Página 1
Sexta-feira, 14 de Outubro de 2011 I Série — Número 30
XII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2011-2012)
REUNIÃOPLENÁRIADE13DEOUTUBRODE 2011
Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria da Assunção Andrade Esteves
Secretários: Ex.mos
Srs. Maria Paula da Graça Cardoso Rosa Maria da Silva Bastos de Horta Albernaz Abel Lima Baptista
S U M Á R I O
A Sr.ª Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas
e 7 minutos. Deu-se conta da apresentação da interpelação n.º 2/XII
(1.ª), dos projectos de lei n.os
83 a 87/XII (1.ª) e dos projectos de resolução n.
os 102 a 104/XII (1.ª).
Em declaração política, o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues (CDS-PP) congratulou-se com o resultado obtido pelo seu partido nas eleições legislativas regionais na Região Autónoma da Madeira e respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados António Filipe (PCP), Guilherme Silva (PSD) e Isabel Sena Lino (PS).
Em declaração política, o Sr. Deputado Agostinho Lopes (PCP) insurgiu-se contra os anunciados agravamentos fiscais previstos no orçamento do Estado do próximo ano e respondeu a pedidos de esclarecimento da Sr.ª Deputada Catarina Martins (BE).
Em declaração política, a Sr.ª Deputada Catarina Martins (BE) contestou as medidas de austeridade anunciadas para o próximo orçamento do Estado e defendeu a renegociação das condições do pagamento da dívida do País, tendo, no final, respondido a pedidos de esclarecimento do Sr. Deputado Honório Novo (PCP).
Página 2
I SÉRIE — NÚMERO 30
2
Em declaração política, o Sr. Deputado Luís Montenegro (PSD) salientou a vitória obtida pelo seu partido nas eleições realizadas na Região Autónoma da Madeira e enalteceu a forma como o Governo da República e o Primeiro-Ministro actuaram face ao conhecimento da situação financeira daquela Região. No final, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Carlos Zorrinho (PS), António Filipe (PCP) e Nuno Magalhães (CDS-PP).
Em declaração política, o Sr. Deputado Miguel Freitas (PS) pediu que o Executivo desbloqueie a verba de PIDDAC que falta para apoiar o PRODER este ano, sublinhou o impacto que o aumento do IVA nos alimentos tem do ponto de vista económico-social e manifestou disponibilidade do PS para participar no esforço nacional para se conseguirem soluções para a agricultura portuguesa. Depois, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Pedro do Ó Ramos (PSD), Abel Baptista (CDS-PP), Luís Fazenda (BE) e Agostinho Lopes (PCP).
Foi discutida, na generalidade, a proposta de lei n.º 15/XII (1.ª) — Procede à quarta alteração à Lei n.º 2/2004, de 15 de Janeiro, que aprova o estatuto do pessoal dirigente
dos serviços e organismos da administração central, regional e local do Estado, modificando os procedimentos de recrutamento, selecção e provimento nos cargos de direcção superior da Administração Pública. Usaram da palavra, a diverso título, além do Sr. Secretário de Estado da Administração Pública (Hélder Rosalino), os Srs. Deputados João Pinho de Almeida (CDS-PP), Pedro Roque (PSD), Mariana Aiveca (BE), José Luís Ferreira (Os Verdes), Jorge Machado (PCP), Isabel Santos (PS) e Maria das Mercês Soares (PSD).
Foi também discutida, na generalidade, a proposta de lei n.º 23/XII (1.ª) — Regula os requisitos de tratamento de dados pessoais para constituição de ficheiros de âmbito nacional, contendo dados de saúde, com recurso a tecnologias de informação e no quadro do Serviço Nacional de Saúde. Intervieram, além do Sr. Secretário de Estado da Saúde (Manuel Ferreira Teixeira), os Srs. Deputados João Semedo (BE), Maria de Belém Roseira (PS), Bernardino Soares (PCP), Teresa Caeiro (CDS-PP) e Luís Vales (PSD).
O Sr. Presidente (António Filipe) encerrou a sessão eram 18 horas e 15 minutos.
Página 3
14 DE OUTUBRO DE 2011
3
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.
Eram 15 horas e 7 minutos.
Deputados presentes à sessão:
Partido Social Democrata (PSD)
Adriano Rafael de Sousa Moreira
Adão José Fonseca Silva
Afonso Gonçalves da Silva Oliveira
Amadeu Albertino Marques Soares Albergaria
Ana Sofia Fernandes Bettencourt
Andreia Carina Machado da Silva Neto
António Carlos Sousa Gomes da Silva Peixoto
António Costa Rodrigues
António Egrejas Leitão Amaro
António Fernando Couto dos Santos
António Manuel Pimenta Prôa
António Pedro Roque da Visitação Oliveira
Arménio dos Santos
Bruno Jorge Viegas Vitorino
Bruno Manuel Pereira Coimbra
Carina João Reis Oliveira
Carla Maria de Pinho Rodrigues
Carlos António Páscoa Gonçalves
Carlos Eduardo Almeida de Abreu Amorim
Carlos Henrique da Costa Neves
Carlos Manuel Faia São Martinho Gomes
Carlos Manuel dos Santos Batista da Silva
Cláudia Sofia Gomes Monteiro de Aguiar
Cristóvão Duarte Nunes Guerreiro Norte
Cristóvão Simão Oliveira de Ribeiro
Cristóvão da Conceição Ventura Crespo
Duarte Filipe Batista de Matos Marques
Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco
Eduardo Alexandre Ribeiro Gonçalves Teixeira
Elsa Maria Simas Cordeiro
Emídio Guerreiro
Emília de Fátima Moreira dos Santos
Fernando Luís de Sousa Machado Soares Vales
Fernando Mimoso Negrão
Fernando Nuno Fernandes Ribeiro dos Reis
Fernando Ribeiro Marques
Fernando Virgílio Cabral da Cruz Macedo
Guilherme Henrique Valente Rodrigues da Silva
Hugo Alexandre Lopes Soares
Hugo José Teixeira Velosa
Hélder António Guerra de Sousa Silva
Joana Catarina Barata Reis Lopes
Joaquim Carlos Vasconcelos da Ponte
Jorge Paulo da Silva Oliveira
José Manuel Marques de Matos Rosa
Página 4
I SÉRIE — NÚMERO 30
4
José Manuel de Albuquerque Portocarrero Canavarro
José Manuel de Matos Correia
José Mendes Bota
João Carlos Figueiredo Antunes
João Manuel Lobo de Araújo
Laura Maria Santos de Sousa Esperança
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves
Luís Filipe Valenzuela Tavares Menezes Lopes
Luís Pedro Machado Sampaio de Sousa Pimentel
Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira
Lídia Maria Bulcão Rosa da Silveira Dutra
Manuel Augusto Meirinho Martins
Manuel Filipe Correia de Jesus
Margarida Rosa Silva de Almeida
Maria Clara Gonçalves Marques Mendes
Maria Ester Vargas de Almeida e Silva
Maria Francisca Fernandes Almeida
Maria Isilda Videira Nogueira da Silva Aguincha
Maria José Quintela Ferreira Castelo Branco
Maria José Vieira Teodoro Moreno
Maria João Machado de Ávila
Maria Manuela Pereira Tender
Maria Paula da Graça Cardoso
Maria da Assunção Andrade Esteves
Maria da Conceição Alves dos Santos Bessa Ruão Pinto
Maria da Conceição Feliciano Antunes Bretts Jardim Pereira
Maria da Conceição Vaz Barroso Carloto Caldeira
Maria da Graça Gonçalves da Mota
Maria das Mercês Gomes Borges da Silva Soares
Maurício Teixeira Marques
Miguel Jorge Reis Antunes Frasquilho
Mário José Magalhães Ferreira
Mário Nelson da Silva Vaz Simões
Mónica Sofia do Amaral Pinto Ferro
Nilza Marília Mouzinho de Sena
Nuno Filipe Miragaia Matias
Nuno Miguel Pestana Chaves e Castro da Encarnação
Nuno Rafael Marona de Carvalho Serra
Odete Maria Loureiro da Silva
Paulo Cardoso Correia da Mota Pinto
Paulo César Lima Cavaleiro
Paulo César Rios de Oliveira
Paulo Jorge Frazão Batista dos Santos
Paulo Jorge Simões Ribeiro
Paulo Miguel da Silva Santos
Pedro Alexandre Antunes Faustino Pimpão
Pedro Augusto Cunha Pinto
Pedro Augusto Lynce de Faria
Pedro Filipe dos Santos Alves
Pedro Manuel Tavares Lopes de Andrade Saraiva
Pedro do Ó Barradas de Oliveira Ramos
Ricardo Augustus Guerreiro Baptista Leite
Página 5
14 DE OUTUBRO DE 2011
5
Rosa Maria Pereira Araújo Arezes
Sérgio Sousa Lopes Freire de Azevedo
Teresa de Andrade Leal Coelho
Teresa de Jesus Costa Santos
Ulisses Manuel Brandão Pereira
Valter António Gaspar de Bernardino Ribeiro
Vasco Manuel Henriques Cunha
Ângela Maria Pinheiro Branquinho Guerra
Partido Socialista (PS)
Acácio Santos da Fonseca Pinto
Alberto Bernardes Costa
Alberto de Sousa Martins
Ana Catarina Veiga Santos Mendonça Mendes
Ana Maria Teodoro Jorge
Ana Paula Mendes Vitorino
António Fernandes da Silva Braga
António José Martins Seguro
António Manuel Soares Serrano
António Ramos Preto
Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho
Basílio Adolfo de Mendonça Horta da Franca
Carlos Filipe de Andrade Neto Brandão
Carlos Manuel Pimentel Enes
Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita
Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Elza Maria Henriques Deus Pais
Eurídice Maria de Sousa Pereira
Fernando Manuel de Jesus
Fernando Medina Maciel Almeida Correia
Fernando Pereira Serrasqueiro
Francisco José Pereira de Assis Miranda
Glória Maria da Silva Araújo
Idália Maria Marques Salvador Serrão de Menezes Moniz
Inês de Saint-Maurice de Esteves de Medeiros Vitorino de Almeida
Isabel de Lima Mayer Alves Moreira
Jorge Lacão Costa
Jorge Manuel Capela Gonçalves Fão
José Adelmo Gouveia Bordalo Junqueiro
José António Fonseca Vieira da Silva
José Carlos Correia Mota de Andrade
José Carlos das Dores Zorrinho
José Duarte Piteira Rica Silvestre Cordeiro
José Manuel Lello Ribeiro de Almeida
João Paulo Feteira Pedrosa
João Raul Henriques Sousa Moura Portugal
João Saldanha de Azevedo Galamba
Júlio Francisco Miranda Calha
Laurentino José Monteiro Castro Dias
Luís António Pita Ameixa
Luís Miguel Morgado Laranjeiro
Luísa Maria Neves Salgueiro
Página 6
I SÉRIE — NÚMERO 30
6
Manuel Francisco Pizarro de Sampaio e Castro
Manuel José de Faria Seabra Monteiro
Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira
Marcos da Cunha e Lorena Perestrello de Vasconcellos
Maria Antónia Moreno Areias de Almeida Santos
Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas
Maria Helena dos Santos André
Maria Hortense Nunes Martins
Maria Isabel Coelho Santos
Maria Isabel Ferreira Coelho de Sena Lino
Maria Isabel Solnado Porto Oneto
Maria Odete da Conceição João
Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina
Miguel João Pisoeiro de Freitas
Mário Manuel Teixeira Guedes Ruivo
Nuno André Neves Figueiredo
Paulo Alexandre de Carvalho Pisco
Paulo Jorge Oliveira de Ribeiro Campos
Pedro Filipe Mota Delgado Simões Alves
Pedro Manuel Dias de Jesus Marques
Pedro Manuel Farmhouse Simões Alberto
Pedro Nuno de Oliveira Santos
Renato Luís de Araújo Forte Sampaio
Ricardo Manuel de Amaral Rodrigues
Rosa Maria da Silva Bastos da Horta Albernaz
Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos
Rui Paulo da Silva Soeiro Figueiredo
Sérgio Paulo Mendes de Sousa Pinto
Sónia Ermelinda Matos da Silva Fertuzinhos
Vitalino José Ferreira Prova Canas
Partido Popular (CDS-PP)
Abel Lima Baptista
Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes
Altino Bernardo Lemos Bessa
Artur José Gomes Rêgo
Inês Dória Nóbrega Teotónio Pereira Bourbon Ribeiro
Isabel Maria Mousinho de Almeida Galriça Neto
José Helder do Amaral
José Lino Fonseca Ramos
José Manuel de Sousa Rodrigues
João Guilherme Nobre Prata Fragoso Rebelo
João Manuel de Serpa Oliva
João Paulo Barros Viegas
João Pedro Guimarães Gonçalves Pereira
João Rodrigo Pinho de Almeida
Manuel Fialho Isaac
Maria Margarida Avelar Santos Nunes Marques Neto
Michael Lothar Mendes Seufert
Nuno Miguel Miranda de Magalhães
Raúl Mário Carvalho Camelo de Almeida
Página 7
14 DE OUTUBRO DE 2011
7
Telmo Augusto Gomes de Noronha Correia
Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos Caeiro
Teresa Maria de Moura Anjinho Tomás Ruivo
Vera Lúcia Alves Rodrigues
Partido Comunista Português (PCP)
Agostinho Nuno de Azevedo Ferreira Lopes
António Filipe Gaião Rodrigues
Artur Jorge da Silva Machado
Bernardino José Torrão Soares
Bruno Ramos Dias
Francisco José de Almeida Lopes
Jerónimo Carvalho de Sousa
José Honório Faria Gonçalves Novo
João Augusto Espadeiro Ramos
João Guilherme Ramos Rosa de Oliveira
Miguel Tiago Crispim Rosado
Paula Alexandra Sobral Guerreiro Santos Barbosa
Paulo Miguel de Barros Pacheco Seara de Sá
Rita Rato Araújo Fonseca
Bloco de Esquerda (BE)
Ana Isabel Drago Lobato
Catarina Soares Martins
Francisco Anacleto Louçã
João Pedro Furtado da Cunha Semedo
Luís Emídio Lopes Mateus Fazenda
Maria Cecília Vicente Duarte Honório
Mariana Rosa Aiveca
Pedro Filipe Gomes Soares
Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV)
Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia
José Luís Teixeira Ferreira
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, a Sr.ª Secretária vai dar conta do expediente.
A Sr.ª Secretária (Paula Cardoso): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram
admitidas, as seguintes iniciativas legislativas: interpelação n.º 2/XII (1.ª) — Sobre desemprego, precariedade
e alterações às leis do trabalho (BE); projectos de lei n.os
83/XII (1.ª) — Concurso de ingresso e mobilidade de
professores (PCP), 84/XII (1.ª) — Cria o regime de vinculação dos professores contratados e estabelece o
concurso de ingresso de professores para necessidades permanentes do sistema educativo (BE), 85/XII (1.ª)
— Primeira alteração à Lei n.º 17/2003, de 4 de Junho (Iniciativa Legislativa de Cidadãos) (PCP), 86/XII (1.ª)
— Altera o regime jurídico dos conselhos municipais de juventude (PCP) e 87/XII (1.ª) — Define o regime
jurídico da psicologia em contexto escolar, bem como o regime de contratação e colocação de psicólogos com
formação na área da psicologia educacional e profissionais das ciências da educação nos estabelecimentos
públicos de ensino (PCP); e projectos de resolução n.os
102/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo o
aprofundamento do regime legal que regula a actividade prestamista, a intensificação e alargamento dos actos
fiscalizadores e a disponibilização de informação no âmbito da defesa do consumidor (PS), que baixa à 6.ª
Página 8
I SÉRIE — NÚMERO 30
8
Comissão, 103/XII (1.ª) — Recomenda ao Governo a remoção dos resíduos perigosos depositados em São
Pedro da Cova, Gondomar, e a monitorização ambiental do local do aterro, com vista à informação das
populações e protecção da saúde pública (PS), que baixa à 11.ª Comissão, e 104/XII (1.ª) — Realização de
uma auditoria para apuramento das irregularidades verificadas no concurso de colocação de professores pela
Bolsa de Recrutamento n.º 2 (PCP), que baixa à 8.ª Comissão.
Em termos de expediente, é tudo, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, do primeiro ponto da ordem do dia constam declarações políticas.
Assim sendo, para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.
as e Srs. Deputados: As eleições do
passado domingo, na Madeira, devem merecer uma reflexão mais profunda para além da mera análise dos
resultados.
A sociedade pós-partidária que o CDS anunciou há um ano estar para chegar a Portugal encontra nos
resultados da Madeira alguma tradução quer nos seus resultados quer nas suas consequências.
O sistema partidário que conhecemos desde o início da era democrática no País e nas regiões autónomas,
assente em dois grandes partidos instalados pelo comodismo e imobilizados pelos interesses, poderá estar a
chegar ao fim.
Os cidadãos, as comunidades, a sociedade não aceitam mais a política do facto consumado e a decisão
unilateral dos aparelhos partidários sobre decisões que afectam as suas vidas e o futuro dos países e das
regiões.
A passagem do CDS a segunda força política na Madeira, ultrapassando o Partido Socialista e somando
mais votos do que todas as esquerdas juntas, é uma mudança assinalável que só pode ser explicada como o
resultado de uma nova forma de fazer politica de um partido que, compreendendo os novos tempos, soube
abrir as portas do seu ideário, do seu programa e das suas listas aos cidadãos sem filiação partidária, às
novas gerações e à sociedade civil.
Aplausos do CDS-PP.
O CDS é hoje um partido incontornável na política portuguesa: Governo na República, líder da oposição na
Madeira e alternativa nos Açores.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Quadruplicar o número de votos e de Deputados nas eleições
de domingo é, com certeza, motivo de regozijo para o CDS, mas mais importante é registar que esse foi o
resultado de um trabalho longo e esforçado de diálogos, de consultas e interactividades com a comunidade e
os seus melhores quadros, que estavam cansados de serem meros espectadores da realidade política quase
imutável e de um sistema político em acelerada decadência, porque assente numa maioria absoluta que
muitas vezes se confundiu com poder absoluto.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Essa maioria continua, é verdade, se bem que seriamente
penalizada eleitoralmente, mas o poder absoluto, esse, terminou no dia das eleições.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Nada ficará igual na Madeira depois de domingo. Tal como
aconteceu a 5 de Junho com os portugueses do Continente, que castigaram o governo gastador e despesista
do PS, também a maioria dos eleitores que foram votar a 9 de Outubro disseram «não» a um governo do PSD
que endividou a Madeira e a conduziu à pré-falência!
Página 9
14 DE OUTUBRO DE 2011
9
Aplausos do CDS-PP.
E o melhor castigo que, porventura, deram ao PSD foi precisamente um mandato para gerir a sua própria
herança.
Na Madeira, como no País, os cidadãos não aceitam que os seus impostos sejam mal geridos e condenam
quem hipotecou a soberania de Portugal e a autonomia da Região. Mas, também na Madeira como no País,
os cidadãos não aceitam serem confundidos com as leviandades financeiras de quem os desgovernou.
Importa hoje, neste Parlamento, alertar para o divórcio, com laivos de separatismo, que está criado entre os
portugueses do Continente e os portugueses da Madeira devido às irresponsabilidades políticas e financeiras
dos governos do Continente e da Região nos últimos anos. É que pode estar em causa a própria unidade
nacional, e essa ameaça é precisamente o que deve ser evitado neste momento dificílimo da vida da
República e da vida da região.
Os tempos, pelas suas dificuldades e necessidades, só podem ser de solidariedade entre todos os
portugueses, independentemente de onde vivem, de como votam e de quem os governa.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Neste quadro, deve ser feito um esforço por todos os agentes
políticos, a começar nos órgãos de soberania e nos órgãos de governo próprio das regiões autónomas, para
ultrapassar os conflitos, as clivagens, as crispações, por forma a que sejam restaurados diálogos e retomadas
negociações que permitam consensualizar as melhores decisões para ultrapassar o problema da dívida da
Madeira.
Aplausos do CDS-PP.
Se é verdade que o Estado não pode esquecer e deve prevenir o descontrolo das contas públicas regionais
e os endividamentos excessivos, é igualmente certo que o Estado não deve ignorar que os custos da
insularidade e da ultraperiferia continuam a existir e que é seu dever constitucional e patriótico manter a
solidariedade para com os portugueses da Madeira.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Portugal, Nação com quase nove séculos, soube sempre, ao longo
da sua História, superar os momentos difíceis e ultrapassar os divisionismos que pontuaram a nossa
existência. Tenho a certeza que saberá de novo vencer esse desafio.
