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Quinta-feira, 14 de maio de 2015 I Série — Número 85

XII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2014-2015)

REUNIÃOPLENÁRIADE13DEMAIODE 2015

Presidente: Ex.ma Sr.ª Maria da Assunção Andrade Esteves

Secretários: Ex.mos

Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Rosa Maria da Silva Bastos de Horta Albernaz

S U M Á R I O

A Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 11

minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de

resolução n.os

1457 a 1462/XII (4.ª), dos projetos de lei n.os

897 e 898/XII (4.ª) e das propostas de lei n.

os 324 a 327/XII

(4.ª). Foi aprovado um parecer da Comissão para a Ética, a

Cidadania e a Comunicação autorizando a suspensão temporária do mandato de um Deputado do PCP e respetiva substituição.

Em declaração política, o Deputado Bruno Dias (PCP) insurgiu contra o Governo por, na fase final do mandato, querer privatizar a EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) e a CP Carga, bem como a TAP, e responsabilizou-o de ser o principal fator de desestabilização da TAP. Respondeu, depois, aos Deputados Nuno Filipe Matias (PSD), Hélder Amaral (CDS-PP), Pedro Filipe Soares (BE) e Rui Paulo Figueiredo (PS).

Em declaração política, a Deputada Mariana Mortágua (BE) mostrou-se contra os processos de privatização que estão a ser levados a cabo pelo Governo e deu, depois,

resposta aos Deputados Hélder Amaral (CDS-PP), Afonso Oliveira (PSD), João Paulo Correia (PS) e Bruno Dias (PCP), tendo o Deputado Hugo Lopes Soares (PSD) solicitado a distribuição de documentos.

Em declaração política, a Deputada Nilza de Sena (PSD) criticou propostas apresentadas pelo PS para o crescimento por serem um regresso ao passado, contrapondo-as com as propostas do Governo. No fim, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados João Galamba (PS) e Cecília Meireles (CDS-PP).

Em declaração política, o Deputado Vieira da Silva (PS), a propósito de um documento aprovado no ECOFIN acerca da evolução da demografia, defendeu a recuperação da economia tendo em vista a criação de emprego e o desenvolvimento, após o que respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Cecília Meireles (CDS-PP), Pedro Filipe Soares (BE), Rita Rato (PCP) e Adão Silva (PSD).

Em declaração política, a Deputada Teresa Caeiro (CDS-PP) congratulou-se com o anúncio do Ministério da Saúde no sentido de a vacina antipneumocócica Prevenar ir

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integrar o Programa Nacional de Vacinação, tendo, depois, respondido aos Deputados Laura Esperança (PSD), Luísa Salgueiro (PS), Helena Pinto (BE) e Paula Santos (PCP).

Foi discutido o projeto de resolução n.º 1439/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo medidas de prevenção e eliminação de práticas de violência policial e racismo (BE). Proferiram intervenções os Deputados Cecília Honório (BE), Telmo Correia (CDS-PP), Jorge Lacão (PS), Maria Paula Cardoso (PSD) e António Filipe (PCP).

Procedeu-se ao debate conjunto dos projetos de resolução n.

os 1217/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo que

assegure aos consumidores a devida informação sobre a tarifa social de energia e o apoio social extraordinário ao consumidor de energia (PS) e 1462/XII (4.ª) — Garante o pleno acesso à eletricidade e ao gás por parte das famílias com dificuldades económicas (BE). Intervieram os Deputados Hortense Martins (PS), Mariana Mortágua (BE), Hélder Amaral (CDS-PP), Bruno Dias (PCP) e Afonso Oliveira (PSD).

O Presidente (Guilherme Silva) encerrou a sessão eram 18 horas e 32 minutos.

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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, Srs. Jornalistas, está aberta a sessão.

Eram 15 horas e 11 minutos.

Podem ser abertas as galerias.

Antes de entrarmos na ordem do dia, vou dar a palavra ao Sr. Secretário, Deputado Duarte Pacheco, para

fazer o favor de ler o expediente.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e

foram admitidas pela Sr.ª Presidente, as seguintes iniciativas legislativas: projetos de resolução n.os

1457/XII

(4.ª) — Alteração aos mecanismos de afetação da área elegível de baldios para acesso a ajudas comunitárias

(PCP), que baixa à 7.ª Comissão, 1458/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão da classificação

atribuída em PDM ao espaço entre as localidades Birre, Aldeia de Juzo e Areia (Cascais) enquanto o risco de

cheia não for avaliado pela ANPC (BE), que baixa à 11.ª Comissão, 1459/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo

a urgente e completa resolução dos problemas ambientais em São Pedro da Cova (PCP), que baixa à 11.ª

Comissão, 1460/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo a avaliação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto,

nomeadamente no que respeita ao alargamento do quadro de competências, modalidades e financiamento

dos gabinetes de informação e apoio no âmbito da educação para a saúde e educação sexual (PS), que baixa

à 8.ª Comissão, 1461/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo a suspensão imediata dos procedimentos para a

concessão de caulinos em Soure e Pombal (BE) e 1462/XII (4.ª) — Garante o pleno acesso à eletricidade e ao

gás por parte das famílias com dificuldades económicas (BE).

Deram também entrada na Mesa os projetos de lei n.os

897/XII (4.ª) — Primeira alteração à Lei n.º 9/2008,

de 19 de fevereiro, que regula o exercício do direito de associação pelo pessoal da Polícia Marítima, nos

termos da Lei n.º 53/98, de 18 de agosto (PCP), que baixa à 3.ª Comissão, e 898/XII (4.ª) — Código

Cooperativo (PSD e CDS-PP.

Deram, ainda, entrada na Mesa as proposta de lei n.os

324/XII (4.ª) — Procede à terceira alteração à Lei n.º

112/2009, de 16 de setembro, que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica,

à proteção e à assistência das suas vítimas, que baixa à 1.ª Comissão, 325/XII (4.ª) — Procede à trigésima

sétima alteração ao Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de setembro, transpondo

integralmente as Diretivas 2008/99/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro de 2008,

relativa à proteção do ambiente através do direito penal, e 2009/123/CE, do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 21 de outubro de 2009, que altera a Diretiva 2005/35/CE, relativa à poluição por navios e à

introdução de sanções em caso de infrações, que baixa à 1.ª Comissão, 326/XII (4.ª) — Aprova o novo regime

jurídico do acesso e exercício da atividade seguradora e resseguradora, bem como os regimes processuais

aplicáveis aos crimes especiais do sector segurador e dos fundos de pensões e às contraordenações cujo

processamento compete à Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, transpondo a Diretiva

2009/138/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro de 2009, que baixa à 5.ª Comissão,

e 327/XII (4.ª) — Define as regras do financiamento das associações humanitárias de bombeiros, no

continente, enquanto entidades detentoras de corpos de bombeiros, que baixa à 1.ª Comissão.

Sr.ª Presidente, vou ainda dar conta de um relatório e parecer da Comissão para a Ética, a Cidadania e a

Comunicação, o qual foi aprovado por unanimidade na Comissão e tem de ser votado de imediato.

A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — O relatório da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação

refere-se à substituição, ao abrigo da alínea b) do n.º 2 do artigo 5.º do Estatuto dos Deputados, invocando o

exercício de licença parental, do Deputado Jorge Machado (PCP), eleito pelo círculo eleitoral do Porto, sendo

substituído em virtude do impedimento dos candidatos que se lhe seguiam na respetiva lista, por Maria de

Lurdes Monteiro Ribeiro, primeira candidata não eleita, com efeitos a partir de 12 de maio, inclusive.

O parecer é no sentido de a substituição temporária requerida pelo Sr. Deputado Jorge Machado deve ser

autorizada ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 5.º do Estatuto dos Deputados e que a vaga

resultante da suspensão do mandato, determinada pelo disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º do Estatuto

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dos Deputados, deverá ser preenchida por Maria de Lurdes Monteiro Ribeiro a partir de 12 de maio de 2015,

inclusive.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.

Pausa.

Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Sr.ª Deputada Maria de Lurdes Monteiro Ribeiro, dou-lhe as boas-vindas e pode, desde já, tomar assento

no Plenário.

Sendo assim, Srs. Deputados, vamos entrar na ordem do dia constando do primeiro ponto declarações

políticas.

A ordem das inscrições é a seguinte: PCP, Bloco de Esquerda, PSD, PS e CDS-PP.

Srs. Deputados, há muito ruído na Sala, peço-vos que tomem os vossos lugares para que o primeiro orador

possa proferir a declaração política.

Pausa.

Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. BrunoDias (PCP): — Sr.a Presidente, Sr.

as e Srs. Deputados: O pacote de negócios que o Governo

está a lançar na fase terminal do seu mandato chegou agora aos processos de privatização da EMEF

(Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, S.A) e da CP Carga. Com os respetivos diplomas

publicados há dias, essa operação representa uma nova e mais gravosa etapa do processo de liquidação do

sector ferroviário nacional.

A Constituição aponta como tarefas fundamentais no plano económico para a «Coexistência do sector

público, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção» e para a

«Propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o interesse coletivo».

Mais uma vez, se confirma que o Governo se encontra envolvido num processo de destruição efetiva do sector

público.

O Governo refere estes processos nos decretos-leis como uma «reprivatização». Ora, estas empresas

foram criadas em 1993 (a EMEF) e em 2008 (a CP Carga), funcionando sempre como empresas públicas.

Temos, assim, o Governo a afirmar que vai «voltar a privatizar» o que nunca foi privado, evidenciando um

discurso e uma prática que não resistem ao confronto com a realidade.

A privatização destas empresas contribuiria ainda mais para a pulverização do sistema ferroviário,

processo gerador de crescentes custos para o Estado e de importantes perdas na segurança e fiabilidade da

operação.

A privatização da EMEF — que tem vindo a ser preparada com os fabricantes de material circulante —

colocaria o País ainda mais dependente dessas multinacionais, quando aquilo que se impõe é uma rutura com

o caminho de declínio nacional e a afirmação de outro caminho que aposte na produção nacional.

É nesse quadro que a manutenção, reparação e produção de material circulante é uma atividade

estratégica para o País. Para mais quando a ferrovia tende a assumir uma importância crescente nos sistemas

de transporte de passageiros e mercadorias e quando o País está confrontado com a necessidade de

investimentos no médio prazo de largas centenas de milhões de euros no seu material circulante e

equipamento.

A privatização colocaria a CP Carga ao serviço da produção de lucros de um qualquer grupo económico,

para o qual seria indiferente os verdadeiros ganhos que a empresa tem trazido ao País e deixaria o País sem

um instrumento estratégico — o transporte ferroviário de mercadorias — condenado a pagar rendas aos

grupos económicos que dominassem o sector.

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Veja-se já hoje a forma como a empresa privada criada pela Mota Engil se arrasta no sector, apesar de

objetivamente beneficiada em muitas situações operacionais e outras, como em termos de circulação, etc.,

sempre reclamando mais e mais do Estado, promovendo uma brutal exploração da força de trabalho e criando

dívidas às empresas públicas.

