O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

0222 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002

 

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, foram apresentados três votos de pesar: um, pela morte do jornalista Fernando Pessa, subscrito pelo PSD, e dois, pela morte do Sr. Dr. Victor Sá Machado, que foi um ilustre membro desta Assembleia, subscritos pelo PSD e pelo CDS-PP, respectivamente.
Está em apreciação o voto n.º 7/IX (PSD) - De pesar pela morte do jornalista Fernando Pessa.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Elisa Domingues.

A Sr.ª Maria Elisa Domingues (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A palavra «repórter» foi utilizada pela primeira vez em 1829 por Stendhal. Só 40 anos depois o famoso dicionário francês Larousse a registaria na sua edição. O mais célebre repórter do mundo seria criado apenas um século depois, em 1929, pelo belga Hergé e ficaria conhecido como Tintim, o legendário herói da banda desenhada.
Entre nós, o mais famoso de todos os repórteres acaba de desaparecer - foi, como todos sabemos, Fernando Pessa.
O decano mundial do jornalismo foi reconhecido, felizmente, nos últimos anos da sua vida centenária, como o cidadão e o jornalista de excepção que era, o que compensou de algum modo as dificuldades materiais e a marginalização a que, durante quase 30 anos, foi reduzido pela ditadura salazarista por ter sido a voz portuguesa da BBC durante a Segunda Guerra Mundial, por ser, afinal, um democrata.
Fernando Pessa foi um repórter na melhor tradição anglo-saxónica, aquela que privilegia a reportagem.
Profundamente inteligente, de uma inesgotável curiosidade e rara intuição para nos compreender colectivamente nos símbolos das nossas tradições e nos sintomas dos nossos defeitos, foi um repórter na sua essência mais nobre: a de testemunhar os factos, a de relatar os ambientes. Ser, no fundo, os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca dos seus concidadãos. Nesse exercício, ele antecipou aquilo a que hoje chamamos «um jornalismo de proximidade», interessando-se por aqueles que são os reais problemas das pessoas normais, mas sem nunca recorrer a sensacionalismos e à demagogia, que abominava.
Não tinha gosto particular pela política. Poderiam ser suas as palavras de um dos mais célebres jornalistas franceses, Albert Londres: «Um repórter não conhece senão uma linha - a linha do caminho-de-ferro».
Mas, na incessante busca pela compreensão do que o rodeava, incomodava quando, não se contentando com as aparências, questionava sobre aquilo que elas ocultavam. «O verdadeiro inimigo do totalitarismo é o homem que faz perguntas» - afirmou Milan Kundera.
A informação, tal como a praticou Fernando Pessa, tem um papel de cimento social da democracia. Tornando-se centenário em plena actividade, quase até ao fim da sua vida, contrariou todas as estatísticas internacionais, segundo as quais o jornalismo é uma profissão de risco onde a esperança de vida é inferior à da maior parte das profissões liberais, e desmentiu a ideia de que a reportagem é um trabalho para os jovens. Foi, aliás, o herói de muitos jovens que hoje querem ser jornalistas.
Foi também o meu herói, quando a RTP lhe abriu as portas após o 25 de Abril, tinha ele mais de 70 anos. Frequentei a sua casa, desfrutei do seu gosto pela narrativa, partilhei com ele brincadeiras, aprendi com a sua humildade.
O estatuto social das mulheres era então de absoluta menoridade - não para o Fernando, que sempre respirou modernidade e civismo. Foi o homem mais nobre e elegante, de espírito e na aparência, que conheci na comunicação social.
Ao usar da palavra nesta Assembleia junto o meu pesar - estou certa - ao de todos os portugueses.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Arons de Carvalho.

O Sr. Arons de Carvalho (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: Gostaria de, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, me associar a esta homenagem ao jornalista Fernando Pessa, homenageando o jornalista, obviamente, mas também o cidadão e a pessoa.
Foi um jornalista rigoroso e conseguiu conciliar esse rigor com um enorme sentido de humor e com um invulgar sentido de observação. Foi, como já aqui foi referido, o pioneiro das reportagens de rua. Foi, igualmente, um jornalista que cultivou um jornalismo de proximidade, que tão bem aplicou à cidade de Lisboa, que, aliás, tanto lhe deve. Foi um contador de histórias inigualável, um dos grandes comunicadores portugueses do século XX, como, há dias, escrevia Adelino Gomes no jornal Público.
Fernando Pessa, como cidadão com intervenção pública, começou por ser um simpatizante do Estado Novo, mas acabou perseguido por este, graças à sua estadia na BBC, entre 1938 e 1947, e à militância anti-nazi que aí iniciou. Fechar-se-lhe-iam as portas, por isso, da Emissora Nacional e da RTP, onde só entraria - como foi dito pela Sr.ª Deputada Maria Elisa Domingues - a seguir ao 25 de Abril, em 1976.
Fernando Pessa era também um homem afável, cortês, humilde, mas, sobretudo, um extraordinário amante da vida. Nunca desistiu de trabalhar, nunca desistiu de ter projectos, mesmo quando a vida o maltratou.
Ele, como referia há dias o crítico de televisão Mário Castrim, tinha uma voz inconfundível, que pertence à comunidade nacional.
Na sua simplicidade, dizia Fernando Pessa, numa entrevista que deu ao jornal Público pouco antes de falecer, o seguinte: «Não, não vou desaparecer. Vou para qualquer lado. Espero que me mandem lá para cima, que eu não fiz nada assim que mereça ir lá para baixo, em minha consciência».
Crentes ou não, penso que é nosso dever tudo fazer para que, depois da sua morte, Fernando Pessa tenha todas as homenagens a que tem direito.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: De acordo com a nossa agenda parlamentar, quando prestamos homenagem a alguém, a família já está a celebrar a missa do 30.º dia! Sucede que este intervalo leva a que esta homenagem seja uma repetição de tudo

Páginas Relacionadas
Página 0210:
0210 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   O Sr. Presidente: - Sr. De
Pág.Página 210
Página 0211:
0211 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   O Sr. Presidente: - Tem a
Pág.Página 211
Página 0212:
0212 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Sr. Presidente, na sequênc
Pág.Página 212
Página 0213:
0213 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Protestos do PS. O P
Pág.Página 213
Página 0214:
0214 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   meramente incidental, proc
Pág.Página 214
Página 0215:
0215 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   seus coveiros, apesar das
Pág.Página 215
Página 0216:
0216 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Aplausos do BE. O Sr
Pág.Página 216
Página 0217:
0217 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   O Sr. Presidente: - Também
Pág.Página 217
Página 0218:
0218 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   ao IRS, ao IVA, ao IRC, à
Pág.Página 218
Página 0219:
0219 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Mas há alternativa: a de c
Pág.Página 219
Página 0220:
0220 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Aplausos do PS. Para
Pág.Página 220
Página 0221:
0221 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   O Orador: - E depois conti
Pág.Página 221
Página 0223:
0223 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   quanto já foi dito por tod
Pág.Página 223
Página 0224:
0224 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Neste trabalho, a cidade d
Pág.Página 224
Página 0225:
0225 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   Ministro dos Negócios Estr
Pág.Página 225
Página 0226:
0226 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   e serviu Portugal como gov
Pág.Página 226
Página 0227:
0227 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   A Assembleia da República
Pág.Página 227
Página 0228:
0228 | I Série - Número 007 | 08 de Maio de 2002   excepção e que hoje vigora
Pág.Página 228