A Madeira, Região com quase seis séculos, também já deu provas da sua capacidade de resistência às
dificuldades e de saber comandar os seus destinos, afirmando Portugal no Atlântico. O mal não está na
autonomia, o mal está em quem não soube governá-la. Tenho a certeza de que os madeirenses não falharão
e que o povo madeirense saberá resgatar a autonomia perdida no quadro da Nação portuguesa.
Apesar das dificuldades, acredito que a Madeira estará à altura das suas responsabilidades.
Apesar das dificuldades, acredito que o Estado saberá honrar as suas solidariedades.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se três Srs. Deputados para pedirem esclarecimentos ao Sr. Deputado
José Manuel Rodrigues. Agradeço que me informe como pretende responder.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Um a um, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Assim será, Sr. Deputado.
Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É para dar os parabéns!
Página 10
I SÉRIE — NÚMERO 30
10
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Manuel Rodrigues, pareceu-me ouvir
uma voz vinda da bancada do CDS — se não estou em erro, do Sr. Deputado Telmo Correia — dizendo que a
minha intervenção era para dar os parabéns.
Quero dizer que, no passado domingo, o CDS teve um resultado eleitoral na Região Autónoma da Madeira
em relação ao qual, objectivamente, está de parabéns,…
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — … porque aumentou significativamente a sua votação e o seu número de
Deputados, tendo funcionado como depositário de um enorme conjunto de votos que o PSD perdeu.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, podemos dizer que, num sistema de vasos comunicantes entre os
dois partidos da coligação continental, muitos votos do PSD (milhares) na Madeira se transferiram para o CDS.
Isso é um facto.
Contudo, a questão que queria colocar ao Sr. Deputado José Manuel Rodrigues é a seguinte: daqui para a
frente, nos tempos que se aproximam, em que se anunciam pesados sacrifícios sobre o povo da Madeira —
que vão ser impostos, evidentemente, pelo Governo —, qual vai ser a posição assumida neste Parlamento
pelo Sr. Deputado José Manuel Rodrigues?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora, que boa pergunta!
O Sr. António Filipe (PCP): — O Sr. Deputado José Manuel Rodrigues é Deputado na Assembleia da
República e é Vice-Presidente do CDS a nível nacional. Portanto, quando forem impostos sacrifícios injustos
ao povo da Madeira, gostaríamos de saber qual vai ser a posição que o Sr. Deputado vai assumir, não na
Região Autónoma da Madeira, mas na Assembleia da República, onde exerce o mandato de Deputado!
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Gostaria de saber se o Sr. Deputado, na Assembleia da República, tomará
a mesma posição que irá tomar na Região Autónoma da Madeira ou se vai fazer como fez na semana
passada. É que, na passada quinta-feira, discutimos aqui uma proposta de lei vinda da Assembleia Legislativa
da Região Autónoma da Madeira, que o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues aqui defendeu, dando a
entender a toda a Câmara que o CDS a votaria favoravelmente. Mas, na sexta-feira, quando a proposta de lei
foi votada — já o Sr. Deputado estava a fazer campanha na Madeira —, o Grupo Parlamentar do CDS votou
contra essa proposta de lei!
Vozes do PCP: — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Ou seja, aqui o Sr. Deputado teve uma atitude completamente diferente da
do seu grupo parlamentar!
O que queria saber é se o Sr. Deputado vai continuar a fingir que não faz parte do Grupo Parlamentar do
CDS na Assembleia da República!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, começo pelo
que referiu acerca da proposta de lei oriunda da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira.
Como sabe, na quinta-feira, intervim sobre essa proposta…
Página 11
14 DE OUTUBRO DE 2011
11
O Sr. António Filipe (PCP): — Defendeu-a!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — … e disse que, nas actuais circunstâncias, não era razoável a
sua aprovação, porque o País não dispunha de meios financeiros para isso.
Vozes do CDS-PP: — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Ninguém ouviu isso!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Sr. Deputado, a proposta oriunda da Assembleia Legislativa
da Madeira era do PCP e previa que os madeirenses pagassem por uma viagem de ida e volta ao Continente
cerca de 40 €.
O Sr. António Filipe (PCP): — Defendeu-a aqui!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Sr. Deputado do PCP, acha que o País tem condições para
ter mais esta despesa?
Até posso considerar — e considero — que o princípio subjacente à proposta está correcto. Contudo, Sr.
Deputado, o País, na situação difícil em que está do ponto de vista financeiro, não tem condições para poder
satisfazer a proposta que aqui foi rejeitada.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDS-PP): — Sr. Deputado, quanto às minhas responsabilidades na
Assembleia da República, naturalmente que assumirei as consequências daquilo que for feito pelo meu partido
enquanto principal força da oposição ao PSD na Madeira, bem como o meu papel aqui, a nível nacional. E por
uma simples razão: são duas realidades políticas distintas.
Aqui, há uma coligação PSD/CDS, fruto da vontade do povo português, manifestada a 5 de Junho, que
porá o País na ordem.
Protestos do Deputado do PCP Agostinho Lopes.
Na Madeira, a situação é completamente diferente: temos o mesmo partido há 35 anos no poder e o CDS,
na Madeira, é oposição e alternativa ao PSD.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Já percebemos!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Mas quero dizer-lhe, Sr. Deputado António Filipe, que talvez
melhor do que tentar encontrar respostas para o crescimento do CDS seria tentar encontrar respostas para a
descida do PCP, que perdeu um Deputado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não se preocupe com isso!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Tenho uma resposta para isso, Sr. Deputado António Filipe: é
que o povo madeirense não aceita mais demagogias, como a dos Deputados comunistas na Madeira, que
defenderam que não deveria haver plano de resgate para a Região e que toda a dívida contraída pelo
Governo Regional do PSD deveria ser paga pela República. Isso é demagogia!
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ai, é?! Que bem que fala esta semana, Sr. Deputado!
Página 12
I SÉRIE — NÚMERO 30
12
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Guilherme Silva para formular o seu pedido de
esclarecimento.
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Manuel Rodrigues,
independentemente do resultado do seu partido nas últimas eleições na Região Autónoma da Madeira,…
Vozes do CDS-PP: — Está de parabéns!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — … V. Ex.ª fez da tribuna uma proclamação que mais parecia indicar que o
CDS tinha sido, realmente, o partido que ganhara as eleições na Madeira. Mas não foi, não foi o CDS! Quem
ganhou as eleições na Madeira foi o PSD!
Aplausos do PSD.
Esperava, até, uma saudação da parte de V. Ex.ª em relação a essa vitória. Fico, pois, à espera que V. Ex.ª
se retrate nesse domínio.
E esperava que V. Ex.ª tivesse tido uma palavra de condenação de toda uma campanha feroz que foi
desencadeada contra a Madeira no período de campanha eleitoral. Tratou-se de uma campanha que tentou
voltar portugueses contra portugueses, tentou voltar a opinião pública nacional contra a Região Autónoma da
Madeira, o que não ajuda a que a unidade nacional, que tanto prezamos, seja preservada, reforçada e
consolidada.
A este propósito, porque as coisas estão ligadas umas às outras, queria perguntar-lhe qual será a sua
posição, e porventura a posição do CDS, se, como está anunciado, cancelarem e retirarem transferências
substanciais para a Região Autónoma da Madeira.
Risos de Deputados do PS, do PCP e do BE.
O Sr. Ricardo Rodrigues (PS): — E a sua, qual é?
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Num quadro difícil, como aquele que conhecemos, num quadro
constitucional de exigência de solidariedade recíproca, quero saber, com toda a clareza, qual é a sua posição,
como representante do maior partido da oposição na Madeira, sobre a eventualidade — que, penso, não
passará de especulação jornalística — …
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Ah!…
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — … de uma tomada de posição desse tipo, em sede de Orçamento.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Guilherme Silva, devo dizer-lhe
que fui o único líder político na Região que, na própria noite das eleições, cumprimentou o PSD pela vitória
que alcançou.
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Não deixo, no entanto, de registar que este foi o pior
resultado de sempre do PSD, bem como do Partido Socialista, em eleições na Madeira. Mas foi o melhor
resultado de sempre do CDS em eleições na Madeira.
Página 13
14 DE OUTUBRO DE 2011
13
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Foi o melhor, mas perdeu!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Quanto à questão que suscita, Sr. Deputado Guilherme Silva,
eu próprio disse, na minha intervenção (julgo que o Sr. Deputado estaria atento) e alertei este Parlamento para
a necessidade de sanar o divórcio existente, neste momento, com laivos de separatismo, que está criado entre
os portugueses do Continente e os portugueses da Madeira.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Este divisionismo entre portugueses da Madeira e
portugueses do Continente não é positivo para que se superem as dificuldades financeiras quer da Região
quer da República e, sobretudo, para que se encontre um plano de ajustamento financeiro exequível e justo
para a Região Autónoma da Madeira. Desse ponto de vista, julgo que a sua intervenção não ajudou nada, Sr.
Deputado Guilherme Silva,…
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Porquê?!
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — … porque veio introduzir aqui mais factores de crispação. É
que, Sr. Deputado, embora eu não conheça o Orçamento do Estado — julgo que o Sr. Deputado também o
não conhecerá —, há notícias avulsas sobre a matéria. Mas digo o mesmo que eu já disse à comunicação
social há três dias: pela minha parte, entendo que o Estado não pode tocar nas verbas para a reconstrução da
Madeira.
O Sr. António Filipe (PCP): — E o que é que o CDS acha?
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Porque há infra-estruturas públicas, danificadas pelos
temporais de 20 de Fevereiro de 2010, que continuam por ser recuperadas; há empresas que estão fechadas
e que ainda não receberam apoios para a sua recuperação e há ainda famílias desalojadas. Isto também, Sr.
Deputado, porque o Governo Regional do PSD está atrasado em matéria de reconstrução da Madeira, apesar
de lhe reconhecer algum esforço feito nesse sentido.
Quanto às transferências financeiras, Sr. Deputado, obviamente que elas devem ser objecto de negociação
entre o novo governo regional da Madeira e o Governo central da República. E isso até pode ser incluído no
programa de reajustamento financeiro que vier a ser negociado. Na certeza, porém, de que, como disse na
minha intervenção, o Estado não pode ignorar que a insularidade mantém-se, que a ultra periferia mantém-se
e que, portanto, a solidariedade do Estado também deve manter-se para com os portugueses da ilha da
Madeira.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para formular o seu pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel
Sena Lino.
A Sr.ª Isabel Sena Lino (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Manuel Rodrigues, em primeiro lugar,
democraticamente, queria saudá-lo pela excelente votação e pelos resultados que obteve, pese embora, na
leitura total das votações, tenha beneficiado do descontentamento que muitos votantes do PSD teriam
relativamente ao Dr. Alberto João Jardim
Vozes do PS: — Muito bem!
Página 14
I SÉRIE — NÚMERO 30
14
Protestos do CDS-PP.
A Sr.ª Isabel Sena Lino (PS): — De qualquer modo, reitero os meus parabéns.
Há outra situação que me parece difícil e que eu gostava de esclarecer: é que o Sr. Deputado é Governo
no Continente e oposição na Madeira. Será que vai pôr em causa a coligação?
Por outro lado, gostava de lhe perguntar também se se identifica com o discurso do Primeiro-Ministro e do
Ministro das Finanças. É que se fala no corte das transferências para a Madeira, e eu pergunto-lhe: o Sr.
Deputado concorda com este corte das transferências? Considera que, na actual conjuntura, o Presidente do
governo regional, fragilizado como está, é a pessoa indicada para fazer a ponte entre a Região e o
Continente?
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Por último, gostaria de saber se, em relação ao Orçamento do Estado, o Sr. Deputado irá votar a favor, ou
não, das medidas que forem votadas para a Madeira.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Sena Lino, fui eleito
pelo povo da Madeira e também sou Deputado da Nação, pelo que procurarei conjugar a vontade do povo da
Madeira e os seus interesses com a minha função de Deputado da República. É por isso que não posso pôr,
obviamente, em causa — e esta é a primeira resposta à sua pergunta — a coligação que governa Portugal
depois da desgraça a que os senhores conduziram o País.
Aplausos do CDS-PP.
A sua segunda questão, Sr.ª Deputada, foi no sentido de saber se me identifico com o discurso do
Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças a propósito da Madeira. Julgo que sim, Sr.ª Deputada. O que o
Sr. Primeiro-Ministro e o Sr. Ministro das Finanças vieram dizer foi que tinham sido cometidas graves
irregularidades a nível das contas públicas da Madeira, designadamente a nível de ocultação da dívida. Julgo
que a Sr.ª Deputada concordará com o Sr. Primeiro-Ministro e com o Sr. Ministro das Finanças, porque são
factos que o Partido Socialista se fartou de realçar em campanha eleitoral — não com muitos resultados, é
verdade, mas fizeram parte do seu discurso político.
A Sr.ª Deputada tem falado muito em não fazer chegar a dupla austeridade aos madeirenses. Quero
recordar à Deputada Isabel Sena Lino que a única ou dupla austeridade até agora conhecida sobre os
habitantes da Madeira e dos Açores foi negociada pelo anterior governo do Partido Socialista com a chamada
tróica, ao aumentar em 10% os impostos directos e indirectos.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
Protestos do PS.
O Sr. José Manuel Rodrigues (CDP-PP): — Nessa matéria, Sr.ª Deputada, estamos esclarecidos. Há,
realmente, uma dupla austeridade anunciada a ser aplicada sobre madeirenses e açorianos. Ela foi negociada
pelo ex-Primeiro-Ministro José Sócrates e pelo governo do Partido Socialista com a Comissão Europeia, com
Banco Central Europeu e com o Fundo Monetário Internacional.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.
Página 15
14 DE OUTUBRO DE 2011
15
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo aprovará hoje o
Orçamento do Estado para 2012. Entre as más notícias — contenções e reduções de salários, pensões e
reformas, encarecimento dos custos do acesso à saúde, agravamento do IRS, etc., etc. —, continuam
presentes possíveis alterações da taxa do IVA e também do imposto especial sobre o consumo (IEC). É sobre
estes possíveis agravamentos fiscais que, hoje, gostaria de tocar o sino a rebate, ainda em sinal de alerta, de
alarme vermelho. Trata-se de um alerta e de prevenção para esta Assembleia da República que,
proximamente, irá debater o Orçamento do Estado e que terá toda a capacidade e soberania para alterar o
que julgar errado.
São conhecidas as preocupações e as denúncias que várias estruturas associativas e empresariais vêm
fazendo contra os riscos económicos e sociais da concretização do aumento das taxas do IVA previsto no
«pacto de agressão» da tróica. São estruturas representativas de dezenas de milhar de micro, pequenas e
médias empresas, de sectores de bens transaccionáveis, destacando-se os sectores agro-alimentar
(agricultura e indústria), o turismo e a restauração, bem como o comércio de retalho. Prevêem-se alterações
que poderão atingir importantes fileiras produtivas, como as do leite e do vinho e, relativamente a este último,
sinaliza-se também a notícia da possível abrangência pelo IEC, o que, além de nova penalização fiscal de um
produto estratégico da agricultura nacional, arrastaria dificuldades burocráticas, porventura inultrapassáveis
para a sua comercialização pelos pequenos e médios produtores. O IEC, como tudo indica, vai ser igualmente
responsável por novo agravamento, em dois pontos percentuais, da factura da energia eléctrica, já vítima
antecipada, com o gás natural, da subida da taxa do IVA para 23%!
Srs. Deputados, a concretização de tais perspectivas orçamentais terá efeitos directos e indirectos — que
algumas daquelas estruturas associativas avaliaram, quantitativa e qualitativamente, por meio de estudos
técnicos independentes — e são devastadores. A concretizarem-se, estaremos perante um verdadeiro tsunami
fiscal.
Teremos uma nova e brutal punção sobre o poder de compra dos portugueses, especialmente os de maior
debilidade económica, com consequências directas sobre um sector, o do comércio retalhista tradicional, que
não precisa, sequer, deste golpe para acabar de desfalecer!
Ocorrerá a inviabilização económica e financeira de milhares de empresas, incapazes de fazer repercutir a
subida do IVA na factura dos consumidores e sem margens para a absorver, a grande parte já — passe o
pleonasmo — a sobreviver no limiar da sobrevivência.
Dar-se-á mais um profundo golpe na competitividade de empresas e sectores, já a braços com handicaps
negativos, no caso de maiores taxas do IVA e preços de energia, face aos seus principais concorrentes,
principalmente face às empresas e sectores de espanhóis.
Agravar-se-á a já imensa injustiça fiscal pelo crescimento da desproporção entre impostos directos e
indirectos na fiscalidade portuguesa.
O resultado é fácil de adivinhar e ninguém tem dúvidas sobre esse desfecho: falências e dificuldades para
milhares de pequenas empresas, mais desemprego e agravamento do défice da balança comercial — pelo
favorecimento das importações e pelas dificuldades criadas às exportações.
O Governo e os partidos que o suportam nesta Assembleia não podem vir com o argumento — desculpa
habitual nos dias que correm e «pau para toda a obra» — do buraco ou dos buracos herdados da governação
PS/Sócrates e também PSD/Jardim pela seguinte ordem de razões.
Primeiro, porque há muito conhecem o buraco, ou buracão, até por experiência própria! Ou andaram
enganados estes seis anos por Sócrates e os seus ministros?
Segundo, porque o PSD e o CDS-PP andaram seis anos a dizer que o aumento de impostos não era a
solução. Votaram contra várias propostas do PS nesse sentido, negociaram o não aumento de algumas taxas
do IVA, que agora são referidas — o caso do vinho —, e o líder do PSD e actual Primeiro-Ministro, quando
acabou de dar o dito por não dito na matéria dos PEC, até veio pedir desculpa aos portugueses.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — De aumento de impostos não falaram na campanha eleitoral.
Página 16
I SÉRIE — NÚMERO 30
16
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Terceiro, porque este é um filme, triste filme diga-se, bem conhecido em
várias reprises, sempre fazendo o contrário do que dizem na oposição: contra o aumento de impostos. Por
causa do buraco do PS/Guterres, PSD/CDS (Durão e Portas) aumentaram o IVA e deixaram um buraco por
causa do qual o PS/Sócrates aumentou o IVA, que deixou um buraco que agora, provavelmente, dará direito a
um novo aumento do IVA — e etc.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Um escândalo!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Quarto, porque estas são medidas que, a serem concretizadas, vão
alargar e não reduzir o buraco. O Governo sabe e todos os partidos sabem que as consequências são
inevitáveis: mais economia paralela, mais fuga fiscal, mais desemprego, menos receita fiscal, mais despesa da
segurança social, maior défice comercial e dívida externa, menos actividade económica, menos receita fiscal.
No início, no meio e no fim um buraco maior!
Não há uma só razão económico-financeira para fazer subir as taxas do IVA e também para alterar os IEC
(impostos especiais sobre o consumo). Se é para trocar receitas do IVA por despesas da TSU (taxa social
única) concluam, se ainda não concluíram, que a asneira é dupla. A única razão, completamente inaceitável, é
a de que é uma imposição da tróica.
O PCP vai continuar a travar a batalha de denúncia, de protesto, de propostas contra estas possíveis
decisões do Governo PSD/CDS, inclusive no próximo debate do Orçamento do Estado. Mas se estas ou
algumas destas medidas avançarem e os Deputados do PSD e do CDS não as rechaçarem, então fazia-lhes
um pedido: por razões de pudor político e de decência parlamentar, não falem mais, na Assembleia da
República, em micro, pequenas e médias empresas, na competitividade da economia nacional e no apoio à
produção nacional, nomeadamente agro-alimentar.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Agostinho Lopes, cumprimento-o pelo tema
da declaração política que aqui trouxe e passo a colocar-lhe duas perguntas muito simples.
Em primeiro lugar, pergunto se considera que o aumento do IVA que agora se anuncia para o sector da
hotelaria e da restauração e para produtos agrícolas e agro-alimentares corresponde, de alguma forma, ao
que o PSD e o CDS tinham vindo a apregoar sobre a necessidade de mais competitividade para a nossa
economia. Ou não será o contrário? Este aumento de IVA, juntamente com todos os outros aumentos a que
assistimos (do IVA directo nos produtos, mas também do IVA na energia), não significará, de facto, matar a
economia real, condenar à falência imensas empresas, arrasar sectores económicos inteiros e, portanto,
provocar ainda mais desemprego?
