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Quinta-feira, 23 de Setembro de 1993 I Série - Número 100
DIÁRIO da Assembleia da República
VI LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (1992-1993)
SESSÃO SOLENE DE BOAS-VINDAS A SUA MAJESTADE O REI DE MARROCOS, HASSAN
REUNIÃO DE 22 DE SETEMBRO DE 1993
Presidente: Exmo. Sr. António Moreira Barbosa de Melo
Secretários: Exmos. Srs. João Domingos Fernandes de Abreu Salgado.
Victor Manuel Caio Roque.
José Mário Lemos Damião.
José de Almeida Cesário.
SUMÁRIO
Ás 17 horas e 35 minutos deu entrada na Sala do Senado o cortejo em que se integravam Sua Majestade o Rei de Marrocos (Hassan II), o Sr Presidente da Assembleia da República (Borbota de Melo) e o Sr. Secretários da Mesa, Secretário-Geral da Assembleia da República, Chefe do Protocolo do Estado e membros da comitiva de Sua Majestade o Rei de Marrocos.
Encontravam-se presentes na Tribuna A outros membros da comitiva do visitante.
Constituída a Mesa, a Banda da Guarda Nacional Republicana executou os hinos nacionais dos dois países.
Seguiram-se os discursos do Sr Presidente da Assembleia da República e de Sua Majestade o Rei de Marrocos.
Eram 18 horas e 15 minutos quando a sessão, convocada nos termos da alínea d) do n.º 2 do artigo 50º do Regimento, foi encerrada
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O Sr. Presidente: - Srs. Deputados declaro aberta a sessão.
Eram 17 horas e 35 minutos.
Estavam presentes os seguintes Srs. Deputados.
Partido Social-Democrata (PSD)
Abílio Sousa e Silva.
Adérito Manuel Soares Campos.
Adriano da Silva Pinto.
Alberto Cerqueira de Oliveira.
Alberto Monteiro de Araújo.
Álvaro José Martins Viegas.
Álvaro Roque de Pinho Bissaia Barreto.
António Costa de Albuquerque de Sousa Lara.
António da Silva Bacelar.
António de Carvalho Martins
António do Carmo Branco Malveiro.
António Esteves Morgado.
António Germano Fernandes de Sá e Abreu.
António Joaquim Correia Vairinhos.
António José Barradas Leitão.
António Manuel Fernandes Alves.
António Moreira Barbosa de Melo.
António Paulo Martins Pereira Coelho.
Aristides Alves do Nascimento Teixeira.
Arlindo da Silva André Moreira.
Armando de Carvalho Guerreiro da Cunha.
Arménio dos Santos.
Belarmino Henriques Correia
Carlos Alberto Lopes Pereira.
Carlos de Almeida Figueiredo.
Carlos Filipe Pereira de Oliveira.
Carlos Lélis da Câmara Gonçalves.
Carlos Manuel de Oliveira da Silva.
Carlos Manuel Duarte de Oliveira.
Carlos Manuel Marta Gonçalves.
Cecília Pita Catarino.
Delmar Ramiro Palas.
Domingos Duarte Lima.
Eduardo Alfredo de Carvalho Pereira da Silva.
Ema Mana Pereira Leite Lóia Paulista.
Fernando Carlos Branco Marques de Andrade.
Fernando José Russo Roque Correia Afonso.
Fernando Monteiro do Amaral.
Fernando Santos Pereira.
Filipe Manuel da Silva Abreu.
Francisco Antunes da Silva.
Francisco João Bernardino da Silva.
Francisco José Fernandes Martins.
Guilherme Henrique Valente Rodrigues da Silva.
Hilário Torres Azevedo Marques.
Isilda Mana Renda Periquito Pires Martins.
Jaime Gomes Milhomens.
João Alberto Granja dos Santos Silva.
João Álvaro Poças Santos.
João Carlos Barreiras Duarte.
João do Lago de Vasconcelos Mota.
João Domingos Fernandes de Abreu Salgado.
João Eduardo Dias Madeira Gouveia.
João Granja Rodrigues da Fonseca.
João José da Silva Maçãs.
João José Pereira de Matos.
Joaquim Cardoso Martins.
Joaquim Eduardo Gomes.
Joaquim Maria Fernandes Marques.