O PCP suscitou a apreciação parlamentar destes diplomas em que o Governo pretende impor este crime

económico contra sectores fundamentais da ferrovia em Portugal, mas queremos aqui chamar a atenção para

a importância da proposta que recentemente apresentámos nesta Assembleia em defesa do caminho de ferro

nacional, pela reunificação e gestão integrada da ferrovia, contra a sua liquidação e desmembramento.

A ferrovia tem futuro em Portugal numa CP pública, modernizada, ao serviço do País e da economia

nacional, não com esta política de desmantelamento e venda às peças.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Tal como em relação à EMEF e à CP

Carga, também na TAP, companhia aérea de bandeira, a política do Governo está a ser de traição ao

interesse nacional e de ataque à nossa soberania.

O PCP reafirma: a situação vivida ao longo das últimas semanas na TAP é inseparável do objetivo do

Governo de proceder à sua privatização, entregando-a nas mãos de grupos económicos e financeiros. Por

mais tentativas que existam em procurar identificar outros responsáveis, é o Governo e a sua política o

principal fator de desestabilização da TAP, enquanto empresa pública e estratégica para os interesses

nacionais.

A verdade é que a principal ameaça ao presente e ao futuro da TAP é o Governo PSD/CDS e a política de

direita.

É isso que se verifica quando se permite financiar com recursos públicos as chamadas «companhias low

cost», ao mesmo tempo que nega esse financiamento à TAP; quando se impõem drásticas limitações à

contratação de pessoal, prejudicando a resposta da companhia e levando mesmo ao cancelamento de largas

centenas de voos, como aconteceu no verão passado; quando se procede à privatização da ANA Aeroportos

colocando a sua principal cliente, a TAP, refém dos interesses do novo proprietário, a multinacional Vinci.

Por mais manobras que possam ser desenvolvidas, é o Governo e a política de direita que ameaçam e

comprometem o futuro da TAP. Ainda estamos a tempo de travar estas privatizações e estas medidas

ruinosas para o interesse do País!

Para a estabilização presente e o desenvolvimento futuro da empresa, o que é preciso é assumir

claramente a TAP como empresa pública, estratégica para o País, para o sector da aviação civil, para o

turismo e a economia, para a coesão territorial, para a ligação às comunidades portuguesas, para a soberania

nacional.

O PCP defende:

Que sejam libertadas as empresas públicas, e nomeadamente a TAP, das restrições à gestão atualmente

impostas pelo Governo;

Que se apoie a TAP na resolução do problema da ex-VEM (Varig Engenharia e Manutenção), agora

designada Manutenção Brasil;

Que se invista na Manutenção da TAP, modernizando-a, alargando os quadros de pessoal e as

instalações;

Que se ponha termo à instabilidade no handling/assistência em escala e se reforce a ligação da SPdH

(Serviços Portugueses de Handling, S.A.) à TAP;

Que sejam resolvidas as necessidades de capitalização da TAP e que se acabe com o favorecimento e

financiamento público às companhias concorrentes à TAP.

O PCP persistirá com a sua luta e intervenção para que este objetivo seja concretizado, combatendo

chantagens, mistificações e operações provocatórias, e afirmando uma outra estratégia comprometida com os

interesses nacionais.

Já para o dia 22 deste mês, agendámos o debate dessas propostas, dessas soluções concretas que

podem e devem, desde já, ser assumidas como caminho alternativo para a construção de um futuro melhor

para a companhia e para o seu papel na economia e soberania nacional.

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Mais uma vez daqui afirmamos: inevitável é a luta!

Aplausos do PCP e de Os Verdes.

A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputados, para lhe colocar perguntas, estão inscritos os Srs. Deputados Nuno

Matias, do PSD, Hélder Amaral, do CDS-PP, Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, e Rui Paulo

Figueiredo, do PS.

Srs. Deputados, uma vez que estamos no início do debate, é a altura oportuna de lembrar que devem

respeitar os tempos regimentais de intervenção.

Uma vez que pretende responder uma a uma, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Matias.

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — Sr.ª Presidente, começo por cumprimentar o Sr. Deputado Bruno Dias

pelo tema que nos traz.

O Sr. Deputado Bruno Dias afirmou que o Governo é o principal fator de desestabilização da TAP.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Afirmativo!

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — A minha primeira pergunta é muito clara: não entende que não há

maior fator de desestabilização do que ter uma companhia que, em 2014, teve um resultado líquido negativo

de 46 milhões de euros e agora tem tido um sindicato dos pilotos que em 10 dias, pelas suas palavras, infligiu

um prejuízo de 35 milhões de euros?

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Aquilo que ficou claro na sua intervenção é que há uma linha que nos divide, do ponto de vista ideológico e

lógico: os senhores entendem que a propriedade é a razão de desenvolvimento de uma atividade económica,

mesmo num setor estratégico; nós entendemos que é a gestão, a exigência da definição do conceito de

serviço público e a monitorização do cumprimento dessa exigência e desse conceito. Ora, é isso que o

Governo está a procurar fazer na EMEF, na CP Carga, na TAP. Aliás, é importante dizer que o próprio Partido

Comunista, ainda na semana passada, através do seu Secretário-Geral, no âmbito do debate quinzenal,

afirmava perentoriamente que a sua alternativa de recapitalização pública tinha sido exemplar, por exemplo,

em paralelo, na Polónia.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Falso! Não comece com mentiras!

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — Aquilo que é importante referir…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Veja lá o que vai dizer!

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — … é se é ou não verdade, e esta é também a pergunta que lhe deixo,

que, na Polónia, a reestruturação da LOT levou a 833 trabalhadores despedidos,…

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Fale a sério!

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — … a uma redução de frota, de 59 para 30 aeronaves, e a uma redução

de rotas na ordem das 24. É ou não verdade que a vossa proposta, a vossa suposta alternativa, leva a uma

reestruturação inevitável…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Não, não leva!

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O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — … e, por isso, o exemplo que foi usado pelo Secretário-Geral do PCP

demonstra que a única alternativa que permite fazer crescer a TAP, desenvolver a sua atividade, defender os

seus trabalhadores, é uma privatização estratégica e exigente, que continue a afirmar a companhia como uma

companhia de bandeira,…

A Sr.ª Presidente: — Queria concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — … tão companhia de bandeira como a British Airways, que não tem

capitais públicos.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Matias, agradeço as questões colocadas

e, para procurar cumprir o tempo de que disponho, vou centrar-me em três pontos essenciais.

Primeiro ponto: o Governo é o principal responsável pela situação de instabilidade que está a acontecer na

TAP. É o principal responsável!

Diga-me o Sr. Deputado, se souber, se acredita que, porventura, não havendo processo de privatização

isto estava a acontecer?!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Ora, nem mais!

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — Quantas greves é que já houve na TAP?!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Diga-me o Sr. Deputado se acredita, ou se, porventura, alguém, nesta Sala,

acredita, que estaríamos perante a situação que estamos a atravessar, se não tivesse sido desencadeada, ao

nível do Governo, esta criminosa privatização que os senhores querem levar a cabo?!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

É por isso que nós dizemos que, se tivessem parado a privatização da TAP, isto não estava a acontecer.

Aplausos do PCP.

Protestos do PSD.

Vou mais longe, Sr. Deputado: importa denunciar aqui aquilo que se passou nos aeroportos de Portugal

nestes dias, durante uma greve de pilotos, que foi os passageiros da TAP chegarem ao aeroporto e, em vez

de serem informados da greve e encaminhados para os hotéis ou para as suas casas, serem encaminhados

para as portas de embarque. Há alguém interessado nesta instabilidade! Os passageiros foram confrontados,

de uma forma irresponsável, por uma orientação superior, com uma situação ainda mais grave, a agravar os

problemas com que estavam confrontados.

Protestos do PSD.

Quem é que decidiu isso, Sr. Deputado? Quem é que decidiu isso? Estamos aqui a fazer uma denúncia,

apareça alguém como responsável!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

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Diz o Sr. Deputado Nuno Matias que o principal critério não é a propriedade das empresas, é a sua gestão.

Vá dizer isso, Sr. Deputado, aos trabalhadores da escala de Faro, que eram da TAP, depois, passaram para a

SPdH/Groundeforce e, hoje, estão na rua, porque foram privatizadas as companhias de handling…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — … e, quando o handling da TAP foi privatizado, toda a gente disse que os

empregos estavam salvaguardados, tal como disseram que os empregos estavam salvaguardados na ANA

Aeroportos. Vá agora dizer isso aos trabalhadores da ex-Portway, os operadores das pontes telescópicas,

que, com a mesma gestão da ANA Aeroportos, com os mesmíssimos gestores, estão agora confrontados com

um despedimento selvagem,…

Protestos do CDS-PP.

… porque a propriedade é outra e com as multinacionais não se brinca.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, a seguir, falarei da reestruturação, porque tenho muito para

dizer sobre isso.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, vou tentar não utilizar termos

como «selvagem» ou outro termo mais agressivo,…

O Sr. António Filipe (PCP): — Já o usou! Acabou de o dizer!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … porque entendo que o debate até merece alguma serenidade e

alguma pedagogia. Mas não confundamos os termos…

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Para vocês, só as greves é que são selvagens!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Estava a tentar não utilizar nenhum termo menos parlamentar e ser

ouvido.

O Sr. Deputado disse «ainda vamos a tempo» e vamos mesmo a tempo! Ainda tenho uma leve esperança

de ver, no fundo do Partido Comunista Português, algum sentido de política patriótica e de esquerda, dizendo

que não concorda com a greve dos pilotos da TAP, esta, sim, causadora de um prejuízo não só financeiro, à

companhia e ao País, mas à imagem do País e, essencialmente, aos colegas trabalhadores, porque põe em

causa o futuro da empresa.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sobre essa matéria V. Ex.ª não diz nada, nem mesmo o facto de ser

uma greve que pressupõe que os trabalhadores participem no capital da empresa,…

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Esteve a dormir na sexta-feira de manhã!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … ou seja, o que os pilotos querem, verdadeiramente, é ter parte na

privatização e, por isso, não estão contra a privatização.

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O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Exato!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Portanto, coloquemos a questão nos verdadeiros termos em que ela se

coloca.

Sr. Deputado, quero dizer-lhe, de forma muito clara, que é óbvio que respeito a posição ideológica do

Partido Comunista Português, no sentido de que todas as empresas devem ser públicas. Mas sucede que não

só na TAP, mas também na CP, no dia 16 de abril, foram suprimidos quase 4000 comboios, devido à greve.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Ou não sabe o que diz ou está a mentir deliberadamente!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sabe qual é o maior contributo para o aumento de quota de mercado

nas empresas privadas? São as greves!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ora, nem mais!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sabe qual é o maior contributo para pôr em causa as empresas

públicas? São as greves!

Sabe qual é o maior contributo para pôr em causa o futuro dos trabalhadores e a capacidade de pôr estas

empresas a gerar economia e mais emprego? É exatamente uma postura dos sindicatos pouco responsável e

pouco séria!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Se o Sr. Deputado for capaz de reconhecer isso, talvez possamos

começar a conversar.

Aquilo que o Sr. Deputado devia começar por dizer aqui era aquilo que sempre disse: nós entendemos que

é possível haver empresas públicas e privadas. Nós também! Nós entendemos que é possível existirem

empresas públicas boas e empresas privadas boas. O que o Estado está a fazer, no caso da CP, é a privatizar

apenas uma parte.