Como se pode falar de competitividade ou de exportação quando, na realidade, estamos a matar todos os
sectores económicos que poderiam tentar ter alguma competitividade ou exportar fosse o que fosse?! Não é
exactamente esta a mesma receita, de secar o mercado interno e de arrasar com todo o sector produtivo
nacional, que está a ser aplicada, por exemplo, na Grécia, com o consequente caminho para o abismo que
conhecemos?
Em segundo lugar, o Sr. Deputado não considera que o PSD e o CDS não fazem nada do que prometeram
aos portugueses e que, muito pelo contrário, estão numa deriva ideológica, fanática, a matar a economia real,
em nome do pagamento de uma especulação financeira que nunca questionam e cujo resultado todos
conhecemos, que é o caminho para o abismo de um País, de uma economia e mais desemprego?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.
Página 17
14 DE OUTUBRO DE 2011
17
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, agradeço-lhe as
questões que colocou, que considero ter abordado de forma suficiente na intervenção que fiz.
É, sem dúvida alguma, uma questão central o problema da perda de poder de compra dos portugueses e
de competitividade da economia nacional em sectores transaccionáveis e em alguns dos principais produtores
de bens não transaccionáveis — os casos da indústria agro-alimentar, o principal contribuinte nos sectores de
bens transaccionáveis para o valor acrescentado bruto do País, e do turismo e restauração, com um peso
brutal na percentagem da exportação de serviços do País.
Portanto, todas essas consequências são conhecidas. O Governo e o PSD conhecem-nas muito bem e,
certamente, não é por acaso que é feito este «silêncio de chumbo» relativamente a esta abordagem.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — É que ela contradiz tudo o que andaram a dizer durante anos nesta
Assembleia. Tudo!
Ainda não há muito tempo, há cerca de três anos, o PSD apresentou nesta Assembleia um projecto de
resolução de apoio às micro, pequenas e médias empresas, propondo a criação de mecanismos de
compensação fiscal nas zonas fronteiriças…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — … a fim de diminuir a discriminação face aos nossos vizinhos
espanhóis.
Como estas coisas se esquecem por quem conhece exactamente o problema, mas não o quer enfrentar!
Esta será, talvez, a nova forma de fazer política nesta Casa, que é uma velha forma de fazer política do
PSD, do CDS e também do PS: a de dizerem uma coisa quando são oposição e fazerem exactamente o
contrário quando estão no poder.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Aliás, o PS também está calado porque sabe que esta matéria tem a
responsabilidade da sua assinatura, ao ter subscrito um acordo onde esta questão está prevista. E fê-lo sem
sequer ter um breve sobressalto relativamente a um problema que vai penalizar tão gravemente milhares de
pequenas empresas e aumentar significativamente o desemprego no nosso País.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O pouco que já se conhece do
Orçamento do Estado é suficiente para levantar uma questão. Onde é que andaram nos primeiros meses
deste ano os ministros que estão, neste preciso momento, a aprovar o documento? A ouvir as promessas e
propostas do PSD e do CDS não foi certamente, de tal forma que o que vem no documento preliminar
contradiz o discurso e as promessas dos dois partidos que suportam o Governo.
Também o que se vai sabendo vai muito mais longe daquilo que constava do documento de execução
orçamental ou do Memorando assinado com a tróica: medicamentos mais caros, as áreas sociais como a
saúde e a educação e pensões como as mais afectadas pelos cortes orçamentais, diminuição do subsídio de
desemprego e das indemnizações por despedimento, novos impostos sobre a energia, transportes mais caros.
Esqueçam, portanto, tudo o que ouviram. Isso agora não interessa nada! Os portugueses agora já
aguentam sacrifícios, a crise internacional deixou de ser a desculpa dos incompetentes e, diz-se, até afecta o
frágil coração do Primeiro-Ministro. O aumento da carga fiscal já não é um «esbulho» imposto à classe média
e deixou de ser uma política desistente para consolidar as contas do Estado, a diminuição do rendimento das
Página 18
I SÉRIE — NÚMERO 30
18
famílias já não é um ataque à classe média, acreditando-se mesmo que leve nota máxima no visto familiar de
que fala o CDS.
Sr.as
e Srs. Deputados: Como se o País já não tivesse suficientes problemas para enfrentar, o Governo
parece apostado em criar novas dificuldades à economia. Notícias nunca desmentidas, e em parte
confirmadas por Deputados da maioria parlamentar, dão conta do fim da taxa intermédia do IVA. A ser
verdade, o sector da hotelaria e restauração, um sector que emprega centenas de milhares de pessoas, está
condenado ao ciclo arrasador das falências e do desemprego.
Depois das sucessivas declarações sobre a necessidade de descer a taxa social única, avançada como a
pedra filosofal que asseguraria o aumento de competitividade do sector exportador, eis que o Governo avança
para a brutal subida do IVA precisamente no maior sector exportador da economia portuguesa.
É certo que ninguém consegue prever a totalidade dos efeitos devastadores de uma eventual descida da
TSU, uma experiência de laboratório que burocratas e académicos do FMI querem testar em Portugal, fazendo
de uma das economias mais fragilizadas a cobaia do seu fanatismo ideológico.
Em nome da sensatez mínima, é imperioso abandonar esta intenção com um impacto máximo na
economia.
E se sobre as consequências da descida da TSU há dúvidas, sobre a subida do IVA, sobre o fim da taxa
intermédia e o aumento de 10 pontos percentuais do IVA sobre a hotelaria e a restauração temos dados:
largas dezenas de milhares de desempregados, encerramento massivo de estabelecimentos, recuo nas
exportações, cafés, restaurantes, pastelarias de portas fechadas, perda de 730 milhões de euros em receitas
fiscais. Um cenário desolador, que não deixaria de ter as piores consequências no dia-a-dia da vida nas
cidades e na própria segurança das mesmas.
Importa ouvir todas as vozes que se vêm juntando na denúncia do potencial destrutivo do eventual
aumento do IVA num dos sectores mais dinâmicos da economia e que já paga um imposto bem acima do
praticado nos mercados com os quais concorre, como é o caso de Espanha. O Governo tem de recuar nesta
insensatez económica, sem sentido para as contas do Estado, e que nada mais conseguirá do que
desencadear mais uma tragédia social a juntar às que já assolam o País.
Repito: o Governo tem de recuar!
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados, quis o acaso que Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho tivessem falado,
esta semana e no mesmo dia, sobre as dificuldades do ajustamento orçamental enfrentadas pelo País. O
contraste é tão esclarecedor que vale a pena comparar.
Enquanto a primeira reconheceu o óbvio — que há muito tem sido avançado pelo Bloco de Esquerda e
hoje encontra eco em toda a imprensa económica europeia —, que é impossível cumprir as metas do défice
no prazo estipulado com a tróica sem paralisar a economia e criar ainda mais desemprego, Passos Coelho
preferiu explicar o sentido dos sacrifícios pedidos aos portugueses. Crescimento económico, criação de
emprego, dinamização da economia? Nada disso. Apenas sossegar os mercados.
Isso mesmo! Tudo o que o Governo deseja é sossegar os mercados, aqueles que, por definição, vivem do
nervosismo e da especulação.
É em nome dessa política de vistas curtas, que tem dado o resultado que se vê na Grécia, mas também em
Espanha, Itália e na própria saúde do euro, que os sacrifícios agora já são todos aceitáveis. E a Grécia aqui
tão perto, cada vez mais perto.
Matar a economia e secar o mercado interno é o caminho da recessão. Sacrificar agora sem nenhuma
ideia de como recuperar depois. Tem sido este o caminho seguido pelo Governo. Não olhar a meios para
cumprir o acordado, independentemente do seu impacto na economia, e sem nenhum fim que não seja
navegar à vista e à mercê do efeito especulativo sobre o euro. Uma política de terra queimada, onde ir mais
longe do que a tróica também quer dizer a recusa total de qualquer tentativa de renegociação e actualização
do acordado.
O Memorando assinado com a tróica é um mau documento, sempre o dissemos, mas fazer dele a tábua
dos 10 mandamentos, imutável e imperscrutável, é um suicídio que já foi percebido até nos sectores
ideológicos que apoiam este Governo. Não tem de ser assim. É preciso renegociar as condições do
Página 19
14 DE OUTUBRO DE 2011
19
pagamento da dívida e as metas do défice. Olhemos para a Grécia. Não há aumento de impostos e diminuição
da receita do Estado que compensem, num tão curto prazo de tempo, a recessão profunda desencadeada por
esta receita de choque e pavor.
É preciso diminuir o défice, sim, e travar urgentemente o crescimento da dívida pública — de acordo! —,
mas esse plano não pode ser feito, não conseguirá ser feito às custas da destruição da economia, do emprego
e da degradação absoluta da condição de vida dos portugueses. É preciso um plano b — já só o Governo
ainda não o percebeu. Esperemos que quando, finalmente, olhar para os resultados da sua cegueira
ideológica não seja tarde demais.
Pela nossa parte, o Bloco de Esquerda não deixará de criticar esta marcha em passo acelerado para o
abismo, nem deixará de apresentar alternativas em nome do emprego, do crescimento económico e da
democracia.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — O Sr. Deputado Honório Novo, do PCP, inscreveu-se para pedir esclarecimentos à
oradora.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, hoje é quinta-feira. Na
terça-feira à tarde, a Sr.ª Deputada, eu próprio e três outros colegas, do CDS, do PSD e do PS, estivemos a
assistir a um debate muito participado, com mais de 1000 representantes do sector da hotelaria e da
restauração de todo o País — pequenos empresários, microempresários —, que nos transmitiram o drama que
representará para este sector o aumento do IVA de taxa intermédia e de taxa reduzida. Este sector representa
o maior sector exportador em Portugal, representa o quarto sector empregador em Portugal.
Anteontem, os Deputados do PSD, do CDS e do PS ainda falaram, mas ouviram claramente a indignação e
a revolta dos pequenos empresários perante essa possibilidade. Agora, nesta instituição, na casa da
democracia, ficam calados. Ficaram calados há pouco, ficam calados agora,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exacto!
O Sr. Honório Novo (PCP): — … porque a vergonha é bem maior do que o descaramento.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. Honório Novo (PCP): — De facto, como é que conseguem explicar que o Dr. Passos Coelho, em
Maio, tenha dito claramente que aumentar a taxa intermédia do IVA para o sector da hotelaria e da
restauração era uma aberração? Como é que os senhores do CDS explicam que, há ano e meio,
apresentaram nesta Casa um projecto de resolução em que pediam a descida do IVA de 13% para 5% e que,
agora, se preparam para aumentar o IVA de 13% para 23%? Como explicam isto, Srs. Deputados do ex-
partido dos contribuintes?
Sr.ª Deputada Catarina Martins, como é que o Governo, o PSD e o PS — até o PS! — ousam falar em
crescimento económico com este programa de austeridade, com o Memorando, com o pacto de agressão que
assinaram contra o País?
Sr.ª Deputada, como é que explica que estes partidos continuem a falar em crescimento quando sabem
que esta austeridade só nos conduz para a recessão, para o desemprego e para o abismo económico?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Honório Novo, agradeço as perguntas
colocadas.
Página 20
I SÉRIE — NÚMERO 30
20
Sr. Deputado, é bem verdade o que diz: de facto, estamos aqui perante a maior das hipocrisias políticas —
isso está à vista de todos. É talvez por isso que as bancadas da direita não são capazes, hoje, de dizer o que
seja sobre este tema. Já tiveram duas oportunidades para se pronunciar, mas mantêm-se em silêncio.
Ouviram os Deputados do PSD, do CDS-PP e do PS, como nós os dois ouvimos, o panorama traçado pelo
sector da hotelaria e da restauração resultante do aumento da taxa intermédia do IVA: mais 120 000 postos de
trabalhos que se perdem; aumento massivo de desemprego; mais de 50 000 falências, estabelecimentos a
fechar por todo o País; menos 730 milhões de receitas para o Estado. Isto é o que prevê o sector, que se tem
reunido e que tem tido uma actuação de democracia activa, de participação cidadã, lembrando a este Governo
que é preciso não descolar da realidade, que precisamos de saber em que País estamos e que não é matando
a nossa economia que algum dia vamos conseguir pagar alguma dívida.
Aliás, toda esta história da taxa social única e do IVA é o exemplo da incompetência e da
irresponsabilidade deste Governo! Começou por dizer que era inaceitável que o IVA aumentasse, que a carga
fiscal não poderia aumentar, para depois, afinal, a carga fiscal aumentar para compensar a baixa da TSU e
aumentar a competitividade. Chega-se depois à conclusão que uma descida de 4 pontos percentuais na TSU
só descia os custos das empresas em 1% e que estas iam ter um IVA de mais 10%. Portanto, estamos
sempre a perder competitividade. É fazer as contas! Mas o Governo não faz as contas, é irresponsável e não
tem rumo.
Portanto, o que hoje estamos aqui a dizer, mas, acima de tudo, o que todo o sector tem dito, e até gente
próxima e do PSD e do CDS têm dito, é que é preciso voltar atrás, é preciso recuar. Acabar com a taxa
intermédia do IVA é uma irresponsabilidade que não pode passar. O Governo tem de recuar!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Montenegro.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: No passado domingo, o povo da
Região Autónoma da Madeira expressou livre e democraticamente a sua vontade política, elegendo os
deputados da respectiva assembleia legislativa e, por via disso, a formação de um novo governo regional.
Todos sabemos as particulares condições em que decorreu a campanha eleitoral e a responsabilização
política que os eleitores efectuaram no momento em que marcaram a sua opção nos boletins de voto. O povo
falou e escolheu.
Algumas forças partidárias viram crescer a confiança eleitoral dos madeirenses, outras viram essa
confiança diminuir. Oito forças políticas lograram obter representação parlamentar, mas os madeirenses
expressaram de forma clara quem querem a governar a Região Autónoma no ciclo de recuperação económica
e financeira que forçosamente se abrirá agora.
Aplausos do PSD.
E confiaram ao PSD/Madeira a maioria absoluta dos mandatos na assembleia legislativa, respondendo
com inegável responsabilidade cívica à chamada às urnas.
Sr.as
e Srs. Deputados, cada partido tirará as ilações que entender dos resultados eleitorais e interpretará a
correlação desse resultado com a postura assumida em campanha eleitoral. É, contudo, significativo, e por
isso deve ser aqui assinalado, que os partidos da oposição de esquerda — num momento em que o partido
dominante vê diminuir o número de votos e de mandatos — vejam eles próprios diminuir a sua votação e a sua
representatividade.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Isto é, Sr.as
e Srs. Deputados, ficou provado que o «bota-abaixismo» e o
radicalismo não mobilizam as pessoas e não resolvem os problemas.
Aplausos do PSD e do Deputado do CDS-PP Telmo Correia.
Página 21
14 DE OUTUBRO DE 2011
21
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As eleições regionais na Madeira tiveram uma outra marca
relevante, qual seja a absoluta isenção e transparência com que o Governo da República e o Primeiro-
Ministro, não obstante a afinidade partidária da sua principal base de apoio com a do governo regional,
conduziram o processo de conhecimento da situação financeira da Região.
A verdade é que o Governo e o Primeiro-Ministro não se deixaram influenciar pelo calendário eleitoral para
aferir a dimensão do endividamento da Região, as irregularidades na obrigação de reporte e a necessidade de
um programa de ajustamento que reequilibre as finanças da Região. E o Primeiro-Ministro foi mais longe, ao
ponto de, como líder partidário, comunicar que não caucionaria, com a sua presença, essa omissão de
reporte.
Srs. Deputados, por mais que vários dirigentes da oposição insistam em dizer o contrário, o Governo e o
Primeiro-Ministro actuaram de forma isenta e transparente e os eleitores tomaram uma decisão consciente e
responsabilizadora.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
É, pois, dentro deste espírito de transparência, de responsabilização e da solidariedade recíproca que
subjaz aos fundamentos do nosso sistema autonómico, constitucional e legalmente consagrado que
aguardaremos pelo processo de definição de um programa de ajustamento orçamental que deverá ser
implementado pelo novo governo regional.
O PSD e o Governo da República, estou certo, não deixarão de demonstrar a sua solidariedade com o
povo madeirense,…
Aplausos do PSD.
… mas essa solidariedade terá de ter dois sentidos e o governo regional e os madeirenses não poderão
deixar de cumprir e executar com rigor, com exigência e com realismo o programa de ajustamento que vier a
ser definido.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O PSD tem uma longa história
em matéria de autonomia regional, tendo liderado sempre os impulsos de aperfeiçoamento e aprofundamento
que os processos de revisão constitucional e evolução legislativa têm proporcionado.
Aplausos do PSD.
Estamos bem conscientes de que a autonomia política das regiões autónomas foi essencial à recuperação
dos atrasos estruturais que as afectavam nos inícios dos anos setenta, como compreendemos que os ciclos
de investimento público, potenciados também pelas ajudas europeias após a nossa integração, trouxeram às
populações mais qualidade de vida e ao País mais coesão.
A execução desse ciclo de infra-estruturação daqueles territórios permitiu que os nossos concidadãos da
Madeira tivessem acesso aos serviços públicos essenciais e que, por via desse factor, se abrisse também a
porta ao investimento privado e à criação de riqueza e de emprego. Ora, a circunstância de esse investimento
ter sido realizado e o contexto de crise económica e financeira que vivemos tornam adequado que haja agora
uma diminuição do investimento público e se estimule e incentive mais o investimento privado. É também
nesse sentido que o reequilíbrio orçamental da Madeira se terá de promover, cabendo agora aos governos
central e regional negociar e definir os termos do ajustamento financeiro.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: No momento em que assinalo, neste Plenário, o acto eleitoral de
domingo na Madeira e a vitória eleitoral do PSD, quero expressar a convicção de que este acto eleitoral possa
trazer aos agentes políticos regionais uma oportunidade de mudança que responda aos novos desafios que se
colocam ao País e à Região.
Página 22
I SÉRIE — NÚMERO 30
22
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sabemos que o equilíbrio financeiro importa mais contenção, mas temos
a certeza de que os órgãos regionais legitima e livremente escolhidos pelos madeirenses corresponderão à
confiança que destes receberam e prestarão, mais uma vez, um serviço à autonomia, à Madeira e ao País.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao orador, os Srs. Deputados Carlos
Zorrinho, do PS, e António Filipe, do PCP, e Nuno Magalhães, do CDS-PP.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Zorrinho.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Luís Montenegro,
quero começar por saudar os eleitores da Região Autónoma da Madeira, bem como os 47 Deputados eleitos,
e referir que o Partido Socialista perdeu as eleições de 9 de Outubro que se realizaram na Madeira, mas os
grandes derrotados dessas eleições foram o PSD, os madeirenses, em geral, e os portugueses, em particular.
Protestos do PSD.
Acabou um ciclo político na Região Autónoma da Madeira, repito, acabou um ciclo político na Região
Autónoma da Madeira, e o fim desse ciclo político podia ser…
Protestos do PSD.
Srs. Deputados, é sempre assim. Não gostam de ouvir, não ouvem! O vosso líder parlamentar estará à
altura de responder. Tenham confiança nele!
A abertura, agora iniciada, desse novo ciclo podia ter sido feita com tranquilidade, sem punir o povo da
Madeira; esse novo ciclo podia ter sido aberto num quadro de grande solidariedade nacional. A verdade é que
a falta de coragem do Governo em definir previamente as condições que teriam de ser colocadas aos
madeirenses no momento das eleições tornou o Presidente agora eleito num homem ferido, imprevisível, num
homem que vai tornar muito difícil a negociação do plano de ajustamento entre o Governo da República e o
Governo da Região Autónoma da Madeira. Não teria sido necessário chegarmos a este ponto.
Por isso, Sr. Deputado Luís Montenegro, não quero e não posso, naturalmente, limitar a sua liberdade do
uso da palavra, mas gostaria, contudo, de sugerir que, em vez de utilizar o tempo que tem disponível para me
responder, responda, antes, à pergunta que lhe foi feita pelo Deputado Guilherme Silva: que austeridade para
a Madeira? Que plano de ajustamento para a Madeira?