Joaquim Vilela de Araújo.
Jorge Paulo de Seabra Roque da Cunha.
José Alberto Puig dos Santos Costa.
José Angelo Ferreira Correia.
José Bernardo Veloso Falcão Cunha.
José de Almeida Cesário.
José Fortunato Freitas Costa Leite.
José Guilherme Pereira Coelho dos Reis.
José Júlio Carvalho Ribeiro.
José Leite Machado.
José Macário Custódio Correia.
José Manuel Borregana Meireles.
José Manuel da Silva Costa.
José Mário de Lemos Damião.
José Pereira Lopes.
Luís António Martins.
Luís Carlos David Nobre.
Luís Manuel Costa Geraldes.
Manuel Acácio Martins Roque.
Manuel Albino Casimiro de Almeida.
Manuel Antero da Cunha Pinto.
Manuel Castro de Almeida.
Manuel Castro de Almeida.
Manuel da Silva Azevedo.
Manuel de Lima Amorim.
Manuel Filipe Correia de Jesus.
Manuel Joaquim Baptista Cardoso.
Manuel Maria Moreira.
Manuel Simões Rodrigues Marques.
Maria da Conceição Ulrich de Castro Pereira.
Maria de Lurdes Borges Póvoa Pombo Costa.
Maria José Paulo Caixeiro Barbosa Correia.
Maria Leonor Couceiro Pizarro Beleza de Mendonça Tavares.
Maria Luísa Lourenço Ferreira.
Maria Manuela Aguiar Dias Moreira.
Melchior Ribeiro Pereira Moreira.
Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas.
Nuno Francisco Fernandes Delerue Alvim de Matos.
Nuno Manuel Franco Ribeiro da Silva
Olinto Henrique da Cruz Ravara.
Pedro Domingos de Souza e Holstein Campilho.
Pedro Manuel Cruz Roseta.
Pedro Manuel Mamede Passos Coelho.
Rui Alberto Limpo Salvada.
Rui Carlos Alvarez Carp.
Rui Fernando da Silva Rio.
Rui Manuel Lobo Gomes da Silva.
Simão José Ricon Peres.
Telmo José Moreno.
Vasco Francisco Aguiar Miguel.
Virgílio de Oliveira Carneiro.
Partido Socialista (PS):
Alberto Arons Braga de Carvalho.
Alberto Bernardes Costa.
Alberto da Silva Cardoso.
Alberto de Sousa Martins.
Alberto Manuel Avelino.
Alberto Marques de Oliveira e Silva.
Ana Maria Dias Bettencourt.
António Alves Marques Júnior
António Carlos Ribeiro Campos
António Domingues de Azevedo.
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António Fernandes da Silva Braga.
António José Martins Seguro.
António Luís Santos da .Costa
Artur Rodrigues Pereira dos Penedos.
Carlos Cardoso Lage.
Carlos Manuel Luís.
Edite de Fátima dos Santos Maneiros Estrela.
Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues.
Eduardo Ribeiro Pereira.
Elisa Maria Ramos Damião.
Eurico José Palheiros de Carvalho Figueiredo.
Fernando Alberto Pereira Marques.
Gustavo Rodrigues Pimenta.
Helena de Melo Torres Marques.
João Eduardo Coelho Ferraz de Abreu.
João Rui Gaspar de Almeida.
Joaquim Américo Fialho Anastácio.
Joaquim Dias da Silva Pinto
Joel Eduardo Neves Hasse Ferreira.
Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho.
José Alberto Rebelo dos Reis Lamego.
José Barbosa Mota.
José Eduardo Reis.
José Ernesto Figueira dos Reis.
José Manuel Lello Ribeiro de Almeida.
José Manuel Oliveira Gameiro dos Santos.
José Manuel Santos de Magalhães.
José Paulo Martins Casaca.
José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Júlio da Piedade Nunes Henriques.
Júlio Francisco Miranda Calha.
Laurentino José Monteiro Castro Dias.
Leonor Coutinho Pereira dos Santos.
Luís Filipe Marques Amado.
Luís Manuel Capoulas Santos.
Maria Julieta Ferreira Baptista Sampaio.
Raúl d'Assunção Pimenta Rêgo.
Raúl Fernando Sousela da Costa Brito.
