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Sexta-feira, 5 de abril de 2013 I Série — Número 74
XII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2012-2013)
REUNIÃOPLENÁRIADE4DEABRILDE 2013
Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria da Assunção Andrade Esteves
Secretários: Ex.mos
Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Rosa Maria da Silva Bastos de Horta Albernaz
S U M Á R I O
A Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 7
minutos. Em declaração política, o Deputado Michael Seufert
(CDS-PP) salientou diversas iniciativas levadas a cabo pelo Governo na área educativa e respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Acácio Pinto (PS), Rita Rato (PCP), Ana Sofia Bettencourt (PSD) e Luís Fazenda (BE).
Em declaração política, o Deputado Miguel Tiago (PCP) insurgiu-se contra a política cultural do Governo, nomeadamente contra os cortes impostos nas diversas áreas, tendo, depois, dado resposta aos pedidos de esclarecimento colocados pelas Deputadas Catarina Martins (BE) e Inês de Medeiros (PS).
Em declaração política, a Deputada Ana Drago (BE) criticou a política de concessões e privatizações levada a cabo pelo Governo e falou sobre a concessão dos Estaleiros Navais do Mondego. No final, respondeu a pedidos de
esclarecimento dos Deputados Rita Rato (PCP), Ana Paula Vitorino (PS), Maurício Marques (PSD) e Hélder Amaral (CDS-PP).
Em declaração política, o Deputado Cristóvão Simão Ribeiro (PSD) recordou a aprovação, por unanimidade, de um projeto de resolução recomendando ao Governo a aprovação de normas para combate ao consumo das denominadas «novas drogas» e congratulou-se por o Governo, ao aprovar um diploma sobre esta questão, corresponder ao repto do Parlamento. Respondeu, depois, a pedidos de esclarecimento dos Deputados Paula Santos (PCP), Rui Barreto (CDS-PP) e Pedro Delgado Alves (PS).
Em declaração política, a Sr.ª Deputada Elza Pais (PS) acusou o Governo por estar a desinvestir na ciência e alertou para os perigos que daí resultam para esse setor. Respondeu, depois, a pedidos de esclarecimento dos
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Deputados Maria José Castelo Branco (PSD) e Miguel Tiago (PCP).
Ao abrigo dos n.os
2 e 3 do artigo 76.º do Regimento, o Deputado Filipe Neto Brandão (PS) lembrou o 40.º Aniversário do III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro e a sua importância na luta contra a ditadura e em defesa dos valores democráticos, ao que se associaram os Deputados Maria Paula Cardoso (PSD), Raúl de Almeida (CDS-PP), António Filipe (PCP) e Pedro Filipe Soares (BE).
Procedeu-se ao debate conjunto dos projetos de resolução n.
os 591/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo
medidas de valorização dos serviços hospitalares do Centro Hospitalar do Oeste e do Hospital Termal das Caldas da Rainha (PSD e CDS-PP), 662/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão da reorganização hospitalar no Oeste e a criação de um grupo de trabalho que integre as autarquias locais e as associações de utentes (BE), 665/XII (2.ª) — Pela suspensão do processo de «reestruturação dos cuidados hospitalares» no Oeste e a defesa dos serviços e unidades hospitalares da Região (PCP) e 667/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo que promova medidas tendentes à otimização dos cuidados de saúde hospitalares na Região Oeste Norte (PS). Intervieram os Deputados Maria Conceição Pereira (PSD), Helena Pinto (BE), Bruno Dias (PCP), João Paulo Pedrosa (PS), José Luís Ferreira (Os Verdes) e Manuel Isaac (CDS-PP). No final, em interpelação à Mesa, a Deputada Maria Conceição Pereira (PSD) solicitou a distribuição de um comunicado do seu partido a propósito de declarações do Deputado João Paulo Pedrosa (PS)
Foram discutidos, na generalidade, os projetos de lei n.os
352/XII (2.ª) — Repõe a taxa do IVA na eletricidade e no gás natural a 6% (BE), 381/XII (2.ª) — Revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de setembro, rejeitando que a eletricidade e o gás natural estejam sujeitos à taxa máxima de IVA, recolocando-os na Lista I anexa ao Código do IVA, à taxa reduzida (Os Verdes) e 386/XII (2.ª) — Cria taxas de IVA de 6% aplicáveis aos consumos de eletricidade e de gás natural e revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de setembro (PCP), conjuntamente com o projeto de resolução n.º 666/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo que pondere a aplicação da taxa intermédia (13%) do IVA sobre a eletricidade e o gás natural (PS). Proferiram intervenções os Deputados Ana Drago (BE), Heloísa Apolónia (Os Verdes), Paulo Sá (PCP), Hortense Martins (PS), Fernando Virgílio Macedo (PSD) e Cecília Meireles (CDS-PP).
Por último, foi debatido, na generalidade, o projeto de lei n.º 376/XII (2.ª) — Estabelece o encerramento dos estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços nos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro, alterando o Decreto-Lei n.º 48/96, de 15 de maio, modificado pelo Decreto-Lei n.º 126/96, de 10 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 216/96, de 20 de novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 111/2010, de 15 de outubro (Os Verdes), tendo intervindo os Deputados Heloísa Apolónia (Os Verdes), Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD), Rui Paulo Figueiredo (PS), Ana Drago (BE), Artur Rêgo (CDS-PP) e Jorge Machado (PCP).
A Presidente (Teresa Caeiro) encerrou a sessão eram 19 horas e 14 minutos.
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 7 minutos.
Cumprimento os Srs. Deputados, os Srs. Jornalistas e os Srs. Funcionários e peço aos Srs. Agentes de
autoridade que abram as galerias.
Como hoje não há expediente para anunciar, vamos entrar diretamente na nossa ordem de trabalhos, cujo
primeiro ponto consiste em declarações políticas. O segundo ponto será preenchido pelo debate conjunto dos
projetos de resolução n.os
591/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo medidas de valorização dos serviços
hospitalares do Centro Hospitalar do Oeste e do Hospital Termal das Caldas da Rainha (PSD e CDS-PP),
662/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão da reorganização hospitalar no Oeste e a criação de um
grupo de trabalho que integre as autarquias locais e as associações de utentes (BE), 665/XII (2.ª) — Pela
suspensão do processo de «reestruturação dos cuidados hospitalares» no Oeste e a defesa dos serviços e
unidades hospitalares da Região (PCP) e 667/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo que promova medidas
tendentes à otimização dos cuidados de saúde hospitalares na Região Oeste Norte (PS).
De seguida, proceder-se-á ao debate, na generalidade, dos projetos de lei n.os
352/XII (2.ª) —Repõe a taxa
do IVA na eletricidade e no gás natural a 6% (BE), 381/XII (2.ª) — Revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de
setembro, rejeitando que a eletricidade e o gás natural estejam sujeitos à taxa máxima de IVA, recolocando-os
na Lista I anexa ao Código do IVA, à taxa reduzida (Os Verdes) e 386/XII (2.ª) — Cria taxas de IVA de 6%
aplicáveis aos consumos de eletricidade e de gás natural e revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de setembro
(PCP), conjuntamente com o projeto de resolução n.º 666/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo que pondere a
aplicação da taxa intermédia (13%) do IVA sobre a eletricidade e o gás natural (PS).
Finalmente, apreciaremos, na generalidade, o projeto de lei n.º 376/XII (2.ª) — Estabelece o encerramento
dos estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços nos feriados de 1 de Janeiro, 25 de
Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro, alterando o Decreto-Lei n.º 48/96, de 15 de maio, modificado pelo Decreto-
Lei n.º 126/96, de 10 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 216/96, de 20 de novembro, e pelo Decreto-Lei n.º
111/2010, de 15 de outubro (Os Verdes).
Os Deputados que se inscreveram para proferirem declarações políticas são os seguintes: Michael Seufert,
do CDS-PP, Miguel Tiago, do PCP, Ana Drago, do BE, Cristóvão Simão Ribeiro, do PSD, e Elza Pais, do PS.
Usará ainda da palavra, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, o Deputado Filipe Neto Brandão (PS).
Tem, pois, a palavra, para uma declaração política, o Sr. Deputado Michael Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ontem discutimos aqui, pela
mão do Partido Socialista, a censura ao Governo. A intenção de derrubar o Governo estava derrotada à
partida, mas o debate serviu para perceber que o discurso do Partido Socialista está cheio de um vazio de
alternativas políticas concretas que não saiam do plano das intenções. Aliás, não houve, nesse debate, sobre
educação, nem no texto da moção, nem ao longo do debate, uma única palavra.
Essa ausência da parte do Partido Socialista acaba por se perceber, quando os principais dossiers que
tinha deixado pendentes no setor da educação foram enfrentados pelo Governo com eficácia e resultados.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Foi, por exemplo, esta semana concluído o programa de agregações
de escolas e agrupamentos de escolas. Tratou-se, recordamo-nos bem, de um processo longo, difícil e
exigente que exigiu esforço nem tanto da parte do Governo mas sobretudo das autarquias e das escolas. É
certo que, nas anteriores legislaturas, aqui nesta Câmara, discutimos várias vezes esse processo. E em boa
hora o discutimos e em boa hora a nossa bancada apontou as deficiências do processo que o Partido
Socialista estava a levar a cabo.
Protestos do Deputado do PCP Miguel Tiago.
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Recordemos como o PS procurou impor as suas ideias, fazendo agrupamentos sem critérios, sem limites e
sem ter em conta, sobretudo, o maior e superior interesse dos alunos.
Ora, este Governo optou por outro caminho: optou pelo diálogo, optou por critérios objetivos pelo combate
ao isolamento das escolas, pela verticalidade e, sobretudo, pela racionalidade dos recursos. O processo assim
conduzido e assim terminado esta semana revelou-se muito mais pacífico do que no passado e, naturalmente,
com muito melhores resultados.
Mas esta semana houve mais novidades no setor da educação. Convictos de que o Estado deve gastar
menos mas fazer, ainda assim, melhor, foram-se repetindo reformas estruturais para respeitar o esforço dos
portugueses e recentrar, no caso do sistema educativo, o sistema onde ele deve estar centrado, que é nos
alunos.
Assim, pusemos finalmente fim à propaganda do programa Novas Oportunidades.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Sempre aqui dissemos que o iriamos fazer. Sempre nos pusemos contra aqueles que preferiam certificar
em vez de formar, que preferiam inaugurar em vez de formar e de educar. E nunca tivemos dúvidas, no
entanto, de que a missão de dar mais formação aos portugueses tinha de ser cumprida. Mas também não
tínhamos a ilusão de que o programa Novas Oportunidades, gerido como foi, não dava resposta nenhuma.
De facto, os estudos demonstram que assim era. Foi um programa sem impacto nas remunerações dos
formandos e sem impacto na empregabilidade dos que o frequentaram. Por isso, o programa acabou. Não
para deixar um vazio, como muitas vezes aqui ouvimos, mas para preencher o verdadeiro vazio que este
programa nunca deixou de ser.
Assim, foi publicada esta semana a portaria que dá corpo aos novos Centros para a Qualificação e o
Ensino Profissional (CQEP), que vão reencaminhar os jovens e os adultos que precisam de formação para as
escolas — essas, sim, as escolas, darão educação e formação. É um compromisso que assumimos desde o
início, com a qualidade e a excelência do ensino.
E porque se fala de compromissos, importa relembrar aqui também que não é por estarmos a viver tempos
absolutamente conturbados e de dificuldade financeira que deitámos fora os nossos compromissos eleitorais e
os nossos compromissos no Programa do Governo.
Na educação, muito claramente, desde o início dissemos o que iriamos fazer: uma educação centrada nos
alunos; mais autonomia para as escolas públicas; maior autoridade para os professores nas escolas; mais e
melhor avaliação através de exames no final dos ciclos; mais aulas de Português e de Matemática; o ensino
profissional mais cedo no percurso escolar dos alunos. Com tudo isto nos comprometemos e tudo isto já
cumprimos.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Colocámos, Sr.ª Presidente, os alunos no centro das políticas.
Fizemos uma revisão curricular que reforça as disciplinas estruturantes e dá mais autonomia às escolas.
Trabalhámos num novo Estatuto do Aluno, que reforça a autoridade dos professores e responsabiliza mais
os alunos.
Introduzimos uma maior diversidade na oferta educativa, com o ensino vocacional e o ensino dual.
Implementámos, no fundo, a nossa visão para recuperar o ensino, cumprindo estritamente os
compromissos que constavam nos programas eleitorais dos dois partidos da maioria.
Conseguimos, ainda, fazer uma reforma importante no setor que tem sido o verdadeiro cancro do sistema
educativo português: o parque escolar degradado e a Parque Escolar desgarrada.
Assim, é de assinalar que o Governo tenha iniciado um programa de remoção de fibrocimento em 52
escolas no País. E ao contrário do que era a prática governativa no passado, não anunciou só intenções; foi
identificar os casos mais urgentes, foi fazer um programa de intervenção e deu início a esse programa.
Nesta semana, quando começa o terceiro período do ano letivo, já 11 dessas escolas viram a remoção do
fibrocimento acontecer e nas restantes escolas acontecerá antes do início do próximo ano letivo.
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Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, é um programa essencial em mais de 50 escolas e que custa — apenas,
comparado com outras «festas» — 6 milhões de euros ao erário público.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Trata-se de 6 milhões de euros, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados,
sem inaugurações pomposas, admito, sem foguetes, sem grande festa, como acontecia no passado.
Mas ainda bem que assim é, porque essa festa — a da Parque Escolar — é uma festa da qual todos
estamos fartos, uma festa de ares condicionados e de hotéis de 5 estrelas nas nossas escolas, de candeeiros
de marca importados, de materiais caríssimos que têm de vir do estrangeiro a preços exorbitantes. Foi uma
festa, mas foi uma festa com uma dolorosa ressaca que hoje pagam as escolas e pagam todos os
contribuintes.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Assim, Sr.ª Presidente, com respeito pelos contribuintes e respeito pelos alunos, conhecemos bem a matriz
do Governo no sector da educação: centrar o discurso e a ação nas famílias e nos alunos, sem esquecer e
valorizar o trabalho dos professores, dos dirigentes e auxiliares educativos, que todos os dias trabalham para
que se faça educação de qualidade em Portugal, e responsabilidade na aplicação do dinheiro dos
contribuintes, racionalizando mais os recursos e todos os meios para garantir um sistema educativo
equilibrado e eficaz.
Assim, sem festas, melhoraremos o nosso sistema educativo e teremos melhores resultados.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — A Mesa regista as inscrições, para pedidos de esclarecimento, dos Srs. Deputados
Acácio Pinto, do PS, Rita Rato, do PCP, Ana Sofia Bettencourt, do PSD, e Luís Fazenda, do BE.
Entretanto, o Sr. Deputado Michael Seufert informou a Mesa que responderá a grupos de dois.
Tem a palavra, Sr. Deputado Acácio Pinto.
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, quero saudar o Sr. Deputado Michael Seufert
pelo debate que hoje aqui veio proporcionar e dizer-lhe o seguinte, para começar: sobre a coerência do CDS,
estamos conversados — o tal «partido dos contribuintes», o tal partido que se opunha ao aumento de
impostos —, estamos completamente conversados, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Mas o que eu queria aqui sublinhar é que, durante a sua intervenção de 6
minutos, proferida na tribuna, não teve nem uma palavra para os professores e para a mobilidade a que vão
ser sujeitos, a tal mobilidade especial que o Ministro Nuno Crato disse, em fevereiro, que não iria fazer, mas
que disse agora ir levar a cabo. Sobre isso nem uma palavra o Sr. Deputado aqui deixou, hoje, nesta sua
intervenção.
Vozes do PS: — Nem sobre os alunos!
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Mas também lhe quero dizer que estamos já muito habituados a este discurso
do CDS.
Sobre as Novas Oportunidades, não quiseram fazer o «teste do algodão», Sr. Deputado! E sabe qual era o
«teste do algodão»? Era deixar a OCDE fazer a avaliação, que estava comprometida e que deviam levar a
cabo, antes de, por motivos meramente preconceituosos, acabarem com esse programa.
Aplausos do PS.
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Sobre isso, já agora, quero dizer-lhe que o desinvestimento na qualificação dos portugueses é global e
total, tal como ficou ontem bem evidenciado numa conferência que aconteceu na Assembleia da República
sobre o ensino profissional.
Os Srs. Deputados apoiam este Governo, apoiam este Ministro e, afinal, aquilo que querem é «inventar a
roda», quando «a roda está inventada». Acabam com os Centros Novas Oportunidades, trazem-nos os
Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional, uma resposta mínima para os graves problemas que
temos, em Portugal.
Sr. Deputado, segundo o último Censos, sabe quantos portugueses em idade ativa e que fazem parte dos
trabalhadores é que não têm o 12.º ano? Vou dizer-lhe, Sr. Deputado: são dois milhões e trezentos mil
portugueses que não têm o 12.º ano.
Qual é a resposta que o Ministério da Educação e VV. Ex.as
têm para estes trabalhadores? Não têm uma
resposta e acabam com aquelas que existiam.
Portanto, Sr. Deputado, quero dizer-lhe, de viva voz, que aquilo que nos deixou aqui hoje foi nada e foi
coisa nenhuma! E a melhor resposta tê-la-ão, com certeza, pela voz dos portugueses, que, efetivamente,
traduzem aquilo que é a vossa inexistência no âmbito do Ministério da Educação. Eles querem respostas
concretas e os Srs. Deputados do CDS e do PSD e o Governo não lhas dão! Nem uma palavra para as
famílias que viram os seus problemas resolvidos com as políticas sociais que também se traduziram nas
políticas educativas.
Portanto, Sr. Deputado, a pergunta concreta que lhe deixo é esta: qual é a resposta que têm para os dois
milhões e trezentos mil portugueses que não têm o 12.º ano?
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Michael Seufert, trouxe aqui a debate as matérias
relacionadas com a educação, e bem, porque os problemas com que hoje a escola pública está confrontada
são muitos e merecem, de facto, discussão, reflexão, e propostas alternativas, neste caminho em que a escola
pública está a ser sujeita a ataque e desfiguração do seu papel.
É bom reconhecer que este caminho de ataque à qualidade da escola pública não começou agora com
este Governo. Aliás, o Sr. Deputado deu aqui, inclusivamente, exemplos que mostram que o caminho
começou em Governo anteriores, em propostas como as dos mega-agrupamentos, da reorganização curricular
e outras medidas que estão colocadas em cima da mesa e relativamente às quais importa haver memória.
Sr. Deputado, gostaria de colocar-lhe algumas questões sobre esta matéria.
Relativamente ao mega-agrupamentos, medida que o Governo do PS começou, o CDS, quando estava na
oposição, apresentava projetos de resolução para suspender os mega-agrupamentos; quando chegou ao
Governo começou a desencadear uma política, contra tudo e contra todos, de alargamento dos mega-
agrupamentos.
Vou só dar dois exemplos, os de Leiria e de Braga, onde não houve um único parecer favorável à
constituição do mega-agrupamento. Eram escolas que tinham projetos educativos autónomos e importantes,
mas o mega-agrupamento destrói e coloca ingerível uma instituição com mais de 3000 alunos. Portanto, aqui
está uma prova de como os mega-agrupamentos não são feitos com vista à melhoria da qualidade
pedagógica; têm, sim, objetivos economicistas e programáticos de destruição do papel da escola pública e de
despedimento de professores, de funcionários e de psicólogos.
O que temos aprendido com os mega-agrupamentos é que, se numa escola existia um psicólogo, quando
acontece um agrupamento de escolas esse psicólogo passa a repartir-se por todas as escolas do
agrupamento.
Se temos já hoje problemas gravíssimos de falta de professores, de funcionários e de psicólogos, o mega-
agrupamento é bem o exemplo de uma medida que não vai melhorar em nada a qualidade da escola pública e
que serve exatamente para fazer dos trabalhadores da escola pública gato-sapato, para que, caso falte um
funcionário numa escola, o funcionário que está a quilómetros de distância tenha de deslocar-se sem que
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sejam garantidas as condições de trabalho e, sobretudo, as necessidades permanentes de funcionários nas
escolas.
O Sr. Deputado referiu que este Governo colocou os estudantes no centro da sua política, o que não pode
ser mais falso. É que, de facto, este Governo continua a agravar a discriminação dos estudantes do ensino
profissional no acesso ao ensino superior, não garante as condições de igualdade dos estudantes do ensino
profissional, porque no seu currículo, que é profundamente desvalorizado, não lhes permite, por exemplo, ter
disciplinas imprescindíveis para o seu acesso ao ensino superior.
Este Governo acabou com os passes 4_18 e sub23, pelo que hoje qualquer criança de quatro anos paga o
mesmo de passe que pagam o seu pai ou a sua mãe. Ora, isto é insuportável, sobretudo em famílias com
mais filhos e com filhos em idade escolar. Entendemos que isto é muito negativo.
Por tudo isto, Sr. Deputado, deixamos-lhe aqui um apelo. O Sr. Deputado falou, mais uma vez, da Parque
Escolar, e nós, mais uma vez, dizemos o que andamos a dizer desde que esta empresa foi criada. Este
Governo já tem bem o exemplo de que a Parque Escolar não dá resposta à falta de condições materiais nas
escolas públicas. Porque é que não extinguem a Parque Escolar? Porque é que não acabam com a Parque
Escolar?
A Parque Escolar é bem um exemplo de sorvedouro de recursos públicos. O Ministério da Educação todos
os meses transfere uma fatia para as escolas, mas diz que aquele dinheiro não pode ser aplicado na
contratação de mais professores, que aquele dinheiro não pode ser aplicado na contratação de mais
psicólogos, que aquele dinheiro não pode ser aplicado na contratação de mais funcionários; aquele dinheiro é
para transferir uma renda fixa para a Parque Escolar. Aliás, a Parque Escolar é bem uma parceria público-
privada iniciada pelo Governo PS mas que o Governo PSD/CDS insiste em manter.
Ora, o que eu disse é bem um exemplo de porque é que continuamos a dizer que as medidas em curso
não têm como objetivo a garantia da qualidade da escola pública. Muito pelo contrário, colocam em causa o
seu papel conforme está consagrado na Constituição e na Lei de Bases do Sistema Educativo, e é por isso
que continuamos a denunciar o conteúdo de cada uma destas políticas e a exigir uma política educativa
alternativa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Michael Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados Acácio Pinto e Rita Rato, obrigado
pelas questões que levantaram.
Sr. Deputado Acácio Pinto, disse aqui duas coisas profundamente contraditórias. Primeiro, disse que o
discurso do CDS tinha mudado muito e, logo a seguir, disse que o discurso do CDS é sempre o mesmo!
Risos do CDS-PP.
Percebo-o, Sr. Deputado. A questão é que, quando nós estávamos na oposição, os senhores àquilo que
não queriam ouvir fizeram sempre «ouvidos moucos»; aquilo que lhes dava jeito ouvir os senhores adaptaram
e iam aproveitando, até porque não tinham maioria na anterior Legislatura.
Sr. Deputado, o que posso dizer-lhe em relação aos professores é o que disse da tribuna várias vezes, ou
seja, que é importante valorizar o trabalho dos professores, que é importante, por exemplo, reforçar a
autoridade dos professores. E foi esta maioria que fez esse trabalho nesta Legislatura, com a apresentação do
Estatuto do Aluno, Sr. Deputado.
Em relação à iniciativa Novas Oportunidades, aquilo que nos separa é bem maior. Sabemos que o Sr.
Deputado acredita mesmo — percebo isso e estou perfeitamente à vontade para lhe conceder essa boa-fé —
que se resolve o problema de dois milhões de portugueses que estão em idade ativa, como aqui nos disse
(não tenho aqui os dados mas acredito naqueles que nos trouxe), sem terem completado o 12.º ano, dando-
lhes um papel que, depois, não vale nada na vida real. O problema é exatamente esse!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exatamente!
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O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Os estudos que conhecemos dizem claramente que as pessoas
passaram pelo programa Novas Oportunidades à procura, honesta e necessariamente — acho que essas
pessoas merecem de nós o maior apoio —, de uma qualificação e receberam uma certificação que o mercado
de trabalho não onera. Portanto, nem lhes dá mais emprego, ou seja, é uma parte da população que não está
menos exposta ao desemprego, nem aqueles que estão empregados estão em condições de ganharem mais.
É isso o que os estudos nos dizem.
O senhor disse aqui que o Governo abortou um estudo da OCDE sobre este caso, o que é verdade. Mas
recordo-lhe os custos desse estudo: pedia-se ao erário público cerca de 4000 €/formando para avaliar o
impacto daquele programa!
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Deitou fora um milhão!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr. Deputado, aquilo que esta maioria fez, no cumprimento daquilo
que sempre disse na oposição, daquilo que escreveu nos seus programas eleitorais e daquilo que levou para o
Programa do Governo, foi acabar com este programa e substitui-lo por um nosso.
É extraordinário, mas eu sabia que isso ia acontecer: o Sr. Deputado veio aqui dizer que este programa
agora fica reduzido ao mínimo. Eu já tinha ouvido o Partido Socialista dizer que as novidades que introduzimos
na portaria em relação aos Centros para a Qualificação eram para mudar de nome e ficar tudo igual. Ao
menos aqui reconheceram, o Partido Socialista e o Sr. Deputado, que se reduziu aquilo que era preciso
reduzir.
Sr. Deputado, o que estes Centros vão fazer para aqueles que se querem qualificar é olhar para o seu
percurso de vida, olhar para o seu currículo e dizer: o vosso melhor percurso é nesta escola profissional, é
aqui no ensino secundário, é aqui no politécnico… Portanto, vão fazer verdadeiramente um encaminhamento,
algo que a Novas Oportunidade não fazia.
Sr. Deputado, teremos ainda, com certeza, muitas oportunidades para discutir este assunto ao longo deste
ano.
Sr.ª Deputada Rita Rato, em primeiro lugar, em relação aos agrupamentos, recordo-lhe que o Governo,
quando tomou posse, suspendeu a criação de novos agrupamentos, foi ouvir quem tinha de ouvir e, depois,
naturalmente, decidiu, como lhe competia.
Refiro-lhe, no entanto, que o facto de os agrupamentos estarem agregados de forma a melhor garantirem a
eficácia dos recursos públicos assegura também que os alunos ficam menos tempo sem aulas, que os alunos
ficam menos tempo sem psicólogos, por exemplo. Aliás, neste ano letivo, o Governo colocou os psicólogos
nas escolas mais cedo do que sucedeu nos últimos anos, o que é, com certeza, uma boa notícia.
