502 I SÉRIE - NÚMERO 21
inveja não assumida. É assim que, não raras vezes, descobrimos que um português é um dos empresários mais bem sucedidos do país X ou que um jovem recordista do país Y, por acaso, é português.
Parafraseando o poeta, «é preciso avisar toda a gente» que a realidade das comunidades portuguesas no estrangeiro é bem diferente do conceito reinante.
Nesta questão da informação, lemos de chamar a atenção para o grande défice de informação sobre Portugal que chega às comunidades e nota-se que muitos dos nossos compatriotas têm grandes dificuldades em acompanhar a evolução do nosso país.
Neste capítulo cumpre falar da pouca importância que tem sido dada à chamada comunicação social das comunidades portuguesas sediada em Portugal ou no estrangeiro. Esta imprensa escrita, falada e televisionada desempenha um papel fundamental por ser o canal privilegiado, às vezes, o único, que assegura a presença de Portugal e das coisas portuguesas. junto das comunidades. Neste contexto, 6 da mais elementar justiça prestar-lhes aqui a justa homenagem, sendo certo que poucas tem sido as ajudas que necessariamente mereciam, tendo em conta o serviço que prestam à Nação.
No entanto, também aqui lemos esperança que a ambicionada transmissão via satélite da televisão portuguesa seja uma realidade a curto/médio prazo, pois estamos convictos que será um instrumento decisivo na estratégia de afirmação da língua e cultura portuguesas no mundo e, nomeadamente, em terras de falantes lusíadas.
Sabemos que o Governo persegue este objectivo com determinação sem perder de vista os condicionalismos que rodeiam a sua concretização.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, a importância deste objectivo estratégico merece que desta tribuna enderecemos os nossos mais vivos protestos de contentamento, sabendo que representa a satisfação de um grande anseio de todos os portugueses que residem no estrangeiro.
Chamamos também aqui a atenção para todos os organismos a quem está confiada a divulgação da imagem do País no estrangeiro, pois o êxito da sua acção poderá ser muito maior se se empenharem no âmbito dessas acções os organismos representativos das comunidades portuguesas, as quais sei estarem desejosas de poderem ajudar a conseguir um desiderato. Como exemplo, podemos abordar a questão da divulgação de Portugal e dos seus produtos de modo a incentivar a alteração de capitais estrangeiros e, por outro lado, as exportações. Penso que tal esforço devia começar por fazer chegar tais mensagens a muitos portugueses que são empresários bem sucedidos e que encontramos em elevado número espalhados pelo mundo.
Sc os estrangeiros vem para Portugal, então mais facilmente esses portugueses viriam, colocando ao serviço da pátria todo o saber e capacidade que já revelaram em terra alheia. Tal como diz o nosso Primeiro-Ministro, o apelo aos emigrantes já não e que enviem remessas, mas que invistam no seu país.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, como não podia deixar de ser, temos de cuidar cada vez mais da divulgação do ensino do português e da nossa cultura. Estamos convictos que essa e a principal arma de que dispomos para continuar viva a presença de Portugal entre todos os portuguesas e seus descendentes, bem como se afigura de transcendente importância se atentarmos na realidade dos países de língua oficial portuguesa.
Aquilo a que podemos chamar a comunidade lusíada deverá ser uma realidade concreta a exemplo de outras já implantadas e cujos frutos positivos já conhecemos. Nesta tarefa, não se devem regatear esforços e meios, pois assume vital importância. Neste contexto, a recente criação do Instituto Camões vem preencher um espaço estratégico constituindo-se como um instrumento em cuja acção depositamos fundadas esperanças para que consiga desempenhar cabalmente as funções que lhe foram atribuídas.
E se falarmos na imagem do País no estrangeiro, não podemos deixar de apelar para um melhoramento da rede consular, quer em meios humanos, quer logísticos, pois os consulados são a «maioria» de Portugal no estrangeiro e muitas são as queixas que nos chegam, nalguns casos, em claro desabono de tal imagem, o que muito desagrada aos nossos compatriotas que são obrigados a conviver com tais situações. Sabemos que o Governo está atento e que tal constitui uma das suas prioridades no que respeita a problemas a resolver nesta área.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Por último, ao fazermos uma análise sobre o mundo em que vivemos, as constantes transformações que ira em consigo novas realidades, novos equilíbrios que se procuram, provocam a necessidade de reflectirmos sobre o nosso papel neste novo «mosaico» que se, por um lado, desanuviou tensões, por outro, trouxe interrogações que nem os mais arrojados ousam prognosticar a respectiva evolução.
É que a nossa nação está espalhada por esse mundo fora e, por isso, não podemos ficar indiferentes e bloqueados perante o evoluir dos acontecimentos. Temos de os acompanhar a lodo o tempo, tentar fazer a leitura correcta dos mesmos, já que a muitos deles não poderemos influenciar quanto ao seu desfecho. Lembramo-nos que alguns dos países que acolhem numerosas comunidades portuguesas atravessam crises políticas, sociais e económicas que nos preocupam e que esperamos sejam conjunturais e evoluam em sentido positivo.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Portugal, como identidade diversificada que é, pelas provas já dadas ao mundo em diversos domínios, honra-se do seu passado e da comunhão de raças e credos que conseguiu articular através dos tempos. Assim devemos continuar, para com essa prática defendermos melhor os interesses dos nossos compatriotas no estrangeiro. Refiro-me ao tratamento leal e compreensivo que devemos dar àqueles que procuram Portugal como país de acolhimento, aliás, situação que só nos honra, para podermos exigir igual tratamento para os nossos compatriotas.
Abro aqui um parêntesis para me referir em antecipação ao debate que se vai seguir, renovando o repto ao Partido Socialista sobre a pertinência das iniciativas que tomou ern matéria de concessão de direitos civis e até políticos a estrangeiros, que não nego, e esquecendo de fazer primeiro mea culpa sobre a negação que tem feito aos seus compatriotas emigrantes de terem todos os direitos políticos assegurados.
Mais uma vez parece que o Partido Socialista corre apressadamente quando quer capitalizar a lodo o custo o que lê nos jornais, que o Governo vai fazer isto ou aquilo. Os portugueses que residem no estrangeiro não vão gostar de saber que o Partido Socialista está mais preocupado com os estrangeiros do que com os seus compatriotas.
Esta situação assume especial importância quando assistimos ao ressurgimento de movimentos ideológicos que pensávamos do passado e que, aproveitando climas sócio-económicos propícios, vão-se infiltrando nas democracias ocidentais com o claro intuito de as perverter.
O nosso apelo a todas as forças democráticas para unirmos esforços na concertação de acções e medidas para barrar o caminho a tais ideologias racistas que obviamente todos rejeitamos.