Rui António Ferreira da Cunha.
Rui do Nascimento Rabaça Vieira.
Vítor Manuel Caio Roque
Partido Comunista Português (PCP):
António Filipe Gaião Rodrigues.
António Manuel dos Santos Murteira.
Apolónia Maria Alberto Pereira Teixeira.
José Manuel Maia Nunes de Almeida.
Lino António Marques de Carvalho.
Luís Carlos Martins Peixoto.
Maria Odete dos Santos.
Miguel Urbano Tavares Rodrigues.
Centro Democrático Social
Partido Popular (CDS-PP):
Adriano José Alves Moreira.
José Girão Pereira.
Partido Ecologista Os Verdes (PEV):
Isabel Mana de Almeida e Castro.
Partido da Solidariedade Nacional (PSN):
Manuel Sérgio Vieira e Cunha
Deputado independente:
Mário António Baptista Tomé.
O Sr. Presidente: - Sua Majestade o Rei Hassan II de Marrocos, Srs. Embaixadores, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Na Sala do Senado, traçada na segunda metade do século XIX e decorada bem ao gosto deste período da nossa Monarquia Constitucional, e em reunião de Deputados especialmente convocados para a solenidade, a Assembleia da República recebe hoje, comias galas da sua praxe austera, Sua "Majestade, o Rei Hassan II de Marrocos.
Em nome da instituição parlamentar portuguesa, em meu nome pessoal e em nome dos Srs. Deputados, apresento a Sua Majestade as nossas saudações democráticas, agradeço a deferência da visita e exprimo o nosso desejo e voto de que goze de feliz estadia entre nós.
Perante Sua Majestade gostaria ainda de afirmar, na solenidade, desta circunstância, os nossos profundos sentimentos de amizade e de fraternidade para com o povo de Marrocos, manifestando à nobre e grande Nação marroquina e aos seus governantes os nossos votos de paz, de justiça e de prosperidade.
Nos últimos anos, as relações políticas, económicas e culturais entre Portugal e Marrocos vêm conhecendo um aprofundamento a todos os títulos significativo. No entanto - há que reconhecê-lo -, a cooperação entre os dois povos e Estados está longe do nível que todos desejaríamos que já tivesse sido atingido.
Em particular, é urgente impulsionar a cooperação parlamentar, depois que os dois Estados podem felizmente afirmar, através das suas instituições, a fé nas regras e valores da democracia e quando o processo democrático pluralista parece ter alcançado em ambos os vizinhos do mar do Algarve o desenvolvimento e a estabilização indispensáveis. Na cooperação, Portugal-Marrocos, o diálogo
Norte-Sul, de que tanto se fala e do qual tanto se espera ainda, poderá encontrar um dos seus eixos fundamentais e obter uma das suas mais lídimas e profícuas expressões.
Sinal e símbolo emblemático do incremento desejável da aproximação efectiva dos dois povos ficará a sen doravante, assim o creio, a visita com que Sua Majestade distingue hoje a Assembleia da República. Eis um voto que é, seguramente, partilhado por todos os Deputados e grupos parlamentares com assento nesta, Câmara.
Ninguém duvida que o aprofundamento da cooperação entre Portugal e Marrocos irá favorecer o aparecimento de novas e mais felizes oportunidades à realização dos interesses portugueses e marroquinos, actuais e futuros.
Mas a cooperação: internacional em referência tem ain-1 da o alcance mais largo, de prestar fidelidade ao legado cultural e civilizacional comum aos dois povos e de corresponder ao apelo de uma História que os fez conviver intensamente num mesmo espaço tem tonal (primeiro, na Península e, depois, no Magrebe), ora em paz relativa,, ora em guerra aberta, que se narra por, batalhas, recontros, invasões e cercos carregados de lances e- manhas guerreiras, mas onde também, de ambos os lados, sucessivas gerações, derramando com generosidade, galhardia e coragem o seu sangue, comprovaram a sua devoção aos ideais que orientavam os seus povos, governantes e líderes.