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Como o Sr. Deputado Luís Montenegro pretende responder individualmente a cada
Deputado, tem a palavra.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Carlos Zorrinho,
começo por lhe dizer que a sua afirmação segundo a qual os grandes derrotados das eleições foram o PSD,
os madeirenses e os portugueses denota, em primeiro lugar, que VV. Ex.as
, no Partido Socialista, continuam
zangados com as pessoas, continuam zangados com a democracia, continuam zangados com a expressão
livre e democrática das pessoas em actos eleitorais.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Página 23
14 DE OUTUBRO DE 2011
23
Denota ainda uma outra coisa: que não aprenderam nada e que o discurso político que tiveram na
campanha eleitoral, e que hoje reafirmam, é a explicação do grande fracasso eleitoral que tiveram nas
eleições do passado domingo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Sr. Deputado Carlos Zorrinho, devo, de resto, assinalar o seguinte: tive ocasião de dizer na minha
intervenção que, por parte do Governo, por parte do Primeiro-Ministro e por parte, também, do PSD,
soubemos acompanhar a evolução da campanha eleitoral distinguindo aquilo que era a campanha
propriamente dita da necessidade de o País conhecer a situação financeira da Madeira e também a
necessidade de haver um plano de ajustamento financeiro para a Madeira. Mas, Sr. Deputado Carlos Zorrinho,
não vamos esquecer-nos de que o País, pela vossa responsabilidade, precisou, mais cedo do que a Madeira,
de um plano de ajustamento financeiro para recuperar da sua situação.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PS.
Finalmente, Sr. Deputado Carlos Zorrinho, para haver plano de ajustamento para resolver a situação
financeira da Madeira, foi preciso, primeiro, conhecer essa situação, conhecimento esse que se fica a dever ao
empenho do actual Governo, liderado pelo PSD.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É a conversa do «roto» para o «nu»!
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Montenegro, na sua intervenção, ao
analisar e ao aludir aos resultados eleitorais da Região Autónoma da Madeira, disse que se iniciava um novo
ciclo.
Sr. Deputado, o PSD, na Madeira, governa com maioria absoluta há 35 anos. No próximo mandato, essa
maioria absoluta, embora muito mais reduzida, mantém-se. Pergunto: quais vão ser as características deste
novo ciclo?
Risos do PCP.
Enfim, é uma interrogação que fica no ar, depois da sua intervenção.
De facto, e porque foi notório, o PCP verificou a frieza com que o PSD nacional acolheu os resultados do
PSD-Madeira. Talvez isso não tenha sido alheio ao facto de ter havido no PSD dois discursos completamente
diferentes: o discurso nacional do PSD e o discurso eleitoral do PSD-Madeira, procurando demarcar-se de
opções fundamentais do PSD nacional, de forma a manter a maioria absoluta na Região Autónoma da
Madeira e a conseguir captar o eleitorado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Mas também é uma evidência — e não é preciso ser adivinho para o prever
— que as posições manifestadas com toda a contundência pelo Dr. Alberto João Jardim na campanha eleitoral
não vão ser seguidas, de maneira nenhuma, pelos Srs. Deputados do PSD eleitos do PSD pela Região
Autónoma da Madeira para a Assembleia da República. Isso é uma evidência! Uma coisa foi o discurso
eleitoral na Madeira, outra coisa é o que os Deputados do PSD, e mesmo os do PSD-Madeira, vão tomar
nesta Assembleia,…
Página 24
I SÉRIE — NÚMERO 30
24
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — … sobre questões decisivas quanto ao futuro próximo dos madeirenses.
O Sr. Deputado Luís Montenegro fala como se os madeirenses, em geral, tivessem ficado todos ricos com
a dívida da Madeira…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — … e agora tenham que pagar essa dívida. Sr. Deputado, não é verdade,
não é verdade! Os madeirenses não são responsáveis pelos desvarios da governação do PSD na Madeira,
como também não são responsáveis pelos desvarios da governação nacional do Partido Socialista que
também tem, obviamente, consequências sobre a situação social na Região Autónoma da Madeira.
Sr. Deputado, quando fala na sua intervenção, em programa de ajustamento necessário sem dizer no que
vai consistir, a questão decisiva é a de saber se os senhores pretendem que o povo da Região Autónoma da
Madeira seja duplamente prejudicado e que exista, para os cidadãos da Madeira, o que podemos chamar de
dupla autoridade. Isto é, para além de pagarem os sacrifícios injustos que querem impor à generalidade do
povo português, a questão é a de saber se os senhores querem impor sacrifícios adicionais ao povo da Região
Autónoma da Madeira.
Sobre isso, os senhores não são claros, mas era muito importante saber se é intenção do PSD e do
Governo penalizar duplamente os cidadãos da Região Autónoma da Madeira. Pelo vosso discurso, temos
receios, muito fundados de que seja exactamente essa a vossa intenção.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Montenegro.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado António Filipe,
aludiu ao termo que utilizei de que estas eleições marcariam o início de um novo ciclo na Região Autónoma da
Madeira.
Percebo que para um destacado Deputado e dirigente do PCP seja difícil compreender que é possível que
os mesmos protagonistas e os mesmos partidos possam ter novos ciclos, independentemente de se manterem
no exercício de funções por um grande número de anos.
O Sr. António Filipe (PCP): — É o chamado «ciclo vicioso»!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Eu sei que no PCP, mesmo quando mudam as caras, mesmo quando
mudam os protagonistas, o ciclo é sempre o mesmo. Mas tenho esperança — e foi isso que eu disse na
intervenção — de que destas eleições, da realidade actual do País e da Madeira, terá que resultar,
efectivamente, um novo ciclo na acção política regional. De resto, fiz alusão à circunstância de, nos últimos 30
anos, ter sido necessário empreender naquela região autónoma, como na dos Açores, um esforço adicional de
investimento público para recuperar o atraso que tinham há cerca de 30 anos.
É verdade que já foi realizado grande parte desse investimento, é verdade que a situação actual do País é
difícil e é também verdade que a situação financeira da Madeira é difícil, razão pela qual temos todos de
conjugar esforços para que este novo ciclo tenha políticas diferentes que se compaginem com esta realidade.
É isso que esperamos e foi esse o apelo que também lancei da tribuna no sentido de os governos
legitimamente representados quer no parlamento regional e no governo regional da Madeira quer na República
— porque não sou eu nem a Assembleia da República que vamos definir —, de ora em diante, empreenderem
o programa de ajustamento financeiro.
Sr. Deputado António Filipe, não percebo muito bem que V. Ex.ª tenha uma visão tão negativa destes anos
de investimento e, quando se abre um ciclo novo em que este investimento tem de ser mais moderado, V. Ex.ª
Página 25
14 DE OUTUBRO DE 2011
25
se mantenha contra a perspectiva dessa evolução. V. Ex.ª, ao fim e ao cabo, está contra tudo e contra todos.
Esteve contra o ciclo anterior e está contra o novo ciclo.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É o mesmo!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Tal como comecei, termino dizendo que o PCP se mantém, como
sempre, no ciclo do costume.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — São uns troca-tintas!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E o vosso ciclo é mudar de opinião de três em três meses!
Entretanto, assumiu a presidência a Sr.ª Vice-Presidente Teresa Caeiro.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Luís Montenegro,
começo pelo óbvio, e o óbvio, nestas alturas, exige que cumprimente, através de V. Ex.ª, o Partido Social
Democrata pela vitória que obteve nas últimas eleições de domingo. Digo-o com o à-vontade de quem já teve
maus resultados, muito maus resultados, mas que, desta vez, teve um excelente resultado,…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Histórico, histórico!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … fruto de uma extraordinária campanha do Deputado José Manuel
Rodrigues e da sua equipa.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Deputado, isto para lhe dizer que, para nós, CDS-PP, em
democracia, por um voto se ganha e por um voto se perde. Quando se perde por muito, devemos tirar as
ilações devidas e, se necessário, mudar de ciclo.
Há algo que o CDS nunca fez, nem fará, que é culpar os eleitores pelos nossos erros e pelos nossos
resultados.
Aplausos do CDS-PP.
Foi justamente isso que aqui vimos hoje da parte do Partido Socialista. Justificar uma derrota colossal com
o facto de o Governo fazer aquilo que o mais elementar bom senso exigia, que é negociar com o Governo
recém-eleito, é algo que nos parece injustificável.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Culpar os portugueses, culpar os madeirenses, culpar tudo e todos,
excepto nós próprios. O mundo é que está mal, nós estamos todos bem, somos perfeitos!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não perceberam nada!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Quero dizer, desde logo, que o PS não aprendeu a lição, Sr.
Deputado. Para mim, a lição das últimas eleições é, precisamente, esta: saber punir quem contrai dívida, seja
na Região Autónoma da Madeira, seja no País, e saber, ao mesmo tempo, dar, premiar e valorizar quem fez
Página 26
I SÉRIE — NÚMERO 30
26
uma campanha construtiva, quem apresenta propostas. Todos nós vimos aqui — ao arrepio, aliás, de uma
tradição parlamentar — a tentativa do Partido Socialista, na quinta-feira antes das eleições,…
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … de fazer um debate de urgência que, em última análise, foi um
debate contra a Madeira e, sobretudo, contra o Partido Socialista, que, no domingo, obteve o resultado que
sabemos também por força desse erro estratégico.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Por isso, como o Sr. Deputado muito bem disse e como o Deputado
José Manuel Rodrigues também já salientou, é tempo de gerar consensos.
A situação do País é difícil, é necessário um compromisso. Naturalmente que será uma negociação
também difícil, mas tem ou não V. Ex.ª a convicção que nós temos de que o Governo, em conjunto com os
partidos que formam a coligação e com o governo regional, saberá encontrar as melhores soluções para
Portugal e, encontrando para Portugal, também o fará para os madeirenses?
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Montenegro para responder,
querendo.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, começo por lhe dizer
que tenho, a propósito da interpretação dos resultados eleitorais, a mesma visão que V. Ex.ª aqui apresentou.
Em democracia, ganha quem tem mais votos, e quem teve mais votos foi o PSD.
Vozes do PSD: — Exactamente!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Em democracia, ganha também quem consegue crescer eleitoralmente
e o CDS-PP também ganhou porque cresceu eleitoralmente. Quero, pois, devolver-lhe o cumprimento de
felicitação que teve ocasião de dirigir ao PSD.
Aplausos do PSD.
Agora, Sr. Deputado Nuno Magalhães, como V. Ex.ª dizia, era muito importante que todos soubessem tirar
as ilações dos resultados eleitorais, que todos soubessem avaliar aquela que foi a capacidade que tiveram de
mobilizar os eleitores em torno dos projectos políticos que se apresentaram a sufrágio.
É verdade que, hoje, nesta Câmara, não assistimos a um exercício de humildade democrática por quem
não teve capacidade para promover essa mobilização.
Aplausos do PSD.
Mas quero dizer-lhe, em nome do PSD e da bancada do PSD, que, não obstante termos vencido as
eleições, temos a humildade democrática de respeitar todos os sinais que os eleitores endereçaram a todos os
partidos e esperamos estar à altura da responsabilidade que nos foi endossada, de governar a Região
Autónoma e de promover a recuperação económica e financeira dessa mesma região.
Finalmente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, gostaria de dizer-lhe, como já tive ocasião de referir na minha
declaração política, o seguinte: estamos certos de que, quer o Governo quer as bancadas da maioria que o
suporta neste Parlamento, não deixarão de demonstrar a sua solidariedade com o povo madeirense e com os
órgãos legitimamente eleitos. Mas queremos que este esforço de solidariedade tenha — nos termos, aliás,
daquilo que é a arquitectura do nosso sistema constitucional de autonomia — dois sentidos e que sejam
também os madeirenses, eles próprios, os primeiros a perceber e a reconhecer que se espera deles, com rigor
e exigência, um esforço para a recuperação financeira da Região Autónoma.
Página 27
14 DE OUTUBRO DE 2011
27
Esse é um esforço dos madeirenses, equivalente ao esforço que também temos em todo o território
nacional. Estaremos com os madeirenses, como esperamos que os madeirenses estejam connosco.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Freitas.
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo com um número expressivo:
as exportações agrícolas registaram um incremento de 15% nos primeiros oito meses deste ano, segundo
números do INE. Expressivo, sim, mas não surpreendente. Só confirmam o ritmo de crescimento das
exportações do agro-alimentar ao longo desta década, que foi muitíssimo superior ao das importações. A taxa
de crescimento anual das exportações do sector agro-alimentar, em valor, nesta década, foi de 7%, o dobro do
ritmo de crescimento das importações.
Adianto outro número, esse, apesar de tudo, mais surpreendente. Foi aberto, em Fevereiro deste ano, um
concurso, no PRODER, no valor de 50 milhões de euros para investimento. Apareceram candidaturas no valor
de 900 milhões de euros. Dos projectos contratados até este concurso estão para pagamento, no PRODER,
cerca de 40 milhões de euros. Portanto, o investimento continua a um ritmo interessante.
Temos, pois, um sector que quer investir, que mostra capacidade de concretização, que se apresenta mais
eficiente e mais competitivo e com capacidade exportadora.
E o que se espera do Governo? Decisão — apenas isso, decisão. Que decida repor, rapidamente, a
normalidade nos pagamentos e recuperar o atraso relativamente aos projectos contratados. É preciso
desbloquear, de forma inequívoca, os restantes 38 milhões de euros de PIDDAC que ainda faltam para apoiar
o PRODER, este ano.
Aplausos do PS.
Que decida avançar com o concurso que foi aberto em Fevereiro e que não está concluído, ao final de
nove meses. Que diga o que vai fazer.
Que decida se adia ou não o Alqueva, qual o seu calendário concreto e programação financeira, e não
ande ao sabor da táctica política local. Existem opções, até em termos de fonte de financiamento, para esta
obra estruturante. Decida. Faça o que lhe compete.
O que sentimos é que, hoje, no Ministério, não há decisão e, em alguns casos, como na exoneração do
Presidente do Instituto do Vinho do Porto, há precipitação e imaturidade política, como, aliás, ficou
comprovado ontem nas audições sobre o Douro.
Sabemos que não há dinheiro para tudo. Reconhecemos as dificuldades financeiras do País e,
naturalmente, a necessidade de fazer escolhas.
É preciso decidir, num quadro de coerência e de opções claras.
O investimento no sector agro-alimentar é essencial. Não pode o Governo travar a dinâmica do sector que
quer investir. É possível discutir PIDDAC para outras questões, mas não podemos pôr em causa o
investimento agrícola.
É isso que se exige no próximo Orçamento do Estado — exactamente as mesmas condições que o CDS
propôs para o Orçamento do Estado de 2011 e que tiveram o nosso apoio. Espera-se coerência no CDS sobre
esta matéria e a força do Ministro Paulo Portas, no Governo, para o conseguir.
Mas temos ainda outra preocupação. O aumento do IVA nos alimentos que pode vir a ter um forte impacto,
do ponto de vista económico e social. Não é solução, não é a nossa solução. Neste caso, esperamos a
coerência do PSD e do próprio Primeiro-Ministro, que defendeu exactamente isso para o Orçamento anterior.
Se a Ministra da Agricultura não conseguir convencer o resto do Governo da necessidade de aumentar o
ritmo de investimento e não aumentar o IVA dos alimentos, só podemos estar perante o fraquejar da Ministra
no Governo e perante o fraquejar do CDS na coligação.
Aplausos do PS.
Página 28
I SÉRIE — NÚMERO 30
28
É porque tudo isto contradiz o que o CDS sempre defendeu na oposição e rompe, assim, com a confiança
dos agricultores no CDS e nos seus compromissos.
Mas temos outras preocupações. Ontem mesmo, a Comissão Europeia apresentou as propostas
legislativas para a reforma da PAC. Consideramos decepcionante a proposta de convergência das ajudas
entre Estados-membros, apenas uma aproximação de 30%, até 2020. Portugal continuará a perder. No final
do período, Portugal manter-se-á em 23.º lugar no ranking das ajudas e ainda haverá dois países cujos
agricultores receberão mais do dobro das ajudas por hectare que os agricultores portugueses — inaceitável.
E sobre o leite, não há qualquer proposta credível e consistente.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ah, agora é que descobriram!
O Sr. Miguel Freitas (PS): — O sector do leite está em grande risco nesta negociação, porque é
penalizado quer pela necessidade de equilibrar ajudas entre sectores, quer pela proposta de fim das quotas.
Pensamos que é preciso conseguir uma negociação autónoma — repito, uma negociação autónoma — para o
leite e defender um regime especial para este sector.
De entre as propostas, as mais interessantes são as apresentadas para os jovens agricultores e para as
pequenas agriculturas, com uma ajuda-base reforçada e regimes específicos e simplificados. Significa isto que
devemos defender, até à exaustão, esta proposta da Comissão.
Srs. Deputados, há um longo caminho a percorrer. É preciso estratégia e decisão. O PS está disponível
para participar no esforço nacional para se conseguirem as boas soluções para a agricultura portuguesa. Mas
sejamos claros: a iniciativa está do lado da maioria e do Governo.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Inscreveram-se quatro Srs. Deputados para pedir esclarecimentos.
Pergunto-lhe, desde já, Sr. Deputado, se pretende responder separadamente ou em conjunto.
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Separadamente, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Muito bem, Sr. Deputado.
Tem, então, a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Freitas, louvo a sua coragem
para falar da tribuna sobre o PRODER. Atendendo ao historial do Partido Socialista, no governo, sobre o
PRODER, acho notável que tenha tido a coragem para o fazer.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Deputado falou na questão da decisão, de que se quer decisão deste Ministério. Ora, uma coisa que
a Sr.ª Ministra teve de decidir foi a de ir à procura do dinheiro que os senhores não deixaram lá para o
PRODER.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Quanto à questão da revisão da PAC, saúdo-o por trazer este tema. É
actual, é importante e sabemos que a proposta ontem apresentada está muito longe de ser a proposta que vai
ser aprovada. Provavelmente, só nos últimos minutos, sairá do Conselho Europeu a versão definitiva.
Há alguns aspectos positivos, a saber: o reforço do apoio aos pequenos agricultores; a simplificação para
que esses pequenos agricultores e os jovens agricultores tenham melhores condições de acesso à agricultura;
a possibilidade de transferência, do 2.º Pilar para o 1.º Pilar, de 10% dos recursos, o que ajuda bastante
Portugal; a introdução de mecanismos de gestão de riscos; o fortalecimento das OPP.
Página 29
14 DE OUTUBRO DE 2011
29
No entanto, concordamos que, nesta matéria, existe um grande problema ao nível da convergência — e é
muito tímida — da ajuda média. Estamos muito longe da média europeia.
De facto, também nos preocupa que, ao exigir-se aos Estados-membros um nível de convergência interna,
essa ambição, do ponto de vista da equiparação total entre os Estados-membros, seja muito tímida. Isso
preocupa-nos. E porquê? Porque o fundamento é baseado em condições ecológicas diferenciadas e sabemos
que isto prejudica altamente Portugal.
Também nos prejudica bastante o facto de existir uma disparidade entre a superfície agrícola útil e a
superfície elegível. Isto também é muito preocupante para Portugal e espero que seja alterado.
Sr. Deputado, quero fazer-lhe uma pergunta e um convite. Uma primeira pergunta, para perceber se este
novo PS é diferente do anterior PS, tem a ver com o seguinte: durante anos, vimos o Sr. Eurodeputado
Capoulas Santos defender o fim das quotas leiteiras e, também durante anos, vimos o mesmo Sr.
Eurodeputado defender o total desligamento das ajudas. Pergunto-lhe, então, se, relativamente a esta matéria,
o novo PS e o Sr. Deputado Miguel Freitas têm uma visão totalmente diferente e se colocam ao lado do sector
e dos interesses de Portugal.
E faço-lhe este convite, Sr. Deputado: junte-se a Portugal e ao Governo nesta longa maratona negocial,
para que Portugal tenha massa crítica, tenha músculo.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
O Sr. Deputado vai concordar comigo se lhe disser que os nossos agricultores merecem e, mais importante
do que isso, que Portugal precisa muito de uma agricultura pujante.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — O Sr. Deputado Miguel Freitas informou a Mesa de que, afinal, opta
por responder, em conjunto, a dois Srs. Deputados de cada vez.
Assim, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Abel Baptista.
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Freitas, acho notável não só ter
tido a coragem, como referiu o Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos, para dizer o que disse, mas também tê-lo
feito sem corar,…
Risos do Deputado do PS Miguel Freitas.
