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13 DE JULHO DE 1989 5131

justiça", é a revolução dos oprimidos, dos exploradores, dos sans culottes.
É essa componente, também intrínseca, da Revolução Francesa que, ainda hoje, faz o seu percurso de combate, de afirmação. Os ideais da igualdade, fraternidade e solidariedade, pelos vistos, ainda estão muito longe de constituir um património inquestionável.
No entanto, são, também e da mesma forma, legados da Revolução Francesa.
Por isso, hoje e aqui, não nós limitamos a evocar a Revolução Francesa e a proclamar o seu acquis. Vamos mais longe, vamos aos ideais ainda não consagrados da Revolução Francesa, aos ideais que - diga-se - animam a luta da humanidade.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr. Presidente, Si s. Deputados: Comemorar a Revolução Francesa é homenagear a própria liberdade e as liberdades.
O mundo de hoje, principalmente na Europa Ocidental, é inconcebível sem estarmos umbilicalmente ligados àquela Revolução e aos seus ideais.
Naturalmente que a Revolução Francesa não foi apenas uma revolução política. Como dizia um grande historiador, "nos dois lados da Mancha, no mesmo século, na mesma época, desenvolvem-se duas revoluções que se completam uma à outra. Em Inglaterra, desenvolve-se a Revolução Industrial a que falta a necessária componente política e, do lado de cá da Mancha, na região de Paris, desenvolve-se a grande revolução política a que falta a componente económica".
É a Revolução Industrial, com todo o seu cortejo de iniquidades, de misérias e, também, da grandeza que faz o capitalismo e o progresso das nações, que irá lembrar aos franceses a necessidade de solidariedade social e de igualdade entre os homens.
Mas também do lado de cá ficam os franceses a saber que, numa revolução política, sem a componente económica, sem liberdade de mercado, sem liberdade de iniciativa privada, nunca será instalada a liberdade das garantias e ter-se-á, sempre, a opressão.
Ao comemorarmos a Revolução Francesa, não podemos deixar de dizer que é a revolução da Europa e para a Europa.
A Revolução Francesa não foi a de todo o mundo. Foi em nome da Revolução Francesa que os franceses construíram um império e negaram as liberdades a todos aqueles povos que tiveram de conquistá-las contra a Revolução Francesa e apesar desta.
Foi pelo industrialismo económico que todo o mundo teve que construir o seu próprio industrialismo e que conquistar a liberdade económica àqueles próprios que a tinham instituído.
A Revolução Francesa e a Revolução Industrial, duas faces da mesma moeda, foram revoluções extremamente domésticas, extremamente europeias, de uma determinada civilização e de uma determinada cultura.
Mas ao levar os seus ideais a outros povos que, assim, reagiram contra a Revolução Francesa, ela própria passou a ser uma revolução cosmopolita, uma revolução das liberdades contra os que a tinham inventado.
Por isso mesmo, quando, hoje em dia, dizemos que há uma subversão democrática naqueles países que a negam, é novamente a Revolução Francesa que está a continuar a sua própria revolução.
Por isso, a Revolução Francesa não é uma revolução para ser comemorada, nem para ser "encaixilhada" ou venerada; é uma realidade para ser vivida, dia-a-dia, não é para fazer recriminações, não é em seu nome que devem fazer-se sectarismos partidários.
Pena foi que se tivesse estragado o grande momento de homenagem às liberdades, partidarizando-as e vilipendiando-as, atirando pedras uns aos outros, numa mera manifestação do sectarismo partidário que não aproveita a ninguém.
A grande lição da Revolução Francesa é a de que deve continuar sempre viva, tal como deve continuar sempre viva a busca do futuro que nós, portugueses, comemoramos através dos Descobrimentos, É exactamente o "descobrimento" da liberdade que devemos integrar no movimento geral dos Descobrimentos de que os portugueses foram capazes.
O que os portugueses levaram consigo foi, exactamente, uma ideia da Europa, uma ideia de civilização, uma ideia de universalismo, uma ideia de humanismo. Por isso mesmo, a Revolução Francesa é, também, uma parte dos nossos Descobrimentos, é, também, uma parte da nossa própria batalha para a conquista do futuro. Ë por isso que todos estes movimentos estão ligados entre si.
Ao comemorar a Revolução Francesa na Assembleia da República, o CDS não a transforma em "santo de altar": vivemo-la e teremos sempre presente que está connosco, pois, no dia em que não o estiver, nem sequer haverá tempo para lhe prestarmos homenagem.
À Revolução Francesa é nossa porque é a revolução das liberdades. É de todos porque permitiu lutar contra a própria França, lutar contra os próprios povos europeus e, em seu nome, permitiu a conquista das liberdades que, durante certos momentos e certos séculos, a própria revolução negou.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Hoje, em Paris, todo o mundo celebra o grande acontecimento histórico. Para nós, aqui, longe de França, é um acontecimento de todos os dias.
Celebremos, pois, a liberdade, homenageemos a liberdade como o ar que respiramos, como a água que bebemos porque, sem aquela, não há revolução, não há França e não há Portugal. Por isso mesmo, a democracia vive dela, sendo esta a homenagem que vamos prestar a todos aqueles que, às gerações que hoje somos, legaram estes ideais que devemos preservar e transmitir para o futuro, para que, no próximo centenário, a celebração seja ainda melhor do que neste.

Aplausos do PS e do deputado do PSD Pedro Campilho.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Barbosa da Costa.

O Sr. Barbosa da Costa (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É com plena propriedade que podemos dizer que a Revolução Francesa constituiu o autêntico nascimento da democracia.
Se há quem afirme que a democracia terá nascido na Grécia, a verdade é que a democracia, com o espírito de que se reveste no mundo moderno, nasceu

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