De facto, pode dizer-se que somos dois povos geminados pela História. Assim como a formação de Portugal se processou na lenta reconquista do território que os povos magrebinos (almorávidas, almóadas, etc.), em ondas sucessivas, vieram ocupar na Península Ibérica, assim também a unidade nacional, que é hoje Marrocos, se constituiu a partir da reacção religiosa dos xerifes sádidas àquela conquista dos "Algarves de Além-Mar em África" que, por
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nossa vez nos tentou faz perder no Século XVI. Dir-se-ia que Portugal nasceu como contraponto a uma marroquina tal como Marrocos se formou em contraponto a uma empresa lusitana.
Por isso o crescente desenvolvimento das nossas relações públicas, culturais e económicas além de ser conforme ao bom entendimento dos interesses vivos de ambos os povos corresponde a um destino e vocação que a História teceu e com que indissoluvelmente nos.......
A revista de Sua Magestade ocorre num momento particularmente feliz para árabes e judeus e em geral para todos povos do mundo.
Com efeito pouco mais de uma semana passada foi em 13 de Setembro - sobre a data da assinatura em Washington do acordo pelo qual por um lado Israel garante ao povo palestino o direito de organizar e reger autonomamente na Faixa de Gaza na Cisjordânia e por outro a Organização de Libertação da Palestina, finalmente aceite como legitima representante deste povo, reconhece a existência e a legitimidade do Estado de Israel. São estes bons sinais ou augúrios para a normalização das relações entre árabes e judeus e para o encerrar de um conflito que tantas vidas, angústias e sofrimentos custou a uns e a outros por décadas e décadas e no qual hibernou sempre uma ameaça à paz e à estabilidade de todo o mundo.
Na procura de uma solução pacifica e justa para que este conflito grave e sangrento, Sua Majestade o Rei Hassan II foi incansável e assumiu atitudes
Dignas do maior apreço.
Lembro a tal propósito por exemplo a sua iniciativa de convocar em 1982, a Cimeira Árabe de Fez donde saiu um plano generoso para aproximar as duas partes e fazer justiça ao povo palestino garantindo a paz nos territórios ocupados. Por isso não terá surpreendido a notícia veiculada pelos meios de comunicação social, segundo a qual no regresso de Washington o Chefe do Governo e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel fizeram escala em Rabat para se encontrarem com Sua Majestade o Rei Hassan II, tendo-lhe dirigido convite para visitar Israel. Nem tão pouco surpreenderá a mensagem de regozijo e encorajamento que sua Majestade nessa ocasião enviou ao povo de Israel lembrando que os árabes e os judeus «sempre se guiaram pelo livro revelado de Tora» e manifestando a esperança de que as relações entre uns e outros se encaminhem no futuro, para o melhor.
Neste momento alto e promissor para o Próximo Oriente para o Mundo Árabe e para a Europa é tempo de honrar em especial todos quantos não desesperaram no meio da complexidade da situação e souberam com paciência e invenção, fazer uma obra de paz entre os «filhos de Abraão» tão longamente desavindos. Por isso saúdo pessoalmente Sua Majestade o Rei Hassan II por esse acontecimento excepcional e histórico que foi a assinatura no corrente mês de Setembro do Acordo entre Israel e a OLP.
Talvez a construção da paz à escala do Mundo seja superior às forças humanas a violência sopra sempre donde quer extinta uma labareda logo outra se reacende como se a paz universal e perpetua contrariando o profeta Isaías, fosse um sonho impossível. Mas nem os cidadãos, nem os governantes, nem as organizações internacionais podem dar-se por vencidos na luta pela paz e pela concórdia dos povos. Que seria da civilização e do progresso espírito se nos rendêssemos à violência à guerra e à violação dos direitos do Homem em qualquer das partes do mundo?
Em todo o caso as quebras da paz tornam-se nos mais intoleráveis quando afectam os povos irmãos ou ocorrem em regiões a que nos achamos mais ligados pela História e pela cultura. Não se estranhará, por isso que nós portugueses sintamos com particular angustia a guerra fratricida que se abateu sobre o povo de Angola. Que nos emocionemos com a situação de violência imposta pela Indonésia ao povo de Timor-Leste e que nos preocupemos de modo especial com os sobressaltos que teimam ainda em toldar o horizonte da África Austral. Assim os povos e os Estados amigos hão-de compreender que lhes solicitemos insistentemente tudo quanto puderem fazer para que essas situações dolorosas rapidamente se resolvam em paz com justiça com respeito pela dignidade humana e pelo direito.
