob administração directa do Governo provincial, a antiga fábrica de óleo de Bubaque, parecendo impor-se um prévio estudo técnico-económico com o objectivo de montar uma nova unidade, dimensionada em moldes modernos, não descurando embora o reaproveitamento do complexo infra-estrutural já existente.
Na ilha Formosa estão também a funcionar duas pequenas unidades fabris de óleo de palma, apoiadas na colecta dos palmares naturais, cada qual com uma capacidade de laboração diária de 8 t de fruto.

Fruteiras. Bananeira

São pouco variadas as culturas frutícolas na Guiné: bananeira, ananás, citrinas (laranjeira e limoeiro), papaieira, mangueira, coleira, cajueiro e coqueiro. Contràriamente ao que seria de desejar, nenhuma delas jamais foi objecto de programa que se possa qualificar como de valorização e de expansão.
O ananás apresenta perspectivas merecedoras de atenção, quanto mais não seja, numa fase inicial, para consumo interno. A papaieira e a mangueira são espécies cuja abundância e adaptabilidade particular à ecologia guineense justificam, só por si, desde que sujeitas a uma prévia selecção e intensificação das variedades mais apreciadas, um aproveitamento orientado directamente para o mercado e fabrico de compotas. A cola poderia também vir a ocupar lugar de relevo na exportação provincial, para o que se carece de medidas apropriadas de intensificação e racionalização da cultura.
Na Guiné, as zonas do litoral sul, especialmente a região de Cacine, parecem apresentar condições mais favoráveis para o fomento bananícola. Convém frisar, porém, que as zonas eleitas deverão ter superfícies capazes de produzir quantitativos tais que justifiquem econòmicamente as infra-estruturas de escoamento que haja que criar, e a consideração desta determinante elimina automàticamente a prática de uma bananicultura dispersa.
A industrialização da banana, nomeadamente no que concerne ao fabrico de farinha de banana, tem um carácter meramente subsidiário, não se crendo que seja determinante muito válida para o fomento da cultura.

Florestas

Embora se encontrem algumas manchas de floresta seca densa em S. Domingos, nas regiões de Catió, Catanhês e Cacine, é a floresta seca aberta que constitui o tipo dominante na província, desenvolvendo-se principalmente nas regiões do sublitoral e cobrindo uma faixa no sentido norte-sul, que abrange as regiões de Farim, Olossado, Mansabá, Mansoa, parte do concelho de Bafatá e Fulacunda. São conhecidas, pela sua importância, as florestas de Guedage, Oio, Xime e Fulacunda. Depara-se também floresta hidrófila ao longo das margens dos cursos de água (florestas de galena) e do litoral.
De momento não será viável lançar uma política da repovoamento florestal através de uma acção conjugada nos domínios da investigação e da execução. No entanto, dadas as relações fundamentais que existem entre florestas, fertilidade do solo, erosão e bualização, afigura-se ser a floresta, para além dos aspectos económicos, uma das formas, de ocupação da terra guineense mais justificada.

Outras culturas e actividades agrícolas

a) Culturas alimentares

Cultiva-se o feijão um pouco por toda a província, muitas vezes em sistema de rotação ou de consociação com a mancarra e os milhos. A despeito das baixas produções unitárias, conviria talvez, do ponto de vista nutricional, incentivar o cultivo desta leguminosa. Encontra-se, também, com certa frequência, a batata-doce e o inhame.

b) Culturas industriais

No ramo das oleaginosas, o gergelim e a purgueira são de diminuto interesse comercial e peso insignificante na exportação. O primeiro fornece um óleo alimentar; a segunda é empregada no levantamento de sebes e o seu óleo tem aplicação na indústria de saboaria.
Relativamente às possibilidades da indústria açucareira na Guiné, parece estar demonstrada a inviabilidade da instalação racional de um empreendimento à escala industrial.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(437)

A cultura do cajueiro tem tomado, nos últimos anos, um grande desenvolvimento, dando lugar à exportação da castanha de caju para Moçambique, onde é industrializada, enquanto não se justifica a montagem de uma unidade fabril na província.
A borracha na Guiné é principalmente extraída de uma trepadeira, a Landolphia, cuja dispersão pelas matas da província torna pouco rendosa a recolha. Também aqui, h semelhança dos palmares naturais, dominou sempre o regime meramente colector; a produção, muito irregular, andou sempre ao sabor das flutuações das cotações internacionais e das perturbações político-económico social nos grandes centros produtores. De uma maneira geral, a linha do tendência da exportação tem sido pronunciadamente decrescente.

As áreas de Bafatá e do Gabu e as extensas savanas e florestas da região de Farim parecem apresentar condições particularmente favoráveis para o desenvolvimento apícola. A criação de apiários experimentais está ainda numa fase muito embrionária - alguns foram montados - recentemente no Posto Agrícola do Pessubé.

A produção pecuária

Em 1961, os efectivos pecuários da província eram os seguintes:

Espécies: Número de cabeças

Bovina 230 286
Ovina 53 859
Caprina 143 712
Suína 98 206
Asinina 3 858
Equina 64
Galináceos 492 865
Palmípedes 7 566
Perus 210
Pintadas 2 571
Coelhos 137

Face a estes números, não se mostrará paradoxal a afirmação de que o gado existente parece ser suficiente para as necessidades actuais, se bem que uma mais fácil acessibilidade aos centros consumidores e uma radicação ou generalização do hábito de comer carne por parte dos autóctones fossem susceptíveis de incrementarem sensivelmente o consumo. Mas a asserção é tanto mais verdadeira quanto é certo que a província, por ora, não apresenta condições propícias ao desenvolvimento pecuário, designadamente por falta de pastos,' forragens a de assistência técnico-sanitária apropriada.
Os objectivos que devem guiar a política pecuária são os seguintes:

a) Promover o estabelecimento e alargamento de um serviço operante de assistência técnica por meio de agentes pecuários;

b) Educar o proprietário ou criador de gado em moldes realistas, segundo as modernas concepções da técnica.

Ainda dentro do sector da pecuária, falta fazer uma referência à produção de couros e peles, que o ganadeiro autóctone curte por processos rudimentares. Estes dois produtos têm um certo peso na exportação.

2. objectivos

35. Consideram-se os seguintes objectivos:

1. Agricultura

Promover a transformação das técnicas agrícolas tradicionais, vencendo a quase monocultura e tomando medidas para a conservação da fertilidade dos solos;
Rever o regime de comercialização dos produtos e montar um sistema de crédito que leve h criação de novas empresas agrícolas e de estruturas pré-cooperativas ou cooperativas.

2. Silvicultura

Melhoria da, utilização aos produtos florestais; Protecção e regeneração do coberto arbóreo; Expansão da plantação ao árvores fornecedoras ao recursos suplementares (frutos, forragens e lenhas).

3. Pecuária

Melhoramento das raças locais; Melhoramento da exploração das mesmas; Intensificação da assistência veterinária; Combato às doenças enzoóticas e epizoóticas.

3. Investimentos

36. Estabelece-se o seguinte programa de actuação:

1. Fomento de recursos agro-silvo-pastoris

1.1. Agricultura

a) Montagem de um parque de utensilagem agrícola manual e de tracção animal, adaptado às condições tropicais e promoção do fabrico local da mesma utensilagem;

b) Remodelação e ampliação do parque de tractores agrícolas, de modo a poder cumprir os trabalhos de desbravamento necessário à expansão dos cultivos da palmeira-do-azeite, cajueiro e mandioca, ou de novas áreas para arroz onde a disponibilidade da mão-de-obra o justifique;

c) Organização da secção de vulgarização a animação rural;

d) Ampliação e manutenção do viveiro do palmeira-do-azeite (Elaeis guineensis) na ilha de Bubaque o estabelecimento de um viveiro na ilha das Galinhas;

e) Reconversão dos 1043 ha de palmar natural da reserva da ilha de Bubaque;

f) Plantação de 200 ha de palmeira-do-azeite na região do Prábis (ilha de Bissau), de acordo com o plano do centro piloto;

g) Plantação de um núcleo de 10 ha de bananeiras na ilha de Bissau para multiplicação de plantas o estudo;

h) Estabelecimento de 400 ha, de mandioca nos concelhos de Bafatá e Gabu, acompanhando a expansão do cajueiro;

i) Estabelecimento de 800 ha, de mandioca no concelho de Bissau;

Página 438

1662-(438) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

j)Lançamento de uma campanha de intensificação da cultura de amendoim através do recurso à animação, tracção animal e adubação;

l) Desenvolvimento da apicultura nos concelhos de Bissau, Cacheu, Bafatá e Gabu;

m) Lançamento de uma acção de intensificação a cultura orizícola.

1.2. Silvicultura

a) Delimitação de uma reserva integral;

b) Recolha de sementes das espécies mais valiosas para ensaios do germinação;

C) Construção e manutenção de cinco pequenos viveiros florestais contíguos às cinco explorações "escola-granja" previstas;

d) Plantação nas comunidades rurais do Gabu e Bafatá de 2400 ha de cajuais;

é) Plantação na ilha de Bissau de 2000 ha de cajuais;

f)Plantação de 200 ha de cajuais na ilha das Galinhas.

1.3. Pecuária

a) Aproveitamento de terrenos na Estação de Fomento Pecuário do Pessubé e Estação Zootécnica de Bissorã para a produção de ferragens;

b) Ocupação pecuária e técnica dos postos de sanidade pecuária de Bolama, Mansos e S. Domingos;

c) Aquisição de material para a conservação de rações;

d) Construção e apetrechamento de um laboratório em Bissorã;

e) Aquisição de soros, vacinas e carracicidas;

f) Montagem de seis chuveiros aspersores;

g) Aquisição de medicamentos;

h) Aquisição de suplementos alimentares.

2. Esquema de regadio e povoamento

Estabelecimento de um centro-piloto de desenvolvimento rural para 25 famílias autóctones na região de Prábis (concelho de Bissau) com 100 ha de terra regados pelo aproveitamento de águas subterrâneas.

3. Crédito Agrícola

Dotação da Caixa de Crédito Agrícola da Guiné com o objectivo de financiar empreendimentos privados.

Agricultura, silvicultura o pecuária

Programa da Investimentos

Contos
Empreendimentos
1968
1969
1970
1971
1972
1973
Total
Fomento de recursos agro-silvo-pastoris
Montagem, remodelação e ampliação do parques de utensilagem manual, animal e mecânica
Ampliação e manutenção do viveiro de palmeira-do-azeite
plantação de 200 ha e reconversão de 1043 ha de palmar natural
Organização da secção de vulgarização e animação rural
Plantação de um núcleo de l0 há de bananeiras
Estabelecimento de 1200 ha de mandioca
Lançamento de uma campanha de intensificação da cultura de amendoim
Desenvolvimento da apicultura
Intensificação de cultura, orizícola
Delimitação de uma reserva florestal integral
Recolha de sementes para ensaios de germinação e construção e manutenção de viveiros florestais
Plantação de 4600 ha, de cajuais
Aproveitamento de terrenos nas estações de fomento pecuário
Ocupação pecuária e técnica
Aquisição de suplementos alimentares é material para a sua conservação
Construção e apetrechamento de um laboratório em Bissorã, aquisição de soros, vacinas e outros medicamentos o instalações carracicidas
Esquemas de regadio e povoamento
Estabelecimento de um centro-piloto de desenvolvimento rural
Crédito agrícola

Total...

Página 439

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(439)

11) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

37. A evolução da actividade piscatória foi, nas suas linhas gerais, a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

38. Estes dados reportam-se em exclusivo à chamada "pesca, industrial". A par desta, há que contar com a pesca de subsisténcia, ou artesanal, feita em pirogas - "dondos" -, segundo as rudimentares artes tradcionais, e que ocupará à volta de um milhar de pescadores, cada um dos quais deve retirar, em média, dos águas píscosas em que opera (Biíagós, Bíssau, Bolama e Cacheu, principalmente), cerca de 600 kglano. A faina piscatória, neste sector, evidencia o carácter tipicamente estacional: na época seca, em especial no período de Fevereiro a Maio, a quase total paralisação dos trabalhos agr1colas, motiva uma maior participagilo da populaçao activa na pesca.

39. 0 número de actividades complementares ou induzidas pela pesas é diminuto e de pouca relevo.
Existe, com efeito, apenas uma fábrica de farinha de extracção de óleo de peixe, de reduzida dimensão a dotada de equipamentos obsoletos. Está instalada na ilha de Caravela (Bijagós). De produção e exportação intermitentes, a fábrica deve absorver, em época de funcionamento normal, cerca de 2400 t de peixe por ano. Além disso, regista-se a existêncis. de unidades artesanais de preparação rudimentar de peixe seco ou fumado para consumo e uma pequena unidade de produção de gelo para conservação do pescado. Dentro da preocupação de dotar' a província com rede de frio, criaram-se, no âmbito do Flano Intercalar, instalações frigoríficas com o dimensionamento conveniente para o abastecimento interno.

2. Objeclivos

40. Os fins a alcançar no III Flano de Fomento visam:
Povoamento piscícola das águas interiores;
Regularização do consumo interno de peixe, com medidas que promovam o aumento e melhoria, da frota pesqueira;
Montagem de rede de frio, a efectivar em esquema de conjunto no quadro dos investimentos a realizar no sector do comércio;
Renovação das indústrias transformadoras do pescado;
Regulamentação do exercício das entidades de pesca e afina.

3. Investimentos

41. No âmbito deste sector prevá-se o seguinte programa.

1. Pesca

a) Povoamento piscícola, das águas interiores; b) Construção de pequenas embarcações; c) Subsídios a armadores - aquisição de embarcações de pesca de arrasto e de moderno equpamento de bordo; d) Ajudas à navegação de pesca.

2. Industrialização

Instalação de novas empresas de pesca e de transformação de pescado.

passa

Programa de Invesilmentos

Pescas .
Povoamento piscicola das à ias interiores Construção de pequenas embarcações
Subsídios a armadores - Aquisição de embarcações de pesca de arrasto o de moderno equipamento de
bordo ... ... ... . .
Ajudas à navegação de pesca . .
Industrialização ... .
Instalação de novas empreemdimentos de pesca o de transformação de pescado . .
Total ... ... ...

[Ver tabela na Imagem]

Página 440

1662-(440) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Indústrias extractivas

42. Os estudos de geologia de superfície, realizados por numerosos geólogos nacionais e estrangeiros, e os trabalhos de geologia profunda efectuados por iniciativa ao Governo da província levaram a um conhecimento geológico da Guiné Portuguesa que permite desde já a publicação de uma carta geológica, o estabelecimento de um programa de prospecção mineira e a elaboração de um esboço hidrogeológico.

43. Até agora a prospecção de jazigos minerais incidiu apenas sobre o petróleo e os conjuntos ilmenite-zircónio o alumínio-vanádio, aos quais se atribuíram reservas totais da ordem dos 110 milhões de toneladas de minério, que se considera pobre, mas aproveitável. Na pesquisa, e exploração de petróleo, procedeu-se ao pré-reconhecimento geológico de toda a província e ao reconhecimento sistemático da mancha ceno-mesozóica, efectuando para o efeito estudos gravimétricos e sísmicos, sondagens estratigráficas e profundas, algumas acompanhadas de diagramas sónicos, nucleares e eléctricos, não se tendo descoberto petróleo. Reiniciados os trabalhos de 1966, após nova concessão, vem sendo feita intensa prospecção sísmica na área marítima.

S. Indústrias transformadoras

44. É diminuto o significado das indústrias transformadoras existentes na economia da província; com eleito, absorvem uma parcela minúscula da população activa: pelo censo de 1950, não deveria sequer atingir os 2 por cento, e abrangia um número escasso de actividades e unidades, reduzindo-se praticamente ao aproveitamento de trás produtos - o amendoim, o arroz e o cachéu e a algum artesanato de carácter mais ou manos rudimentar. Muito baixo é também o grau de transformação operado o a laboração é, em geral, intermitente. Por conseguinte, é pouco importante o valor acrescentado. Em 1962, a parte do produto interno bruto a pregos de mercado originados pelas indústrias manufactureiras não excederia 1,2 por cento.
A produção industrial no período ao 1959-1965 foi a que consta do mapa seguinte:

Produtos e subprodutos
Unidades

[Ver tabela na Imagem]

Arroz descascado
Toneladas

[Ver tabela na Imagem]

Farelo
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Amendoim descascado (a)
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Óleo de amendoim
Quilolitros
[Ver tabela na Imagem]

Resíduos de amendoim
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Coconote descascado
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Óleo de coconote
Quilolitros
[Ver tabela na Imagem]

Resíduos de coconote
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Óleo de palma (b)
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Sabão
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Farinha de peixe
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Sumos
Quilolitros
[Ver tabela na Imagem]

Refrigerantes (c)
1000 garrafas
[Ver tabela na Imagem]

Gelo
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

Pão
Toneladas
[Ver tabela na Imagem]

(a) Estes dados referem-se só à produção das principais explorações fabris declarada aos serviços de economia. A exportação de amendoim descascado tem sido muito superior.
(a) Quantidade exportada
(a) A produção de limonada ocupa o 1º lugar, seguida da de laranjas.
(a) Quantidade exportada para a metrópole.

Produtos

Base
[Ver tabela na Imagem]

Arroz descascado
Amendoim descascado
Óleo de amendoim
Coconote descascado
Óleo de palma
Sabão
Farinha de peixe
Refrigerantes
Gelo

Nos últimos três anos, as produções de arroz descascado, óleo de palma e farinha de peixe caíram verticalmente. Decresceram também as produções de sabão e refrigerantes. Apenas manteve um passo regular do crescimento a extracção de óleo de amendoim.

45. Sobre as perspectivas, a mais ou menos largo prazo, no campo das indústrias transformadores a complementares da agricultura, silvicultura, pecuária a pesca, apresenta-se a seguir um quadro de potencialidades, que não tem, de forma alguma, a pretensão de ser exaustivo.

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a) Com base na oferta interna disponível de matérias-primas:

Industrialização integral do amendoim (expansão do descasque, extracção completa de óleo e valorização dos bagaços esgotados);
Extracção do óleo de coconote e produção de tourteaux.

b) Com base na oferta interna potencial de matérias-primas:

Farinação de mandioca (por via seca, numa primeira fase), como integrante do desenvolvimento da cultura em curso, prevendo-se uma unidade com a capacidade mínima de 1500 t anuais (1200 t para consumo interno - incorporação de 20 por cento de farinha de mandioca no fabrico do pão - e 300 t para exportação com destino a Cabo Verde);
Extracção de óleo de palma no arquipélago de Bijagós, recorrendo a um sistema de exploração simultânea do palmar natural e do palmar plantado até ao completo abandono do primeiro, ao cabo de dez anos;
Melhoria e expansão da produção de refrigerantes;
Preparação de álcool industrial e aguardente;
Melhor aproveitamento dos produtos florestais:

Reestruturação (e possível concentração) e modernização da indústria de serração de madeira;
Desenvolvimento da carpintaria e da confecção de mobiliário;

Intensificação do fabrico de sabões;
Extracção e preparação industrial do mel e cera;
Curtimenta artesanal;
Conservação, farinação e extracção de óleos de peixe.

c) Com base na laboração local de matérias-primas predominantemente importadas e com o objectivo fundamental de substituição de importações de produtos acabados:

Produção de cervejas;
Moagem;
Massas alimentícias, bolachas e biscoitos;
Fabrico de artefactos de plástico (nomeadamente utensílios domésticos e sandálias);
Calçado;
Fabricação de material e utensilagem agrícola simples;
Fabrico de produtos cerâmicos e modernização de cerâmica (telhas e tijolos);
Montagem de uma unidade metalúrgica de fundição (2.ª fusão) e de uma pequena unidade metalomecânica eventualmente integradas.

d) Outras indústrias:

Vulcanização e recauchutagem;
Modernização da pequena indústria de construções e reparações navais;
Aperfeiçoamento e valorização de artesanato no que se refere a ourivesaria, cestaria, tecelagem e estampagem de panos.

2. Objectivos

46. Os objectivos em vista são os seguintes:

1. Indústrias extractivas

Elaboração da carta hidrogeológica do plano geral de captação de águas;
Verificação do interesse dos diversos objectivos minerais;
Pesquisas de hidrocarbonetos naturais.

2. Indústrias transformadoras

Lançamento de novas indústrias transformadoras, em especial as complementares da agricultura;
Canalização de capitais internos e externos para a indústria.

3. Investimentos

47. No decorrer do III Plano de Fomento prevêem-se os seguintes trabalhos:

1. Indústrias extractivas

a) Estudo e aproveitamento dos meios de obtenção de água doce:

1) Elaboração da carta hidrogeológica;
2) Execução do plano da captação de águas.

b) Fomento mineiro:

1) Estudo em relação com os objectivos já consignados no Plano Intercalar de pesquisa de ilmenites, colites ferruginosas, fosfates e quartzo;
2) Pesquisas de hidrocarbonetos naturais.

2. Indústrias transformadoras

a) Estudos;
b) Ampliação, renovação e criação de novas indústrias:

1) Montagem de novos complexos fabris;
2) Dotação de uma sociedade financeira de fomento.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

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[ver tabela na imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

48. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autònomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII "Habitação e melhoramentos locais".

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

49. Sendo o relevo da Guiné muito simples, dominando as planícies, peneplanícies e os planaltos baixos - só no região do Boé, nos contrafortes do Futa-Jalon, adquire algum vigor, apesar de as elevações não ultrapassarem 300 m de altitude -, não há, em geral, lugar para aproveitamentos hidroeléctricos. Apenas se tem insistido na necessidade de averiguar as possibilidades de aproveitamento dos rápidos do Saltinho do rio Corubal.
Toda a energia eléctrica da província é produzida por via térmica. Em 31 de Dezembro de 1964 estavam ao serviço as centrais térmicas enunciadas no quadro seguinte:

[ver quadro na imagem]

Em 1965 a potência instalada era de 3284 kW e o consumo atingia 4 219 000 k Wh.

2. Objectivos

50. A valorização urbana e rural constitui o objectivo fundamental, a obter mediante o fornecimento de energia eléctrica a diversas povoações, quer com a aquisição e montagem de grupos geradores, quer com a remodelação e ampliação de redes já existentes.

3. Investimentos

51. Estabelece-se o seguinte programa de actuação:

1. Estudos, produção, transporte e distribuição

a) Câmara Municipal de Bissau:

1) Central eléctrica. - Montagem de um 4.º gerador, edifícios e obras no recinto vedado da central e apetrechamento da oficina;
2) Linha do aeroporto. - Fornecimento e montagem do cabo de alimentação da zona até ao aero-

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(443)

porto, em 15 kV, transformadores, material de corte e protecção;
3) Ampliação e remodelação gradual da rede de distribuição de baixa tensão existente, incluindo a eventual alimentação de novos bairros a construir nas zonas de desenvolvimento previstas na cidade de Bissau.

b) Bafatá:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 150 kVA e um quadro eléctrico;
2) Remodelação e ampliação da rede de distribuição eléctrica.

c) Bambadinea:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 49,5 kVA e outro de 50 kVA;
2) Edifício para a central;
3) Rede de distribuição.

d) Bubaque:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 60 kVA e um quadro eléctrico;
2) Remodelação e ampliação da rede eléctrica de distribuição.

e) S. Domingos:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 30 kVA e quadro eléctrico;
2) Adaptação e ampliação do edifício da central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

f) Ingorei:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

g) Susana:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

h) Mansoa:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 100 kVA e um quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

j) Catió:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 75 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

l) Bissorã:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 60 kVA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

m) Bolama:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 160 kVA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

n) Teixeira Pinto:

1) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

o) Calequisse:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

p) Pelundo:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

q) Pecixe:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 15 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

r) Nova Lamego:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 113 kVA e um quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

s) Sonago:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 32 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

t) Piche:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 20 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

u) Pirada:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 20 k VA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

v) Farim:

1) Aquisição e montagem de dois grupos geradores de 100 kVA e um quadro eléctrico;
2) Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

x) Mansabá:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

z) Olossado:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 25 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Edifício para a central;
3) Rede eléctrica de distribuição.

a') Fulacunda:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 75 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

b') Empada:

1) Aquisição e montagem de um grupo gerador de 50 kVA e respectivo quadro eléctrico;
2) Rede eléctrica de distribuição.

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1662-(444) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Energia

Programa de Investimentos

[ver tabela na imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

Rede de armazenagem e de frio

52. Na província havia, em 1964, 70 celeiros comunais para mancarra, com a capacidade de armazenagem de 4775 t e 10 para arroz, com capacidade para 500 t.
A actual capacidade de fabrico de gelo das principais empresas privadas de Bissau, que se dedicam a esta actividade para conservação de pescado e fornecimento ao público, é de 18 800 kg/24 horas. Em 1965 esta capacidade ficou acrescida com a montagem de mais uma máquina de produção de gelo. Na ilha Caravela existe uma instalação com a capacidade de 1800 kg/24 horas.

2. Objectivos

53. A regularização do abastecimento interno está dependente da montagem de mais câmaras frigoríficas em Bissau, para frescos (câmaras para frutos e para legumes), para peixe (câmaras de refrigeração e armazenagem) e para carne (túnel de congelação e câmaras de refrigeração e de armazenagem).
Nos objectivos compreende-se também a instalação de pequenos armários refrigeradores em diversas localidades.

3. Investimentos

54. A dotação compreendida no Plano destina-se a custear os empreendimentos na coluna a seguir discriminados.

1. Frescos

a) Câmara para conservação de frutas com capacidade para 6000 kg (temperatura: +1º/+5ºC);
b) Câmara para conservação de legumes com capacidade para 4000 kg (temperatura: +1º/+5ºC).

2. Peixe

a) Câmara de refrigeração com capacidade para 15 000 kg (temperatura: 0ºC);
b) Câmara de armazenagem com capacidade para 10 000 kg (temperatura: - 20ºC).

3. Carne

a) Túnel de congelação rápida com a capacidade de congelação de 500 kg/24 horas (temperatura no evaporador: -40º/45ºC);
b) Câmara de beneficiação e armazenagem com capacidade para 15 000 kg (temperatura: -20ºC);
c) Câmara de refrigeração com capacidade para 5000 kg (temperatura: 0ºC).

Finalmente, a instalação fora de Bissau, e especialmente em Nova Lamego, Teixeira Pinto, Farim, Bafatá, Bissorã, Bubaque e Catió, de pequenos armários refrigeradores com capacidade para 500 kg de pescado, semelhantes ao que já existe em Bolama.
A distribuição de peixe fresco pelos centros potencialmente consumidores localizados no interior está condicionada pelo acesso rápido a esses centros, quer por via aérea, quer por via fluvial, e pelo tipo de embalagem que será forçoso adoptar (caixa isotérmica ou não).

Circuitos de distribuição

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

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VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Rede rodoviária

55. A extensão total da rede de estradas é de 3102 km, assim distribuídos:

Quilómetros
Estradas pavimentadas asfaltadas de 1.ª classe ................. 61
Estradas de terra compactada de 1.ª classe ..................... 521
Estradas de terra compactada de 2.ª classe ..................... 550
Picadas e caminhos ............................................. 1 970
3 102

Em 1965 estavam em circulação na província 2642 veículos automóveis, sendo 1632 ligeiros, 672 pesados e 338 motociclos.
A rede de carreiras regulares de transporte colectivo de passageiros tem, no presente, uma baixa densidade de circuitos, explorados por empresas que dispõem, salvas raras excepções, de uma frota de viaturas sem condições adequadas de conforto ou de higiene. Os itinerários actuais cobrem apenas Bissau-Mansoa, Bissau-Biambo, Bissau-Cacheu (via João Landim, servindo Safim, Bula, Có, Pelundo, Tenxeira Pinto e Cacheu), Teixeira Pinto-Caió e Bissau-Prábis.

b) Portos, navegação marítima, fluvial e costeira

56. O porto de Bissau é o único conjunto portuário da província. Polariza o grosso da importação, exportação e cabotagem. Está já em execução a construção de um novo cais de cabotagem e pesca (cais de Bolola), com 320 III de muralha ao longo da margem direita, para montante da ponte existente, que irá substituir o velho cais do Pijiguiti (agora asfaltado). Neste serão implantadas novas edificações dos Serviços de Marinha, e será abandonado logo que o novo entre ao serviço. Para jusante das oficinas navais estão a ser iniciados os trabalhos de construção de um plano inclinado, que muito beneficiará a assistência técnica, alagens, carenagens, fabricos diversos aos navios e embarcações com um comprimento e uma arqueação bruta até cerca de 45 m e 300 t, respectivamente. As dragagens que vão ser efectuadas na testa da actual ponte possibilitarão a atracação de navios de maior calado. No entanto, a curto prazo, e em face do elevado investimento que isso representará, não se prevê a ampliação dos braços do T. Vão ser erguidos mais quatro armazéns de tráfego e estabelecido um novo parque de material.
Em 1964 escalaram o porto 85 navios de longo curso, provenientes do exterior da província. O movimento de carga e descarga ascendeu a 124 885 t de produtos; embarcaram-se 29 576 t; desembarcaram-se 69 632 t; a cabotagem participou no total com 25 677 t. No 1.º semestre de 1965, o tráfego de navios e de carga registado foi de 46 e 70 833 t, respectivamente.
Depois de Bissau, os principais portos abertos à navegação são Bambadinca, Binta, Buba e Bolama. Os três primeiros vão ser dotados com obras acostáveis que lhes propiciem um mínimo de condições de desenvolvimento. Bambadinca, quando se concretizar a abertura da estrada asfaltada ligando a Mansoa, virá presumivelmente a ocupar o segundo lugar entre os portos da província, por ora detido por Binta (rio Cacheu), que possui já um cais com dois pontões de madeira. Bolama, porto de excelentes condições naturais, dispõe de uma ponte fixa de cimento com cerca de 130 m de comprimento.
Encontram-se ainda cais acostáveis de estrutura muito rudimentar em Binar, Cabedu, Cachil, Cacine, Enxudé, Empada, Farim, Jeta, Bubaque, S. Domingos. S. João e Teixeira Pinto, entre outras localidades.

c) Transportes aéreos e aeroportos

57. Além do aeroporto internacional de Bissau, com uma pista asfaltada de 2400 m, a província está suficientemente ocupada por campos de aterragem de terra batida, de comprimento variável entre 2200 m e 500 m.
A TAP explora as carreiras semanais com a metrópole. O tráfego interior está a cargo dos T. A. G. P., que desfrutam agora de autonomia administrativa e financeira.
A frota dos T. A. G. P. compõe-se, actualmente, de dois aviões Heron (quadrimotores com lotação para 17 passageiros ou capacidade para 1300 kg de carga), três Dornier 37 (monomotores para 5 passageiros ou disponibilidade de 500 kg), um Cessna (monomotor para 3 passageiros ou uma disponibilidade de 300 kg) e dois Auster (monomotor para 2 passageiros).
Apesar da modéstia dos meios disponíveis, a cobertura aérea da província parece satisfazer as necessidades actuais; no entanto, o desenvolvimento esperado das actividades virá requerer ampliação da frota.

d) Telecomunicações

58. Estão em curso de execução ou estudo os empreendimentos já previstos no Plano Intercalar, tais como rede interna de VHF e emissores regionais da Emissora Nacional e seu apetrechamento (baixa frequência).
As actuais dificuldades de transporte terrestre têm agravado o problema da conservação da rede interna de VHF e impedido que os equipamentos sejam submetidos aos ensaios de rotina recomendados pelos fabricantes.

2. Objectivos

1. Transportes rodoviários

59. Tem-se em vista fundamentalmente o alargamento e a melhoria da rede rodoviária, quer pela abertura de novas estradas pavimentadas, quer pela pavimentação de estradas já existentes, quer ainda pela construção de obras de arte especiais (pontes). Assim, o apetrechamento e manutenção da brigada de estudos e construções de estradas, a aquisição de equipamento mecânico para os Serviços de Obras Públicas e a reorganização das oficinas de obras públicas tornam-se indispensáveis.

2. Portos e navegação marítima, fluvial e costeira

Portos

60. Os objectivos compreendem a ampliação e beneficiação das infra-estruturas dos portos secundários e de Bissau, incluindo dragagens de acessos, melhoria de obras acostáveis, construções de pontes-cais e aquisição de material portuário diverso.
Nos portos secundários estão englobados os de Teixeira Pinto, Cacheu, S. Domingos, Binta, Bigene, Farim, Bambadinca, Buba, Empada, Catió, Fulacunda e Cacine.

Navegação marítima, fluvial e costeira

61. Pretende-se melhorar o sistema de transportes pelo aperfeiçoamento das comunicações fluviais e interinsulares.

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1662-(446) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

62. Os objectivos incluem o conveniente melhoramento do aeroporto de Bissau, de forma a satisfazer as necessidades do tráfego aéreo.

Transportes aéreos

63. A actividade da TAP evoluirá no sentido de estabelecer a ligação com Cabo Verde.

4. Telecomunicações

64; Tem-se em vista o melhoramento das comunicações telefónicas de Bissau, o adensamento da rede interna de VHF e a melhoria das comunicações com o exterior, em especial com a metrópole.

3. Investimentos

65. A dotação consignada no III Plano de Fomento destina-se a custear os seguintes empreendimentos:

1. Transportes rodoviários

a) Obras de arte especiais:

1) Ponte sobre o rio Geba, em Bambadinca;
2) Ponte sobre o rio Cacheu, em Farim;
3) Ponte sobre o rio Pulon, em Xitole;
4) Ponte sobre o rio Cole;
5) Ponte sobre o rio Corubal;

b) Terraplenagens, obras de arte correntes e pavimentação:

1) Troço Bambadinca-Jugudul (58 km);
2) Troço Bafatá-Nova Lamego (51 km);
3) Troco Safim-Bula (23 km);
4) Troço Bambadinca-Aldeia Formosa (70 km);
5) Troço Nova Lamego-Buruntuma (66 km);
6) Troço Bula-Varela (125 km);
7) Troço Cacine-Aldeia Formosa (67,5 km);

c) Aquisição de equipamento mecânico;
d) Apetrechamento das oficinas de obras públicas;
e) Manutenção da brigada de estudos e construção de estradas.

2. Portos e navegação marítima, fluvial e costeira

a) Dragagem do porto de Bolama;
b) Dragagem do acesso à ponte-cais de Bissau;
c) Melhoria dos portos da zona central (Bissau, Bambadinca, Bafatá, Enxudé, Bolama e Bubaque);
d) Melhoria dos portos da zona norte (Teixeira Pinto, Cacheu, S. Domingos, Binta, Bigene e Farim);
e) Melhoria dos portos da zona sul (Buba, Empada, Catió e Cacine);
f) Construção de estacarias em cibes na área dos Bijagós;
g) Construção da ponte-cais de Fulacunda;
h) Apetrechamento do porto de Bambadinca;
i) Aquisição de um bate-estacas;
j) Aquisição de um rebocador para o porto de Bissau;
l) Aquisição de dois ferry-boats;
m) Aquisição de uma embarcação para pilotos;
n) Aquisição de sobresselentes para jangada;
o) Aquisição de uma jangada tipo Mansoa.

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

a) Construção de um novo hangar e despesas com a infra-estrutura provincial;
b) Iluminação da plataforma, equipamento contra incêndios, equipamento de desobstrução, equipamento de limpeza e conservação, equipamento oficinal, mobiliário técnico, viaturas, telecomunicações, ampliação do terminal, beneficiação e aproveitamento de infra-estruturas.

Transportes aéreos

Os investimentos estão em relação com o melhoramento do aeroporto de Bissau.

4. Telecomunicações

a) Comunicações telefónicas de Bissau;
b) Melhoria das comunicações com o exterior:

1. Telecomunicações com a metrópole: aquisição de um segundo emissor de 7,5/10 kW e de um receptor HR 21;
2. Transferência do centro receptor;
3. Aquisição do grupo electrogéneo de 100 kVA para a central privativa do centro emissor;
4. Três conjuntos de máquinas teleimpressoras;

c) Adensamento da rede interna de VHF (equipamentos T 700);
d) Edifícios para as estacões telégrafo-postais de Bafatá e Farim;
e) Encargos com a execução dos empreendimentos;
f) Montagem de um centro apetrechado com dois sistemas emissores de ondas médias de 50 kW, com sistema especial de antenas direccionais, aquisição do respectivo equipamento e construção das instalações.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(447)

[ver tabela na imagem]

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

66. Há neste sector, uma obra, em plena execução, que merece uma referência de realce pela sua envergadura: a construção de um novo bairro social - Bairro da Ajuda - junto à estrada para o aeroporto de Bissalanca.
Das 240 casas previstas, estavam já erguidas 83 em fins de 1966. O mercado estava em vias de conclusão. Já existia um edifício para estabelecimentos comerciais. Estava já em construção um conjunto escolar. Previa-se ainda construir uma igreja católica, uma mesquita, um posto médico e dois lavadouros públicos.
Do ponto de vista urbanístico, o bairro está funcionalmente concebido: casas rectangulares com cobertura de zinco, ruas amplas e balneários comunais dispersos. A prejudicar as condições ambientais, faz-se sentir, de momento, a falta de zonas verdes. Por outro lado, a distância a que o bairro se encontra de Bissau (local normal de trabalho) vem pôr o problema dos transportes colectivos regulares, inexistentes na capital.
Pelo Fundo de construção de casas para funcionários foram construídas, em 1964, seis moradias económicas.

2. Objectivos

67. Tem-se em vista a melhoria de nível habitacional das classes populares e dos funcionários e a resolução dos problemas decorrentes do afluxo de população aos centros urbanos, da reinstalação de populações e do acréscimo demográfico.
As necessidades básicas da população, no que se refere a abastecimento de água, saneamento, infra-estruturas urbanísticas e fornecimento de energia eléctrica, constituem um dos objectivos a visar.

3. Investimentos

68. São os seguintes os empreendimentos propostos:

a) Habitação

a) Concelho da Bafatá:

1) Construção de um bairro de 60 moradias populares, tipo Bairro da Ajuda de Bissau;
2) Construção de um bairro de habitações económicas para funcionários junto do Bairro da Bocha;
3) Ampliação e urbanização do Bairro da Rocha.

b) Concelho de Bissau:

1) Urbanização e construção de um bairro para funcionários da Câmara Municipal;
2) Construção de um bairro residencial para professores do ensino secundário e bloco com dez apartamentos;
3) Construção de residência para pessoal médico e de enfermagem.

c) Concelho de Bissorã:

1) Construção de 20 habitações populares, tipo Bairro da Ajuda;
2) Construção de quatro bairros com 50 casas cada um para população deslocada;
3) Construção de duas casas com duas moradias geminadas para funcionários.

d) Concelho de Bolama:

1) Construção de um bairro popular, tipo Bairro da Ajuda, e construção de casas de renda económica.

e) Concelho de Cacheu:

1) Construção de dois bairros tipo Bairro da Ajuda.

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1662-(448) DIÁRIO DAS SEMOES N.º 88

f) Concelho de Catió:

1) Construção de um bairro popular na vila de Catió e ampliação do bairro para guardas da polícia administrativa.

g) Concelho de Gabu:

1) Construção de um bairro popular, tipo Bairro da Ajuda, em Nova Lamego;
2) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Sonaco;
3) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Piche;
4) Construção de um bairro, tipo Bairro da Ajuda, em Pirada.

h) Concelho de Mansoa:

1) Construção de bairros para a população autóctone;
2) Bairro de seis moradias para funcionalismo.

i) Circunscrição de S. Domingos:

1) Habitação para funcionários administrativos;
2) Habitações para polícia em Ingorei;
3) Habitações para polícia no posto Susana;
4) Habitações para polícia no posto de Sedengal.

b) Melhoramentos locais

a) Administração do concelho de Bafatá:

1) Abastecimento de água do Bairro da Rocha;
2) Abastecimento de água de Bambadinca;
3) Consolidação e encascalhamento das ruas dos Bairos da Rocha, Ponta Nova e Nema;
4) Asfaltagem dos traçados da Avenida do Império e da Rua de 28 de Maio.

b) Administração do concelho do Bissau:

1) Abastecimento de água das populações de Safim, Biombo e Prábis.

c) Câmara Municipal de Bissau:

1) Aumento da capacidade de captação de água e beneficiação da estrutura já existente;
2) Ampliação e remodelação da rede urbana de distribuição de água, com eventual construção de depósitos elevados;
3) Execução da rede de esgotos para a zona urbana e suburbana;
4) Construção de uma estação de tratamento do afluente dos esgotos;
5) Pavimentação e drenagem dos arruamentos principais dos bairros suburbanos e melhoramento dos arruamentos existentes;
6) Construção de um novo mercado municipal;
7) Construção de um novo estádio municipal com capacidade para 12 000 pessoas;
8) Construção de um parque municipal com piscina.

d) Administração do concelho de Bissorã:

1) Melhoria da captação de água e do abastecimento da vila.

e) Administração do concelho de Bolama:

1) Construção de fontes e poços em povoações;
2) Substituição de parte do sistema de abastecimento de água.

f) Administração do concelho de Cacheu:

1) Abastecimento de água das povoações de Calequisse, Caió e Cacheu;
2) Rede de esgotos dos bairros a construir;
3) Asfaltagem da rua principal de Teixeira Pinto.

g) Administração do concelho de Catió:

1) Abastecimento de água da vila de Catió.

h) Administração do concelho de Gabu:

1) Abastecimento de água da vila de Nova Lamego;
2) Abastecimento de água da povoação de Sonaco;
3) Abastecimento de água de outras localidades do concelho;
4) Construção de uma fonte e pequeno lavadouro;
5) Início da construção de uma rede de esgotos na vila de Nova Lamego;
6) Asfaltamento de ruas na vila de Nova Lamego;
7) Urbanização da zona onde se. instalarão os futuros bairros.

í) Administração do concelho de Mansoa:

1) Ampliação e apetrechamento do sistema de abastecimento de água da vila de Mansoa;
2) Construção de sanitários colectivos, balneários e fontanários públicos;
3) Redes de esgotos pluviais;
4) Melhoramentos dos arruamentos e alinhamento das edificações nos Bairros de Luanda e S. Tomé;
5) Urbanização de povoações para populações reinstaladas.

j) Administração da circunscrição de Bijagós:

1) Ampliação do actual sistema de abastecimento de água em Bubaque.

l) Administração da circunscrição de D. Domingos:

1) Abastecimento de água das povoações da circunscrição;
2) Construção de um mercado em Ingorei.

Habitação e melhoramentos locais

Programas de investimentos

[ver tabela na imagem]

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IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

69. Factores vários têm condicionado a expansão da procura turística interna e externa e a acção no domínio turístico.

2. Objectivos

70. O objectivo primário é a valorização progressiva dos pólos de atracção turística potenciais - Bissau, arquipélago dos Bijagós (ilhas de Bubaque Bubane e Caravela), ilha de Bolama e praia de Varela, com o lançamento das infra-estruturas indispensáveis.

3. Investimentos

71. São os seguintes os empreendimentos turísticos para os próximos seis anos:

a) Construção de uma pousada na ilha de Bubaque;
b) Construção de residências para turistas tipo bungalow em Bubaque;
c) Alargamento e beneficiação da estrada de Buba-que-Bruce;
d) Beneficiação do hotel de turismo de Bolama, do restaurante e demais instalações da praia de Ofir (Bolama);
e) Construção de uma piscina em Ofir;
f) Valorização da praia de Quinhamel (Biombo, ilha de Bissau), com restaurante, esplanada e piscina;
g) Restauração e beneficiação das instalações da praia de Varela;
h) Aquisição de uma embarcação veloz para ligações rápidas entre Bissau, Bolama e Bubaque:
i) Aquisição de uma embarcação para carreiras interinsulares e excursões turísticas;
j) Aquisição de uma pequena embarcação para pesca desportiva;
l) Aquisição de dois autocarros turísticos, um para Bubaque e outro para Bolama;
m) Criação e manutenção de uma oficina de artesanato em Bissau;
n) Edição de literatura turística de propaganda (pequenas publicações, cartazes, folhetos e desdobráveis);
o) Aquisição de aparelhagem cinematográfica de projecção.

Turismo

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

X - Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais Educação

a) Ensino primário

72. As taxas de escolaridade têm-se mantido constantes. Admitindo que a população em idade escolar (7-14 anos) representa cerca de 13 por cento da população total, virá:

[ver tabela na imagem]

b) Ensino secundário

Ensino liceal

73. Há um único estabelecimento de ensino liceal na província, o Liceu de Honório Barreto, que. Entrou em funcionamento no ano lectivo de 1958-1959. Os dados sobre o respectivo movimento constam do quadro seguinte:

[ver quadro na imagem]

Ensino técnico e profissional

74. A Escola Industrial e Comercial de Bissau foi instituída em 1959. Funcionam nesta escola, além do ciclo preparatório, os cursos de formação feminina, comercial, de serralheiros e de montadores electricistas.

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[ver tabela na imagem]

A frequência total de alunos, ò número de professores e a percentagem de aproveitamento, evoluiu da forma seguinte desde a fundação da escola:

[ver tabela na imagem]

Algumas conclusões imediatas se podem inferir:

a) A frequência tem aumentado substancialmente, em particular nos dois últimos anos;
b) O curso que tem despertado maior interesse é o comercial (curso geral de comércio);
c) Até ao presente ano lectivo, apenas funcionavam duas secções de formação industrial; já depois de iniciado o ano, foi criado um curso de carpintaria; a frequência destes cursos é ainda manifestamente insuficiente para ocorrer às necessidades de formação acelerada de operários especializados de que a província tanto carece.

Importa ainda referir que as instalações e o apetrechamento escolares são satisfatórios.

75. Dentro do ensino técnico podem ainda inserir-se os seguintes estabelecimentos escolares:

1) Escola de artes e ofícios.
2) Escola de enfermagem. - Funciona no Hospital de Bissau. No período de 1959-1964 formou 29 enfermeiros (curso geral), 44 enfermeiras auxiliares (curso elementar) e 57 parteiras auxiliares (curso elementar).
3) Escola-Oficina da Repartição Provincial dos Serviços de Obras Públicas e Transportes. - Começou a funcionar em 1959 nas oficinas das obras públicas. Dos alunos matriculados naquele ano, em número de 19, concluíram o curso, que tem a duração de 5 anos:

7 em mecânica (dos quais 1 em desenho de maquinas);
1 em electricidade;
1 em montador-electricista.

76. Para ocorrer às necessidades de pessoal técnico especializado de formação universitária atribuíram-se rio decorrer do Plano bolsas de estudo.
A evolução nos anos seguintes pode examinar-se no quadro junto:

[ver quadro na imagem]

2. Objectivos

1. Educação

77. Pretende-se fundamentalmente elevar o nível cultural da população, com a generalização progressiva do ensino primário, o incremento da frequência do ensino secundário e o aumento das possibilidades de acesso ao ensino médio e superior (bolsas de estudo).

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral e geológica

78. Prevê-se o prosseguimento dos trabalhos com vista à elaboração da carta de solos; estudo da fertilidade de solos; inventariação de zonas com interesse para o povoamento agrário; melhoramento de plantas alimentares; conhecimento dos recursos mineiros do território, e estudo do aproveitamento dos meios, de obtenção de água doce.

b) Meteorologia

79. Como objectivos a visar indica-se:

1) Apetrechamento do aeroporto de Bissau, com vista a satisfazer as necessidades operacionais dos aviões de reacção;
2) Apetrechamento do Serviço Meteorológico, por forma a poder cumprir as recomendações da I. C. A. O., relativas à elaboração de previsões meteorológicas;
3) Ampliação e melhoria da rede meteorológica interna;
4) Melhoria da estação solarigráfica de Bissau;
5) Levantamento geomagnético complementar.

c) Investigação aplicada à agricultura

80. Tem-se em vista estabelecer um equilíbrio entre as disponibilidades das pastagens e a densidade de pe-

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curação, determinar o valor forrageiro das plantas a introduzir e dos resíduos de exploração agrícola, estudar a fenação e a ensilagem e estabelecer prados artificiais para gado.

d) Estudos de biologia piscatória

81. O objectivo a alcançar no III Plano de Fomento é o conhecimento do inventário da fauna marinha.

e) Coordenação de investigação científica

82. Sob esta rubrica incluem-se:

Estudos de base:

Estudos sobre problemas demográficos da província; trabalhos no campo da contabilidade nacional e documentação técnico-económica;
Bolsas de estudo para pessoal com formação universitária.

3. Investimentos

83. Incluem-se os seguintes empreendimentos a serem custeados durante o III Plano de Fomento.

1. Educação

a) Escolas: em Farina, Chão de Papel e Santa Luzia;
b) Escolas-granjas: em Bandim, Contubo-El, Teixeira Pinto, Mansaja, Galoupa-Aguiar;
c) Postos escolares: em Casse, Binar, Bula, Caio, Calequisse, Colina do Norte, Mansabé, Galoupa, Cã-Sissé, Porto Gole, ilha Roxa, Buba, Tite, Sedengal e Susana;
d) Apetrechamento das novas unidades escolares;
e) Apetrechamento do liceu;
f) Apetrechamento da escola técnica;
g) Apetrechamento de una lar para 40 raparigas;
h) Bolsas de estudo.

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral e geológica:

1) Continuação do levantamento hidrográfico;
2) Carta de vegetação;
3) Cobertura fotogeológica;
4) Elaboração da carta geológica.

b) Meteorologia:

1) Um radar-vento, um radar-tempo e um gerador de hidrogénio;
2) Telémetro de nuvens, visibilímetro, termómetros eléctricos e cabos;
3) U´ma posição de radioteleimpressão;
4) Instalações para as estações meteorológicas a criar em Madina do Boé, Caravela e Cacine;
5) Material de telecomunicações para as mesmas estações; instrumentos meteorológicos;
6) Instrumentos meteorológicos para cinco postos meteorológicos e oito postos udométricos;
7) Aparelhagem para a estação solarigráfica de Bissau;
8) Levantamento geomagnético complementar.

c) Investigação ligada à agricultura:

I) Investigação agro-silvícola:

1) Finalização da carta de solos e de vegetação;
2) Execução da carta de solos por foto interpretação;
3) Traçado das cartas de aptidão agrícola;
4) Levantamento, à escala adequada, das bolanhas mais importantes da ilha de Bissau;
5) Estudo da fertilidade dos solos;
6) Continuação da produção de sementes híbridas da palmeira-do-azeite e contrôle de genitores;
7) Continuação dos estudos sobre a bananeira;
8) Introdução de plantas alimentares e industriais;
9) Introdução de plantas forrageiras;
10) Apetrechamento e adaptação do posto agrícola do Pessubé para a estação experimental e estabelecimento de campos experimentais regionais.

II) Investigação veterinária:

1) Determinação das possibilidades de encabeçamento para as pastagens naturais, a fim de se estabelecer um equilíbrio entre disponibilidades alimentares naturais e densidade de pecuração;
2) Determinação do valor forrageiro das espécies gramíneas e leguminosas a introduzir - com vista a seleccionar as mais aptas - e dos resíduos da exploração agrícola;
3) Determinação da época óptima de fenação;
4) Ensaios de preparação de ensilagem;
5) Estabelecimento de prados artificiais ou naturais de composição melhorada;
6) Preparação de concentrados alimentares com produtos de exploração agrícola ou subprodutos da indústria local.

d) Estudos de biologia piscatória e pesca experimental:

1) Inventário da fauna marinha;
2) Determinação e estudo biológico do ponto de vista quantitativo e qualitativo das espécies ictiológicas de maior valor comercial;
3) Localização de pesqueiros (reconhecimento de fundos-cardumes, bancos e áreas de pesca);
4) Determinação dos rendimentos médios de captura;
5) Estudo experimental das possibilidades de pesca de arrasto, designadamente pelo ensaio e selecção de artes apropriadas.

e) Coordenação de investigação científica:

1) Estudos de base:

Estudos económicos;
Coordenação técnico-económica;
Reorganização da cultura regional dos serviços de agricultura e florestas.

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Educação e investigação

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Em relação a 1960, as principais causas de morte foram, por ordem decrescente, as seguintes: paludismo, doenças do aparelho digestivo e gastrites, enterites e colites, tuberculose e tétano.
Ainda que as populações disponham dos alimentos necessários a uma alimentação equilibrada, os costumes tradicionais e a imprevidência ou deficiência na armazenagem desses alimentos provocam desequilíbrios na nutrição, com as mais graves sequelas no aspecto sanitário e noutros aspectos sociais, como, por exemplo, o fraco rendimento do trabalho e a baixa resistência às doenças infecciosas.
Nas crianças, as doenças carenciais são mais frequentes, constituindo a principal causa da mortalidade infantil.

85. No que se refere a tipos e números de estabelecimentos hospitalares e congéneres, por áreas e delegacias de saúde, é o que se segue o panorama da ocupação sanitária, da província:

[ver tabela na imagem]

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86. O quadro não abrange o número de formações sanitárias da Missão de Combate às Tripanossomíases (ex-Missão Permanente de Estudo e Combate à Doença do Sono e outras Endemias), porquanto a sua acção assistencial se desenvolve fundamentalmente sob forma itinerante, com circuitos de tratamento que cobrem boa parte do território (áreas de Bissau, Quinhamel, Mansoa, Bula, Teixeira Pinto, Bolama, Bafatá, Bambadinea; Contubo-El, Galomaró e Nova Lamego). As suas formações sanitárias reduzem-se, na maioria dos casos, a tabancas-enfermarias, com postos de tratamento e de internamento. Localizam-se no Biombo, Bolama, Bubaque, Uno (Bijagós), sector I (Mansoa e Bissorã), sector II (Farim e Susana), sector III (Nova Lamego, Bafatá, Cossé, Bambadinca e Contubo-El) e sector IV (Teixeira Pinto e Bula), além da sede da Missão, em Bissau.

2. Objectivos

87. Melhoria das condições de saúde da população e redução da mortalidade geral e infantil, através de uma actuação simultânea sobre os domínios complementares dos factores determinantes e imediatos do estado de saúde e da estrutura médico-sanitária.

3. Investimentos

88. Os empreendimentos previstos para os próximos seis anos são:

a) Campanhas sanitárias e profilácticas:

1) Campanha antituberculosa;
2) Campanha para a erradicação do paludismo;
3) Campanha contra a doença do sono;
4) Campanha contra a filaríase linfática;

b) Construção, ampliação, equipamento e apetrechamento de hospitais, postos e pavilhões sanitários, enfermarias, centros de recuperação, reabilitação e materno-infantis;
c) Construção de um pálio para recolha de viaturas.

Saúde e assistência

Programa de investimentos

[ver tabela na imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[ver tabela na imagem]

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III

S. Tomé e Príncipe

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. Território insular de pequena extensão, orografia muito acidentada, clima equatorial com relativa variabilidade em função da altitude, pluviosidade abundante, subsolo de origem vulcânica insuficientemente reconhecido, mas não oferecendo possibilidades muito latas, rede hidrográfica de características torrenciais, grande variedade de solos agrícolas, tais os traços fundamentais do quadro físico em que se situa a economia de S. Tomé e Príncipe.

2. Na sua população evidenciam-se dois componentes: a população natural do arquipélago, caracterizada por rápido ritmo de crescimento, e a mão-de-obra imigrada, de efectivos variáveis, com tendência para a regressão.

3. No sector agrícola, que é o sector predominante de toda a economia, coexistem uma agricultura empresarial, baseada em explorações de dimensões apreciáveis e produção virada para a exportação, na qual são absorvidos os efectivos da mão-de-obra imigrada, e uma agricultura de subsistência, assente em pequenas explorações de projecção económica muito restrita.

4. Na óptica das relações económicas externas, S. Tomo e Príncipe não se afasta do padrão usual em economias deste tipo. As suas exportações são caracterizadas por alto grau de concentração e dependência geográfica, enquanto as importações são, na sua maioria, constituídas por bens de consumo corrente.
Tais características reflectem-se na vulnerabilidade de toda a economia à evolução das cotações internacionais dos produtos de base, entre os quais avulta o cacau.
A balança comercial está normalmente equilibrada, reflectindo-se tal quadro na balança de pagamentos, na qual não são relevantes outras rubricas de crédito além da exportação.
5. A relativa rigidez das receitas públicas, em confronto com a nítida tendência para o crescimento das despesas estaduais, tem tornado a província dependente, no que se refere a investimentos infra-estruturais, da ajuda financeira da Administração Central. Os investimentos nos sectores produtivos têm sido assegurados por autofinanciamento ou por capitais entrados através das empresas agrícolas, não se registando aplicações apreciáveis da poupança privada local, cujas potencialidades não se encontram, aliás, suficientemente determinadas.

2. Evolução demográfica

6. As vicissitudes da história económica de S. Tomé e Príncipe projectam-se com notável fidelidade na evolução da sua população através quer da variação dos seus efectivos quer de modificações na sua composição étnica.
Constituída por sete grupos com características próprias que se diferenciam entre si nos aspectos somático, linguístico e etnográfico - forros, angolares, tongas, cabo-verdianos, angolanos e moçambicanos e europeus e descendentes - esta população tem apresentado, ao longo dos últimos decénios, um ritmo de expansão baixo.

População total:

1921 .................. 55 940
1940 .................. 60 490
1950 .................. 60 159
1960 .................. 69 320
1965 .................. 67 189

Deve fazer-se uma distinção entre população total e população natural. Interessa acentuar que a população total apresenta um aumento global da ordem dos 11,7 por cento no período de 15 anos (1950 a 1965), crescendo, durante aquele período, à taxa média anual de 0,74 por cento, notando-se, porém, uma grande irregularidade anual, resultante especialmente do movimento migratório.
Por seu turno, a população natural, admitindo ser menos passível de qualquer mutação brusca na sequência do seu desenvolvimento normal do que a população imigrada, terá crescido a uma taxa média anual de 2,9 por cento.

7. Na ilha de S. Tomé há uma grande irregularidade na distribuição da população: cerca de 75 por cento dos habitantes vivem no quadrante nordeste enquanto os restantes 25 por cento se distribuem pelos outros três.

8. É difícil fazer projecções com base numa população desta natureza, em que duas componentes apresentam taxas evolutivas demasiado oscilatórias para poderem constituir qualquer base de estudo. Assim, respeita-se a taxa média anual de 2,9 por cento para a população local, efectuando-se, porém, um ligeiro ajustamento para 2,95 por cento, já que é possível que, no presente, a população local esteja a crescer mais rapidamente, pela quebra nítida da mortalidade.
A população europeia, por seu turno, tem crescido à taxa média anual de 2,3 por cento.
Pelo censo de 1960 foram apurados os dados sectoriais relativamente à população assalariada e empregada da província, que se cifra em 32 milhares de indivíduos, representando 46,2 por cento da população total (estima-se, para 1960, que o extracto etário dos 15 aos 59 anos seja idêntico ao de 1950 - 72,3 por cento da população total).

Milhares
Sector primário: agricultura, silvicultura e pesca ........................ 24,8
Sector secundário: indústrias diversas, construção, electricidade e água... 2,5
Sector terciário: comércio, bancos, transportes e serviços ................ 4,7

Mas em 1960 cerca de dois terços da população assalariada e empregada eram oriundos do exterior, ao passo que em 1965 seguramente cerca de dois terços da população activa eram constituídos por indivíduos naturais e apenas cerca de um terço composto por mão-de-obra do exterior.
Um fenómeno se verificou pois: a participação mais firme da população natural no conjunto das actividades económicas da província.

9. Postas estas considerações, ponderado o movimento migratório que ainda se encontra em fase de ajustamento às realidades presentes, com tendência ainda decrescente, e o nível estável do contributo da população europeia, pode estimar-se que a população atingirá em 1973 efectivos totais da ordem dos 78 000 habitantes, dos quais cerca de 50 por cento activos.

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3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

10. Os valores do rendimento nacional estimados para S. Tomé e Príncipe, considerados em função da exiguidade territorial e demográfica e da dimensão económica da província, podem considerar-se altos (a preços constantes: 335,3 milhares de contos em 1953, 288,7 milhares em 1962 e 303,1 milhares em 1963).
Quanto à evolução do rendimento, a preços constantes, no período de 1953 a 1962, verifica-se que o mesmo decresceu à taxa média anual de 1,7 por cento, facto que originou um abaixamento nas capitações, que só não se tornou grave por aquelas capitações se incluírem entre as mais elevadas do continente africano.
Com efeito, entrando apenas em linha de conta com o circuito monetário da economia, apuraram-se as seguintes capitações de rendimento para 1962:

[ver tabela na imagem]

(a) População considerada para o cálculo: 62 630 habitantes.
(b) Valor estimado em 60 por cento da produção total.

O valor destas capitações elevar-se-ia de 25 a 30 por cento, caso fossem considerados os fluxos não monetários.
Na evolução do produto e na capitação exerce um efeito predominante a evolução das cotações do cacau.

11. O quadro da distribuição percentual do rendimento da província pelas suas componentes e da taxa de variação anual média dos respectivos valores absolutos é o seguinte:

[ver tabela na imagem]

12. As duas principais componentes do rendimento provincial - remuneração de trabalho e rendimento de empresas e propriedade - decresceram, de 1953 para 1962, em benefício das receitas resultantes da aplicação dos impostos directos sobre as sociedades, que cresceram à taxa anual de 5 por cento.

13. Também o Estado viu aumentados os seus réditos como entidade privada a uma taxa que, sendo reduzida (0,2 por cento), traduz, no entanto, conjuntamente com o aumento das receitas provenientes daqueles impostos, o grau da contribuição do sector público para o rendimento provincial.

14. As contas económicas fornecem para 1963 volumes que parecem querer contrariar a tendência decrescente assinalada ao rendimento. De 1962 para 1963 assiste-se, de facto, a um acréscimo da ordem dos 5 por cento (a preços correntes), correspondente a 14,4 milhares de contos, resultante da subida das duas principais componentes.

15. A despesa de consumo privado engloba as despesas de consumo das famílias e as dos organismos privados sem fins lucrativos, aquelas participando com mais de 98 por cento no total e estas com a reduzida percentagem de aproximadamente 2 por cento, em média, o que mostra a pouca importância que o sector associativo ocupa na economia da província. Os consumos das famílias parecem não ter revelado a passividade observada relativamente ao rendimento, muito embora acusassem redução do valor global da procura. A percentagem de 97,8 por cento que apresentava em 1953 no conjunto da despesa privada baixou para 96,3 por cento em 1962, mas Jogo em 1963 se elevou aos maiores valores de sempre - 98,4 por cento -, tendo assim recuperado e eliminado o ligeiro decréscimo verificado no decénio de 1953-1962, na sua importância relativa. Os valores absolutos aumentaram, porém, neste mesmo período, em mais de 23 por cento, tendo o acréscimo de 1962 para 1963 sido da ordem dos 15 por cento, o que é notável. Também as respectivas capitações subiram sensivelmente, o que significa melhoria no nível de vida da população.

16. Analisando a despesa de consumo das famílias, verifica-se que ela apresenta, na sua repartição percentual, uma estrutura análoga à que é típica dos países subevoluídos de clima quente:

[ver quadro na imagem]

O quadro mostra que as despesas com os consumos alimentares representam cerca de metade das despesas totais, seguindo-se as despesas com vestuário, bebidas e rendas e consumo de água. O consumo de energia é diminuto, embora apresente um ritmo de crescimento favorável, e tal facto deve residir nos elevados custos tarifários, não susceptíveis, aliás, de redução antes da entrada ao serviço do aproveitamento do Contador.
Igualmente é diminuto o consumo de bens não primários, como sejam despesas com transportes e comu-

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nicações, despesas com distracções e divertimentos e outras. Justifica-se a pequena percentagem atribuída aos cuidados médicos, por ser gratuita a assistência pública em todos os estabelecimentos hospitalares. O consumo de bens sumptuários é diminuto.

17. Uma análise mais profunda da estrutura e da evolução da despesa de consumo privado em S. Tomé e Príncipe conduziria à evidência, não só de uma melhoria no nível de vida dos seus habitantes - o consumo aumentou no decénio de 1953-1962 a uma taxa anual média de 3 por cento, taxa que de 1962 para 1963 se aproximou, porém, dos 15 por cento -, como de uma provável mais equitativa distribuição do rendimento (excluindo, é claro, a hipótese de uma redução na poupança), porquanto aquele não acompanhou o ritmo de crescimento da despesa de consumo. De qualquer modo, permanece válida a conclusão de que se verificou um razoável aumento do nível de vida das populações, traduzido pela subida das capitações da despesa de consumo das famílias.

18. A preços constantes, o produto interno bruto aos preços de mercado apresenta uma taxa de variação média anual de - 1,6 por cento no decénio de 1953-1962. Para o período de 1953-1963, a preços correntes, aquela taxa apresenta-se mais favorável (0,3 por cento), não deixando embora de confirmar o decréscimo do produto interno nos últimos anos. São acentuadas as variações de ano para ano, com especial relevância nos anos de 1958 a 1960, cujos valores atingem os pontos mais elevados do período em análise (respectivamente 389,1 e 365,6 milhares de contos, a preços correntes), motivados por bons anos agrícolas, demarcando o primeiro o cume ascensional do período, a partir do qual se processou uma queda sensível, que o segundo apenas retardou.

19. No quinquénio de 1959-1963, a taxa média de variação aproxima-se da encontrada, a preços correntes, para o decénio de 1953-1962 (0,2 por cento), mostrando acentuado colapso nos anos de 1961 e 1962.e recuperação em 1963, conforme se pode observar no seguinte quadro:

[ver quadro na imagem]

Parece poder deduzir-se desde já que se exerceu um esforço de recuperação no âmbito da estrutura económica vigente no último ano do quinquénio, receando-se, porém, que em 1964-1965 o valor do produto tenha regredido de novo, pela quebra ainda mais acentuada nas cotações do cacau.

20. Em 1963 o produto interno bruto aos preços de mercado apresentou um valor mais elevado do que no ano anterior (a preços correntes, 350,8 e 328,1 milhares de contos, respectivamente em 1962 e 1963), exibindo uma taxa de acréscimo muito próxima dos 7 por cento, para o que contribuiu especialmente o comportamento da componente "Agricultura, silvicultura, caça e pesca", ou, em termos objectivos, o cacau. O quadro seguinte apresenta a participação relativa de cada um dos ramos de actividade económica na formação do produto interno bruto aos preços de mercado nos anos de 1953, 1962 e 1963 (a preços corrfentes):

[ver tabela na imagem]

21. Verifica-se, pela análise do quadro anterior, que a recuperação devida, em parte, à melhoria da posição da componente "Agricultura, silvicultura, caça e pesca" (o comércio acerta por aquela a sua evolução) deve ter assentado numa ligeira subida observada nas cotações do produto base e nas positivas reacções em cadeia que a mesma originou.
A quebra do produto em 1964-1965 está em correspondência com a quebra da cotação do cacau, o qual representa mais de 70 por cento da exportação da província.
As capitações do produto interno bruto vêm, assim, decrescendo. Para um decréscimo médio anual de 1,6 por cento do produto, no período de ]953-1962 e para uma taxa média anual de crescimento da população total, durante o mesmo período, de 1,5 por cento, obtém-se uma taxa anual de variação per capita do produto de - 3,1 por cento, o que traduz um acentuado decréscimo.
Sem esquecer que aquela taxa de - 1,6 por cento foi obtida a preços constantes com base em 1962, a análise das capitações obtidas também a preços constantes não difere, em grande medida, dos valores encontrados. Com efeito, as capitações do produto em 1953 e 1962, respectivamente de 7046$ e 5208$, fornecem uma taxa variada anual de - 3,4 por cento, que pouco se afasta da anterior.
Se tomarmos como base os valores do ano de 1963, teremos que, a preços correntes, como vimos, o produto interno bruto cresceu à taxa média anual de 0,3 por cento no período de 1953-1963; a população, no mesmo período, cresceu a 1,8 por cento, o que fornece um decréscimo per capita de - 1,5 por cento. Cotejadas as respectivas capitações - 6341$ em 1953 e 5601$ em 1963 -, apresenta-se uma taxa de - 1,3 por cento.
Elementos mais recentes indicam que, a preços constantes, o produto interno bruto aos preços de mercado decresceu no período de 1953-1963 à taxa anual média de 0,9 por cento, tendo o decréscimo das respectivas capitações sido da ordem de 1,2 por cento.

22. Da análise dos dados da contabilidade económica verifica-se que, ao longo do decénio de 1953-1962, o con-

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tributo dos diversos sectores para a formação do produto interno exprime-se pela forma seguinte:

[ver tabela na imagem]

23. Para além das referências já feitas ao rendimento nacional, despesa de consumo privado e produto interno bruto, convém abordar a aplicação do produto nacional, cuja análise, evidenciará também alguns aspectos reveladores da realidade económica de S. Tomé e Príncipe.
No quadro seguinte pode encontrar-se a participação relativa (em percentagens) das várias componentes do produto nacional bruto:

Distribuição percentual

[ver quadro na imagem]

24. Mais especialmente, no tocante à formação bruta do capital fixo, no período de 1953-1962 (de que se possuem dados referentes à aplicação de capital por sectores), o capital investido repartiu-se pelos seguintes sectores:

[ver tabela na imagem]

Os factos mais notáveis consistem na extraordinária quebra na formação do capital no sector agrícola e na forma de compensação aplicada por meio de investimento através do sector público, os quais contribuíram, no último ano, com cerca de seis sétimos dos investimentos globais.

4. Relações económicas com o exterior

25. A evolução do comércio especial ao longo do período de 1961-1965 pode examinar-se nos dois quadros seguintes, relativos às importações e às exportações por territórios estatísticos:

Importações

[ver quadro na imagem]

Exportações

[ver quadro na imagem]

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26. Para as mercadorias exportadas, os números são os seguintes:

Exportações

[Ver Quadro na Imagem]

As principais mercadorias importadas foram as seguintes:

Importações

[Ver Quadro na Imagem]

27. O comércio externo é a razão de ser da economia de S. Tomé e Príncipe, exclusivamente orientada para o exterior.
Como se viu, a província exporta matérias-primas e importa bens de consumo final.
É o seguinte o quadro do seu movimento geral no período de 1953-1965:

[Ver Quadro na Imagem]

A tendência geral revela incremento nas importações, essencialmente de bens de consumo corrente, recessão do movimento exportador.
Os preços médios por quilograma/F. O. B. dos principais produtos de exportação da província no mesmo período são prova evidente da deterioração no mercado exportador:

[Ver Quadro na Imagem]

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Este quadro sintetiza afinal toda a crise que nos últimos tempos tem afligido a economia são-tomense: o problema das cotações, muito em especial as do cacau, que atingiram em 1965 o valor mais baixo do período.

28. No que à importação diz respeito, e embora se verifique uma menor concentração global, o ultramar parece vir a perder a sua posição como fornecedor, aumentando em contrapartida a da metrópole e a do estrangeiro.
Grande parte dos produtos importados destinam-se ao consumo alimentar.
Se se adicionarem a estes os outros bens de consumo importados e constituídos por material electrodoméstico, vestuário e calçado, combustíveis, automóveis e. outros veículos e medicamentos, obter-se-á para o conjunto um valor correspondente a cerca de 90 por cento do total das importações da província.
Deste modo, pode dizer-se que sòmente uma pequena percentagem da importação absorve a compra de bens de equipamento, com destino sobretudo à agricultura e, eventualmente, à indústria, que, com outra pequena parcela de bens intermediários, preenche os 10 por cento restantes.

29. Uma análise à comparticipação dos produtos que integram o comércio especial da província mostra uma acentuada concentração na exportação, onde domina o cacau, .com a média de 71,7 por cento das vendas totais, seguido a grande distância pela copra, com 12,5 por cento, o coconote, com 8,6 por cento, o café e o óleo de palma, com 3,6 por cento cada um.
Nos mercados consumidores dos produtos da província também se assinala acentuada concentração geográfica.

30. No que se refere à balança de pagamentos da província, os movimentos das divisas do Fundo Cambial ao longo do período de 1953-1965 constam do quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

As entradas e saídas de cambiais referem-se em grande medida a movimentos de escudos metropolitanos, isto é, compreendem empréstimos recebidos da metrópole (entradas) e amortizações e respectivos encargos (saídas).
Quanto à balança comercial, verifica-se uma tendência decrescente do seu movimento.
Em contrapartida, parece consolidar-se o movimento positivo da balança de pagamentos.

5. Perspectivas de crescimento económico

31. No panorama económico da província de S. Tomé e Príncipe destaca-se, como fundamental, o sector agrícola. Não parece poder dar-se grande relevo aos restantes sectores, ressalvados os casos da indústria extractiva, se as pesquisas de petróleo forem profícuas, e, em menor escala, da pesca, se se atingir a fase da pesca industrial.

32. A análise genérica das características essenciais da agricultura são-tomense leva a indicar como sentidos mais prometedores: uma diversificação de culturas, acompanhada de melhoramento cultural e intensificação das existentes; o encaminhamento da mão-de-obra local para a completa cobertura do sector, dispensando, tanto quanto possível, a mão-de-obra exterior, e a ocupação efectiva da terra, por meio da propriedade de tipo familiar.

33. As estruturas económicas da província e as suas características não têm acompanhado a evolução das necessidades do seu progresso e desenvolvimento. Simultaneamente, porém, reconhece-se que são elas que permitem a vida da província e quo, não se dispondo de outras que as possam substituir a curto prazo, haverá que prever uma modificação gradual e lenta.
Desta forma, alguns dos investimentos terão de ser orientados, numa primeira fase, não directamente para um acréscimo do produto, mas sim para uma substituição de estruturas, permitindo que o vácuo criado pelo desaparecimento das existentes possa ser preenchido, em tempo oportuno, por novas estruturas convenientemente preparadas.
A falta de espírito empresarial constitui factor grandemente limitativo do desenvolvimento económico da província. Existem, de facto, empreendimentos potenciais altamente tentadores que só a falta de empresários justifica não se terem já efectivado. Uma acção de propaganda da província e das possibilidades que a mesma oferece mostra-se como muito necessária.

34. Tem-se em conta também o significado económico de toda a acção a desenvolver no campo da promoção social, através da educação, da melhoria das condições de vida, da assistência sanitária e da subida e enriquecimento do nível alimentar das populações, acção esta cujo impulso essencial se encontra, porém, no propósito de

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valorização humana que constitui constante da acção portuguesa no Mundo.
Como apoio a todo este complexo de acções, haverá que prosseguir e ampliar a obra realizada em matéria de infra-estruturas, com vista a criar condições para a utilização de recursos que se considera conveniente explorar. Daqui resulta a estreita articulação entre os empreendimentos infra-estruturais a realizar pelo sector público e o respectivo índice de aproveitamento directo ou indirecto por parte do sector privado.

CAPÍTULO II

Objectivos

35. Reveste-se da maior acuidade, sob ressalva de importantes incidências no esquema económico-administrativo da província, a comparticipação activa da população natural na formação e usufruto do rendimento e do produto interno, como corolário lógico da evolução da política de promoção social de toda a comunidade portuguesa.
É sintoma francamente positivo de que se está no bom caminho: a mais vasta contribuição da população local para o conjunto da população activa e, sobretudo, o afluxo crescente ao mercado de mão-de-obra, que se tem feito sentir durante o último lustro, por parte daquela população, articulando-se, de forma favorável, com o decréscimo de mão-de-obra importada.

36. Adentro dos objectivos gerais a prosseguir, enquadra-se perfeitamente esta problemática no esquema geral dedicado à definição de metas de ordem económico-social e que se podem sintetizar em três tópicos fundamentais:

1.º Promoção cultural e social das populações, nomeadamente através da generalização da educação de base, de ensino elementar agrícola, da extensão do ensino secundário (liceal e técnico), da preparação dos quadros da Administração e do recurso a técnicas de desenvolvimento comunitário;
2.º Incremento e mais equitativa distribuição dos rendimentos, assim como melhoria das condições de vida da população, mediante um esforço directo a realizar no domínio da saúde, assistência, nutrição, ordenamento agrícola, etc., e indirecto, pela construção de infra-estruturas que melhor dimensionem o desenvolvimento económico e social que se pretende;
3.º Melhoria das condições de prestação do trabalho e extensão e aperfeiçoamento dos mecanismos de assistência e previdência, sem descurar, contudo, os problemas inerentes à estrutura social, como, por exemplo, os relativos à forma como se constitui a família e à perfilhação e ainda ao melhor ordenamento social das condições de habitação.

37. De uma forma genérica pretende-se conseguir a aceleração do ritmo de acréscimo do produto interno mediante o aproveitamento mais racional dos recursos humanos e materiais. Efectivamente, as variáveis estratégicas do desenvolvimento económico de S. Tomé e Príncipe residem na forma de intervenção nas duas principais componentes da sua estrutura: a terra e o trabalho. O capital desempenha função de variável aleatória e tal se compreende na medida em que se está em presença de um fenómeno económico-social que se reveste da particularidade de fazer incidir determinado esforço no sentido de promover maior improdutividade marginal do capital já investido e, por outro lado, também em realizar investimento efectivo, como réplica positiva à quebra verificada em diversos sectores e que se traduz, em certos casos, por completa dissipação de valor do capital fixo ou social investido.

CAPÍTULO III

Financiamento do programa provincial de investimentos

1. Administração Central

38. Em relação ao sector público admite-se como fonte de financiamento capaz de oferecer a cobertura necessária aos empreendimentos do programa imperativo a Administração Central. Com efeito, sendo o aspecto financeiro condição essencial da aceleração do processo de desenvolvimento económico e verificando-se tradicionalmente a insuficiência da iniciativa privada para impulsionar tal processo, surge sempre focalizado o papel do Estado, cuja necessidade de reforço é cada vez maior. Mas, para isso, necessita o sector público de dispor de recursos financeiros amplos. Ora, debatendo-se o Governo provincial com dificuldades para manter o equilíbrio orçamental, precisa de recorrer ao Governo Central para o financiamento dos investimentos, recurso este que, não obstante as condições favoráveis em que se faz, não deixa de pesar sobre as receitas ordinárias.

2. Administração provincial

39. Foi a seguinte a evolução da receita no período de 1953-1965.

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[Ver Tabela na Imagem]

Nota. - A preços correntes.

40. O quadro das despesas públicas apresenta-se com o seguinte aspecto:

[Ver Tabela na Imagem]

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41. No tocante às receitas, construindo um quadro elucidativo da divisão percentual das receitas em ordinárias e extraordinárias, ter-se-á:

[Ver Tabela na Imagem]

A receita ordinária sobreleva quase sempre a receita extraordinária, com excepção apenas dos anos de 1955 e 1966, em que houve necessidade de cobrir despesas relacionadas com o aumento dos encargos resultantes da reorganização dos serviços militares e outras despesas.

42. A evolução das componentes das principais receitas ordinárias nos anos de 1953 e 1964 foi a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se que reside na recolha das receitas originadas nos impostos alfandegários a principal fonte dos réditos do Estado, quer se trate da prática da aplicação de direitos aduaneiros (impostos indirectos: 30,5 por cento em 1953 e 20,2 por cento em 1964), quer de taxas e emolumentos ligados ao mesmo ramo (15,6 por cento em 1953 e 1,7 por cento em 1964).
O maior incremento nas receitas ordinárias da província incidiu na contribuição industrial, cujo crescimento se cifra em 15 por cento ao ano, no imposto do selo (11,9 por cento), nas receitas eventuais (21,9 por cento), nos emolumentos alfandegários (4,1 por cento) e no imposto de defesa (3 por cento).
No capítulo «Indústrias em regime tributário especial» sobressai o imposto de consumo, responsável em 1964 por 92 por cento das receitas respectivas.

43. Por outro lado, uma análise da distribuição percentual das despesas ordinárias e extraordinárias apresenta o seguinte aspecto.

[Ver Tabela na Imagem]

A linha de tendência reside na larga superação das despesas ordinárias em relação às extraordinárias.

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44. A composição das principais despesas ordinárias em 1953 e 1954 era a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

45. O facto que merece referir é constituído pelo notável incremento dos encargos com a dívida pública da província, principal responsável pela taxa de crescimento anual das despesas de 4,3 por cento (superior ao dobro da das receitas = 2 por cento).
Este fenómeno de natureza financeira está causando sérias preocupações à província, porquanto a dívida pública, que em 1964 absorvia 13,8 por cento das despesas ordinárias totais, a que correspondia o elevadíssimo índice de 27 752, tomou à sua conta 28,3 por cento do total das mesmas no ano seguinte, prevendo-se que este desgaste no erário se processe a idêntico ritmo para além do hexénio correspondente ao III Plano de Fomento, sem entrar em linha de conta com os empréstimos que será necessário contrair para a execução deste Plano.
Quanto às restantes despesas ordinárias, com uma só excepção, e esta sem consistência, dada a sua natureza flutuante, acusaram formas mais ou menos acentuadas de crescimento, mas sempre de teor elevado, ou seja desde 5,1 por cento até 27,5 por cento, não contando com a impressionante taxa de crescimento da dívida, expressa por 53,5 por cento.
Reside, portanto, e quase exclusivamente, na dívida pública o esforço, de duração imprevisível, que a província está fazendo para alçar as receitas a nível que lhe permita satisfazer os encargos com as despesas, nomeadamente com a mesma dívida pública.

46. Parece poder concluir-se que a província não dispõe de recursos financeiros próprios para a cobertura dos investimentos exigidos pelo seu desenvolvimento.

3. Instituições de crédito

47. O quadro institucional da província no que respeita aos mercados do dinheiro apresenta-se assim constituído:

a) Banco Nacional Ultramarino;
b) Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe;
c) Caixa Económica Postal;
d)Fundo de Fomento de Pequenas Empresas Agrícolas e Industriais;
e) Caixa de Crédito.

a) Banco Nacional Ultramarino

48. É o banco emissor e reteve o privilégio do crédito até 1963. Cumpre-lhe regular a distribuição do crédito, que reveste quase sempre a forma de crédito comercial e também agrícola, através de empréstimos em conta corrente, praticando igualmente o desconto de letras, cheques e livranças. A evolução do crédito concedido, com ligeira retracção no ano de maior crise de cotações (1965), acompanhado do maior coeficiente de letras protestadas (embora modesto), reflecte com fidelidade a tendência regressiva verificada no âmbito das actividades económicas privadas, acompanhadas de maior recorrência ao capital.

b) Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe

49. Esta instituição de crédito tem por finalidades: conceder pensões vitalícias e temporárias a sócios; subsídios diversos; empréstimos a sócios e particulares, ao Estado e aos corpos administrativos.

d) Caixa Económica Postal

50. Concede empréstimos a funcionários, por fianças e caucionados por letras. Entrou em funcionamento em 1963 e o seu movimento, embora modesto, tem sido ascensional.

d) Fundo de Fomento de Pequenas Empresas Agrícolas e Industriais

51. Esta instituição, criada em 1964, visa a concessão do pequenos empréstimos, à taxa anual de 2 por cento, até ao montante de 12 000$ e destinados à agricultura, pesca e outras actividades, excluindo o empréstimo comercial.

e) Caixa de Crédito

52. A Caixa de Crédito de S. Tomé e Príncipe, criada em 1965, tem por objectivo a concessão de crédito agrícola, pecuário, industrial e imobiliário.
As operações de crédito referidas são feitas no regime de longo, médio e curto prazo.

53. Não parecem poder oferecer grandes perspectivas para o financiamento do III Plano as instituições de crédito provinciais.

4. Particulares e empresas

54. Não tendo a província capacidade de crédito interno, não há lugar a que se fale na sua capacidade de

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crédito externo, pelo menos no que respeita aos empréstimos a obter, através da metrópole, em mercados externos.

55. Quanto ao autofinanciamento, verificado que uma grande parcela da formação de capital no sector privado foi financiada sob esta forma, será de esperar que a mesma fonte continue activa, nomeadamente no que diz respeito a diversificação e intensificação de culturas, através de investimentos privados.

56. Dado o condicionalismo despistado (reduzido volume de depósitos à ordem na filial do Banco Nacional Ultramarino, ausência de um banco exclusivamente comercial, modéstia de movimento das caixas económicas e de crédito e respectiva política de crédito inadequada ao fomento económico, etc.), as perspectivas oferecidas pela mobilização de poupança privada são pouco optimistas.

57. Seguidamente se apresenta o esquema de financiamento para o III Plano de Fomento:

[Ver Tabela na Imagem]

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

58. Sendo actividade económica predominante, a agricultura são-tomense caracteriza-se por dois aspectos diferentes:

a) A agricultura da roça, extensiva, monocultural e orientada para o comércio externo, com grandes extensões territoriais (em especial no Sul e no Nordeste da ilha de S. Tomé) na grande maioria abandonadas ou em vias de abandono, ocupa cerca de 90 por cento da terra destinada à agricultura e contribui com produções que atingem cerca de 95 por cento do total exportado pela província;
b) A agricultura autóctone, quase toda de subsistência ou de comercialização local, é realizada em pequenos ou médios tractos, de dimensões sempre antificonómicas.

59. Os principais produtos agrícolas e os seus quantitativos em toneladas, de 195.3 a 1965, são os que constam do mapa da coluna seguinte.

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Produção declarada pelas empresas. Na realidade, estima-se em cerca do triplo a produção, incluindo o autoconsumo.

O sector não supre completamente o consumo interno. Com efeito, a província importa toda a qualidade de produtos de consumo primário e exporta matérias-primas.

60. Quanto à agricultura empresarial, ela continua a assentar exclusivamente nas tradicionais culturas do cacaueiro - a cultura dominante -, cafèzeiro, coqueiro e palmeira-do-azeite, embora se registe interesse pelas culturas da banana e do ananás.

Cacau

61. O problema da elevação da produção do cacau a níveis de outros tempos tem sido devidamente estudado. Procura-se eliminar os óbices de ordem interna (baixa rentabilidade por hectare e alto custo de produção, motivado por uma mão-de-obra imigrante demasiado cara e escassa), já que os de ordem externa (a flutuação das cotações e o baixo consumo metropolitano) escapam, em parte, à influência dos produtores.
O consumo metropolitano apenas absorve um sexto da produção total de S. Tomé e Príncipe, Angola e Timor. Há que aumentá-lo através de uma política de baixos preços, retirando ao chocolate a actual qualidade de produto de luxo.

Café

62. A disputar com outros cafés nacionais - de Cabo Verde e Timor - a primazia dos melhores cafés do Mundo, o café de S. Tomé, cuja óptima qualidade assegura o escoamento de toda a produção, nem por isso apresenta números de produção correspondentes à tranquilidade que tal facto deveria insuflar no produto. As produções dos últimos anos estão abaixo das da quase totalidade dos anos anteriores até 1950.
A queda das cotações e a influência do elevado custo da mão-de-obra tornam difícil a renovação das plantações, cujo alargamento não será, aliás, compatível com os compromissos internacionais.

Copra

63. Os números mostram um progressivo aumento desta produção.
As perspectivas para esta cultura são bastante animadoras, se se notar que a área ocupada com coqueiral é ainda pequena (cerca de 4000 ha) e, portanto, susceptível de substancial aumento, sobretudo na ilha do Príncipe, e que a produção unitária, atingindo e ultrapassando por vezes as 3 t por hectare, convida os agricultores a aproveitarem-se de uma cultura francamente remuneradora.

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Coconote e óleo de palma

64. As produções mostram um retrocesso na cultura da palmeira-do-azeite, nítido desde 1953 e mais se acentuando a partir de 1958.
As razões da quebra de produção têm de ir procurar-se à eliminação das palmeiras dispersas pelas plantações cacaueiras, sem que fosse acautelada a sua imediata substituição por novas plantas em outras zonas.
Actualmente a posição é de recuperação em relação a outras culturas e à renovação de algumas plantas.
A província possui já excelentes instalações para extracção de óleo. Este apresenta-se de alta qualidade, com acidez inferior a 4º, e está a ser absorvido pelas fábricas de margarina da metrópole. É de esperar, portanto, um maior interesse por esta cultura e um consequente aumento da produção nos próximos anos.

Bananas

65. De comprovada rentabilidade, a bananeira é uma planta que começa a interessar já grande parte dos agricultores. Os números calculados para a produção dos últimos anos estão longe de traduzir a realidade, pois a quase totalidade da produção é utilizada livremente, quer pelos trabalhadores das empresas, quer pelos agricultores-produtores, para os quais, pode dizer-se, constitui a base da alimentação. O autoconsumo da banana tem aqui um valor excepcionalmente difícil de estimar.
A estabilidade e a elevada cotação do produto, aliadas à sua preferência junto do consumidor, seja pelas suas qualidades nutritivas, seja pela sua maior resistência à deterioração, e ainda o predomínio, que se adivinha perdurável, da procura, sobre a oferta, podem reservar a esta cultura o papel de desviar a economia da província do perigo do predomínio do cacaueiro. Ainda a considerar a hipótese de parte da produção se destinar à transformação local em farinha, com destino ao consumo e à exportação.

Ananás

66. O problema do ananás e seu desenvolvimento com vista à exportação caracteriza-se, como o da banana, em elevados índices de produtividade e favoráveis possibilidades de aproveitamento do fruto para exportação em fresco e como matéria-prima para transformação em sumos concentrados.
Tomou o Governo a iniciativa da sua cultura intensiva em propriedade recentemente adquirida, em esforço que, a par de outros objectivos de ordem social, procura lançar no espírito dos empresários agrícolas o valor da cultura.

Florestas

67. Não está ainda feito o inventário da flora de S. Tomé e Príncipe.
No entanto, pode dizer-se que não faltam madeiras que poderiam proporcionar boas fontes de rendimento.
Põe-se, no entanto, o problema da difícil acessibilidade dos possíveis locais de produção.

Produção pecuária

68. Se bem que a província disponha já de efectivos pecuários em número significativo, é forçoso reconhecer que a maioria das espécies ali criadas, não obstante os esforços ultimamente empreendidos no sentido de obter o melhoramento das raças por meio de cruzamentos, selecção e importação de reprodutores classificados, é constituída por animais de qualidade inferior, obrigando à importação de carnes e lacticínios.
O gado arrolado em 1965 compreendia 11 645 cabeças, assim distribuídas:

[Ver Tabela na Imagem]

Ainda não está bem definida a posição da província relativamente às condições que oferece para exploração pecuária em profundidade, visando a exportação, mas não haverá dúvidas de que pode ambicionar a auto-suficiência. O abastecimento do mercado interno cabe bem na capacidade pascigosa das ilhas, sem prejuízo da agricultura. É para este fim que se deverá caminhar. A sua importância é mais bem apercebida quando se pensa no considerável volume de divisas que se despendem anualmente na importação de produtos pecuários.

2. Objectivos

1. Agricultura

69. Importa considerar urgente a ampla intervenção com vista a assegurar o integral aproveitamento de recursos locais e a sua mais equitativa distribuição através de:

a) Encaminhamento da mão-de-obra local para a completa cobertura do sector, embora admitindo determinado quantitativo de trabalhadores estranhos ;
b) Ocupação efectiva da terra, por meio das propriedades de tipo familiar, quando seja económicamente rentável;
c) Melhoramento cultural e diversificação das produções ;
d) Organização de crédito agrícola nas condições mais favoráveis à efectivação dos objectivos visados.

2. Pecuária

70. A conveniente assistência veterinária é um dos meios para o melhoramento dos efectivos pecuários da província, constituindo objectivo a alcançar.

3. Investimentos

71. Estabelece-se o seguinte programa de actuação:

1. Fomento dos recursos ágro-silvo-pastoris

a) Melhoramento cultural, cabendo à actividade privada papel relevante na fase de arranque, com o apoio dos serviços oficiais e diversificação conveniente das culturas;
b) Aumento dos recursos, em meios e pessoal, da Brigada de Fomento Agro-Pecuário, tendo em vista o processo de reestruturação do sector e as necessidades genéricas de assistência técnica;
c) Prosseguimento dos trabalhos da Brigada de Estudos de Defesa Fitossanitária de Produtos Ultramarinos.

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2. Esquemas de regadio e povoamento

Instalação de cerca de 250 a 300 famílias em empresas de tipo familiar, ocupando áreas unitárias de três quartos de hectare.

3. Crédito agrícola

Alargamento de crédito agrícola, a conceder por forma que se contribua para dar impulso necessário à realização dos objectivos visados no sector.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programas de Investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

72. A actividade piscatória processa-se num ritmo irregular e modesto, embora ultimamente se esteja a desenhar um incremento no sector, em especial no que diz respeito à forma de aquisição dos meios de captura. A população afecta às actividades fornece ainda pequeno contingente de pescadores (596) e produz um quantitativo global que está muito longe de satisfazer as necessidades de consumo interno.

73. Os elementos estatísticos para o período de 1960 a 1965 são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Os valores da produtividade correspondem ao tipo elementar da pesca de subsistência.
Dada a escassa produção, e em virtude da procura interna de peixe e derivados ser substancial, a província vê-se forçada a importar considerável tonelagem de derivados de pesca.

2. Objectivos

74. Considerando o estado actual das pescas na província, os objectivos em vista são os seguintes:

Substancial aumento da produção local pelo fomento da actividade piscatória e seus derivados;
Estímulo da iniciativa particular, no sentido de a interessar em tudo o que se refira à exploração piscatória e industrialização dos seus derivados.

3. Investimentos

75. No âmbito deste sector prevê-se o seguinte programa.

1. Pesca artesanal

Construção de 40 embarcações do tipo preconizado pela F. A. O. para a pesca artesanal, e respectivo apetrechamento, de forma a atingir-se uma produção de 2000 t anuais.

2. Pescas Industriais

a) Aquisição de cinco traineiras para uma produção, por cerco e arrasto, de 2000 t anuais;
b) Aquisição de dois atuneiros destinados à pesca oceânica do atum, com uma produção da ordem das 40 000 t anuais;
c) Instalações industriais para a farinação e extracção de óleos de peixe.

3. Câmaras de refrigeração e entrepostos frigoríficos

Instalação de quatro câmaras de refrigeração em S. Tomo e uma no Príncipe, com uma capacidade média, por câmara, de 12 t, destinadas a favorecer a recepção e distribuição do pescado do sector artesanal.
Instalação de entrepostos frigoríficos para a pesca industrial.

4. Oficinas de salga e secagem

Instalação de pequenas oficinas de salga e secagem, para o tratamento de parte do pescado capturado pelo sector artesanal.

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Pesca

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Indústria extractiva

76. Tem sido restrito o âmbito de actuação neste sector.
Parece, contudo, merecerem a maior atenção os estudos geológicos, o fomento mineiro e o estudo e aproveitamento dos meios de obtenção de água doce, perante a evolução possível do sector, e as necessidades de água para rega no período seco, que surgirão com o incremento das culturas de banana, ananás e produtos hortícolas.
Escassa será a rentabilidade directa do sector, a menos que as pesquisas petrolíferas conduzam a resultados favoráveis.

2. Indústria transformadora

77. O crescimento global deste sector, expresso por uma taxa média anual de 3,8 por cento no decénio de 1953-1962, considera-se muito modesto, comparando-o com o de qualquer sector industrial ao mesmo nível económico.
No quadro junto indicam-se as principais produções sectoriais, com realce sómente para o fabrico de pão, indústria de madeiras e produção de sabão, laborando todos os subsectores em precárias condições técnicas, com excepção apenas de algumas serrações de madeiras, do fabrico de pão e de certas unidades particulares de fabrico de óleo de palma (que, no entanto, se encontra em regressão), além do fabrico de gelo.
As causas principais desta situação resumem-se na restrição própria do mercado interno, na inexistência de espírito empresarial ao nível privado, na ausência de crédito orientado para o sector e na preparação deficiente cia mão-de-obra local.

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

78. As séries de índices que se apresentam seguidamente mostram a pouca importância das actividades industriais e a tendência para a sua estagnação:

[Ver Tabela na Imagem]

As indústrias que registam progressão nas quantidades produzidas são as da saboaria, gelo, madeiras e panificação. As restantes actividades apresentam taxas ou índices de regressão.

79. Entre as várias hipóteses de industrialização sugeridas para a província sobressaem as seguintes, cuja exequibilidade, pela possível rentabilidade, baixos custos e favoráveis coeficientes capital-produto, aliados a segura colocação dos produtos em mercados de procura, se justifica plenamente:

a) Industrialização do coco, compreendendo o coco ralado e a transformação de fibra (cairo e fibra diversa);
b) Refrigerantes, conservas e sumos concentrados de frutos com utilização de larga gama de frutos existentes na província;
c) Farinação de banana;
d) Fabrico de sabão em unidade dimensionalmente mais económica por meio de provável integração ou fusão das diversas pequenas unidades existentes;
e) Fabrico de farinhas e óleos de peixe e estabelecimento de oficinas de salga e secagem em estreita articulação com o desenvolvimento do sector de pesca;
f) Moagem de milho, com vista à importação e a laboração de cereal produzido ou a produzir na província, com implicações na modificação de certos hábitos de consumo locais;
g)laboração de produtos vegetais pelo desenvolvimento da horticultura;
h) Provável laboração do cacau, em natureza, por forma a transforma-lo em produtos semiacabados (cacau em pasta e em pó) ou finais (manteiga), com vista ao estabelecimento, respectivamente, da indústria de chocolate e derivados da metrópole e de outros mercados;
i) aproveitamento da casca do fruto do cacueiro, destinando-se o produto transformado à participação na confecção de rações para animais.

Igualmente se menciona o aproveitamento da farinha de bagaço do coconote e a construção de uma fábrica de tijolo, bem como aferição das possibilidades, em articulação com o desenvolvimento da horticultura, da preparação de feijão verde e tomate em conserva, para exportação, e ainda o aproveitamento diferenciado da indústria de madeiras.

2. Objectivos

Indústria extractiva

80. Além dos estudos geológicos, mencionam-se as pesquisas petrolíferas, já a cargo de uma empresa concessionária.

ndústria transformadora

81. O lançamento de novas indústrias transformadoras, em especial as complementares da agricultura, constitui o objectivo a atingir.

3. Investimentos

82. Prevêem-se os seguintes investimentos:

Indústria extractiva

Prospecção e pesquisas petrolíferas.

Indústria transformadora

Industrialização de oleaginosas, consequente fábrica de sabão e aproveitamento dos bagaços;
Fábrica de conservas de sumos de frutos e refrigerantes;
Fábrica para o aproveitamento integral do coco.

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Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

83. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo viu «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Os meios de produção de serviço público existentes na ilha de S. Tomé (central térmica e aproveitamento hidroeléctrico do Guegue), com uma potência total disponível de 840 kW, ficaram saturados em 1965, pelo que está em vias de entrar em exploração o aproveitamento do rio Contador (2400 kVA), que poderá satisfazer os pedidos da rede em energia e potência até, possivelmente, 1971.
A cidade de Santo António é presentemente alimentada com um grupo gerador de recurso.
A grande maioria das roças dispõe de centrais hidroeléctricas ou termoeléctricas privativas: em 1965 existiam 38 instalações (das quais 32 do tipo térmico), que totalizavam 2344 kW.

85. A produção e o consumo do sector, relativamente ao período de 1953-1965, foram os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

2. Objectivos

86. O desenvolvimento do sector ficará na estreita dependência do arranque que se verificar, nomeadamente no sector das indústrias de transformação, incluindo as ligadas à pesca. No entanto, pretende-se a aquisição de instalações de produção própria para Santo António do Príncipe.

3. Investimentos

87. No programa inclui-se uma verba «por memória» destinada ao estudo em curso da eventual construção de um pequeno aproveitamento hidroeléctrico na ilha do Príncipe, com capacidade média de 2000 a 2500 k VA.

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Rede de armazenagem

88. Sendo os produtores locais normalmente os exportadores dos seus produtos, dispõem de instalações de tratamento e de armazenagem nas suas explorações, donde são enviados directamente para o exterior. É o que se passa com o cacau, copra, café, coconote e o óleo de palma.
A rede de frio tem sido deficiente, obstando à boa comercialização de certos produtos, nomeadamente u peixe e a carne, mas a ampliação em curso das actuais câmaras frigoríficas municipais de S. Tomé, de 200 m3 para 600 m3, com uma amplitude entre 300 t e 400 t. irá prover satisfatoriamente as necessidades locais de comercialização.

2. Objectivos

89. Pretende-se reduzir os riscos dos ataques de parasitas às existências para consumo ou para exportação, com a construção de alguns armazéns.

3. Investimentos

90. Construção de armazéns de produtos agrícolas, com capacidade para 5000 t.

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1662-(470) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Circuitos de distribuição

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Rede rodoviária

91. A província de S. Tomé e Príncipe dispõe de uma rede rodoviária de indiscutível valor: 823 km de estrada, dos quais 117 km asfaltados.
Do total, cabem à ilha de S. Torne 275 km.
É, no entanto, necessário que os Serviços de Obras Públicas se equipem por forma a poderem assegurar a boa conservação das estradas, em termos de delas tirar o mais econòmicamente possível todo o rendimento que de tais infra-estruturas seja legítimo esperar.
Em 1965 havia na província 821 automóveis ligeiros, 218 camiões, 53 tractores e 156 motociclos.

b) Portos e navegação

92. A construção das instalações portuárias de Ana Chaves (ilha de S. Tomé), não obstante os importantes investimentos realizados, não resolveu o problema de dotar a província com instalações portuárias de acostagem para barcos de longo curso. Há ainda a contar com outros pequenos portos das povoações exclusivamente agrícolas, como Fernão Dias e Morro Carregado, não apetrechados.
O porto da ilha do Príncipe (na cidade de Santo António) não tem quaisquer instalações e sòmente as suas apreciáveis condições naturais permitem que seja frequentado esporadicamente pela navegação de longo curso e sirva. normalmente à navegação de cabotagem (com a ilha de S. Tomé).

c) Transportes aéreos e aeroportos

93. A infra-estrutura aeronáutica de S. Tomé e Príncipe é essencialmente constituída pelo aeroporto de S. Tomé e pelo aeródromo do Príncipe. Existe ainda um outro pequeno aeródromo - o de Porto Alegre - servindo à vida interna da província.
O aeroporto de S. Tomé está classificado como rede nacional. É de todo o interesse que este aeroporto esteja apto a dar apoio em rota e a poder ser utilizado por jactos em emergência.
Quanto ao aeródromo do Príncipe, está a ser convenientemente apetrechado.

d) Telecomunicações

94. No final do ano de 1965 existiam na província 325 telefones automáticos, 2 postos telefónicos públicos e 111 telefones manuais.
A rede telegráfica e radiotelegráfica está coberta com duas estações, uma em S. Tomé e outra no Príncipe.

2. Objectivos

95. São os seguintes os objectivos em vista:

1. Transportes rodoviários

Pretende-se o alargamento da já razoável rede de estradas da província com vias de penetração para o interior.

2. Portos e navegação

Portos

Tem-se em vista dispor em S. Tomé de um porto de mar, que contenha em si todos os requisitos necessários à movimentação dos produtos de e para o exterior e que permita a atracação de navios de grande porte. Na ilha do Príncipe pretende-se melhorar o porto de Santo António.

Navegação

Pretende-se uma maior segurança na navegação (farolagem) e a melhoria das ligações marítimas entre as duas ilhas.

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

Os objectivos a alcançar incluem melhoramentos nos aeroportos existentes.

Transportes aéreos

Há que proceder à remodelação do material de voo, com a substituição dos aviões em serviço por outros de construção recente.

4. Telecomunicações

Pretende-se a automatização e a ampliação da rede telefónica existente.

3. Investimentos

96. A dotação consignada no III Plano de Fomento destina-se a custear os seguintes empreendimentos:

1. Transportes rodoviários

Construção de 88 km de novas estradas, sendo 80 km em S. Tomé e 8 km no Príncipe.

2. Portos e navegação

Instalação de um porto de longo curso em S. Tomé;
Melhoramento do porto de Santo António;
Farolagem dos portos e costas.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(471)

3. Transportes aéreos e aeroportos

Aeroportos

Reapetrechamento oficinal no aeroporto de S. Tomé;
Construção e apetrechamento de um anexo ao hangar do mesmo aeroporto;
Conclusão da asfaltagem da pista do aeródromo do Príncipe;
Construção e apetrechamento de edifícios próprios no mesmo aeródromo.

Transportes aéreos

Aquisição de dois aviões de seis a oito lugares e dos respectivos sobresselentes.

4. Telecomunicações

Automatização da rede telefónica da ilha de S. Tomé;
Ampliação da rede telefónica da cidade de S. Tomé;
Instalação da central telefónica automática de Santo António e lançamento da respectiva rede;
Melhoramento da estação de radiodifusão local.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

97. Existe actualmente em S. Tomé e Príncipe um problema de habitação cuja solução só será viável através da própria população, e não por meio de investimentos maciços do Estado.
De facto, o problema carece de ser abordado pelo estabelecimento de um programa dirigido, não apenas à construção de moradias por parte do Estado, mas também - e principalmente - ao estímulo das actividades privadas e à mobilização das poupanças ou dos esforços familiares.
Assim, sugere-se a criação e desenvolvimento de sistema de auxílio ou participação (sob a forma de subsídios ou créditos a conceder a entidades individuais ou colectivas) e a instalação e propaganda de modalidades da edificação de baixo custo, designadamente através da autoconstrução em locais tidos por convenientes.
Quanto a melhoramentos locais, ao longo do I e do II Planos de Fomento e ainda do Plano Intercalar foram levadas a cabo importantes realizações, e, se não ficaram supridas todas as necessidades, pelo menos não são eximidos investimentos de maior.
Assim, e no que respeita a abastecimento de água, redes de distribuição de energia eléctrica, etc., o que está ainda por realizar não constitui grande problema.

2. Objectivos

98. Tem-se em vista a melhoria do nível habitacional e das condições apresentadas pelos centros populacionais.

3. Investimentos

99. Dirigem-se ao financiamento da construção de casas e de um conjunto de obras de interesse público, assim discriminado:

a) Regularização da margem esquerda do rio Papagaio (Príncipe);
b) Rede de distribuição de energia eléctrica distribuindo-se pelas vilas que se encontram no traçado resultante do aproveitamento hidroeléctrico do rio Contador;
c) Abastecimento de água de povoados;
d) Urbanização de vilas e povoados.

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1662-(472) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Habitação e melhoramentos locais

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

100. Embora exista uma diversidade de factores naturais de atracção turística, a estrutura de apoio é insuficiente para um desenvolvimento de tal actividade.
O apetrechamento hoteleiro reduz-se praticamente a uma pousada situada a cerca de 900 III de altitude, em excelente localização, nas vizinhanças da capital.
As ligações de S. Tomé com o exterior constituem os mais importantes factores que dificultam o desenvolvimento da actividade turística.

2. Objectivos

101. Pretende-se melhorar as instalações existentes, em especial a pousada, onde há que construir algumas infra-estruturas complementares, que constituam motivos de atracção

3. Investimentos

102. Aquisição da propriedade adjacente à pousada de S. Tomo e seu melhoramento, incluindo a instalação de um aldeamento turístico.

Turismo

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

X) Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

1. Educação

a) Ensino primário

103. O ensino primário em S. Tomé e Príncipe tem apresentado, nos últimos anos, um ritmo de expansão muito apreciável, tendo-se já atingido a escolaridade total. O número de alunos tem vindo a aumentar, assim como o de professores.
O movimento escolar nos anos lectivos de 1963-1964 e 1964-196,5 foi o constante dos quadros seguintes, o primeiro relativo ao ensino oficial e o segundo ao ensino particular:

[Ver Tabela na Imagem]

O ensino primário oficial encontra-se actualmente a cargo de professores do quadro efectivo (diplomados com o curso do magistério primário.), de professores contratados (habilitados com o exame de professores de posto escolar ou preparados pelas respectivas escolas de habilitação) e de professores eventuais (chamados a leccionar consoante as necessidades do ensino). Têm-se realizado cursos de férias especialmente destinados aos professores do quadro eventual para melhoria das suas habilitações pedagógico-didácticas.
A mencionar também a existência do ensino infantil.

104. Os elementos estatísticos de que se dispõe permitem traçar as perspectivas que se apresentam para- a evolução do ensino primário.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(473)

[Ver Tabela na Imagem]

b) Ensino secundário

Ensino liceal

105. O ensino secundário é ministrado no Liceu de D. João II, situado na capital. Apesar de instalado em edifício próprio, mas não expressamente construído para o efeito, crescem de ano para ano as dificuldades no que respeita à capacidade e condições de funcionamento das suas actuais instalações.
Além do curso ordinário diurno, funciona também um curso extraordinário nocturno.
Para os anos lectivos de 1963-1964 e 1964-1965, os números são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Ensino técnico e profissional

106. Em 1965 foi criada uma escola técnica elementar de frequência mista em S. Tomé, a qual, em 1967, foi elevada a escola comercial e industrial, encontrando-se ainda na fase preliminar do seu funcionamento.
Mas o ensino profissional elementar dispunha já de uma escola de artes e ofícios; em 1964-1965 tinha 7 professores e 93 alunos.
A referir também uma escola de enfermagem anexa ao hospital centrai.

2. Investigação não ligada ao ensino

107. No caso particular de S. Tomé e Príncipe, predominam, no âmbito da investigação, os trabalhos já efectivados nos anteriores planos de fomento, ou a efectuar de futuro, alguns relacionados directa ou indirectamente com o sector agrícola, quer no sentido de uma melhoria nas práticas e técnicas de cultivo, quer constituindo formas de avaliações de produtividade e dimensão na propriedade, com vista a ulteriores aplicações de diversa natureza, sempre implícitas no âmbito do desenvolvimento económico.

2. Objectivos

1. Educação

108. Pretende-se fundamentalmente elevar o nível cultural da população, através de:

Melhoria das condições do ensino primário;
Ampliação das possibilidades de acesso ao ensino secundário ;
Maior acesso ao ensino médio e superior, com a concessão de um número mais elevado de bolsas para estudos fora da província;
Educação de adultos - promoção social, formação profissional e alfabetização.

2. Investigação não ligada ao ensino

109. São os seguintes os objectivos em vista:

a) Cartografia geral

Prevê-se o prosseguimento dos trabalhos com vista à conclusão das cartas geral e cadastral.

b) Hidrologia

Pretende-se executar os trabalhos de investigação sobre a existência e localização de águas, designadamente com vista às necessidades de irrigação na estação seca.

c) Meteorologia

Tem-se em vista o aperfeiçoamento dos métodos de análise na rede meteorológica da província e o levantamento geomagnético complementar do iniciado em 1960.

d) Investigação aplicada à agricultura

Pretende-se a elaboração de uma nova carta dos solos em menor escala do que a já existente. A investigação básica, a cargo da Estação Agrária e Florestal e dos postos agrícolas, deve prosseguir com o incremento conveniente.

e) Estudos de biologia piscatória

Os objectivos consistem no prosseguimento das investigações sobre a biologia piscatória nas águas de S. Tomé, para um apoio .científico e tecnológico à pesca, e no estudo sobre o estabelecimento de um porto de pesca com as indispensáveis infra-estruturas logísticas e que possa fornecer apoio e abrigo à navegação de pesca oceânica.

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f) Coordenação de investigação científica

Têm-se em vista os estudos económicos de base, análises sectoriais, inquéritos técnico-económicos e demográficos, etc., a realizar por intermédio de um centro de estudos e concessão de bolsas de estudos.

3. Investimentos

110. Prevêem-se os seguintes investimentos:

1. Educação

Construção e apetrechamento de novos edifícios escolares;
Meios de educação audiovisuais;
Formação profissional;
Bolsas de estudo.

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral

Impressão das cartas 1/25 000 e 1/10 000 e estudos geológicos com a finalidade de elaborar a carta geológica.

b) Hidrologia

Estudos sobre a existência e localização de águas.

c) Meteorologia

Rede meteorológica; levantamento geomagnético complementar.

d) Investigação aplicada à agricultura

Elaboração de nova carta dos solos;
Investigação básica.

e) Estudos de biologia piscatória

Aquisição de uma embarcação polivalente para estudos de apoio tecnológico;
Estudos da biologia piscatória;
Estudos sobre o estabelecimento de um porto de pesca.

f) Coordenação de investigação científica

Centro de estudos de base.

Educação e investigação

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(475)

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

111. A assistência médica na província é prestada pela rede sanitária do Estado; pelas autarquias locais (câmaras municipais); pelo Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura; pela Caixa de Aposentações e Pensões dos Funcionários Públicos; pela Casa dos Pescadores; pela Associação de Socorros Mútuos da Trindade; e nas propriedades agrícolas (roças).

112. A organização sanitária oficial compreende um hospital central (cidade de S. Tomé), um hospital regional (cidade de Santo António do Príncipe), quatro delegacias de saúde (três na ilha de S. Tomé e uma na ilha do Príncipe), um centro de assistência materno-infantil (cidade de S. Tomé), um dispensário antituberculoso (idem), uma leprosaria (idem), novos postos sanitários e três maternidades na ilha de S. Tomé, e mais uma maternidade em Santo António.
Este conjunto oferece, no total, 393 leitos, 362 em S. Tomé e 21 no Príncipe.

113. Devido à evolução do sentido das responsabilidades sociais e a uma maior exigência da legislação do trabalho e de assistência ao trabalhador, a actividade privada foi lentamente constituindo um conjunto sanitário privativo bastante vasto. Existem, na província, 29 estabelecimentos hospitalares, dos quais 25 em S. Tomé, 19 postos sanitários (17 em S. Tomé) e um total de 1769 camas (1631 em S. Tomé e 138 no Príncipe).
Não se deve, contudo, considerar este conjunto como uma organização sanitária, porquanto os estabelecimentos não funcionam articuladamente, variando o seu nível por falta de pessoal técnico, ou por outras razões.

114. A manutenção e funcionamento dos estabelecimentos sanitários oficiais e particulares está a cargo de 20 médicos, 1 farmacêutico, 74 enfermeiros (enfermeiros, praticantes e ajudantes) e diverso pessoal administrativo.
A província tem desde 1946 uma escola de enfermagem, mas com reduzida frequência e funcionando no hospital central. Existe também uma secção de educação e serviço social pertencente ao Instituto do Trabalho, Previdência o Acção Social, onde funciona um curso de monitores de família, com vista a promover a divulgação de princípios sanitários.

115. A taxa de mortalidade vem indicando nos últimos anos uma tendência francamente degressiva. De 27,3 por cento em 1951 desceu para 14,3 por cento em 1965.
No quadro nosológico, não obstante verificar-se já uma manifesta diminuição do grau de endemicidade palustre, é ainda o paludismo que rios aparece à frente de todos os males que afligem a população de S. Tomé, logo seguido das outras doenças infecciosas e parasitárias, boubas e tuberculose.
Forçoso se torna assim acentuar a urgência em catalisar a acção da campanha contra o paludismo e contra outras endemias até à sua completa erradicação.

116. A. actividade dos serviços de saúde tem-se .traduzido pelos seguintes números:

[Ver Tabela na Imagem]

2. Objectivos

117. Torna-se necessário reorganizar a estrutura médico-sanitária da província, o que implica, fundamentalmente:

Promover a articulação adequada dos recursos do Estado e dos meios de que dispõem, ou podem vir a dispor, as entidades privadas;
Sistematizar e racionalizar as funções das unidades médico-sànitárias disponíveis;
Contrariar ou impedir a tendência que hoje se verifica para a concentração dos médicos na cidade.

Há também que actuar sobre os factores que mais directa e decisivamente influem nas causas de mortalidade geral e infantil.

3. Investimentos

118. Prevêem-se investimentos para:

Intensificação da campanha contra o paludismo;
Ampliação do hospital central e remodelação pavilhões existentes;
Apetrechamento e equipamento de diversas instalações hospitalares.

Saúde e assistência

Programa de Investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(476) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver Tabela na Imagem]

IV

Angola

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. A economia de Angola pode ser caracterizada, do ponto de vista físico, por dois traços fundamentais: grandeza de recursos oferecidos pela natureza e extraordinária variedade de condições e possibilidades.
Com efeito, se, de um lado, à extensão do território se associam enormes potencialidades energéticas de origem hídrica, um subsolo que, apesar de incompletamente inventariado, já revela realidades e potencialidades muito relevantes de exploração económica, abundantes recursos piscatórios nas águas próximas e proporção favorável de solos com aptidão agrícola, a extraordinária variedade de climas, de solos, de zonas susceptíveis de aproveitamento económico, abre, por seu lado, um panorama rico de possibilidades para um- desenvolvimento económico de largas e variadas perspectivas.

2. Uma população limitada em relação à superfície, com tendência para concentração nas áreas planálticas e nas zonas de influência dos grandes portos marítimos e para um crescimento a ritmo rápido, não suscita situações de pressão demográfica, antes poderá criar condições de escassez de mão-de-obra de todos os níveis de qualificação, nem sempre supríveis pelos fluxos migratórios inter-territoriais.

3. No quadro produtivo, onde a participação da indústria se vai firmando, domina ainda o sector agro-pecuário. As indústrias extractivas, já de relevante contribuição para o produto interno, apresentam perspectivas de grande expansão no futuro próximo.

4. Nas relações económicas com o exterior, assinalam-se como aspectos salientes: o elevado grau de concentração de exportação, o ritmo rápido de expansão das exportações e das importações e a dificuldade de manutenção de um equilíbrio operacional da balança de pagamentos, dada a insuficiência dos fluxos de entradas de invisíveis.

5. As infra-estruturas económicas, que têm sido objecto dê esforços crescentes, acompanham, com as insuficiências próprias de economias dinâmicas e da extensão do território a servir, a evolução, não só dos pólos e eixos de desenvolvimento económico, como, de um modo geral, dos agregados populacionais distribuídos pela província. Três caminhos de ferro de penetração tendo como pontos de partida portos modernos, uma rede de estradas em rápida progressão, três sistemas básicos de produção hidroeléctrica, uma dezena de centros urbanos de relevância suficiente para servir focos de desenvolvimento regional, facultam à economia angolana a quadrícula do seu crescimento, que se tem processado a ritmo acentuado e se poderá ainda acelerar decisivamente no futuro próximo.

6. No aspecto social, a estrutura, na qual se identificam os grandes estratos sócio-económicos normalmente presentes em sociedades duais, tende, em resultado dos progressos alcançados no âmbito da acção educacional, da promoção social, da melhoria do nível económico das populações e da progressiva monetarização da economia do subsistência, para uma cada vez maior integração nas tradições da presença portuguesa. A este respeito são de realçar os resultados espectaculares alcançados no esforço de dar resposta à procura crescente da promoção cultural por parte da população.

7. O sector público, ao qual o condicionalismo sócio-económico de Angola exige responsabilidades particularmente pesadas no campo dos serviços sociais e das infra-estruturas, tem assegurado, com reconhecidas dificuldades e insuficiências, o papel que se pode classificar de decisivo como enquadramento e apoio da iniciativa privada. Os principais estrangulamentos do sector situam-se no plano do pessoal qualificado, sempre escasso, e da capacidade de participação da economia empresarial na realização das infra-estruturas económicas e sociais.
No aspecto financeiro, a economia da província tem reagido favoravelmente no encaminhamento, de proporções crescentes - mas ainda longe de limites extremos -, do seu produto, para satisfação de necessidades colectivas.

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2. Evolução demográfica

8. Segundo o censo de 1960, a população residente na província era de 4 830 449, a que corresponde uma densidade de 3,9 habitantes por quilómetro quadrado. Esta população reparte-se por três grupos étnicos de características distintas. A evolução da população, global e por grupos étnicos, pode avaliar-se pelo quadro que segue:

População residente, por tipos somáticos e sexos

[Ver Tabela na Imagem]

As diferenças verificadas entre os valores da população total e a soma dos valores dos três grupos étnicos indicados resultam do facto de existir um agrupamento populacional composto pelos indivíduos incluídos na designação «Outros tipos» e não integráveis dentro do critério usado para a classificação naqueles três grupos.
Aos valores do quadro anterior correspondem as seguintes taxas de crescimento médio anual:

Taxas de crescimento médio

[Ver Tabela na Imagem]

9. Pode admitir-se que a taxa de crescimento natural da população negra poderá em breve exceder os 2 a 2,5 por cento ao ano actuais, mercê da influência que a curto prazo pode provocar sobre a mortalidade e a natalidade a progressiva melhoria das condições sanitárias e de assistência.
Quanto à população branca, tudo dependerá da sua variável dominante - o saldo migratório. Em 1960 o número de brancos naturais de Angola era de 50 920.

10. As taxas de masculinidade evoluíram da seguinte maneira:

Taxas de masculinidade, segundo os censos de 1940, 1950 e 1960

[Ver Tabela na Imagem]

A distribuição da população, por sexos, apresenta-se, pois, a partir de 1960, mais equilibrada.

11. Considerando a distribuição etária da população, a análise dos elementos apurados nos censos de 1940, 1950 e 1960 revela estabilidade na estratificação da população total, embora para os diferentes grupos somáticos se notem alguns desvios de comportamento.
O estrato juvenil da população total pouco se alterou e o valor de 42 por cento verificado em 1960 constitui a indicação de uma grande reserva de potencial humano para o futuro de Angola. A população em idade activa representava 54 por cento do total, em 1960, mantendo o nível verificado em 1940.
Na população branca é nítida a influência do factor imigração, que se exerce sobretudo nos indivíduos entre os 25 e os 40 anos.
A população em idade activa corresponde a mais do dobro da juvenil. Esta mostra, todavia, nítida tendência para recuperação à custa do estrato imediatamente superior, uma vez que a população senil manteve a sua posição relativa.
O grupo negro é o elemento determinante do comportamento estável da estrutura etária global e a ele se reportam as considerações anteriormente feitas para a população total.

12. A densidade populacional apresentava os valores de 3, 3,3 e 3,9 para a província, para 1940, 1950 e 1960.
Não se verificam modificações de vulto na posição relativa dos distritos. Em 1960, oito distritos apenas - Uíge, Luanda, Cuanza Sul, Malanje, Benguela, Huambo, Bié e Huíla - possuíam 77 por cento da população total, sendo para 1950 de 76 por cento o valor desta percentagem. O distrito do Huambo continuava a ser de longe o de maior densidade, 19,5, embora a sua posição se tenha atenuado um pouco em 1960. Com efeito, Benguela (12,9) e Luanda (10,5) apresentavam acréscimos consideráveis.
No período de 1951-1960 o maior aumento - 159 108 indivíduos- registou-se em Benguela (+48,4 por cento). Por ordem de grandeza relativa seguem-se os distritos de Cuanza Sul (+36,4 por cento), Uíge (+29,1 por cento), Luanda (+23,1 por cento), Guando Cubango (+21,9 por cento) e Cuanza Norte (+21,5 por cento). Embora diminutas, acusam quebras Lunda (- 7,1 por cento), Moçâmedes (-4,3 por cento) e Malanje (-2.4 por cento).
Pelos números apontados verifica-se que se acentua a tendência para uma grande concentração populacional na faixa a oeste do meridiano 18, especialmente nos planaltos e no Noroeste. Tal situação mais se evidencia descendo a análise ao nível dos concelhos e circunscrições.

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Desta forma, os concelhos mais povoados localizam-se nos distritos de Luanda, Huambo e Benguela, verificando-se situação idêntica para as densidades populacionais. No quadro seguinte inserem-se, por ordem, os concelhos que apresentam valores extremos na escala do número absoluto de habitantes e das densidades:

Distribuição da população por concelhos e circunscrições

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, portanto, que, excepção feita para Luanda e Lobito, os maiores valores, absolutos e relativos, pertencem a concelhos do interior e quase todos da zona planáltica. As densidades populacionais, que já apresentavam diferenças relativas consideráveis ao nível dos distritos, vêem acrescer agora a amplitude dessa variação ao nível das unidades administrativas menores.
A distribuição espacial da população de origem europeia caracteriza-se por acentuada concentração, como .mostra o quadro seguinte:

Distribuição por distritos da população branca

[Ver Tabela na Imagem]

O distrito de Luanda ocupa, como se vê, posição de relevo. Em 1960 cerca de um terço dos europeus da província residia neste distrito, na proporção de 16,8 por cada 100 habitantes. Foi este o valor mais alto registado em toda a província, apenas seguido a pequena distância por Moçâmedes, com 16,1. A grande distância vêm os outros distritos.
Da observação destes valores se verifica que a ocupação europeia se localiza de preferência nas zonas do Sul, de colonização tradicional, e nas regiões de Luanda e Benguela-Lobito, de maior desenvolvimento industrial e urbano.

13. A aglomeração da população total de Angola nas zonas planálticas e em algumas regiões do litoral tende a acentuar-se, não só pela acção dos principais centros urbanos, mas também como resultado de movimentos autónomos.

População urbana da província

1960

[Ver Tabela na Imagem]

No que se refere à distribuição da população urbana, o distrito de Luanda surge bastante destacado dos restantes: pertencem-lhe 43,8 por cento da população urbana da província e 64,8 por cento da população nele residente são urbanos. Com valores já notoriamente inferiores, mas ainda muito afastados dos outros distritos, segue-se Benguela, que possui 18,1 por cento da população urbana total. Em Moçâmedes, 32,3 por cento da população são urbanos, mas esta apenas representa 2,7 por cento do total da província.
Não existem elementos que permitam determinar a evolução da população urbana. Pode, todavia, calcular-se que em 1940 esta representava cerca de 5,4 por cento da população total, o que dá um acréscimo de 151,6 por cento para o período de 1941-1960 e, portanto, um aumento médio anual da ordem dos 7,6 por cento.

Principais aglomerados populacionais

[Ver Tabela na Imagem]

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Lobito, Luanda e Malanje foram as cidades que mais cresceram em média, mas, em termos absolutos, nenhuma se equipara ao crescimento de Luanda.
No Sul, o crescimento foi mais lento. Segundo os elementos do censo de 1960, as dezasseis cidades de Angola reuniam 428 652 habitantes, ou seja 10,6 por cento da população total da província. Dos residentes em cidades, 52,4 por cento viviam em Luanda.

14. No que respeita a projecções demográficas, importa considerar que a população da província é composta por grupos étnicos de características próprias, apresentando um dinamismo distinto no seu crescimento, o que leva a ter de se encarar a evolução de cada grupo em separado. As projecções apresentadas devem apenas ser encaradas como mera hipótese de trabalho, de significado sempre limitado. Conforme as hipóteses básicas adoptadas para cada um dos grupos considerados, a população de Angola atingirá em 1973 os níveis de 6 375 000 e 6 729 000 habitantes, correspondendo o nível mais alto a hipóteses plausíveis de evolução de taxas de mortalidade e natalidade da população não alienígena.
Não se afigura provável a alteração significativa da estrutura etária da população até ao termo do sexénio.

3. Evolução do produto, rendimento e despesa interna

Produto interno bruto

15. O produto interno bruto ao custo dos factores1 evoluiu entre 1953 e 1963, para preços constantes de 1963, da forma que a seguir se apresenta, incluindo números-índices para cada ano, respectivamente em relação ao ano anterior e em relação ao ano inicial:

[Ver Tabela na Imagem]

Em dez anos o produto interno bruto cresceu 38,4 por cento, à média anual não acumulativa de 3,84 por cento; de 1958 a 1963 o acrescimento foi de 16,3 por cento, a uma média anual não acumulativa de 3,28 por cento.
O ajustamento linear da série de valores disponíveis, o qual tende a desprezar as flutuações anuais, feito pelo método dos mínimos quadrados, conduziu à determinação da taxa de crescimento anual de 3,62 por cento, taxa que pode ser tomada como a taxa média mais significativa para a evolução do produto interno bruto de Angola no período em análise.
A distribuição percentual deste agregado pelos dois circuitos - monetário e não monetário - foi, nos anos mais relevantes do período considerado, a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

16. A despesa imputada ao produto nacional bruto evoluiu entre 1953 e 1963, para preços constantes de 1963, da forma que se pode observar no quadro seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

17. A evolução do produto nacional bruto apresenta uma natural similitude com a do produto interno, com as mesmas pequenas quebras em 1954, 1956 e 1962, das quais apenas a primeira não foi provocada essencialmente pela variação dos preços, pois, para preços correntes, sòmente se assinala um ligeiro recuo em 1954. O valor máximo foi atingido em 1963.
Em dez anos, o produto nacional bruto cresceu 39,9 por cento, à média anual não acumulativa de aproximadamente 4 por cento, a que correspondeu nível mais alto no período terminal.

Taxas de acréscimo anual médio do produto nacional bruto

[Ver Tabela na Imagem]

Considerando apenas os fluxos monetários da despesa imputada ao produto nacional bruto, as taxas seriam maiores e até mais significativas, na medida em que punham em evidência uma sólida tendência monetarizante na economia. O dualismo económico da província já assi-

1 Os dados que serviram de base para a presente análise foram as estimativas da Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar, que englobam tanto os circuitos monetários como os não monetários, o que exige que os dados apresentados sejam objecto de tratamento para fazer face às dificuldades encontradas na utilização das estimativas do produto gerado pela economia de subsistência.

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nalado, pode observar-se também nos valores deste agregado, através do quadro seguinte:

Taxas de acréscimo anual médio do produto nacional bruto

Circuito monetário

[Ver Tabela na Imagem]

Despesa imputada ao produto nacional bruto

Preços constantes

[Ver Tabela na Imagem]

18. Os valores insertos neste quadro revelam uma evolução mais favorável no circuito monetário, do que resultam taxas de acréscimo mais elevadas do que as anteriormente referidas.

19. A evolução deste agregado pode considerar-se caracterizada pelos seguintes aspectos: posição preponderante da despesa de consumo privado, com mais de 77 por cento, em média, do total e cadência de crescimento - 3,7 por cento ao ano - muito satisfatória, se não esquecermos o ainda elevado grau de subsistência da economia da província; expansão muito rápida do consumo público, à taxa média anual de 17 por cento; relativa estagnação da formação bruta de capital fixo, que aumentou apenas 2 por cento por ano; e deterioração do saldo da balança de pagamentos, traduzida por uma redução de cerca de um terço no período em causa.

Despesa imputada ao produto nacional bruto

Distribuição percentual

[Ver Tabela na Imagem]

4. Relações económicas com o exterior

20. O crescimento da economia de Angola está fortemente condicionado pelas disponibilidades de meios externos de pagamento, exigidos para assegurar a aquisição em proporções crescentes de bens de produção e promover a atracção dos técnicos e mão-de-obra qualificada, cuja procura excede a capacidade de formação in loco.

21. Qualquer destas acções não pode, com efeito, deixar de exercer considerável pressão sobre a balança de pagamentos territorial, a acrescer à tendência normal em economias em vias de desenvolvimento para a não absorção a níveis satisfatórios do aforro local. Tais circunstâncias põem em clara evidência a posição estratégica ocupada pelo comportamento da balança de pagamentos no processo de desenvolvimento da economia e, consequentemente, a necessidade de sobre ele manter observação atenta.

22. A análise da balança de pagamentos da província nos anos de 1964 e 1965 oferece uma panorâmica talvez insuficientemente ampla, na medida em que o período considerado assume natureza transitória, em virtude de corresponder à fase de arranque do sistema de pagamentos interterritorial, e, portanto, de reestruturação de orgânicas e métodos, incluindo os aspectos estatísticos. Afigura-se, porém, suficiente para ser possível evidenciar as linhas gerais de caracterização estrutural e tendencial convenientes para os efeitos presentes.

23. O exame das balanças de pagamentos externos constante do quadro seguinte mostra que o equilíbrio satisfatório, que tem sido mantido e que se traduz por saldos positivos de 1642 e 738 milhares de coitos, respectivamente nos anos de 1964 e 1965, tem sido tornado possível pelos saldos apurados nas seguintes rubricas: mercadorias, transportes e diversos (englobando como componente mais importante as operações do Estado).
No que diz respeito às operações de capital, é o sector público aquele onde se podem assinalar saldos positivos.
Isto significa que as perspectivas de equilíbrio da balança de pagamentos assentam na capacidade previsível de resposta da evolução das exportações, do rendimento dos caminhos de ferro internacionais e do financiamento pela Administração Central das despesas extraordinárias de fomento ou de outra natureza, às exigências impostas pela expansão de consumos, pela transferência de lucros, juros e rendas, pelas remessas de emigrantes e pelo pagamento de serviços.

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Balança de pagamentos externos

[Ver Tabela na Imagem]

24. Decompondo este quadro global nos seus dois elementos componentes básicos -balança de pagamentos Interterritorial e balança de pagamentos internacional -, verifica-se, que os saldos apurados são resultantes da combinação sistemática de saldos negativos na primeira destas balanças com saldos fortemente favoráveis na segunda.

[Ver Tabela na Imagem]

Por uma análise mais pormenorizada das diversas operações com os territórios nacionais, verifica-se que a única rubrica que apresenta saldo positivo, digno de ser considerado, é a do Estado, contribuindo mais fortemente para o saldo negativo global as rubricas «Transferências privadas», «Rendimento de capitais», «Turismo» e «Mercadorias». Esta última denuncia o desequilíbrio de trocas comerciais com o espaço económico nacional, embora o valor apurado apareça um pouco superior à realidade, na medida em que não estão contabilizados todos os cambiais, em virtude da manutenção de regimes contratuais especiais.

Balança de pagamentos com territórios nacionais

[Ver Tabela na Imagem]

As rubricas «Transferências privadas» e «Turismo» reflectem os efeitos de estrutura demográfica caracterizada por um largo sector da população fortemente ligado ainda aos territórios de naturalidade, além da propensão à exportação de poupanças verificada, em regra, nas economias em vias de desenvolvimento.
A rubrica «Rendimento de capitais» mostra o grau de dependência em que o investimento na província se encontra do mercado de capitais metropolitano.
Para normalizar a situação dos pagamentos interterritoriais de Angola, foram recentemente tomadas pelo

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Governo Central medidas que se traduzem na concessão à província de dois empréstimos de 500000 contos cada um, um pela Companhia de Diamantes de Angola e outro através do Fundo Monetário da Zona do Escudo.

25. Passando à análise da balança das operações com o estrangeiro, verifica-se que o saldo positivo apurado para o período em exame se deve não só ao valor do saldo derivado das trocas de mercadorias, como ainda ao saldo da rubrica «Transportes». Para a formação do saldo desta rubrica contribuíram essencialmente os fretes com mercadorias que são proporcionados pelo caminho de ferro de Benguela. É o que consta no quadro seguinte:

Balança de pagamentos com territórios estrangeiros

[Ver Tabela na Imagem]

26. Numa definição dos aspectos da balança de pagamentos da província mais relevantes para o processo do seu desenvolvimento económico, salienta-se, pois, com nitidez, o papel determinante desempenhado pela atracção de capitais externos, pela fixação de poupanças locais e, em especial, pela expansão das exportações, na manutenção de um equilíbrio dinâmico compatível com a expansão visada.
Com efeito, não sendo de prever possibilidades relevantes em matéria de pagamentos correntes de serviços, a cobertura das crescentes importações impostas pelas necessidades de equipamento e de bem-estar das populações e dos- encargos com a remuneração e amortização de capitais externos, cuja liquidação imediata constitui condição essencial e forte incentivo para atrair novos investimentos, será nos sentidos indicados que com maior segurança se poderá agir com vista a alcançar os objectivos estabelecidos.
De entre eles sobressai, porém, como mais susceptível de resposta rápida e adequada, o sector das exportações, ao qual se tem de pedir um ritmo de aceleração superior ao das importações, de modo a facultar cobertura adequada às restantes rubricas da balança de pagamentos.
Será, pois, neste aspecto que incidirá uma análise mais aprofundada, através da qual se procurará caracterizar a tendência dominante e apontar as linhas de acção susceptíveis de conduzirem à realização dos fins visados e que constituem, afinal, uma das condições de realização do III Plano de Fomento.

Apreciação da balança comercial

27. A balança comercial de Angola tem apresentado uma evolução irregular, muito embora predomine, no conjunto dos anos, a ocorrência de saldos positivos, de maior ou menor volume.

Balança comercial de Angola

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, assim, que, em relação ao período indicado, se registou, com ligeiras oscilações, um crescimento firme, quer das exportações, quer das importações e, ainda, um certo paralelismo nesta evolução, na medida em que as exportações .se expandiram à taxa média anual de 8,3 por cento e as importações, revelando um ritmo mais acentuado, à taxa média anual de 8,6 por cento.
Relativamente à série apresentada, interessará ainda destacar a expansão verdadeiramente notável operada a partir de 1961, quer nas exportações, quer nas importações, e que só em 1965 apresentou uma sensível quebra quanto às exportações, motivada, fundamentalmente, pela diminuição registada com o sisal (-205699 contos), os minérios de ferro ( - 87281 contos) e o petróleo ( - 118909 contos).

28. A exportação tem-se caracterizado, quanto à sua composição, por um elevado predomínio de bens primários ou matérias-primas. Assim, em 1965, o café em grão (47 por cento), os diamantes em bruto (16 por cento), o milho (õ por cento), o sisal (5 por cento) e os minérios de ferro (3 por cento) representaram 76 por cento desse montante, o que evidencia, além do uma estrutura fortemente primária das actividades orientadas para a exportação, a existência de uma forte vulnerabilidade às frequentes oscilações de preços que caracterizam as cotações dos produtos básicos no mercado mundial, em consequência da elevada concentração observada.
A verificação desta estrutura põe em evidência a necessidade que existe de se adoptarem as medidas convenientes destinadas a conseguir-se uma maior diversificação dos produtos exportados, a fim de se obviar às consequências, sempre de ampla repercussão na economia interna, que resultam das frequentes oscilações das cotações mundiais dos produtos primários, e ainda, o que é mais grave, a tendência para a baixa de cotações que os mesmos revelam.
A elevada concentração por produtos acresce uma alta concentração na distribuição geográfica do comércio externo.
Assim, se considerarmos a repartição pelos principais mercados consumidores relativa ao último quinquénio, desde logo se vislumbra uma forte dependência em relação a um número muito reduzido de clientes, facto bem traduzido pela circunstância de por exemplo em 1965, apenas quatro mercados absorverem 75,8 por cento das exportações totais. Dos territórios estrangeiros pertencentes a este grupo ressalta a posição assumida pelos Estados Unidos, com uma percentagem média no quinquénio em referência acima dos 20 por cento, que se pode atri-

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buir, na quase totalidade, às vendas de café para aquele mercado.
Quanto aos espaços económicos com os quais mantemos um comércio intenso de exportações, interessará referir separadamente, analisando-as especialmente sob o aspecto de evolução, as vendas para o espaço económico nacional, para a C. E. E. e para a E. F. T. A. (com exclusão da metrópole).

Evolução dos produtos exportados

[Ver Tabela na Imagem]

Repartição geográfica das exportações

Principais territórios clientes e zonas; quinquénio de 1961-1965

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Exclui a metrópole.

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Deste modo, o espaço económico português detém uma progressiva participação, muito embora, considerando isoladamente a metrópole e o ultramar, se tenha assistido a uma evolução em sentidos opostos: assim, enquanto as vendas com destino ao mercado metropolitano conheceram no quinquénio forte expansão, as exportações para os territórios ultramarinos apresentaram uma evolução regressiva, se bem que pouco acentuada. Este surto das vendas à metrópole filia-se essencialmente no processo de integração económica, através da qual se tem operado uma progressiva eliminação dos obstáculos à livre circulação de mercadorias.
Relativamente às associações económicas europeias, observa-se, no que respeita à C. E. E., uma certa estagnação do nosso comércio. Quanto à E. F. T. A., a quebra detectada resulta do desvio que se tem operado na exportação de diamantes em bruto do Reino Unido para a metrópole, mercê da instalação da indústria de lapidação neste território.

29. Do mesmo modo que na exportação, também nas compras ao. exterior se assinala uma certa concentração quanto a determinadas categorias de bens, relevando-se as que seguidamente se indicam, escalonadas por ordem decrescente dessa sua posição relativa, representativas de 73,2 por cento do valor global importado no quinquénio de 1961-1965:
Percentagens

Matérias têxteis e respectivas obras ...... 16,6
Máquinas e aparelhos; material eléctrico .................................. 14
Material de transporte ..................... 13,8
Produtos das indústrias alimentares; bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres; tabacos .... 11,1
Metais comuns e respectivas obras .......... 10,2
Produtos das indústrias químicas e das indústrias conexas ......................... 7,5

Interessa saber, em relação a estas classes de bens, quais os produtos que mais contribuíram para a formação do valor global de bens no exterior, com vista à planificação, dentro do possível, das medidas que conduzam à implantação de uma política tendente a diminuir, progressivamente, a dependência do exterior em relação a estes produtos.
Assim, trabalhando com valores globais referentes ao quinquénio de 1961-1965, a estrutura em relação aos grupos de mercadorias mais relevantes no quadro das importações é a seguinte.

[Ver Tabela na Imagem]

Entre os produtos mencionados, interessa referir, dadas as potencialidades existentes na província para um aumento substancial da produção local a prazo mais curto, a importância assumida pelos tecidos de algodão no conjunto das exportações.
Quanto às restantes mercadorias, verifica-se, de um modo geral, que as possibilidades de produção na província são ainda bastante limitadas para os próximos anos, dado o grau de industrialização que exigem.
No que respeita à repartição geográfica das importações, verifica-se ainda uma certa concentração, assumindo posição de especial relevo o volume das compras efectuadas em território nacional.
Assim, para o quinquénio de 1961-1965 registou-se a distribuição que seguidamente se aponta, por territórios fornecedores:

Repartição geográfica das importações

Principais territórios e zonas; quinquénio de 1961-1965

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Exclui a metrópole.

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30. Em relação ao decénio de 1956-1965, apresentaram as exportações e as importações uma taxa média de crescimento anual da ordem, respectivamente, dos 8,3 e 8,6 por cento. Prevê-se que as taxas de crescimento a observar para os próximos anos sejam substancialmente mais elevadas. Efectivamente, se atentarmos na série de valores, para o decénio em causa, apresentada pelas duas variáveis da balança comercial, identificaremos desde logo a existência de dois períodos distintos: um, situado entre 1956 e 1961, caracterizado por uma estagnação relativa, durante a qual as exportações denunciaram um acréscimo anual médio da ordem dos 3,6 por cento e as importações um aumento médio, bastante menos acentuado, de 0,7 por cento; outro, posterior a 1961, simbolizado por uma saudável reacção de natureza económica ao surto terrorista, em cujo decurso as exportações atingiram o notável acréscimo médio anual de 12,1 por cento e as importações um aumento médio, verdadeiramente excepcional, de 17,9 por cento.
Julga-se, pois, que terá de ser com base nesta evolução recente que se deverá enquadrar o comportamento para os próximos anos das duas componentes em apreço (importação e exportação).
Assim, quanto à importação, é provável que a taxa de crescimento médio anual se situe nas proximidades dos 15 por cento, previsão que, a concretizar-se, forneceria os valores de 6,7 milhões de contos em 1968 e 9,1 milhões de contos em 1973.
Quanto à exportação, será previsível, desde que se concretizem alguns dos empreendimentos adiante preconizados, que venha a conhecer taxa ainda mais elevada do que a calculada para os anos mais recentes posteriores a 1961. Efectivamente, estimando, só com base no projecto de exploração mineira de Cassinga, uma exportação de minério de ferro para 1968 da ordem dos 2 milhões de toneladas e um crescimento médio anual destas exportações do nível dos 25 por cento, o que não parece exagerado e permitiria um volume de vendas deste produto em 1973 da ordem dos 4,5 milhões de toneladas, poder-se-ia atingir para o período de execução do Plano uma taxa de crescimento das exportações - desde que as exportações dos restantes produtos crescessem ao mesmo ritmo do período posterior a 1961 - do nível dos 14,1 por cento, a que corresponderia, em 1973, um valor exportado próximo dos 10,4 milhões de contos.
Com base nestas estimativas, necessariamente muito grosseiras, poder-se-ão esperar os níveis seguintes:

Níveis da balança comercial

[Ver Tabela na Imagem]

Fomento da exportação

31. Como medida principal neste campo, situa-se a expansão da produção, que será necessário processar a ritmo mais intenso, em especial a daqueles sectores com reflexo na exportação. Assim, apontam-se duas ordens de acção, consoante a sua execução se deva realizar a médio ou a longo prazo.

a) Objectivos a médio prazo

1. Intensificação ou início do aproveitamento das jazidas minerais já identificadas e com características de exploração econòmicamente rentável.
Parecem residir nesta rubrica as possibilidades de se conseguir, no decurso dos próximos anos, um aumento mais espectacular do valor das exportações. Oferecem tais perspectivas ,a exploração dos minérios de ferro e a extracção do petróleo.

32. Os fosfatos naturais de Cabinda já assinalados merecem especial referência entre uma gama ampla de possibilidades, pois, além de poderem vir a ter razoável incidência na exportação, poderiam ainda constituir fonte de matéria-prima para a produção local de fertilizantes.

2. Expansão das produções do sector agro-pecuário em relação às quais se sabe existir já um conjunto de factores produtivos favoráveis e boas perspectivas de colocação no exterior.

Nesta categoria podem enquadrar-se diversos produtos, merecendo especial relevo o açúcar, o algodão, as frutas, carnes de bovinos e produtos de palmar.

33. Quanto ao açúcar, embora a comercialização mundial deste produto se tenha caracterizado até agora por uma superprodução - com o inevitável reflexo numa tendência para uma progressiva baixa de cotações -, o facto é que, enquadrando o problema no âmbito nacional, as perspectivas existentes para a colocação da expansão da produção de Angola são favoráveis.

34. Efectivamente, não obstante o acréscimo que se tem registado na produção da província de Moçambique, o deficit do consumo da metrópole, que tem vindo a ser suprido com produtos de origem estrangeira, atingiu em relação ao ano de 1965 o quantitativo de 47 481 t, no valor de 125 193 contos, sem mencionar as potencialidades reveladas pelas baixas Capitações de consumo em quase todos os territórios nacionais.
Como veremos, será considerada a instalação de mais uma fábrica de açúcar em Angola.
Quanto ao algodão, será necessário levar a cabo esforço notável para que a exportação desta fibra conheça expansão razoável.
No que respeite, às frutas, aquelas que para os próximos anos apresentam maiores perspectivas de virem a constituir fonte de receita em cambiais apreciáveis são a banana e o abacaxi, muito embora para a exportação em. fresco a primeira assuma papel muito mais relevante. Efectivamente, quanto à segunda, as possibilidades de exportação em volume mais significativo residem na colocação dos produtos já industrializados (rodelas, sumos, compotas, etc.).

35. O crescimento do consumo que se tem operado no mercado metropolitano tenderá a aumentar nos próximos anos, mercê de acção positiva, não só no âmbito da distribuição, como também no da política de baixo preço ao consumidor, que se espera levar a cabo. É legítimo esperar que a exportação de frutas frescas atinja em 1968

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o nível das 20 000 t, quantitativo que, em cambiais, se representarão, aos preços actuais, por receitas da ordem dos 40 000 contos.

36. As carnes de bovino constituem um idos produtos que mais seguramente poderão contribuir para a expansão das receitas de exportação da província nos anos mais próximos, dada a escassez mundial da carne. Na verdade, dos produtos agro-pecuários, a carne foi o único que, no comércio internacional, experimentou, durante o período de 1952-1954 a 1962-1964, um acréscimo positivo para o seu valor unitário da ordem dos 14 por cento. A fim de se inferir do interesse nacional que revestirá o fornecimento da metrópole por esta província, bastará referir que aquele território importou, em 1965, 9786 t, no valor de 180 367 contos, tendo Angola (único território nacional fornecedor) participado apenas com 4,7 por cento da quantidade global.

37. Finalmente, interessará referir a melhoria em receitas que se poderá vir a basear no palmar.
Embora o valor exportado dos produtos derivados do palmar .assuma já volume bastante significativo no .quadro das exportações - o montante global de 144 387 contos -, as possibilidades de colocação existentes garantem a programação do adequado sistema de acréscimo de produção, do qual possa resultar notável aumento na participação destes produtos. Quanto ao caso particular do óleo de palma, deverão ser incentivados os esforços desenvolvidos no sentido da produção de óleos com menor acidez, facto que, a atingir-se, poderá, só por si, proporcionar relevante aumento da receita do produto exportado..

3. Implantação de um esquema visando a progressiva substituição da exportação de produtos primários pela dos produtos laborados ou semilaborados deles derivados.

38. Neste grupo enquadram-se com carácter prioritário: madeiras, crueira, sisal, milho, couros e peles.
A exportação de madeiras de espécies indígenas, que interessa fundamentalmente ao distrito de Cabinda e à região do Luso, constitui um dos casos mais relevantes quanto à natureza dos produtos exportados, em que se assinala com mais intensidade o insuficiente aproveitamento que tem sido dado a esta riqueza da província.
Efectivamente, se se atender aos números relativos à exportação efectuada em 1965, verifica-se que a quase totalidade do produto exportado é feita sob a forma de toras em bruto, constituindo a parte referente a madeira trabalhada uma fracção pouco significativa.
Quanto às madeiras exóticas, de que existem extensas áreas plantadas, o seu aproveitamento tem sido realizado através da sua transformação em celulose e produtos derivados, que, em 1965, atingiram já função de certo relevo nas exportações, como se infere pelo quadro seguinte:

Exportação da indústria de celulose

[Ver Quadro na Imagem]

O esforço a desenvolver neste campo respeitará essencialmente a um mais integral aproveitamento das madeiras duras, através da sua industrialização local. Além da obtenção de maiores receitas da exportação de produtos mais nobres, conseguir-se-á também um aproveitamento mais completo da madeira cortada, na medida em que aquela que não reúna as condições e as características para exportação em espécie poderá ser aproveitada para a industrialização.

39. Um outro produto cuja industrialização deverá merecer atenção especial é a crueira, cujos derivados cobrem uma extensa gama de produtos alimentares. A reduzida capacidade de consumo do. mercado interno destes produtos aconselha, todavia, que se tenha em atenção, no dimensionamento e apetrechamento das unidades a instalar, a dependência em que as unidades ficarão dos mercados externos, visto só através destes poderem conseguir o nível de consumo que justifique o volume de investimentos a realizar.
A exportação de crueira tem acusado crescimento razoavelmente firme, cujas oscilações em valor são imputáveis, fundamentalmente, às flutuações das cotações.

40. A industrialização do sisal limitava-se praticamente à desfibração em fábricas que funcionam junto das fazendas agrícolas.
O número de indústrias de desfibração instaladas até ao final de 1964 era de 132, mobilizando 10 586 operários e representando um investimento de 170 116 contos.

Industrias instaladas de desfibração de sisal

[Ver Tabela na Imagem]

Após a preparação levada a efeito nas instalações de desfibração, a fibra é exportada na sua quase totalidade. A parte destinada ao consumo interno tem-se mostrado insignificante relativamente ao total da produção. Com efeito, as indústrias de cordoaria, de tapetes e de redes de pesca, que utilizam o sisal como matéria-prima, são em número restrito e de pequena capacidade. Todavia, são aproveitadas anualmente na província grandes quantidades de estopa de sisal para o fabrico de papéis, designadamente do tipo Kraft, com base nas pastas de madeira.
Em 1965, porém, foi inaugurada uma importante unidade industrial de fiação e cordoaria - Cofiang -, prevendo-se que a mesma venha a influir no crescimento da procura interna.
No entanto, mais duas instalações fabris estão previstas para breve.

41. O milho, não obstante as condições em que a sua produção se processa, tem desempenhado papel de relevo no quadro das exportações, como se pode inferir

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pelos números a seguir indicados, relativos, na sua maior parte, a fornecimentos destinados ao abastecimento do mercado metropolitano, números estes bastante afastados da produção real, dado o elevado autoconsumo registado:

Exportação de milho

[Ver Tabela na Imagem]

As séries revelam, extrema instabilidade, que traduz o que na cultura se processa, na estreita, dependência da maior ou menor regularidade das chuvas.
A industrialização deste cereal em larga escala, com vista à produção, nomeadamente, de farinhas, amidos, óleos de milho, etc., constituiria achega de maior interesse com vista à valorização do produto e poderia até vir a representar um meio de atracção para a instalação de explorações em moldes empresariais, com as consequentes vantagens de melhoria de qualidade do cereal produzido, aumento da produtividade, etc.

42. Finalmente, interessa considerar os couros e peles em bruto, produtos que, embora tenham, actualmente, um significado no quadro das exportações relativamente reduzido, apresentam perspectivas bastante favoráveis a partir do momento em que a exportação de carne comece a acusar os efeitos dos intensos esforços que estão a ser desenvolvidos no sector pecuário.

4. Intensificação das produções locais de nível insuficiente para a satisfação do consumo interno

Além do esforço a ser desenvolvido no sentido da substituição de importações, apresenta especial relevo a intensificação das produções locais, que, por virtude da sua insuficiência na satisfação do consumo interno,- tem originado o recurso à importação. Interessará focar, em particular, os casos do trigo, lacticínios, tabaco, batata e óleo e sementes de amendoim, por serem os produtos que, em consideração das possibilidades existentes, menos justificam a realização de importações avultadas.

43. No último quinquénio registaram-se os seguintes números respeitantes à importação do trigo na província:

Importação de trigo e farinha de trigo

[Ver Tabela na Imagem]

A produção aproximada deste cereal em período recente é-nos dada pelos seguintes números, que representam as aquisições efectuadas pelo Instituto dos Cereais:

Produção interna de trigo

Montante aproximado

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, pois, a necessidade de intensificar a produção deste cereal, de modo a combater os factores estruturais que contribuem para o aumento da dependência do abastecimento interno em relação ao exterior.

44. No quadro seguinte reproduzem-se os números respeitantes à importação de leite (conservado, concentrado ou açucarado), queijo e manteiga, no quinquénio de 1961-1965.

Importação de leite e seus derivados

[Ver Tabela na Imagem]

Os números acima aconselham todas as tentativas no sentido de se reduzir, dentro do possível, a crescente saída de divisas imputáveis a estes produtos.

45. Nos últimos dois anos registou-se razoável expansão na produção do tabaco, como se verifica pelo seguinte quadro:

Produção de tabaco

Montante aproximado

[Ver Tabela na Imagem]

Apesar desta evolução, verifica-se que a participação da produção da província não tem acompanhado o ritmo de crescimento de produção do tabaco manufacturado, como se pode inferir da evolução seguidamente apresentada.

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Importação de tabaco

[Ver Tabela na Imagem]

Nota-se o recurso crescente às ramas exóticas. A penetração das mesmas no mercado externo tem-se revelado difícil.
Seria, assim, de tentar um esforço das manipuladoras no sentido de gradualmente, se procurar uma utilização cada vez mais completa das ramas locais.

5. Perspectivas de desenvolvimento

46. As características estruturais e dinâmicas que a análise da economia permitiu pôr em relevo apontam de forma clara quais os sentidos em que, com maior probabilidade de sucesso, se deverão orientar os esforços a realizar para alcançar a desejada aceleração do seu processo de crescimento económico.

47. A expansão do seu produto interno, a ritmo suficiente para permitir uma redução progressiva da disparidade hoje verificada relativamente ao nível da capitação observada na metrópole, constitui objectivo atingível através de esforços concentrados e concertados essencialmente em três campos:

A intensificação, aliás já realidade, do aproveitamento dos recursos do subsolo para exportação e, sempre que econòmicamente possível e rentável, para transformação local;
A melhoria da produtividade da agricultura, sector sobre o qual a economia angolana continua fundamentalmente a assentar e cujas potencialidades se oferecem suficientemente variadas pára permitir segura escolha das culturas a fomentar ou a introduzir e das acções a realizar com vista a promover técnica e humanamente os agricultores tradicionais e a integrar as suas actividades na economia de mercado;
O fomento industrial, que, não obstante a autonomia do seu carácter motor, terá de se apoiar no desenvolvimento dag indústrias extractivas e da agricultura, com vista quer a valorizar as suas produções, dentro das possibilidades oferecidas pela receptividade dos mercados externos, quer à satisfação dos consumos locais. Este processo de industrialização deverá, em qualquer caso, ter como condição essencial a rentabilidade e viabilidade técnica, económica e financeira das unidades fabris.

48. A concretização de um esquema baseado nestas linhas genéricas de acção tem como condicionantes a satisfação paralela das exigências em matéria de infra-estruturas económicas e sociais e um esforço determinado no sentido da projecção, a ritmo ainda mais acelerado, do futuro da obra extraordinária de promoção social que vem sendo realizada nos mais diversos aspectos das populações da província.
A este respeito reconhece-se haver difícil equilíbrio a estabelecer entre as vantagens económicas de concentrar investimentos e acções nos pólos, zonas e eixos de desenvolvimento económico já existentes e a indispensabilidade de considerar simultaneamente a melhoria das condições de vida e de trabalho dos restantes núcleos populacionais.
A cuidadosa gestão dos recursos disponíveis e a congregação da colaboração das populações interessadas permitirá, certamente, resolver esta difícil compatibilização dos interesses puramente económicos com os de ordem política, social e humana.

49. O desenvolvimento das infra-estruturas económicas poderá, para além dos seus efeitos directos, desempenhar papel de relevo na formação do espírito empresarial, na medida em que a realização da obra e o fornecimento de equipamentos possam ser satisfeitos localmente. Uma programação cuidada poderá, com algum apoio, criar condições de vida básicas para novas indústrias e para o aparecimento ou consolidação de novas empresas.

50. As perspectivas abertas a um povoamento autónomo, determinado pelo próprio processo de desenvolvimento económico, ainda que não excluindo a vantagem da assistência e promoção oficiais, podem qualificar-se de muito favoráveis em si mesmas e susceptíveis de terem efeitos induzidos de relevo, através, nomeadamente, do alargamento e diversificação do consumo interno.

51. A efectivação das perspectivas apontadas implicará o prosseguimento de uma política financeira dominada pela preocupação de estabelecer equilíbrio entre uma tributação que, sendo dinâmica e adequada para cobertura dos encargos correntes e com os empreendimentos programados, não desincentivo o investimento e, em particular, a atracção de capitais externos.

52. A manutenção de um equilíbrio da balança de pagamentos externos constituirá segunda, e não menos importante, preocupação, cuja concretização está condicionada pelo sucesso que venha a ser alcançado no domínio da expansão das produções para exportação ou para substituição de importações e de fixação de poupanças formadas localmente em empreendimentos na província.

CAPITULO II

Objectivos

1. Objectivos gerais

53. A efectivação no condicionalismo particular de Angola dos objectivos que foram definidos pára o III Plano de Fomento traduz-se pelos seguintes objectivos:

1.º Intensificação do aproveitamento dos recursos do subsolo. - A posição já alcançada neste sector, nomeadamente no que concerne ao empreendimento mineiro de Cassinga, e o conhecimento das grandes potencialidades de aproveitamento a curto e médio prazo levam a considerar este sector como sendo um dos sectores motores do desenvolvimento da economia de Angola, com reflexos particularmente favoráveis da respectiva balança de pagamentos.
2.º Melhoria do nível de produção e produtividade do sector agro-peçuário - A aceleração do crescimento do produto deste sector constitui objectivo fundamental, quer no aspecto económico, quer

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(489)

no aspecto social. Com efeito, não só nele se registam possibilidades de grande expansão de produção para consumo interno, para exportação e para transformação industrial mediante investimentos nem sempre vultosos, como tão-pouco se pode deixar de ter em conta o factor da promoção social das populações agrícolas, que no conjunto atingem cerca de 90 por cento da população activa, o qual está condicionado estreitamente pelo nível económico correspondente.
3.º Aumento e valorização da produção piscatória. - As actividades piscatórias desempenham já papel importante na vida económica de Angola. A riqueza piscatória das suas costas e a localização favorável, em relação aos pesqueiros do Atlântico sul, permitem considerar como objectivo fundamental o aumento do volume das capturas, através da modernização das frotas de pesca e seu equipamento, e o melhor aproveitamento qualitativo do pescado através da industrialização e comercialização convenientes.
4.º Desenvolvimento paralelo do processo de industrialização. - Visando a valorização de produtos agrícolas, piscatórios ou mineiros para a exportação ou a sua transformação com vista a satisfazer o consumo interno, a industrialização está chamada a desempenhar papel de multiplicador do desenvolvimento económico de Angola, se conduzida num critério de estrita rentabilidade e viabilidade técnico-económica.

54. Estes objectivos, cuja efectivação corresponde essencialmente ao propósito de assegurar a aceleração do ritmo de crescimento do produto nacional da província, permitirão realizar simultaneamente as condições básicas para o aperfeiçoamento do esquema de repartição dos rendimentos, qual seja o aumento absoluto dos produtos e a melhoria do nível de produtividade da mão-de-obra nos sectores motores.

55. Mais como condição do que como objectivo, haverá que apontar ainda:

5.º Completamente e ampliação da rede das infra-estruturas. - A rede actualmente disponível de infra-estruturas carece de acompanhar e mesmo preceder o desenvolvimento programado nos diversos sectores económicos e as necessidades crescentes em matéria de equipamento social. Qualquer desfasagem nesta ligação poderá traduzir-se em estrangulamentos e deseconomias externas, que importa evitar a todo o custo.

56. Para além destes objectivos essencialmente económicos, há que referir como objectivo prioritário e em Brande medida condicionante de toda a acção de progresso económico o seguinte:

6.º Promoção a ritmo cada vez mais acelerado das populações. - A valorização humana é, com efeito, fim essencial a atingir e condição de sucesso de todos os empreendimentos que assentem na modificação de atitudes ou exijam melhores qualificações profissionais e culturais ou mais elevado nível sanitário ou nutricional. Registar-se-á, em especial, a estreita conexão existente entre a promoção social e a integração em economias de mercado.

2. Projecções

Projecções do produto

57. A partir dos dados da contabilidade económica da província, foi verificada uma taxa média de crescimento anual do produto interno bruto de 3,62 porcento até 1963. Atendendo, porém, a que o ritmo de crescimento deveria ter-se acentuado em 1964 e 1965, é de aceitar como tendência normal do crescimento, em média, a taxa de 4,5 por cento. Foi esta última a taxa considerada na extrapolação feita e apresentada na 2.ª coluna do quadro seguinte:

Estimativa da evolução de crescimento do produto interno bruto

[Ver Tabela na Imagem]

58. Admitiu-se, pois, que no domínio do Plano Intercalar o esforço desenvolvido seria intensificado em relação aos anos anteriores, pelo que se tomou a taxa anual de crescimento de 5 por cento para o período de 1966-1968. Tal taxa de crescimento anual corresponde a um acréscimo anual correspondente a um crescimento do produto per capita a uma taxa anual de cerca de 4,8 por cento. Pareceu conveniente apresentar uma estimativa para uma hipótese menos optimista, considerando a taxa de acréscimo anual de 6,5 por cento, ou seja um crescimento do produto per capita da ordem de 4,3 por cento.
Não parecendo ser possível atingir, no domínio do III Plano de Fomento, taxa de crescimento anual superior a 7 por cento, haverá que prever a necessidade de substanciais esforços em planos futuros, de forma a visar-se como meta, a longo prazo, o nivelamento das capitações do produto interno bruto relativamente ao nível metropolitano, que, para já, implicaria uma taxa de acréscimo superior a 7 por cento.

59. Para a projecção global e projecções sectoriais, até ao início do III Plano de Fomento, considerou-se que 1963 foi o ano de retoma no ritmo de desenvolvimento da actividade económica (acentuada provavelmente nos anos posteriores) e atendeu-se ao comportamento do nível da produção registada nalguns sectores, tais como indústrias transformadoras, indústrias extractivas e a exportação de produtos agrícolas. Não se deixou também de tomar em conta o ritmo de crescimento que se vinha verificando nalguns sectores antes de 1961.
No quadro seguinte indicam-se os valores de produção estimados para os sectores de actividade acima referidos (conquanto os dados estatísticos disponíveis não permitam o cálculo exacto do valor global).

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[Ver Tabela na Imagem]

A análise deste quadro mostra que o conjunto das indústrias transformadoras e extractivas deve ter seguido um ritmo regular ascendente, acompanhando a marcha do produto interno bruto. No que respeita, porém, ao valor da exportação, nota-se uma descida no ano de 1965 relativamente a 1964, o que foi devido ao comportamento anormal da exportação do café neste ano.

60. No quadro seguinte apresentam-se, em confronto com os valores respeitantes aos anos de 1963, 1965 e 1968 (estes dois últimos obtidos por extrapolação segundo o critério já exposto), projecções do produto interno bruto por sectores para o ano terminal do período do III Plano de Fomento, com vista à efectivação das duas hipóteses de crescimento apontadas. Inclui-se, além disso, uma projecção obtida por métodos semelhantes ao utilizado relativamente aos anos de 1965 e 1968.
Do exame deste quadro conclui-se que bastará a manutenção das tendências assinaladas no passado próximo para ser possível efectivar a hipótese I - aumento do produto per capita de 4,3 por cento. Uma não muito grande aceleração do ritmo de crescimento dos sectores motores «Agricultura, silvicultura, pecuária e pesca», «Indústrias extractivas» e «Indústrias transformadoras» permitirá poder atingir as metas das hipóteses II e III. A realização de perspectivas mais favoráveis consideradas no sector das indústrias extractivas poderá levar a um crescimento mais espectacular, já não muito longe da linha de tendência conducente a um nivelamento no prazo de 30 anos com as capitações da metrópole.

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

(a) Adoptou-se a taxa de crescimento verificada no período de 1062-1063.

Projecções da despesa imputada ao produto nacional bruto

61. A extrapolação das tendências verificadas pela análise da despesa imputada ao produto nacional bruto levaria estes componentes da despesa aos níveis seguintes, em 1973:

[Ver Tabela na Imagem]

Estes valores são inferiores, no conjunto, aos que a realização de qualquer das duas hipóteses A e B possibilita, ainda que tal realização postulasse modificação significativa da sua composição. Assim, não só será indispensável, para tanto, que a formação bruta de capital fixo atinja níveis de 7700 e 8500, respectivamente, no ano de 1973, como parece aconselhável procurar retardar o ritmo de crescimento das despesas do consumo público. Por outro lado, as características estruturais da posição da província, no que diz respeito a relações económicas com o exterior, recomendam a inserção, no esquema de crescimento, da preocupação - consubstanciada em medidas positivas de fomento de exportação e de produção para exportação - de inverter a regressão da balança de pagamentos.

62. As projecções elaboradas dentro deste esquema, e devidamente compatibilizadas com os níveis a atingir pelo produto interno bruto em 1973, constam do quadro que segue.

Projecções da despesa

Preços de 1963

[Ver Tabela na Imagem]

A expansão mais acelerada do consumo privado permitirá não só enquadrar uma mais acentuada monetarização dos sectores da economia de subsistência, como também dar às populações um interesse mais directo no processo do desenvolvimento económico.
É de reconhecer, porém, que a aceleração da taxa de formação de capital fixo para os níveis previstos - próximos dos praticados em economias mais evoluídas - não deixará de constituir preocupação prioritária, nomeadamente no que se refere a permitir uma participação mais relevante do sector público, enquanto a motivação no sentido da fixação na província das poupanças forma das internamente no sector privado não seja preponderante.

Projecções da formação bruta de capital fixo

63. A tentativa para o estabelecimento dos investimentos exigidos para a aceleração dos acréscimos propostos do produto interno bruto pode ser feita a partir do coeficiente capital-produto. Na pesquisa de um valor aceitável para tal coeficiente usaram-se, como primeira tentativa, os valores da formação bruta de capital interior a preços de 1963, estimados pela M.E.R.N.U.

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A falta de elementos que permitam cálculos concretos levou a considerar como mais lógico e operacional tomar um coeficiente médio a partir do somatório das variações anuais do produto interno bruto. As estimativas feitas conduziram aos seguintes resultados:

a) Considerando o período de um ano de maturação dos investimentos: 3,51;
b) Para o período de dois anos de maturação: 3,08.

O método de médias móveis é susceptível de ser convertido para compensar as flutuações produzidas por perturbações conjunturais, as quais são responsáveis, neste caso, pela irregularidade dos valores achados.
Escolhida uma base de médias móveis trienais, obtiveram-se os coeficientes capital-produto variando entre 2,2 e 3,9 na hipótese de dois anos de maturação e entre 2,5 e 10,3 na de um só ano.
O valor médio é de 3,07 para um ano de maturação e de 2,96 para dois anos de maturação.

64. Esta análise das tendências do passado sugere que para Angola o coeficiente capital-produto estaria entre 3 e 3,5.
O coeficiente capital-produto global perde, no entanto, parte do seu significado se se atentar na dualidade da economia angolana. É óbvio que a economia tradicional, que praticamente desconhece o factor capital, introduz uma baixa no coeficiente que se obteria se se considerasse apenas o circuito monetário. Mas tal facto representa uma poderosa arma para efeitos de planeamento, já que durante a fase de transição da economia de subsistência para a economia de mercado se tornam possíveis aumentos sensíveis do produto com aplicações relativamente modestas de investimento.
Por outro lado, a circunstância de os números achados serem inferiores aos que. se observam para economias subdesenvolvidas justifica-se, em parte, pelo facto de se trabalhar com valores brutos, quer para o investimento, quer para o produto.
A partir dos valores extrapolados para o produto interno bruto às taxas consideradas, e admitindo o valor 3 para o coeficiente capital-produto, determinaram-se valores de investimentos a realizar na vigência do III Plano de Fomento, considerando-se o período de maturação de um ano.
No quadro seguinte indicam-se os níveis de investimentos estimados:

[Ver Tabela na Imagem]

A hipótese que mais interessa considerar é a B, isto é, para a taxa de crescimento programada de 7 por cento.

65. Parece pertinente pôr-se a questão de saber qual deve ser, grosso modo, a acção do sector público para se atingir a taxa de crescimento desejada de 7 por cento. Depara-se, porém, a dificuldade de que, embora o Plano procure ser global, há uma boa parte de investimentos que, no mesmo, não poderão ser especificamente indicados, pela falta de dados estatísticos convenientemente trabalhados.

[Ver Tabelas na Imagem]

(a) O aumento verificado resultou de investimentos da ordem de 681 000 contos feitos numa fábrica de papel e cartonagem.
(b) No que respeita aos edifícios construídos em 1964 e 1965, só se conseguiu obter números respeitantes aos principais centros urbanos.

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66. A queda de 1963 para 1964 no valor da construção não significa diminuição da actividade do sector. É que só se tomou em conta o valor dos edifícios construídos, quando é certo que muitas dezenas de prédios de grandes proporções foram iniciados em 1964 e só concluídos em 1965. Assim, parece serem mais significativos os números respeitantes a pedidos de autorização para construção nos principais centros urbanos, conforme consta do quadro seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Pode admitir-se, atendendo à tendência verificada, que os investimentos do sector público e do privado a fazerem-se no III Plano poderão não andar muito longe da proporção de 25 por cento para 75 por cento, respectivamente. Não se deixa de ter presente o facto de que o investimento público exercerá, até certa medida, um efeito incentivador sobre o investimento privado.
A aceitar-se a relação acima referida, sendo os investimentos públicos da ordem de 11 milhões de contos, seriam os investimentos particulares da ordem de 33 milhões de contos, perfazendo o total de 43 300 000 contos. Nesta ordem de ideias, não estariam expressamente incluídos no Plano investimentos privados da ordem dos 15 a 20 milhões de contos.
Parece, no entanto, aceitável concluir-se que não seria difícil atingirem-se investimentos globais da ordem de 43 300 000 contos, o que permitiria alcançar a meta programada de um crescimento segundo uma taxa de 7 por cento ao ano, que se julga possível atingir.

Projecções relativas ao sector público

67. No que se refere ao sector público, os objectivos a visar consistem fundamentalmente em compatibilizar o crescimento das despesas correntes, imposto pelo desenvolvimento económico-social, com um acréscimo de participação pública na formação bruta de capital fixo, sem. no entanto, implicar carga fiscal excessiva.
Admitida a necessidade de conter o ritmo de expansão das despesas correntes em limites mais estreitos do que os verificados no período de 1953-1963 - o que exigirá reconhecidamente esforço considerável de austeridade e de reforma administrativa e um nível de financiamento externo da ordem de meio milhão de escudos por ano -, a cobertura com fundos públicos de 25 por cento dos investimentos totais previstos exigirá que as receitas públicas venham a atingir em 1973 o montante de 6850 ou 7120 milhares de contos, conforme se trate das hipóteses A ou B.
Mantendo-se, por outro lado, a relação verificada no passado entre os impostos indirectos cobrados e o produto interno bruto - isto é, cerca de 6 por cento -, os restantes réditos públicos terão de crescer no período do III Plano de Fomento ao ritmo médio anual de 18 por cento. Alternativamente, poder-se-á considerar uma hipótese de crescimento mais rápido dos impostos indirectos, de modo a manter a posição relativa quanto às outras fontes de receitas públicas ou ainda um aumento de ajuda financeira externa.
A carga fiscal sofrerá, assim, no seu conjunto, agravamento, ao passar de 13 por cento em 1963 para 17 por cento, nível que, sem ser excessivo (o valor comparável para a metrópole em 1965 era de 10,6 por cento), não deixará de exigir significativo esforço no campo da fiscalidade.

Projecção das despesas e receitas correntes do sector público

[Ver Tabela na Imagem]

Projecções das balanças de comércio e de pagamentos

68. A concretização, em condições de equilíbrio externo, do esquema do desenvolvimento considerado implica um aumento muito acentuado das exportações. Com efeito, para que seja possível assegurar a cobertura desejada ao acréscimo das importações resultantes das necessidades de equipamento e da expansão dos consumos privados e ao saldo negativo verificado nas transacções correntes, as exportações teriam de crescer no período do III Plano de Fomento de modo a atingir em 1973 o nível dos 10,4 milhares de contos, o que equivaleria a um aumento médio anual de 14,1 por cento.

69. Esta expansão de exportação, que exigirá um esforço considerável tanto no campo da produção como no da conquista de mercados, será comportável com um aumento das importações a uma taxa média de 15 por cento e um saldo negativo das restantes rubricas da balança de pagamentos da ordem de 1,3 milhões de contos.
A expansão considerada das exportações assenta na combinação de uma extrapolação da tendência verificada no período seguinte ao ano de 1961 com o lançamento de novos empreendimentos voltados para os mercados externos, como, por exemplo, a exploração mineira de Cassinga, que exportará 5 milhões de toneladas anuais, o aumento previsto das exportações de carnes, de frutas, de produtos das indústrias de madeira e celulose e o arranque de novas produções industriais, alumínio electrolítico, etc.

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Projecções sectoriais do produto interno bruto e investimentos

70. Para efeitos da determinação dos valores acrescentados dos produtos sectoriais torna-se indispensável proceder a reajustamentos nos valores dos investimentos expressamente incluídos no Plano, especialmente no que diz respeito aos sectores de actividade directamente produtivos, e para os quais era possível atribuírem-se coeficientes capital-produto válidos.
Tais reajustamentos visaram incluir uma estimativa do valor de supostos investimentos directamente produtivos não expressamente incluídos no Plano e procuraram excluir alguns empreendimentos não directamente rentáveis do grupo dos sectores de actividade considerados como directamente produtivos.
Assim, quanto à agricultura, admitiu-se que o auto-financiamento anual (não expressamente incluído no Plano) seria de pelo menos, 750 000 contos e que nos financiamentos expressamente incluídos no Plano constam cerca de 1 milhão e meio de contos de rentabilidade indirecta. Além disso, a actividade piscatória (com investimentos no valor de cerca de 350 000 contos) foi incluída no sector agro-pecuário, de forma a tornar-se possível o confronto com as contas económicas disponíveis.
Quanto à energia, houve que deduzir o valor de 72 000 contos, correspondentes à mera regularização financeira de empréstimos já efectuados.
Relativamente às indústrias extractivas, deduziu-se o valor global de 3 050 000 contos, correspondentes a investimentos considerados não directamente produtivos.
Nesta ordem de considerações, para mero efeito de determinação dos acréscimos de produtos nos sectores a seguir indicados, consideraram-se os seguintes valores de investimento, em vez dos que são indicados no Plano:

[Ver Tabela na imagem]

Os restantes investimentos seriam da ordem dos 24 500 000 contos, sendo
8 768 000 contos referentes aos empreendimentos expressamente incluídos no Plano.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

71. A assistência financeira da Administração Central, traduzida por empréstimos, e, mais recentemente, também pela prestação de garantias a financiamentos externos, constitui simultaneamente fonte de financiamento e contribuição para o equilíbrio da balança de pagamentos interterritoriais.
Este apoio de dupla função representou nos planos de fomento transactos as seguintes contribuições efectivas:

[Ver Tabela na Imagem]

A análise das necessidades em matéria de financiamento complementar às fontes provinciais e a consideração da conduta provável da balança de pagamentos territoriais e global de Angola, particularmente nos aspectos respeitantes às responsabilidades que no próximo futuro sobre ela recairão pelo serviço da actual dívida externa, conduziram à conclusão de que seria de recomendar que a ajuda financeira da metrópole se mantivesse, no hexénio de 1968-1973, ao nível programado para o Plano Intercalar de Fomento.
Foram assim previstos empréstimos da Administração Central no montante de 2 milhões de contos para o sexénio, não sendo considerada, em princípio, a necessidade de prestação de garantias a financiamentos externos, salvo no que se refere às operações necessárias para financiar o aproveitamento do Cunene e completar a cobertura do empreendimento de Cassinga que não seja possível efectivar no âmbito do Plano Intercalar de Fomento.

2. Administração provincial

72. As fontes de financiamento que, sob esta rubrica, se oferecem como susceptíveis de mobilização para o financiamento do III Plano de Fomento são:

[Ver Tabela na Imagem]

73. Os lucros de amoedação e o imposto das sobrevalorizações constituem receitas muito contingentes, dependentes, como são, a primeira, das necessidades de cunhagem de moeda divisionária e, a segunda, das variações de cotação dos produtos exportados. Os níveis atingidos por estas receitas foram, no passado próximo, os seguintes.

1 A estimativa dos 750 000 contos anuais foi feita tendo em vista o comportamento do autofinanciamento na agricultura, que foi de 764 000, 655 000 e 468 000 contos nos anos de 1953, 1954 e 1955, respectivamente.

[Ver Tabela na Imagem]

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As receitas do Fundo de Fomento, incidindo na importação, são mais constantes, conforme a série a seguir transcrita demonstra:

Valores em contos

1965 .............................. 142 163
1964 .............................. 172 779
1963 .............................. 95 384
1962 .............................. 149 512
1961 .............................. 84 826
1960 .............................. 76 316
1959 .............................. 94 405
1953-1954 .......................... 158 813

A projecção das tendências observadas, e que podem, ser tomadas, com as reservas habituais, como representativas da evolução provável futura, leva a considerar como viáveis os seguintes montantes disponíveis para o financiamento do III Plano de Fomento:

Valores em milhares de contos

Fundo de amoedação .................... 80
Imposto das sobrevalorizações ......... 1 020
Receitas do Fundo de Fomento .......... 300

b) Saldos de exercícios findos

74. A evolução das receitas ordinárias da província foi, no período de 1959-1965, a seguinte.

Receita ordinária

(1959-1965)

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, pois, que as receitas ordinárias acusam, ao longo deste sexénio, um crescimento contínuo e muito pronunciado, cujo ritmo se acelerou a partir de 1961.
O aumento foi de 1 029 000 contos, correspondendo a um aumento médio anual de 21 por cento. Para este aumento contribuíram todas as componentes, sendo de assinalar, em especial, os aumentos verificados, na cobrança de «Impostos directos gerais», «Impostos indirectos» e «Consignação de receitas».
Por seu lado, as despesas ordinárias evoluíram no mesmo período na forma seguinte.

Despesa ordinária

(1959-1965)

[Ver Tabela na Imagem]

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1662-(496) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Há a assinalar um crescimento ligeiramente menos sensível do que nas receitas: 1 694 000 contos em valores absolutos e um acréscimo médio anual da ordem dos 20 por cento.

75. A poupança do Estado foi, pois, nesse período, a seguinte:

Poupança do Estado

[Ver Tabela na Imagem]

O quadro assim estabelecido a partir da análise das contas gerais da província condiz, nas suas linhas tendenciais, ainda que, como é natural, a um nível absoluto mais baixo, com o que resulta da conta de operações correntes do sector público, de âmbito mais amplo.
Nas projecções destas tendências para o hexénio de 1968-1973 há que levar em conta a circunstância de a fase de rápido crescimento das receitas públicas no período antecedente ter correspondido à criação de novas formas de fiscalidade, o que obriga a considerar taxas mais baixas de crescimento futuro. No que se refere às despesas públicas, a necessidade de cobertura de encargos crescentes com a dívida pública, com a manutenção das infra-estruturas sociais e económicas criadas pelos planos de fomento, com a defesa nacional e segurança e com a, adequada dotação de meios de actuação aos serviços públicos não poderá deixar de ter de ser compatibilizada, através de uma gestão cada vez mais cuidadosa e de medidas de reforma administrativa, com a capacidade resultante do acréscimo de receitas ordinárias.
O exame da situação, à luz destas observações, levou a considerar como valores prováveis para as receitas e despesas ordinárias da província em 1973, respectivamente, 11,5 e 11 milhões de contos, devendo as linhas prováveis de crescimento possibilitar uma poupança média anual da ordem dos 500 000 contos.
Deste valor estimado para a poupança do Estado, que assenta na análise crítica sobre o comportamento dos diversos capítulos de receitas e despesas ordinárias, reserva-se para o financiamento do III Plano de Fomento o montante de 2 500 000 contos.

c) Fundo de Diversificação e Desenvolvimento

76. No que se refere ao Fundo de Diversificação e Desenvolvimento, criado pelo Decreto n.º 47 602, de 24 de Março de 1967, está prevista explicitamente a sua aplicação para o financiamento de planos de fomento nos empreendimentos que conduzam ou promovam a diversificação da agricultura. Este Fundo foi estabelecido indo ao encontro de obrigações nacionais decorrentes do Acordo Internacional do Café, não se dispondo ainda de elementos que permitam quantificar a sua eventual contribuição para a cobertura de projectos já incluídos no III Plano de Fomento ou para a sua futura ampliação.
Tal contribuição está condicionada, até ao montante de 40 000 contos, à aprovação de projectos pelo Acordo Internacional do Café, ficando, a partir desse montante, vinculada apenas pela finalidade geral para que o Fundo foi criado e que o torna susceptível de latas aplicações no financiamento do sector agro-pecuário da província.
Por isso se incluiu este Fundo «por memória» na lista das fontes de financiamento, abrangido na designação «Administração provincial».

Novas receitas para financiamento do Plano

77. Para além da contribuição do sector público fixada em 3 900 000 contos, tornar-se-á necessário obter novos recursos, num montante de cerca de 1 891 700 contos, através da criação de novas fontes de rendimento.

3. Instituições de crédito

a) Promissórias de fomento

78. A emissão destes títulos poderá permitir que o sector público mobilize recursos adicionais apreciáveis. Tendo sido admitido que virá a tornar-se extensiva às províncias ultramarinas a disposição legal segundo a qual as instituições de crédito poderão vir a mobilizar um terço de 20 por cento das suas responsabilidades à vista para aquisição de promissórias, estimou-se que poderiam ser obtidos recursos da ordem dos 600 000 contos, repartidos entre os bancos em actividade na província.

b) Empréstimos

79. A contribuição potencial dos bancos através da subscrição de títulos privados e de dívida pública (com exclusão das promissórias e obrigações de fomento) poderá atingir, segundo estimativas baseadas na análise de evolução dos balanços dos principais bancos da província, um valor à roda de 300 000 contos. Deste montante admite-se que o sector público possa mobilizar 100 000 contos.

c) Empresas seguradoras

80. Estima-se que as empresas seguradoras poderão concorrer para o financiamento do III Plano pela tomada de títulos da dívida pública até ao montante de 180 000 contos. Porém, se forem revistas as condições em que são oferecidas as obrigações de fomento, a contribuição financeira prestada pelas empresas seguradoras poderá vir a ser ainda ampliada.

4. Particulares e empresas

a) Autofinancianiento

81. Relativamente aos empreendimentos particulares, incluídos no Plano a título indicativo, prevêem-se auto-financiamentos no valor de 5 189 340 contos, distribuídos pela pesca (496000 contos), energia (581290 contos), indústrias extractivas (1365000 contos), indústrias transformadoras (2 142 450 contos), caminhos de ferro (551600 .contos) e turismo (53000 contos).

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b) Emissão de obrigações de fomento

82. Se realmente o sector público vier a recorrer em larga medida à emissão de promissórias, a tomada de obrigações por parte do sector bancário poderá vir a ser limitada.
Deste modo, a subscrição de obrigações poderá não ir muito além de 900 000 contos. A revisão das condições oferecidas ao público subscritor de tais títulos melhoraria estas perspectivas.

5. Fontes externas

a) Comparticipação financeira externa

83. Prevê-se que capitais estrangeiros, no valor de 8 084 000 contos, venham a ser associados a capitais nacionais com vista a intensificar a exploração de recursos mineiros.

b) Empréstimo externo

84. Sob a forma de crédito de equipamento e ainda financiamento puro, a contribuição financeira externa, sob esta modalidade, deverá ascender a 2 600 000 contos, destinados ao esquema do aproveitamento do Cunene e à 2.ª fase do projecto de Cassinga.
O esquema geral de financiamento é, pois, o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Saldos dos exercícios findos, receitas consignadas a operações de fomento e lucros de amoedação, incluindo 1801,7 milhares de contos, correspondentes a novos recursos a obter internamente pela criação de receitas consignadas ao financiamento do III Plano de Fomento.

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

85. A produção de Angola tem sido predominantemente agrícola. De um total do valor de exportação da ordem dos 6 milhões de contos em 1964, mais de 4 milhões couberam ao sector agro-pecuário. Toda a restante exportação cia província, incluindo produtos industrializados e minérios, não atinge metade dos valores agro-pecuários.
A evolução, por quinquénios, da exportação dos principais produtos agrícolas do período de 1940-1965 manteve-se ao longo do período considerado com um acentuado grau de concentração.

Exportação dos principais produtos agrícolas

[Ver Tabela na Imagem]

86. A diversificação cultural em Angola deve basear-se em produtos que aliem à facilidade cultural elevados rendimentos unitários. Aliás, os elementos agronómicos actualmente disponíveis limitam, no presente, a escolha a poucas espécies. Não há, na verdade, elementos de base suficientes para proceder ao fomento de novas culturas e que pôs-

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sibilitem aconselhar o produtor com segurança. Os riscos são grandes e já por vezes os insucessos têm provocado descrença naqueles que investem o seu dinheiro e o seu esforço em novas culturas.
Café, sisal, milho, vários tipos de madeiras, oleaginosas, algodão, feijão, tabaco, cera, absorvem praticamente o total das exportações da província. O café, com valor de cerca de 2,7 milhões de contos de exportação em 1965, representa, só por si, cerca de 80 por cento do conjunto das exportações agrícolas e 40 por cento da exportação total. Importa, consequentemente, procurar diversificar as culturas agrícolas, promovendo o estabelecimento de novas produções, ao mesmo tempo que se proceda ao fomento das culturas tradicionais em vista a alcançar melhores níveis de produtividade. Estes aspectos carecem de sei1 desenvolvidos, tendo em atenção a capacidade de absorção dos mercados nacional e estrangeiro.

87. As zonas propícias ao desenvolvimento da cultura do tabaco de bom nível são numerosas e os rendimentos unitários elevados. A sua expansão, porém, deve ser ponderada, atendendo aos problemas da sua colocação.
A produção de fruta é outro aspecto da diversificação cultural que se reveste de extraordinário interesse. Com a elevação do nível de vida e o desenvolvimento do turismo na metrópole, o consumo da fruta fresca está actualmente condicionado pela limitação da oferta. Ora dispõe-se em Angola de condições excepcionais para o, produção de fruta. Mas o aspecto produtivo é apenas uma parte e não a mais importante da colocação de frutas nos mercados consumidores. A comercialização destes produtos e os seus aspectos tecnológicos desempenham um papel essencial que actua como factor limitante da produção.
Para a colocação de fruta u preço acessível na Europa é necessária toda uma infra-estrutura do transporte em barcos frigoríficos e de entrepostos nos cais de embarque e desembarque, aliada a eficiente distribuição.

88. Quanto à pecuária, a produção enferma das dificuldades resultantes do facto de a elevada proporção do armentio ser propriedade dos criadores tradicionais ainda não totalmente integrados na economia do mercado. A acção desenvolvida pelos Serviços de Veterinária no sentido da divulgação, entre as populações rurais, das técnicas que conduzam a um melhor maneio dos animais domésticos e, consequentemente, à obtenção de maiores rendimentos vem produzindo resultados que não podem, no entanto, deixar de ser lentos.
No campo empresarial, onde o número de criadores registados aumenta progressivamente, devido, especialmente, ao interesse provocado pela política de preços e facilidades concedidas pelo Fundo de Fomento Pecuário, elevam-se os efectivos a cerca de 200 000 bovinos.
Este interesse, que durante largos anos se dirigia dominantemente para a recria, alargou-se e desenvolveu-se no sentido do estabelecimento de numerosas criações.
A insistência com que se tem aconselhado a racionalização das explorações começa agora a surtir efeitos, particularmente no que respeita a captação e distribuição de água, parqueamento, instalações carracicidas e profilaxia. Por outro lado, o ordenamento que se pretende conduzirá inicialmente a uma disciplina das transumâncias e, numa segunda fase, à fixação das populações onde isso for possível.
A exploração de bovinos de carne, em regime extensivo. com recurso exclusivo a, pastos naturais, domina em toda a província e é condicionada por épocas de abundância e escassez, resultantes da quantidade e distribuição das chuvas. Apesar disso, e como consequência da melhoria de preços, a produção tem evoluído favoravelmente, como o comprovam os indicadores do consumo e exportação de carne.

Gado bovino abatido nos principais matadouros da província em 1961-1965

[Ver Tabela na Imagem]

Dos abates constantes do quadro anterior, que não incluem os abates para
auto-abastecimentos das populações rurais, destinaram-se à exportação as quantidades seguintes.

[Ver Tabela na Imagem]

A comercialização de bovinos de corte realiza-se, na sua maioria, através dos pequenos comerciantes das regiões produtoras, que, por sua vez, os vendem a outras firmas para concentração em manadas e venda a talhantes e ao Grémio dos Marchantes de Luanda.
O comércio de gado de corte era apenas condicionado, no que se referia a preços, por tabelas oficiais.
Com vista a regularizar as transacções com os criadores, foram criados os mercados rurais. É, porém, ainda cedo para se aquilatar dos seus resultados, sabido que as fórmu-

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las tradicionais de comercialização de gado bovino serão abandonadas lentamente e na medida em que as populações rurais reconheçam a vantagem de aderirem ao sistema implantado.
O estabelecimento de uma cadeia de frio, abrangendo a linha Sá da Bandeira-Moçâmedes, cidades que dispõem de matadouros frigoríficos, câmaras de refrigeração e congelação de carnes, cuja actividade está sobretudo orientada para a exportação, mas podendo representar papel de relevo no abastecimento de Luanda de carne congelada desta origem, pode constituir, embora se trate por agora de unidades industriais de pequena capacidade de laboração, o arranque para uma melhor comercialização da carne e para a promoção de exportação deste produto em razoáveis condições.

89. A. produção de leite e seus derivados é baixa em virtude de os métodos de exploração adoptados não terem ainda atingido o nível adequado à manutenção de animais de alia produtividade, sendo as exigências do consumo, em grande parte, satisfeitas à custa da importação. Para mais, a maioria da população não consome produtos lácteos, verificando-se em pequenos núcleos o auto-abastecimento dos detentores de bovinos de corte, frequentemente com prejuízo do desenvolvimento de animais jovens em período de amamentação.
Inicialmente existiam apenas pequenos núcleos leiteiros nos arredores dos principais centros populacionais, sem expressão relativamente ao consumo potencial.
A fixação de povoadores de origem açoriana, que no arquipélago se dedicavam à exploração de animais leiteiros, criou condições para o desenvolvimento da primeira bacia leiteira na área do Catofe. Na região da Ganda, colonos de origem alemã dedicavam-se à agro-pecuária, possuindo vacas de vocação leiteira. Mais tarde, a importação do gado leiteiro realizada pelo Estado, para distribuir aos povoadores que se radicaram na Cela, originou a bacia leiteira da Cela, onde existe uma fábrica de lacticínios que faz o aproveitamento e transformação do leite produzido.
A instalação de uma fábrica de lacticínios em Nova Lisboa incentivou a produção de leite na área do Huambo, contribuindo para rápido progresso.
A produção, que tem vindo a aumentar, atingiu em 1965:

Toneladas

Leite .......................... 9 356
Queijo ......................... 156
Manteiga ....................... 257

A intervenção do Estado na comercialização do leite tem-se limitado a fixar preços de venda e a estimular e a amparar as iniciativas de natureza cooperativa.
As fábricas de lacticínios da Cela e Nova Lisboa, recolhendo e pagando o leite aos produtores, transformando-o em lacticínios e vendendo a produção, são elementos úteis na cadeia de comercialização. Em Nova Lisboa, o leite é quase exclusivamente vendido após pasteurização e engarrafamento. Em Luanda, um conjunto de medidas tendentes a beneficiar a qualidade do leite, junto do produtor e sobre a comercialização do produto, permitiu melhorar a sua qualidade.

90. De uma forma geral, pode dizer-se que os suínos se distribuem por toda a província, salvo nas áreas mais escassamente povoadas dos distritos de Mocâmedes e Guando Cubango. A densidade de animais desta espécie é maior nos distritos da Huíla, Huambo, Benguela, Cuanza Sul e Luanda. Poucas são as explorações racionais, tendo as tentativas para melhorar a produção por parte do Estado, ao ceder reprodutores de raças exóticas, obtido sucesso limitado, em face às condições em que são criados e alimentados.
Embora tenha sido sugerida a criação de um estrutura de comercialização e tivessem sido tomadas medidas que evitem a situação em que se debatem a indústria de salsicharia e os tal à antes para adquirirem porcinos nas condições de qualidade e regularidade convenientes, as dificuldades a vencer e os meios disponíveis não têm permitido materializar esta ideia.

91. A criação de arietinos e caprinos não tem presentemente grande significado na pecuária de Angola. São, com efeito, poucos os núcleos de ovinos de vocação carne existentes.
No distrito de Mocâmedes e nos arredores do Lobito e de Luanda estabeleceram-se núcleos incipientes de arietinos caraculo.
A exiguidade dos efectivos é um dos maiores óbices ao desenvolvimento da produção, reconhecendo-se, porém, que vastas zonas reúnem condições para a exploração destas espécies.

92. A avicultura da província surgiu praticamente há quatro anos. Anteriormente, a avicultura era apenas actividade subsidiária explorada em quintais, com aves sem qualquer valor zootécnico e rude instalação.
A comercialização era feita directamente pelo próprio avicultor, que procurava compensar o pequeno volume da produção pelos altos preços. Assim, as produções de aviários eram insignificantes, sendo os grandes centros consumidores abastecidos de ovos e galináceos do meio rural, de má qualidade e transportados em condições precárias, e não eliminando a necessidade de se recorrer às importações até ao início da fase de desenvolvimento iniciada em 1962.
Actualmente, nos arredores de Luanda a avicultura atingiu notável desenvolvimento em bases racionais.

2. Objectivos

93. A evolução do sector agro-pecuário deverá caracterizar-se, não apenas por um aumento global da produção, mas também pela melhoria da produtividade e da qualidade dos produtos, tendo em vista a concorrência nos mercados externos e, igualmente, as perspectivas da sua maior industrialização. As possibilidades de colocação deverão ser procuradas, tanto no mercado interno, que ofer rece tendência para a expansão, como nos mercados nacionais e estrangeiros, cuja capacidade de absorção terá de ser cuidadosamente avaliada em termos quantitativos e qualitativos.
Tendo em vista a evolução do sector agro-pecuário no sentido indicado, há que considerar como objectivos prioritários os seguintes:

a) Intensificação da assistência técnica e da extensão agrária;
b) Ampliação e melhoria das infra-estruturas existentes, nomeadamente no que se refere à armazenagem e rede do frio;
c) Embaratecimento dos meios de produção (adubos, insecticidas e fungicidas; máquinas, alfaias agrícolas e respectivos acessórios);
d) Melhoria das condições de comercialização;
e) Industrialização complementar dos produtos agro-pecuários;

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f) Facilidades na obtenção de crédito agrícola;
g) Incentivos à formação de cooperativas e de agricultura de grupo;
h) Incremento do ensino agrícola e promoção social da população.

3. Descrição dos investimentos

1. Fomento agrícola

1.1. Manutenção de estruturas

94. As funções cometidas aos diversos serviços provinciais, por força dos empreendimentos incluídos nos planos de fomento, nem sempre se ajustam às possibilidades de realização desses serviços.
No caso concreto dos Serviços de Agricultura e Florestas, tal situação é grave e a sua normalização só se verificará quando for possível atrair os técnicos exigidos para o desempenho das suas missões.
Portanto, há que inscrever no III Plano de Fomento uma dotação destinada a assegurar transitoriamente a manutenção das estruturas existentes e das que terão de ser criadas, a fim de não comprometer a concretização dos empreendimentos previstos.

1.2. Instalação dos centros de fomento agrário

95. Há a necessidade de ocupar tecnicamente a província, e, portanto, continuar com a instalação de um número mais elevado de centros de fomento agrário junto das populações, para que seja possível, dentro de poucos anos, levar o apoio e assistência técnica a todos os agricultores da província.
Considera-se necessária a instalação de quinze centros por ano, o que permitirá contar com mais 90 no fim de 1973.

1.3. Campanhas de fertilização

96. Os solos tropicais possuem como regra uma fertilidade reduzida que condiciona os rendimentos. Pela correcção dos factores limitados, em especial de natureza nutritiva, podem conseguir-se maiores rendimentos unitários, pelo que, sempre que possível, são de aconselhar as adubações, as quais devem utilizar fertilizantes adequados aos diferentes solos e culturas da província.
Julga-se, consequentemente, oportuno empreender, no meio tradicional, uma vasta campanha de utilização de adubos que permita ao produtor obter maiores rendimentos das suas culturas, instalando-se para tanto os campos de ensaio e de demonstração indispensáveis, em especial à generalização de adubos na fertilização do arroz, mandioca e amendoim, nas regiões de Malanje, Lunda, Moxico e Uíge, e da batata e abacaxi, no Cuanza Sul.

1.4. Campanhas fitossanitárias

97. Começaram as populações rurais a reconhecer as vantagens do uso de pesticidas para a defesa das suas culturas, em especial entre os agricultores que se dedicam à cultura do algodão, café, tabaco e trigo. Julga-se do maior interesse levar a efeito campanhas de tratamento fitossanitário, a título de demonstração, em vários pontos da província, com vista a mentalizar as populações para o uso destas técnicas.

1.5. Pequenos aproveitamentos hidráulicos

98. A totalidade do sector agrícola do tipo tradicional, e o mesmo quase se pode dizer do empresarial, pratica uma agricultura de sequeiro, com todas as suas contingências e riscos. Considera-se, pois, conveniente a necessidade de investimentos, mas em pequenos aproveitamentos, para benefício de grupos de agricultores, como, por exemplo, vala de rega, pequeno açude ou represa, etc.

1.6. Estabelecimento de culturas de maior rendimento

99. A maioria das populações rurais do sector tradicional dedica-se às culturas chamadas «pobres» (amendoim, trigo, milho, feijão, arroz, etc.).
Torna-se necessário, portanto, diversificar as suas actividades agrícolas, encaminhando-as para culturas mais ricas que possam melhorar a sua situação económica. A solução mais conveniente terá de ser determinada em cada caso, ponderando devidamente as condições locais, os requisitos técnicos e o grau de receptividade das populações.

1.7. Melhor aproveitamento de palmares

100. Embora, outros aspectos de aproveitamento da riqueza natural possam ser encarados, o que de momento se tem por estudado e com o qual se pode arrancar imediatamente, em certas regiões da província, é o incremento da melhoria dos métodos de exploração dos palmares subespontâneos.
Sendo apreciáveis as manchas de palmares subespontâneos existentes na província, apenas 20 por cento da sua produção anual são aproveitados. A exploração tipo tradicional destes palmares apresenta óleos com uma acidez quase sempre à volta dos 40 a 60 por cento, o que desvaloriza extraordinariamente o produto.
Está em curso um esquema de trabalho visando a implantação de uma rede de pequenas prensas manuais, tipo Collin, tendo em vista levar as populações a extraírem o óleo nestas máquinas, segundo técnicas que lhes são ensinadas, para obtenção de produtos de baixa acidez, o que já permitiu que no distrito do Zaire, onde não havia praticamente óleo de baixa acidez, em 1965 e 1966 aparecessem, nos mercados rurais, óleos com uma acidez média de 6 a 7 por cento.
Pretende-se, pois, continuar nos próximos anos com a ampliação gradual desta rede de prensas e britadeiras do Norte para o Sul, de forma a cobrir toda a área de palmar natural.
Torna-se difícil estabelecer um plano, mas julga-se poder instalar, anualmente, nas regiões que sucessivamente forem ocupadas, uma média de 40 prensas e 3 britadeiras em regime itinerante.

1.8. Mecanização agrícola

101. A distribuição de charruas e juntas de bois a alguns agricultores de maior prestígio poderá contribuir para a introdução, em larga escala, das charruas de tracção animal. Assim, parece do maior interesse a manutenção desta campanha, que poderá ter acentuada interferência na ampliação e melhoria das áreas cultivadas, por agregado familiar, em certas regiões da província.

1.9. Assistência com parques de máquinas

102. Enquanto não houver empresas privadas que se dediquem a esta actividade, deverá o Estado, a título supletivo, manter e ampliar os seus parques de máquinas, a fim de as alugai- aos agricultores para execução dos seus trabalhos. Estes parques de máquinas devem ser essencialmente constituídos pelo equipamento que, pelo seu

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preço elevado e grandes encargos de manutenção, não possa ser adquirido pelas empresas de tipo médio ou pequeno.

2. Fomento florestal

103. Nos últimos tempos, o fomento florestal na província tem-se limitado à manutenção e conservação dos polígonos e viveiros florestais e à estruturação e ampliação da rede de fiscalização florestal, tendo em vista defender o património silvícola da província.

2.1. Estudo e execução de projectos de arborização

104. Durante o período do III Plano de Fomento prevê-se seja dado impulso ao muito que há a fazer neste domínio, especialmente nas extensas zonas planálticas do Centro e Leste da província, onde se tornam prementes trabalhos de repovoamento florestal, à base de essências exóticas de rápido crescimento, cujo comportamento naquelas regiões é francamente prometedor. O último ano do Plano Intercalar de Fomento em curso foi aproveitado no estudo técnico-económico de projectos de arborização para as zonas referidas ou para outras que forem julgadas prioritárias, tendo em vista o início da sua execução em 19G8. Deste modo se ampliará o que, com base naquele estudo, se iniciou, com vista à exploração económica da árvore, integrada nos programas de diversificação cultural.

2.2. Trabalhos de defesa contra a erosão ou de correcção torrencial

105. A realização de todos os trabalhos tendentes a defender, contra a erosão, terras de interesse agrícola, silvícola e pecuário deverá figurar entre os objectivos a visar. Sob esta rubrica não deverão ser considerados os trabalhos de outra natureza justificados por motivos não relacionados com o sector.

3. Fomento apícola

106. A apicultura é um ramo da actividade rural que vem merecendo nos últimos anos a melhor atenção, embora não tenha havido todo o apoio que se tornava necessário, devido à insuficiência de pessoal qualificado.
A exportação de produtos apícolas tem-se limitado à cera, não tendo sido até agora dadas à produção do mel as qualidades organolépticas que são exigidas nos mercados internacionais.
Assim, a apicultura, que se impõe seja apoiada em moldes tecnicamente válidos, terá de ser fomentada pela cobertura da província, com a montagem de
infra-estruturas de apoio, concretizadas em:

a) Um posto central de fomento apícola;
b) Cinco postos regionais de fomento apícola;
c) Dezoito centros de fomento apícola, localizados nas sedes de concelho ou circunscrições;
d) Instalação de alpendres para montagem de material apícola em catorze centros de fomento agrário, dando portanto a estes, igualmente, uma função de apoio à apicultura;
e) Instalações de beneficiamento de mel;
f) Apoio ao sector empresarial;
g) Regulamentação das indústrias cereeiras e de beneficiamento de mel.

4. Formação de cooperativas agrícolas

107. Apesar de existirem na província cerca de duas dezenas de cooperativas agrárias, fundadas nos termos previstos no Código Comercial, o movimento cooperativo está ainda nos primeiros passos.
Sendo a cooperação um instrumento útil de promoção social e de desenvolvimento económico, prevê-se o financiamento reembolsável para apoio à formação e expansão de cooperativas agrícolas.

5. Apetrechamento laboratorial

108. O laboratório de análise químicas da Divisão Provincial dos Serviços de Agricultura e Florestas presta simultaneamente apoio aos sectores empresarial e tradicional e a diversos serviços e organismos, apresentando movimento crescente, tanto do laboratório de análises químicas como no que diz respeito ao apoio analítico aos produtos de exportação, nomeadamente sementes oleaginosas e óleos vegetais, e a consultas sobre fertilização, em terras enviadas pelos agricultores. Por essa razão o seu apetrechamento deve ser melhorado e actualizada a documentação científica disponível quanto aos diversos sectores abrangidos pelo laboratório.

6. Fomento da bovinicultura de carne

109. As formações sanitárias constituem as unidades primárias de apoio aos serviços de extensão.
Assim, concluídas as formações sanitárias do distrito de Moçâmedes e das áreas das delegações de sanidade pecuária do Cuamato e Gambos, distrito da Huíla, o programa de desenvolvimento deverá prosseguir neste distrito para depois se expandir para norte e leste.
Calcula-se que com os meios disponíveis se poderão construir, anualmente, quinze formações sanitárias.

7. Fomento da bovinicultura do leite

110. Sabido que os animais produtores de leite são, de uma maneira geral, mais vulneráveis a antropozoonoses, torna-se necessário manter e intensificar a actividade das brigadas de profilaxia e combate àquelas doenças.
O incremento da bovinicultura da produção de lacticínios só poderá ser acelerado pela utilização de animais de boa produtividade, cuja escassez na província obriga a recorrer à importação. O volume de reprodutores adquiridos nos territórios da África Austral, cuja entrada na província se realiza por Pereira de Eça, aconselha a estabelecer, nesta região, um parque de quarentena. »
Os resultados até agora obtidos aconselham que se intensifiquem os esforços no sentido de a inseminação artificial beneficiar, sobretudo, os efectivos leiteiros. Há também que criar uma estrutura que permita a profilaxia e o combate às doenças da reprodução.
Os efectivos leiteiros já existentes justificam o estabelecimento de um serviço de contraste lacto-manteigueiro, com a finalidade de certificar as produções e servir de indicador para o melhoramento das manadas.

8. Fomento da suínicultura

111. Nesta actividade torna-se indispensável a criação e manutenção de centros de multiplicação, que funcionam como instrumentos primários da acção fomentadora, tanto das explorações empresariais como das tradicionais,

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A execução de normas de fiscalização hígio-sanitária dos departamentos regionais dos serviços de veterinária deverá ser apoiada por uma brigada de tecnologia de carnes, a criar no âmbito dos empreendimentos do III Plano de Fomento. Para além desta tarefa específica a brigada de tecnologia de carnes actuará junto de todos os outros tipos de unidades e indústrias que laboram produtos cárneos.

9. Fomento da ovinicultura

112. A dispersão dos efectivos desta espécie, o pequeno número de animais de cada detentor e o seu actual valor económico tornam muito difícil estabelecer um plano para o fomento da ovinicultura. Existem várias regiões com aptidão para a criação de ovinos, mas, por um lado, a falta, de experiência concludente sobre raças lanígeras e, por outro lado, a apatia dos criadores evoluídos vêm entravando o desenvolvimento da espécie, cuja exploração poderia contribuir para a valorização da actividade pecuária.
Adoptar-se-á uma forma directa de fomento de ovinicultura pela distribuição de reprodutores sujeitos a assistência conduzida pelos técnicos dos serviços de veterinária.
Por esta forma se julga propício o estabelecimento de núcleos de ovinos com finalidade, económica e, ainda, para obter a experiência de que os serviços carecem para uma acção mais ampla e decisiva.

10. Fomento da avicultura

113. Para o fomento avícola é indispensável:

a) Promover a organização e ordenamento económico das actividades avícolas de forma a contribuir para o seu desenvolvimento e assegurar a entrega regular ao consumidor dos produtos devidamente preparados a preços estáveis;
b) Realizar, por todos os meios adequados e em colaboração cora outros organismos oficiais ou particulares, a propaganda da avicultura e a gradual educação do público com vista a aumentar o consumo de ovos e de carne;
c) Contribuir para a organização de estatísticas de produção e consumo, da província e do estrangeiro, para estudar os mercados externos, com a finalidade de desenvolver o comércio de exportação;
d) Criar e desenvolver a consciência cooperativa entre os elementos das actividades avícolas;
e) Promover a organização de cursos práticos com vista ao aperfeiçoamento de técnicos de exploração avícola e avicultores.
d) Projecção de filmes;
e) Programas de rádio;
f) Campanhas de propaganda de consumo.

12. Fomento da cultura do algodão

12.1. Tratamento de sementes

115. Em consequência do aparecimento de várias doenças no algodoeiro, cujo combate consiste fundamentalmente na prévia desinfecção da semente, terão de montar-se dois centros de desinfecção de sémen tos, uru em Malanje e outro no litoral (Icolo e Bengo).

12.2. Tratamento de plantas

116. Impõe-se começar, desde já, com uma assistência eficiente às culturas algodoeiras, porquanto as pragas são cada vez mais numerosas e as consequências cada vez mais desastrosas.
Tanto na baixa de Cassanje como no litoral (mas particularmente neste último), há, boje em dia dificuldade em se conseguirem áreas que. pela sua extensão e topografia, permitam a desinfecção mecanizada. Por isso, há que recorrer, em muitos casos, a pulverizadores e atomizadores de dorso, pelo que deverão adquirir-se 800 pulverizadores de dorso e 100 atomizadores montados sobre viaturas automóveis.

12.3. Prospecção de novas zonas algodoeiras

117. Estes trabalhos já foram iniciados em 1965 e revestem-se de particular interesse, pois visam não só o aumento da produção de algodão na província, mas, sobretudo, permitir às populações rurais reconhecidamente pobres uma melhoria de vida pela introdução de uma cultura rica. Esses trabalhos não se limitam apenas de definir zonas propícias à. cultura do algodão, pois cabe no seu âmbito a selecção das variedades adequadas a cada zona e o estudo de esquemas de tratamento fitossanitário.

12.4. Trabalhos de defesa contra a erosão

118. É premente o estabelecimento de defesa contra a erosão no concelho de Icolo e Bengo, para evitar a perda da quase totalidade das terras onde se pratica a cultura algodoeira, e, mesmo assim, áreas há que terão de ser já abandonadas, em consequência do alto preço, que se teria de pagar pela sua recuperação.

12.5. Abertura de novas áreas à cultura do algodão

119. Estes trabalhos serão efectuados dentro e fora das zonas já em produção, incluindo a derruba, desmata, drenagem e defesa contra a erosão.

11. Campanhas de divulgação

114. No processamento do desenvolvimento económico das actividades pecuárias considera-se imprescindível a divulgação dos conhecimentos junto dos sectores da produção, comercialização, industrialização e consumo.
Segundo o critério já adoptado, consideram-se as seguintes modalidades, cujos encargos tem sido suportados pelas dotações do Plano de Fomento:

a) Reuniões de criadores;
b) Cursos intensivos;
c) Publicação de folhetos;

12.6. Abertura e conservação de picadas

120. Tanto rio litoral como na baixa de Cassanje, há picadas em mau estado de conservação. Urge. pois, fazer todos os anos, após as chuvas, a sua- reparação ou abrir novas picadas.

13. Fomento da cultura de cereais

13.1. Manutenção das estruturas existentes

121. Incluem-se nesta verba os gastos com a compra de camiões, veículos tipo jeep, misturadores de adubos, tararas, pulverizadores e atomizadores.

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13.2. Instalação e apetrechamento dos centros de fomento agrário

122. Preconiza-se a construção, de instalações para quatro novas brigadas, nove capatazias e alojamento, em edifício próprio, de seis outras capatazias, bem como a aquisição de material de debulha para apetrechamento das capatazias.

13.3. Campanha de adubação

123. A. necessidade de melhorar as produções unitárias através de elevação do nível de fertilidade dos solos é problema prioritário.

E de considerar nesta orientação o eventual estabelecimento de um diferencial beneficiador da lavoura na sua aquisição de adubos, tendo em vista a estabilização ao nível do custo dos adubos.

13.4. Campanhas fitossanitárias

124. Preconiza-se a montagem de centros de ensaio e demonstração do efeito de pesticidas, a manutenção de stocks para suprir as dificuldades dos fornecimentos no momento oportuno e o auxílio com bónus ou diferencial, sempre que o produto a empregar o justifique.

13.5. Aproveitamentos hídricos

125. Entende-se necessária a comparticipação no estabelecimento de pequenas obras de regadio, tendo em vista, especialmente, a estabilização da agricultura. Caberá aos agricultores a cedência do seu trabalho e ao Instituto dos Cereais de Angola a cedência de máquinas, assistência técnica e a compra do material que se torne necessário adquirir.

14. Comercialização e armazenagem

14.1. Apoio à cultura do algodão

126. Incluem-se aqui:

Equipamento do laboratório de tecnologia da fibra, a montar na sede do Instituto do Algodão de Angola;
Montagem de duas salas de classificação, uma em Malanje e outra no litoral (Cuanza Sul);
Construção de dois armazéns para recolha de fibra, semente, insecticidas, etc., em Catete e no Dondo;
Construção de armazéns de pequenas dimensões nas regiões algodoeiras de Icolo e Bengo, Ambriz e Ambrizete, para recolha de semente destinada à sementeira e de algodão-caroço adquirido pelo. Instituto do Algodão de Angola nos mercados.

14.2. Apoio à cultura do café

127. As obras a seguir discriminadas são necessárias para ser possível dispensar o aluguer de armazéns a particulares:
Construção de armazéns de exportação na área do porto de Luanda, com capacidade para 30 000 t;
Construção de armazéns destinados à warrantagem de café, conservação de excedentes e eventual depósito das contribuições em espécie do Fundo de Estabilização do Café, cuja criação já foi superiormente proposta, com a capacidade para 20 000 t.
Construção do armazém-fábrica de benefício no Lobito, com a capacidade para 5000 t, obra estimada em 5000 contos.

14.3. Apoio à comercialização de frutas e produtos hortícolas

128. A fim de proporcionar um mais regular abastecimento dos produtos facilmente perecíveis, destinados ao consumo interno (frutas, batatas e produtos hortícolas), encara-se a construção de câmaras frigoríficas para a conservação de frescos (Luanda) e de armazéns para a conservação de batatas (Nova Lisboa).

14.4. Fundo de apoio aos mercados rurais

129. O Regulamento dos Mercados Rurais prevê a constituição de um fundo destinado a proteger o produtor das oscilações de preços, já que, especialmente em relação às baixas, se revela muito, sensível.
Este fundo também permitirá adquirir ao produtor os seus produtos, nos períodos em que os consumidores não se manifestem interessados na sua aquisição, funcionando, assim, como volante estabilizador dos preços e como impulsionador da produção.

15. Esquemas de regadio

130. Para a concretização dos objectivos anteriormente enunciados, e com vista a um melhor aproveitamento do território, torna-se necessário proceder à irrigação de algumas áreas com boas aptidões agrícolas e promover o seu aproveitamento através da fixação de populações alienígenas. Trata-se de campo onde há tanto que fazer que os empreendimentos indicados serão apenas os considerados de primeira prioridade.

15.1. Esquemas de regadio do vale do Queve

131. O aproveitamento hidráulico do vale do rio Queve constitui uma grande e velha aspiração das populações do Cuanza Sul. Dispondo de água de rega em quantidade suficiente e de uma energia eléctrica abundante, barata e bem distribuída, será possível transformar, dentro dê uma década, o panorama económico-social da região litoral árida do distrito do Cuanza Sul.
Deste modo, poder-se-ão aproveitar muitos milhares de hectares, com explorações à base de palmar, cana-de-açúcar, gado, algodão, fruteiras, arroz, etc.
Os estudos já efectuados, e que levaram à apresentação do Plano Geral do Queve, permitiram indicar a verba d a 9 milhões de contos como indispensável para o integral aproveitamento deste vale, o que impõe uma realização por fases, atendendo aos recursos financeiros disponíveis.
Do estudo referido conclui-se que apenas as terras altas da margem direita e da margem esquerda na zona litoral estão em condições de ser rápida e imediatamente aproveitadas.
Mesmo assim limitada, a tarefa a realizar é muito ampla.
Durante o sexénio de 1968-1973 prevê-se a execução dos trabalhos seguintes:

Construção da barragem na cachoeira de Binga; Estudo pedológico (6000 ha) e económico-social das terras altas:

Da margem direita: 1.ª fase da rede de rega do Chol-Chol (5500 ha);
Da margem esquerda (2000 ha) - rede de rega na Quipela, na Gimba, na Panda e na Cassonga - e dos terrenos marginais (10 000 ha).

O estudo pedológico compreenderá a análise e caracterização dos solos e a elaboração das cartas agrológicas,

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de utilização e de aptidão para o regadio, à escala 1:20000, pelo menos.
O estudo económico-social é indispensável para definição das principais culturas a realizar, necessidades de mão-de-obra, possibilidades e forma de comercialização dos produtos e seu valor de mercado, indústrias a instalar, tipos de empresa e formas de exploração a estabelecer, sistemas de povoamento mais aconselhados, dimensionamento das empresas, programa de promoção social a executar, etc.
Para a zona dos terrenos marginais compreendida entre as cachoeiras da Binga e a foz do Queve, e dada a complexidade dos problemas a resolver, apenas se encara a realização de estudos e a elaboração do respectivo projecto para integral aproveitamento dos milhares de hectares de solos de aluvião que formam aquelas baixas.
A barragem da cachoeira de Binga será construída encarando também a utilização de água na produção de energia eléctrica, pelo que as despesas, em boa verdade, se devem repartir pelos dois ramos de exploração agrícola e industrial. Mesmo desprezando o aspecto energético, a obra tem inteira justificação, considerando apenas o seu interesse exclusivamente agrícola.

15.2. Rega do vale do Cavaco

132. Está em curso um novo estudo de irrigação do vale do Cavaco, visando a rega de cerca de 3000 ha de terrenos, que, pela sua situação e condições ecológicas, poderão aumentar a produção de bananas, do maior interesse para a economia da- província.

15.3. Aproveitamento do Cunene

133. O programa de aproveitamento hidráulico da bacia do Cunene compreende os empreendimentos indicados no mapa seguinte:

[Ver Mapa na Imagem]

Estão considerados no período de 1968-1973 a construção da barragem do Gove, o início das obras de aproveitamento pela rega de 20 000 ha na zona Quiteve-Humbe e a construção de uma rede para abeberamento de gado bovino, beneficiando 87 000 ha. É, além disso, necessário considerar os encargos com a manutenção e conservação geral e o acabamento dos trabalhos em curso (rede de enxugo e recuperação de terras encharcadas, instalações de secagem para tabacos, ampliação da fábrica de concentrados, construção de habitações e nitreiras e aquisição de gado leiteiro) e a ampliação do colonato, sem considerar os edifícios públicos e a escola agrícola, que deverão ser custeados pelos programas sectoriais respectivos.

16. Esquemas de povoamento

16.1. Fixação de novos núcleos de povoamento agrário

16.1.1. Esquema do Zaire

134. A necessidade de encarar o problema de reocupação e fixação de povoadores nas regiões afectadas do Norte levou a considerar vantajosa a fixação de famílias distribuídas por cinco aldeamentos a localizar em S. Salvador-Buela, Madimba, Lufico, Beça Monteiro e Cimba.
Os aldeamentos a criar deveriam englobar povoadores de várias etnias e origens, predominantemente ex-soldados.
A instalação dos aldeamentos poderia promover-se, ao ritmo de um por ano, a partir de 1969.

16.1.2. Esquema do Nambuangongo

135. Com este empreendimento pretende-se a reocupação de fazendas abandonadas, na área de Nambuangongo, dado o seu interesse económico.
Prevê-se a possibilidade de recuperação de 2000 ha, basicamente de café. no fim de 1969. O ritmo de recuperação posterior seria de 1000 ha/ano. Julga-se possível, dirigindo o esforço fundamentalmente a fazendas de área média de 100 ha, a recuperação, até 1971, de 60 fazendas, interessando directamente 6200 trabalhadores, proprietários e respectivas famílias.
Será incrementado e expandido o regime de parceria, por se afigurar, o mais eficaz para a necessária fixação de trabalhadores com o seu agregado familiar.
Baseando-se a produção regional no café, entende-se ser de toda a conveniência a diversificação cultural no sentido de uma autonomia regional em culturas alimentares, e o fomento de outras culturas de rendimento elevado com possibilidades na área (banana e ananás).

16.1.3. Esquema do planalto de Camabatela

136. O planalto de Camabatela é uma zona potencialmente rica e de grandes possibilidades agrícolas e pecuárias, hoje de pouco interesse económico, devido à sua fraca densidade populacional e escassa fixação de populações económicamente evoluídas.
Prevê-se a intensificação da acção da Junta Provincial de Povoamento na zona, designadamente numa área de cerca de 150 000 ha.
Neste esquema promover-se-á o talhonamento, a abertura de vias de comunicação, o abastecimento de água, etc., e as fazendas serão atribuídas, mediante concurso, a povoadores com capacidade financeira. A Caixa de Crédito Agro-Pecuário, que seria para o efeito subsidiada, procederia a empréstimos aos novos fazendeiros.

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Deste modo, poder-se-iam instalar no hexénio cerca de 30 explorações pecuárias, que deveriam contar com a existência rnmirna de 30 000 cabeças de gado bovino, em virtude de o empreendimento vir a interessar muitos agricultores de café de áreas adjacentes.

16.1.4. Esquema do Cuanza-Bengo

137. Este esquema é considerado como de alta prioridade pela sua muito favorável Localização e pelos interesses que apresenta no que se refere às possibilidades de absorção da população destribalizada de Luanda.
A concretização do esquema pode vir a abranger cerca de 100 000 pessoas em 1973, prevendo-se como necessárias obras de adaptação ao regadio e abastecimento de explorações pecuárias e a construção da barragem de Quimuiba, além dos investimentos de carácter social e operações de reordenamento rural.

16.1.5. Esquema do curso inferior do Queve

138. Considerado já sobre a rubrica do esquema de regadio a construção de uma barragem e canais de derivação e valas de roga no curso inferior do Queve, haveria que complementarmente encarar a instalação de povoadores na zona beneficiada.

16.2. Ocupação e povoamento do Sul de Angola

139. O problema de valorização económico-social do Sul de Angola tem merecido a especial atenção do Governo, particularmente no que se refere ao fomento pecuário, pelo que foram já definidas normas gerais a que deverão obedecer o planeamento e ordenamento da pastorícia, as quais incluem, nomeadamente, o estabelecimento de áreas prioritárias de intervenção e a definição de corredores de transumância e de áreas susceptíveis de ocupação por criações organizadas, tendo sempre presente a necessidade de se conseguir um melhor enquadramento das criações tradicionais.
Da legislação já promulgada para o assunto merecem especial relevo as Portarias n.ºs 13 906, de 4 de Setembro de 1965, e 14 013, de 20 de Novembro de 1965, estabelecendo a primeira normas gerais para o planeamento e ordenamento da pastorícia e tratando a segunda da criação de zonas pecuárias e aprovando princípios gerais para a sua definição e apetrechamento.
Esta política, que está em execução nos distritos da Huíla e Mocâmedes, deverá estender-se, tão breve quanto possível, B, todo o Sul de Angola.
Porém, haverá que concretizar e pormenorizar a política já definida, de modo a evitar que as novas condições criadas provoquem um rompimento do equilíbrio estabelecido pela prática milenária das populações autóctones na condução da pecuária tradicional.

16.3. Desenvolvimento e apoio de esquemas de povoamento já instalados

16.3.1. Esquema da Cela

140. Prevê-se a instalação de cerca de 300 novas famílias durante a vigência do Plano, tendo em vista estabelecer uma ligação entro, o povoamento do planalto central e o da zona da Cela.
Aproveitar-se-ão as infra-estruturas, os estudos e os órgãos de execução já existentes.

17. Promoção sócio-económica das populações rurais

141. Para a prossecução dos objectivos já descritos, torna-se necessária a execução dos empreendimentos que a seguir se enumeram.

17.1. Organização em zonas piloto de «concelhos de regedorias»

142. Este empreendimento só poderá realizar-se em sequência dos estudos a efectuar (incluídos no subsector «Estudos de base») sobre a evolução de estruturas de regedorias tradicionais, com vista ao desenvolvimento do municipalismo.
Procura-se, com este empreendimento, integrar a evolução das estruturas tradicionais na estrutura política e administrativa da Nação, havendo o cuidado de - respeitando os princípios estabelecidos nos textos legais - não se provocar uma súbita alteração de estruturas, devendo-se, pelo contrário, partir cautelosamente das realidades e encaminhar num sentido preestabelecido a sua evolução gradual, evolução esta que conduzirá a uma completa integração.

17.2. Promoção, ordenamento e estabilização das populações já instaladas (reordenamento rural)

17.2.1. Formação de quadros, constituição, apetrechamento e manutenção de órgãos de actuação especializados

143. E urgente constituir e pôr em funcionamento as equipas móveis de desenvolvimento comunitário necessárias para que se possa executar nas áreas de reordenamento a seguinte fórmula de trabalho:

a) A nível de regedoria

Na medida das exigências do desenvolvimento dos trabalhos em curso, actuarão na área de cada regedoria - ou num conjunto de regedorias limítrofes - agentes de nível elementar, destinados essencialmente a transmitir aos vizinhos os conhecimentos de base indispensáveis ao cumprimento das diversas fases dos planos de promoção económico-social e a orientar e estimular a execução dos trabalhos previstos nos programas e projectos elaborados para cada regedoria ou conjunto de regedorias.

b) Ao nível de postos administrativos

Nas zonas onde os trabalhos de reordenamento se processarem com maior intensidade, organizar-se-á em cada posto administrativo uma «equipa de trabalho» que apoiará os trabalhos em curso.

c) Ao nível de concelhos e circunscrições (zonas)

Nas zonas onde não estiverem constituídas «equipas de trabalho» nos postos administrativos, organizar-se-á, para actuação na área dos concelhos ou circunscrições - sob orientação das comissões de zonas de reordenamento rural e em íntima colaboração com as autoridades administrativas -, equipas móveis de desenvolvimento comunitário, que, através de contactos frequentes, apoiarão a actividade dos agentes referidos anteriormente e, de um modo geral, coordenarão todas as actividades em curso.

d) Ao nível de distrito ou região

Organizar-se-á uma equipa móvel de desenvolvimento comunitário (regional) destinada, sob orientação directa

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da Comissão Regional de Reordenamento Rural, a analisar, estudar e coordenar todos os elementos relativos aos trabalhos em curso, mantendo aquela Comissão permanentemente informada da forma como decorre o cumprimento do plano.

e) A nível provincial

A Comissão Técnica de Reordenamento Rural da Junta Provincial de Povoamento coordenará, em íntimo contacto com os serviços competentes, todo o sistema e procederá à avaliação de resultados.

f) Formação de pessoal

A preparação técnica e psicológica de todos os funcionários e agentes envolvidos nos trabalhos de reordenamento rural é ponto fulcral a considerar. Será inútil pensar-se em estabelecer e executar planos de desenvolvimento económico-social se não puder contar-se com pessoal habilitado.
Assim, quer pela Junta Provincial de Povoamento, quer pelo Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social Pio XII, quer ainda por outros serviços habilitados, serão organizados periodicamente pequenos cursos de preparação, seminários, colóquios, estágios, etc., destinados ao aperfeiçoamento do pessoal: monitores, auxiliares de agente rural, auxiliares de família, técnicos e agentes de desenvolvimento comunitário, regentes agrícolas, agentes rurais, enfermeiros, etc.

17.3. Desenvolvimento de esquemas de valorização económico-social das comunidades rurais

144. A dotação destina-se a reforçar as possibilidades de actuação nas zonas de fronteira e nas áreas de influência dos núcleos de povoamento, em matéria de reordenamento rural.
Prevê-se que as dotações suportem não só as despesas correntes com a abertura e beneficiamento de vias de acesso às comunidades rurais, construção de açudes e valas de derivação, mas também a construção e apetrechamento de órgãos de apoio aos trabalhos de extensão agrária - incluindo a extensão agrícola familiar -, sempre que os serviços competentes não possam, por suas dotações próprias, acorrer às exigências dos planos parcelares que forem aprovados.

17.4. Actividades da Brigada Especial de Engenharia da junta Provincial de Povoamento

145. Esta Brigada, que tem sempre funcionado com dotações dos planos de fomento, constitui órgão eficiente da Junta Provincial de Povoamento, actuando em apoio a todas as brigadas regionais ao Plano de Coordenação de Pastos e Aguas, ao ordenamento agrário das populações instaladas e outras actividades da Junta. É indispensável que aquela Brigada continue a funcionar com apoio em dotações dos planos de fomento, prevendo-se a manutenção da estrutura e o apoio aos trabalhos de povoamento e reordenamento rural (abertura de acessos, pequenas pontes, açudes, etc.).

17.5. Comissão de Divulgação Agro-Pecuária

146. Prevê-se, no âmbito deste subsector, a atribuição de uma dotação destinada, fundamentalmente, no âmbito da actividade da Comissão Executiva de Divulgação Agro-Pecuária (J. P. P. A.), a:

Apoio a publicações de divulgação agrária, educação cívica e cooperativa, melhoria de hábitos alimentares e higiénicos, da habitação, etc.;
Constituição de grupos itinerantes de cinema educativo, exposições e bibliotecas nos meios rurais.

17.6. Apoio às pequenas iniciativas

147. Este empreendimento,- como já se referiu, destina-se a prestar auxílio às pequenas iniciativas através da «campanha de auxílio a pequenas iniciativas», entre as quais se contam indústrias artesanal agrícolas ou não, pelo fornecimento de meios de trabalho em espécie.

18. Crédito agrário

148. O crédito agrário praticado em Angola, por intermédio da Caixa de Crédito Agro-Pecuário. não abarca todas as diferentes situações jurídicas, técnicas e sociais que se verificam no sector.
As operações feitas pela Caixa diferem do crédito praticado pelos bancos pelos prazos muito mais latos e têm maior fundamentação na rentabilidade dos empreendimentos a financiar do que nas garantias reais oferecidas.
Em complemento deste tipo de crédito, extremamente útil para o desenvolvimento agrícola e pecuário da província, reconhece-se que é urgente instituir-se um novo processo de apoio financeiro que amplie a cobertura do crédito agrário até determinadas situações que, mercê das suas características, se encontram totalmente desapoiadas.

19. Crédito especial

149. Torna-se necessário, para se poderem definir as linhas gerais do sistema do crédito que se pensa instituir, levar mais longe a divisão tradicional da sociedade rural da província em sector tradicional e sector empresarial, revelando os vários seleccionamentos da sociedade em que se pretende actuar, de molde a poder proceder-se ao conveniente ajustamento.
Aceitando que a economia de subsistência em que vivem grupos importantes da população angolana deve ser considerada transitória e sabendo-se que as características que os definem os inibem de acorrer ao crédito convencional, torna-se necessário apoiá-los por modalidades adequadas de crédito, com vista a introduzir alterações nas suas estruturas, de molde que possam ascender a níveis onde, então, possam utilizar o crédito agrário normal.
Supõe-se que, para tanto, haverá que adoptar um sistema de crédito do tipo designado por «crédito de capitação» ou por «habilitação ou reabilitação», cujo objectivo consisto no desenvolvimento de potencialidades dos seus utentes assente no contrôle exercido por técnicos agrários.
As outras duas características mais salientes deste sistema de crédito residem no facto de apenas serem financiáveis os agricultores cuja marginalidade se pode reduzir num prazo não muito longo e de apenas serem de permitir financiamentos a meios de produção.
Numa solução deste tipo, a Caixa- só poderia ser autorizada a utilizar nestas operações os montantes que para o efeito viessem a ser inscritos, reservando todos os seus recursos, próprios e emprestados, para as aplicações normais.

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Em relação à dimensão dos grupos que se pretende promover, de difícil cálculo, só o concatenamento cuidadoso dos elementos colhidos em inquéritos agrícolas pode dar a ideia correcta do volume de agricultores. A pequena densidade da cobertura técnica dos serviços tradicionais e a escassez de especialização para este tipo de assistência sugerem, de outro lado, o estabelecimento de metas inicialmente modestas.

20. Crédito normal

150. Em fins de 1967, a Caixa de Crédito Agrícola de Provisões de Angola deve possuir fundos próprios que rondarão a importância de 130 000 contos. Se se tiver em conta que a sua função é o financiamento de todo o subsector empresarial estruturado de Angola e o estabelecimento de indústrias complementares do sector em que actua, terá de se considerar a necessidade de ampliação dos recursos de que pode dispor.
O nível dos encargos com capitais mutuados impede que a relação capitais próprios-capitais alheios seja superior a 1/1.
Para alterar esta situação haverá que fomentar a ocorrência de depósitos a prazo e aumentar a dotação com fundos públicos.
A C. C. A. P. A. tem sido objecto de pedidos de financiamento para o estabelecimento de indústrias complementares da agricultura, nem sempre concretizados em projectos. Com esta base pode estimar-se que a Caixa poderá, facilmente, com a sua actual organização e dentro do ritmo de crescimento económico agora processado na província, praticar empréstimos, de médio e longo prazos, no montante anual de 40000 a 50000 contos.
Se se tiver, porém, em conta a necessidade de reconverter as economias de alguns produtos de exportação - café e sisal -, a premência de investimentos no desenvolvimento do potencial pecuário e frutícola da província e a urgência de fomentar as indústrias complementares do sector agrário, reconhece-se que o montante acima citado rapidamente pode ser ultrapassado.

Agricultura, silvicultura e pecuária

(Programa de investimentos)

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

II) Pesca

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

151. A pesca de Angola caracteriza-se por especial incidência na captura de pelágicos - sardinhas e carapaus - destinados, na sua maior parte, à fabricação de farinhas e óleos de peixe e, subsidiariamente, à salga e secagem.
152. Da tonelagem de arqueação da frota de pesca com propulsão mecânica, 70 por cento cabem, com efeito, às traineiras do tipo convencional, operando com cerco para. bordo, que no último triénio concorreram para a captura de cerca de 90 por cento do pescado.
Nos últimos anos verificou-se regressão nas capturas das artes fixas e sacadas, que se destinavam à produção de peixe seco.
A pesca ido atum e afins, que na zona de Benguela se destina à fabricação de conservas, atinge nível satisfatório no conjunto da pesca desembarcada. Tem havido, por isso, nos últimos anos, aumentos da frota de pequenas baleeiras (atuneiras). Em Moçâmedes, o nível das capturas tem-se mantido.
Nos últimos seis anos, apenas foram construídas 12 embarcações em 1959, 6 em 1960, 2 em 1962 e 1 em 1963. Tendo em conta os abates ao efectivo verificado no referido período, pode afirmar-se que o número de embarcações, que era de 234 em 1959, se manteve. Manteve-se também inalterado o tipo das novas embarcações.

153. A diminuição, relativamente aos anos anteriores, verificada n.º total da pesca desembarcada no período de 1959-1961 foi devida à crise que atingiu o seu ponto máximo era 1961 e de que resultou a paralisação de muitas traineiras. E de salientar o volume registado em 1964, atribuído à maior acessibilidade dos cardumes.

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Pesca desembarcada

[Ver Quadro na Imagem]

O valor em escudos, por tonelada do produto desembarcado, sofreu a seguinte variação:
510 em 1959, 510 em 19(50, 580 em 1961, 600 em 1962, 630 em 1963, 620 em 1964 e 690 em 1965.
O baixo nível dos preços apurados confirma ter a maior percentagem de capturas incidido sobre os pelágicos destinados à fabricação de farinhas e óleos.
O valor do peixe desembarcado caracteriza-se por um contínuo crescimento desde 1959, com ligeiras inversões em 1963 e em 1965, devido a decréscimo no volume das quantidades desembarcadas.
No que respeita ao peixe seco, refere-se ainda o valor médio da unidade do produto, superior em 1965 ao dos anos anteriores. Tal facto foi devido a um aumento do preço autorizado. Em relação às farinhas .de peixe verificaram-se também melhores cotações nesse ano.

154. No que respeita à exportação de produtos de pescado, a variação das quantidades e valores exportados por sectores, tomando como ano base o de 1959, foi a seguinte.

Exportação de produtos de pesca

[Ver Quadro na Imagem]

Os valores da exportação, ainda que acompanhando a evolução do produto desembarcado, revelam, no entanto, algumas particularidades, devido, entre outros factores, ao aumento de consumo interno no que respeita
peixe seco. Na realidade, o consumo interno tem melhorado e, do ponto de vista quer quantitativo, quer qualitativo, não só consumiu maiores quantidades de peixe, como também melhores qualidades.

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155. Não existe propriamente problema de carência de pescado. As flutuações verificadas nos níveis das capturas dos pelágicos devem-se, com efeito, principalmente as dificuldades de detectar os cardumes com os meios disponíveis.
A pesca de arrasto ao largo e ao longo da costa é, por outro lado, praticamente inexplorada pela frota nacional, tendo-se, no entanto, notícia do exercício por frotas estrangeiras. Tal facto recomenda a necessidade de se estudarem estas pescas, para o que a recente aquisição de um navio de investigação será instrumento de maior valia.
Dado que tais estudos não poderão deixar de ser demorados, há que encontrar uma solução de compromisso entre os departamentos científicos e a indústria, consistindo a solução aconselhável na adopção, nesta primeira fase, de barcos polivalentes.
Tais barcos, aptos cumulativamente a fazerem pesca de cerco, dão ao armador possibilidade diversificada, se o arrasto costeiro não se mostrar compensador.
Quanto ao atum, há grandes possibilidades de aumentai-as capturas ao largo e ao longo da costa, oferecendo Angola pontos de apoio importantes para o seu desenvolvimento.

156. No apoio às indústrias de pesca, processa-se a renovação da frota de pesca, tendo sido elaborado, como trabalho preliminar, inventário das embarcações de pesca de cerco e arrasto com mais de 12 mt de comprimento matriculadas na província.
Foi entregue ao Instituto das Indústrias de Pesca o armazém de Moçâmedes e a construção dos de Benguela e de Porto Alexandre. Pode assinalar-se o começo de funcionamento dos armazéns de Benguela para as conservas de peixe e do de Moçâmedes para todos os produtos. Tem o Instituto procurado, por outro lado, favorecer a selecção de equipamento, sendo este um dos aspectos que é justamente tomado em conta quando se trata do financiamento a fazer pelo Fundo de Apoio.
Em 1965 foi elaborado um plano para o Fundo de Apoio às Indústrias de Pesca, em que se propunha fazer um financiamento a toda a indústria no sentido de equipar As traineiras com aladores mecânicos, ecosoudas e radiotelefones e as fábricas com queimadores de fuel para as caldeiras e centrifugadoras para a produção de óleo.
No tocante à reestruturação e concentração da indústria, o Instituto favorece a constituição de cooperativas de produção nos principais centros pesqueiros da província ou de empresas que associem outras de pequena dimensão. Assim foi proposto o financiamento pelo Fundo, de Apoio da instalação de uma fábrica de farinha e óleos de peixe em Porto Alexandre, em substituição de cinco fábricas de eira.
Procura-se, por outro lado, fomentar a instalação de equipamento para farinhas e óleos, com a característica de não utilizarem caldeira, trabalhando pequenas quantidades de matéria-prima, nas unidades industriais de dimensão razoável que pela sua situação isolada não estejam em condições de vender os detritos de peixe.

157. No que se refere às possibilidades de expansão das capturas das principais espécies, registar-se-á:
Pelágicos (peixes de superfície). - O esforço destas pescas incide em zonas pouco afastadas da costa, exclusivamente de noite, com esporádico auxílio de electrónicos e utilização de companhas numerosas. Reduzindo os elementos da companha em, pelo menos, 50 por cento e conseguindo a utilização dos aparelhos de que dispõem (o que lhes permitirá a pesca diurna), poder-se-á incrementar esta pesca sem investimentos adicionais.
Há, no entanto, que ter em conta que os pescadores são fortemente tradicionalistas. Para modificação de tal atitude torna-se necessário, a curto prazo, enquadrá-los com pescadores mais evoluídos e, a médio prazo, criarem-se escolas técnicas de pesca.
Atuns e afins. - É evidente, perante as amplas áreas transoceânicas, que a captura do atum com longline (palangre) por embarcações japonesas vem revelar, desde 1957, no Atlântico tropical, a modéstia da produtividade da extracção desta espécie em. Angola.
Assim, e como factores de ordem biológica e ecológica recomendam, poderá a frota de isco vivo ser expandida para exercício, praticamente, entre- o Sul da província e o equador, em exploração analógica à da frota atuneira
já existente em territórios vizinhos.
Poder-se-ia confiar, por outro lado, dada a distribuição oceânica dos atuns, com atuneiros congeladores de maior porte, para cerco e isco vivo, e cuja acção poderia ser conduzida ao longo do ano no Atlântico oriental tropical.
Da mersais (peixes da fundo). - Procura-se incrementar o arrasto costeiro com utilização de embarcações polivalentes, que simultaneamente se destinam também ao cerco na safra própria. A rentabilidade destas embarcações informará a política a seguir na matéria.
No que se refere ao arrasto do alto, ainda que até ao presente só exista um barco registado na província, tem-se notícia que empresas projectam apetrechar-se para a concorrência no Sueste atlântico, onde a rentabilidade das capturas se tem situado a nível muito satisfatório.
158. No que respeita a fábricas de farinhas e óleos de peixe, tem-se processado, nos últimos tempos, movimento tendente à concentração das pequenas empresas em novas empresas de dimensão adequada para a produção mecânica de farinhas.
Verifica-se forte tendência para incrementar a indústria do frio, com instalação de câmaras de congelação e armazenamento, e contando ainda com os peixes de menor porte - carapaus e cachuchos - e algum peixe de fundo capturado pelas armações; tal tecnologia deverá ser fortemente expandida, para o que o próximo registo na província de novos arrastões muito irá contribuir.

2. Objectivos

159. Enquadrado nos objectivos gerais definidos superiormente para o III Plano de Fomento no que à pesca se refere, .pretendem-se atingir os seguintes objectivos:
a) Regularização e, abastecimento interno do pescado.- Não só se entende necessário conseguir a regularização do abastecimento interno, mas também a exportação de peixe seco;
b) Estabilização da exportação de óleos. - Tem-se verificado, uma certa instabilidade nas vendas destes produtos em consequência de rná conservação e inadequada embalagem;
c) Estruturação da pesca artesanal. - Preconiza-se dar uma estrutura adequada a este sector, têm em vista um maior rendimento familiar e um melhor abastecimento das populações;
d) Fomento da pesca de arrasto. - Com o início na vigência do Plano, modifica-se totalmente a panorâmica das pescas de Angola ao estenderem a sua actividade II província empresas da metrópole. Prevê-se um au-

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mento de mão-de-obra de cerca de 600 pescadores e pessoal de terra (nas câmaras de congelação e refrigeração de apoio) e um rendimento global aproximado de 20 000 contos anuais. O produto capturado destina-se, na sua maior parte, à exportação, deixando, no entanto, a província de importar a chamada «pescada do Cabo»;
e) Melhoria na técnica do construção de embarcações de madeira. - Com a construção do novos estaleiros e com a eliminação do estaleiros marginais, mal apetrechados, espera-se uma melhoria na construção de embarcações;
f) Melhoria das condições de recepção e refrigeração do pescado - Pretende-se conseguir um incremento na produção de conservas de atum, garantindo um abastecimento regular às fábricas ao longo do ano;
g) Reorganização do serviço de abastecimento de peixe à provinda. - Pretende-se uma melhoria sensível na dieta das populações pela aquisição de maior quantidade de peixe, proporcionando o abastecimento de peixe fresco a zonas mais afastadas do litoral.

3. Investimentos

3.1. Fomento piscícola nas águas interiores

160. São ainda muito limitados os conhecimentos no campo da aquicultura, factor que inibe, em. parte, o estabelecimento de um plano fundamentado de fomento aquícola.
É, no entanto, geral a convicção do papel importante que pode e deverá ter a aquicultura na província, como arma contra as carências alimentares de certas populações, especialmente das que vivem mais afastadas do mar.
Será no sector tradicional que haverá que concentrar as acções a realizar com vista a conduzir as populações a «fazer peixe», não só como possível fonte de rendimento, mas muito especialmente para melhoria de alimentação, por vexes deficitária em proteínas.
Será tarefa árdua e morosa fazer compreender a estas populações que se pode cultivar peixe como se cultivam produtos agrícolas.
O melhor sistema deste ensino fundamenta-se na demonstração directa, para o que haverá que construir, nas zonas de reconhecida falta de proteínas no meio rural, pequenos tanques de cultura de peixe, cuja produção reverterá para a população do aglomerado. Não bastará fazer tanques e povoá-los, tornando-se necessário ensinar a explorá-los, porque, caso contrário, na primeira colheita retirarão todo o peixe existente e haverá necessidade de os repovoar assídua e periodicamente.

161. Pode prever-se a instalação anual de 25 tanques de 1000 m3, o que pode dar anualmente, por tanque, uma produção, para cada aldeia, de 1000 kg de peixe. Este investimento incidirá, em especial, nos distritos da Lunda, Moxico, Bié, Malanje, Cuanza Norte e Cuanza Sul.
Em certas regiões da província, especialmente nas de café, nota-se no sector empresarial certo interesse pela piscicultura, tendo em vista especialmente o problema da alimentação da mão-de-obra.
Relativamente a este sector, manter-se-á a orientação até aqui seguida, que é a de se sustentar e ampliar em certas regiões a rede de centros de «alevinagem» existente, tendo em vista o fornecimento de «alevins» das espécies mais aconselháveis para cada região.
Estes centros de «alevinagem» permitirão ainda aos serviços o repovoamento piscícola dos rios e lagos onde for considerado conveniente executar tais trabalhos.
Esta rede será mantida- e ampliada- de acordo com as necessidades nos distritos da Lunda, Uíge, Moxico, Malanje e Cuanza Sul.

3.2. Regularização e abastecimento interno do pescado e instalações em terra

3.2.1. Construção de armazéns e depósitos de óleo

162. Este empreendimento permitirá dispor de armazéns próprios a fim de receber os produtos acabados dos industriais, sobre os quais o I. ï. P. A. poderá emitir títulos transmissíveis, por endosso, denominados conhecimentos de depósitos e warrants, descontáveis nos bancos ou outras instituições de crédito da província.
Nestes termos, dos referidos armazéns e depósitos, cujo programa de construção já se vem cumprindo desde o II Plano de Fomento, imediatamente resultará maior estabilidade do sector, por dar oportunidade- ao produtor de aguardar cotações para vendeiros seus produtos. Cumulativamente oferece ao I. I. P. A. maiores possibilidades de controle da qualidade do produto.
No caso dos óleos ainda se beneficia de uma melhor cotação na exportação a granel e resulta também, economia de taras.
Serão construídos armazéns em Luanda e Porto Amboim, depósitos para óleos de peixe no porto de Luanda e baía dos Tigres e aumentados os depósitos de Porto
Alexandre, Lobito e, eventualmente, Moçâmedes.

3.3. Recepção e refrigeração do pescado

3.3.1-. Produção de gelo e câmaras para pescado refrigerado em portos de pesca e outros centros do litoral

163. É necessidade premente a construção de câmaras de congelação e armazenamento em Luanda que, com o equipamento actual disponível, sirvam para abastecimento de peixe à cidade e sua zona de influência.
Estando prevista a construção do porto de pesca de Luanda, prevê-se ainda a construção simultânea de câmaras de congelação e armazenamento com posto de
inspecção sanitário anexo e edifício de venda de pescado
por grosso.
Em Porto Alexandre de igual modo se deverão, instalar, durante a vigência do Plano, câmaras de congelação e armazenamento.

3.3.2. Câmaras de congelação e armazenamento com fábrica de gelo e secção de conservas, farinhas e óleos

164. A iniciativa privada assegura a construção de câmaras de congelação e armazenamento com fábricas de gelo em Moçâmedes e Benguela, que servirão de suporte, na primeira localidade, à pesca de arrasto, a qual terá grande expansão nos próximos anos, transformando grandemente o quadro das pescas de Angola. Em Benguela as referidas câmaras destinam-se, fundamentalmente, a apoiar a indústria de conservas.
Este empreendimento facilitará o abastecimento da província de peixe de fundo, anulando a importação da chamada «pescada do Cabo», e aumentará a exportação da província com benéfico- reflexo na sua balança de pagamentos. Por outro lado, favorecerá a frequência- dos

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portos de transportes frigoríficos para a exportação de peixe congelado, que poderão ser aproveitados para outras cargas, e no retorno favorece a importação de produtos congelados.
A recente constituição de uma empresa armadora nacional votada ao transporte frigorífico, que deverá demandar também portos de Moçambique, possibilitará o transporte de peixe seco, meia cura, para aquela província.
Os investimentos previstos incluem, além de outros:

a) Congelação rápida e conservas de peixe, unidades de farinacão de subprodutos, empreendimento a levar a efeito no Saco do Giraul (Moçâmedes);
b) Câmaras frigoríficas, com a capacidade de 5000m3, com fabrico de gelo e secção de farinhas o óleos de peixe, empreendimento a levar a efeito em Moçâmedes;
c) Fábrica de conservas de atum com o necessário apoio de frio, empreendimento a levar a efeito por sociedade, em constituição, de vários industriais do sector de Moçâmedes;
d) Conservas e congelação de atum, a levar a efeito em Benguela pela Conserveira de Benguela;
e) Congelação na Baía Farta.
3.4. Pesca local artesanal e do alto

3.4.1. Pesca artesanal

165. Existem ao longo da costa, principalmente no Norte, largas camadas de população exclusivamente votadas à pesca, utilizando meios precários e sem estrutura comercial de apoio. Havendo que modificar tal quadro, pretende-se facultar a estes pescadores os meios necessários para uma pesca mais rendosa, apoiada em estrutura comercial conveniente.

166. Prevê-se que a contribuição de tais pescarias resolverá o abastecimento ao Norte de peixe fresco e refrigerado, destinando-se o remanescente às oficinas cooperativas de salga e seca que o Instituto fomentará e apoiará.
De norte para sul, a organização da pesca artesanal será feita nos seguintes pontos: lagoa de Massabi, Lândana, Cabinda, Santo António do Zaire, Ambrizete, Musserra, Ambriz, Luanda, Egito e Lobito.
Serão fornecidas aos pescadores embarcações, para companhas de oito a dez homens, de modelo especialmente desenhado para o efeito.
Na lagoa de Massabi, Sazaire, Ambrizete, Musserra e Egito favorecer-se-á a constituição de oficinas de salga e seca cooperativas para transformação do excedente de peixe.
Para apoio aos núcleos de Lândana, Cabinda, Sazaire, Ambrizete, Musserra, Ambriz e Lobito prevê-se a instalação de pequenas unidades de fabricação de gelo em Lândana, Cabinda e Ambriz, câmaras de congelação e conservação.

3.4.2. Renovação da trota e artes de pesca

167. Contando a frota de Angola com cerca de 245 traineiras de pesca de cerco com comprimento superior a 12 m, das quais 45 por cento têm idade superior a dez anos e 20 por cento superior a quinze anos, preconiza-se a sua substituição gradual, com financiamento do Fundo de Apoio.

3.4.3. Embarcações para arrasto costeiro

168. Este investimento particular poderá, por si só, modificar a estrutura da indústria da- pesca de Angola, favorecendo um movimento no sentido de se desenvolver uma pesca mais rendosa do que aquela que actualmente se pratica. Com efeito, as estruturas actuais baseiam-se na pesca de pelágicos, que se destinam quase exclusivamente à fabricação de subprodutos, tais como as farinhas e óleos de peixe. Com o desenvolvimento do arrasto do alto e costeiro entrará a província decisivamente no caminho certo, fazendo uma exploração mais racional do mar.
Tais pescarias terão o suporte de frio adequado, que, cumulativamente, possibilitará a congelação de quantidades apreciáveis de pelágicos -carapaus-, que são bem aceites pelos estratos da população menos favorecida.

3.4.4. Atuneiros

169. Situando-se a captura do atum ao largo e ao longo da costa da área de Benguela a nível satisfatório, preconiza-se o incremento destas pescas com barcos melhor apetrechados para o efeito. De igual modo, na zona de Moçâmedes, têm estas pescas reais possibilidades de expansão. O apetrechamento do sector com câmaras de congelação, que se processará no decurso do Plano, muito contribuirá para um maior e melhor aproveitamento destas pescas.
Está, desde já, prevista a construção de seis atuneiros, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro, e mais dez, das duas empresas de congelação e conservas, a constituir pelos industriais do distrito de Benguela.

3.4.5. Atuneiros congeladores

1.70. Este empreendimento particular dá à província posição nas pescas atlânticas do atum.
Estando programado o equipamento dos portos de pesca de Luanda e Porto Alexandre com câmaras de congelação e conservação, ficará Angola a dispor de bases perfeitas para a pesca do atum do alto. Deste modo, está desde já prevista a construção de três unidades, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro e pela Empresa de Congelação dos Industriais de Benguela (a constituir).

3.4.6. Arrastões congeladores

171. Está prevista a construção inicial de duas unidades, empreendimento a levar a efeito pela Empresa de Pesca de Aveiro, e, além de outros, possivelmente alguns arrastões da Sociedade dos Armadores de Pesca de Angola, S. A. R. L.

3.5. Estaleiros para a construção e reparação de embarcações

172. A frota de pelágicos da província carece de ser gradualmente substituída, adoptando-se modelo diferente do tradicional, que não serve, por inadequado.
Tais barcos não podem ser construídos por meros carpinteiros, que não oferecem as garantias que são de

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exigir em empreendimento de tal monta. Esta dificuldade, aliás, já foi sentida no V Congresso Nacional de Pesca, que recomendou ao Governo o favorecimento da constituição de empresas para tal fim.
Tem-se notícia de que uma empresa de Luanda e outra do Lobito se propõem construir estaleiros com as características preconizadas, o que muito favorecerá a possibilidade de renovar a frota.

Pesca

Programa de investimentos

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Indústria extractiva

1.1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1.1.1. Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas

173. Grande parte do território de Angola é semiárido ou árido. São pouco numerosos os cursos de água de carácter permanente e pode dizer-se que quase todos os rios têm regime torrencial.
As condições hidrológicas são, pois, de natureza a atribuir às águas subterrâneas papel de grande relevo no abastecimento das populações e para as restantes utilizações, com relevância para o desenvolvimento económico.
Nas regiões do Sul e do Sudoeste da província a água é, em particular, factor determinante de qualquer política de desenvolvimento económico social e condicionamento da economia das populações existentes.
174. Os estudos hidrogeológicos têm de ser levados a efeito segundo programas regionais, de acordo com as solicitações inerentes aos planos de desenvolvimento da pecuária, da agricultura, da construção de infraestruturas, do estabelecimento de núcleos de povoamento, etc.
Têm sido assim resolvidos, até agora, problemas de abastecimento de água de carácter urgente, o que tem exigido a execução simultânea da prospecção, da pesquisa e da captação de águas subterrâneas. A efectivação de estudos hidrogeológicos regionais que permitissem a definição de princípios e critérios gerais de ocorrência das águas e a determinação das suas características não seria, aliás, possível sem a execução das operações de prospecção e pesquisa. Aquela definição, que constitui uma valiosa aquisição do ponto de vista do conhecimento científico do território, vem, portanto, sendo feita à medida que decorrem estes trabalhos.
Em virtude da vastidão dos recursos aquíferos subterrâneos existentes, o inventário dos mesmos é um objectivo de primordial importância para o desenvolvimento do território. Este inventário só poderá processar-se, mediante estudos hidrogeológicos sistemáticos e intensivos.

175. O programa a estabelecer deve, por isso, condicionar-se a um objectivo de carácter geral (o inventário dos recursos aquíferos) e a objectivos de carácter regional ou local (dependentes dos empreendimentos que se pretender servir), numa solução de compromisso, em que não se vise efectuar o estudo hidrogeológico sistemático do conjunto do território, mas sim realizar os estudos que permitam o aproveitamento racional dos recursos aquíferos necessários à concretização dos esquemas de desenvolvimento económico.

176. A província adquiriu, ao longo de cerca de vinte anos, uma grande experiência em questões de hidrogeologia, prospecção, pesquisa e captação de águas subterrâneas, dispondo hoje de técnicos especializados e de equipamento moderno. Todavia, perante a grandeza do empreendimento em causa - decorrente, naturalmente, da vastidão do território -, há que prosseguir no. sentido da ampliação .da estrutura técnica já existente, aperfeiçoando constantemente os métodos de trabalho.
Data de 1963 a criação de um dispositivo capaz de permitir a execução rápida dos estudos e das obras necessários ao abastecimento de água das regiões pastoris

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do Sul de Angola. Este dispositivo intitula-se «Plano de Coordenação para Abastecimento de Água das Regiões Pastoris do Sul de Angola». Teve reflexos em outras medidas estabelecidas para procurar fomentar e disciplinar a pastorícia nos distritos do Sul, tais como, por exemplo, o estabelecimento de um regime de taxas aplicáveis aos possuidores de gado, beneficiários dos trabalhos de abastecimento de água levados a efeito, e a definição de «normas gerais para o planeamento .e ordenamento da pastorícia, com vista a planear os trabalhos a realizar e a ordenar a utilização dos já existentes.
Este plano de coordenação foi dotado dos meios necessários para concretizai: a criação de infra-estruturas, que constituirão pólos de atracção cias populações tradicionais e dos seus gados.
São as seguintes as perspectivas que o desenvolvimento do aproveitamento dos recursos aquíferos oferece:

a) Aumento de produção no sector pecuário e agro-pecuário;
b) Aumento do número de pedidos de demarcação de terrenos destinados ao estabelecimento de empreendimentos pecuários e agro-pecuários;
c) Fixação progressiva das populações nómadas e seminómadas em volta dos pontos de água;
d) Ordenamento progressivo da pastorícia: em consequência, reordenamento rural progressivo;
e) Melhoria das condições de assistência sanitária às populações e gado.
Do surto de desenvolvimento que já se nota na pecuária do Sul de Angola, provocado pelo estabelecimento de 550 pontos de abastecimento de água, bem como da nítida tendência das populações à sua fixação nas proximidades
daqueles pontos de água, e dos numerosos pedidos de trabalhos idênticos em outras regiões da província, verificados nos últimos anos, conclui-se que a evolução das situações no que respeita ao aproveitamento dos recursos aquíferos será dominada por um grande e progressivo aumento de solicitações neste sector, quer nas regiões já beneficiadas, quer noutras.

1.1.2. Fomento mineiro

177. A produção das indústrias extractivas evoluiu rio período de 1960 a 1965 como se apresenta no quadro seguinte:

Valor bruto da produção mineira

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Peso expresso em quilates.

Nota. - Além dos combuíatíveis derivados do petróleo bruto, os produtos consumidos no mercado interno são as substâncias betuminosas (parti pavimentação), os mármores e granitos (para construção e ornamentação), o gesso (para. a indústria química, cimentos e construção), outros produtos de pedreiras (para construção e obras públicas), o sal comum e ainda, em muito pequena escala, caulino, feldspato e quartzo (para indústria cerâmica e vidreira).
Verifica-se que de 1962 a 1964 o valor global das exportações mostrou-se oscilante, muito embora o volume tenha registado aumentos crescentes, provocados essencialmente pelos minérios de ferro, diamantes e petróleo em bruto. Em 1965, os produtos mineiros registaram, em relação a 1964, uma baixa de 637 295 t e 18 344 contos; à excepção dos diamantes e dos minérios de cobre, praticamente todos os outros apresentaram quebras sensíveis.
Em 1964, da produção mineira angolana, apenas 27 por cento em peso e 13,9 por cento em valor se destinaram ao consumo interno (na sua maioria produtos derivados
dos petróleos, que, só por si, constituíram cerca de 26,8 por cento em peso e 13,7 por cento em valor).
Em 1965, a percentagem da produção mineira consumida no mercado interno foi de:
38 por cento em peso e 20,9 por cento em valor, para os combustíveis derivados do petróleo;
2.5 por cento em peso R 0,1 por cento em valor, para outros produtos minerais;
40,5 por cento em peso e 21 por cento em valor, para a totalidade dos produtos minerais.

As actuais actividades mineiras em Angola distribuem-se por seis regiões.

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Região mineira da Lunda

178. Situa-se no Nordeste da província, onde se explora a maior parte dos jazigos de diamantes da Companhia de Diamantes de Angola. A sua produção correspondia, em 1965, a cerca de 65 por cento da produção mineira de Angola.
Em face tias reservas já conhecidas, é de prever que a produção das minas de diamantes possa prosseguir no mesmo nível durante, pelo menos, quinze anos. No entanto, mantendo-se os trabalhos de prospecção e pesquisa ao ritmo actual, deverá a produção manter-se por um maior período.
Região mineira do Cazengo

179. Na zona de influência do caminho de ferro de Luanda situam-se jazigos de minério de ferro, actualmente explorados peia Companhia do Manganês de Angola. Em 1965 a sua produção correspondia a cerca de 5,3 por cento do valor da produção mineira angolana.
Em face das reservas já conhecidas e dos meios de produção existentes, supõe-se que a produção actual se podará manter por mais alguns anos. Existe, todavia, ainda a possibilidade de concretização do aproveitamento dos minérios de ferro de baixo teor (tipo taconites) da faixa entre Cassalas e Lucala.
Os minérios desta região são transportados pelo caminho de ferro de Luanda; aguarda-se a conclusão da rectificação do traçado e a modernização dos equipamentos, de modo a aumentar a capacidade de escoamento. Através do porto de Luanda têm sido embarcados os minérios de ferro desta zona, mas as condições actuais não permitem ir além das 500 000 t/ano. Prevê-se a ampliação das instalações actuais e a montagem, de instalações de carregamento mecânico de minérios, logo que as necessidades o exijam.

Região mineira do Dande

180. Na zona Lifune-Dande, acompanhando o contorno da bacia sedimentar do Cuanza, encontram-se os jazigos de substâncias betuminosas e a cintura pegmatítica do Dande, na qual se localizam os principais jazigos de mica conhecidos em Angola. Em 1905, paralisadas as explorações de mica, a produção desta zona representou apenas 0,1 por cento da produção mineira total da província.
Poderá prever-se um ligeiro decréscimo na exploração da rocha asfáltica para pavimentação, dada a preferência concedida ao asfalto de refinação. No entanto, se se concretizar a viabilidade económica da produção de combustíveis, em curso de estudo, a partir da rocha asfáltica, prevê-se um aumento substancial na sua produção mineira rentável.
Região mineira de Luanda

181. Nesta região dos jazigos de petróleo e gás natural (em exploração nos platcaux de Luanda e da Quissama) foram obtidos cerca de 23,5 por cento do valor da produção mineira da província em 1965.
Prevê-se um decréscimo na produção dos jazigos de petróleo actualmente em exploração. No entanto, como prosseguem os trabalhos de pesquisa, é de esperar que novos jazigos venham a substituir os que actualmente mantêm o nível da produção, de modo a conservá-la na posição que presentemente ocupa.

Região mineira do Cuíma e de Cassinga

182. Na região do Cuíma, no distrito de Huambo, estão sendo explorados jazigos de minérios de ferro da Companhia Mineira do Lobito. A exploração destes jazigos conduziu à obtenção, em 1965, de cerca de 3 por cento do valor da produção mineira total de Angola.
Os jazigos de ferro da área do Cuíma aproximam-se do esgotamento e, nestas condições, o caminho de feiro de Benguela tem tido capacidade (e continuará a tê-la) para o transporte deste minério.
Por sua vez, o porto do Lobito dispõe de instalações mecânicas de carregamento de minérios que têm sido suficientes para assegurar o seu escoamento.
Existem na mesma região ocorrências de outros minérios (volframites, minérios do estanho, metais radioactivos, terras raras e ocorrência de ouro), cujas possibilidades de produção e aproveitamento ainda são pouco conhecidas.

183. Na região mineira de Cassinga, por sua vez, encontram-se em exploração minas de minério de ferro da Sociedade Mineira do Lombige, onde foram localizados e medidos mais de 100 milhões de toneladas de minério de ferro de alto teor e excelentes características metalúrgicas. Muitas centenas de milhares de toneladas foram colocadas desde 1962 nos mercados externos, tornando o minério conhecido e apreciado.
Em 1965 a produção destas minas representou em valor cerca de 1,7 por cento da produção mineira total da província.
A alta qualidade do minério, a facilidade e economia da sua extracção e tratamento, que a feição das jazidas permite, as excelentes condições do porto de Moçâmedes para o serviço dos grandes cargueiros de minério, somam-se ao volume dos recursos determinados para conferir ao produto condições favoráveis dê competição nos mercados internacionais. A produção de Cassinga tem assegurada a colocação total rios mercados mundiais até à quantidade lixada de 5 á 5,5 milhões de toneladas/ano.
Para o transporte do volume previsto foram estabelecidas as infra-estruturas convenientes, em condições de permitir carga muito rápida dos maiores navios previsíveis, infra-estruturas estas que ficaram concluídas no 1.º semestre de 1967, incluindo os principais apetrechamentos mineiros.
As receitas provenientes da exploração representam mais de 1 300 000 contos anuais e um ingresso de cambiais que, não sendo, inferior nos primeiros dez anos a um saldo líquido anual de 500 000 contos, virá a fixar-se posteriormente em mais ou menos 1 milhão de contos.

1.2. Objectivos

1.2.1. Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas

184. A definição dos objectivos gerais, no sector dos estudos hidrogeológicos e do aproveitamento de águas, pode sintetizar-se do modo seguinte:
Obtenção gradual do conhecimento hidrogeológico do território e o concomitante inventário dos seus recursos aquíferos;
Resolução de problemas regionais e locais de abastecimento de água de núcleos de povoamento, centros urbanos, instalações militares e indústrias, com particular incidência nas regiões áridas e semiáridas.

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1.2.2. Fomento mineiro

185. Pretende-se durante o III Plano um aumento substancial da actividade extractiva, de forma a atingir o valor de 6 000 000 de contos no final do hexénio. Tal acréscimo fundamenta-se na previsão dos êxitos que se esperam do trabalho dos pesquisadores e concessionários mineiros e também dos levantamentos geológicos e da prospecção sistemática, na medida em que venham a descobrir novos índices de mineralização.
Será de prever, portanto, uma maior disponibilidade de matéria-prima para o desenvolvimento da indústria e ainda um benefício a curto prazo para as balanças comercial e de pagamentos.
que criarão condições para a emancipação económica de muitos criadores, que passarão a dispensar, logicamente, o auxílio do Estado.
A estrutura existente garante meios de acção para a execução de cerca de 90 obras por ano. Durante o período de 1968-1973, será possível construir, portanto, cerca de 540 obras, que, juntas às 700 que deverão existir até fins do Plano Intercalar, proporcionarão a existência de 1240 pontos de água, número este que se aproxima já do que se estima necessário para zonas prioritárias.
A par deste objectivo, o programa inclui o estudo técnico-económico de comportamento das obras, estudo este que só poderá ser efectuado com alguns anos de observações contínuas e sistemáticas.

1.3. Investimentos

1.3.1. Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas

186. No que se refere à hidrogeologia e ao aproveitamento dos recursos aquíferos, torna-se indispensável fazer depender os programas dos empreendimentos que se pretende servir das necessidades que se vão verificar nos próximos anos em relação a infra-estruturas, núcleos de povoamento, desenvolvimento da agro-pecuária, etc.
Apenas num caso é possível estabelecer desde já- programa em todos os seus aspectos técnico-económicos - o do abastecimento de água da região pastoril do Sul de Angola, visto estar-se perante um empreendimento já objectivado e concretizado mediante medidas legislativas e regulamentares que exprimem uma orientação perfeitamente definida.
Mas o facto de ser difícil estabelecer outros programas, em condições idênticas, não significa que não devam ser considerados os estudos dos recursos aquíferos. Pelo contrário, é indispensável prever a criação de uma estrutura técnico-económica que garanta a possibilidade de resolução dos múltiplos problemas de aproveitamento de águas de que depende o desenvolvimento económico e social de Angola.

a) Abastecimento de água da região pastoril do Sul de Angola

187. A área cujo abastecimento de água constitui o objectivo deste empreendimento corresponde a um conjunto de áreas parciais que apresentam grande identidade de características geoeconómicas.
Dada, porém, a grande extensão daquela área -167 900 km 2 -, foram feitos estudos aturados com vista à selecção de «zonas prioritárias», isto é, zonas onde a falta de água se reveste de maior acuidade.
Para o abastecimento de toda a área de 167 900 km 2 seria necessário considerar 4000 pontos de água, número extremamente elevado. Mas para as zonas prioritárias, que compreende uma área total de 60 560 km 2, supondo um aproveitamento de 80 por cento desta área, o abastecimento completo necessitaria de cerca de 1600 pontos de água, considerando um ponto de água por cada 30 km 2, em média, número obtido a partir da capacidade média dos pastos (8 ha por cabeça) e do consumo de água médio por cabeça normal.
Na realidade, a evolução da pecuária, numa área tão extensa e com características tão peculiares, não é previsível a longo prazo. Por outro lado, e Estado pretende dar um impulso ao desenvolvimento económico e social do Sul de Angola, mas tal impulso deverá produzir efeitos

b) Estudos hidrogeológicos e aproveitamento de águas subterrâneas
188. Este programa serve objectivos que não é possível definir imediatamente de forma completa, dado que o mesmo se destina a manter uma estrutura ;capaz de ocorrer aos múltiplos problemas de aproveitamento de águas subterrâneas impostos por programas dos domínios mais variados, com particular relevo nos da agro-pecuária, e a efectuar, gradual e sistematicamente, o reconhecimento da hidrogeologia da província.
Dentro do primeiro objectivo incluem-se os seguintes trabalhos, além de outros que não é possível concretizar:
Estudo hidrogeológico e pesquisa de águas subterrâneas destinados à construção de 50 captações para abastecimento de um núcleo de povoamento na região da Cela (fazendas médias), pedidas pela Junta Provincial de Povoamento;
Estudo hidrogeológico e das possibilidades de obtenção de águas subterrâneas nas embocaduras dos rios Coporolo, Aquimina, Carunjamba, Inamangando, S. Nicolau, Giraul e Coruca, destinados ao abastecimento de Dombe Grande, Equimina, Lucira, S. Nicolau e outros núcleos de povoamento; estudos idênticos noutros locais de acordo com solicitações futuras;
Compilação e divulgação de elementos de informação sobre a hidrogeologia do território;
Preparação e especialização de pessoal técnico no campo da hidrogeologia e nos métodos de prospecção, pesquisa e captação de águas subterrânea»; desenvolvimento das técnicas utilizáveis;
Aquisição de aparelhagem de prospecção geofísica especialmente adequada às águas subterrâneas, sondas e aparelhagem para observações hidrogeológicas;
Auxílio às províncias mais pequenas e que não podem, por isso, dispor de estruturas que lhes permitam abordar problemas que, em certos casos, como o de Cabo Verde, assumem particular acuidade e dificuldade. Dispondo das dotações propostas, julga-se possível a utilização da experiência já adquirida em Angola noutras parcelas do território nacional.

1.3.2. Fomento mineiro

189. De um modo geral, espera-se que todos os empreendimentos a seguir discriminados conduzam à melhoria sensível das balanças de pagamentos e comercial, bem como ao aumento substancial do produto interno bruto.

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a) Valorização de jazigos já conhecidos (iniciativa do Estado) Valorização dos jazigos de cobre
190. São conhecidos muitos índices de mineralização de cobre. No entanto, com excepção de algumas ocorrências no distrito de Uíge, que foram estudadas por uma empresa concessionária - a* Empresa de Cobre de Angola -, todas as demais ocorrências e índices são desconhecidos ou, pelo menos, deficientemente conhecidos. Além disso, o mercado mundial de cobre metal encontra-se sujeito a violentas crises no abastecimento. A indústria transformadora nacional necessita de cobre metal, que não é produzido actualmente no território nacional em quantidade suficiente. Torna-se, por isso, necessário, não só verificar os valores que efectivamente possam existir dentro do território nacional, como valorizar aqueles que forem merecedores de interesse económico.
O empreendimento deverá ser orientado no sentido de uma prospecção regional e estudo regional dos índices, suas extensões possíveis e reconhecimento por pesquisas mineiras, onde justificadas.
O investimento proposto, embora muito insuficiente para um estudo sistemático completo, permitirá, no entanto, manter permanentemente no campo duas equipas de pesquisas e uma sonda para reconhecimentos.

Valorização de jazigos de carvão (distritos do México e Cuando-Cubango)

191. São conhecidas já algumas ocorrências de lignites nas regiões cobertas pela formação do Kalahari, no distrito do México. Em trabalhos já realizados durante a vigência do Plano Intercalar de Fomento, outras ocorrências foram descobertas e estudadas as relações genéticas e possibilidades quanto a quantidades exploráveis. Afigura-se indispensável prosseguir estes trabalhos, imprimindo-lhes um ritmo mais intenso, particularmente no respeitante à execução de sondagens, de reconhecimento e avaliação das reservas.
O investimento proposto é inferior às necessidades previstas, mas tal foi estabelecido prevendo-se a possibilidade de vir a utilizar equipamento já existente, embora este não seja o mais indicado para este género de trabalhos.
Valorização de jazigos de substâncias betuminosas (distritos de Luanda e Zaire)

192. As grandes reservas de rocha asfáltica existentes nas formações sedimentares marinhas, principalmente na bacia do Cuanza, impõem que se faça um inventário dos volumes disponíveis e das condições geológicas e topográficas que condicionarão o seu aproveitamento potencial como produtor de combustíveis líquidos destinados a garantir o abastecimento a todo o território nacional, se vierem a estar ameaçadas as outras fontes de abastecimento. Como os detentores dos direitos mineiros - Companhia dos Betuminosos de Angola e Companhia dos Asfaltos de Angola - não dispõem de meios técnicos nem financeiros para efectuarem esses estudos, propõe-se que os mesmos sejam realizados pelo Estado. O investimento previsto é reduzido, mas afigura-se que o mesmo permitirá, em quatro campanhas, efectuar esse inventário.
Estudo do aproveitamento industrial das substâncias betuminosas (distritos de Luanda e Zaire)

193. Consiste rio estudo laboratorial e em oficinas piloto especializadas dos vários tipos de rochas asfálticas existentes na província, com vista à obtenção de combustíveis líquidos e elaboração dos projectos das respectivas instalações e estudo económico do empreendimento. Este estudo terá de ser realizado em laboratórios estrangeiros, possivelmente nos Estados Unidos da América ou Canadá, onde as técnicas se encontram mais desenvolvidas.
Estudo do aproveitamento industrial dos minérios de ferro titanado

194. Este estudo consiste na colheita de amostras em escala semi-industrial dos minérios de ferro titanado que se encontram, em grande abundância, na região dos Gambos até ao Cunene, no distrito de Huíla, e na região de Cazengo, no distrito de Cuanza Norte, e sua remessa para laboratórios especializados estrangeiros - Estados Unidos da América, Alemanha, França ou Suécia -, ondo possam ser estudadas no sentido do seu aproveitamento para produção de pclets de minério de ferro e simultaneamente de concentrados de ilmenite (minério de titânio). Além deste estudo prévio e respectivos ensaios em escala semi-industrial, faz parte do investimento o estudo económico do empreendimento necessário e projecto das instalações industriais.
Valorização dos jazigos de ouro e pedras preciosas (na reserva do Estado)

195. Existem em toda a província numerosas ocorrências e indicações de existências de ouro aluvionar e filoniano. No entanto, nunca foi executado um trabalho sistemático de actualização dos conhecimentos e de pesquisa sistemática que permita chegar à conclusão da existência ou não existência de importantes jazigos deste metal. Dado o grande interesse nacional que haverá em iniciar-se em escala industrial qualquer exploração de jazigos de ouro de valor que venham a ser descobertos ou valorizados, há absoluta urgência em dar-se início à pesquisa sistemática dos índices de ouro conhecidos. O investimento proposto permitirá manter permanentemente duas brigadas trabalhando neste metal, o que, embora seja ainda inferior às necessidades, já representa um passo importante.
Do mesmo modo, sabe-se que na área da reserva do Estado existem índices de mineralização diamantífera, alguns dos quais de relativo interesse. Além disso, convirá realizar uma pesquisa sumária, por métodos modernos, da área costeira da plataforma continental, não só para pesquisa da indicação de diamantes como da possível existência de outros minerais de depósitos aluvionares.
Estudo e investigação das possíveis fontes de minério de alumínio

196. Não se conhecem ainda jazigos ou- até simples ocorrências de minérios aluminíferos na província. No entanto, a existência de muitas massas de rochas que, por alteração meteórica, podem produzir concentrações minerais exploráveis de alumínio impõe a pesquisa das regiões onde afloram tais tipos de rochas, com vista à descoberta de possíveis concentrações, susceptíveis de constituírem jazigos desses minérios, a utilizar pela indústria do alumínio a instalar em Angola.
Avaliação dos recursos minerais associados às formações carbonatíticas (distritos de Huíla, Benguela e Huambo)

197. O interesse crescente pelos minerais de terras raras, e ainda pelos minerais radioactivos que lhes estão associados, além das possibilidades de aproveitamento local como correctores do solo na agricultura, aconselha a efectuar a pesquisa, tanto quanto possível completa, das

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inúmeras estruturas dessas rochas já conhecidas em Angola. Este trabalho envolve tareias laboratorias intensas, de custo elevado, e duvida-sé que o investimento proposto permita, como se deseja, manter permanentemente duas brigadas.

Valorização dos jazigos de outros minérios - tungsténio e estanho (distritos de Benguela e Huambo)

198. Conhecem-se na área do exclusivo de pesquisas que pertence à Companhia Mineira do Lobito ocorrências de estanho e tungsténio.
Dado o interesse económico desses minérios e havendo indicação de outras origens de que algumas daquelas ocorrências têm características que as indicam como prováveis grandes jazigos, deve o Estado providenciar pelo seu estudo e valorização, ficando a companhia concessionária obrigada ao pagamento das despesas executadas pelo Estado no caso de em resultado dos trabalhos feitos, se demonstrar a existência de jazigos exploráveis economicamente. Prevê-se a actuação simultânea de duas brigadas de pesquisas e trabalhos mineiros, incluindo a execução de sondagens. É possível que ainda durante o III Plano de Fomento essas brigadas possam actuar esporadicamente na valorização de descobertas que venham a ser feitas pelas brigadas de cartografia geológica e prospecção geral.

b) Desenvolvimento do aproveitamento dos jazigos já conhecidos (iniciativa particular)

Região mineira de Cassinga (projecto Cassingn)

199. A produção prevista deste jazigo de ferro (tipos pebblc, eluvial e maciço) e que constitui concessão da Sociedade Mineira de Lombige, iniciada em 1967, é de 5 000 000 t a 5 500 000 t. Os investimentos necessários foram na sua maior parte já efectuados no âmbito do Plano Intercalar de Fomento, estando ainda prevista a construção de um novo traçado do caminho de ferro de Moçâmedes destinado a reduzir a rampa máxima e rectificação do traçado e ainda a renovação do material de via, para o qual se prevê um elevado desgaste pelo excesso de carga a que vai ficar sujeito.

Região mineira do Mavoio (projecto Mavoio)

200. As reservas conhecidas destes jazigos de cobre, mija exploração está concedida à Empresa de Cobre de Angola, montam a 10 000 000 t de tout venant com 2 e ò por cento de cobre metal, localizadas a cerca de 300m de profundidade.
Nos três primeiros anos realizar-se-ão pesquisas e preparação do jazigo e, se for comprovada a explorabilidade económica, será executada a preparação e travagem da mina, instalações de extracção, carga e preparação mecânica do minério, destinadas à produção «anual de 15 000 t de cobre metal, sob a forma de concentrados. Destes concentrados poderá ser destinada a indústria metalúrgica uma parte até 20 por cento, destinando-se a parte restante à exportação.

Regiões mineiras de Luanda e do Zaire (projecto Petrangol-Angol)

Luanda

201. Os jazigos de hidrocarbonetos entre Cacuaco e Porto Amboim, localizados na bacia sedimentar do Cuanza, constituem esta zona, que inclui a área terrestre (onshore) e plataforma continental (offshore). A produção actual de 550 000 t de ramas para abastecimento da refinaria de Luanda é proveniente, principalmente, de dois campos petrolíferos: Tobias e Galinda. Para se poder manter e expandir a produção actual, novos jazigos, terão de ser descobertos e colocados em produção. Parte das estruturas terrestres já foram pesquisadas, mas algumas serão ainda retomadas. A maior esperança parece localizar-se na plataforma continental.

Zaire

202. Nas pesquisas por sondagens, iniciadas em 1966, foram encontrados índices de hidroearbonetos que a empresa concessionária supõe de interesse, pelo que será iniciada uma campanha de sondagens para os comprovar. Se entretanto, forem descobertos jazigos exploráveis, deverão ser ampliados os ,as nesta área, não só para execução dos trabalhos de desenvolvimento e produção, como ainda para montagem das infra-estruturas-oleadutos, centrais de bombagem, sea line e instalações de carga em navios-tanques no rio Zaire.

Região mineira de Cabinda

203. Os jazigos de hidrocarbonetos, localizados na plataforma continental do distrito de Cabinda, são objecto de pesquisas, que já foram realizadas na área terrestre pela Cabinda Gulf Oil. Companv, não dando indicações que pudessem sor consideradas favoráveis. A concessionária iniciou em 1906 sondagens na plataforma, continental, com perspectivas muito favoráveis.
Exigir-se-á, portanto, um investimento maior com a montagem de instalações de carga, sea line, e duques-de-alba para carregamento, ao largo, de navios-tanques.

Região mineira do Dande (Betumina-Astal)

204. A Companhia de Betuminosos de Angola e a Companhia dos Asfaltos de Angola, que,- no seu conjunto, possuem direitos mineiros sobre quase toda a área entre os rios Lifune e Dando, onde são conhecidas ocorrências de rocha asfáltica, associaram-se ú u m. empreendimento que pretendem executar, destinado a extrair da rocha asfáltica o asfalto que contém, colocando-o em condições vendáveis, isento de produtos inertes. Este asfalto poderá ser utilizado para uso interno, em pavimentações, ou para exportação, ou como matéria-prima de uma indústria de refinação para produção de combustíveis líquidos leves.

Região mineira do Cazengo (projecto Cassalas)

205. Quanto a esta concessão da Companhia do Manganês de Angola, de jazigos de minério de ferro pobres susceptíveis de exploração mineira económica a céu aberto, estão ainda em curso os estudos relativos às características técnico-conómicas do empreendimento com vista à produção anual do 1 000 000 t a 1 500 000 t de peleis de minério de ferro com 65 a 67 por cento de ferro. Só depois de estudada a rentabilidade económica do empreendimento se poderá decidir se o mesmo será levado a execução.
Será necessário melhorar o traçado do caminho de ferro de Luanda e instalar o equipamento de carregamento mecânico de minérios no porto de Luanda adequado à tonelagem a transportar e exportar - 1 a 1,5 milhões de

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toneladas/ano. Espera-se que toda a produção se destine à exportação. O financiamento será feito normalmente por empréstimo externo.
Região mineira de Cabinda (projecto Cabinda)

206. Estes jazigos de sais de potássio referem-se como possivelmente susceptíveis de exploração económica., pelo seu teor, continuidade e localização em profundidade. Espora-se, no entanto, que com a execução de mais algumas sondagens só consiga definir melhor a extensão dos jazigos e avaliar as reservas existentes, bem como as características dos mesmos jazigos. Calcula a Cabinda Gulf Oil Cornpany que poderá vir a ser necessário investir cerca de 12 000 000 de contos para se realizar a exploração destes jazigos, com uma capacidade anual de 1 000 000 t de concentrados de cloreto de potássio.
A produção anual, do 1 000 000 t de concentrados do cloreto de potássio corresponde a cerca de 500 000 contos por ano.
Será necessário montar infra-estruturas de transporte ferroviário e um porto de mar para carregar estes concentrados, cujos custos estão incluídos no investimento previsto. A mão-de-obra, seva de 300 unidades. A totalidade da produção destina-se à exportação. O financiamento será externo.

Região mineira de Cabinda (projecto fosfatos)

207. Os principais jazigos de fosfatos sedimentares já estudados encontram-se, um, junto da fronteira com a República do Congo (Kinshasa) e, outro, junto da fronteira com a República do Congo (Brazzaville). A sua exploração mineira será relativamente fácil e barata, mas o transporte será mais dispendioso, exigindo a montagem de uma infra-estrutura de transporte ferroviário e a construção de um porto de mar adequado ao transporte e carregamento de, pelo menos, 1 000 000 t por ano.
O valor F. O. B. da produção anual de 1 000 000 t será de cerca de 3 000 000 de contos. Toda a produção deverá ser destinada à exportação. O financiamento será externo.

Região mineira de Ambrizete-Quinzau (projecto fosfatos)

208. A exploração mineira destes jazigos de fosfatos sedimentares será relativamente fácil e pouco dispendiosa, mas os encargos com o transporte e carregamento em navios terão de ser elevados. Exigem a montagem de uma infra-estrutura de transporte dos concentrados desde a mina até ao navio, provavelmente mais dispendiosa que no caso de Cabinda, embora não haja estudos feitos.
Por isso, apenas a título comparativo, se estima o investimento num valor superior em 50 por cento do valor do investimento equivalente do empreendimento de Cabinda, também para 1 000 000 t por ano. Apenas 50 por cento da produção serão destinados à exportação.

A fonte de financiamento seria externa.

2. Indústria Transformadora
2.1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

209. A produção industrial de Angola caracterizou-se, a partir de 1960, por um rápido crescimento, traduzido pela duplicação do valor bruto da produção no sexénio
de 1960-1965, mesmo sem abranger actividades importantes, como serralharia, serração de madeiras, extracção de óleo de palma, panificação e cerâmica.

[Ver Quadro na Imagem]

O capital investido em 1960 era de 2 430 000 contos, tendo subido em 1965 para 3-894 000 contos, ou seja mais 60 por cento. Esse acréscimo diz respeito, principalmente, às indústrias alimentares, dos derivados do petróleo e carvão, de bebidas e de madeiras.
O valor acrescentado das indústrias transformadoras foi estimado, a partir de indicadores, entre 1,3 e 1,7 milhões de contos.

210. Uma análise dos valores de exportação das indústrias transformadoras a partir de 1962 mostra que os maiores contributos provieram, justamente, das indústrias Já alimentação e das indústrias químicas. Nas indústrias têxteis também aparecem valores elevados, atribuíveis à exportação de sisal; assim, o maior contributo provém do sector agrícola.
A ligeira quebra registada em 1965 no total das exportações deve-se ao sisal, pois nos outros sectores houve um nítido acréscimo, que não foi maior em resultado do aumento do consumo interno (açúcar, óleos alimentares e algodão em rama).

211. No que respeita ao emprego, verifica-se no sexénio um acréscimo da população activa da ordem das 12 900 pessoas, o que equivale a uma expansão anual de aproximadamente, 1,7 por cento.
Observando a evolução seguida, desde 1956, do número de estabelecimentos industriais, do pessoal utilizado e do capital investido, verifica-se que em dez anos o número de estabelecimentos industriais quase duplicou, enquanto o capital investido aumentou mais do dobro. O pessoal empregado aumentou de 62,5 por cento.

Evolução na montagem de estabelecimentos industriais

[Ver Quadro na Imagem]

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Em 1965, o aumento anual do número de estabelecimentos foi o menor desde 1956. O acréscimo do capital investido foi, todavia, superior ao triplo do maior acréscimo anual até então registado (1961). É a transição da fase da repartição dos investimentos em numerosas pequenas indústrias para o período dos investimentos industriais de maior vulto. Dos estabelecimentos industriais instalados, 4õ por cento correspondem a indústrias da alimentação, com um capital investido de 1 045 000 contos.

Principais exportações dos produtos industrializados da província

[Ver Tabela na Imagem]

O sector das indústrias químicas, apenas com 169 estabelecimentos, é responsável por um investimento de 1 129 000 contos.

2.2. Objectivos

212. No âmbito do III Plano deverá procurar-se:

a) Promover e apoiar a instalação de novas indústrias e ampliação das existentes nas convenientes condições de rentabilidade, com vista a, dentro do esquema geral do desenvolvimento económico da província, assegurarem um acréscimo do produto sectorial de mais de 1 500 000 contos no último ano do hexénio;
b) Criar, de acordo com o objectivo anterior, as bases para o desenvolvimento de futuras zonas industriais da província, de forma a obter-se adequado aproveitamento dos recursos existentes.

213. Enumeram-se, como possíveis zonas industriais, as seguintes:

Zona norte

No Ambrizete, com a instalação da indústria de descasque e aproveitamento integral da castanha de caju;
Em Carmona, com a criação e desenvolvimento de indústrias complementares, designadamente para enlatamento de abacaxi, de sumos de frutos e descasque e beneficiamento de café.

Zona de Luanda

Este é já o mais importante pólo de crescimento industrial da província, dispondo de infra-estruturas de transporte e energia susceptíveis de aproveitamento mais eficiente.

Zona do Dondo

O facto de a central de Cambambe se situar a poucos quilómetros da povoação do Dondo pode tornar esta região num importante centro de desenvolvimento.

ona de Malanje

A construção do estradas até à fronteira leste, para o Norte e para o Sul da província, poderá tornar Malanje num dos mais importantes centros industriais de Angola; as possibilidades de aproveitamento das quedas do Cuanza (a 60 km) e do Duque de Bragança (110 m de altura, a 80 km), a fertilidade dos solos da região, as suas potencialidades pecuárias (gado bovino) e agrícolas (algodão, amendoim, mandioca, arroz, etc.), constituem, factores favoráveis ao desenvolvimento da região.

Zona da Cela

É a zona propícia à criação de indústrias complementares da agricultura (conservas de frutos) e da pecuária (lacticínios e salsicharia).

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Zona Lobito-Benguela

A. indústria, já bastante desenvolvida nesta região, poderá ainda ser consideràvelmente incentivada, aproveitando as infra-estruturas existentes.

Zona de Nova Lisboa

Esta zona contém já estabelecimentos industriais de relevância para servir de base à futura expansão industrial.

2.2.1. Medidas de política

214. Para assegurar as condições exigidas para possibilitar a concretização dos empreendimentos considerados neste sector, torna-se necessário realizar determinado conjunto de acções e de medidas tendentes a:

a) Melhorar e expandir as actividades de formação acelerada de mão-de-obra especializada;
b) Rever e actualizar os regimes de incentivos aduaneiros e fiscais à instalação de novas indústrias;
c) Melhorar as condições de financiamento da indústria, através da criação de entidades especializadas e de mercado provincial de capitais;
d) Estabelecer sistemas de assistência técnica e financeira às pequenas e médias indústrias.

2.3. Investimentos

215. Os empreendimentos incluídos neste Plano a título indicativo n.º sector das indústrias transformadoras para o sexénio de 1968-1973 foram seleccionados de entre-os que apresentam maiores possibilidades, tendo em conta os seguintes critérios: importância para o desenvolvimento económico da província, contribuição para o equilíbrio da balança de pagamentos, rentabilidade e viabilidade técnico-económica e, em particular, possibilidades de concretização.
Foram ainda englobados alguns empreendimentos de boas perspectivas e de interesse em virtude da sua localização.
Esta lista, de natureza puramente indicativa, não significa que outros empreendimentos industriais não possam merecer interesse para efeitos do III Plano de Fomento, mas apenas que não foi considerado válido, com base em elementos disponíveis, explicitá-los.
O volume global de investimentos considerado necessário para alcançar o aumento do produto do sector é da ordem dos 4 500 000 contos.
Os projectos apresentados são, à excepção de muito poucos, do iniciativa privada.

2.3.1. Indústria de alimentação, com excepção das indústrias das bebidas

216. Prevêem-se os seguintes investimentos:
a) Matadouro-frigorífico (Nova Lisboa). - Será destinado a abate, congelação e frigorificação de carne de bovinos, com capacidade máxima de laboração de 15 000 cabeças por ano. O capital ainda a investir por autofinanciamento é de 25 000 contos, para uma produção líquida anual de 12 500 contos e um volume de emprego de 150 unidades;
b) Matadouro-frigorífico (entre Malanje e Camabatela).-Destinado a abate, congelação e frigorificação de carne de bovinos. Tal iniciativa virá a possibilitar o aproveitamento do gado disponível em Camabatela. A iniciativa poderá ser pública ou privada;
c) Salsicharia (Cela). -Dadas as possibilidades que reúne o pólo de desenvolvimento da Cela, propõe-se que seja aí instalada uma unidade fabril;
d) Apoio à fábrica de lacticínios de Nova Lisboa. - Impõe-se o apoio a esta unidade, que se dedica ao fabrico de queijo, manteiga, leites aromatizados, caldos nutritivos à base de leite e farinha, etc.;
e) Fábrica de lacticínios (região da Ganda).-Este empreendimento tem em vista tirar partido do facto de o leite na região da Ganda ter um preço relativamente baixo. A iniciativa poderá pertencer ao sector público ou ao sector privado;
f) Fábricas de produtos frutícolas e hortícolas. - Seriam instaladas duas na Cela: uma em Carmona e outra no concelho do Bocoio. Estas unidades teriam em vista o enlatamento do abacaxi, do tomate, etc. À excepção da fábrica de Carmona, cuja iniciativa deverá pertencer ao Estado, todas as outras serão de iniciativa privada;
g) Fábricas de sumos de frutos (concelho do Huambo). - O capital, a investir nesta instalação é de cerca de 7000 contos; poderá empregar cerca de 50 pessoas. Prevê-se uma produção líquida anual de cerca de 3500 contos, o que é perfeitamente de admitir pelo facto de a matéria-prima ser de produção local. A exportação deverá atingir 80 por cento da produção bruta;
h) Fábrica de massa de tomate (Moçâmedes). - A iniciativa pertence à cooperativa local. Serão investidos 2930 coutos, devendo originar uma produção anual líquida do mesmo valor. O pessoal a empregar será de 30 pessoas. Calcula-se que 90 por cento da produção bruta serão objecto de exportação;
i) Aumento da capacidade da moagem de trigo de Luanda. - Trata-se da ampliação da respectiva capacidade de produção;
j) Fábrica de açúcar (zona do Mucoso-Lucala). - Este empreendimento, como já foi dito, visa cobrir o déficit previsto na exportação de açúcar para a metrópole, que em 1970 deverá atingir 60 000 t.
Os estudos já realizados sobre a localização da nova açucareira indicaram as seguintes regiões, por ordem de maior interesse: Mucoso-Lucala; Mucoso-Muanga; antiga demarcação da Companhia Açucareira do Cuanza; faixa aluvionar da margem direita do Bengo. Assim, em princípio, a açucareira deverá localizar-se na região do Mucoso-Lucala, na margem direita do Cuanza, entre, este rio e o Lucala, com óptimas possibilidades de localização nos aspectos pedológicos e climáticos.
Em relação à nova açucareira, é difícil calcular o valor adicionado bruto em cada ano. Por estimativa, pode estabelecer-se 80 000 contos anuais. Na parte agrícola, prevê-se um valor acrescentado de igual montante;
k) Fábrica de margarinas e de hidrogenação de óleos (Luanda). - Este empreendimento justifica-se

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na medida em que se pretende limitar a importação de margarinas, que foi em 1965 de 884 t, no valor de 16 247 contos. O consumo na província, no mesmo ano, atingiu 1144 t e prevê-se que em 1968 venha a ser de 1800 t;

) Fábrica de massas alimentícias (Luanda).-Dado que se prevê, para 1971 ou 1972, um aumento de consumo de massas alimentícias de mais de 3000 t por ano, impõe-se a instalação de mais uma unidade fabril. O empreendimento deverá ser totalmente autofinanciado;
m) Aumento da capacidade da fábrica de leveduras frescas (Luanda). - Impõe-se a ampliação da fábrica em questão, dado que a produção actual é insuficiente para satisfazer o consumo;
n) Fábrica de higienização do sal (Lobito).-O Grémio dos Industriais do Sal pretende instalar no Lobito uma fábrica de higienizacão do sal;
o) Descasque o aproveitamento integral da castanha de caju (Ambrizete). - Esta iniciativa visa desenvolver uma região onde existe uma produção de 300 a 500 t de caju.

2.3.2. Indústrias das bebidas

217. Prevêem-se os seguintes investimentos:
Fábrica de cerveja (Luanda ou outra cidade). - É de prever a instalação de uma nova fábrica de cerveja ou o aumento de capacidade das existentes, o que se julga venha a ter lugar em 1970.

2.3.3. Indústrias têxteis

218. Pretende-se, uma vigência do III Plano, não aumentar a importação de tecidos de algodão, pelo facto da correspondente importância atingir um valor elevado e contribuir assim para o agravamento da balança de pagamentos. Os empreendimentos incluem:

) Fábrica de fiação e tecidos de algodão (Luanda).- De harmonia com os projectos elaborados, prevê-se que a importação poderá ser reduzida de 70 000 contos e que será possível uma exportação da ordem, de 1500 contos. Este empreendimento será autofinanciado em 54 000 contos;
b) Fábrica de fiação e tecidos de algodão (Malanje).-Esta fábrica será para 10000 fusos e 200 teares automáticos. Poderá conseguir-se uma limitação na importação de corça de 35 000 contos e será ainda possível, uma exportação de cerca de 19 000 contos. - Este empreendimento deverá ser autofinanciado no montante de 24 000 contos;
c) Fabrica de fiação de algodão (Novo Redondo). - A fábrica de Novo Redondo será apenas dimensionada para 5000 fusos (o custo de produção para os 5000 fusos é quase igual ao custo para 6000 fusos);
d) Fábrica de tecidos de lã e de fibras sintéticas, artificiais ou mistas. - Aumento de capacidade da fábrica a instalar em 1967, em Luanda.

2.3.4. Indústrias de calçado e vestuário

219. Pelo que respeita ao calçado, os empreendimentos propostos visam limitar a importação do mesmo, a qual, em 1965, provocou um dispêndio de divisas da ordem de 115 000 contos:

a) Aumento da capacidade da fábrica de calcado de Luanda;
b) Fábricas de calçado em Benguela, Nova Lisboa e Sá da Bandeira;
c] Fábrica de malhas e vestuário de algodão (Luanda);
d) Fábrica de malhas e vestuário de algodão (Sá da Bandeira).

2.3.5. Indústrias da madeira
220. Aglomerados de madeira, folheados e contraplacados (Cabinda). - A fim de se aproveitar a riqueza florestal de Cabinda, propõe-se também a instalação destas indústrias em 1970.

2.3.6. Indústrias químicas

221. Indústrias químicas, óleos essenciais (planalto central) e hormonas (Lobito e Benguela).

2.3.7. Indústrias dos derivados do petróleo

222. Refinação de petróleo (aumento de capacidade e nova refinaria no Lobito. - Propõe-se não só fazer face ao crescimento do consumo interno dos produtos petrolíferos, como também promover a exportação de produtos refinados.

2.3.8. Indústria dos produtos minerais não metálicos

223. a) Nova linha de fabrico de vidraria (ou nova fábrica). - A actual produção mostra-se insuficiente para atender ao consumo. Admite-se que se verificará a ampliação da fábrica de Luanda ou haverá lugar à instalação de uma nova fábrica;
b) Nova linha de fabrico de cimento (Luanda).-Devido ao facto de a fábrica de Luanda estar prestes, a esgotar a sua capacidade de fabrico, propõe-se a mesma ampliar essa capacidade.

2.3.9. Indústrias metalúrgicas de base

224. a) Siderurgia (Luanda).-A instalação da indústria siderúrgica tem a recomendá-la o facto de existirem na província óptimos minérios de ferro e energia a baixo preço. Foi, assim, considerada a localização da indústria na zona do caminho de ferro de Luanda, onde existem minérios de alta qualidade, facilidade de transporte e disponibilidades de energia (Cambambe). Prevê-se uma produção bruta de 100 000 t de gusa e 100 000 t de aço laminado;
b) Fabrico de ferro-ligas e carbureto de cálcio (Luanda).-Trata-se de uma indústria de elevado interesse para a província e com boas condições de rentabilidade. Cerca de 95 por cento da produção bruta deverão destinar-se à exportação;
c) Electrometalurgia de alumínio (Dondo ou Luanda). - A instalação desta indústria encontra-se nas fases finais de lançamento. A esquematização geral aproximada do empreendimento é a seguinte:

Capital a investir: 900 000 contos, a financiar por capital próprio e crédito externo;
Produção bruta, 2.ª fase: 25 000 t/ano;
Produção líquida: 250000 contos;

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Pessoal a empregar: 400 pessoas;
Consumo anual de energia eléctrica: 72 000 contos.

A indústria deverá ficar localizada no Bondo. Praticamente, toda a produção será destinada a venda em outros territórios nacionais e a exportação.

2.3.10. Construção de máquinas, com excepção das eléctricas

225. Apoio às indústrias de máquinas e ferramentas já instaladas (l.ª «trancho», em 196S, e 2.ª «tranche»). - Sugere-se a concretização do apoio aos industriais já estabelecidos, de preferência, e localizados nas zonas de Luanda ou Lobito-
-Benguela, com vista a contribuir para a formação de operários e desenvolvimento da prática de trabalhar o ferro, técnica base de uma industrialização.

2.3.11 Construção de materiais de transporte

226. Complexo industrial para a montagem de veículos automóveis (Luanda). - Este complexo industrial, requerido já por uma firma, abrange linhas de montagem e fabrico, com a capacidade máxima anual de:

3600 velomotores e 2500 motociclos; 800 carrinhas e 600 camiões; 3000 «turismos»; 5000 carroçarias para veículos automóveis, etc.

2.3.12. Fomento industrial regional

227. Sob esta designação incluem-se os empreendimentos destinados a satisfazer os seguintes objectivos do Plano:

a] Apoio ao desenvolvimento regional;
b) Apoio às indústrias complementares da agricultura.

Deve notar-se que nestas verbas globais não se enquadram as que foram consideradas para um fim específico, embora dentro da finalidade geral a que a verba se destina.
Quanto ao desenvolvimento regional, há a considerar neste campo variadíssimas indústrias, como sejam: cerâmicas, padarias (na zona afectada), fabrico de cal, conservação de frescos, etc., além de qualquer indústria que possa haver interesse em instalar, como, por exemplo, a industrialização de maqueta no Baixo Cubango, zona que interessa desenvolver.
As entidades executoras dos empreendimentos (sobretudo no sector industrial), o total dos recursos necessários, as fontes de financiamento, etc., são problemas a considerar.
De notar que um esquema de desenvolvimento distrital terá de atender às diversas actividades que se poderão desenvolver nos distritos, para além da instalação de pequenas indústrias.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

228. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

229. As estatísticas disponíveis permitiram a elaboração do quadro seguinte, em que se indica a evolução presumível do consumo energético de Angola em milhares de toneladas de equivalente carvão.

Consumo de energia

Nota. - Estimativa.

Note-se, desde já, que este quadro - permitindo, embora, algumas conclusões sobre o panorama energético da província - não pode deixar de ser olhado com reservas, dado que os elementos nele constantes, excepção feita aos referentes a petróleo e seus derivados e a energia hidráulica, vêm afectados de apreciáveis erros por defeito, uma vez que não incluem, por falta de elementos seguros, as
madeiras, lenhas e carvões consumidos pela população autóctone.
Mesmo assim, dele se pode deduzir:

a) Do consumo total, a maior parte cabe aos petróleos e seus derivados e à lenha; porém, enquanto que o consumo desta última tem evo-

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luído lenta e irregularmente, o consumo daqueles apresenta um aumento firme, que, nos últimos cinco anos, se traduz por uma taxa média anual de crescimento de 12 por cento;
b) O consumo de carvão importado é muito irregular. A média dos últimos 10 anos anda à volta das 40 000 t, das quais entre um quarto e um meio consumidos no caminho de ferro de Benguela;
c) O carvão de madeira, de produção local, tem sido pouco utilizado; no entanto, de 1962 para cá verifica-se um aumento de consumo à taxa média anual de 26 por cento;
d.) O consumo de energia por habitante e por ano subiu de 166,9 kg de equivalente carvão, em 1960, para 201,7, em 1965.

230. Em 1965, a energia hidroeléctrica, não obstante a sua utilização ter duplicado nos últimos cinco anos, contribuía para o consumo total com pouco mais de 10 por cento, enquanto a lenha preenchia 26,3 por cento, cabendo aos petróleos e seus derivados 55,4 por cento.
Entre estes, o consumo do fuel-oil aumentou mais rapidamente que o da gasolina e do gasóleo; e o de jct-fuel teve um crescimento espectacular - passando de 4358 l, em 1962, para 46 378 l, em 1965 -, em virtude da afluência dos aviões a jacto. (Nos mesmos anos, o consumo de gasolina foi de 55 037 e 73 174 1 e o do gasóleo de 123 559 e 164 933 1).
Em conjunto, o gasóleo e o fuel-oil foram consumidos nas seguintes percentagens sobre o total de produtos petrolíferos gastos na província:

Percentagem
1962 ............. 64
1963 ............. 62,5
1964 ................. 61,5
1965 ..................62,1

Dado que em 1965 a produção de energia eléctrica de origem térmica (cerca de 45 GWh) corresponderia ao consumo de 13 500 t de gasóleo, e tendo em vista que o consumo total na província foi, naquele ano, de 141 000 t, há que concluir que nas centrais eléctricas se queimou, no máximo, 10 por cento de gasóleo utilizado em Angola.

231. Em confronto com a de outros territórios africanos, a situação da província, no capítulo «Energia», é satisfatória.
Com efeito, quanto à potência instalada, Angola vem logo a seguir à África do Sul, República Árabe Unida, Rodésia, República Democrática do Congo e Argélia; e quanto ao consumo específico, situa-se mais ou menos a meio da tabela formada por todos os países do continente negro.
Actualmente, porém, à capacidade de produção já atingida não corresponde, ainda e pelo menos nalguns casos, um suficiente aproveitamento, enquanto, por outro lado, regiões há, fora do raio de acção dos actuais centros produtores, às quais falta a energia eléctrica indispensável às necessidades que já enfrentam ou virão a enfrentar a curto prazo.
Factos tais impõem uma perfeita coordenação da produção, do transporte e da distribuição de energia eléctrica, problema que, nos seus múltiplos aspectos, a Administração - através dos seus órgãos competentes - vem já encarando e cuja consideração está na base do programa de realizações mais adiante apresentado.

232. Actualmente, a produção, o transporte e a grande distribuição estão a cargo quer de empresas privadas, em regime de concessão, quer do próprio Estado, por intermédio da Junta Provincial de Electrificação de Angola; a pequena distribuição compete aos serviços municipais ou municipalizados e, em alguns casos, a empresas privadas concessionárias.
A zona de desenvolvimento Luanda-Dondo-Malanje é área de actividade da concessionária Sonefe, que explora as centrais das Mabubas e de Cambambe, ligadas a Luanda por linhas a 60 e 220 kV, respectivamente.
A Hidroeléctrica do Alto Catumbela (H. E. A. C.) exerce a sua actividade na área Lobito-Benguela-Alto Catumbela-Nova Lisboa, explorando as centrais do Biópio e do Lomaum, no distrito de Benguela, e abastecendo a sua zona de influência por meio de uma linha a 150 kV.
A central da Matala está a cargo da Junta Provincial de Electrificação de Angola e serve o Colonato do Cunene e as regiões de Humpata, Sá da Bandeira, Caraculo e Moçâmedes.
Finalmente, na zona nordeste do distrito da Luanda, a Companhia dos Diamantes explora a central de Luachimo, fornecendo emergia à sua área mineira por meio de uma rede a 60, 30 e 15 kV.
No mapa que se segue indica-se não só a localização das centrais referidas, mas também as suas características de maior interesse.

Características das principais centrais hidráulicas em 31 de Dezembro de 1965

[Ver Tabela na Imagem]

(a) A energia garantida em ano médio é de 83 GWh.
(b) Com a instalação de mais dois grupos passará a 864 GWh; com a elevação da barragem para a cota definitiva passará a 1400 GWh; regularizando o caudal a montante e instalando mais duas centrais anexas à existente passará a cerca de 3100 GWh.
(c) Com regularização de caudais, o Biópio e Lomaum poderão produzir em conjunto 200 GWh.
(d) Em ano médio 34,5 GWh; energia temporária 41,2 GWh; com regularização de caudais a Matala poderá produzir até 96 GWh.

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233. Além dos meios de produção acima mencionados, cabe referir, pela sua relativa importância, a existência de numerosas centrais Diesel, servindo para a electrificação de pequenos aglomerados populacionais.
Estas centrais serão objecto de considerações que oportunamente se apresentarão.

Comparticipação das fontes de energia e consumo total

[Ver Tabela na Imagem]

234. "Importa observar o facto de que em 1965 a energia hidráulica ocupava o 3.º lugar no conjunto das fontes de energia utilizadas, não obstante o respectivo consumo ter quadruplicado nos últimos quatro anos.

235. Luanda e respectivas subestações terminais estão ligadas às Mabubas por uma linha dupla de 60 kV e a Cambambe por uma linha simples de 220 kV.
Nesta zona a distribuição é constituída pela rede suburbana, a 15 kV, para Cucuaco, Belas e Viana; pelas linhas Cambambe-Dondo, também a 15 kV, e pela rede de grande e pequena distribuição da cidade de Luanda.
Na área da H. E. A. C. o transporte de energia está assegurado pelas linhas Biópio-Catumbela, a 60 kV, e Biópio-Lomarim-Alto Catumbela e Alto Catumbela-Nova Lisboa, a 150 kV.
A rede de distribuição compõe-se das linhas iniciais, a 20 kV, ligando a subestação de Catumbela a Lobito e Benguela, às quais se juntaram mais recentemente duas outras, a 30 k V; e da linha Benguela-Baía Farta, também a 30 kV, isto além das redes de distribuição existentes nas cidades antes mencionadas.
Na zona Moçâmedes-Sá da Bandeira-Cunene o transporte utiliza as linhas Matala-Sá da Bandeira (150 kV) e Sá da Bandeira-Moçâmedes (60 kV).
É ainda de referir a rede de grande distribuição, a 15 kV, que se estende por todo o planalto de Humpata-Chibia-Tchivinguiro e povoações daquela área, estando já concluída a ligação ao posto do Caraculo.
A regularização dos caudais do Cunene, a montante de Matala, apresenta-se como empreendimento urgentemente necessário por ser já insuficiente a energia que, nas condições actuais, é possível produzir.

236. Numa visão de conjunto quanto ao nível actual de electrificação, pode dizer-se que, no momento, estão electrificadas todas as cidades da província, 93 por cento das vilas e 39 por cento das restantes sedes de divisões administrativas.
Os distritos menos electrificados são os do Bié, Benguela, Huambo e Cuando Cubango e os que têm mais povoações servidas são os do Uíge, Zaire, Cuanza Norte, Cabinda e Luanda.
O meio rural, dada a grande dispersão dos seus centros populacionais, apresenta grandes dificuldades ao abastecimento em energia e pode dizer-se que, praticamente, não está electrificado.
Um caso, no entanto, é de referir: o de um abastecimento na região da Humpata, através de uma rede a 15 kV e com cerca de 60 km de extensão que serve Chi-
bia, Palanca, Humpata e sua estação agrícola, Caholo, Escola Agro-Pecuária do Tchivinguiro, Huíla e Jamba.

237. Em territórios em franco desenvolvimento, como o de Angola, qualquer previsão de evolução dos consumos é extraordinariamente arriscada e sujeita a volumosos erros.
Apesar disso, com base em valores fornecidos pela Sonefe, quanto à região de Luanda, tomando em consideração o próximo estabelecimento da indústria do alumínio e admitindo uma taxa constante de crescimento, de 13 por cento para a zona de Lobito-Benguela e de 15 por cento para as restantes, foi possível estabelecer a seguinte projecção da evolução do consumo de energia eléctrica:

Previsão do consumo de energia eléctrica

GWh

[Ver Tabela na Imagem]

Observação. - Os valores de 1964 e 1965 são reais, tendo as taxas de crescimento referidas no texto tomado 1965 por ano de partida.

Este quadro deverá ser naturalmente encarado com as devidas reservas, importando que a evolução real seja seguida por forma a evitar desajustamento entre a produção e as necessidades impostas pelo desenvolvimento económico que se visa atingir.

238. Um outro aspecto que será prudente não perder do vista, e em relação ao qual são também muito falíveis todas as previsões, é o que se refere à electrificação de pequenos aglomerados populacionais, que se projecta fazer em parte à custa de modestos aproveitamentos hidroeléctricos (casos do Tchicapa, Luso, etc.), mas que, por outro lado, hão-de continuar a ter de recorrer ainda a centrais Diesel.
Estes elementos obrigam apenas a um investimento inicial pequeno, têm bom rendimento e são de fácil manutenção.
No entanto, a sua utilização é quase sempre prejudicada pela deficiente conservação que lhe dispensam as entidades exploradoras - facto que justificará a criação de um serviço especial de assistência, cuja acção deverá estender-se a toda a província.
Tal serviço, forçoso é que seja acompanhado por actuação conveniente nos campos da preparação e recrutamento do pessoal técnico necessário.

2. Objectivos

239. Frente à situação que acaba de sor descrita muito sumariamente podem definir-se no âmbito do III Plano de Fomento os seguintes objectivos:

a) Continuação e intensificação do inventário dos recursos energéticos de Angola. - Importa obter um conhecimento tão amplo quanto possível

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dos recursos hídricos, em petróleo e em carvões, com vista a um adequado planeamento da electrificação da província;
b) Conveniente aproveitamento dos sistemas de produção, transporte e distribuição já existentes e instalação de novos, quando necessário. - Tal é imposto pela evolução dos consumos, por um lado, e pela indispensabilidade de levar a energia a zonas dela ainda carecidas.

3. Investimentos

a) A cargo da Administração Central

1. Estudos

240. No sentido de possibilitar um adequado aproveitamento dos recursos existentes, forçoso é que a Administração promova a realização de estudos (hidrométricos e outros), com vista à recolha de elementos e sua conveniente utilização.
Esta a razão da inscrição, em local próprio, das verbas correspondentes.

2. Produção

Aproveitamento do Tchicapa

241. No sentido de se garantir o abastecimento de energia eléctrica a Henrique de Carvalho, ultimamente objecto de iniciativas de maior importância, tem-se por necessário proceder ao aproveitamento do Tchicapa, instalando dois grupos de 500 kW, que, em média e nos primeiros seis anos, haverão de fornecer 1,2 GWh.
Em tal empreendimento prevê-se gastar a soma de 8000 contos, verba cuja inscrição no III Plano de Fomento se propõe.

Aproveitamento do Cunje

242. Trata-se de um iniciativa já em curso que visa promover o fornecimento de energia eléctrica a General Machado, Nova Sintra, Silva Porto e Vouga.
A verba de 17 000 contos pretendida destina-se à instalação de mais um grupo de 650 kW na central de General Machado e à execução de trabalhos de regularização do rio Cunje.

Aproveitamento do Cunene

243. Quanto respeita a este aproveitamento deve ser considerado à luz dos acordos já estabelecidos e a estabelecer com a República da África do Sul.
No momento, dada a actual situação da central da Matala e a necessidade de assegurar o fornecimento de energia a Sá da Bandeira e a Moçâmedes, dois empreendimentos se devem ter já como absolutamente necessários: a ampliação da central da Matala, com mais um grupo de 14,2 MW, e a construção da barragem do Gove.

Central térmica de Moçâmedes

244. Enquanto não se concretizar o aproveitamento do Cunene, acima referido, o abastecimento regular de energia a Moçâmedes e ao seu porto mineiro haverá de ser garantido por apoio térmico à central da Matala.
Tal leva a prever a instalação de dois grupos Diesel eléctricos, cujo custo se avalia, em 19 500 contos.
E, no entanto, de referir que, ao abrigo do Projecto Mineiro de Cassinga, está prevista a instalação de uma central termoeléctrica, que, numa l.ª fase, será equipada com dois grupos de 1800 kVA.
A oportuna coordenação das duas iniciativas conduzirá, certamente, a uma conveniente limitação de encargos.

3. Transporte e distribuição

Linha do Sudoeste Africano

245. A construção desta linha, dependendo de acordo com a República da África do Sul, é por agora muito duvidosa.
Assim, a sua inscrição no III Plano de Fomento parece que só «por memória» deverá ser feita.

Segundo termo da linha Sá da Bandeira-Moçâmedes e terceiro transformador em Moçâmedes

Este empreendimento complementa as obras recomendadas para aproveitamento do Cunene, isso bastando para o justificar.

Linha Tchicapa-Henrique de Carvalho e esquema regional de grande distribuição no Cuanza Sul

Complemento indispensável do aproveitamento do Tchicapa, que em tal facto encontra, justificação bastante.

4. Diversos

Apetrechamento de um serviço de assistência técnica

246. Aceitável pelo melhor aproveitamento que trará a pequenas instalações espalhadas pela província.

Saneamento financeiro da Sonefe

247. A. verba prevista corresponde à adopção de medidas já superiormente definidas. «Por memória», será prudente prever também verba adequada para o saneamento financeiro da Hidroeléctrica do Alto Catumbela, que se encontra, neste momento, em estudo.

b) A cargo das autarquias locais

248. Cabe às autarquias locais papel relevante na electrificação das povoações- em relação às quais não é economicamente viável fornecer energia a partir dos sistemas de produção e distribuição já existentes. Para bem o desempenharem, contam elas com o apoio do Fundo de Melhoramentos Locais - recentemente reorganizado e valorizado-, prevendo-se a instalação e ampliação de diversas centrais térmicas (Santo António do Zaire, Cabinda, Negage, Ambrizete, Nóqui e S. Salvador); a construção de pequenos aproveitamentos hidroeléctricos (visando o fornecimento de energia a Artur de Paiva, Duque de Bragança, Camabatela, Andulo, etc.); e a electrificação de cerca de centena e meia de povoações, por meio de adequadas centrais Diesel. Este programa será naturalmente acrescido com instalação e remodelação de pequenas linhas de transporte e de distribuição ligando Andulo à Missão Católica, Cubango a Artur de Paiva, Dala ao Luso, e servindo Negage, Malanje, Silva Porto, Luanda, Nova Lisboa, Henrique de Carvalho, etc.

c) Investimento privado

l. Produção

Ampliação de Cambambe

249. No III Plano de Fomento forçoso é encarar, ampliação de Cambambe, por forma a corresponder não só ao previsto aumento de consumo da região de Luanda, mas também às necessidades resultantes da instalação que se prevê da indústria do alumínio, necessidades que se avaliam em 436 GWh e que se admite venham a verificar-se a partir de 1970.
Nestas condições, os investimentos a ter em conta atingirão 482 000 contos, conforme o quadro seguinte.

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[Ver Tabela na Imagem]

Aproveitamento do Biópio

250. No sentido de garantir a conservação das obras de construção civil e do equipamento instalado, a província prevê a inscrição de uma verba da ordem dos 34000 contos destinados ao Biópio. Tal verba não se afigura suficientemente justificada, entendendo-se que a sua consideração deverá ser feita simplesmente «por memória».