Em relação à Parque Escolar, sei que o Partido Comunista Português sempre defendeu a extinção da
empresa, mas também há de convir que nós, na oposição, nunca nos associámos a isso. É que o problema,
Sr.ª Deputada, não está em ser uma empresa, uma direção-geral ou em estar na dependência direta do
Ministério da Educação. O problema da Parque Escolar, Sr.ª Deputada, é claramente a megalomania.
Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.
Repare que este Governo pegou em 6 milhões de euros e retirou o fibrocimento em 52 escolas por todo o
País.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Bastava uma única obra da Parque Escolar custar menos um
bocadinho e estes 6 milhões de euros já podiam ter sido aplicados há um, dois, três ou quatro anos, não
expondo os nossos jovens à substância que o fibrocimento contém.
O problema não é ser empresa, direção-geral ou instituto público,…
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É, é!
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O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — … o problema é a ação e as políticas megalómanas que custaram e
continuam a custar — tem toda a razão — ao erário público e ao orçamento das escolas milhares e milhares
de euros todos os anos, porque se criou uma dívida que, como muitas outras dívidas que se criaram, vamos
ter de pagar durante muitos anos, infelizmente.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Sofia Bettencourt.
A Sr.ª Ana Sofia Bettencourt (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Michael Seufert, queria agradecer-
lhe ter trazido hoje a debate este tema tão importante para o futuro de Portugal. Pena é que os Deputados da
oposição não tenham estado à altura do debate e do tema que hoje nos trouxe.
O desafio que hoje temos presente em face das circunstâncias excecionais em que Portugal se encontra
incumbe cada um de nós da máxima responsabilidade. A área da educação é central no desenvolvimento que
Portugal quer ter.
O Sr. Deputado Acácio Pinto falou sobre o programa Novas Oportunidades e o «teste do algodão». O
«teste do algodão» estava feito: o Novas Oportunidades não era reconhecido pelo mercado, não era
reconhecido pela ação profissional. Esta realidade não precisava de mais análise, é um facto.
Este Governo visa, com estas medidas, resgatar esta oportunidade. Dizer «nova oportunidade» é isso
mesmo, não é fingir que a estamos a dar às pessoas, é dá-la efetivamente. Valorizar o seu desenvolvimento
pessoal é importante, mas é importante também que tenham uma ferramenta para enfrentar um mundo cada
vez mais competitivo.
A nossa ação tem provado que somos pela escola pública. A escola pública não tem, necessariamente, de
ser exclusivo do público, e essa é a medida. O mundo mudou, Portugal tem de mudar.
Estes discursos que hoje aqui foram feitos, assentes numa realidade que não tem em conta os últimos
desenvolvimentos que, infelizmente, Portugal teve de atravessar, são iguais há 10 anos. Na realidade, o País
não merece este tipo de intervenções por parte das bancadas da oposição.
Aplausos do PSD.
Sr. Deputado, relativamente a estes novos Centros para a Qualificação, o desafio que temos presente,
esse sim, é o de criar uma rede que englobe todos, uma rede que seja local mas que tenha impacto regional e
nacional. Esse é o desafio que temos todos pela frente. É esta medida que não estava contemplada antes e
que constitui uma fundamental diferenciação.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Michael Seufert, dei comigo a pensar quais
seriam as «trombetas» que se iriam anunciar numa intervenção do CDS sobre educação, mas, afinal, a
expetativa não foi coroada de sucesso.
O Sr. Deputado trouxe aqui os mega-agrupamentos, de triste história.
Há dois dias estivemos num colóquio da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) onde ouviu,
como eu, o Prof. Mário Nogueira dar exemplos de unidades de mega-agrupamentos em que o coordenador
tem oito horas de redução do horário para gerir uma instituição com mais de 1000 alunos.
Acho que isso dá bem a medida não só da hipercentralização, não só do distanciamento das várias
unidades, que chega a ultrapassar 30 km, não só da concentração absurda de mais de 4000 estudantes e de
várias escolas com projetos educativos completamente diferentes, mas também daquilo que isto é na
realidade. E na realidade trata-se de uma colossal poupança de custos feita à custa dos mega-agrupamentos,
e não mais. Não há um pingo de pedagogia, não há nada que tenha a ver com o acesso dos cidadãos à
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educação, há, sim, uma forma de fazer cortes orçamentais, ou, na linguagem magnânima do Governo,
poupanças orçamentais.
O Sr. Deputado vem, depois, falar-nos dos Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional, que
sucedem aos Centros Novas Oportunidades. Na verdade, ainda ontem, na Assembleia da República, ouvimos
o estado da arte em relação ao ensino dual que vai ser mesclado com estes centros de qualificação.
O que é que acontece na experiência-piloto? Temos três escolas em experiência-piloto, e ouvimos ontem
alguém pedagogicamente dizer-nos — mal! — que há capacidade para fazer o regresso ao ensino regular,
que há permeabilidade. Como a formação geral apenas vale 40%, se o aluno quiser candidatar-se a exame de
Português e de Matemática do 9.º ano pode voltar ao ensino regular. Bem, isso é dar a oportunidade a um
coxo de correr os 100 m! Não tem qualquer possibilidade de competir nessas circunstâncias!
É uma falsidade, é mirífico, é ilusório dizer que esses alunos podem vir a ter permeabilidade em relação ao
ensino regular. Portanto, há aqui uma elitização e um afastamento, que já têm um vício à partida: o castigo
pela repetência. Essa seleção precoce corresponde a uma seleção social e a uma opção clara
ultraconservadora da parte do Governo e da maioria.
Mas o ensino dual ainda é apenas uma ideologia, não tem projeto, não está concretizado, não se sabe
onde vai acontecer, e, portanto, talvez seja um pouco prematuro anunciá-lo com tanto estrondo.
Quanto aos próprios Centros, dir-me-á o Sr. Deputado quando arrancam, onde arrancam, o que vão fazer,
como vão selecionar as entidades privadas, que tipo de contratos vão ter com as entidades formadoras, qual a
sua correlação entre adultos e não adultos — porque passa a ter não adultos, passa a haver esta interceção
—, quando vêm os fundos europeus das Perspetivas Financeiras 2014/2020 para isto, em que ano. Enfim, não
será um pouco prematuro, para o CDS, anunciar o funcionamento dos CQEP quando ainda não se sabe
absolutamente nada acerca disso?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Michael Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Ana Sofia Bettencourt e Sr. Deputado
Luís Fazenda, muito obrigado também pelas questões que colocaram em torno da questão dos Centros de
Qualificação, que têm, desde logo, como primeira consequência, a introdução do novo palavrão CQEP no
«eduquês» português. Isto, de facto, podia levar-nos a outro tipo de discussões sobre as nossas políticas
educativas.
Sr. Deputado Luís Fazenda, eu não anunciei nada. A portaria foi publicada esta semana pelo Governo e
não — nem nunca poderia sê-lo — pela maioria parlamentar, anunciando exatamente como vão funcionar
estes Centros e a abertura de um concurso para 120 destes Centros de Qualificação, que existirão
geograficamente distribuídos, para permitir uma ligação com o sistema educativo, como já tinha referido há
pouco em resposta ao Deputado Acácio Pinto,
O Sr. Luís Fazenda (BE): — E o financiamento?
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr. Deputado, o financiamento também é do Orçamento do Estado —
está dito na portaria —, não é preciso ir buscar dinheiro europeu, se bem me recordo. Mas podemos ler essa
portaria em conjunto, num próximo debate.
O problema, tal como a Sr.ª Deputada Ana Sofia Bettencourt aqui bem referiu, é a questão da rede. E não
estamos a falar de ensino dual e de ensino vocacional (não vale confundir as coisas), estamos a falar de
ensino profissional. Ora, temos este tipo de ensino nas escolas secundárias e nas escolas profissionais, que
são detidas, normalmente, por associações empresariais ou por ligações diretas ao tecido empresarial local.
E, Sr.ª Deputada, dou-lhe toda a razão quando diz que escola pública não é exclusivamente propriedade
pública. Da rede pública fazem parte escolas que estejam integradas numa rede de portas abertas que
recebam os alunos que os CQEP reencaminham. Penso que o Governo terá a obrigação de se relacionar com
as entidades e, na regulamentação da portaria, de dizer claramente que estas escolas (as profissionais, as
secundárias) fazem parte da rede pública do ensino profissional e que esse ensino, ministrado por qualquer
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um deste tipo de escolas, é um ensino que dá valor e substância ao ensino público, porque não nos podemos
fechar. Um problema que também tivemos no passado foi o de tentar ultrapassar, dando novas competências
às escolas do ensino secundário, as que já estavam no terreno a fazer ensino profissional, muitas vezes com
condições físicas (e humanas, sobretudo) — muitas escolas secundárias também não tinham como missão
este tipo de ensino —, e foi-se tentando ultrapassar… Isso teve como consequência evidente que este tipo de
ensino acabou por não responder às necessidades das pessoas e da sua formação profissional.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — O Sr. Deputado Luís Fazenda falou também dos agrupamentos,
levantando uma questão igualmente muito importante, que é a dos percursos educativos e dos projetos
educativos de cada escola.
Uma das razões para se agrupar verticalmente as escolas, tendo uma ou várias escolas primárias
associadas a escolas do 2.º e 3.º ciclos e a escolas secundárias, é permitir que haja — mesmo que não haja
— o mesmo percurso e o mesmo projeto educativo, que não tem de haver, mas que, pelo menos, haja
conhecimento do que esperar dos alunos quando progridem dentro do sistema educativo.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Com 4000 alunos?!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Um aluno que sai da escola primária vai para a escola do ensino
básico do 2.º e do 3.º ciclo, chega à secundária e os professores já o conhecem e podem ter canais de
comunicação internos para comunicarem problemas que aconteciam anteriormente.
E não é exclusividade, Sr. Deputado, haver escolas com mais de 1000 alunos, porque já havia centros
escolares — continua a haver —, edifícios que albergam mais de 1000 alunos. Mais de 4000 alunos, Sr.
Deputado, é um exagero, tem razão. Mas tenho muitas dúvidas de que este Governo tenha criado algum
agrupamento com mais de 4000 alunos. Mas podemos também falar disso com dados mais concretos, que
serão agora publicados com o encerramento deste processo de agregações.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Quem nos quer submissos quer-nos
incultos.
Uma das mais belas conquistas da Revolução de Abril foi a da democratização da criação e fruição cultural
e artística, alcançada pela luta das populações e pelas estruturas de criação artística que levaram a todos os
cantos do País a arte sob as mais variadas expressões: a música, as artes plásticas, o teatro, a dança, a
literatura, o cinema não só conheceram um gigantesco impulso na produção como começaram a chegar a
quase todos os pontos do País, pelas mãos e pelo esforço de quem se dedicou à criação e à difusão da
cultura, e o fim da censura permitiu a difusão de filmes, livros e peças de teatro até então proibidas.
Mas, para a estratégia de concentração da riqueza, de saque e de esbulho em curso, o Governo quer
reverter essas conquistas, quer uma cultura atordoante, de entretenimento e diversão, que dê cobertura à
exploração, e jamais uma cultura resistente, libertadora e independente.
Quem nos quer submissos quer-nos incultos.
O Orçamento em vigor, do PSD e do CDS, não atribui um euro proveniente dos impostos para o apoio às
artes ou para a produção cinematográfica. Na verdade, para as artes, uma mísera fatia dos jogos da Santa
Casa; para o cinema, uma taxa sobre a publicidade e os canais por subscrição. Nem mesmo o
reconhecimento internacional, em festivais, de muitos realizadores portugueses sensibiliza o Governo, e
alguns têm de assegurar deslocações e participação nesses festivais por seus próprios meios.
As funções culturais do Estado subsumem-se na propaganda de regime, na promoção de um ou outro
rosto da cultura pop, enquanto se afundam milhares de euros em eventos semipublicitários e na criação de
marcas, a pretexto da arte, aplica-se à criação artística democrática uma feroz censura financeira.
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Tal como o Partido Comunista Português vem denunciando, o resultado dos
concursos de apoio às artes revela a justeza das críticas que têm sido feitas a um Governo que pretende a
aniquilação da liberdade artística em Portugal. Pela forma: com atrasos, alteração de regras a meio dos
concursos — nos apoios diretos e indiretos —, arbitrariedades técnicas e estéticas, revelação dos resultados
aos soluços; pelo conteúdo: com cortes de praticamente metade dos valores de financiamento, diminuição do
número de candidaturas financiadas. Tendo em conta 2009 até hoje, o corte direto nos apoios às artes é já
superior a 75%.
Fica claro para o PCP que não se trata de um subsídio bondoso do Governo, como nos querem fazer crer o
PS, o PSD e o CDS, mas trata-se do financiamento devido àqueles que são os verdadeiros criadores e atores
da cultura em Portugal, do seu salário, dos seus direitos.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Estas estruturas integram plenamente o serviço público de arte e cultura que
o Estado deve assegurar e que cada vez menos garante. Vejam-se as privatizações e concessões dos
palácios e monumentos, o abandono do património, a apropriação de teatros históricos por bancos, o
encerramento de centenas de salas de cinema por todo o País, a asfixia dos cineclubes, a destruição da
Tobis, o estrangulamento da Cinemateca, a penúria forçada das estruturas de criação.
No cinema, o Governo não abriu concursos durante um ano inteiro e este ano já incumpre os prazos. Na
literatura, desde 2009 que não se realiza um único concurso. Nas restantes artes, a liquidação prossegue com
corte após corte e sacrifica a criação por uma cada vez maior burocratização e desmantelamento da DGArtes
(Direção-Geral das Artes). Que será das companhias e estruturas das mais diversas disciplinas, do teatro ao
design? Que será dos trabalhadores das artes e do espetáculo, dos técnicos, dos autores, dos intérpretes?
Da precariedade laboral no setor, da sua desproteção social na maternidade, paternidade e doença, do
roubo imposto pela segurança social — que são já a regra — passaremos, agora, ao desemprego massivo. Da
produção artística cultural livre, alternativa, passaremos à monocultura dominante e entorpecedora.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: No ano em que comemoramos o centenário do nascimento de Álvaro
Cunhal, comunista, intelectual, também homem das artes e da cultura, relevamos a sua conceção da arte
como valor humano, mas, mais do que isso, como um valor social, que a censura financeira que este Governo
de traição nacional não calará.
Não aceitamos uma cultura marginal quando marginal é o Governo. Cada vez menos faz sentido disputar
migalhas ou esmolas a que um qualquer Governo venha a chamar de subsídios. Urge uma política de
financiamento com recursos suficientes, de 1% para a cultura.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Isso mesmo!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Queremos concursos, mas não quaisquer uns. Queremos concursos
transparentes, democraticamente escrutináveis, que saibam distinguir entre as companhias de repertório e as
de experimentação e investigação, que garantam o direito a elevar a nossa consciência enquanto seres
humanos, em todas as suas dimensões.
Por isso mesmo, hoje no Parlamento, amanhã na rua, estaremos com as estruturas, criadores, autores e
atores que se manifestarão por uma outra política cultural.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Neste «tempo mau para lirismos» não é vergando a dignidade e a cultura de
um povo que se ultrapassam as dificuldades. É tomando-as como bandeiras e afirmando-as na luta todos os
dias, com o trabalho, as artes e a cultura lado-a-lado que encontraremos os valores de Abril, porque a
liberdade passa pela cultura. Não há democracia sem direito ao trabalho, sem direitos sociais, sem saúde,
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sem educação, mas também não há democracia sem cultura, sem o direito a criar e o direito de todas as
pessoas a fruírem dessa criação. Rasgar o «pacto de agressão», demitir o Governo — Relvas já foi, faltam
todos os outros —, acabar com a alternância entre o PS, o PSD e o CDS é o primeiro passo para repor os
valores de Abril no futuro de Portugal.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A Mesa regista as inscrições, para pedidos de esclarecimento, das Sr.as
Deputadas
Catarina Martins e Inês de Medeiros, às quais o Sr. Deputado Miguel Tiago responderá individualmente.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, saúdo-o pelo tema que hoje
aqui trouxe.
Permita-me que comece por registar que quando se fala de cultura a direita prefere ficar calada. E
percebemos bem porquê e quanto incómodo e desconforto devem sentir num assunto em que não têm nada
para dizer, porque o seu projeto é indizível.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Não se pode dizer que a direita não tenha projeto para a cultura, porque
tem. É claro que o projeto da direita para a cultura é calar a voz de um povo, é não deixar que exista a
dimensão fundamental que a democracia trouxe ao nosso País, que é o acesso da população à cultura.
Talvez os senhores não saibam (e talvez por isso fiquem tão nervosos) que o acesso da população à
cultura tem duas dimensões, que é poder usufruir, ter acesso ao património e à criação artística, mas é
também poder criar, construir as próprias narrativas, criar a sua voz. É o que distingue um povo que é dono do
seu destino de um povo colonizado. E um Governo que não quer saber do seu País é, com certeza, um
Governo que quer um povo resignado e que, portanto, quer retirar-lhe a sua capacidade fundamental de
conhecer a sua memória e de construir o seu futuro.
Fomos confrontados, há poucos dias, com resultados da Direção-Geral das Artes, que vêm na linha de
tudo o que temos conhecido sobre este Governo, seja na paralisação do cinema, seja na rede de museus, que
está parada, na rede de cineteatros, que também não tem condições para funcionar, nas bibliotecas, que
estão já a prescindir das assinaturas dos periódicos. Queria citar-lhe o próprio júri que estava a trabalhar na
Direção-Geral das Artes e que, relativamente aos montantes que estavam em causa, falou que «trariam
grande prejuízo e dano a uma comunidade profissional com trabalho reconhecido no terreno». E dizia ainda
que as verbas disponíveis eram insuficientes para as necessidades reais do País.
Estas são as palavras de quem está na Direção-Geral das Artes e é confrontado com o impossível.
Sabemos que, face ao impossível, há sempre a tentação de colocar artistas contra artistas ou projetos
contra projetos, dizendo, neste último caso, que um projeto deveria ser apoiado e outro não. Isto quando, na
realidade, o problema é só um: é a política destrutiva do Governo, que quer calar a arte e todo um País.
Sr. Deputado, a pergunta que lhe faço é simples, se não nos acompanha quando dizemos que este
Governo abdicou de ter Ministério da Cultura, mas, na realidade, também abdicou de ter Secretário de Estado
da Cultura, tendo, neste momento, quanto muito, uma frente de sala para inaugurações, de tapete vermelho e
croquete, mas não mais do que isso!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, em primeiro lugar, quero
agradecer as suas questões e saudar as suas considerações, convergentes, aliás, com a avaliação que
fazemos desta política de ruína e de asfixia, que se transforma numa autêntica censura financeira à liberdade
de criação artística.
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A Sr.ª Deputada, logo no início da sua intervenção, fez-me lembrar uma personagem de uma peça de
teatro — a qual representa, infelizmente, uma figura real, Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler —, que
dizia que, cada vez que ouvia falar de cultura, puxava logo do seu revólver. Este Governo não puxa do
revólver, mas puxa de um Orçamento do Estado em branco, um Orçamento do Estado a zero para a cultura,
sempre que ouve as reivindicações dos artistas ou sempre que ouve falar de cultura.
Sr.ª Deputada, sobre a questão concreta, da nossa parte, é muito claro: basta olhar para o Orçamento do
Estado, para as despesas do Estado e verificar que, comparados com a pequena taxa das receitas da Santa
Casa que vão para a cultura, os 7500 milhões de euros que o Estado paga em juros por força das opções
políticas do PSD e do CDS (com o contributo, aliás, do anterior Governo) seriam qualquer coisa como 750
anos de apoio à cultura, à produção artística, em Portugal. Sacrificamos 750 anos de apoio à criação artística,
a cada ano que passa. E isto demonstra bem que este Governo prefere entregar os impostos e o esforço do
trabalho dos portugueses para pagar a agiotagem, a usura e a colonização financeira do que para garantir os
direitos constitucionais, como é o direito à criação e fruição cultural.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Este Governo, de facto, Sr.ª Deputada, abdicou de ter um Ministério da
Cultura, como referiu, e abdicou talvez também de ter um Secretário de Estado da Cultura, porque, ao invés
de promover a cultura como direito constitucional, optou por convertê-la numa marca de propaganda e passeá-
la pelo mundo, utilizando e promovendo marcas, ao invés de assegurar aqui, em Portugal, o direito
constitucional do acesso à criação e fruição cultural.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Medeiros.
A Sr.ª Inês de Medeiros (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, também eu lhe agradeço por
ter trazido este tema a debate no Plenário.
Começo por lembrar um grande senhor, Léopold Senghor, que dizia que a civilização começa e acaba com
a cultura, nos seguintes termos: quando há cultura, há civilização, há humanidade; quando deixa de haver
cultura, deixa de haver humanidade e passa a haver boçalidade.
Ora, hoje em dia, estamos perante o grau zero da política e perante a apologia da boçalidade.
Este Governo não entende, nem quer entender, a importância da cultura para uma sociedade democrática.
Não entende que ela não é um privilégio, não é um suplemento de alma, é muito mais do que isso. Ela não
constitui apenas uma alavanca económica, ela não constitui apenas uma alavanca social e educativa (com a
fealdade que a palavra «alavanca» tem, mas não encontramos outra para definir certas políticas). Ela é,
sobretudo, indispensável à nossa inteligência, ela é, sobretudo, aquilo que faz de nós um povo, um coletivo,
uma nação, uma pátria, enfim, seja o que for que quiserem chamar a este nosso território.
E é isso que está em causa. O Sr. Secretário de Estado da Cultura, cheio de boas intenções, brinda-nos, a
cada entrevista, com teorias muito elaboradas sobre a importância do espaço, da ligação à comunidade. Mas,
depois, na prática, o que temos é uma política cega, surda e muda do número.
O que é que este Governo fez perante os atrasos nos apoios dados ao teatro? Para tentar não fazer má
figura, decidiu aumentar supostamente as instituições a apoiar. Mas, como não quer dar mais dinheiro, divide
os apoios por metade. E, depois, vêm os discursos liberais.
Ora, adotando agora essa opção liberal, pergunto: os senhores que defendem as empresas, expliquem-me
como é que uma empresa, que até é um teatro (e não vou estar agora aqui a nomeá-lo, porque são muitos os
exemplos), com história, com público, com projeto, inserido no seu território, vê, de um dia para o outro, os
montantes que tem (e que já teve de contratualizar para poder concorrer) diminuídos em 50%?
Dando um exemplo muito simples, pergunto ainda: que empresa é que, tendo 14 trabalhadores, funciona
com 50 000 €/ano? Quanto é que as pessoas acham que esta empresa (para usar os termos que os senhores
usam) vai ter de pagar a estas pessoas? Ou estas pessoas não têm direito à vida, não têm direito a família,
não têm direito a sonhos?
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Esta é a vossa visão da cultura.
Termino, Sr. Deputado Miguel Tiago, dizendo que, obviamente, esta questão implicaria um debate muito
mais prolongado. Quero só relembrar (sei que já o disse aqui, mas é sempre bom repetir) aquela que foi a
grande parangona deste Governo: libertar a cultura do Estado. E dizer que, no entanto, a única coisa que
soube fazer foi amputar o País da sua inteligência.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Inês de Medeiros, em primeiro lugar, começo
também por agradecer as questões que colocou. Depois, quero dar-lhe nota da conceção do PCP sobre
algumas das questões que aqui traz.
É verdade que se está a negar o direito ao trabalho, é verdade que, inclusivamente, se está a negar o
direito à criação cultural, à liberdade artística, pela via do estrangulamento financeiro, pela via do
subfinanciamento — e a Sr.ª Deputada descreveu-o bem —, e é também verdade que isso tem impactos nas
estruturas que são absolutamente desastrosos, quer pela dimensão da relação que têm com os trabalhadores
e artistas, quer pelo trabalho que vão poder desempenhar.
Mas não é menos verdade que há uma outra dimensão — e a Sr.ª Deputada não a abordou, mas sei que
ela também está inerente à sua intervenção — que é determinante para o PCP e que é esta: sem esse direito
a criar, sem o direito desses trabalhadores, artistas, criadores e intérpretes poderem realizar a tarefa a que se
predispuseram, nós não temos o direito a fruir aquilo que eles vão produzir, porque não vão produzir. O povo
português ficará impedido de poder ver e fruir a arte e a cultura que estas pessoas, estes artistas e estes
intérpretes deveriam ter liberdade de criar e não têm, porque este Governo, à margem da Constituição, à
margem da lei, lhes nega o financiamento à sua atividade regular.
A Constituição da República Portuguesa, nesta matéria, é muito clara, ao dizer que ao Estado incumbe
assegurar este direito através do apoio às estruturas de criação artística, às autarquias e ao movimento
associativo e popular.
Ora, nenhuma destas dimensões das obrigações do Estado está a ser cumprida, e isso limita não só os
direitos dessas estruturas como, evidentemente, os direitos das populações a terem uma oferta diferente.
É que o que este Governo quer — e aí não estou de acordo consigo — não é acabar com a cultura, é
garantir uma cultura mercantil e uma cultura neutralizante, uma cultura entorpecedora, uma cultura que
justifique a exploração do capitalismo sobre o trabalho, uma cultura que neutralize o raciocínio crítico.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É a cultura que nos entra pela televisão, é a cultura das grandes
distribuidoras de cinema que esmagam qualquer alternativa crítica e independente. É essa cultura que a
direita, PSD e CDS e este Governo, quer impor ao povo, eliminando as expressões livres de criação artística e
cultural, em Portugal.
Posto isto, Sr.ª Presidente, peço-lhe apenas 10 segundos de tolerância para dizer que o PSD e o CDS,
talvez não surpreendentemente, não colocaram qualquer questão, nem tomaram qualquer posição sobre esta
matéria. Às vezes, costumamos dizer que PSD e CDS não têm vergonha em defender o indefensável, nesta
Assembleia. Hoje, tiveram!
Aplausos do PCP e da Deputada do PS Inês de Medeiros.
A Sr.ª Presidente: — A próxima declaração política cabe ao Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quando já nada parecia capaz de nos
espantar no atrapalhado processo de concessões e privatizações, depois de tudo o que aconteceu na TAP e
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depois da confusão no processo da RTP (liderado pelo aparentemente ex-Ministro Miguel Relvas), eis que o
Governo mostra que consegue sempre escavar mais fundo e que há outros Ministros que são obviamente
remodeláveis.