É tempo de terminar. Renovo os votos de feliz estadia a Sua Majestade o Rei Hassan II e agradeço mais uma vez, do fundo do coração, a visita com que hoje distingiu e honrou a Assembleia da República.
Aplausos gerais
Vai usar da palavra o Rei Hassan II.
Sua Majestade o Rei de Marrocos(Hassan II): - Louvado seja Deus, o Seu Profeta e os Seus Companheiros!
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados representantes do Estado português amigo e irmão.
Estamos aqui reunidos e sentimos que existe um laço extremamente forte que nos une para além de uma grande e profunda alegria por estarmos neste momento perante os representantes do nobre povo português. Aliás esta profunda alegria explica-se pelo facto de a nossa amizade Ter acontecido há muito tempo atrás graças à História , que os juntou num destino comum. Estamos portanto ligados por sentimentos de fraternidade pela nossa civilização, pelo amor e pela paz.
E se digo que estamos ligados por um destino e uma civilização comuns é porque, quer em Marrocos, existem monumentos marcas e balizas que ao perdurarem através dos tempos até hoje são testemunho desta civilização caracterizada por uma arte arquitectónica autentica. De facto, estes monumentos são testemunho de uma História multissecular que aponta para a fraternidade. Afirmo-o com uma fé profunda, porque os portugueses foram os únicos que nunca em qualquer continente fizeram discriminação racial.
E insisto em dizer que foram os únicos que nunca a fizeram.
Ora, esta é uma prova de que estamos ligados por profundos laços de amizade e fraternidade pois todos nós sempre lutamos pela dignidade do ser humano.
Estamos também ligados pelo destino comum da paz e pela paz. Portugal tem uma posição geográfica e uma situação no contexto internacional que sempre lhe permitiu designadamente durante a II Guerra Mundial manter a sua soberania por completo de tal forma que não tomou qualquer partido relativamente às partes em confronto, considerando que a política mais justa e mais sábia era a da cooperação entre os seres humanos, com base na coexistência pacífica.
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: A partir da criação das Nações Unidas não faz qualquer sentido em estados pequenos e grandes pois essa diferença deixou de existir.
Todos os estados têm direito a voto, portanto todos têm de arcar com as responsabilidades ao nível da definição do porvir, ou seja, do futuro da humanidade. Por isso, os nossos países, Marrocos e Portugal, apesar do que sofreram no século passado, podem trabalhar juntos com toda a seriedade em prol da sua causa, podendo ambos desempenhar um papel importante. Ora, isto constitui uma novidade na identificação do futuro da humanidade e uma garantia do
bem-estar desta Região.
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Portugal é, antes de mais, um país atlântico e mediterrânico, o que o levou a olhar para Oriente e para Ocidente, proporcionando, assim, um encontro de civilizações e de culturas, ou seja, uma miscigenação que deu origem a que nunca aceitasse inclinar-se perante o facto consumado ou sujeitar-se à tirania e à violência.
De igual modo, Deus colocou Marrocos numa situação geográfica semelhante à de Portugal, com uma mão para Ocidente e outra para Oriente, situado no Mediterrâneo, que inspirou a sua civilização, olhando ao mesmo tempo para o Oceano Atlântico, e enderançando, assim, as suas ambições e aspirações para um futuro novo.
Sr. Presidente, como V. Ex.ª já referiu, as nossas relações bilaterais não reflectem, na íntegra, tudo o que une os nossos povos, ligados por relações de longa data. Embora sejam relações de grande amizade, entendo que, a nível bilateral, há ainda muito a fazer. É, pois, necessário trabalharmos com muito entusiasmo e determinação para recuperarmos o tempo que perdemos e para que possamos fomentar a cooperação em todos os domínios que, em primeiro lugar, interessam aos nossos países e, em segundo lugar, à nossa Região.