Aproveitamentos do Lomaum e do Chicuma

251. Estes empreendimentos não poderão ser olhados isoladamente, já que a sua aceitação é inteiramente dependente de política a definir sobre os factos que a seguir se apontam.
Admite-se que, para satisfação dos consumos normais das regiões de Lobito-Benguela e de Nova Lisboa, em 1969 haja de entrar em serviço no Lomaum um terceiro grupo de 15 MW, o que implicará um investimento de cerca de 27 000 contos.
Para futuro mais distante, porém, haverá que considerar:

a) A possibilidade de uma vez construída, a barragem do Gove servir o centro da província (área da Hidroeléctrica do Alto Catumbela) com energia proveniente da sua central;
b) A conveniência de interligar o sistema produtor da Sonefe com o da H. E. A. C. (Hidroeléctrica do Alto Catumbela);

e que, se qualquer destas soluções for escolhida, deixará de haver razão para construir a barragem do Chicuma, no rio Catumbela - barragem que se destinaria a, pela regularização dos caudais, garantir, durante a estiagem, o fornecimento regular de energia às áreas de Benguela, Lobito, Alto Catumbela e Nova Lisboa.
Nestas condições, por agora parece que o empreendimento em causa - fornecimento de energia ao centro da província - só «por memória» pode ser inscrito, embora se saiba já que a solução correspondente à central do Gove e ligação à rede da H. E. A. C. implica um investimento da ordem dos 125 000 contos.

2. Transporte e distribuição

Linha Cambambe-Salazar, subestação de Salazar e linhas Salazar-Lucala e Salazar-Golungo Alto - 39 000 contos.
2.º linha Cambambe-Luanda e 3.º transformador de Luanda - 70 000 contos.
Redes de grande distribuição dos distritos de Benguela e do Huambo - 49 490 contos.
Outras redes - 37 800 contos.

252. Todos estes empreendimentos constituem, afinal, o complemento dos meios de produção instalados, previstos na província, estando, em consequência, justificados em razão mesmo da sua existência.

3. Estudos

253. De acordo com o seu contrato, à Sonefe cabe continuar com os estudos relativos, à elaboração dos planos gerais do médio Cuanza e de toda a sua bacia.
Há, pois, que inscrever no III Plano de Fomento uma verba da ordem dos 10 000 contos, destinada àquele fim.
Também a H. E. A. C. deverá prosseguir com os estudos relativos ao plano geral de aproveitamento hidroeléctrico do rio Catumbela, nos quais desejável será que inclua também os aspectos hidroagrícolas.
Haverá, pois, que admitir verba semelhante à anterior - 10 000 contos.
Energia

Programa de Investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

254. Um dos elos de interpenetração das economias de subsistência e de mercado é constituído pelo comércio, que promove não só a drenagem dos produtos da economia de subsistência, não autoconsumidos, para os centros de consumo ou para a exportação, como também a satisfação das necessidades que não podem ser realizadas através da produção familiar.
Daqui deriva a importância das actividades comerciais, em particular no contexto de uma progressiva integração das duas economias, mediante a gradual monetarização da economia de subsistência. Os indicadores de ordem estatística sobre a matéria são, como aliás é corrente, insuficientes. Difícil se torna, pois, caracterizar devidamente a estrutura e dinâmica do sector.
O confronto dos elementos referentes aos períodos de 1948-1958 e 1948-1966 (Junho) mostra que em pouco mais de sete anos o número de estabelecimentos quase que duplicou.

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Estabelecimentos comerciais licenciados na província

[Ver Quadro na Imagem]

Note-se que os valores indicados referem-se apenas aos estabelecimentos" que foram licenciados e não compreendem os que funcionam ilegal ou clandestinamente e que nas cidades principais são relativamente numerosos.
O número de estabelecimentos comerciais existentes na província parece ser excessivo - um para cada 240 pessoas -, o que, considerando o poder de compra das populações, significa viabilidade económica difícil. A concentração: de estabelecimentos atinge especial relevância nos distritos de Luanda, Benguela e Huambo.

255. Dentro da limitação dos dados disponíveis, pode-se avaliar a importância económica do sector comercial com base nós apuramentos conseguidos através do inquérito realizado em 1963 pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do> Ultramar, de colaboração com os serviços de estatística; relativamente à actividade desenvolvida durante o ano de 1961 pelas empresas comerciais.
Os resultados, a aceitar com as devidas reservas, abrangeram apenas um total de 3871 empresas e forneceram os seguintes elementos.

Actividades das empresas comerciais em 1961

[Ver Quadro na Imagem]

256. Estes elementos, apesar de circunscritos a uma parte dó sector, certamente o mais significativo, denunciam claramente características da estrutura existente:

O comércio por grosso é exercido predominantemente por sociedades comerciais e atinge, por empresa, ; em média, a soma de 17 473 contos de mercadorias transaccionadas, enquanto as empresas em nome individual não excederam, em média, os 1328 contos, de mercadorias transaccionadas durante o mesmo período;
O Comércio a retalho é exercido, em percentagem que atinge quase 80 por cento no conjunto das em presas inquiridas, por empresas em nome individual;
0 movimento médio de transacções realizado durante o ano de 1961 por cada sociedade exercendo o comércio a retalho foi de 2033 contos, ao passo que
o das empresas em nome individual, em grande maioria, como se viu, apenas atinge 293 contos, o que representa um movimento médio mensal de cerca de 24 contos.

257. A distribuição geográfica, na província, dos estabelecimentos comerciais, por distritos, era a seguinte, segundo a espécie de comércio:

Repartição geográfica dos estabelecimentos comerciais por espécie de comércio

[Ver Quadro na Imagem]

A predominância dos estabelecimentos por grosso, relativamente aos de retalho, nos distritos de Luanda e Benguela, revela a tendência para a localização, junto dos portos, dos grandes grossistas que actuam como grandes distribuidores em relação ao hinterland.

258. O sistema tradicional da comercialização, com a dupla função de compra dos produtos da terra e da pecuária e distribuição de géneros ao consumidor, desempenhou papel valioso na ocupação e valorização económica de Angola, mas é de reconhecer a necessidade da sua evolução com vista à adaptação a níveis mais avançados de desenvolvimento. Têm sido desenvolvidos intensos esforços no sentido da progressiva monetarização do sector da economia de subsistência, nomeadamente através da criação dos mercados rurais.
A anterior estrutura mostrou-se insuficiente, sob o ponto de vista económico, para provocar o aumento das pró-

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duções derivadas do sector de subsistência e para promover a sua progressiva transformação num sistema de economia do mercado.

259. A fim de atingir os objectivos a que se propõem os mercados rurais, foi a legislação promulgada informada pelos princípios seguintes:

Eliminação da troca directa;
Atracção dos produtos rurais aos mercados, através da sua localização junto dos locais de produção;
Regularização dos preços dos produtos da terra e disciplina das transacções;
Fixação de preços de sustentação para os produtos destinados à exportação ou de significado no consumo interno;
Garantia de aquisição pelos organismos oficiais dos produtos destinados ao mercado no caso de falta de procura.

Previu-se ainda o dispositivo legal que atribui aos governadores de distrito a competência para exigir que a venda de certos produtos tenha lugar exclusivamente em mercados.

260. Embora se esteja ainda numa fase de arranque, os mercados alcançaram já certo significado. Este facto pode ser comprovado pelos números a seguir apresentados, que, além de indicarem a evolução dos mercados rurais, podem dar ideia do que há que esperar da sua evolução futura.

Mercados rurais realizados

[Ver Quadro na Imagem]

O aumento foi, no último ano, de cerca de 50 por cento, o que mostra a aceitação que os mercados começam a merecer ao produtor.
Os valores das transacções apurados nos diversos distritos foram os seguintes:

Valores transaccionados nos mercados rurais

[Ver Quadro na Imagem]

Verificou-se que dos produtos transaccionados foram o café, o algodão, o amendoim, a crueira, o tabaco e a purga os mais representativos. No que diz respeito ao algodão, é animador notar a importância do valor transaccionado (55000 contos), tendo em consideração o aumento da produção dessa fibra.

261. A análise feita permite que se realce, como principais deficiências do sector comercial:

A pulverização dos estabelecimentos comerciais;
A insuficiência de organização e falta de preparação do comerciante.

2. Objectivos

Comercialização, e política de mercados

262. Sendo os problemas da comercialização de extrema importância para o desenvolvimento sócio-económico da província, torna-se pertinente salientar quais são os objectivos essenciais que devem ser visados no III Plano:

Com reflexo na comercialização interna

Reestruturação, disciplina e controle da actividade comercial tendente a contrariar o crescente aumento do nível geral de preços, muito em especial os das mercadorias com incidência no custo de vida ou destinadas à utilização como bens de produção;
Aceleração do processo de monetarização do sector da economia de subsistência, nomeadamente através da generalização do esquema dos mercados rurais e sua abertura aos industriais e exportadores.

Com reflexo no comércio externo

Promoção dos esforços conducentes à expansão das exportações, que permita fazer face, conjuntamente com as rubricas tradicionalmente positivas da balança de pagamentos, às crescentes exigências de disponibilidades de pagamento ao exterior impostas pelo desenvolvimento económico.

3. Investimentos

263. Com vista a alcançar os objectivos acima definidos, o III Plano de Fomento foi dotado de verba para custear os seguintes empreendimentos:
Construção de dois armazéns para recolha de fibra, semente de algodão, insecticidas, etc., em Catete e no Dondo;

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Construção de armazéns de exportação na área do porto de Luanda, com capacidade para 30 000 t;
Construção de armazéns destinados à warrantagem do café, conservação de excedentes e eventual depósito das contribuições em espécie do Fundo de Estabilização do Café;
Construção de um armazém para conservação de batata em Nova Lisboa;
Construção de câmaras frigoríficas para conservação de frescos em Luanda.

Devido às grandes distâncias, à fraca densidade da população, ao baixo poder de compra e, ainda, à dificuldade de modificação dos hábitos das populações, o peixe seco continuará a ser o mais forte suplemento de proteínas de origem animal de que as populações angolanas carecem.
De tal situação resulta a especulação de que industriais e consumidores são vítimas.
Torna-se necessário, para regularização dos preços e quantidades, a criação de um serviço similar ao Serviço de Abastecimento de Peixe à Província, para funcionar junto do Instituto da Pesca.
Cumulativamente, ter-se-ia oportunidade de iniciar em determinadas zonas a distribuição de peixe fresco, refrigerado ou congelado, que, dada a fraca densidade da população, não é de molde a interessar a actividade privada.

Circuitos de distribuição

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

a) Transportes rodoviários

264. A rede rodoviária de Angola tem uma extensão total de 71 633 km, dos quais 3300 km asfaltados e 1000 km terraplenados com características técnicas superiores.
Em 1965 circulavam na província 70 028 veículos motorizados, sendo 42 195 automóveis ligeiros, 14.511 pesados, 3265 tractores e 10 057 motociclos. Para melhorar a situação têm sido envidados esforços cada vez maiores. Assim, 21,7 por cento dos dispêndios do II Plano de Fomento corresponderam à execução do Plano Rodoviário de Angola, ao passo que a cifra correspondente ao Plano Intercalar foi de 25,7 por cento.
A evolução rodoviária da província no sentido de um progresso efectivo iniciou-se no decénio 1950-1960 com o I Plano de Fomento.
Em 1950 a rede de estradas com expressão técnica superior incluía apenas as estradas de Lobito-Benguela e de Luanda-Catete, com um total de 92,2 km.
Entre 1950 e 1960 construíram-se 1671 km com terra-plenagens (3 obras de arte e 306,5 km com pavimentação.
Em 1961 foram construídos 56,6 km com pavimentação, tendo-se acelerado a partir de 1962 a construção num ritmo cada vez mais rápido.

b) Caminhos de ferro

265. A rede ferroviária de Angola, com 2955 km, compreende quatro linhas; de penetração, das quais apenas uma atinge a fronteira.

266. A rede do caminho de ferro de Luanda compreende a linha geral, de Luanda a Malanje, o ramal do Dondo e ainda o ramal do Golungo Alto. A bitola da via é de 1,067 m, com a excepção do ramal do Golungo Alto, que tem a bitola de 0,6 m.
A sua construção foi considerada inicialmente com o objectivo de transportar para o porto de Luanda os produtos agrícolas originários da sua zona de influência e abastecer esta zona com os produtos que aí escasseavam. Posteriormente, a exploração de minérios de manganês e ferro veio contribuir de forma apreciável para o aumento de tráfego do caminho de ferro.
Se, como se espera, a exploração de minérios se desenvolver, passarão estes produtos a ocupar lugar primordial no tráfego descendente, influindo assim, de forma decisiva, nas características da exploração.
As obras realizadas neste caminho de ferro durante a vigência do I e II Planos de Fomento não corresponderam a repercussões imediatas no seu tráfego, vindo, porém, a permitir que pudesse suportar sem dificuldades o aumento do tráfego de minérios, que se verificou a partir de 1959, principalmente em 1964.

267. O caminho de ferro do Amboim pertence a uma empresa particular, tem a bitola de 0,60 III e liga Porto Amboim à Gabela, na extensão de 123 km.
A sua construção obedeceu ao propósito de drenar para o litoral os produtos agrícolas da região do Amboim, objectivo que não foi atingido, dado que os produtos da região que serve se escoam, em grande parte, por via rodoviária, para Luanda e para o Lobito.

268. O caminho de ferro de Benguela liga o porto do Lobito ao caminho de ferro do Baixo Congo, no Catanga

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(B. C. K.), e, através deste, à rede ferroviária da África Central e do Sul, sendo pois uma linha de grande interesse económico, político e estratégico.
Este caminho de ferro tem a extensão total de 1343 km, na bitola de 1,067 III (excluindo o ramal do Cuíma, que tem 66 km, na bitola de 1,067 m, e que foi construído com o objectivo de drenar o minério de ferro do Cuíma), e á sua construção visou, especificamente, assegurar a drenagem das riquezas minerais do Catanga.
O caminho de ferro serve, igualmente, uma vasta zona de Angola, tendo contribuído e continuando a contribuir para o seu desenvolvimento económico e social. Ao longo do seu traçado foram surgindo aglomerados populacionais, alguns deles constituindo hoje progressivas cidades e vilas.
É grande a importância de carga de trânsito, quase toda constituída por minérios provenientes do Catanga.
Os passageiros pertencem na sua quase totalidade ao tráfego nacional, já que o tráfego de trânsito, que até 1960 se situava entre 4000 e 5000, ficou, de então para cá, reduzido a cerca de 3000 passageiros.
O tráfego de mercadorias, quer o nacional, quer o de trânsito, orienta-se predominantemente no sentido descendente, e apenas o tráfego de serviço se encontra sensivelmente equilibrado (505 680 t em sentido ascendente e 483 139 t em sentido descendente, em 1965).
Os minérios constituem parte muito importante do tráfego, tendo totalizado 766 034 t (incluindo o ferro do Cuíma) em 1965, das quais apenas 82 t em sentido ascendente.
Para as obras de aquisição de 1.º estabelecimento foram gastas, a partir de 1952, as importâncias que a seguir se indicam, em contos:

1952-1954.......................................... 251 532
1955-1957.......................................... 156 950
1958-1961.......................................... 201 121
1962-1965.......................................... 156 572

Os dispêndios correspondem às rectificações do traçado da via, construção do ramal do Cuíma, construções e instalações diversas e aquisições de material de tracção e circulante, máquinas, ferramentas, semoventes, etc.; representam um dispêndio médio anual de 54 727 contos.

269. O caminho de ferro de Moçâmedes compreende a linha geral, entre Moçâmedes e Serpa Pinto, na bitola de 1,067 m, com a extensão de 756 km; o ramal da Chibia, entre Sá da Bandeira e Chiange, na bitola de 0,60 m, com o comprimento de 124 km; 6õ km de linhas desviadas; e o ramal de Cassinga, na bitola de 1,067 III e na extensão de 110 km.
Este caminho de ferro foi inicialmente construído com a bitola de 0,60 m, servindo principalmente como via de penetração e de transporte de produtos agrícolas, tendo ficado o ser término, por muitos anos, fixado na cidade de Sá da Bandeira.
Em 1955 a bitola foi alargada para 1,067 m e, nesse mesmo ano, foi inaugurado o primeiro troço do prolongamento além de Sá da Bandeira, sendo o último troço, até Serpa Pinto, inaugurado em Dezembro de 1961.
Estão em curso grandes trabalhos de beneficiação e rectificação do traçado e procede-se à aquisição de equipamentos de tracção, circulante e diverso, que transformarão completamente a situação actual, com vista ao transporte de minérios de ferro de Cassinga, que se espera venha a atingir 5 milhões de toneladas por ano.
O número de passageiros diminuiu sensivelmente entre 1960 e 1962, vindo, no entanto, a aumentar rapidamente a partir de 1963. Em 1965 o tráfego de passageiros é quase o quádruplo do que era dez anos antes.
O movimento de mercadorias também acusa um razoável ritmo de crescimento, sendo de salientar o lugar que naquele tráfego ocupam os minérios de ferro (cerca de 44 por cento em 1965).

c) Portos e transportes marítimos

270. A costa de Angola apresenta número relativamente elevado de portos, mas apenas conta com três razoavelmente equipados. Trata-se de Lobito, Luanda e Moçâmedes, equipados para tráfego marítimo geral e para carregamento de minérios.

Evolução do movimento total portuário da província

Milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem]

Do ponto de vista de utilização das infra-estruturas existentes, o porto de Luanda, com 1260 III de cais acostável, movimenta 38,7 por cento da carga total transitada pelos portos da província; o porto do Lobito, com 1272 m de cais, movimenta 47,4 por cento; o porto de Moçâmedes, com 875 m de cais, movimenta sòmente 7,4 por cento.
O porto do Lobito encontra-se, pois, razoavelmente bem aproveitado. Quanto ao porto de Luanda, impõe-se a ampliação das suas instalações. Quanto ao porto de Moçâmedes, encontra-se ainda longe do aproveitamento normal das suas instalações e mais longe ficará quando, em breve, o minério passar a ser carregado pelas novas instalações do Saco do Giraul.
Os restantes portos (Cabinda, Porto Amboim, Porto Alexandre, etc.) movimentam, no seu conjunto, uma percentagem quase igual à de Moçâmedes.

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Passar-se-á, em seguida, ao exame das condições actuais de cada um dos portos da província:

Porto de Luanda

271. O porto de Luanda encontra-se dentro de uma baía protegida por uma restinga de areia, dispondo actualmente de 1260 m de cais acostável, assim distribuídos:

100 m de cais de cabotagem à profundidade de 5,50 m;
1000 m de cais de longo curso à profundidade de 10,5 m;
160 m de cais de longo curso à profundidade de 11,50 m.

Possui ainda um antigo cais em fundos de 3 m, com 330 m de comprimento, para a pesca, e uma ponte-cais.
O porto de Luanda pode receber sete navios de longo curso de tamanho médio.
As áreas cobertas totalizam 29 500 ma; os terraplenos pavimentados ocupam 78 000m2, sendo 24 000 m2 utilizados para depósitos a descoberto das mercadorias e os restantes 54 000m2 simples, arruamentos.
Recentemente ganharam-se ao mar 210 000 m2 de terraplenos, que serão ocupados com armazéns, outros edifícios destinados a facilidades portuárias, arruamentos e espaços livres para armazenamento a descoberto.
O cais que constituía o travessão encontra-se deficientemente equipado para a movimentação vertical e horizontal das cargas.
Com a entrada em exploração do novo cais (410 m, a 10,5 m de profundidade, já incluídos na relação anterior) o factor equipamento mecânico assume maior relevância, pois se verifica que passará a haver necessidade de mais 21 guindastes eléctricos, 28 tractores de cais e 21 empilhadores.
Na panorâmica do porto de Luanda não pode deixar de se referir a inadequada utilização que está sendo dada a um dos postos de acostagem e seu respectivo equipamento, já que, em virtude de a tonelagem de minérios exportados pelo porto não justificar ainda a construção de instalações próprias, a sua movimentação é feita nas instalações de carga geral.

272. O movimento de carga geral verificado entre 1959 e 1965 traduz-se nos números seguintes:

Movimentação de carga geral no porto de Luanda

Milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem]

Na coluna relativa à exportação foram excluídos o petróleo em rama e os minérios, pelo facto de o primeiro se movimentar em instalações próprias da Petrangol e os minérios necessitarem de uma análise especial.
Tem-se observado uma certa regularidade no crescimento do tráfego do porto de Luanda, cujo valor médio de crescimento é da ordem de 9,6 por cento, embora, pelos últimos quatro anos, pudesse ser deduzida uma taxa de crescimento mais elevada (12,6 por cento). Se a referida taxa média de 9,6 por cento for projectada no período da vigência do III Plano de Fomento, verifica-se que, em 1973, o porto movimentará, exclusivamente em carga geral, 1 300 000 t.
O rendimento que se tem atingido nos cais em exploração, considerando só carga geral, é de 850 tm/ano, número este que excede os valores médios correntes. Nesta base, verifica-se que em 1973 serão necessários nove postos de acostagem para um crescimento de 9,6 por cento. Se for considerado o rendimento médio correntemente adoptado de 600 tm/ano, serão necessários doze postos de acostagem, com um crescimento médio de 9,6 por cento.
O porto dispõe actualmente de oito postos de acostagem, um dos quais com profundidade de 5,50 m.

273. Pelo que respeita à cabotagem, o mapa que se segue traduz a carga movimentada, em milhares de toneladas, entre os anos de 1955 e 1965:

Carga de cabotagem no porto de Luanda:

Milhares de toneladas

1955........................................ 76
1956........................................ 84
1957........................................ 94
1958........................................ 120
1959........................................ 89
1960........................................ 91
1961........................................ 113
1962........................................ 180
1963........................................ 207
1964........................................ 205
1955........................................ 204

Para o movimento actual de 204 000 t, em relação aos cais destinados à cabotagem (100 m à profundidade de 5,50 m), o rendimento é de 2040 tm/ano, explicável pela ocupação permanente do cais e pela realização de operações de carga e descarga de barcos de cabotagem atracados nos espaços sobrantes das zonas do cais de longo curso.
No que se refere a infra-estruturas de apoio ao desenvolvimento das indústrias de pesca, faltam obras acostáveis especializadas, suficientes e eficientes.

274. O porto de Luanda tem já um movimento de pesca bastante grande, o que justifica a construção de infra-estruturas próprias e adequadas.

Movimento de pescado em milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem]

Prevê-se que em 1973 haverá que movimentar no porto de pesca um total de 113 000 t, assim distribuídas:

Peixe para consumo em fresco - 13 000 t;
Peixe para industrialização - 100 000 t.

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Porto do Lobito

275. Lobito é o principal porto da província e um dos melhores da costa ocidental da África.
Como Luanda, beneficia da existência de uma restinga de areia, mas, contrariamente ao que acontece naquele porto, esta restinga cresce em direcção à costa, tendendo a fechar a baía.
O porto possui dois cais acostáveis, dispostos em L e destilados à navegação de longo curso, com uma extensão de 1122 III em fundos de 10,5 m. No topo do cais norte existe uma estacada com 150 m de comprimento em fundos de 3 m destinada à cabotagem. Para fundeamento de navios a baía dispõe de 4,5 km2 de área, corri profundidades que variam entre 11 III e 34 m.
O porto do Lobito pode receber sete navios de tamanho médio, ou seja o mesmo número que Luanda, embora tenha menos 138 m de cais.
Dispondo actualmente de 24 guindastes eléctricos, o porto do Lobito encontra-se relativamente bem equipado.
Na movimentação horizontal de mercadorias, p porto possui actualmente 19 empilhadores, 9 tractores e 6 auto-trucks, estando em deficit, em relação a uma proporção normal relativa ao número de guindastes. Deveria passar a ter, portanto, como mínimo, mais 15 Auto-trucks ou tractores, bem como igual número de empilhadores. Como óptimo, necessitaria de mais 23 unidades, quer de tractores ou auto-trucks, quer de empilhadores.

276. Quanto à movimentação de cargas através do porto, o Lobito conta com instalações mecânicas que facilitam o tráfego e lhe dão possibilidades de obter elevados rendimentos globais por metro linear de cais.

Movimento de carga geral no porto do Lobito

Milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem]

A movimentação de mercadorias nacionais nos últimos cinco anos mostra uma tendência para descer, bem como a da exportação nacional. Somente a da importação nacional apresenta tendência para se manter uniforme.
Procurando o desenvolvimento previsto nas tendências atrás descritas, determinou-se que a tonelagem a movimentar em 1968, como carga geral (subtraindo a quantidade de milho que se prevê seja exportada pelo Lobito como granel), atingiria valores da ordem das 875 000 t.
O valor assim estimado mostra-nos que até 1968 o porto do Lobito não necessitará de ampliação, mesmo considerando a ocupação pelos navios à carga de graneis.
Partindo do valor estimado para 1968 - 875 000 t - e fazendo a projecção para 1973, estimou-se que a tonelagem a movimentar como carga geral em 1973 será da ordem de 1 215 000 t. Mesmo este volume de tráfego não obrigará ainda à construção de novos cais no porto do Lobito, porque, tendo em atenção o tempo de estacionamento dos navios à carga de graneis, tem-se um rendimento de cais de 940 tm/ano, que se considera suportável, se entretanto é porto for dotado do equipamento necessário.

Carga movimentada em cabotagem pelo porto do Lobito:

Milhares de toneladas

1955..................................... 83
1956..................................... 100
1957..................................... 95
1958..................................... 99
1959..................................... 71
1960..................................... 84
1961..................................... 96
1962..................................... 126
1963..................................... 158
1964..................................... 159
1965..................................... 130

277. Nota-se certa irregularidade na movimentação das cargas por cabotagem entre 1955 e 1965, podendo atribuir-se a quebra de movimento no período a partir de 1963 à concorrência da camionagem, que, em muito maior escala, atingiu aquele porto através das rodovias, que a partir de Luanda se dirigem ao seu hinterland.

278. O porto de Moçâmedes é, de entre os portos com obras fixas definitivas para receber o longo curso e a cabotagem, aquele que se encontra mais a sul da província.
O hinterland próximo do porto é constituído pôr uma zona desértica de poucas possibilidades económicas no concernente à produção de cargas a transportar e à absorção de mercadorias. A partir de Sá da Bandeira entra-se na zona planáltica, de desenvolvimento incipiente, mas de grandes potencialidades.
O porto de Moçâmedes está instalado numa baía completamente aberta. Deste facto resulta, que a ondulação pode penetrar no seu interior, provocando, em certos dias, agitação junto às obras portuárias, que são atingidas por ondas de curto e longo período. A modificação deste estado de coisas através da realização de obras de protecção adequadas apresenta grandes dificuldades de ordem técnica e executiva.

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Actualmente este porto possui os seguintes cais:

480 m à profundidade de 10,5 m;
130 m à profundidade de 6,10 m;
265 m à profundidade de 3 m.

As obras acima descritas destinam-se à movimentação de carga geral de longo curso e cabotagem. Para a exportação dos minérios provenientes de Cassinga, está em execução uma obra acostável especial em fundos de 16 m, capaz de receber os grandes mineraleiros necessários ao transporte de uma tonelagem que se prevê de 5 milhões de toneladas/ano numa 1.º fase.

Carga geral movimentada no porto de Moçâmedes

Milhares de toneladas

[Ver Quadro na Imagem]

279. Nos últimos anos (com excepção de 1965), o movimento da carga geral aumentou de forma apreciável. Há que ter em linha de conta, porém, que o tráfego actualmente feito pelas instalações de carga geral virá a conhecer um substancial decréscimo, devido à instalação do novo cais de minério, decréscimo que não deverá muito provavelmente vir a ser compensado pelo crescimento do volume de exportação do milho.
Nos últimos anos a exportação de minérios atingiu os seguintes números:

Milhares de toneladas

1962..................................... 44,7
1963..................................... 46,3
1964..................................... 309,9
1965..................................... 91,6

Por outro lado, as exportações de produtos de pesca por Moçâmedes serão reduzidas ao fabrico local logo que Porto Alexandre venha a ser dotado de ponte-cais.

Carga movimentada em cabotagem no porto de Moçâmedes:

Milhares de toneladas

1956..................................... 34
1957..................................... 37
1958..................................... 46
1959..................................... 39
1960..................................... 32
1961..................................... 27
1962..................................... 41
1963..................................... 42
1964..................................... 46
1965..................................... 53

280. O movimento de cabotagem pelo porto de Moçâmedes não oferece para já quaisquer problemas, não só porque ele poderá ter tendência a diminuir - como acontece relativamente aos outros portos da província -, mas também porque, ainda que o contrário sucedesse, Moçâmedes dispõe de cais largamente suficientes e, quando muito, seria então necessário adquirir algum equipamento.

Porto de Cabinda.

281. Os transportes marítimos e aéreos assumem particular importância no que respeita a Cabinda, dada a separação geográfica existente entre o distrito e o resto da província. Esta circunstância confere especial relevo aos problemas portuários daquele território. Nele se encontram as baías de Lândana, Malembo e Cabinda, todas possuindo fundeadouros para navegação de longo curso, no entanto sem condições de abrigo suficientes. Nas baías de Lândana e Cabinda existem pequenas obras acostáveis, apenas acessíveis a alguma navegação de cabotagem.
As possibilidades da instalação de um cais de longo curso têm sido activamente estudadas, dado que o potencial económico do distrito não poderá ser devidamente aproveitado enquanto não for construído um porto de longo curso que o ponha em contacto fácil, seguro e regular com os mercados consumidores da sua produção em perspectiva.

Cabotagem movimentada no porto de Cabinda:

Milhares de toneladas

1960..................................... 27,3
1961..................................... 25
1962..................................... 30,6
1963..................................... 32,1
1964..................................... 52,9
1965..................................... 53,2

282. Verifica-se, pois, um crescimento contínuo. O facto de as obras actualmente existentes servirem simultaneamente a cabotagem e o longo curso (este através da barcagem) tornou premente a sua ampliação, levada a cabo na vigência do Plano Intercalar de Fomento. Logo que estejam construídas as obras de longo curso, a ponte-cais existente poderá movimentar, em cabotagem, 85 000 t.

Porto Alexandre

283. Porto Alexandre é uma cidade com uma população crescente e activa, que se dedica quase exclusivamente à pesca e às indústrias correlativas.
Está situada na orla do deserto de Namibe, que se prolonga para o interior e para o sul numas centenas de quilómetros. Ao norte, a cerca de 100 km e ligado por estrada asfaltada, encontra-se o porto de Moçâmedes.
Depois de executadas as pequenas obras necessárias, Porto Alexandre poderá ser considerado como porto misto de pesca e longo curso, dada a circunstância extremamente favorável de os fundos apropriadas se encontrarem a duas ou três dezenas de metros da praia.
Além dos portos acima referidos, encaram-se ainda os investimentos necessários aos portos de Zaire, Porto Amboim, Baía dos Tigres, Ambriz, Ambrizete, Novo Eedondo, Benguela, Baía Farta e Baía dos Elefantes, em relação aos quais se prevê a realização de estudos ou pequenas obras.

d) Transportes fluviais

284. Não são muitos os rios de Angola que oferecem possibilidades de aproveitamento como vias de comunicação.
Entre eles merecem referência o rio Chiloango, que é navegável para embarcações de pequeno calado (2 a 3 pés), num pequeno troço de uma centena de quilómetros, a montante de Lândana, onde desagua. O troço final, junto à foz, tem profundidades que permitiriam instalar um porto interior para o longo curso se fosse econòmicamente aconselhável e tecnicamente seguro eliminar a barra que o separa de iguais profundidades na baía.

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O rio Zaire só é navegável pelo longo curso até Nóqui, onde foi construída uma ponte-cais, em exploração, capaz de dar acostagem a navios de tamanho médio nas épocas de cheias e a navios de cabotagem nas estiagens.

285. A navegabilidade do rio Cuanza a jusante de Cambambe é um facto comprovado, só tendo como óbice a barra existente na foz. Este problema será, porventura, resolúvel, ligando o rio, por meio de um canal, à baía que nasce no Farol das Palmeirinhas. Porém, tal empreendimento pressupõe a fixação de indústrias ou explorações de minérios, bem como a intensificação da ocupação agro-pecuária das margens, de modo a originarem um tráfego fluvial volumoso e constante.

286. O rio Cunene apresenta também possibilidades de aproveitamento, como via navegável, entre o Mulondo e Calueque, no percurso de cerca de 150 km, após a regularização dos respectivos caudais.
A navegabilidade dos rios Cubango, Cuito, Longa, Lungué-Bungo, Guando e Zambeze tem sido prospectada, encontrando-se o primeiro em exploração - precária, no entanto.

Carenagem

287. Os maiores planos inclinados existentes na província são os dá Sorefame, no Lobito, que estão normalmente ocupados na construção de barcos. Esta empresa dispõe de dois planos inclinados com 7001 de capacidade e, recentemente, construiu outro para 500 t. Existem ainda dois em Luanda, de fraca capacidade e em mau estado.
Outros planos inclinados existem espalhados pela costa, mas trabalhando normalmente em cascos de madeira com uma capacidade inferior a 100 t.
Esta escassez de meios de alagem impõe que se construa, com a possível brevidade, pelo menos um plano inclinado (ou doca seca) para navios de 2000 a 3000 t.

e) Transportes aéreos

288. A província possui já uma das melhores infra estruturas aeronáuticas dê toda a África. Concebida inicialmente no sentido de sem prejuízo das indispensáveis condições de segurança, a curto prazo, servir às necessidades mais prementes dos principais núcleos populacionais, tem ela vindo a ser ininterruptamente melhorada, preocupação que se mantém viva através do propósito de a completar, sobretudo pela construção e beneficiação de aerogares com vista a instalar definitivamente - e em condições de proporcionar o melhor rendimento técnico operacional- alguns serviços até agora em fase de exploração provisória.

289. Em 1961 foi definida uma linha de actuação provincial, que se pode resumir nos dois seguintes pontos:

1) Ampliação de estruturas existentes ou construção de novas, com vista à materialização de um dispositivo aeronáutico capaz de suportar a operação das aeronaves civis;
2) Fomento aeronáutico provincial pela criação e desenvolvimento de aeroclubes, escolas de instrução aeronáutica, empresas de táxis aéreos e cursos de formação e especialização aeronáutica.

290. Os aeroportos internacionais abertos à exploração de todas as aeronaves nacionais e internacionais, nos termos dos artigos 5.º, 6.º e 68.º da Convenção de Chicago, são os de Luanda e Nova Lisboa.

291. Como aeródromos principais, servindo as capitais de distrito ou pontos de maior tráfego das carreiras internas regulares, tem-se: Cabinda, S. Salvador, Malanje-Henrique de Carvalho, Novo Redondo, Luso, Serpa Pinto, Lobito, Carmona, Salazar, Benguela, Silva Porto e Sá da Bandeira.

292. Quanto aos aeródromos secundários, que são os utilizados nas carreiras internas regulares, mas não englobadas nas classificações anteriores, e ainda outros onde se verifica maior tráfego aéreo de aviões de empresas de táxis aéreos, aeroclubes e outros, mencionam-se os seguintes: Santo António do Zaire, Negage, Am-brizete, Maquela, Cela, Porto Amboim, Pereira de Eça, Sanza Pombo, Camaxilo, Cacolo, Camabatela, Ambriz, Totó, Damba, Portugália, Roçadas, Teixeira de Sousa, Caconda e Cazombo.

293. Os aeródromos e pistas de recurso, que são em número aproximado de três centenas, são utilizáveis por pequenos aviões.
Existem já ria província vinte aeroclubes (aos quais foram distribuídos pelos Serviços de Aeronáutica Civil quinze aviões Auster 160) e encontram-se devidamente estruturadas cinco empresas de táxis aéreos, as quais cobrem dez distritos.

294. O tráfego aéreo das carreiras privativas da província tem vindo a aumentar de forma considerável nos últimos anos, como se pode verificar no quadro seguinte:

Evolução do tráfego aéreo nas carreiras privativas da província

[Ver Quadro na Imagem]

O contacto da província com o exterior é feito, sobretudo, através do aeroporto de Luanda, que em 1962 foi dotado de mais uma pista, de 3700 m, para os aviões a jacto tipos DG 8 e Boeing 707. Além dos da T. A. P., escalam o mesmo aeroporto aviões de várias empresas estrangeiras.

Evolução do tráfego aéreo de/e para o exterior da província

[Ver Quadro na Imagem]

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295. Quanto ao movimento de receitas, o Aeroporto de Craveiro Lopes ocupou, em 1965, o 2.º lugar da rede nacional, com um montante de cobrança no valor de 12 122 contos.
Importa realçar a acção desenvolvida pela D. T. A., que mantém carreiras regulares - no total de 44 - para os diversos pontos da província.
O tráfego por ela desenvolvido nas carreiras regulares é servido por uma frota composta por um Beccheraft D 18 S, sete Douglas DC 3 e dois Fokker Friendship 27, prevendo-se a entrada em serviço de mais um aparelho deste tipo.
Em 1961, ano em que foi definida a actual política aérea provincial, a infra-estrutura aérea era constituída por: uma pista de 2250 m, com estacionamento e acessos pavimentados em rocha asfáltica, permitindo a operação de aviões DC 6 (em Luanda); outra de 2000 m, com estacionamento e acessos em rocha asfáltica, permitindo a operação de aviões DC 4 e, eventualmente, DC 6 (no Luso); mais 5 pistas de. dimensões diversas (entre 900 e 1500 m), permitindo é acesso de aviões DC 3 (Novo Redondo, Porto Amboim, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Cabinda); mais 21 pistas de terra, em geral mal construídas e orientadas, com comprimentos variando entre 850 e 1200 m, permitindo a operação de Beechcraft e, em alguns casos, de DC 3, e, por último, cerca de uma centena de pistas de recurso em terreno natural. Quanto a ajudas-rádio, energia eléctrica e sinalização luminosa, telecomunicações, controle, serviço de protecção e apoio às aeronaves em terra, só o aeroporto de Luanda se encontrava apetrechado, embora em condições deficientes. A mencionar ainda, quanto a ajudas-rádio, Luso, Carmona, Camabatela, Portugália, Totó e Henrique de Carvalho.

296. Na província existiam então 12 aeroclubes com 29 aviões, uma empresa de transportes aéreos - a D. T. A. - com 10 aviões (DC 3 e Beechcraft) e duas empresas de táxis aéreos com 4 aviões, embora só uma estivesse em actividade normal.

f) Telecomunicações

297. Os correios, telégrafos e telefones dispõem já de uma rede de VHF que, na sua maior parte, tem capacidade para 48 canais telefónicos e que, dada a existência de uma reserva passiva, poderá ser aumentada para sensivelmente o dobro.
Entendeu-se que não seria económica nem vantajosa a substituição da actual rede por outra de UHF ou SHF, nem a instalação de uma ligação troposférica entre Luanda e Nova Lisboa, como inicialmente considerado.
Apesar de todas as ampliações ou transformações efectuadas, não tem sido possível, neste sector, um desenvolvimento que permita um grau operacional correspondente à completa satisfação das crescentes necessidades de um território em franco desenvolvimento - fenómeno, aliás, natural nas regiões em condições semelhantes às que se verificam em Angola. O recurso a soluções óptimas que o extraordinário incremento das telecomunicações tem algumas vezes permitido a países ou grupos de países de grande desenvolvimento técnico não constituirá por agora a solução ideal para o problema angolano, pois que obrigaria a elevados investimentos de duvidosa rentabilidade e que só se justificariam por razões políticas, que, a apresentarem-se, carecerão de cuidada análise, dadas as implicações de coordenação que acarretariam.
Em 1964 foram executados os seguintes empreendimentos: ampliação da estação telefónica interurbana de Luanda, estações telefónicas automáticas de Nova Lisboa, Benguela e Pereira de Eça e rede telefónica desta localidade. Em 1965 adquiriram-se cabos para as centrais automáticas de Benguela, Lobito e Catumbela; procedeu-se à montagem de acessórios das centrais de Nova Lisboa, Lobito e Catumbela; instalaram-se 400 novos números na estação satélite do Bungo, em Luanda, e procedeu-se ainda à instalação de centrais automáticas em Nova Lisboa, Benguela, Lobito e Catumbela.
Pelo que respeita ao apoio à navegação, é necessário proceder à remodelação do equipamento das estações radioeléctrícas de Cabinda, Santo António do Zaire, Luanda, Novo Redondo, Lobito, Moçâmedes e Baía dos Tigres, abertas à exploração há cerca de 20 anos. A oportunidade de passarem estas estações a ser exploradas pelos serviços de marinha convirá que seja encarada.

298. Encontra-se concluída a rede primária de VHF, que estabelece a ligação entre Luanda, Salazar, Carmona, Malanje, Cela, Nova Lisboa, Lobito, Benguela e Sá da Bandeira. Além desta, encontra-se também já concluída a rede secundária de VHF nos circuitos entre:

a) Luanda-Barra do Dande-Caxito-Mabubas-Ambriz-Ambrizete;
b) Lobito-Egito-Novo Eedondo-Porto Amboim-Gabela.

Prevê-se a execução de dois circuitos desta rede secundária, um entre Nova Lisboa-Silva Porto-General Machado e outro entre Sá da Bandeira-Moçâmedes.
A rede HF em SSB tem já montada a ligação entre Luanda e o Luso e estão em montagem os circuitos entre Luanda-S. Salvador e Luanda-Serpa Pinto.
Em 1965 continuou-se a construção do edifício de Nova Lisboa, concluiu-se o da central automática de Benguela e iniciou-se o da central de Lobito e o da estação telégrafo-postal e central automática da Catumbela.

2. Objectivos

2.1. Transportes rodoviários

299. No III Plano de Fomento pretende-se prosseguir os programas de realizações já em curso de execução, beneficiando zonas da província ainda não dotadas da desejável estrutura rodoviária.
Assim, proceder-se-á:

a) À construção do troço entre o rio Quióvua e Henrique de Carvalho (para conclusão da estrada Luanda-Henrique de Carvalho); do lanço Tchua-Ochicango (para ligação de Sá da Bandeira à África do Sul); da estrada Silva Porto-Luso (como continuação da estrada Lobito-Silva Porto); do troço Matala-Serpa Pinto (no seguimento da estrada de Sá da Bandeira a Matala), e do lanço Munhinso (proximidades) a Sá da Bandeira, integrado na estrada Moçâmedes-Serpa Pinto;
b) Ao lançamento de novos troços para servir os territórios do Este da província, satisfazer as necessidades do Norte e atender a objectivos diversos de interesse económico, turístico e outros.

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No planeamento feito só foram consideradas rodovias com pavimento definitivo, por se entender que os planos de fomento não devem suportar encargos com obras provisórias, pelo menos neste sector.

2.2. Caminhos de ferro

300. O programa proposto contém apenas os investimentos considerados prioritários.
Quanto aos caminhos de ferro de Luanda e Moçâmedes, considera-se urgente melhorar as suas condições de exploração, de modo a torná-las mais eficientes e económicas, e nesse sentido convergem os empreendimentos propostos.
Para o caminho de ferro de Benguela, além de outros melhoramentos importantes, prevê-se a construção da variante do Cubai, que em muito virá melhorar as suas condições de exploração e a sua capacidade de tráfego.

2.3. Portos, transportes marítimos e fluviais

301. Os objectivos a atingir durante o III Plano visam:

Melhorar o aproveitamento das infra-estruturas existentes;
Construir outras instalações com vista a acompanhar a evolução do tráfego e a estimular o desenvolvimento da província.

2.4. Infra-estruturas e fomento aeronáutico e transportes aéreos

302. São objectivos do III Plano de Fomento, relativamente a cada um dos subsectores já diferenciados, os seguintes:

a) Infra-estrutura aeronáutica

Conseguir o total apetrechamento dos aeroportos internacionais e a satisfação dos compromissos internacionais assumidos;
Melhorar, tanto quanto possível, a rede de aeródromos do dispositivo provincial principal, de modo que as aeronaves disponham de condições de operação mais seguras e eficientes;
Melhorar a rede de aeródromos provinciais secundários, satisfazendo simultaneamente as necessidades de defesa e o desenvolvimento económico-social das diversas regiões;
Melhorar a rede de aeródromos e pistas de recurso, de acordo com as necessidades militares surgidas e o desenvolvimento económico e social das regiões;
Melhorar as condições em que se processam a direcção, inspecção, coordenação e controle de todas as actividades aeronáuticas.

b) Fomento aeronáutico

Intensificar a preparação de técnicos de aeronáutica, dentro de todas as especialidades que a mesma encerra, a preparação de pilotos das diversas especialidades e a criação de escolas de pilotagem, pára-quedismo, voo sem motor, aeromodelismo, etc.;
Criar novas oficinas aeronáuticas e remodelar as existentes, por forma a satisfazerem totalmente as necessidades da D. T. A., bem como as da Força Aérea;
Ampliação de áreas operacionais e criação de condições para a melhoria dos serviços da D. T. A.

c) Transportes aéreos

1) Transporte aéreo regular

Organizar o transporte aéreo regular de acordo com os seguintes objectivos:

Quanto à rede:

Estabelecimento em Nova Lisboa de uma base secundária com meios necessários à manutenção dos aviões que nela estacionam;
Reestruturar e ampliar as ligações internas.

Quanto aos meios:

Iniciar a substituição dos aviões DC 3, já obsoletos, por material mais moderno, seguro e adequado às correntes de tráfego existentes.

2) Transporte aéreo não regular

Impulsionar a acção das pequenas empresas de transporte aéreo (actuais táxis aéreos) por forma a completarem a rede de transporte aeronáutico da província.

2.5. Telecomunicações

303. Podem sintetizar-se os seguintes objectivos fundamentais:

Estabelecimento de um esquema de identificação de uma maior rede de novas centrais telefónicas automáticas;
Estabelecimento de um grupo de centros fixos de assistência à navegação marítima;
A normal interligação perfeita e adequada de todos os centros fixos pelo sistema de altas frequências de VHF;
Comparticipação, na actual rede de comunicações pelo sistema convencional em HF, de um sistema em SSB ou BLU;
Estabilização do futuro sistema telegráfico telex na província e previsíveis ampliações; Estabelecimento de um lote de peças de reserva destinadas à manutenção dos quatro sistemas de comunicações;
Programação de edificações imprescindíveis à recepção e instalação dos equipamentos a adquirir com a aplicação directa nos vários sistemas em uso nos
serviços;
Quanto à radiodifusão, considera-se, com base nos elementos obtidos nos quatro anos de trabalho efectivo do Plano de Radiodifusão de Angola, como
objectivos a atingir, os seguintes:

Cobertura, como recurso mais consentâneo com as possibilidades económicas e distribuição da população, de todo o território de Angola em ondas decamétricas;
Cobertura dos territórios vizinhos, em ondas decamétricas, às horas que forem julgadas convenientes;
Cobertura, em ondas hectométricas e FM, por meio de repetidores ou regionais de pequena potência, das áreas mais densamente povoadas.
Estando já assente a instalação de novos emissores de 100 kW e antenas, ficar-se-á a dispor dos meios necessários a esta emissão;

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haverá que instalar eventualmente outras antenas para fins ainda não previstos.
A ligação de Luanda com os repetidores ou regionais deverá ser assegurada, sempre que possível, por feixes hertzianos (VHF, SHF, UHF) e, quando as condições económicas o não permitirem, pelo recurso à captação das emissões dos outros emissores, com receptores especiais.

3. Investimentos

3.1. Transportes rodoviários

304. São os seguintes os empreendimentos considerados com vista aos objectivos anteriormente referidos:

a) Empreitadas em curso

Troço rio Quióvua-rio Xinge
(lanço rio Xinge-Henrique de Carvalho)

Ambos estes troços se integram no grande eixo rodoviário Luauda-Salazar-Malanje-Henrique de Carvalho, que se estende no sentido oeste-leste e que ficará com o comprimento total de 899 km.
Esta estrada começou a construir-se em Dezembro de 1965 e deverá ficar concluída em meados de 1969.

Lanço Tchuá-Ochicango

305. Este lanço integra-se no grande eixo norte-sul - Maquela-Carmona-Salazar-Dondo-Quibala-Nova Lisboa-Sá da Bandeira-Pereira de Eça. Com a sua conclusão, que se deverá verificar em 1969, ficará sòmente por construir o lanço Maquela-Carmona, para que o eixo se concretize.

b) Obras novas

Silva Porto-Luso

306. Situa-se este lanço no prolongamento da estrada Lobito-Silva Porto, que deverá ficar, concluída no fim de 1967. Com a sua construção fechar-se-á a grande malha que tem os seus vértices em Luanda, Henrique de Carvalho, Luso e Lobito. O troço em causa integra-se no eixo oeste-leste - Lobito-Alto Hama-Silva Porto-Luso-fronteira - e permite a ligação, por asfalto, de algumas capitais de distrito entre si. Atravessa uma região agricolamente rica, que, embora, servida por caminho de ferro, necessita de uma estrada em boas condições de circulação para transporte dos seus produtos a curtas distâncias.

Lanço Catengue-Cacula

307. A construção deste lanço permitirá a ligação de duas sedes de distrito (Benguela e Sá da Bandeira), atravessando regiões de grandes possibilidades agrícolas, com especial relevo para o tabaco.
As populações fixadas nas zonas que esta estrada serve estão a dedicar-se, cada vez mais, àquela cultura, aproveitando as boas condições que o solo para tal lhes oferece. Os tabacos de Lola e Quilengues começam já a ter fama mundial.

Lanço rio Loge-Ambrizete-S. Salvador

308. A sua construção vai permitir que mais uma capital de distrito (S. Salvador) fique ligada por asfalto a Luanda.
Espera-se com ela contribuir decisivamente para a recuperação da hoje decadente zona de Ambrizete. Com a actual organização administrativa da província, o distrito do Zaire constitui uma entidade administrativa e económica totalmente distinta da do distrito do Uíge e cuja economia se encontra ligada à da capital da província.

Lanço Matala-Serpa Pinto

309. Este troço é a continuação natural da ligação Sá da Bandeira-Matala, que está em curso e deverá ficar concluída no fim de 1967.
Com a sua construção, mais uma capital de distrito ficará ligada por asfalto à capital da província e mais um grande passo se terá dado para a concretização do eixo oeste-este - Moçâmedes-Sá da Bandeira-Serpa Pinto-N'Riquinha.

Lanço Munhimo (proximidades)-Sá da Bandeira

310. Este lanço integra-se na ligação Moçâmedes-Serpa Pinto, já em curso, e que, no fim de 1967, deverá atingir as proximidades de Munhimo. Através dele mais uma capital de distrito ficará ligada à capital da província. No seu traçado e no aspecto, técnico é de salientar a dificílima descida da Leba, cujo estudo está a ser feito por engenheiros nacionais utilizando as mais modernas técnicas.

Lanço Luso-Lucusse-Caripande

311. Esta ligação completa o eixo oeste-leste - Lobito-Alto Hama-Silva Porto-Luso-fronteira com a Zâmbia - que se reveste de grande interesse económico e social, pela ocupação que promoverá de regiões susceptíveis de atrair importantes contingentes da população.

Lanço Serpa Pinto-N'Riquinha

312. Continuando a estrada Moçâmedes-Sá da Bandeira-Serpa Pinto, este troço estabelecerá ligação com a fronteira da Zâmbia e servirá regiões a que se atribuem grandes possibilidades pecuárias.

Lanço Lucusse-Cago Coutinho-N'Riquinha

313. Este lanço liga entre si as duas estradas anteriormente referidas. Desenvolve-se totalmente ao longo da fronteira com a Zâmbia e integra-se no eixo norte-sul, mais próximo dá fronteira - Portugália-Henrique de Carvalho-Luso-Gago Coutinho-N'Riquinha-Luiana.

Lanço Catengue-M. Machado-Caala

314. Atravessa regiões de grande densidade populacional e de notável riqueza agrícola; não obstante, dada a sua proximidade com o caminho de ferro de Benguela e com o troço da estrada Lobito-Teixeira da Silva, que lhe são paralelas, a sua construção deve classificar-se entre os empreendimentos de segunda prioridade.

Lanço Nova Lisboa-Bela Vista

315. Embora encurtando a distância entre Silva Porto-Nova Lisboa, este empreendimento deve também considerar-se de segunda prioridade, já que o seu papel se destina a assegurar transportes já efectuados pelo caminho de ferro e estradas existentes.

Lanço Silva Porto-Serpa Pinto

316. É a ligação entre duas sedes de distrito e o fecho de uma grande malha rodoviária. Integra-se no grande eixo norte-sul - Sacandica-Sanza Pombo-Malanje-Silva Porto-Serpa Pinto-Cuangar.

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Lanço Casa da Telha-Santo António do Zaire

317. Via da comunicação costeira integraria no eixo norte-sul - Sazaire-Ambrizete-Luanda-Novo Redondo-Lo-bito-Moçâmedes-foz do Cunene. Atravessa regiões ricas em palmar e com algum algodão.

Lanço S. Salvador-Maquela

318. Integra-se no eixo oeste-leste, que, junto à fronteira norte, ligará Sazaire a S. Salvador e a Sacandica.

Lanço Lombe-Duque de Bragança

319. Este empreendimento tem grande interesse sob o aspecto económico e turístico. A região que atravessa, de grande densidade populacional, é muito fértil, destacando-se, no aspecto agrícola, o milho e o tabaco.

Estradas de Cabinda

320. Concluída a ligação Guilherme Capelo (Lândana)-Cabinda-lema, prevê-se a pavimentação asfáltica dos lanços Lândana-Massabi (proximidades), Massabi-Buco Zau, ramal de Sassa Zau e Cabinda-Tando Zinde-Tibi. Com este empreendimento pretende-se atingir Buço Zau por duas vias, uma acompanhando a fronteira cora. a República Federal do Congo (Kinshasa), para uma boa drenagem das madeiras para o porto de Cabinda. O ramal de Sassa Zau tem bastante interesse, porque vai ligar o rio Chiloango, até onde é navegável, com a estrada Guilherme Capelo-Cabinda.
As madeiras de Cabinda só poderão competir com as madeiras dos territórios vizinhos se o acesso ao mar for fácil. A riqueza das madeiras de Cabinda justifica plenamente uma boa rede rodoviária.

Lanço Serpa Pinto (quilómetro 10)-Caiundo

321. Trata-se de mais um empreendimento rodoviário visando a valorização de um território de boas perspectivas económicas. Continua para o sul o lanço Silva
Porto-Serpa Pinto.

3.2. Caminhos de ferro

a) Caminho de ferro de Luanda

322. Os empreendimentos propostos para este caminho de ferro destinam-se a melhorar as suas condições de exploração e são os seguintes:

Melhoramentos da via

Variantes e rectificação do traçado

Em continuação do empreendimento anteriormente iniciado, há que melhorar os troços entre Quinzenga e Lucala e entre Luinha e Beira Alta. Para o efeito, torna-se necessário construir duas variantes, com as extensões de respectivamente, cerca de 27 km e 12 km, e fazer outras pequenas rectificações; obter-se-á assim uma uniformidade de tracção entre Cacuso e Luanda, que se traduzirá em substancial benefício pára a exploração, pela economia e maior rapidez nos transportes.

Reconstrução e reparação de obras de arte

Algumas obras de arte, de construção antiga e projectadas para cargas muito menores que as actuais, não oferecem já as devidas condições de segurança, necessitando umas de profundas reparações e outras de serem substituídas.

Balastragem

Há necessidade urgente, não só por razões de segurança da circulação, mas ainda por razões de conservação do material de via, de tracção e circulante, de concluir e balastragem do caminho de ferro numa extensão de cerca de 165 km de via.

Renovação da via

Torna-se necessário renovar todo o material de via desde Luanda a Lucala, podendo parte do material retirado e ainda aproveitável ser utilizado na renovação além Lucala e em linhas secundárias e desvios.

Edifícios

Na sequência de empreendimentos anteriores, torna-se necessário construir novas estações em Salazar, Lucala e Malanje. Com efeito, foram já construídas as variantes e terraplenagens das novas plataformas para as referidas estações, e em Salazar e Malanje encontram-se já concluídos os novos cais de mercadorias, que não estão ao serviço por se encontrarem distantes das actuais estações, que há muito não satisfazem as necessidades.
Além disso, é necessário construir outras pequenas estações e instalações para o pessoal.

Equipamento

Aquisição de locomotivas, locotractores e conversão vapor/Diesel.
Sob esta rubrica incluem-se os encargos resultantes da aquisição com pagamentos diferidos de dez locomotivas Diesel-eléctricas e de locotractores de manobras.

Aquisição de carruagens

É indispensável aumentar o parque de carruagens de 2.ª classe, pelo que é necessária e urgente a aquisição de pêlo menos, quatro carruagens deste tipo. Em face da grande afluência de passageiros de 3.ª classe ultimamente verificada, afluência que tende a aumentar, será necessária a urgente aquisição de cinco carruagens de 3.ª classe.

Vagões

Tendo em conta o previsível aumento de tráfego e a satisfação das necessidades que já actualmente se fazem sentir, torna-se necessária a aquisição de 50 vagões abertos de bordas baixas e de 50 vagões fechados.
É indispensável também a aquisição de equipamento diverso, nomeadamente o destinado à melhoria das telecomunicações e à mecanização da conservação da via.

b) Caminho de ferro do Amboim

323. A tendência para o agravamento apresentada pela situação financeira- da empresa exploradora deste caminho de ferro torna difícil prever os investimentos a fazer durante a vigência do III Plano de Fomento. Em qualquer caso, haverá que considerar investimentos, com vista a manter esta linha em condições suficientes de serviço.

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c) Caminho de ferro de Benguela

324. A Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, além dos empreendimentos e investimentos já estimados para a vigência do III Plano de Fomento, prevê, em função da evolução do tráfego e das disponibilidades financeiras, os seguintes como obras e aquisições:

Contos

Edifícios.................................... 21 800
Material circulante.......................... 82 000
Via.......................................... 422 000
Diversos..................................... 22 700

d) Caminho de ferro de Moçâmedes

325. Encontram-se em curso obras de monta no caminho de ferro com a finalidade de permitir a exportação de pelo menos, 5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Estas obras deverão terminar no decurso do III Plano de Fomento e são financiadas pelo empreendimento mineiro de Cassinga.
No entanto, outros melhoramentos são necessários para se garantir a eficiente exploração, independentemente do transporte de minérios, melhoramentos estes a financiar pelas verbas do III Plano de Fomento e que a seguir se indicam:

Melhoramentos da via.

Ligações à variante norte da Cheia

Pelo Projecto Mineiro de Cassinga será executada a variante norte da serra da Cheia, sensivelmente entre os actuais quilómetros 165 e 333. Para manter, a partir dessa variante, o acesso ferroviário a Sá da Bandeira, haverá que estabelecer as ligações ao novo traçado do lado de Moçâmedes, cerca do apeadeiro da Quinlemba, numa extensão de 10 km, e do lado de Serpa Pinto, depois da passagem da ponte sobre o rio Caculovar, num percurso de 5 km.

Renovação de travessas

A via vai ser muito melhorada - incluindo a substituição do material actualmente em uso - até ao quilómetro 525 pelo empreendimento mineiro de Cassinga. Quanto ao troço entre os quilómetros 525 e 755 (actualmente término), verifica-se a deterioração de grande número de travessas de madeira, que urge substituir.

Balastragem

Torna-se urgente, para maior economia da exploração e maior segurança, completar a balastragem, a brita, do troço em que tal balastragem ainda não existe (entre os quilómetros 525 e 589) e reforçar e completar a balastragem entre os quilómetros O e 165.

Equipamento

Locomotivas e automotoras

Pelo Projecto Mineiro de Cassinga vão ser adquiridas as locomotivas Diesel necessárias ao transporte do minério de ferro. Convirá, pois, adquirir as locomotivas necessárias para as restantes necessidades da exploração. Tais locomotivas deverão ser também Diesel, para evitar o uso simultâneo de dois tipos (vapor e Diesel), que seria antieconómico. Estima-se como necessária, para o efeito, a aquisição de cinco locomotivas, sendo prioritária a aquisição, dentro da vigência do III Plano de Fomento, de três. Prevê-se ainda a aquisição de três automotoras, para atender ao crescente tráfego de passageiros.

Carruagens e vagões

Em razão do aumento de tráfego de passageiros, afigura-se necessária a aquisição urgente de pelo menos, uma carruagem de 2.º classe.
O aumento de tráfego resultante do Projecto Mineiro de Cassinga exigirá constante actuação ao longo da linha, e, para isso, torna-se indispensável apetrechar a exploração com os necessários meios. Para tal, propõe-se a aquisição de duas carruagens de serviço.

Investimentos do Projecto Mineiro de Cassinga

Esses investimentos não terminarão em 1967, pois haverá, pelo menos, que contar com a construção da grande variante norte da serra da Cheia. Este empreendimento é inscrito «por memória», visto estar incluído nos investimentos considerados no capítulo das indústrias extractivas.

3.3. Portos, transportes marítimos e fluviais

Luanda

Obras exteriores

326. Para o período do Plano há a considerar os trabalhos para a consolidação da «ilha» de Luanda, já iniciados, a fim de manter as condições de abrigo do porto.
Há ainda que substituir o ramo de ligação entre a «ilha» e o continente, actualmente designado por «ponte», por uma verdadeira obra de arte que permita restabelecer condições hidráulicas destruídas pela construção do aterro.

Obras interiores

Longo curso e cabotagem

327. Tendo em vista os condicionamentos actuais, considera-se prudente estabelecer o seguinte programa de actuação para o período do III Plano de
Fomento:

a) Construção de 385 m de cais para carga geral, desde já tidos por necessários a curto prazo, dotando-os com as indispensáveis instalações em terra e equipamento;
b) Inscrição de verba para estudos de desenvolvimento do porto, atentas as necessidades que efectivamente venham a demonstrar-se, nomeadamente as respeitantes à movimentação de minérios (de ferro e de alumínio), à cabotagem e à pesca;
c) Consideração «por memória» dos restantes empreendimentos propostos pela província, já que a sua realização pode vir eventualmente a justificar-se por força dos estudos referidos em b);
d) Conclusão das instalações em terra, complementares dos cais terminados em 1966;
e) Aquisição e montagem do equipamento tornado necessário em razão da construção desses mesmos cais.

Lobito

Obras exteriores

328. Para evitar o contínuo crescimento da restinga, que ameaça fechar o porto, está em construção, como já foi referido, um campo de esporões, que terá de ser continuado.

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Obras interiores

Longo curso e cabotagem

329. As instalações de acostagem do porto do Lobito são actualmente suficientes para o movimento que lhes é imposto. Admite-se, no entanto, que a partir de 1969 venha a verificar-se a necessidade de as ampliar, pelo que se recomenda sejam levados a efeito os estudos necessários a um completo conhecimento da situação. Naturalmente, todos os futuros empreendimentos haverão de ficar dependentes dos resultados de tais estudos.
Quanto a instalações em terra e equipamento, considerou-se justificada a conclusão do apetrechamento iniciado ao abrigo do Plano Intercalar.
A necessidade de tudo o mais que se deseja haverá de ser confirmada pelos estudos que acima se preconizam.

Moçâmedes

330. Já que as obras relativas ao movimento mineiro deste porto não constituirão encargos do III Plano de Fomento, Moçâmedes encarar-se-á aqui, com exclusão dos efeitos directos que as exportações de Cassinga sobre ele produzirão.
Assim sendo, pode dizer-se que o porto dispõe de superabundância de cais, pelo que nenhumas obras deste tipo haverá que executar entre 1968-1973. Em tais condições, os investimentos que se prevêem terão apenas em vista completar empreendimentos já iniciados no Plano Intercalar, havendo que, como para os outros portos, prever a verba para estudos a levar a cabo no período do III Plano de Fomento.

Cabinda

331. O distrito de Cabinda justifica e necessita de um porto de longo curso, que haverá de ser construído no período do III Plano de Fomento.
Há, no entanto, ainda problemas a resolver quanto à sua localização e quanto a outros pontos de importância, pelo que é necessário aguardar decisão superior.
A construção de um porto de acostagem para fosfates rodeia-se ainda de incertezas, que só estudos adequados removerão, isto até porque a exportação de tais produtos poderá influenciar grandemente a solução que venha a adoptar-se para o porto do distrito, no qual as respectivas instalações hão-de ficar incluídas.

Porto Alexandre

32. As condições actuais deste porto indicam a necessidade de nele estabelecer, desde já, obras acostáveis - uma ponte-cais de longo curso para o serviço da pesca, integrável num. eventual e futuro porto comercial, cuja construção haverá de ficar dependente de estudos integrados no planeamento portuário da província agora em elaboração.

Lândana

333. Torna-se necessária a defesa contra a erosão da costa em que se encontra enraizada a ponte-cais. Para o efeito, foi construído um campo de esporões, cuja conservação há que prever.

Zaire

334. Não há, por enquanto, elementos que permitam uma justificação bastante deste porto, desejado em alguns sectores da província.
Por isso, só estudos tendentes à sua recolha serão de inscrever no III Plano de Fomento.

Baía dos Tigres

335. Prevendo-se que a movimentação dos produtos deste centro pesqueiro seja feita através de uma cabotagem, que os concentre em Porto Alexandre, qualquer acção deve aguardar a definição da política a adoptar quanto a este último porto.

Outros portos

336. Há que prever a realização de estudos em alguns dos outros portos secundários, na medida das necessidades.

e) Transportes fluviais

337. Inscrevendo, embora, verba para estudos, obras e instalações de meios vários, há que prever a necessidade de ajustamentos, sobretudo em. razão de actividades que virão a desenvolver os recém-criados serviços hidráulicos da província.

f) Carenagem

338. Os poucos meios de alagem existentes na província impõem a construção, com a possível brevidade, de pelo menos, um plano inclinado ou doca seca para navios de 2000 a 3000 t.

3.4. Infra-estrutura e fomento aeronáutico e transporte aéreo

Órgãos de direcção, coordenação, apoio e instrução

339. Pretende-se apetrechar o Centro de Controle Regional (Luanda) com a instalação de circuitos teleim-pressores e A. T. C., adquirindo também mobiliário e equipamento. Deste modo, satisfazendo os compromissos internacionais, conseguir-se-ia melhor e maior eficiência operacional, sob os aspectos aeronáuticos e meteorológicos, nas ligações radioeléctricas entre Luanda e Kinshasa, Brazzaville, Salisbúria, Lisboa e Nova Lisboa.
De acordo com os objectivos propostos para o III Plano, e com vista a suprir a grande falta de técnicos nas diferentes especialidades aeronáuticas, projecta-se a realização de cursos de preparação aeronáutica.

a) Aeroportos internacionais

Aeroporto de Luanda

340. Projecta-se a ampliação e o melhoramento da aerogare, com vista a proporcionar melhores condições aos passageiros em trânsito. Dadas as exigências do grande tráfego interno e internacional, prevêem-se ainda os seguintes empreendimentos: conclusão dos trabalhos de drenagem nas áreas adjacentes à pista, completamento da estação de serviço de incêndio, melhoramento da vedação periférica e construção de caminhos de ronda, aquisição e instalação de uma ajuda-rádio I. L. S. e melhoria dos sistemas de comunicações, aquisição de equipamento de desobstrução de áreas operacionais e construção de parques e armazéns.

Aeródromo de Nova Lisboa

341. A fim de satisfazer as necessidades mínimas dos passageiros, empresas aéreas e serviços de aeronáutica e meteorológico, projecta-se a construção da aerogare e torre de controle. Encara-se ainda a materialização dos seguintes empreendimentos: construção da 2.ª fase da

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central eléctrica, remodelação e instalação de telecomunicações e controle no edifício da aerogare, melhoramento da vedação periférica e construção do caminho de ronda, aquisição de viaturas e beneficiação do actual hangar.

b) Aeródromos do dispositivo provincial principal

342. Prevê-se a construção de novos aeródromos em Moçâmedes, S. Salvador e Lobito, em substituição dos actuais, já insuficientes para as necessidades do momento e, ainda mais, para as que se prevêem num futuro próximo.
De forma a satisfazer aos imperativos de defesa e necessidades civis, prevêem-se grandes reparações no aeródromo de Cabinda, prolongamento da pista do aeródromo do Luso e pavimentação das áreas operacionais do aeródromo de Serpa Pinto, facilitando a utilização destes últimos pelos aviões DC 6. Há ainda a considerar melhoramentos na área operacional do aeroporto de Novo Bedondo e no de Silva Porto.
Quanto à construção, melhoramento e apetrechamento de aerogares, torres de controle e abrigos para passageiros, projectam-se obras nos aeródromos de Malanje, Novo Redondo, Carmona, Benguela, Moçâmedes, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Silva Porto, Sá da Bandeira e Serpa Pinto.
Prevêem-se investimentos em instalações e melhoramentos respeitantes a telecomunicações e ajudas-rádio nos aeródromos de Cabinda, Malanje, Novo Redondo, Carmona, Benguela, Moçâmedes, S. Salvador e Silva Porto; em obras de vedação e caminhos de ronda nos aeródromos de Malanje, Carmona, Benguela, Moçâmedes e S. Salvador; em energia e sinalização nos aeródromos de Novo Redondo, Benguela, Moçâmedes e Serpa Pinto; e em aquisição de viaturas para todos os aeródromos indicados.

c) Aeródromos do dispositivo provincial secundário

343. Para satisfação das necessidades operacionais da D. T. A., encara-se o tratamento superficial das áreas operacionais nos aeródromos de Pereira de Eça, Roçadas e outros.
Prevê-se ainda a construção e melhoramento de abrigos para passageiros em quase todos os aeródromos da classe considerada.
Projecta-se também a instalação de telecomunicações e controle em Portugália, a construção e instalação de uma central eléctrica e radiofarol em Santo António do Zaire, a execução de obras anexas no mesmo aeródromo e a aquisição de viaturas para quase todos os aeródromos.

d) Transportes aéreos

344. Está programada a aquisição de três aviões para a rede de transportes provinciais, de sobresselentes iniciais e ferramenta especial para os mesmos, bem como a construção e apetrechamento de uma oficina de electrónicos, de uma oficina especial de motores de turbina, e ainda a aquisição e montagem de um banco de ensaios de motores de turbina.

4. Telecomunicações

345. Para a realização dos objectivos atrás enunciados, será necessária, durante o período do III Plano de Fomento, a execução dos empreendimentos que adiante se enumeram.

a) Sistema telefónico

346. Pretende-se levar a cabo a ampliação das estações de Luanda, Nova Lisboa, Benguela e Lobito, bem como a criação da satélite de Vila Alice (Luanda), e a criação de novas centrais automáticas em Cabinda, Carmona, Malanje, Salazar, Novo Redondo, Porto Amboim, Silva Porto, Luso, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Gabela, Cela, Mariano Machado, Cubai e Vila Robert Williams. Estas realizações proporcionarão a instalação de 8500 a 14 900 números.
Impõe-se também a ampliação das estações interurbanas de Luanda, Nova Lisboa, Benguela e Lobito e a instalação dos PAXS para terminais de VHF, a que correspondem as redes telegráficas de Vila Nova, Bela Vista, Chinguar, Vouga, Nova Sintra, barra do Bande, Caxito, Mabubas, Ambriz, Ambrizete, Zaire, Quibala e Calulo, com capacidade para 660 a 1060 números.
Há igualmente que proceder à aquisição de telefones com marcador.
Com vista a uma limitação dos períodos de conversação, o que terá a dupla vantagem do descongestionamento do tráfego e de maior rendimento do sistema, prevê-se a montagem de um sistema de temporização de chamadas.
Como consequência da instalação de centrais, e uma vez que as redes completam aquelas, há que proceder à aquisição (incluindo acessórios) e montagem de redes novas em cabo, bem como de cabos carregados para VHF, e de cabos de junção carregados para a estação principal de Luanda.
A aquisição de um relógio falante permitirá aos utentes das redes telefónicas a consulta da hora certa, o que se traduzirá na arrecadação de consideráveis receitas.

b) Estações costeiras

347. Como já foi dito, o crescente movimento de tráfego marítimo impõe a necessidade de se apetrecharem convenientemente as estações de apoio à navegação, uma vez que o material em uso está em precárias condições. Porém, e pelas razões já expostas, apenas se consideram prioritárias as estações de Luanda e Lobito, às quais, no entanto, se imporá juntar a da Baía dos Tigres.

c) Sistema VHF

348. A instalação de novas centrais telefónicas e a ampliação das existentes obriga, logicamente, a que se reconsidere a necessidade urgente da sua interligação, utilizando-se diversos sistemas e tendo em conta a economia, qualidade e rapidez das ligações. Também dentro em pouco serão montadas as centrais telex, que igualmente necessitam de interligação. Tanto para a interligação de umas como de outras, pensa-se em utilizar o sistema VHF, não só pela qualidade de transmissão, como pelo número de canais disponíveis.
Consideram-se, pois, necessárias as ampliações de canais telefónicos e telegráficos e a ligação Nova Lisboa-General Machado. A ampliação de canais telefónicos proporcionará um aumento de 70 canais, e a de canais telegráficos, um aumento de 41 canais.
A ligação Nova Lisboa-General Machado utilizará um sistema de doze canais telefónicos e oito telegráficos principais, servindo Nova Lisboa, Bela Vista, Chinguar, Vouga, Silva Porto, Nova Sintra e General Machado.

d) Sistema HF (BLU)

349. Embora considerado, pela qualidade de emissão, um sistema subsidiário, a transmissão por BLU será

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o elo de ligação entre as pequenas localidades e os grandes centros populacionais. Será, portanto, uma rede do maior interesse sob os aspectos administrativos de segurança estratégica da província. Compreende a aquisição de emissores de seis canais pré-sintonizados, de 100 W, providos de amplificadores lineares de 2000 W, destinados aos centros de distribuição das redes:

Zona norte: Luanda, Cabinda, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Malanje e Carmona.
Zona sul: Nova Lisboa, Lobito, Benguela, Silva Porto, Luso, Novo Redondo, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Serpa Pinto.

e) Sistema «telex»

350. Este sistema automático, um dos mais evoluídos do sector telegráfico, vai pela primeira vez fazer parte do sistema estrutural do conjunto da rede de comunicações dos CTT.
O empreendimento envolve a seguinte rede de estações e respectivas capacidades:

Uma central automática e uma central internacional em Luanda - 225 assinantes.
Uma central automática em Nova Lisboa - 165 assinantes.
Nove estações de concentradores, iguais, para Carmona, Salazar, Malanje, Cela, Lobito, Benguela, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Silva Porto - 82 assinantes cada uma.

f) Peças de reserva

351. Impõe-se a existência de um número mínimo de peças de reserva susceptível de assegurar uma exploração regular.

g) Edifícios

352. Será necessário construírem-se edifícios para as centrais automáticas de Vila Alice, Cabinda, Salazar, Porto Amboim, Silva Porto, Luso, Serpa Pinto, Gabela, Cela, Mariano Machado, Cubai, Robert Williams, Sá da Bandeira e Novo Redondo. Há ainda que construir os edifícios das estações repetidoras e terminais de VHF de Luanda e das ligações Nova Lisboa-General Machado, Sá da Bandeira-Moçâmedes, Luanda-Lobito e Nova Lis-boa-Robert Williams.

h) Radiodifusão

353. Para a prossecução dos objectivos já enunciados, é necessário que se realizem os seguintes empreendimentos:
Instalação dos emissores regionais das zonas norte e leste, que se julga dever implantar em Cabinda, S. Salvador, Henrique de Carvalho, Luso e Serpa Pinto. Estes centros deverão dispor dê emissores de ondas médias de 5 ou 10 kW (com excepção de S. Salvador, cujo caso deverá ser estudado posteriormente, dada a sua especial posição) e de emissores de FM de média potência, além de pequenos estúdios, com facilidades para transmissão local de programas e reprodução de bobinas gravadas nos estúdios centrais. Além disso, deverão dispor de um sistema de recepção especial para captar os programas de outros centros (particularmente de Luanda), para os retransmitir.
Instalação da rede de FM paralela com a rede de VHF primária dos CTT (cerca de 25 retransmissores de pequena potência - 100 a 250 W - e de média potência- 100 a 250 W). Dela beneficiarão os distritos de Carmona, Salazar, Malanje, Novo Redondo, Nova Lisboa, Silva Porto, Benguela e Sá da Bandeira.
Criação do centro de programas de Luanda, a iniciar ainda no Plano Intercalar. A falta deste centro, há muito sentida, muito mais se acentuou com as primeiras realizações levadas a cabo pelo Plano de Radiodifusão de Angola. Nele se deverão preparar todos os programas radiofónicos a transmitir de Luanda ou a fornecer aos regionais e outras estações de radiodifusão.
Instalação do centro de recepção e medida, do maior interesse para o desenvolvimento de planos futuros.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

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Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

354. O problema da habitação na província assume aspectos particulares, conforme o sector de incidência é rural, suburbano e urbano.

355. O meio rural, caracterizado pela existência de habitações autoconstruídas com materiais locais, patenteia um problema de evolução, isto é, a modificação da casa segundo as novas necessidades económicas e sociais resultantes da transição da economia de subsistência para a de economia de mercado, no sentido da construção de casas definitivas integradas em aglomerados de dimensões variáveis, de acordo com o tipo de economia e recursos locais.
Para isso torna-se indispensável definir, a partir da análise dos vários factores relevantes com referência a uma dada unidade sócio-económica, o tipo de «povoamento» aconselhável - concentrado, misto ou disperso - e dos consequentes programas de reordenamento rural o de beneficiamento habitacional.
As acções a desenvolver deverão resultar da actividade das equipas móveis de desenvolvimento comunitário, do tipo de mão-de-obra disponível e da criação de pequenas caixas de crédito, na sequência das experiências já efectuadas pela Junta Provincial de Povoamento de Angola e pelo Fundo de Acção Social no Trabalho de Angola.

356. A zona circular que envolve as principais vilas e cidades de Angola, com seus bairros de habitações provisórias, constitui problema dos mais sérios e delicados, que merece tratamento próprio, distinto do urbano, porquanto se trata de populações que, não vivendo já em economia monetária pura, para ela caminham. Os seus elementos são fundamentalmente trabalhadores não especializados e semiespecializados, ainda ligados, em muitos aspectos, à vida tradicional, mas dependentes econòmicamente do salário.
O programa de desenvolvimento destas zonas suburbanas deverá ser global, no sentido de proporcionar a formação profissional, a colocação acessível, o aproveitamento dos recursos locais através do fomento do artesanato e da pequena indústria, dos ofícios, da agricultura e da .pecuária intensiva, etc. O elemento enraizador deste programa deve ser justamente a casa construída em moldes definitivos.
Os métodos a adoptar no sector da habitação são, em vasta, medida, os indicados para as zonas rurais, uns e outros fazendo largo apelo às técnicas do desenvolvimento comunitário. Contudo, a forma de actuação terá de ser, nos dois casos, diferente, porquanto se trata de tipos populacionais com diversa caracterização. Terá de recorrer-se mais fortemente ao crédito, à organização de equipas de mão-de-obra especializada (que poderão constituir núcleos de aperfeiçoamento profissional), a maior ajuda técnica, etc.

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357. O empolamento nos centros urbanos das actividades económicas e administrativas exerce uma grande atracção nas populações rurais em crise, as quais aspiram o acesso a nível de vida superior. Daí surge a proliferação dos bairros suburbanos, em Angola conhecidos por «muceques».
O crescimento dos aglomerados urbanos, resultante do desenvolvimento económico, tem assim impulsionado a expansão das necessidades em matéria de habitação.
Se a iniciativa privada tem respondido a estas necessidades na medida em que pode dispor de terrenos e urbanização assegurada e em que as expectativa(r) de rendimento são suficientemente atractivas para o capital, em Angola, como em quase todo o Mundo, o ritmo de construção, apesar do elevado ritmo de expansão nos investimentos imobiliários, não tem sido, porém, suficiente em relação às necessidades habitacionais, registando-se tendência para considerar apenas o sector da população capaz de pagar rendas altas.
Para mais, a acção das cooperativas de habitação em Angola tem visado e atingido, fundamentalmente, as classes médias, sem reflexos sensíveis, portanto, sobre a situação habitacional das classes econòmicamente débeis.

358. Relativamente à intervenção pública na resolução do problema, as possibilidades são escassas, quer por falta de terrenos, como acontece em Luanda, quer por limitações de carácter financeiro.

2. Objectivos

Em resumo, o problema da habitação, nas várias zonas, consubstancia-se nos seguintes objectivos a alcançar:

a) Nas zonas rurais, melhorar a habitação tradicional, dando-se prioridade às áreas em que for possível desenvolver uma acção de desenvolvimento integral;
b) Nas zonas suburbanas, o programa de actuação deve abranger o conjunto de meios necessários: equipamento para o fabrico de materiais e, para as construções, equipas de trabalho que constituam núcleos de formação e aperfeiçoamento profissional no sector da construção civil;
c) Nas zonas urbanas a existência de escalões sociais em que as comunidades urbanas se estruturam exige que toda a planificação tenha em conta tais escalões e que deva ser basilar a preocupação de os fazer integrar e conviver numa comunidade harmónica.

Há um conjunto de aspectos, directa ou indirectamente ligados ao problema da habitação, a considerar ainda: distribuição de água e de electricidade, esgotos, acessos, transportes colectivos, mercados e abastecimentos, equipamento social e serviços públicos.
No delineamento de uma programação, a longo prazo, no sector da urbanização e, portanto, no da habitação, há também a considerar: a evolução demográfica global e as migrações internas de mão-de-obra, que importa prever com a possível exactidão, nos aspectos de volume e de direcção.

359. Entre as entidades que podem ser chamadas a colaborar nesta acção figura o Fundo de Melhoramentos Locais, pelo qual podem ser concedidas comparticipações para diversos empreendimentos, entre os quais a construção de habitações populares. A comparticipação do Fundo de Melhoramentos Locais para a construção de habitações deste tipo poderá atingir o máximo de 75 por cento do valor das obras, exigindo-se o reembolso apenas de 75 por cento da verba comparticipada, no prazo de quinze anos, sem qualquer juro.
O Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social poderá vir a desempenhar também valioso papel na solução do problema habitacional das classes trabalhadoras, possibilitando a ampliação do fomento da habitação económica através de empréstimos reembolsáveis.
Entretanto, o Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social caminha já nesta linha de rumo, concedendo pequenos empréstimos aos interessados (normalmente em materiais) e o apoio técnico e social que se mostre necessário, assim como ajuda para fabrico de materiais que possam ser obtidos directamente pelos interessados nas zonas onde decorre a acção.
O Fundo de Casas para Funcionários também assegura o financiamento da construção de habitações em todo o território da província, ainda que a sua acção se tenha vindo a limitar às áreas onde se põem problemas especiais.
É de assinalar existirem sob a administração da Comissão Administrativa do Fundo de Bairros Populares de Angola cerca de 60 bairros populares, com mais de 5000 habitações. Em Luanda foram construídos dois bairros de realojamento - Prenda e Rangel - com perto de 800 fogos.

360. Não está ainda esclarecido se os grandes imóveis colectivos, construídos para as populações de fracas posses, são preferíveis às construções unifamiliares. Há que atender, entre outros factores, ao custo da construção em altura e aos acabamentos necessários para dar aos prédios colectivos as suficientes condições de isolamento, conforto e higiene.
Isto não significa que, em casos específicos, não exista vantagem nos grandes imóveis habitacionais colectivos, que, contudo, para oferecerem condições de conforto e habitabilidade, terão forçosamente de ser de mais elevado custo.
O núcleo urbano elementar a considerar deverá abranger 50 a 150 famílias, vivendo numa área cujas distâncias lineares não excedam os 300m, ou seja o escalão denominado «bairro».
Estas unidades primárias integram-se em escalão superior, «unidade de vizinhança», com cerca de 1500 famílias, tendo a uni-las elementos que as caracterizam espiritual e administrativamente em relação aos restantes escalões do mesmo tipo que completam a urbe. Cada unidade de vizinhança deve ser, em muitos aspectos, auto-suficiente e ter os seus serviços próprios.
Neste esquema, cada bairro deverá ser dotado de equipamento social privativo, constituído por escolas primárias, balneários, sanitários, postos de assistência médico-social. Cada unidade de vizinhança deverá ser dotada, por sua vez, de mercados, correios, zonas comerciais privativas, espaços livres públicos, etc., complementando os elementos que constituem o equipamento social dos bairros a integrar.

361. Os objectivos a atingir no III Plano de Fomento são, pois, fundamentalmente:

a) Melhoria das condições de vida das populações rurais e a consequente contribuição para a diminuição do êxodo rural;
b) Estruturação de uma política habitacional de reordenamento urbano;
c) Realização de um programa de empreendimentos prioritários de reconhecido interesse social, atra-

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vés de um esquema de investimento assegurado pelas entidades públicas e instituições de previdência social. As finalidades de tal programa seriam: reordenar as zonas habitacionais conhecidas por «muceques» e reduzir a actual carência de casas definitivas para as classes modestas.

Medidas de política

362. Seria necessário que, entretanto, fossem adoptadas as seguintes medidas:

1) Estabelecimento de planos de urbanização para os principais núcleos urbanos da província. - O trabalho a efectuar é premente, visto que as construções clandestinas surgem, por toda a parte, em terrenos ocupados irregularmente;
2) Aquisição de terrenos. - O Estado tem de obter os terrenos necessários para resolver o problema habitacional de classes econòmicamente débeis e para dotar as populações com equipamentos sociais; assim, é indispensável que em todos os forais novos e na expansão dos actuais o Estado reserve para si os terrenos que considera indispensáveis para os efeitos indicados;
3) Financiamento de construção de habitações económicas. - Torna-se indispensável coordenar, e reforçar, através das instituições de crédito e de previdência, recursos financeiros disponíveis para o financiamento a ritmo acelerado da construção de bairros populares e de habitações para as classes sociais econòmicamente mais débeis.

3. Investimentos

3.1. Reordenamento urbano

363. Prevê-se o reordenamento das zonas habitacionais mais conhecidas por «muceques», dando às populações casas com um mínimo de conforto e dignidade, dotando os respectivos núcleos com o equipamento social indispensável e libertando os terrenos onde hoje se situam para construção de bairros de reordenamento e realojamento em Luanda, Lobito, Benguela, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Malanje e Moçâmedes.

3.2 Construção de casas para funcionários

364. No Norte e Leste da província, onde se pretende um esforço em infra-estruturas básicas, a falta de casas para funcionários é um dos motivos impeditivos de preenchimento dos quadros. Será, portanto, nelas que incidirá o esforço inicial.
Prevê-se nos distritos de Cabinda, Zaire, Uíge, Lunda, Moxico e Guando Cubango a construção de alojamentos para 120 famílias.

3.3. Execução dos anteprojectos de habitações para trabalhadores
3.4. Fomento e apoio e autoconstrução, habitação melhorada ou de transição

365. Como medida de promoção económica e social, há que simplificar o processo de construção, evitando todas as exigências desnecessárias, para construção nas zonas urbanas, suburbanas das cidades, vilas e povoações. Nas áreas dos postos, concelhos ou distritos destas zonas residenciais surgirão construções simples, na linha de evolução das casas tradicionais, mas agora definitivas e com um mínimo de condições higiénicas, que possam ser feitas pelo sistema de entreajuda apenas com pequenos empréstimos reembolsáveis e ajuda técnica de organismos próprios.
No investimento estão inscritas verbas para a construção de bairros para trabalhadores, integrando Casas dos Pescadores e outros serviços sociais. Tais empreendimentos justificam-se no contexto de formação económica e social dos trabalhadores, de um modo geral, e ainda pelo facto de se verificar que o pescador português, quando não se lhe favorece habitação para instalação das famílias, sente-se apenas temporariamente ligado à terra em que trabalha, e, ao mais ligeiro contratempo, regressa à origem.

Habitação e melhoramentos locais

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

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IX) Turismo

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

366. Apresentam-se em Angola possibilidades apreciáveis de desenvolvimento turístico concentradas em zonas com interesse apenas potencial, mas que noutros casos pode já ser considerado como realidade, embora ainda em fase incipiente. Entre estas poderão incluir-se as zonas de turismo de Luanda, Lobito-Benguela, Sá da Bandeira e Nova Lisboa. Entre as primeiras, as de Cabinda, Novo Redondo, Moçâmedes, Malanje. Moxico, Bié e Guando Cubango. Os factores de atracção são essencialmente dois: a caça e a pesca desportiva.

367. Existem actualmente em Angola os parques nacionais da Quiçama, da Camela (distrito do Luso), de lona (distrito de Moçâmedes), de Bicuar e da Mupa, cuja área, no seu conjunto, abrange cerca de 5 milhões de hectares; as reservas naturais integrais do Luando e da Cangandala, num total de 888 000 ha; as reservas parciais de Milando e Moçâmedes, num total de mais de 2 milhões de hectares, e as coutadas públicas do Ambriz, Longa-Mavinga, Luengué, do Luiana e do Mucusso, num total de mais de 9 milhões de hectares.
Os parques nacionais da Quiçama e da Cameia estão apetrechados com acampamentos para visitantes.

368. A existência abundante de peixe-prata nas águas de Angola representa, por si só, elemento bastante para atrair turistas, não só de África, como de outros continentes. Tal atracção poderá ser substancialmente ampliada desde que sejam definidas as zonas e épocas de frequência de outras espécies: atum, albacora e patudo, espadins e veleiros.
De um modo geral, todas estas espécies existem ao longo de toda a costa de Angola. As águas de Moçâmedes, pelo seu enrocamento e limpidez, apresentam condições ideais para a caça submarina e fotografia subaquática.
Seria igualmente de interesse ensaiar o povoamento de espécies, tais como o peixe-tigre e o adrigã, em albufeiras e lagos do interior.

369. O equipamento hoteleiro era em meados de 1966 o seguinte.

[Ver tabela na imagem]

Os hotéis de 1.ª classe, unicamente existentes em Luanda, Sá da Bandeira e Lobito, têm uma capacidade de utilização que se pode classificar de boa. Em Luanda a taxa média de ocupação anual deve oscilar por volta dos 95 por cento, descendo ligeiramente nas outras duas cidades.

370. A situação actual da indústria hoteleira de Angola é difícil no que respeita a pessoal especializado. A falta de profissionais qualificados constitui séria dificuldade para o exercício da hotelaria portuguesa. Dada a dificuldade de recrutar pessoal habilitado no continente, onde se luta com problema semelhante, não se oferece outra forma de enfrentar a falta de pessoal especializado senão a de intensificar a formação profissional na indústria hoteleira através de escolas hoteleiras, das quais a primeira, em Luanda, ensaia os seus primeiros passos.

2. Objectivos

371. Considera-se que haverá fundamentalmente que promover o desenvolvimento da actividade turística em três zonas prioritárias, que são zonas potenciais de atracção do turismo interno (em especial de fluxos de origem metropolitana) e internacional, principalmente da África do Sul, Sudoeste Africano e Rodésia:
Região em forma de pentágono irregular, com vértices na barra do Dande, Duque de Bragança, Malanje, Santa Comba e Novo Redondo;

Região triangular, cuja base se supõe compreendida entre as pontas do Diabo e Grossa e o vértice em Folgares;
Região triangular, cuja base se estende do Farol das Salinas ao Lobito, com vértice em Nova Lisboa.

3. Investimentos

3.1. Caça

372. A necessidade de melhorar as reservas e coutadas existentes, pelas razões que já ficaram expostas, implica que sejam construídos, nalgumas delas, alojamentos, picadas, bebedouros e abastecimentos de águas.

3.2. Hotelaria

373. Pré vê-se a construção de um hotel de luxo em Luanda, destinado a servir o turismo internacional, com cerca de 100 quartos, e uma pousada na barra do Cuanza, restaurante e ancoradouro (para apoio à pesca desportiva). Estes dois empreendimentos deverão ser da iniciativa do sector privado.
Prevê-se ainda a construção de três hotéis de turismo destinados a servir o turismo internacional e interno. Parte do investimento será assegurado pelo Estado.

3.3. Centro de preparação hoteleira e de turismo

374. A falta de preparação do pessoal hoteleiro exige que se dê especial atenção a este empreendimento, aproveitando a experiência já adquirida com a escola hoteleira e beneficiando da colaboração e apoio técnico dos serviços de turismo nacionais.

3.4. Estudos e publicidade

375. Conforme já foi salientado, impõe-se que se proceda a um estudo que estabeleça a forma de utilização mais racional das potencialidades existentes e a uma racional informação através da imagem e da rádio.

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Turismo

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

X) Educação e investigação

1. Educação

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

376. A análise das realizações no campo da educação faz ressaltar, com clareza, o grande esforço realizado e os resultados notáveis que já foi possível alcançar. De facto, a escolaridade tem crescido em proporção muito rápida em todos os graus de ensino, com as implicações daí resultantes.

a) Ensino Infantil

377. Limitado à frequência de crianças dos 3 aos 6 anos de idade, não pôde ainda fornecer solução totalmente satisfatória este grau de ensino, em virtude da necessidade de dar prioridade ao ensino primário. São, no entanto, de assinalar os já apreciáveis progressos, como mostra o quadro seguinte

Frequência no ensino infantil de 1958 a 1965

[Ver tabela na imagem]

(a) Com referência a 31 de Dezembro de 1964.

b) Ensino primário

378. A partir de 1964-1965, todo o ensino primário foi remodelado, constituindo-se quatro ciásseis, precedidas de uma classe pré-primária (5 anos). A frequência é obrigatória para os alunos de ambos os sexos, de idades entre os 6 e os 12 anos.

Frequência do ensino primário de 1960 a 1965

[Ver tabela na imagem]

(a) Com referência a 31 de Dezembro de 1964.

Num período de dez anos, a evolução sofrida neste sector do ensino foi de vulto. O número de escolas, de professores e de alunos aumentou, respectivamente, de 94,5, 103,6 e 186,3 por cento.
A população escolarizável foi estimada (dos 6 aos 12 anos), respectivamente, para 1950 e 1960, em 708 277 e 852 095 indivíduos, a que correspondem taxas de escolarização indicadas no quadro seguinte, em confronto com as perspectivas para o período do III Plano de Fomento.

Perspectivas de escolarização até 1973

[Ver tabela na imagem]

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c) Magistério primário e habilitação de professores de posto

379. As três escolas de magistério primário existentes na província tiveram o seguinte movimento em 1963-1964 e 1964-1965:

[Ver tabela na imagem]

No que se refere às escolas de habilitação de professores de posto - existem quatro femininas, uma mista e uma masculina -, houve uma frequência de 470 alunos em 1963-1964 e de 548 alunos em 1964-1965. Nestes mesmos dois anos, concluíram os seus cursos, com aproveitamento, 909 indivíduos. De notar que ao iniciar-se o ano lectivo de 1965-1966 havia já em exercício de funções 1685 monitores, dos quais 597 apenas estavam habilitados a ministrar o ensino na classe pré-primária.

d) Ensino de artes e ofícios

380. Actualmente funcionam 34 escolas de artes e ofícios - 4 oficiais e 30 a cargo das missões, mas subsidiadas pelo Estado -, absorvendo 100 professores e 2094 alunos.

e) Ensino liceal

381. Até meados do decénio de 1950-1960 existiam na província dois liceus oficiais e dezoito colégios particulares ministrando ensino liceal. Desenvolveu-se a seguir uma evolução nitidamente dinâmica.
Contando com a frequência do ensino liceal particular, é de prever, com base na evolução verificada desde 1955 a 1965, que a frequência atinja, em 1967 e 1973, respectivamente, 18 225 e 26 510 alunos.
Se considerarmos a provável evolução do ensino oficial; teremos que essa frequência atingiria, nos mesmos anos, o número de 9400 alunos.

Frequência no ensino liceal de 1960 a 1966

[Ver tabela na imagem]

[Ver tabela na imagem]

Embora, como já ficou dito, o ensino liceal tenha sofrido grande incremento nos últimos anos, enferma ainda de deficiências que urge minorar ou eliminar, entre as quais se devem salientar deficiência de pessoal docente habilitado e de instalações.
Presentemente, funcionam nove liceus em Angola, alguns em regime de desdobramento, por a sua capacidade não comportar a respectiva frequência em regime normal.

f) Ensino técnico

382. Terá de ser dada atenção especial, às necessidades crescentes de mão-de-obra qualificada, muito particularmente no caso de Angola, pois a insuficiência qualitativa dos recursos humanos disponíveis é de tal modo que, a não ser adoptada uma política de rápida e generalizada formação de trabalhadores qualificados, ficará seriamente comprometido o êxito de boa parte dos empreendimentos a realizar.
Reveste-se, pois, de enorme, preponderância o papel a desempenhar pelo técnico profissional, tanto no campo industrial como no agrícola e comercial.
Não obstante o esforço que tem vindo a ser realizado em prol do ensino técnico, não tem sido possível a satisfação integral das necessidades da província. Assim, enquanto o número de alunos anualmente diplomados nos cursos industriais não atingiu ainda o milhar, o número de novos empregos, nas indústrias instaladas e a instalar, cresce já ao ritmo de mais de 3000 por ano.
Mais grave é a situação no sector da agricultura, onde existe uma única escola de regentes agrícolas, que por si só não permite a formação dos técnicos de nível médio indispensáveis.

g) Ensino Industrial e comercial

383. No quinquénio de 1960-1965, o acréscimo de escolas e de professores pouco excedeu os 100 por cento, enquanto o de alunos foi superior a 160 por cento.

h) Ensino médio industrial, comercial e agrícola

384. A partir do ano lectivo de 1963-1964, a província passou a dispor de dois institutos comerciais e dois industriais. Verifica-se que a frequência respectiva tem vindo a aumentar num ritmo muito rápido, passando de 48 alunos em 1961-1962 para 410 em 1964-1965.

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Quanto ao ensino agrícola, observa-se que a única escola de regentes agrícolas existente é insuficiente para as necessidades da província. O número de alunos nesta escola passou de 21 em 1956-1957 para 212 em 1964-1965.

i) Ensino superior

O ensino universitário iniciou-se em 1963-1964 com o 1.º ano dos seguintes cursos: Engenharia Civil (em Luanda); Engenharia Mecânica (em Luanda); Engenharia Electrotécnica (em Luanda); Engenharia de Minas (em Luanda); Engenharia Químico-Industrial (em Luanda); Médico-Cirúrgico (em Luanda); Medicina Veterinária (em Luanda, actualmente em Nova Lisboa); Agronomia e Silvicultura (em Luanda, actualmente em Nova Lisboa); Ciências-Pedagógicas (em Luanda e Sá da Bandeira, actualmente em Sá da Bandeira).
Actualmente existe também em funcionamento o curso de professores adjuntos do 8.º e 11.º grupos do ensino técnico profissional em Sá da Bandeira.

2. Objectivos

385. Os objectivos a visar são:

2.1. No que se refere ao ensino primário

1.º Escolaridade em massa no grau primário, através das várias categorias de agentes docentes;
2.º Instalação progressiva de escolas de preparação de agentes docentes que, em prazo relativamente curto, possam contribuir para melhorar a cobertura escolar da província;
3.º Criação de escolas de artes e ofícios para formação complementar do ensino primário, espalhadas pelas povoações mais importantes que não sejam sedes de distritos.

O programa destinado à realização de tais objectivos corresponderá a:

a) Instalação de 742 postos escolares e 158 escolas primárias com quatro salas de aula cada uma. Tais edifícios permitiriam a admissão de 109920 alunos. A este número haveria que adicionar cerca de 60 000 alunos, correspondentes ao ensino ministrado nas missões e nas escolas das unidades militares.
Atendendo a que foi estimado em 1 038 038 o número de indivíduos dos 6 aos 12 anos existentes em 1973, a taxa de escolarização correspondente será de 44,5 por cento;
b) Formação de mais 4800 professores. As estimativas feitas, admitindo a proporção de 1 professor para 40 alunos e a taxa de escolarização de 37 por cento, indicam que se torna necessário o total de 10 200 professores. Dado que já existem 5400 professores, tornar-se-iam assim necessários mais 4800.
Só há, porém I possibilidades de serem formados 3000 professores, sendo 2400 provenientes das três escolas do magistério existentes e de mais três cuja construção é proposta e 600 provenientes de escolas de professores de posto. O déficit existente será preenchido pelos monitores escolares, cuja formação se preconiza em ritmo acelerado;
c) Criação de 117 escolas de artes e ofícios, o que permitirá a absorção de aproximadamente, 9400 indivíduos.
A preparação do pessoal docente conseguir-se-ia mediante a criação, junto de cada escola industrial, de cursos especiais de mestrança com a duração de um a dois anos, de modo a poderem preencher-se os lugares de mestre de ofício.

2.2. No que se refere ao ensino liceal

O objectivo a atingir consiste em facultar o ingresso, no ensino oficial, do maior número possível de indivíduos. Sendo assim, julga-se indispensável a construção de liceus com capacidade para, pelo menos, 7000 alunos.
Além disso, haverá que melhorar as Condições de trabalho, visto que o elemento docente em serviço na província não satisfaz quantitativamente às exigências do ensino, pelo que se impõe a ampliação dos quadros e a melhoria da preparação pedagógica dos professores e de remuneração.

2.3. Quanto ao ensino técnico

A carência de trabalhadores qualificados impõe que o programa a estabelecer tenha em vista dois objectivos fundamentais:

a) Expansão do ensino técnico tradicional, especialmente do elementar e secundário agrícola;
b) Instituição nas escolas técnicas de cursos de formação profissional acelerada.

Intimamente ligado com o incremento que se pensa venha a sofrer o sector da pesca durante o III Plano de Fomento, é proposta a construção de uma escola de pesca em Moçâmedes, destinada à preparação de indivíduos qualificados.
Pensa-se que o número de alunos do ensino técnico possa atingir, atendendo ao ritmo actual e às novas escolas a construir, os 24 000 indivíduos em 1973.
Estes, juntamente com os 26 000 do ensino liceal, dar-nos-ão uma frequência, no ensino secundário, de cerca de 50 000 alunos em 1973.
Como realizações complementares no sector do ensino, importa considerar-se a necessidade de estabelecer lares para estudantes que, por motivo do prosseguimento dos seus estudos, se têm de separar do lar familiar, e de auxiliar os que carecem de ajuda económica, além do interesse de criar clubes de juventude, de molde a proporcionar ao jovem um ambiente são, onde possa recrear-se através de actividades culturais e gimnodesportivas.

2.4. Relativamente ao ensino superior

Como objectivos, preconizam-se os seguintes:

a) A instalação dos Estudos Gerais em edifícios especialmente concebidos para as funções que lhes são assinaladas;
b) Esforço no sentido de alcançar os efectivos do pessoal docente dos Estudos Gorais.

3. Medidas de política

386. A fim de garantir a viabilidade dos objectivos propostos, há que atender à necessidade da adopção de diversas providências de carácter legislativo, nomeadamente:

Regulamentação e planificação dos cursos de formação profissional acelerada a criar;
Regulamentação do ensino a ministrar na escola de pesca.

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4. Investimentos

387. Em face dos objectivos que atrás ficaram definidos, torna-se necessário que seja dada realização aos empreendimentos a seguir enunciados.

a) Ensino primário

Para as construções escolares necessárias pré vêem-se os seguintes tipos de edifícios:

Edifícios para escolas primárias com quatro salas de aula;
Edifícios para escolas de ambiência rural com uma sala de aula e residência para professor;
Edifícios para escolas do magistério com doze salas;
Edifícios para escolas de habilitação de professores de posto com. oito salas de aula, dormitório, refeitório, granja, igreja e residências para professores;
Edifícios para escolas de artes e ofícios com oito salas, dormitório, refeitório, granja, igreja e residências para professores.

Postos escolares

Prevê-se a construção de postos escolares em diferentes
distritos.

Escolas do magistério primário

É necessária a construção de edifícios para escolas do magistério, mas deve salientar-se que três deles se destinam a alojar alunos de outras tantas escolas que actualmente funcionam nas sedes das associações de classe em Luanda, Silva Porto ei Sá da Bandeira.

Escolas de habilitação de professores de posto

Prevê-se a construção de escolas deste tipo em diversas partes da província.

Escolas de artes e ofícios

Prevê-se a construção de escolas deste tipo distribuídas pelas diferentes distritos.

b) Ensino liceal

O programa previsto inclui a construção e apetrechamento de liceus distribuídos pelas cidades de Carmona, Luanda, Luso, Silva Porto, Salazar, Novo Redondo e Cabinda.

c) Ensino técnico

Secundário industrial e comercial

Está prevista a construção de escolas industriais e comerciais, uma escola técnica elementar e uma escola industrial.

Secundário agrícola

Prevê-se a construção & apetrechamento das seguintes escolas:

Uma escola prática de agricultura;
Três escolas elementares de agricultura.

Escolas de pesca

Prevê-se a construção de uma escola de pesca em Moçâmedes.

Médio industrial, comercial e agrícola

Neste grau de ensino prevê-se a construção e respectivo apetrechamento de:

Um instituto industrial;
Um instituto comercial;
Uma escola de regentes agrícolas.

d) Ensino superior

Os Estudos Gerais devem ser instalados em edifícios funcionais especialmente concebidos.
Considerando-se que as instalações representam uma primeira prioridade, foi-lhe consignada a maior percentagem da verba destinada a este grau de ensino e prevista, na distribuição anual, concentração do verbas nos dois primeiros anos do Plano.
Para as instalações e apetrechamento dos cursos de Ciências Pedagógicas, de professor adjunto do 8.º e 11.º grupos do ensino técnico profissional, Médico-Cirúrgico, de Engenharia, de Agronomia e Silvicultura e de Medicina Veterinária, é de considerar a necessária dotação.

e) Problemas da juventude

Prevê-se a construção de lares e pousadas para estudantes e a criação de clubes de juventude de estabelecimentos de ensino secundário.

2. Investigação ligada ao ensino

Estudos Gerais Universitários

388. Tradicionalmente ligadas, investigação científica e ensino superior constituem duas actividades interdependentes e, num sentido, indissociáveis. Se é possível admitir, sobretudo nos domínios da aplicação e da tecnologia, instituições dedicadas exclusivamente à investigação científica sem quaisquer funções docentes (embora quase sempre articuladas mais ou menos directamente com o ensino), parece inconcebível uma Universidade estática e passiva, limitada a ensinar tardiamente aquilo que os outros descobriram.
Os Estudos Gerais Universitários, parte própria da Universidade portuguesa, não podiam alhear-se deste princípio fundamental. Assim o entendeu o legislador, que no artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 44 530 e no artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 45 180 prevê a integração dos organismos de investigação científica com sede nas respectivas províncias; assim o entenderam o Senado Universitário e os Governos central e provincial, ao aproximar diversos cursos das instituições responsáveis pela investigação nos domínios correspondentes.

389. Os Estudos Gerais Universitários cobrem todos os tipos de investigação, mas é sobretudo no sentido da pesquisa fundamental que se exercerá a sua actividade.
No entanto, os Estudos Gerais Universitários encontram-se ainda na fase de organização. Não é, pois, realista pretender estruturar desde já um pormenorizado plano de investigações, mesmo para o prazo relativamente próximo abrangido pelo III Plano de Fomento.
Julgou-se antes mais razoável procurar obter às condições mínimas de trabalho e realizar progressivamente os projectos que se revelarem praticáveis com os meios próprios disponíveis e os recursos de outros organismos de investigação.

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390. No que diz respeito a instalações e apetrechamento técnico na generalidade, o previsto para o ensino será utilizável pelos investigadores, sem excluir a hipótese de que, em alguns casos, possa ser necessário recorrer a meios autónomos para a investigação.

391. Cabe ao corpo docente a realização das funções normais de pesquisa. No entanto, em muitas situações tornar-se-á indispensável contratar além dos quadros, subsidiar e, inclusive, proceder à preparação do pessoal exigido por determinadas tarefas especializadas.
Assim, foram consideradas numa única rubrica, intitulada «Apoio à investigação», essas situações particulares em matéria de instalações, apetrechamento e, sobretudo, preparação e manutenção de pessoal especializado.

3. Investigação não ligada ao ensino

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

392. As tarefas cometidas aos Serviços Geológicos e Cadastrais de Angola durante o II Plano de Fomento e o Plano Intercalar de Fomento consistiram essencialmente na construção da carta da província, à escala de 1:100 000, a oeste do meridiano 18º (E. G.). A parte leste do mesmo meridiano foi adjudicada a duas empresas particulares, sob a supervisão da Junta de Investigações do Ultramar.
No fim da campanha em curso todas as folhas a leste do meridiano 15º (E. G.) e a norte do paralelo 9º S. terão os trabalhos completamente realizados.
No início do III Plano de Fomento poderá dispor-se do apoio fotogramétrico para a elaboração de pelo menos, metade das folhas a oeste do meridiano 15º (E. G.) e norte do paralelo 8º S.
Tendo como base as folhas do leste de Angola, à escala de 1:100 000, foram construídas todas as folhas possíveis à escala de 1:250 000. Por redução fotográfica desta, obtiveram-se folhas à escala de 1:500 000. Também se fez uma provisória da carta da província à escala de 1:1 000 000, 1:2 000 000 e outras escalas menores.
Presentemente, está executada a carta geológica de 192 000 km2 (cerca de 15,3 por cento do território).
Nos últimos três anos, os trabalhos executados envolveram a utilização sistemática de métodos específicos de prospecção (geológicos, geoquímicos e geofísicos).

b) Hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

393. A actividade do sector hidrológico tem visado o alargamento e adensamento da rede de observações, bem como a melhoria do nível técnico dos observadores. Foram feitas observações hidrométricas e meteorológicas e incrementada a ocupação hidrográfica de diversos rios.
No rio Cuito-Cuanavale identificaram-se cerca de 1000 km com possibilidades de utilização. O Cuito é valioso como estrada natural, uma vez que é a única via de comunicação ao longo de todo o seu vale. Após a execução de diversas obras, tiveram início carreiras experimentais.
Na escala 1:20 000 foi apresentado o reconhecimento do rio Cuito desde Cuito-Cuanavale à foz do Hanha, numa extensão de 850 km.
No rio Cubango efectuou-se a limpeza e regularização do leito e outras obras necessárias à manutenção das carreiras existentes.
Também se fez o reconhecimento hidrográfico do rio Longa, num percurso de 200 km, navegável desde Calando até Cuito-Cuanavale, praticamente durante todo o ano.
No Cunene foi realizado o reconhecimento de 300 km, entre Folgares e o Calueque. Fez-se a ocupação hidrográfica deste rio, mediante a instalação de postos limnigráficos e limnimétricos e estações de medição de caudais, o mesmo se verificando no Guando, Cubango e Cuangar.
De igual modo foram efectuados reconhecimentos nas bacias do Colui e Cuvelais.

c) Meteorologia

394. O levantamento geomagnético de Angola está a ser feito, desde 1965, com uma rede de malha de 75 km. Foram já ocupadas 90 estações, faltando ocupar 115, que sê-lo-ão em 1967.
O Centro Geofísico de Luanda, que dispõe de dois pavilhões para magnetismo, um pavilhão de sismologia, um pavilhão de radioactividade do ar e um para radiação solar, tem já prestado a sua colaboração em estudos ao nível internacional, havendo, no entanto, que proceder à sua ampliação.
Por intermédio do sistema de telecomunicações, tem-se procedido à recepção e emissão de informações meteorológicas de base para o interior da província, informações meteorológicas para a exploração aeronáutica, etc.; no entanto, as condições de recepção não são as melhores.
Com vista à protecção aeronáutica, estão já montadas e em funcionamento algumas estações da rede sinóptica internacional, mas em número ainda insuficiente.

d) Investigação aplicada à agricultura

Carta dos solos

395. Com base na observação de perfis típicos, sondagens e descrição de itinerários, e recorrendo a processos de generalização apoiados nas inter-relações solo-litologia-clima-vegetação, continuou a Missão de Pedologia de Angola e Moçambique os seus trabalhos com vista à total cobertura pedológica do território.

Instituto de Investigação Agronómica

396. O Instituto de Investigação Agronómica iniciou as actividades em Janeiro de 1962, tendo sido necessário seleccionar os projectos de trabalhos que passaram a constituir as suas linhas fundamentais de actuação.
Além de diversos estudos referentes a várias culturas especializadas, estudos florestais, agro-pecuários, de genética e melhoramento, de zoologia apícola, fitopatologia, botânica, etc., há que salientar a comparticipação do Instituto em jornadas silvo-agronómicas e reuniões internacionais.
Sendo de longo prazo a maioria dos projectos em estudo e dada a necessidade imediata da conclusão de alguns trabalhos, seria de toda a conveniência que o Instituto de Investigação Agronómica de Angola pudesse contar com os meios materiais e humanos para conseguir ultimar determinados estudos no mais curto prazo de tempo.

Instituto de Investigação Veterinária

397. O Instituto de Investigação Veterinária de Angola tem produzido trabalho de validade indiscutível, cujos reflexos se patenteiam, em alguns casos de forma exuberante, no fomento da actividade agro-pecuária da província.

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É igualmente notória a transformação que se vem verificando no campo da saúde pública veterinária e no da tecnologia dos produtos e subprodutos de origem animal.

e) Estados de biologia piscatória e pesca experimental

398. O Centro de Estudos Tecnológicos e de Análises do Instituto das Indústrias de Pesca de Angola foi inaugurado em Maio de 1966, com o equipamento requerido e com o pessoal necessário. Foram-lhe fixadas como tarefas principais o aproveitamento do peixe de anhara, a secagem artificial de peixe e o acompanhamento da investigação mundial no que respeita à farinha de peixe para o consumo humano.
Deverá também procurar resolver os problemas específicos da indústria, dando-lhes o apoio técnico necessário.
Instalado em edifício provisoriamente adaptado às necessidades imediatas, foi para ele transferido o pessoal que vinha prestando serviço no Laboratório Regional de Luanda, da Direcção dos Serviços de Veterinária, e que tinha a seu cargo as análises de rotina dos produtos.
No que respeita a Benguela e Moçâmedes, procurar-se-á no ano corrente dotar os respectivos laboratórios regionais, com o equipamento indispensável e recrutar as unidades técnicas necessárias.

399. Pela Portaria n.º 21 916, de 16 de Março de 1966, foram criados o Centro de Biologia Aquática Tropical e o Centro de Bioceanologia e de Pescas do Ultramar - que coordena a acção da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Angola -, os quais substituem, respectivamente, a Missão de Biologia Marítima e o Centro de Biologia Piscatória. Este Centro, que começou a ser dotado com verbas do II Plano de Fomento em 1960, desenvolveu a sua acção no campo da investigação fundamental e aplicada, salientando-se, pela sua importância: o estudo intensivo do método de alagem mecânica de redes de cerco; a prospecção de algas marinhas e estudo ao plâncton da costa de Angola; ensaios de pesca com auxílio de luzes artificiais; prospecção e estudo de métodos de pesca do camarão ao longo da costa de Angola, da lagosta na Baía Farta e da pesca do atum com redes de cerco.
A execução destes estudos é fundamental como ponto de partida de tão necessário fomento da actividade pesqueira da província.
Durante o período de execução do Plano Intercalar foi adquirido o navio bioidrográfico Goa, que se destina a apoiar a investigação a levar a cabo pela Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Angola.

f) Laboratório de Engenharia de Angola

400. A existência do Laboratório de Engenharia de Angola vem tornando possível a diversos organismos responder, com maior eficiência, às solicitações que lhe são feitas, por lhes fornecer os necessários meios científicos de trabalho.
A actuação do Laboratório de Engenharia de Angola tem sido fundamentalmente orientada no âmbito da engenharia civil, dado o enorme incremento do ritmo de construção.
Salienta-se ainda a acção levada a efeito nos campos do conhecimento científico do território (estudo das condições de fundação das principais cidades de Angola, das possibilidades dos solos , principais, estudos de habitabilidade, etc.), da investigação científica (estudo do comportamento físico-químico dos solos argilosos total e parcialmente saturados), da indústria transformadora (de materiais de construção), dos transportes rodoviários, caminhos de ferro, pontes e aeródromos (execução de estudos de base, ensaios de materiais e assistência técnica) e da habitação, onde a colaboração vai do projecto à execução directa (no programa de reordenamento urbano).
O Laboratório de Engenharia de Angola disporá em breve de terreno para as suas instalações, de nove pavilhões, logradouros, postos de transformação e câmaras de saturação. No capítulo de apetrechamento, existe equipamento para ensaios e análises de fundações, estradas e materiais de construção, estruturas, química e geologia.
No campo da investigação, no âmbito da engenharia civil, em Angola a orientação julgada mais conveniente é a de estudar os problemas específicos da província e aplicar os conhecimentos científicos gerais, se se pretender competir na investigação com os grandes centros científicos.

g) Instituto de Investigação Científica

401. Data de 1957 a sua instalação na província. 15 organismo polivalente, distribuindo as suas actividades no campo das ciências biológicas, geográfico-geológicas e humanas.
Foram nele integrados os Museus de Angola e da Huíla, o Arquivo Histórico e a Biblioteca.
Com excepção do edifício de ciências naturais do Museu de Angola, aliás já insuficiente, o Instituto não possui instalações apropriadas às suas necessidades.
O Instituto de Investigação Científica de Angola atingiu já uma projecção relevante, de que são indicadores o volume do seu intercâmbio com instituições nacionais e estrangeiras e os trabalhos já publicados.

h) Instituto de Investigação Médica

402. O Instituto de Investigação Médica de Angola não pôde até agora ainda dispor dos elementos de trabalho necessários à ampla acção que se pretendia, pelo que a sua acção não atinge o desenvolvimento desejável.

i) Estudos de base

403. Nesta rubrica inserem-se, além das operações estatísticas de base e dos investimentos necessários ao equipamento dos serviços de estatística, a realização de estudos económicos com vista à obtenção de elementos essenciais ao planeamento (designadamente o apoio à Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar) e outros no âmbito da Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica de Angola.
Continua a verificar-se a situação menos satisfatória no que se refere à documentação estatística, de modo a permitir alicerçar devidamente os estudos técnico-econó-micos necessários.
A recente integração dos serviços de estatística da província no Serviço Nacional de Estatística contribuirá para resolver estas dificuldades e deficiências.

j) Documentação

404. Existem centros de documentação e informação científicas e técnicas junto dos Institutos de Investigação Agronómica, Científica, Médica e Veterinária e

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do Laboratório de Engenharia de Angola, sendo indispensável coordená-los entre si e com os organismos homólogos de outros territórios nacionais.

2. Objectivos

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

405. Como objectivos para o III Plano enunciaram-se neste aspecto: a conclusão das cartas da província à escala de 1:100 000 e à escala de 1:250 000, com excepção da parte sul do paralelo 12º S. e a leste do meridiano 18º (E. G.), e a construção de cartas parciais de interesse cadastral das áreas da província mais densamente povoadas.
Na vigência do III Plano, procurar-se-á atingir a recolha dos elementos geológicos relativos à prospecção para, pelo menos, 50 por cento do território da província.

b) Estudos sobre hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

406. Há que proceder à conclusão da ocupação hidrológica da província e à intensificação e aumento da densidade de ocupação já existente.

c) Meteorologia

407. Os objectivos fundamentais a visar neste campo são:

Aperto da malha no levantamento geomagnético;
Ampliação do Centro Geofísico de Luanda e da rede de estações solarigráficas e de postos climatológicos; Ampliação e melhoria da rede sinóptica internacional
e do serviço de apoio aos transportes aéreos.

d) Investigação aplicável à agricultura

408. Com vista a uma selecção das áreas ou regiões que mereçam estudos mais pormenorizados, deverão prosseguir os trabalhos no sentido de completar a cobertura pedológica total do território -o que se espera atingir ainda no decurso do III Plano de Fomento -, e a revisão de folhas já publicadas, de forma a conseguir-se a necessária uniformidade de critérios.

e) Instituto de Investigação Agronómica de Angola

409. Criado em 1961, o Instituto iniciou as suas actividades em 1962, segundo um esquema estabelecido de acordo com critérios de prioridade definidos, em função das necessidades mais instantes da agricultura de Angola.
Nesta orientação, as actividades do Instituto desenvolveram-se, com relevância especial, nos âmbitos seguintes:

1) Solos

Cartografia dos solos, estudos da fertilidade, estudos do fósforo, matéria orgânica, azoto e enxofre do solo;
Determinação das disponibilidades hídricas;
Escolha de núcleos de solos com interesse para o povoamento agrário;
Análise bromatológica de forragens.

2) Agronomia

Experimentação na fazenda da Cela;
Estudos de introdução e adaptação de espécies florestais;
Estudos apícolas;
Estudos de forragens e de alimentação de gado bovino;
Melhoramento genético e cultural do cafeeiro;
Ensaios de variedades fruteiras (laranjeiras, bananeiras, etc.).

3) Biologia agrícola

Estudo da fertilidade dos solos;
Cartografia da vegetação;
Melhoramentos do trigo, do milho e da palmeira-do-azeite;
Inventariação das doenças e pragas das principais culturas.

Há, além disso, que salientar a comparticipação em jornadas silvo-agrícolas e em reuniões internacionais.

f) Instituto de Investigação Veterinária

410. O trabalho a realizar por cada um dos departamentos deste Instituto deverá ser orientado fundamentalmente pelos seguintes objectivos:
No campo da patologia, prioridade à produção de imunígeos e de alérgenos e à realização de análises com fins de diagnóstico;
Procurar-se-á pôr a funcionar os laboratórios regionais em regime de pleno trabalho, em íntima ligação com os departamentos centrais de patologia e tecnologia;
Procurar-se-á ainda melhorar as condições de prospecção das diferentes entidades mórbidas grassantes na província, de forma a permitir o estabelecimento da carta nosológica de Angola;
No que respeita à tecnologia, instalar um serviço laboratorial eficaz, com capacidade para apoiar as necessidades crescentes da tecnologia dos produtos de origem animal, e conseguir a sua padronização;
Quanto à zootecnia, intensificar os estudos sobre nutrição animal, dando prioridade à continuação dos trabalhos já em curso nos diferentes estabelecimentos zootécnicos;
Quanto ao sector da fauna selvagem, iniciar prospecções da patologia comparada, em particular, de raiva, febre aftosa catarral maligna, peste suína africana e doenças parasitárias.

g) Estudo de biologia piscatória e pesca experimental

411. Os objectivos da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola podem sintetizar-se, com vista à orientação das expedições de captura, estabelecendo locais e épocas próprias, nos seguintes:

Definição das características e dimensões dos mananciais que constituem as populações existentes;
Determinação do limite de capturas que corresponda à maximização da rentabilidade;
Informação sobre a época de arribação, localização das melhores concentrações de peixe, rumo que seguem, profundidade a que se encontram e volume provável das capturas;
Demarcação de novas áreas de pesca, extensão das actuais e introdução de novos tipos de pesca ainda não explorados;
Melhoramento de eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados localmente.

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h) Laboratório de Engenharia de Angola

412. Os objectivos em vista podem resumir-se do seguinte modo:

Apoio laboratorial às obras de engenharia civil;
Investigação, nomeadamente na geotecnia de estradas e pavimentos, em edifícios e habitações, em obras de retenção de águas.

i) Instituto de Investigação Científica

413. No domínio do III Plano, visa-se a dotação deste Instituto com vista a instalações que permitam o funcionamento e o desenvolvimento convenientes de todos os seus serviços.

j) Instituto de Investigação Médica

414. A linha de rumo fundamental do Instituto deverá ser a de contribuir para o esclarecimento dos problemas médico-sanitários mais prementes, tendo em vista dar sólida base científica à acção de combate a realizar pela Direcção Provincial dos Serviços de Saúde e Assistência .e seus órgãos especializados.

3. Investimentos

a) Cartografia geral, especial e carta geológica

415. Os investimentos incluídos no Plano são os seguintes:
1) Execução das operações de apoio geodésico, topográfico e fotogramétrico e respectivo cálculo. Esta rubrica inclui aquisição de materiais de laboratório e consumo corrente, reparações, subsídios, etc.
2) Equipamento e apetrechamento das brigadas de campo e voo. Esta rubrica inclui a aquisição de um novo avião e respectivo equipamento, sobresselentes, material técnico e de acampamento (telurómetros, equipamento de poligonação, material de sinalização, torres bilby, hélios, etc.) e viaturas.
3) Instalações de gabinete e arquivos fotográficos e de restituição. Entre outro material, será incluído um estereocomparador para triangulação planimétrica em Ecomat II e perfurador de cartões, um coordimat para prospecção automática de pontos com servomotores, ura Ecomat II, contador e registador automático de coordenadas, um Planimat D-1, restituidor de precisão de 2.ª ordem, um Planimat D-LLL e um profilómetro com comando automático para perfis. Inclui ainda a construção de edifícios para instalação das oficinas, depósitos de material de consumo, técnico, fotográfico e cartográfico.
4) Equipamento para desenho, montagem e impressão de folhas. Esta rubrica inclui a aquisição de um restituidor plano para fotografia aérea com foco automático e motor de rotação, uma prensa para impressão por contacto de fotografia aérea e um furador para acerto de películas.

416. Para a realização da carta geológica está previsto o seguinte programa:

Aquisição de aparelhagem de análise físico-química e fotográfica, de amostras geológicas e geoquímicas, de material de acampamento, viaturas, diverso material de campanha e gabinete;
Recrutamento de pelo menos, dois especialistas de
grande experiência; Preparação intensiva de alguns técnicos dos S. G. M.,
mediante cursos ou estágios de aperfeiçoamento 3m
organismos especializados;
Recrutamento de 20 técnicos de formação universitária;
Recrutamento e preparação de 50 auxiliares técnicos
e de 25 auxiliares de gabinete; Recrutamento de motoristas e pessoal jornaleiro.

b) Estudos sobre hidrologia, hidrografia e navegação fluvial

417. Não é possível concretizar desde já os investimentos a realizar no período de 1968-1973. Por isso sã pode indicar apenas uma estimativa de custos.

c) Meteorologia

418. De acordo com os objectivos propostos, há que proceder aos seguintes empreendimentos:

Conclusão do levantamento geomagnético, incluindo trabalhos complementares de gravimetria e de geoelectricidade;
Desenvolvimento do Centro Geofísico de Luanda (em Belas): construção de edificações, arruamân-tos, muro de vedação e arborização do terreno e aquisição e instalação de material para apetrechamento do Centro de Geofísica de Luanda (em Belas) e para ampliação da rede solarigráfica;
Construção de infra-estruturas para instalação de estações meteorológicas (já existentes e a montar) da rede sinóptica internacional; aquisição e instalação de material para ampliação das redes de estabelecimentos meteorológicos, incluindo material para o trabalho de observações de interesse para o Decénio Hidrológico Internacional, e um sistema de telecópia (dois emissores e dois receptores) e meios de telecomunicações para as estações meteorológicas da rede sinóptica internacional; e instalações para o desenvolvimento da rede aerológica - equipamento a adquirir e a instalar em Luanda, Moçâmedes e Luso;
Aquisição e aluguer de material mecanográfico para processamento e cálculo de apuramento;
Estudos hidrometeorológicos e preparação do atlas climo-hidrológico de Angola - encargos com pessoal e material.

d) Investigação aplicável à agricultura Carta geral dos solos

419. Conforme decorre dos objectivos já expressos, a verba a incluir na rubrica «Carta geral dos solos» é destinada a:

Intensificação dos trabalhos a cargo da Missão de Pedologia de Angola e Moçambique, visando a realização da carta dos solos e a revisão das folhas já publicadas;
Estudos de base a cargo do Centro de Estudos de Pedologia Tropical para apoio aos trabalhos de cartografia geral dos solos, incluindo colaboração nos trabalhos de campo e de laboratório.

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Instituto de Investigação Agronómica

420. É o seguinte o programa de empreendimentos para este Instituto:
Instalações. - No grupo «Fertilidade e zonagem», pretende-se proceder à construção de uma bateria de lisímetros, de baterias triplas de evapotranspirómetros, à ampliação do departamento de solos e química e à instalação de parques de meteorologia agrícola.
Está prevista a construção de laboratórios e estufas para o futuro departamento de sanidade vegetal.
No grupo «Melhoramentos», está considerada a construção de um armazém no Centro de Estudos da Chianga e de instalações, em Salazar e Novo Redondo, para os estudos de melhoramentos da palmeira dendém, e, em Oeiras, junto do Centro de Estudos das Ferrugens do Cafeeiro, para o estudo da resistência do cafeeiro ao fungo Colletotrinchum coffeanum.
No grupo «Estudos agronómicos e agro-pecuários», proceder-se-á ao estabelecimento de fazendas experimentais nos distritos de Huambo, Malanje, Huíla e Guando Cubango, à criação de centros de estudos na zona do Cavaco e entre Cafu e Roçadas e a instalações destinadas a um laboratório de tecnologia da madeira.
Apetrechamento. - No grupo «Fertilidade e zonagem», há que adquirir equipamento científico de base destinado às divisões de química e física dos solos, de fitoquímica, de fisiologia vegetal, de climatologia e d I botânica e ecologia.
No grupo «Sanidade vegetal», há que proceder à aquisição de equipamento científico para as divisões de zoologia agrícola e de fitopatologia.
No grupo «Melhoramentos», há que adquirir equipamento científico destinado à divisão de genética e melhoramento.
No grupo «Estudos agronómicos e agro-pecuários», há que proceder à aquisição de material vivo para a divisão de estudos agro-pecuários e à aquisição de equipamento destinado às fazendas experimentais e aos novos e actuais centros de estudos.
No grupo «Estudos florestais, apícolas e piscícolas», haverá que adquirir equipamento científico para o laboratório de tecnologia de madeiras.
Haverá também que adquirir equipamento para a divisão de biometria.

Instituto de Investigação Veterinária

421. Instalações. -O Instituto de Investigação Veterinária de Angola dispõe de instalações de base aptas para conter a maioria dos sectores que tem em funcionamento. No entanto, alguns dos seus departamentos precisam de ser transformados e reinstalados isoladamente. Assim, haverá que proceder à construção de um pavilhão dê zootecnia, de um pavilhão de tecnologia animal, de uma enfermaria e isolamentos, de um pavilhão de anatomia patológica, necropsias e forno crematório, de um pavilhão para a produção da vacina antivariólica humana, de um pavilhão para estudo e combate às doenças produzidas por carraças, de uma instalação para uma central de liofilização, asfaltagem de arruamentos para evitar levantamentos de poeiras, construção de dependências para os laboratórios regionais de Luanda, Benguela e Moçâmedes, adaptação do aviário de Malanje a um centro de estudos dos problemas zootécnicos, transformação do posto de Cavaco num centro de estudos de apoio às regiões de Benguela, Lobito e Catumbela, e pequenas transformações e melhoramentos nas instalações das Estações Zootécnicas Central e do Sul e nos postos zootécnicos de Quilengues, Cunene, Lungo e Caracul.

Apetrechamento. - A maior parte da aparelhagem de laboratório dos departamentos centrais, em virtude dos muitos anos de uso intensivo, precisa de ser substituída por outra mais moderna que permita executar, de forma mais perfeita e com melhor rendimento, os diferentes trabalhos de investigação e de rotina.
Os laboratórios regionais ou estão insuficientemente dotados de material para cobrir a gama de solicitações nos vários ramos da sua esfera de acção ou, nalguns casos, nunca foram apetrechados, por falta de técnicos especializados para o seu funcionamento.
Há, pois, que contar com o apetrechamento dos serviços que se pretende criar e dos que se necessita ampliar.
Há também que dotar o Instituto com um laboratório móvel, com autonomia funcional de pelo menos, uma semana, e com quatro laboratórios móveis ligeiros, com menos exigências técnicas de apetrechamento, para apoiar trabalhos de rotina de prospecção e de ensaios terapêuticos, feitos a partir dos laboratórios centrais e regionais.
Há ainda que dotar cada um dos centros de estudos com, pelo menos, meios de transporte ligeiro e pesado.
Há, finalmente, que substituir maquinaria agrícola há muitos anos em uso nos estabelecimentos zootécnicos.

Apoio à investigação. - Estreitamente ligado ao apoio à investigação está o problema de pessoal. Na verdade, a carência de pessoal qualificado é uma das mais sérias preocupações, não só do Instituto de Investigação Veterinária de Angola, como de todos os outros organismos de investigação. Tais dificuldades poderão ser resolvidas através de:

Recurso a elementos qualificados, nacionais e estrangeiros, convidando-os por espaços de tempo variáveis e remunerando-os condignamente, em troca da elaboração de relatórios ou realização de cursos e conferências de interesse primordial;
Promoção de estágios dos técnicos superiores nos centros de estudos nacionais e estrangeiros, com duração de 2 a 12 meses, para especialização nos assuntos de maior importância e urgência;
Concessão de bolsas de estudo ao pessoal técnico auxiliar mais qualificado e que dê garantias de bom aproveitamento futuro na instituição;
Promoção de colaboração entre os técnicos do Instituto e os da carreira académica universitária na resolução dos problemas que carecem de esclarecimento, considerando estes últimos como colaboradores remunerados;
Abertura de acesso franco aos laboratórios do Instituto de Investigação Veterinária de Angola, aos alunos dos anos mais adiantados do ensino da Medicina Veterinária, de forma a despertar-lhes o interesse pela investigação;
Criação de prémios escolares para alunos do curso superior veterinário e remuneração dos trabalhos com real interesse produzidos na Universidade, sobre o avanço da ciência veterinária, em especial, no âmbito das actividades do Instituto;
Organização de cursos pós-universitários e seminários de especialização, cuidadosamente planificados e tendentes a despertar vocações que possam ser aproveitadas futuramente pelo Instituto.

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e) Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

Instituto das Indústrias da Pesca

422. No seguimento do programa iniciado no decurso do II Plano de Fomento, deverá terminar, durante a vigência do III Plano, o apetrechamento do sector no que respeita ao equipamento para apoio tecnológico do pescado.
Assim, tendo sido inaugurado o centro de estudos tecnológicos e de análises com o equipamento indispensável, logo ficou definida a necessidade de em devido tempo, se instalarem os serviços em edifício próprio. Haverá também que considerar o apetrechamento do laboratório regional de Luanda.
Da mesma maneira, tendo já sido adquirido parte do material necessário aos laboratórios regionais de Benguela e Moçâmedes, haverá que providenciar no sentido de se arranjar instalação adequada em Benguela, já que em Moçâmedes se poderá adaptar uma parte dos armazéns aí construídos para o efeito.

Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola e Centro de Biologia Aquática Tropical

423. Os programas a empreender pela Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pesca de Angola durante o hexénio de 1968-1973 são os seguintes:

Programas de dinâmica das populações (P. D. P.), que visam o estudo das variações dos parâmetros biomótricos das populações exploradas, através da análise bioestatística das capturas, a definição das características e dimensões dos mananciais que constituem as populações existentes e a determinação do limite de capturas que corresponde à maximização de rentabilidade;
Programa de pesca exploratória e experimental (P. P. E. E.), que visa a demarcação de novas áreas de pesca e extensão das actuais;
Programa de bioceanologia de pescas (P. B. P.), que visa a determinação das variações oceanográficas que permitam a previsão das deslocações das frentes térmicas, da formação de demos, de localização de zonas de maior produtividade primária do meio marinho, das épocas e áreas de reprodução, bem como definição dos factores que condicionam a distribuição e concentração dos cardumes e rotas de imigração;
Programa de táctica de pesca (P. T. P.), que tem por objectivo a informação, à indústria respectiva, sobre a época de arribação, localização das melhores concentrações de peixe, rumo que segue, profundidade e provável volume das capturas;
Programa de tecnologia de artes e barcos de pesca (P. T. A. B. P.), que tem em vista melhorar a eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados;
Programas de culturas em áreas protegidas (P. C. A. P.), que visa a propagação de moluscos, crustáceos e peixe em zonas interiores e baías abrigadas.

f) Laboratório de Engenharia de Angola

424. No capítulo «Instalações», há que adquirir uma área de 1,5 ha para ampliação das instalações actuais e construir um pavilhão geral de ensaios mecânicos.
No capítulo «Apetrechamento», há que proceder à substituição de aparelhagem de análise térmica diferencial, ao reforço da aparelhagem de ensaios toraxiais, à aquisição de sondas, etc. Dentro da aparelhagem de grande custo salienta-se: prensa de 500 t para ensaios de elementos de construção, prensa de ensaios dinâmicos, espectrografia de raios X e espectrógrafo da absorção atómica. Haverá ainda que proceder à aquisição de medidores-registadores de tensões e de deformações de pavimentos, medidor-registador de ondulação de pavimentos, aparelhagem física dos solos, etc. Por último, resta considerar a aquisição de viaturas e material de campanhas, sem os quais não se conseguirá manter em funcionamento as brigadas de campo.
Na rubrica «Apoio à investigação», incluem-se estágios, visitas de estudo e doutoramentos de pessoal, vencimentos de pessoal colaborador e eventual, subsídios ou prémios a investigadores e despesas com trabalhos de investigação.

g) Instituto de Investigação Científica

425. Durante o período de execução do III Plano de Fomento pensa-se executar as seguintes obras: sede do Instituto, em Luanda, Centro de Estudos de Sá da Bandeira, Museu da Huíla, Arquivo Histórico de Angola, ampliação do Museu de Angola, com a criação das secções de Ciências Naturais e de Ciências Humanas e Biblioteca Nacional.
Para tal fim, impõe-se a aquisição de material necessário ao funcionamento de alguns dos edifícios mencionados, e para apoio à investigação há que suportar encargos com pessoal, nomeadamente:

Pessoal contratado fora do quadro;
Subsídios a pessoal científico colaborador;
Bolsas de estudo e subsídios de viagem para preparação de pessoal científico e técnico auxiliar;
Colaboração com Universidades na preparação de pessoal.

h) Estudos de base

426. Está prevista durante a vigência do III Plano a realização de operações estatísticas de base e, além disso, proceder aos estudos económicos indispensáveis aos ajustamentos anuais que certamente serão feitos àquele Plano, bem como à sua revisão trienal e ao arranque dos estudos de desenvolvimento regional indispensáveis a uma programação.
Igualmente se prevê o apoio que será necessário dar à Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica da província e impõe-se também completar e desenvolver os estudos sobre a contabilidade económica da província, que têm vindo a ser efectuados pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar.
No âmbito dos estudos de carácter social, proceder-se-á à realização de inquéritos e estudos, nomeadamente nos sectores do desemprego, subemprego, trabalho especializado, trabalho rural e mercado de trabalho e política de mão-de-obra, do planeamento da instalação de novos povoadores, do ordenamento agrário e da promoção económico-social das populações rurais já instaladas.

i) Documentação científica

427. As complexas funções de um centro de documentação exigem instalações com dimensão adequada, concentradas de modo a permitir a eficiência funcional, e que deverão obedecer a determinados requisitos de construção, garantindo a segurança e boa conservação do património que encerram.
Por outro lado, torna-se necessário prever o reforço das verbas destinadas à manutenção dos centros de documentação já existentes.

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Educação e investigação

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Saúde

428. À. excepção da assistência médica dispensada pelas empresas aos trabalhadores e seus familiares, pelos sindicatos e organismos autónomos aos seus associados e empregados e pelas missões religiosas nas suas áreas de influência, toda a restante assistência curativa e preventiva cabe aos Serviços de Saúde e Assistência da província, cuja orgânica foi profundamente remodelada em 1964, desde os quadros orgânicos à criação de novos serviços.
Para este efeito, está o território dividido em delegacias de saúde, correspondentes, na generalidade, aos concelhos e circunscrições administrativas, agrupadas em distritos sanitários coincidentes com os distritos administrativos. Por sua vez, as delegacias de saúde integram um certo número de postos sanitários, correspondentes também em regra aos postos administrativos.
Funcionam ainda, em certas regedorias ordenadas, postos sanitários, de assistência rural, a cargo de agentes sanitários de assistência rural, orientados sobretudo para as práticas de medicina preventiva.

429. Dos serviços especializados estão em funcionamento a Missão de Combate às Tripanossomíases e os Serviços de Combate à Tuberculose e à Lepra.

430. A assistência médica é assegurada, através de hospitais centrais, regionais, sub-regionais e rurais, a toda a população da província. Nas formações sanitárias periféricas - hospitais rurais e postos sanitários -, à medicina curativa alia-se á medicina preventiva.
Ao nível distrital, muito embora sob chefia única - chefe da Repartição Distrital de Saúde e Assistência -, já se verifica uma distinção nítida entre os organismos destinados à assistência clínica - hospitais regionais ou centrais - e aqueles através dos quais, se processam as actividades de natureza preventiva, constituídos pelas delegacias de saúde e pelas brigadas ou serviços que nelas se apoiam.
No quadro seguinte verifica-se ter havido um aumento de dez delegacias de saúde entre 1962 e 1966.

Divisão sanitária em 1962 e 1966

[Ver tabela na imagem]

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431. Por sua vez, as instalações sanitárias evoluíram entre os anos de 1962 e 1965, de acordo com o quadro seguinte:

Instalações sanitárias do Estado

[Ver tabela na imagem]

(a) Hospitais Centrais de Nova Lisboa e Luanda, sendo este constituído pelos Hospitais de D. Maria Pia e de S. Paulo.

Sendo o hospital rural a instalação tipo de delegacia de saúde, não há coincidência entre os respectivos números porque as delegacias de saúde das sedes dos distritos e de alguns aglomerados urbanos mais importantes (Lobito) têm instalações adequadas apenas ao exercício das práticas de saúde pública.
Algumas das delegacias de saúde rurais ainda não dispõem, de instalações próprias que possam ser classificadas como hospitais- rurais. As dotações orçamentais e os meios, do III Plano de Fomento permitirão, .até ao fim. do sexénio, que todas as delegacias de saúde rurais fiquem dispondo das instalações necessárias.
No número de maternidades indicadas estão incluídas, não só as maternidades instaladas em edifícios próprios, como também os pavilhões a tal fim destinados nos hospitais regionais, sub-regionais e rurais.

432. Ao conjunto dos estabelecimentos assistenciais do Estado há que adicionar os do sector privado, a cargo das missões religiosas, das empresas particulares, destinados aos seus trabalhadores e familiares, e ainda dos sindicatos e outras associações de classe, para os seus associados.
No quadro seguinte discriminam-se as várias categorias das instalações existentes e o seu número:

Estabelecimentos de assistência do sector privado

1965

[Ver tabela na imagem]

Quanto ao número de leitos oferecidos, o sector privado não só dispõe de um maior número em valor absoluto, como a sua evolução se tem processado a um ritmo maior do que o do sector público:

Número de leitos hospitalares

[Ver tabela na imagem]

433. Considerando, no seu conjunto, o número de leitos hospitalares do sector público e do sector privado, dispunha a província em 1964 de 11 943 leitos hospitalares, ou sejam 2,34 leitos por 1.000 habitantes. Com as construções e ampliações em curso e com as que se prevêem no III Plano de Fomento, apenas no sector público deverá atingir-se no fim do hexénio uma percentagem de 3 leitos por 1000 habitantes, média considerada como suficiente pela comissão de peritos da Organização Mundial, da Saúde.

434. A análise dos elementos sobre a nosonecrologia do território põe bem em evidência:

1.º A grande predominância das doenças, infecciosas e parasitárias, que constituem ura quarto de todas as causas mórbidas registadas;
2.º Que a mortalidade é devida, sobretudo, a estas doenças, às do aparelho digestivo (em especial diarreia infantil) e a outras causas mal definidas. No seu Conjunto, constituem mais de três quartos das causas de morte.

Os elementos estatísticos relativos às causas das doenças não caracterizam completamente a situação sanitária dos territórios porque pecam bastante por defeito.
Finalmente, devem referir-se as situações- que felizmente não se registam, mas que podem constituir perigo para o território - é o caso da peste ao sul, da varíola ao norte e a leste e da bilharziose manzoni a leste e a sul.
A tripanossomíase constitui outro caso deste tipo, que se diferencia, dos anteriores por já ter sido reduzida ao nível de controle no seio do próprio território.

435. Sob o ponto de vista nutricial, os elementos colhidos de 1957 a 1961 põem em evidência que, de um modo geral, a alimentação angolana é suficiente em calorias e ferro, mas insuficiente em cálcio. Quanto aos restantes nutrientes, as carências e suficiências dispersam-se em zonas, algumas vezes bastante irregulares.
As proteínas animais abundam em toda a zona litoral e nas zonas de pesca marítima; são suficientes nas zonas pastoris do Sul; escasseiam na quase totalidade dos planaltos centrais, com excepção de zonas muito circunscritas, ricas em espécies piscícolas de água doce.

436. A montagem de um departamento especializado para diagnóstico e tratamento precoce do cancro justifica-se em Angola não só porque a afecção, apresenta incidência crescente no território, mas também porque a falta de recursos locais apropriados força a enviar para fora da província uma grande parte de indivíduos, o que, para os económicamente débeis, cria problemas de solução difícil.

437. Além da actividade dos serviços de saúde no campo da medicina curativa, importa assinalar a sua acção no domínio da medicina preventiva. Esta respeita particularmente aos serviços autónomos especializados (combate à tuberculose, combate à lepra e combate às tripanossomíases) e aos que actuam no âmbito especializado, como a assistência materno-infantil. Importa também assinalar a actividade preventiva que decorre nas delegacias de saúde, que, embora atendam também doentes, têm uma acção especialmente orientada para as funções administrativa e preventiva.

2. Assistência

438. A assistência, social desenvolve-se pela actuação dos Serviços de Saúde e Assistência e do Instituto de Assistência Social.

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O Instituto de Assistência Social corresponde à concentração, num só organismo, daquelas actividades, que, na metrópole, se dividem pelo Instituto de Assistência à Família, pelo Instituto de Assistência aos Menores e pelo Instituto de Assistência aos Inválidos.
A assistência materno-infantil está essencialmente confiada a estabelecimentos dos próprios Serviços de Saúde e Assistência.
Projecta-se, para breve, a instalação de um serviço especializado de medicina física e de reabilitação de diminuídos físicos e senhoriais.
A panorâmica dos estabelecimentos assistenciais hoje integrados no Instituto de Assistência Social do. Angola, ou dele dependentes, é a seguinte:

a) Assistência na invalidez: Beiral de Luanda, Hospício do Cacuaco, Beiral de Benguela, Beiral do Lobito, Hospício de S. Filipe, Mansão dos Velhos Colonos, Hospício do Canga-lo, Beiral de Novo Redondo, Obra de Assistência a Inválidos e Indigentes de Novo Redondo, Beiral de Nova Lisboa, Beiral de Sá da Bandeira, Beiral de Malanje, Beiral de Moçâmedes, Beiral do Luso e Beiral de Carmona.
Esta utensilagem respeita a dez distritos, sendo de registar que no do Zaire, onde não existem, estabelecimentos desta natureza, a missão católica masculina sustenta um pequeno internato para velhos o inválidos e que a missão católica feminina, apoiada pelo Instituto de Assistência Social de Angola, alimenta um núcleo de anciãs sem recursos.
b) Assistência a menores: Casa Pia de Luanda e Casa dos Rapazes da Muíla (para indivíduos do sexo masculino), Instituto Feminino de D. Fernanda Silva Carvalho e Instituto de Artur de Paiva (para raparigas).
c) Assistência à criança: duas creches e três jardins infantis, em Luanda; «Ninho dos Pequeninos» no Bié, em Malanje e em Carmona; creche em Moçâmedes, e creches e jardim infantil em S. Salvador.
d) Assistência pós-escolar a raparigas: Lar das Raparigas, em Sá da Bandeira.
Além disto, o Instituto de Assistência Social de Angola apoia financeiramente muitas outras instituições assistenciais particulares.

2. Objectivos

1. Saúde

439. Julga-se dever dar prioridade, nas actividades a desenvolver no domínio do III Plano de Fomento, às campanhas sanitárias contra as endemias reinantes, quer pela dinamização dos serviços especializados já existentes e extensão da sua acção, quer pela criação de novos serviços já previstos e pela constituição de brigadas ou grupos móveis para o combate de outras endemias que constituem ameaça permanente ao território.
Haverá que promover não só o espessamento da rede sanitária da província, com a criação de novas delegacias de saúde e postos sanitários, mas também a construção e equipamento das instalações. Assim, será considerada a construção de novos dispensários antituberculosos, de assistência materno-infantil, e nas zonas suburbanas de algumas cidades serão construídos dispensários polivalentes em coordenação com o seu reordenamento urbano, com a dupla finalidade de prestação de cuidados médicos e aplicação das várias técnicas da medicina preventiva.
Por outro lado, haverá que oferecer maior número de leitos hospitalares e elevar o nível técnico e funcional dos estabelecimentos existentes. Atingir o nível de três leitos por 1000 habitantes, que a Organização Mundial de Saúde preconiza, será a meta que se propõe atingir até 1973.
Na sequência das obras de construção previstas, necessário se torna também o respectivo apetrechamento.
A falta de pessoal, constitui um problema de cuja solução depende a exequibilidade do Plano, e que, portanto, terá de ser objecto de medidas adequadas.
Resumindo: poder-se-ão sintetizar os principais objectivos a atingir pela execução dos projectos a incluir no [H Plano de Fomento, como se segue:

1.º Intensificação da luta contra as endemias reinantes de maior incidência na morbilidade e mortalidade da província, através de campanhas sanitárias a lançar nas áreas rurais e urbanas ordenadas ;
2.º Extensão e dinamização dos serviços especializados existentes, de maneira a cobrir-se, dentro dos seus planos de acção, todas as áreas da província de população estável, ou, pelo menos, aquelas em que se verifique uma maior incidência da doença;
3.º Intensificação da assistência materno-infantil com base nos dispensários e maternidades existentes e a construir;
4.º Estruturação e dinamização do serviço de saúde mental;
5.º Completamente da cobertura hospitalar da província do sector público, pela construção de novas instalações e ampliação das existentes, até se atingir, com a adição do sector privado, uma média de três leitos hospitalares por 1000 habitantes;
6.º Equipar e apetrechai1 as instalações hospitalares existentes e a construir;
7.º Promover a formação, especialização e .recrutamento do pessoal técnico dos vários níveis, sem o que nenhum dos projectos enunciados será exequível;
8.º Dotar as formações sanitárias e os serviços especializados com meios de deslocação rápidos.

2. Assistência

440. Os objectivos a atingir dentro da vigência do III Plano de Fomento são:

1.º Generalização dos centros coordenadores de assistência aos principais centros urbanos e intensificação da actividade já desenvolvida pelos centros existentes;
2.º Evolução dos beirais para centros multivalentes de assistência social.
Os centros coordenadores de assistência são serviços de assistência polivalentes mantidos pelo Instituto de Assistência Social de Angola, cuja acção se tem feito sentir junto das populações da cidade de Luanda, funcionando já três centros para os bairros excêntricos e populosos de S. Paulo (n.º 1), Sambizanga-Lixeira e Mota (n.º 2) e Cazenga (n.º 3), estando em plena actividade de formação o do bairro Prenda.

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Para o III Plano está previsto que seja intensificada a acção assinalada aos ditos centros, visando os seguintes objectivos:

Triagem das carências sociais e resolução dos problemas de assistência social, individual ou familiar;
Protecção à criança, através de assistência e actividades educativas adequadas;
Educação da mulher, da rapariga, de jovens e adultos e ainda actividades com interesse para a sua formação;
Intensificação do convívio entre os vários grupos constitutivos da população.

Os beirais são, não só estabelecimentos de internamento, mas também elementos mui a vai entes funcionais de assistência.
Esta polivalência tem de acentuar-se nos aspectos de acção complementar da assistência sanitária (agasalho de indivíduos que buscam a consulta hospitalar ou que recebem alta nos hospitais), de descentralização da assistência sanitária (abarcando postos destinados às populações carecidas), de apoio às instituições de assistência não oficial (possibilidades de eliminação da multiplicidade de cozinhas e de maior colaboração no sentido de economizar recursos).

3. Investimentos

441. Os investimentos previstos são os seguintes:

1. Saúde

1. Construção e equipamento

Conclusão de obras em curso

De entre as obras iniciadas, ou a iniciar, no domínio do Plano Intercalar, julga-se que transitarão para o domínio do III Plano de Fomento as seguintes:

a) Lar para enfermeiras, em Luanda, com conclusão prevista para 1968;
b) Maternidade de Luanda, cuja conclusão se prevê para 1969;
c) Hospital-Sanatório de Luanda, cuja conclusão se prevê para 1968;
d) Hospital Central de Sá da Bandeira, cuja construção se deverá estender até 1970;
c) Depósito central de medicamentos e laboratório farmacotécnico, que só deve ficar concluído em 1968;
f) Prevê-se ainda necessário assegurar, em 1968, os meios necessários para a conclusão de hospitais rurais, postos sanitários e obras complementares em outras instalações.

Obras novas

442. Dentro do critério de dar prioridade às campanhas de saúde pública, houve que programar a construção de instalações destinadas ao seu apoio logístico e a construção de algumas instalações hospitalares de necessidade premente. Por outro lado, há que fazer um sério esforço no sentido de dotar as formações sanitárias existentes, sobretudo nas áreas rurais, de residências para o pessoal médico, de enfermagem e auxiliar que nelas trabalha, como meio de atracção das respectivas carreiras profissionais, para as quais cada vez há menos candidatos. E de notar que a maior parte das obras agora propostas já o haviam sido para o Plano Intercalar, não tendo sido realizadas por insuficiência de recursos, o que mais evidencia a sua necessidade.
São os seguintes os programas das obras novas a considerar durante o sexénio:

a) Dispensários antituberculosos de Luso e Carmona, necessários para a assistência ambulatória e para apoio as campanhas de vacinação e radiorrastreio;
b) Enfermarias-abrigo para tuberculosos em Nova Lisboa e Malanje, com. capacidade, respectivamente, de 20U e 100 camas, que proporcionarão a hospitalização dos casos contagiosos;
c) Dispensários de assistência materno-infantil em Malanje e Silva Porto;
d) Maternidades em Nova Lisboa, Cabinda, Henrique de Carvalho, Malanje e Moçâmedes, uma vez que os respectivos hospitais apresentam condições muito precárias; a de Nova Lisboa deverá ter capacidade para 100 camas, as de Malanje e Moçâmedes, capacidade para 50 camas e as restantes capacidade para 80 camas;
e) Dispensário de higiene mental em Nova Lisboa, o que permitirá um começo de descentralização da assistência psiquiátrica;
f) Pavilhão hospitalar para doentes mentais de ambos os sexos em Nova Lisboa, complemento indispensável do dispensário de higiene mental;
g) Dispensários polivalentes em Luanda, Nova Lisboa, Benguela, Lobito, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Malanje, relacionando-se a sua localização nestas cidades com os projectos de reordenamento urbano: serão unidades indispensáveis, particularmente nas cidades de maior densidade populacional, como extensão da assistência dispensada nas consultas externas dos hospitais e do apoio às campanhas sanitárias a conduzir pelas delegacias de saúde;
h) Edifícios para a instalação das delegacias das sedes de distrito e das repartições distritais de saúde e assistência nas cidades de Luso, Benguela, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Nova Lisboa, Silva Porto e Novo Redondo; tais instalações, com o seu parque sanitário e oficinas anexas destinadas à conservação do material utilizado, servirão igualmente de apoio logístico às campanhas sanitárias de âmbito distrital ;
i) Hospital pediátrico em Luanda, com vista à resolução do problema da hospitalização de crianças;
j) Construção de hospitais rurais em Santo António do Zaire, Negage, Caombo, Forte República, Cassongue, Norton de Matos, Caluquembe, Artur de Paiva, Vila Nova e Nova Sintra; embora não fiquem ainda dotados de instalações adequadas todas as delegacias de saúde - o hospital rural é a instalação tipo .de delegacia-, as que se incluem, são as de necessidade mais premente;
l) Construção de postos sanitários rurais e outras instalações sanitárias, segundo programas anuais a estabelecer, impostos pela necessidade de se ampliar a rede de postos sanitários rurais, tendo por vezes anexas pequenas enfermarias e maternidades rurais e, bem assim, construções de outros tipos destinadas a servirem de base logística às campanhas sanitárias previstas;

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m) Hospital regional de Benguela: as instalações existentes, já muito antigas, não consentem qualquer beneficiação ou ampliação económicamente viável, pelo que se entendeu optar pela construção, em 1977, de um novo hospital com a capacidade de 250 camas e serviços das especialidades;
n) Residências para o pessoal médico, de enfermagem e técnico auxiliar.

Ampliação e remodelação de instalações hospitalares

443:

a) Ampliação e remodelação do Hospital Central de Maria Pia: com quase 100 anos de existência, carece urgentemente aquele hospital de ser ampliado e remodelado de acordo com a sua condição de hospital central da capital da província;
Na alternativa de após os estudos em curso, se optar pela manutenção do Hospital de Maria Pia na sua forma actual e consequente construção de um outro hospital com uma capacidade de 400 a 500 camas, poder-se-á utilizar, para esse efeito, com os reajustamentos necessários, o investimento que se prevê para a sua ampliação;
b) Ampliação e remodelação dos hospitais regionais de Malanje, Henrique de Carvalho, Luso, Carmona, Moçâmedes e Cabinda e sub-regional da Gabela; para o de Malanje prevê-se a construção de um novo corpo no seu topo nascente, para instalação das consultas externas, banco de urgência, serviço de radiologia e agentes físicos, bloco operatório, farmácia, laboratório de análises clínicas e centro de hemoterapia; para os do Luso, Carmona, Moçâmedes e Cabinda prevê-se a construção de pavilhões para internamento de infecto-contagiosos; para o de Henrique de Carvalho será construído um pavilhão destinado ao serviço de radiologia e agentes físicos; para o da Gabela haverá que proceder a profundas alterações de modo a torná-lo funcionalmente aceitável;
c) Ampliação de hospitais rurais e postos sanitários: há necessidade de ampliar os hospitais de Vila Roçadas, João de Almeida, Vila Arriaga, Paiva Couceiro, Cacuso e Golungo Alto. Por outro lado, há necessidade de ampliar com enfermarias alguns dos postos sanitários existentes.

2. Campanhas sanitárias

Extensão do combate à tuberculose

444. Os serviços actualmente prestados são-no ainda em zonas muito limitadas e têm-se caracterizado pela sua acção fixa. Por isso pretende-se:

Dinamização dos serviços através de brigadas móveis de vacinação pelo B. C. G. e do radiorrastreio;
Criação de formações fixas ao nível de distritos, segundo uma ordem de prioridade definida pela estratégia da implantação e pela grandeza das taxas distritais de incidência e mortalidade por tuberculose;
Extensão do esquema assistencial a toda a população acessível;
Prospecção da tuberculose, que necessita ser complementada por instalações de internamento e esquemas de tratamento ambulatório, do que resulta a necessidade de instalações sanatoriais para os casos recuperáveis, e do tipo enfermaria-hospício para os irrecuperáveis.

Será, portanto, necessário, para este conjunto de actividades, proceder à construção de instalações adequadas e ao seu equipamento, à aquisição de aparelhagem técnica, ao recrutamento de pessoal, etc.

Extensão do combate à lepra

445. Existem serviços de combate à lepra organizados desde 1960, embora de acção ainda limitada a uma parte do território.
O tratamento faz-se quer nas formações sanitárias da rede geral, quer por circuitos móveis, mantendo-se assim o doente vigiado e tratado rio seu meio familiar e social. Adopta-se a forma de concentrar os doentes (em aldeias ou hospitais-granja), de modo a torná-los acessíveis a uma terapêutica e vigilância regulares.
O programa a desenvolver consiste em estender esta acção a todo o território provincial, em fases sucessivas, de que as primeiras serão iniciadas ainda dentro do Plano Intercalar.
Deste modo, atendendo às limitações impostas pelas disponibilidades de pessoal especializado, particularmente de nível superior, consideram-se, de início, três centros, que atingirão não só os distritos onde se localizam, mas também os limítrofes mais próximos: Luanda (Cuanza Norte, Uíge, Zaire, Malanje, Lunda e Cabinda), Nova Lisboa (Huambo, Moxico, Benguela, Cuanza Sul e Bié) e Sá da Bandeira (Huíla, Cuando Cubango e Moçâmedes). O esquema previsto assentará essencialmente numa acção móvel através de brigadas de prospecção e circuitos de tratamento e vigilância, actividades terapêuticas nas formações sanitárias da rede geral e em concentrações estratégicas de doentes.

Combate às tripanossomíases

446. Entre as actividades sanitárias de âmbito preventivo, o combate às tripanossomíases humanas ocupa lugar de prioridade.
No Norte tem sido utilizada a prospecção sistemática e em profundidade dos casos, o seu tratamento e aplicação, em profundidade também, da quimioprofilaxia pela pentamidina. Haverá, pois, que dar especial atenção à prospecção e quimioprofilaxia nos moldes em que vêm sendo efectuadas, a fim de que se não venham a perder os resultados já obtidos. Para isso, conta-se com parte das verbas inscritas nas rubricas «Construção e equipamento» e «Pessoal».
Por outro lado, o combate ao insecto vector começou a ser encarado, mais recentemente, em zonas limitadas do Centro e Sudoeste da província.
Há possibilidade, pela derruba florestal planificada, de deter a progressão da mosca ao longo dos vales dos rios Cubango e Cuito, em largas zonas do Sudoeste angolano. Será também necessário proceder-se ao estudo destas zonas sob o ponto de vista entomológico, no sentido de se estabelecerem indicações precisas de actuação.
Em consequência, será necessário o recrutamento de pessoal especializado, sobretudo técnicos de entomologia, a preparação do que for possível e o equipamento e apetrechamento das estruturas básicas de apoio.

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Combate ao paludismo

447. Esta endemia merece saliência especial, não só pela sua relevante importância, como pela dificuldade da sua erradicação, mercê da extensão do território e da distribuição frequentemente instável da população.
As armas a usar serão a aplicação de insecticidas de acção residual, a quimioprofilaxia em massa e as campanhas antimosquito, a empregar simultaneamente em todos os pontos onde for possível chegar. As fases em que se prevê processar o programa de combate ao paludismo em Angola podem resumir-se como segue:

Elaboração do cadastro provincial dos aglomerados onde é possível fazer luta antimalária;
Preparação das unidades de infra-estruturas, agentes sanitários de assistência rural, agentes polivalentes urbanos, agentes de combate ao paludismo. microscopistas, etc., e estrutura intermediária (inspectores sanitários e inspectores de malariologia);
Estudo malariométrico preliminar;
Montagem da logística de apoio (viaturas, pulverizadores, insecticidas, material de laboratório, etc.);
Regulamentação funcional;
Elaboração de planos zonais de actuação em pormenor;
Execução.

3. Assistência materno-infantil

448. É esta uma das actividades da saúde pública onde mais influem factores circunstanciais do meio, e de tal modo que leva os peritos a desaconselhar a criação de serviços especializados neste campo enquanto os territórios não estiverem desembaraçados das grandes doenças transmissíveis - paludismo, verminose, tuberculose, etc.
Pensa-se que o programa deverá atender, numa 1.º fase, sobretudo ao problema das maternidades urbanas e rurais, seu apetrechamento, provimento em pessoal e accionamento, sem perder de vista a necessidade de uma acção educativa nos meios menos evoluídos.
Reconhece-se, todavia, que em alguns centros urbanos será útil o funcionamento de instituições especialmente adaptadas à modalidade preventiva (centros materno-infantis).
Por outro lado, entre os centros existentes alguns há que funcionam de maneira pouco satisfatória, em virtude de deficiências de instalações, havendo, por conseguinte, todo o interesse em ampliá-los e adaptá-los melhor à função a que se destinam. Está neste caso, por exemplo, o centro do Luso.
Assim, nestes centros, nos dispensários polivalentes, nas formações sanitárias da rede geral, nas próprias maternidades e nos postos de assistência rural, se completará a 1.ª fase desta modalidade de assistência, à qual, por enquanto, não parece indicado dar maior amplitude.

Higiene rural

449. A promoção da higiene rural implica a utilização de uma larga gama de medidas, nomeadamente o saneamento do meio, profilaxia (vacinas, aplicação de insecticidas, isolamento e vigilância sanitária, etc.), educação sanitária (motivação, aconselhamento, repartição, etc.), produção alimentar orientada (culturas específicas, horticultura, piscicultura, etc.).
Não parece ser possível atingir estes fins sem unidades de infra-estruturas especialmente preparadas para exercer funções pela sua natureza incorporadas na vida comunal.
Os Serviços de Saúde e Assistência prepararam e apetrecharam, em 1963, 167 unidades deste tipo, que foram designadas como agentes sanitários de assistência rural.
Contudo, a experiência veio demonstrar que os agentes não seriam eficazes se não tivessem uma supervisão e apoio logístico através de uma estrutura intermediária conveniente (enfermeiros gerais, enfermeiros de saúde pública, inspectores sanitários).
Nos aglomerados rurais maiores torna-se necessária uma unidade mais evoluída, como o enfermeiro de saúde pública.

Higiene urbana

450. A indisciplina urbanística dos bairros periféricos das cidades maiores, com deficientes condições, constituem um cinturão de salubridade insatisfatória, sem a supressão do qual as condições sanitárias das próprias cidades não poderão melhorar.
A capacidade de atendimento de doentes pelos hospitais urbanos será sempre ultrapassada, como está acontecendo já, a despeito de sucessivas ampliações, se não for possível disciplinar o crescimento dos aglomerados perturba-nos.
Daqui a grande importância dos empreendimentos no âmbito da habitação e urbanização, aos quais se pretende prestar todo o possível apoio através do dispensário polivalente, unidade mista de medicina curativa e preventiva. Neles serão os enfermos atendidos em primeiro escalão, enviando-se aos hospitais sómente os que necessitem de exames complementares ou de internamento. Daqui também irradiarão todas as actividades de saúde pública (assistência materno-infantil, educação sanitária, etc.), que constituem a medicina preventiva e social. A limitada área geográfica e humana de actuação descongestionará os serviços dos hospitais e delegacias urbanas.

Saúde escolar

451. A protecção da população das escolas não será totalmente eficiente enquanto o escolar não encontrar no meio onde vive a maior parte do dia as condições que lhe permitam colher o benefício daquela actividade. E, ocupando este grupo populacional situação de relevo, imperativo se torna dedicar-lhe especial atenção.
Dada a dificuldade de dispor de todos os meios necessários para uma cobertura integral, considera-se preferível iniciar a actuação neste campo por um esforço concentrado nos principais centros urbanos. Prevê-se, pois, por ordem de prioridade, a extensão de actividades às cidades de Luanda, Benguela, Sá da Bandeira, Nova Lisboa, Moçâmedes e Malanje.

Saúde mental

452. A natureza dos problemas de saúde mental implica que consideremos, em sucessivos escalões, a profilaxia, o atendimento dos doentes clinicamente recuperáveis e os cuidados a dispensar aos irrecuperáveis. Em grande parte, foi a não consideração da primeira e terceira situações que progressivamente tem levado as instalações de Luanda, e que são as únicas da província, à saturação.
Embora se não possa pensar em cobrir a totalidade do território, será de toda a conveniência descentralizar esta modalidade de assistência, pelo que se pensa, de início, também em Nova Lisboa.

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Nesta conformidade, além das realizações já incluídas em «Construção e equipamento», consideram-se ainda necessárias:

Ampliação das instalações de doentes recuperáveis, em Luanda;
Construção e instalação de uma colónia para psicopatas clinicamente irrecuperáveis, em Luanda;
Instalação de uma colónia de ergoterapia para recuperação, em Luanda.

4. Preparação, actualização e aperfeiçoamento de pessoal

453. Este é o capítulo que mais influência terá no sucesso de todos os restantes. Na verdade, muito pouco poderá ser feito sem a existência, em número suficiente, de pessoal devidamente habilitado.
Os quadros actuais são exíguos, mas, mesmo assim, sempre com vagas, principalmente nos; lugares que exigem maiores habilitações profissionais e literárias; há falta de candidatos nas novas carreiras profissionais.
As soluções possíveis para o provimento dos quadros seriam: o aumento de remunerações, quer por reclassificação ou pagamento de horas extraordinárias, quer ainda por gratificações ou aumento da comparticipação nos honorários por serviços prestados aos doentes particulares; uma maior propaganda antecedendo o recrutamento; aprovação para o recrutamento do pessoal superior simultaneamente na metrópole e na província; garantia de direito a habitação gratuita ou de renda simbólica e de possível estabilidade nas colocações; e, finalmente, concessão de bolsas de estudo para formação profissional nos ramos em que se verifique carência.
Mas, mesmo conseguindo-se o preenchimento da totalidade das vagas, seria ainda insuficiente o pessoal, pelo que haveria que proceder-se ao alargamento dos quadros existentes. Este alargamento poderia conseguir-se:

Pelo aumento das dotações do orçamento ordinário;
Pela inscrição de uma verba global do III Plano de Fomento que permita, a título transitório, o recrutamento além dos quadros das unidades de pessoal indispensável;
Pela inscrição de uma verba anual, em cada ano da vigência do Plano de Fomento, para formação, especialização e cursos da actualização para o pessoal existente ou a admitir.

454. Para além das dificuldades sentidas, não apenas em Angola, mas, de um modo geral, em todo o mundo, em matéria de recrutamento de pessoal médico e paramédico, e cuja solução se terá de pôr em plano de acção ultrapassando o âmbito específico deste sector, há que considerar os investimentos necessários para garantir a preparação do pessoal paramédico exigido pela expansão dos serviços e a actualização e aperfeiçoamento do pessoal dos vários escalões, através de bolsas de estudo, de estágios, de cursos, etc.

2. Assistência

1. Centros coordenadores de assistência

455. Integrando trabalhadores sociais qualificados e ainda apoiados por estagiários do Instituto de Educação e Serviço Social de Pio XII, estes centros multifuncionais de assistência directa e de promoção social constituem eficientes instrumentos de descentralização da assistência social.
Os centros penetraram nos meios modestos e «abriram» populações para uma colaboração confiante e interessada, entregando-se ao Instituto de Assistência Social a tarefa de apoio caracterizadamente assistencial. Paralelamente, fizeram-se funcionar actividades recreativas com crianças das escolas (fora dos períodos escolares), manifestações práticas de interesse social dirigidas às massas, «salas de estudo», cursos intensivos de preparação doméstica, manifestações lúdicas para jovens e reuniões do convivência para adultos.
É dentro desta estrutura que se justifica a criação de novos centros em todas as outras capitais de distrito.

2. Evolução dos beirais para centros multifuncionais de assistência social

456. De certo modo, os estabelecimentos de internamento destinados à invalidez melhor ficariam entregues à assistência de natureza não oficial, embora subsidiados, quando necessário. Os beirais deverão rumar para uma função social mais dinâmica, sobretudo tendo em conta a necessidade de apoio aos estabelecimentos de assistência sanitária e às instituições de assistência não oficial (confecção de refeições, por exemplo), sem prejuízo de um mínimo de internamentos acidentais e passageiros.
Dentro desta linha de orientação, há a intenção de contemplar os seguintes beirais: Benguela, Lobito, Novo Redondo, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Moçâmedes, Luso, Carmona, Bié, e a Obra de Assistência aos Indigentes em Novo Redondo.

Saúde e assistência

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

V

Moçambique

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e
perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. A população de Moçambique era em 1960 de 6 593 000 habitantes, de acordo com os resultados provisórios do Recenseamento Geral da População. Estima-se para o fim de 1966 a população em 7 250 000 habitantes, o que, considerando a área de 778 000 km2, corresponde a uma densidade populacional de 9,3 habitantes por quilómetro quadrado. Esta densidade, baixa, como em todos os territórios da África intertropical, é, todavia, superior à média registada na África oriental.

2. Como em todos os territórios com características semelhantes, a província revela uma estrutura económica dualista, com largos estratos da população vivendo em fracas relações com a economia monetária ou mantendo com ela relações de carácter intermitente.

3. As características essenciais da economia podem ainda ser inferidas do facto de 88 por cento da população activa residente estar adstrita a actividades do sector primário, contra 3 por cento na indústria transformadora e electricidade e 9 por cento nos restantes sectores. O grau de industrialização é assim baixo, como pode ainda ser aferido pela contribuição da indústria transformadora para o produto interno bruto da província (integrando neste os circuitos não monetários).

4. O nível de poder de compra da população, aliado à ainda incompleta integração económica interna - por sua vez radicada no dualismo económico apontado e na insuficiência dos meios do transporte -, dá origem a um mercado interno de dimensões reduzidas com as consequentes implicações para a escala a que se realizam as actividades económicas e, particularmente, para as possibilidades de desenvolvimento da indústria transformadora e dos serviços.

5. A importância do sector externo na economia pode ser medida pela participação das exportações e das importações de bens e serviços no produto interno bruto, que foi, em 1962, respectivamente, de 22 e 24 por cento.
A balança comercial é ainda deficitária, tendo sido o coeficiente de cobertura das importações pelas exportações de apenas 62 por cento em 1965. O excedente da

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balança de invisíveis compensa, em grande parte, o déficit das trocas, devido especialmente ao movimento de trânsito com os territórios vizinhos.

6. O sector primário caracteriza-se pela existência do dualismo económico já assinalado: uma maioria da população em sistema de transição e uma minoria em sistema de economia de mercado. A este propósito pode indicar-se que o valor relativo do autoconsumo dos produtos alimentares na produção total é estimado do seguinte modo:

[Ver tabela na imagem]

7. A exploração agrícola é efectuada por três tipos de estruturas: as empresas de tipo familiar tradicional, com importante autoconsumo, as médias empresas e as grandes empresas agro-industriais. Em relação aos principais produtos verificam-se os seguintes elementos:

Produção relativa

Percentagem

[Ver tabela na imagem]

Tem-se, além disso, um total de 1 500 000 empresas familiares contra cerca de 3000 outras empresas, as primeiras cultivando mais de 3 milhões de hectares e as segundas menos de 0,5 milhões de hectares.
Em consequência dos métodos de cultivo utilizados pela estrutura produtiva predominante, a produtividade é, em geral, baixa. Salientam-se as produções médias por hectare dos principais produtos de cultura estreme:

[Ver tabela na imagem]

As actividades económicas agro-silvo-pecuárias ocupam uma reduzida área da província:

[Ver tabela na imagem]

Assim, tem-se que a área agricultada, relativamente ao total das terras imersas, teoricamente aproveitáveis, orça pelos 4,7 por cento. Em contrapartida, a área aproveitável representa 95,3 por cento.
Note-se que, do total de florestas naturais, apenas 10 a 15 por cento são aproveitáveis a curto prazo, havendo, quanto à parte restante, que esclarecer as suas possibilidades de aproveitamento económico.
Do total de 3,5 milhões de hectares aproveitados cabem cerca de 0,5 milhões aos agricultores evoluídos (3000 empresários) e cerca de 3 milhões aos não evoluídos (1,5 milhões de agricultores).
A área aproveitada pela agricultura evoluída é avaliada em cerca de um terço da área concedida.

8. Na caracterização do sector agrícola são aspectos dominantes a insuficiência de infra-estruturas de apoio, (crédito, assistência técnica, etc.) e de organização da comercialização para a recolha dos produtos.
Verifica-se não ser completo ainda o conhecimento dos recursos silvícolas, cuja, utilização se limita ao corte para fins quase exclusivamente de exportação da madeira em bruto ou serrada.
Na avaliação dos recursos pecuários são os bovinos que ocupam a posição do maior relevo. Os efectivos são de 1133 milhares de cabeças, registando-se uma evolução praticamente estacionária nos últimos anos (1962-1965), com incremento anual médio de 0,3 por cento. Como indicador da capacidade de expansão dos efectivos, pode citar-se a percentagem de vacas no total dos efectivos, cujo valor de 36 por cento se tem mantido praticamente constante. Os efectivos na posse de criadores autóctones representam 64 por cento do total. Destes criadores, apenas uma pequena percentagem se pode considerar como tal, já que a maioria exerce a simples detenção do gado sem exploração comercial do mesmo. Esta situação terá tendência a melhorar principalmente no Sul do Save, em consequência da classificação e garantia de preços mínimos para o gado transaccionado em feiras.
No que se refere a recursos do subsolo, há que assinalar especialmente não se dispor ainda de inventariação completa das potencialidades da província, não obstante os trabalhos de cartografia geológica e de prospecção mineira já efectuados. Salienta-se o trabalho de inventariação de recursos efectuados na bacia do Zambeze e a perspectiva de importantes jazigos de gás natural e, eventualmente, petróleo.
A produção mineira atinge valores ainda baixos, apenas tendo relevância as minas de carvão do Moatize e as pegmatites da Zambézia. O valor acrescentado do sector não representa mais que 0,5 por cento do produto interno bruto.
Também na pesca sobressai a insuficiência de estudos de base, agora em desenvolvimento, salientando-se as prometedoras perspectivas de expansão do sector, nomeadamente no que respeita a crustáceos.

9. A importância da indústria transformadora no quadro da actividade económica de Moçambique pode ser avaliada pela sua contribuição para o produto interno bruto. Em 1962 a participação teria sido de 9 por cento, que, todavia, sobe a 15 por cento se forem considerados apenas os circuitos monetários.
Ressalta o predomínio de certos sectores industriais que convencionalmente podem ser considerados como tradicionais. Se se considerar o valor de produção do conjunto de indústrias correspondentes aos sectores de alimentação e bebidas, tabaco, têxteis, calçado e madeira,

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obtém-se 71 por cento do valor de produção total da indústria transformadora.
A indústria está altamente concentrada nos distritos de Lourenço Marques e Manica e Sofala (na realidade, trata-se essencialmente das cidades de Lourenço Marques e Beira e suas extensões industriais).
A medida desta concentração pode deduzir-se através da participação do valor da produção industrial originada nestes dois distritos sobre o valor total da produção industrial. A respectiva participação foi de 69 por cento em 1963, cabendo a Lourenço Marques 46 por cento e a Manica e Sofala 23 por cento. Se a estes juntarmos os distritos da Zambézia e Moçambique, obtém-se 93 por cento do total.
A dimensão média das unidades industriais é muito variável de sector para sector. Não obstante, tem significado a dimensão média que resulta para o conjunto da indústria transformadora da província, que se pode classificar de extremamente baixa. De facto, a participação dos estabelecimentos utilizando menos de dez operários é de 54 por cento do total.
Pode assinalar-se; igualmente, que o mesmo índice, para os estabelecimentos utilizando mais de 50 operários, representa apenas 16 por cento do conjunto.
O carácter elementar de transformação realizada na maioria das actividades industriais pode ser avaliada, na ausência de informações que permitam avaliá-lo com maior rigor, pela participação das matérias-primas no valor de produção, que atinge, em geral, valores muito elevados, como se pode confirmar pela indicação dessa participação nalgumas indústrias.

[Ver tabela na imagem]

Refere-se para finalizar, a necessidade de intensificar a acção supletiva e dinâmica do Estado no processo de desenvolvimento industrial.

10. A configuração da província, caracterizada por uma forma alongada, com larga extensão de orla marítima, aliada à tendência das populações para se instalarem ao largo da mesma orla, terá adiado o estabelecimento de vias de comunicação longitudinais, uma vez que os grandes centros populacionais se podiam ligar pela via marítima.
Essa tendência explica o florescimento de uma apreciável actividade de cabotagem que, presentemente, continua a revestir-se de grande importância, na medida em que promove a distribuição, ao longo de toda a costa, de grande volume de mercadorias que entram na província através dos portos oceânicos.
Foi assim que a estruturação da rede de comunicações se veio a materializar, predominantemente, em vias de penetração. Esta orientação foi reforçada pela existência de territórios vizinhos com apreciáveis riquezas mineiras, cujo acesso aos grandes centros consumidores das suas produções só seria possível desde que se utilizassem os portos da costa moçambicana.
Assim se estabeleceram as principais linhas da rede ferroviária de Moçambique: voltadas essencialmente para o tráfego de trânsito, essas linhas ligam às redes dos países fronteiros e têm como terminais os principais portos oceânicos da província - Lourenço Marques, Beira e Nacala.
A insuficiência de vias de comunicação longitudinais está, em boa medida, relacionada com a deficiente integração económica interna, podendo considerar-se que o território está ainda parcelado em economias mais paralelas que complementares. Assim, nota-se a fraca intensidade das relações de interdependência de carácter económico entre as regiões a sul do Save e as regiões dos distritos de Manica e Sofala e Tete, e, por sua vez, destas com as regiões ao norte do Zambeze, nas quais se distinguem ainda compartimentações que convém eliminar.
Esta situação terá tendência a atenuar-se, na medida em que for possível estabelecer vias de transporte orientadas no sentido norte-sul, de que a estrada nacional n.º l, cuja conclusão até à Beira se prevê, para o ano de 1968, constituirá, nos anos mais próximos, a concretização de maior relevo.
11. Pela importância que o sector dos transportes e comunicações apresenta, quer do ponto de vista da sua participação no produto nacional, quer do ponto de vista da balança de pagamentos (contribuição positiva de 1113 milhares de contos em 1965), as principais actividades deste sector - caminhos de ferro e portos - têm sempre beneficiado do maior interesse por parte da administração pública.
A exploração dos portos e caminhos de ferro e, em parte, do tráfego rodoviário (carga e passageiros) está confiada a um serviço autónomo - a Administração dos Portos e Caminhos de Ferro e Transportes. Este serviço autónomo arrecada receitas que representam cerca de 50 por cento do orçamento geral da província.
Os seguintes indicadores dão uma ideia da importância do sector na vida económica da província:

[Ver tabela na imagem]

Do transporte de passageiros, apenas uma pequena parcela diz respeito a serviço combinado (cerca de 20 por cento dos passageiros-quilómetro); pelo contrário, nas mercadorias, a contribuição interna é extremamente reduzida (perto de 5 por cento da tonelagem-quilómetro transportada). Em termos de receitas - 575 000 contos em 1964 - pode dizer-se que o tráfego interno contribui com 10 por cento da receita total do tráfego ferroviário.

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12. Quanto à rede de estradas, além da estrada nacional n.º 1, poucas estradas com expressão existem orientadas no sentido norte-sul. Neste sentido predominam os pequenos troços ligando povoações próximas.
Entre 1960 e 1965 construíram-se 721 km de estradas, tendo-se elevado para 26 666 km o património rodoviário da província. Essa extensão desdobra-se em:

1359 km de estrada asfaltada.
819 km de estrada definitiva em terra.
24 488 km de outras estradas.

Em relação à superfície da província, verifica-se que a densidade rodoviária, além de desigualmente repartida, é ainda baixa - menos de 30 m de estrada por quilómetro quadrado.

13. Um outro meio de transporte que vem ganhando importância é o avião, que, vencendo rapidamente as grandes distâncias, está a tornar-se preferido principalmente para o transporte de pessoas: de 1961 para 1965 quase duplicou o número de passageiros transportados que, nesta último ano, foi de 43 600 em carreiras internas e de 1.6 400 nas carreiras internacionais.

14. As receitas públicas têm evoluído lentamente, a uma taxa de 4,5 por ano, que é bastante inferior à taxa de crescimento do rendimento nacional, apesar de uma boa parcela dessas receitas estarem estreitamente correlacionadas com aquela grandeza.
A parto principal dessas receitas - 57 por cento em 1965 - respeitou a receitas consignadas, merecendo referência especial a contribuição dos portos, caminhos de ferro e transportes, que representa cerca de 70 por cento da receita consignada.
Nas outras classes de receitas salientam-se os impostos directos (670 000 milhares de escudos em 1965), os impostos indirectos, com um volume de 816 000 milhares de escudos em 1965 (dos quais a parcela maior se refere a direitos aduaneiros), e os impostos de consumo, que se situam ao nível de 349 000 milhares de escudos no mesmo ano.
No campo de despesas ordinárias têm relevo especial os encargos com pessoal, a defesa nacional, os subsídios e transferências e os encargos da dívida pública.
As despesas têm vindo a crescer a um ritmo mais acelerado que as receitas, tendo sido de +7,8 por cento a taxa média anual do período 1962-1965.
O aumento nos encargos com pessoal teve particular incidência nos Serviços de Educação e nos Serviços do Saúde, em consequência do alargamento do ensino e da acção sanitária.

15. A organização do sistema de mobilização das poupanças não está adequada às necessidades de um desenvolvimento rápido da economia, sendo de referir, especialmente, a insuficiência de meios de recolha das pequenas poupanças e a quase inexistência desses meios no que se refere à população em economia de transição.
A canalização da poupança para os investimentos mais produtivos não é facilitada pela estrutura de crédito existente, que não possibilita ainda a concessão de crédito a médio e longo prazos em condições satisfatórias.
É de salientar a insuficiência do crédito agrícola, manifestada, quer pela exiguidade dos recursos financeiros aplicados, quer pelas modalidades de crédito praticadas, problema a que se procurou, no entanto, dar já solução através de uma regulamentação mais adequada às necessidades e condições actuais da Caixa de Crédito Agrícola.

16. A inversão de capitais externos na economia moçambicana revela-se necessária, dada a escassez de poupanças locais mobilizadas, independentemente dos benefícios originados pela técnica trazida, muitas vezes concomitante.
Considera-se a legislação actual favorável, de um modo geral, à atracção de. capitais externos; todavia, é de aconselhar a intensificação de uma acção de captação de investimentos externos.

17. Em Moçambique encontram-se instituídos todos os graus de ensino, podendo assegurar-se que se ocupa uma. posição equilibrada em relação a outros territórios africanos no que respeita à escolarização nos graus primário e secundário.
No ensino primário a população escolar cresceu desde 1959-1960 ao ritmo de 8,5 por cento em cada ano, situando-se no ano lectivo de 1964-1965 ao nível de 412 000 alunos para 5500 agentes de ensino.
A taxa de escolarização é de 37,2 por cento 1.
No ensino liceal - oficializado e particular - existiam, em 1964-1965, 45 unidades escolares e 520 professores, sendo a frequência de 7900 alunos.
Ainda no âmbito do ensino secundário, inscrevem-se o ensino técnico elementar e o ensino de artes e ofícios, com uma frequência certamente superior a 10 000 alunos em 1964-1965.
O ensino agrícola é incipiente; no entanto existe uma escola elementar, uma escola prática de agricultura e uma escola de regentes agrícolas e estão em estudo mais duas escolas elementares.
Como estabelecimento de ensino técnico médio funcionam três institutos, que, no ano lectivo de 1964-1965, eram frequentados por 450 alunos.
Cite-se, por fim, os Estudos Gerais Universitários, abrangendo já os ramos das Ciências Pedagógicas, Engenharia, Medicina e Cirurgia, Agronomia, Silvicultura e Veterinária, existindo ainda os cursos de professores adjuntos do ensino técnico do 8.º e 11.º grupos. Com um corpo docente de 50 elementos, a frequência em 1964-1965 atingiu os 322 alunos.

18. O panorama sanitário da província considera-se satisfatório quando comparado com o de outros territórios africanos.

Anos de 1964 e 1965

[Ver tabela na imagem]

A rede de ocupação sanitárias excelente, mas torna-se necessário intensificar a cobertura da província.
Também é indispensável intensificar a acção no campo da medicina preventiva, para o que a lei prevê a actividade de serviços especiais destinados a servir de efi-

1 Valor considerado na publicação Catholic Education in the Service of Africa - Office International de l'Enseignement Catholique e que tem utilidade para comparações internacionais, dado que foi obtido por processos de cálculos feitos com este fim.

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ciente instrumento de prospecção e luta contra as endemias predominantes.
E necessário maior esforço quanto a dotações relativas às infra-estruturas criadas, especialmente no que respeita a estabelecimentos hospitalares.
A assistência médica, embora de bom nível, carece de actualização, de modo a acompanhar o ritmo acelerado da evolução da medicina.

19. Os indicadores que a seguir se apresentam caracterizam a situação em 1965:

por 100 000 habitantes
Médicos ............................ 5,8
Farmacêuticos ...................... 1,3
Parteiras .......................... 3,9
Enfermeiros ........................ 19
Camas .............................. 163,3
Estabelecimentos hospitalares ...... 20,8

Existe a necessidade de alargar os quadros do pessoal dos serviços de saúde e assistência, completando os quadros do pessoal médico constantes da lei e diferenciando os quadros de pessoal de enfermagem e outro pessoal paramédico.
Já se enfrenta o problema delicado de pôr a funcionar grandes hospitais de recente construção e convém prevenir, portanto, maiores dificuldades que eventualmente surjam com a execução do Plano.

20. A economia de Moçambique apresenta uma forte dependência em relação ao exterior, sobretudo em matéria de comércio externo e balança de pagamentos.
Como característica mais relevante, tem-se que os saldos estruturalmente negativos da balança de pagamentos são da ordem dos 200-270 milhares de contos e neles pesam sobretudo: do lado positivo, os transportes (trânsito pelos portos e caminhos de ferro - 1113 milhares de contos) e o turismo; do lado negativo, as transferências privadas, os rendimentos de capitais e os movimentos de mercadorias. Desta forma, os saldos da balança de pagamentos são agravados, sobretudo, pelos saldos da balança comercial (1870 milhares de contos) e das transferências, e compensados pelas receitas de transportes (trânsito vindo do exterior e movimento dos portos) e pelo turismo.
Na formação dos saldos da balança comercial, verifica-se que: do lado das receitas são predominantes (64 por cento) as que respeitam a sete produtos (algodão, castanha de caju, açúcar, chá, sisal, copra e amêndoa de caju) e três territórios (metrópole, União Indiana e África do Sul), equivalendo a 63 por cento do total; do lado das despesas há menor dependência externa, se bem que cinco produtos apenas (tecidos de algodão, vinhos, petróleo, ferro em bruto e ferro ou aço em obra) representem 25 por cento das importações e três territórios (metrópole, África do Sul e Reino Unido) representam 55,5 por cento das mesmas.
Em termos de razão de troca (sobre preços médios), verifica-se uma posição desfavorável relativamente ao exterior, tendo sido o respectivo valor da ordem dos 0,76 no último triénio.

21. Noutros aspectos ainda se. detecta a dependência da província em relação ao exterior, como seja na aquisição de bens de equipamento, na obtenção de técnicos e na formação de capitais para investimento público (metrópole).

22. No que se refere à população, verifica-se uma forte irregularidade na sua distribuição pelas diversas regiões do território, podendo apontar-se como características principais as seguintes:

a) Três distritos apresentam densidades superiores a 9,3 habitantes por quilómetro quadrado, média do território: Lourenço Marques, 35,2; Moçambique, 19,5, e Zambézia, 13,3. A alta densidade do primeiro é influenciada sobretudo pela concentração populacional na capital. Os outros dois distritos, contíguos e cobrindo 23 por cento do território, representam 42 por cento da população total.
b) Verifica-se uma concentração muito marcada nas áreas litorais, pois nos concelhos e circunscrições situados no litoral cora densidade superior u 20 habitantes por quilómetro quadrado se encontra a terça parte da população total da província. Em contrapartida, têm uma população muito rarefeita o interior dos distritos de Gaza e Inhambane, as regiões a norte da Beira e no interior do distrito de Tete e grande parte do distrito do Niassa.

23. Sob o ponto de vista de condições naturais, pode considerar-se, em termos muito gerais, a divisão do território nas seguintes regiões:

a) Distritos do Niassa, Cabo Delgado, Moçambique e Zambézia (com excepção da bacia do Zambeze);
b) Distritos de Tete e Manica e Sofala (com excepção da bacia do Zambeze, a jusante da confluência Chire-Zambeze);
c) Bacia do Zambeze, a jusante da confluência com o Chire;
d) Regiões a sul do Save.

Na realidade, não há homogeneidade nas regiões naturais definidas, podendo distinguir-se em cada uma delas sub-regiões, que, em certa medida, explicam as condições de ocupação económica do território:

Região I:

I-A - Terras altas do Niassa - acima dos 800 m.
I-B - Planaltos dos Macondes e Macomia.
I-C - Terras baixas do litoral, até à Maganja da Costa (até aos 100 m).
I-D - Terras altas da Zambézia (Milanje, Tacuane e Guruè).

Região II:

II-A - Terras altas do Tete - Angónia, Marávia (Chofombo e Vasco da Gama), Macanga (sede e Bene), Zumbo (Zâmbuè).
II-B - Terras altas de Manica e Sofala (Báruè, Manica e Mossurize).

Região IV:

IV-A - Litoral de Inhambane e Gaza, até ao Bilene.
IV-B - Interior de Inhambane e Norte de Gaza.
IV-C - Vales dos grandes rios.

24. No quadro da distribuição populacional e da diferenciação de condições naturais se insere o processo de ocupação económico-agrícola do território.

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Assim, na região I há que diferenciar os distritos do Niassa e Cabo Delgado, regiões de baixa densidade populacional e onde se denota uma ausência quase total de explorações agrícolas evoluídas.
Os distritos de Moçambique e da Zambésia apresentam uma maior densidade populacional e um maior grau de ocupação da terra, particularmente em Moçambique. A exploração agrícola evoluída tem grande importância nesta zona, havendo a distinguir a sub-região já assinalada - terras altas da Zambézia (Milange, Tacuane e Gume) -, em que assume relevância a agricultura evoluída à base do chá.
Na região II, afora a parte da Angónia, das terras altas de Tete, e as terras altas de Manica e Sofala, domina uma ocupação essencialmente autóctone, assumindo importância, também, a exploração florestal. Em qualquer das sub-regiões indicadas existem condições muito favoráveis para a ocupação evoluída e para culturas de sequeiro, mas só na segunda - nos núcleos de Vila Pery e de Manica - se regista uma ocupação significativa.
Na região III - constituída pela bacia do Zambeze, a jusante da confluência com o Chire - denota-se um predomínio da ocupação evoluída, à base da copra e do açúcar.
Finalmente, na região IV, a zona litoral indicada revela uma alta densidade da população autóctone, terras leves e poucos férteis; os vales dos grandes rios proporcionam uma ocupação autóctone e europeia importante, com culturas de regadio; no interior de Inhambane e Norte de Gaza, a densidade populacional é baixa e a manutenção dos importantes efectivos pecuários existentes defronta problemas graves de abastecimento de água; nas restantes regiões do Sul do Save também tem importância a Ocupação pecuária.

2. Evolução demográfica

1. População total

25. A evolução da população de Moçambique foi, desde 1930, a que se mostra no quadro da página seguinte.

Evolução da população de 1930 a 1965, por distritos

Unidade: milhar de habitantes

[Ver tabela na imagem]

Os números apresentados são extraídos dos recenseamentos gerais da população, com excepção dos referentes ao ano de 1965, que foram estimados, entrando simultaneamente em conta com as taxas de acréscimo verificadas entre 1950 e 1960 e os resultados dos recenseamentos administrativo e missionário referentes a 1964.
A taxa média anual de crescimento entre os dois últimos censos foi de 1,4 por cento.

26. Para o mesmo período, foi a seguinte a evolução da população alienígena.

Evolução da população alienígena, por distritos, no período de 1930 a 1960

Unidade: milhar de habitantes

[Ver tabela na imagem]

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Desde 1960 os efectivos totais da população alienígena seguiram a seguinte evolução:
1961 .................. 159 344
1962 .................. 167 576
1963 .................. 178 224
1964 .................. 188 913
1965 .................. 199 453

A população branca tem aumentado a sua participação relativa, no total da população alienígena, sendo especialmente de referir a rápida expansão que se verificou entre 1950 e 1960 nos distritos do Sul do Save e no distrito de Manica e Sofala.

2. Distribuição espacial

27. A densidade populacional da província era de 9,1 habitantes por quilómetro quadrado, de acordo com a estimativa da população total efectuada para 1965.
O distrito de Lourenço Marques é o primeiro em ocupação relativa, seguido dos distritos de Moçambique e da Zambézia. O distrito do Niassa é o de menor densidade populacional.
Apresenta-se a seguir, por ordem decrescente, a densidade populacional de cada um dos distritos:

Ano de 1965

Habitantes por quilómetro quadrado

[Ver tabela na imagem]

Ao nível do concelho ou circunscrição, verifica-se que as áreas de maior densidade se situam no litoral, com excepção dos concelhos dos Muchopes e do Baixo Limpopo.
A distribuição das densidades populacionais dos concelhos e circunscrições da província é apresentada no quadro seguinte, onde se mostra que 50 por cento dos concelhos e circunscrições tinham em 1960 uma densidade inferior a 10 habitantes por quilómetro quadrado e apenas 20 por cento superavam 30 habitantes por quilómetro quadrado.

Densidade populacional em 1960

[Ver tabela na imagem]

Por sua vez, a análise circunscrita apenas à população alienígena permite concluir que a sua ocupação espacial relativa tem pouco significado, com excepção do distrito de Lourenço Marques, em que atingiu 4,1 habitantes por quilómetro quadrado, em 1960.

3. Estrutura etária

28. A repartição dos habitantes em três grandes classes etárias - 0-14, 15-59 e 60 e mais anos - permite considerar a população de Moçambique pertencente ao tipo progressivo: elevada proporção de valores potenciais (grupo i) e reduzida percentagem do grupo III, conforme é evidenciado pela distribuição por idades para 1940 e 1950, completada, para efeitos de comparação, com a que resultaria da aplicação de uma estrutura etária típica dos países da África oriental à população total constante do censo de 1960.

Estrutura etária nos anos de 1940, 1950 e 1960

Unidade: milhar de habitantes

[Ver tabela na imagem]

29. A estrutura demográfica da população alienígena é uma resultante das características, em termos de dinâmica populacional, dos diversos tipos somáticos que a constituem. Entre estas características avulta, em especial, a relativamente forte corrente imigratória da população branca, que origina um predomínio das idades adultas, tal como se verifica no quadro que a seguir se apresenta, para os anos de 1940 a 1955.

Estrutura etária da população alienígena nos anos de 1940, 1950 e 1955

Unidade: milhar de habitantes

[Ver tabela na imagem]

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Também esta população é do tipo progressivo, independentemente rios valores excessivos do grupo II, que, como se referiu, advêm de uma elevada imigração.

4. Níveis de natalidade e mortalidade

30. Não é possível caracterizar a natalidade e a mortalidade da população autóctone através das respectivas taxas, dada a circunstância de os registos de nascimentos e óbitos não serem ainda completos para todo o território.
Por este motivo, a presente análise refere-se unicamente à população alienígena, para a qual já é possível calcular as taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade, visto que os elementos disponíveis são suficientes para o estudo dos fenómenos referidos.
A seguir se apresenta um quadro com os referidos elementos relativos aos anos de 1940 a 1964.

Movimento fisiológico de população alienígena no período de 1940 a 1964

[Ver tabela na imagem]

Como se verifica pelo quadro, a natalidade cresce no período de 1940 a 1960, para apresentar posteriormente um movimento irregular, de tendência ainda não definida. Todavia, no ano de 1964, regista-se uma taxa comparativamente muito baixa, e que é inferior às taxas encontradas para a população europeia de outros territórios africanos.
A elevação da taxa de natalidade desde 1940 deve-se essencialmente à maior participação das mulheres em idade de procriar no conjunto da população.
Por sua vez, a taxa de mortalidade é decrescente, situando-se em 1964 a um nível inferior à da quase totalidade das populações europeias dos demais países africanos, sendo mesmo mais baixa que na generalidade dos países europeus.

5. Projecções da população para o período de 1968-1973

31. Em relação à população total, tomou-se como base de projecção as taxas médias anuais de crescimento, por distritos, que resultam do confronto entre os recenseamentos de 1950 e 1960. Em seguida fez-se a comparação entre as populações distritais em 1964 - resultantes da aplicação destas mesmas taxas - e os elementos conhecidos, para esse ano, dos recenseamentos administrativo e missionário, no sentido de detectar a validade da aplicação daquelas taxas para efeitos de projecção. E certo que, quer o recenseamento administrativo, quer o missionário, não se revestem de um grau de rigor tal que permita utilizar directamente os seus resultados. Todavia, tem o maior interesse o confronto que se estabeleceu.
Através da comparação estabelecida desta forma, foi possível estimar novas taxas de crescimento, que se adoptam para efeitos de projecção, e que se supõem mais realistas do que as tendências de crescimento do período de 1950 a 1960, tal como resultam dos censos. Aliás, em grande parte dos casos, as taxas adoptadas são idênticas ou não se afastam sensivelmente das anteriores.

Estimativa da população total, por distritos, no período de 1960 a 1966

Unidade: milhar de habitantes

[Ver tabela na imagem]

(a) Taxa I - Taxas médias anuais de crescimento, no período de 1950 a 1960.
(b) Taxa II - Taxas adoptadas para efeitos de projecção.

A aplicação destas taxas permite supor que a população total de Moçambique se tenha elevado a cerca de 7250 milhares de habitantes em 1966, o que corresponde a uma taxa de crescimento anual de. 1,6 por cento, taxa que se adoptará para a projecção da população no período do III Plano de Fomento.
Assim, a população total em 1973 será aproximadamente de 8100 milhares de pessoas.

32. A evolução da população alienígena está condicionada à variação que se verifique no fluxo migratório, melhor dizendo, ao volume de imigrantes que, das diversas partes do território nacional, acorrem à província para fixação de residência.
A estimativa que se possa fazer é, pois, limitada pela circunstância acima exposta.
Desta forma, estimou-se o saldo migratório em 6000 unidades anuais, de acordo com a evolução de 1960 a 1964 e admitindo que o povoamento rural se mantém ao nível anterior, e tomou-se a taxa de 2,6 por cento que foi a verificada no saldo fisiológico do ano de 1964, ainda que esta pareça um pouco baixa em relação ao que se conhece, de 1960 em diante, no que respeita a saldos fisiológicos. Todavia, admitindo-se como normal uma tendência decrescente da taxa de natalidade, entendeu-se preferível não considerar um valor superior para o saldo fisiológico.
Conhecida a população em 1965 - 199 453 habitantes - foi a partir deste valor que se projectou para o período de 1968 a 1973.
Seria, pois, aproximadamente, de 297 milhares de habitantes a população alienígena no ano de 1973.

3. Evolução do produto, rendimento e despesa interna

1. Crescimento e níveis do produto por grandes sectores

33. Considerando apenas os circuitos monetários, o crescimento do produto interno bruto ao custo dos factores processou-se à taxa média anual acumulada de 6,5 por cento no período de 1953-1962 1.

1 Os elementos utilizados são resultantes da elaboração de uma série estatística com base nos apuramentos efectuados pela Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar.

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A esta taxa corresponde um acréscimo médio da capitação do produto de 5,1 por cento. Este ritmo de crescimento tem a sua explicação, quer na expansão verificada na capacidade produtiva da província, quer ria progressiva passagem à economia monetária do largos estratos da população, vivendo até aí, quase que exclusivamente, em regime de autoconsumo.

34. Esta dupla explicação é mais claramente evidenciada pela decomposição do produto por actividades de origem, em que se verifica um crescimento do sector primário superior ao do conjunto da economia no mesmo período. De facto, a taxa média de crescimento foi de 6,7 por cento, valor que não se afasta, senão ligeiramente, da taxa global.
O sector secundário revela no mesmo período uma expansão muito rápida - 11,1 por cento em média cada ano -, ao passo que o crescimento do sector terciário se processou à taxa de 5,4 por cento.
Como resultado desta variabilidade de comportamento, alterou-se a estrutura da composição do produto no período em análise, como se pode verificar no quadro abaixo, mantendo-se a participação relativa do sector primário, e sendo a elevação da participação do sector secundário compensada por um movimento contrário do sector terciário.

Decomposição do produto por grandes sectores (circuitos monetários)

Participações relativas

[Ver tabela na imagem]

35. Esta estrutura da composição do produto não reflecte a «verdade» da economia moçambicana, atendendo à importância que revestem os fluxos não monetários, estando muito subestimada a importância da agricultura. De facto, a integração no produto do valor estimado do autoconsumo, bem como da prestação de serviços que não dão origem a circuitos monetários, permite apresentar o seguinte quadro, de estrutura análoga à do anterior, em que se pode verificar a importância acrescida do sector primário no conjunto da economia, bem como o processamento da sua evolução, a ritmo de crescimento inferior ao dos outros sectores.

Decomposição do produto por grandes sectores

Participações relativas

[Ver tabela na imagem]

2. Estrutura e evolução das componentes da despesa nacional

36. No período de 1953-1962, a variação das componentes da despesa nacional (com exclusão da variação de existências e do movimento com o exterior) processou-se como se segue:

Percentagens
Consumo privado .................. 6,7
Consumo do Estado ................ 7,7
Formação bruta de capital fixo ... 5,6

A nota mais flagrante respeita ao menor ritmo de acréscimo da formação de capital fixo, comparativamente às restantes rubricas da despesa, traduzindo uma situação de escassez de formação de capital, desproporcionada em relação à expansão de rendimentos gerada neste período.
Note-se, porém, que a taxa de crescimento apurada se assente muito da evolução desfavorável verificada nos últimos anos. De facto, pode observar-se, no decorrer do período, uma tendência para o decréscimo da participação do consumo privado em favor de uma maior acumulação de capital fixo, tendência esta que é contrariada pelo verificado nos últimos anos, de tal modo que em 1962 é o inverso que se verifica:

Estrutura da despesa nacional

[Ver tabela na imagem]

37. Atendendo à importância da acumulação de capital fixo no processo de crescimento, há vantagem em analisar mais detidamente a sua evolução no período em estudo, bem como a sua decomposição pelos vários sectores. Apresenta-se primeiro a tendência de crescimento dos diversos ramos de actividade no período de 1953-1962, expressa em taxas médias anuais cumulativas de crescimento. Dado que os dois últimos anos do período implicaram comportamentos algo diferentes nalgumas das rubricas, apresentam-se também as suas taxas de crescimento no período de 1953-1960:

Taxas de crescimento das componentes da formação bruta de capital fixo

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

A primeira coluna é preenchida precisamente por aqueles sectores que maior influência tiveram no comportamento desfavorável verificado nos últimos anos do período. Deve, aliás, dizer-se que a tendência regressiva se vinha já a verificar desde 1960. Pareceu, porém, aconselhável, considerar o período de 1953-1960, atendendo a que o ano de 1959 foi excepcional, assistindo-se a um progresso notável na formação de capital fixo do sector terciário.
Aliás, é esta a nota dominante na análise da contribuição dos diferentes sectores para a formação de capital fixo no período de 1953-1962: o maior ritmo de formação do capital fixo verifica-se nas actividades terciárias.

4. Relações económicas com o exterior

38. Da análise do quadro seguinte ressalta uma evolução das importações regularmente ascendente em valores e oscilatória em termos de quantidades.

Importações totais de Moçambique

Índices - base 1961 = 100

[Ver tabela na imagem]

As importações apresentam um acréscimo médio anual entre 6 e 8 por cento em valor e cerca de 2 por cento em quantidade.

39. Transparece tendência diversificadora no quadro das importações. Em particular, ganham maior importância os bens de equipamento e, consequentemente, reduz-se a importância dos outros tipos de bens, embora em valor absoluto continuem a verificar-se aumentos em quase todos.

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Análise das importações de Moçambique de 1961 a 1965

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

(a) Alguns dos volumes físicos em toneladas são estimativas.

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Também se pode verificar a existência de uma concentração acentuada, pela reflexão sobre as duas percentagens, 26 por cento e 25 por cento, representativas da importância dos cinco principais produtos no total, em 196o e 1965. Assim:

5 produtos representam 25 por cento das importações de 1965;
39 produtos representam 38 por cento das importações de 1965;
Os restantes representam 37 por cento das importações de 1965.

Contudo, estamos longe das chamadas altas concentrações, pois os restantes produtos ainda conseguem deter 37 por cento do total.

40. Em termos de valores, a participação da zona do escudo oscila entre 34 por cento e 39 por cento, dos quais 4,5 por cento e 5,1 por cento dizem respeito ao ultramar.
Do ponto de vista da concentração por territórios, bastará ver que, para 1965, se tinham as seguintes importâncias relativas:

[Ver tabela na imagem]

Quer dizer que dez territórios (onze se atendermos a que o ultramar envolve Angola e Macau em parte iguais) detêm 85,7 por cento das aquisições de Moçambique, e três deles, continente, e ilhas, África do Sul e Reino Unido, só por si, já representam 55,5 por cento.
Moçambique tem, assim, nesses três territórios, a origem de mais de metade das suas importações.
Tornando índices relativos ao quinquénio de 1961-1965, obtém-se o seguinte quadro.

Importações da zona do escudo e do estrangeiro

[Ver tabela na imagem]

Os principais produtos de importação da metrópole são os tecidos (92 por cento do valor de importação de tecidos provêm da metrópole e constituem 20 por cento da importação total desta origem), os vinhos (100 e 14 por cento, respectivamente), as meias, peúgas e roupas interiores, os pneumáticos, o calçado, o azeite e os medicamentos. Do ultramar importa-se sobretudo vestuário (Macau), peixe em salmoura, seco ou fumado (Angola), milho (Angola) e tecidos de fibras sintéticas ou artificiais contínuas (Macau).
Do estrangeiro provêm o petróleo em bruto (Iraque), os automóveis para transporte de pessoas, não especificados, e com cabina (Alemanha, Reino Unido, França e Suécia), o trigo (Argentina), o ferro ou aço em chapas (África do Sul e Japão), os medicamentos (Alemanha, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos da América), os tractores (Estados Unidos da América e Reino Unido), os automóveis de carga (Reino Unido, Japão e Alemanha), as partes e peças separadas de automóveis e velocípedes (Reino Unido e Alemanha) e o leite e nata (Holanda e Dinamarca).
Se se considerar os principais produtos de importação, vê-se que provêm:

[Ver tabela na imagem]

41. Da análise do quadro seguinte ressalta uma evolução das exportações regularmente crescente em valores e em quantidades, com interrupção em 1964.

Exportações totais

Índices-Base 1961=100

[Ver tabela na imagem]

Em termos médios, tem-se um grande incremento em volume físico, e um crescimento normal de 5 por cento em termos de valor.

42. Verifica-se uma elevada dependência da província na exportação das matérias-primas e produtos alimentares. Contudo, teria havido uma diversificação, embora ligeira, das mesmas exportações de 1963 para 1965.

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Análise das exportações de Moçambique de 1961 a 1965

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Apesar disso, com base em 1965, tem-se ainda que:
7 produtos representam 64 por cento das exportações totais.
87 produtos representam 81 por cento das exportações totais.
Os restantes representam 5 por conto das exportações totais.

Basta reler o que foi expresso a este propósito sobre as importações para se ver que a concentração nas exportações é bastante mais elevada. De facto, os restantes produtos só representam 5 por cento, enquanto ali representavam 37 por cento.

43. A participação da zona do escudo nas exportações moçambicanas em valores evoluiu no quinquénio dos 45 para os 42 por cento, passando por menores participações. Em média 41 por cento é a participação da zona do escudo, dos quais 8,9 por cento cabem ao ultramar.
Quanto à concentração por países ou territórios, têm-se para 1965 (valores):

[Ver tabela na imagem]

Portanto nove territórios (menos que na importação) representam 85,1 por cento das exportações (o mesmo que para a importação) e três deles - metrópole, União Indiana e lírica do Sul- só por si equivalem a 63,1 por cento das exportações. Há, pois, maior concentração nas exportações do que nas importações. E, por outro lado na lista dos países mais representativos nas importações, o Reino Unido sai aqui para dar lugar à União Indiana. Do ultramar, o território mais representativo é Angola (3,7 por cento).
Para referir a evolução, durante o quinquénio, veja-se o quadro seguinte:

Exportações para a zona do escudo e estrangeiro

[Ver tabela na imagem]

Como se observa, são as exportações para a zona do escudo as de maior irregularidade. Apesar disso, tem-se, em média, um crescimento de 1 a 3 por cento anual em valores e entre 18 a 21 por cento em tonelagem. O crescimento das exportações para o estrangeiro é superior sob ambos os aspectos: respectivamente 7 a 8 por cento em valores e 22 por cento em tonelagem.
Nas exportações para a metrópole pesam sobretudo o algodão em rama, o açúcar, o óleo de amendoim e a castanha de caju. São ainda importantes as exportações de fuel, copra, sisal, chá e hulha não preparada. No total destes nove produtos têm-se 93 por cento das exportações para a metrópole.
Para o ultramar seguem sobretudo o óleo de amendoim, o óleo de algodão, a hulha não preparada, o açúcar e, ainda o chá e a amêndoa de caju. Portanto, seis produtos mais importantes que representam, contudo, apenas 13 por cento das exportações com esse destino.
Os óleos destinam-se a Angola e Cabo Verde, a hulha a Angola, o açúcar a Timor e Angola, o chá a Angola o S. Tomé e a amêndoa de caju a Angola e Macau.
Com o estrangeiro apresentam-se sete principais produtos, que representam 68 por cento do total que lhe é destinado. A castanha de caju (destinada à índia), o
chá (Reino Unido, Quénia, Estados Unidos da América, etc.), o sisal (Holanda, Alemanha e França), a copra (Espanha, Israel, Noruega, França e Itália) e a amêndoa de caju (Estados Unidos da América, África do Sul, Alemanha e Austrália) são os únicos produtos com mais de 100 milhares de contos de exportação para o estrangeiro. A gasolina destina-se à África do Sul e o gasóleo e Diesel à África do Sul e à navegação marítima. Os sete principais produtos das exportações moçambicanas distribuem-se, portanto, da forma seguinte:

[Ver tabela na imagem]

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Projecções do valor das importações dos principais produtos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

Grau de erro =1 - r2
O - Médias móveis.
P - R. N. ou P. N. B. (R. N. - Acertado regionalmente).

44. Segundo as perspectivas estabelecidas com base nas tendências verificadas no quinquénio de 196.1-1965, as importações elevar-se-iam dos 4,2 milhões de contos (média de 1961-1965) para o nível dos 8,2 milhões em 1973.
Em termos de volume, parece mais realista optar pelas projecções com base nas médias móveis modificadas, para acerto com as projecções sobre regiões, o que leva a esperar um volume de 1,68 milhões de toneladas em 1973 contra 1,24, média do quinquénio (1961-1965).
As importações previsíveis serão, pois:

[Ver tabela na imagem]

45. No que diz respeito às regiões fornecedoras, obteve-se uma projecção linear de valores, baseada na regressão com o rendimento nacional, que sofre de grau de erro não exagerado. Projecção separada para o estrangeiro conduz a que as importações do estrangeiro já pouco superarão as da zona do escudo.
Ter-se-iam, então, em 1973, 4 milhões da zona do escudo e 4,2 milhões do estrangeiro.

46. Em termos de quantidades, apenas a regressão linear feita com os valores da zona do escudo tem um grande erro aceitável. Tomaram-se assim essas projecções; as que respeitam ao estrangeiro foram obtidas por diferença para o total.
Ter-se-iam então como projecção, por regiões, para 1968-1973:

Milhares de contos e milhares de toneladas

[Ver tabela na imagem]

47. No que respeita a valores globais de exportação, adoptaram-se as projecções com base no ajustamento linear. Ter-se-iam 4459 milhares de contos de exportações em 1973, contra 2842 milhares no quinquénio-base.
Em termos de volumes também se optou pelas projecções resultantes de ajustamento linear. Ter-se-iam, pois, 2264 milhares de toneladas em 1973, contra 980 milhares no quinquénio-base.
O preço médio assim previsto para 1973 será de 1,98 contos por tonelada exportada, o que não é incoerente com a prevista pequena variação do preço.
Em síntese, a situação esperada será:

[Ver tabela na imagem]

48. Segundo as projecções, em regiões-clientes as exportações para a zona do escudo atingiriam 1410 milhares

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de contos em 1978, e 3049 milhares seria a verba para o 562 000 t para a zotia do escudo e 1702 milhares para o estrangeiro. Em termos de quantidades, ter-se-iam estrangeiro.

Exportações regionais

Milhares de contos e milhares de toneladas

[Ver tabela na imagem]

Projecções do valor das exportações dos principais produtos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

[Ver legenda na tabela]

49. Não se vai tentar proceder propriamente a um estudo da balança de pagamentos, pois que o único objectivo visado foi o de apreciar a posição da balança comercial, no conjunto da balança de pagamentos e definir para as mais importantes rubricas a sua evolução provável.
A balança comercial, apresenta-se estruturalmente deficitária.

Situação em 1961-1965

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

50. As projecções, baseadas na evolução tendencial, conduziriam, tomando como projecções todo o campo de variação entre as colunas 2 e 3-A do quadro seguinte, a saldos evoluindo negativamente entre 1,8 e 2,5 milhões de contos em 1968, até 2,2 a 3,8 milhões em 1973.

Evolução esperada dos saldos da balança comercial

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

Considerando agora a posição dos saldos da balança comercial para regiões, zona do escudo e estrangeiro, tem-se o quadro que segue.

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Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

No período de 1961-1965 o saldo negativo mais elevado registou-se com o estrangeiro, embora de tendência oscilatória levemente crescente. Os saldos com a zona do escudo, embora mais baixos, crescem a ritmo acelerado, tendo quadruplicado em quatro anos.
As projecções que se encontram no quadro anterior originam aproximadamente os saldos globais apresentados na coluna 3-A do quadro que o precedeu.

Trânsitos em Moçambique

[Ver tabela na imagem]

(a) Não publicados.

51. Os trânsitos são feitos pelos portos de Lourenço Marques e Beira, em relação à África do Sul, Rodésia, Malawi e República Democrática do Congo.
Apresenta-se uma perspectiva da posição dos trânsitos no período do Plano, adoptando um crescimento regular idêntico ao registado no triénio em termos de medias de períodos:

Projecções para o período de 1968 a 1973 dos trânsitos de Moçambique

[Ver tabela na imagem]

52. O quadro seguinte retrata a estrutura da balança de pagamentos aio ano de 1965:

Balança de pagamentos em 1965

Unidade: milhão de escudos

[Ver tabela na imagem]

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Balança de pagamentos de Moçambique no sexénio de 1960-1965

Unidade: milhar de escudos

[Ver tabela na imagem]

Fonte: Estatística da província de Moçambique.

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Para além de uma situação deficitária que, embora não exagerada, é de considerar, verifica-se desde logo que é na balança de transacções com mercadorias que se manifesta o maior deficit. Do mesmo modo, ressalta imediatamente que é nos invisíveis de transportes que se tem o maior superavit, aliás inferior àquele.
Quanto aos saldos globais são os seguintes:

Saldos da balança de pagamentos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

53. Tem-se, pois, uma evolução muito variável em virtude do resultado dos anos de 1961 e 1962. Considerando os sete anos, a fim de suavizar o efeito dessas perturbações, tem-se um saldo médio negativo de 268 milhares de contos, pouco inferior ao do quinquénio: 270 milhares de contos. Há, no entanto, uma tendência decrescente, embora lenta, que faz levar a prever uma melhoria, pelo menos a curto prazo. Se se excluir os anos de 1961 e 1962, obtém-se ainda mais acelerada tendência decrescente.

54. A balança de pagamentos, apesar da melhoria observada, não tende, pois, a um equilíbrio futuro. A tendência, a manter-se com regularidade, levaria a tal situação apenas a longo prazo.
As projecções regionais conduzem a uma projecção para o saldo global que é muito mais realista.

Saldos da balança por territórios

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

Pela observação dos saldos territoriais verificam-se saldos positivos com o estrangeiro, saldos esses que aparentam crescimento.
Quanto aos saldos com a zona do escudo, apresentam-se em geral crescentes, mas de natureza negativa.
Para os primeiros saldos e sua natureza positiva, contribuem largamente a África do Sul, a Rodésia e a União Indiana. São negativos os saldos com os países europeus, o Japão e a Austrália (deficits individuais da ordem dos 50 000 contos).
Na contribuição para os saldos negativos da zona do escudo sobressaem as balanças com a metrópole e Macau.
As balanças de mercadorias e de invisíveis correntes explicam quase totalmente a ordem de grandeza e a evolução daqueles saldos. Distinguem-se, sobretudo, os pagamentos de invisíveis à metrópole (transferências privadas) e as receitas de turismo e transportes com o estrangeiro. A balança comercial com a União Indiana é, praticamente, a única não deficitária.
As previsões que podem decorrer, por uma fria análise estatística dos saldos antes apresentados, são as que constam do quadro seguinte.

Evolução esperada dos saldos da balança de pagamentos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

55. Como conclusões gerais pode prever-se que os saldos negativos da balança comercial aumentem consideràvelmente, variando entre duas linhas limites. Em 1978 situar-se-ão entre 2160 e 3800 milhares de contos.

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É de esperar, em particular, que os saldos negativos com a zona do escudo acabem por superar os registados no estrangeiro.
Quanto à balança de pagamentos, são de esperar as seguintes posições:

Comparação de saldos da balança de pagamentos (1965-1973)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

CAPÍTULO II

Objectivos

1. Objectivos gerais

56. Os objectivos do III Plano de Fomento para Moçambique devem, naturalmente, ser integrados nos objectivos genéricos definidos para todo o espaço económico português, de harmonia com as directivas definidas pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.
A fim de assegurar que estes objectivos fossem cumpridos da melhor maneira, houve que adoptar uma linha de acção estratégica que estivesse em harmonia com as características específicas do território e o seu actual estado de desenvolvimento.
Com base na análise cuidadosa a que se procedeu sobre a estrutura económica e social de Moçambique e as características mais relevantes da evolução em curso, considerou-se que a acção a desenvolver deveria visar os objectivos específicos a seguir descritos.

57. A dinâmica de desenvolvimento de um território como Moçambique, com as características de dualismo económico já assinaladas, postula em primeiro lugar um esforço no sentido do alargamento do mercado interno. Este objectivo parece à primeira vista redundante, na medida em, que só pode derivar de um acréscimo de produção e de rendimentos nas mãos da população, o que constitui um objectivo de todos os planos de desenvolvimento.
E, todavia, essencial considerá-lo como um objectivo primário. De facto, a existência de um sector moderno na economia, formado por uma fracção já significativa da população, com uma mentalidade receptiva ao progresso, mantendo contactos frequentes com os centros mais evoluídos, se por um lado revela problemas de dualismo económico e social, por outro lado deve ser encarado como um elemento valioso. Um técnico competente, uma organização eficiente e um espírito aberto são peças de importância muito grande num território subdesenvolvido. Ora esse sector pode, em princípio, se lhe forem proporcionados os necessários estímulos, corresponder às novas solicitações da população, através da extensão e diversificação da produção agrícola e industrial e das actividades terciárias correspondentes.
O dinamismo de crescimento das actividades secundárias e terciárias terá de assentar numa procura em rápida expansão e, portanto, num aumento de poder de compra e numa progressiva integração da população em economia de transição na economia de mercado.
A expansão de rendimentos procurada vai assentar essencialmente no aumento substancial da produção e da produtividade do sector agro-silvo-pecuário, através da criação e melhoria das estruturas de apoio a esse desenvolvimento, completadas pelo aperfeiçoamento da organização da comercialização para a recolha dos produtos primários, condicionadora do desenvolvimento da produção, e pela criação de condições de existência às actividades de transformação dos produtos primários naturalmente aptas a criar, a estabilizar e a valorizar o mercado correspondente ao acréscimo da oferta.
Mas esse aumento da produção e da produtividade postula também uma atitude da população, um desejo operante de melhoria de condição material, que só pode existir se lhe for proporcionada uma melhoria significativa das suas condições económicas, sociais e culturais, que despertem as três propensões básicas de que depende o crescimento económico: a propensão ao trabalho, ao consumo e à inovação.
Eis porque a promoção humana e a elevação do nível de vida da, população (em que naturalmente se integra a melhoria das suas condições económicas e sociais), que constitui o objectivo último de desenvolvimento e foi indirectamente consagrada no próprio Plano ao ser apontado como um dos seus grandes objectivos, a «mais equitativa repartição dos rendimentos formados», não está em contradição com as possibilidades de um crescimento rápido da economia. Pelo contrário, essa tarefa de promoção aparece com uma condição essencial de progresso económico.

58. O progresso de expansão de uma economia subdesenvolvida é normalmente refreado pela existência de «estrangulamentos» nos seus circuitos económicos, correspondentes à escassez de certos recursos. Neste capítulo, assume maior relevância em Moçambique o que se refere ao capital financeiro, às divisas externas e aos quadros técnicos especializados.
Eis porque se torna indispensável uma política destinada e eliminar a carência de recursos, já que o fomento dos sectores primários e suas implicações no desenvolvimento dos outros sectores da economia será forçosamente refreado se não forem usadas medidas aptas a favorecer a oferta de recursos escassos.

59. No que se refere ao capital financeiro, considera-se de maior significado um acréscimo da capacidade de financiamento do sector público, com o qual se prendem aspectos tão importantes como a revisão de regimes fiscais em vigor e a reorganização de certos serviços. Numa perspectiva mais restrita, procedeu-se no decorrer da elaboração do Plano à pesquisa sistemática das possibilidades de autofinanciamento em cada sector de actividade.
A carência de divisas externas, face às necessidades de desenvolvimento, implica um esforço de substituição das importações e, por outro lado, um acréscimo e diversificação das exportações. Nesta linha se integra também a criação de condições com vista ao fomento do turismo.
Por outro lado, a carência de quadros técnicos especializados impõe a expansão do ensino técnico (elementar, médio e superior) e o lançamento de programas de formação profissional.

60. Considerando como agentes de desenvolvimento simultâneamente a Administração e o investidor privado,

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entende-se prioritária & criação de condições para uma maior racional idade e eficiência da acção de uma e de outro.
É indispensável completar a reforma de estruturas administrativas e de métodos da administração, já iniciada através da reorganização de sectores importantes, como sejam, por exemplo, os Serviços de Economia, de Veterinária e de Estatística, as juntas provinciais de povoamento, e da criação de organismos de investigação nos âmbitos da agricultura e veterinária, mediante esforços que se deverão concretizar especialmente ao nível da reestruturação de serviços públicos, da colaboração entre organismos que se debruçam sobre problemas relacionados, de um acréscimo geral da produtividade de acção dos serviços e de uma intervenção activa no lançamento de novos empreendimentos.
Por outro lado, considerando especialmente o que se refere à actividade industrial, é indispensável a criação de condições favoráveis ao investidor industrial, nomeadamente no relativo aos aspectos fiscais e aduaneiros, crédito, pesquisa de oportunidades industriais e de mercados externos, definição de zonas onde estejam asseguradas as infra-estruturas básicas.

61. A necessidade de assegurar um crescimento económico rápido, conjuntamente com as actuais dificuldades de capitais, impõe cuidadosos critérios de selecção dos empreendimentos e da sua localização. Com esse objectivo, procedeu-se no decorrer da elaboração do Plano a atenta avaliação dos projectos de investimentos elaborados, procurando, tanto quanto possível, respeitar os seguintes critérios:

a) Preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida produtividade;
b) Escolha das infra-estruturas que mais directamente contribuem, para o aperfeiçoamento do potencial produtivo, procurando igualmente, proporcionar um maior coeficiente de utilização às infra-estruturas existentes, de preferência a novas instalações ;
c) Polarização do desenvolvimento, procurando tirar o maior partido das economias externas inerentes aos empreendimentos instalados nas zonas mais desenvolvidas e a desenvolver.

Com esse objectivo tentou-se uma definição das zonas de desenvolvimento, ao mesmo tempo que se fez uma compatibilização inter-regional dos empreendimentos previstos nos diferentes sectores, de modo a favorecer uma concentração por zonas dos investimentos ou simplesmente a criar condições para que actuem com proveito as relações de interdependência existentes.

62. A finalizar, apresentam-se duas orientações gerais que decorrem dos princípios da política nacional.
Em primeiro lugar, espera-se que uma das consequências de maior relevo a resultar da intensificação de actividades produtivas programada consistirá no povoamento espontâneo, que há posteriormente que estimular por medidas de apoio à produção e à comercialização. Assim se cumpre um dos imperativos da presença portuguesa em África, ao mesmo tempo que se asseguram ao autóctone as condições de enquadramento que tornem possível a sua progressiva familiarização com técnicas e processos mais produtivos.
Finalmente, a consolidação da unidade económica nacional exige que se conceda uma especial relevância aos investimentos ou modalidades de política que criem ou fortaleçam relações de interdependência ou de carácter complementar da economia das diferentes parcelas do território português.

2. Projecções

63. A fixação de metas quantificadas para os sectores de actividade, a que se procedeu na elaboração do Plano para Moçambique, permite supor, por comparação com iguais tendências registadas no passado, que se dê uma elevação no ritmo de acréscimo do produto nacional no período do III Plano de Fomento, tentar-se-á analisai-se essa elevação é compatível com a previsível evolução de outras grandezas económicas globais, para as quais existem algumas informações relativas ao seu comportamento no passado.

64. Os trabalhos preparatórios do III Plano de Fomento pura Moçambique não foram conduzidos segundo métodos de programação descendente, quer por impossibilidade de o fazer no momento presente por insuficiência de elementos estatísticos básicos, incluindo os de contabilidade nacional, quer por se ter achado mais conveniente tentar um método ascendente, que seria aferido, sempre que possível, por métodos macroeconómicos de análise.
A tentativa efectuada não tem, portanto, a pretensão de substituir grosseiramente uma análise daquela ordem, mas apenas a de ensaiar uma hipótese de evolução, relativamente à qual se possam tirar ilações úteis em termos de política económica, na medida em que se tornem salientes determinados factores condicionantes de uma evolução mais favorável da economia moçambicana.
Ainda aqui se supõe estar a ser coerente com aquilo que pode ser designado uma «dominante» do processo de planeamento adoptado, isto é, a averiguação, a todos os níveis, das dependências e carácter complementar que os projectos (entendidos num sentido amplo) mantêm entre si e com o complexo económico. De facto, esta averiguação conduziu, muitas vezes, a suscitar novas necessidades, a reformular os projectos apresentados e também a fornecer orientações para a política económica.

65. Os elementos de base utilizados para esta análise resultam dos trabalhos efectuados pela Missão de Estudo do Rendimento Nacional do Ultramar (M. E. R. N. U.), com ligeiras adaptações necessárias para o seu melhor manuseamento.
Os primeiros elementos divulgados durante o ano de 1965 abrangem apenas os circuitos monetários, deixando de fora fluxos de grande importância para a economia provincial, como seja a fracção representada pela produção para autoconsumo.
Apesar de se ter recorrido à utilização de processos expeditos de cálculo e de portanto, serem de admitir correcções posteriores, conforme prevenção inicial feita pela própria Missão, estes resultados foram acolhidos com o maior interesse, por se tratar da primeira tentativa de contabilização das grandezas económicas globais de Moçambique, em todos os anos do período de 1953 a 1962.º
Muito recentemente foram elaboradas novas séries estatísticas pela Missão, integrando já o ano de 1963, mas não possibilitando comparação com as primitivas séries, por passarem a abranger indistintamente fluxos monetários e não monetários. Sucede, por outro lado, que

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para a consideração dos fluxos não monetários foi utilizado um critério que se pode qualificar de demasiado amplo.
Após atenta avaliação de uns e outros elementos, foi decidido que seria mais útil aos propósitos existentes considerar quase exclusivamente as grandezas consubstanciadas em fluxos monetários, apesar do carácter precário que a Missão atribui a tais dados.
Sobre estes elementos de base foram então elaboradas novas séries estatísticas, a preços constantes, que constituem a fonte das tendências de crescimento adiante apontadas. Para o ano de 1963 foi feita uma estimativa com base nos valores indicados para os conjunto dos fluxos monetários e não monetários.

66. O crescimento do produto interno bruto processou-se, no período de 1953 a 1962, à, taxa média anual acumulada de 6,5 por cento. Este ritmo está, no entanto, muito dependente do forte acréscimo verificado no último ano; de facto, se o ano de 1962 for excluído, a tendência será apenas de 5,8 por cento.
Já anteriormente se referiu que este ritmo rápido de crescimento se explica quer pela expansão verificada na capacidade produtiva da província, quer pela progressiva passagem à economia monetária de extractos da população vivendo até aí quase exclusivamente em regime de autoconsumo.
Quer dizer: a evolução das grandezas macroeconómicas, considerando apenas os fluxos monetários, inclui precisamente um factor de grande importância para o estudo da evolução da economia moçambicana, que é a progressiva integração da população em economia de transição na economia do mercado.
Ao mesmo tempo esta indicação permite afirmar que é algo inferior o ritmo de progresso verificado na economia moçambicana no seu todo.
De facto, as mesmas taxas para os valores indicados pela Missão como respeitando ao conjunto de fluxos monetários e não monetários são apenas de 3,6 por cento para o período de 1953 a 1962, e de 3,2 por cento, se for excluído o último ano.
As taxas de crescimento elevadas com que se vai trabalhar - correspondentes apenas aos fluxos monetários - não devem, pois, permitir a ilusão de que se está a atravessar uma fase de progresso muito rápido da, economia provincial.
Segundo os últimos dados publicados pela Missão, no ano de 1963 ter-se-ia mantido um ritmo de crescimento superior ao do anterior decénio. De acordo com a destrinça efectuada, avalia-se em 7,5 por cento a taxa de acréscimo comparativamente ao ano anterior.
A evolução do período de 1964 a 1967 será objecto de uma análise posterior; por agora dir-se-á apenas que se deve ter verificado um abrandamento ria expansão, particularmente nos primeiros anos deste período.

67. A hipótese de passagem para um ritmo de acréscimo superior no período de 1968 a 1973 corresponde às previsões sectoriais efectuadas, em que se teve particularmente em atenção o programa de investimentos públicos proposto. Teria assumido o maior interesse o desdobramento do produto interno bruto pelos diferentes sectores de actividade e que, portanto, se tivesse considerado de uma forma mais precisa o previsível comportamento da actividade privada no mesmo período. Porém, a deficiência dos elementos estatísticos disponíveis para o efeito não o permite.
Ao mesmo tempo, teve-se em mente a orientação genérica, já várias vezes expressa, de redução das disparidades do nível de vida entre as diversas parcelas do território nacional.
Se se quiser exprimir quantitativamente esta orientação, ocorre naturalmente a comparação com o ritmo de crescimento programado para a metrópole. No Plano Intercalar de Fomento havia sido previsto um crescimento do produto interno bruto de 6,5 por cento por ano; se se tiver em consideração, por um lado, que é muito superior a taxa de crescimento demográfico em Moçambique (a previsão para o período de 1968 a 1973 é de 1,6 por cento por ano, ao passo que na metrópole é inferior a 1 por cento por ano) e, por outro lado, que, de acordo com as considerações atrás expostas, o ritmo de crescimento para o conjunto da economia é muito inferior ao da fracção susceptível de ser traduzida em termos monetários, verifica-se que o aumento do produto interno bruto (fluxos monetários) em Moçambique teria de progredir a uma taxa superior a 10 por cento por ano para que tal objectivo fosse atingido.
Não parece realista supor um crescimento desta ordem ou mesmo aproximado. Por outro lado, a disponibilidade de meios humanos, técnicos e financeiros em que se baseou a preparação do Plano não parece possibilitar a manutenção de uma taxa de crescimento para o produto (fluxos monetários e não monetários) a um nível idêntico ao da metrópole.
Deste modo - e com. base unicamente no produto interno bruto a preços de mercado (fluxos monetários), sobre a evolução do qual vai incidir toda a análise posterior -, não parece possível prever mais que uma aceleração do crescimento até agora verificado, a um nível compatível com as previsões sectoriais efectuadas.
Admite-se que o crescimento se processe no período de 1968 a 1973 a uma taxa média anual na vizinhança dos 7 por cento, com tendência para um ligeiro acréscimo na parte final do mesmo período, que se concretizaria a uma taxa de 7,2 por cento no biénio de 1972-1973.
Já se acentuou que estes elementos têm um relativo carácter programático, pretendendo-se apenas fornecer enquadramento que permita ajuizar da sua compatibilidade com a evolução de outras grandezas económicas que poderão ser objecto de uma previsão aproximada.
A verificação da compatibilidade global da evolução adoptada em princípio vai ser efectuada através da projecção do modelo geral da economia, relacionando a soma dos recursos e das aplicações, para todo o período do III Plano de Fomento.
A projecção será feita tomando como base as tendências registadas no passado e as implicações mais importantes dos programas sectoriais estabelecidos.
Considerando que os últimos elementos referentes a estas grandezas se acham reportados a 1962, havendo ainda algumas informações para 1963, é também necessário adoptar determinadas hipóteses de evolução para o período intermédio, isto é, para os anos de 1964 a 1967.

68. Como elementos de base, apresentam-se no quadro seguinte os valores absolutos e relativos para os anos inicial e final do período de 1953 a 1962, a que se acrescenta o do ano de 1963, elaborado da maneira já exposta, e ainda o de 1960, considerado característico, já que, a partir daí, a evolução das diversas grandezas sofre uma alteração de comportamento relativamente ao período anterior. Esta última afirmação pode ser documentada pela comparação das taxas médias anuais de crescimento para os períodos de 1954 a 1960 e 1954 a 1962, que também constam do mesmo quadro.

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Estrutura e evolução das componentes da despesa nacional (1953-1963)

Preços de 1962 (unidade: milhão de escudos)

[Ver tabela na imagem]

(a) Estimativa.

As notas mais flagrantes da evolução neste período podem ser sintetizadas assim:

Até 1960 só o consumo privado cresce a um ritmo inferior ao do conjunto da despesa: como consequência, diminui a sua participação na despesa total e aumenta, correspondentemente, a participação dos outros sectores;
A formação bruta do capital fixo cresce a um bom ritmo, atingindo a elevada participação de 18 por cento em 1960; a balança de transacções correntes passa a apresentar um saldo francamente negativo;
Após 1960 (na realidade não li á uma demarcação rígida, sucedendo até que, em grande parte dos casos, os efeitos mais sensíveis se verificaram após 1961), dá-se uma aceleração no ritmo de crescimento da produção interna, mas diminui sensivelmente o volume de recursos destinados à formação de equipamento em favor dos consumos privado e público; é particularmente relevante a subida verificada no consumo privado, que passa a representar 69,5 por cento da despesa em 1962, percentagem superior à de todo o decénio anterior.

Segundo a estimativa realizada para 1963, com base nos valores indicados para o conjunto dos fluxos monetários, o produto teria acusado um acréscimo, importante relativamente a 1962, de cerca de 7,5 por cento, e mantinham-se ou agravavam-se as tendências definidas para os dois anos anteriores.
A fim de realizar a projecção para o período do III Plano, houve, como se disse, que adaptar uma hipótese para a evolução no triénio de 1964 a 1966, para o qual só existem elementos parcelares.
Em linhas gerais, a evolução ter-se-ia processado do seguinte modo:

O produto interno bruto teria acusado uma redução no ritmo de crescimento, que orçaria sensível, mente pelo mesmo ritmo do período de 1953-1960;
O consumo público teria continuado a absorver uma fracção muito elevada dos recursos, que se situaria mesmo acima dos 20 por cento, a partir de 1965;
Manter-se-ia sensivelmente o déficit da balança de transacções correntes;
A formação bruta de capital fixo acusaria a mesma tendência regressiva nos primeiros anos do período, para recuperar para o final;
O consumo privado, finalmente, teria crescido a um ritmo inferior ao do triénio anterior, mas correspondendo a um ritmo anual de acréscimo de cerca de 7,5 por cento, a partir de 1960.

Em resumo, tender-se-ia, na parte final do período de 1964 a 1966 (e também se prevê que tal se passe em 1967), para um reequilíbrio na composição da despesa total, voltando o consumo privado a assumir uma importância relativa comparável à do decénio anterior e aproximando-se a formação bruta de capital fixo da participação normal, embora ficando ainda um pouco aquém, no mesmo período.

69. No quadro a seguir, de estrutura análoga ao anterior, são quantificadas estas hipóteses, e também se indicam os valores correspondentes para o período de 1968 a 1973.

Estrutura e evolução das componentes da despesa nacional (1963-1973)

Preços de 1962 (unidade: milhão de escudos)

[Ver tabela na imagem]

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70. No processo de feitura destas previsões elaboraram-se duas projecções relativamente autónomas: as referentes ao consumo do Estado e ao movimento com o exterior. Por sua vez, as projecções do consumo privado e da formação bruta de capital fixo foram feitas de modo a assegurar a coerência do modelo, tomando como base o aumento da produção interna no ritmo previsto e as respectivas tendências detectadas em períodos anteriores.
Quanto ao consumo do Estado, utilizaram-se os valores conhecidos do período de 1963 a 1965 e seguiram-se as previsões contidas no estudo financeiro para o período posterior, tendo sido necessário fazer a redução a preços constantes. Em qualquer dos casos, foi feita análise particularizada no que se refere aos encargos dos serviços autónomos.
No que se refere às exportações e importações de bens e serviços, calculou-se primeiramente a tendência de crescimento das duas grandezas no passado. Ern seguida procurou determinar-se para que nível evoluiriam essas taxas, com base na projecção das componentes, em especial transacções de mercadorias, turismo e transportes, integrando os efeitos conhecidos dos projectos que consubstanciam o Plano. Após a redução a preços constantes, estimaram-se as taxas de crescimento das exportações e das importações no período do III Plano de Fomento e, como resultado, derivaram os saldos que são indicados no quadro.

71. Pelo quadro anterior se pode verificar que o esforço de investimento a um ritmo acrescido constitui uma das bases do modelo proposto. Após a ligeira recuperação que se espera ter-se verificado no período final do triénio de 1964 a 1966 e se mantenha no ano seguinte, mas que não deve conseguir elevar a formação de capital fixo para uma participação no conjunto da despesa nacional superior a 15,5 por cento, admite-se que o seu crescimento se processe a uma taxa anual de 10,8 por cento, de modo a elevar a sua participação na despesa nacional para cerca de 19 por cento em 1973.
Esta participação pode considerar-se muito favorável, mas deve notar-se que não se afasta muito da verificada nalguns anos do período de 1953 a 1960 e particularmente nos últimos.
Do mesmo modo se notará que o coeficiente marginal capital produto correspondente a esta projecção se pode considerar bastante baixo, mas ainda aqui não há uma diferença sensível em relação ao período anterior, segundo os elementos da contabilidade nacional conhecidos. Por outro lado, não pode esquecesse que o aumento da produção interna, derivado do fomento das culturas tradicionais da população autóctone, que constitui um dos pólos dominantes da programação sectorial efectuada, se considera possível com um montante de investimentos relativamente reduzido. Acrescente-se também que, em relação ao programa de investimento público proposto, se procurou segui r, tanto quanto possível, o critério da preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida reprodutividade, o que se espera venha a reflectir-se benèficamente no período do III Plano de Fomento.
Aliás, não parece ter grande significado para Moçambique, como também para outros territórios africanos, raciocinar em termos de coeficiente capital/produto. De facto, os efeitos mais significativos no campo da produção podem ser obtidos através de simples tarefas de organização, de assistência e de vulgarização técnica, e, por outro lado, parte do aumento da produção interna esperada resulta de uma entrada no mercado de produção actual. Ao mesmo tempo, não devem esquecer-se as possibilidades, ainda tão insuficientemente exploradas, de conversão directa do trabalho em investimento, através de uma inteligente orientação do esforço das populações, o que obviamente resultará nurn reforço do capital fixo acumulado sem contrapartida na utilização de recursos financeiros anteriormente criados.
Referindo agora o consumo privado, notar-se-á a taxa de acréscimo reduzido do período de 1964 a 1967. A redução no ritmo de crescimento, que se supõe ter-se verificado, corresponderá, por um lado, ao abrandamento na expansão do produto e, por outro lado, a um reequilíbrio da sua participação normal na defesa nacional. De facto, muito embora o ritmo anual de crescimento seja inferior a 5 por cento neste período, o valor indicado para 1967 corresponde a um ritmo de acréscimo elevado relativamente a 1960 - cerca de 7,5 por cento ao ano.
No período do III Plano de Fomento assistir-se-á, provavelmente, a uma elevação no ritmo de acréscimo do consumo privado, que passaria a ser 6,4 por cento ao ano, correspondendo à expansão do produto, mas estando implícita uma certa contracção - a promover por medidas apropriadas - de modo que a sua participação na despesa nacional não exceda 64 por cento no final do III Plano de Fomento.
Por sua vez, o consumo público, cuja participação na despesa aumenta nos últimos anos, de acordo com elementos conhecidos, veria a sua importância diminuída no período do III Plano de Fomento, de modo que pouco excederia 18 por cento no ano terminal.
Manter-se-á, provavelmente, o desequilíbrio da balança de transacções correntes, mas espera-se que actue uma tendência para o equilíbrio.
De facto, segundo o processo anteriormente descrito. As taxas anuais de crescimento das exportações e das importações, no período de 1968 a 1973, seriam de 7,25 e 6,75 por cento, respectivamente. Quer dizer: o déficit da balança, que se exprimiria entre 400 e 450 milhões de escudos anuais, tenderia a uma diminuição, mas o equilíbrio só viria a ocorrer muito mais tarde, cerca de 1983 e 1984.

72. Eis como é considerada, em termos aproximados, a evolução das componentes da despesa nacional no período do III Plano de Fomento, na hipótese de que o ritmo de acréscimo da produção interna se situe ao nível anual dos 7 por cento, subindo para 7,2 por cento nos dois ultimes anos do Plano.

73. Salientem-se, agora, as principais exigências do modelo apresentado.
A primeira nota importante diz respeito à necessidade de mobilização dos recursos financeiros disponíveis para investimento a uma cadência francamente superior à verificada a partir de 1960. Admite-se que o Estado e as instituições de crédito desempenhem um papel mais activo no processo de recolha das poupanças e as orientem para os investimentos mais reprodutivos. O problema assume aspectos muito diferentes conforme se trate das poupanças provenientes do sector evoluído da economia ou das provenientes do pequeno empresário rural, qualquer delas, todavia, podendo ser objecto de formas de actuação para as quais triste um largo campo de experiências alheias que convém analisar e ensaiar.

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Intimamente ligada a este problema está a, necessidade de adopção de uma política decidida de refreamento da expansão dos consumos supérfluos, sem o que não será possível a descida da participação do consumo privado no conjunto da despesa nacional, ao ritmo assinalado, bem como ficará comprometida a evolução prevista para o saldo da balança de transacções correntes. Refere-se especialmente o ajustamento do regime fiscal.
Deve referir-se, por outro lado, que, dentro da óptica em que este Plano foi elaborado - em que se concede marcada importância à expansão das culturas tradicionais da população autóctone - e dada a elevada propensão ao consumo desta população, é de esperar um reforço substancial do seu poder de compra, que se traduza numa pressão adicional sobre o mercado de bens de consumo. Por isso mesmo se estima que o consumo privado progrida a um ritmo não muito inferior ao da despesa nacional, sendo, portanto, o comportamento daquele resultante de duas tendências opostas.
É também essencial à efectivação do modelo de desenvolvimento proposto a redução do ritmo de crescimento das despesas de consumo do Estado, que atinge valores relativos elevados no momento presente. A este respeito se anota aqui a necessidade da reorganização administrativa, insistindo-se na avaliação sistemática das despesas dos diversos serviços públicos em termos da produtividade.
Finalmente, o ritmo previsto da evolução dos saldos da balança de transacções correntes está estreitamente relacionado cora a possibilidade de um forte acréscimo das exportações, chamando-se a atenção, especialmente, para a necessidade de o Estado desempenhar papel activo e complementar da iniciativa privada, promovendo a realização de estudos de mercado e de divulgação no estrangeiro e metrópole dos produtos de exportação moçambicana. Com este objectivo, será atribuída alta prioridade à constituição, no organismo que for considerado mais adequado, de um departamento especializado em estudos de mercado. A actual escassez de meios de pagamento sobre o exterior, característica, aliás, de todos os territórios subdesenvolvidos, actuará certamente como obstáculo a um crescimento rápido da economia, se não forem mobilizados esforços consideráveis na promoção e diversificação da exportação.

74. Os efeitos directos do Plano sobre a balança de pagamentos revestem-se da maior importância pelo facto de a balança se ter vindo a apresentar deficitária, afectando as reservas de divisas.

75. Nas componentes da balança de pagamentos tomam maior relevância a balança comercial e os invisíveis correntes, originados pelo sector dos transportes, cujos valores, por isso, se apresentam nos dois quadros seguintes em relação aos últimos anos.

Balança comercial de 1957 a 1965

Unidade: milhão de escudos

[Ver tabela na imagem]

Saldo dos invisíveis de transportes

Unidade: milhão de escudos

[Ver tabela na imagem]

É bem claro que a balança comercial é estruturalmente negativa e com tendência para se agravarem os saldos. Em 1965 o saldo negativo computou-se em 1 874 000 contos, ou seja, a balança sofreu um agravamento de cerca de 700 000 coutos em quatro anos, apesar das medidas tomadas para modificar esta evolução.
Os transportes apresentam saldos positivos, que tendem a estabilizar-se à roda de 1,l milhões de contos.

76. Nas projecções feitas a seguir, limita-se a análise, no aspecto de entradas e saídas de divisas, ao investimento público afecto ao III Plano, deixando-se de fora uma análise específica relativa a alguns sectores, como o da indústria transformadora. Não se fez uma análise específica porque na previsão da evolução da balança de pagamentos, elaborada com base numa evolução do passado, contém-se também, pelo menos, parte da necessidade de divisas dos vários sectores de actividade e, portanto, do de transformação.

77. Uma das restrições a que está sujeito o III Plano de Fomento é o «equilíbrio monetário e financeiro, interno e externo». Sendo esta uma das condições básicas a que deve satisfazer o Plano, vai verificar-se quais serão os possíveis aumentos de entradas e saídas de divisas previstas, em resultado das medidas e projectos propostos.
O quadro seguinte, contém os efeitos adicionais, anuais, em divisas, .que resultarão da execução do Plano.

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Efeitos estimados dos empreendimentos imperativos, constitutivos do III Plano,
sobre a balança de pagamentos

Unidade: milhar de escudos

[Ver tabela na imagem]

Os valores que, com sinal negativo, aparecem nas colunas de divisas de divisas correspondem à substituição de importações.

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Para os cálculos dos efeitos em divisas foram deduzidos aos valores globais previstos com a execução do Plano aqueles que se obteriam sem a intervenção, isto é, subtraíram-se os valores dos saldos resultantes naqueles anos de uma evolução normal. São, pois, resultados devidos unicamente à execução do Plano.
Pelos montantes anuais de entradas e saídas de divisas previstas no quadro, tem-se que, em 1968, primeiro ano do Plano, o efeito adicional será negativo (- 269 224 coutos), pelo facto de os resultados só aparecerem com um certo diferimento, como é natural.
Nos anos que se seguem, os saldos são positivos e sempre crescentes, com valores que vão de 17 000 contos, em 1959, a 1 586 000 contos, em 1973.
Por outro lado, a partir de 1970, há uma substituição de importações, cujos montantes vão de 87 000 contos, em 1970, a 156 000 contos, em 1978, com valores que crescem regularmente ao longo do período.
Assina, espera-se que, no período de 1968 a 1973, o Plano contribua com um efectivo líquido positivo, para a balança de pagamentos,, da ordem dos 3 630 000 contos, acrescidos de 490 000 contos resultantes de substituição de importações. Isto é, os investimentos previstos para o III Plano de Fomento contribuem de forma acentuada para a melhoria do saldo da balança de pagamentos, verificando-se que, com a excepção do primeiro ano do Plano, a entrada de divisas é sempre superior às saídas, obtendo-se um efeito líquido directo francamente positivo e anualmente crescente.

78. Uma análise sumária dos sectores permitiu tirar as seguintes conclusões:
Os sectores de agricultura e povoamento são os que mais contribuem para o efeito adicional global - cerca de 76 por cento;
As substituições de importações são devidas apenas à agricultura, povoamento e pecuária, com relevo para a primeira;
A energia, os transportes (apenas os investimentos em estradas) e a saúde apresentam valores negativos; contudo, na energia não foram considerados os possíveis efeitos indirectos resultantes da sua utilização principalmente no sector das indústrias;
Na agricultura são notoriamente importantes os projectos de algodão e caju, cujos efeitos somam cerca de 2,9 milhões de contos, ou seja, cerca de 67,5 por cento do efeito do sector e 61 por cento do efeito total, o que denota a importância destes projectos; além desses, são também importantes os casos do milho, regadios, banana e amendoim, cujos valores, embora inferiores aos anteriores, são, contudo, vultosos, atingindo cada um algumas centenas de milhares de contos;
Nos outros sectores são de realçar os seguintes casos:

Zona D de povoamento (300 000 contos);
Jazigos de ilmenite de Pebane (132 000 contos) e aproveitamento hidroeléctrico do alto Molócué, cujo efeito, embora vultoso, como se precê, foi, contudo, impossível determinar.

79. O turismo, que não é incluído no cômputo do quadro anterior, apresentou no quinquénio de 1960 a 1964 um saldo negativo de cerca de 390 000 contos. Calcula-se que no período do Plano tenha um saldo positivo de 544 500 contos, passando de 40 500 contos em 1968, para 135 000 em 1973. Estes efeitos previstos não se podem considerar sómente ligados ao Plano, por não se poder distinguir que efeitos serão devidos ao mesmo.

80. No que respeita aos transportes, no quadro anterior só se considerou o dispêndio, em divisas, na compra de equipamento para execução das estradas. Não foi possível determinar o efeito proveniente da intervenção do Plano, mas fez-se uma previsão de entradas e saídas totais de divisas em cada um dos anos do III Plano de Fomento.
A partir de 1968 espera-se que a evolução dos saldos dos invisíveis de transportes seja francamente favorável, passando dos 1 100 000 a 1 200 000 contos do período de 1959 a 1965 para 1 450 000 em 1968 e 1 850 000 em 1973.

Movimento de entradas e saídas de divisas previsto nos sectores de turismo e transporte no período de 1968 a 1973

Unidade: milhar de escudos

[Ver tabela na imagem]

81. A evolução da balança de pagamentos prevista, sem a intervenção do Plano, no período de 1968 a 1973, se se admitir um desenvolvimento progressivo da tendência actual de forma regular, é a expressa no quadro seguinte, em que, por qualquer das três hipóteses consideradas, a balança se apresenta anualmente negativa.

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Previsão dos saldos da balança de pagamentos sem intervenção do Plano

Unidade: milhar de contos

[Ver tabela na imagem]

Admitindo a evolução exponencial dos saldos globais (hipótese pessimista), o resultado a que se chegou, somando os efeitos adicionais estimados com a execução dos empreendimentos do Plano, embora se não considere a substituição de importações, é, de forma importante, corrector da evolução desfavorável, como se vê no quadro seguinte:

Previsão dos saldos da balança de pagamentos com a intervenção do Plano

Unidade: milhar de contos

[Ver tabela na imagem]

82. No período do III Plano, e apesar de não se ter considerado o efeito de substituição de importações e o efeito adicional dos sectores do turismo e transportes, os saldos obtidos a partir do terceiro ano (em que é praticamente nulo) são, pois, fortemente positivos, ultrapassando, em 1973, 1 milhão de contos.
Note-se que se não atendeu a que a subida de nível de vida, como consequência do desenvolvimento provocado pela execução do Plano, implicará maiores importações, não só de equipamento, como também de bens sumptuários, mas julga-se que tal estará compensado pela forma cautelosa como todos os valores foram estimados e com a esperada actuação dos serviços que intervêm na condução das importações.
Poder-se-á com relativa segurança concluir que os dispêndios em divisas na execução do III Plano de Fomento em investimentos públicos são compatíveis com a previsível disponibilidade de divisas no mesmo período e, mais do que isso, o Plano contribuirá de forma anualmente crescente para tornar positiva a balança de pagamentos, que se vem apresentando em posição de deterioração.
83. Do balanço dos resultados previstos dos projectos imperativos e medidas constitutivos do III Plano, em termos do factor mão-de-obra e pessoal técnico, podem extrair-se os dados mais salientes:

[Ver tabela na imagem]

Verifica-se, ainda, que o pessoal nos empregos criados pelas estruturas previstas pelos projectos e medidas será, por níveis de qualificação, o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

84. No que respeita à mão-de-obra autóctone não especializada, teve-se em conta que os projectos recrutariam o pessoal nos próprios locais onde se executavam, já por serem em geral zonas sem problemas de mão-de-obra, já porque, na maioria dos casos, os próprios autóctones são os beneficiários dos projectos, constituindo-se em pequenas empresas familiares ordenadas e apoiadas pelas acções planeadas.
Assim, os 463 000 indivíduos que se espera virão a contactar com a economia de mercado sob uma forma mais intensa dizem respeito a mais de 115 000 pequenas empresas constituídas de novo ou, na maioria dos casos, simplesmente polarizadas pela acção de planeamento encarada.
No que respeita aos 6770 indivíduos a contratar para as estruturas e meios de acção previstos pelos projectos, entendeu-se não existirem problemas, dada a experiência passada e o conhecimento das zonas onde actuarão essas estruturas.
Pelo que toca à mão-de-obra especializada - 5363 unidades -, antevê-se a sua formação em moldes simplificados, conforme foi encarado nos projectos sempre que se referiu a formação de monitores e práticos agrícolas ou pecuários.
Entende-se que, à medida das necessidades, será possível escalonar a sua formação acelerada com a colaboração dos serviços de extensão e a experiência que na matéria de formação de monitores autóctones se possui.

85. No que se refere aos 11 550 indivíduos alienígenas que se admite venham a ter colocação nas 3850 empresas médias a criar, foi entendido que não haverá inviabilidade na sua consideração. Aliás, durante os trabalhos de compatibilização sectorial e regional, procedeu-se à redução das metas inicialmente previstas para certas zonas quanto a número de famílias a instalar. Nas restantes zonas e nos projectos de produções agrícolas e pecuárias tiveram-se também em atenção certas reduções, quer porque se pretendesse reduzir as metas a níveis considerados viáveis, em face da experiência exterior, quer porque se entendesse pouco conveniente engrossar exageradamente os caudais de migração já existentes em certas zonas da província. Espera-se que nas forças armadas (desmobilizadas) e nas correntes imigratórias da província se encontrarão os colonos indicados para tais fins.
No relativo aos 4854 indivíduos especializados previstos para as estruturas de execução dos projectos e medidas, há que distinguir as suas diferentes categorias:

[Ver tabela na imagem]

Quanto ao pessoal de formação primária e mesmo secundária, entende-se que os saldos migratórios actuais, os desmobilizados e o aumento previsto de caudal de

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imigração proveniente da metrópole poderão satisfazer as necessidades determinadas pelo Plano.

86. No que respeita a técnicos de nível médio e superior é que o problema se pode considerar mais delicado.
Para a satisfação das necessidades previstas conta-se não só com um possível recrutamento de técnicos metropolitanos, mas também com a formação de técnicos nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique e institutos médios.

87. Pré vê-se que a necessidade de técnicos de formação média se repartirá assim:

[Ver tabela na imagem]

No que respeita aos agentes técnicos, topógrafos e diversos, entende-se que as necessidades não excedem, pelo contrário, as capacidades de formação das respectivas escolas nos seis anos do Plano.
Em geral, o escalonamento é curto, visto os primeiros anos, de 1968 e 1969, serem os de maiores exigências. Porém, as necessidades são também reduzidas.
No relativo a regentes agrícolas, as necessidades correspondem a 17 indivíduos por ano. Entrará em funcionamento, este ano, uma escola de regentes agrícolas.

Alunos que frequentam os Estudos Gerais Universitários de Moçambique no ano
lectivo de 1966-1967

[Ver tabela na imagem]

(a) listes cursos não existem nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique. Os alunos indicados para eles estão a frequentar cadeiras dos cursos existentes que são comuns às dos cursos pretendidos.

Quaisquer saldos não satisfeitos poderão ser supridos, a título provisório, por indivíduos com cursos secundários com formação prática.
Quanto aos professores, há 800 indivíduos formados que não estão exercendo a profissão, por os quadros os não comportarem. Os 313 adicionais estão dentro das dimensões da formação das escolas do magistério da província (cerca de 60 professores por ano, em média).

88. Onde surgem as maiores dificuldades quanto a técnicos a contratar é no relativo a pessoal de formação superior.
Segundo as necessidades previstas para o Plano, ter-se-ão de conseguir:

[Ver tabela na imagem]

No tocante aos licenciados com maior número exigido - os médicos - foi reconhecido que os Estudos Gerais Universitários poderão contribuir, em média, com vinte médicos por ano. Tal facto implica que os Serviços de Saúde tenham de conseguir o contrato de cerca de cinco médicos por ano nas Universidades metropolitanas.
No relativo a técnicos de formação muito especializada, como sejam os petrógrafos, geofísicos e outros, como os

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geógrafos, há que recorrer à metrópole, para o que deverão ser envidados esforços pelos próprios serviços que deles necessitam.
No que respeita aos engenheiros silvicultores, electrotécnicos e mecânicos, reconhece-se a possibilidade da sua formação pelos Estudos Gerais, já pelo seu reduzido número, já pela possibilidade de escalonamento de preenchimento de lugares.
Quanto a engenheiros de minas, geólogos e parte dos engenheiros químicos, a sua necessidade surge devido à cartografia geológica e prospecção, que, por vir a ser entregue por empreitadas, não constituirá problema estatal.
No tocante a veterinários, tem-se uma necessidade de cinco indivíduos, em média, por ano, contando-se com a possibilidade de desempenho de tarefas duplas por alguns dos veterinários que forem sendo contratados, até ao total preenchimento dos quadros. Os Estudos Gerais têm capacidade para a satisfação destas necessidades até ao fim dos seis anos.
No relativo aos engenheiros civis e agrónomos, crê-se que é possível a sua formação nos Estudos Gerais.
Os outros licenciados diversos poderão ter de ser recrutados na metrópole, em número que se prevê à volta de 40.

89. Em síntese, ter-se-á de recorrer à metrópole na obtenção de cerca de:

30 médicos;
60 outros indivíduos com cursos superiores;
50 a 60 regentes agrícolas, se se admitir o desempenho provisório de certos lugares que deveriam ser preenchidos por indivíduos de formação secundária, preparados em cursos de formação prática acelerada, com o auxílio dos serviços de extensão.

90. Interpõe-se aqui problema que se enquadra também dentro da questão da reorganização administrativa de que carece a província, pois poder-se-á diminuir as necessidades a que se chegou, para a execução do III Plano, quanto a técnicos superiores, com relevo para os agrónomos e veterinários, visto ser admissível dar-se melhor aproveitamento aos actuais.
Sabe-se que há técnicos absorvidos por problemas burocráticos; sabe-se também que mesmo o trabalho técnico poderia ser multiplicado pela utilização conveniente de técnicos médios e mesmo práticos, tanto nos casos dos agrónomos como nos dos veterinários.
Para não se deixar completamente desapoiadas as ideias que se expressaram, dá-se o exemplo da veterinária.
O quadro que se insere a seguir permite verificar ser em Moçambique que se encontra o maior número de veterinários por animais de exploração, comparando este território com Angola e os países da parte meridional de África.
Chama-se a atenção para o seguinte:

Em Moçambique há 20 000 bovinos por veterinário, vindo a seguir a "África do Sul, com 24 000, Angola, com 29 000, e o Malawi, com 51 000.
Em termos de cabeças normais, vem outra vez Moçambique à frente, com 22 000 cabeças por veterinário, depois Angola, com 32 000 cabeças, a África do Sul, com 33000, e o Quénia, com 36000.

Visto de outro modo, Moçambique dispõe de 54 veterinários para 1 209 000 cabeças normais, dispondo a Tanzânia dos mesmos veterinários para 9 529 000 cabeças normais. Com mais de 54 veterinários só aparece a Rodésia, com 64 (mas tendo 3 981 000 cabeças normais), e a África do Sul.

Animais de exploração e número de veterinários existentes na zona sul da África no ano de 1965

Unidade: milhar de cabeças

[Ver tabela na imagem]

(a) Para a redução a cabeças normais foram utilizados os coeficientes do arrolamento feito em 1955 na metrópole: 1 cabeça normal = 1 bovino = 1 equino ou muar = = 2 asininos =11 ovinos = 11 caprinos = 4 suínos.
(b) Verifica-se que não há coincidência entre os números aqui considerados e aqueles com que se trabalhou no decorrer destes estudos. Entendeu-se não se deverem fazer correcções, pois, desconhecendo-se o método de recolha utilizado pela F. A. O., poder-se-ia eliminar a comparabilidade entre aqueles países, Angola e Moçambique.

Fonte: Anuário de Sanidade Animal da F. A. O.

Pode concluir-se que Moçambique tem disponibilidades em técnicos para fazer face a efectivos pecuários muito superiores aos existentes, o que significa que os técnicos estão a trabalhar a nível de produtividade inferior ao que poderiam, sejam quais forem as condições em que a pecuária se insere na economia.
Daqui se poderá concluir que o número de técnicos superiores não constituirá estrangulamento ao III Plano, desde que se proceda às reorganizações que se impõem.

91. Sintetizando: do ângulo de visão que se considerou - o da mão-de-obra e técnicos - só no pessoal

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técnico o problema se mostra delicado, verificando-se uma carência mais difícil de solucionar no caso dos regentes agrícolas, o que obrigará a tomarem-se medidas adequadas para o efeito. Outro tanto será necessário considerar no problema dos restantes técnicos superiores.

Efeitos globais à escala regional e definição de zonas de desenvolvimento no período de 1968-1973

1. Estratos de desenvolvimento

92. Um balanço final das realizações projectadas no III Plano de Fomento e da sua localização permitiu a definição das seguintes tipos de estratos na província de Moçambique:

Estrato A

Nele predominam as regiões de mais intensa produção, onde se localizam precisamente as principais culturas e efectivos pecuários da economia da província. Envolve também as zonas industriais, as zonas de influência do comércio do interior e as zonas de influência das principais vias de comunicação.

Estrato A'

Ao procurar, no III Plano, actuar decisivamente sobre a pecuária e sobre as principais culturas que não oferecem problemas de mercado, programou-se um acção que tem como objectivo um aumento de produtividade das explorações já existentes e um alargamento das áreas cultivadas por agricultor. Os programas estabelecidos consistiram, fundamentalmente, em intensificar a acção e os meios de trabalho dos serviços de extensão, bem como melhorar as possibilidades de recolha das produções, procurando, tanto quanto possível, garantir preços mínimos e dar vida aos serviços de armazenagem.

Estrato A''

Este estrato envolve regiões que já tinham algum desenvolvimento, mas necessitam, para evoluir para outro estádio, de uma actuação concentrada. Tal é o caso das zonas incluídas nos projecto dos regadios e das zonas A, D, F e K dos esquemas de povoamento.

Estrato B'

Compreende as regiões em que, por via do alargamento dos meios de acção anteriormente referidos, se tem em vista conseguir um aumento das áreas em exploração económica. Tais novas áreas virão, assim, a adquirir a natureza das regiões actualmente incluídas no estrato A.

Estrato B"

Compreende as regiões que, não estando incluídas no estrato A, e podendo, portanto, considerar-se como económicamente inactivas no presente, se pretende estimular através dos projectos e medidas contidas no III Plano.
São zonas que, tendo boas condições ecológicas para as finalidades propostas, serão chamadas à actividade económica através de medidas de acção mais concentradas, prevendo-se para elas a mesma evolução que se prevê para as zonas do estrato A".

Estrato C

Após esta caracterização, restam no território da província diversas regiões que integram o estrato C. Nelas não está prevista acção especial no III Plano, exceptuando a criação de vias de transporte que garantam a ligação das zonas activadas ou das actualmente activas, ou de vias justificadas por motivos extra-económicos.
Estas regiões caracterizam-se, aliás, por terem, na generalidade, piores condições ecológicas e muito baixa densidade de população, ou exigirem para o seu aproveitamento um grande volume de investimentos.
Incluem-se regiões que, para o seu aproveitamento, exigem grandes trabalhos ou investimentos de base de efeito retardado, tais como:

Obras de regadio (foz do Zambeze);
Trabalhos de hidrogeologia (zonas M e O no Sul do Save).

2. O equilíbrio entre os estratos activos e as vias de transporte

93. Quando se efectuou a compatibilização intersectorial, o programa das estradas foi considerado à luz das necessidades de se garantirem ligações entre as zonas económicamente activas.
Daí resultou uma autêntica espinha dorsal de estradas no sentido norte-sul e de alguns ramos penetrantes, tais como os dos- distritos de Tete e de Cabo Delgado e Niassa. Como, por motivos extra-económicos, foram sugeridas outras vias de transporte, verificou-se que mesmo as regiões de estrato C ficam dotadas de estradas que garantem a circulação todo o ano.
Daqui se pode inferir que no próximo Plano eventualmente poderá ser chamada à actividade económica boa parte do estrato C.

3. As zonas deprimidas

Norte dos distritos do Niassa e Cabo Delgado (corri excepção do planalto dos Macondes e da região litoral)

94. Trata-se de região de baixíssima densidade populacional, de condições ecológicas em geral pouco favoráveis e que não era servida por uma rede de estradas de carácter permanente.
A região ficará, com o presente Plano, servida por uma rede de vias de transporte, o que possibilitará a progressão, para o Norte, das actividades económicas centradas nas zonas D e A, em modalidades de aproveitamento que sejam compatíveis com a ecologia. Cita-se em especial o vale do rio Lugenda, que representa especiais características para aproveitamento em regadios cora pequenas bombagens.
A razão por que não se propuseram regadios na zona em causa, mas antes no Sul da província, reside no facto de este não oferecer garantia pluviométrica para as culturas de sequeiro, tornando-se aqui muito mais premente a necessidade do regadio.

Zona central do distrito de Tete

95. Nesta zona, o maior problema tem sido o da inexistência de uma cultura de rendimento que sirva de suporte ao desenvolvimento da região, a qual não justificou o estabelecimento de uma rede de vias de transporte permanentes. À. própria- pecuária nunca foi possibilitada uma expansão, por falta de um sistema de preços incentivador.
No futuro vislumbra-se, para a região, todo um desenvolvimento assente noutras perspectivas: o aproveitamento da Cabora-Bassa, com produção de energia a custos muito baixos, que possibilitará a expansão da actividade transformadora de minérios e sua extracção (carvão, ferro, manganês, etc.).

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Outro tipo de aproveitamento a mais longo prazo é o do estabelecimento de grandes regadios, com base em barragens a construir. Tal realização considera-se remota pelo facto de eventualmente, se virem a realizar em primeiro lugar na província os regadios por bombagem, de investimentos muito mais baixos.

Delta do Zambeze e seu prolongamento até à Beira e vale do Urema

96. No que respeita ao aproveitamento ciodelta do Zambeze e vale do Urema, são necessárias grandes obras de rega e de enxugo. Pelos investimentos que tais trabalhos implicariam, o desenvolvimento desta região tornava-se incompatível com a dimensão do presente Plano.

Zona a norte do Save

97. De Nova Sofala até um pouco ao sul de Espungabera, a zona irá beneficiar grandemente da melhoria do sistema de comunicações, se bem que a sua parte mais próxima do litoral não tenha grandes possibilidades de evolução por serem bastante fracas as condições ecológicas.

Região a sul do Save (zonas M e O)

98. Estas zonas têm aptidão para a criação de gado, mas com deficientes condições de abeberamento.
Para o período do III Plano de Fomento estão previstos os estudos hidrogeológicos necessários à execução posterior de captações de água que permitam transformar o Sul do Save na grande região pecuária de Moçambique.
Entretanto, os projectos da pecuária prevêem, também, uma intensificação da assistência sanitária, da organização da comercialização e das condições de abeberamento.
A expansão das zonas de velhos e novos regadios nos rios Limpopo e dos Elefantes está dependente das obras de represamento no Massingir.

99. Crê-se, pois, que, concretizados os empreendimentos propostos para o III Plano de Fomento, se terão criado as condições necessárias para, no Plano seguinte, se chamar à actividade económica grande parte do território agora considerado deprimido.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

100. Foram previstos empréstimos directos da Administração Central no montante global de 2240000 contos, ou seja cerca de 370 000 contos anuais.

101. Dado o esquema de investimentos que está previsto para o sexénio de 1968-1973 e consideradas as possibilidades das outras fontes financeiras, há necessidade de que estes empréstimos se escalonem do seguinte modo:

[Ver tabela na imagem]

Verifica-se assim que para se concretizar o programa de investimentos é necessário exceder o valor médio de 370000 contos anuais em 1968, o que é compensado por uma menor contribuição em 1971.

2. Administração provincial

102. Considerando-se o estudo elaborado sobre a evolução financeira da província, verifica-se que a poupança do Estado no período de 1968 a 1973 totaliza 3043800 contos, obtidos conforme o quadro seguinte (elaborado com base nos elementos dos cinco quadros que se juntam em sua sequência):

Primeira previsão da poupança do sector público no período de 1968-1973

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

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Previsão da receita ordinária (excluídas as receitas consignadas)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Considerando que se recomeça a cobrança da taxa de 1 por cento de emolumentos gerais aduaneiros do artigo 22.º da tabela aprovada pelo Decreto n.º 31 883.

Previsão das receitas ordinárias consignadas (excluídas as receitas dos serviços autónomos)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui-se a receita proveniente de multas cobradas por violação da lei sobre a utilização do selo de defesa nacional.

Previsão das despesas ordinárias (a)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Excluem-se as despesas dos serviços autónomos.

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Previsão das receitas dos serviços autónomos (a)

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

(a) Em relação às receitas dos serviços autónomos não estão consideradas as verbas relativas à utilização de saldos dos exercidos findos, subsídios e, também, as verbas concedidas ao abrigo do Plano de Fomento.

Previsão das despesas dos serviços autónomos

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

103. As receitas arrecadadas pelo lançamento de alguns impostos encontram-se, porém, correlacionadas com o rendimento nacional da província. Estimativas dessas receitas foram obtidas considerando uma taxa anual de 6 por cento para o crescimento do rendimento nacional. Essa taxa foi inferior à de 6,5 por cento observada no período de 1955 a 1961.
Ora um dos objectivos do programa que se propõe consiste, exactamente, em se aumentar o ritmo de crescimento do rendimento nacional. As estimativas já estabelecidas a este respeito fazem prever que, durante os seis anos de vigência do III Plano de Fomento, aquela grandeza crescerá ao ritmo anual de cerca de 7 por cento, a preços constantes, o que dá origem a um ritmo de acréscimo superior, tendo em conta a normal elevação dos preços.
Se desde logo se tomarem as medidas convenientes, é de prever que as finanças públicas venham a beneficiar desse acréscimo de riqueza.
Tendo em conta essa aceleração da evolução- do rendimento nacional, corrigiram-se os saldos orçamentais previstos para os valores seguintes, passando a taxa anual de acréscimo de 6 por cento para 7 por cento, que, como se disse, ainda é inferior ao ritmo que se considera possível em termos de preços correntes, nos quais tem sido realizada toda a análise financeira:

Poupança do sector público no período de 1968-1973, corrigida (em milhões de escudos):

[Ver tabela na imagem]

104. Sabe-se que boa parte da actividade a que se tem entregado o Fundo de Fomento Pecuário está considerada no programa proposto para o III Plano de Fomento.
Deste modo, deverá desafectar-se deste Fundo grande parte das receitas que arrecadará (estima-se em cerca de 20 000 contos anuais), pois de outra forma estaria a errar-se por duplicação de verbas.
Entende-se assim possível retirar, no período do 111 Plano de Fomento, perto de 100 000 contos, que serão afectados ao financiamento do mesmo.

105. Terá também de se considerar que o acréscimo esperado da produção agro-pecuária deverá exercer efeitos sobre o montante das taxas cobradas pelos fundos e institutos ligados ao sector. Entendeu-se que, à medida que se materializassem, essas receitas adicionais seriam em parte afectadas a empreendimentos previstos no mesmo sector. As estimativas feitas levam a admitir, desde já, as seguintes verbas susceptíveis de serem usadas para financiar parcialmente aqueles empreendimentos:

[Ver tabela na imagem]

106. Haverá que referir também a possibilidade de aumento de receitas dos correios, telégrafos e telefones.
Este departamento autónomo fez já algumas propostas susceptíveis de aumentarem as suas receitas com um acréscimo anual de 5400 contos.
Cautelosamente e para cômputo, considerou-se sómente aquele acréscimo de receitas a partir de 1969, inclusive.

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107. Ainda há que citar uma receita adicional de 4000 contos anuais que o Estado auferirá a partir de 1969, inclusive, por participar numa empresa de economia mista destinada à exploração de «ranchos de caça».

108. As verbas que se referiram poderão adicionar-se à poupança segundo corista do quadro seguinte:

Verbas provenientes de fundos de fomento e outras

Milhares de contos

[Ver tabela na imagem]

Chega-se assim ao valor mobilizável de 4013,7 milhares de contos, sendo necessário proceder a duas deduções.

109. Nos cálculos para obtenção da primeira previsão da poupança consideram-se incluídos os saldos que se prevêem disponíveis pelos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes.
Como estes Serviços se propõem investir os seus saldos e houve que os considerar mobilizados para o III Plano, considerou-se que através da obtenção de um empréstimo externo da ordem dos 2 milhões de contos se iriam suprir as suas necessidades de capital.
Dado que se estimou que para liquidação daquele empréstimo externo será necessário fornecer aos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes 100 000 contos anuais, serão estes valores deduzidos da poupança.

110. Por outro lado, há que corrigir os quantitativos anteriormente previstos para despesas ordinárias não ligadas ao III Plano de Fomento, para os anos de 1968 a 1970, com os acréscimos seguintes:

[Ver tabela na imagem]

111. O quadro seguinte inclui as deduções referidas e firma a distribuição anual do quantitativo de 3080,7 milhares de contos que se mobilizam na província de Moçambique para investimento imperativo no decurso do III Plano.

Poupança da província de Moçambique mobilizada para o financiamento do III Plano de Fomento

[Ver tabela na imagem]

112. Verificou-se no estudo-base sobre os aspectos financeiros da província que a incidência do conjunto «impostos directos + impostos indirectos + indústrias em regime tributário especial», medida em termos de «escudos arrecadados por mil escudos de produto nacional bruto», é muito baixa, comparativamente com o que se observa noutras regiões.
A carga fiscal, derivada daquelas três classes de impostos, ainda que se situe ao nível dos 100$/ 1000$ de rendimento nacional - circuitos monetários (cerca de 90$/1000$ de produto nacional bruto), é bastante baixa em confronto com outros territórios estrangeiros.
Considerando, com efeito, a taxa anual de crescimento de rendimento nacional, em média, de 7 por cento, encontra-se, para a incidência de 110$/1000$ de rendimento nacional, um acréscimo de poupança do Estado superior ao considerado em 2 700 000 contos no período do Plano.

113. Em síntese, fica aberta à província a possibilidade de obter, para além do que se considerou para o Plano, recursos financeiros apreciáveis: mais de 2 300 000 contos durante o período de 1968 a 1973.

114. As possibilidades financeiras consideradas apresentam a maior importância como meio de manobra, porquanto não só serão necessárias para enfrentar as despesas recorrentes resultantes do Plano, como também há a considerar que havia sido previsto inicialmente um dispêndio em estradas, no decurso do III Plano,

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superior ao valor que veio a ser programado, esperando-se, porém, que venha a exceder volumosamente aquele primeiro investimento previsto em estradas no decurso do sexénio de 1968-1973; dada a forma cautelosa como se demonstrou que foi feita a mobilização financeira das verbas provenientes desta fonte de administração provincial.

115. É muito importante notar que se procurou dar vida permanente, do ponto de vista financeiro, a vários empreendimentos, pois parte das verbas e, nalguns casos, a totalidade das verbas a conceder pelo Plano destinam-se a ser aplicadas como recuperação no tempo, o que vem a tornar maior o investimento que se fará efectivamente, por rotação do capital mobilizado no decurso de 1968 a 1973, embora por prudência não se contabilizem no investimento previsto no período. Estão neste caso a generalidade dos empreendimentos de povoamento e das verbas dos projectos agrícolas e pecuários que se destinam a conceder um apoio creditício aos agricultores, quer instalados, quer a instalar. É evidente que se pode afirmar que se aliviará assim o IV Plano de Fomento, pois o mesmo capital continuará a rodar para além de 1973.

116. Do mesmo modo se espera no período do Plano uma comparticipação das autarquias locais de cerca de 56 000 contos em complemento dos 95 000 contos a serem investidos pelo Plano em obras públicas (melhoramentos locais). Aqueles 56 000 contos não entraram no cômputo conjunto dos investimentos do Plano.

117. No sector da habitação, o problema, como será referido adiante, deve envolver uma procura de crédito interno, pela Junta de Bairros e Casas Populares, da ordem dos 128 000 contos, para serem investidos na obtenção de terrenos e urbanização dos mesmos, o que se não contabilizou também a favor do Plano. Este investimento deve originar, por parte dos futuros possuidores dos lotes para construção, um outro investimento que não foi objecto de estimativa. Não se deixa de fazer referência ao caso, nomeadamente pela importância que tem no aspecto social.

118. Também não se considerou incluído no Plano o empreendimento de Cabora Bassa, cujo investimento deve oscilar entre os 6 e 10 milhões de contos a encontrar externamente.

3. Instituições de crédito

119. Relativamente a estas instituições, apenas se refere a capacidade de absorção de promissórias do fomento ultramarino, que se considera poder atingir perto de 100 000 contos rio ano de 1968, e a possibilidade de subscrição de obrigações de fomento por parte destas instituições e também de entidades particulares, o que se estimou em 400 000 contos, a serem cobertos com o
seguinte escalonamento:

[Ver tabela na imagem]

4. Particulares e empresas

a) Autofinanciamento privado

120. Foi estimado que o investimento bruto em indústrias transformadoras no decurso do sexénio de 1968 a 1973 atingiria o quantitativo de 5,21 milhões de contos, assim repartidos:

Previsão do investimento bruto em indústrias transformadoras no período do III Plano em milhares de contos:

[Ver tabela na imagem]

121. Não se considerou para cômputo de investimento do Plano o autofinanciamento que se espera dos agricultores e criadores, o qual será importante, porquanto só no caso do povoamento orientado se estima que sejam auto-investidos cerca de 50 000 contos pelos colonos.

b) Participação privada nas sociedades de financiamento do desenvolvimento

122. Inscreve-se no III Plano o valor de 150 000 contos, que foi julgado ser possível por «participação privada nas previstas sociedades de financiamento do desenvolvimento».

5. Fontes externas

123. Se se firmou como necessário ao III Plano o recurso ao crédito e provavelmente ao critério externo, nos casos dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes (2 milhões de contos sob a forma de empréstimo externo, provavelmente puro, e 1290 milhares de contos sob formas de outros tipos de empréstimos) e, no caso da energia (380 000 contos para realização do aproveitamento do Alto Molócuè e 380 000 contos para a construção da barragem do Massingir).

124. O calendário anual de financiamento restrito aos investimentos estaduais, com excepção dos que se prevê que sejam efectuados pelos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes da província e caminho de ferro chi Beira, é o seguinte:

Previsão do financiamento do III Plano pelas fontes expressas

[Ver tabela na imagem]

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O esquema geral de financiamento é o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

(a) Acresceu aos valores antes referidos o investimento previsto por este caminho de ferro, pertença do Ministério das Finanças.

CAPITULO IV

Descrição dos programas de investimento

1) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

125. No que se refere à agricultura, as culturas sobre; as quais uma intervenção é susceptível de produzir rápidos efeitos reprodutivos são as culturas de algodão, caju, coqueiro, amendoim e banana e as culturas de regadio, que incluem, nas suas rotações, o trigo, o arroz, o milho, a batata, as forragens e o algodão.
Julga-se fundamental para o desenvolvimento do sector agrícola a criação de uma estrutura de apoio ao desenvolvimento agrário e de um organismo que coordene a comercialização dos produtos agrícolas ainda não disciplinados, com relevo, particularmente, para os frutos tropicais.

126. Certas zonas, onde se poderá actuar no sentido do fomento dos citrinos (secção B - plantio de 1000 ha em Moamba, Magude e Vila Pery), são também abrangidos pelos projectos do fomento bananícola. Entendeu-se assim que haveria que conceder prioridade ao fomento da bananicultura e considerar o dos citrinos como dependente daquele na execução, visto admitir-se que pudesse vir a haver colisão parcial entre as áreas a afectar à produção dos dois tipos de frutos.
Verificou-se, no entanto,- que, em conjunto, os programas para o fomento das frutas só terão viabilidade se os problemas de comercialização puderem ser resolvidos em perspectivas global e especializada. Nesse sentido, entendeu-se que seria condição sine qua non da viabilidade prática dos projectos de fomento frutícola, com especial relevo para o caso da bananicultura, a constituição de um organismo, com acção à escala de toda a província, que se ocupasse da comercialização desses produtos.

127. No que se refere ao fomento dos cereais e outros produtos secundários, verificou-se, no caso do arroz, que a acção a desenvolver tinha de incidir sobre três zonas. Dessas, porém, apenas uma poderá ser considerada com desenvolvimento: a do Baixo Maputo. Este projecto exigia, aliás, rotações de culturas e tinha implicações aã produção de trigo e milho. Por outro lado, a política de assistência técnica e alargamento de áreas de produção terá de ser enquadrada no domínio da acção do Instituto dos Cereais, dado que à Brigada do Arroz, hoje a actuar naquela região e dependente da Junta Provincial de Povoamento, competem sómente as instalações dos agricultores e obras de adaptação a regadio.
Estudos levados a efeito quanto ao fomento da produção de trigo levaram à conclusão de que só interessava, do ponto de .vista do custo de produção, produzir trigo em integração com outras culturas, num. esquema amplo de pequenos regadios. Com este projecto conseguir-se-á alcançar não só uma produção de 48 000 t de trigo em 1973, como de 72 000 t de arroz, 66 000 t de milho e ainda importantes produções de algodão ;e forragens.
Prevê-se, pois, a realização de um projecto conjunto que procura conciliar as metas de produção dos três projectos dos cereais sob a forma de regadio, minimizando o investimento total.

128. Quanto à mandioca, prevê-se que irá evoluir de harmonia com o desenvolvimento programado para os outros produtos, não havendo vantagem em estimular a produção.

129. O amendoim, cujo fomento é da competência do Instituto dos Cereais, liga-se mais com outros produtos como o caju e o algodão, etc., quer pelas zonas de produção, quer pelas condições ecológicas requeridas.
Para esse produto entende-se que será preferível fomentar a produção por apoio e intensificação da acção já actualmente desenvolvida e que consiste em acção junto dos agricultores, multiplicação e distribuição de sementes, experimentação agronómica e descasque mecânico, para o que bastará concertar a actividade do Instituto dos Cereais, com apoio dos sistemas de extensão já criados e dos que se propõem, nomeadamente para o caju.
Verificou-se, em virtude das acções a desenvolver relativamente ao caju, incidindo em zonas onde a produção de amendoim é a mais importante, que será possível a utilização simultânea da estrutura de apoio ao fomento do caju à este produto e ao amendoim.
130. A recessão actualmente verificada quanto ao coqueiro deve-se fundamentalmente à deterioração da qualidade do material vegetal, à propagação com sementes degeneradas obtidas do material já deteriorado e, por isso, à diminuição da relação amêndoa-fruto nos coqueiros de Moçambique, o que reflecte baixa de rendimento. As perspectivas rio mercado mundial não se apresentam, tão-pouco, favoráveis. Contudo, no Sul do Save a acção da Brigada de Fixação das Populações Rurais tem conseguido, pela criação de viveiros e venda de plantas, introduzir novos palmares, por exemplo, no distrito de Gaza.
Concluiu-se, pois, que as medidas a tomar seriam fundamentalmente:

Investigação das doenças e da melhoria das variedades;

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Fomento do povoamento do coqueiro; Melhoria de fabrico da copra por parte das pequenas empresas familiares.

Esta acção deveria ser concertada com a que se desenvolve para outros produtos pelos diversos serviços e brigadas encarregadas da extensão agrícola.

131. Para o quenafe, a resolução do problema da maceração é condição sinc qua non do fomento da cultura. Para tal, necessita-se de um apoio financeiro do Estado para a resolução desse problema. Só depois será possível pensar-se no fomento, em grande escala, da cultura.

Esta produz anualmente cerca de 5000 t de fibra, podendo subir até algumas dezenas de milhares de toneladas, sem conflito com o algodão ou outras culturas (apesar de requerer terrenos de natureza idêntica àqueles que servem ao algodão), visto existirem terras em quantidade suficiente. O fomento assentará fundamentalmente na assistência técnica à produção agrícola, o que, uma vez mais, pode ser conseguido com os serviços de extensão que igualmente assistem o arroz, o algodão e outros produtos.

132. O fomento do algodão constitui empreendimento que se pode considerar autónomo e exequível. Apenas há a notar que as brigadas de apoio e os serviços de assistência a esta cultura podem ser aproveitadas para igualmente colaborarem no apoio a outras culturas: quenafe, amendoim, trigo (nas zonas de regadio) e milho.

133. Quanto ao caju, verificou-se ser um dos produtos relativamente ao qual se podem obter melhores resultados mediante apenas a limpeza das árvores e assistência técnica. A acção a exercer pode ser aplicada igualmente ao amendoim e, eventualmente, a outros produtos. As estações agrícolas previstas podem servir para assistência em geral à agricultura das zonas onde se localizarão. Além disso, seriam de aproveitar algumas infra-estruturas dessa natureza já existentes nas áreas do Chibuto, Manjacaze, Gaza, etc.

134. Quanto a outras culturas (açúcar, tabaco, chá, sisal, batata, rícino, gergelim, mapira, mafurra, mexoeira, aleurites, etc.), entende-se que a acção das entidades competentes se deve orientar no sentido de pelo menos, manter os ritmos de crescimento actuais e resolver problemas mais instantes.

135. Quanto ao povoamento florestal nas zonas da Penhalonga, Espungabera e Tsetsera, apenas se torna necessário apontar uma localização definitiva, verificando-se que as zonas escolhidas para povoamento florestal são compatíveis e complementares de uma das zonas prioritárias de povoamento.

136. No campo do fomento pecuário há que dar relevo à bovinicultura dirigida para a produção de carne, embora se considere igualmente a suinicultura, a avicultura e a bonivicultura dirigida para a produção de leite. Não é de esquecer a possibilidade de se fazer o aproveitamento de algumas espécies de animais selvagens.
Encara-se a necessidade de se tentar resolver alguns problemas ligados à pecuária, que são considerados factores importantes e responsáveis pelo estrangulamento da sua expansão, nomeadamente os problemas de abeberamento, de sanidade e de comercialização, de cuja resolução satisfatória depende a possibilidade de se proceder a um povoamento programado das espécies pecuárias.
No campo do abeberamento tornou-se necessário prever investimentos para aplicação na construção de represas, poços e furos.
Do ponto de vista de sanidade pecuária, os problemas a encarar são o da erradicação da tuberculose, nas regiões do Chimoio e da Manhiça, e o da brucelose. A profilaxia é também essencial, para o que se elaborou um programa de construção de tanques carracicidas, especialmente nas zonas onde há maior concentração de efectivos.
O povoamento do Norte da província com espécies bovinas destinadas a produção de carne e de leite constitui objectivo muito importante, sendo de ponderar a acção dos postos de fomento pecuário. Por outro lado, merece ser encarado o povoamento avícola, a instalar em Nampula.
Julga-se também ser necessário proceder a um estudo criterioso das condições de exploração das espécies suínas, arietinas e caprinas, tendo merecido especial atenção a suinicultura, para cujo desenvolvimento se propôs a criação de um centro de contraste de descendência, que muito deverá contribuir para a produtividade das explorações.
Aos serviços de extensão, como apoio ao fomento, competirá suprir as dificuldades que possam surgir durante a execução dos projectos e medidas que se integram no programa de expansão da pecuária.

137. As medidas de fomento básicas são as que dizem respeito a bovinos de corte e leiteiros. Contudo, são ainda importantes as medidas relativas a suínos e a animais de capoeira, havendo que se promover, o mais rapidamente possível, o desenvolvimento das outras espécies.

138. Como condições fundamentais para a realização do fomento pecuário, considera-se a criação de um organismo de comercialização dos produtos pecuários, a estudar, quanto a uma possível integração na Direcção dos Serviços de Veterinária e conjugação desse organismo ou repartição com o organismo de comercialização proposto para os produtos agrícolas, e uma acção coordenadora, fiscalizadora e de administração, por parte da Direcção dos Serviços de Veterinária, sobre a execução conjugada das medidas de fomento da pecuária.

139. Há que dar continuidade aos esquemas de povoamento em curso, embora submetendo-os, nalguns casos, a alterações.

140. Ligado ao colonato do Limpopo, há um novo empreendimento que merece referência especial: a barragem do Massingir, a levar a cabo no rio dos Elefantes, afluente do rio Limpopo.
Esta barragem permitirá regularizar os caudais com vista ao aproveitamento em regadios do vale do Limpopo para jusante da sua confluência com o rio dos Elefantes. Procura-se assim solucionar também o problema da carência de água de rega que se estava a verificar no colonato do Limpopo.

141. Prevê-se também a reconversão de regadios existentes, dedicados a culturas arvenses, e a criação de novas áreas adaptadas a regadio, com investimentos de cerca de cinco contos por hectare, em média, as quais conduzirão ao aumento da produção das culturas que nelas virão a ser praticadas e à fixação de agricultores à terra, em agricultura estável e progressiva, especialmente nas zonas onde a agricultura só é garantida com rega.

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As regiões em que se pretende fazer aquele tipo de rega foram seleccionadas, atendendo também às infra-estruturas já existentes, sendo as tarefas distribuídas aos organismos a que já compete a orientação neste campo. Estas regiões são as dos rios Maputo, Incomáti, Limpopo, Save, Búzi, Fungue e regiões subplanálticas de Manica e da Zambézia.

142. No que se refere ao povoamento agrário, foram seleccionadas zonas prioritárias, o que levou à definição de «zonas de povoamento», e, bem assim, aos tipos de actividades mais recomendadas em cada uma delas.
Situam-se especialmente nas regiões dos distritos do Norte onde se faz sentir a necessidade de fixação de colonos e onde existem as condições ecológicas mais favoráveis, exigindo menores investimentos, pois é possível fazer culturas ein sequeiro, já que as chuvas garantem a sua viabilidade, atendendo-se a factores económicos e sociais e ainda a outros de tipos extra-económicos.

143. Além de uma ocupação humana mais intensa visa-se:

A valorização, por povoamento orientado, da zona potencialmente mais rica do distrito de Cabo Delgado, à volta de Montepuez;
O aproveitamento das regiões de Mecanhelas e Lioma, no Niassa, esta já com muita área derrubada e sem caça;
A ocupação, por povoamento orientado, da zona de Vila Cabral, também no Niassa;
O apoio nas zonas planálticas da Angónia, Macanga, Marávia e Zumbo, destinado a fomentar a colonização livre com base na agricultura de sequeiro, na criação e engorda de gado, na exploração leiteira e na criação de suínos com base no milho;
O aproveitamento programado com base em povoamento livre e orientado na região alta de Manica e Sofala, com boas condições ecológicas, situada numa zona fronteiriça e que pode garantir o abastecimento da zona litoral, tanto mais que se trata de uma região servida por vias de comunicação para a drenagem dos produtos para o litoral;
O aproveitamento pecuário da região limitada pela fronteira, rio Limpopo e rio Save, que, embora de baixa pluviosidade, permite a criação de gado em regime extensivo e a cultura de regadios.

144. Verifica-se uma coincidência, em geral, entre as zonas seleccionadas e as regiões de localização da maior parte dos projectos e medidas elaboradas no âmbito da agricultura e pecuária.

145. Em suma, na óptica do povoamento foram consideradas prioritárias as zonas seguintes, que se definem como «zonas de povoamento»:

A1 e tentativa de ligação com o caminho de ferro e alargamento a A2;
Zona D (viabilidade económica e prática imediata);
Zona F;
Zona G;
Zona K (zona de desenvolvimento silvícola e agrícola);
Zona M;
Zonas B1, E e L, com vista apenas ao estudo mais completo das suas possibilidades e das formas viáveis de aproveitamento económico.

146. Incluem-se também no Plano outras formas de fomento do povoamento além do agrário. A ideia que preside é a de facilitar a fixação noutros tipos de actividades além da exploração da terra. Por isso se estabelecem:
Créditos para, pequenas iniciativas, que terão um limite máximo de empréstimo de 15 contos e destinar-se-ão, sobretudo, a apetrechar os artesãos, através do fornecimento de ferramentas e matérias-primas.
O reembolso será efectuado em cinco anos, devendo ser pago em prestações semestrais ou anuais, acrescidas de um juro de 3 por cento ao ano.
Prevê-se a seguinte distribuição destes empréstimos:

100 empréstimos, por ano, nos 1.º e 2.º anos;
150 empréstimos, por ano, nos 3.º e 4.º anos;
200 empréstimos, por ano, nos 5.º e 6.º anos.

Crédito a médias iniciativas, que serão previstos para um montante máximo individual de 300 contos, a reembolsar em quinze anos consecutivos, vencendo um juro de 3,5 por cento ao ano.
Adiantamentos a custo de passagens para o ultramar. Prevê-se que um valor de 12 500 contos anuais suportará o encargo correspondente ao custo das passagens de cerca de 2500 indivíduos por ano.
O reembolso, sem juros, será efectuado em sete anos, considerando, para famílias de quatro pessoas, pagamentos (em contos) de: O no 1.º ano; 2 no 2.º ano; 3 no 3.º ano; 3 no 4.º ano; 4 no 5.º ano; 4 no 6.º ano e 4 no 7.º ano, num total de 20.

147. Como apoio a todas as formas de povoamento e para tornar mais fácil a solução dos problemas dos colonos, cria-se, experimentalmente, um serviço de procuradoria.
Este serviço trabalhará no âmbito da Junta Provincial de Povoamento; o seu funcionamento implica uma despesa da ordem dos 330 contos anuais, em parte amortizáveis pelas taxas que os colonos pagarão ao recorrer a tal serviço.

2. Objectivos

148. Em referência aos empreendimentos a realizar no subsector da «Agricultura e silvicultura», os projectados aumentos de produção constam do mapa a seguir apresentado. Salienta-se que se considerou apenas aquilo que poderia ser objecto de quantificação, não se tendo referido actuações específicas em relação a determinadas culturas ou produtos, que terão certamente reflexos ao nível da produção, mas não podem ser objecto da avaliação em bases seguras.

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Metas em 1973

[Ver tabela na imagem]

Nota. - Todos os valores se referem, salvo indicação em contrário, à melhoria da situação em 1973 relativamente a 1965.

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149. No que se refere à pecuária, os objectivos visados são:
a) No domínio dos bovinos de corte, atingir, em 1973, um efectivo de 1633,7 milhares de cabeças, que, confrontando com a existência em 1965 (1133), representa um acréscimo de 46,8 por cento no período do III Plano de fomento.
b) Para os bovinos leiteiros, o objectivo para 1973 consiste em proceder ao aproveitamento de 1 milhão de litros de leite provenientes da pecuária tradicional, avaliados em 1800 contos, prevendo-se para esse efeito a instalação de postos de recepção e o aumento do número de cabeças de bovinos leiteiros (mais 8200), com a correspondente produção leiteira, calculada em 16,4 milhões de litros anuais, em 1973, avaliados em cerca de 30 000 contos.
c) Através do aproveitamento racional das espécies selvagens existentes na área de Marromeu para a produção de carne, peles, marfim e outros subprodutos, sob a forma de «ranchos de caça», atingir um valor de produção anual de 5740 contos.
d) Para os projectos regionais do Mutuáli e do Muda e Save, relativamente aos quais deve ser feita a ressalva de que a parte das famílias a instalar é considerada no projecto dos regadios, a estimativa dos resultados que se pretende atingir em 1973 é a seguinte.

[Ver tabela na imagem]

Nota. - Todos os valores se referem, salvo o que respeita ao volume da produção, à melhoria de situação em 1973 relativamente a 1965.

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1662-(610) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

150. No campo do povoamento, a meta a atingir consiste numa média anual, no período do III Plano, de 12 500 indivíduos imigrados, contra os 6000 indivíduos esperados pela evolução normal.
Para esse efeito, conta-se com:

A criação de um ritmo anual de entrada de 2500 indivíduos, com viagens financiadas por crédito, o que, no final, em 1973, permite estimar como entrados cerca de 15 000 indivíduos;
O desenvolvimento da produção e instalação de novas famílias nas «zonas de povoamento», com carácter imperativo para um mínimo cauteloso de cerca de 1650 famílias, conforme o constante do quadro que se segue. Há que contar também que, através dos projectos incluídos no sector agrário, se encontra a oportunidade de colocação directa de um mínimo de 2200 famílias. Daqui resulta um total de indivíduos que se pode estimar em 17 000, a entrar no sexénio.

Metas imperativas em 1973 quanto a empresas médias a criar «zonas de povoamento»

[Ver tabela na imagem]

(a) Indicado nos projectos do Save e dos regadios.
(b) Valores não fixados.

Nota. - Todos os valores se referem à melhoria de situação em 1973 relativamente
ao ano de 1965.

Resultados quanto a famílias a valorizar ou instalarmos campos de fomento agrário e povoamento

[Ver tabela na imagem]

(a) Povoamento livre.
(b) Previsto no projecto de fomento pecuário do Save.

Notas:

Não autóctones - número de famílias que é possível instalar. Autóctones - número de famílias beneficiadas, residentes na área ou não.
Outros projectos e medidas, em particular os que resultam do povoamento sob «outras formas de povoamento além do agrário», poderão proporcionar instalação de colonos.

Resultados quanto a famílias a valorizar ou instalar nos campos de fomento agrário e povoamento

[Ver tabela na imagem]

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Projectos e medidas

Regadios :
Autóctones....
Não autóctones ....

Milho:
Autóctones....
Não autóctones....

Caju e amendoim(a)....
Bananas:
Autóctones(b)....
Não autóctones....

Citrinos:
Secção A (a)....
Secção B....
Autóctones....
Não autóctones....

Silvicultura :
Autóctones ....
Não autóctones ....

Pecuária :
Autóctones....
Não autóctones....

(a) Valorização das empresas existentes.
(b) Não avaliado no projecto.
(c) Não avaliado; previsto nas medidas de povoamento.

Notas:

Não autóctones - número de famílias que é possível instalar.
Autóctones - número de famílias beneficiadas, residentes na área ou não.

3. Medidas de política

151. As medidas cuja realização se considera indispensável para alcançar os objectivos definidos são as seguintes, no que se refere à produção agrícola:

a) Quenafe

152. Apoio à resolução do problema da maceração do quenafe através de:

Estabelecimento de centros de maceração em lugares estratégicos, a explorar por cooperativas e agricultores ou por entidades privadas;
Investigação dos problemas agronómicos desta cultura, sobretudo no relativo a melhoramento de variedades, estabelecimento de centros de multiplicação de sementes e respectiva rede de distribuição;
Assistência técnica a esta cultura, em geral pelas mesmas estruturas que assistirão às culturas de algodão e do arroz;
Crédito aos agricultores para a cultura e para aquisição de máquinas.

b) Coqueiro

153:

Estudo, com alta prioridade, pelo Instituto, de Investigação Agronómica, dos problemas de variedades, fertilizações e, sobretudo, de sanidade (gangrena terminal do coqueiro);
Intensificação de propaganda entre os pequenos empresários no sentido de se proceder a novas plantações, de preferência ordenadas, e de serem dispensados cuidados culturais às plantas existentes;
Divulgação de ensinamentos sobre as melhores formas de produção da copra.

c) Açúcar

154:

Intensificação da produção das unidades açucareiras já instaladas;
Aceleração da montagem e arranque das unidades em vias de estabelecimento; Orientação da produção, em face do nível de vida da população do ultramar, no sentido do fabrico de tipos de açúcar de baixos preços, permitindo consumo directo de ramas amarelas.

d) Arroz

155. Estudo do problema das relações entre o produtor de arroz das médias empresas no Sul e os seus financiadores - os industriais de descasque.

e) Amendoim

156:

Intensificação da acção de fomento da cultura, apoiada nas estruturas e nas propostas já existentes para o fomento de caju e dos cereais;
Garantia de preços mínimos, em especial nas regiões do Norte;
Mais racional distribuição da produção do amendoim industrializável pelas unidades fabris, evitando transportes desnecessários e deterioração de preços do produtor;

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Investigação agronómica dos problemas interessando esta cultura, especialmente em matéria de multiplicação e distribuição de sementes;
Estudo da solução, a breve trecho, pelo organismo competente, do problema do descasque do amendoim, que hoje é feito manualmente pelo agricultor.

f) Mandioca

157:

Melhoramento do rendimento por hectare, pela procura de melhores variedades e utilização de melhores técnicas culturais;
Análise do problema da necessidade de se promover diversificação de produções;
Entrada em actividade da fábrica de Dougane, apta a produzir farinha de mandioca;
Estudo da possibilidade da incorporação de farinha de mandioca nas massas alimentares e no pão.

g) Citrinos

158:

Análise das produções por planta das regiões citrícolas de Inhambane e de Maganja da Costa, formadas essencialmente por pequenas empresas (que, em conjunto, possuem 1,1 milhão de plantas), a fim de possibilitar a futura propagação e o melhor aproveitamento da fruta, através de inquéritos pela Missão de Inquérito Agrícola;
Análise dos custos de estabelecimento e de manutenção dos pomares nas duas principais regiões citrícolas (Lourenço Marques e Vila Pery), com vista ao conhecimento dos custos de produção da fruta e da rentabilidade do capital investido;
Pesquisa agronómica dos citrinos pelo Instituto de Investigação Agronómica, especialmente no que diz respeito à introdução de novas variedades, fertilidade do solo, economia da água e defesa fiitossanitária das plantas e frutos, e elaboração da carta de aptidão das principais regiões citrícolas;
Estudo, pelo Instituto de Investigação Agronómica, das possibilidades de incorporação dos sumos nas bebidas gasosas e do fabrico de bebidas alcoólicas cítricas (já produzidas em Angola).

h) Ananás

159:

Prospecção de mercados, especialmente do europeu, quanto a preços de consumo de produtos industrializados a partir do ananás;
Estudo da cultura do ananás em Moçambique, nomeadamente nos aspectos de variedades, regiões ecológicas, técnicas culturais e outros conhecimentos indispensáveis para a futura promoção de uma campanha de fomento da cultura;
Estudo tecnológico das variedades cultivadas e inclusão do ananás dentro de um esquema de industrialização de outros frutos.

i) Papaia

160. Estudo das perspectivas do consumo da papaia no espaço português, na Rodésia e na República da África do Sul.

j) Abacate

161. Estudo das perspectivas da colocação do abacate de Moçambique na Europa, com vista a, no caso de tal estudo conduzir a resultados positivos, ser possível lançar as bases técnicas do cultivo.

1) Manga

162. Estudo das técnicas de conservação que permitam o transporte por via marítima para os mercados europeus e das condições para futura instalação de plantações ordenadas.

m) Outras cultoras

163. Estudo pelo Instituto de Investigação Agronómica dos seguintes problemas:

Cultivares, práticas culturais, utilização da mão-de-obra, áreas ecológicas, etc., tendentes a aumentar a produtividade das culturas seguintes: sisal, chá, tabaco, gergelim, batata, aleurites, girassol e soja;
Da mecanização da cultura do sisal, de colaboração com os agricultores;
Da produtividade da mão-de-obra utilizada na cultura do sisal, de colaboração com os agricultores e com o organismo encarregado dos problemas do trabalho;
De culturas a introduzir como intercalares do sisal, de forma a contribuir para a amortização do custo do estabelecimento da cultura;
Da tecnologia do chá e do tabaco;
Das regiões com aptidão para a produção de batata de semente.

164. Igualmente se entende que os organismos encarregados da extensão actuem no sentido de:

Apoiar as culturas de mafurra, gergelim e rícino, de forma a aumentar o interesse dos agricultores pela cultura, o que só será viável com a melhoria da estrutura de comercialização destes produtos;
Fornecer cultivares melhorados aos agricultores;
Divulgar entre os agricultores as práticas culturais recomendadas pelo organismo de investigação.

165. Também é conveniente que um organismo encarregado da comercialização estude:

A comercialização do tabaco, tanto no mercado interno, como externo;
A comercialização e disciplina de produção e abastecimento da batata aos mercados consumidores da província, bem como os problemas de transporte;
A melhoria das condições de comercialização da mafurra, gergelim, rícino e, eventualmente, girassol, com vista a tirar-se melhor partido da produção, que, no caso da mafurra, nem sempre é totalmente recoletada.

166. No que diz respeito à silvicultura, as medidas previstas compreendem o apoio, por todas as formas possíveis, às iniciativas privadas tendentes à industrialização da madeira, nomeadamente quanto às formas seguintes:

Móveis, carrocerias, outros produtos de carpintaria e marcenaria;
Preservação de madeira:
Aproveitamento industrial dos desperdícios das indústrias existentes, a fim de produzir painéis fertilizantes e melhoradores do solo, briquetes, produtos químicos da destilação da madeira, rações alimentares, etc.;

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Painéis de estilhas;
Ampliação da indústria do parquet;
Ampliação da indústria de folheados e contraplacados.

167. No âmbito da pecuária há a considerar:

Concentração na Direcção dos Serviços de Veterinária da responsabilidade da execução das medidas de fomento pecuário e da administração dos investimentos e respectiva fiscalização; Avaliação da mão-de-obra especializada necessária e sua preparação com antecedência, através da Direcção dos Serviços de Veterinária; Estudos da pecuária nas diversas regiões da província, com vista ao conhecimento em pormenor dos problemas de produção, circulação e consumo, tais como:

Possibilidade de povoamento pecuário das regiões ecologicamente favoráveis ao desenvolvimento das espécies, nomeadamente bovinos, suínos, arietinos e animais de capoeira; Necessidade de apoio pecuário ao povoamento humano;
Comercialização de gado e suas carnes; Necessidade de consumo interno;

Recolha dos elementos necessários aos estudos específicos nos campos da produção, comercialização e consumo, a efectuar, tanto quanto possível, pelas brigadas consideradas no projecto respectivo;
Estudo da possibilidade de expansão da criação de arietinos e caprinos nas regiões ecologicamente favoráveis ;
Estudo das melhorias a introduzir no campo da comercialização de carnes, tendo em consideração que se julga serem importantes a criação de talhos onde se faça a venda exclusiva de arietinos, caprinos e miudezas de bovinos e suínos, e a introdução destas espécies nas feiras de gado já existentes ou a criar;
Estudo do programa de compras de harmonia com as épocas mais favoráveis para o criador ultramarino, enquanto não foram completadas as cadeias de frio que permitam armazenamento até aos limites tecnologicamente aconselháveis;
Estabelecimento de preços ao produtor de modo a proporcionar o desenvolvimento pecuário no território ;
Classificação das carcaças por categorias, a fim de que a preços mais elevados correspondam qualidades superiores, dado que cotações médias por partidas, diferenças de critérios ou afastamentos provocados por factores subjectivos ou individuais não estimulam o melhoramento da produção, o que se deve pretender levar a cabo;
Estudo pormenorizado dos problemas relacionados com transportes marítimos especializados e dos fretes, tornando-os comportáveis pelos produtos de origem animal, libertando-os das contingências dos navios das carreiras regulares;
Estudo, planificação e coordenação do sector pecuário no espaço português;
Revisão do actual regime de concessão de terras para exploração pecuária, já que a actual concessão por arrendamento não permite a obtenção de crédito sobre a propriedade e a obtenção de capitais não é possível com o gado como penhor;
Revisão da extensão de terras pedidas e concedidas, já que está tecnicamente comprovado que as dimensões das áreas pedidas para fins pecuários devem ser dimensionalmente superiores àquelas que se destinam à exploração agrícola;
Estudo do problema de transporte de gado, com a finalidade de obter sugestões achadas convenientes e necessárias para aumentar a possibilidade de transporte do gado nos navios costeiros; recomenda-se também a revisão das tarifas;
Criação de um organismo de comercialização dos produtos pecuários, a estudar quanto a uma possível integração ou não na Direcção dos Serviços de Veterinária, e conjugação desse organismo ou repartição com o organismo de comercialização proposto para os produtos agrícolas.

168. Nos aspectos essenciais do desenvolvimento agrário deve ser considerado o estudo da melhor e mais eficiente estrutura dos serviços de apoio à actividade agrária, sem aumento da totalidade das verbas hoje concedidas à generalidade desses organismos; este estudo poderá ser feito por comissões ad hoc, que deverão avaliar o número de técnicos necessários para se poder exigir dos serviços eficiência e rapidez na sua acção, para o sector agrícola a partir do volume de produção, e, para o sector pecuário a partir do número de cabeças normal.

169. Na rubrica de investigação e experimentação agrária, as medidas a considerar são:

Actuação dos Institutos de Investigação Agronómica e Veterinária em colaboração com os Estudos Gerais e com os organismos congéneres em território nacional e estrangeiro, e com os serviços de extensão, especialmente para uma eficiente e oportuna divulgação dos conhecimentos básicos;
Localização de estações e postos experimentais agrários nas regiões que os planos de povoamento e desenvolvimento agrário aconselharem;
Apetrechamento das estações e postos agrários para experimentação, de modo a poderem prestar um eficiente apoio técnico aos serviços de extensão, e, por outro lado, sempre que possível, poderem as suas áreas de cultivo servir de quintas-modelo aos agricultores e criadores da região;
Dotação das estações e postos agrários com fundes de maneio que lhes permitam funcionar dinamicamente e, por outro lado, possam permitir aliviar as despesas orçamentais; para tal, será de criar incentivos ao pessoal dos seus quadros, através de uma comparticipação nos resultados financeiros de cada estação ou posto agrário; Assegurar que os estabelecimentos de investigação e experimentação estejam aptos a fornecer sementes e plantas seleccionadas, a experimentar técnicas de cultivo mais rentáveis, bem como a experimentar as espécies e raças animais que permitam, na respectiva região, maior rentabilidade e a possibilitar a utilização de reprodutores pelos criadores.

170. Quanto à assistência técnica à actividade agrária, as medidas a considerar são:

Sincronização da actividade dos serviços de agricultura e de veterinária, especialmente a nível local, com o objectivo de obter uma racional e rentável actividade das explorações agro-pecuárias, quer de dimensão média, quer de pequenas empresas, através da extensão, assistência técnica e vulgarização agrária;

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Aumento do número de unidades do pessoal técnico dos serviços de extensão, especialmente as de mais baixos escalões, com conveniente qualificação e preparação para a sua missão junto do agricultor e criador;
Entrega das funções burocráticas a pessoal de remuneração menor e de mais fácil recrutamento que o pessoal técnico dos serviços de extensão;
Maior remuneração ao pessoal técnico, especialmente através de incentivos para o canalizar da cidade para o campo;

tribuição de «fundos de maneio» aos serviços de extensão para que possam manter-se essencialmente dinâmicos na sua actividade;
De acordo com as disponibilidades de pessoal técnico, canalização da assistência técnica para as regiões em que os programas de povoamento ou de expansão de culturas aconselham prioridade.

171. No tocante ao ensino agrário, as medidas a considerar são as seguintes:

Incremento da formação de técnicos agrários e pecuários a diversos níveis, especialmente monitores, feitores e regentes agrícolas;
Instituição de escolas agrárias rudimentares junto às estações e postos agrários, para prepararem monitores e feitores agrícolas;
Ministração, paralelamente ao ensino especificamente agrário, de conhecimentos que habilitem os futuros monitores agrícolas a serem úteis instrumentos na utilização das técnicas do desenvolvimento comunitário;
Preparação destes centros de ensino para receber estagiários de diferente preparação e etnia, eventualmente os colonos metropolitanos, para se habituarem aos costumes e às culturas que terão de agricultar nas regiões em que se instalarem;
Utilização dos técnicos dos variados serviços de apoio à actividade agrária nas funções docentes mediante gratificações;
Atribuição de verbas para improvisação, nas estações e postos agrários, de centros de ensino agrário, quer para instalações, gratificações e remunerações ao pessoal docente, quer para material didáctico e alimentação dos respectivos alunos, sendo, porém, possível que, tratando-se de cursos essencialmente práticos, os próprios alunos possam concorrer para um aumento da produção agrária nesses estabelecimentos, o que se reflectirá em menores valores para aquelas verbas.

172. Na mecanização agrária consideram-se as seguintes medidas:

Preocupação de aconselhar a utilização da tracção animal, sempre que ela seja possível;
Canalização, sempre que possível, das verbas orçamentais afectas a parques de máquinas estaduais para outras despesas agrárias (assistência técnica);
Fomento do aparecimento de empresas privadas especializadas e idóneas para explorarem, por aluguer, parques de máquinas, nas regiões onde haja núcleos de agricultores e criadores que tal justifique;
Preocupação de tirar a maior rentabilidade do capital imobilizado em maquinaria agrícola, com o objectivo de reduzir o capital imobilizado e racionalizar o aproveitamento das máquinas, devendo existir uma conta de exploração por cada máquina pesada;
Paralelamente a essas empresas especializadas, fomento, junto das associações agrícolas bem organizadas, da criação de parques de máquinas;
Fomento, apoio e preparação, pela Junta Provincial de Povoamento, das associações agrícolas, para estas poderem assumir com rentabilidade a responsabilidade dos parques de máquinas.

173. Na rubrica «Crédito agrário», as medidas a considerar são:

Dotação da Caixa de Crédito Agrícola com pessoal necessário para acompanhar e garantir os créditos concedidos às explorações agrágrias;
Actuação da Caixa em estreita colaboração com os fundos de fomento agrário, com o objectivo de em conjunto, satisfazerem as necessidades de capital do sector privado. Os fundos deverão ter a seu cargo os investimentos necessários, mas não directa ou seguramente rentáveis, bem como a participação financeira em empreendimentos produtivos de interesse comum a dados conjuntos de agricultores ou criadores de gado. Quando as verbas desses fundos não permitirem uma tão larga função, deverão então garantir à Caixa o risco de pagamento das amortizações dos empreendimentos daquele tipo que financiou.

174. Ainda no tocante aos actuais fundos de fomento agrário, as medidas a considerar são:

Revisão de todos os actuais fundos de fomento agro-pecuário quanto à sua estrutura, administração, aplicações e receitas, atribuindo-se-lhes autonomia administrativa e financeira e, se possível, criando-lhes um regime idêntico, se não for viável fundi-los racionalmente, com o fim de evitar a prejudicial pulverização e por vezes incorrecta aplicação das receitas que, como fundos destinados ao fomento, devem integrar os seus objectivos dentro dos mais genéricos dos Planos;
Inclusão no âmbito desses fundos da contribuição para a estabilização dos preços dos produtos agrários, em benefício do produtor e sem graves reflexos no consumidor e industrial internos;
Aplicação exclusiva das receitas destes fundos nas despesas directamente ligadas ao fomento da produção agrária;
Actuação da administração dos fundos em estreita colaboração entre si e a Caixa de Crédito Agrícola, nos termos recomendados anteriormente, cobrindo com as suas receitas o risco na amortização dos empreendimentos que a Caixa financie;
Comparticipação mais lata de todo o produto agrário no aumento das receitas dos fundos, já que estes terão por exclusiva finalidade movimentar e beneficiar directamente a produção agrária.

175. Quanto à comercialização dos produtos agrários, considera-se como medida fundamental:

Estabelecimento de normas sobre a comercialização agrária com vista a:

Assegurar ao produtor um preço conveniente, se não remunerador;
Assegurar ao produtor a venda dos seus produtos por um preço mínimo e, se possível, estável, embora não independentemente da oscilação das cotações internacionais dos produtos agrícolas;

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Regulamentar a classificação e embalagem dos produtos agrários de modo a serem vendidos internamente ou exportados em lotes uniformes, quer quanto ao tamanho, quer quanto aos tipos e qualidades;
Fixar a percentagem na comercialização dos produtos agrários, com vista a evitar a especulação pelos intervenientes nas operações de comercialização;
Criar, se necessário, feiras para produtos agrários, devidamente organizadas e análogas às actuais feiras de gado;
Canalizar parte das operações de comercialização dos produtos para as respectivas associações agrícolas;
Que seja canalizada, sempre que possível, para as organizações cooperativas, parte da responsabilidade da rede de armazenagem, se bem que orientadas e apoiadas por meios financeiros dos planos de fomento através da Caixa de Crédito Agrícola e dos departamentos incumbidos da comercialização;
Que as verbas necessárias para a comercialização dos produtos agrários sejam concedidas pelo banco emissor, a uma taxa de juro moderada, com aval do Governo.

176. No campo da industrialização dos produtos agrários, as medidas a considerar são:

Estudos prévios, na planificação da industrialização dos produtos agrários, quanto à possibilidade e viabilidade económica da aplicação da desidratação àqueles produtos na província;
Dinamização, por meio de uma política de financiamentos e comparticipação financeira, da industrialização dos produtos agrários e, quando possível, canalização da industrialização complementar da produção agrária para as organizações de agricultores e criadores, especialmente de base cooperativa;
Apoio administrativo, através dos órgãos, especializados, como a Caixa de Crédito Agrícola, aos empreendimentos de tipo cooperativo, quer recomendando os gerentes que garantam a exploração desses empreendimentos, quer acompanhando a exploração desses mesmos empreendimentos.