Subscreva a importância da ferrovia para o País, subscreva a importância estratégica da ferrovia, mas não

pretenda encurralar-nos com argumentos ideológicos e, depois, branquear tudo aquilo que não deve

branquear, como, por exemplo,…

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Termino, Sr.ª Presidente.

…como por exemplo, aquilo que acontece no Metro do Porto, em matéria de greves e ganho de

passageiros, e o que acontece nos outros modelos de transportes, onde as greves ferem de morte qualquer

credibilidade desse mesmo transporte.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, salvo erro, o Sr. Deputado disse,

ainda agora, que esta greve que se verificou não era contra a privatização da TAP.

Verifico o vosso critério: quando houve uma greve contra a privatização da TAP, os senhores nem

esperaram pelos serviços mínimos, fizeram imediatamente uma requisição civil ilegal, violando a Constituição

e as leis fundamentais deste País.

O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!

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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Mas qual ilegal?!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Assim se vê a quem é que interessava a instabilidade que agora se viveu,

assim se vê a quem é que interessava a situação com que os passageiros foram confrontados, ao serem

encaminhados para as portas de embarque para voos que não estavam marcados.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não venham falar de greves e de impactos para o País, quando toda a gente

percebe imediatamente que, num quadro de cancelamento da privatização da TAP, não estávamos

confrontados com a situação atual.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Está enganado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Por outro lado, em relação aos problemas operacionais, aos voos cancelados

e ao prejuízo para a companhia, quero desafiar os Srs. Deputados a irem rever aquele que foi o registo das

reuniões com o Sr. Presidente da TAP, quando avaliámos aqui, nesta Casa, o autêntico caos que se verificou

na companhia, com a situação de falta de pessoal, de falta de pilotos, de aviões que não funcionavam, de

voos cancelados, de pessoas que chegavam aos aeroportos no verão e eram confrontadas com o

cancelamento dos voos. Quais eram as greves nessa altura?! O que aconteceu foi que o Governo levou seis

meses a autorizar a contratação de pessoal, de tripulantes e pessoal para a manutenção.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — É o Governo, mais uma vez, ano após ano, que continua a ser o principal fator

de desestabilização e instabilidade da companhia.

Falam de reestruturação como se fosse uma faca apontada aos trabalhadores, mas é preciso lembrar aqui

que reestruturação mesmo aconteceu na TAP na década de 90, preparada pelo Governo PSD/Cavaco Silva e

concretizada pelo Governo PS/Guterres. Nessa altura, o que tivemos foi a contratação coletiva suspensa,

congelada, o regime sucedâneo, os cortes nos salários, os trabalhadores confrontados com um ataque brutal

aos seus direitos. Para quê? Para a privatização!

Hoje, como em 1995, estamos na iminência de cancelar este processo e este pode ser o fator que salvará

a TAP, porque, tal como, na altura, a companhia aérea de bandeira, que era a Sabena, foi vendida à Swissair

e deixou de existir, se a TAP tivesse sido vendida à Swissair já não existia.

Portanto, se a TAP, hoje, vir a privatização cancelada, estamos, sim, a cumprir uma medida patriótica e de

esquerda, Sr. Deputado Hélder Amaral.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, saúdo-o pela sua

intervenção e começo por pegar naquele que é o tema quente das respostas que já teve de dar às perguntas

da maioria, porque é exatamente aquilo que lhes toca no centro da sua vontade, que é a privatização da TAP.

É, no mínimo, curioso que este Governo tente atirar para cima de uma greve a responsabilidade pela

situação financeira da TAP. É, no mínimo, curioso! É deitar água para uma situação que percebemos que, na

prática, serve apenas e só para fazer nascer um nevoeiro que tenha como resultado esconder das pessoas o

essencial.

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Senão, pergunto-lhe: metade da dívida da TAP advém de quê? Dos trabalhadores, da operação da TAP ou

de escolhas de gestão que, por exemplo, na empresa de manutenção que foi adquirida no Brasil, tem um

buraco de 500 milhões de euros?! Qual é a realidade de facto? É que falarmos de 30 milhões de euros de

prejuízo desta greve e escondermos os 500 milhões de euros de uma escolha de gestão, tomada por decisão

política e sem qualquer cariz técnico, é tentar desviar as atenções desta última situação e utilizar a greve como

argumento para a visão ideológica que o Governo quer ter sobre a TAP.

A privatização da TAP, que é a vontade deste Governo, serve apenas e só para colocar a TAP a voar

baixinho, não tendo como objetivo nenhuma defesa de interesse estratégico do País e deitando por terra

aquela que é a qualidade quer dos profissionais, quer das rotas e horários que a TAP tem para apresentar ao

País e ao mundo.

Por isso, destruir aquilo que é de todos nós é, de facto, a agenda do Governo. E é assim na TAP, tentando

agora atirar as culpas para os pilotos e para uma greve que já dissemos não acompanhar na sua motivação,

mas que não aceitamos que seja utilizada para esta vertente ideológica e propagandística do Governo, de

impor a privatização e a sua agenda à custa da realidade. E a realidade é que a vontade de privatização já é

antiga, já vem de Governos desde Cavaco Silva e sempre com a mesma narrativa, sempre dizendo que a TAP

era insustentável,…

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Concluo, Sr.ª Presidente.

… sempre dizendo que a TAP não tinha futuro. Mas a TAP foi vencendo cada Governo e cada vontade de

privatização e vai também vencer este Governo e a sua agenda.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, trouxe aqui, à nossa

discussão, um exemplo incontornável que releva para a situação financeira e os problemas da TAP, que é o

buraco — eu diria a cratera — em que a TAP foi enfiada com o negócio da manutenção no Brasil. E os

trabalhadores não foram os culpados, não, senhor, os trabalhadores alertaram oportunamente para o

problema que estava a ser criado com aquele negócio em que a TAP foi colocada. Mas este Governo foi

avisado! No início do mandato, este Governo foi avisado sobre a situação que estava criada e deixou os

problemas agravarem-se, para tentar criar a inevitabilidade da privatização e do desmantelamento da

companhia. Criar problemas para forçar inevitabilidades! O Governo foi avisado e é cúmplice e é responsável

pela situação em que a TAP se encontra!

Nós dizemos, com muita clareza, que há medidas que têm de ser tomadas para defender a TAP como

companhia aérea de bandeira, como companhia que seja de todos nós e que seja defendida, modernizada e

projetada para um futuro melhor. Disso mesmo iremos tratar no debate em Plenário, agendado para o dia 22,

do nosso projeto de resolução que aponta medidas concretas para desenvolver e defender a companhia.

Quanto à reestruturação, mal designada dessa forma, com que tentam apontar e ameaçar os trabalhadores

e a população, com o desmanchar aos bocados de uma companhia aérea como a TAP, aquilo que é preciso

dizer é que essa reestruturação, hoje, de acordo com as informações oficiais disponíveis, não está em cima da

mesa. E é preciso que haja clareza no debate, relativamente às afirmações dos políticos, dos governantes

deste País, sobre essa ameaça que tentam fazer aos trabalhadores. É que aquilo que temos pela frente é uma

pseudo-reestruturação que está a ser exigida pelos privados, para que seja o Governo a fazer aquilo que os

privados não querem, porque querem encontrar uma TAP com uma força de trabalho com os seus direitos

atacados, os salários reduzidos e as condições de trabalho ainda mais degradadas. Não é por aí que este

País terá solução e caminho, não é por aí que a TAP será desenvolvida e muito menos defendida e, neste

contexto, teremos, seguramente, muito que lutar e trabalhar…

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

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O Sr. Bruno Dias (PCP): — … por uma alternativa em relação à companhia e ao setor empresarial do

Estado.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo.

O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr.ª Presidente, Caras e Caros Colegas, o Deputado Bruno Dias, do

Partido Comunista Português, trouxe um bom tema para este Plenário.

De facto, o Governo tem lançado o caos no setor dos transportes, porque é movido por um grande

preconceito — o preconceito contra a gestão pública e contra a presença do Estado na economia — e, ao

mesmo tempo, é um Governo obsessivo, que tudo quer privatizar e tudo quer subconcessionar. E fá-lo de um

modo muito pouco transparente: tudo é secreto e procura que os Deputados e os partidos da oposição não

tenham acesso a muita da documentação. E quando não são secretos, os documentos e os cadernos de

encargos, como no caso do processo do Porto e estamos a assistir nos transportes de Lisboa, são feitos de

uma forma atabalhoada, com 2000/3000 pedidos de esclarecimento, prorrogações de prazo e com garantias

aparentes e não reais.

Portanto, temos um Governo em guerra com as autarquias da Área Metropolitana do Porto, com a Câmara

de Lisboa, com os trabalhadores e até com Paulo Portas, o líder do CDS. É uma imagem de marca que o

Primeiro-Ministro gosta de construir para si!

Pela nossa parte, temos apelado, embora cada vez com menos esperança, a que o Primeiro-Ministro tenha

um assomo de humildade e uma certa dose de bom senso, que suspenda estes processos de privatização e

que reconheça que era importante para o País dialogar com os diferentes partidos, nomeadamente com o

Partido Socialista.

Nós já dissemos que gostávamos de ter acesso a tudo aquilo a que não temos tido: estudos técnicos,

estudos comparativos, avaliações financeiras, auditoria de operação da TAP — e podia continuar a dar muitos

exemplos.

Nós, repito, defendemos a suspensão imediata do processo de privatização da EMEF e da CP Carga e

consideramos que a TAP é uma empresa viável e sustentável e que o Primeiro-Ministro devia parar este

processo. Consideramos ilegítimo que se consolidem efeitos jurídicos definitivos numa vigência de um futuro

Governo que condicionem esse futuro Governo.

Tudo faremos — e estou a dizer isto com toda a calma e tranquilidade — para impedir que este Governo,

de um modo ilegítimo do ponto de vista político e ilegítimo do ponto de vista jurídico, privatize mais de 50% do

capital da TAP.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Termino, Sr.ª Presidente, dizendo que também no domínio dos

transportes de Lisboa — Carris e Metro —, porque temos uma proposta concreta da Câmara Municipal de

Lisboa e porque o Governo está a usurpar direitos do município, um futuro Governo do Partido Socialista

anulará estes procedimentos de concurso para as subconcessões da Carris e do Metro.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, agradecendo as palavras que o Deputado Rui Paulo

Figueiredo nos dirigiu, queria referir que não foram colocadas questões em relação à EMEF nem à CP Carga,

mas o assunto é estratégico, o assunto não é menos importante e estamos perante PPP desastrosas, em que

o País fica dependente para a manutenção ferroviária daqueles que, nas multinacionais, querem vender novo.

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É um alerta muito vincado que queremos aqui deixar sobre o futuro do setor ferroviário que o Deputado Rui

Paulo Figueiredo não referiu, mas que queremos aqui sublinhar.