A concessão dos Estaleiros Navais do Mondego é, deve ser um caso de estudo de tudo o que não deve,
nem pode ser feito na gestão do interesse público, com um nível de negligência que não seria admissível
numa qualquer «república das bananas».
O Governo entregou a concessão de um estaleiro a uma empresa sem dinheiro, criada um mês depois da
abertura do concurso público para esta concessão, e cujos sócios não têm um único dia de experiência na
indústria naval, mas têm, pelo contrário, um longo historial de salários em atraso em empresas de construção
civil.
Resultado: seis meses depois, a empresa a quem o Estado concessionou os Estaleiros ainda não pagou os
500 000 euros devidos pela aquisição dos equipamentos, nem os 100 000 euros de caução à autoridade
portuária, e nos Estaleiros já há trabalhadores com salários em atraso. E os postos de trabalho, prometidos
com pompa e circunstância pelo Sr. Ministro da Economia, também ninguém ainda os viu.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — O contraste entre as promessas efetuadas pelo Ministro da Economia, no início
deste ano, e a realidade vivida na empresa é tão chocante e contrastante que talvez o melhor seja mesmo dar
a palavra a Álvaro Santos Pereira.
Dizia o Ministro, há apenas três meses, que a concessão dos Estaleiros do Mondego «irá permitir a
contratação de 134 postos de trabalho diretos, e 230 indiretos, até ao final deste ano». Aliás, o Ministro não se
limitou a quantificar os postos de trabalho, anunciou também 18 milhões de euros de investimento.
Resultados, hoje: zero novos postos de trabalho e nenhum investimento.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Uma vergonha!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Para o espanto ser completo só falta, aliás, ouvir o que dizem à imprensa os
ditos investidores, em relação aos anúncios de Sr. Ministro Álvaro Santos Pereira: «18 milhões de euros? Não
percebi, não sei onde é que o Ministro foi buscar esse número». Como, pelos vistos, também não sabem
«onde o ministro foi buscar esse número» dos 134 postos de trabalho, que, dizem, é «impensável».
Resumindo, temos um Governo, a quem talvez devamos chamar desgoverno, que concessionou um
estaleiro estratégico para a indústria naval portuguesa a uma empresa desconhecida, cujos sócios têm um
longo historial de salários em atraso e de rutura de empresas, desconhecem totalmente a indústria naval e não
assumem, agora, nenhum dos compromissos anunciados pelo Ministro da Economia.
É caso para dizer: tudo o que neste processo não podia correr mal, correu. Aliás, ia correndo mal duas
vezes. É que não satisfeitos com a forma dolosa como este processo foi gerido, sabemos agora que o mesmo
Ministério da Economia convidou estes notáveis empreendedores para ficarem agora com a concessão dos
Estaleiros Navais de Viana de Castelo. Ou seja, nem cuidado com as decisões, nem responsabilidade política,
nem proteção do interesse público e do emprego.
A palavra «trapalhada» foi criada exatamente para descrever histórias destas.
Sr.as
e Srs. Deputados: A forma despreocupada como o Ministro da Economia gere o interesse público, e
anuncia investimentos e a criação de postos de trabalho sem qualquer preocupação em garantir que, de facto,
eles existem, é a marca de um Governo irresponsável e incompetente, de um Governo que está esgotado.
Tamanha incompetência e leviandade exigem uma explicação do Governo e hoje, aqui, a palavra das
bancadas que o suportam. Há questões que, em nome da transparência e do interesse dos trabalhadores e da
economia da região, não podem ficar sem resposta.
Como é que o Governo concessiona uma empresa estratégica para o distrito de Coimbra, sem exigir
qualquer tipo de garantia financeira da empresa concessionária? Como é que o Governo concessiona os
Estaleiros a uma empresa sem capital e cujos sócios têm um conhecimento zero no setor naval e um longo
historial de incumprimento das suas obrigações?
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Como é que, sendo pública e notória a incapacidade financeira dos concessionários, o Governo parece ser
a única entidade em todo o País que não conhece o historial destes investidores? Como é que o Governo
anuncia postos de trabalho e investimentos que, pelo que sabe, não acautelou nos contratos que assinou, ou
nas contrapartidas que exigiu?
As questões que esta trapalhada monumental levanta são muitas, mas há também ilações que podem
desde já ser tiradas e uma conversa sobre o valor da palavra dada pelo Governo.
Um Governo que passa os dias a garantir-nos que a privatização ou a concessão a privados de tudo o que
mexe é a solução para modernizar a economia, afinal, vai entregando ao desbarato ativos que anuncia como
estratégicos a investidores falidos e sem capacidade de garantir o investimento e os postos de trabalho
anunciados, com pompa e circunstância, pelos próprios Membros do Governo.
Isto já não é apenas um ignorante preconceito ideológico contra tudo o que é público, é muito mais do que
isso, Sr.as
e Srs. Deputados. É indiferença pela coisa pública, é o apoucar da responsabilidade governativa
quando se decide desbaratar ativos fundamentais para a recuperação da economia, entregando-os a privados,
quem quer que eles sejam!
Não é apenas a teoria «se é privado é necessariamente bom» que é manca, é o Governo que é perigoso,
porque é um Governo deslumbrado pela ideia de iniciativa privada e vende tudo, concessiona tudo pela
oportunidade de ter uma peça televisiva de 2 minutos para um Ministro que é remodelável desde que tomou
posse como Ministro — aliás, soubemos hoje da demissão do Dr. Miguel Relvas, mas ficam alguns ministros
por ir.
No momento em que se anuncia uma enxurrada de concessões e de privatizações na agenda do Governo,
esta história prova, se dúvidas houvesse, que não contamos com este Governo para proteger o interesse
público, a economia e os postos de trabalho.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos à Sr.ª Deputada Ana Drago, os Srs.
Deputados Rita Rato, Ana Paula Vitorino, Maurício Marques e Hélder Amaral, tendo a Sr.ª Deputada
informado a Mesa que pretende responder individualmente.
Em primeiro lugar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, a Sr.ª Deputada Ana Drago traz aqui um problema importante, e
importa recordar que os Estaleiros Navais do Mondego têm uma história que prova já os erros que não podem
acontecer novamente.
Os Estaleiros Navais do Mondego foram criados em 1944 e têm um importante percurso de reparação e
construção naval que foram desenvolvendo, tendo hoje um património de conhecimento e de mão-de-obra
altamente qualificada, bem como uma patente de construção em alumínio que é única no País.
Em 2007, a Fundação Bissaya Barreto vendeu os Estaleiros Navais do Mondego — surpreendam-se, Srs.
Deputados — por 1 € a uma empresa espanhola. Essa empresa tinha obrigações específicas no contrato que
não cumpriu e, passados quatro anos, essa situação levou à insolvência da empresa e à ameaça de todos os
postos de trabalho.
Acontece que, em dezembro de 2011, os Estaleiros Navais do Mondego entraram em insolvência — os 60
postos de trabalho estavam ameaçados, 250 trabalhadores tinham já sido dispensados ao longo do processo
— e, em maio de 2012, foi aberto o concurso para a concessão da licença dos Estaleiros Navais do Mondego.
Admirem-se, Srs. Deputados: uma empresa que não existia na altura da abertura do concurso, passado um
mês foi criada de forma mágica, como se fosse um truque de magia, e, passados alguns meses, ganhou
mesmo o concurso, sem que tivesse havido, da parte do Governo, qualquer critério, qualquer escrutínio
rigoroso e profundo sobre a situação financeira desta empresa.
Aliás, como a Sr.ª Deputada bem referiu, esta empresa tinha assumido o compromisso de fazer um
investimento de 18 milhões de euros, tinha assumido a garantia de mais 300 postos de trabalho e tinha
assumido, ainda, o pagamento de 100 000 € e de 500 000 € aos portos da Figueira da Foz e de Aveiro,
respetivamente, que, de acordo com informações que temos, não foram ainda consagrados.
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É por isso que entendemos que este processo levanta muitas dúvidas, mas aponta-nos uma certeza: o
Governo tratou com os «pés» os Estaleiros Navais do Mondego.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O Governo não respeitou o património histórico daquela empresa, não respeitou
o legado importante da reparação e da construção naval daquele setor nem garantiu a salvaguarda dos postos
de trabalho.
Entendemos, por isso, que é fundamental ouvir — e esperamos ouvi-lo hoje aqui dos Deputados do PSD e
do CDS — que vão desencadear todos os mecanismos que têm ao seu dispor para salvaguardar os postos de
trabalho e para garantir o compromisso da viabilização desta empresa.
A Sr.ª Presidente: — Queira fazer o favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Esta empresa é importante para a Figueira, para a região Centro, mas sobretudo para o País pela
importância do setor da reparação e da construção naval, que tem um papel fundamental no desenvolvimento
económico e social.
Da parte do PCP, é o que continuaremos a exigir.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, creio que conta bem a história
aventurosa dos Estaleiros Navais do Mondego nas mãos de sucessivos governos e de diferentes empresas
concessionárias.
Quanto ao que aconteceu agora, neste último processo de concessão, se um argumentista quisesse criar
uma história mais ou menos mirabolante do que é uma negociata mal conduzida por um Governo deslumbrado
com a ideia de concessão a privados de tudo o que eventualmente possa ser útil, estratégico e interessante na
economia portuguesa não conseguia escrever uma história mais atribulada.
Temos aqui uma empresa que entra no concurso quando ele já estava aberto — ela é criada um mês
depois de o concurso estar aberto — e que tem a participação de uma empresa na área da construção civil
que já tinha problemas financeiros conhecidos desde junho de 2011. Portanto, esta concessão é anunciada,
com pompa e circunstância, pelo Ministro Álvaro Santos Pereira e, agora, no exato momento em que nenhum
dos compromissos que foram assumidos no âmbito da concessão é executado pela empresa, é necessário
perguntar ao Governo: afinal, não exigiram garantias? Não fizeram a investigação? Quais foram os critérios
que estabeleceram neste concurso para a atribuição desta concessão? É que o problema que se põe é o da
viabilidade económica dos Estaleiros — a manutenção dos postos de trabalho e o alargamento destes, a
reabilitação da região Centro e a capacidade de projetar a economia nacional.
Era para esse fim que achávamos que devia existir um Ministro da Economia. Mas não! Afinal, é um
homem deslumbrado, que vai andando de notícia em notícia, de anúncio em anúncio, sem que nada aconteça
no momento seguinte.
É verdade que todo o Governo é remodelável — e, como bem sabe, o Bloco de Esquerda quer a demissão
deste Governo. Mas é incompreensível que, com as notícias que foram tornadas públicas hoje, com as
declarações (quase de caricatura) que foram feitas por estes notáveis empreendedores que ganharam a
concessão, não tenha havido até este momento qualquer esclarecimento por parte do Ministério da Economia.
É por isso que queremos hoje, no Plenário da Assembleia da República, que as bancadas da maioria, que
avançam sempre com a ideia de que o é privado é bom, possam explicar este tortuoso processo de arruinar os
Estaleiros Navais do Mondego.
Aplausos do BE.
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Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Caeiro.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Paula Vitorino.
A Sr.ª Ana Paula Vitorino (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, quero começar por
cumprimentá-la pela escolha deste tema que, de facto, é de uma atualidade e de uma preocupação extrema
para o nosso País.
Sr.ª Deputada, a sua intervenção diz tudo sobre a posição e a postura do Governo, particularmente do
Ministro da Economia, sobre esta matéria. E diz tudo porque tem a ver com o anúncio quinzenal! De facto, o
nosso Álvaro faz anúncios quinzenais, independentemente da sua aderência à realidade e, infelizmente, na
maioria das vezes dão mau resultado — aliás, não são conhecidos bons resultados.
Vejamos: é um investimento de 18 milhões de euros que, afinal, não é de 18 milhões mas de 18 000 €,
segundo os próprios investidores; eram para criar mais 300 postos de trabalho, para além de readmitirem 147
trabalhadores, e, afinal, são 40 trabalhadores. E, pior do que tudo, afinal, não há contratos, os privados não
trazem os tais contratos fantásticos que era suposto trazerem e, para além disso, até estamos em risco de ter
de resgatar novamente a concessão.
A primeira questão que coloco é se considera compreensível que, nesta altura dos acontecimentos, ainda
se esteja a ponderar se vão ou não resgatar a concessão, se vão ou não ter uma nova abordagem para os
Estaleiros Navais do Mondego. Mas temos mais um problema, que tem a ver com a estratégia ligada à
construção naval, porque o problema não se prende apenas com os Estaleiros Navais do Mondego, também
se prende com os de Viana do Castelo e toda essa atividade económica.
É ou não estranho que, sucessivamente, todas as empresas públicas ou privadas, com concessões
públicas ou concessões privadas, venham a perder este mercado?
Também não lhe parece estranho, Sr.ª Deputada Ana Drago, que isto seja feito à revelia de qualquer
estratégia marítimo-portuária? Foi anunciado o Plano 5+1 — que ninguém entende o que é — e, depois,
acaba por fazer-se o anúncio, ora aqui, ora acolá, de iniciativas completamente avulsas! Não entendemos qual
é a política que temos em matéria de concessões: é por concurso? São ajustes diretos? Como é que é?!
Qual é a legislação aplicável no entender do Governo? Porque não se entende qual é! Todos sabemos qual
é a legislação, mas não sabemos qual é a que o Governo aplica nestas matérias, nomeadamente quanto à
admissibilidade dos concorrentes a concurso.
Finalmente, Sr.ª Deputada, não posso deixar de perguntar se não considera estranho que, no dia em que
se anuncia que vamos passar a ter o ex-Ministro Relvas, não se anuncie também que o nosso Álvaro passe a
ser o ex-Ministro da Economia.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Ana Paula Vitorino, agradeço as questões que
colocou. Creio que sublinhou todos os aspetos, que seriam caricatos se não fossem trágicos no contexto
económico do País, deste processo relativo aos Estaleiros Navais do Mondego
Penso que o problema se prende com toda a política que o Governo tem vindo a implementar, para além
de que temos esta circunstância relativamente curiosa, que é a de termos, aparentemente, a manutenção em
funções do Ministro Álvaro Santos Pereira, que era indicado como remodelável, antes mesmo de o Sr. Ministro
Miguel Relvas, que é agora ex-Ministro, ser considerado remodelável.
Portanto, existe esta ideia de que, no Governo, a incompetência e a negligência podem sempre continua a
navegar sem qualquer tipo de problema.
O Sr. Ministro Álvaro Santos Pereira especializou-se numa matéria, a de fazer anúncios e, portanto, como a
Sr.ª Deputada dizia, de 15 em 15 dias faz uma conferência de imprensa, um encontro, um qualquer meeting,
em que anuncia uma coisa qualquer que provavelmente não vai acontecer. Mas, pior do que isso, mais do que
não acontecer, é entregar nas mãos de empresas que não são idóneas futuros estratégicos da nossa
economia.
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É por isso que não consigo perceber como é que toda esta história aconteceu. Se já se sabia que esta
empresa, que apareceu depois de o concurso ser lançado, que vinha de empreendimentos na área da
construção civil, já tinha problemas financeiros, salários em atraso, obra que não continuava, como é que todo
este processo avançou e, há três meses, o Sr. Ministro fez o seu anúncio quinzenal, exatamente com este
modelo de concessão?
E, não contente com isso, o Governo convidou expressamente… Tenho comigo uma notícia que diz que a
empresa que ficou com a concessão dos Estaleiros Navais do Mondego foi o único grupo português convidado
pelo Governo para a reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Ou seja, não havia melhor
candidato do que este? Tinham de convidar exatamente este grupo!?
A estranheza é olhar, depois, para a resolução do Conselho de Ministros que estabelece quais são os
critérios para a reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, na qual se lê: «A respetiva
idoneidade, capacidade financeira, técnica e de execução e garantias eventualmente prestadas por quem vai
concorrer». Em suma, «não bate a bota com a perdigota»!
O grau de negligência que é tido neste processo é de tal maneira grave que, depois de tudo o que já
conhecemos do Ministro Álvaro Santos Pereira, devo dizer que é inexplicável como é que, hoje, no contexto de
tantas más notícias — temos uma boa, pequena mas razoável, que é a da demissão do Sr. Ministro Miguel
Relvas —, não temos mais nada a acompanhar!?
Esta demissão é urgente para a economia portuguesa. Não podemos ter gente tão negligente, tão
irresponsável à frente da economia do País!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Maurício
Marques.
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Sr.ª Presidente, começo por saudar a Sr.ª Deputada Ana Drago pelo
tema que nos traz, até porque ele é de maior importância para nós.
Foi a preocupação que este Governo teve para com os trabalhadores que levou à decisão de aceitar uma
decisão que foi tomada no âmbito da autonomia que tem a Administração do Porto da Figueira da Foz. E
quero lembrar que, como já aqui foi dito, este problema só surgiu em 2011, porque a empresa Estaleiros
Navais do Mondego estava completamente falida.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Lamento que as pessoas que agora vêm dizer que este Governo tomou
uma má decisão, quando tiveram toda a oportunidade de tomar melhores decisões, seja de 15 em 15 dias ou
com periodicidade diversa, não as tivessem tomado ao longo dos muitos anos em que estiveram no Governo e
com responsabilidades nessa matéria.
Vozes do PSD — Muito bem!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Também foi no âmbito da autonomia que reconhece à Administração
do Porto que o Governo entendeu como boa a decisão de adjudicar, de entregar a administração dos
Estaleiros a uma nova empresa, criada ou não para o efeito — até pode ter sido criada com um fim específico.
Mas, na altura, foi uma decisão aplaudida por todos, inclusivamente pelos próprios trabalhadores, e não vi (na
altura em que essa decisão foi tomada) qualquer objeção por parte dos partidos da oposição; antes pelo
contrário, a decisão foi aplaudida, porque garantia a viabilidade de uma empresa e dava alguma perspetiva de
futuro.
Vozes do PSD: — Muito bem!
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O Sr. Maurício Marques (PSD): — Verificou-se agora que algumas das condições que foram
comprometidas não foram concretizadas.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Todas as condições!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Mas nem tudo o que nasce sobrevive e, provavelmente, estaremos
aqui na presença de uma empresa que nasceu para o efeito e que não teve uma vida útil.
No entanto, esta é uma preocupação que também nos assiste e para a qual, obviamente, estamos
empenhados em encontrar uma solução para futuro, porque consideramos que os Estaleiros Navais do
Mondego têm um know how adequado e único no País. São esses trabalhadores que nos preocupam e é o
bem-estar da economia, da economia do mar, que defendemos, que nos move e que, obviamente, não vai
deixar-nos satisfeitos enquanto não for encontrada uma devida solução.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Maurício Marques, deixe-me dizer-lhe, de uma
forma muito clara, o seguinte: este não é o momento de tentar retorcer os factos para parecer que eles
possam, eventualmente, encaixar no que seria uma solução. Não é uma solução o que foi feito nos Estaleiros
Navais do Mondego. Não é uma solução!
O Sr. Deputado fala-nos de uma empresa falida no momento em que o Governo estabelece uma nova
concessão. E o que é que o Governo faz, quando está a governar, quando faz um concurso de concessão?
Entrega essa mesma concessão a uma empresa que está falida!
Portanto, não tenha o descaramento de vir aqui falar sobre as expetativas dos trabalhadores. É óbvio que
os trabalhadores querem uma solução e a oposição está aqui a dar hoje uma oportunidade às bancadas da
maioria para apresentarem uma solução para a questão. O que não pode acontecer, Sr. Deputado — e peço-
lhe que leia o jornal —, é que sejam feitas declarações absolutamente caricatas, como as que são dadas por
esta empresa que foi escolhida pelo Governo, que fez o concurso de concessão, porque é o Governo que tem
os instrumentos para estabelecer os critérios do concurso e para avaliar as garantias que são dadas por quem
se apresenta ao concurso.
E o que é que aconteceu? Dizem-nos os investidores: 18 milhões de euros?! Não percebi… Não sei onde o
Ministro foi buscar esse número!? Nós investimos 18 000 € — 18 000 €, Sr. Deputado?!… E 134 postos de
trabalho? Não sei. Impensável, dizem os investidores.
Estamos a falar de quê? De propaganda, Sr. Deputado? É exatamente em nome da economia nacional e
destes postos de trabalho que o que se pede ao partido mais votado pelos portugueses é que assuma
responsabilidade. Não é aceitável que um Governo concessione os Estaleiros Navais do Mondego a uma
empresa com este historial, que já toda a gente conhecia — e o Governo não conhecia?! Mas que
responsabilidade, que rigor é este na gestão da coisa pública? Ou basta apenas concessionar, não interessa a
quem, não interessa o futuro dos postos de trabalho, desde que o Sr. Ministro tenha uma peça no Telejornal,
porque é o que parece!
O que se impõe, Sr. Deputado, é a responsabilização do Sr. Ministro, mas também do Sr. Deputado e da
sua bancada, nomeadamente que venham dizer, perante esta história lamentável de tudo o que não pode ser
feito na gestão do interesse público, na proteção do trabalho, como é possível que isto tenha corrido tão mal,
como é possível que o Governo volte a contratar ou, antes, a convidar esta mesma empresa, agora, para os
Estaleiros Navais de Viana do Castelo! Isto tem de ser explicado e o mais rapidamente possível.
Soluções, Sr. Deputado, era isso mesmo que o senhor devia ter apresentado aqui hoje. Soluções: dizer
que nenhum posto de trabalho estará em risco, que o Governo irá protegê-los, que os salários em atraso de 25
a 30 trabalhadores serão pagos.
É essa a sua responsabilidade, Sr. Deputado. Não é fingir que não está a acontecer nada, porque está!
Aplausos do BE.
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder
Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, gostaria, cumprindo a praxe
parlamentar, de lhe dar os parabéns pelo tema que aqui traz, mas, tendo em conta a linguagem que utilizou,
que não me surpreende, aliás, dentro da lógica da política de urubu que o Bloco de Esquerda utiliza para estas
matérias, não posso concordar com a utilização de expressões como «dolo», nem com as acusações de não
cumprimento dos preceitos legais.
Sr.ª Deputada, nesta bancada não há a ideia de que tudo o que é privado é mau e tudo o que é público é
bom, nem há a ideia de que os empresários portugueses são um bando de malfeitores. Não são! Nem os
trabalhadores são um bando de malfeitores, nem os empresários são um bando de malfeitores — não faço
esse tipo de análise.
Portanto, a Sr.ª Deputada perdeu uma boa oportunidade para se juntar, por exemplo, à bancada do CDS,
que, desde julho de 2012, faz perguntas sobre os Estaleiros Navais do Mondego, e assim perceber que nós
acompanhamos e estamos preocupados com esse procedimento.
Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.
A avaliação que devíamos fazer aqui era a de saber se os mecanismos que o Estado utilizou para garantir
o interesse público foram ou não todos eficazes.
A Sr.ª Deputada leu — e leu bem — a resolução do Conselho de Ministros. Discorda dela? Acha que devia
ter havido mais cuidado, que a essa resolução devia ser mais densa e ter mais defesas, ou não? E esta
entrega foi ou não feita por concurso? Dirá a Sr.ª Deputada: mas a empresa constituiu-se um mês antes, um
dia antes, umas horas antes… E eu pergunto: atropelou algum preceito legal? É ou não normal que empresas
possam agregar-se, possam juntar esforços para ganharem dimensão e capacidade para concorrerem ou
preencherem os preceitos de um concurso? Acho perfeitamente normal! Dir-me-á a Sr.ª Deputada: mas havia
suspeitas.
De facto, há aspetos com os quais concordo com V. Ex.ª, porque penso que temos de ser rigorosos, temos
de estar atentos, temos de continuar a perceber se o Estado cumpre ou não o seu papel. Mas pergunto: onde
é que o Estado falhou? Quem falha aqui é a empresa, e como a empresa falha temos hoje um problema em
cima da mesa, que é preciso resolver. E temos duas soluções: ou se faz um novo concurso e, porventura, se
tem mais cuidado e mais rigor na análise, ou se dá à empresa a oportunidade de cumprir com as suas
obrigações. E se a empresa cumprir com as suas obrigações qual é o drama? Se a empresa cumprir os seus
compromissos com os trabalhadores, com o Estado e com a perspetiva dos Estaleiros de Aveiro e da figueira
da Foz, qual é o problema?
Depois, poderemos discutir aqui a estratégia para os Estaleiros, a estratégia para os portos, a estratégia
para a indústria naval, mas essa é outra matéria que não temos tempo para discutir hoje. Mas o que não
convém — mesmo que haja uma vontade legítima de ver o Sr. Ministro da Economia pelas costas… Aliás, o
Bloco de Esquerda veria tudo, até o País, pelas costas!
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — O Bloco de Esquerda quer outro País!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Só outro Governo!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Quer um País sem liberdade, sem empresas privadas, sem
empresários, sem nada! É o vosso modelo, não é o nosso. Mas lá estaremos, no ato eleitoral, para
discutirmos: o Bloco de Esquerda com as suas ideias, as bancadas da maioria com as suas ideias e o País
escolherá quem deve governar o País, legitimamente, em liberdade e sem dramas. Eu cá estarei para o jogo
democrático.
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Confesso, contudo, que me custa que uma matéria, que é séria, que põe empregos em risco, que põe a
economia da região e do País em risco, que merece uma avaliação serena e calma, seja discutida aqui com
chavões e com a politiquice — vou repetir — de urubu, que o Bloco de Esquerda tanto faz e que prejudica não
só a bancada do Bloco de Esquerda, que tem até Deputados bastante qualificados, como o interesse e a
matéria de facto.
Portanto, Sr.ª Deputada, a minha pergunta é esta: o que é que o Governo fez mal nesta matéria? É ou não
a empresa que falha? E o que é que a Sr.ª Deputada faria?
São estas as questões que coloco.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, obviamente, não quero colocar em
causa as competências ornitológicas do Sr. Deputado, que fará as considerações que entender.
Em todo o caso, devo dizer que, se tivesse as suas responsabilidades na Comissão de Economia e Obras
Públicas na Assembleia da República, hoje, ao consultar os jornais, teria telefonado a quem, eventualmente,
conheça (no âmbito do Governo) para saber exatamente como é que um processo tão preocupante, em
termos de negligência, de irresponsabilidade e de leviandade, pôde ter sido conduzido pelo atual Governo que
o senhor sustenta nesta Assembleia. É que, pelo que foi feito, de acordo com todos os dados que vêm hoje na
imprensa, não é possível manter o Sr. Ministro da Economia em funções.