177. Quanto ao sector privado e às associações agrícolas, as medidas a considerar são:

Atribuição aos serviços e entidades oficiais das funções que não puderem ser canalizadas para o sector privado (associações agrícolas);
Apoio e dinamização, através da acção dos serviços, das estruturas privadas, para que estas, a curto e médio prazo, possam assumir a generalidade das funções ligadas à produção agrária, que, em princípio, devem ser imputadas às associações agrícolas:

Assistência técnica especializada aos associados;
Comercialização dos produtos agrícolas;
Fornecimento aos associados, em boas condições de preço e qualidade, dos artigos de que necessita a sua produção;
Armazenagem da produção agrária dos associados;
Aluguer de máquinas e alfaias agrícolas aos associados ;
Beneficiação ou transformação dos produtos dos associados;
Transporte da produção dos associados;
Assistência mecânica às máquinas e alfaias agrícolas dos associados;
Assistência médica aos trabalhadores dos associados;
Orientação da política social a adoptar pelos associados para resolução dós problemas ligados à mão-de-obra;
Representação dos legítimos interesses dos associados junto das instâncias oficiais;
Preparação de pessoal especializado para satisfazer as necessidades dos associados.

Revisão da actual legislação sobre associações agrícolas, de modo a abranger os agricultores de subsistência e empresariais, tendo em consideração o condicionalismo específico de Moçambique;
Inclusão nessa legislação dos seguintes princípios.

Centralização num único departamento oficial de todo o licenciamento dó movimento associativo de tipo agrário;
O departamento oficial deve assumir uma feição dinâmica, e não meramente passiva, de modo a promover e despertar o interesse junto do agricultor, tendo as seguintes funções:

Promoção da fiscalização sobre a actividade das direcções das associações agrícolas, de modo a estas não se afastarem dos legítimos interesses dos associados;
Promoção e organização de cursos intensivos de formação corporativa e cooperativista essencialmente práticos, com o fim de possibilitar o recrutamento de pessoal qualificado para o próprio departamento e, fundamentalmente, para as funções de gerência e outras dentro das associações agrícolas;
Centralização e divulgação de informações de interesse às associações agrícolas.

178. No campo da coordenação da actividade agrária, consideram-se as seguintes medidas:

Institucionalização de uma estreita coordenação entre todas as entidades ligadas à produção agrária, quer a nível provincial, quer, especialmente, a nível regional;
Mentalização de todo o sector agrário, quer o próprio sector produtivo, quer o de apoio à produção, a todos os níveis de funcionários, para uma eficiente e estreita colaboração;
Execução do programa de política agrária para a província, independentemente das mutações dos dirigentes do sector agrário;
Concentração nas regiões e sectores previamente planeados da actividade sincronizada de toda a estrutura de apoio ao desenvolvimento agrário, de modo a poder tirar-se o máximo rendimento com os meios disponíveis.

179. No que diz respeito ao povoamento, as medidas a considerar são:

Revisão da política de povoamento, especialmente a da colonização dirigida, tendo em consideração as diversas experiências já existentes na província;

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Dinamização, pela Junta Provincial de Povoamento, da colaboração de todos os outros serviços do Estado, bem como do sector privado, para a execução do programa de povoamento;
Estudo, a nível central, provincial e local, das diversas soluções de colaboração entre as Forças Armadas e a Junta Provincial de Povoamento no sector do povoamento;
Criação do serviço de colocação de colonos na Junta Provincial de Povoamento, com as seguintes funções específicas:
Estabelecer um inventário das necessidades de pessoal das actividades privadas, organismos oficiais e autarquias;
Divulgar na metrópole e na província as possibilidades de absorção da mão-de-obra reveladas pelo inventário referido;
Promover o recrutamento de colonos;
Dirigir um centro de recepção de colonos com o fim de os acolher, orientar e ajudar; a garantia de instalação e alimentação será oferecida por este centro, prevendo-se, contudo, que os colonos reembolsarão o Estado, uma vez colocados e em condições de suportar o pagamento dos encargos que com eles foram assumidos;
Encarar o estudo da criação de centros de adestramento destinados aos colonos não profissionalmente qualificados;

Revisão da legislação vigente sobre a concessão de terrenos, que, pela sua essência e pela usual interpretação, contribui para que os processos relativos a concessões se arrastem por longos períodos;
Concessão aos colonos recém-chegados, pelos serviços oficiais, de prioridade absoluta e máxima urgência nos assuntos que por eles sejam postos, visando-se assim o maior desembaraço em tudo que, directa ou indirectamente, diga respeito à sua fixação;
Intervenção directa do Estado no desenvolvimento industrial da província, pelas vias mais convenientes e eficazes;
Promoção, em moldes práticos e eficientes, de uma assistência técnica efectiva nas pequenas explorações mineiras, com cedência ou aluguer de equipamento mineiro, orientação no comércio dos minérios e apoio à obtenção de créditos, devendo os Serviços de Geologia e Minas facultar a assistência preconizada logo que as medidas que se referem ao campo mineiro o permitam, dado que se trata de um activo meio de povoamento;
Fixação dos preços dos produtos resultantes das actividades dos colonos;
Estudo de tarifas de fretes rodoviários, de modo a tornar certas áreas atraentes e susceptíveis de fixar colonos;
Criação de um distrito-piloto onde possam ser ensaiadas algumas das recomendações sugeridas.

4. Investimentos

180. Os investimentos previstos são os constantes do mapa seguinte:

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

II) Pesca

181. Os objectivos a definir na vigência, do III Plano de Fomento para incrementai: a actividade do sector, além dos que se mencionam em «Estudos de biologia piscatória e pesca experimental», são os seguintes:

Exercer a pesca da lagosta, camarão e outros crustáceos com artes adequadas;
Dotar a pesca de arrasto com barcos adequados;
Industrializar os produtos da pesca por congelação, conservas por enlatamento e formação;
Fomentar a distribuição do produto por todas as regiões da província.

As verbas a despender durante o Plano são as que mencionam os referidos «Estudos de biologia piscatória», além dos investimentos de origem privada, sobre os quais não foi possível dispor de elementos completos. É de assinalar, no entanto, como projecto já em realização o empreendimento da Arem - Sociedade dos Armadores das Pescas em Moçambique, em cujo âmbito estão previstos investimentos da ordem dos 50 000 contos no período do III Plano de Fomento para aquisição de embarcações e instalações frigoríficas e fabris.

III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Indústria extractiva

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

182. A situação actual e os objectivos no que se refere ao problema do abastecimento de água às populações rurais e ao gado não é desafogada, com reflexos nas condições de vida da população e na manutenção e qualidade dos efectivos pecuários existentes; verifica-se ainda a insuficiente articulação das diferentes entidades públicas com responsabilidades na orientação deste sector.
Foi considerado fundamental para o desenvolvimento do Sul do Save e para a exploração do gado bovino do Tete a resolução do problema de abastecimento de água, passando, portanto, estas zonas a constituir pólo de preocupações.
Era de considerar-se igualmente a situação do problema do abastecimento de água de pequenos núcleos populacionais.
Reconhece-se que os problemas a encarar são de ordem muito diversa. De facto, há, por um lado, que proceder a estudos hidrogeológicos de base, sem os quais são forçosamente pouco produtivos, por vezes impossíveis, os trabalhos concretos de execução das captações. Por outro lado, o deficiente sistema de conservação actual inutiliza uma grande parte das captações existentes. Finalmente, deve ser definido o próprio regime e ritmo a que deve obedecer a execução das captações.
No que se refere a estudos hidrogeológicos, o problema assume feição muito diversa, conforme a região de que se trate. De facto, se para o Sul do Save existem elementos que, para cada zona, permitem já o equacionamento de cada problema de pesquisa, há agora necessidade de o completar com um estudo hidrogeológico de pormenor e realizar os projectos de captações. No distrito de Tete, o conhecimento é muito mais imperfeito e em grande parte dos outros distritos a informação é praticamente inexistente.

183. Havendo que seriar o programa de objectivos a atingir, considera-se que neste Plano se deveria abordar prioritariamente tudo o que respeitasse a investigação de base e de pormenor, ao mesmo tempo que se procurava uma maior coordenação entre a acção dos diversos serviços interessados. Esta coordenação deveria existir, quer ao nível dos próprios estudos, quer nos trabalhos concretos de captações a efectuar, quer ainda no regime de conservação das captações.

184. A execução das captações, cujo interesse se põe com maior acuidade, é contemplada neste Plano através do sector de «Melhoramentos rurais» -no que refere ao abastecimento dos pequenos núcleos populacionais - e pelo subsector da «Pecuária» - no que se refere às necessidades de abeberamento de gados. Estes programas não cobrem a totalidade dos empreendimentos que serão efectuados rio período do Plano, admitindo-se que a comparticipação dos interessados possa levar a um aumento sensível do ritmo a que se tem procedido na execução das captações.
Para este facto espera-se que contribua em larga medida a acção das comissões distritais de águas, que, baseadas num conhecimento mais perfeito das necessidades e possibilidades locais, poderão estimular a execução das

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captações nas respectivas regiões. Espera-se, também, que a definição de prioridade dentro do distrito que lhes compete e que constituirá o elemento base de orientação do gabinete coordenador daquelas comissões poderá assegurar a compatibilização com os programas dos sectores relacionados, já que resultará de um acordo estabelecido entre os representantes dos diversos serviços intervenientes, que estarão conscientes, como entidades executoras do Plano, das metas a atingir.

185. Deste modo, procurou-se que nos trabalhos de elaboração de estudos e projectos se procedesse a uma conjugação dos meios de acção e das estruturas existentes, de modo a aproveitar tanto quanto possível as actuais especializações. E assim que as três brigadas a constituir ou a reforçar - Hidrogeologia, Sondagem de Pesquisa Geofísica e Aproveitamentos Superficiais e Poços- serão organizadas, respectivamente, pelos Serviços de Geologia e Minas, Laboratório de Ensaios de Materiais e Mecânica do Solo e Serviços de Obras Públicas.

b) Fomento mineiro

186. Não se dispondo ainda do conhecimento completo da potencialidade mineira de uma vasta área da província, há, pois, que proceder à elaboração das cartas que constituem alicerce indispensável para futuros trabalhos mineiros.
Há também que suprir deficiências do pequeno e médio pesquisador, dando-lhes o apoio dos serviços públicos, e, além disso, criar um sector técnico capaz de garantir uma eficiente assistência às brigadas de campo.

187. A exploração dos minérios de ilmenite e zircão existentes nas áreas de Moebase e Pebane exigirá ainda a realização de obras no porto de Pebane.
A exploração das ilmenites, cuja produção anual por empresas privadas se prevê que atinja o valor de cerca de 93 000 contos, só será possível desde que se executem obras de dragagem e apetrechamento daquele porto, e, apesar de a medida de fomento dever ser, nesta parte, integrada no sector dos «Transportes», propôs-se o investimento pelo sector das «Indústrias extractivas».

188. Convém prever também estudos de diversos minérios quanto à possibilidade da sua industrialização, que, nalguns casos, é condição básica para incremento da sua exploração, como é o caso das microlites, tantalites, fluorites, pedras semipreciosas, ferro-ligas, etc.

2. Objectivos

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

189. Em consequência das medidas de fomento propostas, deverá ficar assim assegurado:

Realização de 100 sondagens mecânicas e 10 000 geoeléctricas de pesquisa e prospecção, para resolver todos ou a grande maioria dos problemas de captação das zonas sobre que incide o estudo; as duas mais necessitadas são as do Sul do Save e do Tete.
Realização de projectos:

De represas de terra;
De poços e respectivas instalações superficiais anexas.

Conservação das captações:

Conservação anual de cerca de 1800 captações e respectivos sistemas elevatórios.

b) Fomento mineiro

190. Os objectivos visados podem definir-se como segue:

Exploração dos minérios de ilmenite e zircão na área de Pebane, correspondendo, a um volume de produção anual de 125 000 t e a um valor de 93 000 contos.

Estima-se em 33 820 contos a entrada líquida anual de divisas, dado que a diferença para os 93 000 contos será transferida para o exterior como pagamento de fretes e transferências de lucros. A exploração tornar-se-á possível como consequência de obras de dragagem no porto de Pebane, que o tornarão acessível a navios de 8000 t.

3. Medidas de política

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

191. Da falta de organismos coordenadores dos problemas suscitados pelas necessidades de abastecimento de água das populações rurais e gados e sua satisfação e de organismos responsáveis pela conservação das captações existentes resulta a multiplicidade de serviços públicos que têm competência para se dedicar ao estudo e à solução destes problemas e resulta também um mau aproveitamento dos meios de acção existentes, porquanto os planos de trabalho são elaborados ao sabor das solicitações da iniciativa privada, sem um critério de selecção dos problemas por ordem prioritária e sem possibilidades de se dispor da totalidade da informação colhida.
Prevê-se, assim, para este sector, a coordenação da informação e da acção dos organismos interessados e competentes. Sem essa coordenação não é possível atingir plenamente os objectivos traçados no projecto, pelo que se considera necessária a criação de comissões distritais de águas e de uma comissão ou gabinete coordenador provincial, em que estariam representados os serviços e organismos interessados.
Nestas condições, deverão ser criadas:

Comissões distritais de águas nos distritos de Lourenço Marques, Gaza, Inhambane, Tete e, eventualmente, Manica e Sofala, com a missão de ficarem responsáveis pela conservação das captações existentes, podendo delegar essa responsabilidade, colher elementos quanto às necessidades de abastecimento, recomendar prioridades e propor a forma de pagamento da execução das captações pelos utentes;
Uma comissão ou gabinete coordenador ao nível provincial, funcionando, eventualmente, junto de um dos serviços interessados, em representação destes, com o fim de coordenar os elementos e propostas provenientes das comissões distritais e propor os planos de acção e os serviços a que devem ser cometidos.

b) Fomento mineiro

192. As medidas impulsionadoras do sector, nomeadamente no que se refere à valorização de minérios e transformação industrial, que se consideram indispensáveis são:
Realização de estudos técnico-económicos das operações de concentração de minérios de tântalo das empresas particulares em actividade, em particular da Empresa Mineira de Marropino;
Estudo laboratorial e económico da transformação das microlites e tantalites em óxido de tântalo ou tântalo metal;

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Estudo técnico-económico de produção de ferro-ligas, com o objectivo de facilitar a exploração de minérios de titânio;
Estudos de coqueficação de carvões, com vista à obtenção de um produto que possa vir a ser requerido por indústrias a criar com base no aproveitamento hidroeléctrico de Cabora-Bassa;
Estudo técnico-económico da obtenção de criolite artificial e ácido fluorídrico a partir de fluorites, com vista a uma possível montagem da indústria do alumínio;
Criação de um fundo de fomento mineiro em Moçambique ;
Criação de um núcleo informativo, permanentemente actualizado, relativamente a mercados, cotações e aplicações industriais das matérias-primas minerais;
Preparação e especialização de pessoal técnico;
Estudo de problemas de transportes e de tarifas que possam impedir o escoamento dos produtos;
Organização de um centro de documentação científica especializada em assuntos respeitantes às ciências geológicas e à indústria mineira;
Criação nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique das licenciaturas em Ciências Geológicas e Engenharia de Minas;
Estudo de actividades subsidiárias, por forma a promover uma equilibrada ocupação económica da província.

2. Indústria transformadora

1. Evolução recente e problemas actuais

193. Numa economia de baixo grau de industrialização, como é o caso de Moçambique, o afastamento entre a produção local e a procura interna é muito considerável em numerosos sectores de actividade. Este facto tem implicações sérias para a economia moçambicana, pensando-se que a definição dos sectores e subsectores da indústria em que a produção local poderá substituir as importações e as condições em que tal substituição poderá ser realizada seja um dos problemas cruciais do desenvolvimento industrial, devido aos limitados meios técnicos, financeiros e humanos disponíveis.

2. Objectivos

194. Apenas com carácter indicativo, admite-se que seja feito pelas entidades privadas neste sector, no período do III Plano de Fomento, um investimento bruto da ordem dos 5210 milhares de contos, assim repartidos:

[Ver tabela na imagem]

Dado o tipo do planeamento escolhido - indicativo no sector industrial - e porque este investimento só pode ser considerado como uma sequência do passado, entende-se desejável que os organismos oficiais promovam e apoiem a actividade privada, com o objectivo de não afastar do previsto o investimento verificado a posteriori.

3. Medidas de política

195. As medidas necessárias neste sector são:

Pesquisa por organismo estadual de novas oportunidades industriais com o objectivo de as divulgar;
Adopção, para cada caso, dos meios de protecção ou estímulo adequados;
Estudo dos problemas de formação de pessoal especializado;
Melhoria das condições de oferta de crédito a longo prazo;
Prospecção de mercados;
Apoio à criação de empresas especializadas em estudos económicos e de organização;
Análise das necessidades das zonas definidas como de «desenvolvimento industrial» (Lourenço Marques, Beira-Vila Pery, Nacala);
Apoio às oportunidades industriais a surgir no seio das definidas «zonas de povoamento»;
Utilização das capacidades desaproveitadas nas indústrias transformadoras dos produtos agrícolas e pecuários e do preenchimento das capacidades normais de laboração de algumas instalações industriais previstas;
Estudo do artesanato, dadas as possibilidades que encontra já na província e considerando a vantagem que advirá do exercício desta actividade em meio rural e nas cinturas urbanas, com vista a poder-se vir a considerar a sua formação.

Investimentos

196. Os casos de desenvolvimento de empreendimentos industriais específicos sugeridos pela análise dos vários sectores deverão ser objecto de pormenorizadas análises posteriores, incluídas nos estudos a efectuar relativos a oportunidades industriais.
Os investimentos previstos no sector da indústria extractiva e transformadora são os seguintes:

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de Investimentos

[Ver tabela na imagem]

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[Ver Quadro na imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

1. Evolução recente e problemas actuais

197. Através deste sector não se procura a obtenção de rendimentos, mas sim assegurar condições adequadas de vida às populações. Incidindo o programa estabelecido sobre abastecimento de água de povoações grandes e pequenas, represas e poços, electrificação, urbanização, esgotos e saneamento, há que ter a preocupação de que corresponda aos melhoramentos absolutamente necessários para atender a necessidades inadiáveis.

198. É desejável uma intervenção estadual que permita acelerar a promoção social, especialmente das populações que vivem em meio rural, criando-se para esse fim uma estrutura administrativa que promova a coordenação dos serviços que têm intervenção no problema da promoção. Procura-se que, a população contribua directamente para a sua promoção económica e social, obtendo-se «investimentos humanos» que permitam acelerar o desenvolvimento económico-social.

199. Numa economia monetarizada, tanto o consumo como o investimento são realizados utilizando «dinheiro». Com excepção de uma pequena parte da população que é empresária no sector agrário e que produz, por vezes, boa parte dos bens alimentares de que necessita, os restantes indivíduos quase não podem proceder a autoconsumo.

200. Em economias menos evoluídas predomina, na generalidade, a actividade agrária e o autoconsumo.
É por isso que se considera tão importante actuar em meio rural, melhorando as técnicas produtivas, e, simultaneamente, ir aproveitando a mão-de-obra em subemprego visível e aquela que vai ficando disponível pelo aperfeiçoamento técnico, pelo menos enquanto a população não ingressar num sistema económico monetarizado.
A mobilização deste subemprego traz um maior aproveitamento do potencial humano existente, tornando-se assim úteis à Nação os recursos humanos desaproveitados.

201. A relação entre o consumo e o investimento, nestes casos, situa-se numa posição intermédia entre o ponto de vista clássico e o keynesiano, pois é possível aumentar a formação de capital sem diminuir nem aumentar o consumo, no caso de se considerar só a mobilização da população em subemprego visível.

202. Os serviços de Moçambique já procuram actuar neste campo de promoção, embora de uma forma não coordenada, sendo desejável uma acção dinamizadora e
coordenada dos vários serviços com fundamento em programas concretos de actuação para as diversas regiões do território.

203. Actuam mais directamente junto das populações os Serviços de Saúde, com os seus programas de educação sanitária; os Serviços de Educação, com os serviços extra-escolares envolvendo o ensino de adultos, a promoção da mulher, etc.; os Serviços de Obras Públicas, com a realização de melhoramentos locais; os Serviços de Administração Civil, com outros objectivos, incluindo também obras locais; os serviços de extensão agrícola e pecuária (Serviços de Agricultura, Instituto do Algodão, Instituto dos Cereais, Serviços de Veterinária, Junta Provincial de Povoamento), através de intervenção de vários tipos, apoiados por vezes em monitores e visando a organização da produção, a melhoria das técnicas culturais, a comercialização, etc.
O que se pretende atingir é exactamente que tais serviços actuem em dadas regiões, tendo na base da sua actuação um programa comum em que todas as acções a empreender se coordenem, e, por outro lado, que se procure obter a participação da população através do fornecimento do seu esforço em trabalho e, até, em contribuição monetária, quando a população o desejar, quando aquela for necessária para obter a satisfação daquilo que a população considera as suas necessidades.

204. O desenvolvimento comunitário, como processo, tem os seguintes elementos principais:

Um programa planeado com alvo central nas necessidades totais da comunidade;
O encorajamento da auto-ajuda, que é a base de todo o programa;
Assistência técnica efectiva de organismos estaduais ou de organizações voluntárias;
Integração das várias especialidades, para ajudar as comunidades.

Estes quatro elementos são os pilares em que assenta o processo de desenvolvimento da comunidade, segundo as técnicas de desenvolvimento comunitário.
É necessário, porém, notar-se, que o sucesso dos programas só será possível se se adaptar o estado de espírito dos técnicos ao tipo de trabalho que vão realizar.
É evidente que se faria um regadio muito mais rápido recorrendo a maquinaria que recorrendo ao transporte de terra à cabeça ou abrindo valas à pá e picareta.
O bom senso e a necessidade de empregar pouco capital no investimento dirão quando se deverá dar uma ajuda com máquina, mas só supletivamente.
É caso para ponderar o das dezenas de furos e poços para obtenção de água feitos no Sul do Save pelos serviços

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públicos, em que se montou uma bomba manual, e que estão, na maioria, inactivos, em virtude de a população não procurar evitar que as crianças os inutilizem, fazendo ver que tudo aquilo, sendo do Estado, e para benefício da própria população.
Uma obra em que estivesse integrado o suor do rosto das populações seria certamente conservada.

205. A procura dos investimentos humanos faz-se com o objectivo de se poder multiplicar o «dinheiro» que se mobiliza para os Planos, pois, com base numa coordenação de serviços, procura-se ir buscar directamente ao esforço dos homens, especialmente dos que vivem em meio rural, a obtenção de realizações que se teriam de relegar para mais tarde, se houvesse que esperar até o Estado ter «dinheiro» disponível para as fazer.

206. Entende-se que a população só aderirá ao esforço se sentir as obras que realizar com essas pequenas ajudas como sendo suas ou realizadas para seu benefício directo, imediatamente perceptível: o caso de uma ponte que possibilita a ida do gado, durante todo o ano, ao tanque-banheiro; o celeiro feito em termos de se não perder um terço da produção; o armazém da aldeia em que se possam recolher os produtos e classificá-los de modo a haver uma valorização dos mesmos; a casa em materiais duráveis que evita a reconstrução, em períodos curtos, da palhota; a estrada que vai facilitar a passagem do médico ou da ambulância; um regadio que liberta da incerteza das chuvas e permite obter a produção agrícola garantida; a enfermaria ou maternidade que permite cobrir directamente os riscos de uma futura necessidade de assistência; o edifício para a escola, etc., são normalmente necessidades perfeitamente sentidas pela população e, em geral, há aderência das comunidades para a sua realização.

207. Em Moçambique há uma carga geral de subemprego entre as populações rurais autóctones, quer por razões de ordem técnica (primitivismo dos métodos de cultura, uso de variedades menos produtivas ou de menor valor comercial, emprego de alfaias inadequadas, falta de - água para rega em regiões impróprias para a cultura de sequeiro, etc.), quer em consequência das características da própria actividade agrícola numa grande parte da província (a época das culturas é limitada pela estação chuvosa e, mesmo dentro desta, por razões várias, o agricultor permanece inactivo durante os dias que medeiam entre as várias fases do trabalho agrícola), quer ainda por razões de ordem social, em virtude de o rural, no seu contexto cultural actual, não ter ainda, na maioria dos casos, motivações ou perspectivas para despender energias para além das necessárias à satisfação das necessidades básicas.
Em certas regiões há mesmo desemprego, muitas vezes quase total, dado que a falta de chuva inibe, com frequência, qualquer actividade agrícola. Então os homens válidos emigram em grande número para as regiões urbanas e nos campos quase só ficam os velhos, as mulheres e as crianças. Ou então vai toda a família e, quando voltam da migração periódica, encontram as suas terras e palhotas deterioradas, falta de reservas alimentares e um ano de dificuldades a suportar.
Ora, é perfeitamente possível mobilizar o subemprego visível, isto é, excluindo o subemprego técnico, tal como é definido com base na limitação de produtividade, e, consequentemente, dos réditos individuais por insuficiência de ordem técnica.
Vai, portanto, tentar-se, através de uma estrutura administrativa, promover a coordenação de certos serviços provinciais com o objectivo de canalizar o subemprego visível com vista a obterem-se obras de interesse para as comunidades.

2. Objectivos

208. Visa-se instituir um sistema coordenador, orientador e estimulador da promoção social, desejando-se atingir, sómente através desse sistema, 100 000 contos de investimentos humanos durante o período de 1969 a 1973. Excluem-se deste valor de 100 000 contos os investimentos do tipo similar que estão programados no sector agrícola.
Além disso, prevê-se o abastecimento de água, a electrificação, a urbanização, construção da rede de esgotos e saneamento das povoações mais importantes, destacando-se, em especial, a zona de Vila Pery.

3. Medidas de política

209. A legislação actual não impede que a população promova os investimentos do seu interesse e que os resultados do investimento, se integrem no património comum. Será mais difícil proceder-se ao pagamento directo ou indirecto pela população de despesas de funcionamento, no caso dos agentes, como professores, enfermeiros, etc., especialmente quando esse pagamento seja só parcial.
O assunto será, pois, analisado do ponto de vista da adaptação legislativa com objectivos de que os investimentos humanos, quando realizados, não fiquem por utilizar, dada uma eventual dificuldade que surja no pagamento de parte das despesas de funcionamento.

4. Investimentos

210. Os programas de investimentos em melhoramentos rurais são os seguintes:

Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

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V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

211. A visão integrada dos problemas energéticos que se procurou constitui o problema de compatibilização mais importante que se pôs neste sector.
Por sua vez, a relação com outros sectores é forçosamente muito estreita, dado que a energia constitui uma infra-estrutura básica de toda a actividade económica. Não constituindo a produção de energia um fim em si mesmo, mas simplesmente um serviço prestado, é evidente que todo o trabalho de programação foi conduzido no sentido de assegurar a satisfação dos consumos previstos nos restantes sectores de actividade.

212. A este respeito, deve salientar-se a dificuldade de realizar previsões de consumo com razoável segurança, já que as características próprias do território, o dinamismo do crescimento de certos centros populacionais, os próprios valores do consumo reduzidos de que se parte, implicam uma dissemelhança temporal muito grande nos ritmos de crescimento do consumo.
Por vezes, acontece que a simples montagem de uma ou duas unidades industriais em dada zona faça subir sensivelmente o consumo de energia eléctrica nessa zona. Mesmo no que se refere aos centros urbanos mais importantes da província, são muito falíveis as previsões de consumo que se fazem nesta altura.
Este facto obrigou a que se procurasse utilizar todos os elementos conhecidos que de algum modo podem influir no ritmo de crescimento dos consumos das diferentes regiões da província, muito particularmente no que se refere a novas instalações industriais, mesmo que não sejam objecto de decisões definitivas. Esta preocupação foi patente, pois chegou-se a abordar concretamente a instalação de uma ou outra unidade fabril nova, porque, na realidade, pode ter uma importância decisiva no programa energético da respectiva região.
Deste conjunto de circunstâncias derivam dois pontos importantes:

O primeiro refere-se ao carácter de relativa incerteza que reveste o plano de investimentos propostos, não quanto aos empreendimentos indicados, mas no que se refere às datas de entrada em serviço, já que são pouco seguras as previsões de consumo de que parte. De notar que, em caso de previsões pessimistas, há que antecipar investimentos, o que, independentemente do carácter de maleabilidade a conceder ao calendário anual proposto (donde deriva a necessidade da sua revisão periódica), implica que os respectivos estudos tenham sido já levados a um grau de adiantamento que não permita soluções de improviso.
O segundo ponto refere-se à necessidade de conceder uma especial atenção à melhoria dos métodos de estabelecimento de previsões do consumo e, particularmente, à possibilidade de se utilizarem todas as informações sobre a evolução da actividade económica da província que, de algum modo, possam contribuir para uma mais correcta previsão. Há também a salientar a vantagem em que essas previsões sejam regularmente divulgadas, como meio de proceder à sua elaboração numa base cada vez mais perfeita.

213. A compatibilização do programa de novos empreendimentos no campo da energia eléctrica, com as previsões da evolução da actividade industrial nas zonas que foram consideradas com potencialidade para um maior desenvolvimento industrial, foi realizada especialmente com vista a definir as necessidades em matéria de infra-estruturas básicas nas zonas de desenvolvimento industrial, o que, indirectamente, permitiu estabelecer uma certa coordenação nos programas de energia, transportes e abastecimentos de água para cada uma das zonas seleccionadas.

214. Um dos pontos tratados merece uma referência pormenorizada.
Atenta a necessidade de impulsionar a instalação de novas unidades industriais no Norte da província, uma grande parte do trabalho realizado consistiu em precisar as condições de que dependeria a expansão industrial ao longo do eixo Nacala-Nampula.
O problema assumia particular relevância para a programação no campo da energia eléctrica, dado que esta tem constituído, de certo modo, um factor limitante, podendo considerar-se elevadas as tarifas a que é fornecida para a indústria.
No que se refere a Nampula, reconheceu-se que as possibilidades de uma melhoria significativa neste campo estavam estreitamente associadas à execução do aproveitamento do Alto Molócuè.
Mais controvertido foi o que se referiu a Nacala e à zona Monapo-Namialo, em que se poderia admitir uma relativa preferência pelos empreendimentos que se localizassem mais para o interior, aproveitando o interesse que esses centros começam a assumir para a indústria e criando-lhes condições para uma expansão vigorosa. Na realidade, admitiu-se que, dentro do eixo Nacala-Nampula, seria para Nacala que deveriam convergir os maiores esforços no período do III Plano de Fomento. Porque essa conclusão tem grandes implicações para o planeamento energético naquela zona e também porque foi motivada por condicionalismos próprios deste sector, abordam-se seguidamente algumas dessas implicações.
De facto, entrará brevemente em exploração uma central térmica a fuel-oil em Nacala, que se julga dever ser ampliada durante o período do III Plano. Não está ainda determinada a dimensão da ampliação, já que esta estará dependente do crescimento do parque industrial da vila, bem como da decisão final de irradiar da sua cen-, trai uma rede de transporte que sirva a zona de Monapo-Namialo. Deve notar-se, porém - e esse foi um factor que pesou bastante na posição adoptada -, que a duplicação da potência instalada na central dará à sua exploração condições económicas muito favoráveis, convindo, portanto, criar condições para que o consumo de energia eléctrica na zona atinja valores verdadeiramente significativos.
É nesta perspectiva que se integra a instalação da rede de transportes ligando Nacala ao Monapo e o Monapo a Namialo. Na verdade, poderia admitir-se, atendendo à relativa extensão da rede de transporte - cerca de 100 km -, a hipótese alternativa do estabelecimento de uma central localizada no Monapo, o que teria, porventura, modificado a preferência definida para Nacala, já que o Monapo apresentava, sob vários aspectos, condições mais favoráveis.
Porém, a análise comparativa a que se procedeu levou a considerar mais vantajosa a instalação da rede de transporte que, aliás, poderá ser o primeiro passo para um esquema regional de transporte de energia que virá a materializar-se pelo seu prolongamento para o Lumbo e ilha de Moçambique e pela interligação, em Nampula, com a rede a servir pelo aproveitamento hidroeléctrico do rio Molócuè.
A análise referida contribuiu, em parte, para as conclusões a que se chegou ao tratar das zonas de desenvolvimento industrial. Ao mesmo tempo, essas conclusões

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vieram conceder especial importância à criação e desenvolvimento das infra-estruturas de energia eléctrica na zona de Nacala, importância que é reflectida pelos empreendimentos relativos a esta zona contidos no III Plano de Fomento.

215. Outros problemas de compatibilização se levantaram no que respeita aos aproveitamentos de fins múltiplos, relativamente aos quais houve que proceder a um acerto de posições com os problemas da agricultura.
O problema pôs-se especialmente no caso dos aproveitamentos hidroeléctricos dos rios Messalo e Malerna, que terão igualmente finalidades hidroagrícolas. Estes aproveitamentos serão estudados no período de 1968 a 1973, esperando-se iniciar a construção do primeiro no final do período. A conjugação com os estudos que ao mesmo tempo tinham sido propostos com o objectivo de regularização do rio e de rega levou a alterar a data que primitivamente tinha sido pensada para início dos estudos e, correspondentemente, da construção. Assim, foi decidido que os estudos fossem iniciados em 1969, e houve igualmente que proceder a um acerto das verbas que deveriam ser imputadas a cada um dos sectores. Foi considerado muito importante que existisse uma estreita conjugação entre os estudos de produção de energia e de possibilidades hidroagrícolas relativas a estes aproveitamentos, o que se pensa poder ser conseguido, em parte, pela atribuição a uma empresa dos estudos que podem ser realizados conjuntamente.

216. Também houve necessidade de proceder a uma certa harmonização quanto à proposição de um programa de inventariação de recursos hidráulicos. De facto, um dos trabalhos consistiu precisamente no definição de prioridades para o estudo das bacias hidrográficas, tendo-se procurado, para esse efeito, utilizar critérios que tivessem em vista simultaneamente as finalidades hidroagrícolas e de produção de energia.

217. Problemas mais delicados se levantam no que se refere ao transporte de combustíveis para a costa da província e ao transporte do carvão de Moatize.
O primeiro destes problemas diz respeito à necessidade de proporcionar às centrais térmicas disseminadas pela província a possibilidade de produzirem energia eléctrica a preços bastante inferiores aos obtidos em muitas outras centrais deste tipo consumindo gasóleo, o que se reconheceu estar Intimamente dependente do fornecimento do fuel-oil a granel em condições favoráveis. A primeira solução encarada consistiu na aquisição de um petroleiro para este fim, solução que encontrava correspondentes instalações de armazenagem de produtos petrolíferos em alguns portos da província.
Para resolução do problema foi possível utilizar o método da programação linear, de cuja aplicação resultaram conclusões opostas a esta solução.
Em linhas gerais, esta conclusão, conjuntamente com a possibilidade revelada no decorrer dos trabalhos de movimentação de fuel-oil, pela utilização dos navios de longo curso, deu um novo aspecto ao problema, que terá de ser analisado em profundidade.

218. Por sua vez, ligado ao campo das actividades extractivas, verifica-se que o carvão de Moatize tem defrontado problemas de comercialização cuja resolução não parece fácil. Atendendo a vários factores de incerteza, não foi possível, como era desejo inicial, definir uma «zona de influência» para o carvão de Moatize, a tornar posteriormente operacional por medidas de política apropriadas.
Reconheceu-se, todavia, que não era possível fornecer-lhe uma base mínima de competitividade económica com outros combustíveis utilizados na produção de energia por via térmica se não fossem revistos profundamente certos factores determinantes desta situação. Entre eles avultam as tarifas de caminho de ferro actualmente praticadas, os encargos que oneram o armazenamento e manuseamento do carvão MÓS diversos portos da província e os próprios preços praticados pela navegação de cabotagem.
O problema, porém, necessita de ser integrado numa óptica mais geral, conjugando todos os elementos que envolvem a exploração das minas de carvão de Moatize em condições económicas, o que constituía precisamente uma das principais atribuições dos estudos relativos a indústrias extractivas.

2. Objectivos

219. Com referência aos projectos cobertos pelo investimento público, exceptuando, portanto, as obras a cargo das concessionárias (Sociedade Nacional de Estudo e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos, S. A. R. L., e Sociedade Hidroeléctrica do Revuè, S. A. R. L.), com a ressalva do aproveitamento hidroeléctrico do Alto Zambeze em Cabora-Bassa e do aproveitamento do rio dos Elefantes em Massingir, os empreendimentos propostos significarão o seguinte progresso relativamente à situação actual:

Aumento da produção de energia eléctrica mediante:

Instalação de uma potência térmica adicional de cerca de 8 MW, correspondente a três centrais;
Construção do aproveitamento hidroeléctrico do Alto Molócuè, com uma potência instalada de 39 MW e uma produtibilidade média de 90 GWh por ano;

Construção de uma rede de transporte e distribuição, com as respectivas subestações, correspondendo a:

420 km de linhas à tensão de 150 kV, funcionando a 110 kV;
100 km de linhas à tensão de 110 kV, funcionando inicialmente a 60 kV;
125 km de linhas à tensão de 60 kV;
Cerca de 200 km de linhas e ramais de grande distribuição;
Potência dos transformadores instalados nas subestações de cerca de 100 MUA.

Reconhecimento de 22 bacias hidrográficas consideradas prioritárias, consubstanciado num inventário para cada uma, do qual conste especialmente - como orientação para os empreendimentos a levar posteriormente a cabo - o seguinte:
Primeira avaliação das possibilidades de produção de energia eléctrica, de aproveitamento hidroagrícola e de abastecimento de água, navegação e outros fins;
Sugestão para execução das obras de maior interesse, imediato ou a longo prazo, com estimativa grosseira do respectivo custo; Recomendação da ocupação hidrológica mais conveniente.

3. Medidas de política

220. As centrais térmicas da província, excluída a da Sociedade Nacional de Estudo e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos, S. A. R. L., consomem produtos petrolíferos - gasóleo, em grande maioria.

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Os custos da energia eléctrica produzida por estas centrais são função fundamentalmente do tipo de central, do custo do combustível e do factor de capacidade, mas pode dizer-se, de um modo geral, que os custos são elevados e, em certos casos, desencorajadores para novas instalações industriais.
Sucede que a utilização de grupos electrogéneos consumindo fuel-oil pode possibilitar a produção de energia eléctrica a preços bastante inferiores aos obtidos em muitas centrais térmicas consumindo gasóleo, desde que o fuel-oil seja fornecido a granel, em condições favoráveis. Dada a importância do assunto, foram especialmente analisados os problemas do transporte dos produtos petrolíferos por cabotagem, seu fornecimento e armazenagem.
Por outro lado, deve ser encarada com todo o interesse a possibilidade de utilização dos carvões de Moatize na produção de energia eléctrica, visto tratar-se de um combustível da província, devendo notar-se, todavia, que as centrais a carvão apenas são competidoras com as centrais a Diesel a partir de consumos da ordem dos 50 kWh a 60 kWh, dados os maiores encargos de instalação para pequenas potências instaladas.
Nestas circunstâncias, o problema da produção de energia por via térmica terá de se convenientemente estudado para cada caso, tendo em vista a possibilidade de utilização de combustíveis da província - carvão de Moatize e refinados de petróleo da Sonarep -, ficando a escolha do combustível a utilizar subordinada ao valor da potência e utilização anual da ponta máxima, bem como às vantagens e desvantagens que em cada caso oferece o uso dos referidos combustíveis, atendendo sempre, porém, a que é do máximo interesse nacional depender o menos possível de fontes externas de energia, de modo a evitar saída de divisas. Em particular no caso da nova central térmica a instalar para abastecimento da região de Lourenço Marques (C. T. III), que poderá laborar com carvão importado, de origem sul-africana, em boas condições de preço, tem muito interesse considerar a possibilidade de projectar a central de modo a serem consumidos indiferentemente os dois combustíveis - carvão e fuel-oil.

221. Considera-se indispensável a resolução a curto prazo do problema do fornecimento a granel de combustíveis, sobretudo de fuel-oil, atendendo especialmente aos benéficos efeitos que daí podem resultar nos custos de produção de energia eléctrica de muitas centrais térmicas. A descida de preço dos produtos petrolíferos pode beneficiar outros importantes sectores da actividade económica.
Nestas circunstâncias, atendendo a que não parece haver vantagem em que a frota da cabotagem da província seja dotada de um petroleiro com características apropriadas para esta finalidade, recomenda-se que seja devidamente esclarecida a possibilidade de os navios de longo curso transportarem fuel-oil a granel.
Sendo isto possível, ficaria assegurado o abastecimento dos portos da Beira, Nacala e Porto Amélia, considerando-se suficientes a frota de cabotagem existente e os transportes rodoviários e ferroviários para o tráfego deste combustível entre os demais portos e para o hinterland.

222. Embora ainda nada de concreto seja conhecido quanto à existência de petróleo em Moçambique, de que só foram encontrados, até agora, pequenos vestígios, foi unanimemente reconhecida a conveniência em prosseguir com as pesquisas petrolíferas, dada a repercussão que terá na economia da província a descoberta de tão valiosa fonte de energia.
Nestas condições, independentemente da continuação das prospecções em curso, promoveu-se o alargamento das prospecções a novas áreas, considerando a participação neste trabalho de outras empresas especializadas.

223. O distrito de Manica e Sofala corresponde praticamente, no que diz respeito a produção e grande distribuição de energia, à área de concessão da Sociedade Hidroeléctrica do Revuè, S. A. R. L.
Nesta área põem-se alternativas de grande importância, para a elucidação das quais não existem ainda suficientes elementos de análise, na escolha dos meios de produção que deverão seguir-se ao alteamento da barragem da Chicamba Real à cota definitiva, nomeadamente:

Outros aproveitamentos na bacia hidrográfica do Revuè (centrais do Mavúzi III, Mavúzi III, etc.);
Aproveitamentos hidráulicos de fins múltiplos no Pungue.
Centrais térmicas, a localizar, possivelmente, no Dondo ou na Beira.

Acresce que a circunstância de se prorrogar ou não o actual contrato de exportação de energia para a Rodésia vai afectar as decisões que vierem a ser tomadas, mais concretamente as datas em que as novas fontes de produção de energia terão de entrar em serviço.
Nestas circunstâncias, é indispensável, para melhor basear quaisquer opções futuras, que a concessionária apresente, o mais rapidamente possível, o projecto de obras a executar na zona de concessão.

4. Investimentos

224. Os empreendimentos da iniciativa privada incluídos no sector «Energia», isto é, tudo o que diga respeito ao carvão e combustíveis líquidos e às instalações de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica a cargo das empresas concessionárias, não foram considerados na relação de projectos incluídos no Plano, nem, consequentemente, na síntese de investimentos, pela dificuldade de obtenção dos elementos de informação necessários à sua inclusão no sector indicativo do Plano.

Energia

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

225. No que se refere à comercialização, torna-se necessário prever investimentos que permitam, em especial, estruturar uma organização que conduza ao funcionamento coordenado dos circuitos de distribuição dos produtos agrícolas e pecuários.

226. Não podem ser esquecidos os problemas relacionados com o comércio do interior e as disposições legais sobre condicionalismo comercial e especialização do comércio.

227. Para procurar resolver os problemas relacionados com a comercialização dos produtos agrícolas, é indicada a criação de postos de recepção desses produtos, garantindo preços mínimos, fazendo incidir a sua acção onde não haja instalações de armazenagem, as quais passarão também a funcionar nos mesmos moldes daqueles postos, quanto a preços. Assim, possibilitar-se-á aos produtores a colocação dos seus produtos a preços incentivadores da produção, fazendo-os entrar no circuito de economia monetária.

228. A comercialização dos produtos agrícolas requer, além de uma rede de transportes, o apoio de infra-estruturas de armazenagem. À rede de armazenagem programada competirá receber os produtos, assegurar a sua conservação em boas condições até ao consumo e executar as necessárias operações de limpeza, secagem, acondicionamento, classificação, etc., por forma a constituir lotes homogéneos de maior valor comercial e mais fácil venda. Considerou-se, portanto, a necessidade de reajustamento da rede de armazenagem, quer por instalação de novas unidades, quer por ampliação das já existentes, tendo-se previsto o investimento exigido tanto para ampliação, como para construção de armazéns simples e silos.
A construção de armazéns frigoríficos foi prevista nos investimentos a fazer nos sectores dos caminhos de ferro e portos.

229. O trabalho de compatibilização deste sector com os restantes foi norteado pela preocupação de se atender não só aos planos dos organismos responsáveis pelos problemas de mercados, preços mínimos e armazenagem, mas também às novas exigências determinadas pelas medidas e projectos sobre produção.
Por outro lado, compatibilizaram-se também os projectos relativos a armazenagem com Os relativos à comercialização dos produtos agrícolas (postos de recepção), limitaram-se os novos postos de recepção àqueles pontos onde não tinham sido previstos armazéns e recomendou-se que estes armazéns e os dos institutos funcionem supletivamente como postos de recepção para as áreas onde estes não existam.

230. Os projectos elaborados para o estudo das principais produções agrícolas da província prevêem, nalguns casos, importantes aumentos de produção, desde que sejam facultados os meios indicados como necessários para intensificar a assistência à produção agrícola.
A comercialização de tais aumentos de produção carecerá do necessário apoio às infra-estruturas de transporte e armazenagem da província, sem o que se verificarão situações graves, com reflexos imediatos no sector agrícola; será, pois, necessário procurar determinar as solicitações futuras resultantes da realização do III Plano de Fomento.
De acordo com aqueles projectos, as produções agrícolas a considerar no que se refere a problemas de armazenagem são: amendoim, arroz, caju, milho e trigo.
O caso do algodão não foi considerado, visto que se admite que a indústria assegure a armazenagem requerida pelo aumento de produção previsto, à semelhança do que já faz presentemente para a produção, a fim de definir os quantitativos a armazenar e respectivas localizações.

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231. A produção de amendoim que é comercializada deve situar-se em cerca de 25 000 t de amendoim descascado. Prevê-se um aumento de produção de 65 000 t de amendoim descascado, das quais 43 000 t seriam industrializadas, supondo-se que as 22 000 t restantes seriam absorvidas pelo autoconsumo das regiões vizinhas.
Haveria, assim, em 1973, um total de 68 0001 de amendoim descascado, que seria comercializado e utilizado no abastecimento da indústria das zonas deficitárias ou, eventualmente, exportado.

232. A produção comercializada de arroz situa-se actualmente ao nível das 50 000 t de arroz em casca. Prevê-se que através da ampliação e reconversão dos regadios existentes na província se obterá um aumento de produção de cerca de 35 000 t de bate, o qual, dadas as condições de produção, pode considerar-se que venha a ser totalmente industrializado. Assim, em 1973 seriam comercializadas 85 000 t de bate.

233. Dado que a maior parte da produção do milho se destina ao autoconsumo, interessa apenas considerar a estimativa das quantidades comercializadas actualmente e das que poderão vir a ser comercializadas em 1973, considerados os aumentos projectados.
Estima-se o quantitativo comercializado na campanha de 1966 em cerca de 102 000 t e os aumentos previstos até 1973 em 56 000 t da cultura em sequeiro e 35 000 t em regadio. Esclarece-se que não se considerou o total dos aumentos previstos nos projectos elaborados sobre «milho» e «regadios» por se admitir uma certa sobreposição dos mesmos em algumas áreas. Esclarece-se também que parte dos aumentos de produção se destina a autoconsumo, nomeadamente nas zonas onde a cultura hoje está pouco divulgada.
O total comercializado em 1973 seria, portanto, da ordem das 193 000 t de milho.
Como base nos elementos existentes, estima-se a seguinte localização para os quantitativos a comercializar em 1973:

Milho - Áreas de comercialização

Unidade: tonelada

[Ver Quadro na Imagem]

234. A produção actual de trigo, após as necessárias reservas de semente, deve fornecer um total comercializado, em média, de cerca de 6500 t.
O aumento de produção previsto pela reconversão de actuais regadios e criação de novos pode considerar-se, deduzidas as reservas de semente, em 18 000 t, sendo o total comercializado de 24 500 t.
Em face da produção actual e da distribuição dos aumentos resultantes da cultura em regadio, estima-se que aquele total se localize do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

235. Segundo o projecto elaborado, a produção em 1973 será de 210 000 t de castanha de caju, ou seja cerca de 70 000 mais que a actual. Admite-se que aqueles dois quantitativos se referem a produção comercializada.
Considerando a produção actual e os aumentos previstos, estima-se que em 1973 a distribuição dos quantitativos comerciais seja:

Toneladas
Zona costeira de Bilene e Massinga .... 74 000
Distrito de Moçambique ................ 110 000
Distrito de Cabo Delgado .............. 26 000
Total ........................... 210 000

236. Considerando as perspectivas de produção e respectivas localizações esquematizadas e atendendo às instalações existentes, definiram-se as exigências quanto a novas instalações de armazenagem. Procedeu-se a este estudo por distritos, considerando, quando justificado, não só o armazenamento da produção própria, como também problemas eventualmente postos pelo abastecimento e distribuição dos mesmos produtos.

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Projecto de armazenagem de apoio à produção agrícola
Rede a criar durante o III Plano de Fomento

[Ver Quadro na Imagem]

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2. Objectivos

237. Entre os objectivos visados, figura o conhecimento da estrutura do comércio interno, seus circuitos e pontos de estrangulamento e a tomada de medidas de política comercial com base nos conhecimentos adquiridos.
Propõe-se exercer uma actuação concreta nos campos em que for possível detectar problemas que se centrem especialmente na comercialização dos produtos agrícolas, em que toma papel importante a armazenagem.
No que se refere a organismos oficiais que se consideram imprescindíveis para o progresso da província, o problema já foi considerado no sector da «Agricultura», onde se sumariam na criação de um organismo que trate da comercialização das frutas tropicais, com relevo para as bananas, e na integração, neste ou nos organismos actuais, de vários produtos agrícolas que necessitam de apoio estadual organizado para se valorizarem e se expandir a produção.
Há, aliás, margem em muitos produtos agrícolas para se poderem cobrar as taxas necessárias à manutenção destes organismos organizadores da comercialização.

238. Como consequência das medidas de fomento e dos projectos elaborados no âmbito do sector da «Agricultura», é de prever, em muitos casos, importantes aumentos das principais produções.

comercialização destes aumentos de produção, apoiada pelas necessárias infra-estruturas de transporte e armazenagem, é a finalidade que se pretende atingir, mas julgou-se necessária a garantia do escoamento dos excedentes comercializáveis a preços mínimos.
Pretende-se, pois, com os catorze postos de recepção de produtos agrícolas a criar, ajudar a resolver os problemas de comercialização anual da produção, a suscitar especialmente em economia de transição, dos seguintes produtos, cujos quantitativos abaixo se julgam facilmente atingíveis em 1973:

Toneladas
Amendoim ................. 68 000
Arroz .................... 85 000
Milho .................. 91 000
Trigo .................. 18 000

Nos distritos do norte do rio Save, onde a influência dos postos de comercialização de produtos agrícolas se vai fazer sentir mais intensamente, os produtos a comercializar podem ser avaliados, em 1973, em:

Toneladas
Amendoim ................ 56 000
Arroz ................... 25 000
Milho ................... 63 000
Trigo ................... 18 000

239. À armazenagem compete assegurar a conservação dos produtos agrícolas em boas condições até ao seu consumo.
Nas diversas localidades indicadas pelo projecto, pretende-se que, no período de 1968-1973, se proceda à instalação de armazéns e silos com as seguintes capacidades:

[Ver Quadro na Imagem]

Com a realização destas capacidades de armazenagem, a capacidade total disponível será:

[Ver Quadro na Imagem]

No cálculo da percentagem de aumento de capacidade de armazenagem proposta em relação à capacidade actual não foi considerada a capacidade de armazenagem dos caminhos de ferro e portos, que é de 118 200 t. Aumentar-se-á, no período, de forma estratégica, em relação às produções esperadas, de 20 por cento a capacidade de armazenagem simples e de 109 por cento a capacidade de armazenagem em silos não portuários. Será montado um sistema de armazenagem em silos portuários, presentemente inexistente.

240. É essencial que, pelos organismos oficiais competentes, sejam realizados estudos, os quais, inicialmente, poderão concretizar-se nos seguintes trabalhos:

Análise crítica dos requerimentos em que as empresas solicitem a passagem de alvará correspondente aos seus estabelecimentos, na medida em que, em muitos casos, esses requerimentos não estão correctos, por incluírem classes do artigo 10.º do Diploma Legislativo n.º 2022, de 5 de Novembro de 1960, que não constam da autorização concedida;
Inventário dos organismos que fiscalizem as empresas por regiões;
Relação entre a concentração das lojas do interior e a natureza das culturas nas diversas regiões;
Inventário dos proprietários ou detentores das lojas do interior, conforme o respectivo grupo étnico.

241. A indústria moçambicana tem encontrado, por vezes, dificuldades no normal escoamento das suas produções.
A fim de favorecer uma maior expansão dos produtos nacionais e, simultaneamente, salvaguardar os interesses legítimos de ambas as partes, sugere-se que se estabeleçam contactos directos entre representantes das actividades comercial e industrial em que seja dada prioridade ao estudo dos problemas referentes à colocação dos seguintes artigos de fabricação local: candeeiros, cimento, enchidos (salsicharia), garrafas, lacticínios, limas, malhas, papel de embrulho, sabões, sacaria, sal, tecidos e vestuário.

242. No que se refere à comercialização dos produtos agrícolas, há que estabelecer um programa do estudo e da acção adequados e criar, eventualmente, organismos especializados que coordenem a comercialização, fazendo depender deles não só a fiscalização, como também a programação e venda dos produtos que afluam aos postos de recepção e a eventual exploração da rede de armazenagem afecta a esta actividade.

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243. É conveniente, quanto a armazenagem:

Entregar a exploração das novas unidades de armazenagem ao organismo oficial adequado, prevendo-se a sua eventual transferência, quando tal se justifique, para organizações de tipo cooperativo ou com finalidades semelhantes;
Que a utilização das novas instalações seja feita mediante o pagamento de taxas, calculadas segundo critérios idênticos e atendendo não só aos custos de exploração como à amortização dos investimentos feitos, e que essas taxas sejam aplicadas também nos armazéns já existentes;
Estabelecer uma regulamentação geral sobre colheita de amostras, taxas, análise comercial, acondicionamento do produto, etc., para os produtos que ainda a não possuam, considerando na sua elaboração as normas já estabelecidas para o efeito, quer noutras parcelas do território nacional, quer no estrangeiro, de acordo com o que for mais conveniente ;
Promover que a Direcção dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes considere o seu equipamento, a curto prazo, com material rolante adequado ao transporte de cereais a granel, e a execução dos silos portuários que se recomendam em Lourenço Marques e na Beira, para esta última prioritária;
Determinar aos organismos actuantes na extensão agrícola que divulguem, junto dos agricultores situados nas áreas de influência dos silos regionais a instalar, as vantagens dos mesmos, orientando as suas explorações de forma a poderem efectuar a entrega dos cereais produzidos transportando-os a granel;
Dotar as instalações de armazenagem com equipamento indispensável à limpeza, secagem, acondicionamento, desinfestação, etc., dos produtos que sejam armazenados em maior quantidade;
Recomendar que os projectos das novas instalações sejam elaborados de modo a possibilitar a armazenagem de diversos produtos, sempre que viável, em boas condições de conservação, a permitir um manuseio fácil e rápido dos produtos armazenados e que conduzam a instalações tanto quanto possível normalizadas;
Recomendar que a exploração de instalações de finalidades semelhantes se faça segundo regulamento idêntico e observando uma contabilidade de tipo industrial, baseada em adequado plano contabilístico, por forma a ser possível a comparação dos custos de exploração verificados em cada unidade.

3. Investimentos

244. Com a montagem de postos de recepção de produtos agrícolas, assegura-se a compra de determinados produtos agrícolas a preços mínimos garantidos pelo Estado nas regiões onde se prevê que venham a existir problemas ligados à comercialização, possibilitando aos produtores a colocação dos seus produtos a preços incentivadores da produção e fazendo-os entrar no circuito de economia monetária.
Promove-se, assim, o aumento de rendimento das populações.
Para fundo de maneio, com vista à aquisição dos produtos e despesas de exploração, não é fácil indicar um quantitativo, porquanto não se pode conhecer a priori as quantidades que irão afluir 1.
No entanto, refere-se que o fundo de maneio para todos os postos de recepção (os existentes e os que se recomendam) não deverá ser inferior a 150 000 contos, o qual poderá ser encontrado na banca privada.
Considera-se que este problema terá de ser estudado ao nível regional e por produto, o que caberá, portanto, fazer.

1 No primeiro ano só começarão a funcionar seis postos, no segundo mais cinco e no terceiro mais três, num total de catorze, a partir do terceiro ano.

Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

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Circuitos de distribuição

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem]

[Continuação]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

a) Transporteis rodoviários

245. O programa a realizar neste sector tem de encarar a necessidade de transformar todas as zonas da província num conjunto económico interligado.
Para isso, há que prever uma rede de estradas facilmente transitáveis, que, acompanhando paralelamente o desenvolvimento da província, permitam o escoamento e o intercâmbio das produções entre as várias regiões. Facilita-se esta ideia de unidade com a conclusão, também prevista, da construção de um eixo sul-norte, em estrada de características definitivas, asfaltada na maior parte do percurso.
Dada a necessidade de intensificar a exploração de extensas regiões nos distritos de Tete, Niassa e Cabo Delgado, deve-se ainda fazer incidir o maior esforço de construção de estradas em especial nos distritos referidos.
Também as zonas previstas para o povoamento se prevê que venham a ser dotadas com estradas de características definitivas.
Não se podendo atender completamente a todas as necessidades em matéria de rodovias, convinha, pelo menos, tornar acessível todo o território da província com estradas que, embora de terra, sejam transitáveis durante todo o ano. Levando esta preocupação mais longe, elaborou-se também um programa de obras de arte definitivas em estradas nas quais não é possível prever a execução de qualquer outro tipo de beneficiação.
Na medida em que se desconhecem as variáveis que governam a futura organização da zona económica Quelimane-Milange-Nova Freixo-Nampula, haverá que dar preferência apenas a obras de arte definitivas nas estradas que tinham sido consideradas de asfaltar nesta zona, tendo-se, por compensação, considerado a asfaltagem de maior quilometragem no Norte.
Julgou-se muito importante, por outro lado, a necessidade, em muitos casos por motivos extra-económicos, de tornar transitáveis durante todo o ano 4700 km de estradas de interesse local ou regional.

246. As estradas de Moçambique podem classificar-se em:

Estradas asfaltadas;
Estradas definitivas, de terra;
Estradas provisórias, garantindo passagem durante todo o ano;
Estradas provisórias, não garantindo passagem durante todo o ano.

A província de Moçambique reparte-se, sob o ponto de vista de infra-estruturas de transporte, em:

Zonas com boas ou regulares infra-estruturas de transporte;
Zonas com más infra-estruturas de transporte.

As zonas de influência dos portos de Moçambique repartem-se por:

Zonas de influência de portos oceânicos de primeira classe (Lourenço Marques, Beira e Nacala);
Zonas de influência de portos oceânicos de Segunda classe (Chinde e Porto Amélia);
Zonas de influência de portos de cabotagem (Quelimane, Pebane, Morna, António Enes e Mocímboa da Praia).

247. Com base nos elementos anteriores, nas medidas de povoamento em que se definem as zonas de povoamento a estabelecer no período do III Plano de Fomento, com base ainda nos projectos e medidas de feição produtiva do sector primário e atendendo às necessidades privadas nos sectores secundário e técnico, procedeu-se à compatibilização das diferentes necessidades quanto a estradas.

b) Caminhos de ferro

248. Os Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique têm procurado não só acompanhar as necessidades do tráfego da província, mas, fundamentalmente, fazer face às previsões do tráfego com origem nos territórios vizinhos. Dado que não menos de 80 por cento do tráfego total vem destes territórios, haverá um certo grau de incerteza nas previsões a fazer.
No entanto, se se imaginar que, no curto espaço de quatro anos, poderá mais que duplicar a carga manuseada no porto de Lourenço Marques, passando de 8 815 000 t trabalhadas em 1965, para 18 000 000 t previstas para 1969, e que haverá que transportar toda esta carga pelas linhas que afluem a Lourenço Marques a partir de 1969, torna-se evidente o esforço que há a fazer.
As beneficiações que não dizem respeito a portos e linhas afectadas pelo tráfego estrangeiro têm já uma reduzida expressão numérica.
A justificação principal para estes investimentos encontra-se na necessidade de dar vazão ao tráfego internacional. Convém, contudo, referir que a entrada de divisas a provir do sistema de transportes certamente excederá os encargos em divisas estrangeiras decorrentes dos programas a efectuar.

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Tratando-se de um programa apresentado pelos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, que se autofinanciam, em regra, e não tendo sido possível encarar a reprodutividade caso por caso, admite-se que esta é garantida pelo critério que aqueles serviços seguiram na escolha dos investimentos.
Tratando-se ainda fundamentalmente da expansão dos caminhos de ferro e portos existentes, sendo flagrante, no caso dos portos, que os investimentos vão concentrar-se nos portos de Lourenço Marques, Beira e Nacala, parece, em princípio, que haverá reprodutividade.
No caso do caminho de ferro da Beira, por parte do Ministério das Finanças, também não há que lhe fazer referência, dada a sua condição de independência quanto ao financiamento dos investimentos.
Nos outros empreendimentos relativos a caminhos de ferro, julga-se haver boa margem para restrições do volume de investimento, no caso de tal vir a ser necessário, em particular no que se refere a aquisição de material circulante, a construção de casas, ao início do ramal do Muende, na linha do caminho de ferro do Tete, e aos investimentos na linha dê Quelimane, de tráfego decrescente, como se verifica:

Toneladas
transportadas
1961 .................... 109 000
1964 .................... 59 000

c) Portos e navegação

249. Do mesmo modo que para os caminhos de ferro, também a acção que incide sobre os portos tem em vista o rápido desembaraço das mercadoras em trânsito, em especial no que se refere ao tráfego internacional.
Paralelamente aos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, os Serviços de Marinha interferem também na jurisdição dos portos da província, tendo a seu cargo, especialmente, os serviços de pilotagem, reboques, farolagem e balizagem, dragagens e, de um modo geral, todas as operações de carácter marítimo dentro dos portos, quer estes estejam subordinados à administração dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes ou não.
Os Serviços de Marinha concorrem, assim, para o regular funcionamento das instalações portuárias, permitindo que a navegação frequente os portos da província em condições satisfatórias de segurança e rapidez.

d) Transportes aéreos e aeroportos

250. O transporte aéreo é peça importante do desenvolvimento económico dos territórios como Moçambique, em que os centros estão separados por grandes distâncias, impondo-se particularmente aquele meio de transporte para passageiros, e estando a tomar cada vez mais importância o transporte de carga aérea, especialmente para produtos perecíveis. Exige-se, pois, uma infra-estrutura adaptada não só às necessidades actuais, como ainda ao desenvolvimento previsível da província.

e) Telecomunicações

251. Verifica-se situação de saturação nos correios, telégrafos e telefones de Moçambique, pelo que é premente a necessidade da melhoria das comunicações na província.

2. Objectivos

a) Transportes rodoviários

252. Pretende-se atingir, em 1973, os seguintes resultados:

Estabelecimento de uma rede de estradas facilmente transitáveis, que, acompanhando paralelamente o desenvolvimento da província, permita o escoamento e o intercâmbio das produções entre as várias regiões;
Prosseguimento da construção do eixo sul-norte e suas ramificações para Tete e Niassa, em estradas de características definitivas, asfaltadas na maior parte do percurso;
Construção de estradas no Norte, especialmente nos distritos de Tete, Niassa e Cabo Delgado, visando a exploração de extensas regiões;
Existência de estradas de características definitivas em todas as zonas previstas para povoamento;
Acessibilidade, por estradas, de todo o território da província, tomando por base o critério adoptado de que, embora sendo algumas de terra, fiquem transitáveis durante todo o ano, começando por executar as obras de arte necessárias;
Substituição de cerca de um terço da frota automóvel dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes por aquisição de 60 camiões e 40 autocarros;
Equipamento conveniente das 5 secções de camionagem automóvel dos mesmos serviços.

Unidade: quilómetro

[Ver Quadro na Imagem]

b) Caminhos de ferro

253. Pretende-se atingir os seguintes resultados:

Dar vazão ao tráfego internacional, que se espera venha a aumentar de forma notável, dado que o volume de tráfego interno não pesa nas explorações das várias redes; só nas linhas convergentes em Lourenço Marques se espera que o tráfego passe de cerca de 9 milhões de toneladas (1965) para cerca de 18 milhões em 1969;
Eliminação do peso negativo na exploração das linhas desnecessárias e melhoria da organização dos serviços.

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c) Portos

254. Os objectivos a alcançar são os seguintes:

Apetrechamento da doca seca da Beira, que permitirá a docagem de todos os navios que se dedicam à cabotagem na costa de Moçambique, bem como dos navios de guerra em serviço na província; prevê-se também a aquisição de equipamento flutuante para os principais portos de Moçambique, além de se considerarem diversos trabalhos de farolagem;
Adaptação do serviço de cabotagem às necessidades reais da província, atendendo-se principalmente aos baixos coeficientes do utilização da frota, à escalagem de portos que o não justificam e à inadequação do tipo de navios.

d) Transportes aéreos

255. O principal objectivo incluído no programa de aeroportos reside em tornar-se possível a navegação aérea nocturna com segurança, mesmo em más condições meteorológicas, donde resulte melhor utilização da frota aérea de Moçambique.
Assim, os aviões das carreiras regulares da Divisão de Exploração de Transportes Aéreos passarão das 2000 horas de voo por avião F 27 por ano, para 25 000 horas, o que corresponde a eliminar o estrangulamento de tráfego que hoje se verifica sem aumento de frota.
A viabilidade dos voos nocturnos implica a necessidade dos melhoramentos considerados mais do ponto de vista de segurança aérea (comunicações, ajudas-rádio, energia e sinalização) do que em melhoramentos nas infra-estruturas, com excepção dos aeródromos que se pretende que estejam feitos de novo no período do Plano: Quelimane, Porto Amélia e Lourenço Marques.
Pretende-se, por aquisição pela Divisão de Exploração de Transportes Aéreos de novos aviões, atender às necessidades da evolução do tráfego, que aumenta de 15 por cento em relação a cada ano anterior.
Está prevista a aquisição de um Fokker F 27 em 1968, um jacto para 60-70 lugares em 1970 e outro em 1972; estas aquisições poderão, no entanto, sofrer alteração, se for possível dar concretização urgente, como está previsto, ao voo nocturno. Deste modo, todo o programa de aquisições sofreria um diferimento, pela possibilidade que adviria de voar mais durante as 24 horas.
Prevê-se também o reequipamento geral das oficinas da Divisão de Exploração de Transportes Aéreos.

e) Telecomunicações

256. Os objectivos são os seguintes:

Estabelecimento do equilíbrio da exploração dos correios, telégrafos e telefones de Moçambique;
Melhoria das redes telefónicas urbanas rentáveis de Lourenço Marques e Beira;
Instalação de telex na província.

3. Medidas de política

257. Não está definida na província política geral de transportes sob a égide da qual se possa proceder à necessária coordenação, por um lado, dos vários tipos de transporte existentes e, por outro, entre os transportes detidos pela administração e os pertencentes a privados.
Além disso, há que considerar os aspectos respeitantes:

Ao contraste entre caminhos de ferro, quase só votados ao tráfego internacional de exploração remuneradora e orientados na direcção este-oeste (linhas de Ressano Garcia, Goba, Limpopo e Beira), e caminhos de ferro nitidamente deficitários: as linhas de Gaza e Inhambane;
À linha de Tete, cujo interesse dependerá do desenvolvimento do distrito do Tete, o qual, por sua vez, neste momento, está subordinado ao programa de desenvolvimento do Zambeze;
Ao caminho de ferro de Quelimane, cuja viabilidade de existência não se pode ainda julgar, dada a falta de elementos para tal efeito;
À linha de Moçambique, que sofreu prejuízos anuais de tendência crescente (cerca de 160 000 contos de 1960 a 1965, cabendo só a este último ano 33 330 contos), a qual, dada a sua extensão, as regiões que serve e a sua ligação ao Malawi, tenderá certamente para melhor situação;
A um conjunto de portos na província, alguns dos quais com tráfegos irrisórios, todos com tarifas desarmonizadas (pesando as mesmas excessivamente nos custos de cabotagem) e com uma oferta de serviços em condições muito diversas; julga-se que, especialmente para o norte de Quelimane, é necessário o encerramento de alguns deles, concentrando o tráfego noutros; ligado a este problema, vem o do equacionamento da rede de estradas, que deverá aparecer como consequência lógica;
A um serviço de cabotagem, importante como factor de integração do território, por ser a via actual de transporte na direcção norte-sul, serviço este cujos problemas necessitam de ser reconsiderados em novos moldes;
A uma rede de estradas desligada na direcção nórte-sul e não garantindo passagem durante todo o ano em grandes superfícies da província.

Através das medidas previstas, tomaram-se em consideração, dentro do possível, os problemas de conjunto, havendo, porém, insuficiências por não ter sido possível coligir todos os elementos que permitissem definir uma política geral de transportes.
Dada a evolução que se prevê para a província de Moçambique, é necessário que o tráfego interno passe a ser considerado sob óptica que lhe dê o relevo conveniente, visto até ao presente ter-se dado maior importância aos problemas de tráfego internacional.
Têm as verbas referentes aos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes forte incidência no orçamento geral da província, pelo que se apresenta a seguir um quadro comparativo das receitas arrecadadas através do orçamento ordinário em 1963, 1964 e 1965 e das verbas com que tais Serviços participam naqueles totais.

Receitas arrecadadas

Unidade: milhar de escudos

[Ver Quadro na Imagem]

Corresponde esta participação dos caminhos de ferro a percentagens da ordem dos 34,5, 35,8 e 36,8 por cento, respectivamente (valor médio - 35,7 por cento, nos últimos três anos).

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Dados estes valores muito significativos, pode considerar-se que estes serviços são estratégicos, pelo lado financeiro, na economia da província. Reconhecem os próprios serviços a necessidade de melhorarem a sua produtividade. Deve, portanto, obter-se o mais rapidamente possível a mais adequada organização dos serviços, esperando-se que daí resultem benefícios financeiros.

a) Transportes rodoviários

258. Os concursos para a construção de estradas devem incluir obras em regiões perturbadas e não perturbadas, a fim de se minorar o inconveniente de os empreiteiros pedirem altos preços por empreitada em regiões perturbadas. Deve-se ainda explicitar uma política relativamente à camionagem dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes e das entidades privadas.

b) Caminhos de ferro

259. Recomenda-se o uso de vagões de tipo apropriado às diferentes espécies de mercadorias transportadas.
Quanto a cada uma das linhas, referir-se-ão apenas sugestões inteiramente novas, dado que estão em curso várias beneficiações no sistema ferroviário da província que melhorarão as respectivas capacidades de transporte.
Na linha de Bessano Garcia poderá aumentar-se sensivelmente a capacidade de tráfego, ampliando as possibilidades de recepção e expedição dos comboios, sobretudo na estação de Bessano Garcia. Interessa manter o esforço que se está a fazer no sentido dê se melhorar o tipo e a potência de reboque das locomotivas, sendo de prever pequenos melhoramentos no sistema de exploração de algumas estações no que respeita a comando de agulhas, mais vias sinalizadas, etc.
Na linha de Goba, se o aumento de tráfego com a Suazilândia o justificar, deverão levar-se a efeito algumas correcções em perfil, com vista à uniformização dos valores de rampa integral máxima, limitando-se a 15 por cento.
Há que fazer um reajustamento na densidade dos apeadeiros e estações, eliminando alguns e melhorando os restantes, de forma a conseguirem-se boas condições de cruzamento de comboios.
Na linha do Tete, na hipótese de um aumento substancial de tráfego, será indispensável ampliar considerávelmente a estação de ligação do Trans-Zambezian-Bailway (Munhava).
No caso de o tráfego aumentar, haverá que prever a substituição do equipamento por outro mais pesado.
Como é relativamente fraca a densidade de apeadeiros e estações, será de considerar, em caso de necessidade, a sua correcção.
Quando o aumento de tráfego o justificar, será de prever a instalação de sinalização automática.
É importante considerar que esta linha apresenta prejuízos anuais acumulados da ordem dos 96 000 contos no período de 1960 a 1965, cabendo a este último ano cerca de 16 500 contos.
Estas melhorias só serão de encarar se o Trans-Zambezian-Bailway efectuar, como está previsto, beneficiações correspondentes na sua linha.
Quanto à rede de Moçambique, dadas as características do traçado, com rampas muito acentuadas, qualquer aumento de tráfego obriga a:

Trabalhos de correcção do perfil, forçosamente muito dispendiosos;
Sistema de tracção permitindo aumentar a capacidade de carga dos comboios: tracção dupla ou locomotivas de grande potência. Esta segunda solução obriga também à substituição do carril de 30 kg por outro mais pesado. Sugere-se, no entanto, havendo um aumento substancial de tráfego, que se proceda a um estudo económico para verificar se não será preferível a introdução da sinalização automática.

A densidade dos apeadeiros e estações é baixa, pelo que convirá conseguir os espaçamentos de 15 km a 20 km.
As explorações ferroviárias de Inhambane e Gaza são muito deficitárias, tendo o prejuízo, no ano de 1965, atingido cerca de 15 por cento do valor do inventário, o que monta anualmente a cerca de 9000 contos (de 1962 a 1965 o prejuízo acumulado é de 36 800 contos).
A zona é bem servida por transportes terrestres, que estão longe do limite da sua capacidade.
Não é de encarar a hipótese de ligação destas explorações à exploração de Lourenço Marques, pelos elevados investimentos necessários e ausência de rentabilidade.
Recomenda-se o encerramento destas linhas como solução mais conveniente.

c) Portos

260. Além da já referida necessidade de se definirem quais os portos necessárias e quais os que podem ser eliminados, pretende-se o estabelecimento de um conjunto de medidas com vista à eficiência dos serviços portuários.
A eliminação de determinados portos de cabotagem não justificáveis permitirá diminuição de despesas de funcionamento e investimento.
Devem prosseguir os estudos relativos à cabotagem, com vista a atingir-se a maior produtividade no subsector.
Entretanto, seria conveniente que entre as empresas detentoras da frota de cabotagem se estabelecesse acordo que levasse a definir escalas nos vários portos, dentro de um plano comum e com o objectivo de lhes serem proporcionadas melhores condições de exploração, resultando daí a eliminação dos baixos coeficientes de utilização da frota actual.
Será ainda necessário encarar-se o problema da adequação do tipo de navios às quantidades de tráfego a transportar.
Deve também ser encarado o problema do transporte de combustíveis líquidos na costa de Moçambique.

d) Transportes aéreos

261. Devem completar-se os quadros dos Serviços de Aeronáutica Civil para haver correspondência entre os altos valores investidos em material e o pessoal para o explorar.
Pretende-se verificar em que medida se poderão restringir os investimentos propostos em aquisição de aviões para a Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos, com uma, mais intensiva utilização da frota actual. Aliás:, a concretizar-se o voo nocturno, já será possível conseguir um diferimento nos prazos das compras dos novos aviões.

e) Comunicações

262. Recomendou-se o estudo do problema dos correios, telégrafos, e telefones, do ponto de vista das suas

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receitas, dado que estas se têm revelado quase insuficientes para um volume de despesa muito pouco compressível, e adopção de uma contabilidade de tipo industrial.

4. Investimentos

a) Estradas

263. Para a elaboração do programa de estradas, não se consideram, de um modo geral, os projectos de terceira prioridade, segundo o esquema de conjunto estabelecido, com excepção da estrada n.º 221, no troço entre Fingoé e Zumbo, no distrito do Tete, devido à necessidade de garantir um acesso rápido à fronteira.
Descendo a uma análise dos casos de maior interesse, verifica-se que, para dar apoio à zona de povoamento cerca de Vila Cabral (zona A), era necessário o estabelecimento de uma estrada asfaltada de Vila Cabral ao Litundo (estrada nacional n.º 242).
Na mesma estrada, considerou-se também necessário efectuar a asfaltagem do troço Montepuez-Ancuabo, para facilitar as comunicações à zona de povoamento de Montepuez (zona D).
Devido à criação da zona de povoamento de Mecanhelas (zona F), considerou-se necessário proceder à construção de uma estrada definitiva, de terra, de Mecanhelas ao Mulumbo e Lioma.
Dado que se havia concebido trazer a estrada asfaltada de Quelimane até Vila Junqueiro, surgiu a conveniência de se ligar, também por estrada asfaltada, Vila Junqueira à estrada nacional n.º 8, passando por Lioma, o que satisfaz dois objectivos:
Ligar por boa estrada Vila Junqueira ao Lioma, facilitando assim a deslocação dos empresários de Vila Junqueiro à zona pecuária de Lioma, que se espera venha a ser desenvolvida por estes mesmos empresários;
Ligar a zona produtora de chá de Vila Junqueira, por estrada asfaltada, ao caminho de ferro do Niassa.

Note-se que deste modo e nestes casos se atendeu também a motivos extra-económicos.
Dado que no troço de estrada Diaca-Namialo só faltaria ser asfaltado um troço, de Namapa a Nacaroa, considerou-se a asfaltagem destas estradas, ligando assim o Norte por estrada asfaltada, desde Diaca ao porto oceânico de Nacala (1.ª classe), e, simultaneamente, ligando a zona de povoamento de Montepuez ao mesmo porto.
Para que a mobilização de capitais não fosse extremamente vultosa, deixou-se para melhor oportunidade a asfaltagem da estrada paralela ao caminho de ferro do Niassa, Malema-Ribauè, construindo-se uma estrada definitiva, de terra.
Houve também que eliminar terraplenagens em algumas estradas antes consideradas - (Nampula-António Enes, Nampevo-Alto Molócuè, Muamade-Grilé, Mocuba-Tacuane e Malei-Maganja-Mocubela), ficando as obras nas mesmas limitadas às obras de arte correntes e pontes, o que resultou também do que a seguir se explica.
Os estudos sobre cabotagem levam a considerar que as saídas através de portos da zona de costa entre Nacala e o Chinde constituem questão para a qual, nesta altura, ainda se não dispõe dos elementos de informação suficientes para uma tomada de posição ,em definitivo.
Assim:

Vai estudar-se ainda, em modelo reduzido, o porto de Quelimane;
As dificuldades de entrada no porto de Pebane só virão eventualmente a ser resolvidas com a execução do projecto relativo à exploração das ilmenites de Pebane e Moebase;
O porto de tráfego local de Morna não oferece condições para ser desenvolvido;
António Enes só oferece condições para continuar a ser um porto de cabotagem.

Deste modo, só se tornará evidente o afastamento, em relação à costa, de uma estrada paralela à mesma, dentro do triângulo Nacala-Quelimane-Alto Molócuè, após ser tomada posição quanto aos problemas portuários nesta zona, o que condicionará a futura movimentação das mercadorias dentro da mesma área e quanto à saída pela costa.
Eliminou-se ainda a asfaltagem da estrada n.º 103, Tete-Zóbuè; eliminou-se a auto-estrada de saída da Beira, assim como a asfaltagem da ligação entre a estrada nacional n.º 1 e Vilanculos e a asfaltagem da estrada entre Chibuto e Caniçado.
As eliminações citadas foram provocadas, em geral, pela necessidade de dar preferência às estradas do Norte e a um predomínio de asfaltagem nestas estradas.
As estradas cuja necessidade foi sugerida pela definição de zonas com más infra-estruturas de transporte estão parcialmente consideradas nos casos:

Do Niassa e Cabo Delgado, pela estrada que, de Porto Amélia, faz ligação a Vila Cabral;
No caso da Zambézia, pela estrada Beira-Quelimane;
No caso do distrito do Tete, pela estrada Tete-Zumbo.

Nestas zonas, coincidindo com as necessidades extra-económicas, programou-se uma rede de estradas de baixo custo que garantissem passagem todo o ano, fazendo-se o mesmo para as manchas mal servidas de meios de transporte dos distritos de Moçambique, Manica e Sofala, Inhambane e Gaza.
Deste modo, ao mesmo tempo que se garante a circulação nestas manchas, possibilita-se, nos casos em que isso é viável e conveniente, fazer-se um alargamento da rede de postos de recepção e armazenagem de produtos agrícolas e facilita-se a deslocação de gado, bem como a sua mais fácil assistência nas zonas com pecuária.
Convém salientar que a extensão deste tipo de estradas (de interesse regional e interesse local) que se propõe melhorar atinge 4700 km (3300 km e 1400 km, respectivamente).
Pretende-se fazer 2300 km de estradas asfaltadas e 600 m de estradas definitivas de terra.
Deseja-se chamar a atenção para a circunstância de se terem previsto obras de arte definitivas em 700 km de estradas onde não foi possível considerar beneficiações do traçado.
Sabido que a inexistência de um simples aqueduto pode constituir ponto de estrangulamento grave, procurou-se, pelo menos, minorar o problema de certas vias de transporte, e, por isso, considerou-se a execução de cerca de 4700 km de beneficiações noutras estradas, de modo a possibilitar a circulação nas mesmas durante todo o ano.

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Segue-se o calendário em que se resume, a repartição dos investimentos em estradas.

[Ver Tabela na Imagem]

Dadas as possibilidades, a explorar, de mobilização de recursos adicionais para financiar o III Plano, prevê-se que se encontrem meios financeiros para levar a cabo programa mais amplo, no montante total de 2 229 000 contos.
Empreendimentos em vários distritos:

Pontes

Compromissos assumidos que transitam do Plano Intercalar de Fomento

Inhambane:

EN 1 - Ponte sobre o rio Save.

Manica e Sofala:

EN 1 - Pontes sobre os rios Búzi e Bevuè.

Obras a iniciar

Niassa:

EN 242:

Marrupa-Lugenda-Litundo.
Limite do distrito-Marrupa.

EN 249:

Vila Cabral-Nova Guarda.
Vila Cabral-Maniamba.

EN 537 - EN 249-Unango.

Cabo Delgado:

EN 106 - M'torro-Porto Amélia.

Moçambique:

EN 8:

Variante de Nampula.
Ribauè-Malema.

EN 105 - Nacala-Monapo.
EN 106 - Namialo-Nacaroa.
EN 238 - Nampula-Nametil.
EN 239 - Nainetil-António Enes.

Zambézia:

EN 7 - Namacurra-Chitungo.
EN 104:

Chitungo-Mocuba.
Nampevo-Alto Molócuè.

EN 231 - Nampevo-Moliquela-Guruè.
EN 225 - Vila Fontes-Nicuadala.
EN 226 - Malei-Maganja.
EN 229 - ER 473-Mocuba-Lugela-Tacuane.
ER 480 - Mugeba-Gilé.
ER 485 - Maganja-Mocubela.
EN 103:

Pontes sobre os rios Zambeze e Mazoè.

EN 221 - Fíngoè-Zumbo.
EN 223 - EN 103-Vila Coutinho.

Manica e Sofala:

EN 6 - Três viadutos tipo Chicumbane na Baixa do Pungue.
EN 215 - EN 1-Inchope-Gorongosa.
EN 215 - Gorongosa-Vila Paiva-Vila Fontes.
EN 216 - Vila Pery-Sussundenga.

Inhambane:

EN 212 - Govuro-Vilanculos.
EN 252 - EN-Inhassoro.

Gaza:

EN 208 - Barragem do Caniçado.

Lourenço Marques:

EN 201 - Ponte do Maputo (Salamanga).

Estradas

Compromissos assumidos que transitam do Plano Intercalar de Fomento

Manica e Sofala:

EN 1 -TOAC e PA - Eio Save-Inchope (250 km) (Projecto concluído).

Inhambane:

EN 1 - TOAC e PA - Maxixe-Rio Save (354 km) (Projecto concluído).

Tete:

EN 221 - TOAC - Matema-Fíngoè.

Obras a iniciar

iassa:

EN 242:

TOAC e PA - Vila Cabral-Litundo (36 km)
TOAC - Marrupa-Rio Lugenda-Litundo (200 km) (Prazo de execução: 40 meses.
Projecto a iniciar).
TOAC-Limite do distrito-Marrupa (82 km)
(Prazo de execução: 16 meses. Projecto em curso).

EN 249:

TOAC e PA - Vila Cabral-Nova Guarda (40 km) (Prazo de execução: 8 meses.
Projecto a iniciar).
TOAC e PA -Vila Cabral-Maniamba (84 km) (Prazo de execução: 16 meses. Projecto a iniciar).

ER 537 - TOAC e PA - EN 249-Unango (35 km) (Prazo de execução: 8 meses. Projecto a iniciar).
EN 255 - TOAC - Mecanhelas-Mulumbo (60 km).

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EIR - BPPTA:

Macaloge-Panila-Mazoco.
Valadim-Milepa.
Candulo-Mecula.
Mecula-Gomba.
Candulo-Chamba.
Mazoco-Milepa.
Milepa-Chamba.
Chamba-Gomba.
Panila-Cachepa.
Macaloge-Valadim.
Maniamba-Augusto Cardoso.

Cabo Delgado:

EN 243-PA - Sunate-Macomia-Diaca (220 km) (Projecto concluído).
EN 106:

TOAC e PA - Metorro-Rio Lúrio (75 km) (Prazo de execução: 15 meses. Projecto
em curso).
TOAC e PA - Metorro-Porto Amélia (100 km) (Prazo de execução: 20 meses.
Projecto a iniciar).

EN 242:

TOAC - Metorro-Montepuez (125 km).
TOAC e PA - Limite do distrito-Montepuez (110 km) (Prazo de execução: 22 meses. Projecto a iniciar).

EIR - BPPTA:

Mataca-Macomia.
Macomia-Quissanga.

Moçambique:

EN 8:

TOAC e PA - Variante de Nampula (6 km) (Prazo de execução: 6 meses. Projecto concluído).
TOAC - Ribauè-Entre-Rios (110 km) (Projecto a iniciar).

EN 105 - TOAC e PA - Nacala-Monapo (62 km) (Prazo de execução: 12 meses. Projecto concluído).
EN 106:

TOAC e PA - Namapa-Nacaroa (90 km). e
TOAC e PA - Namialo-Nacaroa (64 km) (Prazo de execução: 13 meses. Projecto
em curso).

EN 231 - TOAC e PA - Mutuáli-Limite do distrito (20 km).
EIR - BPPTA:

Lúrio-Namapa.
Namapa-Mirrote.
Muíte-Ponto E.
Lalaua-Ponto D-Ribauè.
Ponto C-Namecuna.
Ponto B-Entre-Rios.
B-C-D (Prolongamento da ER 512).
Ponto E-Salana.
Ponto F-Muíte.

Zambézia:

EN 7 - TOAC e PA - Namacurra-Chitungo (79 km) (Prazo de execução: 16 meses. Projecto concluído).

EN 104:

TOAC e PA - Chitungo-Mocuba (29 km) (Prazo de execução: 7 meses. Projecto concluído).
PA - Mugeba-Nampevo (30 km) (Prazo de execução: 4 meses. Projecto concluído).

EN 231 - TOAC e PA:

Nampevo-Moliquela-Vila Junqueiro (142 km) (Prazo de execução: 28 meses. Projecto em curso).

ioma-Vila Junqueiro (50 km).
Lioma-Limite do distrito (55 km).

ER 474 - TOAC - Molumbo-Lioma (65 km).
EN 225 - TOAC e PA:

Vila Fontes-Compo (50 km) (Prazo de execução: 10 meses. Projecto em curso).
Campo-Nicuadala (60 km) (Prazo de execução: 12 meses. Projecto em curso).

EIE - BPPTA:

Milange-Zalimba.
Molumbo-Medina.
Zalimba-Chirombo-Chire.

EIL - BPPTA:
Gilé-Iutúti.
Malei-Maganja da Costa.

Tete:

TOAC - Tete-Moatize (24 km).
PA - Changara-Tete (100 km).

EN 221 - TOAC:

Fíngoè-Zumbo (220 km) (Prazo de execução: 44 meses. Projecto a iniciar).
Matema-Cruzamento de Cabora-Bassa (120 km) (Prazo de execução: 24 meses. Projecto em curso).

EN 222 - TOAC - Tete-Matema (34 km) (Prazo de execução: 8 meses. Projecto em curso).
EN 223 - TOAC - EN 103-Vila Coutinho (118 km) (Prazo de execução: 24 meses. Projecto em curso).

EIR - BPPTA:

Ponto A-Messandaluz.
Cassacatiza-Vila Gamito.
Furancungo-Vila Coutinho.
Zumbo-Puato.
Màgoé-Chissico.
Chicoa-Màgoé.
Mucanha-Messandaluz.
Tete-Furancungo.
Messandaluz-Chofombo-Cassacatiza.
Changara-Chissico.

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Manica e Sofala:

EN 6 - TOAC e PA:

No acesso aos viadutos na Baixa do Pungue (6 km) (Prazo de execução: 6 meses. Projecto a iniciar).
Outros melhoramentos.

EN 102 -PA:

EN 6 - Vila Gouveia (110 km) (Prazo de execução: 30 meses. Projecto concluído). Vila Gouveia-Changara. (150 km).

EN 215:

TOAC e PA - Inchope-Vila Paiva de Andrade (81 km) (Prazo de execução: 20 meses. Projecto concluído).
TOAC e PA - Vila Paiva-Vila Fontes (200 km) (Prazo de execução: 40 meses. Projecto em curso).

EN 216 - TOAC e PA - Vila Pery-Sussundenga (60 km).
EIR - BPPTA:

Dombe-Espungabera.
Espungabera-Algeirão-Massangena.
Algeirão-Machaze-Chibabava-Estaquinha.

EIL - BPPTA:

Dombe-EN 1.
Dombe-Sussundenga.
EN 1-Nova Sofala.
Canxixe-Chiremba-Chemba.
Chemba-Vila Sena-EN 1.
Mavita-EN 216.
Marínguè-EN 1.

Inhambane:

EIL - BPPTA - Chigubo-Funhalouro.

Gaza:

EN 205 - TOAC e PA - Macia-Folgares (43 km).
EIL - BPPTA:

Massangena-Machaíla-Chigubo.
Machaíla-Limite do distrito.
Mapulanguene-Migude.
Jantigué-EN 208-EN 1 (Prazo de execução: 9 meses. Projecto a iniciar).
Chibuto-Jantigué (Prazo de execução: 10 meses. Projecto a iniciar).

Lourenço Marques:

EN 4 - TOAC e PA - Moamba-Ressano Garcia (38 km).
EN 251 - TOAC e PA - Lourenço Marques-Moamba (46 km).
EIL - BPPTA - Bela Vista-Ponta do Ouro.

Abreviaturas

TOAC - Terraplenagens e obras de arte correntes.
PA - Pavimentação asfáltica.
BPPTA - Beneficiações permitindo passagem todo o ano.
EN - Estradas nacionais.
ER - Estradas regionais.
EIR - Estradas de interesse regional.
EIL - Estradas de interesse local.

b) Transportes rodoviários

264. Para camionagem, os empreendimentos considerados para o sexénio de 1968-1973 compreendem a aquisição de material automóvel (camiões e ónibus) e aquisição de equipamentos oficinais e a construção de casas para o pessoal.

265. Tal programa, provém de:
Haver necessidade de renovar a frota da camionagem automóvel, hoje composta de mais de 300 unidades, camiões e autocarros, visto as disponibilidades financeiras não terem tornado possível a substituição progressiva de viaturas que há muito ultrapassaram o seu limite de vida (a medida inclui a aquisição de 60 camiões de carga e 40 autocarros);
Ser necessário equipar convenientemente as oficinas das cinco secções da camionagem automóvel;
Haver necessidade de construir casas para o pessoal da camionagem, quer nas localidades onde se situam as sedes de cada uma das cinco secções, quer nos pontos terminais de algumas carreiras muito longas.

c) Caminhos de ferro

266. Consideraram-se melhoramentos no traçado e beneficiações no material, com relevo para a aquisição de locomotivas mais potentes e de vagões apropriados ao tipo de mercadorias a transportar, Procurou-se, assim, atender fundamentalmente ao aumento do tráfego previsto, oriundo dos países vizinhos.
Irá incidir o principal esforço em caminhos de ferro, na rede de Lourenço Marques, caminho de ferro da Beira, caminho de ferro do Tete, caminho de ferro de Moçambique e caminho de ferro de Quelimane, atendendo-se também às necessidades da rede interna.
No que se refere ao tráfego interno, fizeram-se várias recomendações, pois será possível trazer economias ao subsector se se fecharem algumas linhas de caminho de ferro.

267. Os investimentos previstos em caminhos de ferro distribuem-se pela rede de Lourenço Marques, rede da Beira, rede de Quelimane e rede de Moçambique.

d) Portos e navegação

268. Estão previstas beneficiações nos acessos portuários e facilidades de manobra no interior dos portos.
O maior esforço incidirá nos portos de Lourenço Marques, Beira e Nacala, tendo ainda sido considerado o apetrechamento da doca seca da Beira, cujas dimensões permitirão docar qualquer dos navios de cabotagem existentes ou mesmo qualquer dos navios de guerra actualmente em serviço ou previstos para actuar na costa de Moçambique.
Também no caso dos portos - tal como para os caminhos de ferro -, no que se refere ao tráfego interno, se fizeram várias recomendações, pois será possível trazer economias ao subsector se se fecharem alguns portos de tráfego diminuto, o qual pode ser desviado sem afectar a economia da província.

269. Por compatibilização deste programa com os dos outros sectores, verificou-se que sómente no aspecto de armazenagem seria necessário considerar a construção de um silo para cereais, no porto da Beira, com a capacidade de 12 000 t e cujo custo se estimou em 25 000

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contos. Por isso, tal empreendimento foi incluído no programa de investimentos dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes.
Ligado ao problema dos transportes dos cereais daqueles pontos até ao porto da Beira, surgiu a necessidade de se recomendar o equipamento com material ferroviário adequado para transportes a granel nos percursos Vila Pery-Beira e Tete (Moatize e Caldas Xavier)-Beira.

270. No programa dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes está prevista a criação de um silo para cereais no porto de Lourenço Marques, para servir os territórios vizinhos.
Considera-se, por isso, que os silos a construir nos vales do Incomáti e Limpopo disporão de material ferroviário adequado para transporte a granel até ao porto de Lourenço Marques, podendo os cereais provenientes daquelas e de outras zonas do Sul e do Norte utilizar aquele silo.

271. Os totais dos investimentos previstos em portos abrangem os portos de Lourenço Marques, Beira, Nacala, Quelimane e outros.

272. Quanto aos Serviços de Marinha, pretende-se que se equipem no essencial, incidindo grande parte do programa para o sexénio no apetrechamento da doca seca da Beira, prevendo-se também a aquisição de equipamento flutuante para os portos de Lourenço Marques, Beira, Nacala e Quelimane, além de diversos trabalhos de farolagem.
O programa para o sexénio envolve também a aquisição de dois rebocadores e uma dragueta de sucção, além de várias embarcações para balizagem, pilotos e polícia marítima. Isto no que respeita a equipamento flutuante.

273. Assim, neste capítulo dos Serviços de Marinha, os investimentos previstos são, portanto:

1. Porto de Lourenço Marques

Um rebocador de 600/800 HP.

2. Porto da Beira

Um rebocador de 600/800 HP;
Uma barcaça para balizagem;
Apetrechamento da doca seca, construção e apetechamento das oficinas navais da Capitania.

3. Porto de Nacala

Construção e apetrechamento das oficinas da Capitania.

4. Porto de Quelimane

Uma embarcação para transporte de pilotos e polícia marítima.

5. Serviço de farolagem

Bóias AGA WIGHM, amarrações e material óptico.

6. Serviço de dragagens

Uma dragueta de sucção estacionária.

7. Estudos em modelo reduzido

Porto de Lourenço Marques;
Porto da Beira;
Porto de Quelimane.

d) Transportes aéreos e aeroportos

274. Com o programa estabelecido procura-se fundamentalmente:

Conseguir a utilização dos aeródromos em qualquer altura do ano, independentemente das condições meteorológicas;
Tornar possível o voo nocturno;
Operar com aviões de tipos maiores;
Aumentar as condições de segurança.

Obter-se-á assim um melhor aproveitamento do material, havendo apenas que estabelecer a necessária correspondência com o pessoal para explorar.
Quanto aos aeródromos, prevê-se maior actuação, durante o III Plano de Fomento, nos de Mocímboa da Praia, Porto Amélia, Vila Cabral, Vila Coutinho, Lumbo, Nampula, Tete, António Enes, Quelimane, Vila Pery, Beira, Vilanculos, Inhambane, João Belo, S. Martinho do Bilene e Lourenço Marques.
No que respeita à D. E. T. A. (Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos), dada a evolução do tráfego, dirige-se o programa para a aquisição de novas aeronaves e respectivo equipamento oficial.

275. Como pelos Serviços de Aeronáutica Civil foi apresentado um programa de investimentos em aeroportos, elaborado em conjunto com os utilizadores dos aeródromos (elementos dos serviços dos transportes aéreos da província - D. E. T. A. - e dos táxis aéreos), os respectivos programas (Aeronáutica Civil e D. E. T. A.) surgiram já compatibilizados entre si e atendendo à complementaridade do serviços dos táxis aéreos.
É de salientar que a concretização urgente do apetrechamento dos aeródromos que possibilite o voo nocturno terá a vantagem de diferir o programa de compras de novos aviões, o que levou a considerar-se como urgente a execução daquele apetrechamento, previsto na medida de fomento relativa a aeródromos.
Não houve que proceder a compatibilização com outros sectores, visto que os serviços da D. E. T. A. que tratam das carreiras aéreas consideram que os programas que têm permitem ir correspondendo às necessidades crescentes de tráfego.

276. O plano de acção dos Serviços de Aeronáutica Civil diz respeito a aeroportos e no período de 1968 a 1978 o seu programa considera-se dividido nas seguintes finalidades: áreas de manobra, edificações e montagens, segurança aérea, equipamento e serviços gerais.

277. Pormenorizando por aeródromos, os investimentos distribuem-se por:

Mocímboa da Praia

Áreas de manobra:

Pavimentação dos topos;
Pavimentação geral.

Equipamento de segurança aérea da área:

SSB.

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

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Porto Amélia

Áreas de manobra:

Terraplenagem e pavimentação.

Energia e sinalização luminosa.
Equipamento de segurança aérea:

SSB.

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

Vila Cabral

Áreas de manobra:

Beneficiação da pista secundária e construção do caminho de circulação.

Energia e sinalização luminosa.
Edificações e montagens:

Abrigo de bombeiros e viaturas;
Habitação.

Equipamento de segurança aérea:

SSB.

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

Vila Coutinho

Áreas de manobra.
Edificações e montagens:

Abrigo e casa do capataz;
Radiofarol.

Equipamento de segurança aérea:

Radiofarol;
Comunicações;
Grupos.

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

Lumbo

Energia e sinalização luminosa.
Equipamento de segurança aérea:

SSB.

Nampula

Áreas de manobra:

Pavimentação do caminho de circulação.

Energia e sinalização luminosa:

Energia (VOR e NDB);
Energia para o centro emissor.

Edificações e montagens:

Centro emissor, cabos telefónicos, grupos e casa do guarda;
Aerogare (beneficiação);
Bombeiros (viaturas e abrigo);
Abrigo do VOR e casa do guarda;
Habitações.

Equipamento de segurança aérea:

Instrumentos de medida;
Gravadores;
Torres de antenas.

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

Tete

Edificações e montagens:

Aerogare;
Central;
Abrigo de viaturas;
Oficinas;
Habitações.

Equipamento de segurança aérea:

SSB;
Equipamento de controle do aeródromo.

António Enes

Serviços gerais:

Urbanização, etc.

Quelimane

Áreas de manobra:

Construção.

Energia e sinalização luminosa.
Edificações e montagens:

Aerogare;
Central;
Abrigo de viaturas;
Bombeiros;
Viaturas contra incêndios;
Oficinas;
Habitações.

Equipamento de segurança aérea:

SSB e lanterna de sinais;
Comunicações, torre, cabo telefónico e instrumentos de medida;
Gravadores.

Serviços gerais:

Agua e luz;
Urbanização, etc.

Vila Pery

Expropriação e construção.
Edificações e montagens:

Aerogare e hangar;
Habitações;
Abrigo de máquinas e viatura contra incêndios;
Máquinas e equipamento de conservação;
Central, armazém e abrigo de material de placa;
Radiofarol.

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Equipamento de segurança aérea:
SSB e comunicações.

Serviços gerais.

Beira

Edificações e montagens:
Controle de aeródromos e de aproximação.

Equipamento de segurança aérea:

ILS ou radar;
Circuito rádio teleimpressor;
Automatização;
DME;
Equipamento complementar.

Serviços gerais:

Arruamentos e urbanização;
Terraplenagens;
Vedações.

Vilanculos

Áreas de manobra:
Construção.

Energia e sinalização luminosa.
Edificações e montagens.
Equipamento de segurança aérea:
SSB.

Serviços gerais:

Vedações;
Urbanização, etc.

Inhambane

Áreas de manobra:
Expropriação e construção.
Edificações e montagens.
Equipamento de segurança aérea:
SSB.
Serviços gerais:
Vedações.

João Belo

Áreas de manobra:
Consolidação.
Edificações e montagens.
Serviços gerais.

Bilone

Áreas de manobra.
Edificações e montagens.
Equipamento de segurança aérea:
Equipamento de comunicações e radioajudas.

Serviços gerais:

Abastecimento de água;
Vedações e urbanizações.

Lourenço Marques

Áreas de manobra.
Energia e sinalização luminosa.

Edificações e montagens:

Bombeiros;
Viaturas contra incêndios, desobstrução e limpeza;
Habitações.

Equipamento de segurança aérea:

ILS ou radar;
Automatização;
Equipamento meteo;
DME;
Equipamento complementar.

Serviços gerais.

Outros

Áreas de manobra.
Edificações e montagens.
Equipamento de segurança aérea:
Equipamento para comprovação de radioajudas;
Radioajudas;
Equipamento complementar (CTA do Tete).

Serviços gerais.

278. Para aeronaves, os empreendimentos compreendem a aquisição de novos aviões e a aquisição de equipamento.

279. A aquisição de novos aviões será imposta pelas necessidades da evolução do tráfego, que vem aumentando de 15 por cento em cada ano, conjugada com as tendências da construção aeronáutica e a política de material de voo que vêm seguindo as companhias dos territórios limítrofes que mantêm acordos de tráfego em pool (South África Airways e Central África Airways); permite, além disso, ligações mais apropriadas aos jactos da T. A. P. (a programação inclui a aquisição de um Fokker F 27 - Friend-ship - em 1968, um jacto para 60. a 70 lugares em 1970 e outro igual em 1972; a aquisição do segundo jacto será efectuada por troca com um F 27, se se verificar não ser necessário); verifica-se ainda a necessidade de equipar as oficinas da D. E. T. A. (inclui equipamento e ferramentas para instalação da oficina de reparação de motores de turbina e outro equipamento oficial de carácter geral).
280. O estudo dos fluxos do tráfego interno tem em vista a recolha de elementos para o estabelecimento de uma política geral dos transportes internos (estrada, caminho de ferro, cabotagem e avião), visto ser necessário obter maior rentabilidade dos investimentos por coordenação entre estes e a oferta de melhores serviços. Por isso se prevê a realização daquele estudo.

e) Telecomunicações

281. O programa estabelecido visa a melhoria das redes telefónicas urbanas rentáveis (Lourenço Marques e Beira) e a instalação de centrais telex também nestas duas cidades.

282. Para facilitar uma visão de pormenor dos investimentos a efectuar pelos transportes e comunicações, apresenta-se o quadro seguinte.

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Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

VIII Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

283. segundo estimativa feita pela Junta dos Bairros de Casas Populares, cifra-se em cerca de 300 000 o número de indivíduos que vivem actualmente nas zonas de cintura dos mais importantes centros urbanos da província.
Em termos de fogos, considerando 4,5 como número médio da habitantes por fogo, a repartição das necessidades é a seguinte:

Fogos

Lourenço Marques ...... 35 000
Beira ................. 9 000
Quelimane ............. 6 000

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[Ver Tabela na Imagem].

284. Considerar-se-á, no período do III Plano de Fomento, a criação de pelo menos, 20 000 novos fogos, a repartir como segue:

[Ver Tabela na Imagem].

2. Objectivos

Estimam-se em 700 ha as necessidades em terrenos para a construção desses 20 000 fogos.
As características das construções serão diferentes, consoante se situam em Lourenço Marques e Beira ou noutras localidades. Em Lourenço Marques e Beira considerar-se-ão construções de edifícios de 8 fogos, construções unifamiliares e construções para fins comerciais (60 por cento, 20 por cento e 20 por cento, respectivamente), enquanto nas demais localidades predominarão as construções unifamiliares.
Tendo em conta esta diferenciação, aqueles 700 ha virão a distribuir-se como se segue:

[Ver Tabela na Imagem].

Excepção feita a Lourenço Marques e a Quelimane, considera-se possível a obtenção gratuita dos terrenos necessários.
285. Logo que se tenha concluído a urbanização dos terrenos, considera-se a possibilidade da venda dos mesmos, em condições de preços favoráveis, aos directamente interessados empreiteiros, cooperativas, etc.-, que se encarregariam da construção das habitações.

3. Medidas de política

286. As medidas de política enquadram-se .nos seguintes termos:

Para execução harmónica do programa, haverá que assegurar a colaboração das várias câmaras municipais pára solucionar os problemas emergentes;
Para que o programa proposto possa iniciar-se, torna-se necessário que previamente seja feito um estudo financeiro pormenorizado do problema e que se incremente a apresentação dos necessários planos de urbanização.
IX) Turismo 1. Evolução recente e problemas actuais
287. De entre as zonas já detectadas como de interesse sob o ponto de vista turístico, seleccionaram-se aquelas que, pelas infra-estruturas já existentes, permitem um esforço de promoção com um investimento reduzido e que são:

Ponta do Ouro, reserva do Maputo, lagoas da Bela Vista;
Zona de influência de Lourenço Marques;
S. Martinho do Bilene, Chongoene, lagoas de Zavala,
cabo das Correntes, Inhambane;
Vilanculos, Inhassoro, Bazaruto, Bartolomeu Dias;
Zona de influência da Beira; Parque Nacional da Gorongosa.

Actuando imediatamente nestas zonas, há a certeza de virem a melhorar-se as condições em locais dos mais receptivos no panorama turístico da província e que beneficiam já de um afluxo considerável de turistas.
Finalmente, foi considerado necessário contribuir para a construção de uma escola de profissionais de hotelaria.

288. Este sector contém implícitos vários problemas de compatibilização sectorial.
Recorreu-se, por medidas de fomento, ao estabelecimento de um certo número de acções que permitam obter os elementos necessários à programação do sector, para além da previsão do afluxo de turistas, e, portanto, no decorrer do III Plano de Fomento poder-se-ão concretizar tais empreendimentos, os quais deverão ser enquadrados nos sectores respectivos (casos de estradas, transportes aéreos, planos de urbanização, águas e electricidade, saúde, fite.). Tomou-se, porém, como solução intermédia, a consideração de uma verba global para se fazer face às necessidades que realmente venham a explicitar-se melhor, a qual poderá ser reforçada com os meios financeiros do Fundo de Fomento Turístico, criado recentemente.

289. Assim mesmo, ainda foi possível verificar que algumas, das estradas, dos abastecimentos de água e electrificações que, por outros motivos, se propunham fazer, coincidiam, em muitos casos, com as necessidades do sector de turismo, como, por exemplo, as electrificações da Ponta do Ouro, S. Martinho do Bilene, Vilanculos, Inhassoro, a urbanização em Ponta do Ouro, região de Inharrime, Quissico, Chindenguele, Bazaruto, etc.
O caso da estrada da Bela Vista para a Ponta do Ouro constitui um caso diferente, pois foi incluída no programa rodoviário exactamente por razões turísticas, pretendendo-se que nesta estrada se façam as beneficiações necessárias para garantir o trânsito durante todo o ano.

2. Objectivos

290. Com base no movimento de entradas de turistas nos anos de 1962 a 1965, extrapolou-se, mediante uma regressão linear, o volume de turistas, de forma a definirem-se as metas a atingir no período do III Plano de Fomento (1968-1973).
Os valores aproximados da projecção são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem].

Esclarece-se, desde já, que não se tomou a taxa de crescimento do período de 1962-1965, que era de 8,5

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por cento, mas fixou-se a taxa de 5,6 por cento para esta linha de tendência dos anos de 1968-1973, bastante inferior, portanto, à que anteriormente se verificou.
Esta prudência na projecção deve-se a serem muito elásticas as circunstâncias condicionantes do fenómeno turístico em. geral e, portanto, de difícil previsão. Factores de natureza económica, social e política, nas origens dos fluxos turísticos externos, podem alterar substancialmente o seu volume sem viabilidade de por medidas internas do mercado receptor do turismo, facilmente se poder retomar a posição anterior. Aliás, a curta extensão do período de tempo base da análise do sector não permite que se possa, com relativa certeza, prever a evolução futura do quantitativo de turistas no mercado turístico da província.
Por estes motivos se adoptou uma taxa anual de crescimento de 5,6 por cento e se admitiu que poderão ocorrer flutuações, com efeito negativo, de amplitude que se arbitrou em cerca de 1.0 por cento dos valores estimados, donde resultaram os seguintes intervalos anuais, que se tomam como meta a atingir:

Turistas

1968 ............ 230 000 a 260 000
1969 ............ 240 000 a 270 000
1970 ............ 260 000 a 290 000

971 ............ 270 000 a 300 000
1972 ............ 290 000 a 320 000
1973 ............ 300 000 a 340 000

291. Em relação ao número de dormidas foi apurado um valor médio entre 1,55 e 1,91 para 1961 e 2,5 e 2,97 para 1.965. Como a abertura da ligação Lourenço Marques-Beira permite o estabelecimento de circuitos turísticos fechados em relação aos fluxos externos mais relevantes (África do Sul e Rodésia), necessariamente que a média de estada terá de subir. Assim, tomou-se como meta facilmente alcançável e seguramente excedível a média anual de três dormidas.
A previsão para o período do III Plano de Fomento é, pois, de:

[Ver Tabela na Imagem].

292. Não é possível, por os dados existentes não o permitirem, estimar-se o desenvolvimento que necessàriamente a indústria hoteleira terá de sofrer para absorver o aumento de turistas. Mas, a verificar-se a projecção referida, tal desenvolvimento será uma necessidade imperiosa.

293. Por outro lado, um incremento como o que se espera terá reflexos fortes e benéficos na balança de pagamentos da província. Assim, calculando-se a despesa média diária do turista em Moçambique em cerca de 450$, estima-se na perspectiva já exposta que as receitas de divisas atingirão:

[Ver Tabela na Imagem].

Pelo exposto se vê que, se a saída de divisas resultante da despesa do turismo se mantiver no nível dos 270 000 contos, valor à volta do qual variou no período de 1960 a 1964, serão os seguintes os valores do saldo da rubrica «Turismo»:

[Ver Tabela na Imagem].

3. Medidas de política

294. As medidas a tomar são:

Estudo e reorganização da pesca e caça desportivas, com especial atenção para a fixação, com antecedência, das espécies de caça a abater anualmente, permitindo assim o estabelecimento, com a antecedência requerida, dos contratos entre as empresas de safaris e os seus clientes;
Realização de campanhas publicitárias no sentido de obter uma económica utilização da capacidade hoteleira fora dos períodos de ponta;
Incentivo da indústria hoteleira e similar, não sómente quanto ao seu desenvolvimento, como ao seu melhoramento técnico e profissional;
Maior projecção das agências de viagem e turismo no desenvolvimento e promoção da actividade que é a razão fundamental da sua existência - o turismo;
Autorização para particulares poderem alojar turistas nas suas residências, desde que sejam satisfeitos certos requisitos, aumentando-se assim a capacidade de recepção de turistas, já esgotada nos períodos de ponta;
Aplicação de medidas de carácter legal de protecção e fomento do património turístico da província, como seja a declaração de utilidade turística nos casos em que tal seja conveniente;
Promoção da realização de manifestações de carácter cultural, desportivo, recreativo e mundano (necessidade de factores de captação nas épocas fora de estação);
Aproveitamento do património histórico e monumentalista da província e melhor aproveitamento das riquezas da fauna e da flora;
Utilização, como meio de atracção, das actividades regionais e regionalistas (grupos folclóricos, cozinha típica, etc.);
Formação profissional hoteleira ao nível inferior e médio, através da criação de uma escola hoteleira;
Política de trabalho relativamente ao pessoal da indústria hoteleira e similar;
Centralização numa única entidade pública dos aspectos gerais da fiscalização de interesse turístico dispersos por vários serviços, como medida para obter uma maior eficiência, coordenação e rendimento.

4. Investimentos

295. Apresenta-se a seguir o programa de investimentos do sector.

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Turismo
Programa de Investimentos
Unidade: milhar de escudos

[Ver Quadro na Imagem].

X) Educação e investigação

1. Educação
1. Evolução recente e problemas actuais

296. No sentido de no espaço de vinte anos, se conseguir uma escolaridade generalizada na província, prevê-se que em 1978 se haja atingido uma taxa de escolaridade de pelo menos, 49 por cento, o que constitui largo passo no intuito de se alcançar o fim em vista.
As campanhas de alfabetização das massas rurais, previstas mormente entre adultos, através dos serviços extra-escolares e dos cursos nocturnos e de ensino primário, permitirão obter um índice mais elevado na luta contra o analfabetismo.
Foi também dada grande atenção às necessidades de pessoal técnico qualificado a todos os níveis no sector agro-pecuário, pelo que se espera, com as escolas a criar, atender às necessidades deste tão importante sector na economia de Moçambique durante o período do III Plano de Fomento.
Nos outros tipos de ensino procurou-se eliminar algumas deficiências no capítulo de instalações, alargando-se mais a malha de cobertura da província. Quanto ao ensino universitário, pretendeu-se contribuir para a continuação da melhoria das construções e aspectos complementares, bem como do equipamento científico.
297. Nos aspectos cia compatibilização com outros sectores, deve mencionar-se que as necessidades da agricultura, silvicultura e pecuária levaram a que o esforço educacional SR dirigisse de preferência para o tipo de ensino que permite a formação, a diversos graus, de técnicos agro-pecuários.
Planeou-se por isso, a ampliação das escolas primárias rurais com granjas agrícolas e pecuárias, permitindo que os .alunos comecem, desde os primeiros bancos escolares, a aprendizagem e o despertar de interesse pela parte literária, juntamente com as técnicas rurais, próprias do seu meio ambiente.
No que respeita às necessidades quanto a educação noutros sectores, verificou-se que o programa proposto satisfaria, tanto no campo do ensino técnico, em que se dará relevo às escolas de artes e ofícios, como no campo do ensino liceal e superior.
No caso da formação acelerada de pessoal que mais interessa à indústria de transformação, fez-se uma recomendação com vista a obter-se apoio das entidades oficiais da metrópole e das privadas de Moçambique.

2. Objectivos

298. Com a execução do programa que se propõe, conseguir-se-á atingir em .1973 uma taxa de escolarização de 49 por cento. O número de alunos por professor (no ensino primário) manter-se-á em. 75, o que corresponde a cerca de 80 alunos por classe.
Considera-se que, se essa taxa for atingida, se terá dado um passo importante no sentido da escolarização generalizada.
Tendo em consideração a taxa de escolarização que se propõe como meta a atingir na vigência do III Plano de Fomento e a estimativa cia população escolarizável e admitindo, como hipótese, que a percentagem dessa população é sensivelmente semelhante em todos os distritos, construiu-se o seguinte quadro, que contém a repartição daquela meta por distritos:

[Ver Quadro na Imagem].

Outro objectivo a atingir consiste no alargamento da alfabetização pela acção do serviço extra-escolar e dos cursos nocturnos de ensino primário a maior número de indivíduos do que o verificado nos últimos anos. Espera-se, assim, conseguir:
20 000 alunos/ano nos cursos nocturnos do ensino
primário; 50 000 ai unos/ano por acção do serviço extra-escolar.

299. Quanto ao ensino secundário, tem importância referir que com o programa proposto se consegue dotar a província com uma rede de ensino agrícola e pecuário a nível elementar, secundário e médio que se considera adequada às necessidades esperadas em técnicos destas especialidades.

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300. Nas demais especialidades do ensino secundário e médio a acção encarada pelo programa visa a melhoria das condições em que funcionam os cursos, quer por aumento dos quadros, quer por alargamento das instalações em que esses cursos são ministrados, possibilitando-se assim, dar vazão aos alunos que se prevê procurem esses tipos de ensino.

301. Quanto ao ensino universitário, julga-se ser possível conseguir o funcionamento, em melhores condições, dos actuais cursos de Agronomia, Veterinária e Medicina e alguns cursos de Letras que se pretende sejam criados.

3. Medidas de política

302. As medidas neste sector são as seguintes:

Educação de adultos de forma a alcançar a grande massa populacional aglomerada na periferia dos centros urbanos mais importantes e quantos, na dependência sócio-económica da população ocidentalizada, queiram aprender a ler;
No que respeita a instalações para professores, favorecer a colocação de casais na mesma localidade, fornecendo-lhes uma residência;
Execução integral, em todas as escalas rurais, dos programas de educação feminina e de divulgação da língua portuguesa entre a massa feminina nativa;
Efectivação de uma campanha de promoção junto das mulheres, na periferia das cidades, por meio de cursos que especialmente lhes serão destinados, com a duração de 4 a 6 meses e a frequência, máxima de 40 elementos por grupo ou turma;
Melhoria pedagógica da formação docente, estendendo-se à província os estágios profissionais em vigor na metrópole;
Organização de cursos periódicos de actualização pedagógica e distribuição às- escolas do material, didáctico indispensável às exigências de ensino, fomentando-se a utilização de material audiovisual;
Criação de uma comissão técnica permanente para apetrechamento de material, didáctico.

4. Investimentos

303. Segue-se um quadro-síntese do sector.

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[Ver Quadro na Imagem].

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2. Investigação ligada ao ensino

304. Dada a necessidade de se investir em Moçambique, atendendo à mais rápida reprodutividade, é de aconselhar que as instituições que se dedicam à investigação científica e os Estados Gerais Universitários coordenem os seus programas entre si e com as instituições que fazem a investigação básica.
li indispensável que as entidades que tratam de investigação, científica ou básica, elaborem programas orçamentados específicos de investigação dentro de cada instituição.

3. Investigação não ligada ao ensino

1. Cartografia geral

a) Cartografia geral e especial

305. Assentou a programação dos empreendimentos incluídos nesta rubrica na necessidade de se manter a execução da cobertura fotográfica da província, além dos trabalhos de cadastro.
No que respeita à cartografia, a tarefa de maior envergadura continua a ser a elaboração da carta da província, à escala 1/50 000, envolvendo trabalhos de apoio de campo, completagem, toponímia, desenho e impressão, a partir da qual se procederá ao desenho e impressão das cartas 1/250 000, 1/500 000 e 1/1 000 000.
Procura-se que fiquem cartografadas todas as zonas não cobertas a sul do paralelo 14 e, a norte, as zonas consideradas de povoamento.
Quanto ao cadastro, é um problema que apresenta maior acuidade nas regiões em que a propriedade é de constituição antiga ou está pulverizada.
Assim, houve necessidade de se tomarem em consideração, em primeiro lugar, o distrito de Lourenço Marques e certas zonas dos distritos de Gaza, Inhambane, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique.

306. A compatibilização nos casos de obtenção de elementos de cartografia ficou estabelecida para os casos das zonas de povoamento a norte do paralelo 14 sul, pois fica consignado que os trabalhos de cartografia a fazer naquela área deverão incidir sobre as zonas referidas.
No caso da restante área da província, nos trabalhos a fazer terão prioridade os que dizem respeito não só às áreas de povoamento, como também às de desenvolvimento agrícola, silvícola, pecuário, industrial e turístico.
Fica, aliás, expresso que o programa de pormenor a estabelecer, tanto no campo da cartografia, como no do cadastro, pelos Serviços Geográficos e Cadastrais, entidade executora neste campo, deverá ser elaborado em reuniões, preliminares à execução, com os utentes e outros departamentos estaduais, com vista a melhor se poderem atingir as metas fixadas para cada caso e, portanto, os objectivos do
III Plano de Fomento.
Estes problemas são enquadrados, aliás, nos que se tratarem respeitantes ao regime de terras, ligando-se, por isso, Intimamente.
307. As dotações que têm sido atribuídas à «Revisão da cartografia geral da província», integrada na rubrica «Conhecimento científico do território», não tem permitido uma produção aceitável e económica.
Pensa-se que a solução mais adequada, já hoje aceite em princípio, é a execução parcial dos trabalhos por empreitada, para o que há empresas idóneas, embora só equipem os serviços com material e pessoal, de modo II poder exercer-se a indispensável fiscalização e, simultaneamente, executar-se uma parte dos empreendimentos por administração directa, nomeadamente a restituição, o desenho e a toponímia.

308. Para melhor aproveitamento do equipamento e do potencial humano especializado, há necessidade absoluta de rever as condições de trabalho com vista a acelerar-se a produção. Assim, pelo menos para as operações de restituição e de desenho, é indispensável entrar no regime de tarefa.

309. O quadro junto dá a posição do problema de cartografia.

Cartografia

{Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

(a) Actualização.
(b) Concluída.
(c) Arredondamento.

310. O problema do cadastro não apresenta, no conjunto, a mesma urgência que o da cartografia, nem tem, por enquanto, a sua amplitude. Porem, se não for tratado a tempo, poderá vir a cair-se numa situação crítica. À parte as regiões em que a propriedade é de constituição antiga ou está pulverizada, os elementos fornecidos pelas demarcações definitivas e pelos correspondentes processos legais são suficientes para identificação da propriedade e análise da sua situação jurídica. São os elementos que constam dos Atlas de Cadastro e do Tombo Geral da Propriedade e não têm surgido problemas de grande importância. Assim, há necessidade de se tomarem em consideração, em primeiro lugar, o distrito de Lourenço Marques e certas zonas dos distritos de Gaza, Inhambane, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique, fazendo-se a revisão e actualização (conservação do cadastro), corrigindo defeitos e enquadrando tudo num plano de conjunto.
No distrito de Lourenço Marques, com a área de 16 184 km2, já foram cadastrados 2562 km2 nas regiões do Maputo e da Nain-aacha. Excluindo a área de 226km8 ocupada pelos forais, restam cadastrar 13 396 km2. No programa de trabalho apresentado incluem-se apenas 1000 km2.
No distrito de Gaza ainda nada foi feito e há necessidade de se dar início aos trabalhos. Prevê-se a possibilidade de se cadastrar, durante o período, a área de 700 km2.
No distrito de Inhambane foram cadastrados 1600 km2, tendo sido publicadas onze topo-cadastrais, nove à escala de 1/25 000 e dois à escala de 1/50 000. A continuação dos trabalhos deve abranger, pelo menos, a área de 600 km1, trabalho que tem possibilidades de se executar durante o período de 1968-1973.
No distrito de Manica e Sofala deu-se início ao cadastro do Chimoio. Foram cadastrados 265 km2. Há necessidade de se rever toda a área das concessões da antiga Companhia de Moçambique. No programa inclui-se a área de 700 km2 a cadastrar durante o período.
Foram já iniciados os trabalhos de cadastro no distrito da Zambézia, tendo-se começado pelos arredores de Quelimane, onde a propriedade, de constituição antiga e por vezes duvidosa, está1 pulverizada. E um dos distritos que parece merecer maior atenção, pelos problemas que podem surgir em consequência da ausência de um cadastro geométrico e jurídico actualizado e correcto. Uma brigada convenientemente constituída poderá cadastrar, durante os seis pios do Plano de Fomento, uma área de 300 km2.
No distrito de Moçambique deve continuar-se o cadastro da Lunga e atacarem-se outras regiões em que a ocupação é densa, nomeadamente os arredores de Nampula. Prevê-se o cadastro da área de 300 km2.
Quanto aos distritos de Tete, Niassa e Cabo Delgado, não se justifica que se realizem operações de cadastro.

311. No fim de 1967 estarão cadastrados 5200 km8 na província.
Pretende-se cadastrar mais 3600 km2 no período do III Plano, nos distrito de Lourenço Marques, Gaza, Inhambane, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique, além das zonas consideradas de povoamento, área essa distribuída do seguinte modo:

Quilómetros quadrados
Distrito de Lourenço Marques ....... 1 000
Distrito de Gaza ................... 700
Distrito de Inhambane .............. 600
Distrito de Manica e Sofala ....... 700
Distrito da Zambézia .............. 300
Distrito de Moçambique ............ 300
3 600

312. Para concretização dos programas apresentados torna-se necessário equipar os serviços com mais algum material técnico de campo, material de acampamento e, sobretudo, viaturas.

313. As instalações dos serviços centrais já são hoje insuficientes; as dos serviços distritais são insuficientes e deficientes. Para instalação dos serviços centrais está aprovado um projecto de edifício constituído por dois corpos contíguos, cada um deles com nove pisos. Deste projecto já foram construídos três pisos de um dos corpos,

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tonando-se necessário a execução de uma 2.ª fase de obras, ampliando-se com dois pisos em altura e dois pisos em superfície.
Numa 1.ª fase, há necessidade de se instalarem, definitivamente as repartições distritais de Manica e Sofala e da Zambézia, na Beira e em Quelimane, respectivamente.

314. O programa financeiro para o período do III Plano de Fomento implica a continuação de pagamentos (15 000 contos) para além do período. Tal deferimento espera-se que seja encontrado com os empreiteiros.

b) Carta geológica

315. Nas medidas propostas para o sector das indústrias extractivas não se pôs, por assim dizer, o problema de compatibilização intra-sectorial, dado que as mesmas se dirigem principalmente à cartografia geológica e prospecção regional. Porém, um factor houve a considerar: a prevista escassez de pessoal técnico especializado, o que, no caso de reconhecimento geológico, levou a optar-se já pela solução da empreitada, e não pela administração directa, como interessava.
a programa compreende:

Cartografia geológica na escala 1:250000 de cerca de 160 000 km2 da área cristalofílica nos distritos de Tete, Zambézia, Moçambique e Niassa (entre os paralelos 14 S e 16 S) e levantamento cintilométrico e de magnometria na mesma área.

Da área da província, 58 por cento, ou sejam 455 000 km2, é constituído por rochas cristalofílicas, as de maior interesse económico-mineiro. Desses, 118 000 km3 foram já cartografados na vigência dos I e II Planos de Fomento. Se no III Plano de Fomento se cartografarem 160 000 km2 da área cristalofílica, como está previsto, restarão por cartografar 1.77 000 km2, ou seja, 39 por cento da área cristalofílica total.

2. Hidrologia

316. Considerou-se, através desta rubrica, a continuação dos estudos hidrológicos, mas em maior ritmo, devendo a sua divulgação ser feita de forma regular por meio de anuários impressos.
Para a inventariação dos recursos hidráulicos, é necessário que os elementos hidrológicos essenciais sejam obtidos segundo um plano ordenado e coordenado. Adequados registos hidrológicos, estendendo-se por períodos suficientemente extensos, são indispensáveis em qualquer aproveitamento hidráulico.
Por outro lado, dispondo de elementos de confiança, poder-se-á projectar obras hidráulicas com maior segurança, economia e utilidade, daí resultando um melhor benefício económico-social para as populações servidas.
Nestes termos, o objectivo principal é criar meios de modo a conseguir uma ocupação eficiente, tanto em profundidade, como em extensão.
Inclui-se assim.
Disponibilidade de cartas hidrogeológicas:

Na escala de 1:500000, dos três distritos do Sul do S ave e do Tete;
De reconhecimento, na escala de 1:500000, na Zambézia;
Na escala de l: 250 000, preparadas para publicação, aquelas em que o número de pontos de águas existentes o justifique.

317. Não obstante não se de a II I r o programa de trabalhos, é reconhecido que as verbas despendidas com a ocupação hidrológica da província são insuficientes.
Para se poder recuperar, em. certa medida, este atraso e se poder também aumentai1 indispensàvelmente o ritmo dos trabalhos, necessário se torna reforçar bastante as dotações até agora concedidas para o efeito.

3. Meteorologia

318. Previu-se nesta rubrica:

A actualização de equipamento para que as observações de altitude com radiossonda possam acompanhar a evolução da técnica e satisfazer os requisitos futuros da exploração aeronáutica e cios trabalhos da análise e previsão do tempo; esta actualização deverá ser feita do forma coordenada, a nível nacional, II orn u a dam ente em ligação com a dos estabelecimentos congéneres da metrópole e do ultramar, de modo a atender-se às condições de fabrico de material fixo e de abastecimento de material de consumo corrente (radiossondas);
A introdução do sistema A. P. T. para recepção directa das informações fornecidas pelos satélites meteorológicos;
A participação de Portugal no Decénio Hidrológico Internacional (1965-1975), iniciativa da U. N.º E. S. C. O., com o apoio de diversas organizações internacionais, entre as quais a F. A. O. e a O. M. N.º Trata-se de um empreendimento de grande escala, destinado a obter, segundo um programa de âmbito mundial, informações de base que contribuam para o progresso da ciência hidrológica e, portanto, para o bem-estar das populações, pelo aproveitamento racional dos recursos de água; dentro do programa geral, competem aos vários serviços meteorológicos observações e estudos no campo da hidrometeorologia.
i. Investigação aplicada à agricultura e pecuária
319. A intensificação do desenvolvimento económico de Moçambique aconselha dar-se, no sexénio de 1968-1973, à investigação agronómica, a relevância e a projecção necessárias para se conseguir obter os conhecimentos essenciais à realização das obras de fomento agro-silvícola.
Os trabalhos de investigação de base que hão-de servir à expansão R intensificação dos cultivos destinados ao mercado interno e à exportação serão executados no Instituto de Investigação Agronómica e sectores regionais, como estações experimentais, postos agronómicos e laboratórios regionais.
A necessidade de intensificar a investigação agronómica levou à criação do Instituto de Investigação Agronómica de Moçambique, que constitui alicerce indispensável do desenvolvimento agrícola da província, sem o qual as acções do Plano no campo agrícola não poderiam atingir os objectivos pretendidos.
Considera-se a intervenção do Instituto de Investigação Agronómica em dois campos distintos:

Dar especial atenção às culturas que o III Plano de Fomento visa, tais corno: milho, trigo, arroz, amendoim, mandioca, algodão, coqueiro, caju, quenafe, cana-de-açúcar, frutas (banana, ananás e citrinos), chá, sisal, tabaco, batata, gergelim, aleurites, girassol, soja e produtos silvícolas;
Tratar outras culturas e as de subsistência, tais como sorgo, inhame e batata doce.

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320. Por se encontrar o Instituto de Investigação Agronómica na sua face inicial de estruturação e montagem, não tendo sido ainda realizada totalmente a transição legal dos seus técnicos dos serviços e organismos a que pertencem e não tendo sido definidos os respectivos programas de trabalho, a curto e a longo prazo, não é possível discriminar as verbas necessárias, mas apenas estabelecer um calendário dos dispêndios a efectuar no decurso do III Plano de Fomento.

321. A investigação dos problemas relacionados com a produção pecuária em Moçambique, tendo sempre em vista o aspecto económico e o apoio à acção de extensão dos serviços de veterinária pela produção de vacinas, elementos de diagnóstico e de informação, constituem as missões a cargo do Instituto de Investigação Veterinária.
Foi a necessidade de intensificar a investigação veterinária que levou à criação daquele Instituto, que constitui alicerce indispensável, do desenvolvimento pecuário da província, sem o qual as acções do Plano não poderão atingir os objectivos pretendidos.
Os vários trabalhos propostos executar-se-ão no próprio Instituto de Investigação Veterinária e nos sectores regionais como estações zootécnicas e laboratórios regionais.
Considera-se a intervenção do Instituto de Investigação Veterinária útil no reconhecimento do potencial, no aumento e no melhoramento das produções de:

Bovinos de corte, arietinos e caprinos;
Bovinos leiteiros;
Suínos;
Animais de capoeira.

Atendeu-se também à sua interferência nos aspectos relacionados com a conservação da natureza, com o aproveitamento económico das espécies faunísticas e com a introdução de novas espécies.

322. Faz-se a seguir uma discriminação do programa para intensificação da investigação veterinária:

Produção de agentes imunogénicos e de diagnóstico;
Inseminação artificial e investigação dos problemas da infecundidade; Ensaios de nutrição relacionados com recria, engorda e produção de leite;
Ensaios-adaptação e cruzamentos de raças bovinas e suínas;
Instalação do posto de fomento avícola;
Ensaios de adaptação do búfalo-dágua;
Ensaios de adaptação do carneiro caraculo;
Reconhecimentos e estudos sobre o Parque Nacional da Gorongosa e reserva do Maputo.

323. Criado recentemente, o Instituto não dispõe do pessoal para o seu funcionamento e para apoio de todo o trabalho de investigação a seu cargo.
Esclarece-se que o Instituto de Investigação Veterinária, com o pessoal de que actualmente dispõe, não pode dar cumprimento integral às tarefas previstas. Apesar dos muitos lugares vagos nos seus quadros, não tem possibilidade de os preencher, visto que as verbas destinadas aos seus orçamentos são insuficientes.
Estabelece-se, por isso, uma dotação permanente para o pessoal, que permita alargar o seu quadro.

5. Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

324. Para o estudo do sector e seu posterior desenvolvimento considerou-se ser necessária a criação da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Moçambique.
Procurará a Missão estudar os recursos naturais do meio marinho na costa de Moçambique, com vista à sua avaliação e exploração racional, de modo a garantir a estabilidade das reservas e a máxima rentabilidade dos mesmos numa área na qual estudos efectuados recentemente provaram ser de alto valor económico.
Para este fim, a Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Moçambique efectuará estudos sobre:

Natureza, distribuição e densidade dos recursos marinhos vivos, em especial daqueles que se suspeita existirem em abundância nas águas da costa de Moçambique e que têm, ou podem vir a ter, um mercado potencial, sua extensão, limites dos stocks e efeitos da pesca;
Melhoramento dos métodos de pesca e, consequentemente, da concepção e desenho dos barcos e artes de pesca, através de demonstrações e experimentação directa com protótipos;
Fomento de cultura de peixes, moluscos e crustáceos em zonas protegidas, quer através de organizações de pescadores, quer de experiências-piloto à escala industrial;
Economia da exploração e comercialização do pescado e produtos de pesca, dando especial atenção aos problemas de manuseamento, transporte e distribuição que dificultam a venda do pescado e produtos da pesca nos mercados da província e outros;
Criação de escolas de pesca e instituições que melhorem a aptidão profissional dos pescadores;
Estabelecimento de um serviço de estatística de pesca que assista aos estudos biológicos e económicos.

325. O programa para o sexénio apresenta um valor médio de dispêndios elevados, da ordem dos 21 000 contos anuais.
E, no entanto, justificadamente previsível pensar em valores da exportação, só para o camarão, da ordem dos 800 000 coutos anuais.
A produtividade da pesca do camarão parece ser extraordinariamente promissora em comparação com. outras boas regiões do globo para pesca feita em condições semelhantes. Assim:

Quilograma por hora
Moçambique ........... 60
Golfo do México ........... 30
Austrália ............. 40

Convém ainda lembrar que a exportação da lagosta passará seguramente de uma fase de incipiente para valores consideráveis, existindo também esperanças na pesca de tunídeos e pescado branco.
Parece, pois, que os números elevados que se estimam. para os dispêndios poderão ter uma compensação quase imediata, podendo encarar-se a sua satisfação directa através de taxas a cobrar às empresas de pesca.
E de admitir que a indústria da pesca de Moçambique colabore nas despesas dos programas, depois de estar certa dos benefícios da assistência técnica que se lhe proporcionará.

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Os programas de trabalho a executar são os seguintes:

Programa da dinâmica da população

Estudo das variações dos parâmetros biométricos das populações exploradas e em. exploração, através da análise bioestatística das capturas, dos desembarques e dos ensaios de pesca comparativos; definição das características e dimensões dos mananciais ou stochs que constituem as populações existentes, com o auxílio de métodos biométricos e genéticos; determinação do limite de capturas que corresponde à maximização da rentabilidade (esforço de pesca, unidade de esforço, rendimento horário).

Programa de táctica da pesca

Informação da respectiva, indústria sobre a época de arribação, localização das melhores concentrações do pescado, rumo que segue, profundidade a que se encontra o volume provável das capturas, em conjunção com a dinâmica das populações.

Programa de pesca exploratória e experimental

Demarcação de novas áreas de pesca e extensão das actuais; introdução de novos tipos de pesca que visem espécies ainda não exploradas (atuns, caranguejos e lulas) e de novas técnicas, quando aconselháveis.

Programa de bioceanologia de pescas

Determinação das variações oceanográficas que permitem definir os factores que condicionam a distribuição e o grau de concentração dos cardumes, as rotas de emigração e o comportamento biológico das espécies de valor comercial base da táctica, de pesca.

Programa de tecnologia de artes e barcos de pesca

Melhoria da eficiência das artes, engenhos e barcos utilizados localmente, introduzindo novas técnicas, quando aconselháveis.

Programa de culturas em áreas protegidas

Propagação de moluscos, crustáceos o peixes em zonas interiores e em baías abrigadas, com vista ao abastecimento público ou ao fornecimento de isco vivo aos pescadores.

Programa de tecnologia da transformação

Estudo dos métodos actualmente em uso pela indústria e artesanato, procurando contribuir para o seu melhoramento e introdução de novas técnicas.

6. Estudos de base

1. Estatística

326. Os elementos estatísticos disponíveis para quase todos os sectores da economia da província são ainda imperfeitos. Assim, reputa-se como indispensável que as lacunas sejam o mais depressa possível colmatadas de forma a dispor-se de um conjunto de elementos estatísticos que sejam de real utilidade para estudos.
Necessitam os Serviços de Estatística da província de equipamento e pessoal técnico qualificado, de tal modo que possuam os instrumentos que lhes permitam atender às solicitações dos demais departamentos da província que carecem, dos elementos estatísticos indispensáveis à realização do trabalho que a cada um compete. Mormente no campo do planeamento, estes elementos são base e a contabilidade provincial é fundamental.

327. Nestas condições, considerou-se que, para o efeito de se obterem estatísticas que são instrumento comum a todos os serviços da província, seria necessário, no decorrer do III Plano de Fomento (1968-1973) atribuir uma verba aos Serviços de Estatística Geral que permitisse a realização dos estudos que venham a entender-se mais necessários.
Essa verba teria, pois, por fim possibilitar aos serviços a realização dos agrupamentos estatísticos requeridos para os diversos sectores sócio-económicos da província, de cuja necessidade se tom pleno conhecimento, e a aquisição do máquinas que completassem o stock já existente e que são indispensáveis a um alargamento de acção dos Serviços de Estatística.
O problema de pessoal técnico, por ultrapassar os limites do Plano, recomenda-se que seja resolvido.
O investimento a efectuar traduz-se especificamente em aquisição de material e inquéritos, publicações, etc.
Neste campo recomenda-se:

Que seja aumentado e preenchido o quadro comum e privativo dos Serviços de Estatística Geral da Província, de forma a ser possível dispor-se de todas as informações estatísticas indispensáveis ao estudo e planeamento dos diversos sectores sócio-económicos da província;
Que se inicie, com bases fundamentadas, a elaboração da contabilidade provincial, com uma equipa devidamente preparada e apetrechada com o material necessário.

Faz-se notar que para melhorar a informação estatística relativamente ao sector agrário (Missão de Inquérito Agrícola) se consagrou uma verba que suplementará as dotações daquela entidade.

2. Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica

328. Será necessário dar seguimento a estudos relativos aos vários sectores, quer através de grupos de trabalho ad hoc e permanentes, quer pelo recurso a especialistas em regime de colaboração eventual.
Também será necessário proceder à divulgação de trabalhos ou outras publicações que promovam a vivência do Plano, que transmitam a soma de conhecimentos que uma fase de trabalho como a da preparação de um plano proporciona e que possibilitem ainda entrar numa fase de regionalização do mesmo.

3. Estudos regionais

329. Ao abordarem-se problemas relativos aos vários sectores, surgem sistematicamente dúvidas sobre a futura orientação do desenvolvimento na zona que se enquadra dentro do quadrilátero Quelimane-Milange-Nova Freixo-Nacala.
O principal elemento de perturbação consiste na falta de visualização de uma futura movimentação de cargas dentro da mesma área, que tem na sua base uma sério de condicionalismos não esclarecidos.

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Além da dificuldade em definir o modo como se deve orientar uma estrada que, grosso modo, ligue Quelimane a Nacala, verifica-se existir no interior da zona um caminho de ferro - o do Quelimane - que tem 146 km de comprimento e que tem vindo a acumular déficit s de tendência crescente. (No período de 1959 a 1965, os deficits acumulados somam cerca de 90 000 contos, sendo, só 3m 1.9G5, de cerca de 14000 contos.) Sabe-se que nos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes existe um estudo pelo qual se procurou avaliar a vantagem de prolongar este caminho de ferro até ao caminho de ferro do Niassa, tendo-se chegado a conclusão negativa.
Também não estão definidos, por causa das condições naturais, os portos de saída da zona. Aliás, a correspondente zona de costa possui, como característica, grande instabilidade.
Espera-se, por outro Lado, que nas zonas .naturais adjacentes se desenvolvam dois portos, Nacala e Chinde, este último ligado â exploração de minérios que venha a concretizar-se em seguimento do aproveitamento hidroeléctrico de Cabora-Basísa. Espera-se também que Nacala venha a tornar-se o terceiro centro industrial da província.
Dentro da zona programa-se um aproveitamento hidroeléctrico no Alto Molócuè.
A Zambézia é a região da província que detém maior valor de produção de produtos agrícolas, estando-se a expandir a criação de gado, feita pelas grandes empresas exploradoras de palmares, admitindo-se que passe em breve a exportar carne congelada de bovino.
Sabe-se da existência de uma saída dos produtos da região que se considera defeituosa., utilizando-se, para o efeito, portos que não parecem coerentes com o critério de utilização das mais adequadas vias de transporte.
Há uma exploração mineira na zona minérios das pegmatites - que poderá ser mais bem aproveitada. Na costa (Pebane e Moebase), há, potencialmente, possibilidades de explorar.
De tudo o que se referiu surge a necessidade de um conhecimento mais perfeito da zona no que se refere aos seus recursos naturais e potencialidades, com o objectivo de se poder integrar o seu desenvolvimento dentro dos problemas gerais da província. Sem. este conhecimento e persistindo as dúvidas, as decisões que se tornem, relativas à zona, são impregnadas de incerteza quanto à sua adequação económica.
Por isso, é necessário que se reuna sobre a região toda a informação disponível, com vista a propor que um corpo técnico, formado por elementos das diversas formações necessárias, estabeleça um esquema de desenvolvimento regional que possibilite a eliminação das dúvidas existentes, o que é fundamental para. a necessidade de planear o desenvolvimento da província. Caberá também determinar se esse corpo técnico deverá ser formado com elementos dos serviços públicos ou ser obtido recorrendo a empresas especialistas.

4. Política industrial dos produtos pecuários

330. Ao estabelecimento de uma política industrial do produtos pecuários - carnes - depara-se uma série do dificuldades que só podem ser resolvidas por um perfeito conhecimento dos problemas ligados ao sector. Na realidade, haveria que; equacionar um conjunto de questões e parâmetros de acção cujo escasso conhecimento impede a formação de uma política. Assim, regista-se que existe um matadouro industrial na Beira, explorado pela respectiva Câmara Municipal, vários matadouros de aves em Lourenço Marques e em Manica e Sofala, um matadouro de suínos, catorze salsicharias distribuídas
por seis distritos e uma salsicharia cooperativa iro colonato do Limpopo e uma unidade de fabrico de conservas de carne, esperando-se a próxima montagem de outro matadouro ira. Matula, em Lourenço Marques ou na Machava.
Por outro lado. reconhece-se a necessidade de aumentar a capacidade frigorífica dos actuais matadouros, com vista a uma futura exportação de carne de bovinos pelos portos de Lourenço Marques e Beira, a qual está a ser enviada para a metrópole, julgando-se conveniente e complementai1 montar junto aos matadouros industriais unidades de produção de conservas de carne. Porém, é necessário definir que tipo de conservas se deverão produzir, atendendo aos .mercados existentes e às possibilidades de produção em condições económicas.
recentemente foram tomadas ou preconizadas medidas que podem alterar os dados básicos desta situação. Assim, tornaram-se medidas no sentido de fomentar a criação de bovinos de corte relativamente a parte da província e pretende-se fomentar a criação das pequenas espécies com vista a substituir em corta medida o consumo de bovinos e incrementar um sector de produção que se afigura com possibilidades económicas.
Deduz-se do que foi exposto que a actual indústria das carnes é incipiente e resulta de um esforço limitado de algumas autarquias locais ou iniciativas privadas, mas sempre de âmbito restrito.
33.1. Para o estabelecimento de uma política industrial coordenada, que defina o tipo de indústrias a instalar, sua localização e capacidade, bem como a gama de produtos a fabricar, seria necessário resolver algumas questões prévias e dispor de um certo tipo de informações técnicas para o esclarecimento das quais não existem técnicos especializados na província, nem nos serviços públicos, nem na actividade privada. Acontece que tais estudos e tal definição de uma política são urgentes, na medida em que se estão a autorizar matadouros para pequenas espécies e matadouros camarários sem uma submissão a qualquer política industrial.
A adopção de tais decisões conduz a realizações simultâneas separadas na concepção e sem coordenação, o que pode ocasionar o aparecimento de problemas no futuro. Por exemplo, não se definiu ainda se as unidades produtoras de conservas de carne deverão funcionar junto dos matadouros, se a capacidade frigorífica destes deve ser utilizada para outras exportações do congelados, fazendo-se ou não o aproveitamento integral das espécies sacrificadas, e. Esto último objectivo - o aproveitamento integral, rio caso das aves - não poderá ser facilmente atingido, caso se verifique útil, na medida em que proliferarem os matadouros.

332. Atribui-se, portanto, em 1968, uma verba com vista- ao estudo do uma política industrial de carnes na província por recurso à consulta dos especialistas, nacionais e estrangeiros, que se entenda necessários.
Ficaria como incumbência a concretização dos projectos, medidas ou recomendações a formular com vista à criação de um subsector industrial harmónico e completo para os produtos pecuários e derivados. Em particular para o caso dos matadouros de Lourenço Marques e Beira, caberia formular recomendações às respectivas autarquias locais, indicando-lhe as características que tais unidades deverão possuir o propondo o financiamento necessário para as modificações a fazer eventualmente nas instalações actuais.

5. Reorganização da estrutura administrativa

333. O espírito aborto à reorganização administrativa permite uma nova perspectiva para a melhoria da eficiên-

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cia dos serviços públicos, na medida em que, a seguir ao trabalho proposto, outros do mesmo género sejam encarados para outros sectores da administração.

334. Refere-se que deve merecer cuidadosa atenção do sector público a eliminação da descoordenação entre vários serviços da província, que se devem considerar como fazendo parte de uma engrenagem que tem por objecto impulsionar o desenvolvimento do território e ajudar os particulares como seus principais motores, e a eliminação do espírito de que a função fiscalizadora predomina na acção dos serviços.
Outra questão muito relevante consiste na produtividade dos serviços ou, melhor, nos resultados dos dispêndios dos vários serviços, de evidente que os agentes estaduais se devem imbuir da ideia de que têm de atender ao que produzem, ou se fez nos serviços em favor do progresso económico.

335. Além de se considerar susceptível, de se melhorar a produtividade e eficiência dos serviços, é preciso também atender na produtividade, especialmente dos técnicos, que se sabe cada vez mais escassos. Estes, hoje, estão, em parte, absorvidos por funções burocráticas, que podiam ser deixadas a pessoal menos preparado tecnicamente e mais bem preparado n.º campo burocrático. Além disso, deverá procurar-se multiplicar a actividade dos técnicos de formação superior pela utilização de maior número de técnicos de formação média.
Das funções dos agentes estaduais em geral e das funções dos serviços de fomento em especial, é necessário rever as que podem e devem ser exercidas por pessoal menos qualificado.
Por outro lado, sabendo-se já e prevendo-se também que a situação piorará no que se refere à escassez de pessoal técnico, é preciso encarar que é necessário haver um estatuto especial para este pessoal.

Educação e investigação
Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

XI) Saúde e assistência

1. Objectivos

336. Neste sector, foram as medidas distribuídas de forma que se conseguisse melhoria e alargamento da extensão na rede sanitária.
Assim, pretende-se incentivar a acção da campanha contra as endemias (paludismo, lepra, serviços de combate às endemias, tripanossomíases, tuberculose) por se tratar de doenças com elevada prevalência e intensa agressividade social e de imediatos reflexos sobre o bem-estar das populações.
O aumento de população escolarizada leva ao alargamento da acção da saúde escolar.
Da mesma forma, a necessidade de pessoal paramédico, para a cobertura da província, conduz a que se tente aumentar o ritmo de formação deste pessoal na Escola Técnica dos Serviços de Saúde e Assistência.
No que respeita à ampliação da rede de hospitais, incide a acção na construção e alargamento dos diversos tipos de hospitais (centrais, regionais, sub-regionais e rurais), de forma a obter-se a necessária melhoria da rede geral dos Serviços de Saúde e, como reflexo, uma elevação nos indicadores da assistência sanitária da província.
Na assistência materno-infantil procurar-se-á vir a reduzir o coeficiente de mortalidade infantil e materna, bem como o de morbiletalidade da criança, e da mão;
Ainda se tornam em atenção os casos de assistência a inválidos e doentes crónicos, assim como se entendeu participar na construção de um centro de combate ao cancro, para o qual se conta já com donativos privados, e erigir em laboratório farmacológico, que se reputa de interesse para a província pelos reflexos que virá a ter na balança de pagamentos.

337. Na definição dos programas do sector foi seguida a orientação seguinte:
Manter e intensificar a acção das várias brigadas que têm por missão combater as principais endemias que atacam as populações; em particular, foi manifesto o desejo de não se reduzir de modo algum o combate ao paludismo;
Desenvolver as ramificações periféricas de assistência, por serem as que mais próximas se encontram das populações necessitadas, especialmente as rurais, e serem também aquelas que envolvem menor volume de investimentos e gastos de funcionamento unitários;

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Desenvolver a actividade da educação sanitária, pois se considerou que, se as populações forem instruídas neste campo, poderão reduzir-se apreciavelmente os problemas que surgem no âmbito da assistência médico-sanitária;

ar ênfase à formação em maior escala de pessoal paramédico;
Quanto às grandes unidades, não propor novos estabelecimentos antes de se concluírem aqueles que estão em fase de finalização ou de alargamento.

338. Os indicadores de assistência médico-sanitária virão a tomar os seguintes valores, em 1978:

Número de habitantes por médico ..... 11 300
Número de habitantes por cama ...... 430
Número de camas por enfermeiro ..... 4,4

2. Medidas de politica

339. Deve proceder-se ao registo da população com vista a assegurar-se uma cobertura integral, no que respeita à medicina preventiva e combate às endemias, pois assim poderá alargar-se o período das revacinações.

340. É de toda a conveniência treinar agentes sanitários dos serviços da rede geral, por forma a habilitá-los a colaborar com as campanhas de combate às endemias, e tornar obrigatório um estágio nos hospitais centrais e
delegacias de saúde para os profissionais de enfermagem provenientes da metrópole.

341. Deve estabelecer-se, em relação à luta contra a tuberculose, centros-piloto de estudos epidemológicos, vacinação e tratamento, como forma rápida de extensão dos trabalhos a zonas cada vez maiores, e zonas-piloto de assistência à mãe e à criança, onde se faça a preparação de pessoal local.

342. É de pôr em relevo que no campo da saúde se tentou obter informação por outra via ao analisarem-se as regiões alimentares da província e as possíveis carências nas mesmas.
Daí foi possível, chegar a umas hipóteses de zonas em que, através de inquéritos aos consumos, se deverão confirmar as deficiências aparentes encontradas, para depois «K poder estabelecer um programa de actuação que envolverá não só os serviços do saúde, através das suas campanhas de educação sanitária, mas também os serviços de extensão, com vista a adaptarem-se as produções das regiões às necessidades qualitativas e quantitativas alimentares, e os outros serviços que eventualmente se ligam ao problema educação, obras públicas, etc.

3. Investimentos

343. O calendário anual, de investimentos em capital fixo firmou-se no seguinte:

Saúde e assistência
Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

Calendário anual de investimentos previstos para o III Plano de Fomento

Resumo por sectores
Unidade: milhar de escudos

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

VI

Estado da Índia

1. O território da província continua subtraído ao exercício efectivo e pleno da soberania nacional, pelo que se mantém o condicionamento justificativo da publicação da Lei n.º 2112, de 17 de Fevereiro de 1962.

2. Não foi, por isso, estabelecido programa provincial a integrar no presente Plano.

VII

Macau

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia.
Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização da economia

1. De pequena extensão territorial e reconhecida pobreza de recursos do subsolo, a província tem na sua localização um dos factores basilares da sua economia.
Esta caracteriza-se pelo predomínio dos sectores secundário e terciário e, por outro lado, do sector privado. Com uma insignificante agricultura, dada a exiguidade territorial, sem silvicultura nem pecuária, a economia assenta numa actividade comercial intensa, nas indústrias transformadoras e da pesca e no turismo.
Comércio, indústria transformadora e turismo, em especial, são actividades que, além de emprestarem solidez à economia da província, evidenciam perspectivas de forte expansão, por beneficiarem do condicionalismo favorável proporcionado por diversos factores, avultando essa localização geográfica e a livre circulação de mercadorias no espaço português.

3. Evolução demográfica

2. A província de Macau caracteriza-se, do ponto de vista demográfico, por uma elevadíssima densidade populacional, por uma acentuada variabilidade dos efectivos populacionais, resultante de movimentos migratórios extremamente variáveis no sentido e na intensidade, e pelo predomínio do elemento chinês ria composição da sua população, a qual, segundo o censo de 1960, é a que consta do quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem].

3. A análise dos resultados dos vários recenseamentos populacionais levados a efeito em Macau revela ter-se a evolução demográfica desta província caracterizado, até 1940, por um crescimento rápido e contínuo, especialmente acentuado a partir de 1920. seguido por uma fase de contracção, que leva os efectivos populacionais apurados em 1960 para um nível inferior ao apurado no fim do primeiro quartel do século.
Tais variações estão em correspondência com os fluxos migratórios.

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4. As flutuações observadas nos nascimentos e óbitos registados reflectem as variações sofridas pelos efectivos populacionais com maior fidelidade do que modificações nos próprios níveis de natalidade e mortalidade. Tais níveis oferecem, aliás, tendência para uma estabilização em valores próximos dos í3Ü por mil para a natalidade e 9 por mil na mortalidade, tal como sucede com. os observados em Hong-Kong, do características demográficas semelhantes.

5. O confronto entre as distribuições etárias apuradas nos censos de 1.050 e 1960 põe em evidência alterações significativas que, pela sua natureza, vêm confirmar a identificação feita dos factores determinantes da evolução da população de Macau. Observa-se especialmente que a redução dos efectivos populacionais verificada entre os dois censos resulta da diminuição dos efectivos das classes etárias entre os 1.5 e os 44 anos, isto é, nas idades válidas.

[Ver Quadro na Imagem].

A estrutura social da população assenta nas bases tradicionais chinesas. O seu nível cultural é bastante elevado. Na verdade, a população de Macau caracteriza-se, do ponto de vista do nível educacional: por uma taxa de analfabetismo muito baixa, pouco mais de 5 por cento
da população com sete e mais anos em 1960, marcando um nítido progresso em relação à taxa apurada em 1950, que foi de cerca de 25 por cento; por uma escolarização praticamente integral; e por uma proporção relativamente elevada de indivíduos tendo atingido, pelo menos, grau secundário de ensino.
Esta posição reflecte a preocupação observada, em geral, nas populações chinesas com a educação.

7. Na distribuição por ramos de actividade, apurada em 1.960, as actividades que maiores efectivos absorvem são as indústrias transformadoras e comércio, representando no seu conjunto mais de GO por cento dos efectivos totais, e os serviços, que cobrem 20 por cento destes efectivos.

[Ver Quadro na Imagem].

8. Reparte-se a população de Macau por três parcelas territoriais: a zona peninsular e as ilhas de Taipa e Coloane, havendo, além disso, que considerar, do ponto de vista de distribuição espacial, a existência de uma massa populacional, significativa vivendo permanentemente em embarcações, concentradas, em grande parte, no porto interior e áreas contíguas.
Aparte mais substancial da população de Macau, correspondente a 90 por cento do total, concentra-se no concelho de Macau, ou seja na zona peninsular.

[Ver Quadro na Imagem].

9. Quanto ao nível económico da população, é bastante significativa de bem-estar a capitação do rendimento provincial apurada em 1963, que foi de 6179$. Deve reconhecer-se, no entanto, a existência de desequilíbrio na distribuição do rendimento: é o que sucede, por exemplo, relativamente às populações da zona marítima e aos refugiados, cuja assistência e manutenção constituem pesado encargo para a Administração.

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3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

10. O rendimento nacional da província de Macau, avaliado «aos preços correntes», aumentou moderadamente entre 1953 e 1958, com um ligeiro recuo em 1956, devido a uma baixa generalizada das suas componentes, com especial relevância nas «Remunerações de trabalho», que, pelo seu volume, influenciaram decisivamente o movimento.
O mesmo rendimento teve um surto rápido no período compreendido entre 1959 e 1968, sendo 1962. o ano em que a taxa de crescimento foi a maior do decénio em análise. Para este surto contribuíram, de uma maneira geral, todas as componentes; para o alto valor da taxa de crescimento de 1962 contribuíram, particularmente, e por ordem decrescente de importância, as remunerações de trabalho, o rendimento das empresas não constituídas em sociedade, os rendimentos da propriedade e o rendimento do Estado proveniente do seu domínio privado e empresas.

Capitações do rendimento nacional na província 1953-1963

[Ver Quadro na Imagem].

Por estes números se vê que a situação económica da população de Macau vem melhorando ininterrupta e seguramente, revelando uma tendência francamente animadora. O acréscimo médio anual do rendimento par capita foi, em Macau, de cerca de 9.8 por cento.
As capitações do rendimento e o respectivo acréscimo anual merecem, pois, ser comparados com os de outros territórios daquela zona do Globo, porquanto desta comparação fica em evidência a relativamente boa posição de Macau.
A «Despesa de consumo privado», calculada aos «preços torrentes», mostra, ao longo do período em análise, tendência francamente crescente, como se pode observar no quadro seguinte.

[Ver Quadro na Imagem].

Evolução da despesa de consumo privado

[Ver Quadro na Imagem].

11. Por outro lado, analisando a importância relativa das componentes da «Despesa de consumo das famílias», encontramos como dominante a aquisição de «géneros alimentícios» (que atinge, no período, uma média de cerca de 49 por cento do total daquela mesma despesa), seguindo-se-lhe o «rendas e consumo de água», cujo volume é sobretudo, influenciando pela renda imputável, de prédios ocupados pelos seus proprietários.
Das outras componentes, as duas que nos últimos anos mostram um maior desenvolvimento são as despesas com a aquisição de «artigos de vestuário e outros objectos de uso pessoal» e corri «distracções e divertimentos», estas últimas com grande expressão no conjunto ao longo de todo o decénio em análise, atestando o bom nível económico da população da província.

Distribuição percentual da despesa de consumo das famílias

[Ver Quadros na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

12. A análise do comportamento do produto interno bruto permite focalizar duas fases distintas:

1.ª Entre 1953 e 1958, d ura u te a qual a tendência, embora crescente, foi moderada, havendo mesmo a assinalar um recuo em 1956, resultante da quebra simultânea de diversas componentes do produto, entre as quais a «Indústria manufactureira», «Casas de habitação» e «Serviços»;
2.ª A partir, de 1958, em que o produto interno bruto definiu vincadamente o seu movimento ascendente, de modo ininterrupto e com um ritmo progressivamente acelerado.
Nesta segunda fase, cujas características tudo demonstra terem continuado a manifestar-se rios anos posteriores a 1968, o aumento real traduziu-se em cerca de 75 por cento, o que corresponde a um acréscimo médio anual de 13,4 por cento. Para este bom resultado contribuíram, de uma maneira espectacular, as indústrias transformadoras, que, depois de uma ligeira recessão entre 1956 e 1958, iniciaram em 1959 uma vigorosa recuperação, resultante da boa adaptação às novas condições criadas às exportações de Macau pela legislação tendente à unificação do mercado português. As indústrias transformadoras, cuja contribuição percentual para o produto interno bruto era em 1958 de cerca de 14 por cento, passaram essa contribuição para aproximadamente 21,7-por cento em 1963, objectivando-se o acréscimo anual médio na ordem dos 35 por cento. Mas, para o surto do desenvolvimento económico tão bem traduzido no aumento do produto interno bruto, contribuíram, ainda decisivamente o «Comércio» - tão favorecido pela circunstância de Macau ser um porto franco, ao encontro da qual vieram ainda as medidas legislativas atrás citadas (especialmente o Decreto n.º 41 026, de 9 de Março de 1957) - e os «Serviços», nos quais o turismo constitui a realidade mais positiva e que se distinguiu precisamente depois de 1963.
13. As capitações do produto interno bruto mantêm-se relativamente elevadas, superiores às da inédita geral para a Ásia e para todo o mundo subdesenvolvido e da maioria dos países daquela região do Globo.

4. Relações económicas com o exterior

14. Macau é o território nacional de maior capitação no comércio externo. Dada a sua reduzida superfície e altíssima densidade populacional, a economia da província está estritamente dependente da economia internacional.
Esta dependência evidencia-se nas elevadas percentagens do seu comércio em relação ao produto interno bruto.
No período de-1958 a 1965, as importações passaram de 584 669 contos para 1 349 000 contos, registando um avanço de mais de 130 por cento, enquanto as exportações variaram entre 215 000 contos e 615 000 contos, acusando um acréscimo de 186 por cento.
Na evolução física, os acréscimos registados nas importações e exportações foram, respectivamente, 131,7 por cento e 92,6 por cento. A valorização nas exportações foi bastante acentuada, facto que contribui para a situação mais favorável nas relações económicas externas da província.
Na verdade, se os índices de preços das importações, tomando por base o ano de 1958, nunca, à excepção de 1.965, se situaram abaixo de 100, com um máximo de 121,5 em 1959 e um mínimo de 101,6 em 1963, os das exportações atingiram coeficientes muito mais elevados: subiram de 100 a 135,5 (1960), para baixarem em 1961 até 131,1 e subiram progressivamente, a partir de então, até atingirem 159,1 em 1964.

[Ver Quadro na Imagem].

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15. Em 1965 a província importou 317 551 t, correspondendo a 1 349 256 contos, sendo as principais mercadorias importadas as seguintes:

[Ver Quadro na Imagem].

A escassez de recursos do solo e subsolo de Macau é compensada pela existência de águas relativamente piscosas e de um porto franco que permite a importação, em condições favoráveis, da maior parte dos produtos indispensáveis à vida de uma população industriosa, e de matérias-primas destinadas a transformações mais ou menos complexas com vista à exportação.
Os farináceos, animais vivos, hortaliças e legumes, bebidas, tabaco e substâncias alimentares diversas, madeira, carvão vegetal, fios, tecidos e outras matérias-primas de origem vegetal têm um peso significativo nas importações, naturalmente diversificadas.
De realçar que, a partir de 1957, a rubrica «Fios e tecidos» subiu ao primeiro lugar, devido à instalação e ampliação de diversas unidades dedicadas à estampagem de tecidos e confecção de vestuário, após a promulgação das medidas que liberalizaram a circulação de mercadorias entre as províncias ultramarinas.

16. Em 1965 a província exportou 31 496 t, correspondendo a 614 623 contos, sendo as principais mercadorias exportadas as seguintes:

[Ver Quadro na Imagem].

17. Desde 1958 até 1965, os dois territórios estatísticos China e Hong-Kong forneceram entre 95,1 por cento e 98,5 por cento no valor global das importações.
Entre 1960 e 1964, a China forneceu mais de 60 por cento do total.
A distância que separa Macau da metrópole tem impedido que a contribuição desta seja significativa, pois limita-se ao fornecimento de 1 por cento a 1,5 por cento.
A parte do ultramar, praticamente preenchida por Timor, que vende especialmente café, é ínfima: 0,2 por cento e 0,6 por cento do total.
Na exportação - onde a diversificação dê mercado é cada vez mais acentuada - o ultramar tem uma posição de relevo a partir de 1957. Em 1960 absorveu cerca de 50 por cento do valor exportado, ultrapassando, assim Hong-Kong, que nesse ano figurava apenas com 37,2 por cento.
Entre as províncias ultramarinas, merecem relevo Moçambique, cujas aquisições variaram entre 32 por cento em 1960 e 13 por cento em 1965, e Angola, .que absorveu um máximo de 18,õ por cento em 1962 e um mínimo de 11,2 por cento em 1965. Das restantes, merece referência Timor, cujas compras alcançaram o máximo em 1965: 1,8 por cento do valor global das exportações de Macau.
Hong-Koug, apesar de não ter como comprador o mesmo peso que regista como fornecedor, continua a ser o maior cliente. O valor relativo das suas aquisições vem, porém, baixando. E, assim, enquanto em 1958 absorvia 60,8 por cento, em 1965 esta percentagem descia para 27,5 por cento.
A esta baixa na posição de Hong-Kong corresponde uma diversificação e consolidação de outros mercados, entre os quais se salientam os Estados Unidos da América, para onde se dirigem dois terços dos artigos pirotécnicos, República Federal Alemã, Canadá, França e Itália.
A participação conjunta destes últimos somava 33,8 por cento do valor das exportações de Macau em 1965.
As compras da metrópole, tal como as vendas, têm valor reduzido, embora em 1965 atingissem um máximo de 20 590 contos - o que corresponde a 3,4 por cento do total.
Menos valor têm ainda as. exportações para a China, que, como se viu, é o principal fornecedor.

18. No quadro seguinte observam-se as percentagens que couberam aos países importadores e exportadores nos referidos anos de 1964 e 1965:

[Ver Quadro na Imagem].

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5. Perspectivas de crescimento

19. O exame feito pôs em relevo as características de uma economia aberta que, assentando essencialmente na iniciativa privada, é levada, pela escassez de recursos naturais e pela localização, a concentrar-se nos sectores da industria transformadora e do turismo.
Os resultados alcançados no último decénio permitem encarar para um futuro próximo um panorama favorável de desenvolvimento da província, pela intensificação dos esforços realizados naqueles dois campos de actividade económica, bem como no das infra-estruturas de apoio.
Complementarmente, a necessidade de prosseguir na melhoria das condições de vida das populações tornou possível prever investimentos vultosos nos sectores de habitação, de melhoramentos locais, de energia, de saúde e de educação.
Nas condições específicas desta economia, será o sector privado, por iniciativa própria e em cumprimento das obrigações contratuais, que assegurará normalmente proporções mais relevantes nos financiamentos a efectuar.
Não deixa, contudo, de ser muito importante o papel reservado ao sector público, não só na realização de infra-estruturas, como para assegurar o conjunto de medidas susceptíveis de tornar mais aliciante ainda esta província aos capitais externos e mais atractiva para os fluxos turísticos.

CAPITULO II

Objectivos

20. No caso particular da província de Macau, está-se perante uma economia de recursos naturais limitados cujo factor produtivo mais abundante é o trabalho e cujas possibilidades de desenvolvimento residem em actividades viradas para o exterior, tomando como ponto de partida a utilização óptima da mão-de-obra disponível ou aliciável, a sua localização geográfica e o facto de se integrar no espaço económico nacional com uma gama larga de possibilidades.
O factor fulcral do desenvolvimento desta economia situa-se no sector privado, sendo muito limitadas as possibilidades de intervenção estadual.
21. Todo o esforço a empreender deverá, pois, concentrar-se no propósito de dar à província um ambiente o mais favorável possível. à eclosão e desenvolvimento de iniciativas privadas, quer partindo de elementos locais, quer de elementos de outras origens. Para tanto, os objectivos a visar traduzem-se, essencialmente, como já foi apontado, em:

1.º Dotação da província com as infra-estruturas económicas (produção de energia, instalações portuárias, etc.) e sociais (habitação, melhoramentos locais, saúde, educação, etc.), favoráveis ao desenvolvimento de iniciativas privadas "no campo das indústrias transformadoras;
2.º Desenvolvimento das condições propícias à transformação de Macau num grande entreposto comercial, servindo de ponta de lança para a penetração rios mercados orientais dos produtos do espaço económico português e de outras origens;
3.º Fomento do turismo, aproveitando e respeitando a feição característica de Macau;
4.º Desenvolvimento das pescas e, com carácter marginal - mas sem deixar, por isso, de ter interesse-, da horticultura e da avicultura;
5.º Melhoria das condições de vida da sua população no plano habitacional, sanitário e cultural.
22. A todo o esforço a realizar deverão, por outro lado, presidir dois critérios prioritários, impostos pelas condições particulares da província e pela necessidade de assegurar perfeita continuidade à execução dos planos sucessivos. Tais critérios, são:

1.º A conclusão dos trabalhos em curso ou previstos no Plano Intercalar e que se admite não estejam concluídos até fins de 1967;
2.º A realização de outros empreendimentos já definidos como de execução urgente, em especial nos sectores de saúde, assistência social, educação e melhoramentos locais.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

23. As possibilidades financeiras da província dispensaram o recurso à ajuda financeira da Administração Central durante o Plano Intercalar de Fomento. As perspectivas do sexénio 1968-1973 não fizeram também prever, em princípio, a necessidade de financiamento desta fonte.

2. Administração provincial

24. E pouco significativa a intervenção do Estado na economia de Macau. O facto de a província constituir um porto franco limita ainda a possibilidade de uma intervenção estadual na sua vida económica. Por outro lado, a gravitação desta economia em torno dos dois pólos de atracção económica, Hong-Kong e Cantão, restringe também a viabilidade de uma intervenção indirecta - por via fiscal ou pela acumulação de meios financeiros no Estado para efeito de investimentos de natureza económica.
O papel do Estado na economia de Macau é relativamente pequeno, em resultado da rápida expansão do sector privado: a despesa de consumo do Estado, que em 1953 representava cerca de 20 por cento da despesa total, em pouco excedia os 12 por cento em 1963. As receitas do Estado representavam, no entanto, mais de 20 por cento do rendimento nacional da província em 1962, o que significa considerável aligeiramento do peso fiscal relativo, em confronto com os níveis verificados em 1953.
A despesa de consumo público representava, em 1963, cerca de 11 por cento da despesa total imputada ao produto nacional bruto, tendo crescido a um ritmo muito inferior ao desta.
O rendimento do Estado proveniente do seu domínio privado, que é insignificante, aumentou em relação ao total no período em análise, sendo a sua taxa de crescimento superior à do rendimento nacional da província.
A poupança corrente do Estado, de volume considerável, cresceu a uma taxa anual média de cerca de 15 por cento.

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[Ver Quadro na Imagem].

25. O quadro seguinte traduz, em percentagens, a evolução das receitas ordinárias e extraordinárias, em relação aos valores totais:

[Ver Quadro na Imagem].

O quadro anterior revela o movimento crescente das. receitas ordinárias ao longo do período de 1955-1965, com ligeiros recuos em 1957 e 1960.
O aumento torna-se bastante pronunciado a partir deste último ano, acelerando o seu ritmo após 1961. De cerca de 93 000 contos em 1955, passaram as receitas ordinárias a 260 000 contos em 1965, o que representa um acréscimo de 179,6 por cento.
Para este aumento contribuíram todas as categorias de receitas, sendo os maiores montantes os de «Consignações de receitas», «Taxas - Rendimentos de diversos serviços», «Indústrias em regime tributário especial» e «Impostos directos gerais».

26. As principais receitas ordinárias cobradas nos anos extremos do período em análise foram:

[Ver Quadros na Imagem].

27. Apresenta-se seguidamente o quadro das despesas ordinária e extraordinária de 1955 a 1965.

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[Ver Quadro na Imagem].

28. Expressa em percentagens relativamente aos valores globais, foi a seguinte a evolução das despesas .no período de 1955-1965:

[Ver Quadro na Imagem].
O acréscimo sofrido pela despesa ordinária foi de cerca de 127 000 contos, ou seja de 138 por cento. Para esse aumento contribuíram, principalmente, as despesas com «Administração geral e fiscalização», «Serviços de fomento», «Serviços de marinha» e «Encargos gerais».

29. Comparando as receitas e despesas ordinárias encontra-se uma poupança de volume muito irregular até 1961. A partir deste ano aumenta consideràvelmente, atingindo no fim do período em análise cerca de 41 000 contos.

[Ver Quadro na Imagem].

30. Na esteira do que aconteceu com o Plano Intercalar, propõe-se a província financiar inteiramente o III Plano de Fomento com os seus próprios recursos, já que a situação financeira tem perspectivas de evolução favorável, o que permite encarar a efectivação do programa imperativo de investimentos propostos para o período de 1968-1973 sem considerar a necessidade do recurso a financiamentos externos. O financiamento por conta do orçamento geral (extraordinário), no valor de 139 900 contos, terá como contrapartida as poupanças orçamentais (saldos orçamentais e de exercício), que constituirão a fonte principal e se admite sejam suficientes para cobrir os encargos, e, subsidiariamente, outras receitas extraordinárias, a saber: lucros de amoedação ou de valores monetários retirados da circulação e recurso ao fundo de reserva.
É de admitir, no entanto, que a situação financeira dispensará o recurso a estas fontes subsidiárias, por desnecessário, visto a fonte principal evidenciar capacidade para satisfazer a cobertura total dos financiamentos previstos Essa capacidade decorre da evolução tendência! das receitas :e despesas ordinárias, que denunciam uma poupança ascensional cada vez mais relevante, como "se pode

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[Ver Quadro na Imagem].

Muito embora parecendo estar a atingir-se o máximo de elasticidade das possibilidades dos réditos, e tendo aumentado de maneira notória as despesas públicas no ano findo, em virtude de ajustamentos nos quadros e vencimentos, a situação deverá manter-se e permitir o financiamento integral do programa imperativo de investimentos através desta fonte.

3. Administração local

31. Não se possuem elementos disponíveis que permitam apreciar a capacidade de financiamentos desta fonte. O valor indicado pelas autarquias locais foi de 860 contos.

32. Sendo de admitir que, ao longo de um período de s>eis anos, o Leal Senado se empenhe na realização de outros empreendimentos englobáveis num programa de fomento, para além da construção de um matadouro e de um mercado e ampliação de outro mercado, e partindo da capacidade decorrente do programa no Plano Intercalar, poderá estimar-se que a contribuição desta fonte, no período do III Plano, virá ainda a ampliar-se.

4. Assistência pública

33. É desafogada a situação financeira desta instituição, que, mercê de uma administração prudente, vem sabendo manter ininterruptamente ascensionais os saldos acumulados nos últimos anos, como pode ver-se no quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem].

Os saldos acumulados definem a capacidade de cobertura para os encargos provenientes dos investimentos, cuja realização está atribuída à assistência pública. A situação e também a tendência detectadas nos números do quadro antecedente deixam pressupor até que na programação se poderia ter ido mais além dos 16 000 contos previstos, tentando-se solucionar os problemas de habitação, saúde e assistência que porventura subsistirem.

5. Sector privado Particulares e empresas

34. Os financiamentos por entidades privadas, para efectivação do programa de investimentos, que foi possível identificar a título indicativo, totalizam 266 300 contos. A mesma rubrica atingiu no Plano Intercalar o quantitativo de 520 000 contos. É de esperar, portanto, que aquela verba possa subir para um nível compatível com as expectativas desenhadas pelo surto de desenvolvimento económico que se verifica, nomeadamente no campo industrial, cuja verba se cifra em 90 600 contos.

35. O financiamento será assegurado pelas entidades com obrigações para com a província, no montante de 89 000 Contos, por outras empresas cujas possibilidades foram já estimadas em 100 000 contos e ainda pelo crédito externo recolhido pelo sector empresarial que pode cobrir e ultrapassar os 77 300 contos.

36. Julga-se que se pode contar ainda com outras fontes de financiamento que realizem a mobilização das poupanças locais (famílias e empresas), vindo assim reforçar as fontes atrás referidas.

6. Conclusões

37. Do que precede pode concluir-se, em relação ao financiamento do programa provincial para o III Plano de Fomento, o seguinte:

a) Sector público

1.º Os empreendimentos previstos no programa imperativo de investimentos podem ser integralmente financiados pela administração provincial, através de recursos próprios provenientes dos saldos orçamentais (saldo do orçamento e do exercício) e, subsidiariamente, de outras receitas extraordinárias;
2.º A província revela capacidade de financiamento superior às necessidades de cobertura dos encargos dos investimentos propostos no programa provincial, pelo que, embora com definida capacidade de crédito externo, se considera desnecessário o recurso a fontes de financiamento exteriores para a execução dos empreendimentos do III Plano de Fomento;
3.º A mesma conclusão do número anterior poderá ser extraída para a Provedoria da Assistência Pública e, eventualmente, para a administração local;
4.º Em face das anteriores conclusões dos n.ºs 2.º e 3.º e aceitando-se, no seu quantitativo, o esquema proposto, poderá admitir-se que os recursos financeiros adicionais venham a ser uti-

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lizados para o reforço do III Plano ou, pelo menos, no que diz respeito à Administração Central e provincial, para aplicação noutras províncias mais necessitadas (empréstimos e aquisição de obrigações de fomento).

b) Sector privado

5.º Os empreendimentos previstos no relativamente modesto programa indicativo, em quantitativo considerado baixo para as possibilidades financeiras do sector privado local (que poderia recorrer mais expressivamente ao crédito externo para empreendimentos rapidamente rentáveis), oferecem como fonte principal o autofinanciamento das empresas, apresentando, no entanto, as restantes fontes capacidade superior às necessidades financeiras do sector;
6.º Poderá o sector privado utilizar ainda outras fontes subsidiárias - embora de recursos limitados - que realizem, em especial, a mobilização das poupanças locais (de famílias e empresas).

38. Os empreendimentos previstos no programa de investimentos serão financiados da forma que se apresenta no quadro seguinte:

[Ver tabela na imagem]

Totais ....

Fontes nacionais....

Estado .............
Administração provincial ....
Administração local....
Organismos autónomos ....

Particulares e empresas....
Autofinanciamento....

CAPÍTULO IV

Descrição dos programas de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

39. Dada a limitação do espaço, mesmo que se prossiga em Macau um tipo intensivo de agricultura, nunca esta actividade poderá ter perspectivas futuras de relevo, e jamais influenciará sensivelmente a vida económica da província.
As produções actuais são as seguintes: na península - géneros hortícolas; nas ilhas - géneros hortícolas, junca ou arroz e algumas frutas. Também se encontram nas ilhas pinhais, muito jovens ainda, cuja plantação obedeceu ao propósito de combater a erosão.

40. Os elementos disponíveis referem-se a 1960 e foram obtidos por estimativa. Indicam-nos para aquele ano as seguintes produções e áreas cultivadas:

Produções:

Arroz ....
Géneros hortícolas ....
Junca ....

Áreas cultivadas:

Península: 68 ha com hortas;
Ilhas: 10 ha com hortas e 27 ha com junções.

41. Não se conhecem quaisquer elementos sobre o efectivo pecuário da província, que, evidentemente, e com excepção de escassíssimas unidades isoladas, se encontrará estabulada. As considerações feitas para a produção agro-florestal são válidas para a pecuária. Afigura-se inviável qualquer projecto de instalação de um armentio com capacidade para resolver problemas de abastecimento de carne, lacticínios ou outros: produtos animais.

42. Nestas condições, a verba consignada a «Fomento dos recursos agro-silvo--pastoris». durante o III Plano de Fomento, destina-se praticamente a manter o património agro-florestal das ilhas e garantir o repovoamento.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

Empreendimentos

Fomento de recursos agro-silvo pastoris ....
Desenvolvimento das culturas de frutas, hortícolas, pastagens, avicultura, suinicultura e gado leiteiro ....
Desenvolvimento de matas, parques e jardins ....

II) Pesca

43. O único ,sector onde os recursos naturais disponíveis se apresentam com interesse económico é o dos recursos piscatórios. Neste aspecto, e ainda que não tenha sido levada a efeito uma prospecção sistemática e aprofundada da riqueza piscatória das águas de Macau, podem identificar-se como espécies mais abundantes o safio (Muraenesex arabicus), o salmonete (Nemipterus virgatus), o robalo (Eleutheronema tetradactylus), o roncador (Pomadasys hasta), o peixe--pedra-encarnado (Tatus tunifrons) e, entre as espécies pelágicas, a sardinha (Sardinnella aurita), o chicharro (Deceptenus lajanga) e o «choc-pág» (Ilisha elongata).

44. A exploração dos recursos marinhos constitui actividade tradicional da província.
Com uma produção constituída principalmente por peixes de fundo e crustáceos (camarões e caranguejos), verifica-se que cerca de três quartos são escoados para o exterior, na sua quase totalidade para Hong-Kong.
Por outro lado, a província recorre ainda à importação, designadamente da China Continental e de Hong-Kong, para satisfazer o consumo interno, com aquisições de produtos de pesca de valor compreendido entre 28 463 e 36 184 contos por ano, de 1962 a 1964.

45. Assim, ocupando a actividade posição de grande levo em Macau, a expansão das capturas e a montagem

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de indústrias afins terão os mais salutares reflexos na economia da província, quer procurando suprir a procura interna de pescado, quer ampliando a importante fonte de divisas que a sua colocação no exterior representa.

46. O predomínio, neste sector, da iniciativa privada e a dificuldade na obtenção de elementos significativos relativos aos projectos de futuros empreendimentos levam a indicar este sector apenas «por memória».

III) Indústrias extractivas e transformadoras

47. No sector industrial a posição dominante pertence actualmente a indústrias novas, bem dimensionadas, utilizando modernos processos de fabrico, que procuram tirar o maior proveito da óptima posição que a província detém quanto aos mercados externos.

48. Os investimentos na indústria transformadora vêm a efectuar-se, em bom ritmo, pelo sector privado. Não se pôs, assim, o problema de suprir a falta de iniciativa dos empresários particulares, a quem a província tem oferecido condições que funcionam como excelente estímulo para novos empreendimentos.
A dispensabilidade de investimentos estatais, substanciais e directos, no sector da indústria transformadora, não significa, porém, que as infra-estruturas actuais se devem considerar adequadas - impõe-se a sua revisão, nomeadamente no aspecto das fontes de energia, que começam a constituir um estrangulamento à expansão do sector industrial, bem como no da construção de um bom porto.

49. No entanto, não surgem aqui, como já se referiu, os problemas que normalmente afectam a indústria transformadora das outras províncias ultramarinas. A circunstância de Macau ser um porto franco, aliada à abundância de mão-de-obra relativamente especializada e barata, determinou um enorme surto de industrialização, a partir do momento em que foi decretada a livre circulação de mercadorias entre as províncias ultramarinas.
Este condicionamento reflecte-se, como é óbvio, nos mercados nacionais, com grande relevância em Angola e Moçambique, e, reflexamente, nos seus sectores industriais, que estão a ser afectados por problemas de concorrência.

50. Como já se referiu, a pujança da iniciativa privada - influenciada por factores que escapam ao domínio da Administração - dispensa substanciais investimentos públicos na indústria transformadora.
Daí a inclusão, sob a rubrica «Estudos, projectos e outras despesas para a instalação, modernização e ampliação de indústrias de interesse para a província», de uma verba destinada a estudos e projectos de novas indústrias não existentes ainda no meio ou pouco generalizadas nele.

51. No que se refere a iniciativas privadas, não foi possível levar a efeito estudos que permitissem definir com segurança as perspectivas futuras de investimentos no sector, considerando-se, no entanto, investimentos na criação, ampliação ou modernização de estabelecimentos industriais, em montantes que parecem aceitáveis em face dos elementos disponíveis.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de investimentos

[Ver tabela na imagem]

Empreendimentos

Indústria transformadora ....
Estudos ....

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

52. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo viu «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

53. A concessão da produção e da distribuição da energia eléctrica da cidade de Macau no decorrer dos próximos anos deverá, dentro de muito pouco tempo, ser renovada à Melco (The Macao Electric Lighting Company, Ltd.), que é já a actual concessionária.

54. A potência instalada em 1964 na cidade de Macau e nas ilhas de Taipa e Coloane era de 10,8 MW.
A potência total assegurada pelas duas centrais existentes nas ilhas, embora reduzida - apenas de 414 KW -, vem satisfazendo as necessidades de consumo. Com a instalação de novas actividades e o desenvolvimento dos consumos, torna-se, no entanto, indispensável, não só aumentar a capacidade produtiva do sistema, como melhorar a distribuição, tanto na cidade como nas ilhas.

55. A produção de energia daquela empresa em 1966 e a prevista para o período compreendido entre os anos de 1967 e 1973 são as seguintes:

1966 ....
1967 ....
1968 ....
1969 ....
1970 ....

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(669)

1971 .................. 115,80
1972 .................. 139
1973 .................. 116,80

O fornecimento de energia ao concelho das ilhas está a cargo da respectiva câmara municipal.

56. A electrificação, tanto da Taipa como de Coloane, processou-se no decurso do J..I. Plano de Fomento.
De início, a energia era produzida na Taipa e transportada depois entre ilhas por meio de um cabo submarino de (5 k VV. Posteriormente, porém, houve necessidade de instalar um gerador em cada ilha.
57. Nestas condições, programam-se investimentos destinados a aumentar a potência instalada em cada ilha e a promover o seu conveniente transporte e distribuição, tendo em vista, além do mais, o desenvolvimento turístico que se prevê fomentar.

Energia

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

VI) Circuitos de distribuição

58. Em Macau, o comércio local depende, sobretudo, de importações recebidas da China Continental e de outras que efectue via Hong-Kong, com as quais se provê ao abastecimento das indústrias locais, das populações da província e das regiões fronteiriças.
Campo exclusivo da iniciativa privada, não se consideram necessários investimentos no sector.

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

59. As deficientes condições oferecidas pelo porto da Macau aos navios de grande tonelagem têm constituído obstáculos à expansão das trocas comerciais, que, juntamente com a pesca e a indústria transformadora, estão na base da economia da província.
A navegação de longo curso apresenta, pois, posição muito secundária no movimento do porto.
Do movimento anual, 99 por cento devem-se às embarcações de navegação costeira, de nacionalidades estrangeiras na sua totalidade, devendo apontar-se as tendências nitidamente dinâmicas reveladas pela evolução do tráfego portuário.
O movimento de passageiros por via marítima acusa também um rápido crescimento.
A ligação marítima com Hong-Kong é ainda assegurada por carreiras de hidroplanadores, o que representa, em relação aos meios de transporte usuais, notável melhoria e economia de tempo.
A navegação fluvial ocupa, por seu lado, lugar de certo relevo.

60. Os transportes aéreos, em virtude de as condições locais dificultarem o estabelecimento de um aeroporto com melhores condições, desempenham papel secundário nas ligações da província com o exterior.

61. A rede rodoviária das ilhas, pouco extensa, mas adequada às dimensões da província, muito beneficiará com a conclusão do istmo de ligação entre ilhas.
O número de veículos automóveis em circulação em 1965 era de 2341, sendo 1624 ligeiros, 396 pesados e 321 motociclos.

62. Os C. T. T. asseguram de modo satisfatório as comunicações dentro da província e com o exterior, sendo o movimento caracterizado por uma contínua e rápida expansão.

2. Investimentos

1. Transportes rodoviários

63. Os investimentos incluem o desenvolvimento da rede rodoviária das ilhas de Taipa e Coloane e sua ligação, incluindo a execução de aterros, pois, terminada a ligação em fins de 1968 ou princípios de 1969, conforme está previsto, torna-se seguidamente necessário melhorar todas as condições rodoviárias, o que muito virá também contribuir para aquele desenvolvimento turístico que à Taipa e Coloane se pretende dar.

64. Incluem-se também nesta rubrica a execução de aterros nas zonas contíguas ao istmo de ligação. Segundo opinião de técnicos especializados, o desvio de correntes motivado pela ligação terá como consequência, vantajosa para o meio, o assoreamento, num futuro próximo, das áreas que lhe são contíguas. A acontecer o previsto, impõe-se, como medida para uma completa recuperação daquelas áreas, a construção de um dique, que possibilitará dispor de grandes espaços de terrenos.

2. Portos e navegação marítima

65. Apenas quatro objectivos aparecem como novos nesta rubrica. Os restantes transitam do Plano Intercalar de Fomento, pois que, tendo sido atingidos ainda os objectivos previstos, há que prosseguir com, a sua execução da forma que parece mais aconselhável.

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Os quatro novos empreendimentos que aparecem no actual Plano são os seguintes:

a) Substituição da draga de garras e da cábrea, com a aquisição de uma escavadora a montar num pontão a construir;
b) Aquisição de uma vedeta pequena para a polícia marítima e fiscal;
c) Construção de. um plano inclinado para desembarque de viaturas na ilha da Taipa;
d) Reparação da ponte-cais de Coloane.

66. Quanto a investimentos atribuídos ao sector privado, há que referir:

Canal de acesso ao porto interior

A dragagem deste canal, nos termos das alíneas das cláusulas 7.ª e 9.ª do contrato com a concessionária dos jogos, compete à mesma concessionária.
Canal de acesso ao porto exterior
A dragagem do canal de acesso à ponte-cais, bem como a de um canal no porto exterior que permita manter condições de descolagem e amaragem de aviões das ligações aéreas entre Macau e Hong-Kong, cabe também à concessionária dos jogos, nos termos da cláusula 7.ª do contrato.

Canal de acesso de Macau a Taipa e Coioane

Esta dragagem está também prevista.
Fundeadouros nos portos exterior e interior
A concessionária dos jogos está ainda obrigada a dragar e a conservar os fundos necessários à navegação nos fundeadouros.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

VIII) Habitação e melhoramentos locais

1. Evolução recente e problemas actuais

67. Enquanto a zona citadina suporta uma exagerada carga demográfica, as reduzidas áreas disponíveis encontram-se ocupadas por habitações provisórias.
68. Não obstante os obstáculos e condicionamentos gerados por uma estrutura social sui generis, o problema vem sendo enfrentado com decisão, prevendo-se uma
melhoria da situação em prazo não muito longo. Em 1967 é já possível assegurar a 50 por cento dos servidores do Estado habitações condignas, a rendas de nível satisfatório, mantendo-se a acção desenvolvida pela assistência pública para resolver o problema habitacional, das classe? económicamente débeis, desalojados e refugiados.

69. O problema habitacional dos funcionários do Estado e das classes económicamente débeis vem sendo uma constante preocupação da província, que tem tentado.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(671)

por todos os meios, proporcionar a estes sectores da população de Macau uma habitação que, embora económica, obedeça aos princípios de higiene e de conforto.

2. Investimentos

1. Habitação

70. Com as verbas inscritas nesta rubrica, espera-se resolver definitivamente o problema habitacional do funcionalismo público, prevendo-se, no que se refere à construção de casas para classes económicamente débeis, uma acção decisiva da assistência pública.
Deve referir-se, aliás, que, em Macau, o interesse do capital particular pela edificação se mostra vivo, porquanto tal actividade proporciona satisfatória remuneração.
Os terrenos livres do porto exterior, pertencentes ao Estado, formam a zona onde se poderá promover desde já a construção de grandes conjuntos habitacionais, até porque dispõem de um plano parcial de urbanização em condições de ser executado.

2. Melhoramentos locais
3.
Rede de esgotos (3.ª fase)

71. Encontrando-se já executada a 1.ª fase e em vias de acabamento a 2.a, torna-se agora necessário assegurar1 integralmente disponibilidades financeiras para a completa execução da 3.ª fase, já iniciada. A necessidade do executar este empreendimento está bem patente no que se verifica nos dias de chuva em toda a zona que envolve, pois áreas há que ficam completamente intransitáveis.

Outros empreendimentos

72. Para além dos empreendimentos referidos, prevê-se a execução de outros melhoramentos:

1) Construção de um matadouro;
1) Construção de um mercado no Bairro de Tama-gnini Barbosa;
3) Remodelação do Marcado da Mitra;
4) Protecção dos taludes da estrada da Penha;
5) Aterro e saneamento da zona da doca do Lamau, entre a Avenida de Demétrio Cinatti e a Travessa dos Estaleiros.

Habitação e melhoramentos locais
Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

73. Outro sector de importância para a economia de Macau, mas ainda com enormes possibilidades futuras, é o turismo.

74. O movimento de turistas caracteriza-se por uma evolução nitidamente dinâmica.

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[Ver Quadro na Imagem].

75. Macau é um meio essencialmente turístico, como Está bem patente nos resultados ultimamente obtidos.
Não se tem verificado, no entanto, a intervenção directa do Estado neste sector, a não ser no aspecto do embelezamento da cidade, porque a iniciativa privada tem correspondido satisfatoriamente naquilo que se pode considerar como sendo as estruturas basilares indispensáveis do turismo: a indústria hoteleira e a dos transportes marítimos rápidos, que parecem ser suficientes para a grande afluência que há hoje em Macau.
Anota-se que em Macau entram e saem anualmente mais de 1 250 000 pessoas.

2. Investimentos

76. Pelas companhias concessionárias dos jogos e das corridas de galgos, aparecem-nos, nesta rubrica, investimentos durante o sexénio, nos termos dos contratos em vigor, que se destinam ao desenvolvimento turístico de Macau, segundo planos a aprovar pelo Governo da província.

Turismo

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

X) Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

77. Escolarização praticamente integral, baixa taxa de analfabetismo e proporção relativamente elevada de indivíduos que tenham atingido pelo menos grau secundário de ensino caracterizam, sob o ponto de vista cultural, a província de Macau.

78. A contribuição dos institutos educacionais missionários e, em particular, das escolas particulares da comunidade chinesa é extremamente importante para o ensino primário e liceal, pois cerca de 96 por cento das escolas
que ministram estes graus de ensino integram-se naquelas categorias. O Liceu Nacional do Infante D. Henrique é o estabelecimento do Estado para o ensino secundário liceal.

79. Quanto ao ensino técnico profissional, está a cargo de duas escolas particulares oficializadas e subsidiadas pelo Estado - a Escola Comercial de Pedro Nolasco e o Colégio de D. Bosco, e, entre outros institutos do Estado, da Escola do Magistério Primário, das escolas de promoção de quadros dos serviços públicos - dos C. T. T. e dos Serviços de Portos e Transportes Terrestres -, da Academia de Música de Pio X, onde se ministra o ensino artístico.

[Ver Quadro na Imagem].

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(673)

[Ver Quadro na Imagem].

2. Investimentos

1. Educação

80. Os objectivos fixados para o sector deverão ser alcançados através da realização progressiva dos seguintes empreendimentos, em relação aos quais não parece viável definir, desde, já, metas quantificadas:

1.º Adaptação da Escola do Magistério Primário à finalidade da formação de professores da Língua . Portuguesa, destinados ao ensino nas escolas chinesas;
2.º Formação de mestres para os centros de aprendizagem profissional junto das empresas privadas;
3.º Criação de centros de aprendizagem profissional junto das empresas privadas carecidas de mão-de-obra qualificada;
4.º Valorização do ensino ministrado nas escolas técnicas profissionais, quer por uma melhor adequação de natureza técnico-profissional dos cursos às necessidades locais de mão-de-obra
especializada, quer por meio de um reforço de elevação do nível técnico desses cursos;
5.º Aumento substancial de bolsas para a frequência, por naturais, de cursos médios e superiores na metrópole, em Moçambique ou em. Angola;
6.º Construção de uma escola primária oficial;
7.º Participação num programa editorial e de produção radiofónica, ao nível interprovincial ou nacional, destinado à criação e difusão de meios de leitura em língua portuguesa e de meios de conhecimento.

2. Investigação não ligada ao ensino

81. Torna-se indispensável, para efeito de planeamento económico e para orientação geral da Administração, realizar, além dos estudos necessários à concretização e fundamentação de empreendimentos, estudos de base, no âmbito das seguintes actividades:
Documentação estatística, demografia, contabilidade económica e documentação
técnico-económica.

Educação e investigação
Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

82. A peculiar estrutura demográfica de Macau - resultante da conjugação de uma altíssima densidade populacional com a existência de intensos fluxos migratórios - gera graves problemas de saúde, a que os serviços competentes da província vêm prestando a sua melhor atenção, mediante uma perseverante luta contra o paludismo e a adopção de medidas preventivas da tuberculose, poliomielite, tifo, varíola, cólera, paratifóide e difteria.

83. Os quadros seguintes documentam os esforços desenvolvidos no período de 1953 a 1964, com o objectivo de assegurar a Macau uma eficiente cobertura sanitária.

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[Ver Quadro na Imagem].

Estabelecimentos

[Ver Quadro na Imagem].

A partir de 1966 a província ficou ainda a dispor de um pavilhão para tuberculosos e de duas escolas de enfermagem, destinadas, respectivamente, a alunos de língua portuguesa e chinesa.

2. Investimentos

84. as objectivos fixados no domínio da administração sanitária serão cumpridos mediante a realização dos empreendimentos seguintes:

1.º Formação de pessoal de enfermagem;
2.º Construção de um pavilhão de alienados;
3.º Construção de um asilo para doentes crónicos e irrecuperáveis;
4.º Remodelação e ampliação do Centro de Saúde da Taipa;
5.º Construção de um edifício para os Serviços de Saúde e Assistência;
6.º Aquisição de equipamento.

85. No domínio da saúde da população, é o seguinte o programa cuja realização permitirá alcançar os objectivos fixados:

1.º Combate contra a tuberculose;
2.º Combate contra a malária;
8.º Combate às doenças transmissíveis (excepto a tuberculose);
4.º Ampliação da assistência materno-infantil;
5.º Educação sanitária da população;
6.º Vacinação contra a poliomielite.
86. Nesta linha de orientação, inclue-se uma série de variados empreendimentos visando, no seu conjunto, a realização dos objectivos definidos.

Saúde e assistência

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

Programa de investimentos
(Resumo por sectores)

[Ver Quadro na Imagem].

Página 675

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(675)

[Ver Quadro na Imagem].

VIII

Timor

CAPITULO I

Caracterização sumária da economia. Evolução recente, situação actual e perspectivas

1. Caracterização global da economia

1. Dimensões territoriais relativamente restritas, ovo- grafia muito acidentada e uma hidrografia dominada pela multiplicidade de pequenos cursos de água de características torrenciais constituem, com o grande afastamento em relação a todos os outros territórios nacionais, as características .físicas relevantes da província.

2. Do ponto de vista humano, assinalar-se-á a conjugação de uma estrutura primária caracterizada pela concentração no sector da agricultura, silvicultura e pecuária, em regime de economia de subsistência e de tendência demográfica para um crescimento rápido.

3. No que se refere ao subsolo, embora se encontrem ainda insuficientemente conhecidas as- suas potencialidades, regista-se a existência de jazigos, que possuem interesse económico, de manganês e de hidrocarbonetos. A província dispõe de uma elevada percentagem de solos com boas aptidões para fins agrícolas.
Os recursos piscatórios das costas de Timor, que se consideram abundantes, parecem susceptíveis de aproveitamento, não só pela pesca artesanal como por empreendimentos de mais largos horizontes.
As características do sistema hidrográfico levam a classificar de modestas as possibilidades de aproveitamento hidroenergético.

3. A uma gama limitada de produções para o mercado corresponde, como aliás sucede normalmente em economias deste tipo, um excessivo grau de concentração e de vulnerabilidade das exportações da província. A balança de pagamentos mantém-se equilibrada pela ajuda financeira da Administração Central, que contrabalança uma situação deficitária da balança comercial.

4. A incipiência do sector empresarial, aliada às dificuldades de mobilização de poupança interna, faz, por outro lado, recair no sector publico o papel motor do desenvolvimento económico.

2. Evolução demográfica

5. A população, que, segundo o censo de 1960, era de uns 5.1.7 000 habitantes, cifra-se, segundo o arrolamento administrativo de 1965, em. cerca de 555 000 almas. A taxa média de crescimento anual situa-se à volta de 1,7 por cento.

7. Do ponto de vista da distribuição espacial, a população de Timor caracteriza-se por acentuada variabilidade de densidade por quilómetro quadrado.

8. Anota-se seguidamente a distribuição etária de que se dispõe, com base nos arrolamentos administrativos, e referente ao ano de 1963:

[Ver Quadro na Imagem].

9. A evolução da população da província de Timor, segundo os dados disponíveis, foi a seguinte, no período de 1936 a 1960:

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Estimativa baseada em arrolamento administrativo.

A circunstância de o período de 1936-1950 ter incluído a II Guerra Mundial e a ocupação do território da província retira o significado à redução observada nesse período.
É de notar, além disso, que os dados disponíveis relativos ao ano de 1936 não resultam de recenseamento demográfico, mas sim de simples estimativas baseadas em arrolamento administrativo.

Página 676

1662-(676) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

10. Para o estudo da provável evolução da população de Timor até 1973 foram consideradas as hipóteses seguintes:

a) Prolongamento no futuro das tendências observadas no período de 1950-1960, ou seja, crescimento à taxa anual de 1,7 por cento;
b) Crescimento à taxa calculada por comparação dos resultados do censo de 1960 com os apurados , no .arrolamento administrativo de 1963 (com os necessários ajustamentos).
Os efectivos populacionais atingiriam, pois, em 1973, nível situado entre os limites de 651,6 e 671,6 milhares, não sendo de prover modificações relevantes da estrutura etária.

3. Evolução do produto, rendimento e despesas internas

11. Os valores do rendimento nacional estimados para Timor são baixos (a preços constantes: 159,8 milhares de contos em 1953 e 212,6 milhares de contos em 1962 - M. E. E. N.º U.). Estes valores não se traduzem em capitações baixas se se tiver em consideração que a situação económica dos habitantes se espelha antes na economia de subsistência, de onde retiram o justificativo de um relativo bem-estar. A dualidade económica de Timor caracteriza-se, efectivamente, por forte predomínio da economia de subsistência, cujos fluxos ultrapassam os 80 por cento do rendimento provincial total (a preços constantes: 830,1 milhares de contos em 1953, 1064,3 milhares de contos em 1962 e 1105,6 milhares de contos em 1963).

12. Analisando a evolução do rendimento no decénio considerado (1953-1962), verifica-se que, apesar de alguns recuos - 1959, 1960 e 1962 (a preços correntes haveria a assinalar outro em 1954) -, a mesma foi favorável, de movimento ascendente. O acréscimo médio anual foi da ordem dos 3,2 por cento, aceitável para aquela zona do Globo. Articulado este acréscimo com a taxa de variação da população, que teria aumentado a 1,6 por cento, fica evidenciado que o nível médio do rendimento monetário melhorou. Esta melhoria pode, aliás, comprovar-se pela variação das capitações que, com um acréscimo decenal de 16,6 por cento (a preços correntes: 29 por cento), exibiram assim um aumento anual médio da ordem dos 1,7 por cento (a preços correntes: 2,9 por cento).
A distribuição percentual do rendimento provincial pelas suas principais componentes dá-nos o seguinte esquema:

[Ver Quadro na Imagem].

Este esquema mostra-nos o predomínio do rendimento do trabalho sobre as restantes categorias de rendimento, ao absorver à volta de se por cento do total (57,7 por cento em 1953; 54,5 por cento em 1962). O declínio da posição do rendimento do trabalho ao longo do decénio
é acompanhado pelo de todas as restantes categorias do rendimento, em benefício do das empresas e propriedades, que, de 26,4 por cento em 1953, subiu para 33 por cento em 1962.
As contas nacionais para 1963 fornecem-nos valores que confirmam a tendência assinalada ao rendimento e mostram um ritmo de crescimento mais forte. De 1962 para 1963, deu-se um acréscimo de aproximadamente 11 por cento, correspondente a 23,3 milhares de contos (em 1962: 212,6 milhares de contos; em 1963: 235,9 milhares de contos), tendo sido esse acréscimo reflexo da melhoria verificada em todas as componentes de rendimento, nomeadamente a «Remuneração do trabalho», o «Rendimento de empresas» e o «Rendimento da propriedade».

13. A «Despesa de consumo privado» engloba as despesas de consumo- das famílias e as dos organismos privados sem. fins lucrativos, aquelas participando com cerca de 98 por cento do total, e estas com a diminuta percentagem do 2 por cento, em média, o que põe em destaque a pouca importância directa que o sector associativo tem no circuito económico monetário da província.
A «Desposa de consumo privado» revela ao longo do período considerado (1953-1962) uma evolução moderadamente ascendente, mas conturbada por movimentos alternados de descida e subida que só mostram excepção no triénio de 1956-1958. Para tais evoluções e movimento contribui decisivamente a componente «Géneros alimentícios», cuja variação, decorrente de bons e maus anos agrícolas, evidencia a importância do autoconsumo na economia de Timor. Por esse motivo, a «Despesa de consumo privado», relativa apenas aos fluxos monetários, é pouco significativa e não traduz o nível económico das populações, por, como já se afirmou, tais fluxos representarem apenas cerca de 20 por cento de rendimento provincial global.
A preços constantes, a «Despesa de consumo privado» passou de 137,5 milhares de contos em 1953 para 175 milhares de contos em 1962, mostrando um acréscimo anual médio da ordem dos 3 por cento. Confirmando e vincando a tendência ascensional que lhe fora assinalada, o acréscimo de 1962 para 1963 foi de aproximadamente 5,4 por cento, para o que também deve ter contribuído o aparecimento de uma população adventícia metropolitana, com maior poder de compra, ligada à defesa do território e ao seu fomento.
Analisando a importância relativa dos componentes da «Despesa de consumo das famílias», encontramos como dominante a aquisição de «Géneros alimentícios», que atinge, no período, a média de cerca de 51 por cento do total daquela mesma despesa, percentagem que, no entanto, não é elevada, dado o relevo da economia de subsistência na província. A variação desta componente que imprime à «Despesa de consumo privado» o movimento acima descrito. Das outras componentes podem destacar-se como de maior importância as «Rendas e consumo de água», cujo volume foi especialmente influenciado pelo valor das rondas imputáveis aos prédios ocupados pelos seus proprietários; a aquisição de «Artigos de vestuário e outros objectos de uso pessoal», de grande expressão ao longo de todo o período, mas acusando uma curiosa tendência decrescente que parece ser contrariada a partir de 1960; e ainda «Bebidas» o «Transportes e comunicações», tanto uma como outra apresentando movimentos alternados de subida e descida pouco pronunciados.
A importância relativa, em percentagens, das principais componentes da «Despesa ide consumo das famílias» pode observar-se no quadro seguinte:

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[Ver Quadro na Imagem].

A «Despesa de consumo dos organismos privados sem fins lucrativos», que pouca expressão assume na «Despesa de consumo privado» (cerca de 2 por cento), apresenta, ao longo do período analisado, um movimento ininterrupto e regular de crescimento.
A inclusão dos fluxos não monetários na «Despesa de consumo privado» faria quase sextuplicar os valores estimados para aquela despesa (em 1963: 184,9 e 1049,2 milhares de contos, respectivamente, sem e com inclusão de fluxos não monetários).

14. O quadro da origem do produto interno bruto revela o predomínio dos ramos de actividade «Agricultura, silvicultura, caça e pesca», «Comércio por grosso e a retalho», «Administração pública e defesa» e «Serviços», que, em conjunto, representam mais de 92 por cento do total do produto sobre os restantes, alguns dos quais («Transportes, entrepostos e comunicações» e «Propriedade de casas de habitação») não atingem 1 por cento na sua participação relativa. No quadro seguinte indica-se essa participação relativa a cada um dos ramos de actividade na formação do «Produto interno bruto aos preços do mercado» nos anos extremos do decénio 1953-1962:

[Ver Quadro na Imagem].

Sendo a economia de Timor essencialmente agrícola, não surpreende a posição de «Agricultura, silvicultura, caça e pesca» (32,5 por cento em 1962), mas poderia esperar-se que, pelo menos, a indústria transformadora dos seus produtos contribuísse para uma melhor posição do respectivo ramo do que aquela que apresenta. O comércio ocupa posição destacada (25,8 por cento), em natural paralelismo com a agricultura e silvicultura, e destacada é também a posição do Estado na formação do produto interno (17,9 por cento) e da economia geral. De assinalar o pouco relevo do ramo da «Propriedade de casas de habitação», praticamente sem contribuição no produto (0,2 por cento), já que toda a actividade neste ramo tem sido desenvolvida pelo Estado. Os «Serviços» são o outro ramo de actividade com saliente participação no produto interno bruto, mas é, de certo modo, uru mau sintoma o facto de a sua importância relativa ter decaído (em 1953: 18,7 por cento; em 1962: 15,9 por cento).
Analisando a evolução do «Produto interno bruto ao custo dos factores» (a preços constantes) no período considerado (1953-1962), observa-se que o mesmo apresenta um movimento alternado de descida e subida, bastante perturbado, mas sem deixar de revelar uma tendência ascendente. Assim, entre 1953 e 1955, o produto baixa, subindo em 1956, para no ano seguinte voltar a descer; em 1958 sobe novamente, tornando a baixar em 1959 e 1960. Nos dois últimos anos (1961 e 1962) elevou-se aos seus maiores valores, o que permitiu definir-se a tendência ascendente assinalada.
Entre 1953 (193 milhares de contos) e 1962 (229,1 milhares de contos), o aumento foi apenas de 18,7 por cento (36,1 milhares de contos), o que corresponde a um acréscimo anual médio à volta de 2 por cento. Para este aumento contribuíram, de uma maneira geral, a maioria dos ramos de actividade económica. Excluem-se as «Indústrias extractivas», «Indústrias manufactureiras» e «Bancos, seguros e transacções sobre imobiliários», que apresentaram recessão, e «Transportes, entrepostos e comunicações» e «Serviços», que se mostram praticamente estacionários. A evolução mais firme foi a de «Administração pública e defesa», porquanto a «Agricultura, silvicultura, caça e pesca» esteve dependente de vários factores climatéricos e de comercialização, que lhe imprimiram um movimento muito perturbado; o «Comércio por grosso e a retalho» acompanhou paralelamente o movimento da actividade agrícola.
Em 1963, definiu-se melhor a tendência ascensional do produto interno bruto, que apresentou, nesse ano, o maior valor de sempre (268,9 milhares de contos), com uma taxa de acréscimo em relação ao ano anterior de 17,4 por cento, verdadeiramente notável se não fora o baixo nível do produto.
Este acréscimo foi devido, em especial, aos quatro ramos de actividade já referidos, acompanhados, no entanto, por todos os restantes. O maior aumento foi o acusado pela «Administração pública e defesa», por razões já deduzidas a propósito do rendimento nacional da província.

4. Relações económicas com o exterior

15. Constituem características fundamentais do comércio externo da província a forte dependência do sector primário e a fraca projecção das exportações, traduzida por uma balança comercial normalmente deficitária.
A partir de 1960 - ano em que mais baixaram tanto as importações como as exportações - regista-se uma progressão gradual do comércio externo.

16. As dez primeiras rubricas de importação indicadas no quadro seguinte denunciam uma certa concentração, com a posição máxima em 1965, perfazendo 56,3 por cento das importações totais.

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17. Com as exportações, a concentração só não é maior devido à quebra sofrida pelo preço do café. No período de 1958-1965 este produto representou, em média, em relação às exportações totais, cerca de 73 por cento, seguindo-se a copra, com 12 por cento, a borracha, com 8,4 por cento, a cera, com 2,1 por cento, e por fim o camim, com 0,5 por cento.
Aos anos de menor contribuição de café - 1960 e 1961 - corresponde uma maior participação das copra e da borracha, a primeira com 14,3 e 13,8 por cento e a Segunda com 13,6 e 13,1 por cento, respectivamente, como consta do quadro seguinte.

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[Ver Quadro na Imagem].

18. Dada a situação geográfica longínqua de Timor em relação à metrópole e às províncias ultramarinas, com excepção de Macau, é natural que as relações externas com o território nacional não atinjam proporções semelhantes às das outras parcelas nacionais. Em 1903, 22,2 por cento das importações de Timor passaram a ser feitas da metrópole, apesar de nos anos anteriores, em média, não irem além de 19,1 por cento. Em 1964, no entanto, desce para 15,8 por cento o valor das importações com tal origem, subindo em 1965 para 32,2 por cento.
Do ultramar, apenas Macau e Moçambique podem ser considerados fornecedores de Timor, já que Angola só em alguns anos contribuiu com cerca de 0,1 por cento nas importações da província e com 1,4 por cento em 1964. A posição de Moçambique, conquistada em 1963 (sobretudo por intermédio da cerveja), passando de 2,9 para 5,1 por cento, baixou em 1964 para 4 por cento, para atingir em 1965 o valor mais elevado do período: 6,1 por cento.
Macau, dada a sua proximidade e a natureza das suas exportações, comportou-se como o melhor fornecedor ultramarino.
É, porém, o estrangeiro o grande fornecedor de Timor. Ao longo do período de 1958-1965, foram as seguintes as participações totais da província: Hong-Kong, 16,5 por cento; Singapura, 15,2 por cento; Austrália, 9,2 por cento; Keino Unido, 8,6 por cento; Japão, 10,6 por cento; Estados Unidos da América, 2,5 por cento; República Federal Alemã, 3,2 por cento, e Holanda, 2,7 por cento.

19. Nas exportações há igualmente grandes variações. Começando pela metrópole, cuja absorção variou entre 6,5 e 36,8 por cento das mesmas, pode dizer-se que consegue ter vantagens nas suas trocas externas com Timor, pois que coloca muito mais mercadorias do que as que adquire.
O ultramar vem a participar nas exportações com os mesmos territórios referidos para as importações: Macau e Moçambique. Macau aumentou o consumo de bens da província, passando de 2,5 por cento em 1958 para 11 por cento em 1964. Em 1965 a sua participação desceu para 1,3 por cento.
Analisando o território nacional como cliente de Timor e verificando o crescimento gradual das suas aquisições à província, há que registar a recessão das compras no estrangeiro até 1962 (a quota-parte das suas compras passou de 89,9 por cento em 1958 para 54,7 em 1962), seguida de uma retoma nos últimos três anos do período considerado.
Tanto em 1964 como em média, a Dinamarca foi o primeiro cliente de Timor, com as taxas respectivas de 24,6 e 24,9 por cento. Segue-se-lhe a Holanda, ocupando o segundo lugar em 1964 (15,7 por cento) e ficando anualmente com cerca de 17,8 por cento das exportações timorenses. Singapura é igualmente um bom cliente de Timor (1965 - 24,9 por cento); em média importou cerca de 12 por cento das exportações totais da província. O comportamento do Japão é muito variável, circunstância ocorrida com os restantes países: ora nada importam em certos anos, ora tomam posições de relevo; é o que acontece com os Estados Unidos da América, a República Federal Alemã, a Noruega. Entre outros consumidores podem apontar-se: Bélgica-Luxemburgo. Grécia, Hong-Kong, Austrália, Itália e França. Seguidamente se indicam as percentagens referentes às importações e exportações relativas à metrópole, ultramar e estrangeiro.

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[Ver Quadro na Imagem].

Exportações

[Ver Quadro na Imagem].

20. A balança de pagamentos tem sido equilibrada em resultado essencialmente da assistência financeira da Administração Central para a realização dos planos de fomento. Como os quadros a seguir insertos mostram, os saldos negativos da balança de pagamentos correntes têm sido contrabalançados pelos movimentos de cambiais do Estado.

Movimento cambial

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Inclui 15 190 contos de saldos que transitaram de 1964.

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Cambiais do Estado

[Ver Quadro na Imagem].

Movimento cambial com exclusão do movimento com fundos do Estado

[Ver Quadro na Imagem].

As exportações e as entregas do Estado constituem, com efeito, as únicas fontes de divisas da província, predominando nas saídas as resultantes das importações: a que se seguem, a nível consideràvelmente inferior, as destinadas a pagamentos do Estado, de mesadas e pensões, e de transferências de lucros, rendas e dividendos.

21. A execução dos planos de fomento tem permitido melhorar o poder de compra da população e dotar a província com certas infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento económico, tudo se traduzindo no crescimento das importações, que ainda não pode encontrar compensação ,num crescimento paralelo das exportações provenientes do esforço de desenvolvimento.
Por outro lado, embora o volume de produção dos principais produtos exportáveis tenha vindo a aumentar consideràvelmente, o nível das cotações internacionais não tem permitido que tal facto tenha maior projecção no volume de divisas entradas.
São estas duas ordens de factores - uns ligados ao esforço de desenvolvimento económico de Timor, outros às flutuações das cotações internacionais - que levam ao desequilíbrio da balança comercial da província.
Nada impedirá, entretanto, que uma alta das cotações internacionais venha acrescer consideràvelmente as disponibilidades da província em meios de pagamento sobre o exterior.

22. No período de 1958-1965 a circulação monetária na província passou de 44 a 78,9 milhares de contos, o que corresponde a um aumento de 88 por cento. Tal acréscimo foi produto de aumentos que tiveram lugar nos últimos dois anos considerados, sobretudo no último, visto que a circulação se manteve, anteriormente, sempre inferior ao valor de 1958.

5. Perspectivas de crescimento

23. Da análise feita às características essenciais da economia da província ressalta a dificuldade de na situação actual provocar a curto prazo a aceleração do acréscimo
do produto interno, em termos de gerar um processo cumulativo de desenvolvimento autónomo. Faltam para tanto os apoios de um sector empresarial relevante e de uma produção agrícola dinamizada para o mercado.
24. Os investimentos prioritários efectuados no âmbito dos planos de fomento passados permitiram dar impulso à criação, de infra-estruturas essenciais ao lançamento do processo de crescimento desejado.
À luz desta verificação apontam-se, como perspectivas razoáveis, o fomento do sector agrícola tradicional através de um aumento de produtividade, de uma maior diversificação e de uma mais acentuada monetarização, e o fomento de todos os empreendimentos rentáveis, que seja possível auxiliar ou mesmo estimular, nos sectores das industrias extractivas, das indústrias agrícolas, da pesca e do turismo.
A esta linha de acção puramente económica serviria de suporte o prosseguimento intensificado dos esforços realizados e em curso para dotar a província com uma rede de infra-estruturas adequada, e para a promoção cultural e sanitária das populações.

CAPITULO II

Objectivos

25. A análise da estrutura económica permite destacar como características fundamentais da economia timorense as seguintes:
Deficiente conhecimento dos recursos naturais;
População progressivamente crescente, mas praticando uma economia de subsistência;
Concentração da população mais de 90 por cento - no sector primário;
Ausência de um sector empresarial motor do desenvolvimento económico;
Actividades comerciais ocupando um lugar anormalmente grande, na repartição do rendimento;
Elevado grau de vulnerabilidade às flutuações das cotações internacionais, consequência do excessivo grau de concentração das suas exportações;
Balança comercial crònicamente deficitária e com tendência para o aumento dos saldos negativos;
Balança de pagamentos equilibrada à custa da ajuda financeira da metrópole;
Poupança interna praticamente inexistente.
26. A criação das pré-condições para o arranque da província terá de assentar nos quatro factores estratégicos que a seguir se indicam:

a) Aumento da produtividade na agricultura;
b) Melhoria do nível cultural, sanitário e técnico das populações;
c) Desenvolvimento das infra-estruturas;
c) Expansão do sector empresarial.

a) Aumento da produtividade na agricultura

27. Considera-se que a província, dada a estrutura e densidade da sua população, poderá, em certa medida, suprir investimentos em capital recorrendo a não menos proveitosos investimentos em trabalho. Crê-se que o meio mais eficaz e de resultados já largamente comprovados

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consiste na aplicação das técnicas de desenvolvimento comunitário que induzam a população a tomar consciência individual e colectiva das suas necessidades, dos recursos de que dispõe, dos novos métodos de trabalho e das suas possibilidades, para que, através de um esforço conjunto, possam ser edificadas as estruturas necessárias e aproveitados esses recursos e métodos pelo trabalho e esforço próprios.

b) Melhoria do nível cultural, sanitário e técnico da população

28. A melhoria, do nível cultural, sanitário e técnico da população é simultaneamente finalidade e condição do progresso económico.
Por isso se considera que as actividades a realizar neste campo deverão merecer posição de relevo no conjunto de qualquer plano de desenvolvimento económico da província.

c) Desenvolvimento das infra-estruturas

29. A. província sofre de grandes deficiências em infra-estruturas no que se refere a transportes e tal facto constitui um estrangulamento decisivo no desenvolvimento económico de Timor.
As dificuldades opostas pelo relevo à implantação de uma rede satisfatória de transportes terrestres aconselham uma cuidadosa combinação de várias soluções, de modo a obter-se um razoável compromisso entre as necessidades e as possibilidades de investimentos.

d) Expansão do sector empresarial

30. Em Timor, o sector empresarial limita-se, para além de duas ou três empresas agrícolas, a um número muito restrito de pequenas indústrias.
Sabe-se, por outro lado, que o sector empresarial constitui geralmente o motor do desenvolvimento de uma dada economia. Assim, importa estimular o aparecimento de novos empresários e empresas - que em muitos casos poderão ser de economia mista- como meio de apoiar e de aproveitar a melhoria dê produtividade que se espera obter da agricultura, criando novos rendimentos em divisas e gerando possibilidades de emprego da mão-de-obra que vá sendo libertada pelo processo de modernização do sector agrícola.

31. Da análise feita às características estruturais e conjunturais da economia da província infere-se que a situação actual não é ainda de molde a possibilitar e provocar acréscimos rápidos do produto interno, em termos de gerar, pelos seus próprios meios, um processo cumulativo de desenvolvimento autónomo, assente no ciclo produção-poupança-investimento, sem o qual não existe verdadeiramente desenvolvimento económico.
Por outro lado, os investimentos prioritários efectuados ao abrigo do actual e anteriores planos de fomento permitiram dar certo impulso na criação de infra-estruturas, cuja contribuição é essencial para o estabelecimento das condições básicas do lançamento de um processo de crescimento tendencialmente autónomo.
A combinação destas duas premissas leva, desde já, a definir um duplo objectivo geral a que se subordina o III Plano de Fomento.
Assim, em primeiro lugar, o plano cuja execução irá decorrer no período de 1968-1973 visa o completamente das condições em que há-de assentar o planeamento económico futuro. Em segundo lugar e paralelamente, o plano prossegue a finalidade essencial que consiste em lançar e estimular, por todos os meios, empreendimentos directamente reprodutivos, tendentes ao aparecimento e desenvolvimento do espírito de empresa.

32. Nesta ordem de ideias, o III Plano de Fomento em Timor visa os seguintes objectivos essenciais:

1.º Elevarão do nível cultural, sanitário e alimentar da população;
2.º Continuação dos estudos tendentes a inventariar os recursos do subsolo e aprofundamento do conhecimento científico do território e desenvolvimento da investigação científica aplicada aos aspectos concernentes ao progresso de Timor;
3.º Melhoria da produtividade da agricultura tradicional ;
4.º Estabelecimento de redes de infra-estruturas de transportes e energia adequadas às necessidades da província e programadas concertadamente com os desenvolvimentos previstos nos vários sectores;
5.º Estímulo e apoio a todas as iniciativas viáveis e rentáveis de natureza empresarial que seja possível lançar em qualquer sector, nomeadamente nas indústrias extractiva e transformadora, na pesca e no turismo.

CAPITULO III

Financiamento

1. Administração Central

33. É já tradicional o recurso a esta fonte de financiamento nos anteriores planos de fomento, cujos investimentos têm sido e são integralmente cobertos pela ajuda financeira da metrópole, por meio de subsídios ou empréstimos reembolsáveis.

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Dotações orçamentadas para todo o Plano.

2. Administração provincial

34. Regista-se nos quadros seguintes a evolução da receita pública ordinária e extraordinária e a importância relativa destas duas categorias de receitas.

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[Ver Quadro na Imagem].

As receitas ordinárias acusam, ao longo do período, um movimento crescente, com ligeiros recuos em 1958 e 1960.
O acréscimo registado no período em análise foi de 33 milhares de contos, ou seja de aproximadamente 74 por cento.
Em 1965, as contribuições de «Impostos directos gerais», «Impostos indirectos» e «Taxas - Rendimento de diversos serviços» para o total da receita ordinária foram de 23, 10 e 15 por cento, respectivamente.

35. A discriminação destas receitas torna possível uma análise do sistema tributário da província e da respectiva evolução no período considerado.

[Ver Quadros na Imagem].

De 49 milhares de contos em 1955, a despesa ordinária da província passou a 73 milhares de contos em 1965, o que representa um acréscimo de 50 por cento.
«Encargos gerais», «Serviços de fomento», «Serviços de saúde» e «Serviços de administração civil» acusam, em 1965, as mais fortes percentagens em relação ao volume total da despesa ordinária.
Os índices de crescimento mais elevados (ano-base: 1955) referem-se a «Governo da província e representação nacional», «Encargos gerais» e «Serviços aduaneiros».

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

36. O quadro dos valores percentuais dá uma imagem exacta da evolução das despesas no decénio em análise.

[Ver Quadro na Imagem].

37. A análise aprofundada das rubricas mais representativas das despesas ordinárias é feita no quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem].

38. A análise comparativa das receitas e despesas públicas, especialmente as ordinárias, e das respectivas tendências, põe em evidência a impossibilidade da administração provincial de participar no financiamento do III Plano de Fomento.

3. Particulares e empresas

39. A participação privada na realização dos empreendimentos do III Plano que é possível identificar limita-se às obrigações contratualmente já assumidas (à volta de 21 800 contos durante o sexénio) no sector mineiro.
A contribuição de capitais estrangeiros poderá vir ainda a caracterizar-se relativamente à concessão de pesquisas e exploração de petróleo? e minérios.
O estado das negociações relativo a este sector e do conhecimento de outros projectos não permite quantificar o montante de investimento.

CAPITULO IV

Descrição do programa de investimentos

I) Agricultura, silvicultura e pecuária

1. Evolução recente e problemas actuais

41. São três os produtos que mais relevância têm na vida económica da província: o café, a copra e a borracha. Eles contribuem para o valor das exportações de Timor com 95 por cento.

42. Representando o café mais de 50 por cento das exportações de Timor, é inegável a sua importância, não obstante o seu peso na balança comercial da província apresentar sérios riscos, devido às flutuações das cotações no mercado internacional. Julga-se, porém, que a alta qualidade do café, aliada ao facto de representar quantidade insignificante na produção mundial, evitará dificuldades de colocação no mercado externo, mesmo que se

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verifique um considerável aumento da produção, que se espera conseguir sem detrimento de outras culturas ricas a desenvolver e susceptíveis de promoverem uma necessária e útil diversificação das exportações.
Prevê-se que este aumento de produção seja obtido pela ampliação da área cultivada e introdução de variedades altamente produtivas, perfeitamente adaptadas ao meio, bem como a utilização de- processos culturais mais aperfeiçoados.

43. A copra ocupa o segundo lugar entre as exportações de Timor, embora o seu valor represente apenas um décimo do do café. Oferecendo a província boas condições para o desenvolvimento da cultura do coqueiro, convém expandi-la, com vista à satisfação das necessidades de consumo interno de óleo vegetal, obtido localmente, e à exportação, quer sobre a forma bruta, quer de óleo extraído. Prevê-se, para o período do III Plano, a plantação de 1900 ha de coqueiros, a que deverá corresponder um acréscimo de produção da ordem das 1500 t. Avaliada a produção de copra em 3500 t/ano, é de admitir que lhe corresponda uma produção de cairo da ordem das 1200 t, a exportar de acordo com as possibilidades de colocação.

44. A borracha ocupa, na exportação, o terceiro lugar, depois do café e da copra. A. sua boa qualidade garante uma fácil colocação nos mercados externos, com relevância para o de Singapura. Nestes termos, é de prever um programa de acção tendente à melhoria dos processos de exploração e à criação de novas plantações, que se espera permita, no final do Plano, um aumento de cerca de 70 t na quantidade de borracha extraída actualmente, e, a mais longo prazo, um acréscimo da ordem das 600 t. Prevê-se que em cada ano do Plano sejam plantados, em média, cerca de 35 ha de novas árvores.

45. Está praticamente assegurada a produção da quantidade de tabaco necessária ao consumo interno - cerca de 550 t - pelo que o seu desenvolvimento dependerá das possibilidades de colocação nos mercados externos.
46. Embora ainda não tenha sido lançada a cultura do algodão na província, considera-se que ela pode ser introduzida no decurso deste III Plano de Fomento, prevendo-se que, dois anos após o seu início, se alcance uma produção de 1000 t anuais.

47. Tem-se como possível uma produção anual de cerca de 300 t de camim, a serem exportadas em bruto ou sob a forma de óleo a extrair localmente.

48. Estima-se a produção anual de tuaca em cerca de 3 milhões de litros; destina-se à obtenção de álcool.

49. Quanto ao arroz, a produção média do« últimos anos anda à volta das 15 000 t anuais, prevendo-se que as necessidades de consumo no final do III Plano atinjam níveis, que ultrapassem as 25 000 t.
No entanto, admite-se que os trabalhos de investigação e fomento desta cultura, em vias de execução ou a realizar MO III Plano, elevem a actual produção para um nível muito próximo das 30 000 t, o que permitirá a exportação de 5000 t.
50. O milho constitui um dos alimentos básicos da população, e, embora se possa esperar um gradual aumento de consumo da arroz, deverá intensificar-se a cultura até um nível suficiente para assegurar o abastecimento do
mercado interno, que se prevê atinja, em 1973, valores superiores a 42 000 t. Para este aumento de produção deverão contribuir, além das medidas de ordenamento agrário e de selecção de sementes, a limpeza mecânica e arroteamento de zonas de planície e a introdução de sistemas racionais de rotação.

51. A batata-doce, cultura bastante difundida, tem uma produção que oscila pelas 15 000 t anuais. Estando calculadas em cerca de 30 000 t as necessidades de consumo interno em 1973, torna-se necessário duplicar a produção, o que se considera possível.

52. A batata europeia é alimento que, talvez pela escassez de produção, ainda não entrou nos hábitos alimentares da população autóctone. Crê-se que, com a manutenção e garantia de preço compensador para toda a produção, e resolvido o problema de armazenagem e distribuição de sementes seleccionadas, se poderão verificar aumentos sucessivos do volume de produção que eliminem as importações.

53. A produção actual de mandioca situa-se nas 9000 t, mas, tendo em atenção as condições favoráveis do meio. os poucos cuidados que exige e as elevadas produções unitárias, julga-se possível obter produções anuais da ordem das 40 000 t, o que excederá em muito às necessidades de consumo calculadas para 1973. Prevê-se ainda a transformação local dos excedentes, o que leva a admitir uma possível exportação anual de cerca de 5000 t de farinha de mandioca.

54. O feijão é alimento essencial para o equilíbrio da dieta alimentar do Timorense. Prevê-se, por isso, intensificação e o alargamento da sua cultura, para o que se apontam, como medidas a adoptar, a distribuição de sementes melhoradas, a introdução de sistemas rotacionais, a escolha de terrenos propícios e a prestação de assistência técnica.

55. A província está a importar anualmente mais de 14001 de farinha de trigo, num valor aproximado de 2000 contos. Para obviar a este inconveniente, e dada a existência de terrenos potencialmente aptos, a cultura do trigo deverá ser uma cultura a difundir intensamente durante o III Plano.

56. O amendoim, pelo lugar excepcional que pode vir a ocupar, quer directamente na alimentação, quer na industrialização e exportação, será uma cultura merecedora de uma atenção e interesse especiais nos próximos anos. Calculando-se em cerca de 24 000 t as necessidades de consumo interno ao findar o III Plano de Fomento e limitando-se, a produção actual a cerca de 650 t. tem-se uma ideia do desnível que será necessário preencher durante a vigência do Plano.

57. Existe na província um campo vastíssimo para cultivo do rícino, admitindo-se como possível uma produção da ordem das 300 t, a exportar em bruto ou então a transformar internamente.

58. A província oferece condições óptimas para todas as variedades da cultura hortícola, estando o volume de produção condicionado apenas pela intensificação cultural e, sobretudo, pelas possibilidades de colocação, em boas condições e com regularidade, nos mercados consumidores, dos quais se destaca o de Díli.

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59. Aproveitando as boas condições oferecidas por certas regiões, iniciou-se em 1966 um programa de alargamento da fruticultura pela plantação de algumas centenas de árvores oriundas da metrópole.
É programa a continuar, interessando os particulares na constituição de pomares de exploração racional e oferecendo-lhes os serviços públicos todo o apoio e assistência técnica.

60. Pimenta, canela, açafrão, papaína, etc., são outras culturas cuja produção interessa intensificar, prevendo-se que, no seu conjunto, possam vir a contribuir com cerca de 70 t para a exportação.

61. A produção e exportação de cera apresenta até 1960 um acréscimo anual da ordem dos 50 por cento, que prossegue nos anos seguintes, atingindo o seu máximo em 1962, com 160 t. Cai, em seguida, para 28 t em 1963, ano a partir do qual retoma o nível de aumento anterior, cifrando-se no ano de 1965 em 74 t a quantidade exportada.
Os valores médios da tonelada baixaram de 23,52 contos em 1958 para 6,78 em 1962, ano a partir do qual se iniciou uma vigorosa recuperação que levou esses valores a 22,35 contos em 1965, sem que, no entanto, se atingisse os valores assinalados em 1958. O ritmo de acréscimo posterior a 1962 faz antever, porém, um bom futuro para esta produção.

62. A partir de 1958, tem-se registado uma nítida melhoria na pecuária, em todas as espécies, embora mais acentuada nos bovinos e nos caprinos, cujos efectivos têm vindo a crescer progressivamente, não obstante o aumento gradual e constante do número de cabeças abatidas.

[Ver Quadro na Imagem].

A província tem em actividade um centro de criação de gado em Same, com cerca de 1000 cabeças de gado bovino balinês, e outro em Lospalos, com 600 cabeças de gado bovino balinês e 90 de gado Jersey.
Não se espera que, a curto prazo, o consumo de carne sofra incrementos anormais, e, por consequência, a província poderá neutralizar com a exportação de gado ou de conservas de carne, caso seja montada a indústria respectiva, as importações de produtos pecuários que não possam ser obtidos localmente.
Embora pareça haver boas condições para a exploração de gado leiteiro, a verdade é que até hoje pouco ou quase nada se fez neste sentido, continuando as importações de leite a aumentar de modo progressivo. Carecem, pois, de estudo as condições de manutenção e exploração deste gado com fins económicos, porquanto os resultados até hoje obtidos na produção de leite têm sido fracos.
Prevê-se que no decurso do III Plano possam ser constituídos alguns núcleos de gado leiteiro em regiões da província julgadas favoráveis.

2. Objectivos

63. Na agricultura, os objectivos a alcançar visam necessariamente, e em primeiro lugar, o aumento da produção dos géneros alimentícios de que a população carece, quer sejam de consumo directo, quer indirecto, pela transformação local, e ao mesmo tempo a obtenção de produtos que possibilitem um considerável aumento da exportação e, consequentemente, da capacidade da província para importar.
Conquanto existam algumas poucas empresas de tipo capitalista, produzindo para o mercado, pode dizer-se que a estrutura agrária da província é caracterizada pela proliferação de pequenas empresas de tipo familiar, orientadas para a subsistência, sem direito de propriedade e por vezes mesmo nomádicas. Nas zonas intensamente ocupadas nota-se uma extrema subdivisão da terra.

64. No campo florestal, o duplo objectivo que se pretende atingir, de defesa contra a erosão e de produção de riqueza silvícola, desdobra-se em dois aspectos:

1.º Protecção dos povoamentos naturais e artificiais existentes;
2.º Criação de novos povoamentos artificiais.
65. No campo da pecuária, espera-se que as necessidades de consumo de carne previstas para 1970, calculadas em cerca de 11 156 t, sejam satisfeitas pelos efectivos pecuários da província estimados para a mesma data, neles entrando as espécies bovina, bufalina, suína, ovina e caprina.
Na verdade, em face das existências em 1965 e anos anteriores, pode concluir-se que, embora a criação e exploração do gado não se esteja a processar de modo racional:

1.º O efectivo pecuário da província é mais do que suficiente para o abastecimento da população, em carne, ao nível actual;
2.º Há possibilidade de vir a exportar quantidades consideráveis de carne;
3.º E possível alimentar indústrias de congelação ou de conservas de carne e de curtumes, a criar na província.
Evidentemente que a situação descrita e os objectivos visados impõem tomar medidas que, no seu conjunto, levam a melhorar as espécies existentes e racionalizar a criação e exploração de gado.

66. No que respeita à industrialização, refira-se em especial que a indústria de salsicharia terá viabilidade e poderá ser regularmente abastecida, tendo como base os efectivos actuais de gado suíno e prevendo-se que absorva, de início, cerca de dez cabeças por dia.

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3. Investimentos

1. Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris

67. O programa de fomento agrário a executar no período. 1968-1973 engloba: assistência agrícola, experimentação agrícola, reconhecimentos e estudos agrícolas e defesa contra a erosão.
A primeira implica a prestação de assistência técnica aos agricultores, a criação de campos de multiplicação e selecção de sementes, o combate a pragas que destroem ou danificam as culturas e a criação de quatro parques de máquinas.
A experimentação agrícola inclui a criação, apetrechamento e manutenção de seis campos experimentais.
A defesa contra a erosão compreende, além da protecção que naturalmente resulta do repovoamento florestal, a preservação das condições agrícolas, por meio da construção de terraços, sebes e culturas em faixas.

68. Em continuação do programa de fomento cafeícola em curso nos concelhos de Ermera, Liquiçá, Díli, Sarne e Ainaro, prosseguir-se-á a intensificação cultural, através da produção de sementes melhoradas, do estabelecimento de viveiros e da distribuição de plantas.
Procurar-se-á igualmente continuar a dotar as regiões produtoras de café de uma rede de instalações próprias ao beneficiamento e melhoria tecnológica do produto.
Nos primeiros três anos do Plano, e enquanto decorrerem os trabalhos de selecção e melhoramento de plantas, prevê-se a continuação do programa do estabelecimento de pequenas unidades de despolpa do café, contando-se que nos anos seguintes possa ser montada, na vila de Ermera, uma unidade central, com capacidade para despolpar entre 25 t a 30 t de cereja, servindo ainda de apoio às pequenas unidades na fase de secagem e beneficiamento ulterior, incluindo a comercialização do produto.

69. O fomento da cultura do arroz será realizado através da multiplicação e distribuição de sementes melhoradas a sair dos campos experimentais, da demonstração de técnicas culturais evoluídas a efectuar na granja piloto da brigada é em campos particulares e da introdução de alfaias aperfeiçoadas.

70. O fomento silvícola inclui no sexénio compreendido pelo III Plano o repovoamento florestal, a constituição de reservas florestais e reconhecimentos e estudos.

71. Ao analisar-se a situação actual e perspectivas de evolução do sector pecuário da província, concluiu-se que, partindo dos efectivos existentes, será possível abastecer o mercado interno de carne e ainda exportar quantidades consideráveis, quer de animais vivos, quer de carne congelada ou em conservas, sendo, neste último caso, necessária a montagem das respectivas indústrias.
Prevê-se, portanto, a par d>a assistência técnica e da distribuição, por troca, de animais seleccionados nos centros de criação de gado do Estado, a regulamentação da exploração pecuária, que abrangerá o aforamento dos terrenos de pastoreio, a fixação da proporção óptima entre animais machos e fêmeas e a perfeita comercialização.
No que se refere à exploração leiteira, em particular, pré vê-se a constituição de dois núcleos de gado Jersey para o que terão de importar-se alguns animais.

2. Esquemas de regadio e povoamento

72. Desde há longos anos que os regadios existentes na província destinados à cultura orizícola estão entregues ao agricultor, que constrói os canos e faz as várzeas por processos primitivos, conseguindo, dados os recursos que possui, verdadeiros milagres para levar das ribeiras a água que há-de regar as suas terras.
Para realização dos aproveitamentos hidroagrícolas, indicam-se a seguir os trabalhos a realizar nos próximos «nos:

1.º Conclusão de todas as obras em curso;
2.º Execução do projecto de aproveitamento das águas da ribeira de Lacló, para irrigação das baixas de Manatuto;
3.º Ampliação das obras existentes e execução de novas obras que permitam um maior e melhor aproveitamento das imensas possibilidades oferecidas por toda a bacia da ribeira de Lóis;
4.º Beneficiação das planícies adjacentes à foz de algumas ribeiras da costa norte, tais como: Laleia, Vemasse, Laivai, etc.;
5.º Estudo e execução de alguns aproveitamentos na costa sul, pela seguinte ordem: Natar-Bora ribeira de Bé-Lulic (região de Cassa), Uato-Lari e Mape (região de Beco);
6.º Estudo e execução de empreendimentos de menor vulto, mas nem por isso de menor interesse, como é o caso de Ira-Quic, Luça e outros;
7.º Nas regiões onde se executarem todas estas obras, efectuar o repovoamento florestal, tendo em vista a regularização dos cursos de água e a defesa contra a erosão do solo.

3. Crédito agrícola

73. Dentro do programa de fomento agro-pecuário a executar no período de 1968-1973, e dado o grande incremento que se está a imprimir as políticas creditícia e de investimento neste sector económico, há interesse em conceder à Caixa de Crédito Agro-Pecuário um subsídio gratuito, a sair das dotações do III Plano de Fomento, que lhe permita desempenhar uma acção relevante no desenvolvimento económico da província.

Agricultura, silvicultura e pecuária

Programa de investimentos

[Ver Quadro na Imagem].

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[Ver Quadro na Imagem].

II) Pesca

1. Evolução recente e problemas actuais

74. No que se refere a espécies com maior ocorrência nas águas de Timor, indicam-se o tubarão, a corvina, o atum, a albacora, o bonito, a garoupa, o peixe-serra, a sarda, a cavala, a sardinha, o salmonete, o linguado e a pescada, além de outros peixes de pequeno porte.
Os crustáceos - lagosta, camarão, caranguejo e sapateira - e os moluscos, com particular relevância para as ostras, completam o quadro geral das espécies mais frequentes.
As águas timorenses estão incluídas na área de alta produtividade biológica, pelo que há razões para se crer que a província dispõe de certas potencial idades piscatórias ainda não aproveitadas.
75. A actividade da pesca é desenvolvida pelos autóctones mediante a utilização de processos muito rudimentares, como rudimentares são as embarcações e os aparelhos que utilizam na sua faina.
Esteve, porém, em Timor uma missão para o estudo da pesca, pelo que se espera melhorar tal situação, tendo já sido iniciados trabalhos nesse sentido.
Os centros piscatórios localizam-se todos na costa norte, onde, de modo geral, as condições de tempo são favoráveis durante todo o ano.
O produto da pesca é normalmente consumido em fresco.

2. Objectivos

76. Os estudos efectuados e a experiência e o conhecimento já existentes não são de molde a possibilitarem a planificação e o lançamento de um programa de grande escala, antes aconselham a realização de programas experimentais, que, para serem adaptados às actuais possibilidades da província, terão forçosamente de ser modestos na sua finalidade, sobretudo tendo em conta que as necessidades de consumo interno de peixe fresco foram calculadas, para o final do III Plano, em cerca de 21 000 t anuais e que o volume de capturas não excedeu as 80 t em 1965.
Prevê-se que, em resultado das medidas convenientes, o volume anual médio de capturas por pescador se eleve dos 0,3 t actuais para cerca de 5 t em 1973.

77. A falta de conhecimentos, de experiência e de possibilidades financeiras dos actuais artesãos da pesca exige que toda uma organização que vai da faina piscatória até à comercialização, passando pela armazenagem, seja montada e estruturada pelo Estado, sob cuja orientação funcionará tanto tempo quanto o necessário à preparação do pessoal orientador e dirigente das cooperativas a criar, que se prevê venham a substituí-lo, embora não dispensem a sua ajuda na orientação da pesca e actividades afins.

78. O meio mais rápido e seguro para levar este sector económico até um grau de desenvolvimento compatível com as necessidades e aspirações da província, traduzidas na satisfação integral do consumo interno e na exportação de excedentes consideráveis, seria a criação de empresas de pesca com fins industriais.
Caso não venham a ser constituídas empresas de pesca e os resultados do programa de pesca artesanal se mostrem encorajadores, considera-se, em princípio, que talvez nos últimos anos do Plano haja conveniência em adquirir uma embarcação com possibilidades para a prática da pesca industrial.
79. O fomento piscícola em tanques de cultura espalhados pelo interior é outro objectivo a considerar, como reforço da acção a empreender no que se refere à exploração dos recursos marinhos. Espera-se, para tanto, o apoio e a orientação técnica dos Centros de Biologia Aquática e Tropical e de Bioceanologia e Pescas do Ultramar.

80. O processo de modernização da pesca artesanal, pela introdução de barcos motorizados e de novos métodos e artes de pesca obriga a que se encare, durante o Plano, a formação de pessoal. Prevê-se com esse fim o funcionamento de cursos de arrais de pesca costeira e de motoristas auxiliares.

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81. Conta-se que em 19G8 possa ficar concluído o bloco frigorífico de Díli.

3. Investimentos

1. Pescas

82. O programa a executar nesta rubrica inclui, fundamentalmente, a construção e apetrechamento de embarcações e a aquisição de aparelhos e artes de pesca.
Prevê-se que nos primeiros anos do Plano sejam construídas embarcações, do tipo das recomendadas pela F. A. O. para países subdesenvolvidos da África e da Ásia, em número suficiente para equipar a pesca artesanal. Nos últimos anos, e de acordo com a evolução e progressos dos pescadores, prevê-se que possa iniciar-se a construção de embarcações de maior porte e convenientemente apetrechadas para a pesca industrial.
Paralelamente, e do mesmo modo, as dotações dos primeiros anos serão aplicadas para equipar a pesca artesanal com redes de diversos tipos e artes compatíveis com as suas dimensões.
Nos últimos anos prevê-se, então, a aquisição de redes de cercar para bordo, que deverão equipar as embarcações de pesca com fins industriais.

2. Instalação frigorífica

83. Estando previsto o início da construção e equipamento do bloco frigorífico a montar em Díli e ainda a instalação das primeiras camarás frigoríficas, o programa que se prevê realizar durante o Plano de. Fomento consistirá em continuar a execução dos empreendimentos já referidos, de modo que, u medida que vão aumentando as capturas, se vá dispondo das necessárias instalações em terra que permitam a conservação e distribuição do pescado.

Pesca

Programa de Investimentos

[Ver Quadro na Imagem].


III) Indústrias extractivas e transformadoras

1. Evolução recente e problemas actuais

84. Pelo relatório dos resultados das pesquisas minerais efectuadas pela Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, L.da, ao abrigo do contrato celebrado em 26 de Outubro de 1964 entre esta empresa e a província de Timor, concluiu-se que, não havendo razões para considerar de interesse quaisquer eventuais ocorrências de ferro e zircónio que venham a detectar-se, e sendo os resultados de eventual prosseguimento de estudos relativos ao crómio demasiado problemáticos para que sejam aceitáveis, o interesse mineiro das áreas concessionadas na província fica circunscrito ao manganês.
Por outro lado, inúmeras emanações na província levaram a supor a existência de petróleo económicamente explorável.
Na indústria transformadora estão actualmente em laboração unidades rudimentares de fabrico de sabões, descasque de arroz, tabaco, refrigerantes, álcool e extracção de óleo, todas de baixa produtividade.

2. Objectivos

85. Uma vez que a empresa concessionária das explorações mineiras apenas encontrou motivo de interesse na possível exploração de manganês, com base na sua utilização para fins químicos, que não metalúrgicos, os objectivos a atingir devem consistir na extracção daquele minério, de acordo com as possibilidades das mineralizações ocorrentes.
Em relação a hidrocarbonetos, prevê-se a continuação das prospecções e estudos a cargo da empresa concessionária.
Têm-se ainda como metas a alcançar durante o III Plano, no que se refere a indústrias extractivas, a realização de estudos de pedreiras de mármore e outros materiais com vista ao seu aproveitamento, a reorganização da indústria de fabrico de cal, a continuação da remodelação da indústria de cerâmica e a montagem da indústria de extracção e refinação de sal.

86. Insere-se uma lista das indústrias transformadoras cuja criação ou reorganização se considera necessário operar-se no decurso do III Plano de Fomento:
Matança de gado; preparação e fabrico de conservas de carne; fabricação de gelados e sorvetes; fabricação de sumos de frutos e de produtos hortícolas e respectivos concentrados; congelação e secagem de peixe e outros produtos da pesca; moagem de farinhas espoadas; descasque, branqueamento e glaciagem do arroz; descasque e beneficiamento do café; panificação; fabricação de bolachas e biscoitos; produção e refinação de óleos alimentares, com excepção do azeite; torrefação; preparação das

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folhas do chá; fabricação de gelo; refinação de sal; produção de álcool (aproveitamento de matérias-primas da província), produção de aguardentes não preparadas, produção de licores e outros espirituosos; produção de refrigerantes; indústria do tabaco; fabricação de calcado de coiro e pele; fabricação de alpergatas; reparação de calçado; alfaiataria de homem e senhora; fabricação de artigos de vestuário não especificados; serração de madeira, carpintaria, fabricação de mobiliário do madeira e operações conexas; fabricação de mobiliário de vime e de junco; tipografia e encadernação; indústria de curtimenta; recauchutagem, rechapagem e vulcanização; produção de óleos de sementes e de frutos oleaginosos não alimentares; fabricação de sabões, detergentes e outras substâncias tensoactivas e suas preparações; preparação de- colas, grudes e gelatinas; fabricação de materiais de barro para construção; olaria; fabricação de cal; fabricação de matérias e embalagens metálicas.

Para além destas, há ainda a considerar algumas produções obtidas em regime de artesanato, como é o caso da tecelagem de panos de algodão, execução de trabalhos diversos em prata e chifre, olaria, cestaria, etc. Uma referência especial cabe aqui à indústria de confecção de mobiliário, que tem registado um desenvolvimento e aperfeiçoamento tais que satisfaz já perfeitamente o mercado interno, podendo mesmo, em breve, pensar-se na exportação.

3. Investimentos

1. Indústria extractiva

a) Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce

87. Ainda em 1967 serão iniciados os trabalhos de prospeção e captação de água no planalto de Fuiloro, com vista ao abeberamento e apascentação dos gados, cuja exploração racional e intensiva ali se pretende levar a efeito.
A par dos trabalhos a realizar no referido planalto de Fuiloro, outros de menor envergadura se pretende executar tendo em vista o abastecimento de água de povoações.

b) Fomento mineiro

88. A escassez de pessoal técnico e a falta de elementos positivos constituem limitações em Timor para a execução do programa do fomento mineiro. Julga-se, no entanto, que durante o III Plano poderão ser estudados alguns jazigos minerais já conhecidos, tendo em vista o apuramento da viabilidade económica da sua exploração.
No respeitante a petróleo, admite-se que, ao abrigo de contrato a celebrar com a concessionária do exclusivo de pesquisas, venham a ser feitos investimentos cujo montante se não pode ainda calcular.
Prevêem-se ainda estudos de pedreiras de mármores e outros materiais e a reorganização da indústria de fabrico de cal.

2. Indústrias transformadoras

a) Estudos

89. A efectivação de estudos tão completos quanto possível para cada uma das indústrias a criar ou reorganizar é o objectivo que se tem em vista atingir.

b) Ampliação, renovação e criação de novas indústrias

90. A pretensão de se melhorar a situação de Timor no que se refere à indústria transformadora e as vantagens de se financiarem empreendimentos industriais que interessem à economia interna e que não atraiam completamente os capitais privados implicaram a necessidade de no III Plano de Fomento se preverem meios financeiros que permitam ao Estado desempenhar uma função activa no fomento industrial, quer através da concessão de crédito, quer através de participação nó capital social das empresas, quer ainda através de apoio legislativo e fiscal.

Indústrias extractivas e transformadoras

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

IV) Construção, obras públicas e melhoramentos rurais

91. Os problemas respeitantes a este sector não foram abordados autonomamente, tendo sido considerados nos aspectos relevantes no capítulo VIII «Habitação e melhoramentos locais».

V) Energia

1. Evolução recente e problemas actuais

92. As características do irregular caudal das ribeiras, quase todas sem água na época seca, e a inexistência de quedas de água naturais e permanentes susceptíveis de aproveitamento hidroenergético, levam a classificar em níveis muito modestos os recursos desta natureza existentes na província. Crê-se, no entanto, que Baucau e Ossu venham a oferecer possibilidades de produzir cerca de 500 kW.
Estão em curso negociações com o Banco Nacional Ultramarino para a concessão de um empréstimo que permitirá ampliar a central eléctrica de Díli, a qual dispõe de dois grupos geradores de tipo Diesel e uma potência unitária de 278 k W, insuficiente.
Actualmente, a rede de distribuição, a 6000 V, alimenta oito postos de transformação, com uma potência total instalada de cerca de 700 kW.

2. Objectivos

93. Prevê-se que. em continuação do programa executado durante o Plano Intercalar de Fomento, sejam electrificadas mais algumas povoações do interior, sedes de concelho.
Tendo em atenção que se espera, para além do seu próprio aumento natural, um considerável acréscimo de consumo, provocado pela entrada em funcionamento do novo centro de telecomunicações, com um gasto que se calcula em 200 kVA, pela montagem da indústria do frio (regularização do abastecimento interno do pescado), e pela criação de algumas indústrias transformadoras que começam já a suscitar o interesse de particulares, o problema do fornecimento de energia eléctrica a Díli é muito importante.

3. Investimentos

94. O facto de os consumos de energia não justificarem a realização de obras à escala provincial ou mesmo regional aconselha que o abastecimento de energia eléctrica seja feito por meio de aproveitamentos locais, sujeitando-os, no entanto, às características de uniformidade que permitam no futuro a integração de conjuntos regionais no conjunto provincial.
Também o actual edifício da central de Díli apenas poderá comportar mais um grupo de capacidade igual à dos existentes, o que não permite resolver o problema para além do momento actual; prevê-se assim a remodelação da central por forma a adaptá-la às exigências dos consumos actuais e dos que venham a surgir num período de 10 a 20 anos. Haverá que ampliar o edifício da central, equipá-la com grupos cuja potência some 3000 kVA, substituir o quadro eléctrico existente e remodelar a rede de distribuição em alta e baixa tensão.

Energia

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

VI) Circuitos de distribuição

1. Evolução recente e problemas actuais

95. O licenciamento comercial foi já regulamentado. As exigências relativas à . especialização comercial referem-se, por enquanto, apenas à cidade de Díli. Poderão, no entanto, mesmo nesta cidade, ser concedidas autorizações para o exercício do comércio em mais do que um dos ramos, desde que as necessidades de abastecimento local ou a regularidade do mercado o recomendem.

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2. Objectivos e investimentos

1. Comercialização e armazenagem

96. Dentro da política de apoio ao sector agrícola, têm sido postas em prática algumas medidas de comercialização dos excedentes, com base no seu escoamento a preços que compensem os esforços das populações e encorajem os agricultores a aumentar a produção.
Com estas medidas, que garantem ao produtor a compra a um preço mínimo estabelecido oficialmente, tem-se evitado o aviltamento nos preços resultante de especulações da procura ou da produção de excedentes.
Prevê-se durante o III Plano a ampliação e aperfeiçoamento do sistema de comercialização que vem sendo seguido e que necessita de ser completado por uma razoável e eficiente rede de armazenagem.

2. Rede de frio

97. Prevê-se a montagem de câmaras frigoríficas em todos os núcleos pesqueiros que as justifiquem, bem como a criação de transportes apropriados, dotados igualmente de câmaras frigoríficas, que tornem possível a distribuição do peixe pelos mercados consumidores.

Circuitos de distribuição

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

VII) Transportes e comunicações

1. Evolução recente e problemas actuais

98. A rede rodoviária - constituída por 1956 km de estradas, em que estão incluídos 655 km de itinerários principais -, embora de extensão adequada às dimensões de província, não corresponde, no seu estado actual, às necessidades de Timor.
Difìcilmente transitáveis na época seca, as estradas tornam-se quase impraticáveis no período das chuvas: as numerosas ribeiras que constituem o sistema hidrográfico da ilha transformam-se em torrentes, dificultando as comunicações, tanto ao longo da costa como entre as zonas férteis do Sul e os principais centros consumidores do Norte.

99. Portos.-Dotado de um cais acostável para navios de longo curso, o porto de Díli tem um movimento anual de carga da ordem de 20 000 t.
Porto de acesso das mercadorias importadas, por ele se escoa também quase toda a produção das ricas áreas do café - a região de Ermera e a zona norte do concelho de Suro.
O navio Arbiru, com cerca de 400 t e calando aproximadamente 3,2 m, assegura a ligação, entre si, dos pequenos portos da província, e destes com o porto principal de Díli.

100. Aeródromos. - A. rede da província é constituída por um aeroporto em Baucau e por pistas de aterragem em Dilí, Oé-Cusse, Ataúro, Suai, Maliana, Same, Fuiloio e Viqueque. Apenas o aeródromo de Baucau, com uma pista asfáltica de 2500 m, oferece condições para ser escalado por aviões de qualquer tipo, desde que as condições de visibilidade o permitam, pois não existem quaisquer ajudas terrestres.
As restantes pistas, cuja extensão varia entre 800 m e 1500 m, são de terra batida, não oferecendo garantias para o regular funcionamento dos transportes. Quanto a material de voo, Timor dispõe de dois aviões Dove e de três Auster (com a capacidade respectiva de oito lugares ou 800 kg de carga e de dois lugares ou 150 kg de carga), e ainda de dois aviões Cub, o que, dado o aumento progressivo do tráfego aéreo, não satisfazem já as exigências da província.

2. Objectivos

b) Transportes rodoviários

101. Para a movimentação, em boas condições, das mercadorias de produção local, tem-se como objectivo a atingir a construção de 80 km de estrada em cada ano Plano.
Pretende-se obter ligações satisfatórias, em qualquer estação, entre os principais centros da costa norte, prevendo-se, em primeiro lugar, a conclusão da estrada Díli-Loré. Seguidamente serão construídas as transversais que ligam à costa norte os centros produtores da costa sul, servindo simultâneamente as zonas do café e da borracha.
A execução das obras pressupõe a adequada dotação da Brigada de Estudos e Construção de Estradas e Pontes e a existência do pessoal e equipamento mecânico necessários.

2. Portos e navegação

102. Ao iniciar-se o III Plano de Fomento estará concluído o porto de Díli, infra-estrutura basilar para o desenvolvimento económico da província.

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Concebido para uma capacidade de 180 000 t anuais, movimentou em 1965 apenas 20 000 t, prevendo-se assim que possa satisfazer durante muitos anos as necessidades da província.
No que se refere aos pequenos portos, cujos trabalhos topo-hidrográficos se encontram quase concluídos, faltando apenas recolher alguns elementos referentes à ondulação, não se prevê a construção de cais acostáveis durante o próximo Plano.
Abre-se uma excepção para o pequeno porto de Pante Macassar, no enclave de Oé-Cusse, que se admite venha a ser dotado com obras acostáveis ligeiras ou com cais flutuantes que permitam a atracação de barcos ou batelões.
Afigura-se também de grande necessidade o estabelecimento de um pequeno porto na ilha de Ataúro.
No que respeita aos meios marítimos, eles exigem, para a sua conservação e reparações, um plano inclinado (em Díli) e apetrechamento, além de oficinas e edifícios diversos.

3. Transportes aéreos e aeroportos

103. A descontinuidade territorial do Oé-Cusse e da ilha de Ataúro, o facto de outras regiões ficarem isoladas nas épocas chuvosas, as deficiências do sistema rodoviário e a irregularidade dos transportes por mar conferem aos transportes aéreos uma importância excepcional no contexto económico e político da província.
Contando que as ligações com o exterior continuem a ser feitas por empresa australiana, o objectivo primeiro a atingir, no que se refere a material de voo, é dotar os serviços de transportes aéreos dos meios que lhes permitam satisfazer em pleno as necessidades da província. Deste modo haverá que prever, no mínimo, a aquisição de um avião com capacidade para vinte lugares.
Em infra-estruturas terrestres, os objectivos a atingir estão, em princípio, condicionados pela orientação definida para pequenos aeroportos, que é função dos aviões que se deverão utilizar.
Relativamente ao novo aeroporto de Díli, cuja construção deverá ser iniciada em 1967, na região de Madoi, prevê-se dotá-lo de características que lhe permitam vir a constituir o término de ligação com a Austrália.
No que se refere a ligações externas, crê-se que é de manter o actual sistema de fretamento semanal de um avião australiano, pois esta parece constituir a solução mais económica e mais segura. Torna-se necessário melhorar e ampliar as instalações do aeroporto de Baucau.

4. Telecomunicações

104. Prevendo-se que ainda no período do Plano Intercalar de Fomento fique montado e a funcionar o novo centro de telecomunicações em Díli, estão os objectivos a atingir com o III Plano circunscritos à montagem de uma central telefónica automática em Díli, incluindo também o melhoramento da respectiva rede, ao melhoramento da rede telefónica geral da província e ao aperfeiçoamento do serviço postal, incluindo a criação de ambulância postal.

3. Investimentos

1. Transportes rodoviários

105. O programa a executar no período 1968-1973 consistirá no prosseguimento da execução das obras rodoviárias da província já definidas, importando apenas estabelecer uma ordem de prioridade de acordo com o ritmo de desenvolvimento que se prevê para cada uma das regiões servidas pelas estradas principais.
Assim, pré vê-se a construção de:

160 km na estrada Díli-Tibar-Ermera-Atsabe-Bobonaro-Maliana;
130 km na estrada Díli-Aileu-Maubisse-Same-Betano;
109 km na estrada Baucau-Venilale-Ossú-Viqueque-Beaço;
150 km na estrada Díli-Loré.

Nesta última foram já construídos (rectificados e melhorados) cerca de 30 km, estando mais 13 km em construção.
Prevê-se ainda a aquisição do seguinte equipamento mecânico, indispensável à execução das obras referidas e ao funcionamento das brigadas de conservação: três tractores D7 com bulldozer e escarificador, dois moto-crapers (médios), duas motoniveladoras, quatro carregadoras, quinze camiões basculantes, quatro betoneiras, três compressores, um cilindro, quatro camiões-tanques e acessórios e sobresselentes.
Não esquecendo que a construção exige conservação, prevê-se, para este efeito, a criação e construção de quatro zonas de conservação de estradas, cada uma equipada com o seguinte material: uma motoniveladora, um camião de 61, um cilindro pequeno, um camião-tanque, uma betoneira pequena, material diverso e sobresselentes.
Por seu lado, a manutenção dos meios de transporte terrestres exige a montagem, em cada sede do concelho, de uma pequena oficina tendo anexos depósitos de combustíveis. Preconiza-se ainda a aquisição de dois prontos-socorros para Díli.

2. Portos e navegação

106. As obras a executar no porto de Díli durante o III Plano constituem melhoramentos complementares, de que sobressai a conclusão do plano inclinado para reparação de pequenas embarcações e a montagem de uma oficina naval anexa, destinada à conservação e reparação de embarcações, cujo número se prevê venha a aumentar consideràvelmente.
Embora a aquisição do rebocador para auxiliar as manobras dos navios venha a dar a estas uma segurança aceitável, podendo assim dispensar-se o elevado custo de remoção do banco de coral que dificulta a entrada no porto, achou-se conveniente, prevenindo qualquer eventualidade de a situação se vir a agravar, incluir no III Plano uma dotação destinada a dragagens.
Algum equipamento se considera ainda necessário.

107. As obras a executar nos pequenos portos limitam-se à construção de rampas em alvenaria, que permitam às barcaças varar em quaisquer condições de maré. Relativamente ao porto de Macassar, prevê-se a conclusão das obras acostáveis ligeiras. Tem-se ainda como absolutamente indispensável a construção de pequenas instalações acostáveis na ilha de Ataúro.
No que se refere a navegação, e a fim de melhorar as condições de segurança nos pequenos portos, prevê-se a construção de enfiamentos e marcas e a balizagem de baixios.

108. Foi já adquirida uma barcaça, que está em serviço, para garantir as carreiras regulares entre os portos

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da costa norte, a ilha de Ataúro e o encïave de Oé-Cusse. Está também encomendada uma outra.
Considerando que o navio Arbiru ao findar o III Plano de Fomento já atingiu mais de metade da sua vida útil, prevê-se a aquisição de um novo navio, de tonelagem um pouco superior, a fim de garantir as ligações com os portos da costa sul e ainda com o exterior, nomeadamente Macau, Austrália e Singapura.

3. Transportes aéreos e aeroportos

109. Haverá que promover a substituição dos aviões Dove existentes por dois aparelhos que, entre outras condições, possam transportar cerca de vinte passageiros.
No que se refere a aeroportos, há que concluir as obras no aeroporto de Baucau e construir um novo aeroporto internacional perto de Díli.
Quanto aos aeródromos da rede interna, prevê-se a introdução de melhoramentos nas pistas, por forma que possam ser utilizadas em condições satisfatórias.

4. Telecomunicações

110. Prevê-se:

a) Concluir a montagem da estação telefónica automática de Díli e da respectiva rede;
b) Construir o edifício receptor do centro de telecomunicações;
c) Remodelar a rede telefónica do interior;
d) Completar a rede de rádio interurbana;
c) Construir estações dos correios, telégrafos e telefones nas localidades mais importantes do interior;
f) Criar ambulâncias postais para transporte e distribuição de correio.

5. Radiodifusão

111. Previram-se para o III Plano realizações que hão-de permitir, à emissora de radiodifusão, cumprir cabalmente a sua missão cultural. Nele se incluem a construção de instalações definitivas e a aquisição de equipamento que lhe permita uma cobertura eficaz de toda a província e o aumento de período diário de emissão.
Prevê-se assim que, no III Plano, a emissora regional seja dotada com edifício próprio adequado às suas funções, considerando-se igualmente a ampliação das actuais instalações, por forma a poderem comportar, a partir de 1968 e enquanto não for construído aquele edifício, o novo aparelho emissor.
No que se refere a equipamento, conta-se com a aquisição de vário material de estúdio, incluindo mobiliário, prevendo-se igualmente a aquisição de um emissor de 250 kW de frequência modulada, destinado a cobrir a área de Díli, de um amplificador de 4 kW para acopular ao emissor de 1 kW actualmente existente, de antenas e de alguns acessórios e sobressalentes.
Relativamente a manutenção e reparação do material, reputa-se fundamental a montagem de uma pequena oficina.

Transportes e comunicações

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

VIII) Habitações e melhoramentos locais

1. Habitação

1. Evolução recente e problemas actuais

112. A. construção de habitações não tem merecido o interesse de particulares e sómente o Estado vem chamando a si a resolução do problema habitacional.
O número de residências para funcionários, quer em Díli, quer no interior, tem aumentado de ano para ano. No entanto, dada a grande disparidade ainda existente entre o número de funcionários e o de casas disponíveis, há necessidade de manter um bom ritmo de construção nos anos mais próximos, pelo que foi criado o Fundo de Habitações Económicas, com autonomia financeira, destinado a promover a construção e a assegurar a administração de habitações económicas.

2. Objectivos e investimentos

113. Poder-se-ão desdobrar as necessidades habitacionais em três grupos, a saber:
1.º Habitações propriedade do Estado e destinadas aos seus servidores, quer em- Díli, quer no interior, totalmente custeadas pelo Plano de Fomento;
2.º Habitações destinadas a servidores dos organismos estatais e paraestatais ou a autoridades regionais, em sistema de propriedade resolúvel, e financiadas, total ou parcialmente, pelo Fundo de Habitações Económicas, através de subsídios do Plano de Fomento, do orçamento ordinário da província e dos organismos corporativos;
3.º Habitações destinadas a outras camadas sociais

2. Melhoramentos locais

114. A falta de estudos e projectos relativamente a abastecimento de água das povoações, a saneamento urbano e a urbanização dificulta a estruturação de um programa de empreendimentos concretos a executar.
No entanto, poder-se-á referir que, no que respeita a abastecimento de água, eles serão executados de acordo com a capacidade de realização da província e segundo a ordem de importância das povoações.
Relativamente a saneamento, será concedida prioridade à cidade de Díli, estando o escalonamento dos trabalhos a realizar dependente do projecto em elaboração.
Fazendo parte do programa de melhoramentos na capital, prevê-se a continuação da asfaltagem das ruas e o arranjo de passeios, largos e jardins.
Para outras povoações, nada foi ainda estudado.
Em urbanização, pretende-se continuar o programa de elaboração de planos para todas as localidades sedes de concelho ou de posto administrativo, em curso nos serviços de obras públicas, aos quais se deverão subordinar as obras futuras.

Habitação e melhoramentos locais

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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IX) Turismo

1. Evolução recente e problemas actuais

115. Timor possui condições naturais favoráveis à exploração turística, tais como estâncias termais, cascatas, festas regionais, estações pré-históricas e policromia paisagística, constituindo motivo de atracção para os turistas australianos que a têm visitado.
A fraca infra-estrutura existente tem dificultado o desenvolvimento desta importante fonte de divisas.
Com esta ideia sempre presente, empreendeu o Governo a execução de um programa de fomento turístico, fundamentalmente com a construção de alojamentos, criação de divertimentos e montagem de um sistema eficiente de transportes internos.
Regista-se que o Governo, à custa de incentivos de todo o género e de algum apoio financeiro, tem obtido a cooperação de algumas entidades privadas, seja no aspecto de construções hoteleiras e de habitações residenciais, seja no que se refere a transportes na capital ou no interior.
Com a publicação do Diploma Legislativo n.º 720, que cria o quadro privativo do Centro de Informação e Turismo, passa-se do amadorismo ao profissionalismo indispensável para que se possa dispor de pessoal permanente e capaz.

2. Objectivos

116. O desenvolvimento desta indústria, baseado na atracção que as belezas naturais da ilha possam exercer na população australiana e de outras regiões vizinhas, com as entradas de invisíveis que se espera venha a proporcionar, poderá constituir um dos mais poderosos elementos equilibradores da deficitária balança comercial da província.

3. Investimentos

117. O programa de fomento turístico para o período compreendido entre 1968 e 1973 engloba, fundamentalmente: realizações tendentes a aumentar e alargar a rede hoteleira da província, concedendo empréstimos reembolsáveis a particulares que se mostram interessados na construção de hotéis, pousadas, restaurantes, etc.; acção a empreender para o desenvolvimento do artesanato local, cuja produção começa a ter procura considerável entre os turistas; criação de divertimentos, pela construção de campos de ténis, parques de campismo, aquisição de barcos de recreio e de pesca desportiva; introdução de melhoramentos nas praias que servem zonas onde se espera uma maior afluência turística; comparticipação no arranjo de troços de estradas que beneficiam pontos de interesse turístico, etc.
Além dos investimentos públicos a efectuar com finalidade turística, os particulares o empresas comparticiparão nas realizações de turismo, em particular na construção hoteleira e na aquisição de material de transporte e barcos de recreio.

Turismo

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

X) Educação e investigação

1. Evolução recente e problemas actuais

118. Compulsando os elementos estatísticos existentes, verifica-se que, de uma população em idade escolar que se cifra à volta das 94 000 crianças, cerca de 20 por cento frequentam as escolas.

119. Apresenta-se a seguir um quadro que dá uma ideia da distribuição, por concelhos e circunscrições, da população em idade escolar, da parte desta que frequenta escolas e dos professores e monitores que ministram o ensino (1964-1965).

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[Ver Tabela na Imagem]

(a) Concelho recentemente criado, pelo que não se dispõe de dados.

Confronta o número de alunos propostos a exame da 4.ª classe no ano lectivo de 1964-1965 com o total dos que frequentavam escolas, verifica-se que apenas cerca de 1,5 por cento destes estavam em condições de prestar aquelas provas.

120. No quadro seguinte indica-se, para cada estabelecimento de ensino secundário, a frequência de alunos e o número de professores:

[Ver Tabela na Imagem]

121. No ano lectivo de 1964-1965 a província dispunha, para o ensino primário,, de 147 salas de aula de construção definitiva, assim distribuídas:

[Ver Tabela na Imagem]

A par destas, funcionam inúmeras escolas em edifícios de construção provisória, sobre cujo número não se dispõe ainda de elementos.
Pelo que respeita a escolas em edifícios de construção definitiva, todas elas estão de um. modo geral bem mobiladas, sendo no entanto bastante deficiente o seu apetrechamento em material didáctico.

122. A província dispõe actualmente de um liceu, uma escola técnica industrial e comercial, uma escola de professores de posto escolar, um seminário e uma escola técnica de enfermagem, todos localizados em Díli, além de uma escola elementar de agricultura e de uma escola de artes e ofícios.

2. Objectivos

123. Prevê-se que possa ser mantido o actual ritmo de construções escolares primárias, quer do Estado, quer das missões católicas.
Relativamente ao ensino secundário, prevê-se a ampliação do liceu de Díli, a conclusão da escola industrial e comercial e seu apetrechamento e a aquisição de equipamento para a escola elementar agrícola e para a escola de professores de posto escolar.
Tendo em vista debelar em alguma medida o problema do alojamento de alunos do interior que frequentam estabelecimentos de ensino em Díli, prevê-se a ampliação do lar feminino e a construção, de idêntico lar para rapazes.
Prevê-se também a concessão de subsídios destinados à ampliação e construção de internatos no interior, a cargo das missões católicas.
Encara-se ainda como possível a construção de um edifício destinado a servir de sede aos comissariados da Mocidade Portuguesa (masculina e feminina) e a criação de uma escola de artes e ofícios.
No que se refere a pessoal docente aos vários níveis e auxiliar, conta-se poder dispor dos elementos necessários - vindos da metrópole e de outras províncias ultramarinas ou preparados localmente - para que se possa tirar completo rendimento das construções e equipamento escolar que ficaram considerados.
Aspecto a encarar no decurso do III Plano de Fomento é o que se relaciona com a assistência às crianças em idade escolar, fornecendo, aos mais necessitados alimentação, roupas, material escolar, criando-lhes assim boas condições de estudo.

3. Investimentos

1. Educação

124. Relativamente ao ensino primário, julga-se desejável e possível aumentar a frequência de 8000 alunos em cada ano, atingindo-se em 1973 um acréscimo total de 100 por cento sobre o actual número de alunos.
Este aumento de escolaridade implicará, em cada ano, a construção de 30 salas de aula e a preparação de três professores com o curso de magistério primário, 30 professores de posto escolar e, Sendo necessário, 6 monitores de utilização temporária.

125. No que se refere ao ensino secundário prevê-se.

Elevar a frequência do liceu, dos seus actuais 500 alunos para 650, aumentando o número de alunos que frequentam o curso normal e diminuindo a frequência do curso extraordinário;
Levar a frequência da escola industrial e comercial até aos 350 alunos;

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Manter em 120 alunos o total da frequência da escola de professores de posto escolar;
Aumentar progressivamente, de acordo com as necessidades da província, a frequência da escola elementar agrícola;
Funcionamento de uma escola de artes e ofícios;
Realização de uma campanha de educação de adultos, fazendo apelo às técnicas de desenvolvimento comunitário com vista à formação social dos indivíduos, ao melhor aproveitamento das potencialidades humanas das comunidades e à valorização dos investimentos humanos;
Difusão da língua portuguesa mediante adequada política de colaboração com o sistema escolar próprio da comunidade chinesa.

126. Relativamente ao ensino médio e superior, as necessidades terão de ser satisfeitas fora da província, prevendo-se para isso a concessão de bolsas de estudo orientadas no sentido dos cursos que mais possam contribuir para o desenvolvimento económico e social de Timor.
Durante os seis anos da vigência do Plano, a concessão de bolsas de estudo terá em vista beneficiar estudantes que, no futuro, possam vir a preencher as necessidades de pessoal técnico da província.

127. Melhorar e ampliar as possibilidades de alojamento dos alunos do interior que em Díli frequentam o ensino secundário é mais um objectivo a atingir. Prevê-se, assim, além do aumento da capacidade do lar feminino, construir na capital um lar destinado a rapazes e contribuir financeiramente para a instalação de novos internatos, a cargo das missões católicas, no interior.

128. A par de todas as medidas que se podem considerar de carácter geral, conta-se com o esforço particular de cada um dos serviços técnicos, no sentido de continuarem a preparar o próprio pessoal de que necessitam.

2. Investigação não ligada ao ensino

a) Cartografia geral

Cartografia especial

129. A carta geográfica de Timor em l:50 000 ficará concluída em 1967, prevendo-se que ainda no ano em curso se possa dispor das folhas correspondentes à área compreendida entre a fronteira com o Timor indonésio e o meridiano que passa por Manatuto.
Embora uma carta na escala indicada seja um elemento valioso como base para determinados estudos a levar a efeito em outros sectores, não se presta à representação pormenorizada de certas áreas cujo estudo se pretende mais pormenorizado.
Com vista ao aproveitamento hidroagrícola, onde se torna imprescindível, para o bom êxito das realizações, que sejam efectuados levantamentos na escala 1:10 000 e superiores, esperando-se que as áreas a levantar totalizem cerca de 100 000 ha, prevê-se a elaboração de uma carta geral na escala l:500 000, a obter por redução da carta 1:50 000, o que implica a aquisição de materiais, operações fotogramótricas de redução, a gravação de matrizes e a impressão das duas folhas em que a carta será representada.
Enquanto não forem constituídos ou criados os serviços geográficos e cadastrais de Timor, haverá que continuar com a organização do cadastro geométrico da propriedade, começando pelas áreas anexas aos núcleos populacionais mais importantes.
Tendo em vista a execução destes trabalhos e procurando debelar, em alguma medida, a falta de pessoal especializado, prevê-se o funcionamento de um curso rudimentar de topografia.

Carta geológica

130. Os estudos geológicos existentes sobre Timor foram limitados a determinadas zonas de interesse sobretudo mineiro.
Impõe-se, portanto, a elaboração de uma carta geológica da província em escalas a definir.
Se os serviços de geologia e minas, já criados, não forem constituídos em breve, a elaboração da carta geológica será tarefa a cometer à Junta de Investigações do Ultramar.

b) Hidrologia

131. O conhecimento das potencialidades hidrológicas exige a verificação contínua do comportamento das ribeiras, para o que a província dispõe de dois técnicos hidrometristas.
Pretende-se assim que durante todo o III Plano possam ser colhidos elementos úteis no que se refere ao estudo de algumas ribeiras, entre as quais se apontam:

1.º Aquelas que, correndo na área circundante de Díli, ameaçam, com as suas enxurradas torrenciais, a segurança de certas zonas da cidade. Estão neste caso as ribeiras de Cômoro e Malua a oeste de Díli e as de Lahane, Taibesse, Bene-
-Mauc e Bé-Mori a sul e leste da cidade.
2.º Aquelas onde estão em execução ou projectadas obras de pontes ou de aproveitamentos hidroagrícolas. Este grupo inclui as ribeiras de Lacló, Manoledo, Seiçal, Lóis e seus afluentes Buloloho e Nunura, Laleia, Vemasse, Sarim, Oé-Clereque (Oé-Berec) e ainda outros cursos de água mais pequenos, como Lete-Foho, de Same, cujo aproveitamento esteja previsto.

c) Meteorologia Previsão do tempo

132. Em Timor ainda não se faz previsão do tempo, serviço de que dispõem as regiões vizinhas, Austrália e Indonésia, e desnecessário se torna encarecer a utilidade de tal serviço para a navegação aérea e marítima, para outras actividades ligadas à agricultura, pecuária e pesca, e ainda para o público em geral.
A recolha de elementos que habilitem o Serviço Meteorológico de Timor a fornecer informações desta natureza obriga a encarar a instalação de um serviço de previsão do tempo que disponha de cartas meteorológicas e outras informações de base, acerca de uma vasta região em redor da província, recebidas através de um sistema próprio de telecomunicações.
Prevê-se que a recepção de cartas e outro material em forma gráfica, processados e difundidos por centros para tal fim designados pela Organização Meteorológica Mundial, seja feita por telecópia, uma vez que esta parece ser á solução mais eficiente e económica.
Haverá, assim, que contar com a aquisição de duas estações de recepção em telecópia, que receberão programadamente as emissões que interessam.

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Material meteorológico

133. A. inexistência, nas estações do interior ou no Observatório de Díli, de aparelhos que se consideram fundamentais e o mau estado de outros, que necessitam de ser substituídos, leva a que se encare a aquisição de anemógrafos Dines, um anemómetro eléctrico e um teodolito para sondagens aorológicas.

d) Investigação aplicada à agricultura

Cartas de solos

134. Concluída, durante o período do Plano Intercalar de Fomento, a carta geral de solos, o programa para o III Plano incluirá a elaboração de cartas parciais referentes a determinadas zonas de que se prevê o aproveitamento agrícola, silvícola ou com fins pecuários.
Prevê-se aluda a criação de um pequeno laboratório de análise de solos, que certamente em muito poderá contribuir, não só para a elaboração destas cartas parciais, mas também para o planeamento dos trabalhos a executar, tendo em vista o aproveitamento de cada uma das áreas.

Investigação agrícola

135. Durante a vigência do III Plano serão continuados e intensificados os estudos e experiências relativos ao fomento das culturas do café e do arroz, mediante um sensível aumento de produtividade da terra e do trabalho e, paralelamente, um certo alargamento da área cultivada.
No campo da sanidade vegetal, em que urge actuar, pois as perdas causadas por pragas e doenças representam uma parte considerável das produções agrícolas, prevê-se o levantamento da entomofauna da província, começando pelas principais pragas e doenças relacionadas com as culturas do arroz e do café.

Investigação pecuária

136. No que se refere à investigação aplicada à pecuária, prevê-se a continuação e ampliação do programa de identificação e estudo das principais doenças infecto-contagiosas de origem bacteriana e parasitárias que afectam o armentio da província, com vista à realização e intensificação de novas campanhas de sanidade pecuária, traduzidas em vacinações e outras medidas profilácticas e curativas a difundir.
Prevê-se, por outro lado, a realização de estudos e a colheita de elementos estatísticos, baseados em fecundidade, precocidade, mortalidade, desenvolvimento, produção leiteira, etc., tendentes à melhoria das várias espécies de gado, a partir de uma selecção cuidada.

e) Estudos de biologia piscatória e pesca experimental

137. Com o apoio da Junta de Investigações do Ultramar, prevê-se a continuação do estudo da fauna e da riqueza ictiológica das águas de Timor, a prospecção de pesqueiros e a selecção das artes e métodos da captura adequadas às condições dos pescadores.

f) Coordenação de investigação científica

Centro de estudos

138. Muitas peças raras e artigos dignos de figurarem num museu estão a desaparecer, pelo que se justifica a criação de um organismo que coordene todas as actividades relacionadas com o assunto.
No entanto, a província não dispõe de pessoal qualificado para o efeito e, por conseguinte, só a colaboração dos organismos especializados da Junta de Investigações do Ultramar, a quem interessam estudos desta natureza e ainda de etnografia e etnologia, poderá possibilitar a estruturação e o funcionamento eficiente do centro de estudos de Timor.

Estudos económicos de base

139. Entre os estudos que o planeamento do desenvolvimento económico da província exige salientam-se a análise dos mercados por produtos actuais ou potenciais, o estudo das motivações económicas da população autóctone e o estudo dos vários sectores económicos, tendo em vista nomeadamente o fomento da agricultura, pecuária, indústrias e turismo.

Educação e investigação

Programa de Investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

XI) Saúde e assistência

1. Evolução recente e problemas actuais

140. Timor dispõe actualmente de 10 hospitais, dos quais 2 se classificam como urbanos - hospital de Baucau e Hospital Central do Dr. Carvalho, em Díli - e 8 como rurais, localizados em Ainaro, Lospalos, Bobonaro (Maliana), Ermera, Viqueque, Oé-Cusse, Liquiçíi e Laclubar.
Este último será brevemente transformado em hospital-sanatório, ficando assim a servir toda a província.
A capacidade de internamento dos 10 hospitais existentes é actualmente de 500 camas.
Além dos hospitais referidos, a província dispõe de 9 maternidades, localizadas em Díli, Baucau, Ainaro, Lospalos, Bobonaro (Maliana), Ermera, Oé-Cusse, Manatuto e Viqueque, com a capacidade actual de 80 camas.
As localidades sedes de posto administrativo são servidas por postos sanitários, num total de 46, dos quais 26 têm possibilidades de hospitalização, com uma capacidade total de 100 camas.
Em Batugadé (área do posto de Balibó) e em Nuno-Heno (circunscrição de Oé-Cusse) funcionam postos de consulta e tratamento.
O apetrechamento de hospitais, maternidades e postos sanitários carece de ser melhorado.
A província dispunha em 1966 de 19 unidades médicas e de 101 unidades de enfermagem.

2. Objectivos

141. No intuito de difundir conhecimentos e de interessar a população a contribuir para a melhoria das suas condições sanitárias, pré vê-se uma actuação operante por intermédio de métodos unilaterais de educação sanitária, entre os quais se poderá referir a distribuição, para os que sabem ler, de livros rudimentares de higiene e, para todos, a projecção de filmes adequados e de fácil compreensão.
No que a campanhas de saúde diz respeito, pretende-se continuar a intensificar as campanhas contra a tuberculose e a poliomielite e iniciar uma campanha com vista à erradicação do paludismo.
Poder fabricar na província os medicamentos mais correntemente utilizados é objectivo que se espera alcançar nos primeiros anos de execução do III Plano.
No que se refere à Construção e equipamento de instalações hospitalares, a política seguida, a que se pretende dar continuidade, consiste em aperfeiçoar as condições funcionais das instalações existentes e construir outras, dando prioridade às que servem as zonas de maior densidade populacional.

142. A existência, em número e qualidade, de pessoal médico e paramédico é condição sine que non para a efectivação prática de qualquer programa que se trace e condiciona de modo absoluto os objectivos que se pretende atingir.

143. Um último objectivo a ter em conta consistirá na introdução de certas reformas institucionais e de estrutura, a operar com a publicação de alguns regulamentos, entre os quais se contam:

Regulamento interno dos hospitais da província;
Regulamento da actividade farmacotécnica;
Regulamento dos serviços sanitários e de salubridade urbana e rural;
Regulamento de sanidade marítima.

144. No capítulo da assistência, as realizações são limitadas pelas possibilidades das entidades que têm a seu cargo a acção assistencial - Cruz Vermelha, assistência pública e social de Díli e missões católicas. Pretende-se a intensificação dessa acção.
A criação de um centro feminino em Díli destinado a mulheres desamparadas e a de parques infantis onde as mães que trabalham possam deixar os seus filhos são realizações que se têm em vista para os anos próximos.

3. Investimentos

150. O programa a executar nesta rubrica compreende, fundamentalmente, a construção de instalações, a aqui-

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sição de equipamento hospitalar, a realização de campanhas de saúde pública, a produção de medicamentos e a formação de pessoal.
No que se refere a construções, prevê-se:

Ampliação do hospital de Baucau;
Construção de maternidade, secção cirúrgica e anexos no hospital de Viqueque;
Edificação do hospital do Suai;
Ampliação e adaptação do hospital de Laclubar;
Ampliação do hospital de Lospalos;
Adaptação e ampliação do actual posto sanitário de Same, de modo a conferir-lhe características de hospital;
Construção de uma enfermaria de isolamentos e de ura pavilhão de enfermarias para serviços de medicina, no Hospital do Dr. Carvalho, em Díli;
Construção de postos sanitários e maternidades nas sedes de posto administrativo que venham a revelar maiores necessidades;
Construção de anexos em alguns postos sanitários já existentes;
Construção de alguns postos de consulta e tratamento;
Construção do laboratório farmacotécnico;
Construção do centro materno-infantil de Díli;
Edificação do hospital de Manatuto.

Saúde e assistência

Programa de investimentos

[Ver Tabela na Imagem]

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver Tabela na Imagem]

IMPRENSA NACIONAL DE LISBOA

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REPÚBLICA PORTUGUESA

SECRETARIA-GERAL DA ASSEMBLEIA NACIONAL

DIÁRIO DAS SESSÕES

2.º SUPLEMENTO AO N.º 88

ANO DE 1967 7 DE NOVEMBRO

CÂMARA CORPORATIVA

IX LEGISLATURA

SUMÁRIO

Parecer n.º 8/IX - Projecto de proposta de lei n.º 4/IX acerca do III Plano de Fomento, para 1968-1973. Parecer n.º 9/IX - Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973 - Continente e ilhas.

ANEXOS:

I-Parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros sobre o capítulo II «Financiamento», do título I «Programação global».
II-Parecer subsidiário da secção de Lavoura sobre o capítulo I «Agricultura, silvicultura e pecuária», do título II «Programas sectoriais».
III - Parecer subsidiário da subsecção de Pesca, da secção de Pesca e conservas, sobre o capítulo II «Pesca», do título II «Programas sectoriais».
IV - Parecer subsidiário das subsecções de Industrias extractivas, de Têxteis e vestuário, de Indústrias químicas e de Indústrias metalúrgicas e metalomecânicas, da secção de Indústria, sobre o capítulo III «Indústrias extractivas e transformadoras», do título II «Programas sectoriais».
V - Parecer subsidiário das subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, sobre o capítulo IV «Indústrias da construção e obras públicas», do título II «Programas sectoriais».
VI - Parecer subsidiário da secção de Autarquias locais o da subsecção de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, sobre o capítulo V «Melhoramentos rurais», do título II «Programas sectoriais».
VII - Parecer subsidiário da subsecção de Energia e combustíveis, da secção de Indústria, sobre o capítulo VI «Energia», do título II «Programas sectoriais».
VIII - Parecer subsidiário das subsecções de Comércio armazenista e de importação, de Comércio retalhista diferenciado e de Comércio retalhista misto, da secção de Comércio, sobre o capítulo VII «Circuitos de distribuição», do título II «Programas sectoriais».
IX - Parecer subsidiário das subsecções de Transportes terrestres, de Transportes aéreos e de Transportes marítimos e fluviais, da secção de Transportes e turismo, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, sobre o capítulo VIII «Transportes, comunicações e meteorologia», do título II «Programas sectoriais».
X - Parecer subsidiário da secção de Transportes e turismo sobre o capítulo IX «Turismo», do título II «Programas sectoriais».
XI - Parecer subsidiário da subsecção de Ensino, da secção de Interesses de ordem cultural, sobre o capítulo X «Educação e investigação», do título II «Programas sectoriais».
XII - Parecer subsidiário das subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, sobre o capítulo XI «Habitação e urbanização», do título II «Programas sectoriais».
XIII - Parecer subsidiário da secção de Interesses de ordem espiritual e moral sobre o capítulo XII «Saúde», do título II «Programas sectoriais».
Parecer n.º 10/IX - Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973-Províncias ultramarinas.

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PARECER N.º 8/IX

Projecto de proposta de lei n.º 4 IX

III Plano de Fomento, para 1968-1973

A Câmara Corporativa, consultada, nos termos do artigo 105.º da Constituição, acerca do projecto de proposta de lei n.º 4/IX, elaborado pelo Governo sobre o III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, pela sua secção de Interesses de ordem administrativa (subsecções de Política e administração ultramarinas e de Finanças e economia geral), sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer:

Apreciação na generalidade

1. A Câmara Corporativa, quer no parecer acerca do projecto de proposta de lei sobre o I Plano de Fomento 1, quer no parecer respeitante à proposta de lei sobre o II Plano de Fomento 2, plano este que representa um passo decisivo no que respeita à evolução do planeamento económico em Portugal, quer ainda nos pareceres respeitantes aos próprios planos de fomento, e, especial e actualizadamente, a propósito do projecto do III Plano de Fomento, debateu com largueza o problema do planeamento económico em geral, focando as respectivas questões fundamentais.
Já no parecer acerca do projecto de proposta de lei sobre o Plano Intercalar de Fomento 3 se considerou desnecessário insistir em tal matéria e agora se segue idêntica orientação.
Também a evolução portuguesa no que respeita ao planeamento tem sido objecto de estudo nos pareceres citados, afigurando-se, por isso, desnecessário cair-se em
repetições, no que se adopta a orientação do parecer acerca do projecto de proposta de lei sobre o Plano Intercalar de Fomento atrás citado.
Mas já não será ocioso dizer, mais uma vez, que a história do planeamento português bem pode ser confrontada com a da generalidade das outras nações, podendo até, em certos aspectos, considerar-se o nosso país entre os primeiros que utilizaram os planos de fomento como elemento, de orientação de política económica.
Saneadas as finanças, que estão na base do progresso nacional e da obra imensa levada a cabo pelo País, encontrava-se aberto o caminho para lançar a Lei n.º 1914, de reconstituição económica (1935-1950), que precedeu os três planos subsequentes.
A Constituição Política de 1933 proclama bem claramente que ao Estado incumbe coordenar e impulsionar todas as actividades sociais e que ele tem o direito e a obrigação de coordenar e regular superiormente a vida económica e social e que lhe compete promover a formação e desenvolvimento da economia nacional corporativa.
Com igual força impõe a Constituição que o Estado zele pela melhoria das classes sociais mais desfavorecidas e proíbe a intervenção directa daquele na gerência das actividades económicas particulares, excepto quando haja de
financiá-las.
É em obediência a tais princípios e como consequência deles que foi promulgada a referida Lei de Reconstituição Económica, numa altura em que os Estados Unidos tentavam a experiência do intervencionismo estadual através do "New Deal", premidos pela depressão económica que os avassalava.
Convém, no entanto, sublinhar que o planeamento é uma técnica que permite uma melhor coordenação das políticas e, eventualmente, atingir-se um ritmo mais acelerado de crescimento económico, mas não é em si uma panaceia que resolva os problemas do crescimento, visto que ele consubstancia uma política e não a pode de maneira alguma substituir. As dificuldades inerentes ao

1 Parecer n.º 36/V (Câmara Corporativa, Pareceres, V Legislatura, 1952, vol. II, p. 209).
2 Parecer n.º 2/VII (Câmara Corporativa, Pareceres, VII Legislatura, 1958, p. 89).
3 Parecer n.º 17/VIII (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1964, vol. II, p. 43).

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processo de crescimento e à elaboração das políticas foram, por vezes, transformadas em críticas ao próprio planeamento na medida em que este ou não pôde ou não soube vencer as referidas dificuldades. A estas críticas vieram adicionar-se aquelas que resultaram de uma aplicação indiscriminada de técnicas de planeamento que teriam porventura dado resultado nuns países, mas em condições que não se encontram noutras nações; isto é, o problema consiste em adaptar as técnicas de planeamento aos condicionalismos próprios de cada país, quer no campo económico, quer noutros domínios da actividade social e política.

2. No parecer relativo ao projecto de proposta de lei sobre o Plano Intercalar de Fomento fizeram-se algumas sugestões do maior significado, que vieram a ser, de uma forma geral, consagradas na Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, que promulgou as bases para a organização e execução do referido Plano Intercalar.
Considerou-se então que, sem embargo das vantagens de uma certa continuidade na sistematização e redacção dos respectivos diplomas sobre as bases de organização dos planos de fomento, dada a natureza substancialmente diversa de que se revestia o Plano Intercalar, designadamente quanto à técnica da programação global e sectorial, se justificaria diferente formulação da proposta de lei.
Além disso, entendeu-se também que, atenta a respectiva finalidade, a proposta de lei deveria limitar-se a definir os princípios fundamentais a que obedeceria a organização e execução do Plano Intercalar de Fomento nos seus três aspectos basilares: grandes objectivos do Plano, sectores em que incide e meios financeiros e outros destinados a assegurar a sua realização efectiva.
O presente projecto de proposta de lei consagra tal entendimento, que mais se justifica à face do novo Plano, em que se acentuou de forma nítida a orientação adoptada no Plano Intercalar quanto à técnica de programação global e sectorial.
Efectivamente, dentro dessa orientação, na base III do projecto de proposta de lei apresentam-se os grandes objectivos que o III Plano de Fomento deve visar, na base V indicam-se quais os aspectos de natureza global a considerar e os capítulos a que deverão subordinar-se os programas sectoriais e na base VII enumeram-se quais as fontes onde serão mobilizados os recursos para o financiamento.
Se a apresentação dos objectivos e a fixação dos aspectos de natureza global constituem matéria nova nas propostas de lei sobre os planos de fomento, o mesmo não pode dizer-se da indicação dos sectores que o Plano abrange e das fontes de financiamento.
Neste último aspecto, depara-se, no entanto, com uma maior subdivisão dos sectores e com um alargamento do âmbito das fontes para financiamento.
A fixação no projecto de proposta de lei dos aspectos de natureza global, ao contrário da apresentação dos objectivos, é ainda matéria nova em relação à própria Lei n.º 2123.
Na base V prescreve-se, também, que do Plano deverão constar a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar para a sua execução e os investimentos previstos, com a obrigação de serem especificados, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.
Ainda na mesma base se dispõe, quanto, ao planeamento regional, que «o Plano incluirá as orientações gerais em que deverá assentar o planeamento regional».
Esta determinação das matérias a desenvolver no Plano constitui também novidade em relação à referida Lei n.º 2123.
Assim, além de se apresentarem os objectivos visados e de se fixarem os aspectos de natureza global a considerar, tornou-se expressa a obrigação da definição dos objectivos a atingir, da elaboração das projecções globais e sectoriais, da determinação das providências de política económica, financeira e social a adoptar para execução do Plano e da especificação, sempre que possível, dos investimentos que devam considerar-se prioritários.
Portanto, caminhou-se no sentido de uma maior concretização e precisão, em conformidade com a orientação defendida no parecer desta Câmara acerca do projecto de proposta de lei relativo ao Plano Intercalar.
É certo, porém, que, designadamente na definição dos objectivos, na determinação das prioridades dos investimentos e quanto às orientações gerais relativas aos programas sectoriais e ao planeamento regional, sem se sair do campo próprio da lei e sem, de forma alguma, se cair no domínio que ao executivo compete, poderiam constar da proposta de lei os princípios gerais que foram relegados para o Plano.
Em verdade, afigura-se que as orientações gerais, quanto ao planeamento regional, que o próprio projecto de proposta de lei indica, como as referentes às outras matérias já apontadas de que trata a base V, bem caberiam na proposta de lei, precisamente por se tratar de orientações gerais, e, então, seria de acordo com elas que o Plano viria a ser elaborado.
É certo que o projecto do Plano acompanha a proposta de lei e que, assim, tendo a Câmara apreciado aqueles aspectos no parecer respectivo, fica de alguma forma atenuado o reparo feito.

3. No parecer respeitante ao Plano Intercalar, a Câmara Corporativa entendeu que a lei não é, sob o ponto de vista técnico-jurídico, uma lei de «autorização legislativa», mas sim definidora dos princípios gerais em que deve enquadrar-se o planeamento.
Quanto a este aspecto, verifica-se que se deu inteira satisfação a um tal entendimento ao consignar-se no preâmbulo do projecto de proposta de lei que o mesmo projecto «destina-se a definir as bases em que o Governo deverá organizar e promover a execução do III Plano de Fomento», aliás em conformidade com o que veio a constar da Lei n.º 2123.

4. Ao contrário do critério anteriormente seguido em relação às respectivas propostas de lei quanto aos procedentes planos de fomento, deixou de se tratar do ultramar em separado, o que se regista com apreço, até porque tal método permite verificar como as províncias ultramarinas se integram ria vida económica nacional.
No entanto, tanto o esquema dos aspectos de natureza global a considerar como o dos capítulos dos programas sectoriais admitem adaptações na sua aplicação às províncias ultramarinas.
Importante é, porém, que os objectivos sejam comuns a todo o território nacional e que sejam compatibilizados os meios para os atingir.

5. Quanto às bases IV e VI a X, o projecto de proposta de lei segue, nas suas linhas gerais, a Lei n.º 2128, que, por sua vez, reproduzia, ainda que com modificações, a lei que promulgara as bases de organização do II Plano de Fomento.

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6. Na base XI, por forma mais ampla do que a adoptada na Lei n.º 2123, e de acordo com uma necessidade que se vinha fazendo sentir e que era insistentemente sublinhada, consignou-se a obrigação, por parte do Governo, de publicar, além do relatório geral, relatórios anuais, em prazos fixos, sobre a execução do Plano de Fomento, e de providenciar para que sejam prestadas ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos informações periódicas pela Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica sobre a referida matéria.
Embora entenda que não era indispensável a inclusão de um preceito desta natureza na proposta de lei, a Câmara é de opinião que ele permitirá realçar o interesse em que a execução do Plano de Fomento possa ser melhor acompanhada pelo Governo, e que, portanto, daí decorrerá uma mais perfeita orientação, coordenação e direcção dos respectivos serviços e a possibilidade de um mais adequado ajustamento dos vários factores e elementos, e, por consequência, uma maior eficiência na referida execução.
Acresce que uma melhor informação conduzirá, por um lado, a um maior esclarecimento e, por outro, a uma maior possibilidade de colaboração dos vários sectores e entidades interessadas.

7. O presente projecto de proposta de lei integra-se, assim, e até certo ponto, nas suas grandes linhas, num sentido que tinha sido o propugnado pela Câmara Corporativa.
Já se disse que, em verdade, seria de incluir na proposta de lei os princípios fundamentais e as orientações gerais respeitantes a algumas das matérias de que trata a base V e, dentro desta linha de pensamento, julga-se que a proposta de lei .ficaria, assim, mais perfeita, porque mais concreta.
Efectivamente, a proposta de lei ganharia em precisão, sem, como também se disse, sair do campo da definição das grandes regras e sem cair no âmbito do que ao executivo compete.
Certo é, porém, que um passo foi dado nesse caminho e a Câmara Corporativa espera que, de futuro, possa atingir-se, na elaboração da proposta, uma maior concretização no campo dos princípios e orientações gerais que bem cabem no âmbito da lei.

8. No parecer sobre o projecto de proposta de lei acerca do Plano Intercalar de Fomento, já citado, anotava-se o facto de ter sido excessivamente tardia a apresentação à Câmara e à apreciação da Assembleia Nacional da proposta de lei sobre as bases de organização do Plano Intercalar de Fomento e dizia-se esperar que na preparação do III Plano se pudesse trabalhar em condições menos prementes, fazendo-se a sugestão de a respectiva proposta de lei ser feita com a antecedência de cerca de um ano.
Tal esperança, porém, não se concretizou.

II

Exame na especialidade

Base I

9. Esta base apenas difere da correspondente da Lei n.º 2123, que promulgou as bases de organização e execução do Plano Intercalar de Fomento, na forma de identificar o Plano.
Enquanto a base I da dita lei se refere ao Plano Intercalar de Fomento do Continente e Ilhas Adjacentes e das Províncias Ultramarinas, a base I do presente projecto de proposta de lei identifica o Plano simplesmente como III Plano de Fomento.
Era, evidentemente, desnecessário o acrescentamento constante da base I da Lei do Plano Intercalar para identificar o Plano e continua a sê-lo em relação ao projecto em apreço, que deixou, aliás, de conter dois capítulos, um para o continente e ilhas e outro para as províncias ultramarinas, e que trata conjuntamente as respectivas matérias.

Base II

10. Nos termos do n.º 1 desta base, «o III Plano será concebido como instrumento de programação global, do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tendo em vista a formação de uma economia nacional no espaço português e a realização dos fins superiores da comunidade».
Menos do que como deve ser concebido o Plano, interessa a sua projecção objectiva e, por outro lado, embora ele deva ser considerado um instrumento de programação global, como o projecto do III Plano de Fomento trata da programação global apenas no título I, versando nos restantes títulos as matérias respeitantes aos programas sectoriais, ao planeamento regional e aos planos de cada uma das províncias ultramarinas, talvez, para evitar dúvidas quanto ao respectivo sentido, seja de eliminar a expressão «global».
Desnecessária se torna a explicação contida no n.º 2 da mesma base, já que a ideia de programação não pode, de qualquer forma, contender com os princípios legais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social, aliás bem imperativamente expressas na Constituição Política, como se referiu.
No entanto, não deixará de ter utilidade a reafirmação dos princípios constitucionais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social.
Porque, tradicionalmente, se encarou em separado o económico e o social e se partiu, portanto, de uma posição de disjunção quanto ao desenvolvimento económico e ao progresso social, a experiência relativa à conjugação dos planos de fomento e das programações de promoção social não é ainda suficiente para já poder considerar-se resolvido o problema da articulação dos respectivos planos e programações, sem que com isso se queira dizer que seja admissível, à luz da nossa ética constitucional, tratar do económico sem ter presente o social ou vice-versa.
Assinala-se no referido n.º 1 da base que o desenvolvimento económico e progresso social do País terão em vista a formação de uma economia nacional no espaço português e a realização dos fins superiores da comunidade.
Para Portugal, nação pluricontinental, uma economia nacional será relevante sector de unidade. E, embora essa unidade não signifique, nem queira significar, uniformidade, conforme os próprios preceitos constitucionais - artigos 148.º e 149.º da Constituição Política -, certo é que, respeitando embora as características e circunstâncias específicas dos respectivos territórios, tem de procurar caminhar-se num sentido integrador, conforme é, também, imperativo constitucional - artigos 134.º e 159.º da Constituição Política.
Esta evolução exigirá, aliás, sucessivas providências atinentes a uma cada vez mais sólida estruturação do todo

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nacional, providências que não serão de sentido unilateral, mas que respeitarão a todas e cada uma das parcelas de que se compõe o agregado nacional, de forma que a integração resulte de uma convergência geral em relação aos fins superiores da comunidade.
Daí que os fins superiores da Nação, já que de valores supremos se trata, hajam, logicamente, de presidir a quaisquer outros objectivos que em relação a tais fins têm de ter-se como meios e II este sentido será de dar redacção consentânea ao texto da base, que se propõe seja:

BASE II

1. O III Plano de Fomento constituirá o instrumento de programação do desenvolvimento económico e do progresso social do Pais, tendo em vista a formação de uma economia nacional no espaço português, para a realização dos fins superiores da comunidade .

2. A programação constante do III Plano de Fomento situa-se no quadro dos princípios legais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as junções do Estado na ordem económica e social.

Base III

11. Esta base corresponde à base II da referida Lei n.º 2123, e nela se apontam os objectivos a que deverá obedecer o Plano por forma idêntica à estatuída na referida lei, que, por sua vez, adoptou a redacção proposta pela Câmara Corporativa.
Nenhum reparo há a fazer ao que então se disse e se aprovou.
Poderia, possivelmente, ser ampliada a redacção de forma a procurar torná-la mais expressiva quanto ao que, aliás, se contém implícita ou subentendidamente no texto da própria lei.
Assim, na alínea a), onde se refere a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, ficaria o preceito, porventura mais claro, se se lhe acrescentasse «e da riqueza nacionais».
Pode dizer-se, e com verdade, que a aceleração do ritmo do acréscimo do produto nacional compreende a ideia de aumento da riqueza nacional, mas ficaria expressa a ideia.
Na alínea b) aponta-se como um dos objectivos a «repartição mais equilibrada do rendimento».
Ora, como a elaboração do próprio projecto do plano de fomento pôs em evidência, existe insuficiência de dados estatísticos, especialmente no que respeita à repartição, e, como, além disso, os conceitos teóricos sobre a matéria variam segundo as opções políticas, não havendo a tal respeito um critério que possa ter-se por científico, preferível seria que o projecto se reportasse à ideia de uma melhor repartição, em vez de uma repartição mais equilibrada.
Qualquer situação admite sempre uma melhoria e, em verdade, não existem dados informativos nem critério científico seguro por onde possa aferir-se, num dado momento, em que consistirá uma situação de menos equilíbrio.
Quanto à alínea c) da base m, julga-se preferível a redacção da Lei n.º 2123 que fora proposta pela Câmara Corporativa.
Dado que a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais será limitada, além de lenta, parece mais ajustada a fórmula adoptada na referida lei, autonomizando o preceito que funcionará como correctivo, na medida do possível, daqueles grandes objectivos.
Assim, propõe-se a seguinte redacção:

BASE III

1. O 111 Plano de Fomento visará os seguintes grandes objectivos:
a) Aceleração do ritmo de acréscimo do produto e da riqueza nacionais;
a) Melhor repartição dos rendimentos.

2. A organização e a execução do III Plano de Fomento deverão tender à correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.

Base IV

12. Trata esta base dos pressupostos de realização dos objectivos do Plano, dizendo-se nela que o Governo deverá assegurar os que refere nas alíneas a) a d).
Como, porém, a consecução de tais pressupostos não há-de resultar exclusivamente da acção do Governo, não parece que com rigor se haja de dizer que deverão ser assegurados pelo Governo, o que implicaria a ideia de exclusividade.
Assim, nessa parte, uma redacção semelhante à da correspondente disposição da Lei n.º 2123, conforme com a que esta Câmara então propusera, parece preferível.
Continua a assinalar-se entre os respectivos pressupostos o da coordenação da realização dos objectivos do III Plano de Fomento com o esforço de defesa da integridade do território nacional.
Efectivamente, esta é uma exigência natural e uma imposição a que nenhum português poderia faltar e uma condição de eficiência na luta pela defesa da integridade nacional.
Em harmonia com as considerações precedentes, propõe-se o seguinte texto para a base:

BASE IV

A realização dos objectivos do III Plano de Fomento considera-se sujeita:

a) Á coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) À manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
c) Ao equilíbrio do mercado de emprego;
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismo s decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

Base V

13. No n.º 1 prescreve-se, conforme já se referiu, que do Plano devem constar a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar para a sua execução e os investimentos previstos, especificando quanto a estes últimos, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.
Por sua vez, fixam-se no n.º 2 os aspectos de natureza global a considerar e no n.º 3 os programas sectoriais que o Plano abrangerá.
O n.º 4 limita-se a estabelecer que o Plano incluirá as orientações gerais em que deverá assentar o planeamento regional.
Já na apreciação na generalidade a Câmara fez, quanto à base V, algumas considerações no sentido de que o

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lugar próprio para definir as orientações gerais é a proposta de lei, e não o Plano de Fomento.
Sem prejuízo de tal reparo, é de pôr em relevo que, para além das opções decorrentes, designadamente da fixação de objectivos específicos, da adopção deliberada de uma forma de planeamento global, da manutenção da separação dos sectores público e privado e da fixação dos vários sectores, se estabeleceu uma mais precisa e rigorosa metodologia, em grande parte resultante do próprio sistema de planeamento global.
Através desses aspectos globais foi possível encarar de uma forma sistemática a solução harmónica e coordenada dos grandes problemas em ordem à consecução dos objectivos visados pelo Plano.
Aliás, tais aspectos globais são, afinal, as grandes vias escolhidas como as mais adequadas à obtenção do crescimento e desenvolvimento da economia nacional.
Por sua vez, do facto de se terem autonomizado no n.º 3, com bom fundamento, dado o seu relevo, os programas relativos às indústrias de construção e obras públicas, aos melhoramentos rurais e aos circuitos de distribuição, verifica-se que se está atento aos problemas destes sectores, os quais desenvolvidamente são tratados no projecto do Plano.
Além disso, há ainda a notar a obrigação legal de fazer constar do Plano, além das definições dos objectivos, as projecções globais e sectoriais respectivas, a definição da política económica e social e as prioridades quanto a investimentos.
A exigência de um planeamento regional, a que se .refere o n.º 4, corresponde a uma necessidade viva da expansão económica e do progresso nacional que se pretende alcançar e necessário é se processem harmònicamente no sentido de uma sempre mais forte e coesa unidade nacional.
Há ainda a notar que o capítulo que na Lei n.º 2123 era designado por «Ensino e investigação» passou a designar-se por «Educação e investigação»; mas o que importa salientar é que quis certamente pôr-se em evidência o valor da educação, no mais lato sentido da palavra, em todos os aspectos da vida nacional, designadamente no do seu desenvolvimento económico e progresso social.
Quanto a esta base, a Câmara limita-se a sugerir que a referência feita no n.º 1 ao «texto do Plano» se faça ao próprio Plano, por parecer mais curial, e que se introduza uma pequena alteração de redacção.
Nesta conformidade, seria o seguinte o texto do referido n.º 1

BASE V

1. Do III Plano de Fomento devem constar a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar para a sua execução e os investimentos previstos, especificando, quanto a estes últimos, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.

Base VI

14. Poderia ser, porventura, considerada desnecessária esta base, na medida em que o que ela prescreve é conforme aos textos legais que expressamente cita e já se compreendia na competência do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.
Efectivamente, estabelece a base que, «no exercício da competência definida nos §§ 1.º e 2.º do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, cabe ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos» o que a seguir, em três alíneas, prescreve.
A especificação que se faz pelo que tem de esclarecedora não merece reparo, mesmo que possa considerar se uma reafirmação.
No entanto, é de salientar que na alínea c) se prescreve que compete ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos aprovar os planos de desenvolvimento regional, ouvida a Câmara Corporativa.
E ainda de frisar o disposto na alínea e), que determina, até final de 1970, a revisão do Plano para o 2.º triénio.

Base VII

15. Em relação a esta base, que trata das fontes de financiamento, alguns reparos há a fazer:
A expressão «fontes» é suficientemente ampla paca que não seja necessário acrescentar-lhe as palavras «e instituições». De resto, as duas expressões correspondem a ordens de ideias diferentes, pelo que não podem, rigorosamente, ser complementares.
Na alínea d) referem-se, como fontes de financiamento, as instituições de previdência e na alínea f) as empresas seguradoras. Ora, como estas também são instituições de previdência, seria mais rigoroso restringir a alínea d) às «instituições de previdência social obrigatória», expressão, de resto, usada na alínea d) da base VI e na base VII da Lei n.º 2123.
A referência que na alínea i) se faz a recursos leva a uma imprópria duplicação dessas palavras - a do princípio da base e a da alínea -, que convém evitar.
Por sua voz, na alínea y) convirá fugir à repetição da palavra «fontes» pela mesma razão de duplicação.
Mas, como nesta alínea não se esclarece qual a natureza do crédito externo que refere e como ele será naturalmente proveniente do sector privado, já que de outra maneira o processamento de tais recursos seria feito através dos orçamentos das respectivas pessoas colectivas de direito público, julga-se conveniente fazer o respectivo esclarecimento.
No n.º 2 trata-se das províncias ultramarinas e diz-se que os seus orçamentos serão considerados fontes do financiamento.
Ora, tal expressão «serão considerados» será vantajosamente substituída pela afirmativa directa, já que eles constituem, efectivamente, fontes de financiamento.
No referido n.º 2 prevê-se ainda a prestação de garantias a financiamentos pelo Ministério das Finanças.
O Estado, pessoa colectiva de direito público, tem o Governo por órgão, podendo a competência administrativa do Governo ser exercida pelo Conselho de Ministres ou pelo Ministro ou Secretário de Estado da respectiva pasta, mas tal competência pertence ao Ministro sempre que a lei não exija a intervenção do Conselho.
Assim, julga-se tecnicamente mais rigoroso dizer que é ao Governo que compete prestar as garantias através do Ministério das Finanças.
Para esta base sugere-se a seguinte redacção:

BASE VII

1. As fontes de recursos a mobilizar para o financiamento do III Plano de Fomento ,são as seguintes:

a) Orçamento Geral do Estado:
b) Fundos e serviços autónomos:
c) Autarquias locais;
d) Instituições de previdência social obrigatória;
e) Organismos corporativos;

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f) Empresas seguradoras;
g) Instituições de crédito;
h) Autofinanciamento das empresas;
i) Outro crédito interno de carácter privado;
j) Crédito externo de carácter privado.

2. Relativamente às províncias ultramarinas, constituirão também fontes de financiamento os respectivos orçamentos, podendo ainda ser prestadas pelo Governo, através do Ministério das Finanças, garantias a financiamentos externos concedidos a empresas privadas.

Base VIII

16. Contém esta base matéria relativa ao financiamento do Plano e nela se assinala ao Governo uma determinada actuação com vista a garantir o financiamento.
Corresponde à base VIII da Lei n.º 2123, que reproduziu o que fora proposto pela Câmara Corporativa.
A base VIII do projecto de proposta de lei só difere essencialmente da da Lei n.º 2123 por "lhe., ter sido introduzido um novo número, que passou a ser o 2.º Além disso, foi-lhe suprimido um número - o 3.º da base VIII da Lei n.º 2123 - e modificada a redacção do n.º 5.º Porém, o referido n.º 3.º era desnecessário, não só por caber na disposição genérica do actual n.º 3.º, mas também por estar dentro da competência normal do Governo. Quanto ao n.º 5.º, trata-se apenas de uma questão de redacção.
O novo n.º 2.º, respeitante aos serviços autónomos, tem por fim assinalar que o Governo deverá, em relação a esses serviços, estabelecer a orientação, preferencial para os objectivos e empreendimentos referidos no Plano, das disponibilidades dos fundos e serviços autónomos, sem prejuízo das suas finalidades específicas e das aplicações consignadas na lei.
Pensa a Câmara que tal disposição tem perfeita oportunidade e interesse, pois a fixação e observância das prioridades é, indiscutivelmente, uma das garantias mais seguras da boa execução do Plano, além de ser uma regra de eficiente administração.
Julga também que algumas pequenas alterações de natureza formal têm também cabimento.
A base ficaria com a seguinte redacção:

BASE VIII

Compele ao Governo, para assegurar o financiamento do III Plano de Fomento, promover a adequada mobilização dos recursos nacionais e, nomeadamente:
1.º Aplicar os saldos das emitas de anos económicos findos e, anualmente, os excessos das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza que considerar disponíveis;
2.º Estabelecer a orientação preferencial, para os objectivos e empreedimentos referidos no Plano, das disponibilidades dos fundos e serviços autónomos, sem prejuízo das suas finalidades específicas e das aplicações consignadas na lei;
3.º Realizar as operações de crédito que forem indispensáveis;
4.º Coordenar as emissões de títulos e as operações de crédito, exigidas pelo desenvolvimento das actividades não incluídas expressamente no Plano, com as necessidades de capitais requeridos pela sua execução;
5.º Estimular a formação da poupança privada, e favorecer a sua mobilização no sentido do desenvolvimento económico e, em especial, dos empreendimentos programados no Plano.

Base IX

17. Esta base trata ainda da competência do Governo no que respeita à execução do Plano e corresponde à base IX da Lei n.º 2123, mas, se não é inteiramente nova, foi, no entanto, refundida.
Enquanto a alínea a) da base IX da Lei n.º 2123 se refere à modernização das orgânicas e métodos de trabalho nos serviços públicos, a base em apreciação reporta-se ao dever de o Governo promover a gradual execução da reforma administrativa, designadamente no que se refere à formação e aperfeiçoamento profissional, dos funcionários, à modernização de estruturas e métodos de trabalho e, acrescenta-se, «a outras acções adequadas».
É sabido como o Governo está empenhado na reforma administrativa e como estão já em curso providências e diligências atinentes a um tal objectivo e espera-se que o desiderato venha a ser gradualmente atingido através da conjugação das inteligências e vontades de quantos se encontram incumbidos de solução de tão magno problema ou apenas nela interessados.
Porém, a expressão «e a outras actividades adequadas» com que finaliza a referida alínea pode ser eliminada porque, além de vaga, é escusada, dada a forma exemplificativa como a alínea foi redigida.
Quanto à criação de novos serviços, matéria de que trata a alínea c), pensa a Câmara dever lembrar o inconveniente da grande dispersão que já se verifica, razão por que se sugere a conveniência de encarar a referida criação sob um critério restritivo, condicionando-a, sempre que possível, à, extinção ou reconversão de outros serviços considerados desactualizados.
E como a expressão «órgãos técnicos» não tem significado jurídico, parece ainda adequada a substituição de tal expressão pela de «serviços», que tem significado bem definido.
Em consequência destas considerações, a redacção da base seria:

BASE IX

1. A fim de assegurar a execução do III Plano de Fomento, compete ainda ao Governo:

a) Promover a gradual execução de reforma administrativa, designadamente no que se refere à formação profissional dos funcionários e a modernização de estruturas e métodos de trabalho dos serviços públicos;
b) Aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos;
c) Promover, sempre que necessário, a criação ou reconversão de serviços nos Ministérios e Secretarias de Estado, por forma a completar e coordenar as estruturas indispensáveis à execução do Plano e à elaboração dos programas e relatórios anuais;
d) Prosseguir no aperfeiçoamento da cobertura estatística do espaço português;
e) Estimular e apoiar os esforços de modernização e alimento de produtividade das empresas, mediante prestação de assistência técnica, incentivos fiscais, facilidades de crédito e outras providências;

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f) Participar no capital de empresas necessárias ao inicio ou desenvolvimento de actividades e empreendimentos com interesse para a realização dos objectivos do Plano.