A referência que o Deputado Rui Paulo Figueiredo, do PS, fez ao entendimento que o PSD e o CDS não

quiseram ter com o PS acerca destas privatizações é uma pena que ficará consigo, porque nós não temos

pena de que não se tenham entendido convosco para privatizar, que as vossas divergências sejam no método

e não na substância. A nossa divergência é substancial, a nossa divergência consiste em querermos, de facto,

combater a privatização destas companhias, não queremos que a discussão seja de uma suposta escolha

entre privatizar de uma vez ou num instante, como se fez com a ANA ou os CTT, ou da outra maneira que os

senhores defendem, que é ir privatizando aos bocadinhos, como fizeram com a PT ou com a EDP, com os

resultados que se conhecem.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Portanto, Srs. Deputados, temos aí uma divergência de fundo: nós não

concordamos não só com este processo, mas com este objetivo. A privatização da TAP e do setor ferroviário é

uma medida ruinosa, é uma política desastrosa para o País e é por isso que temos de combatê-la.

Quando os Srs. Deputados têm em conta a experiência de outras companhias de referência, estratégicas

para o País, e que na altura tiveram um compromisso de Governos, designadamente de Governos PS, PSD e

CDS, de que iam só privatizar 35%, ou só 10%, ou só 15% e, depois, acontecem situações como aquela que

aconteceu na PT… Nós não podemos deixar de aprender com aquilo que acontece no nosso País, não

podemos deixar de aprender com a nossa experiência!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Por isso, Sr.ª Presidente, fica aqui a afirmação muito clara de que, de uma vez

por todas, é preciso uma outra política que defenda, não que desmantele, o setor empresarial do Estado.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Concluiu-se aqui a declaração política do PCP, desta tarde.

Passamos à declaração política do Bloco de Esquerda, que, hoje, vai ser proferida pela Sr.a Deputada

Mariana Mortágua, a quem dou a palavra.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: TAP, EMEF, CP Carga, Carris,

STCP, transportes suburbanos da CP, Metro de Lisboa e Oceanário. A lista de empresas e entidades que o

Governo quer entregar a privados, a semanas antes do final do seu mandato, é interminável.

A primeira pergunta que se impõe é conhecida: qual é a pressa? Srs. Deputados, qual é a pressa para

todas estas privatizações?

De um dia para o outro, o Governo prepara-se para despachar a maior empresa exportadora do País, os

transportes coletivos que garantem mais de um milhão de viagens por dia, um dos emblemas da cidade de

Lisboa, a maior empresa de transporte de mercadorias e a capacidade instalada de reparação de comboios.

Por isso, a segunda pergunta, Sr.as

e Srs. Deputados, é: para quê?

A maioria das empresas, ou tem tido lucros nos últimos anos, como é o caso da TAP, ou tem resultados

operacionais positivos, como é o caso das empresas de transportes. Em ambos os casos, o problema destas

empresas é a dívida acumulada por anos de desinvestimento, e essa dívida continuará a ser paga pelo

Estado, ou seja, pelos contribuintes.

Diz o Governo que a privatização melhora a competitividade e presta um melhor serviço, mas todos nós

vimos o que aconteceu com os preços cobrados pela Galp ou pela EDP: aumentaram, e muito.

A privatização garante a robustez e capacidade de inovação das empresas, dizem-nos. Mas ainda nos

lembramos de uma PT à escala global, quando tinha o Estado no seu capital, e vemos a miniatura a que

chegou, hoje, nas mãos sabe-se lá de quem.

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Temos de vender aos privados, porque estas empresas dão prejuízo. Mas, logo depois, abrimos um jornal,

olhamos para os 676 milhões de euros de dividendos da EDP ou para os 70 milhões dos CTT. Ou seja, feitas

as contas, com a venda de uma parte da companhia elétrica e dos correios, perdemos, só neste ano e só com

estas duas empresas, 210 milhões de euros no Orçamento do Estado, praticamente o montante que era

necessário para recapitalizar a TAP, que agora dizem que tem de ser privada.

A este propósito, aliás, gostaria de partilhar convosco a capa de um jornal, e vou ler: TAP à beira da

falência técnica. Parece um jornal de hoje, mas a notícia, acima desta, tem uma notícia do Mundial de Futebol

de 2002! Esta capa do DiáriodeNotícias de 2002 mostra bem como a chantagem é velha e como há anos que

usam a falência da TAP para justificar a sua privatização. Apesar disso, a TAP tem sobrevivido e nunca levou

1 cêntimo dos contribuintes para a sua recapitalização.

É que as privatizações, Srs. Deputados, não são apenas um negócio ruinoso para os cofres públicos; não

são apenas prejudiciais à qualidade dos serviços; não significam só faturas mais altas para os cidadãos

quando vão encher o depósito do seu carro ou quando vão pagar a compra de eletricidade; não significam

apenas menos qualidade, mais preços. Elas condicionam, de facto, a capacidade de decisão nacional em

setores vitais para a economia e, portanto, implicam e mexem com a nossa soberania.

Já todos vimos onde nos levou o discurso, usado durante décadas por PSD e PS, sobre a importância da

manutenção das empresas estratégicas em mãos nacionais.

Hoje, não há uma empresa portuguesa que tenha uma participação qualificada nos correios, nos

aeroportos ou na PT Portugal. Também na EDP ou na REN ou, mesmo, na banca privada todas estas

empresas são controladas por fundos estrangeiros pertencentes a países terceiros.

Srs. Deputados, já pensaram o que significa para a soberania de um país ter o controlo da produção,

distribuição e fornecimento de energia nas mãos de outro Estado?

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É que não é apenas uma empresa, nós temos a nossa energia nas

mãos de um outro Estado. O que é que isto implica para a soberania de um País, para as decisões de futuro

da economia e da sociedade portuguesas?

Sr.as

e Srs. Deputados, a semanas de sair de cena, PSD e CDS, que tanta gala fizeram contra as PPP,

fazem-nas agora entrar pela «porta dos fundos».

Protestos do Deputado do PSD Hugo Lopes Soares.

É este o modelo escolhido pelo Governo para a concessão dos transportes coletivos, garantindo uma renda

por disponibilidade, aliás, como acontece nas PPP rodoviárias.

A dívida acumulada pelas empresas de transporte, que é o verdadeiro problema, fica no perímetro público.

Tudo está feito e pensado à medida dos privados que, tenham ou não passageiros, tenham ou não qualidade,

terão sempre os lucros assegurados seja pelos bilhetes, seja pelos nossos impostos.

O Governo chega ao ponto de separar a operação dos elétricos e dos elevadores para garantir que as

operações mais rentáveis, aquelas destinadas ao turismo, são, de facto, entregues a privados, ficando fora de

qualquer tentativa ou exigência de serviço público.

O caderno de encargos das empresas de transportes é um tratado do que não deve ser feito para acautelar

os interesses dos cofres públicos. Os riscos da operação ficam sempre para o Estado, já os privados, pela

bilheteira ou pela taxa de rentabilidade contratualizada, ganham sempre. É como ir ao Casino e apostar na

casa vermelha, numa roleta que não tem casas pretas. Neste jogo viciado, a casa perde sempre e quem paga

as contas são os contribuintes.

Sr.as

e Srs. Deputados, não há uma única razão para tamanho frenesim por parte do Governo PSD e CDS.

Um Governo a caminho do fim do seu mandato está a tentar revirar o País do avesso para entregar tudo o que

conta a quem aparecer para o levar. E isto tem um nome, Sr.as

e Srs. Deputados: política de terra queimada. O

País fica mais pequeno, mais pobre, com menos capacidade de decisão e, por isso, fica menos democrático.

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Exatamente!

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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Acima de tudo Portugal, diz o mais recente cartaz do PSD, espalhado

por tudo o que é cidade neste País.

Srs. Deputados, seria mais justo ou, pelo menos, mais honesto mudarem o vosso slogan para Vendemos

tudo, mesmo Portugal.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — A Mesa regista a inscrição, para formularem perguntas, dos Srs. Deputados Hélder

Amaral, Afonso Oliveira, João Paulo Correia e Bruno Dias.

Pergunto à Sr.a Deputada como pretende responder.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Responderei uma a uma, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente: — Muito bem, Sr.a Deputada.

Continuo a pedir aos Srs. Deputados o favor de respeitarem os tempos regimentais.

Pelo CDS-PP, para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.a Deputada Mariana Mortágua, perguntou qual é a

pressa. Eu respondo dizendo que fiquei surpreendido, não muito, confesso, com o facto de não ter dito nada

sobre um determinado sindicalismo radical que tem a ver com o sindicato dos pilotos…

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Qual é o assunto?

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … não todos, porque não confundo os pilotos com o seu sindicato, que

não tem nenhuma legitimidade para discutir se deve ou não haver privatização, porque essa discussão é do

Governo e dos partidos da oposição. A privatização estava prevista nos Memorandos, nos PEC e, em 1998,

caso não tivesse corrido mal, o Partido Socialista já tinha privatizado a Companhia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Portanto, há aqui um largo consenso nos partidos que, normalmente,

partilham o Governo.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Mas queria dizer mais, Sr.a Deputada: onde é que está a coerência de

V. Ex.ª? Ainda não a vi com um pin a dizer: «Não privatizem o porto de Pireu!», já que era a maior defensora

do Syriza.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Lá, na Grécia, vão privatizar o porto? Ou não vão privatizá-lo? Ou lá

não se deve privatizar nada?! É que, às vezes, convém ver se o discurso corresponde à prática.

Já agora, quero dizer que não tenho nada contra o povo grego, mas fico muito mais satisfeito em ver

quando a nossa economia cresce 1,4% e o mesmo, infelizmente, não acontece na economia da Grécia!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Mas, quanto à pergunta: qual é a pressa?, eu respondo, Sr.ª Deputada:

500 milhões de euros de capitais próprios negativos; 1000 milhões de passivo.

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Protestos do BE.

Os problemas de que o Deputado Bruno Dias falava no verão são crise de crescimento, são oportunidades

perdidas.

Eu quero uma TAP a voar cada vez mais alto. Eu quero uma TAP a empregar mais gente. Eu quero uma

TAP cada vez com mais posição estratégica no mundo. Eu quero uma TAP que leve a bandeira do País cada

vez mais longe e mais alto.

Protestos do PCP e do BE.

O que quer V. Ex.ª, afinal? Quer, apenas e só, fazer um conjunto de dissertações sobre o interesse

estratégico e, depois, não dizer como se paga ou como se faz? Poderá dizer: «Bom, mas o Governo tem

obrigação de injetar capital na empresa.» Eu, para não correr o risco de ser muito demagógico, gostava de

perguntar o seguinte, Sr.ª Deputada: sabe o que aconteceu em 1994? O Governo fez uma intervenção na TAP

ao abrigo das leis da União Europeia. Lembro que o líder do Partido Comunista Português só falou na

possibilidade de fazer uma intervenção, não falou nas consequências. Para ver se ainda conseguimos obter

algum esclarecimento no debate, diga quais são as consequências. Quantos trabalhadores é que têm de ser

despedidos? O que é que se deve reestruturar na empresa?