… sem corar de vergonha.
É que o Sr. Deputado vir aqui reclamar medidas de um Governo, há três meses em funções, sobre
problemas que o governo do seu partido, durante seis anos, não foi capaz de resolver, é obra! Realmente, é
necessário ter grande coragem, para não dizer outra coisa…
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Mas deixe-me lembrar-lhe aqui duas ou três questões, nas quais,
durante estes três meses, este Governo mostrou determinação e eficácia, sem ter andado a fazer anúncios de
coisas que iria fazer e que, depois, não eram feitas, mas que, para a opinião pública, era como se tivessem
sido.
Sr. Deputado, lembra-se o que aconteceu com o problema da E.coli? Portugal pediu, para apoiar os
agricultores portugueses, e pagou 5,4 milhões de euros.
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Isso estava negociado no passado!
Página 30
I SÉRIE — NÚMERO 30
30
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — O que foi que o PS fez, designadamente, durante os primeiros dos
últimos seis anos? Esteve, por exemplo, três anos sem aprovar um único projecto para jovens agricultores.
Veja bem: não foram três meses, mas três anos!
Diz hoje o Sr. Deputado que o Ministério da Agricultura não toma decisões. Pois não, Sr. Deputado! Foi o
Ministério da Agricultura deste Governo que tomou a decisão de libertar 25 milhões de euros que permitiram
pagar aos agricultores, não havendo, assim, dívidas em atraso.
Dentro de dias, o Ministério da Agricultura pagará por antecipação o RPU (Regime de Pagamento Único) a
um número enorme de agricultores, o que não era feito no passado.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exactamente!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Com este Governo, já está no terreno a elaboração do parcelário,
matéria sobre a qual os governos do Partido Socialista, durante anos, fizeram zero.
Vozes do CDS-PP: — É verdade!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Sr. Deputado, foi este Governo que iniciou os trabalhos para a criação
do seguro agrícola, o SIPAC (Sistema Integrado de Protecção contra as Aleatoriedades Climáticas), que muito
brevemente estará concluído. Está ao seu lado o Sr. Deputado António Serrano, ex-ministro da Agricultura,
que durante dois anos disse que o iria criar, mas não criou. Tenho a certeza de que não serão precisos dois
anos para o criar.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, vai concluir, não é verdade?
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Sr. Deputado, este Governo teve de fazer uma coisa que o governo do Partido Socialista não foi capaz de
fazer e que essa, sim, é favorável aos agricultores. Foi necessário alterar a legislação para prolongar os
prazos de licenciamento previstos no REAP (Regime do Exercício da Actividade Pecuária). Por que é que o
governo do Partido Socialista não o fez?
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Protestos do Deputado do PCP Agostinho Lopes.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado Abel Baptista, a Mesa não o pode felicitar pelo
cumprimento do tempo, mas gostaria de o felicitar pelo dia do seu aniversário.
Em nome da Mesa, muitos parabéns!
Aplausos do PSD, do PS, do CDS-PP e do BE.
Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Freitas.
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos, em relação às questões
do PRODER, de acordo com o nosso historial, durante os primeiros seis meses deste ano, pagaram-se 32
milhões de euros por mês; os senhores chegaram ao Governo em Junho e, de Junho a Agosto, esteve parado
o pagamento do PRODER; em Agosto, pagaram 100 milhões de euros, isto é, repuseram o valor de Junho a
Agosto; a partir daí, não pagaram mais nada. Neste momento, temos 40 milhões de euros em atraso e, se não
desbloquearmos rapidamente os tais 38 milhões de euros previstos no PIDDAC, corremos o risco de chegar
ao final do ano com um atraso de pagamento aos agricultores de 100 milhões de euros.
Sr. Deputado Abel Baptista, o que andam a fazer no Ministério é a nomear assessores de imprensa para a
Sr.ª Ministra. Nomearam dois assessores: o licenciado Sr. Daniel Filipe Costa da Fonseca, da RTP, e o Sr. Rui
Miguel da Silva, com o nível remuneratório 82 da tabela remuneratória, ou seja, com salários de 4182 €,…
Página 31
14 DE OUTUBRO DE 2011
31
Protestos do CDS-PP.
… o que significa que a vossa preocupação é com a imagem da Sr.ª Ministra.
Aplausos do PS.
Protestos do CDS-PP.
Estas nomeações não constam do portal da transparência, no qual o Sr. Primeiro-Ministro disse que iria
colocar todas as nomeações.
Não quero, no entanto, deixar sem resposta algumas das questões que aqui colocou.
Praticamente tudo o que disse que a Sr.ª Ministra fez até agora — o que é normal fazer, mas espanta-me a
arrogância com que o dizem — …
Protestos do CDS-PP.
… foi negociado pelo Sr. ex-ministro da Agricultura António Serrano, agora Deputado, como foi o caso da
E.coli e da decisão dos 25 milhões de euros previstos em PIDDAC — os senhores apenas desbloquearam
esta verba que estava já estipulada numa norma extraordinária aprovada por esta Assembleia da República.
Portanto, Sr. Deputado, esperamos que, de facto, consigam o que a agricultura portuguesa neste momento
precisa, mas ainda não vimos nenhuma decisão por parte da Sr.ª Ministra da Agricultura.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Luís
Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Freitas, acerca do impacto do aumento
do IVA no sector agro-alimentar pronunciámo-nos há pouco e, portanto, só podemos acompanhar a crítica.
Entendemos do vosso silêncio à nossa posição uma concordância da parte do Partido Socialista sobre o muito
negativo impacto desta alteração da estrutura das taxas de IVA. A nosso ver, vai muito para além do que está
estabelecido no Memorando da tróica, embora o conjunto das medidas já estivesse aí mais ou menos
desenhado.
Seja como for, acompanhamos essa crítica ao Governo, à actual maioria, e fizemos hoje aqui um apelo a
que recue em matéria de IVA, porque isso vai matar a economia e impedir qualquer sustentabilidade das
finanças públicas, por paradoxal que pareça.
Sr. Deputado Miguel Freitas, teremos oportunidade de discutir a PAC, a política agrícola comum, e de ver,
dentro de poucos dias, o que nos reserva o Orçamento do Estado para a agricultura.
Sr. Deputado, independentemente da autoridade ou não do Partido Socialista não, não é disso que
cuidamos aqui agora, ou de saber se estamos numa espécie de jogo de «passa-culpas» do qual certamente
não sairá grande balanço nem grande interesse para os portugueses, quero situar um problema essencial.
A Sr.ª Ministra da Agricultura, entre outras pastas que neste momento detém, pertence ao CDS-Partido
Popular, que, de uma forma muito mais vincada do que o Partido Social Democrata, sustentou aqui, ao longo
de anos, incluindo neste ano de 2011, já com vários programas de estabilidade e crescimento vencidos uns
atrás dos outros, que era um erro crasso, uma dificuldade adicional para os agricultores — e era! — o
PRODER não ser cumprido na sua totalidade, designadamente na parte nacional das comparticipações.
É esse mesmo partido que hoje não pode deixar sem resposta qualquer debate político acerca do
cumprimento do PRODER. Nenhum outro partido tem autoridade como tem o CDS para dizer que vamos
cumprir a 100% a comparticipação nacional do PRODER. Todos nos lembramos do Deputado Paulo Portas,
em debates quinzenais com o primeiro-ministro, a acenar papéis e reivindicar a comparticipação nacional do
PRODER.
Página 32
I SÉRIE — NÚMERO 30
32
O Sr. João Semedo (BE): — Bem lembrado!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — O que estamos aqui a discutir é a violação do contrato eleitoral.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Portanto, não vale a pena falar do passado do Partido Socialista ou do
passado das contas públicas, porque todos conheciam exactamente como estavam as contas públicas e, se o
CDS-PP aqui defendeu a comparticipação nacional a 100% do PRODER, só podemos esperar que, no
próximo Orçamento do Estado, essa comparticipação lá esteja a 100%.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado
Agostinho Lopes.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Freitas, sobre a reforma da PAC,
por tudo o que aqui referiu, não precisamos de esperar pelo fim para ver que o princípio é mau. No entanto,
julgo que o Sr. Deputado deveria rapidamente entrar em contacto com o Eurodeputado socialista no
Parlamento Europeu Capoulas Santos, que considera este ponto de partida bom. Quanto a esta matéria,
existe contradição dentro do Partido Socialista que necessita, sem dúvida, de algum esclarecimento.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É o fuso horário!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Relativamente aos problemas do Douro que ontem foram aqui
abordados, podemos dizer que o novo Governo replica o comportamento dos governos PS e, como ontem
ficou claro, que o Governo é responsável pelo prejuízo no valor de 20 a 25 milhões de euros que os pequenos
vitivinicultores vão ter este ano pela perda do volume de benefícios.
Quanto ao PRODER, Sr. Deputado, o novo Governo está com uma amnésia colossal, uma amnésia
galopante, tão grande que nem sabe onde estão os 50 milhões de euros extraordinários que foram votados
nesta Assembleia no debate do Orçamento do Estado para este ano por proposta do CDS.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — No que se refere aos atrasos no pagamento do PRODER e noutras
dívidas aos agricultores, todos nos lembramos do ar compungido com que o Dr. Paulo Portas levantava, neste
Plenário, este problema.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exactamente!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Gostava de perguntar por que razão o Governo do PSD/CDS-PP, onde
está o CDS-PP, não paga as comparticipações de milhões de euros que são devidas às organizações dos
produtores de pecuária deste País, o que está a pôr em causa a sanidade animal e todo o património
acumulado de trabalho e de investimento público. Não pagaram também os acertos de 2009, não está nada
pago de 2011 e, pior, está em cima da mesa, por contacto com membros do Ministério da Agricultura, acabar
com esse apoio em 2012.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Uma vergonha!
Página 33
14 DE OUTUBRO DE 2011
33
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — É uma pena que os senhores não esclareçam esta questão.
Provavelmente, como a Sr.ª Ministra anda muito preocupada em contratar de assessores —, …
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Terminou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — … além dos dois que aqui foram referidos para tratar da imagem, foram
contratados cerca de 15 no total —, depois não arranja dinheiro para fazer alguns destes pagamentos e
esclarecimentos.
Para terminar, Sr.ª Presidente,…
A Sr.ª Presidente: — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — … quero dizer ao Sr. Deputado Abel Baptista o seguinte: é uma
evidência que este problema de não corar é muito frequente nas duas bancadas que apoiam o Governo. Diria
mesmo que estes Deputados são todos «incoráveis» ou incuráveis, como queira escolher.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Miguel Freitas.
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Fazenda, começo por lhe dizer que
estamos muito preocupados e somos contra o aumento do IVA na hotelaria e na restauração.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ah, sim…?!
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Portanto, se esperava uma resposta por parte do Partido Socialista à
questão que colocou, ela é objectiva.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Demoraram quase 1 hora a descobrir isso!
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Mas também somos contra o aumento do IVA nos alimentos. E
manifestamos isso, com muita clareza, nesta Assembleia.
Quero aproveitar a questão que colocou sobre o PRODER para lhe dizer que a nossa preocupação vai
ainda mais longe. Neste momento, o Governo prepara-se para renegociar em Bruxelas a alteração do
PRODER que levará a uma redução de 500 milhões de euros e ao encerramento do PRODER este ano. Essa
é a sua primeira e grande opção. Nós somos contra e consideramos isso um enorme erro.
Sr. Deputado Agostinho Lopes, a posição do Sr. Eurodeputado Capoulas Santos relativamente à reforma
da PAC tem de ser, naturalmente, uma posição prudente, sendo ele o relator do Parlamento Europeu para a
reforma da PAC.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Esse é um factor agravante!
O Sr. Miguel Freitas (PS): — Mas tenho a certeza de que ele partilha da nossa preocupação relativamente
à questão central desta negociação que tem a ver com a convergência das ajudas entre Estados-membros.
Não temos dúvida sobre isso.
O Sr. Deputado trouxe aqui um tema que é, para nós, também central. Conhecemos o atraso que, neste
momento, existe no pagamento das OPP (Organização dos Produtores de Pecuária) e também a intenção do
Governo de acabar com as OPP.
Sr. Deputado Agostinho Lopes, tenha a certeza de que estaremos do mesmo lado contra a liquidação das
OPP, em Portugal. São organizações de produtores muito importantes, do ponto de vista veterinário e do
apoio à sanidade animal, que não podem continuar a deixar de ter o apoio para desempenhar as suas
funções.
Página 34
I SÉRIE — NÚMERO 30
34
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.as
e Srs. Deputados, fica concluído este primeiro ponto da ordem
de trabalhos, que consistiu em declarações políticas.
Vamos passar ao segundo ponto que consta da discussão, na generalidade, da proposta de lei n.º 15/XII
(1.ª) — Procede à quarta alteração à Lei n.º 2/2004, de 15 de Janeiro, que aprova o estatuto do pessoal
dirigente dos serviços e organismos da administração central, regional e local do Estado, modificando os
procedimentos de recrutamento, selecção e provimento nos cargos de direcção superior da Administração
Pública.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Administração Pública.
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública (Hélder Rosalino): — Sr.ª Presidente, Sr.ª
Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Sr.as
e Srs. Deputados: Actualmente, o
Estatuto do Pessoal Dirigente prevê um modelo de recrutamento e de provimento nos cargos de direcção
superior da Administração Pública, que passarei a resumir em traços gerais.
O recrutamento é efectuado por escolha de um membro do Governo de entre indivíduos licenciados,
vinculados ou não à Administração Pública.
O provimento é realizado por despacho conjunto do Primeiro-Ministro e do membro do Governo
competente, em regime de comissão de serviço, por um período de três anos, renováveis até um máximo de
12 anos.
A mudança de Governo é causa imediata da cessação da comissão de serviço.
A situação actual apresenta como principal vantagem a facilidade de nomeação e de substituição dos
dirigentes e a rapidez na condução do processo de provimento. Todavia, as principais e significativas
desvantagens frequentemente apontadas são: uma maior tendência de partidarização da Administração
Pública; um menor escrutínio dos critérios de escolha dos titulares de cargos de alta direcção do Estado; uma
menor transparência no processo de nomeação; o desfavorecimento do mérito; e a criação de mais cargos de
direcção, muitas vezes desnecessários.
Um estudo comparativo dos sistemas aplicados neste âmbito na União Europeia permitiu concluir que a
maioria dos Estados-membros procede à selecção de candidatos com base no mérito e na competência,
através de métodos de recrutamento transparentes e imparciais, não politizados, aplicados por entidade
diversa daquela que possui a competência para efectuar o provimento final no cargo de direcção superior.
Ficou claro, pela análise comparada que efectuámos, que o modelo actualmente vigente em Portugal se
distanciou das soluções seguidas pela generalidade dos Estados-membros, não se encontrando em linha com
as recomendações internacionais vigentes, designadamente com a Convenção contra a Corrupção, adoptada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 31 de Outubro de 2003.
O actual Governo assumiu a necessidade da mudança do paradigma vigente, preconizando um modelo
independente de recrutamento e selecção, com o objectivo de promover o mérito e despolitizar o processo de
nomeação para estes cargos, assegurando condições de isenção, de igualdade e de liberdade no acesso às
funções de direcção superior na Administração Pública, bem como o respeito pelos princípios da competência,
mérito profissional, imparcialidade e transparência.
Com a implementação da presente proposta de revisão do Estatuto do Pessoal Dirigente, o preenchimento
de cargos de direcção superior deixará de ser efectuado pelo critério de escolha política e passará a ser
precedido de concurso aberto a cidadãos com ou sem vínculo à Administração Pública.
O desenvolvimento das fases de selecção e de recrutamento, em que se inclui a avaliação concreta do
perfil, as competências, a formação e a experiência profissional exigíveis aos candidatos, caberá a uma
entidade administrativa independente designada por comissão de recrutamento e selecção para a
Administração Pública.
Prevê-se, ainda, que a actividade desse órgão seja acompanhada por uma comissão de fiscalização
independente do Governo, a funcionar junto da Assembleia da República.
O novo procedimento passará a contemplar as seguintes fases: primeiro, a do recrutamento, que será
realizado por concurso, sendo o mesmo publicitado na bolsa de emprego público, em portais electrónicos de
Página 35
14 DE OUTUBRO DE 2011
35
emprego e em órgãos de imprensa de expansão nacional, devendo o aviso do concurso indicar os requisitos
formais de provimento, o perfil exigido, a composição do júri e os métodos de selecção a aplicar aos
candidatos.
A iniciativa de abertura do procedimento concursal caberá a um membro do Governo, que define o perfil
requerido e elabora a carta de missão onde são vertidos os objectivos a atingir.
A definição final do perfil do candidato, a publicitação de abertura do concurso e a recepção de
candidaturas será da responsabilidade da comissão de recrutamento e selecção para a Administração Pública.
A fase de selecção será assegurada por um júri constituído por quatro elementos que provêm da comissão
de recrutamento e selecção, um presidente e dois vogais, e um perito da Administração Pública escolhido por
uma bolsa de peritos constituída por técnicos superiores da própria Administração Pública.
O júri, após aplicação dos métodos de selecção, elabora uma proposta ao membro do Governo com a
indicação de três candidatos não ordenados para o provimento do cargo, acompanhada dos fundamentos da
escolha dos mesmos.
Finalmente, na fase de provimento, o Governo terá obrigatoriamente de escolher um dos três candidatos
apresentados pela comissão de recrutamento e selecção.
Feita a escolha de um dos três candidatos, o cargo será provido por despacho do membro de Governo
competente, em regime de comissão de serviço, por períodos de 5 anos, no máximo 10 anos consecutivos.
Concluindo: as alterações a introduzir no novo modelo de recrutamento e selecção para cargos de direcção
superior visam contribuir para o aumento da eficiência da Administração Pública, favorecendo a execução
imparcial de políticas e o reforço da cultura de gestão por objectivos.
A presente proposta de lei assume uma alteração profunda ao modelo de provimento dos mais altos cargos
da Administração Pública, pelo que será da maior conveniência que esta mudança tenha um processo de
implementação o mais consensualizado possível que permita a sua consolidação no tempo,
independentemente dos ciclos políticos e governamentais que a cada momento se venham a afirmar.
Importa, de facto, afirmar este modelo e dar-lhe a estabilidade necessária no tempo, sem prejuízo dos
aperfeiçoamentos que venha a exigir com o decorrer da sua aplicação.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Inscreveram-se quatro Srs. Deputados para pedir esclarecimentos
ao Sr. Secretário de Estado.
Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado, o diploma que hoje
discutimos parece-nos muito importante e merece a concordância da bancada do CDS na sua generalidade.
Vai ao encontro do que várias vezes defendemos, inclusive em legislaturas anteriores, isto é, a
despartidarização da Administração Pública e a maior transparência no recrutamento e selecção dos seus
dirigentes superiores.
Coloco três questões ao Sr. Secretário de Estado que vão exactamente em linha de coerência com o que
sempre defendemos.
Primeira: discutimos hoje um diploma que diz respeito à Administração Pública, mas parece-nos importante
que se alargue este princípio a outras áreas, designadamente aos institutos públicos, ao sector empresarial,
embora em termos necessariamente diferentes, e a outros organismos em que o Estado tenha o papel de
nomear os seus dirigentes superiores. Portanto, pergunto qual é a disponibilidade do Governo para ter
iniciativas idênticas nestes sectores.
A outra questão tem a ver com a redução da despesa e a importância de, para além de melhorarmos o
critério de selecção e recrutamento, podermos também racionalizar os meios despendidos com este tipo de
dirigentes.
É evidente que temos conhecimento de algumas medidas que têm sido tomadas nos diversos ministérios
exactamente para que a despesa seja comprimida no que diz respeito a este tipo de dirigentes, mas
gostaríamos de saber, de um ponto de vista coerente, qual é a intenção do Governo para reduzir custos nesta
área.
Página 36
I SÉRIE — NÚMERO 30
36
Por último, uma questão que tem sido muito colocada. O Governo introduz na proposta de lei a
possibilidade de funcionar, junto do Parlamento, um organismo de fiscalização deste procedimento. Parece-me
evidente que a intenção do Governo é permitir que os partidos tenham acesso a essa fiscalização em qualquer
momento,
Porém, há evidentemente um custo associado a este tipo de organismo.