2. O disposto nesta base será observado, no. que for da sua competência, pelos órgãos das provindas ultramarinas.

Base X

18. A matéria desta base, relativa às províncias ultramarinas, decorre dos preceitos constitucionais e legais em vigor e não suscita dúvidas.
Sugere-se ligeiro retoque de formas no n.º l, que ficaria com a seguinte redacção:

BASE X

1. Cabe ao Governo, quanto às provindas ultramarinas, além da competência prevista nos n.ºs 4 e 5 da base viu, providenciar sobre a obtenção de recursos a elas estranhos.

Base XI

19. Em relação a esta base já na apreciação na generalidade se fizeram as observações pertinentes no sentido de apoiar a inovação.
Efectivamente, a obrigatoriedade de publicação pelo Governo de relatórios anuais, além do relatório geral, dentro de prazos razoáveis, e também o dever de prestação de informações no decurso do ano pela Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica constituem medidas que bem evidenciam o interesse pela eficiente execução do Plano e que, por sua vez, permitirão uma melhor elucidação e um maior domínio dos problemas, o que inclusivamente ajudará à elaboração do futuro Plano.

III

Conclusões

20. A Câmara Corporativa, tendo em atenção as considerações gerais apresentadas e o exame a que procedeu na especialidade, entende, com as reservas formuladas, ser de aprovar o projecto de proposta de lei a que respeita o presente parecer, com a redacção seguinte:

BASE I

O Governo, ouvida a Câmara Corporativa, organizará o III Plano de Fomento, para o período compreendido entre 1 de Janeiro de 1968 e 31 de Dezembro de 1973, e promoverá a sua execução, de harmonia com o disposto na presente lei.

BASE II

1. O III Plano de Fomento constituirá o instrumento de programação do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tendo em vista a formação de uma economia nacional no espaço português, para a realização dos fins superiores da comunidade.
2. A programação constante do III Plano de Fomento situa-se no quadro dos princípios legais que garantem o respeito pela iniciativa privada e definem as funções do Estado na ordem económica e social.

BASE III

1. O III Plano de Fomento visará os seguintes grandes objectivos:
a) Aceleração do ritmo de acréscimo do produto e da riqueza nacionais;
b) Melhor repartição dos rendimentos.
2. A organização e a execução do III Plano de Fomento deverão tender à correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.

BASE IV

A realização dos objectivos do III Plano de Fomento considera-se sujeita:
a) À coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) À manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
c) Ao equilíbrio do mercado de emprego;
d) Á adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

BASE V

1. Do III Plano de Fomento devem constar a definição dos objectivos a atingir, as projecções globais e sectoriais, as providências de política económica, financeira e social a adoptar para a sua execução e os investimentos previstos, especificando, quanto a estes últimos, sempre que possível, os que devam considerar-se prioritários.
2. Serão considerados os seguintes aspectos de natureza global:

Financiamento;
Comércio externo;
Emprego e política social;
Produtividade;
Sector público e reforma administrativa.

3. Os programas sectoriais abrangerão os capítulos seguintes:

I - Agricultura, silvicultura e pecuária;
II - Pesca;
III - Indústrias extractivas e transformadoras;

V - Indústrias de construção e obras públicas;
V - Melhoramentos rurais;
VI - Energia;
VII - Circuitos de distribuição;
VIII - Transportes, comunicações e meteorologia;
IX - Turismo;
X - Educação e investigação;
XI - Habitação e urbanização;
XII - Saúde.

4. O Plano incluirá as orientações gerais em que deverá assentar o planeamento regional.
5. Os esquemas referidos nesta base serão observados, com as necessárias adaptações, na parte do Plano respeitante às províncias ultramarinas.

BASE VI

1. No exercício da competência definida nos §§ 1.º e 2.º do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Ou-

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tubro de 1962, cabe em especial ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos:
a) Concretizar, tendo em conta o interesse para o desenvolvimento do País e a sua viabilidade técnico-económica, os empreendimentos incluídos no Plano que devam ser integralmente realizados ou iniciados durante a sua vigência;
b) A provar os programas anuais de execução do Plano até 15 de Novembro do ano imediatamente anterior ;
c) Aprovar, ouvida a Câmara Corporativa, os planos de desenvolvimento regional;
d) Fixar, sob proposta do Ministro das Corporações e Previdência Social, a parte das reservas das instituições de previdência social obrigatória a colocar em títulos do Estado e na subscrição directa de acções e obrigações de empresas cujos investimentos se enquadram nos objectivos do Plano;
e) Proceder, até final de 1970, à revisão do Plano para o seu 2.º triénio.

2. Nos programas anuais de execução do Plano serão discriminados, além dos elementos referidos na base V e respeitantes a cada ano, os empreendimentos a realizar nesse ano, os recursos financeiros que hão-de custeá-los e as fontes onde serão obtidos, bem como as correspondentes providências legais e administrativas.
3. É aplicável às províncias ultramarinas o disposto nas alíneas a), b) e c) do n.º 1 desta base.

BASE VII

1. As fontes de recursos a mobilizar para o financiamento do III Plano de Fomento são as seguintes:
a) Orçamento Geral do Estado;
b) Fundos e serviços autónomos;
c) Autarquias locais;
d) Instituições de previdência social obrigatória;
e) Organismos corporativos;
f) Empresas seguradoras;
g) Instituições do crédito;
h) Autofinanciamento das empresas;
i) Outro crédito interno de carácter privado;
y) Crédito externo de carácter privado.

2. Relativamente às províncias ultramarinas, constituirão também fontes de financiamento os respectivos orçamentos, podendo ainda ser prestadas pelo Governo, através do Ministério das Finanças, garantias a financiamentos externos concedidos a empresas privadas.

BASE VIII

Compete ao Governo, para assegurar o financiamento do III Plano de Fomento, promover a adequada mobilização dos recursos nacionais e, nomeadamente:
1.º Aplicar os saldos das contas de anos económicos findos e, anualmente, os excessos das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma natureza que considerar disponíveis;
2.º Estabelecer a orientação preferencial, para os objectivos e empreendimentos referidos no Plano, das disponibilidades dos fundos e serviços autónomos, sem prejuízo das suas finalidades específicas e. das aplicações consignadas na lei;
5.º Realizar as operações de crédito que forem indispensáveis;
4.º Coordenar as emissões de títulos e as operações de crédito, exigidas pelo desenvolvimento das actividades não incluídas expressamente no Plano, com as necessidades de capitais requeridos pela sua execução;
5.º Estimular a formação da poupança privada e favorecer a sua mobilização no sentido do desenvolvimento económico e, em. especial, dos empreendimentos programados no Plano.

BASE IX

1. A fim de assegurar a execução do III Plano de Fomento, compete ainda ao Governo:
a) Promover a gradual execução da reforma administrativa, designadamente no que se refere à formação profissional dos funcionários e à modernização de estruturas e métodos de trabalho dos serviços públicos;
b) Aperfeiçoar a orgânica dos serviços centrais de planeamento, tendo em vista, especialmente, o apoio técnico a prestar ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos;
c) Promover, sempre que necessário, a criação ou reconversão de serviços nos Ministérios e Secretarias de Estado, por forma a completar e coordenar as estruturas indispensáveis à execução do Plano e à elaboração dos programas e relatórios anuais;
d) Prosseguir no aperfeiçoamento da cobertura estatística do espaço português;
e) Estimular e apoiar os esforços de modernização e aumento de produtividade das empresas, mediante prestação de assistência técnica, incentivos fiscais, facilidades de crédito e outras providências;
f) Participar no capital de empresas necessárias ao início ou desenvolvimento de actividades e empreendimentos com interesse para a realização dos objectivos do Plano.
2. O disposto nesta base será observado, no que for da sua competência, pelos órgãos das províncias ultramarinas.

BASE X

1. Cabe ao Governo, quanto às províncias ultramarinas, além da competência prevista nos n.ºs 4 e 5 da base viu, providenciar sobre a obtenção de recursos a elas estranhos.
2. Compete aos órgãos próprios de cada província ultramarina a mobilização dos recursos locais para financiamento do Plano.
B. Os empréstimos serão colocados nas províncias, tomados directamente por empresas cujas actividades aí se desenvolvam, contraídos no continente e ilhas adjacentes ou concedidos pelo Tesouro àquelas províncias, nos termos do artigo 172.º da Constituição.
4. A assistência financeira do Governo às províncias ultramarinas assumirá a forma de empréstimos, de subsídios reembolsáveis ou de prestação de garantias a financiamentos externos concedidos a empresas privadas, nos termos do n.º 2 da base VII.
5. A assistência do Tesouro à província de Cabo Verde não vencerá juro enquanto se mantiver a actual situação financeira da província.

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6. As dotações destinadas ao fomento da província de Timor serão concedidas a título de subsídio gratuito, reembolsável na medida das possibilidades orçamentais da província.

BASE XI

1. O Governo publicará um relatório anual .sobre a execução do Plano, nos dez meses seguintes ao termo de cada ano, e um. relatório geral, até ao fim do ano de 1974.
2. O Governo providenciará para que a Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica apresente ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, no decurso de cada ano, informações periódicas sobre a execução do Plano.

Palácio de S. Bento, 31 de Outubro de 1967.
Carlos Krus Abecasis.
António Manuel Pinto Barbosa.
Fernando Augusto de Santos e Castro.
João Augusto Dias Rosas.
João Faria Lapa.
João Ruiz de Almeida Garrett.
Luís Maria Teixeira Pinto.
Luís Quartin Graça.
Manuel Jacinto Nunes.
Pedro Mário Soares Martinez - (Sem prejuízo de concordância relativamente a quanto se contém no parecer, entendo que a Câmara não deveria renunciar a ocupar-se (precisamente na apreciação da proposta de lei e não em pareceres respeitantes a aspectos mais ou menos parcelares do projecto de Plano) das questões fundamentais do planeamento, nomeadamente o da sua justificação política, o da sua viabilidade à face dos ensinamentos da ciência económica e o da própria crise actual do planeamento, cujos diversos aspectos muito conviria ponderar, ainda que porventura sobre os mesmos a Câmara se abstivesse de opções.
NuM momento em que a níveis autorizados e actualizados de estudo de tais problemas se duvida que um esquema formal de planeamento possa preencher a ausência de definição de uma política económica - particularmente sentida no caso português -, caberia à Câmara ao menos equacionar os dados da questão, com a independência que está nas suas tradições e assegurou o seu prestígio. Também a necessidade de assegurar a defesa das liberdades individuais e institucionais em relação a determinadas técnicas de planeamento deveria merecer o interesse da Câmara, à qual se oferecia o ensejo de apreciar, com realismo e clareza, em ambiente alheio a mitos lisonjeiros ou demagogias fáceis, alguns problemas nacionais do maior relevo, tais corno: o da sobrevivência da agricultura; o da sujeição das nossas indústrias aos embates violentos da concorrência externa e interna; o do aumento de consumos orientados paru a importação e desviados, consequentemente, do circuito económico nacional; o da insuficiência de capitais e de gente para as tarefas que resultam das nossas responsabilidades políticas, não só na metrópole mas, sobretudo, no ultramar. Quanto a mini, a própria sobrevivência nacional reclama a fixação dos saldos fisiológicos na vastidão do espaço português e a atracção ao mesmo, através dos mais diversos
meios, incluindo fiscais, do capital que escasseia, por pobreza de rendimentos e pela imoderação de consumos mal orientados, dada a baixa industrialização do País. Dificilmente se poderia esperar momento mais oportuno para apreciação de tais problemas do que o da analise das bases legais de um plano de fomento para os próximos seis anos - período que, para mais, provavelmente envolverá graves decisões para o futuro da comunidade nacional portuguesa.
Num Estado corporativo, cumpriria traçar os planos económicos por forma que as corporações neles tivessem destacado papel a desempenhar, assim se evitando, na base de instituições corporativas espontâneas e livres, as tendências totalitárias que visam transformar o planeamento em planificação. Estranha-se que a Câmara, pela própria natureza, se não tenha mostrado sensível a este problema, sucintamente enunciado.
Entendendo a Câmara que a proposta de lei deveria ser substancialmente mais extensa, cumpriria referir, ao menos em termos exemplificativos, os aspectos políticos gerais e sectoriais a submeter à representação nacional. Assim, caberia a esta pronunciar-se, a propósito das bases legais do Plano de Fomento, sobre diversas questões eminentemente políticas e não técnicas, designadamente:
a) A. vulnerabilidade dos investimentos no sector do turismo, sobretudo pela dependência de factores externos;
b) A inversão do valor dos bens, manifestando-se através de fixações de preços independentes do grau de utilidade dos produtos, por efeito da mais elevada capacidade de .negociação de determinados grupos económicos - inversão que afecta especialmente a agricultura, a pecuária e a pesca;
(a) A substituição progressiva das remessas de emigrantes, como fonte de equilíbrio da balança de pagamentos, pelo aumento das receitas de fretes internacionais e por medidas orientadas no sentido de economizar divisas (ex.: redução dos prémios de resseguro pagos ao estrangeiro pela criação de um «pleno» nacional);
d) O relevo no projecto de plano da política de transportes, para cujo sector talvez conviesse orientar larga percentagem das nossas disponibilidades, tanto pelos reflexos económicos dos investimentos que aí se realizassem como pelas suas implicações políticas e militares;
e) A conjugação de recursos da metrópole e do ultramar, quando são tão grandes as nossas responsabilidades, relativamente aos meios disponíveis, e tão acelerado o ritmo do nosso tempo, que, para não abdicarmos daquelas responsabilidades, teremos de concentrar rapidamente meios económicos gigantescos nas nossas grandes províncias de África;
f) A hierarquização dos fins prosseguidos pela comunidade portuguesa, por forma a evitar que soluções de nível instrumental possam ter precedência em relação às directrizes políticas que importa definir.

Álvaro Rodrigues da Silva Tavares, relator.

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PARECER N.º 9/IX

Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973

Continente e ilhas

A Câmara Corporativa, consultada, nos termos do artigo 105.º da Constituição, acerca do Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sobre a parte relativa ao continente e ilhas, pela sua secção de Interesses de ordem administrativa (subsecção de Finanças e economia geral), à qual foram agregados os Dignos Procuradores Afonso Rodrigues Queiró, António Alvares Pereira Duarte Silva, António Maria de Mendonça Lino Neto, Armando Manuel de Almeida Marques Guedes, Augusto de Sá Viana Rebelo, Fernando Brito Pereira, Francisco de Melo e Castro, João Manuel Nogueira Jordão Cortês Pinto, João Pedro da Costa, João Pedro Neves Clara, Joaquim Trigo de Negreiros, José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich, José Hermano Saraiva, Manuel Alberto, Andrade e Sousa, Manuel de Almeida de Azevedo e Vasconcellos, Manuel Pimentel Pereira dos Santos, Paulo de Barros e Rafael da Silva Neves Duque, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer:

I

Apreciação na generalidade

A) O problema do planeamento
1. A Câmara tem presente, para dar parecer, o projecto governamental do III Plano de Fomento, destinado a vigorar no sexénio de 1968-1973.
Elaborado segundo a orientação definida pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, por despacho de 23 de Julho de 1965, e pretendendo obedecer aos princípios estabelecidos para o planeamento no Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, e na Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, o projecto propõe-se constituir verdadeira carta magna do desenvolvimento económico-social da Nação, durante os próximos seis anos.
Tanto basta para impor à Câmara a obrigação de não se limitar à apreciação, estrita do projecto, mas de em vez disso, se esforçar por enquadrá-lo na problemática
geral da política, nomeadamente nos domínios que mais directamente interessam ao desenvolvimento económico-social.
Para tanto, convirá recordar o quadro em que se move a feriomenologia complexa do planeamento, para, em face dele, poder ajuizar-se conscientemente dos méritos do projecto de plano ora submetido à apreciação da Câmara.
2. Como toda e qualquer política - adequação consciente de meios à prossecução de certos fins -, a chamada política económica vê a sua problemática
desdobrar-se numa linha que, em termos gerais, comporta os seguintes momentos:
a) Enunciado dos fins que a comunidade se propõe;
b) Definição dos objectivos económicos em que tais fins se concretizam;
c) Inventário dos instrumentos utilizáveis;
d) Adequação da utilização desses instrumentos à consecução dos objectivos determinados.
Não há que perder tempo a explicar o sentido atribuído aos fins propostos pela colectividade; quando se fala em integridade nacional, melhoria dos níveis de vida da população em todos os seus aspectos, reforço da solidariedade nacional na justiça social, etc., está-se precisamente no campo dos grandes valores comunitários a realizar, no domínio dos fins do próprio grupo.
É precisamente na prossecução desses fins, quando se põe o problema da realização daqueles valores, que os responsáveis têm de enunciar determinados objectivos específicos, formuláveis em termos económicos: estes serão as metas da utilização dos meios disponíveis, e traduzem, por isso, o elemento último da política económica, que dos fins apenas colhe a inspiração e o suporte
teleológico.
No tocante aos objectivos, a questão mais relevante é, obviamente, a sua dupla compatibilidade, essencial e funcional. A primeira respeita à própria natureza dos objectivos, em si mesmos; a segunda afere-se pelas reacções económicas a que a utilização dos instrumentos necessariamente dá lugar.

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Sabe-se que a política económica contemporânea orienta-se, fundamentalmente, para:
a) A expansão do produto;
b) O pleno emprego;
c) A satisfação crescente de necessidades colectivas;
d) A melhoria na repartição do rendimento e da riqueza;
e) A estabilidade dos preços;
f) A melhoria na situação da balança de pagamentos;
g) A melhoria no modo e grau de utilização dos factores de produção;
h) A protecção e prioridade de determinadas regiões ou ramos de actividade.
Se se juntarem a estes objectivos alguns de importância relativamente menor -entre outros, a orientação do consumo, a melhoria das condições gerais do trabalho, a segurança dos abastecimentos -, ter-se-á um quadro satisfatório dos objectivos da política económica actual, no que respeita ao Ocidente europeu.
Mas, como é evidente, nenhum enunciado deste género, por mais completo que seja, dará ideia suficiente dos condicionalismos em que tais políticas se movimentam. Desde logo, porque a arrumação funcional dos objectivos não pode dispensar a consideração do emprego dos instrumentos; depois, porque dele está ausente a dimensão temporal que permita situá-lo no plano dinâmico essencial a qualquer política.
A primeira considerarão filia-se no entendimento do que é uma política económica ligação essencial entre meio e fim; e, relativamente a cada objectivo, leva a subdividi-lo em tantas parcelas quantas as políticas não assimiláveis que normalmente comporta. A segunda reserva, requerendo a separação entre ópticas a longo e a curto prazo, obriga a, por elas, reflectir sobre os vários objectivos para bem os situar na sua projecção dinâmica.
Na verdade, se a expansão da produção (ou promoção do crescimento económico), bem como a satisfação das necessidades colectivas, a melhor repartição do rendimento e da riqueza, a protecção e prioridade sectorial ou regional, e a melhoria na distribuição dos factores de produção constituem, fundamentalmente, objectivos a longo prazo, de natureza estrutural, o pleno emprego, a estabilidade dos preços e a melhoria na situação da balança de pagamentos podem ser encarados nas duas dimensões consideradas, a curto e a longo prazo. Isto é evidente quanto ao nível de. emprego: a curto prazo, o objectivo comporta a redução do desemprego cíclico; mas a atenuação do desemprego estrutural e de fricção é, tipicamente, objectivo a longo prazo. O mesmo pode dizer-se da situação da balança de pagamentos, onde o que está em causa, no Plano imediato, é a defesa da liquidez externa e de tudo o que lhe anda ligado, nomeadamente no domínio cambial; mas que constitui também problema a longo prazo, situado ao nível das modificações estruturais do que as exportações e importações representam no produto e na despesa. Quanto aos preços, a sua estabilidade orienta políticas conjunturais anti-inflacionistas; mas a teoria ensina - e a experiência europeia dos últimos anos confirma - que o problema está longe de ser meramente conjuntural: a estabilidade dos preços apresenta-se hoje, a longo prazo, como objectivo importante das políticas económicas visando taxas de crescimento satisfatórias.
Se tudo isso é assim, porque acentuar então a dualidade de ópticas a respeito dos objectivos? Por duas razões principais: primeiro, porque, relativamente a qualquer objectivo, mesmo aos de natureza fundamentalmente estrutural, há como que uma inserção conjuntural de fenómenos nas políticas a longo prazo - inserção que não pode ser subestimada sem risco sério de fracasso; e, em segundo lugar, porque a relação entre os objectivos a curto e a longo prazo está presente no problema fundamental de qualquer política, que é o da compatibilidade dos objectivos.
Como já se notou, há que ter em mente duas espécies de compatibilidades: uma, decorrente, por definição, da própria natureza dos objectivos em confronto; outra, funcional, resultante de os objectivos serem apenas um pólo da política, que se define pela relação entre os objectivos propostos e os instrumentos a utilizar para os prosseguir. A incompatibilidade por natureza pode ser facilmente detectada e não tem significado económico pragmático. Não assim com a incompatibilidade funcional: saber-se quando são e quando não são funcionalmente compatíveis determinados objectivos é por vezes matéria delicada, mas cuja apreciação nem por isso deixa de ser indispensável. A análise dos instrumentos não tem de ser (raramente será) autónoma relativamente a objectivos predeterminados: torna-se subsidiária da indagação da sua compatibilidade funcional (em certo sentido, do que pode chamar-se a coerência das políticas), muito embora fique ainda de pé - para além desses problemas - a questão de escolher, entre os instrumentos possíveis, aqueles que melhor podem servir os objectivos propostos.

3. Sendo um plano de desenvolvimento reflexo da política económica adoptada, torna-se absurdo, por definição, pensar em incompatibilidades entre a política e o plano que a exprime. Por isso, para além das questões específicas do planeamento, tudo o que é válido para a política económica é-o também para o plano que a consubstancia em determinado período. A definição dos objectivos e dos instrumentos, a compatibilidade funcional daqueles, a coerência das políticas, são pontos fulcrais de qualquer plano, sejam quais forem as vias por que se processe.
Sabe-se como, neste domínio, a experiência dos países de economia mista - em que a iniciativa económica pertence fundamentalmente ao sector privado e o sector público se limita a orientar, incentivar e exercer no mercado uma acção supletiva - pode ser arrumada em três rubricas fundamentais:

a) Planeamento avulso, projecto a projecto;
b) Planeamento do investimento público integrado;
c) Planeamento global.

4. Veja-se, sumariamente, cada um destes tipos:
a) O primeiro tipo de planeamento - adoptado, em regra, para o arranque do processo de desenvolvimento - confina-se a um enunciado de projectos de investimento público, as mais das vezes sem íntima relação entre si, nem obediência a um conceito unificador, nem formalização adequada em documento autónomo; e, frequentemente, não inclui referências significativas ao sector privado.
Como geralmente se faz notar, pode dizer-se que neste tipo incipiente de planeamento não transparece uma definida «filosofia do desenvolvimento», embora não faltem de todo as alusões a certos objectivos fundamentais (elevação do nível de vida, promoção social, melhoria da balança de pagamentos, etc.); mas a adequação sistemática dos instrumentos utilizáveis à produção de efeitos dirigidos para a realização de objectivos coerentemente determinados é traço fundamental que tais planos normalmente não exibem. Numa palavra: esses planos não podem ser razoavelmente tomados como expressão de políticas económicas coerentes.

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Daí os riscos que semelhante tipo de planeamento comporta e que a experiência ilustra abundantemente: dimensão inadequada dos investimentos e duplicação de esforços, com as consequentes ineficiências e delapidações; atrasos na execução dos projectos; possíveis tensões depressoras sobre a economia global. Na verdade, frequentemente se tende a utilizar capital em empreendimentos de dimensão extrema, uns de pequenez indesejável a par de outros excessivamente grandes e sem ligação entre si. Como os autores notam a propósito da experiência turca na década de 50, nos sectores cuja administração é mais eficiente ou conta com fundos mais abundantes de gestão própria, assiste-se a sobre investimentos que representam, verdadeira delapidação de capital; e não faltam os casos em que o esgotamento dos fundos disponíveis obriga a parar ou adiar a execução de projectos, com todos os inconvenientes sobre a expansão do produto, além das possíveis tensões depressoras que vêm na esteira de pressões inflacionistas e de dificuldades na balança de pagamentos.
Mas nem tudo são espinhos no planeamento projecto a projecto: o estabelecimento das infra-estruturas indispensáveis e a efectivação de elevados níveis de investimento nos sectores fundamentais podem, geralmente, inscrever-se no activo dessa prática planeadora nas fases primeiras dos processos de desenvolvimento. Em boa verdade, a duplicação de esforços e a delapidação de fundos, o desequilíbrio dos investimentos e a descoordenação dos projectos, por ausência de uma política económica coerente, são os custos inerentes - a esta forma rudimentar de planeamento, impostos pela falta de recursos e de condições necessárias a uma técnica planeadora mais perfeita; nem pode esquecer-se que, em muitos casos, a recorrente instabilidade governativa e a indiferença ou incapacidade dos responsáveis pela gestão dos vários sectores da vida económico-social obstam também à cabal execução de toda e qualquer política económica.
b) O segundo tipo de planeamento é o do investimento público integrado. Aqui, o que mais importa é a definição dos sectores em que deve injectar-se o investimento público e das prioridades a respeitar, dentro de cada sector e de uns para outros; esclarecidos esses dois pontos, há apenas que elaborar, o mais correctamente possível, os projectos individuais em cada sector considerado, avaliar os recursos disponíveis para investimento e rateá-los pelos vários projectos, segundo os critérios de prioridade previamente estabelecidos. Sejam estes quais forem, pode dizer-se que, era regra, se subordinam ou conduzem à adopção, como critério geral de selecção, do princípio da elevação ao máximo do total de benefícios a tirar do total do investimento planeado, o que obriga a ultrapassar o simples critério individual do confronto entre custos e rendimentos, para ter em conta a complementaridade dos vários projectos relativamente ao produto e à economia em geral.
Embora represente um papel extremamente relevante no processo do desenvolvimento económico, este tipo de planeamento vê a sua acção imediata circunscrita aos sectores seleccionados para o investimento público, pois só aí aquela complementaridade é considerada: o sector privado é influenciado apenas por via indirecta, e com todas as carências resultantes da adopção do investimento como via única do desenvolvimento; e é extremamente ténue (ou mesmo inexistente) a inserção dos projectos sectoriais no quadro dos valores programados para o produto global de um país.
c) O esforço para realizar essa tarefa caracteriza o planeamento global ou agregado, que abrange, num esquema compatibilizado, não só os sectores submetidos a programas de investimento público, como os próprios
sectores privados, harmonizados entre si em ordem a determinados objectivos de política económica.
Porque aspira ao planeamento de toda a economia, um plano deste tipo tem de basear-se numa representação, tida como válida, da realidade económica respectiva e na projecção do seu crescimento sob a acção de determinadas forças. A construção de modelos de crescimento adequados torna-se, assim, o fulcro de todo o planeamento global, cujos méritos e riscos assentam largamente na correcção e no realismo do modelo adoptado.
Méritos inegáveis e unanimemente reconhecidos, pois só com uma técnica de planeamento global:
Há a possibilidade de cálculo de todas as variáveis que se supõe intervirem significativamente na economia de um país;
Pode fazer-se um juízo global das vantagens comparadas de todos os projectos públicos e privados e a distribuição harmónica, entre eles, dos recursos disponíveis, evitando-se desequilíbrios geradores de tensões e estrangulamentos contrários ao desenvolvimento desejado;
Se concretiza, para o período considerado, a política económica adoptada.

Riscos fáceis de prever, embora extremamente difíceis de evitar, e que, as mais das vezes, se exprimem:
Pela falta de realismo na - construção dos modelos, quer por insuficiência de dados estatísticos, quer por práticas planeadoras pragmaticamente inadequadas;
Pela falta ou insuficiência de projectos adequados em sectores básicos para o desenvolvimento;
Pela falta ou insuficiência de coordenação entre os projectos (por inadequada técnica de agregação e desagregação simultâneas), responsável por incompatibilidades individuais e sectoriais e inconsistência da agregação no plano global;
Por insuficiências ou dificuldades previsíveis na execução dos planos, dado que elas aumentam com a complexidade destes.

O enunciado tem o valor de uma apologética e de uma prevenção: defende-se que os planos globais devem ser a meta das aspirações no domínio do planeamento; mas reconhece-se que a sua adopção, antes de se dispor das condições mínimas aceitáveis, pode conduzir a resultados bem mais reduzidos do que os proporcionados por uma técnica planeadora mais modesta.
5. Como se sabe, o planeamento global repousa fundamentalmente na ideia de que o nível do investimento é a primeira determinante da taxa de crescimento. Por ser assim, tudo vem a assentar na relação capital-produto - tomada como estável em períodos suficientemente longos - e no ritmo de crescimento possível, dados os volumes de aforro disponíveis.
De tudo isto decorre que, em consciência, só pode planear-se globalmente desde que se conheça com razoável exactidão a relação capital-produto e se possa confiar na sua estabilidade (ou prever com segurança as variações respectivas. Depois, deve ter-se bem presente que o que está verdadeiramente em causa no planeamento não é uma relação geral ou média, mas um conjunto de relações capital-produto sectoriais que permitem prospectar convenientemente as taxas de crescimento desejadas para cada sector.
Quando as condições não consentem dispor de dados suficientes para se estabelecerem, com aceitável rigor, aquelas razões, sobre o modelo de crescimento pesam as maiores

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reservas, e o planeamento global suporta com riscos redobrados a sua prematuridade. O recurso a razões capital-produto fornecidas por curta experiência própria (que pode coincidir com uma fase conjuntural favorável), ou a razões tidas como válidas para outras economias, sujeita-se a críticas sérias como remedeio para uma insuficiência dos dados estatísticos indispensáveis.
Para além de tudo isso, haverá de contar-se ainda com o impacte exercido não só pelas alterações tecnológicas, mas também pelo próprio programa de investimentos sobre as razões determinadas: quanto maior for o volume relativo de investimentos programados (isto é, a ambição do próprio planeamento), maior será a possibilidade de se afectarem as várias razões ao longo do período de execução do plano, através da transferência de investimentos de sector para sector ou de projecto para projecto. Por isso se entende hoje que a determinação das razões capital-produto (quando não existam dados suficientemente rigorosos por sectores e, dentro de cada sector, por grupos de projectos) não pode basear-se tanto na experiência (do país ou do estrangeiro), como na própria evolução prevista para a economia, tida em conta, evidentemente, a política económica fixada.
E o que se diz das razões capital-produto diz-se da elaboração dos modelos de crescimento, cujas dificuldades são particularmente sérias nos sistemas de economia mista, dada a necessidade de incluir nas projecções globais o valor de uma procura que irá efectivar-se em condições de preços e rendimentos variáveis. Os autores previnem contra os riscos de se atribuir um sentido extremamente rigoroso aos modelos construídos sobre bases estatísticas tão frágeis como as geralmente disponíveis nos países insuficientemente desenvolvidos: nestes casos, muitas das opções respeitantes a objectivos e instrumentos acabarão por assentar em puros exercícios intelectuais, de feição dedutiva. Daí a necessidade, comummente aceite, de os planeadores se limitarem àqueles métodos que, no contexto existente, possam ter efectiva tradução político-económica, se de facto quiserem fornecer orientação segura aos responsáveis pelas decisões.
A estas reservas, outras costumam juntar-se, como as decorrentes da necessidade de proceder simultaneamente à agregação e desagregação no processo planeador. Isto porque, como bem sublinha a E. C. A. F. E. (Comissão Económica das Nações Unidas para a Ásia e o Extremo Oriente), é necessário que os programas nos diversos sectores e áreas correspondam aos exigidos por um plano equilibrado, o que implica que se incluam ou excluam conjuntamente no programa os projectos que são tecnicamente complementares, pois a inclusão de apenas alguns deles pode representar um desperdício evidente. A experiência ensina que nos países em desenvolvimento os dois caminhos simultâneos do planeamento não são percorridos com o mesmo êxito, com manifesta desvantagem para o processo de agregação, isto é, do que parte dos projectos e sectores para o plano global. As razões são várias e diversas de país para país, mas as mais importantes e comuns situam-se ao nível da falta de capacidade de projectar adequadamente, quer por insuficiências técnicas da máquina planeadora quanto aos projectos que integrarão o plano global, quer por, nesses países, e com frequência, não chegarem a pôr-se verdadeiramente problemas de prioridade, por os fundos de investimento existentes estarem consignados a projectos já em execução. Assim se reduz no curto prazo o sentido realista de um planeamento que, a prazo mais longo, se vê prejudicado por aquelas insuficiências e pela escassez de dados fidedignos.
E opinião unânime que esta insuficiência técnico-administrativa constitui, por isso, fonte importantíssima de estrangulamentos de indesejável gravidade, e que a consciência que geralmente se tem de tal incapacidade (e das dificuldades em a remover) constitui mais um elemento de tentação a favor de um planeamento global inadequado, no ar, desinserido da realidade individual ou sectorial dos projectos, justificado teoricamente pela consistência interna, lógica, dos agregados presentes no plano, já que estes podem ser projectados independentemente daqueles. Daí que, nesses países ainda não muito desenvolvidos, chegue a poder observar-se (como nota Hirchman) a coexistência amigável de planeamentos globais com a total improvisação no campo dos projectos de investimento.
A indispensabilidade dos dados estatísticos convenientes e de uma equipa capaz de economistas e técnicos planeadores trabalhando na esteira de uma experiência esclarecedora; a possibilidade de o esforço desta equipa se efectivar através de uma estrutura e de processos administrativos com o grau de eficiência necessário à execução de um plano global; a premência com que as mais das vezes se apresenta o arranque imediato de um processo de desenvolvimento; as dificuldades inerentes ao planeamento simultâneo dos sectores público e privado sem uma prévia e suficiente experiência de planeamento, projecto a projecto, e de investimento público integrado - eis um quadro de razões que fundamenta os riscos de fracasso dos planeamentos globais prematuros.
Por todas estas razões - favoráveis e desfavoráveis ao planeamento global-, não admira que por toda a parte esse tipo de planeamento esteja a ser efectivamente adoptado ou incluído nos projectos de futuro próximo para a acção planeadora, mesmo nos países em fase ainda relativamente atrasada de desenvolvimento económico; como também não admira que se tenham largamente concretizado muitos dos riscos apontados para a adopção prematura desse modo de planear, apesar do beneplácito que em certa altura lhe deram alguns mestres consagrados (como Tinbergen e os seus peritos de planeamento da E. C. A. E. E.).
Esses riscos foram sobejamente confirmados pela experiência de muitas tentativas de planeamento global feitas por todo o mundo, em países situados em estádios vários do desenvolvimento - desde as Filipinas, Bolívia e Venezuela a Marrocos, Indonésia, Birmânia, Ceilão, Nepal, Ghana e Etiópia.
Apesar disso, as organizações multinacionais têm-lhe sido favoráveis, como o provam as recomendações e os trabalhos de planeamento global da Comissão Económica das Nações Unidas para a América Latina (E. C. L. A.), da já citada E. C. A. F. E. e da correspondente Comissão para a África (E. C. A.). Países houve, porém, que preferiram seguir o processo evolutivo do planeamento, iniciando-o projecto a projecto ou sectorialmente, para, só depois de preenchidas aceitávelmente as condições indispensáveis, se lançarem no planeamento global: teria sido o caso do México, Checoslováquia, China, Índia e Paquistão. No entanto, ainda mais elucidativa do que a experiência destes países é a daqueles que, com acentuado ritmo de desenvolvimento e apreciável nível económico, adoptaram a mesma atitude e só recentemente abraçaram o planeamento global: em França, o 1.º Plano (1947-1953) cobria apenas oito sectores (carvão, electricidade, aço, cimento, maquinaria agrícola, transportes, combustíveis líquidos e fertilizantes); na Rússia, o 1.º Plano Quinquenal foi precedido dos programas sectoriais relativos à electrificação, alimentação, metais, têxteis e borracha, bem como do plano geral de industriaii-

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zação; e na própria Inglaterra só em 1961 se adoptou o planeamento global, depois das experiências sectoriais relativas ao carvão (1950), electricidade e gás (1954) caminhos de ferro, aço e energia nuclear (1955). Tem, no entanto, que recordar-se a diversidade de condicionalismos em que este último grupo de países se situava, relativamente à premência de desenvolvimento muito rápido.
6. A lição a extrair parece ser esta: quando já é possível, deve fazer-se planeamento global, mas limitando realistamente a ambição dos planos e integrando adequadamente os projectos executáveis. Mas, sobretudo, tendo-os bem presentes, há que evitar-se o êxtase perante a perfeição do modelo proposto, com a lembrança de que continua a ser certo haver sempre «mais coisas no Céu e na Terra do que na nossa vã filosofia». Não esquecendo, embora, a importância decisiva de volumes crescentes de investimento para mais intenso ritmo de crescimento, aquela lembrança levará a ter na consideração devida as vias laterais do desenvolvimento, nomeadamente a organização social e económica votada a um uso mais adequado dos recursos (quantitativa e qualitativamente), logo da capacidade produtiva existente, com a consequente redução ou eliminação dos desperdícios (que se apresenta como um dos mais frutuosos .meios de romper o chamado «círculo vicioso da pobreza»); a melhoria progressiva do elemento humano, o primeiro e mais importante dos factores de desenvolvimento; e a criação de um clima geral de confiança, agregação e solidariedade» sociais, bem como as reformas de estrutura exigidas para tal. E, por sobre tudo isto, levará a considerar a formulação correcta de políticas económicas e a sua prossecução pertinaz.
A experiência da Europa Ocidental, em confronto com a de outras áreas, confirma que o investimento (nomeadamente o levado a cabo pelo Estado) não se apresenta como a via única do desenvolvimento, e está mesmo longe de ter assumido nele o papel mais importante; e o Prof. Arthur Lewis pôde dizer, com a sua autoridade, que, para o desenvolvimento, muito mais importantes do que as despesas públicas na criação de bens capitais são as políticas económicas formuladas e prosseguidas pelo Governo com coerência e firmeza.
Planeamento global? Sim. Mas política global também - dentro e fora do Plano.

7. Um escrúpulo que a este propósito assalta certas consciências é o de procedendo assim, se negar, ou pelo menos se abalar, os fundamentos de uma economia livre.
Não parece que tenha de se perder muito tempo a sossegar tais escrúpulos: o planeamento não é apenas compatível com o funcionamento da economia de mercado - apresenta-se hoje, para alguns, como condição da sua sobrevivência.
Na verdade, a economia de mercado não se esgota na possibilidade do que poderia julgar-se o «funcionamento normal» do sistema: a sua capacidade de crescimento nos ambientes sociais em evolução faz parte da própria vitalidade de uma economia. Ora, não se aceita hoje, de um modo geral, que o fenómeno complexo do desenvolvimento possa ser entregue à marcha natural da evolução: desde logo porque, na voragem em que se sucedem os acontecimentos económicos actuais e sob a pressão de urgentíssimas necessidades de melhoria, nenhuma comunidade pode perder um minuto, sob pena de ver comprometido todo e qualquer esforço no futuro; depois, porque o desenvolvimento é fenómeno complexo que não se define pela simples elevação da taxa de crescimento do produto nacional, antes comporta de modo essencial a alteração das condições económico-sociais da colectividade e a necessidade de influenciar e controlar adequadamente as modificações globais extra-económicas. E, mesmo no que se refere aos factores estritamente económicos, existem as mais sérias dúvidas sobre a possibilidade de se processar hoje espontaneamente um desenvolvimento que, porventura, teria sido consentido no século passado por condições especialíssimas da expansão capitalista.
De facto, a possibilidade de um desenvolvimento espontâneo assenta, como se sabe, na presunção clássica do funcionamento perfeito do mercado, em. que o rendimento nacional seria elevado ao máximo pelo mecanismo da oferta e da procura em condições concorrenciais e de pequenas alterações por unidade de tempo, de modo a estabelecer-se sucessivamente o equilíbrio nos mercados finais de bens de consumo, no próprio processo da produção (sendo dado o stock de factores utilizáveis), no processo do investimento e no circuito monetário subjacente à circulação de bens e de factores. Ora, mesmo que o sistema de preços funcionasse perfeitamente no mercado dos bens de consumo e no processo da produção, a teoria ensina e a experiência confirma que não pode esperar-se idêntico equilíbrio no que respeita ao investimento: é que o volume e a composição desse investimento serão determinados por uma multidão de decisões individuais e estas podem muito bem levar a uma utilização dos recursos que se afaste da utilização óptima. Logo por isto: o investidor atende mais ao produto marginal líquido privado do que ao respectivo valor social; as economias externas não são suficientemente exploradas; e a complementaridade das indústrias é tão grande que a indução simultânea tende a conduzir a uma coincidência de investimentos maior do que a que se verificaria autonomamente. Por outro lado, o tempo de duração do equipamento é tão dilatado que as previsões dos investidores têm toda a probabilidade de serem, mais imperfeitas do que as dos compradores, vendedores ou produtores. O risco do investidor individual pode ser maior do que se verifica quando existe um programa global de investimento; ora, nesta matéria, os custos das decisões erradas são altos e quem os paga, na forma de perdas de capital, não é apenas o investidor, mas também a economia nacional. Além de tudo isso, a indivisibilidade do capital, faz com que as alterações em causa não se reduzam a pequenos valores, mas, pelo contrário, assumam valores elevados por unidade de tempo; mas, à medida que aumenta a dimensão das alterações por unidade de tempo, deterioram-se as condições de funcionamento do mecanismo dos preços relativamente ao investimento. Por fim, deve notar-se que os mercados de capital, ainda que bem organizados, se apresentam muitas vezes com características notórias de mercados imperfeitos, governados não só pelos preços, mas também por outros factores de repartição.
Quer dizer: mesmo que a resposta automática da economia de mercado permitisse a utilização óptima dos recursos quanto aos bens de consumo, não funcionaria eficientemente de modo espontâneo no campo do investimento e do equilíbrio monetário. O equilíbrio da procura e da oferta agregadas (que acaba por definir o equilíbrio monetário dinâmico) não pode ser conseguido espontaneamente e exige uma política deliberada; ora, sem um equilíbrio desse tipo, os preços deixam de constituir parâmetros aceitáveis de escolha e, por isso, o seu mecanismo não desempenharia a mais importante função que lhe é cometida pela economia de mercado.
Em conclusão: a própria sobrevivência da economia de mercado (e o processo do seu desenvolvimento) exige uma

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ou outra forma de intervenção planeada. Neste contexto, o planeamento não será outra coisa que a elaboração de uma racional, deliberada, consistente e coordenada política económica, que pode muito bem contar o mercado entre os instrumentos adequados da sua concretização. Na verdade, na medida em que souber aproveitar as suas notáveis virtudes e expurgá-lo de elementos não essenciais, nocivos à rápida elevação do nível geral de vida, a política económica em que o Plano se insere, ou de que é afloramento, constitui verdadeira defesa da economia de mercado contra alternativas de sistema que, inevitavelmente, o seu fracasso levantaria. Desse modo, é arma poderosa na defesa de uma estrutura económica e social assente na iniciativa privada, bem como da forma de viver que a acompanha.

8. Como se viu, entre os objectivos fundamentais prosseguidos pela política económica contemporânea contam-se:

a) A expansão do produto;
b) O pleno emprego;
c) A satisfação crescente de necessidades colectivas;
d) A melhoria da repartição do rendimento e da riqueza;
e) A estabilidade dos preços e da situação externa;
f) A melhoria do modo e grau de utilização de factores produtivos;
g) A protecção e prioridade de determinadas regiões ou ramos de actividade.
Dada a posição que assumem na constelação dos objectivos por que se orientam as decisões político-económicas, pode circunscrever-se a estes pontos a análise indispensável da compatibilidade que definirá a coerência daquelas decisões; na verdade, a maior parte dos restantes objectivos decorre lateralmente dos enunciados ou apresenta-se como condição da sua prossecução eficiente.
Já ficou bem expressa a ideia da necessidade de situar o exame dos objectivos no plano dinâmico dos instrumentos utilizáveis. Ora, quanto a estes, a arrumação geralmente aceite distribui-os por quatro grupos fundamentais:

a) Política financeira;
b) Instrumentos monetários, em sentido lato;
c) Instrumentos utilizáveis por intervenção directa nos mercados;
d) Reformas estruturais várias.

9. Analise-se cada um destes grupos:
a) O primeiro grupo de instrumentos abrange as intervenções financeiras que já podem considerar-se clássicas, nomeadamente as que constituem a política fiscal propriamente dita. Não é necessário perder muito tempo a relembrar o. seu significado, de tal modo o relevo que assumiram as impôs ao conhecimento geral.
Bastará recordar que uma política de despesas públicas se efectiva mediante:

I) Os investimentos realizados pelo Estado;
II) As subvenções e transferências de capital levadas a cabo pelo Estado às empresas;
III) As diversas transferências públicas efectuadas aos indivíduos;
IV) As variações dos stocks nas mãos do Estado;
IV) As aquisições correntes de bens e serviços;
V) Os salários e remunerações pagos pelo sector público.
Com esta política, o Estado actua directamente sobre as empresas, quer através das aquisições dos bens capitais por que se efectivam os investimentos públicos (I), quer pelas subvenções de capital ou donativos de igual natureza que lhes outorga (inclusive mediante a efectivação do aval que eventualmente lhes conceda) (II), quer pelo resultado líquido da variação dos seus stocks, isto é, o valor relativo das compras correntes de bens efectuadas pelo Estado às empresas para constituição ou reconstituição dos seus stocks (verba que, evidentemente, pode assumir valor negativo na respectiva conta estadual) (IV); quer, finalmente, pelas aquisições correntes de bens e serviços (V). Esta última verba define o chamado consumo público, juntamente com as remunerações liquidadas pelo sector (VI), cujos efeitos vão produzir-se, óbvia e imediatamente, nos indivíduos, destinatários também das transferências públicas levadas a cabo sob várias rubricas importantes, nomeadamente as efectivadas pela previdência nas suas várias formas, abono de família e assistência (III).
Por sua vez, a política fiscal - cuja vocação estritamente económica (isto é, despida das considerações de justiça que levaram do princípio da igualdade perante o imposto ao da igualdade pelo imposto) se orienta pelo desejo de tornar o mais eficientes possível os mecanismos económicos fundamentais (o que, por vezes, mas só por vezes, pode levar à aceitação da regra antiga da neutralidade, enquanto ordene que a política fiscal não falseie grosseiramente as condições e o jogo da concorrência) - efectiva-se, como se sabe, através da percepção de receitas pelo Estado, sob vários títulos significativos, nomeadamente:

I) Impostos directos sobre os rendimentos dos indivíduos e das empresas;
II) Impostos indirectos vários;
III) Direitos alfandegários;
IV) Quotizações e demais receitas da previdência social.

O enunciado - que pretende apenas cobrir, repita-se, as verbas mais representativas, deixando de lado receitas e despesas que não fazem rigorosamente parte do campo dos instrumentos financeiros utilizáveis para a política económica - traz ao de cirna do problema a consideração do saldo respectivo, ainda sujeito, como se sabe, a larga controvérsia, quer puramente conceituai, quer relativa à sua classificação, com. autonomia, no quadro dos instrumentos financeiros.
b) O grupo dos instrumentos monetários em sentido lato reveste importância decisiva. Embora a sua composição não seja inteiramente homogénea, justifica-se a unicidade da rubrica, dadas as íntimas conexões que, do ponto de vista político-económico, os vários instrumentos nela englobados mantêm entre si.
Tal como actualmente se entende, o grupo refere-se à:

I) Política monetária, em sentido próprio;
II) Política do aforro e do mercado financeiro;
III) Política cambial;
IV) Política da dívida pública.

Na primeira das políticas indicadas, está-se perante o problema do controle (ou da vigilância) do volume e espécies de moeda (com inclusão do crédito), no intuito de correctamente a ajustar à política económica proposta, de modo que as vias da expansão económica possam contar com meios de pagamento, com liquidez antecipada, relativamente ao conjunto da economia, ao Estado (através

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da sua dívida) e ao próprio estrangeiro, em virtude da situação activa da balança de pagamentos do país. E cumprirá, por acréscimo, que tudo se alcance de modo adequado, isto é, satisfazendo as necessidades da expansão, mas prevenindo o risco de se incitar ou sustentar, por essa via, um excesso da procura interna, tido como indesejável para a realização da própria política de crescimento na estabilidade, nomeadamente através das consequentes tensões inflacionistas nos mercados finais e nos dos factores de produção. É clássica e bem conhecida a lista dos instrumentos dessa política -onde à manobra da taxa de desconto (e do juro em geral) vêm juntar-se controles de outra ordem, como taxas e composição de reservas, regulamentação da própria actividade bancária, controles quantitativos e selectivos do crédito -, bem como os efeitos de persuasão que estiverem ao alcance das autoridades monetárias.
Pelo que se refere à chamada política do aforro e do mercado financeiro, ela consubstancia-se nos esforços tendentes à expansão e aperfeiçoamento de todos os canais abertos à oferta de poupanças pelos indivíduos e pelas empresas, política ainda bem mais complexa e difícil do que a anterior, pois tem de se situar no nível das decisões individuais relativas ao aforro e consumo e à forma de detenção dos valores aforrados. E bem se sabe que, em terreno tão delicado, a actuação das autoridades responsáveis tem uma influência muito menos nítida que a dos factores decorrentes da estrutura sócio-económica de cada país, do tipo de distribuição do rendimento e da sua evolução, cujas tendências recentes (exemplos do Japão, Espanha e Itália de há poucos anos) parecem fundamentar a correlação, aliás lógica, entre a expansão relativa dos rendimentos das classes menos favorecidas e a redução da propensão global ao aforro.
Tendo em conta que o aforro provém dos indivíduos, das empresas (na forma de fundos de autofinanciamento), e do Estado, aquela política dirige-se fundamentalmente aos mecanismos, próprios e laterais, do mercado financeiro, tentando adequá-los à situação actual da oferta e procura de aforros; a este propósito, o chamado problema da transformação da natureza dos fundos oferecidos reveste-se de excepcional acuidade em toda a política de desenvolvimento económico.
Quanto à política cambial, pode dizer-se que, hoje, ela constitui mais um aspecto da política monetária do que uma actuação autónoma no quadro geral da política económica, já que a sua utilização se torna cada vez mais rara, dado o condicionalismo interno e externo que a rodeia, bem como os riscos inerentes à sua eventual adopção sistemática.
Por fim, a política da dívida pública aparece como um sector importante da política monetária geral, sobretudo naqueles países (como os anglo-saxões) em que essa dívida é mais vultosa e apresenta relações íntimas com o mercado monetário, nomeadamente através da influência exercida pela gestão da dívida sobre a liquidez bancária.
A enumeração tem, pelo menos, o mérito de relembrar a complexidade deste campo monetário e as estreitas conexões que mantém com os demais domínios da política económica: o esquecimento dessas interdependências fundamentais pode comprometer gravemente qualquer esforço de desenvolvimento.
c) Ao terceiro grupo de instrumentos pertencem os que se concretizam por intervenção directa nos mercados. Estão neste caso:

I) O controle do comércio externo, dos pagamentos internacionais e das correntes migratórias;
II) As acções sobre os preços dos bens e dos factores (sobretudo, dos salários, dos dividendos, e das rendas);
III) A actuação relativa aos investimentos (nomeadamente aos realizados na construção, mas, por vezes, também aos próprios investimentos industriais, frequentemente por razões relativas aos desequilíbrios regionais ou sectoriais, ou ainda para reduzir a desigualdade na repartição dos rendimentos);
IV) O controle de certos processos produtivos e dos mercados de matérias-primas;
V) A regulamentação das condições de trabalho;
VI) A regulamentação de certas actividades económicas.

d) Encontra-se, por fim, o grupo de instrumentos incluídos sob a rubrica geral das reformas estruturais pretendidas. As principais estruturas em causa são:

I) A estrutura agrária;
II) A estrutura concorrencial dos mercados;
III) A estrutura sócio-económica das empresas;
IV) A estrutura das entidades que, ao nível nacional, asseguram o estudo e observação dos fenómenos económicos e sociais mais relevantes e tomam as decisões respectivas ou preparam as condições para a decisão governamental na matéria;
V) As estruturas relativas à política financeira;
VI) As estruturas envolvidas na política monetária em sentido lato, nomeadamente os sistemas de crédito, de transferências e subvenções públicas, bem como o quadro de controles acima indicados.

10. O enunciado que acaba de fazer-se basta para recordar a multiplicidade de instrumentos utilizáveis e a complexidade exibida por uma política económica global coerente. Na verdade, como repetidamente se tem chamado a atenção, é na utilização dos vários instrumentos que tem de aferir-se, funcionalmente, a compatibilidade dos objectivos.
Conhecidos, como se supõe, os principais efeitos previsíveis do emprego de cada um dos instrumentos referidos, a coerência de uma dada política há-de observar-se, caso por caso: antes de mais, pelo recurso que faz a instrumentos harmónicos (isto é, que não se excluam por si próprios), e, feito isso, pela competibilidade dos efeitos dos vários instrumentos com o grupo de objectivos visado.
A este propósito, as considerações seguintes são meramente ilustrativas do problema, cuja solução, para além da estrutura teórica indispensável, requer uma apreciação casuística tão complexa e difícil que justifica se apode a política coma a arte intrincada do possível.
Assim, pelo que toca ao primeiro problema, é evidente que a utilização de instrumentos financeiros não pode desligar-se da política monetária em sentido lato e uma e outros têm de estar presentes em qualquer tentativa de recurso a intervenções directas ou a planos de reforma estruturai. A título de exemplo, pode citar-se o caso das despesas públicas e da política fiscal, cuja harmonização já levanta problemas por demais conhecidos, nomeadamente no campo da expansão do produto e do emprego, que aconselharia, simultaneamente, uma política de despesas crescentes (sobretudo em investimentos, subvenções e transferências, bem como das remunerações pagas) a par de uma política tributária moderada, com eventual

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diminuição dos impostos sobre o rendimento dos indivíduos e empresas. Quando se encara a harmonização dessas políticas com as prosseguidas fundamentalmente por via monetária, novos problemas surgem, dada a dificuldade com que as políticas monetárias expansoras (pela via do aumento da concessão de empréstimos públicos aos indivíduos e às empresas, redução da taxa de juro e abrandamento dos controles sobre as reservas e condições da criação de crédito, exigíveis para uma expansão do emprego, mas discutíveis, pelo menos em parte, para a expansão do produto) se compatibilizam com algumas das já mencionadas políticas financeiras, nomeadamente as relativas à política fiscal possível em tal contexto monetário.
No fundo - e de modo ainda mais importante que o desta questão prévia teórica da harmonização dos instrumentos - é na compatibilização final da sua utilização em face de certos objectivos que os conflitos surgem. Na verdade, mesmo quando pode aceitar-se, sem grandes escrúpulos, a harmonização dos instrumentos utilizáveis, há que contar sempre com os efeitos que o seu emprego provoca não só sobre os objectivos prosseguidos, como sobre outro ou outros. Se esses efeitos são nulos ou negligíveis, os objectivos são praticamente independentes; se são favoráveis total ou parcialmente (isto é, uns efeitos favoráveis e outros negligíveis), os objectivos são total ou parcialmente complementares; se são desfavoráveis, estamos perante uma situação de conflito entre os objectivos. Ora, são essas situações de conflito que definem a própria política como tal, enquanto opção deliberada em quadro coerente.
A título meramente exemplificativo, citam-se alguns efeitos dos seguintes instrumentos de política económica:

a) O aumento dos investimentos públicos:

I) Tende a acelerar a expansão do produto;
II) Pode ajudar a uma melhor distribuição do rendimento e da riqueza (por exemplo, no caso de investimentos dirigidos à construção de moradias económicas);
III) Pode contribuir para a correcção de desequilíbrios regionais ou sectoriais através de uma política discriminatória de investimentos;
IV) Promove mais vasta satisfação de necessidades colectivas;
V) Acelera a consecução de mais elevados níveis de emprego;

mas, ao mesmo tempo,

VI) Pode contrariar a estabilidade dos preços; e
VII) Constitui factor de tensão na balança de pagamentos.

b) O aumento das subvenções e transferências de capital às empresas:

I) Tende a acelerar a expansão do produto;
II) Tende a melhorar a redistribuição de rendimentos, desde que seja aproveitado para a promoção de uma baixa dos preços e das rendas;
III) Pode contribuir para a correcção de desequilíbrios regionais ou sectoriais;
IV) Contribui para um mais elevado nível de emprego;
mas, ao mesmo tempo,
V) Embora o acréscimo das subvenções e transferências possa contribuir para a estabilidade dos preços mediante a possível redução dos custos, a mesma estabilidade pode requerer uma contracção da procura, que exigiria, em vez de aumento, diminuição das subvenções e transferências;
VI) As mesmas considerações são válidas para á política relativa à balança de pagamentos, em que a influência sobre a procura entra em conflito com os efeitos positivos das subvenções relativamente às exportações.
c) O aumento das transferências efectuadas pelo Estado aos particulares, nomeadamente nos domínios da previdência e da assistência social:
I) É factor positivo na redistribuição dos rendimentos;
II) Pode ser forma de extensão da satisfação de necessidades colectivas;
III) Constitui arma importante da política de emprego (quando considerada a forma de um serviço social de emprego);

mas, ao mesmo tempo,

IV) E perturbador da estabilidade dos preços.

d) À política de remunerações aplica-se, mutatis mutatis, o que acaba de
dizer-se para as subvenções e investimentos, situando-se o conflito, também aqui, entre a estabilidade dos preços e da balança de pagamentos por um lado e os demais objectivos indicados por outro.
e) O mesmo se diga da política de compras do Estado e da sua política de receitas; na verdade, nesta, enquanto a estabilidade dos preços e da balança aconselham aumento ou aceleração da percepção de receitas (com possível desvio, quanto aos impostos indirectos, atendendo a eventuais efeitos favoráveis às exportações), a expansão do produto e do emprego e a correcção de desequilíbrios regionais ou sectoriais requerem uma redução (absoluta ou selectiva) da carga fiscal imposta; a melhoria na distribuição do rendimento e da riqueza apela para um agravamento da progressividade, que pode entrar em conflito com o tratamento favorável dos rendimentos aforrados, aconselhado para a expansão do produto.
f) Pelo que respeita aos instrumentos monetários, sabe-se como a redução da taxa de desconto e o abrandamento das exigências sobre reservas e dos controles sobre a criação de crédito e sobre as vendas a prestações:

I)Tendem a constituir factores estimulantes da expansão do produto e do volume do emprego;
II) Apresentam-se como elementos perturbadores da estabilidade dos preços e da balança de pagamentos, que requer, em regra, vigilância estreita do comportamento daquelas variáveis e a sua manobra em sentido contrário, logo que as situações conjunturais se caracterizem por pressão indesejável nos preços ou no mercado cambial.
Basta, para já. No entanto, impõe-se uma prevenção: pode-se ser tentado a concluir pela redução, ao conflito entre esses dois grupos de objectivos, de todo o problema de opção na utilização dos instrumentos da política eco-

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nómica; a conclusão seria precipitada e enganadora. Na verdade, nem o problema se esgota na simples resolução de conflitos absolutos entre relações «instrumentos-objectivos» de sinal contrário (já que os efeitos provocados são passíveis de intensidade vária), nem os responsáveis pelas decisões podem manejar os instrumentos a seu bel-prazer, independentemente das circunstâncias sócio-económicas e políticas existentes. Uma e outra destas considerações situa as decisões de política económica em campo ainda mais complexo do que o revelado imediatamente pelo enunciado feito, num campo em que é mister esforçar-se por elevar ao máximo o efeito global favorável, considerando do melhor modo os vários resulta, dos provocados pelo uso dos diversos instrumentos e reduzindo ao mínimo possível os efeitos desfavoráveis que, porventura, se tenham de suportar em virtude daquele uso.
No entanto, algumas conclusões podem ser adiantadas, se se tiver presente a experiência contemporânea da Europa Ocidental.
No que diz respeito à expansão do X produto, são os investimentos públicos, as subvenções e transferências de capital às empresas (bem como os empréstimos públicos a elas concedidos e que, praticamente, quase se lhe equiparam), a reforma do sistema fiscal e as reformas estruturais necessárias a um aumento geral de produtividade (quer da estrutura das empresas, quer dos mercados de factores, quer da própria administração pública) que assumem o papel de maior relevo. A melhoria na distribuição do rendimento e da riqueza encontra as suas armas mais importantes nas transferências efectuadas pelo Estado aos particulares (e na reforma dos sistemas respectivos), no controle dos salários e no sistema de impostos sobre o rendimento. A correcção de desequilíbrios regionais ou sectoriais parece ter contado, sobretudo, com as subvenções e transferências há pouco referidas, os direitos alfandegários e o controle das importações. Por sua vez, a estabilidade dos preços, além. de largamente influenciada pela situação orçamental do Estado, tende a ser muito sensível aos investimentos públicos, à taxa de desconto, à manipulação cambial, ao controle dos salários e dos preços, bem como ao sistema dos impostos directos sobre o rendimento das empresas e do imposto sobre as transacções.

11. O que acaba de dizer-se mostra que, embora os instrumentos descritos não sejam neutros perante a quase totalidade dos objectivos da política económica, relativamente a estes pode falar-se de uma preferência de alguns dos instrumentos, por mais adequados do que outros à sua prossecução ou de menores dificuldades de utilização perante o condicionalismo extra-económico existente. Assim, nas políticas a longo prazo não têm assumido papel de relevo os instrumentos monetários: elas têm contado, sobretudo, com os instrumentos financeiros (principalmente as subvenções, transferências de capital e empréstimos do Estado) e as reformas estruturais (nomeadamente as levadas a cabo através da criação ou reforma de entidades que, no domínio económico, social e administrativo, preparam, auxiliam, executam ou se tornam mesmo responsáveis pelas decisões daquele tipo de actuação). Pelo contrário e como era de esperar, nas políticas a curto prazo o papel decisivo tem sido desempenhado pelos instrumentos monetários, mais flexíveis e rápidos (por exemplo, a taxa de desconto), bem como pelos impostos indirectos (sobre as transacções), os câmbios e os controles dos preços dos bens e serviços.

12. O conhecimento e possível domínio das situações conjunturais reveste-se de importância evidente para a prossecução de qualquer política, a médio ou longo prazo. Tal percepção espraia-se pelos domínios da produção agrícola e industrial, do emprego, dos resultados tributários, do consumo de energia, da utilização de .meios de transporte, dos preços do comércio externo e seus pagamentos e da evolução monetária (nomeadamente dos efeitos descontados). É nesse campo que se têm construído índices reveladores das tendências a curto prazo, tanto mais perfeitos e eficientes quanto menos sacrifiquem a sua correcção à rapidez com que possam ser usados no diagnóstico da conjuntura. Fala-se, por isso, a seu respeito, em verdadeiros indicadores de alerta, cujo significado, por demais conhecido, não carece de comentários. O que importa é sublinhar a necessidade imperiosa da sua utilização sistemática ao serem prosseguidas as políticas de médio e longo prazo, nomeadamente quando concretizadas em planos de desenvolvimento. Tal utilização requer a concentração numa entidade de todos os elementos indicadores da situação conjuntural, a fim de ser possível ponderar os diversos índices pelos resultados dos inquéritos directos aconselháveis junto do sector privado e da Administração, bem como o seu confronto com os dados disponíveis no estrangeiro. Com a frequência necessária, pelo menos duas vezes por ano, aquela entidade deverá fazer o ponto da situação, de modo que a execução prevista dos planos possa assentar em bases não ilusórias, mas reais, ou até sujeitar-se a revisões mais ou menos acentuadas a política que aqueles concretizam.

13. Importa agora que se aborde sumariamente um dos problemas mais delicados de toda a política económica - a questão do financiamento. Nela, não se trata apenas de inventariar, com espírito realista e conveniente prudência, as fontes do financiamento, suas potencialidades e natureza, e de aproximá-las, em termos dinâmicos, das necessidades de fundos. É que a dinâmica do financiamento, mergulhando nos próprios veios dos mecanismos económicos fundamentais, influencia-os, directa ou indirectamente, ditando em larga medida o sentido e a intensidade de alguns dos fenómenos que mais interessam à prossecução das políticas de desenvolvimento. Não é, pois, exagerado afirmar que na questão do financiamento está presente, de um modo ou outro, o que há de mais difícil e grave em toda a problemática político - económica do crescimento planeado.
Não pode este parecer, por razões óbvias, abordar todos os pontos dessa problemática complexa, e muito menos o poderia fazer nos comentários sobre o financiamento, mas nem por isso a Câmara se sentiria absolvida de não ter relembrado, a este propósito, algumas das questões mais importantes, cuja recordação, no seu entender, enquadra teoricamente o campo de reflexões indispensáveis ao juízo que lhe cumpre emitir sobre o caso português.

14. Dado que a progressiva formação de capital, sobre que decisivamente assenta o processo do desenvolvimento, exige:

a) O acréscimo do volume do aforro real para que possam ser destinados ao investimento volumes crescentes de recursos;
b) A canalização desses aforros pelos mecanismos monetários e financeiros; e
c) A própria formação dos capitais em sentido técnico;

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entre os problemas mais importantes a relembrar contam-se:

1) As grandes fontes da oferta de aforros, isto é, as grandes origens do financiamento;
2) A estimativa das necessidades e potencialidades de financiamento;
3) Os canais de recolha da poupança privada e do financiamento externo;
4) A interacção dos meios monetários e de financiamento ;
5) Os efeitos do processo de financiamento sobre o desenvolvimento económico.

15. As fontes do financiamento são, como se sabe, o sector público, as empresas com o seu autofmanciamento, a poupança privada e o crédito externo. Umas e outras inserem-se de modo não idêntico no processo do desenvolvimento e exigem, por isso, atenção separada; no entanto, deve ter-se presente que a observação não contende com as estreitas conexões que se estabelecem entre os agregados componentes da poupança interna.
De certo, ninguém cometeria hoje o erro grosseiro de confundir a expansão necessária do volume da poupança real com o problema dos meios monetários do financiamento da formação de capital: a taxa de investimento fisicamente possível é sempre limitada pelo aforro, seja qual for a institucionalização dos meios de oferta de fundos monetários de financiamento, embora ela possa ter influência muito marcada nos termos por que aquele aforro real se decide. Por outras palavras, e como nota Meier: uma «penúria de capital», no sentido de falta de recursos reais disponíveis para fins de investimento, não pode ser resolvida apenas por um aumento da oferta daqueles fundos, não muito difícil de conseguir e cuja falta não parece deva considerar-se estrangulamento irremediável; uma vez que comece a existir uma razoável oferta e procura de aforros reais, há toda a probabilidade de que surjam intermediários financeiros e seja criada, rapidamente, uma estrutura financeira capaz; mas essa criação (embora elemento importante do processo) não é substituto, da efectivação necessária do aforro real.
Tal efectivação dá-se:

a) Internamente:

I) Por decisão voluntária sobre o consumo e a poupança;
II) Pela integração de recursos não utilizados na disponibilidade efectiva de recursos pela economia global (nomeadamente integração do trabalho desempregado na força de trabalho efectivo);
III) Involuntariamente, isto é, por força de macrodecisões: fiscalidade, gestão da dívida pública, inflação deliberada, entregas compulsivas ao Estado, controle das razões intersectoriais de troca, centralização das exportações, manipulações cambiais, sistemas de financiamento da previdência, etc.

b) Externamente:

I) Por investimentos efectivados com recurso a capitais estrangeiros;
II) Por restrição da importação de bens destinados ao consumo;
III) Por melhoria nas razões de troca.

16. É óbvia que, mantidas as demais coisas constantes, o volume da poupança depende, fundamentalmente, do nível do rendimento: o coeficiente de aforro (ou a propensão média a poupar) figura entre os elementos estáveis sobre que assenta a própria política e o seu planeamento, embora uma e outro visem precisamente alterá-los, nomeadamente através do uso de meios fiscais.
E que, posto o problema em termos da necessidade de acréscimo (que pode resultar do confronto entre as projecções da taxa de formação bruta do capital fixo, desejada para uma pré-fixada taxa de crescimento do produto, e as projecções da poupança interna em resultado da própria variação prevista do rendimento e dos factores que condicionam aquela e esta), é pouco provável que o aforro, através de uma decisão espontânea, responda voluntária e adequadamente no sentido de reduzir, em termos relativos, a expansão do consumo. E a probabilidade diminui, como se sabe, à medida que é mais baixo o nível de rendimento de que se parte e maior o peso relativo das classes de menores rendimentos que tendam a ser os primeiros grandes beneficiários do desenvolvimento económico-social. É ainda altamente discutido entre os economistas o único resultado da alta dos rendimentos favorável ao aforro voluntário - que a propensão marginal seja maior do que a respectiva propensão média, nessas condições.
Tudo se conjuga para a conclusão que parece impor-se quanto a alguns dos problemas atrás enunciados: em primeiro lugar, a necessidade de se elaborarem com toda a prudência e do modo mais realista as projecções relativas aos dados fundamentais do crescimento, nomeadamente o andamento do produto, da poupança e da formação bruta de capital; e, depois, deverem ser considerados, sem preconceitos falseadores das melhores intenções, todos os meios possíveis de fortalecimento do aforro interno, integrados numa política global, cuja vigilância e execução sistemáticas terão de ser também globalmente asseguradas.

17. Sabe-se como as políticas de aforro forçado têm merecido a atenção dos estudiosos. De acordo com o seu ensinamento (relativamente unânime), pode
dizer-se que:
a) Quase sempre existem possibilidades de acrescer o volume da poupança através do aumento da carga tributária ao longo de um período suficientemente dilatado, pois, em rigor, nos países em desenvolvimento, a carga efectiva está ainda longe de ter esgotado a capacidade tributária - que varia de país para país em função do seu rendimento real per capita, o tipo de repartição do rendimento, as próprias estruturas económica, política e administrativa. No entanto, o acréscimo do aforro forçado tenderá a ser menor do que o aumento da carga tributária, dado que é muito forte a probabilidade de este se concretizar parcialmente à custa do volume do aforro voluntário, em vez da diminuição correspondente nos montantes do consumo. E não devem esquecer-se também os efeitos secundários de tal prática, na ausência de medidas de protecção dos rendimentos a cuja variação é mais sensível o próprio volume do produto - quer directamente, pelo incentivo a investir dos empréstimos, quer indirectamente, pelo cerceamento ou incentivo do seu autofinanciamento. Sejam quais forem as reservas a opor a essa via do aumento da poupança disponível, ela parece constituir ainda

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um dos meios mais seguros e rápidos de o promover. O que traz para o nosso problema a necessidade de realçar o papel do sistema fiscal na política de desenvolvimento, onde, ao contrário das concepções tradicionais (porventura parcialmente válidas nos países altamente desenvolvidos), há que partir das necessidades do financiamento do crescimento económico para a parte que tem de competir ao sector público na sua cobertura. Ora, como essa parcela se apresenta com muito grande significado nos países em desenvolvimento, este deve constituir a palavra de ordem, a fim de integrar adequadamente a política fiscal na política económica que globalmente o prossegue.
b) À margem das fórmulas clássicas, que são o empréstimo forçado, o déficit orçamental e a inflação, tem-se recorrido, nas economias em desenvolvimento, a uma série de processos que acabam por reconduzir-se a outras tantas fornias de obtenção de aforro não voluntário.
Em certos casos, o Estado centraliza num organismo público as operações comerciais com o estrangeiro ou limita-se a impor a entrega das divisas obtidas pelos exportadores, adquirindo-as a um câmbio fixo, para depois as vender por taxas mais altas aos importadores; qualquer dos processos permite-lhe deslocar em seu proveito uma parcela das receitas das exportações.
Noutros casos, o Estado bloqueia os preços agrícolas, impedindo-os de subir, ao menos em correspondência com a alta ,dos restantes preços. Coisa idêntica sucede quando se adoptam, no financiamento dos esquemas de previdência, fórmulas assentes na capitalização das receitas obtidas; também aqui o sector estadual (ou paraestadual) concentra nas suas mãos uma parte dos recursos encaminháveis para a formação de capital.
II evidente que as providências se multiplicam à medida que se transita da organização sócio-económica descentralizada para formas progressivamente aproximadas de estruturas estatistas. Deixando de lado esses exemplos, por não aplicáveis, limite-se a atenção ao facto geral de as práticas de aforro forçado estarem dependentes, em larga medida, da autoridade efectiva disponível ou da possibilidade de as usar, bem como do próprio grau da evolução económico-social. Relembrando que, ao longo da história, os esquemas de aforro forçado foram repetidamente empregados, mas sem consideração dos seus efeitos laterais, os insucessos e inconvenientes verificados ilustram o perigo, tantas vezes referido, de se menosprezar a polivalência dos instrumentos no terreno da política económica.

c) Deixou-se para o fim o acréscimo de poupança que, forçadamente, pode tentar obter-se através da política monetária e que constitui uma página das mais debatidas e ilustrativas de certos modos de prosseguir o desenvolvimento económico, muito vulgares há alguns anos. Tratou-se, geralmente, de situações em que se reconheceu que a taxa de investimento, necessária para o crescimento económico mínimo desejado, não era possível com recurso à poupança
resultante das fontes não inflacionistas citadas; e assim, deliberada ou passivamente, se aceitou a variação dos preços em resposta a uma expansão monetária (ligada geralmente a um deficit das operações do sector público) como via do financiamento do excesso requerido.
Não é este o lugar próprio para a discussão de tão apaixonante problema; aqui, cumpre apenas sumariar os pontos fundamentais do debate a que conduziu, na medida em que permitam ter a perspectiva teórica correcta para o juízo a emitir. Pode dizer-se que as posições se extremaram sobre os seguintes pontos:

I) Na defesa da inflação como processo do acelerar o crescimento económico, considerou-se que:

1.º Permite a absorção de mão-de-obra desempregada;
2.º A expansão monetária é necessária para afastar do consumo uns tantos recursos económicos;
3.º Nos primeiros estádios do desenvolvimento, a «ilusão monetária» pode induzir uma utilização mais intensiva dos factores;
4.º Pode encurtar-se o período altista, desde que o acréscimo do investimento (devido à expansão inflacionista) seja neutralizado por uma adequada tributação, pois a alta do investimento leva à alta do produto e esta ao aumento da poupança, aumento que deverá ser objecto daquela tributação para limitar o fenómeno inflacionista;
5.º Além disso:, é o menos pesado e inconveniente processo de financiar a expansão do investimento.

II) Por seu turno, a crítica a esse processo pode sumariar-se deste modo:

1.º Provoca efeitos indesejáveis no tipo mais eficiente de utilização de recursos, nomeadamente no campo do investimento, onde conduz a distorções perniciosas;
2.º Constitui fonte importante de dificuldades na balança de pagamentos, quer pelos efeitos depressores exercidos sobre as exportações, quer pelo empolamento das importações, quer ainda pelo clima desfavorável que cria ao investimento externo;
3.º Pode mesmo levar à contracção do investimento interno, em resposta a uma redução dó aforro voluntário e ao enfraquecimento ou supressão de incentivos;

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4.º O fenómeno arrisca-se a sair do controle das. autoridades responsáveis (controle tanto mais precário quanto menos desenvolvido é o país),
transformando-se, a partir de certa altura, em processo autónomo e cumulativo.
Todos estes pontos dispensam explicações complementares, e a sua consideração, neste parecer, visa apenas chamar a atenção para o modo como se formula o problema do comportamento dos preços no processo de desenvolvimento económico.
O esclarecimento implica, antes de mais, que se assentem ideias elementares sobre o próprio fenómeno da inflação e, depois e a partir delas, que se indague se a estabilidade dos preços em vez de pólo político-económico alternativo do crescimento, é ou não condição necessária da sua efectivação equilibrada e rápida; finalmente, conviria pensar um pouco sobre o significado do processo de estabilização quanto à prossecução das desejadas políticas de expansão do produto.

18. Desnecessário se torna lembrar as duas vias por que a inflação se processa -a alimentação de um excesso de procura nos mercados finais e os impactes sucessivos nos mercados dos factores que levam a uma inflação custos, não porque a sua consideração seja pouco importante para uma adequada política de contenção ou estabilização da alta dos preços, mas de tão familiar que aquele problema é a qualquer responsável por questões económicas. Já terá, porventura, maior justificação (embora, participe daquela familiaridade) falar-se sobre o alcance prático da própria inflação no processo de desenvolvimento, pois, na inflação, não se assiste apenas a um excesso quantitativo relativamente à procura que seria feita em condições estabilizadas: a esse excesso vem juntar-se um desvio qualitativo, traduzido Jia falta de propriedade dos recursos mobilizador relativamente aos que responderiam à procura normal. E essa inadequação, gerada e mantida pelo processo inflacionista, é da maior importância para o problema em causa.
Na verdade (como nota Dorrance), nesse processo, a oferta de bens é necessariamente igual à despesa efectiva, mas inclui tipos de mercadorias e serviços cuja procura só existe enquanto há inflação. Assim se explicam, por exemplo, às distorções provocadas pela alta inflacionista no investimento, nomeadamente pela acumulação excessiva de stocks e uma preferência acentuada por formas físicas de detenção de capital em detrimento das formas financeiras da sua representação; em posição semelhante se situam as distorções derivadas, durante o processo, da preferência, dos investidores por sectores industriais altamente protegidos. A reflexão interessa de dois modos: primeiro, porque, sendo assim, não é apenas por um excesso quantitativo da procura relativamente ao nível normal que pode aferir-se a situação. inflacionista válida para efeitos de desenvolvimento; em segundo lugar, porque a estabilização significará, por isso, em vez de uma simples eliminação do excesso, origem da alta dos preços, um reajustamento da própria economia, distorcida, por essa alta, em sectores que podem ser Críticos para o seu crescimento normal.
Assim se é levado à questão fundamental acima proposta.
Nas reflexões precedentes, tem-se insistido sobre a característica selectividade de todo o processo de desenvolvimento. Nele interessa, sobretudo, o campo do investimento, onde, obviamente, o critério geral da selectividade decorrerá dos pressupostos estruturais que definam, simultaneamente, as posições mais válidas para uma estratégia sectorial da expansão do produto e os
vínculos de complementaridade que permitem a difusão do impacte dos investimentos assim programados - difusão sobre que vem a assentar, no fundo, a política de aceleração do ritmo do crescimento económico.
O desenvolvimento exige, pois, investimentos selectivos e o critério de selecção é de natureza essencialmente estrutural, assente, portanto, nas considerações de uma óptica a longo prazo, onde o actual se filtra pelo previsível, tidas em conta as próprias actuações da política visando a modelação de uma nova estrutura económico-social. Com isto se pretende significar que nada permite dizer que o critério de selecção dos investimentos tenha necessariamente de coincidir com o eventualmente resultante do processo inflacionista. Pelo contrário, e como é natural, parece muito mais razoável supor-se que aquele critério se aproxime da consideração natural das vantagens relativas existentes (tidos em conta os vínculos de complementaridade referidos) nos sectores onde é presumivelmente maior a reprodutividade dos investimentos e, por isso, mais intenso o impacte multiplicador exercido, em termos reais, sobre toda a economia. Ora, sabe-se como o processo inflacionista desloca o problema dessa posição, tendendo precisamente a criar, pela distorção intersectorial do mecanismo dos preços (e mesmo dentro de cada sector), uma divergência essencial entre as razões de custos e as razões de preços que lhe correspondem, afectando em maior ou menor medida o modo como o investimento e a produção respondem à situação do mercado, o que significa uma distorção grave dos parâmetros da utilização mais económica dos recursos da colectividade, ou seja, uma delapidação relativa desses recursos, um travão mais ou menos sério do respectivo processo de crescimento económico.
Depois e para além disso, a inflação afecta largamente o volume das exportações, as condições concorrenciais externas do país e, até, a fruição das possíveis vantagens relativas. Daqui resulta além de mais um motivo muito forte a impor atenta vigilância sobre as tensões inflacionistas que podem ocorrer (e é provável que tendam a ocorrer) num processo de desenvolvimento - uma reflexão que, nem por ser óbvia, perde interesse prático: em larga medida, mais do que os índices internos da variação dos preços, no processo inflacionista interessa ter em conta a marcha dos preços internacionais, dos centros e sectores mais relevantes para a economia externa do desenvolvimento.
Mas a inflação é ainda acusada (e parece que fundamentadamente) de levar a um empolamento das importações (sobretudo de produtos finais) e deterioração das condições de atracção dos capitais estrangeiros. Ora, tudo isso significa deterioração das condições relativas à situação externa do país; fenómeno cuja gravidade para o desenvolvimento não tem de ser sublinhada, se se pensar que a ele virá juntar-se, muito provavelmente, forte tendência para a exportação de capitais do próprio país empenhado na expansão e uma retracção dos seus investidores potenciais, com amortecimento ou mesmo estagnação aã o mercado financeiro; efeitos que, como se .sabe, podem esperar-se da preferência por formas físicas de capitalização, menos afectadas do que as financeiras pela alta progressiva dos preços, bem como da incerteza que esta provoca sobre as expectativas dos investi-

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dores, desarmados da confiança que normalmente poderiam depositar nas taxas gerais do incentivo a investir e colocados,, em vez disso, entre uma situação anormal do mercado e o receio de alterações bruscas da ;política económica que visem eliminá-la.
Não parece, assim, precipitado concluir-se (como o parece ter feito a generalidade da política económica contemporânea na Europa Ocidental) que, mais do que alternativa do desenvolvimento, a estabilidade dos preços constitui condição da sua prossecução segura e equilibrada, sendo, por isso, objectivo a considerar atentamente no confronto com os demais, ao reflectir-se sobre os termos da sua compatibilidade. O que sucede é que, em. certa medida, o debate sobre o comportamento dos preços no desenvolvimento económico é inquinado por um preconceito de antagonismo, derivado, provavelmente, da rigidez de certas posições ortodoxas, fundamentalmente em matéria de política monetária. Por outras palavras: se são de aceitar as considerações acima expostas, a estabilidade afere-se dinamicamente e por critérios ligados, de modo essencial, ao processo complexo do desenvolvimento económico. Estabilidade não é rigidez ou estagnação, e exige, por isso, mais do que o cumprimento puro e quase automático das regras consignadas pela ortodoxia monetária tradicional, uma política multiforme e flexível, que vai desde o campo monetário ao domínio fiscal, sempre de olhos postos na estabilidade que verdadeiramente interessa - mais do que por si própria, pelo que significa no processo da expansão económica do país.
É precisamente com esse espírito que deve encarar-se o problema da estabilização de uma situação inflacionista efectiva, quando inserido numa política de desenvolvimento.

19. Sabe-se que uma política dessas tende a exercer, tanto mais fortemente quanto mais intenso for o ritmo de crescimento desejado, uma pressão sobre os preços, pelo menos através das penúrias que provoca na oferta de bens e factores em certos sectores da economia. Mas se isso nada tem a ver com a indispensabilidade ou conveniência da alta generalizada dos preços para o processo de desenvolvimento, não afecta, em si mesmo, o problema da política estabilizadora neste processo: a estabilidade haverá de inscrever-se entre os objectivos a prosseguir, mas devem vigiar-se os efeitos que a sua prossecução tende a provocar sobre a marcha do desenvolvimento, para tentar reduzir ao mínimo a sua possível acção fremadora.
A primeira ideia a aclarar é que não pode esperar-se que os efeitos perniciosos da inflação sejam imediata, ou rapidamente sustados pela remoção das tensões inflacionistas. Logo por isto: dado que a estabilização não é apenas eliminação do excesso da procura, mas, como se viu, reajustamento de toda a economia a condições de funcionamento permanente, tidas como normais e, portanto, estáveis, a estabilização tende a provocar uma redução da procura de investimentos em sentido técnico. Na verdade, por razões várias, as decisões tomadas quanto à criação de capitais não se traduzem imediatamente em utilização de recursos na produção de capital. Além disso, o reajustamento estabilizador - fazendo regressar ao seu nível de não economicidade os empreendimentos cuja atractividade se deve apenas ao processo inflacionista - leva rapidamente ao abandono de investimentos que estavam a ser realizados. Este fenómeno, juntamente com o desfasamento entre o aparecimento (ou reaparecimento) de processos estàvelmente atractivos e a utilização efectiva de recursos na sua consecução, pode levar (e é mesmo natural que leve) a um resultado líquido de menor emprego de recursos no investimento, pelo que a produção de bens capitais pode diminuir.
Deve, no entanto, observar-se que se trata de um efeito transitório, cuja duração e intensidade dependem não só do grau de distorção provocado (o que resulta, além do mais, da própria dimensão do processo inflacionista já efectivado), mas também do cuidado com que se elabore a política estabilizadora e da eficiência conseguida na sua execução. A este propósito, os autores concordam, por um lado, em que as medidas estabilizadoras, quando adequadas, inverterão com relativa rapidez os principais fenómenos resultantes da distorção inflacionista (quer a distorção de investimentos técnicos, quer a relativa aos stocks, quer a provocada sobre os bens de consumo duradouros - sobretudo ria construção, onde o investimento em casas para alugar tende a ser substituído por investimentos em casas para habitação própria -, quer a respeitante ao modo, real ou financeiro, da detenção de valores). Também concordam, por outro lado, em que um «tratamento de choque» estabilizador é preferível à tentação de levar a cabo a política de um modo gradual e suave; a razão desta opinião (à primeira vista um pouco estranha) reside na própria natureza eminentemente psicológica da distorção inflacionista.
Com efeito, o reajustamento da economia distorcida só pode processar-se com êxito se se alterarem as expectativas do público, quer dos investidores potenciais e efectivos, quer dos consumidores; ora, a alteração (que muitas vezes terá de ser inversão) das expectativas requer mudança apreensível da situação e clima económicos; mas ela só será apreensível se a política estabilizadora não se processar com um ritmo excessivamente vagaroso: quando se pretende uma estabilização gradual e lenta, corre-se o risco de ter o encargo e não ter o benefício. Assim, por exemplo, uma estabilização tentada através da restrição do crédito tenderá a deprimir p investimento (pela afectação do volume efectuado por aquela via), mas poderá, muito provavelmente, deixar inalteradas as distorções originadas pela inflação, pois a timidez dos programas estabilizadores (mesmo que eles sejam apreensíveis pelo público em geral) arrisca-se a permitir a subsistência dúvidas sérias quanto ao seu êxito, ainda que essas dúvidas se mostrem objectivamente infundadas e injustas. Ora, se isso se der, podem recomeçar a ser atractivas as formas monetárias e financeiras da detenção de riqueza, que nem por isso o receio de uma nova queda do seu valor real será neutralizado por efeitos positivos sobre a normalidade do investimento; semelhantemente, os investidores continuarão a preferir os títulos estrangeiros aos nacionais. Daí defender-se que é condição fundamental a observar, para o êxito de uma política estabilizadora em desenvolvimento, a possibilidade de o governo convencer a colectividade de que o valor da moeda será mantido a todo o custo.
Este é um campo onde, repete-se, mais do que as simples condições de acto e os esquemas político-económico rígidos, impera a arte, o senso das realidades e da oportunidade dos responsáveis, que não podem menosprezar qualquer dos meios ao seu alcance, pois de todos necessitam para enfrentar «o problema-fantasma» do reajustamento (como já se lhe chamou). E é domínio em que não deve esquecer-se que a política monetária constitui apenas um (ainda que muito importante) dos instrumentos utilizáveis para promover uma razoável, mas necessária, estabilidade - tanto mais indispensável quanto mais vivo for o complexo de condições características do menor desenvolvimento (a combinação de altos

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multiplicadores com baixas elasticidades da oferta e imobilidade de recursos); é que, nestas condições, são maiores as probabilidades de a política de aceleração da taxa de crescimento desencadear um processo inflacionista e é menor a eficiência dos controles utilizáveis para a sua eliminação, nomeadamente os que se enquadram na política monetária tradicional.

B) Análise do planeamento económico português § 1.º O projecto do III Plano de Fomento

20. Relembrado, em termos muito gerais, o significado actual do planeamento e da política económica que nele se exprime, passa a analisar-se o caso português, tal como se apresenta através do projecto do III Plano de Fomento, ora submetido à apreciação da Câmara.
Não tem a Câmara que debruçar-se agora, especificadamente, sobre a experiência representada pelos planos anteriores, cujos projectos foram oportunamente apreciados. Não significa isto, contudo, que deixa de a ter presente ao proceder à análise do referido projecto, pois ela pode fornecer termos de confrontação e lições, que constituam elementos apreciáveis da melhoria progressiva de qualquer política.
Começar-se-á por tentar uma síntese do projecto do III Plano de Fomento, para, num segundo parágrafo, se analisar, em termos gerais, a política económica que fundamenta aquele projecto. A parte seguinte desenvolverá esse exame, na especialidade, relativamente a cada um dos grandes sectores considerados.

21. O III Plano de Fomento, projectado para o sexénio de 1968-1973, pretende constituir expressão de uma política decisivamente empenhada em «orientar os recursos da Nação no sentido do seu melhor aproveitamento, em ordem a aumentar progressivamente a riqueza comum e, com ela, o nível de vida de todos os portugueses».
Pode dizer-se que, nas suas linhas gerais, caracterizam o projecto:

1.º A adopção deliberada de uma forma de planeamento global;
2.º A natureza dualista que resulta da consideração diversa dos sectores público e privado;
3.º O enunciado expresso de uma dada política económica;
4.º A aceitação do sistema de revisões periódicas;
5.º A intenção de considerar a inserção de factores conjunturais na programação a médio prazo;
6.º A opção sobre estratégias alternativas de desenvolvimento, a favor da traduzida na escolha de certos sectores industriais (indústrias transformadoras e construção) e de serviços (turismo), como chaves de todo o processo, embora se pretenda conceder tratamento preferencial ao sector agrícola e a certas condições fundamentais da produtividade geral (educação, investigação e saúde);
7.º A aceitação da necessidade de manter determinados equilíbrios essenciais, nomeadamente no que respeita aos termos do financiamento da formação do. capital, traduzindo-se no respeito pela estabilidade dos preços perante o processo de desenvolvimento económico.

22. Deste enunciado, deve destacar-se, desde já, o alcance atribuído à natureza global do planeamento. Na verdade, não se trata apenas de consignar a adopção do
método baseado na construção de um sistema de projecções globais relevantes (produto interno bruto, formação bruta do capital, situação externa, despesa nacional) e consequente elaboração de um modelo global de crescimento; para além disso, pretende-se exprimir uma política de unidade de toda a Nação (seja qual for o continente por que se espalhe), na medida em que se vise, através daquele modo de planear, a «progressiva formação de uma economia nacional unificada».
Este alcance da natureza global do planeamento não implica alterações na ordem económico-social consignada constitucionalmente - houve no projecto o escrúpulo de acentuá-lo: imperativo quanto ao sector público ou equivalente, o plano apresenta-se, meramente programático quanto ao sector privado, se se exceptuar a intervenção decorrente da formação ou reforma de condições estruturais. Apesar disso, o plano é global, na medida em que exprime as vias desejadas de crescimento de toda a economia.
No entanto, há ainda outro ponto de vista donde pode encarar-se a natureza global do planeamento e que, em certa medida, esclarece o sentido desse programatismo - o da inserção do Plano numa política económica geral. Este é ponto sobre que o projecto se esforça por não deixar lugar a dúvidas:
«pretende-se, pois, transpor a barreira que separa a preparação mais ou menos elaborada de planos globais de desenvolvimento da vivência efectiva de uma política económica e social orientada segundo os esquemas nele fixados e votada ao cumprimento dos seus objectivos [...]».
Porque desse modo se pensou, intenta-se aproximar a execução do Plano da própria marcha da economia: «a execução do III Plano há-de, assim, identificar-se com o próprio funcionamento do sistema económico e medir-se pelos mesmos indicadores que se usam para caracterizar a evolução desse sistema [...]». Aproximação que implica, além do princípio da execução por programas anuais, a aceitação de revisões periódicas, bem como a consideração dos factores conjunturais e seus efeitos no desenvolvimento das políticas a longo e médio prazo.

23. Falta referir a estratégia de crescimento e a atenção dispensada aos equilíbrios fundamentais!
Pelo que toca ao primeiro ponto, o projecto isola um grupo de actividades que, pelas suas elevadas taxas de crescimento e influência decisiva que podem exercer nas transformações estruturais pretendidas para a economia portuguesa, são consideradas motoras do desenvolvimento económico projectado. Assim, sobre as indústrias transformadoras e da construção e sobre o turismo recai a incumbência de constituírem pólos do impacte original da aceleração do ritmo de crescimento: pretende-se que assumam maior peso relativo no produto interno bruto, e que nelas se estimulem mais elevadas taxas de crescimento. Idêntica política se aplica aos sectores donde provém a oferta de bens e serviços essenciais à melhoria geral dos níveis de vida.
A partir dessa consideração, pretendeu atender-se aos possíveis efeitos derivados que, na economia, o crescimento daquele grupo de actividades mais dinâmicas tende a provocar: o comércio, transportes, habitação e vários serviços foram, assim, englobados num sector de evolução derivada, patamar difusor do desenvolvimento, com tendência a acompanhar o ritmo daquelas actividades.
Finalmente, em obediência a políticas específicas previamente definidas, programa-se, para alguns sectores, uma evolução ascendente que, embora em termos quantitativos não responda directa ou derivadamente à estratégia

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apontada, resulta de tratamentos preferenciais que traduzem políticas autónomas de aceleração deliberada: é o caso da agricultura, da saúde e da educação.
Pelo que toca aos equilíbrios fundamentais conhecidos, o traço mais característico é, obviamente, apresentado no campo do financiamento. Quanto aos demais - nomeadamente os que reclamam a atenção dos responsáveis para o andamento da produtividade e das condições no mercado do trabalho, bem como para a consideração dos equilíbrios intersectoriais - pode dizer-se que a sua posição resulta do modo como se preenche um condicionalismo sobre que, no estado actual dos conhecimentos, não há a fazer verdadeiras opções político-económicas. Por isso, embora o tratamento desses outros equilíbrios assuma grande interesse e possa não ser fácil nem isento de riscos e imperfeições, julga-se que não caracteriza verdadeiramente um plano, enquanto expressão de uma política que se define, precisamente, pelas opções que realiza.
Planear-se o crescimento na estabilidade dos preços não implica apenas rejeitar as formas tendencialmente inflacionistas de financiamento, nomeadamente o déficit orçamental e a expansão monetária anormal; obriga a enquadrar-se o desenvolvimento num conjunto de políticas tendentes a reduzir a pressão natural exercida sobre os preços pelo próprio processo de crescimento e a vigiar-se atentamente a evolução conjuntural, para que seja atingida a estabilidade com um mínimo de mudanças desfavoráveis aos esforços da aceleração do ritmo da expansão económica.

24. Quanto ao enunciado dos respectivos princípios, o projecto do III Plano de Fomento adere à tese de que o crescimento e a estabilidade não são alternativos, afirmando a segunda como condição importante da prossecução do primeiro; importa examinar os termos em que se pretendeu executar aqueles princípios.

25. Todavia, antes disso, convirá prestar um pouco mais de atenção a alguns aspectos caracterizadores do projecto, nomeadamente os objectivos propostos, as projecções globais admitidas e o modo como se relacionam as variáveis presentes na estratégia sumariada anteriormente.

Para o III Plano de Fomento propõe-se:

a) A aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
b) A repartição mais equitativa dos rendimentos;
c) A correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.
Como é natural, o projecto hierarquiza aqueles objectivos pela ordem indicada e sublinha as razões por que o faz. Mas não inova decisivamente quanto à constelação de objectivos proposta ao nosso esforço de planeamento; limita-se a enunciar, explicitamente, a correcção dos desequilíbrios regionais, incluída de outro modo no Plano Intercalar.

26. Atente-se mais de perto nessas grandes metas assinaladas ao desenvolvimento da economia portuguesa de 1968 a 1973, começando precisamente pela terceira das que acima se enunciaram.
Nesta, o objectivo em sentido técnico vem a ser, em rigor, a orientação da expansão no sentido do crescimento harmónico do conjunto dos territórios nacionais (proclamado pelo Plano Intercalar como necessidade
político-económica imperiosa):

a) A matéria é familiar à Câmara, que sobre ela teve de pronunciar-se há três anos e que, já antes disso, a propósito da institucionalização do estudo dos problemas respectivos e da execução das soluções a que eventualmente se chegasse, tivera ocasião de acentuar a necessidade do estudo das regiões económicas nacionais para efeitos de planeamento e fomento e a necessidade de criar descentralizadamente uma orgânica regional, com órgãos consultivos e de coordenação, servidos por departamentos técnicos de planeamento, e ainda instituições especialmente concebidas para realizar ou apoiar os empreendimentos de fomento (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1962, pp. 453 e seguintes). Isto não a desobriga - pelo contrário - de novamente se referir a problemas que a marcha dos tempos tornam de solução imperiosa e se situam em campo onde o avanço dos conhecimentos e das técnicas se processa a ritmo acelerado.
Nesta matéria, a orientação geral do projecto do III Plano de Fomento pode ser assim sintetizada:

1) O processo deve desenvolver-se apoiado em pólos de crescimento;
2) Deve procurar-se que a população disponha de uma estrutura de equipamentos sócio-económicos mínimos, concentrados a distâncias tidas como razoáveis;
3) Em cada região, deve encaminhar-se a explora- cão agrícola para uma progressiva especialização, segundo as exigências do solo e do clima.
No primeiro objectivo está implícita uma expansão relativamente descentralizada da indústria, mas com a aceitação expressa de um critério económico-social definidor dessa descentralização. O segundo corresponde ao desejo de promover uma rede urbana equilibrada, suporte da progressiva melhoria das condições sociais que definem, em grande medida, o próprio bem-estar e, consequentemente, o nível de vida das populações.
Consciente, embora, de que uma política regional não pode basear-se apenas no desenvolvimento das actividades agrícolas, o projecto encara, naquele terceiro objectivo, a magna questão da produtividade da exploração da terra pelo ponto de vista económico da concentração dos investimentos agrícolas nas produções em que há, potencialmente, vantagens relativas. Assim se pretende conseguir, quanto à agricultura, certa coerência regional entre recursos efectivamente utilizáveis e estrutura produtiva, isto é, a longo prazo, o reajustamento ideal da economia regional (e geral) de cada sector por critérios válidos do ponto de vista da economia da produção.
Mas tudo isto é, além de extraordinariamente complexo em si mesmo, tarefa de articulação difícil com o processo geral de desenvolvimento. Assim, por um lado, a promoção de uma rede urbana equilibrada conjuga-se com deliberada descentralização das indústrias que não lese as condições necessárias a um processo económico auto-sustentável. Porque se trata de requisito de dificílimo preenchimento na experiência actual, as intervenções revestem, neste domínio, delicadeza extraordinária, mas exigem prudente firmeza.
Por outro lado, para que a aceleração do ritmo de crescimento do produto global seja compatível com a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais,
torna-se necessário compatibilizar os critérios da indispensável selecção dos projectos de investimento, por forma a poderem responder às exigências do crescimento (com altas

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taxas de rentabilidade e de impacte no processo motor geral, segundo a estratégia definida) e, simultaneamente, a apresentarem-se com as maiores probalidades de desencadear, rio mecanismo expansor de cada região, o seu processo próprio de desenvolvimento económico.
O projecto dá-se conta destas dificuldades, e busca o princípio último de orientação no campo da concentração do investimento, pois a ele se subordina a aceleração máxima equilibrada do produto global, e, com ela, a prossecução das melhores condições de bem-estar em cada região, definidas pelos objectivos acima enunciados. Mas não se deixa de acrescentar que a aplicação daquele princípio terá de esforçar-se por que cada região disponha de estruturas industriais produtivas e diversificadas, integradas de modo adequado na rede urbana planeada.
Termina-se por discutir duas condições fundamentais do enquadramento regional do desenvolvimento económico projectado - a delimitação das regiões de planeamento e a institucionalização dos órgãos responsáveis pelo problema.
No primeiro aspecto, a orientação geral apoia-se nos seguintes elementos:

Possibilidades presentes e potenciais dos centros urbanos da metrópole;
Exigências de um mínimo de dimensão demográfica;
Urgente necessidade de compensar o poder de atracção de Lisboa e Porto;
unidade resultante da existência de grandes empreendimentos que interessam toda uma região;
Complementaridade entre zonas de economia diferente;
e acaba por considerar, no continente, quatro regiões-plano (Norte, Centro, Lisboa e Sul), para cada uma das quais se indicam, além dos elementos de caracterização, os principais factores e potencialidades, bem como as linhas gerais que, segundo se julga, deve seguir o respectivo planeamento. O mesmo se faz para os Açores e para a Madeira.
No que toca à orgânica da actividade planeadora, o projecto procura obedecer à orientação fixada pelo Decreto-Lei n.º 46 909, de 19 de Março de 1966, e enuncia os seguintes princípios:
Colaboração das autoridades regionais na elaboração e execução do plano da região respectiva;
Consulta sistemática dos interesses públicos e privados locais;
Coordenação regional de todos os serviços técnicos localmente competentes;
Coordenação técnica dos planos regionais, a nível nacional, para a sua compatibilização global e sectorial.

b) A repartição mais equitativa dos rendimentos -o segundo objectivo assinalado ao III Plano de Fomento - é problema que está decerto presente em todos os planeadores conscientes, embora não sejam fáceis e indiscutíveis as respectivas soluções, sempre de tal modo emaranhadas nos processos de crescimento que tornam incindíveis da sua fenomenologia global as políticas redistributivas, sob pena de cedendo à natural tentação de responder rapidamente a imperativos sociais, de cuja justiça não se duvida, acabar por prejudicar-se o próprio objectivo da alta geral do nível de vida, por se travar o processo de expansão de que ele depende; embora, neste, uma oportuna melhoria na distribuição de rendimentos constitua peça fundamental, sob pena de estrangulamentos perniciosos.
Tais dificuldades, e a delicadeza que emprestam ao problema no seu aspecto político-económico, agravam-se quando faltam dados objectivos sobre a situação de facto: pois, então, o diagnóstico e a terapêutica, de nebulosos, aumentam para limites inapreciáveis os riscos que aquela interdependência já de si envolve.
O projecto do Plano parece apresentar-se consciente dessas dificuldades, confessando a escassez de elementos estatísticos quanto ao problema da repartição do rendimento nacional; mas, decerto debruçando-se sobre os indicadores disponíveis, conclui pela conveniência de promover a análise da questão, de modo a poder incluir a distribuição dos rendimentos entre as variáveis dos modelos de desenvolvimento a elaborar. Isto não significa que, dentro das limitações apontadas, não deva desde já enunciar-se o objectivo da melhoria da repartição do rendimento e tomar as medidas oportunamente possíveis para a sua prossecução efectiva.
c) O primeiro objectivo assinalado ao III Plano de Fomento é a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional. Exprime-se quantitativamente por um crescimento planeado para o produto interno bruto (P. I. B.) à taxa anual de 7 por cento, podendo dizer-se que lhe é praticamente idêntica a taxa de crescimento do produto nacional bruto (P. N. B.), dada a reduzida participação do rendimento líquido externo na despesa nacional (cerca de 0,8 por cento).
A consecução de tal objectivo representará (a preços constantes de 1963):
Um valor global para o produto, no fim do sexénio, da ordem dos 155 milhões de contos, ou seja, relativamente ao produto programado para o início do Plano, aumento superior a 52 milhões;

Um valor para a capitação do produto de 17,2 contos anuais, o que significa aceleração rápida do seu crescimento, que passará de 47 por cento na década anterior a 1968 para 77 por cento nos dez anos seguintes.

Estes valores globais associam-se, como é óbvio, à estratégia de desenvolvimento adoptada, resultante, por isso, das projecções efectuadas relativamente aos vários sectores económicos considerados, tradutoras da política proposta para as alterações estruturais que informam todo o processo de desenvolvimento.

Assim, pensa-se que a evolução da estrutura económica metropolitana se processe do seguinte modo quanto aos grandes sectores tradicionalmente convencionados:

QUADRO I

Evolução da composição do produto

[Ver Quadro na Imagem]

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Estes resultados vêm das taxas de crescimento verificadas ou programadas no período considerado (a preços constantes de 1963):

QUADRO II

Taxas anuais de crescimento e níveis do produto por grandes sectores

[Ver Quadro na Imagem]

Se se pretender uma visão mais concreta quanto às actividades que enformam os grandes sectores convencionais da estrutura económica, deverá atentar-se nos seguintes dados (também a preços constantes de 1963):

QUADRO III

Projecções do produto interno bruto por actividades

[Ver Quadro na Imagem]

Não é ainda este o momento de justificar os valores programados para cada um desses grupos de actividades - pois tal é tarefa da caracterização, que importa fazer, da estratégia adoptada para o desenvolvimento metropolitano; melhor será debruçar-se a Câmara, primeiro, sobre as projecções globais mais significativas, que enformam a estratégia referida.

27. Como se viu, tais projecções dizem respeito ao produto interno bruto, à formação bruta de capital fixo, às relações com o exterior e à despesa nacional. Quanto ao produto, chegam, para já, as referências feitas.
a) Atente-se, agora, nas relações com o exterior. Quanto a elas, caracterizam as projecções:
1) 0 abrandamento do ritmo de expansão das exportações e das importações de bens;
2) O agravamento do déficit da balança comercial;
3) A manutenção de altas taxas de desenvolvimento das verbas do turismo - cuja expansão se pensa virá a processar-se para as receitas a ritmo mais acelerado do que para as despesas;
4) Um ligeiro agravamento do déficit da balança das transacções de serviços de transporte e de rendimentos de capitais (de -1,3 milhões de contos em 1967 para - 2 milhões em 1973);
5) O aumento do saldo das transferências privadas (fundamentalmente, as remessas de emigrantes);
6) A expansão do saldo da balança global dós serviços (devida às situações referidas nos n.ºs 3 e 5);
7) Uma situação positiva na balança de pagamentos correntes da metrópole, em virtude do crescimento das receitas a uma taxa superior à do crescimento das despesas (respectivamente 10,2 e 7,1 por cento no período do Plano). O saldo negativo (provável) de 1967 (4 600 000 contos) tenderá a atenuar-se ao longo do período, de modo a, em 1973, se transformar num saldo positivo (da ordem dos
700 000 contos);
8) Certa alteração da estrutura das relações com o exterior, em que os serviços ganham relevo em detrimento das mercadorias (sobretudo quanto às exportações), e em que, entre aqueles, cabe ao turismo o papel de preponderância absoluta.

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Os quadros IV e V resumem os dados sobre que se apoia a caracterização indicada:

QUADRO IV

Estrutura das importações

[Ver Quadro na Imagem]

QUADRO V

Saldos das transacções correntes com o exterior

[Ver Quadro na Imagem]

A conjugação dos valores assim projectados com os relativos ao produto interno bruto dá o andamento das disponibilidades internas, nos períodos respectivos (sempre a preços constantes de 1963):

QUADRO VI

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b) Dada a projecção realizada para o produto interno bruto e tidas em couta certas condições inerentes à própria reprodutividade dos capitais, sobre que haverá a dizer uma palavra mais adiante, o projecto prevê um investimento global no período- de 1968-1973 de 183,5 milhões de contos, cujo crescimento será processado à taxa média de 8,2 por cento ao ano. Considerada a acumulação das existências a um ritmo médio igual ao produto, a preços de mercado, aquele investimento conduzirá, em 1973, a uma formação bruta de capital da
ordem dos 37 milhões - ou sejam, 21,8 por cento da despesa nacional respectiva, contra 19 por cento em 1967.
De realçar, que o crescimento da formação bruta do capital fixo se processa a um ritmo superior ao da produção (8,2 para 7,1 por cento ao ano), mantendo, no entanto, o ritmo anterior.
Os quadros VII e viu resumem os dados fundamentais relativos às projecções sobre a formação bruta do capital, tal como decorrem dos números apresentados pelo projecto:

QUADRO

Vir Projecções da formação bruta de capital fixo por sectores de actividade

[Ver Quadro na Imagem]

QUADRO VIII

Estrutura sectorial da formação bruta de capital fixo

[Ver Quadro na Imagem]

c) Quanto às projecções da despesa nacional - de relevo particularmente notável em qualquer esquema de planeamento, dado que este acaba por resumir o equilíbrio global despesa produto - e que dependem dos comportamentos previstos para o produto interno bruto, o rendimento líquido externo e o saldo dos impostos indirectos menos subsídios, o projecto apresenta:

1) Reduzida participação do rendimento líquido externo na despesa nacional (cerca de 0,8 por cento), embora expandindo-se em termos absolutos a uma taxa significativa, como já se viu;

2) Manutenção do peso relativo da fiscalidade indirecta (avaliada em 1961-1964 em 8 por cento da despesa nacional);
3) Logo, uma taxa do crescimento da despesa idêntica à do produto interno bruto;
4) Manutenção da percentagem anual de variação nos investimentos (8,2 por cento), o que leva a uma progressiva acumulação de capital, que representará, em 1973, mais de um quinto da despesa nacional (21,9 por cento);
5) Dadas as projecções consideradas para as existências (0,9 por cento da despesa de 1973) e para a formação bruta de capital fixo, projecta-se um incremento de consumo global da ordem dos 36 milhões de contos, o que representaria ligeiro recuo da sua posição relativa na despesa nacional (de 81 por cento em 1967 para 77,2 por cento em 1973);
6) Para este resultado contribuem:

I) A redução da taxa de crescimento do consumo público, por exclusão das despesas militares (de 6,9 por cento ao

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ano no período do Plano Intercalar, para 5,7 por cento no sexénio do III Plano);

II) Uma ligeira expansão da taxa de crescimento do consumo privado (de 5,6 por cento ao ano para 5,9 por cento, respectivamente, nos períodos acima referidos), mas em atraso relativamente ao ritmo de crescimento do produto interno bruto (cerca de menos 1,1 por cento ao ano).

O quadro IX resume (em números arredondados) as principais projecções que vem de sumariar-se:

QUADRO IX

Projecções da despesa nacional

28. Como resulta do que vem sendo exposto, a estratégia de crescimento adoptada pelo projecto assenta numa aceleração equilibrada do produto, em que o instrumento fundamental é a expansão dos investimentos ao longo do período, embora coadjuvada pelo emprego de outras políticas requeridas, nomeadamente no campo monetário e financeiro e no domínio de reformas estruturais tendentes a aumentar a produtividade e a reduzir os riscos de estrangulamentos. O crescimento projectado far-se-á numa ponta de lança, constituída por sectores fundamentais de arranque ou lançamento da progressão do movimento expansionista, com outras actividades constituindo um campo de difusão desse processo (e cujo comportamento é fundamentalmente derivado), acompanhando-se a marcha geral da expansão com medidas específicas tendentes a dar ao sector agrícola taxas de crescimento que lhe não resultariam do funcionamento dos mecanismos espontâneos. E tudo isto, modelado por parâmetros de natureza vária - uns identificáveis com os próprios fins da comunidade nacional, outros emergentes de condições económicas e sociais que se entende não conhecerem qualquer alternativa no esforço de desenvolvimento que o projecto exprime.
Este o panorama geral da estratégia de crescimento adoptada. Para o pormenorizar um pouco, talvez o melhor seja explicitar os parâmetros referidos.
Segundo o pensamento do projecto, a prossecução dos objectivos visados pelo Plano obriga o Governo a assegurar:

1) A manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
2) O equilíbrio do mercado do emprego;
3) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos;
4) A coordenação com o esforço de defesa da integridade nacional.
Delibera dam ente se alterou a ordem por que os diversos pontos foram enunciados no projecto: é que o esforço de defesa da integridade nacional não participa da natureza dos demais condicionalismos apontados: refere-se a um fim dominante da própria comunidade, a que, como tal, tudo tem de subordinar-se, seja no campo económico, seja no social ou no político.
Pelo que toca à «manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda», manteve-se inalterável uma fidelidade a princípios que já constituem tradição no pensamento do Governo. O equilíbrio do mercado do emprego, entendido como adaptação entre a oferta e procura de mão-de-obra, é inserido pelo projecto na problemática do desenvolvimento, quer pela acção refreadora que sobre ele exercem as carências de trabalho ou a sua inadequação à procura compatível com o processo de expansão do produto, quer pelos efeitos indesejáveis provocados pelo desequilíbrio sobre a própria estabilidade económica, os estrangulamentos a que se associa e a tensão inflacionista geral para que pode concorrer.
A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos tem de condicionar todo o nosso esforço de desenvolvimento, pois, como o projecto acentua, as alterações das estruturas produtivas da economia metropolitana não só impõem «apenas por motivo da pretendida aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, mas também pela urgência de assegurar a essas estruturas condições de competição nos mercados internacionais e, em particular, nos mercados europeus».
E tudo isto se liga, de modo essencial, ao condicionalismo que rodeia a nossa economia e, por via dele, à própria estratégia do seu desenvolvimento; estratégia a que o projecto não deixa de acentuar mais uma vez o carácter indicativo no que se refere ao sector industrial, em obediência muito estrita ao que o Governo considera ser a posição consagrada pelas leis fundamentais do País.

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29. Gomo já se teve ocasião de referir, em grande parte das actividades consideradas críticas para o crescimento económico, a melhoria das suas condições concorrenciais externas são fundamentais para o simples êxito do papel que lhes foi confiado. Daí que, a par das políticas de investimentos aconselháveis para as expandir com rapidez e intensidade, se tornassem indispensáveis medidas relativas ao seu dimensionamento, reorganização e acréscimo progressivo da produtividade alcançada.
Neste domínio, o projecto apresenta:

a) Uma taxa global de crescimento de 9,1 por cento ao ano nas indústrias transformadoras, de modo a conseguir-se um produto industrial da ordem dos
b) 62 000 milhares de contos (de 1963) no último ano do sexénio;
b) Taxas sectoriais variáveis, com valor destacado para os sectores de pasta, papel e tipografia (1.3,4 por cento), metalúrgicos de base (12 por cento), produtos metálicos, máquinas eléctricas e material de transporte (12 por cento), químicos e petróleo (9,5 por cento) - para só falar daqueles, a que o projecto atribui taxas superiores à globalmente admitida para a indústria transformadora;
c) Consequentes alterações na estrutura do sector industrial no termo do III Plano, de modo a obter-se uma nítida diminuição do peso relativo do subsector dos têxteis e vestuário (de 20,3 por cento programados para 1967, para 16,1 por cento em 1973), dos subsectores da alimentação e bebidas (de 10 para 7,9 por cento) e dos produtos minerais não metálicos (de 6,9 para 6,5 por cento), bem como de um conjunto de valores industriais vários (tabacos, madeira e mobiliário, borracha, etc.), cuja participação no sector desceria de 19,9 para 17,8 por cento. Em contrapartida, as actividades ligadas aos produtos metálicos, máquinas eléctricas e material de transporte passariam a representar 30,5 por cento do sector (em vez de 26,1 por cento programados para 1967); a pasta, papel e tipografia subiriam de 5,6 para 7,1 por cento; outras actividades reforçariam um pouco a sua posição (químicos e petróleo e metalúrgicos de base);
d) Formação bruta de capital naturalmente diversa de sector para sector, com larga aceleração dos investimentos nalgumas das actividades tidas como dominantes. Os respectivos valores, que se reproduzem no quadro x, foram programados com base nos coeficientes capital/produto aplicáveis à contribuição do respectivo sector para o produto nacional, em termos de acréscimo do valor acrescentado, durante o período de 1968-1973;
e) Medidas de política industrial orientadas pela política geral do desenvolvimento, no campo do condicionamento e reorganização industriais, nos domínios da produtividade, das condições de financiamento, no âmbito geral da comercialização, da investigação aplicada, da formação e aperfeiçoamento profissionais e da política social, bem como, por fim, no que respeita ao quadro geral da tributação e nas infra-estruturas de transportes e comunicações oferecidas à actividade económica nacional.

QUADRO X

Formação bruta de capital fixo

Milhares de contos

[Ver Quadro na Imagem]

30. Outro dos sectores considerados estratégicos rio desenvolvimento diz respeito às indústrias de construção e obras públicas. Aí, tornou-se difícil, por falta de adequados elementos estatísticos, fixar metas determinadas de produção, produtividade, emprego e investimentos; mas o facto de constituírem verdadeiras condições técnicas da execução de muitos dos investimentos públicos e privados inscritos no Plano levou a que se lhe determinasse, como primeiro objectivo da política que especificamente lhes respeita, o aumento da sua produtividade (e consequente redução dos custos), através de várias providências, nomeadamente a programação global do sector, a continuidade da actividade das empresas, a normalização, a estrutura empresarial e a simplificação de regimes jurídicos e administrativos. Para a prossecução daquele desiderato, o projecto prevê a criação, no Ministério das Obras Públicas, de um Gabinete de Estudo e Planeamento bem como de um Centro Técnico de Produtividade da Indústria de Construção, além de medidas tendentes a assegurar a continuidade das actividades do sector (principalmente quando ligado à execução de obras públicas), e de providências várias no sentido da disciplina, simplificação e aumento da eficiência das actividades em causa.

31.0 terceiro sector considerado fundamental é o do turismo. Constitui uma das áreas onde maior cuidado terá que haver, pois o projecto confia-lhe um dos principais postos na estratégia do crescimento económico, quer directamente, quer pela influência que se lhe assinala no quadro geral da nossa situação económica externa, quer, ainda, pela vasta gama de efeitos induzidos que se lhe atribui.
Prevê-se um investimento total na indústria hoteleira e similar da ordem dos

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32. Por fim, o papel das actividades difusoras do desenvolvimento e das condições de base a observar para que o processo se efective de modo harmónico insere-se, como é lógico, na linha geral das preocupações relativas à produtividade geral e ao alargamento e regularização progressivos dos mercados internos, de modo a evitarem-se, no campo dos factores como no dos bens, os desequilíbrios intersectoriais, os desfasamentos entre políticas parcelares tradicionalmente descoordenadas e, por essa via, os estrangulamentos frenadores que, em regra,, lhes andam associados.
Entende-se que a economia deste parecer nada perde se se deixar a análise desses pontos para o estudo a fazer no parágrafo seguinte e na parte dedicada ao exame na especialidade.

33. Para terminar, atente-se no financiamento proposto, seguindo de perto o esquema adoptado no capítulo I deste parecer; isto é, referindo as exigências de financiamento apresentadas pelo projecto, os tipos de financiamento admitidos e a formação da poupança interna nas suas várias componentes.
a) Em termos globais, e como já se notou (quadro VII), as disponibilidades internas projectadas para o fim do período atingem o valor de 154,3 milhões de contos (equivalentes a 169,2 milhões de contos a preços de mercado, dado que o saldo dos impostos indirectos sobre os subsídios e o. rendimento líquido externo previsto somam, respectivamente, 13,6 e 1,3 milhões de contos). Desse valor, 21,9 por cento representariam a formação bruta de capital fixo (37 milhões de contos-) e 77,2 por cento o. valor global dos consumos (130,7 milhões de contos), tudo em preços de. 1963.
É praticamente essa formação bruta de capital fixo - correspondente a 183,6 milhões de contos no sexénio do Plano - que: tem de ser objecto, de um programa de financiamento:

QUADRO XI

Formação interna bruta de capital prevista para o período de 1968-1973

(Milhões de contos)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Preços constantes de 1963.
(b) Quanto às existências, utilizou-se na transformação o Índice de preços por grosso, estimando-se, portanto, que, no futuro, se verificará evolução de preços semelhante à dos anos recentes. Quanto à formação bruta de capital lixo, os números permitem concluir ter-se utilizado um coeficiente de transformação baseado em variação de preços situada à roda dos 0,5 por cento ao ano (isto é, muito inferior à implicada na transformação relativa ao produto, que foi cerca de 1,8 por cento anual).

Ora, dado o condicionalismo a que se subordina toda a política de expansão, nas fontes de financiamento não há que considerar aqueles processos que, de um modo ou outro, se acolhem à ideia geral do aforro forçado. Por isso - equacionado o recurso ao crédito externo como complemento eventualmente necessário, mas não autonomamente programado -, o problema vem a situar-se no campo da formação da poupança interna. Mas, nesse, como é evidente, não interessam tanto os termos e valores do seu comportamento global, como o andamento projectado para os respectivos agregados componentes.
O projecto reconhece a precariedade das suas estimativas nesta matéria, por se desconhecer, «de facto, por um lado, o volume da poupança interna formada nos vários sectores - excepto no que se refere ao sector público, e, ainda que insuficientemente, às empresas privadas - e, por outro, as exigências de financiamento de cada um deles». As potencialidades globais de financiamento são estimadas em 222,4 milhões de contos (a preços correntes), o que permitiria um saldo de 23,3 milhões, dado o volume suposto para as necessidades.
Para esse resultado concorrem:

QUADRO XII

Poupança disponível (1968-1973)

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Inclui o sector público administrativo (Estado) e o sector público produtivo (empresas públicas).

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No entanto, o projecto adverte, contra uma apreciação precipitada da situação que resulta dos dados previstos, uma vez que grande parte da poupança interna, não ficará inteiramente livre, por ter de ser afectada ao auxílio financeiro ao ultramar (que se estima em cerca de 6700000 contos) e ao financiamento das despesas militares extraordinárias. Por esse prisma devem ser encarados o saldo atrás referido, os possíveis resultados «das medidas de política financeira planeadas no sentido de promover mais perfeita mobilização de poupança e da sua canalização para o financiamento do processo de crescimento», bem como o problema do financiamento por recurso ao crédito externo.
Reveste-se do maior interesse arrumar, por fontes de financiamento, as previsões sobre que o projecto se baseia.
b) Pelo que toca ao sector público - definido, como se viu, de modo a abranger as empresas públicas, além da Administração Central, a administração local e a previdência social -, à sua poupança (adicionada das transferências de capital provenientes dos outros sectores da economia e das variações líquidas dos saldos da tesouraria, e deduzidos os empréstimos concedidos ao exterior, fundamentalmente ao ultramar), vem juntar-se, eventualmente, o resultado do recurso directo do Estado ao mercado externo de capitais (e ao próprio mercado interno); mas nem todo esse valor é aplicado na formação bruta de capital, fixo, pois um a parte dele representará transferências de capital sob várias formas. O projecto reconhece que esses fundos foram canalizados para o investimento em termos de reduzir substancialmente a participação do sector público no valor total respectivo.
Aqueles 59 milhões de contos previstos para o período do Plano resultarão dos seguintes comportamentos parciais:

QUADRO XIII

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c) Pelo que toca ao sector privado, a primeira característica a salientar é o papel fundamental da poupança formada pelas sociedades, isto é, em termos gerais, as suas possibilidades de autofinanciarem-se. Na verdade,
atribuem-se-lhe 50,8 por cento da responsabilidade na formação da poupança interna bruta, supondo-se-lhe uma taxa de crescimento superior a 13 por cento.
O projecto procura apresentar uma composição sectorial dessa participação das sociedades na formação da poupança, que não deixa de ter interesse para a apreciação do modo como a análise do financiamento se insere no processo geral do desenvolvimento:

QUADRO XIV

Poupança bruta das empresas privadas sob a forma de sociedades

(Preços correntes)

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A restante contribuição do sector privado (particulares, instituições sem fim lucrativo e empresas privadas não societárias), embora importante no cômputo geral da poupança interna bruta (22,7 por cento do previsto para o período do Plano), não se reveste imediatamente de alcance especial para a análise do problema, dados os termos em que se projectaram os valores respectivos (adopção da hipótese de manutenção da propensão marginal à poupança no período 1958-1965, sem justificação específica e apenas por não se dispor de estimativas autónomas seguras e se entender como pouco significativa a evolução verificada até 1963).
34. Corno se viu, porém, nos n.ºs 13 e seguintes deste parecer, não basta indicar as fontes principais da poupança para se caracterizar o processo de financiamento adoptado; há que atender aos circuitos estabelecidos na transformação desses aforros em investimento e dar-se conta do quadro geral das instituições que, de um modo ou outro, participam rios referidos circuitos.
Nesse domínio - e para além do que resulta dos números apresentados, nomeadamente quanto à deterioração da posição do Estado como sujeito activo da transformação dos aforros - o projecto resume do seguinte modo a capacidade, de financiamento das principais instituições consideradas:

QUADRO XV

Volumes de poupança canalizados pelas instituições financeiras

(1968-1973)

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Tanto basta para - tendo presentes as considerações relativas ao contributo do Estado neste campo - justificar a atenção que se dispense (no quadro das reformas estruturais tendentes à melhoria dos circuitos de financiamento) ao papel a desempenhar em todo o processo pelos bancos e outras instituições relevantes. Na verdade e como o projecto afirma, «por força das deficiências do mercado de capitais, o crédito bancário a curto prazo, conjuntamente com o autofinanciamento, é chamado a desempenhar papel dominante, mas inapropriado, no crescimento económico português».
Daí que se revistam de especial significado as medidas propostas para aperfeiçoar os mecanismos da. canalização da poupança para o investimento, a par das políticas defendidas no próprio campo da formação dos aforros. O conjunto das providências em causa é assim sintetizado pelo projecto:

1) Concessão de isenções fiscais e outros incentivos à poupança;
2) Criação de novas modalidades de depósitos que estimulem a formação dos aforros;
3) Reajustamento das taxas de juro das operações activas e passivas realizadas pelas instituições de crédito, em conexão com a reestruturação geral das taxas de juro;
4) Regulamentação das operações de crédito a médio e longo prazo;
5) Melhoria das condições de financiamento do sector agrícola e das pequenas e médias empresas industriais;
6) Regulamentação do sistema de crédito e do seguro de crédito à exportação;
7) Reorganização dos mercados de títulos e revisão dos regulamentos das bolsas de valores;
8) Planeamento das emissões de títulos.

§ 2.º Análise crítica da política económica expressa no projecto do III Plano de Fomento

35. Não há que justificar de novo a orientação traduzida pelo título deste parágrafo: dado que o projecto aspira a constituir modo de planeamento global da economia portuguesa nos próximos seis anos - embora com o alcance decorrente da natureza que lhe é imposta pelo respeito de princípios essenciais à ordem
sócio-económica consagrada constitucionalmente. o Plano não pode desinserir-se da política geral, relativa aos vários domínios interessados, pelo que a sua análise crítica tem de transbordar do conteúdo estrito do projecto, embora não do implícito nas suas disposições, com sinal positivo ou negativo.
Aliás, com esta prática, a Câmara pretende chamar mais uma vez a atenção para a unicidade essencial de plano e política, cuja consequência imediata e evidente é a indispensabilidade de orientar toda a acção desta pelos objectivos daquele, de modo concertado e harmónico, corri superação urgente de políticas parcelares tomadas em vários sectores, eventualmente sem a necessária obediência aos princípios indispensáveis de harmonização.
Be tão evidente, a reflexão não necessita de ser sublinhada, pois, como já se referiu, a duplicação de esforços e a relativa delapidação de fundos, o desequilíbrio dos investimentos e a descoordenação dos projectos relativamente a uma política económica coerente, são os custou a suportar pela ineficiência do planeamento avulso (projecto a projecto) em virtude da falta de recursos e condições para a adopção de uma técnica planeadora mais perfeita; mas, também, são resultado da impossibilidade de executar capazmente uma qualquer política económica.
Ao sublinhar, com agrado, a fé e o entusiasmo postos num planeamento global da economia portuguesa, a Câmara não pode deixar de ter presentes as razões por que se advoga esse modo de planear e a incoerência que representaria pretender executar um plano global fora de condições aceitáveis para a superação de técnicas; mais elementares:

36. Com esta reflexão de simples lógica, não pretende discutir-se a oportunidade da adopção de um tão complexo tipo de planeamento - pois se entende que, nas condições do projecto, mais do que isso, interessa a conveniente prudência que se ponha na elaboração e execução do Plano, a fim de reduzir a um mínimo tolerável os riscos atribuídos ao planeamento global prematuro, já que o risco é inerente a toda a acção inovadora e fecunda. Vale a pena, a este propósito, relembrar o enunciado daqueles riscos, para mais facilmente os poder evitar. Provêm eles:

Da falta ou insuficiência de projectos adequados em sectores básicos para o desenvolvimento;

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Da falta ou insuficiência cif coordenação entre os projectos (por inadequada técnica de agregação e desagregação simultâneas) responsável por incompatibilidades individuais e sectoriais, bem como pela inconsistência da agregação no plano global;
Da falta de realismo na construção dos modelos, quer por insuficiência de dados estatísticos, quer por práticas planejadoras pragmaticamente inadequadas;
De insuficiências ou dificuldades previsíveis na execução dos planos, dado que elas aumentam com a complexidade destes.

37. Não pode encarar-se a compatibilidade dos objectivos enunciados sem uma prevenção esclarecedora: obviamente, a coerência das políticas não exige uma compatibilidade dos objectivos em termos absolutos, mas a possibilidade de serem, prosseguidos simultaneamente com resultados tais que bastem, para legitimar as opções e acções inerentes a todo o processo político-económico. Por outras palavras: dado que os objectivos económicos são, em princípio, quantificáveis (ou pelo menos expressáveis em termos de intensidade), a compatibilidade não exclui sacrifício relativo de algum ou alguns deles em benefício do resultado global.
É o que se passa, em termos gerais, com os grandes objectivos fixados ao planeamento económico português.
Na verdade: a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, a repartição mais equitativa dos rendimentos e a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento caracterizam o objectivo geral de crescimento equilibrado do toda a comunidade portuguesa, aliás como expressamente se afirma na introdução ao Plano. Pode dizer-se que, desse modo, se sacrifica a máxima aceleração do produto permitida pelos recursos existentes; mas como esse não é o objectivo fixado no projecto, não pode falar-se, relativamente a ele de incompatibilidades por natureza.
Aliás, mesmo em termos exclusivamente económicos, não deixam de existir reservas sobre a correcção com que poderia formular-se o objectivo radical da máxima aceleração do produto, em prejuízo (ou com desconhecimento) dos outros objectivos apontados, salvo nos países que se encontrem ainda na fase de arranque do desenvolvimento ou nos primeiros degraus do seu processo e apenas enquanto não superem essa posição, o que dá ao objectivo uma configuração precária e dependente do próprio desenvolvimento.
Ultrapassadas essas condições, a distribuição mais equitativa dos rendimentos apresenta uma fisionomia diversa perante o processo do crescimento económico, pois, então, não é apenas por considerações de justiça social que o objectivo se impõe: os termos predominantemente económicos conduzem a posição semelhante, tida em. conta certa prudência indispensável na elevação ao máximo do efeito final favorável. É que a existência de uma estrutura defeituosa na repartição dos rendimentos (assim qualificada segundo critérios onde se crê que o económico se compatibiliza com a justiça social) constitui condição desfavorável ao crescimento, por muito provavelmente, exercer nele uma acção refreadora importante; a este propósito, é costume recordar a restrição do mercado por insuficiência na alimentação de uma procura progressiva, o atraso provocado quanto à promoção profissional e técnica da população (logo, no nível geral da produtividade do trabalho) e as indesejáveis tensões sócio-políticas. Acresce que o processo do desenvolvimento económico de um país - sujeito a opções que representam, eventualmente, sacrifícios e esforços de muitos - é obra da comunidade e, para que possa sê-lo validamente, necessário se torna
que ela a sinta como sua, para que reaja em conformidade com o interesse nacional, o que não deixa de ter implicações importantes no modo como se insere no esforço geral de desenvolvimento o problema da repartição dos ganhos do próprio processo de expansão.
Na outra face da medalha, estão as relações íntimas que se estabelecem entre uma política de distribuição de rendimentos, os preços e a poupança, pois torna-se evidente que a consideração indiscriminada da alta dos salários (como se se reduzissem a isso as vias da melhoria da distribuição) tenderá a colocar a política da repartição entre os elementos destruidores de uma estabilidade de preços tida como essencial, ao mesmo tempo que, muito provavelmente, se frustrará, em grande parte, o próprio esforço de subida dos salários reais. Por outro lado, aquela política, se adoptada desprevenidamente, tenderá a exercer uma acção depressora sobre a formação da poupança, pelo que haverá que ponderar criteriosamente todos os efeitos prováveis, a fim de escolher os termos da realização harmónica dos objectivos em causa, utilizando os instrumentos mais adequados ao máximo efeito final favorável.
Como já :se referiu, o projecto do III Plano de Fomento apresenta-se, de um modo geral, consciente das dificuldades de que o problema se reveste, agravadas, no nosso caso, por uma escassez de elementos estatísticos que permitam delinear, com justeza e oportunidade, medidas correctoras satisfatoriamente adequadas.
Reconhece-se a necessidade imperiosa de incluir o tipo de distribuição de rendimentos entre as variáveis dos modelos de desenvolvimento, pelo que devem acentuar-se os esforços tendentes a tornar possível a realização desse desiderato, nomeadamente no sentido de serem conhecidos com segurança os níveis de emprego por sectores e categorias profissionais, os montantes das remunerações correspondentes, as contribuições para a previdência e outros fundos sociais, a parcela retirada pela fiscalidade e a estratificação da população por categorias de rendimentos.
Mas crê-se que tais esforços, embora assim orientados, não excluem a consideração imediata do problema, nos termos em que os elementos disponíveis a revelam. E eles parecem bastar para, dando conta da existência da problemática respectiva, isolar alguns campos onde é aconselhável a tornada de medidas específicas e urgentes.
Considerando o que vem de dizer-se sobre o problema, a Câmara dá o seu acordo às medidas necessárias para uma melhoria na distribuição dos rendimentos compatível com os objectivos superiores da expansão e chama nomeadamente a atenção para os seguintes pontos:

a) Há a necessidade de aproximar os níveis salariais da produtividade, reduzindo na medida do possível a dependência em que se encontram da situação conjuntural do mercado de trabalho em cada actividade e região; mas, para que o processo não venha a resultar em distorções e diferenças sectoriais ainda mais gravosas para os titulares de rendimentos de trabalho, segundo o espírito de progresso dos respectivos empresários.
b) Deve programar-se a evolução dos ajustamentos salariais por sectores e regiões, tendo em conta, sobretudo, a variação da produtividade nacional, os níveis de salários praticados nos mercados externos significativos e a atenuação progressiva das disparidades regionais e interactividades; pelas mesmas razões,
c) Devem definir-se metas de aumento de produtividade por sectores, bem como a reestruturação

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dos respectivos sistemas produtivos, por forma a assegurar condições de economicidade às diversas actividades;
d) Reveste-se da maior importância o aperfeiçoamento dos mecanismos do mercado de trabalho, nomeadamente através do estabelecimento de uma convenção tipo, da melhoria da organização sindical, do fortalecimento da mobilidade inter sectorial e inter-regional (por políticas do formação profissional, subsídios de deslocação, fornecimento de habitação nos novos locais de trabalho, etc.);
e) Há toda a conveniência em fortalecer o conjunto dos mecanismos redistributivos existentes, nomeadamente pelo alargamento da concessão dos benefícios da previdência, no âmbito profissional (agricultura e serviços domésticos, por exemplo) e quanto à natureza dos riscos cobertos, bem como pela aplicação das poupanças acumuladas em investimentos de nítida finalidade social, obviamente sem prejuízo dos superiores objectivos do desenvolvimento.
Frisa-se, assim, a necessidade de uma política de melhoria na repartição dos rendimentos, coordenada e harmonizada aos diversos níveis com o esforço de crescimento, política que excede em muito (e até repudia) a simples preocupação de aumentos salariais indiscriminados, antes parece apresentar-se predominantemente enquadrada por considerações relativas a formas indirectas de redistribuição. Na verdade, não é de mais repetir que o processo do crescimento económico exige que estejam sempre presentes no espírito dos responsáveis as relações entre aquela política, os preços e a poupança. Quanto às primeiras, todo o cuidado posto na vigilância do andamento coerente dos salários e dos preços será, pouco para evitar que a- tendência para a repercussão dos aumentos dos salários na alta dos preços, por um lado, falseie a relação entre a melhoria salarial, e a produtividade (frustrando a própria redistribuição do rendimento) e, por outro, coloque a política da repartição entre os elementos destruidores de uma estabilidade que se apresenta no processo com carácter de essencialidade. Quanto à relação entre essa política e o volume da poupança, não repugna considerar a conveniência de consentir em ritmos mais lentos da expansão salarial nos casos em que, com essa prática, as empresas possam autofinanciar o crescimento económico; a este propósito surgem hipóteses de compensar o sacrifício relativo dos rendimentos do trabalho com uma forma aceitável de detenção, pelo grupo respectivo, da propriedade dos- recursos assim financiados.
Pelo que toca à correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento, viu-se já que constitui tarefa extraordinariamente complexa em si mesma, e de articulação muito difícil com o processo geral de desenvolvimento: pois, além do mais, exige que os critérios da selecção indispensável dos projectos de investimento (com altas taxas de rentabilidade e de impacte no processo motor geral segundo a estratégia definida) se compatibilizem com os requeridos pela necessidade de desencadear, no mecanismo expansor de cada região, o seu processo próprio de desenvolvimento. Busca-se na concentração dos investimentos o princípio geral por que se oriente a política da máxima aceleração equilibrada do produto global, princípio temperado pelo reconhecimento da necessidade de cada região dispor de estruturas industriais produtivas e diversificadas, integradas de modo adequado na rede urbana respectiva.
A Câmara regista com agrado os esforços desenvolvidos pelos planeadores neste domínio; e certa de que o entusiasmo não é inimigo da. prudência, manifesta a esperança de que venham a colher-se os melhores frutos da análise e da política regionais envolvidas naqueles esforços - sempre sem se perderem de vista as superiores exigências da elevação progressiva, equilibrada e estável do nível de vida de todos os portugueses.

38. Para a prossecução desse objectivo geral há que acelerar o ritmo de acréscimo do produto nacional. E propõe-se essa aceleração:

a) Pelo aumento da produtividade geral;
b) Pela alta da reprodutividade dos capitais;
c) Pelo acréscimo no esforço de investimento.

Cada um destes pontos merece um pouco de reflexão, para bem se ajuizar do projecto em análise.

39. O aumento da produtividade é uma das ideias que comandam toda a estrutura do projecto. Compreende-se e aplaude-se que assim seja, esperando-se que as melhores intenções não venham a ser frustradas por uma indesejável dispersão (quando não duplicação) de esforços e de recursos, incompatível com a realização indispensável daquele objectivo - situação que o próprio projecto permite pensar como possível, (bastará atentar-se no panorama descrito no capítulo V da
Promoção global, § 1.º, n.º 3).
Nada tendo a opor, na generalidade, aos objectivos propostos .nesta matéria (§ 2.º, n.º 8), na sequência da opinião defendida sobre a indispensabilidade de harmonização das políticas parcelares relativas ao (ou com incidências n.º) desenvolvimento, a Câmara congratula-se com a inclusão, entre aqueles objectivos, da coordenação unitária quanto à produtividade; e insiste por que a prossecução de tal objectivo seja conduzida, para além da simples harmonização das políticas dos diversos sectores, por princípios da máxima eficiência e economia de recursos.
Neste problema da produtividade, o sector público merece uma referência, especial rio projecto, que lhe dedica o seu capítulo VI da Programação global. Em princípio e na generalidade, a Câmara dá-lhe o sou acordo, embora pudesse ser estranhada a não citação dos artigos 4.º, 5.º, 19.º e 20.º da Constituição Política. Entende, no entanto e para além disso, que talvez seja possível explicitar mais as providências (imediatas e mediatas) a tomar neste domínio, expondo, quanto ao factor humano, por exemplo, a estratégia conducente à revisão das remunerações, a ressalva dos casos mais graves e agudos para o próprio processo do desenvolvimento, a maior especificação nas regalias sociais projectadas, o enunciado da política a empreender no campo das relações humanas nos serviços públicos, a conjugação dos esforços a desenvolver no sector educacional (secundário e universitário) com as necessidades de preparação para o exercício da carreira pública. Teria igual interesse a definição dos princípios a que deverão subordinar-se as revisões, reformas e reajustamentos a levar a cabo nas estruturas e modos de funcionamento dos serviços, bem como nos sistemas de fiscalização e controle respectivos. Do mesmo modo, seria pertinente abordar o problema da gestão do material e equipamento, as relações com o público e o princípio da coordenação legislativa e regulamentar na matéria.
Pode ainda estranhar-se que em domínio de tal vulto não seja feito um esforço no sentido de apresentar, com o projecto, pelo menos um critério para a definição de uma ordem de prioridades.

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40. O segundo ponto sobre que convém reflectir, como avisadamente notou no seu parecer subsidiário a secção de Crédito e seguros, respeita à reprodutividade dos capitais.
O projecto previu a manutenção do ritmo de crescimento da formação de capital fixo (8,2 por cento ao ano); logo. a também projectada aceleração do crescimento do produto (de 6,1 por conto ao ano no Plano Intercalar para 7 por cento no projecto) implica acentuação da reprodutividade média dos capitais.
Na verdade, não deve esquecer-se que a maior reprodutividade dos capitais .anda ligada ao próprio processo do desenvolvimento, na medida em que, ao longo dele, nos afastamos de empreendimentos de base, com altíssimas relações
capital-produto. Também não deve passar-se em claro que a aceleração do produto pode ligar-se a um complexo de factores de que a formação de capital, fixo é apenas um. dos elementos, ainda que dos mais importantes: e que a melhor utilização dos recursos disponíveis, o uso de técnicas mais evoluídas, uma mais perfeita organização empresarial, a elevação da produtividade do trabalho, o dimensionamento mais económico dos empreendimentos, a utilização mais satisfatória da capacidade produtiva criada, e a melhoria dos circuitos de abastecimento e das estruturas industriais em causa (para só falar nos factores normalmente considerados como mais significativos) - são susceptíveis de alterar notavelmente os resultados da actividade produtora em relação aos capitais utilizados. Essa modificação constitui, aliás, via importantíssima da política de crescimento económico.
O que está em causa na reflexão proposta não é, portanto, a possibilidade de melhoria das razões capital-produto, mas o facto de a necessária selectividade dos investimentos se comunicar adequadamente a essas vias laterais (mas não menos importantes) da expansão. Isto é que em obediência à estratégia adoptada para o crescimento, todos os factores da aceleração do produto obedeçam aos mesmos critérios de selecção dos investimentos, inserindo-se, assim, numa política coordenando globalmente esforços desenvolvidos para aumentar a reprodutividade dos capitais segundo as exigências daquela estratégia.
Acresce que nos termos do projecto - em face da expansão das parcelas da formação interna bruta de capital fixo utilizadas na construção e equipamento diverso (passando, respectivamente, de 12,4 por cento e 7,5 por cento das disponibilidades internas brutas em 1967 para 13,4 por cento e 10,6 por cento em 1973, com taxas de crescimento anual, para o período do Plano, respectivamente de 6,4 por cento e 11 por cento) - pode concluir-se pela verificação de «atrasos sensíveis por parte de todas as utilizações, salvaguardada a prioridade conseguida, no âmbito destas, ao investimento em equipamento diverso e ao consumo público» (parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros, n.º 4).
Por isso, ao mesmo tempo que sublinha a necessidade do abrandamento das despesas públicas em obras não imediatamente reprodutivas, a Câmara espera que se tomem as disposições necessárias para se poder confiar num acréscimo significativo da reprodutividade dos capitais nos sectores críticos para o crescimento económico geral.

41. O esforço projectado no campo do investimento, indicado anteriormente, constitui, como é óbvio, uma das coordenadas mais importantes de todo o projecto.
Quanto a ele, não se trata apenas de determinar as fontes de financiamento e efeitos prováveis da sua efectivação, mas também de analisar as grandes opções em causa e a aderência à realidade exibida pelas projecções que se lhe referem.
a) Pelo que ao primeiro ponto respeita, é de aplaudir a orientação seguida, rejeitando-se formas menos saudáveis de financiar o desenvolvimento económico, em obediência ao princípio da defesa de uma estabilidade tida como essencial.
Já não pode assumir-se posição esclarecida quanto ao recurso eventual ao financiamento externo, pois - embora se reconheça e aprecie a prudência com que o seu problema deve ser tratado, nomeadamente em ordem a manter uma verdadeira soberania de decisão em todos os campos - julga-se que o projecto poderia ter ido um pouco mais longe na matéria, incluindo, pelo menos, uma linha geral de actuação, que de outro modo fica entregue a uma casuística política de circunstância, só por isso não isenta de algumas reservas no contexto de um planeamento global.
b) Situado assim o problema no campo da formação da poupança interna, aparece imediatamente ligado ao da própria evolução prevista para o produto, bem como ao concurso que se estima cada um dos grandes sectores poderá dar à poupança global.
Quanto ao produto, a Câmara faz-se eco da ansiedade provocada pela análise da conjuntura em que irá começar a execução do Plano. Na verdade, dados os termos em que se processou a nossa vida económica no último ano e no 1.º semestre do corrente, não podem deixar de ser referidas as sérias dificuldades existentes para se atingir o ponto de partida programado pelo projecto para o produto de 1967 (102,7 milhões de contos a preços constantes de 1963). Têm; por isso, de sublinhar-se os esforços a desenvolver para se vencer urgentemente o abrandamento da expansão do produto, de modo a ser viável a prossecução da taxa de crescimento ora programada.
O problema tem ainda outras implicações: pois, se houver de partir-se de um produto inferior ao projectado, a expansão à taxa de 7,1 por cento exigirá menor valor absoluto do investimento global e, por isso, menores exigências à disponibilidade de aforros. A Câmara dá o seu acordo à sugestão feita pela secção de Crédito e seguros no sentido de que, atendendo às considerações expostas, «seja ponderada a conveniência e utilidade de se refazerem os cálculos, mantendo a taxa de crescimento de 7 por cento como meta desejável a atingir para o conjunto do sexénio», notando apenas que como a própria secção repara, no final do n.º 6 do seu parecer, aquele valor representa mero arredondamento, já que a taxa projectada é, efectivamente, de 7,1 por cento ao ano (de 102,7 milhões de contos em 1967 para 155 milhões em 1973).
c) Para além da consideração da conjuntura, pode discutir-se a validade da projecção da própria taxa de crescimento proposta. Na verdade, a experiência da última década não parece trazer-lhe apoio de valia, e o próprio Plano Intercalar de Fomento contentara-se com uma taxa bastante menor (6,1 por cento).
No entanto, se se tiver em conta a natureza da projecção em causa, crê-se que ao valor projectado se liga um sentido decorrente das próprias necessidades de desenvolvimento tidas como o mínimo aceitável. Acredita-se que assim seja e que a projecção decorra de se terem julgado insuficientes taxas menores (como a programada no Plano Intercalar), por conduzirem quase inevitavelmente a agravamentos intoleráveis dos desequilíbrios existentes. Mas, sendo assim, mais uma razão para se formular o voto de que, sob a pressão das necessidades impostas pela verificação daquela insuficiência, o projecto não tenha sido determinado com relativo optimismo quanto à via-

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bilidade da taxa projectada. A este propósito não será de mais recordar que a prossecução efectiva de um tal crescimento depende fundamentalmente da decisão com que se queira corresponder - através de uma corajosa política económica global em que se incluam as necessárias alterações estruturais - ao entusiasmo posto na projecção do mínimo aceitável. Só assim esta excederá, como a Câmara espera, o significado de um louvável acto de fé.
c) O acréscimo de 52,8 milhões de contos no produto durante o período do Plano exige, como foi visto, esforço notável de investimento - 188,6 milhões de contos (em capital fixo). Independentemente da consideração de outros problemas que lhe andam ligados e sobre os quais ter-se-á, adiante, de dizer uma palavra (como os relativos às projecções da formação de capital e ao seu financiamento), a Câmara desejaria ver explicitada a estratégia da política de desenvolvimento implícita na distribuição não uniforme dos investimentos ao longo do sexénio, com forte concentração no seu primeiro ano. e a consideração adequada dos efeitos prováveis dessa estratégia.
Na verdade, o ritmo anual de expansão de 8,2 por cento na formação bruta do capital fixo parte do valor de 24,9 milhões de contos em 1968 (e não 21,3 milhões de contos em 1967), pelo que, naquele primeiro ano, a formação de capital terá de elevar-se, pelo menos, em 3,6 milhões de contos, ou seja a um nível bem superior ao de qualquer outro ano médio do Plano. Ora, só por si, o facto já é susceptível de pôr, em termos bastante mais agudos, o problema do financiamento e o dos equilíbrios que se lhe associam; agudeza que tenderá razoavelmente a acentuar-se na medida em que a situação conjuntural atrás referida tenha levado, no fim do ano corrente, a uma formação de capital inferior aos 21,8 milhões de contos programados. Daí a Câmara chamar a atenção para o facto e para a conveniência de se ré verem os cálculos e opções nele implicados, tanto mais que não se vê razão para desde já, se desistir (por inatingíveis) das metas visadas por um projecto que se espraia ao longo de seis anos.
d) A formação bruta de capital fixo foi projectada a um ritmo superior ao do produto, de modo a acentuar-se a participação do investimento na utilização das possibilidades internas criadas no período. Assim, e como já se referiu, o investimento passaria de 18,2 por cento em 1967 para 21,9 por cento em 1973.
Dada a quase manutenção do peso relativo da variação das existências (mais 0,1 por cento entre aqueles anos limites), o facto representa uma primeira opção, que importa registar, entre o investimento e o consumo global. Simplesmente, trata-se de escolha que só ganha a sua dimensão significativa quando confrontada com a repartição do consumo entre os sectores público e privado.
O projecto consigna, a este propósito, ligeiro acréscimo do consumo público e correspondente redução da parte relativa ao sector privado; ora, se se considera que a projecção deste último exprime a intenção de o atrasar de modo significativo, relativamente ao crescimento do produto (5,9 por cento para 7,1 por cento) e que o consumo público exibiria uma taxa de acréscimo notavelmente reduzida relativamente ao período de 1953-1964, aperfeiçoa-se a ideia de uma opção deliberada na- utilização das disponibilidades internas, em sentido, aliás, coerente- com os imperativos do desenvolvimento.
O problema, no entanto, pode deslocar-se, na medida em que na projecção do consumo público se incluam as despesas militares extraordinárias, pois, então, o campo anterior das opções puramente económicas do desenvolvimento só não fica perturbado se o planeamento (e a política que dele se serve) tiverem na conta devida a inserção adequada daquelas despesas na economia nacional, a fim de as aproveitar como factores positivos do fomento.
É ponto sobre o qual a Câmara entende dever deixar consignada uma palavra de aviso, pelo muito de bom que significará aquela inserção adequada no processo do crescimento, e pelo muito de mau que o divórcio dos dois fenómenos pode acarretai: à economia nacional, em pressões, globais e sectoriais, geradoras de desequilíbrios internos e externos mais ou menos graves, mas sempre profundamente indesejáveis.
c) Mas a formação bruta de capital fixo está ainda sujeita a outra opção importante - a que se estabelece entre o investimento público e o do sector privado.
Naquele, torna-se necessário distinguir o sector público administrativo do sector público produtivo, representado pelas empresas públicas; é óbvio que, a formação bruta de capital fixo se condiciona diversamente num e noutro caso, pelo que se vem a desembocar fatalmente numa opção de política.
Na verdade, quando ainda nos encontramos numa fase pouco avançada de desenvolvimento, pode dizer-se que todas as atenções da política económica se voltam para a criação das infra-estruturas básicas indispensáveis, pelo que a formação de capital fixo pelo sector público administrativo assume um peso relativo de significado compreensível. Depois, à medida que o crescimento se processa, a posição tende a esbater-se significativamente a favor do sector privado e do sector público produtivo.
Esta lógica da evolução económica aparece geralmente confirmada no caso português: posição de realce para a formação de capital, fixo no sector público durante o período do I Plano de Fomento, reduzindo-se um pouco em 1959-1960, mas voltando à elevar-se nos três anos seguintes em resposta à criação de importantes infra-estruturas (Ponte sobre o Tejo e Plano de Rega do Alentejo):

QUADRO XVI

Formação bruta do capital fixo por sectores

(Preços correntes)

[Ver Quadro na Imagem]

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Todavia, a própria adesão a essa lógica obriga a admitir como expectativa razoável - que a expansão da economia portuguesa nos próximos seis anos continue a implicar um os forco notável na formação bruta do capital fixo do sector público, na medida em que se considerem, simultaneamente, fortes exigências de infra-estruturas de natureza vária nomeadamente no campo das infra-estruturas social, da educação, da saúde e da produtividade em geral - e a necessidade de impulsionar a inserção do sector público produtivo no fomento, quer directamente, quer indirectamente pela utilização mais adequada do sistema de empresa de economia mista ou de outras formas de apoio ao sector privado que lhe acabam por corresponder.
De tudo isto decorre (mesmo sem necessidade de nos embrenharmos previamente no domínio do financiamento daquela formação bruta de capital) a conveniência de estabelecer ou explicitar opções fundamentais para a clara compreensão do papel que o Estado se reserva no processo de expansão económico-social e, nomeadamente:

Quanto à criação de infra-estruturas ou empreendimentos empreendimentos reprodutivos;
Quanto à posição do sector público produtivo no quadro geral das actividades económicas do País;
Quanto ao uso do poderoso instrumento dos investimentos públicos de modo compatibilizado com uma política global de fomento.
Neste contexto, a Câmara entende dever chamar novamente a atenção para os problemas implicados nas opções em causa e, especificadamente, para os relativos ao acréscimo da reprodutividade geral dos capitais, necessário para a prossecução da projectada taxa de crescimento do produto; para os respeitantes ao sector público produtivo, ou correspondente, em função do desenvolvimento projectado (nomeadamente no que se refere ao conjunto do sistema, de concessões e das empresas de economia mista); para as possibilidades e conveniência de transferir para o sector privado a produção de alguns serviços; e ainda para o reexame do nível e natureza das despesas públicas.
f) Aproveita-se a oportunidade para referir um ponto sobre que há toda a conveniência em esclarecer as práticas seguidas no planeamento; trata-se dos valores em que são feitas as projecções mais significativas.
No projecto, procura referir-se de modo válido o conjunto das projecções a preços constantes de 1963; mas, dada a precariedade com que podem inserir-se no processo as variações relativas dos preços interessados, acaba por não poder dispor-se de projecções em valor corrente, mas apenas em volume. O facto contém implicações importantes, ainda que praticamente óbvias.
De entre elas destacam-se:

As relativas a análise dos equilíbrios externos, pois o exame satisfatório da evolução das transacções com o exterior e sua relação com o crescimento projectado requer, como se sabe, estimativas a preços correntes dos vários anos;
As respeitantes à correcção e compatibilização dos critérios de transformação adoptados, uma vez que a sua consideração unilateral (e menos adequada) pode levar a afastamentos e distorções indesejáveis relativamente ao pensamento que presidiu a todo o esforço planeador.
O primeiro ponto apresenta-se de grande importância no caso português, pois, tida em conta a situação projectada para as relações com o exterior (a que adiante se terá novamente que aludir), a evolução menos favorável das nossas razões de troca nos últimos dez anos torna legítimo pensar se o saldo da balança comercial, em 1973 não assumirá valores diversos, a preços correntes, dos implicados na projecção global sobre que assenta o planeamento.
Pelo que se refere aos critérios de transformação adoptados, a primeira observação que se impõe é chamar a atenção para as consequências que eventualmente deles advirão quanto aos volumes globais do investimento a preços correntes, quanto à própria situação relativa do investimento e dos consumos, e ainda quanto à afectação destes por sectores. Na verdade -"e como bem foi realçado pela secção de Crédito e Seguros no seu parecer subsidiário -, a variação de preços implícita na transformação respeitante à formação bruta de capital fixo corresponde a um coeficiente inferior a 0,5 por cento ao ano. Ora, como, nessa formação, a construção participa em quase 60 por cento do total, e, é sector onde os custos tom. seguido uma evolução bem diferente da que teoricamente poderia atribuir-se à marcha dos preços dos bens de equipamento em. geral, fica desde logo sujeita a revisão a projecção a preços constantes de 1963, com a consequência, extremamente importante, de se tornar mais que. legítima a dúvida sobre se os investimentos efectivamente a realizar durante a execução do Plano não atingirão valores (em preços concorrentes) bastante mais elevados que os previstos. Acresce que a própria dinâmica do nosso desenvolvimento - fazendo apelo entre outros, aos sectores industriais da produção de bens de equipamento - não deixa de reduzir um pouco a adequação, ao nosso caso, das considerações válidas para os países mais desenvolvidos, considerações que militam no sentido de uma diferença notável entre a variação dos preços dos bens capitais e de consumo (grande concorrência internacional e progresso técnico nas indústrias produtoras de bens de equipamento); a margem estabelecida entre os coeficientes utilizados para um e outro caso (1,8 por cento e 0,5 por cento) parece, por isso, excessivamente favorável ao cálculo da formação bruta de capital fixo.
E, para além da consequência apontada, o facto vem a reflectir-se nas próprias opções a que acima se aludiu, dando corpo à possibilidade de os valores projectados afastarem o planeamento do uma projecção realista, quer globalmente, quer nas suas múltiplas escolhas entre as grandes componentes da despesa e nos elementos sectoriais que lhe andam, ligados.
Tudo isto não respeita apenas a: um aspecto técnico do planear, porque as projecções lhe são essenciais e porque o seu desenvolvimento colide com. alguns dos aspectos fundamentais de todo o processo de expansão que o planeamento prebende servir. Ë, pois, assunto sobre que convém acrescentar uma breve palavra.

42. Essa palavra não tem que dirigir-se à posição fundamental adoptada quanto ao princípio dá estabilidade dos preços. Concorda-se com a obediência que expressamente se lhe consigna no projecto - por isso é que se levantam problemas a este propósito. A questão é esta: uma vez que o processo de expansão do produto se projecta com rejeição da política de alta deliberada dos preços e se estabelece à sua evolução margem, rondando os 2 por

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cento anuais, toda a economia do Plano (e, com ela, a própria estratégia da expansão) fica dependente do realismo com que aquela margem tenha sido estabelecida - ou da decisão e eficiência da necessária política estabilizadora para que se mantenham nos valores projectados os limites das variações dos preços.
Que a primeira condição corre o risco sério de não se verificar, é opinião que resulta da simples experiência quotidiana sobre a conjuntura destes últimos dois anos, em que se tem concretizado uma tendência de alta de preços bem superior aos limites aceitáveis, pois se calcula acima do ritmo de elevação de 4 por cento ao ano (recorda-se, com a secção de Crédito e Seguros, a evolução dos índices de preços e de salários1 em 1966 e no 1.º semestre de 1967, constante do gráfico III do seu parecer subsidiário, com a maioria das variações dos preços situando-se entre 4 e 10 por cento e as dos salários entre 10 e 18 por cento).
Mas, sendo assim, o problema desloca-se para o campo da necessária política de estabilização, e, nesta, não será perda de tempo atentar-se nas reflexões atrás feitas. Com efeito, se a estabilização pode vir a corresponder a um reajustamento e este tem de ser orientado pelos critérios gerais da estratégia de crescimento adoptada - o que está em causa é toda uma política de preços e de rendimentos integrada na política global que por aquela estratégia se exprime, quer quanto aos sectores produtivos em causa (privados e públicos), quer quanto ao condicionalismo criado à economia nacional pela evolução dos preços internacionais, que tenderá a tornar-se cada vez mais dominante à medida que se processe a integração da nossa economia em espaços económicos mais vastos.
Reconhece-se a complexidade do problema, mas repete-se a urgente necessidade de o encarar.

43. Posta nestes termos, a questão da estabilidade não se refere a valores globais, mas ganha a sua dimensão significativa no confronto entre os vários sectores.
Se se quiser, a mero título exemplificativo, observar a experiência das áreas industriais mais relevantes, chegar-se-á aos seguintes resultados globais:

GRÁFICO I

[Ver Gráfico na Imagem].

Para esses resultados, cada sector contribui do seguinte modo:

GRÁFICO II

[Ver Gráfico na Imagem].

Quer dizer: deixando de lado o período do I Plano, fortemente influenciado pelas vicissitudes da guerra da Coreia, a nossa experiência recente parece revelar que o índice de preços por grosso reflecte, com algum desfasamento e por forma atenuada, as oscilações dos preços dos bens importados; mas, ao mesmo tempo, alguns sectores (como os da metalúrgica e metalomecânica), onde haja elevada participação do trabalho, sobretudo especializado, mostram-se muito sensíveis à elevação geral dos salários. A par disso, a inelasticidade relativa da oferta, as condições da concorrência intersectorial e a evolução da produtividade respectivas parecem ter sido - e de certo continuarão a ser - factores muito importantes da evolução dos preços em cada um dos sectores considerados.
Se se quisesse arriscar indicações tendenciais, dir-se-ia:

Passando por alto - aliás injustificadamente -, o efeito eventualmente exercido pela própria política de fomento nos sectores considerados, as flutuações dos preços dos materiais e produtos importados tenderão a repercutir-se desfasada e atenuadamente no índice geral de preços por grosso, e, com maior incidência, como é óbvio, nos produtos nacionais em que a participação de matérias e semiprodutos importados for maior, a menos que se consigam, no curto espaço de tempo a que respeita o III Plano de Fomento, profundas alterações estruturais que modifiquem substancialmente a correlação observada, na nossa experiência recente, entre aqueles índices.

Naquelas condições:

O sector metalúrgico e me talo mecânico deverá apresentar preços com tendência a um crescimento menos rápido do que o nível geral, não obstante o

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efeito da elevação dos custos (salários e preços das matérias-primas), em. virtude das actuais manifestações recessivas, que se revelam com maior acuidade neste sector, dada a sua propensão para sofrer as oscilações provocadas pelo mecanismo de aceleração.
As indústrias alimentares, passada uma primeira fase de adaptação à expansão da procura, tenderão, dada a sua estrutura fortemente competitiva, a praticar preços que não se afastarão sensivelmente da tendência observada no período de 1955-1967, isto é, uma tendência paralela ao do nível geral de preços por grosso.
As indústrias químicas, dado o seu dinamismo e atendendo à sua maior dependência de factores que, a actual, conjuntura, exercem particular pressão sobre os custos, é possível, que venham a praticar no futuro próximo preços que, em. média, evoluam com uma tendência ascensional menos lenta do que a do nível geral, o mesmo devendo acontecer com as indústrias do papel, dos materiais de construção, dos curtidos e de outras que se encontram em condições análogas.
Todavia, o mais que tal vez devesse dizer-se seria que a experiência mostra não poder contar-se à marcha espontânea dos preços o equilíbrio sectorial - mesmo que globalmente admitido como possível nas condições evolutivas citadas, requerendo, por isso, uma política estabilizadora adequada, global e sector ali ente, aos objectivos do crescimento.

44. As disponibilidades internas projectadas para 1973 atingem 154,3 milhões de contos (sempre a preços constantes de 1963).
Para essas disponibilidades, o andamento das transacções correntes com o exterior contribui de um modo que resulta da alteração significativa das suas variáveis determinantes: como se viu no quadro VI, às verbas de 31,7 e 27,1 milhões de contos programados respectivamente para as importações e exportações de 1967, projecta-se virão a corresponder em 1973 respectivamente 47,8 e 48,5 milhões de contos. Quer dizer: enquanto o
acréscimo das importações se projecta a um ritmo igual ao do crescimento do produto (7,1 por cento ao ano), pensa-se que a expansão das exportações se processara a uma taxa bastante superior (10,2 por cento ao ano). A projecção implica desde logo tornada de posição quanto a alguns pontos da maior importância para a estratégia do desenvolvimento, nomeadamente:
A relação entre a expansão das disponibilidades e o crescimento do consumo;
A relação entre o processo do desenvolvimento e o ritmo das importações;
A relação entre aquele processo e a variação das exportações.
O primeiro ponto refere-se ao atraso suposto para consumo privado relativamente à evolução do produto (menos 12 por cento do ano) perante a manutenção da taxa de investimento e a evolução paralela do produto e das importações: no segundo, estão presentes, não só as pressões exercidas pelo processo de crescimento sobre a balança comercial, era exigências de equipamentos, matérias-primas e semi produtos estrangeiros, como a esperada comunicação da melhoria dos rendimentos ao consumo efectuado no estrangeiro; o terceiro ponto respeita, como é óbvio, mão só à posição geral assumida pelo mercado externo na aceleração do crescimento do produto (posição relativa dos mercados interno e externo perante os múltiplos elementos presentes no crescimento, desde a dimensão da procura potencial às condições do financiamento), mas também à própria estrutura das exportações e às implicações que daí advêm ao confronto entre as taxas do acréscimo do comércio externo e do produto.

45. Em todos estes pontos estão em causa, antes de mais, as projecções relativas às transacções com o exterior. Este é aspecto, cuja importância fundamental requer da Gamara umas palavras.

46.De um modo geral, projecta-se uma quebra no ritmo de aumento tanto das exportações como das importações de bens e a manutenção de altas taxas de desenvolvimento para as rubricas de turismo e da balança de invisíveis correntes:

QUADRO XVII

Níveis e tendências da evolução das importações e das exportações
(Milhões de contos)

[Ver Quadro na Imagem].

No conjunto, pode dizer-se que só não se projectam favoravelmente as transacções de serviços de transporte e o saldo de rendimentos de capitais, que se estima possam conduzir a pagamentos líquidos passando, de 1,3 milhões de contos em 1967,
para 2 milhões de contos em 1973. Por isso, convém atentar um pouco nos fundamentos dessas projecções, para filtrar, por eles, o grau de viabilidade dos processos expansores que se lhes associam.

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b) Pelo que respeita à importação de bens. entre as hipóteses admitidas para a sua projecção figuram:

A não consideração de eventuais consequências, sobre o volume do comércio externo metropolitano, do desenlace favorável das negociações encetadas sob a égide do G. A. T. T. para o desenvolvimento do comércio mundial e de maior abertura da Comunidade Económica Europeia a transacções com. os países da A. E. C. L.;
A hipótese de no período de execução do III Plano, não se verificar em crises de abastecimento interno de dimensão superior às verificadas nos últimos anos, nomeadamente quanto a cereais e gorduras alimentares;
Manutenção do ritmo de substituição de importações por produção nacional.
O simples enunciado chegaria para criar as mais sérias reserva quanto ao optimismo das projecções efectuadas - até porque a- sua verificação não fica- totalmente dependente de instrumentos de política económica manejáveis internamente com autonomia; .mas a não confirmação de algumas das hipóteses poderá corresponder a exigirem-se esforços crescentes e muito sérios à produção nacional, para que se atinjam as metas propostas ao crescimento.
Por exemplo: a manutenção do ritmo de substituição de importações por produção nacional fica em larga medida dependente das possibilidades de concorrência (em preços e qualidade dos produtos) que os sectores nacionais interessados apresentem; mas essas possibilidades terão que evoluir rapidamente, em resposta a incrementos de eficiência processados a ritmo superior ao verificado no abrandamento das protecções existentes, que, juntamente com a melhoria real que entretanto se verifique pôr parte dos produtores estrangeiros, se apresenta como factor de deterioração da nossa capacidade de concorrência.
A Câmara, compreende a lógica pragmática em que a projecção se baseia - o fortalecimento suficiente da capacidade de concorrência da produção nacional, mais do que hipótese a confirmar ou infirmar, é condição de todo o planeamento (para não dizer objectivo, embora complementar); mas entende que deve ter-se presente essa natureza, não pedindo à projecção mais do que ela comporta. E entre o que perante ela se pode e deve pedir, figura, imediatamente, uma política de preços e rendimentos capaz, além de todo um complexo de medidas de política industrial e agrícola, sobre que se terá de dizer adiante uma palavra. Mas não será redundante acentuar-se a necessidade de promover rapidamente as reformas o actuações implicadas na realização das premissas sectoriais sobre que assentaram as projecções feitas, de modo compatibilizado com a estratégia geral do desenvolvimento.
Aquele alcance essencial das projecções manifesta-se inteiramente no que se refere às exportações projectadas para o período do Plano. Aí não se partiu das tendências exibidas pela experiência recente, e, em vez disso, assentou-se na consideração - exacta - do que as exportações devem crescer a ritmo superior ao produto nacional, nos casos em que a abertura para o exterior se mostra altamente condicionadora do processo de expansão. Têm essa origem fundamental os 10.2 por cento apontados, bem como as alterações na estrutura das exportações de bens, segundo os critérios que levaram ao isolamento das actividades mais dinâmicas na estratégia do crescimento (redução dos sectores tradicionais em
benefício das actividades dedicadas à produção de equipamentos, material de transportes e produtos químicos).
Por isso, também aqui a Câmara se limita a chamar uma vez mais a atenção para as relações existentes entre as políticas de promoção de exportações, industrial e de preços, cuja coordenação se impõe como condição essencial da estratégia adoptada.
c) Nas projecções referentes às transacções correntes com. o exterior assumem particular relevo as respeitantes aos serviços, pois aos seus resultados se condiciona a cobertura do déficit da balança comercial provocado ou acentuado pelo processo de desenvolvimento: como já se viu (quadro v), o déficit de 4,6 milhões previstos para as transacções de bens e serviços em 1967 tornar-se-ia num saldo positivo de 700 000 contos em 1973, graças ao aumento espectacular do saldo dos serviços (de 2,7 milhões para 12.1 milhões), apesar do forte acréscimo do déficit da balança comercial (mais 4,1 milhões de coutos).
Mas o problema não comporta apenas esse aspecto global, interessando de sobremaneira as alterações substanciais verificadas na estrutura do comércio externo. Assim, continuando a acentuar-se o peso relativo dos serviços no valor das exportações (que, representando em 1.958 24,9 por cento do total exportado, passaram para 26,9 por cento em 1963 e 34,9 por cento em 1967, devendo atingir 47 por cento em 1973).
Também quanto à importação se assiste a evolução semelhante: a importação de serviços representava em. 1958 15,3 por cento do total importado; passou em 1963 para 20,1 por cento e em 1967 para 21,1 por cento; e pensa-se que constituirá em 1973 22,5 por cento das importações correntes totais.
Os números autorizam, uma consideração importante: para além do ritmo diverso a que se processa a alteração da estrutura, do nosso comércio externo quanto às importações e exportações (a que podem eventualmente estar de algum, modo ligadas as dificuldades de substituição de importações de bens pela produção nacional e os obstáculos a uma penetração mais eficiente dos nossos produtores de bens nos mercados estrangeiros), o equilíbrio externo da nossa economia - entendido não apenas em termos de liquidações, mas também, em termos reais-- parece encaminhar-se para uma dependência progressiva do mercado dos serviços. Ora, nestes, o papel dominante cabe ao turismo (cerca de 76 por cento do total); e, por isso, as projecções que se lhe referem tornam-se essenciais à adequação da estratégia de crescimento adoptada.
O projecto não deixa, a esse propósito, grandes probabilidades de se fugir, também aqui, à natureza predominantemente pragmática das projecções - pois, lembrando as condições extremamente favoráveis em que se verificaram os altos ritmos do crescimento recente neste sector e as grandes dificuldades que se depararão à sua manutenção ou reedição, considera ambiciosa a meta de 20 por cento fixada para o período de 1967-1973, implícita nas projecções apresentadas.
A Câmara, registando o facto, concorda em que a verificação dos valores projectados - de importância excepcional para o êxito do Plano - fica dependente, não só do cuidado e pertinácia postos na execução de uma eficiente política do turismo, como da política geral de preços. Chama, porém, a atenção para a vulnerabilidade a que se sujeita uma economia que assente o seu crescimento e prosperidade fundamentalmente sobre a exportação de serviços que, como os de turismo, se revestem, de uma natureza tão aleatória e extremamente sensível a fenómenos conjunturais da mais variada ordem.

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d) Uma última rubrica a comentar diz respeito às transferências privadas, cuja evolução (realizada, prevista ou projectada) mostra tendência expansiva notável, subindo de 1,7 milhões de contos em 1958 para 2,4 milhões em 1963, 5,2 milhões em 1967 e 8,5 milhões em 1978.
Se se atentar em que esta verba corresponde a cerca de 75 por cento do deficit total projectado para a balança comercial em 1973,Ter-se-á de atribuir às transferências privadas um significado de muito relevo no Plano.
Sabe-se como a rubrica é comandada pelas transferências de emigrantes; tanto basta para - em face das limitações resultantes de situações conjunturais nos mercados externos, do conhecimento geral e da consideração estrutural do problema da emigração perante as necessidades de mão-de-obra suscitadas pelo processo do crescimento económico nacional - se levantarem sérias dúvidas, não só quanto à probabilidade de se atingirem os valores projectados mas ainda (e sobretudo) quanto á compatibilidade entre a lógica desta projecção e a que preside ao esquema do desenvolvimento industrial.
É ponto sobre que a Câmara deixa, com as suas reservas e preocupações, uma palavra de aviso.
e) finalmente, repare-se no que de mais importante revela a balança dos capitais.
O projecto apresenta-nos os seguintes números:

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A resposta favorável que os capitais estrangeiros- têm dado às solicitações de financiamento torna presumível a disponibilidade de recursos desta origem, durante o período do Plano, em valor superior a 15 milhões de contos. Muito embora seja de considerai: a possibilidade de expandir a participação, no total dos fundos movimentados, da entrada de capitais levada a cabo sem intervenção do Estado, é provável que boa parte daquele financiamento se reflicta directa ou indirectamente nas responsabilidades externas do Estado; a este propósito e sem prejuízo de insistência na sua sede própria, a Câmara faz suas as considerações da secção de Crédito e seguros: «[...] quer o volume de reservas nacionais, quer os fluxos de receitas do Estado, permitem admitir que o endividamento externo do Estado pode ser ainda ampliado, embora tenha de ponderar cuidadosamente o aspecto das suas responsabilidade sob a forma de aval a empresas privadas, quer ao nível da Administração Central, quer, em especial, ao nível dos governos das províncias ultramarinas». A acuidade deste tema vem reforçada pela consideração, nas possibilidades de financiamento, das despesas militares extraordinárias e do apoio financeiro ao ultramar. É questão para que, dada a sua importância, a Câmara chama a atenção do Governo.
46. Não se esgotam, com estes, os problemas suscitados pela consideração das relações económicas externas da nossa economia.
A este respeito, o ultrapassando, embora, o tema estrito daquelas relações, a Câmara entende dever recordar que, exigindo um grande esforço global a prossecução decidida dos objectivos por que se pretende orientar a nossa política económica de crescimento, a consideração separada das várias parcelas que constituem a Nação não se apresenta como o melhor processo de enunciar e executar aquela política. Este é um ponto onde, com felicidade, o princípio por excelência da unidade nacional se identifica com. as próprias exigências económicas do desenvolvimento.
Na verdade, são visíveis os inconvenientes que apresenta o não englobamento possível e adequado das políticas relativas a cada um dos grau de s territórios nacionais, porque assim se diminui a possibilidade de uma projecção, à escala nacional, da política de crescimento proposta (nomeadamente no campo industrial). Por outro lado, há que atender a que os planos ultramarinos acabam por sei: em grande parte financiados pela metrópole, directamente ou através do agravametno das suas responsabilidades; isto obriga a ponderar o que as políticas relacionadas com a formação da poupança ganhariam se tivessem em atenção todo o espaço nacional, dados os parâmetros que as circunstâncias lhes fixam actualmente (problemas das despesas militares extraordinárias e das medidas tendentes à sua recuperação para fins de fomento, a que já se aludiu). Por fim, deve ter-se em conta que a consideração separada das várias parcelas não ajuda a esclarecer antes perturba - o problema das transacções correntes com o exterior, na medida em que a situação económica externa das várias parcelas vem enxertada das transacções metrópole-ultramar, com factores e implicações diversos dos relativos ao comércio entre países diferentes.

47. Encarar-se-ão, agora, ainda que sumariamente, as várias fontes do financiamento projectado, retomando o que sobre o problema se diz no n.º 41.
Perante os elementos disponíveis, o projecto limita-se ao sector público e às empresas privadas. Mas, mesmo quanto àqueles, são precárias as estimativas respeitantes à capacidade de participação do sector público no financiamento global, bem como ao autofinanciamento privado. Mesmo tendo em conta essas limitações, a Câmara entende que:

1.º No cálculo da formação da poupança e das necessidades de financiamento, para além dos objectivos propostos pelo Plano, deveriam ter-se presentes as suas coordenadas essenciais, nomeadamente o esforço de defesa e a integração em. espaços económicos mais vastos;
2.º Por isso, as despesas militares extraordinárias deveriam receber tratamento adequado à sua inclusão no esquema geral, de modo a permitirem uma ideia mais aproximada dos volumes prováveis da poupança e enunciado de uma conveniente política de orientação dos fluxos do procura resultantes - sob pena de se correr o risco de ver factores potenciais do fomento transformados em elementos geradores de pressões sobre os preços e a balança comercial;
3.º Dada a importância assumida pela previdência social, administração local e fundos e serviços autónomos no volume global, das possibilidades de financiamento do sector público; considerada a actual fragmentação de micro administrações financeiras associadas àquele fenómeno; e não podendo menosprezar-se os inconvenientes da ausência de uma política financeira globalmente enunciada e executada - é da maior conveniência que se tomem medidas tendentes a eliminar os inconvenientes referidos, nomeadamente pela imputação a uma única entidade das responsabilidades últimas na condução da indispensável política financeira global;
4.º O equilíbrio financeiro do sector público «exige profundo reexame, quer do nível e natureza das despesas, as quais, por vezes, se caracterizam por uma larga inércia na sua realização, quer dos factores de despesa plurianuais e do sistema de tomada de decisões para a sua administração, e finalmente, análise sistemática das despesas de intervenção e da sua eficácia e papel na política de fomento. A alavanca de alguns equilíbrios encontra-se, por vezes, mais na política de melhor aproveitamento e inserção da despesa pública no fomento do que em aglomerados de providências de natureza meramente restritiva» (parecer subsidiário da secção de Créditos e seguros, n.º 8, parte final);
5.º Os elementos indicadores de equilíbrio no sector respectivo (volume de reservas nacionais e fluxos de receitas do Estado) permitem admitir a possibilidade de ampliação do recurso ao crédito externo pelo Estado, devendo, todavia, ter-se em conta, não só as suas responsabilidades directas, mas também as representadas pelo aval do Estado a empresas privadas na metrópole e no ultramar;
6.º Como já se realçou, a consideração de outros factores (além dos expressamente consignados no projecto) traz a primeiro plano o problema do financiamento externo, relativamente ao qual devem enunciar-se, dentro do possível, os traços gerais da política respectiva, englobando ou

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sectores público e privado e orientando a actuação deste predominantemente
através das instituições adequadas.

48. Constituindo mais de metade da poupança, disponível os aforros imputados às sociedades privadas, o auto-financiamento aparece, no projecto, como a fonte mais importante da formação de capital e satisfação da política de existências.
A este propósito, a Câmara começa por chamar a atenção para os efeitos refreadores que para o autofinanciamento - levado a cabo através do sistema tradicional da retenção de lucros - tendem, a decorrer da situação criada às empresas pela evolução dos salários, pela intensificação da concorrência internacional, pela execução de uma política de estabilização ou contenção dos preces e pela efectivação do complexo de políticas tendentes a prosseguir uma repartição mais equitativa dos rendimentos. A consideração desses factores, além de levar a pensar ter muito difícil, nas condições actuais, atingir-se um volume tão grande de autofinanciamento, implica o relevo eventual da política de amortizações aceleradas no quadro das providências destinadas a permitir ou incentivar o autofinanciamento em condições e níveis adequados.
Mas, para além disso, entende-se que o problema do autofinanciamento das empresas e sua posição relativa no modo. de financiar as necessidades de investimento respectivas não pode divorciar-se da consideração, essencial, da própria estrutura económica e financeira das empresas, tendo em vista a forma por que determinam, a sua reacção às variações conjunturais desfavoráveis e às políticas dê estabilização eventualmente seguidas. Por isso, e por se reconhecer que o problema não é apenas de recursos possíveis e investimentos, mas se enquadra na política económica e financeira global e sectorial, concorda-se com a reserva de que «o equilíbrio verificado no tempo entre as diferentes participações» (no quadro geral do financiamento das empresas) «não deve ser destruído pelas necessidades imediatas aparentes do uma conjuntura, sacrificando margens de segurança financeira, sem integrar ou conciliar esse sacrifício com opções bem. definidas e claras de políticas de desenvolvimento económico» (parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros, n.º 13).
49. Nestes termos, ganha acuidade notável o problema das vias da recolha de aforros e sou encaminhamento para a formação de capital, isto é, a questão das instituições e circuitos de financiamento que estruturam o mercado financeiro. Sabido, que a detenção dos aforros pode assumir diversas fornias (moeda legal, depósitos, títulos vários, modalidades diversas de seguro contratual ou institucional), o melhor caminho para se- ajuizar daquele problema seria precisamente analisar-se o papel desempenhado pelos vários tipos de instituições financeiras (banca comercial, Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, caixas económicas, Banco de Fomento Nacional, empresas seguradoras). Referido expressa e largamente o parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros, onde se faz aquela análise em termos de devido pormenor, a Câmara limita-se a repetir algumas dúvidas, suscitadas nesse parecer, acerca da justeza das estimativas feitas sobre a capacidade de financiamento de cada uma das instituições citadas. Reconhecendo ser extremamente difícil a avaliação, com um mínimo de segurança, dos fluxos de crédito a médio prazo efectivamente gerados no sector da banca comercial, e, portanto, a natural falibilidade da sua projecção no Plano, que conviria rever do acordo com as sugestões daquela secção, a Câmara entende que:
As potencialidades de financiamento da Caixa Geral de Depósitos parecem ter sido subavaliadas, pelo que conviria repensar os problemas suscitados pelos respectivos cálculos;
No que respeita ao Banco de Fomento Nacional, o projecto peca por excesso e por defeito: por excesso, enquanto os métodos de avaliação usados levam a estimar uma capacidade de financiamento em certa medida apoiada em recursos complementares, cuja efectivação afectará os meios canalizáveis através de outras instituições financeiras; por defeito, já que omite os critérios orientadores da política financeira e de fomento do próprio Banco, que o situariam no quadro geral da estratégia do financiamento da expansão projectada para os próximos seis anos;
Quanto às empresas seguradoras, perante a modéstia do volume de financiamento projectado (2 milhões de contos), a Câmara faz suas as palavras da secção, chamando «a atenção para o papel que a actividade seguradora devo ter na formação da poupança e no funcionamento e estabilidade do mercado de capitais» e ponderando, por isso, «a necessidade urgente de um conjunto de providências, umas de ordem regulamentar, outras de ordem fiscal, destinadas a desenvolver o sistema de seguros individuais ou colectivos, em particular no domínio do seguro de vida e das reformas e pensões complementares» (parecer citado, n.º 19).

50. Mais uma palavra sobre os circuitos de financiamento. Sabe-se como o sector público, mantendo as suas necessidades de financiamento à roda dos 20 por cento do total, tem participado de forma decrescente na poupança total disponível. Daí concluir-se que o financiamento do III Plano tora de recorrer a um esforço "maior do autofinanciamento privado e, eventualmente, a uma participação criteriosa do financiamento externo; mas deve também ter-se em conta, não só a conveniência da revisão da política de repartição de encargos entre o sector público e privado e entre diferentes parcelas do território nacional, como a melhoria dos circuitos financeiros, tanto mais premente quanto mais se reduzir, neste campo, o papel activo do sector público.
Nestes termos, a Câmara dá o seu acordo a que:
Se enuncie e prossiga firmemente uma política global de financiamento (aplicável em todo o espaço português);
Se centralize a coordenação da assistência financeira do Estado à iniciativa privada e da sua participação em empreendimentos, segundo o espírito do Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1.962;
Se sistematize e aperfeiçoe a larga e crescente intervenção dos bancos comerciais no financiamento a médio prazo;
Se defina o papel e as funções dos bancos comerciais e das instituições de crédito no incremento e recolha da poupança;
Se analisem as exigências de financiamento do investimento a longo prazo e as fontes públicas ou privadas adequadas, correspondendo estas últimas, mais plausivelmente, quer a formas de poupança institucional ou contratual a longo prazo - seguros, previdência social -, quer a poupança do sector público, quer a novos estímulos à transforma-

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cão da poupança em investimento a longo prazo, em que as caixas económicas podem desempenhar papel activo da maior relevância.
51. Termina-se por onde se começou: o problema do financiamento de uma política de desenvolvimento económico II ao se, esgota na determinação das necessidades a cobrir, potencialidades das várias fontes de recursos financeiros e efeitos prováveis da sua utilização; implica também a análise da própria estratégia do crescimento e das opções que a definem.
No nosso caso - e dado que as dificuldades maiores parecem surgir no campo do financiamento público -, a Câmara aconselha a revisão da problemática dos investimentos perante as fontes de financiamento, de modo a considerai1:
1.º As possibilidades de recurso ao crédito interno e externo pelo Estado;
2.º 1 A coordenação das políticas de utilização dos recursos estrangeiros;
3.º A opção entre o agravamento da carga tributária (para orientar o consumo e auxiliar a formação da poupança pública) e o alívio relativo daquela, carga (para estimular a poupança privada e o autofinanciamento);
4.º A fixação das prioridades do investimento numa política global;
5.º A utilização do parâmetro dos gastos militares como meio directo e indirecto de apoio ao financiamento sectorial e de recuperação parcial das despesas.
6.º Resulta do exposto no primeiro parágrafo deste parecer que a definição de uma estratégia de desenvolvimento compreende:
O estudo dos parâmetros definidores do processo e da capacidade do sistema para se desenvolver nesses termos;
O conhecimento concreto dos instrumentos, compatibilizadamente utilizáveis;
O isolamento dos elementos motores do processo, por critérios adequados;
A determinação do modo e grau de difusão do crescimento;
A análise dos termos em que pode manter-se o equilíbrio dinâmico do sistema.
Embora o esquema seja muito sumário, entende-se útil referir-lhe a estratégia adoptada para o III Plano de Fomento.
a) Entre os parâmetros definidores do processo de desenvolvimento e da capacidade de expansão do sistema, contam-se as estruturas sócio-políticas e económicas, a disponibilidade (quantitativa, e qualitativa) de recursos, a situação externa, a capacidade de financiamento e de decisão política, as relações intersectoriais existentes na respectiva estrutura económica, a própria posição geral da comunidade perante o fenómeno do desenvolvimento e suas implicações.
Grande parte destes parâmetros vêm a reflectir-se, de um modo ou outro, nos objectivos assinalados ao desenvolvimento ou nas condições que se impõem a sua efectivação; outros constituem dados concretos - embora, por vezes, não explicitamente incluídos - do planeamento da política respectiva.
Não vai repetir-se o alcance dos objectivos e condições do processo de expansão projectado no III Plano; nem há que insistir nos termos em que a Câmara lhe dá o seu
acordo. O enunciado cios parâmetros referidos interessa, antes, para recordar que o projecto pretendeu partir de dados estruturais da nossa economia para estabelecer uma estratégia, do desenvolvimento, em princípio orientada por intensa transformação das estruturas existentes, orientação que se receia tenha vindo a perder nitidez ao longo do projecto do Plano, estabelecendo- um. apreciável compromisso com o aproveitamento e a tentativa de melhoria daquelas estruturas.
O esquema proposto pode reduzir-se às seguintes linhas gerais:
A elevação do nível de vida português tem de assentar numa estrutura sócio-económica associada a um rápido crescimento do sector industrial (em termos absolutos e relativos);
Mas, para tanto, exige-se uma política industrial que não se compadece nem com a estrutura actual da indústria, nem com as condições oferecidas (e presumivelmente a oferecer no futuro) pelo mercado interno;
Daí, a necessidade de incluir, nos parâmetros decisivos do crescimento, as relações com o exterior, directa e indirectamente implicadas na solução dos dois tipos de problemas suscitados;
O isolamento dos sectores motores pretende fazer-se, assim, por critérios que tenham em conta, antes de mais, a capacidade concorrencial dos produtores estrangeiros (quer nos seus mercados de origem, quer no nosso próprio mercado); e de modo semelhante se determinaria o complexo da política industrial e de desenvolvimento;
As condições actuais de expansão dos serviços de turismo incidam ao seu aproveitamento como um dos fulcros do crescimento económico português, em reforço das políticas que visam o fortalecimento do mercado interno e a difusão rápida dos impactes favoráveis da procura externa sobre a produção nacional; -
A criação e manutenção do equilíbrio dinâmico do sistema exige um esforço muito sério no campo da produtividade e condições gerais de vida, intimamente relacionado com as estruturas efectivas nos domínios da educação e da saúde;
Ao mesmo tempo, os objectivos assinalados ao crescimento e as condições gerais que lhe são postas requerem uma política de preços e de rendimentos extremamente cuidadosa, ainda que flexível, e coordenada, globalmente com a política financeira e de investimentos exigida pela execução do Plano.
E esta a traços largos, a lógica da estratégia adoptada. A sua ponderação abrange dois campos distintos: o primeiro é o da concordância dos pontos de partida com a realidade; o segundo, o da própria lógica em si.
A Câmara não vê utilidade em discutir esta última em termos de validade global - até porque poderiam formular-se ainda reservas maiores a esquemas alternativos perante circunstâncias actuais que rodeiam a economia portuguesa; mas, na esteira das considerações que vem formulando, não pode deixar de salientar as tensões a que se sujeita um processo de crescimento predominantemente apoiado nos mercados externos, sobretudo quando se atribui ao sector dos serviços - e, nele, às aleatórias correntes turísticas- um peso mais do que significativo. A. reserva não atinge tanto o esquema em si como o risco de se deixar encantar por ele, abrandando os esforços que devem ser feitos para transferir, na medida do possível e com a rapidez permitida

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pelas circunstâncias, para os sectores da produção de bens a responsabilidade última do crescimento. Isto II ao significa que não devam ser aproveitadas todas as possibilidades para lançar e manter em certo ritmo um renovado esforço de expansão, mesmo que se tratasse de meras forças expansionistas conjunturais, o que se supõe não ser o caso do nosso turismo.
Da análise feita ao projecto tem de concluir-se que a Câmara, se, em princípio, dá o seu acordo à lógica da estratégia geral proposta (embora com as reservas decorrentes das observações oportunamente feitas), já não pode assumir a mesma posição relativamente aos pontos de partida daquela estratégia, enquanto se lhes requeira uma forte adesão à realidade. Não há que repetir o que sobre o tema anda espalhado ao longo deste parecer: mais útil se torna insistir na revisão das projecções cujos desvios se apresentem susceptíveis de frustrar as boas ia tenções dos planeadores, para, perante os seus resultados, se repensar a acentuação a dar aos diversos instrumentos em causa, cujo emprego (inserido em políticas globalmente definidas) conviria fosse mais frequentemente explicitado.
b) A este propósito não deixa de ser útil ainda uma ligeira referência aos instrumentos da política económica, não no contexto das suas compatibilidades funcionais e da adequação geral aos objectivos que se propõe servir (o que já foi referido), mas perante a evolução que as circunstâncias impuseram à política económica dos nossos dias. A referência é particularmente relevante nos casos em que, por condições estruturais e até de mentalidade, ao sector público se imputa a responsabilidade quase exclusiva da promoção do desenvolvimento, não raras vezes com relativa inércia ou desinteresse da comunidade, demitida da sua. posição actuante num processo global, cuja efectivação crê pertencer ao Estado, como competência e dever.
Nessas condições, o quadro dos instrumentos apresenta-se com uma composição relativa que vai evoluindo à medida que o processo se desenvolve e o sector privado reforça a consciência do papel que lhe cabe no crescimento económico. A tendência para atribuir um lugar de predomínio (quando não de quase exclusivismo) aos investimentos públicos e à política financeira neles implicada (nem sempre harmonizada com. a política monetária, dirigida apenas aos objectivos de estabilização), não constitui sempre o melhor processo de promover a rápida expansão da economia: frequentemente, a aceleração do crescimento do produto nacional, exigindo alterações da estrutura produtiva e adaptações (por vezes difíceis e dolorosas) das variáveis nela participantes, responde mais fácil e rapidamente a políticas directas de apoio àquelas alterações do que a actuações seguindo as vias tradicionais das despesas públicas em bens capitais.
A Câmara pensa sei: esse o caso português, pelo que haveria todo o interesse em definir de forma compatibilizada com a política de investimento, de poupança e monetária uma linha geral para a presença do Estado nos mercados, nomeadamente através de uma coordenada política de compras e da sua política de organização e apoio à produção.
c) O isolamento dos elementos motores assentou, como se disse, nos dados fornecidos pela nossa experiência económica, em face dos parâmetros considerados. Fundamentalmente, foram as altas taxas de crescimento observadas no sector das indústrias transformadoras e a consequente alteração, a seu favor, da composição relativa do produto os critérios aceites para a estratégia a seguir.
Tendo crescido à laxa de 8,8 por cento no período de 1953-1965, aquele sector exibia a seguinte estrutura:

QUADRO XIX

[Ver Quadro na Imagem].

Perante estes dados, duas conclusões desde logo se impõem: a insuficiência das taxas de crescimento observadas e a deficiente estrutura do sector. De uma e outra está o projecto consciente; o desacordo pode surgir apenas quanto às metas fixadas para a eliminação daquelas dificuldades a quanto às políticas enunciadas com esse fim.
Pelo que se refere à taxa de crescimento projectada (9 por cento ao ano), a Câmara--na esteira da opinião emitida no seu parecer pelas subsecções de Indústrias extractivas, de Têxteis e vestuário, de Indústrias químicas e de Indústrias metalúrgicas e metalomecânicas, da secção de Indústria - estranha que, neste caso, se tenha abandonado o critério pragmático das projecções, uma vez que os dados disponíveis levariam a, obedecendo àquele critério, projectar uma taxa da ordem dos 11 por cento para o período do III Plano. Na verdade, como a criação ou reforço da capacidade de concorrência perante o estrangeiro é o parâmetro fundamental da estratégia adoptada, a projecção do crescimento mínimo para que aquela capacidade seja possível tem de atender, de modo essencial, aos indicadores da expansão correspondente nos mercados externos mais significativos para o País, o que levaria a fixar, como mínimo aceitável, a taxa de 11 por cento.
Pelo que toca à estrutura do sector, o projecto prevê a sua conversão progressiva, ainda em ordem a atingir o preenchimento do parâmetro acima referido reforço da capacidade concorrencial da indústria portuguesa- como condição da sua sobrevivência.

QUADRO XX

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Simplesmente: se, independentemente de considerações conjunturais, existem fundadas dúvidas sobre a viabilidade de se prosseguir espontaneamente uma taxa de crescimento superior à projectada, a delicada conjuntura que tem rodeado a nossa indústria leva a recear que a consecução dos objectivos visados pela política de desenvolvimento industrial - quer quanto à taxa de crescimento, quer no que respeita à evolução da estrutura do sector - esteja ameaçada, a menos que se concretize um esforço global de crescimento, cuja intensidade e implicações não podem ser menosprezadas. A. estes aspectos se referem as já citadas subsecções da secção de Indústria no seu parecei1 subsidiário sobre o capítulo do projecto relativo às indústrias extractivas e transformadoras, em que, lamentando nas suas linhas gerais a ausência, no projecto, do delineamento de uma política industrial, julgam, entretanto, fundamental (dentro da técnica usada no Plano) que se intensifique a aplicação dos vários instrumentos de política económica previstos e se concretize uma maior intervenção governamental em certos sectores da actividade industrial, que se reconhece serem básicos, pelo seu papel motor no processo de desenvolvimento; mas recomenda, também, «que, no caso de ser proposta uma meta mais ambiciosa para o sector industrial, se determinem, com a devida ponderação e a maior clareza, todas as implicações que daí derivem, quer no tocante à revisão dos objectivos estabelecidos para os outros sectores de actividade e correspondentes meios de acção, quer relativamente aos novos métodos de desenvolvimento e de intervenção que se tornará necessário empreender no âmbito do próprio sector industrial».
d) Os problemas levantados pelo enunciado e execução de uma estratégia deste tipo não se reduzem, como é óbvio, às questões suscitadas no campo dos investimentos e das políticas específicas de apoio às indústrias consideradas críticas no crescimento económico: abrangem, outrossim., os problemas relativos ao equilíbrio inter-sectorial, não só porque dele depende, em larga medida, a prossecução harmónica do conjunto dos objectivos fixados à política económica geral, mas também porque, situando-se no centro do processo de difusão do desenvolvimento, vem a constituir a melhor óptica para apreciar a estratégia global adoptada.
A Câmara reconhece as grandes dificuldades que ainda se levantam entre nós à consideração deste problema em termos sistemáticos; mas, chamando a atenção para a conveniência de serem removidas o mais rapidamente possível, entende que, para além delas, não só; levou a consideração do problema tão longe quanto provavelmente se podia. Se se reflectir em que o projecto remete para o quadro da execução do Plano a harmonização necessária das providências requeridas pela própria política industrial (capítulo III dos «Programas sectoriais», secção I, § 3.º, n.º 21) (prática que. decerto ninguém deixará de considerar desaconselhável), terá de estranhar-se, por maioria de razão, que a natureza global atribuída ao planeamento não tenha chegado a comunicar-se explicitamente a um dos seus aspectos fundamentais. Sobre este ponto a Câmara entende atribuir ao seu comentário o sentido de uma reserva e de uma esperança.
e) As medidas apontadas à política de desenvolvimento industrial abrangem a revisão do condicionamento da indústria, o auxílio às pequenas e médias empresas,- a educação e formação profissional, a melhoria do financiamento da indústria, a normalização, o abastecimento industrial em matérias-primas, a aquisição e difusão da tecnologia moderna, a produtividade, o fomento das exportações, a criação de centros técnicos.
Para além do juízo que se faça acerca de cada uma dessas medidas, a Câmara, que se louva no já citado parecer subsidiário, entende que deveriam ser explicitadas as relações propostas entre os instrumentos implicados na política industrial e os seus objectivos fundamentais - com o que o valor funcional do Plano muito ganharia, sobretudo em. sector onde a responsabilidade pela concretização dos empreendimentos recai, prática e logicamente, sobre o sector privado.
Muito embora a análise daquelas actuações seja matéria a apreciar na especialidade, a Câmara quer acentuar desde já o alcance de que se reveste a projectada revisão do condicionamento, por significar alteração profunda do complexo da política industrial, em resposta às orientações e condicionalismos implícitos no esforço nacional de crés- cimento - e espera que a referida revisão venha a corresponder ao alcance que legitimamente se lhe pode atribuir.
53. Por diversas vezes se tem aludido à conjuntura económica dos dois últimos anos. Convém, porém, concretizar a referência, para que se situem devidamente as reflexões que provoca sobre o projecto do III Plano de Fomento, nomeadamente no domínio das projecções e políticas que a enformam.
Já foi abordada a evolução da conjuntura em geral, a cujo abrandamento da actividade económica alude, nos termos requeridos, o parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros. Aqui, interessa, sobretudo, realçar dois traços característicos da situação exibida especificamente pelos sectores produtivos mais importantes para o crescimento. São eles a marcha recente do produto industrial e o esforço levado a cabo para a formação bruta do capital fixo. Em um e outro campo ficou-se aquém do ritmo suposto.
Assim, pelo que toca à formação de capital e embora se trate, ainda, de números provisórios, os elementos disponíveis parecem apontar uma estagnação, quando não, mesmo, uma ligeira recessão. Na verdade, a tendência expansionista verificada até 1964 (passando de 7 938 000 contos em 1956 para 16 587 000 contos em 1964) abrandou de ritmo, julgando-se que se tenha situado em 17296000 contos em 1965 e 17 763 000 contos em 1966. As empresas privadas teriam passado, nesse período, de 12 735 000 contos em 1964 para 13 476 000 contos em 1965 e 13 956 000 contos em 1966. No entanto, assim expresso, o fenómeno não é tão significativo para o fim em vista como seria se fosse expurgado de alguns valores que, elevando os valores totais, têm alcance menor num processo de crescimento que siga os termos da estratégia adoptada neste III Plano. Se se atentar apenas na formação bruta de capital fixo efectuada pelas indústrias transformadoras, ver-se-á que os 4 624 000 contos verificados em 1964 desceram para 4 430 000 contos em 1965 e para 4 194 000 contos em 1966.
Por sua vez, a evolução do produto industrial, embora mostrando um certo reavivamente em alguns sectores, está longe de assumir valores que permitam encarar como resolvido o afastamento dos valores médios projectados pela evolução anterior.
O quadro XXI insere os índices mensais relativos aos últimos dezoito meses de que há elementos e é, como o gráfico III que nele se baseia, bem significativo.

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QUADRO XXI

Evolução da produção industrial (exceptuada a construção e corrigidos os índices das variações sazonais) 1958 - 100

[Ver Quadro na Imagem].

GRÁFICO III

ÍNDICES MENSAIS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

(CORRIGIDOS DAS VARIAÇÕES SAZONAIS)

[Ver Gráfico na Imagem].

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As tendências dos vários sectores são apontadas (para os seis primeiros meses deste ano e para os correspondentes do ano passado) no gráfico IV.

GRÁFICO IV

ÍNDICES MENSAIS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

(CORRIGIDOS DAS VARIAÇÕES SAZONAIS)

[Ver Gráfico na Imagem].

Apresenta, quanto fiquei e aspecto, algum interesse a análise dos elementos fornecidos pelo quadro seguinte:

QUADRO XXII

Evolução da produção industrial (médias aritméticas dos índices industriais-base: 1958 - 100)

[Ver Quadro na Imagem].

54. Na problemática geral da .nossa evolução económica, o sector agrícola assume, obviamente, particular relevo.
Antes de enunciar criticamente o modo como o projecto encarou o problema da agricultura, interessará indagar, em termos muito breves, como ele se esquematiza em tese geral:
a) A questão desdobra-se numa dupla interrogação evidente: que pode esperar da agricultura uma economia em desenvolvimento? Que pode a agricultura esperar do desenvolvimento?
O desenvolvimento pode esperar da agricultura:

A expansão do produto agrícola;
A ajuda à formação de capital;
Força de trabalho necessária à expansão dos outros sectores;
Mercado para as produções secundária e terciária.
Por sua vez, a agricultura pode esperar do desenvolvimento uma participação razoável, nos seus frutos, na forma de:

Maiores níveis de rendimento;
Melhoria de condições de trabalho e de vida (equipamentos colectivos de carácter sócio-cultural, segurança, previdência, etc.).

Ambas as respostas pressupõem a verificação de uma condição fundamental: para que a agricultura dê contributo capaz ao processo do desenvolvimento (em todas as suas fases) e possa partilhar dos seus frutos, tem de transformar-se.
Nos termos mais extremos, a transformação significa passagem da agricultura de subsistência para a agricultura de mercado - isto é, passagem da produção para a

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satisfação de necessidades elementares, sem conexão com os mercados de produtos e factores e por processos cristalizados era rotinas tradicionais, para uma actividade que produz para vender, se especializa em face da procura e das condições do meio natural, está convenientemente inserida nos mercados de factores e usa um cálculo económico de tipo «capitalista».
O problema que se põe no desenvolvimento é o de amparar e controlar esta transição, para que as suas muitas dificuldades não se tornem insuperáveis e ameacem toda e qualquer possibilidade de. se contar com a agricultura na expansão da economia geral. Deve notar-se, desde já, que aqueles amparo e controle são requeridos desde o primeiro momento, desde que as explorações agrícolas começam a virar-se para fora, a inserir-se marginalmente no mercado. Mais tarde, quando a agricultura já se apresenta evoluída, outros problemas, peculiares, surgirão - como os relativos à defesa dos rendimentos agrícolas ou à aspiração h. «paridade» com os outros sectores (é o que nos diz a experiência dos Estados Unidos, do Canadá ou do Mercado Comum).
Posto o problema para as agriculturas não evoluídas, sabe-se como a sua transformação exige, em termos gerais:

Diminuição da população dependente da agricultura;
Aumento na dimensão média das explorações;
Adopção de técnicas modernas na organização e produção;
Inserção razoável no mercado de produtos;
Adaptação da oferta a uma procura mutável (para poder responder às deslocações da procura resultantes da alta generalizada dos rendimentos);
A ponderação do problema do regime de exploração agrícola.
Tudo isto supõe, no produtor, mentalidade e capacidade empresariais. Crê-se, rio entanto, não poder esperar-se que a transição necessária se produza espontaneamente e ao ritmo indispensável, e que exigirá para a sua efectivação uma política agrária, como dimensão parcial da política de desenvolvimento.
É certo que, historicamente, muitos processos espontâneos foram relativamente bem sucedidos; mas, tal aconteceu porque se dispôs de muitas décadas para a transição, e de condições singularmente favoráveis, nomeadamente quanto a disponibilidade de terra (por exemplo,- nos Estados Unidos ou em regiões de recente povoamento); ou porque o particular dinamismo dos outros sectores - apoiado em especialíssimas condições externas depressa reduziu a agricultura a um lugar subalterno ria estrutura económica (foi, por exemplo, o caso da Inglaterra).
O panorama é hoje inteiramente diverso, especial- . mente em países com razoável densidade agrária. Na verdade, aí tem de contar-se com .ª necessidade de transformação rápida, com o tremendo «peso» da agricultura, à partida, e com o facto de o processo de transformação decorrer em circuito mais ou. menos aberto - o que implica, na ausência de proteccionismos permanentes e perante dificuldades resultantes da atracção dos trabalhadores para o estrangeiro, difíceis opções quanto à orientação da produção (autarquia relativa ou especialização com os seus riscos).
Acresce que, naqueles países, há que ter em conta um contexto psicossocial muito exigente: a alta geral das aspirações levanta problemas de comparação com outros sectores que, outrora, só se punham em fase mais avançada do desenvolvimento, o que pode levar, entre outras coisas, a um êxodo rural patológico, por intenso e prematuro.
Tudo isto se conjuga para tornar extremamente melindrosos o enunciado e execução de uma política agrária, que, além do mais, ainda é obrigada a suportar as dificuldades conjunturais tão peculiares à actividade agrícola, quer quanto à produção, quer, quanto aos preços; e que liem de revestir enorme flexibilidade, dada a heterogeneidade de problemas agrários que se levantam, mesmo num país de escassas dimensões: o nosso caso fornece, quanto a isso, exemplo elucidativo.
A conclusão parece impor-se: o problema da agricultura não se resume a um enunciado de medidas de fomento, consideradas aprioristicamente favoráveis; exige que, de entre elas, se escolham as mais adequadas às peculiaridades daquela agricultura, as mais indicadas na fase de _ transição em que ela nesse momento se encontra: o que convém a explorações evoluídas pode ser totalmente ineficaz nas que só agora começam a inserir-se no mercado.
Depois, há que organizar aquelas medidas num todo coerente, pensando que o problema de fundo é acelerar e apoiar a transição para o tipo de agricultura desejável.
b) Tidas em mente estas reflexões elementares, analise-se o que de mais saliente nos mostra o projecto em matéria de actividade agrícola.
Em apreciação à evolução recente e aos actuais problemas do sector, mais uma vez se acentua, aí, um facto que, por incontroverso, vai ganhando foros de lugar-comum: que se não tem logrado inserir aceitàvelmente a agricultura na marcha geral do nosso desenvolvimento económico. Também, mais uma vez, se faz a conhecida enumeração das carências e dos achaques do sector agrícola.
O projecto salienta, como objectivos gerais da política, os três seguintes:
1) Elevação da taxa média de acréscimo do produto agrícola, que se pretende alcance, no sexénio, um valor anual de 3 por cento. Espera-se esta aceleração - muito sensível, em cotejo com a taxa de crescimento dos últimos anos-, porque, por um lado, devem agora colher-se os frutos das medidas insertas no Plano Intercalar e, por outro, existe a firme intenção de prosseguir na remoção definitiva das causas profundas que têm entravado o desenvolvimento do sector. Se tal aspiração se realizar, o produto agrícola conhecerá, no decurso do Plano, um acréscimo da ordem dos 3 300 000 contos;
2) Elevação do nível de vida da população ligada à exploração da terra. Este objectivo, para d qual se não tenta qualquer expressão quantitativa, decorrerá em larga medida do anterior;
3) Melhoria da contribuição da agricultura para a balança comercial, pela satisfação, em maior grau, da procura interna de bens alimentares e pelo aumento das exportações.
O projecto assinala a situação deficitária do continente no que respeita à oferta de alguns dos grandes produtos alimentares, nomeadamente o trigo, a carne, a batata e o azeite, e, acertadamente, prevê que, a manterem-se as actuais condições de produção, tais definita venham a agravar-se, em face de uma procura constantemente estimulada pelo crescimento, populacional e pela alta do nível de rendimentos.
Ao mesmo tempo, nota que o desejável incremento nas exportações agrícolas - quer nas tradicionais, quer nas que conheceram recente surto de expansão - é embaraçado por alguns «problemas que impedem a valorização comercial» destes produtos.
Enumera, de seguida, as condições de base cuja efectivação se julga necessária para a consecução dos objectivos

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gerais fixados; e discrimina, justificando-os, os objectivos por subsectores de actividade, bem como as medidas de política propostas à realização desses desideratos.
O projecto termina com a enumeração dos empreendimentos programados para o sector e dos investimentos que implicam.
O dispêndio global previsto no Plano atinge o montante de 14,6 milhões de contos, correspondendo a cerca de 3/4 dos 19 milhões em que se estimou o investimento em capital fixo necessário ao projectado crescimento do produto agrícola e aparece repartido por 18 empreendimentos, de volume financeiro muito diverso - pois vão desde a olivicultura (dotada com 10 000 contos) e os estudos de base para o aproveitamento do território (12 000 contos), até ao fomento pecuário e forrageiro (a que se dedicam. 3 458 000 contos) - e por duas rubricas residuais de carácter um tanto nebuloso? a uma das quais («Outras iniciativas») correspondem nada menos de 1563 milhares de contos.
c) Não merecem reparos de vulto o diagnóstico dos problemas essenciais da nossa agricultura e o balanço que o projecto deles faz. Correspondem, em linhas gerais, ao inventário já realizado noutros documentos emanados do Governo e nos diversos pareceres anteriormente emitidos pela Câmara Corporativa. Não há que aprofundar a génese e .natureza desses problemas ou entrar na discriminada e exaustiva apreciação dos múltiplos empreendimentos em que o Plano desdobra a política agrária; foi matéria específica do parecer subsidiário emitido pela secção de Lavoura e terá de ser considerada no exame na especialidade.
Não pode, todavia, a Câmara escusar-se, aqui, a algumas observações, decorrentes da reflexão que atrás se alinhou quanto ao enquadramento da política agrária no complexo da política de desenvolvimento - o que, em certa medida, contende com o modo de encarar os objectivos propostos ao sector agrícola.
55. A gritante debilidade da nossa agricultura, efectivados que são já três planos de fomento, evoca naturalmente, esta interrogação: porquê tão escasso reflexo dos planos anteriores no domínio agrícola?
O problema está bem longe de ser exclusivamente português. Poderiam multiplicar-se os exemplos de outras economias onde o sector agrário constitui, por igual, um elemento retardado (e retardador) na marcha do desenvolvimento - onde, não obstante os múltiplos esforços operados sobre esse sector não se conseguiu ainda fazê-lo acertar o passo com os demais.
Insuficiente esforço de investimento, a denotar a escassa importância atribuída a este capítulo da expansão? Má orientação (ou incidência) desse esforço? Carência de lima visão global do problema - tão imputável aos estudiosos como aos responsáveis pela política que permita coordenar e escalonar as medidas avulsas de intervenção?
As interrogações valem para nós, como valerão para outras latitudes; e em quase todas elas poderá buscar-se uma parcela da resposta àquela primeira e fundamental questão.
Como se disse, a correcta inserção da agricultura no processo de desenvolvimento supõe a sua radical transformação, ao longo das linhas já enunciadas: a gradual, ordenada e tempestiva passagem da agricultura de subsistência à agricultura de mercado - transição complexa e inegavelmente difícil, mas que constitui o suporte de tudo o mais pois que, sem essa conversão, nunca II agricultura poderá dar adequado contributo à tarefa global do desenvolvimento, nem logrará participar - tanto quanto espera e é justo - nos benefícios do progresso económico-
- social. A necessidade desta transformação, já inegável quando se pensa em termos de mero desenvolvimento, torna-se mais imperiosa quando se atenta na urgência de «adaptar a economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos» - uma das coordenadas essenciais do Plano.
Nestes termos, o contributo que a política agrária dê à indispensável transformação - promovendo-a, apoiando-a, criando condições propícias à sua aceleração - é, provavelmente, o padrão por excelência, .por que haverá de aferir-se o real sucesso daquela política. E será na frouxidão com que ela se operar, como nos obstáculos e sobressaltos que proventura a bloqueiem - com alcance superior ao da lentidão e irregularidade do crescimento agrícola ou da formação de capital - que residirá a mais significativa, e relevante expressão do retardamento da nossa agricultura, perante a evolução dos outros sectores.
Pode, assim, afirmar-se que o estrangulamento- fundamental, que essencialmente tem travado o progresso económico-social do sector agrícola, tem sido a incapacidade para o transformarmos em ritmo compatível com o andamento geral da economia. De resto, o projecto não o ignora, pois que acentua, em repetidos passos, a indispensabilidade dessa transformação ou adaptação estrutural, afirmando mesmo, em certo ponto, como orientação definida, a «concentração dos esforços e os meios para a solução de problemas que afectam os mais valiosos produtos e actividades da agricultura, mas sempre no sentido de se atingirem soluções que cumulativamente contribuam, por força da sua própria concepção, para a evolução mais favorável das questões de base».
Se alguma coisa haveria a sugerir, seria a mudança de acento tónico: que o Plano assumisse, como objectivo prioritário (ou como directriz de fundo, presente em tudo o mais),- a promoção e apoio da indispensável alteração estrutural; que fosse ela a orientar a distribuição de esforços e recursos financeiros, bem como a coordenação das políticas contidas num documento que, para os próximos anos, vai reger a nossa política agrária.

56. Do que acaba de dizer-se decorrem duas consequências imediatas.
a) Em primeiro lugar, por estranho que pareça, boa parte dos problemas do sector resolver-se-á fora da agricultura - ou, pelo menos, fora dela terão de criar-se as condições necessárias à sua correcta e duradoura solução. Exemplifique-se:
1.º Só a expansão dos sectores não agrícolas, com a consequente criação (em volume e ritmo adequado) de oportunidades de emprego secundário e terciário, permitirá a necessária saída de activos agrícolas. Sem ela, não será viável - ao menos no contexto de altas densidades agrárias - o incremento da dimensão económica da maioria das explorações. Ora, com dimensão insuficiente, não há possibilidade de modernizar e de converter ao mercado às estruturas produtivas da agricultura.
Por outro lado, sem a expansão dos sectores não agrícolas nunca a agricultura poderá obter - senão à custa de exageradas pressões sobre a balança de pagamentos - os factores que a produção agora requer: fertilizantes, máquinas e alfaias agrícolas.
2.º O alargamento e a conveniente dispersão geográfica do financiamento podem facultar às explorações em vias de conversão os necessários recursos financeiros. Na ausência de adequados cariais de crédito privado, a agricultura terá de assentar quase exclusivamente no financiamento levado a cabo pelo sector público, com todos os inconvenientes, de parte a parte, que na sede própria foram já referidos.

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3.º Só uma efectiva e tempestiva política de planeamento regional poderá resolver o dilema tão angustiosamente posto a largas zonas do nosso território: responder à necessária diminuição da população dependente da agricultura sem converter em «desertos» as regiões de menor capacidade agrícola. Porém, só a adequada dispersão das actividades não agrícolas pode evitar que a indispensável mobilidade profissional se transforme num desordenado êxodo rural, que largamente frustraria as possibilidades de progresso económico-social nas regiões esvaziadas de recursos humanos.
Tudo isso demonstra a complexidade e as dificuldades dos problemas agrícolas e sublinha a multiplicidade de vias por que podem ser atacados, sendo certo que muitos deles têm como condição a solução de outros que não cabem estritamente no foro de uma política agrária.
Por outro lado, pode pensar-se se boa parte das desilusões e fracassos dessa política, em vez de ser imputável a erros de orientação, não será devida a uma descoordenação indesejável.
Acresce, como é de conhecimento e aceitação geral, que a exígua dimensão das explorações constitui, pelo menos em muitas zonas, o primeiro obstáculo ao desejado progresso agrícola. Facilmente se concorda que é preciso entravar os mecanismos que, historicamente, levaram à gradual pulverização das unidades produtivas, caminhando para unidades, não só viáveis, mas capazes de se inserirem numa agricultura de tipo evolutivo. Sabe-se, por outro lado, que entre os meios necessários para tal se contam dispositivos legais e disponibilidades em crédito sem as quais não poderá atingir-se a revolução dimensional. Simplesmente, uma política dessas encontrará as maiores dificuldades, enquanto a expansão dos demais sectores não permitir o decréscimo absoluto da população dependente da agricultura, por que, então, ter-se-ão de refazer, incessantemente, estruturas produtivas, que a crescente densidade agrária tenderá constantemente a pulverizar: tarefa demasiadamente grande para dissipar quaisquer recursos que, normalmente, a política económica lhe possa devotar.
O que fica dito vale, mutatis mutandis, para outros esforços semelhantes, nomeadamente para o emparcelamento. No entanto, deve considerar-se que as medidas necessárias ao esquema de uma política agrária, por muitas provas que tenham dado noutras latitudes, estão sujeitas a falhar em contextos onde não se tenham reunido as condições indispensáveis à sua aplicação.
a) Segunda consequência: perante o esforço de desenvolvimento, a política agrária não se esgota num somatório de esquemas de fomento dirigidos a esta ou àquela produção, por mais significativas que tais produções sejam (ou se preveja, ou se deseje, que venham a ser) no produto global do sector. E em muitas circunstâncias, tais esquemas avulsos de fomento não podem, mesmo, constituir o travejamento central daquela política.
O esboço de uma política orientada para os múltiplos subsectores de produção pressupõe a possibilidade de identificar, no complexo da estrutura produtiva, esses conjuntos diferenciados e especializados, à semelhança do que sucede na indústria; o problema será, então, o de traçar uma adequada medicação (correctiva e estimulante) e de a aplicar com suficiente persistência. Simplesmente, só em termos muito limitados tal acontecerá no comum das agriculturas em desenvolvimento. Com efeito, em muitos subsectores destas, a estrutura é claramente dominada por unidades cujo potencial produtivo escassamente ultrapassa o limite mínimo da subsistência e que para o mercado apenas dirigem limitados e incertos excedentes das produções tradicionais e o cálculo económico apresenta-se extremamente rudimentar, muito longe ainda da típica e estandardizada racionalidade do produtor capitalista, e, por isso, refractário a esquemas de orientação política que actuem através dos preços ou dos custos de produção.
Neste contexto, os subsídios, em que porventura tenda a exprimir-se a política, terão obviamente um efeito útil - pelo menos o de aliviar momentaneamente a precária, situação dos produtores. Contudo, o seu efeito orientador e fomentador vè-se largamente comprometido.
Com isto, não se pretende dizer que as medidas de fomento subsectorial careçam de legitimidade na política agrária, mas, apenas, que a sua eficácia é fundamentalmente condicionada pela capacidade real que as explorações possuam de se orientarem para o mercado e que esta capacidade implica mínimos de dimensão económica e de organização. Na ausência destes mínimos, os esquemas de orientação e fomento, por mais correctos e mais generosamente dotados de recursos financeiros que sejam, vem a constituir, em larga medida, paliativos transitórios.
Não haverá em tudo isto matéria de reflexão para a nossa política agrária?
Mesmo passando por alto a informação do «arrolamento pecuário de 1955», por decerto ultrapassados os modestíssimos valores que aponta ao subsector da pecuária, pode atentar-se nas informações, relativas aos últimos anos da década de 1950, apresentadas no parecer subsidiário emitido pela secção de Lavoura sobre o capítulo «Agricultura, silvicultura e pecuária», do projecto do Plano Intercalar de Fomento: 94,3 por cento dos produtores de trigo no continente obtinham quantitativos inferiores a 50; e 96 por cento dos vinicultores produziam menos de 100 hl. Estas cifras - que certamente seriam repetidas relativamente a muitas outras das nossas grandes produções agrícolas - documentam de modo impressionante a debilidade fundamental da estrutura da nossa exploração agrária e sugerem que a primeira tarefa da política será a de procurar revigorá-la, cuidadosa mas tenazmente, o que, aliás, está de acordo com os objectivos enumerados no projecto de proposta de lei sobre a orientação agrícola.
Enquanto persistir esta debilidade, a maioria dos grandes obstáculos ao progresso da agricultura (carência nos domínios do financiamento, comercialização, incorporação das tecnologias evoluídas, mecanização, etc.) tenderão a perpetuar-se.
Nesses termos, embora reconhecendo que o problema está presente no projecto (n.ºs 7 e 8), entende-se que ele deveria orientar-se mais vigorosamente pelo princípio fundamental da reestruturação agrária, incluindo-o expressa e prioritariamente no enunciado dos objectivos da política do sector. Também deveria esforçar-se por, na medida do possível, compatibilizar, com a efectivação daquele princípio as políticas relativas aos demais sectores interessados - nomeadamente no domínio das infra-estruturas, da política industrial e da comercialização. Acresce que a adopção exclusiva do critério da actuação indirecta na reorganização fundiária, ligada à afirmação expressa de que «competirá à iniciativa privada a missão de se estruturar ou reorganizar em empresas», devendo «o Estado apoiar e incentivar estas iniciativas», não parece situar o problema do modo mais correcto, pois o desloca para o campo debatido e delicado da detenção da terra, que é apenas um (embora importante) dos múltiplos aspectos daquela reestruturação.

57. A terminar, a Câmara entende dever fazer algumas observações a propósito da técnica de programação seguida neste capítulo do projecto.

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1.ª São inquestionáveis os progressos que, em matéria de técnicas de planeamento, exibem os nossos últimos planos. Porém, a política agrária (como, em grau diverso, possivelmente outros sectores) parece ainda de algum modo impermeável a essa renovação de processos. Evidentemente, o facto será imputável, em boa medida, ao relativo atraso geral das técnicas de planeamento agrícola; mas também corresponderá ao já aludido pendor casuístico e fragmentário, que vem sendo tradição nossa no domínio da política da terra.
2.ª No caso da agricultura, como, aliás, o projecto bem explica -, o desejado acréscimo do produto supõe alteração profunda na estrutura do aparelho produtivo e reorientação sensível da sua actividade. Nesses termos, e porque se não trata aqui de meras injecções de capital fixo numa moldura produtiva mais ou menos estável, será muito escasso o significado do coeficiente capital produto. Atribuir a sua baixa (em confronto com períodos anteriores) a uma «decisão integrada no conjunto de políticas programadas para o sector», como se faz no projecto (capítulo I da programação global, § 3.º, n.º 5), pode ter algo de verdade, pois sempre é possível optar por investimentos de mais pronta reprodutividade -, preferindo, por exemplo, o acabamento dos regadios existentes ao início de novos empreendimentos hidroagrícolas. Mas não basta para dar maior verosimilhança ao valor projectado.
3.ª Também a projecção da formação de capital fixo aparece pouco nítida no projecto. Os investimentos expressamente previstos somam 14,6 milhões de coutos. E, declara-se, «espera-se que se iniciativa privada ... venha completar esta parte imperativa do Plano, por forma a que se atinja o nível global de investimentos em capital, fixo estimado como necessário ao crescimento projectado - cerca de 19 milhões de contos (preços constantes)» (capítulo I dos programas sectoriais, § 4.º, n.º 30).
Referindo o facto de se terem desdobrado as verbas imputadas ao autofinanciamento privado, fazendo figurar uma de 1 708 000 contos nos financiamentos previstos e outra, de cerca de 5 milhões de contos, num financiamento simplesmente desejado, a Câmara chama a atenção para as confusões a que tal prática pode dar lugar e faz reparo em não terem sido consideradas as condições em que o autofinanciamento projectado poderá vir a realizar-se. Acresce que o exame dos empreendimentos programados deixa alguma dúvida sobre se «a quase totalidade» dos 14,6 milhões de coutos corresponde verdadeiramente a formação do capital fixo.

II

Exame na especialidade

58. Ao proceder-se ao exame na especialidade do projecto do III Plano de Fomento dois caminhos se apresentam: adoptar esquema idêntico ao da parte anterior deste parecer, agrupando as matérias segundo critérios decorrentes da própria natureza do Plano, ou obedecer à arrumação do projecto, realizando a análise capítulo a capítulo. Prefere-se o segundo caminho, quer por se entender mais adequado a um exame na especialidade, quer por se supor que os inconvenientes desse modo de proceder (resultantes de não se considerarem devidamente na política do Plano as possíveis incompatibilidades sectoriais) fiquem suficientemente atenuados pela metodologia seguida na apreciação na generalidade. Todavia, como a natureza global do Plano continua a impor-se, o exame na especialidade não deve perdê-la de vista.
Em princípio, procurará sintetizar-se o dispositivo essencial do Plano relativamente a cada um dos sectores considerados (quer quanto à orientação que lhe foi dada, quer quanto às políticas propostas para a seguir), para, depois, se apreciar aquele dispositivo político-económico.

59. Começa-se pelo exame do capítulo I do título II «Programas sectoriais» do projecto, dedicado à agricultura, silvicultura e pecuária:
d) Os elementos disponíveis parecem mostrar que a evolução registada pelo sector agrícola na última dúzia fie anos não se identifica com meros fenómenos conjunturais, exprimindo uma das mais importantes assimetrias sectoriais do nosso processo de crescimento.
Na verdade, a taxa de crescimento da agricultura cifrou-se, no período de 1953-1964, apenas em 0,7 por cento ao ano; e a taxa de crescimento do conjunto das actividades englobadas no sector (agricultura, silvicultura e pecuária) apresentou-se muito modesta (l por cento no período de 1960-1964).
Por isso - e não apenas em resposta à evolução estrutural implicada no crescimento - o sector agrícola desceu a sua contribuição para o produto nacional bruto (a preços constantes de 1963), de 29,2 por cento em 1953-1955, para 22,9 por cento em 1959-1961 e 20,5 por cento em 1962-1964. E considera-se que não apenas em resposta à evolução do crescimento, porque, em virtude do seu fraquíssimo ritmo de expansão, o sector agrícola apenas contribuiu com 5.5 por cento para o acréscimo do produto nacional bruto entre 1954-1963 (5.3 por cento entre 1959-1965).
Compreende-se, assim, que o princípio básico do planeamento neste sector seja a aceleração deliberada de uma taxa de crescimento que, espontaneamente, só poderia conduzir à degradação progressiva da agricultura na economia nacional, com todas as suas graves implicações. Também se compreende o enunciado dos objectivos fixados ao sector agrícola, a que se aludiu na apreciação na generalidade.
A Câmara não tem de demorar-se mais sobre esses objectivos propostos; convirá, apenas, acrescentar que a sua prossecução conduziria, no período do Plano:
A um acréscimo do produto agrícola no valor de
3 300 000 contos; A uma participação sectorial de 13 por cento para o
produto nacional bruto;
A uma contribuição do acréscimo do produto do sector para o acréscimo global do produto nacional bruto, de 5,6 por cento;
A um. contributo elevado para o aumento da produtividade total (11,3 por cento), em confronto com o resultante da transferência de cerca da quarta parte dos activos agrícolas para fora do "sector (8,6 por
A uma significativa contribuição do sector para reduzir as carências de abastecimento que se têm registado nos últimos anos - nomeadamente, no campo da cerealicultura, dos legumes e tubérculos, da carne, leite e ovos.
Não se propõe a Câmara analisar em pormenor esses desideratos, com os quais qualitativamente decerto viria a concordar após essa análise, como a priori desde já concorda; se o fizesse, limitar-se-ia ao confronto possível entre eles e as medidas concretamente propostas para os atingir. Fará apenas duas considerações. A primeira contempla a impressão com que se fica ao ler-se este capítulo do projecto, de que as reais possibilidades de quantificação vigentes nesta matéria imprimiram carácter um tanto nebuloso à relação instrumentos objectivos, que deve ser o esqueleto formal da própria política; a segunda respeita

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à falta de indicação das prioridades (para além da que resulta do mero enunciado dos empreendimentos programados), deixadas no projecto, por vexes, aos planos de execução a cargo das múltiplas entidades por ela responsáveis. Assim, não se descortina com clareza a incidência, no sector, do critério global por que há-de aferir-se a correcção dos empreendimentos programados e a repartição, por eles, dos investimentos previstos - já que o enunciado das demais políticas não passa do nível da generalidade onde, em. princípio, todos concordam que, isoladamente, cada uma delas meritória.
Por isso, a Câmara - insistindo nas observações feitas a propósito da discriminação dos empreendimentos agrícolas incluída no Plano Intercalar de Fomento -, cinge-se à anotação de alguns dos empreendimentos ora programados.

60. Antes, porém, a Câmara regista, com agrado, o reforço das dotações consignadas empreendimentos que directamente se ligam ao desígnio fundamental de revigoramento orgânico do sector (caso do Fundo de Melhoramentos Agrícolas e do Fundo de Fomento de Cooperação), bem como o projecto de criação do Fundo Especial de Eeestruturação Fundiária, expressamente orientado a apoiar a desejada adaptação estrutural. E não esquece que vários outros empreendimentos (a irrigação e o aproveitamento dos regadios já existentes, o melhoramento da rede fitossanitária e da saúde pecuária, bem como as próprias medidas do fomento sectorial) virão provavelmente a ter efeitos benéficos sobre as estruturas produtivas.
Não pode, contudo, deixar de lamentar a exiguidade das verbas destinadas a outras medidas que mais directamente interessam à desejada e indispensável reestruturação. Estão neste caso os estudos de ordem económica.
O projecto reconhece que a acção selectiva dos serviços do Ministério da Economia (e mais do que isso, poderia acresceu ter-se, a flexibilidade e poli valência de qualquer política agrária correcta) reclama o conhecimento especializado da situação económica e demográfica das várias regiões e a esta finalidade destina uma dotação anual de 3000 contos, uma vez, que já se disporia de «grande número de elementos de base que caracterizam as diferentes regiões».
É difícil partilhar este optimismo do projecto, quando se sabe que as estruturas produtivas da agricultura constituem uma das. zonas onde mais aparentes se tornam as lacunas da nossa «informação estatística, e que a formulação e execução de políticas adequadas requer, talvez mais do que em qualquer outro domínio, um conhecimento mínimo das suas peculiaridades regionais e sectoriais. O último inquérito às explorações agrícolas vem já de 1952-1954 e está longe de- fornecer um conhecimento utilizável relativamente à estrutura produtiva do sector. Espera-se que o novo inquérito do Instituto Nacional de Estatística venha actualizar e aprofundar esse levantamento indispensável, que já teria sido de inquestionável necessidade na preparação do Plano, mas que sempre terá utilidade na sua execução.
A Câmara também considera que os estudos de ordem económica requeridos pela nossa actual conjuntura agrícola não podem confinar-se ao âmbito limitado que o projecto lhes traça. Há toda uma problemática (orientação geral da produção, estudos do mercado, organização e gestão das empresas) extremamente carecida de aprofundamento e divulgação e incompreensivelmente descurada entre nós, excepção feita ao esforço meritório de uma instituição privada (o Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian), que por si só nunca poderá suprir todas as nossas lacunas neste terreno.

61. Ainda directamente ligados à melhoria das estruturas produtivas aparecem os problemas importantes da «extensão», da investigação e do ensino agrícola, peças indispensáveis da almejada transformação. No capítulo dedicado à agricultura só aparece a extensão agrícola, a que se destinam 58 000 contos, fundamentalmente atribuídos à montagem de centros de gestão e de explorações de demonstração e de um sistema experimental de extensão agrícola integral. Cumpre acrescentar-lhes 154 000 contos que se inscrevem no capítulo da educação e investigação, para formação profissional extra-escolar, a cargo da Secretaria de Estado da Agricultura.
Se, por outro lado, se considerar que a assistência técnica à lavoura beneficiará ainda das verbas atribuídas ao Fundo de Melhoramentos Agrícolas e ao Fundo de Fomento de Cooperação, com cabimento no aproveitamento dos regadios, colhe-se a ideia de não serem de minimizar os recursos que o projecto dedica à melhoria das estruturas produtivas. Por isso se formulara apenas dois votos: que a assistência técnica ganhe em coordenação e eficácia e que não se limite aos aspectos agronómicos, antes se desdobre, incluindo os domínios do económico, onde, como se sabe, se impõe exuberantemente.
Também a investigação aparece contemplada no capítulo X «Educação e investigação», dos programas sectoriais onde se consagram 122 000 contos para pesquisas aplicadas nos domínios que directamente interessam à agricultura, silvicultura e pecuária. Mas já no tocante ao ensino técnico agrícola a omissão do projecto merece reparo.
Na verdade, o número de técnicos agrícolas superiores e médios formado anualmente é de cerca de 40 agrónomos e veterinários e de 80 regentes agrícolas. Por melhor boa vontade que se tenha, não se consegue ver bem corno, deste exíguo contingente, possam extrair-se 03 quadros técnicos necessários às múltiplas actividades de fomento, de experimentação, de investigação, lê planeamento e de assistência que o Plano contempla.
A situação é, porém, ainda mais preocupante no que toca ao ensino médio e à formação profissional dos trabalhadores agrícolas, necessária para o indispensável aumento da produtividade do trabalho.. Nos quadros do nosso ensino técnico, é às escolas agrícolas elementares que cabe a preparação de agentes rurais e feitores agrícolas. As qualificações destes diplomados corresponderão aproximadamente à preparação que conviria ao responsável por uma exploração média nas agriculturas evoluídas. Isto significa que a tantas vezes reclamada adaptação estrutural do nosso sector agrário requereria um caudal de activos agrícolas com a preparação agronómica e empresarial correspondente a estes cursos elementares. E, todavia, é-se informado (Estatísticas Agrícolas e Alimentares, 1965, do Instituto Nacional de Estatística) de que as nossas escolas deste tipo diplomaram, nesse ano, 42 alunos. A estes podem juntar-se os alunos preparados pelos cursos complementares de aprendizagem agrícola, instituídos em 1957 e funcionando junto das escolas primárias, grémios da lavoura e Casas do Povo - cursos esses que, em 1965, sendo em número de 227, diplomaram 49 alunos.
Se se confrontarem estes números com os do ensino comercial e industrial, onde, no mesmo ano, as conclusões de curso rondaram a casa dos 22 000, chegar-se-á à conclusão inevitável de que é indispensável, também por este lado, atacar a debilidade fundamental da nossa agricultura.

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62. Os empreendimentos incluídos no projecto espraiam-se por múltiplos sectores da actividade agrícola em geral, desde os estudos de base para revisão do aproveitamento do território, à hidráulica agrícola, regadios, cerealicultura, fomento pecuário e forrageiro, fruticultura, floricultura e horticultura, vitivinicultura, silvicultura, mecanização da actividade agrícola, sanidade vegetal e animal, extensão agrícola, estudos de ordem económica, melhoramentos agrícolas e alterações de reestruturação.
Programa-se, assim, como já se disse, um dispêndio da ordem dos 14 600 000 contos - 3 600 000 contos do Orçamento Geral do Estado, 2 796 000 contos dos fundos autónomos, 230000 contos de crédito externo e 6266000 contos de financiamentos por recurso ao crédito.
Não vai a Câmara analisar circunstanciadamente, neste parecer, cada um dos empreendimentos; limitar-se-á a apontar uma ou outra sugestão que entende poder contribuir para a mais correcta redacção final do capítulo.
Nestes termos:

1.º Dado que, em matéria de hidráulica agrícola, o projecto enuncia o princípio de que «a execução dos restantes empreendimentos (para além do aproveitamento do Alto Sado) fica condicionada à obtenção de meios financeiros adequados, nomeadamente através da utilização de crédito externo» (n.º 33 do capítulo, parte final), tem cabimento o receio, manifestado pela secção de Lavoura, «de que possam assim surgir impedimentos ao normal prosseguimento das obras do Plano de Rega do Alentejo, dado o crescente interesse económico-social da >rega e da valorização das zonas regadas», problema por que, em todos os seus aspectos, a referida secção mostra o seu mais vivo interesse.
2.º Independentemente disso, considera insuficiente a verba global atribuída aos aproveitamentos hidroagrícolas, sendo certo que a falta de discriminação do modo de emprego dos 430 000 contos programados para «outros aproveitamentos» impede qualquer apreciação fundamentada.
3.º A submissão dos empreendimentos aos objectivos fixados pelo planeamento global ao sector agrícola aconselha a ponderação simultânea das necessidades de abastecimento interno e das vantagens decorrentes do desenvolvimento das exportações agrícolas; essa ponderação simultânea nem sempre será fácil e conduzirá, não raras vezes, a opções de política agrária que não se descortinam neste capítulo do projecto.
4.º O problema da comercialização dos produtos agrícolas não deve ser divorciado das considerações anteriores, nem de uma visão realista das nossas verdadeiras possibilidades em face dos mercados externos, para que as suas soluções não se transformem, por unilateralismo técnico, em onerosas desilusões. A esse propósito a Câmara chama a atenção para a necessidade de tirar o maior partido das técnicas actuais para a expansão dos mercados (interno e externo) e de todos os meios disponíveis para a melhoria sistemática da qualidade dos produtos e potencialidade do seu aproveitamento, nomeadamente através da conserva. A verba global inscrita parece, contudo, dever ser reforçada.
5.º Recorda a necessidade de se intensificarem os esforços para a análise e divulgação da mecanização da cultura da vinha, bem como os estudos para a revisão do seu plantio.
6.º Estranha a relativamente pouca importância atribuída pelo projecto ao sector da olivicultura. Chama a atenção para a necessidade urgente do estudo sistemático dos problemas do sector, nomeadamente o da reconversão da olivicultura e aproveitamento e valorização dos subprodutos.
7.º Quanto ao empreendimento n.º 10 (silvicultura, povoamento piscícola e caça), a adopção do critério da mera indicação dos quantitativos inscritos e dos serviços que os administram não permite ir além de um simples voto no sentido da máxima eficiência. No entanto, a Câmara salienta o problema da comercialização das madeiras, que - dada a sua importância para o desenvolvimento dos sectores industriais nela apoiados e, ainda, a urgente necessidade de valorizar os produtos das matas nacionais e de lhes permitir a política mais conveniente ao desenvolvimento económico do País - carece de conveniente regulamentação.
8.º Considera de reforçar a verba de 13 000 contos dedicada à prevenção e combate contra incêndios nas florestas, bem como entende se impõe o estudo urgente do problema, nos seus aspectos mais significativos.
9.º Regista com agrado a atenção dispensada ao problema da mecanização agrícola e chama a atenção para a conveniência de se incentivar a indústria nacional de máquinas de harmonia com os interesses da lavoura e as superiores exigências do desenvolvimento económico nacional.
10.º Pelo que toca ao empreendimento n.º 15 (a chamada «extensão agrícola»), sugere a conveniência de caminhar prudentemente no sentido das explorações agrícolas de demonstração, filtrando, pelas condições peculiares do nosso meio rural e pelas exigências financeiras e de pessoal qualificado, o entusiasmo suscitado pelo êxito de tais intervenções no estrangeiro. Chama ainda a atenção para a estranheza causada pela inclusão, neste empreendimento, de uma verba relativa ao apoio do fomento da cerealicultura. E perguntando-se (aliás, com a secção de Lavoura) «por que só e apenas nesta .modalidade» se prevê esse apoio, «quando toda a exploração agro-pecuária e florestal tão necessitada está dele», a Câmara aconselha a cuidadosa revisão de todo o empreendimento n.º 15, sugerindo se acentuem os esforços no sentido de se definir globalmente a política dos apoios técnicos e económicos à lavoura e se procure estruturar coordenadamente a sua execução.
11.º O empreendimento n.º 16 (Fundo de Fomento de Cooperação), juntamente com o n.º 17 (Fundo Especial de Reestruturação Fundiária), fazem apelo a 600 000 contos - verba que se supõe modesta, globalmente e na parte .atribuída ao segundo empreendimento, obrigado a desempenhar uma tarefa muito pesada, quer pela onerosidade das operações envolvidas, quer pela importância de que a sua execução se reveste no contexto de uma indispensável reestruturação da nossa agricultura.
Os problemas destes Fundos (bem como do de Melhoramentos Agrícolas, que envolve perto de milhão e meio de contos) trazem ao primeiro plano das preocupações o complexo problema

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do crédito agrícola, cuja solução seria da máxima conveniência estruturar de modo coordenado.
12.º Insistindo na urgente necessidade de se encarar prioritariamente o problema da formação dos técnicos que, aos vários níveis, serão chamados a desempenhar as tarefas reorganizadoras e de fomento da exploração da terra, a Câmara chama uma vez mais a atenção para a exiguidade da dotação inscrita relativamente aos estudos de ordem económica e para a estreiteza com que se delimitou o âmbito a que tais estudos devem confinar-se. Também aqui se impõe, além do enunciado claro de uma política, a sua prossecução coordenada.
63. Não é o secfcoí1 da pesca um daqueles de que se espera taxa alta de crescimento. O projecto atribui-lhe - no capítulo II «Pesca» dos programas sectoriais, que passa a analisar-se - uma de apenas, cerca de 3 por cento. Para tal programa-lhe um investimento global de 310 000 contos anuais, dos quais 270 000 contos para aumento dos meios de produção. No projecto prevê-se que o financiamento deste programa será suportado, parcialmente; por acréscimo substancia] dos créditos fornecidos através do Fundo de Renovação e de Apetrechamento e, na parte restante, pelo autofinanciamento do sector, que deve ser estimulado pela melhoria das condições de rentabilidade da actividade piscatória (nomeadamente por acréscimo de produtividade e correcções dos preços pagos ao produtor).
Os objectivos fixados ao sector das pescas são, fundamentalmente:
Acréscimo da produção e do consumo;
Estabilidade dos preços do pescado no consumidor;
Garantia de emprego no sector;
Desenvolvimento da previdência e da assistência aos pescadores;
Assegurar o fornecimento de matérias-primas às indústrias transformadoras;
Proteger os recursos naturais do mar;
Contribuir para a política de integração económica do espaço português.
O projecto enumera as principais formas de acção possíveis para atingir esses objectivos, nomeadamente nos campos da investigação e assistência técnica, da pesca de arrasto, do apoio à pesca longínqua, à pesca do atum, da sardinha e do bacalhau, à pesca local e artesanal, à exploração de ostras e outros bivalves, das instalações de tratamento do pescado e da sua comercialização.
Não vê a Câmara reparos de maior que a levem a não dar o seu acordo ao modo como se encarou o problema das pescas, dentro das possibilidades gerais. No entanto, chama a atenção para a necessidade de tomar todas as medidas de política que concretamente se dirijam à resolução das principais dificuldades do sector, centradas na baixa rentabilidade da sua exploração.
E nessa linha de preocupações que faz ao capítulo os comentários seguintes:
a) Ao esforço a desenvolver quanto ao equipamento produtor deve corresponder o estudo do sistema da formação dos preços, por forma a assegurar a rentabilidade das explorações;
b) Regista com agrado os esforços feitos no sentido do aumento da produtividade dos navios de pesca; e chama a atenção para a conveniência de melhorar a própria tecnologia da construção naval, em ordem à mesma finalidade;
c) Por último, julga exígua a verba proposta para a investigação piscatória e assistência técnica, embora possa ter-se em conta a sua complementaridade relativamente à cobertura habitual dos encargos da investigação pelas entidades públicas e privadas que a vêm desenvolvendo.

64. O exame do capítulo III «Indústrias extractivas e transformadoras» dos programas sectoriais do projecto do III Plano de Fomento dedicado a expor a política industrial proposta para o sexénio do Plano, tem, obviamente, de seguir caminho diverso do seu acompanhamento pari passu. Para não se perder no acessório, omitindo involuntariamente o essencial, seguir-se-á logicamente, como critério de síntese, o decorrente da própria estratégia adoptada para o Plano: dinamismo relativo das actividades industriais consideradas, possibilidades de aceitável concorrência internacional e medidas de actuação que permitam integrar os diversos subsectores numa visão conjunta indispensável à política económica global.
a) A ordenação decrescente das indústrias transformadoras, segundo as taxas de crescimento projectadas, dá o seguinte:

1) Pasta para o papel, papel, imprensa e artes gráficas - 13,4;
II) Metalúrgicas de base - 12;
III) Produtos metálicos, máquinas eléctricas e material de transporte - 12;
IV) Químicas e dos derivados do petróleo e do carvão - 9,5;
V) Produtos minerais não metálicos - 8;
VI) Alimentação e bebidas - 6; VII) Têxteis e vestuário - 5.
Considerados os termos em que são apresentados os elementos relativos a cada subsector, torna-se pouco significativo englobar essa ordenação num quadro geral que atendesse ao segundo critério decorrente da estratégia de desenvolvimento adaptada, desde logo por se apresentar mais que duvidosa a legitimidade dos procedimentos envolvidos naquele englobamento. Por isso, há que limitar-se, a uma simples aproximação, que, aliás, permite aos espíritos mais curiosos reflectir sobre as vias de uma política industrial coerente.
Os subsectores tradicionais exibem, como se sabe, grande peso no nosso comércio externo: nos têxteis e vestuário, as exportações somavam, em 1964, 3 800 000 contos, com a indústria algodoeira a vender fora da metrópole mais de 60 por cento da sua produção, enquanto a da juta a acompanhava com cerca de 45 por cento do volume produzido; por seu turno, as conservas de peixe têm visto juntar-se-lhe as conservas de frutos e produtos hortícolas e a moagem do pimentão, entre as actividades consideradas como actuando permanentemente nos mercados externos. A indústria da pasta para papel apresenta-se fortemente candidata a um crescimento orientado para a exportação: mais de 50 por cento da produção dirige-se aos mercados externos, representando 250 419 contos dos 351 812 produzidos. O mesmo se projecta para as metalúrgicas de base, embora a experiência recente, derivada em grau apreciável da penetração em mercados não tradicionais, tenha visto temperar-se o aumento dos volumes exportados por uma desfavorável descida do seu preço médio, o que vem acentuar a necessidade de alargando o próprio mercado nacional, lhe atribuir o papel de «volante» regularizador das variações do mercado externo, a fim de ser possível atingir-se o objectivo de orientar fundamentalmente para esse o esforço da actividade do sector.

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Ainda segundo o projecto, o sector da indústria da fabricação de produtos metálicos e de construção de máquinas (englobado acima com os da produção de material eléctrico e construção de materiais de transporte) compreende duas componentes bastante diversas: a produção de equipamentos e a de produtos metálicos. Quanto à primeira, se não se adianta à segunda relativamente ao nível das exportações (aproximadamente um quinto da. produção total), já se situa em posição desvantajosa quanto ao volume das importações efectuadas, pois, enquanto em relação ao fabrico de produtos metálicos as importações não chegam a atingir 20 por cento da produção nacional, representam quase o dobro delas no que se refere aos equipamentos, facto que revela a necessidade urgente de expandir esse subsector. pela posição estratégica assumida no crescimento global da nossa economia. O sector do material eléctrico situou as suas exportações à roda dos 14 por cento da produção total. (números de 1964, como os demais), aliás, com peso dominante das vendas para o ultramar (73 por cento dessa exportação). Não parece, pois, muito significativa a posição do mercado externo para o sector, o que vem. agravar a necessidade de expansão, dado que o facto deve relacionar-se com a debilidade do próprio sector em face das condições gerais da procura, como se confirma pelo elevado peso das importações, situadas (era 1960) em 160 por cento da produção nacional e descendo no ano de análise para um valor igual ao produzido (1 270 000 contos).
Do mesmo ponto de vista, as indústrias químicas não têm contado decisivamente com o mercado externo: as exportações representaram apenas 20 por cento da produção. E não parece que se projecte uma alteração sensível deste quadro: n.ºs 16 405 000 contos previstos para o mercado total em 1973 (valores de 1964), à exportação só caberiam 269 000 contos, isto é, pouco mais de 16 por cento. Do facto decorre uma conclusão importante para a política económica proposta: o relevo do sector exprime-se, decisivamente, pelo apoio que dá às demais actividades produtoras, o que está de acordo com a natureza geralmente revestida pelos produtos desta indústria. A esse propósito, é pertinente recordar que a agricultura tem absorvido cerca de 15 por cento da produção total; e espera-se venha a aumentar muito significativamente a sua procura, -«e, de facto, for prosseguida por "forma satisfatória uma indispensável política de modernização da exploração agrária.
Situam-se em posição semelhante os derivados do petróleo e do carvão, onde as exportações não chegam a atingir 10 por cento da procura total prevista para 1973.
Sabe-se como tem crescido de importância o sector dos produtos minerais não metálicos; e como, .neles, os vidros, os cimentes e as porcelanas e faianças ocupam posição relevante (respectivamente 40,2, 28 e 17,9 por cento das exportações globais do sector). Muito embora tenham, de levar-se em conta os condicionalismos que dificultam uma expansão estável da colocação destes produtos fora da metrópole, não deve minimizar-se o seu concurso para o desenvolvimento projectado.
Quanto às indústrias alimentares, entre as quais, como se viu, já se contam algumas actuando permanentemente nos mercados externos, o projecto refere que poderá alargar-se de alguma maneira, esse número. Esta expansão reveste grande significado, por vir dilatar um mercado de dimensão pequena, sobretudo se se tiver em conta o número excessivo de unidades industriais.
Os problemas do sector dos têxteis e vestuário são por demais conhecidos para requererem uma palavra de explicação. Bastará citar, com o projecto, a necessidade de melhoria da produtividade geral e, especificamente, da produtividade do trabalho e a consequente indispensabilidade de modernização das instalações, que. estando a processar-se em ampla escala, traz a primeiro plano, não só a possível dinamização do sector metalo-mecânico nacional, relacionado com a indústria têxtil, como a revisão e estruturação de um adequado sistema de financiamento. Não se cita a coordenação necessária deste sector com os demais sectores interessados, porque não é problema-específico, desta ou daquela actividade, mas um problema geral de todo o processo de desenvolvimento e condicionador do seu maior ou menor êxito.
No entanto, a Câmara não pode esquecer que a previsão de um crescimento de 5 por cento para este subsector não se enquadra na evolução por que está a passarem economia de grau de desenvolvimento semelhante ao nosso. Na verdade, são nítidos os sinais de recessão e abandono verificados nas economias muito desenvolvidas relativamente a este subsector. Acresce que a conjuntura é de depressão, mas com sérias dúvidas sobre se se trata de um simples desequilíbrio momentâneo, ou da sua evolução em desequilíbrios estruturais mais profundos.
ò) O terceiro critério aglutinador faz apelo às medidas de política preconizadas. São elas, fundamentalmente:

I) Melhoria das condições no abastecimento de matérias-primas, energia e transportes;
II) Melhoria da produtividade: através de um adequado dimensionamento das explorações, de uma tecnologia actualizada, da modernização das instalações, da investigação, da normalização, do acréscimo da produtividade do trabalho por conveniente formação profissional;
III) Melhoria das condições de financiamento;
IV) Melhoria das condições de comercialização, nomeadamente quanto à exportação; V) Tratamentos fiscais adequados;
VI) Coordenação das políticas sectoriais entre si e do toda a política industrial com a política económica globalmente definida para o desenvolvimento.
De um. modo ou de outro, estas medidas respondem às principais preocupações sentidas em todos os sectores da indústria transformadora, muito embora em cada um deles possam revestir carácter peculiar.
c) Por ser assim, atento o quadro das providências encaradas que, diga-se de passagem, muitas vezes não chegam a assumir a estatura de verdadeiras «medidas de política»-, parece que o problema da apreciação da política respectiva se põe, não em termos da justeza de cada uma delas, mas no da sua concretização adequada e oportuna. Torna-se impossível à Câmara pronunciar-se sobre esse ponto, pois está em crer que o Governo não enunciaria no projecto do III Plano de Fomento medidas que não viesse a esforçar-se por efectivar, tanto mais que muitas delas ficam, na sua maior extensão, dependentes da acção do sector público. A Câmara limita-se, por isso, a chamar a atenção para a necessidade de coordenar aquelas providências num todo lógico e coerente, de modo a evitar-se uma casuística de circunstância altamente indesejável, para não dizer perigosa.

65. O capítulo IV dos programas sectoriais do projecto refere-se às indústrias de construção e obras públicas.

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O projecto, em face cias limitações de natureza estatística que se lhe deparavam, reconheceu ser difícil «fixar à indústria de construção determinadas metas de produção, produtividade, emprego e investimento e, ainda, a indicação das correspondentes medidas a tomar para que essas metas venham a ser atingidas durante a vigência do Plano (...)» Mas acrescenta que as referidas limitações «não impedem que se definam determinados objectivos e orientações gerais a prosseguir pelo sector ao longo do período de 1968-1973».
Como decorre da sua própria posição no quadro das actividades económicas, o objectivo fundamental é o de corresponder adequadamente à necessidade de realização eficiente dos investimentos programados, no que envolve este sector. "Daí a necessidade de aumentar a sua produtividade, para o que se impõem «medidas concretas, tanto ao nível oficial como dos empresários, as quais terão de incidir sobre vasto campo, como seja a programação global do sector, a continuidade da actividade das empresas, a normalização, a estrutura empresarial, a simplificação de regimes jurídicos e administrativos, etc.
Atendendo-se ao seu papel instrumental, mais do que atentar na taxa de crescimento do sector (estimada em 9 por cento ao ano, em vez dos 7,5 por cento anteriores) e na taxa de crescimento da formação de capital, fixo respectivo (também 9 por cento ao ano, o que virá a dar em 1973 uma formação de 580 000 contos, correspondentes a um valor acrescentado de 9 milhões de contos), interessa a percepção da extensão das suas responsabilidades no desenvolvimento ora projectado.
Em geral, o panorama das políticas dedicadas ao sector merece o acordo da Câmara. E, todavia, útil sublinhar alguns problemas de maior relevo:
A Câmara formula o voto de que, no tocante às empreitadas de obras públicas, se aperfeiçoe, através de disposições adequadas (em ordem a garantir uma efectiva verificação dos requisitos condicionadores da concessão do alvará), o sistema instituído pelo Decreto-Lei n.º 40 623, de 30 de Maio de 1956, e, no atinente à construção civil (obras particulares), aconselha se promulgue, tão cedo quanto possível, diploma sujeitando-a a regime semelhante;
Chama a atenção para os problemas de financiamento levantados ao sector pelas suas particulares características e que requerem apoio coordenado no campo do crédito a médio e longo prazo.

66. O capítulo V dos programas sectoriais do projecto é dedicado aos melhoramentos rurais, pela primeira vez no nosso planeamento, de âmbito suficientemente largo para englobar conjuntamente a maior parte dos condicionalismos que respeitam à melhoria das condições da vida nos meios rurais.
Compreende-se, assim, a dificuldade da enumeração taxativa dos problemas suscitados pelo bem-estar rural e da enunciação completa das implicações decorrentes dos objectivos propostos.
O objectivo fundamental é «obviar ao carácter disperso dos aglomerados rurais e estabelecer assim entre as cidades e o campo certa igualdade de oportunidades no plano económico, demográfico, social e cultural, através da criação, que se torna urgente entre nós, de centros rurais com dimensão, dinamismo e equipamento suficientes para fixar as populações».
A citação basta para enquadrar o problema no contexto sócio-económico do planeamento regional, onde. o sector tenderá a confluir, pelo que a Câmara - para além do exame do conteúdo estrito deste capítulo - entende
dever chamar a atenção para a necessidade de o compatibilizar com os progressos que forem sendo feitos naquele domínio. Isto, evidentemente, para além dos empreendimentos considerados como os mínimos aceitáveis para a criação de condições de vida verdadeiramente com dignidade humana.
Na esteira do parecer subsidiário emitido pela secção de Autarquias locais e pela subsecção de Obras públicas e comunicações da secção de Interesses de ordem administrativa, a Câmara dá o seu acordo ao capítulo V em exame, sugerindo, no entanto, que:

1.º Se reveja a distribuição do volume global de investimentos previstos, em benefício do abastecimento de águas e que se estude a possibilidade de reforço da rubrica relativa à drenagem e tratamento de esgotos;
2.º Se tomem todas as medidas possíveis para melhorar urgentemente os quadros técnicos, ao nível do Estado e das autarquias locais, de que depende o estudo, projecto e execução dos empreendimentos referidos;
3.º Se regulamentem rapidamente às redes rurais como processo de se intensificar o esforço de electrificação rural.
E chama a atenção para a necessidade de considerar às dificuldades das autarquias no problema do financiamento dos melhoramentos, no sistema actual das comparticipações.

67. Os problemas da energia são tratados no capítulo VI dos programas sectoriais do projecto.
Aí se indica, como objectivo primeiro da política de energia no quadro do desenvolvimento projectado, satisfazer-se, «rias melhores condições económicas e com risco de restrições quanto possível reduzido, as necessidades directamente geradas pelo desenvolvimento das actividades produtoras de bens e serviços que a utilizam como factor de produção e também as procuras que o processo geral de desenvolvimento activamente estimula, como é o caso dos usos domésticos».
Por isso, neste complexo problema não participam, apenas as questões relativas à produção, mas também toda a política de consumos prosseguida através dos instrumentos tarifários - sabido, como é, que neste campo o interesse geral pode aconselhar um sistema de preços eventualmente divergente do que resultaria da consideração primordial dos custos de produção das várias espécies de energia, embora não possa encarar-se nunca um preço inferior ao custo para as vendas globais.
Muito embora tenha presente a complexidade desta problemática, não tem á Câmara que debruçar-se agora sobre ela, pelo que se limita a apreciar concretamente o conteúdo do capítulo.
Pode dizer-se que as linhas mestras dele são:

O estabelecimento de uma política energética global;
A coordenação metrópole-ultramar para melhor aproveitamento dos recursos existentes, especialmente rio que se refere à instalação ..de novas indústrias de tipo electroquímico ou electrossiderúrgico, à coordenação da expansão das refinarias de petróleo e ao estudo da colocação, na metrópole, de carvões de Moçambique;
A definição de uma política de produção de energia eléctrica em que se estabeleça a garantia de cobertura (com uma probabilidade de 95 por cento) de consumos permanentes crescendo a uma taxa anual de 11,4 por cento (além do fornecimento mínimo

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dos consumidores especiais) e em que se considere a inserção de aproveitamentos hidroeléctricos com produção sensivelmente constante em valor absoluto ao longo dos anos, e aumento correlativo da participação da componente térmica, além das necessárias revisões do regime legal do equilíbrio económico das empresas, de modo a intensificar o auto-financiamento;
O aumento de capacidade de produção das refinarias de petróleo, bem como a disciplina da actividade distribuidora respectiva, melhoria das condições de transporte e revisão do condicionalismo existente da estrutura dos consumos;
O aperfeiçoamento das condições em que se processa a distribuição de energia eléctrica, quer no tocante à rede financeira, quer aos regimes tarifários de alta e baixa tensão;
O aproveitamento dos carvões pobres metropolitanos, de preferência em centrais térmicas, bem como o aumento da produtividade do sector;
Medidas tendentes a encarar-se, oportunamente, a utilização da energia nuclear.
A Câmara dá o seu acordo ao projectado nesta matéria; no entanto, recomenda que se estudem conjuntamente os problemas das várias fontes de energia, a fim de se inserir adequadamente a política de energia no esforço geral de crescimento. Além disso, o abrandamento actual dos consumos aconselha a que se reveja a programação dos centros produtores com possível diferimento de investimentos. Desnecessário se torna encarecer - por outro lado - a necessidade, de instalação de um laboratório electrotécnico, bem como a conveniência de se efectivar a anunciada criação de uma estrutura permanente de apoio técnico e material destinada à centralização e organização de informações sobre a execução e programação anuais dos planos de fomento em matéria de energia, que não deverá dispensar a colaboração do sector privado.

68. No capítulo VII dos programas sectoriais contemplam-se, pela primeira vez no nosso planeamento económico, os circuitos de distribuição.
Começando por notar que o sector comercial exibiu no período de 1953-1964 uma taxa de crescimento do valor acrescentado bruto ligeiramente superior ao ritmo de acréscimo do produto interno bruto total (da ordem dos 5 por cento ao ano), com uma participação, na formação desse produto, situada até 1965 entre 12,1 e 12,5 por cento, o projecto prevê um abrandamento da importância relativa do sector, de modo a contribuir, em 1973, com 11,6 por cento do produto interno bruto total. A este abrandamento quantitativo não está ligada uma diminuição das exigências feitas ao sector pelo processo de crescimento, antes pelo contrário (aponte-se a previsão de uma formação bruta do capital fixo no valor de 10,3 milhões), uma vez que elas se cifrarão em impor-lhe, como repetidamente se tem acentuado, uma adequação dos circuitos de distribuição aos objectivos fixados global e sectorialmente. Acresce que os números indicados podem não reflectir rigorosamente a situação do sector comercial, dado que uma boa parte das suas operações é levada a cabo directamente por entidades privadas dos sectores agrícola e industrial.
A Câmara aceita que, dada a sua natureza e as exigências apontadas, o problema do comércio não é analisável em simples termos da relação a estabelecer entre a melhoria dos serviços prestados pelo sector e o acréscimo correspondente nos custos, pois aquela deverá constituir o objectivo fundamental a prosseguir perante as necessidades específicas de cada um dos sectores produtivos programados.
A indispensabilidade de aperfeiçoamento dos circuitos de distribuição impõe-se por si própria, atentas as considerações anteriores, mas vem reforçada pelo facto de o processo de crescimento geral tender à integração progressiva, num sistema de mercado, dos núcleos ainda larga e lamentavelmente separados dele; o caso dá agricultura oferece, como se viu, exemplo muito elucidativo.
São bem conhecidas as principais deficiências exibidas pelo sector e, por isso, conhecidos são, também, os principais problemas que suscita e, até, as linhas de orientação a definir para os resolver. De todo o lado, os responsáveis não têm deixado de insistir nelas - nomeadamente através do seu mais alto órgão de representação orgânica -, adiantando estudos, sugestões e propósitos, cuja esperança de efectivação aparece agora altamente reforçada pela inclusão da matéria no projecto do III Plano de Fomento, facto que a Câmara regista com agrado.
Entre os problemas que mais urge solucionar contam-se:

a) A estrutura dimensional das actividades comerciais de retalho, caracterizada por acentuada pulverização e escasso poder económico das empresas;
b) As técnicas rotineiras e ultrapassadas dos retalhistas;
ç) A dificuldade de acesso a meios de financiamento que ultrapassem o crédito a curto prazo (além das fontes tradicionais do autofinanciamento e" do crédito dos fornecedores);
d) A insuficiência de equipamentos, nomeadamente nos domínios do transporte e armazenagem, com relevo, para a produção de frio;
e) A relativamente escassa propensão para estabelecer associações voluntárias de armazenistas e retalhistas, que muito tenderiam a contribuir para a elevação de produtividade do sector;
f) As deficiências dos sistemas de transporte;
g) A indisciplina de diversos circuitos de distribuição, traduzida, «nomeadamente, pela proliferação de intermediários inúteis, de feição parasitária, cuja entrada no comércio não requer nenhum grau de habilitação técnica nem de capacidade económica (...)» - o que se reflecte especialmente no campo dos produtos alimentares, com o consequente agravamento dos custos;
h) Uma legislação inadequada, por há muito ultrapassada;
í) A falta ou insuficiência de estruturas modernas de apoio à distribuição no termo dos circuitos (designadamente, a inexistência de mercados centrais de frutas, obsolência da rede de matadouros e insuficiente valorização dos produtos transaccionados).
Consciente destes problemas, o projecto prevê para eles providências a que, em geral, a Câmara dá o seu acordo, louvando-se no parecer subsidiário emitido pelas subsecções de Comércio armazenista e de importação, de Comércio retalhista diferenciado e de Comércio retalhista misto, da secção de Comércio. No entanto, chama a atenção para a necessidade de efectivar a louvável preocupação mostrada quanto à coordenação íntima da reestruturação dos circuitos de distribuição e solução dos seus problemas, com as exigências que lhes são feitas pelos .vários sectores da economia nacional. E ainda para a conveniência de se encararem, além dos aspectos relativos ao comércio interno, os problemas suscitados pela exportação,

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de importância crítica para o País (dada a estratégia de expansão adoptada) - a omissão deste ponto no capítulo em exame pode sancionar a convicção de que se entende que tais actividades devem pertencer aos próprios sectores de produção, orientação mais do que discutível em face da prática dos países altamente evoluídos e sobre que convém, por isso, tornar claramente posição.
Relativamente aos principais pontos focados no projecto, a Câmara, na esteira do parecer das referidas subsecções, entende:
1.º Que deve proceder-se à conveniente revisão da legislação vigente que possa ter reflexo nos circuitos de distribuição, a fim de se obviar às deficiências existentes e, por todos os meios, se contribuir para uma melhoria do sector em causa. Neste contexto, assume particular importância a publicação de diploma que esclareça e regule as actividades mercantis, a compatibilizar, cuidadosamente, com a revisão, desejável, do Código Comercial;
2.º Que se impõe uma cobertura estatística mais eficaz do sector da distribuição;
3.º Que devem tomar-se em devida conta, nos planos estabelecidos para os diversos sectores económicos, as necessidades exibidas pelo sector no sentido de aperfeiçoar os seus circuitos, nomeadamente no que respeita às infra-estruturas de transportes, portos e suas áreas de armazenagem e rede nacional de frio;
4.º Que deve melhorar-se quanto possível o acesso do sector a fontes adequadas de financiamento;
5.º Que devem tornar-se, coordenadamente, todas as demais medidas impostas pela necessidade de incrementar o acréscimo da produtividade da distribuição;
6.º Que deve acelerar-se a formação profissional, a todos os níveis, do pessoal, a empregar no sector comercial;
7.º Que devem estimular-se os estudos gerais sobre o sector e a introdução de modernos métodos de gestão.
69. O capítulo viu dos programas sectoriais versa o planeamento relativo aos transportes, comunicações e meteorologia.
Neste sector o projecto orienta-se, fundamentalmente, pelas preocupações seguintes:

a) Integração sistemática da actividade transportadora no contexto geral da vida económica;
b) Promoção da igualdade de tratamento entre o transporte e os outros ramos de actividade;
c) Tratamento preferencial do transporte público, dado o seu relevo económico-social.
Compreende-se, por isso, que entre os objectivos fundamentais assinalados ao sector se destaquem:

1.º A adequação recíproca dos tráfegos e modos de transporte, a fim de se garantirem, às actividades económicas e sociais das regiões periféricas e menos evoluídas, as condições mínimas de capacidade e qualidade dos serviços prestados (sobretudo quando ditadas por exigências de comércio externo, das indústrias de base, do turismo e do desenvolvimento regional), bem como para se conferir ao sistema nacional de transporte o necessário poder competitivo, fundamentalmente pela concentração dos investimentos que leve a um aumento de produtividade ;
2.º A promoção e intensificação da complementaridade entre modos, ramos e tipos de transporte;
3.º O aumento da produtividade geral, nomeadamente nos domínios das técnicas seguidas, da reconversão das estruturas em causa, da formação profissional e da concentração empresarial prosseguida de modo adequado aos objectivos em vista;
4.º O aperfeiçoamento da coordenação económica inter-sectorial respeitante aos transportes, bem como a relativa aos vários tipos que os integram;
5.º A melhoria da organização empresarial dos serviços públicos industriais neste domínio.
A política dirigida à prossecução destes objectivos assume, compreensivelmente, grande vastidão, dispersão e flexibilidade, quer para incitar uma estrutura produtiva que permita a adequação constante dos modos de transporte, em quantidade e qualidade, às necessidades individuais, quer para garantir à colectividade o mínimo custo económico dos serviços prestados pelo sector, quer ainda para, assim procedendo, se organizar o mercado de transportes de modo a serem, possíveis condições mínimas de rentabilidade para as empresas transportadoras. Compreendem-se, por isso, as dificuldades encontradas pelo projecto para ir além do enunciado das directrizes operacionais a que deve obedecer a acção no sector, deixando as providências concretas para os programas anuais de execução.
Em face desta política (divergente da seguida no Plano Intercalar, dada a extensão temporal do III Plano), a Câmara tem de limitar-se ao referido enunciado, isto é, a dar o seu acordo a um conjunto de medidas na generalidade louváveis por si próprias, mas que, para traduzirem concretamente uma política, têm de ser expressas por prioridades que provavelmente excederiam as implicitamente resultantes da inscrição dos investimentos globais no quadro-resumo e das distribuições por rubricas a que se procedeu nos n.ºs 49 e seguintes do capítulo em apreciação.
Considerando o exposto no parecer subsidiário das subsecções de Transportes terrestres, de Transportes aéreos e de Transportes marítimos e fluviais, da secção de Transportes e turismo, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, a Câmara, dando a sua anuência ao projecto, manifesta a opinião de que devem ser visadas concentrações na distribuição das aplicações de recursos, dados os manifestos inconvenientes da muita repartição de montantes que se compreende não possam ser apreciavelmente elevados.
Nesses termos, aceitando em primeira prioridade os investimentos destacados no parecer das referidas subsecções, chama, de entre eles, a atenção para:
Os investimentos necessários à exploração de todas as virtualidades da electrificação na unidade base Lisboa-Porto e ainda ao prolongamento do eixo Lisboa-Porto, para norte (até Braga) e para sul (até Faro), bem como às ligações fundamentais a este eixo;
Os investimentos necessários aos grandes itinerários de tráfego internacional e ao acesso ao Algarve em continuação da ponte sobre o Tejo;
E os investimentos relativos aos portos de Lisboa, e do Douro e Leixões.

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A Câmara sublinha, por último, a delicadeza (mas indispensabilidade) da compatibilização dos objectivos fixados à marinha mercante nacional, que conduzirá a determinado dimensionamento de empresas e, por consequência, a certa ordem de grandeza para o global da frota. Aos resultados concretamente obtidos naquela compatibilização terá de ir buscar-se a indicação da composição mais favorável da nossa frota e das exigências decorrentes quanto aos investimentos. A Câmara entende, no entanto, ser seu dever acentuar que no problema da nossa marinha mercante não intervêm apenas coordenadas económicas imediatas e que os demais aspectos envolvidos devem ser cuidadosamente pesados à luz dos superiores interesses nacionais. Quanto a isso, a experiência dos últimos anos deve ter trazido preciosos ensinamentos.

70. O capítulo IX dos programas sectoriais é consagrado ao turismo e sobre ele já teve que debruçar-se a Câmara, na apreciação feita na generalidade.
Os objectivos visados neste sector centram-se na sua função dinamizadora do crescimento global, quer pelos múltiplos apelos feitos a vários sectores produtivos, quer pelos resultados generosos que se espera venha a dar quanto à entrada de meios externos de pagamento. Mas não teria sido descabido incluir a função que o turismo pode desempenhar na promoção social, como factor eventualmente importante de nivelamento dos desequilíbrios regionais.
Para se conseguirem os objectivos propostos, impõe-se que se considerem as vantagens da exploração dos recursos naturais cuja valorização beneficia da preferência internacional objectivo primeiro de toda a política de turismo- e cuja prossecução o capítulo entrega fundamentalmente à iniciativa privada, com reserva para o Estado, além da superior orientação e regulamentação das actividades e actuação supletiva no respectivo domínio, de um apoio financeiro adequado.
Nesses termos, a política, de turismo assenta:

a) Na prioridade dada às regiões onde é possível fazer turismo todo ou quase todo o ano (Algarve, Madeira e Lisboa);
b) Na realização do que, havendo sido incluído no Plano Intercalar de Fomento, não foi possível efectuar durante o período da sua execução;
c) Na necessidade de melhorar o crédito turístico;
d) Na regulamentação conveniente das actividades turísticas e seus incentivos;
c,) Na necessidade de coordenação com os demais sectores, nomeadamente com os dos transportes aéreos;
d) No estabelecimento de uma estrutura adequada dos serviços de turismo;
g) Na promoção de indispensáveis campanhas de publicidade;
h) Na melhoria da formação técnica dos profissionais de turismo.
Também aqui e em correspondência ao que acima se refere, pensou-se que poderia apontar-se a inclusão, oportuna e possível, do turismo nos planos de desenvolvimento regional, dados os reflexos que tem em tantas actividades económicas e sociais, podendo, assim, concorrer para a transformação das regiões planeadas, desde que disponham de aptidão para o turismo.
Os investimentos projectados - distribuídos pela indústria hoteleira (e similares), promoção turística, formação profissional, infra-estruturas e complementos turísticos - somam 11 850 000 contos, a financiar com
recurso a várias fontes, mas em que sobressai o auto-financiamento privado. A relação entre os investimentos e o seu modo de financiamento já foi analisada na apreciação na generalidade.
Louvando-se no parecer subsidiário emitido pela secção de Transportes e turismo, a Câmara entende serem de salientar os seguintes pontos:

1. É conveniente melhorar á informação estatística ligada ao turismo, como condição do aperfeiçoamento das técnicas seguidas na projecção e planeamento das actividades respectivas;
2.º Embora reconheça a insuficiência dos elementos disponíveis, é justificável o receio - manifestado pela referida secção - de as estimativas feitas não traduzirem correctamente a situação, tanto mais que não foram tornados em conta alguns elementos refreadores e expansores da procura externa e da oferta de alojamentos, o que assume particular importância, por se tratar de investimentos muito elevados relativamente aos programados no plano anterior. Por tudo isso, haverá toda a conveniência em se rever a estimativa apresentada.

71. O capítulo X dos programas sectoriais do projecto refere-se aos problemas da educação e investigação.
a) Posta a questão no contexto da política de desenvolvimento económico-social, torna-se evidente que esses problemas exibem aspectos múltiplos e dos mais delicados da problemática social do nosso tempo. Não é este o lugar mais próprio para os analisar, pelo que a Câmara se limita a salientar, de entre eles, os mais directamente ligados ao problema geral daquele desenvolvimento.
São- arrumáveis em duas rubricas fundamentais as incidências que o planeamento de expansão económica tem sobre o problema da educação: por um lado, pede esta um contributo muito forte e específico para o indispensável acréscimo da produtividade, nomeadamente através da valorização profissional a todos os níveis e da investigação aplicada; por outro lado, reclama, em termos gerais, a elevação do nível cultural da população, sem a qual (entre outras consequências inconvenientes) tende a manter-se ou a agravar-se o afastamento de grande parte da comunidade do esforço geral de desenvolvimento, que, como obra comum, requer participação consciente e activa de todos.
Muito embora em tudo isso esteja presente o denominador comum da educação, os dois tipos de exigência diferenciam-se notavelmente, não só pelo espírito que os anima, como pelas políticas que requerem.
E já lugar-comum dizer-se que o factor humano é o elemento primordial do desenvolvimento: não apenas por ser o homem, em todas as suas dimensões, espirituais, e materiais, o sujeito dos valores por que tem de orientar-se aquele processo, mas, também, por a experiência demonstrar que, sem um nível cultural aceitável, as políticas de elevação do bem-estar material ficam sujeitas a riscos de fracasso que excedem os sacrifícios impostos para as prosseguir. Isto permite concluir pela indispensabilidade de uma política de valorização cultural, enxertada na política global do desenvolvimento, quaisquer que sejam os superiores princípios que constituam os parâmetros da acção sócio-política da comunidade.
Por seu turno, não carece de ser justificada a intervenção específica da educação nos domínios do incremento da produtividade do trabalho e, por uma ou outra forma, no englobamento de tecnologias avançadas no processo produtivo.

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Bera anelou, por isso, o Governo incluindo, com relevo, a educação no sou projecto do III Plano de Fomento.
Simplesmente, como as exigências que o desenvolvimento faz ao sector da educação se orientam simultaneamente por aqueles dois objectivos básicos, põe-se o problema da coexistência das políticas adequadas à sua prossecução, quer em termos de compatibilidade, quer quanto às opções requeridas pela escassez relativa dos meios utilizáveis. A. Câmara gostaria de ver explicitada a política deste sector no contexto do III Plano, dada a essencialidade das suas implicações para a emissão de um juízo crítico sobre este importantíssimo aspecto do nosso desenvolvimento económico-social.
A esse propósito, o projecto apresenta simultaneamente u ma dispersão e ambição de esforços que, embora compreensíveis, pelas dificuldades de ordenação e pela louvabilidade das intenções, não deixam de constituir riscos sérios de uma menos eficiente utilização dos recursos disponíveis, além de tornarem precário um juízo global sobre a política proposta, as mais das vezes apenas implícita no enunciado governamental.
b) Repartidos por três rubricas fundamentais (pois a quarta diz respeito aos investimentos), o capítulo considera os problemas da educação e investigação ligada ao ensino, da investigação não ligada ao ensino e da formação profissional extra-escolar.
Não há que discutir os objectivos assim enunciados, visto que nenhum deles se concretiza sob a forma de providências legais e administrativas a tomar durante o período de vigência do Plano. A. Câmara limita-se a notar que, mais do que indicação dos pontos críticos sobre que se propõe assentar o esforço do sector, a enumeração constitui inventário geral das acções possíveis no domínio educacional.
Pelo que respeita à investigação, os objectivos indicados pelo projecto são:
Promoção do aumento do número de investigadores; A institucionalização da carreira de investigadores, como autónoma da docente;
A criação e melhoria de centros de investigação em todos os seus aspectos e a coordenação da sua actividade, bem como da investigação em geral.
A Câmara não pode aceitar, sem ponderação muito séria, pelo menos algumas das incidências1 apresentadas pelo. enunciado feito. Têm-se em mente, sobretudo, as relações e>ntre a autonomia da investigação e a carreira docente. Embora sem aprofundar o problema, a Câmara entende dever chamar a atenção para a delicadeza do que se reveste e para as consequências funestas que teria a minimização relativa da actividade investigadora no âmbito docente, incompatível com o ensino de nível verdadeiramente superior, e por isso com o essencial da função universitária. Esta observação abrange, evidentemente, tanto o problema dos quadros de pessoal como o dos recursos técnicos e financeiros postos ao serviço da investigação ligada ao ensino. É campo onde os interesses são mútuos: a Universidade precisa da investigação, e esta - pelo menos referida h, investigação de base - só tem a ganhar com a experiência docente. Chama-se, por isso, mais uma vez a atenção para-a complexidade do problema, que decerto comporta soluções que, não tendo de seguir exclusivamente um rígido critério unilateral, podem atender à natureza diversa das tarefas de investigação em causa, sem prejuízo das estruturas universitárias, que cumpre, mais do que salvaguardar, fazer progredir.
Dada a orientação seguida pólo projecto, torna-se difícil apreciar devidamente a política do sector no quadro de uma política geral, de desenvolvimento.
É certo que, no problema fundamental anteriormente abordado, e relativamente ao qual se estranhou tivesse sido omitida a necessária explicitação, o projecto vem a tornar posição na sequência da orientação assumida no Plano Intercalar, sobrepondo os esforços tendentes a um planeamento cultural integral, ao cumprimento das fim instrumentais ou complementares, requeridas directa e imediatamente pelo desenvolvimento .dos demais sectores.
A Câmara estranha que seja assim, quando em outro passo do projecto se consigna ao sector da educação a missão de «garantir a preparação de largas categorias de população activa e a correlativa programação dos investimentos e meios humanas indispensáveis para que o complexo de acções a desenvolver no sector público e pelas entidades privadas atinja o grau de eficiência requerido». E não pode deixar de explicar, por aquela orientação, a falta de realce, dada, neste capítulo, à posição do sector coordenada com os demais na política de Crescimento económico-social; como, também, a dispersão de iniciativas, esforços e recursos a que ficam . sujeitas ao longo do projecto as acções especificamente devotadas ao cumprimento de um mandato que, parece, deveria impor-se de modo inescusável ao sector educacional projectado no capítulo X.
Porque tal dispersão é incompatível com a programação global coerente com a lógica do Plano, entende-se formular esta reserva, a que se juntam as relativas à ausência de discriminação de actividades e especificação dos recursos financeiros respectivos. A Câmara, que concorda na generalidade com o parecer subsidiário da subsecção de Ensino, da secção de Interesses de ordem cultural, também quanto a estes dois pontos perfilha a opinião por ela emitida quando afirma: «Os critérios de tal programação não podem ser senão dois: o primeiro é o da adopção de uma escala de prioridades em que se reflictam a urgência e a essencialidade das questões, com sacrifício de tudo o que, embora importante, não seja decisivo e, embora oportuno, possa ser ainda adiado; e nesta perspectiva, a formação dos quadros docentes, o incremento da escolaridade facultativa mediante o integral aproveitamento das elites escolares, o problema do ensino médio, surgem, como questões que primam sobre quaisquer outras. O segundo será de uma estrita limitação das estimativas àquilo que se considera mínimo eficaz, isto é, a valores que poderão não ser suficientes para eliminar todas as carências, mas chegam para modificar decisivamente as questões de fundo do problema educativo português, e para corresponder às solicitações específicas que no1 presente Plano de Fomento se dirigem ao sector educativo. Nesses termos, entende a Câmara dever dar-se tratamento prioritário, por um lado, à reorganização dos quadros docentes, dos serviços de formação de professores, das condições do seu recrutamento e revisão da situação do professorado, com a criação de estímulos para as carreiras docentes, e, por outro, ao estabelecimento de condições que permitam o prosseguimento dos estudos, aos jovens que para isso revelem maior grau de aptidão. Julga, por fim, que também deve dar-se tratamento prioritário à reorganização do ensino médio, por forma a conseguir a formação de técnicos de nível .médio, indispensáveis ao desenvolvimento económico do País.
O capítulo assume posição diversa no que respeita à investigação não ligada ao ensino, fixando imediatamente o programa pormenorizado de realizações neste domínio a fim de desenvolver a modestíssima infra-estrutura de investigação existente e dar apoio directo aos programas do desenvolvimento previstos no Plano.

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Tanto basta para merecer geralmente, tal como a parte relativa à formação extra-escolar, o acordo da Câmara.

72. O capítulo XI dos programas sectoriais é dedicado à habitação e urbanização, em que continuam a prosseguir-se os objectivos por que se tem orientado o nosso planeamento, com insistência especial sobre:

A definição de uma política habitacional;
A actualização e elaboração sistemática de planos urbanísticos;
A definição de uma política de terrenos; A preparação técnica e promoção da investigação respectiva.

As medidas sugeridas referem a actuação do sector público para orientar a iniciativa privada (fundamentalmente para compatibilizar a rentabilidade dos capitais investidos com o desejável nível das rendas), a coordenação do sector habitacional e do planeamento urbano. a disciplina da construção civil, bem. como a promoção do planeamento urbanístico, além das providências anunciadas relativas às políticas de terrenos.
Não tem a Câmara nada a opor ao projectado; no entanto, louvando-se no parecer subsidiário das subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, dá secção de Interesses de ordem administrativa, deseja apenas salientar dois pontos:

1.º É da máxima importância a definição de uma política de habitação e a criação do órgão que a execute;
2.º No programa de investimentos deveria ser incluída uma verba exclusivamente destinada a auxiliaras câmaras municipais das regiões interessadas no estudo & começo de saneamento das condições habitacionais mais graves, cuja execução se considera de interesse primordial.

73. O capítulo XII, último dos programas sectoriais, refere-se ao sector da saúde, em sentido amplo.
Aí, como rios demais sectores da produção de serviços directamente ligados à satisfação de aspectos básicos do - nível de vida, a expansão não constitui consequência directa da aceleração do ritmo geral do desenvolvimento, antes traduz «decisão deliberada para a progressiva resolução das carências ainda existentes naqueles domínios».
Desnecessário se torna encarecer a importância dos problemas sanitários e a conveniência de os enquadrar devidamente o desenvolvimento económico-social do País - não só em obediência aos objectivos superiores da valorização integral do homem, como pela consideração comezinha da influência que o nível sanitário tem na produtividade geral da economia. Por tudo isso a Câmara regista, com agrado, a inclusão dos problemas de saúde no projecto do III Plano de Fomento, bem como o princípio geral enunciado, segundo o qual o «recurso aos serviços sanitários não deverá, portanto, estar condicionado pela capacidade económica de cada pessoa, cabendo ao Estado papel preponderante no sentido de garantir a qualquer indivíduo os cuidados de que precisa para atingir, manter ou recuperar um estado de saúde que se traduza em bem-estar físico e mental».
Embora não seja essa rigorosamente a arrumação dada no capítulo, pode dizer-se que os problemas em causa se repartem, fundamentalmente, por três rubricas:
Promoção de maiores níveis de saúde pública em geral, fundamentalmente pela prevenção;
Assistência na doença;
Assistência social.

Na primeira rubrica situam-se as acções tendentes à extensão efectiva à periferia. dos serviços de saúde adequados, o fomento da investigação e desenvolvimento da epidemiologia e da estatística sanitária, a intensificação das acções no campo da saúde escolar e da protecção materno-infantil, o reforço da luta antituberculosa e anticancerosa, bem como a relativa à saúde mental.
Na segunda alínea incluem-se os problemas levantados pela cobertura hospitalar do País, nas várias formas que podem revestir - fomento e reorganização dos hospitais e maternidades em pessoal, e condições materiais de aproveitamento)..
O terceiro grupo de problemas diz respeito à educação e recuperação de crianças deficientes, à assistência a pessoas idosas, à integração profissional de diminuídos físicos e ao desenvolvimento da cooperação familiar - quanto aos indivíduos que, por uma ou outra forma, se situam no campo de acção da Assistência.
Comum aos vários problemas em causa apresenta-se a questão da formação de pessoal especializado e a intensificação dos esforços feitos para promover a sua fixação adequada.
Em campo tão amplo, as medidas de política terão de ser, correspondentemente, muito Vastas e multiformes. Melhor será, por isso, que, para evitar a redundância, mais do que examiná-las em pormenor, se acompanhe o seu conjunto pelas anotações consideradas mais necessárias.
Começará por notar-se a relativa desproporção entre a importância atribuída ao sector (bem como a premência da sua melhoria) e a modéstia relativa dos recursos que lhe vêm sendo atribuídos - em 1965, apesar de um evolução ascendente, não ultrapassaram os 2 por cento do rendimento nacional -, muito embora não deva esquecer-se que, nesta matéria, as despesas de instalação representam uma parte relativamente pequena dos encargos totais a suportar.
Mas os problemas da saúde não se resolvem apenas com a atribuição de maiores recursos financeiros: aqui, como, aliás, na generalidade dos sectores da vida económico-social, são os homens que contam, corri a sua preparação técnica adequada. No caso presente, são os médicos, o pessoal de enfermagem e auxiliar, os administradores e pessoal de gestão hospitalar e sanitária.
Pelo que toca aos médicos, a Câmara concorda em que uma unidade por cada 1000 habitantes é índice já aceitável; mas tem de notar que as necessidades do País não podem ser calculadas tão simplistamente (mesmo que seja possível, corrigir satisfatoriamente a sua muito irregular distribuição geográfica). Com efeito, não pode esquecer-se que tende a aumentar extraordinariamente o «consumo médico» per capita, que continuam a figurar nas estatísticas os médicos chamados a prestar serviço militar nas províncias ultramarinas e que a metrópole continuará a ser, por tempo apreciável, o fornecedor dos profissionais médicos exigidos pela procura crescente no ultramar (dado o tempo necessário para que os respectivos Estudos Gerais possam vir a formar um número adequado de médicos), pelo que se acentua a necessidade urgente de aumentar o número destes profissionais - o que, no condicionamento actual, não parece viável se consiga espontaneamente, necessitando-se, por isso, que se estude o melhor modo de promover a remoção das condições desfavoráveis.
Este é problema que implica aspectos relativos ao sector da educação, já realçados neste parecer e, com maior amplitude, no parecer subsidiário da subsecção de

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Ensino (nomeadamente, à melhoria e ampliação das condições do ensino médico pelas Faculdades respectivas); mas exige, além disso, a revisão realista das condições de trabalho dos médicos, de forma que os jovens com vocação não deixem de seguir a respectiva carreira.
O que se diz dos médicos diz-se, por maioria de razão, do pessoal de enfermagem.
Os objectivos enunciados quanto à promoção da saúde merecem na generalidade o acordo da Câmara.
Já quanto à assistência hospitalar se entende dever formular alguns comentários. Na verdade, verificando-se que a zona sul é a que tem melhor cobertura hospitalar e a zona norte a pior, e que a sobrecarga enorme que pesa sobre os hospitais centrais deriva de deficiências de instalação ou sobretudo de pessoal médico e de enfermagem dos hospitais periféricos, ou de uma e outra coisa conjuntamente, é de aplaudir que o esforço se tenha centrado prioritariamente sobre as unidades periféricas (em especial sobre os hospitais regionais), encarando, para além dos aspectos relativos às instalações e equipamentos, o problema da fixação adequada do pessoal médico e de enfermagem. No entanto, havendo, actualmente, hospitais periféricos devidamente instalados e equipados, mas que praticamente não dão qualquer apoio aos hospitais centrais, parece pouco aconselhável a construção e equipamento de novas unidades antes de se dar às existentes um índice de rendimento aceitável.
Por todas as razões indicadas, antes de os objectivos prioritários apontados serem prosseguidos, parece não se justificar a construção de um hospital central em Lisboa, bem como é aconselhável a revisão do programa de construção de novos hospitais regionais, pois, dos quinze previstos, apenas três se encontram na zona com pior cobertura hospitalar (a zona norte).
Não deixam também de merecer comentários as. orientações fixadas a propósito da formação de pessoal médico, campo delicado, onde só se perde com a dispersão de esforços e a criação ou acentuação de possíveis tensões. Por tudo isso, a coerência do Plano só ganharia com a especificação clara dos termos em que deve pôr-se o problema do ensino médico, estrutura do ensino pós-graduado, de aperfeiçoamento e formação de especialistas, no quadro de uma orientação e responsabilidade que se afigura ter de pertencer, logicamente, ao Ministério da Educação Nacional, sob pena de se correr o risco de homologar formas de subversão das finalidades próprias de cada sector, com todos os gravíssimos inconvenientes daí decorrentes, entre os quais uma indesejável duplicação de esforços e de afectação de recursos.
Pelo que toca aos investimentos, também aqui se aconselha a concentração no que é mais urgente, por forma a poder aspirar-se a. um grau razoável de eficiência nas políticas respectivas.
Nesses termos, o esforço prioritário no campo hospitalar deve incidir sobre o problema da fixação do pessoal técnico dos hospitais de periferia, construção do hospital escolar de Coimbra e sobre a ampliação e beneficiação dos hospitais centrais ou periféricos que mais delas carecerem.
Nas rubricas restantes, a melhoria da assistência materno-infantil, o programa de assistência social enunciado e a coordenação das actividades exercidas no domínio da saúde e assistência pelos serviços dependentes dos vários Ministérios merecem, com o acordo da Câmara, tratamento prioritário.

III

Conclusões

74. Consideradas as observações feitas ao longo deste parecer e dos pareceres subsidiários emitidos pelas diversas secções e subsecções ouvidas, a Câmara formula as seguintes conclusões:
1.ª É de aprovar o projecto do III Plano de Fomento, para o período de 1968-1973; a Câmara espera, contudo, que as reservas e sugestões formuladas possam ser perfilhadas na versão definitiva do Plano;
2.ª Nesses termos, convém proceder à revisão de algumas das projecções efectuadas e à consequente adaptação do Plano; a consideração da conjuntura em que vai começar a executar-se requer também a melhor atenção;
3.ª a Há toda a conveniência em que a política de crescimento económico metropolitano tenha na devida couta a conjugação de todos os esforços no sentido do melhor aproveitamento possível dos recursos;
4.ª Impõe-se a coordenação das várias políticas enunciadas numa política global de desenvolvimento de todo o espaço português.

Palácio de S. Bento, 25 de Outubro de 1967.

António Manuel Pinto Barbosa.
João Augusto Dias Rosas.
João Faria Lapa.
Luís Maria Teixeira Pinto.
Luís Quartin Graça.
Manuel Jacinto Nunes.
Pedro Mário Soares Martin e z.
Afonso Rodrigues Queira.
António Álvares Pereira Duarte Silva.
António Maria de Mendonça Lino Netto.
Armando Manuel de Almeida Marques Quedes.
Augusto de Sá Viana Rebello.
Fernando Brito Pereira.
Francisco de Mello e Castro.
João Manuel Nogueira Jordão Cortez Pinto.
João Pedro da Costa.
Joaquim Trigo de Negreiros.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich.
José Hermano Saraiva.
Manoel Alberto Andrade e Sousa.
Manuel Pimentel Pereira dos Santos.
Paulo de Barro s.
Rafael da Silva Neves Duque.
João Ruiz de Almeida Garrett, relator.

ANEXO I

Parecer subsidiário da secção de Crédito e seguros Financiamento
A secção de Crédito e seguros, à qual foram agregados os Dignos Procuradores António Pinto de Meireles Barriga, João Augusto Dias Rosas, João Faria Lapa, Luís Maria Teixeira Pinto e Manuel Jacinto Nunes, consultada sobre o capítulo II «Financiamento», do título I «Progra-

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mação global», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Enquadramento do financiamento

1. Entre os grupos de trabalho constituídos na Presidência do Conselho para a preparação de relatórios preliminares do projecto do III Plano de Fomento, encontra-se o Grupo de Trabalho n.º 12 «Financiamento e equilíbrio monetário», formado em sequência do despacho de 23 de Julho de 1905, do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. A sua composição parece indicar que nos trabalhos preparatórios participaram representantes dos mais variados sectores: Ministério das Finanças (Direcção-Geral da Contabilidade Pública, Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, Inspecção-Geral de Crédito e Seguros, Junta do Crédito Público), Ministério do Ultramar. Ministério da Economia, Ministério das Corporações e Previdência Social. (Direcção-Geral da Previdência e Habitações Económicas, Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra), Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, Grémio Nacional dos Bancos e Casas Bancárias, Grémio dos Seguradores, Corporação da Indústria, Corporação da Lavoura, Corporação dos Transportes e Turismo, Corporação da Pesca e Conservas, Banco de Portugal, Banco de Fomento Nacional, sem contar com os peritos chamados a colaborar a título individual.
Ao Grupo de Trabalho n.º 12 foi, por despacho do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, confiada a missão de elaborar um relatório sobre:

a) A estimativa do volume de poupança disponível durante o período de 1968-1973 e o estudo da forma como, irá repartir-se essa poupança pelos sectores de actividade;
b) As medidas de política monetária -e financeira necessárias à mobilização efectiva da poupança potencialmente disponível e sua utilização no financiamento da formação de capital a realizai-nos vários sectores;
c) O aperfeiçoamento do sistema de recolha de dados estatísticos relativos à formação de poupanças e- à sua canalização para os utilizadores finais das mesmas.
O capítulo do projecto do Plano que se ocupa do «Financiamento» trata fundamentalmente de:
Necessidades e potencialidades do financiamento; Mobilização da poupança para o investimento; Medidas de política financeira.
Da conjugação da designação com o mandato do Grupo de Trabalho n.º 12 e com o conteúdo do capítulo em apreciação parece poder concluir-se que é essencialmente no domínio monetário que se situa a diferença entre a intenção inicial e o capítulo finalmente redigido. O capítulo constitui naturalmente a base do projecto do Plano deste parecer; à secção, porém, foram facultados pelo Governo, e em particular pelo Ministério das Finanças, elementos de informação muito úteis, provenientes dos estudos preparatórios dos grupos de trabalho da Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica. Sem eles, muito difícil teria sido apreender, compreender e compatibilisrar inter-relações entre dados e conclusões incluídos no capítulo em apreço.
2. Não dispõe naturalmente esta secção de todos os elementos da orientação fixada ao Grupo de Trabalho n.º 12, embora conheça a missão que lhe foi confiada ao estudar e preparar os textos sobre que veio a redigir-se o capítulo li «Financiamento», do título 1.º «Programação global», da primeira parte «Continente e ilhas» do projecto do 111 Plano de Fomento. O título «Financiamento» dado ao capítulo indica certamente que a essência do seu conteúdo se situa no âmbito dos recursos financeiros disponíveis ou potenciais que serão destinados ou orientados, quer para o financiamento do III Plano de Fomento, para 1968-1973, no continente e ilhas, quer para o apoio financeiro a prestar às províncias ultramarinas neste sexénio.
A secção, perante a alternativa, de:
Limitar-se a apreciai: o aspecto do financiamento, partindo do princípio de que o equilíbrio monetário seria abordado no âmbito mais vasto da programação global e dos equilíbrios horizontais mais salientes;
Abordar repercussões, ou factores, no equilíbrio monetário mais relevantes para o financiamento;
inclina-se por esta última orientação, não só pela interpenetração evidente dos problemas, mas também porque em planos anteriores e no período dos trabalhos preparatórios os dois aspectos «financiamento» e «equilíbrio monetário» se encontraram ligados.
Pondera também a secção que o apoio financeiro a prestar às províncias ultramarinas - para não invocar, num parecer subsidiário, os princípios essenciais da unidade nacional - aconselharia que o problema do financiamento fosse estudado tendo em conta a unidade nacional e, portanto, não isolando ou separando artificialmente orientações e projecções que dizem respeito ao todo nacional e interessam todos os portugueses.
3. Os elementos facultados pelo Governo constituem a matéria-prima essencial do parecer da secção, mas não pode omitir-se a indispensabilidade de analisar a correspondência entre as variáveis monetário-financeiras e os objectivos globais e sectoriais visados pelo III Plano. Esta estreita relação transparece, aliás, claramente no início do capítulo em exame, onde se afirma que «a capacidade de financiar o investimento do País depende, fundamentalmente, do nível da poupança formada internamente. Quando, porém, este nível de poupança se revela insuficiente para, por si só, fazer face às necessidades de investimento ditadas, pela aceleração do processo de crescimento económico, torna-se necessário o recurso à poupança externa (o destacado é da secção). A leitura deste e de outros parágrafos permite também concluir que as projecções financeiras tentaram acompanhar (ou não limitar) os objectivos visados pela aceleração do crescimento.
Sendo, por outro lado, universalmente reconhecida a ligação entre volume de poupança e nível de rendimento, conclui-se imediatamente pela conveniência de analisar como se projectou a evolução do produto no próximo sexénio, de molde a poder avaliar-se da compatibilidade existente entre as diversas variáveis.
Esta evolução é decerto factor condicionante e estratégico da formação da poupança prevista, mas não pode olhar-se exclusiva e abstractamente para simples projecções, esquecendo as condições que regem actualmente as relações entre variáveis económicas, monetárias e financeiras presentes e potenciais e as formas de financiamento do investimento português, metropolitano e ultramarino. Isto é: omitir ou menosprezar a situação conjuntural presente da vida económica e financeira portuguesa signi-

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fica certamente afastamento da realidade, que maior relevo tem na medida em que vier a afectar a execução próxima do Plano. Ora, como se &abe que a execução do III Plano de Fomento se inicia dentro de breves meses e que a não concretização dos fins programados para o ano de 1968 pode redundar em menor confiança nos seus objectivos globais - quando nada permite inferir desde já que no decorrer do período de 1968-1973 não possam vir a ser atingidas as metas visadas -, melhor será ter presente as condições actuais da economia metropolitana (e em análise mais rigorosa e correcta deveriam incluir-se as variáveis mais relevantes da economia ultramarina). Estas reflexões aconselham a secção a iniciar o seu parecer por uma breve informação sobre elementos, quer de programação global, quer de situação conjuntural.

II

Orientação da programação global

4. Os dados principais do projecto do Plano são os seguintes:
Crescimento do produto interno bruto (P. I. B.) à taxa anual de 7 por cento, o que conduz ao índice 150 em 1978 relativamente a 1967;
Progressão da formação bruta de capital fixo (F. B. C. F.) a um ritmo nitidamente superior ao da produção, de 8,2 por cento aproximadamente, equivalente, no dizer do capítulo, ao índice 173 em 1973 (1967 = 100);
Desenvolvimento do consumo privado à taxa de 5,9 por cento (137 em 1973), ritmo atrasado de 1,1 por cento em média sobre o crescimento do produto interno; da leitura do capítulo I «Projecções do desenvolvimento económico», do título 2.º «Programa global», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, conclui-se que este desfasamento é necessário para permitir uma expansão mais acentuada das exportações de bens e serviços (14,2 por cento ao ano), dada a quase manutenção da taxa de investimento e o crescimento das importações em paralelo com o do produto (7,1 por cento) (cf. quadro XV do referido capítulo I);
Redução da taxa de acréscimo do consumo público para 5,7 por cento ao ano (contra 6,9 por cento no período do Plano Intercalar de Fomento e 7,2 por cento no período de 1953-1964), por exclusão das despesas militares extraordinárias.
Estas projecções referem-se sempre a variáveis em termos brutos e a preços constantes de 1963. Evidenciam-se alguns aspectos importantes para o parecer: reprodutividade aparentemente muito acentuada, do capital, porque à aceleração do crescimento do produto corresponde, segundo o capítulo, uma manutenção do ritmo de formação do capital.; exclusão das despesas militares extraordinárias; crescimento das exportações muito superior ao das importações.
Escasseando elementos suficientes para inferir desde já as variações reais ou projectadas dos preços relativos das diferentes componentes do produto, e da procura final com. referência a um nível geral constante de preços do produto interno bruto, não se esboça uma projecção em valor corrente, mas tão-sòmente uma projecção em volume, isto é, a preços constantes (do ano de 1963).
Um crescimento de 7 por cento ao ano do produto interno representa em 1973, segundo as projecções do projecto do III Plano de Fomento, um incremento de 52,3 milhões de contos de 1963 relativamente ao produto programado de 1967. A afectação destes novos recursos a consumo privado e público, investimento e exportações, corresponde à expressão das necessidades de desenvolvimento definidas nos trabalhos preparatórios do III. Plano de Fomento.
A primeira série de orientação diz respeito à estrutura das disponibilidades internas, tendo em conta as transacções com o exterior. A situarão em 1973 apresentar-se-á, segundo o quadro XV do mencionado capítulo I, como se segue:

QUADRO I

[Ver Quadro na Imagem].

A segunda série de orientações visa a repartição destas disponibilidades internas entre consuma e investimento, a qual se efectuaria segundo as proporções abaixo indicadas (quadro n), e marca claramente a intenção de incrementar o investimento, ficando em aberto o problema da divisão dos consumos entre o sector público e o privado.

QUADRO II

[Ver Quadro na Imagem].

A repartição do consumo entre sector público e privado traduz a terceira orientação que resultará, segundo as projecções, em ligeiro acréscimo da parte utilizada em consumo pelo sector público, em detrimento da parte utilizada pelo sector privado.

QUADRO III

[Ver Quadro na Imagem].

(a) Estas percentagens, indicadas no quadro XV do capítulo I «Programação global», virão a ser, possivelmente, revistas pelo Secretariado Técnico, pois afigura-se não corresponderem à evolução dos valores absolutos inscritos no mesmo quadro.

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Finalmente, a última série de orientações, que tem indirectamente a ver com a reprodutividade do investimento, marca a expansão das parcelas da formação interna bruta de capital fixo utilizadas na construção e, sobretudo, em equipamento diverso.

QUADRO IV

[Ver Quadro na Imagem].

No conjunto, e em relação ao crescimento anual de 7 por cento do produto, indicado no capítulo i, verificam-se atrasos sensíveis por parte de todas as utilizações, salvaguardada a prioridade concedida, no âmbito destas, ao investimento em equipamento diverso e ao consumo público. Isto é, o abrandamento das despesas públicas em obras não imediatamente reprodutivas terá de ser muito sensível para se atingir o objectivo das projecções maior reprodutividade do capital -, o que significará a utilização de critérios económicos mais acentuados na política de obras públicas.
Por outro lado, a evolução prevista para as transacções com o exterior - elemento essencial dos equilíbrios projectados - conduz a um saldo positivo de 0,7 milhões de contos em 1973, obtido sobretudo graças ao crescimento anual previsto de 20 por cento nas receitas do turismo, as quais praticamente triplicarão no período considerado, e às hipóteses de não se verificar tão grande disparidade entre a evolução das exportações (6,5 por cento por ano) e das importações (6,7 por cento por ano) de mercadorias e de se conseguir manter um ritmo elevado das entradas das transferências privadas, muito influenciadas pelas remessas, de emigrantes.

QUADRO V

Transacções correntes com o exterior (1973)

[Ver Quadro na Imagem].

Resumindo os elementos das projecções sobre recursos e utilizações, apresenta-se um quadro em que se dá conta do equilíbrio nos anos extremos do Plano, corrigidas as despesas de consumo e a partir de elementos contidos no capítulo I do título 1.º da parte metropolitana do projecto do III Plano de Fomento.

QUADRO VI

[Ver Quadro na Imagem].

Se se conjugarem estes dados e orientações com valores do capítulo II «Financiamento», em apreciação, é possível estabelecer a seguinte projecção da poupança e do investimento, em que se inclui já o financiamento da parte ultramarina do Plano de Fomento pela Administração Central.

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QUADRO VII

Milhões de contos

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Sem contar as despesas militares extraordinárias.

Este quadro representa, como facilmente se depreende, um simples indicador de quantidades não comparáveis, dado que não coincide a constelação de preços utilizada em cada uma das séries. A transformação de «preços constantes de 1963» em preços correntes implica todo um complexo de problemas, quer no que respeita à variação prevista dos preços no decorrer deste período, quer no tocante à estrutura dos preços relativos. Um e outro aspecto mereceriam certamente atenção mais profunda da secção, se acaso esta enveredasse - o que, embora da maior relevância, se afigura desviado do objectivo principal deste parecer subsidiário - pelo caminho de avaliar o papel - e a natureza da política monetária e de preços no desenvolvimento económico e social português.

III

Reflexos da situação conjuntural

5. Recentes estimativas do Instituto Nacional de Estatística sobre a evolução do produto interno bruto ao custo dos factores e a preços de 1963 indicam que o crescimento no ano de 1966 em relação a 1965 se processou a um ritmo que pode ser estimado entre os limites do 3,6 e 1,6 por cento, conforme a série que for considerada como mais significativa (as últimas estimativas correspondem ao crescimento mais fraco). Isto é, o produto interno bruto a preços constantes de 1963 atingia o valor de 95,3 milhões de contos (ou, na hipótese mais forte, o de 97,3 milhões de contos).
Este abrandamento em 1966 traduzia fundamentalmente o facto de:

a) O produto agrícola, de 16,8 milhões de contos, corresponder ao valor mais baixo dos últimos oito anos;
b) O produto das indústrias transformadoras - factor dinâmico de expansão registada nos últimos anos - se situar praticamente ao nível do ano anterior.

O gráfico da evolução do produto global e industrial, nos últimos anos, evidencia claramente a dinâmica de expansão ao ser apresentado em termos de taxas de crescimento (gráfico I, em anexo).
Por seu lado, o ritmo de formação de capital, que vai influenciar largamente a produção futura, mostrava também no ano de 1966 uma quase paragem: a formação de capital fixo das empresas passa de 14,9 em 1965 para
15 milhões de contos, ao passo que o investimento público se mantém ao nível de 2,4 milhões de contos.
A eventualidade de uma recuperação no decorrer do ano de 1967 (1.º semestre) encontra-se presumivelmente afastada se se atender à evolução (cf. gráfico n, em anexo) de alguns indicadores disponíveis neste momento e que podem ser admitidos como traduzindo movimentos conjunturais; refere-se a secção a índices da produção industrial, consumos energéticos, transportes em caminho de ferro e efeitos descontados, para os quais a tradução gráfica em termos de taxas de crescimento em relação a idêntico período do ano de 1966 se- afigura bastante elucidativa.
Isto é: a recuperação, a ter sido feita neste 1.º semestre, deveria corresponder a curvas fortemente ascendentes, pois como se compararam meses de 1967 com igual período de 1966, e este último ano corresponde a fraco crescimento, a inversão da tendência deveria ser traduzida por crescimentos amplos. Assim não acontece, e o andamento do índice da produção industrial parece evidenciar mesmo uma grave situação conjuntural neste sector dinâmico do crescimento, como recentemente foi confirmado pelo inquérito de conjuntura da Corporação da Indústria. No conjunto de evolução do produto em 1967 deve, em contrapartida, contar-se com uma produção agrícola sensivelmente superior à de 1966, o que poderá atenuar a influência depressiva do sector secundário; em qualquer caso, dificilmente pode ter-se desde já como certo um crescimento do produto de 6,1 por cento, idêntico ao programado no Plano Intercalar de Fomento.
Estes indicadores levam a secção a ponderar que a evolução e a dinâmica de abrandamento da economia metropolitana concretizadas no ano de 1966 e no 1.º semestre de 1967 não se encontram ainda vencidas, o que conduz a esta reflexão:
a) Dificuldade de atingir o ponto de partida programado para 1967 no projecto do III Plano de Fomento, ou seja o nível de 102,7 milhões de contos para o produto interno bruto a preços constantes de 1963;
b) Quase impossibilidade de alcançar o volume de formação bruta do capital fixo previsto, ou seja, 21,3 milhões de contos de 1963;
c) Necessidade de vencer o abrandamento da expansão até ao fim de 1967, pois, caso contrário, tudo indica que dificilmente se conseguirá atingir, no decorrer do ano de 1968, o ritmo de crescimento de 7 por cento, citado no projecto.

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Esta reflexão faz admitir imediatamente a eventualidade de se partir de um nível de produto inferior a 102,7 milhões de contos, o que, admitindo um ritmo de crescimento médio de 7 pôr cento no período de 1968-1973, significará um volume mais baixo de investimento global neste período de seis anos; esta hipótese pode apresentar grande interesse por corresponder a uma situação em que haverá maior margem de flexibilidade na política de investimento e de poupança. A secção sugere que seja ponderada a conveniência e utilidade de se refazerem os cálculos, mantendo a taxa de crescimento de 7 por cento como meta desejável a atingir para o conjunto do sexénio.
Não é sòmente no plano de grandezas «não monetarizadas» que a situação conjuntural apresenta significado relevante. A evolução de preços e salários evidencia, através do gráfico que exprime igualmente a dinâmica mensal de variação a partir do início de 19G6 (gráfico III, em anexo), uma tendência relativamente marcada acima dos ritmos habituais e aceitáveis de pressões inflacionistas, na medida em que a maioria das variações dos salários se situa entre 10 por cento é 18 por cento, e dos preços entre 4 por cento e 10 por cento; tendo em conta a desactualização que caracteriza a amostra básica dos índices do custo de vida em Lisboa e Porto, pode concluir-se que o aumento de preços terá sido, nestes últimos 18 a 24 meses, superior ao ritmo anual de 4 por cento, o que, a ser assim, virá a representar elemento perturbador, quer da estabilidade monetária, quer das variáveis financeiras. Esta tendência irá, por sua vez, repercutir-se em todo o conjunto de factores que se ligam às despesas do sector público e às transacções com o exterior, no âmbito, quer das mercadorias, quer dos serviços e, em especial, do turismo. Mas este é assunto que, embora tenha de estar presente neste parecer subsidiário, melhor se enquadra no âmbito do parecer sobre a parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento e para o qual a secção chama a atenção, pelas repercussões profundas que pode ter em todos os equilíbrios sectoriais.
Se se entrar em consideração com os valores, indicados no capítulo i, de 1967 = 102,7 milhões de contos e de 1973 = 155 milhões de contos, a taxa acumulada de crescimento é efectivamente de 7,1 por cento ao ano.

IV

Problemas do equilíbrio no decorrer do III Plano de Fomento

6. Expostas as grandes orientações contidas na programação global e apresentados os dados relativos à situação conjuntural que podem ter influência, não só no realismo das projecções, mas também na execução próxima do III Plano de Fomento, é de concluir que os pontos fulcrais da realização do Plano se encontram e dizem respeito a uma constelação de equilíbrios que podem sistematizar-se do seguinte modo:

Preços e rendimentos:
Finanças públicas e circuitos financeiros;
Transacções com o exterior.

Haverá, portanto, conveniência em tecer alguns comentários sobre estas questões antes de se abordarem outros aspectos fundamentais do capítulo II, em apreciação, referentes à poupança e financiamento e à estratégia da expansão equilibrada.

a) Preços e rendimentos

7. A estabilidade monetária e dos preços tem constituído e deve, no entender desta secção, continuar a ser princípio essencial da nossa vida económica e financeira, que não poderá abandonar-se sem graves reflexos económicos, sociais e políticos. Não deve, porém, entender-se que estabilidade significa imobilidade dos preços, pois concebe-se antes como contendo uma flexibilidade que permita «ajustamentos de estrutura da produção e sirva simultâneamente de indicador e guia das tensões verificadas no interior de um sistema; do mesmo modo, e no plano dos reflexos externos, deve procurar-se uma estabilidade, durante um período prolongado, que não seja acompanhada de um crescimento de preços superior ao verificado, quer nos nossos maiores clientes de produtos ou fornecedores de capital, quer mesmo nos principais competidores nos mercados externos; neste caso, os países do Mercado Comum, a Inglaterra e os Estados Unidos devem constituir indicadores da evolução admissível dos nossos preços, pois quanto aos concorrentes mais directos, o problema tem de pôr-se, em particular com competidores potenciais que vivem de regimes especiais no plano comercial e político ou podem ter níveis salariais incompatíveis dentro do nosso nível económico e social.

QUADRO VIII

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Perspectives économiques de l'O. C. D. E., 1, Julho de 1967.

A evolução projectada para 1967 e os esforços anti-inflacionistas de grande número de países industriais mais sublinham o cuidado que devemos pôr na política de estabilidade e a dificuldade, ou perigo, de adoptarmos providências ou políticas de inflação temporária como método de financiamento de «situações conjunturais» ou mesmo de investimento em capital fixo.
A evolução global pouco indica, porém, quanto a repercussões sectoriais da maior importância. Interessa ter bem presente a evolução relativa fios preços sectoriais, não só porque ela condiciona movimentos particulares de produtos entre países, mas porque constitui, também, é simultâneamente, indicador das e para as variações internas da estrutura produtiva; assim, a evolução comparada, dos preços relativos de produtos industriais, agrícolas e energéticos e dos preços relativos de alojamento e de outros serviços, como transportes, saúde e educação, não pode ser menosprezada ou omitida no contexto de uma política de desenvolvimento. A. própria política de preços não pode ou deve desligar-se da política de rendimentos, e em especial da participação relativa dos rendimentos do trabalho (ordenados e salários) e do empresário, e proprietário (lucros, rendas e juros), porque através dela vão influenciar-se não só os ritmos de formação da poupança e de gastos de consumo, mas também a própria composição deste último e os estímulos ao aforro. A evolução recente da economia portuguesa,

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com preços e salários em movimento constante, parece oferecer melhor oportunidade do que em momentos anteriores para elaborar e executar políticas de preços que se conjuguem com a política de desenvolvimento económico e social; não deve, porém, olvidar-se que a abertura progressiva da economia em relação ao exterior virá a limitar extraordinariamente o campo de intervenção do Governo neste domínio, atribuindo às estruturas de preços alheias domínios de influência que só podem ser compensados com modernização acelerada das estruturas produtivas. Acresce ainda que, se o movimento natural de ajustamento de preços se confinar aos sectores mais livres da actividade, ver-se-ão surgir distorções que, em regra, se projectam nos sectores protegidos e, em particular, em serviços públicos ou quase públicos, onde os preços se encontram, ligados ao custo da produção. Exige-se neste aspecto uma política dinâmica da empresa e do serviço de interesse público, pois, caso contrário, ver-se-ão agravados os seus deficits e diminuídos os excedentes de funcionamento, passando a constituir um ramo permanentemente subsidiado do sector público, com o consequente agravamento das responsabilidades ou encargos do Estado, para não referir factores de perturbação do mercado financeiro (monetário e de capitais), para onde são, por vezes, desviadas as coberturas temporárias de deficits estruturais. Isto é: o Estado, nestas circunstâncias e ao recorrer a uma política de subsídios para manter preços de determinados serviços ou bens de destino ou interesse colectivo - v. g. transportes, energia, saúde, educação, alojamento, etc. -, deve evitar que esses subsídios compensem, e até eventualmente favoreçam, a ineficácia da gestão e o desajustamento custo-preço.

b) Equilíbrio financeiro do sector público

8. Outro aspecto essencial dos equilíbrios horizontais de natureza financeira diz respeito às finanças públicas entendidas no sentido que é atribuído no capítulo II em exame ao sector público, englobando a Administração Central (Conta Geral do Estado, fundos e serviços autónomos), a administração local, a previdência social e as empresas públicas.
Surgem neste caso grandes dificuldades de avaliação de fluxos financeiros, mesmo pondo de lado o facto de as séries disponíveis serem a preços correntes. Aliás, esta dificuldade é bem traduzida pela afirmação inicial do capítulo: «... desconhece-se, de facto, por um lado, o volume da poupança interna formada nos vários sectores - excepto no que se refere ao sector público, c, ainda que insuficientemente, às empresas privadas - e, por outro, as exigências de financiamento de cada um deles. Tendo em consideração esta escassez de dados fundamentais, bem se compreende quão ténues e falíveis serão as estimativas quanto a algumas variáveis financeiras, pois se. por um lado, pode estimar-se a poupança interna do sector público, não parece que se conheçam, as necessidades de financiamento e, portanto, a sua maior ou menor capacidade de participação no financiamento global.
A conta de operações correntes e a poupança do Estado são apresentadas nos quadros III e V do capítulo em apreciação, que pela secção foram actualizados e desdobrados no mapa A em anexo.
Os números deste mapa indicam o carácter importante da rubrica «Previdência social» e o relevo que também apresentam a «Administração local» e «Fundos e serviços autónomos». A ser assim, poderia concluir-se simplistamente pelo papel aparentemente reduzido da Conta Geral do Estado e, mais rigorosamente,. do Orçamento na condução, quer da política de investimento, quer do nível do mesmo, e influência da poupança pública; reflexão mais profunda aconselhará antes a pensar que não deve limitar-se a influência da política financeira do Estado às rubricas da Conta Geral, mas que terá, sobretudo, de cuidar-se de uma política económica e financeira global e definida e quanto possível coordenada ao nível nacional, metropolitano e ultramarino.
As projecções feitas (não se avaliara agora os critérios) indicam uma variação das receitas e despesas de 8 a 9 por cento contra um ritmo de 10,2 e 11,3 por cento, respectivamente, no período de 1959-1965, o que leva a admitir moderação nas estimativas, embora se esteja consciente da exclusão de certas despesas militares. Em. qualquer circunstância, a maior ou menor influência orientadora do Ministério das Finanças só em parte se faz sentir através da variação da carga fiscal, do Orçamento e Conta Geral do Estado, pois esta última, segundo as projecções, participaria de modo elevado no período de 1968-1973 na formação de poupança do sector público (cerca de 43,6 por cento) contra um nível máximo de 42 por cento no período de 1959-1965 (acompanhado mesmo de valores negativos); este resultado deriva sòmente dos diferentes métodos de estimativa e cálculo adoptados para um e outro período, e encontra-se, portanto, afectada com este procedimento a possibilidade de comparação que convém, fazer. O problema diz respeito às despesas militares extraordinárias, que não foram tornadas em consideração; mas pode afirmar-se desde já, mesmo s em se proceder a quaisquer estimativas, que a sua inclusão anual mais fará realçar a importância que os fundos e serviços autónomos tomam, a par da previdência social e da administração local.
Sendo assim, e em face do necessário equilíbrio do sector público, será- conveniente repensar o problema, não só da classificação tradicional entre serviços públicos gratuitos e serviços públicos pagos, mas também de actualizar a possibilidade de transferência da produção de alguns serviços para o sector privado. A hipótese de reembolso total ou parcial de certos equipamentos colectivos, ligados a transportes, a exigências urbanas, a saúde, educação e ensino, etc., através de taxas ou tarifas correspondentes à sua utilização; a definição clara da política habitacional nas suas opções entre habitação económica e outro tipo de alojamento liberto das peias administrativas; a gestão mais eficaz, a- par da inserção dás empresas de serviço público no processo produtivo português e de melhor aproveitamento das vantagens e obrigações do sistema de concessões; e, finalmente, a administração mais dinâmica das empresas onde existe participação do Estado, no capital ou na gestão, representam meios possíveis, quer de incrementar as receitas, quer de reduzir as despesas ou encargos do sector público.
Eis um tipo de orientação a prazo que se torna quase indispensável definir, pois encontram-se certamente maiores dificuldades, quer no aumento de pressão fiscal, quer na redução das solicitações para o desenvolvimento de equipamentos colectivos; e não deve também esquecer-se que, em plano quase idêntico a estes últimos, podem situar-se as exigências de uma política nacional de investigação e as reorganizações e reconversões (industriais, agrícolas e concomitantes da mão-de-obra) exigidas pela abertura progressiva de fronteiras e pelo desaparecimento das protecções aduaneiras ou administrativas. Aliás, a formação bruta de capital fixo do Estado, que se tem situado na última década entre 2 e 3 por cento do produto, é ainda inferior à de outros países europeus, como a Alemanha e a Holanda, onde atinge níveis mais elevados.