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Isto para ver se entendemos qual das soluções é, verdadeiramente, a

ideal.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, mude o argumento…

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Porquê? Não serve?!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … porque hoje falamos de privatizações, não apenas da TAP, mas de

todas as privatizações que estão em causa, hoje, na economia e na sociedade portuguesas e a única coisa

que os senhores nos sabem dizer é: «E a greve dos pilotos da TAP?». Mais nada!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — É mais do que isso. É também sobre o porto de Pireu!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Deputado, não vale a pena repetir um argumento que já clarificámos

muitas vezes. Não apoiamos uma greve que não serve para defender a TAP contra a privatização e, portanto,

o Sr. Deputado quer usar a greve para desviar a discussão de onde ela devia estar focada e, mais, quer usar

as más experiências do passado para desculpar a má decisão que está a tomar no presente, que é a

privatização da TAP.

Quando a TAP comprou a Portugália, fazendo um mau negócio, ninguém ouviu o CDS a criticar as más

formas de gestão da TAP e como isso teria consequências no futuro. Quando a TAP comprou a VEM, unidade

de manutenção do Brasil, com elevados prejuízos, ninguém ouviu o CDS criticar e a dizer que problemas é

que isso teria para a TAP.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Ouviu, ouviu!

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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Aliás, o CDS, que se arroga o direito de defender o País e a soberania,

não diz uma palavra sobre o que significa para a soberania do País ter todas as empresas estratégicas na

mão de Estados ou de empresas estrangeiras.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — E sobre o porto de Pireu?!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O que é que o CDS acha sobre isso? Isso eu gostava de saber! Onde é

que para a defesa da economia nacional, a defesa do interesse estratégico nacional, a defesa do País, que o

CDS tanto arroga, quando todas as empresas nacionais estão em mãos estrangeiras? Gostava de ter uma

palavra sobre isso da parte do CDS.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — E a pergunta sobre o porto de Pireu?!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Deputado, sobre o porto de Pireu e sobre o Syriza, gostaria de dizer,

muito rapidamente, que eu faço parte de um partido que respeita as decisões democráticas de outros partidos,

de outros governos e de outros Estados,…

Vozes do PSD e do CDS-PP: — Ah!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … ao contrário do Sr. Deputado que faz parte de um partido e de um

Governo que prefere a subserviência à Alemanha e a falta de respeito pelos outros Estados.

Portanto, mais uma vez, não arranje tantos argumentos para fugir ao assunto. Fale-nos daquilo que

interessa, que é da importância de ter a TAP como companhia de bandeira, a importância de ter a TAP como

uma companhia sustentável e pare de arranjar desculpas para aquilo que não tem desculpa.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Pelo PSD, para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Afonso Oliveira.

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, a pergunta que faz é

muito interessante e vale a pena retomar a questão: qual é a pressa? Eu respondo-lhe, rapidamente, e com

pressa, à pergunta que coloca: a pressa é devolver sustentabilidade às empresas;…

O Sr. Nuno Filipe Matias (PSD): — Exatamente!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — … a pressa é devolver competitividade às empresas; a pressa é devolver

mais capital às empresas!

A Sr.ª Deputada sabe — e tem de dizer aqui que sabe isso, a menos que não o queira reconhecer — que

não é possível manter as empresas sem capital suficiente, nem é possível ao Estado dar dinheiro às empresas

públicas.

Portanto, a minha primeira pergunta é mesmo essa: de que forma é que financia as empresas públicas, se

não houver este processo de privatização?

A segunda questão tem a ver com o seu preconceito ou, se quiser, com o conceito ideológico — que faz

todo o sentido, admito perfeitamente — que o Bloco de Esquerda defende de que não haja privatizações.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É falso!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — O que já não aceito é que não explique como é que resolve o problema

das empresas.

Acreditamos numa sociedade em que a iniciativa privada tenha força, tenha um papel ativo na economia.

Esse é um facto. Para nós, a questão da gestão da empresa é fundamental e o importante é dotar as

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empresas de uma boa capacidade de gestão, de bom capital e de capacidade de regulação. Esses são os

fatores fundamentais que nos distinguem claramente do Bloco de Esquerda.

Se me permite, Sr.ª Deputada, deixe-me voltar a falar da TAP. Já que falou na TAP tão fortemente — e não

quer que falemos dela —, falemos, mais uma vez.

Como sabe, há um balanço a fazer sobre a questão da TAP e sobre a greve dos pilotos da TAP. E já que

falou na greve dos pilotos da TAP, também gostava de saber qual é a vossa posição sobre a discordância dos

restantes trabalhadores da TAP em relação a esta greve.

A pergunta é esta: de que forma é que a greve dos pilotos da TAP beneficiou o interesse público de

Portugal, defendeu o interesse nacional, defendeu o interesse das pessoas e dos trabalhadores da TAP,

beneficiou os passageiros?

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas ainda tem dúvidas?!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Isto é muito importante, porque é preciso que se perceba a posição do

Bloco de Esquerda em relação à TAP e que tipo de trabalhadores é que defende, se são os pilotos, se os

restantes trabalhadores. Diga claramente aqui, hoje, qual é a posição do Bloco de Esquerda nesta matéria.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, para responder.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Afonso Oliveira, pela enésima vez, o

Bloco de Esquerda não apoia uma greve de pilotos que não é contra a privatização da TAP. Posso dizer outra

vez e mais devagar: o Bloco de Esquerda não apoia uma greve que não é contra a privatização da TAP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Eles já sabiam!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Porquê? Porque, ao contrário dos Srs. Deputados da maioria, não

utilizamos a greve como um motivo para desviar as atenções daquilo que é essencial. E o que é essencial é o

facto de o Governo, apoiado pela maioria, querer privatizar à pressa, em final de mandato — dê-se o que se

der, seja a quem for que aparecer —, a melhor empresa exportadora portuguesa. Isto é o essencial da

discussão!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Não é, não!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Por mais que os Srs. Deputados tentem encontrar artifícios,

manipulações, malabarismos para desviar a atenção, o foco do debate é este.

Não podemos estar, hoje, a acusar as empresas e a arranjar todos os argumentos sobre as empresas

públicas e esquecer o passado. PS e PSD — e o PSD tem muita responsabilidade também — passaram

décadas a gerir mal empresas públicas, a «colocar dívida para debaixo do tapete» das empresas públicas e a

obrigá-las…

Protestos do PSD.

Não apontem o dedo, Srs. Deputados, que é feio!

Passaram décadas a mandar estas empresas públicas ir buscar dinheiro à banca. Hoje, as empresas

públicas estão endividadas, têm de pagar juros e agora usam essa desculpa para dizer: «Não, não, tem de ser

privatizado, porque não têm condições de sustentabilidade».

Srs. Deputados, arranjem desculpas novas, porque já em 2002 a desculpa era essa. No Diário de Notícias,

de 2002, dizia-se que a TAP tinha de ser privatizada porque estava à beira da falência. É uma empresa que

está à beira da falência há 10 anos! Entretanto, cresceu, multiplicou rotas, teve resultados operacionais

positivos, mas está à beira da falência há 10 anos!

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Já agora, encontrem um argumento, um que sirva. Isto porque na TAP dizem-nos: «É por causa da

Comissão Europeia. A Comissão Europeia não deixa.» Mas o Governo fez algum pedido à Comissão Europeia

para saber se era possível?

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Está quieto!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não fez! Não tentou! E, por isso, não use a Comissão Europeia como

desculpa.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

E a seguir dizem: «Não há condições de sustentabilidade, porque a empresa tem prejuízos.» E os CTT?

Que prejuízos é que tinham para os terem privatizado?

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Srs. Deputados, não há desculpas! Para cada caso, encontram uma

desculpa à vossa medida para justificar o vosso plano ideológico, que é vender as empresas a quem aparecer.

Portanto, não há nada que desvie o plano do Governo, a semanas de eleições, que é vender o que resta

de Portugal. Uma política irresponsável, repito, irresponsável, para o futuro!

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Pelo PS, para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado João Paulo Correia.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, é conhecida a

oposição e a discordância do Partido Socialista face à forma como o Governo tem imposto uma agenda

ideológica contra a gestão pública no setor dos transportes. Aliás, o Governo e os partidos da maioria não

assumem, mas são contra a gestão pública no setor empresarial do Estado na área dos transportes.

Durante três anos e meio, este Governo desmantelou muitas das empresas do setor dos transportes, de

forma a que elas se tornassem mais apetecíveis para as privatizações e as subconcessões a privados. E, no

último meio ano, lançou um conjunto de subconcessões a privados e um conjunto de privatizações de uma

forma apressada.

Convém recordar, neste debate, as trapalhadas que este Governo tem protagonizado no setor dos

transportes. Recordamos a subconcessão da Metro do Porto e da STCP, um processo lançado contra os

autarcas, contra os trabalhadores e que vai fragilizar a oferta. Neste momento, o contrato que foi assinado com

o único concorrente, o vencedor desse concurso, aumenta o número de quilómetros contratados para 12

milhões, durante o prazo da concessão, e diminui em 70% o contrato de fiscalização e segurança. Ou seja, é

um contrato mais benéfico do que as condições dadas no Caderno de Encargos, o que, em nosso entender,

viola o princípio elementar da concorrência. Deixamos aqui esta denúncia que nos foi transmitida pelos

trabalhadores desta empresa.

Recordamos também a trapalhada do concurso da Carris e da Metro de Lisboa. O Partido Socialista alertou

o Sr. Ministro da Economia e o Sr. Secretário de Estado dos Transportes para a possibilidade de este

concurso ir para além do prazo desta Legislatura. Soubemos, recentemente, que, afinal, o concurso vai

resvalar, porque a empresa não tem capacidade para responder às mais de 2000 perguntas que foram

colocadas. Portanto, seria mais sensato que o Governo anulasse ou suspendesse este concurso.

Olhamos, também, para os processos de privatização da CP Carga e da EMEF. O Governo anunciou que

estas duas empresas vão dar lucro no ano 2014. Pois aqui está uma grande razão para não se avançar de

forma apressada para estas privatizações. Por que não aguardar? Qual é a pressa? Por que motivo o Governo

corre atrás do tempo para tudo concessionar a privados e para privatizar todo o setor de transportes que está

nas mãos do Estado?

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A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Pergunto: o Bloco de Esquerda acompanha a posição do Partido

Socialista, que defende a anulação e a suspensão destes processos de subconcessão e de privatização?

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, não me leve a mal o preciosismo, mas

acho que, neste caso, o PS é que veio até meio termo acompanhar as posições do Bloco de Esquerda, porque

o Bloco de Esquerda sempre se opôs a qualquer concessão ou privatização de empresas públicas de

transportes. O PS não tem tido bem essa postura no passado e agora tem uma postura a meio caminho,

dizendo: «Bom, privatização não! Desta forma não, talvez no futuro sim!…». É típico e é mais ou menos

aquela posição «em cima da corda», «em cima do elástico» que o PS vai mantendo.

Mas quero dizer-lhe, Sr. Deputado, que acompanho todas as críticas que faz ao processo de privatização,

aos processos conturbados, confusos, pouco transparentes que estão a ser feitos por parte do Governo, à

última hora. Vemos isso nos transportes — STCP, Metro de Lisboa, Carris, mesmo nas linhas suburbanas da

CP, na EMEF e na CP Carga.

