57 | I Série - Número: 060 | 5 de Março de 2011
O que o Governo anunciou numa Resolução do Conselho de Ministros foi apenas a intenção de alargar a 
introdução de portagens também à A23. Ora, um anúncio não passa disso mesmo. É tão-só um propósito ou 
uma conjectura que pode vir ou não a verificar-se. 
Diferente seria a situação se o Governo já tivesse legislado nesse sentido, fazendo publicar o decreto-lei 
(este sim, com a força obrigatória que a resolução não tem) que introduz portagens nessa via, e depois a 
portaria que fixa os custos das portagens, o que ainda não sucedeu. 
Finalmente, o Deputado signatário não ignora as regras da coerência partidária e da solidariedade com o 
grupo parlamentar a que pertence. Mas isto não significa que aceite a introdução de portagens em qualquer 
estrada que atravesse o interior do País. Bem pelo contrário. No actual estado em que Portugal se encontra e 
em especial o distrito da Guarda, cujos índices de desenvolvimento são manifestamente inferiores aos do 
resto do território, a medida que o Governo anunciou é, para além de uma violação manifesta de um 
compromisso eleitoral do PS, um forte revés da coesão territorial e um golpe profundo para uma região que 
definha a olhos vistos. 
Mesmo sem saber ao certo se o Governo vai ou não avançar com tal maldade e mesmo sem conhecer o 
valor das portagens que vão ser cobradas, trata-se, sem dúvida, de uma dura machadada nas aspirações das 
empresas e das pessoas que têm necessidade de se deslocar no distrito e, particularmente, para fora dele. 
A cidade da Guarda encontra-se a distâncias consideráveis de outros centros urbanos, sendo que a ligação 
entre ambos não tem vias nem alternativas nem satisfatórias, o que transforma uma opção de circulação numa 
inaceitável obrigatoriedade de pagamento de portagens. 
O Deputado do PSD, Carlos Peixoto. 
—— 
A minha abstenção referente à votação dos projectos de resolução n.os 373/XI (2.ª), do BE, e 393/XI (2.ª), 
do PCP, não acompanhando a orientação de voto do meu grupo parlamentar, tem a ver com razões de 
coerência e equidade. 
1 — Em anteriores votações similares, o Grupo Parlamentar do PSD optou pela abstenção. 
2 — Não posso, com o meu voto, branquear uma decisão errada dos Governos do PS, quando o então 
Primeiro-Ministro António Guterres e o Ministro das Obras Públicas João Cravinho, secundados por todo o 
governo da altura, onde se incluía o actual Primeiro-Ministro, decidiram alterar, apenas de nome, do Plano 
Rodoviário Nacional, transformando o IP6 e o IP2 em A23, mantendo o mesmo projecto e o mesmo traçado, 
interrompendo a normal execução da obra que estava a ser executada pelos governos do Prof. Aníbal Cavaco 
Silva. 
3 — Partes dos troços do IP6 (entre A1/Mouriscas) e IP2 (Fundão Norte/Soalheira e Castelo 
Branco/Alcains) estavam já construídos em 1995 e outros troços estavam em obras ou adjudicados ou em 
concurso, financiados pelo OE e Fundos Comunitários. 
4 — Não estão salvaguardadas vias alternativas nacionais sem portagens, seja porque pura e 
simplesmente não existem nalguns troços, ou a existirem estão em percentagem significativa 
desclassificadas/municipalizadas. 
5 — O preço base, por quilómetro, anunciado para as A23 e A25 é duplamente penalizador para os 
automobilistas: 
5.1 — O preço é 31% mais caro que na A1. 
5.2 — Como o salário médio nos distritos de Castelo Branco e Guarda é substancialmente inferior à média 
nacional, as empresas e famílias terão de despender uma percentagem muito superior do seu rendimento para 
utilizar um bem que a outros fica mais barato. 
6 — Esta medida de discriminação negativa irá contribuir decisivamente para fragilizar ainda mais o já débil 
tecido económico regional, não sendo difícil de prever o aumento do desemprego, seja por insolvência ou 
deslocalização de empresas, seja pelo abandono humano, ainda mais rápido, destas regiões já imensamente 
desertificadas.