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Melhor será concluir que o equilíbrio financeiro do sector público exige profundo reexame, quer do nível e natureza das despesas, as quais, por vezes, se caracterizam por uma larga inércia na sua realização, quer dos factores de despesa plurianuais e do sistema de tomada de decisões para a sua administração, e, finalmente, análise sistemática das despesas de intervenção e da sua eficácia e papel na política de fomento. A alavanca de alguns equilíbrios encontra-se, por vezes, mais na política de melhor aproveitamento e inserção da despesa pública no fomento do que em aglomerados de providências de natureza meramente restritiva.

c) Circuitos de financiamento

9. Tratadas questões do equilíbrio entre as potencialidades e as necessidades, resta ainda abordar o tema da transmissão entre as capacidades de poupança e as necessidades de financiamento, isto é, o problema dos circuitos de financiamento.
As estimativas apresentadas indicam, quanto ao sector público, que as suas necessidades de financiamento se têm situado, em regra, em cerca de 20 por cento da totalidade, ao passo que as suas potencialidades registaram uma participação decrescente na poupança disponível (de cerca de 31 por cento em 1953-1956 cai para 18 por cento no período de 1961-1964). Esta alteração drástica do panorama da estrutura das capacidades e necessidades de financiamento do Estado pressupõe, para a realização do III Plano, uma participação mais ampla do autofinanciamento privado, acompanhada, eventualmente, de adequada participação do sector estrangeiro e da revisão, sugerida neste parecer, da política de repartição de encargos entre o sector público e privado e entre diferentes parcelas do território nacional.
Surge também, e paralelamente, um conjunto de hipóteses quanto aos circuitos financeiros propriamente ditos, os quais devem responder a, ou corrigir, comportamentos e aplicações das empresas e dos particulares e ainda necessidades de investimento dos diferentes sectores. Na medida em que o sector público diminui o seu papel activo de transformador de poupanças, maior e mais difícil se torna a sua responsabilidade na orientação das potencialidades privadas. Por este motivo, o comportamento, dos agentes e entidades financeiras no mercado surge, não só mais evidente, mas também com maior relevância para a execução do Plano.
Aliás, a evolução dos meios de financiamento canalizados para a formação interna bruta de capital indicada no quadro XV do capítulo em apreciação, entre 1960 e 1965:

QUADRO IX

Percentagem do total

[Ver Tabela na Imagem]

traduz claramente o papel relevante assumido pela Caixa Geral de Depósitos,
Crédito e Previdência, até eventualmente como factor de uma política de orientação que o Estado não podia continuar a exercer directamente, e o acréscimo do papel da banca comercial, e em particular do financiamento externo, sobre o qual o Governo está, aliás, em condições de exercer vigilância, e mesmo presença, traduzida claramente no facto de no período, de 1962-1965 o Estado ter tomado directamente cerca de 4,7 milhões de contos num total de 14,9 milhões de contos de financiamento externo, sem contar recursos obtidos com a garantia directa ou indirecta do Estado.
Por seu lado, o financiamento através de emissão de títulos (acções e obrigações, públicas e privadas) tem representado, apesar das fortes variações cíclicas, uma participação de 20 a 30 por cento da poupança anual, sendo o restante representado fundamentalmente por empréstimos de diferente natureza ou por financiamento directo do Estado. Ora a estrutura das contas da banca comercial indica claramente que a sua participação (para além da tornada de títulos) reveste naturalmente a forma de empréstimos a médio prazo (para não falar do curto prazo renovável, para que não se dispõe de estimativa) e a evolução recente dos empréstimos traduz claramente a tendência para o encurtamento dos prazos, o que faz admitir, ou necessidade de ajustar, ou permitir o ajustamento dos tipos e taxas de amortização das empresas (acelerando autofinanciamentos e níveis de lucros) ou a conveniência de intensificar a regularização do mercado de capitais (em particular, de títulos), devolvendo-lhe ou atribuindo-lhe função mais ampla e consentânea com a estrutura dos investimentos e a sua adequada amortização.
Em face do que foi exposto nesta primeira parte do parecer e atendendo os diversos equilíbrios necessários, pondera a secção a conveniência de:

a) Se retomar o objectivo visado pelo Decreto-Lei n.º 44 652, de 27 de Outubro de 1962, e expresso no seu artigo 9.º:

Art. 9.º Com vista a proporcionar os meios adequados ao alargamento e à melhor coordenação da assistência financeira do Estado à iniciativa privada ou mesmo à participação directa do Estado no lançamento e execução de empreendimentos declarados essenciais para a prossecução dos objectivos definidos nos planos de fomento globais e territoriais, nomeadamente os que se refiram ao ordenamento agrícola e à reorganização industrial, o Governo procederá à criação, no Ministério das Finanças, de um Fundo de Fomento Económico, de âmbito nacional, cujo regulamento será publicado até 31 de Dezembro de 1963.
b) Se sistematizar e formalizar a larga e crescente intervenção dos bancos comerciais no financiamento a médio prazo;
c) Se procurar reforçar o papel e as funções dos bancos comerciais e das instituições especiais de crédito no incremento e recolha de poupança;
d) Se analisarem as exigências de financiamento do investimento a longo prazo e as fontes públicas ou privadas adequadas, correspondendo estas últimas, mais plausivelmente, quer a formas de poupança institucional ou contratual a longo prazo - seguros, previdência social -, quer a poupança do sector público, quer a novos estímulos à transformação da poupança em investimento a longo prazo, em que as caixas económicas podem desempenhar papel activo da maior relevância.

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d) Equilíbrio das transacções com o exterior

10. Estima-se no projecto que nas transacções correntes ver-se-ia praticamente equilibrada parte da rubrica de bens e serviços no decorrer do período de 1968-1973, e que esse equilíbrio viria acompanhado de um acréscimo substancial da parcela das transferências privadas (em regra, remessas de emigrantes), passando o saldo de 5.2 para 8,5 milhões de contos. Atendendo a que o saldo da balança de capitais da metrópole tem vindo a ser positivo (2 a 3 milhões de contos anualmente), poderia esperar-se uma expansão desta componente, de molde a dispormos, no decurso do sexénio, de um afluxo de capitais externos superior a 15 milhões de contos. Surge, neste contexto, a possibilidade de o sector Estado incrementar a sua participação no financiamento, embora sempre com os limites que lhe venham a ser aconselhados pela relação responsabilidades externas fluxo de recursos financeiros do Estado. A estimativa de dívida externa nacional feita no quadro XLII do capítulo em. exame em cerca de 11,7 milhões de contos em 1965, mesmo acrescida do movimento de 1966, parece indicar que a responsabilidade efectiva não virá a exceder em muito 12 milhões de contos; esta estimativa deve, porém, ser posta em confronto com os números do quadro XXXIX desse mesmo capítulo, em que se referem as importações de capital, a longo prazo do sector público e onde não estarão, eventualmente, incluídas todas as operações do Estado (cf., por exemplo, a operação feita para o início da execução do programa naval de 1962). Em qualquer caso, quer o volume de reservas nacionais, quer os fluxos de receitas do Estado, permitem admitir que o endividamento externo do Estado pode ser ainda ampliado, embora tenha de ponderar-se cuidadosamente o aspecto das suas responsabilidades sob a forma de aval a empresas privadas, quer ao nível da Administração Central, quer, em especial, ao nível dos governos das províncias ultramarinas.
Para além das ilações que podem extrair-se das projecções apresentadas e que conferem um certo grau de optimismo às potencialidades de afluxo de capitais estrangeiros, não pode a secção omitir algumas considerações fundamentais acerca das estimativas das diversas componentes da balança de transacções correntes apresentadas no projecto, e que certamente serão mais profundamente apreciadas no parecer sobre a parte do continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento.
Em primeiro lugar, é de referir, uma vez mais, que os problemas do equilíbrio da balança só poderão ser convenientemente analisados a preços correntes de vários anos. Dado que no último decénio se tem assistido a uma depreciação das razões de troca que se traduziria em aumentos de preços aproximadamente de 4,5 por cento nas exportações e de 7 por cento nas importações, é possível que o saldo negativo da balança comercial no fim do período venha, a preços correntes, substancialmente agravado.
Por outro lado, parece evidente, atentas as taxas de crescimento das exportações e das importações de bens observadas em média no período de 1955-1965 - 6,9 e 8,1 por cento, respectivamente, a preços constantes de 1963 - e tendo presente a evolução mais recente do comércio externo metropolitano, que o projecto, ao programar as taxas de 6,5 por cento para as exportações e de 6,7 por cento para as importações, sustenta a hipótese de uma desaceleração pronunciada do ritmo de expansão destas últimas. Tal desaceleração poderá, eventualmente, vir a revelar-se incompatível, não só com a taxa de investimento prevista, mas também com possíveis desajustamentos entre a procura de bens de consumo (sobretudo de alimentação e de bens intermediários) e a correspondente oferta interna.
Ainda no que se refere ao comércio externo, parece pertinente chamar a atenção para o facto de que, tratando-se de comércio com o exterior (abrangendo, portanto, o ultramar), não reflecte com precisão as diferentes questões de pagamentos que deve vir a levantar. Isto só reforça, filias, as razões já atrás apontadas em defesa de uma unidade de programação para o conjunto metrópole Ultramar.
Finalmente, sendo as componentes da balança de transacções correntes nas quais se apoia o esquema de equilíbrio, ou mesmo de excedentes, previsto para 1968-1973 - turismo e transferências privadas (essencialmente, remessas de emigrantes) - caracterizadas por acentuada aleatoriedade, pareceria útil que, à luz de dados mais recentes, que deixam entrever o abrandamento da anterior expansão extrapolada, se refizessem as estimativas.

V

Poupança e financiamento

11. As necessidades e potencialidades de financiamento são descritas do seguinte modo no n.º 15 do capítulo n, em exame, a preços correntes e em milhões de contos:
Potencialidades .............. 222,4
Necessidades ................. 199,1
Saldo ........ 23,3

Esta estimativa prevê e afirma que novas medidas de política financeira tornem «possível a oportuna revisão das metas actualmente estabelecidas» e que a «compatibilização [...] se insere no contexto mais amplo da política [...] de estabilidade financeira interna e solvabilidade externa da moeda». Não se pode, porém, esquecer na redacção definitiva deste capítulo, nem outras coordenadas essenciais do III Plano de Fomento, como o esforço de defesa e a integração em espaços económicos mais vastos, nem os objectivos de repartição pessoal e espacial mais equitativa do rendimento e do produto, que condicionam em larga medida a formação da poupança e as exigências de investimento. Afigura-se, por isso, e por exemplo, que a exclusão das despesas militares extraordinárias dos fluxos de formação de poupança pública não constitui o meio mais aconselhável de assegurar a coordenação com o esforço de defesa, embora reconheça a secção a dificuldade de avaliar tal volume de despesas e a extrema contingência de qualquer estimativa. Quanto à política de repartição pessoal dos rendimentos e aos condicionalismos de integração em espaços económicos mais vastos, não dispõe a secção de elementos suficientes para avaliar o impacte no ritmo de formação de poupança e de necessidade de investimento.
Tomar-se-ão, portanto, as projecções apresentadas no capítulo n, em apreciação.
As primeiras observações que merecem, são as seguintes:

a) O ritmo de acréscimo de 7,1 por cento implícito na variação do produto interno bruto (de 102,7 em 1967 para 155 milhões em 1973) não foi frequentemente atingido no passado (cf. gráfico I em anexo), tendo o Plano Intercalar de Fomento fixado uma taxa de 6,1 por cento e previsto que no período de 1968-1973 o ritmo anual desejável seria de 6,5 por cento. Afigura-

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-se, por isso, que deve haver elementos concretos para projectar ritmos de crescimento mais elevados do que os previstos em 1964; mas este tema ultrapassa o objectivo deste parecer subsidiário;
b) O volume de investimento em capital fixo, estimado em 1.83,6 milhões de contos no período de 1968-1973, supõe um ritmo de expansão equivalente ao do Plano Intercalar de Fomento (cerca, de 8,2 por cento), e, em face da aceleração afirmada da taxa de crescimento do produto (6,1 por cento para 7 por cento), tem de concluir-se pela maior improdutividade do investimento. O ritmo anual, de expansão de 8,2 por cento parte, contudo, do valor de 24,9 milhões de contos em 1968, e não de 21,3 milhões de contos em 1967, como aparentemente se poderia supor; não é este parecer o lugar mais apropriado para apreciar o enquadramento teórico da programação global, mas a secção tem de ponderar que a hipótese adoptada representa já em. si uma opção de política económica e financeira para o ano de 1968, pois admite que a formação de capital fixo se eleva, pelo menos, a 3,6 milhões de contos, ou seja, mais do que em qualquer outro ano médio do III Plano de Fomento. Isto é, o ano de 1968 corresponde a uma ponta de investimento no plano teórico, a qual virá certamente muito aumentada se partirmos da evolução concreta, registada em 1966 e 1.º semestre de 1967, a qual faz prever, d.e acordo com elementos conjunturais, um investimento em capital fixo, em 1967, sensivelmente inferior a 21,3 milhões de contos programados. A. secção sublinha de forma, bem marcada este aspecto do problema, pois uma política de fortes investimentos em 1968 pressupõe, eventualmente, desequilíbrios sectoriais igualmente intensos, em particular no sector público e externo.

Em face destes dois aspectos, sugere a secção, quer a revisão cuidada das projecções do investimento à luz de novos elementos disponíveis, quer a explicitação da estratégia da política, de desenvolvimento pressuposta.
A segunda série de observações diz respeito à estimativa do investimento a preços correntes. A variação de preços implícita na transformação do produto parece situar-se em redor de 1,8 por cento por ano, o que se afigura razoável tendo em conta as variações de preços já atrás referidas para outros países; se se atender, porém, à evolução registada nos preços metropolitanos, convirá novamente chamar a atenção para a política de estabilização implícita nesta transformação.
Quando se observa, porém, a correcção feita na formação bruta de capital fixo, conclui-se que a variação suposta dos preços corresponde a um coeficiente inferior a 0,5 por cento anual. Não discute a secção a justeza de se adoptar coeficiente diverso para o investimento, pois se admite correntemente que a competição internacional e o progresso técnico na indústria dos bens de equipamento podem conter dentro de limites mais apertados a variação dos preços da formação bruta do capital fixo. No caso português, pondera, porém, a secção que entre os sectores industriais a desenvolver se situam certamente os de bens de equipamento, o que pode originar e justificar um complexo de preços com diferente evolução; mesmo que assim não seja, a secção chama a atenção para a evolução dos preços e custos da construção, que constitui parcela importante da formação bruta de capital fixo (quase 60 por cento) e que não beneficiará possivelmente da pressuposta estabilidade dos bens de equipamento 1. Deste modo, uma eventual revisão dos coeficientes de transformação ganhará em ter em conta a diferente constelação de factores que influem nos preços do equipam finto e da construção, e virá quase certamente a tornar mais elevado o volume total de investimento a preços correntes.
Afigura-se também que a evolução implícita no cálculo dos preços para consumo e equipamento e, concomitantemente, dos preços a retalho e por grosso, pode acarretar uma distorção (pois se refere a um conjunto de seis anos e prolonga eventualmente a evolução desde 1963), que convém ter presente, em virtude da sua repercussão, quer nos sectores industriais e exportadores afectados, quer nos circuitos de distribuição a serem corrigidos no período do III Plano de Fomento. A secção regista sòmente a título exemplificativo que, a partir da base de 1963 e omitindo a alteração efectivamente registada até 1967, o preço de um produto em 1978 viria aumentado de cerca de 5 por cento no caso de ser de equipamento ou construção, de cerca de 9 por cento, destinado a revenda pelo grossista, e de cerca de 3,1 por cento, quando se destinasse ao .consumidor.
Omito a secção outros aspectos da estrutura dos preços relativos, porque será certamente, e como já se referiu no parecer sobre a parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento que o tema receberá melhor e mais adequado tratamento.

12. Procurará agora estimar-se as potencialidades e necessidades de financiamento a preços constantes de 1963, embora se esteja consciente da influência da omissão das variações relativas, conjunturais e estruturais, que se irão verificando, esboçando ou afirmando no sexénio de 1968-1973.
As estimativas iniciais elaboradas o as finalmente adoptadas foram as seguintes:

QUADRO X

Poupança

(Milhões de contos)

[Ver Tabela na Imagem]

A. estimativa a preços constantes difere, no método, da apresentada no capítulo II em exame, pois não incluiu as despesas militares de qualquer natureza, ao passo que a última englobou as despesas militares ordinárias; ambas representam, consequentemente, estimativas da poupança superiores à realidade. Para maior exactidão, convirá, por isso, ter em conta a evolução das despesas militares no decorrer dos últimos anos, de natureza quer ordinária,

1 O índice do custo da construção regista no período de 1963-1967 uma elevação superior a 20 por cento, o que a situa muito acima da evolução suposta para os bens de equipamento.

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quer extraordinária. A partir das estimativas do quadro X do capítulo em apreciação, o volume das despesas militares ordinárias no período de 1968-1978 seria de 34,8 milhões de contos a preços correntes, ou seja, com os coeficientes de transformação aplicados no projecto, cerca de 30 milhões de contos a preços constantes de 1963. Por seu lado, as despesas militares extraordinárias cresceram compreensivelmente a partir de 1961, elevando-se de cerca de 3 milhões de contos neste ano a cerca de 5,5 milhões em 1966, ou seja um acréscimo de 83 por cento em cinco anos; uma parte desse acréscimo é sem dúvida imputável à alta de preços verificada, em particular a partir de 1965, pelo que o ritmo de crescimento real deve ser inferior a 10 por cento anualmente. Aliás, se se utilizar o índice de preços implícito na estimativa do produto, o crescimento efectivo das despesas militares extraordinárias em termos reais deve rondar o valor de 7 a 8 por cento anualmente, o que significará a seguinte previsão, em preços de 1963, no decorrer do sexénio e sem acontecimentos anormais que exijam acréscimos imprevistos:

QUADRO XI

Despesas militares extraordinárias

(Milhões de contos)

[Ver Tabela na Imagem]

Isto é, o conjunto das despesas extraordinárias no período de 1968-1973 seria equivalente a cerca de 40,7 milhões- de contos de 1963, o que não pode considerar-se uma estimativa pouco optimista, dado que da aplicação do incremento de 7,5 por cento e da variação implícita de preços no produto resultaria, para 1966, a preços correntes, uma projecção da ordem dos 5,2 milhões de contos, quando a despesa efectiva foi de 5,5 milhões de contos. A extrapolação deste ritmo de despesas militares extraordinárias aos preços correntes projectados conduz a um gasto agregado da ordem dos 47 milhões de contos para o período de 1968-1973. Em face do modo como se procedeu a esta estimativa, afigura-se que o volume indicado corresponde a uma projecção moderada da evolução registada, a qual significará mesmo assim uma modificação radical das fontes de poupança tradicionais do Estado.
Os imperativos da defesa e a coordenação com as despesas a ela inerentes mais reforçam a opinião da:

a) Necessidade de integração crescente e mais intensa dos gastos militares na economia e no fomento;
b) Conveniência de maior coordenação na orientação da vida financeira de todo o
sector público, incluindo as províncias ultramarinas.

Aliás, ao estimar-se no projecto a poupança do Estado, visa-se unicamente a poupança que será eventualmente formada (saldo de operações correntes adicionado de certas «transferências de capital» que incluem cobrança de determinados impostos que incidem sobre a propriedade e o capital); esta projecção terá em vista, simplesmente, fornecer um quadro das potencialidades do sector Estado, não entrando em consideração com certos factores que condicionam a mobilização das mesmas para a formação de capital. A incidência de tais factores concretiza-se, essencialmente, através do comportamento das disponibilidades do Tesouro, em estreita correspondência com a política da dívida pública e dos empréstimos no exterior. Dada a complexidade e falibilidade das projecções das disponibilidades do Tesouro e dos empréstimos ao exterior (a não inserção do ultramar mais acentua a dificuldade), não procurou a secção ir além deste simples apontamento, na esperança de que a eventual revisão do projecto venha a focar estes aspectos importantes da gestão financeira, do Estado.
Não é só no plano da actuação financeira do Estado que a estimativa dos recursos potenciais disponíveis aconselha orientação mais unificada das finanças da Administração Central e local, previdência e empresas públicas (ou com participação do Estado) e províncias ultramarinas. A leitura das publicações sobre a administração financeira do Estado parece indicar que, para além desta exigência de coordenação entre sectores, se evidencia uma fragmentação de microadministrações financeiras através dos mais variados serviços e fundos autónomos, cuja simples citação ocuparia páginas do parecer. A referência feita ao Fundo de Fomento Económico previsto no Decreto-Lei n.º 44 652 ganha, assim, maior evidência, pois se afigura que a unificação de grande número de gestões separadas num Fundo de Fomento Económico ou em instrumento análogo, poderia ajudar a vencer as dificuldades previstas para o período de 1968 a 1973.
Por outro lado, e independentemente dos aspectos relativos ao sector Estado, as potencialidades livres para financiamento virão reduzidas em cerca de 54 milhões de coutos a preços correntes (despesas militares + apoio financeiro ao ultramar). Sem querer pôr em dúvida, pelas razões atrás apontadas, as estimativas das necessidades de financiamento e a estratégia que implicam, afigura-se que, sem excluir a conveniência da revisão sugerida, se deve desde já encarai: o recurso à poupança externa como elemento importante das potencialidades de financiamento, o que atribui uma maior acuidade ao tema do equilíbrio externo.

VI

Papel do autofinanciamento da empresa

13. O projecto atribui papel essencial à poupança das sociedades privadas (mais de 50 por cento do total da poupança disponível). Marca-se assim a tendência para devolver ou atribuir às empresas participação crescente no financiamento do investimento do sector privado. O «autofinanciamento» é correntemente definido como o conjunto de valores destinado à amortização e dos lucros não distribuídos; o capítulo II em exame apresenta uma definição: «... volume dos recursos próprios para financiar, quer os seus investimentos de substituição, quer novos empreendimentos, quer ainda para liquidar dívidas contraídas»2 (n.º 4, segundo período).
A componente mais importante do autofinanciamento corresponde em muitos países a amortizações e o projecto ganharia ainda maior interesse se incluísse uma análise das políticas de amortização seguidas pelas empresas e estimuladas ou aceites pela fiscalidade. Poucos autores duvidam da necessidade de adoptar políticas de amortização acelerada que permitam, não só enfrentar o progresso tecnológico intenso, mas também conseguir uma reposição financeira que corresponda ao encurta-

2 Esta definição amplia a noção habitual de autofinanciamento e, embora importante, é menos significativa quanto ao destino potencial de poupança bruta, porque, a ser assim, haveria que estimar adicionalmente o grau de endividamento das sociedades.

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mento do prazo dos créditos. A retenção de lucros levanta já alguma controvérsia teórica e prática, e a experiência indica que, em muitos países que estimularam o autofinanciamento como modalidade de desenvolvimento (particularmente a Holanda, o Reino Unido e os Estados Unidos da América), se tem registado, em consequência da política social, da competição exterior, da escassez de mão-de-obra e, mesmo, das políticas de estabilização monetária, uma, redução da parcela destinada à poupança interna da empresa (é a hipótese designada por «efeito Lamfalussy»).
A taxa de autofinanciamento é elemento estrutural que não se modifica rapidamente, e os números parecem indicar, na metrópole, maior participação do sector «Sociedades» até 1965, com elevadas taxas de crescimento anual no período de 1958 a 1964 (18,6 por cento nos lucros, 14,7 por cento nas amortizações), em particular no sector das indústrias transformadoras, e mais ainda no «Comércio, bancos, seguros e operações sobre imóveis»; a este resultado não é certamente alheia a dinâmica de crescimento industrial, a expansão dos serviços bancários e mais valias criadas nas transacções imobiliárias em resultado do desenvolvimento urbano e turístico e da própria pressão inflacionista. A evolução recente parece indicar que esta situação aparentemente desafogada (pelo menos na indústria transformadora e nos bancos) não obedece ao mesmo módulo de crescimento, e, se se olhar à evolução dos salários, à intensificação da competição internacional e aos efeitos da indispensável política de estabilização, antevê a secção grandes dificuldades na obtenção de nível tão elevado de autofinanciamento. Embora o ritmo anual de acréscimo na formação de lucros retidos (cerca de 15,2 por cento) possa ser elevado, terá ainda o projecto de procurar compatibilizar esta hipótese com o objectivo da repartição mais equitativa dos rendimentos, salvo se a extrapolação dos lucros a preços correntes obedecer a outra constelação de preços, entrando, portanto, em conflito com a estabilidade suposta no decorrer do período (aumento de preços médios inferior a 2 por cento anualmente).
A secção pondera, por um lado, a conveniência de se analisar a participação do sector privado através de uma mais sistemática e sistematizada política de amortização, e chama a atenção, igualmente, para a compatibilidade das projecções, quer com os objectivos sociais fixados, quer com a estabilidade monetária pressuposta e desejável.
Neste contexto, afigura-se extremamente apropriado transcrever um passo do trabalho destinado a uma conferência sobre mercados financeiros organizada pelo sector privado sob a égide do Conselho do Atlântico e da (O. C. D. E.:

Se o passado referente ao autofinanciamento das empresas se apresenta claro, já o mesmo não acontece em relação ao seu futuro. Encontramos uma escola de pensamento que preconiza o aumento deliberado do valor do autofinanciamento através de uma redução da tributação das sociedades, apontando, muitas vezes, os seus partidários o sucesso alcançado neste campo pelos Estados Unidos. No entanto, em nenhum país da Europa se podem encontrar as circunstâncias que deram origem às providências americanas - 6 a 7 por cento de desemprego -, e, em virtude de os níveis de emprego e de salários se terem elevado, nos Estados Unidos, o seu efeito tem ido desaparecendo pouco a pouco. A vantagem apresentada- por um aumento do autofinanciamento - se é que existem possibilidades de este ser algum dia alcançado - reside no facto de a disponibilidade de fundos internos da empresa estimular os investimentos. Mas estes fundos, quando distribuídos à mão-de-obra, são, assim, despendidos na sua maior parte, tornando-se necessário recorrer de novo à poupança por intermédio dos mercados financeiros, o que, na Europa, se afigura difícil. Os adversários do aumento do autofinanciamento chamam a atenção para o facto de estes capitais destinados ao investimento voltarem, geralmente, à sociedade donde emanaram, mesmo no caso de serem mais urgentemente necessários noutros locais. Tal processo constitui a antítese de um mercado financeiro livre. Um mercado livre e eficaz saberia garantir uma repartição dos capitais entre utilizadores que estivessem dispostos a pagá-los. Assim, quando em 1964 o Governo Trabalhista adoptou medidas destinadas a aumentar o autofinanciamento, o Sr. Heath veio atacar esta atitude declarando: «É a sobrevivência do maior, não a do mais apto». A Alemanha seguiu um processo que consiste em forçar a entrada dos capitais no mercado financeiro graças a uma política fiscal apropriada, tendo obtido resultados benéficos. O desagravamento fiscal dos dividendos, recentemente adoptado em França, facilita o autofinanciamento, permitindo diminuir os fundos necessários à manutenção de um nível constante de dividendo líquido.
Seja qual for o futuro, a diminuição dos fundos provenientes do autofinanciamento teve como consequência que as necessidades de capitais das sociedades - necessidades essas que registam um aumento crescente - viessem a constituir um dos principais elementos da procura de capitais fornecidos pela poupança e cuja satisfação obrigaria teòricamente ao diferimento das restantes procuras.
É evidente que nos encontramos perante um elemento estrutural profundamente enraizado nas economias da Europa ocidental, sendo pouco provável que as políticas de pleno emprego sejam modificadas. A continuação da escassez de mão-de-obra, das reduções de horas de trabalho, de um aumento de salários provavelmente mais rápido que o da produtividade, significa um aumento da pressão exercida sobre as sociedades para que estas procurem capital no exterior, não apenas para substituir a perda do capital de autofinanciamento, mas também para substituir a mão-de-obra por um novo investimento, a fim de reduzir os custos de produção. Por outras palavras, as empresas da Europa ocidental necessitam de novos capitais destinados a investimento para manter a posição que detinham anteriormente; o facto de se substituir por capitais uma mão-de-obra cada vez mais rara - isto é, a possibilidade de progredir - exige uma procura mais intensa de capitais no exterior.
Escusado será dizer que, se a indústria se achar incapacitada de encontrar capitais, quer porque o governo tenha exercido um direito de prioridade para seu próprio benefício, quer porque aqueles se revelem demasiadamente caros para poderem ser utilizados com lucro, se criará uma situação de grande perigo. Na verdade, produzir-se-á neste caso uma diminuição na taxa de crescimento da indústria, ou esta revelar-se-á menos competitiva do que as indústrias de outros países que disponham de capitais para assegurar o desenvolvimento. Este grave perigo vem sublinhar a necessidade de assegurar, a longo prazo, um funcionamento eficaz do mercado financeiro capaz de fornecer os capitais adequados para alimentar

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o sector privado. (Dr. Sidney Rolf, Bacltground Paper for the Conference on Capital Markets, Paris, 1966).

O inquérito recente da Corporação da Indústria, citado no capítulo II e referente a uma amostra (grandes empresas), afirma:

O investimento foi financiado, sobretudo, por recursos próprios (54 por cento do total, provenientes de reservas acumuladas) e por entradas de numerário feitas pelos sócios (aumentos de capital, 8 por cento, emissões de acções reservadas aos antigos accionistas, 2 por cento, e suprimentos e lucros não distribuídos, õ por cento).
De fontes estranhas às empresas, confirma-se a posição de relevo da banca comercial (10 por cento), Caixa Geral de Depósitos (5 por cento), Banco de Fomento Nacional (3 por cento), créditos de fornecedores (5 por cento) e outros empréstimos, incluindo crédito externo (9 por cento).

Embora os resultados de tal inquérito possam ser pouco elucidativos, pois não há referência no projecto, nem à dimensão das empresas da amostra, nem ao período a que se refere o investimento, indicam, pelo menos, o papel de relevo da banca comercial no financiamento da indústria e a reduzida participação dos lucros não distribuídos, o que parece não se conciliar com as projecções feitas que atribuem um papel predominante aos lucros retidos.
Aliás, a estrutura do financiamento das empresas em países como a França, a Alemanha, a Holanda e a Bélgica indica que a parcela de recursos internos no financiamento das empresas varia entre 63 e 68 por cento, o que nos situa em posição idêntica, embora o volume absoluto de investimento seja menos elevado na metrópole. Aliás, nesses países, o crédito a curto prazo desempenha quase sempre papel importante nos financiamentos exteriores à empresa, chegando a atingir cerca de um terço na Bélgica e um quarto na França; não se pode, contudo, tirar outra conclusão que não seja o papel activo da banca comercial no financiamento, pois, para ir mais além, haveria que avaliar a composição dos activos da empresa e o modo como os fundos próprios cobrem as imobilizações.
A composição dos activos das sociedades em Portugal, embora não seja frequentemente conhecida com rigor, mostra, por vezes, uma reduzida participação dos fundos próprios e, em particular, dos permanentes em relação ao valor das imobilizações, gerando situações de endividamento, que, no caso de abrandamento da expansão da empresa e do sector e em épocas de estabilização, acusam facilmente, por um lado, a fragilidade económica da empresa e, por outro, os movimentos conjunturais. Esta situação acentua a conveniência de se analisar cuidadosamente o nível da participação do autofinanciamento em épocas de abrandamento da actividade económica, e em particular industrial.
Aliás, estudos feitos em países do Mercado Comum parecem indicar que a ponderação do índice de solidez da estrutura económica e financeira da empresa é elemento da mais alta importância nas políticas de unificação de espaços económicos, pois caso contrário ficar-se-á quase sempre na dependência das políticas da empresa (estrangeira ou nacional) mais forte e cuja solidez foi estruturada ao longo do tempo e num ambiente cultural e tecnológico favorável à concretização da iniciativa privada. E neste plano não pode esquecer-se o papel que desempenha em países mais evoluídos, quer.
a contratação com o sector público, por exemplo no domínio da investigação (nos Estados Unidos da América o Estado financiava recentemente mais de 65 por cento das despesas de investigação na indústria de construção eléctrica e electrónica) e no âmbito das encomendas militares ou civis, quer a formação de poupança institucional correspondente a fundos de previdência constituídos ao nível da empresa.
Isto é, a comparticipação da poupança das sociedades e o financiamento dos seus investimentos não se põe exclusivamente em termos de «potencialidades» e «necessidades», mas enquadra-se no âmbito de uma política económica e financeira global e sectorial. Cada mercado financeiro representa uma constelação singular de instituições públicas, quase públicas e privadas, funcionando de acordo ou sob a orientação de um conjunto de disposições legais ou de práticas tradicionais que correspondem ao enquadramento histórico longínquo e recente em que a evolução, embora rápida, não pode abandonar os pontos históricos de partida. Mais se poderia acrescentar que o equilíbrio verificado no tempo entre as diferentes participações não deve ser destruído pelas necessidades imediatas aparentes de uma conjuntura, sacrificando margens de segurança financeira, sem integrar ou conciliar esse sacrifício com opções bem definidas e claras de política de desenvolvimento económico.
A expansão com estabilidade não é um mito ou fantasma, travão do progresso, mas representa antes o quadro básico de um desenvolvimento são e quanto possível independente das influências externas. No caso português, o elemento essencial a não perder de vista na gestão financeira é a defesa da integridade do território nacional, defesa essa que se desdobra em várias facetas em que assume particular relevo a estabilidade financeira, e monetária do todo nacional.

VII

Instituições financeiras

14. A par dos processos e meios de financiamento do sector público, através dos vários canais à sua disposição - e teria interesse incluir no projecto uma análise das operações do Tesouro, dos fundos e serviços autónomos e dos organismos corporativos e de coordenação económica -, encontram-se as seguintes instituições desempenhando papel primacial na actividade creditícia, pela ordem da participação projectada no financiamento do período de 1968 a 1973 (cf. n.º 33, do capítulo em exame):

QUADRO XII

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Inclui as províncias ultramarinas.

Como neste período a poupança estimada do sector privado (sociedades e particulares) atinge cerca de 160 milhões de contos, poderia concluir-se que a preferência por activos monetários entesourados devia ser bastante

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forte, embora seja mais prudente afirmar que parece ser muito ampla a manutenção de poupança fora do circuito das instituições de crédito e de seguros (conclusão que poderá ser confirmada ainda se se fizer notar que parte da poupança do sector público se insere no circuito das instituições financeiras).
Em alguns países industrializados, a análise da composição da poupança sob diversas formas evidencia, para os depósitos a prazo, uma participação elevada (27 a 57 por cento nos particulares) e, dependendo do sistema da previdência, indica também uma comparticipação significativa da poupança contratual, de tal modo que em alguns casos o conjunto destas duas rubricas ultrapassa 75 por cento da poupança de particulares. Tendo em conta que a poupança das sociedades mais facilmente se integra no circuito das instituições financeiras, a secção julga de ponderar o papel, relativamente pouco importante das nossas instituições de crédito e de seguros na mobilização e recolha de poupanças, e que dificilmente se pode supor que no período de 1968 a 1973 se altere significativamente esta situação (mesmo no caso de ser mais reduzido o volume de poupança, aparecerá ainda com pouco significado a participação dos depósitos a prazo e a poupança contratual).
O papel das instituições financeiras ficará, porém, mais esclarecido se se proceder a uma análise sucinta das diferentes componentes mais significativas.

15. A capacidade de financiamento a médio prazo dos bancos foi estimada em 20,1 milhões de contos. Embora a secção não disponha de elementos bastantes para tentar proceder a outra estimativa, interessa sublinhar um. ou outro aspecto do método adoptado.
Afigura-se que as projecções para 1973 foram feitas a partir dos valores de 1965, e não do último biénio, como se afirma no n.º 30 do capítulo em exame, e, perante a dificuldade de obtenção de todos os dados para 1.966, tentou-se elaborar um quadro (mapa. B em anexo) a partir de números contidos nos relatórios do Banco de Portugal de 1965 e 1966.
A partir deste quadro se poderiam estimar valores para 1966, os quais, em conjunção com os de 1965, contidos no projecto, permitiriam, e serão utilizados para, fazer extrapolações a partir do biénio de 1965-1966.
A extrapolação feita no projecto assentou nas seguintes bases:

a) Estabeleceram-se previsões para a evolução das responsabilidades à vista e a prazo (acréscimo anual de 10 e 15 por cento, respectivamente);
b) Adoptou-se a participação de 10 por cento, para as responsabilidades a prazo entre 30 e 90 dias;
c) Calcularam-se as reservas mínimas legais de caixa de 15, 10 e 5 por cento (foram recentemente alteradas) de acordo com o diferente prazo das responsabilidades e estimaram-se, assim, os excedentes de reservas de caixa;
d) Considerou-se crédito a médio prazo o valor da «carteira comercial de seis meses a dois anos» e dos «empréstimos e contas correntes caucionados entre um e dois anos»;
e) Estimou-se o excedente de coberturas das responsabilidades à vista e dos depósitos com pré-aviso ou a prazo igual ou superior a 30 dias e até 90 dias;
f) Admitiu-se que o excesso de coberturas (quer de outras garantias, quer de reservas de caixa) podia ser totalmente aplicado em crédito a médio prazo;
g) Projectou-se a evolução do capital e reservas dos bancos, admitindo um crescimento, reduzido no capital (cerca de 3 por cento anualmente) e amplo nos lucros afectos a reservas (cerca de 8 por cento);
h) Supôs-se inteiramente utilizada a capacidade de aquisição de títulos não garantidos pelo Estado (capital social mais um quinto dos fundos de reserva);
i) Partiu-se de uma capacidade de aquisição de títulos públicos e garantidos pelo Estado equivalente a 6 por cento do volume de garantias afectas à cobertura de responsabilidades à vista e até 90 dias;
j) Postulou-se que a aplicação em promissórias atinge o limite de um terço das reservas de caixa.

Este conjunto de hipóteses e projecções merece alguns comentários:

I) As operações a médio prazo são legalmente consideradas como superiores a um ano; podem, por isso, surgir dúvidas quanto à inclusão de valores da carteira comercial de seis meses a um ano;
II) Não há razão aparente para divergência tão grande entre o ritmo anual de formação de lucros no sector bancário (8 por cento) e o que se admite no autofinanciamento para o conjunto das sociedades (15,2 por cento); não deve, porém, omitir-se que o custo mais elevado de gestão e dos recursos bancários, conjugado com a eventual redução das margens entre as operações activas e passivas pode originar uma tendência para a menor lucratividade da banca comercial;
III) O ritmo de expansão dos depósitos de toda a natureza (10 a 15 por cento) foi ultrapassado nos últimos unos, mas os números indicam, por outro lado, que tal ritmo vem esmorecendo e a experiência mostra que, nos anos de 1965 e 1966, haverá conveniência em atender, não só à maior variação dos preços, mas também às operações de capitais estrangeiros que venham a constituir criação de depósitos à vista e a prazo;
IV) Mesmo aceitando a evolução dos depósitos a prazo (legalmente não superior a um ano), surgirão dificuldades em aceitar a hipótese de transferir pura e simplesmente os excessos de coberturas das responsabilidades até 90 dias para operações a médio prazo sem ter em conta os eventuais reflexos no volume das operações a curto prazo;
V) Admitindo que a banca comercial, a manter-se a actual estrutura legal das coberturas das suas responsabilidades, disporá de elevado potencial de crédito a médio prazo, pode levantar-se a questão dos reflexos negativos na capacidade de crédito a curto prazo e no grau de liquidez do activo global, a menos que, entretanto, venham a ser profundamente revistos os condicionalismos susceptíveis de alterar a liquidez bancária;
VI) Pondera-se ainda que na utilização das margens disponíveis se deve entrar em linha de conta com a experiência das próprias instituições, expressa, em certa medida, na estrutura actual das suas operações activas de cré-

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dito, pelo que é difícil imaginar que todas as margens sejam, integralmente utilizadas;
VII) Os valores das responsabilidades à vista e dos depósitos a prazo e com pré-aviso de mais de 30 dias, referidos a 31 de Dezembro de cada ano, cor respondem, em regra, a valores registados por excesso, sendo, por isso, conveniente tomar números de outras datas circundantes, corno, por exemplo, 30 de Novembro e 31 de Janeiro;
VIII) Com a promulgação recente de novos diplomas foram alteradas as reservas mínimas obrigatórias de caixa;
IX) A conjugação das observações e reflexões anteriores parece indicar que devem ser objecto de revisão as estimativas da potencialidade, e da eventual participação, da banca comercial no financiamento a médio prazo.

Estas observações não excluem, porém, ainda o interesse de saber se a capacidade de crédito a médio prazo da banca comercial se destina integralmente, na sua utilização, ao financiamento de investimentos.

16 No termo do comentário sobre o método utilizado na determinação da capacidade potencial de crédito a médio prazo da banca comercial, reconhece a secção que é muito difícil avaliar, com um mínimo de segurança, o fluxo de créditos a médio prazo efectivamente gerado neste sector; por maioria de razão, é extremamente falível a sua projecção no período do Plano.
Podem apontar-se algumas razões da complexidade e falibilidade das previsões: .

a) A dissociação entre, a situação real e a que resulta da sua inclusão formal no quadro legal definidor da especialização bancária, através, essencialmente, da obrigatoriedade de cobertura das diferentes responsabilidades por activos específicos;
b) A indeterminação presente quanto à manutenção futura deste dualismo situação real situação formal ou ao adequado reconhecimento de direito de um maior sector de crédito a médio prazo. Neste aspecto, muito se ganharia com uma clara definição da posição e intervenção efectiva da banca comercial no financiamento do investimento, em especial a médio prazo.

Quanto ao primeiro aspecto, os bancos comerciais, para efectuarem crédito a médio prazo, dando satisfação às exigências legais, têm de recorrer à renovação sucessiva dos créditos, para além das potencialidades que lhes são permitidas por força dos seus capitais próprios.
A renovação reveste diversas formas para além das processadas através de outras rubricas do activo (como, por exemplo, devedores e credores):

I) Carteira comercial até seis meses (a rubrica mais volumosa do crédito bancário - mapa B em anexo) e empréstimos e contas correntes caucionadas até um ano, que são valores activos susceptíveis de cobrir responsabilidades até 90 dias;
II) Nível da carteira comercial entre seis meses e dois anos e empréstimos e contas correntes caucionadas entre um e dois anos que deverão ser cobertos por depósitos a mais de 90 dias (na parte em que se trate de crédito renovável, os financiamentos respectivos, de acordo com o estrito cumprimento das exigências legais, deveriam ser efectuados com base nos capitais próprios dos bancos).

E nas condições actuais é muito difícil atingir, através de uma análise das situações contabilísticas, o objectivo de estimar a participação da banca comercial no crédito a médio prazo.
Embora tendo em mente a indeterminação atrás exposta, poderia chegar-se a uma estimativa, segundo vários e caminhos:

I) Projectar a situação formal da banca comercial verificada em 1965 e 1966, analisando as rubricas em que parece incluir-se o médio prazo (método seguido no projecto do Plano);
II) Tentar avaliar, para além da expressão formal da situação bancária, as aplicações a médio prazo efectivamente feitas ou detidas pelos bancos no biénio de 1965-1966, projectando-se no período do Plano de acordo com a evolução própria e da estrutura dos depósitos bancários 3. Não se duvida de que avaliar e projectar o crédito efectivamente de médio prazo envolveria dificuldades grandes, mas talvez não impossíveis de transpor no âmbito do Grupo de Trabalho n.º 12.º

Foi sumàriamente comentado no número anterior o método seguido no projecto do III Plano de Fomento, e,, para além das observações então feitas, deve anotar-se ainda, com vista a uma eventual revisão, que:

a) Não se analisou a evolução de parte dos activos livres, que constitui ou poderá constituir crédito a médio prazo (mapa B em anexo):

Carteira comercial a mais de dois anos (de montante diminuto);
Outros empréstimos ou contas correntes caucionados;
Devedores e credores em moeda nacional (onde transitam ou permanecem operações de crédito a médio prazo) 4.

b) O crédito a médio prazo (que se considera representado pelas duas rubricas referidas 5) é projectado, no período do Plano, pela variação dos saldos, nada se adiantando quanto à vida média das respectivas operações (em oposição ao que se fez quanto à Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e ao Banco de Fomento Nacional, onde se estimam as quantias libertas por amortização de operações efectuadas no período do Plano). No entanto, tudo indica que a rubrica onde se contabilizará grande parte do crédito com características de médio prazo é a carteira comercial até seis meses (cobertura de responsabilidades até 90 dias).

3 A previsão desprender-se-ia, por consequência, da satisfação formal das regras de cobertura, uma vez que, segundo parece, desde que se garantisse a coerência em termos de activo total e de passivo total, os bancos estariam, por força dos métodos adoptados, em condições de adaptar as suas operações creditícias às exigências legais.
4 Em 1965, para dar satisfação às exigências de cobertura, os bancos comerciais tiveram de transferir movimento nelas contabilizados para contas de crédito susceptíveis de constituírem cobertura, verificando-se eventualmente movimento inverso, em 1966 (cf. relatórios do Banco de Portugal).
5 Sendo discutível no que se refere à carteira comercial a mais de seis meses.

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Compreende-se, nestas condições, a preocupação havida no projecto em evidenciar o excesso de cobertura das responsabilidades até 90 dias, e como-o excesso de cobertura legal é muito pequeno, em termos formais concluir-se-ia que os bancos aplicariam depósitos a mais de 90 dias em operações até 90 dias; esta situação, a verificar-se realmente, poderia significar desperdício de rentabilidade (de receitas e de custos) que não se afigura verosímil. Esta hipótese poderá explicar o valor estimado de 13,7 milhões de contos (excesso de cobertura das responsabilidades até 90 dias) como eventual capacidade adicional a médio prazo no período do Plano.
O método seguido merece, no entanto, algum comentário. Os 13,7 milhões de contos designados por «capacidade disponível», em 1967, encontram-se de facto aplicados, embora em activos cuja expressão formal revela um grau de liquidez superior ao exigido pelas disposições legais. Considerar aquele valor .como capacidade disponível em 1967 significa que se supõe, na sua totalidade, como susceptível da aplicação a médio prazo sem prejuízo da actividade a curto prazo da banca, o que se afigura impossível, salvo se s

a) Dada a forte concorrência bancária, a composição real dos depósitos é, frequentemente, diferente daquela que corresponde à expressão formal;
b) O crédito renovável atinge, por vezes, prazos relativamente elevados, o que exige um apoio de liquidez muito forte, concretizado por amplos activos realizáveis a curto prazo;
c) A alteração da estrutura das taxas de juro pode vir a modificar a tradicional repartição formal dos depósitos.

A seguir-se o princípio implícito de que poderia libertar-se para aplicações a médio prazo o excesso de coberturas das responsabilidades até 90 dias, parece que seria mais prudente estimar coma capacidade adicional de financiamento, no período do Plano, a diferença entre o excesso de cobertura das responsabilidades até 90 dias, projectado para 1973, e o excesso correspondente previsto para 1967.
Observe-se que se trata de uma «variação das potencialidades adicionais de crédito a médio prazo» e, consequentemente, líquido de reembolsos, o que seria comparável cora o valor estimado como capacidade de financiamento derivada da variação de posição da carteira comercial de seis meses a dois anos e dos empréstimos e contas correntes caucionados entre um e dois anos.
No entanto, se se tomarem os dois quadros (n.º 30, do capítulo em exame), em que se projecta a situação de cobertura nos anos extremos do Plano, parece haver um lapso na determinação do excesso de coberturas das responsabilidades até 90 dias, o que aconselhou a secção a refazer as projecções com base na situação verificada ou estimada no biénio de 1965-1966.
Com. esse objectivo, estimou-se a rubrica «Outras garantias» (de cobertura das responsabilidades até 90 dias) de acordo com os dados do biénio e a estrutura registada nesse período 6, e elaborou-se o quadro seguinte, que sintetiza o mapa II em anexo.

6 O projecto parece ter-se baseado unicamente em 1965, o que levanta sérias reservas, por ser um ano com características particulares provenientes, em especial, da entrada em execução do Decreto-Lei n.º 46 492, de 18 de Agosto do mesmo ano.

QUADRO XIII

Situação de cobertura (1965-1966)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Estimativa.

Nota. - Utilizara-se para 1965 dados do relatório do Banco de Portugal (1965) destinados à avaliação da situação de cobertura; estes números serviram, unicamente, para basear estimativas a fazer sempre que eram insuficientes os dados referentes a 1966 (o relatório do Banco de Portugal, 1966, não incluía a avaliação das coberturas). Apesar de os números referentes a 1965 não incluírem as casas bancárias, como poderá verificar-se por novos elementos publicados em 1967, tal não terá influenciado demasiadamente as estimativas para 1966, que se basearam na manutenção da estrutura registada em 1965.

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Reconstituídos os quadros do projecto do III Plano de Fomento, parece previsível, dentro dos condicionalismos já formulados, uma variação de 10,3 milhões de contos no excesso de coberturas das responsabilidades até 90 dias (de 13 504, em 1967, para 23 757 milhares de contos, em 1973).
Em suma, a secção julga ser conveniente rever as estimativas da contribuição da banca comercial, pois de entre os valores apresentados sòmente a parcela atribuída a promissórias de fomento nacional merece maior confiança.

17. A avaliação da capacidade de financiamento da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência considera uma progressão do investimento no período do III Plano de Fomento partindo da base de 1 milhão de contos no primeiro ano, a qual tem sido constante e largamente ultrapassada posteriormente a 1961, e em particular em 1966. (Cf. relatório da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, 1966).
Parece também poder inferir-se que a previsão, cautelosa das potencialidades derivadas dos depósitos, sobretudo dos necessários, terá resultado de uma tentativa de ajustamento àquela projecção dos investimentos, que se alheia da evolução passada, como se depreende dos números abaixo indicados:

QUADRO XIV

itmo de crescimento cumulativo das operações a médio e longo prazo

(Percentagens)

Ver Tabela na Imagem]

Talvez o projecto tenha admitido que o período de 1960-1966 correspondeu a uma fase de política creditícia caracterizada pela expansão muito acentuada das operações a médio e longo prazo em correlação com um decrescimento relativo das operações a curto prazo e que esse movimento estará a chegar ao seu termo (na verdade, após um período de decréscimo, as operações a curto prazo registaram em 1965 uma evolução positiva - cf. quadro XIII anexo ao relatório do Grupo de Trabalho n.º 12 - e a proporção reservas de caixa/totalidade de depósitos tem diminuído, sobretudo nos últimos dois anos). Afigura-se, no entanto, que a hipótese de recuo tão substancial nas operações anuais de médio e longo prazo será demasiado prudente, o que eventualmente deixará - e isso representa uma vantagem - margem mais ampla para a capacidade global das instituições financeiras.
Por seu lado, a projecção dos depósitos de particulares foi extrapolada à taxa anual de 3,5 por cento, nível que terá sido influenciado por um abrandamento de ritmo no período de 1960-1965 (3 2/3 por cento) em resultado da quebra registada em 1961; não se terá, eventualmente, tomado em consideração que, a partir desse ano, a taxa de crescimento cumulativa atingiu cerca de 5 1/2 por cento (cf. quadro X anexo ao relatório do Grupo de Trabalho n.º 12), e que as recentes providências de melhoria das remunerações dos depósitos na Caixa Geral dos Depósitos, Crédito e Previdência virão a constituir, certamente, motivo de atracção.
Quanto aos depósitos necessários, a manter-se a taxa anual de acréscimo de 6,6 por cento, observada em média no período de 1955-1965, chegaríamos aos seguintes resultados:

Milhares de contos
1967 .................. 8 328
1973 .................. 12 281

que traduziriam uma variação de 3,9 milhões de contos, no sexénio. A estimativa do projecto não vai além de 22 por cento daquela variação; pode, por isso, considerar-se moderada, mesmo tendo em atenção que os novos recursos derivados de depósitos deverão dirigir-se também a aplicações de curto prazo, uma vez que estas apresentam um volume estável, se não decrescente, podendo, por conseguinte, ser alimentadas, essencialmente, pelo reembolso dos créditos vencidos.
No projecto do III Plano de Fomento justifica-se a prudência desta projecção pela previsão de decréscimo nos depósitos de previdência social; deve salientar-se que em 1966 se verificou, efectivamente, uma variação negativa naqueles depósitos, mas que a taxa de crescimento dos depósitos necessários neste último ano - cerca de 2 por cento - foi influenciada também por uma quebra no ritmo de crescimento dos depósitos necessários na Caixa Económica Portuguesa.
Idêntica moderação se observa na projecção da poupança formada nos serviços privativos da Caixa Geral dos Depósitos, Crédito e Previdência e na Caixa Nacional de Crédito (aumento dos diversos fundos de reserva e previsão). Com efeito, a partir da expansão verificada no período de 1955-1966, à taxa anual cumulativa de 7,1 por cento, em média, pareceria legítimo avaliar o montante desses fundos, para os anos extremos do Plano,
em:

Milhares de contos
967 ................. 3 167
973 ................. 4 780

o que corresponderia uma variação de mais de 1600 milhares de contos no sexénio, em lugar dos 750 milhares de contos estimados no projecto.
Outra fonte potencial de recursos - volume de reembolsos das operações em curso - parece estar, igualmente, subavaliada, como consequência, aliás, de prudência na previsão das operações a médio e longo prazo.
Poderá prever-se, ainda, que, por um lado, a desmobilização de reservas de caixa que se tem verificado nos últimos anos (de 35,4 por cento da totalidade de depósitos, em 1960, estas passaram para 26,4 por cento em 1966) e que é susceptível de prosseguir ainda durante algum tempo, e, por outro, a mais rápida rotação dos fundos aplicados, inerente ao aumento da proporção das operações a médio prazo no conjunto do crédito a prazo concedido 9, possam reforçar apreciàvelmente a capacidade

7 Que, no entanto, em 1960-1965 representaram, em média, menos de 16 por cento da totalidade dos depósitos necessários.
8 De 1965 para 1966 a taxa de crescimento atingiu 9,5 por cento.
9 Percentagem do médio prazo no total de crédito a médio e longo prazo concedido durante o ano:

Percentagem
1960 ....................... 39
1961 ....................... 32
1962 ....................... 26
1963 ....................... 21
1964 ....................... 86
1965 ....................... 46
1966 ....................... 53

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de financiamento previsível e, consequentemente, vir em apoio da conclusão de que aquela capacidade estaria avaliada por defeito. É tema que a secção recomenda para eventual revisão na versão definitiva do capítulo do financiamento.

18. A proporção dos meios de financiamento próprios aplicados pelo Banco de Fomento Nacional na metrópole, relativamente ao total dos meios canalizados para o investimento, nos últimos anos, tem-se situado a níveis que marcam um flagrante contraste com a missão cometida a esta instituição de crédito na mobilização da poupança nacional. Aparentemente, o valor global da capacidade de financiamento estimada para 1968-1973 (4,7 milhões de contos, ou seja cerca de 10 por cento da capacidade total prevista para o conjunto das instituições financeiras) poderia indicar uma participação mais evidenciada no futuro.
Todavia, entende a secção ser de toda a conveniência ter presentes algumas particularidades dos métodos que conduziram à estimativa em causa. Por um lado, não se trata, efectivamente, de uma projecção da capacidade de financiamento, mas sim do volume de financiamentos (empréstimos directos e participações financeiras) previsto. Neste volume são, aliás, englobadas as operações a realizar no ultramar, critério defensável se extensivo a todo o projecto, como já se afirmou, mas conduzindo aqui a um cálculo por excesso talvez evitável.
Por outro lado, não esperando o Banco dos recursos próprios fundamentais (formação de capital, fundo de garantia, depósitos a prazo e realização do património) mais do que uma cobertura de 33 por cento daquele volume de financiamento, apela para recursos complementares (emissão de obrigações, empréstimos de instituições de crédito nacionais e crédito externo) para cobertura da diferença, o que acarreta eventualmente uma duplicação com as estimativas dos meios a canalizar pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, ou outras instituições financeiras, além de dificultar a determinação global, por diferença, do recurso ao crédito externo. A simples indicação no projecto de um volume de recursos complementares sem tentativa de explicitação das formas adaptadas ao eventual plano financeiro do Banco de Fomento, deixa em aberto a questão das duplicações no aspecto global e omissa uma referência à orientação da política financeira e de fomento do próprio Banco.
Mais se observa que, no caso de a consolidação de dívidas e do apoio a empresas em dificuldade com forte participação do Banco desempenharem papel predominante na afectação dos recursos, poderão ficar de certo modo comprometidos os recursos livres para novos investimentos de rentabilidade assegurada.

19. As comparações internacionais da participação de poupança institucional ou contratual nas fontes de financiamento evidenciam o papel de relevo deste tipo de poupança. Naturalmente, os esquemas de previdência social e a forma mais ou menos nacionalizada da sua organização fazem variar substancialmente o papel das empresas seguradoras na capacidade de financiamento, mas todos os autores reconhecem e acentuam a necessidade de estimular a longo prazo este tipo de poupança contratual. Na verdade, a poupança privada pode ser conservada,
basicamente, sob as formas seguintes: monetária (numerário e depósitos); títulos, incluindo participações em fundos de investimento, e seguro contratual ou institucional, compreendendo pensões e reformas, e seguros de diversa natureza. Esta repartição não significa de modo algum a existência de compartimentos estanques, e a permutabilidade maior ou menor representa simultaneamente um condicionalismo e objectivo que não se deve perder de vista.
Entre as formas clássicas de seguro, situam-se as decisões individuais e colectivas que se traduzem quase sempre na constituição capitalizada de um fluxo de fundos que virão a ser restituídos num futuro mais ou menos longínquo. Este princípio básico de capitalização no seguro individual ou colectivo representa o factor primacial do interesse da poupança desta natureza: prazo longo da sua disponibilidade e, portanto, característica adaptada aos investimentos que exigem ou aconselham uma lenta reconstituição. Constituem-se assim recursos adequados ao funcionamento do mercado de capitais, em particular dos títulos obrigacionistas; esta posição confere uma estabilidade relativa ao mercado, porque outras entidades, como bancos e particulares, estão sujeitas ou reagem às variações do mercado monetário, as quais transmitem com maior ou menor amplitude ao mercado de capitais.
Por isso, nos países onde este tipo de poupança contratual se encontre muito desenvolvido, tem-se em parte resolvida a dificuldade de um funcionamento regular do mercado de capitais, em particular obrigacionista (cf., por exemplo, os países anglo-saxões). Isto é: as instituições contratuais representam- uma fonte estável e segura de aprovisionamento de capitais a longo prazo, dada a natureza dos seus activos e passivos e, portanto, a reduzida transformação que necessitam de realizar.
Nos países onde a previdência social estadual ou paraestadual tomou grande relevo, as duas formas de estímulo ao desenvolvimento encontram-se na expansão do seguro de vida e dos sistemas de reforma complementares.
Não importa discutir se o sistema público ou privado apresenta vantagem, mas interessa sublinhar que o sistema de reformas complementares, se for incentivado, pode ato representar um benefício para os sistemas ligados ao Estado, na medida em que virá a tornar menos pesada a actualização necessária das pensões ou reformas, e constituir um processo de redução do consumo corrente e de criar recursos a longo prazo. Pelos mesmos motivos poderá defender-se o estabelecimento de estímulos ao seguro de vida.
As estimativas do projecto - 2 milhões de contos no período de 1968-1973 - traduzem bem a incipiência do sistema de seguro privado em Portugal, e os comentários feitos neste parecer, a propósito das exigências de capital a longo prazo, mostram claramente a urgência e a necessidade de se ampliar a formação de recursos adequados. As projecções feitas assentam num abundante e bastante preciso conjunto de informação, pelo que a secção chama antes a atenção para o papel que a actividade seguradora deve ter na formação da poupança e no funcionamento e estabilidade do mercado de capitais.
Pondera, por isso, a secção a necessidade urgente de um conjunto de providências, umas de ordem regulamentar, outras de ordem fiscal, destinadas a desenvolver o sistema de seguros individuais ou colectivos, em particular no domínio do seguro de vida e das reformas e pensões complementares.

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VIII

Estratégia da expansão equilibrada

0. De entre as várias hipóteses subjacentes ao financiamento do III Plano de Fomento avultam algumas, de influência não explicitamente analisada no projecto, mas cuja existência largamente condiciona a estratégia da política de expansão equilibrada. Abordar-se-á neste parecer os gastos com a defesa, a inserção da economia e finanças metropolitanas na cooperação europeia e mundial e a compatibilidade entre as estruturas das necessidades e das disponibilidades de financiamento.
Não teve a secção conhecimento dos estudos feitos sobre as projecções dos gastos militares no período de 1968-1973 e, por isso, não se encontrou em condições de apreciar a repercussão da estrutura desses gastos. Este facto não a impede, porém, de considerar que a sua inserção na economia metropolitana e ultramarina se traduz em fluxos de procuras internas que têm de ser aproveitados como estimulantes da oferta, sem o que virão a originar desequilíbrios globais e sectoriais que agravarão, porventura, reflexos de outros factores nos preços e nas transacções com o exterior.
Não é sòmente em termos globais que as procuras militares terão reflexos, porque a sua estrutura e as suas componentes podem, do ponto de vista económico e financeiro, dirigir-se ou ser harmonizadas com a orientação do fomento e com as situações conjunturais de sectores produtivos (na metrópole e nas províncias ultramarinas), transformando-se assim em instrumentos de apoio à actividade produtiva e em factor de compensação parcial para a própria gestão financeira do Estado. Por outras palavras, com repartição e utilização adequadas, as despesas militares indispensáveis - desde que a respectiva evolução se não afaste muito do ritmo de acréscimo do produto interno bruto no período de 1968-1973 - não virão a transpor o nível comportável com equilíbrios essenciais (monetário, das finanças públicas é das transacções exteriores).
Outra questão fundamental é a da abertura progressiva das nossas fronteiras aduaneiras, segundo calendários fixados de acordo com compromissos internacionais assumidos. Não se devem subestimar as consequências profundas desta liberalização, numa economia em via de desenvolvimento, composta de múltiplas parcelas com diferentes enquadramentos comerciais externos, tradicionalmente ligadas a um fomento proteccionista da sua actividade económica. As repercussões transmitem-se também aos factores do financiamento, não só pelas alterações de estrutura da balança de pagamentos, mas também através das novas condições ambientais do fomento para todas as entidades financeiras, desde o Estado às empresas particulares. Bastará recordar que a adaptação das estruturas industriais e a eliminação de certos obstáculos gerais ao poder concorrencial da nossa economia exigem largos investimentos e profunda reestruturação financeira da actividade económica, para não podermos ficar indiferentes a estas novas necessidades; o exemplo, sempre recordado, do crédito à exportação e da competição financeira exterior com a oferta de pagamentos diferidos, seria suficiente, por si só, para evidenciar que às modalidades de crédito habituais se adicionaram novas exigências que têm de ser enfrentadas com a poupança disponível.
Neste domínio, aliás essencial, do financiamento do fomento, terá de aceitar-se que as variáveis financeiras nem sempre representam o instrumento mais válido de apoio à produção nacional. O volume de encomendas do sector público e das actividades a ele ligadas e a sua posição no mercado levam facilmente a concluir que se torna quase indispensável uma tomada de consciência das responsabilidades que a este sector cabem na organização e apoio da produção; neste caso se situam, por exemplo, indústrias de construção e obras públicas, de construção naval e de equipamento, que podem exigir grandes volumes de crédito e não se encontram em momento fácil de autofinanciamento. Neste mesmo contexto haverá conveniência em lembrar que a evolução já citada do custo da construção aconselha políticas especiais, seja no âmbito do financiamento e produtividade, seja, em virtude das mais valias imobiliárias, quanto ao preço dos terrenos, que muito vai incidir no custo dos investimentos, e em particular do alojamento; são factores com forte projecção financeira e económica e sobre os quais terá de actuar se de molde a incrementar, por um lado, a reprodutividade do investimento e, por outro, o poder competitivo da indústria nacional.
Na sequência desta orientação, convirá ainda evidenciar que a estratégia da política de expansão tem de atender às fontes de financiamento. A leitura da síntese dos investimentos previstos a preços correntes (cerca de 123 milhões de contos comparados com quase 200 milhões do contos de necessidades projectadas de financiamento) indica, por um lado, que foram programados sòmente cerca de 60 por cento da formação bruta prevista de capital e, por outro, que o sector público contribuirá eventualmente com 37 milhões de contos, cabendo cerca de 15 milhões de contos ao Orçamento Geral do Estado. Como a poupança do Estado, no período de 1968-1973, dificilmente virá a registar saldos significativos (e poderá, mesmo, corresponder a poupança negativa), surge inevitavelmente o recurso ao endividamento interno. As disponibilidades previstas da previdência, dos fundos e serviços autónomos e das autarquias locais, comparadas com os investimentos programados, mostram que os excedentes mais significativos se registam na administração local (3 milhões de contos) e na previdência social (6 milhões de contos), podendo inferir-se que virão a contribuir, directa ou indirectamente, para o financiamento do Estado; tomando esta contribuição, restará ainda o problema de financiar cerca de 6 milhões de contos no caso de poupança nula, e de 26 milhões de contos, se se admitir a poupança negativa estimada neste parecer. As estimativas transcritas no projecto indicam que, independentemente das promissórias de fomento, as instituições de crédito teriam, no período de 1968-1973, uma capacidade de absorção de títulos públicos não inferior a 6 milhões de contos, o que deixa ainda grande volume de necessidades para financiar por outras formas de dívida, em particular externa; eis, portanto, uma previsão possível das necessidades financeiras do Estado a projectar nos mercados interno e externo de capitais no período de 1968-1973.
As reflexões sobre a compatibilidade das estruturas poderiam ir mais além; a simples comparação das projecções da formação bruta de capital fixo e das poupanças com a síntese de investimentos, mostraria a existência de um déficit substancial nas rubricas "Casas de habitação" (22 milhões de contos? 10), "Agricultura" (5 milhões de contos) e "Indústrias transformadoras" (20 milhões de contos).

10 A programação global aponta 30 milhões de contos e a síntese de investimentos cerca de 8 milhões de contos; haverá eventualmente que acrescentar as construções incluídas no turismo, o que reduziria o déficit em alguns - menos de uma dezena - milhões de contos.

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Na agricultura, avulta a dificuldade, não só de obter em fontes privadas internas 6 milhões de contos previstos, mas também de elevar esta quantia em 5 milhões de contos, correspondentes ao déficit; tudo indica que, a cumprir-se o programa de investimentos na agricultura, deverá pensar-se em recurso mais amplo a fontes públicas de financiamento.
O caso da indústria transformadora afigura-se estatisticamente mais simples, pois, apresentando o projecto uma previsão de autofinanciamento no período de 1968-1973 de cerca de 43 milhões de contos, regista-se até amplo excedente em relação aos 18,6 milhões de contos previstos na síntese de investimentos.
Omite-se o sector da habitação, por não se dispor de uma análise das suas fontes e métodos de financiamento, a qual poderia ser incluída na versão definitiva, dada a importância deste sector.
A dificuldade maior parece surgir, portanto, nas fontes de financiamento público, e a prioridade atribuída à agricultura, turismo, educação e saúde, mais explicita o problema. De facto, nestes sectores a formação de capital traduz-se frequentemente em acréscimo substancial do financiamento público, pois corresponde a uma aplicação que, pela sua natureza e rentabilidade, exige um conjunto de infra-estruturas que dificilmente podem ser encargo do sector privado. As projecções feitas a preços constantes indicam para estes sectores um volume de investimento de cerca de 24 milhões de contos, a que haverá que acrescentar valor pouco inferior a 12 milhões de contos destinado ao turismo, mas onde desempenha papel importante o autofinanciamento privado (ou crédito externo?). Se a estas prioridades se adicionarem as exigências da política habitacional, onde o sector público, directa ou indirectamente, terá de desempenhar papel de relevo, facilmente se conclui que ao nível do financiamento público surgirão problemas complexos que exigem para a sua solução uma política global.
Perante estes elementos, pondera a secção o interesse de rever a posição dos investimentos em face das fontes possíveis de financiamento, tendo em conta:

a) Possibilidade de endividamento interno e externo do Estado, o que significará certamente a análise cuidadosa do mercado de capitais nacional e estrangeiro e uma política de utilização de capitais externos coordenada e tendo em conta a necessidade de conservar a independência nacional de decisão política;
ò) Dosagem renovada entre fiscalidade mais pesada como processo de orientação de consumos e de formação de poupança pública e desagravamento fiscal como estimulante da poupança e do autofinanciamento;
c) Alteração das prioridades de investimento, enveredando decididamente por uma política global e unificada de formação de capital e de poupança e atribuindo, quando for caso disso, predomínio a investimentos altamente reprodutivos nas províncias ultramarinas;
d) Utilização do parâmetro dos gastos militares como meio directo e indirecto de apoio ao financiamento sectorial e de recuperação parcial de despesas.
São estas, entre outras possíveis, orientações que condicionam o financiamento de uma expansão equilibrada da economia portuguesa. Poderá ocorrer a alguns a teoria da inflação temporária como meio de promoção do fomento económico: um curto período de aumento de preços estimulará o investimento, o qual conduzirá a maior produção e consequente poupança, restabelecendo-se posteriormente o equilíbrio. Deve, em primeiro lugar, sublinhar-se que esta é uma das várias teorias que ligam a inflação ao desenvolvimento económico (variantes da teoria keynesiana de financiamento deficitário público ou privado e da teoria de concentração do rendimento e autofinanciamento). A experiência mostra, em segundo lugar e em particular na América Latina, que a adopção de tais sistemas conduziu certamente à inflação e quase nunca ao incremento do ritmo de investimento e da expansão. Seria deslocado, e com certeza desajustado, por não ser esta a teoria subjacente ao desenvolvimento económico português, descrever com pormenor as experiências havidas e os seus resultados, bastando recordar que a dinâmica portuguesa recente, com um ritmo elevado de subida de preços, não se traduziu, antes pelo contrário, nem em aceleração da taxa de crescimento do produto, nem em incremento do ritmo de formação de capital fixo.
Qualquer que venha a ser o caminho seguido, afigura-se indispensável a coordenação, ao nível nacional, das decisões financeiras e económicas. A política da estabilidade adaptada, as reservas e confiança acumuladas no âmbito interno e externo, conferem margem de flexibilidade e de segurança que levam a secção a concluir que é possível continuar o crescimento e a defesa do território nacional, se for definida e executada a política económica e financeira adequada de aproveitamento dos recursos à escala nacional. O III Plano de Fomento constitui instrumento apropriado para essa definição.

IX

Conclusões

21. A secção de Crédito e seguros da Câmara Corporativa, depois de estudar atentamente o capítulo II «Financiamento», do título I «Programação global», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, entende que o mesmo deve ser aprovado com as reservas, observações e sugestões contidas neste parecer.

Palácio de S. Bento, 31 de Agosto de 1967.

António Júdice Bustorff Silva.
Aníbal José Mendes Arrobas da Silva.
Fausto José Amaral de Figueiredo.
António Bandeira Garcez.
Guilherme Moreira Ferreira.
Mário Arnaldo Fonseca, Roseira.
António Pinto de Meireles Barriga.
João Augusto Dias Rosas.
João Faria Lapa.
Manuel Jacinto Nunes.
Luís Maria Teixeira Pinto (relator).

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GRÁFICO 1

TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAIS

[Ver Gráfico na Imagem]

[Ver Legenda na Imagem]

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GRÁFICO II

TAXAS DE CRESCIMENTO MENSAIS

[Ver Gráfico na Imagem]

[Ver Legenda na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(789)

GRÁFICO III

TAXAS DE CRESCIMENTO MENSAIS - ÍNDICES DE PREÇOS E DE SALÁRIOS

[Ver Gráfico na Imagem]

[Ver Legenda na Imagem]

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MAPA A

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Elementos da Conta Geral do Estado.

Página 791

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MAPA B

Situação dos bancos comerciais em 1965 e 1966

(Milhares de contos)

[Ver Tabela na Imagem]

Nota. - Este quadro foi elaborado de acordo com a discriminação do activo e passivo que serviu de base à determinação da situação de cobertura, em 1965 (Relatório do Banco de Portugal, 1965, pp. 200 e 208). Em 1960, tomou-se como base o quadro apresentado na p. 222 do Relatório do Banco de Portugal, 1966. Como os números para 1965 são inferiores aos publicados posteriormente em 1960, por não incluírem «casas bancárias», nas anotações ao activo e passivo apresentam-se para comparação os valores que neste último quadro são fornecidos para as diversas rubricas no relatório de 1966.

(a) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 8645.
(b) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 3891.
(c) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 3664.
(d) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) -1090.
(e) A totalidade de disponibilidades em ouro e moeda estrangeira (até 90 dias e livres, a mais do 90 dias) atinge, em 1965, 3305 + 1208 = 4513, comparável com 4777 (cf. relatório do Banco de Portugal de 1966. Como para 1966 esta rubrica não está discriminada por prazos, supôs-se estrutura idêntica do valor global de 5791.
(f) Segundo elementos publicados no Relatório do Banco de Portugal (1966) - 2117.
(g) A totalidade da carteira de títulos e participares financeiras em 1965 (3272 + 476 -l- 485 = 4233) é comparável com o valor global de 4411, segundo os elementos insertos no relatório do Banco de Portugal de 1966. Como não é possível discriminar, para 1966, a parte da carteira susceptível de servir de cobertura legal, supôs-se uma estrutura semelhante para o seu montante total de 4611.
(h) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 28 714.
(i) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 1187.
(j) Os empréstimos e contas corrente caucionados, para serem elegíveis como cobertura, deverão estar caucionados por determinados títulos ou bens. Para 1066, não existem dados discriminando os «empréstimos e contas correntes caucionados, de acordo com as exigências de cobertura». Supôs-se, por consequência, que, em 1966, a sua estrutura era semelhante à registada, em 1965. Neste último ano a totalidade de empréstimos e contas correntes caucionados (2730 + 503 + 3165 = 6398) é comparável com o total equivalente deduzido dos dados publicados posteriormente, no relatório do Banco de Portugal (1966), que atinge 7012. A totalidade de empréstimos e contas correntes caucionados em 1966 foi de 7906.
(l) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 3162.
(m) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) -124.
(n) De acordo com o valor publicado no Boletim Mensal do Instituto Nacional de Estatística, referente a «Bancos e casas bancárias».
(o) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) -1278.
(p) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) -16371.
(q) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 36 796.
(r) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 33 991.
(s) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 2064.
(t). Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 741.
(u) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 2087.
(v) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 14 807.
(x) Comparável com o montante de 3492 correspondente a «Outras responsabilidades em moeda nacional» e - «Responsabilidades em moedas estrangeiras», publicado no relatório do Banco de Portugal (1966).
(z) Segundo elementos publicados no relatório do Banco de Portugal (1966) - 5141.
(a') Segundo elementos publicados no relatório, do Banco de Portugal (1966) - 20 091.

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ANEXO II

arecer subsidiário da secção de Lavoura

Agricultura, silvicultura e pecuária

secção de Lavoura, à qual foram agregados os Dignos Procuradores Fernando Augusto de Santos e Castro e Luís Quartin Graça, consultada sobre o capítulo I "Agricultura, silvicultura e pecuária", do título II "Programas sectoriais", da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Considerações preliminares sobre a agricultura de hoje

. A III secção (Lavoura), com Procuradores agregados, foi chamada a emitir parecer subsidiário sobre o capítulo I "Agricultura, silvicultura e pecuária" dos programas sectoriais da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento remetido pelo Governo à Câmara Corporativa.
É esta a quarta vez que no espaço de quinze anos a Câmara ou a secção se pronuncia sobre a matéria 1. Se se recordar que o parecer relativo ao Plano Intercalar de Fomento, para 1965-1967, foi emitido em Outubro de 1964 e que em Fevereiro de 1965 outro parecer foi elaborado sobre o projecto de proposta de lei acerca da orientação agrícola, que visava estabelecer linhas gerais de actuação e prioridades, pode desde já frisar-se - dado o número de aspectos focados naqueles pareceres, sua extensão e pormenores, e a lentidão clássica na evolução das coisas agrícolas - que não é fácil apresentar agora novo contributo de valia.
Na verdade, depois dos pareceres referidos, em que se julga terem sido considerados os principais problemas de então, que na sua essência são os de hoje, muito difícil é acrescentar qualquer coisa que, na generalidade dos casos, vá além de uma simples actualização, de interesse secundário em relação ao que se consideram problemas básicos. Não se irá, portanto, repetir o que então se escreveu, pelo que o presente parecer se limitará, salvo o caso de matéria nova, a confinar-se às linhas mestras dos problemas.

2. E quais são estes? Praticamente os mesmos de sempre, agravados com os factores de ordem económica e social que são comuns aos países do Centro e Sul da Europa e mais melindrosos na zona mediterrânica a que tão intimamente estamos ligados.
undamentalmente os aspectos que mais preocupam os sectores agrícolas são:

a) Os níveis de custo, em relação ;aos preços de venda pelos agricultores;
b) O movimento, que se considera irreversível, da fuga dos campos, não só das classes dirigentes como da mão-de-obra de maior valia;
c) A comercialização dos produtos.

Não constitui novidade a política de subsídios à lavoura, através de modalidades bem diversas, método que nos últimos anos está sendo progressivamente praticado entre nós (trigo, milho, carne, leite, etc.) e ocasiona um pesado encargo para o Estado.
Mas sabe-se também que, nos países cuja economia não seja baseada fortemente no comércio ou na indústria, as .receitas públicas não dispõem de desafogo que permita apoiar a agricultura com uma maior liberalidade. Daqui resulta a primeira e antecipada conclusão: o barateamento do custo da produção é condição básica para o êxito económico da exploração agrícola, incitamento ao aumento do consumo interno, e conquista de novos mercados.
Condições indispensáveis para o conseguir:
Técnica avançada;
Gestão da economia das empresas;
Mão-de-obra qualificada;
Estrutura agrária válida;
Crédito oportuno e eficiente;
Equipamento mecânico adequado;
Assistência técnica e vulgarização oportunas e objectivas;
Organização da lavoura activa e eficiente:
Circuitos e equipamentos comerciais e industriais;
Bem-estar rural; Legislação aplicável e ... aplicada.

Todos estes pontos já foram desenvolvidos em anteriores pareceres e nada de novo é de acrescentar. E no caso específico português, se os resultados alcançados não correspondem aos desejados, na maioria das vezes não é por falta de diplomas legislativos que prevejam os problemas e a forma de os resolver. Falta, sim, o sentido de decisão e a continuidade de orientação indispensáveis em qualquer actividade, nomeadamente na agricultura, onde tudo é lento e incerto, já pela biologia, já porque os seus executores são em número elevadíssimo, de características humanas e meios materiais os mais diversos e com plena liberdade de acção.
Daqui, um mundo de intervenções que, se não conseguirem a possível sincronização, não alcançam os objectivos, como tão amiudadas vezes se verifica.

3. Permita-se ainda que, nesta introdução, se apresentem algumas considerações, aparentemente à margem dos casos específicos que à secção compete analisar, mas, na realidade, a eles ligados.
Como ainda recentemente foi recordado entre nós pelo Prof. Mário Bandini, individualidade internacionalmente respeitada na matéria, o problema agrícola não se resume aos aspectos da técnica e da economia, por não se poder separar do factor humano. Daí a posição que a sociologia hoje ocupa na apreciação de qualquer plano de desenvolvimento, nomeadamente quando o sector agrícola esteja nele incorporado.
Mau grado toda a evolução dos meios mecânicos, o homem, como organizador e executor, continua sendo o factor decisivo na transformação que o progresso introduz na vida dos povos. Assim se justifica o crescente

1 Parecer n.º 36/V, acerca do projecto de I Plano de Fomento (Câmara Corporativa, Pareceres, V Legislatura, 1955, II vol., p. 211); parecer n.º 3/VII, sobre o projecto do II Plano de Fomento (Câmara Corporativa, Pareceres, VII Legislatura, 1958, p. 361); parecer n.º 18/VIII, acerca do projecto de Plano Intercalar de Fomento para 19G5-1967 (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1964, II vol., p. 79), e parecer n.º 23/VIII, sobre o projecto de proposta de lei acerca da orientação agrícola (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1965, p. 173). Ver também os pareceres subsidiários anexos aos pareceres citados sobre os diversos planos de fomento.

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peso dos investimentos intelectuais nos orçamentos dos Estados preocupados com a melhoria dos níveis económicos e sociais das gentes. E, como tal, ao esboçar-se qualquer plano de desenvolvimento, a consideração do factor humano deve anteceder a de quaisquer outros, analisados nos aspectos qualidade e número.
4. O êxodo dos campos é a consequência imediata da evolução da vida social. Por um lado, o crescente desenvolvimento do urbanismo, da indústria e do comércio, de novas fontes de atracção, o melhor ambiente que os meios dotados das estruturas indispensáveis à vida moderna oferecem e os maiores salários que tais actividades permitem em relação às do sector primário, os benefícios sociais, etc., têm sido os factores de incitamento ao abandono da vida dura, incerta e mal retribuída que, de forma geral, nomeadamente, nas zonas menos propícias, a agricultura proporciona àqueles que a ela se dedicam.
Por outro, os novos mecanismos e processos de trabalho, que uma técnica evoluída oferece, diminuem a exigência, quanto a número e duração de préstimo, da mão-de-obra que era indispensável à execução das práticas correntes. Assim foi, na generalidade dos casos, tornando-se menos necessária uma mão-de-obra tradicionalmente apegada à terra e que nas solicitações de actividades em evolução e mais rendosas encontra uma situação mais favorável. Será este êxodo totalmente contrário aos interesses e progresso do sector agrícola?

5. O problema da fuga dos campos não se baseia apenas nos aspectos económicos recordados. Eles têm larga influência, mas outros factores de natureza sociológica dominam-no. A sua solução obriga à adopção de um conjunto de benefícios de ordem colectiva e privada que, se representam apreciável encargo monetário para o Estado, podem constituir- a base de uma reestruturação da família rural, tanto mais indispensável quanto é certo admitir-se que, no futuro, cerca de dois terços, da população viverá nas cidades, e o número crescente de indivíduos e a melhoria do nível alimentar exigirão, cada vez mais, produtos obtidos pela forma mais evoluída, económica e cómoda. Portanto, um misto de investimentos intelectuais, de treino profissional e de bem-estar, abrangendo os vários estádios de idade e de cultura das famílias rurais, constitui problema fundamental.
O êxodo rural, que entre nós, neste momento, dificulta a realização oportuna do trabalho agrícola e o encarece, só poderá ser considerado como nocivo, porque, na generalidade dos casos, homens, estruturas, e métodos de trabalho não estão preparados para uma agricultura moderna, que, embora não possa isentar-se das condições tantas vezes desfavoráveis e da incerteza que o meio natural origina, tem, a tantos títulos, de orientar-se no sentido de uma exploração do tipo industrial. Entretanto, será de desejar que nunca se perca aquele sentimento que dá aos homens da terra uma sensibilidade e um lugar à parte no complexo da humanidade, aquela maneira de saber esperar e de não desertar facilmente em face das adversidades repetidas. Por isso mesmo é que dos seus problemas têm de ser encarados de frente e com coragem, em vez de com métodos paliativos de resultados bem efémeros.

6. É clássico considerar-se a população agrupada em urbana - a das cidades - e rural. E, segundo alguns economistas, a tendência será para ser cada vez mais numerosa a urbana, enfraquecendo, assim, em efectivos e valores, o número dos que vivem fora dos grandes aglomerados. Será de facto a solução mais conveniente? E a
produção de elementos vitais da alimentação e das indústrias abastecidas pelos produtos da terra, cada vez com maiores solicitações, como virá a processar-se?
Há, porém, quem entenda que os pólos de atracção do grande urbanismo não podem, nem devem, aniquilar a existência de aglomerados populacionais justificativos de uma fortalecida sociedade rural, que deve apoiar-se em núcleos da ordem das 2000 a 5000 almas dispondo dos equipamentos de base indispensáveis.
À tese das grandes concentrações industriais, admitida para uma primeira fase de expansão, opõe-se a de uma conveniente e equilibrada dispersão das indústrias, no espaço e na dimensão, de forma a passarem a constituir zonas de desenvolvimento juntamente com outras actividades básicas ou complementares indispensáveis à vida moderna, sem se criarem os «desertos» de tão nefastas consequências no equilíbrio das regiões e na vida dos povos.
Assim, se a saturação da mão-de-obra agrícola constitui, económica e socialmente, um peso que é necessário eliminar, o fortalecimento dos meios rurais, que servem de amparo e suporte às populações exclusivamente votadas à actividade agrícola, afigura-se condição básica para o interesse geral.
Bandini considera, assim, que se o êxodo agrícola - o dos dedicados inteiramente ao trabalho agrícola - é benéfico até certos limites, o êxodo rural pode ser altamente nefasto, se atingir certas proporções.
A mão-de-obra agrícola vai sendo progressivamente substituída pela máquina, sempre que a estrutura da exploração o permite.
E assim se justifica a sua diminuição e os números hoje verificados quanto à população agrícola em vários países evoluídos ou em evolução, como no caso italiano, em que passou de 49 por cento em 1936 para 24 por cento; no da França, com 17 por cento hoje em dia, tendo de 1954 a. 1962 perdido cerca de 1 500 000 unidades, ou seja uma quarta parte (de 10 em 10 minutos um agricultor abandona a sua actividade!), para não falar já nos números tradicionalmente baixos de 8 por cento nos Estados Unidos e de 4 por cento na Inglaterra.
Qual a posição actual no nosso país a este respeito? Eis ao que a secção não se sente habilitada a responder, já que o último censo publicado, o de 1960, atribuía 43.6 por cento à população agrícola activa e sondagens feitas pelo Instituto Nacional de Estatística em 1965 admitem que este número tenha baixado para 37,2 por cento, distribuído por forma muito diferenciada pelas várias regiões do País.
O êxodo agrícola é, pois, uma necessidade para a valorização económica e social dos verdadeiros profissionais da agricultura, contrariamente ao êxodo rural, que leva à ruína dos campos. Mas o primeiro tem de ser compensado com uma reestruturação total dos meios de produção, através das convenientes estruturas de propriedades e de explorações, quando de dimensões antieconómicas nos aspectos da técnica, da rentabilidade e no social; e também com equipamentos, reforma do ensino e da assistência à lavoura, nos aspectos técnicos e económicos, por forma a torná-la mais efectiva e qualificada, ainda que tenha de remodelar-se substancialmente a maneira de agir entre nós neste sector, aliviando o Estado dos pesados encargos com o seu suporte, mas que - os factos o demonstram - não têm tido o êxito necessário. E isto sem esquecer os benefícios de ordem social que urge se estendam de forma eficaz ao trabalhador agrícola.
Só com um conjunto de providências desta natureza, mau grado todas as insuficiências ainda verificadas, e

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que, segundo François Virieu, «em dez anos a agricultura francesa modificou-se mais do que em dez séculos».
A este propósito, citam-se dois recentes e interessantíssimos estudos: o deste autor, La fin dune agriculture e Une France sans paysans, de M. Gervais, C. Servolin e J. Weil.

7. Está dito, mas não é de mais recordar. Os aspectos económicos estão hoje na vanguarda e são tanto mais graves quanto é certo que não se planeia e nem se respeitam planeamentos na agricultura como em qualquer outra actividade. E estamos nos diversos escalões suficientemente habilitados para os enfrentar? Ficamos na interrogação.
Por outro lado, o sentido individualista que predomina em geral e a diversidade das culturas praticadas não podem conduzir ao êxito económico e à promoção social dá maioria dos praticantes. Estaremos nós dispostos a corrigir tais deficiências? Os exemplos não são totalmente animadores.

8. Toda a estrutura exige um enquadramento eficaz, em preparação e número. Do investigador puro, na técnica ou nos aspectos económicos, até ao experimentador, ao vulgarizador, no campo, pela palavra, pela escrita ou pelos meios audiovisuais, nos vários graus de comunicabilidade com as massas executivas, todos estes elementos são indispensáveis à realização de uma política. Temo-los nós em qualidade e número necessários? Ou a evolução da vida não tem levado a abandonar a função pública, ou mesmo a expatriarem-se, elementos dos mais válidos, aliciados por mais justa e atraente compensação dos seus méritos?
Não estará em causa, também, uma ultrapassada orgânica do Estado, quer quanto ao estímulo na ascensão na vida e retribuição do seu pessoal técnico nos vários graus, quer quanto aos métodos administrativos absorventes? As escolas, em todos os seus graus de hierarquia, estarão, em número, programas, equipamentos em pessoal e em material didáctico à altura do momento que vivemos e das suas exigências? Haverá entre as escolas e os órgãos da Administração, que absorvem ainda apreciável número de diplomados, aquela colaboração, aquele «sentido único» que permita uma valorização mútua?
Aqui fica uma série de interrogações que, por tantas rezes feitas, poderiam parecer supérfluas, se os factos ião demonstrassem que não o são.

9. Hoje em dia não só em Portugal, mas na velha Europa, o problema agrícola não pode confinar-se à resolução dos seus aspectos técnico-económicos. Assenta, fundamentalmente, numa renovação de mentalidade s, no alargamento dos conhecimentos, na existência do espírito de organização e de disciplina que as exigências da época impõem a todos os sectores intervenientes no ciclo e, bem assim, nos problemas da vida rural, já que esta fase de transição de uma agricultura que em grande parte viveu durante séculos em regime de economia de consumo e passa para uma economia de mercado tem de sofrer os inevitáveis reflexos e dificuldades de adaptação.

10. Não resta qualquer dúvida de que os problemas e as preocupações são cada vez maiores no domínio da produção agrícola e nos sectores da alimentação em todo o Mundo, mas nos velhos países europeus em especial. São manifestas as tentativas para se encontrar aquele equilíbrio indispensável à vida económica e social dos povos e à manutenção do sector rural, apoiado numa agricultura evoluída e próspera. Procura-se este objectivo, seja no ambiente interno, no da cooperação internacional, no Mercado Comum, e até na ajuda aos países menos evoluídos.
Be velam-no, num e noutros casos, os contínuos, até superabundantes, contactos internacionais, não só os de rotina promovidos pela O. C. D. E., F. A. O., Conselho da Europa, N. A. T. O. e outras organizações especializadas, mas as grandes reuniões que, com a intervenção ou não destas entidades, se estão processando com crescente frequência. E atesta-o, também, o que se escreve sobre a matéria. Revelam-no, mais, os inquéritos e estudos que um sem-número de missões, de composição a mais variada e méritos os mais diferentes, executam em países estranhos, emitindo opiniões que nem sempre serão as mais fundamentadas, pela escassez de tempo ou de conhecimento do meio físico e humano, pormenores básicos na apreciação dos problemas agrícolas. E, por nossa iniciativa, ou não, não temos estado alheios a este tipo de contactos, ao que se admite nem sempre os mais frutuosos.

11. Para os países aderentes, a integração da agricultura no Mercado Comum (Julho de 1966) veio abrir novos e complexos problemas, que se inserem na estrutura dos novos planos de desenvolvimento. É o que se está verificando quanto aos aspectos da economia e dos mercados agrícolas no V Plano francês de desenvolvimento económico e social; é o que se reflecte na Lei n.º 910, de 27 de Outubro de 1966, que em Itália regulará o desenvolvimento da agricultura no quinquénio de 1966-1970.
Este diploma, entre outras inovações, institui o Comité Nacional de Experimentação Agrária (que corresponde aos objectivos previstos para a mossa Junta de Investigações Agronómicas) e cria o Instituto Nacional de Nutrição, que entre nós, por proposta do Ministro da Saúde, se pretendeu formar em 1959-1960.
A França, que, como se sabe, forma com a Espanha e a Itália o grupo de países que, por um conjunto de circunstâncias, mais ,nos interessa acompanhar na sua evolução, continua aperfeiçoando a sua legislação de base, já referida no parecer sobre o projecto de proposta de lei acerca da orientação agrícola, e, pelo Decreto n.º 67 744, de 4 de Outubro de 1966, estabelece doutrina sobre o financiamento e a execução dos programas de desenvolvimento agrícola. Para isso, fixa as funções da Associação Nacional para o Desenvolvimento Agrícola, servida pelo Fundo Nacional do Desenvolvimento Agrícola, e cria, com funções consultivas, o Comité Nacional de Estudos dos Problemas de Desenvolvimento Agrícola, com o fim de coordenarem os problemas ligados ao sector e sua evolução, por intermédio do Estado ou pelos organismos profissionais de carácter privado.
A Espanha, especialmente depois da apresentação, pelo Banco Internacional de Reconstruções e Fomento, em Agosto de 1962, do Relatório da Missão para Espanha, constituída pelo Banco a pedido do Governo, do qual a secção IV se denominava «Agricultura» (documento que apresenta curiosas sugestões em tantos pontos concordes, quanto à estrutura dos serviços oficiais, com as que em anos não muito afastados foram sugeridas entre nós), tem vindo a fazer uma marcante evolução na orgânica e meios de actuação dos serviços públicos relacionados com o desenvolvimento agrícola.
Entre outros diplomas de maior projecção figura o «Decreto de Ordenación Rural», de 2 de Janeiro de 1964, alterado pelo de 11 de Setembro de 1965, com o fim de

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«elevar o nível de vida da população agrária mediante a transformação integral de zonas e a concessão de estímulos adequados para a melhoria das estruturas agrárias».
E neste sector das estruturas, base de qualquer acção técnico-económica, nunca é demasiado recordar que nos nossos tempos não é de admitir qualquer empreendimento de vulto de que não possa resultar uma rentabilidade aceitável, como no recente relatório do Banco Mundial (1966) relativo à evolução da agricultura espanhola se frisa em relação a vários empreendimentos, entre os quais os novos grandes regadios previstos.
Neste aspecto, em Espanha, o Instituto Nacional de Colonização realizou em 25 anos (até fim de 1964) uma obra que se sintetiza:

a) Em ter tomado posse de 448 700 ha, dos quais 178 734 destinados a regadio, e, entre estes 100 000 dos quais com obras já concluídas;
b) Na fixação de 73360 famílias agrícolas;
c) 1 - Na transformação em regadios de 347 400 ha;
2 - Na conclusão de obras em 86 000 ha;
3 - No estudo ou iniciação de obras em 379 400 ha, ou seja, um total aproximado de 813 000 ha;
d) Na criação de 225 novas povoações;
e) Na construção de cerca de 30 000 moradias;
f) Na instalação dos centros sociais e de ensino;
g) Na concessão a 145 000 agricultores de auxílios para a melhoria das suas propriedades e instalações que atingiu nesse período - 25 anos - 8700 milhões de pesetas.

O relatório que o Banco Mundial apresentou em Novembro de 1966 quanto à possível evolução da agricultura neste país em dez anos, mau grado os comentários discordantes de especialistas espanhóis, oferece vasta documentação, que, por certo, pelo seu paralelismo, em muitos casos interessa ao problema português, nomeadamente quanto à evolução dos factores de concorrência nos mercados externos. Seria interessante uma referência mais demorada a este trabalho, mas isso levaria a secção muito longe.
A referir ainda o recente «Plano de Desarrolo» para 1966-1971, que dá à política agrária destacada projecção, em muitos casos de acordo com as linhas gerais focadas no parecer subsidiário deste secção para, o Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967.

12. Em Portugal, nestes últimos anos, independentemente da legislação promulgada
ou das directivas estabelecidas por despacho, na sua quase totalidade na sequência de diplomas ou orientações anteriormente definidas, é manifesto o interesse que a evolução das coisas agrícolas está oferecendo às organizações profissionais, autarquias regionais e até mesmo às actividades privadas, sem ou com interesses económicos em causa. Assim, ao sem-número de missões ou de peritos, das mais diversas origens e qualificações, que, a pedido do Governo ou por iniciativa de ordem vária, têm vindo a estudar os «casos» portugueses, há a acrescentar e pôr em destaque os ciclos de conferências, colóquios, etc., que na Ordem dos Engenheiros, na Sociedade de Ciências Agronómicas, na província, através das comissões de desenvolvimento regional, etc., ou pelo Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian, serviços públicos, organizações da lavoura, etc., têm sido promovidos, dando alguns lugar a valiosos documentos que ficam constituindo subsídios para um melhor conhecimento dos nossos problemas e onde se afloram os meios de os resolver. Cita-se ainda o facto de empresas privadas nacionais estarem também mostrando o seu interesse em conhecer os problemas da nossa agricultura, encarregando, a expensas suas, consultores estrangeiros a pronunciarem-se.
Toda a boa vontade demonstrada com estes estudos, para ser válida, não poderá alhear-se, porém, de um aspecto que se sobrepõe a problemas parciais ou de pormenor: a existência de uma política agrária bem definida.
Entre as reuniões havidas no nosso país, ofereceu papel especial - dado o nível dos participantes e o seu sentido da cooperação internacional - o Simpósio Euro-Mediterrâneo sobre a investigação em economia e sociologia rurais, em que se focou a necessidade de incrementar os estudos nestes aspectos como meio de acelerar a integração da agricultura no processo do desenvolvimento económico em curso.
E foi-se sempre preconizando que, quer no nível interno, quer no internacional, quer quanto a organizações oficiais, quer privadas, deve estabelecer-se a cooperação necessária a que se evite a dispersão de actividades.
Não menos significativa tem sido a participação de representantes portugueses nas reuniões periódicas, de carácter internacional, bem como nos grupos de trabalho, colóquios, visitas de estudo ou estágios, que se vêm multiplicando de forma tal que dificilmente será possível acompanhar com regularidade, mesmo só os que se reportam a problemas de maior interesse para nós.

13. Que os problemas fundamentais da agricultura não se limitam aos aspectos exclusivamente técnicos, revelam-no duas recentes e importantes reuniões internacionais relacionadas com o fomento agrícola, e por isso se anotam nestes comentários.
O II Congresso Mundial de Crédito Agrícola, realizado em Zurique, em Maio de 1967, e o Colóquio Internacional sobre o Abastecimento das Grandes Cidades, que teve lugar em Paris em Março de 1965, tema este de tal monta que para a estrutura do V Plano de Desenvolvimento deu origem em França a um debate sobre «problemas da economia e dos mercados agrícolas» (1966), tema descurado ainda entre nós, mas básico em relação ao abastecimento das grandes urbes. Basta recordar que o consumo diário de Paris (8 milhões de habitantes) regula por 6000 t a 7000 t de frutos e legumes; 2 800 000 l de leite, 1000 t a 1200 t de carne; 300 t de peixe; 250 t de queijo; 235 t de manteiga, etc., e 57 por cento destes produtos são levados à grande capital por via rodoviária.
Para este problema, que em Portugal está trazendo preocupações, nomeadamente quanto aos agregados populacionais em plena expansão absorvendo as zonas limítrofes de utilização agrícola e aos períodos de ponta das zonas de turismo em franca evolução, a secção chama a atenção do Governo.

14. A administração pública, para cumprir o papel instrumental que lhe está assinalado, tem de seguir muito de perto as incidências do que se passa no seu contorno social.
Planificação e desenvolvimento vêm a ser, feitas as contas, duas das notas dominantes da sociedade actual, e os planos de fomento apresentam como uma das suas menos discutíveis vantagens a de agirem como poderosos catalisadores da reforma administrativa.
Por outras palavras: a planificação do desenvolvimento, pelas repercussões inevitáveis na administração pública, marca uma verdadeira viragem nos seus processos de acção: ao ocaso da administração de legalidade segue-se - terá de seguir-se - o aparecimento da nova adminis-

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tração, aberta ao futuro, que é a administração do desenvolvimento.
Quer dizer: à ideia básica de segurança, à consideração mais ou menos estática de todos os problemas culturais, económicos e sociais, substitui-se a acção antecipadora, até mesmo uma certa capacidade de imaginação para caminhar à frente dos acontecimentos.
A planificação do desenvolvimento supõe formulação de previsões, estabelecimento de objectivos, directrizes políticas. Os planos de fomento são instrumentos de racionalização do comportamento económico e social, são instrumentos de ordem e de disciplina e também de formação, na medida em que facilitam a fidelidade do Estado a compromissos concretamente contraídos, por um. lado, e, por outro, procuram a colaboração dos particulares de uma forma adequada às exigências da participação colectiva.
A pergunta fundamental a fazer é, então, sé estará a nossa administração preparada para levar a cabo uma tarefa de tão importantes e delicadas exigências técnicas.
Significa isto que o tema administração pública não é marginal do da planificação do desenvolvimento: a existência de uma organização administrativa eficiente é indispensável para a existência daquela planificação.

15. Entende, assim, a secção ser de abordar um problema básico, embora à margem do projecto que lhe cabe apreciar: por melhores que sejam os textos dos diplomas, e até mesmo o volume apreciável das verbas atribuídas a determinado empreendimento, nada é possível alcançar-se sem que se verifique um conjunto de circunstâncias, tais como:

a) A conveniente estrutura dos serviços;
b) A existência de pessoal competente e em número necessário;
c) As facilidades administrativas;
d} A sensibilização das massas actuantes;
e) A iniciativa, o entusiasmo, a coordenação e o »espírito de corpo único» entre serviços, pessoal técnico e empresários agrícolas.

Veja-se, brevemente, cada um destes pontos:
a) Entende a secção, embora não constitua novidade manifestar este ponto de vista, que a estrutura dos serviços oficiais não se coaduna com as necessidades da época, que, se exige uma orientação firme e esclarecedora dos órgãos centrais - em coordenação de actividades -, implica uma grande descentralização de funções e responsabilidades à escala regional, e nesta uma unidade de actuação de todos os sectores dos serviços intervenientes.
b) Mercê do nível do vencimento e de regalias facultadas e da crescente procura pelas actividades privadas, é cada vez menor o número de técnicos dos vários escalões dispostos a ingressar nos quadros do Estado, onde, aliás, os acessos se movimentam com uma lentidão desmoralizante. A revisão do escalonamento de quadros, de vencimentos e outras vantagens, nomeadamente para o pessoal em serviço itinerante, é condição básica para que se constituam quadros capazes de corresponder às exigências do presente.
Outro problema que requer urgente revisão é o do nível de ajudas de custo e forma de atribuição, nomeadamente nas deslocações que não se coadunem com. permanências prolongadas.
O actual regime não compensa, de qualquer forma, o número de horas extras, os gastos com vestuário e os encargos com alojamento compatível, em relação ao nível hierárquico dos funcionários, sobretudo quando em deslocações rápidas, e acarreta elevadas despesas que a grande maioria das bolsas não pode suportar. Daqui a relutância que se verifica quanto a deslocações, especialmente quando obriguem a uma constante mudança de localidade.
c) As presentes exigências da máquina administrativa não só tolhem movimentos, e sobretudo alienam oportunidades de execução de trabalhos, mas, absorvendo em tarefas de pura rotina parte importante do tempo dos técnicos com funções de chefia, anulam muitas das suas possibilidades de trabalho, dificultadas ainda com a habitual modéstia de recursos, o que, conjugado com o exposto na alínea anterior, leva a um mau aproveitamento de pessoal e de meios.
d) Os contactos colectivos entre técnicos, empresários e trabalhadores, no nível e ambiente próprios, também não atingiram aquela coesão indispensável. Neste sector, a difusão de conhecimentos pelos meios mais diversos, a intimidade de acções com grémios de lavoura, Casas do Povo, organizações católicas, movimentos da juventude rural, etc., não conseguiram encontrar o caminho necessário.
e) Esta última alínea é a consequência do somatório, das anteriores e vem pôr em destaque o problema humano o a poderosa projecção que a sociologia e a psicologia social têm hoje a desempenhar no meio agrícola e nos sectores rurais.

Podem parecer supérfluas estas considerações. Estando em estudo a reforma administrativa, parece, porém, à secção que não ficam deslocadas neste parecer.
Trata-se, portanto, de efectuar as reformas estruturais e funcionais indispensáveis para aumentar a eficácia da administração pública, em especial nos serviços mais directamente ligados à execução dos planos. Em resumo: trata-se de incorporar a reforma administrativa na planificação do desenvolvimento.
O processo de aceleração da história pede à administração pública renovação profunda e rapidez.

II

Objectivos do III Plano de Fomento

16. Diz-se no texto do capítulo em apreciação do projecto do III Plano de Fomento:

Mas a agricultura carece de se estruturar e organizar de molde a vencer as dificuldades inerentes à essência do seu sistema produtivo, sem o que dificilmente conseguirá usufruir a legítima posição económica em confronto com as demais actividades. E essa estruturação só pode ser conseguida reforçando os incentivos que levem à criação ou manutenção de empresas dotadas dos necessários atributos para alcançar a máxima rentabilidade do processo produtivo, a fim de poderem remunerar justamente os factores de produção e, simultaneamente, enfrentar com êxito a batalha dos mercados.
E à luz destes conceitos e destas finalidades, das realidades sociais e demográficas e das potencialidades produtivas efectivamente existentes ou previsíveis em cada uma das regiões que pode e deve equacionar-se a designada «adaptação estrutural».

E mais adiante:

Sendo a empresa agro-pecuária e florestal a unidade base do processamento de todo o desenvolvimento económico do sector, quando se reconhece que importa em muitas regiões promover a reorganização

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empresarial quer significar-se que essa reestruturação terá de visar não só os mais ajustados ordenamentos culturais, mas também o sistema de exploração mais consentâneo ao seu melhor aproveitamento técnico e económico. A reestruturação fundiária só será de verdadeiro interesse desde que abranja simultaneamente os dois aspectos essenciais focados: ordenamento racional de culturas e sistema de exploração que permita condições da garantida rentabilidade.
A adaptação estrutural das actuais empresas deve, portanto, orientar-se segundo critérios de dimensão económica mínima e de sistemas de exploração.

E, ainda:
São, portanto, as acções indirectas promotoras do fomento do reorganização fundiária que deverão ser apoiadas, desde que visem o dimensionamento da exploração capaz de auferir, embora no mínimo, os benefícios técnicos e económicos susceptíveis de se obterem nas condições mais favoráveis.

E prossegue-se:
Urna análise simples do modo como se processa, no País a divisão da propriedade permite verificar que, de uma maneira geral, no Norte, como no Sul, as zonas e regiões minifundiárias correspondem a áreas que consentem, as maiores potencialidades produtivas, sob o ponto de vista de intensificação cultural; razão por que aqui importa actuar de molde a que não se impeça a obtenção de melhores condições de valorização, mesmo numa estrutura deficiente.
Essa actuação apenas necessita de que se criem condições de exploração e de organização viáveis. E quando se verifiquem circunstâncias que permitam a reorganização estrutural, esta só será de admitir desde que excedidos os limites de dimensionamento capazes de promover esquemas de exploração de garantida rentabilidade técnico-económica.
Em contrapartida, nas regiões e zonas onde o minifúndio não existe, as condições de potencialidade produtiva são normalmente reduzidas, pelo que as Condições técnicas de viabilidade económica das explorações só poderão obter-se na medida em que o dimensionamento compense a baixa produção unitária.
Nestes casos, e em grandes áreas, terá igualmente de se intervir, pois sòmente através de sistemas de exploração devidamente fundamentados e da organização da produção podem criar-se as condições que consintam a melhor produtividade e a desejada intensificação Cultural.
Competirá à iniciativa privada, às suas virtudes e possibilidades, aproveitando todo o apoio concedido sob várias formas, a missão de se estruturar ou reorganizar em empresas, quer nos moldes das designadas «familiares», pela sua estrutura orgânica e correspondente método de trabalho, quer nos da empresa patronal, de técnica evoluída.
E, como se afirmou, deverá o Estado apoiar e incentivar estas iniciativas, pois sòmente deste modo atingirá reforma estrutural válida, não sujeita a situações demográficas conjunturais.

17. É também do mesmo capítulo o seguinte passo:

Não obstante as dificuldades assinaladas, a integração do sector agrícola, em condições de igualdade com os demais sectores, nos complexos esquemas de economia e de produção exigidos pelo desenvolvimento económico do País, constitui fim primordial a atingir tão rapidamente quanto seja possível.
A secção congratula-se por ver aqui consagrados os pontos de vista defendidos nos pareceres subsidiários elaborados para os anteriores planos de fomento.

18. Segundo o capítulo, a contribuição da agricultura para o crescimento económico do País é assim representada:

Com base nas contas nacionais, observa-se que a expansão calculada para o produto originado na agricultura, avaliado a preços constantes, foi, entre 1953 e 1964, de cerca de 561 000 contos, equivalente a um acréscimo de 3,5 por cento, à taxa anual cumulativa de aproximadamente, 1 por cento. No decurso do período identificaram-se fases de retrocesso e expansão, assinalando-se nesta, entre 1959 e 1964, um crescimento da ordem dos 6,3 por cento, à taxa anual de 1,8 por cento.
O lento crescimento do sector reflectiu-se na pequena contribuição relativa da agricultura, silvicultura e pecuária para o produto interno bruto, a qual, no decurso de 1953-1964, se cifrou em 1,6 por cento, consequência da grande disparidade entre os crescimentos dos sectores agrícola e não agrícola (3,5 por cento e 97,8 por cento, respectivamente), apesar de se registar uma diminuição do contributo do sector para o produto interno bruto, que, de 29,2 por cento em 1953-1955, passou para 20,5 por cento em 1962-1964.
A contribuição do sector agrícola para o acréscimo da produtividade do trabalho total no período de 1953 a 1964 foi de 13,8 por cento, dos quais apenas 7,3 por cento resultam de contribuição, directa da actividade do sector e os restantes 6,5 por cento provêm da transferência da população activa agrícola para outros sectores da actividade económica.

Composição do produto agrícola (a)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) A preços de 1963.

Confrontada a situação com a de outros países de agricultura evoluída, ela mostra-se desfavorável, não só quanto ao nível da taxa de acréscimo do produto, como também no que toca às posições relativas dos

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produtos de origem vegetal e animal, com uma desproporção muito acentuada nas parcelas que lhes correspondem.

19. Os principais objectivos do sector são assim definidos:

Como objectivos gerais, cuja validade persiste e se afirma de novo para o período deste III Plano, salientam-se:

A elevação da taxa média de acréscimo do produto agrícola;
A elevação do nível de vida da população ligada ao sector;
A melhoria da contribuição da agricultura para a balança comercial, pela satisfação em maior grau da procura interna de bens alimentares e pelo aumento das exportações.

A premência de que se reveste a consecução destes objectivos e também a consideração dos inconvenientes de vária ordem, designadamente o progressivo agravamento de deficits que resultariam da manutenção, durante mais um hexénio, de um ritmo de crescimento tão baixo como o que houve que admitir para o Plano Intercalar, levou a adoptar, como objectivo a atingir durante o III Plano, um crescimento médio anual de 3 por cento para o produto agrícola. Tal objectivo afigura-se atingível, dadas, por um lado, as consequências benéficas que é legítimo esperar das medidas postas em prática no âmbito do Plano Intercalar, cuja plena frutificação irá recair no novo período, e, por outro lado, a firme intenção de prosseguir no caminho da remoção definitiva das causas profundas que têm entravado o desenvolvimento do sector.
Com base nesta projecção de desenvolvimento para o período de 1967 a 1973, o produto agrícola deverá registar o acréscimo de 3 300 000 contos. A participação do sector na formação do produto interno bruto passará a ser, em média, de 13 por cento e a contribuição do acréscimo do produto bruto do sector para o acréscimo global do produto nacional será de 5,6 por cento.
A contribuição para o aumento da produtividade do trabalho total situar-se-á em 11,3 por cento e a resultante da transferência de cerca de um quarto da população activa agrícola para outros sectores será apenas de 8,6 por cento.
Deverá ser muito significativa a contribuição do sector para reduzir as carências que têm vindo a registar-se nos últimos anos. Assim, entende-se que, com os conhecimentos técnicos actuais e as medidas já tomadas e a promover, se procurará:

Obter o crescimento do produto da cerealicultura (o nível médio verificado nos
últimos doze anos foi de cerca de 2 380 000 contos), apesar da redução que se está a promover da área votada à mesma cultura;
Elevar a taxa de acréscimo anual do produto dos legumes e tubérculos (tem sido, em média, de 1 por cento);
Não diminuir o produto relativo aos «vinhos e aguardentes» (calculado em cerca de 1 850 000 contos);
Manter, se não se puder elevar, a taxa de crescimento do produto do «azeite e azeitona», que no período de 1953-1964 foi de 0,7 por cento;
Acelerar consideràvelmente o crescimento do produto originado pelas frutas e pelos produtos hortícolas e horto-industriais para taxas de 3,5 por cento e 3 por cento (no período de 1953-1964 as taxas médias foram de 2,9 e 1,5 por cento, respectivamente);
Imprimir ritmo particularmente intenso ao crescimento dos produtos relativos a carne, leite e ovos para taxas nunca inferiores a 3 por cento e 3,5 por cento, respectivamente (no período de 1953-1964 as percentagens foram 0,9 e 2), e manter a taxa registada no período de 1953-1964 para o caso da lã (0,3 por cento);
Não baixar as taxas de crescimento do produto originado pela cortiça (1,6 por cento) ao nível verificado nos anos de 1953 a 1964 e acelerar o crescimento do produto do material lenhoso para a taxa de 2,5 por cento; admite-se, por outro lado, uma certa perda de velocidade no crescimento do produto relativo a resina e cascas de tanantes, cuja taxa média anual passará de 7,4 por cento para 5 por cento.

20. Não é possível à secção pronunciar-se sobre as taxas de crescimento que se visa atingir no sexénio, já que elas dependerão de um conjunto de factores imprevisíveis. Regista-se neste parecer o que representam de aspiração.

III

O III Plano de Fomento para 1968-1973

21. No projecto em apreciação figuram os seguintes empreendimentos:

N.º 1 - Estudos de base visando a revisão do aproveitamento do território - Novo arranjo. (Dotação: 12000 contos).
N.º 2 - Hidráulica agrícola - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 895000 contos).
N.º 3 - Aproveitamento dos regadios - Ampliação dos empreendimentos. (Dotação: 755 000 contos).
N.º 4 - Cerealicultura - Novo. (Dotação: 1 804 000 contos).
N.º 5 - Fomento pecuário e forrageiro - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 3 458 000 contos).
N.ºs 6 e 7 - Fruticultura, floricultura e horticultura - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 332 000 contos).
N.º 8 - Vitivinicultura - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 424 000 contos).
N.º 9 - Olivicultura (incluído anteriormente em armazenagem). (Dotação: 10 000 contos).
N.º 10 - Silvicultura, povoamento piscícola e caça - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 1 877 000 contos).
N.º 11 - Mecanização - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 920 000 contos).
N.º 12 - Melhoramentos agrícolas - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 1 430 000 contos).

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N.ºs 13 e 14 - Sanidade das plantas e dos animais - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 214000 contos).
N.º 15 - Extensão agrícola - Prosseguimento dos anteriores planos. (Dotação: 58000 contos).
N.º 16 - Fundo de Fomento de Cooperação - Novo. (Dotação: 120 000 contos).
N.º 17 - Fundo Especial de Reestruturação Fundiária - Novo. (Dotação: 480000 contos).
N.º 18 - Estudos de ordem económica - Novo. (Dotação: 18000 contos).

Total dos investimentos no programado no capítulo I - 14 600 000 contos.
A secção regista o facto de no capítulo sectorial «Agricultura, silvicultura e pecuária», que absorve 11,8 por cento do orçamento do III Plano, figurarem pela primeira vez nos empreendimentos, ou fora deles, cerca de 3 milhões de contos destinados ao pagamento de subsídios para regularização ou melhoria de preços, ou estímulo da produção e outras verbas que se reportam a estimativas de autofinanciamento por parte da lavoura e a aquisições mediante créditos externos.

22. Confrontando os empreendimentos agora considerados com os que figuram no Plano Intercalar de. 1965-1967, que era constituído por dezasseis títulos, verifica-se que desaparecem como autónomos os relativos à armazenagem de produtos, à correcção e conservação do solo e às cooperativas e outras associações de produtores, matéria agora em parte dissociada por outras rubricas.
O empreendimento «reorganização da estrutura agrária» foi eliminado na parte a que se refere à intervenção directa e parcialmente contemplado noutros empreendimentos, nomeadamente nos «fundos», que vêm alargar o campo de acção da Lei de Melhoramentos Agrícolas.
A secção entende que deverão prosseguir os trabalhos em curso incluídos nos empreendimentos agora não considerados e que devem ser-lhes garantidos os meios que assegurem a sua continuidade.
Aparecem agora rubricas novas: «Estudos de base», «Aproveitamento dos regadios», «Cerealicultura», «Olivicultura», «Fundo de Fomento de Cooperação», «Fundo Especial de Reestruturação Fundiária» e «Estudos de ordem económica». Algumas destas rubricas não constituem inteira novidade, pois englobam temas que em projectos anteriores tinham outra arrumação e nomenclatura diversa.
A secção frisa a dificuldade de ter uma ideia de conjunto quanto aos propósitos do III Plano, em relação aos aspectos agrícolas e da vida rural - hoje em dia considerados indissociáveis -, já que muitos problemas complementares dos que constam do programa sectorial que lhe compete apreciar se encontram dispersos por outros capítulos do projecto. E entre estes destaca-se o título III «Planeamento regional», que se admite deva constituir como que o prólogo das acções que naquele deverão integrar-se. Aí se dá largo desenvolvimento à participação agrícola nas- quatro «regiões de planeamento» previstas para o continente e nas dos Açores e da Madeira, mas é matéria que está fora da competência da secção. E parece de referir a atenção limitada dada no capítulo aos problemas agrícolas dos arquipélagos, bem como a necessidade, no futuro, de interligação com os das províncias do ultramar.
Da leitura do projecto do III Plano de Fomento verifica-se, como já se referiu, encontrarem-se postos, por vezes mesmo dotados, problemas relacionados com as coisas agrícolas, nomeadamente nos seguintes capítulos e, portanto, à margem deste parecer subsidiário:

III «Comércio externo»;
V «Melhoramentos rurais»;
VI «Energia» (com referências às obras hidroagrícolas do Mondego e do Guadiana, previstas mas não dotadas);
VII «Circuitos de distribuição» (em que se alude à utilização parcial de frio, mas que não considera a utilização, na sua plenitude e nas suas aplicações polivalentes, da necessária «Rede Nacional de Frio», e aos mercados centrais, matadouros, armazenagem e transportes de produtos agro-pecuários);
VIII «Transportes, comunicações e meteorologia» (referências aos caminhos florestais);
IX «Turismo» (abastecimento em produtos alimentares, caça e pesca);
X «Educação e investigação»;
XI «Habitação e urbanização» (em que se atribuem à Junta de Colonização Interna 4500 contos para problemas de habitação rural);
XII «Saúde»; etc.

E verifica-se que no capítulo X «Educação e investigação», na secção II «Investigação não ligada ao ensino», são focados com algum pormenor aspectos complementares dos que compõem o capítulo em apreciação e que se dotam com 112 000 contos.
Também na secção III «Formação profissional extra-escolar», se faz referência à participação da Secretaria de Estado da .Agricultura e do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, do Ministério das Corporações e Previdência Social, «em associação sempre que possível com os organismos corporativos na formação profissional do trabalhador agrícola», com o objectivo de «desenvolver a acção da formação extra-escolar na agricultura, onde os problemas de mão-de-obra justificam pronta intervenção». Para este fim é atribuída à Secretaria de Estado da Agricultura a importância de 153 980 contos, a sair das verbas do Orçamento Geral do Estado.
Os investimentos para a valorização rural, que tradicionalmente figuravam neste capítulo, transitaram para o capítulo V «Melhoramentos rurais» do título II.
Como já foi expresso, a secção não repetirá as considerações prévias de ordem geral que figuram no seu parecer subsidiário para o parecer n.º 18/VIII, acerca do projecto do Plano Intercalar de Fomento - já que nestes três anos pouco de novo haveria a acrescentar -, nem os comentários feitos nos anteriores pareceres, aos aspectos dos empreendimentos em curso, salvo um ou outro pormenor.
Os propósitos do III Plano, no tocante ao que se refere à agricultura, silvicultura e pecuária, estão definidos no § 2.º do título II, capítulo I «Objectivos», pelo que a análise será um tanto mais demorada no que se refere ao que pode ser considerado como matéria nova nos empreendimentos que constam do capítulo.

A) Apreciação dos empreendimentos

1) Empreendimento n.º 1 - Estudos de base visando a revisão do aproveitamento do
território

23. O empreendimento n.º 1 limita-se à aceleração da colheita de elementos que sirvam para a caracterização regional, nomeadamente quanto a potencialidades produtivas, situações estruturais, etc., trabalhos que, em com-

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plemento dos que se estão realizando, ficarão a cargo do Serviço de Ordenamento e Reconhecimento Agrário. Atribui-se-lhe 12 000 contos. Aquele é sem dúvida material de primordial interesse, desde que seja devidamente utilizado e sempre que possível actualizado. Os elementos que se seguem revelam a situação actual dos trabalhos que desde 1950 vêm sendo realizados pelo Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário, mau grado as dificuldades crescentes quanto a pessoal e encargos.

Carta agrícola e florestal

Até fins de 1966, pelas verbas dos planos de fomento, ou anteriormente com o apoio de outras entidades, foram publicadas 243 cartas (das quais 221 pelo Plano) abrangendo uma zona ao sul de Lisboa-Santarém-Portalegre, a que corresponde a área útil de 3 491 897 ha, ou seja cerca de 50 por .cento da superfície agrícola. Foi também impressa a carta fitoclimática do Algarve e a carta de distribuição da vinha.

Carta de solos e de capacidade de uso do solo

Nas condições referidas para a carta agrícola foram publicadas 49 cartas, cobrindo a área de 2 641 241 ha, que abrangem algumas zonas nos distritos de Castelo Branco, Santarém, Portalegre e Évora e a maior parte dos de Setúbal, Beja e o de Faro.

Carta geral de ordenamento agrário

Foram concluídos os trabalhos relativos à sua elaboração, com base na capacidade de uso do solo e respeitante à região a norte do rio Tejo, trabalho que, embora com muito menos pormenor do que a carta de capacidade do uso do solo, pode, para efeitos de planeamento, e ainda que de forma menos perfeita, suprir a falta das cartas do solo. Os trabalhos realizados referem-se a 5 143 000 ha do território a norte do rio Tejo.
Pretende-se agora seguir o mesmo processo em relação à área do sul do Tejo, não estudada ainda.
Está programada a continuação dos estudos ao nível do distrito, subordinados ao tema "A utilização do solo em Portugal".
É a continuação destes objectivos que com esta rubrica pretende atingir-se e desnecessário é acentuar a função básica deste empreendimento, cuja execução tem sido prejudicada pela lentidão com que se tem processado, e que não se afigura fácil de eliminar com os recursos actuais.
Aliás, outros estudos de base haveria certamente a considerar e como tais podem ser tidos os referentes ao inventário florestal, cadastro vitícola, etc., dispersos por outros empreendimentos,

2) Empreendimento n.º 2 - Hidráulica agrícola

24. Na generalidade dos casos, o capítulo do projecto do III Plano de Fomento renova o que foi proposto no capítulo homólogo do projecto do Plano Intercalar de Fomento.
Quanto ao Plano de Rega do Alentejo, concluídas as obras do Divor (476 ha) e do Caia (7400 ha), que entrou em rega no corrente ano, e estando prevista a conclusão da obra do Roxo para 1968 e a do Mira para 1970, o projecto considera o início dos trabalhos da 2.ª fase, que abrangerá 60 000 ha2.
Figuram, por agora, como fora já anteriormente considerado, o aproveitamento do Alto Sado (3600 ha), o de Odivelas (7300 ha) e o do Grato (4000 ha) e acrescentam-se os blocos do Ardila e de Alcaria-Cuba (45 000 ha), da 1.ª fase do Guadiana. Nesta fase inicial, o aproveitamento do Guadiana, além da construção da barragem e da respectiva central hidroeléctrica, considera o sistema de rega de todo o bloco da margem esquerda e de um primeiro bloco da margem direita, abrangendo 45 100 ha, dos 109 700 ha que serão beneficiados pela albufeira.
É, porém, apenas dotado o aproveitamento do Alto Sado, "a que se confere prioridade, por ser complementar da obra do vale de Campilhas e S. Domingos", e atribuem-se para este e para conclusão dos trabalhos da 1.ª fase do Plano 380 000 contos.
"A execução dos restantes empreendimentos fica condicionada à obtenção de meios financeiros adequados, nomeadamente através de utilização de crédito externo."
A secção não esconde o seu receio de que possam assim surgir impedimentos ao normal prosseguimento das obras do Plano de Rega do Alentejo, dado o crescente interesse económico-social da rega e da valorização das zonas regadas e mostra por este problema, em todos os seus aspectos, o mais vivo interesse.

25. O Plano de aproveitamento hidráulico da bacia do Mondego permitirá a defesa, enxugo e rega de 14 930 ha. Foi este empreendimento largamente apreciado pela Câmara em recente parecer 3, pelo que serão supérfluas novas considerações.
Abrange uma importante zona dos campos do Mondego, mas para o plano em estudo considera-se apenas a construção das barragens da Aguieira e do Alva.
Já no citado parecer subsidiário da secção acerca do capítulo I "Agricultura, silvicultura e pecuária" da parte referente ao continente e ilhas do Plano Intercalar de Fomento se emitiu o voto de que se desse início, tão breve quanto possível, à execução de um empreendimento da maior valia e indispensável, não só à valorização de uma vasta e fecunda região, mas para se evitar o seu contínuo depauperamento.

26. Para a série de realizações que a seguir se indicam, incluindo a obra do Mondego, prevê-se um investimento de 430 000 contos no Orçamento Geral do Estado, sem outras indicações. Não é, assim, possível fazer-se quaisquer comentários. Limita-se a secção a recordar o projectado. Assim, está neste caso o início do estudo do plano de ordenamento dos caudais líquidos e sólidos do rio Tejo, de forma a evitarem-se os frequentes e importantes prejuízos que a situação actual acarreta; a habitual rubrica relativa à frutuosa obra dos pequenos regadios colectivos, através das associações de proprietários, que excedem já uma centena e interessando cerca de 12 500 proprietários, beneficiam mais de 22 000 ha; outras pequenas realizações nas bacias do Tejo, do Lima, do Vouga, do Mondego e do Caia; os aproveitamentos hidroagrícolas da ilha da Madeira; e considera-se, agora, o início das obras de rega nos campos de Vila Real de Santo António-Castro Marim, a construção da albufeira da Retorta, complemento da do Arade (obra de rega de Silves, Lagoa e Portimão), o início da obra no- Vale da Vilariça e na

2 Parecer n.º 34/VII, acerca do Plano de valorização do Alentejo - rega de 170 000 ha. (Câmara Corporativa, Pareceres, VII Legislatura, 1960, II vol., p. 280).
3 Parecer n.º 22/VIU, acerca do Plano geral do aproveitamento hidráulico da bacia do Mondego (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1965, p. 113).

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Cova da Beira, abrangendo 15 000 ha de rega, nos campos do Lima, etc., e a realização de outros estudos e trabalhos complementares.
Este empreendimento é dotado, no seu conjunto, com 895 000 contos, dos quais 380 000 para a conclusão da 1.ª fase do Plano do Alentejo, sendo 430 000 para os restantes trabalhos indicados, excepto os da ilha da Madeira (15 000 contos), renovação de material e estudos diversos (70 000 contos). A secção nota que para tão numerosas realizações, cuja utilidade é manifesta, a verba considerada é limitada e que talvez não permita a execução do enunciado e, bem assim, das obras de regularização fluvial que evitem os assoreamentos que estão comprometendo o aproveitamento de regadios, nomeadamente os do Sorraia, vale do Sado e regiões vizinhas. Está neste caso a construção da barragem, do Grato.
A secção mantém o ponto de vista já expendido quanto à necessidade e urgência de obras de rega, quer dos grandes regadios, quer dos pequenos, colectivos ou individuais. Mas recorda também quantas implicações, que não podem ser descuradas, estas obras acarretam, e que, para que resultem integralmente, terão de ser substancialmente dotadas. A secção sugere que aquando da revisão anual do Plano seja considerado o reforço da verba que o capítulo atribui para as obras de hidráulica agrícola nos seu vários aspectos.

3) Empreendimento n.º 3 - Aproveitamento de regadios

27. Este empreendimento, que aparece pela primeira vez individualizado, visa permitir que a Junta de Hidráulica Agrícola, que iniciou este ano a sua actividade, com uma escassez de recursos materiais a toda a prova, possa, directamente ou através do apoio material aos organismos que por lei têm a seu cargo actuar nos antigos e futuros regadios abrangidos nas áreas de trabalho das associações de regantes, promover o seu integral aproveitamento, que é a justificação de obras tão vultosas.
Está estimada em cerca de 500 000 ha a superfície continental susceptível de rega. A área actualmente abrangida pelas treze associações de regantes é de 44 200 ha de rega e de enxugo, a que se terá de acrescentar em breve a correspondente à 1.ª fase do Plano de Rega do Alentejo - cerca do 25 000 ha, de que estão concluídos os aproveitamentos do Divor e do Caia. Entretanto, conforme o que consta do empreendimento n.º 2, o III Plano de Fomento considerará não só o complemento da obra em curso, como admitirá o início da 2.ª fase do Plano do Alentejo e dos campos do Mondego entre as actuações de maior vulto.
Para além destes terrenos em rega, há ainda a considerar os pequenos regadios- colectivos das associações dos proprietários, que, em fins do 1.º semestre de 1966, eram, como se frisou,, em número de 111, dominando 22 000 ha e incluindo cerca de 12 500 proprietários e cujo prosseguimento está incluído no empreendimento n.º 2, e as barragens particulares que se admite possam ter capacidade para rega de 4000 ha aproximadamente.
Portanto, a superfície a regar em breve deve aproximar-se dos 100 000 ha, muito longe ainda da que pode vir a ser beneficiada pela rega, pelos vários processos que a técnica moderna faculta.

28. No que respeita ao aproveitamento dos regadios, através da actuação das associações de regantes e. beneficiários, há a considerar dois aspectos distintos:

a) Completar os meios de acção nos antigos regadios no sentido de se eliminarem os obstáculos existentes ou que possam surgir e prejudiquem o êxito de um conjunto de obras em que, em Fevereiro de 1959 (13 obras concluídas), já se tinha investido mais de 1 500 000 contos;
b) Planear a exploração de novos regadios, para que se lancem no aproveitamento integral os novos terrenos regados, com a inerente valorização regional.

Não tem sido fácil, nem frutuosa, a actividade da maioria das associações de regantes, e fica em dúvidas e o espírito do diploma que as criou em 1936 será o mais aconselhável na nossa época. São associações que, para atingirem a sua plenitude, precisam de encontrar, não só a compreensão e interesse dos regantes, mas a colaboração de todas as entidades intervenientes no desenvolvimento regional.
É sabido que as bacias hidrográficas constituem os pólos de desenvolvimento de uma região em evolução. Desde o caso tradicionalmente apontado da Valley Authority, do Tenessi, nos Estados Unidos da América, às confederaciones hidrográficas, de Espanha; às sociétés daménagement, em França, e às ente de bonifica, em Itália, fazem parte, ou orientam mesmo, os planos de desenvolvimento, com as suas incidências para além dos aspectos da irrigação e do enxugo, na estrutura da propriedade, bem-estar rural, turismo, incremento industrial, etc.
As sociedades de economia mista, com a participação do Estado, autarquias, actividades económicas e lavradores, são por certo dignas de estudo para realizações deste género, motivo por que aqui se deixa este apontamento.

29. O aproveitamento dos regadios tem de ser conduzido dentro de um equilíbrio regional e nacional, tendo em conta as possibilidades dos consumos nos mercados interno e de exportação.
E tem, sempre que possível, de ser orientado para que nos afolhamentos figurem culturas que paguem os acréscimos que a rega traz ao empresário, que nela deve encontrar um apreciável benefício para a sua economia. Sabe-se, aliás, que se os encargos da exploração de culturas de regadio são sensivelmente mais elevados em relação aos das culturas de sequeiro, extensivas, o seu rendimento é francamente compensador. Exige, sem dúvida, mais capital e mais técnica. E tem, também, de estar em íntima ligação com organizações comerciais e industriais, da lavoura, privadas ou de tipo misto, que assegurem com normalidade e em condições favoráveis o escoante dos seus produtos.
Aponte-se em Portugal um caso recente e bem frisante: a cultura, industrialização e exportação de tomate, que em poucos anos atingiu inesperado e benéfico desenvolvimento. Basta recordar que, sendo a exportação de concentrado de tomate da ordem de 3000 t em 1926, catorze fábricas em produção permitiram elevar esse número para 90 000 t em 1966, com um valor de 512 000 contos, superior ao da exportação de vinho do Porto ou da dos resinosos.
Mas não é de admitir que a maior parte da área regada venha a ser entregue normalmente à cultura do tomate, nem quê não se respeitem as rotações indispensáveis, nem que o número de fábricas a instalar venha a ser tal que dentro em breve possamos estar perante um problema de superprodução, ou ainda, o que é de considerar, sujeitos a rígida concorrência dos países parceiros neste cultivo, o que acarretaria graves problemas a uma actividade promissora que, neste caso, só em 5 por cento é absorvida pelo mercado interno.

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A secção focou com maior largueza este aspecto por a indústria do tomate estar sendo, como a da celulose para pasta de papel, ponto de atracção das actividades industriais de produtos agrícolas e florestais. Entende, porém, ser da maior conveniência que se diversifique o mais possível a industrialização no País dos produtos de origem agrícola.

30. Do exposto, resulta a necessidade de apreciáveis investimentos nos antigos e novos regadios, nomeadamente quanto a meios de penetração e de comunicação que permitam a execução oportuna dos trabalhos agrícolas e o escoante de produtos; a generalização da electrificação agrícola; a montagem de campos de estudo e do divulgação; a formação de regantes adaptados às culturas e às características do meio, designadamente onde os regadios não tenham tradições; estudos económicos; a gestão de rega e das explorações agrícolas; a determinação de normas e padrões de trabalho, etc.
A instalação de parques de material agrícola, nomeadamente de material pesado e de alto custo, que não se justifica sejam propriedade individual; os estudos dos planeamentos dos perímetros, não só no aspecto sectorial, como no global, e sua inserção em planos de desenvolvimento; os apoios às direcções-gerais para a realização de trabalhos a seu cargo, quer quanto ao melhor aproveitamento dos antigos regadios, quer nos constantes do Plano do Alentejo; as verbas destinadas a subsídios e empréstimo e estímulo para instalações comerciais e agro-industriais, indispensáveis complementos dos regadios - todas estas funções, que cabe à Junta de Hidráulica Agrícola impulsionar, justificam a verba de 755 000 contos atribuída a este empreendimento.

31. Espera-se que seja o mercado externo que venha a absorver parte apreciável das novas produções dos regadios. Embora haja na orgânica do Estado um Fundo de Fomento de Exportação, com funções generalizadas, dadas as características muito especiais da exportação de produtos agrícolas - condições técnicas, reacções dos mercados, concorrência de países com características agrícolas similares, vantagens e desvantagens em face dos grupos económicos europeus -, a secção recorda que quase todos os países estão promovendo a organização de instituições exclusivamente destinadas à propaganda e estudo da colocação comercial de produtos agrícolas nos mercados externos.
A própria Inglaterra - país em que a agricultura tem lugar muito secundário - viu a sua produtividade duplicar nos últimos anos, permitindo que cada agricultor assegure a alimentação de 33 concidadãos, e acaba de organizar, interessando produtos da ou para a agricultura, o Instituto Britânico de Exportação Agrícola, cuja primeira realização externa teve lugar na Feira do Ribatejo, em Santarém, no corrente ano.
É bem conhecida a actividade da "Federexport" italiana, órgão especializado da associação de produtores "Federconsorzi". É conhecida a sociedade mista francesa S. O. P. E. X. A., o "Office pour la Propagando des Produits de l'Agriculture Suisse", a "Agrexco", de Israel, etc.
São sentinelas vigilantes em contínua observação e dando directrizes para que o escoante dos produtos ou a introdução em cultivo daqueles que mais interesse possam oferecer se processe da forma mais conveniente. Se esta acção é de interesse para muitos produtos, tem nos provenientes dos regadios, pela sua natureza especial, um papel predominante.
A secção entende ser um dever pôr em realce este aspecto do problema.

4) Empreendimento n.º 4 - Cerealicultura

2. A intensificação cultural nos terrenos de maior aptidão é o objectivo deste empreendimento, que figura pela primeira vez nos planos de fomento.
Como nota preambular, apresentam-se os seguintes números quanto à produção de cereais (números médios do quinquénio de 1960-1964):
Toneladas
Trigo .................. 526 108
Milho .................. 561 855
Centeio ................ 162 510
Cevada ................. 56 160
Aveia .................. 79 200
Arroz .................. 169 290

O predomínio da cultura processa-se da seguinte forma:

Trigo - Regiões agrícolas de Beja, Évora, Portalegre - 64,4 por cento.
ilho - Regiões agrícolas de Braga, Porto, Aveiro e Coimbra - 60,1 por cento.
enteio - Regiões agrícolas de Bragança, Vila Real, Guarda e Porto - 61,4 por cento.
Cevada - Regiões agrícolas de Beja, Évora, Portalegre, Santarém - 62,1 por cento.
Aveia - Regiões agrícolas de Beja, Évora, Portalegre - 63 por cento.
Arroz - Regiões agrícolas de Vale do Tejo, Sorraia e do Sado - 72,1 por cento.

Por bem elucidativos, apresentam-se os seguintes números, conforme elementos do Instituto Nacional do Pão:

Trigo

Ver Tabela na Imagem]

a) Não inclui consumo das casas agrícolas; cerca de 100 000 t para alimentação e de 80 000 t para semente.
b) Números provisórios;

Milho

Ver Tabela na Imagem]

(a) Números provisórios.

O consumo total para pão de milho pode estimar-se entre 250 000 t a 300 000 t.

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Centeio

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Números provisórios.

O consumo total para pão de centeio pode estimar-se entre 120 000 t e 130 000 t.

Sorgo exótico e trigo exótico forrageiro:

Importação - 1962-1967 - 164 317 t.

Estes números são o suficiente para tirar quaisquer dúdas quanto à importância que a cerealicultura desempenha ainda, e desempenhará, na economia agrícola do continente.
A importação do arroz regula por 18 000 t anuais, ou seja mais de 10 por cento da produção média.

33. O problema da cerealicultura não deve ser considerado isoladamente, porque a rotação cultural implica associação com outras espécies de culturas, nomeadamente de leguminosas e de forragens.
Daqui, também, não dever, sob os aspectos económicos e sociais, ser considerada cada uma das espécies cultivadas de per si, nomeadamente se a política económica seguida não abarcar, na medida do possível, as mais importantes, procurando desfazer situações mais vincadas quanto a protecções, tratamentos e diferenciações regionais.
O problema dos cereais - culturas de sequeiro ou de regadio - é sempre dos mais incisivos, pela influência que o nível quantitativo da produção tem na formação do produto nacional, na economia privada do produtor e na do consumidor, dado que a sua maior parte se destina ainda ao fabrico do pão, com todos os seus reflexos económico-sociais.
Sabe-se que tem sido meritório o esforço desenvolvido neste sector desde a campanha do trigo em 1929, e conhecem-se os altos e baixos que tem tido a produção, mau grado os esforços e progressos da técnica, os incentivos financeiros e a obstinação dos produtores perante as adversidades do meio, suportando prejuízos por vezes bem pesados. Mas também é certo que, a cultura do trigo, tem encontrado, em especial a partir da campanha de 1948-1949, com. a fixação prévia do preço, um amparo que não se verifica em relação a qualquer outro produto agrícola. Em muitos dos terrenos, contra-indicados para a cultura, são as exigências da vida das famílias que não permitem que se faça a reconversão cultural sem que se disponha de um apoio técnico e de um amparo de ordem financeira durante um número apreciável de anos, o que, num e noutro aspecto, não foi possível ainda conseguir, e admite-se até que não seja fácil.
34. Portanto, e considerando que, de acordo com a tendência geral, diminua na alimentação humana a capitação de cereais, que será por certo ultrapassada pelo maior consumo das várias espécies na alimentação dos gados, a melhoria das condições de produção e o equilíbrio desejável entre a produção dos vários cereais só será possível em curto prazo mediante:

1) Uma activa intervenção de carácter técnico;
2) Medidas financeiras de amparo e de protecção que coloquem tanto quanto possível em paridade as várias espécies de cereal.

35. Urna das acções técnicas que tem sido das mais marcantes é, e continuará por certo a sê-lo, a do fornecimento de boas sementes, não só seleccionadas quanto à sua pureza, mas com as características que melhor, se adaptem às condições normais do meio. Assim, podem considerar-se relevantes os contributos que a Comissão Reguladora do Comércio de Arroz e a Federação Nacional dos Produtores de Trigo, nos respectivos campos de acção, têm desenvolvido. E, consciente das necessidades da investigação e da experimentação - base de uma assistência directa à lavoura -, é de salientar o apoio dado aos serviços do Estado pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo com os seus largos contributos materiais para o funcionamento da Estação de Melhoramento de Plantas, de Eivas, e com a instituição, por sua iniciativa, das Estações de Cerealicultura - a de Beja, em pleno funcionamento e oficializada em 1963, junto da capital da zona produtora de trigo, e a de Braga, anunciada em 1966, aquando do 40.º aniversário da revolução de 28 de Maio, ainda em instalação, mas já com início dos trabalhos de campo e que, pela zona em que se situa, se ocupará em especial dos problemas do milho. Esta cultura está atingindo no complexo dos cereais uma posição internacional, muito longe de se suspeitar ainda há poucos anos, nomeadamente quanto aos milhos híbridos, e que tanto poderá contribuir, sem afectar os problemas do ultramar, para o incremento da pecuária.
Nesta, e noutras actividades complementares, a Federação Nacional dos Produtores de Trigo contribuiu, dentro da sua função específica, com mais de 30 000 contos, valores não actualizados, para permitir aos serviços, do Estado exercerem uma acção mais válida para o progresso da cerealicultura. E assim figuram no projecto em apreciação, em autofinanciamento, mais 10 000 contos para a instalação das Estações de Cerealicultura de Braga e de Beja.

36. A secção congratula-se por ver especialmente dotado o problema, sem dúvida difícil, da multiplicação de sementes de novos cultivares de centeio, dada a importância de que se reveste hoje esta cultura num esquema de reconversão. O interesse da produção do sorgo forrageiro, matéria, aliás, de há muito ventilada entre nós, figura entre as preocupações do Governo. O mesmo critério deve estender-se às sementes de cevada e de aveia.
No capítulo em exame, atribui-se a verba de 1 804 000 contos para este empreendimento, a obter através de dotações do Estado e dos organismos intervenientes no sector, nomeadamente da Federação Nacional dos Produtores de Trigo e da Comissão Reguladora do Comércio de Arroz, que chamam a si encargos da ordem dos 115 700 contos para prosseguimento da montagem da rede de selecção de sementes, armazenagem, mecanização de celeiros, etc. Parece não ficar deslocado recordar o alto contributo destes organismos para o fomentos da técnica da produção, a par da intervenção que desempenham no escoamento dos produtos e outros auxílios à lavoura.
É atribuída uma verba substancial de 1 620 000 contos - a terceira em ordem, de grandeza no conjunto dos empreendimentos - para fomento da produção cerealífera, sem que se concretize qual a sua aplicação. A secção pode

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admitir seja correspondente aos presumíveis encargos dos regimes cerealíferos e que, aliás, não figuraram nos anteriores projectos dos planos de fomento. Nada a opor.
s outras rubricas referem-se à conservação do solo e melhoramento das condições de exploração, que devem incluir a drenagem - aspecto fundamental -, a despedrega e outras acções que permitam ou facilitem a adopção dos meios mecânicos, a fertilização, a defesa da erosão, a racionalização das rotações por meio de estudos e ensaios, etc., já que não só os apoios financeiros poderão dar solução satisfatória a este problema fundamental.
Como definição da doutrina do Governo, recordam-se a do Decreto-Lei n.º 45 595, de 15 de Outubro de 1965, relativo ao regime cerealífero, e o despacho de 31 de Março de 1966, publicado no Diário do Governo n.º 189, 1.ª série, de 15 de Abril do mesmo ano.

5) Empreendimento n.º 5 - Fomento pecuário e forrageiro37. Este é outro dos aspectos fundamentais do desenvolvimento da nossa agricultura, que não pode ser apreciado como tema separado, por, na maioria dos casos, estar interligado com os da cerealicultura e mesmo com os da arborização.
São múltiplas as facetas que a pecuária oferece, não apenas como produtora de carne, leite, ovos, etc., consumidos em natureza ou industrializados -, mas como base da matéria orgânica indispensável à valorização dos solos.
À secção parecia mais formal designar o empreendimento por "Fomento forrageiro e pecuário", já que o primeiro é a base do segundo, especialmente se se admitir, como necessário é, que se caminhe cada vez mais para as espécies mais selectas, que são as que necessitam de alimentação mais cuidada e abundante. Portanto, parece ser motivo de especial cuidado tudo quanto diga respeito à melhoria das nossas pastagens, quer de regadio - em progressivo aumento -, quer de sequeiro, e em todas as regiões do País, de acordo com as suas características, em especial naquelas em que, pelas suas condições naturais, a pecuária tem larga tradição, nomeadamente as espécies bovinas, e onde uma selecção de sementes, quanto à composição e sua qualidade, pode de forma mais rápida e fácil trazer largos benefícios, não só à economia regional, como ao País.
Ao empreendimento é reservado, em ordem de grandeza a primeira dotação do capítulo - 3 458 000 contos -, dos quais 1 481 500 contos para fomento e melhoramento bovino (carne), ovino, suíno e avícola e 960 000 contos para o do leite, e que a secção admite se destinem, para além de acções de fomento zootécnico, aos encargos com o subsídio atribuído à carne de bovino adulto e aos destinados ao preço do leite, e de recria e de conservação de vacas leiteiras. Mas julga de frisar que os benefícios considerados devem estender-se à carne de ovinos e que, por isso, deve ser revista a distribuição das verbas. Para o melhoramento da produção forrageira (será este o capítulo mais indicado para a sua colocação, ou não merecia ser considerado um empreendimento autónomo?) reservam-se 516 000 contos.
À secção afigura-se ser do maior interesse que se estimule e auxilie a prática da "compartimentação das pastagens".
Segundo o serviço de reconhecimento e ordenamento agrário, a área ocupada pelos prados permanentes é avaliada em 107 000 ha, dos quais cerca de 90 000 ha de sequeiro e 17 000 ha de regadio, ou sejam 2 por cento da superfície agrícola do continente.
E no domínio silvo-pastoril admite-se que ultimamente tenham sido executados, pelos serviços florestais, trabalhos abrangendo perto de 400 ha no continente e 1600 ha nas ilhas adjacentes.
As restantes dotações destinam-se à inseminação artificial, contrastes funcionais, livros genealógicos: e assistência técnica às explorações, em prosseguimento do programado no Plano Intercalar de Fomento.

38. O quadro seguinte revela a evolução do consumo de carnes no continente. A produção do leite aumentou em cerca de 15 por cento, pelo que, devido ao aumento do consumo em natureza, diminuiu a quantidade destinada à industrialização, e neste aspecto foi a manteiga o sector mais afectado. Em contrapartida, tem evoluído favoravelmente o fabrico do leite condensado e em pó, do queijo e dos produtos dietéticos.

Consumo de carnes no continente

(Em toneladas)[Ver Tabela na Imagem]

A exportação de lãs tem diminuído de forma sensível nestes últimos anos, e desceu em 1966 a 600 t, quando a produção nacional regula pelas 12 000 t. Por outro lado, a exportação de gado ovino, iniciada em 1963, processou-se como se segue:
Cabeças
1963 .................. 54 977
1964 .................. 20 867
1965 .................. 24 918

Segundo informação da Corporação da Lavoura, nos últimos anos os números evoluíram da seguinte forma:1966 ....................... 50 0321967 (até fins de Julho) ... 55 455
A industrialização de carne de suíno mantém-se praticamente no mesmo nível.
Consideram-se ainda actualizadas as considerações que constam do já referido parecer subsidiário de Outubro

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de 1964 anexo ao parecer n.º 18/VIII, acerca do projecto do Plano Intercalar de Fomento, pois, mau grado providências posteriores, nomeadamente os despachos do Ministério da Economia de 10 de Abril de 1965 e de 7 de Abril de 1967 e os estímulos de ordem material estabelecidos, não foi ainda possível melhorar convenientemente a situação, conforme revelam os números anteriormente apresentados, ainda que em parte baseados no confronto com o último arrolamento geral do gado, em 1955, que, como é fácil de aperceber, deve considerar-se largamente ultrapassado. Eis um aspecto do problema para que a secção chama a atenção do Governo: o da actualização das estatísticas relacionadas com a agricultura, dado, neste caso especial, o interesse fundamental de se conhecerem os nossos efectivos pecuários. Parece, entretanto, poder afirmar-se que nos últimos anos tem havido tendência apreciável para o aumento da produção de carne de bovinos adultos e redução de abate de vitelos, aumento numérico e melhoria de qualidade dos ovinos, aumento sensível na produção e no consumo de carne de aves, o que permitiu, no seu conjunto, o abastecimento à custa da produção interna em 95 por cento.
Continua-se registando a baixíssima capitação no consumo de leite (251 por cabeça), de manteiga e de queijo.
O quadro que segue esclarece os objectivos em vista no tocante às necessidades em carne e leite de vaca.

Necessidades em carne e leite

[Ver Tabela na Imagem]

39. O problema da pecuária ocupa posição fundamental em toda a parte. Em França, por exemplo, representa mais de 60 por cento do produto da agricultura e interessa a 5 milhões de rurais e a 1 500 000 explorações. Representa um movimento de 30 milhões de francos. Por estes motivos, tem particular interesse e oportunidade como elemento de consulta o desenvolvido estudo «L'élevage en question», que constitui o número de Fevereiro-Março de 1967 da revista Paysans e que insere o texto da Lei de 28 de Dezembro de 1966.

6) Empreendimentos n.ºs 6 e 7 - Fruticultura, horticultura e floricultura

40. Neste domínio, o objectivo proposto para o III Plano de Fomento é a fruticultura e horticultura crescerem a taxas anuais nunca inferiores a 3,5 e 3 por cento, respectivamente.
Diz-se no capítulo em exame que «este é um dos ramos do sector agrícola que se espera venha a assumir papel motor do progresso da agricultura nacional». Assim deve ser, e só poderá estranhar-se que o seu desenvolvimento, nos múltiplos aspectos e facetas que apresenta, se tenha processado tão lentamente. O empreendimento é dotado com 332 000 contos, dos quais 250 000 destinados a comercialização, que engloba a montagem das estações fruteiras e, bem assim, se obstáculos já tradicionais não o impedirem, a instalação e a modernização de mercados abastecedores.
Embora neste, como noutros sectores da nossa agricultura, o conjunto de acções englobado na expressão «comercialização» seja fundamentai, parece haver uma flagrante desproporção entre a verba que lhe é atribuída e as diferentes acções técnicas que o vasto campo de acção destes empreendimentos abrange, e que se referem ao fomento da produção das pomóideas e prunóideas, uva de mesa - sector da maior importância -, horticultura e floricultura, a que se destinam, no conjunto, 76 000 contos; instalação do viveiro nacional, estudos sobre preparação de sumos de frutos, etc.
Neste, como noutros aspectos, não nos devemos isolar das realidades. A base de expansão das culturas será o aumento do consumo dos produtos em fresco, secos ou industrializados. E temos de considerar os mercados nacional e externos. Não nos devemos confinar às perspectivas optimistas - justamente consideradas em tantos casos -, porque não deve esquecer-se que a concorrência quanto ao aumento das produções e exportações, se processa de igual modo e que, por circunstâncias várias, em muitos casos não estaremos nas condições mais favoráveis. A documentação que o relatório do grupo Kitter, em missão da O. C. D. E., apresentou em Outubro de 1966 por incumbência do Instituto Nacional de Investigação Industrial, é bastante esclarecedora sobre «as possibilidades de desenvolvimento das indústrias alimentares portuguesas - fruta e legumes», nomeadamente quanto às possibilidades de exportação; exigências dos mercados consumidores e de preços e o aparecimento de novas regiões exportadoras, como a Formosa, etc. Citam-se, neste aspecto, que terão maiores possibilidades de exportação para além do concentrado de tomate, até certo limite, que se estima num aumento anual na ordem das 20 000 t, o tomate pelado, o feijão, verde, os espargos, os pimentões, as beringelas, os cogumelos e os alperches.
E a recentíssima monografia da O. C. D. E. - Próduction des Fruits et Legumes - Situation actuclle et perspectives 1970 - Portugal - analisa as lacunas do nosso meio para um estudo integral do problema, .lacunas essas frisadas nos anteriores pareceres da secção.

41. Quanto a frescos exportáveis, a Junta Nacional das Frutas considera com maiores probabilidades de êxito entre os frutos os seguintes: uvas de mesa, pêssegos, citrinos, damascos, ameixas, cerejas, melões e morangos; e entre os produtos hortícolas o tomate, a cebola, as ervilhas, o feijão verde, a cenoura, os agriões, os pepinos, os pimentões, os espargos, a couve-flor, os espinafres e a batata-primor.
É igualmente susceptível de um mercado interessante, como, aliás, já se vem verificando, ainda que em escala limitada, a exportação de sementes de produtos hortícolas, de forragens e de flores e de plantas ornamentais.
É certo que o mercado interno da indústria, praticamente artesanal, da conserva de frutos, tem-se desenvolvido, mas o consumo é ainda sem expressão numérica, embora tenha a grande vantagem do aproveitamento dos frutos de pior qualidade comerciável.
A secção julga impor-se tirar o maior partido das instalações do Laboratório de Tecnologia dos Frutos instalado na Tapada da Ajuda, no programa do II Plano de Fomento.
É, porém, preciso não esquecer o mercado interno com nítida possibilidade de evolução favorável, não só devido

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ao acréscimo populacional, mas à melhoria do nível de vida com as suas implicações na dieta alimentar. Para isso torna-se indispensável uma intensa e objectiva campanha tendente ao esclarecimento do consumidor, que teria valioso apoio no Instituto de Nutrição, que se preconiza, e uma profunda modificação dos habituais métodos de comercialização.
O já citado relatório da O. C. D. E. admite a possibilidade de incrementar a nossa exportação em frutos e legumes, especialmente das qualidades precoces, já que considera o nível actual de exportações muito limitado e também a necessidade de reorganização dos métodos seguidos no mercado interno.
A melhoria da qualidade e a compressão dos custos de produção, a adaptação das estruturas comerciais e o aumento das indústrias transformadoras são considerados pontos básicos. Dá-se ainda particular relevo ao desenvolvimento da horto-fruticultura nos novos regadios do Alentejo.

42. Por tudo o exposto, afigura-se à secção que este empreendimento deveria ser mais largamente dotado, já que haverá, também, que imprimir ao Conselho de Coordenação de Fomento Frutícola e ao Centro Nacional de Estudos e de Fomento da Fruticultura uma actividade marcante.
E, dada a reconhecida influência das abelhas na fecundação dos pomares, para além do valor higiénico e económico que o mel representa, a secção sugere que se inclua, neste ou noutro empreendimento, uma dotação para o fomento apícola.

7) Empreendimento n.º 8 - Vitivinicultura

43. A vinha ocupa no País 350 000 ha, ou seja 3,9 por cento da superfície total do continente e 8,5 por cento da superfície agrícola.
Os objectivos do Plano de Fomento neste domínio serão a generalização do uso das máquinas; a redução dos custos da produção; novas normas para a instalação e reconversão dos vinhedos; a adaptação dos vinhedos antigos à mecanização; o prosseguimento do plano das adegas cooperativas; a continuação dos trabalhos anteriormente programados, como seja o estudo do valor das castas e dos porta-enxertos; defesa sanitária; a melhoria da qualidade do vinho, etc.
Esta rubrica é dotada com 424 000 contos, dos quais 300 000 para financiamento às adegas cooperativas, verba que a secção considera escassa. Aliás, a secção advoga o restabelecimento da política do subsídio parcial para a construção de adegas cooperativas.
A matéria deste emprendimento julga a secção aplicarem-se integralmente as considerações que constam do parecer subsidiário acerca do capítulo I «Agricultura, silvicultura e pecuária» da parte referente ao continente e ilhas do projecto do Plano Intercalar de Fomento na rubrica «Reestruturação de vitivinicultura», tão modestamente dotada.
E parece poder afirmar-se que daí a esta parte os problemas se agravaram. A produção média do decénio de 1956-1965 - 111 352 000 hl - foi 63 por cento superior à do decénio de 1926-1935. Daqui algumas das dificuldades verificadas e realçadas, se se recordar que a vitivinicultura chama a si 11 por cento do produto agrícola bruto e interessa a 300 000 explorações.

44. O problema da vitivinicultura está Intimamente ligado ao dos mercados internos e externos, quer para os vinhos de mesa, quer para os generosos.
Conhece-se e louva-se o que a técnica e as organizações nacionais ligadas ao problema têm realizado com a comprovada melhoria dos tipos de vinho lançados pelas adegas cooperativas, já em número de 92, pouco menos de metade das programadas (220) e seus reflexos nas adegas privadas.
Conhece-se e louva-se o esforço meritório dos organismos oficiais, dos de coordenação económica e de algumas das principais casas exportadoras na difusão do vinho português de mesa - não falando já no caso especial e consagrado do vinho do Porto -, que, com inteligência na orientação do seu comércio e mercê de uma propaganda bem organizada, ainda que dispendiosa, e em ritmo crescente, estão contribuindo, não só para o prestígio das suas marcas, mas para a dos vinhos portugueses, acção tanto mais meritória quanto se sabe de que grau é a concorrência dos vinhos de outros países e os meios de toda a ordem a que se recorre. E de registar também a evolução que está tendo no ultramar o consumo do nosso vinho.
Assim, a exportação de vinho comum para os mercados estrangeiros passou de 22 milhões dê litros, no período de 1959-1960, para 72 800 000 em 1965. Um esforço digno de registo.
Para o ultramar, a exportação evoluiu de 100 milhões de litros em 1955 para 137 600 000 em 1965.

45. O capítulo dedica verbas especiais para o fomento do cooperativismo e para a organização do cadastro vitícola (40 000 contos), em seguimento da doutrina fixada nos despachos ministeriais de 7 de Fevereiro, 9 de Maio e 16 de Novembro de 1966, que estabelecem se estudem quatro aspectos considerados fundamentais:

1) Condicionamento da cultura da vinha;
2) Demarcação das regiões e cadastro vitícola;
3) Uva de mesa;
4) Comercialização do vinho.

A secção não deixa de reconhecer a necessidade da existência de um cadastro actualizado das plantações existentes. Constitui ele, aliás, uma compreensível aspiração dos organismos intervenientes na economia vitivinícola. A este propósito, é justo recordar o valioso trabalho quanto ao Cadastro dos vinhos (que englobou o das castas) feito na sua área pela Junta Nacional do Vinho e publicado em 1942, e os realizados, ainda que em bases possivelmente diversas, quanto às vinhas, pelos organismos das zonas demarcadas. Sabe-se que igualmente as extintas brigadas de fiscalização do plantio da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas cadastraram todas as novas plantações, substituições e retanchas, durante os largos anos em que actuaram em todo o País. Desconhece-se se esses elementos serão utilizáveis e se a sua consulta poderá vir a contribuir para facilitar a execução de um trabalho que será forçosamente muito demorado e dispendioso, em material e pessoal especializados.
Os 84 000 contos restantes destinam-se a estudos dos terrenos, do valor cultural das castas e porta-enxertos, de sanidade vegetal e de estudos enológicos; de aproveitamento de subprodutos (72 200 contos) para experimentação e montagem de sete unidades industriais, e assim se formar uma rede de instalações de aproveitamento.
Escusado enaltecer o interesse destes trabalhos, dado o que a vinha e o vinho representam para a nossa lavoura, pelo que de novo se recorda a necessidade do complemento da unidade experimental de Dois Portos, integrada no Centro Nacional de Estudo Vitivinícola, que se deseja

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exerça a sua finalidade em pleno, e dos organismos oficiais de experimentação e ensino, nomeadamente da Estação Vitivinícola de Anadia e do Douro (Régua e Pinhão).
E recorda-se também a necessidade de se intensificarem os estudos e divulgação da mecanização da cultura e a publicação de uma nova lei do plantio da vinha, de forma a disciplinar a produção, contribuindo para o esclarecimento da política vitivinícola nacional.
Neste sector, e como acção complementar, regista-se a publicação do Decreto n.º 47 338, de 24 de Novembro de 1966, que criou a Administração-Geral do Álcool e seu estatuto, com o fim de «exercer o exclusivo da produção e distribuição do álcool».

8) Empreendimento n.º 9 - Olivicultura

46. Resume-se este empreendimento, dotado com 10 000 contos, ao prosseguimento da política de estímulo à organização de cooperativas de olivicultores e à montagem pela Junta Nacional do Azeite de armazéns de recolha, programa que no Plano Intercalar de Fomento estava englobado nos capítulos «Cooperativas e outras organizações de produtores» e «Armazenagem de produtos agrícolas».
Então, foi amplamente justificada a realização de empreendimentos deste género - o número de cooperativas atinge actualmente 60 unidades e os armazéns têm uma capacidade de 14 milhões de litros - e a secção nada tem a acrescentar ao que se conhece, lamentando apenas que seja tão limitada a importância destinada a este objectivo, que é da maior premência, através do Fundo de Melhoramentos Agrícolas.
De facto, a comparticipação de 2000 contos, em seis anos, para o equipamento de lagares parece quase simbólica.
A secção recorda que, embora citada no texto do capítulo em apreciação, não se consigna qualquer verba destinada ao fomento de azeitona de conserva, hoje em dia de grande interesse para a exportação.
Recorda também a necessidade da entrada em funcionamento, o mais breve possível, das instalações construídas em Eivas para a Estação da Olivicultura, já que a evolução acelerada por que passa o meio rural tem trazido a esta cultura, por falta de mão-de-obra e de maquinaria apropriada para os amanhos e para a colheita, justificadas preocupações, agravadas ainda pela concorrência de outros óleos vegetais.
No capítulo (n.º 20) alude-se ao facto de nos estudos realizados para a elaboração da parte do projecto em que se trata da «investigação não ligada ao ensino» se considerar «um projecto de investimento que abrange os aspectos que mais interessam, de momento, à olivicultura», aliás não especificado no respectivo capítulo. Para a necessidade urgente do estudo da «reconversão da olivicultura» e do melhor aproveitamento dos subprodutos permite-se a secção chamar a atenção do Governo.
De registar com aplauso, pelo sentido de oportunidade, o debate a que deu origem o Colóquio sobre Olivicultura Moderna que o Grémio da Lavoura de Abrantes promoveu em 1965.

9) Empreendimento n.º 10 - Silvicultura, povoamento piscícola e caça

47. O objectivo do capítulo neste empreendimento traduz-se no desenvolvimento da arborização e no melhoramento silvo-pastoril dos terrenos particulares.
A produção global do continente em produtos florestais, segundo o Instituto Nacional de Estatística (1964), traduz-se nos seguintes números:

Material lenhoso - 6 773 000 m3.
Cortiça - 265 000 t.
Resina - 93 000 t.
Outros produtos - 439 000 t.

O valor da exportação representa 1/4 do valor da exportação total do continente e 3/5 do produto do sector, agrário.
Nos trabalhos do engenheiro silvicultor Veloso Gaio apresentados em 1965 no IV Congresso Florestal Mundial figuram os elucidativos quadros e comentários que se transcrevem:

Produção de material lenhoso

(Em milhares de metros cúbicos)

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Origem: Instituto Nacional de Estatística.
(b) Origem: autor.

Não incluímos o volume do material lenhoso abandonado nas diversas operações e que, só quanto ao pinheiro, é estimado em 3 milhões de metros cúbicos.
Na extrapolação, para prever a área ocupada em 1975, considerou-se que no caso do pinheiro a área actual se desenvolveria a ritmo ligeiramente superior ao do decénio passado, devido ao estímulo da procura sempre crescente da madeira e por se tratar, ainda, de uma espécie de grande rusticidade e bem adaptada aos condicionalismos edafo-climáticos do território do continente. Para o eucalipto previu-se que a expansão da área seria mais importante, calculando-se que até 1975 a produção actual quase duplicaria, por esta espécie ter para o proprietário florestal grande atractivo em .resultado do rápido crescimento vegetativo e da garantia de consumo de material lenhoso. Nas restantes espécies considerou-se uma expansão ou retracção de área, com ritmo idêntico à do decénio anterior; para o sobreiro e castanheiro admitiu-se uma expansão ligeiramente superior, em consequência da política de protecção de que gozam; para as espécies polivalentes na indústria transformadora, cuja expansão se deverá intensificar com o Plano de Rega do Alentejo, considerou-se que o aumento de produção se concentraria principalmente nesta espécie.
Estudada a produção, falta outro parâmetro - o consumo -, para se determinar a disponibilidade de material lenhoso que pode ser destinada à transformação tecnológica.
A previsão para 1975 foi estimada com base na . provável evolução estabelecida nos planos de fomento, nas autorizações concedidas de montagem de grandes unidades industriais, grandes consumidoras de material lenhoso, e ainda na normal evolução da conjuntura madeireira.

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Estimativa do consumo de madeiras em 1964 e 1975

(Em milhares de metros cúbicos de madeira redonda)

[Ver Tabela na Imagem]

O simples paralelo entre os. valores globais da produção e consumo actual de madeiras mostra que o primeiro excede largamente o segundo em mais de 2 milhões de metros cúbicos, garantindo então, pela sua abundante potencialidade, ao nível nacional e sem destrinça de espécie lenhosa, o abastecimento da indústria transformadora, mesmo que a expansão em curso na fabricação de celulose, das placas de fibra e de madeira aglomerada, se desenvolvesse com mais intenso ritmo. Segundo o relatório da comissão ad hoc para o investimento florestal (trabalho preparatório para o III Plano de Fomento), as previsões do consumo de madeira para a indústria de celulose são as seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Dada a forma como, parece, se processou, por vezes, o comércio de madeira para a indústria, afigura-se à secção ser de considerar o estudo da sua regulamentação.

48. Neste empreendimento há dois aspectos básicos a considerar: a actuação nos terrenos sob a administração directa do Estado e nas propriedades particulares, além dos casos específicos do povoamento piscícola, da caça, etc.
Durante dezoito anos, desde a publicação do Decreto-Lei n.º 34 394, de 27 de Janeiro de 1945, o fomento da arborização da propriedade particular esteve a carge da Direcção-Geral dos Serviços Florestais.
Os Decretos-Leis n.ºs 45 443, de 18 de Dezembro de 1963, e 45 793, de 6 de Julho de 1964, vieram desmembrar esta orgânica, por então se admitir ser mais vantajoso isolar as acções de fomento das da experimentação e da administração das matas e dos baldios, do Estado ou das autarquias. Entretanto, já este ano se considerou mais conveniente que houvesse uma orientação única nos problemas florestais e, mantendo-se os dois organismos autónomos, atribui-se a sua chefia a uma mesma individualidade. Se bem que o interesse comum seja tirar-se o maior rendimento dos serviços e meios de actuação, a mudança a curto prazo de ideias fundamentais parece não ser a melhor orientação, sem que, no entanto, a secção se pronuncie quanto ao critério que venha a julgar-se; mais conveniente.
A título de esclarecimento, anote-se que, na campanha 1966-1967, o Fundo de Fomento Florestal promoveu a arborização de 10 365 ha,, beneficiou a instalação a 1750 ha de pastagens e forneceu cerca de 2 500 000 e 130 t de sementes.
49. O capítulo em estudo atribui 1 877 000 contos a este empreendimento, dos quais 300 000 ao prosseguimento do Plano de Povoamento Florestal, de acordo com a Lei n.º 1971, de 15 de Junho de 1938 - as matas do Estado ocupam 58 000 ha. do quais 45 000 ha são arborizados e correspondem a menos de 2 por cento da superfície total das florestas, número que nos coloca na cauda dos países europeus. A cadência da arborização tem-se processado nos últimos anos em cerca de 12 000 ha, e o capítulo pretende venha a atingir 13 500 ha anuais no continente e 1500 ha nas ilhas adjacentes. São votados à beneficiação e gastos do património florestal do Estado 358 000 contos.
Mas a verba principal - 1 130 000 contos - é consignada à recuperação florestal e silvo-pastoril em solos de capacidade de uso não agrícola da propriedade privada, ao abrigo da Lei n.º 2069. Figuram mais 12 000 destinados à organização e gestão da propriedade florestal privada, para permitir que, segundo diploma a publicar, os serviços florestais possam passar a vir a orientar a exploração das matas particulares, o que se afigura medida louvável, dada a importância que o ordenamento hoje em dia oferece.
Prevê-se que no decurso do III Plano de Fomento, por execução directa ou por iniciativa privada, apoiada técnica e financeiramente pelo Estado, possam a vir ser beneficiados 309 000 ha, dos quais 100 000 ha com pastagens em regime silvo-pastoril.
Estas importantes dotações são, quanto à secção, os aspectos mais salientes do capítulo do projecto do III Plano de Fomento na parte florestal e vêm interligar-se com outras acções programadas, nomeadamente no que respeita à reconversão cultural.
E se se admitir que, dos 5 milhões de hectares considerados sem utilização agrícola ou de outra ordem, só 2 800 000 ha estão ocupados pela floresta e pastagens e que o rendimento da floresta poderá atingir 5 milhões de contos, quando actualmente não chega a 3 milhões, verifica-se que há um enorme esforço a realizar neste sector, agravado com as exigências que o consumo ininterrupto das indústrias, nomeadamente de celulose, vêm provocar, para o qual é manifestamente insuficiente o pessoal técnico de todas as qualificações que as escolas existentes estão formando. A secção chama a atenção do Governo para este ponto e recorda o que no já citado parecer subsidiário para, o parecer n.º 18/VIII acerca do projecto do Plano Intercalar de Fomento se disse quanto a escolas de ensino e formação profissional, nomeadamente para os filhos dos guardas florestais.
Entre outras rubricas dotadas, contam-se as destinadas à conclusão do inventário florestal, abertura de acessos e de meios de defesa contra os incêndios nas matas e o rencial (45 500 contos), reforço de verbas do Orçamento prosseguimento do importante trabalho de correcção tor-Geral do Estado, etc.

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A prevenção e combate contra incêndios nas florestas são destinados 13 000 contos, verba que se afigura escassa perante a crescente transcendência que o problema oferece, ainda recente e tão tristemente documentado com a tragédia da serra de Sintra.
A secção considera este problema, pelas suas repercussões económicas e pela segurança das inatas, das povoações e da população, como merecedor de profundo, se bem que urgente, estudo e a necessária estruturação dos serviços com meios e pessoal especializado, o que será certamente impossível de obter com a verba indicada.
Finalmente, são também dotados o fomento de riqueza ictiológica das águas interiores e do fomento cinegético - cuja estrutura acaba de ser profundamente alterada com a publicação da Lei da Caça (Lei n.º 2132, de 26 de Maio de 1967), através das medidas de defesa e de incremento da fauna e pelo estabelecimento de parques de reserva.

10) Empreendimento n.º 11 - Mecanização da agricultura

50. No já referido parecer subsidiário desta secção, de Outubro de 1964, diz-se, a propósito da mecanização da agricultura, que constituem matéria basilar «o apetrechamento da Estação de Cultura Mecânica» e a «extensão» da sua actividade na acção regional. Parece manterem-se, aliás com inteira oportunidade, as considerações que então se produziram sobre o problema da mecanização, que requer cuidadosa atenção nos aspectos técnico e económico. E há que não esquecer que, em certos limites e ocasiões, não pode eliminar-se por completo a contribuição do gado de trabalho.
Os números que seguem revelam, mau grado a sua magreza, em relação aos padrões europeus, a notória evolução que a mecanização tem sofrido nos últimos anos na exploração agro-florestal, se se tiver em conta que a superfície agrícola cultivada é estimada em 4 130 000 ha, distribuídos por cerca de 800 000 explorações agrícolas em que se pratica a cultura arvense, e, destas, cerca de 95 por cento com uma área inferior a 10 ha, perfazendo no conjunto 32 por cento da superfície agrícola. E o predomínio do minifúndio é um dos grandes obstáculos ao emprego de máquinas agrícolas, nomeadamente daqueles modelos que as fábricas de expansão mundial produzem. Assim, segundo o relatório do Grémio dos Importadores, Agentes e Vendedores de Automóveis e Acessórios do Sul, no ano de 1966 foram registados 3249 tractores, contra 2406 no ano de 1965, atingindo, em fins de 1966, 19 000 o número de tractores em circulação no País, a grande maioria destinados a trabalhos agrícolas, número esse que dobrou de 1960 a esta parte. Deste total, corça de 600 foram montados no País. Mas esse efectivo, para que se atinja a relação um tractor para 100 ha de terras agricultáveis - número ainda dos mais baixos da Europa -, deveria ser de 41 300 unidades!
Quanto à evolução do parque de máquinas agrícolas de maior projecção, os últimos números que se conhecem são os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Os estudos económicos, os de propaganda das cooperativas de utilizadores de máquinas agrícolas, os núcleos

e mecanização e as escolas de tractoristas terão de ser incluídos entre as actividades a desenvolver, no que se convencionou designar por «acção regional». Um aspecto também a considerar: facilitar-se a existência de caminhos e de acessos que permitam a movimentação das máquinas. Os incentivos à indústria nacional de máquinas, nomeadamente das adaptáveis às condições do meio, devem ser considerados.
É muito modesta a contribuição do Orçamento Geral do Estado - 20 000 contos, dos quais 15 000 destinados ao equipamento da Estação de Cultura Mecânica, que urge venha a ser uma realidade, para dela saírem os estudos técnicos e meios de ensino e de vulgarização indispensáveis.
O capítulo em exame admite a possibilidade de recurso a outras fontes de financiamento até ao montante de 900 000 contos, para efeitos de mecanização das empresas agrícolas, o que se afigura de muito interesse, mas, deve fazer-se com a prudência indispensável para se evitarem situações difíceis.
A secção manifesta a necessidade que há em que seja regulamentado o comércio de maquinaria agrícola.

11) Empreendimentos n.ºs 13 e 14 - Sanidades das plantas e dos animais

51. Estes empreendimentos visam o prosseguimento das medidas profilácticas e curativas que devem adoptar-se para a defesa das culturas, para a sanidade das plantas e dos animais e para a salvaguarda dos produtos armazenados.
Destinam-se a este fim 214 000 contos, dos quais 114 000 para a sanidade das plantas e 100 000 para a das espécies pecuárias.
A matéria é de tal magnitude que serão sempre insuficientes as verbas que lhe forem atribuídas, que, é bom não esquecer, serão largamente compensadas, especialmente pela acção preventiva, que evita prejuízos por vezes de tão graves repercussões.
No campo da sanidade vegetal, embora reconhecendo-se o interesse da homologação dos produtos fitofarmacêuticos (aprovação oficial destes produtos mediante a prévia verificação das suas características), parece à secção desproporcionada a verba destinada a este fim - 30 000 contos -, já que, abstraindo da parte destinada à defesa das florestas contra pragas e doenças, no prosseguimento dos programas habituais ou novos, ficam neste empreendimento, apenas, 38 000 contos para as outras modalidades de actuação, cuja importância é manifesta.
Tem a secção conhecimento de que está concluído o novo edifício da Tapada da Ajuda destinado à Estação de Sanidade Vegetal e sabe também quão dispersas se encontram as actividades oficiais, de interesse continental ou ultramarino, deste importantíssimo sector. Assim, afigura-se-lhe oportuno e formula o voto de que o Governo reveja o problema da defesa fitossanitária nas suas várias modalidades, de forma a dotá-la de uma estrutura que, não só dê mais completa satisfação aos aspectos científicos, da técnica aplicada e da penetração junto da lavoura, como venha a permitir a melhor utilização de meios e entreajuda dos técnicos, com o maior rendimento das verbas disponíveis, evitando-se dispersões ou duplicações sempre inconvenientes.

52. Quanto à sanidade dos animais, o empreendimento, dotado com 100 000 contos, é a continuação do que figura no II Plano de Fomento e no Plano Intercalar de Fomento. Mantêm plena actualidade os comentários e sugestões que figuram no já citado parecer subsidiário rela-

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tivo ao projecto deste último. Como matéria nova, regista-se a inclusão de uma verba especial para a campanha de luta contra a tuberculose e brucelose bovinas nos Açores.
A secção conhece as dificuldades com que os serviços pecuários se têm encontrado quanto às indemnizações a pagar pelo gado abatido devido à febre suína africana. No capítulo não se faz qualquer alusão a este problema, embora se admita que quanto aos estudos em curso esteja considerado no relativo à investigação. Entende, porém, de fazer esta referência.

12) Empreendimento n.º 15 - Extensão agrícola

53. Ainda que seja de interesse secundário a designação dada ao empreendimento, visto que o fundamental é alcançar-se o objectivo em vista, a secção uma vez mais recorda que. entre nós, não tem justificação usar-se a expressão norte-americana «extensão agrícola».
Mas, seja assim ou de outra forma designado o conjunto de acções directas junto da lavoura, do que não resta a mínima dúvida é de que este modo de actuar, por tantos minimizado, tem interesse fundamental e, mau grado os progressos verificados na assistência técnica e na vulgarização, é das modalidades de apoio mais solicitadas, especialmente pela média e pequena lavoura e pelos que têm na faina agrícola uma actividade complementar.
Como condição básica para o seu sucesso está a preparação dos divulgadores, quer seja rio aspecto das práticas de cultura, quer no da gestão das explorações, nos estímulos ao cooperativismo e ao incremento do emparcelamento ou da agricultura de grupo, no ensino profissional, quer, ainda, no apoio à juventude rural masculina e feminina, mesmo que não se trate de pessoas votadas integralmente aos trabalhos agrícolas.
É um campo de acção que requer uma especialização adequada para o pessoal que lhe está adstrito, que deverá ser recrutado nos diversos escalões profissionais, dados os tipos das tarefas que convém sejam distribuídas a cada.
O que é possível obter-se quanto à recolha de aspirações da lavoura e sua orientação através dos assistentes dos centros de gestão constitui um precioso meio de trabalho que está entre nós ainda em fase meramente inicial.

54. Mas o que é já uma realidade concludente - e com uma projecção que atravessou fronteiras, de tal forma que a F. A. O. admite seja instalado no País um centro internacional de preparação de quadros - é o trabalho desenvolvido pelo Serviço de Extensão Agrícola Familiar, iniciado pela Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, e que, graças ao substancial apoio posterior da Fundação Calouste Gulbenkian, pode, oito anos após o início de trabalhos, recebido por muitos sem grandes esperanças, apresentar os seguintes números:
Em 1967, abrangendo todos os distritos do continente e dois dos Açores, funcionaram 29 centros fixos e 45 ambulantes, dispondo para a assistência dada, de apreciável número de senhoras com os cursos de engenheiro agrónomo e regente agrícola e de assistentes sociais, instrutoras e auxiliares, altamente qualificadas, e apoiadas em 16 carros-escolas e em 10 viaturas de transporte, na sua quase totalidade oferecidos pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Desde o fim de 1958, em que os trabalhos foram iniciados, até ao presente, realizaram-se 697 cursos, com a assistência de 14 600 raparigas dos meios rurais, com mais de 14 anos de idade, o que representa um apreciável avanço neste sector, com a implícita divulgação de conhecimentos e uma consequente receptividade das famílias para os problemas técnicos de maior premência, o que é de pôr em relevo, tanto mais que no campo masculino ainda não foi possível dar execução ao que em tempos foi esboçado.

55. O capítulo dedica 58 000 contos para este empreendimento, o que se afigura não ser demasiado, muito pelo contrário, dados os elevados encargos que uma actividade desta natureza, para ser eficiente, origina em pessoal ultra especializado (que é indispensável preparar) e em material didáctico e de vulgarização o mais diverso - de que os serviços estão muito deficientemente dotados - e em despesas de deslocação.
Consigna-se a verba em causa ao apoio de centros de gestão, que, para terem objectividade, têm de ser numerosos, ao contrário do que se tem verificado; aos encargos com as explorações agrícolas de demonstração, de experiências de extensão agrícola integral e ao apoio do fomento da cerealicultura. Que se pretende atingir?
Parece que, quanto a centros de gestão, que permitem a análise da economia das explorações, e daí tirarem-se conclusões e directrizes, aumentar em dez o número bem limitado dos já existentes a cargo dos serviços do Estado nas áreas das regiões agrícolas do Porto e de Braga. Estes estudos foram iniciados em Portugal pelo Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian, e se por vezes não têm encontrado a compreensão, simpatia e apoio que merecem, têm, por outro lado, permitido auscultar os anseios de auxílio técnico-económico, especialmente por parte da média e pequena lavoura, e, em poucos anos, prestar-lhe proveitosos ensinamentos de ordem económica.
As explorações agrícolas de demonstração visam «ensaiar uma assistência total à empresa agrícola» em algumas dezenas de explorações dispersas em todo o País através do um conselho técnico permanente junto dos seus proprietários e empresários., garantindo os serviços oficiais os proventos que em média retiram actualmente das mesmas.
Se bem que se aponte o êxito que iniciativas semelhantes têm tido em vários países, a secção permite-se pôr reservas quanto ao seu sucesso entre nós, dada a nossa maneira de ser, especialização necessária e elevados encargos que uma actuação desse género traz. Nada obsta, no entanto, que, a título experimental e no sentido de se preparar o pessoal necessário, se actue nesta modalidade.
A experiência do estabelecimento de um sistema de extensão agrícola integral em seis concelhos da área dos novos regadios do Alentejo e nos campos do (Mondego, que, afigura-se à secção, seria mais bem localizada no empreendimento n.º 3 «Aproveitamento de regadios», pode oferecer indiscutível interesse e deverá iniciar-se com a maior brevidade, já que os trabalhos desta natureza deveriam antecipar-se, sempre que possível, à entrada em rega dos novos perímetros. O objectivo destes estudos, que visam analisar os aspectos económicos dos regadios, confunde-se com a matéria prevista na alínea b) do empreendimento n.º 3 (cf. supra, n.º 28).

56. Com a inclusão neste empreendimento de uma rubrica de «Apoio ao fomento da cerealicultura» - matéria que constitui o empreendimento n.º 4 -, pretende estimular-se através de uma larga assistência técnica, todas as acções de fomento que vão ser empreendidas no campo da cerealicultura. Mas, porque só e apenas nesta modalidade, quando toda a exploração agro-pecuária e florestal ião necessitada está deste apoio?

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E porque considerá-lo neste empreendimento, já que quanto a organização, armazenagem, etc., foram remetidas para os empreendimentos de base as acções complementares para o seu êxito?
Consideram-se ainda no quadro do empreendimento 6000 contos destinados à formação e especialização de dirigentes de cooperativas e outras associações de produtores, o que é de manifesta urgência e interesse. Como o é também a formação profissional acelerada, que, por certo poderá beneficiar do apoio financeiro do (Ministério das Corporações e Previdência Social, adentro do seu programa neste sentido.
Afigura-se à secção que, quanto a este empreendimento, objectivos e verbas atribuídas, haverá que fazer-se uma cuidadosa revisão.

57. Mas a acção directa junto da lavoura exige um conjunto de intervenções que não se limitam a pormenores do sector, mas sim a um apoio técnico-económico, especializado ou global, para o qual não se encontra qualquer apoio financeiro, e que necessita, também, de uma coordenação de esforços que não se coaduna com o sistema actual de trabalho, quer por parte de organismos oficiais, quer de actividades paraoficiais ou privadas que se interessem pelo fomento da agricultura. E necessita, com os demais empreendimentos, de elevado número de agentes categorizados, de que os serviços não dispõem e cujos encargos não estão certamente incluídos nas verbas orçamentadas.
Seria do maior interesse que, a exemplo do que se verifica em alguns países, as organizações da lavoura dispusessem - como de certa maneira se está verificando na louvável iniciativa do Nordeste transmontano - de quadros técnicos privativos, mas, na quase totalidade dos casos, não dispõem de estruturas nem de meios financeiros que permitam a manutenção de tão elevados encargos. Aqui se deixa, no entanto, este apontamento.

58. Assim, continua tendo cada vez maior oportunidade a criação de um conselho nacional de vulgarização agrícola, como já foi preconizado anos atrás, para, a título consultivo, definir programas e coordenar actividades.

13) Empreendimentos n.ºs 12, 16 e 17 - Melhoramentos agrícolas, Fundo de Fomento de Cooperação e Fundo Especial de Reestruturação Fundiária

59. Tem sido de tal maneira frutuoso o recurso às facilidades concedidas pela Lei de Melhoramentos Agrícolas que no decorrer de vinte anos (1947-1966), foi possível, por intermédio da Junta de Colonização Interna, realizar o que o quadro seguinte ilustra:

[Ver Tabela na Imagem]

Nota. - Os empréstimos destinam-se quer a beneficiar individualmente os agricultores (proprietários ou rendeiros), quer a facultar capitais aos diversos tipos de organizações da lavoura (cooperativas, associações de regantes, grémios da lavoura, etc.). São reembolsáveis em prestações escalonadas.

Só no ano de 1966 as importâncias concedidas para empréstimos à lavoura atingiram 220 000 contos.
A intervenção que os serviços têm tido neste campo de acção justifica, como no capítulo em apreciação se frisa, «centralizar no Fundo de Melhoramentos Agrícolas todos os meios financeiros de que se possa dispor para o fomento das explorações agro-pecuárias e silvo-pastoris em condições de garantida rentabilidade».
Mas, como ficam entregues à administração da Junta de Colonização Interna os fundos a que este parecer passa a referir-se, afigura-se à secção, para apreciação do volume de financiamento em conjunto, serem de considerar simultaneamente os fundos dos empreendimentos n.ºs 16 e 17 do capítulo em estudo, respectivamente:

a) Fundo de Fomento de Cooperação;
b) Fundo Especial de Reestruturação Fundiária.

60. Melhoramentos agrícolas. - Para atingir os objectivos específicos do Fundo, é este elevado com 1 430 000 contos, dos quais 25 000 se destinam ao conveniente apetrechamento em pessoal e instalações dos serviços regionais da Junta, que, nunca é de mais frisar, deverão constituir, quanto a instalações, um agregado juntamente com os dos restantes departamentos do Estado no sector agro-pecuário florestal.
A secção chama a atenção para o facto de o financiamento do III Plano de Fomento, e nomeadamente dos «Fundos», ser atribuído na maior parte a instituições de crédito, o que poderá trazer dificuldades à obtenção de meios, pelo que entende que as fontes de financiamento do capítulo deverão ser diversificadas, recorrendo-se mesmo a novas modalidades.

61. O Fundo de Fomento de Cooperação criado pelo Decreto-Lei n.º 44 720, de 23 de Novembro de 1962, e agora dotado de 120 000 contos inteiramente reintegráveis, destina-se a proporcionar, por meio de empréstimos, a médio prazo às associações de produtores o fundo de maneio necessário à sua criação e funcionamento nos primeiros tempos, com o apoio dos organismos oficiais agrícolas com representação nas comissões técnicas regionais, instituídas pelo despacho de 15 de Abril de 1966, com o objectivo de aglutinar a participação dos diversos serviços do Estado, actuando numa dada região, nos problemas agrícolas, mas cuja eficiência se admite não tenha ainda, por circunstâncias diversas, podido corresponder ao espírito que as idealizou e que corresponde, por inclusão de técnicos de outros sectores e especialidades, a uma ampliação dos fins das comissões regionais

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de agricultura. Estes núcleos de técnicos e de lavradores, para poderem exercer cabalmente a sua finalidade, necessitariam de possuir um serviço de apoio permanente, a cargo de pessoal privativo, que não só asseguraria a sua eficiência, como serviria de base às comissões lê desenvolvimento regional, que a boa vontade de muitos, dadas as imperiosas necessidades de momento, está procurando estrutrar, como revelam os recentes colóquios realizados em várias regiões do País e ainda recentemente em Évora, Braga, Coimbra, Abrantes, etc., mas sem que disponham dos elementos de base que a improvisação não permite obter.
Convém recordar que os problemas do crédito na agricultura continuam sendo uma das grandes preocupações dos economistas agrários que não os separam de outras actividades complementares da exploração agrícola, como seja a cooperação nas suas diversas modalidades. Pela importância que estes aspectos revestem, a secção recorda o que consta do volume referente ao 48.º Congresso Nacional da Mutualidade, de Cooperação e de Crédito Agrícola, que teve lugar em Cannes, em Junho de 1966, bem como referir o interesse que possa oferecer à anunciada reforma do crédito agrícola em Portugal a criação de uma instituição de economia mista como o Consórcio Nacional para o Crédito Agrícola de .Melhoramento, existente em Itália.

62. Finalmente, o novo Fundo Especial de Reestruturação Agrícola corresponde ao que no projecto de proposta de lei acerca da orientação agrícola se denominava «Fundo de Orientação e Reorganização Agrária» e destina-se à «reorganização fundiária nas áreas de elevada potencialidade produtiva levada a cabo por iniciativa da propriedade privada ou promovida nos empreendimentos integrados no desenvolvimento regional», emparcelamento e outras modificações de estrutura, e é dotado com verbas anuais de 80 000 contos, dos quais 70 000 para empréstimos, que se admite serem a longo prazo, e 10 000 para comparticipações, ou seja com 480 000 contos na vigência do Plano. Não será esta verba muito limitada para a magnitude do problema, nomeadamente quanto à parte atribuída a comparticipações?
Este Fundo satisfaz a aspiração consignada na base VI do projecto de proposta de lei. acerca da orientação agrícola e para a sua execução foram oportunamente apresentados, ao Governo dois projectos: o da lei de trocas (para facilitar o emparcelamento) e o da lei de agricultura de grupo, sendo de admitir a necessidade de se promulgar nova legislação sobre a matéria.

63. A secção dá o seu apoio ao espírito que informa estes empreendimentos, e, dado que é a Junta de Colonização Interna que terá a seu cargo a orientação destas actividades, parece que uma vez mais se impõe, como se propôs no projecto de proposta de lei n.º 508. de 28 de Novembro de 1959, que, dado o alargamento das suas funções, o organismo passe a denominar-se Instituto de Fomento Agrário.

14) Empreendimento n.º 18 - Estudos de ordem económica

64. Repetidas vezes tem sido posto em relevo - mesmo em anteriores pareceres da Câmara Corporativa - que a agricultura portuguesa não dispõe, para os vários escalões e tipos de problemas, de órgãos suficientes e actualizados, dedicados ao estudo dos aspectos económicos e que, no nosso tempo, são indispensáveis para apoio do Governo e orientarem a agricultura no seu labor.
Salvaguardado o caso de uma iniciativa privada, o Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian, instituído em 1958 e integralmente votado à investigação nos campos da economia e da sociologia, faltam nos quadros do Estado os órgãos especializados à escala nacional e regional, já que o meritório esforço dos organismos de coordenação económica incide apenas nos sectores que a cada um respeita. E a parte, dispersa, de que os serviços oficiais dispõem neste sector é bem limitada.
Portanto, a figurar no capítulo em estudo, este empreendimento - estudos económicos -, seria de admitir que fosse o início de uma estruturação à escala nacional de um problema básico, e portanto largamente dotado, por requerer não só pessoal e meios de trabalho que implicam avultados dispêndios, como a estruturação de uma orgânica vasta, que possa vir a aproveitar da colaboração de todos os contributos já existentes no sector.
Não é esse o nível do empreendimento em causa, mas sim reforços dos meios de acção das comissões técnicas regionais, terna já abordado no empreendimento n.º 16, pois estas «exigem o conhecimento especializado da situação económica e demográfica das várias regiões».
Afigura-se à secção que tal objectivo só será alcançado se houver um órgão central que estabeleça directrizes para harmonizar, na medida do possível, a orientação dos trabalhos de forma a, nos aspectos em causa, poder concatenar-se o que de disperso exista e estruturar-se a acção futura.
E este empreendimento dotado com 18 000 contos, verba que pode considerar-se exígua ou exagerada em relação ao que às comissões técnicas regionais, com os recursos de que dispõem, vier a ser solicitado.
A secção é de parecer de que dispomos de órgãos a mais e de estruturas e de coordenação a menos, o que não só dispersa como duplica a actividade dos técnicos e individualidades que fazem parte das numerosas comissões que se encontram por esse país fora, como dificulta a decisão dos sectores responsáveis e as realizações convenientes e oportunas.
Por outro lado, constituem por vezes as comissões, a mais alto nível, elementos que pela sua hierarquia ou não podem ter participação efectiva nos trabalhos ou estão muito afastados dos problemas de sentido local em causa.
Afigura-se mais à secção que, para além da indispensável descentralização dos serviços do Estado, há que estabelecer, no quadro regional, uma sólida unidade, de acção que permita concentrar esforços e orientar as colaborações entre os serviços do Estado, as organizações privadas dos vários sectores económicos e entidades várias, que, com carácter permanente ou eventual, possam prestar contributo válido para a valorização agrícola e o desenvolvimento regional.
Caso contrário, raramente poderão ter a desejada concretização esforços e boas vontades, que, aliás, não estão em causa.

65. Figuram ainda no total dos 14 600 000 contos destinados ao programa sectorial «Agricultura, silvicultura e pecuária» duas rubricas:
Outras iniciativas, 1 563 000 contos. Equipamento a adquirir, 230 000 contos.
Segundo o que foi possível conhecer, a primeira verba diz respeito ao que, no período do III Plano de Fomento, se admite venha a constituir autofinanciamento por parte da lavoura no sentido de valorização das suas explorações por compra de material e outros investimentos.
Quanto à verba de 230 000 contos, refere-se a equipamentos a adquirir por meio de crédito externo.

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IV

Conclusões

66. A secção de Lavoura da Câmara Corporativa, depois de analisar e discutir o capítulo I «Agricultura, silvicultura e pecuária», do título II «Programas sectoriais». da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, entende que o mesmo deve ser aprovado na generalidade, com as reservas, observações e sugestões contidas neste parecer, e emite os seguintes votos ou conclusões especiais:

1) Tendo em consideração a falta de reservas financeiras da lavoura, a insuficiente rentabilidade da empresa agrícola e outros factores ligados à vida dos campos, nomeadamente os efeitos do êxodo rural, pensa a secção que sem uma forte, bem estruturada e persistente acção de conjunto do Estado, através de todos os meios ao seu alcance j não será possível dar solução efectiva aos problemas básicos da nossa agricultura, nem operar a revitalização do sector, tal como urge e se impõe;
2) Entre os meios a utilizar com vista à defesa e progresso da agricultura, tem posição relevante tudo quanto respeita ao financiamento da lavoura, sustentando a secção que devem estruturar-se em novos moldes as diferentes modalidades do crédito agrícola e que deve reforçar-se a acção do Fundo de Melhoramentos Agrícolas como instrumento principal e eficiente do crédito fundiário;
3) A secção entende deverem merecer urgente solução os problemas ligados k promoção profissional e à protecção social do trabalhador e do pequeno empresário agrícola; e é também de parecer que se aconselha alargar os meios legais e materiais de actuação da organização corporativa da agricultura;
4) A secção pensa que devem ser reforçadas as verbas do capítulo em exame que constituem encargo do Orçamento Geral do Estado e que se mostrem insuficientes para se atingirem os fins em vista, e que a utilização dessas verbas e das outras previstas, embora de origem diferente, se efectue com suficiente mobilidade e nos momentos mais adequados à efectivação das despesas;
5) A secção espera que os outros capítulos sectoriais do projecto do III Plano de Fomento não directamente relacionados com a agricultura, mas tendo forte incidência sobre ela, se estruturem por forma a servirem os seus interesses, contribuindo para o impulso que se impõe dar ao sector agrícola. Encontram-se neste caso, nomeadamente, os capítulos referentes aos circuitos de distribuição, à educação e investigação, aos transportes, comunicações e meteorologia e ao planeamento regional;
6) A secção põe em relevo a patente insuficiência das verbas previstas no capítulo com destino ao prosseguimento das obras de hidráulica agrícola, o que vem afectar a realização de obras indispensáveis, tais como a 2.a fase do Plano de Rega do Alentejo, o aproveitamento hidroagrícola do Mondego e os demais empreendimentos planeados;
7) Ainda no que respeita à hidráulica agrícola, é parecer da secção que não deve considerar-se qualquer obra como realizada desde que concluídos os trabalhos de construção civil, pois que para o bom êxito dos empreendimentos há que atender a outros aspectos, tais como os respeitantes à protecção florestal, à correcção torrencial, ao desassoreamento e defesa das margens dos terrenos regados, à adaptação ao regadio, ao estabelecimento de indústrias complementares; a secção também- pensa que deve fomentar-se a instalação dos pequenos regadios, pelas vantagens económicas e sociais que comportam, simplificando-se, igualmente, o processo burocrático que condiciona o seu licenciamento e os auxílios que o Estado faculta.

Palácio de S. Bento, 11 de Agosto de 1967.

José Maria de Morais Lopes [desejo deixar expresso o meu pensamento acerca do seguinte:
I) Quanto ao empreendimento n.º 9. - Entendo que as verbas para ele consignadas são notoriamente insuficientes e que o sector olivícola recebe no projecto do Plano de Fomento tratamento diferente ao conferido a outros sectores de menor relevância na vida económica portuguesa, pelo que resultará injustamente minimizado.
II) Quanto ao empreendimento n.º 10. - Entendo que a secção não deve pronunciar-se sobre os actos de administração que estão na base da promulgação dos Decretos-Leis n.ºs 45 443 e 45 793, de 16 de Dezembro de 1963 e de 6 de Julho de 1964, respectivamente, até porque, aprofundando o problema, poderá a opinião da Câmara ou de alguns Dignos Procuradores que a compõem ser diferente da que se vislumbra no n.º 52 do parecer em análise.
De facto, durante os dezoito anos que antecederam a cissiparidade entre o Fundo de Fomento Florestal e Aquícola e a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, com inerente criação de serviços próprios naquele organismo, não consta que qualquer obra efectiva, de execução e financiamento, tenha sido levada a cabo no concernente à instalação de povoamentos florestais na propriedade particular.
Porém, conforme citação do parecer, o referido Fundo de Fomento, numa simples campanha de actuação, financiou e executou a arborização da 10 365 ha, instalou pastagens sob regime silvo-pastoril em 1750 ha - tudo no domínio da propriedade particular - e forneceu plantas e sementes, como já o vinha fazendo a Direcção-Geral, em quantidades no mesmo parecer referidos por defeito e" que, já agora, o signatário deseja rectificar para as reais dimensões, da ordem de 12 900 000 plantas e 240 t de sementes:

No subsequente n.º 53 do parecer anota-se que a substancial verba de 1 130 000 contos é consignada à satisfação dos programas de florestação da propriedade particular no próximo hexénio, ao abrigo da Lei n.º 2069. Cumpre-me referir que essa lei - até hoje não regulamentada e que apenas contempla a instalação de florestas de exclusiva função protectora, assim e presumivelmente não produtivas - foi perfeitamente incon-

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sequente e terá sido superada pela doutrina e disposições dos decretos-leis atrás citados, ao abrigo dos quais virá procurar-se a recuperação pela floresta e pela silvo-pastorícia das terras particulares de capacidade não agrícola e para cuja execução o projecto de plano em análise consigna os recursos financeiros referidos].
José Marques.
Luís Manuel Fragoso Fernandes [sem prejuízo da aprovação na generalidade do parecer, quero deixar expresso o meu pensamento acerca do seguinte:
1.º É indispensável que, sobre o aspecto financeiro, se assegure uma efectiva execução dos programas, pelo que se torna necessário aumentar, de forma substancial, as dotações proveniente do Orçamento Geral do Estado e dos fundos autónomos, ainda que à custa da redução das verbas atribuídas à execução de outros programas sectoriais;
2.º A possibilidade de emissão de promissórias por parte do Fundo de Melhoramentos Agrícolas deve ser considerada, como por igual se deverá estudar a possibilidade de utilização, pelo sector agrícola, de fundos provenientes da previdência;
3.º Considero tarefas essenciais a um rápido e estável progresso do sector a instituição dos créditos de colheita e de campanha, a criação de seguros contra intempéries, calamidades e prejuízos com as epizootias;
4.º Consideradas as circunstâncias em que se processa a comercialização da quase totalidade dos produtos agrícolas, entendo que deve alargar-se a generalização do regime de «contratos colectivos» e a constituição de «consórcios» e de se proceder à montagem das indispensáveis rede de armazenagem, rede nacional do frio e rede de transportes complementares, pois são tarefas indispensáveis, que condicionam tudo o que se quiser fazer com vista a conseguir-se a elevação do nível de vida dos agricultores;
5.º Considero insuficientes as verbas previstas no capítulo com destino ao prosseguimento das obras de hidráulica agrícola, o que vem afectar a realização de obras indispensáveis, tais como a 2.ª fase do Plano de Rega do Alentejo, o aproveitamento hidroagrícola do Mondego e os demais empreendimentos planeados: Cova da Beira (15 000 ha), Silves, Lagos e Portimão, campos do Lima, Veiga da Vilariça, etc.;
6.º Tendo em consideração o desigual desenvolvimento do território metropolitano e as condições de vida das populações das regiões mais atrasadas e deprimidas, entendo que se deve fazer um sério esforço de concentração de investimentos, com vista a modificar esta situação, recomendando a necessidade de se proceder ao estudo de planeamentos regionais, assentes em critérios económico-sociais e nas relações de complementaridade das zonas afins;
7.º Considero de importância fundamental a existência de uma assistência técnica à agricultura, eficiente, unitária, actualizada e pronta, e entendo que, no prosseguimento do caminho já encetado através do pensamento expresso no Decreto-Lei n.º 44 740, de 29 de Novembro de 1962, essa assistência deve ser transferida para as organizações da lavoura, e continuando a caber à administração pública a coordenação e orientação técnica da mesma, em estreita ligação com os resultados da investigação e experimentação agrícola].

Manuel de Jesus Selôres.
José Mercier Marques.
António Martins da Cunha e Melo (perfilho a declaração de voto do Digno Procurador Luís Manuel Fragoso Fernandes).
José Estanislau de Albuquerque e Bourbon de Barahona Fragoso [vencido na apreciação do empreendimento n.º 2 (Hidráulica agrícola) quando a secção manifesta o «receio de que possam assim surgir impedimentos ao normal prosseguimento das obras do Plano de Rega do Alentejo», isto é, de que não se iniciem nos próximos seis anos as obras da 2.ª fase desse Plano. Consequentemente vencido também quanto à conclusão n.º 6.
Entendo que a Nação tira maior proveito se antes de essas novas obras se completarem com todas as necessárias os pequenos e grandes regadios existentes e os que terão início em 1968 (Roxo) e 1970 (Mira), incluindo as obras necessárias ao nível da exploração para que exista bom uso da água. Como exemplo citam-se dois grandes regadios: um em terras pobres (o da Idanha), outro com elevada percentagem de terras ricas (o do Sorraia). O primeiro rega oficialmente 8090 ha - em 1957 regaram-se 3800ha e em 1966, 3822 ha. Note-se que este regadio está longe de ser intensivo, e, em grande parte da área, pratica-se a antiga rotação de sequeiro, em que e milho dos alqueives é regado. A obra do Sorraia beneficia oficialmente 15 300 ha - em 1965 foram regados 10 343 ha e em 1966, 9530 ha. Este regadio viveu praticamente do arroz (50 por cento) e do tomate (22 por cento).
Para além destes exemplos, a situação de aproveitamento dos grandes e pequenos regadios existentes; e os índices de produtividade neles obtidos confirma a preocupação exposta no projecto do Governo em considerar prioritários os investimentos que levam, através de obras complementares, aos mais elevados índices de intensificação cultural de tais empreendimentos, parcialmente realizados. A evolução que aceleradamente se está operando nos nossos campos parece exigir mais a criação imediata de riqueza do que, preferentemente, de criação daqui a seis anos - se não mais - de novas infra-estruturas, embora igualmente importantes. Por isso apoiamos incondicionalmente as consideráveis verbas que o Governo, neste Plano de Fomento, atribui ao «Aproveitamento dos regadios» e opinamos que elas sejam reforçadas com os financiamentos que venham a ser obtidos, de modo que essa política seja alargada também aos regadios particulares de todo o País].

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João Afonso Ferreira Diniz (perfilho a declaração de voto do Digno Procurador Luís Manuel Fragoso Fernandes).
Aníbal Barata Amaral do Morais (perfilho a declaração de voto do Digno Procurador Luís Manuel Fragoso Fernandes).
António Cândido de Figueiredo Mota dos Santos Beirão.
Artur Patrocínio (perfilho a declaração de voto do Digno Procurador Luís Manuel Fragoso. Fernandes).
José de Sousa Dias.
Armando Rasquilha Tello da Gama [desejo expressar o meu pensamento e a minha posição nos seguintes pontos:

1.º Empreendimento n.º 2 (Hidráulica agrícola) - Julgo da maior vantagem e mais útil para a lavoura e para a Nação que neste sector se dê prioridade:

a) A completar os regadios existentes e em execução, não só dentro dos perímetros de rega, como fora deles, com as obras complementares julgadas necessárias para se conseguir um bom aproveitamento das áreas regadas e se encontrarem as soluções técnicas e económicamente viáveis para as explorações de sequeiro situadas nas suas áreas de influência;
b) A instalação de pequenos regadios, colectivos ou individuais, especial: mente os que se destinem a apoio forrageiro às explorações de sequeiro, que, de futuro, terão de ser, em grande parte, predominantemente pecuárias.

2.º Empreendimento n.º 3 (Aproveitamento dos regadios) - Fiéis ao ponto de vista defendido em relação ao n.º 2, pretendíamos que a verba consignada a este empreendimento fosse reforçada, se possível, pois muito há a fazer neste sector.
Preconizamos também, no que se refere à produção, industrialização e comercialização dos produtos hortícolas das zonas regadas, que se estimule e torne aliciante o cooperativismo entre os regantes através de cooperativas de produção para os pequenos empresários e cooperativas de transformação e comercialização para todos os regantes, à semelhança do que se propõe para a vitivinicultura e olivicultura].

Manuel Joaquim Fernandes dos Santos.
António Pereira Caldas de Almeida.
Salvador Gomes Vilarinho.
João Manuel Branco.
Manuel Cardoso.
Francisco Pereira Freixo (perfilho a declaração de voto do Digno Procurador Luís Manuel Fragoso Fernandes).
José Bulas Cruz.
José Rodrigues Pedronho.
Fernando Augusto de Santos e Castro.
Luís Quartin Graça, relator.

ANEXO III

Parecer subsidiário da subsecção de Pesca, da secção de Pesca e conservas

Pesca

A subsecção de Pesca, da secção de Pesca e conservas, consulta sobre o capítulo II «Pesca», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

A contribuição da pesca para o produto nacional

Com uma formação bruta de capital fixo que no decénio de 1956-1965 se cifrou na média de 183 000 contos anuais, o produto bruto gerado na pesca, no mesmo período, atingiu a média anual de 905 200 contos. Tudo referido a preços constantes de 1963.
Mas, ao analisar a percentagem da participação do sector da pesca no produto bruto nacional naquele período, verifica-se a constância da sua redução. Essa participação, que foi de 1,48 por cento em 1956, teve um declínio quase regular, da ordem dos 0,4 por cento, para se exprimir, em 1965, em apenas 1,09 por cento do produto nacional.
Observando, porém, os elementos estatísticos quantitativos das produções, verifica-se que estas subiram de 345 0001 em 1956 (peso do pescado descarregado nos portos do continente e ilhas adjacentes) para 425 000 t em 1965, o que se traduz no aumento médio anual de 2 por cento.
Vencendo os factores adversos conhecidos, entre os quais avultam a diminuição de rendimento dos pesqueiros, maiores distâncias a percorrer e as restrições de acesso aos locais de pesca, o sector conseguiu acompanhar a taxa média de crescimento mundial das produções, o que na Europa só foi obtido por três outros países: Dinamarca, Islândia e Espanha.
No que se refere, porém, ao rendimento dessas produções, verifica-se uma estagnação, e mesmo redução, dos valores médios do pescado, o que, sem dúvida, influencia a participação do sector no produto nacional.
Sendo um dos objectivos prioritários do III Plano de Fomento o aumento do produto nacional, está indicado que ao esforço a desenvolver no equipamento produtor corresponda o estudo do sistema da formação dos preços, por forma a assegurar a rentabilidade das explorações.
O objectivo fixado ao sector da pesca, de «assegurar a estabilidade do preço do pescado no consumidor», deverá considerar o aumento dos custos de produção e todos os outros factores capazes de estimular o interesse dos empresários e dos pescadores.

II

Projecto de investimento em 1968-1973

Na programação dos investimentos, são previstos no 000 contos para equipamento frigorífico e instalações destinadas à comercialização do pescado. Esta verba será

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a comparticipação do sector num plano de âmbito nacional, em que estão interessados outros sectores responsáveis pela produção e conservação de produtos alimentares.
No que se refere aos elementos primários da produção - frotas -, as verbas programadas para novas construções ou transformações destinadas a manter velhas unidades ao serviço por mais alguns anos distribuem-se pelas seguintes actividades:

[Ver Tabela na Imagem]

Em fins de 19551, a tonelagem da nossa frota de pesca motorizada somava 140 000 t de arqueação bruta e, nesse ano, apenas exerceram a actividade navios totalizando 130 000 t de arqueação bruta. Adoptando o critério, que parece razoável em face da aceleração do progresso tecnológico, de renovar os navios no prazo de dez anos, as construções a fazer no sexénio deveriam alcançar, pelo menos, 84 000 t de arqueação bruta... Se se acrescentar a necessidade evidente de desenvolver alguns tipos de pesca, como a do atum, chega-se à conclusão de que o volume de construções proposto para 1968-1973 (pouco mais de metade do que resultaria da aplicação da taxa de renovação geralmente aceite) é bastante escasso para satisfazer projectos de expansão.
No entanto, esta ideia de insuficiência fica atenuada se se considerar a tonelagem de registo das embarcações não apenas no seu aspecto quantitativo, mas também, se assim se pode dizer, no seu aspecto qualitativo.
Com efeito, o índice de produtividade por tonelada de arqueação bruta das embarcações de pesca tem aumentado nós últimos decénios, devido à adopção de novas técnicas, como o arrasto pela popa, a mecanização e até a automatização de várias operações.
O aumento de produtividade por tonelada de registo das embarcações de pesca depende, porém, em elevado grau, da existência de adequadas infra-estruturas de apoio.
Por tal motivo, pensa a subsecção que, muito acertadamente, se previram, no capítulo referente à pesca, investimentos em projectos não directamente reprodutivos, mas indispensáveis para obter a desejada produtividade dos navios de pesca.
Estão neste caso as instalações para congelação e armazenamento do pescado em locais estrategicamente escolhidos, para o que as nossas províncias ultramarinas, pela sua excepcional localização geográfica, estão obviamente indicadas. Com estas instalações ou bases de apoio, consegue-se diminuir consideràvelmente a relação de dias de pesca dias de ausência, ou seja, multiplicar u produtividade por tonelada de arqueação bruta das embarcações afectas à captura de peixes. A verba, programada para estas instalações foi de 100 000 contos.
O complemento natural daquelas instalações é o transporte dos produtos para os mercados de consumo. Após a satisfação de necessidades de abastecimento locais ou regionais, o pescado terá de ser transportado para os grandes centros consumidores, e a forma mais económica foi encontrada nos navios transportadores frigoríficos. O sector prevê a construção de duas unidades deste tipo, com um investimento de 120 000 contos.
Pode sustentar-se que a construção destas unidades .estaria mais bem colocada no sector da marinha mercante. No entanto, é defensável o critério de as ter incluído no sector da pesca, por um bom número de razões, entre as quais avulta a da complementaridade de funções entre os três termos do conjunto piscatório - navios capturadores-armazéns-transportes -, condicionado pelas exigências de conservação, que implica técnicas muito especializadas.
O tratamento do pescado desde que este sai do mar até chegar às mãos do consumidor, em especial quando e«se tratamento envolve o emprego do frio como agente de conservação, necessita de uma continuidade de cuidados que aconselha a sua afectação ao sector mais interessado na manutenção da qualidade.
Em diversos países adoptou-se o sistema de pesca «em flotilha» para a resolução deste problema. O sistema consiste, em linhas gerais, num navio-mãe, em geral um navio-fábrica de grandes dimensões, que se desloca para os pesqueiros acompanhado de um número variável de pequenos navios capturadores.
Dispondo o País de possibilidades de localizar em terra, em posições de fácil acesso aos pesqueiros, os serviços de transformação e armazenagem do pescado, resulta económica e socialmente vantajoso optar por esta solução.
Ainda com vista ao aumento de produtividade por tonelada de arqueação bruta por embarcação de pesca, prevê o programa o investimento de 50 000 contos em instalações de refrigeração nos porões de dez arrastões de pesca do alto. Essas instalações destinam-se a melhorar as condições de conservação do pescado que não exige congelação entre a captura e o consumo, portanto a diminuir as inutilizações à descarga. A refrigeração dos porões destina-se fundamentalmente a conservar o pescado em grau suficiente de temperatura para impedir a desvalorização, sem modificar a sua característica de pescado fresco.
Aquele mesmo objectivo se prossegue no projecto em apreciação com a previsão da montagem de aladores mecânicos nas traineiras que se empregam na pesca da sardinha e espécies afins, para a qual foram programados 50 000 contos.
Assim, é patente a intenção de melhorar a exploração económica destas embarcações, actuando simultaneamente sobre a produtividade por tonelada de arqueação bruta e sobre a produtividade por homem embarcado. Com efeito, a mecanização permite maior rapidez na alagem das redes, portanto maior número de lanços, e também uma redução significativa dos efectivos embarcados.
Porém, a verba de 30 000 contos consignada à pesca da sardinha afigura-se à subsecção assaz reduzida para proporcionar a renovação e a actualização da sua frota, composta de cerca de 400 traineiras. Também a verba de 50 000 contos prevista para a montagem de aladores mecânicos e equipamento electrónico não pode deixar de considerar-se modesta, pois apenas abrange, no sexénio, o equivalente a uma quarta parte da frota, visto o custo actual de um alador e de um equipamento de sonar ser de 500 contos. Entende a subsecção que a actividade sardinheira, pelo volume de mão-de-obra que emprega, quantidade e valor da sua produção, e ainda pelo que esta produção significa para a indústria conserveira, deverá ser especialmente considerada logo que se verifiquem possibilidades de alimentar o esforço de investimento nas pescas.
Embora a argumentação apresentada no capítulo em apreciação seja suficiente para justificar a preferência atribuída às pescas longínquas na programação dos investimentos, convém ainda frisar que essa orientação deve ter sido influenciada pelo receio de que, num futuro

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não muito distante, venham a ser fixadas quotas para as capturas nos mares livres, com o objectivo de impedir que se desenvolvam situações de sobrepesca, já existentes em numerosos pesqueiros.
Como os índices dessas quotas serão baseados no potencial das frotas existentes num período que provavelmente será da ordem dos cinco anos., convirá firmar, enquanto é tempo, uma posição de expansão, contando já com futuras limitações.
Esta é uma razão, e não despicienda, que, adicionada às vantagens e desenvolvimento da procura de produtos congelados, justifica as opções tomadas em favor das pescas longínquas.
A pesca oceânica de tunídeos foi considerada sob a mesma óptica de adquirir posição internacional, com vista a um provável contingentamento de capturas e também pelo interesse que aqueles peixes apresentam para a expansão da indústria conserveira e para os mercados externos.
A verba de 168 000 contos atribuída a esta pesca apenas consente a construção de seis atuneiros oceânicos e mais seis atuneiros de pequeno raio de acção.
A pesca do atum, a que se antevê futuro de grande interesse, encontra-se neste momento na fase de arranque. Se os resultados obtidos na realização desta fase confirmarem as esperanças depositadas, é desejável que a expansão da pesca do atum seja acelerada em relação às previsões feitas no capítulo do projecto do III Plano de Fomento referente à pesca.
Não necessitam de apreciação especial as verbas previstas para assegurar a continuidade de acções já em curso em favor da pesca local, para a qual se consignaram 12 000 contos; para a valorização das produções de moluscos bivalves - 9 000 contos; para melhoramentos a introduzir nas secas de bacalhau - 10 000 contos; para melhoramento das fábricas insulares onde se realiza o aproveitamento dos cetáceos, animais cuja rarefacção se acentua - 1 000 contos; e para a construção de viveiros para lagostas, com o investimento previsto de 6000 contos. Trata-se de acções essencialmente estimuladoras de actividades que, por insuficiência de concentração empresarial e consequente debilidade financeira, se apresentam carecidas desse incentivo. As circunstâncias conjunturais, a que o sector estará atento, poderão aconselhar alterações das verbas previstas com aquelas finalidades na elaboração dos programas anuais.
O mesmo deve dizer-se quanto aos no 000 contos programados na rubrica da comercialização do pescado dos quais se destinam 30 000 contos a instalações frigoríficas nos portos de descarga, 40 000 contos à rede de frio interna e outros 40 000 contos a instalações de vendagem. Com excepção das instalações de vendagem, ou sejam as lotas, que carecem efectivamente de ser melhoradas e ampliadas, as verbas consignadas a instalações frigoríficas portuárias e à rede de frio interna, funcionando segundo um esquema coordenado, devem constituir a participação da pesca num conjunto de carácter nacional, pois não é económicamente viável uma rede de frio interna monovalente. A polivalência dos armazéns frigoríficos é actualmente uma realidade técnica, que se manifesta até nos pequenos armários domésticos. Aqueles 40 000 contos deverão ser especialmente destinados a fomentar a aquisição, por parte dos comerciantes retalhistas, de armários frigoríficos destinados à conservação do pescado congelado e ainda à aquisição de veículos frigoríficos ou isotérmicos destinados ao transporte e até à venda a retalho do pescado fresco ou congelado.
A exiguidade da verba proposta apenas permite atribuir-lhe o objectivo de arranque. A comercialização do pescado, que interessa a vários sectores, é assunto que carece de ser estudado em pormenor, não podendo esse estudo deixar de distinguir as particularidades da distribuição do pescado fresco ou refrigerado proveniente das pescas costeira e do alto e as do pescado congelado proveniente da pesca longínqua. A comercialização do bacalhau salgado - e seco reclama um capítulo especial desse estudo.
Não parece possível obter todos os efeitos de desenvolvimento económico que se pretendem alcançar, se não forem atacados frontalmente os estrangulamentos desse desenvolvimento ou pelo menos aqueles que já foram detectados e referidos no estudo dos planos anteriores.
Se a cobrança de impostos directos sobre as transacções de pescado se compreende em relação ao pescador individual ou constituído em companha sem carácter empresarial permanente (e, mesmo assim, não se vê porque se aplicará aos pescadores um crédito fiscal diferente do dos pequenos vendedores de produtos agrícolas nas feiras e mercados), já não se justifica em relação ao produto das empresas de pesca, que são tributadas, de acordo com a lei geral, em contribuição industrial, além de outros impostos.
Não é admissível, por outro lado, considerar o imposto de pescado como imposto de consumo, já que deste a lei expressamente isentou os produtos alimentares. Entre estes, o pescado constitui ainda um caso especial, por lhe estar cometido o papel de moderador da subida geral dos preços, como se tem verificado.
Conforme se diz no capítulo em apreciação, a correcção desta anomalia, aliás já reconhecida no relatório do Código do Imposto das Transacções, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 066, de 1 de Julho de 1966, está a ser estudada no Ministério dás Finanças, que encara a revisão do sistema actual de tributação da pesca.
Julga a subsecção que uma resolução justa do assunto será certamente encontrada antes de o III Plano de Fomento entrar em execução, eliminando-se assim um dos principais estrangulamentos da expansão económica deste sector.
Qualquer que seja, porém, a decisão que venha a ser tomada quanto ao imposto de pescado, parece indicado que a venda em leilão nas lotas, acessíveis a quaisquer compradores e a consumidores, se realize apenas em relação ao pescado fresco ou vivo.
É prática corrente na maioria dos países europeus que a primeira venda do pescado refrigerado se efectue em leilão, mas apenas entre comerciantes e industriais de transformação, em grandes lotes, que atingem, muitas vezes, o carregamento completo dos navios. Este leilão efectua-se com limites mínimos, com o propósito de assegurar a defesa dos interesses dos consumidores e industriais e os dos produtores. Os principais portos estão ligados a circuitos telex que permitem a licitação a distância.
Quanto ao pescado proveniente das pescas longínquas, seco ou congelado, que pode ser facilmente armazenado por um período razoável de tempo, o seu preço costuma ser fixado tendo em atenção as condições conjunturais dos mercados a que o mesmo se destine.

III

Investigação e assistência técnica

A verba consignada no projecto à investigação e assistência técnica - 35 000 contos - reparte-se pela construção de edifícios destinados a laboratórios, oficinas e gabinetes de estudos, para a qual se programaram 20 000

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contos, e pela construção e equipamento de um navio de pesquisas, com o custo previsto de 15 000 contos.
Não se indica, porém, qualquer verba, para ser despendida com a realização de programas de estudo, manutenção dos edifícios e navios e encargos com o respectivo pessoal. Ter-se-á entendido que os trabalhos de investigação a realizar continuarão a ser custeados pela despesa ordinária, na parte respeitante ao Instituto de Biologia Marítima, e pela indústria, no que se refere ao Gabinete de Estudos das Pescas e Estação de Tecnologia?
Parece ainda de interesse salientar a exiguidade da verba proposta em comparação com as atribuídas para a investigação piscatória, noutros países da Europa, como a França (150 milhões de francos no período de 1966-1970) e a Espanha (240 milhões de pesetas no quadriénio de 1964-1967) e também a prática corrente de o Estado contribuir para aquelas despesas com uma parte muito maior que os industriais.
No capítulo da pesca do projecto do III Plano de Fomento não foi incluída qualquer verba destinada à preparação de técnicos e outros profissionais. A formação e aperfeiçoamento de mão-de-obra especializada foi considerada nos projectos dos sectores responsáveis pelo ensino profissional, que previram a ampliação e reforma das escolas de pesca.

IV

Medidas de política

Por último, não pode a subsecção deixar de notar que aos problemas de maior relevo a que o sector terá de fazer face no próximo sexénio não correspondem medidas de política concretamente destinadas à sua resolução. Refere-se a subsecção particularmente às medidas tendentes a aliviar a pressão de natureza fiscal e parafiscal que incide sobre a pesca portuguesa e à desigualdade de tratamento entre o pescado nacional e o importado, desigualdade que mais se agravará com a desmobilização aduaneira e a abolição das restrições ao comércio de produtos da pesca, previstas para breve.
Nenhuma destas medidas, que não têm apenas um carácter anti-dumping, mas também o de estimular o interesse por um tipo de actividade cuja rentabilidade é mundialmente reconhecida como baixa, nem outras com idêntica finalidade, foi concretamente mencionada. O êxito económico e social dos projectos propostos para o desenvolvimento das pescas no período de 1968 a 1973 dependerá, em grande parte, das medidas que possam ser tomadas para assegurar a rentabilidade dos investimentos a fazer, por forma a serem alcançados os objectivos fixado ao III Plano de Fomento.

V

Conclusões

A subsecção reconhece o valor do estudo efectuado para a elaboração do capítulo da pesca do projecto do III Plano de Fomento, em que o Governo procura proporcionar ao sector privado responsável pela sua execução as orientações necessárias para o seu desenvolvimento no próximo sexénio, coordenado no plano nacional.
Ao Governo são devidos os maiores louvores pela ampla audiência que dispensou aos elementos responsáveis pelo sector da pesca e pela confiança que concede à iniciativa privada ao propor, avalizar e contribuir para um programa de investimentos que é superior ao dobro da média do investimento na pesca nos últimos anos.
A subsecção dá a sua aprovação ao capítulo II «Pesca» do projecto do III Plano de Fomento, por ter reconhecido que, sem prejuízo das observações feitas neste parecer, ele representa a solução possível, o esforço viável dentro das previsões da capacidade nacional de investimento.

Palácio de S. Bento, 14 de Julho de 1967.

José António Ferreira Barbosa.
Daniel Duarte Silva.
Ubaldo Alves.
Vasco dos Santos Almeida.
António Álvares Pereira Duarte Silva, relator.

ANEXO IV

Parecer subsidiário das subsecções de Indústrias extractivas, de Têxteis e vestuário, de Indústrias químicas e de Indústrias metalúrgicas e metalo-mecânicas, da secção de Indústria.

Indústrias extractivas e transformadoras

As subsecções de Indústrias extractivas, de Têxteis e vestuário, de Indústrias químicas e de Indústrias metalúrgicas e metalomecânicas, da secção de Indústria, às quais foram agregados os Dignos Procuradores Alexandre Aranha Furtado de Mendonça, António Costa Silva Carvalho, Armando Pires Tavares, Carlos Figueiredo Nunes, Elisiário Luís Faria Monteiro, Inácio de Oliveira Camacho, José António Ferreira Barbosa, José Manuel da Silva José de Mello, José Nicolau Vilar Saraiva, José da Silva Baptista, Jorge Sequeira, Paulo de Barros e Rodrigo António Ferreira Dias Júnior, consultadas sobre o capítulo III «Indústrias extractivas e transformadoras», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Introdução

1. Ao analisar o projecto governamental, entenderam as subsecções deverem começar por alinhar os problemas que preocupam a indústria neste momento, para o fim de apurar em que medida o que se contém no capítulo em apreciação contribui para a solução desses problemas.

2. Por mais de uma vez, têm recentemente procurado os elementos mais responsáveis da indústria definir a temática que domina o processamento industrial, tomando como base ser a indústria no seu todo, para além de um elemento motor da dinâmica da Nação - primeiro responsável da criação da riqueza nacional, como elemento essencialmente produtivo -, também um elemento preponderante de progresso determinador, em consequência do maior bem de todos, com respeito e valorização da pessoa humana como fim último, tal como está explícito na estrutura constitucional da Nação.
A resultante desta concepção é sair a indústria do seu campo normal de actividade directa, para invadir, naturalmente, outros campos que a tradição tem considerado

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inacessíveis à acção ou ao pensamento industrial, mas que a irreversibilidade do poder das conjunturas tornou permeáveis a .essa acção e a esse pensamento.
Assim, a uma temática tradicional, que visava o dia a dia da função produtiva, despida de implicações sobre valores humanos ou independente de infra-estruturas e estruturas, sucedeu uma temática nova, em que a indústria, actuando e sofrendo influências destes elementos - industriais, extra-industriais, mas de largo espectro e projecção económica -, inevitavelmente tinha, na sua formação, de visar mais longe do que a uma função meramente produtiva, por estarem em causa também funções morais e sociais que, na escala dos valores consagrados na Constituição, se tornaram motivos determinantes, pelo menos em igualdade com o fim produtivo que teria assim de considerar-se como um fim imediato conjuntamente com outros fins mediatos.
A indústria situa-se hoje no centro da conjuntura política, económica e social da Nação e, reagindo em função desse enquadramento, suporta os impactes dele decorrentes e, simultaneamente, tem-se tornado, pela sua maior valorização, uma força anímica de extraordinária representatividade e poder dentro do País.
O desenvolvimento, portanto, da sua problemática, examinada com um sentido de fomento, parece que deveria constituir um exame do País em movimento, a apreciação, de algumas das suas fontes de vitalidade e sobrevivência - e não das menos importantes - e a perspectivação de um futuro de crescimento que é elemento essencial do progresso da comunidade.

3. O primeiro problema da indústria portuguesa - e que decorre das exigências da conjuntura económica internacional - é o de saber se as actuais estruturas industriais comportam as necessidades do mercado nacional em qualidade e preço quando em presença dos problemas concorrenciais emergentes das economias de grupo que tendem para o desarmamento aduaneiro, a uniformidade de tratamento na comercialização dos produtos, o alinhamento do nível salarial e a transferência livre do mercado da mão-de-obra.
Ligada estreitamente a este problema, coloca-se a questão de saber se as actuais estruturas industriais, respondendo às mesmas questões emergentes das economias de grupo, permitem a penetração, em qualidade e preços, dos mercados estrangeiros com carácter de continuidade e permanência, tal como o exige a criação de uma indústria de nível europeu.
O segundo problema que preocupa a indústria é o de saber se pode contar com apoios adequados que lhe permitam formular e desenvolver uma política de expansão em termos operacionais, isto é, em termos de boa produtividade e com carácter de continuidade.
O terceiro problema a equacionar é o de saber se a Nação está em condições de suportar, só por si, estruturas evoluídas em sentido de crescimento permanente ou se a evolução terá de processar-se sempre com uma complementaridade em planos extranacionais.
Finalmente, um quarto problema se põe, tal o de saber se em regime de economia concertada e em transe de delineamento de uma planificação regional, enquadrada num planeamento nacional, se não impõe uma articulação operante do espaço português como premissa indispensável à enunciação de um plano de acção tendente à «intensificação do acréscimo de riqueza do País» - para utilizar a expressão do Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho na comunicação que fez aos órgãos da imprensa em 30 de Junho findo sobre o projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973.
A formulação do primeiro problema traduz a expectativa da indústria quanto às possibilidades de exportação e à luta com êxito, no mercado interno, contra a produção estrangeira, e coloca em equação, desde logo, não só temas preocupantes para a indústria, tais como o condicionamento e sua orientação, a normalização dos fabricos com o controle de qualidade e o uso das marcas, a regulamentação da concorrência, designadamente através da legislação adequada de repressão da concorrência desleal, como ainda toda a política orientadora do crescimento industrial, a política financeira e fiscal, a política de investimento na indústria, os auxílios, benefícios e garantias para exportação, bem como a sua política de fomento e toda a política de previdência e de assistência ao trabalhador, assim como, em consequência, o problema da emigração.
O segundo problema decorre da insuficiência da nossa escolaridade com sentido industrial a todos os níveis, não obstante os meritórios esforços assinalados quanto a uma escolaridade de tipo oficinal que se tem processado a ritmo acelerado, com larga intervenção colaborante do Estado e da iniciativa privada, da falta de simplicidade burocrática no desenvolvimento dos processos da indústria, de largo intervencionismo estadual e paraestadual nesse processamento, da escassa possibilidade de utilização do Plano em vigor como elemento orientador da maioria dos empresários industriais, da falta de investigação científica orientada no sentido da aplicação, da falta de poder normativo do órgão superior da indústria, que lhe permita exercer uma eficiente disciplina sectorial.
O terceiro problema tem origem nas insuficiências do poder de compra da nossa população e equaciona assim, para além da política de estabilidade dos preços, a política salarial e a remuneração dos funcionários públicos como elementos sociais estabilizadores, decorrente esta de uma bem ajustada reforma da Administração - a melhoria das condições de trabalho, a capacidade económica da população agrária como base extremamente importante do mais alto rendimento privado, a problemática da pequena e média empresa como elemento vivo do sector industrial a estimular e apoiar, os circuitos comerciais, seu controle e normalização, o reequipamento e a eventual reconversão das indústrias.
Finalmente, o quarto problema equaciona a definição e esquematização do planeamento regional dentro do planeamento nacional, a circulação de mercadorias no espaço português, o regime das transferências cambiais indispensável à sanidade do maneio financeiro metropolitano e ultramarino e, por fim, o sentido de orientação e crescimento dos mercados portugueses.

4. O projecto apresentado pelo Governo à Câmara não contempla, no que respeita ao capítulo III «Indústrias extractivas e transformadoras», do título II «Programas sectoriais», toda a problemática enunciada, nem podia contemplá-la quanto a alguns problemas que têm lugar próprio em outros capítulos do Plano; e circunscreve-se a uma formulação de. objectivos e medidas políticas a desenvolver, aliás dentro de uma técnica já tradicional nos programas de planeamento, limitando os objectivos, num exame de síntese, a «uma aceleração de desenvolvimento industrial» e a «investimentos intelectuais necessários para gerar e difundir conhecimentos que estão na base das modernas sociedades industriais» (n.º 7 do § 2).
Equacionando a aceleração do desenvolvimento industrial, o capítulo examina a taxa de crescimento nos vários sectores industriais nos anos de 1953-1965 e 1966-1967 e a percentagem das respectivas actividades na formação do produto industrial, perspectiva as projecções para o

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período do Plano e formula a estimativa de formação bruta do capital fixo para o mesmo período - 1968-1973.
No que respeita aos investimentos intelectuais, antes referidos como objectivo, o capítulo refere-os . nas «Medidas de política» formuladas para «alcançar a meta fixada ao sector industrial», remetendo para o capítulo do Plano dedicado à «Educação e investigação» (n.º 29 do § 3) o «exame das providências com vista à intensificação das acções da formação técnica e profissional», e, mais adiante, no n.º 36, quando aprecia o que pode chamar-se «aquisição e difusão da tecnologia moderna».

5. O exame das subsecções irá fixar-se dentro do quadro proposto pelo Governo, procurando embora definir, em termos gerais, a posição da indústria quanto à resolução dos problemas enunciados nos números anteriores e que serão directamente tratados nos capítulos em apreciação.
Porque, todavia, viveram os trabalhos preliminares do Plano uma presença largamente actuante da iniciativa privada, parece pertinente às subsecções não deixar de fazer uma referência breve à experiência do planeamento, na qual se atente no caminhar gradual da técnica do Plano, desde a Lei de Reconstrução Económica dos anos 30, de pura concepção, intervenção e desenvolvimento estatal, até agora, de intensa intervenção e colaboração privada, denotando assim uma evolução altamente benéfica - e valorativa - do Plano, que se julga passe a movimentar-se, desta forma, dentro das estruturas institucionais do País.
Esboçar-se-á seguidamente um exame da situação actual da indústria dentro da óptica do projecto do Governo.
Analisar-se-ão depois os «objectivos propostos», os «instrumentos de realização dos objectivos formulados» e extrair-se-ão «conclusões».
Quanto aos programas sectoriais, dada a sua heterogeneidade, que tornaria largamente limitativa uma síntese de apreciação, necessariamente incompleta, e, em consequência, insuficiente e até, inadvertidamente, distorcida, julgam as subsecções de extrema conveniência não formularem considerações específicas e, de preferência, sugerem que se dê larga publicidade e divulgação aos projectos e aos relatórios sectoriais.

II

Análise da experiência de planeamento industrial

6. Ao tentar-se a análise histórica do planeamento económico de Portugal, terá de começar por referir-se a Lei n.º 1914, dita de reconstrução económica, cuja execução se estendeu pelos quinze anos do período de 1935-1950. Tratou-se de um- primeiro passo dado no nosso país no sentido de uma sistematização de empreendimentos de natureza económica, ponto essencial da actividade de planificação num estádio inicial, muito embora se estivesse ainda longe do plano de desenvolvimento económico-social, na rigorosa acepção do conceito, uma vez que na Lei n.º 1914 apenas se continha uma enumeração exemplificativa dos programas que se entendia levar por diante, sem que os mesmos ficassem subordinados a prazos de execução, nem a limites precisos de afectação e dispêndio de dotações. Daí que o período da sua vigência tivesse ficado conhecido pelo dos «programas administrativos parciais», durante o qual se promoveu a implantação de importantes empreendimentos de natureza pública de que o País carecia em absoluto, designadamente no domínio das infra-estruturas: remodelação dos correios, telégrafos e telefones (1937), fomento hidroagrícola (1938), povoamento florestal (1938), fomento mineiro (1939), abastecimento de água das sedes de concelho (1944), planos portuário, rodoviário e de renovação da marinha mercante (1945).

7. O I Plano de Fomento (1953-1958) marcou um progresso em relação à Lei n.º 1914, visto nele aparecerem já explicitados determinados objectivos e os diferentes meios que o Governo se propunha utilizar para os atingir. Continuou ainda, fundamentalmente, a ser um plano constituído pela agregação de uma série de projectos de investimentos destinados a lançar infra-estruturas, mas agora tanto no domínio da obra pública, como em sectores de mais directa reprodutividade, todos eles enquadrados em determinado calendário de realização, com a indicação das correspondentes dotações financeiras.
Assim, pela primeira vez apareceu uma, rubrica dedicada a «Indústrias-base», ao abrigo da qual se despendeu ao longo do sexénio um quantitativo da ordem dos 2 123 000 contos. Tratava-se de empreendimentos que se entendiam de reconhecido interesse para a economia nacional e que o Estado largamente impulsionou através, inclusivamente, da participação no próprio capital: siderurgia, adubos azotados, celulose e papel e refinação de petróleos.

8. O II Plano de Fomento (1959-1964) foi, no seu conjunto, concebido em termos muito mais aperfeiçoados do ponto de vista das técnicas de programação, em consequência da evolução que entretanto estas tiveram, sobretudo no que diz respeito às projecções das variáveis globais da economia, procedendo-se pela primeira vez à fixação de objectivos quantificados para os principais agregados macro-económicos - do produto e da despesa nacionais - a serem atingidos durante o período da sua execução.
Relativamente ao sector industrial, o II Plano incluiu um conjunto muito concreto de empreendimentos, que a seguir se indicam:

a) Minas: fomento mineiro e instalação para a produção de urânio metálico;
b) Indústrias-base: siderurgia (instalações do Seixal e Krupp Renn); petróleos (refinação da Sacor e armazenagem e distribuição do conjunto das empresas do sector); adubos azotados (instalações da Sociedade Portuguesa de Petroquímica, Nitratos de Portugal, Amoníaco Português e União Fabril do Azoto); celulose e papel [fábricas da Sociedade Industrial de Celulose (Socel) e da Caima Pulp & C.a, L.da];
c) Novas indústrias: construção naval (Estaleiro Naval de Lisboa) e outras indústrias diversas.
d) Reorganização industrial.

Como se vê, para além da consideração das actividades mineiras e das indústrias-base - com a indicação precisa das próprias empresas executoras dos empreendimentos -, houve o propósito expresso de dar concretização às orientações postuladas na Lei n.º 2005, de 14 de Março de 1945 - fomento de novas indústrias e reorganização das existentes -, como corolário, de resto, à própria índole que se desejou atribuir ao Plano, que era a de este não se limitar a um simples programa de financiamentos isolados, mas procurar tornar-se o instrumento de um esforço coordenado de política económica feito com o intuito de atingir objectivos previamente fixados.
Interessará, em primeiro lugar, salientar que, no respeitante ao «fomento de novas indústrias», a constru-

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ção naval - Estaleiro Naval de Lisboa - foi o único empreendimento concretamente dotado, com um total de 800000 contos, esclarecendo-se no Plano não ter sido possível enumerar outras indústrias de interesse para a economia nacional, «tudo aconselhando que a respectiva relação se faça por um processo com a suficiente maleabilidade, para permitir a inscrição, a todo o tempo, das iniciativas que surjam ou a eliminação dos empreendimentos cuja inclusão a prática tenha demonstrado seja injustificada».
Remetia-se, assim, implicitamente, o desenvolvimento da questão para o período de realização do Placo, ou, mais pròpriamente, para os programas anuais de execução. O facto, porém, é que nestes documentos podem considerar-se sem qualquer significado as actividades adicionalmente inscritas ao abrigo desta rubrica do Plano, tendo-se verificado que, no sexénio, o total efectivamente despendido apenas atingiu os 450 000 contos. Não pode concordar-se com a omissão, dado que a, inclusão de outras indústrias e iniciativas nos programas anuais, pelo que pressupõe de auxílio e incentivo dos Poderes Públicos em ordem à respectiva efectivação, teria certamente estimulado a confiança dos industriais nos trabalhos de planeamento nacional, ao mesmo tempo que provocaria a sua colaboração com as entidades públicas em termos de procurar estabelecer-se um programa «concertado» de desenvolvimento industrial.
Parece que teria sido uma tentativa a forçar, com consequências amplamente positivas para a aceitação do Plano pela iniciativa privada.
No que diz respeito a «indústrias-base», os empreendimentos contemplados no II Plano referem-se, como se viu, à siderurgia, refinação de petróleos, adubos azotados e celulose e papel. Quer isto dizer que o Plano não incluiu qualquer outra indústria-base que não tivesse já figurado no Plano antecedente e, catorze anos atrás, no próprio relatório da proposta de lei de fomento e reorganização industrial (de 1945). Isto não obstante tanto no relatório final preparatório, como no parecer da Câmara Corporativa, haver a indicação de uma lista bastante completa de actividades que deveriam merecer a consideração do Plano, lista essa que, por ainda hoje manter, em muitos casos, flagrante actualidade, a seguir se transcreve:
a) Metalurgia de metais ferrosos (ferro-ligas);
b) Indústrias químicas básicas: fabricação de produtos químicos mais simples de base (ácidos, alcali s e sais); adubos (azotados, fosfatados e potássicos), simples e compostos; outros produtos químicos mais complexos, também de base
(orgânicos e inorgânicos, de síntese ou não) v. g. matérias plásticas, corantes, solventes, etc.; fabricação de produtos farmacêuticos de base;
c) Construção de máquinas; fabrico de máquinas-ferramentas, material agrícola e máquinas operatórias para as nossas principais indústrias;
d) Construção de material de transporte: fabrico e montagem de automóveis e camiões, fabrico e montagem de tractores e material de elevação e transporte.

Por tudo o que precede, poderá dizer-se, em síntese, que o II Plano de Fomento, muito embora ao nível global tivesse marcado nítido progresso relativamente ao Plano anterior e à Lei de Reconstrução Económica, no que respeita particularmente à indústria não só não fixou metas de crescimento sectorial, como se apresentou demasiado restritivo quanto aos empreendimentos nele inscritos. O Plano limitou-se expressamente a estimular a realização de apenas cinco actividades - sem dúvida de vulto, mas que cobrem uma pequena parcela dos investimentos totais realizados no conjunto da indústria - e, quanto aos restantes sectores industriais, a acção programada resumiu-se à formulação imprecisa de estímulos às iniciativas que surgissem e cuja instalação se reputasse de interesse, iniciativas essas que, no entanto, não se chegaram a definir concretamente, nem durante a preparação do Plano, nem ao longo da sua execução.

9. O Plano Intercalar de Fomento estabelecido para o triénio de 1965-1967 apresenta, no que respeita à indústria, uma feição completamente diferente da que predominou nos planos anteriores e revelou uma apreciável evolução relativamente à perspectivação do Plano.
Pela primeira vez se elaboraram projecções - do produto, do emprego e da formação de capital -, não só ao nível do sector industrial globalmente considerado, como dos principais ramos que o integram, projecções que, estabelecidas com base numa análise da situação ao tempo, passaram a constituir os objectivos quantificados do Plano nessas actividades.
Avançou-se, assim, relativamente ao conteúdo do II Plano de Fomento, onde, como se viu, apenas se inseriu um conjunto de metas globais respeitantes às grandezas macro-económicas e Intimamente ligadas com os objectivos gerais do Plano.
As projecções incluídas no Plano Intercalar para a indústria transformadora, relativamente ao período de 1965-1967, são as que se indicam no quadro seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

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A apresentação destes objectivos ao nível da indústria e dos seus vários subsectores constituiu efectivamente um progresso metodológico que não pode deixar de se registar, uma vez que, deste modo, passou o sector industrial a ser encarado como um todo - e não apenas como a agregação de alguns projectos de investimentos - cuja expansão se harmoniza com o crescimento apontado para o conjunto da economia nacional e em que os grandes ramos que o compõem estão, por sua vez, projectados de forma coerente e interligada.
Simplesmente o que acontece é que, em termos operacionais, ou seja, quando se passa à acção concreta, terá de concluir-se que os esforços empreendidos e os avanços concebidos no campo das técnicas de programação não bastam, como, aliás, expressamente reconheceu a Câmara em determinado passo do parecer que oportunamente emitiu e que a seguir se transcreve:

Ao traçado das metas sectoriais dedica-se, desta vez, grande parte do esforço preparatório do Plano para a indústria. Foi um progresso metodológico importante que a própria Câmara Corporativa tinha já pedido há seis anos ... Mas não se crê que o estudo de projecção tenha sido levado a termo, nem andam muito claras as linhas de política industrial que com essas projecções deveriam atrair-se. É todo o problema das relações entre objectivos sectoriais, traçado das projecções, orientações e medidas de política e discriminação de projectos que está assim levantada ...

E foi isto que precisamente aconteceu em relação ao sector industrial.
Seguindo metodologia totalmente oposta à do II Plano de Fomento, o esquema das projecções apresentado no Plano Intercalar - baseado apenas em informações estatísticas e de outra índole - não tinha a apoiá-lo um certo número de empreendimentos concretos, cuja implantação, pelo interesse que revestia para o País, o Estado particularmente acarinhasse através dos incentivos e facilidades que estão ao seu alcance. Igualmente são omissas medidas de política bem determinadas, ou seja, a criação de condições capazes de assegurarem o cumprimento dos objectivos fixados e relativamente aos quais o Governo implicitamente assumiu o compromisso de os atingir.
Assim, no que respeita aos investimentos industriais, os valores inscritos no Plano Intercalar correspondem aos totais que, dentro de cada um dos grandes ramos em que o sector se divide, foi possível apurar mediante inquérito realizado junto das empresas e dos serviços. Aparece, assim, um montante de cerca de 13 milhões de contos, repartido por sete subsectores industriais - montante esse que muito se aproxima dos valores projectados para o novo capital fixo formado -, não sendo difícil prever que, em face do alto grau de agregação com que estes investimentos são apresentados, seria extremamente difícil controlar ou acompanhar a sua realização ao longo da execução do Plano.
Quanto às medidas de política industrial, do mesmo modo o Plano Intercalar contém indicações genéricas, limitando-se fundamentalmente a anunciar a publicação de quatro diplomas, sem dúvida de real importância para o progresso da indústria portuguesa - diplomas sobre a aplicação de capitais estrangeiros, o condicionamento industrial à escala nacional, a defesa da concorrência e o planeamento da acção económica regional -, e ainda a criação de um gabinete de planeamento, dependente da Secretaria de Estado da Indústria, ao qual competiria «planear a actividade industrial no quadro dos planos de fomento e ainda estudar as medidas de política necessárias à sua execução e os contactos com os empresários nacionais e estrangeiros que hão-de levar por diante as iniciativas julgadas mais favoráveis».
Ainda no campo da acção dos Poderes Públicos, para além das orientações muito gerais acabadas de referir, o Plano Intercalar remete «para a actuação corrente da Administração noutras medidas de carácter mais específico, cuja aplicação decorra da análise concreta de cada caso a resolver».
Por tudo o que fica dito acerca da última experiência de planeamento em Portugal, parece ressaltar com clareza que, muito embora, do ponto de vista das técnicas de programação, o sector industrial tenha sido objecto, no Plano Intercalar de Fomento, de um certo número de inovações inteiramente louváveis, teria havido vantagem em divulgar os programas sectoriais e agir junto dos industriais em ordem a interessá-los na respectiva execução.
Faltou ao Plano Intercalar um complemento importante: a selecção de projectos de investimentos e de orientações bem precisas, pelo menos para aqueles sectores industriais que foram explicitamente considerados como prioritários: químicas, mecânicas, eléctricas e transformadoras de produtos agrícolas.
E foi pena que não tivessem sido divulgados os relatórios que os industriais elaboraram sobre as suas actividades no seio dos grupos e subgrupos de trabalho da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica de que fizeram parte, e que, não obstante o voto da Câmara Corporativa, não foram tornados públicos e onde, com o melhor espírito de colaboração, se referiram os mais graves problemas que os sectores enfrentavam, ao mesmo tempo que se propunham as medidas correctivas que se afiguravam mais convenientes, na convicção de que a Administração se debruçasse sobre todo esse material e definisse claramente o programa a seguir, em cada sector, no triénio de 1965-1967.
E certo que o Plano Intercalar, no capítulo «Indústria», para além dos aspectos que atrás se mencionaram, continha, em anexo, uma análise por sectores industriais, onde, com base nos mencionados relatórios, se traçava um diagnóstico da situação que os sectores atravessavam e se indicavam os objectivos que os industriais entendiam dever atingir-se no período do Plano. Simplesmente, da leitura desses textos em anexo ao capítulo não transparece qualquer compromisso da parte do sector público sobre a forma de apoiar cada um desses sectores através da definição e escalonamento das medidas a adoptar para impulsionar a respectiva expansão.
Poderia ainda, ao longo da execução do Plano Intercalar, ou seja, na preparação dos programas anuais de execução, assistir-se a um retomar dos trabalhos empreendidos aquando da sua preparação, quer pela activação do respectivo Grupo de Trabalho da Comissão Interministerial, quer pela análise pormenorizada e devidamente ponderada de quanto se havia escrito e proposto nos relatórios dos industriais. Mas tal não aconteceu: os programas de execução, na parte industrial, apresentaram sensivelmente o mesmo grau de generalidade que o texto do Plano, tanto em matéria de investimentos, como em medidas de política. E os grupos de trabalho, esses tiveram de ocupar-se quase exclusivamente da preparação do III Plano de Fomento, que desde Outubro de 19Q5 mobilizou a sua actividade.

10. Chega-se assim, após a análise do esforço de planeamento do sector industrial empreendido entre nós, ao exame do capítulo referente às indústrias extractivas e

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transformadoras do III Plano de Fomento, objectivo essencial deste parecer.
Antes de mais, interessará começar por aludir à orgânica de planeamento que foi montada para a preparação do Plano no sector das indústrias em causa, visto que para o estabelecimento dessa orgânica contribuíram decisivamente os próprios industriais, através dos órgãos profissionais que os representam.
Efectivamente, tendo em atenção as vicissitudes por que passaram os trabalhos preparatórios do Plano Intercalar, a Corporação da Indústria, logo que anunciados os trabalhos do III Plano - portanto, há cerca de dois anos -, dirigiu-se aos órgãos superiores do planeamento económico nacional, propondo determinados métodos de trabalho e um organigrama destinado ao funcionamento do Grupo de Trabalho n.º 3 «Indústrias extractivas e transformadoras», da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, tarefa que se revelou de certo modo difícil, uma vez que se estava em presença de um sector extremamente heterogéneo e diversificado e onde, por essência do sistema de economia do mercado, são múltiplas as entidades privadas intervenientes. Este precisamente o motivo por que se considerou de interesse a elaboração de um esquema de organização do planeamento da indústria onde todos os órgãos oficiais, organismos paraestaduais e corporativos mais estreitamente ligados ao sector tivessem intervenção naqueles domínios ou matérias da sua competência específica, por forma a tornar o Plano um instrumento autêntico de congregação de esforços para uma mais perfeita informação e resolução dos problemas e efectivação de iniciativas.
Como ponto fundamental no esquema proposto, convirá mencionar que, no sentido de os relatórios das várias indústrias constituírem o produto do debate entre todas as empresas dos sectores - seja grande, média ou pequena a sua dimensão e seja qual for a sua localização -, e não, como no Plano Intercalar, uma simples opinião das entidades convidadas para as comissões relatoras - cuja competência e idoneidade, evidentemente, não poderiam estar em causa -, foi sugerido que, sempre que em determinado ramo industrial existisse um organismo corporativo instituído, o seu legítimo representante no Plano funcionasse como porta-voz da organização profissional a que pertencia, relegando assim para plano secundário o ponto de vista meramente individual.
O organigrama proposto - que, após apreciação superior e no próprio Grupo de Trabalho, mereceu aprovação com ligeiras alterações de pormenor - decompõe o Grupo de Trabalho n.º 3 em subgrupos de trabalho de três naturezas distintas - uns de tipo vertical, outros de carácter intersectorial e outros, ainda, de âmbito horizontal. Este projecto já continha ínsito o pensamento de ser a indústria um grande complexo de actividade nacional.
Os subgrupos de carácter vertical dizem respeito às grandes classes de indústria em que o sector, no seu todo, se encontra naturalmente dividido. Serviu de base a esta subdivisão a Classificação-Internacional por Tipos de Actividade (C. I. T. A.), muito embora se tenha procurado adaptar a arrumação tradicional seguida aquando da preparação do Plano Intercalar.
A constituição dos subgrupos de natureza inter-sectorial obedeceu à ideia de que não basta que os sectores verticais planeiem as suas actividades e diagnostiquem os problemas que lhes são próximos e figuram no seu âmbito directo de acção problemas de produção, mercados, investimentos, financiamento, estrutura empresarial, etc. É fundamental - pois isso é da essência do próprio planeamento - que esses mesmos sectores colaborem com as actividades de que dependem, quer porque lhes fornecem as matérias-primas e bens intermediários de que necessitam no seu processo produtivo, quer porque constituem mercados para os produtos que fabricam. Daí que se tivesse proposto a criação dos subgrupos «Indústria transformadora- Sector primário» e «Bens de equipamento», no seio dos quais deveriam procurar conjugar-se os interesses dos produtores e dos utilizadores dos correspondentes bens de natureza industrial.
Finalmente, o terceiro tipo de subgrupos - os de âmbito horizontal - procura analisar e solucionar os problemas que respeitam à actividade industrial considerada no seu conjunto, como sejam a política industrial, o financiamento, a exportação, o comércio interno, a mão-de-obra e a produtividade.
A orgânica que assim se deixa resumida estabeleceu, não há dúvida, as bases necessárias para que os industriais e os elementos do sector oficial confrontassem os seus pontos de vista e, conjuntamente, procurassem traçar as linhas orientadoras de expansão dos diferentes sectores industriais nos anos que irão seguir-se. Mas foi evidente que elaborar um plano em termos técnicos adequados e tendo em atenção as múltiplas interdependências que se estabelecem entre os diferentes domínios e problemáticas é tarefa que não se compadece com o mero encontro de entidades públicas e privadas em reuniões espaçadas, onde cada um expõe as suas opiniões e aspirações e as confronta com as dos restantes pares. Pelo contrário, verificou-se que requer toda uma infra-estrutura de apoio técnico que enquadre, formalize e compatibilize todas as informações apresentadas - na maioria dos casos de natureza meramente qualitativa - pelos agentes de execução do Plano.
Do lado do Estado sentiu-se profundamente a ausência de um gabinete de planeamento industrial - cuja criação o Plano Intercalar anunciou - que, à semelhança do que já acontece noutros Ministérios, deveria prestar orientação directa e assistência assídua a todos os trabalhos do grupo e promover a síntese periódica dos relatórios dos diferentes subgrupos. Por parte dos industriais igualmente se viveu, na maioria dos casos, de boas vontades pessoais, que sacrificavam muitas vezes o trabalho em curso nas suas empresas, mas que, de um modo geral e muito naturalmente, não possuíam a perfeita visão do conjunto do sector em que se integravam. Isto porque são efectivamente muito reduzidos os sectores onde, à escala profissional, existem instituídos gabinetes técnico-económicos que libertem os industriais de tarefas, como estas, da preparação e acompanhamento dos planos, para os quais nem eles se encontram tecnicamente preparados, nem dispõem de tempo suficiente para prestar uma colaboração adequada.

III

Situação actual da indústria

11. A indústria extractiva e transformadora tem constituído o principal motor de todo o sistema económico português nos últimos anos. As taxas de crescimento anual verificadas neste sector têm sido suficientemente altas para compensar a falta de dinamismo das restantes componentes do sistema, facto que tem permitido alterar totalmente em seu favor a estrutura do produto nacional bruto.
É atendendo a estes aspectos que interessará verificar se os ritmos de expansão observados nos anos de 1953-1965 se estenderam ao ano de 1966 e quais são as perspectivas que actualmente se oferecem à actividade industrial, distinguindo a parte extractiva da transformadora.

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12. Para melhor compreensão da conjuntura económica que se depara à indústria extractiva, terão de considerar-se separadamente as substâncias que podem ser objecto de concessão das que o não podem ser.
As primeiras, orientando-se principalmente para os mercados externos, debatem-se desde há anos com grandes variações na cotação dos seus produtos, o que tem levado alguns industriais a desinteressarem-se das respectivas explorações. Juntamente com estes problemas, surgem também variações de procura e dificuldades no recrutamento da mão-de-obra, sobretudo especializada, para substituir aquela que tem demandado o estrangeiro e o ultramar. Por último, deverá referir-se que, necessitando estas actividades de vultosos capitais de exploração, não encontram, como é do domínio público, condições favoráveis, quer de juros, quer de prazos, junto das instituições que interferem no mercado financeiro.
As actividades que não podem ser objecto de concessão evoluíram muito favoravelmente em 1965-1966 e as tendências da produção e exportação manifestam-se nitidamente expansionistas. Estas actividades não parecem necessitar de intervenções especiais da parte da Administração, até porque o seu crescimento está directamente ligado às evoluções da indústria dos produtos minerais não metálicos e dos mercados externos. Dos elementos de que se dispõe conclui-se que a conjuntura actual é favorável tanto no mercado interno, como no mercado externo.

13. A indústria transformadora cresceu à taxa de 8,8 por cento no período de 1953-1965. A contribuição para esta taxa de crescimento foi sobretudo sensível nas indústrias pesadas, entre as quais se destacam as metalúrgicas de base (+ 16,2 por cento), produtos metálicos, máquinas, material eléctrico e material de transporte (+ 11,5 por cento). A generalidade das indústrias ligeiras evoluíram a ritmo mais lento, sobretudo as alimentares, bebidas e tabaco (+ 5,3 por cento) e a madeira, cortiça .e mobiliário (+ 4,4 por cento).

[Ver Tabela na Imagem]

Fonte: Elementos da Contabilidade Nacional, fornecido, pelo Instituto Nacional de Estatística.

Destes crescimentos desiguais resultou uma melhoria na estrutura industrial portuguesa, a qual, porém, ainda tem de considerar-se muito deficiente para poder suportar favoravelmente um confronto com a de outros países da Europa ocidental, designadamente da E. F. T. A. ou do Mercado Comum. O esforço de desenvolvimento tem sido orientado no sentido da evolução de conjunto, particularmente da indústria pesada, que constitui elemento dinamizador das economias modernas.
Todavia, da análise dos elementos estatísticos já disponíveis, designadamente dos últimos inquéritos de conjuntura industrial, conclui-se que no decurso de 1966 a indústria transformadora esteve sujeita a fortes tensões que motivaram uma quebra do ritmo de expansão da amostra, a qual se avalia em 45 por cento do ritmo alcançado em 1965, a preços correntes, sendo o declínio mais acentuado nas indústrias pesadas que nas ligeiras. Ao nível das actividades classificadas segundo a C. A. E., esta fase de fraca conjuntura reflectiu-se sobretudo nas metalúrgicas de base, produtos metálicos, material de transporte, construção de máquinas e têxteis. Se se atender ao agravamento de preços que se tem verificado recentemente, é lógico concluir que, em termos reais, a quebra registada em 1966 atinge proporções mais consideráveis que a percentagem acima indicada (45 por cento).
Igual indicação se poderá colher através da análise dos índices de produção publicados pela Associação Industrial Portuguesa. Com efeito, enquanto em 1965 o crescimento registado pelo índice de produção industrial (indústrias transformadoras) foi de 6,7 por cento, no ano seguinte apenas se atingiu um incremento de 1,7 por cento. Acresce que no ano transacto se observou um retraimento dos empresários em matéria de investimento, o que conduziu a uma quebra desta variável da ordem de - 8,3 por cento, quando em anos anteriores se tem alcançado, em média, valores próximos de + 13 por cento, segundo os elementos estatísticos da contabilidade nacional.
Para esta situação concorreram em larga medida as restrições operadas no crédito bancário e a carência de legislação adequada a uma política de expansão para o exterior, as quais, aliadas à má situação no mercado de produtos, têm obrigado as empresas a grandes esforços financeiros. Na verdade, os stocks de produtos fabricados aumentaram. Como, por outro lado, a procura é baixa, não se vê como, a curto prazo, poderão as empresas desmobilizar parte considerável dos seus fundos de maneio.
Esta situação de alta de stocks, acompanhada de baixa de procura, é particularmente gravosa na indústria pesada, merecendo referência individualizada as metalúrgicas de base, os produtos metálicos e a construção de máquinas; quanto às indústrias ligeiras, as incidências reflectiram-se particularmente nos têxteis, vestuário e calçado.
Pelo exposto, será de concluir que a indústria portuguesa experimentou durante o ano de 1966 um decréscimo na sua taxa de expansão; as tendências observadas e previstas na produção, de acordo com os inquéritos de conjuntura, têm-se agravado, ainda que moderadamente; e, por fim, os produtos têm mais dificuldades em escoar-se, o que motiva acréscimos nos stocks. Esta situação conjuntural é mais acentuada nas indústrias pesadas que nas indústrias ligeiras, sendo, nestas últimas, de salientar a posição em que se encontra a indústria têxtil.
Em face desta situação, as subsecções são de parecer que os objectivos de crescimento industrial definidos no Plano e estabelecidos com base no ano de 1964 estão ameaçados, a menos que, nos anos futuros, se promova um esforço de apoio ao crescimento que compense os atrasos que se operaram em 1966 e 1967. Também tudo indica que a evolução de estrutura que se pretende atingir estará seriamente comprometida, dada a situação mais delicada das indústrias pesadas.

14. Alguns dos estrangulamentos apontados no Plano Intercalar à expansão das indústrias transformadoras atenuaram-se em virtude do próprio crescimento da economia nacional. Mesmo assim, algumas dificuldades perma-

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necem em grau maior ou menor e outras novas vieram adicionar-se-lhes. Assim:

Continua a manter-se o predomínio de unidades de pequena dimensão, com fabricos muito diversificados, com fracas possibilidades de concorrência nos mercados estrangeiros e com graves perturbações no mercado nacional de produção. Estas dificuldades são agravadas pela debilidade e dispersão das estruturas comerciais; o alongamento exagerado dos circuitos de comercialização e a pequenez das empresas comerciais acarretam aumentos nos preços dos produtos e obrigam a indústria a aumentar os prazos normais de recebimento.
Aumentaram as dificuldades de recrutamento de mão-de-obra qualificada e, nalguns casos, de mão-de-obra não qualificada.
O nível técnico da administração das nossas empresas tem melhorado sensivelmente em valor absoluto. Importa, todavia, intensificar as acções que se têm levado a efeito nos domínios da formação.
O abastecimento, de certo modo oneroso em relação a certas matérias-primas, é também, em alguns casos, muito escasso. Algumas indústrias, designadamente alimentares, vêem os seus níveis de produção e expansão limitados por falta de matéria-prima. Noutros casos, as empresas são obrigadas a manter stocks mais elevados, dadas as dificuldades em obter as matérias-primas e subsidiárias em tempo útil.
A não existência de normas de fabricação e de padrões de qualidade tem limitado a capacidade de concorrência da indústria e a aceitação dos seus produtos junto do consumidor.
Existem sérias dificuldades de financiamento dos investimentos, motivadas pelo deficiente funcionamento do mercado de capitais. De apontar também as dificuldades derivadas do cerceamento do crédito corrente e da inexistência de créditos à produção e exportação.

IV

Os objectivos propostos no III Plano de Fomento

15. Assinada, em 1959, a Convenção de Estocolmo, tornou o Governo, face ao condicionalismo económico internacional, uma opção plena de repercussões na economia do País. A adesão à Associação Europeia de Comércio Livre alinhou o País por uma das vias que assumiu o movimento de integração económica europeia, significando, desde a assinatura da Convenção que a concretizou, que a economia da Nação ficaria, dentro á& alguns anos, pelo menos no que respeitava à principal actividade económica - a indústria -, integrada num vasto espaço económico.
São bem conhecidos da teoria e história económica os efeitos repressivos, ou mesmo regressivos, que advêm para uma economia menos desenvolvida do facto de se integrar em espaços económicos muito mais evoluídos. Foi, aliás, o reconhecimento desses efeitos que esteve na base. das negociações e da concessão a Portugal de um regime especial na Convenção de Estocolmo. Com ele se obteve um mais lento calendário de redução do proteccionismo pautai - fixando-se o dia 1 de Janeiro de 1980 como data limite para a total abolição dos direitos aduaneiros e a possibilidade do até 1 de Julho de 1972 se dar protecção adiciona], dentro de certos limites, a indústrias novas.
Embora possa considerar-se de efeito ainda não grave a abertura até hoje praticada no proteccionismo das nossas actividades industriais perante o exterior - mercê essencialmente do regime especial de que beneficiamos e de hesitações internas da Associação, a que não são estranhas as tentativas de arranjo com a Comunidade Económica Europeia -, não pode deixar de ter-se como certo que as consequências da abertura das nossas fronteiras começarão a fazer sentir-se em breve, e na sua plenitude em 1980, motivo por que se consideram da maior importância para o futuro económico de Portugal os seis anos de vigência do III Plano de Fomento, período que não será pessimismo considerar crucial para a evolução do mecanismo da A. E. C. L.

16. A adesão de Portugal à A. E. C. L., embora tenha sido até agora reconhecidamente benéfica e possa ainda continuar a sê-lo, principalmente através dos acentuados efeitos positivos no crescimento que um mercado incomparavelmente alargado permite pela especialização produtiva e lançamento de novas produções, pode também vir a significar a impossibilidade de obtenção de adequadas taxas de desenvolvimento económico.
Tudo dependerá do impulso que se souber dar à nossa actividade industrial e do enquadramento em que ela se situa neste curto lapso de tempo que nos separa da completa inserção no espaço da A. E. C. L.
O Governo assim o entendeu quanto ao primeiro ponto, ao ditar as linhas directrizes deste Plano de Fomento, pois expressamente fez inserir, como orientação de base dos objectivos a prosseguir ao longo do próximo sexénio, «a necessidade de preparar a indústria nacional para enfrentar o embate resultante do movimento de integração económica europeia». As subsecções pensam, que certamente nesta orientação está implícita a urgência de actuação, não só perante a data limite de 1980, como ainda em face da evolução que o movimento geral de integração económica da Europa pode assumir. De resto, o mundo industrializado tem caminhado, por força da crescente especialização internacional, para entendimentos sobre liberalização do comércio, de que é exemplo o Kennedy Round e os seus resultados em perspectiva, liberalização que só pode aproveitar aos países cujas actividades produtivas atingiram um nível de competitividade internacional e saibam penetrar nos mercados externos.

17. Ao analisar o parágrafo respeitante aos objectivos, não parece muito nítida às subsecções a ligação entre as metas fixadas à indústria e a orientação de base a que atrás se fez referência.
Com efeito, fixou-se em 9 por cento a taxa de crescimento para o produto da indústria transformadora, sem que, no entanto, se tivesse explicitado a relação dessa taxa com a necessidade de preparar a indústria para o embate resultante do movimento de integração económica europeia.
Contudo, pôde o Governo debruçar-se, ao longo dos trabalhos preliminares do Plano, numa análise das taxas de crescimento que deveriam ser fixadas à indústria em função de uma desejada e necessária posição futura da economia portuguesa na Europa, dados os compromissos internacionais que assumimos.
Aí se teria tomado, e bem, como base de definição das necessárias metas a fixar à nossa indústria transformadora a capitação do produto industrial português em 1979 em função da correspondente capitação na A. E. C. L. e no Mercado Comum. Entendia-se possível que o País enfrentasse aquela data sem receios desme-

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surados caso apresentasse uma capitação de aproximadamente 50 por cento (566 dólares de 1958) da existente nos restantes países da A. E. C. L. na mesma data. Ora isso implicaria uma taxa média de crescimento para o período de 1965-1967 de aproximadamente 10 por cento. Reconhecendo-se, no entanto, que no sexénio correspondente ao futuro IV Plano de Fomento poderia ser mais difícil obter aquela taxa, legitimamente se pensava dever firmar-se em 11 por cento a taxa de crescimento da indústria no período do III Plano (1968-1973).
Se se alargar o estudo comparativo aos países da O. C. D. E. - talvez mais próximos do que poderá pensar-se em presença das integrações já em curso -, chegar-se-á à conclusão de que nem a taxa de crescimento de 11 por cento será suficiente para estabelecer com êxito a luta de produções que inevitàvelmente se irá travar.
Com efeito, a capitação da produção das indústrias transformadoras portuguesas situa-se presentemente em cerca de um quinto da capitação europeia.
Projectado o crescimento da indústria europeia ao ritmo de 5 por cento - taxa que se considera prudente - e o crescimento da indústria portuguesa a 9 por cento, mantém-se aproximadamente a proporção de um quinto entre capitações, embora, como é evidente, vá aumentando a diferença em termos absolutos.
O ritmo necessário para que a indústria portuguesa atingisse em 1980 a capitação média europeia - 20 por cento - não se mostra de realização viável, porque, pelo menos, o desfasamento não se acentua e para que as duas curvas de evolução, europeia e portuguesa, se mantenham sensivelmente paralelas, a indústria transformadora nacional deverá crescer a um ritmo médio da ordem de 12,5 por cento.
Chama-se a atenção para este aspecto dos trabalhos preliminares, porquanto se torna indispensável tal observação para melhor entendimento do. contexto e apreciação da posição das subsecções.
As maiores dificuldades para obtenção de taxas relativamente mais elevadas no último sexénio (1974-1979), antes do total embate da integração, decorreriam, além de outros factores, da menor incentivação que terão os capitais dos países do Mercado Comum em estabelecerem ou participarem em empreendimentos industriais no nosso país, se houver um arranjo entre os dois blocos económicos; do desaparecimento, a partir de 1972, da protecção adicional a indústrias novas; das hesitações resultantes da cada vez menor protecção perante o exterior e, ainda, das consequências negativas que para algumas empresas significará o desaparecimento da protecção perante o exterior. Um outro elemento, que vem reforçar a opinião de que uma taxa de 9 por cento não se afigura muito consentânea com os nossos compromissos internacionais, advém do facto de a taxa de crescimento da indústria em 1966, e, segundo tudo leva a crer, em 1967, estar longe de ter alcançado os níveis tomados como base nos cálculos anteriores.
Desta forma, as subsecções são de parecer que se impõe a revisão da taxa de 9 por cento fixada para a indústria ou, pelo menos, que se envidem todos os esforços no sentido de vir a ser alcançada uma taxa de crescimento mais elevada durante, a execução do Plano, sem o que se afigura problemática a situação do País perante os compromissos assumidos e o movimento geral da integração económica europeia. E, uma vez que se reconhece - como parece - que as iniciativas programadas pelos industriais não permitiam fixar uma meta mais de harmonia com o inevitável condicionalismo internacional em que nos inserimos, julga-se fundamental que se intensifique a aplicação dos vários instrumentos de política económica previstos e se concretize uma maior intervenção governamental em certos sectores da actividade industrial, que se reconhece serem básicos, pelo seu papel motor no processo de desenvolvimento.
As subsecções acreditam que seja possível atingir-se no sector das indústrias transformadoras uma taxa de crescimento anual da ordem dos 12 por cento durante os próximos seis anos, até porque é relativamente baixo o nível de desenvolvimento de que se parte, conduzindo, automaticamente, qualquer iniciativa de vulto bem estruturada a progressos espectaculares.
Mas as subsecções recomendam que, no caso de ser proposta uma meta mais ambiciosa para o sector industrial, se determinem, com a devida ponderação e a maior clareza, todas as implicações que daí derivem, quer no tocante à revisão dos objectivos estabelecidos para os outros sectores de actividade e correspondentes meios de acção, quer relativamente aos novos métodos de desenvolvimento e de intervenção que se tornará necessário empreender no âmbito do próprio sector industrial.
Isto é, pensam as subsecções que, para se atingir o objectivo pretendido de uma mais elevada taxa de crescimento, haveria que ir um pouco mais longe na definição dos meios indispensáveis para o seu processamento.

18. No primeiro parágrafo do capítulo conclui-se, após a discriminação sectorial do produto da indústria e a sua comparação com a estrutura industrial da A. E. C. L., Mercado Comum e países da orla mediterrânica, que:

A estrutura do produto das transformadoras sublinha escassez de actividades que constituem a base das economias industriais modernas, afigurando-se excessiva a participação relativa das indústrias ligeiras.

Quis-se assim fazer sobressair o pouco peso que ainda têm na nossa estrutura industrial sectores que são básicos num processo de desenvolvimento acelerado - metalomecânicas, químicas e, em certos casos, metalúrgicas -, como o demonstra a evolução seguida nos países mais industrializados.
As taxas de crescimento projectadas no III Plano de Fomento para os diferentes ramos do sector industrial, relativamente ao período de 1967-1973, são as seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

Como se vê, houve efectivamente a intenção de procurar corrigir a estrutura industrial portuguesa no sentido de a tornar mais consentânea com os nossos associados mais evoluídos da Europa: taxas de crescimento mais elevadas que as do produto industrial total nas metalúrgicas e metalomecânicas, e também nas químicas.

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Mas, mesmo com a nova estrutura prevista, às indústrias têxteis e do vestuário (sem dúvida, de entre as indústrias tradicionais, as que têm revelado maior dinamismo) ainda representam cerca de 16 por cento do conjunto da indústria.
Em apoio da estratégia de desenvolvimento industrial que se deseja seguir durante os próximos anos, refere, por outro lado, o capítulo que serão consideradas prioritárias «as indústrias metalomecânicas produtoras de bens de equipamento, os ramos novos da indústria química, as actividades transformadoras de produtos agrícolas e silvícolas que mais rapidamente possam contribuir para a desejada reestruturação do sector primário e a indústria têxtil».
Embora seja vaga esta indicação, as subsecções registam com agrado que os incentivos e estímulos a conceder às empresas destes sectores que desejam expandir-se ou modernizar-se irão ser fixados, «com todos os condicionalismos específicos», nos programas anuais de execução do Plano.
As subsecções insistem com o Governo para que se dê integral cumprimento a esta proposição, sob pena de o Plano se tornar ineficaz junto dos industriais.

19. Além da projecção do valor acrescentado, o capítulo inclui ainda projecções da formação de capital fixo necessária para assegurar o cumprimento das metas fixadas para o produto e as estimativas dos investimentos referidas directamente pelos industriais durante a preparação do Plano.

[Ver Tabela na Imagem]

É certo que os trabalhos do III Plano de modo algum poderiam recolher as expectativas de investimentos de todos os industriais do País, até porque muitos dos que colaboraram directamente no Plano sentiram, naturalmente, dificuldades em fornecer indicações precisas acerca dos empreendimentos que projectavam realizar. E que assim é também o pensou o próprio Governo, que, perante uma estimativa inserta a longo prazo, ao apresentar o projecto à Câmara, logo formulou reservas de ajustamento e revisões ao fim dos três primeiros anos do sexénio (discurso do Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho já citado).
Daí considerar-se da maior conveniência que, nos casos onde o desequilíbrio se apresente mais profundo e, simultaneamente, se trate de sector considerado estratégico, se promova de forma especial a instalação de novas unidades industriais ou a reconversão das existentes mediante a intervenção de toda a série de instrumentos e incentivos de que o Estado pode lançar mão. É assunto que também deveria ser concretamente abordado .nos programas anuais de execução do Plano.

20. Ligado estreitamente com este ponto, será de referir que a última parte do capítulo em exame (antes de tratar da programação dos principais sectores), insere um conjunto restrito de projectos de empreendimentos industriais a instalar no período de vigência do III Plano.
As subsecções não compreendem os motivos que levaram o Governo a esta inserção, quando naquela programação (secção II do capítulo) há igualmente referência a empreendimentos. Em alguns casos verifica-se mesmo patente duplicação.
Pelas razões oportunamente referidas, as subsecções dão a sua aquiescência à inclusão expressa de investimentos considerados de vulto e que, do ponto de vista estratégico, representem papel importante no desenvolvimento económico do País, mas abstêm-se de formular considerações específicas a esse respeito, levadas pelos motivos que vão citados no n.º 5 do parecer.
Esperam as subsecções que o Plano não se limite durante a sua execução a seguir a realização dos projectos que isoladamente agora se reuniram - e que se espera sejam quase meramente exemplificativos - e antes procure incluir verdadeiros programas sectoriais de investimentos, os quais, estabelecidos com base em criteriosa selecção de projectos, deveriam merecer dos Poderes Públicos todo o apoio necessário à sua concretização.
Aguardam as subsecções também que a simples inclusão de um empreendimento no Plano pressuponha a sua imediata realização, de modo a evitar que, depois de aprovado, se estabeleça um processo de apreciação e autorização, com todas as implicações e demoras burocráticas inerentes, semelhante ao que se verifica para as iniciativas correntes de menor peso, e não contempladas no Plano.
Esperam do mesmo modo as subsecções que a inclusão no Plano obedeça, por outro lado, a um exame detido do contexto industrial respectivo, por forma a não criar situações dolorosas ou incompreensíveis para a indústria, que podem ter repercussões de extensão incalculável.

V

Instrumentos de realização dos objectivos propostos

21. Já antes se afirmou que a inclusão, a partir do Plano Intercalar de Fomento, de projecções ao nível dos grandes sectores de actividade constituiu complemento indispensável das projecções das variáveis globais, do produto e da despesa, já inseridas no II Plano de Fomento, uma vez que essas taxas de crescimento, projectadas sectorialmente (para a indústria, no caso que nos interessa), representavam verdadeiras metas que as autoridades económicas se comprometiam a prosseguir durante a vigência do Plano.
Ora, é evidente - e já se disse - que um plano, entendido como programa de acção, não deve conter apenas os ritmos de crescimento que se espera vir a atingir no decurso da sua execução, sendo necessário que explicite os instrumentos a que os Poderes Públicos entendem recorrer para alcançar as metas propostas. E tais instrumentos são, para além de tantos outros já enunciados, pelo menos, e fundamentalmente, de duas naturezas: inclusão de determinados projectos de empreendimentos que, pela sua dimensão e valor estratégico, mereçam ser destacados, e referência às linhas gerais de política económica e às consequentes medidas concretas que deverão criar as condições básicas necessárias à execução do que foi programado.
Neste contexto, e com as limitações já apontadas, para que o Plano constitua um esquema mais operacional de actuação, interessará, desde logo, que nele se estabeleça um ligação nítida entre os objectivos que o Governo entende prosseguir, explicitados em termos de taxas de cres-

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cimento, e os instrumentos directos e indirectos que para o efeito pretende utilizar.
A seguir se analisa o conteúdo das principais medidas de política industrial enunciadas no projecto do III Plano:

A) Revisão do condicionamento industrial.
B) Auxílio às pequenas e médias empresas.
C) Educação e formação profissional.
D) Financiamento da indústria.
E) Normalização.
F) Abastecimento da indústria em matérias-primas.
G) Aquisição e difusão da tecnologia moderna.
H) Produtividade.
I) Fomento das exportações.
J) Centros técnicos.

A) Revisão do condicionamento industrial

22. Em matéria de orientações gerais de política industrial, o capítulo vem, sem dúvida, marcado de espírito novo e decididamente voltado para enfrentar o condicionalismo imposto à economia portuguesa pela sua integração nos espaços mais avançados da economia industrializada da Europa.
Pretende-se, com efeito, durante a vigência do Plano, dar concretização às orientações expressas no Decreto-Lei n.º 46 666, de 24 de Novembro de 1965, diploma já anunciado no Plano Intercalar, e que é peça de fundamental importância em matéria de política industrial, uma vez que reformula as bases em que assenta o regime de condicionamento industrial vigente.
E ainda mais avulta a relevância das proposições insertas no Plano quando se tiver presente que o condicionamento permanece, ainda no momento actual, como o mais poderoso instrumento de intervenção do poder estadual no conjunto das indústrias transformadoras, ao ponto de se apresentar como dado fundamental da estratégia do empresário numa época em que se alterou completamente o quadro em que, há quinze anos - aquando da promulgação da Lei n.º 2052 -, tinha de mover-se a indústria nacional.
O condicionamento tem hoje de ser considerado, para além de um conjunto de regras disciplinares visando o objectivo de orientar a actividade produtora no melhor sentido dentro das dificuldades dos enquadramentos nacionais e internacionais, também um dispositivo do mais completo aproveitamento dos recursos existentes, da protecção de qualidade dos produtos nacionais e dê promoção social.
Desta forma, parece às subsecções que, dentro do condicionamento, mas para além do seu conceito stricto sensu, haverá que considerar outros meios que, indirectamente, poderão conduzir aos mesmos resultados que um condicionamento stricto sensu poderá atingir.
Está-se a pensar na «política selectiva do crédito» ou na «política selectiva do fisco», por exemplo, que, sendo elementos hoje de prática usual noutros países, ainda não foram entre nós devidamente equacionados.
Noutros lugares deste parecer se fará alusão, mesmo sucinta, a estes elementos, que devem considerar-se importantes para a prossecução dos fins pretendidos.
Entretanto como se sabe, o Decreto-Lei n.º 46 666 estabelece dois tipos de condicionamento: o regime de condicionamento nacional, para aquelas indústrias cuja instalação em determinado território se repercute, pelo seu vulto, na economia de outros territórios, e o regime de condicionamento territorial, incidente sobre as indústrias de interesse puramente local.
Em relação ao primeiro dos citados regimes, publica, em anexo, o Decreto-Lei n.º 46 666 uma lista das indústrias sujeitas a tal regime, lista cuja composição não é, todavia, imutável, pois pode ser alterada mediante decisão do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos.
No que respeita ao regime de condicionamento industrial de índole territorial, apesar de o citado diploma considerar sem imediata modificação no continente e ilhas adjacentes o regime decorrente da Lei n.º 2052 e as listas anexas ao Decreto-Lei n.º 39 684 (salvo para aquelas indústrias que passam a ser regidas pelo condicionamento nacional), o seu preâmbulo contém doutrina de excepcional importância e marca orientações inequívocas a serem observadas quando se vier a operar a revisão do regime em causa, revisão essa que o articulado do diploma expressamente anuncia. Neste momento, sabe-se estar para breve a respectiva publicação.
Acima de tudo, avulta o princípio segundo o qual as alterações no sistema de condicionamento industrial devem dirigir-se no sentido de uma «restrição progressiva, mas tão rápida quanto possível, no âmbito desse condicionamento, substituindo uma decisão e uma responsabilidade do Estado em matéria que predominantemente importa à iniciativa privada, pela própria decisão e pela responsabilidade dessa mesma iniciativa».
O projecto do III Plano indica expressamente que durante a sua vigência será revista a legislação sobre o condicionamento «com o objectivo de concretizar esta orientação».
As subsecções não podem deixar de acompanhar e apoiar com entusiasmo o pensamento do Governo neste particular, pois tal proposição traduz inequívoco desígnio de uma transferência para a iniciativa privada de responsabilidades que até aqui - e não obstante a evolução que o sector industrial registou, em especial ao longo do último decénio - cabiam dominante e discricionàriamente ao poder estadual.
As subsecções esperam que tal orientação se concretize, muito embora não vejam no texto do capítulo o equacionamento de medidas que se aconselham para o prosseguimento e consubstanciação do espírito aqui explanado, como, por exemplo, a substituição no sexénio dos organismos de coordenação económica pelos organismos de pura formação industrial.
Assim, os sintomas da relativa maturidade já hoje atingida pela indústria -e que o Decreto-Lei n.º 46 666 expressamente reconhece - vêm coadunar-se perfeitamente com o propósito de liberalização agora expresso, muito especialmente quando se têm em conta as exigências impostas pelo quadro da integração económica em que Portugal se encontra inserido.
Com efeito, em relação a este novo enquadramento, o regime de condicionamento até há pouco vigente - porque moroso, não impulsionador, limitativo e protector de situações adquiridas - deixa de ter o significado que possuía à data da sua instituição, uma vez que o mercado para onde as unidades fabris terão de produzir não se confinará ao reduzido mercado interno, o que, necessàriamente, desobrigará a reserva da área do continente para um número restrito de empresas. Interessará então, isso sim, que o País disponha de um parque industrial que possibilite a competição nos mercados internacionais e no próprio mercado interior e, além disso, que da parte da Administração se assista a um desencadear de actuações rápidas e eficientes, a fim de que a indústria se não coloque em posição desfavorecida relativamente aos seus parceiros e concorrentes estrangeiros.

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Concretamente, o capítulo em apreciação adere da forma mais aberta ao propósito de liberalização contido no Decreto-Lei n.º 46666, rejeitando todos os argumentos que normalmente têm sido invocados para justificar a adopção e permanência do regime de condicionamento.
Todavia, e multo prudentemente, considera-se que o abandono do regime de condicionamento industrial não poderá efectuar-se de modo repentino, antes haverá que tornar as medidas cautelares julgadas pertinentes, por forma a caminhar por «adaptações graduais e sucessivas».
E uma das fases por que terão de passar algumas das indústrias libertas do regime do condicionamento será a submissão a «regulamentos de exercício» baseados em elementos concretos e objectivos e que se enquadram na mesma política de conjunto. De resto, já por despacho ministerial foi oportunamente cometida à Corporação da Indústria a tarefa de estudar e sugerir regulamentos para os principais sectores da indústria nacional, nos quais «se estabeleçam os requisitos mínimos a que deverão obedecer as respectivas unidades industriais, bem como as normas mínimas de qualidades a impor aos fabricos, de modo a assegurar-se, não só a defesa dos consumidores, como a lealdade de concorrência». O capítulo em exame acrescenta agora que «se evitará, tanto quanto possível, a imposição de normas tecnológicas rígidas acerca das características e apetrechamento das em presas dos ramos a considerar».
Terá de entender-se, assim, que a Administração se inclina abertamente para o estabelecimento de um condicionamento tecnológico, como esquema tendencial a verificar-se na política, de condicionamento industrial, ou, por outras palavras, pela intervenção do Estado através de regulamentação específica onde se fixem para cada indústria, determinadas regras fundamentais quanto às dimensões mínimas das unidades empresariais e à qualidade dos produtos.
Sabe-se que a Corporação da Indústria envida neste momento os seus esforços no sentido de dar seguimento ao compromisso que assumiu, esperando-se da parte dos organismos primários que colaborem, no seu próprio interesse, na elaboração de regulamentos para os correspondentes sectores de actividade. Terá de reconhecer-se, todavia, que não vai ser tarefa fácil a apresentação de regulamentos com as características apontadas, uma vez que, por um lado, é grande a variedade de indústrias dentro de um mesmo ramo industrial integrado no âmbito de cada grémio e, por outro lado, não são abundantes os técnicos capazes de levar a bom termo tal tarefa.
Por outro lado, e dada a falta de poder normativo do órgão cimeiro da indústria, ficam de pé reservas que se têm de enunciar quanto ao conteúdo dessa disciplina, que sé não descortina sair da Administração - o que substancialmente limita o desígnio tão claramente posto ria transferência de responsabilidades.

23. Para além dos regulamentos de exercício, o capítulo esclarece que se deverá «acompanhar a alteração do regime de condicionamento de outras medidas de política industrial que mais adequadamente visem os objectivos que até agora têm sido a razão de ser daquele regime».
É este exactamente o princípio enunciado no Decreto-Lei n.º 46 666, segundo o qual o Estado conta, de futuro, lançar mão de meios indirectos de actuação para atingir objectivos de política industrial que até à data se tem procurado realizar quase exclusivamente através do condicionamento.
Também aqui as subsecções perfilham inteiramente os propósitos do Governo, pois está-se em presença de algo de novo e muito actual em matéria de condução e orientação dos investimentos industriais.
Quer dizer: se bem se entende o pensamento do Governo, a política de desenvolvimento industrial deverá ser, no futuro, encarada como um todo multifacetado, mas coerente, ou seja, como um conjunto harmónico de instrumentos variados, quer de impulso, quer de contenção, de que o condicionamento poderá ser um desses instrumentos nos casos julgados de «significado e utilidade nacionais». Tudo, aliás, dentro do pensamento já enunciado anteriormente, mas que parece ter sido ultrapassado ou reduzido na formulação do capítulo em exame.
Será legítimo pensar, então, que se assistirá durante á execução do Plano à intervenção do Estado no delineamento da expansão dos vários sectores industriais - expansão essa que terá necessariamente de ser estabelecida em função das opções determinadas nos planos de fomento -, por meio de uma série de actuações, específicas para cada sector, em que se definirão com clareza os diversos «condicionamentos» e «incentivos» a que a indústria em causa estará sujeita, por forma a atingirem-se, designadamente, os objectivos e as prioridades preconizadas no Plano.
Por isso mesmo, parece, deveria entrar em jogo toda a problemática envolvente dos múltiplos domínios em que se enquadra a política económica governamental e do País, domínios que vão desde a definição dos moldes em que assentaria o planeamento à escala regional, à concessão de crédito, às isenções fiscais, à formação profissional e outras facilidades e soluções.
É evidente que o anunciado abandono do regime de condicionamento - instrumento preventivo de que a Administração quase exclusivamente se tem servido para orientar a política industrial - terá como pressupostos inelutáveis uma maior capacidade de actuação dos organismos oficiais ligados ao sector industrial e, simultaneamente, que esses mesmos organismos irão passar a trabalhar em moldes diferentes menos burocráticos e menos discricionários, sobretudo mais coordenados, limitados nas suas proposições e intervenções e centrados na criação e impulso de condições favoráveis à efectivação das iniciativas dos particulares e na orientação mais adequada dos investimentos industriais, em estreita ligação com os órgãos responsáveis da iniciativa privada.
O capítulo submetido à apreciação das subsecções encara esta problemática ao anunciar que as medidas para alcançar a meta fixada ao sector industrial (promoção industrial, financiamento, tributação, fomento das exportações, ensino, formação profissional acelerada, infra-estruturas de transportes e comunicações, política social, etc.), uma vez que dependem de uma série de .departamentos ministeriais, serão «cuidadosamente harmonizados no quadro da execução do Plano»; não se faz, porém, alusão expressa a uma gradual valorização dos sectores privados na estreita colaboração com o sector público nessa execução do Plano, o que é pena, pois se manifestaria assim o propósito de movimentar em termos operantes a nossa infra-estrutura constitucional, que dia a dia mais se impõe ver actuante e válida.
Merecem, pois, nota especial, pelo que revelam de intenção em adaptar os serviços da Secretaria de Estado da Indústria aos novos moldes de intervenção do Estado no sector das indústrias transformadoras, as referências que o capítulo faz à criação de um serviço de economia e desenvolvimento industrial no Instituto Nacional de Investigação Industrial, como primeira fase de um serviço de promoção industrial, e à instalação de um gabinete de planeamento industrial, funcionando na dependência directa da Secretaria, de Estado, que «garantirá a continui-

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dade dos trabalhos de planeamento» e assegurará as ligações entre os diferentes departamentos onde se realiza a política industrial e entre estes e o sector privado.

24. Alguns dos instrumentos a que o Estado conta recorrer, em complemento ou substituição - como se espera - da utilização discricionária do regime de condicionamento, são de tal importância e representam tal novidade e progresso que as subsecções consideram de muito interesse transcrevê-los.
Assim, para evitar o sobreequipamento e a má aplicação de capitais, apontam-se:

a) A preparação periódica de relatórios sobre a situação dos vários ramos da indústria, no que respeita a equipamentos, perspectivas de evolução da produção, etc.;
b) A recusa de quaisquer benefícios fiscais, de isenções aduaneiras e de facilitação de métodos sobre os quais o Estado tenha controle nos estabelecimentos fabris que pretendam instalar-se em sectores já suficientemente equipados;
c) A exigência da apresentação de projectos em que se analisem os mais relevantes aspectos técnicos o económicos das unidades de produção a instalar em determinados sectores.

Para a regularização da concorrência, diz-se expressamente que «o condicionamento industrial terá dado alguma contribuição nesse sentido, mas não há dúvida de que os meios mais adequados são a generalização da imposição de normas de qualidade a um número de fabricos tão grande quanto possível e a rigorosa fiscalização do conjunto dessas normas e das que se referem às condições oferecidas aos trabalhadores nos aspectos de segurança e higiene de instalações, salários, horários de trabalho, contribuições para a Previdência», etc. E mais adiante diz-se que «as disposições agora anunciadas, complementadas por uma lei de defesa da concorrência, constituirão factor essencial do desenvolvimento industrial».
Em ordem à correcta localização dos novos estabelecimentos industriais, faz-se apelo às próprias palavras do Decreto-Lei n.º 46 666:

O condicionamento de localização deverá estender-se a todos os estabelecimentos fabris de algum vulto, e não, como hoje acontece, apenas àqueles que, em nome de objectivos de outra natureza, se encontram sujeitos ao condicionamento industrial. E também esse condicionamento, com fins de equilíbrio regional, deverá ser aplicado através de regras automáticas que definam as localizações inconvenientes, e não como base num poder discricionário da Administração, semelhante ao que actualmente se aplica no condicionamento industrial.

Quanto à disciplina da aplicação de capitais estrangeiros, sublinha-se que «tal disciplina, em determinados sectores da produção industrial portuguesa, na medida em que for considerada desejável, poderá normalmente conseguir-se através de disposições legais especialmente apropriadas».
Finalmente, no que respeita à reorganização industrial, refere o capítulo, de modo singularmente incisivo e em oposição à doutrina até muito recentemente defendida nos meios oficiais, que «não se deve, em face das lições da experiência já colhida (ao longo da vigência da Lei n.º 2005), adoptar soluções que tenham de abranger obrigatoriamente todas as unidades de cada um dos sectores a reorganizar. Em vez de se procurar obter directamente
a reorganização de indústrias, ter-se-á antes de pensar em termos de reconversão de empresa. Em vez de se procurarem concentrações promovidas pelo Estado, deverão antes estimular-se os agrupamentos voluntários sobre uma das modalidades possíveis, mesmo que a esses agrupamentos não adiram muitas das empresas do respectivo sector. Em vez de se tentar suprir pequenas unidades através de esquemas de reorganização impostos pelo Estado, será preferível ajudá-las, dentro dos limites razoáveis, a vencer as suas próprias limitações de ordem técnica, comercial, financeira e administrativa».

25. Ainda a propósito da política de reorganização industrial - dado o avanço das novas soluções programadas -, será de recordar que a Lei n.º 2005 permanece, ainda hoje, como o diploma fundamental por que se rege a política industrial do País. Não obstante ter sido publicada em 1945, com o intuito de fomentar novas indústrias e reorganizar as existentes, o facto é que, da sua já longa aplicação, não tem vindo a resultar para os empresários dos diferentes sectores industriais os benefícios que legitimamente esperavam.
Sem falar já nas vicissitudes de tipo orgânico por que passaram, nomeadamente, as comissões reorganizadoras instituídas para algumas indústrias - comissões que se preocuparam fundamentalmente com as operações de concentração, esquecendo que, em muitas actividades, a pequena empresa, se bem organizada, pode ser o tipo de unidade mais adequada -, a explicação da inoperância da Lei n.º 2005 julga-se poder encontrar-se na ausência de um quadro pré-organizado de expansão, por outras palavras, de um esquema coordenado de desenvolvimento do sector industrial que sirva de suporte à concretização das medidas de política que a lei concretamente enuncia. Nesse esquema deveria estar implícita uma determinada estratégia de evolução da indústria, objectivada por um ordenamento geral em que cada actividade conhecesse claramente o lugar que o esquema do desenvolvimento lhe destinou.
Por outro lado, houve sempre mais a preocupação de comandar e conceder, do que de programar, ordenar e enquadrar.
Não se estabeleceram paradigmas certos dentro dos quais a indústria se movimentasse na certeza dessa movimentação, e procurou-se sempre muito mais deixar em aberto uma discricionariedade que poderia ser conveniente à Administração, mas que constituiu um embaraço terrível à iniciativa particular.
E, uma vez que também o projecto do III Plano não inclui quaisquer programas concretos de reorganização, as subsecções chamam a especial atenção do Governo para que nos programas anuais de execução sejam mencionados os sectores que prioritariamente devam ser objecto de incentivos especiais a conceder às unidades industriais que desejam reorganizar-se, com a indicação precisa do tipo de facilidades e auxílios de que estas poderão dispor para o efeito, e eliminando flutuações que só trazem situações confusas, que nem ao Governo, nem aos particulares, e muito menos ao País, interessa alimentar e manter.

B) Auxílio às pequenas e médias empresas

26. As pequenas e médias empresas têm beneficiado, em todo o mundo, de políticas específicas de apoio que, fundamentalmente, apresentam como objectivo a dinamização da importante parcela de potencial produtivo que, em qualquer economia, lhes está confiada. Em Portugal, contribuem as pequenas e médias empresas, seja qual for o critério adoptado para a sua definição,

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com uma quota-parte substancial da actividade da indústria. Urge, pois, conhecidas as deficiências específicas deste tipo de empresas, actuar por forma a poder aproveitar-se convenientemente o potencial de desenvolvimento que elas contêm. Com efeito, algumas das mais graves limitações a que estão submetidas - difícil acesso ao crédito, falta de conhecimento de mercados actuais e potenciais, reduzido know-how, falta de preparação empresarial, deficiente formação profissional da mão-de-obra, etc. - poderão ser suprimidas através de uma conveniente acção de apoio.
No capítulo em apreciação, a definição do problema e as linhas gerais que devem orientar a sua resolução encontram-se esquematizadas por forma a merecer o aplauso das subsecções. Nomeadamente, indica-se uma orientação quanto ao critério de escolha das empresas que devem ser auxiliadas, enumeram-se os tipos de apoio a prestar e sugere-se a forma de assegurar a coordenação das acções a desencadear.
Na pressuposição de meios sempre escassos, e tendo em conta a rentabilidade que deve exigir-se às acções a empreender, parece às subsecções que a ajuda às pequenas e médias empresas deverá concretizar-se através de agrupamentos de empresas, e não por casos isolados. Com efeito, os resultados serão muito mais efectivos se for abrangido pela acção um grupo de empresas, com características e problemas idênticos, isto é, se se fizer uma acção de tipo sectorial. Aliás, alguns dos meios - formação profissional, informação, assistência técnica, comercialização- que serão necessários só poderão ser utilizados a uma escala suficientemente ampla que lhes dê a adequada rentabilidade e poder multiplicativo; por outro lado, poderá ainda contribuir-se para a execução de políticas sectoriais devidamente enquadradas numa perspectiva de desenvolvimento industrial equilibrado.
A acção a empreender só poderá ser eficaz desde que fundamentada no conhecimento dos verdadeiros problemas do sector em causa. Pode, assim, preconizar-se como um dos seus instrumentos de base a existência de estudos ao nível sectorial feitos com a colaboração activa das empresas e fundamentados em dados directamente recolhidos nestas. Para tal tarefa, além dos organismos públicos cuja vocação facilmente pode inserir-se numa política de auxílio às pequenas e médias empresas - Instituto Nacional de Investigação Industrial, Fundo de Fomento de Exportação, Banco de Fomento Nacional, Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra -, estão particularmente indicados organismos profissionais de sector devidamente apetrechados e apoiados (por exemplo, os centros técnicos profissionais, a que adiante se fará mais completa referência).
De posse dos estudos sectoriais, haverá necessidade de actuação concreta nos domínios mencionados, acção que naturalmente será desenvolvida através dos organismos profissionais do sector. Na sua actuação, estes utilizarão, para além dos seus meios próprios, por natureza limitados, as possibilidades que lhes serão facultadas pelas instituições públicas já referidas como estando aptas a fornecer ajuda concreta às pequenas e médias empresas.
Para que este esquema possa funcionar, será, porém, evidentemente, necessário que se disponha de um órgão orientador, programador e coordenador das acções a empreender. Com efeito, a escolha de sectores prioritários, o enquadramento da acção na política e planos de desenvolvimento e a própria articulação das acções a empreender pelos dois grupos de entidades - públicas e privadas - só poderão ser levadas a cabo por um organismo cometido da tarefa específica de promoção do auxílio às pequenas e médias empresas. Este órgão, no qual deverá estar assegurada uma ampla participação da iniciativa privada, nomeadamente da Corporação da Indústria, deverá estar convenientemente apetrechado em meios humanos e materiais e possuir, ainda, a autoridade e a autonomia indispensáveis a uma actuação eficaz - por exemplo, o projectado Centro Nacional de Produtividade. Neste domínio, a actuação daquele órgão deverá processar-se nos seguintes moldes:

a) Centralizar e elaborar a informação relativa aos vários sectores, proveniente dos centros técnicos profissionais, das instituições públicas, dos planos de fomento, etc., traçando a política concreta a seguir, isto é, definindo os sectores prioritários, as vias e os meios de actuação;
b) Recolher e seleccionar os pedidos concretos de assistência provenientes dos centros técnicos profissionais, de outros organismos interessados na assistência, ou de grupos de empresas eventualmente reunidos para o efeito, procurando satisfazê-los pela congregação dos meios necessários a cada caso e que podem ser fornecidos pelas instituições antes mencionadas;
c) Procurar que as instituições que de alguma forma tratam de problemas relacionados com as pequenas e médias empresas orientem a sua actividade em sentido convergente com os objectivos e as acções a empreender.

C) Educação e formação profissional

27. A educação e formação profissional são alvo de atenção no capítulo «Industrias extractivas e transformadoras» do projecto do Plano. Dado que a matéria é objecto de tratamento individualizado no capítulo X do projecto «Educação e investigação», são ali apenas abordadas algumas das linhas fundamentais que deveriam orientar o desejável incremento a imprimir às acções educativas e de formação profissional. A solução destes problemas é hoje fundamental para o progresso da indústria, como, por exemplo, a necessidade de promover no País a criação de cursos básicos com técnicas modernas de administração e organização de empresas - matéria cujo conhecimento é presentemente essencial à indispensável modernização do sector industrial -, os institutos de formação especializada - como o já existente Instituto de Soldadura -, a reforma dos ensinos primário, médio, técnico, e até universitário, situando este num campo de maior aplicação prática, de cuja falta tanto se queixam os industriais, e até os alunos. Uma vez que se remetem para o capítulo X do projecto do Plano as medidas a encarar neste domínio, justificam-se também neste parecer algumas considerações sobre o que nele vem consignado, dada a importância fundamental de que o assunto se reveste.
Sabe-se que se têm feito reparos pertinentes a estes problemas e que já se afirmou até, como condição básica do êxito do Plano, que «os países mais desenvolvidos se apressam, por diversas razões, em enriquecer rapidamente as suas estruturas educacionais e as potencialidades de investigação científica fundamental e aplicada». Isto como paradigma indispensável para uma posição favorável da nossa indústria na conjuntura internacional.
As subsecções julgam ainda do maior interesse que a projectada criação do Conselho Nacional da Formação Pró-

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fissional se faça em moldes que permitam, tão cedo quanto possível:
Uma correcta definição das reestruturações a levar a cabo no ensino técnico escolar e no profissional extra-escolar e nos respectivos métodos de ensino, de modo que correspondam às necessidades reais da economia portuguesa. Nomeadamente, a indústria considera haver a maior urgência na reforma dos ensinos de engenharia aos níveis médio e superior, de forma a remediar o actual desequilíbrio entre o número de técnicos de formação média e superior e a corrigir as suas notórias deficiências de preparação, como, aliás, vem indicado no projecto do Plano. A reforma do ensino superior de engenharia deveria, naturalmente, enquadrar-se numa remodelação, que urge, da Universidade.
Uma adequada escolha de prioridades, no estabelecimento das actividades cobertas pelos ensinos profissionais técnico, secundário e extra-escolar.
Uma conveniente e indispensável articulação e conjugação entre as várias modalidades e graus de ensino que concorrem para o mesmo fim ou para fins complementares.

Noutra perspectiva, que se reputa também do maior interesse, deverá estar presente a preocupação de através dos esquemas de formação, se garantir a possibilidade generalizada de promoção sócio-cultural pela via da profissão.
No que respeita à falta de soluções concretas para o ensino institucionalizado das modernas técnicas de administração de empresas, as subsecções são de parecer que no período do III Plano se deverá promover a criação de um organismo que suprima esta carência.
As subsecções esperam ainda que rio capítulo X «Educação e investigação» do projecto do III Plano de Fome ato se contemple com detença a reestruturação do ensino com carácter aplicado e abstêm-se, portanto, de produzir mais considerações que não as de índole genérica que as preocupações da indústria exigiam como mínimo a apontar.

D) Financiamento da indústria

28. Dada a grave incidência para a indústria dos problemas de financiamento, entendem as subsecções dever sugerir os termos em que, em seu parecer, devem os mesmos situar-se e resolver-se.
Se assim procede, é porque a indústria pensa ser para ela fundamental - como condição de sobrevivência e progresso - a contemplação mais detida deste tema.

29. Em concreto, o exame destes problemas releva a repor a problemática específica dos nossos mercados monetário e de capitais em tudo quanto se relaciona com o normal abastecimento do sector industrial em recursos a curto, médio e longo prazo, aliás dentro da chamada «política selectiva do crédito», instrumento hoje considerado essencial na planificação do desenvolvimento económico e que enuncia o princípio da intervenção desta variável como elemento preponderante e altamente influente no desenvolvimento e na orientação das forças produtivas.

30. Mercado monetário. - As exigências de liquidez e os esquemas em vigor de mobilização das suas operações no banco central fazem com que o nosso mercado monetário se encontre em larga medida incapacitado de responder às solicitações da indústria no atinente aos financiamentos para capital circulante. Continuam, com efeito, as instituições de crédito do mercado monetário amarradas a prazos extremamente curtos para o redesconto dos títulos de que são portadoras e, assim, impedidas de estruturarem as suas operações em termos compatíveis com as reais necessidades das empresas, largamente preocupadas, desde logo, com um vasto circuito de distribuição e uma capacidade de regeneração consequente bastante fraca.
Ora, para grande número dos sectores de maior relevo em qualquer economia moderna, o ciclo de produção estendeu-se extraordinariamente, crescendo, do mesmo passo, a dimensão dos valores circulantes que lhe respeitam.
Impossível é, pois, que tais carências sejam satisfeitas através de um curto prazo tradicional, e torna-se, por conseguinte, indispensável habilitar os bancos comerciais a intervirem adequadamente na cobertura das necessidades referidas, garantindo-lhes, para tanto, o redesconto no banco central (ou, num primeiro grau, em outra instituição de crédito para o efeito escolhida e que funcione como rolais] dos títulos resultantes do crédito à produção que venham a distribuir a médio prazo.
Uma vez que a comercialização, entre nós em todos os sectores, mas nomeadamente nos sectores da indústria dita «pesada», se processa cada vez mais com base em financiamentos facultados pelo vendedor ao comprador e traduzidos no diferimento, a médio e longo prazo, da liquidação do preço das transacções, uma das condições basilares de que depende a expansão das nossas vendas para o exterior, e, consequentemente, o rápido desenvolvimento da economia portuguesa, consiste no estabelecimento de um regime adequado de crédito e seguro de crédito à exportação.
O problema mereceu já a atenção do Governo, que, para o resolver, promulgou, em 27 de Abril de 1965, o Decreto-Lei n.º 46 303. Só agora, dois anos passados, se regulamentou esse diploma, e isso atrasou, inevitavelmente, a presença nos mercados internacionais.
No que respeita às vendas a prazo de bens de equipamento no mercado interno, também a indústria e o comércio carecem de uma forma eficiente de apoio.
E o problema reveste-se do um particular melindre, já que, não dispondo de auxílio financeiro adequadamente estruturado, a indústria portuguesa tem visto acrescer à impossibilidade de por falta de crédito e de seguro de crédito à exportação, competir nos mercados externos, o risco de ser pura e simplesmente eliminada pela concorrência estrangeira ou nacional.
Urgente se torna, pois, habilitar o sistema financeiro com os dispositivos e os meios de acção indispensáveis ao financiamento deste tipo de transacções.
Resta examinar a questão do financiamento das vendas a prestações de bens de consumo duradouro.
Trata-se de matéria extremamente melindrosa, em especial numa conjuntura de inflação como aquela em que nos encontramos. Sabido é que o crédito às vendas a prestações, traduzindo-se numa antecipação do rendimento pessoal e, consequentemente, da procura, tem fortes reflexos inflacionários quando concedido pelos bancos comerciais (que, ao redescontá-lo, aumentam a pressão sobre a massa monetária), e não por instituições especializadas (que, aplicando nele poupança disponível, se limitam a operar uma simples transferência do poder de compra).
Compreende-se, assim, que não será aconselhável, de momento, dar aos bancos comerciais maiores facilidades na mobilização de créditos deste tipo.
Mas talvez convenha - embora dentro de limites perfeitamente definidos - promover a constituição de insti-

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tuições especializadas que, no âmbito de uma regulamentação adequada (cuja urgência ninguém contestará) da modalidade comercial em causa, poderiam decisivamente concorrer para a regularização e saneamento do mercado de vendas a prestações.
Convém, finalmente, acentuar que a expansão do crédito dos bancos comerciais, processando-se nos termos habituais, embora tenha redundado em indiscutível benefício imediato para a indústria, comporta, todavia, dois inconvenientes, que cumpre não perder de vista:

A desarmonia entre a estrutura formal das operações de crédito por eles concedidas para investimento e os fins a que os capitais mutuados se destinam;
A eventual escassez de recursos para as operações comerciais correntes, maxime quando, pela concretização dos maiores riscos que o crédito a médio e a longo prazo envolve ou pela necessidade de reajustar a sua carteira de negócios, os bancos se vêem forçados a restringir o crédito comercial.

31. Mercado de capitais. - A característica fundamental do nosso mercado de títulos nos últimos anos é a do sistemático alheamento da poupança privada (não institucional), que, por circunstâncias várias, prefere manter-se líquida em depósitos constituídos no mercado monetário à ordem e a curto prazo.
Ora a revitalização do mercado de títulos constitui condição sine qua non da exequibilidade do Plano de Fomento em exame.
E afigura-se às subsecções que esse objectivo não poderá conseguir-se sem que:

a) Se dimensionem em termos adequados as taxas de juro dos títulos de rendimento variável;
b) Se combatam, através da introdução no nosso país de novos tipos de obrigações («indexadas», com prémios de reembolso, etc.), os receios, cada vez mais sensíveis, da poupança quanto a estas aplicações;
c) Se criem novas espécies de títulos, que tanto êxito tiveram no estrangeiro, tais como as obrigações convertíveis;
d) Se evite a instabilidade do rendimento do aforrador, derivada das tão frequentes e inesperadas modificações dos encargos fiscais que sobre os títulos incidem;
e) Através da revisão de alguns regimes legais anacrónicos, do estabelecimento de uma adequada fiscalização das sociedades anónimas e de esquemas eficazes de informação económica e financeira (nomeadamente da situação real das empresas, às quais se imporia a publicação periódica de elementos mais pormenorizados do que os actualmente exigidos), se crie o condicionalismo necessário para, esclarecida a poupança e vencida, assim, a sua proverbial timidez, se viabilizar, na medida do possível, à generalidade das empresas idóneas (e não apenas, como sucede hoje, às de vulto excepcional ou de vida particularmente espectaculosa) a mobilização do aforro disponível;
f) Se reveja a estrutura e funcionamento das bolsas de valores, promovendo, por esse e outros meios, o aumento de volume de transacções que nelas se realizam e a redução da sua sensibilidade aos movimentos de carácter especulativo.

No que respeita aos empréstimos hipotecários, exceptuando, de modo geral, os que
se realizam nas instituições de crédito, o processamento das operações carece de uma regulamentação adequada, sendo possível que aí se verifiquem desvios, porventura lesivos do interesse nacional.
Conviria, também, que se estudasse com a máxima atenção o problema da influência que os empréstimos hipotecários estejam exercendo na orientação do aforro para aplicações não prioritárias.
Quanto ao mercado de compra e venda de propriedades, urge sujeitar a uma disciplina legal mais apertada esta zona do mercado, evitando desperdícios de poupança e lucros ilegítimos, sempre contrários aos mais lídimos interesses do País e impeditivos do aumento do ritmo de expansão da indústria portuguesa.
A recolha de poupança mediante depósitos a mais de um ano inviabiliza, manifestamente, a política até agora seguida por numerosos sectores no mercado monetário, nos quais se oferecem a simples depósitos à ordem ou a curtíssimo prazo taxas reais de juro que se aproximam, quando não igualam ou excedem, as que as instituições de crédito a médio e a longo prazo estão autorizadas a pagar por depósitos a mais de um ano.
Cumpre, pois, que se tomem, no âmbito do mercado monetário, as medidas indispensáveis para o regular e disciplinar estreitamente, evitando as anomalias de conduta que estão na raiz do fenómeno apontado.
A necessidade incontroversa de canalizar para o investimento a maior quantidade possível de recursos legitima plenamente o estabelecimento de um écart mais significativo entre os limites legais de remuneração dos depósitos à ordem e de prazo até um ano e a dos depósitos de prazo superior a um ano.
Outras providências poderiam adoptar-se, como, por exemplo, o estabelecimento de esquemas como «os depósitos de poupança», os bons de caísses e outros que, dando, em certa medida, satisfação ao crescente desejo de liquidez do aforrador, viabilizem, apesar de tudo, a canalização do aforro para o investimento.
As principais instituições de crédito a médio e a longo prazo são, como se sabe, a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e o Banco de Fomento Nacional.
No caso da Caixa, que é ainda, de longe, a instituição que maior volume de financiamento a médio e a longo prazo faculta às actividades económicas, não há dúvida de que uma cuidada revisão - de resto preconizada no projecto - da sua estrutura e funcionamento poderá decisivamente contribuir para um aumento substancial das suas operações.
No que toca ao Banco de Fomento Nacional, os anos decorridos desde que, em 1960, abriu as suas portas levariam, naturalmente, a esperar uma participação mais activa no financiamento do investimento.
E, compreendendo as dificuldades com que teve, até agora, de lutar no atinente à captação de recursos (praticamente inacessíveis na ordem interna e difíceis, porque demasiadamente onerosos, no mercado exterior), espera-se também que o saneamento dos mercados monetário e de capitais lhe criem amplas perspectivas para um mais normal, intenso e expedito desenvolvimento da sua acção.
Uma das funções mais importantes das instituições de crédito a médio e a longo prazo é a de proporcionar às pequenas e médias empresas os recursos de que necessitam para investimento.
Se bem que a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência haja procurado «democratizar» os seus finan-

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ciamentos, não resta dúvida de que a necessidade de suprir, no tocante às grandes empresas, as insuficiências do mercado de capitais não lhe terá permitido ir tão longe como os interesses da indústria reclamavam.
E quanto ao Banco de Fomento Nacional, a sua intervenção neste domínio vem sendo - contra o que seria de desejar - extremamente reduzida.
Indispensável é, pois, que, remediando-se as anomalias estruturais e funcionais dos mercados monetário e de títulos, as instituições de crédito a médio e a longo prazo assegurem às pequenas e médias empresas, através de esquemas adequados, o apoio financeiro de que carecem.
No nosso mercado financeiro não existem algumas instituições que a experiência de outros países demonstra exercerem papel da maior importância no financiamento do investimento industrial.
Estão neste caso as sociedades financeiras do tipo holding - cuja constituição se prevê no Decreto-Lei n.º 46 302, de 27 de Abril de 1965 -, as quais deveriam actuar no mercado mais com finalidade económica do que com objectivo do máximo lucro.
Outra instituição que poderia contribuir decisivamente para facilitar o recurso ao crédito com vista a empreendimentos de reconhecido interesse económico seria um instituto de prestação de garantias, semelhante ao que existe, por exemplo, na Finlândia, incumbindo-lhe prestar garantias genéricas às operações de crédito necessárias ao financiamento dos empreendimentos referidos.
Crê-se ainda que, através de disposições complementares das que nos diplomas que os regulam se contêm, será possível impelir os fundos e investimentos para uma colaboração mais activa na consecução dos objectivos de política económica e financeira superiormente estabelecidos (mesmo que, para o efeito, haja de conceder-se-lhes, nos aspectos em que tal possa constituir incentivo desejável, facilidades fiscais ou outras).

32. Do exame que acaba de fazer-se e que, no fundo, nada mais constitui do que uma confirmação das conclusões a que o capítulo chegou, resulta que a estrutura e o actual modo de funcionamento dos nossos mercados monetário e de capitais não correspondem ao que a execução do Plano necessariamente reclama.
E a não se adoptarem nesses domínios as providências adequadas, comprometidas ficarão definitivamente as possibilidades de realização dos programas estabelecidos.
Não será descabido fazer ainda uma breve referência a dois factores que vêm perturbando a actividade normal das empresas industriais e comerciais.
Respeita o primeiro às conhecidas deficiências de funcionamento do sistema de pagamentos interterritoriais. Se não se tomarem, a esse respeito, providências imediatas, é natural que a indústria e o comércio se vejam forçados a restringir em larga medida o recurso aos mercados ultramarinos, visto ser-lhes impossível suportar os graves problemas de tesouraria a que as conhecidas demoras de transferências dão origem.
Dificuldades financeiras semelhantes resultam dos atrasos que algumas vezes se verificam na liquidação de contratos de empreitada e de fornecimento por parte de pessoas colectivas de direito público. Também aí se torna urgente tomar medidas apropriadas.

E) Normalização

33. A fim de evitar o abastardamento dos produtos, com o consequente aviltamento de preços e descrédito da indústria, deverão adoptar-se normas e padrões de qualidade e o uso obrigatório de marcas comerciais, ao
mesmo tempo que estabelecer sanções aplicáveis às infracções verificadas. A experiência tem demonstrado que as questões de normalização e de especificação de fabricos não se processam, em Portugal, nos moldes dinâmicos que seriam de desejar, por forma a tornarem-se instrumentos actuantes de uma política de promoção industrial. Assim o reconhece o capítulo do projecto do Plano, que acentua a necessidade de «redução do número de variedades produzidas», de «estabelecimento de marcas de qualidade» e de «rigorosos sistemas de verificação», com especial referência aos sectores de exportação.
Os meios preconizados no capítulo em estudo para atingir os objectivos mencionados - reforço dos meios materiais e humanos da Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, oficialização e obrigatoriedade das normas estrangeiras mais adaptáveis às condições da economia portuguesa e acréscimo da colaboração dos industriais e dos organismos corporativos em que se integram na apresentação de sugestões sobre as medidas que mais urgentemente careçam de efectivação no que diz respeito à publicação de normas e à fiscalização do seu cumprimento - merecem a aprovação das subsecções, entendendo esta, todavia, que deverão ser intensificados, nomeadamente no que respeita à colaboração a prestar pelos organismos corporativos da indústria, e que não deverá limitar-se a simples presença de sugestões a intervenção dos organismos corporativos, designadamente da Corporação da Indústria. Entendem as subsecções que esta deve estar presente na regulamentação e fiscalização, porquanto não é possível afastar-se a iniciativa privada, através do seu organismo mais representativo, de uma presença actuante nesta matéria, sem se correr o risco de inoperância e frustração nos objectivos pretendidos. Com efeito, entende-se que aos organismos profissionais deverá dar-se expressamente a faculdade de estudar e propor, regulamentar e fiscalizar, com a Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, normas e padrões de qualidade para os respectivos produtos industriais. Deste modo, certamente resultará uma maior flexibilidade no sistema e um mais amplo recurso à normalização, pois afigura-se que são os próprios industriais que, por interesse directo, conhecerão com mais propriedade quais os domínios específicos e prioritários em que deveria concretizar-se o estabelecimento de normas. Saliente-se ainda a vantagem que decorreria da obrigatoriedade de os produtos patentearem visivelmente as características que os tornem facilmente identificáveis pelo consumidor como obedecendo às normas.