Pergunto se o Governo está disponível para simplificar o organismo previsto na proposta de lei no sentido
de permitir que os partidos tenham acesso a essa fiscalização, reduzindo o impacto financeiro que isso possa
ter no Orçamento da Assembleia da República.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública optou por
responder às três primeiras questões em conjunto, pelo que tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roque.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado, o PSD saúda esta iniciativa
legislativa, porque ela corresponde a um anseio de todos os portugueses de há muito tempo a esta parte, a
despartidarização do aparelho de Estado e o facto de se avançar para um sistema independente de escolha
dos melhores e dos mais capazes, independentemente do cartão partidário que possam ter, pretendendo-se
no fundo acabar com aquela famosa frase «jobs for the boys».
Vozes do PSD: — Muito bem!
Protestos do PS, do PCP e do BE.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — É um passo no sentido da transparência que deve ser apanágio de uma
qualquer Administração Pública.
É um sistema que é usado na maioria dos Estados-membros da União Europeia, do qual nos servimos
como referência em termos de diferenciação entre o que é o Governo, que resulta de uma eleição, e os
quadros da Administração Pública, sobretudo os quadros dirigentes.
Este é um sistema de procedimento transparente que terá reflexos inevitáveis na qualidade e no
desempenho da Administração Pública segundo aquele velho princípio, que não podemos ignorar, de que a
Administração Pública existe porque os cidadãos existem.
Neste sentido, coloco uma questão ao Sr. Secretário de Estado.
Os procedimentos de recrutamento, selecção e provimento constantes desta iniciativa cingem-se aos
dirigentes da administração central, regional e local do Estado. Ora, como é sabido, os chamados «institutos
públicos» ficam de fora desta iniciativa.
Pergunto a V. Ex.ª se é intenção do Governo que procedimentos semelhantes sejam também alargados
aos institutos públicos e, em caso afirmativo, em que espaço temporal assim deve ser.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, faço uma pergunta muito simples ao Sr. Secretário de
Estado.
Na sua proposta de lei, ficam de fora os institutos públicos, os órgãos de serviços de apoio ao Presidente
da República, a Assembleia da República, os tribunais, as Forças Armadas e as forças de segurança, os
órgãos de gestão dos estabelecimentos de ensino, os órgãos de gestão dos estabelecimentos do sector
público administrativo da saúde e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Afinal, quantos dirigentes pretende o
senhor que sejam abrangidos por esta nova forma, que não representa qualquer passo em frente, mas, antes,
um passo ao lado para ficarmos no mesmo sítio?
Página 37
14 DE OUTUBRO DE 2011
37
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Agradeço a capacidade de síntese da Sr.ª Deputada.
Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Administração Pública para responder.
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — Sr.ª Presidente, respondendo às questões que
os Srs. Deputados colocaram, algumas das quais vão na mesma linha, gostaria de esclarecer que o Governo
está a ultimar uma proposta de revisão da lei-quadro dos institutos públicos, estando já na fase de discussão
final, que prevê a aplicação de métodos de recrutamento e selecção em moldes semelhantes aos que estão a
ser propostos para os dirigentes superiores da Administração Pública, para os dirigentes que integram os
conselhos directivos e para os altos dirigentes dos institutos públicos, prevendo-se que essa proposta possa
ser discutida nas próximas semanas.
Idêntica alteração está a ser preparada no domínio da revisão do Estatuto do Gestor Público. É uma
revisão mais abrangente, que cobrirá não só a matéria relativa aos métodos de recrutamento e de nomeação
mas também a matéria ligada às remunerações.
Relativamente à redução da despesa, lembro que o Governo apresentou um plano de redução e melhoria
da administração central do Estado, anunciado há poucas semanas, e que terá muito em breve uma fase que
passará pela aprovação das leis orgânicas dos ministérios, as quais contemplarão uma redução muito
significativa de largas dezenas de organismos da administração central do Estado e com isso uma redução
muito significativa de cargos dirigentes. Isto trará uma redução muito significativa de despesa, a curto, médio e
longo prazos.
Relativamente à questão colocada sobre o âmbito de aplicação deste diploma, como acabei de referir, os
institutos públicos e algumas empresas e entidades do sector empresarial do Estado serão cobertas por
iniciativas legislativas que o Governo apresentará em breve.
Razões poderosas justificam que algumas áreas, como os serviços externos do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, sejam excepcionadas deste diploma. Aliás, o próprio diploma que prevê a abertura de concursos
para dirigentes intermédios já excepcionava essas realidades, que como têm especificidades muito próprias
não podem estar sujeitas a concurso. Neste caso, o Governo não criou situações novas, não as alterou e
entendeu justificáveis as razões que têm subjacente a situação de excepção.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado, também consideramos
que o regime de recrutamento, selecção e provimento dos cargos de direcção superior na Administração
Pública deve obedecer a critérios de transparência que assentem no mérito e na competência, porque, se
houver transparências, teremos certamente uma melhor Administração Pública.
Portanto, o preenchimento de cargos de direcção superior deve deixar de ser efectuado por mera escolha e
passar a ser precedido de concurso.
De facto, o modelo de nomeação dos dirigentes de topo na administração pública baseada na escolha
pessoal dos ministros é um modelo que nada tem a ver com critérios de competência e de mérito, que, aliás,
devem presidir a qualquer nomeação na Administração Pública.
O Governo apresenta-nos uma proposta que nos merece muitas reservas sob muitos dos pontos, mas,
mesmo assim, é justo dizer que o Governo conseguiu, apesar de tudo, disfarçar a verdadeira operação de
marketing que pretendia com esta proposta na sua versão inicial. Registamos o recuo do Governo no que
respeita à remoção do poder de veto do ministro em recusar os três nomes que lhe fossem propostos pela
comissão de recrutamento, podendo o ministro em causa, logo a seguir, propor três novos nomes à comissão
de recrutamento.
De facto, a manter-se esta faculdade atribuída na versão inicial, lá se ia, aparentemente, o espírito com que
o Governo presidiu a este modelo que quer implementar.
Página 38
I SÉRIE — NÚMERO 30
38
Mas, mesmo assim, temos dúvidas relativamente às retribuições a atribuir aos membros das comissões
criadas, porque nem o diploma nem os anexos as referem, como, aliás, também não referem os prémios de
gestão dos dirigentes, que, em nosso entendimento, deveriam constar da proposta e dos anexos, e dúvidas no
que respeita à possibilidade de esses lugares poderem ser ocupados por pessoas sem vínculo à
Administração Pública, desde logo porque não sabemos se o Governo vai aplicar aquela regra do «saem 4
para entrar 1» e, portanto, não sabemos se para entrar um dirigente têm de sair 4.
Temos ainda dúvidas relativamente aos prazos dos procedimentos concursais, que o diploma não refere, a
não ser para a publicidade dos concursos, e dúvidas sobre o facto de os dirigentes superiores serem
nomeados em comissão de serviço por períodos de 5 anos, mantendo-se, ao mesmo tempo, a nomeação dos
dirigentes intermédios por períodos de 3 anos.
As questões que queria colocar-lhe, Sr. Secretário de Estado, são as seguintes: não lhe parece que seria
oportuno aproveitar a embalagem e, em nome da transparência, sujeitar também a este novo regime o
recrutamento e a selecção para cargos intermédios na Administração Pública?
O Sr. Secretário de Estado já se referiu a esta questão, dizendo-nos que era para breve, mas eu insisto,
perguntando: que motivos levam o Governo a excluir deste modelo parte da Administração Pública, desde logo
os institutos públicos? É que vamos ter uma Administração sujeita a regras de concurso e outra parte que
continua com um modelo — e o Governo agora reconhece-o — onde reina o cartão partidário. Portanto,
vamos ter uma ou duas administrações?
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Secretário de Estado da
Administração Pública, fazemos um pedido de esclarecimento, porque, nesta matéria, há sempre um conjunto
de anúncios e de boas intenções que, normalmente, decorrem depois dos períodos eleitorais. É o velho
ataque às questões das nomeações partidárias e é sempre a mesma conversa que, depois, pouca
concretização tem em termos de iniciativas legislativas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — E desta vez voltou a repetir-se o filme. O Sr. Secretário de Estado já
respondeu relativamente aos institutos públicos e ao sector empresarial do estado, dizendo que estes estavam
de fora das regras de concurso, mas importa aqui referir que mais de 50% da actividade da Administração
Pública fica de fora.
A verdade é que a excepção foi introduzida pelo PS, em 2005, e nós bem a denunciámos, mas é também
verdade que o Sr. Secretário de Estado, na proposta que apresenta, mantém as excepções no que respeita às
forças armadas, às forças de segurança, ao ensino, à saúde e aos negócios estrangeiros. Estas áreas da
Administração Pública ficam de fora de concurso e valem, pura e simplesmente, as nomeações escolhidas
pelos membros do governo. E eu pergunto-lhe: porquê? E não venha com argumentos de razões ponderosas,
porque, repare: então, na saúde, tem algum cabimento o Governo nomear os administradores de um hospital
ou nomear o administrador de um centro de saúde? Qual é a razão que justifica esta nomeação, Sr. Secretário
de Estado?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da
Administração Pública.
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — Sr.ª Presidente, as questões que foram agora
colocadas radicam em torno da resposta que dei às que já me tinham sido colocadas.
Página 39
14 DE OUTUBRO DE 2011
39
Relativamente à questão dos institutos públicos, volto a reiterar que é intenção do Governo promover
idêntico procedimento de provimento para os lugares que hoje são de direcção superior nos institutos públicos
e, muito em breve,…
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Antes ou depois do dia 27?
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — … a Assembleia da República terá
oportunidade de verificar que o Governo tem uma intenção genuína de alterar esta lógica de nomeação de
cargos superiores para preenchimento dos altos cargos da Administração Pública.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Mas, antes ou depois do dia 27?
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — Será muito em breve, dentro de poucas
semanas.
Relativamente às excepções que o diploma prevê, elas estão contempladas no artigo 1.º e referem-se aos
órgãos e serviços de apoio ao Presidente da República, à Assembleia da República e aos tribunais.
Há razões objectivas que determinam que, nestas situações em concreto, não se desenvolvam
procedimentos concursais abertos a pessoas de fora da Administração Pública. As forças armadas e forças e
serviços de segurança, que são lugares de carreira e, sendo lugares de carreiras, são preenchidos por
pessoas que já desenvolvem funções dentro do Estado, de onde não se pode seguir essas mesmas regras de
concurso na medida em que estes novos procedimentos que estamos aqui a apresentar estão abertos a
pessoas de fora e de dentro da Administração Pública.
Muitos órgãos de gestão dos estabelecimentos de ensino são entidades públicas empresariais e vão ser
cobertos pela lei dos gestores públicos. O mesmo se passa no Ministério dos Negócios Estrangeiros no âmbito
dos serviços externos. Trata-se de pessoal de carreira diplomática, cujos lugares têm de ser preenchidos por
pessoas que estão dentro dessa carreira.
Essas são, pois, as explicações e as fundamentações objectivas que levam a que este Governo não tenha
alterado esta situação, que, aliás, já consta do diploma actual. É, pois, importante notar que já hoje os lugares
de direcção intermédia são preenchidos por concurso e essa é a razão pela qual não procedemos a alterações
neste momento.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado: Verifico que não respondeu à
pergunta que lhe fizemos sobre o número de pessoas que são abrangidas. Mas, já agora, e em termos de
timing, para os institutos públicos deixo também uma outra pergunta: é antes ou depois do dia 27 deste mês,
Sr. Secretário de Estado? É que sabemos que, no dia 27, serão nomeados, por exemplo, os presidentes dos
centros distritais de segurança social e também dos institutos de emprego. Portanto, é preciso saber qual é o
timing, porque aqui coloca-se o papel das concelhias e das distritais do PSD e, já agora, também do CDS-
PP…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Mas um bocadinho menos.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Portanto, a essa questão o Sr. Secretário de Estado não respondeu.
Relativamente às razões ponderosas, Sr. Secretário de Estado, é incompreensível — e vai ter de nos
explicar isso — porque é que não estão aqui abrangidos os órgãos de gestão dos estabelecimentos de ensino,
porque é que não estão aqui abrangidos os órgãos de gestão dos estabelecimentos do sector público
administrativo da saúde — estamos a falar de todos os cuidados primários e de todos os centros de saúde.
Quais são as razões ponderosas?
Página 40
I SÉRIE — NÚMERO 30
40
O que lhe diriam é que esta proposta é, mais uma vez, publicidade enganosa. O Governo, com pompa e
circunstância, em pleno mês de Agosto, «tirou um coelho da cartola», dizendo que ia despartidarizar a
Administração Pública, fazendo concursos públicos. Ouvimo-lo e, olhos nos olhos, colocámos reservas,
dizendo que o BE defende o concurso público, sim senhor.
Mas, Sr. Secretário de Estado, vamos, então, à sua proposta e à forma de fazer esse concurso público.
No diploma são criadas duas comissões: a comissão de recrutamento tem 1 presidente, 3 a 5 vogais,
sendo 1 vogal não permanente, designados de entre personalidades de reconhecido mérito. Primeira questão,
que é muito subjectiva: quais são os critérios?
Depois, é dito «sob proposta do membro do Governo responsável pela área da Administração Pública e
também com o parecer de 2/3 dos Deputados». Tal significa que as maiorias não contam para nada…
Estamos mesmo a ver que esta é uma comissão independente…
Depois, há, ainda, uma outra inovação, que é a criação de uma comissão de fiscalização para fiscalizar a
comissão de recrutamento e, curiosamente, trata-se de uma comissão que funciona junto à Assembleia da
República. E diz a proposta de lei que é a Assembleia da República que fornecerá os meios indispensáveis ao
cumprimento das suas funções, por forma a garantir a sua independência e funcionamento. Mas, depois, diz
ainda que o regime remuneratório é fixado por portaria do membro do Governo. Ou seja, onde é que está a
independência?..
Por outro lado, o Sr. Secretário de Estado bem sabe que esta proposta não tem aplicação imediata. O
Orçamento da Assembleia da República já foi aprovado por esta Câmara e não contém verbas para essa dita
comissão. Portanto, não podemos falar de transparência; isto é, se quer que lhe diga, uma interferência no
próprio Parlamento e nas suas regras de funcionamento independente, pois não há nenhum organismo que
dependa deste Parlamento, que dependa da Assembleia da República cujo salário seja determinado por
portaria do Sr. Ministro das Finanças. Já agora, era o que mais faltava! Era uma perversão da independência
do Parlamento.
Esta proposta de lei não dá transparência, não dá independência, estas não são comissões independentes
e, portanto, tudo ficará na mesma ao não se englobarem aqui todos, mas todos, os cargos da Administração
Pública. Não estamos de acordo com este formato, porque se trata de publicidade enganosa.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Santos.
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: A
reforma da Administração Pública — sempre o afirmámos — deve ser vista como um processo reformador,
gradual e evolutivo e deve ter sempre na sua génese a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados
aos cidadãos e aos agentes económicos e sociais.
Também sempre defendemos que não é possível reformar a Administração Pública numa lógica de
eficiência e qualidade sem um adequado enquadramento do seu pessoal dirigente, capaz de promover uma
cultura de transparência, de responsabilização e de modernização da gestão pública tendente à melhoria da
qualidade dos serviços na perspectiva dos cidadãos.
Mas a proposta aqui trazida pela mão do Governo, consubstanciada num pseudoconcurso dos cargos de
direcção superior, não vai, na nossa opinião, ao encontro desses pressupostos.
Sr.as
e Srs. Deputados: A discussão em torno do Estatuto do Pessoal Dirigente da Administração Pública e,
sobretudo, em torno do seu modelo de selecção, tem sido recorrente nesta Assembleia e tem sofrido diversas
mutações desde 1979, ano em que se colocou termo às nomeações vitalícias, entre as quais destacamos a
introdução dos concursos públicos como método de selecção dos cargos de direcção intermédia, e, mais
recentemente, em 2005, a inscrição do impedimento de as nomeações ocorrerem em período de vigência de
governos de gestão corrente e a cessação do exercício dos cargos dirigentes superiores com o fim dos
mandatos governamentais.
Se desfocarmos o olhar da realidade mais próxima e o alargarmos para o contexto internacional vemos que
há uma grande variedade de soluções adoptadas nesta matéria.
Página 41
14 DE OUTUBRO DE 2011
41
Se, de uma forma que resulta inevitavelmente simplista, quisermos organizar os diversos sistemas
adoptados, podemos agrupar as diferentes realidades entre os países em que os dirigentes da Administração
Pública são seleccionados com base em critérios de confiança política e pessoal, os países que seguem um
modelo híbrido, onde além do domínio técnico apurado por um processo de selecção é também exigida
sensibilidade política, e os países que seguem um modelo baseado na visão de uma administração distante do
poder político, assumindo um modelo de selecção e recrutamento baseado exclusivamente no mérito.
A proposta de lei que agora discutimos consubstancia a adopção de um modelo híbrido. É uma opção!
Contudo, lamentamos que a adopção deste modelo seja feita na pior das versões, envolvendo todo o processo
de selecção numa enorme nebulosa.
No preâmbulo desta proposta o Governo afirma pretender que o provimento de cargos de direcção superior
da Administração Pública deixe de ser efectuado por mera escolha e passe a ser precedido de concurso, mas
o que nos é proposto na realidade é que a designação destes dirigentes passe a ser feita a partir de um
concurso de cartas marcadas.
Senão, vejamos.
Competirá ao membro do Governo, com tutela ou supervisão do organismo ou serviço, a definição do perfil
para o exercício do cargo.
Institui-se uma comissão de recrutamento e selecção, à qual caberá proceder à aplicação dos métodos de
selecção e elaborar a proposta de designação, indicando três candidatos ordenados por ordem alfabética.
Esta proposta é, por sua vez, apresentada ao membro do Governo, cabendo a este a designação do titular do
cargo de entre esses três candidatos.
Ou seja, o que o Governo nos propõe instituir não é um concurso, porque este pressupõe uma seriação; o
que o Governo nos propõe instituir é algo pouco claro, até confuso ao nível conceptual; o que o Governo nos
propõe é que aceitemos «mascarar» uma nomeação de um concurso.
O Partido Socialista não tem, sobre esta matéria, uma posição dogmática. Temos a percepção que todos
os modelos comportam prós e contras. Mas não estamos disponíveis para acolher soluções de faz de conta,
não estamos disponíveis para acolher o embuste de uma solução em que se anuncia um concurso para, a
coberto deste, fazer uma nomeação.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Entendemos que, nesta matéria, se impõe a clareza dos princípios e, por
isso, se há concurso este tem que ser levado até ao fim e os candidatos têm de ser seriados. Qualquer
intervenção política tem de ser claramente assumida, fundamentada e publicitada nessa qualidade.
Clareza e transparência é aquilo que se exige a bem da credibilização da Administração Pública, mas
aquilo que nos estão a propor não é mais nem menos que um processo concursal a branquear nomeações
políticas, algo que fica bem longe do objectivo de «despartidarização» do aparelho de Estado enunciado no
preâmbulo desta proposta de lei.
Além de tudo isto, regista-se aqui uma clara regressão ao serem retiradas as normas introduzidas em
2005, na revisão deste Estatuto, que impedem a ocorrência de nomeações por governos em gestão corrente.
Este Governo, no momento em que amplia a duração das comissões de serviço de três para cinco anos e
consagra uma intervenção discricionária dos membros do Governo na designação dos seus dirigentes de grau
superior disfarçada de concurso, resolve de um só golpe abrir as portas a que se possam fazer nomeações à
pressa de dirigentes de confiança política de quem está no governo, quando este já se encontra em gestão
corrente. Isso é algo que o PS não pode aceitar!
Outra nota que importa ainda ter presente nesta discussão tem a ver com a criação de duas comissões:
uma comissão de selecção e recrutamento e uma comissão de fiscalização.
Num momento em que se pretende tornar a estrutura do Estado cada vez mais leve e menos onerosa para
os cofres públicos é aqui proposta, de uma assentada, a criação de duas comissões, algo que nos parece
manifestamente desajustado face aos fins em vista.
É, acima de tudo, desproporcionada a criação de uma comissão para fiscalização uma vez que o recurso
dos interessados é garantido por lei, não cabendo a esta nova estrutura qualquer intervenção nesta matéria e,
Página 42
I SÉRIE — NÚMERO 30
42
ainda, que a fiscalização dos actos do Governo está inscrita no quadro das funções da Assembleia da
República.
Mas o Governo não fica por aqui. Estas comissões são criadas sem fixação do regime remuneratório —
repito, sem fixação do regime remuneratório — do presidente e dos vogais, que é remetida para uma portaria
de um membro do Governo.