Sr. Presidente, V. Ex.ª afirmou que a guerra é como um diabo, um demónio: apaga-se a labareda num local e ela aparece noutro. No entanto, neste mundo existem povos que não têm qualquer preocupação ou objectivo a não ser o de fomentar a paz, trabalhando nesse sentido com grande afinco. V. Ex.ª disse ainda que temos todo um futuro à nossa frente e apontou o exemplo do Médio Oriente. Estou completamente de acordo, até porque existem já sinais encorajadores que incitam ao optimismo e, pessoalmente, sou uma pessoa optimista por natureza. Entendo que todos os que se dedicam à política são como os que se dedicam a uma arte ou a um ofício e têm de ser, por natureza, optimistas, porque se não forem só lhes resta «fecharem a barraca» - passe a expressão-, deixando a chave em mãos alheias.
No entanto, apesar do nosso optimismo, não podemos deixar de ter em atenção o processo que está a decorrer em Washington. Trata-se de um processo que, em meu entender, está a dar os primeiros passos como se fosse um bebé que ainda precisa de muita ajuda e de quem o possa guiar. Esta situação verifica-se não só por parte dos árabes ou dos judeus, mas também de todos os países e de todas as comunidades e organizações regionais económicas. Cabe-nos, assim, facilitar o convívio e a coexistência entre os «filhos de Abraão», pelo que não podemos garantir esta convivência se não nos dermos as mãos, sem que exista qualquer diferença entre o Norte e o Sul, entre o Oriente e o Ocidente. Devemos reconhecer este tributo de sangue e criar as bases para a futura prosperidade e cooperação, pois só assim os árabes e os judeus poderão esquecer as tragédias que viveram, abrindo os braços a um futuro brilhante.
E em todo este contexto qual foi o nosso papel? Assumimos desde sempre um papel natural, até porque consideramos que a guerra não é solução para resolver os problemas. Bem pelo contrário, a verdadeira guerra, no bom sentido da palavra, ou seja, a verdadeira luta é a que proclamamos abertamente contra a ignorância, a fome, o atraso, o subdesenvolvimento e à pobreza, que, em meu entender, têm de ser combatidos. E porquê? Porque se acreditamos nos valores do regime democrático representativo, este combate é o único instrumento que permite aos países alcançarem os seus objectivos e as suas aspirações, pelo que temos de dar ao boletim de voto o devido valor. Cada um de nós, que tem este boletim de voto nas mãos, deve dar-lhe o apreço que merece. Qual a utilidade da votação se votarmos a favor da ignorância e da pobreza?
A democracia que, em relação à educação e à formação, aspira conseguir alcançar condições que permitam, designadamente, uma melhor preparação das classes pobres, reduzindo as diferenças entre os vários estratos sociais, vai perdurar. Mesmo nos países desenvolvidos da Europa verificamos que os problemas económicos e sociais estão a agravar-se. O desemprego e a falta de oportunidades de trabalho enegrecem o horizonte do futuro, tornando-o cada vez mais sombrio. Ora, as diferenças entre as várias camadas sociais não trazem nada de bom e, por isso, não podemos esquecer este perigo e devemos ter em atenção que estamos a navegar todos juntos, no mesmo barco, pelo que temos de estender as mãos uns aos outros, de continente a continente, de mar a mar, tal como já fizemos no passado.
Expresso o voto de que vivamos em paz para que os nossos filhos tenham um futuro melhor!
Espero que vós, representantes do povo português, tenham apreendido o sentido destas minhas muito breves palavras pois é algo que vos diz respeito e toca de perto, uma vez que sois vós que deveis ajudar o vosso povo, levando por diante a defesa da causa do vosso país.
Deus proteja este país honrado e este povo irmão e lhe dê felicidade!
Profiro estas palavras não por estar aqui entre vós, mas porque penso que tendes um país que é respeitado e amado. Portugal tem um papel importante a desempenhar neste canto do mundo. Talvez tenha revelado uma humildade maior do que a que devia, mas Deus é grande!
Deus proteja o vosso país, o vosso povo, e ajude cada um de vós a realizar a missão que lhe está destinada!
Muito obrigado por toda a consideração com que me rodearam. Sei que o Parlamento português está ainda em período de férias parlamentares e se VV. Ex.ªs estão aqui presentes, neste momento, prova a amizade que nutrem pelo meu país e pelo meu povo.
Viva Portugal!
Viva o povo português!
A paz esteja convosco, assim como a bondade e a Graça de Deus!
Bem hajam!
Aplausos gerais, de pé.
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 15 minutos.
A DIVISÃO DE REDACÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA.
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DIÁRIO da Assembleia da República
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