F) Abastecimento da indústria em matérias-primas

34. Embora possa constituir sacrifício para o erário público ou criar problemas a algumas empresas nacionais produtoras de matérias-primas, o certo é que o fornecimento à indústria de matérias-primas e algumas formas de energia em condições internacionais de preço e qualidade é uma medida que de há muito se impunha e que o Governo agora expressamente contemplou neste projecto do III Plano. Assim, é legítimo esperar que as dificuldades que nesta matéria a indústria defrontava, e que já é Plano Intercalar tinha assinalado, sejam, no decurso do sexénio, progressivamente solucionadas.
O relativo sacrifício que advirá para as finanças ao Estado, e que fundamentalmente contribuiu para o adiamento das medidas agora anunciadas, terá forçosamente de encontrar solução por vias que não tenham como consequência a desigualdade de posição da indústria nacional perante as suas congéneres estrangeiras.

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No que respeita a problemas que possam advir à indústria nacional produtora de matérias-primas, possivelmente outra das razões que terão protelado a solução das deficiências conhecidas, deverão eles ser encarados numa perspectiva mais vasta que não parta da hipótese única de que o abastecimento da indústria em condições de concorrência internacional implicará a substituição da matéria-prima nacional por estrangeira.
Com efeito, não é forçoso que tal aconteça, para o que bastará uma política de subsídios em relação às empresas produtoras de matérias-primas que se afigurem económicamente viáveis dentro de certo prazo, por forma a que estas possam fornecer os seus produtos a preços adequados, especialmente nos casos em que os mesmos se destinam a serem incorporados nos bens exportáveis ou utilizados por sectores que estejam já a sofrer a concorrência externa. Daí que não deva considerar-se comportamento generalizado a adopção de medidas de total isenção de direitos ou de concessão de regimes de draubaque.
De resto, é por vezes enganoso pensar que a indústria produtora de matérias-primas pode fixar-se definitivamente no mercado através de uma pura protecção pautai. Com efeito, na medida em que a indústria utilizadora dessa matéria-prima está impossibilitada de se expandir, a indústria fornecedora não pode dispor de um mercado convenientemente expansivo para lhe assegurar uma dimensão compatível com uma estrutura de custos concorrenciais, limitando-se em muitos casos a explorar o condicionalismo protector.
Parece ainda às subsecções que nas medidas enunciadas no capítulo sobre esta matéria deveria ter sido aludida expressamente a necessidade de assegurar à indústria o abastecimento em matérias-primas de qualidade internacional, uma vez que se sabe que em alguns casos de produção interna o elemento qualidade é mais importante que o próprio preço. A menos que as indústrias nacionais produtoras de matérias-primas evoluam tecnicamente de modo a lançarem produtos de qualidade compatíveis com as exigências de uma economia que se prepara para abrir as suas fronteiras económicas, só será possível encarar como solução o livre abastecimento no estrangeiro.
A correspondência que se estabelece no Plano entre a execução das medidas de política enunciadas neste capítulo e o calendário do nosso desarmamento aduaneiro poderá ser interpretada como querendo imprimir a tais medidas uma perspectiva essencialmente de defesa da sobrevivência da indústria perante a concorrência externa, o que nos parece altamente inconveniente, ignorando ainda o afastamento de um dos obstáculos que à indústria se deparam na conquista de mercados externos.
As subsecções esperam que o relevo que se deu às concessões de draubaque e ao regime de importação temporária não signifique que sejam esses os únicos instrumentos de política a utilizar com vista a atingir os objectivos enunciados.
Com efeito, os regimes de draubaque perderam bastante do seu interesse quando se trate de exportações para a A. E. C. L., já que o Conselho da Associação decidiu tornar incompatível com um tratamento pautai da área as mercadorias que beneficiem daqueles regimes. Em muitos casos haverá, pois, que recorrer à isenção de direitos ou ao auxílio à indústria nacional produtora da matéria-prima antes analisada.
As subsecções fazem votos por que a lista dos produtos que beneficiarão das acções anunciadas, e que constarão dos programas de execução anual do Plano, seja tão vasta quanto o exige a urgência das soluções que se impõem.

G) Aquisição e difusão da tecnologia moderna

35. No que respeita a esta tarefa, amplamente reconhecida como fundamental para o futuro desenvolvimento industrial do País, consideram as subsecções que o capítulo insere uma correcta análise das actuais necessidades da indústria e que, tal como nele se salienta, as tarefas ligadas directamente à tecnologia e à assistência tecnológica deverão absorver em proporção crescente a actividade do Instituto Nacional de Investigação Industrial. Também se considera imprescindível que a actividade deste Instituto seja devidamente enquadrada por um programa de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de maior interesse para as indústrias do País, programa fundamentado nos resultados que advenham dos esforços, actualmente em curso, de planeamento da investigação científica e técnica em relação com o desenvolvimento económico.
Deverá, porém, salientar-se que aquele Instituto, com os reduzidos meios materiais e humanos de que actualmente dispõe, e cujo aumento, que deveria ser substancial, não está devidamente considerado no correspondente capítulo «Educação e investigação», não poderá, mesmo que venha a corrigir-se a tempo esta anomalia, fazer face a todas as necessidades a que haverá que corresponder no período do Plano.
Torna-se necessário salientar que, de par com uma necessidade de investigação amplamente evidenciada nas programações dos principais subsectores industriais - que, em alguns casos, consideram mesmo a criação de institutos especializados (têxteis, papel, material eléctrico, etc.) e, noutros casos, a intensificação dos esforços de investigação dos actuais centros que a esta tarefa se dedicam -, no referido capítulo X «Educação e investigação» só foi objectivamente considerado o caso do projectado Laboratório Nacional de Electricidade.
As subsecções consideram a criação deste Laboratório da maior utilidade, mas não em termos de maior prioridade do que aquela que caberia a alguns dos outros sectores industriais para os quais a simples referência nos respectivos programas não parece garantia suficiente para um compromisso de participação do Estado, até porque para eles não estão previstas as verbas necessárias no aludido capítulo x.
Aliás, dentro da linha preconizada de maior intensificação e coordenação e melhor orientação da investigação científica e técnica com interesse para a actividade industrial, importa, ainda, que se proceda a uma reestruturação das actividades de investigação e estudo actualmente dispersas pelos vários organismos de coordenação económica, por forma a reduzir convenientemente a dispersão de esforços, a descoordenação e a perda de potencialidades a que, de outra forma, continuará a estar-se sujeito.
Será esta uma das mais importantes tarefas a desempenhar pela recentemente criada Junta Nacional de Investigação Científica e Técnica, bem como a formulação dos princípios de protecção à propriedade industrial e sua regulamentação, matéria hoje de primordial importância para a defesa das produções, e em que importa definir urgentemente um status quo.
Finalmente, a prossecução de uma política activa de informação técnica e económica, além da que o Instituto Nacional de Investigação Industrial possa levar a cabo, tal com se indica no capítulo em exame e que reforça o problema, já salientado, dos meios disponíveis deste Instituto, exigirá disponibilidades bem mais poderosas do que as previstas, nomeadamente no que respeita à inventariação, coordenação e controle, ao nível nacional, das actividades de documentação e informação técnica e econó-

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mica. Para o efeito, consideram as subsecções urgente a definição de uma política nacional neste domínio que venha a ser consubstanciada, no período do III Plano, pela criação de um competente centro coordenador à escala nacional. Partindo de um conhecimento preciso da actual situação das necessidades e disponibilidades em documentação e informação científica e técnica no País, competirá a este órgão central, em primeiro lugar, o recenseamento de todos os recursos já existentes e, em seguida, o planeamento e coordenação da respectiva utilização intensiva, conduzindo a uma informação dinâmica, sistemática e especializada que atinja convenientemente os utilizadores potenciais da indústria, da investigação e do ensino.

H) Produtividade

36. É um facto assente que a medida da produtividade constitui um dos indicadores mais expressivos da vitalidade de qualquer actividade económica. E também geralmente reconhecido que só um nível elevado de produtividade permitirá encarar com optimismo um mais que certo agravamento da concorrência empresarial (tanto no mercado interno como no externo), facto indissoluvelmente ligado ao permanente progresso técnico e à sempre maior escassez relativa de mão-de-obra qualificada a todos os níveis:
Estudos recentemente realizados são amplamente concludentes sobre o enorme fosso que separa ainda o nível, da produtividade do trabalho na indústria portuguesa dos correspondentes níveis noutros países. Com efeito, e considerando, por exemplo, o conjunto formado pela A. E. C. L., interessa ver como poderá situar-se no futuro o desfasamento dos respectivos níveis de produtividade se se mantiverem as actuais tendências de crescimento. Supondo que a taxa de acréscimo de produtividade na nossa indústria se situará em 7 por cento por ano e que a correspondente taxa para o conjunto da A. E. C. L. continuará a cifrar-se em 4 por cento (valor que poderá ser muito provàvelmente ultrapassado):

a) A diferença de níveis absolutos de produtividade na indústria portuguesa e na do conjunto A. E. C. L., que, em 1961, era de 2400 dólares, passará a ser, em 1973, de 2800 dólares; quer isto dizer que no fim do III Plano de Fomento, mesmo com uma taxa aparentemente elevada, e, de facto, superior à dos países em causa, estaremos numa situação que, em termos de diferença absoluta, será ainda mais desfavorável do que em 1961;
b) Sendo os níveis de produtividade do trabalho na indústria em Portugal e na A. E. C. L., em 1961, respectivamente 1,3 e 3,7 milhares de dólares, e se se mantiverem as taxas de acréscimo anual no País (7 por cento) e na A. E. C. L. (4 por cento), só no fim do presente século conseguiríamos atingir o nível de produtividade das indústrias dos países considerados.

Estas comparações quantitativas apresentadas no relatório preparatório do subgrupo «Produtividade» do Grupo de Trabalho n.º 3 da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica - e só para este efeito se chama à colação - são suficientemente esclarecedoras quanto à magnitude do problema.
Por isto, as subsecções consideram como imperioso que logo no inicio do período do Plano se concretize o projectado Centro Nacional de Produtividade como meio para conseguir a necessária intensificação e reorientação das acções de produtividade em Portugal.
Alguns aspectos fundamentais deverão ser considerados ao delinear a actuação do Centro Nacional de Produtividade:

a) O crescimento da produtividade nos últimos anos não tem sido suficiente para amortecer o impacte que representa o aumento da emigração. Só um ritmo mais acentuado do aumento de produtividade poderá contribuir para consolidar as intensas modificações estruturais por que está a passar a actividade produtiva do País, para lhe proporcionar a necessária capacidade concorrencial nos mercados internacionais;
b) Há que promover a aceleração do crescimento dos níveis de produtividade, não podendo o País ficar passivamente à espera que as acções, obviamente dispersas, dos vários agentes económicos, conduzam aos resultados desejáveis;
c) O crescimento dos níveis de produtividade é muito importante para a indústria (em todos os seus sectores, nomeadamente nalguns ainda não atingidos com a profundidade e o dinamismo necessários, como é o caso da construção civil e obras públicas), não sendo, porém, esse crescimento menos importante para a agricultura e para todos os sectores dos transportes e serviços (privados e públicos);
d) As iniciativas a tomar com a finalidade de promover o crescimento das taxas de produtividade (na agricultura, na indústria e nos serviços) devem estar de acordo com os objectivos e as medidas incluídas nos planos de fomento, de forma a assegurar-se a coerência e rentabilidade das acções a empreender.

Na função coordenadora que lhe caberá, e como modo de possuir efectivo poder de dinamização dos centros (regionais, profissionais e outros) que se dediquem a acções de produtividade, consideram as subsecções indispensável que se adopte na constituição do Centro Nacional de Produtividade uma visão larga das suas necessidades em meios materiais e uma adequada representatividade de todos os interesses, públicos e privados, que devem convergir para a realização dos seus objectivos.

I) Fomento das exportações

37. A análise da estrutura das nossas exportações revela uma posição mais próxima dos países pouco evoluídos do que dos países industrializados.
Com efeito, as exportações portuguesas baseiam-se essencialmente em produtos de fraca elasticidade da procura, o que limita bastante a sua expansão a largo prazo; são exemplos as conservas de peixe, madeira, cortiça e têxteis e vestuário, que representam 53 por cento do total das exportações nacionais. Além disso, têm muito fraca representatividade na exportação industrial portuguesa os bens produzidos por indústrias de elevado nível tecnológico, ou até mesmo de elaboração mais evoluída, base das exportações dos países industrializados. Verifica-se, ainda, que muitas das nossas exportações industriais incidem sobre produtos de indústrias que os países industrializados vão abandonando e que constituem exportação actual ou potencial dos países menos evoluídos, por beneficiarem de vantagens relativamente a salários e proximidade de fontes de matérias-primas; trata-se, pois, em muitos casos de produtos que relativamente aos países menos evoluídos não teremos a largo prazo possibilidades de concorrência.

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Sendo conhecido que a única possibilidade de desenvolvimento de um país que se integra em espaços económicos mais vastos terá de basear-se numa especialização crescente da sua actividade industrial, virada essencialmente para a exportação, segue-se que as deficiências estruturais apontadas deverão informar a estratégia de desenvolvimento a adoptar no próximo sexénio, de modo a considerar-se o comércio externo como elemento fundamental na orientação das actividades industriais, e não unicamente como elemento constitutivo da problemática da balança de pagamentos.
Parece, assim, às subsecções que a evolução que deveria imprimir-se às nossas actividades industriais deveria ter como base a necessidade de diversificação da exportação portuguesa, apresentando no exterior produtos cada vez mais elaborados, dando-se prioridade aos que correspondem às principais correntes de comércio dos países evoluídos e definindo um conjunto de empreendimentos de elevado nível tecnológico que nos coloque a par dos países industrializados. Com estas observações não querem as subsecções, de forma alguma, tirar valor à necessidade que há de apoiar na exportação as nossas indústrias tradicionais, mas sòmente definir algumas linhas que devem informar a evolução a imprimir à indústria portuguesa.
Em face dos objectivos de base que o III Plano se propõe atingir - decorrentes da integração económica europeia -, assumem relevo muito particular as medidas que, em matéria de promoção das exportações, venham a ser tomadas e que o projecto do Plano refere no capítulo do «Comércio externo».
Os notáveis acréscimos da exportação industrial verificados nos últimos anos devem-se sobretudo ao esforço quase isolado da iniciativa privada e, em muitos sectores, são o resultado de empreendimentos intimamente ligados à iniciativa externa. Sem retirar de forma alguma valor a tais empreendimentos, havendo até que os incentivar por todas as formas previstas, o Plano, não pode, no entanto, abstrair da urgência, como, aliás, o Governo o reconhece, de encaminhar para a exportação todas as empresas que apresentem um mínimo de condições, pois trata-se, em grande parte dos casos, da sua própria sobrevivência.
Impõe-se, assim, uma política de ajuda à presença dessas empresas no mercado externo, o que exige uma atitude de maior intervenção e impulso governamental em matéria de exportação.
São conhecidos os principais obstáculos que se deparam às empresas industriais portuguesas no que respeita ao aumento das suas exportações. Essas dificuldades, embora possam variar de intensidade de sector para sector, ou até assumir aspectos diversos consoante as empresas, podem fundamentalmente resumir-se nas seguintes:

a) Desigualdade de posição, quanto às suas congéneres estrangeiras, no abastecimento de certas matérias-primas e formas de energia, no que respeita a preços e qualidades;
b) Desigualdade, relativamente às suas congéneres estrangeiras, no que respeita a certas isenções fiscais;
c) Falta de meios que lhes permitam dispor de laboratórios e gabinetes de investigação para o estudo e lançamento de novos modelos ou adaptação dos existentes às exigências dos diversos mercados;
d) Falta de conhecimento dos diversos mercados possíveis, suas exigências em preços e qualidades, de normas comerciais, publicidade, etc.:
e), Falta de conhecimento das melhores formas de penetração em cada mercado;
f) Falta de meios que lhes permitam possuir serviços de exportação convenientemente apetrechados e ignorância mesmo daquilo de que devem dispor tais serviços;
g) Dificuldades burocráticas relativas à exportação;
h) Falta de conhecimento das técnicas de promoção das respectivas exportações;
i) Falta de poder comercial nos contactos com o importador;
j) Falta de uma conveniente rede de equipamento de armazenagem e transporte de forma a que os produtos possam ser exportados em boas condições de qualidade e custo;
l) Ausência de disposições, tanto em matéria legislativa como material, que assegurem o controle da qualidade dos produtos exportados.

Para obviar a tais obstáculos, que o projecto reconhece, apontam-se dois tipos de medidas no capítulo referente a comércio externo, onde o assunto se encontra tratado em pormenor:
A) Umas traduzem-se em incentivos e intervenções directas do Estado dirigidos no sentido de se criarem facilidades especiais à instalação ou melhoramento de empresas industriais cuja actividade se venha a apoiar essencialmente na exportação e de se promover a reorganização da actividade, a constituição de associações de produtores e a melhoria da produtividade em sectores onde se considere que há potencialidades importantes de expansão das exportações.
As subsecções emitem o voto de que o Governo, através dos seus organismos competentes, proceda à inventariação dos sectores em que existem, potencialidades de exportação. Em tal tarefa recomenda-se o indispensável contacto com a indústria, através dos seus organismos corporativos, sem o que se afigura problemática a sua execução. De resto, parece às subsecções que a inventariação precisa dos produtos de exportação na indústria portuguesa, bem como das actividades potencialmente aptas a fornecê-los, constitui tarefa básica no domínio da promoção das exportações.
B) Um segundo grupo de medidas previstas prebende ir ao encontro da «necessidade de substanciais aperfeiçoamentos nas estruturas e métodos de comercialização dos produtos susceptíveis de escoamento nos mercados externos», tentando responder, na sua grande maioria, às dificuldades sentidas pela indústria e antes apontadas. Trata-se, sobretudo, de um enunciado de intenções às quais as subsecções dão o seu inteiro apoio, restando averiguar da respectiva exequibilidade e concretização.
Relativamente às deficiências que apresenta a estrutura administrativa portuguesa em matéria de exportação, reconhece-se, em particular, a falta de apetrechamento do Fundo de Fomento de Exportação para responder às exigências de uma política de ajuda à exportação. As subsecções pensam que nesta matéria teria sido preferível que se enunciasse de forma concreta qual a reforma a operar nos serviços administrativos ligados à exportação, de modo a poderem responder em curto prazo à urgente política de ajuda enunciada. No entender das subsecções, será fundamental a multiplicação e reapetrechamento dos serviços oficiais no estrangeiro, essencialmente nos países da A. E. C. L. e do Mercado Comum, por forma a poderem prestar útil serviço no que respeita à recolha de elementos informativos sobre os diversos mercados e à ajuda no estabelecimento de

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contactos pessoais entre os exportadores e importadores locais.
Afigura-se que o Fundo de Fomento de Exportação, cuja tarefa em matéria de promoção das exportações é básica, deverá ser urgentemente reapetrechado, por forma a poder desempenhar papel mais importante na promoção das exportações. Não podem as subsecções deixar de sublinhar a necessidade de um mais estreito contacto e colaboração com as empresas e suas entidades associativas. Desde o conhecimento concreto dos actuais exportadores portugueses, suas características, definição rigorosa dos produtos que têm para vender, até à análise das potencialidades da exportação portuguesa - conhecimentos estes que são essenciais no serviço que tem a seu cargo a ajuda à promoção das exportações -, não parece que o Fundo de Fomento de Exportação possa actuar sem ter um íntimo contacto com a indústria, maior do que o que já mantém e que a indústria reconhece ter sido da maior utilidade, mas ainda insuficiente, mais por carência de meios do Fundo de Fomento de Exportação do que por outras razões.
Em suma, no que respeita à concretização das diversas medidas que têm como objectivo a solução das dificuldades que à indústria se deparam para exportar maiores volumes de produção, afigura-se às subsecções da maior urgência que se definam sectorialmente, e de acordo com as prioridades que venham a ser enunciadas, programas de ajuda orientados segundo as necessidades específicas de cada ramo industrial. Neste domínio, as subsecções recomendam uma actuação das autoridades públicas em estreita ligação com as empresas e seus organismos de classe, pois será essa a forma de assegurar resultados que não sejam demasiado problemáticos. Dado o grande esforço que será exigido ao Fundo de Fomento de Exportação para responder às medidas enunciadas, as subsecções recomendam o estudo da possibilidade de descentralização, pelos organismos corporativos e associativos, de algumas tarefas, como sejam a da realização de cursos e a da promoção de agrupamentos de exportadores, para o que, evidentemente, será necessário facultar os meios materiais indispensáveis.

J) Centros técnicos

38. A finalizar o parágrafo dedicado às medidas de política industrial que deverão ser postas em prática no sexénio de 1968-1973, o capítulo menciona a necessidade de um melhor apetrechamento técnico, tanto do sector privado como do público, como exigência lógica da concretização das políticas preconizadas.
Neste particular, é total a concordância das subsecções com as necessidades apontadas de criação de centros técnicos de índole profissional e da conveniente adaptação dos serviços públicos de carácter técnico e técnico-económico que vão ser chamados a colaborar muito intensamente no desenvolvimento industrial do País. A efectivação gradual da Reforma Administrativa, a criação de um gabinete de planeamento industrial, directamente ligado ao Secretário de Estado da Indústria, e a adaptação da Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, do Instituto Nacional de Investigação Industrial e de outros departamentos técnicos do Estado, por forma a uma maior capacidade de resposta às tarefas que lhes serão cometidas no âmbito das políticas anteriormente mencionadas, devem, pois, ser consideradas como contribuições imperiosas do sector público no prosseguimento dos objectivos do Plano.
No que respeita aos centros técnicos profissionais, as subsecções regozijam-se por verem adoptada no projecto governamental uma proposta oportunamente apresentada
às entidades competentes pela organização corporativa da Indústria. Com efeito, todo o conjunto de medidas de política industrial que deverá ser executado no período do Plano, nomeadamente nas matérias de auxílio às pequenas e médias empresas, de normalização, de produtividade, de formação profissional, de fomento das exportações, de informação técnica e económica, etc., ficará extremamente facilitado pela existência dos referidos centros técnicos. Por isso, as subsecções propõem que o Governo, concomitantemente com a efectivação das medidas de política preconizadas e o mais rapidamente possível, facilite, pela via legislativa, a institucionalização dos centros técnicos profissionais de índole privada ou mista, tendo em conta a necessidade de definir convenientemente o tipo de apoio a prestar pela Administração e os meios a mobilizar para o efeito.

VI

Conclusões

39. As subsecções de Indústrias extractivas, de Têxteis e vestuário, de Indústrias químicas e de Indústrias metalúrgicas e metalomecânicas, da secção de Indústria da Câmara Corporativa, depois de analisarem e discutirem o capítulo III «Indústrias extractivas e transformadoras», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, entendem que o mesmo deve ser aprovado na generalidade e emitem as seguintes conclusões ou votos:
1.º Os anos em que decorrerá a execução do III Plano de Fomento serão decisivos para o nosso país, em face das exigências decorrentes dos processos de integração política económica, nacional e internacional, em que nos encontramos inseridos. Assim, a política de desenvolvimento industrial não poderá compadecer-se com improvisações ou métodos expeditivos de trabalho, antes importará extrair da orgânica de planeamento implantada entre nós as virtualidades que ela encerra, tendo em atenção o aproveitamento dos recursos nacionais e os ensinamentos que a experiência de outros planos possa proporcionar.
2.º Impõe-se a revisão para, pelo menos, 12 por cento da taxa de crescimento anual de 9 por cento fixada para a indústria transformadora, sem o que se afigura problemática a situação do País perante os compromissos assumidos no quadro da integração económica europeia.
3.º Deverão fixar-se claramente os estímulos e facilidades a conceder às empresas dos sectores considerados prioritários que desejem instalar-se, expandir-se ou modernizar-se.
Em matéria de revisão do regime de condicionamento industrial de índole territorial, será de concretizar, o mais rapidamente possível, mas com as necessárias cautelas, o propósito da liberalização progressiva enunciada no Decreto-Lei n.º 46 666, de 24 de Novembro de 1965.
Considera-se elemento fundamental da concretização do propósito de liberalização progressiva a gradual substituição dos organismos de coordenação económica pelos organismos de pura formação industrial, dentro da estrutura constitucional da Nação.
4.º Além dos projectos de investimentos incluídos no Plano, deverá procurar estimular-se a iniciativa privada, tendo em vista estabelecer e definir outros empreendimentos de interesse, a inserir obrigatoriamente nos programas anuais de execução e aos quais o Estado concederia facilidades especiais para a sua efectivação.
5.º A inscrição no Plano de investimentos deverá pressupor, não só o estudo cuidadoso dos respectivos projectos do ponto de vista técnico-económico, portanto com audição

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dos órgãos representativos da iniciativa privada, como ainda a autorização da sua efectivação por parte da Administração. Estes empreendimentos, depois de estudados e aceites inequivocamente pela Administração e pelos órgãos representativos da indústria, não admitem uma concretização atrasada por complicações burocráticas.
6.º Os serviços públicos ligados à actividade industrial - cujo esforço, aliás, se reconhece - deverão passar a trabalhar em termos mais coordenados e decididamente voltados para a criação de condições favoráveis à expansão dos diferentes ramos industriais, não impedindo, por excesso de intervenção burocrática, a oportuna efectivação das iniciativas particulares.
7.º A política do desenvolvimento industrial deverá ser repensada em termos de reconversão de empresas e da sua adaptação às exigências da concorrência internacional, abandonando-se, assim, a política de concentração global, que constitui orientação imposta pelo Estado, por inadequada e ultrapassada.
O esquema de ajudas às empresas que querem reconverter-se deverá ser explicitado com a indicação do tipo de facilidades que serão concedidas para o efeito.
Devem, também, dentro deste contexto, contemplar-se legalmente - quiçá no novo Código Comercial - os direitos das minorias sociais, que são o maior óbice às tendências associativas.
8.º Julga-se da mais premente utilidade a criação de um gabinete de planeamento industrial, desde que se garanta a inserção coerente deste serviço na orgânica da Secretaria de Estado da Indústria.
9.º Deverá instalar-se um sistema de auxílio às pequenas e médias empresas, no qual se interessem os organismos públicos aptos a fornecer o desejado apoio, dentro das suas competências específicas, e os centros técnicos profissionais, isto é, organismos profissionais de sector, para o efeito devidamente apetrechados e apoiados. O funcionamento deste sistema de auxílio às pequenas e médias empresas, dada a sua natureza, deverá ser orientado, programado e controlado por um organismo especificamente cometido dessa tarefa, organismo que deve ter assegurada uma ampla participação da iniciativa privada, o conveniente apetrechamento em meios humanos e materiais e uma autoridade e autonomia indispensáveis a uma actuação eficaz, e que poderá ser o projectado Centro Nacional de Produtividade.
10.º No que respeita à educação e formação profissional, deverá o Governo providenciar para que a projectada criação do Conselho Nacional de Formação Profissional se faça em moldes que permitam uma correcta definição das reestruturações a levar a cabo no ensino técnico escolar e no profissional extra-escolar, para que se proceda urgentemente à reforma de ensinos de engenharia aos níveis médio e superior e para que se promova a criação de um organismo que suprima a actual carência de ensino das modernas técnicas de administração de empresas.
11.º Em matéria de financiamento da indústria, importa adoptar as providências adequadas no domínio dos mercados monetário e de capitais, por forma a não se comprometer a realização dos programas estabelecidos.
Igualmente haverá que resolver as conhecidas deficiências do sistema de pagamentos interterritoriais, sob pena de a indústria se ver forçada a restringir o recurso aos mercados ultramarinos, visto ser-lhe impossível suportar os graves problemas de tesouraria e maneio a que as demoras de transferências dão origem.
12.º Reconhecida a enorme carência que se verifica na publicação de normas e na fiscalização do seu cumprimento para evitar o abastardamento dos produtos, com
o consequente aviltamento de preços e descrédito da indústria, deverá proceder-se: ao reforço, em meios materiais e humanos, do organismo oficial competente; à oficialização e obrigatoriedade das normas estrangeiras mais adaptáveis às condições da economia portuguesa, e ao acréscimo da colaboração dos organismos corporativos da indústria e respectivos centros técnicos, aos quais, para o efeito, se deverá dar expressamente a faculdade de estudar, propor, regulamentar e fiscalizar, com a Inspecção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, normas e padrões de qualidade para os respectivos produtos industriais.
13.º El urgente a aplicação, de acordo com o condicionalismo próprio de cada sector, das medidas necessárias - subsídios, isenção de direitos, regimes de draubaque - para o abastecimento de matérias-primas e produtos intermédios a preços e qualidade internacionais.
14.º Ao intensificar, com a urgência determinada pelo futuro desenvolvimento industrial do País, a aquisição e a difusão da tecnologia moderna, torna-se necessário que o Governo promova: o conveniente apetrechamento, em meios humanos e materiais, do Instituto Nacional de Investigação Industrial e a orientação da sua actividade de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de maior interesse para as indústrias, de acordo com um programa fundamentado nos resultados que advenham dos esforços, actualmente em curso, de planeamento da investigação científica e técnica em relação com o desenvolvimento económico; a melhor orientação e coordenação das actividades de investigação e estudo actualmente dispersas pelos organismos de coordenação económica, que deverá ser uma das tarefas a desempenhar pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, bem como a formulação dos princípios de protecção à propriedade industrial e sua regulamentação; a definição de uma política nacional de informação técnica o económica que venha a consubstanciar-se, no período do III Plano, pela criação de um competente centro coordenador à escala nacional.
15.º A necessidade vital de um mais rápido acréscimo da produtividade, não só da indústria, como dos restantes sectores da economia, impõe que o Governo concretize rapidamente a criação do Centro Nacional de Produtividade, como veículo de uma maior intensificação, participação e coordenação dos estudos e acções de promoção de produtividade a desenvolver pelos organismos públicos, privados e mistos, que a essa tarefa se devem cometer.
16.º Impõe-se a inserção nas medidas previstas para o desenvolvimento dos vários ramos industriais de uma nítida estratégia de desenvolvimento baseada na necessidade de corrigir as deficiências qualitativas e quantitativas mais marcantes do comércio externo português.
17.º Deverá promover-se a reforma e reapetrechamento dos serviços públicos ligados à exportação, de modo a que as medidas enunciadas, com vista ao fomento das nossas exportações, possam tornar-se exequíveis.
18.º Torna-se necessário um maior contacto entre os organismos oficiais ligados à exportação e à indústria, por forma a poder ser obtido o máximo rendimento, dos meios que se mobilizam para a ajuda à promoção das exportações.
19.º A necessidade de dispor de infra-estruturas com a desejável tecnicidade, quer ao nível dos serviços públicos, quer dos privados, impõe a rápida efectivação da melhor coordenação dos serviços técnicos do Estado, de forma a melhorar as suas possibilidades de apoio à indústria e a criação de centros técnicos profissionais, de índole privada ou mista, para, com o apoio do Estado, poderem

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servir de órgãos de estudo e execução da maior parte das medidas antes
mencionadas.

Palácio de S. Bento, 8 de Agosto de 1967.

Mário António Coelho.
Ernesto Fernando Cardoso Paiva.
José Mercier Marques.
Gonçalo de Almeida Garrett.
António Martins Morais.
Domingos da Costa e Silva.
Basílio Freire Caciro da Matta.
Fernando Carvalho Seiras.
Fernando Manuel Pereira Gonçalves Delgado.
Mário Dias Pereira de Lemos.
Carlos Garcia Alves.
Jorge Albano de Almeida Ferreirinha.
José de Almeida Ribeiro.
Alexandre Aranha Furtado de Mendonça.
^António Costa Silva Carvalho.
Carlos Figueiredo Nunes.
Inácio de Oliveira Camacho.
José António Ferreira Barbosa.
José da Silva Baptista.
Jorge Sequeira.
Paulo de Barros.
Rodrigo António Ferreira Dias Júnior.
Augusto de Sá Viana Rebello, relator.

ANEXO V

Parecer subsidiário das subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa.

Indústrias de construção e obras públicas

As subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, consultadas sobre o capítulo IV «Indústrias de construção e obras públicas», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emitem, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Considerações prévias

1. A inclusão no III Plano de Fomento da indústria de construção civil e obras públicas poderá, à primeira vista, afigurar-se injustificada, atenta a circunstância de ela, ao contrário da generalidade das restantes, não constituir, em si mesma, um fim último de qualquer programa de desenvolvimento, devendo considerar-se mais como uma actividade instrumental, adjectiva, que só vale e interessa na medida em que contribui para a consecução das metas fixadas nos demais sectores económicos.
Sucede, porém, que esta perspectiva, substancialmente exacta nas suas linhas mestras, não abrange todos os aspectos relevantes nem legitimaria que o Plano silenciasse a propósito da indústria em causa.
Com efeito, e antes de mais, o carácter instrumental apontado verifica-se em grande número de sectores, nomeadamente no campo dos serviços, sem que tal implique devam menosprezar-se numa planificação global do desenvolvimento económico do País.
Em segundo lugar, embora adjectiva (no sentido indicado), uma indústria de construção civil e obras públicas evoluída, tècnicamente apetrechada e econòmicamente forte, constitui condição sine qua non da pontual e efectiva execução de qualquer programa de realizações que se estabeleça, seja qual for o domínio em que as mesmas se situem. Como muito bem se acentua no projecto do III Plano de Fomento, as actividades do sector em exame «concorrem, de modo essencial, nas suas múltiplas formas, para a realização dos investimentos públicos e privados que estão na base de todo o processo de desenvolvimento económico», bem como para «a realização das infra-estruturas de natureza social».
Depois, a indústria de construção civil e obras públicas não é inteiramente «doméstica»: uma vez organizada em termos competitivos, acorre aos mercados estrangeiros, para eles exportando os seus serviços e, quantas vezes, materiais e equipamentos directa ou indirectamente relacionados com as obras que aí lhe são adjudicadas.
É, de resto, uma actividade produtora em sentido próprio, carecida, como as demais, tanto pelos motivos apontados como por outros que o projecto do Plano de Fomento destaca, de processar a sua expansão e de obter, para o efeito, os financiamentos indispensáveis.
Acresce, por último, que a indústria de construção civil e obras públicas é, de longe, a que maior número de trabalhadores emprega em todo o País, e já esse facto, pelas suas implicações sociais e económicas, seria suficiente para justificar a atenção que o projecto do Plano lhe dedica.

2. A relativa instrumentalidade do sector em exame e a dependência em que dele se encontrará a normal execução do Plano desentranham-se, todavia, numa série de consequências, que forçosamente têm de comandar a apreciação a fazer do capítulo que lhe é dedicado no projecto.
Implicam, em primeiro lugar, que à indústria de construção civil e obras públicas se dêem todas as possibilidades, legais e de facto, de se organizar em termos adequados, para que se habilite a corresponder ao que dela naturalmente se espera.
Exigem, em segundo lugar, que se lhe criem condições jurídica e económicamente razoáveis para o exercício da sua actividade.
Reclamam, depois, que ao sector se facultem, em termos compatíveis com a estrutura das suas necessidades, financiamentos apropriados para formação de capital fixo e circulante.
Em quarto lugar, impõem que, com suficiente antecipação, se dê à indústria conhecimento, tão exacta e pormenorizadamente quanto possível, dos programas de obras a realizar. Só assim, com efeito, pode ela aperceber-se, em tempo oportuno, do esforço a desenvolver e do modo como deve apetrechar-se para o executar. E necessário se torna que esses programas, tanto quanto o consintam os demais interesses superiores em jogo, se gizem em termos de assegurarem à indústria de construção civil e obras públicas uma continuidade razoável de trabalho, sem as grandes flutuações até agora verificadas e de que sempre resultam gravíssimas anomalias no desenvolvimento do sector, perdas volumosas de capitais e crises mais ou menos profundas no mercado de trabalho.

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3. É na perspectiva resultante dos quatro aspectos indicados que as subsecções vão colocar-se para examinar os problemas relacionados com a indústria de construção civil e obras públicas no âmbito do projecto do Plano.
Uma palavra cumpre liminarmente consignar a propósito deste último. E é que a análise que nele se faz dos aspectos e questões fundamentais do sector pode considerar-se - salvo num ponto ou noutro - exaustiva e reveladora da profunda atenção que se lhes dedicou.
Daí que, dando-lhe inteira concordância, se abstenham as subsecções de repetir muito do que ali esclarecidamente se registou e comentou, pelo que o parecer se limitará a abordar apenas alguns problemas de maior relevo e de cuja solução em mais estreita medida depende o futuro de uma indústria essencial ao nosso crescimento económico.

II

A organização do sector da indústria de construção civil e obras públicas

4. No relatório do Decreto-Lei n.º 40 623, de 30 de Maio de 1956, observava-se que a escassez de legislação então em vigor «a respeito das condições dos empreiteiros nos concursos» era altamente inconveniente, dado que, por um lado, «a principal garantia da boa execução das obras é a idoneidade moral e técnica dos empreiteiros, que os preceitos vigentes não têm permitido avaliar suficientemente quando eles se apresentam a concorrer», e que, por outro lado, «a falta de rigor do regime actual, permitindo que todos possam abalançar-se a construir obras públicas, tira aos mais capazes o estímulo para constituírem quadros técnicos fixos, melhorarem os seus equipamentos e desenvolverem a sua actividade segundo uma orientação progressiva».
Assim se definia, com toda a precisão, o problema fundamental da organização de um sector em que, pela inteira liberdade de acesso à profissão, a incompetência e a falta de idoneidade moral e de capacidade financeira começavam a campear, com graves prejuízos para a economia do País.
Por isso o legislador entendeu dever, através do referido decreto-lei, sujeitar os empreiteiros de obras públicas a um regime de saneamento particularmente apertado: o exercício da actividade dependeria no futuro da posse de alvará, a passar por um serviço para o efeito constituído (Comissão de Inscrição e Classificação dos Empreiteiros de Obras Públicas) e para cuja obtenção e conservação os interessados tinham de provar certos requisitos mínimos de capacidade técnica e financeira e de idoneidade moral.
Embora, em certos aspectos (como, por exemplo, no da verificação das declarações dos requerentes no tocante à quantidade e qualidade do seu equipamento e de mais meios de acção e no da falta de autenticidade dos quadros técnicos apresentados), o funcionamento do sistema não haja correspondido inteiramente ao que dele se esperava e algumas empresas tenham sido admitidas ao exercício da profissão sem, na realidade, possuírem todos os requisitos para o efeito indispensáveis, dada, por um lado, a impossibilidade de a Comissão de Inscrição obter a confirmação das declarações apresentadas pelos interessados e, por outro lado, a normal falta de precisão das informações prestadas pelos organismos públicos sobre o comportamento dos empreiteiros, o regime instituído contribuiu poderosamente para a melhor organização do sector e tornou possível o nascimento ou expansão de muitas unidades industriais que ombreiam com as melhores estrangeiras.

5. Sucede, todavia, que nada se fez de semelhante no domínio das obras particulares, normalmente de construção civil.
E esta zona, já em 1956 infestada de industriais improvisados, veio, como é natural, a transformar-se, não apenas em refúgio de todos aqueles a quem o alvará de empreiteiro de obras públicas era justamente recusado, mas também em ilusório eldorado para aventureiros que o lucro aparentemente fácil e a especulação possível atraíam.
De tudo resulta que a situação actual no sector da construção civil (obras particulares) se apresenta consideràvelmente mais deteriorada do que ado sector de empreitadas de obras públicas em 1956.
E certo é que esta situação se desenvolve numa série gravíssima de consequências.
Antes de mais, a falta de estrutura e de idoneidade dos empresários de ocasião leva-os, por ignorância ou por má fé, a apresentar em concurso propostas com preços inferiores aos normais ou até aos de custo, condenando assim à inactividade os verdadeiros industriais.
Depois, obtida a adjudicação, a mesma ignorância ou má fé conduz a uma tardia e deficientíssima execução dos trabalhos, se não mesmo, como tantas vezes sucede, ao seu abandono muito antes de concluídos.
E, em regra, os fornecedores, e até os empregados, acabam por juntar-se aos donos das obras e aos empreiteiros excluídos como vítimas desta falta de organização do sector, gravemente lesiva também dos superiores interesses nacionais.
Alguns casos clamorosos, ocorridos por todo o País, aí estão a demonstrar a verdade do que acaba de se dizer e os perigos que da falta de idoneidade técnica e moral dos construtores advêm até para a segurança dos indivíduos e das famílias.

6. Nas vésperas da entrada em vigor do III Plano de Fomento torna-se, mais do que nunca, indispensável que a indústria de construção civil e obras públicas se organize em bases sãs, dignificando-se e aperfeiçoando-se tecnicamente, de modo a criar as condições necessárias para bem servir os interesses que dela dependem.
Por isso, às subsecções afigura-se urgente que:

a) No tocante às empreitadas de obras públicas, se aperfeiçoe, através de disposições adequadas (em ordem a garantir uma efectiva verificação dos requisitos condicionadores da concessão do alvará), o sistema instituído pelo Decreto-Lei n.º 40 623, de 30 de Maio de 1956;
b) No atinente à construção civil (obras particulares), se promulgue, tão cedo quanto possível, diploma sujeitando-a a regime semelhante.

Só assim poderá o sector em exame assegurar a execução pontual e satisfatória das tarefas que o Plano, explícita ou implicitamente, lhe comete.

III

Condições de exercício da actividade

7. As empreitadas e fornecimentos de obras públicas, regulam-nas, no continente, fundamentalmente, o Decreto de 9 de Maio de 1906, o Decreto n.º 4667, de 14 de Julho de 1918, e a Portaria n.º 7702, de 24 de Outubro de 1933.

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A base de todo o sistema em vigor é, todavia, o citado Decreto de 9 de Maio de 1906.
Ora, não há dúvida de que esse diploma e os que posteriormente, de uma forma ou de outra, o regulamentaram, embora representem um notável esforço no sentido de ajustar o tratamento jurídico das relações em causa às realidades económicas e sociais subjacentes, têm de considerar-se hoje, em face do relevo assumido pelas obras públicas, dos termos em que as mesmas se processam e da evolução verificada na técnica, em larga medida anacrónicos e incapazes de satisfazerem de forma adequada todos os interesses em presença.
Não se nega, como é óbvio, que os regimes em causa prestaram, durante longo tempo, indiscutíveis serviços, mostrando-se aptos para responderem com equilíbrio à maior parte dos problemas que a execução de empreitadas e fornecimentos de obras públicas suscitava.
Apenas se pretende dizer que as realidades se modificaram tão profundamente e que, por força delas, o próprio espírito das relações entre empreiteiro e dono de obra se alterou em termos tão vincados que os esquemas de 1906 deixaram de corresponder a uma e outra coisa e constituem hoje, frequentemente, fonte de dificuldades e óbice intransponível à justa solução de muitos problemas.
É certo que os serviços públicos directamente ligados às empreitadas têm desenvolvido um esforço apreciável no sentido de adaptar as disposições de 1906 ao condicionalismo actual.
Subsistem, porém, apesar disso, numerosos pontos de fricção e cláusulas de carácter nitidamente imperativo que não é possível rodear ou amenizar. Além disso, o enquadramento geral em que nesses diplomas se situa o contrato de empreitada de obras públicas diverge profundamente dos termos, marcadamente institucionais, em que nos nossos dias têm de desenvolver-se as relações entre a entidade adjudicante e o adjudicatário.
Tudo isto - e ainda a conveniência de coligir e harmonizar a legislação dispersa, reduzindo-a à unidade de um diploma ordenado e coerente - impõe que se proceda a uma cuidadosa revisão dos diplomas em vigor, em ordem a reajustar os respectivos esquemas jurídicos às realidades e necessidades do nosso tempo.
Só assim, de resto, poderão criar-se condições que, sem prejuízo da garantia efectiva da consecução dos fins de interesse público em jogo, assegurem ao industrial a justa remuneração do seu trabalho nas condições normais de risco.
Por isso se regista com júbilo o facto de no projecto em exame se referir que a comissão encarregada pelo Ministro das Obras Públicas de proceder a essa revisão deu já por concluído o seu trabalho, aguardando-se para muito breve a sua apresentação e a publicação da legislação respectiva.

8. Um outro problema de grande acuidade é o da revisão dos preços das empreitadas e fornecimentos de obras públicas.
O princípio da invariabilidade desses preços, importado do domínio dos contratos de execução instantânea ou a curto prazo para o dos contratos de execução duradoura, e que o artigo 71.º do Decreto de 9 de Maio de 1906 consagrou, tem merecido o aplauso dos donos das obras, fundamentalmente porque:

a) Os liberta dos riscos e encargos inerentes ao agravamento do custo dos trabalhos derivados de elevação do preço dos materiais e salários;
b) Lhes permite, desse modo, uma cómoda e segura planificação financeira das empreitadas e empreendimentos;
c) Lhes evita tarefas mais ou menos complexas resultantes do sistema de reajustamento de preços;
d) Os põe a coberto das consequências do eventual dolo ou negligência do empreiteiro na elaboração da sua proposta.

Até há cerca de cinco anos, dada a relativa estabilidade dos preços e dos salários no nosso país, o problema de revisão do preço da empreitada carecia de importância que justificasse repensarem-se os esquemas em vigor.
Sucede, porém, que, a partir de 1962 ou 1963, por razões que transcendem o sector da indústria de construção civil e obras públicas, se verificou um progressivo e cada vez mais acelerado agravamento do custo dos materiais e da mão-de-obra no mercado nacional.
E a evolução processou-se e processa-se em termos tais que deixou até de ser possível aos interessados estabelecerem a esse respeito, no momento da apresentação das suas propostas, uma previsão sequer aproximada.
Aliás, os termos em que a concorrência se desenvolve no âmbito do sector, nomeadamente por parte de empresas sem estrutura adequada ou de outras que, tendo-a, se encontram numa situação financeira extremamente precária, torna, de modo geral, inviável aos industriais idóneos a introdução de margens de segurança nos preços propostos, já que, a fazerem-no, se arriscariam a perder sistematicamente os concursos e se condenariam a si próprios a uma inactividade suicida.
Deste modo, o princípio da invariabilidade dos preços das empreitadas está a desentranhar-se em consequências gravíssimas, na medida em que os sensíveis e inesperados agravamentos do custo dos materiais e dos salários subvertem, em regra, a economia das propostas que servem de base às adjudicações, e as obras, tomadas na legítima expectativa de um lucro normal, acabam por originar prejuízos mais ou menos avultados, que, acumulando-se, desequilibram financeiramente e logo ameaçam arruinar as empresas, por mais bem estruturadas que se encontrem.
Urgente é, pois, que, seguindo o exemplo da generalidade dos países estrangeiros, se introduza na nossa legislação, em termos suficientemente inequívocos, o sistema da revisão dos preços contratuais.
Como o Ministério das Obras Públicas designou oportunamente uma comissão para o estudo do assunto, espera-se que em breve se promulgue o diploma necessário.
9. Um outro problema de grande importância é o da normalidade dos contratos e dos cadernos de encargos relativos a obras particulares.
A disparidade de condições que nos mesmos se estabelecem, tanto do ponto de vista jurídico e administrativo, como do ponto de vista técnico, em matérias cuja natureza não a exige nem justifica, constitui fonte de constantes dissídios no desenvolvimento das relações entre os empreiteiros e os donos das obras. Por outro lado, a falta de regras e de critérios uniformes nas zonas em que umas e outros são possíveis perturba o processamento dos concursos, gera, pela multiplicidade de interpretações possíveis, divergências de entendimento comprometedoras dos fins a atingir e sobrecarrega os quadros das empresas com tarefas onerosas que a adequada protecção dos interesses em causa de maneira alguma reclamaria

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A consecução da máxima produtividade das estruturas industriais, meta essencial em qualquer país, nomeadamente naqueles que se encontram em vias de desenvolvimento, impõe que, através de medidas adequadas, se suprima, nos circuitos produtivos e na tessitura geral das relações económicas, tudo quanto, por não corresponder a uma necessidade efectiva ou relevante, redunde em simples perda de esforços, de tempo e de capitais.
Este princípio aconselha fortemente que no domínio particular que ora se analisa se procure, através da elaboração de cadernos tipo e de contratos tipo, aumentar a produtividade real no sector da indústria de construção civil, eliminando originalidades escusadas e as confusões e insuficiências que tantas vezes caracterizam os documentos que servem de base ou em que se consubstanciam os contratos de empreitadas e obras particulares.
O último aspecto que acaba de referir-se não é o de menor importância. Com efeito, os cadernos de encargos e os contratos apresentam muitas vezes graves omissões e erros, de que resultam depois, no decurso da execução dos trabalhos, litígios constantes e prejuízos mais ou menos vultosos para todos os interessados.
De aplaudir são, pois, as providências que nas alíneas F) e G) do § 3.º do capítulo IV do projecto do III Plano de Fomento a tal respeito se preconizam e anunciam.

10. Um outro aspecto em que a adopção de providências apropriadas se torna urgente é o da revisão dos sistemas adoptados na consulta às empresas para adjudicação de obras e aos critérios que a esta última presidem.
A tal propósito, no que se refere às empreitadas de obras públicas, as reformas necessárias serão por certo introduzidas através da legislação geral de empreitadas e fornecimentos que, como atrás se registou, se encontra em estudo.
No atinente, porém, às obras particulares, medidas semelhantes cumpre tomar, embora com as restrições que o respeito devido à liberdade de decisão e à iniciativa privadas naturalmente impõe. Neste domínio, com efeito, as providências terão de revestir mais a forma de recomendações do que a de preceitos imperativos.
De todos os pontos que na matéria agora em exame convirá tratar, destaca-se o dos critérios de adjudicação.
O critério da adjudicação à proposta de mais baixo preço encontra-se generalizado no nosso país em consequência do que se dispõe no artigo 24.º da Portaria n.º 7702, de 24 de Outubro de 1933. Ele desentranha-se, muitas vezes, em prejuízos graves para os donos das obras, já que, adjudicados os trabalhos a concorrentes menos capazes ou idóneos (e são, em regra, esses mesmos que oferecem preços mais favoráveis), a procurada economia de custo converte-se em agravamento por vezes extraordinário, quando não se chega ao extremo de ter de se rescindir o contrato ou de aceitar onerosas soluções de compromisso.
Necessário é, portanto, adoptar critérios diferentes que acautelem devidamente os interesses de ambas as partes, assegurando a consideração adequada de aspectos essenciais, tais como as garantias de boa execução técnica da obra, o prazo e outras condições que revistam especial interesse público, geral ou local.

11. Um dos problemas que mais directa e agudamente afligem a indústria é o da falta de trabalhadores especializados com preparação conveniente.
Neste campo, alguma coisa foi já feita pelo Ministério das Corporações e Previdência Social e pelos organismos corporativos, bem como por algumas empresas mais evoluídas.
As linhas mestras de actuação encontram-se, de resto, traçadas.
Cumprirá apenas intensificar o movimento, criando, para o efeito, em certas zonas, a mentalidade adequada e proporcionando às iniciativas válidas os estímulos e os recursos indispensáveis.

12. Num país como o nosso, em que a indústria só agora começa a aperceber-se da enorme relevância da complexa problemática da produtividade, indispensável é que o sector público, pelos vários meios ao seu alcance, promova e estimule todos os movimentos que tenham por objectivo a reorganização das empresas e a melhoria do rendimento efectivo das suas técnicas e processos de trabalho.
A questão adquire uma particularíssima acuidade nos sectores em que, como sucede no da construção civil e obras públicas, predominam as pequenas e médias empresas, incapazes de por si sós, conceberem, programarem, financiarem e executarem as reformas adequadas das suas organizações.
Compreende-se, assim, o alto interesse de que se reveste a criação do centro técnico de produtividade de que se fala na alínea B) do § 3.º deste capítulo em estudo do projecto do Plano, funcionando com o apoio do Estado e com a colaboração dos organismos profissionais representativos da indústria.

13. De grande relevo têm de considerar-se também outras medidas referidas no projecto, tais como: a simplificação das operações administrativas de aprovação dos projectos das construções e dos planos de urbanização; a coordenação da elaboração dos projectos e da execução das empreitadas e a publicação de regras mínimas de apresentação de projectos; a obtenção e difusão de uma informação estatística mais perfeita; a adopção de providências que possibilitem a industrialização da construção civil; o desenvolvimento das actividades de investigação e o incremento das de normalização, e várias, providências relativas à mão-de-obra.

IV

Financiamento da indústria de construção civil e obras públicas

14. Como todas as indústrias, a de construção civil e obras públicas carece de apoio financeiro adequado para cobertura tanto das suas necessidades de capital circulante, como das de capital fixo.

15. No que aos valores circulantes respeita, os termos em que o nosso mercado monetário funciona não se ajustam à estrutura das necessidades a satisfazer.
Com efeito, os prazos extremamente curtos de que depende o redesconto, pelas instituições de crédito daquele mercado, dos títulos de que são portadoras, impede-as de modelar as suas operações em conformidade com as reais conveniências da indústria.
Sabido é que as empreitadas de construção civil e da obras públicas se prolongam, de modo geral, durante mais de um ano e que os desfasamentos que sempre se verificam na liquidação dos trabalhos executados geram carências de tesouraria, que, em nível mais ou menos alto, se mantêm no decurso de toda a empreitada. Deste modo, as empresas necessitam de financiamentos a prazo muito mais amplo do que os clássicos três meses do crédito comercial.

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Indispensável será, pois, que os bancos comerciais, facilitando-se-lhes o redesconto dos títulos representativos dessas operações a médio prazo, sejam habilitados a conceder ao sector o apoio de que carece.

16. No tocante ao capital fixo, dificuldades não menores se deparam à indústria de construção civil e obras públicas.
A sua natureza de indústria nómada, o tipo especial de equipamento que utiliza, a confusão que frequentemente se estabelece entre ela e a actividade especial das construções de casa para venda, além da observância de certos critérios de prioridade estabelecidos com inteira ignorância do papel que o sector desempenha no contexto da economia nacional, tornam-lhe, em regra, difícil, se não mesmo impossível, o acesso ao crédito a médio e a longo prazo para investimento.
Esta situação cria à indústria problemas graves e impede-a, como é óbvio, de se expandir normalmente.
Por isso, as subsecções crêem que urge dedicar a este problema a atenção que merece, providenciando para que as principais instituições de crédito do mercado financeiro (Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e Banco de Fomento Nacional) assegurem ao sector da construção civil e obras públicas apoio adequado.

V

Programas de obras

17. Dado o seu carácter instrumental e o papel que desempenha na execução dos planos dê desenvolvimento económico do País, a indústria de construção civil e obras públicas tem de habilitar-se a responder em tempo útil às solicitações de uma procura variada e dispersa.
Como é evidente, o equilíbrio e a normal expansão do sector só podem assegurar-se desde que essa procura se desenhe sem grandes flutuações nem sacudidelas, segundo uma linha ascendente de comportamento mais ou menos regular.
Os saltos repentinos e muito pronunciados do volume de empreitadas em concurso obrigam a indústria a dar ao seu parque de equipamento e aos seus quadros de pessoal uma dimensão que, depois, numa fase imediata de carência de obras, gera encargos insuportáveis e se traduz, bem vistas as coisas, em prejuízo vultoso para a economia nacional. Além disso, nessa fase de retracção, as empresas, desejando, a todo o custo, diluir os seus encargos permanentes, acabam por praticar, numa concorrência naturalmente agressiva, preços irrisórios, que provocam a ruína de algumas e deterioram, por vezes irreversivelmente, o mercado.

18. Os inconvenientes que acabam de apontar-se ilustra-os o até agora ocorrido no nosso país, tanto no que respeita às obras públicas, como no que se refere às particulares.
A programação que se tem feito, determinada exclusivamente por razões de ordem financeira e de prioridade dos empreendimentos, sem atender a critérios de racional utilização dos meios de execução disponíveis em cada momento no âmbito do sector da construção civil e obras públicas, tem provocado variações extremas no volume de empreitadas que em cada ano se lançam, provocando crises altamente lesivas dos interesses legítimos da indústria.
O próprio projecto acentua e critica o que a este respeito se passou no período de 1953 a 1964.

19. Essencial se torna, pois, como o mesmo projecto reconhece:

a) Dar a conhecer à indústria, com antecedência suficiente, o escalonamento, no tempo, da realização das obras públicas, bem como o fraccionamento das empreitadas e as datas da respectiva realização;
b) Completar os planos de fomento, na medida do possível, por diplomas próprios que definam, com a conveniente antecipação e para cada obra principal, o conjunto de disposições a que deva submeter-se o seu financiamento, com a indicação das respectivas fontes;
c) Procurar-se assegurar nesses diplomas a efectivação das obras sem descontinuidade.

É manifesto que todas estas providências teriam de ser comandadas, em tudo quanto não contrariasse outros interesses de maior relevância, pela preocupação de evitar flutuações muito sensíveis no mercado de empreitadas, permitindo assim à indústria organizar-se em bases sólidas, com uma justificada confiança no futuro.
Para esse fim, utilíssima se considera também a anunciada criação no Ministério das Obras Públicas de um gabinete de estudos e planeamento, incumbido de efectuar a programação a médio e longo prazos e a coordenação das obras em que o Estado intervém por intermédio dos diferentes serviços do referido Ministério e, bem assim, de promover as acções apropriadas para evitar as flutuações até agora ocorridas na indústria.
Às subsecções afigura-se, todavia, que organismos semelhantes deveriam criar-se noutros Ministérios em que o volume de obras o justificasse, de modo a facilitar o exercício da função coordenadora que compete ao Secretariado Técnico da Presidência do Conselho.

VI

Conclusões

20. É este parecer desnecessariamente longo.
Com efeito, a atenção que a indústria de construção civil e obras públicas felizmente mereceu desta vez ao Governo, e que bem se evidencia no capítulo IV do projecto do III Plano de Fomento, dispensava quaisquer comentários que não fossem os de um franco e entusiástico aplauso.
Pareceu, todavia, útil ir um pouco mais longe, até para significar quanto as subsecções acompanham o Governo no cuidado com que analisa os problemas deste sector da actividade económica.
Desejam as subsecções formular o voto de que as medidas anunciadas se concretizem com a brevidade possível, nomeadamente as que, havendo já sido objecto de longos estudos, não parece justificado que se protelem, com prejuízo para a própria viabilidade de execução do Plano e risco de uma deterioração cada vez mais acentuada do sector da indústria de construção civil e obras públicas.

Palácio de S. Bento, 25 de Julho de 1967.

Augusto de Sá Viana Rebello.
Jorge Sequeira.
Durando Rodrigues da Silva.
José Mercier Marques.
Francisco de Mello e Castro.
João Pedro da Costa.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich.
Fernando Brito Pereira, relator.

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ANEXO VI

Parecer subsidiário da secção de Autarquias locais e da subsecção de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa.

Melhoramentos rurais

A secção de Autarquias locais e a subsecção de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, às quais foram agregados os Dignos Procuradores Joaquim Trigo de Negreiros e Manuel de Almeida de Azevedo e Vasconcelos, consultadas sobre o capítulo V «Melhoramentos rurais», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto de III Plano de Fomento para 1968-1973, emitem, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Objectivo do capítulo

1. Dentro da orientação pela primeira vez adoptada no II Plano de Fomento e mantida no Plano Intercalar que se lhe seguiu, propõe-se o Governo incluir no III Plano de Fomento, para o sexénio de 1968-1973 - a seguir designado por III Plano -, dotações especificamente destinadas à execução de obras de valorização dos meios rurais. Ao passo, porém, que nos planos anteriores só foram contemplados os sectores de electrificação, abastecimento de água e viação, desta feita prevê-se a inclusão de dois novos capítulos, «Esgotos» e «Outros melhoramentos», com o objectivo de assim ser abarcado todo o conjunto de realizações de que depende, como bem se sublinha no capítulo em exame, a possibilidade de criação de «centros rurais com dimensão, dinamismo e equipamento suficientes para fixar as populações», e assim atenuar as suas actualmente tão marcadas tendências de afluxo aos grandes centros urbanos e de emigração para outros países.

2. Será, certamente, desnecessário realçar a importância basilar dos citados melhoramentos rurais para o progresso sanitário, social e económico da população. E quanto a justificar a sua inclusão no III Plano, resultará isso também como ponto indiscutível quando se considerar quanto na matéria falta ainda fazer, não obstante a atenção que a gama de realizações em causa vem de há perto de 40 anos merecendo às entidades oficiais responsáveis.
Assim, partindo da premissa de que as dotações do Plano Intercalar serão esgotadas e dando por efectivamente realizadas as obras com comparticipação por ele concedida, no final do corrente ano a posição do problema em relação aos 13 387 aglomerados com 100 ou mais habitantes existentes no País deverá apresentar-se como segue:
Não servidos de electricidade - 5192 aglomerados, ou sejam 38 por cento.
Não servidos de abastecimento domiciliário de água - 10 100 aglomerados, o que corresponde a 75 por cento.
Sem acesso por estrada - 2550 aglomerados, ou sejam 20 por cento.
Quanto a esgotos, no final de 1965 sòmente cerca de 200 aglomerados dispunham de redes de saneamento - das quais apenas 29 dotadas de estação depuradora -, situação que pouco terá evoluído até final do corrente ano - termo do Plano Intercalar -, e, portanto, no momento do arranque do III Plano cujo projecto está agora em apreciação pode prever-se que se encontrem:
Sem rede de saneamento - 13 150 povoações, isto é, a sua quase totalidade.

Claro que será preciso ter presente, em relação ao caso dos esgotos, que aos referidos 200 aglomerados dotados de rede de saneamento em Dezembro de 1965 correspondia uma população de 2,5 milhões de habitantes.

3. O panorama é, pois, longe de brilhante, e a simples observação dos números atrás apontados conduz a duas ordens de considerações merecedoras da mais atenta ponderação:
Primeiro, a de que o atraso é mais acentuado precisamente nos sectores que mais interessam à saúde pública - abastecimento domiciliário de água e esgotos. E virá a propósito lembrar uma muito judiciosa referência feita a este problema no «Comentário do representante do Ministério da Saúde e Assistência ao relatório preliminar do Subgrupo de Melhoramentos Rurais», referência que a seguir se transcreve:

... é posição assente (que ainda recentemente teve a confirmação de um técnico das Nações Unidas, perito de educação sanitária em missão da O. M. S. no País) que a promoção de saúde de uma população - valor que se não discute mesmo em termos puramente económicos - tem de alicerçar-se no abastecimento de água potável e no tratamento conveniente dos esgotos. Fazer educação sanitária ou prevenção de doenças ou instalação de serviços profilácticos sem cuidar decisivamente daqueles problemas básicos é comprometer verbas sem delas tirar a devida rentabilidade [...] Sendo assim, o abastecimento de água e a solução do problema dos esgotos não podem ser apreciados como um tipo de melhoramentos rurais a considerar entre outros pelo Plano, mas objectivos prioritários para cuja consecução importa mobilizar os necessários recursos, ainda que tendo de sacrificar investimentos em projectos de outra natureza.

O segundo aspecto será quanto ao montante a despender ainda para dotar todas as povoações do tipo considerado - 100 ou mais habitantes - dos melhoramentos fundamentais em causa - muito embora à base de meras estimativas, porquanto, como é óbvio, seria impossível determinar valores unitários rigorosos.
Assim, de elementos respigados no excelente relatório preliminar atrás citado, tal encargo, partindo dos custos médios verificados nos últimos anos - com um agravamento de 30 por cento, atendendo ao aumento do custo da construção civil que presentemente se verifica -, cifra-se como segue:

Electrificação - 5192 X 385 contos X1,3 = 2 600 000 contos;
Abastecimento domiciliário de água - 10 100 X 300 contos X 1,3 = 3 950 000 contos;
Viação rural - 1 260 000 contos X 1,3 = 1 650 000 contos;
Esgotos - 4 000 000 de contos X 1,3 = 5 600 000 contos, o que - abstraindo, portanto, dada a sua própria

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natureza, dos denominados outros melhoramentos - totaliza nada menos de 13 800 000 contos.

No referente a estes outros melhoramentos, define-os o capítulo como um conjunto de realizações ligadas ao bem-estar das populações rurais - para além dos sectores fundamentais considerados nos planos anteriores e das obras de saneamento agora pela primeira vez contempladas -, realizações das quais apresenta uma extensa enumeração, desde o calcetamento de ruas até à construção de centros de formação profissional agrícola e de infra-estruturas basilares para a descentralização industrial, isto é, abrangendo todos os aspectos que a problemática do bem-estar rural integra.
Reconhece, porém, o capítulo que estes empreendimentos deverão ser executados por forma concentrada e coordenada de forma a «estabelecer, assim, entre as cidades e o campo, certa igualdade de oportunidades no plano económico, demográfico, social e cultural», facultando deste modo às «populações rurais, nas suas regiões, empregos estáveis e remuneradores, conforto na habitação, estabelecimentos de ensino de carácter profissional e possibilidades de cultura», única forma de fixar as mesmas populações, travando, conforme atrás se disse já, a sua tendência para abandonar as regiões rurais em busca de melhor vida em centros, nacionais ou estrangeiros, que lha possam proporcionar.
E como as exigências do bem-estar das nossas populações rurais vão evoluindo através dos tempos - e ainda bem que assim é, pois o facto constitui o mais significativo índice da progressiva melhoria do seu nível de vida -, trata-se de um tipo de realizações que, ao contrário dos outros melhoramentos considerados, é insusceptível de uma avaliação quantitativa, porque nunca será atingida a sua integral realização.

4. Além da descrição do estado actual do problema dos melhoramentos rurais e do enunciado da evolução que se pretende imprimir-lhe nos próximos seis anos, por força das dotações a incluir para o efeito no III Plano, refere ainda o capítulo as «medidas de política» consideradas indispensáveis para que de tais dotações seja possível tirar o máximo e mais pontual rendimento.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de um conjunto de providências - com predomínio das de carácter legal - cuja necessidade resulta da experiência vivida pelos serviços do Estado e das autarquias locais nos últimos anos, conjunto que poderá resumir-se como segue:

a) Urgência em promover a organização dos serviços técnicos municipais - questão já estudada por uma comissão que apresentou o seu relatório em 1958, mas que não teve até à data qualquer seguimento;
b) Em relação à electrificação rural:

Revisão da actual estrutura das concessões de distribuição no sentido da concentração progressiva das explorações de vida mais precária, por forma a assegurar-lhes dimensões económicamente rentáveis;
Eliminação do limite máximo de 50 por cento estabelecido no Decreto-Lei n.º 40 212, de 30 de Junho de 1955, para a relação anual entre as comparticipações concedidas e o valor global das obras comparticipadas, isto com o objectivo de acudir com mais intensidade a obras novas, de preferência a ampliação ou remodelações, e de dar prioridade aos concelhos de mais fracos recursos;
Definição clara da situação do consumidor que paga um ramal à sua custa quando a este vêm ligar-se posteriormente outros consumidores, e revisão das tarifas de venda de energia em baixa tensão, de modo que elas cubram efectivamente os encargos da respectiva distribuição;

c) Quanto aos sectores de abastecimento de água e de esgotos:
Melhoramento das condições de financiamento destas obras por parte do Estado, por forma a torná-las compatíveis com os recursos das autarquias interessadas e o nível de vida das populações servidas;
Promoção de campanhas de esclarecimento e educação sanitária, através de todos os meios de informação, para mentalização das populações sobre a indispensabilidade destas obras para defesa da sua saúde, no sentido de as levar a colaborar mais ampla e interessadamente na sua realização;
Organização de projectos-tipo de elementos normalizáveis e de cadernos de encargos e programas de concurso que possam ser sistematicamente utilizados;

d) Em matéria de viação rural:

Melhoramento, na medida do possível, das condições de financiamento destas obras para as câmaras de menores recursos, tal como se sugere para os abastecimentos de água e as obras de saneamento;
Sincronização dos planos anuais de estradas nacionais e de viação rural e ainda dos de caminhos florestais, através de uma íntima colaboração entre a Junta Autónoma de Estradas, a Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas.

Sem prejuízo do mais que adiante se dirá sobre a matéria, todas estas sugestões se afiguram dignas de consideração, e é de presumir que assim venha a suceder, visto o projecto do III Plano de Fomento que as enuncia dimanar do próprio Governo.

II

Análise do capítulo

5. Há diversos aspectos sob os quais o capítulo em estudo merece ser apreciado. Começar-se-á pelo das verbas que o Governo se propõe incluir no III Plano:
Contos
Electrificação ..................... 1 220 000
Abastecimento de água .............. 400 000
Esgotos ............................ 180 000
Viação ............................. 960 000
Outros melhoramentos ............... 120 000

num total de 2 880 000 contos a financiar como segue:
Contos
Orçamento Geral do Estado .......... 440 000
Fundo de Desemprego ................ 850 000
Autarquias locais .................. 1 077 000
Concessionárias (electrificação) ... 513 000

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Se se relacionarem estas dotações com as importâncias indicadas no n.º 3 deste parecer, a despender para dotar as povoações com 100 ou mais habitantes dos melhoramentos fundamentais em questão, verifica-se que, à cadência de realização assegurada por tais dotações, esse objectivo levará a alcançar, respectivamente:

Electrificação - 2 600 000 - 13 anos
200 000

Abastecimento de água - 3 950 000 - 60 anos
65 000

Viação rural - 1 650 000 - 10 anos
160 000

Esgotos - pràticamente indeterminável;

deduz-se que, sendo os prazos indicados razoáveis em matéria de electrificação e viação rural, o relativo a abastecimentos domiciliários de água conduzirá, ao fim e ao cabo, a um nunca terminar do correspondente plano. E como a dotação atribuída a esgotos nem sequer chegará para assegurar a execução das obras deste sector já com projecto ou com estudo prévio elaborado - respectivamente, 210 000 contos X 1,3 = 273 000 contos e 130 000 contos X 1,3 = 169 000 contos -, ter-se-á de concluir que a grave situação em matéria de água e saneamento se arrastará por décadas sem fim.
Sendo assim, afigura-se muito recomendável que, além de um pequeno reforço, a distribuição propriamente dita da dotação total do capítulo em apreciação seja revista, porquanto, conforme se tem procurado acentuar no decurso deste parecer subsidiário, à frente de tudo está sem dúvida a saúde, e não pode haver saúde na boa acepção da palavra, onde se não encontre assegurada água potável em abundância e drenagem e tratamento dos esgotos. Adiante se formulará proposta concreta neste sentido.

6. Outro aspecto que íntima e decisivamente se relaciona com a efectivação prática da gama de melhoramentos que se vem apreciando - como, aliás, a de todos os constantes do projecto de III Plano - é o da capacidade técnica necessária para o estudo, projecto, execução e subsequente exploração de tais melhoramentos, problema que actualmente apresenta cariz extremamente gravo.
Só no referente ao sector em apreciação - melhoramentos rurais -, é a seguinte, presentemente, a situação dos quadros técnicos dos serviços do Estado responsáveis na matéria:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Admitidos ao abrigo das Leis n.ºs 2094 e 2103, de, respectivamente, 25 de Novembro de 1958 e 22 de Março de 1960.

E, porque, como aliás se salientou no projecto, "é evidente que, se paralelamente com o Plano de Viação Rural não fossem construídos os lanços das estradas nacionais necessários para receberem e ligarem à rede geral do País os futuros acessos municipais de povoações isoladas, não seria possível atingir o objectivo de dar acesso a todas as povoações com mais de 100 habitantes" - que o mesmo é dizer que os planos nacionais de viação rural deverão ser preparados em conjunto com a Junta Autónoma de Estradas -, é de anotar também que as vagas existentes neste importantíssimo organismo do Estado atingem actualmente os números a seguir indicados:

[Ver Tabela na Imagem]

m paralelo com estes dados, e com vista a uma objectiva apreciação do gravíssimo problema em causa, convirá atentar na evolução das formaturas nos dois cursos considerados, nos últimos anos 1:

[Ver Tabela na Imagem]

Vai de certeza esta questão ser tratada com profundidade em relação a outro ou outros capítulos do projecto de III Plano, mas nunca será demasiado insistir nela, pois o problema acentua-se de ano para ano, ameaçando atingir um índice da mais eminente gravidade.
Assim, e muito embora correndo o risco de serem acusadas de sair do âmbito restrito do parecer subsidiário que lhes foi solicitado, entendem, a secção e a subsecção dever chamar a atenção para a urgente necessidade do lançamento de um autêntico plano acelerado de formação de engenheiros e agentes técnicos, sob pena de se revelar impossível levar a efeito planos de fomento ou de estes não poderem ser executados com a perfeição que a todos os títulos se impõe. Na verdade, se a defesa da integridade nacional, que ataques do exterior nos impõem, levaram de há muito à adopção de providências no sentido de acelerar a formatura de oficiais do Exército, para bom êxito da autêntica corrida contra-relógio em que estamos empenhados no desenvolvimento do País em todos os campos o mesmo critério deverá ser seguido em relação aos indispensáveis artífices de tal desenvolvimento.

1 Alunos que terminaram a parte escolar dos respectivos cursos, segundo elementos fornecidos pelas Direcções-Gerais do Ensino Superior e das Belas-Artes e do Ensino Técnico Profissional.

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Não compete a secção e à subsecção, evidentemente, entrar em pormenores sobre a forma de materialização do mencionado plano, mas não se hesita em afirmar parecer ele possível e realizável com relativa facilidade, sem quebra do grau de preparação técnica a exigir para o satisfatório desempenho das profissões liberais em causa.

7. Do exposto há-de concluir-se que no decurso do III Plano os serviços oficiais poderão vir a lutar com grande dificuldade para conseguirem a elaboração dos estudos e assegurarem, depois, a conveniente fiscalização das obras em causa, e assim sugere-se que, embora as dotações fiquem de início arrumadas de determinada forma, se estabeleça o princípio de a sua distribuição poder vir a ser reajustada, por transferência entre os montantes consignados a cada grupo de obras, de harmonia com as disponibilidades de projectos e as possibilidades reais da sua boa execução.

8. Para além disto, de acordo com o que ficou dito acima, no n.º 5, afigura-se ainda haver vantagem em serem revistos o montante total e a distribuição de verbas projectadas conforme a seguir se aponta:
Aumento da dotação para abastecimento de água em 200 000 contos, ainda que à custa das destinadas à electrificação e à viação rural. Tirar 100 000 contos a cada um destes sectores não os afectará de forma sensível e, em contrapartida, um reforço de 200 000 contos para abastecimento de água corresponderia a aumentar em 50 por cento a respectiva dotação, levando-a ao mínimo preconizado no capítulo como necessário para satisfatório prosseguimento do plano definido na Lei n.º 2103.
Reforço da verba do sector esgotos em 120 000 contos, o que permitiria encarar, pelo menos, a execução da totalidade das obras já projectadas aquando da elaboração do projecto de III Plano - as quais somam, conforme atrás ficou dito, o montante global de 273 000 contos - e naturalmente mais algumas das que então tinham estudo prévio executado.

9. Quanto a medidas de política, já se manifestou inteira concordância corri as sugestões contidas no texto do capítulo, mas entende-se dizer mais alguma coisa sobre a matéria.
a) A preconizada organização de serviços técnicos municipais será sem dúvida viável e operante nos municípios corri determinada dimensão em área e em receitas e poderá ainda resultar eficiente em pequenos conjuntos de autarquias mais pobres, para o efeito federadas. Mas outra modalidade existe, merecedora também de particular atenção: a criação, ao nível distrital ou regional, de gabinetes técnicos destinados a dar assistência técnica aos municípios mais necessitados das respectivas áreas. Trata-se de sistema já ensaiado, pelo menos, nos distritos de Aveiro, Braga, Guarda, Lisboa, Porto e Setúbal, por vez.es com assinalado êxito.
A título de informação, valerá a pena deixar consignadas no presente parecer subsidiário algumas notas sobre o funcionamento do gabinete técnico, denominado «Serviços de fomento», da Junta Distrital de Lisboa:
Dispõe de 14 engenheiros civis, dos quais um exerce as funções do director dos serviços, e de 5 arquitectos, além de pessoal auxiliar, compreendendo 25 desenhadores, 9 topógrafos, 5 auxiliares técnicos o 2 apontadores, o que constitui já um núcleo técnico muito apreciável;
Presta assistência a todas as câmaras municipais do distrito, salvo às de Lisboa, Cascais, Lonres e Ueiras, que dispõem de serviços técnicos próprios;
Desde a criação da Junta, em 1960, até final de 1966, produziu:

308 projectos de abastecimento de água;
139 projectos de estradas;
24 projectos de redes de saneamento;
114 projectos de construções civis;
163 estudos de urbanização;

e assegurou a direcção técnica de 384 obras, a saber:.

222 de abastecimento de água;
113 de estradas;
4 de saneamento;
45 de construção civil.

A elaboração dos projectos é gratuita para as câmaras, beneficiando a Junta sòmente das respectivas comparticipações concedidas pelo Estado;
Com a direcção técnica das obras, os encargos camarários variam em função das suas receitas ordinárias; até 1500 contos, são nulos; de 1500 a 8000 contos, pagam as despesas de transporte e ajudas de custo do pessoal que se desloca para o efeito; acima de 8000 contos, suportam todas as despesas. Nos três primeiros casos, como é de justiça, a comparticipação do Estado reverte para a Junta;
Os serviços de fomento em causa prestam ainda outras modalidades de assistência, cujos encargos para os municípios servidos se encontram também tabelados dentro do mesmo critério.

Este apontamento dá uma clara noção do extraordinário interesse que poderá revestir a exploração das potencialidades de assistência técnica de organismos do tipo das juntas distritais, quando conveniente e devotadamente orientadas.
b) De um forma geral, impõe-se facilitar com larga visão a realização das obras, confiando, sempre que tecnicamente possível, a sua execução às próprias autarquias locais, que, em regra, conseguem ajuda directa - braçal e financeira - dos seus munícipes e dando maiores facilidades, e sobretudo maior rapidez, na concessão de empréstimos legalmente autorizados.
c) Nos termos da base XIV da Lei n.º 2103, relativa a abastecimentos de água, a construção dos ramais de ligação às redes de distribuição e o fornecimento e instalação dos contadores dos prédios de rendimento colectável abaixo de determinado limite «poderá ser integrado no programa de execução da obra de abastecimento e beneficiar do regime de financiamento estabelecido para essa obra».
Entendem a secção e a subsecção que a extensão desta regalia à electrificação rural e às obras de saneamento poderia revelar-se de manifesto interesse.
d) Finalmente, afigura-se que para o mais rápido alargamento da electrificação rural muito poderiam contribuir a urgente regulamentação das redes rurais e bem assim a concessão às empresas concessionárias de certas regalias, tais como comparticipações financeiras do Estado, pelo menos em relação aos ramais de alta tensão, ou desagravamentos fiscais.

III

Conclusões

10. Por virtude do exposto no presente parecer subsidiário, a secção de Autarquias locais e a subsecção de

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Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, da Câmara Corporativa, emitem as seguintes conclusões sobre o capítulo V do título II (Programas sectoriais), da parte referente ao continente e ilhas do projecto de III Plano de Fomento relativo a melhoramentos rurais:

1) Será vantajoso reforçar a dotação para abastecimento de água, ao menos pela sua elevação em 50 por cento, isto é, a 600 000 contos, com o objectivo de dar um forte impulso neste tão importante sector - ainda que à custa das verbas atribuídas a electrificação e a viação rural.
2) Haverá o maior interesse na elevação da dotação para esgotos a um mínimo de 300 000 contos.
3) É extremamente urgente a adopção das medidas de política propostas no capítulo e ainda daquelas que se sugerem neste parecer subsidiário.
4) Por último, recomenda-se a maior atenção para a grande carência de engenheiros e agentes técnicos que se verifica no País e a imperiosa necessidade de adopção de urgentes providências no sentido de obstar ao agravamento, que de ano para ano se acentua, desse problema, sob o risco de se chegar à lamentável posição de não poderem ser executadas as infra-estruturas dos planos de fomento, por falta de projectos, de não poderem estes ser realizados, por falta de uma fiscalização técnica conveniente das obras, e, finalmente, de das obras executadas não ser possível tirar o devido rendimento, por falta de pessoal habilitado a orientar a sua exploração.

Palácio de S. Bento, 28 de Julho de 1967.

António Vitorino Franca Borges.
Júlio de Araújo Vieira.
Artur Augusto de Oliveira Pimentel.
Leopoldo de Morais da Cunha Matos.
Fernando José Martins de Almeida Couto.
Jorge Palhinha Moura.
António Ramos do Amaral.
Humberto Albino das Neves.
Francisco de Mello e Castro.
João Pedro da Costa.
José Mercier Marques.
Joaquim Trigo de Negreiros.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich (relator).

ANEXO VII

Parecer subsidiário da subsecção de Energia e combustíveis da secção de Indústria

Energia

A subsecção de Energia e combustíveis, da secção de Indústria, consultada sobre o capítulo VI «Energia», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento,
para 1968-1978, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

Introdução

1. No documento em apreciação devem distinguir-se dois aspectos fundamentais:

A concretização de um programa.
A definição de uma política.

Para a concretização do (programa recorreu-se aos especialistas que o estruturaram de forma objectiva dentro das linhas definidas pela política adoptada.
A definição da política deverá ser estabelecida em face das opções, a tomar ao nível superior, considerando, os aspectos de carácter geral, intersectoriais e sectoriais o os reflexos que uma decisão sobre determinado problema pode ter na resolução de outros. Um programa é quantificável, objectivo e de resultados previstos; uma política tem muito de subjectivo, com consequências por vezes imprevistas e resultados dependentes de- factores exteriores.
O parecer da subsecção não deve discutir um programa, se ele tiver sido elaborado por especialistas, no exame pormenorizado e fundamentado das diversas soluções: seria contrapor a estudos objectivos opiniões mal fundamentadas.
Para este caso o parecer subsidiário da subsecção deverá limitar-se a estudar as linhas gerais da política adoptada e a recomendar as orientações que entenda mais convenientes, sem descer ao pormenor de saber, por exemplo, se a obra a executar custa mais ou custa menos e se os consumos previstos são ou não satisfeitos poios empreendimentos programados. Estes são problemas afectos aos organismos competentes, tanto públicos como privados, a quem está cometido o estudo destes assuntos, e não a esta subsecção.
Se, porém, os especialistas forem postos perante programas já aprovados superiormente, o problema apresenta-se então de forma diferente e poderão porventura surgir dúvidas sobre o aspecto de programação.

2. Regista-se com louvor a maneira como trabalhou o Grupo de Trabalho n.º 5 «Energia», da Comissão Inter-ministerial de Planeamento e Integração Económica. A larga audiência dada ao sector privado, a estreita colaboração instituída, entre a indústria e o sector público conduziram aos melhores resultados; esta subsecção está convencida, de que o método é extremamente útil e deve ser mantido e aperfeiçoado. Não é possível realizar seja o que for sem uma estreita coordenação entre todos os interessados e sem espírito de grupo e frutuosa e leal colaboração. A. indústria deve ser chamada a colaborar e a dizer a sua opinião, e o Estado, por meio dos seus organismos competentes, deve orientar e coordenar; assim se encontrará, sem qualquer dúvida, a fórmula melhor. Trabalhar de outra maneira conduz a deformações que podem ser graves e a soluções que podem ser inconvenientes, por não respeitarem o interesse geral, ou por não compreenderem e não aceitarem os condicionamentos impostos pela experiência e pela prática.
Na elaboração deste, parecer seguir-se-á a ordem adoptada no projecto em apreciação.

Evolução recente e situação actual

3. Merece o mais decidido apoio, o estabelecimento da política global energética preconizado no projecto do

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III Plano de Fomento como meta a atingir; sabe-se que tal não é ainda possível, mas, contudo, reconhece-se ter-se dado um grande passo em frente. Será a única forma de se conseguir o óptimo económico, objectivo a ter sempre em vista. Igualmente merece todo o aplauso a coordenação metrópole-ultramar, pois não faz sentido programar-se independentemente para a metrópole e para as províncias ultramarinas quando existem interdependências que permitem melhor aproveitamento dos recursos existentes.

a) Electricidade

4. O crescimento dos consumos, que se tinha processado na década 1956-1965 a uma taxa média anual de 11,4 por cento, sofreu uma apreciável quebra em 1966, e não pode desde já afirmar-se que o fenómeno tenha passado ou ainda continue. Com efeito, no passado ano, os consumos permanentes aumentaram apenas 5,95 1 por cento, acusando assim um forte decréscimo em relação às taxas verificadas anteriormente; os elementos conhecidos no momento da elaboração deste parecer relativos a 1967 não são significativos, por abrangerem apenas cinco meses. Considerando a produção para consumos permanentes no corrente ano, notam-se os seguintes aumentos mensais e acumulados relativos a iguais períodos de 1966 (números provisórios) 2:

[Ver Tabela na Imagem]

ão é possível definir uma lei ou mesmo estabelecer uma tendência. De Janeiro a Março há uma descida rápida de 16.9 por cento para 5,8 por cento; mas nos meses de Abril e Maio nota-se uma certa progressão, pois os índices passam, respectivamente, para 6,9 por cento o 9,1 por cento, embora a taxa acumulada não exceda 10.5 por cento. Acentuar-se-á esta tendência e regressaremos a taxas anuais de 11 por cento ou 12 por cento? Ou, pelo contrário, haverá certa estabilização, ou mesmo nova regressão? São interrogações a que a subsecção não pode responder; sugere apenas uma análise atenta da evolução dos consumos, como, aliás, se recomenda no capítulo em exame do projecto do III Plano de Fomento (n.º 15).
Estudos recentes do Repartidor Nacional de Cargas permitiram concluir que o facto de ter havido neste ano intervenção superior à verificada em igual período de 1866 dos aproveitamentos do Douro internacional, devido às características hidrológicas, aumentou as perdas na rede; assim, presume-se que a taxa de aumento do consumo permanente (e .não da produção para consumo permanente) será no fim de Maio cia ordem dos 8,1 por cento em relação a igual período do ano anterior, em vez dos 10,5 por cento referidos.
Não parece muito fácil alcançar em 1967 a taxa média de 11,4 por cento adoptada para a previsão dos consumos e será altamente improvável excedê-la de forma a recuperar o atraso verificado em 1966.
Esta situação justificará certamente o diferimento de certos investimentos, atrasando a realização de alguns empreendimentos, por desnecessários nos prazos marcados.

5. No parecer desta subsecção relativo a capítulo homólogo do projecto do Plano Intercalar de Fomento manifestaram-se inquietações relativas aos problemas de financiamento da indústria eléctrica e chamou-se a atenção do Governo para as dificuldades que poderiam surgir pela não obtenção dos capitais necessários e para os estrangulamentos que se poderiam provocar. Felizmente, o Governo, atento à evolução do problema, pelo Decreto-Lei n.º 47 566, de 27 de Fevereiro do corrente ano, tomou providências relativas à emissão de obrigações por empresas privadas, facultando condições mais harmónicas com a evolução das conjunturas interna e internacional. Ao mesmo tempo que se admitiu uma elevação da taxa de juro, concederam-se também certos benefícios de ordem fiscal, de maneira a obter-se uma taxa de juro líquido para o obrigacionista da ordena dos 5,5 por cento, o que permitirá, segundo se espera, atrair as poupanças. As emissões já feitas por determinadas empresas, eléctricas e não eléctricas, ao abrigo das disposições do referido decreto-Lei parece terem demonstrado o interesse do público por estes empréstimos. É de esperar que se mantenha esta situação e que continuem a facultar-se às empresas eléctricas os meios necessários para o seu financiamento, pois de outra forma poderemos chegar a uma situação extremamente difícil: a electricidade, como infra-estrutura económica e como indústria de expansão contínua, necessita permanentemente de novos capitais. Duplicando o consumo em períodos compreendidos entre sete e dez anos, isto significa que no mesmo espaço de tempo tem de investir-se tanto quanto existe agora (16 milhões de contos em 3.1 de Dezembro de 1967 no conjunto das empresas).

b) Combustíveis líquidos e gasosos

6. A notável expansão dos consumos de gases liquefeitos (butano e propano) tem a sua origem e explicação na subida do nível de vida das populações e na colocação em todo o País a preços acessíveis de uma fonte energética que permite resolver inúmeros problemas. A opção do público entre as diversas fontes energéticas foi imposta pelas realidades, e a existência dos gases liquefeitos permitiu suprir em determinados usos as carências de energia eléctrica nas povoações ainda não abastecidas pela rede de distribuição. As opções, como se disse, estão a ser tornadas pela forca das circunstâncias, pela não existência de redes de distribuição de energia eléctrica, e não por efeito de uma coordenação, consequência de estudos energéticos globais. É natural que a realização destes estudos venha a provar o interesse, em determinados casos, de manter a utilização dos gases liquefeitos para certas aplicações, em detrimento da energia eléctrica. Com efeito, são extremamente onerosas as obras para a utilização da energia eléctrica em aquecimento e cozinha nas redes rurais, por exigirem, potências muito elevadas, em baixa tensão, sem a contrapartida de factores de carga gerais que originem uma diluição destas aplicações noutras de melhor utilização ou a horas diferentes. Haverá, portanto, um compromisso a estabelecer, e parece possível que um estudo conjunto entre os distribuidores de energia eléctrica e os distribuidores de

1 Estatística das Instalações Eléctricas em Portugal, 1966 (quadro G 5).
2 Estatística mensal do Repartidor Nacional de Cargas.

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gases liquefeitos permitirá definir a solução mais conveniente, tanto para os utilizadores como para os fornecedores e, portanto, para a economia geral.

c) Combustíveis sólidos

7. A utilização das lignites de Rio Maior, problema que se arrasta há longos anos e que foi considerado por mais de um vez, encontra agora uma solução, que oferece lugar paxá meditações. Anuncia-se a instalação de uma central à boca da mina e no programa de obras previsto está incluída a sua realização. Sabe-se que a empresa concessionária da produção térmica, em colaboração com as entidades oficiais, recorreu ao parecer de especialistas estrangeiros e concluiu pela rentabilidade do empeendimento em integração vertical no conjunto mina-central, numa realização de grande dimensão, quer na extracção mineira, quer na potência da central, conforme elementos resumidos em anexo ao relatório do Grupo de Trabalho. A subsecção, ao levantar este problema, pretende neste momento apenas chamar a atenção para a necessidade de a central só dever ser realizada com integração do investimento do conjunto mina-central, desde que o custo do kilowatt-hora produzido seja competitivo com o de outras origens; se assim não for, não deverá onerar-se a indústria de energia eléctrica com sobrecustos, por motivos certamente de interesse nacional, mas exteriores ao sector.

Objectivos

8. Afirma-se no capítulo do projecto em apreciação (n.º 12) que o «funcionamento dos mecanismos de mercado, no caso da energia, tem sido fortemente condicionado pela maneira como se formam os preços em relação aos quais o consumidor reage; com efeito, é possível inflectir as opções dos consumidores em sentidos não coincidentes com os que resultariam da estrutura de preços moldada sobre a dos custos de produção, mas que, por motivos de interesse nacional não redutíveis a critérios económicos imediatos, se julgam preferíveis em determinado momento». Corresponde esta afirmação a uma verdade incontroversa; na medida em que as tarifas são aprovadas pelo Estado, existe uma intervenção do poder outorgante na fixação dos preços e, portanto, nas opções mais convenientes e nas orientações mais úteis para o interesse geral. Podem, porém, resultar inconvenientes graves de uma distorção de preços imposta por razões que não sejam as determinadas pela economia. Não é a primeira vez que, tanto no nosso país como noutros, se verificam distorções de preços impostas por razões de ordem política, com consequências inconvenientes e soluções posteriores que causam perturbação e mal-estar. Esta subsecção, ao mesmo tempo que reconhece a necessidade da intervenção do Estado na fixação dos preços e nas opções a bem do interesse geral, recomenda terem-se em particular atenção as consequências de carácter económico que podem resultar de uma distorção de preços não baseada em considerações estritamente económicas.

a) Electricidade

9. Apresenta o capítulo em exame do projecto do Plano de Fomento um programa de novos centros produtores cuja construção se iniciará no último ano do Plano Intercalar e nos primeiros anos do III Plano, com indicação das datas aproximadas da entrada em serviço. Sob o aspecto técnico deste programa, a subsecção nada tem a dizer, já que ele foi elaborado por especialistas, depois de complexos estudos de simulação, correspondendo assim à solução mais indicada para a cobertura dos consumos. Aliás, regista-se aqui de novo, e com agrado, a colaboração construtiva havida entre o sector público e o sector privado, que permitiu encontrar a fórmula certamente mais conveniente.
A subsecção quer apenas fazer as seguintes observações de carácter geral, inseridas na orientação atrás definida:

A pendência, no Supremo Tribunal Administrativo, de recursos interposto por empresas que se sentem lesadas pela decisão de não lhes ser outorgada a concessão dos aproveitamentos do Fratel e do Mondego pode, eventualmente, causar perturbações na execução destes empreendimentos. Nada podemos afirmar, como é óbvio, sobre esta matéria.
No que se refere ao aproveitamento do Mondego, a subsecção lembra a urgência da sua realização, pelas suas múltiplas consequências de carácter económico, político e social.
Quanto à central de Rio Maior, deseja a subsecção acrescentar às considerações já feitas um comentário sobre a sua integração no programa de realizações. Pela ficha n.º Ò junta em anexo ao capítulo em apreciação, verifica-se que o investimento total a realizar na mina e na central atinge 1 115 000 contos. Em face da orientação definida, e que esta subsecção aprova inteiramente, de se manter um programa hidroeléctrico de volume absoluto de energia produtível aproximadamente constante, complementando a diferença com energia térmica, para se evitar a construção de obras de investimentos muito elevados, por razões de diversa ordem e, entre elas, uma de carácter financeiro de aspecto conjuntural (... «e, ainda o facto de a evolução da conjuntura financeira ter de certa forma desfavorecido as soluções produtivas de maior intensidade capitalista ...», como se diz no n.º 3 do projecto em exame), tem de encontrar-se o motivo para a inclusão de um centro produtor térmico de tão elevado investimento.
A central térmica de Rio Maior deverá trabalhar em base de diagrama, com produção anual sensivelmente constante, para assegurar uma reduzida incidência dos encargos fixos no custo do kilowatt-hora produzido; só assim pode conceber-se a sua exploração. Nestas condições, pode assemelhar-se a uma central hidroeléctrica, em que a mina de carvão pode ser comparável a uma albufeira de volume de água constante; será assim legítimo; fazer algumas considerações sobre o Conjunto dos aproveitamentos referidos rio programa, considerando a central térmica de Rio Maior como uma central hidroeléctrica de albufeira.
No quadro seguinte inscrevem-se os aproveitamentos hidroeléctricos previstos no III Plano (Vilarinho, Régua, Alvarenga, Fratel e Crestuma) e a central de Rio Maior, com os investimentos totais orçamentados e com as características essenciais que tornam a sua comparação significativa: a potência instalada, a produtibilidade média anual (que tem interesse económico intrínseco, e designadamente a longo prazo) e também a produção em ano seco de 95 por cento (que é a base da inserção no Plano adoptada pelo Grupo de Trabalho para satisfação dos consumos permanentes).

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Procurou-se determinar os índices económicos mais significativos para uma comparação sucinta: os investimentos específicos em escudos por kilovvatt e
or kilowatt-hora em ano médio. A ordenação dos centros produtores está feita segundo os investimentos específicos por kilowatt.

[Ver Tabela na Imagem]

a) A potência instalada é de 125 MW, mas a utilizável para a rede será de 113 MW.
b) Valores considerados pelo Grupo de Trabalho como base do planeamento.
c) Inclui o investimento da mina.
(d) Valor do projecto do III Plano de Fomento que altera substancialmente o valor indicado no relatório do Grupo de Trabalho.

Há que ser extremamente cauteloso na comparação destes índices, dado não se poderem comparar centrais de albufeira com centrais a fio do água, nem. mesmo centrais da mesma natureza entre si, sem introduzir as necessárias correcções provenientes das suas características próprias (maior ou menor regularização, sobreequipamento, etc.). A central de albufeira é necessàriamente de investimento específico superior à de fio de água, mas, por outro lado, sendo normalmente sobreequipada, o investimento específico por kilowatt reduz-se; contudo, o kilowatt-hora produzido por uma central de albufeira será sempre de custo superior ao do fio de água, como é lógico, dado que as primeiras têm uma função de regularização das segundas.
Por isso, quando se comparam investimentos específicos por kilowatt, deve sempre olhar-se para as utilizações, pois podo acontecer que um investimento específico por kilowatt mais elevado do que outro corresponda a um investimento específico por kilowatt-hora. mais baixo, por diferença de utilização da potência instalada.
Para a central de Rio Maior adopta-se a utilização de 6000 horas, mas duvida-se de que tal seja possível na data prevista para a sua conclusão, ou seja em fins de 1971. Com efeito, nessa data não se pode assegurar esta utilização em todos os regimes hidrológicos, porque os fios de água (e o actual projecto é rico em fios de água) ocupam na estacão húmida a base do diagrama. Sendo assim, nos primeiros anos os custos serão superiores aos indicados;, em percentagens que poderão atingir os 25 por cento. Este raciocínio é, portanto, apresentado para condições normais de exploração de uma central térmica de base, que não poderão atingir-se antes de 1975.
Nestas condições, verifica-se que a central de Rio (Maior (incluindo o equipamento da mina) ocupa o terceiro lugar em investimento específico por kilowatt, e o primeiro em investimento específico por kilowatt-hora, por ter uma utilização muito superior à de qualquer central hidroeléctrica, condição indispensável para a sua rentabilidade. Contudo, se se notar que a central térmica tem de ser amortizada em 25 anos, ao passo que uma central hidroeléctrica é amortizada em prazo muito mais longo, pois os maiores investimentos referem-se a obras do construção civil e estas deverão ser amortizadas no prazo da concessão, e que, além disso, os encargos de exploração da mina e central (despesas variáveis) serão de cerca de $03 por kilowatt-hora 3, conclui a subsecção, feitas as devidas correcções, que o investimento específico fictício por kilowatt-hora (para efeitos de comparação) passará de 1$64 para cerca de 2$43 4. Desta forma, o custo do kilowatt-hora produzido pela central de Rio Maior compara-se com os das hidroeléctricas. Se a empresa concessionária confirmar estes resultados por .meio dos elementos em seu poder e dos estudos realizados, conclui-se que a central de Rio Maior tem rentabilidade semelhante à dos aproveitamentos hidroeléctricos considerados no programa de obras, com os quais, aliás, pode comparar-se, até pelo simples facto de produzir energia de origem nacional. A seu favor acresce baixo investimento específico e garantia na produção, sem influências aleatórias de regimes hidrológicos; e este facto é tanto mais importante quanto é certo que, em relação à produção garantida das diversas centrais no regime seco tipo de 95 por cento de probabilidade, o investimento específico acusa ainda maior diferença no sentido de Rio Maior, embora actue em direcção contrária a dificuldade em atingir-se a elevada utilização admitida, a que já se aludiu.

3 Elementos extraídos do relatório do Grupo de Trabalho n.º 5 "Energia".
O valor de 2§43 foi obtido da seguinte forma:

Para a determinação do custo do kilowatt-hora produzido admitiu-se a taxa média de 10 por cento sobre o investimento específico por kilowatt-hora para os aproveitamentos hidroeléctricos e de 13 por cento para as centrais termoeléctricos convencionais. O custo do kilowatt-hora produzido pela central de Rio Maior, incluindo os encargos variáveis de §03/kWh, será, portanto, de

0,13 x 1$64 + $03 = $243

ma central hidroeléctrica fictícia que produzisse o kilowatt-hora ao mesmo preço deveria ter um investimento

específico de $243 = 2$43.
0,10

Estes cálculos não têm, como é evidente, qualquer carácter de precisão. Dão apenas ordens de grandeza, mas são suficientes para indicar que, para efeitos de comparação, o investimento específico por kilowatt-hora da central de Rio Maior rondará os 2§40.

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Em resumo, se a central de Rio Maior se destinar a ser tratada como um empreendimento hidroeléctrico, esta subsecção nada tem a objectar. Mas se se pretende com ela substituir um grupo térmico a fuel-oil, levanta-se o problema do investimento absoluto, e, a persistir a actual conjuntura financeira, não estaria indicada a sua construção, a menos que tal seja imposto por outras razões.

10. Regista-se que (n.º 15 do capítulo em apreciação) «a ratificação ou ajustes de ordenamento e de datas de entrada em serviço (dos empreendimentos previstos) irão constando dos programas anuais de execução deste III Plano, sendo especialmente importante o exame crítico do significado dos valores do consumo em 1966, os quais se situaram francamente abaixo das tendências projectadas». Com esta observação atende-se às dúvidas formuladas anteriormente e revela-se a justificada intenção de ir seguindo a execução do Plano. Para o exame permanente da situação poderá ser chamado a colaborar com vantagem o Grupo de Trabalho n.º 5 «Energia», que, pelo seu dinamismo, pela competência dos elementos que o integram e pelas provas já dadas, constituirá um seguro e valioso auxílio.

11. Dentro da orientação já traçada no Plano Intercalar de Fomento, e que teve o inteiro acordo desta subsecção, verifica-se, como já só disse, admitirem-se acréscimos anuais de produtibilidade hidroeléctrica garantida aproximadamente constantes e da ordem dos 300 GAVh, sendo a cobertura do restante consumo assegurada por energia de origem térmica, o que se traduzirá numa crescente participação da componente térmica na produção de energia,
Acrescenta o projecto do capítulo em apreciação (n.º 18) que esta orientação vem «justificar prioridade na preparação para a montagem e exploração de centrais nucleares a partir dos recursos nacionais de materiais cindíveis».
Esta subsecção aplaude sem reservas a realização de todos os estudos tendentes à instalação, em devido tempo, de uma central nuclear, embora entenda não se poder por enquanto dizer qual seja a data mais conveniente. Com efeito, a técnica de produção da energia nuclear está em rápida evolução, e, segundo afirmam os especialistas, a data da competitividade entre as centrais térmicas convencionais e as centrais nucleares parece ter-se já atingido em alguns casos. Esta data é, porém, diferente de país para país, pois deponde da potência da rede, do tipo de reactor utilizado, dos recursos naturais disponíveis. Além disso, subsistem ainda certas dúvidas sobre a vida média das componentes nucleares da central e, portanto, das taxas de reintegração a adoptar. Sir William Penney, presidente da United Kingdom Atomic Energy Authority, com a autoridade que lhe confere o seu cargo, proferiu, a este respeito, algumas afirmações do mais alto interesse na conferência sobre progresso científico e valores humanos celebrada no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em 1966, e quê se vão referir sucintamente.
O problema do custo de produção apresenta-se ainda cheio de interrogações, não só quanto ao preço dos combustíveis nucleares, como ainda quanto aos encargos fixos. Os três pontos mais importantes para definição do custo de produção são, como é conhecido, o juro do capital, a vida útil da central e o factor médio de utilização. Ora, comparando, os cálculos feitos na Inglaterra pela Central Electricity Generating Board e na América pela Tennessee Valley Auttority obtiveram-se diferenças substanciais. Não falando já da taxa de juro, que depende naturalmente das características do mercado de capitais, nota-se que ao passo que a T. V. A. admite uma vida média de 35 anos, o C. E. G. B. não excede 20 anos; por outro lado, o factor de utilização admitido na Inglaterra, de 85 por cento, reduz-se a 75 por cento na América. Assim, os custos de produção ingleses e americanos não saci comparáveis e esta divergência de critérios entre dois países tecnològicamente evoluídos mostra como o assunto não está ainda perfeitamente esclarecido, e como existem certas dúvidas quanto à determinação do custo do kilowatt-hora produzido.
Tem, pois, de se ser extremamente cauteloso nas considerações sobre o problema nuclear, pelo que se justifica a afirmação anteriormente feita de não se poder prever desde já quando convém integrar a central nuclear rui rede . Contudo, é de esperar que na realidade tal seja possível a partir de 1975, pelo que tem inteiro cabimento a necessidade urgente de se estudar e conhecer a evolução tecnológica e económica da produção de energia eléctrica pela via nuclear e de se preparar pessoal não; só para os estudos como para a exploração; igualmente se aplaudem todos os esforços e medidas destinados a intensificarem-se as pesquisas de urânio.

12. Para definição dos encargos relativos à grande distribuição de energia eléctrica (n.º 20 do capítulo), utilizou-se o custo específico de investimento de $65 por kilowatt-hora, igual ao já adoptado no Plano Intercalar. No capítulo do projecto do III Plano de Fomento diz-se que «esta última hipótese (investimento específico de $65 por kilowatt-hora) implica a constância do valor verificada, por amostragem, no período de 1962-1965, o que é admissível se se continuar a registar certo equilíbrio entre a instalação do novas redes e o aumento de utilização das já existentes». A subsecção quer manifestar a sua inquietação quanto à constância do valor adoptado para o índice relativo ao investimento específico nas redes de distribuição, já que, depois da sua definição, se registaram fortíssimos aumentos nos investimentos, tanto nos materiais como na mão-de-obra; assim, por exemplo, os preços das linhas de alta tensão subiram de maneira extremamente sensível e receia-se não ser possível manter o índice de $65, embora o rendimento da rede registe aumentos. Além disso, se os bens de equipamento na distribuição forem afectados de imposições fiscais, registar-se-á novo agravamento, o que avoluma os receios atrás referidos. Esta anotação é feita, não para se rectificarem neste momento quaisquer números, mas para chamar a atenção do órgão que seguir a execução do Plano para eventuais alterações das verbas destinadas ao investimento na grande distribuição.

13. Diz-se no projecto em análise (n.º 21) que «apenas se refere a expansão necessária para servir o acréscimo do número de clientes abastecidos através de redes de pequena distribuição não comparticipadas pelo Estado fundamentalmente as das regiões de Lisboa e do

5 A dimensão da central nuclear, só por si, é uma condicionante taxativa para a determinação d>a data da integração desta central na rede portuguesa. Com efeito, as considerações sobre custo de produção só são válidas paira potências mínimas da ordem dos 500 MW e, como esta central deve trabalhar em base do diagrama, é necessário que a carga da rede tal permita.
Um acordo com a Espanha, como está pensado, poderá eliminar o problema da dimensão por uma judiciosa repartição da potência instalada entre os dois países.

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Porto». Adoptaram-se, para o efeito de determinação dos investimentos, os índices relativos a estas duas redes (investimento específico por consumidor e número de consumidores). Mas existem muitas outras redes não comparticipadas além das duas referidas, e haverá, assim, que as incluir na previsão dos investimentos. Aliás, e como adiante se verá (n.º 20), tal foi considerado. Referiremos, neste momento, apenas os índices admitidos para as restantes redes:

3,5 contos por consumidor; 1 667 000 clientes.

b) Coordenação metrópole-ultramar

14. Os objectivos enunciados no capítulo «Coordenação metrópole-ultramar» merecem o mais franco aplauso da subsecção. Com efeito, todos eles revelam um amplo sentido realista na coordenação dos recursos energéticos metrópole-ultramar da forma mais consentânea com os interesse do País. Chama-se a particular atenção para o problema da utilização dos carvões de Moçambique, que tem incontestável interesse, embora revista dificuldades muito grandes, e para a instalação preferencial no ultramar de indústrias grandes consumidoras de electricidade. Já no parecer elaborado por esta subsecção a respeito de idêntico capítulo do projecto do Plano Intercalar de Fomento se chamava a atenção para o problema do fornecimento de energia não permanente e para as dificuldades que podiam avizinhar-se; a afirmação feita no capítulo do projecto do III Plano de Fomento (n.º 30) de «a natureza dos recursos energéticos da metrópole não aconselhar a instalação de novas indústrias grandes consumidoras de electricidade do tipo eletroquímico ou electrossiderúrgico» está inteiramente dentro das linhas de preocupação já anteriormente enunciadas. A subsecção apenas manifesta a opinião de os estudos relativos a este problema prosseguirem rapidamente, procurando-se a solução que permita o abastecimento das grandes indústrias base, essenciais para a economia do País, nas melhores condições, sem, contudo, ir afectar as infra-estruturas económicas da produção de energia eléctrica, criando-lhes condições onerosas e forçando-as a vender a preços inferiores aos dos custos.

Medidas de política da energia

15. O capítulo em apreciação (n.º 34) sugere a instituição, na Secretaria de Estado da Indústria, de uma estrutura permanente de apoio técnico e material destinada, nomeadamente em colaboração com o sector privado, à centralização e organização de informações sobre a execução e programação anuais dos Planos de Fomento.
Já anteriormente a subsecção se referira à necessidade de acompanhar a execução do Plano de Fomento de forma a realizarem-se as adaptações e correcções que as circunstâncias venham a impor. A ideia é retomada com um âmbito mais largo, pois o organismo cuja criação se propõe teria certamente funções mais amplas: a subsecção aplaude sem restrições esta ideia. Sugere-se aproveitar na medida do possível o próprio Grupo de Trabalho n.º 5 «Energia», o que parece a melhor fórmula. Não pode deixar de notar-se com agrado a referência à colaboração com o sector privado, indispensável para se atingirem as soluções mais indicadas para o interesse geral.
Acentua-se no documento em análise a necessidade da programação a longo prazo; a afirmação parece indiscutível, mas assume particular relevo e acuidade na indústria eléctrica, principalmente no sector da produção, em que entre a execução do projecto de um aproveitamento e a sua entrada em serviço podem facilmente mediar uns quatro a cinco anos. Por isso, as entidades que têm a seu cargo a realização dos empreendimentos devem conhecer com a devida antecedência as obras programadas, para tomarem as necessárias medidas para executarem com a máxima eficiência e economia os trabalhos que lhe forem cometidos.
Significa isto que as obras de transição para o IV Plano devem ser definidas em devido tempo, dando-se para tal a necessária orientação aos órgãos competentes de planeamento.

a) Electricidade

16. As linhas mestras que devem orientar o desenvolvimento do sistema produtor de electricidade (n.º 36 do capítulo em exame) merecem o inteiro acordo desta subsecção e foram, aliás, já abordadas e tratadas em números anteriores. Os argumentos que justificam a realização de aproveitamentos hidroeléctricos de produção sensivelmente constante em valor absoluto ao longo dos anos, com o aumento correlativo da participação da componente térmica, foram já examinados, ponderados e discutidos: a subsecção aprova, assim, a orientação proposta para o desenvolvimento do sistema produtor de electricidade durante o III Plano.

17. As providências sugeridas para a política a seguir no subsector da electricidade (n.º 37 do capítulo) merecem os seguintes comentários:

I) Revisão da orgânica dos serviços da Secretaria de Estado da Indústria relacionados com a energia, tanto consultivos como executivos, com vista à melhor conjugação das suas actividades no plano nacional.

Esta subsecção deseja chamar a atenção para a vantagem da existência e recurso a órgãos consultivos de constituição adequada, representativa dos diversos sectores, tanto públicos como privados, e que podem constituir valioso elemento de auxílio e colaboração para a Secretaria de Estado da Indústria. Com efeito, a Secretaria de Estado poderá desta forma colher opiniões e pareceres autorizados, ficando assim habilitada, em face de um conjunto de informações válidas, a tomar as decisões mais consentâneas com o interesse nacional. Quanto aos serviços, emite o voto de se encontrar a fórmula para suprir as faltas existentes de pessoal, pois, apesar da dedicação e competência de todos aqueles que trabalham nas direcções-gerais, a quem se presta a devida homenagem, os quadros existentes não chegam para resolver os inúmeros problemas pendentes.

II) Início, com elevada prioridade e com base nos estudos já em curso, nos termos do Decreto-Lei n.º 47 240, de 6 de Outubro de 1966, do processo de reestruturação da rede eléctrica primária, tendo em vista o aperfeiçoamento da orgânica actual, o melhor aproveitamento do conjunto de meios de estudo e execução disponíveis e o estímulo das economias de gestão e de investimento.

O Decreto-Lei n.º 47 240 estipula, no seu artigo 8.º:

Art. 8.º No âmbito geral da reorganização da indústria da electricidade é reconhecido caracter prio-

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ritário à reestruturação da rede eléctrica primária, com vista ao aperfeiçoamento da orgânica actual, à revisão, e actualização do regime das concessões e à sistematização dos regimes tarifários de venda de energia em alta e baixa tensão.

Qualquer pessoa conhecedora dos problemas eléctricos sabe e conhece o enorme esforço realizado pela indústria eléctrica, o progresso atingido e o seu alto nível tecnológico, que lhe permitiu assegurar a cobertura do consumo com serviço de boa qualidade e ocupar lugar de relevo nos organismos internacionais a que pertence. Isto não significa não haver sempre melhorias a introduzir, impostas, umas, pela própria evolução da indústria e das circunstâncias, outras, por determinadas fórmulas legais adoptadas que exigem adaptações para as quais a indústria não estava preparada. O progresso impõe sempre modificações, e, nesse aspecto, pode dizer-se que a indústria eléctrica tem estado atenta e tem sabido cumprir o seu dever. A adaptação a novas fórmulas legais assume aspectos mais delicados; com efeito, a partir do momento (Lei n.º 2002, de 20 de Dezembro de 1944) em que se deliberou optar pela estrutura horizontal da indústria, isto é, divisão em três compartimentos estanques - produção, transporte e distribuição, criaram-se problemas difíceis de ajustamento, tanto mais que determinadas empresas anteriores à Lei n.º 2002 tinham simultaneamente produção, transporte e distribuição, obedecendo assim a uma integração vertical. A coexistência dos dois regimes está na base de certas dificuldades surgidas. Não vem a propósito discutir as vantagens e inconvenientes dos sistemas de integração horizontal e de integração vertical; é problema já ultrapassado, desde que foi fixada orientação. Interessa apenas referir as medidas de adaptação que se tornam, porventura, necessárias para que a indústria, dentro do regime legal vigente, possa cumprir da melhor forma os seus deveres de concessionária.
Desde já se quer afirmar terem os problemas técnicos de exploração sido sempre resolvidos satisfatoriamente. A coordenação dos centros produtores está assegurada pelo Repartidor Nacional de Cargas, organismo instituído em 1951 pelo Decreto-Lei n.º 38 186, com a participação do Estado e das empresas, e por estas últimas sugerido. O elevado prestígio atingido por este organismo, mercê da sua alta competência e idoneidade, tem permitido resolver a contento de todos os delicados problemas impostos pela exploração conjugada dos aproveitamentos e demonstra a vantagem da colaboração entre o Estado e os particulares. Nos planos do transporte e da grande distribuição a indústria tem estado a par e adoptado todas as modernas técnicas, não só no sentido de melhorar a qualidade do serviço, como no de aumentar a produtividade, o que tem permitido reduzir a incidência no preço de venda de todos os factores de aumento provenientes do preço da energia adquirida às produtoras da rede primária, do custo da mão-de-obra e dos materiais e dos agravamentos das contribuições e impostos.
Os problemas a resolver situam-se assim no plano administrativo.
Verificam-se os seguintes principais inconvenientes da estrutura actual da rede primária (produção e transporte):

1) Remuneração das empresas a partir dos encargos e despesas reais.
2) Dificuldades de acordo na repartição da receita global.
3) Multiplicação dos serviços de estudos e construção.

Convirá analisar sumariamente cada um destes inconvenientes. No projecto do Plano Intercalar de Fomento, no capítulo IV «Energia», § 4.º «Medidas de política energética», 2) «Electricidade», dizia-se:

Em complemento, ou devidamente integrada no aspecto anterior, há-de considerar-se a possibilidade de uma definição de responsabilidades, por parte das entidades concessionárias que apresentam, os projectos dos centros produtores, quanto às estimativas dos seus custos - dentro de to ler anciãs normais por excesso ou por defeito, e devidamente ressalvados os casos de força maior. É este um dos aspectos mais delicados de um planeamento hidráulico-térmico, visto que, enquanto para centrais térmicas de grande dimensão os custos são mais ou menos valores estandardizados, para os aproveitamentos hidroeléctricos verificam-se, por vezes, apreciáveis diferenças entre as estimativas e as realizações, o que torna inadequado, a posteriori, o óptimo económico do planeamento previsto. E o problema é particularmente relevante, dado o actual regime de rígida dependência do sistema tarifário na produção em relação aos encargos reais.

Esta transcrição esclarece perfeitamente o assunto; contudo, não será certamente inútil fazer algumas considerações mais sobre este problema.
O isolamento da produção em relação aos consumidores cria uma situação de desconhecimento do mercado, que se traduz pela não necessidade de se respeitarem certas regras de gestão empresarial.
Na distribuição as coisas passam-se de maneira diferente; fixadas as tarifas em face das previsões de desenvolvimento de uma indústria em plena evolução, trata-se de conseguir a melhor gestão possível dentro do condicionalismo imposto pelo carácter de concessionária e dos preços que se podem praticar; é assim necessário adaptar, dentro das possibilidades, as condições de fornecimento aos desejos dos clientes e às formas concorrenciais de outras energias, sempre tendo em mira a gestão óptima da empresa. As produtoras e as distribuidoras, neste aspecto, estão portanto em posição diversa, que explica o inconveniente apontado para as produtoras da falta de acesso ao mercado, e que pode originar uma gestão porventura meios económica pela não existência de elementos concorrenciais, não de empresas entre si, mas de forças exteriores.
A tarifa da produção não se determina, como seria lógico, em face de estudos de mercado e de evoluções pré visíveis de investimentos e de consumos; determina-se a posteriori, em face das despesas reais havidas, tanto na construção dos empreendimentos como na sua exploração, sem se averiguar se se adoptou ou não a melhor solução. Não se pretende com isto fazer qualquer crítica à administração das empresas da rede primária, nem afirmar que a sua gestão foi menos cuidadosa ou que se realizaram despesas indevidas. Pretende-se apenas, no campo dos princípios, definir regras a ser seguidas, e apontar inconvenientes de certas soluções, que podem, evidentemente, ser supridos pela actuação pessoal. Esta possibilidade não invalida, porém, a inconveniência da solução, que pode conduzir insensivelmente a uma interpretação optimista dos princípios de gestão económica que devem nortear a administração das sociedades comerciais e industriais.
Na verdade, com esta forma de remuneração, que implica uma antecipada aceitação de despesas que se não conhecem, a situação económica de qualquer empresa torna-se independente da poupança realizada na constru-

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ção dos empreendimentos e das obras acessórias e mantém-se invariável quaisquer que sejam, dentro de largos limites, as despesas de administração ou de exploração. Além dos reflexos inevitáveis na tarifa, verifica-se que os esforços exercidos pelos mais aptos, pelos mais parcimoniosos, pelos mais interessados, não têm compensação económica, não são, provavelmente, devidamente apreciados, e esta situação conduz a que possa desaparecer o estímulo, que é a base do progresso.
O inconveniente apontado só pode ser remediado, dentro da estrutura horizontal existente, e, portanto, de falta de contacto com o mercado, pela aprovação prévia de tarifas em face do orçamento da obra, só modificáveis por motivos ponderosos de forca maior. As tarifas da produção, uma vez fixadas em face da situação real existente, deverão, portanto, ser adaptadas às ampliações do sistema produtor usando os elementos de previsão de consumo e dos investimentos. Desta forma, interessa realizar uma gestão que permita tirar o melhor proveito do investimento realizado, porque não está assegurada a cobertura de todas as despesas, sejam elas quais forem. A tarifa cobrirá os encargos provenientes de um investimento previsto e de uma exploração normal.
O segundo ponto referido, dificuldade de acordo na repartição da receita global, depende basicamente da vontade das empresas, e por isso a subsecção limita-se a enunciá-lo.
No que respeita à multiplicação dos serviços de estudos e construções, terceiro ponto abordado, já o assunto foi examinado no projecto do Plano Intercalar de Fomento, e continua a merecer, e bem, a atenção dos Poderes Públicos e das entidades privadas. Transcreve-se o que se diz no parecer subsidiário sobre o capítulo IV «Energia» desse Plano (n.º 17), por não haver qualquer mudança da orientação preconizada:

O organismo representativo da indústria eléctrica preconiza assim uma linha de política idêntica à sugerida pelo Governo, afirmando a necessidade do pensamento global, mas mantendo a existência da empresa como «célula básica do desenvolvimento industrial». Entendemos, de acordo com o Grémio, ser este o princípio a respeitar, e, por isso, afirmamos a necessidade de preservar a empresa e, por consequência, de não se pensar em concentrações que implicassem o desaparecimento da estrutura empresarial. Tem a experiência demonstrado que os organismos nacionalizados, como em França ou em Inglaterra, são forçados a grandes desconcentrações para conseguirem una funcionamento eficiente do seu sistema; quer dizer, nos organismos nacionalizados existe um pensamento global, lima coordenação geral, que parece, na verdade, indispensável, mas existe também uma série de departamentos com. larga autonomia para assegurarem, a gestão do organismo e a exploração das instalações.
Os esforços devem, portanto, orientar-se no sentido de se criar uma coordenação de acções e de pensamentos, e por isso se considera como extremamente útil a criação de um gabinete comum de estudos que possa planear em conjunto e que elimine os problemas, já por mais de uma vez alegados e certamente inconvenientes, da desocupação do pessoal técnico de alto nível.
Aceita-se que, para além desta criação de um gabinete de estudos comuns, possa haver outras medidas a tomar, sempre no sentido de coordenar as acções, evitar esforços dispersos e, acima de tudo, soluções que não sejam as mais convenientes para o interesse nacional. Na resolução dos problemas não podemos tornar em consideração o interesse de uma empresa, se ele for contrário ao interesse geral, mas temos de tomar em consideração o interesse gerai da indústria, representado pelas empresas.

Em resumo, a subsecção emite o voto de se encontrar solução para os inconvenientes apontados e para outros que porventura existam, que concilie os interesses gerais do País, como pode e deve ser, com o respeito pela estrutura empresarial do sector.

III) Revisão do regime legal que regula o equilíbrio económico das empresas, de modo a possibilitar a intensificação do respectivo autofínanciamento, sem prejuízo das remunerações ao capital accionista e independentemente do nível tarifário.

Um dos aspectos deste problema, de projecção aliás limitada, foi devidamente resolvido, não só sob o aspecto fiscal, como sob o aspecto contabilístico e de determinação de custo de produção, pela publicação do Decreto-Lei n.º 47 735, de 29 de Maio de 1967.
Outros importantes aspectos carecem ainda de revisão, e já em 1961 o Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade, em documentada exposição apresentada ao Ministro da Economia, chamava a atenção para a necessidade de alterar o Decreto-Lei n.º 43335, de 19 de Novembro de 1960, em muitos pontos - e entre eles o do equilíbrio económico - de básica importância para a indústria.

IV) Reestruturação, também com elevada prioridade, do regime legal das concessões de pequena distribuição, por forma a torná-lo semelhante ao das concessões da grande distribuição e a permitir a integração daquelas nestas, sem prejuízo do equilíbrio económico do conjunto e com benefício para a qualidade do serviço.

Enquadra-se este objectivo no artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 47 240. O assunto foi também abordado na primeira parte do projecto do Plano Intercalar de Fomento, para 1965-1967 (n.º 38 do capítulo IV «Energia»), como se transcreve:

No sector, da distribuição tem de enfrentar-se o problema da dispersão das concessões. Se, na grande distribuição, o número de empresas e a sua dimensão (por exemplo, em volume de energia distribuída) dão já lugar a dúvidas quanto à rentabilidade global a que conduzem, é, evidentemente, anómala a dispersão e diversidade das entidades de pequena distribuição, reconhecendo-se a necessidade de novas medidas legislativas quanto à atribuição das respectivas concessões.
Espera-se que essas medidas contribuam também para atenuar certas deficiências técnicas dos serviços de pequena distribuição, que, embora não sejam de forma alguma generalizáveis a toda a rede têm destoado do nível atingido noutros escalões do sector da electricidade.
Mereceram estas considerações o inteiro aplauso da subsecção. No entanto, a situação mantém-se continua a reconhecer-se a inconveniência da dispersão das concessões da pequena, distribuição; o elevado número de distribuidores dificulta a possibilidade de uniformização de sistemas tarifários e não permite a dimensão iní-

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uma necessária para se atingir a rentabilidade exigível; pode, pois, afirmar-se, que um dos estrangulamentos principais que hoje obstam ao desenvolvimento da electrificação do País reside certamente neste facto, pois é através das redes de pequena distribuição que a energia chega a casa do consumidor. Não interessa ter grandes aproveitamentos projectados e realizados segundo a mais moderna técnica, uma rede de transporte de concepção moderna e de boa qualidade de fornecimento, uma rede de grande distribuição largamente difundida e com serviço de bom nível, se as redes de baixa tensão não permitirem, por deficiências de carácter técnico e económico, levar a energia a toda a parte nas melhores condições. Não se quer com isto dizer ou sequer sugerir que os concessionários, dispersos por todo o país, são incompetentes ou não dedicaram ao serviço o necessário cuidado e atenção. E um mero problema de dimensão económica, e não de competência, vontade ou dedicação dos homens. Presta-se homenagem a todos aqueles pioneiros que, por vezes com sacrifícios, conseguiram levar a energia a diversos pontos afastados, mas não se lhes reconhece a capacidade económica para conseguirem manter as suas redes nas condições necessárias para acompanhar o progresso técnico registado nos outros sectores da produção, do transporte e da grande distribuição. A subsecção dá o seu- acordo a todas as medidas que se possam, tomar no sentido de resolver este problema candente, procurando a fórmula mais adequada, que permita aumentar a dimensão das concessões da pequena distribuição sem prejuízo dos interesses existentes.

V) Atribuição das concessões de produção hidroeléctrica ainda não outorgadas, nos termos do citado Decreto-Lei n.º 4.7 240.

É assunto da competência do Governo,- sobre o qual a subsecção apenas emite o voto de não se criarem demoras inconvenientes para a realização dos programas.

VI) Sistematização geral dos regimes tarifários de alta e baixa tensão.

Em 23 de Novembro do passado ano o Secretário de Estado da Indústria, ao abrigo do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 47 240, exarava um despacho que cometia ao Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade:

1) A análise da estrutura dos sectores da grande e pequena distribuição de energia eléctrica e as medidas a encarar para o seu aperfeiçoamento;
2) A sistematização tarifária, em alta e baixa tensão, e os encargos de ligação dos consumidores, com vista à aceleração da electrificação do País.

A subsecção não pode deixar de aplaudir esta medida da Secretaria de Estado da Indústria, chamando o sector privado à colaboração e solicitando-lhe parecer sobre assunto que lhe diz directamente respeito e que para ele é vital. Desta forma, o sector privado pode demonstrar a sua capacidade de realização e sugerir as soluções que pareçam mais consentâneas com os interesses que lhe estão confiados, enquadradas dentro do interesse geral. O trabalho pedido é um mero parecer, como é óbvio, e sobre ele a Secretaria de Estado da Indústria e os competentes serviços tomarão a deliberação que for mais indicada. Nunca será de mais acentuar ter-se aberto uma era de frutuosa colaboração entre os sectores público e privado, não se resolvendo os problemas sem a audiência prévia dos interessados, que melhor do que ninguém os podem conhecer.

Refere o despacho citado dois problemas de base:

a) A sistematização dos sistemas tarifários:

Por sistematização dos sistemas tarifários entende-se a criação, não de preços uniformes em todo o País, mas sim de sistemas tarifários de estrutura uniforme, com parâmetros dependentes das condições de exploração de cada uma das concessões. A unidade deverá ser a concessão, e, por consequência, a tarifa, de estrutura idêntica, terá parâmetros diferentes, consoante as características das concessões. Desta forma, a zona litoral, de maior densidade de consumo, vai ter certamente custos inferiores, e, portanto, preços de venda mais baixos do que as zonas interiores. Esta é uma fatalidade geográfica e, aliás, de acordo com as realidades económicas, pois mesmo nos países com a electricidade nacionalizada as tarifas são diferentes nas diversas regiões, consoante as condições de exploração. Aceita-se e compreende-se que o Governo possa promover o desenvolvimento de certas zonas por meio de preços artificiais de energia, transferindo determinados encargos dessa zona para outra mais rica, mediante compensações adequadas; essa será, porém, uma medida de política global, que não é da competência nem da indústria, nem do Grémio; a eles interessa apenas e cabe-lhes estudar uma uniformização de um sistema tarifário, correctamente instituído, tendo em conta as realidades económicas, que considere a rentabilidade das empresas, mas que permita obter a energia ao mais baixo custo possível, para se poder fomentar o desenvolvimento do consumo como deve e pode ser.

b) Revisão do regime de concessões:

A análise da estrutura levará certamente à conveniência de se manter o regime actual de concessões de grande distribuição, podendo-se, contudo, eliminar algumas concessões mais pequenas, de dimensão inadequada e de rentabilidade duvidosa, e, aliás, exploradas por empresas nas quais, em geral, as maiores têm posições preponderantes. Pensa-se que as grandes concessões deverão manter-se e não se vê qualquer inconveniente, antes, pelo contrário, só se vê vantagem, em se respeitar a estrutura actual. Quanto à pequena distribuição, deverá adoptar-se orientação concordante com a apresentada no projecto do III Plano de Fomento; os estudos deverão ser conduzidos no sentido de se criarem concessões de pequena distribuição de dimensão suficiente para assegurar a sua rentabilidade. Com efeito, insiste-se nas condições precárias em que se realiza hoje a exploração da grande maioria das concessões de pequena distribuição, quase sempre deficitárias, pois apenas as redes de baixa tensão de carácter urbano podem assegurar a justa remuneração do capital investido; as outras não têm quaisquer condições de vida autónoma. O problema tem de ser estudado atentamente, não só sob o aspecto de dimensão, mas também sob o aspecto tarifário, de forma a conseguir-se que a exploração possa subsistir por si própria. De outra forma, estão a criar-se distorções económicas inconvenientes e, na medida em que a indústria não possa ter assegurada a sua rentabilidade, poderá chegar o momento em que a realização de obras se torne impossível, por haver impossibilidade de recurso ao mercado de capitais. Essa situação originaria um estrangulamento e uma impossibilidade de satisfazer as necessidades de consumo, de tão graves inconvenientes que não merece a pena tecer mais comentários.

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VII) Concretização da partilha do aproveitamento dos rios de interesse comum a Portugal e a Espanha não abrangidos pelo convénio vigente.
VIII) Coordenação com as políticas prosseguidas noutros sectores e para outros aspectos da actividade económica, nomeadamente o desenvolvimento regional e os transportes.

Sobre estas duas alíneas a subsecção limita-se a emitir um voto de absoluta concordância.

b) Combustíveis líquidas

18. Refere o projecto do III Plano de Fomento (n.º 38 do capítulo em estudo):

1) A necessidade de uma revisão crítica dos aspectos fiscais que condicionam a estrutura dos consumos, e em especial de carburantes (gasolina e gasóleo), mas também do fuel;
2) A ponderação, à luz das realidades actuais, das vantagens e inconvenientes do regime de fretes vigente para os transportes de combustíveis em navios-tanques nacionais;
3) A disciplina da actividade distribuidora, nomeadamente quanto às características, número e distribuição espacial de postos de venda.

Sobre estes objectivos a subsecção limita-se a considerar indispensável realizarem-se os estudos referidos, pois entende haver graves inconvenientes na distorção dos preços imposta por regimes fiscais diferentes, que leva a opções nem sempre correspondentes à melhor solução, sob o aspecto da economia global. É um problema já referido anteriormente, mas não há qualquer inconveniente em insistir nele e aplaudir a necessidade do seu estudo cuidadoso, para se evitarem consumos ou utilizações que se revelem não serem os mais úteis para o País.
Quanto, ao problema dos fretes nacionais, entende também a subsecção que deve ser estudado cuidadosamente, de forma a conseguir a utilização da frota nacional sem um ónus incomportável para a utilização dos produtos nela transportados.

c) Energia nuclear

19. Pouco mais haverá a acrescentar ao que já foi dito anteriormente sobre o problema da energia nuclear. Parece cedo para se definir desde já a data para a ligação à rede da primeira central nuclear. Tal em nada afecta, porém, o prosseguimento dos estudos, o conhecimento exacto dos problemas e a preparação do pessoal; na verdade, a evolução rápida que caracteriza hoje a tecnologia da produção nuclear poderá permitir, talvez mais ràpidamente do que se pensa, definir a data para a integração da central nuclear na rede portuguesa. O problema, como já dissemos, é não só de custo de produção, mas também de dimensão, mínima da central, sendo, portanto, necessário manter-se o estudo atento da evolução para se encontrar a solução mais conveniente.
Conjugado com estas medidas, impõe-se o estudo da indústria do ciclo de combustíveis, que merece também inteiro aplauso da subsecção, pois o problema reveste para o País considerável importância, não só para se permitir abastecer a central nuclear, como ainda porque, tratando-se de combustível nacional, permite a independência do estrangeiro, o que é extremamente importante, não só sob o ponto de vista económico, como sob o ponto de vista estratégico.
Convém ainda estudar todos os problemas relacionados com a elaboração de diplomas legais relativos a: utilização de combustíveis nucleares nacionais; uso e regime do propriedade de matérias cindíveis; processo de licenciamento de centrais nucleares de produção de energia, das instalações de manipulação de combustível (irradiado ou não) e dos resíduos radiactivos; regulamentação da segurança das centrais nucleares; regime de seguros.

Investimentos e projectos

20. Sobre os projectos e números apresentados no capítulo em estudo para definir os investimentos a subsecção pouco tem a dizer. Com efeito, salvo no que se refere ao aproveitamento de Fratel e às redes de pequena distribuição, há concordância com os números apresentados pelo Grupo de Trabalho n.º 5 "Energia", definidos por especialistas competentes.
A verba destinada a Fratel atinge 855 000 contos, em vez dos 450 000 contos considerados pelo Grupo de Trabalho. Considerando que a estimativa mais baixa não era actual, aceita-se que tenha sofrido aumento.
Quanto à pequena distribuição, nota-se que o investimento considerado nestas redes (quadro-resumo dos investimentos globais do sector da energia) é de 1 490 000 contos, quando o correspondente às redes de Lisboa e do Porto é apenas de 524 000 contos. Está assim justificada a afirmação feita no n.º 13 deste parecer de não haver correspondência entre os índices indicados e os resultados apurados.
O estudo feito pelo Grupo de Trabalho permitiu definir um investimento total de 2 600 000 contos na pequena distribuição, assim decomposto:

Milhares de contos

Investimentos em redes não comparticipadas 530
Investimentos em redes comparticipadas
(comparticipação do Estado de 500 000 contos) 2 070
Investimentos totais ........................ 2 600

Acrescentava-se no referido estudo que, se a comparticipação do Estado fosse elevada para 600 000 contos, o investimento global atingiria 3 milhões de contos.
No citado quadro-resumo diz-se, em nota, que à verba de 1490 contos considerada deverá acrescer a de 1200 contos, pelo menos, correspondente a investimento em redes comparticipadas, incluídas no capítulo "Melhoramentos rurais".
Atingir-se-ia assim um total de:

Milhares de contos
Pequena distribuição ........... 1 490
Redes comparticipadas .......... 1 200
2 690

Há uma diferença de 90 000 contos entre a verba do Grupo de Trabalho e a do quadro-resumo, que não é significativa. São, pois, de aprovar os valores referidos no quadro-resumo.
A subsecção apenas emite o voto de que se acelere o programa de electrificação rural; para isso, será necessário dispor de comparticipações não inferiores à verba de 600 000 contos acima referida.
A subsecção quer ainda chamar a atenção para um assunto que considera da mais alta importância: a inclusão de uma. verba de 135 000 contos destinada à invés-

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tigação aplicada. Dentro do domínio da investigação, todos sabemos como se torna necessário progredir no nosso país, e toda a despesa que possa realizar-se em laboratórios, se não é quantificável em rentabilidade, pode contudo afirmar-se ser altamente rentável. Sobre este assunto transcreve-se do relatório do Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade relativo ao ano de 1965 o seguinte passo:

Um dos assuntos mais apaixonantes para um sector industrial é o do ensaio e da investigação. É seguramente um índice de maioridade de uma indústria a instalação de centros laboratoriais que realizem os estudos para aperfeiçoamento do material existente e para o estudo e investigação dos diversos fenómenos, sempre com o objectivo final de melhorar a qualidade do serviço e aumentar a rentabilidade das instalações.
Nesta iniciativa, mais do que em qualquer outra, tem de se ser extremamente prudente e não ter sonhos de grandeza, que podem comprometer a sua realização. Com efeito, a instalação de um laboratório é muito dispendiosa, não só em construções e aparelhagem, como ainda em investimento intelectual. Por isso tem de se desenvolver esta ideia com extremo cuidado, procurando soluções compatíveis com as possibilidades da indústria e do meio, começando por aproveitar todas as virtualidades existentes, não só do Estado, como das empresas, e começar por esquemas simples, sem prejuízo nunca do objectivo final. Foi assim que se processou na Holanda, onde existe hoje um dos maiores laboratórios electrotécnicos mundiais - a K. E. M. A. -, e será assim que se deverá processar em Portugal.
Instituiu-se já em 1966 uma comissão com o objectivo de averiguar junto: das empresas quais as necessidades e possibilidades relativamente a investigações e ensaios; por outro lado, o Grémio colabora numa comissão ad-hoc do Grupo de Trabalho n.º 10 (Ensino e Investigação Aplicada e Formação Profissional) da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica. Esperamos que todos estes esforços conjugados permitirão encontrar a fórmula e a solução compatível com as necessidades e as possibilidades de momento.
Acima de tudo é preciso aproveitar o que existe, dando-lhe o melhor rendimento, e utilizar todas as boas vontades e todas as competências.
O trabalho é difícil, é árduo, mas merece toda a nossa atenção, pois, tendo a indústria eléctrica atingido, sem qualquer dúvida, um nível elevado, deverá enveredar pelo. caminho seguido por todos os outros países, não para fazer aquilo que os outros fazem, mas para conseguir os meios para resolver os seus problemas, evitando muitas vezes o recurso ao estrangeiro.

A subsecção regozija-se com a inclusão daquela verba no Plano de Fomento e espera que possa concretizar-se o objectivo: a indústria deverá, mesmo com sacrifício, apoiar a instituição do laboratório, dando todo o seu apoio à iniciativa, em útil e frutuosa colaboração com o Estado. É, porém, urgente passar ao campo das realizações.

Conclusões

21. A subsecção, ao elaborar este parecer subsidiário, teve o objectivo construtivo de considerar alguns problemas que lhe parecia merecerem exame detido antes de entrar na fase de realização. De um modo geral, a subsecção aprova o capítulo VI «Energia», do título II da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento; apenas levanta nalguns pontos dúvidas que parecem legítimas e chama a atenção para certos aspectos que entende deverem ser considerados nas soluções a adoptar. Está a subsecção convencida de que desta forma contribui positivamente para a elaboração definitiva do III Plano de Fomento.

Palácio de S. Bento, 18 de Julho de 1967.

Augusto de Sá Viana Rebello.
Elisiário Luis Faria Monteiro.
Manuel de Almeida Ferreira.
Mário Pedro Gonçalves.
José Mercier Marques.
Paulo de Barros, relator.

ANEXO VIII

Parecer subsidiário das subsecções de Comércio armazenista e de importação, de Comércio retalhista diferenciado e de Comércio retalhista misto, da secção de Comércio.

Circuitos de distribuição

As subsecções de Comércio armazenista e de importação, de Comércio retalhista diferenciado e de Comércio retalhista misto, da secção de Comércio, às quais foram agregados os Dignos Procuradores António Alves Martins Júnior e Francisco Pereira da Fonseca, consultadas sobre o capítulo VII «Circuitos de distribuição», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emitem, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

SUMÁRIO

I

Preâmbulo. - N.ºs 1 a 3.

II

Considerações gerais. - N.º 4.

a) Estrutura e técnica comercial. - N.º 5.
b) A relevância do comércio nalguns países estrangeiros. - N.ºs 6 e 7.
c) Comércio interno. - N.ºs 8 a 12.
d) Exportação. - N.ºs 13 e 14.
e) Importação. - N.ºs 15 a 18.
f) Investimento e financiamento. - N.ºs 19 e 20.
g) Estrutura do sector comercial. - N.º 21.
h) Coordenação das actividades económicas. - N.ºs 22 e 23.

III

Exame crítico. - N.º 24.

1) Nota introdutória. - N.ºs 25 a 27.
2) Comércio e economia nacional. - N.ºs 28 a 32.
3) Investimento e financiamento do sector comercial. - N.ºs 33 a 38.
4) Alguns elementos sobre circuitos de distribuição e sua evolução previsível. - N.ºs 39 a 48.
5) A necessidade de uma disciplina para as actividades comerciais. - N.ºs 49 a 51.
6) Aspectos específicos de alguns sectores. - N.ºs 52 a 54.

IV

Conclusões. - N.º 55.

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I

Preâmbulo

1. Procedeu o Governo de forma avisada incluindo pela primeira vez num plano de fomento um capítulo especial consagrado ao comércio.
O III Plano de Fomento, com projecção nos anos de 1968 a 1973, baseia o seu programa no desenvolvimento da economia de todo o espaço onde se exerce a soberania portuguesa, procurando a produção dos meios necessários à aceleração do ritmo de crescimento do produto nacional, acompanhada de uma distribuição mais equilibrada dos rendimentos formados.
O comércio encontra-se entre os principais elementos criadores desses rendimentos. Assim, as actividades comerciais vêm-se projectando com tal importância no concerto económico das nações que entre nós também a Administração entendeu manifestar o seu consenso à importância do reflexo dessas actividades no concerto económico nacional.

2. O comércio, segundo se infere dos textos bíblicos, é uma instituição tão antiga como a sociedade, mas não se torna fácil falar ou escrever a seu respeito quando se pretende determinar a sua importância ou explicar a razão da sua existência.
No decorrer dos tempos tem-se procurado encontrar o verdadeiro significado da palavra «comércio», buscando-se o seu exacto sentido.
A palavra, segundo se afirma, não deriva do vocábulo jurídico commercium do direito romano, mas realmente da contracção dos termos latinos commutatio mercium e o seu entendimento foi no decorrer dos tempos influenciado por esta origem.
O velho Dicionário do Comércio, de Savary, ponto de partida da maioria dos códigos comerciais da Europa, no século XIX, expressa a identificação do comércio com a troca - «tout échange, vente, achat, trafic ou négoce do marchandises».
Entretanto, Jean-Baptiste Say, no Curso Completo de Economia Política, de 1840, fez salientar que a função essencial do comércio, modificando o entendimento até ali seguido, não residia de qualquer modo na simples troca, mas, efectivamente, na sua acção colocadora do produto ao alcance do consumidor.
O Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa, de D. José Maria de Almeida e Araújo Correia de Lacerda, publicado em 1870, dá o seguinte significado a comércio:

Negócio, troca, permutação que os homens fazem entre si das coisas próprias para o seu uso. As fontes do comércio são a agricultura, a lavra das minas, a pesca e a indústria que manufactura os diversos produtos ministrados por estas fontes.
O comércio é interior ou exterior. Interior dizemos o trato de mercancia no mesmo país; exterior o que se faz com nação diversa. O comércio executa-se por grosso ou a retalho.
O comércio compreende a ciência dos seus diversos ramos e a prática dessa ciência. A sua jurisprudência forma uma excepção do direito civil propriamente dito. Em última análise o comércio reduz-se à troca de valores. É ele o mais poderoso veículo das produções e dos produtos ao consumo; sem a sua existência a riqueza seria comparativamente menor; com ele vão as luzes e a civilização de um canto ao outro do Mundo; a ele se deve em mui grande parte, o melhoramento actual da espécie humana; devem-se-lhe a maior parte das descobertas, que o homem tem feito; os que nele se empregam formam uma família única derramada na superfície do universo. Os governos, que merecem este nome, nunca perderam de vista fomentá-lo, animá-lo e protegê-lo; a sua grande máxima reduz-se a remover-lhe os estorvos; os seus inimigos são os privilégios, os monopólios, os contrabandos. Sem igualdade e liberdade não pode haver comércio. Temos nestas palavras substanciado quanto há a dizer sobre as ideias que encerra a palavra comércio.

Segundo a última versão do Dicionário de Cândido de Figueiredo, comercio define-se como a permutação de produtos naturais ou artificiais. Troca de valores. A classe dos que comerciam.
Embora no presente já se encontre bem definido o valor e a importância do comércio, comprovando a necessidade da sua existência, a verdade é que durante muitas décadas o entendimento dado ao comércio consentia por vezes tudo e nada exprimia.
Foi a evolução realizada no campo da técnica, impulsionada pelo desenrolar dos acontecimentos verificados nos últimos anos, que deu consistência e forma as actividades comerciais, colocando-as em lugar cimeiro no panorama económico das nações.

3. O comércio nacional, posto perante o facto consumado de uma evolução no campo das novas técnicas de distribuição e comercialização, impostas pelos contactos com os mercados externos, necessita ainda de completar e aperfeiçoar a sua actual orgânica, muito embora já tenha neste campo realizado notórios progressos.
Para tanto, possui-se legislação ditada em bases que se podem considerar certas para proporcionarem meios racionais a uma coordenação das actividades mercantis mais ajustada às realidades da missão de que estão, como é óbvio, incumbidas - de deverem garantir o fomento e os consumos internos e externos dos bens de produção nacional.
As novas técnicas comerciais, a importar dos centros mais evoluídos onde a experiência se vem processando, depois de estudada a sua adaptação ao nosso ambiente, devem ser postas em prática e corrigidas conforme as necessidades surgidas. As actividades mercantis nacionais, se não observarem, a evolução dos novos métodos e não acompanharem a evolução dos hábitos dos consumidores, podem correr o risco do caírem na estagnação.
Na actualidade, a concorrência entre o comércio dos vários países, ou em cada país, já não se situa sómente rio problema do preço, mas a qualidade do que se oferece, a sua novidade e propaganda nos centros de consumo têm também influência notória na boa recepção a dar pelos consumidores ao que lhe é oferecido.
É evidente que os governos também vão ajudando as actividades comerciais, procurando a melhor forma de aumentarem o volume das respectivas transacções, pelo que são postos à disposição dessas actividades serviços especializados nas várias formas de comércio, concedendo-se-lhes apoio técnico, prémios e subsídios, principalmente em vista aos artigos ou matérias-primas destinados às exportações.
Entretanto, se o empresário não for competente, nem tiver capacidade financeira para exercer a actividade comercial em que se lançou, podem-lhe ser facultados todos os meios, mas, seguramente, não conseguirá vencer. Em muitos casos, até, poderá, pela sua inépcia, desacreditar o comércio do sector em que está actuando.

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II

Considerações gerais

4. A matéria que se aprecia neste capítulo terá como ponto de partida os elementos que serviram de base à elaboração do relatório final do Grupo de Trabalho n.º 6 "Comércio", da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica.

a) Estrutura e técnica comercial

5. São muitas e de carácter diverso as normas das novas técnicas para o exercício do comércio que internacionalmente estão a difundir-se através do livro, imprensa, conferências e outros meios de informação, e que, entre nós, vêm sendo auscultadas e observadas com a maior atenção por empresários e especialistas económicos.
Essas técnicas emergem, umas, da evolução verificada na vida dos povos; outras, por efeito de acordos de diferentes índoles postos em prática pelas nações. Entre nós a aplicação das novas técnicas tem sido comedida e cautelosa, pelo que a sua adopção se vai fazendo gradualmente.
Todavia, já se verificam no continente nacional - e referimo-nos a ele por dele termos vindo a tratar - empreendimentos em marcha dentro dos moldes apontados pelas técnicas importadas e classificadas como sendo as mais evoluídas e experimentadas, cuja utilização se vai realizando com cautela e prudência, não se perdendo de vista a grandeza da área continental, sua população, hábitos e meios aquisitivos dos consumidores.
Apesar dos progressos introduzidos nos métodos de comercialização e nos sistemas das organizações mercantis, encontra-se ainda o sector comercial num estádio que carece de cuidadosa observação por parte da Administração.
O Estado Português é corporativo, competindo-lhe impulsionar e dirigir todas as actividades. Quanto ao comércio, ao escolher-se livremente esta profissão, torna-se necessário que esta actividade esteja devidamente regulamentada, oferecendo garantias ao empresário para bem servir a economia nacional. As corporações representam a cúpula da organização corporativa, e, segundo se julga, são o melhor meio de assegurar uma política nacional, não só no aspecto económico, mas também nas implicações sociais que dele emanam.
Analisar profundamente a actual estrutura das actividades comerciais não se torna tarefa fácil, dada a carência de elementos estatísticos que lhe dizem respeito.
Os elementos que se indicam podem não ser ricos de expressão, mas, se não tiverem outro mérito, ajudarão, por certo, a confirmar a necessidade de se prestar especial atenção à vida do comércio no que principalmente se considera de maior importância: a base financeira e a medida do empreendimento. E dizemos que tais elementos podem ser pobres de expressão porque podem dar o sentido de um ambiente empresarial flácido, quando na maioria dos casos não é essa a verdadeira situação.
Através dos elementos reunidos, conclui-se terem existido no fim do ano de 1965, na metrópole, com referência a:

Comércio por grosso - cerca de 4200 sociedades com um capital médio de 700 contos;
Comércio a retalho - cerca de 10 000 sociedades com um capital médio de 80 contos.

A maior parte destas sociedades situava-se no distrito de Lisboa.
Não foi possível determinar, para além das sociedades constituídas, o número de comerciantes que exercem a profissão em nome individual, mas pode afirmar-se que são muitos e que a maioria se encontra principalmente na actividade retalhista.
Ainda se deve aqui salientar o facto de que, dado o uso, nas sociedades por quotas, de os sócios fazerem suprimentos à caixa social - e entre as sociedades apontadas encontram-se aquelas constituídas por quotas -, se fosse possível conhecer o montante desses suprimentos e juntá-los aos capitais encontrados as médias da expressão financeira desses capitais subiriam sensivelmente.
O verdadeiro valor das actividades comerciais do continente encontra-se definido através dos números apontados nas alíneas c), d) e e) deste capítulo do parecer, que tratam especialmente do comércio interno, exportação e importação.
Impõe-se há muito, para remediar alguns dos males existentes, que se determinem regras atinentes ao comércio, facultando-se-lhe os meios necessários para a sua exacta missão.
A falta de regulamentação adequada ao bom exercício das actividades mercantis, na sua perfeita expressão, tem criado, em muitos casos, dificuldades ao Ministério das Finanças no campo tributário; ao da Economia, no tocante à boa regra de actuação, especialmente no sector do abastecimento; e ao das Corporações e Previdência Social, no que finalmente se vai reflectir no campo social.
Por isso, no relatório final do Grupo de Trabalho n.º 6 "Comércio", no capítulo "Recomendações", aponta-se como providência prioritária a promulgação de um estatuto do comerciante, dado o alcance e o reflexo que esse diploma poderá trazer no campo administrativo e económico, proporcionando a criação de novas e actualizadas regras de disciplina às actividades mercantis.

b) A relevância do comércio nalguns países estrangeiros

6. É muito variável, de país para país, a contribuição do comércio para o produto interno, não se sentindo, porém, sensíveis variações temporais no período analisado, que compreendeu os anos de 1950, 1955, 1960 e posteriores.
É de notar, contudo, o perigo de comparações entre países, já que, para além dos métodos de cálculo específicos porventura utilizados, nem sempre os elementos disponíveis foram idênticos. Assim, embora se tenha procurado trabalhar com o produto interno bruto (P. I. B.) ao custo dos factores (preferentemente a preços constantes), houve que utilizar também o P. I. B. a preços de mercado e o produto interno líquido ao custo dos factores; de referir, igualmente, que nem sempre os dados para um mesmo país, quando obtidos em estatísticas diferentes 1, se mostraram coerentes entre si, mesmo quando referidos a conceitos idênticos.

1 As estatísticas consultadas foram, essencialmente, as seguintes:

Boletim Estatístico da América Latina, O. N. U. (Março 1965);
Yearbook of National Accounts Statistics, O. N. U. (Maio de 1964);
Statistics of National Accounts, 1950-1961, O. C. D. E. (Março de 1964).

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A análise levada a cabo para 26 países, de que se puderam recolher elementos, encontra-se no mapa seguinte, em que, para os anos atrás referidos, se calculou a percentagem da participação do comércio no total do respectivo produto interno. Verifica-se que em três quartos desses países a participação do comércio varia entre 10 por cento e 20 por cento e em metade deles entre 10 por
cento e 15 por cento. A composição do grupo analisado pode expressar-se do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

Participação do comércio (em percentagem) no produto interno bruto, ao custo dos factores de diversos países

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Preços constantes.
(b) Preços correntes.
(c) 1950.
(d) Produto interno bruto a preços de mercado.
(e) Produto interno líquido ao custo dos factores.

O país que apresenta a participação mais baixa é a Bélgica, à volta de 7,5 por cento, seguido da Áustria, da Itália e da Espanha 2, todos abaixo de 10 por cento.
Os restantes países europeus examinados, à excepção da Dinamarca, situam-se no grupo de 10 por cento a 15 por cento, sendo fora da Europa que vão encontrar-se os países em que a participação do comércio assume uma maior relevância, nomeadamente na América. Com efeito, são três países americanos aqueles em que a referida participação ultrapassa os 20 por cento, a saber: o Chile, o México e a Guatemala. Nestes dois últimos representa até mais de um quarto do respectivo produto interno bruto 3.
Uma análise curiosa é a da participação do comércio no produto interno bruto quando comparada com a parcela da população corri ocupação rio comércio, notando-se, quer casos em que o produto médio dos empregados no comércio é superior ao valor médio global do produto per capita no conjunto das actividades, quer o contrário. Assim, tomando como referência o ano de 1960, ter-se-á:

[Ver Tabela na Imagem]

2 Para a Espanha, foi encontrado um valor acima de 10 por cento (1955) e outro abaixo (1960), tendo-se retido este, por mais recente.
3 De referir que se trata de números relativos ao PIB a preços obtidos em relação a outros países.

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Os casos mais flagrantes serão o México e a Bélgica, casos extremos, notando-se em muitos países uma certa correspondência entre os dois grupos de valores. Be observar que, dos doze países considerados, a parte da população ocupada distribui-se, em percentagem de população activa total (p. a. t.), do seguinte modo:

Até 10 por cento da p. a. t. - seis países.
Entre 10 e 15 por cento - cinco países.
Acima de 15 por cento - um país.

É evidente que, com as ressalvas oportunamente expostas sobre a impossibilidade de uma comparação exacta entre países, a verificação acima realizada tem um valor semelhante à de que em 50 por cento dos países observados a participação do comércio no produto interno oscila entre 10 e 15 por cento, embora possam constituir indicadores de ordem geral a considerar cuidadosamente.

7. A relevância do comércio em Portugal, no que toca à metrópole, quanto à sua participação no produto interno bruto, é especialmente tratada na parte III deste parecer subsidiário -exame crítico- «Circuitos de distribuição».

c) Comércio inferno

8. O comércio por grosso e a retalho, que se considera nesta alínea, diz respeito ao que é exercido no continente, excluindo-se o das ilhas adjacentes.
A prática das actividades mercantis nas ilhas adjacentes tem características muito especiais, variando de ilha para ilha, e, embora se encontrem abrangidas por certas regras determinadas para o comércio continental, na realidade, os governadores dos distritos autónomos insulares dispõem de prerrogativas que lhes permitem alterar essas regras quando as exigências locais a isso obrigam, o que frequentemente acontece.

9. O comércio grossista e retalhista, largamente praticado no continente, tem grande projecção económica e compete-lhe, entre outras, a importante missão distribuidora de levar até ao consumidor, onde ele se encontra, o que lhe é necessário.
Pelos seus efeitos e acção, entendem os técnicos de economia que o comércio interno de cada nação se torna elemento necessário ao bem-estar do povo, sempre que praticado no bom sentido de fazer circular os bens em proveito de todos.
As actividades grossistas e retalhistas continentais actuam num quadrilátero com a área calculada de 89 000 km2, com uma população consumidora estimável em cerca de 8 milhões de almas, se se partir do recenseamento do ano de 1960, que computou a população continental em 8 292 975 pessoas.
Se a este número se acrescentar a população flutuante, consequente do turismo e dos que se deslocam ao nosso país por outras razões, corrigindo-a com a população correspondente à massa emigratória, bem se poderá fixar no quantitativo atrás estimado de S milhões, a população que no continente, presentemente, constitui a massa efectivamente consumidora.
Ao comércio grossista compete especialmente a missão de adquirir à lavoura, à indústria e à importação, nas melhores condições, e numa rotina com carácter permanente, o que se julga indispensável para constituir as reservas de mercadorias, ou o chamado stock permanente, capaz de atender sempre as actividades retalhistas, no que lhes é exigido, a fim de cumprirem a missão de bem satisfazerem as necessidades do consumo interno.
Todavia, não é suficiente que o grossista possua em armazém reservas de mercadorias, nem tão-pouco que o comércio retalhista conheça onde se localizam as necessidades dos consumidores; precisa, além disso, de ter à sua disposição os elementos necessários à organização de uma rede de distribuição que lhe faculte meios fáceis para a movimentação dessas mercadorias, com eficiência e de custo razoável.
Se, internamente, essa rede distribuidora não for apta, as actividades mercantis agem em condições pouco eficientes e tornam-se por vezes inoperantes, não lhes sendo possível completar a sua missão de bem servir.
Para que exista essa rede distribuidora e possa ser utilizada com. eficiência pelo comércio, terá o III Plano de Fomento que prever o beneficiamento da maior parte das estradas existentes e a construção de novas vias de comunicação rodoviária; a aceleração dos transportes por caminho de ferro a tarifas razoáveis, como se esperava que tivesse já acontecido na parte electrificada; os transportes terrestres por camionagem, dando possibilidade a que tanto os caminhos de ferro como a camionagem, se possam apetrechar com melhores unidades frigoríficas do que as existentes; os apetrechamentos portuários apropriados e a construção nos portos de armazéns com características modernas, e ainda a criação de novos centros urbanísticos.
Se as previsões contidas no projecto do III Plano de Fomento se transformarem em realidade, como por certo serão, muito beneficiará por reflexo a economia do consumidor metropolitano.
A rede de distribuição posta ao serviço do comércio grossista e retalhista assenta, entre nós, principalmente, nos transportes por caminho de ferro e estrada, estes utilizando os veículos automóveis de carga. Os serviços de cabotagem entre os portos continentais têm especial expressão em relação à índole das mercadorias que utilizam este meio de transporte.
No decorrer do ano de 1965, foram transportadas por caminho de ferro as seguintes quantidades de mercadorias:

[Ver Tabela na Imagem]

que pagaram portes em escudos nos montantes de:

Os números anteriormente referidos permitem afirmar que o custo do transporte das mercadorias por caminho de ferro foi, em média, o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

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Durante o ano de 1966, foram transportadas pelo caminho de ferro as seguintes quantidades de mercadorias:

Ver Tabela na Imagem]

que pagaram portes em escudos nos montantes de:

Ver Tabela na Imagem]

Deste modo, em 1966. o custo do transporte das mercadorias foi, em mediu, o seguinte:

Ver Tabela na Imagem]

Estes números, representativos dos custos médios por quilograma em caminho de ferro, são uma amostragem das médias consideradas, pois as tarifas aplicadas pelo caminho de ferro têm grandes variantes, de mercadoria para mercadoria, conforme o seu peso, volume e distâncias percorridas, razão por que algumas delas são de preferência transportadas por estrada em viaturas automóveis de carga.
Pelos estudos sectoriais realizados, tomando em consideração a média das distâncias entre as estações expedidoras e de recepção, conclui-se que as pequenas e médias remessas feitas por caminho de ferro em grande velocidade e tarifas custam, em regra, para as mercadorias mais vulgares, cerca de 1$ por quilograma. Para as expedições em pequena velocidade, aplicando-se o mesmo critério, o seu custo é de $30 a $50 por quilograma.
No que toca ao transporte de mercadorias por estrada em viaturas automóveis, não existem dados estatísticos oficiais quanto a quilómetros percorridos, quantitativos transportados e o respectivo custo por quilograma.
Entretanto, a evolução nos últimos anos da quantidade de veículos de carga inscritos no respectivo grémio, como se verifica pelos números a seguir indicados, não acompanhou as necessidades consequentes do aumento da distribuição das mercadorias movimentadas no continente nacional.
Assim, existiam em:

Veículos
1958 ................ 4 435
1959 ................ 4 599
1960 ................ 4 627
1961 ................ 4 647
1962 ................ 4 575

963 ................ 4 603
1964 ................ 4 595

Poderá dizer-se que a manutenção do sistema de condicionalismo, seguida há anos quanto ao número de veículos de carga autorizados para o transporte de mercadorias, se traduz na defesa, por meios indirectos, dos caminhos de ferro quanto a esse transporte.
Em 31 de Dezembro de 1965, encontravam-se inscritas no Grémio dos Industriais de Transportes Automóveis 4662 viaturas com um total de carga disponível de
26 699 t.
Pelas tabelas dos preços cobrados pelos industriais dos transportes, que se encontram em uso, pode facilmente observar-se que o transporte das mercadorias em veículos de carga tem lugar da porta do armazém do grossista a casa do retalhista, pormenor que na generalidade não acontece com o transporte em caminho de. ferro. Partindo-se dos maiores centros distribuidores para os locais de consumo mais afastados, o transporte das mercadorias em veículos de carga custa em média $18 por quilograma.
Como mera estimativa do total de mercadorias transportadas por estrada em viaturas automóveis de carga, tomando-se como ponto de partida a tonelagem de carga disponível das viaturas automóveis de carga de aluguer, corrigida pela doa particulares também destinada ao transporte de mercadorias, e, ainda, considerando os dias em que quaisquer delas não prestam serviços por motivo de reparação e outros, poderá dizer-se que por estrada em viaturas automóveis de carga se têm transportado em média anual 8 500 0001 de mercadorias diversas, que pagaram de frete 1 530 000 contos.
Tudo que possa referir-se à distribuição interna dos produtos, seu custo e rapidez de movimentos, é problema da actualidade que se debate em âmbito internacional pela sua grande importância económica.

10. Acerca da actividade distribuidora do comércio já muito se escreveu e se apreciou internacionalmente, havendo, quanto a nós, já muita matéria a adoptar quando conhecidos os resultados obtidos por quem fez as experiências.
Contudo, as novas técnicas de comerciar têm como base essencial a melhor distribuição dos produtos. Entre nós, porém, são ainda restritos os meios postos à disposição das actividades mercantis nas linhas de distribuição, mas está-se seguro de que com facilidade as mesmas poderão melhorar-se sensivelmente.
Sentida essa melhoria, não deixarão de se registar determinadas transformações no que toca às estruturas comerciais internas, tanto nos grossistas como nos retalhistas.
Para se processar da melhor maneira a necessária evolução das actividades comerciais respeitantes ao sector interno - grossista e retalhista - e ver-se assegurada a sua importância no campo económico nacional, torna-se necessário que a organização corporativa intervenha eficientemente e seja efectiva a sua acção disciplinadora, tendo em conta a pureza dos princípios do nosso corporativismo.
O comércio nacional, por grosso e a retalho, já tem expressão segundo os elementos disponíveis correspondentes aos ramos de actividade que contribuem para a formação do produto interno bruto, mas tudo faz crer que essa projecção, futuramente, venha a ser maior.
Pode fazer-se uma ideia da actual importância do comércio interno quando se observam os números estatísticos de 1965, pois não se conseguiram, no momento, obter outros que se refiram ao número de sociedades que se dedicam especificamente à actividade comercial, em relação ao total das existentes. Assim, em fins de 1965, o número total de sociedades era de 29 846, com 881 146 empregados e um capital social de 36 969 128 contos. Por outro lado, o número de sociedades que se dedicam ao comércio foi de 14 211, com 101 911 empregados e com um capital de 5 885 791 contos.
Por outra via, e ainda quanto ao ano de 1965, pode também avaliar-se a importância desse comércio. Sabe-se, com efeito, que foram colectadas em contribuição industrial 181 166 entidades que praticavam as actividades comerciais por grosso e a retalho. Entretanto, como não foram, entre elas, sujeitas ao pagamento da contribuição, por não terem lucros, 22 343 entidades, os impostos co-

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brados através da citada contribuição, no que toca a 1965, no montante de 546 639 contos, foram suportados por 158 823 das firmas inicialmente colectadas.
O imposto pago por todo o comércio por grosso e a retalho foi o mais alto entre os sectores colectados, representando 38,5 por cento do total da contribuição industrial, ou seja mais 26 900 contos que o liquidado à indústria transformadora (519693 contos).

11. Para melhor se avaliar a importância que têm, no âmbito do comércio grossista e retalhista, os artigos denominados «de primeira necessidade», principalmente os específicos da alimentação, a seguir se aponta o seu movimento global, em quilogramas e escudos, e o número de armazenistas intervenientes, respeitantes aos anos de 1965 e 1966.

Ano de 1965

[Ver Tabela na Imagem]

Ano de 1966

[Ver Tabela na Imagem]

Toda a gama de artigos de primeira necessidade, indicada rios mapas anteriores, foi distribuída no continente através dos meios para o efeito até agora existentes e levada até ao consumo público por 18 776 retalhistas de artigos de mercearia da zona norte, 11 202 retalhistas de artigos de mercearia da zona centro e 16 719 retalhistas de artigos de mercearia da zona sul, ou sejam 46 697 comerciantes retalhistas de mercearia que se dedicam internamente ao abastecimento das várias localidades continentais.

12. Pelo que se aprecia através dos elementos reunidos quando se analisam os diversos sectores do comércio, pode afirma-se que a sua planificação e coordenação concebida em novos moldes levaria, de ricochete, a obter-se uma expressiva valorização de grande parte da produção nacional integrada no âmbito agrícola e industrial.
O facto, sem dúvida, determinaria uma queda em certas importações do estrangeiro, principalmente dos produtos alimentares e ainda de outros que melhor se produziriam entre nós e que no continente têm larga distribuição através das actividades mercantis nacionais.
Para bem se atingir o objectivo desejado muito poderão vir a contribuir as medidas programáticas concernentes às actividades nacionais de produção apontadas no projecto do III Plano de Fomento para 1968-1973, e que dizem respeito, especialmente, a:

a) Empreendimentos no sector interno distribuidor dos bens de consumo, cuja produtividade tenha carácter imediato;
b) Activação da produção de bens e serviços que tenham em vista encorajar o aumento das exportações;
c) Previsão da criação de infra-estruturas que possam contribuir para uma melhoria do potencial produtivo e, bem assim, do poder aquisitivo da população.

d) Exportação

13. O total exportado pela metrópole, que em 1965 registara apreciável subida, passando de 14 831 000 contos em 1964 para 16 573 000 contos, ou seja mais cerca de 11,7 por cento, teve em 1966 novo aumento, atingindo 18 023 000 contos, embora com uma taxa de crescimento ligeiramente inferior (+8,7 por cento).
Não obstante, segundo elementos colhidos pelo Instituto Nacional de Estatística, não se encontrou ainda no ano findo, como se desejaria, a melhoria do saldo negativo da balança comercial metropolitana, registando-se, tal como em 1965, novo agravamento, embora bastante menos volumoso:

Em 1965 (em relação a 1964) - 2 491 000 contos.
Em 1966 (em relação a 1965) - 1 093 000 contos.

Isto significa que nos dois últimos anos o nosso déficit comercial se elevou em mais de 3,5 milhões de coutos, cerca de 46 por cento do deficit que se verificara em 1964 (7,5 milhões de contos), problema cuja gravidade é rotória.
De salientar, entretanto, que o valor médio da tonelada exportada (excluindo dos cálculos a água fornecida para o abastecimento de navios estrangeiros, de valor muito baixo, cerca de 13$/t), vem registando uma subida constante:

[Ver Tabela na Imagem]

Será de desejar, e estimular, este aumento do valor médio da exportação e, simultaneamente, a prática de políticas intensincadoras do comércio de exportação, a fim de se poder obter o necessário equilíbrio da balança comercial.

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São os seguintes os principais produtos exportados no decorrer dos anos de 1.965 e 1966:

[Ver Tabela na Imagem]

Os melhores clientes dos produtos atrás indicados foram, para:

Conservas de peixe e sardinhas em molhos - República Federal da Alemanha, Itália, Estados Unidos da América e Reino Unido.
Concentrados de tomate - Reino Unido, Canadá e República Federal da Alemanha.
Vinho do Porto - Franca e Reino Unido.
Vinhos comuns tintos - províncias de Angola e Moçambique e Estados Unidos da América.
Produtos resinosos - República Federal da Alemanha, Reino Unido e Japão.
Madeiras (serradas para caixas) - Reino Unido, Holanda e Israel.
Cortiça em bruto - Estados Unidos da América, Japão, República Federal, da Alemanha, Reino Unido, Roménia e Argentina.
Cortiça em obra - República Federal da Alemanha, Franca, Reino Unido e Estados Unidos da América.
Pastas químicas para papel - Reino Unido, Franca e Itália.
Tecidos de algodão tintos - províncias ultramarinas (melhores clientes Angola e Moçambique), Estados Unidos da América, Áustria e Dinamarca.
Tecidos de algodão estampados - províncias ultramarinas (Angola e Moçambique).
Fios, cordas e cabos de sisal - Estados Unidos da América- e Canadá.
Vestuário e acessórios de algodão - província de Moçambique, República Federal da Alemanha, Reino Unido, província de Angola, Estados Unidos da América, Bélgica, Noruega, Suécia e Suíça.
Máquinas e aparelhos industriais, não eléctricos - províncias de Angola e Moçambique, Estados Unidos da América, Vietname do Sul e Reino Unido.
Fios de algodão cardado - Estados Unidos da América, Suécia e Dinamarca.
Fios de algodão penteados - Suécia, Estados Unidos da América, Canadá, República Federal da Alemanha e Dinamarca.

14. Quadros

a) Comércio especial da metrópole

Exportação

[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1963, 1964 e 1.905 - Comércio Externo; 1.960 - Boletim do Instituto Nacional da Estatística.

Analisando o quadro atrás, conclui-se que as exportações para o estrangeiro e para o ultramar no ano de 1.966, em relação ao triénio anterior, aumentaram, do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, assim, em 1966 uma quase estagnação nas exportações para o ultramar e um aumento sensível no movimento com o estrangeiro, superior ao do ano anterior, mas não atingindo o aumento verificado em 1964, ano também muito importante no relativo ao ultramar.

h) Comércio especial por zonas monetárias

Exportação

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1964 e 1965 - Comércio Externo; 1966 - Boletim do Instituto Nacional de Estatística.

No quadro h), com o movimento das exportações por zonas monetárias, observam-se as seguintes diferenças, em escudos, entre o exportado em 1965, em relação a 1964, e em 1960, em relação a 1965:

[Ver Tabela na Imagem]

c) Comércio com os países da Comunidade Económica Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre.

Exportação

[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1963, 1964 e 1965- Comércio Externo; 1966 - Boletim do Instituto Nacional de Estatística.

Os números apontados no quadro c) mostram, em escudos, os valores das exportações para os países da Comunidade Económica Europeia e para os da Associação Europeia de Comércio Livre, esta, como se sabe, onde Portugal se encontra integrado.
Partindo de uma posição de igualdade em 1963, as exportações para a A. E. C. L. aumentaram mais rapidamente, a partir daquele ano, do que para a C. E. E., numa evolução que se traduziu nas seguintes diferenças:

[Ver Tabela na Imagem]

o que representa, no ultimo triénio, maiores exportações, da ordem dos 3,4 milhões de contos.
Continuam, no entanto, muito importantes as exportações realizadas para os países da Comunidade Económica Europeia, a saber:

[Ver Tabela na Imagem]

Verifica-se, contudo, que em 1966 o aumento foi apenas de escassos 58 000 contos, contra 364 000 no ano anterior, enquanto para a E. F. T. A. a importante evolução do ano anterior (717 000 contos) se ampliou ainda para 754 000 contos.
Assim, no que respeita aos países do Mercado Comum, é de acentuar uma retracção para todos, à excepção da França (+136 000 contos em relação a 1965) e da Itália ( + 102 000 contos), com especial relevo para a Alemanha, com menos 166 000 contos, a contrastar com uma variação positiva de 215 000 contos em 1965.
Em contrapartida, todos os países da A. E. C. L. aumentaram as suas compras a Portugal em 1966, distinguindo-se o Reino Unido, nosso maior comprador, com uma evolução positiva de 525 000 contos, ligeiramente inferior aos 583 000 contos de aumento registados em 1965.
Pelo que nos é dado observar através dos números apontados, no decorrer da execução do III Plano de Fo-

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mento (1968-1973), tudo indica que o comércio externo do continente terá de suportar certa transformação na sua estrutura e adaptar-se a ela.
Julga-se, assim, oportuno fazer aqui pequeno apontamento acerca do comércio exportador.
Os exportadores continentais, atentos à política económica adoptada pelo Governo, terão de indagar nos mercados tradicionais a melhor maneira de actuar, procurando aumentar ali as suas vendas, e conseguir também a entrada dos produtos do seu comércio em novos mercados.
Para isso terão de procurar novos e constantes contactos, pelo que se revelará muito útil, se não imprescindível, a sua presença nas feiras internacionais, ao mesmo tempo que deverão contactar, frequentemente, com a clientela dos vários países, procurando conhecei-os seus gostos e desejos e oferecendo os seus produtos nas condições exigidas por essa clientela. Entre nós verifica-se cada vez mais a presença de comerciantes estrangeiros que vêm às poucas feiras que lhes oferecemos e procuram directamente a sua clientela, diligenciando encontrar todos os meios de penetração com o objectivo de conseguirem vendas.
Actualmente, quem tem necessidade de vender - como é o caso do comércio exportador continental - deve oferecer o que o cliente gosta de adquirir, e não forçar a venda do que produz dentro de determinados moldes e qualidades.
Facilitaria muito a futura acção do comércio exportador a publicação do diploma que- se tornou conhecido pela designação de «Estatuto do Comerciante», que proporcionará a regulamentação em novos moldes das actividades exportadoras. Estas, identificadas através da ali sugerida «Cédula de Exportador», proporcionariam,, assim, a Administração, através do Fundo de Fomento de Exportação, o poder de intervir e orientar a actividade exportadora - que tanto necessita de incentivo gizado em moldes certos e sérios. Aquele organismo estaria desse modo em condições de melhor poder desempenhar a verdadeira missão que lhe compete.
Pelo que se sabe, tudo indica ser em breve publicado o diploma que trata do sistema do crédito e seguro do crédito à exportação, o qual, quando aplicado, sem dúvida muito contribuirá para a melhoria da actual situação de muitos dos sectores especializados do comércio exportador.

e) Importação

15. Nos últimos anos, o volume das importações passou de 22 320 milhões de escudos em 1964 para 26 5,53 milhões de escudos em 1965 e mais de 29 000 milhões de escudos no ano findo, ou sejam aumentos de 4,233 milhões de contos (19 por cento) em 1965 e de 2,543 milhões (9,6 por cento) em 1966 - cerca de 6.8 milhões em dois anos, correspondendo a 30 por cento do volume das importações totais registadas em 1964.
Em quantidade (peso), a importação passou de 5,3 milhões de toneladas em 1964 para 6 milhões em 1965 ( + 11,4 por cento) e 6,3 milhões no ano findo (+4,4 por cento), variando os valores unitários da tonelada importada de 4236$ em 1964 para 4414$ e 4635$ nos anos seguintes, incluindo os diamantes ou, excluindo estes, de 4100$ para, respectivamente, 4280$ e 4453$.

16. A seguir apontam-se as mercadorias importadas que se salientaram pelo seu maior valor nos anos de 1965 e 1966.

[Ver Tabela na Imagem]

Os principais fornecedores, pois outros houve, dos artigos anteriormente discriminados foram, por ordem de importância:

Bacalhau - Noruega, Espanha, Islândia e Canadá.
Trigo - Estados Unidos da América e França.
Amendoim - Nigéria, Senegal, Zâmbia e .Guiné.
Sementes e frutos oleaginosos - Nigéria, Zâmbia, Guiné, províncias de Moçambique e S. Tomé e Príncipe, África Ocidental Britânica, província de Angola, Senegal, Canadá, Brasil e Israel.
Açúcar - províncias de Moçambique e Angola, Cuba, Brasil e Rodésia.
Petróleo em rama - Iraque, Bahrein, província de Angola e Irão.
Medicamentos - Suíça, República Federal da Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos da América
Fios de fibras têxteis sintéticas ou artificiais contínuas - República Federal, da Alemanha, Suíça, Dinamarca, França, Bélgica e Japão.
Algodão em rama - província de Moçambique, Turquia, Nicarágua e Guatemala.
Fibras têxteis sintéticas ou artificiais descontínuas - República Federal da Alemanha e Reino Unido.
Folha-de-flandres - Reino Unido, França e República Federal da Alemanha.
Chapas de ferro macio ou aço - República Federal da Alemanha, Bélgica e França.
Ferro ou aço batido - Estados Unidos da América. Máquinas e aparelhos industriais não eléctricos - República Federal da Alemanha, Itália e Reino Unido.
Máquinas e aparelhos eléctricos - República Federal da Alemanha, Holanda e Reino Unido.
Partes e pecas separadas de automóveis para transporte de pessoas (montagem da indústria nacional) - República Federal da Alemanha, Itália, Reino Unido e França.
Papel de impressão comum para periódicos - Finlândia, Itália e Suécia.

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17. Quadros:

a) Comércio especial da metrópole

Importação

[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1963, 1964 e 1965 - Comercio Externo; 1966 - Boletim do Instituto Nacional de Estatística.

Quando se aprecia o expresso no quadro anterior, verifica-se o grande aumento havido nas importações, nomeadamente do estrangeiro, sendo as diferenças dos números referentes a 1966 para os dos anos anteriores as seguintes:
Províncias ultramarinas:

[Ver Tabela na Imagem]

b) Comércio especial por zonas monetárias

Importação

[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1964 e 1965 - Comércio Externo; 1966 - Boletim do Instituto Nacional de Estatística.

Através do quadro b), relativo ao movimento das importações por zonas monetárias, podem verificar-se as diferenças, em escudos, entre o importado em 1965, em relação a 1964, e em 1966, em relação a 1965, assim expresso:

[Ver Tabela na Imagem]

Como se observa nos mapas atrás apresentados, as compras da metrópole ao estrangeiro passaram de cerca de 19 milhões de contos em 1964 para 22,9 milhões em 1965 e 25,2 milhões no ano findo, com particular relevo nos crescimentos verificados para o conjunto dos países do Mercado Comum em 1965 e da A. E. C. L. em 1966.
Da diferença de importações do estrangeiro entre 196G e 1965 beneficiaram em especial os países da O. C. D. E., com um aumento de perto de 2,1 milhões de contos, representando o movimento com tais países cerca de 71,5 por cento da importação total (e cerca de 66 por cento das exportações). Aquele aumento registado em 1966 decompõe-se do seguinte modo:

[Ver Tabela na Imagem]

c) Comércio com os países da Comunidade Económica Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre.
Importação

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

Origem: 1963, 1964 e 1965 - Comércio Externo; 1966 - Boletim do Instituto Nacional de Estatística.

O quadro c) apresenta, em escudos, os valores das importações efectuadas dos países da Comunidade Económica Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre.
Verifica-se que a C. E. E. é o principal agrupamento fornecedor da metrópole, com diferenças, em relação à A. E. C. L., nos últimos quatro anos, da ordem dos 2,4, 2,6, 3,5 e 3,4 milhões de contos, o que totaliza quase 12 milhões de contos naquele período.
Pertence, aliás, ao Mercado Comum o nosso maior fornecedor, a Alemanha Ocidental (4460 milhões de escudos, ou 15,3 por cento das importações de 1966), logo seguido pelo Reino Unido (3993 milhões de escudos, ou 13,7 por cento), pela E. F. T. A. e pelos Estados Unidos (2279 milhões de escudos, ou 7,8 por cento). Em 1966 todos os países da C. E. E. aumentaram as suas vendas para a metrópole, o que não aconteceu na A. E. C. L., por retrocessos da Dinamarca e Noruega.
De notar, no entanto, que a taxa de cobertura das importações pelas exportações é muito mais satisfatória em relação à A. E. C. L. do que à C. E. E., conforme quadro abaixo:

[Ver Tabela na Imagem]

o que se traduz num déficit, em 1966, de 1 446 000 contos com os países da A. E. C. L. e de 6 565 000 contos com os países da C. E. E.

18. Como fecho da análise, realizada nas alíneas d) e e) deste capítulo n, quanto às exportações e importações da metrópole, parece interessante, no que respeita ao comércio com os países estrangeiros, de longe o mais importante, indicar os diversos factores que agiram na balança comercial respectiva, segundo elementos fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (ver boletins mensais de Dezembro de 1965 e de 1966):

[Ver Tabela na Imagem]

De registar, ainda, que o acréscimo do déficit com o estrangeiro em 1966 ( + 8,7 por cento) é o mais baixo, em valor relativo e absoluto, do triénio, opondo-se a 13,5 por cento em 1964 e a 32 por cento em 1965, verificando-se, contudo, um aumento de 63 por cento em relação ao. registado em fins de 1963, o que não pode deixar de merecer especial atenção quanto às directrizes a tomar no que toca ao futuro.

f) Investimento e financiamento

19. O projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, aponta medidas de carácter imperativo e indicativo, competindo o cumprimento das primeiras ao sector público e o das segundas ao sector privado.
Quanto às primeiras, conhecidas as disponibilidades oferecidas no referido projecto, poderá o Governo determinar a sua efectivação pela ordem de prioridade que julgar mais conveniente e de projecção mais rápida; mas, quanto às segundas, não há possibilidade de as pormenorizar e avaliar com antecedência, pois dependem das mais variadas circunstâncias afins às actividades privadas, entre as quais tem papel importante, o ritmo da formação de capital, do crédito bancário a curto e a longo prazo, dos reflexos económicos vindos do exterior, dos recursos naturais que possam utilizar, do espírito de iniciativa dos comerciantes e da força dos elementos de trabalho de que possam dispor, tornando-se, quanto a estos, de fundamental importância o seu nível de preparação, e dos problemas ligados à saúde.
Portanto, no que toca às medidas a encarar pela Administração com carácter prioritário e das quais viriam a beneficiar as actividades comerciais, deveriam considerar-se as seguintes:

Construção de novas estradas e conservação das existentes com o alargamento da faixa de rodagem, quando seja caso disso, para satisfazer o seu movimento;
Melhoria dos serviços dos caminhos de ferro quanto à forma da sua prestação, tornando mais rápida a entrega no destino do que lhe é confiado para ser

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transportado; revisão do custo das taxas de transporte tomando em consideração a sua índole; apetrechamento com material moderno, contando-se entre ele os vagões frigoríficos; e bem assim melhores interligações do caminho de ferro com os transportes por estrada, para rapidamente levarem as mercadorias das estações de destino até aos centros de consumo;
Facilitar a criação e a construção de estações rodoviárias com pontos de partida dos principais centros urbanos, organizando os serviços públicos e particulares para os transportes de carga em viaturas automóveis, de modo a facilitar-lhes a sua missão transportadora, inclusive, com camiões frigoríficos;
Melhor apetrechamento dos portos e mais armazéns para guarda das mercadorias descarregadas; revisão das taxas neles cobradas; construção de armazéns frigoríficos, não só no que toca aos portos de Lisboa e Leixões, mas, conforme for possível, para os de Setúbal, Vila Real de Santo António, Portimão, Faro e Figueira da Foz;
Criação no porto de Lisboa de uma zona franca, em local a escolher, apetrechada modernamente e com taxas acessíveis a quem a queira utilizar;
Facilitar, através da organização corporativa, a construção de armazéns apropriados nos diversos locais de produção ou de industrialização, para a guarda e conservação de frutas, batatas e outros produtos da terra;
Facilitar, através da organização corporativa, a construção no continente de armazéns frigoríficos, nos moldes mais modernos, de forma a melhor poder levar-se ao interior, em boas condições de conservação, peixe, carne e outros produtos alimentares;
Ampliação das Universidades e escolas comerciais existentes e a abertura de novas unidades onde se ministre toda a matéria precisa para a prática do comércio, com vista à formação de técnicos comerciais nos vários escalões do ensino.

20. Ao incluírem-se no projecto do III Plano de Fomento medidas tendentes a uma maior valorização do comércio e à sua reorganização, como reconhecimento do seu valor e importância, comparticipando e interligando com as destinadas à lavoura e à indústria, teve-se em vista, sem dúvida, proporcionar a melhoria daqueles sectores que mais viva projecção têm na economia nacional.

g) Estrutura do sector comercial

21. Analisar exacta e profundamente a actual estrutura das nossas actividades comerciais não se torna tarefa fácil, dada a carência de elementos estatísticos que lhe dizem respeito. Espera-se, em breve - dadas as medidas ultimamente tomadas pelo Governo -, que as estatísticas respeitantes a essas actividades se expressem em novos moldes, mais condizentes com as técnicas modernas.
Tudo o que se diga quanto à panorâmica actual dessas actividades será o sentir de quem está estreitamente ligado, conheça ou viva os problemas do comércio e não ignore o âmbito em que se têm vindo a movimentar os diversos empreendimentos comerciais.
O verdadeiro valor das actividades comerciais do continente encontra-se expresso nos vários capítulos deste parecer.
Entretanto, tem interesse salientar que os investimentos e as medidas previstas no projecto do III Plano de Fomento (1968-1973) em benefício da actividade comércio se consubstanciam na melhor forma de bem patentear a sua importância no âmbito da economia nacional.
Assim, tudo leva a crer que interessa económicamente e politicamente fazer inserir no projecto do Plano de Fomento que se aprecia novos princípios normativos e regulamentares atinentes ao comércio e que foram previstos nos trabalhos preparatórios do mesmo Plano - Relatório final do Grupo de Trabalho n.º 6 (IV Parte - Recomendações). Entre outras, insere-se como providência prioritária, olhando ao seu alcance, reflexo e mesmo à «relevância do problema», a publicação do diploma até agora designado por «Estatuto do Comerciante». Este diploma permitirá a regulamentação adequada às realidades presentes das actividades, mercantis continentais, onde se definirá a profissão do comerciante, suas categorias, classificação e identificação, através de títulos especiais a conceder.
Todavia, já na província de Moçambique, reconhecida a sua conveniência, foi publicado no Boletim Oficial da província, no seu n.º 1, 1.ª série, de 4 de Janeiro de 1966, o Diploma Legislativo 11.º 2671, que regulamenta e disciplina o exercício da actividade comercial no território moçambicano.
Igualmente na província de Angola, pela mesma razão, foi publicado no n.º 35, 1.ª série, de 27 de Agosto de 1966, o Diploma Legislativo n.º 3671, que regula, também em Angola, o exercício das actividades atrás referenciadas.

h) Coordenação das actividades económicas

22. Parece oportuno fazer ainda uma referência especial à importância que tem, e quanto se reflecte na economia nacional, a coordenação em moldes mais actualizados e eficientes das suas mais representativas actividades económicas - a lavoura, a indústria e o comércio.
A interligação destas actividades, através de planos cuja contextura deve inspirar-se na matéria apreciada nos títulos e capítulos que constituem o projecto do III Plano de Fomento (1968-1973), terão de assentar em esquemas que considerem a união dos interesses da lavoura, da indústria e do comércio, pois só através da união desses interesses poderá verificar-se a necessária estabilização e valorização dos produtos nacionais.
Esses planos deverão ser gizados e moldados de forma a não se perderem de vista as actuais e conhecidas fisionomias da lavoura, da indústria e do comércio, a fim de que, a partir desses estádios, se caminhe para uma firme e bem orientada reestruturação dessas actividades, aperfeiçoando-as com a adopção de novos métodos já experimentados e considerados, pelos seus resultados, como os mais actuais e aconselháveis à sua racional, necessária e indispensável progressão.
Dada a importância do problema da reestruturação e aperfeiçoamento dos métodos a utilizar para se conseguir uma melhor vida económica no sector continental, muito há que modificar, não só no que diz respeito à burocracia dos serviços, como também à forma de coesão entre os vários sectores da Administração, onde as actividades da lavoura, da indústria e do comércio se encontram integradas ou deles directa ou indirectamente dependem.
Os meios a utilizar na reestruturação das actividades agrícolas, industriais e mercantis encontram-se facilitados, dada a actual orgânica corporativa, primordial elemento para se conseguirem os objectivos em vista.
O panorama que oferece o sistema da actual coordenação das actividades económicas continentais parece não ser de fácil modificação quando se verifica a existência das

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Corporações da Lavoura, Indústria e Comércio, da Comissão de Coordenação Económica, do Fundo de Fomento de Exportação, dos institutos, das juntas e das comissões reguladoras.
Todavia, a realidade dos factos dá a certeza de não ser difícil conseguir-se entendimento entre as muitas entidades que intervêm na coordenação da economia continental, desde que o Governo julgue oportuno definir com clareza quais as atribuições e qual a acção a desenvolver por cada uma das entidades em causa, partindo, como é óbvio, de princípios consignados na Constituição Política da Nação e no Estatuto do Trabalho Nacional, bem como fazer cumprir a legislação vigente que abarca matéria suficientemente ciara para se dar um passo em frente no caminho da reestruturação das actividades económicas continentais.
Quando se passe para a coordenação da economia no todo nacional, interligando as economias metropolitanas com as das províncias ultramarinas, torna-se fácil, efectivamente, realizar essa coordenação, pois também existe legislação publicada que especialmente trata da livre circulação de mercadorias e produtos em todo o território nacional e bem assim fixa o sistema de pagamentos inter-regionais no espaço português.

23. Ao apreciar-se o projecto do III Plano de Fomento, julga-se oportuno, verificada a sua grandeza e expressão, sugerir os meios tendentes à melhor e mais rápida aplicação da matéria considerada e determinada no mesmo Plano, logo que aprovado e publicado.
Assim, não se perdendo de vista o princípio já seguido pelo Governo de uma mais estreita colaboração e contacto entre a Administração e as actividades privadas, sugere-se a criação de uma comissão que seria designada por «Comissão Coordenadora das Actividades Económicas» para actuar no sector governamental que viesse a ser designado, constituída por aqueles elementos que o Governo julgasse necessários, nela tendo assento os presidentes das corporações de carácter económico.

III

Exame crítico

24. Em sentido restrito, o transporte de todas as espécies de produtos para os colocar à disposição do produtor e do consumidor situa-se dentro da definição clássica de comércio.
Na actualidade, essa colocação, que tecnicamente se designa por «distribuição», constitui uma especialidade na prática das actividades mercantis. Sem dúvida que pela sua actual importância e projecção económica mereceu desenvolvimento especial no projecto do III Plano de Fomento (1968-1973); assim, no título II «Programas sectoriais» foi incluído o capítulo VII «Circuitos de distribuição».

1) Nota introdutória

25. A forma como o atrás citado capítulo VII «Circuitos de distribuição» se apresenta articulado e redigido, se facilita uma simples crítica, em muito dificulta uma análise construtiva, aquela que se fará por ser a que mais interessa a este parecer subsidiário.

26. Com efeito, prevendo-se que os próximos anos serão dos mais cruciais para a vida económica da Nação, na qual o comércio vai ter papel importante a desempenhar, devem os seus legítimos interesses e posição ser considerados sempre que qualquer planeamento lhe diga directamente respeito.

27. Na verificada impossibilidade de se analisar ponto por ponto o capítulo VII do título II do projecto do III Plano de Fomento (1968-1973), prefere-se focar, ainda que brevemente, os aspectos mais relevantes dos pontos e sectores que se nos afiguram primordiais, e partir-se daí para a indicação de alguns objectivos, orientações ou medidas com vista ao que respeita especialmente ao comércio interno no próximo plano de fomento, que neste parecer subsidiário se aprecia.

2) Comércio e economia nacional

28. No período de 1953-1964 a taxa de crescimento do valor acrescentado bruto do sector comercial terá sido da ordem dos 5 por cento ao ano (58 por cento no período), ligeiramente superior ao ritmo de acréscimo do produto interno bruto, que foi de 4,8 por cento ao ano (56 por cento no período). Para os últimos anos, a evolução do produto interno bruto (P. I. B.), ao custo dos factores e da parte originada no comércio foi, de acordo com os últimos números publicados, a seguinte (em milhares de contos, preços de 1963):

[Ver tabela na imagem]

(a) Números provisórios.
(b) Previsão oficial.

Nota-se, pois, uma ligeira retracção nos últimos dois anos, mais precisamente em 1965, e que se terá mantido no ano findo. Marcará tal facto uma tendência, ou apenas dificuldades conjunturais? Eis a pergunta que é originada por aquele facto. As subsecções inclinam-se mais para a segunda hipótese, já que lhe não poderão ser estranhas as dificuldades de abastecimento público que se vêm registando, nomeadamente quanto a produtos alimentares; bem como uma certa estagnação da própria economia do sector.

29. Não se afigura, assim, com fundamento, nem o passado permite concluir, que se preveja «lenta diminuição da importância do sector comercial no produto interno bruto, com base na hipótese de o valor acrescentado do sector progredir a ritmo sensivelmente inferior ao do produto interno», levando a admitir que, em 1973, a referida participação do comércio se cifre em 11,6 por cento, apenas.
Assim, se o acento do progresso económico é posto normalmente na industrialização, é preciso não esquecer que esta só tem significado real se lhe corresponde a comercialização efectiva das novas produções; não basta produzir, é necessário escoar os produtos fabricados - muitos exemplos, entre nós (infelizmente), o vêm demonstrando. Com efeito, conhecem-se casos de novas unidades fabris que, superando dificuldades técnicas de

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produção, não conseguem vencer, depois, muitas vezes por terem menosprezado anteriormente o problema da comercialização.
Daí que industrialização e comércio tenham que andar estreitamente ligados e não se veja bem como poderão ter, dentro das suas diversas características, taxas de crescimento muito diferentes. Por outro lado, como se frisa no referido capítulo VII do titulo ri, o significado que poderá, ser extraído do número acima apontado terá de ser prudentemente interpretado, já que «parte considerável das operações de distribuição é levada a cabo por entidades privadas dos sectores agrícola e industrial», pelo que, a nosso ver, continuam a ser simples operações comerciais, independentemente das entidades que as praticam. E mal se iria se assim não fosse, se à disciplina das actividades comerciais, há tanto reclamada, se pudesse fugir alegando tão-só que, embora praticando actos de comércio, não se é comerciante. Não se pretende, obviamente, impedir que os agricultores e os industriais vendam no mercado continental, ou até exportem:, o que parece necessário é que, ao fazê-lo, se integrem na disciplina comercial da respectiva actividade, como os outros que vendem ou exportam os mesmos produtos.

30. E de admitir, também, como é referido, que o processo de desenvolvimento da economia nacional tenderá a aumentar as trocas internas, nomeadamente nas regiões menos desenvolvidas da nossa metrópole, li ainda de considerar a melhoria dos serviços comerciais prestados, de acordo com os desejos de uma clientela cujo nível de vida tende a aumentar e que tem, por isso, maiores necessidades a satisfazer.
Hoje em dia, compram-se produtos tendo em vista o serviço pós-venda, que há alguns anos não era considerado. Não admira, nestas circunstâncias, que o custo comercial tenda a aumentar, porque aumentam também as necessidades que são satisfeitas pelo comércio. Aliás, convém também referir, muitas das produções em massa que hoje se realizam (com consequente redução dos custos de fabrico) só são possíveis porque o comércio lhes consegue dar escoamento, através, muitas vezes, de um aumento dos seus custos - o referido serviço pós-venda, campanhas de publicidade, grandes despesas de armazenagens por constância de encomendas volumosas, e outras razões -, quer dizer, a moderna tendência será para a redução dos custos industriais e o aumento dos comerciais, mas esta asserção terá de ser vista através da interligação destas duas componentes do custo total. Com efeito, na maior parte dos casos, a uma redução (ou simples manutenção) do custo de distribuição - tantas vezes invocada - corresponderiam menores vendas e menores produções, com subsequente aumento do custo fabril, mais que proporcional, por vezes, do que daquela redução.

31. Se considerarmos, ainda, para filem dos argumentos atrás invocados, ser uma verdade da história económica o aumento da população activa no sector terciário (em que o comércio ocupa sempre posição saliente), como indicativo de progresso económico, não se vê bem que, na actual evolução do País, possa admitir-se uma redução da participação do comércio no produto nacional, excepto em caso de decréscimo de produtividade, que não parece legítimo admitir, muito embora ligado a problemas de preparação e aperfeiçoamento de mão-de-obra a que, inexplicavelmente, a nosso ver, se não faz referência no capítulo em causa.
Afigura-se-nos, também, que a análise dos circuitos de distribuição - a que haverá que proceder com urgência, até para definir bem responsabilidades que hoje, quando nem tudo corre bem, sempre lhe são assacadas - irá provar que, se há intermediários desnecessários (e haverá), a sua incidência nos custos é mínima, por margens extremamente reduzidas de cada um deles, e que a sua acção é, sobretudo, perturbadora da marcha normal dos produtos. E a falta de capacidade económica e financeira desses intermediários que provoca a extensão dos circuitos, repartindo os encargos (e as funções) por terceiros, mas repartindo também os lucros correspondentes.

32. Um outro ponto que não pode deixar de merecer reparos é a forma como são encarados os problemas da repartição geográfica das actividades metropolitanas de distribuição. Embora faltem estatísticas sobre a matéria - falha cujo interesse em suprir-se se torna desnecessário realçar -, bastará saber que mais de dois terços da contribuição do comércio para o produto nacional terão origem em Lisboa e Porto para ver a acuidade e gravidade do problema. Não serão suficientes as explicações da densidade populacional, do maior poder de compra e da concentração das relações comerciais com o exterior para justificar esse gigantismo que atrofia todos os outros centros. Se se caminha hoje para uma descentralização, do ponto de vista industrial, daqueles dois pontos do território nacional, parece legítimo que às actividades comerciais se imponham iguais condicionalismos, não esperando que uma distribuição mais homogénea se opere só por si. Quererá isto significar que haverá que prever incentivos - financeiros, fiscais, de preparação de mão-de-obra é outros - que encaminhem certas actividades comerciais para regiões mais desprotegidas, como aliás, muitas vezes, é do próprio interesse dessas actividades, pois a- sua errada situação geográfica provoca o aparecimento (necessário) de intermediários que, depois, são acusados de inúteis ou perniciosos.

3) Investimento e financiamento do sector comercial

33. Já atrás expressámos a opinião de que indústria e comércio devem andar estreitamente ligados, pois o problema de todas as empresas, mais do que produzir, é o de escoar as suas (grandes) produções. Daí que, ao acréscimo de investimentos na indústria, deva corresponder um desenvolvimento paralelo dos investimentos no sector comercial, tanto mais necessário quanto é certo que, internamente, há que dispor de uma organização bem adaptada em equipamentos e métodos, se se pretende organizar em bases sólidas e duráveis a exportação, cuja importância avulta no caso da nossa evolução económica, sob pena de a comprometer ou impedir.
Os modernos métodos de gestão comercial - racionalização de stocks, organização dos transportes, técnicas e equipamentos de armazenagem, embalagem e apresentação de mercadorias, trabalhos contabilísticos e administrativos, serviços a clientes, estudos de mercado e motivação, estudos sobre implantação e movimentação, etc. - ou de exploração - supermercados, centrais de compra, cadeias de distribuição, livre-serviço, conversão e modernização de antigos estabelecimentos, novos produtos (refeições prontas, produtos congelados) - obrigam a novos e vultosos investimentos, reforçados pela «idade» da nossa estrutura comercial.

34. A formação bruta de capital fixo no comércio (por grosso e á retalho), embora apresentando sensíveis irregu-

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laridades na sua evolução, vem reflectindo nos últimos anos a influência dos factores anteriormente enumerados, com um crescimento de 38 por cento entre 1963 e 1964, embora com ligeiro retrocesso (- 1,5 por cento) em 1966. Os números disponíveis (em milhares de contos), a preços de 1963, são os seguintes:

[Ver tabela na imagem]

A participação do comércio situa-se entre 4,3 por cento em 1962 e 7 por cento em 1965 do total da formação bruta de capital fixo, ou, excluindo desta a parte relativa a «habitação», teremos valores mais elevados, entre 8,2 por cento e 8,9 por cento naqueles mesmos anos:

[Ver tabela na imagem]

Para o período do III Plano de Fomento (1968-1973) prevê-se, ao que parece, que o montante total da formação bruta de capital fixo no comércio atinja 10,3 milhões de contos, valor cujas bases de cálculo não conhecemos. Corresponderá, talvez, à extrapolação de valores actuais numa base de crescimento de 10 a 11 por cento ao ano, de acordo com a taxa que se encontrava prevista no Plano Intercalar de Fomento para aquele mesmo período (10,7 por cento), superior, aliás, à prevista para a economia em geral (9,2 por cento).
Teremos, pois, uma média anual de 1,7 milhões de contos 4 - variando entre 1,2 e 2,2 milhões -, valores cuja grandeza mostra a necessidade de assegurar financiamentos a médio e longo prazo que permitam atingir aqueles montantes, inacessíveis ao simples autofinanciamento.

35. Não se encontra também explicitada a natureza desses investimentos, sendo de referir que a repartição dos realizados no comércio, no período de 1952-1958, foi a seguinte:

Percentagens
Construções e obras novas ............ 42
Material de transporte ............... 48
Material diverso ..................... 10

Obviamente que o conhecimento de repartição dos investimentos agora previstos depende da programação do próprio comércio e será, aliás, essencial para a dos sectores eventualmente fornecedores desses bens, podendo essa programação evitar volumosas importações. E, se é certo que a dispersão do sector comercial, onde predominam unidades de pequena dimensão que realizam investimentos de escasso valor unitário, não tornará operacional a apresentação de uma lista exaustiva de investimentos para o período, a verdade é que alguns projectos de que se fala no capítulo em análise poderiam traduzir-se em números, pelo que, sendo o seu valor relativamente elevado, se reduziria a parte incerta daquele elevado montante de 10,3 milhões de contos.
Será o caso da falada Rede Nacional de Frio, com centros devidamente localizados e dimensionados, permitindo também serem utilizados para produtos diversos (simultaneamente ou em épocas diversas), da rede de transportes frigoríficos (rodoviários e ferroviários) que terá de articular-se com aquela Rede, sob pena de perda de operacionalidade, equipamento diverso de transporte e armazéns (viaturas, empilhadores, gruas, etc.), equipamento para selecção e embalagem de produtos, quer para o mercado interno, quer para exportação, construção de armazéns, mercados de frutas e matadouros, bem como outros investimentos cuja quantificação não parece impossível.
Aliás, no modo de ver das subsecções seria da programação destes investimentos, escalonados por ordem da sua necessidade económica, que deveria partir-se para o cálculo do investimento em capital fixo, temperado este, embora, depois pelas disponibilidades existentes, face também à escala de necessidades dos restantes sectores.

36. Os recursos financeiros habituais do comércio são o autofinanciamento, o crédito de fornecedores, o crédito comercial corrente das instituições bancárias e, em casos mais raros, nomeadamente para construções próprias, o crédito hipotecário. Quer isto dizer que, à excepção deste último caso, se trata essencialmente, quanto a capitais alheios, de recurso a créditos a curto prazo, o que torna muito perigosos quaisquer investimentos de modernização ou ampliação, cujo período de recuperação é mais ou menos longo. Acontece muitas vezes, porém, que outras fontes mais adequadas não são acessíveis; daí que o problema de financiamento seja resolvido, não por escolha lógica (em termos económicos e financeiros), mas por imposição de única possibilidade.
O autofinanciamento, ainda que menos oneroso, nem sempre é o meio mais indicado para novos investimentos, sobretudo em épocas de crise, em que a sua redução, leva a diferir ou a não realizar transformações que, mais que nunca em tais épocas, se mostram necessárias e permitem até sair de algumas situações de estagnação, dando novo impulso às empresas. Não se conhecem, até agora, números concretos sobre a importância do autofinanciamento na vida económica nacional.
No que respeita ao comércio realizado por sociedades, algumas alterações na Estatística das Sociedades de 1965, recentemente publicada, permitiu fazer ainda que com reservas (resultantes de se tratar do primeiro ano de publicação desses novos elementos e do não conhecimento do exacto significado de algumas rubricas), um cálculo relativo ao financiamento da formação bruta de capital (capital fixo + variações de stocks)

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De acordo com a referida estatística, em 1965, a formação bruta de capital das sociedades comerciais, em milhares de contos, teria sido a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

(a) Novos Investimentos deduzidos da venda de bens de capital.

Não é indicada a natureza dos bens de capital adquiridos, já que o critério de classificação se refere a realizações por administração directa e compras em primeira e segunda mão, que aqui não interessam. O financiamento teria tido como origem o saldo de capital entre as sociedades constituídas e dissolvidas, os aumentos de capital das empresas existentes, o aumento de empréstimos contraídos ou suprimentos efectuados e o autofinanciamento -reintegrações e lucros retidos -, estes calculados por diferença; os resultados obtidos, em percentagem do total da formação bruta de capital, divergem conforme se trata de comércio por grosso e a retalho:

[Ver tabela na imagem]

Verifica-se que no comércio de retalho são importantes os capitais resultantes da constituição de novas sociedades, enquanto no comércio por grosso, pelo menos no ano em análise, os aumentos de capital, traduzindo eventualmente uma necessidade de expansão e reforço, são mais significativos. A não distinção entre empréstimos e suprimentos retira significado aos respectivos números, mas, não. sendo de admitir que o comércio a retalho tenha maior acesso ao crédito bancário, o valor para ele encontrado ou traduzirá maiores suprimentos ou recurso ao crédito de fornecedores, nomeadamente do comércio armazenista.
O autofinanciamento é mais significativo para o comércio por grosso, o que demonstra também a maior debilidade do comércio a retalho, embora os números encontrados se mostrem elevados, sobretudo tendo em conta também a parte que provém de novos capitais, por constituição ou reforço, e de suprimentos.
Para o comércio em geral (grossista e retalhista), exercido por sociedades, a repartição por fontes de financiamento da formação bruta de capital (capital fixo + existências) seria a seguinte, números redondos:

Percentagens
Capital de novas empresas (saldo) e aumentos de capital ........... 23
Empréstimos e suprimentos ......................................... 13
Autofinanciamento ................................................. 64

De notar, por último, que, cabendo às sociedades 910 000 contos na formação bruta de capital fixo e tendo este sido, no total, para o comércio, segundo as contas da Nação, de 1 159 000, restariam 249 000 contos para os comerciantes em nome individual, o que prova a sua extrema debilidade económica; os investimentos médios anuais serão da ordem dos 190 contos para as sociedades que exercem o comércio por grosso, dos 11 contos para as sociedades de retalho e de cerca de 1,5 contos para os comerciantes em nome individual, números que dispensam comentários.
Aliás, tomando valor igual ao determinado em França, em 1963, para as sociedades comerciais - consagram 2,3 por cento, em média, do seu volume de negócios para investimentos -, teríamos para as sociedades comerciais portuguesas, só por si, um volume de investimentos da ordem dos 1,48 milhões de contos, superior em 62 por cento aos 910.000 contos encontrados em 1965 para elas e em cerca de 28 por cento ao total da formação bruta de capital fixo do comércio nacional.

37. Não deixa de ser interessante, também, indicar aqui alguns elementos sobre a evolução comercial em França, quanto aos aspectos de investimento e financiamento nos últimos anos. Assim, as médias anuais, para o período de 1962-1965, das previsões de investimento eram de 15,6 milhões de contos, assim repartidos:

[Ver tabela na imagem]

(a) Valores médios anuais de 40 contos por comerciante por grosso e de 4 contos por retalhista.

A repartição prevista para os investimentos, por natureza dos bens, era em 1965 (em que os investimentos deveriam atingir 18 milhões de contos), a seguinte:

Percentagem
Construções e grandes obras ......... 44
Material e utensílios ............... 15
Meios de transporte ................. 41

algo semelhante à atrás enunciada para o caso nacional. O financiamento seria feito em 43 por cento por créditos de terceiros e em 57 por cento por autofinanciamento, sendo de realçar o valor daqueles, em contraste com a situação em Portugal.
De referir, ainda para o ano de 1965, que, para além dos investimentos privados atrás referidos, se encontravam previstos os seguintes dispêndios, com base em fundos públicos, em relação às actividades comerciais:

[Ver tabela na imagem]

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Na prática, os números atrás referidos parece terem sido superados, já que os investimentos brutos no comércio terão atingido, em 1963, cerca de 22,5 milhões de contos, com repartição sensivelmente igual por construções (e grandes obras), veículos e outros equipamentos. Por sua vez, o financiamento obtido de entidades especializadas (públicas e privadas, entre as quais sociedades de caução mútua que concederam cerca de 17 por cento dos créditos) atingiu naquele mesmo ano cerca de 6 milhões de contos, como segue:

Percentagem
A longo prazo (mais de 5 anos) ...... 60
A médio prazo (l a 5 anos) .......... 40

38. O aumento de investimento previsto para os próximos anos, a necessidade absoluta de reformas de base no comércio nacional com adopção de modernos métodos de gestão e actuação, as novas formas de comerciar, (supermercados, livre-serviço, pré-embalagem de produtos, artigos preparados e congelados, cadeias voluntárias, centrais de compra, etc.), implicam a existência de financiamentos a prazos (médio e longo) compatíveis com a natureza dessas realizações. Conhecidas a falta de acesso da maior parte dos comerciantes ao crédito especializado, a inadequação deste às actividades comerciais, a impossibilidade de levar muito mais além o recurso a auto-financiamento ou a capitais próprios, tudo parece indicar o interesse de permitir às instituições existentes a concessão de créditos ao comércio ou, até, em caso de impossibilidade daquela solução, a criação de entidade para o efeito especificamente designada, sem prejuízo de se estudar a organização de sociedades de caução mútua, que garantam financiamentos aos seus associados, nomeadamente aos mais débeis economicamente.

4) Alguns elementos sobre circuitos de distribuição e sua evolução previsível

39. A distribuição é normalmente definida como o conjunto de operações materiais ou intelectuais englobadas na colocação de um produto à disposição do utilizador ou consumidor finais ou, também, como o conjunto de actividades exercidas entre o momento em que uma mercadoria, na sua forma utilizável, entra no armazém do produtor e o momento em que é entregue ao consumidor.
Fácil se torna verificar que, deste modo, a distribuição engloba operações muito diversas - estudos de mercado, publicidade, embalagem, agrupamento ou fraccionamento, transporte, armazenagem, sortimento ou selecção, expedição, bem como outras - que recaem sobre os diversos intermiediários de um circuito de distribuição, em alguns casos até no próprio produtor. Daí que a mensuração do custo de distribuição seja sempre muito difícil e deva ser sempre aferida pelos serviços efectivamente prestados; uma distribuição só é menos onerosa se consegue prestar os mesmos serviços com menores custos. Na maior parte dos casos, estes só se verificam porque foram eliminadas algumas fases da distribuição que, obviamente, não presta, então, todos os serviços requeridos pelo consumidor, e não é, pois, comparável. Assim, a simples eliminação de intermediários, hoje tão solicitada, só tem efeitos sobre os custos quando não desempenhem verdadeiras funções de distribuição, onerando então os produtos com a sua (desnecessária) intervenção; mas se se pretende simplesmente eliminar intervenientes, fazendo repercutir sobre outros as suas funções, essenciais ao circuito do produto, então o resultado é muitas vezes contrário, por falta de especialização em tais funções. Pode substituir-se, por exemplo, o grossista, mas não se suprimem as suas funções ...

40. As subsecções pretendem, apenas, ao referir o que atrás ficou escrito, exprimir o pensamento de que a análise dos circuitos de distribuição é bastante complexa, não se podendo partir de ideias preconcebidas e difundidas - pulverização de comerciantes, seu fraco poder económico, dispersão, excesso de intermediários, especulação, etc. Acresce que a distribuição apresenta hoje uma dinamização que afecta os estudos, que, por isso, têm de sofrer uma constante actualização. Resulta tal dinamização, entre outros, dos seguintes motivos:

Crescimento da população, da concentração urbana e do trabalho feminino e ainda da melhoria do nível de vida;
Aumento sensível da produção (produção em massa);
Crescente gama de produtos vendáveis e extensão dos mercados (internos e externos);

que levaram a modificar os sistemas de venda tradicionais e conduziram ao aparecimento de novas entidades comerciais, como supermercados, auto-serviços, cooperativas, empresas integradas, cadeias voluntárias, agrupamentos de compra, grandes armazéns, empresas com sucursais, procurando essencialmente a venda em massa.
Não se duvida que existam deficiências em muitos dos circuitos de distribuição nacionais, como dificuldades recentes vieram provar, mas há absoluta necessidade de os estudar efectivamente e com a brevidade possível. A análise estatística é, para tal efeito, um elemento imprescindível a decisões adequadas e um conhecimento exacto de certos elementos - número de comerciantes e de estabelecimentos, pessoal empregado, investimentos, existências, volume de negócios, valor acrescentado, suficientemente discriminados por grandes sectores e actividades - torna-se absolutamente necessário a previsões com razoável grau de certeza ou um erro mínimo compatível com o que se pretende.
Do preâmbulo do Decreto-Lei n.º 46 925, de 29 de Março de 1966, que promulgou a reorganização do sistema estatístico nacional, respigam-se estes pontos, que corroboram as afirmações das subsecções:

A informação estatística, tanto quanto possível exacta, completa e actualizada, constitui base imprescindível da formulação e execução da política económica e social. Os dados estatísticos, pelo conhecimento simultaneamente analítico e sintético que proporcionam da realidade e da evolução económica e social, representam instrumento essencial para o acerto das decisões a tornar tanto pelos órgãos públicos como pelo empresário privado.
Em especial, a elaboração e o acompanhamento de execução dos planos nacionais de fomento tornam ainda mais premente a indispensabilidade de elementos estatísticos adequados acerca da generalidade dos sectores da vida portuguesa.

E não restarão grandes dúvidas de que o sector comercial é dos menos conhecidos estatisticamente dentro da vida nacional. Assim que a referida reorganização tenha previsto uma repartição (2.ª) que se ocupará de estatísticas de distribuição, subdividida em duas secções, ocupando-se uma (6.ª) das estatísticas do comércio externo e outra (7.ª) das estatísticas do comércio interno, trans-

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portes, comunicações e turismo, competindo-lhe especialmente:

a) Colaborar no planeamento e orientação técnica dos recenseamentos gerais e dos inquéritos especiais de base relativos à distribuição e à prestação de serviços;
b) A elaboração das estatísticas do sector de distribuição e de prestação de serviços, em geral, e, em especial, dos estabelecimentos, pessoal e respectivas remunerações, capitais investidos, existências de mercadorias, compras e vendas, dos preços por grosso e a retalho, ...

Muito há, pois, a esperar desta alteração nos serviços estatísticos nacionais, nomeadamente no que respeita aos sectores menos trabalhados, como o comércio. Só será de admitir, porém, que, não tendo sido possível cumprir, por motivos óbvios, no ano passado, o disposto no artigo 46.º do seu regulamento (Decreto-Lei n.º 46 926, da mesma data), que fixa a realização de «recenseamentos básicos da distribuição e prestação de serviços nos anos terminados em seis», não se tenham de esperar longos anos por tal inquérito, cuja urgência se impõe. Aliás, tal é possível dado que o artigo 47.º fixa que o Instituto Nacional de Estatística «pode efectuar recenseamentos gerais e inquéritos e trabalhos estatísticos especiais ordenados ou aprovados pelo Governo», a quem parece, pois, de pedir desde já, e logo que possível, a realização do recenseamento básico que não pôde ser efectuado em 1966. Com efeito, antes de tais estudos, que deverão incidir sobre os principais circuitos de distribuição - podendo começar, dada a sua importância na economia do público em geral, pelos dos produtos alimentares- e também na verificação das margens comerciais praticadas, só podem referir-se algumas hipóteses que, de forma alguma, substituem o conhecimento exacto das condições existentes.

41. Números oportunamente determinados indicavam a existência de cerca de 15,5 retalhistas por 1000 habitantes, na. metrópole, variando entre mais de 20 nos distritos de Coimbra, Leiria e Faro e 11 nos de Braga e Porto, o que comprova a pulverização do nosso comércio e o seu reduzido poder económico.
Deve notar-se, entretanto, que a densidade comercial em Franca era, em 1964, de 15 estabelecimentos por 1000 habitantes (21 na região de Paris), contra 12 na Alemanha e 10 nos Fitados Unidos. Muito embora nesta simples comparação haja que entrar em linha de conta com outros elementos, nomeadamente o poder de compra da população e ou o volume de negócios por ponto de venda, aquele facto prova que a pulverização efectivamente existente, e a que, aliás, interessa pôr cobro, não apresenta uma situação fora de série no contexto europeu.
Quanto ao comércio grossista, já o problema não será tão preocupante, pois, aí, sendo o volume de negócios mais significativo, encontram-se unidades de dimensão razoável5;, de notar também que parece constituir sector com preocupações de produtividade mais acentuadas (nomeadamente nas unidades que transaccionam com o estrangeiro) e cooperando mais estreitamente no aspecto técnico com o comércio retalhista (de que é tradicional financiador) e também com a produção, quanto a qualidade e embalagem dos produtos, volume de encomendas e é prospecção e publicidade nos mercados consumidores, nomeadamente externos.

42. Não deixa de ser interessante citar, ainda, que a pequena dimensão dos estabelecimentos comerciais, observada agora do lado do pessoal empregado, não apresenta sensível evolução em França, não obstante os grandes esforços de concentração e de investimento Que vêm sendo realizados. Assim, entre 1954 e 1962, a evolução do número de estabelecimentos comerciais, em função do pessoal empregado, era a seguinte (em percentagem do total):

[Ver tabela na imagem]

O número médio de empregados ora, em 1962, de 8,1 por estabelecimento comercial (por grosso e a retalho), num total de cerca de 1 982 000 pessoas, sendo 59 por cento de homens e 41 por cento de mulheres. O comércio por grosso ocupava 29 por cento do total, cabendo ao de retalho os restantes 71 por cento.
Números equivalentes para Portugal, em 1960, indicavam que da população activa ocupada no comércio, cerca de 250 000 pessoas, 85 por cento eram homens e 15 por cento mulheres, e que o comércio de retalho absorvia 79 por cento daquele total, sendo, portanto, a parte do comércio por grosso de apenas 21 por cento.
O número médio de empregados era, em 1964, de cerca de 1,39 por estabelecimento (para 13 distritos do continente), variando de 3,28 em Lisboa e 1,83 no Porto a 0,31 em Leiria, 0,12 em Castelo Branco e 0,07 em Bragança. Neste distrito, 95,8 por cento dos estabelecimentos não tinham pessoal, contra 91 por cento em Vila Real, 88 por cento em Viana do Castelo, 86 por cento em Faro e 84,6 por cento em Évora.
Num outro cálculo, para oito distritos (entre os quais Lisboa, Porto, Aveiro e Setúbal), a percentagem encontrada para cerca de 90 000 estabelecimentos era a seguinte :

Percentagens
Com pessoal ............... 22,5
Sem pessoal ............... 77,5

situação sensivelmente pior que em França.

43. Uma tendência universal que se vem observando no comércio é a diminuição do número de estabelecimentos, quer no comércio armazenista, quer no de retalho, seja por concentração, seja por desaparecimento dos menos aptos, nomeadamente dos comerciantes isolados ameaçados pelas modernas formas de venda.

5 Sem prejuízo de haver armazenistas, importadores e exportadores sem pessoal, incapazes, portanto, de exercer as suas verdadeiras funções.

6 Incluindo restaurantes, cafés e hotéis.

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Será de assinalar, porém, que a evolução não é comum a todos os sectores, antes pelo contrário. Recorrendo ainda, de elementos de origem francesa, verifica-se que entre 1954 e 1964 o número de estabelecimentos diminuiu de 3 por cento, cerca de 5 por cento para o comércio por grosso, pouco menos de 3 por cento para o de retalho. Mas é por sectores que esta evolução é mais divergente: designando por grupo A os estabelecimentos que se dedicam à comercialização da produção agrícola, da alimentação e do vesturário e por grupo B os que vendem equipamento industrial e geral, equipamento para o lar e artigos de recreio, luxo e higiene, verifica-se que aqueles diminuem, enquanto estes aumentam (variações entre 1954 e 1964):

[Ver tabela na imagem]

Está esta evolução intimamente ligada à modificação no modo e nível de vida das populações, bem como à procura rígida de muitos dos produtos vendidos nos estabelecimentos do grupo A. Mas a razão principal estará nas modernas formas de comerciar, que em relação àqueles sectores se tem especialmente desenvolvido.

44. Cabe por isso aqui fazer uma referência, ainda que breve, a essas novas formas de venda ou de comércio que há pouco tempo apenas fizeram a sua aparição entre nós. Começar-se-á pelos supermercados e outras formas de auto-serviço 7, cuja importância, à semelhança de outros países, é de esperar se venha a acentuar, sobretudo quando bem localizados, procurando uma clientela com características e possibilidades financeiras diferentes da grande massa populacional, proporcionando-lhe facilidades de transporte e ou de estacionamento. É de referir que tais estabelecimentos - existem 23 apenas, 15 dos quais em Lisboa e Porto (3 com mais de 400 m2, 15 entre 200 m2 e 400 m2 e 5 com menos de 200 m2)8 - poderão ter decidida influência na normalização, embalagem, nível de apresentação e de higiene dos produtos comercializados pelos retalhistas independentes, que, aliás, não substituem e que têm amplas possibilidades de sobrevivência, sobretudo se souberem adoptar do livre-serviço alguns elementos importantes - embalagem, apresentação e higiene dos produtos -, dispondo de armas próprias, entre as quais, por exemplo, das mais importantes, é o contacto directo com os clientes.
Será de realçar que a evolução crescente dos supermercados estará dependente de factores exógenos importantes, nomeadamente:

Embalagem directa pelo produtor ou fabricante, evitando secções próprias de embalagem;
Melhoria do nível de vida do consumidor e dos seus hábitos;
Eliminação de dificuldades (alvarás municipais, por exemplo) à venda de certos produtos;

que, quando obtidos, tenderão à prática de melhores preços por custos mais reduzidos.
As associações voluntárias de grossistas e retalhistas só agora também começam a aparecer entre nós, mas têm grande importância no estrangeiro:

Em 1963, em França, havia 20 associações, agrupando 500 grossistas e mais de 50 000 retalhistas;
Na Alemanha englobavam 53 000 retalhistas, representando 37 por cento das vendas do sector alimentar;
Na Holanda havia 80 agrupamentos com 290 grossistas e 17 000 retalhistas.

Um dos meios mais interessantes destas associações é precisamente o auxílio técnico que os grossistas podem prestar aos associados retalhistas, no sentido de lhes actualizar os processos de venda - exposição de artigos, produtos embalados, móveis especiais, campanhas de publicidade e promoção de vendas -, permitindo-lhes ainda compras menos onerosas ou manutenção de stocks mais baixos e facilitando-lhes meios financeiros para modernização dos seus estabelecimentos. A experiência portuguesa não permite ainda tirar conclusões da eficiência do sistema entre nós.
Também as associações ou centrais de compra de retalhistas (35 000 retalhistas em França, 50 000 na Alemanha, 25 000 na Holanda, em 700 agrupamentos de compra) poderão vir a ocupar lugar importante no nosso comércio, à semelhança do que se passa no estrangeiro, agrupando compras que se efectuam, portanto, em melhores condições que pequenos armazenistas.

45. Cabe aqui deixar também uma palavra sobre as cooperativas de consumo 9, apontadas como uma das panaceias para os «males comerciais». O seu fraco desenvolvimento parece provar que a solução não estará efectivamente na criação de cooperativas, facto que se verifica não apenas em Portugal, mas na maior parte dos países, excepto, possivelmente, os escandinavos (em França, por exemplo, representavam as cooperativas apenas 2,5 por cento do comércio a retalho, sendo seu objectivo, considerado ambicioso, atingir 5 por cento da distribuição francesa em 1980!). Para além da incompleta consciencialização das eventuais vantagens dessas instituições e certa desconfiança perante o fenómeno cooperativo, muitas vezes justificada 10, os restantes motivos apontados no projecto do Plano, seja carência de fontes de financiamento acessíveis, atrasos na adopção de modernas técnicas de gestão, exorbitantes alugueres na cidade de Lisboa para estabelecimentos de auto-serviço, são

7 De notar que o auto-serviço se aplica hoje também no comércio por grosso, sistema cash and carry, que começa a expandir-se na Europa.
8 Ao contrário da legislação portuguesa, que fixa como área mínima de venda 200 m2, os especialistas classificam como supermercados apenas os pontos de venda com área superior a 400 m2. Em França, em 1 de Janeiro de 1966, havia 584 supermercados e 9373 pontos de venda em auto-serviço com áreas inferiores a 400 m2.
9 Embora no capítulo em análise se fale também em cooperativas de produção, é evidente que aqui só interessam as cooperativas de consumo, que, até certo ponto, se substituem aos comerciantes. As cooperativas de produção têm, aliás, interesse para o comércio na medida em que permitem, por agrupamento de pequenos produtores isolados e débeis, um interlocutor mais válido nas transacções, com melhores custos, evitando também a acção de intermediários no necessário «ajuntamento» de pequenas produções, que, assim, se encontram reunidas; não podem considerar-se, porém, elementos de um circuito comercial puro, excepto na medida em que vendam directamente ao retalhista ou consumidor final, como pode acontecer com qualquer outro produtor.
10 Sobre o assunto veja-se uma exposição da Corporação do Comércio enviada em 27 de Abril de 1964 ao Ministério da Economia.

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comuns a todas as formas de comércio, onerado este ainda com pesados impostos.
Será de reconhecer que a difusão de cooperativas poderá provocar aperfeiçoamento nos circuitos de distribuição, dado que, pretendendo vender a preços mais baixos, provocarão nos comerciantes existentes a necessidade de adopção de métodos de organização e gestão mais modernos com consequente (quando possível) redução dos seus custos, permitindo assim preços concorrenciais. Mas é evidente que qualquer dos outros métodos atrás referidos (auto-serviços, supermercados, associações de grossistas e retalhistas, centrais de compra de retalhistas) provoca nos comerciantes independentes iguais repercussões, que não são, pois, apanágio das cooperativas.
Acresce que os custos destas são muitas vezes algo artificiais, já que encontram forte auxílio em empresas a que estão ligadas (caso também das cantinas e estabelecimentos similares existentes em empresas, escolas e outras instituições), que suportam grande parte dos encargos - pessoal, rendas, iluminação, transportes e energia, que, a serem considerados nos custos, como seria legítimo, poderiam até aumentar os preços de venda. E não admira que assim possa acontecer, dado que em raros casos estão à frente de tais cantinas ou cooperativas pessoas com experiência comercial suficiente para uma gestão racional. E será duvidoso que esta política das empresas, que assim facilitam o consumo e provocam a contenção dos salários, seja benéfica para a economia nacional, já que desviam de actividades devidamente organizadas clientela que legitimamente a estas pertence. O que, aliás, as leva a reclamar sempre que um concorrente se apresta a entrar no sector.
De notar também, como aliás se foca no capítulo em apreciação, que as cooperativas de consumo fechadas em torno do pessoal de uma empresa ou de uma profissão têm escassas possibilidades de sobrevivência, por reduzida dimensão, facto que pode contribuir também para os maiores custos de que acima falámos.
Duvida-se, assim, que o cooperativismo possa contribuir eficazmente para a evolução comercial portuguesa, como aliás o provará o fraco crescimento verificado nos últimos anos.

46. Considera-se certo, como se prevê no capítulo do projecto do Plano em causa, que os mercados regionais ou municipais venham a perder operacionalidade face às características da evolução previsível do comércio alimentar. Não será estranho, aliás, a tal resultado o sistema seguido nas vendas, em condições de higiene muito discutíveis e provocando problemas de trânsito e de estacionamento delicados, em especial nos centros populacionais mais importantes.
Convirá, no entanto, não esquecer que, em regiões mais isoladas, esses mercados e feiras representam ainda um forte interesse para as actividades locais e um contacto mais frequente -muitas vezes o único existente- com novos produtos ou artigos. E se tal contacto nem sempre é favorável aos habitantes locais, o problema é, essencialmente, de regulamentação, hoje não existente, e que, neste como noutros casos (diremos mesmo na generalidade dos casos), amplamente se justifica.
É evidente, por outro lado, que a falta de uma rede de estradas e transportes em boas condições operacionais (suficiente para as necessidades, pouco onerosa em relação ao custo dos produtos e rápida perante a sua facilidade de deterioração) será um elemento muito importante r o estabelecimento de uma distribuição eficaz, evitando a quebra dos produtos, atrasos de entrega e acumulação de existências, com fortes efeitos sobre os custos e preços.

47. A necessidade de aumentar a eficiência da distribuição e reduzir o seu custo, obrigando a investimentos vultosos, implica empresas comerciais racionalmente organizadas e com solidez financeira. Para além das fórmulas atrás referidas, a concentração de pequenas empresas é, pois, um dos factores que pode contribuir para a resolução destes problemas, sendo de referir, contudo, que essa concentração tem limites, para além dos quais as vantagens são superadas pelos inconvenientes, estes muitas vezes de. ordem social quando se criam por tais processos posições dominantes. Empresas gigantes impõem condições e geram situações contrárias aos interesses gerais que se pretendiam defender ao encorajar tais iniciativas e, embora no comércio estejamos muito longe de tais factos, será conveniente olhar a experiência de outros sectores, tendo em vista a preservação dos comerciantes independentes, como parece necessário, dando-lhes suficientes condições de vida.
A não especialização pode sor um dos bons métodos de luta destes, dado que a extensão de gama de produtos vendáveis num mesmo estabelecimento, respondendo às exigências de uma clientela mais numerosa, permite aumentar o volume de negócio sem subida dos encargos de exploração, com melhor rotação global das existências (certas vendas impulsionam outras), possibilitando melhor retribuição da actividade comercial, sem onerar o custo de distribuição e os preços de venda.
Cabe aqui referir ainda que as exigências dos consumidores, nomeadamente quanto a qualidade dos produtos, entrega ao domicílio, garantias e serviços pós-venda. contribuem decisivamente, para um aumento do chamado custo de distribuição, cuja não repercussão, pelo menos total, sobre os preços de venda, só pode ser obtida pela racionalização de gestão e forte estrutura económica e financeira, de que atrás se falou. Acontece, porém, que para muitos produtos as margens brutas existentes são demasiado exíguas, não comportando sensíveis reduções, registando-se, em contrapartida, um aumento de encargos muito sensível; este facto, que se observa, por motivos políticos, muito em especial nos produtos alimentares e de grande consumo, explica que sejam estes os sectores em que a diminuição do número de comerciantes é mais acentuada e em que os modernos métodos de venda têm surgido com mais intensidade.

48. Ressalta evidente, porém, do que atrás ficou escrito, que não é viável encarar como melhor esta ou aquela solução, um ou outro modelo de circuito de distribuição e, muito menos, tentar definir um modelo tipo válido para todos os casos. Como bem se acentua no capítulo a cuja análise se procede na escolha de um circuito há que atender a múltiplos aspectos, muitos deles exigindo, só por si, uma solução diferente; sem esgotar o assunto, indicar-se-ão os aspectos mais salientes a considerar:

Natureza do produto transaccionado, distribuição no tempo e no espaço do seu fabrico (ou colheita);
Posição do consumidor, sua dispersão geográfica, capacidade de aquisição, serviços que requer;
Situação financeira dos diversos intervenientes, sua capacidade de transporte e armazenagem;
Flexibilidade do circuito, sua adaptação a condições excepcionais mas previsíveis.

Só tendo em conta, pelo menos, os aspectos atrás focados pode considerar-se a eficiência de um circuito, que deve assegurar, nessas condições, «o melhor serviço ao menor custo».

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O circuito tradicional em todo o Mundo continua a ser, apesar de tudo, o do produtor-armazenista-retalhista-consumidor, constantemente- atacado, pela posição do armazenista, considerado em determinada época como desnecessário e caro. A esta- crítica soube o grossista responder com eficiência, dinamizando a sua acção e tornando-se um distribuidor eficiente de produções em massa, a baixo custo. Na realidade, as suas funções essenciais - seleccionando fornecedores, comprando em grandes quantidades, armazenando, fraccionando as mercadorias de acordo com as necessidades dos clientes, prospectando e escolhendo estes, transportando e entregando os produtos, concedendo crédito- contribuem decisivamente para regularizar a distribuição. A sua colaboração com retalhistas e industriais é um dos factores mais salientes do moderno comércio e a prova de- que os circuitos de distribuição mais antigos são válidos, desde que os intervenientes exerçam eficazmente as suas funções.
A tentação de suprimir intervenientes necessários é, assim, na maior parte dos casos, repete-se, um erro, pois as funções dos excluídos, sendo exercidas por outros dos intermediários, menos aptos, por menos bem preparados, traduzem-se necessariamente num aumento de encargos. Claro que a manutenção de intervenientes num circuito, por tradição, apenas, não deve ser encarada; há que justificar efectivamente a sua posição e funções e exercer estas com a melhor produtividade possível. Nestas condições, pode concluir-se que, se a eliminação de um interveniente acarretou menor custo final do produto, então ele exercia funções desnecessárias. Crê-se, porém, que em poucos casos tal facto se verificará, com grande surpresa de muitos e ... a tranquilidade de poucos. E caberá aqui referir que, se há escassez no mercado continental de certas mercadorias não pode haver distribuição eficiente; se não há mercadoria ou produto suficiente para o consumo público, acusar a distribuição de ser pouco eficaz é atribuir a outrem culpas próprias.

5) A necessidade de uma disciplina para as actividades comerciais

49. Não quer isto dizer que nalguns sectores se não verifiquem efeitos perniciosos de entidades que, inserindo-se nos circuitos existentes, constituem elemento de perturbação, especialmente em épocas de escassez, especulando e provocando altas de preços.
Não tem sido possível reprimir eficazmente a intervenção dessas entidades, que procuram um lucro fácil e rápido, sem outras preocupações. E tal não tem sido possível por não existir regulamentação adequada, que impeça o aparecimento de tais intervenientes, que, se prejudicam produtores e consumidores, não afectam menos o comércio organizado, que vê surgir entidades que, especulando, impedem ou dificultam as suas transacções normais.
Por outro lado, todos os dias se verifica a abertura de estabelecimentos sem possibilidades de sobrevivência e muitas vezes a curta distância de outros pertencentes ao mesmo sector e de há muito instalados, acarretando muitas vezes, também, o descalabro destes últimos. Traduz-se tal facto, pois, num desperdício de investimentos, tão escassos num. país em vias de desenvolvimento como o nosso, sem vantagens quase sempre para ninguém e nenhumas para a economia nacional em geral e para o comércio em particular.
E que este é sempre o grande prejudicado dos factos atrás referidos o prova a circunstância de ter sido o comércio a pedir insistentemente, e de há muito, o Estatuto do Comerciante. Se o Governo pretendesse publicar tal diploma e o comércio se opusesse, legítimo seria admitir que a este convinha a situação vigente e dela se aproveitava; opinião contrária se terá, pois, de tirar do facto de ser o comércio que pretende, precisamente, disciplinar as suas actividades, eliminando as consequências desfavoráveis da insuficiência de regulamentação. E só fica por saber a quem convém a situação actual.

50. Entre outros factores, incluindo a sua própria sobrevivência, o comércio não esqueço que ocupa mais de 8 por cento da população activa portuguesa, ou seja cerca de 260 000 pessoas, que, em 1973, deverão ser cerca de 300 000. para as quais terei responsabilidades que pretende (e deve) defender.
Assim, que tenha solicitado há longos anos ao Governo a publicação desse Estatuto, para cujo estudo despendeu longo tempo e dinheiro. Pretende com ele classificar os comerciantes, estabelecendo em termos gerais os seus direitos e obrigações e definindo quem. é comerciante, estabelecendo a obrigatoriedade de carteira comercial para exercer actos de comércio. Nele se tomam, também, as disposições genéricas sobre a sua disciplina, definindo entre outros conceitos os de infracções disciplinares, concorrência ilícita e desleal e respectivas sanções.
Este enunciar faz precisamente realçar o desejo, emitido pela respectiva Corporação, mas emanado dos próprios comerciantes, de essencial mente eliminar os falsos comerciantes, sem nenhum grau de habilitações técnicas ou um mínimo de capacidade económica, e que tanto perturbam a comercialização normal.
São, aliás, elucidativos os deveres dos comerciantes contidos num. anteprojecto de estatuto elaborado pela Corporação do Comércio:

a) Usar da maior lealdade, escrúpulo e honestidade no exercício da sua actividade;
b) Evitar que os seus actos lesem os superiores interesses do País, nomeadamente no que se refere à prática de infracções antieconómicas, contra a saúde pública e disciplinares contra a economia nacional;
c) Respeitar as funções e disposições decorrentes do ramo de comércio que pratiquem;
d) Cumprir o que se encontra estatuído na legislação de carácter social e nos contratos colectivos de trabalho.

51. Publicado que esteja o referido Estatuto, se procederá à fixação, em regulamentos comerciais, nele previstos, das condições técnicas, económicas, financeiras e deontológicas dó exercício de cada actividade ou próprias do comércio de cada espécie de mercadorias. Deverão ser tais regulamentos da iniciativa dos organismos corporativos directamente interessados, que melhor conhecem as reais condições de exercício da actividade específica, ou da própria Corporação do Comércio, devendo conter, obrigatoriamente, disposições relativas a:

Capital mínimo (a afectar à actividade);
Requisitos técnicos indispensáveis;
Habilitações técnicas a exigir;
Área de aplicação do regulamento.

De notar que as Portarias n.ºs 19 947, de 17 de Julho de 1963, e 20 443, de 17 de Março de 1964, fixaram já condições para os armazenistas de bacalhau, entre as quais:

Capital mínimo (variável, entre 1000 e 2000 contos, com a localização);

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Quadro mínimo de pessoal, variável em iguais circunstâncias;
Armazém geral de mercearia (área mínima de 200 m2);
Competencia técnica do comerciante ou dos gerentes.

A Portaria n.º 20 922, de 21 de Novembro de 1964, definiu os requisitos a que devem obedecer os estabelecimentos denominados supermercados, requisitos entre os quais se coutam os seguintes:

Capital mínimo de 1500 contos;
Área de exposição e venda não inferior a 200 m2;
Habilitações dos gerentes; Maioria de vendas em regime de auto-servico;
Secções diferenciadas por espécies de produtos não embalados;
Venda obrigatória de peixe ou de carne;

bem como as condições a que devem, obedecer para serem autorizados e os trâmites do respectivo processo.
Também as Portarias n.ºs 20 921 e 20 923, daquela mesma data, que fixam, respectivamente, o regime do comércio interno de frutas frescas e secas, produtos hortícolas e flores e do comércio interno por grosso de bananas, estabelecem algumas regras quer sobre a comercialização daqueles produtos, quer sobre os respectivos comerciantes.
Obviamente que tais medidas isoladas, impostas pelo Governo sem ouvir muitas vezes os interessados, se provam a necessidade de legislação, não podem substituir o solicitado Estatuto do Comerciante e os regulamentos subsequentes, que permitiriam um acompanhamento geral e directo das actividades de distribuição, reprimindo abusos ou desrespeitos às normas que se fixem.

6) Aspectos específicos de alguns sectores

52. No capítulo VII do título 2.º do projecto de III Plano de Fomento para 1968-1973 são indicadas algumas medidas que se consideram de adoptar em relação a determinados circuitos de distribuição. Fica-se, a este respeito, com algumas dúvidas que às subsecções se afiguram pertinentes:

Qual o critério que presidiu à escolha desses circuitos?
Ou será que os não citados não possuem problemas?
E serão os pontos focados os mais importantes desses mesmos sectores? Como foram escolhidos?
E serão alguns desses problemas tão específicos que uma regulamentação geral os não possa tratar?

Vejam-se dois exemplos concretos que elucidam suficientemente. Assim, sob a rubrica «Cereais», escreve-se, apenas: «proceder-se-á à concentração do comércio armazenista de arroz, com vista a reduzir os encargos de distribuição do produto». Parece de admitir, portanto, que o arroz não terá quaisquer outros problemas e que os outros cereais até não terão nenhuns ou, pelo menos, tão prementes como aquele 11.
Quanto aos produtos resinosos, escreve-se que «haverá que vigiar as margens de lucros praticadas e disciplinar o circuito de distribuição respectivo, desde o produtor até ao industrial utilizador, de modo a obstar, na medida do possível, à adopção de práticas lesivas para qualquer das categorias de empresários intervenientes no circuito», medidas tão gerais e necessárias a qualquer sector que dispensa comentários e só deverá ser resolvido pelos regulamentos económicos de cada actividade (Estatuto do Comerciante). Dizê-lo a propósito de um sector determinado, permitirá inferir que nos outros não existe qualquer problema sobre o assunto, o que infelizmente não acontece.
Ainda de citar também, a título de exemplo, as medidas quanto ao açúcar, e que serão:
1.) Proceder à concentração dos armazenistas do produto (o que levanta o problema, já citado, de esses armazenistas serem de mercearia que transaccionam também o açúcar); e
2) Melhorar as condições de trabalho e a produtividade da indústria de refinação.
Quanto a este último ponto, parecem fora de propósito todas as referências feitas (e são algumas) sobre as indústrias respectivas, já que não parecem compatíveis com o capítulo em que estão incluídas, a este não dizendo respeito e podendo até estar em contradição com as que obviamente lhes competem no respectivo capítulo do Plano de Fomento.

53. Não parece que as orientações indicadas para os diversos sectores se revistam de um interesse geral que recomendem a sua inclusão em plano de fomento ou não possam incluir-se em pontos genéricos mais vastos e, por isso, de maior interesse.
E cabe aqui referir ainda que, sendo Portugal um país corporativo, se não possa deixar de estranhar que se excluam de muitos pontos os organismos corporativos mais directamente interessados na resolução dos problemas, dando-se competência aos organismos de coordenação económica, precisamente à margem da organização corporativa que interessará, fomentar, quando necessário, pela criação de grémios.

54. De entre as sugestões apontadas no projecto de III Plano de Fomento, salientam-se aquelas que podem. ter interesse para os intervenientes nos circuitos de distribuição.

a) Produtos pecuários

1) Encorajar a evolução gradual dos talhos de Lisboa e Porto para o auto-abastecimento individual, sem impedir o auto-abastecimento colectivo, quando necessário, eliminando as restrições municipais impostas ao trânsito de carnes, sem quebra da efectiva e indispensável fiscalização sanitária actualmente exercida pelos municípios;
2) Favorecer a modificação da estrutura dos estabelecimentos de venda, no sentido de unidades comerciais polivalentes (produtos de origem animal destinados à alimentação humana), sem que se perca de vista uma aconselhável limitação, atendendo-se ao carácter especial, deste comércio.
3) Substituir a actual rede de matadouros municipais, problema que foi já objecto de estudo concluído em 1965 e elaborado pela Comissão Reorganizadora da Indústria de Abate; é da maior vantagem económica que os estabelecimentos preconizados naquele estudo sejam equipados tendo em vista conservar em boas condições os subprodutos da exploração.
4) Garantir transporte rápido e à temperatura conveniente aos produtos ovícolas, a fim de preservar a sua qualidade;
5) Regulamentar oportunamente a distribuição de gado ovino, caprino e equídeo para consumo público:

11 Aliás, não se vê bem como pode impor-se a concentração dos armazenistas de arroz, quando é certo que são os armazenistas de mercearia que transaccionam o arroz. O problema não pode ser posto produto a produto, mas sim por sectores de actividade.

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b) Produtos horto-frutícolas

1) Fomentar ou executar directamente a construção de infra-estruturas susceptíveis de criar condições mais favoráveis de comercialização, inclusive novos canais de distribuição que melhor sirvam o produtor e o consumidor e facilitem a incorporação, no produto, de novos serviços (conservação, congelação, calibragem, embalagem, etc.). Para tanto será promovida a construção de mercados centrais em Lisboa, Porto e Algarve e definir-se-á a respectiva administração;
2) Estabelecer normas de qualidade para os diversos produtos ;
3) Apoiar o equipamento da rede de transportes com navios fruteiros e vagões-frigoríficos para preservação da qualidade do produto e sua valorização económica;
4) Ultimar o estudo sobre a criação de associações de exportadores, encarando a possibilidade de agrupamentos a nível regional ou nacional.

c) Óleos vegetais

Promover o financiamento de iniciativas regionais para a comercialização dos óleos de bagaço de azeitona, milho, bolota e grainha de uva.

d) Sal

Construção, a curto prazo, de armazéns de sal, devendo encarar-se a possibilidade de facilitar a inscrição na Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos dos armazenistas do continente e ilhas adjacentes localizados fora dos salgados e das regiões de forte consumo.

e) Produtos farmacêuticos

Por estar manifestamente desactualizado, afigura-se de interesse rever com urgência o Regulamento do Comércio dos Medicamentos Especializados, aprovado por despacho ministerial de 15 de Abril de 1941, de forma a tornar mais viável a actuação económica da farmácia e para que a sua actividade retalhista se exerça com eficiência e no interesse e defesa da saúde pública.

f) Adubos e pesticidas

1) Criar um sistema de preços escalonados, por forma a encaminhar as aquisições para épocas de menor consumo;
2) Tornar obrigatório para os industriais, mesmo dispondo de organização comercial, a venda de adubos de seu fabrico ao comércio, garantindo o regular abastecimento do mercado e uma repartição equitativa entre os intervenientes na comercialização de fertilizantes.

g) Produtos resinosos

Que sejam retomados os trabalhos e diligências para a celebração de um acordo internacional a celebrar com a Espanha, França e Grécia.

IV

Conclusões

55. As subsecções enunciam assim as suas conclusões sobre o projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, no que especialmente diz respeito ao comércio (circuitos de distribuição);
I) E louvável a iniciativa do Governo de integrar o comércio nos planos de desenvolvimento nacional que lhe merecem tratamento prioritário.
II) Dão a sua concordância aos objectivos e medidas de política económica expressos no capítulo VII «Circuitos de distribuição» do título II «Programas sectoriais» do projecto de III Plano de Fomento, para 1968-1973, consideradas que sejam as sugestões e os reparos feitos neste parecer subsidiário.
III) Sugerem, assim, que, em relação ao III Plano de Fomento, para 1968-1973, se tomem as seguintes disposições:

a) Que se promulgue o chamado «Estatuto do Comerciante», visando a definição, classificação e disciplina dos comerciantes, seus direitos e deveres;
b) Que, elaborados através da organização corporativa, se publiquem, em complemento do referido Estatuto, os regulamentos disciplinares das diversas actividades comerciais, fixando os respectivos requisitos específicos, de ordem técnica, económica, financeira e deontológica. Tendo em vista uma ordem de prioridade, parece ser de iniciar esses trabalhos pelos relativos a exportadores e importadores e, seguidamente, pelos intervenientes em circuitos de distribuição relativos a produtos alimentares é de grande consumo;
c) Que através do Instituto Nacional de Estatística, e em colaboração com a organização corporativa, se realizem com brevidade os inquéritos de base sobre distribuição previstos no Decreto-Lei n.º 46 926, de 29 de Março de 1966, de forma a ter-se um conhecimento mais exacto deste sector económico e sua participação no produto nacional;
d) Que se continuem urgentemente, no quadro do Grupo de Trabalho n.º 5 «Comércio» da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, os estudos respeitantes à análise crítica dos problemas relativos aos circuitos de distribuição, de forma a poderem vir a definir-se linhas de política geral e o planeamento da distribuição, e se obter mais exacta integração do sector comercial no esquema da contabilidade nacional;
e) Que se elaborem as necessárias medidas legislativas sobre distribuição e abastecimento público, sempre em íntima colaboração com os legítimos representantes das respectivas actividades privadas, e fiscalizar o cumprimento estrito da disciplina que vier a ser estabelecida;
f) Que se estabeleçam normas definidoras de qualidade (calibragem, embalagem e outras) para os produtos nacionais sujeitos a transacção, quer para o mercado interno, quer para exportação, neste- caso tendo em atenção as normas internacionais;
g) Que no planeamento das infra-estruturas do País se considerem as necessidades da comercialização e distribuição, nomeadamente no que respeita aos seguintes pontos:

Rede de estradas suficientemente densa;
Melhor apetrechamento dos portos e aumento das suas áreas de armazenagem;
Construção de centros de selecção e escolha e de armazéns, de acordo com as necessidades dos diversos produtos e respectivos volumes de produção;

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Estabelecimento de uma rede nacional de frio, tanto quanto possível com armazéns polivalentes, devidamente localizados;
Aquisição de barcos e outros meios de transporte (rodoviários e ferroviários) frigoríficos, a articular com a rede de frio anteriormente citada;
Criação de zonas francas em locais a estudar, principalmente no porto de Lisboa;

h) Que se incentive a progressiva melhoria de produtividade dos intervenientes nos circuitos de distribuição, procurando o seu melhor dimensionamento e facilitando a realização de investimentos conducentes à racionalização e descentralização das actividades comerciais, evitando, contudo, implantações supérfluas ou excessivas;
i) Que o comércio tenha acesso, para os seus investimentos em capital fixo, a financiamentos a médio e longo prazo, sugerindo-se que às instituições existentes seja possível conceder empréstimos para aqueles fins, a taxas de juro compatíveis com as necessidades empresariais;
j) Que se acelere a formação profissional a todos os níveis do pessoal a empregar no sector comercial e se auxiliem os sindicatos, grémios e empresas a realizar cursos do aperfeiçoamento e especialização do pessoal existente, tendo em vista melhorias de produtividade e de remuneração;
l) Que se ampliem as Universidades e as escolas comerciais existentes e se abram novas unidades onde se ministre toda a matéria precisa para a prática de um bom comércio, com vista a formação de técnicos comerciais nos vários escalões do ensino;
m) Que se estimulem estudos gerais sobre circuitos de distribuição e seu aperfeiçoamento e a introdução de modernos métodos de gestão e, eventualmente, para esse fim, se venha a criar, junto da respectiva Corporação, um centro de estudos de comércio;
n) Que o Estado intensifique a sua acção no relativo à exportação - embora com carácter supletivo e nos campos, onde, pela sua vastidão, a simples iniciativa privada esteja impossibilitada de se exercer, tenha fraca repercussão ou precise de ser ampliada -, nomeadamente através do Fundo de Fomento de Exportação, tendo em vista:

1) Prospecção e estudo de mercados, quer para artigos tradicionais, quer para novos produtos;
2) Criação de centros de estudo e investigação, de forma a acompanhar as técnicas e a evolução do gosto dos mercados externos;
3) Campanhas gerais de publicidade;
4) Auxílio técnico e ou financeiro a participações individuais em feiras e exposições, sem prejuízo de participações genéricas, quando justificadas;
5) Alargamento dos serviços comerciais do Fundo de Fomento de Exportação a novos países (A. E. C. L. e América Latina, África do Sul e Rodésia e outros);
6) Campanhas (cursos, seminários), tendo em vista o aperfeiçoamento dos exportadores e de suas técnicas;
7) Intensificação dos serviços prestados pelos serviços consulares, substituindo os serviços comerciais do Fundo de Fomento de Exportação nos países que este não possa abarcar;

o) Que se fixem benefícios para os exportadores, entre os quais, por exemplo, isenções fiscais, realização de amortizações aceleradas, subsídios diversos e concessão da carta do exportador, e se favoreça, através de diploma legal, a constituição de agrupamentos de exportadores, quando necessários, evitando a proliferação de ofertas do origem nacional;
p) Que nos moldes sugeridos no texto deste parecer o Governo crie a Comissão Coordenadora das Actividades Económicas.

Palácio de S. Bento, 17 de Julho de 1967.

Bernardo Viana Machado Mendes de Almeida.
Álvaro Vieira Botão.
Hugo de Mascarenhas.
Aníbal David.
Manuel Alves da Silva.
Cândido Adelino Falcão Guia de Magalhães.
Mário Luís Correia Queiroz.
Adolfo Santos da Cunha.
Alberto Sena da Silva.
Afonso de Oliveira Rego.
Francisco Pereira da Fonseca.
Manoel Alberto Andrade e Sousa, relator.

ANEXO IX

Parecer subsidiário das subsecções de Transportes terrestres, de Transportes aéreos e de Transportes marítimos e fluviais, da secção de Transportes e turismo, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa.

Transportes, comunicações e meteorologia

As subsecções de Transportes terrestres, de Transportes aéreos e de Transportes marítimos e fluviais, da secção de Transportes e turismo, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, às quais foi agregado o Digno Procurador Herculano Amorim Ferreira, consultadas sobre o capítulo viu «Transportes, comunicações e meteorologia», do título li «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emitem, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Os planos de fomento anteriores

1. Antes de mais, um breve apontamento sobre o que vem de trás, visando certa aferição do que se propõe para a frente.

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1662-(884) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

A) O I Plano de Fomento

2. O I Plano de Fomento (1953-1958) apontou para a aceleração do ritmo dos investimentos públicos e para a promoção ou facilitação de maiores investimentos privados, visto tornar-se indispensável elevar o nível de vida e ser cada vez mais intensa a pressão demográfica, e estruturou-se como um plano de conjunto correspondente às necessidades do progresso económico do País, dentro das suas possibilidades de financiamento. Tratou-se, assim, de um plano restrito aos grandes investimentos a efectuar pelo Estado, para os quais teve carácter imperativo, e aos investimentos a fazer pelos particulares com o auxílio directo ou indirecto, para os quais teve apenas carácter programático.
No sector de transportes e comunicações (então designado por «Comunicações e transportes»), vieram a programar-se os seguintes investimentos globais no sexénio:

1) Portos:

[ver tabela na imagem]

No indicado montante total de 8 188 434 contos contiveram-se 838 129 contos provenientes de autofinanciamentos.
Assim, contou-se com uma média, anual de investimento da ordem de 530 ou de 390 milhares de contos, respectivamente, com ou sem autofinanciamentos.

B) O II Plano de Fomento

3. O II Plano de Fomento (1959-1964), mais do que um mapa de investimentos, apresentou-se como um programa da política económica a prosseguir no período considerado. Os objectivos a atingir éramos seguintes: aceleração do ritmo de incremento do produto nacional, melhoria do nível de vida, ajuda à resolução dos problemas do emprego, melhoria da balança metropolitana de pagamentos. Assim, sobre o I Plano, que fora um esboço inicial de programação económica, o II Plano tomava já como ponto de partida um objectivo global de melhoria económica.
No sector de transportes e comunicações vieram a efectuar-se os seguintes investimentos globais no sexénio:

[ver tabela na imagem]

No indicado montante total de 7 841 691 contos contiveram-se 2 325 029 contos provenientes de autofinanciamentos.
Verificou-se, assim, uma média anual de investimento da ordem de 1310 ou 920 milhares de contos, respectivamente, com ou sem autofinanciamentos.

C) O Plano Intercalar de Fomento

4. O Plano Intercalar de Fomento, para 1965-1967, prosseguiu os objectivos do II Plano de Fomento, fundamentalmente através da aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, acompanhada de uma repartição mais equilibrada dos rendimentos formados. Assinala-se que no planeamento se progrediu sensivelmente na preparação de projecções globais e sectoriais, dando-se um acentuado passo em frente. E anota-se que a duração do Plano foi, a título excepcional, reduzida para três anos, por virtude de difícil previsão dos encargos financeiros da defesa do País, da complexidade do processo da progressiva unificação económica nacional e da indecisão da Europa quanto à sua própria integração.
No sector de transportes e comunicações previu-se uma variação anual do produto de 6,5 por cento, com um valor projectado para 1967 de 5,2 milhões de contos (escudos de 1958); uma variação anual de produtividade de 5 por cento; uma variação anual de emprego de 1,8 por mil pessoas, com um nível de emprego em 1967 de 125 por mil pessoas; uma variação anual da formação bruta do capital fixo de 5,7 por cento, com um valor projectado de 2,8 milhões de contos para 1967 (escudos de 1958).
Neste sector vieram a efectuar-se os seguintes investimentos globais no biénio 1965-1966:

[ver tabela na imagem]

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[ver tabela na imagem]

No indicado montante total contêm-se 992 730 contos provenientes de autofinanciamentos.
Verificou-se, assim, no biénio 1965-1966 uma média anual de investimento da ordem de 2060 ou 1570 milhares de contos, respectivamente, com ou sem autofinanciamentos.
Segundo os elementos disponíveis, em. 1966 o sector acrescentou ao produto interno um valor de 5,5 milhões de contos (escudos de 1963) -4,7 milhões de contos em escudos de 1958 -, ou seja, cerca de 7,5 por cento mais do que em 1965 (em 1965 tal quantitativo foi de cerca de 6,3 por cento mais do que em 1964), e a formação de capital cifrou-se na ordem de 2,65 milhões de contos (escudos de 1958) (em 1965 tal montante foi da ordem dos 2,76 milhões de contos). Pode, portanto, considerar-se confirmada a previsão feita.
Foi pouco o investido e atingido?
Em valor absoluto, não foi por certo muito. Mas, considerados os condicionalismos da grave conjuntura nacional que nos está imposta desde 1961, foi notável como reflexo de retaguarda que se consolida e progride - enquanto no ultramar se afirma uma raça, na metrópole afirmam-se estruturas.

II

O projecto do III Plano de Fomento

5. O III Plano de Fomento constitui a prevista continuação do Plano Intercalar de Fomento, que foi o seu preâmbulo, com os seguintes grandes objectivos:

Aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
Repartição mais equitativa dos rendimentos; Correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de
desenvolvimento;

com sujeição às seguintes condições:

Coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
Manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
Equilíbrio do mercado de emprego;
Adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionalismos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

6. No sector de transportes e comunicações, prevê-se uma variação anual do produto de 5,8 por cento, com um valor projectado para 1973 de 8 milhões de contos (escudos de 1963); uma variação anual de produtividade de 3,9 por cento, uma variação anual de emprego de 1,8 por mil pessoas, com um nível de emprego em 1973 de 145,8 por mil pessoas; uma variação anual da formação bruta de capital fixo de 5,8 por cento, com um valor projectado de 5,69 milhões de contos para 1973 (escudos de 1963).
O conjunto dos investimentos prioritários destacados atinge 27 090 000 contos, corri 6 089 000 contos provenientes de autofinanciamentos, ou seja uma média anual da ordem de 4.520 ou 3500 milhares do contos, respectivamente, com ou sem autofinanciamentos.
Antes de prosseguir, registam as subsecções que parece, em posição geral, mais significativo excluírem-se aqui os autofinanciamentos. Em primeiro lugar, porque, embora global quanto às projecções, o Plano só é parcial no respeitante aos investimentos, comportando assim perfeitamente aquela exclusão. Em segundo lugar, porque, determinados que sejam os recursos mobilizáveis, a sua aplicação é de fazer-se em seguimento de opções em livre selecção de empreendimentos, e isso só será possível desde que haja exclusão de autofinanciamentos, por estes serem, naturalmente insusceptíveis de se desligarem dos e empreendimentos próprios.
As subsecções anotam que admitem o poder haver vantagem nos departamentos do Estado e nas empresas que participam dos recursos mobilizados, em trazer ao Plano o controle dos autofinanciamentos, visando a verificação de que a remanescente participação daqueles recursos se restringe ao mínimo. Mas nas empresas em que a única fonte é o autofinanciamento é que já não admitem haver nisso qualquer vantagem, mas sim, pelo contrário, poder haver inconveniência por vínculos susceptíveis de constituir-se.
Prosseguindo, referem as subsecções que, sobre o que vem do anterior e ficou apontado, têm, pelo menos, as maiores dúvidas de que possa passar-se no próximo sexénio a um investimento médio anual da ordem de 3500 milhares de coutos sem autofinanciamentos.
Como mencionado, o Plano é, e bem, um plano de projecções. Mas para atingir essas projecções é necessário contribuir com investimentos, e de entre estes destacar os que podem ser comandados e hão-de conter-se em determinado montante.
A fixação deste montante resulta naturalmente da avaliação, para o efeito, das disponibilidades do Erário e do mercado interno de capitais e das conveniências de utilização de financiamentos externos. E para que o mesmo montante, visando aplicações destacadas, tenha real significado, é forçoso que aquela avaliação seja acompanhada dos correspondentes compromissos; por outras palavras, que haja uma perfeita consciencialização dos intervenientes, mas de todos.
As subsecções entendem, assim., pelo menos para começar em primeira prioridade, dever considerar-se a compressão daquele montante de 21 00.1 000 contos, sem autofinanciamentos, mas isto efectivamente vinculado ao correspondente financiamento.
Entendem ainda deverem visar-se concentrações na distribuição das aplicações. E isto porque consideram que a muita repartição de montantes não grandes só deverá conduzir a pouco, enquanto a sua pouca repartição poderá conduzir a muito; e porque, para além da criação de riqueza, a aceleração da conclusão do que está em curso é imperativo de prestígio.
Antes de em continuação do que fica, se pronunciarem Sobre os investimentos a destacar, as subsecções registam que na parte do projecto do III Plano de Fomento respeitante a transportes, que abrange a rede de transportes -terrestres, marítimos e aéreos- e os pon-

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tos de interligação de transportes -portos e aeroportos-, se apresentam directrizes de providências e intervenções, e que aí se não detêm apenas para marcar a posição de entenderem que, não se estando perante instrumentos contrários, não é agora disso que dependem as realizações e desejarem que este facto não possa prestar-se a dúvidas, por modo a evitar a criação de ilusões sobre onde está a mola real.
Na verdade, o que fundamentalmente importa são os fins a atingir, e para os vir a alcançar são antes de tudo necessários, em geral, mentalização e, em particular, homens de qualidade. O modo por que se caminha vem por acréscimo, em resultado até de um plano de desenvolvimento ser naturalmente activo quanto a medidas de política conducentes à realização dos considerados objectivos.
Os investimentos que de seguida se destacarão são, para além dos a custear em autofinanciamentos directos, aqueles a que as subsecções começam por atribuir primeira prioridade e consideram contidos no admitido quadro de compressão e concentração. E oxalá venham a poder ser progressivamente acrescentados.

7. Nos tráfegos totais de passageiros - 96 084 087 - e de mercadorias -
3 274 431 t- na rede ferroviária geral, o eixo Lisboa-Porto e os arrabaldes de Lisboa e do Porto absorveram em 1966 a ordem de 65 e 45 por cento, respectivamente. Sobre isso referem as subsecções ter sido considerada, e bem, precisamente a electrificação das respectivas linhas.
Tido em conta o mencionado, entendem as subsecções que no caminho da renovação global deve, antes de mais, visar-se esta unidade base, considerando de destacar o investimento necessário para tirar todo o partido possível da electrificação, que o mesmo é dizer explorar todas as suas virtualidades, por forma a procurar que a mesma unidade base se converta em unidade modelo.
Assim, afigura-se às subsecções que a orientação deverá ser a de promover todo o possível aumento de velocidade nos comboios, de conforto nas deslocações das pessoas e de eficácia na movimentação de mercadorias. E, para tanto, deverá procurar investir-se quanto necessário na via, nas estações, no material circulante e noutro equipamento, fazendo acompanhar esta progressiva transformação técnica de uma também progressiva preocupação comercial.
Quando no plano da concorrência a posição da apontada evolução o aconselhar, julgam as subsecções ser do maior interesse que num ou mais nós da linha Lisboa-Porto se ensaie o estabelecimento de gares-centros, que, como sabido, promovem, através do concurso da camionagem, a transformação de um serviço linear em serviço de superfície; tudo dentro do conceito de que a economia dos transportes ferroviários e dos rodoviários exigirá cada vez mais formas de associação.
E, no mesmo caminho da renovação global, consideram naturalmente de destacar também, além do investimento correspondente à cobertura do que vem do anterior, o investimento imposto por motivos de segurança, quer no reforço da infra-estrutura, quer na renovação da via, quer na substituição do material circulante, e consideram de destacar ainda o investimento relativo ao prolongamento do eixo Lisboa-Porto até Braga, para norte, e até Faro, para sul, e às ligações fundamentais a este eixo.

8. Tal como no capítulo do projecto em apreciação, também as subsecções consideram de destacar, em primeiro lugar, o investimento correspondente ao plano coordenador da construção de estradas nacionais com o plano de viação rural, por modo a promover-se, como é vital, a interligação de todas as parcelas do território.
Seguidamente, visando a indústria do turismo, consideram as subsecções que na rede rodoviária nacional são de destacar os investimentos necessários para os grandes itinerários de tráfego internacional e para o acesso ao Algarve em continuação da ponte sobre o Tejo.
Os mencionados grandes itinerários são os que asseguram as ligações internacionais através de Vilar Formoso - estrada internacional n.º 3, abrangendo as estradas nacionais n.ºs 1, 17 e 16, e, como variante, estrada internacional n.º 51, abrangendo a estrada nacional n.º 16-, Caia -estrada internacional n.º 4, abrangendo as estradas nacionais n.ºs 10 e 4-, Valença -estrada internacional n.º 50, abrangendo as estradas nacionais n.ºs 1 e 13- e Vila Verde de Ficalho- estrada internacional n.º 52, abrangendo as estradas nacionais n.ºs 10, 5, 120, 259, 121 e 260; e o objectivo é o de prosseguir intensamente a modernização das correspondentes estradas nacionais.
O indicado acesso ao Algarve compreende, até Grândola, percursos nas indicadas estradas internacionais n.ºs 4 e 52 e, daí para sul, parece que poderá assentar sobre a modernização da estrada nacional n.º 120, por um lado, e das estradas nacionais n.ºs 259 e 2, por outro, ou, preferivelmente, sobre uma estrada de certo modo intermédia e praticamente nova, porventura apoiada em parte na estrada nacional n.º 264; e é completado pela estrada marginal barlavento-sotavento, fundamentalmente através da modernização da estrada nacional n.º 125.
Entre os parâmetros da referida modernização parece efectivamente dever estar o de progressivamente se caminhar para quatro faixas nos troços em que o tráfego o vá justificando.
As subsecções registam a sua concordância com a não consideração para o efeito de auto-estradas, por isso que pelo menos por enquanto não julgam possam ter entre nós generalização sensível.
Na verdade, para além das auto-estradas de libertação dos grandes centros urbanos, as auto-estradas de ligação só se justificam para grandes tráfegos. E isto porque o seu custo é muito elevado, com o consequente reflexo na portagem, mesmo que se aceite que esta só deve cobrir uns dois terços do encargo, por se admitir que o remanescente se dirige a um benefício que ultrapassa o interesse directo dos utentes para se projectar no da colectividade.
Anota-se que o solo de rentabilidade parece ser o da uma média anual de 12 000 veículos por dia. Ora estamos ainda, na generalidade, muito longe de tráfegos daquela ordem e, portanto, do conceito de uma rede de auto-estradas. Mas não haverá nisso só desvantagem, uma vez que, dirigidos agora como estamos ao turismo, se possibilita ao longo dos trajectos o fácil acesso e consequente contacto com as vilas e aldeias e sua gente, cujo carácter é precisamente um dos nossos mais específicos factores de valorização turística.

9. Em termos da concessão, as subsecções consideram de destacar o investimento
necessário à conclusão da 1.ª fase da rede do metropolitano de Lisboa - prosseguimento da linha n.º 1, Anjos-Areeiro-Alvalade, e instalação da linha n.º 2, Alcântara-Rossio-Madre do Deus. Na verdade, só aquando dessa conclusão, com a estação Rossio na figura funcional de placa giratória, esta rede se constituirá no visado esqueleto-base do sistema de coordenação de transportes, com toda a sua potencialidade.

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Mais consideram de destacar os investimentos necessários à instalação, integrada no mesmo sistema, das centrais de camionagem de Alcântara, de Sete Rios, de Entrecampos e do Areeiro.
Isto quanto a Lisboa.
No respeitante ao Porto, consideram as subsecções de destacar os investimentos necessários para prosseguir e concluir o que vem do anterior, ou seja, o plano de remodelação dos transportes colectivos, com o qual, acabados os carros eléctricos, se ficará exclusivamente em autocarros e troleicarros.
E consideram ainda de destacar o investimento necessário para prosseguir e concluir a instalação da central de camionagem sul (Parque das Camélias).

10. Em 1966, a marinha mercante nacional, com 728 259t dw, transportou 3 649 217 t de carga, num total de 10 895 526 t, participando, assim, em 33,5 por cento dos transportes marítimos efectuados.
Tem vindo a ser linha de rumo a de promover o desenvolvimento da indústria de navegação marítima de modo a dispor-se de tonelagem que satisfaça 60 por cento das necessidades nacionais de transportes por mar. No entanto, em presença da verificada evolução conjuntural, quer da economia em geral, quer dos transportes em particular, julgam as subsecções que se impõe fazer-se agora novamente o ponto.
Na determinação a levar a efeito concordam as subsecções em que sejam alvos a visar, por um lado, a adequação as necessidades da economia nacional, assegurando a autonomia efectiva dos transportes ultramarinos, e, por outro, o poder competitivo internacional. Aliás, este poder competitivo é uma imediata resultante daquela autonomia; e isto porque, dado o desequilíbrio nas correntes de tráfego com o ultramar - predominantemente, carga geral para o sul e cargas a granel para o norte -, o uso de navios especializados, como é mister, obriga à sua utilização em tráfegos internacionais complementares para que possam ser rentáveis.
A compatibilização dos indicados objectivos conduzirá a determinado dimensionamento de empresas e, por consequência, a certa ordem de grandeza para o global da frota. Aceite que possa vir a ser esta ordem de grandeza ou, se tida por inviável, fixada que seja outra, com isso inerentemente se confirmará ou se ajustará a mencionada linha de rumo e, consequentemente, a composição da frota. De qualquer modo, porém, em 1966 era já de 39,8 por cento a quota-parte das unidades com mais de 20 anos, admitido limite de vida económica, pelo que, mesmo antes dos resultados do ponto em causa (que deverá fazer-se sem demora e em seguimento do que resultará a fixação das características dos novos navios), não têm as subsecções dúvida em afirmar, visando posição no acervo dos recursos mobilizáveis, que consideram desde já de destacar os investimentos necessários, tidos em conta os autofinanciamentos que vierem a oferecer-se possíveis, para a construção de navios num total que para o efeito se admite ser da ordem de
300 000 t dw.

11. As subsecções entendem ser de prosseguir na possível polarização de
investimentos portuários, por forma a fomentar explorações que económicamente se ofereçam de maior interesse. Isto presente, anotam que em 1966 o movimento nos portos do continente foi em Lisboa:, passageiros de navegação marítima - 401 908 (98,2 por cento), carga marítima- 7 657 717 t (64,6 por cento): no Douro e Leixões: passageiros de navegação marítima- 6913 (1,7 por cento), carga marítima - 2 868 575 t (24,2 por cento).; e nos outros portos: passageiros de navegação marítima -350 (0,1 por cento), carga marítima- 1 325 105 t (11,2 por cento). Assim, mais entendem serem de visar primordialmente Lisboa e Douro e Leixões.
Em Lisboa, consideram as subsecções de destacar os investimentos necessários à conclusão da zona comercial de Xabregas, através da eliminação da solução de continuidade nos muros-cais, em extensão de cerca de 500 m, zona esta que, no caminho da especialização portuária, parece, dentro das existentes limitações, especialmente apta, por possibilidades de ligações terrestres - aqui se anota que, no respeitante a ligações ferroviárias com instalações portuárias, a sua melhoria é premissa geral a ter em conta - e de disponibilidade de terraplenos, para o estabelecimento de um terminal para contentores, por inteiro na ordem do dia; e à instalação de uma nova estação marítima, com as inerentes obras de acostagem para navios de cruzeiro e outros (também de passageiros) em escala, na zona turística da Junqueira.
As subsecções anotam que a execução de tais obras não poderá concretizar-se sem- intervenção básica do Tesouro, intervenção que, aliás, deverá ser sistemática e total para as infra-estruturas, sejam estas portuárias ou aeroportuárias ou rodoviárias (as auto-estradas com regime de excepção, dada a receita especial que podem buscar por serem alternantes) ou ferroviárias. Na verdade, os autofinanciamentos - directos ou indirectos, estes na figura de antecipações por empréstimos - só devem acorrer, embora com largueza, aos encargos com a instalação de apetrechamento e de equipamento e às despesas de exploração, nestas incluídas as de conservação corrente das infra-estruturas. E isto porque, resultando os autofinanciamentos do produto de taxas ou tarifas (em excepção, os fundos de compra e venda), proceder-se assim corresponde a ir buscar aos utentes as despesas directas e aos contribuintes as demais, por estas projectarem benefício geral.
Passando aos portos do Douro e Leixões, as subsecções consideram de destacar os investimentos necessários às infra-estruturas respeitantes, no Douro, à conclusão do posto de acostagem no cais de Gaia e a criação de mais dois novos postos de acostagem no mesmo cais, e, em Leixões, à conclusão das três pontes-cais para descarga de sardinha no anteporto, à conclusão da doca n.º 2, ao início da doca n.01 4, ao aprofundamento do anteporto e à conclusão do terminal de petróleos.
Quanto aos portos secundários, consideram as subsecções deverem vir a destacar-se, na medida do que se verificar possível, os investimentos para necessárias melhorias nas respectivas infra-estruturas, designadamente em continuidade do que vem do anterior; não querendo, no entanto, deixar de assinalar desde já, em Aveiro, obras acostáveis na zona industrial do porto, na Figueira da Foz, aprofundamentos do anteporto e estuário, em Portimão, preparação do porto para necessidades comerciais derivadas do turismo, e, em Faro-Olhão, prolongamento do cais e aumento dos terraplenos sobretudo para os adequar à exportação de sal-gema.

12. Estão asseguradas as fundamentais ligações aéreas nacionais e internacionais. A frota está inteiramente actualizada - quando se iniciar o III Plano de Fomento já se operará exclusivamente com aviões a jacto. A dimensão da unidade industrial e a qualidade do serviço conduziram à devida rentabilidade, tendo sido transportados, em 1966, 437 262 passageiros, 2 528 375 kg de carga e 1 235 575 kg de correio.
Assim, as subsecções consideram de destacar o investimento necessário à cobertura do que vem do anterior e ao seu natural prosseguimento.

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13. Em 1966, passaram no aeroporto de Lisboa 11040 aviões comerciais, com um tráfego desembarcado de 483 428 passageiros, 3 729 134 kg de carga e 1 120 913 kg de correio, um tráfego embarcado de 497 528 passageiros, 2 599 787 kg de carga e 1 206 789 kg de correio, e 246 783 passageiros em trânsito.
Estes números, que já são significativos, atestam II indispensável intensificação dos considerados melhoramentos visando o estacionamento dos aviões e a movimentação dos passageiros, e, por isso, as subsecções consideram de destacar o necessário investimento. Isto, sem deixar de ter-se presente o que a seguir referem.
Avizinhando-se a entrada em serviço, primeiro, dos aviões gigantes e, depois, dos aviões supersónicos, urge tomar posição sobre o desdobramento do aeroporto de Lisboa.
É evidente que sem a oferta para tempo oportuno de um aeroporto adaptado às novas exigências operacionais não poderão estabelecer-se rotas que o incluam. Mas é também evidente que a consideração de um segundo aeroporto, com o vultoso investimento correspondente, não deverá deixar de apoiar-se na possível prospecção das previstas rotas internacionais. Anota-se que, sobre o parâmetro situação geográfica, tivemos no Atlântico médio uma posição única - Santa Maria - e rio Atlântico sul uma posição excepcional - Sal. A evolução da construção aeronáutica, porém, fez com que isso ficasse no passado.
No presente, as ligações aéreas cada vez mais se libertam de sujeições para ficarem só no que é básico: o tráfego.
Assim, as subsecções recomendam o estudo e tornada de posição sobre este momentoso assunto.
Mais consideram de destacar os investimentos necessários ao completamento dos aeroportos de Faro e da Madeira e, bem assim, aos novos aeroportos de S. Miguel e da Horta, estes com vista às ligações entre ilhas, em cujo planeamento não deverá deixar de ter-se presente o referido quanto a Santa Maria.

14. Visando a satisfação de reconhecidas necessidades, prevê-se no sexénio a instalação de cerca de 420 000 postos telefónicos e de 3000 postos telex.
Assim, em 1973 a densidade de postos telefónicos por 100 habitantes passará a 11, e a de postos telex por 100 000 habitantes a 38.
Em conformidade, as subsecções consideram de destacar o investimento necessário, em remanescente do autofinanciamento, à prossecução do indicado objectivo, no desenvolvimento das telecomunicações.

15. Em meteorologia, incluindo actividades de geofísica, é de promover-se a actualização do apetrechamento em material técnico-científico, a mecanização no processamento dos resultados das observações e a execução de indispensáveis estudos de base e trabalhos de investigação nos campos da hidrometeorologia, da climatologia e da sismologia.
Assim, as subsecções consideram de destacar o correspondente e necessário investimento.

III

Conclusões

16. Em conclusão, as subsecções consideram de aprovar o programa sectorial de transportes, comunicações a meteorologia do projecto do III Plano de Fomento (1968-1973), corri as reservas formuladas e começando por atribuir primeira prioridade aos investimentos destacados.

Palácio de S. Bento, 21 de Julho de 1967.

João Pedro Neves Clara.
Mário Malheiro Reymão Nogueira.
Armando Jorge Coutinho.
Jorge Dias Pereira.
Duarte Pinto Basto de Gusmão Calheiros.
José Manuel da Silva José de Mello.
Custódio Ferreira de Figueiredo.
João Pedro da Costa.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich.
José Mercier Marques.
Herculano Amorim Ferreira.
Francisco de Mello e Castro, relator. [Para além de tudo quanto se referiu e se contém no quadro geral de desenvolvimento, desejo deixar uma palavra sobre o que julgo sejam certas exigências de Lisboa como capital, com a inerente projecção nacional.
Começo por referir que de há muito se aguarda a conclusão da obra marítima, no próprio centro da cidade, entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, em zona eminentemente de logradouro, obra que entendo impor-se a todos os títulos e por isso considero dever promover-se a sua ponderação. Seguidamente, menciono que a vida de relação da cidade com o porto, e portanto a fruição do Tejo, está gravemente afectada pelo serviço suburbano da linha de Cascais. Visando o desaparecimento desta autêntica cortina e presente a coordenação de transportes urbanos e suburbanos, considero desde já de ponderar também, no nó ferroviário de Lisboa, a instalação da linha de Benfica à Cruz Quebrada, pelo vale do Jamor, com u consequente concentração na estação do Rossio de tráfegos suburbanos das linhas de Cascais e de Sintra. Dentro da referida coordenação, a estação do Rossio, a destinar exclusivamente a serviços daquelas duas linhas (em consequência, os outros serviços a não considerar na estação do Rossio e o que nos citados serviços suburbanos poderá vir a não o ser deverão considerar-se em nova estação e, eventualmente, na de Santa Apolónia, dentro do previsto), fica ligada em circulação de pessoas à estacão Rossio do metropolitano, através de um sistema de galerias subterrâneas; e, para comodidade dos utentes da linha de Cascais com destino ou origem na zona ocidental da cidade, a linha marginal do metropolitano deverá prolongar-se de Algés à Cruz Quebrada, para aqui permitir a conveniente transferência. Porque a referida concentração se oferece como inteiramente viável - através das necessárias adaptações para a movimentação dos comboios (à frente das quais a generalização da energia de tracção para 25 000 V, corrente alternada, 50 períodos) e dos passageiros -, considero que a ponderação do caso deverá efectivamente fazer-se desde já, dada a proximidade de 1976, data em que, na conformidade do concessionado, cessam os vínculos da situação presente, ria sua forma actual.
Por último, registo que a zona marginal de Belém foi, no seu extremo jusante, libertada em 1950 de uma fábrica de gás. Agora, em natural exploração do referido quanto ao desaparecimento da cortina ferroviária, entendo de vir a libertar-se

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o seu extremo montante da existente central térmica. Considero assim que, tido em couta o planeamento geral da produção térmica, deve igualmente ponderar-se este caso desde já, dada a relativa proximidade de 1978, data em que, na conformidade do concessionado, cessam os vínculos da situação presente, na sua forma actual.
Nesta oportunidade, não quero deixar de anotar que, instalado o porto de pesca em Pedrouços, há que tomar posição quanto à sua ligação à rede ferroviária. Esta ligação não foi considerada na actual fase, em exploração desde 1966, e admito que não tenha de vir a sê-lo. A opção a fazer põe em causa, dentro da indicada evolução do nó ferroviário, a existência de uma linha entre Pedrouços e Cruz Quebrada; ao que acrescento o considerar que, se a economia do empreendimento confirmar que tal opção pode fazer-se pela negativa, poderá então adquirir verdadeira expressão o estabelecimento do grande centro de ensino e fomento, de desportos náuticos, em Algés-Cruz Quebrada].

ANEXO X

Parecer subsidiário da secção de Transportes e turismo

Turismo

A secção de Transportes e turismo, consultada sobre o capítulo IX «Turismo» do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1978, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Funções económico-sociais do turismo

1. Constitui o turismo, sem dúvida, um dos fenómenos mais marcantes do desenvolvimento económico da era actual, pois permite, através de uma crescente evolução das facilidades que a técnica põe à disposição do homem, um contacto cada vez mais amplo entre as diferentes civilizações do Mundo.
Se é verdade que a consequência mais essencial do turismo pode. medir-se por uma maior satisfação individual - ocupação mais variada dos tempos livres em áreas diferentes das das comunidades de trabalho habituais-. não é menos verdadeiro que a sua real expressão se alcança através dos resultados nacionais, nomeadamente quando expressos em termos económicos.

A) Receitas em divisas

2. É o turismo uma exportação de bens e serviços, polo que a correspondente receita em divisas tem um papel preponderante nas economias de todos os países, com especial importância nos que se encontram em vias de desenvolvimento. De facto, nestes, entre os quais Portugal, são normais situações deficitárias da balança comercial, que resultam de o crescimento das exportações, apesar de dinâmico em muitos sectores, não conseguir acompanhar o das importações, ditado, sobretudo, por uma necessidade inadiável de equipamento e por uma incapacidade de a oferta de alguns bens essenciais satisfazer uma procura em crescimento relativamente rápido.
No nosso país, as receitas provenientes do turismo têm vindo a assumir um papel crescente na cobertura do deficit da balança de transacções correntes e representaram, em 1966, cerca de 25 por cento das receitas de exportação, contra cerca de 8 por cento em 1961. Ainda para 1966, o saldo positivo da balança turística - 5 118 000 contos 1 - representou cerca de 55 por cento do déficit da balança comercial e financiou cerca de 22 por cento das nossas importações de mercadorias.
Para além do significado dos números que se apresentam, é inegável que a receita em divisas é uma consequência económica decisiva do turismo e, portanto, um dos factores mais importantes na formulação de uma política do sector.

B) Promoção de actividades

3. O turismo provoca o desenvolvimento de inúmeras actividades a ele ligadas directamente, bem como o aparecimento de muitas outras.
A análise destes efeitos não é possível com um mínimo de rigor no nosso país, dada a ausência da informação estatística necessária.
Os efeitos directos mais relevantes manifestam-se na construção, agências de viagens, transportes, hotelaria, espectáculos, artesanato e outras actividades. Para além destes, verificam-se efeitos induzidos em inúmeros outros factores. O conjunto dos efeitos directos e indirectos - efeito multiplicador - é que exprime a verdadeira incidência do turismo na economia de um país.
Como é evidente, nem todos os efeitos têm continuidade adentro da economia nacional através de dispêndios sucessivos. Be facto, sempre que numa fase do efeito multiplicador se processa um pagamento ao exterior cessa o benefício no rendimento nacional.
Parece importante que, na linha de um aperfeiçoamento progressivo dos processos e dos resultados da programação económica do sector, se avancem métodos que englobem, os efeitos entre actividades provocados pelo turismo. Dê facto, só nesta medida é que só conseguirá a coerência dos programas propostos por cada sector, e isto ao nível da produção, dos investimentos e dos factores produtivos.

C) Desenvolvimento regional

4. O turismo pode ser um factor muito importante para o desenvolvimento de determinadas regiões que apresentem condições naturais e climáticas propícias. No entanto, não deve esperar-se do turismo a resolução integral dos problemas económicos e sociais das regiões, antes é ele que deve integrar-se, como instrumento importante, numa política de desenvolvimento regional. Não sendo assim, verifica-se que o já aludido efeito multiplicador não funciona na região, pois os efeitos directos do turismo têm menor importância do que os induzidos nas regiões que abastecem de bens e serviços a região turística.
Há, assim, que ter em conta, como muito importante, a necessidade de enquadramento da política turística adentro dos objectivos mais vastos de uma política regional, para que se criem, simultaneamente com a capacidade de alojamento, as condições indispensáveis para que fique na região o maior número possível de efeitos provocados pelas actividades turísticas.

1 Relatório do Banco de Portugal de 1966.

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II

Síntese do capítulo em apreciação

A) Evolução recente

5. Começa o capítulo IX do projecto do III Plano de Fomento por analisar os aspectos fundamentais da evolução recente e dos problemas actuais do sector. Verifica-se que, em relação aos turistas estrangeiros, a procura se concentra em cinco nacionalidades, que representavam, em 1966, 75 por cento do total de turistas - Reino Unido, Estados Unidos, França, República Federal Alemã e Espanha.
No que se refere ao turismo interno, embora a sua medida não seja rigorosa, observa-se uma estagnação nos últimos dois anos, apesar de em nível absoluto representar ainda um número de dormidas superior às dos turistas estrangeiros.
Enquanto o turista estrangeiro tem mostrado preferência pelas regiões de Lisboa (54 por cento em 1966), Algarve (13 por cento) e Madeira (10 por cento), o turista nacional, embora se dirija em parte apreciável para Lisboa (29,6 por cento), dissemina-se fora dos grandes centros (46,1 por cento).
Se bem que não se tenham agravado nos últimos anos as flutuações estacionais do movimento de turistas, elas são particularmente notórias nas regiões interiores do continente e nas praias situadas fora do Algarve e da região de Lisboa.
A procura dos turistas estrangeiros tem-se caracterizado pela manutenção de uma elevada percentagem de dormidas em estabelecimentos de melhor qualidade (54 por cento em 1966) e por uma diminuição nos de qualidade inferior, compensada por um crescimento em relação aos de qualidade média.
Por outro lado, as dormidas dos turistas nacionais orientam-se predominantemente para estabelecimentos de qualidade inferior, utilizando em percentagem muito reduzida os de qualidade superior.
A capacidade hoteleira não tem acompanhado o ritmo de crescimento da procura, pois aumentou entre 1964 e 1966 de cerca de 1800 camas por ano no conjunto do País (correspondente a um acréscimo anual de cerca de 3 por cento)2.
No entanto, as taxas de ocupação médias verificadas no País situam-se ainda em valores baixos (30 por cento em média, na metrópole, em 1966), o que revela um desequilíbrio notório entre a oferta de capacidade e a procura de alojamento.
Como se aponta no capítulo em estudo, «torna-se pois necessário, ao confrontar procuras com capacidades, proceder no futuro à análise regional que permita fundamentar essa comparação e evitar os erros grosseiros a que os números globais poderiam conduzir».

B) Objectivos

6. São os seguintes os objectivos previstos para o sector do turismo no projecto do III Plano de Fomento:
O número das dormidas em território metropolitano evoluirá a uma taxa média anual de 20 por cento, admitindo-se simultaneamente que as proporções de dormidas de turistas de cada nacionalidade nas várias categorias de estabelecimentos hoteleiros permanecerão estáveis no nível médio registado em anos recentes.
Através de um conjunto de hipóteses, que parecem coerentes e realistas, estima-se a capacidade hoteleira necessária para satisfazer a procura no mês de ponta - Agosto. Por se chegar a números que saem muito do que se tem conseguido no País, apresentam-se seguidamente os resultados:

[ver tabela na imagem]

Dentro deste total, as previsões apontam para que, em 1973, 42 por cento sejam quartos de hotéis de luxo e 1.ª categoria 3.
As necessidades de pessoal, a cumprir-se o programa de construções previsto, são as seguintes:

[ver tabela na imagem]

Para corresponder a estas necessidades de mão-de-obra, as escolas hoteleiras a funcionar em 1968 contribuirão com um .contingente anual manifestamente insuficiente - 570 alunos;-, mesmo tendo em conta o largo contingente de mão-de-obra que acorre directamente à profissão.

C) Investimentos

Com base na capacidade que se definiu como necessária e utilizando coeficientes de investimento por quarto para cada categoria de estabelecimento, prevêem-se, no capítulo em exame, os seguintes volumes de investimento em hotelaria:

[ver tabela na imagem]

(a) Deste total, 68 por cento destinam-se a hotéis de luxo e de 1.ª classe.

Qualificam-se seguidamente os investimentos necessários em promoção turística, em formação profissional e em infra-estruturas e complementos. Vê-se com muito agrado o aparecimento destes números, pelo que significam como

2 O projecto de Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 previa, para o triénio, a construção de 11 400 camas, ou seja, 8800 por ano.
3 Em 1966 a proporção correspondente a esta categoria de estabelecimentos era de cerca de 22 por cento do total da capacidade existente.

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definidores das necessidades globais de investimento desencadeadas pelo processo de desenvolvimento turístico. Destaca-se, por parecer de grande importância, a verba consagrada à promoção turística, que pode vir a desempenhar um papel decisivo na prospecção de novos mercados e, sobretudo, na orientação mais
conveniente das correntes que nos visitam.

D) Financiamentos

7. É o seguinte o esquema de financiamento previsto:

[Ver tabela na imagem]

III

Análise crítica do projecto

A) Os elementos de informação estatística

8. Sem boas estatísticas, publicadas em prazos úteis, não pode haver planeamento. No sector do turismo, apesar de alguns progressos registados nos últimos anos, verificam-se ainda algumas lacunas fundamentais, que limitam o rigor que possa atribuir-se às projecções elaboradas.
Assim, em primeiro lugar, não existe qualquer registo das dormidas de nacionais e estrangeiros em casas particulares, apartamentos e quartos alugados, e também não há ainda um inventário dos meios de alojamento correspondentes a este tipo de capacidade. Este inventário seria extremamente importante como factor de previsão da capacidade necessária em anos futuros, sobretudo nas regiões em forte expansão turística e com dificuldades de ponta na oferta de alojamentos.
Julga a secção que é de insistir neste ponto, porque se considera fundamental encarar, de uma forma. planeada, todas as possibilidades de aproveitar os benefícios do turismo (nomeadamente no ângulo de divisas) através de esquemas que não envolvam necessariamente grandes imobilizações de capital.
Considera-se também importante a completa inventariação da mão-de-obra que trabalhe no sector.
No aspecto das receitas, secunda-se integralmente a seguinte afirmação do relatório do Grupo de Trabalho n.º 9 «Turismo e hotelaria»: «... o problema da avaliação das receitas de turismo registadas na balança de pagamentos deveria ser objecto de estudos rigorosos que eliminassem, pelo menos em boa parte, as imprecisões que se afigura existirem actualmente.»
Recomenda-se que sejam elaborados inquéritos por amostragem (anuais ou bienais) aos turistas estrangeiros, de forma a poder determinar-se uma capitação média dos gastos em divisas.
Finalmente, é urgente dispor-se de elementos que permitam determinar a estrutura de despesas do turista, bem como os gastos médios por nacionalidades. De facto, trata-se de elementos imprescindíveis para a tomada de posições, nomeadamente em matéria de preços e de tipos de clientela turística a prospectar e a promover 4.
Concretizando, pensa a secção que, quando se estuda, por exemplo, o regime de preços de hotelaria, só é possível medir os efeitos da sua alteração (ou racionalizar a decisão, o que é o mesmo) se se conhecer em que medida é que tal decisão afecta o nível geral dos preços turísticos.

B) A evolução da procura

9. Na medida em que se trata da variável central de todo o complexo de objectivos fixados ao sector, tem interesse examinar um pouco a forma como foi prevista a evolução da procura expressa no número de dormidas que se verificarão no sexénio abrangido pelo III Plano de Fomento.
Diz-se no capítulo em estudo: «Para os turistas estrangeiros, prevê-se que a taxa anual de acréscimo respeitante ao número de dormidas se aproxime dos 20 por cento, o que se afigura viável, atendendo aos 17,9 por cento realmente verificados no período 1961-1966.»
Um primeiro reparo que se faz é o de se justificar a taxa prevista - 20 por cento - com a verificada no período de 1961-1966, quando no próprio capítulo se afirma que a taxa de crescimento no período foi de 16 por cento 5.
E a seguinte a evolução das dormidas, ano a ano, no período de 1960-1966:

Acréscimo anual das dormidas de estrangeiros na metrópole

(Percentagens)

[Ver tabela na imagem]

(a) Números provisórios.

Um primeiro ponto que se destaca do quadro anterior é que, embora o crescimento médio no período de 1960-1966 tenha sido de 16 por cento, a taxa de aumento anual tem vindo a assumir valores decrescentes de 1963 em diante, e foi em 1966 sensivelmente inferior à média referida.

4 Em Espanha, onde se tem avançado bastante nesta matéria, dispõe-se já deste tipo de elementos.
A título de informação, indica-se seguidamente a estrutura dos gastos do turista em Espanha:

[Ver tabela na imagem]

5 A escolher entre os dois períodos, pareceria mais lógica a comparação com o segundo, por se tratar de um período de seis anos.

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Esta evolução é de molde a pôr em dúvida o realismo da hipótese admitida para o período de 1968-1973 -20 por cento-, sobretudo quando se pensa no programa de investimentos que implica. Sem, de modo nenhum, pretender ser excessivamente pessimista, parece muito mais possível a taxa de Io por cento (proposta como hipótese fraca no relatório do Grupo de Trabalho n.º 9) do que a apresentada como meta no capítulo do projecto em estudo. Adiante justifica-se mais em pormenor esta posição.
A previsão das receitas provenientes da exportação de serviços de turismo assenta na premissa da- manutenção do quociente verificado em, 1965 entre as receitas globais e o número de dormidas de estrangeiros em hotelaria; obteve-se assim uma taxa média de crescimento variável directamente com o aumento das dormidas. Ora, visto que, como o próprio capítulo salienta, estes cálculos carecem de base estatística suficientemente rigorosa, e que, por tal motivo, esta variável não pode desempenhar qualquer papel estratégico na economia do capítulo, a secção sugere que as referências que a ela se fazem sejam eliminadas. Finalmente, estranha a secção que não se explicite no capítulo qual a hipótese admitida para o crescimento das dormidas de nacionais.

C) A evolução da oferta

1) Capacidade hoteleira

10. Para satisfazer a evolução programada da. procura, define o capítulo as necessidades de construção de novos alojamentos hoteleiros. Porém, os números apresentados merecem um comentário.
Em primeiro lugar, embora não se explique no capítulo, percebe-se da leitura do relatório do Grupo de Trabalho n.º 9 «Turismo e hotelaria» que a capacidade prevista, foi dimensionada para satisfazer a procura no mês de Agosto de cada ano, calculada admitindo a manutenção das percentagens verificadas em 1965, por nacionalidades e classes de estabelecimento.
Ora, como se propõe no capítulo em exame uma intensificação substancial das verbas destinadas à promoção turística, parece de concluir que um dos efeitos deste investimento será exactamente o de conseguir baixar relativamente as percentagens de dormidas no mês de ponta, com efeitos imediatos nas necessidades de alojamento futuras.
Deste modo, a secção sugere que se revejam os cálculos referentes à capacidade hoteleira necessária, tendo em conta (se possível avançando hipóteses quantificadas) os efeitos resultantes da promoção turística orientada para uma melhor distribuição das dormidas ao longo do ano, embora se reconheça que estas hipóteses só poderão apresentar-se com um mínimo de realismo depois de alguns anos de experiência em promoção.
Para se ter uma ideia mais completa do programa proposto apresenta-se o seguinte quadro.

Acréscimo médio anual do número de camas 6:

[Ver tabela na imagem]

A simples leitura do quadro levanta dúvidas sobre a viabilidade do programa proposto, que corresponde a, num período que decorre entre 1966 e 1968, passar de um ritmo de 1800 camas anuais para cerca de 7500, embora haja que reconhecer que no período que agora finda o sector não contou com a ajuda financeira do Estado prevista no Plano Intercalar 7.
Ora, este programa não entra em conta com o alargamento da utilização dos meios complementares de alojamento. (apartamentos e quartos mobilados, sobretudo), que concorrem, em preço e qualidade, com as categorias de alojamento de nível médio. Deste modo. considera-se que este é outro factor de sobreavaliação da capacidade necessária 8.
Resumindo as considerações anteriores, a secção recomenda a revisão das estimativas da capacidade hoteleira necessária, tendo em conta as razões expostas e, sobretudo, uma preocupação de aplicação criteriosa dos meios financeiros que no capítulo só consideraram disponíveis.

2) Mão-de-obra

11. As estimativas de mão-de-obra. baseadas num inquérito à indústria, hoteleira, supõem a manutenção, no futuro, da relação actual entre o número de empregados e o número do quartos. Em média, seria necessário formar cerca de 4700 profissionais, número nitidamente superior à capacidade actual das escolas profissionais do sector.
Espera-se que a produtividade da mão-de-obra aumente, pelo que aquele número - 4700 por ano - poderá ser reduzido.
No entanto, há que considerar a importância fundamental que tem a qualidade do pessoal sobre a futura evolução da afluência turística, pelo que a secção secunda inteiramente as propostas expressas no capítulo referentes às providências para o aperfeiçoamento e fixação dos profissionais de hotelaria: realização de cursos móveis e exames periódicos, que proporcionarão ensino paralelo ao das escolas hoteleiras.

D) Investimentos e meios de financiamento

1) Necessidades globais

12. O programa de investimentos apresentado .110 capítulo em exame, no que se refere à hotelaria, parte da fixação dos seguintes custos por quarto e por categorias de estabelecimentos:

[Ver tabela na imagem]

O método de previsão parece aconselhável à secção; apenas se põe em dúvida que se consigam custos daquele montante, sobretudo para os estabelecimentos de qualidade superior. De facto, conhecem-se casos de estabele-

6 Parece de interesse comparar estes números com os verificados em Espanha:
Objectivos de 1964 ............... 49 500
Realizados em 1964 ............... 86 700
Objectivos de 1965 ............... 35 400
Realizados em 1965 ............... 27 500
7 O número correspondente à hipótese de um crescimento anual das dormidas de 15 por cento seria de cerca de 4000 camas/ano adoptando a mesma base de cálculo do capítulo.
8 A título exemplificativo, em Espanha, para o período de 1964-1967, do total de camas previsto, cerca de 50 por cento corresponde a alojamentos extra-hoteleiros.

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cimentes de recente construção em que os custos por quarto são superiores aos que ora se propõem, como parâmetros de investimento, pelo que a secção põe as maiores reservas nos números oficiais que acima se transcreveram.
No entanto, seja como for, há que introduzir na iniciativa privada a ideia da necessidade de não se ultrapassarem, quer por motivos de economia nacional, quer de rentabilidade privada.
De facto, dada a carência de meios de financiamento em face das necessidades impostas pelo desenvolvimento económico do País, há que seleccionar criteriosamente as oportunidades de investimento através da avaliação da sua viabilidade económica. Cabe aqui ao sector público um papel muito importante como fomentador e orientador da iniciativa privada, embora seja também decisivo que os empresários do sector se integrem num espírito de rentabilidade, sem o qual. não poderão perdurar as iniciativas de investimento para que contribuem.
A ideia fundamental a reter é a de que quando o investimento por quarto ultrapassa um determinado limite, é praticamente impossível recuperar a imobilização de capital feita; gera-se assim todo um processo de desperdício de recursos, com as inevitáveis consequências, ou em serviço deficiente, ou em preços proibitivos, numa tentativa vã para emendar o erro cometido inicialmente.
Os investimentos previstos em hotelaria para o período de 1968-1973 são os seguintes:

[Ver tabela na imagem]

Este montante representa, a realizar-se, um esforço notável de investimento, sobretudo quando comparado com os previstos no Plano Intercalar de Fomento.
Investimentos médios anuais:
Milhares do contos
Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 ................. 500
III Plano de Fomento para 1968-1973 ........................ 1 595

Assim, mais do que triplicará o investimento anual previsto em alojamentos hoteleiros. Mas como nos dois primeiros anos de execução do Plano Intercalar de Fomento não se cumpriram, sobretudo por falta dê apoio financeiro, as previsões iniciais, a obtenção das metas referidas torna-se duvidosa.
Assim, a secção sugere a adopção de uma hipótese mais modesta e realista de investimentos, em linha com as possibilidades actuais de financiamento e de concretização dos projectos existentes 9.
Os restantes investimentos que se incluem no capítulo atingem o seguinte montante para o período de 1968-1973:

[Ver tabela na imagem]

2) Financiamento público

13. De acordo com o capítulo em apreciação, as fontes públicas participarão no financiamento da seguinte forma:

[Ver tabela na imagem]

Estes financiamentos representam cerca de 16 por cento do total. Nesta matéria, a secção põe em realce dois aspectos para manifestar a sua concordância com eles:
O primeiro é a posição em que é colocada no capítulo a iniciativa pública-«... os financiamentos por parte do sector público não são colocados em dependência estreita do ritmo de expansão que vier a verificar-se, antes se fez depender o ritmo de expansão do esforço a desenvolver pelo sector público em matéria de promoção.»
O segundo refere-se à forma como se pretende assegurar a realização de empreendimentos de grande importância complementar para o desenvolvimento turístico - conservação e melhoria de arribas e praias, de monumentos nacionais, de caminhos florestais e de fomento e protecção de caça e pesca. De facto, em contraste com o Plano Intercalar de Fomento, desta vez consagram-se aos organismos responsáveis pelos diferentes empreendimentos dotações extraordinárias para os projectos previstos.
A secção pensa que é esta a forma financeiramente mais aconselhável, e não a de confiar às dotações correntes de serviço (eventualmente reforçadas) a execução de tarefas que, normalmente, ultrapassam a sua capacidade de realização, sobretudo no que se refere aos prazos e à coordenação entre os diferentes serviços.

3) Financiamento privado interno e externo

14. Na perspectiva do capítulo em estudo do projecto do III Plano de Fomento caberá à iniciativa privada - interna e externa - a grande maioria dos financiamentos previstos - cerca de 80 por cento do total, o que representa em média 1 570 000 contos por ano.
Trata-se de um montante bastante elevado quando comparado com os níveis alcançados em anos recentes, pelo que haverá que estimular fortemente a iniciativa privada para o alcançar (pensa-se muito especialmente na rapidez das decisões administrativas, nas infra-estruturas de apoio e, sobretudo, na política de incentivos fiscais).
A repartição entre a parte interna e a externa no conjunto dos financiamentos privados não se faz no capítulo. Pensa a secção que, embora seja bastante difícil de prever a componente externa, seria vantajoso, do ponto de vista da programação do sector, estabelecer os limites em que tal participação deverá definir-se no futuro.

E) Medidas de política propostas

1) Objectivos

15. Como pode perceber-se através da leitura do capítulo em exame, manter-se-á no próximo Plano de Fomento a orientação que defende o predomínio do turismo de qualidade sobre o chamado turismo de «massa», baseada nas características do turismo internacional que nos tem procurado e na tendência das dormidas verificada nos estabelecimentos de qualidade superior.

9 Os investimentos correspondentes a um crescimento das dormidas de 15 por cento ao ano seriam da ordem dos 720 000 contos por ano.

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Para além de uma tomada de posição sobre cada uma das referidas orientações, julga a secção que deverão considerar-se os seguintes pontos:
O turismo de qualidade envolve custos bastante elevados, embora com uma eventual compensação nas receitas em divisas;
O turista de qualidade é mais exigente em matéria de complementos da sua actividade como turista - infra-estruturas de apoio, serviços - e, por isso mesmo, mais volúvel quando não se sente satisfeito ;
Conviria estudar em bases concretas em que medida é que o rendimento do turista rico é diferente (em termos, por exemplo, de divisas por unidade de investimento) do rendimento do turista da classe média;
Finalmente, pensa-se quê- um estímulo mais intenso à construção de meios complementares de alojamento poderia conseguir custos mais baixos sem prejuízo da referida qualidade, facilitando simultaneamente o desenvolvimento turístico de regiões afastadas dos pólos de atracção.

Sobre as regiões prioritárias definidas no capítulo, a secção concorda inteiramente com o princípio proposto - desenvolver as regiões em que é possível fazer turismo durante todo o ano ou em que a estação alta se estende por largo período.

2) Medidas de política

16. Tal como se refere no capítulo em exame, ter-se-á em vista tudo aquilo que, havendo sido incluído no Plano Intercalar de Fomento, não foi possível realizar até final do respectivo período de vigência e, além disso, tomar-se-ão em consideração as novas exigências em face da evolução registada na actividade turística e da experiência do trabalho já realizado.
Deste modo, merecem inteira concordância as medidas propostas e apenas se tecem algumas considerações que parecem oportunas.
Uma de maior acuidade é a que respeita à simplificação burocrática, condição necessária para a realização da política do sector.
Importa, também, rever a disciplina legal das agências de viagens e turismo, de forma a alcançar-se o funcionamento regular destes valiosos elementos da infra-estrutura turística.
Efectivamente, não basta atribuir-se-lhes funções e delimitar-se a esfera da sua competência sem, paralelamente, se assegurar uma adequada fiscalização do nível técnico dos serviços prestados.
A regulamentação das relações de complementaridade existentes entre a hotelaria, os transportes e as agências de viagens evitará, no futuro, situações nem sempre condizentes com os progressos evidenciados pelo nosso turismo.
Aliás, o aperfeiçoamento do critério de concessão de novos alvarás de agencias de viagens, que se considera urgente, deverá operar a diminuição daquelas situações de anomalia e contribuir para minorar as deficiências propiciadas pela eventual insuficiência de adequados meios de controle da actividade.
Intimamente relacionada com a indispensável elevação e aperfeiçoamento do labor técnico específico dos agentes de viagem, surge a necessidade de se caminhar no sentido do reconhecimento oficial e legal da profissão.
Em recente estudo sistematizadamente conduzido por entidade para tal fim propositadamente designada, ficou demonstrada a oportunidade de se proceder à revisão do Decreto-Lei n.º 41 248, de 31 de Agosto de 1957, e do seu decreto regulamentar.
Dada a relativa amplitude de uma tal solução, à secção afigura-se que é aconselhável alterar, desde já, aquelas poucas disposições do articulado que se têm revelado mais susceptíveis de originar posições de instabilidade para, seguidamente, se levar a cabo a reestruturação orgânica julgada útil pela competente repartição do Comissariado do Turismo.
Quanto aos profissionais abrangidos pelo Sindicato Nacional dos Guias Intérpretes de Portugal, urge ultimar os estudos, em boa hora promovidos, com, vista à revisão do Decreto n.º 10 292, de 14 de Novembro de 1924, pois que o cotejo deste diploma com as prescrições estatutárias do Sindicato pode ocasionar conflitos de interpretação, não apenas sobre a competência para definir os critérios e as condições mínimas de acesso à profissão, como sobre as entidades aptas a fiscalizar, acompanhai e promover a evolução da actividade de tais profissionais do turismo.

3) Promoção e publicidade

17. É este sem dúvida um dos pontos mais importantes de que há-de depender a evolução do turismo entre nós. De facto, aceite a ideia de a situação geográfica dificultar o acesso ao nosso país das correntes turísticas de menores possibilidades financeiras, é incontroverso que são as camadas com maiores possibilidades económicas as que mais precisam de ser estimuladas por motivações que só uma promoção planeada conseguirá desencadear.
Por outro lado, a concorrência, internacional em matéria turística é cada vez mais aguerrida, sobretudo por parte dos países - e não são poucos - que têm problemas ligados com a balança de pagamentos.
Três objectivos podem nortear uma campanha de promoção:

Manter a clientela e o nível actual das receitas turísticas;
Manter a sua percentagem no mercado turístico mundial, acompanhando assim a, evolução dos países concorrentes;
Aumentar a sua participação relativa no mercado turístico mundial.

stes objectivos, depois de fixados, devem ser pormenorizados por países ou grupos de países, de forma que só consigam programas exequíveis e controláveis.
Dos três objectivos apontados é evidente que o que se pretende para o nosso país e o último, ou seja, aumentar a nossa participação relativa no mercado turístico mundial, restando apenas definir em quais e de quanto.
Era termos muito simples., crê-se que é dentro das linhas gerais expostas que se enquadra a atitude a definir em relação à promoção turística.
O capítulo em exame, reconhecendo a importância decisiva que caberá à promoção rio desenvolvimento do sector, prevê para esta rubrica um gasto de 1 740 000 contos no período do 111 Plano de Fomento.
Mas, apesar de reconhecer a necessidade de prever uma verba, qualquer que ela seja, a secção não concorda com o critério de fixação porque (o próprio capítula o reconhece) os números sobre receitas turísticas não oferecem confiança e apresentam variações anuais difíceis de explicar 10.

10 A confirmar esta imprecisão, aponta-se o facto de as receitas declaradas no capítulo em estudo como realizadas em 1966 serem iguais às que se prevêem para 1968.

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Além desta observação, há que ter em consideração, acima de tudo, a necessidade de programar com todo o cuidado a promoção e a publicidade turísticas, utilizando para a sua concepção, execução e lançamento os meios técnico-económicos que lhes permitam cumprir os objectivos que o nosso desenvolvimento turístico impõe. Estranha-se que, para além da fixação das importâncias a investir neste campo, nada se adiante no capítulo em estudo sobre a forma como irão ser administrados esses fundos, tanto mais que, segundo o programa de financiamentos apresentado, se trata de um investimento em que participam conjuntamente as fontes públicas (Fundo de Turismo- 480 000 contos; órgãos locais de turismo. - 60 000 contos) e, sobretudo, a iniciativa privada (l 200 000 contos).
A forma de coordenar todos estes investimentos, bem como os objectivos a seguir em matéria de promoção, não surgem no capítulo em apreço do projecto do III Plano de Fomento, pelo que a secção pensa que, embora seja de incluir uma verba no Plano destinada à intensificação da promoção e publicidade turísticas, deve justificar-se mais claramente (eventualmente através de orçamentos anuais a submeter à apreciação do Conselho Nacional de Turismo e da Corporação dos Transportes e Turismo) o montante necessário para os fins referidos.
Ainda no que se refere a este ponto, pensa-se que, a concretizar-se um plano de promoção turística, será necessário dotar o Comissariado do Turismo, órgão responsável pelo seu estudo, concepção e lançamento, com meios técnicos e de organização que não caberão, certamente, dentro das suas actuais possibilidades. No capítulo não se lê nada sobre a forma de resolver este estrangulamento.

IV

Conclusões

18. Em face do exame anterior, a secção tira as seguintes conclusões:

A) Aperfeiçoamento estatístico.-Para além da intenção de constante melhoria do sistema estatístico ligado ao turismo, impõe-se com urgência providências que permitam:

Inventariar os meios complementares de alojamento, sobretudo nas regiões em forte expansão turística;
Determinar com mais rigor as receitas em divisas provocadas pelo turismo, através da realização de inquéritos por amostragem;
Determinar, através de inquéritos, a estrutura das despesas do turista estrangeiro, elemento indispensável para a formulação de uma política de preços no sector.

B) Previsões para o período de 1968-1973. - Atendendo a que:

A taxa de crescimento da procura externa traduzida no número de dormidas tem vindo a diminuir de ritmo nos últimos três anos;
Na previsão da capacidade não se considerou qualquer efeito resultante da intensificação dos programas de promoção e publicidade;
Na previsão da mesma capacidade não se considerou um possível alargamento da utilização dos meios complementares de alojamento;
Na previsão da mão-de-obra necessária não se consideraram os efeitos de uma intensificação da produtividade;
O programa de investimentos proposto corresponde a mais do que triplicar o ritmo previsto no Plano Intercalar de Fomente para 1965-1967;

a secção recomenda que sejam revistas as estimativas elaboradas, de forma a, para além do objectivo, que é desejável, de se encaminhar a iniciativa privada para os investimentos turísticos, se criarem condições que lhe permitam ver com mais realismo as vantagens e os condicionalismos do programa que se propõe ao sector.
C) Promoção e publicidade. - Atendendo à excepcional importância que virá a desempenhar o desenvolvimento futuro do turismo em Portugal, podendo contribuir, através de objectivos e programas precisos, para uma definição mais clara do ritmo possível de crescimento do sector, a secção propõe que:

As verbas a despender em anos futuros em promoção e publicidade sejam determinadas em função de programas ou orçamentos anuais, com discriminação dos vários estudos e acções a empreender;
Atendendo à importante posição financiadora que se prevê, e bem, atribuir à iniciativa privada, esta seja chamada a colaborar na preparação e discussão dos referidos programas anuais, eventualmente através do Conselho Nacional de Turismo e da Corporação dos Transportes e Turismo.

Palácio de S. Bento, 26 de Julho de 1967.

Mário Malheiro Reymão Nogueira.
Armando Jorge Coutinho.
Jorge Dias Pereira.
Duarte Pinto Basto de Gusmão Calheiros.
José Manuel da Silva José de Mello.
Armando Manuel Bettencourt Rodrigues.
Manuel Mendes Leite Júnior.
Manuel José Dias Coelho da Silva.
João Pedro Neves Clara, relator.

ANEXO XI

Parecer subsidiário da subsecção de Ensino, da secção de Interesses de ordem cultural

Educação e investigação

A subsecção de Ensino, da secção de Interesses de ordem cultural, à qual foram agregados os Dignos Procuradores António Sobral Mendes de Magalhães Ramalho, Fernando Andrade Pires de Lima, Fernando de Sandy Lopes Pessoa Jorge, Francisco de Paula Leite Pinto, Herculano Amorim Ferreira, João Manuel Nogueira Jordão Cortês Pinto, José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich, José Hermano Saraiva, José Mercier Marques e Paulo Arsénio Viríssimo Cunha, consultada sobre o capítulo X «Educação e investigação», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do pró-

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jecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

Generalidades

1. O capítulo X do projecto do III Plano de Fomento tem por epígrafe «Educação e investigação» e encontra-se dividido em quatro secções, correspondentes às matérias seguintes:

I) Educação e investigação ligada ao ensino.
II) Investigação não ligada ao ensino.
III) Formação profissional extra-escolar.
IV) Investimentos totais.

Cada uma das três primeiras secções trata de matéria independente e forma como que capítulo autónomo, com a correspondente sistematização. Assim, e depois de uma pequena introdução sobre os antecedentes do Plano e método seguido, segue-se dentro de cada secção a divisão em quatro partes, que foi adoptada em todos os capítulos sectoriais: evolução recente e problemas actuais, objectivos, providências legais e administrativas, investimentos. Com esta ordenação das matérias dão-se a conhecer as situações de facto e as respectivas problemáticas, os objectivos que se propõem como devendo ser atingidos durante o período de vigência do III Plano de Fomento, as medidas que para tanto se reputam mais adequadas e, por fim, a fixação das verbas que tornarão possível a execução de tais medidas.
A referida sistematização é a que mais convém a um texto desta natureza. Ela não se afasta, aliás, formalmente, do que tem sido internacionalmente adoptado no planeamento da acção educativa. Trata-se de matéria que tem sido objecto de grande atenção por parte das organizações internacionais, e, ao contrário do que sucede em muitos outros casos, tem-se verificado na análise deste domínio uma constante unidade de pontos de vista.
Os resultados das conferências pedagógicas de Washington, Paris, Karachi, Beirute, Adis Abeba e Santiago do Chile levaram à elaboração de recomendações a adoptar no planeamento educativo, e entre essas recomendações figura a que se refere ao esquema tipo a que tais planos devem obedecer. Esse esquema é o seguinte:

I) Introdução sobre os antecedentes do plano e método seguido.
II) Exposição dos grandes objectivos e da política educativa do Governo.
III) Exposição dos objectivos mais precisos, com indicações quantitativas, por nível e ramo de ensino, e critérios para a futura avaliação.
IV) Exposição sobre os aspectos do plano educativo que se integram no plano de desenvolvimento económico e social.
V) Exposição pormenorizada dos projectos, programas e actividades previstos, com um breve resumo prévio sobre a situação presente e as necessidades a longo prazo, e com a indicação dos créditos necessários.
VI) Exposição sobre os métodos e os meios mediante os quais se propõe a aplicação do plano, com indicações sobre os processos e instrumentos de supervisão e rectificação. (Princípios del planeamento de la educación, U. N. E. S. C. O., 1963.)

O presente parecer subsidiário segue a mesma ordem do capítulo, enunciando, dentro de cada secção, as observações críticas referentes à matéria respectiva e articula, como conclusão da análise, as respectivas propostas de alteração, nos casos em que estas tenham lugar.