É nosso entendimento que, por uma questão de transparência, a previsão dos custos decorrentes da
criação destas comissões deve ser já apresentada pelo Governo.
Nesta matéria, é exigível uma atitude, não só de maior prudência, face aos gastos gerados, como de maior
coerência entre a acção e o discurso do Governo.
Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: O Partido Socialista está, como sempre
esteve, disponível para acompanhar todas as alterações que introduzam maior transparência e clareza.
Estamos disponíveis para, em sede de especialidade, introduzir melhorias às propostas apresentadas pelo
Governo, mas não estamos, nem podemos estar disponíveis para acompanhar processos de faz-de-conta,
soluções menos claras, que só servem à descredibilização dos intervenientes nos procedimentos e da
Administração Pública em geral.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — O Sr. Deputado João Pinho de Almeida inscreveu-se para pedir
esclarecimentos.
Tem a palavra.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, o Partido Socialista já não dispõe de tempo
para responder, mas, se a Sr. Deputada Isabel Santos aceitar, o CDS está na disponibilidade de lhe ceder 1
minuto para o efeito.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — É muito generoso da sua parte, Sr. Deputado. Resta saber se a Sr.ª
Deputada e a bancada do Partido Socialista aceitam.
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Aceitamos, sim, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sendo assim, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Santos, confesso-lhe
que gerou alguma perplexidade a intervenção que aqui fez. É que nós poderíamos, neste momento,
compreender até a intervenção que a Sr.ª Deputada fez para comparar uma de duas coisas: ou aquilo que o
Partido Socialista fez neste âmbito enquanto foi governo ou aquilo que o Partido Socialista propusesse agora
que se fizesse como alternativa. Mas os senhores, quando foram governo, não o fizeram e agora não o
propõem única e exclusivamente por uma razão. A Sr.ª Deputada falou de embuste. Embuste, Sr.ª Deputada,
é um governo assumir funções e deparar-se com uma proliferação de pessoas escolhidas por critérios única e
exclusivamente de fidelidade partidária…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … por um governo que nunca teve a coragem de propor nem
este regime, nem nenhum outro regime alternativo. E, muitas vezes, exactamente porque esse regime não foi
alterado pelo governo do Partido Socialista muitos desses cargos são inamovíveis e não é o Governo que tem
de se confrontar com isso, é o País e a Administração Pública que tem de lidar diariamente com pessoas que
não têm competência, que não foram avaliadas, que não têm perfil, e que estão, neste momento em cargos
nomeados, única e exclusivamente, por esses critérios.
Aplausos do CDS-PP.
Página 43
14 DE OUTUBRO DE 2011
43
E os senhores chegam ao ponto final de dizerem que não é preciso uma entidade fiscalizadora junto à
Assembleia da República!
De facto, com um Governo com esta transparência pode não ser preciso, mas acredite, Sr.ª Deputada que
se algum dia o Partido Socialista voltar a governar em Portugal uma comissão de fiscalização não bastará
para detectar todos esses favorecimentos que os senhores fizeram e que, com certeza, continuariam a fazer.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Santos.
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Pinho de Almeida, começo por agradecer
a pergunta que me colocou, bem como o tempo que me cedeu.
O Partido Socialista teve, nesta matéria, uma opção clara, isto é, o Partido Socialista assumiu que a sua
opção é de nomeação por escolha para o preenchimento destes cargos políticos.
Vozes do CDS-PP: — Ah!...
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Não andamos aqui com embustes, não andamos a fazer de conta, não
andamos com uma espécie de concurso.
O Sr. Deputado vem falar em confiança política. Então, diga-me uma coisa: de entre três candidatos, é
impossível ter um perfil e uma competência técnica rigorosamente iguais. Sejamos sérios, é impossível, não
há uma seriação. Então, um membro do Governo vai escolher com base em que critérios, Sr. Deputado?
Disse o Sr. Deputado que encontra pessoas nomeadas por critérios políticos. Com base em que critérios é
que nós — quando acedermos de novo ao poder, e será em breve seguramente — …
Risos do CDS-PP e do PSD.
… encontraremos as pessoas seleccionadas que ocupam esses lugares? A nossa posição, Sr. Deputado,
nesta matéria, é muito séria, é inatacável e é clara: é que se os senhores querem optar pela via do concurso
têm de ser consequentes, têm de ser coerentes e têm de ir até ao fim nessa vossa aposta.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria das
Mercês Soares.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: Debatemos hoje a alteração aos procedimentos de recrutamento, selecção e provimento nos
cargos de direcção superior da Administração Pública.
O Governo refere no seu Programa que «o Governo se compromete a despartidarizar o aparelho do Estado
e a promover o mérito no acesso aos cargos. Neste âmbito, o Governo preparará nova legislação que
estabeleça um sistema independente de recrutamento e selecção».
Disse e praticou. Confirma-se, assim, com a apresentação da presente proposta de lei, o que em tão pouco
tempo se tornou uma marca deste Governo — o que promete cumpre.
Saudamos, por isso, o Governo pela apresentação desta iniciativa legislativa num espaço de tempo tão
curto e que visa, através da implementação de um novo modelo de recrutamento, selecção e provimento para
cargos de direcção superior, introduzir na Administração Pública valores como a transparência e a valorização
do mérito em detrimento da partidarização dos cargos públicos, que o governo do Partido Socialista tão bem
soube aplicar.
Vozes do PSD: — Exactamente!
Página 44
I SÉRIE — NÚMERO 30
44
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Trata-se, portanto, de uma iniciativa legislativa que muda o
paradigma vigente na Administração Pública e a torna mais independente, mais transparente e mais
dignificada perante os cidadãos.
Com este sistema independente de recrutamento e selecção dos titulares de cargos de direcção superior, o
Governo assegura efectivas condições de liberdade e igualdade no acesso a esses cargos, valoriza o mérito e
a competência dos candidatos e a transparência do processo.
O Governo dá, assim, um passo significativo na despartidarização dos altos cargos da Administração
Pública, contribuindo para que esta seja cada vez mais eficaz, eficiente e isenta perante os cidadãos,
independentemente do ou dos partidos que se encontrem no governo.
Com esta iniciativa, o Governo visa reforçar o serviço público e a democracia.
O modelo agora proposto aproxima-se dos modelos adoptados na maioria dos países europeus, onde a
escolha do dirigente superior se caracteriza pela separação entre a entidade responsável pelo recrutamento e
selecção e a entidade responsável pela escolha final.
Com este novo modelo de recrutamento, selecção e provimento, o Governo inova ao introduzir um
concurso aberto a todos os cidadãos com ou sem vínculo à Administração Pública; a criação de uma comissão
de recrutamento e selecção para a Administração Pública, independente do Governo, e a quem compete
desenvolver a tramitação do procedimento concursal, desde a publicação do aviso de abertura do concurso à
constituição do júri que aplica os métodos de selecção; o reforço das garantias de isenção e transparência ao
criar a comissão de fiscalização, que tem como missão «o controlo da actividade da Comissão de
Recrutamento e Selecção para a Administração Pública», constituída por três personalidades de reconhecido
mérito e idoneidade, eleitas pela Assembleia da República para um mandato de quatro anos.
Paralelamente, facilita-se o escrutínio e a avaliação, uma vez que, conjuntamente com a abertura do
concurso, deverá ser publicada a carta de missão, elaborada pelo membro do governo que tutela o serviço e
onde deverão estar inscritos todos os objectivos a atingir no decurso da comissão de serviços devidamente
quantificados e calendarizados.
Assim se assume a independência dos dirigentes superiores relativamente aos ciclos políticos. Assim se
assume uma maior estabilidade na Administração Pública com a passagem da comissão de serviços de três
para cinco anos. Assim se torna escrutinável o modo do exercício das funções. Assim se melhora a eficácia da
Administração Pública e se aprofunda o regime democrático.
Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Os desafios com que Portugal se
defronta são colossais, mas estamos conscientes que, com muito rigor e transparência, poderemos voltar a
recuperar a credibilidade e a confiança dos nossos concidadãos.
O caminho faz-se caminhando e, em boa hora, o Governo, com coragem e determinação, iniciou este
processo.
Estamos certos de que todos os que desejam e reclamam uma melhor Administração Pública mais livre,
mais eficiente, mais transparente e democrática e que acompanhe os melhores modelos europeus não
deixarão de apoiar a presente proposta de lei.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de
Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O que discutimos
hoje, aqui, e já ficou claro no debate, é a opção por se desenvolver, no topo da carreira da Administração
Pública, um processo de selecção que permita introduzir transparência e privilegiar o mérito. O sentido é o de
qualificar a Administração Pública, ao mesmo tempo que se racionalizam os meios nessa mesma
Administração Pública.
Trata-se do caminho certo de um país que, tendo recursos escassos e que são dos contribuintes, aplica os
recursos da melhor forma: gastando menos e escolhendo os melhores. É exactamente este o caminho!
Podemos discutir, na especialidade, se isto se faz de uma ou de outra forma, mas há um princípio que, para
Página 45
14 DE OUTUBRO DE 2011
45
nós, é essencial: o de mantermos esta transparência e não voltarmos atrás, a critérios partidários, na escolha
de quem está na liderança na Administração Pública. É que, mesmo nestes cargos, as pessoas podem ser
nomeadas com a introdução de um concurso e não têm de ser nomeadas por mera escolha partidária.
Este é, de facto, um caminho que rompe com a prática do nosso País, é um caminho que rompe com a
prática de vários partidos e é, certamente, um caminho que abre uma perspectiva diferente para o País e para
a nossa Administração Pública.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge
Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Quando se
fala de nomeações para cargos dirigentes intermédios e superiores da Administração Pública não faltam, quer
ao PS, quer ao PSD e ao CDS-PP, anúncios de moralização e declarações no sentido de que é necessário
acabar com as nomeações partidárias na Administração Pública.
António Guterres disse «No jobs for the boys». Mas, apesar das críticas feitas, normalmente, durante o
período eleitoral, depois das eleições, as nomeações continuam nos sucessivos governos, sejam eles do PS
ou do PSD, com ou sem o CDS-PP.
Depois, surgem as alterações à lei que seguem a máxima «é preciso que algo mude para que tudo fique na
mesma». E as nomeações continuam, porque as alterações à lei nada ou pouco alteram.
Um dos últimos episódios deste «filme» deu-se logo após as eleições de 2005. O Governo PS dizia, com
enorme propaganda, que era preciso moralizar a Administração Pública, que a escolha dos dirigentes de topo
da Administração Pública não podia depender de nomeação, do cartão partidário, mas, sim, de um concurso
que avaliasse, entre aspas, o «mérito» e a «competência». A verdade é que não foi nada disto que aconteceu.
A alteração à lei, então proposta pelo PS, criou uma excepção que permitia que mais de 50% dos lugares de
topo da Administração fossem escolhidos por nomeação e não por concurso — «olha para o que digo, não
olhes para o que faço».
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Nessa altura, em 2005, dissemos: «Na verdade, quando as excepções
previstas abrangem mais de 50% da actividade da Administração Pública, então, a excepção é a regra». E
demos como exemplo o que se passava na saúde, e que se mantém actual: «Se se pode compreender a
necessidade de haver nomeações para as administrações regionais de saúde, já nada justifica as nomeações
para os directores dos hospitais, centros de saúde e respectivas extensões; tal só se pode explicar com a
necessidade de saciar o aparelho partidário do PS».
Hoje, é o PSD e o CDS que querem saciar os seus aparelhos partidários. Hoje, é o Governo PSD/CDS que
apresenta um diploma que mantém as excepções e os «alçapões» que permitem nomeações para mais de
50% da Administração Pública, e só a «gula» ou a vontade de «chegar ao pote» justificam estas opções.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Assim, a proposta de lei que hoje se discute não é nada mais, nada
menos do que uma acção de propaganda que visa criar a ilusão de que o Governo quer alterar as regras de
nomeação dos altos cargos dirigentes da Administração Pública.
As palavras do Programa do Governo do PSD, no sentido de que o PSD se comprometia também «a
‘despartidarizar’ o aparelho do Estado» que os Governos do PS levaram ao extremo, as palavras pomposas
do Ministro Miguel Relvas, quando afirma que «estamos a escrever uma nova página na função pública», ou
mesmo as declarações do actual Primeiro-Ministro, quando diz que não serão escolhidos os «amigos, os
colegas ou os parentes» mas, sim, «os mais competentes», já voaram com o vento e não passaram de
propaganda para enganar as pessoas.
Página 46
I SÉRIE — NÚMERO 30
46
Na verdade, a proposta de lei que hoje se discute permite nomeações para os cargos de direcção superior
e intermédia das Forças Armadas e forças de segurança, para os órgãos de gestão dos estabelecimentos de
ensino, para os órgãos de gestão dos estabelecimentos do sector público da saúde, para os cargos no
Ministério dos Negócios Estrangeiros, para os institutos públicos e entidades públicas empresariais do Estado.
Assim, com esta norma, mais de 50% da actividade da Administração Pública fica sujeita às regras de
nomeação e não a concurso, como o Governo quer fazer crer.
Por outro lado, a criação de uma comissão de recrutamento e selecção para a Administração Pública, que
apenas acompanha o processo de escolha dos dirigentes superiores, e não intermédios, padece do facto de
esta comissão escolher três candidatos e depois ser um membro do Governo a determinar, através de
entrevista, quem fica com o lugar de dirigente.
Por fim, não se percebe a ânsia de abrir as portas a candidatos sem vínculo à Administração Pública,
quando existem pessoas capazes e competentes para desempenhar as funções dentro dos serviços.
PS, PSD e CDS partilham a ânsia, a sede de chegar ao «pote», mas não é só nas nomeações partidárias,
que minam a Administração Pública, que encontramos pontos em comum.
O PS criou o PRACE para destruir e privatizar serviços públicos fundamentais para a população, o PSD
seguiu os seus passos com o PREMAC, que tem os exactos e mesmos objectivos; o PS criou o quadro dos
supranumerários para despedir, o PSD e o CDS preparam-se para o utilizar intensivamente; o PS cortou nos
salários dos trabalhadores da Administração Pública dizendo que eram uns «privilegiados», o PSD e o CDS
mantêm os cortes nos salários e preparam um Orçamento do Estado que vai, novamente, penalizar todos os
trabalhadores.
Aos trabalhadores da Administração Pública queremos dizer que é possível, necessário e urgente um novo
caminho para a Administração Pública, que cumpra a Constituição, que respeite quem trabalha e que preste
serviços públicos de qualidade a todos os portugueses. Este caminho exige a luta organizada de todos os
trabalhadores para derrotar o pacto de agressão da tróica e dos seus partidos, PS, PSD e CDS-PP. Na linha
da frente desse combate, podem contar com o Partido Comunista Português.
Aplausos do PCP.
Entretanto, reassumiu a presidência a Sr.ª Presidente, Maria da Assunção Esteves.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para uma intervenção, a concluir o debate, tem a palavra o Sr. Secretário de
Estado da Administração Pública.
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: De facto,
acompanhei este debate com bastante interesse e, enfim, não posso esconder alguma surpresa com algumas
das afirmações que aqui foram feitas.
Na verdade, temos, hoje, uma realidade que se consubstancia basicamente no seguinte: o membro do
Governo escolhe, sem qualquer transparência pública, sem qualquer escrutínio público, sem que possa haver
uma verificação dos requisitos de perfil e da capacidade para o exercício de uma função da maior importância
na Administração Pública. Esta é a realidade que temos.
O que este Governo aqui propõe é que de ora em diante, assim que estejam criadas as condições
necessárias, os mais altos cargos da Administração Pública — e, como disse há pouco, é nossa intenção
alargar esta metodologia aos institutos públicos e, também, ao sector empresarial do Estado, em moldes
semelhantes —, …
O Sr. Jorge Machado (PCP): — A ver vamos!
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — … sejam escolhidos mediante concursos que
sejam publicitados em meios de comunicação de alta divulgação, em portais públicos, no Boletim do Emprego
Público, concursos, esses, a que qualquer quadro superior da Administração Pública ou qualquer quadro fora
da Administração Pública possa concorrer.
Página 47
14 DE OUTUBRO DE 2011
47
Pretende-se que haja uma comissão que desenvolva procedimentos de selecção, verificando o
ajustamento das competências dos candidatos que concorrem a esses concursos, e que, no final, apresente
uma lista de três candidatos, todos eles preenchendo os requisitos de perfil definidos no concurso que foi
tornado público. Deste modo, o membro do Governo fica condicionado à escolha entre os três candidatos que
lhe são apresentados pela comissão — que se quer que seja independente e, exactamente por isso, se
propõe que possa ser fiscalizada por uma comissão que funcione junto da Assembleia da República —, que
ele não teve oportunidade de identificar e escolher à partida, mas que se sabe, pelos métodos de selecção,
que cumprem os requisitos do concurso.
Verifica-se que uma evolução destas não é uma evolução que satisfaça alguns dos partidos que aqui estão
presentes. Pela nossa parte, entendemos que esta é uma evolução muito significativa, é uma transformação
muito radical naquela que é, hoje, a gestão dos órgãos superiores da Administração Pública e consideramos
que se trata de um caminho que deve ser percorrido.
Temos a humildade suficiente para reconhecer que este processo pode ser melhorado, pode ser
acrescentado, do ponto de vista das virtualidades, mas trata-se de um passo muito importante, que, por
exemplo, o Partido Socialista nunca deu, e reconheceu aqui que nunca o deu por opção política, preferindo
fazer nomeações de cariz político.
Este Governo, cumprindo com aquele que é o seu Programa do Governo, propõe concursos e que, de
facto, todos os candidatos que venham a ocupar cargos de alta direcção na Administração Pública possam ser
sujeitos a provas públicas, possam ser escrutinados por uma comissão independente. O membro do Governo,
por seu lado, terá de os escolher de acordo com aqueles que são os requisitos de perfil, os quais são
previamente conhecidos.
Relativamente à comissão de fiscalização, gostaria apenas de dizer que, de facto, esta comissão tinha por
finalidade e objectivo garantir e credibilizar o mais possível este processo. Entendemos que a comissão de
recrutamento e selecção será uma comissão independente, e tanto assim é que os seus membros serão
ouvidos na Assembleia da República antes de serem nomeados, mas o que pretendíamos era que a comissão
de fiscalização pudesse, de facto, acrescer confiança neste processo.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Exactamente!
O Sr. Secretário de Estado da Administração Pública: — Se a Assembleia da República considera que
ela é prescindível, e respondendo àquilo que o Deputado João Pinho de Almeida aqui sugeriu, o Governo está
aberto a discutir a manutenção desta comissão de fiscalização na proposta de lei.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, terminámos o debate, na generalidade,
da proposta de lei n.º 15/XII (1.ª).
Passamos ao ponto seguinte da ordem de trabalhos, que consiste na apreciação, na generalidade, da
proposta de lei n.º 23/XII (1.ª) — Regula os requisitos de tratamento de dados pessoais para constituição de
ficheiros de âmbito nacional, contendo dados de saúde, com recurso a tecnologias de informação e no quadro
do Serviço Nacional de Saúde.
Para apresentar a proposta de lei, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Saúde.
O Sr. Secretário de Estado da Saúde (Manuel Ferreira Teixeira): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e
Srs. Deputados: A proposta de lei n.º 23/XII (1.ª), que o Governo apresentou à Assembleia da República, visa
regular os requisitos de tratamento de dados pessoais na criação de ficheiros de âmbito nacional, no quadro
do Serviço Nacional de Saúde. Trata-se, assim, de questões ligadas a sistemas de informação, em sentido
estrito.
Penso que estamos todos de acordo que os sistemas de saúde são os que pertencem às categorias de
maior complexidade. Em sistemas deste tipo, a informação é a variável-chave em termos de regulação e da
possibilidade de acréscimos de eficiência aos sistemas.
Página 48
I SÉRIE — NÚMERO 30
48
Neste sentido, penso que também estamos todos de acordo que a garantia da qualidade e da
sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde reside, em boa medida, num melhor tratamento e acesso de
informação.
O tratamento de informação e o controlo de gestão são temas actuais e futuros. Estamos, contudo, muito
conscientes de que a utilização de sistemas de informação pressupõe, igualmente, riscos.
A capacidade de recolha e tratamento de dados pessoais, potenciada pelos actuais meios informáticos,
exige sistemas de protecção eficazes, por forma a prevenir a intrusão e utilização ilegítima e atentatória dos
direitos e garantias dos cidadãos.