Não é possível ao Governo dizer que vai avançar com um conjunto de privatizações e de concessões de
ativos estratégicos da nossa economia quando descobrirmos que, num processo recente de concessão a
privados dos Estaleiros Navais do Mondego, o Governo, pura e simplesmente, entregou essa mesma
concessão a uma empresa criada à última hora, na 25.ª hora do concurso, e que tinha dificuldades financeiras.
Portanto, o Sr. Deputado devia esclarecer aqui hoje como foi possível fazer esta concessão sem garantias
por parte do concessionário. Ou, se essas garantias existem, por que é que, depois do incumprimento das
normas contratuais, elas não foram acionadas? Só que o senhor não veio explicar nada disso, veio dizer que é
um problema da oposição. Mas não é!
O que não é normal, Sr. Deputado, é esta contradição de afirmações, isto é, termos um Ministro do
Governo que o senhor sustenta a anunciar um investimento de 18 milhões de euros e o dito investidor privado
(e não vamos dizer, à partida, que são todos uns malandros) a dizer que o Sr. Ministro se enganou, porque a
empresa fez um investimento de 18 000 € — 18 milhões de euros e 18 000 €?! Há aqui um problema de
contas que o Sr. Ministro da Economia tem de explicar, há qualquer coisa um bocadinho estranha, a não ser
que seja, como diria talvez aquele recente amigo do ex-Ministro Miguel Relvas: junta 18 amigos 10 meses a
vender pipocas e fica com a concessão dos Estaleiros Navais do Mondego!
É isto que é aceitável na economia portuguesa? Qualquer um, por 18 000 €, sem capacidade de
investimento e sem capacidade de assegurar postos de trabalho, ficará com a concessão dos Estaleiros? É
esta a forma de gerir a economia?
A sua responsabilidade e a sua seriedade, independentemente da espécie de pássaro que a sua bancada
seja, tem de levá-lo a dizer, nesta Assembleia, o mais rapidamente possível, qual é a solução, para além da
demissão do Sr. Ministro Álvaro Santos Pereira por esta negligência grosseira, para os Estaleiros Navais do
Mondego e qual é a política seguida em relação aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Caso contrário, a
vossa política é só uma: desmantelar a indústria naval o mais rapidamente possível, independentemente do
sangue e do desemprego que criem!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem agora a palavra, para uma declaração política, o Sr. Deputado
Cristóvão Simão Ribeiro, do PSD.
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O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Todos sabemos que
vivemos tempos difíceis. Sabemos bem que muitos cidadãos temem pelo seu futuro e pelo futuro dos seus
filhos.
Hoje, toda uma geração encontra-se hipotecada, onerada, vergada ao peso de uma dívida que não criou,
mas sabe que vai ter de pagar.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Mas que não haja ilusões: esta que é a geração mais bem
preparada de sempre sabe muito bem como chegámos até aqui e sabe muito bem como e quem está a fazer
tudo para nos tirar daqui.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Dito isto, e porque sabemos que de diagnósticos está o País farto, exige-se a quem critica o dever de
apontar estratégicas e de concretizar medidas que possam ser por todos avaliadas pelo seu mérito e pela sua
exequibilidade.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Vamos falar do País e de uma realidade social alarmante que afeta
milhares de jovens e também, infelizmente, milhares de menos jovens. Refiro-me à venda e consumo das
denominadas «novas drogas». Trata-se de substâncias psicoativas que provocam dependências e distúrbios
mentais, tendo já levado a várias dezenas de hospitalizações e até a algumas mortes no nosso País.
Não somos, por princípio, proibicionistas nem castradores das liberdades individuais, mas entendemos
que, perante tão preocupante cenário, não pode o Estado excluir-se da sua responsabilidade e deve, antes,
agir com firmeza.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — O PSD desde há muito que tem alertado para o perigo destas
novas drogas, muitas delas vendidas em lojas situadas nas imediações de estabelecimentos de ensino e que
cativam os jovens mais incautos com uma publicidade agressiva e enganosa, em que saquetas contendo
fertilizantes de plantas são apresentadas com imagens apelativas de diabinhos sorridentes.
Trata-se de armadilhas que, prometendo novas experiências e ilusões, põem em causa a saúde física e
mental, podendo mesmo levar à morte dos seus consumidores.
É obrigação, portanto, deste Parlamento, é nosso dever e é nossa responsabilidade combater este flagelo,
cortando literalmente o mal pela raiz.
Por isso, apresentámos já nesta Sessão Legislativa um projeto de resolução recomendando ao Governo a
aprovação de normas para a proteção da saúde pública e medidas de combate ao consumo das denominadas
«novas drogas». Tudo na defesa dos jovens portugueses!
O referido projeto foi aprovado nesta Câmara com o consenso de todos os grupos parlamentares e foi
publicado no passado dia 28 de janeiro como Resolução da Assembleia da República n.º 5/2013.
Aí, Sr.as
e Srs. Deputados, recomendámos a criação de um procedimento de suspensão provisória da
comercialização de substâncias psicoativas, suspensão, essa, que deveria ser determinada por decisão
urgente das autoridades; aí defendemos a atribuição de caráter prioritário à realização de ações de
fiscalização sistemática às smartshops; aí alertámos, finalmente, para a necessidade de realização de
campanhas de sensibilização para os portugueses em geral dos riscos decorrentes do consumo destas novas
substâncias.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Cumpre reconhecer que, em tempo recorde, o Governo
correspondeu a este repto do Parlamento aprovando um diploma que visa dar resposta a este problema.
Logo que a referida iniciativa legislativa do Governo entre em vigor, será proibida toda e qualquer atividade,
continuada ou isolada, de produção, importação, exportação, publicidade, distribuição, detenção, venda ou
simples dispensa de novas substâncias psicoativas.
Serão ilegalizadas 160 novas substâncias psicoativas.
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Por outro lado, serão estendidos ao combate a essas novas substâncias os programas e estruturas
dedicados à prevenção, à reinserção social e ao tratamento dos consumidores das mesmas. Os locais que
venderem as referidas substâncias serão encerrados.
Em suma, com este diploma, o Governo deu um passo importante no combate ao consumo das novas
drogas e à venda de ilusões que as envolve nas impropriamente denominadas «smartshops».
Sobre os referidos estabelecimentos, vale bem a pena recordar as palavras do Sr. Secretário de Estado
Adjunto do Ministro da Saúde, e cito: «Terão de procurar outro negócio que esteja de acordo com a lei. Vender
substâncias que fazem mal e intoxicam os nossos jovens não poderão continuar a fazer. Seremos
absolutamente implacáveis no controlo e na fiscalização.»
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A resposta que o Governo deu a respeito das novas drogas,
proibindo a sua venda, é bem o exemplo daquilo que o País espera — audácia, determinação e eficácia na
resolução dos problemas concretos que a juventude portuguesa enfrenta.
Adiar soluções, empurrar os problemas para a frente, vender ilusões ou propaganda fácil não tem sido o
timbre desta governação. Esses tempos já lá vão há muito!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Da maioria e do Governo viu-se ação traduzida em propostas concretas e decididas, que permitirão um
combate implacável a este fenómeno.
Este é, pois, o caminho: interesse nacional, convicção nos princípios e determinação nas propostas
concretas.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Este é o nosso caminho e dele não nos desviaremos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado Simão Ribeiro, inscreveram-se, para pedir
esclarecimento, os Srs. Deputados Paula Santos, do PCP, Rui Barreto, do CDS-PP, e Pedro Delgado Alves,
do PS.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Simão Ribeiro, queria saudá-lo pela
declaração política que trouxe hoje ao Parlamento e manifestar que o PCP, ao longo deste tempo, tem
também acompanhado esta problemática, bem como um conjunto de posições que consideramos importantes
para evitar o consumo destas substâncias e para pôr fim a este problema que afeta milhares de jovens no
nosso País e que têm impactos muito negativos na saúde dos mesmos. Aliás, têm-nos chegado informações
bastante inquietantes por parte de jovens que ficaram internados em muitos hospitais em situações
verdadeiramente preocupantes.
Mas, Sr. Deputado, independentemente disto e não desvalorizando, muito pelo contrário, valorizando a
necessidade de tomar medidas em relação a esta matéria, o que o PSD não pode fazer é esconder todas as
decisões erradas que tem tomado em matéria de combate à toxicodependência no nosso País. O que o PSD
pretende fazer, através do combate às smartshops e aos consumos destas substâncias psicotrópicas, é
ocultar a realidade aos portugueses do desastre que está a acontecer ao nível da toxicodependência.
Sr. Deputado, o Governo alterou, destruiu, desmantelou a estratégia de Portugal no combate à
toxicodependência. Uma estratégia reconhecida a nível internacional,…
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — … uma estratégia que deu resultados positivos no nosso País, uma
estratégia que estava a ser construída com os vários intervenientes e os vários profissionais.
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A Sr.ª Elza Pais (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Aliás, o Governo contra tudo e contra todos não ouviu quem está no
terreno, não quis saber da opinião dos técnicos do ex-IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência) e
implementa uma nova estratégia e organização de intervenção por parte do Estado na política de combate à
toxicodependência que em nada vai ao encontro daquilo que são as necessidades reais e no terreno. À
semelhança do que tem acontecido noutras áreas de intervenção, o desinvestimento público é uma área
também aqui marcante.
Sr. Deputado, quer em matéria das smartshops ou do consumo das ditas «drogas novas», quer em matéria
de toxicodependência ou alcoolismo, há que intervir na prevenção, questão central que não pode ser
descurada.
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Gostava de ouvir o que o Sr. Deputado tem a dizer e que medidas
concretas pretende implementar em relação a esta matéria.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Mais? Não ouviu?!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — É também importante dizer que, num momento de tão grave situação
económica e social que vivemos no nosso País, quando aumenta o desemprego, quando se corta no subsídio
social de desemprego, quando se corta no rendimento social de inserção — e estamos a falar de uma
população já de si fragilizada, que está na primeira linha de despedimento e na primeira linha de entrar em
situações de exclusão e pobreza —, o que faz o Governo?
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
O Governo desinveste, acaba com importantes equipas de rua e com projetos que estavam no terreno para
ajudar estas pessoas, o que leva a que esteja já a assistir-se a um recrudescimento deste fenómeno no nosso
País.
Importava, isso sim, que houvesse alguém do PSD que viesse aqui falar do contexto em que vivemos e das
consequências das suas medidas no recrudescimento da toxicodependência em Portugal.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, uma vez que o Sr. Deputado Simão Ribeiro optou
por responder em conjunto a todas as questões, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Barreto.
O Sr. Rui Barreto (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Simão Ribeiro, em boa hora nos trouxe, em
declaração política, esta questão das substâncias psicoativas, uma matéria de particular importância e que
não deve ser de modo algum negligenciável nem ignorável pelos agentes políticos.
Devo dizer que fui Deputado na Assembleia Legislativa da Madeira e esta matéria teve particular
incidência, aliás, tem-nos preocupado fortemente. Não foi por acaso que há 15 dias discutimos aqui uma
proposta da Assembleia Legislativa Regional da Madeira sobre esta matéria. E fizemo-lo não só porque é uma
matéria regional e também nacional mas, sobretudo, porque na Região Autónoma da Madeira o consumo
destas novas substâncias psicoativas teve uma preponderância e uma incidência invulgares. No ano passado,
registaram-se 210 casos e quatro mortes, o que alertou quer os agentes políticos quer as autoridades de
saúde no sentido de se fazer qualquer coisa para proibir o consumo destas novas substâncias.
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Como sabe e como referiu, o problema é que estas substâncias estão normalmente muito à frente daquilo
que é a legislação penal, ou seja, a sua mutação, a sua alteração molecular, está à frente da legislação sobre
esta matéria.
Por isso, era importante que todos nos concentrássemos nesta matéria que é de todos e não deve ser
meramente ideológica. Temos um problema e temos de encontrar soluções.
O Governo, que tem manifestado essa preocupação não só com aquelas propostas que vieram da
Assembleia Legislativa Regional mas também com o projeto de resolução, criou e aprovou recentemente um
diploma que versa sobre estas substâncias. É um problema grave de saúde pública que causa distorções
mentais àqueles que as consomem, cria um problema nas autoridades de saúde que o devem prevenir e
implica gastos que podem ser avultadíssimos na saúde, se nada fizermos.
O Sr. Deputado Simão Ribeiro, ao trazer aqui este problema gravíssimo, falou sobre matérias que estão
presentes neste diploma.
Gostaria de lhe perguntar de que forma é que os jovens que hoje estão mais vulneráveis com estas
substâncias, os pais que estão extremamente preocupados e as autoridades de saúde que têm aqui um papel
fundamental podem ficar mais seguros, mais protegidos com o diploma que V. Ex.ª, hoje, apresentou nesta
Câmara.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, em primeiro lugar, começo
por saudar o Sr. Deputado Simão Ribeiro pela importância do tema que traz hoje a debate. Efetivamente, é
matéria que tem reunido consenso na identificação do diagnóstico e que até recentemente mereceu da parte
desta Câmara, como o Sr. Deputado bem referiu, a aprovação de uma resolução com diversas indicações e
recomendações sobre esta matéria e que terão sido agora concretizadas pelo Governo.
Importa, no entanto, não esquecer que muitas das medidas que estão no âmago dessa nova iniciativa já
estavam em curso. Isto é, o grupo de trabalho do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos
Aditivos e nas Dependências), que, aliás, forneceu elementos à Assembleia quando apreciou a iniciativa da
Assembleia Legislativa Regional da Madeira, deu-nos elementos que mostravam que estava a fazer o trabalho
seguindo as etapas de análise, procurando identificar a lista de controlo temporário, procurando também fazer
uma articulação com a própria ASAE no sentido da identificação, no sentido de, com os meios que hoje
dispomos, como solucionar o problema.
Portanto, de certa forma, há um caminho que já estava no terreno e que, em articulação com o mecanismo
europeu de alerta rápido, que também tem vindo a ser reforçado, muito tinha dito em relação a esta matéria.
No entanto, assim como se sublinhou na altura e várias pessoas o identificaram, há uma ausência de
preocupação — e aqui acompanhamos também uma das perguntas que já foi formulada — quanto à
estratégia no âmbito da prevenção. Quanto a isso, reiterava a necessidade de nos esclarecer, porque era o
elemento mais frágil e menos evidente na resolução, quais são, efetivamente, as medidas que, no quadro da
prevenção, vão ser adotadas e se, por hipótese, caminharemos, como alguns Estados europeus têm feito — o
Reino Unido, por exemplo —, no sentido de criar serviços especializados para consumidores destas
substâncias, em particular, para dar respostas construídas à medida do problema.
Também não esqueçamos que, no quadro da escola e no quadro onde esta educação poderia ter tido
lugar, curricularmente, também hoje, é muito mais difícil fazer a inserção das medidas de sensibilização,
porque também os espaços de divulgação curricular adequados para isto foram suprimidos e também lá não
os encontramos.
Ao mesmo tempo, e como também já foi referido, temos um desmantelamento de uma estratégia que não
só no plano orgânico mas, fundamentalmente, nas prioridades e nos recursos que vinham a ser dados e que
tornaram Portugal não só elogiado pela estratégia, mas, verdadeiramente, exemplo para outros Estados, é
motivo de preocupação para quem vê este desinvestimento e não o encontra aí.
Mas, concretamente, quero deixar-lhe uma dúvida, que me parece ser a mais preocupante neste contexto.
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De facto, o Sr. Deputado referiu 160 novas substâncias que integram agora a lista de proibição, mas a
questão, como foi referido, é que resolver o problema destas 160 substâncias não vai resolver o problema das
que se seguirão e que vão ser, seguramente, manipuladas para criar, precisamente, a mesma dificuldade, se
não formos capazes de, também nesta estratégia, perceber e identificar por que é que passamos para os
consumos destas substâncias e, no limite, interrogarmo-nos, sem fugir ao debate, sobre a razão por que
determinadas substâncias continuam proibidas, quando o seu grau de perigosidade e de adição é muito
menor, empurrando muitos jovens para um consumo de drogas substancialmente mais perigosas.
Penso que não nos devemos furtar a esse debate e não se trata de uma radicalização nem nada que se
pareça, trata-se de discutir e discutir significa perceber se, da forma como vamos lidar com esta estratégia,
entre o binómio prevenção/repressão, mas também o reconhecimento da capacidade de escolha e de que há
outras áreas que têm de ser abordadas, não estamos a fazer de menos e não temos de reforçar a nossa
resposta a problemas que toda esta Câmara reconhece como válidos e importantes.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Simão Ribeiro.
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, infelizmente, aceitando,
elogiando e agradecendo todas as questões que me foram colocadas, não posso iniciar a minha resposta sem
a constatação de um facto objetivo. É que, mais uma vez, nesta Câmara e, mais uma vez, em relação a esta
matéria, perdoem-me a expressão, «é muita parra e pouca uva».
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Isso é o Governo!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Quantos mais jovens precisam de falecer para estes senhores
deixarem de dizer que temos de debater e procurar soluções?! As soluções estão no diploma que
apresentámos, na iniciativa legislativa.
Mas, Srs. Deputados, deixem-me esclarecê-los quanto a uma matéria que tem de ser aqui desconstruída,
que já há muito vem sendo esclarecida na Comissão de Saúde e sobre a qual os senhores teimam em dizer
inverdades.
Sr.ª Deputada Paula Santos e Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, é verdade que a dotação orçamental do
antigo IDT e atual SICAD passou de 36 milhões de euros/ano para 10 milhões de euros/ano. É verdade! Mas
também não é menos verdade que a dotação orçamental para as ARS (Administração Regional de Saúde)
subiu de 101 milhões de euros para 135 milhões de euros.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não é verdade o que está a dizer!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — E também não é menos verdade que a dotação orçamental
global para as matérias da toxicodependência passou de 59 milhões de euros, em 2012, para 61 milhões de
euros, em 2013.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Sabem qual é a nossa diferença? É que, para os senhores,
estratégia de toxicodependência é manter um conjunto de edifícios em Lisboa, centralista, de planificação;…
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não seja demagógico!
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — … para nós, a melhor e maior prevenção, a melhor e maior ação
nesta matéria é o reforço de verbas para a ação no terreno, precisamente onde os jovens e os
toxicodependentes mais precisam delas.
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PCP.
Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, deixe-me esclarecer uma outra dúvida que me colocou, relativamente
ao que fazer com todas aquelas substâncias que, hoje, ilegalizamos e com as que, amanhã, tornam a ser
legais. Sr. Deputado, a grande inovação legislativa deste diploma é precisamente essa. É que, com o
acautelamento que fizemos, através da introdução do mecanismo de suspensão provisória, resolvemos esse
problema. Toda e qualquer substância que seja denunciada, quer pelo sistema de denúncia europeu, quer
pelo sistema de denúncia online, que o Governo vai criar, será imediatamente suspensa e serão
imediatamente aplicadas sanções a quem a comercializar. Há, ainda, um outro aspeto: após um período
máximo de 18 meses de verificação da sua toxicidade, todas elas integrarão, automaticamente, o regime
jurídico aplicável ao controlo e tráfico de estupefacientes, previsto no Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro.
Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, espero tê-lo esclarecido e termino dizendo o que disse na tribuna: este
é o nosso caminho, proposta a proposta, medidas e ponderadas. Não nos desviamos por vicissitudes do
destino e muito menos por conversas vãs. Deste caminho não nos desviaremos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma declaração política, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada
Elza Pais.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As políticas do Governo, em matéria de
ciência e investigação, estão a destruir as conquistas alcançadas nos últimos anos.
O alerta não é apenas do Partido Socialista, ele vem de muitos setores da nossa sociedade. As vozes
multiplicam-se.
Investigadores e cientistas dos mais conceituados do País, como Sobrinho Simões, Carlos Salema,
Boaventura Sousa Santos, Elvira Fortunato, Alexandre Quintanilha, Maria do Carmo Fonseca (Prémio Pessoa
2010), apenas para citar alguns, dão conta dos perigos que a ciência está a atravessar.
Num momento de crise, quando nos devíamos mobilizar para os desafios do futuro e, justamente, continuar
a «vencer o atraso científico», para construir uma economia sustentada no conhecimento e na inovação, este
Governo faz o caminho contrário.
Aplausos do PS.
Portugal foi dos países da União Europeia que, na última década, mais progrediu nas diferentes áreas da
ciência. Os números falam por si: triplicou o número de patentes internacionais, com provas inequívocas de
competitividade; apostou em patentes relevantes e atrativas na indústria e competitivas nos mercados
internacionais, com significativos impactos económicos em empresas nascentes; implementou parcerias
internacionais, como o MIT, o Carnegie Mellon, entre outros; registou as maiores taxas de crescimento da
Europa no número de investigadores por 1000 ativos; quintuplicou o número de novos doutorados; duplicou o
número de investigadores; triplicou o investimento em investigação e desenvolvimento, no PIB, para metas
europeias que se aproximavam da Estratégia 2020;…
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Elza Pais (PS): — … criou uma rede de laboratórios associados e de laboratórios de Estado, de
importância inquestionável para o País, onde se reúne um conjunto de competências de soberania e massa
crítica essencial para enfrentarmos os desafios científicos e tecnológicos emergentes.
Não foi feito tudo, seguramente, mas foi feita muita, muita coisa.
Aplausos do PS.
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Esta área necessita de continuidade para continuarmos a recuperar dos atrasos e mantermos o padrão dos
avanços conquistados.
Portugal tinha uma coisa única: uma visão estratégica para a ciência. A investigação científica era uma
marca de orgulho do País.
Pois, como diz Thomas Friedman: «As nações que não investem no futuro tendem a ser malsucedidas».
Nós queremos ser bem-sucedidos, temos de ser bem-sucedidos e investir na ciência como forma de investir
no futuro.
Aplausos do PS.
E, agora, o que temos? Gritos de alerta de instituições e investigadores. Alertam para os «cortes cegos» e
para o subfinanciamento na ciência, que estão a matar a investigação e a colocar em perigo as instituições;
alertam para a fuga de cérebros; alertam para concursos que não abrem; alertam para a incapacidade de
continuarmos a atrair investigadores internacionais e os que ainda existem estarem a fugir; alertam para
fusões absolutamente absurdas, como a fusão da FCCN (Fundação para a Computação Científica Nacional) e
da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia),…
Aplausos do PS.
… que levam à destruição de infraestruturas competitivas e de iniciativas pioneiras, imprescindíveis para o
bom funcionamento e modernização do nosso sistema científico; alertam para os momentos de grande
incerteza que a investigação e a ciência vivem em Portugal e que põem em causa todo o caminho percorrido.
Alertam e alertam!
Alertam para o perigo de regredirmos. É mesmo isto! Alertam para o perigo de regredirmos e de perdermos
o que já conquistámos na área da ciência.
Este é o balanço de uma governação falhada, sem visão estratégia para a ciência, sem capacidade de
manter o que de melhor existe no nosso País, como bem o reconheceu o Sr. Presidente da República, no seu
discurso do 25 de Abril, nesta mesma Sala, no ano passado, ao referir-se às áreas de elevado potencial de
que Portugal dispõe, como a nanotecnologia, as telecomunicações móveis e as ciências médicas.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A crise não pode servir de desculpa para se desinvestir na ciência.
Aplausos do PS.
E não pode servir de desculpa para se desinvestir na ciência, até porque o que está em causa não é
apenas o financiamento, são regras absurdas e obstáculos absolutamente ridículos que impedem a
flexibilização da gestão financeira e que encontram na lei dos compromissos o expoente máximo de
paralisação da atividade científica no nosso País.
O Governo garantiu excecionar essa lei absurda para a ciência, mas, logo a seguir, recuou nessa
promessa. Ou seja, os ditames do Ministério das Finanças e, também, temos de o dizer, a passividade do
Ministério da Educação e da Ciência arrasam tudo, não deixam nada, absolutamente nada, nem ninguém
ileso. Arrasam a estabilidade, arrasam a confiança, arrasam a possibilidade de termos algo fundamental para
as nossas vidas: esperança no futuro!
Aplausos do PS.
Criam incertezas e impedem a estabilidade e estratégias de médio e longo prazo, fundamentais para o
desenvolvimento da ciência. A incerteza mata a ciência!
Destruir os avanços alcançados é, seguramente, desistir do País. Nós não queremos desistir de Portugal!
Aplausos do PS.
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Por isso, Portugal e a ciência precisam de um outro caminho, precisam de um outro rumo, de um caminho
que volte a introduzir a esperança, de um caminho que volte a introduzir a estabilidade e a reforçar a
capacidade para continuarmos a inovar e a competir com o que de melhor há no mundo, para continuarmos a
lançar iniciativas pioneiras, imprescindíveis à modernização e imprescindíveis a Portugal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada Elza Pais, inscreveram-se, para pedir
esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Maria José Castelo Branco, do PSD, e o Sr. Deputado Miguel Tiago, do
PCP.
Tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada Maria José Castelo Branco.
A Sr.ª Maria José Castelo Branco (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Elza Pais, ao ouvi-la, não
posso deixar de concordar que, efetivamente, o objetivo principal deste Governo é orientar o País para um
caminho de sustentabilidade e em que sejam estabelecidas regras segundo as quais o dinheiro de que se
dispõe seja investido nas áreas prioritárias.
Mas, Sr.ª Deputada, tenho de lhe relembrar que o nosso País vive um período de grandes dificuldades
económicas, o que significa que temos de saber fazer muito mais com menos, ou seja, ninguém, neste
momento, seja em que área for, dispõe dos montantes que desejaria.
Portanto, impõe-se rentabilizar quer recursos humanos, quer recursos económicos, nomeadamente nas
áreas de investigação, naquelas que são prioritárias para o Portugal de hoje e para o Portugal do futuro. Por
isso, impõe-se definir quais as áreas que, em termos económicos, terão maior aplicabilidade e que se poderão
também converter, em termos de futuro, em rentabilidade e emprego, porque é disto que necessitamos.
Assim, os desafios do futuro que a Sr.ª Deputada Elza Pais referiu são efetivamente enormes, são difíceis
e, entre eles, estão as linhas de investigação. Ora, o que tem estado a ser pedido aos laboratórios é que as
suas linhas de investigação sejam aquelas que terão maior aplicabilidade na nossa sociedade de hoje, porque
é disso que necessitamos, é disso que a nossa sociedade necessita.
Temos que definir porque temos que gerir e rentabilizar os discursos disponíveis. Precisamente por causa
dessa preocupação têm estado a ser investidos, nomeadamente nas bolsas e nas bolsas pós-doutoramento,
montantes muito superiores àqueles que eram investidos e as candidaturas têm estado a ser analisadas em
períodos muito mais reduzidos para obviar e viabilizar todas as linhas de investigação que estão a ser
destacadas como prioritárias.