I

Educação e investigação ligada ao ensino

§ 1.º Evolução recente e problemas actuais

2. Uma primeira observação deve ser feita: o parágrafo destinado à descrição da evolução recente e dos problemas actuais não é preenchido, como sucede nos demais capítulos deste projecto do III Plano de Fomento, por uma análise no plano dos factos - que neste caso seria um exame objectivo das condições actuais do sistema educativo, seu funcionamento e seus pontos de crise -, mas por uma metódica e muito completa exposição da obra do Ministério da Educação Nacional desde há alguns anos para cá, exposição na qual se inventariam, não apenas numerosas providências legislativas, mas ainda os vários e importantes estudos e projectos que ali se encontram em vias de conclusão.
A leitura dessa exposição é do maior interesse, tanto por permitir formar uma ideia do que tem sido a actividade daquele departamento do Estado, como também porque esta parte expositiva se relaciona estreitamente com o § 3.º, referente às providências a programar, e no qual se remete para o § 1.º, pois que o que se propõe é a continuação da obra que vem sendo realizada.
Começa-se por se distinguir entre aspectos comuns à educação e à investigação, aspectos específicos da educação, aspectos específicos da investigação, e conclui-se por um sumário das principais deficiências da educação e da investigação em Portugal.
Consideram-se aspectos comuns à educação e à investigação as infra-estruturas e o planeamento.
As informações pertinentes ao primeiro destes aspectos são as de que foram criados o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa (Decreto-Lei n.º 46 158, de 16 de Janeiro de 1965), o Instituto de Meios Audio-Visuais (Decreto-Lei n.º 46 135, de 31 de Dezembro de 1964), o Fundo de Fomento do Desporto (Decreto-Lei n.º 46 449, de 23 de Julho de 1965), e a Direcção de Serviços do Ciclo Preparatório (Decreto-Lei n.º 47 480, de 2 de Janeiro de 1967).
Remodelaram-se: a Junta Nacional da Educação (Decreto-Lei n.º 46 348, de 22 de Maio de 1965), o Instituto de Alta Cultura (Decreto-Lei n.º 46 038, de 16 de Novembro de 1964), a Mocidade Portuguesa (Decreto-Lei n.º 47 311, de 12 de Novembro de 1966).
Introduziram-se alterações na orgânica da Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes (Decretos-Leis n.ºs 44 530, de 21 de Agosto de 1962, 45 180, de 5 de Agosto de 1963, e 47 319, de 19 de Novembro de 1966). Definiu-se o estatuto jurídico do Centro Universitário do Porto (Decreto-Lei n.º 46 667, de 24 de Novembro de 1965) e foram criados os serviços sociais da Universidade de Lisboa, da Universidade Técnica de Lisboa, e da Universidade de Coimbra (Decretos-Leis n.ºs 47 206, de 16 de Setembro de 1966, e 47 303, de 7 de Novembro de 1966). Ao planeamento assinala-se como objectivo a definição dos princípios orientadores, a organização de acções e a assistência à execução dos planos; as realizações são os estudos relativos ao Plano Regional do Mediterrâneo, que estão a ser completados pelo Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa. Os aspectos qualitativos

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do planeamento Inspiraram a elaboração de um importante diploma, que se encontra na fase de revisão: o Estatuto da Educação Nacional.
Os aspectos específicos da educação a que se faz referência são a generalização e melhoria da acção educativa, a escolaridade obrigatória, a escolaridade facultativa, a acção social escolar, os agentes de ensino, a rede escolar, as instalações escolares e seu apetrechamento, os graus e ramos de ensino, o ensino particular, a educação religiosa, moral, cívica, artística e física, a educação permanente, outros aspectos da acção educativa e as exigências de pessoal qualificado.
Os elementos de informação mais salientes que se oferecem sob cada uma destas rubricas são os seguintes:
No sentido de «intensificar o esforço de generalização, melhoria de qualidade e aumento do rendimento da acção educativa» encontra-se em elaboração «um cuidadoso estudo, por parte do Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, em ordem a diagnosticar com a possível exactidão as causas que não permitem atingir todo 5 rendimento desejável e propor as soluções pertinentes».
Para assegurar a efectividade da escolaridade obrigatória, criaram-se as duas novas classes de ensino complementar (Decreto-Lei n.º 45 810, de 9 de Julho de 1964, e Decreto-Lei n.º 47 211, de 23 de Setembro de 1966) e instituiu-se o ciclo preparatório do ensino secundário (Decreto-Lei n.º 47480, de 2 de Janeiro de 1967). Quanto à escolaridade facultativa, têm faltado os meios que possibilitem a desejável intensificação.
A acção social escolar tem por fim possibilitar os estudos a todos os que para eles tenham real capacidade, independentemente da condição económica, e proporcionar aos estudantes em geral condições propícias para tirarem dos estudos o máximo rendimento. Para ò conseguir publicou-se o Estatuto do Alojamento dos Estudantes (Decreto-Lei n.º 46 834, de 11 de Janeiro de 1966) e tomaram-se providências sobre residências, alimentação, saúde, bolsas e subsídios de deslocação. Reconhece-se não se dispor dos meios financeiros necessários para obra de tanto vulto.
No que concerne aos agentes de ensino, o objectivo é o de «promover a melhoria da qualidade e o acréscimo do seu número, tornando mais cuidada a sua preparação, criando novas condições e estímulos à sua permanente actualização e aperfeiçoamento, aumentando o sentido da sua responsabilidade profissional, imprimindo o maior prestígio à função docente e rodeando-a de todos os possíveis atractivos». Para se obter tal desiderato foi incumbido o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa de preparar um estatuto do pessoal docente, que se encontra em adiantada fase de elaboração.
A rede escolar deverá ser alargada e revista de modo a adensar o número dos estabelecimentos de ensino e a distribuí-los segundo os melhores critérios de desenvolvimento regional da educação. Para o efeito mandou-se proceder ao levantamento da carta escolar portuguesa, em vias de ultimação, e foram constituídos grupos de trabalho para acompanhar a evolução da rede.
O esforço para intensificar a construção escolar tem sido dificultado por limitações financeiras e embaraços no mercado da construção civil. Estão em curso estudos para a fixação de tipos de construção escolar em boas condições técnicas e económicas. Também o reapetrechamento tem sido afectado pelas insuficiências de verba.
Na rubrica relativa a graus e ramos de ensino dá-se conta de que continuam em laboração os trabalhos tendentes à reforma das estruturas escolares cuja linha geral se contém no projecto do Estatuto da Educação Nacional.
Quanto ao ensino particular, existe a preocupação de o integrar ou assimilar verdadeiramente num sistema nacional de educação e, nesse sentido, a Portaria n.º 20 904, de 13 de Novembro de 1964, regulou a concessão de subsídios para construção de edifícios destinados a tal espécie de ensino.
Com o objectivo de fomentar a educação religiosa, moral, cívica, artística e física, publicou-se a Portaria n.º 21 490, de 25 de Agosto de 1963, que introduz o ensino da Moral e Religião nas escolas primárias, editou-se legislação sobre museus (Decreto-Lei n.º 46 758, de 18 de Dezembro de 1965) e sobre direitos de autor (Decreto-Lei n.º 46 980, de 27 de Abril de 1966), elaborou-se um projecto de reforma do Conservatório Nacional, o primeiro esboço da carta desportiva e um Plano de Fomento Gimno-desportivo para 1966-1970.
Faz-se depois referência ao objectivo de fomentar a educação permanente, com a qual se relaciona a legislação sobre bibliotecas e arquivos (Decreto-Lei n.º 46 350, de 22 de Maio de 1965) e «outros aspectos da acção educativa», rubrica geral em que se englobam a orientação escolar e profissional, a expansão do ensino infantil, o ensino especial para deficientes, a actualização dos planos de estudos, programas e renovação de métodos, utilização de novas técnicas áudio-visuais, férias escolares, cursos nocturnos e cursos de férias, expansão da cultura portuguesa no estrangeiro, cobertura escolar e cultural das comunidades portuguesas espalhadas no Mundo, etc.
A última rubrica, relativa aos aspectos específicos da educação, refere-se ao problema, que na verdade tem de se reputar essencial, da adaptação da escolaridade às exigências de pessoal qualificado. E, como se sabe, a questão do conflito entre a formação e o emprego, tema central dos esforços da planificação educativa. Mas limita-se, neste ponto, o capítulo a exprimir o desejo de que aquela adaptação venha a ser conseguida.
Na série de rubricas que têm por objecto a exposição da evolução recente e problemas actuais da investigação ligada ao ensino, o capítulo não contém propriamente informação de factos, mas enuncia os objectivos de:

a) Aumentar o número de investigadores, institucionalizando em termos gerais, como carreira autónoma, a de investigador;
b) Estudar os diferentes tipos de centros de investigação e promover a criação de novos centros, estudo de que já foi incumbido o Instituto de Alta Cultura, em colaboração com a respectiva Direcção-Geral e o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa;
c) Coordenar as actividades dos centros de investigação dependentes do Ministério da Educação Nacional ;
d) Coordenar a investigação em geral.

O futuro Estatuto da Educação Nacional equaciona e providencia acerca destas matérias.
Termina o primeiro parágrafo por breve epítome das principais deficiências da educação e da investigação em Portugal. A sua enumeração faz-se pela ordem seguinte: insuficiência das infra-estruturas administrativas e técnicas; frouxa colaboração da iniciativa privada; informação deficiente; fraca produtividade do ensino; falhas na escolaridade obrigatória; pequeno volume da escolaridade facultativa; carência de meios para acção

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social escolar; falta de um estatuto dos agentes de ensino, míngua do seu número, defeituosa preparação; insuficiência de instalações escolares e apetrechamentos; imperfeições em outros aspectos (orientação escolar e profissional, ensino infantil, ensino de deficientes, planos de estudos, programas, métodos e compêndios, fomento cultural); necessidades da institucionalização da carreira de investigador; escassez de centros de investigação; má coordenação da investigação.
Tal é, condensadamente, o panorama que o capítulo X dos programas sectoriais da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento faculta sobre a evolução recente e os problemas contemporâneos do ensino e da investigação no nosso país.

§ 2.º Objectivos

3. Em coerência com o referido entendimento da conjuntura educativa, articulam-se em dezassete alíneas os objectivos a atingir no âmbito do III Plano. Tais objectivos são, aliás, os mesmos - não têm a menor alteração, nem quanto ao fundo, nem quanto à forma - que foram sendo definidos no parágrafo precedente como metas visadas na acção desenvolvida nestes últimos anos.
Ë, evidentemente, uma repetição intencional. Com ela pretendeu-se certamente salientar, e por um processo estilístico vigoroso, que os fins a atingir durante o III Plano serão precisamente os mesmos que têm norteado o Ministério da Educação Nacional na sua evolução recente. Existia a consciência clara da obra que era necessário empreender, e sabe-se como neste domínio toda a acção tem de ser ideada e desenvolvida a longo prazo. Nas grandes viagens é natural que se mantenham muito tempo os mesmos rumos. E é nesse espírito que a obra prevista para os próximos seis anos se anuncia como continuação da obra anterior.
Não se põe em dúvida que a continuidade seja, em si mesma, um valor. Ela está na raiz de toda a acção que se pretenda fecunda e perdurável. Mas isto não exclui a existência de uma hierarquia de objectivos, a qual pode ir desde as metas gerais e permanentes que orientam uma política até às acções específicas a desencadear, em cada momento, de acordo com os programas de trabalho estabelecidos. Ora os fins específicos de um sector incluído num plano geral, não podem deixar de corresponder aos fins que no conjunto do plano se lhe assinalam, cumprindo-lhes apenas pormenorizar e analisar esses objectivos gerais, de modo a assegurar-lhes a realização. Neste caso o objectivo fixado foi o seguinte: «garantir a preparação de largas categorias da população activa e a correlativa programação dos investimentos e meios humanos indispensáveis para que o complexo de acções a desenvolver no sector público e pelas entidades privadas atinja o grau de eficiência requerida» (capítulo V, § 2.º, n.º 4). Por isso mesmo, na parte geral do projecto vem previsto que o capítulo especialmente relativo ao ensino se ocupará da «importância decisiva que tem o atingir níveis elevados de instrução de base e técnica, em paralelo com a necessidade de conferir às tarefas de investigação meios suficientes para a obtenção de rápidas inovações».
No projecto não se distingue entre objectivos gerais e objectivos decorrentes do Plano, e a questão é posta de tal modo que a discussão dos objectivos futuros se confunde com a dos que têm sido adoptados. É coincidência que poderia ser origem de embaraços, pois que, quando se formulem juízos sobre o mérito da obra a realizar, há o risco de eles se entenderem extensivos à actividade recente de um departamento do Estado, matéria sobre a qual não tem a subsecção que emitir opinião. Importa, assim, distinguir claramente e prevenir desde já a possibilidade da confusão. Aliás, actividades de tipo idêntico seriam sempre apreciadas em termos completamente diferentes, consoante correspondessem à actividade normal de um sector da Administração ou fossem apresentadas como tarefas específicas destinadas à execução de um plano sexenal de fomento.

4. A conclusão que pode extrair-se das duas primeiras partes do capítulo X do projecto, relativas à evolução recente e aos objectivos, é a de que o Ministério da Educação Nacional está a prestar cuidadosa atenção a tudo o que ao ensino diz respeito, e tem em gestação - nalguns casos em preparação muito adiantada - uma série de reformas que procuram dar satisfação a numerosos problemas da educação e da investigação em Portugal. Nessa ampla actividade renovadora devem distinguir-se três fases:

a) Fase preliminar da colheita de informações e de planeamento, caracterizada pela instalação de infra-estruturas administrativas, pelos estudos estatísticos, diagnósticos, análises prospectivas e trabalhos de cartografia pedagógica;
b) Fase de síntese e de fixação de rumos, que consistirá na definição normativa e global de toda a problemática do sistema educativo português. Tal será a função do Estatuto da Educação Nacional, diploma que se anuncia inédito em todo o Mundo. Não será, em si mesmo, uma colecção de reformas, nem o poderia ser. Atribuir-lhe esse carácter seria confundi-lo com um código da educação, e é evidente que a legislação educativa não deve ser codificada; mas será, como no capítulo expressivamente se escreve, «a grande bússola orientadora das actividades de educação e investigação»; será, portanto, o instrumento jurídico que, potencialmente, contém os princípios gerais das reformas a empreender;
c) Fase das reformas e providências propriamente ditas, a programar em função de uma larguíssima escala de objectivos: instituição de infra-estruturas administrativas, reunião de elementos documentais e estatísticos com vista ao planeamento sistemático, criação de estímulos à iniciativa privada e integração do ensino particular no sistema nacional de educação, organização de um serviço informativo capaz de chamar a atenção pública para os problemas educativos, melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, aumento da produtividade escolar, garantia da escolaridade obrigatória e incremento da facultativa, criação de condições de estudo a todos os que possuam real mérito, independentemente das condições económicas, estabelecimento de satisfatórias condições de estudo para a generalidade dos estudantes, aumento do número de professores, aperfeiçoamento da sua qualidade, possibilidade de actualização profissional, prestígio da função docente, criação de atractivos para o magistério, alargamento da rede escolar e sua remodelação de acordo com os melhores

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critérios do desenvolvimento regional da educação, intensificação do ritmo de construção e apetrechamento de escolas e centros de investigação científica, reforma das estruturas escolares, fomento da educação religiosa, moral, cívica, artística, física; promoção da educação permanente, fomento dos restantes aspectos da acção educativa, adaptação da escolaridade às exigências de pessoal qualificado, aumento do número de investigadores, institucionalização da respectiva carreira, formação de novos centros de investigação, coordenação da investigação no âmbito do Ministério e no seu conjunto.

Os objectivos enunciados percorrem, assim, todos os níveis e todos os aspectos da educação, da organização escolar e da investigação científica, e irradiam em múltiplos sentidos. Essa amplitude prejudica, muitas vezes, a nitidez, e alguns dos objectivos estão definidos em termos de tal generalidade que antes parecem afirmações de intenção; e essa parece, na verdade, ser a sua verdadeira natureza, pois que lhes não corresponde qualquer referência específica nas rubricas seguintes das providências legais e administrativas e dos investimentos programados.

5. O que impede a subsecção de exprimir um juízo de incondicional concordância, em face da vastidão dos objectivos referidos no capítulo, não é que algum deles lhe pareça despiciendo, ou que não possa, porventura, e1 sob certos aspectos, justificar-se. Aliás, como fins gerais prosseguidos rio quadro normal de actividades do Ministério da Educação Nacional, não tem a subsecção de os apreciar, mas nem por isso ela se exime a exprimir o seu apreço pelo perseverante entusiasmo com que se pretende levar a cabo obra de tamanha vastidão. Mas, como realização a programar e a incluir no âmbito do III Plano de Fomento, a posição da subsecção é a de chamar a atenção para a dificuldade de um plano indiscriminado e sem limites e para os perigos que se podem seguir de num domínio onde há tanto a fazer que as atenções facilmente se podem distrair do principal para o acessório, não se ter fixado uma escala de prioridades que servisse para designar, de entre a massa enorme daquilo que era bom que se fizesse, o que seria inadmissível que se deixasse de fazer. Falta completamente no capítulo uma regra de indicações de prioridades, e sabe-se como «as prioridades de financiamento são a maneira mais simples e talvez mais realista de considerar a educação nas suas relações com o desenvolvimento geral».
Conviria, portanto, enunciar os objectivos a atingir durante o 111 Plano de uma forma precisa, seleccionando aqueles que, à luz dos critérios convergentes da concentração dos esforços, da essencialidade e da reprodutividade dos investimentos, deverão gozar de prioridade em relação a todos os demais.

§ 3.º Providências legais e administrativas

6. O parágrafo que no capítulo se consagra depois às providências legais e administrativas que deverão ser tomadas, no âmbito do III Plano de Fomento, para assegurar a realização dos objectivos previamente fixados, é muito breve, contrastando, portanto, com o amplo horizonte dos mesmos objectivos. Limita-se o capítulo à afirmação de que tais providências «devem inspirar-se numa ideia de continuidade em relação às que vêm sendo praticadas». Assim, há que «levar por diante os numerosos p complexos estudos em curso», «não largando de mão os planos estabelecidos» e «prosseguindo na linha das múltiplas reformas que têm sido promulgadas ou estão em vias de preparação». «Há, sobretudo, que tornar letra de lei o projecto do Estatuto da Educação Nacional, que ficará sendo a grande bússola orientadora das actividades de educação e investigação».
Já, aliás, na introdução geral ao capítulo se marcara com. toda a clareza esta mesma ideia: «o presente- capítulo abrange as mesmas matérias que constituíram objecto do correspondente capítulo do Plano Intercalar de Fomento». E, em outros passos: «este III Plano continua a percorrer a senda aberta pelo Plano Intercalar» (Introdução, 2); «Tem-se em vista prosseguir na senda aberta, sob este aspecto, por esse plano» (§ 4, 37).
Limita-se, pois, a uma simples recomendação de continuidade a parte construtiva do Plano, aquela que, de acordo com a estrutura do capítulo, deveria conter o elenco discriminado das actividades de fomento educativo a integrar no III Plano de Fomento.
A remessa que se faz para o Plano Intercalar obriga a recordar qual foi a orientação geral deste na parte relativa à educação e à investigação. Escreveu-se nessa altura:

Um verdadeiro planeamento educativo, como conjunto orgânico e sistemático, só poderá ultimar-se depois de delineada a nova estrutura do sistema educativo no seu conjunto. As concretizações de ordem numérica estão naturalmente dependentes de uma prévia definição de uma política educacional: a quantidade acha-se subordinada à qualidade.
Enquanto se não fixa a nova fisionomia da organização escolar no seu todo, não se pode ter a pretensão de entrar no caminho de realizações materiais, que representassem a execução de um programa integral, concebido à luz das estruturas presentes e vinculado, pois, a formas condenadas a sofrerem mutações apreciáveis num futuro mais ou menos próximo.

E ainda:

As precedentes considerações servem para justificar que não se transforme o presente capítulo num planeamento escolar integral e se lhe dê mesmo arranjo formal diverso do dos restantes capítulos sectoriais do Plano.
Estando o referido planeamento a ser objecto de estudos, que se deseja abreviar quanto possível, mas a prudência e a honestidade aconselham a não ultimar precipitadamente, seria prematuro descer aqui a uma exposição minuciosa. Não se entrará, designadamente, numa apresentação completa dos objectivos de ordem educacional a prosseguir e dos meios adequados para os satisfazer.
Aliás, a natureza do Plano Intercalar e a conjuntura em que ele se insere não se compadeceriam com uma exposição e propósitos muito ambiciosos.

7. Compreendem-se os motivos que levaram a assumir esta posição, que, aliás, não mereceu em 1964 a concordância da Câmara Corporativa. E igualmente se compreendem as razões que obrigam a manter, no III Plano, a orientação que no Plano Intercalar se definiu. No fundo está a impossibilidade do planeamento educativo integral e autónomo a curto ou médio prazo, e as dificuldades de articulação entre os planos gerais de desenvolvimento

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económico-social e os planos específicos que visam o desenvolvimento de cada sector. Não são formas que se excluam ou que possam aceitar-se em alternativa. Mas, quando coexistam, há que articulá-las de tal modo que as exigências do planeamento global do sector não funcionem como impedimento à realização dos objectivos que, para esse mesmo sector, são marcados no plano geral. É, por esta mesma razão que a solução que consiste em definir uma política educativa ao longo dos ensejos representados pelos sucessivos planos de fomento geral não substitui a que consiste na definição de um plano cultural autónomo, antes podendo dizer-se que a pressupõe. Trata-se de planos diferentes, sendo a distinção do tipo da que se costuma fazer entre táctica e estratégia. E daí resulta que, quando se pretenda tomar uma coisa em vez de outra, surgem insuperáveis dificuldades de coordenação: é necessário, por um lado, acertar o ritmo das realizações dentro do sector com o dos resultados que se pretendem atingir no plano geral; e é necessário, ao mesmo tempo, fazer coincidir as medidas, necessariamente parciais, implicadas pela realização dos fins do plano geral, com uma parte das medidas previstas para que se atinjam as metas fixadas no plano sectorial autónomo. A extrema complexidade desta integração do específico e total no geral, mas limitado, é evidente, qualquer que seja o sector que se considere; mas o melindre é ainda maior quando se trate de um sector prioritário, apontado no plano geral como directamente condicionante da rentabilidade prevista para todo o conjunto dos investimentos.
Os efeitos deste assincronismo, que já se fizeram sentir no Plano Intercalar, continuam a embargar o planeamento do sector do ensino no âmbito do III Plano. Os capítulos consagrados a este sector assumem, em ambos os referidos planos, características diferentes das dos que respeitam aos demais sectores: insuficiente especificação, indicação vaga das acções a executar, atribuição global de verbas aos fins gerais de fomento do ensino, e não a pontos concretizados.
A razão de ser dessas diferenças está, porventura, menos no facto apontado de não se acharem ainda concluídos os trabalhos de base exigidos para um planeamento educativo global que nas dificuldades de articulação a que se fez referência.

8. A subsecção não fecha os olhos à complexidade do problema, mas não pode dar a sua concordância à solução proposta. Qualquer que seja a dificuldade que o planeamento encontre em determinado sector, essa dificuldade não pode admitir-se com o efeito de obstruir o próprio ritmo do desenvolvimento normal, isto é, daquele que se verificaria dentro do sector, independentemente da acção do plano geral. Ora, se o III Plano de Fomento se limitasse, no sector do ensino, a manter a atitude programada no Plano Intercalar, ter-se-iam, em nome das exigências de um planeamento perfeito, consumido nove anos na fase preliminar das experiências e recolha de informações de base para a reforma de um domínio no qual já se verificam atrasos e saldos negativos que importa urgentemente recuperar.
A subsecção reconhece o maior interesse aos estudos numerosos e complexos que no capítulo se discriminam, e vê neles úteis pontos de partida para um planeamento autónomo integral, a longo prazo, cuja elaboração considera desejável. Alguns dos resultados desses estudos constam dos relatórios elaborados para servirem de base a este capítulo do projecto e atestam o muito merecimento da actividade que está a ser desenvolvida pelo Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa: é uma obra que deve considerar-se notável para um organismo criado há pouco mais de dois anos.
Mas o objectivo que se põe agora não é o de um planeamento cultural, integral e autónomo: é, limitadamente, o de dentro do âmbito de um plano de fomento económico-social cujo prazo de execução é de seis anos, orientar a actividade do sector por forma a garantir a produção dos efeitos sem os quais os fins gerais do plano - designadamente o acréscimo da eficiência produtiva - não poderão ser alcançados. Para isso não basta uma política de infra-estruturas, recolha de elementos, experiências ou mesmo de fomento indiscriminado. Impõem-se medidas específicas e necessariamente urgentes para, durante certos prazos, alcançar certos fins. Ora essas medidas são, no entender da subsecção, as que conduzam aos seguintes resultados: mais alunos, mais professores, melhor ensino, escolas suficientes, mais investigação.
As alíneas seguintes procuram examinar sumariamente esses aspectos segundo uma perspectiva programática e pela mesma ordem por que foram agora enunciados.

a) Alunos

9. A evolução dos efectivos escolares durante, o período de 1964-1965 a 1974-1975 foi estudada no relatório da 1.ª fase do Projecto Regional do Mediterrâneo e no relatório final do subgrupo n.º 1 do Grupo de Trabalho n.º 10 "Ensino e investigação ligada ao ensino". Os resultados obtidos foram os seguintes:
[Ver quadro na Imagem]

Os valores indicados no relatório base referem-se à hipótese do que se considerou a evolução desejável do ensino. Os números que prevêem uma evolução espontânea, e que constam do mesmo relatório, são os seguintes:

Ensino obrigatório ........... 1 343 430
Ensino secundário ............ 354 846
Ensino médio ................. 14 275
Ensino superior .............. 56 300
1 768 851

Em qualquer das duas hipóteses as estimativas para 1975 prevêem a escolaridade obrigatória de seis anos.
Assim, o acréscimo absoluto do contingente escolar será, no período considerado, de 457 000 estudantes, segundo o relatório P. R. M., e de 838 524 ou de 539 982, conforme a expansão escolar venha a ser estimulada ou se processe com o seu ritmo espontâneo.
Com base nestes elementos, que aliás não são muito divergentes, pode aventurar-se o juízo de que vai aumentar em cerca de meio milhão o número dos alunos que ao

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terminar o III Plano de Fomento terão engrossado o contingente escolar.

10. Os problemas relativos aos alunos ordenam-se em dois grupos: os que se referem à escolaridade obrigatória e os que dizem respeito à escolaridade facultativa.
A escolaridade obrigatória está fixada em seis anos. Já no Plano Intercalar se referia esse relativo progresso. As duas novas classes, criadas pelo Decreto-Lei n.º 45 211, de 23 de Setembro de 1964, ainda não estão a funcionar. O regime da obrigatoriedade está previsto só para o ano lectivo de 1968-1969, mas a sua efectivação supõe a utilização de numerosos professores, que deverão ser preparados, e de numerosas salas, de que também ainda se não dispõe. Estão em curso algumas classes facultativas e experimentais regidas por professores primários que receberam para esse efeito cursos que funcionaram nos diversos distritos escolares e tiveram a duração de um mês.
Seis anos de escolaridade obrigatória em 1970 representam um período muito inferior à média dos países europeus, e este desnível constitui séria ameaça, pelas repercussões que pode vir a ter no mercado do emprego. Mas não é oportuno discutir a eventualidade da sua ampliação enquanto a primeira etapa não tiver sido plenamente atingida. Neste, como, aliás, em qualquer outro sector da administração pública, não deve programar-se senão o que se puder fazer, nem pode considerar-se bom o que não sé mostrar possível.
Convém, porém, ter presente que, em tudo o que se refere, à estrutura do ensino, os aspectos qualitativos são indesligáveis dos quantitativos, condicionando-os e podendo, dentro de certos limites, corrigi-los. O que se quer atingir através da instituição da escolaridade obrigatória não é que a criança permaneça certo número de anos na escola, mas que, durante o número de anos que lá permanece, atinja determinada preparação cultural. A forma mais segura e idónea de obter uma preparação maior é a de prolongar a duração da escolaridade; mas, quando não seja possível uma escolaridade mais longa, não deve descurar-se a alternativa de uma escolaridade mais eficiente. Os dois termos - duração e eficiência - são, aliás, função um do outro; ao regime jurídico das quatro classes tem correspondido uma permanência média na escola de 5,2 anos. É o peso desta realidade pedagógica, e não o daquela disciplina jurídica, que se traduz em utilização de salas e em horas de ensino, e, portanto, em encargo financeiro efectivamente suportado pelo Estado.
Enquanto se não prolonga a escolaridade até ao limite imposto pelos padrões generalizados, poderão tomar-se todas as medidas no sentido de conseguir o máximo rendimento durante a fase do ensino efectivo. E muito haveria que inovar ou corrigir. O nosso ensino elementar funciona, em muitos casos, em regime de meios tempos; os horários normais são de duração muito curta, e as férias são desproporcionadas para a idade infantil. Os programas foram recentemente aperfeiçoados, mas, quanto a métodos, as características dominantes são a falta do treino manual, que exige material individual de que se não dispõe, e a falta de cálculo mental, que implicaria uma atitude pedagógica para a qual nem todos os professores estão preparados. Os livros de estudo - que poderiam ter influência decisiva no teor do ensino ministrado - deveriam merecer maior atenção. O resultado de tantos factores negativos é que a escola primária não fornece o mínimo cultural indispensável para enfrentar a vida. E uma situação que não é de hoje e não é só nossa, mas que, por isso mesmo, tem sido em parte resolvida pelo prolongamento das classes. Enquanto isso se não fizer, há que trabalhar no sentido da conversão de um ensino de tipo mnemónico e extensivo num ensino intensivo e dirigido ao desenvolvimento mental.
Estas preocupações aplicam-se, de modo particular, às duas novas classes, que terão de começar a funcionar sem quadros especialmente preparados para o efeito, e com matérias em relação às quais os professores não dispõem sequer da experiência tradicionalizada que, com todos os seus defeitos, constitui, ainda em boa parte, a didáctica do ensino elementar. São deficiências que poderão vir a afectar seriamente a rentabilidade do ensino primário complementar e que não conseguirão eliminar-se senão mediante a cuidada, e tempestiva, preparação do pessoal docente e a dotação das escolas com os meios materiais indispensáveis ao ensino. Nem o processo das caixas escolares, nem a contribuição das câmaras poderão resolver satisfatoriamente esse problema, que, consideradas as matérias que irão ser ministradas, se coloca em termos completamente diferentes dos que reveste no ensino elementar.
As providências legais e administrativas que, no âmbito do Plano, deverão ser tomadas quanto à escolaridade obrigatória serão, portanto, as que conduzam ao aumento do ensino ministrado e à preparação das instalações e dos quadros que tornem possível, em Outubro de 1968, o funcionamento geral e obrigatório da primeira etapa do aumento de escolaridade já decretado, e cuja efectiva entrada em vigor não pode, sem graves prejuízos, ser adiada por mais tempo. Quaisquer medidas que visem o acréscimo da eficiência do ensino primário ou o aperfeiçoamento dos seus métodos terão de ser acompanhadas pela concessão de benefícios económicos aos professores: remunerações suplementares, residências, facilidades para a educação dos filhos. Não seria justo impor novos deveres ou exigir mais tempo dê trabalho a quadros cuja situação económica já é aflitiva. O efeito das imposições desacompanhadas de recompensas poderia ser negativo, acentuando o ritmo de um êxodo que já começou e que está. a privar o ensino primário dos seus elementos mais válidos, desviados para ocupações mais compensadoras oferecidas pelo sector privado. É um efeito necessário da falta de formação de quadros médios; eles faltam em toda a parte, e o Estado está já a sentir os efeitos dessa falta numa concorrência que se exerce sobre os que foram preparados para o exercício das funções públicas.
Todas essas medidas se reconduzem, porém, ao reforço dos meios destinados à preparação de pessoal, às instalações ou aos equipamentos. Não há, assim, que fazer expressa menção delas no quadro das medidas específicas a programar para execução do III Plano.

11. Os numerosos problemas da escolaridade facultativa podem condensar-se em três questões fundamentais: insuficiência do contingente escolar, falta de sistema selectivo, descoordenação entre a distribuição dos estudantes pelos ramos de ensino e as necessidades do planeamento económico:

a) A insuficiência do contingente escolar facultativo exprime-se fundamentalmente pela diferença entre as taxas de escolaridade do ensino primário e as do ensino secundário e as taxas de escolaridade deste último no nosso país e as que se podem observar em outros.
Num estudo sobre a situação do ensino nos países do Mercado Comum (Raymond Poignant, L'enseignement dans les pays du Marche Commun) faz-se a análise da escolaridade por grupos etários e apresentam-se as seguin-

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tes taxas de escolaridade em relação às idades de 15 e de 17 anos:

[Ver Quadro na Imagem]

No nosso país, as mesmas taxas evoluíram, durante o decénio de 1954-1955 a 1964-1965, da forma seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

A indicação é, portanto, no sentido de recuperação bastante rápida. Mas, apesar disso, e mesmo tendo presentes todas as reservas a pôr à comparabilidade de dados estatísticos de diferentes proveniências racionais, verifica-se que ainda é longo o caminho a percorrer.

12. - b) A inexistência de um sistema selectivo tem, como consequência mais grave, a de que na passagem de um para outro nível de ensino não pode garantir-se um aproveitamento completo do contingente de alunos que, em cada etapa da escolaridade, revelaram possuir mais condições para realizar com êxito a tarefa seguinte. O problema assume particular relevo na transição do ensino primário para o ensino secundário, que coincide com a passagem do ensino gratuito ao ensino retribuído.
Têm sido já muitas vezes postos em evidência os inconvenientes desta situação, e em tais juízos sublinham-se normalmente os males sociais e económicos que ela representa: jogam aí, na verdade, valores de justiça social, que levam a promover na proporção dos méritos, e de produtividade da acção educativa, que aconselhariam a selecção daqueles que mais garantias dão de retribuir em aproveitamento e qualificação os gastos que a educação exige. São, portanto, críticas conhecidas, sobre as quais não há que insistir. Salientar-se-á, contudo, o que pode considerar-se uma específica dimensão nacional do problema. Portugal é uma nação cuja essência histórica é a de difundir os benefícios da civilização e da cultura, especificadamente nas províncias do ultramar. E, portanto, uma nação de quadros, no sentido de que tem de preparar os agentes humanos para a plenitude de uma acção civilizadora que é a nossa própria razão de estar no Mundo. Esta responsabilidade histórica é incompatível com desperdícios de valores humanos. É necessariamente a cultura que aumenta a capacidade dos homens como instrumentos de aculturação. Nesta perspectiva, todos têm de ser aproveitados, mas seria imperdoável que alguns dos melhores deixassem de o ser.
A selecção escolar pode decompor-se em dois aspectos: um positivo, outro negativo, consistindo o primeiro em assegurar o prosseguimento dos estudos e o segundo em o condicionar ou impedir. Este último é de frequente aplicação nos chamados países de economia planificada, nos quais o dispositivo educacional está subordinado às exigências da mão-de-obra requerida pela produção; mas é conceito que repugna aos valores fundamentais de liberdade humana e de respeito pela família que estão na base do nosso sistema educativo. Quanto ao primeiro, é uma imposição desses mesmos valores e, além deles, da justiça social e do interesse fundamental da Nação. A subsecção só tem, aliás, a esse respeito, que manifestar a sua inteira concordância em relação ao objectivo, que pela primeira vez se inscreve num Plano de Fomento, de «possibilitar os estudos, para além da escolaridade obrigatória, a todos os que tenham real capacidade para os prosseguir, independentemente das suas condições económicas» (§ 1.º, n.º 12; § 2.º, n.º 34).

13. - c) A descoordenação entre a distribuição pelos ramos do ensino e as necessidades do desenvolvimento económico nacional acusa-se de forma particularmente visível na relação entre os contingentes do ensino liceal e do ensino secundário técnico, não obstante a notável expansão que este último tam atingido nos anos recentes, e na desproporção dos contingentes do ensino médio em relação aos dos ensinos secundário e superior.
O quadro seguinte refere-se ao volume absoluto dos efectivos dos dois referidos ramos de ensino e ao ritmo da sua expansão durante o decénio de 1954-1955 a 1964-1965:

[Ver Quadro na Imagem]

Pode verificar-se, por um lado, que no último ano em relação ao qual se dispõe de informação estatística o número de alunos do ensino liceal é da mesma ordem do que se refere aos alunos do ensino- técnico; por outro, que o ritmo de expansão da ensino superior não acompanha o do ensino liceal. Importa ponderar que o ritmo de expansão dos dois graus de ensino não poderia ser simultâneo, visto que os acréscimos verificados na entrada para o liceu só sete anos mais tarde se traduzem em acréscimos na entrada para a Universidade. Porém, comparando quadriénios separados por períodos de sete anos, verifica-se o seguinte: de 1954-1955 a 1957-1958, a frequência no liceu passou de 62 280 alunos para 82 962; sete anos depois (1961-1962 a 1964-1965:) a frequência das Universidades passou de 25 393 para 31 375 estudantes. O aumento representa pouco mais do que a quarta parte do que, sete anos antes, se registou no ensino liceal.

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Quanto ao primeiro, aspecto, a distribuição dos contingentes deve considerar-se um. desvio em relação ao que seria aconselhado pelas necessidades específicas do desenvolvimento económico. O assunto é, aliás, objecto de recomendação especial do relatório base, no qual se transcreve a seguinte passagem do Comunicado final relativo ao «exame especial P. K. M., que teve lugar no âmbito do Comité do Pessoal Científico e Técnico da O. C. D. E.: «O Comité reconheceu que o ensino, secundário, e em particular o ensino científico e técnico, constituem a curto prazo o problema essencial da expansão do sistema de ensino nos países mediterrânicos. Sublinhou que profundas modificações de estrutura se impõem para que o ensino secundário fosse desempenhar o papel que lhe cabe em face do conhecimento das necessidades económicas e sociais. É, na verdade, o ensino técnico que deve fornecer na sua máxima parte os quadros médios destinados ao prosseguimento das actividades económicas cujo planeamento se inclui neste mesmo III Plano no prosseguimento dos anteriores, e é neste sector que a falta de articulação entre o planeamento educativo e o planeamento económico pode originar consequências mais nefastas para o desenvolvimento global.
Quanto ao segundo aspecto, isto é, à falta de correspondência entre o ritmo de expansão do ensino liceal e do ensino superior, impõe-se considerar que o primeiro é, em princípio, vestibular em relação ao segundo, e que, portanto, o facto de uma proporção muito importante da população; liceal não chegar a atingir a Universidade vai traduzir-se num agravamento sensível dos custos da educação, sem a necessária contrapartida de utilidade económica, e isto apesar de continuarem em vigor algumas disposições legais que estabelecem habilitação mínima do 5.º ano para empregos em relação aos quais o ensino técnico profissional constitui a preparação mais adequada. Na verdade, a formação liceal aumenta o nível de cultura geral e prepara para receber a especialização do ensino superior; mas, considerada em si mesma, não atribui qualificação específica que habilite a retirar o proveito proporcional à preparação recebida. O antigo liceal que não prosseguiu os seus estudos vem a ocupar no mercado do emprego situações inferiores às que correspondem aos graus, equivalentes da formação técnica secundária. Visou mais e alcançou menos. Esta situação reflecte-se em atitudes psicológicas de ressentimento, cuja inconveniência social é manifesta.

14. A necessidade de fazer subir as taxas de escolaridade facultativa verifica-se em relação a todos os graus em que o ensino não é obrigatório: secundário, médio e superior. Mas é era relação aos dois primeiros que o problema se coloca em termos de maior urgência e intensidade.
O ensino secundário condiciona a expansão do ensino superior, e é nele que tem de se encetar quaisquer esforços que visem o desenvolvimento deste. Acresce que é no nível secundário que se verificam os mais salientes desníveis em relação às taxas médias dos países em cujo contexto cultural e económico estamos integrados. Os índices de escolaridade desses países evoluíram no sentido de cobrir todo o período de vida anterior à vida activa e a tendência é para se prolongarem até ao termo da adolescência. Ora, em matéria de educação, medeia muito tempo entre a causa e os efeitos; estes começam a fazer-se sentir, sobretudo no plano económico, só alguns anos após as reformas que provocaram. As recuperações do tempo perdido são, neste domínio, impossíveis.
O ensino médio justifica uma especial referência.
São os institutos médios que preparam os graduados não universitários: os agentes técnicos, os regentes agrícolas, os contabilistas, técnicos de contas e correspondentes.
A sua função é, portanto, de primacial importância sob o ponto de vista especial de um plano de fomento, e é neste campo que podem fazer-se os investimentos mais directamente reprodutivos, capazes de assegurarem um mais baixo coeficiente capital-produto. É o ensino médio que pode, em menos tempo e com menor custo, formar o pessoal qualificado cuja falta está já a originar prejuízos graves, e que se irá acentuando ao longo do sexénio até ao ponto de poder comprometer todo o conjunto dos investimentos planeados.
A situação actual é conhecida: não há estabelecimentos, não há edifícios próprios, não há planos de estudos adequados, não há pessoal docente com preparação específica. Os resultados deste estado de coisas acusam-se na produtividade do ensino: a percentagem de diplomados é a mais baixa de todos os ramos, situando-se, nos últimos anos, na ordem dos 5 por cento; correlativamente, a das reprovações atinge aqui a sua flecha mais alta: 72,3 por cento no ensino médio comercial. O número de alunos (5015 em 1963-1964) é cerca de 25 vezes inferior no dos que frequentaram, no mesmo ano, o ensino liceal; o número dos diplomados foi 10 vezes inferior ao dos diplomados universitários. Também em 1963-1964 concluíram os seus cursos 261 engenheiros, e apenas 46 agentes técnicos. Estes índices traduzem uma situação que se considera das anomalias mais graves do nosso sistema escolar e sintoma revelador da inadequação das suas estruturas às condições da vida actual.
Na verdade, a antiga organização do ensino - um grau primário abrangendo toda a população, um grau secundário de preparação para a Universidade, cujos excedentes eram absorvidos pelo serviço público, e um grau superior que fornecia os quadros dirigentes - espelhava a estrutura de uma- população activa que, em gerai, se ocupava nas actividades do sector primário, que não exercia indústrias exigentes de qualificação especial e cuja elite se entregava às actividades terciárias. À transferência de contigentes demográficos progressivamente mais importantes do sector primário ao secundário correspondeu a evolução das estruturas escolares, que se adaptaram à formação dos quadros médios, outrora quase desnecessários. Tal é a função do ensino médio; mas entre nós a transformação da sociedade não foi acompanhada pela reforma correspondente das estruturas do ensino. A remodelação completa do ensino médio e do estatuto profissional dos respectivos diplomados (incluindo a revisão das remunerações e dos títulos) é, pois, das necessidades mais imperiosas e urgentes para o qual, aliás, a Câmara Corporativa já chamou a atenção, designadamente no parecer dado acerca do II Plano de Fomento. A subsecção é de parecer que as providências relativas a tal remodelação deverão ser tomadas a tempo de os seus efeitos se tornarem sensíveis durante o sexénio a que o Plano se refere.

15. Os problemas da escolaridade facultativa revestem aspectos marginais que interessa pôr em equação.
O desenvolvimento cultural é um pressuposto do desenvolvimento económico, e é nesse sentido que os custos do ensino são considerados investimentos pelos economistas, mas é também consequência dele, porque todo o acréscimo no ritmo do desenvolvimento económico altera o nível de vida e traduz-se em correspondente acréscimo do grau de exigência cultural, quer espontânea, quer provocada pela estatuição de níveis mínimos de habilitação

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requerida para o exercício de funções cuja complexidade aumenta no mesmo ritmo do desenvolvimento.
A cada subida da exigência cultural corresponde um surto da procura do ensino, em dimensões que não dependem da capacidade do sistema escolar vigente; assim, a falta de escolaridade na altura própria procura compensar-se mais tarde por qualquer forma. A essa pressão corresponde o Estado com os dispositivos destinados à recuperação profissional de adultos e o sector privado com ofertas de cultura de vária índole (em cursos, em ensino por correspondência, em actividades editoriais). Os próprios interessados podem ainda recorrer ao autodidactismo. Qualquer destas hipóteses se situa entre as formas educativas menos económicas, tanto sob o ponto de vista dos custos do ensino em função dó aproveitamento, quer sob o da duração do tempo de vida activa beneficiada pela qualificação tardiamente, adquirida.
É com este fenómeno que se relaciona a tendência a que poderia chamar-se regresso à escola e cuja importância se pode documentar com os seguintes números, que exprimem a percentagem do aumento de estudantes adultos no decénio de 1954-1955 a 1964-1965:

[Ver Quadro na Imagem]

Sabe-se como é baixo o aproveitamento destes estudantes.
A sua crescente presença na população escolar deve imputar-se uma parte de responsabilidade pelos insatisfatórios resultados do ensino quando expressos na relação efectivos-conclusões.
Quanto às actividades de recuperação e de valorização extra-escolar, às iniciativas marginais (culturais ou didácticas, e estas muitas vezes promovidas à margem de todo o controle oficial destituídas de eficiência, e até de seriedade) e ao autodidactismo (a cujo fomento essencialmente se destinam as actividades de educação permanente e de política cultural, no sentido estrito que se dá a esta expressão) são formas de acção educativa que podem revestir indiscutível interesse social - e sem dúvida algumas delas são muito atraentes porque muito modernas. Mas, como instrumento de correcção do desequilíbrio entre a procura e a oferta dos bens culturais, apenas têm valor de paliativo, e, portanto, nunca deverão ser programadas em prejuízo do fomento directo da escolaridade normal. Deve chamar-se a atenção para o facto de que a amplitude, e portanto o custo, dos planos de recuperação e de educação fora da escola está, em grande parte, dependente do grau de eficiência do sistema de escolaridade normal, visto que o seu terreno próprio é, em correspondente medida, o que escapou à acção desta. E são eles os planos mais caros e de produtividade mais baixa: a educação não faz excepção à regra de que é mais caro o remediar que o prevenir. Os investimentos no ensino escolar beneficiam, assim, de uma dupla retribuição: a que é representada pela sua produtividade própria e a que resulta de evitarem os investimentos suplementares que acabam por ser indispensáveis quando se fazem sentir os efeitos da falta de investimentos na escolaridade propriamente dita.

16. Serão úteis todas as providências que possam ser tomadas pelo Estado no sentido de incrementar a escolaridade facultativa.
Convirá, porém, planear essas providências por forma a facilitar-se, na medida do possível, a resolução simultânea dos três problemas a que se fez menção: volume deficiente, falta de selecção dos valores, distribuição não conforme com as necessidades sectoriais de qualificação de mão-de-obra. É possível que a organização de um plano geral de bolsas de estudo, delineado com indispensável largueza e visando o aproveitamento da totalidade dos jovens que, a julgar pelas provas prestadas nos exames das classes terminais, parecessem constituir a elite da respectiva geração, viesse satisfazer aquelas duas primeiras condições. Se à concessão de bolsas estivesse associado um sério exame de orientação escolar, dependendo o benefício da aceitação, pelo candidato, da indicação fornecida por esse exame, ter-se-ia, em parte, encontrado resposta para a terceira, pois, a escolha das carreiras dos estudantes mais dotados (e em relação aos quais é de presumir que se verifiquem mais altas percentagens de conclusão de curso) passaria a depender de indicações dadas precisamente em função das necessidades sectoriais.
O financiamento de um plano com estas características teria de ser feito, na sua maior parte, pelo Estado. Mas este é precisamente um dos campos em que é lícito esperar uma mais larga contribuição do sector privado. Assim, por um lado, poderia prestar-se atenção a certos aspectos da actividade cultural das grandes empresas, que em alguns países se orienta no sentido não só de fomentar os estudos dos filhos dos seus empregados, mas também o desenvolvimento dos ramos do saber que mais directamente se relacionam com as suas actividades económicas. Por outro, estudar-se-ia a melhor forma de conjugar o investimento a fazer na promoção dos estudos com o que é exigido pela desejável expansão do ensino particular, abrindo-se aos respectivos estabelecimentos a possibilidade de amortizarem as ajudas financeiras que o Estado lhes faculte com os serviços educativos a prestar aos alunos cuja educação o Estado promove.

17. Entende assim a subsecção que na rubrica das «Providências legais e administrativas» deve incluir-se referência discriminada à criação de um serviço social escolar dotado dos meios suficientes para assegurar a realização destes objectivos.

b) Professores

18. O problema dos professores desdobra-se em dois aspectos: necessidade de assegurar a produção de quadros na quantidade exigida pela expansão dos contingentes escolares no próximo sexénio e necessidade de garantir um nível qualitativo que possa melhorar a eficiência do ensino. Os dois aspectos estão, aliás, estreitamente ligados, e do facto de poderem ou não ser resolvidos está dependente o resultado de quaisquer esforços a desencadear, no âmbito do III Plano, no sentido da promoção da educação nacional. É, pois, este, no parecer da subsecção, o problema a que deve atribuir-se acentuada prioridade dentro do conjunto dos investimentos a fazer, no campo da política educativa.
Os grupos de trabalho que elaboraram os relatórios destinados a servir de base ao capítulo X do projecto do III Plano de Fomento estudaram as necessidades do pessoal docente que deverão verificar-se até 1973 e chegaram

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a resultados que podem condensar-se no quadro seguinte:

[Ver Quadro na Imagem]

Foram também, nos referidos trabalhos, estimados os prováveis acréscimos de professores exigidos pela expansão do ensino infantil, especial (para deficientes), médio e normal. Não se incluem agora essas estimativas. Sem prejuízo de se reconhecer toda a importância social do primeiro (que se irá tornando mais necessário à medida que o trabalho das mulheres casadas se for generalizando) e sem deixar de sentir todo o valor humano do segundo, a subsecção entende que, considerada a importância relativa dos problemas e dada a inevitável limitação dos recursos financeiros disponíveis, os esforços deverão, por agora, orientar-se no sentido de assegurar a obtenção dos quadros indispensáveis ao desenvolvimento previsto para a escolaridade ordinária.
Quanto ao ensino normal, as previsões estão essencialmente dependentes das providências legislativas que vierem a ser tomadas no sentido de o adaptar às funções a que tem de corresponder e para as quais não está preparado. Uma prolongada passividade tem dominado o que se refere à formação de professores, e sem uma larga e firme acção reformadora pouco poderá avançar-se na resolução dos problemas básicos da educação nacional. Também, quanto ao ensino médio, faltam bases para fundar estimativas, porque não se considera a hipótese de a actual organização ser mantida. Já ficou feita referência à necessidade urgente de resolução deste problema crucial, mas é indubitável que em ambos estes ramos de ensino, muito especialmente no segundo, qualquer tentativa de reorganização exige ampliação dos quadros docentes e verá o seu êxito condicionado pela quantidade e qualidade dos professores que para o efeito puder utilizar.
Quanto ao ensino superior, a estimativa baseia-se na hipótese de que o respectivo contingente escolar vai crescer de acordo com uma taxa de crescimento anual de 8 por cento. Nesse, como nos demais sectores, os números baseiam-se na hipótese da permanência tanto dos actuais planos de estudos, como da actual relação professor-aluno. Uma revisão criteriosa daqueles planos poderia, portanto, representar uma redução de pessoal.
No número total de agentes: de ensino considerados necessários deverão fazer-se algumas correcções, a mais significativa das quais é a que se refere ao número de professores necessários ao ensino secundário técnico. O valor calculado de 10 457 agentes do ensino técnico inclui os 5808 professores destinados aos cursos diurnos e os 4648 que serão exigidos pelos cursos nocturnos. Ora, verifica-se a tendência para serem os mesmos os professores que asseguram o ensino em tempo pleno e o ensino em tempo parcial; nos casos em que o não são, não deverá descurar-se a formação dos agentes de ensino que apenas consagram ao serviço lectivo uma actividade marginal, mas é evidente que tal preparação fica dependente da prioridade a conceder à preparação dos professores em tempo pleno.
Anota-se ainda que os 3688 professores estimados necessários para o ensino superior não virão a ser preparados dentro das estruturas do ensino normal. Trata-se, aliás, de um número alto, que excede manifestamente as possibilidades actuais de um recrutamento sério e selectivo. Mas é sempre à Universidade que compete recrutar e preparar os seus próprios quadros, e os meios com os quais fará face a essa preparação incluem-se de preferência na rubrica «Investigação ligada ao ensino». A dimensão do contingente requerido tem, porém, implicações sobre os quadros do ensino secundário, porque uma parte muito considerável dos novos diplomados virá a ser absorvida pelo ensino superior.
Mesmo depois de introduzidas estas correcções, verifica-se que é da ordem dos 20 000 o número de elementos que deveria ser recrutado e preparado para permitir que o aparelho escolar instituído funcionasse normalmente durante a vigência do Plano.

19. O exame da evolução dos quadros de alguns graus de ensino nos anos recentes mostra que à ampliação quantitativa dos quadros anda ligado o risco de uma diminuição de qualidade dos elementos recrutados. Serve de exemplo o que se passa com o ensino liceal: em 1953-1954, prestaram serviço 948 professores, e esse número era, em 1964-1965, de 2053; mas, ao passo que no primeiro dos anos considerados se dispunha de 86 por cento com preparação pedagógica plena, no segundo essa percentagem tinha descido para 44 por cento: o acréscimo fizera-se quase exclusivamente à custa do chamamento de eventuais sem preparação pedagógica, uma parte dos quais sem formação académica completa, porque o ritmo de preparação de professores não acompanhou o ritmo da expansão do contingente escolar. Esta falta de coordenação tornou possível que, durante um período em que subiu constantemente o nível de qualificações exigíveis do pessoal docente em consequência do desenvolvimento das ciências e técnicas pedagógicas (o que reflecte a progressiva dificuldade do trabalho de integração do jovem numa sociedade cujos aspectos técnicos, sociais, económicos e ideológicos são cada vez mais complexos), a exigência de qualificação específica teve de ser afrouxada até ao limite da dispensa total para a maioria dos professores actualmente em exercício.
Assim, os problemas a resolver no que concerne a quadros docentes são dois: aumentar em cerca de 70 por cento o número de agentes de ensino e reorganizar completamente o serviço nacional de formação de professores por forma a poder preparar os quadros na quantidade e com qualidade necessárias.

20. Ao primeiro destes objectivos depara-se uma dificuldade séria: a falta de candidatos ao magistério, fenómeno que se verifica em todos os graus do ensino.
A falta de professores relaciona-se com a situação material das carreiras docentes - remunerações baixas, imobilidade e exiguidade dos quadros, falta de garantias nas categorias de entrada, lentidão nas promoções. Mas, para além desses aspectos, que correspondem às queixas mais geralmente ouvidas e cuja incidência na crise é incontestável, deverá reconhecer-se que a simples transformação das condições gerais da vida teria o efeito de fazer diminuir as vocações para a docência. A nobreza da função cívica do magistério, entendido como uma espécie de apostolado leigo, não é estímulo suficiente na escala de valores das jovens gerações. A vida oferece oportunidades que dantes eram desconhecidas e o mercado do emprego comporta uma escala de opções muito mais vasta que

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outrora. O dinamismo, a possibilidade de formação acelerada, a sedução da modernidade, o destaque fácil, o ensejo de afirmação pessoal, o êxito dependente da audácia, os proventos condicionados ao volume do trabalho produzido, são as características de grande parte das novas profissões; o jovem não hesita em preferi-las às chamadas profissões clássicas, e sobretudo ao professorado, que há-de sempre marcar-se pela modéstia, pela renovação quotidiana de um esforço idêntico, pela devoção completa e obscura a uma alta missão cujas recompensas são principalmente espirituais.
Mas reconhecer isto não desobriga da necessidade imperiosa de procurar resolver o problema. É indispensável adoptar providências enérgicas e extraordinárias no sentido de incrementar a procura do emprego nas actividades do ensino, estudando criteriosamente, mas em breve prazo, quais as medidas que poderiam, sob esse aspecto, ser mais eficazes.
Já se disse que a questão se liga, em grande parte, com a situação material do professor, matéria que, portanto, deve ser revista quanto antes. Mas importa advertir contra a visão, um pouco simplista, mas muito generalizada, de que a um progresso da situação material do professorado corresponderia, como efeito directo, uma subida de grau na qualidade do ensino. A verdade é que este efeito só poderia ser atingido através da valorização pedagógica do professor, e a revisão dos aspectos materiais do estatuto docente deve ser condicionada àquela valorização. O mau ensino não se converteria em bom pelo facto de passar a ser bem remunerado; mas esta afirmação não deve ser tomada isoladamente, porque é complementar da de que não será possível obter bom ensino sem remuneração condigna: na expressiva síntese de Capelle, o pedagogo triste é um triste pedagogo. A melhor remuneração deverá assim corresponder, em princípio, à melhor qualificação, entendendo-se que esta não é apenas a que se atinge inicialmente, mas também a que se vai adquirindo durante o exercício e se demonstra por provas curriculares ordinárias e extraordinárias, cuja prestação deve depender da iniciativa dos interessados. Os níveis mais altos da carreira e as missões de maior responsabilidade pedagógica deveriam ser atingidos não pelo simples decurso do tempo (sistema das diuturnidades), mas através de demonstrações de mérito comprovado pelos resultados obtidos, das actividades extraordinárias promovidas, dos trabalhos científicos ou pedagógicos, dos cursos de especialização científica e profissional e de quaisquer outros elementos que pudessem dar a medida do valor e da dedicação do professor. Uma escala de acréscimos dos vencimentos de base deveria ser estudada em termos de poder constituir um forte estímulo de promoção progressiva. Sabe-se que providências desta natureza têm contra si o peso das rotinas e das tradições igualitárias com que os piores se defendem da concorrência dos melhores. Mas estes são alguns dos factores impeditivos de uma verdadeira renovação pedagógica que interessa urgentemente eliminar. E conforme à justiça que cada um encontre o prémio do seu mérito e que a retribuição do trabalho tenha em consideração a diferença dos valores do trabalho produzido.
Na revisão da situação material do professorado dever-se-á, além disso, prestar a maior atenção às condições de acesso ao magistério. A remuneração dos estágios, a revisão da sua duração, o seu enriquecimento com planos de férias em centros estrangeiros de especialização pedagógica adequada e a garantia de emprego sem interrupção da remuneração poderiam representar importantes incentivos para diplomados a que, ao concluírem os seus cursos, se depara como principal problema o da colocação imediata. São, aliás, essas as condições que, em relação a algumas especialidades, estão a ser oferecidas aos nossos estudantes pelo mercado exterior.

21. Os resultados que nos últimos anos se tem podido atingir no que respeita à formação de quadros docentes mostram, sem necessidade de quaisquer outras considerações, que a completa remodelação desta função é das mais urgentes tarefas a empreender.
Dos três termos da equação educativa - alunos, professores, escolas -, é o segundo o que mais directamente condiciona os progressos do ensino e, portanto, a produtividade de quaisquer investimentos que possam fazer-se com vista à sua expansão. Com maus professores não há bons alunos, nem boas escolas, nem equipamentos bastantes, nem reformas com êxito; e, embora a recíproca não seja totalmente verdadeira, pode dizer-se que as qualidades do professor podem, dentro de certos limites, suprir as deficiências resultantes da preparação escolar anterior, das instalações e dos meios materiais, e até da defeituosa organização dos programas e dos planos dos estudos. Por isso mesmo os problemas ligados à formação dos professores figuram hoje na primeira linha das preocupações, tanto nos planos nacionais como nas recomendações internacionais.
O serviço nacional de preparação dos quadros docentes para os ensinos preparatório, secundário e médio não poderá, pois, deixar de ser considerado como infra-estrutura básica do sistema educativo, gozando como tal de prioridade em relação a quaisquer outros projectos relativos a infra-estruturas cuja utilidade abertamente se reconhece, mas não assumem o mesmo grau de urgência imperativa.
A estruturação desse serviço terá de se orientar no sentido de soluções completamente diferentes das actuais, porque o trabalho que lhe vai ser pedido também será diferente, quer em volume, quer em qualidade. Não se trata agora de fornecer em cada ano o pequeno contingente destinado à reintegração das vagas resultantes do movimente normal dos quadros, mas de um esforço extraordinário (e que, por isso mesmo, se deve incluir entre as providências extraordinárias que no seu conjunto formam um plano de fomento), cujo triplo objectivo é o de garantir, num período de tempo relativamente curto, a formação da totalidade dos quadros do ensino preparatório, proceder à reciclagem e classificação dos contingentes de eventuais e assegurar a formação dos quadros docentes em ritmo que acompanhe o da expansão da escolaridade. Não pode esquecer-se que estamos perante uma alteração das estruturas fundamentais do ensino, que não desceria do plano da verdade jurídica ao da realidade educativa se se entrasse pelo caminho de iludir a necessidade de novos quadros com dilações e medidas transitórias.
22. A primeira dificuldade que se depara é a do recrutamento e preparação do pessoal ao qual será incumbida a missão de dirigir a formação dos novos professores. Situam-se em planos inteiramente diferentes a actividade docente e a actividade que consiste na preparação de quadros docentes. Os elementos que exercem esta última devem ser especialistas com habilitação específica e comprovada e, pelo menos quanto ao ensino secundário, deve entender-se que esse pessoal faz parte do ensino superior. O recrutamento feito com base na competência docente, na cultura geral ou na simples boa vontade pode utilizar-se para escolher quem há-de ser admitido aos cursos de especialização, mas, só por si, não assegura o nível de qualificação que não pode ser dispensado. A constituição

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dos quadros do ensino normal, nos níveis elementar, complementar e secundário, apresenta-se, assim, como primeira etapa do caminho a percorrer.

23. Na organização do plano de formação dos novos professores consideram-se três aspectos distintos: cultura pedagógica fundamental, preparação didáctica específica é formação nas actividades de condução da juventude. A primeira terá de orientar-se num sentido mais actualista, mais objectivo e menos académico que aquele que presentemente a caracteriza. A segunda tem de incluir os aspectos específicos da metodologia de cada disciplina, visando a activação do ensino e as técnicas a adoptar com referência a cada uma das matérias incluídas nos programas, mas não poderá descurar o aspecto da polivalência, porque o máximo aproveitamento dos quadros, e até as eventuais alterações de planos de estudos, poderão vir a exigir a utilização dos professores em grupos de matérias diferentes daquelas para que possuem preparação específica. A terceira deverá passar do limbo das coisas acessórias ao plano de preocupação dominante, porque corresponde hoje a um dos aspectos fundamentais da função docente em todos os seus níveis. O mestre de outrora podia limitar-se a ministrar ensino; o de hoje apenas realiza a sua missão se conseguir impor-se como condutor de jovens. Tem de compreender que o objectivo não é o de ensinar, mas o de fazer apreender, e, para isso, tem de despertar o interesse, sem o qual não chega a haver verdadeiro aproveitamento.
Compete-lhe criar na aula as condições de um ensino activo no qual os estudantes participem, de modo que cada um encontre ensejos de revelação de vocações, oportunidades para exercer a normal tendência de agir e, em geral, para situar a vida escolar no centro do processo de desenvolvimento da personalidade. A escola não pode desinteressar-se da transformação da vida, nem o mestre pode permanecer à margem das modificações que aquela transformação trouxe à atitude existencial e mental dos jovens. O pecúlio estático de conhecimentos que a escola fornecia e que servia durante toda a fase da vida activa envelhece hoje depressa e pode tornar-se inútil em virtude da constante aceleração da evolução técnica. Importa, pois, sem descurar os aspectos da cultura fundamental, da eficácia profissional e da integração social, criar um estilo de enfrentar a vida, de fazer face às novas situações que se propõem, e, sobretudo, entranhar o carácter tão profundamente que, qualquer que seja a força ou o sentido das mudanças, se encontre sempre a coragem para subordinar a conduta aos valores morais permanentes, que representam o melhor e mais precioso saldo da acção educativa.

24. É portanto muito vasta a missão e pesados são os encargos a assumir para a realizar plenamente. Mas essa mesma vastidão oferece a oportunidade de uma verdadeira reforma. A experiência tem mostrado que a maior parte da intenção renovadora das leis é absorvida pela inércia das rotinas estabelecidas e pelos quadros constituídos. Em condições normais, os quadros renovam-se ao ritmo de 5 por cento por ano, e esse valor tende a marcar a cadência da evolução das ideias e dos métodos no ensino. Visto a essa luz, o sacrifício a fazer para uma ampla produção dos quadros docentes de que presentemente se não dispõe será compensado pela possibilidade de transformação rápida do próprio espírito docente, e, portanto, por um aumento decisivo na produtividade do nosso sistema educativo.

25. O parecer da subsecção é, portanto, o de que na rubrica das «Providências legais e administrativas» se deve incluir referência discriminada à formação, actualização e especialização de agentes de ensino e de quadros metodológicos, função primacial da qual todos os restantes aspectos da renovação educativa se acham dependentes e que, como tal, deve merecer primeira prioridade na atribuição das verbas dentro do sector.

c) Ensino

26. A melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis há-de, fundamentalmente, resultar da ampliação e da melhor preparação dos quadros docentes. Não têm, assim, de ser consideradas com autonomia, para tal efeito, providências específicas a programar dentro de um plano de fomento.
Isto não significa que não exista possibilidade, e até necessidade, de enveredar pelo caminho de medidas orientadas no sentido de aumentar o rendimento do sistema escolar, tal como esse sistema presentemente se configura.
As alterações estruturais que podem constituir objecto do Plano são indispensáveis à obtenção dos resultados absolutos desejados, mas tal indispensabilidade não justifica que não se faça o necessário para beneficiarem toda a medida possível o teor do ensino que pode ser ministrado de harmonia com a estrutura e quadros actuais. É aliás sob este aspecto que a distinção entre planeamento quantitativo e planeamento qualitativo pode encontrar aplicação mais construtiva.
Enquanto se não faz mais, pode tentar-se fazer melhor.
A falta dos recursos financeiros que abram caminho à aliás indispensável e urgente expansão quantitativa do aparelho educativo nacional não impede que sejam postas em prática todas as medidas conducentes ao aperfeiçoamento do ensino que pode ser ministrado dentro dos limites do sistema de que se dispõe. Sob o ponto de vista dos custos, tanto se gasta á ensinar bem como a ensinar mal, e a diferença está em que o mau ensino fica mais caro, porque sómente o bom assegura a retribuição da despesa que implica.

27. As críticas que a tal respeito mais frequentemente se fazem ouvir - e elas não são, no nosso país, de teor diferente das que se produzem lá fora - são as da persistência das rotinas, da falta de técnicas de activação, da descoordenação entre os ramos e entre disciplinas, da sujeição de grande parte da acção docente ao jugo dos exames, da defeituosa organização dos programas, de uma completa falta de adequação dos programas e dos métodos às tendências naturais dos jovens e, de um modo geral, de um grande atraso da escola em relação à vida. Daí o retraimento do estudante, que tende a situar as preocupações escolares numa zona secundária e marginal em relação aos seus verdadeiros interesses. Daí a propensão crescente para só estudar o indispensável, geralmente na época de exames, com as inevitáveis consequências das grandes percentagens de desistências, reprovações, repetições e abandonos definitivos, que tanto pesam sobre os custos da educação.
Situam-se na esfera de competência da administração escolar normal - e em muitos casos podem ter lugar sem inscrições de verba - algumas das intervenções directamente dirigidas à correcção de tais defeitos. Já atrás se aludiu ao ensino primário. No que se refere ao secundário e médio, a orientação e a elucidação pedagógica regulares

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e assíduas, os cursos frequentes de actualização, a permanente informação do público quanto aos problemas, objectivos e limites da vida escolar, a sugestão de iniciativas a tomar caso a caso, conforme o& lugares e as situações, com vista à activação do ensino, a programação dos elencos das actividades circum-escolares e de extensão cultural, o encorajamento, louvor e divulgação das realizações que em cada escola mereçam interesse, a escolha dos animadores da renovação didáctica e a atribuição de funções de chefia que permitam exercê-la e generalizá-la, o controle constante dos currículos, a conferência e discussão de resultados, a obrigação dê justificar os casos de desvio do rendimento escolar em relação aos padrões normais, o intercâmbio entre professores e alunos de diversos ramos, a apresentação pública dos aspectos visíveis da actividade da escola, a integração dessa actividade na vida social local, a participação das famílias e mesmo a sua co-gestão em aspectos da vida escolar em que pode ser particularmente fecunda, a revisão permanente de programas, a elaboração de livros de ensino que, pelo seu conteúdo e aspecto, pudessem ganhar o afecto dos jovens e orientar a acção dos mestres, a alteração do sistema de exames, são medidas que cabem na esfera de competência de serviços: já instituídos e em funcionamento, mas cuja capacidade operacional está, em muitos casos, seriamente diminuída pelo peso da burocracia e pela afectação de pessoal pedagógico especialmente qualificado a tarefas de simples rotina administrativa.
Outras, intervenções são, sem dúvida, necessárias, mas essas reduzem-se aos problemas do pessoal e do material, pelo que não terão de ser aqui especialmente consideradas, nem há que fazer referência expressa ao assunto dentro do parágrafo das "Providências legais e administrativas".

d) Escolas e equipamento

28. Ao contrário do que sucede em relação aos aspectos anteriomente considerados, as instalações escolares, equipamento inicial e reapetrechamento foram expressamente contemplados no plano dos investimentos, que lhes atribui a verba considerável de 3 150 000 contos, na qual se inclui a de 550 000 contos expressamente destinada ao reapetrechamento.
Do capítulo não constam, nem tinham de constar, as razões que levaram a atribuir aos meios materiais do ensino uma tão grande importância relativa dentro do conjunto dos investimentos programados, mas o assunto foi objecto de cuidadoso estudo na fase dos trabalhos preparatórios, que nos fornecem os elementos seguintes:
a) Hipótese de a expansão escolar se processar no período de 1968-1973 de acordo com os elementos extrapolados a partir da evolução recente do sistema, no caso de nenhumas providências especiais serem tomadas nem ser imposta qualquer aceleração em relação ao ritmo espontâneo previsto.
As despesas com construção de salas novas, substituição e obras de grande reparação deverão atingir os seguintes montantes, por graus de ensino:

Contos
Ensino primário .............. 1 425 000
Ciclo preparatório ........... 2 104 320
Ensino liceal ................ 304 906
Ensino técnico ............... 836 634
Ensino médio ................. 281 640
Ensino superior .............. 850 000
Ensino normal ................ 40 000
5 842 500

b) Hipótese de o ritmo de expansão escolar vir a ser acelerado pela política de fomento educativo a desenvolver durante a vigência do III Plano:

Contos
Ensino primário ............. 1 953 000
Ciclo preparatório .......... 2 974 521
Ensino liceal ............... 434 076
Ensino técnico .............. 1 767 422
Ensino médio ................ 647 772
Ensino superior ............. 1 300 000
Ensino normal ............... 40 000
9 116 791

Na determinação destes valores teve-se em conta, de um modo geral, a permanência dos actuais parâmetros aluno/sala e admitiu-se que o custo da instalação por aluno seria o seguinte:

Ensino primário - 5000$.
Ciclo preparatório - 12 300$.
Ensino liceal - 13 500$.
Ensino técnico - 16 200$.
Ensino médio - 28 164$.
Ensino superior - 35 000$.

Em relação ao ensino primário, não foi considerado o custo do terreno.

29. Estas estimativas mostram-se, porém, passíveis de muitas reservas. Visou-se a instalação da totalidade dos contingentes escolares previstos para 1973 em edifícios definitivos e dotados de todas as aconselháveis condições pedagógicas. Basearam-se, portanto, os cálculos na hipótese de que até essa data poderiam ser eliminadas todas as instalações provisórias, supridas todas as deficientes e postas de parte as soluções de emergência que, apesar de todo o esforço desenvolvido no sentido de aumentar as instalações, ainda se não pudera completamente evitar: desdobramentos em turnos da manhã e da tarde, aproveitamento de edifícios alugados ou cedidos e não propositadamente construídos para servirem de escolas, etc. Por outro lado, não se deu a devida relevância à tendência - que não deixará de se verificar nos próximos anos - de uma parte do acréscimo dos contingentes ser absorvida pelo ensino particular, cuja expansão está a ser incrementada e que beneficiará do facto de no futuro próximo, não poder deixar de se verificar algum desequilíbrio entre a procura de serviço escolar por parte de sectores cada vez mais largos da população e a oferta que o Estado poderá proporcionar, em razão, sobretudo, da falta dos quadros docentes que não poderão ser obtidos no mesmo ritmo dos edifícios. Enfim, os parâmetros utilizados para a determinação do custo das instalações têm, nalguns casos, de se considerar elevados. Os valores referentes ao ensino médio e ao ensino superior são meramente conjecturais e visam instalações de um tipo que talvez deva ser revisto à luz do critério de que as necessidades são muitas, os recursos são poucos, e, portanto, com pouco tem de se fazer muito.
O capítulo refere-se a estudos em curso com o propósito de encontrar soluções menos onerosas para o grave problema das instalações escolares, e a subsecção exprime a sua confiança em que tais estudos possam ser rapidamente concluídos. Não se põe em dúvida que, em condições normais de evolução escolar, os edifícios devam reunir o máximo de condições pedagógicas por forma a tornarem possível o rendimento óptimo do trabalho dos educadores e a constituírem, por si mesmos, um factor

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da acção educativa. Reconhece-se que o próprio edifício pode e deve constituir uma lição silenciosa. E também é certo que as soluções provisórias, se são menos dispendiosas no momento da instalação, podem revelar-se as menos económicas a longo prazo. Todas estas considerações deverão inspirar os critérios dominantes de uma política de construções escolares definida para períodos normais.
Mas a conjuntura presente não deve considerar-se como período normal, mas como transitória emergência. Não se trata agora de assegurar os meios normais de uma expansão regular da escolaridade, mas de receber nas escolas cerca de 200 000 estudantes que irão frequentar a nova etapa da escolaridade obrigatória, ao mesmo tempo que terá de se fazer face àquilo a que se tem chamado a explosão escolar e que deve implicar um acréscimo dos contingentes, em todos os graus de ensino, também da ordem das duas centenas de milhares. As medidas a adoptar para responder a estas exigências terão de se caracterizar por um espírito e um ritmo de campanha que obrigará, em muitos casos, a aceitar, com carácter provisório, soluções que normalmente não seriam as indicadas.

30. Deve a tal respeito fazer-se uma anotação marginal. O esforço do planeamento educativo nacional, tal como pode julgar-se pelos resultados até agora trazidos a público, tem-se concentrado na investigação prospectiva das necessidades em pessoal e material, e os saldos dessas investigações são constituídos por memoriais quantitativos nos quais se dimensiona o que não pode deixar de ser feito. É um trabalho útil e constitui o ponto de partida sem o qual nada se poderia prosseguir. Mas sucede que, quando se pensa na forma de dar satisfação às novas exigências, se continuam a adoptar os parâmetros de custo estabelecidos para situações de desenvolvimento ao ritmo normal. A consequência é que as estimativas dos encargos a assumir resultam tão vultosas que acabam por se gerar estados de inquietação e de perplexidade quanto à possibilidade material de resolver questões fundamentais e sobre cuja essencialidade para o futuro nacional ninguém tem dúvidas.
Todo o conjunto do problema tem, portanto, de ser repensado de acordo com a ideia de que o que tem de fazer-se há-de ser feito como puder ser feito. Às situações novas devem corresponder soluções novas. Nesse sentido tem o inteiro assentimento da subsecção a indicação, constante do capítulo, de que os estudos em curso, «dirigidos às soluções ideais, não devem excluir a adopção de soluções de emergência, particularmente expeditas, em ordem a acompanhar sem atraso o enorme afluxo estudantil».
Não pertence à subsecção entrar na análise, mais pormenorizada do assunto, mas não deixará de referir que é de toda a conveniência ir criando, a tal respeito um estado de opinião que não dificulte a aceitação, por parte dos serviços, das autarquias e das populações, das soluções que vierem a ser encontradas. É necessário fazer compreender claramente que não se trata de pactuar com soluções medíocres, mas de seguir para a frente com uma obra renovadora, que tem de ser concluída com meios limitados. O objectivo fundamental desse esforço, para o qual tem de ser requerida a colaboração de todos, não é o de conseguir mais escolas, mas o de dispor de mais ensino, e, considerada a inevitável limitação dos recursos, a afectação da quase totalidade dos meios disponíveis à construção de edifícios não pode deixar de prejudicar a ampliação dos quadros humanos, sem os quais as escolas não poderão funcionar. Não se põe, certamente, a necessidade de escolher entre o professor sem aula ou a aula sem professor, mas nos países em que faltava tudo e, que tiveram de arrancar a partir do zero, foi sempre a primeira a solução que se adoptou. O simples bom senso proibiria, aliás, que tivesse sido outra.

31. O problema do equipamento material relaciona-se estritamente com o das instalações.
A sua importância como factor do ensino, e muito particularmente nos ramos do saber técnico, não carece de ser sublinhada. Não se dispõe, nem no projecto, nem no relatório base, de qualquer informação relativamente às faltas verificadas sob este aspecto, sendo certo que nos últimos anos se tem prestado ao assunto grande e justificada atenção.
Não poderá, porém, deixar de se ter presente que a eficiência dos meios materiais do ensino está condicionada pelo grau de preparação técnica das pessoas que com tais meios hão-de trabalhar. É um lugar-comum o de que as máquinas sem homens são inúteis: «Demoli a oficina e as máquinas, mas deixai-me os homens: recomeçarei rapidamente», dizia Ford. Tem aqui a plenitude da sua significação a metáfora de Sauvy sobre a ilha deserta, recordada pelo Ministro da Educação Nacional na comunicação de 16 de Dezembro de 1966: «Daí as mais perfeitas máquinas a uma população de iletrados... Voltai decorridos alguns anos e encontrareis as máquinas enferrujadas e os homens tão miseráveis e ignorantes como anteriormente».
É, portanto, a benefício da prioridade a conceder aos meios humanos que o problema dos meios materiais deve programar-se. No nosso país poderia observar-se, por exemplo, que uma parte muito considerável dos equipamentos industriais do ensino técnico nunca foi utilizada, o que tem de atribuir-se, ou à forma menos criteriosa como foram escolhidos, ou à falta de preparação das pessoas para se servirem deles; qualquer que seja a hipótese verdadeira, os respectivos investimentos foram inúteis.
Entre os problemas de equipamento estão, na primeira linha de necessidades, os que são exigidos para a instalação das classes novas e o reapetrechamento dos centros de investigação científica e laboratórios universitários. No primeiro caso, falta ainda tudo, e, embora as novas classes sejam o prolongamento do ensino primário elementar, o material didáctico que exigem é de um tipo completamente diferente. É preciso assegurar o essencial, sem esquecer que o professor bem preparado pode, dentro de certos limites, suprir os instrumentos, mas nenhum instrumento, ainda o mais aperfeiçoado, pode substituir o professor. Deverá, portanto, usar-se de prudente reserva quanto à adopção de meios novos, cuja função é adjuvante e cuja necessidade se situa, portanto, num plano a que se deverá atender só depois de o essencial estar garantido. No segundo, os equipamentos condicionam o desenvolvimento da investigação, e o ritmo do desenvolvimento técnico exige uma constante actualização de meios materiais cada vez mais aperfeiçoados e mais caros; o volume dos encargos poderá, todavia, ser em certa medida diminuído por uma prudente acção coordenadora, que elimine particularismos e compartimentações fechadas na utilização do material posto à disposição dos investigadores.

§ 4.º Investigação ligada ao ensino

32. Desviando-se da técnica adoptada no Plano Intercalar, que distinguia entre investigação fundamental e investigação aplicada, o projecto de III Plano sistematiza as matérias de acordo com o critério da sua posição em relação ao ensino: investigação ligada ao ensino e investigação não ligada ao ensino.

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Não se trata apenas de uma forma diferente de dizer a mesma coisa. A classificação agora adoptada visa um fim: o de conseguir que no exame dos problemas relacionados com a investigação não se perca de vista que, no fundo e pelo menos em grande medida, esses problemas são ainda problemas de ensino e não podem ser resolvidos sem referência ao contexto universitário no qual se integram ou com que se acham relacionados.
Há, na verdade, o maior interesse em não encarar separadamente os dois núcleos de problemas - os do ensino superior e os da investigação fundamental ou desinteressada. Este é um dos casos em que o método a seguir rio estudo do problema se pode repercutir sobre o teor do problema estudado, estabelecendo condições de trabalho que podem acentuar tendências já existentes e que importa corrigir.
A investigação tende cada vez mais a organizar-se fora da Universidade.
Simultaneamente, com o incremento da investigação verificou-se o aumento de solicitações sobre o ensino superior. À medida que as exigências da técnica e a renovação cada vez mais rápida da ciência requeriam trabalhos de pesquisa mais vastos e incessantes, o próprio progresso social, concomitante com o progresso científico, fazia afluir às escolas superiores grandes massas de alunos que obrigavam os mestres a consagrar-se predominantemente à função docente. Os professores não aumentaram na proporção dos discípulos, e foi forçoso entrar pelo caminho das acumulações de regências, desdobramento de turnos, utilização do pessoal docente fora dos campos de especialização e em prolongadas épocas de exames; todos os recursos pessoais e materiais foram sendo mobilizados para se poder corresponder ao forçoso aumento do ensino, e a investigação tornou-se cada vez mais rara.
As Universidades converteram-se em centros escolares, ao mesmo tempo que a necessidade dos centros de investigação se ia tornando mais forte. Em muitos casos, estes centros nasceram dentro das escolas e institutos universitários, para acabarem de se organizar como estabelecimentos independentes, porque a Universidade, que tivera a força de lhes gerar a vocação, não dispunha dos meios para lhes assegurar à existência.
A conjugação das duas tendências - a Universidade cada vez mais absorvida pelo ensino, a investigação cada vez mais exigente e mais especializada - reflectiu-se no teor do ensino universitário. Este é, por sua natureza, indesligável da criação científica. A actividade criadora é de tipo diverso da actividade docente, mas, ao nível superior, constitui o seu alicerce e é a melhor garantia da sua autenticidade e da sua plenitude. A acção do professor que comunica os resultados de uma elaboração científica alheia é essencialmente diferente da acção do professor que procura convencer os seus alunos de uma obra pela qual se sente co-responsável; qualquer que seja a aptidão didáctica de que se disponha, essa diferença reflecte-se de modo decisivo na atitude docente, e os alunos intuem, quase por instinto, quais são os verdadeiros mestres e quais são os meros instrutores.
Como escreveu o Prof. Marcelo Caetano, é com a investigação que «a Universidade adquire mestres, não só professores. É com essa investigação que um país forma gerações capazes de actividade criadora, e não limitadas à contemplação admirativa ou, quando muito, à atenção imitativa.»
A organização das carreiras de investigadores fora das Universidades tem, assim, dois inconvenientes: por um lado, representa a subalternização das Faculdades em relação aos centros científicos, visto que são estes que passam a desempenhar a função de verdadeiras sedes da cultura superior; por outro, conduz à secundarização do ensino universitário, o qual, privado de seiva viva e sob a pressão de massas de estudantes cada vez menos preparados para o receber, vai, de transigência em transigência, baixando o seu nível, até cair numa função vulgarizadora e propedêutica que representa a inteira desvirtuação da sua específica função cultural. E contra esta evolução pouco podem os textos jurídicos que visam estabelecer, com imperativos de lei, e não com vínculos orgânicos, a integração dos centros investigadores no conjunto das instituições universitárias.
É certo que noutros países o problema tem sido encarado a outra luz e que, precisamente com base na distinção entre actividade docente e actividade investigadora, se procura organizar a investigação para além do ensino. O planeamento educativo tem, porém, de ponderar o condicionalismo nacional, e as soluções a adoptar devem reflectir esse condicionalismo. São reduzidos os nossos quadros de pessoal superior; o ensino universitário e a investigação científica são as funções que exigem mais alto nível de preparação especializada; a observação atenta dos números referentes ao movimento, de professores universitários nos últimos anos revela, sem necessidade de quaisquer comentários, a dificuldade do problema. Quando a seara é grande e os obreiros poucos, a pior solução é a de dividir esforços, organizando separadamente funções cuja integração pode ter efeitos úteis.
Às dificuldades do pessoal acrescem as dos meios materiais. Sob este último aspecto, a solução de qualquer dos dois problemas está estreitamente dependente da do outro, porque só associando as funções da docência & da investigação, mas distinguindo as remunerações (que seriam acumuladas, quer pelos professores, quer pelos assistentes utilizados nos trabalhos dos centros), se poderia atingir os níveis indispensáveis para que os mestres se dedicassem inteiramente às escolas, para que as condições do noviciado universitário não fossem, como hoje são, de molde a desanimar candidaturas, e para que o escol da inteligência nacional possa continuar a encontrar na Universidade a sua sede própria e o modo normal de ocupação da sua actividade.
Não se pretende com isto significar que a investigação possa ser olhada como complemento da vida universitária ou privilégio dos elementos docentes. Ela é um fim em si mesma, e a vocação da pesquisa pode não> coincidir com a do ensino. A investigação não perde se o cientista não for professor, mas o ensino decai quando o professor não é cientista.
É a benefício destas considerações, que, aliás, correspondem ao espírito do capítulo, que se entende a institucionalização da carreira de investigador. Ela representa medida desejável, que poderá vir a ter efeitos decisivos no despertar de vocações e no aproveitamento de valores revelados, mas não plenamente utilizados por falta de função adequada. Mas pensa-se que se a nova carreira se viesse a organizar sem ligação com a Universidade, ou só ligada a ela por epígrafes legais, os inconvenientes poderiam vir, num futuro próximo, a pesar mais que as vantagens.

33. Escreve-se no capítulo em apreço:

Não se faz investigação só no domínio das ciências da natureza. Conforme se reconheceu na já citada Conferência Internacional da Ciência, realizada em Paris, em Janeiro de 1966, as ciências sociais, como de modo geral as ciências humanas, as ciências do espírito, «não devem sofrer obliteração, relegadas

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para uma zona de penumbra pelos resultados espectaculares alcançados na orbitadas chamadas «ciências exactas». As ciências sociais [...] merecem igual protecção, igual carinho, porque têm por objecto o homem e, portanto, inclusivamente, condicionam o próprio esforço que este despenda em prol das ciências da natureza e devem criar as condições da sua adaptação às transformações por este operadas no mundo económico e físico. São imprescindível factor de espiritualidade, que deve acompanhar e comandar as conquistas de ordem material» (Temas de Educação, p. 393).

É uma advertência justificada e oportuna.
Certo numero de ramos do saber -engenharia, química, física, matemática, geologia e agronomia- estão mais directamente relacionados com a exploração dos recursos económicos do País, e os resultados dos investimentos que aí se façam podem ser mais facilmente objecto de avaliação quantitativa, em termos económicos. Mas também sob este aspecto é pertinente a recomendação internacional: «seria grave erro [...] basear-se uma política de apoio à investigação apenas nos projectos com promessa de aplicação imediata» (La recherche fondamental et la politique des gouvernements, O. G. D. E., Paris, 1966).
Não se trata de reivindicações competitivas, resultantes da inevitável diversidade dos ângulos de visão que resultam da diferença das formações, mas das implicações de uma visão globalística da cultura. Não teria o menor sentido perguntar se o progresso europeu na Idade Moderna deve mais ao Discours de la, Méthode, se à instituição do Jardim des Plantes, se aos estudos jurídicos sobre a liberdade dos mares e o direito das gentes.
O que pode dizer-se é que as ciências exactas, para usar a linguagem dos economistas,- correspondem a investimentos mais directamente reprodutivos; esta afirmação é significativa quanto ao prazo em que os efeitos podem fazer-se sentir, mas nada exprime quanto à essencialidade ou ao grau de importância de tais efeitos.
A mentalidade dos quadros superiores da vida nacional, a definição de uma atitude quanto à importância e critérios do ensino, a adaptação dos estatutos jurídicos à expansão económica, são três bons exemplos de como a cultura não técnica pode condicionar decisivamente o processo do desenvolvimento económico. E, quanto ao prazo que medeia entre a intervenção e o resultado, deve introduzir-se no cálculo um factor que muitas vezes esquece: o de que as ciências humanas são as que mais directamente se referem aos aspectos nacionais. A falta de fomento do país interessado dificilmente encontra neste campo o suprimento fornecido pela investigação internacional, e, por isso mesmo, os efeitos da falta de promoção podem fazer-se sentir de modo mais imediato, traduzindo-se numa descida do nível da cultura, que depois é difícil remediar.

34. Os problemas actuais, da investigação ligada ao ensino estão equacionados com brevidade, mas com suficiente clareza, no capítulo X do projecto: pequeno número de investigadores, falta de condições materiais que facilitem o seu aumento, insuficiência dos centros e das respectivas instalações, falta de coordenação do que já se vai fazendo apesar de todas as dificuldades. A estas considerações de nível sectorial poderia apenas acrescentar-se que uma programação da actividade investigadora como peça integrante do conjunto de um plano de fomento está condicionada pela prévia determinação do volume e natureza dos novos empregos resultantes ou exigidos pela própria aplicação do Plano. A investigação pura e aplicada aparece referida como pressuposto necessário do acréscimo da eficiência produtiva, mas é evidente que o papel que a tal respeito poderá desempenhar depende do sentido em que for orientada. Não é apenas preciso investigar mais; é igualmente indispensável saber quais deverão ser os alvos desse aumento de investigação, para poder orientá-lo no sentido de remediar as faltas que podem ter efeitos mais graves.

35. No relatório base referente à investigação ligada ao ensino oferece-se um mapa dos encargos do Ministério da Educação Nacional nesta matéria. A sua análise comprova sobejamente o que se diz no capítulo. Dele extraímos os elementos seguintes:

[Ver tabela de imagem]

Este mapa refere-se apenas à investigação ligada ao ensino e, dentro desta, unicamente à participação do Ministério da Educação Nacional. Não abrange, portanto, a acção dos mais importantes centros de investigação nacionais que não estão dependentes daquele departamento do Estado. Também se omite a obra, extremamente notável, tanto sob o ponto de vista das proporções que assume como sob o da lucidez dos critérios que lhe presidem, da Fundação Calouste Gulbenkian; os números apresentados não exprimem, portanto, senão parte dos custos da investigação a cargo do Estado - a parte que fica a cargo do Ministério da Educação Nacional. Eles servem, porém, para documentar a completa falta de organização deste domínio. O número dos investigadores não excede 675, dos quais 88,2 por cento se dedicam às ciências exactas e 11,8 por cento às ciências humanas. Estas não aparecem discriminadas, mas o inquérito realizado pelo Centro de Estudos e Planeamento da Acção Educativa fornece os elementos seguintes: história, 34 investigadores; arqueologia, 9; ciências sociais, 2; direito, 1; línguas, 17; filosofia e psicologia, 21. Talvez se devessem incluir na história os 4 investigadores de arqueologia naval, porque esta matéria, apesar da designação, é capítulo da história da técnica, e não da arqueologia. Os investigadores seriam assim 38 em história e 5 em arqueologia.

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As despesas médias por investigador são extremamente baixas: 28 contos anuais. É um valor médio que em caso algum poderia julgar-se suficiente, mas que tem de considerar-se perigoso quando se pensa que as pessoas qualificadas para a investigação são precisamente as que estão mais sujeitas à procura por parte das empresas privadas e até de organizações estrangeiras. Mas não se trata de média significativa, visto que a oscilação vai desde 89 contos por ano, verificada nas ciências naturais, até 6 contos, observada na medicina.
A distribuição dos investigadores pelos sectores da investigação também não obedece a critério reconhecível. Em medicina há 28 vezes mais investigadores que em agronomia, e a história disporia de mais pessoal que a agronomia, a farmácia e a veterinária consideradas em conjunto. Todas estas indicações se devem, aliás, olhar como submetidas às maiores reservas. O inquérito feito não distinguiu entre investigação a tempo pleno e a tempo parcial, o que impede todas as ilações; por outro lado, atendendo apenas aos subsídios, dá provavelmente mais a medida das gratificações auferidas que da investigação realizada. A matéria é, aliás, das mais esquivas à estatística, pois que qualquer conclusão que se pretendesse tirar com base no número dos investigadores seria ilusória; o facto de nas ciências jurídicas, se contar apenas um investigador tem um significado oposto ao aparente: é que, neste domínio, a docência e a pesquisa ainda não estão divorciadas, e cada professor é, simultaneamente, um investigador.
Se alguma inferência pode extrair-se destes dados, ela é no sentido da penúria das verbas e da escassez do pessoal especialmente remunerado pelo trabalho de investigação.
As providências a tomar são, portanto, no sentido da maior mobilização de meios materiais e humanos, de modo a tornar-se possível investigação mais vasta, mais eficiente e mais coordenada. E é isso mesmo o que vem proposto, pelo que nada há a corrigir ou aditar.

§ 5.º Investimentos

36. Os investimentos previstos para o sector da educação e investigação ligada ao ensino são os que constam a seguir:

Milhares de contos

Instalações e apetrechamento inicial ...... 2600
Reapetrechamento .......................... 550
Actividades ............................... 850

As verbas estão indicadas por referência a rubricas muito gerais, sem qualquer discriminação, mas o quadro vem seguido de algumas observações destinadas à sua perfeita compreensão, que fornecem as indicações seguintes:
a) A rubrica «Instalações e apetrechamento inicial» engloba a construção, compra e beneficiação dos edifícios e instalações mobiliárias destinadas ao ensino primário, secundário (preparatório, liceal e técnico), médio, superior, às actividades da investigação, aos serviços de acção social escolar (residências de estudantes e cantinas) e a outros organismos ou serviços dependentes do Ministério da Educação Nacional; abrange também o apetrechamento inicial dos novos estabelecimentos de ensino, incluindo equipamentos audiovisuais;
b) A rubrica «Reapetrechamento» compreende «o reapetrechamento que se torne necessário, incluindo o audiovisual»;
c) A rubrica «Actividades», cujo conteúdo se diz ser «aproximadamente o mesmo .da correspondente rubrica do Plano Intercalar», tem em vista: actividades pedagógicas (experiências e aperfeiçoamento de pessoal docente e investigador); actividades culturais no plano interno e externo (sob este último aspecto, e segundo informações contidas em outros lugares do capítulo, pensa-se assegurar o ensino dos portugueses residentes no estrangeiro e proteger a cultura portuguesa no Brasil); formas de acção social escolar; actividades de planeamento e difusão; outras realizações.
A comparação entre este plano de investimentos e o do Plano Intercalar permite duas conclusões:

a) Verifica-se um aumento considerável nos encargos assumidos;
b) As actividades programadas são sensivelmente as mesmas.

O quadro seguinte compara as verbas dos dois Planos:

(a) Representam-se as verbas multiplicadas por dois para facilitar a comparação
O progresso registado é muito importante e traduz indubitavelmente o relevo que os problemas relativos à educação vão assumindo no conjunto da política nacional.
O plano de investimentos é porém idêntico ao que se adoptou no Plano Intercalar. Ali figuravam já as rubricas «Instalações» e «Apetrechamento extraordinário». A que se denomina agora «Actividades» aparecia então sob a epígrafe de «Fomento extraordinário de actividades pedagógicas, culturais e científicas», mas, como aliás no capítulo se reconhece, o conteúdo é o mesmo. Deve prever-se que ao aumento substancial da verba atribuída corresponde um maior volume de actividade, mas não que essa actividade seja de natureza diferente da que se desenvolveu para a prossecução dos objectivos fixados pelo Plano Intercalar. Esta linha de continuidade está, aliás, como já se viu, na sequência do que em vários pontos do capítulo se escreve acerca dos objectivos e das providências legais e administrativas.

37. A Câmara Corporativa, ao pronunciar-se sobre o projecto do Plano Intercalar de Fomento, definiu uma posição muito clara sobre o programa de investimentos que então vinha proposto. Assim, no parecer subsidiário da secção de Interesses de ordem cultural, subsecção de Ensino, depois de se exprimir completo apoio aos propósitos do Governo quanto à renovação dos actuais planos de estudos, programas e métodos e de se afirmar plena concordância com os conceitos, princípios e intenções que justificam a inclusão, nos planos de fomento, de capítulos relativos às matérias do ensino e da investigação, fazia-se breve análise das deficiências mais graves e concluía-se pela necessidade de introduzir algumas alterações

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no projecto do Plano. Tais alterações referiam-se à discriminação das actividades que importava programai- e nos montantes das verbas necessárias a essa programação. Assim, em relação ao ensino, recomendava-se:

A criação oficial do ensino infantil;
Tornar imediatamente compulsório o ensino primário até à idade profissional, tendo-se em vista, essencialmente, a educação da criança, a consolidação dos assuntos fundamentais do ensino e a introdução de elementos básicos, úteis a uma aprendizagem profissional ;
Elevar as frequências do ensino liceal e do ensino técnico, 1.º e 2.º graus, de maneira a atingir-se num futuro próximo mais cerca de 200 000 estudantes;
Promover o desenvolvimento do ensino técnico e agrícola médio, com uma frequência que se procuraria, principalmente, entre os bons alunos dos ensinos profissionais;
Promover também, com rigorosa selecção, o melhoramento e o alargamento das frequências do ensino superior, que num futuro próximo deveriam alcançar os 40000 estudantes;
Adaptar os sistemas educacionais à s novas estruturas socioprofissionas resultantes do desenvolvimento económico e do progresso social.
Segundo o mesmo parecer, para tornar viáveis as recomendações feitas no sentido da valorização da população através do ensino, seria necessário o planeamento da acção educativa a médio e a longo prazo, abrangendo:

a) A intensificação da construção e adaptação de edifícios dos diferentes graus de ensino e seu apetrechamento;
b) A preparação científica e pedagógica muito intensiva de professores, com reorganização dos cursos de habilitação e realização de cursos de aperfeiçoamento;
c) A valorização das profissões docentes por alargamento apropriado dos quadros e reclassificação de categorias;
d) Orientação e selecção dos estudantes para cursos próprios e garantias da possibilidade de sequência de estudos por concessão de bolsas em grande escala. (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1964, volume n, pp. 626 e 627).

Na sequência destas considerações, propunha-se um plano de investimentos diferente do que do projecto constava, e no qual a rubrica genérica «Fomento extraordinário de actividades pedagógicas, culturais e educativas» era mantida, mas completada pela discriminação das actividades a fomentar, a cada uma das quais era atribuída verba própria.
Tanto as conclusões como a contraproposta foram perfilhadas e transcritas no parecer sobre o projecto do Plano Intercalar de Fomento, tendo portanto merecido a inteira concordância da Câmara.

38. Não surgiram, de então para cá, quaisquer motivos que levem a atenuar as preocupações reveladas, nem se conhecem factos nos quais possa basear-se uma mudança de atitude no que diz respeito à necessidade da programação das medidas cuja falta foi, há três anos, motivo de estranheza. Pelo contrário, o tempo decorrido trouxe a confirmação de que as objecções estabelecidas pela Câmara Corporativa em Novembro de 1964 tinham toda a razão de ser. Os problemas resistiram aos meios utilizados para os resolver. O prolongamento da escolaridade obrigatória, que já então se achava legislado, não entrou em vigor; e não foi mesmo possível ir entretanto preparando as instalações nem constituir os quadros docentes necessários para tal efeito. A escolaridade facultativa não pôde ser incrementada, reconhecendo-se neste projecto de III Plano que isso se deve à insuficiência dos meios disponíveis. Nada foi possível concluir quanto à reforma do ensino médio técnico e agrícola e os efeitos da falta de técnicos médios fazem-se agora sentir com redobrada intensidade. A melhoria, alargamento e rigor de selecção do contingente escolar universitário também não verificou, durante o período intercalar, progressos visíveis. A preparação científica e pedagógica muito intensiva dos professores, a reorganização dos cursos de habilitação e a realização de cursos de aperfeiçoamento ainda não puderam concretizar-se, e o objectivo continua a propor-se para o futuro; o mesmo se passa em relação ao alargamento dos quadros e à reclassificação das categorias. A estreiteza dos meios impediu, igualmente, a orientação e selecção dos estudantes para cursos próprios e não consentiu que a alguns dos melhores se garantisse a possibilidade de sequência por concessão de bolsas em grande escala.
O adiamento da resolução destes problemas fulcrais ao longo do triénio intercalar não admite outra explicação que não seja a da falta dos indispensáveis recursos financeiros, visto que a urgência de todos eles tem sido lucidamente reconhecida em comunicações recentes e aparece afirmada sem rodeios nem ambiguidades neste mesmo capítulo X do projecto. Mas, e por isso mesmo, entende a subsecção que tais problemas deverão aparecer especificados sob a forma de investimentos consignados à sua resolução.
Os critérios de tal programação não podem ser senão dois: o primeiro é o da adopção de uma escala de prioridades em que se reflicta a urgência e essencialidade das questões, com sacrifício de tudo o que, embora importante, não seja decisivo e, embora oportuno, possa ser ainda adiado; e nesta perspectiva a formação dos quadros docentes, o incremento da escolaridade facultativa mediante o integral aproveitamento das elites escolares, o problema do ensino médio, surgem como questões que primam sobre quaisquer outras. O segundo será o de uma estrita limitação das estimativas àquilo que se considera mínimo eficaz, isto é, a valores que poderão não ser suficientes para eliminar todas as carências, mas chegam para modificar decisivamente as questões de fundo do problema educativo português, e para corresponder às solicitações específicas que no presente Plano de Fomento se dirigem ao sector educativo.
Propõe-se assim que o quadro dos investimentos constante do § 4.º do capítulo do projecto em apreciação, passe a ter a seguinte redacção:

Milhares de contos

Instalações e apetrechamento inicial ...... 2 600
Reapetrechamento .......................... 500
Fomento extraordinário da actividade pedagógica e do sistema escolar:

Recrutamento e formação dos quadros docentes, remodelação dos serviços de formação de professores e de orientação pedagógica, criação de estímulos profissionais...................... 1 000
Fomento da investigação ligada ao
ensino superior ................... 150

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Fomento e orientação da escolaridade facultativa através da acção social escolar e organização de um plano nacional de bolsas de estudo ......... 300
Outras actividades.............................................. 250
1 700
Total .............................. 4 800

O investimento previsto excede em 800 000 contos o que vem indicado no capítulo. A diferença resulta, fundamentalmente, de que neste não se incluiu o encargo resultante do recrutamento e formação profissional dos corpos docentes necessários para o enquadramento dos contingentes escolares nos próximos anos. Admitiu-se, possivelmente, que a formação de quadros é função que se inscreve na actividade normal da Administração, não devendo, portanto, considerar-se como acção a programar no âmbito de um plano geral de desenvolvimento.
A subsecção entende diferentemente. Entre os grandes objectivos do III Plano inclui-se o de «garantir a preparação de largas categorias da população activa», e sabe-se que essa preparação não será possível com os quadros docentes de que presentemente se dispõe. Toda a acção humana supõe agentes, e a incúria na preparação destes compromete a possibilidade de realizar as acções que, no seu conjunto, constituem o Plano de Fomento. A formação dos agentes de ensino está assim naturalmente incluída entre as funções que dentro deste devem programar-se.
Quanto ao incremento do contingente escolar facultativo através do integral aproveitamento das elites terminais, e no que se refere à remodelação do ensino médio técnico e agrícola, pensa-se que são fins que podem atingir-se dentro dos recursos proporcionados no capítulo, desde que estes lhes sejam consignados em grande medida.
E, portanto, a formação dos agentes de ensino o que obriga a um agravamento considerável do peso dos encargos a assumir. Mas de outro modo não será possível resolver um problema que unanimemente se reconhece constituir a questão fulcral da nossa política educativa. A afirmação recentemente feita pelo Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho de que este sector «é o alicerce por excelência do próprio processo do desenvolvimento económico, pois o homem está no princípio e no fim de todo este processo, e sem adequados níveis sanitários e de formação intelectual e profissional não há planos de fomento que valham», exprime com toda a exactidão o pensamento da subsecção a este respeito. Na verdade, enquanto o problema dos professores não for resolvido, muitas aspirações de progresso não sairão da fase dos projectos, e algumas das necessidades fundamentais da vida nacional terão de permanecer na pauta dos adiamentos sine die.

II

Investigação não ligada ao ensino

§ 6.º Evolução, objectivos, providências, investimentos

39. Em harmonia com o que vai já sendo tradição nos nossos planos de fomento, incluíram-se no mesmo capítulo as matérias referentes ao ensino e investigação que lhe está ligada e as que dizem respeito à investigação aplicada. Assim se tinha já feito no II Plano de Fomento e no Plano Intercalar. Esta sistematização é a que naturalmente resulta da perspectiva humanista, que leva a abraçar na mesma ordem de preocupações a valorização intrínseca do homem e o progresso da ciência. E, pois, a melhor direcção. Sabe-se como a importância atribuída pelos economistas à investigação aplicada tem aumentado durante as últimas décadas, em especial a partir da segunda guerra mundial. A tendência nos países mais fortemente industrializados é no sentido de não considerar a pesquisa aplicada como um plano superior da ciência, mas como uma indústria estratégica, que está na base de todas as outras e decide o ritmo do progresso económico. Alguns economistas desses países têm feito estudos no sentido da quantificação e da determinação rigorosa de qual seja o verdadeiro output da investigação; os resultados desses trabalhos dependem em última análise dos métodos utilizados, e, nas posições mais recentes, há tendência para pôr em causa a aplicabilidade dos escalões de medida, em termos puramente económicos, aos benefícios atribuíveis à investigação. Mas aquelas investigações tiveram o incontestável mérito de trazer à luz aspectos de grande interesse, como, por exemplo, os da relação existente entre o volume do investimento na investigação e o número de produtos novos, o da relação entre o ritmo da inovação e a duração média do produto (rio sentido de período de tempo durante o qual encontra a aceitação do mercado) e o da relação entre a regência e o valor económico do produto. Num relatório apresentado ao Congresso Americano em Junho de 1962 revelava-se que à investigação relacionada com a indústria do espaço, criada havia então apenas quatro anos, se devia já a criação de 3200 produtos novos, que incluíam novos materiais, medicamentos, tecidos e até artigos domésticos. Num estudo elaborado pelo serviço de análise industrial da Embaixada da França em Washington, e referente ao ano de 1962, enumeram-se os 26 00O artigos novos não alimentares e os 500O artigos alimentares que, durante aquele ano, tinham entrado no mercado dos Estados Unidos. Actualmente, 25 por cento do total das exportações inglesas é constituído por produtos e materiais cuja existência, em 1940, não era sequer suspeitada. Por outro lado, as análises sobre o tempo de duração dos produtos reflectem os efeitos desta extraordinária aceleração da técnica. Uma investigação sobre 30 produtos de aplicação corrente mostrou que a duração descera de 34 anos em 1.920 para 22 em 1940 e para 8 em 1960. A inovação está assim na base da política dos mercados e aparece como factor relevante na concorrência.
Ora, é a investigação tecnológica o principal motor da aceleração das técnicas, e a sua influência exerce-se de um modo directo em muitos aspectos, designadamente na descoberta e industrialização de materiais novos. Mas, de um modo geral, a transformação das descobertas em vastas gamas de produtos, a passagem do plano dos novos conhecimentos ao dos novos artigos, é assegurada pela organização industrial, e só assume proporções de grande interesse económico nos países que dispõem de equipamentos, quadros de pessoal técnico e nível cultural geral (sob o ponto de vista tecnológico) muito adiantado, devendo, aliás, ter-se em conta que esse adiantamento, em particular no que se refere aos equipamentos, é proporcional à dimensão do espaço económico considerado. A rentabilidade da investigação está decisivamente dependente dessas condições. Poderia dizer-se que a sua função é semelhante à que se observa nos instrumentos de percussão: o efeito depende não só do elemento activo que percute, mas também do meio que repercute. Se este não for ade-

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quado, a investigação pode resultar estéril sob o ponto de vista económico.
Isto torna compreensível que sejam precisamente os economistas dos países com maior grau de desenvolvimento industrial os que mais insistem sobre o papel decisivo dos investimentos de pesquisa 710 desenvolvimento e sobre o seu excepcional grau de rentabilidade.
Objecções tornadas correntes entre os escritores mais modernos, como, por exemplo, a de que a teoria keyne-siana é uma teoria estática na medida em que toma como dado, e não como variável, o quadro técnico e social dentro do qual se produzem as flutuações das quantidades, dos preços e dos rendimentos, e considera como exógenas em relação ao sistema as modificações sofridas por esse quadro, não tomam na devida consideração que a classificação dos factores de modificação está intrinsecamente dependente das condições do sistema, e que só por referência a essas variáveis se poderão tornar como forças endógenas ou exógenas. Nem é, aliás, outra a perspectiva que o problema pode assumir no estruturalismo. Na verdade, a investigação é muito anterior à civilização industrial, porque corresponde a uma permanente vocação humana; mas a repercussão de uma actividade intelectual em termos económicos e, designadamente, em inovação ao nível dos produtos e consequente modificação nos mercados era de tal modo lenta e eventual que o trabalho do investigador não podia ser considerado como assumindo significado económico. Foi depois da revolução industrial que essas condições se começaram a alterar, mas só muito recentemente, e, sómente em alguns países, o progresso técnico criou condições que puseram em evidência o valor económico a curto prazo da actividade do investigador.
As condições do progresso técnico são muito diferentes de país para país, e não é natural que no futuro se venham a alterar, dado que só os países de escala continental poderão dispor dos recursos exigidos pelos equipamentos que permitam o progresso a partir de certos limites. Tais diferenças tornam perfeitamente compreensível a diversidade observada na ordem de grandezas dos meios atribuídos à investigação, não só em termos absolutos, mas ainda nos de percentagem do P. N.º B.; o que explica esses desníveis não é a distracção dos governos, mas a diferença dos condicionalismos nacionais sob o ponto de vista do que se pode pensar quanto à rentabilidade dos investimentos.
40. As precedentes considerações põem em evidência a impossibilidade de comparações e o perigo de se pretenderem generalizar padrões ou critérios de política científica. Esta só pode ser definida por referência às realidades e às necessidades de cada país. A fixação das linhas gerais de uma política científica à escala nacional é assim o primeiro problema a enunciar a propósito da programação da investigação não ligada ao ensino durante o próximo sexénio.
Desde há muito que a necessidade dessa definição e, bem assim, da criação do órgão incumbido de a promover, vem sendo sentida no País e afirmada por esta Câmara. Já no parecer n.º 45/VI, emitido sobre a proposta de lei n.º 43 -criação do Instituto Nacional de Investigação Industrial (Câmara Corporativa, Pareceres, VI Legislatura, 1957, vol. I, pp. 29 e seguintes) -, se chamou a atenção para a conveniência da criação de um organismo de coordenação das actividades do. conjunto dos centros de investigação aplicada no nosso país, organismo ao qual competida, além do mais, superintender na programação dos respectivos trabalhos. A urgência dessa medida voltou depois a ser sublinhada no parecer subsidiário da secção de Interesses de ordem cultural - subsecção de Ensino, a propósito do projecto do II Plano de Fomento (Câmara Corporativa, Pareceres, VII Legislatura, 1958, p. 962). A questão voltou a ser abordada pela Câmara a propósito do exame do projecto do Plano Intercalar, tendo-se então proposto especificamente a criação de um organismo capaz de assegurar o planeamento permanente e o estudo dos projectos de investigação aplicada. O projecto do III Plano contém referência ao assunto, referência que aparece incluída no capítulo do ensino e investigação a ele ligada, mas que certamente se refere também à investigação aplicada, pois é principalmente para a planificação e coordenação desta que se requer a intervenção do organismo a que no capítulo se alude.
Efectivamente, acaba de ser publicado o Decreto-Lei n.º 47 791, de 11 de Julho de 1967, que cria na Presidência do Conselho e na dependência directa do Presidente do Conselho, a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, inscrevendo-se na sua competência a função de dar parecer sobre as bases em que deve assentar a definição da política científica nacional.
O problema está, pois, em vias de solução.

41. Regista-se, e com inteira concordância da subsecção, que o capítulo não faz depender a programação específica da prévia definição das bases gerais da política científica. Pelo contrário, o método adoptado foi o de fixar desde já o trabalho a realizar durante o sexénio, embora deva admitir-se que o programa estabelecido venha a sofrer alterações, quer resultantes da aplicação de critérios gerais a estabelecer, quer impostas pelo ajustamento das tarefas à possibilidade material criada pelas verbas que lhes são destinadas.
O programa foi elaborado com base nos trabalhos de especialistas e visa, «por um lado, o desenvolvimento da modestíssima infra-estrutura actual de que o País dispõe para o estudo dos seus problemas e, por outro, um apoio directo aos programas de desenvolvimento económico previstos neste III Plano de Fomento». Tal é o objectivo geral; para o alcançar estabelecem-se, com uma exactidão que desce ao pormenor, as tarefas a executar dentro de cada sector.
Assim, na estatística abrangem-se as grandes operações que terão lugar sob a vigência do Plano e, entre elas, o censo da população e da habitação em 1970. No planeamento económico prevêem-se estudos sobre contabilidade nacional, de análise regional, execução de planos de fomento e políticas conjunturais. O programa da agricultura analisa-se em numerosas rubricas, que se orientam em quatro direcções: fomento da pecuária, das forragens, da horto-fruti-floricultura e da cerealicultura; na silvicultura e aquicultura prevê-se a continuação de estudos já iniciados ao abrigo do Plano Intercalar. A investigação pecuária é programada por forma a assegurar a continuidade dos estudos já iniciados ao abrigo do Plano Intercalar e a promover novas investigações, principalmente no domínio da patologia veterinária. O elenco de trabalhos das indústrias extractivas vem indicado com largueza e o das indústrias transformadoras compreende, além de importantes actividades de investigação, promoção e assistência técnica, a criação de um design center e de um departamento de assistência técnica à indústria. O domínio de investigação ria construção civil abrange estudos sobre barragens, estradas, obras fluviais e marítimas, materiais de construção. Para a electricidade propõe-se a criação de um organismo nacional de investigação e de ensaios no domínio da electrotecnia, no qual deverão associar-se os serviços do Estado e as actividades particulares. A investigação a promover quanto à energia nuclear tem em vista o aproveitamento dos combustíveis nucleares nacionais e o de-

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senvolvimento das técnicas inerentes à construção e exploração de centrais nucleares, estando prevista para 1975 a instalação da primeira central nuclear no nosso país. Incluem-se ainda os planos de investigação para a meteorologia e geofísica, actividades cartográficas e um estudo sobre o planeamento nacional e regional de habitação e urbanização.
E, pois, muito vasto o plano de investigação aplicada estabelecido para 1968-1973. Sobre o seu interesse e incidência no desejado acréscimo da eficiência produtiva seriam supérfluos quaisquer comentários. Quanto ao critério adoptado na escolha dos temas da investigação, traz consigo a garantia do próprio processo que se utilizou para o fixar: foram ouvidas todas as entidades interessadas, procedeu-se a um inquérito através da Corporação da Indústria, recorreu-se à colaboração dos organismos públicos para a organização dos planos dos sectores. E, pois, a síntese de um trabalho colectivo, criteriosamente orientado, o que o capítulo nos apresenta a este respeito.
Se alguma objecção pode ser posta, é a de que o acolhimento dado no capítulo a um programa tão amplo não foi acompanhado de correspondente atitude no que diz respeito às verbas destinadas à sua execução. Estas tiveram de ser muito inferiores às estimativas, e isto era inevitável, considerada a desproporção geral entre a limitação dos meios e as necessidades dos sectores. Mas a esta limitação deveria ter correspondido uma apropriada limitação das matérias e acções programadas; de outra forma marcam-se aos serviços metas que eles sabem logo à partida não poderem ser atingidas. Isto é particularmente sensível no que diz respeito à investigação relativa às indústrias transformadoras, a qual interessa a actividades que representam 34,8 por cento do produto nacional bruto, e que deveria ter sido contemplada por forma a poder desenvolver-se em harmonia com essa importância relativa.

42. Na enumeração das providências legais e administrativas distingue-se entre providências, gerais e medidas especiais que visam a resolução de problemas específicos de certos domínios.
À cabeça dos primeiros surge o problema do pessoal. Não é possível investigar sem investigadores. No relatório final do subgrupo n.º 2 do Grupo de Trabalho n.º 10 escreve-se a tal respeito:

O mais forte obstáculo que se levanta ao desenvolvimento da investigação [...] é a gravíssima carência de pessoal. Até há poucos anos a carência limitava-se ao pessoal de nível universitário, mas ultimamente ela estendeu-se a todas as categorias de pessoal, tornando quase insustentável a vida da maior parte dos organismos da investigação.
Aliás, a falta de quadros de todos os níveis constitui o maior entrave ao desenvolvimento do País, sob todos os aspectos. A carência de medidas adequadas verificada nos últimos anos, apesar de há muito ser evidente a gravidade da situação, leva a ter as maiores apreensões quanto ao futuro. De facto, é eminentemente claro que a solução do problema da carência de pessoal, tendo em mente os interesses superiores da Nação, exige uma completa modificação das concepções sobre a estrutura e as finalidades do ensino, impondo-se a adopção de medidas de emergência.
Esta mesma queixa repete-se depois em todos os sectores. Na agronomia recorda-se que já no relatório da execução do II Plano de Fomento se verificou que «a carência de técnicos, em todos os níveis, constitui perigoso
estrangulamento capaz de refrear o nível do desenvolvimento económico», que essa situação foi considerada séria no início do Plano Intercalar e que actualmente atinge «extrema gravidade». Nos parágrafos consagrados ao fomento pecuário faz-se depender o êxito do programa da possibilidade de renovar os quadros, a qual está ameaçada pela falta de candidatos à matrícula. No que se refere às indústrias extractivas, explica-se a permanência de uma grande parte dos objectivos já marcados no Plano Intercalar pela falta de pessoal: «No que respeita a engenheiros de minas, a dificuldade começa logo por quase não haver formaturas.
As providências atinentes a remediar este estado de coisas situam-se fora do domínio da investigação aplicada: constituem o tutano da questão educativa e já na altura própria se lhes- fez referência.
Outras medidas de carácter geral que se preconizou no capítulo são a revisão da situação do pessoal investigador, a remodelação das leis orgânicas desactualizadas, a representação do sector no órgão de coordenação e planeamento (que já está assegurada pelo Decreto-Lei n.º 47 791, de 11 de Julho de 1967), a colaboração entre as Universidades e os institutos de investigação não ligados ao ensino e o fomento da investigação no sector privado.
As medidas especiais previstas são a criação de um organismo nacional para a investigação no domínio da electricidade e revisão da lei orgânica do Serviço Meteorológico Nacional.
Tanto as medidas gerais como as especiais revelam o perfeito conhecimento dos problemas e testemunham uma atitude realista e construtiva, que é a primeira condição para a solução dos problemas. Não pode, portanto, a subsecção senão dar a esta parte do capítulo a sua inteira concordância.

43. Os investimentos previstos atingem, no seu conjunto, 594 000 contos. O seguinte quadro mostra a sua distribuição e a comparação com as verbas que foram atribuídas aos domínios aproximadamente correspondentes, no Plano Intercalar, multiplicadas estas por dois para facilitar a comparação:

[Ver tabela de imagem]

O aumento das verbas destinadas à investigação foi de 356 000 contos. Mesmo que se considere que as operações

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estatísticas e de programação económica se não enquadram rigorosamente no conceito de investigação aplicada, por serem sobretudo trabalhos de aplicação de técnicas e métodos já investigados, verifica-se assim que as verbas agora previstas excedem o quádruplo das calculadas em 1964 para o triénio e representam, portanto, mais do dobro quando considerados períodos de tempo de igual duração. Foram incluídos domínios novos e do maior interesse sob o ponto de vista da, investigação tecnológica, como a electricidade, a energia nuclear e a meteorologia. Far-se-ão apenas dois reparos: o de que não existe correspondência entre o volume dos aumentos registados e a importância relativa das actividades apoiadas por cada sector de investigação, e o de que o plano de financiamentos não inclui qualquer verba referente aos estudos de urbanização e habitação que vêm programados no projecto como domínio autónomo.
III Formação profissional extra-escolar

§ 7.º Evolução, objectivos, medidas e investimentos

44. A formação profissional extra-escolar aparece, pela primeira vez, incluída no capítulo sectorial referente ao ensino e investigação. As medidas de política de formação profissional figuravam já no projecto do Plano Intercalar, mas então estavam compreendidas na parte geral (capítulo in «Condições de equilíbrio do mercado de trabalho»). Essa arrumação das matérias não era a mais perfeita e foi criticada no parecer da Câmara Corporativa, com fundamento em que no texto se referiam pormenorizadamente as acções concretas a desenvolver, pelo que, de acordo com a técnica geral do plano, a matéria caberia melhor na parte especial, que na geral, devendo ser incluída no capítulo referente ao «Ensino e investigação», que passaria a denominar-se «Ensino, formação profissional e investigação».
A objecção era procedente e foi essa a solução agora adoptada. Apenas se não fez a necessária modificação no título do capítulo, que deveria dizer: «Ensino, investigação e formação profissional»; era, aliás, esta a epígrafe que constava do anteprojecto.
É um pormenor formal, mas que se prende com questões de fundo.
A formação profissional dos trabalhadores não se inscreve no quadro das actividades educativas propriamente ditas, mas sim no domínio, bem diferente, da política de mão-de-obra. Certamente que, em última análise, toda a acção destinada a preparar o homem para suportar a vida pode reconduzir-se a um amplíssimo conceito de educação: é o caso da formação profissional, da instrução militar, na educação sanitária. Mas, como departamento da Administração, corresponde à educação nacional um campe, próprio, que não deveria ser desvirtuado com a inclusão de matérias que em relação a ele apresentam apenas afinidade semântica, visto que visam objectivos, postulam métodos e ritmos e implicam o exercício de competências departamentais inteiramente diferentes.
Compreende-se assim bem que, para se não aumentar além do razoável o número dos capítulos sectoriais, se incluam em cada capítulo assuntos que com ele têm alguma relação. Mas isso não obriga a subordinar o tratamento de alguns aspectos da política do trabalho à epígrafe «Educação». Fazê-lo seria correr o risco de entendimentos que são abertamente opostos aos critérios fundamentais do nosso planeamento educativo e à ideologia humanista que lhe está na base.
Com este problema se ligam as seguintes considerações do capítulo na parte referente à educação:
A educação permanente, que comporta variedade infinita de manifestações, não deve nunca estruturar-se de modo a substituir-se organicamente à escolaridade, e sobretudo a criar, nos responsáveis e nos interessados, a convicção de que a segunda, em face da primeira, é desnecessária ou menos necessária, e pode deixar de ser objecto de todas as atenções que concitaria se a primeira não existisse. As actividades de formação escolar não podem ser prejudicadas, a nenhuma luz, pelas de formação extra-escolar, que possuem carácter meramente complementar ou subsidiário. Só a formação escolar, como formação integral, permite o desenvolvimento harmónico dos vários atributos da personalidade, fazendo verdadeiros homens, e não meros técnicos; e só ela, fornecendo preparação de base, possibilita ou favorece o progresso, a actualização ou adaptação a novas técnicas e a reconversão ou adaptação a novos empregos: vantagens tanto mais apreciáveis quanto é certo que correspondem a necessidades cada vez mais prementes, determinadas pelos vertiginosos avanços tecnológicos.
Estas considerações têm a completa concordância da subsecção. Elas tocam o fundo do problema e condensam os seus aspectos essenciais. Poderia acrescentar-se que o recurso a soluções marginais para, através delas, se obter a qualificação que presentemente a escolaridade não pode assegurar tem ainda os inconvenientes de não oferecer a indispensável base de recrutamento de pessoal para os níveis médio e superior e o de privar os trabalhadores daquela cultura geral que, em condições normais, acompanha o nível da qualificação técnica; ora muitos desses trabalhadores exercerão a sua actividade nas províncias do ultramar, onde a sua presença, sob o ponto de vista do interesse nacional, couta mais como elementos difusores de cultura do que como simples unidades de trabalho. Ninguém difunde o que não possui. E, quanto à hipótese de uma formação não escolar vir a «substituir-se organicamente à escolaridade», haveria que ponderar os custos dos dois tipos de formação: a primeira é de tal modo mais cara do que a segunda que entrar por tal caminho corresponderia a consumir em medidas de emergência recursos muito mais vultosos do que os exigidos para uma reforma geral das estruturas escolares, em ordem a conseguir, através delas, os meamos resultados que a formação extra-escolar pode proporcionar.

45. A preparação do homem para o exercício da profissão determinada é necessidade que desde sempre se fez sentir e que resulta da própria especialização do trabalho. Mas, em períodos caracterizados pela imobilidade da técnica, essa preparação podia fazer-se já dentro da profissão, correspondendo à fase de aprendizagem. O aprendiz era já um trabalhador que, ao contacto com o ofício, ia absorvendo um saber acumulado pela experiência de muitas gerações de oficiais e transmitido pela tradição. Ainda em datas muito recentes, e mesmo em relação aos escalões superiores, a integração profissional fazia-se por um simples estágio, destinado menos a completar conhecimentos que a pôr em prática conhecimentos já adquiridos. Em qualquer dos casos, a formação profissional não necessitava de se organizar como serviço autónomo e só conceptualmente se podia distinguir da actividade profissional.
A aceleração do desenvolvimento técnico e a muito rápida expansão do sector secundário, em detrimento do primário, vieram, porém, levantar problemas de tipo que

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dantes era desconhecido. O desenvolvimento técnico e a consequente cadência de inovação industrial tornaram necessária uma permanente adaptação dos elementos humanos da produção a condicionalismos que constantemente se renovavam. Cada nova descoberta no plano da ciência se repercutia em múltiplas inovações no plano das indústrias, e cada produto novo, ou simplesmente diferente, exigia novas máquinas ou novas linhas de montagem, para as quais o trabalhador devia ser preparado. Esse tipo de formação profissional permanente, exercida dentro das empresas ou com o apoio delas, passou assim a constituir uma função obrigatória, que não depende do nível cultural proporcionado pelo sistema escolar: por de mais aperfeiçoado que este seja, está hoje destinado a envelhecer depressa, e o trabalhador tem de estar submetido a uma actualização profissional capaz de acompanhar o ritmo do progresso tecnológico das indústrias.
O segundo dos aludidos fenómenos - a passagem de grandes contingentes humanos da agricultura para as indústrias - está na base dos serviços de formação acelerada. De um modo muito geral, pode dizer-se que, nas estruturas tradicionais do ensino, a escolaridade obrigatória cobria apenas as necessidades culturais pressupostas pelo exercício de actividades dentro do sector primário. Para o trabalho rural, e sobretudo quando este não acusava as repercussões da transformação técnica geral, era perfeitamente suficiente saber ler, escrever, conhecer o sistema métrico e fazer as quatro operações. A complexidade da vida moderna e as condições técnicas do trabalho industrial exigem uma preparação de tipo diferente. Foi esta mudança que levou todos os países industriais ou em vias de industrialização a alterar profundamente a estrutura da escolaridade obrigatória, tanto sob o aspecto da duração mínima como sob o tipo de ensino ministrado. Tais reformas no plano pedagógico eram, simultaneamente, consequência e factor do desenvolvimento económico: por um lado, eram exigidas por ele; por outro, aceleravam-no. As informações internacionais relativas aos planos de estudos revelam uma evidente correlação entre a duração da escolaridade obrigatória e o número relativo das pessoas que encontram emprego nas actividades do sector primário e nas que preenchem o secundário. Sucede, porém, que a expansão económica tem exigências de mão-de-obra a curto prazo, e as correcções introduzidas no sistema escolar só produzem efeitos a longo prazo. Os serviços de formação profissional acelerada nasceram para compensar o desfasamento entre a procura, que o carácter competitivo da indústria não consente adiar, e uma oferta que a própria natureza do processo pedagógico não poderia apressar.
Das duas funções que acima ficam referidas, a primeira é permanente, e não pode deixar de ser organizada à margem da escola. A segunda é temporária, e deve durar apenas o tempo necessário para que o reajustamento das estruturas escolares produza os seus efeitos. No caso português, é, todavia, ela, e deverá sê-lo ainda por alguns anos, a função primacial, visto que uma grande parte do pessoal destinado às indústrias terá de ser recrutado na população agrícola. Bastará ter consciência dessa situação para que se reconheça o enorme interesse da formação profissional acelerada, serviço ao qual incumbe o aprontamento dos quadros da mão-de-obra qualificada, enquanto as estruturas do ensino não forem reformadas por forma a corresponderem às actuais solicitações do mercado de trabalho.

46. É de justiça salientar a obra do Ministério das Corporações e Previdência Social neste domínio. Os primeiros esforços datam de há poucos anos, e os resultados até agora atingidos são de carácter experimental. Mas o assunto está a ser atacado com vigor e eficiência. A actividade do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra justifica referência especial; num prazo relativamente curto, concluíram-se investigações de grande interesse, reuniram-se os elementos necessários a uma programação criteriosa e instalaram-se centros de formação que permitiram estabelecer métodos e critérios operacionais inspirados em experiências de outros países mais adaptados ao particularismo nacional. No seu conjunto, a actividade desenvolvida no domínio da formação profissional, nos três aspectos da aprendizagem, aperfeiçoamento e formação acelerada, representa uma contribuição muito útil sob o ponto de vista não só da política de mão-de-obra, mas também da educação de adultos. Na verdade, as graves carências verificadas na formação de base levaram a incluir entre as matérias ensinadas o português e a matemática, o que representa uma correcção na índole puramente técnica que tais cursos, dada a sua finalidade, poderiam revestir, e uma ajuda ao sistema escolar, como aparelho difusor da cultura geral básica da população.
Os números que exprimem os resultados são por enquanto modestos. Segundo o relatório final do subgrupo n.º 3 do Grupo de Trabalho n.º 10, documento elaborado com exemplar objectividade, a frequência dos cursos foi nos anos de 1965 e 1960 no total de 3112 instruendos. Esse número assume sentido quando comparado com a estimativa contida no capítulo de que até 1973 será necessário formar cerca de 4.50 000 trabalhadores. Daí a necessidade de ampliar rapidamente o número dos centros, solução que constitui o essencial do Plano agora elaborado.

47. Os objectivos fixados são os de intensificar o ritmo das realizações, tendo em vista a aceleração do processo do desenvolvimento económico; aperfeiçoar o sistema de formação extra-escolar, prevendo acções imediatas no sentido de preparar encarregados, chefes de equipa e contramestres, e desenhadores, preparadores de trabalho e controladores de qualidade; tornar o sistema maleável; desenvolver a intervenção na agricultura; ampliar a todo o território metropolitano a acção desenvolvida, instalando centros segundo um critério de desenvolvimento regional e fazendo daí irradiar acções por meio de cursos itinerantes, centros móveis e apoio aos cursos dos organismos corporativos; promover a investigação sobre métodos, equipamentos e instalações; fomentar a participação de empresas e das entidades corporativas.
Para que tais finalidades venham a ser realizadas, planeia-se a criação de um Conselho Nacional de Formação Profissional, o estudo dos problemas de coordenação entre estas actividades e as que são da competência do Ministério da Educação Nacional, e regulamentação de empréstimos às empresas para fins de formação profissional, a regulamentação geral das versões de aprendizagem; a obrigatoriedade de as empresas que não disponham de serviços próprios de formação facilitarem aos seus aprendizes e profissionais a frequência dos centros e, por último, melhor ligação da organização corporativa com a formação profissional extra-escolar.
Prevêem-se ainda providências no sentido de:
a) Assegurar à formação escolar um desenvolvimento tal que venha a permitir à formação extra-escolar dedicar-se, em princípio, ao aperfeiçoamento e reconversão profissionais;
b) Estabelecer entre os cursos de uma e outra as relações possíveis.

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Apontam-se especialmente estas alíneas da programação proposta, porque é apenas sobre elas que recaem as poucas observações que a subsecção tem a formular no tocante ao enunciado dos objectivos e das medidas legais, enunciado que em geral está feito com a maior clareza e objectividade.
Nenhuma dúvida se levanta sobre a necessidade das medidas que permitam à escola cumprir aquilo que constitui a sua função própria, isto é, assegurar a qualificação básica para o ingresso nas actividades económicas. E também se não hesitará na completa adesão ao conceito de que a formação extra-escolar, liberta dessa tarefa que realmente lhe não cabe, se dedique fundamentalmente ao aperfeiçoamento e à reconversão, operações que, por natureza, ficam fora da acção da escola. Mas o que não pode aceitar-se é que as «medidas legais e administrativas» a tomar nesse sentido (e que são precisamente as do desenvolvimento da escolaridade) venham programadas na parte do capítulo referente à formação extra-escolar e se achem omitidas na parte referente ao ensino. Quanto às relações a estabelecer entre formação escolar e não escolar, é desejável a existência da coordenação, que, aliás, se não deve dispensar entre as diversas actividades simultâneas a cargo do Estado. Mas a forma utilizada no texto -«relações entre os cursos de uma e outra»- sugere a possibilidade de adopção de um sistema de correspondências entre as habilitações conferidas pela escola e as obtidas nos centros de formação de mão-de-obra. Seria inconveniente que se viesse a entender assim, em domínio no qual, em vez de duplicações ou de instituição de carreiras paralelas, tudo aconselha a economia dos meios, a concentração dos esforços e a firme unidade directiva.
Pensa, assim, a subsecção que o n.º 3 do § 3.º deveria ser transferido, com as necessárias alterações de redacção, para o § 3.º da parte referente à investigação e ensino.

48. O total do investimento programado é de 1 049 333 000$, correspondendo 153 980 contos à Secretaria de Estado da Agricultura e 895 353 contos ao Ministério das Corporações e Previdência Social.
O capítulo não indica quais os planos a realizar pela Secretaria de Estado da Agricultura. Em relação aos que virão a ser executados pelo Ministério das Corporações e Previdência. Social, a discriminação é a seguinte:

Contos

Instalação de 390 secções ...................... 285 000
Funcionamento dessas secções ................... 334 653
Funcionamento de 159 secções já instaladas ..... 275 700

Estes valores aparecem como muito altos quando se comparam com os da escolaridade.
Quanto ao custo das instalações, e dado que a frequência prevista por secção é de 15 instruendos (em algumas especialidades é menor), encontramos o valor de 100 contos para o parâmetro aluno-instalação. É vinte vezes o admitido para o ensino primário e cerca do triplo do admitido para o ensino superior. A comparabilidade destes valores não é, aliás, rigorosa, dado que os cursos de formação profissional são, geralmente, semestrais. O valor da relação aluno - ano de ensino não corresponde, portanto, ao dos alunos ensinados em cada ano, sendo este, aproximadamente, o dobro daquele. Mesmo que se fixasse para a formação extra-escolar o semestre como base do parâmetro aluno-instalação, teríamos custos muito mais elevados que os que se admitem para qualquer dos vários graus do ensino escolar.
Para comparar os custos de funcionamento, parte-se da hipótese de que todas as secções trabalhem doze meses por ano em regime de lotação completa, o que representa, ao fim dos seis anos, um total de 34 200 instruendos para as 190 secções a instalar, e de 28 620 para as secções já instaladas. O custo médio ano - aluno seria, assim, de 19408$; o custo do semestre por instruendo será de 9623$ em relação às secções já instaladas e de 9785$ em relação às secções programadas.
Os custos da educação escolar oficial foram os seguintes em 1965 :

[Ver tabela de imagem]

(a) Elementos extraídos do parecer sobre as Contas Gerais do Estado de 1965.

Os resultados desta comparação têm. de ser sujeitos a reservas, porque se trata de tipos de actividade diferente, com valências igualmente diferentes. A hipótese considerada foi a dos cursos de qualificação de adultos ou de formação profissional acelerada, por ser esta a mais praticada; quando se trate de cursos de aprendizagem, a frequência das secções poderá ser de dois turnos de quinze aprendizes em tempo pleno ou de quatro turnos em tempo parcial. Mesmo com estas restrições, pode formar-se uma ideia dos custos da formação extra-escolar. Notar-se-á, por exemplo, que os seis meses de preparação, necessariamente rudimentar, de um trabalhador não qualificado custam quase o dobro de um ano de estudos no Instituto Superior Técnico (o custo ano-aluno é aí de 5180$). E que o dispêndio anual com a formação não escolar (não incluída a que fica a cargo da Secretaria de Estado da Agricultura) é cerca de cinco vezes superior à despesa do ensino médio, comercial, industrial e agrícola.
Destas observações não se desprende a ilação de que os encargos a assumir no próximo sexénio com a formação profissional extra-escolar sejam excessivos. Admite-se que, no respeitante a instalações, e em particular a construção de edifícios para os centros (a estimativa é de 1500 contos por secção, ou 30 000 por centro), se pudessem encontrar soluções mais económicas. Mas, quanto às verbas exigidas para o funcionamento, quaisquer restrições seriam desaconselhadas, pela urgência na preparação de pessoal; não é difícil prever que, nesta matéria, toda a frouxidão provocaria prejuízos graves no plano económico. Só há, assim,- que exprimir adesão e louvar o dinamismo com que o problema está a ser enfrentado e resolvido no plano extra-escolar. São encargos novos, que no futuro poderão vir a aumentar, visto representarem, em certa medida, o contragolpe do retardamento na evolução do nosso sistema educativo. Mas é lícito pensar que, à medida que à escola sejam facultados meios para um mais pleno exercício da sua missão, a formação extra-escolar virá restringir-se até se circunscrever ao perímetro que lhe compete - o da actualização e aperfeiçoamento de profissionais que já dispõem de qualificação básica -, situando-se assim mais no domínio das actividades que as empresas promovem e custeiam do que no das funções que ao Estado pertence manter.

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IV

Conclusões

49. A subsecção de Ensino, da secção de Interesses de ordem cultural, em harmonia com as considerações anteteriores, formula as seguintes conclusões:

a) Exprime plena concordância com os critérios prioritários afirmados- no projecto do III Plano de Fomento e com o relevo que neles é atribuído ao ensino e à investigação;
b) Congratula-se com o aumento das verbas que são destinadas à resolução dos problemas educativos;
c) Entende que o capítulo x, que deveria denominar-se «Educação, investigação e formação profissional», deve ser aprovado, na generalidade, com as alterações seguintes;
d) O § 2.º da secção 1.ª deve enunciar, como objectivos fundamentais:
1. O melhor rendimento da escolaridade obrigatória, a atingir através do aperfeiçoamento dos meios de estudo e das técnicas do ensino;
2. O fomento e a orientação da escolaridade facultativa, a incrementar pelo estabelecimento de condições que permitam o prosseguimento dos estudos aos jovens que para isso revelem maior grau de aptidão;
3. A reorganização dos quadros docentes, dos serviços de formação de professores, das condições do seu recrutamento e a revisão da situação do professorado, com a criação de estímulos para as carreiras docentes;
4. A reorganização do ensino médio, por forma a conseguir a formação de técnicos de nível médio indispensáveis ao desenvolvimento económico do País;

e) O § 3.º da secção 1.ª deverá conter a enumeração discriminada das providências legais e administrativas necessárias para atingir os objectivos fixados. Essas providências são:
1. Criação e reestruturação de serviços de orientação pedagógica capazes de assegurarem a melhoria do rendimento do ensino ministrado;
2. Instituição de acção social escolar, incluindo um serviço nacional de bolsas de estudo;
3. Reorganização dos serviços de formação de professores e criação de um instituto pedagógico que centralize e ordene essa função;
4. Reforma do ensino médio.

f) O § 4.º da secção 1.ª deve discriminar os investimentos programados conforme a recomendação feita no n.º 38 do presente parecer;
g) No § 3.º da secção 3.ª deve eliminar-se o n.º 3, por se tratar de matéria que deve ser prevista na secção 1.º

Palácio de S. Bento, 31 de Agosto de 1967.

José Sarmento de Vasconcelos e Castro.
Américo José Cardoso Fonseca.
Mário dos Santos Guerra.
Francisco Alberto Fortunato Queiroz.
António Sobral Mendes de Magalhães Ramalho.
Fernando Andrade Pires de Lima.
Fernando de Sandy Lopes Pessoa Jorge.
Francisco de Paula Leite Pinto.
Herculano Amorim Ferreira.
João Manuel Nogueira Jordão Cortez Pinto.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich.
José Mercier Marques.
Paulo Arsénio Viríssimo Cunha.
José Hermano Saraiva, relator.

ANEXO XII

Parecer subsidiário das subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa.

Habitação e urbanização

As subsecções de Indústrias da construção, da secção de Indústria, e de Obras públicas e comunicações, da secção de Interesses de ordem administrativa, às quais foram agregados os Dignos Procuradores António Vitorino França Borges, Fernando Andrade Pires de Lima, Fernando Augusto Peres Guimarães, João Manuel Nogueira Jordão Cortez Pinto, José Alfredo Soares Manso Preto, José Pires Cardoso, Mário Arnaldo da Fonseca Roseira, Manuel Duarte Gomes da Silva e Nuno Maria de Figueiredo Cabral Pinheiro Torres, consultadas sobre o capítulo XI «Habitação e urbanização», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emitem, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

§ 1.º Considerações gerais

1. Dispõem as subsecções, como elementos de informação para apreciação do capítulo sobre habitação e urbanização, da parte do projecto do Plano de Fomento em estudo, referente ao continente e ilhas adjacentes (III Plano de Fomento para o período de 1968-1973, inclusive), do relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho n.º 8 «Habitação e urbanização» da Comissão interministerial de Planeamento e Integração Económica, do Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, a quem foi incumbida a missão de estudar os problemas daqueles sectores, e dos relatórios dos subgrupos de «Habitação e urbanização», em que o mesmo Grupo de Trabalho foi dividido.
Trata-se de trabalhos bem ordenados, com valiosa informação, que revelam meritório esforço e proficiente aplicação, e que às subsecções merecem justa manifestação de apreço.
2. A importância que assume o problema da habitação foi reconhecida há muito tempo pelo Governo e pelos organismos responsáveis. Prova-o a série de medidas legis-

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lativas adoptadas 1 e a atribuição a numerosos serviços públicos da função de projectar e construir edifícios destinados a habitação. Ao problema tem sido dado o destaque que merece nos vários planos de fomento, em especial no Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, que lhe reservou capítulo especial.
Mantém-se esse interesse no. projecto do III Plano, que também lhe reserva capítulo próprio, e, pela primeira vez, liga-se-lhe o problema da urbanização, entendida não na acepção corrente de projecto de arranjo local de povoações de certa importância, mas, como deve ser, no de «uma disciplina de actividade intelectual aplicada e criadora, de índole complexa, científica, artística e política (conhecimento, sentimento e vontade), que se ocupa do planeamento dos espaços humanos colectivos (espaços sociais) em ligação com as infra-estruturas e equipamentos que os suportam»2.
As subsecções, cônscias da importância de ambos os problemas, aplaudem a inovação, que muito pode concorrer para encontrar a solução adequada de casos, por vezes desconcertantes, que surgem com frequência em períodos de transformação económica e social, como aquele que se atravessa.

§ 2.º A situação habitacional do País

3. Os últimos elementos estatísticos disponíveis para o estudo do problema da habitação em Portugal continental e insular são os do X Recenseamento Geral da População (1960), tomo vi, organizado pelo Instituto Nacional de Estatística. Estão, portanto, atrasados de cerca de sete anos - o que é muito -, mas, na falta de elementos mais modernos, assumem importância especial, tanto mais que, por demora da sua publicação, não puderam ser considerados nos estudos que precederam a elaboração do Plano Intercalar de Fomento.
Reproduzem-se em anexo, sob os n.ºs I, II, III e IV, os quadros que pareceram mais característicos da posição habitacional em 1960. Desses quadros deduzem-se situações. Assim; e arredondando números:
Existiam 2 357 000 famílias e ocupavam um fogo 2 111 000 famílias. Havia também 90 000 agregados familiares ocupando um fogo. O déficit de fogos era, assim, de 156 000.
Existiam 31 004 famílias sem alojamento ou com alojamento sem ser em prédio (barracas, etc.).
Havia 214 734 famílias em agregados multifamiliares e 90 750 agregados familiares, ou seja, era de 124 164 o excedente do número de famílias sobre o número de agregados.
Havia 451 128 agregados familiares habitando em fogos superlotados, considerando-se como tais apenas aqueles que com uma divisão abrigassem mais de duas pessoas, com duas divisões mais de três pessoas e com três divisões mais de cinco pessoas.
As situações mais sérias quanto às famílias instaladas sem ser em prédio verificavam-se no distrito de Lisboa (15 221 famílias, representando quase metade dos desalojados) e no distrito de Setúbal, com j 8,9 por cento.
Quanto à coabitação de várias famílias num mesmo fogo, é também o distrito de Lisboa o que se mostra menos favorecido (53,3 por cento do total), seguindo-se-lhe o do Porto, com 13,1 por cento.

4. A comparação dos números do censo de 1960 com os do censo de 1950 mostra agravamento da situação habitacional no período decorrido entre os dois censos. Assim:
Era, em 1950, de 13 200 famílias o número daquelas que não dispunham de alojamento algum, ou que estavam instaladas sem ser em prédio. Subiu esse número, em 1960, para 31 000, ou seja um aumento de 17 800 famílias. Acrescentando-se-lhe o número de agregados multifamiliares nas mesmas condições (773 com não menos do 1546 famílias), o total deve exceder 32 550 famílias em 1960, isto é, a diferença em relação a 1950 é superior a 19 000 famílias. De notar é ainda que estes números parecem subestimados, dado que um inquérito realizado pela Câmara Municipal do Lisboa alguns meses antes do censo de 1960 revelou mais cerca de 50 por cento de famílias nessas condições do que as registadas pelo censo, o que pode, aliás, ser devido a diferença de critério de avaliação ou a diferença da área considerada.
Era de 193 254 o número de famílias que, em 1950, viviam em agregados familiares; subiu esse número em 1960 para 214 734, o que representa um aumento de cerca de 21 000 famílias nessas condições.
Note-se, no entanto, que a situação no momento presente, embora continue séria, pode não ser tão má como a de 1960. De facto, como se vê pelo quadro V em anexo, vem a registar-se nos últimos anos um apreciável aumento da construção de habitações, especialmente a partir de 1958, que pouco pode ter influído os resultados do censo de 1960, e verificou-se também, devido à emigração, uma diminuição dos excedentes líquidos da população.
De notar é ainda que o censo de 1960 regista um total de 190 658 fogos desocupados, dos quais cerca de 66 000 se destinavam a arrendamento.

5. Finalmente, do quadro vi, também em anexo, deduz-se a influência dos investimentos do sector da habitação no produto nacional bruto e na formação do capital fixo e a produtividade dos mesmos investimentos. A formação bruta do capital fixo em habitações, a preços constantes, duplicou num período de dez anos, atingindo em 1964 quase 3 milhões de contos. A percentagem da formação do capital fixo em relação ao produto nacional manteve-se quase constante, mas a percentagem calculada sobre a formação total do capital fixo foi-se reduzindo, o que significa que o investimento total do País cresceu mais rapidamente do que o referente à habitação, embora tenha aumentado ligeiramente a posição dos investimentos neste sector relativamente ao produto nacional.

§ 3.º Comparações internacionais

6. Embora não seja inteiramente válida a comparação que se faz da situação portuguesa quanto à habitação com a de alguns outros países mais desenvolvidos, dado serem grandes nalguns casos as diferenças dos níveis de vida e as condições climáticas (que têm grande influência neste sector), essa comparação estabelece-se, em geral, com desfavor para a situação nacional.

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1 Para não alongar o parecer, dão-se como reproduzidas as indicações que a tal respeito constam do parecer subsidiário, sobre o projecto do capítulo homólogo do Plano Intercalar de Fomento, anexo no parecer n.º 18/VIII, de 13 de Novembro de 1964 (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1964, p. 643).
2 Relatório do subgrupo «Habitação».

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Sobre o assunto, parece às subsecções que a realidade se contém nos períodos que a seguir se transcrevem e em parte se sublinham 3:
De essencial julgamos de reter não parecer legítimo, em face da situação apresentada, que se apreciem os planos e realizações nos sectores de urbanismo e de habitação, em comparação com o que se verifica em países com capacidade de consumo três, quatro ou seis vezes superior, sem que se aplique sempre este índice de correcção. Porém, parece não haver dúvida de que só na promoção económico-social e cultural da população portuguesa se poderá encontrar a solução de base para estes como para outros problemas, convindo, nesse sentido, que o esforço a despender em cada sector contribua, sem a prejudicar, para a recuperação que se impõe.

§ 4.º Carência habitacional

7. O cálculo da carência habitacional, ou seja, do número de fogos a construir para suprir as necessidades da população portuguesa, enferma - como não podia deixar de ser - de dúvidas que surgem na interpretação das estatísticas, da falta, em alguns casos, dos próprios elementos estatísticos necessários e, de um modo geral, de interpretações pessoais, mais ou menos falíveis, embora baseadas em normas correntes.
Nota-se falta de dados, por exemplo, quanto ao número, que se sabe ser elevado, de habitações que se classificam de «clandestinas», e quanto aos números que representam os contingentes emigratórios reais, que têm importância para a determinação dos saldos demográficos, uma das bases do cálculo de carência. Quanto a critérios pessoais, eles podem levar a que se avalie o déficit carencial em 483 000 fogos, ou num número compreendido entre 108 701 e 74 961, apenas sucedendo que os números finais se assemelhem, porque são diferentes as necessidades atribuídas por cada um dos avaliadores para suprir as faltas devidas à evolução demográfica e ao estado de envelhecimento do património habitacional.

8. A primeira parcela da soma indicativa da carência habitacional refere-se aos 618 fogos que serão necessários para alojar igual número de famílias que não dispõem de habitação alguma.
Quem são estas famílias? Estarão incluídas neste número, em parte importante, famílias que vivem em condições ambulatórias - ciganos, artistas de circo, etc. Seria de interesse sabê-lo com precisão, recorrendo ao inquérito directo, na certeza de que, se é de facto aquela espécie de famílias que o condiciona, pouco valerão providências que tendam a proporcionar-lhes habitações estáveis, dadas as características ancestrais dessas populações nómadas ou as exigências da profissão.

9. A segunda parcela, mais importante - 30 386 fogos -, refere-se às famílias com habitação sem ser em prédio. O eufemismo conduz-nos directamente ao problema dos chamados bairros de lata, cancro social que aflige todos ou, pelo menos, alguns dos países em que se processa a revolução industrial.
Os documentos preparatórios do projecto de III Plano de Fomento quase se limitam a registar a sua existência, e a mostrar o seu paralelismo com os slums, bidonvilles, favelas, etc., sugerindo para solução do problema a construção de bairros provisórios, muito simples.
No entanto, como se não propuseram nem previram verbas específicas a tal fim destinadas, e como o encargo dessas construções excede a capacidade financeira das câmaras, acontecerá que tudo ficará mais ou menos na mesma - se é que se não agravará -, com ofensa para o sentimento de todos nós.
No âmago da questão não penetrou o estudo. Quem habita esses bairros? Quais as profissões que neles predominam? Há neles pessoas com actividades, embora modestas, cujas remunerações lhes permitam habitar um fogo? Ou haverá só gente sem recursos, atraída das suas aldeias, na mira de salários mais altos, por empresários sem escrúpulos, que os abandonam uma vez feita a sua exploração? Viverá neles aquela multidão de vendedores ambulantes que enxameia Lisboa e os centros mais importantes do País? São tudo interrogações a que não se dá resposta e que importa esclarecer, porque talvez tenham remédio com medidas de profilaxia social e educativas, mais próprias do que disposições consequentes, violentas ou não, que têm o grave inconveniente de ferir interesses que se deixaram criar à vontade e de ofender sentimentos elementares de humanidades.
As subsecções não podem fazer mais do que chamar a atenção para o candente assunto, mas fazem-no com insistência, na certeza de que o problema merece e tem de ser estudado. Quanto ao saneamento físico desses bairros, relembra-se o que sobre o caso já se escreveu sobre a necessidade de acudir a essa situação 5.

10. A terceira parcela, maior ainda -100000 fogos-, refere-se às famílias que vivem em partes de fogo, ou seja, aquelas que coabitam com outras, criando problemas de promiscuidade, indesejáveis sob todos os aspectos. O problema - como foi dito - assume maior importância nas cidades de Lisboa e Porto. A distribuição das famílias nessas condições indica-se no quadro VII, em anexo.
E de notar, porém, que vários factores com influência na estatística amenizam um pouco a gravidade do problema; assim a definição que ela dá de «família», pela qual se considera como tal o aglomerado de uma só pessoa.
Acontece, pois, que muitas situações, umas más e outras suficientes ou mesmo boas, estão incluídas nesta alínea. Há a casa pequena que é habitada em más condições por duas ou mais famílias, como processo de tornar possível o pagamento da renda; há o inquilino que subloca parte da casa que arrendou, o que lhe permite diminuir os seus encargos ou até - algumas vezes - realizar um lucro; há o próprio senhorio que arrenda parte da casa que habita; e há, especialmente, o caso de famílias, habitando um fogo, que arrendam um quarto a uma família de uma pessoa - caso vulgaríssimo do estudante, do operário, do empregado, que, vivendo normalmente fora dos grandes centros tem neles um quarto arrendado, por vezes em boas condições de sanidade, para residir temporariamente.
A estatística não distingue nenhuma destas modalidades - nem sequer o locatário do sublocatário - por forma que toda a dedução numérica é possível. Reduzindo-se, por, exemplo, de um terço o número de famílias

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3 Relatório do Grupo de Trabalho.
4 Quanto a Lisboa, a sua Câmara Municipal dispõe de elementos, colhidos em inquéritos directos, que muito úteis serão para o estudo do problema.
5 Cf. o citado parecer subsidiário anexo ao parecer n.º 18/VIII da Câmara Corporativa.

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nestas condições, por deduções próprias, chega-se a uma diminuição de 24 000 famílias em todo o País, o que pode estar certo ou não estar. Perante este e outros factos, torna-se evidente a necessidade de um inquérito sociológico que complete e explique os resultados dos censos.

11. A quarta parcela - a maior (350 000 fogos) - corresponde à exigência de famílias que vivem em fogos superlotados ou em fogos sem as necessárias condições de habitabilidade e sanidade. É problema que aflige, em especial, os meios rurais, devido à menor dimensão das casas e à mais numerosa constituição das famílias, mas que existe também nos meios urbanos.
Quanto às comodidades e condições sanitárias dos alojamentos portugueses, apresenta-se um quadro - o VIII, em anexo - que indica a percentagem dos que dispõem de água canalizada, de electricidade, de esgotos e de casas de banho. Tais percentagens impressionam, por serem demasiadamente baixas, mas não podem surpreender num país de baixo nível de vida e com uma população muito dispersa, naturalmente, e em grande parte carecida de estruturas de urbanismo0.
Não deve esquecer-se, quando se apreciam estes aspectos da vida nacional, que cerca de 42 por cento da população portuguesa vive em meios rurais, onde é impossível, na totalidade, satisfazer todas as necessidades do conforto moderno e que, como em todos os países em via de industrialização acelerada, se está processando um afluxo para os grandes centros, que tenderá a reduzir substancialmente aquela percentagem. Na Inglaterra, por exemplo, ela já desceu para menos de 25 por cento, habitando em povoações de mais de 5000 habitantes quase 75 por cento do total da população7. Haverá a atender, também, à relutância que as populações rurais muitas vezes manifestam contra a introdução de melhoramentos destinados a beneficiar as condições de vida, geralmente por rotina ou falta de cultura, mas algumas vezes por fraqueza económica ou mesmo necessidade. Compreende-se quê num país que apresenta um déficit de matéria orgânica avaliado em 25 milhões de toneladas por ano, um agricultor veja com desamor instalar um sistema de esgotos que, em geral, deixa sem possibilidade de recuperação um volume importante de massas orgânicas.

12. Somando as várias parcelas indicadas, chega-se a um déficit carência! de alojamentos de 483 000 fogos, que não se afasta muito do número indicado nos trabalhos preparatórios do Plano Intercalar de Fomento - 498 0002. Há, no entanto, que considerar ainda o número de fogos necessários para satisfazer o aumento da população e o movimento migratório. Julga-se que ele deve ser da ordem de 31 000 fogos por ano, dos quais cerca de 20 000 nos centros urbanos de atracção.

13. Apontaram-se no decorrer da precedente exposição as dúvidas e as influências devidas a critérios pessoais que condicionaram o cálculo dos números apontados. Nessas condições, as subsecções só podem aceitar estes números com as naturais reservas, embora reconhecendo que há falta de elementos para os indicar com exactidão. Mas o que, sem dúvida, reconhecem é a acuidade do problema e a necessidade de o resolver.

§ 5.º Necessidades anuais de reposição

14. Para suprir as carências apresentadas num período de dezoito anos - o da duração de três planos de fomento - seria necessária a construção anual de 00 000 a 70 000 fogos, cujo custo, incluindo os acessórios (acessos, águas, esgotos, espaços verdes e diversos), se estima em 12 milhões de contos durante o III Plano de Fomento, ou seja, em média, 2 milhões de contos por ano 9.
Nota-se que tal volume de construção está dentro das possibilidades construtivas nacionais e excede relativamente pouco o que foi atingido no ano de 1965 - na ordem dos 50 580 fogos. Se se atingissem os 70 000 fogos por ano, ultrapassava-se mesmo a taxa de 7 fogos por 1000 habitantes, considerada como necessária na Europa, em média10.

§ 6.º Os problemas de urbanização

15. Os problemas de urbanização são tratados em importante trabalho preparatório do projecto do III Plano de Fomento que tem, especialmente, o> valor de chamar a atenção para questões deste sector, pouco conhecidas do público, e que, em Portugal, estão pouco mais do que enunciadas. Tendo-se iniciado os estudos urbanísticos como era então habitual - pelo arranjo local de centros importantes ou notáveis -, só recentemente se enveredou pelo estudo à escala regional, materializado no Plano da Região de Lisboa11 e nos planos, em via de preparação, do Algarve, da região de Aveiro e do Noroeste português e, à escala concelhia, nos de Leiria e Lisboa. Manifesta-se assim a necessária tendência para o planeamento nacional.
Este novo planeamento, que muito justificadamente se pretende que tenda para um plano de sentido de desenvolvimento, de distribuição de impulsos aceleradores ou retardadores e de proposições quanto ao estabelecimento das condições físicas do meio em que se processa a vida, terá de ser organizado em estreita colaboração com os sectores económicos e perfeitamente integrado na política social, financeira e administrativa que superiormente for definida pelas leis e pelos órgãos competentes. E ele a que se chama inter-regional ou territorial - não é auto-suficiente e terá de caminhar em paralelo com o sector dos estudos económicos - acentua-se -, na certeza de que ambos terão de ser considerados para a elaboração do plano nacional, objectivo a atingir.

16. A primeira dificuldade que se opõe à elaboração de tal plano é a da falta de elementos de síntese. Apesar da existência de dados estatísticos de valor, a matéria a versar nem sempre está sistematicamente inventariada, ou mesmo registada, de maneira a permitir uma avaliação exacta.
Impõe-se, assim, recolher todos os elementos dispersos que existam, especialmente nos arquivos da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, e criar, logo que possível, um serviço permanente de informação e estatística no campo urbanístico, talvez pela especialização de um

___________________

Segundo os estudos preparatórios do capítulo «Melhoramentos rurais» para o projecto do III Plano de Fomento, existiam, no final de 1965, 5807 lugares com 100 ou mais habitantes, num total de 13397, ainda por electrificar; para o mesmo total apenas 1600 lugares estavam regularmente abastecidos com água canalizada (e mais 3530 com abastecimento por fontanários); quanto a esgotos, apenas 200 aglomerados dispunham de redes completas.
7 Relatório do Grupo de Trabalho.
8 Quadro VIII do relatório cit.
9 Não se diz, mas há que inferir que se trata de verbas a cargo dos sectores estaduais ou paraestaduais.
10 Relatório do Grupo de Trabalho.
11 Apreciado pela Câmara Corporativa, no seu parecer n.º 7/IX, de 7 de Maio de 1967 (Actas da Câmara Corporativa, IX Legislatura, n.º 51, p. 469).

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sector próprio do Instituto Nacional de Estatística, e organizar inquéritos conduzidos por pessoal competente e especializado.

17. Quanto ao tecido urbano dos pólos de desenvolvimento, reconhece-se que a situação nacional apresenta vantagens, sob esse aspecto, sobre países de antiga industrialização, mas recomenda-se que tal tecido deve ser preparado por forma a evitar o seu precoce envelhecimento. Aponta-se, a propósito, a importância das vias de comunicação, das densidades populacionais e do espaço necessário para o desenvolvimento, o elemento das operações urbanísticas que «rende mais e a mais longo prazo»12.
Quanto ao problema da concentração ou disseminação das actividades secundárias, parece que poucas dúvidas pode haver quanto à vantagem de uma política de distribuição centralizada em pólos (combatendo a existência do pólo único), especialmente quanto a instalações de grande volume e de forte exigência de mão-de-obra. Não se vê impedimento quanto à instalação nos centros secundários do artesanato e da pequena indústria, quando não incómoda, mas tudo subordinado à condição fundamental de equipar devidamente os locais para onde se queira atrair a indústria, para o que se impõe investimentos na compra de terrenos, encontrando-se, se possível, processo de contratar com os seus proprietários aquisições a longo prazo.

18. Há, também, nos trabalhos preparatórios, uma série grande de mapas e quadros que revelam a situação actual e a sua recente evolução. Embora o seu interesse, para não alongar demasiadamente o parecer dão-se apenas alguns elementos mais característicos:

a) Verbas despendidas nos anos de 1960 a 196í através do Ministério das Obras Públicas e dos municípios a que se deu comparticipação nos principais melhoramentos:

Contos
Em estradas e pontes rodoviárias .............. 3 365 168
Em obras de hidráulica, fluvial e marítima .... 1 048 577
Em obras de infra-estrutura ................... 2 358 352
Em edifícios (habitações, ensino,
assistência, etc.) ............................ 2 759 877

b) Verbas despendidas, nas mesmas condições, com obras concluídas no ano de 1965:

Contos

Estradas e pontes rodoviárias .......... 177 628
Abastecimento de águas ................. 49 003
Saneamento ............................. 2 445
Electrificação ......................... 18 534
Viação rural ........................... 120 287
Arruamentos ............................ 27 991
Hidráulica fluvial e marítima ..... ..... 49 003
Habitação ............................... 32 451
Escolas primárias ....................... 67 263
Escolas técnicas ........................ 4 069
Liceus .................................. 12 067
Escolas superiores ...................... 19 741
Outros estabelecimentos de ensino ....... 1 672
Estabelecimentos de saúde e assistência.. 45 628
Igrejas e seminários .................... 22 730
Turismo, recreio e desportos ............ 16 564
Estabelecimentos culturais e monumentos 40 950
Instalações de serviços ................ 59 111
Forças armadas ......................... 9 587
Estabelecimentos prisionais ............ 2 983

19. Dado o seu especial interesse no momento presente e o seu reflexo no problema da habitação, apresenta-se o quadro IX, em anexo, que indica .º movimento emigratório no período 1951-1960 (movimento de atracção e repulsão populacionais, por distritos) e, para o período 1960-1964, o movimento por naturalidades. Não inclui, naturalmente, a emigração clandestina, que se diz ter sido especialmente importante no começo da década.
Dos efeitos da emigração, e a partir de uma população no continente, em 1960, de 8 255 000 habitantes, deduziu-se no estudo preparatório que o crescimento populacional a prever durante o período de duração do III Plano de Fomento corresponderá a pouco mais de 250 000 pessoas, números redondos, na base, que se dá com todas as reservas, de que a taxa de crescimento não exceda 0,5 por cento, inferior à que se registou no decénio de 1940-1950 (0,89 por cento) e no decénio de 1950-1960 (0,57 por cento). Tal facto pressupõe que a emigração para o estrangeiro e as saídas para o ultramar, no período de duração do Plano, levem do País cerca de 180 000 pessoas.
Revela-se a incerteza de tais avaliações comparando estes números com outros que se encontram nos relatórios preparatórios. Assim, no relatório-síntese do Grupo de Trabalho calcula-se que deve ser de cerca de 70 000 pessoas por ano, no período do Plano, o acréscimo líquido da população, o que corresponde a pré ver-se um aumento total de 420 000 pessoas, a contrapor às 250 000 indicadas; a Divisão de Estatística do Fundo de Fomento da Mão-de-Obra, do Ministério das Corporações e Previdência Social, prevê, no mesmo período, um aumento de 300 000 pessoas 13; o próprio subgrupo de trabalho de «Urbanização», a partir de um quadro que manifesta as tendências actuais demográficas de povoamento e habitação, chega a 323 579 habitantes.

20. Quanto a critérios de investimento, considera-se nos estudos preparatórios que deve dar-se preferência às zonas que disponham de planeamento regional. Fora das regiões planeadas, ou de territórios planeados com preocupação de integração, o investimento é considerado aleatório e, em princípio, índice da má administração.
Porque o planeamento urbanístico regional se iniciou em sub-regiões já de si polarizadoras, resultará da aplicação deste princípio prejuízo para aquelas que estão em condições de depressão económica; para as compensar haverá que incluí-las no planeamento, tentando contrariar desequilíbrios regionais. Reconhece-se, no entanto, que forças de vária ordem impõem a aceitação de um desenvolvimento mais ou menos espalhado por todo o território, citando-se o caso de investimentos a efectuar por emigrantes regressados em boas condições económicas. Julga-se, para tal efeito, que deve preparar-se um plano de racionalização desses investimentos, impedindo a construção de imóveis em locais ermos ou dispersos, pelo oferecimento aos interessados da possibilidade de aquisição de terrenos dispondo de infra-estruturas de urbanismo (água, luz, esgotos, etc.).

12 Relatório do subgrupo «Urbanização».
13 Relatório do subgrupo de urbanização.
14 Idem.

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21. Pretende-se ainda no mesmo estudo fixar condições de preferência para a escolha dos pólos regionais e sub-regionais de desenvolvimento, que, naturalmente, terão de ser muito bem ponderadas. Sugere-se mesmo uma hierarquia de investimentos, por distritos, que também nada tem de definitiva, mas que toma em conta as condições populacionais, a área de cada distrito, o seu crescimento global e o dos seus centros urbanos, a situação habitacional segundo o seu grau de ocupação, o valor dos seus pólos urbanos como centros regionais ou sub-regionais, a emigração, a evolução do saldo fisiológico, o grau de planeamento físico, etc. Em conclusão, que não deixa de se considerar provisória e de primeira aproximação, pensa-se que a prioridade de investimentos deveria processar-se, no continente, pela seguinte ordem:

1.º Beja.
2.º Faro.
3.º Porto.
4.º Braga.
5.º Setúbal.
6.º Lisboa.
7.º Aveiro.
8.º Viana do Castelo.
9.º Leiria.
10.º Coimbra.
11.º Vila Real.
12.º Bragança.
13.º Santarém.
14.º Viseu.
15.º Guarda.
16.º. Évora.
17.º Castelo Branco.
18.º Portalegre.

22. Em nota final, reconhece-se no estudo preparatório, que se não propôs uma orientação planeada de desenvolvimento urbanístico do território, o que deveria ser a sua finalidade. A falta de bases obrigou a tentar simplesmente obter uma certa coordenação de esforços para se fazer face às actuais tendências nacionais.

§ 7.º Medidas propostas

a) No capítulo da habitação

23. Nos trabalhos preparatórios propõem-se uma série de medidas, de carácter legislativo e administrativo, as mais importantes das quais são a seguir analisadas.

24. Insiste-se neles na recomendação, já feita a propósito do Plano Intercalar de Fomento, da criação de um órgão destinado a orientar a política de urbanismo e habitação.
As subsecções, mantendo a tal respeito a opinião que já manifestaram quando apreciaram o projecto do Plano Intercalar de Fomento 15, continuam a considerar indispensável a criação de tal órgão de coordenação. A fixação e definição de uma política de desenvolvimento físico e económico, o planeamento regional e nacional, a enunciação de uma política nacional de habitação, a concentração de serviços dispersos e providos de critérios diferentes que hoje abundam - mais de vinte, dos quais pelo menos dez com funções de planeamento e construção a nível nacional16 -, são problemas de alta importância que justificam a medida.
25. Outro problema importante é o dos solos, dada a falta que há de terrenos para o desenvolvimento urbanístico e para a habitação e os preços exorbitantes que atingem os que se encontram vagos. É mesmo ele um dos factores limitativos da actividade construtiva e do custo elevado das rendas.
Já se tratou deste problema no várias vezes citado parecer subsidiário anexo ao parecer n.º 18/VIII, e por forma clara que não deixa dúvidas. O que é preciso -insiste-se é que para a sua solução as medidas a tomar não enfermem de radicalismo que lese os princípios básicos da organização social e política em que vivemos, nem firam sem compensação interesses legítimos e reconhecidos pela própria Constituição. Parece dever ser recordado como princípio de doutrina o que escreveu o Prof. Doutor Marcello Caetano:
Eu penso que o pior de todos os socialismos é aquele a que já se tem chamado o socialismo sem doutrina: um sistema que lenta e insidiosamente penetra nas instituições, vai progredindo na vida e pouco a pouco ameaça corroer os fundamentos da liberdade civil, a coberto de princípios não socialistas, possivelmente até anti-socialistas, e, portanto, sem reacção das vítimas - sem protesto e sem combate. Quando um dia os governados se apercebem da situação é tarde, o irreparável está consumado, o país encontra-se dominado pelo Estado e o totalitarismo torna-se fatal: nenhum recesso da consciência dos indivíduos escapa então à cobiça dos chefes omnipotentes.
Fala-se ainda, nos referidos trabalhos, da desenfreada especulação sobre terrenos. E um facto que ela existe e que tem de ser reprimida. Mas veja-se com atenção quem a faz, e não se aceite que possa haver duas espécies de especulações: uma legítima, outra ilegítima.

26. Ligada ao problema dos terrenos existe a questão das chamadas «casas clandestinas» - que de clandestino só têm o nome -, de grande importância, uma vez que se reconhece que são em número considerável e que se sabe que agrupamentos nessas condições abrigam populações em número superior ao de algumas cidades.
Quantos fogos terão sido construídos nos últimos anos sem licenciamento? As estatísticas nacionais não os indicam, exactamente por serem «clandestinos» e «ignorados» pelas câmaras, que são as entidades que fornecem os dados para a estatística. Paradoxalmente, no entanto, parece que se pode deduzir o seu número das estatísticas internacionais, elaboradas com dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística, por simples diferença: a estatística nacional diz que de 1954 a 1964 se construíram 283 262 fogos; a internacional diz que foram 363 100 18. Portanto, teriam sido construídos, no mesmo período, 79 838 fogos «clandestinos», ou seja, cerca de 23 por cento do número de fogos «legais», isto é, sensivelmente o quádruplo dos fogos construídos pelos organismos oficiais, públicos e semi-públicos no mesmo período.
A importância do problema requer muita atenção e soluções que tenham em conta a natureza do fenómeno.

27. Pedem-se ainda, nos mesmos trabalhos, medidas reguladoras das actividades das empresas privadas e das pessoas que se ocupam da construção de habitações. Elas

15 Cf. parecer subsidiário anexo ao parecer n.º 18/VIII, cit.
16 Cf. parecer subsidiário anexo ao parecer n.º 18/VIII, cit.
17 Cit. in Relatório da Direcção da Companhia Eléctrica das Beiras, 1966.
18 Relatório do Grupo de Trabalho.

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merecem, como já foi acentuado no parecer referido, inteira concordância das subsecções. Nota-se, de facto, falta de medidas disciplinadoras que orientem a actividade dessa indústria e nota-se que é necessário ir muito mais longe no caminho da sistematização e da pré-fabricação para se conseguirem menores custos e menores prazos de construção.
No entanto, note-se também que foi à actividade privada que se deveu exclusivamente, até há poucos anos, a satisfação das necessidades habitacionais e que ainda hoje - embora a parte que o Estado tomou nela, que no período de 1953 a 1964 se elevou a 6,7 por cento do total - não pode, por forma alguma, ser dispensada a actividade particular na conjuntura nacional.

28. O caso da demolição de prédios para reconstrução é também abordado, nos mesmos estudos, a propósito da carência de habitações de renda acessível, pedindo-se medidas mais rigorosas para evitar tais demolições.
Consideram as subsecções que o assunto tem aspectos que ultrapassam o fim em vista, uma vez que implicam com problemas de transformação e rejuvenescimento de povoações, lembrando que a modificação da legislação sobre casas de renda limitada, em especial o Decreto n.º 36 212, de 7 de Junho de 1946, tendo em conta o condicionamento das rendas, poderia vir a actualizar uma disposição de muito interesse, que o perdeu nas condições actuais.

29. De outros casos menores apontados, não parece de interesse a opinião das subsecções. Eles podem necessitar de medidas de natureza administrativa que não exigem audição especial.

b) No sector de urbanização

30. Também a disponibilidade de espaço é considerada como condição fundamental de um crescimento urbanístico harmónico e válido, a longo prazo, para as expansões urbanas, reservas naturais e zonas verdes, regionais e locais. O espaço constitui uma preocupação universal, embora assuma aspectos e gravidade diferentes nos vários países.
Para resolver o problema indicam-se, além dos processos correntes de aquisição de terrenos, expressamente regulamentados na lei, a título exemplificativo, a fixação de zonas ou suas variantes, a tornar disponíveis através do planeamento concelhio, o contacto directo com os proprietários dessas zonas, por forma a garantir a sua disponibilidade por preço justo, comprando ou contratando a aquisição a prazo. Só no caso de falharem as negociações e depois de procuradas novas variantes se proporia a expropriação ou se solicitaria do Governo uma solução - empréstimo a longo prazo, declarações de mais-valia, construção compulsória em prazos a fixar sucessivamente ou, até, fixação geral do preço, a partir do qual as mais-valias seriam calculadas ou as expropriações efectuadas.

31. Reconhece-se também a necessidade de um organismo técnico de informação directa e centralizada para apoio do Governo. Considera-se que esse organismo ou núcleo deveria estar no vórtice dos planos regionais e corresponderia ao planeamento nacional.
As subsecções já atrás manifestaram opinião sobre o assunto.

32. Pedem-se também, nos referidos estudos, medidas atinentes à formação de especialistas, de vários níveis, capazes de levarem a cabo a tarefa que se impõe.
As subsecções consideram o pedido como basilar, pois que se não improvisa pessoal com os requisitos necessários.

33. Da mesma forma que para o sector da habitação, outras providências se sugerem, que ficarão dependentes de medidas de carácter administrativo. Parece às subsecções, também neste caso, que a sua opinião é desnecessária.

II

§ 1.º O capítulo XI da projecto do III Plano de Fomento

34. O capítulo do projecto de III Plano de Fomento relativo à habitação e urbanização - o capítulo XI do título 2.º «Programas sectoriais»- é um resumo sucinto do que consta dos relatórios dos grupos de trabalho, em que os problemas se apresentam mais impessoalmente, sem agravo nem redução da sua importância, e em que se realça o interesse de que continua a revestir-se a intervenção do sector público no fomento da construção de habitações de finalidade social e a necessidade de disciplinar os investimentos privaríeis, submetendo-os às exigências fundamentais do bem comum.
Quanto à posição do sector da habitação no conjunto nacional, afirma-se que, em relação à formação bruta do capital fixo, baixaram de 20,5 por cento para 17,7 por cento, no período de 1959-1965, em termos absolutos, as percentagens anuais, e que o produto gerado pelo sector subiu no período de 1953-1964, à taxa média anual de 3,5 por cento, atingindo em 1965 um valor de aproximadamente, 3 209 000 contos. A formação bruta do capital fixo subiu, no mesmo período, à taxa média anual de 6,9 por cento, atingindo, em 1965, 3 873 000 contos.
Reconhece o capítulo que os dados do X Recenseamento Populacional (1960) são omissos relativamente a alguns aspectos importantes do sector, mas não deixa de determinar com rigor as carências actuais quanto ao alojamento; admite que a situação geral do País, quanto a esse aspecto, não melhorou sensivelmente no último hexénio, considerando como carências mais importantes as que se referem aos grupos de famílias sem alojamento, com alojamento sem ser em prédio ou ocupando partes de fogo.
A falta de terrenos em boas condições de preço é tratada no capítulo, que reconhece ser cada vez mais necessária a definição de uma política de terrenos que facilite a adopção de soluções estabelecidas segundo critérios de rentabilidade social, uma vez que a especulação do mercado se não coaduna com a necessidade de construir casas acessíveis às famílias de mais fracos recursos.
Nota, finalmente, que o desenvolvimento do sector habitacional está em íntima ligação com o problema urbanístico e, lembrando o esforço despendido nos últimos anos em estudos urbanísticos de âmbito regional, pede maior eficácia, uma vez que a maior parte das soluções neles propostas tem carácter meramente indicativo, sujeitando-se às alterações que lhes determine a acção concreta do sector privado, o qual, em muitos casos,, conserva a iniciativa das realizações e estabelece, em larga medida, opções fundamentais de política habitacional e urbanística.

35. Quanto aos objectivos a atingir, considera o capítulo que continua válida a directriz fixada para o Plano Intercalar de Fomento, insistindo para que se dê a mais alta prioridade à revisão das estruturas em que se processa a actividade do sector, uma vez que da reforma dessas estruturas dependerá o êxito da concepção e da execução de qualquer programa de empreendimentos para melhorar a situação actual.

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Concretamente propõe:

Com vista a revisão das estruturas do sector:

a) Definição das bases orientadoras de uma política global de habitação e adopção das correspondentes medidas de carácter institucional, financeiro e técnico, que permitam pôr ao serviço dessa política todos os meios humanos, materiais e financeiros com que o sector possa contar;
b) Actualização e elaboração sistemática de planos urbanísticos;
c) Estabelecimento de uma política de terrenos; e
d) Preparação de técnicos especializados e promoção da investigação de base e aplicada, bem como a difusão de conhecimentos da matéria respeitante ao sector.

Quanto a medidas de política habitacional:

a) Orientação, coordenação e estímulo da iniciativa privada no sentido da construção de habitações de interesse social, com vista ao aumento da participação dos capitais particulares na resolução do problema habitacional, particularmente pelo que respeita aos sectores populacionais de mais fracos recursos, onde, por motivos de ordem económica e financeira, se tem feito sentir quase em exclusivo a acção dos organismos estaduais e paraestaduais, naturalmente incapazes, por si só, de resolverem a situação.
Os objectivos propostos de orientação dos capitais privados para o investimento no sector da habitação social deverão concretizar-se através de medidas de disciplina, condicionamento e incentivo, como sejam a concessão de facilidades na aquisição de terrenos, designadamente de ordem judicial ou mediante a atribuição de prioridade nos planos de urbanização, e estabelecimento de condições favoráveis na obtenção de crédito, mercê de um particular regime de protecção, quando orientado para a habitação social, e a definição de normas a respeito da qualidade e custo das construções e do nível de rendas. Sem prejuízo das soluções adoptadas no sentido proposto, deverão em particular ser estudadas também medidas de ordem fiscal susceptíveis de constituir poderoso incentivo para a construção social, recorrendo, eventualmente, a sistemas de compensação, como igualmente deve ser estudada a viabilidade de adopção entre nós de fórmulas de compensação de juros sobre os capitais de empréstimo orientados pela indústria privada para a construção de habitações de índole social;
b) Coordenação do sector habitacional e do planeamento urbano;
c) Disciplina da construção civil, com vista à racionalização e normalização dos métodos de trabalho, à actualização dos processos construtivos e à estabilidade da sua actividade, relativamente aos quadros técnicos de mão-de-obra e à produção de materiais;
d) Política de terrenos, no sentido de serem estudadas e publicadas durante o período de execução do III Plano de Fomento medidas atinentes a facilitar a constituição de reservas de terrenos, aumentar a celeridade dos processos de expropriação, promover a estabilização de preços e assegurar as mais condições necessárias para incrementar a rentabilidade social dos investimentos realizados em casas de habitação e conseguir a ocupação pré-ordenada do território;
e) Promoção do planeamento urbanístico, não só nos aspectos ligados à problemática habitacional, mas também no sentido amplo do planeamento físico, a nível nacional.

36. Qualquer das medidas enunciadas merece a concordância das subsecções, de acordo com os princípios que formularam já quer no presente parecer, quer naquele que se emitiu sobre o projecto do Plano Intercalar de Fomento. Deve pôr-se em relevo, no entanto, que, em matéria de expropriações, o Governo tem dispensado o maior cuidado em aperfeiçoar o respectivo processo, designadamente no aspecto de celeridade, através de várias medidas legislativas, sobretudo o Decreto n.º 43 587, de 8 de Março de 1961 (Regulamento das Expropriações).
O que parece necessário, sobretudo, é que se defina uma política de habitação e se crie o órgão que lhe dará execução. Depois, é prosseguir nessa política, embora com as indispensáveis adaptações, por forma a retirar dela os melhores resultados.

§ 2.º Investimentos

37. Os investimentos agora previstos no sector da habitação indicam-se no quadro seguinte:

Investimentos no sector da habitação

[Ver tabela na imagem]

(a) Não se incluem as casas para funcionários públicos e dos corpos administrativos, a cargo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, por não ser possível estimar desde já as disponibilidades financeiras para esse efeito. Os planos referentes a esta rubrica serão inscritos nos programas anuais de execução do Plano. Prevê-se ainda que pelo Ministério da Justiça, através do fundos próprios, seja intensificada a construção de habitações para funcionários da justiça.
(b) Empreendimentos comparticipados pelo Estado, através da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização.
(c) Inclui a construção de casas de renda económica (10 600 fogos) e as habitações construídas, adquiridas ou beneficiadas com empréstimos concedidos ao abrigo da Lei n.º 2092 (14 400 fogos).

38. Os investimentos incluídos no quadro são destinados aos seguintes empreendimentos:

a) Os 5000 fogos a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais correspondem a «casas económicas» e serão financiados pelo Orçamento Geral do Estado (70 000 contos), pelas autarquias locais (120000 contos) e pelas instituições de previdência (570 000 contos);
b) Os empreendimentos a cargo das câmaras municipais, Misericórdias, etc., comparticipados pelo Estado através da Direcção-Geral dos Servi-

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cos de Urbanização, incluem: «habitações para famílias pobres», a construir ao abrigo do Decreto-Lei n.º 35 578, de 4 de Abril de 1946; casas destinadas aos serviços sociais da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana; habitações para o Património dos Pobres, e iniciativas de autoconstrução, referidas no Decreto-Lei n.º 44 645, de 25 de Outubro de 1962. Os investimentos previstos, num total de 470 000 contos, serão financiados pelo - Orçamento Geral do Estado (6000 contos), pelo Fundo de Desemprego (84 000 contos), pelas autarquias locais (330000 contos) e pela iniciativa particular (50000 contos);
c) Os 340 000 contos para a construção de 3600 fogos estão previstos pela Câmara Municipal de Lisboa, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 42 454, de 18 de Agosto de 1959, com financiamento próprio 19;
d) O financiamento de 330 000 contos para a construção de 3600 fogos pela Câmara Municipal do Porto está previsto que seja assegurado pela mesma Câmara (290 000 contos) e pelo Fundo do Desemprego (40 000 contos);
e) Espera-se que, no domínio da habitação rural, a construção de 4500 fogos, a cargo da Junta de Colonização Interna, seja financiada pelo Fundo de Melhoramentos Agrícolas, mediante empréstimo a obter junto do Fundo de Abastecimento, da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e de outras instituições de crédito (410 000 contos) e pela iniciativa particular (30 000 contos);
f) Os financiamentos para as Casas dos Pescadores estão previstos com empréstimos da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência (114000 contos), com contribuições das autarquias locais (20 000. contos) e por comparticipação do Fundo de Desemprego (6000 contos);
g) Os 180 000 contos indicados para a construção de habitações a cargo dos Serviços Sociais das Forças Armadas, prevê-se que sejam obtidos por empréstimo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito, e Previdência;
h) Os empreendimentos a financiar pelas instituições de previdência serão suportados por estas (2 600 000 contos), pelas autarquias locais (280 000 contos), pelo Fundo de Desemprego (280 000 contos) e pela iniciativa particular (380000 contos).

39. No domínio urbanístico, prevêem-se mais os seguintes investimentos:

a) 600 000 contos para reforço do abastecimento de água da região de Lisboa, com financiamento e realização a cargo da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa;
b) 1 200 000 contos para melhoramentos urbanos (mercados, matadouros, etc.), a financiar pelo Fundo de Desemprego (320 000 contos) e pelas autarquias locais (880 000 contos) 20;
c) 50 000 contos para organização e funcionamento do órgão central do planeamento e coordenação
do sector habitacional e dos serviços de planeamento urbanístico, com verba a inscrever, prioritariamente, no Orçamento Geral do Estado.

40. Os investimentos prioritários previstos para os dois sectores - habitação e urbanismo - são, assim, em resumo, os seguintes, em milhares de contos:

[Ver tabela na imagem]

41. Às subsecções não merecem reparos as previsões feitas, que desejam sejam realizáveis, a não ser quanto ao facto de se não ter incluído no programa de investimentos verba exclusivamente destinada a auxiliar as câmaras municipais das regiões interessadas no estudo e começo de saneamento dos chamados bairros de lata, cuja execução consideram de interesse primordial.

III

Conclusões

42. De tudo o que foi exposto tiram as subsecções seguintes conclusões:

a) Merece aprovação o capítulo XI «Habitação e urbanização», do título II «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas, do projecto do III Plano de Fomento;
b) Consideram da mais justificada urgência a criação, de um órgão central definidor da política de urbanização e habitação e coordenador do planeamento urbanístico, dos programas de habitação e dos financiamentos especiais;
c) Recomendam a concessão de subsídios vultosos para acudir à situação das famílias instaladas, em condições extremamente precárias nos chamados «bairros de lata», mesmo com sacrifício da satisfação de necessidades que se considerem menos prementes.

Palácio de S. Bento, 19 de Julho de 1967.

Augusto de Sá Viana Rebello.
Fernando Brito Pereira.
Jorge Sequeira.
Durando Rodrigues da Silva.
José Mercier Marques.
Francisco de Mello e Castro.
José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich.
António Vitorino França Borges.
Fernando Andrade Pires de Lima.
João Manuel Nogueira Jordão Cortez Pinto.
José Alfredo Soares Manso Preto.
José Pires Cardoso.
Mário Arnaldo da Fonseca Roseira.
Manuel Duarte Gomes da Silva.
João Pedro da Costa, relator.

19 A Câmara Municipal de Lisboa tem prevista a construção de mais 6000 fogos, no valor de 240 000 contos.
20 A Câmara Municipal de Lisboa prevê mais o dispêndio de 900 000 coutos em obras de melhoramentos urbanos.
Conclusões

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QUADRO I

Famílias ocupando um fogo

Distribuição por distritos

[Ver tabela na imagem]

Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

QUADRO II

Famílias sem alojamento e com alojamento sem ser em prédio

Distribuição por distritos

[Ver tabela na imagem]

Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

QUADRO III

Ocupação de fogos por mais de uma família

Distribuição por distritos

[Ver tabela na imagem]

Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

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QUADRO IV

Agregados domésticos com alojamento em fogos superlotados

Distribuição por distritos

[Ver tabela na imagem]

Nota. - Apenas fogos de 1 divisão com mais de 2 pessoas, de 2 divisões com mais de 3 pessoas e de 3 divisões com mais de 5 pessoas.
Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

QUADRO V

Construção de habitações na metrópole

(1953-1964)

[Ver tabela na imagem]

(a) Casas económicas, de renda económica, para pescadores, para famílias pobres e por via de empréstimos ao abrigo da Lei n.º 2092.
(b) Retirados os contingentes correspondentes aos empréstimos da Lei n.º 2092.

QUADRO VI

Formação bruta de capital fixo em habitação

(A preços constantes de 1958)

[Ver tabela na imagem]

Fontes: O Rendimento Nacional Português, I. N. E., 1960, para os anos de 1953-1958; Anuário Estatístico de 1961, para 1959, e Lei de Meios para 1966, para os anos de 1959-1964

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(931)

QUADRO VII

Ocupação de fogos por mais de uma família

Distribuição por centros urbanos e zonas rurais

[Ver tabela na imagem]

Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

QUADRO VIII

Agregados domésticos com alojamento em prédio, segundo as comodidades do
alojamento

Distribuição por centros urbanos e zonas rurais

[Ver tabela na imagem]

Fonte: X Recenseamento Geral da População, I. N. E., tomo VI.

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1662-(932) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO IX

Emigração

[Ver tabela na imagem]

Fontes: Anuários demográficos, I. N. E., e Análise Social, vol. II, n.ºs 7 e 8, p. 556.

ANEXO XIII

Parecer subsidiário da secção de Interesses de ordem epiritual
e moral

Saúde

A secção de Interesses de ordem espiritual e moral, à qual foram agregados os Dignos Procuradores Joaquim Trigo de Negreiros e Pedro Mário Soares Martinez, consultada sobre o capítulo XII «Saúde», do título li «Programas sectoriais», da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer subsidiário:

I

Introdução

1. É a segunda vez que num plano de fomento se inclui um programa especial de saúde, entendida esta num sentido suficientemente amplo para englobar a assistência social.
«Da importância dos problemas sanitários» - diz-se no capítulo XII «Saúde», do título II «Programas sectoriais», do projecto do III Plano de Fomento - «decorre a necessidade, crescente e largamente sentida, de assegurar o seu enquadramento no desenvolvimento económico-social do País, bem como o reconhecimento da prioridade inerente à saúde, simultaneamente objectivo e factor de progresso.
Esta orientação emana da própria Constituição Política, que impõe ao Estado a defesa da saúde pública e a melhoria das condições das classes mais desfavorecidas (artigo 6.º) e enumera em primeiro lugar, entre os direitos, liberdades e garantias individuais, o direito à vida e integridade pessoal (artigo 8.º).
Os serviços sanitários têm, pois, de cobrir toda a população, independentemente das disponibilidades económicas dos indivíduos.

2. A concretização de tais princípios, tantas vezes proclamados, encontra em todos os países, mesmo nos mais progressivos, efectivas limitações. Neste domínio, as necessidades ultrapassam sempre as disponibilidades.
O extraordinário progresso científico da nossa época abriu perspectivas muito vastas à medicina, que se encontra, cada. vez mais, em condições de melhor ocorrer às carências da pessoa humana.
Da evolução operada resultaram concepções diferentes nos sistemas de trabalho e técnicas hospitalares, maior e mais diversificada preparação profissional, aparecimento de novas terapêuticas, instalações técnicas muito complexas e estruturas administrativas de novo estilo. Como é evidente, a tão largo incremento de possibilidades corresponde enorme sobrecarga de custos.
E são difíceis de praticar compressões. nesta matéria, já que, tratando-se de saúde e bem-estar, se apela para todos os recursos disponíveis, mesmo que constituam só lenitivo, até se esgotar a derradeira esperança. A este natural anseio do indivíduo e seus familiares acresce a generalizada consciencialização dos direitos sociais que se tem operado em nossos dias, às vezes para além de limites possíveis.
Compreende-se, portanto, que os serviços de saúde já não possam evoluir e desenvolver-se ao acaso, segundo critérios meramente empíricos. Em face da inevitável insuficiência de recursos, há que analisar as necessidades e estabelecer prioridades, o que envolve avaliação racional o metódica dos problemas a resolver.

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3. As causas que se reflectem no nível de saúde são muito complexas e abrangem, além dos meios sanitários stricto sensu, outros factores de decisiva influência, tais como alimentação suficiente e racional, educação da população e qualificação profissional, hábitos de higiene, segurança nos locais de trabalho, condições gerais de salubridade, poluição do ar e das águas, habitação e urbanização, actividades recreativas e ocupação dos tempos livres.
O bem-estar físico, mental e social é o resultado ou índice final de um grande conjunto de causas solidárias, enraizadas nos mais díspares sectores em que decorre a existência do homem.
Constituindo o progresso um todo, com interdependência dos elementos em que se desdobra, é preciso, ao definir-se um programa de saúde, ter presente a política social e económica em que este se integra.

4. O Plano de Fomento para 1968-1973, segundo se declara nas bases II e III do projecto de proposta de lei, será concebido como instrumento de programação global do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tendo, em vista a formação de uma economia nacional no espaço português e a realização dos fins superiores da comunidade, e visará a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, a repartição mais equilibrada do rendimento e a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.
Adentro daquela concepção e considerados os grandes objectivos em vista, a integração dos serviços de saúde no programa nacional de fomento define uma orientação; pois que, naquele sector, nem sempre se espera reprodutividade dos investimentos, será preciso ter em conta, além dos objectivos humanitários em presença, a contribuição das medidas sanitárias para o desenvolvimento económico-social da Nação.
São aspectos de um mesmo problema: assim como um bom nível geral de saúde é factor de desenvolvimento económico e social, a prosperidade económica de uma colectividade possibilita-lhe, em proporção correspondente, os meios materiais favoráveis à melhoria da saúde pública.

5. Depois de estabelecido, o planeamento deve ter execução rigorosa e completa, embora com a flexibilidade bastante para adaptação às modificações supervenientes.
Esta maleabilidade é indispensável mesmo quando se trata de um programa rigorosamente organizado e com base em elementos de informação suficientes, sobretudo em bons dados de estatística, para apreciação dos problemas em termos quantitativos.
Ora, o Grupo de Trabalho n.º 11 «Saúde», da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica deparou com inúmeras dificuldades por falta de estatísticas adequadas no respectivo sector.
São de prever, pois, os consequentes ajustamentos no decurso do próximo sexénio, não obstante o louvável esforço desenvolvido pelo Ministério da Saúde e Assistência e demais serviços interessados, bem como os progressos que foi possível realizar na orgânica e nos métodos de preparação deste projecto do III Plano de Fomento e a que o Sr. Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho se referiu na sua comunicação, em 30 de Junho último, aos órgãos da informação.

6. No Relatório da Execução do Plano Intercalar de Fomento (metrópole) referente ao ano de 1965 conclui-se que os maiores desvios da realidade em relação à previsão, no capítulo da saúde, ocorreram no sector dos hospitais psiquiátricos e no dos hospitais gerais. E acrescenta-se: «A natureza destes empreendimentos poderá aconselhar que seja cuidadosamente examinado, e eventualmente reajustado, o plano de trabalhos para os anos seguintes, com vista a avaliar, com o realismo indispensável, as possibilidades práticas da realização integral do Plano Intercalar, e a tomar as medidas que porventura se julguem necessárias para esse efeito.»
Em 1965, primeiro ano do Plano Intercalar de Fomento, a execução em relação ao previsto, no capítulo da saúde, foi de 68,2 por cento. E é de prever quebra desta percentagem nos anos seguintes.
As dificuldades na execução predominaram no sector das obras e derivaram quase sempre de desfasamentos entre as bases de licitação e as propostas dos empreiteiros (agravamento do custo de materiais e de mão-de-obra na construção civil), demora na elaboração de projectos e revisão de programas. Deve notar-se que, na sua maior parte, os investimentos programados para a saúde no Plano Intercalar respeitaram a obras.
Os atrasos verificados podem, nalguma medida, ser ainda recuperados no ano em curso, e o III Plano de Fomento foi estruturado de modo a incluir o que não for acabado ao abrigo da programação anterior.
Mas os elementos da experiência devem ser aproveitados durante a execução do novo Plano e a concomitante preparação do seguinte, tendo-se em conta não só as dificuldades que emanam do próprio sector, mas também as que são consequência dos condicionalismos especiais da conjuntura em geral.

7. Por outro lado, o próprio projecto em exame, ao iniciar a parte dedicada aos objectivos do programa da saúde, sublinha a absoluta prioridade dos aspectos de que depende a eficácia de toda a acção futura, os quais se resumem, fundamentalmente, nos seguintes pressupostos de ordem geral:

Adequada reorganização dos serviços do Ministério da Saúde e Assistência, designadamente pela publicação da respectiva lei orgânica, neste momento já elaborada;
Sistemática e continuada coordenação de todas as medidas respeitantes à saúde e bem-estar social das populações;
Formação de pessoal em número suficiente e criação de condições necessárias à sua fixação.

Ponderada tão clara advertência, receia-se que a programação resulte demasiadamente incerta no domínio dos pressupostos apontados e ainda de outras matérias também, pouco concretizadas (estruturação de carreiras médicas de saúde pública e hospitalar e de carreiras de enfermagem hospitalar, de saúde pública e ensino; reorganização geral dos hospitais, mediante a publicação do Estatuto Hospitalar e do Regulamento Geral dos Hospitais).
Necessariamente, parte importante das realizações foi prevista com base em providências ainda não definidas; mas, considerados a importância e o melindre de alguns dos assuntos em causa, é de supor que essas providências, ao atingirem a sua última forma, tenham sofrido alterações sensíveis.
E acresce que tudo isto demanda tempo, o que representa grande inconveniente quando se advertiu que da prévia concretização daqueles pressupostos depende a realização dos objectivos e projectos para o período do Plano.

8. Terá de recorrer-se, portanto, às medidas previstas, com sentido, exacto das realidades, para assegurar a integral execução do III Plano de Fomento.

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Segundo se vê da base VI do projecto de proposta de lei, haverá programas anuais de execução, a aprovar pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, e proceder-se-á a revisão do Plano, até final de 1970, para o seu 2.º triénio.
E, conforme anunciou o Sr. Ministro de Estado na sua citada comunicação, manter-se-ão em funcionamento os grupos de trabalho da Comissão Interministerial, cabendo-lhes acompanhar de perto, em colaboração com o Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, a forma como irão tomando corpo as projecções adoptadas e ainda informar sobre a permanência dos objectivos e esquemas de actuação fixados no início do Plano, com vista a eventuais correcções e ajustamentos que, anualmente, haverá oportunidade de fazer.
Também o Governo se propõe, nos termos da base IX do projecto de proposta de lei, prosseguir no aperfeiçoamento da cobertura estatística do espaço português e criar, sempre que necessário, órgãos técnicos para acompanhar a execução do Plano nos Ministérios e Secretarias de Estado.
A secção formula o voto de que o Ministério da Saúde e Assistência venha a dispor, quanto antes, de um serviço especial de planeamento, tanto mais que o respectivo sector vai beneficiar, no investimento agora programado, do acréscimo de cerca de 200 por cento em relação ao Plano Intercalar de Fomento.

II

Análise da situação actual no sector da saúde

9. Para se avaliarem os meios financeiros destinados a saúde e assistência, importa analisar, no seu conjunto, os gastos globais da Nação efectuados naquele sector.

10. Pelo mapa seguinte pode ver-se a evolução de tais gastos em contos, ano a ano, em relação ao Ministério da Saúde e Assistência e aos outros Ministérios, com indicação das respectivas, percentagens:

[Ver tabela na imagem]

No período de 1959-1965 verificou-se um acréscimo dos valores absolutos da despesa, que passou de 1 013 413 contos (1959) para 1 897 100 contos (1965), o que, aliás, não excede 2 por cento do rendimento nacional, percentagem bastante inferior ao que se considera desejável.
Aquela evolução, porém, não pode medir-se simplesmente pelos valores em confronto; como se ponderou no parecer subsidiário desta mesma secção sobre o capítulo IX «Saúde» da parte referente ao continente e ilhas do projecto do Plano Intercalar de Fomento 1, também é preciso ter em conta a pressão demográfica, a evolução do poder de compra do escudo, o aumento de custos específicos de grande parte dos bens de produção externa a utilizar pelos serviços, os efeitos das concentrações urbanas e outros factores ainda.
Assim, parte apreciável dos aumentos praticados resulta comprometida pela influência dos parâmetros conjunturais referidos.
Examinando em pormenor os índices indicados, conclui-se que no ano de 1965 o Ministério da Saúde e Assistência participou nos gastos públicos em saúde na percentagem de 50,6 por cento, concorrendo a agravante de essa taxa traduzir uma tendência regularmente decrescente (76,6 por cento em 1959).
Em relação aos outros Ministérios, a taxa correspondente, no período considerado, cresceu de 23,4 por cento para 43,4 por cento do total.
A contribuição do Tesouro para o Ministério da Saúde e Assistência tem vindo a diminuir relativamente, diminuição que não é, mesmo, absoluta por efeito do quinhão do rendimento das apostas mútuas desportivas atribuído à assistência a diminuídos físicos.
É, pois, evidente que continua a acentuar-se a dispersão das actividades de saúde por serviços estranhos ao respectivo Ministério.
Ora, tal fenómeno não se harmoniza com a orientação que levou a criar o Ministério da Saúde e Assistência em 1958.
Na verdade, embora se compreenda que, dada a interpenetração dos assuntos, se mantenham noutros departamentos, em casos especiais, serviços estranhos à sua natureza e, até, possa condescender-se em que, por razões de mera oportunidade, se não devessem efectivar desde logo todas as transferências para o sector próprio, justifica estranheza que, criado o novo Ministério, não se tenha concentrado nele o principal esforço .na manutenção e melhoria dos serviços de saúde e assistência.

11. Aos valores gastos pelo Estado em actividades de saúde e assistência acresce a participação das instituições privadas.
A importante acção que estas exercem não pode ser avaliada simplesmente pelas quantias que movimentam. A dedicação de tantos que nelas servem em regime de voluntariado alarga extraordinariamente a contribuição efectiva do sector particular.
Utilizando o que fica registado em números, insere-se em seguida o mapa estatístico das receitas das instituições particulares de assistência em 1964.

1 Parecer subsidiário anexo ao parecer 18/VIII acerca do projecto de Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 (Câmara Corporativa, Pareceres, VIII Legislatura, 1964, II vol., p. 704).

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[Ver tabela na imagem]

Os dados estatísticos de que se dispõe não facilitariam a organização de um mapa referido a despesas das instituições particulares. Mas, como é sabido, essas instituições! não acumulam saldos e quase sempre os subsídios do Estado vêm cobrir os deficits dos respectivos orçamentos.
Por isso, o montante das receitas, neste caso, corresponde ao das despesas efectuadas, salvo algumas excepções sem relevância estatística.
O total das receitas - distribuído no mapa por distritos - atingiu no ano em referência 816 480 contos, importância exígua se se considerar a extensa rede de obras e estabelecimentos a cargo das instituições particulares de assistência. Essa exiguidade explica-se pelos serviços gratuitamente prestados e pela estrita economia que, em geral, se pratica.
A referida verba de 816 430 contos cumpre abater os subsídios do Estado, que, adicionados aos das autarquias, atingem 27,2 por cento daquele montante e que já foram abrangidos nos gastos efectuados pelo sector público.

12. Finalmente, devem mencionar-se ainda os gastos com a saúde e assistência efectuados através de estabelecimentos oficiais e do sistema da previdência.
As receitas dos estabelecimentos oficiais de saúde e assistência no ano de 1964 totalizaram 694 651 contos, mas esta importância é constituída, na sua maior parte, por subsídios do Estado e autarquias (83,6 por cento), sendo apenas de 113 228 contos o total dos rendimentos de bens e outras receitas próprias (16,4 por cento).
Por seu lado, as despesas de saúde e assistência efectuadas pela previdência atingiram 500 000 contos aproximadamente no ano de 1963 (419 830 contos para saúde mais 78000 contos para assistência).
O seguro social da previdência tem vindo a aumentar progressivamente as suas despesas com saúde, que duplicaram desde 1960 (245 937 contos) até 1964 (525 197 contos).
E esta tendência ascensional terá muito maior incidência nos anos seguintes, em resultado do acordo com o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos para tratamento e internamento de beneficiários, pensionistas e familiares (23 de Setembro de 1964) e, principalmente, do acordo com a Direcção-Geral dos Hospitais para internamento hospitalar de beneficiários, pensionistas e familiares em cirurgia geral e especial (a partir de 1 de Setembro de 1965 e, quanto a familiares, de 1 de Março de 1966) e internamento hospitalar de beneficiários e pensionistas em medicina geral e especializada, com exclusão da fisiologia e psiquiatria (a partir de 15 de Março de 1967).
Concorrem ainda com. estes factores o substancial, aumento no consumo de medicamentos e no recurso a meios auxiliares de diagnóstico, bem como a actualização de remunerações ao pessoal.

13. Cumpre analisar, de um modo particular, a situação quanto ao número de médicos e enfermeiros, não só por se tratar de um dos mais importantes indicadores tradicionalmente utilizados, mas ainda porque a execução de qualquer plano de saúde depende essencialmente do concurso de médicos e enfermeiros em número suficiente.

14. A seguir se apresenta um mapa estatístico com a evolução quantitativa dos médicos em Portugal no decénio de 1955-1964 e a correspondente indicação do número de habitantes por médico:

[Ver tabela na imagem]

Verifica-se que, no período considerado, o número de médicos sofreu algumas oscilações, não se afastando, todavia, de modo flagrante, do mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (l médico por 1000 habitantes).
Pelo mapa seguinte, abrangendo um conjunto de países europeus, pode estimar-se a situação relativa do País - segundo dados do Anuário Estatístico da O. N. U., 1964- quanto ao número de médicos de que dispõe:

[Ver tabela na imagem]

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É certo que não devem aceitar-se pura e simplesmente os mínimos internacionais recomendados (quanto a enfermeiros: 1 por 500 habitantes), sem se apreciar se, em face do condicionalismo de cada país, são deficientes ou excessivas aquelas indicações.
Mas já no projecto do Plano Intercalar de Fomento se dizia que, embora o número de médicos se aproximasse da suficiência, se se aceitasse como satisfatório o índice de um médico por 1000 habitantes, há que reconhecer que esse índice se encontra ultrapassado em muitos países da Europa.
Apesar da justificada reserva que inspiram os elementos estatísticos disponíveis, é de concluir que, não obstante o acréscimo populacional, houve em Portugal, no decénio de 1955-1964, uma redução do número de pessoas por médico da ordem de 188.
Esta melhoria é, aliás, muito modesta, em face das necessidades em presença e das perspectivas que o progresso veio criar.
Mas o problema agrava-se, sobretudo, pela concentração dos médicos nos principais centros urbanos e pela falta de especialistas.
Com efeito, existe má distribuição de médicos, que se concentram principalmente em Lisboa, Porto e Coimbra e dá-se ainda a circunstância de os novos médicos se fixarem preferentemente nos grandes centros urbanos. E a percentagem de especialistas é bastante reduzida; a sua distribuição no total, e segundo as especialidades, acusa grande assimetria.
É o que pode documentar-se através dos mapas respectivos (ano de 1964):

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

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15. A situação quanto a pessoal de enfermagem em serviço no ano de 1964 pode avaliar-se, grosso modo, pelo exame do mapa que segue:

[Ver tabela na imagem]

Mesmo adicionando ao número de enfermeiros o de auxiliares de enfermagem, apenas se apura a relação de 1027 habitantes por unidade, o que revela enorme insuficiência, agravada pela circunstância de os auxiliares de enfermagem se terem formado em muito maior proporção.
Com base no mínimo aconselhado de 500 habitantes por unidade, o capítulo em estudo computa o déficit nacional em cerca de 9000 profissionais de enfermagem.
A verdade é que a situação assume enorme gravidade, pois muitos serviços funcionam com clamorosas carências e há outros que não é possível manter ou iniciar por falta de pessoal de enfermagem.
E também se registam acentuadas assimetrias na repartição geográfica, r e velando-se piores as situações nos distritos de Beja, Bragança, Leiria, Viana do Castelo e Viseu.
São de louvar as medidas que para ocorrer a este problema o Ministério da Saúde e Assistência tomou no tocante a remodelação dos cursos de enfermagem, criação de novas escolas e atribuições de bolsas de estudo.
Mas persiste, apesar de outras providências já adoptadas, o desnível das retribuições atribuídas, problema que está na base da falta de médicos e, sobretudo, de enfermeiros, bem como da sua má distribuição.

16. O capítulo em exame, na alínea que consagra à saúde pública em geral, ocupa-se das questões referentes a salubridade, doenças contagiosas e parasitárias.
Cumpre salientar que se torna necessária uma enérgica acção de saneamento, mais ainda nos meios rurais, não obstante tildo o que durante os últimos anos o Estado e as autarquias locais têm realizado nesse domínio.
São grandes as deficiências em abastecimento de água, e em muitos casos a população dela se fornece por forma que não garante sequer a potabilidade. Faltam redes de esgotos em condições convenientes, os quais normalmente são lançados no mar próximo de zonas frequentadas ou nos cursos de água sem adequado tratamento. Continuam a existir estrumeiras municipais.
Ora, a salubridade -que vem considerada noutros capítulos do projecto do III Plano de Fomento - constitui uma infra-estrutura que condiciona o êxito dos empreendimentos que possam fazer-se em saúde pública. Só deverão alargar-se os programas em benefício directo da saúde na medida em que se assegure esse requisito de base.

17. No que respeita às doenças infecciosas, registaram-se alguns progressos, embora persista, em geral, a má situação relativa do País em comparação com o conjunto europeu.
Mantêm-se erradicadas a varíola e a raiva e verificou-se sensível melhoria nos domínios da poliomielite, difteria, tétano e tosse convulsa.
A gradual elevação do nível de vida das populações, a consequente difusão das práticas de higiene e as campanhas de vacinação e de educação sanitária intensificadas ultimamente pela Direcção-Geral de Saúde permitem confiar em que irão acentuar-se resultados mais decisivos no combate às doenças evitáveis.
Mas estes programas terão o seu êxito comprometido, especialmente no que se refere às febres tifóides e para tifóides, se não forem acompanhados do saneamento das regiões atingidas e de uma melhor fiscalização dos géneros alimentícios.

18. No âmbito das doenças parasitárias há muitos casos (mais de metade verificados em crianças) de ancilostomíase rural, associada ou não a outras doenças parasitárias intestinais, e é muito elevada a infestação de helmintíases, podendo estimar-se em cerca de dois milhões o número de infectados no meio rural só com Ascaris lombricoides.
Encontram-se erradicados do continente o paludismo, a bilharzísse e a ancilostomíase mineira, que constituíam até há pouco graves problemas de saúde pública.
Também foi erradicado o mosquito transmissor da febre-amarela (Aedes aegypti), o que permitiu abolir as medidas de quarentena que tinham de ser impostas aos indivíduos vindos de regiões, como o Brasil, onde a febre- amarela é considerada endémica.
Mas tornou-se necessário exercer uma activa vigilância sanitária sobre os indivíduos regressados do ultramar, muitos dos quais são portadores de parasitas causadores destas doenças de origem tropical.

19. O capítulo em estudo do projecto do III Plano de Fomento informa que está a preparar-se, com vista ao desenvolvimento da investigação aplicada, o projecto para o novo edifício do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, «não tendo sido possível caminhar mais rapidamente em virtude das dificuldades surgidas quanto à sua localização e da necessidade de preparar um programa cuidado». No Plano Intercalar de Fomento previam-se 35 000 contos para a reorganização daquele Instituto.

20. A mortalidade infantil (óbitos de crianças com menos de um ano por 1000 nados-vivos) é um dos índices mais desfavoráveis ao País:

[Ver tabela na imagem]

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No parecer da Câmara Corporativa sobre o Estatuto da Saúde e Assistência, de 22 de Maio de 1961 2, observa-se que «a elaboração da estatística sem ter em consideração, como acontece em outros países, as crianças falecidas antes do registo, que pode efectuar-se no prazo de três dias, faria baixar sensivelmente as nossas taxas de mortalidade infantil». Como é reconhecido, porém, este ajustamento de critérios não chegaria para uma inversão de situações.
Pelo mapa que a seguir se insere pode apreciar-se a importante redução que em Portugal tem sofrido desde 1955 a taxa de mortalidade infantil, embora ainda longe do nível desejado:

[Ver tabela na imagem]

E pelo mapa seguinte avalia-se como se desdobrou, com vincada disparidade, pelos distritos do continente, a taxa média de mortalidade infantil em 1964:

[Ver tabela na imagem]

A elevada taxa de óbitos no primeiro ano de vida revela omissão de cuidados de que carece o recém-nascido, má preparação das mães e das famílias para lhos dispensarem, na parte que lhes cabe, e falta de protecção às grávidas e de assistência no parto. (quase metade dos partos decorre sem assistência de médico ou de parteira).
A mortalidade infantil é, sem dúvida, um dos indicadores mais significativos na avaliação do nível de educação e bem-estar e, em especial, das condições sanitárias gerais.
Este desgaste de vidas em tenra idade (incluindo ainda as crianças de 1 a 4 anos) nem poderia interpretar-se como duro correctivo para eliminação natural dos débeis; abrange indiscriminadamente também os mais aptos.
Deve registar-se o realismo com que o Governo analisou os problemas sanitários no Plano Intercalar de Fomento e também no projecto agora em. apreciação.
Nas programações, que, além da parte técnica, incluem aspectos políticos, há, por vezes, a tentação de criar perspectivas optimistas, de modo a influenciar os menos conhecedores ou mais irreflectidos, como se a melhor fórmula, para os regimes estáveis, não fosse simplesmente a da política de verdade que, desde a primeira hora, o Sr. Presidente do Conselho definiu (Discursos, I vol., 3.º edição, p. 23).

21. Em confronto com os países europeus, Portugal ocupa boa posição no que respeita à mortalidade geral (óbitos por 1000 habitantes).
E no caso especial da mortalidade neonatal (óbitos de crianças com menos de 4 semanas por 1000 nados-vivos) o País não acusa taxa muito desfavorável (26). Os óbitos naquele período inicial após o nascimento imputam-se principalmente ao condicionalismo hereditário, ou seja a causas congénitas, dificilmente influenciáveis pela acção sanitária.
A população portuguesa tem características propícias a um bom nível, de saúde, e é com ela que terá de ser povoado o ultramar, circunstâncias que mais incitam à correcção das deficiências existentes na armadura sanitária.

22. Desde que a Lei n.º 2044, de 20 de Julho de 1950, atribuiu ao Estado a luta contra a tuberculose, a exercer por intermédio do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, aquele flagelo tem diminuído de maneira substancial. Entretanto, vieram influir decisivamente nesta luta os modernos meios de despistagem e tratamento.
Assim, a taxa dos óbitos por tuberculose do aparelho respiratório e por outras formas de tuberculose, que em 1951 atingiu 133,3 por 100 000 habitantes, baixou em 1964 para 31,8. Contudo, dadas as condições actuais, esta percentagem reputa-se elevada, devendo baixar para a ordem dos 10 por 100 000 habitantes.
Mas a pesquisa de sensibilidade tuberculínica tem revelado uma percentagem de alérgicos ainda bastante alta, o que pode ter perigosas repercussões no futuro.

23. No já citado parecer subsidiário desta mesma secção sobre o capítulo da saúde do projecto do Plano Intercalar de Fomento afirma-se que «depois, ou até a par, da saúde na primeira infância, é o sector da saúde mental aquele que, no panorama sanitário português, suscita mais apreensões».
A antigas causas, como o alcoolismo e a sífilis, vieram juntar-se em nossos dias outros factores com decisiva influência no incremento das doenças mentais, incluindo toda aquela gama de situações mais atenuadas, na forma de psiconeuroses, anomalias do comportamento, desajustamentos familiares, sociais e profissionais, atraso do desenvolvimento das crianças, etc.
Uma percentagem dos indivíduos que recorrem aos serviços de assistência social, sobretudo nos grandes meios urbanos, são portadores de afecções desta última categoria, o que explica, tantas vezes, a sua instabilidade no emprego e a inadaptação ao trabalho que revelam.
O capítulo em apreciação do projecto do III Plano de Fomento reconhece, com base nas percentagens verificadas noutros países, as nossas deficiências quanto a camas para doentes mentais e em médicos que se dedicam

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à psiquiatria, pessoal de enfermagem e pessoal técnico e auxiliar de outras especialidades.
Apesar da premência que o problema reveste, dado o crescente efeito no nosso meio das causas que modernamente motivam a expansão de doenças desta natureza, a defesa da saúde mental não poderá processar-se em termos óptimos ainda nos próximos anos, porque depende, mais do que dos meios financeiros, da preparação de especialistas qualificados. Basta recordar que a formação de um médico psiquiatra exige sete anos de curso universitário e cinco anos de estágios (geral e complementar).

24. Não se dispõe de uma informação estatística para segura avaliação da morbilidade cancerosa em Portugal.
Com base, porém, na observação de doentes no Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, é possível afirmar que o aumento da frequência cancerosa é real, embora deva considerar-se moderada em relação a outros países.
Assim, foram registados 3059 novos casos em 1964, número que tem vindo sempre a crescer regularmente desde 1945 (1300 casos). Este acréscimo de tumores malignos registados deve atribuir-se não só à difusão da doença por causas que a medicina ainda não explica satisfatoriamente, mas também à maior frequência do seu diagnóstico, para o que tem contribuído a propaganda levada a efeito com os meios de que é possível dispor.
Não está feita a cobertura oncológica do País, pelo que continua a afluir ao Instituto - com instalações insuficientes e sem o pessoal necessário - um número exagerado de doentes.

25. A assistência na doença em geral é exercida nos hospitais, maternidades e serviços médicos da previdência.
Constitui este um dos sectores em que são maiores as dificuldades. Os serviços prestados saem caros, e quaisquer deficiências de que enfermem atingem, em aspectos muito sensíveis, a generalidade da população.

26. O seguinte mapa regista os índices de funcionamento dos serviços hospitalares no decénio de 1955-1964:

[Ver tabela na imagem]

Enquanto nos hospitais centrais se mostra excedida a lotação e nos regionais se está próximo do que é normal (80 por cento), nos hospitais sub-regionais a percentagem de ocupação revela grande desaproveitamento de camas.
O aumento de procura, em escala crescente, dos hospitais regionais e centrais pode resultar, além de outros motivos, de «deficiência de meios nas unidades periféricas», segundo se diz no capítulo em estudo.
Como se explicava no Plano Intercalar de Fomento (capítulo IX «Saúde»), dos cinco hospitais centrais existentes, quatro pertencem ao Estado e outro é pertença da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Os hospitais regionais estão todos a cargo de Misericórdias, embora os edifícios que tiverem sido construídos nos termos da Lei n.º 2011, de 2 de Abril de 1964 (lei hospitalar), sejam propriedade do Estado. Os hospitais sub-regionais pertencem a instituições de assistência particular.
Depois da publicação da citada lei, a Comissão de Construções Hospitalares orientou-se no sentido da construção e remodelação de hospitais sub-regionais.
Outro rurno se seguiu rio Plano Intercalar de Fomento: continuação da construção de hospitais centrais e regionais, com vista à concentração de todos os meios técnicos adequados às suas funções, sem prejuízo da conclusão das obras em curso nos hospitais sub-regionais. E por esta fórmula de transição se passou para uma solução oposta à anterior.
No tocante à construção, remodelação e apetrechamento de unidades hospitalares, só se abrangem no projecto do III Plano de Fomento os hospitais centrais e regionais.

27. No que respeita a maternidades e aos serviços de obstetrícia nos hospitais centrais, regionais e sub-regionais, continua a verificar-se uma forte carência de camas, que eram apenas 1651 em 1965.
Num total de 223 350 partos, no biénio de 1961-1962, foram efectuados em hospitais 21,05 por cento. Seriam necessárias 2000 camas de maternidades para se conseguir uma cobertura média, conforme as zonas, de 40, 50 e 60 por cento.

28. A cobertura da previdência é exercida através dos serviços médico-sociais (trabalhadores do comércio e da. indústria) e pelas Casas do Povo (população rural).
Os trabalhadores do comércio e da indústria estão praticamente abrangidos pelos esquemas do seguro social. Apenas cerca de 20 por cento da população rural beneficia do «esquema mínimo» concedido pelas Casas do Povo.
A previdência possui ser viços, próprios; distribuídos por todo o País, para prestação de assistência clínica e de enfermagem, do tipo ambulatório, em postos, em consultórios e no domicílio.
O internamento hospitalar está regulado por meio de acordo celebrado com a Direcção-Geral dos Hospitais (n.º 12 deste parecer).

29. A assistência social supre as carências económicas dos indivíduos e proporciona a estes e às colectividades, educando e fazendo promoção social, meios para consecução de um melhor nível de bem-estar.
Os investimentos na primeira modalidade não são reprodutivos, mesmo por via mediata- ou indirecta. Assim acontece nos subsídios pecuniários ou em géneros e na assistência a inválidos ou idosos privados de ambiente familiar.
Na assistência por disfunção económica, só o Instituto de Assistência à Família e a Misericórdia de Lisboa despenderam 59 868 contos no ano de 1964.

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Vêm recair sobre os órgãos de assistência casos que deveriam encontrar outra via de recurso, como sucede com certas situações de carência económica determinada por deficiência de salário ou insuficiente cobertura da previdência. Só o progresso económico do País, considerado no seu conjunto, atenuará gradualmente estes desequilíbrios.
Não podendo prescindir-se, em face do condicionalismo presente, daquela modalidade assistência! na medida em que vem sendo exercida, convém, todavia, insistir principalmente nas formas que visam a educação e promoção social, em correspondência com a ânsia de perfeição que é própria da natureza do homem.
A concessão de subsídios constitui mero paliativo e não dá estímulo às potencialidades humanas. É uma condescendência com a fatalidade de um destino adverso.

30. No âmbito da protecção que a assistência social deve dispensar, na parte que lhe respeita, às crianças e aos jovens, o capítulo põe em evidência as necessidades no campo de educação e reabilitação de menores deficientes sensoriais ou mentais e ainda na assistência a outros menores privados de meio ambiente familiar normal.
Os estabelecimentos para o ensino especial de invisuais menores comportam presentemente 243 lugares, admitindo-se a existência de 450 invisuais em idade escolar (conforme sucede noutros países, também em Portugal a cegueira diminui nos grupos etários mais jovens).
A actual lotação dos estabelecimentos de educação de crianças surdas é de 500 lugares, requerendo-se a criação de mais 200.
Estimam-se em cerca de 27 000 os débeis mentais em idade escolar, e dispunha-se, em 1965, de 296 lugares rios respectivos estabelecimentos.
E a capacidade dos internatos para menores privados de meio ambiente familiar era, em 1964, de 12 000 lugares aproximadamente. Os sem internatos tinham, naquele ano, uma lotação de 2000.

III

Os objectivos a prosseguir

31. Os objectivos a prosseguir em saúde pública foram agrupados no projecto governamental do seguinte modo:

a) Extensão efectiva à periferia de serviços de saúde adequados;
b) Fomento da investigação e desenvolvimento da epidemiologia e da estatística sanitária;
c) Prosseguimento da vacinação e educação sanitária das populações e combate às doenças infecciosas e parasitárias.

32. Com vista à concretização do primeiro objectivo indicado, prevê-se a criação, em sedes de concelho, de uma rede de centros de saúde, «entendidos como modalidade de associação de serviços de saúde, actuando na periferia de forma a assegurar uma acção especializada, mas convergente, no sentido da promoção da saúde das populações». Este entendimento de centros de saúde não coincide com o conceito que lhes é atribuído comummente e em que não entra Dar-se-á prioridade às áreas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional.
Paralelamente, encaram-se medidas de atracção de pessoal para esses centros: eventual beneficiação e construção de habitações para médicos e criação de lares ou subsídios de fixação para pessoal de enfermagem de saúde pública sem residência no local do trabalho.
Claro que, falando-se só da criação de centros, poderia estar incluída a construção de novos edifícios, mas o montante, relativamente reduzido do investimento respectivo (15 000 contos) leva a concluir que se optou pela instalação noutras organizações locais.
Com efeito, encontrando-se subutilizados os hospitais sub-regionais, como tantas vezes se tem feito notar, seria inaceitável a construção de outra rede de edifícios para centros de saúde, sem se aproveitar completam ente o que já se encontra construído.
De resto, é esta a orientação traçada pelo Sr. Ministro da Saúde e Assistência no seu discurso de 30 de Abril de 1964:
... os pequenos hospitais sub-regionais devem, a nosso ver, ser gradualmente transformados em bons ou razoáveis centros de saúde, dotados de consultas para prevenção e para tratamento em medicina geral e nas especialidades mais correntes, desde que convenientemente assistidos pelo corpo clínico dos hospitais regionais - o que pressupõe o prévio desenvolvimento destes estabelecimentos. Podem ainda os hospitais sub-regionais servir, em regime de internamento, como pequenas maternidades locais, como centros de tratamento de doentes crónicos e de convalescentes, ou mesmo para tratar simples afecções médicas ou cirúrgicas. Nalguns casos, talvez possa também pensar-se na sua utilização como enfermarias-abrigo para psiquiatria, e noutros haverá que instalar postos de primeiros socorros, sobretudo nas áreas de intenso tráfico rodoviário.

33. A Organização Mundial de Saúde insiste em que deve dar-se preferência à prevenção. Também entre nós é essa a opinião generalizada.
Mas isto não significa que se recomende, sobretudo ao nível que estamos considerando, a separação entre as funções preventiva e curativa, que, aliás, se completam e não se alheiam uma da outra.
Não se alcança a vantagem em se propor a criação de centros de saúde na periferia, em vez de se falar claramente na instalação de serviços de saúde pública em hospitais sub-regionais já existentes.
A própria Lei n.º 2120, depois de indicar os órgãos locais de saúde e assistência - as subdelegações de saúde e as Santas Casas de Misericórdia das sedes dos concelhos -, determina que as ditas subdelegações funcionarão, de preferência, em postos instalados por acordo nos hospitais sub-regionais e que só na falta de acordo ou não existindo, hospitais sub-regionais os postos de saúde poderão ter instalações privativas (bases XX e XXI).
E, como se diz no Relatório, sobre as Carreiras Médicas (Lisboa, 1961, p. 184):

... o termo «hospital» vai prevalecer, mesmo se uma lei futura o substituir, porque está na linguagem comum e sobretudo porque o hospital numa terra pequena é um estabelecimento que lhe dá Categoria e muitas vezes tem tradições antigas enraizadas no povo.

O sistema hospitalar instalou-se e desenvolveu-se através de uma longa evolução, com origem muito antiga, e, dadas as suas características especiais, muito bem se lhe aplica a seguinte recomendação de um grupo de peritos da Organização Mundial de Saúde:
A elaboração de um plano nacional coerente de acção sanitária deve ter em conta as tradições e os serviços existentes, tal como a modernização de uma

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cidade antiga deve efectuar-se de tal modo que as novas construções se harmonizem com os monumentos históricos e outras obras de arquitectura legadas pelo passado (Série de Rapports Techniques, n.º 215, p. 6, Genebra, 1961).

34. Na linha desta evolução, o progressivo aproveitamento dos hospitais sub-regionais pressupõe melhor dotação para despesas de funcionamento.
Tendo em vista os objectivos considerados, justifica-se que, na distribuição de verbas de manutenção, o Estado subsidie mais os hospitais regionais e sub-regionais. No ano de 1966, os subsídios do Estado aos hospitais centrais, regionais e sub-regionais (incluindo, os últimos, postos médicos e hospitais locais) foram de 260 000, 22 602 e 19 098 contos, respectivamente.

35. No tocante à investigação e desenvolvimento da epidemiologia e da estatística sanitária, referem-se, no capítulo em exame, as instalações e equipamento do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, ampliação da delegação daquele Instituto no Porto, formação de investigadores e criação de novos laboratórios distritais.
Esta secção, ao apreciar o mesmo objectivo no parecer subsidiário já referido sobre o capítulo IX «Saúde» do projecto do Plano Intercalar de Fomento, observou:

a fase actual das ciências médicas e do condicionalismo geral da Nação, porém, é de recear-se que uma tentativa de reorganização do Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge seja menos oportuna. A preparação de médicos sanitaristas deverá caber ou às Faculdades de Medicina ou a uma escola nacional de saúde pública, a integrar nos quadros gerais do ensino, cumprindo contrariar, em defesa da cultura portuguesa, a tendência para cada departamento de Estado dispor, para seu serviço, de arremedos de instituições universitárias.

Entretanto, foi criada a Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical pelo Decreto-Lei n.º 47 102, de 16 de Julho de 1966, para a qual passaram as funções de ensino que cabiam ao Instituto Superior de Higiene do Dr. Ricardo Jorge, «que de futuro se consagrará apenas a actividades investigadoras e laboratoriais», conforme se explica no relatório preambular. E o artigo 22.º do citado diploma determina que a dita Escola «transitará para o Ministério da Educação Nacional quando venha a mostrar-se conveniente e possível».
O problema parece assim bem orientado; mas, admitindo que, no condicionalismo actual, não seja possível adoptar-se imediatamente melhor solução, terá de reconhecer-se, quanto à conveniência na transferência, que a mesma existe desde a organização da nova Escola e constituição inicial do corpo docente.

36. Entre os demais objectivos indicados no domínio da saúde pública, menciona-se ainda a vacinação e o combate às doenças parasitárias.
A inclusão no futuro Plano de Fomento de um intensivo combate, generalizado e em grande escala, às doenças transmissíveis, justifica-se por revestir natureza de campanha. Uma vez levado a seu termo tal programa, a luta contra essas doenças reduzir-se-á a normais proporções, e entrará, assim, na rotina dos serviços da Direcção-Geral de Saúde.
Merece inteira aprovação a intensificação de vacinações e educação sanitária, caminho em que deverá prosseguir-se, tanto mais que a situação de Portugal é muito desfavorável em relação às doenças em causa.
E é neste domínio que a acção sanitária tem maior repercussão económica e mais directamente se reflecte na aptidão das populações para o estudo e a aprendizagem.

37. Na alínea consagrada à saúde escolar prevêem-se, sem melhor explicação, acções de estudo e rastreio em diversos domínios médico-pedagógicos, através dos serviços competentes do Ministério da Educação Nacional.
A inclusão deste assunto no capítulo da saúde revela uma orientação a que se dá concordância.

38. Quanto à protecção materno-infantil, o capítulo em exame refere a ampliação da rede de dispensários e consultas, fundamentalmente em áreas rurais, com prioridade das zonas que vierem a ser abrangidas por programas de desenvolvimento regional, e a criação, em colaboração, sempre que possível, com os serviços da previdência, de creches e jardins de infância.
Os objectivos fixados para este subsector correspondem às prementes necessidades que o caracterizam e têm ainda a valorizá-los a circunstância de darem «continuidade à acção desenvolvida ao abrigo do Plano Intercalar».
Quanto às creches e jardins de infância, reveste enorme interesse a possibilidade de um novo campo de colaboração, sempre tão desejável e por vezes tão difícil de conseguir, entre departamentos diferentes. Uma dificuldade teve, certamente, de ser considerada: os serviços da previdência são contrapartida de direitos baseados em descontos que representam uma modalidade do salário ou remuneração do beneficiário; por isso, se forem prestados com os da assistência, o nível dos serviços desta é que tem de se elevar ao daqueles.

39. No propósito de aperfeiçoar e alargar a profilaxia da tuberculose, prevê-se, entre outros objectivos, uma nova orgânica dos serviços periféricos, com instalação de centros dispensariais (dispensário e postos avançados). Toda a actividade ficará a depender do dispensário, que deslocará equipas de pessoal aos postos avançados das localidades vizinhas.
E o Decreto-Lei n.º 47 608, de 25 de Março de 1967, no seu artigo único, veio determinar que «podem os estabelecimentos ou serviços dependentes do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos agrupar-se em centros antituberculosos, dotados de autonomia administrativa».
É de aprovar tudo o que se faça no sentido de reduzir a taxa de mortalidade por tuberculose a um ponto em que a doença deixe de constituir problema social, mas, é preciso ter presente que, paralelamente à redução da incidência da tuberculose, hão-de tornar-se dispensáveis estruturas administrativas e deverá acentuar-se a orientação seguida quanto à afectação já verificada de alguns edifícios a outras finalidades.

40. No campo da saúde mental, tem-se em vista a conclusão das obras do Hospital Psiquiátrico do Dr. Magalhães Lemos, no Porto, e a melhoria das instalações dos hospitais psiquiátricos existentes. Além disso, também se prevê a criação de novos centros a que serão agregados hospitais do dia, lares de convalescentes, centros de trabalhos, e estabelecimentos complementares, bem como a criação de serviços de recuperação.
Os empreendimentos neste subsector, com necessidades instantes, estão especialmente condicionados pelas limitações no recrutamento de pessoal especializado.

41. O plano a desenvolver no domínio da oncologia consiste na adaptação, ampliação e reapetrechamento das

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instalações do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, na criação de centros regionais no Porto, Coimbra e Évora e na articulação dos referidos serviços com os hospitais gerais.
Já em 1920, ao criar-se o instituto português para o estudo do cancro, se incluía entre os seus objectivos, além da. manutenção de um centro em Lisboa, a criação de outros centros regionais.
Através dos anos, evoluiu muito esta ideia inicial sobre a organização de novos centros.
E a Câmara Corporativa, no seu citado parecei sobre o Estatuto da Saúde e Assistência, apontou o inconveniente de o Instituto se manter desligado dos demais serviços hospitalares e considerou urgente a sua articulação com os hospitais, de modo a estender a sua acção a todo o País através de secções especiais de diagnóstico e tratamento, a instalar nos hospitais centrais do Porto e Coimbra e nos hospitais regionais.
Ficariam reservados para o Instituto ou para serviços especializados aqueles casos que exijam aplicação de meios terapêuticos que só ali possam ser aplicados. E sublinhava-se, ainda no mesmo parecer, que ao Instituto de Oncologia cabe papel decisivo na coordenação e orientação técnica dos diferentes serviços afectos à luta anti-cancerosa e na preparação de pessoal especializado.
Com efeito, o apoio que os hospitais gerais podem dispensar no rastreio e tratamento do cancro, incluindo intervenções cirúrgicas, tem os limites que derivam da necessidade de certas aplicações de meios terapêuticos peculiares e de alta especialidade por equipas de pessoal qualificado.
Tornam-se, pois, necessários os serviços especializados que forem indispensáveis, mas deve iniciar-se desde já a articulação dos existentes com os hospitais gerais.
Claro que esta articulação será facilitada pela execução da base XVII da Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, que determina a transferência dos serviços do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil para o Ministério da Saúde e Assistência, sem prejuízo da sua dependência do Ministério da Educação Nacional quanto à investigação científica e às funções pedagógicas.

42. No citado parecer subsidiário desta secção lamentava-se que o projecto do Plano Intercalar de Fomento não abrangesse a luta anticancerosa e a assistência às doenças cardiovasculares, estas responsáveis por um número de óbitos superior ao de qualquer outra doença.
As razões aduzidas naquele parecer mantêm-se inteiramente válidas, porquanto se «as doenças cancerosas atingem os mais diversos grupos etários, as doenças cardiovasculares, na actualidade, tendem a ferir indivíduos no início da maturidade das suas actividades produtivas».
Esta secção regozija-se com o facto de ter sido reconhecida prioridade à luta anticancerosa no projecto agoira em. apreço.
Subsiste, porém, a observação feita à omissão das doenças cardiovasculares, a que pode juntar-se o reumatismo, que, além de ter nítido reflexo naquelas, constitui verdadeiro flagelo social pela invalidez, total ou parcial, de milhares de indivíduos.
Num plano de fomento que visa o desenvolvimento económico e a produtividade do trabalho não faz sentido que se esqueça a doença que entre nós acusa maior morbilidade e ocasiona a perda de dias de trabalho superior ao motivado por qualquer outra doença.
Por isso, ao lado dos investimentos destinados, no novo Plano, a protecção materno-infantil, luta contra a tuberculose, promoção de saúde mental e oncologia, deverá inscrever-se verba conveniente para combate às doenças
cardiovasculares e reumatismais, abrangendo os aspectos profiláctico, curativo e recuperador.

43. No que respeita à assistência na doença em geral, na parte relativa a hospitais, programa-se entre os principais objectivos a construção de dois hospitais centrais (um em Coimbra e outro em Lisboa) e de quinze hospitais regionais.
Destes, nove foram já inicialmente previstos pelo Plano Intercalar de Fomento, mas nenhum, se encontra terminado. Para o III Plano de Fomento prevê-se a conclusão dos que estão a acabar-se (Beja, Bragança e Funchal) e a construção dos que não ultrapassaram a fase de projecto ou início das obras (Faro, Portalegre, Castelo Branco, Viana do Castelo, Aveiro e Évora), bem como o começo de mais seis hospitais (Chaves, Lamego, (Guarda, Vila Real, Viseu, e Santarém).
Considera-se ainda a continuação de obras de remodelação e ampliação de alguns hospitais centrais em Lisboa (D. Estefânia, Santa Marta e S. José) e a construção de uma lavandaria geral para os Hospitais Civis de Lisboa.
Merece inteira concordância a conclusão das obras em curso ou para melhoria dos serviços hospitalares existentes, independentemente da categoria do hospital a que respeitam.
Não se justifica, porém, a construção em Lisboa, durante o período do Plano, de mais um hospital central, para além das remodelações e beneficiações previstas e da substituição da Maternidade de Magalhães Coutinho.
Em primeiro lugar, como se escreveu no capítulo em apreciação, «das três zonas em que se encontra dividido o sector hospitalar da metrópole, é a zona sul que dispõe de melhor cobertura global (8 camas por 1000 habitantes), sendo a zona norte a menos favorecida (2 camas por 1000 habitantes)».
No distrito de Lisboa exercem a sua actividade profissional. 3152 médicos, ou seja 40 por cento dos médicos existentes no País.
No que respeita às especialidades, os números são ainda mais expressivos, porquanto dos 2879 médicos inscritos na Ordem como especialistas, 1347, ou seja 46 por cento, exercem clínica em Lisboa.
Esta concentração de médicos constitui um problema sério, que não pode ser agravado com a construção e funcionamento de mais um hospital central na mesma cidade.
De resto, como já se acentuou no parecer subsidiário desta secção acerca do capítulo IX «Saúde» do projecto do Plano Intercalar de Fomento, «também os hospitais centrais pecam por insuficiente aproveitamento dos capitais neles investidos; bastará recordar que, com excepção dos serviços de banco, os nossos hospitais centrais só funcionam plenamente na parte da manhã, donde resulta que o equipamento dispendioso, utilizado apenas durante um período reduzido de horas diárias, quando o é, se desactualiza antes de ter fornecido o rendimento que poderia prestar».
E no que toca à construção, remodelação e apetrechamento dos hospitais regionais, esta secção, embora nada tenha a opor a que venham a ser consideradas as unidades referidas no projecto, dando-se prioridade às que correspondam a necessidades mais prementes, é de parecer que a dotação respectiva, acrescida da que vem destinada a mais um hospital central de Lisboa, se atribua genericamente a hospitais, mas sem menção expressa daqueles em que será aplicada.
Uma indicação completa e imperativa é processo demasiadamente rígido. As dificuldades que surgem numa certa localidade ou que podem esbater-se noutra, as situações

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relativas das diferentes zonas interessadas e a evolução das conveniências a considerar são elementos muito modificáveis.
Além disso, não pode esquecer-se que um dos grandes objectivos do III Plano de Fomento consiste na «correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento».
Ora, qualquer política de fomento regional que vise a atenuação das disparidades existentes pressupõe as infra-estruturas necessárias à sua execução, contando-se entre estas as que se destinem à expansão- da indústria e de serviços que, como os da saúde, proporcionem à população um mínimo de bem-estar e segurança social.
A maleabilidade que se preconiza permitirá encarar necessidades hospitalares que surjam em consequência de centros ou pólos a criar em execução do planeamento regional, bem como auxiliar a iniciativa privada quando o volume da sua comparticipação e as conveniências o justifiquem.
Desta forma, torna-se ainda possível considerar a construção de outros hospitais, como o hospital regional de Coimbra, complemento natural dos hospitais sub-regionais do distrito e elo de ligação entre estes e o hospital central daquela cidade previsto no capítulo. A este hospital competirá atender os casos clínicos da zona centro que os hospitais regionais não possam tratar e exercer as funções pedagógicas que lhe pertençam na qualidade de hospital mais categorizado da zona e do centro universitário em que se situa. Este hospital substituirá, sem acréscimo de lotação, o actual hospital escolar.
Assim, a hierarquia técnica em que assenta a organização hospitalar, que vai do mais simples e corrente (hospitais sub-regionais) até ao mais complexo (hospitais centrais), com a posição intermédia (hospitais regionais), ficará completa mi zona centro que tem a sede em Coimbra.

44. Além do aumento do número de camas hospitalares, preconiza-se um programa de fixação de pessoal nos hospitais da periferia e. a realização de cursos de actualização para médicos e de preparação de pessoal administrativo.
Concorda-se que, através do III Plano de Fomento, se concedam, a título temporário, aos médicos e outro pessoal qualificado, subsídios especiais de fixação nos hospitais da periferia, em proporção inversa à dimensão económica, da respectiva zona.
É preciso ter presente que, em regra, esses profissionais não prescindem de exercer complementarmente uma actividade livre. Mesmo quando se pratique o tempo inteiro, as horas sobrantes são ocupadas desse modo. As possibilidades que uma determinada região ofereça sob este ponto de vista constituem motivo de preferência.

45. Relativamente a maternidades, projectam-se revisões e ampliações de serviços, além da já referida construção de uma nova unidade para substituição da Maternidade de Magalhães Coutinho. Também se encara o aproveitamento para maternidades de camas actualmente desaproveitadas em hospitais sub-regionais e considera-se aconselhável, nalguns casos, a criação de pequenas maternidades rurais.
As soluções encaradas merecem ampla concordância, por revelarem visão realista dos problemas em presença e das condições existentes.

46. Propõe-se a criação de novas escolas de enfermagem, quer a nível central, quer regional, e não deixou de ser considerado o ensino pós-graduado do pessoal de enfermagem, incluindo cursos de actualização e especialização.
Regista-se com aplauso a constante preocupação revelada no projecto governamental em tudo o que se refere à formação de pessoal. Só é desejável que daquela situação em que a enfermagem estava entregue a simples «práticos», com limitadas habilitações literárias, não vá cair-se, por reacção, no extremo oposto, sobrecarregando-se os programas dos cursos com matérias desnecessárias ao exercício daquela profissão auxiliar.

47. Outro objectivo apontado é o da criação de lares de enfermeiras, por se reconhecer que a facilidade de alojamento constitui um atractivo na fixação desse pessoal.
É de ponderar que estas soluções de complementaridade não corrigem o desnível da remuneração de base.
Na verdade, além dos conhecidos inconvenientes quo; a experiência tem revelado, os lares beneficiam só lima parte dos servidores, pondo em situação desfavorecida quem tem encargos de família.
É certo que concorrem motivos justificativos da existência de lares como meio de ocorrer a casos especiais e, nomeadamente, logo no período inicial da carreira. Mas deste facto vai uma grande distância até à implantação do sistema como meio normal de compensação.

48. Entre os objectivos a prosseguir pela previdência, o capítulo inclui a intensificação das actividades de coordenação com os serviços do sector da saúde e assistência, designadamente através da revisão de acordos de cooperação já existentes e da eventual celebração de outros que se afigurem necessários.
Aborda-se, assim, «um dos mais importantes elementos positivos que neste momento permitem a revisão profunda que se opera no nosso sistema hospitalar». (Discurso do Sr. Ministro da Saúde e Assistência de 4 de Marco de 1967.)
Agora, no capítulo sobre a saúde anuncia-se que o esquema de internamento nos serviços de medicina também será, numa segunda fase, tornado extensivo aos familiares e prevê-se que o acordo celebrado com o Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, abrangendo as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal, seja alargado a outras áreas onde a rede de dispensários e sanatórios do referido Instituto possa assegurar adequada cobertura das necessidades da previdência neste domínio. E no preâmbulo do já mencionado Decreto-Lei n.º 47 608 considera-se imprescindível que aquele alargamento inclua também as ilhas dos Açores e da Madeira.
Espera-se poder celebrar acordos respeitantes à assistência materno-infantil e fala-se da eventualidade de futuros acordos rios domínios da psiquiatria e da oncologia.
Não obstante a forma ainda vaga como são anunciadas algumas destas realizações, registam-se com aplauso os passos que efectivamente já se deram e manifesta-se conformidade com o princípio de colaboração tão amplamente afirmado.

49. Parece que as circunstâncias presentes e a urgência das providências levam a estabelecer por sistema escolas especiais, a nível assistência!, para crianças cegas ou surdas.
Talvez fosse preferível criar junto de escolas primárias classes para ensino especial, em número e localização aconselháveis.
Os ensinamentos, em si, são os mesmos; apenas ministrados com o apoio de técnicas e material específicos. E educação não é reabilitação.

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Salvo, casos excepcionais, essas crianças a cargo da assistência frequentariam as referidas aulas e a entidade assistência! competiria, além de lhes assegurar as actividades complementares, conceder-lhes, quando necessário, o lar, na mesma linha de integração na comunidade para que tendem os outros internatos de crianças.

IV

Medidas de que depende a exequibilidade e o correcto desenvolvimento do programa da saúde

50. Com vista a assegurar a exequibilidade dos programas estabelecidos e o recrutamento do pessoal indispensável para os novos serviços, bem como a criar, no decurso dos próximos anos, estruturas que apoiem o correcto desenvolvimento do sector, o capítulo XII «Saúde» em estudo prevê um conjunto de medidas nos seguintes domínios: pessoal médico, pessoal de enfermagem, coordenação dos serviços de saúde e assistência e providências de ordem financeira.
Ao iniciar a parte dedicada aos objectivos a programar, o capítulo já destacara, entre essas medidas, aquelas de cuja prévia concretização depende a realização dos projectos para o período do Til Plano de Fomento (n.º 7 deste parecer).
E no desenvolvimento deste parecer foram abordados muitos aspectos das medidas preconizadas.

51. A política de saúde que se define merece, em geral, concordância, embora a sua aplicação na prática, atendendo à vastidão das matérias que abrange, implique uma gama enorme de questões a resolver.
É, especialmente, muito louvável o propósito do Governo de conseguir a coordenação das actividades exercidas no domínio da saúde e assistência pelos serviços dependentes dos vários Ministérios, submetendo-as a programas devidamente articulados e aprovados em Conselho de Ministros.
Um dos fenómenos característicos dos nossos tempos é a crescente interpenetração dos assuntos, com as inevitáveis sobreposições de competência.
Se a mentalidade não tiver evoluído segundo o actual estado de coisas, surge a propensão para cada departamento dispor dos serviços necessários, mesmo que revistam natureza que não lhe é própria.
Mas esta viciada tendência tem de ser corrigida pelo caminho da coordenação, não só aos níveis superiores da planificação, mas praticada também nos outros escalões, adentro da orientação superiormente definida, através do estudo em conjunto de tarefas parcelares.
Sucede que as soluções melhores são, às vezes, as mais difíceis. Mas, tornando-se indispensável para progredir acertar o passo ao novo estilo de trabalho, não pode iludir-se a dificuldade e é forçoso insistir por uma mentalização adequada, em espírito aberto e confiante.
Já a Lei n.º 2115, de 18 de Junho de 1962, atribuiu ao Governo competência para estabelecer, num plano de conjunto, a coordenação dos objectivos e realizações da previdência com os restantes sectores da política social, designadamente os da saúde e assistência.
E na base II criou um Conselho de Ministros restrito, denominado «Conselho Social», com a função de orientar a coordenação em vista.
Afigura-se oportuna a constituição de um grupo de trabalho interministerial para fornecer ao Conselho Social os estudos e elementos necessários à coordenação que lhe compete estabelecer. Idêntica missão poderia ser confiada ao mesmo grupo relativamente à intensificação dos meios de cordenação que o capítulo preconiza, em especial para os sectores da saúde e assistência, da previdência e da assistência na doença aos servidores do Estado.

52. A prevista coordenação de serviços dos vários Ministérios foi enquadrada, no capítulo, entre as medidas visando conseguir uma maior concentração de meios.
Todavia, é pela coordenação que se possibilita, precisamente, a desconcentrarão de meios, visto assegurar melhor conjugação destes e um aproveitamento mais racional. Neste sentido, os serviços funcionam segundo regras próprias e técnicas específicas, e as actividades diferentes que desenvolvem harmonizam-se e completam-se em ordem a finalidade comuns, definidas superiormente.
Menciona-se também na mesma categoria de providências a regulamentação do Estatuto da Saúde e Assistência, aprovado pela Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, pelo que respeita à orgânica do Ministério e do Estatuto Hospitalar.
Ao definir-se o sentido de tal conjunto de medidas, declara-se no capítulo em exame: «O confronto das necessidades do sector com os recursos de que se dispõe para a defesa e promoção da saúde da população revela quanto importa prosseguir no aperfeiçoamento de política de concentração de meios, na consecução dos objectivos em vista.»
Embora admitindo - até pelo que se disse acima - que apenas se prebende melhor conjugação dos meios disponíveis, o simples enunciado de uma política de concentração de meios pode originar dúvidas de interpretação, o que seria inconveniente, tanto mais respeitando a declaração ao sector em que se desenvolvem as relações entre a administração pública e uma vasta rede de instituições particulares, com autonomia e meios próprios.

53. Entre as medidas de maior alcance que se prevêem, inclui-se a estruturação de carreiras médicas de saúde pública e hospitalar e de carreiras profissionais de enfermagem, de âmbito nacional, nos domínios hospitalar, de saúde pública e de ensino.
Assim se intenta criar as condições financeiras para, na parte respectiva, se regulamentar a base XXV da Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, em que se determinou que serão estabelecidas as carreiras médicas de saúde pública e hospitalar e também as carreiras para o pessoal farmacêutico, auxiliar de medicina, de serviço social, de enfermagem e administrativo de hospitais e outros estabelecimentos de saúde e assistência.
No capítulo agora em apreço nada se acrescenta donde possa depreender-se o sentido da legislação que regulamentará neste aspecto a citada lei.
Tem, assim, oportunidade transcrever a seguinte parte do parecer já citado da Câmara Corporativa sobre o projecto de proposta que deu origem àquela lei:

Dados os inevitáveis reflexos de ordem económica e profissional e o facto de não serem previsíveis os resultados que advirão da alteração dos quadros tradicionais em que tem sido exercida a medicina, entende a Câmara que deverá caminhar-se com prudência, pois não pode deixar de ter-se em conta a autonomia das instituições que incluem nos seus esquemas a prestação de serviços clínicos e as suas possibilidades financeiras.

É muito louvável a disposição em que o Governo se encontra de finalmente, dar projecção prática ao comando legal sobre o estabelecimento de carreiras.
No projecto do Plano Intercalar de Fomento, ao definirem-se os seus objectivos, já se indicava, na alínea sobre

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assistência hospitalar, a «promoção do estabelecimento de carreiras de médicos e técnicos auxiliares». A esta indicação não correspondeu, então, nenhuma verba de investimento.
Julga-se, porém, que a estruturação de uma carreira, envolvendo condições de ingresso, categorias, promoções, direitos e deveres, etc., não tem adequado enquadramento num plano de fomento.

54. Entre as medidas. de saúde referentes a pessoal médico, encaram-se ainda a reforma do ensino médico, a revisão de sistemas de trabalho e remuneração do pessoal médico de serviços públicos, tendente ao estabelecimento de regime de tempo completo, e a atribuição de bolsas de formação e aperfeiçoamento.
Quanto a pessoal de enfermagem, insiste-se em que terão de ser levados a efeito, no mais curto prazo, programas especiais de fixação nos serviços de periferia.

55. São inteiramente de aplaudir todas estas providências. Mas, como já se disse, o problema que está na base da falta de médicos e, sobretudo, de enfermeiros é o desnível das retribuições atribuídas.
As categorias profissionais mais antigas foram mantidas no mesmo valor absoluto de retribuição, enquanto às novas profissões que têm proliferado adentro do sector se atribuíram vencimentos fixados em confronto com as remunerações actualmente praticadas na generalidade dos empregos.
A flagrante disparidade que assim se desenvolveu mais se acentuou pela evolução operada no regime de trabalho e pela exigência, nomeadamente quanto aos enfermeiros, de habilitações mais completas.
Por outro lado, o desenvolvimento do País em todos os sectores veio provocar uma aturada procura de trabalho qualificado, do que resultou abrir-se concorrência entre os serviços interessados, públicos ou particulares.
Sem dúvida que a actualização de remunerações é uma providência de ordem geral, que não pode ser tomada em relação só a um determinado sector.
Mas a hipótese é diferente quando se pretende apenas corrigir o desnivelamento daquelas categorias retribuídas ainda com remunerações fixadas numa época remota, em que o regime de trabalho e até as habilitações eram diferentes. Não se irá actualizar remunerações; tão-sòmente trazê-las ao nível das que são auferidas noutras funções paralelas e com exigência do mesmo grau de habilitações.
E nem se mostra eficaz para suprir a insuficiência de retribuição a concessão de regalias complementares, tais como a criação de lares e a pontuação estabelecida ao abrigo do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 46 301, de 27 de Abril de 1965. O facto de estas medidas não atingirem a generalidade dos servidores inutiliza-as como processo de correcção às remunerações.
Acresce que o regime emolumentar, introduzido nos hospitais através da pontuação, provoca desigualdades, ofende hierarquias, aumenta as burocracias administrativas e constitui mais um factor para concentração do pessoal nos grandes centros.
Será no progressivo estabelecimento das carreiras previstas na Lei. n.º 2120 que o reajustamento das remunerações de base encontrará integral enquadramento. Mas não é de excluir, quanto aos casos mais instantes, a adopção, desde já, de soluções escalonadas, começando-se pelo sector da enfermagem. Assim, seria possível recolher dados da experiência e diluir agravamentos de despesa. A própria lei (base XL) parece inculcar esta orientação.

56. Para reforço dos recursos financeiros a mobilizar pelo sector, prevêem-se as seguintes providências:
a) Concessão de tratamento fiscal mais favorável em relação à parte dos lucros de empresas privadas, destinada à constituição de fundações o11 à atribuição de donativos para actividades de saúde e assistência;
b) Prosseguimento da cooperação das instituições da previdência no desenvolvimento e aperfeiçoamento da política de saúde, particularmente pelo que respeita ao apetrechamento e alargamento da rede hospitalar do País;
c) Estudo da mais rentável aplicação dos fundos das instituições de assistência.

São de aprovar as providências propostas, mas tem de reconhecer-se que, exceptuada a cooperação com a previdência, as restantes são de fraca expressão na ordem financeira.

57. Tem muita importância a relação que se estabelece entre a cooperação com a previdência e o apetrechamento e alargamento da rede hospitalar do País.
Já foram referidos os acordos de cooperação celebrados e os alargamentos que SR admitem (n.ºs 12 e 48 deste parecer).
Segundo elementos existentes na Direcção-Geral da Previdência e Habitações Económicas, as quantias pagas pela previdência, por internamento em cirurgia, passaram de 9430 coutos (1965) para 75242 contos (1966).
A primeira quantia corresponde ao último apuramento anual desde a vigência do antigo acordo (30 de Maio de 1958), que abrangia só beneficiários e respeitava apenas a intervenções em cirurgia geral.
A segunda quantia regista os efeitos da entrada em vigor do novo acordo, no tocante a cirurgia, e inclui, como é óbvio, o pagamento da pontuação atribuída ao pessoal que interveio nos serviços prestados (sensivelmente 50 por cento).
E nos primeiros sete meses de 1967 as quantias pagas pela previdência, também só no domínio da cirurgia, somam já cerca de 60 000 contos, proporção que, a manter-se, elevará o total do ano para a ordem, dos 100 000 contos.
Acrescem os encargos com o internamento em medicina - que «será numa segunda fase tornado extensivo aos familiares» - e com o tratamento e internamento na tuberculose (27 725 contos no ano de 1966). Deve, ainda, admitir-se a eventualidade de futuros acordos nos domínios da psiquiatria, e da oncologia, segundo informa o projecto de capítulo.
Cumpre também ter em conta que o público só lentamente se consciencializa dos benefícios da previdência, o que prolonga no tempo a evolução crescente dos encargos com melhorias concedidas.
E, ainda nesta avaliação global, tem de ser considerada aquela reserva de milhares de doentes que constam das listas de espera, aguardando que os hospitais possam satisfazer as propostas enviadas pela Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família, ao abrigo dos acordos celebrados com a Direcção-Geral dos Hospitais.
Neste caminho - se não se estiver próximo dos limites financeiramente possíveis - não poderá progredir-se indefinidamente.
AS remunerações dos beneficiários da previdência no ano de 1966 atingiram cerca de 18 milhões de contos, a que correspondem, segundo as percentagens estabelecidas com base no Decreto n.º 45 266, de 23 de Setembro de 1963, cerca de 252 000 contos para internamento hospitalar (1,4 por cento).

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É certo que o valor absoluto das remunerações vai subindo; mas a esse fenómeno correspondem correlativamente, além do incremento da qualificação profissional média da população, maior número de candidatos ao internamento ou aumento de custo dos serviços hospitalares.
Portanto, no prosseguimento da cooperação com as instituições de providência, nos termos em que se anuncia no capítulo, têm de estar sempre presentes as duas coordenadas seguintes: crescimento praticável das despesas da previdência com internamento hospitalar e influência dessa fonte de financiamento na manutenção e extensão da rede hospitalar do País.
Seria esta uma das mais importantes missões de estudo a confiar ao grupo de trabalho interministerial, cuja criação se afigura oportuna (n.º 51 deste parecer).

V

Investimentos previstos

58. Os investimentos previstos atingem o montante de 2 337 500 contos e cobrem o período de seis anos. No Plano Intercalar de Fomento (três anos) não ultrapassavam 380 000 contos.
Multiplicando este último total, por dois encontram-se 760 000 contos, e, confrontada esta importância com a prevista para o ILL Plano de Fomento, verifica-se o aumento de 1 500 000 contos, o que patenteia a grandeza do esforço que o Governo se propõe desenvolver nos . domínios da saúde durante o próximo sexénio.
Reconhece-se o alto interesse que o sector mereceu, tanto mais numa conjuntura em que é necessário coordenar a realização desses objectivos com o esforço de defesa da integridade do território nacional (base IV do projecto de proposta de lei sobre o III Plano de Fomento).
É de louvar a orientação em que, a par da educação nacional, se pretende erigir a prosperidade da Nação com base no elemento humano, meio e finalidade do progresso.

59. A grandeza do investimento, na medida em que cresce, reclama avaliação correlativa das despesas de funcionamento.
Justificadamente, o capítulo prevê que as despesas de manutenção dos novos serviços que entrarão em. funcionamento durante o período do III Plano de Fomento impliquem a necessidade de reforçar substancialmente as dotações ordinárias do orçamento do Ministério da Saúde e Assistência, a considerar na organização dos programas anuais, por forma a tirar o melhor rendimento possível dos investimentos programados.
E já o Sr. Ministro da Saúdo o Assistência afirmara, com clareza:
Impossível se torna efectivar quaisquer planos sem ter meios regulares para fazer face às despesas pertinentes. (Discurso de 21 de Dezembro de 1965.)

Enquanto nos investimentos estritamente económicos se obtém imediata reprodutividade e o capital investido deve começar a reconstituir-se ao fim da exploração montada, os investimentos da saúde, tal como acontece com os da educação, só podem ser reprodutivos por via mediata ou indirecta.
Quando se instala um hospital, um internato, uma creche, um dispensário, etc., o grande esforço não está no investimento inicial, mas no volume de despesas da manutenção, anualmente repetidas.
Além disso, as actividades assistenciais, enquanto a cobertura não atingir plena suficiência, são expansivas, no sentido de que, exercendo-se, se alargam, constantemente, porque detectam novas carências.
Pena foi que não tivesse sido possível dispensar as contrapartidas do Ministério da Saúdo e Assistência para gastos de manutenção durante o período do III Plano de Fomento, no montante de 131 000 contos, e conseguidas à custa das verbas do Fundo de Socorro Social, dos quinhões atribuídos à assistência a diminuídos físicos e da comparticipação do Fundo de Desemprego para o Instituto de Assistência à Família.
Os aumentos que se prevêem nestas fontes de receita não são de mais para ocorrer às diferenças dos custos - a que o sector é particularmente sensível - e ao crescimento da despesa ordinária, nos domínios respectivos, com a gradual execução do III Plano de Fomento.

60. O investimento mais vultoso é, de longe, o destinado à assistência na doença em geral, 1 013 810 contos, com acentuado predomínio da parte reservada a construção, remodelação, beneficiação e apetrechamento de hospitais (720 700 contos).
Já no citado parecer desta secção sobre o capítulo IX «Saúde» do projecto do Plano Intercalar de Fomento não se excluía a hipótese de que fosse excessiva a verba então prevista para assistência hospitalar, 210 000 contos (2.10000 contos X 2=420 000 contos).
O ritmo com que tem sido executada a previsão sobre construções hospitalares (n.º 43 deste parecer) e a falta de pessoal, que não pode suprir-se entretanto, fazem recear que a mesma hipótese seja de pôr agora com maioria de razão.
Ainda se inclui a criação de escolas e de lares de enfermeiras com as verbas de 80 000 contos e de 87 500 contos, respectivamente. Afigura-se a esta secção que a diferença a mais devia ser maior e a favor da criação de escolas.
Segue-se, em ordem de grandeza, a importância de 309 000 contos atribuída à estruturação das carreiras médicas hospitalares e das carreiras de enfermagem hospitalar, de saúde pública e de ensino.
Dividindo aquele quantitativo pelos anos do III Plano de Fomento, encontram-se 51 500 contos. Deverá notar-se que o dispêndio não será igual em todos os anos, mas certamente progressivo.
Não se infere da leitura do capítulo a forma como se concretizará a aplicação daquela verba global. E, apesar das reservas que a sua inclusão num plano de fomento justifica (n.º 53 deste parecer), reconhece-se que, necessariamente, a maior parte do que se programou no capítulo pressupõe a existência daquela dotação.
Nos subsectores da saúde pública em geral, da assistência na doença em geral e da assistência social têm significativa expressão as dotações atribuídas à formação de pessoal (preparação de investigadores, educadores e outros, criação de escolas e de cursos), bem como a criação de lares e fixação de pessoal na periferia, no total de 236 805 contos.
O projectado investimento para instalação e equipamento do Instituto do Dr. E t cardo Jorge atinge 89 000 contos. Além disso, destinam-se 6000 contos para a delegação do Porto.
Aqueles 89 000 contos englobam a verba prevista e não utilizada no Plano Intercalar do Fomento, 35 000 contos, e cobrem, além da ampliação da fase inicialmente prevista, o apetrechamento técnico e o aumento de custos verificados.

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É com muito agrado que se regista a afectação de novos meios financeiros às campanhas de vacinação (12 000 contos) e de combate às doenças parasitárias (40 000 contos).
Em saúde escolar figura, no capítulo, a verba global de 87 500 contos, aqui incluída em razão dos fins em vista, que se restringem a actividades do Ministério da Educação Nacional. O mesmo sucede em relação à Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família, no concernente aos 200 000 contos investidos na previdência.
Mesmo que as disponibilidades em pessoal possam ter restringido os projectos desejados, afigura-se modesta a verba de 36 000 contos para protecção materno-infantil, onde o nosso atraso é tão evidente.
O investimento agora programado no domínio da saúde mental, em confronto com o tratamento que teve no Plano Intercalar (42 800 contos X 2=85 600 contos), aparece justificadamente bastante reforçado (208 450 contos).
O mesmo pode dizer-se em relação ao subsector da assistência social, cujo investimento no Plano Intercalar de Fomento foi de 25000 contos (25000 contos X 2=50 000 contos) e atinge para o novo Plano 119 195 contos. Mas dentro desta rubrica parece exorbitante a verba de 9000 contos para oficinas protegidas, quando, na programação dos objectivos, se cita a criação apenas de duas. Pensando no que deve ser uma oficina protegida (protecção na competição) e na conveniência de promover a instalação de outras mais, receia-se que na projecção só de duas se tenha ido além do indispensável.
Na luta contra a tuberculose operou-se sensível redução, que se filia logicamente na diminuição verificada na incidência daquela enfermidade (33 450 contos no III Plano; 52000 contos no Plano Intercalar - 52000 contos X 2=10 4000 contos).
A oncologia, pela primeira vez incluída, figura com o total de 114 375 contos, repartido pelo Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil e pela instalação de centros regionais.

61. Depois de indicar, sob a rubrica «Investimentos prioritários», todas as dotações previstas no capítulo da saúde, no referido montante de 2 337 500 contos, o projecto do III Plano de Fomento insere, de seguida, o resumo dos investimentos e dos gastos de manutenção previstos para o período de 1968-1973, de montante precisamente idêntico.
Não pode o resumo abarcar mais do que a indicação precedente, o que se demonstra até pela igualdade das duas somas.
Deve, pois, proceder-se à necessária rectificação, dispensando-se a referência a gastos de manutenção. Mas, se houver gastos de tal natureza impropriamente abrangidos nas verbas de investimento, esta secção é de parecer que conviria omiti-los na revisão final do projecto.

VI

Conclusões

62. Analisado e discutido o capítulo XII «Saúde» do projecto do III Plano de Fomento, emite-se, na generalidade, parecer favorável à sua aprovação e formulam-se, em especial, as sugestões seguintes:

I) Ao reforçar o pessoal e ao alargar instalações, como resultará da execução dos esquemas propostos, é necessário planificar a organização dos serviços, racionalizando métodos e introduzindo regras de disciplina no trabalho.
II) Concorda-se em que, através do III Plano de Fomento, se concedam, a título temporário, aos médicos e outro pessoal qualificado subsídios especiais de fixação na periferia, em proporção inversa à dimensão económica da respectiva zona, e recomenda-se que, independentemente da concessão dessa ou de outras regalias complementares, se proceda ao reajustamento das remunerações de base, sem se esperar, quanto aos casos mais instantes, pelo estabelecimento progressivo das carreiras previstas na Lei n.º 2120. Poderiam adoptar-se, desde já, soluções escalonadas, começando-se pelo sector da enfermagem. Assim, seria possível recolher dados da experiência e diluir agravamentos de despesa. A própria lei citada (base XL) parece inculcar esta orientação.
III). Embora admitindo que apenas se pretende melhor conjugação dos meios disponíveis, o simples enunciado de uma «política de concentração de meios», ao indicarem-se algumas das principais medidas previstas para o período do Plano, pode originar dúvidas de interpretação, o que seria inconveniente., tanto mais respeitando a declaração ao sector em que se desenvolvem as relações entro a administração pública e uma vasta rede de instituições particulares com autonomia e meios próprios.
É preferível substituir a redacção do preâmbulo do n.º 52 do capítulo pela que se indica ou outra equivalente: «Com vista a uma melhor conjugação de meios, prevêem-se as medidas seguintes:»
IV) Afigura-se muito útil a criação de um grupo de trabalho interministerial, para forneceu ao Conselho Social previsto na base II da Lei n.º 2115 os estudos e elementos de trabalho necessários à coordenação que compete àquele órgão governamental estabelecer entre os objectivos e realizações da previdência e os restantes sectores da política social, designadamente os da saúde e assistência.
Idêntica missão poderia ser confiada ao mesmo grupo relativamente à intensificação dos meios de coordenação que o projecto de capítulo preconiza, em especial para os sectores da saúde e assistência, da previdência e da assistência na doença aos servidores do Estado.
V) No prosseguimento da cooperação com as instituições da previdência, como fonte as financiamento enunciada no projecto de capítulo, têm de estar sempre presentes as duas coordenadas seguintes: crescimento praticável das despesas da previdência com internamento hospitalar e influência dessa fonte de financiamento na manutenção e extensão da rede hospitalar do País. Seria esta uma das importantes missões de estudo que poderia confiar-se ao referido grupo de trabalho. VI) Merecendo inteira concordância as remodelações e beneficiações previstas em estabelecimentos hospitalares de Lisboa, bem como a substituição da Maternidade de Magalhães Coutinho, não parece justificar-se, porém.

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a construção na mesma cidade, durante o período do Plano, de mais um hospital central.
E no que toca a construção, remodelação e. apetrechamento dos hospitais regionais, embora nada se tenha a opor a que venham a ser consideradas as unidades referidas no projecto, dando-se prioridade às que correspondam a necessidades mais prementes, afigura-se que a dotação respectiva, acrescida da que vem destinada a mais um hospital céu trai em Lisboa, deve ser atribuída genericamente a hospitais, mas sem menção expressa daqueles em que será aplicada.
Urna indicação completa e imperativa é processo demasiadamente rígido. As dificuldades que surgem numa certa localidade ou que podem esbater-se noutra, as situações relativas das diferentes zonas interessadas e a evolução das conveniências a considerar são elementos muito modificáveis.
VII) A verba de 15 000 contos atribuída a centros de saúde deverá, antes, ser destinada à instalação de serviços de saúde pública em hospitais sub-regionais já existentes.
VIII) No que se refere a outras verbas de investimento, considera-se aqui reproduzido o que foi dito, em termos genéricos, no n.º 60 deste parecer. Não seria praticável a indicação de quantitativos certos, pois as concretizações dependem de elementos precisos de que os serviços dispõem.
IX) Com vista ao melhor funcionamento dos hospitais regionais e sub-regionais, adentro das funções que a evolução operada-lhes atribui, julga-se que, na distribuição de verbas de manutenção, o Estado deve subsidiar mais os hospitais regionais e sub-regionais (no ano de 1966 os subsídios do Estado aos hospitais centrais, regionais e sub-regionais foram de 260 000, 22 602 e 19 098 contos, respectivamente).
X) Vê-se a necessidade de serviços especializados de oncologia, na medida do indispensável, mas deve iniciar-se desde já a articulação dos existentes com os hospitais gerais. Claro que esta articulação será facilitada pela execução da base XVII da Lei n.º 2120, de 19 de Julho de 1963, que determinou a transferência dos serviços do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil para o Ministério da Saúde e Assistência, sem prejuízo da sua dependência do Ministério da Educação Nacional, quanto à investigação científica e às funções pedagógicas.
XI) Regista-se com agracio o facto de ter sido reconhecida prioridade à luta anticancerosa. Subsiste, porém, a observação feita no parecer subsidiário desta secção sobre o capítulo IX «Saúde» do projecto do Plano Intercalar de Fomento relativamente à omissão das doenças cardiovasculares, a que pode juntar-se o reumatismo, que, além. de ter nítido reflexo naquelas, constitui verdadeiro flagelo social pela invalidez, total ou parcial, de milhares de indivíduos.
Por isso, ao lado dos investimentos destinados no novo Plano à protecção materno-infantil, luta contra a tuberculose, promoção de saúde mental e oncologia, deverá inscrever-se verba conveniente para combate às doenças cardiovasculares e reumatismais, nos aspectos profiláctico, curativo e recuperador.
XII) Deve omitir-se a referência a gastos de manutenção contida no resumo dos investimentos feito a final do projecto. Não pode o resumo abarcar mais do que a indicação precedente, o que se demonstra até pela igualdade das duas somas.
Mas, se houver gastos de tal natureza impropriamente abrangidos nas verbas de investimento, conviria omiti-los na revisão final do projecto.
A fim de melhor assegurar a execução do III Plano de Fomento e a preparação, desde já, do Plano seguinte, convém que o Ministério da Saúde e Assistência disponha, quanto antes, de um serviço especial de planeamento, órgão técnico cuja criação se prevê na alínea c) da base IX do projecto de proposta de lei sobre o III Plano de Fomento.

Palácio de S. Bento, 17 de Agosto de 1967.

José Filipe Mendeiros.
Armando Saraiva de Melo.
Fernando Baeta Bissaya Barreto Rosa.
Júlio Augusto Massa.
Joaquim Trigo de Negreiros.
Pedro Mário Soares Martinez.
António Maria de Mendonça Lino Netto, relator.

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PARECER N.º 10/IX

Projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973

Províncias ultramarinas

A Câmara Corporativa, consultada, rios termos do artigo 105.º da Constituição, acerca do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973, emite, sobre a parte relativa às províncias ultramarinas, pela sua secção de Interesses de ordem administrativa (subsecção de Política e administração ultramarinas), à qual foram agregados os Dignos Procuradores Aguinaldo de Carvalho Veiga, Aires Nicé-foro de Sousa, António Ramos do Amaral, Fernando Pinto de Almeida Henriques, Humberto Albino das Neves, João Ruiz de Almeida Garrett, José Rodrigues Pedronho, Júlio Augusto Massa, Manuel António Lourenço Pereira e Manuel Maria de Lacerda de Sousa Aroso, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da Câmara, o seguinte parecer:

SUMÁRIO

I) Apreciação na generalidade................................ 1 a 46

§ 1.º Enquadramento geral do III Plano de Fomento............ 1 a 10
§ 2.º Aspectos e lições dos anteriores planos de fomento do
ultramar..................................................... 11 a 22

I Plano de Fomento........................................... 11 a 13
II Plano de Fomento.......................................... 14 a 17
Plano Intercalar de Fomento.................................. 18 a 22

§ 3.º Os travões administrativos da execução dos planos...... 23 a 30
§ 4.º Planos de fomento em alguns estados africanos ao norte
do Zambeze................................................... 31 a 38
§ 5.º Relance sobre alguns aspectos da situação económica das
províncias ultramarinas e sua influência no conjunto nacional 39 a 42
§ 6.º As grandes directrizes do III Plano de Fomento......... 43 a 46

II) Exame na especialidade................................... 47 a 196

§ 1.º Financiamento do III Plano de Fomento.................. 47 a 58
§ 2.º Observações sobre os programas das províncias de
governo simples.............................................. 59 a 125

1) Cabo Verde................................................ 60 a 72
2) Guiné..................................................... 73 a 85
3) S. Tomé e Príncipe........................................ 86 a 98
4) Estado da Índia........................................... 99
5) Macau..................................................... 100 a 112
6) Timor..................................................... 113 a 125

§ 3.º Observações sobre os programas de Angola e Moçambique.. 126 a 196

1) Angola.................................................... 131 a 162
2) Moçambique................................................ 163 a 196

III) Conclusões.............................................. 197

I

Apreciação na generalidade

§ 1.º Enquadramento geral do III Plano de Fomento

1. Com o projecto do III Plano de Fomento regressa-se à periodicidade Sexenal que caracterizou o I e II Planos e fora interrompida, por razões perfeitamente válidas, pelo período trienal de vigência do Plano Intercalar. Mas, numa tentativa de equilíbrio entre as escalas de planeamento a curto e a médio prazos, expressamente se prevê a sua revisão no termo do primeiro triénio, além das adaptações ou ajustamentos sempre possíveis de introduzir na elaboração dos programas anuais.
A orientação parece prudente, e justifica-se com especial premência no que respeita à parte ultramarina da Nação. São muitos os factores que condicionam o quadro geral do seu desenvolvimento e nem todos estão sob o nosso completo domínio ou podem prever-se corri razoável segurança. Acima de tudo, continua a viver-se o esforço nacional de defesa, em que não se olha a sacrifícios ou a limitações, mas se tem sempre presente que nenhum objectivo pode sobrepor-se ao da vitória porque se luta e indubitavelmente se alcançará.

2. O projecto do III Plano de Fomento define incisivamente os grandes objectivos que se pretendem atingir e o condicionalismo a que a sua materialização deverá obedecer. Assim, apresentam-se aqueles pela seguinte fornia, que expressamente se declarou corresponder a uma hierarquia a respeitar:

1.º A aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional;
2.º A repartição mais equitativa dos rendimentos;
3.º A correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.

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Quanto às condições basilares a ter em conta, são enunciadas como segue:

a) A coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional;
b) A manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda;
c) O equilíbrio do mercado de emprego;
d) A adaptação gradual da economia portuguesa aos condicionamentos decorrentes da sua integração em espaços económicos mais vastos.

3. Este enquadramento geral corresponde, aliás, com ligeiras alterações, ao definido pelo despacho de 23 de Julho de 1965 do Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. Nesse mesmo despacho se estabelece também que o Plano será concebido como um instrumento de programação global do desenvolvimento económico-social da comunidade portuguesa; e ainda -o que representa fundamental interesse para as províncias ultramarinas - que «nos territórios de menor grau de desenvolvimento o Plano assentará numa concepção de crescimento económico apoiado nos pólos de desenvolvimento existentes, sem prejuízo de se procurar criar outros com vista à correcção dos desequilíbrios regionais».

4. Tem interesse fazer um exame, embora ligeiro, dos problemas relacionados com a elaboração no ultramar dos anteprojectos do III Plano e das concepções diferentes que foi necessário adoptar para as grandes províncias de Angola e Moçambique, por um lado, e para as províncias de governo simples, por outro.
Antes de o fazer, é justo salientar o sensível progresso que se nota no presente projecto em relação aos anteriores. Esse progresso resulta justamente mais nítido em relação a Angola e Moçambique, como seria de esperar; mas, em qualquer das províncias, representa já muito trabalho e dedicação e o domínio de muitas e graves dificuldades, quer de parte de órgãos de planeamento locais, quer dos organismos de coordenação central. Tal autoriza as melhores esperanças no prosseguimento futuro das actividades respectivas.

5. A multiplicidade de técnicas de planeamento pode enquadrar-se em dois métodos fundamentais: aquele em que, mediante a definição de um modelo da economia, se toma como ponto de partida o agregado global e se analisam seguidamente os agregados sectoriais e os empreendimentos que os integram; ou, inversamente, aquele em que o ponto de partida consiste na formulação de planos sectoriais e se tenta posteriormente a sua coordenação e compatibilização na visão do conjunto económico-social.
A maioria dos países ou territórios subdesenvolvidos adoptam ainda o segundo método, sobretudo em face da deficiência de informação estatística e económica, fazendo-se a integração com as necessidades e recursos globais numa base quase exclusivamente qualitativa. Mas a viabilidade desses programas sectoriais depende afinal de um certo número de factores essenciais - balança poupança-investimento, balança de pagamentos, recursos de mão-de-obra nos diferentes níveis, por exemplo - cuja consistência exige a existência das linhas gerais de um plano global. Daí que seja largamente recomendado que, tão cedo quanto possível, se criem as condições básicas para a utilização do método global. Mesmo na hipótese contrária, deve tentar-se desde o início um método de aproximações sucessivas em que se tenha em conta a revisão das metas e objectivos fixados em cada sector para ter em conta a sua compatibilidade mútua e com os recursos disponíveis totais.
De resto, é hoje prática recomendada a utilização simultânea das duas técnicas de planeamento, de forma a obterem-se resultados tão aproximados quanto possível da realidade económica.
A estrutura económica das províncias de governo simples, com as limitações de informação estatística e económica inerentes, levou à adoptação para estas, ainda no III Plano, do segundo método de planificação. A Câmara nada tem a opor à orientação assim, tomada, que é compreensível e defensável no momento actual; mas não deixa de recomendar que, com tempo, se criem ou aperfeiçoem os instrumentos necessários e se preparem os indispensáveis elementos de informação para a aconselhável evolução no sentido da adopção de métodos mais rigorosos e aperfeiçoados. Para isso será certamente fundamental a existência de um. forte apoio dos serviços centrais do planeamento.

6. Verifica-se com agrado que, rio que diz respeito às províncias de Angola e Moçambique, foi já possível caminhar decisivamente no sentido assim preconizado, mediante o estabelecimento de modelos quantificados dá crescimento económico-social e a definição de motas quantitativas a atingir. Para Angola, programou-se um crescimento de produto interno bruto à taxa média anual de 7 por cento e admitiu-se que o acréscimo da capitação do produto seria de 4,8 por cento. A actuação de base processar-se-á nos seguintes domínios: intensificação da aproveitamento dos recursos do subsolo, melhoria do nível de produção e produtividade do sector agro-pecuário, aumento e valorização da produção piscatória, desenvolvimento do processo da industrialização, completamento e ampliação da rede de infra-estruturas e promoção a ritmo cada vez mais acelerado das populações.
No caso de Moçambique, admitiu-se como possível também a taxa média anual de crescimento do produto interno bruto de 7 por cento, com ligeiro acréscimo na parte final da vigência do Plano. A dinâmica do desenvolvimento assentará principalmente no alargamento do mercado interno, aumento substancial da produção e produtividade do sector agro-pecuário, redução de estrangulamentos quanto a disponibilidades de capital financeiro, de divisas externas e de quadros técnicos especializados, continuação da reforma do sector administrativo, ampliação dos meios e incentivos necessários à expansão industrial, preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida produtividade, escolha das infra-estruturas que mais directamente contribuam para o aperfeiçoamento do potencial produtivo, definição de zonas do desenvolvimento e sua interdependência e, finalmente, intensificação da promoção das populações.

7. É claro que estes programas, mesmo elaborados de forma prudente e criteriosa, estão sujeitos a numerosas contingências. Em primeiro lugar, qualquer tipo de planificação pressupõe uma divisão de recursos entre investimento e consumo. A fixação de uma taxa relativamente alta de crescimento do produto - aliás em obediência ao primeiro objectivo do Plano - postula a capacidade da Administração de manter um equilíbrio dinâmico entre poupança e investimento, pois caso contrário resultaria um aumento de pressões inflacionistas internas ou um agravamento da posição da balança comercial, com reflexos na condição b) que o Plano admitiu. Por outro lado, revestem-se de grande importância as verificações relativas à compatibilidade e consistência do Plano, nomeadamente entre o plano global e os programas sec-

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tonais, o equilíbrio entre poupança e investimento, os reflexos na balança de comércio e de pagamentos, os recursos de mão-de-obra nos diversos níveis de especialização e o equilíbrio entre a procura sectorial e a oferta.
Os projectos do Plano relativos a Angola e Moçambique abordam alguns destes aspectos; mas, como não podia deixar de ser, no estado actual dos elementos de informação e actuação disponíveis, o esboço de análise feito é forçosamente incompleto e deixa margem a dúvidas e preocupações.
A Câmara entende que existe aqui campo para permanente vigilância, durante a execução do Plano e recomenda vivamente actuação enérgica e oportuna no caso de se verificarem sintomas preocupantes.

8. Uma palavra ainda sobre o esquema polarizado de desenvolvimento adoptado no projecto em exame, e que tem relevância quanto às grandes províncias de Angola e Moçambique.
É evidente que, aceite a definição do primeiro objectivo do Plano como a aceleração do ritmo de crescimento do produto, a escolha de modelos polarizados aparece praticamente como um corolário dessa definição. A Câmara aceita o critério adoptado, já que não se pode ter a pretensão de actuar simultaneamente e com a mesma intensidade na vastidão dos territórios. Mas entende que é útil uma reflexão cautelosa sobre algumas implicações que devem estar presentes pela sua gravidade.
Em primeiro lugar, acentue-se o reflexo sobre o segundo objectivo do Plano: a repartição mais equitativa dos rendimentos. E evidente que as populações que têm o privilégio de residir nas zonas em que se pretende intensificar o desenvolvimento serão automaticamente mais favorecidas dos que as restantes - até por que o seu ponto de partida quanto a nível de vida será normalmente superior.
Depois, registe-se uma nova palavra de aviso, desta vez com vista, ao terceiro objectivo do Plano: a acentuação da polarização, pelo menos num período largo inicial, contribui para agravar, e não para reduzir, desequilíbrios regionais já existentes.
Finalmente, há que ter em mente os reflexos sobre a política geral de defesa dos territórios. Por um lado, certas infra-estruturas, como as de transportes e comunicações, têm de ser rapidamente construídas, ampliadas ou completadas em zonas de importância vital sob o ponto de vista da defesa, embora não o sejam sob o ponto de vista económico. Por outro, o combate à subversão, mesmo antes da sua erupção à superfície, exige como meio de acção insubstituível a melhoria das condições de vida das populações, quer no campo económico, quer no de higiene, conforto, saúde e educação.
Conclui-se, portanto, que o conceito de polarização do desenvolvimento não pode ser encarado dogmàticamente. Pelo contrário, não deverá haver polarização, antes disseminação, ou até concentração em zonas ameaçadas, do esforço de promoção económico-social das populações; e, bem assim, a mobilidade das forças de defesa e a eficiência da sua vigilância ou actuação impõe como inadiável uma ampliação de infra-estruturas. nomeadamente no campo rodoviário, que de forma alguma pode sor preterida ou adiada em termos simples de rendimento económico.

9. Há ainda dois outros aspectos do Plano que convém acentuar. O primeiro liga-se com o carácter dualista de que se reveste, aliás era obediência a imperativos constitucionais. Exprimindo-se embora por uma concepção global do desenvolvimento - aliás em continuidade com a orientação traçada no Plano Intercalar - o III Plano apresenta-se como imperativo na parte a cargo do Estado ou financiada através de fontes públicas ou obtíveis com intervenção do Estado (financiamentos internos ou externos com aval oficial); e apenas como indicativo na parte referente a empreendimentos de iniciativa privada financiados por fontes privadas (autofinanciamento, empréstimos e participações de investidores institucionais, poupança captada através do mercado de capitais).
O outro aspecto fundamental reside no facto de o Plano ser o instrumento de uma política claramente definida. A comunicação do Sr. Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho, em 30 de Junho de 1967, aos órgãos de informação sintetiza essa definição na «progressiva elevação e dignificação da pessoa humana, dentro da comunidade portuguesa», tendo como um dos meios para atingir essa alta finalidade «a progressiva formação de uma economia nacional no espaço português».
No que respeita ao ultramar, as directrizes oportunamente difundidas para a elaboração dos projectos do Plano desenvolvem sem ambiguidade este tema político fundamental, nos seguintes termos:

1.º Reforço e consolidação em todas as províncias ultramarinas de uma sociedade multirracial integrada politicamente na soberania portuguesa e socialmente no estilo de vida lusitano;
2.º Reforço das condições de manutenção da soberania portuguesa em todos os pontos do território nacional;
3.º Estreitamento dos laços de solidariedade económica entre as províncias ultramarinas e a metrópole.

A Câmara dá o seu pleno apoio à declaração de princípios assim formulada, que entende corresponderem a condições inequívocas da própria sobrevivência nacional.

10. Após estes comentários gerais sobre as grandes directrizes e condicionalismos do Plano, julga-se útil, antes de continuar a sua apreciação, conceder alguma atenção à execução dos anteriores planos de desenvolvimento do ultramar, de que o 111 Plano pretende ser & lógica continuação.

§ 2.º Aspectos e lições dos anteriores planos de fomento do ultramar

11. O I Plano de Fomento, executado no período de 1953-1958, constituiu a primeira tentativa de reunir, sob uma mesma disciplina programática, um conjunto diversificado de empreendimentos destinados a promover o desenvolvimento nas províncias ultramarinas. Situava-se, portanto, numa óptica ainda muito distante dos modernos conceitos de planificação e subdividia-se, quanto ao ultramar, apenas em duas grandes rubricas: «Aproveitamento de recursos», incluindo povoamento e «Comunicações e transportes».
A sua preparação e também, em parte, a sua execução ressentiram-se da carência de estudos e projectos devidamente elaborados, amadurecidos o seleccionados, mas nem por isso esta iniciativa deixou de constituir poderosa alavanca de progresso.
Pelas suas características infra-estruturais, o Plano concedeu lugar de relevo à construção e apetrechamento de caminhos de ferro e portos, ao início sistemático do desenvolvimento das redes rodoviárias, à produção de energia e aos primeiros grandes esquemas de povoamento baseados na rega.

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Para o conjunto do ultramar, os grandes aspectos relevantes do I Plano podem resumir-se como segue:

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados................................ 4 930 600
b) Financiados................................ 4 930 574
c) Despesas efectuadas........................ 4 562 007

2.º Grau de execução:

4 562 007/4 930 574 = 92,5 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento 39,5
b) Comunicações e transportes...................... 60,5

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos das províncias................. 66
b) Recursos externos................................ 34

Nos recursos internos incluíram-se os originados nas províncias, liais como saldos de exercícios findos, empréstimos internos, saldos do Fundo de Fomento de Angola, imposto de sobrevalorizações, comparticipação de serviços autónomos. Nos recursos externos consideraram-se os provenientes de empréstimos ou subsídios da metrópole.

5.º Alguns efeitos globais:

Embora os efeitos do Plano não sejam, senão em parte não determinada, responsáveis pela expansão económica, não deixa de ter interesse referir os seguintes indicadores (Missão de Estudo do Rendimento Nacional no ultramar):

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 39 683,9 milhares de contos.
1958 - 48 472,6 milhares de contos.
Aumento - 22,1 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,1 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 38 171,1 milhares de contos.
1958 - 46 569,2 milhares de contos.
Aumento - 22 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,1 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 41 094,2 milhares de contos.
1958 - 52 570,1 milhares de contos.
Aumento - 27,9 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5 por cento.

12. Convirá analisar os aspectos referentes a cada província:

Cabo Verde

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados................................. 137 000
b) Financiados................................. 137 000
c) Despesas efectuadas......................... 96 790

2.º Grau de execução:

96 790/137 000=70,6 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido) :

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento... 32,8
b) Comunicações e transportes......................... 47,2

O Plano contemplou em a) melhoramentos hidroagrícolas, florestais e pecuários, sondagens hidrogeológicas e abastecimento de água das povoações; e em b) obras nos portos de S. Vicente e Porto Novo e aeródromos.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos................................... 0
b) Recursos externos................................... 100

Foi, portanto, a metrópole que financiou a totalidade do Plano.

5.º Alguns efeitos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 426,7 milhares de contos.
1958 - 520 milhares de contos.
Aumento - 21,9 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 412,8 milhares de contos.
1958 - 514,5 milhares de contos.
Aumento - 24,6 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,5 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 436,5 milhares de contos.
1958 - 564,4 milhares de contos.
Aumento - 25,2 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,6 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):
Sector primário:

Percentagens

1953............................................. 18
1958............................................. 19,2

Sector secundário:

1953............................................. 1,4
1958............................................. 2,8

Sector terciário:

1953............................................. 80,6
1958............................................. 80,2

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 93 dólares.
1958 - 97 dólares.
Taxa média anual acumulada - 0,8 por cento.

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1662-(954) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 89 dólares.
1958 - 95 dólares.
Taxa média anual acumulada - 1,6 por cento.

Guiné

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados................................. 86 200
b) Financiados................................. 86 200
c) Despesas efectuadas......................... 84 531

2.º Grau de execução:

84 531/86 200=98,1 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento 11,8
b) Comunicações e transportes...................... 88,2

Em a) incluiu-se a defesa, enxugo e recuperação de terrenos para a agricultura; em b) figuram a conclusão da ponte-cais de Bissau, outros melhoramentos portuários, regularização e dragagens no rio Geba, pontes, estradas e aeródromos.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos.............................. 0
b) Recursos externos.............................. 100

Foi também a metrópole que financiou a totalidade do Plano.

5.º Alguns efeitos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 1453,4 milhares de contos.
1958 - 2020,4 milhares de contos.
Aumento - 39 por cento.
Taxa média anual acumulada - 6,8 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 1438 milhares de contos.
1958 - 1989,5 milhares de contos.
Aumento - 38,4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 6,7 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 1492,2 milhares de contos.
1958 - 2077,5 milhares de contos.
Aumento - 39,2 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,5 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:

Percentagens

1953......................................... 39
1958......................................... 48,1

Sector secundário:

1953......................................... 1,1
1958......................................... 1

Sector terciário:

1953......................................... 59,9
1958......................................... 50,9

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 97 dólares.
1958 - 131 dólares.
Taxa média anual acumulada - 6,1 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 96 dólares.
1958 - 129 dólares.
Taxa média anual acumulada - 6,1 por cento.

S. Tomé e Príncipe

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados................................ 150 000
b) Financiados................................ 150 000
c) Despesas efectuadas..................... 67 804

2.º Grau de execução:

67 804/150 000=45,2 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento 16,1
b) Comunicações e transportes...................... 83,9

Em a) procedeu-se a aquisição de terras, aldeamentos para famílias de trabalhadores, assistência agro-pecuária, saneamento de pântanos e esgotos; em b) considerou-se o cais no porto de Ana Chaves, o início da estrada de cintura da ilha de S. Tomé e a instalação e apetrechamento do respectivo aeroporto.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos................................ 54,5
b) Recursos externos................................ 45,5

Os recursos externos corresponderam a empréstimo da metrópole.

5.º Alguns efeitos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 430,2 milhares de contos.
1958 - 489,9 milhares de contos.
Aumento - 13,9 por cento.
Taxa média anual acumulada - 2,6 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 416,2 milhares de contos.
1958 - 471,1 milhares de contos.
Aumento - 13,2 por cento.
Taxa média anual acumulada - 2,5 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 454,3 milhares de contos.
1958 - 512,2 milhares de contos.
Aumento - 12,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 2,4 por cento.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(955)

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):
Sector primário:

Sector primário:

Percentagens

1953..................................... 37
1958..................................... 32,1

Sector secundário:

1953..................................... 1,4
1958..................................... 1,2

Sector terciário:

1953..................................... 61,6
1958..................................... 66,7

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 280 dólares.
1958 - 299 dólares.
Taxa média anual acumulada - 1,3 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 271 dólares.
1958 - 288 dólares.
Taxa média anual acumulada - 1,2 por cento.

Angola

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados................................... 2 267 700
b) Financiados................................... 2 267 726
c) Despesas efectuadas........................... 2 156 771

2.º Grau de execução:

2156771/2267726=95,2 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento 34
b) Comunicações e transportes...................... 66

Em a) dotaram-se a rega e enxugo do vale do Cunene, a instalação do respectivo colonato, estudos hidroagrícolas no Cuanza, aproveitamentos hidroeléctricos do Biópio, Matala e Mabubas e prospecção geológico-mineira; em b) iniciou-se o caminho de ferro do Congo, continuou-se o de Moçâmedes, melhorou-se e apetrechou-se o de Ma-lanje, realizaram-se trabalhos de construção e apetrechamento nos portos do Lobito, Luanda e Moçâmedes, desenvolveu-se o aeroporto de Luanda e outros e iniciaram-se os transportes fluviais rio Cubango.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos............................ 95,5
b) Recursos externos............................ 4,5

Nos recursos internos estão compreendidos saldos de exercícios findos, imposto de sobrevalorizações, receitas do Fundo de Fomento a Angola e um empréstimo interno; os recursos externos correspondem a empréstimo da metrópole.

5.º Alguns efeitos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 15 191,2 milhares de contos.
1958 - 18 583,1 milhares de contos.
Aumento - 22,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,1 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 14 421,9 milhares de contos.
1958 - 17 551 milhares de contos.
Aumento - 21,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 15805,3 milhares de contos.
1958 - 19 178,8 milhares de contos.
Aumento - 21,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 3,9 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:

Percentagens

1953.............................................. 26,2
1958.............................................. 23,9

Sector secundário:

1953.............................................. 5
1958.............................................. 5,7

Sector terciário:

1953.............................................. 68,8
1958.............................................. 70,4

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 124 dólares.
1958-139 dólares.
Taxa média anual acumulada - 2,3 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 117 dólares.
1958 - 131 dólares.
Taxa média anual acumulada - 2,3 por cento.

Moçambique

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados..................................... 1 848 500
b) Financiados..................................... 1 848 448
c) Despesas efectuadas............................. 1 799 228

2.º Grau de execução:

1 799 228/1 848 448=97,3 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento.. 42,3
b) Comunicações e transportes........................ 57,7

Em a) destacaram-se a rega e enxugo de terrenos no vale do Limpopo e a instalação do respectivo colonato, a linha de alta tensão entre o Revuè e a Beira, a 2.ª fase do aproveitamento hidroeléctrico do mesmo rio, os estudos do vale do Zambeze e do lago Niassa e a prospecção geológico-mineira; em b) tiveram papel de relevo os trabalhos referentes a caminhos de ferro (Limpopo, Manhiça e Mo-

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1662-(956) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

çambique), o porto de Nacala, o aeroporto de Lourenço Marques e outros aeródromos.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos............................ 40,2
b) Recursos externos............................ 59,8

Nos recursos internos centralizaram-se os saldos de exercícios findos, o imposto de sobrevalorização e a comparticipação dos Serviços de Portos, Caminhos de Perro e Transportes; nos de origem externa contam-se o empréstimo da metrópole e do Export-Import Bank, destinado ao caminho de ferro do Limpopo.

5.º Alguns efeitos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 18 033 milhares de contos.
1954 - 22 232,7 milhares de contos.
Aumento - 23,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,3 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 17 388,8 milhares de contos.
1958 - 21 157,7 milhares de contos.
Aumento - 21,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 18 635 milhares de contos.
1958 - 23 018,8 milhares de contos.
Aumento - 23,5 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,3 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do
mercado (aos preços correntes):

Percentagens

Sector primário:

1953.............................................. 28,1
1958.............................................. 25,9

Sector secundário:

1953.............................................. 5,5
1958.............................................. 8

Sector terciário:

1953.............................................. 64,4
1958.............................................. 66,1

c) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 106 dólares.
1958 - 121 dólares.
Taxa média anual acumulada - 2,7 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 102 dólares.
1958 - 115 dólares.
Taxa média anual acumulada - 2,4 por cento.

Estado da Índia

1.º Investimentos:

Contos

a) Programados..................................... 229 200
b) Financiados..................................... 229 200
c) Despesas efectuadas............................. 202 692

2.º Grau de execução:

202 692/229 200=88,4 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento... 53
b) Comunicações e transportes......................... 47

Compreendem-se em a) trabalhos de rega em Sanguém e Quepim, abastecimentos de água e saneamento e prospecção geológico-mineira; em b) trabalhos no porto e caminho de ferro de Mormugão, pontes e aeródromos.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos......................... 83,1
b) Recursos externos......................... 16,9

Os recursos internos compreenderam os saldos de exercícios findos e um empréstimo da Caixa Económica Postal; os externos limitaram-se a empréstimo da metrópole.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 2235,4 milhares de contos.
1958 - 2895,2 milhares de contos.
Aumento - 29,5 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,3 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 2214 milhares de contos.
1958 - 2697,1 milhares de contos.
Aumento - 21,8 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1953 - 2298,8 milhares de contos.
1958 - 2948,9 milhares de contos.
Aumento - 28,3 por cento.
Taxa média anual acumulada.-5,1 por cento.

d) Origem do produtos interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:

Percentagens

1953.............................................. 24,8
1958.............................................. 30,8

Sector secundário:

1953.............................................. 2,5
1958.............................................. 1,7

Sector terciário:

1953.............................................. 72,7
1958.............................................. 67,5

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 121 dólares.
1958 - 156 dólares.
Taxa média anual acumulada - 5,2 por cento.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(957)

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 120 dólares.
1958 - 145 dólares.
Taxa média anual, acumulada - 3,8 por cento.

Macau

[Ver tabela na imagem]

1.º Investimentos:

a)Programados ....
b)Financiados ....
c)Despesas efectuadas ....

2.º Grau de execução:
82 160/120 000=68,5 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em. relação ao total despendido) :

[Ver tabela na imagem]

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento ....
b) Comunicações e transportes ....

Em a) executaram-se trabalhos de urbanização, águas e saneamento, compreendendo o levantamento topográfico das ilhas, fornecimento de energia eléctrica, exploração agro-pecuária e edifícios escolares e hospitalares; em b) financiaram-se dragagens, aterros, estradas e aeroportos.

4.º Forma de financiamento:

a) Recursos internos ....
b) Recursos externos ....

Os recursos externos foram constituídos por empréstimo e subsídio da metrópole.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 1054 milhares de contos.
1958 - 1121 milhares de contos.
Aumento - 6,4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 1,25 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 1049,3 milhares de contos.
1958 - 1102,3 milhares de contos.
Aumento - 5,1 por cento.
Taxa média anual acumulada - 1 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):
1953 - 1099,6 milhares de contos.
1958 - 1181,8 milhares de contos.
Aumento - 7,5 por cento.
Taxa média anual acumulada -1,5 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:

1953 ....
1958 ....

Sector secundário:

1953 ....
1958 ....

Sector terciário:

1953....
1958....

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 210 dólares.
1958 - 232 dólares.
Taxa média anual acumulada-2 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 209 dólares.
1958 - 228 dólares.
Taxa média anual acumulada -1,75 por cento.

Timor

1.º Investimentos:

a)Programados ....
b)Financiados ....
c)Despesas efectuadas ....

2.º Grau de execução:

72 027/92 000=78,2 por cento.

3.º Estrutura do Plano (era relação ao total, despendido):

a) Aproveitamento de recursos, incluindo povoamento ....
b) Comunicações e transportes ....

Em a) custearam-se trabalhos de reconstrução da cidade de Díli e do interior, bem como o fomento agro-pecuário; em b) financiaram-se o porto de Díli, estradas, pontes e aeródromos.

4.º Fornia de financiamento:

a) Recursos internos ....
b) Recursos externos ....

O Plano foi totalmente financiado por subsídios da metrópole.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1953 - 860 milhares de contos.
1958 - 1094,3 milhares de contos.
Aumento - 27,2 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,9 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1953 - 830,1 milhares de contos.
1958 - 1086 milhares de contos.
Aumento - 30,8 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,5 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços de mercado (aos preços correntes):

1953 - 872,5 milhares de coutos.
1958 - 1105,7 milhares de contos.
Aumento - 26,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,9 por cento.

Página 958

1662-(958) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:

Percentagens

1958...................................... 21,2
1959...................................... 32,8

Sector secundário:

1958...................................... 0,8
1959...................................... 0,6

Sector terciário:

1958...................................... 78
1959...................................... 66,6

c) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1953 - 64 dólares.
1958 - 76 dólares.
Taxa média anual acumulada - 3,5 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1953 - 62 dólares.
1958 - 75 dólares.
Taxa média anual acumulada - 3,8 por cento.

13. Sintetizaram-se no quadro I os aspectos mais importantes acima referidos. Sem abordar, por agora, algumas conclusões, que são também comuns ao II Plano e ao Plano Intercalar, poderão sublinhar-se desde já alguns traços mais salientes, tais como:

a) Satisfatório grau de execução do Plano no conjunto do ultramar, com valores muito bons em Angola e Moçambique, embora deficientes nalgumas províncias de governo simples;
b) Variações acentuadas, de província para província, na repartição de verbas entre as duas grandes rubricas do Plano;
c) Financiamento de cerca de dois terços do montante global por recursos internos das províncias; financiamento quase total por esta fonte do Plano de Angola (critério que teve posteriormente graves repercussões na balança de pagamentos); apoio total da metrópole ao financiamento do Plano em Cabo Verde, Guiné e Timor;
d) Taxa média anual acumulada de crescimento do produto interno bruto com valores satisfatórios, excepto em S. Torne e Príncipe;
e) Valores baixos das capitações do produto interno bruto e sua taxa média anual acumulada de crescimento na, maioria das províncias, com notáveis excepções, quanto às capitações de S. Tomé e Príncipe e de Macau e, quanto às taxas de crescimento, da Guiné, do Estado da Índia e, em menor grau, de Timor.

QUADRO I

I Plano de Fomento (1953-1958)

Síntese dos aspectos mais importantes

[Ver Quadro na Imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(959)

14. O II Plano de Fomento executou-se no período de 1909-1964; abrangeu, portanto, alguns dos anos mais trágicos, mas também mais gloriosos, da moderna história portuguesa. Tomada pelo Governo e apoiada pela Nação a decisão de simultaneamente, resistir à agressão e continuar o esforço de desenvolvimento em curso, foi possível realizar uma parte substancial dos programas formulados, apesar das tremendas dificuldades que houve de vencer. E foi já com perfeita naturalidade que, no termo do II Plano, se iniciou o Plano Intercalar, cuja vigência agora se aproxima do seu termo.
O II Plano ainda não apresentou sensível alteração metodológica na sua preparação. Não se fizeram os indispensáveis estudos de base que seriam necessários. Assim, os grandes objectivos enunciados na exposição ao Conselho Económico de 21 de Setembro de 1956 pelo Sr. Ministro da Presidência, então o Sr. Prof. Marcelo Caetano, como devendo orientar a elaboração do Plano, só parcialmente puderam ser tomados em conta na estruturação dos programas ultramarinos e, mesmo assim, de uma forma limitada e incompleta. Contudo, a audição dos Conselhos do Governo das províncias conferiu ao Plano, em especial em Angola e Moçambique, o carácter de formulação de desejos e aspirações que encontraram uma forma de expressão e que, na medida do possível, puderam ser atendidos.
Em relação ao Plano anterior, notam-se desde logo diferenças profundas, que fazem do II Plano de Fomento já um plano económico-social, abrangendo, além dos investimentos em obras públicas e no povoamento, outros referentes à instrução, saúde e bem-estar das populações, ao conhecimento científico do território, e até, pela primeira vez, a certos empreendimentos privados considerados de interesse nacional e registados por memória. Assim, em lugar das duas grandes rubricas que dividiam o I Plano, aparecem agora nada menos que sete (seis nas- províncias de governo simples), com a seguinte designação: «Conhecimento científico do território», «Aproveitamento de recursos», «Povoamento» (só em Angola e Moçambique), «Comunicações e transportes», «Instrução e saúde», «Melhoramentos locais» e «Equipamento dos serviços públicos».

15. Considerando o conjunto do ultramar, apresenta-se um resumo dos aspectos mais relevantes:

1.º Investimentos:

Contos

a) Dotação inicialmente programada............. 9 053 523
b) Dotação ajustada............................ 12 416 536
c) Coberturas realizadas....................... 9 355 387
d) Despesas efectuadas......................... 9 058 187

A diferença entre b) e c) traduz a influência, a partir de 1961, dos encargos prioritários da defesa nacional.

2.º Grau de execução:

a) Realização dos meios financeiros:

9 355 387/12 416 536=75,3 por cento.

b) Execução efectiva:

9 058 187/9 355 387=96,8 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas:

9 058 187/12 416 536 = 73 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Conhecimento científico do território......... 3,4
b) Aproveitamento de recursos.................... 21
c) Povoamento (Angola e Moçambique).............. 10,7
d) Comunicações e transportes.................... 52,5
c) Instrução e saúde............................. 7,3
f) Melhoramentos locais.......................... 4,6
g) Equipamento dos serviços públicos............. 0,5

Pode tentar-se um agrupamento mais concentrado e, porventura, mais significativo (sempre em relação ao total despendido):

Percentagens

a) Conhecimento científico do território........... 3,4
b) Produção:

Agricultura, silvicultura e pecuária (incluindo
povoamento)......................................... 24,5
Energia e indústrias................................ 7,6 31,7

c) Infra-estruturas - Comunicações e transportes.... 52,5
d) Serviços (incluindo empreendimentos de natureza
social)............................................. 12,4

Põe-se assim em evidência o enorme peso ainda assumido pelas comunicações e transportes, que absorveram mais de metade do montante do investimento.

4.º Forma de financiamento:

Percentagens

a) Recursos internos das províncias................. 35,3
b) Recursos externos:

Públicos (metrópole)................................. 48,4
Privados............................................. 16,3 64,7

Os recursos internos abrangeram saldos do I Plano de Fomento, saldos de exercícios findos, empréstimos internos, imposto de sobrevalorizações, lucros de amoedação, saldos do Fundo de Fomento de Angola e dos fundos cambiais e comparticipação de serviços autónomos.
Os recursos externos abrangeram fundos públicos (empréstimos ou subsídios da metrópole ou transferência de saldos de outras províncias) e privados (empréstimos de instituições bancárias, empresas ou créditos externos).
Note-se que a proporção entre as duas fontes de financiamento é muito aproximada da correspondente ao I Plano.

5.º Alguns efeitos globais:

Dado o volume e natureza dos investimentos efectuados, é muito provável que os seus efeitos na evolução das províncias ultramarinas sejam mais pronunciados do que no caso do Plano anterior.
Infelizmente, ainda não foram publicados os dados da Missão de Estudo do Rendimento Nacional no Ultramar referentes a 1964, pelo que haverá que limitar a análise dos respectivos indicadores ao período de 1959-1963.

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 48 472,6 milhares de contos.
1963 - 62 243,2 milhares de contos.
Aumento - 28,4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,1 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 46 569,2 milhares de contos.
1959 - 60 528,7 milhares de contos.
Aumento - 30 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,4 por cento.

Página 960

1662-(960) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 52 570,1 milhares de contos.
1963 - 64 660,7 milhares de contos.
Aumento - 23 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,2 por cento.

16. A seguir se examinarão os elementos referentes a cada província:

Cabo Verde

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ... 210 000
b) Dotação ajustada .................. 475 759
c) Coberturas realizadas ............. 377 661
d) Despesas efectuadas ............... 373 895

2.º Grau de execução:

a) Realização de meios financeiros:

377 661/475 759 = 79,4 por cento.

b) Execução efectiva:

373 895/377 661 = 99 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas: 373 895/475 759 = 78,6 por cento.

3.º Estruturas do Plano (em relação ao total despendido):
Percentagens
a) Conhecimento científico do território ... 0,1
b) Aproveitamento de recursos .............. 25,4
c) Povoamento .............................. -
d) Comunicações e transportes .............. 70,4
e) Instrução e saúde ....................... 4,1
f) Melhoramentos locais .................... -
g) Equipamentos dos serviços públicos ...... -

ou ainda:

a) Conhecimento científico do território ... 0,1
b) Produção:
Agricultura, silvicultura e pecuária ....... 25,4
Energia e indústrias ....................... -

c) Infra-estruturas - Comunicações e
transportes ................................ 70,4
d) Serviços ................................ 4,1

Com respeito à estrutura oficial do Plano, salientam-se os seguintes aspectos da execução material; em a) continuação dos trabalhos de cartografia geral; em b) o estudo e aproveitamento dos meios de obtenção de água doce, com realização de numerosos abastecimentos de água de povoações, de pequenos trabalhos de beneficiação hidroagrícola, de defesa e conservação do solo e de fomento pecuário, incluindo a construção de tanques carracicidas; em d) conclusão das obras do Porto Grande de S. Vicente (incluindo, além do cais acostável, obras interiores e o cais de pesca), continuação do programa de aeródromos e de trabalhos rodoviários (embora com dispersão de objectivos e meios, resultante da tentativa de criar ocupação de mão-de-obra em tempo de crise); em c) conclusão e equipamento de várias escolas primárias e do liceu da Praia, bem como de algumas instalações hospitalares, procedendo-se também ao combate a certas endemias.

4.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................ 10,7
b) Recursos externos ................ 89,3

Nos recursos internos figuram apenas os saldos de execução do I Plano de Fomento; nos externos, além dos empréstimos da metrópole, a transferência de saldos de Macau e Timor.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 520 milhares de contos.
1963 - 634,7 milhares de contos.
Aumento - 22,1 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,1 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 514,5 milhares de contos.
1963 - 614,5 milhares de coutos.
Aumento - 19,4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 3,7 por cento.

c) Despesa imputada ao produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 546,4 milhares de contos.
1963 - 670,5 milhares de contos.
Aumento - 22,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,2 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:
Percentagens
1958 ...................... 18
1963 ...................... 14,7

Sector secundário:

1958 ...................... 1,4
1963 ...................... 1,9

Sector terciário:

1958 ...................... 80,6
1963 ...................... 83,4

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1958 - 97 dólares.
1963 - 102 dólares.
Taxa média anual acumulada 1 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 95 dólares.
1963 - 103 dólares.
Taxa média anual acumulada - 1,6 por cento.

Se se considerar a taxa de crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços constantes, obtém-se no período de 1953-1963 um

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(961)

valor de 2,2 por cento, a que corresponde uma taxa por habitante de -0,8 por cento, portanto negativa, acusando os efeitos das sucessivas socas que afligiram, o arquipélago.Guiné1.º Investimentos: Contos
a) Dotação inicialmente programada .... 180 000
b) Dotação ajustada ................... 294 995
c) Coberturas realizadas .............. 197 569
d) Despesas efectuadas ................ 178 400

2.º Grau de execução:a) Realização de meios financeiros:

197 569/294 955 = 67 por cento.b) Execução efectiva:178 400/197 569 = 90,3 por cento.c) Execução em relação às dotações ajustadas:

178 400/294 995 = 60,5 por cento.3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):
Percentagens
a) Conhecimento científico do território ....... -b) Aproveitamento de recursos .................. 31,6c) Povoamento .................................. -d) Comunicações e transportes .................. 54,8e) Instrução e saúde ........................... 4,1
f) Melhoramentos locais ........................ -
g) Equipamentos dos serviços públicos .......... 4,9

ou ainda:a) Conhecimento científico do território ....... -
b) Produção:Agricultura, silvicultura e pecuária ........... 29,3
Energia e indústrias ........................... 2,3
31,6c) Infra-estruturas - Comunicações e transportes 54,8d) Serviços .................................... 13,6
Em relação à estrutura oficial do Plano, os principais aspectos de execução material foram: em b) trabalhos de defesa, enxugo e recuperação de terras nas áreas de Bissau, Cacbeu, Mansoa, Farim, Fulacunda, Catió e Bissorã, valorização da exploração da palmeira-do-azeite, estabelecimento de um colonato agrícola, estudos diversos no campo agrícola e silvícola, com instalação de campos experimentais e viveiros e assistência aos agricultores em vastas áreas da província, combate às doenças do gado, construção de celeiros, de meios de armazenagens e conservação de produtos e estudos relativos à pesca; em d) executaram-se estudos de estradas, construíram-se pontes e seus acessos e uma rampa de acesso ao ferry-boat no Enxudé, custearam-se estudos relativos a transportes fluviais, realizaram-se importantes trabalhos no aeroporto de Bissau, adquiriu-se um avião para serviço interno, concluiu-se a rede HF de telecomunicações e a 1.ª fase da rede interna de VHF, apetrechou-se o novo centro de radiocomunicações de Bissau, concluiu-se a central telefónica automática de Bissau, além de vários outros empreendimentos para melhora das comunicações comerciais; em e) construíram-se numerosas escolas primárias,
um pavilhão oficial para a Escola Industrial e Comercial de Bissau e um bloco administrativo nas instalações do liceu da mesma cidade; em g) adquiriu-se maquinaria para construção e conservação de estradas e equiparam-se as oficinas.

4.º Forma do financiamento: Percentagensa)Recursos internos .................... 35,3b) Recursos externos .................... 64,7

Os recursos internos compreenderam os saldos de execução do 1 Plano de Fomento e as rendas das concessões petrolíferas; os externos foram materializados por empréstimos da metrópole.5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):1958 - 2020,4 milhares de contos.1963 - 2577,6 milhares de contos.Aumento - 27,6 por cento.Taxa média anual acumulada - 5 por cento.b) Rendimento nacional (aos preços correntes):
1958-1989,5 milhares de contos.
1963 - 2488 milhares de contos.
Aumento - 25,1 por cento.
Taxa media anual acumulada - 4,6 por cento.

c) Despesa imputada ao produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):1958 - 2077,5 milhares de contos.
1963 - 2623,3 milhares de contos.
Aumento - 26,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,8 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):Sector primário: Percentagens1958 ...................... 48,1
1963 ...................... 50,8

Sector secundário:1958 ...................... 1
1963 ...................... 0,9Sector terciário:1958 ...................... 50,9
1963 ...................... 48,3

e) Capitações do produto interno bruto ao custo de factores:

1958 - 131 dólares.
1963 - 171 dólares.
Taxa média anual acumulada - 5,5 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:
1958 - 129 dólares.
1963 - 165 dólares.

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1662-(962) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Considerando a taxa de crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços constantes, obtém-se para o período de 1953-1963 um valor de 5,6 por cento, a que corresponde uma taxa por habitante de 5,5 por cento - o valor mais alto em todo o ultramar.

S. Tomé e Príncipe1.º Investimentos:Contosa) Dotação inicialmente programada . 173 000b) Dotação ajustada ................ 435 648c) Coberturas realizadas ........... 245 348
d) Despesas efectuadas ............. 212 998

2.º Grau de execução:a) Realização dos meios financeiros:245 348/435 648 = 56,3 por cento.b) Execução efectiva:212 998/245 348 = 86,8 por cento.c) Execução em relação às dotações ajustadas:

212 998/435 648 = 48,9 por cento.3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):
Percentagensa) Conhecimento científico do território ....... 2,8b) Aproveitamento de recursos .................. 15
c) Povoamento .................................. -
d) Comunicações e transportes .................. 46,3
e) Instrução e saúde ........................... 5,4
f) Melhoramentos locais ........................ 29,2
g) Equipamentos dos serviços públicos .......... 1,3

ou ainda:a) Conhecimento científico do território ....... 2,8
b) Produção:Agricultura, silvicultura e pecuária ........... 8,6Energia e indústria ............................ 6,4 15

c) Infra-estruturas - Comunicações e transportes .. 46,5
) Serviços ....................................... 35,9Registam-se seguidamente, em relação à estrutura oficial do Plano, os aspectos mais relevantes da execução material; em a) continuou-se a revisão da cartografia geral e elaborou-se o esboço da carta de solos; em b) prosseguiu o cadastro da propriedade rústica, procedeu-se a estudos de experimentação para melhoramento agrário e iniciou-se o aproveitamento hidroeléctrico do rio Contador; em d) avançou-se na construção da estrada de cintura, concluiu-se a construção e apetrechamento do porto de Ana Chaves, efectuaram-se importantes trabalhos rio aeroporto de S. Tomé, melhoraram-se e ampliaram-se as comunicações telefónicas e instalou-se um emissor de ondas médias; em e) melhoraram-se instalações hospitalares e intensificou-se o combate às endemias: em f) construíram-se aldeamentos para trabalhadores, procedeu-se a abastecimentos de água, construíram-se escolas, ampliou-se o liceu e aterraram-se pântanos; em g) procedeu-se à aquisição de diversa maquinaria para estradas.

4.º Forma de financiamento:
Percentagens
) Recursos internos ................. 38,9
Recursos externos .................. 61,1

Os recursos internos abrangeram os saldos de execução do I Plano de Fomento, o imposto de sobrevalorizações e os saldos das contas de exercícios findos; os externos foram constituídos por empréstimos da metrópole.5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):1958 - 489,9 milhares de contos.
1963 - 442,9 milhares de contos.
Aumento (diminuição)- 9,6 por cento.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 2 por cento.b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 471,1 milhares de contos.
1963 - 426,3 milhares de contos.
Aumento (diminuição) - 9,5 por cento.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 2 por cento.c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 512,2 milhares de contos.
1963 - 472,4 milhares de contos.
Aumento (diminuição) - 1 ,8 por cento.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 1,6 por cento.d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:
Percentagens1958 ................. 32,11963 ................. 28,9Sector secundário:
1958 ................. 1,21963 ................. 2Sector terciário:1958 ................. 66,71963 ................. 69,1

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1958 - 299 dólares.
1963 - 278 dólares.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 1,5 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 288 dólares.
1963 - 268 dólares.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 1,5 por cento.

Os investimentos do II Plano não foram, portanto, suficientes ou bem colocados para neutralizar os efeitos da

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(963)

crise económica que afectou a província. Note-se, contudo, que os indicadores de 1963 são superiores aos dos anos anteriores além de que as análises preliminares já feitas parecem mostrar forte melhoria a partir de 1965. Considerando a taxa de crescimento anual média do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços correntes, obtém-se para o período de 1953-1963 um valor de 0,1 por cento, correspondendo a uma taxa negativa por habitante de - 1,2 por cento. É nítida a influência da quebra das cotações do cacau, que muito prejudicou a economia da província.

Angola

1.º Investimento:
Contos
a) Dotação inicialmente programada . 4 603 000
b) Dotação ajustada ................ 6 144 930
c) Coberturas realizadas ........... 4 279 555
d) Despesas efectuadas ............. 4 173 952

2.º Grau de execução:

a) Realização de meios financeiros:

4 279 555/6 144 930 = 69,7 por cento.

b) Execução efectiva:

4 173 952/4 279 555 = 97,5 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas:

4 173 952/6 144 930 = 67,9 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):
Percentagens
a) Conhecimento científico do território ... 5,7
b) Aproveitamento de recursos .............. 26,4
c) Povoamento .............................. 8,7
d) Comunicações e transportes .............. 49,7
e) Instrução e saúde ....................... 4,4
f) Melhoramentos locais .................... 4,8
g) Equipamento dos serviços públicos ....... 0,3

ou ainda:

a) Conhecimento científico do território ... 5,7
b) Produção:
Agricultura, silvicultura e pecuária
(incluindo povoamento) ..................... 24
Energia e indústria ........................ 11,1
35,1
c) Infra-estruturas - Comunicações e
transportes ................................ 49,7
d) Serviços ................................ 9,5

Tomando como base a estrutura oficial do plano, foram as seguintes principais realizações nele incluídas: em a) continuação da revisão da cartografia geral, prosseguimento do inventário das riquezas do subsolo e cartografia geológica, prosseguimento da elaboração da carta de solos, estudo de problemas de nutrição e estudos económicos; em b) intensificação de pesquisas e aproveitamento de água doce no Sul da província, estudos e assistência técnica com vista ao fomento pecuário, defesa contra a erosão, cedência ou aluguer d.e máquinas agrícolas, distribuição de sementes, assistência técnica à lavoura, repovoamento florestal e outras medidas de fomento florestal, conclusão de obras de rega do colonato da Matala, expansão dos trabalhos do colonato da Cela, estudos para o aproveitamento hidroagrícola do Cuanza-Bengo, investigação e experimentação agrícola, conclusão dos aproveitamentos hidroeléctricos de Cambambe e da Matala, construção do aproveitamento do Lomaum, pesquisas mineiras e começo da reorganização das actividades piscatórias e respectiva indústria; em c) conclusão do esquema de povoamento da Matala e desenvolvimento do Colonato da Cela, ensaios de colonização no Cuanza-Bengo; em d) forte impulso à concretização do plano rodoviário da província, alargamento da bitola do caminho de ferro de Luanda e construção de variantes no mesmo caminho, de ferro, trabalhos de melhoramentos do caminho de ferro de Moçâmedes e conclusão do lanço até Serpa Pinto, obras e estudos relativos à navegação fluvial no Sul e em Cabinda, início da construção de novo cais acostável no porto de Luanda,, além de equipamento diverso, melhoramentos rio-porto do Lobito, conclusão do cais acostável do porto de Moçâmedes e obras complementares diversas, melhoramentos vários nos portos secundários, em especial a conclusão da ponte-cais de Benguela, construção da pista para aviões a jacto no aeroporto de Luanda e de vários melhoramentos, importantes trabalhos nos aeródromos de Santo António do Zaire, Nova Lisboa, Silva Porto, Malanje, Cela, Lobito, Sá da Bandeira, Henrique de Carvalho, S. Salvador, Novo Redondo, Porto Amboim, Carmona, Cabinda, Moçâmedes, Pereira de Ecç, Cuangar, Benguela e Serpa Pinto, aquisição de aviões turbo-hélice para transporte interno, conclusão da rede fundamental de telecomunicações VHF e continuação da rede secundária, renovação de muitas linhas telefónicas; em e) construção de numerosas escolas primárias e postos escolares, conclusão das escolas industriais de Luanda e Nova Lisboa e início da escola industrial e comercial de Moçâmedes, conclusão do liceu feminino de Luanda e trabalhos de construção ou ampliação no liceu masculino de Luanda e nos de Nova Lisboa, Benguela e Lobito, numerosas obras de construção ou ampliação nos. hospitais de Luanda, Lobito, Silva Porto, Carmona, Malanje, Salazar, Novo Redondo e Nova Lisboa e em diversas formações sanitárias e centros de saúde; em f) numerosos abastecimentos de água e fornecimento de energia eléctrica a povoações disseminadas por toda a província, bem como esgotos em Vila Luso, Salazar e Nova Lisboa e construção de bairros populares em Luanda, Benguela e Lobito; em g) continuação da construção e equipamento do Laboratório de
Engenharia de Luanda.
4.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ............... 36,4
b) Recursos externos ............... 63,6

Nos recursos internos incluíram-se saldos de exercícios findos e do Fundo de Fomento de Angola, imposto de sobrevalorizações, receitas da Junta Provincial de Electrificação e comparticipação dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, lucros de amoedação, Fundo Cambial e empréstimo local; nos externos, empréstimos da metrópole e de várias empresas (Banco de Angola, Companhia do Caminho de Ferro de Benguela e Companhia dos Diamantes de Angola).

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):
1958 - 18583,1 milhares de contos.
1963 - 23 061,4 milhares de contos.
Aumento - 24,1 por cento.
Taxa média anual acumulada - 4,4 por cento.

