O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE FEVEREIRO DE 1988 1953

O Grupo Parlamentar do PCP não se limitou a denunciar a situação. Apesar de estar ciente de que o debelar do flagelo exigia uma outra política, virada para o desenvolvimento sócio-económico, o PCP apresentou já então, há cerca de um ano, um projecto de lei, um conjunto de propostas que considera importantes no ataque a uma chaga, que só uma incisão profunda poderá curar.
Renovámos nesta legislatura a iniciativa legislativa.
Porque a realidade brutal do trabalho precoce, através de todas as formas de vínculos laborais (o trabalho no domicílio, o trabalho à peça, o trabalho à tarefa, o trabalho fora de horas, o trabalho na linha da fábrica), essa realidade brutal, continuou a existir. Aliás, o Governo reconheceu a realidade.
E por isso se apressou a apresentar na Assembleia da República uma proposta de lei de autorização legislativa, de conteúdo meramente repressivo, não sendo, precisamente por ser apenas punitiva, a forma eficaz de combate ao flagelo.
A abolição da escravatura não se fez com medidas meramente proibitivas.

Vozes do PCP: - Exacto!

A Oradora: - A abolição do trabalho infantil não se consegue através da simples repressão. E não basta assumir-se como repressor para escamotear e alijar grandes responsabilidades na existência desta chaga social.

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - É claro que o Governo sabe que não engana ninguém.
E por isso mesmo, no preâmbulo da proposta de lei vai enumerando outras medidas necessárias ao debelar do flagelo.
Confrontado com o projecto de lei do PCP, que do fenómeno tem uma visão global, o Sr. Ministro do Emprego e da Segurança Social vem afirmar publicamente a sua intenção de combater o trabalho infantil até à sua total eliminação.
Ora, tudo o que hoje publicamente se reconhece como o desenvolvimento da realidade social aponta no sentido do agravamento daquelas condições, que são determinantes para o combate à exploração.
Não e verdade que uma constante do mundo laboral é a instabilidade no emprego, a precarização do vínculo laboral? Não é verdade que o próprio Ministro do Emprego e da Segurança Social quando afirma que a época da estabilidade acabou, faz gala desta constante, da instabilidade no trabalho, assumindo assim a qualidade de gestor do «Ministério do Desemprego»?
Não é verdade que, com o pacote laboral, pretende o Governo institucionalizar aquela instabilidade através da liberalização do despedimento, da precarização do vínculo laboral?
E não e verdade, Sr. Ministro, que, confrontado com estas questões, as suas palavras neste debate se assumem como demagógicas?
Não é verdade que estas são condições óptimas para o alargamento da pobreza, campo fértil para a exploração das crianças?

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - Não é verdade que o Governo, como afirmou aqui nesta Assembleia da República, pretende desenvolver uma política de contenção de salários, impor tectos salariais?
E não é verdade, Sr. Ministro, que os baixos salários que se pagam a uma criança (os exemplos são múltiplos e foram a seu tempo divulgados) contribuem para o barateamento da mão-de-obra, que é o que o Governo pretende?
E não é verdade que toda esta situação é contrária àquelas condições e às medidas necessárias para o debelar do flagelo do trabalho infantil?
Afirmou também o Sr. Ministro ter dado todo o apoio ao programa do Ministério da Educação de combate ao insucesso escolar e que há uma correlação nítida entre o insucesso escolar e o trabalho infantil. E esta correlação e verdadeira e desenvolve-se nos dois sentidos. Mas não e também verdade que o ensino é cada vez mais selectivo?
Aqui cumpre assinalar que o tom de voz do Governo no tratamento desta matéria sofreu uma profunda alteração.
No entanto, hoje, em breves palavras, o Sr. Ministro do Emprego e da Segurança Social deixou ainda escapar a referência à ganância dos pais. Na intervenção que estou a ler tinha duas páginas escritas sobre essa questão, mas resolvi tirá-las, porque pensei não tornar a ouvir nesta Assembleia da República essa questão.

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - Remeto o Sr. Ministro do Emprego e da Segurança Social para a leitura de algumas obras literárias referentes a outras épocas de exploração do trabalho infantil, como seja a obra Povo, de Afonso Ribeiro, onde uma mãe desesperada e com a morte verdadeiramente na alma, ao retirar o filho da escola, diz: «Quem não nascerá para dois não chega a dez.»

Vozes do PCP: - Muito bem!

A Oradora: - No anterior debate sobre o trabalho infantil, o anterior governo assacava culpas aos pais, demitindo-se ele, governo, de todas as suas responsabilidades.
Chegou-se ao ponto de atribuir o insucesso escolar e a venda de mão-de-obra infantil à ganância dos pais. Contra o que o PCP afirmava e que fez inserir no seu programa eleitoral.
Do mesmo constam, no capítulo do direito ao sucesso escolar com uma educação e ensino pela democracia e pelo progresso, o seguinte:

Adopção de medidas tendentes a garantir o pleno cumprimento da escolaridade obrigatória de nove anos, com reforço dos apoios sociais e materiais aos estudantes e famílias e alargamento da rede pública de estabelecimentos de ensino;
Aumento dos subsídios e outras prestações de apoio social escolar e do número de estudantes e famílias abrangidas;
Aprovação, como medida imediata, de um plano de emergência para o sucesso escolar que dê efectivo combate ao flagelo do insucesso e abandono precoce do ensino.

É evidente que o PCP tinha e tem razão, como o Governo acabou por reconhecer, aprovando o programa de promoção do sucesso educativo no ensino básico, donde constam princípios gerais que não excluem, de forma alguma, as propostas do projecto de lei em discussão, antes as reclamam.

Páginas Relacionadas
Página 1955:
27 DE FEVEREIRO DE 1988 1955 que gostaria de ver respondida, porque dá-me a impressão de qu
Pág.Página 1955
Página 1956:
1956 I SÉRIE - NUMERO 56 Não vejo nenhuma relação entre estas afirmações e as dores com que
Pág.Página 1956