O problema é que o PS só é contra a privatização quando está na oposição…

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Esta calhou-vos muito mal!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e isso não nos dá segurança nenhuma, como deve entender.

É contra o processo de privatização quando o PSD e o CDS são Governo, mas, quando o próprio PS

chega ao Governo, privatiza. Portanto, é um bocadinho uma privatização sim, mas assim não… É este o

processo.

O PS, hoje, pede a anulação das privatizações para quê? Para privatizar depois? Para ser à maneira do

PS?

O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Essa é uma boa pergunta!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E a propósito da proposta que apresentam para a TAP, gostaria que o

Sr. Deputado me desse um exemplo, repito, um exemplo de uma empresa que tenha sido colocado em bolsa

uma parte do seu capital, ou que tenha sido privatizada uma parte do seu capital — a maior parte delas

começaram por ser privatizadas pelo PS —, e que depois não tenha acabado por ser vendida na totalidade!

Dê-me um exemplo de uma empresa que tenha começado a privatização com garantias de que só 10%

seriam capitalizados por fundos privados e passados cinco ou dez anos não seja 100% privada. Qual dessas

empresas é que não é 100% privada, hoje em dia?

Por isso, Sr. Deputado, por muito que concorde com algumas das críticas que fez, como é que podemos

confiar nas intenções do PS a este respeito?

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Pelo PCP, para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, o PCP tem esta

preocupação profunda, que também abordou na sua intervenção, sobre a privatização de empresas e setores

estratégicos que este Governo quer lançar nesta fase terminal do seu mandato. Este Governo já está com um

pé fora da porta para se ir embora, mas quer ir saindo e assinando papéis para entregar a economia do nosso

País aos grupos económicos.

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Destaco o setor ferroviário nesta fase do debate. Estamos perante uma ameaça, com as privatizações da

EMEF e da CP Carga, de total dependência do nosso País de multinacionais em áreas verdadeiramente

estratégicas e decisivas para o nosso desenvolvimento. São mais PPP ruinosas que estão colocadas em cima

da mesa, desde logo na manutenção ferroviária, mas não só.

Queria acrescentar o que está a acontecer em relação à Transtejo e à Soflusa, com a alienação de navios

das frotas destas empresas de transporte público e com destaque para a sua manutenção. Isto numa altura

em que, da parte da maioria, o argumento que nos trazem é o da qualidade do serviço e da gestão para

justificar a venda do País às peças.

Perguntamos: «Bem, então onde é que faltava a qualidade na unidade da EMEF para a inovação e

desenvolvimento, que foi entregue aos ingleses?» É porque era má, provavelmente!… Ou em relação ao

Metropolitano de Lisboa e à sua capacidade técnica e qualidade, que tem vindo a ser atacada com as

decisões deste Governo? Ou a capacidade técnica que, em geral, temos encontrado no setor aéreo, seja na

própria TAP, seja na ANA Aeroportos, que até dava lucro e que o Governo privatizou, seguindo, aliás, a

proposta que o PS tinha colocado nos PEC?

Ainda nos lembramos do relógio que o CDS mandou colocar em contagem decrescente para a saída da

troica. Mas afinal havia outra, havia outra troica, porque esta troica ainda cá está e continua a invocar o

argumento do Memorando da troica para justificar estas decisões.

Mas tivemos aqui um momento histórico, que poderá ter passado despercebido a alguns, que foi a

referência crítica e condenatória que ouvimos da parte do CDS à reestruturação de 1994, que o Governo

PSD/Cavaco Silva levou a efeito e impôs à companhia e aos trabalhadores.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para quê? Para preparar a privatização que haveria de avançar e não

avançou.

É por isso, Sr.ª Deputada, que importa relembrar o que significa verdadeiramente essa reestruturação a

que querem agora voltar com a conversa da falência técnica, que já encontrámos nas notícias antigas,

perguntando se estamos ou não perante um filme que já vimos e que acaba mal, de certeza.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Dou a palavra à Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, para responder.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, obrigada pelas questões que

coloca.

No geral, estamos de acordo relativamente à análise que faz da política de privatizações do Governo.

Todos os argumentos caem por terra quando se olha para a lista infinita de empresas a privatizar e se nota

que não há um argumento que caiba a todos e, portanto, vai-se criando um argumento à medida de cada

empresa para justificar a sua privatização.

No caso da TAP, é a falência técnica, é esse o argumento hoje, mas ele é tão velho, tão velho, tão velho

que já era esse o argumento há 10 anos, e isso mostra um bocadinho, até, a falta de originalidade por parte

dos vários governos que vão querendo privatizar, que nem sequer são capazes de inventar mentiras novas.

Ainda se agarram às mentiras antigas para vender estas empresas e é bom notar que são todas, são todas!

Vamos ficar com muito poucas empresas com capacidade industrial ou do setor dos transportes nas mãos

do Estado e isto tem consequências gravíssimas ao nível da soberania, por exemplo, como já dissemos, do

controlo da energia, pois quem controla a energia portuguesa é o Estado chinês.

Mas também tem consequências ao nível da nossa capacidade industrial, porque quando se entrega a

manutenção do metro de Lisboa, por exemplo, e se faz um contrato com uma empresa privada, o que se está

a dizer é que se retira do Estado, de uma empresa nacional, a capacidade de poder fazer manutenção do

material das empresas de transporte. E para sempre o conhecimento e esse serviço fica dependente de

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multinacionais estrangeiras. Estamos, assim, a privar o nosso País de um serviço e de um potencial de

desenvolvimento industrial básico, que vai ser muito necessário no futuro.

Uma nota final, Sr. Deputado, relativamente à luta dos trabalhadores.

Ainda hoje os trabalhadores da EMEF saíram à rua, no Entroncamento, em defesa da sua empresa, e

temos assistido, por todo o País, a lutas de trabalhadores que querem defender as suas empresas, que não

estão a lutar por uma percentagem da privatização, estão a lutar porque viram, ao longo da última década, o

que aconteceu às suas empresas, viram a forma como o desinvestimento levou ao aumento do

endividamento, viram a forma como o desinvestimento levou a problemas de segurança, viram a forma como o

desinvestimento levou a problemas da qualidade do serviço.

E também vemos, hoje, como o Governo usa esse desinvestimento e esses problemas de qualidade no

serviço, porque houve desinvestimento, como uma chantagem contra os trabalhadores, dizendo que a culpa

de tudo o que se passa no setor dos transportes é das greves, é dos trabalhadores. É uma política de

chantagem social, de conflito social, que quer colocar trabalhadores contra trabalhadores, cidadãos contra

cidadãos. É uma política de provocação…

O Sr. Bruno Dias (PCP): — De provocação!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e que nós devemos desconstruir e a que devemos resistir, porque é

uma política que joga os trabalhadores uns contra os outros para que ninguém veja que, de facto, o inimigo

está na privatização e para que ninguém repare que é necessário travar a venda destas empresas. É aqui que

nos devemos concentrar, a impedir a venda destas empresas de transportes a multinacionais privadas,

porque, isso sim, será contra todos os trabalhadores, todos os contribuintes e todos os cidadãos deste País.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Conclui-se aqui a declaração política do Bloco de Esquerda desta tarde.

Ao que parece o PSD quer fazer uma interpelação à Mesa. Faça favor, Sr. Deputado Hugo Soares.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr.ª Presidente, é para pedir à Mesa a distribuição de um documento,

mas sem deixar de dizer o seguinte: ao longo deste debate, nesta declaração política e na que a antecedeu,

foram várias as Sr.as

e os Srs. Deputados que se referiram à governação como ela estando a acabar, dizendo,

até, que faltam poucas semanas para que o Governo cesse as suas funções.

O Sr. João Oliveira (PCP): — É uma oração de finados!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Nós sabemos, Sr.ª Presidente, que faltarão, pelo menos,

sensivelmente, cerca de seis meses para que esta Legislatura termine…

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Comparando os três anos e meio que já passaram…

O Sr. João Galamba (PS): — As eleições são em novembro?! Não sabia!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … e eu queria solicitar à Sr.ª Presidente a distribuição do artigo 186.º,

salvo erro, da Constituição da República Portuguesa, onde se prevê o início e o fim das funções do Governo,

para que fique muito claro para a oposição que este Governo e esta maioria não vão deixar de cumprir o seu

mandato até ao último dia, no pleno exercício das funções.

O Sr. João Galamba (PS): — Isso é uma ameaça?!

A Sr.ª Presidente: — Está esclarecido, Sr. Deputado, muito obrigada.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Distribua antes a passagem da Bíblia sobre os vendilhões do Templo!

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O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — E o que diria a oposição, Sr.ª Presidente, se este Governo deixasse

de governar e esta maioria deixasse de legislar?

Não nos eximiremos de cumprir o nosso mandato até ao fim…

A Sr.ª Presidente: — Está esclarecido, Sr. Deputado.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … e não é porque os senhores querem que o Governo não cumpra

as suas promessas que ele vai deixar de governar.

Aplausos do PSD.

O Sr. João Oliveira (PCP): — A passagem da Bíblia sobre os vendilhões do Templo era mais adequada!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não cite o nome do Senhor em vão!

A Sr.ª Presidente: — Vamos passar à declaração política do PSD desta tarde, hoje pela Sr.ª Deputada

Nilza de Sena, a quem dou a palavra.

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: A circunstância de estarmos no fim

da Legislatura proporciona um balanço.

Quatro anos volvidos, três dos quais conturbados e sofridos na execução de um difícil programa de

ajustamento, para o qual não contribuímos mas que cumprimos com responsabilidade, estamos orgulhosos de

termos conseguido livrar Portugal desse espartilho do Memorando.

Mas, por isso mesmo, vivemos um tempo em que o resgate da verdade se torna mais do que uma

responsabilidade perante o País. Há quem pense, precisamente, que a «grande mentira» é o reduto não dos

factos mas dos factoides, não da ética e da persuasão legítima mas da distorção voluntária da realidade, não

pela racionalidade mas pela emoção populista e instrumental da caça ao voto.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — A verdade é que o atual Governo encontrou não aquilo que o Partido

Socialista garantia mas, antes, um País falido, cujo futuro só poderia ser de sacrifícios e de austeridade.

É bom não esquecermos a história recente. A gestão do Partido Socialista decorreu como se os recursos

fossem ilimitados, a receita não implicasse custos e a despesa fosse um imperativo discricionário da afirmação

da autoridade governativa.

Não encontrámos, apenas, um País empobrecido, um Estado depauperado, uma administração numerosa

e pesada, um País de privilégios injustificados. Encontrámos um País devoluto, devoluto mesmo, sem

recursos no presente e no futuro imediato. Cofres vazios — hoje irritam-se porque os temos cheios —; dívidas

acumuladas; buracos e passivos em toda a parte; desconfiança internacional; acesso negado aos mercados.

Agora, temos economia e finanças consolidadas e o País, conforme notícias ainda hoje confirmadas, está em

pleno crescimento.

Onde está a espiral recessiva que os Srs. Deputados da oposição apregoavam e pareciam desejar?

Repito, hoje o País cresce, cresce sustentadamente e supera as expectativas.

E para que isso acontecesse, não precisámos de um governo faustoso, fantasista ou plástico. Socorremo-

nos pouco de artifícios e não procurámos fabulações vazias — nem antes, nem durante, nem agora, nem

depois.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Socorreram-se pouco!