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1662-(964) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver Tabela na Imagem]

e) Capitações do produto interno bruto ao custo de factores:

1958 - 139 dólares.
1963 - 157 dólares.
Taxa média anual acumulada - 2.5 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 131 dólares.
1963 - 159 dólares.
Taxa média anual acumulada - 3,9 por cento.

Quanto à taxa de crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços constantes, o seu valor no período de 1953 a 1963 foi de 3,4 por cento, correspondendo a uma taxa por habitante de 1,6 por cento. Os indicadores acima citados põem em evidência a falência das actividades terroristas em afectarem seriamente o progresso da economia angolana.

Moçambique

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada . 3 243 000
b) Dotação ajustada ................ 4 077 234
c) Coberturas realizadas ........... 3 689 929
d) Despesas efectuadas ............. 3 666 731

2.º Grau de execução:

a) Realização de meios financeiros:

3 689 929/4 077 234 = 90,5 por cento.

b) Execução efectiva:

3 666 731/3 689 929 = 99,4 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas:

3 666 731/4 077 234 = 89,9 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Em referência à estrutura oficial do Plano, enumeram- se os principais empreendimentos por ele custeados: em a) continuação da revisão da cartografia geral, inventário de pontos de água e estudos hidrogeológicos nos distritos de Lourenço Marques, Gaza e Inhambane, Zambézia e Cabo Delgado, com vista à fixação de populações e criação de , gado, fotografia aérea e carta fotogeológica, prospecção mineira, prospecção cintilométrica e magnetométrica, com vista à pesquisa de minerais radioactivos, continuação da elaboração da carta de solos, estudos de nutrição e estudos económicos; em b) fomento agrícola, florestal e pecuário, com relevo para trabalhos de hidráulica agrícola no Baixo Limpopo, plantação de eucaliptos, coqueiros, citrinos e espécies exóticas, estudos de pastagens nas regiões do Maputo, Sabié, Magude e Alto Limpopo, construção de numerosos tanques carracicidas, início da construção do Laboratório de Patologia Veterinária, combate às tripanossomíases, com ocupação humana das zonas desinfestadas, piscicultura na bacia do Revuè, realização e publicação do Reconhecimento Agrológico do Sul do Save, continuação da obra de rega do colonato do Limpopo, continuação dos estudos hidroagrícolas e de povoamento do Revuè, estudos do planeamento regional no vale do Zambeze; em c) continuação do esquema da colonização do Limpopo, instalação de colonatos experimentais no Revuè, estudos e início de colonização com base na cultura do chá, construção de uma fábrica colectiva de chá destinada aos pequenos agricultores, estudos e prestação de assistência técnica referentes à cultura do tabaco, início da colonização do vale do Maputo, com base na cultura do arroz; em d) continuação da execução do plano rodoviário (cujo ritmo de realização sofreu infelizmente sensível abrandamento a partir dos fins de 1961), prolongamento até ao Catur do caminho de ferro de Moçambique, construção do cais de minério do porto de Lourenço Marques e montagem da respectiva instalação carregadora, construção de mais 300 m de cais acostável no mesmo porto, construção dos cais 6 e 7 do porto da Beira, apetrechamento do porto de Nacala, construção da aerogare e outros melhoramentos no aeroporto de Lourenço Marques, melhoramentos e ampliações no aeroporto da Beira e nos aeródromos de Mocímboa da Praia, Vila Cabral, Nampula, Porto Amélia, Quelimane, Vila Cabral, Lumbo, Tete; Vilanculos e Inhambane; em e) conclusão de numerosas escolas primárias e de ensino de adaptação, dos

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(965)

Liceus de Pêro de Anaia, na Beira, e de António Enes, em Lourenço Marques, das Escolas Técnicas de Lourenço Marques, Inbambane, Quelimane e Nampula, da Escola Comercial e Industrial da Beira, da Escola Prática de Agricultura do Limpopo, 1.ª e 2.ª fases, pavilhão de oftalmologia, morgue e anotomia patológica, no hospital de Lourenço Marques, obras no hospital da Beira, início da construção do hospital de Nampula e início dos hospitais de dermatologia e de tuberculosos em Lourenço Marques; em f) iniciaram-se ou concluíram-se numerosos abastecimentos de água a povoações, pequenas represas para abeberamento de gados e comparticiparam-se trabalhos relativos à melhoria do abastecimento de energia eléctrica em Nampula, Porto Amélia, Inhambane, Vila Cabral, Tete e Catembe.

4.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ............... 47,3
b) Recursos externos ............... 52,7

Nos recursos internos englobaram-se saldos de exercícios findos e do I Plano de Fomento, imposto de sobrevalorizações, comparticipação dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes e da Junta do Algodão, lucros de amoedação e Fundo Cambial; nos externos, empréstimos da metrópole, do Banco Nacional
ultramarino e do Caminho de Ferro da Beira.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto nacional bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 22 232,7 milhares de contos.
1963 - 28 779,6 milhares de contos.
Aumento - 29,4 por cento.
Taxa média anual acumulada.- 5,3 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 21 157,7 milhares de contos.
1963 - 27 461,5 milhares de contos.
Aumento - 29,8 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,4 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 23 018,8 milhares de contos.
1963 - 29849,2 milhares de contos.
Aumento - 29,7 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,4 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:
Percentagens
1958 .................... 25,9
1963 .................... 24,9

Sector secundário:
1958 .................... 8
1963 .................... 10,4

Sector terciário:
1958 .................... 66,1
1963 .................... 64,7

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1958 - 121 dólares.
1963 - 147 dólares.
Taxa média anual acumulada - 4 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 115 dólares.
1963 - 141 dólares.
Taxa média anual acumulada - 4,2 por cento.

Considerando o período de 1953-1963, a taxa de crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços constantes, foi de 3,7 por cento e a correspondente taxa por habitante de 2,3 por cento.

Estado da Índia

A brutal agressão de Dezembro de 1961 e a ocupação por .tropas estrangeiras que desde então existe numa parcela de território nacional interrompeu a execução do II Plano de Fomento, cuja dotação inicialmente programada era de 214 056 contos. Tem, contudo, interesse o registo de alguns efeitos globais, que traduzem o impulso dado à economia da província, infelizmente agora sujeita à acção destrutiva de um Estado que visa a sua desintegração como entidade autónoma e o seu afundamento na maré alta de miséria e fome que a rodeia.

a) Produto nacional bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 2895,2 milhares de contos.
1963 - 3950,5 milhares de contos.
Aumento - 36,5 por cento.
Taxa média anual acumulada - 6,4 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 2697,1 milhares de contos.
1963 - 3530,8 milhares de contos.
Aumento - 30,9 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,5 por cento.

e) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 2948,9 milhares de contos.
1963 - 3930,1 milhares de contos.
Aumento - 33,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 5,9 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:
Percentagens
1958 ...................... 30,8
1963 ...................... 37,6

Sector secundário:
1958 ...................... 1,7
1963 ...................... 1,7

Sector terciário:
1958 ...................... 67,5
1963 ...................... 60,7

Página 966

1662-(966) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos \ factores:

1958 - 156 dólares.
1963 - 210 dólares.
Taxa média anual acumulada - 6,2 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 145 dólares.
1963 - 188 dólares.
Taxa média anual acumulada - 5,1 por cento.

Tomando a taxa do crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, a preços constantes, obtém-se o valor de 4 por cento no período de 1953-1963, correspondendo-lhe a taxa por habitante de 3,8 por cento.

Macau

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ... 210 472
b) Dotação ajustada .................. 366 111
c) Coberturas realizadas ............. 169 741

) Despesas efectuadas ............... 157 643

2.º Grau de execução:

a) Realização dos meios financeiros:

169 741/366 111 = 46,4 por cento.

b) Execução efectiva:

157 643/169 741 = 92,2 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas.

157 643/366 111 = 43,1 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):
Percentagens
a) Conhecimento científico do território ....... -
b) Aproveitamento de recursos .................. 18,4
c) Povoamento .................................. -
d) Comunicações e transportes .................. 40,2
e) Instrução e saúde ........................... 19,8
f) Melhoramentos locais ........................ 21,6
g) Equipamentos dos serviços públicos .......... -

ou ainda:

a) Conhecimento científico do território ....... -
b) Produção:
Agricultura, silvicultura e pecuária ........... 12
Energia e indústria ............................ 6,4
18,4
c) Infra-estruturas - Comunicações e transportes 40,2
d) Serviços .................................... 41,4

Em relação às alíneas em que se subdivide a estrutura oficial do Plano, podem registar-se as realizações mais importantes. Assim, em b) resgate de terrenos ao mar na ilha da Taipa e início de obras de aproveitamento hidroagrícola nessa ilha e na de Coloane, povoamento florestal, cadastro pecuário e assistência técnica à criação de animais, auxílio à diversificação industrial, instalação de oficinas gerais; em d) aquisição de diverso material de transporte marítimo, contrato para construção de uma draga, execução de dragagens e aterros no porto interior e construção do istmo de ligação entre as ilhas; em e) melhoramentos e ampliações diversas em edifícios escolares, construção de novos pavilhões, instalações e equipamento no hospital; em f) electrificação das ilhas, construção de moradias para funcionários, comparticipação na construção do novo mercado, continuação da construção da rede de esgotos e ampliação e melhoramento das redes de abastecimento de água e esgotos das ilhas.

4.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ..................... 19,1
b) Recursos externos ..................... 80,9

Os recursos internos abrangeram apenas os saldos de exercícios findos; nos externos contaram-se empréstimos e subsídios reembolsáveis da metrópole.

5.º Alguns aspectos globais:
a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 1121 milhares de contos.
1963 - 1657,9 milhares de contos.
Aumento - 47,9 por cento.
Taxa média anual acumulada - 8,1 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 1102,3 milhares de contos.
1963 - 1637,1 milhares de contos.
Aumento - 48,5 por cento.
Taxa média anual acumulada - 8,2 por cento.

c) Despesa imputada ao produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 1181,8 milhares de contos.
1963 - 1717,3 milhares de contos.
Aumento - 45,3 por cento.
Taxa média anual acumulada - 7,9 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

Sector primário:
Percentagens
1958 .................... 2,4
1963 .................... 3,5

Sector secundário:
1958 .................... 10,7
1963 .................... 16,9

Sector terciário:
1958 .................... 57,7
1963 .................... 79,6

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1958 - 232 dólares.
1963 - 328 dólares.
Taxa média anual acumulada - 7,2 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 228 dólares.
1903 - 324 dólares.
Taxa média anual acumulada - 7,3 por cento.

Estes indicadores traduzem a expansão verdadeiramente espectacular da economia da província no período consi-

Página 967

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(967)

derado. Considerando o período de 1958-1968, nota-se que a taxa de crescimento anual médio do produto interno bruto aos preços do mercado, aos preços constantes, foi de 4,4 por cento e a correspondente taxa por habitante de 4,3 por cento.

Timor

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ... 220 000
b) Dotação ajustada .................. 430 806
c) Coberturas realizadas ............. 257 575
d) Despesas efectuadas ............... 243 245

2.º Grau de execução:

a) Realização dos meios financeiros:

257 575/430 806 = 59,8 por cento.

b) Execução efectiva:

243 245/257 575 = 94,4 por cento.

c) Execução em relação às dotações ajustadas:

243 245/430 806 = 56,5 por cento.

3.º Estrutura do Plano (em relação ao total despendido):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Sempre em referência à estrutura oficial do Plano, os principais empreendimentos nele incluídos foram: em b) instalação de postos e campos de experimentação agrícola, levantamento de cartas de solos, pequenos aproveitamentos hidroagrícolas, distribuição de ferramental agrícola e cedência de máquinas de lavoura e gado de trabalho, distribuição de sementes seleccionadas, combate às pragas, instalação de viveiros florestais e promoção do respectivo repovoamento, aumento do armentio da província e assistência técnica aos criadores, impulso à prospecção mineira e à cultura e tratamento de tabaco e iniciativas no campo do turismo; em d) trabalhos em estradas e pontes, conclusão e apetrechamento do porto de Díli, construção e melhoramentos de traçados telefónicos; em e) vários trabalhos em edifícios escolares, construção do hospital regional de Maliana (concluída a 1.ª fase e iniciada a 2.a) e melhorias no hospital de Díli; em f) completamento do abastecimento de água de Díli, beneficiação do sistema de abastecimento de energia eléctrica à cidade, pequenos trabalhos de urbanização, aterros e saneamento; em g) construção de residências para funcionários,

4.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................ -
b) Recursos externos ................ 100

Os recursos externos foram constituídos por empréstimos e subsídios reembolsáveis da metrópole e por transferência de saldos de Macau.

5.º Alguns aspectos globais:

a) Produto interno bruto ao custo dos factores (aos preços correntes):

1958 - 1094,3 milhares de contos.
1963 - 1138,6 milhares de contos.
Aumento - 4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 0,8 por cento.

b) Rendimento nacional (aos preços correntes):

1958 - 1086 milhares de contos.
1963 - 1105,6 milhares de contos.
Aumento - 1,8 por cento.
Taxa média anual acumulada - 0,4 por cento.

c) Despesa imputada ao produto nacional bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

1958 - 1105,7 milhares de contos.
1963 - 1154,1 milhares de contos.
Aumento - 4,4 por cento.
Taxa média anual acumulada - 0,9 por cento.

d) Origem do produto interno bruto aos preços do mercado (aos preços correntes):

[Ver Tabela na Imagem]

e) Capitações do produto interno bruto ao custo dos factores:

1958 - 76 dólares.
1963 - 73 dólares.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 0,8 por cento.

f) Capitações do rendimento nacional:

1958 - 75 dólares.
1963 - 71 dólares.
Taxa média anual acumulada (negativa) - 1,1 por cento.

O exame dos indicadores revela a difícil posição económica da província e a necessidade de uma política estimulante do desenvolvimento.
No período de 1953-1963, a taxa de crescimento anual média do produto interno bruto ao preço do mercado, aos preços constantes, foi de 1,6 por cento e a respectiva taxa por habitante de apenas, 0,1 por cento. Provavelmente a variação dos indicadores terá sido afectada pelas circunstâncias anormais do período da guerra e ocupação e daquele que imediatamente se lhe seguiu.

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1662-(968) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

17. No quadro II procurou-se sintetizar os aspectos mais relevantes da execução do II Plano. Podem desde já salientar-se os seguintes:

a) Influência de vultosas despesas com a defesa nacional na realização das coberturas financeiras necessárias, que só atingiram 75 por cento das previsões;
b) Bom coeficiente de realização do Plano em relação às disponibilidades financeiras efectivamente realizadas, atingindo-se uma média de 96,8 por cento, com os máximos de 97,5, 99 e 99,4 por cento, respectivamente em Angola, Guiné e Moçambique;
c) Predominância dos investimentos em infra-estruturas (transportes e comunicações), atingindo mais de metade do total despendido;
d) Variações acentuadas de província para província na estrutura do Plano, mas semelhança nas estrutura dos planos de Angola e Moçambique;
e) Financiamento de pouco mais de um terço do montante global por recursos internos das províncias, o que representa total inversão de proporções em relação ao I Plano; apoio total da metrópole ao plano de Timor e muito importante ao de Cabo Verde;
f) Taxa média anual acumulada de crescimento do produto interno bruto com valores satisfatórios, excepto em S. Tomé e Príncipe e Timor; valores acima da média em Moçambique, Estado da Índia e, sobretudo, Macau;
g) Bons valores da taxa anual do crescimento do produto interno bruto e da respectiva taxa- de capitação na Guiné, Moçambique, Estado da Índia e, sobretudo, Macau.

QUADRO II

II Plano de Fomento (1959-1964)

Síntese dos aspectos mais importantes

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Refere-se apenas tios anos de 1959 e 1960.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(969)

18. O Plano Intercalar de Fomento, previsto para um período trienal em lugar de sexenal, em face das incertezas e condicionalismos prevalecentes quando da sua preparação, marcou de facto um passo novo na tradição da planificação portuguesa. Com efeito, no campo nacional, apresentou-se como um programa global de desenvolvimento económico-social de todo o espaço português, abrangendo o sector público e o privado (embora, quanto a este, com carácter indicativo); e no campo ultramarino foi precedido de estudos de base mais completos e pormenorizados do que os seus predecessores. Os seus objectivos foram definidos na Lei n.º 2123, de 14 de Dezembro de 1964, como a aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional e a repartição mais equilibrada do rendimento nacional, tendo por finalidade o progresso económico e social do povo português. A realização desses objectivos ficou subordinada à coordenação com o esforço de defesa da integridade do território nacional, à manutenção da estabilidade financeira interna e da solvabilidade externa da moeda e ao equilíbrio do mercado de trabalho.
Também a sua estruturação aparece mais diferenciada que a do II Plano; em lugar das sete rubricas que o integravam adoptaram-se onze, a seguir designadas: «Conhecimento científico do território e das populações e investigação científica», «Agricultura, silvicultura e pecuária», «Pesca», «Indústria», «Energia»,, «Transportes e comunicações», «Turismo», «Ensino», «Habitações e melhoramentos locais», «Saúde» e «Promoção social».

19. Estando apenas disponível o relatório referente à execução do Plano Intercalar em 1965, não é possível ainda fazer um juízo seguro da marcha da sua execução. E lacuna que convém evitar de futuro. O mesmo se dirá do atraso na elaboração e publicação dos dados da contabilidade nacional das províncias, os últimos disponíveis ainda referentes a 1963.
A Câmara chama a atenção do Governo para a necessidade que há de eliminar estas deficiências.

20. Em relação ao conjunto do ultramar, salientam-se seguidamente alguns aspectos mais relevantes:

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ..... 14 400 000
b) Dotação ajustada .................... 14 607 023

A diferença traduz fundamentalmente os reforços efectuados com os saldos do II Plano de Fomento.

2.º Estrutura do Plano (em relação à dotação inicialmente programada):

[Ver Tabela na Imagem]

ou seja, adoptando o esquema concentrado já anteriormente utilizado:

[Ver Tabela na Imagem]

Nota-se, imediatamente, a maior importância relativa assumida pelos investimentos destinados à produção e a diminuição da percentagem consignada a infra-estruturas.

3.º Forma de financiamento:

[Ver Tabela na Imagem]

Os recursos internos seriam provenientes do sector público (saldos de contas de exercícios findos, lucros de amoedação, imposto de sobrevalorizações, organismos autónomos e autarquias locais) e do sector privado (empréstimo de institutos de crédito e promissórias tomadas por estes, autofinanciamentos, emissão de obrigações de fomento, participação privada nas previstas sociedades de financiamento); os recursos externos proviriam do sector público (Administração Central, por empréstimos, amortizações contratuais de empréstimos anteriormente concedidos e outras modalidades de assistência financeira.) e do sector privado. (operações de crédito externo, incluindo financiamentos puros e financiamentos para equipamentos).
Note-se que foi planeada uma participação muito substancial dos recursos internos, que se aproximam de metade do total a financiar.
Não há ainda elementos suficientes que permitam apreciar com clareza como se cumpriu este esquema de financiamento, o que seria do maior interesse conhecer.

21. Proceder-se-á em seguida a um breve exame dos elementos referentes a içada província.

[Ver Tabela na Imagem]

Página 970

1662-(970) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda, por grandes sectores:

[Ver Tabela na Imagem]

Os principais empreendimentos programados foram os seguintes, «m relação à estrutura oficial do Plano: em a) actualização da cartografia, geral, estudos sobre a população e o aproveitamento de energia eólica e solar, documentação estatística, estudos económicos e demográficos; em b) adaptação ao regadio dos aproveitamentos hidroagrícolas realizados e aproveitamento integral de novos regadios, plantios industriais, utilização de águas salobras na agricultura, conservação do solo e defesa contra a erosão; em c) esforço em grande escala de valorização do sector, incluindo estudos, renovação dos meios de pesca, alargamento do seu âmbito, salga, secagem e refrigeração; em d) abastecimento d>e energia eléctrica de povoações, extensão e melhoramento de redes de distribuição; em e) continuação da carta geológica, estudos R realizações para aproveitamento de água doce, fomento de produção das pozolanas e do sal, melhoria e ampliação dos estaleiros navais, extracção de óleo da purgueira e fabrico de sabões, curtumes, calcado, fabrico de malas, pastas e artigos de viagem e melhoramento da aguardente de cana; em f) continuação da execução do plano rodoviário, conclusão de obras acessórias do Porto Grande de S. Vicente, obras acessórias e equipamento do Porto Novo, 1.ª fase do porto de Vale de Cavaleiros, na ilha do Fogo, continuação de obras do aeroporto do Sal, melhorias nos aeródromos da rede interna, instalações de equipamentos SSB para comunicações entre as ilhas, equipamento das estações radiocosteiras da Praia e de S. Vicente, diversos edifícios de estações telégrafo-postais; em h) abastecimento de água do Mindelo e de outras povoações, esgotos na cidade da Praia e no Mindelo, trabalhos de. urbanização noutras duas cidades; em i) generalização do ensino primário, educação de adultos, construção e apetrechamento de liceus e escolas, preparação de pessoal docente, conclusão de instalações hospitalares ou construção de outras, assistência materno-infantil, luta contra as endemias, campanhas de educação sanitária, saneamento e salubridade.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos .................. -
b) Recursos externos .................. 100

Nos recursos externos contam-se empréstimos da metrópole, sem juros, e o financiamento externo do aeroporto do Sal.

Guiné

[Ver Tabela na Imagem]

2.º Estrutura do Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Em relação à estrutura oficial do Plano, os principais empreendimentos programados foram os seguintes: em a) conclusão do levantamento hidrográfico, cobertura fotogeológica do território, carta de vegetação, carta etnográfica, estudos hidrológicos, com levantamento de carta hidrológica, continuação do estudo de rios e prospecção de águas, melhoria do equipamento meteorológico, organização e apetrechamento dos serviços de estatística, estudos económicos e demográficos; em b) conclusão do estudo dos solos, investigação agronómica, aproveitamentos dos terrenos para cultura de arroz, plantação de mandioca em terrenos de sequeiro, culturas regadas de hortas e pomares, plantações de palmeira-do-azeite, de bananais e de cajuais; em c) aumento e melhoria da frota pesqueira, melhoria de condições da preparação, conservação e refrigeração do pescado; em d) aumento dos meios de produção e distribuição de energia em Bissau e outras povoações; em e) prosseguimento da carta geológica, pesquisas mineiras (ilmenites, fosfates e outros minérios), exploração de bauxites, indústrias ligadas à agricultura; em f) conclusão da estrada de Bissau a Nova Lamego, conclusão da ponte do Colufi e respectivos acessos, melhoria da conservação de estradas existentes, diversas obras portuárias e fluviais (vem-se realizando com método as referentes ao porto de Bissau, aliás não incluídas inicialmente no programa), melhoria do aeroporto de Bissau, transportes aéreos internos, incluindo aquisição de aviões, melhoria da rede de telecomunicações da província e centrais telefónicas com as respectivas redes em Bolama, Bafatá, Farim e Teixeira Pinto; em h) abastecimento de água das povoações, redes de esgoto em centros

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urbanos e trabalhos de urbanização; em i) generalização do ensino primário e realização de programas de educação de adultos, desenvolvimento do ensino técnico e liceal, melhoramentos, construção, ampliação e equipamento de instalações sanitárias e hospitalares, campanhas contra a tuberculose, doença do sono, oncocercose, malária e outras endemias, assistência materno-infantil, desenvolvimento comunitário e formação intensiva do pessoal sanitário e de enfermagem, melhoria dos equipamentos, instalações e serviços de radiodifusão.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................ -
b) Recursos externos ................ 100

Os recursos externos serão exclusivamente assegurados por empréstimos da metrópole.

S. Tomé e Príncipe

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ... 180 000
b) Dotação ajustada .................. 199 302

2.º Estrutura do Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Anotam-se os principais objectivos visados dentro das alíneas da estrutura oficial do Plano. Em a) conclusão dos trabalhos de cadastro da propriedade rústica, estudos hidrológicos, melhoria de equipamento meteorológico, estudos da população, documentação estatística, estudos económicos e demográficos; em b) assistência técnica à agricultura, difusão de sementes e plantas melhoradas, aproveitamento de terras para pequenos esquemas de regadio e povoamento, substituição progressiva da frota pesqueira, entreposto frigorífico em S. Tomé e fábrica de gelo; em d) conclusão do aproveitamento hidroeléctrico do rio Contador e da linha de transporte da respectiva central à cidade de S. Tomé, electrificação de povoações; em e) carta geológica, trabalhos e estudos de hidrologia e pedologia, ocorrências de guano, prospecção de pedreiras, centrais tecnológicas de cacau e para a extracção de óleo de palma; em f) continuação da estrada de cintura da ilha de S. Tomé e estrada de ligação da cidade de Santo António (no Príncipe) ao aeroporto, estudos portuários, trabalhos nos aeródromos de S. Tomé e Príncipe, melhoria das comunicações telefónicas e telegráficas e dos centros emissores e receptores de telecomunicações; em g) abastecimento de água de povoações; em i) generalização do ensino primário, programas de educação de adultos, campanha contra a malária, melhoria, ampliação e equipamento de instalações hospitalares e sanitárias existentes e ampliação e melhoramento das instalações e equipamento de radiodifusão.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................. -
b) Recursos externos ................. 100

A metrópole assegurará, mediante em préstimos, a total cobertura financeira do plano.

Angola

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotações inicialmente programadas ........ 7 210 000
b) Dotação ajustada ......................... 7 325 104

2.º Estrutura do Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

De acordo com a estrutura oficial do Plano, programaram-se os seguintes empreendimentos prioritários: em a) continuação da elaboração da carta da província na escala 1:100 000, ocupação hidrológica das bacias dos rios Cunene, Cubango, Guando, Lumege e Bungo, ampliação da rede meteorológica e levantamento geomagnético, trabalhos de investigação a realizar pelo Laboratório de Engenharia de Angola e pelo Instituto de Investigação

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Científica, reorganização da estatística, estudos demográficos e estudos económicos; em b) continuação da elaboração da carta de solos, investigação agro-silvo-pecuária de base, intensificação da assistência técnica aos agricultores e criadores de gado, consolidação do colonato da Cela, continuação dos estudos do aproveitamento do Bengo, regadios de N'Gola e Hoque e aproveitamento do vale do Cavaco, assistência técnica aos colonos da Matala, estudos de industrialização e comercialização de produtos agrícolas e reforços dos meios destinados ao crédito agrícola; em c) melhoria e ampliação da frota pesqueira, racionalização dos meios de captura, unidades de refrigeração e congelação, construção ou conservação de unidades fabris de aproveitamento de pescado, repovoamento das águas interiores e instalação de cooperativas de produção; em d) construção de linhas de alta tensão (Moçâmedes a Porto Alexandre, Cambambe e Salazar e Malanje, linhas a irradiar da central das Mabubas), estudo geral do aproveitamento do Cunene, aproveitamento do rio Cunge, reforço da comparticipação nos aproveitamentos já realizados em Cambambe e Lomaum, incluindo do transporte de energia, e a electrificação de pequenas povoações; em e) continuação da carta geológica e apetrechamento do Laboratório de Mineralogia e Geologia, continuação dos estudos e trabalhos de aproveitamento dos meios de obtenção de água doce no Sul da província, prospecção mineira, prospecção geofísica e assistência técnica a pesquisadores e concessionários de minas, lançamento da sociedade de financiamento e desenvolvimento e, por seu intermédio, apoio efectivo à industrialização da província, compreendendo participação no capital, crédito industrial, realização de empréstimos, assistência técnica financeira e lançamento de novos empreendimentos; em f) prosseguimento do plano rodo: viário, trabalhos nos caminhos de ferro de Luanda e Moçâmedes (compreendendo a construção do canal mineiro de Cassinga), aquisição de material circulante, conclusão dos novos cais acostáveis de Luanda e início da construção do porto mineiro, trabalhos de defesa da restinga do porto do Lobito e prosseguimento de dragagens, complemento das instalações do porto de Moçâmedes, incluindo o porto mineiro, conclusão da adaptação ao tráfego de jactos de longo curso dos aeroportos de Luanda e Nova Lisboa, completamento dos aeródromos da rede interna e aquisição de mais um avião turbo-hélice, ampliação e melhoramento das redes telefónicas e telegráficas, instalação telex, construção de edifícios respectivos, continuação da instalação da rede de VHF e instalação SSB Serpa Pinto-Portugália-Luanda; em g) trabalhos de infra-estrutura turística; em h) prosseguimento da construção de bairros populares nos centros urbanos, recurso à autoconstrução, abastecimento de água, esgotos e saneamento de aglomerados populacionais, trabalhos de urbanização, defesa de Benguela contra as cheias, correcção torrencial e defesa contra a erosão; em i) generalização do ensino primário, elevação acelerada da taxa de escolarização, programas de educação de adultos, construção e equipamento de novos liceus, escolas técnicas elementares e escolas comerciais e industriais, ampliação e melhoramento de edifícios já existentes, instalação de lares de estudantes, preparação de pessoal docente, campanhas sanitárias intensivas e preparação do respectivo pessoal, melhoria, ampliação e construção de instalações sanitárias ou hospitalares, completamento e melhoramento da rede de emissores de radiodifusão, aumento de capacidade de recepção e escuta.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................. 46,6
b) Recursos externos ................. 53,4

Quanto aos recursos internos, além da participação do sector público, através dos saldos de exercícios findos, o sector privado interviria sob a forma de empréstimos ou tomada de promissórias por parte de institutos de crédito, autofinanciamento de empresas, subscrição de obrigações de fomento e participação privada na prevista sociedade de financiamento e desenvolvimento; os recursos externos seriam materializados no sector público pelos empréstimos ou outras modalidades de assistência financeira da metrópole e no sector privado por operações de crédito externo.

Moçambique

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada .... 5 400 000
b) Dotação ajustada ................... 5 423 197

2.º Estrutura do Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Continuando a seguir a estrutura oficial do Plano, põem-se em relevo seguidamente os principais empreendimentos nele previstos: em a) publicação de parte apreciável da carta da província revista e continuação da respectiva cobertura fotográfica aérea, estudos hidrológicos e sua divulgação, alargamento e melhoria da rede meteorológica, investigação tecnológica e agro-pecuária, documentação estatística, estudos demográficos e económicos e contabilidade económica; em b) continuação da carta de solos, conclusão e apetrechamento do Laboratório Central de Patologia Veterinária, investigação de base nos campos agronómico e pecuário, estabelecimento de parques de máquinas agrícolas, assistência técnica aos agricultores e criadores de gado, aumento da produção de açúcar, luta contra a tuberculose e brucelose do gado bovino, construção de tanques carracicidas, conclusão das obras

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de rega do colonato do Limpopo, construção da barragem de Massingir, prosseguimento de obras de beneficiação nos vales do Incomati e do Maputo e fixação de agricultores nesses dois esquemas hidroagrícolas, continuação dos trabalhos de colonização na bacia do Revuè e continuação dos estudos- de planeamento regional da bacia do Zambeze, rede de armazenagem, de produtos em ligação com as instalações já existentes nos portos e reactivação da Caixa de Crédito Agrícola; em c) reestruturação da indústria da pesca, com renovação e ampliação da respectiva frota, instalação de meios frigoríficos e de transformação de pescado, fomento de empresas com dimensão apropriada, estudos básicos e repovoamento das águas interiores; em d) ampliação da central, térmica de Lourenço Marques e construção das linhas de alta tensão Lourenço Marques -Manbiça, Boane-Namaacha e Beira-Quelimane, construção da central da Chicamba no aproveitamento do Revuè, electrificação de povoações e cobertura de empreendimentos já realizados; em e) continuação da carta geológica, conclusão dos estudos de aproveitamento de meios de obtenção de água doce nos distritos de Manica e Sofala e Cabo Delgado, prospecção e reconhecimentos mineiros e impulso à industrialização, principalmente por meio do lançamento da prevista sociedade de financiamento do desenvolvimento, actuando nos moldes já referidos a propósito do programa de Angola; em f) prosseguimento da execução do plano rodoviário, prolongamento do caminho de ferro de Moçambique do Catur a Vila Cabral, ligação ferroviária de Nova Freixo aos caminhos de ferro do Malawi, forte esforço de equipamento, sobretudo em material circulante, conclusão do prolongamento do cais Gorjão, no porto de Lourenço Marques, instalação de carregamento de açúcar e cereais, além de outros melhoramentos, no mesmo porto, cais 9 e 10 do porto da Beira, bem como dragagens, cais do Chivave e doca seca, plano inclinado para reparação de embarcações no porto de Nacala, estudos diversos e aquisição de rebocadores e outro equipamento portuário, conclusão do aeroporto da Beira e seu equipamento, melhoramentos nos aeroportos de Quelimane, Vilanculos, Inhambane, Porto Amélia, Nampula, Vila Cabral e Lourenço Marques, continuação do programa de ligações telefónicas e t telegráficas, centrais e redes telefónicas urbanas e automáticas e edifícios de exploração telégrafo postal; em g) fomento turístico; em h) construção de bairros populares em diversas cidades da província, abastecimento de água e redes de esgotos em centros urbanos e trabalhos de urbanização; em i) instalações escolares de todos os graus e preparação de pessoal docente, combate às endemias, continuação do programa de construções hospitalares ou sua ampliação e aquisição de equipamento.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................... 51,5
b) Recursos externos ................... 48,5

Os recursos internos seriam provenientes, no sector público, de saldos de exercícios findos e, no sector privado, de empréstimos e tomada de promissórias por parte dos institutos de crédito, autofinanciamentos de empresas, subscrição de obrigações de fomento e participação privada na prevista sociedade de financiamento do desenvolvimento; os recursos externos proviriam, com origem pública, de empréstimos e outras formas de assistência financeira da metrópole e, com origem privada, de operações de crédito externo.

Macau

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada .... 660 000
b) Dotação ajustada ................... 672 097

2.º Estrutura ao Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Tomando como base as alíneas do esquema oficial de planeamento, registam-se como empreendimentos principais: em a) levantamento hidrográfico da província, melhoramento de instalações e apetrechamento meteorológico, pequeno laboratório de ensaios de materiais, estudos demográficos e económicos; em b) posto experimental agro-pecuário e defesa sanitária de plantas e animais, desenvolvimento da cultura de frutas, hortaliças e pastagens, avicultura, suinicultura e gado leiteiro e de matas, parques e jardins, para fins de turismo, resgate de terrenos ao mar e seu aproveitamento; em d) ampliação da central eléctrica de Macau e melhoria da electrificação das ilhas; em e) impulso à industrialização, compreendendo, além dos estudos e da concessão de facilidades à iniciativa privada, o estabelecimento das indústrias de café e chá solúveis e do descasque e preparo da castanha de caju; em f) interligação das ilhas, dragagens no porto, aterros, dragagem, do canal de acesso de Macau a Taipa e Coloane, fecho da boca sul do porto exterior, construção de duas pontes para atracação, ampliação de meios de reparação de navios, incluindo equipamentos, aquisição de mais hidroplanadores para a ligação Macau-Hong-Kong; em g) continuação do desenvolvimento de equipamento turístico em transportes, hotéis, diversões e outras actividades, valorização do património artístico e monumental da cidade, aproveitamento das ilhas para fins de recreio, desporto e repouso; em h) construção de habitações para funcionários do Estado e do Leal Senado e comparticipação na construção de bairros populares, novo reservatório para abastecimento de água e melhoria da rede de distribuição, continuação da construção da rede de esgotos, trabalhos

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de urbanização e comparticipação num novo mercado; em i) aumento da possibilidade de acesso dos alunos aos diferentes graus de ensino, intensificação do ensino técnico e profissional especializado, conclusão do hospital geral e formações sanitárias, incluindo equipamento, construção de centros de recuperação e reabilitação médica, construção de pavilhões para tuberculosos e psiquiatria, construção de dispensários polivalentes, alargamento da assistência materno-infantil, combate às endemias, campanha de educação sanitária, saneamento e salubridade e preparação de pessoal.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ................. 100
b) Recursos externos ................. -

Todo o Plano seria financiado por recursos internos, compreendendo, no sector público, saldos de contas da exercícios findos e comparticipações do Leal Senado e da Provedoria da Assistência Pública; e, no sector privado, operações de autofinanciamento, particularmente relevantes no campo do turismo.

Timor

1.º Investimentos:
Contos
a) Dotação inicialmente programada ...... 270 000
b) Dotação ajustada ..................... 284 329

2.º Estrutura do Plano (em relação às dotações inicialmente programadas):

[Ver Tabela na Imagem]

ou ainda:

[Ver Tabela na Imagem]

Na base da estrutura oficial da planificação, previram-se os empreendimentos principais seguintes: em a) levantamentos cartográficos, montagem de serviços hidrométricos e hidrológicos, levantamento magnético, estudos de população, organização da estatística e estudos demográficos; em b) fomento de culturas alimentares V do café, borracha, pimenta e baunilha, aumento da área destinada à cultura do arroz, suplementada com a cultura do coqueiro, criação de gado e piscicultura; em c) repovoamento piscícola das águas interiores, estudos de biologia marítima, melhoria da pesca artesanal e impulso à pesca industrial, regularização do abastecimento interno do pescado, entreposto frigorífico em Díli, oficinas de salga e secagem; em d) aproveitamento hidroeléctrico em Baucau, electrificação de povoações, reforço da central de Díli e melhoria da sua rede de distribuição; em e) continuação da carta geológica, estudos hidrológicos com vista à obtenção de água doce, prospecção, pesquisas e reconhecimentos mineiros (cromites, ouro, cobre, manganês e mármores), assistência e impulso à industrialização; em f) construção das estradas Díli-Suai ou Díli-Baucau, trabalhos de reparação ou melhoramento em outras, construção de obras de arte e mecanização da conservação, plano inclinado no porto de Díli, pequenos portos no litoral não acessível por estrada, melhoramentos no aeroporto de Baucau, construção de uma pista no aeródromo de Díli e melhoramentos nos aeródromos de Ocússi, Ataúro e Core, melhoramentos das telecomunicações com o exterior (em especial com a metrópole), ampliação da central telefónica de Díli, melhoramento da rede e novos traçados aéreos; em g) investimentos em infra-estruturas e propaganda turística; em h) construção de casas para funcionários, enxugo de pântanos em Díli, abastecimento de água de povoações e trabalhos de urbanização; em i) aumento do número de escolas primárias e técnicas elementares, melhoria das instalações liceais, ampliação e beneficiação, do hospital central, construção dos postos sanitários e prestação de assistência, aquisição de algum equipamento de radiodifusão e melhor adaptação das respectivas instalações.

3.º Forma de financiamento:
Percentagens
a) Recursos internos ............. -
b) Recursos externos ............. 100

O plano seria integralmente financiado por subsídios gratuitos da metrópole, reembolsáveis na medida das possibilidades orçamentais da província.

22. No quadro III resumem-se os elementos de informação mais importantes quanto ao Plano Intercalar de Fomento, sendo esses elementos forçosamente deficientes e incompletos por falta de informações sobre a execução. Podem, no entanto, pôr-se em evidência os seguintes aspectos:

a) Diminuição do peso de realização de infra-estruturas de transportes e comunicações no conjunto do plano, o que não significa, evidentemente, diminuição em valor absoluto;
b) Em contrapartida, valorização sensível dos investimentos ligados à produção, em parte como consequência da inclusão de um certo número de empreendimentos a título indicativo;
c) Variação acentuada na estrutura do plano de província para província, mas semelhança nítida nas estruturas dos planos de Angola e Moçambique;
d) Financiamento de cerca de metade dos investimentos programados por recursos internos nas províncias de Angola e Moçambique; financiamento total por esta origem na província de Macau; apoio total da metrópole ao financiamento dos planos de Cabo Verde (exceptuando o aeroporto do Sal), Guiné, S. Tomé e Príncipe e Timor.

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QUADRO III

Plano Intercalar de Fomento (1965-1967)

Síntese de alguns aspectos importantes

[Ver Tabela na Imagem]

§ 3.º Os travões administrativos da execução dos planos

23. Em rigor, a matéria que vai ser tratada neste parágrafo caberia na designação geral do anterior, já que se trata de lições colhidas da experiência de execução dos planos realizados ou em realização.
Mas a Câmara julga que o assunto se reveste de invulgar importância e que afinal se traduz num deficiente aproveitamento de recursos públicos em consequência de situações meramente formais, que poderão ser remediadas por acção do Governo, as mais importantes, e até das administrações provinciais, ,em parte que se julga apreciável.
O que se pensa é que a prática actual não deve continuar e que as rotinas criadas ao longo de quase quinze anos de planificação podem e devem ser rectificadas a tempo de não pesarem inexoravelmente sobre o III Plano de Fomento, mesmo que para tal seja necessária a promulgação de legislação adequada.
Assim, os pontos que se entende deverem ser objecto de cuidadoso exame e indispensáveis providências são os seguintes:

a) Transição dos saldos anuais de execução do Plano;
b) b) Materialização dos esquemas de financiamento;
c) Aprovação dos programas anuais de execução;
d) Diferenciação das fontes de financiamento;
e) Transferência de verbas entre rubricas secundárias do Plano;
f) Atrasos de estudos e projectos;
g) Descoordenação entre serviços.

24. Começará por analisar-se o que se passa com a transição para o ano seguinte dos saldos de execução dos planos referentes a determinado ano.
Por definição, os planos são plurianuais e assim correspondem - ou deviam corresponder - a verdadeiros orçamentos extraordinários cobrindo o período da sua vigência, embora sujeitos, como é lógico, aos ajustamentos, correcções e adaptações introduzidos mediante o estabelecimento e aprovação de programas anuais de execução. Por outro lado, a parte mais vultosa do seu montante destina-se a empreendimentos ou investimentos que se estendem por mais de um ano. E só excepcionalmente é que as dotações fixadas em cada ano para cada empreendimento são integralmente consumidas nesse ano, mercê de inevitáveis atrasos, problemas de execução ou até de mero processamento administrativo.
Pareceria lógico, portanto, que a parcela não utilizada em determinado ano dos empreendimentos já lançados, contratados ou em execução pudesse ser utilizada sem mais formalidades no ano seguinte. Mas não sucede assim. Surge a barreira do fim do período do exercício e os saldos existentes caducam automàticamente. Depois é necessário esperar pelo fecho de coutas do exercício, preparar, pelos órgãos provinciais, proposta de reforço das dotações correspondentes do novo ano com os saldos apurados, o seu envio aos órgãos apropriados do Ministério do Ultramar, a elaboração aí de proposta a ser submetida ao Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, a sua eventual, aprovação, a elaboração e publicação no Diário do Governo da respectiva portaria de execução, a sua transcrição (quando o Diário do Governo chega às províncias) no respectivo Boletim Oficial para a mobilização e disposição dos respectivos créditos. Os resultados estão à vista; ainda no corrente ano, só em Agosto e Setembro estão a ser publicados no Diário do Governo algumas portarias de reforço.
Por outro lado, na execução material do plano, ou se param os trabalhos respectivos à espera de reforço, ou se mantém o pessoal respectivo em regime reduzido de actividade, ou se atrasam vencimentos, salários ou pagamentos a empreiteiros, ou se utilizam dotações correspondentes do ano corrente, diferindo, em consequência, o lançamento ou o andamento de outros empreendimentos e agravando progressivamente, de ano para ano, uma situação inconveniente.
Estas consequências resultam, também, aliás, da existência de outros travões, que seguidamente serão referidos.

25. O mais grave de entre eles é o do atraso de materialização do esquema financeiro referente a cada ano. Cada plano pressupõe a aprovação prévia, em devido tempo, da forma como terão de realizar-se os meios financeiros para a sua execução e, em cada ano, da concretização da respectiva parcela. É da competência dos go-

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vernos provinciais a mobilização dos recursos da província ou que nela tenham de ser obtidos; e do Governo Central a obtenção dos recursos estranhos a cada uma das províncias ou provenientes do estrangeiro. Tem-se, porém, verificado que a metrópole não tem realizado integralmente as suas participações em empréstimos e subsídios às províncias conforme os esquemas aprovados para cada plano; e, por outro lado, a definição da participação realizável tem sido feita tardiamente em cada ano e a sua entrega ainda mais tarde (por vezes já no ano seguinte àquele a que diz respeito). Daí resultam, além dos efeitos gerais já assinalados no número anterior, tensões graves nas tesourarias provinciais, na medida em que se efectuaram adiantamentos de fundos para não suspender empreendimentos em curso; efeitos sobre a balança de pagamentos com a metrópole; natural retracção dos governos provinciais em assumirem novos compromissos de execução e empreendimento, na incerteza da materialização de coberturas previstas; e, portanto, atrasos e distorções na marcha do plano.
Pelo que respeita a coberturas a obter por operações de crédito externo, seja por financiamentos puros ou ligados à aquisição de equipamentos, as províncias não podem, por imperativo constitucional, assumir responsabilidades em praças estrangeiras. Terá de ser a metrópole a fazê-lo e, em parte pela lentidão da análise dos problemas inerentes, em parte pelo indispensável e louvável cuidado na obtenção de condições satisfatórias e apreciação dos seus reflexos na posição geral do crédito nacional e da solvabilidade externa da moeda, resultam também aqui inevitáveis atrasos que introduzem novos factores de perturbação na materialização dos esquemas de financiamento. O problema é particularmente sensível quando é exigido o aval do Estado; e até no cumprimento de contratos firmados envolvendo a responsabilidade do Governo se verificam atrasos processuais, com as suas múltiplas e desagradáveis consequências.
Uma vez que, quer no Plano Intercalar de Fomento, quer no projecto do III Plano de Fomento, o recurso ao crédito externo assume proporções relevantes nos programas de Angola e Moçambique, a Câmara sente-se no dever de chamar a atenção do Governo para este delicado problema e para a necessidade de estabelecer mecanismos administrativos que permitam decisões rápidas, quer sejam positivas ou não.

26. Segue-se, pela ordem atrás enunciada, a apreciação dos programas anuais de execução e, consequentemente, a sua entrada em execução.
Pelo projecto de proposta de lei referente ao III Plano é fixada em 15 de Novembro a data até à qual o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos deverá aprovar o programa referente ao ano seguinte. Isto significa assinalável progresso sobre a disciplina legal do Plano Intercalar, que permitia que essa aprovação se fizesse até 31 de Dezembro. A Câmara congratula-se com esta orientação, uma vez que o que se vinha passando constituía de facto mais um dos travões referenciados como prejudiciais à normal eficiência de execução dos projectos anuais. Em relação a Angola e Moçambique, tinha passado a ser prática corrente os orçamentos provinciais serem publicados tendo em branco as dotações das rubricas do plano. Se se reflectir que, depois da publicação dessas dotações, é que se torna possível a elaboração dos orçamentos dos organismos executores (e os dotados de autonomia têm por sua vez de cumprir várias formalidades para tal fim), compreende-se que a possibilidade efectiva de dispor das dotações anuais, que teoricamente deveria verificar-se em
1 de Janeiro de cada ano, sofria sistematicamente atrasos muito sensíveis, com as consequências já anteriormente postas em evidência.

27. Aprovados pelo Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos os respectivos projectos anuais, os serviços centrais do Ministério do Ultramar elaboram e submetem à apreciação ministerial os chamados mapas de empreendimentos, nos quais cada rubrica é parcelada em variadas sub-rubricas, atingindo um elevado grau de pormenor. Aqui intervêm mais dois travões administrativos, que talvez não seja difícil neutralizar: a diferenciação das fontes de financiamento e as formalidades necessárias para as transferências de verbas entre rubricas secundárias do plano.
Com efeito, os referidos mapas não se limitam a indicar as dotações dos empreendimentos, como também as fontes de financiamento donde provêm essas dotações. É comum, até, que um mesmo empreendimento seja dotado com verbas provenientes de diversas fontes. Assim, quando algumas delas se não materializam ou sofrem atraso na sua materialização, a realização respectiva sofre prejuízos mais ou menos graves. O mesmo se passa entre empreendimentos diferentes mas coordenados; se um deles se atrasa, o conjunto; perde eficiência ou sofre prejuízos. Parece assim que só haveria vantagem se se pudesse dispor dos meios financeiros provenientes das diferentes fontes com a necessária liberdade de acção, sem prejuízo, é claro, daqueles que obrigatoriamente devem ser consignados a empreendimentos específicos (caso do crédito externo, por exemplo). De outro lado, compreende-se que, mercê dos vários factores em causa, durante o ano há maior capacidade de realização em certos domínios do plano do que noutros que tendem a atrasar-se. Natural seria pois que a administração do plano tivesse a necessária flexibilidade para dispor dos recursos financeiros de forma a assegurar um alto grau de execução global do programa. Compreende-se, certamente, que uma transferência de verbas entre as grandes rubricas do plano necessite de autorização do mesmo órgão que aprovou o programa em execução; mas já é difícil compreender que as transferências entre rubricas secundárias careçam também do cumprimento prévio e demorado de formalidades que poderiam ser dispensadas.

28. O atraso nos estudos e projectos constitui outro aspecto que tem reflexos mais prejudiciais do que normalmente se julga. É frequente incluírem-se nos planos ou, o que é pior, na sua programação anual empreendimentos insuficiente ou incompletamente estudados. Daí a origem de graves problemas de execução, de variados conflitos com empreiteiros e, sobretudo, do seu encarecimento em relação às previsões optimistas feitas, alterando, os cálculos de rentabilidade. Compreende-se, portanto, que haverá necessidade de exigir maior rigor de apreciação antes de incluir no planeamento ou no pormenor da respectiva programação certas iniciativas, porventura necessárias, mas que só ganhariam com uma ponderação e estudo realmente aprofundados.

29. Finalmente, é conveniente salientar ainda uma faceta infelizmente muito comum: a da descoordenação entre serviços. Ela existe, por exemplo, nas relações entre os serviços provinciais de Fazenda e contabilidade e os órgãos executores, cujos contactos deveriam processar-se num clima de colaboração, confiança e redução de formalidades. Existe, por vezes, entre os serviços executores, quando empreendimentos ou partes de empreendimentos devem caminhar apertadamente relacionados

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(caso de aproveitamentos hidroagrícolas, ou de produção de energia e estabelecimento de indústrias consumidoras, entre melhoramentos ferroviários ou portuários e as actividades mineiras que se destinam a servir). Mas é particularmente injustificável no caso de instalações que aguardam, por vezes durante anos, o equipamento e o pessoal que permitam a sua utilização. Nenhum empreendimento que tenha projecção futura no orçamento das despesas ordinárias das províncias deverá ser iniciado antes de assegurado o seu pleno aproveitamento logo após a sua conclusão.

30. A Câmara Corporativa, com vista à melhor utilização de todos os recursos nacionais, recomenda que os diferentes casos referidos sejam estudados com urgência e resolvidos como melhor aconselhar o interesse nacional.

§ 4.º Planos de fomento em alguns estados africanos ao norte do Zambeze

31. Portugal foi, de certo modo, precursor, entre os países de economia de mercado, na utilização da planificação como instrumento de orientação e estímulo do progresso económico dos seus territórios ultramarinos. Praticamente, só se registaram tentativas de planificação válidas anteriores no Congo Belga e Madagáscar, então colónias, respectivamente, da Bélgica e da França. Nenhum desses planos foi afinal executado até ao seu termo.
Mais tarde, com a proliferação das independências africanas, veio também a moda do planeamento económico, apoiado em escolas muito diversas e com grau também muito diverso de sucesso. Parece, contudo, útil resumir aqui algumas das características mais salientes dos planos em execução em alguns Estados africanos situados ao norte do Zambeze. Para isso, procurou-se estabelecer um esquema comum de exposição que os tornasse comparáveis e permitisse ajuizar com facilidade das suas peculiaridades. Contudo, nem sempre foi possível obter elementos completos para o total preenchimento desse esquema.

32. Seleccionaram-se como mais característicos os seguintes países:

a) Norte de África: Marrocos, Tunísia, Líbia e República Árabe Unida;
b) África ocidental: Mali, Mauritânia, Senegal, Ghana e Nigéria;
c) África Central e Oriental: Etiópia, Sudão, Zâmbia, Tanzânia, Quénia e República Malgaxe.

Os elementos fundamentais de informação foram reunidos no quadro IV. As principais fontes de informação utilizadas foram:

Planing for Economic Development - Nações Unidas - 1965.
Development Plans: Appraisal of Targets and Progress in Developing Countries - Nações Unidas - 1965.
Economic Survey of África - Nações Unidas - 1966.
Anuário Estatístico da U. N. E. S. C. O. - 1964.
Industries et Travaux d'Outre-Mer - n.ºs 123, 130, 140 e 141.
Plan Triennal 1965-1967 du Maroc - Division de la Coordination du Plan - Rabat.
Europe - Outre-Mer - n.º 442.
Problèmes économiques - n.º 856.
First National Development Plan 1966-1970 - Republic of Zambia - Lusaka.

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QUADRO

Planos de fomento de

Síntese de alguns

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Não foi possível obter elementos.
(b) Refere o ano inicial e o ano final do plano.
(c) Em 1962, a preços de 1960.
(d) O plano decenal desenvolve-se em planos parciais. Já foi executado o plano trienal 1962-1964 e está em curso o plano quadrienal 1965-1968.
(e) Em 1964, antes do início do plano quadrienal 1965-1968.
(f) 6,5 por cento para o plano quadrienal.

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IV

alguns países africanos

aspectos importantes

[Ver Quadro na Imagem]

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33. Uma análise mais aprofundada revelaria características merecedoras de reflexão. Na sua maioria, estes planos foram elaborados por grupos de especialistas - de agências internacionais ou de firmas de grande renome no campo da planificação económica. Não deixa de ser curioso registar as profundas diferenças nos conceitos utilizados e objectivos procurados, mesmo em países com características económico-sociais muito semelhantes.
Alguns países visaram níveis de investimento extremamente ambiciosos no período dos respectivos planos; outros procuraram valores mais moderados, embora apreciáveis; ainda outros - muito poucos - não projectaram aumentos substanciais sobre os níveis correntes. Em certos casos, procurou-se que os recursos internos financiassem por forma apreciável a execução dos planos, ou até que a dependência externa nesse campo fosse reduzida durante o seu período (ou, num dos países, totalmente eliminada.); contudo, num grande número de casos, a dependência externa é deliberadamente aceite ou até acentuada.
Também na repartição do investimento pelos grandes sectores, enquanto alguns países põem em evidência a produção, outros acentuam os serviços (nomeadamente os de carácter social) e ainda outros consagram percentagens muito importantes às infra-estruturas.
Igualmente o balanço entre o produto agrícola e industrial difere largamente de país para país. Existe bastante semelhança na produção atribuída aos sectores de energia, transportes e construção, aliás como resultado das necessidades geradas pelo aumento de investimento e produção da parte restante da economia. Mas na agricultura e minas, os objectivos de exportação comandam os planos, bem como, no primeiro sector, a finalidade da produção de alimentos para substituir importações.
Quanto ao sector externo, alguns países orientam-se decididamente para as exportações, mas a maioria aceita que o peso relativo destas diminua durante o período do Plano; igualmente, na maior parte, se aceitou ou procurou uma diminuição de valor das importações no abastecimento nacional, mas também há casos em que se admite aumento relativo nessa dependência das importações.
Uma tentativa de classificação da problemática do planeamento poderia levar ao seguinte agrupamento:

a) Países visando aumento muito importante na participação da poupança interna no produto interno bruto:
Com redução da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos: Tunísia, E. A. U. e Senegal;
Com aumento da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplo: Tanzânia.

b) Países visando aumento ainda substancial da participação da poupança interna no produto interno bruto:
Com redução ou manutenção da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos: Quénia e Ghana;
Com aumento de percentagem de dependência dos recursos externos - exemplo Etiópia.

c) Países visando manutenção ou apenas ligeiro aumento da participação da poupança interna no produto interno bruto:
Com redução ou manutenção de percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos Nigéria, Sudão.

34. Trata-se, é claro, de programações efectuadas, e não de resultados alcançados. Há, de facto, muito poucos elementos disponíveis sobre a realização e aqueles de que se dispõe não são animadores. Há aqui um contraste evidente com a realidade portuguesa, para a qual já foi posto em evidência o alto grau de execução dos planos. E, também nos objectivos, o planeamento português suporta favoráveis comparações: basta recordar as elevadas taxas de crescimento do produto interno bruto e sua capitação previstas no projecto do III Plano de Fomento para Angola e Moçambique.

35. E nunca é de mais pôr em evidência o enorme esforço de investimento público efectuado pela metrópole no ultramar. Segundo o último relatório da O. C. D. E. sobre a repartição geográfica dos recursos financeiros postos à disposição dos países menos desenvolvidos, referente a 1965, a metrópole contribuiu nesse ano com 21,18 milhões de dólares, o que representa uma percentagem significativa do seu produto nacional.

36. Mas o ponto que é fundamental registar aqui não é o da beleza formal ou das intenções dos planos, em África, mas sim as ilusões perdidas que os rodeiam. Um economista de renome (Andrew W. Karmach - The Economics of African Development, Pall Mall Press, Londres, 1967), não hesitou em escrever recentemente que «para a maior parte da África os planos pouco ou nada contribuíram até agora para o desenvolvimento económico». Porquê?
Em primeiro lugar, pela instabilidade política, e pela carência administrativa. Golpes de estado, guerras civis, perseguições raciais ou religiosas, conflitos entre Estados, desintegração interna, são o panorama corrente da África ao Norte do Zaire, do Zambeze e do Rovuma.
Por outro lado, a agricultura constitui ainda o sector dominante da economia desses países. O seu desenvolvimento e melhoria impõe-se; mas factores sociais e métodos de produção obsoletos não são elimináveis a curto prazo, e as produções agrícolas de exportação lutam contra um mercado internacional cada vez mais desfavorável - nas cotações correntes e na concorrência movida por produtos sintéticos. Por sua vez, a industrialização é normalmente preferida pelos planeadores locais como símbolo do progresso e prestígio; mas a falta de quadros, de mão-de-obra especializada e, acima do mais, as reduzidas dimensões dos mercados internos, até como resultado do baixo poder de compra de uma população ocupada numa agricultura tradicional de subsistência, inutilizam ou amortecem os esforços neste sector.

37. O recente relatório do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da O. C. D. E. (C. A. D./O. C. D. E.) vai ao fundo do problema. A planificação não funciona em países sem quadros, sem capitais, amarrados à produção de um número reduzido de matérias-primas. Aqui, o dirigismo económico conduz à ditadura política e esta, por razões de prestígio, lança-se nos empreendimentos sumptuários em prejuízo dos reprodutivos. Os conhecidos círculos viciosos abatem-se sobre as esperanças de populações famintas: o trabalhador não produz porque vive subalimentado e vive subalimentado porque não tem rendimento suficiente - e não tem rendimentos porque não tem onde trabalhar; a agricultura não liberta os povos da fome porque a sua produtividade é irrisória, com métodos seculares, sem máquinas nem adubos que o produtor não pode adquirir porque os preços internos e externos

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não compensam. E assim se chega à chave da questão: a ajuda internacional e o cansaço que se apoderou dos países doadores - insultados, acusados rias assembleias internacionais, por vezes como os seus súbditos perseguidos e as suas embaixadas incendiadas e pilhadas.

38. Ainda segundo o relatório C. A. D./O. C. D. E., a ajuda global ao chamado Terceiro Mundo foi a seguinte nos últimos anos (em milhões de dólares):

1960 .................. 7 766
1961 .................. 8 993
1962 .................. 8 596
1963 .................. 9 368
1964 .................. 9 840
1965 .................. 10 986
1966 .................. 10 879

ou seja um total em. sete anos, de 66 428 milhões de dólares.
as tendo em conta a alta de preços e o aumento das necessidades, essa ajuda vem diminuindo em termos reais. Os Estados unidos, a Franca, a Grã-Bretanha e a República Federal da Alemanha fornecem 66 por cento da ajuda mundial e 85 por cento da ajuda oriunda dos países da O. C. D. E.
A ajuda multilateral cifrou-se apenas em 5 por cento do total; e a dos países comunistas em 3 por cento. Que resultou de todo o esforço feito?
Muito pouco. Viu-se que os países cujos planos de desenvolvimento anotámos dependem em parte fundamentalmente para a execução dos recursos externos. O resultado foi a falência: a dívida externa dos países do Terceiro Mundo passou de 7 biliões de dólares em 1955 para mais de 40 biliões em 1966; aumentou à razão de 10 a 15 por cento por ano, e desde já a maior parte da ajuda externa serve para pagar as dívidas contraídas por esses países. A alternativa, a que se vem assistindo, é de não as pagarem mesmo.

§ 5.º Relance sobre alguns aspectos da situação económica das províncias ultramarinas e sua influência no conjunto nacional

39. O projecto do Plano, na parte referente a cada uma das províncias, é aberto por um capítulo destinado à caracterização geral da economia, sua evolução recente, situação actual e perspectivas. Encontram-se aí, de forma resumida, elementos de informação e análise muito valiosos, embora baseados em elementos estatísticos até 1965 ou anteriores (caso da contabilidade nacional).
Estes capítulos resultaram, por sua vez, do resumo de estudos económico-sociais mais vastos e completos, que foram facultados à Câmara Corporativa e que constituem preciosos instrumentos de apreciação e condução da vida económica ultramarina, quer ao nível público, quer privado. Muito interesse poderia haver em que, depois de devidamente actualizados e, porventura completados, fossem publicados de forma a facilitar o seu acesso aos que de algum modo os possam utilizar com benefício para as actividades nacionais.

40. Deixando de lado o caso muito especial de Macau, apesar dos progressos efectivamente realizados nas províncias, e que mais se acentuaram nos últimos anos, permanece o dualismo na vida económica, com um sector de economia de subsistência, vivendo apenas da produção do estritamente necessário para o consumo imediato e para satisfação das necessidades mais prementes, ao lado de um sector activo, de economia de mercado, apoiado em culturas industriais ou de exportação, na expansão mineira ou nas indústrias transformadoras e nos serviços. Reconhece-se, apesar do enorme esforço já efectuado, uma insuficiência de infra-estruturas, nomeadamente quanto às redes rodoviárias e de armazenagem, refrigeração e comercialização de produtos. Verifica-se a influência do comércio externo, com exportação de um pequeno número de produtos-chave, quase todos originários do sector primário da economia e com cotações sujeitas ao livre jogo dos grandes interesses internacionais e importação predominante de produtos manufacturados, cujo valor unitário, por toneladas, sobe continuamente. Luta-se com falta de quadros técnicos e administrativos suficientes em qualidade e quantidade.
Mas, apesar de tudo, a comparação do estado de desenvolvimento já atingido pelas províncias ultramarinas portuguesas com o da maioria dos países africanos e asiáticos autoriza todas as esperanças e pode servir de motivo de confiança no futuro. Tal será certamente ainda mais evidente se nos situarmos na perspectiva real do espaço português, com os seus 2 200 000 km2 e 24 milhões de habitantes, áreas e riquezas imensas para valorizar e pôr ao serviço da comunidade, e uma população cujas qualidades humanas a qualificam como precioso instrumento de uma política à verdadeira escala nacional, selada, agora como nos séculos passados, com o sangue, o trabalho e o sacrifício das gerações que se sucedem.
Daí que o planeamento não possa abstrair do processo em curso de integração da economia nacional, nem da necessidade de o acelerar na sua passagem dos textos legais para as realidades da vida diária e na eliminação de distorções que porventura tendam a prejudicar as parcelas menos desenvolvidas da Nação.
Sabe-se que a tendência natural, ao sabor do livre jogo dos interesses económicos, conduziria à concentração do capital, da população mais preparada e da indústria nas regiões mais evoluídas, com agravamento das disparidades económico-sociais pelo maior crescimento populacional e pela falta de mentalidade e vontade de progresso dos habitantes das zonas menos evoluídas. Isto é válido dentro de cada província e dentro da metrópole, entre as províncias e a metrópole e, até, entre a metrópole e as grandes nações industriais.
Com o fim de evitar o agravamento dos desequilíbrios existentes, é portanto necessária a capacidade de intervenção e correcção, por parte do Estado, para assegurar que sejam alcançados os grandes objectivos nacionais e a completa mentalização dos responsáveis do sector privado para uma actuação permanente, real e sem reservas dentro das linhas mestras oficialmente proclamadas.

41. Da importância atingida pelo ultramar (em especial por Angola e Moçambique) no agregado económico nacional constituem um indicador, embora parcelar, os dados fundamentais referentes às balanças de pagamentos e às estatísticas do comércio externo.
O quadro V resume, com separação dos valores correspondentes à metrópole e ultramar, as principais rubricas da balança de pagamentos internacionais da zona do escudo nos três últimos anos, segundo os elementos publicados no relatório do Banco de Portugal respeitante a 1966.

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QUADRO V

Balança de pagamentos da zona do escudo

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Valores revistos.
(b) Valores segundo a estatística alfandegária. Inclui comércio governamental.
(c) Valores segundo a estatística das liquidações.
(d) Compreende remessas de emigrantes, donativos, legados e pensões.
(e) Compreende outros serviços e pagamentos de rendimentos e transferências governamentais.
(f) Invisíveis correntes e operações de capital não identificável.

Verifica-se, assim, que a representação do ultramar na formação do saldo global da balança de pagamentos internacionais é ainda de importância fundamental, não obstante a melhoria recente da balança de transacções correntes da metrópole e os vultosos excedentes constituídos na balança de capitais do mesmo território. Em síntese, observou-se no último triénio o que consta do quadro que segue.

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[Ver Tabela na Imagem]

(a) Incluindo os saldos de «Erros e omissões».

Note-se, porém, que os saldos positivos das operações monetário-financeiras do sector bancário da metrópole atingiram 572 milhões de escudos em 1964, 397 milhões em 1965 e 858 milhões em 1966, o que alterou significativamente os efeitos daqueles saldos nas disponibilidades líquidas em ouro e divisas à vista e a muito curto prazo do conjunto da zona do escudo. Em. todo o caso, parece evidente a notável contribuição do excedente das províncias ultramarinas com o estrangeiro, se bem que tal contribuição deva ser tomada com as cautelas que justamente impõe a sua natureza, não o tomando, por exemplo, como significando uma «contribuição» do ultramar para as reservas cambiais da metrópole; é que, se a balança de pagamentos entre a metrópole e as províncias tivesse sido equilibrada no triénio, aqueles resultados teriam significado uma acumulação de reservas cambiais pelas províncias, o que efectivamente se não verificou.
Observemos, entretanto, através do quadro VI, a balança de pagamentos externos da metrópole. Resumindo os elementos dessa balança de pagamentos, obtém-se o que segue:

[Ver Quadro na Imagem]

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QUADRO VI

Balança de pagamentos externos da metrópole

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Valores revistos.
(b) Estimativa baseada na estatística de liquidações das operações realizadas entre as províncias ultramarinas e o estrangeiro efectuada através do sistema bancário da metrópole. Inclui as compras e vendas de ouro entre o Banco de Portugal e os Fundos cambiais ultramarinos.

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Como se vê, nos anos de 1964 e 1965 os excedentes da balança com o ultramar ultrapassaram os deficits das operações com o estrangeiro; e em 1966 o superavit com o ultramar ainda representou 51,7 por cento do saldo global verificado.
Mas, como é óbvio, se as províncias ultramarinas não houvessem constituído deficits tão vultosos com a metrópole, muito menores seriam os seus saldos positivos nas operações com o estrangeiro e, portanto, a sua contribuição para os resultados globais das transacções internacionais da zona do escudo. Este aspecto ressalta mais perfeitamente da observação da balança de pagamentos externos do ultramar, que se apresenta no quadro VII.

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QUADRO VII

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Inclui estimativa da balança de invisíveis de Macau.

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Na apreciação deste quadro VII deve ter-se em conta, segundo observações formuladas nos relatórios do Banco de Portugal, que tais balanças estão sendo estabelecidas, por insuficiência dos elementos de informação disponíveis, na base das estatísticas de liquidações realmente efectuadas. Em consequência, não se abrangem nessas balanças certas transacções, que se presumem vultosas, a saber:
a) As importações de mercadorias da metrópole e do estrangeiro efectuadas com dispensa de pagamento e as correspondentes a apports de capital en nature;
b) Os pagamentos antecipados ,e diferidos que se relacionam com importações ou exportações de bens ou serviços.

Do quadro VII, com as ressalvas antes feitas, sobressai o contraste entre os superavits das operações com o estrangeiro e os deficits das operações com a metrópole, que em 1965 ultrapassaram aqueles. Contudo, tomando o triénio de 1964-1966, verifica-se que a balança de pagamentos externos do ultramar ainda acusou um saldo positivo de quase 1320 milhões de escudos, posto que só em
parte reflectidos nas contas dos fundos cambiais das províncias.
Do referido quadro VII parece de destacar especialmente:
1. O vultoso déficit da rubrica de mercadorias, onde, pelo que antes se anotou, têm pesado os saldos negativos com a metrópole;
2. Os excedentes na rubrica de «Transportes» e, bem assim, na de «Diversos», com relevância, no caso do estrangeiro, para os resultados obtidos por Macau e, quanto à metrópole, o efeito das despesas extraordinárias de defesa;
3. Os saldos negativos referentes a «Rendimentos de capitais» e a «Transferências privadas»;
4. Os pequenos saldos da balança de capitais nos anos de 1965 e 1966, a contrastar com o quantioso excedente registado em 1964.
Convém, para evidenciar o peso relativo das diferentes províncias na situação assim brevemente descrita, examinar ainda o quadro VIII, referente à balança de pagamentos externos de cada província, a que, evidentemente, se aplicam as reservas feitas quanto ao quadro VII.

QUADRO VIII

Balança de pagamentos externos das províncias ultramarinas com o estrangeiro e a metrópole

[Ver Quadro na Imagem]

Nota-se o peso extraordinário que Angola ,e Moçambique assumem, como seria de esperar, nos resultados globais do ultramar.
São estas províncias que contribuem fundamentalmente para os saldos positivos com o estrangeiro e foram elas que determinaram a quebra desse excedente de 1965 para 1967.
No que diz respeito à diminuição do déficit global com a metrópole verificado de 1965 para 1966, esta foi resultante, fundamentalmente, das operações efectuadas com Moçambique.
Anote-se ainda o substancial superavit da conta de invisíveis correntes do ultramar com o estrangeiro, com relevo para os transportes, turismo e diversos. Moçambique, como é habitual, contribuiu com larga parcela para o respectivo saldo positivo, seguindo-se Macau e Angola.

42. Pela sua importância relativa, julga-se merecer especial consideração a análise das operações comerciais. O quadro IX decompõe o comércio especial da metrópole entre o estrangeiro e o ultramar, destacando neste Angola e Moçambique.

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QUADRO IX

[Ver Quadro na Imagem]

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Nele pode verificar-se que cerca de 25 por cento das exportações metropolitanas se dirigem ao ultramar, enquanto as importações dessa origem se situam na ordem dos 14 por cento. Cabe acrescentar, ainda, que o peso do comércio com ia metrópole nas grandes províncias de Angola e Moçambique é muito destacado: em 1965, em Angola, a metrópole representou 35,2 por cento das exportações e 47,5 por cento das importações e, em Moçambique, respectivamente, 37 e 34,5 por cento; quanto a 1966, no que respeita a Angola, verificou-se 34,8 por cento nas exportações e 41,9 por cento nas importações, não se dispondo ainda de números completos respeitantes a Moçambique.
Não há dúvida de que o comércio entre os territórios nacionais - especialmente entre Angola, Moçambique e a metrópole - pode ainda atingir números mais significativos. Para isso é indispensável, como já foi assinalado, que o processo de integração prossiga com benefício para todas as parcelas nacionais; e que, em particular, se encontre solução válida para o problema dos pagamentos interterritoriais.
Repare-se, a este propósito, que no fim de 1966 aguardavam regularização através do sistema de pagamentos interterritoriais débitos líquidos muito elevados de Angola e Moçambique, em contrapartida de créditos líquidos do continente e ilhas adjacentes e das províncias de Macau, Cabo Verde e Timor.
Em Setembro último, porém, eram promulgados diversos diplomas em matéria de pagamentos interterritoriais, do mesmo passo que o Fundo Monetário da Zona do Escudo concedia créditos especiais a Angola e Moçambique no montante, respectivamente, de 500 e de 150 milhões de escudos. Por outro lado, a Companhia de Diamantes de Angola acordava um novo crédito, no valor de 500 milhões de escudos, à província, também com o objectivo de facilitar a regularização dos aludidos débitos.
Estas providências merecem todo o apoio da Câmara, que espera que outras se lhes irão seguir, dentro do programa de acção que o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos estabeleceu, em obediência ao objectivo fundamental de promover um melhor equilíbrio dos pagamentos interterritoriais e, particularmente, de coarctar a acumulação de deficits nas contas dos fundos cambiais de Angola e Moçambique.

§ 6.º As grandes directrizes do III Plano de Fomento

43. Com o montante global de investimento previsto de 44 479 006 contos, o projecto do III Plano de Fomento na parte respeitante às províncias ultramarinas revela-se de franca amplidão.
Se os objectivos visados tiverem sido temperados pela prudência na avaliação dos meios materiais e humanos para a sua realização - e tudo faz supor que assim aconteceu -, ela será de aplaudir e estimular. A Câmara crê, com efeito, que no momento histórico que se vive se reveste de plena oportunidade o máximo aproveitamento das potencialidades disponíveis.
A programação distribui-se pelo mesmo número de rubricas (onze) que o adoptado no Plano Intercalar de Fomento, embora com designações diferentes. Estas passam a ser as seguintes: agricultura, silvicultura e pecuária; pesca; indústrias extractivas e transformadoras; construção e obras públicas e melhoramentos rurais; energia; comércio; transportes e comunicações; habitação e melhoramentos locais; turismo; educação e investigação, e, finalmente, saúde e assistência.
Em relação ao Plano Intercalar, nota-se a supressão da rubrica conhecimento cientifico do território e das populações e investigação cientifica, cujos objectivos foram distribuídos pelas restantes; a autonomização das rubricas de construções e obras públicas e melhoramentos locais; de circuitos de distribuição; e de educação e investigação; e pequenas diferenças de pormenor nas restantes designações.
O quadro X resume, por províncias e na totalidade, os investimentos programados.

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QUADRO X

III Plano de Fomento

Programa de investimentos

Resumo por províncias

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

(a) Adiante se proporá que esta rubrica passe a designar-se «Melhoramentos rurais».
(b) Adiante se proporá que esta rubrica passe a designar-se «Habitação e urbanização».

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44. Verifica-se que os assuntos referentes à indústria de construção e obras públicas, que são objecto de tratamento especial no Plano da metrópole (mas não figura separadamente, no respectivo mapa de investimentos), não são sequer abordados na parte ultramarina do Plano.
Também é de estranhar que o sector de melhoramentos rurais seja apenas contemplado autònomamente na programação de Moçambique, embora apareça tratado noutras províncias no sector de habitação e melhoramentos locais.
Por sua vez a rubrica habitação e urbanização do Plano metropolitano aparece designada apenas como habitação no anexo à introdução geral do projecto, no mapa síntese referente às províncias ultramarinas, e como habitação e melhoramentos locais nos projectos de cada província.
Convém na versão definitiva do Plano eliminar essas contradições. Como uma solução possível, a Câmara sugere:

a) Que a rubrica IV passe a designar-se por melhoramentos rurais (como no Plano da metrópole), passando a inscrever-se aí as dotações respectivas dispersas (excepto em Moçambique) pelas rubricas V - Energia e VIII - Habitação e melhoramentos locais;
b) Que a rubrica VIII passe a designar-se, como no projecto da metrópole, por habitação G urbanização, nela - se inscrevendo, além dos investimentos destinados à habitação pròpriamente dita os referentes aos diversos melhoramentos urbanos.

45. Registe-se ainda os aspectos gerais de .maior relevância quanto ao conjunto ultramarino.

[Ver Tabela na Imagem]

Estes números dão bem uma. ideia .do grande progresso feito G das possibilidades abertas pela integral execução do III Plano. Pena é que o projecto não apresente de. forma clara, inequívoca e de fácil consulta a separação entre a parte imperativa e indicativa do Plano. Seria da maior utilidade que esta e outras lacunas que caberiam numa introdução geral, aos programas ultramarinos fossem eliminadas na sua redacção final.
A actual, introdução geral do Plano preocupa-se, quase exclusivamente, com a parte metropolitana do projecto e apenas faz referências muito breves à parte ultramarina. Aí se regista que, do montante do investimento previsto, se prevê que perto de 86 por cento sejam financiados pelo sector público, 30 por cento por institutos de crédito, empresas e particulares e o restante por fontes externas, sendo o contributo da Administração Central neste esquema de financiamento de cerca de 15 por cento (6 717 000 contos).

2.º Estrutura do Plano:

Em relação às diferentes rubricas, resulta:

[Ver Tabela na Imagem]

Para efeitos de melhor compreensão da estrutura e comparação com os planos anteriores tentou-se agrupar os investimentos nas seguintes rubricas:

[Ver Tabela na Imagem]

3.º Forma de financiamento:

[Ver Tabela na Imagem]

Os recursos internos serão provenientes do sector público (saldos de exercícios findos, receitas consignadas a operações de fomento, existentes ou a criar, lucros de amoedação, imposto de sobrevalorizações, autarquias locais, organismos autónomos, fundos e empresas, caminho de ferro da Beira) e do sector privado (empréstimos de institutos de crédito e empresas seguradoras e promissórias, autofinanciamento, subscrição de acções e, obrigações e de títulos de dívida pública, incluindo obrigações de fomento) ; os recursos externos provirão do sector público (Administração Central, por empréstimos, amortizações contratuais de empréstimos anteriormente concedidos ou outras modalidades da assistência financeira) e do sector privado (operações de crédito externo, incluindo financiamentos puros e financiamentos para equipamentos e obras e participarão no capital financeiro em empreendimentos nas províncias).
O quadro XI apresenta o resumo dos dados fundamentais das fontes de financiamento, por províncias.

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QUADRO XI

III Plano de Fomento

Fontes de financiamento

Resumo por províncias

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Saldos dos exercícios findos, receitas consignadas a operações de fomento e lucros de amoedação.
(b) Inclui 1 891,7 milhares de contos correspondentes a novos recursos a obter internamente pela criação de receitas consignadas ao financiamento do III Plano de Fomento.

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46. O quadro XII permite a comparação entre os dados fundamentais referentes aos sucessivos planos de fomento.

QUADRO XII

Comparação dos Planos de Fomento do ultramar

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Refere-se apenas aos anos de 1959 e 1960.

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Em relação ao conjunto do ultramar, podem tirar-se desde já algumas ilações. Assim:

a) Como se acentuou, forte aumento dos investimentos previstos, em relação aos planos anteriores;
b) Reforço das dotações destinadas à produção, que atingem agora cerca de dois terços do total programado;
c) Nova redução do peso relativo dos investimentos destinados a infra-estruturas de transportes e comunicações:
d) Variação acentuada de província para província, na estrutura do Plano, incluindo entre Angola e Moçambique (contràriamente ao que sucedia no Plano Intercalar de Fomento);
e) Financiamento d.e cerca de metade dos investimentos globais programados por recursos internos; diferenças entre as várias províncias, com financiamento total, desta origem em Macau, apoio geral total, da metrópole aos planos de Cabo Verde, Guiné e Timor, repartição bastante equilibrada entre os recursos internos e externos DUOS planos de S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

II

Exame na especialidade

§ 1.º Financiamento do III Plano de Fomento

47. Já se registou no quadro XI, constante da apreciação na generalidade, o esquema de financiamento do III Plano de Fomento admitido pelo Governo. Trata-se de um aspecto fundamental do planeamento e a lição do passado, a que já foi feita referência, impõe prudente consideração das previsões formuladas.
À Câmara foram facultados alguns dos extensos estudos prévios tendentes a analisar as possibilidades financeiras das diferentes províncias e a discutir a viabilidade de outras fontes de financiamento. O projecto agora em apreço tomou em conta estes estudos e introduziu-lhes mesmo margens de segurança que a alguns poderão parecer excessivas, mas que revelam a preocupação de não assumir riscos indevidos, tendo presente que é solução política e econòmicamente mais defensável aumentar, níveis de investimento, se, no decorrer da execução do Plano, tal se revelar como viável, do que reduzi-los, porventura, dràsticamente, por certo com prejuízos que não deixariam de ser sérios para a eficiência da sua administração. Ficam assim apenas de pé aquelas contingências que não podem ser apreciadas com maior precisão, nomeadamente as dependentes do sagrado dever da defesa nacional. Mas esse é o preço que tem de pagar uma nação que não abdica do seu papel histórico, nem aceita mutilar-se em obediência aos grandes mitos da política internacional ou à vontade dos poderosos grupos de pressão que pretendem impor a sua vontade na arena dos grandes interesses financeiros.
Contudo é forçoso referir, como se verá em exame mais pormenorizado, que os capítulos referentes ao financiamento do Plano de algumas províncias não estão redigidos com suficiente clareza e necessitam esclarecimento e, porventura, diferente apresentação.

48. O esquema global, de financiamento da parte ultramarina do Plano assenta num forte predomínio dos recursos nacionais, como se discrimina no quadro a seguir.

[Ver Tabela na Imagem]

A proporção parece equilibrada e, se peca por alguma coisa, é talvez em subestimar as possibilidades de afluxo de capitais estrangeiros. Com efeito, à medida que a desordem e a ruína se instalam em grande parte do continente negro, reduz-se a área em que ainda vale a pena investir - agora, limitada, além da lie pública da África do Sul, da Rodésia, do Malawi e, porventura, da Zâmbia, às províncias portuguesas, nomeadamente Angola e Moçambique. Vem sendo feito nos últimos anos um ponderado esforço de atracção nesse sentido, que se entende dever ser prosseguido com bom senso, mas sem desfalecimentos. Isso impõe, é claro, que se conclua a reforma de algumas estruturas administrativas e legais, se inicie a transformação de outras e, sobretudo, que se imprima aos órgãos responsáveis em todos os escalões (incluindo os da Administração Central) aquele sentido de urgência na tornada de decisões e sua materialização que, por vezes, tem faltado. O capital, sobretudo aquele que não visa simples efeitos especulativos, não se compadece com, longas esperas nem com demoras exageradas na tornada de decisões e sua materialização.
Como apontamento, convém, desde já deixar assinalado, embora mais adiante se volte ao assunto, que a realizar-se o empreendimento de Cabora-Bassa, no Zambeze, quer o investimento global previsto para o conjunto do ultramar (que subirá para a ordem dos 50 milhões de contos), quer a percentagem referente às fontes externas (que se situará na ordem dos 40 por cento), sofrerão alteração substancial.

49. As fontes nacionais de financiamento dividir-se-ão como segue:

[Ver Tabela na Imagem]

A sua distribuição será:

Estado - 16 080 900 contos (36,2 por cento), sendo: 6 717 000 contos (15,1 por cento) da metrópole (Administração Central), mediante empréstimos ou subsídios, amortizações contratuais ou outras modalidades de assistência financeira; 8 712 300 (19,6 por canto) das administrações provinciais de Angola, Moçambique e Macau, nomeadamente provenientes de saldos de contas de exercícios findos, criação de novas receitas, imposto de sobrevalorizações, lucros de amoedação e serviços autónomos; 8600 contos correspondentes a financiamentos de empreendimentos pelas autarquias locais de Macau, nomeadamente pelo Leal Senado; 18 000 contos sob a rubrica «Organismos autónomos», totalmente correspondentes a empreendimentos da assistência pública de Macau: 300 000 contos (0,7 por cento) de fundos de em-

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presas, exclusivamente em Moçambique, correspondentes à participação de alguns fundos com autonomia administrativa e financeira e rendimento para o Estado de uma empresa de economia mista; 325 000 contos (0,8 por cento) dos investimentos a fazer pelo caminho de ferro da Beira (propriedade do Ministério das Finanças).
Institutos de crédito e empresas seguradoras - 580 000 contos (1,3 por cento), sendo: 100000 contos em Moçambique, pela colocação de promissórias do fomento ultramarino, e 480 000 contos em Angola, também pela colocação de promissórias e outras formas de empréstimo.
Particulares e empresas - 12 464 600 contos (28 porcento), sendo: 11 014 600 contos (24,8 por cento) por operações de autofinanciamento, distribuídos por todas as províncias, mas, evidentemente, com muito maior peso em Angola e Moçambique; 1 450 000 coutos (3,2 por cento) pela tomada de acções e obrigações e títulos de dívida pública, (incluindo obrigações de fomento) pelo sector privado (incluindo o bancário) em Angola e Moçambique.

50. Quanto às fontes externas, totalizaram, como se disse, 15 353 500 contos (34,5 por cento), com a seguinte distribuição:
6 875 500 coutos (15,4 por cento) proveniente de: financiamentos ou para aquisição de equipamentos e obras;
8 478 000 contos (19,1 por cento) correspondendo à participação no capital financeiro em empreendimentos na Guiné e em Angola.

51. Passando agora ao exame dos programas de financiamento de cada província, ter-se-á, quanto a Cabo Verde:

QUADRO XIII

Cabo Verde Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

Demonstra o projecto do Plano a impossibilidade de recorrer à poupança pública interna da província. Por isso, o grande peso do financiamento recairá sobre a metrópole, mediante empréstimo que não vencerá juros enquanto se mantiverem as actuais condições financeiras de Cabo Verde.
A verba de autofinanciamento prevista diz respeito a uma empresa agrícola a instalar em Santiago, para a cultura da banana.
As fontes externas referem-se ao sector da pesca, em que já há empreendimentos em curso e outros em estudo.

52. A Guiné sofre, como é natural, dos efeitos da agressão terrorista que vem sendo batida com heróica pertinácia. Mesmo assim, regista-se no projecto de Plano um enorme esforço de investimento - contràriamente ao que sucedera no Plano Intercalar. A Câmara, convencida de que a guerra também tem de ser ganha no campo económico-social, além do militar, aplaude calorosamente esta orientação do Governo.
O respectivo esquema de financiamento consta do quadro XIV.

QUADRO XIV

Guiné

Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

A contribuição da metrópole constituirá a única cobertura possível do programa imperativo. Com efeito, o exame da situação financeira local não autoriza a esperança de comparticipação da administração local, a não ser a possível afectação das rendas a pagar pela concessionária de pesquisas petrolíferas, o que se regista para memória.
Também não há ideia firmo da possibilidade de financiamentos bancários, pelo que também essa fonte é registada por memória. Parece, contudo, que poderia ter-se tentado neste sector uma definição mais precisa. Em particular, deveria explicitar-se o papel reservado à Caixa de Crédito já criada com o objectivo da concessão de crédito agrícola, pecuário, industrial e imobiliário.
O projecto do Plano necessita de correcção na última parte do capítulo sobre financiamento, em que no n.º 3, sobre a rubrica particulares e empresas, se misturara capitais de origem externa destinados à pesquisa de hidrocarbonetos (394 000 contos) com outros recursos hipotéticos, provenientes de autofinanciamento de empresas, da utilização da poupança local ou do recurso ao crédito extenuo e meios de financiamento, em colaboração com o sector público, da «instalação de novas empresas de pesca e transformação do pescado», da «1.ª fase do entreposto frigorífico de Bissau» e da «montagem de outros complexos fabris de bebidas refrigerantes». Tudo

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aparece registado, além dos 394 000 contos das pesquisas, de hidrocarbonetos, como participação no capital financeiro em empreendimentos (será a classificação exacta?), como autofinanciamento de empresas (56 500 contos) sem qualquer justificação clara.
Recomenda-se, portanto, uma mova redacção mais ajustada do capítulo.

53. Os dados referentes ao esquema de financiamento previsto para S. Tomé e Príncipe resumem-se no quadro XV:

QUADRO XV

S. Tomé e Príncipe

Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

Trata-se, portanto, de um. esquema da maior simplicidade, em que a metrópole assegura os meios financeiros totais para o programa imperativo. Infelizmente, as condições prevalecentes na província não parecem autorizar outra solução; e, em especial, preocupante a percentagem das despesas referentes ao serviço da dívida pública. O Governo tomou recentemente medidas legislativas muito generosas para sanar estes aspectos, incluindo o aumento do prazo de amortização dos empréstimos concedidos e a isenção do pagamento dos respectivos juros.
Quanto ao elevado montante atribuído às perspectivas de autofinanciamento (226 700 contos), apenas se diz que «verificado que uma, grande parcela da formação de capital no sector privado foi financiada sob esta forma, será de esperar que a mesma fonte continue activa, nomeadamente no que diz respeito a diversificação de culturas, através de investimentos privados».
É pouco para um plano de fomento e a Câmara recomenda, que o assunto seja revisto e devidamente justificado na redacção final. Não é lícito, com um único parágrafo que pouco diz admitir a possibilidade de financiar 41,8 por cento do investimento global.
Um exemplo: onde estão registados no esquema de financiamento os 72 500 contos destinados a pesquisas petrolíferas? No autofinanciamento, que acima se diz respeitar nomeadamente à diversificação de culturas? Então esta verba provirá de fontes nacionais, e não de fontes externas.
Várias questões pertinentes haveria a formular quanto a outros aspectos do esquema.

54. Já quanto a Angola, embora de forma sintética, os dados referentes ao financiamento são apresentados por forma clara e bem sistematizada. E é necessário que assim seja, dado que o investimento respectivo representa 56,3 por cento do investimento global no ultramar.
O quadro XVI apresenta os dados fundamentais.

QUADRO XVI

Angola

Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

A contribuição pedida à metrópole mantém-se ao mesmo nível da programada para o Plano Intercalar de Fomento e é justificada em face das necessidades não cobertas por outras fontes e da consideração do comportamento provável das balanças de pagamentos interterritoriais e global da província, em especial tendo em conta os encargos da dívida pública. Encarou-se, ainda, a prestação de garantias a financiamentos externos, mas apenas para financiar o aproveitamento do Cunene e completar a cobertura do empreendimento de Cassinga na parte que não seja possível realizar ainda dentro do âmbito do Plano Intercalar.
Quanto à parcela atribuída à. administração provincial, inclui saldos de exercícios findos (2 500 000 contos); receitas extraordinárias provenientes de lucros de amoedação (80 000 contos), imposto de sobrevalorizações (l 020 000 contos) e receitas do Fundo do Fomento (300 000 contos); Fundo de Diversificação e Desenvolvimento (Decreto n.º 47 062, de 24 de Março de 1967), resultante da mecânica do Acordo Internacional do Café (ainda não pôde ser quantificada a respectiva previsão de contribuição); e criação de novas fontes de rendimento (1 891 700 contos).
Sobre este último ponto, é o projecto do Plano extremamente lacónico e a Câmara Corporativa desejaria ser melhor informada. Crê, contudo, tratar-se de possível agravamento tributário.
Passando às instituições de crédito, as previsões afiguram-se prudentes, mas o quadro das previsões não parece jogar muito bem com o texto. Neste fala-se na colocação de 600 000 contos de promissórias do fomento, a repartir entre os bancos em actividade na província; em 300 000 contos a obter pela subscrição bancária de títulos privados e de dívida pública, com exclusão das promissórias e obrigações de fomento (100 000 contos des-

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tinar-se-iam ao sector público); e 180 000 contos a realizar pela tomada de títulos da dívida pública pelas empresas seguradoras.
O total é, portanto, aparentemente, de 1 080 000 contos, em lugar dos 480 000 contos indicados no esquema. O assunto lucrará em ser devidamente esclarecido.
Quanto ao autofinanciamento, a previsão total de 5 189 340 contos distribui-se pela pesca (496 000 coutos), energia (581 290 contos), indústrias extractivas (1365000 contos), indústrias transformadoras (2 142 450 contos), caminhos de ferro (551 600 contos) e turismo (53 000 contos).
Para a subscrição de obrigações de fomento, considerou-se a colocação de 900 000 contos.
Passando às fontes externas, admite-se uma participação de 8 084 000 contos de capitais estrangeiros em associação com recursos nacionais em grandes empreendimentos mineiros; e financiamentos puras ou ligados a equipamentos no total de 2 600 000 contos, para o aproveitamento do Cunene e empreendimento de Cassinga.
Com excepção da dúvida levantada quanto ao sector dos institutos de crédito, a Câmara nada tem a opor ao esquema admitido, que se afigura equilibrado.

55. O investimento global referente a Moçambique é também, muito elevado; representa na sua forma actual 35 por cento do montante global do ultramar.
Mas nele não está compreendido o financiamento, do empreendimento de Cabora-Bassa, que parece dispor de suficiente cobertura externa, tem sido objecto de negociações internacionais e referido em sucessivas declarações de membros do Governo que deixam poucas dúvidas quanto à realidade da sua materialização.
Sendo assim - e a exemplo do que no programa de Angola foi feito quanto ao aproveitamento do Cunene -, a Câmara sugere que o Governo considere a oportunidade de o incluir expressamente no programa de Moçambique.
O investimento respectivo previsto para o período de 1967-1973 será de 6 milhões de contos, totalmente realizáveis por fontes externas.
Nesse caso o montante do financiamento do Plano em Moçambique subiria para 21 557 700 contos e o investimento global no ultramar para 50 479 000 contos. A percentagem cabendo a Moçambique passaria, portanto, a ser de 42,7 por cento e a de Angola de 49 por cento.
Os quadros XVII e XVIII apresentam os esquemas de financiamento para as duas hipóteses, sem ou com inclusão de Cabora-Bassa.

QUADRO XVII

Moçambique

Fontes de financiamento (não incluindo Cabora-Bassa)

[Ver Quadro na Imagem]

QUADRO XVIII

Moçambique

Fontes de financiamento (incluindo Cabora-Bassa)

[Ver Quadro na Imagem]

À metrópole são solicitados empréstimos directos, no montante de 2 240 000 contos, portanto, de valor ligeiramente superior a Angola. Correspondendo à média de cerca de 370 000 contos anuais, não parece exagerada a previsão.
Quanto à mobilização de recursos públicos na província, consideram-se, em face dos estudos feitos e cuja síntese se apresenta no projecto do Plano, as seguintes possibilidades:
2 780 000 contos retirados da poupança do sector público, incluindo os Serviços de Portos, Caminhos de Perro e Transportes;
300 000 contos do Fundo de Fomento Pecuário. Fundo de Fomento Orizícola, Fundo de Fomento Algodoeiro, Instituto dos Cereais. Instituto do Algodão, taxa de exportação do caju e a receita proveniente de uma empresa de game ranching em que o Estado participará;
325 000 contos do programa de investimentos do caminho de ferro da Beira.

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Não se entende a razão por que, dos dois serviços autónomos - caminhos de ferro e CTT -, se contabilizaram as respectivas comparticipações em rubricas diferentes. Também parecia lógico não individualizar no esquema geral a participação do caminho de ferro da Beira.
Por outro lado, refere-se uma receita adicional de 2 300 000 contos proveniente da reforma fiscal em preparação e que não é considerada no conjunto final das coberturas financeiras. Tal critério, certamente prudente, está em contradição com o que se aplicou em Angola, em que expressamente se incluíram 1 891 700 contos de receitas a criar. Parece que deverá haver uniformidade de procedimento: como já está publicada a referida reforma fiscal, a Câmara sugere que a respectiva receita seja devidamente considerada e que certas rubricas menos dotadas do Plano sejam convenientemente reforçadas. Assim se evitará a fácil, tentação de dispersar meios financeiros, sempre escassos, em objectivos de menos intresse, tais como o empolamento de serviços burocráticos ou investimentos de pequena ou nula reprodutividade.
A parte do capítulo referente a instituições de crédito e empresas seguradoras encontra-se deficientemente redigida: mistura-se a colocação de promissórias do fomento com a de obrigações de fomento, a que expressamente foi atribuída outra posição no esquema de financiamento. Por outro lado, fala-se que poderão ser colocados 100 000 contos de promissórias em 1968 e é apenas esse valor que figura no esquema. E nos outros anos até ao termo do plano?
Passando a particulares e empresas, faz-se uma previsão, não justificada no capítulo, ou ao menos discriminada, de 5 210 000 contos de autofinanciamento para investimento bruto em indústrias transformadoras. Não haverá autofinanciamento noutros sectores (para além do sector pecuário, brevemente referido, mas não contabilizado)?
No esquema figura, na rubrica de tomada de acções e obrigações e de títulos de dívida pública, a verba de 550 000 contos, que não aparece justificada. Presume-se que resulta da soma de 400 000 contos de obrigações de fomento a serem emitidas no período de 1969-1971 (porque não após essa data também?) com 150 000 contos de participação privada na há tanto tempo prevista «Sociedade de financiamento do desenvolvimento».
Todo o assunto necessita esclarecimento.
Nas fontes externas apenas se indicou um empréstimo de 3 290 000 contos aos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes (sendo 2 milhões de contos sob a forma de empréstimo «provàvelmente puro» e o restante sob outras formas de empréstimos) e mais 760 000 contos para financiamento de duas barragens.
Repete-se que no quadro XVIII a participação externa foi aumentada em função da realização do empreendimento de Cabora-Bassa: e como há forte probabilidade de participação financeira estrangeira no capital das empresas de produção e transporte de energia, incluiu-se também, simplesmente para memória, a respectiva rubrica.
Em conclusão, a Câmara sugere que o capítulo seja revisto na redacção final do Plano, de forma a minimizar algumas das críticas formuladas e a apresentar-se sem incertezas ou ambiguidades.

56. Macau é a única província que dispensa totalmente o auxílio financeiro da Administração Central no seu esquema de financiamento, que consta do quadro XIX.

QUADRO XIX

Macau

Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

A comparticipação da administração provincial (139900 contos) terá como contrapartida os saldos orçamentais e de exercício e, subsidiàriamente, lucros de amoedação ou de valores monetários retirados da circulação e recurso ao fundo de reserva.
Quanto à administração local, com papel de relevo para o Leal Senado, cobrirá uma parte do programa imperativo que lhe diz directamente respeito.
Na rubrica de organismos autónomos figura a contribuição da assistência pública para os seus empreendimentos no campo da habitação, saúde e assistência.
Quanto ao autofinanciamento, que se afirma ter sido avaliado com larga margem de segurança, diz respeito a actividades de turismo e do campo industrial.
Na redacção definitiva do Plano é necessário examinar se se mantêm as premissas do esquema financeiro admitido para a província.

57. Em contraste com Macau, Timor terá de vir obter na metrópole a quase totalidade dos recursos de que necessita para o Plano; assim, o respectivo esquema de financiamento, apresentado no quadro XX, reveste-se de forma muito singela.

QUADRO XX

Timor

Fontes de financiamento

[Ver Quadro na Imagem]

A contribuição da metrópole terá a forma de subsídio gratuito, só reembolsável à medida que o permitam as disponibilidades orçamentais da província.
O autofinanciamento indicado representa obrigações contratuais (que deveriam ser identificadas no capítulo). Regista-se, para memória, uma eventual participação de

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capitais externos em pesquisas de hidrocarbonetos ou outros minérios.

58. Resumindo o que fica dito, a Câmara Corporativa reitera o seu apreço pelo esforço feito no sentido da definição tanto quanto possível segura dos esquemas financeiros do Plano, mas, para além de outras observações de menor relevância, entende que na redacção final do Plano devem ser objecto de revisão e remodelação os capítulos em apreciação referentes à Guiné, S. Tomé e Príncipe e Moçambique.

§ 2.º Observações sobre os programas das províncias de governo simples

59. Dentro do enquadramento geral do III Plano de Fomento já examinado no início da apreciação na generalidade, cabe agora proceder a um breve exame dos programas estabelecidos para cada província. É evidente que esse exame não poderá ser exaustivo nem profundo; mas pode servir de base a algumas sugestões ou tentativas de aperfeiçoamento.
Dada a profunda diferenciação de Angola e Moçambique no conjunto nacional, prefere-se começar pelo estudo referente às províncias de governo simples, cuja estrutura económica é relativamente esquemática e para cuja planificação foram adoptados métodos menos evoluídos, como houve ocasião de anotar.

Cabo Verde

60. Os quadros X e XXI - este a seguir apresentado - registam os elementos essenciais quanto ao programa de Cabo Verde, que monta, a 988 189 contos no sexénio.

QUADRO XXI

Cabo Verde

Programa de investimentos (proposto pelo Governo)

Resumo por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

O projecto define os objectivos fundamentais a atingir da seguinte maneira:

a) Actuação prioritária nos sectores da pesca e agricultura, esta tendo simultâneamente em conta as necessidades de alimentação da população e a possibilidade de uma reconversão da produção para os mercados externos;
b) Criação de novos empregos - entre 23 000 e 26 000 - nos sectores da pesca, da indústria e de outros serviços não domésticos ligados aos transportes, serviços públicos e turismo, sendo os criados na agricultura absorvidos pela mão-de-obra subempregada.

A Câmara exprime as suas dúvidas de que o programa previsto permita sequer a aproximação do objectivo referido em b). Não pode minimizar se a importância do sector agrícola, na economia da província, o que talvez não esteja de acordo com a proporção relativa dos investimentos, programados.
Por outro lado, a criação de um porto franco em S. Vicente e a concessão de facilidades fiscais seriam também elementos de relevo na aceleração do progresso da província.
Consideram-se seguidamente os programas sectoriais.

61. Agricultura, silvicultura e pecuária. - O investimento de 84 150 contos no sector apresenta-se esquematizado da seguinte forma:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

O primeiro aspecto que chama a atenção da Câmara é o da granule pulverização de meios e objectivos nos empreendimentos da alínea a). Ocorre perguntar se não seria mais realista e vantajoso tentar fazer uma selecção e concentração dos objectivos a atingir, procurando que ao fim dos seis anos do Plano ficasse de pé alguma coisa de Valioso para a economia provincial.
De qualquer maneira, é de recomendar que a administração do Plano disponha da necessária maleabilidade de actuação, de forma a assegurar os melhores, resultados mo progresso do sector.
A verba mais importante (17 150 contos) é consignada ao fomento cafeícola. A produção actual é de 785 t; pretende-se melhorar a produtividade das áreas em cultivo e a qualidade do café produzido.
No fomento de culturas (8400 contos) estão incluídas as produções de sequeiro, a desenvolver nas ilhas de Santiago, Fogo, Santo Antão, S. Nicolau e Boa Vista, nomeadamente amendoim, feijão longo, oleaginosas não alimentares, coqueiro, tamareira, cajueiro, monqueiro, tabaco e ananás. Não se dá qualquer ideia de como se irá actuar.
Na parte pecuária considera-se a constituição de pastagens, a manutenção dos postos de fomento pecuário (que em rigor deveria constituir encargo, do orçamento ordinário), a campanha de erradicação da tuberculose bovina e outras campanhas profilácticas, fomento avícola, caraculo - ainda na fase experimental - e construção de bebedouros e tanques-banheiros.
Afigura-se que a parte profiláctica, o fomento avícola e a construção de bebedouros e tanques-banheiros constitui o elemento mais positivo do programa.
Nada há a opor, também, aos trabalhos de revestimento vegetal e conservação do solo. Mas a verba respeitante aos trabalhos de conservação de água e do solo (2200 contos) é muito diminuta, pois existem em Cabo Verde graves problemas de erosão, com tendência a agravarem-se. Por isso se recomenda o seu reforço com 6000 contos, a saírem da rubrica de transportes e comunicações, como adiante se explicará. E mesmo assim é pouco; talvez seja possível ainda distrair outros recursos para estes trabalhos de tão vital importância.
O empreendimento relativo à cultura da banana fica a cargo de uma empresa privada, que o financiará. Iniciativas desta natureza merecem todo o apoio.
Na alínea b) a verba mais importante é a da adaptação ao regadio (17 400 contos), que deve ser examinada em conjunto com a destinada à aquisição de propriedades de regadio (5000 contos). O que se pretende, ao que parece, é um emparcelamento voluntário a efectuar na ilha de Santiago, constituindo-se uma sociedade por acções e visando-se a produção bananeira e de culturas hortícolas em escala industrial. Fala-se também em sociedades de economia mista e de núcleos de povoamento apoiados na rega. Não se dão quaisquer pormenores. A Câmara recomenda, portanto, que nenhuma destas iniciativas seja levada a efeito sem estudos muito cuidadosos e a prévia segurança de que estão reunidos os factores necessários ao êxito.
Nada a opor à continuação dos trabalhos referentes à obtenção de água para rega.
Quanto ao crédito agrícola, a distribuir pela respectiva Caixa, a observação que se faz a de que a verba que lhe é destinada é muito pequena. Este é um caminho a percorrer e a incentivar, simultâneamente com a educação do pequeno e médio proprietário e a prestação da assistência técnica, efectiva. Talvez, que a afectação de maiores recursos a este fim, mesmo em detrimento de outros objectivos cuja pulverização é evidente, pudesse levar a um mais rápido crescimento da riqueza da província.

62. Pesca. - Neste sector é previsto um investimento muito importante (246 690 contos) em grande parte proveniente do sector privado. Depositam-se grandes esperanças nos empreendimentos respectivos e parece haver sérias razões para tal.
A distribuição é a seguinte:

a) Pesca:

[Ver Tabela na Imagem]

O investimento diz respeito à empresa pesqueira com base em S. Vicente e dele consta uma participação do Estado traduzida em 30 000 contos de acções.
A iniciativa é merecedora de todo o apoio.
Não esclarece o projecto do Plano o que se passa com outros empreendimentos do género, nomeadamente o referido como vindo a ter a sua base na Praia.

63. Indústrias extractivas e transformadoras. - O programa respectivo, que monta a 17 000 contos, tem a seguinte distribuição proposta:

[Ver Tabela na Imagem]

No aproveitamento dos meios de obtenção de água doce não estão incluídas nem a instalação de dessalinização do Mindelo nem a captação do águas superficiais.

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Quer isto dizer que os 8000 contos considerados visam apenas a carta hidrogeológica e a aquisição de equipamento de sondagens e materiais diversos. Contudo, não se vê razão para não serem considerados outros meios de obtenção de água doce.
Tem-se afirmado que, devido à constituição geológica da maioria das ilhas, não há probabilidades de encontrar águas profundas. Antes de prosseguir nestes trabalhos, parece oportuno decidir, de uma vez por todas, se vale a pena ou não insistir.
Quanto ao fomento mineiro, o projecto reconhece que o problema fundamental quanto aos produtos contemplados é mais de comercialização do que de produção.
Nas indústrias transformadoras, em que tanto se confia para criação de empregos, fala-se concretamente apenas na de curtumes (unidade para curtimento e oficina de fabrico de calçado) e numa cooperativa de produtores de cana para transformação em aguardente de qualidade para exportação. O resto é a indicação de possíveis estudos (incluindo uma fábrica de cimento). É muito pouco e não está de acordo com os objectivos fixados ao Plano. Crê-se que o problema necessita de impulso mais vigoroso.

64. Melhoramentos rurais. - Conforme a proposta formulada no n.º 44, deverá ser esta a rubrica IV do Plano e para ela seriam transferidos os empreendimentos indevidamente classificados na rubrica VIII, que passaria a, designar-se por habitação e urbanização (incluindo, pois, os melhoramentos urbanos).
Igualmente para ela devem ser transferidos os empreendimentos referentes à electrificação de povoações - com excepção das cidades - que indevidamente estão classificadas na rubrica V - energia.
Isto é, deverão aqui ser classificados os empreendimentos não correspondentes a grandes aglomerados urbanos e que abranjam os domínios de abastecimento de água, esgotos e saneamento, electrificação, viação e, de uma maneira, geral, os que correspondam à melhoria das condições de vida fora dos grandes centros populacionais e ao desenvolvimento comunitário. É, de resto, orientação sensìvelmente paralela à adoptada no Plano da metrópole.
Resultará, sujeito a verificação ulterior que a Câmara recomenda, o seguinte esquema:

a) Abastecimentos de água e trabalhos diversos:

[Ver tabela na Imagem]

b) Electrificação de povoações:

[Ver Tabela na Imagem]

Os encargos gerais foram aqui arbitràriamente divididos, transferindo metade dos previstos nas rubricas V e VIII do projecto do Plano.
Nada há a opor ao programa, que vem beneficiar as populações e contribuir para o seu bem-estar. O seu montante será assim de 28 200 contos (retirado das rubricas indicadas).
Contudo, há a notar que em 1968 haverá a pagar uma verba de 399 300$, correspondente a 10 por cento do valor da empreitada de electrificação de S. Filipe e Nova Sintra, a concluir no corrente ano. O seu montante talvez possa sair da verba de encargos gerais.

A Câmara lamenta, contudo, que não tenha sido considerada a verba para empreendimentos de desenvolvimento comunitário.

65- Energia. - De acordo com o número anterior, haverá que, ajustar esta rubrica para ter em conta a classificação proposta dos empreendimentos.
Convirá actualizar os números referentes à potência instalada, indicando os valores de 1965, em lugar dos de 1963, nas centrais de serviço público, que foram os seguintes:

[Ver Tabela na Imagem]

A distribuição será a seguinte.

a) Electrificação de aglomerados urbanos:

[Ver Tabela na Imagem]

b) Aproveitamento de energia eólica:

[Ver Tabela na Imagem]

Há algumas observações a fazer.
Assim, quanto ao aproveitamento hidroeléctrico referido em d), nada se sabe quanto ao projecto e sua justificação técnico-económica.

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Entende-se que não devo ser dada execução ao empreendimento sem estudo prèviamente aprovado e sem demonstração do interesse do investimento.
Por outro lado, não se contou com verba para ampliação das centrais do Mindelo e da Praia, cuja absoluta necessidade é evidente em face da evolução dos consumos.
Também, o problema do aproveitamento da energia eólica não é tão simples como parece. As centrais eólicas previstas têm por finalidade «injectar» energia em redes públicas de distribuição de energia alimentada por centrais equipadas com geradores síncronos. Sendo assim, e como os geradores eólicos são assíncronos, há que colher experiência sobre a eficiência do funcionamento em paralelo de geradores de tipo diferente. De resto, sabe-se da existência de outros problemas de ordem técnica, como, por exemplo, os decorrentes das capacidades relativas da rede e dos geradores.
Assim, parece prudente começar pela instalação de uma única central eólica, observar o seu funcionamento e só depois instalar as outras, se o resultado for favorável. Isso envolve alteração do escalonamento de verbas.
Sugere, portanto, a Câmara a transferência para a alínea a), com vista à necessária ampliação de centrais do Mindelo e da Praia, de 2300 contos das verbas inscritas para este fim e de 1500 contos da verba inscrita para o aproveitamento hidroeléctrico da Ribeira das Pombas (que seria assim adiado até ter projecto devidamente justificado e aprovado), criando-se, portanto, era a) mais a seguinte rubrica:

4. Ampliação das centrais do Mindelo e da Praia - 3 800 contos.

66. Circuitos de distribuição. - O projecto apenas fala de generalidades que não justificam a verba prevista (3400 contos). Parece que, enquanto não se passar à fase das concretizações não se deve autorizar qualquer despesa.

67. Transportes e comunicações. - É esta a rubrica mais vultosa do programa de Cabo Verde (335 049 contos), com a seguinte distribuição:

a) Transportes rodoviários:

[Ver Tabela na Imagem]

b) Portos e navegação:

[Ver Tabela na Imagem]

c) Transportes aéreos e aeroportos:

[Ver Tabela na Imagem]

É necessário fazer alguns comentários, começando pelas estradas.
Durante anos consumiram-se avultadas verbas em trabalhos rodoviários na província, como meio de absorção de mão-de-obra. Como medida de emergência no combate às crises, certamente houve para isso plena justificação. Mas não posteriormente: a insistência no critério conduziu a resultados pouco brilhantes e o custo real por quilómetro de estrada construída subiu a números muito elevados.
Tem sido recomendada a mudança de orientação - e isso continua a considerar-se indispensável. O caminho é simples:

1.º Projectos devidamente elaborados, em especial quanto ao tipo de pavimento;
2.º Execução das obras por empreitada, dando-lhes suficiente volume para atrair empreiteiros qualificados;
3.º Organização conveniente dos serviços de conservação.

Salvo nos programas de Santo Antão, Santiago e Fogo, parece ter havido demasiada preocupação em pulverizar obras. Convém rever o assunto.
Propõe-se a inscrição de uma verba de 6000 contos para projectos. Ora, estão projectados para a província cerca de 500 km de estradas, o que certamente dará para todo o III Plano de Fomento. Qualquer novo projecto que seja necessário pode ser estudado pela brigada de estradas.
Igualmente se propõe a inscrição de 25 821 contos para fiscalização e encargos gerais, o que, corresponde a cerca do 20 por cento do valor consignado para obras. Ora:

a) A verba de fiscalização, quando a ela houver lugar, é inscrita, no orçamento da obra a que respeita e não tem de ser individualizada no Plano de Fomento;
b) Essa verba não é necessária para as obrais realizados por administração directa;
c) Se a obra for dada por empreitada, os gastos com a fiscalização fazem parte, como se disse, do custo da obra e nunca excedem 10 por cento do valor orçamentado (naturalmente menos).

Assim, haverá que abater a verba destinada a projectos e a fiscalização e encargos gerais, inscrevendo, em contrapartida, apenas o necessário ao funcionamento da brigada. Desaparecem assim as rubricas «Execução do pro-

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1662-(1004) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

jectos» e «Fiscalização e encargos gerais» da alínea a) e inscrever-se-ia apenas:

Encargos gerais (funcionamento da brigada de estradas) - 12 000 contos.

Sobram, portanto, 19 821 contos, que podem ir reforçar as verbas de construção ou ser destinados a outros fins. Sugere-se adiante que sejam destinados a telecomunicações (13 821 contos) e a trabalhos de conservação da água e do solo (6000 contos), como atrás se referiu.
Também a rubrica portos a navegação apresenta lacunas e deficiências. Assim:
1.º Estudos e projectos. - É necessário contemplar verba para estudo das várias realizações portuárias a incluir no III Plano de Fomento, que compreendem sete novos portos e o planeamento da cabotagem. Será necessária uma verba de 5000 contos.
2.º Porto de S. Vicente. - Não foi considerado o problema vital das reparações navais, para o qual já foram atribuídas verbas pelo departamento da Defesa Nacional e pelo Ministério da "Marinha, havendo também que definir a comparticipação da província. Pensa-se que esta não deverá ser inferior a 5000 contos.
3.º Porto da Prata. - A caracterização e dimensionamento deste porto estão dependentes, em larga .medida, da evolução que tome o sector da pesca e da concretização dos planos da empresa nele interessada. Assim, no plano do
realizações, haverá que considerar o porto do pesca no plano geral do porto, corri possibilidades de expansão futura e há necessidade de projectar e construir urgentemente o cais de longo curso, cais de cabotagem, e pequenas instalações de vantagem e reparação de embarcações.

A estimativa actualizada destes empreendimentos sobe a 68 000 contos, em lugar dos 59 361 previstos.

4.º Porto da Madeira. - Em face da escolha do local de amarração do cabo submarino para a África do Sal, não poderá localizar-se na Madeira o porto da ilha do Sal, devendo procurar-se outra localização. Nestes termos, tem pouco significado a verba inscrita.

Deixa-se, para memória, uma dotação de 23 400 contos. Mas talvez seja preferível não inscrever verba sem proceder aos respectivos estudos e reforçar com este quantitativo o sector agro-silvo-pecuário, nomeadamente ainda o que respeita a trabalhos de conservação da água e do solo.

5.º Cabotagem. - Supõe-se que a verba, indicada do 2200 contos corresponda a prestações a pagar pelo navio recentemente adquirido, o Mira Terra.

Mas o problema da cabotagem não está resolvido e necessita de ser encarado de frente, de forma a prever meios adequados de ligação marítima que substituam os antiquados veleiros hoje em serviço. Talvez que uma pequena frota de embarcações motorizadas, mistas para carga e passageiros, seguras e rápidas, possa constituir solução. O respectivo estudo foi considerado na verba de estudos e projectos.
A distribuição passaria a ser ia seguinte (montando à mesma ao total de 144 094 contos):

Porto Grande de S. Vicente:

[Ver Tabela na Imagem]

Quanto ao programa de transportes aéreos, regista-se a indecisão constante do projecto quanto ao material de voo.
Finalmente, julga-se sem justificação que não seja dotada a rubrica telecomunicações, a que o projecto pràticamente se não refere. As necessidades são muito grandes, e há que, pelo menos, estabelecer, em condições, o serviço costeiro de apoio à navegação, ampliar as centrais telefónicas automáticas existentes e montar quatro redes telefónicas locais. Para isso se sugere a dotação de 18 821 contos, cuja eliminação se propôs da verba de transportes terrestres.
Não é possível, infelizmente, satisfazer todas as necessidades mais prementes dentro da vigência do Plano. Mas julga-se indispensável realizar, pelo menos, o seguinte programa mínimo:

a) Estabelecimento do serviço costeiro de apoio à navegação:

[Ver Tabela na Imagem]

Para completar o programa, haverá a considerar no III Plano de Fomento mais cerca de 6500 contos para comunicações entre ilhas, traçados interurbanos e traçados telefónicos.

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Assim, as dotações da rubi: I ca vil) Transporias o comunicações passariam a ser:

[Ver Tabela na Imagem]

68. Habitação e urbanização. - Tem de ser remodelada a distribuição desta rubrica, se forem aceites as sugestões feitas anteriormente. Passaria a adoptar-se o seguinte esquema:

[Ver Tabela na Imagem]

O programa prevê a construção de 900 habitações económicas e de 240 moradias para funcionários. É pouco, em relação às necessidades habitacionais da província, embora se compreendam, as limitações de verbas disponíveis. Talvez que um impulso ao desenvolvimento do crédito imobiliário possa contribuir para aliviar a situação.
E não devem ser esquecidas as possibilidades oferecidas pelo sistema de auto-construção.

69. Turismo. - O programa, muito modesto, prevê a seguinte distribuição dos 7800 contos atribuídos:

[Ver Tabela na Imagem]

Já se disse, e repete-se aqui. que convém encarar as possibilidades de grande turismo internacional, que talvez possa vir a ser um. dos principais motores da economia da província. Mas o Estado teria de se encarregar da realização ou promoção das infra-estruturas fundamentais - água, saneamento, electricidade e acessos- e entregar à iniciativa privada, nacional ou estrangeira, o restante.
De outra forma, não se sairá do zero.

70. Educação e investigação. - Prevê-se um investimento de 76 600 contos, com o seguinte esquema de distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

Os objectivos do programa referente à educação encontram-se formulados com muita clareza no projecto do Plano.
Na parte material prevê-se a construção de 97 escolas de ensino primário, totalizando 135 salas de aula, e a ampliação do liceu e da escola técnica.
A investigação absorverá uma verba muito importante e é indispensável que seja criteriosamente aplicada.
Trata-se de uma actividade fundamental para o progresso e que nem sempre é compreendida no seu alto interesse nacional. Infelizmente encontra-se generalizado por todo o ultramar um sentimento de desconfiança em relação aos investimentos feitos neste sector e à forma como se processam. Não se nega que algumas vezes haverá razões válidas para essa atitude, razões essas que importa eliminar quanto antes.
Não se pode perder de vista a necessidade de uma planificação e coordenação eficientes da investigação, a efectuar em vários níveis de actuação. O Governo reconheceu este princípio, ao criar recentemente um órgão coordenador ao nível nacional.
Lembra-se que, no parecer da. Câmara Corporativa referente ao projecto do Plano Intercalar de Fomento, se escreveu:

Em especial, pelo que respeita às investigações científicas ... a Câmara Corporativa entende que seria muito recomendável não dispersar e concentrar o problema das investigações em serviços nacionais ou centrais, nomeadamente na Junta de Investigações do Ultramar, porque o País não tem investigadores e outro pessoal idóneo para a investigação dispersa do projecto do Plano.

Convém apreciar se esta orientação mantém a sua validade, como se julga, e em que grau de especialização. O que a Câmara Corporativa tem em mente é a criação

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ou aperfeiçoamento das condições indispensáveis para que os investimentos feitos dêem o máximo rendimento.
Quanto aos empreendimentos previstos, a cartografia geral ainda não poderá ficar concluída em 1973, o que é pena, dado o interesse básico do que se reveste na parte de levantamento geográfico.
A referência feita à carta geológica é extremamente vaga, ficando-se sem saber em que se vai gastar a lotação.
É de apoiar o que se refere à hidrologia e que, pelo seu carácter de actividade permanente, deverá ser integrado num serviço provincial. - por lei, o de obras públicas.
A investigação aplicada à agricultura conta com uma verba relativamente importante, dedicada ao prosseguimento da carta de solos e ao que é designado por «investigação básica» e que, afinal, compreende estudo de adaptação ao regadio dos vales de Santiago e outros estudos de ordem agronómica. O assunto necessita de ser tornado claro.
Muito relevante é a dotação destinada aos estudos relacionados com a pesca. Incluem, ao que parece, a aquisição de um barco. Há que formular o voto de que esta actividade seja orientada num sentido eminentemente prático e se não ceda a tentação fácil da especulação científica. A pesca é um dos pontos luminosos no horizonte económico de Cabo Verde. É essencial que todos os recursos a empregar o sejam com o sentido de obtenção de resultados efectivos.
Finalmente, não está muito claramente exposta a forma como irá exercer-se a acção coordenadora da investigação científica na província.
No que se refere aos estudos de base, apenas se indicam três pontos: aproveitamento de energia solar, estudos sobre a população (nutrição e produtividade) e etnografia.
Como algum destes aspectos já foram objecto de dotações nos Planos anteriores, seria aconselhável que o presente projecto registasse os resultados obtidos.

71. Saúde e assistência. - O investimento previsto - aliás limitado ao sector da saúde - é de 60 000 contos, cora a seguinte distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

Os objectivos estão claramente definidos. Os trabalhos de instalação e apetrechamento hospitalar concentrar-se-ão principalmente nos seguintes estabelecimentos:

Continuação das obras do hospital de S. Vicente;
Hospital, da ribeira Grande (Santo Antão);
Hospital do Sal;
Enfermaria para tuberculosos pobres em S. Vicente;
Enfermaria para tuberculosos pobres em Santa Catarina;
Hospital central, da Praia.

Há um ponto do programa que a Câmara Corporativa tem de rejeitar como não podendo fazer parte dos objectivos do Plano de Fomento: o de alargamento, dos quadros de pessoal, dos serviços de saúde, que se diz «extensivo a todas as categorias de pessoal de qualquer dos ramos: técnico, administrativo e de assistência». Isto é nítida responsabilidade do orçamento ordinário; consequentemente, propõe-se a eliminação da referência à formação de pessoal técnico e ao alargamento dos quadros do programa.

72. Programa do investimentos revisto. - Se as sugestões da Câmara forem aceites, o programa geral de investimentos terá de sofrer algumas alterações. O quadro XXII pretende sintetizá-las.

QUADRO XXII

Cabo Verde

Programa de investimentos revisto

Resumo por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

(a) Verba dependente da necessária justificação.

Guiné

73. Como já foi acentuado anteriormente, a Guiné, província mártir portuguesa, tem neste III Plano de Fomento um lugar de acordo com a sua importância no
conjunto nacional. Os quadros X e XXIII - este a seguir apresentado- condensam os elementos essenciais do respectivo programa de investimentos, que totaliza 1 259 317 contos, situando-a, assim, logo a seguir a Angola e Moçambique.

QUADRO XXIII

Guiné

Programa de investimentos (proposto pelo Governo)

Resumo por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

Os objectivos fundamentais a atingir são definidos no projecto do Plano pela seguinte forma:

a) Assegurar um ritmo de acréscimo do produto provincial mais acelerado que na metrópole, de modo a tentar diminuir o desnível verificado ;
b) Procurar reduzir as disparidades de padrões de vida e nível de rendimento dos estratos sócio-económicos em que se reparte a estrutura so-

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1662-(1008) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

cial da população, nomeadamente através de duas grandes ordens de esforços:

Promoção social da população do sector tradicional, em particular dos pontos de vista cultural, sanitário e alimentar;
Fomento de actividades que promovam a integração do autóctone nos circuitos de economia de mercado;
Dar muito vincada ênfase às medidas e incentivos que concorram para a expansão do sector empresarial;

c) Criação, nos sectores secundário e terciário, de 20 840 novos empregos no sexénio.

O primeiro objectivo é meramente ilusório, uma vez que a planificação não foi feita mediante um modelo quantificado de crescimento e não se acredita possível que o investimento previsto permita ultrapassar os 7 por cento de crescimento do produto interno bruto admitido no modelo da metrópole. A Câmara Corporativa sugere, portanto, que na redacção final do Plano seja modificada a forma de apresentação do objectivo.
O objectivo b) é perfeitamente viável e nele podem registar-se sensíveis progressos. Quanto ao objectivo c), não há elementos no Plano que permitam julgar da sua viabilidade, como também nada há que leve a afastá-lo in limine.
Seguidamente, passar-se-á a uma breve análise dos programas sectoriais.

74. Agricultura, silvicultura e pecuária. - O esquema de distribuição dos 86 620 contos com que o sector será dotado é o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Tal como acontece em Cabo Verde, não pode deixar de impressionar a grande pulverização de actividades e dotações na rubrica fomento agro-silvo-pastoril. Este facto pode prejudicar de certo modo aquela aceleração do desenvolvimento económico, que é uma das finalidades principais do Plano de Fomento. Como únicos objectivos de dimensão sensível, notam-se apenas os referentes à palmeira-do-azeite, à intensificação da cultura orizícola e ao laboratório pecuário e seus anexos, em Bissorã.
Por outro lado, sobre a justificação dos investimentos neste sector, faz-se uma resenha da situação actual, apresentam-se determinados objectivos no campo da agricultura, da silvicultura e da pecuária e, ao apresentar-se o programa da actuação, não se relaciona claramente este com aqueles, nem se justificam os investimentos preconizados.
A Câmara não tem, assim, base. em que possa fundamentar uma apreciação objectiva.
Nos esquemas do regadio e povoamento, o investimento de 11 000 contos é proposto em três linhas e meia: estabelecimento de um centro-piloto de desenvolvimento rural para 25 famílias autóctones na região de Prábis (concelho de Bissau), com 100 ha de terra, regados pelo aproveitamento de águas subterrâneas.
Numa província com as características da Guiné, parece indispensável apresentar justificação válida para o projecto, que acarreta um dispêndio de 440 contos por família. Antes de ser apreciado e justificado econòmicamente o respectivo projecto, a Câmara entende que não deve ser posto em execução.
Mas já não negará o seu aplauso à dotação de 18 000 contos destinada ao crédito agrícola, presumìvelmente a conceder por intermédio da respectiva Caixa. Talvez que os 11 000 contos acima referidos fossem mais bem aproveitados também nesta aplicação. De qualquer maneira há que tomar as necessárias precauções na concessão dos empréstimos.

75. Pesca. - Considerou-se uma dotação de 24 500 contos para o sector, com a distribuição a seguir discriminada:

[Ver Tabela na Imagem]

A apresentação do programa é feita de forma extremamente sumária e não permite a sua crítica. Assim, ocorrem imediatamente as seguintes questões: Que se pretende fazer quanto à montagem da rede de frio, apon-

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1009)

tada como um dos objectivos no sector? Que se entende por ajudas à navegação de pesca? Em que regime e com que destino se prevê a construção de pequenas embarcações? Será de iniciativa privada ou pública a instalação de novas empresas de pesca e de transformação do pescado?
A Câmara entende que estes e outros aspectos necessitam de algum esclarecimento na redacção final do Plano.

76. Indústrias extractivas e transformadoras. -- Corresponde este sector ao maior investimento programado no projecto do Plano (508 800 contos), com o seguinte esquema de distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

Vê-se imediatamente que o volume do investimento é empolado pela parte destinada à pesquisa de hidrocarbonetos, já objecto de contrato de concessão.
Sugere-se que não seja subsidiada a primeira parte da alínea a), dada a pequenez da verba atribuída à carta hidrogeológica, que não pode permitir trabalho útil.
Na indústria extractiva, têm significado potencial os jazigos de bauxites, cujo aproveitamento ainda não é programado no presente Plano. A verba de estudos refere-se à pesquisa de ilmenites, colites ferruginosas, fosfates e quartzo.
Não se apresenta justificação para os objectivos visados quanto à captação de águas (12000 contos), mas não se duvida que se trate de um investimento útil. A Câmara recomenda que esta lacuna seja devidamente eliminada na redacção final do Plano.
No sector da indústria transformadora, à parte a dotação para a sociedade financeira de fomento (que na Guiné, como noutras províncias, continua a ser ardentemente desejada), não parece haver programa estruturado para a aplicação da dotação restante (45 000 contos), mas apenas o que se designa por «um quadro de potencialidades».
Estas abrangem:

a) Industrialização integral do amendoim;
b) Extracção do óleo de coconote e produção de torteaux;
c) Farinação da mandioca;
d) Extracção do óleo de palma no arquipélago de Bijagós;
e) Melhoria e expansão da produção de refrigerantes;
f) Preparação de álcool industrial e aguardente;
g) Melhor aproveitamento de produtos florestais;
h) Intensificação do fabrico de sabões;
i) Extracção e preparação industrial do mel e cera;
j) Curtimento artesanal;
k) Conservação, farinação e extracção de óleos de peixe;
l) Produção de cervejas;
m) Moagem;
n) Massas alimentícias, bolachas e biscoitos;
o) Fabrico de artefactos de plástico;
p) Calcado;
q) Fabricação de material e utensilagem agrícola simples;
r) Fabrico de produtos cerâmicos e modernização de mecânica (telhas e tijolos);
s) Montagem de uma unidade de fundição e de uma pequena unidade metalomecânica;
t) Vulcanização e recauchutagem;
u) Modernização da pequena indústria de construções e reparações navais;
v) Aperfeiçoamento e valorização do artesanato no que se refere a ourivesaria, cestaria, tecelagem e estampagem de panos.

Não se dá a mais pequena indicação sobre a viabilidade do estado de lançamento de qualquer destas actividades, que se presume a iniciativa privada tomará a seu cargo.
Não pode, assim, a Câmara, emitir opinião sobre esses empreendimentos.

77. Melhoramentos rurais. - Segundo o critério já exposto, haverá que classificar aqui os empreendimentos indevidamente incluídos nas rubricas de energia e de habitação e urbanização. Mas o Plano está pouco pormenorizado para permitir com segurança a separação entre melhoramentos rurais e urbanos. A Câmara recomenda, portanto, a cuidada revisão dos valores aqui atribuídos:

Contos
a) Abastecimento de água e trabalhos diversos ............ (a) 10 000

Abastecimento de água de Bambadinca.
Abastecimento de água das populações de Safim, Biombo e Prábis.
Melhoria da captação de água e do abastecimento de Bissorã.
Construção de fontes e poços em povoações do concelho de Bolama.
Abastecimento de água das povoações de Calequisse, Caio e Cacheu.
Abastecimento de água da vila de Catió.
Abastecimento de água da vila de Nova Lamego.
Abastecimento de água da povoação de Sonaco.
Abastecimento de água de outras localidades do concelho de Gabu e construção de uma fonte e pequeno lavadouro.
Ampliação e apetrechamento do sistema de abastecimento de água da vila de Mansoa.
Urbanização de povoações para populações reinstaladas no concelho de Mansoa.
Abastecimento de água das povoações da circunscrição de S. Domingos.

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b) Electrificação de povoações ......... (a) 25 000

Bafatá.
Bambadinca.
Bubaque.
S. Domingos.
Ingorei.
Susana.
Mansoa.
Catió.
Bissorã.
Teixeira Pinto.
Calequisse.
Pelundo.
Pecixe.
Nova Lamego.
Sonaco.
Piche.
Pirada.
Farina.
Mansabá.
Olossapo.
Fulacunda.
Empada.
35 000

(a) Estimativa a verificar na elaboração definitiva do Plano.

Deverá eliminar-se a indicação da potência dos grupos geradores, que depende do estudo a fazer por altura da sua aquisição.
Nada há a opor ao programa, que representa nítido benefício para as populações, no melhoramento de condições já existentes.
Tal como no caso de Cabo Verde, a Câmara lamenta que não tenham sido consideradas verbas para desenvolvimento comunitário.

78. Energia. - Em face do exposto no parágrafo anterior, o investimento deverá ser ajustado para 15 935 contos (verba a verificar na elaboração definitiva do Plano). O programa será o seguinte:

Contos
a) Electrificação de aglomerados urbanos ......... (a) 15 935

Bissau:

Montagem de um quarto gerador na central, edifício e obras no recinto da central e apetrechamento da oficina.
Fornecimento e montagem do cabo de alimentação em alta tensão da zona até ao aeroporto, transformadores, material de corte e protecção.
Ampliação e remodelação gradual da rede de distribuição de baixa tensão assistente.

Bolama:

Aquisição e montagem de dois grupos geradores e de um quadro eléctrico.
Ampliação e remodelação da rede eléctrica de distribuição.

15 935
(a) Estimativa a verificar na elaboração definitiva do Plano.

Deve eliminar-se a indicação da potência nos grupos geradores de Bolama e da tensão. São elementos a fixar em função dos estudos na altura da aquisição e montagem.

79. Circuitos de distribuição. - São avaliados em 7450 contos os investimentos necessários, com a seguinte distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

A descrição dos objectivos está correcta. Apenas há a notar que o conjunto de câmaras frigoríficas de Bissau (frescos, peixe e carne), que constituirá utilíssimo melhoramento, deverá ser classificado na rubrica rede de frio. Se assim for, a distribuição passará a ser:

[Ver Tabela na Imagem]

80. Transportes e comunicações. - Distribuem-se neste sector 349 058 contos, pela seguinte forma:

[Ver Tabela na Imagem]

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[Ver Tabela na Imagem]

As alíneas a) e b) deste capítulo precisam de ser remodeladas.
Quanto às estradas, segundo comunicação oficial da província, em 31 de Dezembro de 1961 a posição era a seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

o que difere sensivelmente dos números apresentados no Plano.
A dotação proposta prevê a construção das pontes sobre os rios Geba, Bambadinca, Cacheu, em Farim, Pulole, em Xitole, Cole e Corubal e ainda terraplenagens, obras de arte correntes e pavimentação de 460,5 km de estradas, além da aquisição de equipamento mecânico, apetrechamento oficinal e funcionamento da Brigada de Estudo e Construção de Estradas.
O custo unitário atribuído aos 460,5 km de estrada (cerca de 500 contos por quilómetro) parece baixo, em face da experiência recente, quer quanto aos trabalhos da empreitada, quer quanto aos realizados por administração directa.
Mas o mais grave, é que podem surgir obstáculos quanto à realização do programa.
Com efeito, até agora apenas um único empreiteiro tem trabalhado na Guiné. E, quanto às possibilidades de execução directa, a Brigada de Estudo e Construção de Estradas e os Serviços de Obras Públicas lutam com dificuldades no preenchimento dos seus quadros técnicos e necessitam de ser apoiados para o seu rápido preenchimento. Isso pode diminuir a viabilidade do que se propõe. É certo que poderá haver valiosa cooperação do batalhão de engenharia, que contudo tem também de ocorrer aos seus deveres militares.
Como, por outro lado, o programa portuário se encontra muito subestimado, parece ser preferível transferir para este objectivo o que está em falta: 18 800 contos.
Passando ao subsector de portos o navegação, deverá começar-se por corrigir toda a redacção do § 55 do projecto do Plano, onde há incorrecções e impropriedades de termos. Propõe-se a seguinte redacção:

55. O porto de Bissau é o único verdadeiro complexo portuário da província, constituído por uma ponte-cais de longo curso, em T, por um cais de cabotagem (Pijiguiti) e por um conjunto oficinal de reparações navais, pertencente à Armada, onde recentemente se concluiu um plano inclinado transversal, capaz de permitir a alagem de navios até 56 m de comprimento e até 360 t de deslocamento leve.
Este porto polariza o grosso da importação, da exportação e da cabotagem, tendo sido escalado, em 1964, por 85 navios de longo curso, que descarregaram 69 632 t e carregaram 29 576 t. O movimento da cabotagem foi, nesse ano, de 25 677 t, tendendo a aumentar ràpidamente nos seguintes.
Os problemas que se levantam para este porto são fundamentalmente os seguintes:

A falta de separação das marinhas de guerra e mercante, que actualmente têm de se servir da mesma ponte-cais, já extremamente congestionada;
A inexistência de um cais de cabotagem suficiente para esse tráfego em incremento constante;
As dificuldades de acostagem e amarração dos navios de longo curso à ponte-cais.

Estes problemas terão de ser resolvidos durante a vigência do III Plano de Fomento.
Depois de Bissau, os principais portos abertos à navegação são Bambadinca, Binta, Buba e Bolama. Os três primeiros vão ser dotados com obras acostáveis que lhes proporcionem um mínimo de condições de desenvolvimento. Bambadinca, quando terminada a estrada asfaltada que ligará a Mansoa, virá presumìvelmente a ocupar o segundo lugar no tráfego movimentado entre os portos da província, por ora detido por Binta (rio Cacheu), que possui um cais com dois pontões de madeira. Bolama, porto de excelentes condições naturais, dispõe já de uma ponte de betão, com cerca de 130 m de comprimento.
Encontram-se ainda cais acostáveis de estrutura muito rudimentar em Binar, Cabedu, Cacheu, Cacine, Enxudé, Empada, Farim, Jeta, Bubaque, S. Domingos, S. João e Teixeira Pinto, entre outras localidades.

Tornando aos objectivos no subsector, a redacção do § 59 do projecto do Plano deve ser modificada como segue:

§ 59. Os objectivos compreendem:

No porto de Bissau, a construção do cais de cabotagem e pesca, constituído por 300 m (cais do Bolola), em alinhamento a montante da ponte-cais actual; a construção da ponte-cais da Marinha, em T, com testa de 100 m em fundos de 3 m a 4 m, sendo um ramo de acesso enraizado no velho cais de Pijiguiti, que será absorvido pelas instalações da Armada; a construção de dois duques-de-alba na ponte-cais actual; a dragagem periódica na testa da ponte-cais actual, para permitir a regular atracação dos navios de longo curso, bem como dragagens noutras áreas do porto; a aquisição de material portuário e outras beneficiações;
Nos portos secundários, melhoria de obras acostáveis, construção de pontes-cais e aquisições diversas nos portos de Teixeira Pinto, Cacheu, S. Domingos, Binta, Bigene, Farim, Bambadinca, Buba, Empada, Catió, Fulacunda e Cacine.

Nos investimentos, no n.º 2 do § 64 deverão sistematizar-se os empreendimentos pela forma que seguidamente se expõe:

2. Portos, navegação marítima, fluvial e costeira:

a) Construção do cais de Bolola (a pagar pela Administração do Porto de Bissau);
b) Construção do cais da Marinha (a pagar pelo Departamento da Defesa Nacional);
c) Construção de dois duques-de-alba para a ponte-cais de longo curso;
d) Dragagens no porto de Bissau;

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e) Aquisições várias para o porto de Bissau;
f) Melhoramentos dos portos da zona norte (Teixeira Pinto, Cacheu, S. Domingos, Binta, Bigene e Farim);
g) Melhoramentos dos portos da zona centro (Bambadinca, Bafatá e Enxudé);
h) Melhoramentos dos portos da zona sul (Buba, Empada, Catió e Cacine);
i) Melhoramentos nos portos dos Bijagós (Bu-baque e construção de estacaria de cibes);
j) Apetrechamento: aquisição de um bate-estacas, de um rebocador para Bissau, dois ferry-boats, uma embarcação para pilotos, uma jangada e respectivos sobressalentes.

É importante que o escalonamento das verbas permita o normal prosseguimento dos trabalhos sem dificuldades nem soluções de continuidade.
Assim, a respectiva dotação deve ser distribuída segundo o seguinte esquema:

[Ver Tabela na Imagem]

Em relação ao previsto no projecto do Plano (26 800 contos) há assim um aumento de 18 800 contos, que pode ser transferido do subsector rodoviário. (Tenha-se presente, quanto aos meios de financiamento, a comparticipação do Departamento da Defesa Nacional e da Administração do Porto de Bissau).
Passando ao subsector de transportes aéreos, o investimento é relativamente pequeno (11 350 contos), correspondendo a melhoramentos no aeroporto de Bissau, incluindo a construção de um novo hangar.
Finalmente, o subsector de telecomunicações (30 158 contos) prevê a melhoria das comunicações telefónicas de Bissau (a verba atribuída de 1841 contos parece ser bastante reduzida para as necessidades do período), a melhoria das comunicações com o exterior, bem programada e com verba proporcionada (3600 contos), o adensamento da rede interna de VHF (os 2430 contos deverão bastar), a construção das estações telégrafo-postais de Bafatá e Farim (dotação modesta de 970 contos), encargos com a execução dos empreendimentos (1317 contos) que não se encontram devidamente justificados e, finalmente, forte impulso à radiodifusão, pela montagem de um centro emissor com dois emissores de 50 kW, respectivo equipamento e instalações, contando-se com 20 000 contos que devem cobrir os encargos sem dificuldade. Convém esclarecer devidamente a aplicação da verba destinada a encargos com a execução dos empreendimentos e qual a razão da sua individualização.
Portanto, as dotações da rubrica VII - transportes e comunicações deverão passar a ser:

[Ver Tabela na Imagem]

81. Habitação e urbanização. - A respectiva distribuição deve ser rectificada, de acordo com a reclassificação de empreendimentos atrás exposta. Passará a ser:

[Ver Tabela na Imagem]

(a) Estimativa a verificar na elaboração definitiva do Plano.

Nada há a opor ao subsector de urbanização, embora se não veja necessidade de discriminar os empreendimentos incluídos em «Outros melhoramentos urbanos». Quanto ao de habitação, convém rever a redacção da respectiva introdução (§ 65), em que se afirma preverem-se 240 casas para 3120 habitantes, o que significaria 13 habitantes por casa!
Em relação à dotação disponível de 7370 contos, parece ambicioso o programa de bairros e outras habitações económicas, tanto mais que aí se incluem também os respectivos trabalhos de urbanização. Parece necessário definir com clareza uma política habitacional neste sector e dar a devida atenção ao problema das respectivas infra-estruturas. No caso particular de Bissau há que ter presente a necessidade de empreender operações de renovação urbana, descongestionando áreas de exagerada concentração populacional e de condições sanitárias precárias, procurando imprimir à cidade uma estrutura urbanística adequada.

82. Turismo. - O programa deste sector é modesto como a dotação atribuída (10 000 contos), visando equipamento e infra-estruturas (incluindo hoteleiras) nos pólos de atracção turística potencial - Bissau, arquipélago dos Bijagós, ilha de Bolama e praia da Varela.

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83. Educação e investigação. - O programa encara o investimento de 74 612 contos, segundo o seguinte esquema:

[Ver Tabela na Imagem]

O programa relativo à educação merece o estudo da Câmara, quer nos seus objectivos, quer nos meios de os atingir.
Quanto à investigação, recordam-se as considerações feitas a propósito de Cabo Verde, que aqui se dão como reproduzidas e até acentuadas em face da forma vaga como é exposta uma parte importante do respectivo programa. Há objectivos que transitam de planos anteriores e sobre os quais se não diz uma palavra quanto aos resultados certamente já obtidos e do partido que deles se tirou. Sugere-se que, no subsector de cartografia, se indique o que está já realizado quanto à cobertura fotogeológica e à elaboração da carta geológica, bem como quanto ao levantamento hidrográfico, de tanta importância e implicações.
Passando à meteorologia, grande parte dos objectivos e investimentos indicados nada têm a ver com investigação e melhor ficariam, como no plano da metrópole, classificados no sector de transportes e comunicações. É o caso do apetrechamento do aeroporto de Bissau para as necessidades operacionais,, dos aviões a jacto, do serviço meteorológico para as previsões meteorológicas e ampliação da rede meteorológica interna. Já a aparelhagem para a estação solarigráfica de Bissau e o levantamento geomagnético complementar (sobre o qual nada mais se diz) não destoarão de facto no campo da investigação.
A investigação aplicada à agricultura absorverá nada menos do que 20 000 contos. Há repetição de investimentos em relação à cartografia, visto que se torna a falar de cartas de solos e de vegetação que já estavam ali dotadas. Nos objectivos fala-se apenas de actividades ligadas à pecuária: pastagens, valor forrageiro de plantas, fenação e ensilagem, prados artificiais; mas nos investimentos já se fala em fertilidade dos solos, produção de sementes híbridas, estudos sobre a bananeira, introdução de plantas alimentares e industriais e transformação de um posto agrícola em estação experimental. Tem-se a sensação de que podia estruturar-se o programa com mais rigor, o que deixa a Câmara Corporativa preocupada e a leva a aconselhar uma cuidada revisão do assunto. Recorda-se o comentário sobre a necessidade da coordenação e supervisão da investigação feita a propósito de idêntica rubrica do programa de Cabo Verde.
A investigação no sector das pescas são consignados 6000 contos. Apresenta-se como objectivo o inventário da fauna marinha. Mas nos investimentos expande-se muito mais a área de actuação, desde a localização de pesqueiros ao estudo experimental da pesca de arrasto.
Não se nega o interesse do programa; mas chama-se a atenção para a necessidade que há em o formular e justificar melhor.
Finalmente, nos objectivos atribuídos à coordenação da investigação cientifica, fala-se em estudos de base (problemas demográficos, contabilidade nacional e documentação técnico-económica) e bolsas de estudo para pessoal com formação universitária. Mas quando se passa a falar de investimentos, desaparece a referência a bolsas de estudo e aparecem apenas os estudos de base, mas limitados aos estudos económicos, coordenação (será documentação?) técnico-económica e à reorganização da cultura regional dos Serviços de Agricultura e Florestas (sic), que se fica sem saber o que significa.
Em suma, a Câmara Corporativa volta a recomendar que todo este subsector seja revisto e reestruturado.

84. Saúde e assistência. - O investimento limitar-se-á ao sector saúde, abrangendo o montante de 61 572 contos, assim distribuído:

[Ver Tabela na Imagem]

A rubrica 3 está deslocada e não pode figurar com autonomia. Exprimem-se dúvidas quanto à propriedade da inclusão no Plano de Fomento de uma parte da rubrica 4. Nada a opor quanto ao restante, lamentando-se, contudo, a falta de pormenorização e justificação da rubrica 2.

85. Programa de investimentos revisto. - No caso de serem aceites as sugestões da Câmara, o programa geral de investimentos deverá sofrer alterações, sintetizadas no quadro XXIV.

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QUADRO XXIV

Guiné

Programa de investimentos revisto

Resumo por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

(a) Estimativa a verificar.

S. Tomé e Príncipe

86. Apresentam-se nos quadros X e XXV - este abaixo inserido - os dados basilares do programa proposto para S. Tomé e Príncipe, num montante de 637 450 contos.

QUADRO XXV

S. Tomé e Príncipe

Programa de investimentos

Resumo por sectores

[Ver Quadro na Imagem]

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[Ver Quadro na Imagem]

Os seus objectivos gerais são apontados pela seguinte maneira:

a) Promoção cultural e social das populações, nomeadamente através da generalização da educação de base, do ensino elementar agrícola, da extensão do ensino secundário (liceal e técnico), da preparação dos quadros da administração e do recurso a técnicas de desenvolvimento comunitário;
b) Incremento e mais equitativa distribuição dos rendimentos, assim como melhoria das condições de vida da população mediante um esforço directo a realizar no domínio da saúde, assistência, nutrição, ordenamento agrícola, etc., e indirecto pela construção de infra-estruturas que melhor dimensionem o desenvolvimento económico e social que se pretende;
c) Melhoria das condições de prestação do trabalho e extensão e aperfeiçoamento dos mecanismos de assistência e previdência, sem descurar, contudo, os problemas inerentes à estrutura social, como, por exemplo, os relativos à forma como se constitui a família e à perfilhação e ainda ao melhor ordenamento social das condições de habitação.

Quer isto dizer que não se pôde fazer qualquer esforço de quantificação do planeamento (nem sequer em matéria de criação de empregos, como tentaram Cabo Verde e a Guiné), ficando-se, portanto, pelo enunciado de aspirações generosas.
Entrar-se-á a seguir na resumida análise dos programas sectoriais.

87. Agricultura, silvicultura e pecuária. - É este o sector mais amplamente dotado (29,3 por cento do total, ou 18687o contos), com a seguinte distribuição proposta:

[Ver Tabela na Imagem]

A definição de objectivos no sector é feita de modo altamente sintético, a saber:

a) Encaminhamento da mão-de-obra local para a completa cobertura do sector, embora admitindo determinado quantitativo de trabalhadores estranhos;
b) Ocupação, efectiva da terra, por medo das propriedades do tipo familiar, quando seja econòmicamente rentável;
c) Melhoramento cultural e diversificação das produções;
d) Assistência veterinária.

E fala-se no crédito agrícola, que é um meio, e não um objectivo.
Na discriminação dos investimentos nada se pormenoriza, senão os encargos com as brigadas.
Note-se que, quanto ao povoamento, diz-se apenas que cada família ocupará uma área unitária de três quartos de hectare. O que vai cultivar-se e qual a rentabilidade prevista para o agregado são assuntos não abordados. Têm de sê-lo antes de se prosseguir.
O esquema proposto dê distribuição de verbas pode aceitar-se.

88. Pesca. - Admite-se o dispêndio de 36 900 contos no sector pela seguinte forma:

[Ver Tabela na Imagem]

Embora sem entrar em pormenores, o programa parece realista e adaptado aos objectivos propostos, que são:

a) Aumento de produção local pelo fomento da actividade .piscatória e seus derivados;
b) Estímulo da iniciativa particular no sentido de a interessar na exploração piscatória e industrialização associada.

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Quantificam-se, mesmo, alguns objectivos. Assim, pela construção e apetrechamento de 40 embarcações para pesca artesanal, julga-se possível uma produção anual de 2000 t de pescado; pela aquisição de 5 traineiras visa-se a captura, por cerco e arrasto, de mais 2000 t anuais; e pela aquisição de atuneiros prevê-se a pesca oceânica de 40 000 t anuais de atum.
As quatro câmaras de refrigeração a instalar em S. Tomé e uma quinta no Príncipe, com capacidade média de 12 t cada uma, destinam-se a facilitar a recepção e distribuição do pescado do sector artesanal, que será também apoiado por pequenas oficinas de salga é secagem.
A farinação e extracção de óleos de peixe será feita em instalações de maior escala industrial.
Conviria esclarecer-se se não deveria ir-se mais longe em matéria de aproveitamento total do pescado, em especial quanto a conservas.
Além disso, são considerados entrepostos frigoríficos para a pesca industrial.
Operando a respectiva transferência de investimento, tem-se a seguinte distribuição final neste sector:

[Ver Tabela na Imagem]

A Câmara aceita o esquema de distribuição de verbas proposto.

89. Indústrias extractivas e transformadoras. - O investimento de 122 500 contos distribuir-se-á segundo o esquema seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Este capítulo do projecto do Plano, que poderia reputar-se importante, é dominado pelos investimentos contratuais referentes a pesquisas petrolíferas. Além disso, registam-se algumas esperanças: industrialização de oleaginosas, fábricas de conservas, de sumos e refrigerantes e fábricas para o aproveitamento integral do coco.
Deveria tentar-se ir mais longe. À Câmara Corporativa afigura-se que, se se pretende acelerar o desenvolvimento económico da província, com vista à alteração dos indicadores analisados na apreciação na generalidade e que a partir de 1965 devem apresentar sensível melhoria, este poderia ser um dos sectores em que valeria a pena tentar uma acção motora.

90. Melhoramentos rurais. - Como nos programas das províncias já examinados anteriormente, há que classificar nesta rubrica empreendimentos indevidamente colocados nos sectores de energia e de habitação e urbanização.
Tenta-se seguidamente um esquema de distribuição:

[Ver Tabela na Imagem]

Não há uma palavra sobre o que se pretende com a regularização da margem do rio Papagaio, na ilha do Príncipe. A parte da electrificação diz respeito às vilas que se encontram no traçado da linha de transporte do novo aproveitamento hidroeléctrico do rio Contador.

91. Energia. - Na rubrica de energia faz-se referência a um pequeno aproveitamento hidroeléctrico de 2000 a 2500 k VA, que se julga ficar situado na ilha do Príncipe (não se especifica) e cujo investimento seria inscrito por memória. Dada a total imprecisão, não se considera aqui. Quando houver ideias precisas, será sempre tempo de rever o problema.
Note-se que o parágrafo 84 apresenta redacção que carece de ser modificada. Sugere-se que seja substituída pela seguinte:

84. Os meios de produção de energia eléctrica de serviço público em exploração na ilha de S. Tomé (central térmica da cidade de S. Tomé e aproveitamento hidroeléctrico do rio Guegue), com uma potência total instalada de 840 kW, ficaram saturados em fins de 1965, acabando, porém, de entrar em exploração o novo meio de produção, constituído pelo aproveitamento hidroeléctrico do rio Contador, equipado com dois grupos turbo-alternadores de 1200 kVA cada um. Prevê-se que este sistema produtor interligado possa satisfazer às solicitações dos consumidores ligados à rede pública de distribuição de energia até ao termo do III Plano de Fomento.
Na ilha do Príncipe, a cidade de Santo António - a única povoação com rede pública de distribuição de energia eléctrica - não dispõe de meios de produção eficiente. O grupo diesel-eléctrico ali instalado necessita de ser substituído.
As grandes explorações agrícolas dispõem, em regra, de instalações privativas, equipadas com centrais hidroeléctricas ou termoeléctricas. Em 1965, existiam 38 instalações (sendo 32 servidas com centrais térmicas) com uma potência total instalada de 2344 kW.

O parágrafo 86 também necesita de melhoria de redacção, pela alteração do último período, que passaria
a ser:

No entanto, para a cidade de Santo António, na ilha do Príncipe, é indispensável a instalação de meios de produção eficientes.

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92. Circuitos de distribuição. - Esta rubrica limita-se a um investimento de 5200 contos, a saber:

a) Comercialização e armazenagem:
Contos

Construção de armazéns de produtos agrícolas,
com capacidade de 5000 t ..................... 5 200

Não há comentários a fazer.

93. Transportes e comunicações. - Propõe-se uma dotação de 177 800 contos, com. a distribuição seguinte;:

[Ver Tabela na Imagem]

Começando pelos transportes rodoviários, e segundo informação oficial da província, a posição da rede rodoviária em 31 de Dezembro de 1966 era a seguinte:

Quilómetros

Extensão da rede de estradas classificadas 265
Estradas pavimentadas ..................... 117
Estradas de terra ......................... 148

Estes números não coincidem com os citados no projecto do Plano, a não ser na extensão pavimentada.
Na construção há que encarar de frente um problema grave: o custo médio por quilómetro de estrada anda, nos últimos anos, por 900 contos!
Tal facto poderá atribuir-se, ao menos em parte, à falta de concorrência à adjudicação das empreitadas. Portanto, das duas uma: ou a província consegue estabelecer concorrência entre firmas especializadas, ou tem de apetrechar-se para atacar, por ela, a construção, se os preços obtidos em concurso não forem satisfatórios.
Os 88 km de estrada que se pretendem construir na vigência do Plano correspondem ao prolongamento da estrada de cintura por oeste até ao Bindá e por leste até Santo António de Massacavu, e mais 8 km na ilha do Príncipe.
Mesmo assim, ainda se não terminará a estrada de cintura: ficarão a faltar cerca de 22,6 km.
Parece que seria útil conseguir que, nos seis anos, este empreendimento ficasse definitivamente concluído, para depois se começarem algumas vias de penetração que são extremamente necessárias. Mas aos preços actuais, este troço em falta exigiria ainda cerca de 20 000 contos. Contudo, se se conseguisse que o preço por quilómetro passasse de 900 para 830 contos, tal já seria possível. Isto mais reforça a recomendação feita.
Quanto à conservação, é necessário frisar sem ambiguidade uma posição fundamental: as respectivas despesas correntes são encargo do orçamento ordinário da província e não podem ser cometidas ao Plano de Fomento. Este pode, contudo, suportar as despesas com o equipamento necessário, e nesse sentido, e só nesse, deve ser autorizada a inscrição da verba de 3000 contos prevista.
Quanto ao subsector portos e navegação, mais uma vez se subestimaram os investimentos necessários. Inscreveram-se 62 900 contos, quando o mínimo absolutamente indispensável monta a cerca de 75 000 contos.
Dado o interesse económico relativo, e a necessidade de não aumentar o investimento global, só se vê a solução de diminuir os programas de transportes aéreos e aeroportos e de telecomunicações. Aí se irão buscar os 12 000 contos necessários, pela forma que oportunamente se especificará. Entretanto, e porque em trabalhos portuários é necessário ter todo o cuidado nos escalonamentos anuais, propõe-se o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

Os objectivos principais serão, portanto, o da construção de um novo porto na ilha de S. Tomé (Fernão Dias ou, mais provàvelmente, Morro Carregado) e a melhoria das instalações portuárias no Príncipe.
Passando aos transportes aéreos e aeroportos, haverá que renunciar à substituição do material de voo, entrando-se para as ligações com Angola em acordo com a Divisão de Transportes Aéreos desta província. Mas convém verificar se isso implica com o serviço interno entre S. Tomé e o Príncipe, o que o Plano não explica.
Na suposição de ausência de inconveniente grave, o respectivo investimento será reduzido de 10 000 contos.
Quanto a telecomunicações, não tem qualquer justificação económica a pretensão de instalar um serviço telefónico automático em Santo António. A reduzida população utente da ilha é tão escassa que dificilmente se conseguirão meia centena de subscritores.
Por outro lado, as despesas de conservação deste equipamento constituirão encargo administrativo e financeiro de difícil cobertura. Sendo assim, parece que a distri-

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buição da rubrica poderá ser encarada da seguinte forma:

a) Transportes rodoviários: Contos

Construção de estradas ........................................83 000
Aquisição de equipamento para conservação de estradas ......... 3 000
Aquisição de equipamento para construção de estradas .......... 3 000 89 000

b) Portos e navegação:

Construção e equipamento de um novo porto na ilha de S. Tomé .... 70 500
Obras portuárias na ilha do Príncipe ............................ 1 000 Farolagem ....................................................... 1 000
Estudos e projectos ............................................. 2 500 75 000

c) Transportes aéreos e aeroportos:

Edifícios .............. 1 350
Pistas ................. 2 500
Equipamento ............ 1 850 5 700

d) Telecomunicações:

Automatização da rede telefónica da ilha de S. Tomé .......... 4 500
Ampliação da rede telefónica da cidade de S. Tomé ............ 2 000
Central telefónica de bateria local, no Príncipe ............. 500
Melhoramento da estação emissora de radiodifusão ............. 1 100 8 100
177 800

94. Habitação e urbanismo. - Há que rectificar o programa, de acordo com o exposto na rubrica Melhoramentos locais. Deverá passar a ser:

a) Habitação: Contos
Construção de casas ............. 6 000

b) Urbanização:

Urbanização de vilas e povoados . 1 800
Estudos e projectos ............. 500 2 300
8 300

Infelizmente, a apresentação do programa é demasiadamente lacónica e não permite julgar da sua oportunidade.

95. Turismo. - Não se vêem grandes possibilidades imediatas de desenvolvimento do sector, ao qual, aliás, só é atribuída uma verba de 2400 contos, com a seguinte distribuição:

Contos
Construções ............................ 1 300
Campos de jogos e parques de diversões . 1 100
2 400
96. Educação e investigação. - Propõe-se o seguinte programa:

a) Educação: Contos
Construção e apetrechamento de edifícios escolares ........... 11 000
Meios de educação audiovisuais ............................... 3 500
Formação profissional ........................................ 6 000
Bolsas de estudo ............................................. 3 000 23 500

b) Investigação não ligada ao ensino:

Cartografia geral:

Impressão de cartas cadastrais ................. 840
Encargos com a Brigada de Cartografia e Cadastro 11 000
Carta geológica ................................ 4 000 15 840

Meteorologia:

Rede meteorológica ....................... 1 300
Levantamento geomagnético complementar ... 200 1 500

Investigação aplicada à agricultura:

Carta dos solos ................................................. 17 825
Encargos com a Estação Agrária e Florestal e postos agrícolas ... 16 650 34 475

Estudos de biologia piscatória e pesca experimental:

Estudos ............................................... 3 500
Embarcação polivalente de estudos e apoio tecnológico . 3 500 7 000

Coordenação de investigação científica:

Centro de estudos de base .................................... 6 000 48 065
71 5650

Contràriamente ao que sucede nos programas dás províncias já examinadas, o subsector de educação não é tratado com o mínimo de elementos de informação que permitam uma apreciação, não se apresentando aspectos concretos do que se planeia fazer nas quatro alíneas em que se divide.
Por sua vez, o subsector investigação, embora também sem entrar em pormenores, é apresentado com melhor organização e discriminação de objectivos e investimentos que nas outras províncias.
Assim, quanto à cartografia geral, pretende-se a impressão das cartas de 1:25 000 e 1:10 000 e estudos com vista à carta geológica; os objectivos e investimentos na hidrologia são mencionados no texto (trabalhos sobre existência e localização de águas, designadamente com vista às necessidades de irrigação na estação seca), mas não vêm individualizados, certamente por lapso, na distribuição de verbas; na meteorologia, novamente se faz mistura de objectivos de rotina (rede meteorológica) com os de investigação (levantamento geomagnético complementar); na investigação aplicada à agricultura destinam-se 17 925 contos para elaboração de novas cartas de solos, ao que nada há a objectar, mas inscrevem-se também mais 16 650 contos para os encargos com a Estação Agrária e Florestal e postos agrícolas, sem se dizer uma palavra válida sobre a forma e finalidade de aplicação da dotação; nos estudos de biologia piscatória e pesca experimental fala-se vagamente na parte científica e inclui-se o estudo sobre o estabelecimento de um porto de pesca com as indispensáveis infra-estruturas logísticas, para fornecer apoio e abrigo à navegação de pesca oceânica, objectivo que, evidentemente, pertence ao subsector portos e navegação e não aqui (contudo, na distribuição de verbas, este objectivo desaparece, inscrevendo-se em contrapartida dotação para a compra de uma embarcação polivalente); na coordenação da investigação cientifica, fala-se em es-

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1019)

tudos económicos e outros, a realizar por um centro de estudos, o na concessão de bolsas de estudo.
A Câmara recomenda também em relação a S. Tomé e Príncipe que todo o programa seja de novo examinado, se inscreva a verba em falta para os estudos de hidrologia, reputados importantes, não se autorize a utilizaçã0 da dotação para a Estação Agrária e Florestal antes da aprovação de um plano coerente de actuação e se elimine da lista dos objectivos a referência a estudos sobre um porto de pesca.

97. Saúde e assistência. - A dotação de 17 000 contos destinada a saúde tem a seguinte distribuição proposta:

a) Saúde: Contos
Campanha contra o paludismo ............................................. 12 000
Ampliação, remodelação e adaptação de pavilhões hospitalares ............ 3 500

Contos
Apetrechamento e equipamento de instalações hospitalares ................ 1 500
17 000

A segunda rubrica é referente à ampliação do hospital central e remodelação dos pavilhões ali existentes. Pode dizer-se que é extraordinariamente insuficiente e que seria útil procurar reforçá-la (talvez em contrapartida nalguma das dotações para investigação inscrita na rubrica anterior).

98. Programa de investimentos revisto. - No quadro XXVI apresenta-se o programa geral de investimentos corrigido, tendo em atenção as principais sugestões oferecidas pela Câmara Corporativa:

QUADRO XXVI

S. Tomé e Príncipe

Programa de investimentos revisto

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

(a) Estimativa a verificar.

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1662-(1020) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Estado da Índia

99. Sobre esta parcela do território nacional continua a impender o luto e a desolação provocada pela ocupação militar por forças estrangeiras.
Não foi, por isso, preparado programa provincial a integrar no III Plano de Fomento.

Macau

100. Os quadros XX e XXVII - este abaixo inserido - especificam os dados fundamentais do programa proposto para Macau, que atinge o valor de 432 800 contos, com os seguintes objectivos gerais:

a) Dotação da província com as infra-estruturas económicas (produção de energia, instalações portuárias, etc.) e sociais (habitação, melhoramentos locais, saúde, educação, etc.) favoráveis ao desenvolvimento de iniciativas privadas no campo das indústrias transformadoras.
b) Desenvolvimento das condições propícias à transformação de Macau num grande entreposto comercial;
c) Fomento do turismo, aproveitando e respeitando a feição característica de Macau;
d) Desenvolvimento das pescas e, com carácter marginal, da horticultura e da avicultura;
e) Melhoria das condições de vida da sua população, no plano habitacional, sanitário e cultural.

Note-se que o objectivo e) está de certo modo incluído em a). Não se fez qualquer esforço de quantificação de objectivos. Dada a posição sui generis de Macau no conjunto nacional, crê-se que nada haverá a opor aos objectivos citados. Mas convém ponderá-los cuidadosamente, bem como a todo o programa, tendo em conta a actual conjuntura.

QUADRO XXVII

Macau

Programa de investimentos (proposto pelo Governo)

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

Como se tem feito, examinar-se-ão seguidamente os vários programas sectoriais.
101. Agricultura, silvicultura e pecuária. - É muito limitado - e compreende-se que o seja - o programa formulado para o sector, cujo investimento de apenas 4800 contos é apresentado com a seguinte distribuição:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

Contos
Desenvolvimento das culturas de frutas, horticultura, pastagens,
avicultura, suinicultura e gado leiteiro ....................... 3 000
Desenvolvimento de matas, parques e jardins .................... 1 800
4 800

Não são necessários comentários.

102. Pesca. - Cita-se apenas por memória este sector, que envolve uma actividade já tradicional na província. A sua ampliação, ainda não definida, ficará a cargo da actividade privada.

103. Indústrias extractivas e transformadoras. - Naturalmente que a actividade no sector, programada para um investimento de 30 600 contos, incidirá apenas na indústria transformadora, com o seguinte esquema:

a) Indústria transformadora:
Contos
Estudos .............................................................. 600
Ampliação, renovação e criação de novas indústrias ................... 30 000
30 600

O programa não vem convenientemente especificado, o que se lamenta, dada a relevância que pode assumir para o progresso económico da província.

104. Melhoramentos rurais. - Dadas as peculiaridades da província, para esta rubrica deverão apenas ser transferidos os investimentos referentes à electrificação das ilhas. Ficará, portanto:

a) Electrificação de povoações:
Contos
Estudos, produção e distribuição de energia eléctrica nas ilhas de Taipa
e Coloane ............................................................... 600

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1021)

O investimento destina-se a aumentar a potência em cada ilha e a procurar o seu conveniente transporte e distribuição, tendo também em vista o desenvolvimento turístico que se prevê fomentar.

105. Energia. - Convém introduzir algumas rectificações na redacção do preâmbulo respeitante ao sector, além da transferência a fazer de referências que passam a ficar situadas na rubrica anterior.
Deverá corrigir-se o parágrafo 53. Onde se lê :"414MW" e "capacidade produtiva do sistema", deverá ler-se: "414 kW" e "capacidade produtiva".
A redacção do parágrafo 54 também está confusa. Sugere-se: "A produção de energia no concelho de Macau, a cargo da M. E. L. C. O...".
No parágrafo 55, deve corrigir-se: "Kw" por "kV", e substituir "gerador" por "grupo gerador".
O programa ficará como segue:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

Contos
Produção e distribuição de energia na cidade de Macau .................. 147 300

106. Comércio. - Sector inteiramente a cargo da iniciativa privada. Nele não foram programados investimentos.

107. Transportes e comunicações. - Do projecto consta uma dotação global de 45 800 contos, cuja distribuição é assim proposta:

a) Transportes rodoviários: Contos
Desenvolvimento da rede rodoviária das ilhas de Taipa e Coloane e sua
ligação, incluindo a execução de aterros ............................ 15 000

b) Portos e navegação:

1. Plano inclinado: melhoramento e ampliação, incluindo a aquisição
de dois carros ....................................................1 100
2. Substituição da draga de garras e da cábrea, com a aquisição de
uma escavadora a montar num pontão a construir ....................2 000
3. Construção de uma vedeta pequena para a polícia marítima e fiscal 300
4. Construção de um plano inclinado para desembarque de viaturas na
ilha da Taipa ..................................................... 200
5. Reparação da ponte-cais de Coloane ............................. 200
6. Dragagens junto às pontes do porto interior - doca dos Serviços
de Marinha e bacias do Patane .................................... 2 400
7. Dragagens dos portos exteriores e interior e canais de acesso .24 000
8. Estudos e projectos ........................................... 600 30 800
45 800

No subsector transportes rodoviários visa-se a conclusão da ligação, já em curso, das ilhas de Taipa e Coloane, o estabelecimento da rede rodoviária correspondente ao conjunto assim formado e o aproveitamento das áreas de assoreamento que se prevê venham a formar-se junto do istmo de ligação. Esse aproveitamento é que não parece enquadrar-se muito bem na designação da rubrica.
Embora se trate de estimativas de custo com certo grau de imprecisão, pensa-se que 10 000 contos serão absorvidos na conclusão do dique, restando, portanto, 5000 contos para os restantes trabalhos. Trata-se de um empreendimento que verdadeiramente se reveste de grande interesse. Nota-se que ainda não é encarada por agora a ligação ao continente, possivelmente por uma ponte cujo custo andará entre os 40 000 e os 50 000 contos.
Quanto a portos e navegação, só os n.ºs 2, 3, 4 e 5 do programa são novos e aliás de muito pequena importância. Os restantes transitam do Plano Intercalar de Fomento. Os empreendimentos constantes dos n.ºs 6 e 7, envolvendo uma despesa de 26 400 contos em dragagens, devem ser financiados por uma empresa concessionária, a quem contratualmente cabe essa obrigação.
Nada há a opor à programação estabelecida, restando, contudo, algumas dúvidas sobre se será suficiente a verba de 1100 contos para o melhoramento e ampliação do plano inclinado.
Do projecto não constam investimentos destinados a telecomunicações, pelo que se presume que não há problemas a encarar dentro da estrutura do Plano de Fomento.

108. Habitação e urbanização. - Propõe-se neste sector o maior investimento do Plano (149 700 contos), o que é compreensível, dada a natureza predominantemente urbana da província. A distribuição apresentada é a seguinte:

a) Habitação:
Contos
Construção e aquisição de casas para funcionários ............ 14 000
Construção e aquisição de casas para pobres ................. 17 600
Estudos e projectos .......................................... 500
Construção de blocos de moradias no porto exterior ........... 10 000 42 100

b) Urbanização:

[ver tabela na imagem]

Os problemas fundamentais da habitação caminham satisfatoriamente espera-se resolver na vigência do Plano a instalação dos funcionários públicos e dar um grande impulso à construção de casas para os econòmicamente débeis (talvez seja de corrigir a expressão "casas para pobres" que figura no programa).
Quanto aos trabalhos de urbanização, todos eles se revestem de grande oportunidade.

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1662-(1022) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Há, contudo, um reparo a fazer.
A verba inscrita para as redes de esgotos está bastante exagerada.
Com efeito, segundo os elementos que foi dado consultar, as obras necessárias para a conclusão da rede compreende:

a) Conclusão da 3.ª fase:
Contos
Verba prevista para 1968 ....... 3 100
Construção de um exutor ........ 3 300 6 400
b) Reparação da 1.ª fase .............. 9 000
15 400

mas deve notar-se que a verba para reparação está avaliada por excesso. Por outro lado, não se faz referência ao grave problema do abastecimento de água da cidade, cuja resolução compreende a construção de um novo reservatório no porto exterior, a remodelação e ampliação da rede de distribuição domiciliária e a fase complementar da distribuição, incluindo novos dispositivos de elevação e de tratamento. A parte referente à rede de distribuição andará por cerca de 12 000 contos nas duas fases; a construção do reservatório, cujo projecto definitivo se encontra em elaboração, poderá subir a algumas dezenas de milhares de contos, mas tem implicações urbanísticas notáveis.
Assim, a Câmara Corporativa entende sugerir um dos seguintes procedimentos:

a) Citação da rubrica por memória;
b) Introdução da rubrica com uma dotação inicial de 5000 contos (a retirar da verba da rede de esgotos) e a reforçar oportunamente.

109. Turismo. - Considera-se este sector como um dos fundamentais para o desenvolvimento económico de Macau, para o qual se inscreveram 28 000 contos a investir durante o sexénio pelas companhias concessionárias dos jogos e das corridas de galgos. A distribuição indicada é a seguinte:

Contos
Plano geral de fomento turístico ............................... 3 000
Melhoramentos em resultado do contrato dos jogos ............... 10 000
Melhoramentos em resultado do contrato das corridas de galgos .. 15 000
28 000

O projecto é omisso de pormenores quanto à caracterização dos melhoramentos em causa, lacuna que se sugere seja rectificada na redacção final do Plano.

110. Educação e investigação. - 9900 contos é o investimento no sector, programado da seguinte forma:

a) Produção:
Contos
Construção e aquisição de equipamentos para estabelecimentos de
ensino da província ............................................... 3 300
Construção de uma escola primária oficial ......................... 3 000
Construção de um ginásio no recinto do Colégio de D. Bosco ........ 600 6 900

b) Investigação não ligada ao ensino:

Coordenação da investigação científica:

Estudos de base ............... 3 000
9 900

Apresentam-se no projecto os objectivos visados no sector da educação que, na sua maioria, não encontram expressão nas verbas inscritas no programa. Convém esclarecer a forma de materialização prevista. Quanto à investigação, fala-se apenas em estudos de base relativos a documentação estatística, demografia, contabilidade económica e documentação técnico-económica.

111. Saúde e assistência. - Compreende uma verba de 16 100 contos, que obedece ao seguinte esquema:

a) Saúde:
Contos
1. Campanha contra a tuberculose ........ 3 000
2. Construção e ampliação de edifícios .. 7 800
3. Equipamento para serviços de saúde ... 2 200
4. Despesas com pessoal de enfermagem ... 1 500
5. Estudos e projectos .................. 600 15 100

b) Assistência:

1. Construção de um asilo para doentes crónicos
e irrecuperáveis .............................. 1 000
16 100

A designação do n.º 4 deve ser alterada para formação de pessoal de enfermagem (como aliás se encontra na justificação), pois de outra forma não se justificaria a inclusão em plano de fomento. Na parte de construção indica-se um pavilhão para alienados, a remodelação e ampliação do Centro de Saúde da Taipa e a construção de um edifício para os Serviços de Saúde e Assistência. Não será de mais o valor inscrito para estas finalidades, antes pelo contrário.
No domínio da saúde da população, há discordância entre os objectivos fixados e a sua expressão orçamental. Figura aí a campanha contra a tuberculose, mas não contra outras doenças transmissíveis, a ampliação da assistência materno-infantil, a educação sanitária da população e a vacinação contra a poliomielite. Convém esclarecer ou rectificar. Este sector é muito importante sob vários pontos de vista e, se possível, conviria reforçar as respectivas verbas por transferências de outros investimentos de menor prioridade.

112. Programa de investimentos revisto.-Em face das sugestões feitas, o programa de investimento revisto pode ser resumido no quadro XXVIII.

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1023)

QUADRO XXVIII

Macau

Programa de investimentos revisto

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

Timor

113. Os quadros X e XXIX - este a seguir apresentado- condensam os habituais elementos fundamentais para o programa proposto para a província. O seu montante é de 560 500 contos.

QUADRO XXIX

Timor

Programa de investimentos proposto pelo Governo

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

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1662-(1024) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

O tratamento dos objectivos gerais a atingir é feito com certo grau de pormenor e suficiente sistematização. Apontam-se como tais os seguintes:

a) Elevação do nível cultural, sanitário e alimentar da população;
b) Continuação dos estudos tendentes a inventariar os recursos do subsolo, aprofundamento do conhecimento científico do território e desenvolvimento da investigação científica aplicada aos aspectos concernentes ao progresso de Timor;
c) Melhoria da produtividade da agricultura tradicional;
d) Estabelecimento de redes de infra-estruturas de transportes e energia adequadas às necessidades da província e programadas concentradamente com os desenvolvimentos previstos nos vários sectores;
e) Estímulo e apoio a todas as iniciativas viáveis e rentáveis de natureza empresarial que seja possível lançar em qualquer sector, nomeadamente nas indústrias extractivas e transformadoras, na pesca e no turismo.

Não se tentou quantificar objectivos, o que, aliás, seria difícil numa economia ainda rudimentar como a de Timor.
Na alínea c), não ficará mal incluir também nas actividades empresariais dignas dê estímulo e apoio as respeitantes à agricultura.
Apreciam-se seguidamente os programas sectoriais.

114. Agricultura, silvicultura e pecuária. - Cerca de 95 por cento das exportações de Timor assentam em três produtos: o café, a copra e a borracha. E compreensível, portanto, a preocupação em atribuir a este sector percentagem sensível do investimento total - 19,8 por cento ou 111 000 contos, com a distribuição que se indica:

a) Fomento de recursos agro-silvo-pastoris:

Contos
Assistência agrícola ..................... 15 300
Experimentação e reconhecimento agrícola . 8 100
Defesa contra a erosão ................... 2 025
Repovoamento florestal ................... 11 025
Reservas e reconhecimento florestais ..... 4 050
Fomento da cultura do café ............... 3 300
Fomento da cultura do arroz .............. 3 900
Sanidade vegetal ......................... 300
Fomento pecuário ......................... 9 310
Melhoramento pecuário .................... 9 190
Assistência pecuária ..................... 2 200
Sanidade pecuária ........................ 300 69 000

b) Esquemas de regadio e povoamento:

Encargos com a Brigada de Hidráulica ............. 4 900
Equipamento da Brigada de Hidráulica ............. 700
Execução de obras de aproveitamento hidroagrícola 17 700
Povoamento ....................................... 6 700 30 000
c) Crédito agrícola ..................................... 12 000
111 000

A justificação do programa é feita com sólidos fundamentos, tendo-se presentes os principais objectivos a atingir. Note-se o significativo investimento no campo pecuário - 21 000 contos no total -, o que encontra apoio nos dados e afirmações do projecto quanto às perspectivas existentes, que abrangem não só o total abastecimento interno como também a exportação em quantidades consideráveis, quer de animais vivos, quer de carne congelada ou em conserva.
Para o fomento de duas culturas de importância económica - café e arroz - destinam-se 7200 contos em conjunto, parecendo existirem ideias concretas para actuação. Não se faz, contudo, menção do coqueiro, embora tenha posição fundamental nas exportações da província.
Também é importante a verba consignada à silvicultura - 15 075 contos -, destinada a repovoamento florestal, constituição de recursos florestais, reconhecimentos e estudos.
Na experimentação e reconhecimento agrícolas concentram-se 8100 contos, incluindo a criação, apetrechamento e manutenção de seis campos experimentais. Uma prevenção ocorre: convirá assegurar o pessoal especializado para tirar rendimento dos meios a aplicar.
A Câmara deseja manifestar a sua apreensão quanto à exiguidade da verba referente à defesa contra a erosão. Trata-se de um problema grave pelo que apreciaria o eventual reforço de meios (talvez com recurso a parte da dotação destinada à prospecção e captação de água no planalto de Fuiborro e à pesquisa e explorações de minérios). Não se dispõe, contudo, de elementos que permitam pormenorizar esta sugestão.
Não se fala da adubação e correcção de terrenos, que talvez valha a pena começar a encarar.
A assistência técnica agrícola também está razoavelmente bem dotada (15 300 contos), visando, além da assistência propriamente dita, a criação de campos de multiplicação e selecção de sementes, o combate às pragas, e a criação de quatro parques de máquinas. Ocorre aqui repetir a prevenção anterior quanto a pessoal especializado, desta vez com vista às possibilidades de manter e operar eficientemente as máquinas a adquirir para os parques.
O programa relativo aos esquemas de regadio e povoamento dirige-se fundamentalmente ao melhoramento da agricultura de subsistência, mediante empreendimentos de reduzidas dimensões.

O respectivo programa pode ser assim sintetizado:

1.º Conclusão de todas as obras em curso;
2.º Execução do aproveitamento hidroagrícola da ribeira de Lacló-Manatuto;
3.º Ampliação do regadio nas baixas da ribeira de Lois;
4.º Beneficiação das planícies adjacentes às ribeiras de Laleia, Vemasse, Laivai, etc.
5.º Estudo e execução de alguns aproveitamentos na costa sul em Natar-Bora, Bé-Lulic, Uato-Lari e Mape;
6.º Estudo e execução de empreendimentos em Ira-Quic, Luca e outros.

A Câmara reconhece que, dadas as circunstâncias existentes na região, resultarão contudo benefícios sensíveis para as populações e que, além disso, não se vê onde se arranjariam os técnicos e os meios financeiros para obras de maior vulto.
Mas na vigência do Plano valerá a pena estudar à escala regional certas zonas ao sul da ilha que parecem promissoras sob o ponto de vista agrícola, desde que se

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1025)

faça a necessária coordenação com a rede rodoviária e de transportes marítimos para drenagem de produtos e os aspectos ligados à salubridade das áreas e à sanidade das populações.
De registar mais uma vez com agrado a provisão de uma verba de 12 000 contos para credito agrícola, a canalizar pela respectiva Caixa. Se houver disponibilidades, será aconselhável o aumento da dotação, rodeando-se a concessão dos empréstimos das indispensáveis cautelas.

115. Pesca. - As actividades piscatórias em Timor estão ainda na fase artesanal. Pretende imprimir-se algum impulso ao sector, considerando-se para esse fim 17 200 contos, assim distribuídos:

a) Pesca:
Contos
Construção e apetrechamento de embarcações de pesca .......... 10 000
Aquisição de aparelhos e artes de pesca....................... 3 500 13 500

b) Instalações frigoríficas:

Conclusão da montagem do bloco frigorífico .................... 600
Instalação de câmaras frigoríficas e de congelação nos centros
pesqueiros .................................................... 3 100 3 700
17 200

Note-se que se transferiu para aqui, da rubrica circuitos de distribuição, onde estava mal classificada, a dotação de 3100 contos destinada à instalação de câmaras frigoríficas e de congelação nos centros pesqueiros.
O programa parece bem estruturado na sua modéstia. Nos primeiros anos equipar-se-á convenietemente a pesca artesanal com embarcações de tipo apropriado, e com redes e outro material necessário. Em fase mais adiantada, encarar-se-á a aquisição de redes de cercar para bordo, já com vista a embarcações de pesca industrial.
Reserva-se ainda uma dotação para a conclusão do bloco frigorífico.

116. Indústrias extractivas e transformadoras. - Reservaram-se para o sector 63
600 contos dentro da seguinte estruturação:

a) Indústria extractiva: Contos

1- Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce ........ 12 000
2. Fomento mineiro:
Pesquisa e exploração de minérios metálicos ................. 10 000
Pesquisa e exploração de hidrocarbonetos .................... p. m.
Estudos e aproveitamento de pedreiras de mármore e outros
materiais; reorganização da indústria da cal; remodelação da
indústria da cerâmica; extracção e refinaria do sal ......... 3 000 25 000

b) Indústria transformadora:

1. Estudos .................................................. 2 100
2. Ampliação, renovação e criação das novas indústrias ...... 36 500 38 600
63 600

Já anteriormente se referiu a possibilidade de aplicação mais útil para parte da verba inscrita para pesquisa e exploração de minérios metálicos, que parece ter o seu interesse reduzido ao manganês para utilização na indústria química. Em relação aos hidrocarbonotos, espera-se que novo contrato com a concessionária permita a continuação de pesquisas.
Crê-se mal classificada no n.º 2 a remodelação da indústria da cerâmica e, possivelmente, da cal. É conveniente verificar.
Quanto a aproveitamento dos meios de obtenção de água doce, a parte principal do investimento destina-se à prospecção e captação de água no planalto de Fui boro, em ligação com a exploração pecuária que ali se pretende desenvolver. É uma verba muito importante, sobre cuja aplicação a Câmara já manifestou as suas reservas, tendo em vista a exiguidade da dotação destinada à defesa contra a erosão.
Na indústria transformadora, a avultada verba inscrita visa operações de crédito e participação no capital de empresas, que. só se afigura possível no quadro de uma sociedade de financiamento do desenvolvimento.

117. Melhoramentos rurais. - Dentro do critério adoptado, a distribuição de verbas n.º sector, que não estava considerado, passará a ser a seguinte:

a) Abastecimento de água e trabalhos diversos:
Contos
Abastecimento de água de povoações ................. 11 500

b) Electrificação de povoações:

Electrificação rural ............................... 4 000
15 500

Dotações respectivamente retiradas das rubricas Habitação e urbanização e Energia.
Desnecessário será encarecer o interesse destes empreendimentos para o bem-estar das populações.
Lamenta-se, mais uma vez, a não consideração de verba para desenvolvimento comunitário.

118. Energia. -Tendo em vista o que ficou registado no número anterior, a distribuição dos 14 000 contos de investimento passará a ser a seguinte:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

Remodelação da central eléctrica de Díli e ampliação da sua potência ..... 5 500
Remodelação da rede de distribuição e de energia eléctrica de Díli ....... 2 500
Aproveitamento hidroeléctrico de Baucau .................................. 6 000
14 000

Propõe aqui a Câmara a execução na vigência do III Plano de Fomento do aproveitamento hidroeléctrico de Baucau, para o qual existe projecto elaborado e que servirá um pólo de desenvolvimento de certa projecção. Com efeito, Baucau é o segundo núcleo populacional da província, dispõe de algumas indústrias, de um aeroporto internacional (a alimentar de energia também por este esquema) e potencialidades turísticas. Os estudos económicos realizados mostram que os consumos actuais e os previsíveis a curto prazo justificam a execução do empreendimento.

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A dotação necessária deverá ser retirada da rubrica Investigação ligada à agricultura do sector educação e investigação, em que, além do volume de meios exagerados em relação ao equilíbrio do Plano, se verifica haver duplicação de objectivos com os já consignados no sector agricultura, silvicultura e pecuária.
Para terminar a apreciação deste programa sectorial, faz-se notar que é necessário introduzir algumas correcções, alterações e rectificações nos n.ºs 91, 92 e 93, que constituem o respectivo preâmbulo.

119. Circuitos de distribuição. - Como já se fez notar a propósito do sector pesca, estava aqui mal classificada a dotação para instalações frigoríficas e de congelação nos centros pequenos. Feita a devida correcção, o programa respectivo, no montante de 3800 contos, toma a
forma seguinte:

a) Comercialização e armazenagem:
Contos
Armazenagem de produtos agrícolas ...... 3 000
Transporte e distribuição de pescado ... 800
3 800

As iniciativas aqui propostas merecem todo o apoio.

120. Transportes e comunicações. - Como é evidente, a deficiência das infra-estruturas de transportes e comunicações constitui um dos maiores travões ao desenvolvimento da província. Assim se justifica que caiba ao sector o investimento mais importante do Plano, atingindo quase um terço do montante total. Os 181 800 contos previstos foram objecto da seguinte proposta de programação:

a) Transportes rodoviários: Contos
Estudos ............................... 8 800
Rectificações, alargamentos e drenagens 22 800
Obras de arte correntes ............... 2 900
Pontes e pontões ...................... 17 000
Equipamento mecânico .................. 23 500 75 000

b) Portos e navegação:

[ver tabela na imagem]

c) Transportes aéreos e aeroportos:

Novo aeroporto de Díli (Madoi) ... 25 000
Aeroporto de Baucau .............. 8 500
Equipamento mecânico ............. 5 000
Pequenos aeródromos .............. 8 500
Material de voo .................. 2 000
Aquisição de dois aviões ......... 14 000 63 000

d) Telecomunicações:

Montagem da estação telefónica automática de Díli (2.ª fase) .. 2 000
Construção do edifício do centro dos CTT (a) .................. 1 200
Remodelação da rede telefónica interna ........................ 1 400
Montagem da rede de rádio interurbana ......................... 1 500
Estações dos CTT nas localidades do interior .................. 2 400
Ambulâncias postais ........................................... 500
Construção do edifício da emissora regional de Timor .......... 1 400
Ampliação do actual centro emissor ............................ 200
Aquisição de equipamento para a emissora ...................... 3 200 13 300
181 800

(a) No projecto, certamente por lapso, fala-se em edifício receptor da Companhia, de Telecomunicações.

Quanto às estradas, há a rectificar os números dados para extensão da rede, pois incluíram-se simples caminhos que nem como picadas podem classificar-se.
Pretende fazer-se um sério esforço neste domínio e ainda bem que assim se pensa. O programa encara a construção de 549 km, o que corresponderia a uma média de cerca de 90 km por ano. Tal é viável desde que se disponha de pessoal técnico competente e suficiente na Brigada de Estradas e seja distribuída nos dois primeiros anos do Plano a verba para aquisição de equipamento, para este poder vir a ser convenientemente utilizado na sua vigência. Mas há aqui lugar a uma prevenção que deve ser registada com a maior energia, até para vincular futuras responsabilidades. Cede-se, por vezes, à tentação fácil de construir muitos quilómetros de estradas, com sacrifício das características técnicas mínimas exigíveis. Daí resultam as consequências que são de prever, a mais vulgar das quais é a das pseudo-estradas durarem o tempo de uma ou duas estações chuvosas.
Ora, embora no projecto se fale em construção, o que acontece é que a verba inscrita, incluindo obras de arte correntes, é de apenas 25 700 contos, o que dá um custo médio por quilómetro de 46,8 contos. Quer isto dizer que não será possível a construção com características técnicas aceitáveis. Tal orientação não pode ser sancionada. Vale mais construir menos quilómetros, mas construí-los com um mínimo de condições de permanência - e podem concentrar-se os troços a executar nos locais em que sejam mais necessários - do que despender fundos do subsídio especial que a metrópole concede, sem garantias suficientes da qualidade do trabalho executado.
Assim, há que rever o programa estabelecido (todas as estradas indicadas são importantes e necessárias) e estabelecer rígidas prioridades, para se construir bem, não com luxo ou exagero, mas com um mínimo de garantia técnica.
As tais rectificações, alargamentos e drenagens, de que fala o mapa de investimentos, podem ir sendo atacadas dentro das possibilidades do programa de conservação (no qual uma parte do equipamento a adquirir deve ser empregado com vantagem). Merece o pleno apoio da Câmara a prioridade atribuída à construção de pontes e pontões, que eliminarão os nós de interrupção das comunicações rodoviárias na estação das chuvas.
No que diz respeito a portos e navegação, além dos trabalhos complementares no porto de Díli - que infelizmente ainda está- muito longe de atingir a capacidade

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de manuseamento para que foi construído - parece que a prioridade estabelecida para os pequenos portos (Macassar e Ataúro, e talvez em breve, justificadamente, Betano, na costa sul) está correctamente estabelecida.
O programa de transportes aéreos e aeroportos não apresenta justificação muito convincente e até nalguns aspectos acusa contradições. Fala-se no n.º 102 do preâmbulo que haverá que prever no mínimo a aquisição de um avião de vinte lugares para a rede interna, mas nos investimentos, sem mais explicações, inscreve-se valor para dois aparelhos, refere-se a construção do aeródromo de Díli como devendo ter características internacionais e passar a servir de término à ligação com a Austrália, mas não se explica a necessidade da existência de dois aeroportos internacionais (Díli e Baucau) a tão curta distância, apesar de se inscreverem para Baucau mais 8500 contos "para concluir obras". Também se não justifica a verba de equipamento mecânico (5000 contos), nem a que se destina; tão-pouco se diz uma palavra sobre outra verba de material de voo (2000 contos). Será destinada também a mais algum avião? Apenas merece apoio sem dúvidas a verba de 8500 contos destinada aos pequenos aeródromos da rede interna.
Assim, em face da falta de esclarecimentos e justificações válidas, a Câmara Corporativa recomenda que o programa deste subsector seja convenientemente ponderado e eventualmente revisto antes da sua execução.
Finalmente, quanto a telecomunicações, começa por não estar claro o que se refere à central telefónica automática de Díli (que envolve a respectiva rede de cabos subterrâneos), falando-se numa 2.ª fase quando até ao momento não consta que tenha começado a 1.ª Ora, essa 1.ª fase importará em cerca de 5000 contos, dado que o investimento total foi avaliado em 7000 contos. Há que esclarecer este aspecto.
O edifício para a central receptora dos CTT deve ter verba totalmente inscrita em 1968, dada a grande urgência na obra, segundo parecer do governo da província.
Quanto à radiodifusão, inscreveram-se no total 4800 contos sem uma palavra de justificação ou explicação, nem na rubrica dos objectivos, nem na de investimentos. Não pode, portanto, merecer aprovação sem melhor esclarecimento. Talvez a respectiva dotação possa servir de contrapartida para a aparente lacuna referente à central telefónica automática.

121. Habitação e urbanização. - Retirando os 11 500 contos transferidos para o sector melhoramentos rurais, ter-se-á:

a) Habitação:

Contos
Construção de habitações ......................... 30 600
Subsídio ao Fundo de Habitações Económicas ....... 4 800 35 400

b) Urbanização:

Saneamento urbano e outras obras ................. 13 500
Urbanização de povoações ......................... 5 000 18 500
53 900

O que pretende levar-se a cabo quanto a habitação é louvável. Ataca-se assim uma deficiência de fundo e reduz-se um dos maiores obstáculos ao recrutamento e manutenção na província de pessoal à altura das responsabilidades.
Quanto à urbanização, prevê-se a continuação da asfaltagem de ruas, arranjos de passeios, largos e jardins em Díli, além da elaboração de planos para todas as localidades sede de concelho ou de posto administrativo.
Quanto a saneamento, considera-se apenas uma parte - esgotos pluviais - do projecto elaborado para Díli. Deixa-se de lado a parte de esgotos domésticos, que importaria em 8000 contos. Isto tem muitos inconvenientes, em especial porque pode inutilizar e obrigar a fazer de novo o programa de asfaltagem de ruas também previsto. Por outro lado, a realização de um concurso de empreitada para 21 500 contos terá vantagens no estímulo da concorrência e na baixa de custos resultante. E era um problema que ficaria definitivamente arrumado.
Sendo assim, a Câmara Corporativa não pode deixar de recomendar a dotação da totalidade da obra; e se não houver outro recurso, mais uma vez sugere a diminuição da dotação estabelecida para a investigação.
Se assim se entender, então a dotação global do sector subirá para 61 900 contos, assim discriminados:

a) Habitação: Contos
Construção de habitações ............................... 30 600
Subsídio ao Fundo de Habitações Económicas ............. 4 800 35 400

b) Urbanização:

Saneamento urbano e outras obras ....................... 21 500
Urbanização de povoações ............................... 5 000 26 500
61 900

Note-se, contudo, que o projecto do Plano não fala no reforço de abastecimento de água de Díli, que parece inadiável. Sugere-se o exame da questão.

122. Turismo. - Tendo em vista as condições naturais oferecidas pela ilha, pensa-se fazer um esforço sério de desenvolvimento turístico, sobretudo com vista ao aproveitamento do grande mercado potencial que é a Austrália. A dotação de 14 600 contos inscrita para o sexénio apresenta-se com a seguinte proposta de distribuição:

Contos
Encargos com propaganda e fomento turístico .......................... 4 540
Desenvolvimento da arte local ........................................ 1 000
Financiamento da indústria hoteleira ................................. 4 400
Parque de jogos, parques de campismo, acampamentos e conclusão da
piscina de Lospalos .................................................. 1 390
Melhoramentos em praias, águas termais e outras estâncias
turísticas ........................................................... 1 650
Aquisição de material de transportes e barcos de recreio ............. 660
Apetrechamento da pousada de Maubisse ................................ 50
Comparticipação em arranjos de estradas .............................. 910
14 600

Além dos investimentos públicos, conta-se com a participação de particulares e empresas, principalmente na construção hoteleira.
Será de ponderar o investimento proposto em primeiro lugar, já que a propaganda e fomento turístico só devem encarar-se em face da existência de um mínimo de infra-estruturas.

123. Educação e investigação. - A Câmara Corporativa já teve ocasião de apresentar, a propósito de outros programas provinciais, os seus pontos de vista sobre a investigação científica ultramarina, pelo que se dispensa de aqui os repetir. No caso de Timor, em que o investi-

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mento proposto sobe a 35 400 contos (6,3 por cento do investimento global na província), não pode deixar de recomendar a revisão da proposta, que não vem devidamente justificada e até, como já foi notado, regista duplicação de investimentos em alguns objectivos. Isto, é claro, sem negar o valor da investigação e até o seu interesse económico; mas trata-se de uma questão de proporções e prioridades num território em que tanta coisa há ainda a fazer.
Nestes termos se propõe que a verba respectiva seja reduzida para 21400 contos, sendo 6000 transferidos para a rubrica energia (aproveitamento de Baucau) e 8000 para a de habitação e urbanização (conclusão do saneamento de Díli).
Se a proposta for aceite, ter-se-á então:

[Ver tabela na imagem]

Nada há a opor ao programa de educação, que se afigura equilibrado. Quanto à investigação, na parte de cartografia geral, cujo interesse se reconhece, apenas se operou uma pequena redução de 500 contos. O programa de hidrologia é simples e modesto, devendo atender-se que a província dispõe de pessoal permanente (dois hidro-metristas) nos seus quadros. A dotação de 2000 contos deve, portanto, ser suficiente. Mais uma vez se inscreve como investigação o que é serviço normal de rotina na meteorologia. Manteve-se a dotação.
Na investigação aplicada à agricultura é que se justificam reduções mais vultosas.
Com efeito, na rubrica agricultura, silvicultura e pecuária encontram-se inscritos como objectivos a «experimentação e reconhecimento agrícola» (8100 contos), «sanidade vegetal» (300 contos), «melhoramento pecuário» (9190 contos), «assistência pecuária» (2200 contos) e «sanidade pecuária» (300 contos), isto além do «fomento das culturas do café e do arroz» (3300 e 3500 contos, respectivamente). Matérias referentes a estes mesmos objectivos aparecem no programa de investigação agrícola e pecuária.
Por isso se procedeu à redução das respectivas dotações, retirando, por exemplo, 1000 contos à carta de solos, 8000 contos à investigação agrícola e 1500 contos à investigação pecuária. Mesmo assim, não há no projecto elementos que permitam julgar da indispensabilidade destas e de outras verbas.
Sugere-se, portanto, que se verifique previamente se as alterações devem incidir nestes objectivos ou noutros.
Nos estudos de biologia piscatória e da pesca experimental apenas se propõe uma pequena redução de 500 contos. Na coordenação científica retiram-se 1000 contos, pois o próprio projecto declara que a província não tem pessoal qualificado e não se prevê que possa obter-se em condições aceitáveis na metrópole.
124. Saúde e assistência. - Reservam-se na proposta do projecto 24 500 contos para investimento no sector saúde (44 por cento do total), com a seguinte esquematização:

a) Saúde:

[Ver tabela na imagem]

Melhor seria a fusão dos n.ºs 3 e 4, dado que de outra forma pode gerar-se a impressão de custeamento de despesas ordinárias pelo Plano de Fomento. De resto, na descrição dos objectivos, inclui-se o fabrico na província dos medicamentos mais correntemente utilizados.
O programa merece aprovação. As campanhas de saúde pública em que pretende actuar-se são as referentes à tuberculose, poliomielite e paludismo.
O programa de construções é vasto e tem-se algumas dúvidas de que a verba inscrita seja suficiente. Pretende-se:

a) Ampliação do hospital de Baucau;
b) Construção da maternidade, secção cirúrgica e anexos do hospital de Viqueque;
c) Construção do hospital do Suai;
d) Ampliação e adaptação do hospital de Laclubar;

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e) Ampliação do hospital de Lospalos;
f) Ampliação e adaptação do actual posto sanitário de Same, de modo a conferir-lhe características de hospital;
g) Construção de uma enfermaria de isolamentos e de um pavilhão de enfermarias para serviços de medicina no hospital de Díli;
h) Construção de postos sanitários e maternidades nas sedes de posto administrativo que revelem maiores necessidades;
í) Construção de anexos em alguns postos sanitários existentes;
j) Construção de alguns postos de consulta e tratamento;
k) Construção do laboratório farmacotécnico;
l) Construção do centro materno-infantil de Díli;
m) Construção do hospital de Manatuto.

125. Programa de investimentos revisto. - Tendo em conta as sugestões formuladas, resultará o programa geral de investimentos, que se resume no quadro XXX:

QUADRO XXX

Timor

Programa de Investimentos revistos

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

(a) Esta verba não deve ser utilizada sem prévia revisão crítica do programa apresentado.

§ 3.º Observações sobre os programas de Angola e Moçambique

126. Angola e Moçambique constituem, com a metrópole, casos à parte no planeamento nacional. Nem pela dimensão dos investimentos, nem pelas características de economias e interesse dos empreendimentos programados, podem ser encarados na mesma perspectiva das restantes províncias. Por isso mesmo, como se acentuou já no decorrer deste parecer, o método de planeamento utilizado pôde já assentar em instrumentos de maior precisão, com prévio estabelecimento de modelos quantificados de crescimento. Sem recurso a fácil retó-

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rica, podem classificar-se de extraordinárias as possibilidades de expansão económica já reconhecidas e assinaladas, além de outras de não menos relevância de que apenas há indícios ou esperanças. Angola e Moçambique têm, de facto, todas, as condições para assumirem no panorama económico da Nação portuguesa lugares da primacial relevo.

127. É, infelizmente, mais vulgar do que seria lícito admitir a suposição de uma identidade entre as economias angolana, e moçambicana. Daí o risco de uma geometrização de soluções e medidas no campo económico que postula essa falsa identidade.
Certo é que há, como não podia deixar de ser, pontos de semelhança. Mas convém ter presentes as diferenças, que são várias e significativas.
Assim, quanto à população, a densidade média é, em Angola, de apenas 4 habitantes por quilómetro quadrado, com cerca de quatro quintos dos autóctones dispersos por um interior vastíssimo e pouco valorizado. Em Moçambique, a densidade sobe aos 9 habitantes por quilómetro quadrado, com os valores mais elevados junto à costa ou nos férteis vales dos grandes rios. No triângulo compreendido entre Nacala, Nampula e António Enes essa densidade atinge mesmo 40 habitantes por quilómetro quadrado. Por outro lado, este mesmo triângulo, juntamente com as cidades de Lourenço Marques, João Belo, Inhambane, Beira e Quelimane, é habitado por mais de metade da população total da província.

128. Registe-se que a população de Moçambique apresenta vastas diferenças étnicas e sócio-culturais em relação à de Angola e acusa a influência dos contactos processados ao longo da história com povos de origem e culturas muito- diferentes e com os comerciantes árabes, persas, indianos e chineses. Acrescenta-se, ainda, a inegável influência da emigração temporária. Parece ser também notavelmente superior a Angola a percentagem da população activa que produz para o mercado ou que se ocupa em plantações e nos sectores de transportes e de prestação de serviços.
Em ambas as províncias é nítido o dualismo da estrutura da produção; mas em Angola é mais acentuada a separação entre o abastecimento próprio e a produção para o mercado.
Além disso, em Angola verifica-se a pulverização de fracção apreciável da produção agrícola por agricultores europeus estreitamente vinculados à terra - por vezes há várias gerações -, que constituem, por isso mesmo, importante factor de estabilidade e defesa. Em Moçambique, pelo contrário, assiste-se à marcada preferência do imigrante europeu pelas actividades comerciais ou de prestação de serviços, com a única excepção significativa dos que se fixaram nos colonatos ou nalgumas regiões tradicionais (Chimoio, Ribaué, Malema, etc.). Empresas agrícolas de grande vulto, muitas vezes cora instalações e direcção modelares, concentram a produção no sector destinado à exportação, com excepção do algodão e do caju, este pela sua espontaneidade. Entretanto, ao longo dos grandes rios encontram-se terras fertilíssimas e com imensas possibilidades de rega, em contraste com as terras mais pobres dos planaltos, embora de clima mais favorável.

129. Por sua vez, assiste-se em Angola à importância económica crescente dos sectores mineiro e das pescas, aquele assente em três produtos principais, que em futuro próximo podem provocar a aceleração de todo o desenvolvimento económico da província: os diamantes, já tradicionais, e, mais recentemente, o minério de ferro e o petróleo. Em Moçambique há indícios e esperanças, apenas, quanto a certos sectores, e aqui focamos outra diferença intrínseca entre as duas estruturas: base na produção, agrícola e mineira, em Angola, e na prestação de serviços (nomeadamente no comércio, transportes, emigração e turismo), em Moçambique. Isto constitui uma fraqueza intrínseca que necessita correcção, notoriamente quanto às deficiências de produção.

130. Valeria a pena avançar ainda nesta linha de análise, documentando com a citação dos vários indicadores económicos o que fica dito e procurando extrair lições mais completas e pragmáticas do que as que resultam dos dados, aliás muito valiosos, constantes do projecto do Plano. Mas a falta de tempo não autoriza a satisfação dessa orientação. Por isso, passar-se-á, sem mais delongas, à análise dos programas sectoriais propostos para cada província.

Angola

131. O programa proposto para Angola encontra a sua expressão numérica nos quadros X e XXXI, este a seguir apresentado, cifrando-se num total de 25 044 960 contos.

QUADRO XXXI

Angola

Programa de Investimentos proposto pelo Governo

Resumo por sectores

[ver quadro na imagem]

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Os objectivos gerais que se têm em vista são enunciados pela seguinte forma:

a) Intensificação do aproveitamento dos recursos do subsolo, dado que a posição já atingida no sector e as perspectivas a curto e médio prazos levam a considerá-lo como um dos principais motores do desenvolvimento económico da província, com reflexos particularmente favoráveis na balança de pagamentos;
b) Melhoria do nível de produção e produtividade do sector agro-pccuário, em que se registam boas perspectivas de expansão da produção para consumo interno, para exportação e para transformação industrial, sem esquecer o factor da
promoção social das populações agrícolas, que atingem cerca de 90 por cento da população activa;
c) Aumento e valorização da produção piscatória, actividade já tradicional em Angola e susceptível de progresso sensível, pelo aumento do volume de capturas e melhor aproveitamento qualitativo do pescado, pela industrialização e pela comercialização em moldes convenientes;
d) Desenvolvimento paralelo do processo de industrialização visando a valorização dos produtos agrícolas, piscatórios ou mineiros para a exportação ou a sua transformação com vista a satisfazer o consumo interno;
e) Completamento e ampliação da rede de infra-estruturas, objectivo que de certa maneira condiciona os anteriores, na medida em que qualquer desfasagem entre o processo de crescimento programado nos diferentes sectores e a suficiência das infra-estruturas destinada a servi-los introduzirá estrangulamentos e travões que podem comprometer o esforço feito;
f) Promoção a ritmo cada vez mais acelerado das populações, como objectivo altamente prioritário dentro do espírito nacional que caracteriza o Plano, é também condição fundamental do êxito das realizações previstas.

A Câmara Corporativa dá o seu acordo e aplauso à formulação de objectivos gerais assim apresentada, na convicção de que traduzem uma aproximação prática e realista ao problema do desenvolvimento económico-social da maior província portuguesa.

132. Como se disse, mediante análise económica global e projecções de vários indicadores, tenta-se pela primeira vez uma quantificação do planeamento. A meta fixada para o produto interno bruto ao custo dos factores foi o crescimento à taxa anual de 7 por cento, o que elevaria o seu montante de 23 061 000 contos estimados em 1963 para 40 499 000 contos em 1973. A isso corresponderia a taxa anual de crescimento do produto por habitante de 4,8 por cento.
As projecções da despesa imputada ao produto nacional bruto deixam antever os seguintes números para 1973:

Milhares de contos
Consumo privado. .................... 25 800
Consumo público ..................... 9 200
Formação bruta de capital fixo ...... 2 300
Saldo da balança de pagamentos ...... 660
37 960

Estes valores são obtidos por extrapolação. Mas a sua compatibilizacão com os níveis a adquirir pelo produto interno bruto em 1973 levam a valores superiores, da ordem dos 45 930 000 contos, com relevo para a formação bruta de capital fixo, que atingiria nesse ano 8 500 000 contos.
O projecto do Plano estuda com clareza a relevância das hipóteses formuladas e a importância dos vários factores que a condicionaram. Refere, em particular, a acção a atribuir ao sector público para atingir a taxa de crescimento programada; a compatibilização do crescimento das despesas correntes, que o desenvolvimento económico-social impõe, com um acréscimo da participação pública na formação bruta de capital fixo sem aumento insuportável da carga fiscal; às projecções da balança comercial e de pagamentos, em que é essencial um aumento das exportações à taxa média de 14,1 por cento e as projecções sectoriais do produto interno bruto e dos investimentos.
Dos estudos apresentados colhe-se a impressão geral de que se usou de prudência nas previsões e que é muito provável que estas sejam largamente excedidas, porventura com valores excepcionais.
Convém passar agora à apreciação dos programas sectoriais.

133. Agricultura, silvicultura e pecuária. - São programados neste sector investimentos no valor de 2 260 500 contos, correspondentes a 9 por cento do montante global do Plano na província. Segue a respectiva discriminação:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

Fomento agrícola:

Contos
Manutenção de estruturas ... 210 760
Novos investimentos ........ 211 500 422 260

Fomento florestal:

Estudo e execução de projectos de arborização ......... 30 000
Defesa contra a erosão e correcção torrencial.......... 6 000 36 000

Fomento apícola:

Manutenção de estruturas ..... 18 550
Novos investimentos .......... 9 860 28 410

Formação de cooperativas ............. 18 000
Fomento da bovinicultura de carne:

Construção de formações sanitárias ...... 32 400
Apetrechamento .......................... 18 400
Manutenção .............................. 39 300 90 100

Fomento da bovinicultura de leite:

Despesas com a Brigada de Lactologia ........... 2 400
Contraste lacto-manteigueiro ................... 3 000
Estabelecimento do parque de quarentena ........ 400
Inseminação artificial e patologia da reprodução 3 000

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[ver tabela na imagem]

(a) Não se compreende esta designação, que, aliás, pode levantar confusão com a organização administrativa vigente.

O programa de fomento dos recursos agro-silvo-pastoris apresenta-se bem estruturado, dando possibilidades de actuação em variados aspectos da maior importância para a economia do sector.
Convém, no entanto, rever a redacção da respectiva justificação, pois aparecem duplicações e incongruências que é necessário eliminar. Assim, por exemplo, fala-se em centros de fomento agrário (quinze centros por ano) e repete-se a referência a propósito do fomento da cultura de cereais; e novamente com respeito ao fomento da cultura do algodão. Todo um pequeno capítulo é dedicado a comercialização e armazenagem, sem expressão no mapa de investimentos e, aliás, na sua maioria, deslocado, visto dever ser inscrito na rubrica correspondente ao sector comércio. Mas, de uma maneira geral e como se afirmou, a programação feita merece aprovação.
Convém dizer algumas palavras sobre os novos investimentos previstos na rubrica fomento agrícola. Visa-se a instalação de centros de fomento agrário já atrás referidos, para apoio e assistência técnica aos agricultores, campanhas de fertilização para mentalizar estes no uso de adubos, campanhas fitossanitárias, pequenos aproveitamentos hidráulicos (aqui com uma repetição, pois também aparece este investimento a propósito do fomento da cultura dos cereais), diversificação de culturas, melhor aproveitamento de palmares, mecanização agrícola e assistência com parques de máquinas.
A extensão e variedade dos objectivos justifica- o valor relativamente elevado do investimento previsto: 211 500 contos.

134. A primeira crítica a fazer ao subsector esquemas de regadio e povoamento é o da falta de elementos sobre os resultados dos pesados investimentos já feitos em planos anteriores, nomeadamente quanto aos colonatos do Cunene e da Cela e a outras actividades da Junta Provincial de Povoamento. Só assim a Câmara Corporativa estaria em posição de se pronunciar com segurança sobre um novo investimento superior a 1 milhão de contos. Certamente, a Administração disporá já de elementos que permitam defender e justificar as opções necessárias. O problema é tão vasto e de implicações tão fundas ao nível nacional que necessita de atenção e esclarecimento urgente e da formulação clara de uma política.
Vejamos o que se propõe para Angola no âmbito do III Plano de Fomento.
Reservam-se 20 200 contos para o esquema de regadio do vale do Queve e fala-se num "plano geral" já elaborado para aquele rio e implicando investimentos totais no valor de 9 milhões de contos. Ora, não consta que tais estudos tenham sido sequer apreciados pelos

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órgãos competentes da Administração, e será, pelo menos, arriscado fundamentar decisões sem elementos de base com a necessária solidez.
O projecto do Plano destina o investimento à construção de uma barragem na Cachoeira da B ingá e ao estudo pedológico e eeonómico-social de 6000 ha das terras altas. Da redacção, que se considera defeituosa, colhe-se a impressão de que se iniciaria também a construção das redes de rega em 17 500 ha de terras. Mas isso, para a Câmara, não é relevante, pois logo se diz que o estudo económico-social "é indispensável para definição das principais culturas a realizar, necessidades de mão-de-obra, possibilidades e forma de comercialização dos produtos e seu valor de mercado, indústrias a instalar, tipos de empresa e formas de exploração a estabelecer, sistemas de povoamento mais aconselháveis, dimensionamento de empresas, programa de promoção social a executar, etc.". Verifica-se que é também necessária "a análise e caracterização de solos e a elaboração das cartas agrológicas, de utilização e aptidão para o regadio".
Quer isto dizer que pouco ou nada se sabe sobre estrutura e rentabilidade do empreendimento nem, até, sobre a sua viabilidade técnica.
Mas há mais. Afirma-se que o aproveitamento da Binga poderá servir para rega e produção de energia; mas não se explica como, uma vez que, se a água for desviada para a rega, não poderá ser turbinada para produção de energia. Mais contraditório é ainda o facto de no capítulo da energia do projecto do Plano, se afirmar que a solução do aproveitamento do Queve para fornecimento de energia ao distrito de Cuanza Sul foi preterida! Em face do panorama assim exposto, a Câmara Corporativa não pode dar a sua aprovação à inclusão do empreendimento no programa do III Plano de Fomento; sugere era contrapartida a inscrição de uma verba anual de 2000 contos para continuação dos estudos.
A respectiva rubrica passaria a ser:

Esquema de regadio do vale do Queve:
Contos
Estudos ............ 12 000

libertando, portanto, 190 000 contos.
Aquando da prevista revisão do Plano, encarar-se-á, em face dos elementos então disponíveis, se será de dar andamento ao empreendimento.

135. Para o esquema de regadio do vale do Cavaco reservam-se -50 000 contos. Aqui o problema está numa fase de muito maior esclarecimento; a cultura a estabelecer, é a da banana, a área a regar de 3000 ha e os estudos respectivos encontram-se adiantados. Nada a opor, portanto.

136. Passando ao esquema de aproveitamento do Cuncne, a exposição que se lhe refere é muito insuficiente para um conjunto de realizações que importará, incluindo os seus vários aspectos, em cerca de 6 milhões de contos. É indispensável que, na redacção final do Plano, se diga mais alguma coisa. Por outro lado, não há coincidência entre o texto e o mapa de investimentos. Fala-se, por exemplo, nos encargos com a manutenção e conservação geral e acabamento dos trabalhos em curso (presume-se que no colonato), abrangendo rede de enxugo e recuperação das terras encharcadas, instalações de secagem para tabacos, ampliação da fábrica de concentrados, continuação de habitações e nitreiras, aquisição de gado leiteiro e a ampliação do colonato, sem considerar os edifícios públicos e a escola agrícola, que serão custeados pelos programas sectoriais respectivos. Qual a verba que custeia todos estes trabalhos? Será a de manutenção e conservação geral? Então a designação é imprópria. Vai ampliar-se o colonato? Em que medida? Quais os elementos justificativos de tal decisão?
A Câmara Corporativa não pode pronunciar-se sobre estes pontos, dada a insuficiência de elementos. Mas concorda que fique apenas por memória a referência à rede de rega do Quiteve, uma vez que a decisão de construir esse esquema tem numerosas implicações e necessita ainda de maiores estudos. Também não tem objecções à inscrição de 16 000 contos para construção de uma rede de abeberamento de gado bovino, que se diz beneficiar 87 000 ha e contribuir para a solução de um grave problema da área. Lembra, ainda, a necessidade de inscrever verba para continuação dos importantes estudos em curso (5000 contos por ano).
Este vasto problema tem numerosas implicações, incluindo no sector da energia, em que será retomado. Mas a barragem do Gove, pedra fulcral do sistema, importará em 460 000 contos, incluindo 100 000 contos para a respectiva central.
Não é de pôr de parte a conveniência de examinar outras possibilidades mais económicas de regularização dos caudais do Cuneue, nomeadamente em Jambo-ia-Ona. O assunto deve ser estudado profundamente antes de se tomarem decisões definitivas. Isso poderá levar algum tempo, que não deve ser dispensado.
Pelo seu interesse, a Câmara julga útil reproduzir aqui, na parte relevante, as conclusões, superiormente homologadas, do parecer emitido pelo Conselho Superior de Fomento Ultramarino sobre o "Esquema de aproveitamento hidráulico da bacia do Cunene":

1.º O desenvolvimento do Sul de Angola e a promoção das suas populações assumem, na actual conjuntura, carácter de urgência.
Estão em curso na região importantes empreendimentos que muito contribuirão para o seu crescimento económico, e neste desempenhará papel de relevo o aproveitamento do Cunene.
Conviria que, mediante um plano regional devidamente estudado, se estabelecesse a conjugação entre os diversos empreendimentos por forma a conseguir-se a maior utilidade conjunta possível, programarem-se os empreendimentos subsidiários e complementares e criarem-se as estruturas administrativas e sociais mais adequadas para o efeito. Atenção especial deve ser dada aos factores humanos basilares em planos desta natureza.
Importa que a evolução social das populações acompanhe, tão de perto quanto possível, o progresso económico da região.
................................................................................
3.º No prosseguimento dos estudos deverão, ser reunidos os elementos indispensáveis à perfeita apreciação do Plano, de maneira a permitir, no enquadramento do desenvolvimento geral da província, uma selecção de empreendimentos e definição criteriosa de prioridades para além da fase imediata de realizações.
4.º As circunstâncias e o condicionalismo do Sul da província aconselham a que se dê preponderância ao fomento pecuário, pelo menos na fase de arranque do Plano, dedicando-se especial atenção à problemática da evolução económica e social das populações locais.

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5.º Entende-se, em princípio, que a 1.ª fase de execução do esquema deverá ser constituída pela barragem do Gove, por um empreendimento agro-pecuário, por um aproveitamento hidroagrícola nas proximidades de Roçadas, pela ampliação do colonato do Cunene e, se o programa de consumos o justificar, pela montagem do terceiro grupo na central da Matai a e construção da linha de transporte de energia até à fronteira.

Parece, portanto, que a rubrica poderia ficar com a seguinte redacção:

Esquema de aproveitamento do Cunene: Contos
Estudos. ............................................... 30 000
Barragem (parte imputada ao sector) .................... p. m.
Rede de rega do Quiteve ................................ p. m.
Rede para abeberamento do gado do Quiteve .............. 16 000
Manutenção, conservação geral e acabamento dos trabalhos
em curso no colonato do Cunene ......................... 60 000

137. Verifica-se, ainda, que falta a indicação de outros empreendimentos.
Assim, com o duplo objectivo de fornecer à Administração um elemento valioso para a promoção das populações e desenvolvimento de uma das regiões mais atrasadas da província e, ao mesmo tempo, para satisfação dos nossos compromissos internacionais com a República da África do Sul, é necessário elaborar durante o sexénio um esquema geral de aproveitamento dos recursos hidráulicos da bacia do Cubango.
Serão necessários 1000 contos durante os primeiros cinco anos de vigência do Plano; deve, portanto, inscrever-se uma nova rubrica, nos seguintes termos:

Contos
Estudos para elaboração do esquema geral do aproveitamento do Cubango ... 5 000

Mais séria é a omissão do esquema de rega do Cuanza-Bengo, a que, aliás, a redacção referente a esquemas de povoamento atribui alta prioridade. Com efeito, o Governo expressamente incluiu a construção da barragem da Quiminha nos empreendimentos a financiar por força do contrato celebrado com a General Trade e posteriormente contratou com uma empresa especializada a revisão do respectivo projecto. Simultâneamente, torna-se necessário projectar a respectiva rede de rega e começar a sua construção em sincronismo com a construção da barragem, de forma a entrar em serviço ao mesmo tempo que esta.
Por isso se recomenda a inscrição de mais a seguinte rubrica:
Esquema de regadio do Cuauza-Bengo:

Contos
Construção da barragem da Quiminha 120 000
Estudos da rede de rega ........... 6 000
Construção da rede de rega ........ p. m.

138. No que respeita a esquemas de povoamento, os novos núcleos de povoamento agrário encarados situam-se no Zaire (cinco aldeamentos), Nambuangongo, planalto de Camabatela, Cuanza-Bengo (há pouco referido), Queve (prejudicado pelo que anteriormente se sugeriu) e Sul da província. De evidenciar o alto interesse de que se revestem os dois primeiros, que não é só económico, mas estratégico. Talvez que no Leste da província pudessem ser também localizados outros núcleos. Quanto a apoio a núcleos de povoamento já instalados, prevê-se a ampliação do colonato da Cela com mais 300 famílias, aproveitando as infra-estruturas, os estudos e os órgãos já existentes. Presume-se que as conclusões dos referidos estudos aconselhem tal orientação, uma vez que não são fáceis os problemas técnicos e sócio-económicos a resolver. Se assim é, a Câmara Corporativa nada tem a opor.

139. A rubrica intitulada "Promoção sócio-económica das populações rurais" está deslocada neste sector e, de acordo com a orientação já anteriormente exposta, deve ser registada no sector dos melhoramentos rurais, dado o seu carácter predominante de esquema de desenvolvimento comunitário.
Exceptuara-se as actividades da Brigada Especial de Engenharia da Junta Provincial de Povoamento, cuja dotação deverá continuar a figurar na alínea b).

140. A Câmara aprova a inscrição da importante verba de 200 000 contos destinada ao credito agrícola, que tem plena justificação. Presume-se que seja administrada pela Caixa de Crédito Agro-Pecuário e que se tenham presentes as necessárias precauções na sua aplicação.

141. Tendo em conta os pontos discutidos, haverá necessidade de introduzir as seguintes alterações na distribuição do sector:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

Contos
(Distribuição sem alteração) ......... 706 720

b) Esquemas de regadio e povoamento:

Esquemas de regadio:

[ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Verifica-se assim uma redução de 220 000 contos da verba atribuída ao sector, dos quais 190 000 coutos resultam da transferência para o sector de melhoramentos rurais do investimento relativo à promoção de populações. A redução efectiva é, assim, de 30 000 contos. Para este saldo se proporá também a utilização, na mesma rubrica, para abastecimento de água de povoações.

142. Pesca. - Este sector, sem dúvida um dos mais importantes na economia angolana, aparece dotado com 529 000 contos, com a seguinte distribuição:

a) Pesca:

[Ver tabela na imagem]

O programa, embora sem grandes pormenores, encontra-se claramente exposto e justificado, com nítida definição de objectivos.
Pré vê-se a construção de câmaras de congelação e armazenamento em Luanda e Porto Alexandre, em ligação com os respectivos portos de pesca e, pela iniciativa privada, a construção de câmaras de congelação e armazenamento, com fábricas de gelo, em Moçâmedes e Benguela. Nesta última cidade, as câmaras destinar-se-ão fundamentalmente a apoiar a indústria das conservas.
Nota-se o investimento importante a fazer em embarcações e espera-se que a indústria nacional possa ter activa participação na sua construção.
Os estaleiros referidos serão instalados no Lobito e em Luanda, com o objectivo fundamental da substituição da frota de pelágicos da província por modelos mais aperfeiçoados.
A Câmara Corporativa entende que o programa do sector merece aprovação, mas quanto à segunda rubrica da alínea b), sugere que à sua parte final seja dada uma redacção mais compreensível.

143. Indústrias extractivas e transformadoras. - E este outro importante sector, e tão importante que absorverá 59,7 por cento do total do investimento programado no Plano para Angola, ou sejam, 14 960 100 contos, dos quais 11 599 500 destinados à indústria extractiva.
A distribuição prevista é como segue:

a) Indústria extractiva:

[Ver tabela na imagem]

b) Indústria transformadora:

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Trata-se, portanto, de perspectivas verdadeiramente notáveis. O respectivo programa foi objecto de exposição cuidadosa, salientando-se a enumeração das possíveis zonas industriais, as medidas de política (com o devido relevo para o financiamento mediante a criação de entidades especializadas e do mercado provincial de capitais) e apresentação do critério selectivo das indústrias transformadoras incluídas.
Convém fazer, desde já, algumas reflexões. A primeira é meramente processual. Se, como foi anunciado, se confirma a existência em Cabinda de vastos jazigos de hidrocarbonetos, então é necessário corrigir o reduzido investimento de 184 000 contos inscrito para o sexénio.
Mas a segunda levanta uma questão de fundo, relativa à programação de 140 500 contos para pesquisas e desenvolvimento mineiro por parte do Estado. A Câmara Corporativa deseja manifestar sérias dúvidas quanto a esta orientação. A lição dos países vizinhos - África do Sul, Rodésia, Zâmbia, Congo - e das próprias províncias portuguesas é muito clara: é da actividade privada de prospecção e exploração que têm surgido resultados tangíveis quanto a fomento mineiro. Mesmo em Angola e Moçambique, o ferro, o carvão, os diamantes, o petróleo, o manganês, o berilo, a columbite e agora a potassa - tudo isso resultou da iniciativa particular.
Parece, assim, que o assunto é suficientemente importante para merecer revisão, o que se sugere.
Passando agora das esperanças às realidades, o panorama mineiro é dominado (além dos diamantes) por duas iniciativas principais: o petróleo e o ferro.
O sector dos petróleos passou recentemente, em Angola, por profunda reorganização, de que se esperam bons resultados. Além dos jazigos em exploração no distrito de Luanda, da sua expansão nesse distrito e no Zaire, grandes perspectivas foram abertas no distrito de Cabinda, onde há largos anos actuava a Cabinda Gulf. A simultânea descoberta de jazigos de sais de potássio que se afiguram económicamente exploráveis mais vem contribuir para uma possível transformação da economia de Cabinda num prazo muito curto. Se juntarmos a estes produtos do subsolo mais os fosfates (ali e no Zaire), que desde 1958 são estudados e discutidos, e ainda o manganês, tem-se uma completa apreciação da situação e do que é possível fazer.
Por outro lado, o chamado «Projecto de Cassinga», para exploração de minério de ferro de boa qualidade, tomou proporções de enorme vulto e constitui presentemente um dos maiores empreendimentos em território nacional. Está dimensionado actualmente para a exportação de 5 a 5,5 milhões de toneladas, que representarão contributo importantíssimo para a balança de pagamentos da província. Exigiu a construção e melhoramento de infra-estruturas numa escala que não é habitual, incluindo a construção de um porto mineiro em Moçâmedes e a transformação e equipamento do caminho de ferro respectivo, além dá construção do ramal que serve as minas. Importa ao Estado, que garantiu grande parte dos investimentos realizados, que no mais curto prazo de tempo possível todo o esquema entre em operação eficiente.
Ainda no campo do minério de ferro, mas agora no Norte, em jazigos servidos pelo porto e caminho de ferro de Luanda, deve já ter-se chegado a conclusões quanto ao interesse económico da exploração de imensos jazigos de minérios mais pobres, mas susceptíveis de pelitização para uma exportação anual de 1 a 1,5 milhões de toneladas. Isso exigirá a melhoria da via férrea e seu melhor equipamento e a construção de um porto mineiro em Luanda, para o qual já existe possibilidade de financiamento externo.
Finalmente, para terminar este breve comentário à parte mineira do problema, não pode ser esquecido o cobre existente em Tetelo-Mavoio, com reservas da ordem dos 10 milhões de toneladas. O que se passa no mercado mundial do cobre e os reflexos políticos que o envolvem conferem singular acuidade a este projecto, para o qual entrariam capitais estrangeiros a associar à empresa concessionária.

144. No que respeita à indústria transformadora, Angola assiste a uma verdadeira explosão, e o produto respectivo, que ,se situou na ordem dos 3 milhões de contos em 1965, parece ter tido no ano passado um aumento que excedeu todas as previsões - 15 por cento, contra 12 por cento de 1964 para 1965, ou sejam, 3653 milhões de escudos, para o conjunto de indústrias cujos elementos estatísticos são publicados pelos Serviços de Economia da província.
No programa formulado têm lugar de relevo as indústrias metalúrgicas de base
(1 390 000 contos), com a instalação do fabrico de ferró-ligas e carboreto de cálcio em Luanda e da electrometalurgia do alumínio, provavelmente no Doudo; as indústrias da alimentação, excluindo bebidas (956500 contos), com matadouros-frigoríficos, fábricas de lacticínios, moagem de trigo, etc., e sobretudo a fábrica de açúcar e actividades complementares, a situar provavelmente na zona de Mucoso-Lucala.
No campo das indústrias dos derivados do petróleo (300 000 contos), o investimento corresponde ao aumento de capacidade de refinação em Luanda e a uma nova . refinaria no Lobito. A evolução da situação em Cabinda é susceptível de melhorar ainda as previsões no sector.
Nota-se, a propósito das indústrias químicas, a falta de uma iniciativa referente a adubos azotados, paralela à que já está em marcha em Moçambique.
Têm ainda proeminência as indústrias têxteis (235 000 contos), sobretudo quanto à fiação e tecelagem de algodão (Malanje, Luanda e Novo Redondo), começando assim a remediar-se uma lacuna de dezena de anos, e a dos produtos minerais não metálicos, com uma nova linha de fabrico de cimento em Luanda, e a ampliação da fábrica de vidraria de Luanda ou a construção de uma nova.
A Câmara Corporativa regista com apreço este programa, na sua maior parte indicativo, e exprime a convicção de que venha ainda a ser notavelmente ampliado no período da execução do Plano.

145. Melhoramentos rurais. - Neste sector devem caber, além da promoção sócio-económica das populações,

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transferida do capítulo da agricultura, silvicultura e pecuária, e dos problemas de electrificação de povoações, transferido do capítulo da energia, os abastecimentos de água de povoações. Contudo, o Plano não inscreve verba para este fim, o que é estranho, embora não se ignore o grande esforço feito nos últimos anos na província neste domínio. Mas, porque se entende que não devem deixar de ser considerados, propõe-se que lhe sejam distribuídos os 30 000 contos em saldo no sector da agricultura, silvicultura e pecuária. Sendo assim, a dotação total subirá a 371 300 contos, com a seguinte distribuição:

a) Promoção sócio-económica das populações rurais:

[Ver tabela na imagem]

(a) E possível que nesta rubrica estejam incluídas redes de distribuição em cidades importantes e que, portanto, deveriam figurar na rubrica de energia. Mas o projecto do Plano não permite a devida separação. Recomenda-se oportuna verificação.

Como já anteriormente se notou, a rubrica a) destina-se fundamentalmente a esquemas de desenvolvimento comunitário e reveste-se do maior interesse, não só económico e social, como até político e estratégico. O projecto do Plano sintetiza o modo de actuação que se prevê.
A verba de abastecimento de água deverá ser oportunamente distribuída na província, dando continuidade a um valiosíssimo trabalho já em curso, que muito contribui para a saúde e bem-estar das populações.
Na electrificação das povoações incluíram-se empreendimentos que estavam classificados indevidamente no sector da energia e que ficarão a cargo das autarquias locais, com o apoio do Fundo de melhoramentos locais. Os pequenos aproveitamentos hidroeléctricos indicados destinam-se ao fornecimento de energia a Artur de Paiva, Duque de Bragança, Camabatela, Andulo, etc.. enquanto pela rubrica «Electrificação de diversas povoações» se prevê a aquisição e instalação de centena e meia de pequenas centrais diesel. O programa é completado pela instalação ou remodelação de pequenas linhas de transporte e distribuição.

146. Energia.- A distribuição apresentada para este sector vem dividida por fontes de financiamento, o que não se justifica, visto não ter sido esse o critério adoptado nos restantes.
Retirando a participação transferida para melhoramentos rurais e dando à distribuição de verbas a estrutura corrente, ter-se-á:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Este capítulo, tão importante na estrutura do Plano, necessita de numerosas rectificações, observações e modificações.
Em primeiro lugar, dele deveria constar a definição da política de electrificação da província que se entende dever ser seguida. Supõe-se que já haja ideias firmes sobre o assunto.
Actualmente, a posição assenta em três grandes sistemas de produção, transporte e grande distribuição. Ao norte, o sistema do Cuanza, com as centrais de Cam-bambe e das Mabubas, de que é concessionária a Sonefe, empresa de economia mista com forte participação do Estado. Ao centro, o sistema do Catumbela, com as centrais de Lomaum e do Biópio, concessionado à Hidroeléctrica do Alto Catumbela, empresa privada que tende para uma participação activa do Estado. A sul, o sistema do Cunene, com a central da Matala, directamente explorada pela Junta Provincial de Electrificação.
Qual a evolução prevista para a estrutura empresarial, por um lado, e para a concepção técnico-económica de produção e transporte?
Pretende-se interligar os três sistemas?
Admite-se no futuro a conveniência da introdução de um quarto sistema, apoiado no Queve?
São estas questões, de enorme relevância, que, de certo modo, condicionariam toda a planificação. Não se lhes encontra resposta no projecto de Plano.

147. O próprio texto introdutório, além das insuficiências acima apontadas, necessita de correcções. Examine-se primeiramente o capítulo intitulado «Evolução recente, situação actual e perspectivas», que abrange os n.ºs 228 a 237.
Começa-se por se observar que o quadro inserto no final do n.º 232 - e cuja designação convém modificar para «Comparticipação das diferentes formas de energia no consumo total» - deverá enquadrar-se no final do n.º 228, a seguir ao quadro intitulado «Consumo de energia».
Convém verificar no quadro os valores dados para as percentagens, visto não somarem 100 por cento.
A matéria dos n.ºs 229 e 230 está repetida, com algumas contradições no n.º 233. E necessário rever a sua redacção, visto conter afirmações e números pouco aceitáveis. Supõe-se que a matéria do n.º 230 diz respeito a energia eléctrica, e não a energia.
No n.º 231 há que acrescentar a «Produção, transporte e grande distribuição» as palavras «de energia eléctrica» e substituir «a empresas privadas concessionárias» por- «empresas privadas, em regime de concessão». Ao quadro que lhe está anexo, designado «Características das principais centrais hidráulicas
em 31 de Dezembro de 1965», deverão fazer-se os esclarecimentos seguintes:

A chamada (2) convirá; ser assim redigida:

Com a barragem à cota actual, a potência útil é apenas da ordem dos 45 MW e a energia colectável, para a utilização anual de 5300 horas dessa potência, será apenas de 238 GWh; com a instalação de mais dois grupos de 65 MW e a barragem à cota actual, a energia colectável será de 825 GWh para uma utilização de 6600 horas da potência útil de 125 MW; com a elevação da barragem para a cota definitiva, passará a 1400 GWh; regularizando o caudal a montante e instalando mais duas centrais anexas à existente, passará a cerca de 3100 GWh.

A chamada (3) deverá ser assim redigida:

Com a potência útil de 10 MW, a energia colocável do Lomaum, para uma utilização anual de 4300 horas dessa potência, será de 43 GWh; com regularização térmica de 3 MW, o sistema Biópio-Lomaum poderá produzir 88 GWh; com regularização térmica de 3 MW e instalação de um terceiro grupo turboalternador, o sistema poderá garantir 131 GWh; com regularização de caudais, o sistema Biópio-Lomaum poderá produzir, em conjunto, 200 GWh.

A chamada (4) deverá ser modificada como segue:

Com um caudal da ordem dos 17,5 m3/s, garantem-se 22 GWh e, em ano médio, 34,5 GWh; energia temporária, 41,2 GWh; com regularização de caudais, a Matala poderá produzir até 96 GWh.

Devem fazer-se chamadas na coluna «Energia produzida em 1965», esclarecendo que, em 1966, a energia produzida pelas Mabubas, Cambambe, Biópio, Lomaum e Matala foi, respectivamente, de 1,257, 163,891, 27,790, 37,770 e 15,503 GWh.
Deve substituir-se a designação da coluna «Entidade concessionária» por «Entidade exploradora» (a Matala não foi objecto de concessão).

Como se disse a propósito do n.º 228, o quadro inserto no n.º 232 deve ser transferido para o final daquele número.
O n.º 233 deve ser eliminado, tendo em atenção o que se disse a propósito dos n.ºs 229 e 230.
No n.º 234, será mais correcto dizer, em lugar de «Luanda e as respectivas subestações terminais estão ligadas ...», o seguinte: «Na zona de influência da Sonefe, o principal centro de consumo é Luanda, que está ligada...».
É de eliminar a matéria do primeiro parágrafo do n.º 235, ou seja, «A regularização dos canais do Cunene ...», visto ser muito discutível a afirmação, além de estar deslocada.
O segundo parágrafo do n.º 236 deve ser reduzido ao teor seguinte: «Apesar disso, foi possível organizar o seguinte quadro:». Este deve ser completado pela forma como a seguir se apresenta.

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Previsão da evolução do consumo de energia eléctrica

(GWh)

[Ver tabela na imagem]

Observações: Os valores de 1964 e 1965 são reais, sendo as taxas de crescimento referidas rio texto respeitantes a 1965, como ano de partida.
A partir de 1971, os consumos de Luanda incluem os da indústria do alumínio.

148. Seguem-se as observações, número por número, agora ao capítulo intitulado «Investimentos».
Nos n.ºs 240 e 241, onde se lê: «kV», deve ler-se: «kW»
O n.º 242 refere-se a matéria de muita importância: o aproveitamento do Cunene. Convém consagrar-lhe a devida atenção.
Assim, a frase: «Dois empreendimentos se devem ter já como absolutamente necessários: a ampliação da central da Matala com mais um grupo de 14,2 MW e a construção da barragem do Gove» não corresponde à situação actual. Deve escrever-se: «Dois empreendimentos devem ter-se como eventualmente viáveis: a ampliação da central da Matala com mais um grupo com potência da ordem dos 13,6 MW e a construção de uma barragem de regularização do Cunene a montante da Matala. Admite-se que a barragem seja a do Gove, cujo custo está estimado em 460 000 contos.»
O n.º 244 trata da central térmica de Moçâmedes. Há que corrigir «dois grupos Diesel eléctricos, cujo custo se avalia em 19 500 contos», escrevendo «uma central termoeléctrica, com características a definir, para um conveniente apoio à central da Matala, cujo custo se avalia em 125 000 contos».
Essa central ficará provavelmente situada em Moçâmedes, com uma potência de 15 MW; como a central térmica já adquirida para Porto Alexandre ficará saturada no decurso do Plano, convirá abastecer esta zona a partir de Moçâmedes, o que leva a considerar a linha Moçâmedes-Porto Alexandre.

149. O n.º 245 deve ter por título «Linha da Matala à fronteira do Sudoeste Africano». Concorda-se com o ponto de vista expresso no projecto do Plano.
A justificação do 2.º terno da linha Sá da Bandeira-Moçâmedes e do 3.º transformador em Moçâmedes tem de ser modificada, passando a ler-se:

Este empreendimento justifica-se por se prever em 1973 uma ponta de carga em Moçâmedes da ordem dos 5 MW - ou mesmo superior, porquanto a potência motora a instalar no Saco será de 5500 kW - e a capacidade de transporte do terno actualmente em serviço na linha Sá da Bandeira-Moçâmedes tem apenas capacidade de transporte de 5 MW.

Este segundo terno é, aliás, necessário, mesmo com a construção da central térmica em Moçâmedes, em lugar da regularização do Cunene, pois essa central térmica feria de dar apoio à Matala num período, embora restrito, de estiagem.
Em lugar da ampliação da central térmica de Porto Alexandre, deve prever-se a construção da linha Moçâmedes-Porto Alexandre, acarretando um investimento da ordem dos 20 000 contos.
É necessário corrigir o lapso havido no título do parágrafo linha Tchicapa-Henrique de Carvalho e esquema regional da grande distribuição do Cuanza-Sul, visto esta última parte não ser considerada.
No n.º 250 diz-se, e muito bem, que a obra do aproveitamento do Biópio (reposição em boas condições de financiamento) deve ser apenas consignada por memória. No mapa de investimentos, por lapso, inscreveram-se, contudo, 34 000 contos. Deve rectificar-se. Quanto ao n.º 251, que trata do «Aproveitamento do Lomaum e da Chicuma», tem de se ter em conta que a barragem da Chicuma ainda não foi aceite como empreendimento prioritário.
Convém acrescentar às duas alíneas a) e b), referentes a soluções possíveis, mais uma terceira, a saber:

c) Apoio térmico ao aproveitamento hidroeléctrico do Lomaum.

No mapa de investimentos, deve corrigir-se «abastecimento ao planalto», substituindo por «novo meio de abastecimento à região centro-oeste».
Também é de eliminar, em face do que oportunamente se discutiu, a afirmação: «... embora se saiba já que a solução correspondente à central do Gove e ligação à rede da H. E. C. A. implica um investimento da ordem dos 125 000 contos».
O título que antecede o n.º 252 deve ser: «Transporte e grande distribuição».
Parece haver discordância entre o valor de 39 000 contos indicado no texto e o de 120 000 contos inscrito no mapa dos investimento para as linhas na região de Salazar e Malanje certamente porque aquele não refere a totalidade dos empreendimentos. Convém verificar e corrigir.
O investimento nas redes de grande distribuição dos distritos de Benguela e do Huambo, previsto como de 49 490 contos, pode reduzir-se a 28 500 contos; 14 500 contos para a rede de grande distribuição do Cubai, 8000 contos para a rede de grande distribuição do Balombo e

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6000 contos para a rede de grande distribuição do Huambo.
Não se encontra qualquer palavra de justificação do investimento de 37 800 contos inscrito para «Outras redes». E necessário que na redacção final do Plano se introduza essa justificação ou se elimine a dotação.
Em face destas alterações e sugestões, o programa final poderá ficar com a forma seguinte:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

[Ver tabela na imagem]

(a) Verba a justificar ou a eliminar na elaboração definitiva do Plano.
Deixam, assim, de ser formalmente inscritos 429 490 contos. A forma final deverá ficar dependente da evolução do problema do Cunene, que, aliás, também tem reflexos no dimensionamento da central térmica de Moçâmedes.

150. Circuitos de distribuição.-A dotação inscrita para o sector é de 139 300 contos, com a seguinte distribuição:

a) Comercialização e armazenagem:

[Ver tabela na imagem]

O programa, bem apresentado, compreende a construção de vários armazéns e câmaras frigoríficas (estas, em Luanda, para conservação de frescos), bem como a distribuição, no interior, de peixe seco e refrigerado ou congelado.
Apenas se faz notar que a construção de câmaras frigoríficas para produtos frescos deve figurar na classificação própria:

b) Rede de frio:

Contos
Apoio à comercialização de frutas e produtos hortícolas ............... 5 000

retirando-se, portanto, da alínea a) acima descrita.

151. Transportes e comunicações. - 14,5 por cento dos investimentos programados na província são destinados a este importante sector. A dotação de 3 626 120 contos apresenta-se com a seguinte distribuição proposta:

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

c) Portos e navegação:

[Ver tabela na imagem]

d) Transportes aéreos e aeroportos:

[Ver tabela na imagem]

e) Telecomunicações:

[Ver tabela na imagem]

Começando pelas estradas, o panorama em 31 de Dezembro de 1966 era o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

(a) 1000 km com características técnicas superiores.

Estes números dão a medida do problema, já que, apesar do enorme esforço despendido nos últimos anos, a rede rodoviária conta apenas com cerca de 7,3 por cento de estradas com pavimento betuminoso. Mas, mesmo assim, salta à vista o extraordinário impulso que está resultando para a economia da província da entrada em serviço de traçados em condições satisfatórias.
O programa agora apresentado pela província traduz uma preocupação que tardou em concretizar-se - o lançamento de vias de penetração para as zonas do interior, fomentando o seu progresso, em lugar da concentração nas zonas litorais.
Por outro lado, mostra-se a intenção de fazer seguir a execução das terraplenagens e obras correntes de adequada pavimentação, evitando assim os conhecidos prejuízos decorrentes da degradação das plataformas e taludes e, por vezes, incomportáveis despesas de conservação.
O programa foi estabelecido na província e a ele não há que pôr objecções. O seu montante sobe a 1 840 000 contos - cerca de 300 000 contos por ano -, o que está perfeitamente ao alcance da capacidade de realização demonstrada.
Os trabalhos desenvolver-se-ão nos seguintes eixos:

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

Representa, portanto, um programa médio de 700 km por ano, ao custo unitário médio de menos de 440 contos/km, o que é perfeitamente viável desde que os projectos sejam convenientemente elaborados e se estabeleça a necessária concorrência entre empreiteiros qualificados.
152. O quadro XXXII actualiza, com os dados de 1966, os elementos constantes do projecto quanto ao movimento do caminhos de ferro:

QUADRO XXXII

Movimento dos caminhos de ferro

[Ver tabela na imagem]

Estes números são apenas um dos sintomas da crise grave que afecta os caminhos de ferro de Angola - com excepção do de Benguela - e que está sendo objecto de medidas por parte da Administração, umas a curto prazo, outras de fundo. O que é certo é que a exploração é deficitária nos caminhos de ferro do Estado e no do Amboim (neste o déficit é coberto pelas receitas do porto e pelo subsídio de facto que o Estado paga como garantia de juros a que se obrigou em termos legais).
Os investimentos previstos são os seguintes:

a) Caminho de ferro de Luanda: (300000 contos), sendo:

[Ver tabela na imagem]

Todos os empreendimentos e aquisições estão convenientemente justificados e merecem aprovação.
b) Caminho de ferro do Amboim: 3600 contos, correspondendo a pequenas reparações destinadas a suportar a precária exploração actual.
c) Caminho de ferro de Benguela: a situação na África Central contribui para o aumento de tráfego e, sobretudo, de carga rica nesta via fundamental para o Congo e para a Zâmbia, que, assim, atravessa um período próspero, mas sujeito às incertezas do futuro.
A distribuição dos investimentos previstos (548 000 contos) é a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

Presume-se que a principal parcela se destina à construção da chamada variante do Cubai, que muito melhoraria a exploração, mas que não deverá ser empreendida antes da obtenção de garantias suficientes de continuidade do tráfego.

d) Caminho de ferro de Moçâmedes: além dos melhoramentos introduzidos nos últimos anos em função do projecto mineiro de Cassinga, estão previstas dotações no valor total de 70 000 contos, com a seguinte-distribuição:

[Ver tabela na imagem]

Todos os empreendimentos e aquisições se consideram justificados.
Como já se anotou, a linha de Moçâmedes vai assegurar o transporte de 5 a 5,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.
153. Tornando ao subsector de portos e navegação, actualizam-se também, com os dados de 1966, os elementos referentes ao movimento dos principais portos da província (quadro XXXIII).

QUADRO XXXIII

Movimento dos principais portos

[Ver tabela na imagem]

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Assim, nota-se uma certa estabilização do movimento.
Os investimentos previstos totalizaram 539 000 contos, sendo 493 000 destinados a portos.
O programa está bem estruturado e justificado. Contudo, quanto às obras portuárias em Cabinda, tudo está sujeito à evolução que se verificar, quer no sector dos petróleos, quer no dos fosfates e dos sais de potássio.
Os pontos a salientar são os seguintes:

a) Luanda (206 100 contos):

Avulta a construção de um novo cais de carga geral, com 385 m, e seu equipamento. Deve considerar-se por memória o porto mineiro e respectiva instalação carregadora, dependente do desenvolvimento das minas de ferro ao longo do caminho de ferro, para o qual se dispõe de financiamento externo; e também o porto de pesca, cuja construção se tem por indispensável.

b) Lobito (60 200 contos):

A verba cobre o equipamento e instalações de terra e continuação da estabilização da restinga. É provável que venha a ser necessário ampliar as instalações acostáveis.

c) Moçâmedes (17 000 contos):

Completamento dos empreendimentos iniciados no Plano Intercalar.

d) Cabinda (86 000 contos):

As obras projectadas custarão provavelmente mais. Mas já se acentuou que o problema está dependente das decisões no sector mineiro que influenciarão também a própria localização do porto.

e) Porto Alexandre (33 100 contos):

Construção de uma ponte-cais de longo curso para o serviço da pesca.

f) Lândana (600 000 contos):

Apenas trabalhos de defesa contra a erosão da costa, junto à ponte-cais.

g) Estudos portuários (90 000 contos):

Há minuciosos estudos a fazer para estabelecimento e pormenorização de um plano geral portuário. Além dos portos citados, tem de considerar-se a função a ser reservada a Santo António do Zaire, baía dos Tigres e outros portos secundários.

Nada há a observar quanto às verbas reservadas para transportes fluviais (10 000 contos) e carenagem (36 000 contos).

154. A respeito de transportes aéreos e aeroportos, para que se reservou a verba relativamente vultosa de 272 900 contos, há a registar com agrado que nos últimos anos se trabalhou muito, e bem, na infra-estrutura aeronáutica da província. Os trabalhos agora previstos, certamente necessários, abrangem os aeroportos internacionais de Luanda e de Nova Lisboa (27 200 contos), a construção de novos aeródromos, em substituição dos actuais, em Moçâmedes, S. Salvador e Lobito, e melhoramentos em vários outros aeródromos principais (Luso, Serpa Pinto, Novo Redondo, Benguela, Carmona, Henrique de Carvalho e Sá da Bandeira, dispondo-se de 83 000 contos), melhoramentos em vários aeródromos secundários (Pereira de Eça, Roçadas, Portugália, Santo António do Zaire e outros, com dotação global de 14200 contos), trabalhos em aeródromos de recurso, necessitando conveniente esclarecimento (16600 contos), e apetrechamento de um centro de controle regional (28400 contos).
Quanto a material de voo, projecta-se a aquisição de três novos aviões para a rede interna, diverso equipamento e sobresselentes, tudo no valor de 103 500 contos.
Não há reservas a pôr ao programa apresentado, a não ser a falta de esclarecimentos quanto à dotação para aeródromos de recurso.

155. A verba de 156620 contos reservada para telecomunicações cobre uma variedade de empreendimentos, todos eles devidamente justificados no projecto.
Contudo, antes de continuar o caminho já iniciado em matéria de comunicações pelo sistema VHF, recomenda-se que se tome decisão final sobre o programa global de telecomunicações da província, uma vez que há anos foi recomendada por especialistas a opção de ligações troposféricas para a rede principal. E ainda indispensável verificar se não é necessária inscrição de verba para o contrato em curso referente à rede administrativa.

156. Habitação e urbanização. - O programa concentra-se praticamente no problema da habitação, com uma dotação de 205 170 contos, e ignora totalmente os aspectos de urbanização. A distribuição proposta é a seguinte :

a) Habitação:

Bairros de reordenamento e realojamento nas cidades:

[Ver tabela na imagem]

O preâmbulo justificativo necessita de uma cuidada revisão por especialistas, pois, tal como está, falha na definição de objectivos e entra em pormenores de política habitacional certamente sujeitos a crítica. Exemplos: considerações sobre imóveis colectivos em relação às habitações unifamiliares (n.º 360), escalões da estrutura urbana (n.º 360), atribuição ao escalão «bairro» (50 a 150 famílias) de equipamento social não ajustado à escala.
Falta, como se disse, a visão das questões dentro de uma óptica urbanística nos diversos escalões.
Por outro lado, não faz sentido a completa omissão de dotações para o subsector de urbanização, apesar de no texto se fazer referência, como medida necessária, ao «estabelecimento de planos de urbanização para os principais núcleos da província». Mas não apenas neste escalão. A exemplo do que se está fazendo em Moçambique,

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é indispensável organizar e implantar planos regionais que prolonguem e integrem as acções e reacções dos centros urbanos. Para já, é urgente elaborar o plano regional de Luanda e o da zona Lobito-Benguela, antes que seja tarde. Na verdade, um grande número de autarquias locais da província necessitam de forte apoio técnico e financeiro para resolver problemas deste sector de habitação e urbanização.
É também conveniente que fique uma referência e dotação para saneamento urbano. Note-se, por exemplo, que é urgente e necessário dar andamento ao projecto de saneamento do Lobito, já estudado e aprovado, que prevê um investimento total de 50 000 contos, assim discriminados:

[Ver tabela na imagem]

Problema semelhante se levanta quanto à continuação das obras de saneamento em Luanda, mas quanto a estas não dispõe a Câmara Corporativa de elementos numéricos. Também vão ser investidos proximamente 120 000 contos na melhoria do abastecimento de água desta cidade, mas não lhes é feita qualquer referência no projecto do Plano.
Propõe-se, portanto, um aditamento à distribuição deste sector, nos seguintes termos:

[Ver tabela na imagem]

A cobertura adicional resultará de transferência da verba não programada no sector da energia.

157. Turismo. - O programa, no valor de. 113 000 contos destinados ao sector, apresenta-se com a seguinte distribuição:

[Ver tabela na imagem]

Existem perspectivas razoáveis para o desenvolvimento da actividade. Atribuiu-se prioridade a três zonas, a saber:

Região compreendida entre a barra do Dande, Duque de Bragança, Malanje, Santa Comba e Novo Redondo;
Região compreendida entre Folgares, ponta do Diabo
e ponta Grossa;
Região compreendida entre Nova Lisboa, Farol das
Salinas e Lobito.

Dos investimentos salienta-se o destinado a hotelaria, na maior parte privada, em que é notória a deficiência de equipamento da província.
A Câmara não tem objecções a formular ao programa, aliás muito modesto. Mas é aconselhável cuidadosa apreciação do montante e oportunidade das despesas referentes ao «Centro de preparação hoteleira e de turismo» e «Estudos e publicidade».

158. Educação e investigação. - Destinam-se a este sector 1 390 900 contos, propondo-se a seguinte distribuição:

[Ver tabela na imagem]

A programação no que respeita à educação está claramente exposta e justificada. O esforço previsto já será notável, envolvendo dispêndio de 700 000 contos.

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Registam-se a seguir alguns elementos de maior interesse:

a) Ensino primário:

Instalação de 74.2 postos escolares e 158 escolas primárias com 4 salas de aula cada uma, permitindo a admissão de 109 920 alunos, a que há a adicionar mais 60 050 das missões religiosas e escolas das unidades militares.
Formação de 3000 professores e 1800 monitores escolares.
Criação de 117 escolas de artes e ofícios, para 9400 alunos.

b) Ensino liceal:

Construção de liceus com capacidade para 7000 alunos, preparação, recrutamento e atracção de professores. Os novos liceus distribuir-se-ão por Carmona, Luso, Salazar, Novo Redondo e Cabinda.

c) Ensino técnico:

Construção de escolas industriais e comerciais, de uma escola industrial e de uma escola técnica elementar; uma escola prática de agricultura e três escolas elementares de agricultura; uma escola de pesca (em Moçâmedes).
Cursos de formação profissional acelerada nas escolas técnicas.

d) Ensino médio:

Construção e apetrechamento de um instituto industrial, um instituto comercial e uma escola de regentes agrícolas, além de escolas de magistério primário.

e) Ensino superior:

Construção de instalações para os Estudos Gerais Universitários.

f) Problemas de juventude:

Construção de lares e pousadas de estudantes. Criação de clubes da juventude junto de estabelecimentos de ensino secundário.

159. Na investigação ligada ao ensino destinou-se uma pequena verba (5000 contos) para apoio da investigação, sobretudo pura, a efectuar nos Estudos Gerais Universitários. O comentário a fazer é de que parece uma dotação demasiado modesta.

160. Propõe-se que a investigação não ligada ao ensino absorva uma verba importantíssima: 685 900 contos. Convém, portanto, dedicar-lhe alguma atenção.
No sector da cartografia geral, diz-se que os objectivos visados são a conclusão da carta 1:100 000 e 1:250 000, com excepção da parte a sul do paralelo 12º e a leste do meridiano 18º (E. G.), e a preparação de cartas parciais de interesse cadastral das áreas da província mais densamente povoadas.
Convém esclarecer a redacção que, tal como se apresenta, não é compreensível.
A dotação prevista é de 90 000 contos.
Quanto à carta geológica, diz-se estar concluída para 192 000 km2 (15,3 por cento do território) e que falta concluir para 1 054 000 km2. Não estão muito bem definidos os objectivos nem o modus faciendi.
Fala-se na recolha de elementos geológicos para, pelo menos, 50 por cento do território, e colhe-se a impressão de que serão os serviços públicos a executar o trabalho, mediante um investi mento de 139 000 contos. Será esta a política certa? Não sairia mais económico e rápido adjudicar o mesmo a empresas especializadas? A Câmara acentua que parece indispensável constar da redacção final do Plano um mais completo esclarecimento da orientação formulada.
Quanto à hidrologia, em que tanto há a fazer e com enorme interesse, só se lamenta a não apresentação de programas concretos para a aplicação dos 24 000 contos indicados.
Na meteorologia (33 000 contos) mais uma vez se misturam objectos de rotina com outros que podem ser classificados como de investigação (aperto da malha no levantamento geomagnético, ampliação da rede de estações solari gráficas, estudos hidrometeorológicos e preparação de atlas climo-hidrológico). Já anteriormente se não perfilhou esta orientação.
A investigação aplicada à agricultura propõe-se absorver uma verba importante (104000 contos), destinada à conclusão da carta geral dos solos, ao Instituto de Investigação Agronómica de Angola (cujos programas de actuação vêm devidamente apresentados e documentados) e ao recém criado Instituto de Investigação Veterinária. É tão importante esta actividade, se for bem orientada, que não se oferecem dúvidas quanto à sua aprovação, sugere-se, contudo, que se verifique se não haverá duplicação quanto a alguns aspectos em relação ao programa do sector de agricultura, silvicultura e pecuária.
A maior dotação deste subsector (150 000 contos) é destinada aos estudos referentes à biologia piscatória e à pesca experimental. É muito dinheiro e há que ter a certeza de que será utilmente aplicado, pelo que expressamente se recomenda uma cuidada supervisão.
O Laboratório de Engenharia de Angola, ao qual são destinados 32 200 contos, tem já uma obra que honra os técnicos da província. O seu programa de actuação está convenientemente exposto e merece aprovação.
A Câmara Corporativa deseja recomendar, para melhor rendimento dos investimentos feitos neste domínio, que sejam apertados os laços da colaboração com os serviços técnicos da província e firmemente reprimidas as tendências para a criação de pequenos laboratórios em quaisquer deles. Não somos suficientemente ricos para permitirmos a dispersão dê meios e instrumentos de trabalho.
Aos Institutos de Investigação Cientifica e de Investigação Médica foram consignados 12 000 e 21 000 contos, respectivamente.
Quanto ao primeiro, ainda se apresentam alguns elementos dos quais se colhe a impressão de que se visa principalmente instalações e apetrechamento. Quanto ao segundo, nada de concreto se diz, pelo que a Câmara Corporativa entende que a respectiva verba não deve ser utilizada sem conveniente reflexão e exame pelas entidades responsáveis.
Para apoio à documentação cientifica inscreve-se uma verba de 21 000 contos, que também não está adequadamente justificada: fala-se vagamente em instalações e no reforço destinado à manutenção dos centros de documentação existentes. Recomenda a Câmara, portanto, procedimento idêntico ao caso anterior.
Quanto aos estudos de base (56 700 contos), verifica-se que compreendem fundamentalmente actividades no âmbito da estatística e da economia. Dadas as críticas anteriormente formuladas quanto à falta ou atraso na di-

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vulgação dos elementos de informação considerados essenciais, não se põe objecção à previsão de tão avultada verba.

161. Saúde e assistência. - Também este sector é considerado como merecedor da maior atenção da parte das autoridades responsáveis, sendo-lhe averbados 431400 contos, com a seguinte distribuição proposta:

[Ver tabela na imagem]

Todo o programa se encontra apresentado com suficiente pormenor para poder ser apreciado na sua estruturação e objectivos. Dele se traduz que, no domínio da saúde, dois objectivos sobrelevam os demais e merecem especial atenção: as campanhas sanitárias contra as endemias reinantes e a elevação do nível técnico e funcional dos estabelecimentos hospitalares, devendo atingir-se em 1973 a meta de três leitos por 1000 habitantes preconizada pela Organização Mundial de Saúde.
As obras a concluir são as seguintes:

a) Escola de enfermagem e lar para enfermeiras em Luanda;
b) Maternidade de Luanda;
c) Hospital Central de Sá da Bandeira;
d) Depósito central de medicamentos e laboratório fármaco-técnico;
e) Vários hospitais rurais e postos sanitários.

Nas obras novas incluíram-se:

a) Dispensários antituberculosos em Luso e Carmona;
6) Enfermarias-abrigo para tuberculosos em Nova Lisboa e Malanje;
c) Dispensários de assistência materno-infantil em Malanje e Silva Porto;
d) Maternidades em Nova Lisboa, Cabinda, Henrique de Carvalho, Malanje e Moçâmedes;
e) Dispensário de higiene mental em Nova Lisboa;
f) Pavilhão hospitalar para doentes mentais em Nova Lisboa;
g) Dispensários polivalentes em Luanda, Nova Lisboa, Benguela, Lobito, Moçâmedes, Sá da Bandeira e Malanje;
h) Edifícios para instalação das delegacias de saúde de sedes de distrito e das repartições distritais de saúde, no Luso, Benguela, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Nova Lisboa e Novo Redondo, com parque sanitário e oficinas anexas, servindo de apoio logístico às campanhas sanitárias do respectivo distrito;
i) Hospital pediátrico de Luanda;
j) Construção de hospitais rurais em Santo António do Zaire, Negage, Caombo, Forte República, Cassongue, Norton de Matos, Caluquembe, Artur de Paiva e Nova Sintra;
k) Construção de postos sanitários rurais e outras instalações sanitárias;
l) Hospital regional de Benguela;
m) Residências para pessoal médico, de enfermagem e técnico auxiliar.

Encara-se ainda o seguinte programa de ampliação e remodelação de instalações hospitalares:

a) Ampliação e remodelação do Hospital Central de Maria Pia;
b) Ampliação e remodelação dos hospitais regionais de Malanje, Henrique de Carvalho, Luso, Carmona, Moçâmedes e Cabinda e sub-regional da Gabela;
c) Ampliação dos hospitais rurais, de Vila Roçadas, João de Almeida, Vila Arriaga, Paiva Couceiro, Cacuso e Golungo Alto, além de postos sanitários.

Tudo isto representa um programa vastíssimo, cuja necessidade se não põe em dúvida. Simplesmente, a Câmara deseja renovar o seu voto para que, dadas as projecções no orçamento de despesa ordinária da província que todas estas instalações acarretam e o pessoal especializado que absorverão, sejam, com o devido tempo, tomadas todas as medidas de coordenação necessárias para que tudo tenha pleno e eficiente aproveitamento a partir do momento da sua conclusão. De certo, o problema do pessoal é encarado na rubrica «Preparação, actualização e aperfeiçoamento do pessoal», dotada com 12 000 contos - o que não parece demasiado, antes pelo contrário.
As campanhas sanitárias concentrar-se-ão na luta contra a tuberculose, a lepra, as tripanossomíases (em que há sintomas alarmantes de expansão no Centro e Sueste da província) e o paludismo.
Merecem também alta compreensão e estímulo os objectivos fixados quanto à assistência materno-infantil, higiene rural e urbana, saúde da população escolar e saúde mental. Neste último domínio, declara-se indispensável, além do programa atrás exposto, dispor de mais as seguintes instalações:

a) Ampliação das instalações para doentes recuperáveis em Luanda;
b) Construção e apetrechamento de uma colónia para psicopatas clinicamente irrecuperáveis em Luanda;
c) Instalação de uma colónia de ergoterapia para recuperação, também em Luanda.

No subsector da assistência, a concentração de esforços e meios processar-se-á na criação de centros multifuncionais coordenadores em todas as capitais de distrito

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em que ainda não existam, aproveitando a experiência positiva já adquirida nos existentes, e a evolução dos estabelecimentos de internamento destinados a velhos e inválidos para uma função mais dinâmica e útil.
Todo este conjunto de realizações no campo da saúde e assistência exigirá um bom comando, espírito de equipa, coordenação permanente, perseverança e vontade de fazer obra duradoura. A Câmara não lhe regateia o seu aplauso.

162. Programa, de investimentos revisto.-Considerando o conjunto de observações e sugestões formuladas no decorrer da análise, seria necessário introduzir modificações no programa geral de investimentos, que tomaria a forma descrita no quadro XXXIV.
Note-se que, em face das incertezas existentes quanto ao esquema do Cunene, o programa quantificado sofreu uma redução global de 353 990 contos.

QUADRO XXXIV

Angola

Programa de investimentos revisto

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

(a) O montante final destas verbas fica dependente das decisões que forem tomadas quanto ao aproveitamento do Cunene.

Moçambique

163. A consulta do quadro X e do quadro XXXV, que a seguir se insere, faculta os elementos necessários fundamentais sobre o programa proposto para Moçambique, num total de 15 555 700 contos (não incluindo o empreendimento de Cabora-Bassa).

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QUADRO XXXV

Moçambique

Calendário anual de investimentos previstos para o III Plano de Fomento (proposto pelo Governo)

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

A apresentação dos objectivos gerais desse programa tornou a forma de uma exposição sobre temas económicos, em lugar da definição inequívoca de finalidades práticas.
Das considerações apresentadas, parece, contudo, poder deduzir-se que tais objectivos estarão encarados pela seguinte forma:

a) Alargamento do mercado interno, pelo aumento do poder de compra da população e progressiva transição do sector, ainda em economia de subsistência, para uma economia de mercado;
b) Aumento substancial da produção e da produtividade do sector agro-silvo-pecuário, justamente com vista à realização do objectivo anterior, através da criação e desenvolvimento de estruturas de apoio ao seu desenvolvimento, completadas por uma melhoria da organização da comercialização para a recolha dos produtos primários, por um estímulo às actividades de transformação desses produtos e por um esforço de promoção humana das populações interessadas;
c) Redução de estrangulamentos nos circuitos económicos, nomeadamente no que se refere ao capital financeiro, às divisas externas e aos quadros técnicos especializados;
d) Reforma administrativa de serviços públicos e criação de condições favoráveis ao investimento industrial, nomeadamente no que se refere a aspectos fiscais e aduaneiros, crédito, pesquisa de oportunidades industriais e de mercados externos, definição de zonas com infra-estruturas básicas asseguradas, eliminação de entraves burocráticos e criação de incentivos.

Como condições de realização destes objectivos, de forma a assegurar o mais rápido crescimento económico, apresentam-se os seguintes critérios para avaliação e selecção dos investimentos:

a) Preferência pelos empreendimentos de maior e mais rápida rentabilidade;
b) Escolha das infra-estruturas que mais directamente contribuam para o aperfeiçoamento do potencial produtivo;
c) Polarização do desenvolvimento.

164. Tal como em Angola, o projecto do Plano referente a Moçambique tenta uma quantificação do planeamento, embora invocando compreensíveis reservas.
Contudo, e em divergência com Angola, não se utilizaram plenamente os elementos da contabilidade nacional mais recentes, englobando fluxos monetários e não monetários. Parece que oportunamente deveria ter-se estabelecido critério comum para as duas províncias.
Admite-se uma taxa de crescimento anual do produto interno bruto ao custo dos factores da ordem dos 7 por cento, com ligeiro aumento nos dois últimos anos do Plano. Tendo em atenção a taxa de crescimento demográfico admitida para o período, resulta uma taxa de crescimento anual do produto por habitante da ordem dos 5,4 por cento.
A Missão de Estudos do Rendimento Nacional do Ultramar avaliou em 28 779 600 contos o produto interno bruto da província ao custo dos factores em 1963. A Câmara Corporativa sugere que na redacção final do Plano se incluam as projecções necessárias, de acordo com o modelo de crescimento adoptado, para se avaliarem as metas a atingir em 1973. O mesmo se sugere quanto às componentes da despesa imputada ao produto nacional bruto, tomando como base os últimos elementos publicados pela Missão.
No projecto do Plano são apresentados com nitidez os condicionamentos indispensáveis à validade do modelo admitido. Destacam-se os referentes à mobilização dos meios financeiros, à oportunidade de uma política de refreamento dos consumos supérfluos, à pressão sobre o mercado de bens de consumo provocada pelo aumento do poder de compra do sector tradicional da população, à redução do ritmo de crescimento das despesas de consumo do Estado e à necessidade de uma forte expansão das exportações.
Seguidamente analisam-se os efeitos do Plano (ou antes, dos seus empreendimentos imperativos) sobre a balança de pagamentos, concluindo-se que o Plano se pagará a si próprio em matéria de divisas e contribuirá para a melhoria da posição da província nesse aspecto. Fazem-se mesmo projecções da evolução do saldo da referida balança, concluindo-se que este passará a ser positivo a partir de 1971 e atingirá o elevado valor de 1 250 000 contos em 1973. Oxalá as previsões se confirmem.
Outro aspecto de muito interesse avaliado quantitativamente é o correspondente aos efeitos directos do Plano no emprego (mão-de-obra e técnicos). Prevê-se uma criação de 493 787 empregos, sendo 19 237 criados pelas estruturas a aparecer devido aos projectos e medidas e os restantes criados nas empresas formadas.

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Assinala-se devidamente o grave problema respeitante a necessidades em pessoal técnico de nível médio e superior.
Chega-se à conclusão de que o número de unidades a recrutar para execução do Plano imperativo atinge 1307 com formação média e 330 com formação superior. Entende-se, contudo, que é viável obter esse pessoal estritamente necessário. O comentário que a Câmara tem a fazer é de que a avaliação das necessidades peca por defeito.
Finalmente, faz-se uma tentativa interessante de divisão da província em estratos de desenvolvimento, em face do balanço das realizações projectadas e da sua localização. Estes elementos, mesmo sob a forma concentrada como são apresentados, afiguram-se de grande utilidade.

162. Passar-se-á seguidamente à análise dos programas sectoriais.

163. Agricultura, silvicultura e pecuária. - Com os elementos constantes do projecto do Plano, organizou-se a seguinte distribuição dos 2 323 266 contos inscritos:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

[Ver Tabela na Imagem]

b) Esquemas de regadio e povoamento

[Ver Tabela na Imagem]

Da leitura da parte do projecto do Plano relativa ao sector colhem-se ideias e elementos certamente de grande interesse. Mas também se encontram muitos aspectos pouco claros que levam a Câmara a recomendar que todo o texto é respectivos mapas de investimentos sejam objecto de revisão profunda.
As alterações a introduzir incidem sobre aspectos formais e sobre questões de fundo. Começar-se-á pelos primeiros.
O n.º 1 - «Evolução recente e problemas actuais» - deve passar a ser apresentado, como nos planos das restantes províncias, sob a designação «Evolução recente, situação actual e perspectivas», eliminando-se todas as propostas e medidas de execução relativas ao III Plano, que encontrarão o seu lugar próprio nos números a seguir, a designar por «Objectivos» e «Descrição dos investimentos».
Depois, há que eliminar, quer do texto, quer dos mapas, todas as longas referências que ali se encontram deslocadas, por pertencerem a outro sector, nomeadamente as relativas à comercialização de produtos, à investigação aplicada à agricultura e pecuária e ao ensino agrícola.
Por outro lado, há, que ordenar devidamente os assuntos restantes, por forma que, por exemplo, o que diz respeito a esquemas de ocupação baseados no regadio, seja inscrito no segundo subsector, e não no primeiro.
Só assim poderá ter-se um panorama claro e sintetizado do que pretende fazer-se.

167. Mais graves e difíceis de corrigir são os aspectos de fundo. Alguns exemplos:
Quando há aproveitamento de fins múltiplos de rios, deve figurar neste sector a parte que lhe corresponde, mas ser inscrito no sector de energia a que a este diz respeito.
Por outro lado, devem figurar nos programas não apenas os empreendimentos a cargo do Estado, como aqueles para os quais existem elementos de informação, embora do campo de iniciativa privada. É o caso das duas novas açucareira, em que será fácil obter e inscrever os investimentos correspondentes. E nos mapas de investimentos, a exemplo das outras províncias, não tem de figurar empreendimentos que não envolvem despesas, embora possam inscrever-se por memória empreendimentos cujas despesas não foi possível quantificar.

168. Passando ao pormenor e seguindo, por comodidade, o quadro de distribuição anteriormente apresentado, há também observações a fazer. Começa-se pelo subsector de fomento dos recursos agro-silvo-pastoris.
Principia por aparecer urna verba de 27 152 contos, destinada à informação estatística, sem conveniente justificação. Salvo melhor opinião, deve ser retirada e inscrita na rubrica «Estudos de base», do sector de investimentos, a menos que se apresentem razões que contrariem esta orientação.
Passando ao fomento agrícola, a Câmara nota com apreço a preocupação em quantificar vários aspectos de desenvolvimento de rubricas principais, e mesmo de fixar metas a atingir. É caminho certo, que também se tentou no campo da pecuária.
Nada a opor às verbas indicadas para o algodão, caju, milho, banana, citrinos e plantação de resinosas, embora se apreciasse que fossem dadas mais pormenores sobre o modo como se pretende levar a efeito os programas respectivos.
Entende-se que, se não puderem ser quantificados os respectivos investimentos, devem figurar nos mapas por

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memória as culturas do açúcar (já referida) e do amendoim, do trigo, do arroz, do chá, do tabaco, do sisal, da copra e de outras oleaginosas.
A verba do projecto dos regadios deve ser transferida para o número seguinte. Igualmente deve proceder-se com os esquemas de ocupação e aproveitamento das regiões de Mutuali, Muda e Save.
São ambiciosas, mas parecem possíveis, as metas fixadas para a produção pecuária.

169. Quanto aos esquemas do regadio e povoamento, além da transferência da verba acima citada e que conviria fosse mais bem documentada nos objectivos da sua aplicação, há também alguns comentários a fazer.
Em primeiro lugar, há a notar que o Decreto n.º 47499, de 17 de Janeiro de 1967, que criou em Angola e Moçambique os Serviços Hidráulicos, define concretamente a competência que lhes cabe - e aos restantes órgãos planeadores e executores - no que respeita a aproveitamentos hidráulicos, nomeadamente a aproveitamentos de fins múltiplos e a aproveitamentos hidroagrícolas. O projecto ignora totalmente as disposições legais; além disso, inscreve, sem adequada justificação e discriminação, uma verba de 261 500 contos para as brigadas da Junta Provincial de Povoamento. A Câmara não pode pronunciar-se sobre este ponto, por falta de elementos.
Para não propor pura e simplesmente a eliminação da verba, parece preferível dar-lhe outra designação. Sugere-se: «Aproveitamentos de fins múltiplos e hidroagrícolas a estudar e executar pelos Serviços Hidráulicos, Junta Provincial de Povoamento e outros serviços da província». Igualmente será necessário incluir esclarecimentos sobre a utilização que se prevê.
Para a Brigada do Limpopo propõe-se uma verba de 145 000 contos, mas não se oferece também a sua discriminação e justificação, o que não é de aceitar num projecto desta natureza.
O colonato do Limpopo constitui uma grande obra nacional, a que justamente ficará para sempre ligado o nome do antigo membro desta Câmara, o Eng.º Trigo de Morais. Merecia, portanto, o necessário desenvolvimento no Plano.
Julga-se útil resumir aqui alguns dados fundamentais e actualizados que a Câmara conseguiu obter.
Os colonos estão distribuídos por uma vila - justamente a vila Trigo de Morais - e doze aldeias: Barragem, Lionde, Sagres, Ourique e Bairro de Santiago, Senhora da Graça, Folgares, Freixial, S. José de Ribamar, Madrágoa, Santa Comba, Santana e Pegões.
Existe conveniente equipamento social: escolas, igrejas, capelas, hospital, postos médicos, missões, etc. Destaca-se, na vila, a escola agrícola.
Foram instaladas algumas unidades industriais: moagem de cereais, lacticínios, salsicharia, descasque e polimento de arroz, desidratação e farinação de forragens e concentrados de tomate.
A área do regadio, segundo o plano elaborado pelo Eng.º Trigo de Morais, era de 31 000 ha, tendo sido previsto para irrigação o investimento de 595 000 contos, incluindo a despesa com a área florestal de 6 milhões de árvores e os encargos de administração e fiscalização.
O seu escalonamento no tempo é o seguinte:

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui 18145 contos com os estudos da barragem de Massingir.

Quanto à adaptação ao regadio, incluída nesta verba, a posição é a seguinte:

[Ver tabela na imagem]

Custo por hectare até ao fim do III Plano de Fomento:

120 442 contos/19 000 há = 6300$.

Ainda tem interesse registar que, no fim do corrente ano, a despesa realizada com a irrigação será de 546 942 contos, cujo parcelamento, segundo os elementos da obra, consta do quadro XXXVI.

QUADRO XXXVI

Colonato do Limpopo

Despesas realizadas com a irrigação (em contos)

[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui 23 000 contos despendidos em 1952.
(b) Incluída em «Colonização».

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DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1051)

170. No que respeita à colonização, previa-se inicialmente instalar no Limpopo 3000 famílias, num total de 18 000 pessoas.
O aumento das áreas de regadio concedidas e o interesse manifestado pelos colonos já instalados em adquirirem novas glebas provocará sensível redução desse número.
O investimento previsto de 853 000 contos apresenta a seguinte distribuição:

[Ver tabela na imagem]

(a) Na realidade, o número de colonos- instalados até 31 do Dezembro de 19G6 foi de 1810, tendo saído por diversas causas 252, ou sejam 13,9 por cento.

O quadro XXXVII sintetiza os elementos principais.

Página 1052

1662-(1052) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

QUADRO XXXVII

Investimentos no colonato do Limpopo

Em milhares de escudos

[Ver tabela na imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1053)

171. Pode agora calcular-se o custo de instalação de um casal de família:

Contos
Irrigação - 595 000 contos, 31 000 ha X 6 ha .......115
Instalação (transporte, casa, gados, alfaias,
subsídio alimentar no primeiro ano, assistência
técnica e médica, comparticipação em estradas,
financiamento reembolsável à cooperativa
agrícola - 392 296 c./1558 colonos) ................ 252
367

Dos colonos, 222 têm já concessão definitiva da propriedade. Os reembolsos contratuais do Estado, com um sexto das produções, tinha a posição seguinte:

Até 31 de Dezembro de 1966 .... 37 264 703$42
Previsto para 1967 ............ 11 100 000$00
48 364 703$42

172. O empreendimento, cuja grandeza os números transcritos documentam, luta com dificuldades que têm de ser encaradas sem demora. A primeira, e mais grave, é a falta de água suficiente, provavelmente devido a aproveitamentos hidráulicos feitos a montante, nos territórios vizinhos. Por outro lado, uma tendência ao salgamento de terrenos e dificuldade quanto a certas culturas.
Outra consiste na evolução para uma cultura predominante do arroz, em parte provocada pela boa adaptação dos terrenos à cultura e, sobretudo, pela facilidade de colocação e existência de cotações compensadoras.

173. A projectada barragem de Massingir liga-se directamente com o empreendimento que acaba de ser analisado. Com efeito, o seu fim principal é o de armazenamento de algumas centenas de milhões de metros cúbicos de água no rio dos Elefantes, por forma a acudir às carências acima assinaladas e, subsidiariamente, a produção de energia.
O seu custo está orçado em 560 000 contos, dos quais 400 000 dizem respeito ao armazenamento de água.

174. São inscritos 210 000 contos para a Missão do Fomento e Povoamento do Zambeze, que está integrada na Junta Provincial de Povoamento. Falta a devida pormenorização e justificação, que é indispensável seja introduzida na redacção final do Plano.
Ao longo de um estudo que se iniciou há cerca de dez anos, foi elaborado um verdadeiro plano geral de valorização da bacia do Zambeze, actualmente em apreciação pelas estâncias superiores competentes, em que se encararam as potencialidades existentes nos campos agro--pecuário, silvícola, mineiro, industrial, da navegação, da defesa contra as cheias e da produção de energia. E tempo, de facto, de começar a tirar partido do investimento já feito, que monta a mais de 200 000 contos. Todo o panorama é dominado pela barragem de Cabora-Bassa, que será o elemento motor do esquema e a que se fará referência quando for tratado o sector da energia.

175. Quanto a outras formas de povoamento além do agrário, nada há a objectar às medidas e investimentos propostos. Mas, por outro lado, a Câmara deseja salientar a necessidade de dotar a rubrica crédito agrícola com meios sensíveis, a exemplo do que se fez em Angola. Por agora, anota-se por memória esse voto, frisando-se a necessidade do apoio aos pequenos e médios agricultores e criadores de gado.

176. A distribuição provisória de verbas tomará, portanto, a forma seguinte:

a) Fomento dos recursos agro-silvo-pastoris:

[Ver tabela na imagem]

(a) Número errado em 500 contos no mapa de investimentos do projecto.
(b) Os aspectos referentes a1 energia serão referidos no sector próprio.

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1662-(1054) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Para terminar, a Câmara Corporativa deseja acentuar que da redacção final do Plano deve constar expressamente o que se realizou e o que se pretende executar em matéria de desenvolvimento e povoamento do Revuè, a cargo da Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Revuè, integrada na Junta Provincial de Povoamento, e em que se investiram já algumas centenas de milhares de contos.

177. Pesca. - Esta rubrica vem limitada ao enunciado dos objectivos, a saber:

a) Pesca da lagosta, camarão e outros crustáceos com artes adequadas;
b) Dotação da pesca de arrasto com barcos adequados;
c) Industrialização dos produtos da pesca por congelação, conserva, enlatamento e farinação;
d) Fomento da distribuição do produto por todas as regiões da província.

A Câmara Corporativa classifica como indispensável rever a apresentação do projecto do Plano na parte respeitante a este sector, que não deve ficar reduzido a meia dúzia de linhas, apesar da sua importância. E tanto mais que se tem conhecimento da existência e instalação de empresas do ramo, que certamente têm investimentos a fazer.
Recomenda, portanto, o devido tratamento do assunto e a sua quantificação em investimentos previsíveis, se tal for possível.

178. Indústrias extractivas e transformadoras. - Mais um sector cujo texto necessita de ser completamente refundido. Assim, haverá que refazer o seu primeiro número, por forma a cobrir de facto a «evolução recente, situação actual e perspectivas», destacando para outros números os «objectivos» e a «descrição dos investimentos». E tem de se dar o merecido relevo ao que se refere a indústrias transformadoras, para as quais se prevê um investimento de 5 200 000 contos.
Apresenta-se seguidamente uma tentativa dê organização de um mapa de investimentos:

a) Indústria extractiva:

Aproveitamento dos meios de obtenção de água doce:

[Ver tabela na imagem]

(a) Estes números foram tirados do mapa X, mas não conferem com os que se deduzem do texto do projecto.

Há já uma tradição na província - e bastantes fundos investidos - quanto ao aproveitamento dos meios de produção de água doce. Portanto, apenas há que dar acordo ao prosseguimento dessa política.
A deficiência das explorações mineiras em Moçambique - em contraste com Angola - constitui um dos pontos fracos da sua economia, que é urgente tentar ultrapassar.
Há que atacar de frente o problema dos jazigos de Tete - ferro, ferro titanífero, cobre, níquel, crómio, carvão, etc. - e do Barué - fluorites.
Note-se que numa província em que estão em curso intensas pesquisas petrolíferas e em que se localizaram já importantes jazigos de gás natural não há uma palavra no projecto sobre o assunto, a não ser vagas referências no sector da energia. Não estarão em curso, nem se prevê a continuação de investimentos, ao menos em pesquisas? Mais uma lacuna a eliminar na redacção definitiva do Plano.
Quanto às indústrias transformadoras, o projecto em exame não permite formar juízo. E, contudo, o produto bruto correspondente já ultrapassou em 1965 os 3 milhões de contos!

179. Melhoramentos rurais. - Moçambique foi a única província que se preocupou com esta rubrica, aliás de tão decisiva importância sob diversos aspectos, como já se salientou. E de louvar tal orientação.
Convém, contudo, rever cuidadosamente o texto respectivo, para que contenha os elementos básicos de informação.
É muito importante e necessário o apoio que neste sector possa ser dado às autarquias locais.
A distribuição será a seguinte, na qual se adicionaram já os 56 000 contos que, segundo elementos fornecidos pela província, poderão ser abtidos por comparticipação dos governos dos distritos e autarquias locais, como é, aliás, velha tradição na província:

[Ver tabela na imagem]

Note-se que se retiraram, por deverem ser inscritos no sector de habitação e urbanização, as dotações indicadas para urbanização, esgotos e saneamento. Por outro lado, transferiram-se para este sector 10 000 contos indevidamente inscritos no sector de turismo e que se dividiram entre abastecimentos de água (7000 contos) e electrificação (3000 contos).
Tudo convém ser verificado na redação final do Plano.

180. Energia. - Elaborando, mais uma vez, uma sistematização do que consta do projecto de Plano, a fim de facilitar a sua apreciação, encontra-se:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

Estudos: Contos

Inventariação de recursos hidráulicos .............. 34 000
Malema ............................................. 10 000
Messalo ............................................ 3 400
Lurio .............................................. 7 000

Página 1055

7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1055)

[Ver tabela na imagem]

Em primeiro lugar, haverá que recomendar que seja refundido o texto, dentro da orientação já expressa a propósito dos sectores anteriores.
Depois, há que considerar o factor central da política de energia em Moçambique: a realização do aproveitamento de Cabora-Bassa, no Zambeze, interessando além de Moçambique vários países vizinhos. Na fase final, a potência instalada em duas centrais seria 3000 MW, subdividida em grupos gigantes de 400 MW cada um. A produção atingiria 18 000 milhões de kilowatts-hora, a preços reputados como dos mais baixos do mundo.
De resto, o Zambeze e seus afluentes permitem perspectivas verdadeiramente fora de série. Só o Zambeze, em quatro escalões (Mepanda-Uncua, Boroma, Lupata e obras até à foz), pode fornecer 50 000 milhões de kilowatts-hora - mais de dez vezes a produção da metrópole e cinco sextos da produção total africana estimada em 1966.
Os investimentos a fazer até fins de 1973, incluindo a barragem, central sul e linha de transporte de 1400 km em corrente contínua para a África do Sul, andariam pelos 6 milhões de contos, sendo aproximadamente 3 200 000 imputados à produção e 2 800 000 ao transporte. O financiamento considera-se assegurado e foram feitos os estudos económicos necessários.
Tomada a decisão de avançar com o projecto, o empreendimento do Alto Molocué poderá ser dispensado, desde que o Malawi receba energia para a transformação industrial das suas bauxites. Nesse caso, terá viabilidade económica o prolongamento da linha por forma a servir a região interessada.
Igual opção se põe quanto ao abastecimento da região de Lourenço Marques. A fazer-se a linha de transporte para a África do Sul, mais tarde ou mais cedo será económicamente viável a derivação para aquela cidade, e entretanto é possível obter corrente em retorno do país vizinho e aí entregue com origem no Zambeze.
Assim, o aproveitamento do Alto Molocué, aliás ainda não estudado com o necessário pormenor, deverá ficar sujeito à decisão final sobre realização de Cabora-Bassa. E o mesmo poderá dizer-se quanto à central de Massingir, que importaria em 160 000 contos, para uma produção de energia pequena e cara.

181. Mais uma vez se omitiram no projecto os investimentos a cargo de empresas privadas. Assim, há necessidade de inscrever, pelo menos, os seguintes:

a) Em «Estudos», 21 000 contos a despender pela Sociedade Hidroeléctrica do Revuè e 6000 contos pela Sonefe;
b) Na «Produção», 120 000 contos, a despender pela S. H. E. E. (sendo 30 000 era obras complementares da central da Chicamba e 90 000 no alteamento da respectiva barragem) e 130 000 contos, a despender pela Sonefe, na ampliação da central térmica de Lourenço Marques com um grupo de 15 MW;
c) No «Transporte e distribuição», 45 000 contos a despender pela S. H. E. E. e 90 000 contos a despender pela Sonefe (20 000 na ampliação da rede de grande distribuição de Lourenço Marques, para Vila Luísa, Manhiça e Xinavane, para Maotas-Moamba e para Namaacha, e 70 000 no novo meio de abastecimento de Lourenço Marques, que será provavelmente a linha de interligação com a África do Sul para recepção da energia de Cabora-Bassa).

Note-se ainda:

a) Inscreve-se uma verba para estudos de aproveitamento de fins múltiplos do rio Messalo (3400 contos) e outra para início da execução (30 000 contos), mas não consta, pelo menos expressamente, a comparticipação do sector agro-pecuário; propõe-se que a segunda verba passe a ser inscrita apenas por memória;
b) O mesmo pode dizer-se quanto aos estudos referentes ao rio Malema (10 000 contos).
c) Quanto à inventariação de recursos hidráulicos, ela não diz apenas respeito ao sector de energia e deve, na parte correspondente, ser suportada também pelo sector agro-pecuário.

Para não alongar mais esta apreciação, propõe-se o seguinte esquema de distribuição de verbas:

a) Estudos, produção, transporte e distribuição:

[Ver tabela na imagem]

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1662-(1056) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

[Ver tabela na imagem]

(a) Pode ser prejudicado pela realização de Cabora-Bassa.
(b) Dependente da evolução do problema da energia na região de Lourenço Marques. Importaria em 160 000 contos.
(c) Admite-se que pode ser uma linha de interligação com a rede da República da África do Sul por forma a receber energia de Cabora-Bassa.
(d) O montante a inscrever dependerá da evolução das decisões quanto a Cabora-Bassa.

A diferença em relação ao projecto resulta, portanto:

[Ver tabela na imagem]

182. Circuitos de distribuição. - Nota-se também a necessidade de refundir o capítulo, dentro do esquema geral estabelecido, fazendo-se também a transferência para outros sectores dos objectivos e dotações que se encontram deslocados.
Parece que o investimento pode ser assim resumido:

a) Comercialização e armazenagem:

Contos
1. Construção de catorze postos de recepção para
comercialização de produtos agrícolas ............ 13 817
Armazenagem de apoio à produção agrícola.......... 88 500
Organismo de comercialização dos produtos
agrícolas ainda não disciplinados ................ 1 000
103 317

Não se oferecem comentários, mas têm-se dúvidas sobre se o n.º 3 não deveria ser encarado fora do Plano de Fomento, como despesa ordinária.

183. Transportes e comunicações. - Há que fazer a habitual refundição da exposição e a transferência de assuntos e dotações deslocados. O sector é importantíssimo para a economia da província, sendo programados 5 428 607 contos (30,4 por cento do total), dos quais cabem a caminhos de ferro e portos 3 414 600 contos, traduzindo os serviços crescentes prestados aos territórios vizinhos.
Ensaia-se a seguir uma distribuição de verbas:

[Ver tabela na imagem]

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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1662-(1057)

Começar-se-á pelos problemas de estradas. Segundo comunicação da província, a posição em 31 de Dezembro de 1966 era a seguinte:

Quilómetros
Rede de estradas classificadas ........ 26 595
Estradas pavimentadas ................. 1 471
listradas de terra .................... 25 124

A percentagem de estradas com pavimento definitivo era de 5,5 por cento da rede classificada, isto é, ainda menos que em Angola (7,3 por cento). E, contudo, o novo investimento previsto dará apenas para despender cerca de 226 000 contos por ano (contra 300 000 contos em Angola), se não houver que contar com a transição de pesados encargos contraídos nos planos anteriores, o que, efectivamente, reduzirá as verbas disponíveis. É muito pouco, se se pretende, de facto, imprimir à economia da província o necessário impulso e, simultaneamente, satisfazer as necessidades de mobilidade de forças e abastecimentos paxá efeitos de defesa.
De resto, é o próprio projecto do Plano que assim expressamente o reconhece, atribuindo alta prioridade e considerando desejável que o investimento rodoviário previsto no sexénio suba de 1 356 537 contos para 2 229 000 contos, para o que julga viável obter recursos financeiros provenientes do aumento de rendimentos da província. A Câmara Corporativa subscreve inteiramente esta orientação.
Deve notar-se que Moçambique teve, no conjunto do ultramar, uma acção pioneira de relevo em matéria rodoviária. Foi ali que se introduziram novas técnicas, apoiadas laboratorialmente e permitindo alta mecanização da construção, delas resultando simultaneamente melhor qualidade dos trabalhos, mais baixo custo e maior rapidez de execução. Mediante louvável cooperação e coordenação entre técnicos de estradas e de laboratório e firmas empreiteiras nacionais convenientemente equipadas, conseguiram-se, no período de 1957 a fins de 1961, resultados espectaculares. Mudanças de orientação e quebra de ritmo alteraram desfavoravelmente a situação, ao mesmo tempo que em Angola ocorria o inverso. Só nos últimos tempos foi possível retomar, mas ainda sem a cadência necessária, trabalhos em escala apreciável.
Contudo, a política oportunamente definida mantém completa actualidade. Pode resumir-se nos seguintes pontos:

1.º Definição, como objectivo a atingir, da construção prioritária da malha fundamental rodoviária da província, sobre a qual se virão a apoiar as redes secundária e terciária.
2.º Simultânea execução da parte da rede secundária, que, pelo seu alto interesse económico ou militar, se considere dotada de grande prioridade.
3.º Coordenação do projecto e execução das obras, tendo em vista a eliminação de soluções deficientes e pouco duradouras (portanto, caras), fazendo terraplenagens, obras de arte correntes e obras de arte especiais já com características definitivas, e concebendo os pavimentos como susceptíveis de construção por fases, de acordo com a evolução do tráfego.
4.º De acordo com a orientação anterior, nenhuma estrada deixará de ser imediatamente pavimentada, utilizando apenas solos estabilizados, se o tráfego for baixo, ou bases estabilizadas com protecção betuminosa, se as circunstâncias o aconselharem. Os tapetes betuminosos evolucionarão para soluções mais elaboradas à medida que o crescimento do tráfego o justifique.
5.º Montagem racional da conservação das estradas a par e passo com a sua construção, com forte apoio de meios mecanizados e concessão das verbas necessárias para a sua eficiente realização, de modo que cada lanço de estrada construída seja acompanhado desde o início da sua vida útil para evitar degradação ou ruína.
6.º Beneficiação, utilizando, os meios da conservação dos troços de estradas cuja construção não esteja prevista para breve, de forma a eliminar os pontos de estrangulamento de tráfego existentes.

184. Houve falta de continuidade das orientações acima traçadas, o que redundou num sensível atraso da realização dos programas rodoviários previstos (podia-se, por esta altura, ter praticamente concluída a rede fundamental de cerca de 18 000 km). Também houve deterioração ou ruína de centenas de quilómetros construídos que não foram objecto de pavimentação em tempo útil e de conservação eficiente e adequada, o que se lamenta tenha acontecido.
Seguindo o que se fizera em Angola em 1962, a Administração resolveu, no fim do ano transacto, instituir em Moçambique a Junta Autónoma de Estradas. Só há que aplaudir a medida, em que muitas esperanças se puseram, e deixar expressa uma inquietação. Os organismos, por melhor intencionados que sejam, para pouco ou nada servem se não forem dotados dos meios necessários para bem cumprir a sua missão. De outra forma, é preferível não os criar. Avisadamente, a lei estabeleceu com clareza as fontes de receita a atribuir à Junta, aliás na sua maior parte provenientes dos utentes das estradas, por meio de taxas sobre os combustíveis. Sem ignorar os aspectos peculiares da conjuntura económico-financeira de Moçambique e com plena compreensão das dificuldades existentes, a Câmara não pode deixar de recomendar a urgente transferência dessas receitas para a Junta. Talvez que a recente publicação da reforma tributária forneça a oportunidade necessária para resolver a situação.

185. O projecto do Plano vem acompanhado de uma descrição e justificação suficientemente pormenorizada das obras propostas para permitir ajuizar do seu interesse. Todas elas merecem aprovação e há apenas uma prevenção a fazer. Não deve ceder-se à tentação fácil do remedeio provisório ou de fazer muitos quilómetros. E indispensável fazer obra que dure, com pavimentação apropriada e conservação devidamente montada. É o critério decorrente do projecto do Plano apresentado por Angola e neste ponto não pode haver qualquer transigência por parte da Administração. Por isso se recomenda a revisão dos programas à luz desta orientação, sem perder de vista as circunstâncias peculiares existentes nas zonas em que se defende a integridade nacional.
Além de 380 500 contos de pontes a construir em vários pontos da província, incluindo 19 000 contos de compromissos transitados do Plano Intercalar de Fomento, o projecto do Plano contempla obras nas seguintes estradas:

a) Obras a concluir (139 000 contos):

Quilómetros
EN 1 - Lanços Maxixe-rio Save e rio
Save-Inchope ........................ 604
EN 222 - Malema-Fingoé .............. - 604

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1662-(1058) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

Quilómetros
b) Obras a iniciar:
Distritos do Niassa:

EN 242 - Vila Cabral - Litundo................................ 36
Marrupa rio Lugenda Litundo ........................ 200
Limite do distrito - Marrupa........................ 82
EN 249 - Vila Cabral - Nova Guarda........................... 40
Vila Cabral - Maniamba............................. 84
EN 537 - EN 249 - Unango..................................... 35
EN 255 - Mecanhelas - Mulembo................................ 60
EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito (a).. 537


Distrito de Cabo Delgado:

EN 243 - Sunate - Macomia Diaca.................................220
EN 106 - Metorro -rio Lúrio..................................... 75
Metorro - Porto Amélia................................. 100
EN 242 - Metorro - Montepuez.................................... 125
Limite do distrito - Montepuez........................ 130
EIR - Estrada ligando Macomia a Mataca e Quissanga............ 630

Distrito de Moçambique:

EN 8 _ variante de Nampula.................................... 8
Nacala - Monapo ....................................... 62
EN 106 - Namapa - Nacaroa.................................... 90
Namialo - Nacaroa ................................... 64
EN 231 - Mutuáli - limite do distrito......................... 20
EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito..... 244

Distrito de Zambeze
EN 7 - Namacurra - Chitungo..................................... 79
EN 104 - Chitungo -Mocuba....................................... 29
Muggeba - Nampevo....................................... 30
EN 231 - Nampevo - Moliquela - Vila Junqueiro...................142
Lioma - Vila Junqueiro................................. 50
Lioma - Limite do Distrito............................. 55
ER 474 - Molambo - lioma........................................ 65
EN 225 - Vila Fontes - Campo.................................... 50
Campo - Nicuadala...................................... 60
EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito.......... 560

Distrito de Tete:

EN 103 - Tete - Moatize......................................... 24
Chagara - Tete........................................ 100
EN 321 _ Fingoé - Zumbo ........................................ 220
Matame - cruzamento de Cabora - Bassa.................. 130
EN 222- Tete - Matema........................................... 34
EN 223 EN 103 Vila Coutinho.................................. 118
EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito....... 616

Distrito de Manica e Sofala:

EN 6 - Acesso aos viadutos da baixa do Pungúe.................... 6
EN 102 _ EN 6 - Vila Gouveia .....................................110
Vila Gouveia - Changara....................................150
EN 215 _ Inchope - Vila Paiva de Andrade........................... 81
Vila Paiva de Andrade - Vila Fontes........................ 200
EN 216 _ Vila Pery - Sussundenga.................................... 60
EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito............. 607

Distrito de Inhambane:

EIR - Diversas estradas ligando povoações do distrito

Distrito de Gaza:

EN 205 - Macia - Folgares...................................... 43
EIR - Diversas estradas ligando povoações de distrito......... 43

Distrito de Lourenço Marques:

EN 4 - Muamba - Ressano Garcia ............................. 38
EN 251 - Lourenço Marques-Moamba................................ 46
EIB - Estrada da Bela Vista à Ponta
do Ouro ..................................................... 84
3 925

(a) Estradas de interesse regional a serem objecto de trabalhos rudimentares que permitam passagem todo o ano.
Temos, portanto ( incluindo as estradas em via de conclusão), uma média de 654 km por ano, média inferir á programa para Angola . Mas este programa terá de ser reduzido visto corresponder a uma estimativa de 1 641 500 contos, bastante superior á inscrita 8 1 356 357 contos para estradas e pontes). Mais uma razão para a insistência apresentada quanto a forte necessidade de reforço desta verba.

186. Os 59 00 contos inscritos para a camionagem dos caminhos de ferro destinam-se á renovação da frota (40 000 contos para a substituição de 60 camiões de carga e 40 autocarros de passageiros), equipamentos das oficinas das cinco secções de camionagem automóvel ( 9 000 contos) e construções de casas para pessoal (10 000 contos).
O serviço de camionagem dos caminhos de ferro de Moçambique e desempenha verdadeiros funções de penetração a partir das suas linhas férreas e de abertura dos distritos mais atrasados. E essa função que não deve ser esquecida.

187. Os serviços de Porto, Caminhos de ferro e transporte de Moçambique constituem uma das maiores se não a maior, empresa pública portuguesa, tendo em 1965 realizado receitas superiores a 1 800 000 contos. Além dos caminhos de ferro , administra os principais portos, os transportes aéreos e extensas linhas de camionagem. Recorda- se que o caminho de f erro da Beira propriedade do Ministério das finanças é também administrado por estes serviços. Apenas fora do sistema por agora há uma empresas ferroviária - Trans - Zambesian Railway Co. ( TZR), que, depois das negociações realizadas com o Malawi no corrente ano, é 93 por cento Portuguesa.

O quadro XXXVIII dá , em comparação com 1965, os dados de 1966, quando a movimento de passageiros e carga noas caminhos de ferro de Moçambique.

EIB - Diversas estradas ligando povoa. O serviço de camionagem dos caminhos de ferro de coes do distrito Moçambique desempenhou e desempenha verdadeira funçao de penetração a partir das suas linhas férreas e de Distrito de Tete:
abertura dos distritos mais atrasados. É essa função que não deve ser esquecida.

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QUADRO XXXVIII

Movimento dos caminhos de ferro

[Ver tabela na imagem]

Os investimentos assinalados, que totalizam 1 823 600, apresentam três lacunas importantes que devem ser preenchidas:

a) Construção do ramal de Marromeu para transporte de açúcar, via TZR-porto da Beira;
b) Renovação, melhoria e reequipamento do TZE;
c) Construção da linha Nova Freixo-fronteira do Malawi, segundo os acordos assinados com aquele país.

O montante destes investimentos é conhecido e deve ser incluído na programação.
As restantes dotações dizem respeito a importantes melhoramentos nas respectivas vias e sobretudo, à aquisição de material circulante e de tracção, em quantidades importantes, proporcionadas à prevista evolução do trá-

188. O quadro XXXIX resume, incluindo já os dados de 1966, os elementos de tráfego referentes aos principais portos da província.

QUADRO XXXIX

Movimento dos principais portos

[Ver tabela na imagem]

O porto de Lourenço Marques, que no ano transacto ultrapassou os 9 milhões de carga manuseada, está a caminho de se transformar num dos principais portos do Mundo, já que é um dos primeiros de África. As previsões indicam que a meta dos 15 milhões de toneladas será atingida dentro de poucos anos.
O porto da Beira - como sucede com o respectivo caminho de ferro - acusou os efeitos do que se passa entre a Grã-Bretanha e a Rodésia.
O investimento programado de 1 591 000 contos está proporcionado às necessidades de desenvolvimento. Entre os aspectos principais que se encararam, salientam-se os referentes aos principais portos:

a) Lourenço Marques (702 700 contos):

Tem em conta o prolongamento e equipamento de 380 m + 360 m do cais Gorjão (-12 m), a consolidação do cais das carvoeiras e sua integração no cais de carga geral, a instalação da ensilagem e carregamento a granel de cereais, a instalação de armazenagem e manuseamento da vermiculite a granel, renovação e equipamento do cais de petroleiros da Matola, terraplanagens, armazéns, linhas férreas e gare marítima de passageiros, material circulante e locomotivas de manobras, equipamento diverso e instalações várias, um rebocador de 600/800 HP.

b) Porto da Beira (642850 contos):

Encara a construção e equipamento dos cais n.ºs 11 e 12 (360 m) e 13 e 14 (360 m), prolongamento do cais n.º 1, substituição do cais do Chiveve, aterros, armazéns, equipamento, vias férreas, locomotivas de manobras e modificação da instalação de carregamento de minérios, instalações várias, um rebocador de 600/800 HP, uma barcaça de balizagem, apetrechamento da doca seca e a construção e equipamento das oficinas navais.

c) Porto de Nacala (189 850 contos):

Visa a construção e equipamento de mais, 360 m de cais, aterros, equipamentos diversos, locomotivas de manobras, construção e equipamento de oficinas navais.

d) Porto de Quelimane (15 600 contos):

Apenas tem em conta a construção de um armazém, pavimentação, linhas de acesso, terraplenagens,

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material circulante, equipamento mecânico e uma embarcação para pilotos e polícia marítima. Não pode deixar-se aqui de sublinhar a urgência em assegurar conveniente acesso ao porto, resolvendo os problemas de assoreamento existentes.

c) Outros portos (15 000 contos):

Trata-se de obras diversas em pequenos portos.

f) Farolagem (6000 contos):

Bóias próprias, amarrações e material óptico.

(g) Dragagens (7000 contos):

Aquisição de uma dragueta de sucção estacionária.

h) Estudos em modelo reduzido (12 000 contos):

Continuação dos estudos em modelo reduzido em curso no Laboratório de Engenharia Civil referentes aos portos de Lourenço Marques e Beira; início, do estudo do porto de Quelimane.
O programa encontra-se devidamente apresentado e considera-se justificado e merecedor de aprovação.
No programa de investimentos referente a Lourenço Marques há um erro evidente a rectificar: não se somaram parte dos dispêndios com a ensilagem e carregamento a granel de cereais (105 000 contos), de vermiculite (32 000 contos) e de fosfatos (40 000 contos), com o fundamento de que se trata de financiamentos pelas entidades interessadas nessas realizações, com amortização por encontro de contas nas taxas a cobrar pela respectiva utilização. O critério está errado e deve ser rectificado, pois trata-se de um empréstimo em condições especiais. O programa de financiamento deve também ser modificado em consequência.

189. No subsector transportes aéreos e aeródromos (448 470 contos), os objectivos formulados são a utilização dos aeródromos em qualquer época do ano. independentemente das condições meteorológicas, a possibilidade de voo nocturno, a operação com tipos maiores de aviões e a melhoria de condições de segurança; quanto a material de voo, prevê-se a aquisição de aviões turbo-hélice e jactos puros e equipamento oficinal. Estão claramente pormenorizados os investimentos a fazer nos aeródromos a melhorar: Mocímboa da Praia, Porto Amélia, Vila Cabral, Vila Coutinho, Zumbo, Nampula, António Enes, Quelimane, Vila Pery, Beira, Vilanculos, João Belo, Bilene, Lourenço Marques e outros.
Mas a Câmara deseja ainda ponderar a conveniência de considerar, no decurso do sexénio, a construção da pista para jactos em Lourenço Marques e respectivo equipamento, muito reclamada pela população, pelas actividades económicas e pela companhia portuguesa de aviação de longo curso. Os argumentos são vários e persuasivos; salientam-se, contudo, os seguintes: a deficiência do serviço actualmente oferecido na linha de África, com o transbordo na Beira; as despesas inerentes ao sistema actual; a possibilidade, sempre presente, de dificuldades quanto ao controle regional de circulação aérea; a conveniência de equipar Lourenço Marques como aeroporto alternante de Joanesburgo e da Beira; as oportunidades perdidas em matéria de grande turismo internacional; e as contingências de defesa militar que devem ser encaradas sempre a longo prazo, e não dentro do clima de relativa segurança em que se vive.
Em face do exposto, a Câmara Corporativa lembra o interesse do empreendimento e sugere a sua dotação com 130 000 contos, transferidos da dotação não utilizada para a central de Massingir.
Esta verba poderá ser substancialmente reduzida se for possível reforçar e ampliar uma das pistas existentes, sem causar perturbações graves ao tráfego.

190. O programa de talecomunicaçõcs (150 000 contos) é modesto e imperativo. O menos que pode dizer-se desse programa - ampliação do serviço telefónico e criação do serviço telex - é que há muito deveria estar realizado.
Os serviços, fundamentais para a vida económica da província, necessitam de muitos outros investimentos que não- foram considerados. Recomenda, portanto, a Câmara Corporativa que lhes seja dada a devida prioridade se se concretizarem os aumentos dos recursos de financiamento admitidos no projecto do Plano.

191. Tendo em vista, as críticas apresentadas e as sugestões formuladas, o programa de investimentos do sector deve tomar a seguinte forma:

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

(a) A aumentar eventualmente para 2 229 000 contos, nos termos apresentados no projecto do Plano, desde que se concretizem os recursos de financiamento em vista.
(b) A quantificar na redacção final do Plano.
(c) Incluíram-se mais 177 000 contos correspondentes à participação de entidades interessadas em instalações especiais no porto de Lourenço Marques.
(d) Incluíram-se 130 000 contos para a pista de jactos e respectivo equipamento do aeroporto de Lourenço Marques, com contrapartida em parte da verba que deixa de ser programada, para a central da barragem de Massingir.

192. Habitação e urbanização. - A exposição do capítulo deve ser completamente remodelada, como só disse a respeito dos sectores anteriores.
Dada a importância do capítulo, não se compreende que não se lhe tenha dado maior desenvolvimento no texto do projecto e que não apareça verba inscrita no mapa final de investimentos.
No texto do projecto fala-se concretamente num empréstimo de 127 500 contos, a contrair no princípio de 1968 em instituições bancárias e a cobrir com o produto da venda de terrenos previamente urbanizados.
Parece que, pelo menos, esta verba deve figurar no mapa de investimentos.
Por outro lado, parece também haver toda a vantagem em tornar extensivo a Moçambique, com as adaptações convenientes, o diploma legal sobre o Fundo de Melhoramentos Locais, recentemente publicado, com aplicação a Angola.
Quanto a urbanização, há que transferir para esta rubrica as dotações de urbanização (6000 contos) e esgotos e saneamento (6000 contos), indevidamente classificados no sector melhoramentos rurais, como oportunamente se registou.
Finalmente, há que habilitar a Câmara Municipal de Lourenço Marques com os meios necessários à resolução de um dos problemas fundamentais da cidade: o da construção da respectiva rede de esgotos, cuja execução não deve mais ser protelada, sob pena das mais graves consequências. De resto, este empreendimento está intimamente ligado com os problemas de habitação.
O projecto consta de rede de drenagem pluvial, rede de drenagem doméstica, estações de tratamento e acessórios da rede e exutores. O seu custo está orçado em 200 000 contos. A Câmara Municipal propõe-se obter os financiamentos necessários, excepto uma comparticipação do Estado, que solicitou, no valor de 50 000 contos.
Entende-se que é de satisfazer a pretensão e inscrever verba nos seguintes termos:
Contos
Comparticipação do Estado ........ 50 000
Empréstimos obtidos pela Câmara
Municipal de Lourenço Marques ....150 000
200 000

A contrapartida para a comparticipação do Estado sairá da parte ainda não utilizada da central eléctrica de Massingir (30 000 contos) e de parte da verba não inscrita do aproveitamento do Messalo (20 000 contos).
Desta última, dotação sairão também 10 000 contos para os estudos em curso relativos à elaboração do plano regional do sul do Save, plano de ocupação do solo nos arredores de Lourenço Marques e, eventualmente, do plano regional da Beira.
Nota-se, ainda,, que o projecto de plano não faz referência aos seguintes empreendimentos:
a) Rede de esgotos da Beira, já em execução, mas que necessitará de investimento no decurso do sexénio;
b) Melhoria e ampliação do sistema de abastecimento de água a Lourenço Marques;
c) Extensão da rede de distribuição de electricidade, também em Lourenço Marques;
Os trabalhos referidos em b) e c) serão financiados pela respectiva Câmara Municipal, mas tal não constitui razão para que não sejam mencionados.
Em consequência, sugere-se a seguinte distribuição:

[Ver tabela na imagem]

(a) 50 000 contos de comparticipação do Estado e o restante por empréstimos a obter pela Camará Municipal de Lourenço Marques. Os 50 000 contos serão cobertos pela parte não utilizada da central eléctrica de Massingir (30 000 contos) e aproveitamento do Messalo (20 000 contos).
(b) Contrapartida na parte não utilizada da dotação destinada ao aproveitamento do Messalo.

193. Turismo. - A exposição necessita, como todas as outras, de adequada remodelação. As actividades turísticas constituem uma realidade na província, com forte reflexo na balança de pagamentos. Por isso mesmo se estranha que o programa sectorial se cifre apenas em 20 000 contos, dos quais 10 000 contos estão deslocados, por deverem, ser inscritos no sector melhoramentos rurais. Mas não é assim; mais uma vez se omitiu todo o contributo da actividade privada, em hotelaria, diversões, acampamentos, caça e pesca, etc. Por isso há absoluta necessidade de fazer uma avaliação realista do programa provável, já que por agora só se apuram os seguintes números, cujo montante é diminuto:

[Ver tabela na imagem]

A Câmara Corporativa sugere, tal como fez a propósito do programa de Angola, que seja ponderada a conveniência e utilidade da dotação inscrita para «Comparticipações no custo da construção e apetrechamento da escola hoteleira».

194. Educação e investigação. - Ainda uma vez mais se regista a necessidade da remodelação da exposição.

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A sistematização dos empreendimentos e investimentos dispersos conduz ao seguinte esquema:

[Ver tabela na imagem]

(a) A designação oficiai é diferente.

Quanto ao subsector educação, não se opõe objecção ao quantitativo, mas regista-se que do texto do Plano deve constar justificação quantitativa e qualitativa que falta quase totalmente.
Quanto à investigação ligada ao ensino, deve inscrever-se uma verba, pelo menos da mesma ordem da indicada em Angola, que permita uma actividade que será certamente útil se for bem orientada.
Quanto à investigação não ligada ao ensino, observa-se que se propõem cerca de 500 000 contos e que o próprio montante desta dotação exigiria, naturalmente, uma explanação pormenorizada da forma como virá a ser empregada. Isso não foi feito, ou foi feito insuficientemente, em vários aspectos importantes. E omitiram-se outros (exemplo: Laboratório de Ensaios de Materiais e Mecânica do Solo) que, pela sua projecção técnica e económica, mereceriam ser considerados.
Quanto a cartografia geral e especial, parece ser tempo de dotar convenientemente esta actividade, tão importante e de que, sob pretextos vários, não se completaram os programas formulados. Por isso se propõe que a respectiva dotação seja aumentada de 58 000 para 82 500 contos, valores constantes do projecto, para se terminarem as cartas contempladas no programa. Adiante se indicará a contrapartida.
Para cadastro mantém-se a verba proposta de 15 000 contos.
Para a carta geológica também se mantêm os investimentos propostos (82500 contos), aplaudindo-se a orientação de confiar a execução dos trabalhos a empresas especializadas, o que vem reforçar as considerações feitas a propósito do programa de Angola.
A dotação de hidrologia, desde que seja bem administrada, não merece qualquer objecção. É investimento largamente rentável a médio prazo.
Quanto à meteorologia, mais uma vez se verifica a falta de segurança entre actividades de rotina e de investigação. Propõe-se a redução da respectiva dotação de 32 000 para 18 700 contos, eliminando 13 300 contos considerados como propostos para actividade de rotina.
Sobre a investigação aplicada à agricultura e pecuária, esclarece-se que não é fornecida justificação aceitável para a verba de 70 000 contos requerida para investigação agronómica, talvez pela recente criação do órgão respectivo, cuja redução para 35 000 contos se propõe, sujeita a aprovação de programas válidos de investigação. Essa verba seria eventualmente aumentada se o desenvolvimento dos objectivos e meios o viesse a aconselhar.
O programa de investigação veterinária vem mais pormenorizado, mas dele há que eliminar 5800 contos dos ensaios de adaptação do búfalo da água (assunto que há anos se arrasta sem qualquer utilidade prática) e 450 contos para ensaios de adaptação do carneiro-caraculo, destinados a viagens de um técnico, pois a este respeito é aconselhável aguardar os resultados do que se está a fazer em Angola.
Considerando o investimento de 114 000 contos propostos para estudos de biologia piscatória e pesca experimental e comparando com os investimentos programados para o respectivo sector (zero), conclui-se imediatamente que qualquer coisa não está certa. Por outro lado, o respectivo programa vem formulado em termos talvez demasiadamente técnicos, o que dificulta a sua apreciação. Por isso e tendo sobretudo em atenção o atraso já verificado no lançamento das respectivas actividades de investigação, propõe-se a redução da dotação para um valor mais ajustado às possibilidades: 90 000 contos, e isso mesmo sujeito à aprovação superior do respectivo programa.

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Mantém-se a dotação proposta (45 000 contos) para estudos de base, embora não seja completamente clara a sua programação. Propõe-se a inclusão de uma verba de 35 000 contos (ligeiramente superior à inscrita em Angola) para o Laboratório de Ensaios de Materiais e Mecânica do Solo, cuja acção brilhantíssima tem sido valiosa na resolução dos problemas técnicos da província (nomeadamente, nos rodoviários), devendo o respectivo programa, no campo de equipamentos e planeamento de investigação, ser previamente aprovado. A contrapartida é amplamente realizada pelas economias sugeridas noutros sectores.
Sendo assim, a distribuição do sector ficará como segue:

[Ver tabela na imagem]

(a) Aumento de 5000 contos.
(b) Aumento de 27 500 contos.
(c) Diminuição de 13 800 contos.
(d) Diminuição de 35 000 contos; programa sujeito a aprovação.
(e) Diminuição de 5950 contos.
(f) Diminuição de 24000 contos; programa sujeito a aprovação.
(g) Inscrição nova; programa sujeito a aprovação.

Há, assim, uma redução global de 10 750 contos, que poderá ser utilizada para coberturas adicionais em outros sectores prioritários.

195. Saúde e assistência. - Este capítulo também se apresenta defeituoso quanto à exposição e redacção.
Começa por apresentar dois números com o mesmo título: objectivos. Pouco dizem, aliás, qualquer deles.
Não há uma palavra convincente da justificação dos emprendimentos do sector, que, aliás, montam a uma verba importante: 412 500 contos.
É imperioso fazer-se uma remodelação total.
O esquema da distribuição, cuja justificação não é fornecida, como se disse, pode sistematizar-se da seguinte forma:

[Ver tabela na imagem]

(a) Mal classificada no projecto.

O programa omitiu as actividades da Provedoria da Assistência Pública, que dispõe de valiosas receitas e, certamente, terá alguns investimentos a considerar.

196. Programa de investimentos revisto. -Das reflexões que constam dos números anteriores pode concluir-se que o projecto do Plano, na parte respeitante a Moçambique, necessita de uma revisão e remodelação adequadas.
Compreende-se, portanto, que o quadro XL não tenha mais que o significado de um contributo para essa revisão e remodelação.
E claro que, se não for considerado oportuno inscrever desde já o empreendimento do Cabora-Bassa, basta retirar 6 milhões de contos nas verbas assinaladas.

QUADRO XL

Moçambique

Programa de investimento revisto (provisório) incluindo Cabora-Bassa

Resumo por sectores

[Ver tabela na imagem]

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[Ver tabela na imagem]

(a) Inclui, no caso de ser conveniente a inscrição, 6 milhões de contos para o empreendimento de Cabora-Bassa.
(b) Investimento considerado prioritário para eventual aumento da dotação.
(c) Falta a quantificação de vários empreendimentos.
(d) Corrigido de erros de contabilização.
(e) Erro de classificação.

III

Conclusões

197. A Câmara Corporativa, tendo examinado o projecto do III Plano de Fomento na parte referente às províncias ultramarinas, formula as seguintes conclusões:

1.º O projecto do Plano representa um novo e importante passo na valorização e defesa do ultramar, apresentando sensíveis progressos em relação aos planos anteriores quanto aos aspectos metodológicos, à formulação de objectivos e ao valor global dos investimentos;
2.º O projecto do Plano merece aprovação, mas emite-se o voto de que venham a considerar-se na sua versão definitiva as sugestões apresentadas
ao longo do parecer que aqui se dão como reproduzidas.

Palácio de S. Bento, 27 de Setembro de 1967.

Álvaro Rodrigues da Silva Tavares.
Carlos Krus Abecasis.
Francisco José Vieira Machado.
Vasco Lopes Alves.
Aguinaldo de Carvalho Veiga.
António Ramos do Amaral.
Fernando Pinto de Almeida Henriques.
Humberto Albino das Neves.
José Rodrigues Pedronho.
Júlio Augusto Massa.
Manuel António Lourenço Pereira.
Manuel Pimentel Pereira dos Santos, relator.

IMPRENSA NACIONAL DE LISBOA

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