É isso que está a ser definido, ou seja, quais são, neste momento, as áreas prioritárias para o nosso País,
porque, num período em que nos estão a ser pedidas reduções, temos, efetivamente, que ser exigentes e
intransigentes na definição das áreas prioritárias.
Referiu também a FCT. Por exemplo, está a ser claramente reduzido o período de análise das candidaturas
à FCT e os reembolsos e os pagamentos estão a ser acelerados, porque é isso que se impõe para viabilizar
essas ditas linhas de investigação.
Quanto ao estatuto de bolseiro, a Sr.ª Deputada sabe muito bem que as alterações se arrastavam durante
anos.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Maria José Castelo Branco (PSD): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Este Governo está já a promover alterações ao estatuto do bolseiro, nomeadamente, como tem
conhecimento, no sentido de uma maior proteção da posição dos mesmos relativamente ao comportamento
dos orientandos e dos doutoramentos que estão em curso.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza Pais, para responder.
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A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Maria José Castelo Branco, muito obrigada pelas
questões que colocou. Contudo, confesso que não percebi qual era o alcance que queria atingir com as
mesmas. E não percebi justamente porque a maioria não tem uma estratégia para a ciência.
A maioria diz que pretende desafiar o futuro. Mas como é que se pode desafiar o futuro desinvestindo no
presente? Digam-nos qual é a vossa estratégia.
Os senhores lá prometer prometem, e prometem mesmo muito. Fazem-no, desde logo, no Programa do
Governo. Prometem assegurar a sustentabilidade do que de melhor se fez no País — reconhecem isso.
Prometem criar condições para o crescer e para reforçar a competitividade — reconhecem isso. E também
reconhecem nas Grandes Opções do Plano (GOP) que vão lançar o programa Investigador FCT que deve
criar um corpo estável de investigadores de excelência.
Sr.ª Deputada, são só promessas, porque, depois, o que VV. Ex.as
fizeram foi destruir! Destruíram tudo o
que existia!
Além disso, as vossas regras não vos permitem cumprir as vossas promessas. A lei dos compromissos é
um bloqueio absoluto a tudo o que é gestão financeira nos laboratórios do Estado, nos laboratórios
associados, nas universidades, em todos os sítios.
Os investigadores têm apelado de uma forma sucessiva, nas várias comissões e nos vários grupos de
trabalho em que temos reunido, a que esta lei dos compromissos não se aplique à ciência. A Sr.ª Secretária
de Estado da Ciência garantiu, nesta Casa, que teria já o compromisso do Sr. Ministro das Finanças para
introduzir uma exceção nesta lei no que respeita ao campo da ciência e, depois, recuou. Ou seja, o Ministério
da Educação e Ciência é fraco, é muito fraco!
Aplausos do PS.
É fraco nas negociações com o Ministério das Finanças e por isso não consegue fazer vingar os seus
objetivos.
No que respeita à matéria do Investigador FCT, dá para rir, porque os senhores dizem que querem criar um
corpo de excelência. Como é que querem criar esse corpo de excelência, Sr.ª Deputada? É destruindo tudo o
que existia?
Há 1200 investigadores cujos contratos estão a terminar e que foram colocados no âmbito do programa
Ciência. E para onde é que eles vão? Todos os dias recebemos e-mails desses investigadores, ou temos
conversas com eles, em que nos dizem que vão para o desemprego. E o desemprego para os jovens
cientistas é gravíssimo, porque a alternativa que têm é emigrar. E eles não querem emigrar, querem servir o
País em Portugal.
Portanto, Sr.ª Deputada, o que acabei de referir não é estratégia absolutamente nenhuma.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Faça favor de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
E mais: os senhores dizem que reviram o Estatuto do Bolseiro. Olhe, tenho a dizer-lhe que antes não o
tivessem feito, porque o estatuto que daí resultou é um absurdo não só relativamente às propostas e aos
objetivos, mas também ao que dele se esperava.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, faça favor de concluir.
A Sr. Elza Pais (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Este estatuto cria dúvidas sobre a utilização das licenças de parentalidade e introduz também uma
incompatibilidade entre a bolsa e a atividade docente, ou seja, põe os investigadores a darem aulas de uma
forma gratuita. E isso é absolutamente incrível, pois não defende estes jovens que tanto se esforçam e que
projetam a imagem de Portugal no mundo.
Aplausos do PS.
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Elza Pais, em primeiro lugar, deixe-me
lembrar-lhe que a Secretária de Estado da Ciência não disse que ia resolver o problema. Quando veio à
Comissão de Educação, Ciência e Cultura, disse-nos, dando a sua palavra, que o problema já estava
resolvido,…
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Tem razão.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … desmentindo a realidade e aqueles que connosco vieram partilhar essa
realidade e os constrangimentos que a lei dos compromissos impõe às unidades de investigação, aos
laboratórios associados e aos laboratórios do Estado.
Sr.ª Deputada, sobre as questões concretas que nos colocou — e aproveito para lhe agradecer a
possibilidade que deu ao Parlamento de as discutir —, gostava de referir algumas visões do PCP.
Como sabe, o PCP nunca entendeu que nos tempos do Partido Socialista a política de ciência e tecnologia
corria sobre rodas, como se tentava dar a entender. Aliás, havia uma centralização de recursos e de atenção
política nos laboratórios associados, em detrimento e em prejuízo de outras componentes do Sistema
Científico e Tecnológico Nacional, nomeadamente os laboratórios de Estado e as universidades. Essa política
também sacrificou a estratégia e abriu caminho para que o PSD e o CDS possam, hoje, com mais facilidade
desmantelar o que resta do Sistema Científico e Tecnológico Nacional.
Sr.ª Deputada, se o PS centrava a atenção política nos laboratórios associados, de facto, este Governo
centra-a na total destruição de todo o Sistema Científico e Tecnológico Nacional, seja dos recursos humanos
altamente qualificados — e refiro-me aos técnicos, aos investigadores ou àqueles que, contando como
investigadores, estão remetidos à condição de bolseiros —, seja das próprias estruturas, através do seu
subfinanciamento. Enfim, é uma razia total a política deste Governo no que toca à ciência e tecnologia e à
investigação e desenvolvimento.
Mas, Sr.ª Deputada, há uma coisa que o seu partido, o PS, e o PSD e o CDS nunca vão perceber: é que o
problema não está só na visão que têm da ciência e tecnologia, está na visão que têm para o desenvolvimento
do País.
Enquanto não se desenvolver a economia, a indústria e a produção nacional, nenhuma política precisará
da ciência e tecnologia. Podem tornar a ciência e a tecnologia um adorno político, mas não farão dela um
instrumento de desenvolvimento enquanto não se preconizar o desenvolvimento económico, social e cultural
com base no avanço científico. Só nessa circunstância poderemos ter uma política de ciência e tecnologia que
não faça da ciência um adorno de propaganda de nenhum ministério, «seja Gago, seja Crato», mas, sim, um
elemento estruturante para o desenvolvimento do nosso País.
É isso que também, lamentavelmente, o anterior Governo do Partido Socialista, tal como o atual, teimam
em não perceber.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza Pais para responder.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, muito obrigado pelo conjunto de
questões que colocou.
O Sr. Deputado fez, sobretudo, análises sobre o estado da ciência em Portugal com as quais me identifico
não totalmente mas em grande parte. Por exemplo, temos divergências muito grandes relativamente às
carreiras.
Sr. Deputado, sei que a governação socialista anterior não fez tudo, mas fez muita coisa. E não fez mais
porque também não teve tempo — e não vamos recordar os motivos pelos quais não teve tempo para fazer
mais. Mas uma coisa é certa: acabou de sair um ranking de países líderes em crescimento e inovação e
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Portugal, que era líder em 2011, em 2012 perdeu a capacidade de liderança. Diz esse ranking que o
crescimento, em 2011, era superior a 5%. Portugal deixou, assim, de ser líder em crescimento e inovação.
O Sr. Deputado disse-me que precisamos de um crescimento integrado. Claro que precisamos de um
crescimento integrado, mas alguém tem que ser o timoneiro do crescimento. E por que não a ciência?
E refiro-me à ciência tal como foi desenvolvida no nosso País, com as parcerias internacionais, com a
capacidade de introduzir inovação, criatividade e novas tecnologias nas empresas. Temos visitado muitos
projetos por este País fora que nos dão conta disso. Era este o caminho. O caminho que hoje temos é um
caminho de coisa nenhuma, é um caminho de destruição da excelência!
Sr. Deputado, penso que a esse nível temos a mesma visão: este Governo não cuida da ciência, para este
Governo a ciência não existe. Só há bem pouco tempo é que o Sr. Ministro da Educação começou a falar de
ciência, e fê-lo de uma forma muito genérica. Atualmente, a ciência não é uma área prioritária. É claro que
para nós foi e continuará a ser uma área prioritária. Enquanto a ciência não for uma área prioritária para um
país, ele terá o seu desenvolvimento comprometido.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O balanço dos dois anos desta governação tem vindo a ser feito
não apenas neste fórum mas um pouco por todo o País, em reuniões que temos tido com investigadores e são
eles que nos têm dado conta do perigo que a ciência corre se continuarmos a agir para com os investigadores
e as instituições desta maneira.
Por vezes, não é de mais financiamento que eles precisam — já o disseram nesta Casa…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, desculpe interrompê-la, mas corre o risco de duplicar
novamente o tempo de que dispõe para responder.
Peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, ainda não me tinha avisado e eu não estava a olhar para o painel
dos tempos, mas vou concluir.
Dizia eu que os investigadores nos têm dado conta, num tempo de crise, que o que querem não é tanto
mais financiamento mas, sim, formas diferentes de gerir o financiamento que têm e, sobretudo, estratégias que
permitam captar novos investimentos e receitas próprias, as quais estão absolutamente bloqueadas com as
atuais regras de gestão e com a lei dos compromissos.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Achei que a tinha que salvar a Sr.ª Deputada do risco de duplicar
novamente o seu tempo.
Nos termos dos n.os
2 e 3 do artigo 76.º do Regimento da Assembleia da República, tem a palavra o Sr.
Deputado Filipe Neto Brandão, do Partido Socialista.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Há precisamente quatro
décadas, no dia 4 de abril de 1973, iniciava-se, na cidade de Aveiro, o III Congresso da Oposição
Democrática. Evocá-lo, hoje, neste espaço de liberdade também por aqueles congressistas conquistada, é,
para um democrata, um imperativo de consciência que ganha, aliás, redobrado sentido num momento em que,
induzida pela crença de alguns na pretensa inevitabilidade do caminho que trilhamos, importa exorcizar a
desesperança coletiva que parece toldar a nossa capacidade de sonhar novamente um país mais solidário e
justo.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Por três vezes, com a realização dos seus congressos, Aveiro
significou abrigo à oposição ao fascismo em Portugal no pós-guerra. Desde logo, com os Congressos
Republicanos de 1957 e 1969 e, finalmente, com o III Congresso, cuja designação — de Oposição
Democrática e já não Republicano — surge por expressa recomendação do Governo, apostado em oferecer
ao mundo a ilusão de uma realidade democrática em Portugal.
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Com a autorização da realização de um congresso em 1973, depois de o ter negado em 1971, o Governo
pretendia transmitir então ao mundo uma imagem de liberalidade do regime. Ao fazê-lo, pensara certamente
poder vir a circunscrever esse acontecimento a Aveiro, à semelhança do que sucedera com os dois
congressos anteriores. A cidade sofreria uma pequena perturbação nesses dias, mas logo as águas da sua ria
voltariam à costumeira placidez. Rapidamente, porém, se esboroarão os planos do regime agonizante.
Na verdade, inovando decididamente face aos que o precederam, o III Congresso seria desta feita
organizado de modo descentralizado. À comissão executiva, sedeada em Aveiro, somavam-se agora
comissões distritais, concelhias e socioprofissionais espalhadas por todo o País.
Não obstante muitas delas terem sido proibidas e presos os seus responsáveis, centenas de reuniões
preparatórias, organizadas a partir dessas comissões, haviam apelado já à participação no Congresso de
Aveiro com assinalável sucesso.
Surpreendido pela impossibilidade de ser este apenas mais um comício à porta fechada, o governo, em
desespero, alargará a zona de contenção: não sendo mais possível encerrar os congressistas numa sala da
cidade, decide encerrar a própria cidade, privando-a de comunicação com o exterior.
É assim que o parque de campismo é encerrado, autocarros são detidos fora de Aveiro, passageiros são
identificados e mesmo comboios das carreiras normais são impedidos de parar em Aveiro.
Centenas de congressistas, porém, furam o bloqueio, calcorreando estradas ou atravessando os campos,
sendo entusiasticamente recebidos no Congresso.
E é na manhã do dia 8, último dia do Congresso, quando centenas de congressistas decidem dirigir-se,
pacífica e ordeiramente, em romagem ao túmulo de Mário Sacramento — intelectual de relevo e figura tutelar
dos congressos aveirenses —, que o regime irá revelar a sua face perante a imprensa internacional.
A polícia de choque investe, com desmesurada brutalidade, com o propósito declarado de limpar as ruas,
assistindo-se então a mais uma manifestação do apego das gentes de Aveiro à causa da liberdade, quando as
portas dos prédios se abriam e mãos anónimas e providenciais retiravam gente que nunca antes haviam
conhecido, fazendo-as refugiar-se em suas casas.
Caía, assim, com estrondo, a máscara do regime e a operação de cosmética liberalizante que pretendera
orquestrar.
É bem verdade que, em 73, há muito que já ninguém, dentro de portas, alimentava ilusões quanto à
possibilidade de regeneração do regime, que a subida ao poder de Marcelo Caetano havia alimentado dois
anos antes. Na verdade, cedo se constatara que a prometida renovação se tinha limitado à mudança de nome
de algumas das instituições do regime: a PIDE passou a chamar-se DGS, a União Nacional passou a Ação
Nacional Popular, a Censura passou a Exame Prévio, e tudo o mais continuava como dantes.
E esse «dantes», é bom que lembremos — mas sobretudo que o saibamos transmitir às gerações mais
novas, particularmente vulneráveis, a recorrentes tentativas de branqueamento da nossa história —, quer
significar que houve uma época em que reivindicar direitos, evocar a democracia, aspirar à liberdade eram, em
Portugal, delitos punidos com o cárcere, e em que a tortura daqueles que aspiravam a ser livres era, ela
própria, um crime impune.
Ainda a propósito da carga policial de Aveiro, o historiador José Manuel Tengarrinha — ele próprio
congressista em 73 — cita mesmo o episódio de uma jornalista suíça, que, dias antes, visivelmente
contaminada pela propaganda oficial, o havia interpelado asperamente durante a conferência de imprensa
inaugural do Congresso, insistindo na liberalidade de um regime que até permitiria à sua oposição a realização
de um congresso. Muito maltratada pelos bastões e cães da polícia, era vê-la, na conferência de imprensa de
encerramento, com a cabeça envolta em ligaduras e braço partido ao peito, declarar-se então completamente
esclarecida sobre a natureza do regime português.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O saldo final do Congresso de 73, quando cotejado com os que o
precederam, revelou-se verdadeiramente inovador e relevante no contexto histórico.
Desde logo, dele resultou a apresentação de um conjunto estruturado e coerente de propostas sobre as
bases do Estado democrático.
Igualmente assumida pelos congressistas — e com expressiva clareza — foi a ligação entre a instauração
da democracia em Portugal e o fim da guerra colonial. A estas somar-se-á também o reconhecimento do papel
do desenvolvimento, enquanto suporte imprescindível duma sociedade democrática.
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Três interpelações cívicas — democratização, descolonização e desenvolvimento —, que, saindo do
Congresso de Aveiro em abril de 73, iriam, um ano depois, ressurgir, de forma inequívoca, no Programa do
MFA.
Sr.as
e Srs. Deputados: O Congresso da Oposição Democrática de Aveiro teve a ousadia de sonhar um
projeto de modernidade para Portugal. A sua mensagem, aquela que perpassou em todas as teses
apresentadas e discutidas, foi sempre uma mensagem de futuro. Só, pois, falando de futuro, do futuro da
República, é que prestaremos verdadeiramente homenagem aos homens e mulheres que se reuniram em
Aveiro, em 73.
Aplausos do PS.
Por isso, celebrar o Congresso, hoje, revisitando os valores republicanos e democráticos enquanto projeto
nunca acabado de regeneração política, terá a ver com a defesa da coisa pública, com a defesa da esfera e
das funções públicas, aquelas que o são por terem a ver com o interesse geral, com o interesse da
coletividade no seu conjunto. Mas será também ter presente que importa, cada vez mais, questionar que
Europa é esta, que hoje construímos, tão longe do projeto de solidariedade e paz que lhe deu origem?
Será também afirmar, sem quaisquer tergiversações, que o empobrecimento e o apelo à emigração não
são nem nunca serão instrumentos válidos para a construção da competitividade de uma economia, do
mesmo modo que será sempre eticamente ilegítimo pretender que a construção de um mercado único e
aberto possa ser feita à custa da dor de legiões de desempregados ou do sacrifício de gerações.
Aplausos do PS.
Será também assegurar a sustentabilidade do Estado social.
Será lutar por um desenvolvimento que seja ambientalmente sustentável, ao invés de propor um modelo de
industrialização que o sacrifique.
Será agirmos sempre preservando a liberdade, de modo a proporcionarmos a um número cada vez maior
dos nossos concidadãos uma situação que os torne menos desiguais em relação a indivíduos mais
afortunados por nascimento e condição social.
Aplausos do PS.
É, enfim, ter sempre presente, como sintetizou essa figura maior do pensamento político do séc. XX, Isaiah
Berlin, que «o fim último da ação política é minorar o sofrimento humano suscetível de poder ser minorado».
Quando o fizermos — e sempre que o fizermos — estaremos a homenagear aqueles que, há exatamente 40
anos, em Aveiro, tiveram a coragem física e moral de se reunirem num Congresso e de sonhar um País mais
justo, próspero e solidário.
Aplausos gerais.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — A figura regimental ao abrigo da qual o Sr. Deputado usou da palavra
não dá lugar a pedidos de esclarecimento. Mas a sua interpretação extensiva, encontrando-nos Parlamento e
seguindo a doutrina que a Sr.ª Presidente tem deixado, a Mesa regista a inscrição dos Srs. Deputados Maria
Paula Cardoso, do PSD, Raúl de Almeida, do CDS-PP, António Filipe, do PCP, e Pedro Filipe Soares, do BE,
que pretendem associar-se a esta homenagem do Sr. Deputado Filipe Neto Brandão ao 40.º Aniversário do
Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Paula Cardoso.
A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Um cumprimento especial
para o meu colega de distrito, Deputado Filipe Neto Brandão.
Não posso deixar de me congratular por ter trazido aqui, hoje, uma data importante para todos os
aveirenses, no simbolismo que tem e no que representa para quem se sente efetivamente de Aveiro.
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Aveiro é uma terra ímpar na defesa da democracia e das liberdades; Aveiro é sinónimo de liberdade; Aveiro
é sinónimo de consciência democrática; Aveiro é sinónimo de cidadania plena e consciente. Em tudo que isto
significa, não quero propriamente pedir nenhum esclarecimento ao Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, quero
agradecer-lhe por no-lo ter trazido aqui e ter-nos recordado, até com algum decoro em não identificar quem
foram as pessoas que faziam parte da Comissão Executiva do III Congresso Democrático, porque uma delas
era seu familiar direto.
Queria deixar aqui uma homenagem concreta, pelo menos a algumas pessoas de Aveiro com as quais tive
o prazer de privar e de ser amiga, e tenho ainda o prazer de ser amiga dos seus descendentes e de alguns
que estão entre nós.
Não quero deixar de falar de Álvaro Seiça Neves, de António Neto Brandão, de Carlos Candal, entre
outros, cujos filhos já por aqui passaram e deram o seu contributo na consolidação da democracia portuguesa.
Aveiro será sempre conhecida por uma terra de luta, de gente empreendedora, de gente batalhadora, de
gente que não baixa os braços. É por essa e por outras razões que todos os que são de Aveiro se orgulham
de o ser e continuaremos a lutar pela construção do nosso País, com todas as nossas forças.
Muito obrigada por esta homenagem, à qual me associo e gostaria de deixar também aqui uma palavra de
reconhecimento. Muito obrigada.
Aplausos do PSD, do PS e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Raúl de Almeida.
O Sr. Raúl de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, queria dizer que
me associo completamente às palavras aqui ditas, que me honro também por ser parte de Aveiro e eleito por
este distrito, que a história que Aveiro nos lega e que Aveiro nos traz é uma história de muita importância, que
teve marcos ao longo do seu desenvolvimento importantíssimo. Aliás, temos, aqui, neste Parlamento, a marca
de José Estevão.
Como bem referiu, temos uma resistência organizada, consequente, à ditadura do Estado Novo, e aí
permita-me que lembre o Dr. Mário Sacramento, alma e inspiração desses congressos, e também, depois do
25 de Abril, nos tempos mais confusos, a continuação desse espírito indomável de liberdade, de liberalismo,
de abertura e de busca permanente em todos os palcos de um País mais justo.
E não será por acaso também que aqui lembro que tanto Adelino Amaro da Costa, fundador deste partido,
como Lucas Pires, sempre escolheram Aveiro como espaço de liberdade, sempre evocaram Aveiro como
capital do CDS e como capital da liberdade, o que muito nos orgulha.
Quanto ao resto, Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, queria dizer-lhe que partilhamos também de todos os
anseios, de todas as ambições e projeções para o nosso futuro que deixou daquela tribuna, e que são
ambições de todos nós, nesta bancada de democratas-cristãos, e de todos nesta Casa, democratas em geral.
O nosso bem-haja, com um desafio: não deveríamos, de forma mais sistemática, mais organizada, também
pela via parlamentar e nesta Casa, contribuir para a melhor preservação desta memória aveirense, deste
legado aveirense para a democracia de Portugal e para Portugal?
Aplausos do CDS-PP, do PSD e do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Filipe Neto Brandão: Queremos felicitá-lo
vivamente por ter trazido a esta Assembleia, utilizando os 10 minutos regimentais de que dispõe, a título
individual, uma evocação do III Congresso da Oposição Democrática, realizado na cidade de Aveiro, em 1973,
salientando a importância que essa iniciativa teve na luta dos democratas portugueses que contribuiu
decisivamente para o derrubamento da ditadura fascista em 25 de Abril de 1974.
A par também de uma enorme movimentação social, designadamente ao nível dos trabalhadores, do
movimento estudantil e também da participação da oposição na fraude eleitoral de 1973, utilizando esse
espaço para lutar contra a ditadura e para defender os valores da liberdade, o III Congresso da Oposição
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Democrática teve, nesse quadro, uma importância fundamental. É uma iniciativa emblemática, não apenas
pela riqueza de conteúdos do próprio Congresso, das suas conclusões, das contribuições que ali foram
apresentadas, mas também pela repressão que selvaticamente se abateu sobre os congressistas que
prestaram a sua homenagem ao túmulo de Mário Sacramento.
Este é um momento muito marcante da luta pela democracia, de defesa dos valores da democracia, e hoje,
na situação difícil que o nosso país atravessa, importa que os valores democráticos sejam amplamente
afirmados por todos os democratas portugueses.
Portanto, em nome da bancada do PCP, queria felicitar a sua intervenção e felicitá-lo, Sr. Deputado Filipe
Neto Brandão, pela justa e oportuna evocação que fez nesta Câmara do III Congresso da Oposição
Democrática.
Aplausos do PCP, do PS, do BE e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de
Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Filipe Neto
Brandão, queria dizer-lhe que o Bloco de Esquerda acompanha a sua exposição sobre uma matéria
importante para Aveiro, que lavrou na História de Portugal da luta pela democracia o nome da cidade de
Aveiro, e por isso também o nome do distrito de Aveiro, mas que deixou bem mais alto marcada a História do
País no que respeita a momentos importantes para essa luta, feita no Congresso da Oposição Democrática,
feita pelos trabalhadores, feita pelas populações.
Sendo já visível a desagregação da ditadura, lutava-se em Aveiro pela democracia e pela liberdade. Por
isso, o Congresso foi o adubo daquilo que foi, depois, a Revolução de Abril, daquilo que foi a primavera que
nos trouxeram a liberdade e a democracia. É bom lembrarmo-nos, porque quem tem História garante o seu
futuro. E é bom lembrarmo-nos, na História, daquilo que construiu esta democracia, daqueles que perderam a
vida lutando pela liberdade e daqueles que ganharam muitas outras vidas ao ganharem essa liberdade.
Aveiro marcou nos livros da História este momento, e muitos vivem ainda hoje na sua memória as
experiências desses dias.
Da parte do Bloco de Esquerda, termino como comecei, ou seja, reforçando os votos pela liberdade, pela
necessidade contínua de aprofundamento da democracia e pelo espírito republicano de haver a capacidade de
cada pessoa dizer aquilo que lhe vai no espírito, aquilo que lhe vai na ideia, aquela voz que cada um e cada
uma de nós tem e que ninguém pode calar.
Aplausos do BE, do PS, do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Neto Brandão.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr.ª Presidente, regimentalmente competir-me-ia a palavra. Nenhuma
questão me foi dirigida, não obstante quero agradecer as intervenções de todos os Srs. Deputados.
Em concreto, quero dizer à Sr.ª Deputada Maria Paula Cardoso, que fez uma referência à comissão
executiva, que deliberadamente entendi não o fazer por entender que tal seria injusto em relação a todos
aqueles que anonimamente — e muitos deles com particulares sacrifícios — tiveram a coragem, física e moral,
de estarem em Aveiro nesses dias e assim darem o seu testemunho e o seu sacrifício em nome da liberdade.
Sr.ª Presidente, a República já reconheceu a Aveiro pergaminhos no combate pela liberdade através do ex-
Presidente da República Jorge Sampaio, que distinguiu Aveiro com a Ordem da Liberdade, com fundamento
precisamente nos congressos republicanos.
Queria terminar a minha intervenção com as palavras de um grande poeta e escritor português, Miguel
Torga, que tem a particularidade de ter estado presente em todos os congressos de Aveiro. Eis as palavras
com que ele então se dirigiu, no seu Diário, a Aveiro: «Gosto desta terra (…) Entra-se nela, e respira-se de
outra maneira. O peito oprimido enche-se dum oxigénio imprevisto e generoso, ainda nativo, e já com todo o
iodo tónico do largo. O iodo tónico da Liberdade». É verdade que se respira de outra forma em Aveiro.
