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18 DE MARÇO DE 1999 2221

crimes como o do assassinato do General Humberto Delgado, para não falar de outros praticados pela PIRE como foi o caso, no próprio dia 25 de Abril, ao disparar sobre manifestantes desarmados. Admitamos que se tratou, de facto, de generosidade e não de fraqueza ou de excesso de complacência. Mas grave seria que, depois de a Revolução ter sido de tal modo generosa, a democracia, que dela emanou, fosse imprudente e deixasse minar os seus fundamentos não se precavendo contra a acção - mesmo se insidiosa - conduzida pelos nostálgicos desse tempo, felizmente passado, que não se conformam, pelos seus continuadores ideológicos e por alguns idiotas úteis; acção essa de branqueamento, de relativização, de mistificação de um regime que foi autoritário e ditatorial.
Como nos lembrou o Sr. Presidente da República, impõe-se-nos um dever de memória, mas o mesmo se pode dizer falando da gratidão. E este dever de gratidão vai, em primeiro lugar, para os militares de Abril.
Milhares de homens e de mulheres, com as suas virtudes e os seus defeitos, as suas grandezas e as suas misérias, passaram pelas cadeias do salazarismo-marcelismo, sujeitando as suas famílias a duras provas, correndo riscos, prejudicando carreiras e projectos de vida, porque não se conformaram, não se calaram, não se submeteram. Muitos estão vivos, a maior parte anónima e longe dos palcos da política e da mundanidade; outros, um enorme exército de sombras, interpelam-nos pelas recordações que deixaram e pelo exemplo. Todos eles, estes homens e estas mulheres ajudaram, cada um a seu modo, a desbravar o caminho que nos levaria à democracia e ao reencontro de Portugal consigo mesmo. Todavia, coube aos militares progressistas e democratas, em 25 de Abril de 1974, de forma decisiva, culminar essa luta persistente de quase meio século, acabando com o fascismo e com a guerra.
Que me seja permitido, pois, mais uma vez e sempre, em meu nome pessoal e em nome do Grupo Parlamentar do PS, aqui reafirmar essa gratidão aos militares de Abril que foram, recentemente, alvo de uma das mais indignas e lamentáveis campanhas de denegrimento de que há memória na curta história da nossa democracia.

Aplausos do PS.

E dizer-lhes que estão no coração de todos os amantes da liberdade e que tudo o que se possa fazer será sempre pouco para lhes transmitir a dimensão exacta do reconhecimento não só daqueles que sentiram no corpo a violência do fascismo mas também dos demais portugueses que, graças a eles, viveram o «dia inicial inteiro e limpo» no dizer de Sophia - que há perto de 25 anos marcou o advento deste «País de Abril», em que se encheram «de trevo os campos das palavras» e se encheram «de gente as mãos de cada verso» como, com a presciência dos poetas, Manuel Alegre antevira anos antes na sua Praça da Canção.

Aplausos do PS, de pé, e do PCP.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Manuela Aguiar.

A Sr.ª Manuela Aguiar (PSD): - Sr. Presidente, Sr.ªs Srs. Deputados: Um olhar de relance sobre as migrações portuguesas ao longo de mais de um século mostra-nos a continuidade - do êxodo, a permanência das motivações predominantemente de ordem económica e também das

atitudes individuais de solidariedade familiar, comunitária, nacional. Os laços que teimosamente, sentidamente os expatriados mantiveram com o país ganham particular visibilidade nas estatísticas das remessas monetárias, sempre e ainda enormes, ou no impulso fundador de múltiplos núcleos de língua e cultura portuguesa, que estão avos por esse mundo fora, até em continentes remotos, onde não houve renovação das correntes migratórias. Sem que o Estado aí tenha o mais pequeno mérito, as comunidades do estrangeiro são hoje um universo cultural em expansão. Engana-se quem o julga em declínio, contra as evidências da história dos últimos 150 anos de diáspora e da sua situação actual. Falo com um saber de experiência feito.
Ao voltar à Austrália - Sidney, Merrickeville, Wollongong, Melbourne - 17 anos depois, pude verificar a surpreendente dimensão que, neste intervalo, adquiriram associações que antes funcionavam em pequenas salas arrendadas: uma é agora proprietária de um imenso complexo desportivo, todas as outras que visitei possuem excelentes instalações próprias. A actividade cultural e social é intensa - grupos musicais, folclóricos, desportivos, restaurantes, centros de dia de idosos, escolas e até um museu etnográfico.
A Argentina, num lapso de 12, 13 anos, oferece-nos um quadro não menos edificante: de Comodoro-Ribadávia, a mais austral das nossas comunidades, com o seu clube que festejou o 75.º aniversário em pleno ressurgimento, nas mãos de uma nova geração de lusodescendentes, a Villa Elisa, onde se materializou, numa década, o sonho de construir uma esplêndida «Casa Portuguesa», até à nossa associação de Gran-Buenos Ayres, que é um colosso em imparável crescimento.
A mesma sensação trazemos da Venezuela Barquisimeto, Valência, Maracay, Caracas. Verdadeiramente impressionante é o caso da reconstrução, em cerca de um ano apenas, de uma catedral em ruínas, que é agora a paróquia católica portuguesa de Caracas, dedicada à Virgem de Fátima e à padroeira daquele país, Nossa Senhora de Coromoto. Uma comunidade assim, de quanto tempo precisará para concluir os lares de idosos que as beneficências projectam na capital e em Valência?
Dos EUA e do Canadá, regressamos com idênticas razões para crer no futuro. Citarei só associações fora do roteiro das visitas costumeiras dos políticos: as de Filadélfia, West Palmbeach, Fort Lauderdale, Hartford, Leamington, Chatham, London, Kingston ou Hallifax. Hallifax, onde em breve se inaugurará uma nova sede associativa, magnífica, apesar de aí estarem em decadência as indústrias ligadas à pesca e de ser já pequeno o número de portugueses. Apoios..., só das autoridades canadianas... !
Pelo mesmo critério - o do maior isolamento e distância compensados pela força do movimento associativo -, referiremos a Casa de Portugal de Montevideo, o «Centro» de Pelotas ou de Rio Grande, as instituições luso-brasileiras de Belém, de Maringá, de Belo Horizonte, e, na República da África do Sul, as de Durban, Port Elizabeth, Capetown, Welkom, que, aliás, contrastam com alguns dos velhos clubes de Joanesburgo, a atravessar uma crise preocupante e prolongada. Porém, ali ao lado, em Pretória, em termos associativos, tudo vai bem: na ACP, na Casa do Porto, no Centro Social Madeirense.
Não há, assim, neste domínio, ruptura com as tradições: nem com as piores - o nosso relativo atraso económico, causa primeira da emigração - nem com as melhores a fidelidade dos emigrados aos nossos valores culturais, a

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