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A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — A palavra ganhou espontaneidade e por isso, por vezes, houve

imperfeições na mensagem. A comunicação foi, muitas vezes, dura, mas só castigou na medida do realismo e

nunca precisou de intermediários: foi sempre um Primeiro-Ministro corajoso que deu as más notícias e que

falou olhos nos olhos aos portugueses.

O PSD apresenta-se, pois, ao País com um projeto muito definido, sem ambiguidades e demarcando-se,

uma vez mais, do Partido Socialista.

Quem lê o documento Uma Década para Portugal, acompanhado das propostas a conta-gotas do líder do

PS, depara-se com modelos experimentados no passado, cujos resultados são conhecidos, ou

experimentalistas, de consequências imprevisíveis.

Estas medidas, mais do que serem a receita da crise, do desemprego, da despesa pública e da bonomia

cantante de um País risonho, são a prova da impreparação dos socialistas para governar o País.

Sr.as

e Srs. Deputados, está tudo lá. Senão, vejamos: como se põe o País a crescer? Anunciam que vão

reduzir os impostos, mas não dizem como é que os compensam. É a ilusão socialista.

Como é que se estimula a economia? Pela procura, retomando o rumo de despesa pública e de consumo

interno a rodos. É o déja vu da bancarrota.

Não se pronunciam sobre a reforma da segurança social mas propõem baixar a taxa social única para

empregadores e para trabalhadores. É o chamado efeito útil imediato na distribuição de rendimento, ao qual se

seguirá o rombo nas pensões.

Como é que se aliviam fiscalmente as famílias? Reduzindo o IRS, mexendo na progressividade dos

escalões, mas sem explicar implicações macroeconómicas. A quem vão subir o IRS para poderem descer a

outros? A quem? Quanto? E como? Estranho, no mínimo é estranho!

Também restituem a sobretaxa do IRS em dois anos, mas não dizem como substituem esta perda de

receita. É o milagre da multiplicação de ofertas.

Como se promove o socialismo contemporâneo? Promovendo o liberalismo do contrato único e eliminando

os contratos a prazo, fazendo disparar o desemprego. É o chamado compromisso social do Partido Socialista.

Mas mais: aumentam o IMI sobre a segunda habitação, devolvem as 35 horas de trabalho, repõem os

feriados, substituem rendimento certo por receita incerta e inexplicada. E quando alguém questiona a sua

visão mirífica da realidade, convivem mal com a crítica, com a liberdade jornalística e com o saudável

escrutínio público das suas intenções.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — É a política da reposição, Srs. Deputados, da reposição do País de 2011!

Aplausos do PSD.

Como se tudo isso não bastasse, com este receituário enganador mas encantatório que em seis anos nos

faliu e penosamente nos castigou, falam de medidas para a década, para uma década! Mas, Sr.ª Presidente,

Sr.as

e Srs. Deputados, os portugueses não querem mais promessas do Partido Socialista, que lhes acena

com os bolsos cheios, lhes devolve o melhor dos mundos, mas restitui o caminho das pedras, um caminho

amargo.

Um Partido Socialista sério, que se comprometeu com o pacto orçamental, não pode romper com o trajeto

de consolidação das contas públicas e com o modelo de crescimento confirmado pela OCDE e também, hoje

mesmo, pelo Instituto Nacional de Estatística.

Um Partido Socialista que não entende a necessidade de entendimentos em áreas estruturais e urgentes,

como a segurança social, que recuou no acordo para diminuição do IRC, que se inspirou nas propostas

falhadas e igualmente desajustadas de Hollande e Renzi e que celebrou, com muitas palmas, a vitória do

Syriza, não é um partido credível e confiável.

Tudo o que o PS tem feito é vender passado. É verdade que esse passado vem maquilhado, é verdade

que vem bem embrulhado, de laçarote e nova roupagem, mas está todo lá: pesado, experimentado, gasto e

gastador, apresentando-se para a década mas com propostas da década anterior. Os portugueses não

querem e não merecem uma tragédia grega.

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Srs. Deputados, não chega, por isso, dizer das boas intenções nem fazer promessas de faz de conta. O

nosso Governo alcançou uma meta inalienável e cumpriu uma missão histórica: devolveu a soberania nacional

a Portugal no tempo programado, garantiu a proteção dos mais desfavorecidos, criou as condições de

crescimento, que são evidentes, e tem um projeto sólido que quer cumprir, sem o espartilho que os socialistas

nos impuseram.

Há, por isso, um grande desafio transformador no ciclo que se avizinha. E ele desenha-se com provas

dadas, resultados claros e um Primeiro-Ministro que coloca sempre o País em primeiro lugar.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — A Mesa regista duas inscrições, dos Srs. Deputados João Galamba, do PS, e Cecília

Meireles, do CDS-PP, para pedirem esclarecimentos.

A Sr.ª Deputada Nilza de Sena responderá, em conjunto, aos pedidos de esclarecimento.

Tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.

O Sr. João Galamba (PS): — Sr.ª Presidente, começo por cumprimentar a Sr.ª Deputada Nilza de Sena.

A Sr.ª Deputada disse aqui que era importante resgatar a verdade. E eu vou tentar resgatar a verdade —

algo que é difícil — da sua própria intervenção.

Comecemos com uma contradição da Sr.ª Deputada. A Sr.ª Deputada conseguiu a proeza de dizer que as

propostas do Partido Socialista eram, simultaneamente, experimentalistas, novas, e repetidas, mantendo todas

as apostas do passado. Sr.ª Deputada, entenda-se: ou uma, ou outra; as duas, em simultâneo, é que é um

pouco difícil.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Deputada também disse que, qual libertadores da classe operária, chegaram a Portugal e livraram

Portugal dos privilégios injustificados. Queria fazer-lhe uma pergunta muito concreta: considera o PSD que

libertou os pensionistas que recebiam o complemento solidário para idosos (CSI) dos seus privilégios

injustificados, ou não?

Aplausos do PS.

Era uma resposta muito importante, Sr.ª Deputada, uma vez que o Partido Social Democrata tem feito

muita propaganda em torno das pensões mínimas, mas a pobreza dos idosos só baixou porque os senhores

financiaram o aumento das pensões mínimas com um corte no complemento solidário para idosos, que, essa

sim, é a prestação para os pensionistas mais pobres.

Portanto, Sr.ª Deputada, agradecia que nos pudesse esclarecer sobre se os privilégios de que falava eram

destes, e dos desempregados, e de quem emigrou, e de quem recebia o subsídio de doença, enfim, de toda

essa gente que, pelos vistos, para o PSD, tinha privilégios injustificados.

Por outro lado, Sr.ª Deputada, gostava também de clarificar outra coisa. A Sr.ª Deputada disse aqui que

superámos as expectativas de crescimento. Ora, saíram hoje os dados da economia e o que a Sr.ª Deputada

disse aqui é objetiva, categórica e totalmente, falso, porque não se superaram expectativas nenhumas, Sr.ª

Deputada. Aconteceu o contrário. Os dados hoje conhecidos do PIB…

Protestos do Deputado do PSD Luís Montenegro.

Sr. Deputado líder parlamentar, tem tanto tempo para falar! Aguarde o seu tempo, terá certamente outras

alturas para fazer intervenções. Agora, deixe a sua Deputada falar, não se preocupe!

Como dizia, Sr.ª Deputada, hoje saíram os dados da economia e estes, ao contrário do que a Sr.ª

Deputada afirmou, ficaram no valor mais baixo de todos.

Agora, gostava de lhe fazer uma pergunta. A Sr.ª Deputada veio aqui falar da credibilidade do quadro

macro dos economistas do PS.

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A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. João Galamba (PS): — Mas há uma coisa que sabemos: o quadro macro dos economistas do PS foi

bem recebido por todos os parceiros sociais e vários ex-líderes do seu partido.

Aplausos do PS.

Curiosamente, os valores do PIB que hoje saíram têm uma pequena particularidade: é que houve alguns

economistas escolhidos pelo seu partido para elaborar um quadro macro para PSD e o que sabemos hoje é

que houve duas entidades que se enganaram clamorosamente nas previsões.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. João Galamba (PS): — De facto, tinham previsto que o PIB ficava em 2,2 e ficou em 1,4%. Ontem, o

Sr. Primeiro-Ministro disse que tinha indicações fortes de que o PIB poderia superar as expectativas. Não

superou. Assim sendo, pergunto à Sr.ª Deputada se, depois das 29 perguntas ao Partido Socialista, que o

grupo de economistas do PSD nem sequer leu, considera ou não que estes dois economistas, que se

enganaram em muito nas previsões do PIB, são um mau prenúncio e um mau ponto de partida para o quadro

macro do Partido Social Democrata, que ninguém conhece mas que sabemos que estão a elaborar.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Nilza de Sena, a Sr.ª Deputada

suscita aqui várias dúvidas, todas elas, a meu ver, pertinentes, sobre aquilo que foi apresentado pelo PS, que

não é um programa mas um cenário do qual nascerá um programa.

E há algumas dúvidas que, na minha opinião, fazem sentido. É que, repare, as propostas do PS — digamo-

lo com franqueza — têm o mérito de serem propostas e de terem um trabalho técnico por trás, mas não posso

deixar de confessar que o cenário e tudo o que o envolve, às vezes, parece uma maneira muito sofisticada e

económica de adotar uma velha verdade, traduzida no lema: «Quer ganhar eleições? Gaste agora e pense

nas consequências depois!»

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — De facto, o cenário macroeconómico do PS apresenta algumas

semelhanças perturbadoras com esta filosofia. E não é por acaso que o próprio PS, que inicialmente tinha dito

que teria muito prazer em submeter a uma entidade independente o seu cenário macroeconómico, logo que

essa oportunidade surgiu, logo que teve oportunidade de o submeter a uma entidade independente, disse:

«Não, agora já não, porque põe em causa…».

Protestos do PS.

Eu bem vos compreendo! Eu bem vos compreendo, Srs. Deputados!

Protestos das Deputadas do PS Sónia Fertuzinhos e Hortense Martins.

Mas há aqui algumas coisas que ficam por explicar. Fica por explicar, por exemplo, como é que as

medidas-estrela do PS, que são, basicamente, as relativas à TSU, seja do lado do empregador, seja do lado

do trabalhador, vão ser financiadas. É que aquilo que se diz…

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O Sr. João Galamba (PS): — Isso está tudo explicado no relatório! Não percebeu!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Deputado João Galamba, sei que não tenho a sua capacidade

fantástica de perceção, mas, apesar de tudo, terei alguma. E vejo tanta gente que não percebeu que me

atrevo a dizer que, se calhar, o problema é seu, que não explicou bem. Se calhar, é isso.

Aplausos do CDS-PP.

Mas olhe que os argumentos da autoridade são sempre característicos de quem tem pouca razão. Tenho

muito respeito pela capacidade técnica, tenho muito respeito por cenários económicos, mas vou dizer-lhe uma

coisa: às vezes, o bom senso vale mais do que 50 cenários económicos, e é isso que parece faltar.