É corolário desta matéria a compatibilização da protecção dos direitos fundamentais de carácter privado
com os interesses colectivos e públicos.
É neste contexto que apresentamos a esta Assembleia uma proposta de lei que equaciona a protecção
desses interesses, visando, em simultâneo, a implementação de eficazes sistemas de informação na área da
saúde, que possibilitem uma gestão mais eficaz dos recursos disponíveis, que, como bem sabemos, são
escassos, mas circunscrevendo o funcionamento e a utilização desses sistemas a um quadro restrito, em que
se assegure e garanta a protecção dos direitos dos cidadãos.
A redacção desta proposta de lei corresponde a uma preocupação de regulação já tratada e manifestada
pela Comissão Nacional de Protecção de Dados no sentido de ser estabelecido um enquadramento legal
específico que assegure condições de legalidade para as bases de dados de âmbito nacional relativas a
identificação nacional dos utentes do SNS, gestão e controlo dos pagamentos e facturação a realizar no
âmbito do Serviço Nacional de Saúde relativos à prestação de saúde e a actos associados, avaliação de
desempenho e financiamento dos estabelecimentos de saúde.
Penso que posso dizer, em síntese, que a criação de qualquer uma das bases de dados previstas e
respectivas condições de tratamento estão sujeitas à autorização da Comissão Nacional de Protecção de
Dados.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Mais ou menos!
O Sr. Secretário de Estado da Saúde: — Trata-se de introduzir mecanismos de melhor gestão e controle
dos encargos do Serviço Nacional da Saúde.
Penso que também posso afirmar, em síntese, que a proposta de lei assegura as garantias aos cidadãos
quanto à informação que pode ser tratada e em que condições, para evitar a violação de direitos
fundamentais.
Reafirmo, em conclusão, que pensamos que a presente proposta de lei é equilibrada e consagra
expressamente todos os princípios relativos à privacidade dos utentes e à confidencialidade dos dados.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado da Saúde, Sr.as
Deputadas, Srs.
Deputados: Gostaria de deixar claro, para que todos fiquem a perceber o que aqui estamos a discutir, que
aquilo que o Governo propõe hoje é dotar o Serviço Nacional de Saúde de bases de dados que qualquer
seguradora que intervenha na área da saúde já dispõe. São bases de dados que relacionam dados pessoais
com informação de saúde. Isto já existe no nosso País.
Não queria deixar de dizer, para ser muito claro, que o que estamos hoje aqui a discutir é o instrumento
informático que o PSD e o CDS precisam, enquanto Governo, para a metamorfose que querem fazer no
Serviço Nacional de Saúde: um Serviço Nacional de Saúde que deixe de reger-se pelos princípios
constitucionais para passar a reger-se pelos princípios do negócio segurador no ramo da doença. Isto é claro!
Não está claro para o Bloco de Esquerda que a finalidade apontada pelo Governo, a de combater a fraude
e evitar pagamentos indevidos, justifique e necessite destas bases de dados, porque não estamos a falar da
grande fraude. Grande fraude há no hospital de Braga; grande fraude houve no hospital Amadora Sintra;
grande fraude há organizada e promovida por grupos de delinquentes, criminosos, que exploram certas
Página 49
14 DE OUTUBRO DE 2011
49
ineficiências dos sistemas de prestação e de pagamento, por exemplo, na área dos medicamentos. Mas isso
não é um problema do Ministério da Saúde, é uma questão da Polícia Judiciária.
O SNS e o Estado dispõem, hoje, dos mecanismos necessários para combater a fraude e mesmo para a
base de dados que pretende gerir os pagamentos, todos nós sabemos que esses instrumentos já existem.
Então, para que são precisas estas bases de dados? Do nosso ponto de vista — o que não está na
explicação de motivos —, o Governo precisa delas porque pretende, mais à frente, fazer duas coisas para as
quais actualmente não há tecnologia de informação que o permita.
A primeira é cadastrar, fazer o cadastro clínico de cada utente do Serviço Nacional de Saúde para um dia
mais tarde poder limitar as prestações que cada um pode obter do Serviço Nacional de Saúde em função de
um plafond de pagamento — ou de custo, se quiserem — que, entretanto, atingiu, exactamente como nas
seguradoras. É esta a lógica.
A segunda é diferenciar, ainda mais à frente, o que cada um paga pelos cuidados que obtém no Serviço
Nacional de Saúde.
Consideramos que estas duas bases de dados já não têm só o problema do risco que qualquer base de
dados com este gigantismo tem sempre, pois é muito difícil garantir a privacidade e a confidencialidade de
bases de dados destas. Elas são muito apetecíveis para a indústria, para a investigação científica, para os
estudos do mercado do medicamento, para o estudo do mercado da saúde e até mesmo do ponto de vista
individual e particular.
Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente António Filipe.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir, por favor.
O Sr. João Semedo (BE): — Estou a concluir, Sr. Presidente.
Dizia eu que as bases de dados são muito apetecíveis. Mas já nem falo desses riscos, porque admito que
esses riscos poderão ser diminuídos se esta proposta for aperfeiçoada.
Contudo, é preciso termos em conta que o que aqui, hoje, estamos a discutir não é para resolver nenhum
problema hoje, é para resolver as dificuldades que este Governo terá quando quiser subverter as regras e os
princípios por que hoje se conduz o Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Maria de
Belém Roseira.
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
Deputadas e Srs.
Deputados: O Governo apresentou, nesta Assembleia da República, a proposta de lei que o Sr. Secretário de
Estado da Saúde acabou de descrever com o objecto de regulação dos requisitos de tratamento de dados
pessoais para a constituição de ficheiros de âmbito nacional, contendo dados da saúde com recurso a
tecnologias de informação e no quadro do Serviço Nacional de Saúde.
Esta proposta de lei foi objecto de pareceres da Comissão Nacional de Protecção de Dados e desceu às
1.ª e 9.ª Comissões para relatório e discussão, o que foi realizado.
Enquanto relatora, no âmbito da 1.ª Comissão, tive oportunidade de apontar as insuficiências de que, a
meu ver, a proposta padecia, insuficiências, essas, que poderiam ser colmatáveis com um delicado e atento
trabalho na especialidade.
Optei também por emitir a minha opinião pessoal, enquanto relatora — o que não é regimentalmente
imposto —, para que ficasse expresso e claro que sou favorável ao tratamento de dados no âmbito do Serviço
Nacional de Saúde, como instrumento indispensável ao serviço do controlo de gestão e de uma gestão
eficiente e eficaz dos seus recursos, porque, sendo estes escassos e estando ao serviço do primeiro de todos
os bens, a vida e a saúde, a eficiência da sua gestão constitui um imperativo ético.
Página 50
I SÉRIE — NÚMERO 30
50
Um ficheiro de dados desta natureza contém necessariamente dados pessoais. Mas os dados de saúde,
não deixando de ser dados privados e pessoais, são, para além disso, dados sensíveis, o que justifica que
sejam objecto de uma abordagem especialmente cautelosa.
Toda esta matéria está cuidadosamente regulada em instrumentos jurídicos de natureza internacional
vertidos na nossa ordem interna, como convenções do Conselho da Europa, directivas da União Europeia e
Carta dos Direitos Fundamentais, e tem ainda respaldo constitucional, leis aplicáveis detalhadas e uma
doutrina abundante, à qual me referi no relatório que apresentei, onde citei, designadamente, o nosso Colega
Deputado Paulo Mota Pinto, enquanto Professor de Direito. Existe, para além disso, uma jurisprudência
detalhada e valiosa.
Relevam neste domínio, designadamente, os princípios da intervenção mínima, da proporcionalidade, do
consentimento, da adequação, da precaução e da prevenção, bem como o da aferição da concreta finalidade.
Este último aspecto merece uma afinação clara que permita conciliar, de forma inequívoca, o instrumento com
os objectivos a atingir.
Por sua vez, o sistema em si deverá conjugar simplicidade, flexibilidade, qualidade das redes,
sensibilidade, estabilidade, temporalidade e idoneidade da informação e adequada protecção e segurança,
entre outros.
Daqui decorre a indispensabilidade de um acurado trabalho na especialidade, que consagre o respeito
pelos princípios e pelos atributos do sistema para que fique assegurada a prossecução correcta dos objectivos
que o tratamento de dados visa alcançar. Se o fizermos, e estou certa disso, estaremos a servir bem o SNS, a
colocar o cidadão no seu centro e a salvaguardar bem os seus direitos fundamentais, como é bem o nosso
dever.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino
Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A presente proposta de lei suscita-nos
dúvidas de duas ordens de razões.
A primeira dúvida é em relação ao uso de mecanismos que têm a ver com a invasão da vida privada das
pessoas, sobre os quais deve haver a máxima cautela e uma utilização muito parcimoniosa, porque o uso
destes mecanismos, ainda por cima numa área especialmente delicada como é a da saúde, tem exigências
que impõem que a sua utilização seja feita quando não há outro mecanismo para atingir um determinado fim e
quando esse fim justifica a utilização destes meios.
Ora, aquilo que o Governo apresenta nesta proposta de lei tem alguma gravidade, porque se trata de um
enorme risco. Trata-se de constituir bases nacionais com informação de saúde, que tanto quanto parece serão
permanentes — facto que é assinalado no último parecer da Comissão Nacional de Protecção de Dados, que
não é exactamente aquilo que o Sr. Secretário de Estado da Saúde disse em relação à proposta de lei. Isso
leva a que possa ser constituída uma base com toda esta informação, que, em determinadas circunstâncias,
poderá ser apropriada na sua informação por entidades externas, que a usarão de forma muito perversa e
perniciosa.
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Mas poderá como?!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Basta pensarmos em seguradoras, em entidades empregadoras, e
tudo o mais.
Quando legislamos sobre bases de dados desta gravidade, temos que o fazer não em função do que se
deseja seja o funcionamento normal, em que evidentemente se supõe que nenhuma entidade externa vai ter
acesso a estes dados, mas pensando que as coisas podem correr mal.
Em matéria de protecção de dados, o princípio tem que ser de precaução acrescida e tem que se olhar
para as situações em concreto presumindo que podem correr mal, porque isso é que garante a protecção das
Página 51
14 DE OUTUBRO DE 2011
51
pessoas. E a existência de uma base de dados nacional com informação de saúde é um risco muito grande
para a privacidade dos cidadãos portugueses numa matéria tão delicada como esta.
Há, depois, todos os outros riscos, que são evidenciados em vários pareceres, como os riscos para a
saúde pública, o temor que algumas pessoas poderão ter de declarar as situações de saúde e o facto de se
poderem afastar dos serviços públicos para evitarem serem «fichadas» numa lista deste tipo. Há ainda
questões relativas a quem tem acesso a estes registos.
Mas é preciso dizer que a nossa discordância também vai noutro sentido: é que os fins para que o Governo
quer estas bases de dados não são positivos. Evidencia-se pela proposta de lei que a intenção é a de
«preparar o terreno» para encontrar formas eficazes de cobrar mais dinheiro aos utentes do SNS. E, se não
estamos de acordo com esta proposta porque é arriscada, muito menos estamos de acordo com ela tendo em
conta os fins que visa prosseguir e que estão mal disfarçados no texto da proposta de lei que nos é
apresentada.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro.
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado da Saúde, Sr.as
e Srs.
Deputados: Quanto a esta matéria, vou tentar ver onde é que encontramos um consenso, porque ele existe
certamente, se estivermos de boa-fé.
Por um lado, existe o consenso das virtudes das tecnologias de informação para a utilização, a
monitorização, a organização e o escrutínio da actividade pública, e já temos várias informações com grandes
virtudes para evitar a fraude e a evasão fiscais e contributiva quer no âmbito da administração fiscal quer no
âmbito da segurança social.
Por outro lado, também há consenso quanto à sensibilidade desta matéria. É evidente que a sensibilidade
da informação relativa a dados pessoais relacionados com a saúde de cada cidadão tem que ser objecto de
um tratamento muito específico e muitíssimo cauteloso.
Contudo, Sr. Deputado João Semedo, penso que hoje estamos a tentar encontrar o enquadramento que é
necessário, porque convirá que pior do que a regulação é a ausência de enquadramento. E, como o Sr.
Deputado sabe, já existem muitos ficheiros, muitas bases de dados, às quais, aliás, o Sr. Deputado se referiu,
com falta de enquadramento, nomeadamente o Registo Nacional de Utentes (RNU), a base de dados para o
Centro de Conferência de Facturas do SNS… Trata-se, pois, de fazer uma centralização e criar um
enquadramento legal.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Outro aspecto que me parece muito preocupante abordado nas
intervenções dos Srs. Deputados Bernardino Soares e João Semedo é acharem que, perante a dificuldade ou
a sensibilidade do problema, o melhor é ficarmos paralisados. Ora, a paralisia é o pior que há! Mas, pior ainda
do que essa paralisia, Srs. Deputados, é a vontade de os senhores fazerem aqui futurologia, ainda por cima
em relação a objectivos ocultos que os senhores pretendem atribuir ao Governo e que, pela parte do CDS,
rejeitamos com toda a veemência!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Semedo (BE): — Cá estaremos para ver!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Essa vossa opção pela paralisia por causa de supostas opções já tinha
vindo a lume. Lembra-se quando? Foi quando o CDS apresentou uma proposta — que vai voltar a apresentar,
apesar de já ser parte do Programa do Governo — sobre as facturas virtuais, para que os utentes saibam
quanto é que o Estado despende com os cuidados de saúde que lhes atribui,…
Página 52
I SÉRIE — NÚMERO 30
52
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — … que são tendencialmente gratuitos no momento da utilização, mas
que custam muitíssimo dinheiro ao erário público.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Claro!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Já na altura o Sr. Deputado disse: «Não, não, não! Esse é um primeiro
passo para o plafonamento».
Sr. Deputado, «nas costas dos outros, vemos as nossas». Não vejo, nem na intenção do CDS nem na do
Governo, esse «plafonamento».
Pergunto-lhe: quem tem medo da informação? Quem tem medo da transparência? Quem tem medo da
monitorização? Quem tem medo da avaliação?
Protestos do BE.
São os senhores. Os senhores é que têm medo da transparência. E tentam diabolizar essa transparência
através de soundbytes como o big brother e com futurologia obscura.
O Sr. João Semedo (BE): — É tudo menos transparente!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — A verdade, Sr. Deputado João Semedo, é que já existem ficheiros.
E deixe-me referir-lhe outros problemas na vossa atitude. Um deles reside em que a sensibilidade nos deve
paralisar. Outro, são essas intenções obscuras de «plafonamento». Mas um outro problema é o de que,
perante o perigo de extravio ou de utilização abusiva desses dados, que têm um objectivo virtuoso até para os
utentes, os senhores optam por não regulamentar e não legislar. Os senhores estão a falar é de casos de
polícia! Se houver venda — e sabemos que existe, sabemos que esses ficheiros são apetecíveis, pois com
certeza que são —, esse é um caso de fiscalização! Mas não passa pela cabeça de ninguém deixar de
regulamentar e de legislar sobre aspectos que são fundamentais para o funcionamento da nossa
administração e da administração da saúde com medo da violação dessa lei!
Protestos da Deputada do PCP Paula Santos.
Então, não se legislava, Sr. Deputado!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr.ª Deputada, queira concluir, por favor.
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Vou concluir, imediatamente, Sr. Presidente.
Como eu estava a dizer, então não se legislava! Então, não sei para que existe um órgão de soberania com
poderes legislativos! Por isso é que existe legislação e cominação legal. E para isso estaremos cá para, com
abertura, em sede de especialidade, e visto que há uma questão que foi levantada relativamente ao n.º 5 do
artigo 6.º, tentarmos ultrapassar estas questões que possam levantar.
O Sr. João Semedo (BE): — Veremos, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Mas recusamos e repudiamos, com toda a veemência, as intenções
que os senhores nos tentam imputar.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. João Semedo (BE): — O futuro o dirá!
Página 53
14 DE OUTUBRO DE 2011
53
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Vales.
O Sr. Luís Vales (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo
apresentou à Assembleia da República uma proposta de lei que pretende regular os requisitos de tratamento
de dados pessoais para constituição de ficheiros de âmbito nacional contendo dados de saúde com recurso a
tecnologias de informação e no quadro do Serviço Nacional de Saúde.
Não se trata, propriamente, de um diploma inovador no seu conteúdo. Pelo contrário, apenas pretende
enquadrar e disciplinar as condições em que o tratamento se processa no âmbito do SNS, pondo fim a
práticas que, por ausência de base legal, podiam, elas sim, suscitar dúvidas quanto ao seu cabimento.
O que está em causa não é, portanto, o que alguns querem fazer crer. Não é um qualquer big brother para
vigiar ou para se imiscuir na esfera da vida privada dos utentes do Serviço Nacional de Saúde. Não Srs.
Deputados, isso seria inaceitável para o PSD!
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Vales (PSD): — O que, de facto, está em causa com a aprovação desta lei é a criação legal de
um sistema de informação rigoroso e criterioso que controle correctamente a despesa e a própria utilização
dos recursos disponíveis no âmbito do SNS. É um sistema de que qualquer organização tem de dispor para
funcionar de forma adequada e eficiente. E não me parece que algum partido político aqui representado possa
discordar disso.
Aqueles que o têm feito, em vez de se esconderem sob falaciosas quimeras que apenas existem na sua
imaginação ou, então, que vêem demasiados reality shows, deverão assumir as suas posições com
frontalidade, dizendo, claramente, que o controlo nas prescrições e nos pagamentos não assumem qualquer
relevo na gestão do SNS.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Vales (PSD): — Mas, Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: As
bases de dados, a constituir ao abrigo da presente lei, têm três finalidades essenciais: uma primeira, de
organização, uniformização e actualização da informação relativa à identificação nacional do utente do SNS;
uma segunda, dirigida à gestão e controlo dos pagamentos e facturação, a realizar relativamente às
prestações de saúde e actos associados, incluindo comparticipação e dispensa de medicamentos, que visa a
obtenção de ganhos de eficiência, evitar a duplicação de exames, ou seja, de um modo geral, combater os tão
falados desperdícios. Uma terceira finalidade destina-se a melhorar a avaliação de desempenho e do próprio
financiamento dos estabelecimentos de saúde.
Uma palavra final para dizer que esta proposta de lei foi, oportunamente, submetida à apreciação da
Comissão Nacional de Protecção de Dados, há muito preocupada com o vazio legal que a mesma vem
preencher, tendo merecido o seu parecer favorável.
É certo que, ontem mesmo, a referida Comissão entendeu remeter um terceiro parecer sobre a referida
proposta, o qual merecerá, em sede de especialidade, a devida ponderação, esclarecendo-se quaisquer
dúvidas pertinentes que sobre a mesma, porventura, possam subsistir.
Os únicos limites que o PSD coloca nessa discussão são a protecção dos direitos fundamentais dos
cidadãos, da qual nunca abdicaremos, bem como os objectivos de rigor, de transparência administrativa e de
combate à fraude e ao desperdício, uma vez que os mesmos são um imperativo ético, mas mesmo uma
imposição patriótica.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr.as
e Srs. Deputados, a Mesa não regista mais pedidos de palavra,
pelo que declaro encerrado o debate, na generalidade, da proposta de lei n.º 23/XII (1.ª), que será votada
amanhã, no período de votações regimentais.
Página 54
I SÉRIE — NÚMERO 30
54
Recordo ainda a Câmara de que, amanhã, haverá eleições para órgãos externos à Assembleia da
República e que a nossa sessão plenária se realizará às 10 horas, tendo como ordem do dia o debate
quinzenal com o Sr. Primeiro-Ministro, seguindo-se as votações regimentais às 12 horas.
Srs. Deputados, chegámos ao fim dos nossos trabalhos.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 15 minutos.
Deputados não presentes à sessão por se encontrarem em missões internacionais:
Partido Social Democrata (PSD)
João Bosco Soares Mota Amaral
Partido Popular (CDS-PP)
José Duarte de Almeida Ribeiro e Castro
Deputados que faltaram à sessão:
Partido Social Democrata (PSD)
Carlos Alberto Silva Gonçalves
Luís Manuel Morais Leite Ramos
Partido Socialista (PS)
João Barroso Soares
Nuno André Araújo dos Santos Reis e Sá
A DIVISÃO DE REDACÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.