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Aplausos gerais.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, vamos passar ao segundo ponto da ordem do dia
de hoje, que consiste na discussão conjunta dos projetos de resolução n.os
591/XII (2.ª) — Recomenda ao
Governo medidas de valorização dos serviços hospitalares do Centro Hospitalar do Oeste e do Hospital
Termal das Caldas da Rainha (PSD e CDS-PP), 662/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão da
reorganização hospitalar no Oeste e a criação de um grupo de trabalho que integre as autarquias locais e as
associações de utentes (BE), 665/XII (2.ª) — Pela suspensão do processo de «reestruturação dos cuidados
hospitalares» no Oeste e a defesa dos serviços e unidades hospitalares da Região (PCP) e 667/XII (2.ª) —
Recomenda ao Governo que promova medidas tendentes à otimização dos cuidados de saúde hospitalares na
Região Oeste Norte (PS).
Para apresentar o projeto de resolução do PSD, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Conceição Pereira.
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Na portaria que cria o
Centro Hospitalar do Oeste (CHO), o Ministério da Saúde justifica a sua criação com o Programa do Governo,
que prevê para a área da saúde uma reorganização da rede hospitalar, reorganização que aconteceu no
Oeste e noutros pontos do País.
Claro que esta reorganização deve melhorar a capacidade da resposta instalada e a eficiência na
prestação dos cuidados de saúde às populações.
Lembremos aqui que o CHO deu lugar ao Centro Hospitalar do Oeste Norte (CHON), criado em 2009 —
para cuja criação, também é bom dizer, nem autarcas nem populações foram ouvidos —, o qual tinha como
área de influência os concelhos das Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral e Alcobaça, servindo uma
população de mais de 200 000 habitantes.
Este centro hospitalar veio a acumular, no final de 2011, uma dívida que rondava os 54 milhões de euros,
com a consequente dificuldade de pagamento aos fornecedores, dessa forma colocando em risco a aquisição
de medicamentos e de outros materiais imprescindíveis. Por outro lado, era recorrente a contratação externa
de profissionais a custos muito elevados sem que a população sentisse uma melhor rentabilidade do serviço
prestado.
A partir do momento em que foi conhecida a reorganização hospitalar do Oeste, quer os autarcas, quer a
população, quer os utentes movimentaram-se e iniciaram um amplo diálogo com o Ministério da Saúde. Esse
diálogo deu bons frutos, sendo que neste momento podemos aqui assegurar que a população de Alcobaça e
da Nazaré passam a ter como hospital de referência o Hospital de Santo André, em Leiria. Este foi um desejo
manifestado quer por autarcas quer pela população em geral destes concelhos.
Também foi manifestada, várias vezes, a necessidade da manutenção da urgência básica em Peniche,
tendo em conta as características e a vida económica daquele concelho, bem como da manutenção do maior
número de especialidades nos hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Alcobaça. Este foi um dos pontos
da discussão.
É bom que se saiba que quer os autarcas quer a comissão de utentes têm reunido várias vezes neste
período, e após a publicação da portaria, com o Conselho de Administração. Aliás, também nós, Deputados
eleitos pelo círculo de Leiria, temos tido reuniões com o Centro Hospitalar do Oeste, nomeadamente com o
Presidente do Conselho de Administração, a fim de acompanhar esta situação, havendo, como é natural,
pontos convergentes e pontos divergentes.
Ao prever-se a concentração de várias valências no Hospital das Caldas da Rainha não podemos deixar de
pensar no alargamento.
Foi prometido pelo Partido Socialista um hospital novo para o Oeste e, posteriormente, um alargamento,
mas tal não aconteceu. Devemos aqui lembrar que quem realizou a primeira fase do alargamento, há quase
duas décadas, foi o PSD, foi um governo do PSD; provavelmente, terá de ser também o PSD a realizar a
segunda fase de alargamento.
Mas não podemos deixar de lado aquilo que é a génese das Caldas da Rainha, o seu hospital termal e o
seu património. Neste momento, podemos dizer que o Ministério da Saúde, ao longo dos tempos, não tem sido
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um bom gestor, aliás, basta olharmos para o seu património degradado e para o encerramento do seu
hospital.
Por isso, compreendemos a preocupação de autarcas e da população, que querem ver uma luz ao fundo
túnel, uma resolução para a abertura do hospital, sendo que estamos a pouco mais de um mês da
comemoração do feriado municipal, que significa precisamente a reabertura do seu hospital termal.
Por isso, no projeto de resolução plasmamos estas nossas preocupações, tal como, de certa forma, o faz o
projeto de resolução do Partido Socialista. Não poderemos acompanhar da mesma forma os restantes projetos
de resolução, apresentados pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, pois preveem uma suspensão imediata desta
reorganização.
VV. Ex.as
, provavelmente, desconhecem o muito trabalho que os autarcas e as comissões de utentes têm
feito neste sentido. Quando temos, neste momento, sobre a mesa várias propostas que apontam para uma
resolução quer quanto ao hospital termal quer quanto ao seu património, o PSD não pode, de maneira
nenhuma, acompanhar os vossos projetos de resolução.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para fazer a apresentação do projeto de resolução da autoria do
Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A reorganização hospitalar do Oeste é
mais um exemplo, e um bom exemplo, da ação do Governo para desmantelar o Serviço Nacional de Saúde.
O encerramento dos serviços origina menos acesso, menos saúde e mais dificuldades para as populações.
É isto que as populações, as comissões de utentes, os autarcas e os profissionais de saúde têm dito sobre
esta reestruturação hospitalar. Não vamos ignorar aquilo que está à vista de todos: é isto que têm dito!
O PSD e o CDS apresentam-nos um projeto de resolução — e acabámos de ouvir a Sr.ª Deputada Maria
Conceição Pereira dizer que não vão acompanhar os outros projetos de resolução —, mas, Srs. Deputados,
trata-se de um projeto de resolução que não diz nada. Vamos ver, em concreto, o que é que ele propõe e o
que é que resolve.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Diz que fará sol se não chover!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Resolve uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Assim não
vamos lá, Srs. Deputados!
Podemos fazer aqui grandes e rigorosos discursos sobre a importância do Hospital Termal das Caldas da
Rainha, sobre a necessidade de atender àquilo que diz a população, sobre as inúmeras reuniões que têm sido
feitas, mas, Srs. Deputados, o mínimo que se pede é qualquer coisa de concreto. Pede-se qualquer coisa de
concreto e não evasivas!
Por isso, Sr.as
e Srs. Deputados, o Bloco de Esquerda é muito claro no seu projeto de resolução. Aquilo que
propomos vai, sim, ao encontro daquilo que quer as populações, quer as comissões de utentes, quer os
autarcas, quer os profissionais de saúde propõem.
Em primeiro lugar, propomos a suspensão da reorganização hospitalar do Oeste — é possível fazê-lo,
porque essa reorganização não está completa sequer, Sr.as
e Srs. Deputados. E porquê? É que o PSD diz, no
seu projeto de resolução, que, certamente, a pretensão do Governo referente à reorganização «(…) não pode,
de forma alguma, colocar em causa a qualidade da prestação dos cuidados de saúde às populações em
geral», aludindo também ao que foi assinado com a troica. O problema é que esta reorganização põe mesmo
em causa os cuidados e a prestação de cuidados de saúde às populações. Esta é a realidade! Este é o busílis
da questão, Srs. Deputados!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Põe em causa o acesso aos cuidados de saúde das populações!
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Deixemo-nos de questões vagas. Estamos a falar de um bem essencial, vamos ao concreto dos
problemas. Por isso, propomos a suspensão imediata da reorganização hospitalar do Oeste, e é possível fazê-
lo.
Propomos também a criação de um grupo de trabalho para analisar a reorganização hospitalar, que deve
obrigatoriamente integrar — não é só ouvir! — as autarquias,…
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Já integram!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — … as associações de utentes e as organizações dos profissionais de saúde.
Não é serem ouvidos, é integrarem, serem parte efetiva da reorganização.
Por último, Sr.as
e Srs. Deputados, propomos a manutenção do Hospital Termal das Caldas da Rainha
como unidade pública integrante do Serviço Nacional de Saúde. Há problemas com este hospital? Há, sim
senhora. É preciso fazer obras? É preciso ver a sua estratégia para o futuro? É, sim senhora. Mas tem de ser
dentro do Serviço Nacional de Saúde. Ou vamos agora deitar fora, entregar aos privados um património de
História, de séculos? E não só, pois é um bem essencial, um hospital que presta um serviço como mais
nenhum outro! E, depois, dizem-se os Srs. Deputados defensores do desenvolvimento das suas regiões…
Com franqueza!
É preciso um pouco mais. É preciso, e as populações assim o exigem, clareza, objetividade e medidas
muito concretas. É nessa postura que está o Bloco de Esquerda.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, para uma intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O PCP não desiste de intervir, de
propor e de defender medidas e uma política diferente para a rede de cuidados hospitalares na região Oeste e
no distrito de Leiria, e não desiste de lutar por outra política e por uma mudança a sério para a região e para o
País.
A questão do processo de restruturação hospitalar para o Oeste já dura há muito e já deu demasiados
problemas e preocupações para a população. O problema de fundo é o de um processo que começou mal e
que não deve prosseguir.
Quando se fala, aqui, do muito trabalho que já foi feito pelas comissões de utentes, pelos profissionais de
saúde, pelas autarquias, é preciso dizer que o trabalho e a luta que se tem desenvolvido no terreno, e que nós
queremos valorizar e saudar vivamente, vão no sentido da afirmação de uma exigência prévia, que é a da
suspensão deste processo, para que se ponha um ponto final, para que se arrepie caminho,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … e depois, aí sim, desencadear um novo processo, com seriedade, de uma
forma democrática, participada, não começando pelo objetivo final, que é o de encerrar serviços e unidades,
que é o de colocar as pessoas com hospitais de referência mais distantes das suas localidades, etc.
O que consideramos incompreensível, e até insultuoso, não é apenas que, quer a maioria, quer o próprio
PS, venham tecer loas e agarrar-se ao pacto de agressão com a troica, o famoso Memorando de
Entendimento, procurando justificar o injustificável, que é a política de degradação do SNS que essa
governação e esse pacto prosseguiram. Isso consta do texto de ambos os projetos e não podemos
acompanhar esses considerandos, mas estávamos disponíveis — e estamos, até ver — para uma discussão
séria, em sede de comissão, para que as matérias da parte deliberativa, da parte resolutiva, de vários
documentos, que estão em conjunto, possam ser agregadas num documento comum, por exemplo, no sentido
de que as questões que colocamos com enfâse, tal como a defesa do hospital termal no quadro do SNS e
também a defesa da manutenção dos serviços de urgência básica no hospital de Peniche, constem do texto
da Assembleia
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Defendemos igualmente que haja o contributo da parte de outros textos, por exemplo, quanto à questão
que é colocada, e que acompanhamos, relativamente ao problema do hospital de Alcobaça. Essas matérias
podem e devem ser agregadas e discutidas com seriedade.
Mas não é sério, Sr.ª Deputada Maria da Conceição Pereira, que se venha aqui colocar a questão de baixar
à comissão estes projetos sem votação, por 15 dias, para fazer essa discussão, havendo, à partida, a
sentença de que os outros projetos vão ser recusados. Isso não é debate democrático, Srs. Deputados!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Exatamente! Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Essa postura do PSD tem de ser condenada, porque o projeto que o PSD
apresenta é um projeto que diz — desculpem a expressão — que fará sol se não chover, ou seja, não diz
nada, é um projeto minimalista que apresenta promessas quanto ao debate mas que, na parte resolutiva, nada
diz, não resolve o problema que este mesmo debate vem suscitar.
O problema que este debate vem suscitar, antes de mais, coloca a questão de fundo de um processo que
tem de ser interrompido, de uma nova situação que tem de ser colocada de uma forma participada,
democrática e eficiente, do ponto de vista das políticas de saúde, respondendo aos problemas das populações
e não agravando esses problemas e, depois, do ponto de vista concreto da realidade daquela região, tem de
responder às situações colocadas nas Caldas da Rainha, em Peniche, em Alcobaça, quanto ao problema de
fundo do Serviço Nacional de Saúde e à manutenção dos seus serviços e unidades, de forma integrada, no
quadro do SNS.
É esta a posição que defendemos, é esta a posição que tem sido vincada, com muita clareza, pelas
populações, pelos utentes da saúde, pelos profissionais e até por muitos autarcas, em ações de intervenção e
de luta que queremos aqui saudar. É que este processo só ainda está neste pé porque as pessoas se
organizaram e foram à luta; senão, isto eram «favas contadas» e estava resolvido há que tempos!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Repito: só estamos aqui a discutir isto porque as pessoas se mobilizaram e
foram à luta.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem lembrado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E é com a luta das populações que também esta tática do PSD e do CDS e
deste Governo poderão ser derrotadas, porque não vale a pena enganar as populações com promessas
vazias, trazer à Assembleia um projeto que nada diz, abrir a hipótese de uma discussão, sem votação, por 15
dias, dizendo, à partida, que todos os outros projetos vão ser recusados. Nesse plano e nesse esquema, não
entraremos e não concordamos com essa atitude. Por isso, valorizamos a luta das populações, sim!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado João Paulo Pedrosa, do
Partido Socialista.
O Sr. João Paulo Pedrosa (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O PS apresenta este projeto de
resolução porque o processo de reestruturação dos hospitais do Oeste se tem vindo a revelar uma grande
trapalhada, com graves prejuízos para cinco concelhos do distrito de Leiria e alguns concelhos do distrito de
Lisboa, para mais de 200 000 pessoas que são utentes destes hospitais e são afetadas.
É bom recordar — e saudava a vinda do PCP e do BE a esta perspetiva — que, no Governo anterior, o PS
defendia o CHON, que era o Centro Hospitalar do Oeste Norte, com o hospital das Caldas da Rainha a
funcionar em pleno, o de Alcobaça a funcionar em pleno e o de Peniche a funcionar em pleno.
O que acontece neste momento? Sr.ª Deputada Conceição Pereira, penso que tem andado distraída
relativamente a esta matéria. A perspetiva e a proposta deste Governo quanto à transformação de um centro
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hospitalar do Oeste é a seguinte: quanto a Caldas da Rainha, reduzir para metade as valências de metade do
hospital das Caldas da Rainha e entregar a outra metade aos hospitais de Loures e de Torres Vedras; quanto
a Peniche, encerrar o serviço hospitalar de Peniche; quanto a Alcobaça, há todos os dias uma perspetiva
negra, pois todos os dias perde valências: atos médicos, pessoal médico, exames complementares de
diagnóstico.
Em 2012, foi inaugurada uma nova unidade cirúrgica e de internamento no hospital de Alcobaça, que
estava a responder às listas de espera. Neste momento, só funciona duas vezes por semana e os doentes
estão a ser referenciados para o hospital das Caldas da Rainha, com total desperdício de dinheiros públicos;
no que respeita a exames complementares de diagnóstico, que eram feitos numa concessão a um privado em
frente ao hospital de Alcobaça, neste momento, as pessoas são transportadas de táxi e de ambulância, pagos
pelo erário público, para o Hospital do Montepio, nas Caldas da Rainha. Portanto, uma total trapalhada e um
total desperdício de dinheiros públicos. Se não fosse a qualidade, o brio e a abnegação dos trabalhadores e
dos recursos humanos do hospital de Alcobaça, aquele hospital, hoje, praticamente, já não servia nenhuma
população.
Mas mais grave do que isto é que foi decidido que os utentes do concelho de Alcobaça faziam
referenciação para o Hospital de Santo André, em Leiria, e neste momento não fazem parte do processo de
reestruturação dos hospitais de Peniche, Caldas e Torres Vedras e também não pertencem ao de Leiria.
Portanto, neste momento, as populações de Alcobaça estão completamente desprotegidas de cuidados
médicos hospitalares. Disse o presidente da câmara, ontem, em declarações: «Ah, eu também não percebo
por que é que isso está assim. O Governo e a câmara já decidiram que é para os doentes e os utentes irem
para o Hospital de Santo André». Portanto, é uma total trapalhada o que se está aqui a constatar.
O que dizemos do nosso projeto de resolução é que é urgente que se faça a referenciação dos utentes dos
concelhos de Alcobaça e Nazaré para o Hospital de Santo André, porque, de outra forma, temos aqui um
grave problema de atendimento e de cuidados de saúde.
Aquilo que o PS exige — e é aquilo que mantém, foi sempre a sua posição — é que haja a manutenção
das valências do hospital das Caldas da Rainha, que, neste momento, estão a ser subtraídas para Loures e
Torres Vedras; que se faça o aproveitamento do hospital de Peniche, como estava previsto, nomeadamente,
do serviço de ortopedia do centro hospitalar, que era para passar todo para Peniche, e a imediata
referenciação dos doentes relativamente ao hospital de Alcobaça.
Este processo do PSD e do CDS é uma autêntica trapalhada, e temos de concluir que o PSD — que é
hegemónico naquela zona — e o CDS não têm peso político para influenciar a decisão do Governo
relativamente a esta matéria.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Já agora, termino dizendo o seguinte: uma vez que ontem foi notícia nacional que os Deputados do PSD,
na comissão, com a presença do Sr. Ministro, passaram o tempo a elogiar o Ministro por medidas falsas que
não tomou,…
Aplausos de Deputados do PS.
… era bom que aproveitassem o tempo para elogiar o Ministro por resolver os problemas concretos que,
neste momento, existem.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Creio que não é necessário
grande esforço para se perceber que os motivos que moveram o Governo relativamente à criação do Centro
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Hospitalar do Oeste não foram pautados por critérios clínicos nem tiveram como objetivo facilitar a
acessibilidade dos utentes à saúde ou melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados às populações.
O que moveu o Governo nesta pretensão, como noutras, foram critérios exclusivamente economicistas,
porque os números continuam, infelizmente, a mandar na nossa saúde e as consequências são mais do que
evidentes: diminuição dos serviços, dos meios e das valências e o enfraquecimento acentuado da capacidade
do serviço de saúde prestado às populações.
De facto, a criação do Centro Hospitalar do Oeste, que implicou a extinção do Centro Hospitalar de Torres
Vedras e do Centro Hospitalar do Oeste Norte, foi mais um elemento de perturbação no já sinuoso percurso
que a reorganização hospitalar do Oeste tem vindo a conhecer, uma reorganização que juntou as populações,
as comissões de utentes, as autarquias locais e os próprios profissionais dos respetivos serviços hospitalares
na sua mais firme contestação, uma contestação visível nas inúmeras ações promovidas tanto nas Caldas da
Rainha como em Peniche e em Torres Vedras mas também nas petições que fizeram chegar à Assembleia da
República.
Uma contestação que também foi visível nas várias moções aprovadas pelos vários órgãos autárquicos,
que chamam a atenção para as gravosas consequências que esta reorganização representa para as
populações no que diz respeito ao acesso aos cuidados de saúde.
Também o Conselho Distrital do Oeste da Ordem dos Médicos, que, aliás, nunca foi ouvido neste processo,
defende a manutenção de urgências médico-cirúrgicas nos hospitais de Caldas da Rainha e de Torres Vedras.
A nosso ver, a proposta de reestruturação hospitalar do Oeste não serve as populações nem vem facilitar o
acesso das pessoas aos cuidados de saúde. Pelo contrário, representa mais uma perda substancial no que diz
respeito ao acesso aos cuidados de saúde por parte das populações.
Neste sentido, naturalmente que Os Verdes consideram que se impõe, antes de mais, a suspensão da
reestruturação dos cuidados hospitalares do Oeste, mantendo-se tanto os serviços como as valências das
respetivas unidades; que se impõe a manutenção da urgência básica no hospital de Peniche, mas também
que o Hospital Termal das Caldas da Rainha continue integrado no Serviço Nacional de Saúde, e, por fim, que
o Governo analise a reorganização hospitalar do Oeste em conjunto, nomeadamente, com as comissões de
utentes, as autarquias locais e as organizações dos profissionais de saúde.
Vozes de Os Verdes e do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para concluir este debate, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel
Isaac.
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Como sabem, o Centro
Hospitalar do Oeste foi criado através da fusão do Centro Hospitalar do Oeste Norte com o Centro Hospitalar
de Torres Vedras.
Para a criação do Centro Hospitalar do Oeste, a ARS de Lisboa e Vale do Tejo elaborou uma análise
criteriosa da situação dos cuidados de saúde hospitalares na região Oeste, tendo em conta as dificuldades
sentidas pelas administrações dos hospitais na contratação de profissionais de saúde e a necessidade de
potenciar o recrutamento dos recursos disponíveis, humanos e financeiros,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É muito difícil contratar profissionais!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — … de modo a responder com qualidade à procura de cuidados de saúde
das populações.
Sabemos que o grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde está a estudar, com a ARS de Lisboa e
Vale do Tejo, a reorganização hospitalar do Oeste com todo o cuidado e atenção. Confiamos que qualquer
decisão que venha a ser tomada, sê-lo-á na base da melhor evidência científica.
Naturalmente, e como não podia deixar de ser, estão aqui tidos em conta os perfis existenciais de cada um
dos hospitais, os recursos humanos disponíveis e a população a ser abrangida por cada um deles.
Risos do Deputado do PS João Paulo Pedroso.
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O Sr. Deputado está a rir-se porquê? Por terem feito a promessa? É que assim o assunto estava resolvido,
Sr. Deputado! Sabe porquê?
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Se tivessem cumprido a promessa de construir o Centro Hospitalar do
Oeste Norte, o problema estava resolvido! Nem estávamos aqui a organizar os serviços! Portanto, o senhor
não pode vir aqui rir-se daquilo que prometeu e não fez.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Pois é!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — E agora estamos aqui para resolver esse problema.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Sr. Deputado, deixe-me dizer que concordo que, em conjunto com todos
os outros grupos parlamentares, devemos resolver isto. Não estou contra nenhum projeto, quero é o assunto
resolvido, e todos temos uma palavra a dizer. Não tenho dúvidas disso! Estamos aqui para ouvir tudo e todos,
como sempre o fizemos — repito, como sempre o fizemos. Ao contrário do que muitos Deputados têm dito
aqui (e não é verdade!), nós ouvimos, ouvimos!
Estive no Congresso do Oeste, para onde todos foram convidados — quem quis estar presente, esteve,
quem não quis, não esteve —, onde tudo isto foi debatido. Os utentes, os profissionais de saúde, os
presidentes de câmara, todos têm sido todos ouvidos nesta reorganização, toda a gente o sabe!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Afinal, em que é que ficamos?!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Acho que todos, em conjunto, podemos realmente encontrar uma melhor
solução, mas há uma coisa que não podemos fazer, que é parar. Não se pode dizer: «pare-se aqui, não se
faça nada». Não, já foram dados os primeiros passos.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para pior já basta assim!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Aliás, foi tendo em conta aquilo que aconteceu na Nazaré e em
Alcobaça, após ouvir as populações e os seus dignos representantes, que isto passou para o hospital de
Leiria. Foi a pedido das populações.
Protestos do Deputado do PS João Paulo Pedrosa.
Sr. Deputado, já viu alguma obra ser feita sem causar incómodos? Evidentemente! As obras só são bonitas
no fim, depois de feitas. Até lá, causam incómodos, evidentemente! Sr. Deputado, isso é natural.
O que quero dizer com isto, Srs. Deputados, é que se resolvermos debater este assunto fazendo baixar os
diplomas à comissão, sem votação, durante 15 dias, todos serão bem-vindos a essa discussão.
Mas deixem-me dizer que, quanto ao Hospital Termal das Caldas da Rainha, estou totalmente à vontade
para falar. Acreditem, Srs. Deputados, estou farto de ouvir a mesma história, que é a história de há 500 anos,
da Rainha. E o Hospital continua a perder os seus utentes, que passaram de 8000 para, atualmente, 1500.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Então, resolvam o problema!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Nós vivemos na cidade de Caldas da Rainha, que foi construída à volta
daquele Hospital, e toda a gente está preocupada com isto, Srs. Deputados. Mas a solução não passa por
este Hospital ficar na mão do Governo, dos vários Governos. Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, sim,
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concordo convosco. Mas a gestão dos vários governos desde há trinta e tal anos destruiu o Hospital Termal
das Caldas da Rainha, o Hospital mais antigo do mundo, com águas diferentes de todas as outras!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Então, mas é para ficar no SNS ou não?!
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Quero uma gestão que traga o Hospital de volta. Os caldenses querem
uma gestão que traga o Hospital de volta e que dê vida ao comércio, àquela cidade.
Os senhores podem acenar que não com a cabeça, mas façam essa discussão dentro daquele concelho,
oiçam as populações e verão que têm de mudar de atitude e de rumo nessa questão.
Oiçam as populações, que nós também vos ouvimos e às populações.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Peço a palavra, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Para uma interpelação à Mesa, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sobre a condução dos trabalhos?
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Sobre a discussão que acabou de ter lugar.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Mas é uma interpelação?
A Sr.ª Maria Conceição Pereira (PSD): — Exatamente.
Queria solicitar à Sr.ª Presidente que a Mesa, providenciasse a distribuição de um comunicado do qual o
PSD já deu conhecimento, através da imprensa, sobre informações falsas, como referiu o Sr. Deputado João
Paulo Pedrosa, porque parece-me que quem anda um pouco distraído é o Sr. Deputado. Não são informações
falsas e os elogios ontem feitos ao Sr. Ministro da Saúde têm a sua razão de ser.
Agradecia, pois, que esse comunicado fosse distribuído a todas as bancadas.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Assim será feito logo que a Sr.ª Deputada faça chegar à Mesa o
referido comunicado.
Srs. Deputados, segue-se a discussão, na generalidade, dos projetos de lei n.os
352/XII (2.ª) — Repõe a
taxa do IVA na eletricidade e no gás natural a 6% (BE), 381/XII (2.ª) — Revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de
setembro, rejeitando que a eletricidade e o gás natural estejam sujeitos à taxa máxima de IVA, recolocando-os
na Lista I anexa ao Código do IVA à taxa reduzida (Os Verdes) e 386/XII (2.ª) — Cria taxas de IVA de 6%
aplicáveis aos consumos de eletricidade e de gás natural e revoga a Lei n.º 51-A/2011, de 30 de setembro
(PCP), conjuntamente com o projeto de resolução n.º 666/XII (2.ª) — Recomenda ao Governo que pondere a
aplicação da taxa intermédia (13%) do IVA sobre a eletricidade e o gás natural (PS).
