I SÉRIE — NÚMERO 93
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Não há publicidade, Sr. Deputado Hélder Amaral, que resolva a quadratura do círculo de um salário
insuficiente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Esta é que é a questão!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Depois, para garantir, permitir, fortalecer a vontade de consumir
português, tem de haver proximidade e facilidade de acesso à produção nacional.
Por um estranho provincianismo, Portugal deve ser dos únicos países europeus que não tem no interior de
Lisboa e do Porto mercados abastecidos diretamente pelos seus agricultores. Mas o problema fundamental
localiza-se no papel e práticas da grande distribuição. Assim o determina a sua posição dominante no retalho
agroalimentar: 90% passa por nove empresas e duas controlam cerca de 60%! O seu poder absoluto na
determinação do que está ou não está nas prateleiras acaba por decidir que produtos e que empresas têm
direito a estar no mercado!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente! Não são as pessoas que decidem!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Defender a produção nacional é produzir riqueza e criar postos de
trabalho em Portugal para reduzir de forma sustentada as importações e atenuar o défice da balança
comercial.
A produção é uma questão da soberania do País, uma questão de Estado. Não pode estar subordinada à
conta bancária da grande distribuição nem aos interesses das grandes potências da União Europeia.
São estes os objetivos do projeto de resolução do PCP.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Maria José Moreno.
A Sr.ª Maria José Moreno (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.as
Deputadas: Discute-se hoje,
nesta Câmara, medidas que estimulem e aumentem o consumo de produtos nacionais, potenciando a
capacidade da produção portuguesa, e consequentemente que tenham reflexos na nossa balança comercial.
É um tema recorrente, abordado em discussões sobre a forma de ultrapassar a crise económica em que o
nosso País, infelizmente, está mergulhado.
Alguns grupos parlamentares já apresentaram nesta Câmara iniciativas semelhantes, onde pretendiam
fixar, de forma centralista e dirigista, o consumo de produtos nacionais e/ou locais face a outros importados.
Para nós, PSD, mais do que «impor» tipos de produtos ou origens, consideramos que o Governo deve
procurar criar condições de produção concorrenciais aos nossos produtores, sejam eles agricultores,
pescadores, industriais ou prestadores de serviços, como, aliás, sucedeu com a Plataforma de
Acompanhamento das Relações da Cadeia Alimentar (PARCA).
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Maria José Moreno (PSD): — Embora mantendo a defesa de um mercado livre e aberto num
mundo global, reconhecemos que há regras e normas que muitas vezes não são aplicadas igualmente entre
Estados-membros.
Estranhamente, Portugal, durante muito tempo, não valorizou o produto nacional nem teve políticas
públicas que fomentassem e incentivassem a produção nacional.
Na verdade, Portugal parece acolher de forma exemplar as importações fora da União Europeia, o que
significa que a produção tem regras muito díspares, nomeadamente as ambientais, mas ao mesmo tempo é
muito exigente com o produto nacional, prejudicando, assim, a origem portuguesa.
Perante esta realidade, reconhecemos que há espaço para trabalhar no estímulo ao consumo de produtos
portugueses, garantindo maior transparência no rótulo da origem.