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Tendo plena consciência de que hoje a
agenda política transcende um pouco a nossa agenda parlamentar, e percebendo bem esses entusiasmos, de
um lado, ou tristezas, do outro, queria, contudo, chamar a atenção dos Srs. Deputados para os projetos que os
diferentes grupos parlamentares apresentam aqui, esta tarde, sobre o IVA da eletricidade.
O Bloco de Esquerda apresentou esta proposta e fica particularmente satisfeito por diferentes bancadas
terem seguido esta iniciativa — o Partido Socialista, enfim, um pouco mais atrás e um pouco menos além,
propondo apenas a taxa intermédia para o IVA da eletricidade —, porque nos parece que a questão dos
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preços da eletricidade e do peso incomportável que esses preços representam hoje para as famílias
portuguesas deve ser uma das matérias que este Parlamento deve acompanhar com todo o cuidado.
É bem conhecido que, no contexto da aplicação do Memorando de Entendimento, ficou estipulado que
deveria haver um aumento do IVA relativo ao setor da energia e, em particular, ao setor da eletricidade e do
gás natural. E o Governo entendeu, nada mais, nada menos, quase quadruplicar aquilo que é a carga fiscal do
IVA na fatura da eletricidade das famílias portuguesas.
Sabemos igualmente que não apenas a política fiscal — enfim, este saque fiscal lançado pelo Governo, —
mas também a política económica, a política de rendimentos, toda a política do Governo, tornam o peso da
fatura da eletricidade na vida das famílias ainda mais pesado, num contexto de retração do rendimento da
maior parte dos portugueses.
É, portanto, sobre os efeitos desta medida que temos de discutir. As histórias já se multiplicam, Sr.as
e Srs.
Deputados: famílias que estão a braços com contas que não conseguem pagar, de muita gente que já vive à
luz da vela, de idosos que não ligam o aquecedor durante o inverno por causa do efeito nas suas despesas.
Portanto, temos hoje uma situação dramática naquilo que é o acesso a um bem essencial.
Creio que é isso que devemos discutir. Os diferentes patamares estabelecidos para o IVA não são medidas
arbitrárias; eles estão definidos exatamente em relação ao bem que procuram taxar.
Ora, gostaria que alguma das bancadas da maioria nos desse aqui alguma justificação para que a
eletricidade seja considerada como um bem de luxo sendo taxado a 23%, quando sabemos que nenhuma
família, hoje, pode viver sem eletricidade, que ela é determinante no quotidiano das nossas vidas e que,
portanto, tem de ser taxada exatamente como é, como um bem essencial e, portanto, no escalão reduzido de
IVA.
Até porque os resultados do Governo mostram bem o que é o desastre das políticas seguidas: ao contrário
do que o Governo previa, o aumento do IVA tem conduzido exatamente a uma redução das receitas do IVA
para o Governo.
Assim sendo, estamos a seguir uma estratégia suicidária não só para as famílias mas também para a
receita pública.
É por isso, Sr.as
e Srs. Deputados, que fazemos aqui uma proposta que entendemos ser da maior justiça: a
reposição da taxa dos 6% no IVA da eletricidade, que é fundamental para todas as famílias em Portugal.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Os Verdes apresentam,
hoje, um projeto de lei que visa repor a taxa do IVA da eletricidade e do gás natural na taxa mínima.
Não é uma proposta inédita por parte de Os Verdes, porque já a tínhamos apresentado aquando da
discussão e da apresentação de propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2013, tendo sido
rejeitada pela maioria.
Os Verdes reapresentam agora este projeto de lei com a convicção de que a situação se agravou bastante
desde essa data até agora e que essa difícil realidade pode já ter contribuído para se abrirem algumas
consciências relativamente à necessidade absoluta de se alterar esta matéria, no sentido da insustentabilidade
de a eletricidade e do gás se manterem na taxa máxima do IVA, a 23%, e à necessidade de ser reposta nos
6%.
Sr.as
e Srs. Deputados: O aumento do IVA — que já veio do Governo anterior —, designadamente para a
taxa máxima, já demonstrou há muito tempo ter sido um erro crasso. Trata-se de um erro crasso com
implicações sociais e económicas bastante notórias e graves. Estamos num momento em que a taxa máxima
do IVA atinge os 23%. E já se percebeu que este aumento não teve reflexo no aumento da receita global do
IVA. Ou seja, as pessoas pagam mais IVA e o que acontece é que a receita global desce. E desce porquê?
Porque a economia fracassa. E quando a economia fracassa as pessoas deixam de ter poder de compra, não
podem ser agentes dinamizadores da economia e as empresas não têm dinamização económica.
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Portanto, estas medidas tiveram um efeito absolutamente perverso e contrário àquele que tinha sido
anunciado.
Vamos ver uma coisa: fixou-se a taxa mínima do IVA, neste momento a 6%, para os bens essenciais. Ora,
gostava de saber se há aqui alguma Sr.ª Deputada ou algum Sr. Deputado que diga que a eletricidade e o gás
não são bens essenciais. Ninguém o dirá! Portanto, não tem qualquer lógica que estes serviços essenciais não
estejam na taxa adequada do IVA, ou seja, na taxa mínima.
O que aconteceu foi que, pela mão desta maioria, a eletricidade e o gás passaram a estar sujeitos a mais
17 pontos percentuais, o que teve um reflexo muito grande no aumento do custo desses serviços. Isso
representa um grande prejuízo para as famílias, porque hoje as pessoas estão, na sua generalidade, com
mais baixos salários, com mais baixas pensões, muitas e muitas a cair permanentemente no desemprego,
com graves dificuldades financeiras a nível familiar. Isso é, pois, mais uma «acha para a fogueira» nessas
dificuldades. Há famílias — já aqui foi referido — que não têm hoje capacidade para pagar estes bens
essenciais e que têm de fazer a opção entre comer ou pagar a luz e o gás, optando por comer. Isto é uma
coisa absolutamente dramática.
Este reflexo negativo fez-se sentir também nas empresas. As empresas portuguesas são, ao nível da
União Europeia, das que pagam a energia a preços mais elevados, o que tem repercussões muito elevadas na
competitividade, que os senhores andam permanentemente a apregoar.
Sr.as
e Srs. Deputados, poderá haver quem diga que, para Os Verdes, este aumento da eletricidade até
deveria ser muito bom — aliás, está ali o Sr. Deputado do PSD a acenar que «sim», com a cabeça —, que
este aumento da eletricidade levaria inclusivamente as pessoas a pouparem e que, então, esta medida estaria
a contribuir para o nosso grande objetivo da poupança energética. Não, não! Nada disso!
O ambiente não se ganha à custa da pobreza e da degradação de vida das pessoas! Nem se ganha à
custa de as pessoas terem de prescindir obrigatoriamente de bens essenciais à sua vida. Não é assim que se
ganha ambiente. Nesta matéria, como noutras, ganha-se com uma forte consciencialização da população para
a necessidade da eficiência energética e também com medidas governamentais, designadamente na área da
fiscalidade, que levem ao incentivo a bons comportamentos, nomeadamente de poupança e de eficiência
energética.
E tenho de lembrar que este Governo acabou com os benefícios fiscais a despesas que visavam,
justamente, eficiência e eficácia energética, com a compra e aquisição de equipamentos para energias
renováveis.
Portanto, é bom esclarecer também, para que não haja ilusões quanto à medida que o Governo tomou, que
não há aqui nenhum objetivo ambiental.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, queira concluir.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr.ª Presidente, dizendo que é da mais elementar justiça
que quem está com a plena convicção daquela que é a realidade não poderá votar contra este projeto de lei
que Os Verdes aqui apresentam.
Quem insistir em criar dramas sociais e económicos no País, obviamente fechará os olhos à necessidade
de aprovação deste projeto de lei.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Há quase dois anos que o Governo
PSD/CDS vem impondo aos portugueses uma política destrutiva para o País: a política da troica. Com o
pretexto da consolidação das contas públicas, da diminuição do défice orçamental e da redução da dívida
pública, o Governo está a pôr em prática um verdadeiro programa de confisco de rendimentos e direitos dos
portugueses, através da redução de salários e de pensões, da redução ou mesmo eliminação de prestações
sociais e da destruição das funções sociais do Estado. Esta é uma política de submissão aos interesses dos
grandes grupos económicos e financeiros, garantindo-lhes avultados lucros e rendas, enquanto o País e a
esmagadora maioria dos portugueses empobrece de forma acelerada.
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Entre as muitas medidas do Memorando da troica — verdadeiro pacto de
agressão contra Portugal e os portugueses — conta-se o aumento da taxa do IVA na eletricidade e no gás,
prevista para 2012, mas que o Governo, diligentemente, resolveu antecipar para o último trimestre de 2011.
De uma penada, os custos destes bens essenciais — eletricidade e gás — aumentaram cerca de 16%. Como
se não bastasse, a este aumento de preços somaram-se aqueles que resultam da liberalização do mercado de
energia e da progressiva extinção das tarifas reguladas. Em termos gerais, a eletricidade e o gás natural
aumentaram cerca de 25%, desde 2011 até ao início de 2013.
As consequências destes brutais aumentos de bens essenciais foram — e continuam a ser — dramáticas,
contribuindo para o aumento da degradação das condições de vida das famílias portuguesas. Muitas famílias
deixaram de conseguir pagar as suas faturas mensais de eletricidade e de gás, assistindo impotentes ao corte
de fornecimento por parte de empresas que registam centenas de milhões de euros de lucros anuais. As
micro, pequenas e médias empresas foram afetadas muito negativamente na sua estrutura de custos e
competitividade, tendo de suportar preços de eletricidade e gás significativamente superiores aos preços
médios praticados na generalidade dos países da União Europeia.
É neste quadro que os representantes da troica, em Portugal, vêm publicamente manifestar agora a sua
preocupação com o facto de os preços da eletricidade e do gás natural não terem sofrido uma contração
durante 2012. Estas são declarações profundamente hipócritas, já que a troica sabe perfeitamente que da
liberalização do mercado de energia, decidida pelo Governo PS/Sócrates e implementada pelo atual Governo
PSD/CDS, só seria de esperar aumentos de preços, tal como ocorreu noutros mercados recentemente
liberalizados, como, por exemplo, o dos combustíveis.
Estes aumentos de preços ocorrem com a total complacência da Entidade Reguladora dos Serviços
Energéticos (ERSE), uma entidade dita independente, mas que, na realidade, está ao serviço dos grandes
interesses económicos do setor energético.
Urge aliviar as famílias e as pequenas empresas deste fardo imposto pelo Governo e pela troica.
O PCP, aquando da discussão do Orçamento do Estado para 2013, já havia apresentado uma proposta
que, infelizmente, foi rejeitada pela maioria parlamentar, visando reduzir a taxa do IVA da eletricidade e do gás
natural de 23% para 6%. Hoje, voltamos a apresentar esta proposta, a qual, se for aprovada, reduzirá, de
forma muito significativa, os encargos energéticos das famílias e das pequenas empresas, aliviando-as do rolo
compressor da política da troica.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada
Hortense Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A decisão do Governo de
aumentar o IVA de 6% para 23% foi a de «ir para além da troica» e representou mais um sacrifício
inadmissível para os portugueses, numa opção da exclusiva responsabilidade deste Executivo. Não é possível
que venham refugiar-se no Memorando da troica, porque isso não corresponde à verdade — basta ler o que lá
estava escrito quando foi assinado em maio de 2011. O Governo assumiu ainda a antecipação desta medida
penalizadora para 2011.
O PS desde sempre se opôs — inclusive, apresentámos uma iniciativa na Assembleia da República, que a
maioria chumbou — a esta antecipação e a esta medida excessivamente penalizadora. Até a própria troica o
reconheceu — imagine-se! — quando se deu conta de que, afinal, a descida dos preços da energia, da
eletricidade e do gás não estavam a ter uma repercussão positiva.
Lembro que, no contexto europeu, Portugal tinha, quanto ao gás natural, a segunda taxa de IVA mais baixa
da Europa e que agora tem o quinto lugar mais alto. Portanto, somos quase campeões. Os senhores, aliás,
têm a virtude de, em questões fiscais, optarem sempre pelas taxas máximas para fazerem boas figuras —
veja-se o IVA da restauração. Portanto, escolhem a taxa máxima e aí vamos nós, porque assim é que vamos
bem, mesmo que isso resulte em receitas mais baixas e que o vosso objetivo não seja cumprido…
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Lembro ainda, no que diz respeito à eletricidade no setor doméstico, o IVA, em Portugal, era o terceiro mais
baixo, agora é o quinto mais alto.
Hoje temos uma situação muito mais grave para as famílias e para as empresas, continuando o custo da
energia a aumentar.
Em relação às empresas, lembro que, apesar do decréscimo da atividade, que nalguns setores foi da
ordem dos 40%, de haver um mercado que se encontra liberalizado — na nossa opinião, ainda
insuficientemente, pois a concorrência ainda não está a funcionar e, portanto, há que tomar medidas nesse
sentido — e de as empresas já terem podido negociar os preços, os preços continuam a aumentar.
As famílias veem-se confrontadas com graves problemas devidos ao forte empobrecimento provocado
pelas medidas excessivas que os senhores impuseram.
Ainda há poucos dias apresentámos um projeto de resolução relativo às tarifas sociais, que os senhores
também chumbaram, porque acham que está tudo bem. Posso referir os números: segundo a estimativa, 150
000 pessoas poderiam auferir desta tarifa no gás, mas ela só chega a 5000 pessoas! Portanto, os senhores
resolvem, obstinadamente, chumbar todas as iniciativas da oposição.
O nosso projeto de resolução pretende, pois, implementar a taxa intermédia do IVA e a harmonização fiscal
para o gás butano.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado Fernando
Virgílio Macedo.
O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Com a apresentação destes
projetos de lei, mais uma vez os grupos parlamentares da oposição demonstram que esquecem o histórico,
ignoram o presente e não se preocupam em pôr em causa o futuro.
Esquecem o histórico da obrigação que o Governo tinha, no âmbito do Memorando de Entendimento
assinado pelo Partido Socialista, como Governo e em nome do País, de aumentar em pelo menos 410 milhões
de euros as receitas do IVA, através da alteração da taxa de IVA aplicável a algumas categorias de bens e
serviços, passando da taxa reduzida ou intermédia para a taxa normal.
Porém, esse imperativo não fez o Governo esquecer as populações com rendimentos mais baixos. Como
consequência dessa preocupação de cariz social, o Governo implementou o apoio extraordinário ao
consumidor de energia e a tarifa social ao fornecimento de gás natural, aplicáveis a consumidores que se
encontrem numa situação de carência socioeconómica.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Já tinha sido criada pelo PS!
O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Estas medidas permitem que, hoje, mais de 700 000 famílias
usufruam desses benefícios, benefícios esses que os autores destas iniciativas se esqueceram de realçar.
Como fundamento da apresentação destes projetos de lei, evoca-se que o aumento do IVA aumentou os
custos energéticos para as empresas. Mas, Srs. Deputados, como é do vosso conhecimento, para a
esmagadora maioria das empresas o IVA não é custo.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Não é para todos, então!
O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Srs. Deputados, não tentem dissimular a realidade.
Compreendemos que é uma necessidade de sobrevivência ideológica para alguns grupos parlamentares a
apresentação sistemática de iniciativas parlamentares populistas e, nessa vertente, a baixa de impostos ou o
aumento de benefícios são sempre matérias facilmente vendáveis mediaticamente. Pena é que os mesmos
grupos parlamentares não digam como é possível financiar todas essas ilusões, que tentam fazer acreditar
aos portugueses que podem existir.
A Sr. ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Já disseram!
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O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — No atual momento que o nosso País atravessa, o esforço
estoico que os portugueses estão a efetuar para recuperarem a solvabilidade financeira do País e,
consequentemente, a sua credibilidade internacional, merece e exige a responsabilidade não só do Governo
mas de todos os grupos parlamentares presentes neste Parlamento, sem exceção. Da parte do Governo e dos
grupos parlamentares que o apoiam, é bem evidente a existência desse sentido de responsabilidade; da parte
dos grupos parlamentares da oposição, nem por isso! Esses grupos parlamentares, em vez de estarem ao
lado dos portugueses nesta batalha pela independência financeira do País, preferem, com as suas propostas,
pôr em causa o futuro e adotarem um comportamento permanente de arautos do populismo!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília
Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Analisamos hoje vários
diplomas, projetos de lei e um projeto de resolução. Diria que no caso dos projetos de lei se trata de uma
versão um pouco mais radical e que no caso do projeto de resolução se trata de uma versão um pouco mais
mitigada.
Creio que será óbvio para todos os Srs. Deputados que estamos perante projetos simpáticos, populares. E
diria mais: num mundo ideal e virtual, todos gostaríamos de estar em situação de poder aceitá-los.
Mas, infelizmente, o mundo em que vivemos não é um mundo ideal, nem é, tão-pouco, um mundo virtual; é
um mundo bem real, em que as coisas não são a «preto e branco».
Portanto, vale a pena lembrarmos aqui alguns factos.
Primeiro facto muito relevante: quando se decidiu aplicar esta taxa, que, deva dizer-se, é a taxa normal,
não é a taxa máxima,…
O Sr. Carlos Zorrinho (PSD). — É a taxa máxima!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … foram também criados apoios sociais de monta e que não
existiam, sejam eles o alargamento da tarifa social ao gás, seja ele um apoio social extraordinário ao
consumidor de energia. Isto significa que as famílias que menos têm, as famílias mais carenciadas passaram a
ter um apoio de que não beneficiavam — estamos a falar de 700 000 famílias. Isto não é despiciendo, é uma
opção preferencial por aqueles que menos têm que revela a existência de uma ética social na austeridade por
parte deste Governo.
Segundo facto muito relevante: quando falamos de competitividade das empresas podemos discutir o
impacto de tesouraria, que tem a ver com o facto de a generalidade das empresas pagarem o IVA no
momento e de o deduzirem em momento posterior. Mas, Srs. Deputados, custos são coisas completamente
diferentes. Para a generalidade das empresas, não estamos a falar de custos, quando muito poderíamos estar
a falar de um problema de tesouraria. Portanto, a questão da competitividade não se aplica neste contexto.
Por último, e muito importante, já não vou falar de antecipação. O PS diz que não havia necessidade de ter
antecipado. Srs. Deputados, talvez não houvesse era necessidade de terem deixado o desvio da dimensão
que deixaram na execução orçamental em 2011!
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Já não digo que a execução orçamental fosse rigorosa, mas se fosse
talvez um bocadinho menos atabalhoada talvez este sacrifício das famílias portuguesas não tivesse sido
necessário.
Por último, Srs. Deputados, todos nós gostaríamos de propor variadíssimas medidas que implicam e
implicarão sempre aumento de despesa e todos nós gostaríamos de poder baixar impostos, o que implica
menos receita. Mas essas medidas têm consequências, e é preciso perceber que aquilo que estamos a viver
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hoje é consequência de uma política extraordinariamente errada, seguida ao longo de muito tempo, de
aumentar sistematicamente a despesa do Estado e de não fazer uma consolidação orçamental.
Aplausos do CDS-PP.
O que vivemos hoje é consequência disso mesmo. Portanto, se aquilo que queremos deixar aos nossos
filhos é diferente, convém mudarmos de políticas, e é isso que estamos a fazer.
Tal implica sacrifícios, Srs. Deputados? Com certeza que sim, implica muitos sacrifícios.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Para os grupos económicos nunca há sacrifícios, só benesses!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Gostaria de perguntar aos Deputados do Partido Socialista — é uma
pergunta que me parece fazer bastante sentido —, que apresentam um diploma com uma versão mais
mitigada, para não dizer mesmo envergonhada (e não vou perguntar sobre a execução orçamental, porque já
todos percebemos o que pensam), porque é que propõem a taxa intermédia e não a taxa mínima, como fazem
os diplomas do PCP, do Bloco de Esquerda e de Os Verdes. Os Srs. Deputados, em abstrato, são a favor de
todas as medidas de redução da despesa, mas, de repente, em concreto, não me lembro de nenhuma em
relação à qual sejam, de facto, a favor. São sempre a favor em teoria, mas, depois, na prática, negam tudo.
Em teoria, podem ser a favor de alguns aumentos de impostos, mas, depois, na prática, são sempre contra
todos.
Peço, pois, aos Srs. Deputados do Partido Socialista, que negociaram o Memorando e que previram
receitas pela alteração da tabela de taxas do IVA da ordem das centenas de milhares de euros, já que nunca
foram capazes de referir um produto concreto que mudassem na tabela de taxas, que deem, pelo menos, um
exemplo de uma medida concreta, para não estarmos sempre a debater matérias em que o PS é sempre a
favor do Memorando em abstrato, sendo depois, em concreto, sempre contra. Ou seja, na teoria é sempre a
favor, mas, depois, na aplicação é sempre contra.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para uma nova intervenção, a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada: Creio que no Plenário da Assembleia há já um
relativo cansaço em relação à estratégia utilizada na argumentação da maioria.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
É apresentada pelas bancadas da maioria a ideia de que houve um Memorando assinado pelo Partido
Socialista — partido que foi julgado nas eleições de 2001 — relativamente ao qual os Srs. Deputados não têm
culpa alguma. Mas os senhores estiveram nessa negociação, e depois de assinado o Memorando fizeram uma
campanha eleitoral, em que, em torno desse Memorando, o CDS disse que ia exigir o visto familiar para cada
uma das medidas.
Ora, se no âmbito das empresas a questão do IVA na eletricidade não é assim tão importante, em relação
às famílias o aumento de IVA foi de 17%. Não foi de 2%, não foi de 3%, não foi de 5%, foi de 17%! E isto tem
um impacto imenso!
Mais do que isso, os senhores disseram que estariam contra um saco fiscal a atribuir às famílias e aos
contribuintes.
E o que é disse o Dr. Pedro Passos Coelho em campanha? Disse que os portugueses não aguentavam
mais impostos — e já havia Memorando de Entendimento!
Mas há uma segunda estratégia da parte da maioria, que é a de olhar para a esquerda e dizer que não há
nenhuma proposta política. Vou, pois, pedir ao Sr. Deputado Virgílio Macedo e à Sr.ª Deputada Cecília
Meireles que peguem numa caneta e num papel e escrevam cuidadosamente, para não termos de voltar a
falar disto: «Cortar na dívida e nos juros». Não ponham portugueses a viver à luz da vela, a pagar um IVA de
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eletricidade como se fosse um bem de luxo, porque é necessário pagar a credores institucionais. Cortem na
dívida e nos juros! Espero que esta conversa esteja terminada de uma vez por todas.
Há uma coisa que os portugueses não compreendem: não compreendem que os senhores, nesta Câmara,
estejam dispostos a dizer tudo, menos a responder a todas as famílias, para quem a conta do gás e a conta da
eletricidade é hoje um problema, pois a cada mês não sobra salário para pagar esta conta.
Srs. Deputados, temos famílias a viver às escuras. É a estas famílias que os senhores têm de responder, e
não aos credores internacionais.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, propusemos hoje aqui a redução do IVA na
eletricidade e no gás natural para 6%. Mas o aumento da taxa do IVA é apenas um dos fatores responsáveis
pelo aumento dos preços destes bens essenciais; o outro fator é o da liberalização do mercado de energia.
Anteontem, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) apresentou um relatório que revela,
claramente, um aumento das tarifas de eletricidade desde o início do processo de transição para o mercado
liberalizado, em junho de 2012.
Este aumento não nos surpreende, pois há muitos anos que vimos denunciando que a liberalização dos
mercados em setores com características próximas de monopólios naturais resulta sempre num aumento dos
preços para os consumidores.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Esta é uma questão que tem de ser devidamente analisada e escrutinada na
Assembleia da República, razão pela qual o PCP apresentou um requerimento para que o Presidente da
ERSE, a DECO e o Secretário de Estado da Energia sejam ouvidos na Comissão de Economia e Obras
Públicas.
Esperamos, pois, que a maioria parlamentar não crie entraves a estas audições e possibilite à Assembleia
da República uma análise criteriosa das consequências da liberalização dos mercados de energia.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Hortense
Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr.ª Presidente, gostaria de dizer ao Sr. Deputado do PSD que não
aceito o seu epíteto de populista. Não aceito! O Partido Socialista sempre teve aqui, neste Parlamento — e no
Governo, diga-se —, uma atitude responsável.
Pergunto: qual é a política de energia deste Governo? Não se conhece! Olhe para este gráfico, que é a
cores, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, e este gráfico resulta de uma notícia que diz que o País está a ser
abastecido há mais de seis dias, desde o dia 27, através das energias renováveis — eólica e hídrica…
Aplausos do PS.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — E quanto é que isso custa? Isso é que custa caro!
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — … — e isso resulta da política do Governo anterior, de José Sócrates! Tal
significa diminuir a nossa dependência dos combustíveis fósseis, que é o único caminho para diminuirmos os
custos.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Só aumenta os custos!
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A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Por outro lado, queria dizer que a vossa posição, infelizmente, é a de
estarem cegos perante as propostas da oposição. Acaso descobriram petróleo em Portugal? É essa a vossa
política alternativa?
Srs. Deputados, sejam sérios e, de uma vez por todas, pensem que os partidos da oposição também aqui
estão para apresentar propostas de forma responsável, para as quais os senhores deviam olhar com maior
atenção.
Por último, queria acrescentar que o projeto de resolução do PS também refere algo que não é de menor
importância e que tem a ver com a harmonização no gás butano vendido a retalho. A nossa proposta é no
sentido de que o Governo fixe uma taxa única de IVA para o gás natural e engarrafado — e é sobretudo no
interior que se verifica esta divergência, que penaliza as populações, por isso apelamos à vossa consciência
para votarem favoravelmente o nosso projeto de resolução.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, terminada a discussão, na generalidade, dos
projetos de lei n.os
352/XII (2.ª), 381/XII (2.ª) e 386/XII (2.ª), conjuntamente com o projeto de resolução n.º
666/XII (2.ª), vamos passar ao quarto e último ponto da ordem dia de hoje, que consiste na discussão do
projeto de lei n.º 376/XII (2.ª) — Estabelece o encerramento dos estabelecimentos de venda ao público e de
prestação de serviços nos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro, alterando o
Decreto-Lei n.º 48/96, de 15 de maio, modificado pelo Decreto-Lei n.º 126/96, de 10 de agosto, pelo Decreto-
Lei n.º 216/96, de 20 de novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 111/2010, de 15 de outubro (Os Verdes).
Para apresentar o diploma, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Depois do que se passou
no ano passado, no dia 1 de maio, com a cadeia de supermercados Pingo Doce — todos estamos lembrados,
não vale a pena estar a relembrar a afronta feita por aquele grupo económico e a falta de vergonha pelo que
se passou —, Os Verdes anunciaram, na altura, que iriam apresentar um projeto para que estas cadeias,
designadamente estas superfícies comerciais, não abrissem no dia 1 de maio.
Ora, Sr.as
e Srs. Deputados, decretar um feriado é reconhecer a grande importância de um determinado dia
para a sociedade. É por isso que aos feriados, por norma, são associados festejos coletivos que assinalam os
acontecimentos que nesse dia se pretendem enaltecer ou fazer perdurar, não apenas em memória mas
também em vivência coletiva.
Nesses dias não é, portanto, aceitável que não se promovam as condições necessárias aos cidadãos para
participarem em invocações ou celebrações do dia feriado da forma que entenderem.
O certo é que o modelo economicista e verdadeiramente alucinante que se tem vindo a impor à sociedade,
conjugado com a alteração da legislação laboral, que tem como consequência, entre outras, a desregulação
de horários e de dias de trabalho, leva a que, em certos setores de atividade, como o do comércio, já não se
consigam distinguir os dias úteis dos fins de semana ou dos dias feriados, na medida em que,
designadamente, as grandes superfícies comerciais assumem um horário de funcionamento bastante alargado
e não respeitador de dias de descanso.
É uma prática desrespeitadora dos direitos dos trabalhadores por não lhes promover os devidos dias de
descanso e a compatibilização desses dias com os dias normais de descanso, impedindo, muitas vezes, o
encontro familiar. Para além disso, é uma prática penalizadora do pequeno comércio que não assume
condições para um funcionamento quase permanente, criando-se, portanto, condições de concorrência
bastante diferenciadas.
De resto, justamente para proteger o pequeno comércio, Os Verdes já apresentaram, nesta Legislatura,
uma iniciativa que limitava os horários das grandes superfícies comerciais, estipulando o seu encerramento
aos domingos e feriados, mas, infelizmente, o PSD, o CDS e o PS votaram contra esta iniciativa de Os
Verdes.
Todavia, o presente projeto de lei de Os Verdes tem um objetivo diferenciado daquele outro que já
tínhamos apresentado, pois destina-se agora — e apenas — a quatro feriados, com a consciência da
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importância que as pessoas assumem no assinalar desses feriados e, igualmente, a importância que eles
assumem para as pessoas.
Assim, o que os Verdes propõem é que, nos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril, 1 de Maio e 25 de
Dezembro, os estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços encerrem.
Consideram Os Verdes que é justo e devido dar condições aos trabalhadores portugueses para poderem
integrar as suas celebrações e festejos e, dessa forma, deve estipular-se o encerramento dos
estabelecimentos de venda ao público e prestação de serviços nestes dias referidos.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cláudia
Monteiro de Aguiar.
A Sr.ª Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto de lei que
hoje aqui debatemos sobre o encerramento de estabelecimentos de venda ao público e de prestação de
serviços nos feriados nacionais merece, desde logo, a nossa discordância.
Justificar que a desregulação dos horários e dias de trabalho, nomeadamente no sector do comércio, e em
específico nas grandes superfícies comerciais, induz a uma falta de respeito para com os trabalhadores é,
além de uma visão redutora, uma justificação demagógica.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD): — Deputada, sejamos claros na análise e honestos nas
propostas que queremos efetivamente ver debatidas. E ser honesto na análise é precisamente reconhecer que
a regulação e as regras laborais, nomeadamente no que concerne à duração de trabalho, já se encontram
plasmadas na lei.
Importa, neste sentido, clarificar que tanto a duração do horário de trabalho como o período de descanso
dos trabalhadores estão salvaguardados, quer nos contratos de trabalho individuais quer nos contratos de
trabalho coletivos, independentemente do horário praticado pelos estabelecimentos comerciais.
Para o PSD, nunca a abertura dos estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços nos
feriados põe em causa o desrespeito pelos direitos dos trabalhadores; o que, de facto, acontece é que a
prestação de serviços nas referidas datas pretende, sobretudo, dar resposta às necessidades dos
consumidores.
A lei em vigor, sejamos sérios, traz benefícios para os consumidores ao nível da conveniência dos horários,
diversidade na oferta e até no que diz respeito à competitividade de preços.
O PSD não é alheio às dificuldades sentidas pelo comércio tradicional, as mesmas que são sentidas,
atualmente, pela generalidade do comércio e distribuição, consequência, claro está, do quadro económico em
que Portugal se encontra. Mas não nos parece, de todo, que a aplicação de um protecionismo do horário de
funcionamento, tal qual nos apresentam Os Verdes, seja a solução.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD): — Aliás, contrariamente ao que defendem Os Verdes, a
abertura dos estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços nos referidos feriados só traz
mais vantagens, dada a existência de uma maior disponibilidade e apetência por parte dos consumidores para
visitarem o comércio e, dessa forma, contribuírem para uma maior receita nesses mesmos dias.
Sr.as
e Srs. Deputados: Os tempos mudaram e, precisamente, por isso é urgente que nos adaptemos ao
presente e, neste caso em concreto, é importante ir ao encontro das necessidades dos consumidores,
reafirmo, proporcionando-lhes uma oferta mais diversificada em termos de tempo, preços e comodidade.
É oportuno acrescentar que, as recentes alterações ao Código de Trabalho, que eliminaram quatro dos
feriados nacionais, têm por objetivo o aumento da produtividade e, consequentemente, um contributo para a
economia nacional.
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Assim sendo, não faz sentido apoiar o presente projeto de lei, que não só não vai ao encontro desse
mesmo objetivo como não tem qualquer impacto positivo na criação de emprego.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto de lei que hoje nos
é apresentado pelo Partido Ecologista «Os Verdes», embora com a diferença que foi bem explicitada, no
essencial, é muito semelhante ao que debatemos há cerca de um ano.
Também pelo que já vimos do debate, as posições políticas dos diferentes partidos não se alteraram e a do
Partido Socialista também não se alterou — nós defendemos a estabilidade legislativa nesta área. Mas é
sempre bom revisitarmos o tema e o que foi debatido há um ano, porque o que foi dito há um ano está bem
presente e ajustado aos dias de hoje.
Há um ano dizíamos que o tema era relevante (e continua a ser), porque todos os temas económicos
deviam estar na agenda política do Parlamento e da sociedade e estavam na agenda política e no centro da
ação política do Partido Socialista; há um ano já dizíamos, a propósito deste mesmo tema, que tínhamos uma
dicotomia entre as finanças e a economia, tendo o Governo de Portugal sido dominado pela vertente
financeira, que acrescentava austeridade à austeridade, e que não tínhamos tido uma política de crescimento
económico, de desenvolvimento e de promoção do emprego.
Este diagnóstico feito há um ano não mudou. Antes pelo contrário, as condições da economia portuguesa,
de destruição de vários setores, de destruição do pequeno comércio agravaram-se.
Também por isso, há um ano fizemos referência a várias medidas que o Partido Socialista tinha vindo a
apresentar. Seria fastidioso voltar a referi-las agora, pois, ainda ontem, tivemos um debate em que muitas e
muitas propostas do Partido Socialista foram, mais uma vez, recordadas e apresentadas, masque, mais uma
vez, a maioria insiste em ignorar.
Defendemos sempre, e temo-lo defendido desde há ano e meio, que a economia devia estar no centro das
preocupações, que o crescimento económico, o desenvolvimento e o fomento do emprego deviam estar acima
da paixão pela austeridade, da austeridade pela austeridade, que tem agravado a recessão. Também por essa
razão as políticas de proximidade têm um papel importante e fundamental, porque as autarquias também
devem ter política económica. É por isso que, nesta matéria, não mudámos de ideias: consideramos que as
autarquias devem continuar a ter o papel que têm tido.
A legislação em vigor acrescenta um quadro de deliberação descentralizada que atende à vivência em
comunidade no âmbito da qual as autarquias podem adotar os horários e adaptá-los de acordo com os hábitos
de consumo da sua comunidade, tendo em atenção os direitos e os hábitos dos consumidores. Entendemos
que as autarquias — e não mudámos de opinião, porque defendemos essa estabilidade legislativa — não
devem ser substituídas, neste domínio, assim como noutros, por organismos da administração central.
Há um ano, e para terminar, Sr.ª Presidente, já dizíamos que o pequeno comércio tinha muitos problemas,
mas não é este projeto de lei e esta medida que permiti resolvê-los; dizíamos também que o Ministério da
Economia andava mal, porque precisava de ter outra política ao nível da concorrência, ao nível da regulação,
ao nível de apoios e estímulos à sua reconversão e à sua modernização; e defendíamos, ainda, que os
centros das cidades precisavam de ser revitalizados com impacto no comércio e, também por isso, temos
defendido um programa de reabilitação urbana, de aproveitamento dos fundos comunitários e de eficiência
energética.
Passou um ano e, se o Ministério da Economia andava mal, continuou mal e nada foi feito. Agravou-se o
problema com a recessão, agravou-se o problema com a lei do arrendamento (com grandes impactos),
aumentaram as falências, os encerramentos e o desemprego.
O Sr. Secretário de Estado Almeida Henriques dizia esta semana, num seminário muito interessante da
Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, que, antes de sair — porque ele está de saída —, ainda
queria ver se fazia qualquer coisinha, porque esta área já passou por dois ou três secretários de Estado.
Perdemos muito tempo, um tempo em que nada foi feito…
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, tem mesmo de concluir.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — … e que não se recupera.
Em suma: já está de saída o Sr. Secretário de Estado, já está de saída o Sr. Ministro Miguel Relvas e já é
tempo de sair todo o Governo.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, queria começar por saudar o Grupo
Parlamentar Ecologista «Os Verdes» pelo projeto que apresenta hoje, pois creio que ele responde a uma
situação que se agrava crescentemente, de ano para ano, na sociedade portuguesa sobre a questão do
usufruto de datas simbólicas para uma comunidade política.
É isso que os feriados são. São momentos fundamentais, constituintes da nossa identidade partilhada e
que, nesse sentido, são assinalados por esta ideia de que neste momento, nestes dias e nestas datas, todos
os cidadãos, todos os habitantes têm a disponibilidade para fazer a celebração dessa data específica, do
momento que nessa altura é celebrado, seja o Natal, o Ano Novo, o momento revolucionário que instituiu o
nosso regime democrático ou o Dia do Trabalhador, mas também o momento em que muitos concidadãos
aproveitam para partilhar com a sua família um momento de lazer e de um outro tipo de vivência ou usufruto
cultural.
Creio que é neste aspeto de cidadania, de celebração comunitária que estes feriados têm de ser
respeitados. E as regras que aqui são definidas e apresentadas por Os Verdes parecem-nos um bom caminho
exatamente porque estabelecem esta ideia de pertença de todos os trabalhadores à comunidade no momento
em que se celebra. Este é o respeito por todos aqueles que, em todos os outros dias, trabalham e contribuem
para a riqueza comum e para a construção da nossa sociedade.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Há, depois, um outro aspeto, o do efeito económico de uma medida deste tipo
que faz a proteção do pequeno comércio, do comércio de proximidade, que é fundamental no perfil económico
que temos na sociedade portuguesa.
Portanto, este projeto é bom nos dois sentidos, pelos dois caminhos que aqui vai enumerando.
Em relação às reações dos partidos que até agora intervieram, começo pelo Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo, que disse tanta coisa que me levou a pensar que o Partido Socialista, sobre esta matéria, diz
«não» mas «também» — e é pena! É pena porque, neste momento, poderia ter ido um pouco mais além e ter
assumido a defesa de datas — e não se trata de um conjunto muito alargado de feriados — que são
absolutamente estruturantes na celebração da identidade da nossa comunidade política.
Também fiquei a saber algo de novo sobre a Sr.ª Deputada Cláudia Monteiro de Aguiar, que diz que o
estabelecimento de impedimentos ao trabalho e à abertura de estabelecimentos nesta altura é totalmente
inusitada e inexplicável. Portanto, esta ideia de que há momentos e datas relativamente às quais os
trabalhadores não devem ser obrigados a cumprir serviços e a trabalhar, não faz sentido para a Sr.ª Deputada.
Assim, fiquei a saber que a Sr.ª Deputada Cláudia Monteiro de Aguiar estará disponível para trabalhar, na
Assembleia da República ou noutro sítio qualquer, no dia de Natal, no dia de Ano Novo, no 25 de Abril e no 1.º
de Maio.
Protestos da Deputada do PSD Cláudia Monteiro de Aguiar.
Então, é isso… Então, para si, esses feriados vão valer, para os outros trabalhadores, trabalhadores das
grandes superfícies, dos hipermercados, que já têm contratos precários num contexto de desemprego, a
senhora entende que não devem existir regras. Para si haverá regras, para os outros é que não!
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Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente. Sr.as
e Srs. Deputados: Começo por agradecer à Sr.ª
Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia o facto de ter trazido novamente esta matéria a Plenário, embora
com diferentes roupagens.
Começo logo por esclarecer um equívoco que parece que lavra neste Plenário, que é o de que esta medida
não se destina ao encerramento das grandes superfícies. Não! Na iniciativa refere-se «os estabelecimentos de
venda ao público e de prestação de serviços, incluindo os localizados em centros comerciais». Ou seja, é para
tudo — o tal pequeno comércio, que os senhores dizem que esta medida ia proteger, também encerra.
Vozes do CDS-PP: — É verdade!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Já encerra! Já encerra!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Encerra porque quer.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Seja sério!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, agradeço-lhe ter trazido este tema porque
permite, mais uma vez, clarificar as águas, esclarecer posições e mostrar onde é que estamos.
No momento que o País atravessa, em que a economia está mal, em que sabemos que é nesses dias
precisamente que o pequeno comércio, o comércio a retalho, esteja dentro ou fora das grandes superfícies,
mais fatura, porque a população, beneficiando do feriado, os milhões de portugueses que não trabalham na
área do comércio e que, nesse dia, têm uma efetiva folga, aproveitam para passear e gastar um pouco mais.
Ora, é nesses dias especiais que os senhores querem encerrar e comprometer até a viabilidade de muitos
estabelecimentos e de milhares de postos de trabalho!?
Em zonas, por exemplo, como o Algarve, o cumprimento desta iniciativa conduziria, eventualmente, ao
encerramento, à ruína e à perda de postos de trabalhos de centenas de estabelecimentos.
Vozes do CDS-PP: — Claro!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — E, tal como o Algarve, há outras zonas no País.
Outra questão que agradeço que clarifiquem é a forma como, com esta iniciativa, defendem os direitos dos
trabalhadores, porque esta é uma matéria que está regulada na lei do trabalho, nomeadamente estabelecendo
que os trabalhadores que trabalhem nestes dias têm direito a remuneração acrescida — e muitos
trabalhadores, face às dificuldades que atravessam, aproveitam para, precisamente nesses dias, terem um
extra de remuneração.
Protestos do BE.
Mas os senhores vêm dizer: «Encerrem, fechem, está proibido! Mesmo que queiram trabalhar e ganhar
mais, estão proibidos porque nós não permitimos».
Em segundo lugar, esta iniciativa mostra o respeito que têm pela autonomia local, pelas autarquias, pelo
poder local… É que, como sabem, esta matéria da abertura das grandes superfícies nestes dias, aos
domingos e aos feriados, é regulada pelas próprias autarquias, pelas câmaras, não é regulada por lei do
Estado! Mas os senhores querem que o Estado imponha às autarquias como gerir o território e como decidir,
dentro do seu território, qual a melhor altura para abrir e fechar.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
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O Sr. Deputado Jorge Machado está todo entusiasmado!
Deixava aqui esta sugestão: apanhamos todos o cacilheiro para a margem sul, vamos visitar as autarquias
da CDU e ver nos regulamentos municipais quais são as grandes superfícies que estão encerradas nesses
dias. Vamos lá ver isso!
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Por outro lado, os senhores «enchem a boca» para falar dos direitos dos trabalhadores, que tanto
respeitam, e querem, por via administrativa, impor uma limitação àquele que deve ser o primeiro direito de
qualquer trabalhador: o direito ao trabalho. Isto é, o direito de o trabalhador, quando quer trabalhar, poder
trabalhar!
Já basta aqueles que hoje, infelizmente, na situação em que o País se encontra — e são muitos — que,
querendo trabalhar, não podem; agora, aqueles que ainda têm emprego e querem trabalhar serem proibidos
de trabalhar porque os senhores administrativamente assim o decidem, é extraordinário!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado Artur Rêgo, já não tem tempo para mais
considerandos.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, termino já, deixando um último considerando: gostaria que
me explicassem o porquê desta seleção de feriados que as pessoas devem respeitar. É que, tirando o dia de
Natal, todos os outros feriados que propõem, que têm de ser respeitados pela sua solenidade, são laicos.
Onde está o vosso respeito pelos feriados católicos, uma vez que a maioria dos portugueses é católica? Não
têm de descansar também aí?
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge
Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, realmente, a democracia-cristã do CDS-
PP está na «rua da amargura», mas já lá irei!
Queríamos começar por saudar e acompanhar o projeto de lei de Os Verdes, que prevê a proibição de
abertura no comércio nos dias 1 de Janeiro, 25 de Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro. Estas não são datas
quaisquer, são datas de uma importância vital para a memória coletiva e que merecem o nosso respeito.
O PCP tem, aliás, uma posição de fundo que é mais abrangente — que Os Verdes também
acompanharam e propuseram, no passado — e que inclui a proibição da abertura das grandes superfícies aos
domingos e feriados nacionais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Oiça, Sr. Deputado Artur Rêgo! Oiça a resposta à sua pergunta!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — E o fundamento desta posição não se prende apenas com razões
económicas, de concorrência desleal para com o pequeno comércio, porque o pequeno comércio é obrigado a
fechar. Muitas vezes, o patrão é também ele o empregado e, naturalmente, não pode trabalhar nesses dias
porque quer, legitimamente, estar com a sua família. O mesmo não acontece nas grandes superfícies cujas
vozes agora se ouvem novamente. A nossa proposta fundamenta-se, também, por motivos sociais, isto é, o
direito ao descanso, o direito ao lazer e o direito a estar com a família por parte dos trabalhadores —
curiosamente, nenhum destes argumentos foi invocado quer pelo PSD quer pelo CDS-PP, que «enchem a
boca» relativamente à família, mas, quando chega a hora h, ficam-se pelas calendas gregas.
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Assim, o projeto de lei de Os Verdes é muito pertinente. Há cada vez mais estabelecimentos a abusar,
mais estabelecimentos que abrem nestes dias e é importante pôr um travão nesta realidade.
Queria salientar que os trabalhadores das grandes superfícies sentem muito as dificuldades da articulação
da vida pessoal com a vida familiar, e esta é uma realidade que importa denunciar. Estes trabalhadores têm
direito a descansar nestes dias, têm direito a celebrar e a comemorar estas datas, como têm direito a estar
com as suas famílias.
Parece-me verdadeiramente extraordinária a argumentação do PSD e do CDS-PP.
O PSD e o CDS-PP vêm dizer-nos que os horários de trabalho estão regulamentados no Código do
Trabalho — rica novidade! Escusavam de o dizer, porque já todos o sabem.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Não parece!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mas o que dizem é que, por mão do PSD e do CDS-PP — também com a
ajuda do Partido Socialista —, houve uma profunda desregulamentação dos horários de trabalho, com as
adaptabilidades, com os bancos de horas, com tudo, tudo, a desregulamentar a vida dos trabalhadores!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Em 1918, Srs. Deputados, a OIT determinou oito horas para trabalhar,
oito horas para descansar e oito horas para o lazer, para estar com a família. Ora, os vossos retrocessos vão a
essa data, porque impõem horários de trabalho bem superiores a este, num retrocesso verdadeiramente
inaceitável.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Mais: dizem que os feriados são regulamentados e que os valores são pagos quando se trabalha nesses
dias. Só que a primeira coisa que fizeram — o PSD e do CDS-PP — foi alterar o Código do Trabalho, para
reduzir o valor pago nos dias de trabalho em feriado. Portanto, é uma profunda hipocrisia.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Queria, ainda, deixar um alerta: o CDS-PP terá, necessariamente, de
rever a sua sigla, já não pode ser o partido da democracia-cristã, uma vez que de cristã pouco tem!
Efetivamente, para o CDS está bem trabalhar no primeiro dia do ano, trabalhar no dia 25 de Abril e no dia 1 de
Maio, como está bem trabalhar no dia de Natal, o que é verdadeiramente inaceitável e não deixa de ser
caricato.
O CDS-PP chegou ao ponto — e o PSD também — de sobrepor os interesses económicos aos supostos
valores que enuncia.
Para terminar, no que diz respeito às autarquias, importa lembrar que essa é uma falta de coragem por
parte do PS, do PSD e do CDS-PP, pois, em vez de assumirem uma posição clara relativamente a esta
matéria e fixarem quando é que podem ou não encerrar estes estabelecimentos, atiram as culpas para as
autarquias, colocando-as numa posição delicada que não podem assumir!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Oiça, oiça!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mais: na margem sul, que tanto aqui foi evocada, houve iniciativas de
impor o condicionamento da abertura do comércio aos domingos e feriados e as mesmas grandes superfícies
interpuseram ações em tribunal, com base na vossa lei, para permitir a abertura ao comércio.
Portanto, tenham mais cuidado quando falam, e não falem assim.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, Queira fazer o favor de concluir.
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O Sr. Jorge Machado (PCP): — Concluo já, Sr.ª Presidente.
Com a anuência de V. Ex.ª, queria ainda dizer que, ao contrário do que aqui foi dito, nesta lei não estão em
causa os benefícios para os consumidores, como a Sr.ª Deputada do PSD referiu. O que se ouviu aqui, por
parte do PSD, do CDS-PP e do PS, foi a voz dos grandes grupos económicos a falar.
Risos do PSD e do CDS-PP.
Isto só interessa aos grandes grupos económicos, não interessa a mais ninguém!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Penso que a discussão
deste projeto teve alguma utilidade, para que ficassem registadas em Ata da Assembleia da República as
intervenções que os diferentes grupos parlamentares aqui fizeram. E falou a Sr.ª Deputada Cláudia Aguiar de
demagogia, mas, quando as pessoas lerem a Ata, sentirão bem a origem da demagogia das intervenções que
aqui foram feitas.
Não sei se o PS e o CDS combinaram, mas o PSD decidiu orientar a sua intervenção para os direitos dos
consumidores e o CDS para os direitos dos trabalhadores.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas não falou da família!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ora, Sr.ª Deputada Cláudia Aguiar, então, é muito importante que
os estabelecimentos comerciais estejam abertos 24 horas por dia, para garantir os direitos dos
consumidores?! E pergunto à Sr.ª Deputada: eu, como consumidora, se quiser, tenho direito a consumir
depois das 24 horas?! Então, desculpe, Sr.ª Deputada, faça favor de tomar a iniciativa para que os
estabelecimentos comerciais estejam abertos 24 horas por dia! É isto que a Sr.ª Deputada quer dizer!
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Sr.ª Deputada, por que carga de água é que os estabelecimentos comerciais estão encerrados no Dia de
Natal?! Porquê?! A Sr.ª Deputada acha isso mal, porque as pessoas, quando recebem as prendas, no dia 24,
querem logo, no dia 25, ir fazer a troca de prendas ou levantar os vales, não é, Sr.ª Deputada?! Não querem
esperar pelo dia 26?! Esta caricatura serve para quê? Para demonstrar a demagogia da intervenção da Sr.ª
Deputada.
Protestos do PSD.
Ouça, Sr.ª Deputada: os consumidores portugueses são mais inteligentes do que a Sr.ª Deputada quer
fazer crer.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — E do que a Sr.ª Deputada, também!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Os consumidores portugueses adaptam-se muito bem, como
noutros países, aos horários dos estabelecimentos comerciais…
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … e, quando sabem que têm de fazer compras até às 19 horas,
fazem compras até às 19 horas, e, quando sabem que, aos domingos, os estabelecimentos comerciais estão
encerrados, não fazem compras aos domingos.
Sabe o que é que os consumidores portugueses gostavam, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, queira concluir.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Sabe o que é que os consumidores portugueses gostavam? Gostavam que a Sr.ª Deputada votasse a favor
dos projetos que foram discutidos anteriormente e que, por exemplo, baixasse o IVA em muitos dos produtos
que os consumidores têm de adquirir. Entende, Sr.ª Deputada?! Crie condições para que os consumidores
possam ser consumidores, fundamentalmente em relação aos bens essenciais.
Para terminar, Sr. Deputado Artur Rêgo, relativamente à questão do descanso, é muito importante que os
senhores tenham em conta que as pessoas têm vivências familiares e as vivências familiares não se
coadunam com a desregulação dos horários das pessoas que integram a família.
O Sr. Deputado diz assim: «Então, os trabalhadores, agora, querem trabalhar mais para ganharem mais
aos feriados e aos domingos». Olhe, Sr. Deputado, tenho de o informar de uma coisa que, provavelmente, o
Sr. Deputado já sabe: há tantos, tantos trabalhadores no comércio que não ganham nem mais 1 € pelo facto
de trabalharem ao domingo e ao feriado!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — É verdade!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Deputado, por favor, demagogia, não!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Encaremos a realidade tal qual ela é, está bem, Sr. Deputado?!
Em relação a estes quatro feriados de que Os Verdes falam, na verdade, verdadinha,…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, já ultrapassou, largamente, o tempo de que dispunha.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … dois deles já têm praticamente instalado o regime que Os
Verdes propõem, que são os de 25 de dezembro e 1 de janeiro. Esse regime já está instalado, Sr. Deputado!
Nós só queremos alargar esse regime ao 25 de Abril e ao 1.º de Maio, porque o dia 1 de maio é o Dia do
Trabalhador e, quanto ao dia 25 de Abril, não há praticamente nenhuma autarquia, por esse País fora, que não
o celebre, mas os trabalhadores não o podem celebrar, porque os põem a trabalhar.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, fica, assim, concluído este debate e o último ponto
da nossa ordem de trabalhos.
A próxima sessão plenária realizar-se-á amanhã, às 10 horas, e estará na ordem do dia o debate quinzenal
com o Primeiro-Ministro, sobre economia social, ao abrigo da alínea a) do n.º 2 do artigo 224.º do Regimento
da Assembleia da República. Haverá, ainda, votações regimentais no final do debate.
Está encerrada a sessão.
Eram 19 horas e 14 minutos.
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.