É que, Sr. Deputado, se as pensões do próximo ano vão ser pagas com a receita do próximo ano, e se o

senhor tira centenas de milhares de euros da receita, tem de explicar como é que vai pagar as pensões — e é

isso que não é explicado.

Em segundo lugar, gostava também de falar dos complementos do cenário macroeconómico. E o cenário

está permanentemente desatualizado. É que, quando um partido adota também um segundo lema, que é

«cada semana, cada promessa» — e imagino que, à medida que as eleições se forem aproximando, vamos

passando para o «cada dia, cada promessa» —, esquece-se de atualizar o cenário.

Repare, Sr. Deputado, desde que o cenário saiu já tivemos o regresso às 35 horas de trabalho semanal

para a função pública; o fim da privatização da TAP (e, este ponto, dando o dito por não dito, porque tinham

sido os senhores a pôr a privatização da TAP no Memorando); o fim do quociente familiar do IRS, porque, por

preconceito puramente ideológico, o PS considera que a despesa com um filho tem de ser igual à despesa

com as obras numa casa…

O Sr. João Galamba (PS): — É isso mesmo!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … ou às despesas com uma pós-graduação.

A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Para efeitos de despesa, um filho não pode ser considerado como

uma pessoa que faça parte da família, não, um filho é como uma casa!

O Sr. João Galamba (PS): — É que é igual para os ricos e para os pobres!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — É um preconceito puramente ideológico mas que tem um significado,

tem um significado para as famílias com filhos.

A Sr.ª Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, terminei. Teremos com certeza oportunidade de

continuar este debate. Muito obrigada pela tolerância.

Aplausos do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Nilza de Sena.

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Sr.ª Presidente, agradeço as questões dos Srs. Deputados João Galamba

e Cecília Meireles.

Sr. Deputado João Galamba, um dia, será feita a história das suas últimas intervenções nesta Câmara…

O Sr. João Galamba (PS): — Vai haver história?! Das suas não vai haver nenhuma!

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A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … e vai perceber-se que, de facto, o senhor é o Deputado que mais falha

nas previsões. Ainda há três meses, dizia que este Orçamento era irrealista.

Mais, Sr. Deputado, não vamos esquecer-nos, nem meter na gaveta outras intervenções suas. O Sr.

Deputado dizia que iríamos viver uma espiral recessiva,…

O Sr. João Galamba (PS): — Estávamos a viver!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … pediu mais tempo e mais dinheiro, defendeu um segundo resgate, um

programa cautelar.

Sr. Deputado, são tantas que poderia estar, durante toda a minha intervenção, a responder exatamente

com as suas palavras.

Mas, Sr. Deputado, vou ler devagarinho o que está num gráfico que tenho aqui comigo, porque penso que

o Sr. Deputado, às vezes, atrapalha-se na interpretação dos dados.

O Sr. João Galamba (PS): — Então, diga lá!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Está aqui um gráfico, onde se pode ler: «O crescimento homólogo do PIB

mais do que duplicou no primeiro trimestre» — mais do que duplicou, Sr. Deputado!

Aplausos do PSD.

O Sr. João Galamba (PS): — Sim?…

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Não é uma ilusão desta bancada, é uma realidade comprovada com dados

de hoje.

Aplausos do PSD.

Mas mais, Sr. Deputado: fomos nós que descongelámos as pensões que o Partido Socialista congelou. O

Sr. Deputado esqueceu-se disto! Fomos nós que aumentámos as pensões mínimas,…

O Sr. João Galamba (PS): — E cortaram o CSI!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … as pensões sociais e rurais, o que beneficiou mais de 1 milhão de

portugueses, Sr. Deputado.

Portanto, o senhor está esquecido, está a reescrever a história consoante a sua própria conveniência.

Mas, Sr. Deputado, quero dizer-lhe mais uma coisa: este Governo não responde com slogans,…

O Sr. João Galamba (PS): — Não!…

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … nem trabalha com sound bites. Este Governo trabalha com resultados! É

de resultados que estamos aqui a falar! E são resultados que hoje trouxemos a esta Câmara, porque os dados

são muito claros: o crescimento existe, cumprimos todas as metas, colocámos sempre o País em primeiro

lugar, resolvendo os problemas que o Partido Socialista nos deixou.

Sr.ª Deputada Cecília Meireles, partilho da maior parte das suas considerações. E digo-lhe sinceramente

que não consigo perceber como é que o Partido Socialista pode ter feito um conjunto de propostas em que faz

uma proeza, aqui também destacada pelo Sr. Deputado João Galamba. É que, de facto, há duas vertentes: a

vertente das propostas que já conhecemos e que têm uma receita que conduz a resultados dramáticos; e a

vertente das outras propostas, que são experimentalistas e que, por essa medida, também não estão

quantificadas, nem o Partido Socialista se dispõe a quantificar. E é exatamente essa disponibilidade que nós

reclamamos, hoje, ao Partido Socialista.

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Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Vieira da Silva.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Foram aprovadas ontem, na reunião

do ECOFIN, conclusões suportadas pelo relatório sobre o envelhecimento do ano 2015, incluindo projeções

demográficas, económicas e financeiras para o período 2013-2060.

Trata-se, para Portugal e para a Europa, de um relatório de enorme importância relativamente ao futuro das

nossas sociedades.

O cenário base apresenta para Portugal previsões que dificilmente poderão ser consideradas com outro

qualificativo senão o de «dramático».

De facto, estas projeções vêm confirmar os dados já conhecidos sobre uma evolução demográfica de

enorme gravidade.

Em termos relativos, no seio da União Europeia, Portugal distingue-se pelas piores razões: seremos, em

poucos anos, o País com menor peso das crianças na população residente (11,5 % de crianças até aos 14

anos, daqui a 15 anos); seremos o segundo País da União com o maior peso relativo das pessoas com mais

de 65 anos (34,6%); seremos o País com maior peso dos muito idosos, acima dos 80 anos (16,1 % da

população).

Se nada mudar, viveremos uma pesada retração da nossa população global e da nossa população em

idade ativa: em 20 anos, perderemos 700 000 habitantes e, no final da projeção, seremos 8,2 milhões de

pessoas vivendo em Portugal.

Em 2060, teremos uma das mais baixas taxas de população em idade ativa e ela cairá mais de 10 pontos

nas próximas décadas.

Esta situação alarmante torna-se mais severa se considerarmos que as estimativas da União Europeia

preveem um crescimento potencial da atividade económica sempre abaixo da média da União.

Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Este quadro, do qual apresentei apenas alguns dos seus

elementos mais expressivos, não é o resultado de um qualquer determinismo histórico. No exercício

semelhante de 2009, a estimativa da população total para o final do período situava-se nos 11,3 milhões de

habitantes, o que compara com os 8,2 da presente projeção. Ele resulta da crise económica que marca a

nossa vida coletiva há tempo demais.

Nos últimos anos, as perspetivas demográficas degradaram-se de forma brutal. A queda da natalidade e a

inversão dos fluxos migratórios são a causa dessa mudança e ambas são fruto de uma profunda recessão e

de expectativas económicas desastrosas: do elevado risco de desemprego dos jovens à quebra persistente

dos salários.

A profundidade da recessão que vivemos e a fragilidade das expectativas futuras está na origem de grande

parte dos problemas que estão associados a um cenário que nos desafia a todos.

O Sr. José Magalhães (PS): — Muito bem!

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, as perspetivas demográficas e o

risco de envelhecimento da nossa sociedade têm sido apresentados, por diversos analistas e pelas forças

políticas da direita, como a causa inevitável da insustentabilidade dos nossos sistemas sociais e, em particular,

do sistema de pensões. Os resultados deste exercício são claros: a pressão sobre a despesa pública dos

sistemas de pensões é reduzida, especialmente se a compararmos com o que acontecia não há muitos anos.

Mesmo neste quadro de envelhecimento acentuado, aquilo que as projeções da União Europeia

apresentam é uma quase estabilidade do peso da despesa em pensões no PIB. Há 10 anos, as projeções

deste mesmo exercício apontavam para um crescimento do peso das pensões no PIB de 9,7 pontos

percentuais, atingindo, em 2050, 20,8 % do PIB. Hoje essa projeção para 2060 é de 13%.

De uma vez por todas, parece claro que caiu por terra a verdade sacrossanta dos propagandistas de várias

causas: não é o sistema de pensões que ameaça o desempenho económico, é a fragilidade da economia que

debilita a qualidade da proteção dos nossos idosos.

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Aplausos do PS.

Não quer isto dizer que o futuro não seja exigente no plano económico, financeiro e social e que não sejam

necessárias correções de percurso, não seja necessário aprofundar a equidade na proteção social, não seja

necessário acompanhar a evolução da esperança de vida com carreiras produtivas mais ricas e mais

prolongadas, não seja necessário melhorar a qualidade de vida dos mais idosos, especialmente em termos de

saúde, e por isso a despesa da saúde é aquela que apresenta uma maior pressão em termos de futuro. Mas

não é na redução dos direitos presentes e na formação de direitos futuros de pensionistas que se encontra

qualquer resposta aos desafios demográficos e sociais.

Aplausos do PS.

A defesa da qualidade de vida dos idosos, em particular numa sociedade envelhecida, tem de ser uma

opção prioritária das nossas sociedades. Mas para que essa prioridade seja concretizada é essencial que a

economia recupere capacidade de crescimento e capacidade de criar emprego.

O cenário demográfico que nos ameaça não pode ser uma inevitabilidade. Ele tem de ser contrariado,

mobilizando o conjunto da sociedade para melhorar as condições de crescimento e a modernização

económica.

Os níveis de emprego e rendimentos que degradam as condições de evolução demográfica têm de ser

impulsionados por políticas públicas que combinem rigor e ambição.

Hoje, há quase dois milhões de cidadãos em idade ativa que estão afastados de uma participação plena e

compensadora no mercado de trabalho. São os desempregados, os inativos desencorajados, os inativos que

são excluídos em definitivo do direito ao trabalho, são os empregados em situação de subemprego

involuntário, para não falar dos milhares de candidatos à emigração.

Recuperar uma importante parcela destes recursos para a criação de riqueza é o nosso principal desafio e

a melhor resposta aos desafios demográficos.

Para que o futuro possa ser diferente das projeções é necessário qualificarmos pessoas, empresas e

instituições. Mas essa qualificação só é eficaz com um impulso de crescimento que abra espaço à

modernização. Do sucesso nesta batalha depende a nossa capacidade de contrariar as projeções e um futuro

sem esperança. Esse é o compromisso e a determinação do Partido Socialista.

Não aceitamos que, em 2019, o desemprego continue a ultrapassar os 11%, como está previsto no

Programa de Estabilidade do Governo.

Aplausos do PS.

Aceitá-lo significaria desistir de um futuro diferente daquele que para nós é projetado. Significaria que os

jovens que estão a terminar os seus estudos continuarão a encarar a emigração como o destino mais

provável, significaria resignarmo-nos às fraturas sociais que minam a nossa coesão e resignarmo-nos ao

empobrecimento e à estagnação.

Há uma alternativa à resignação, há uma alternativa ao empobrecimento sem retorno. É para ela que

mobilizaremos os portugueses, porque é essa alternativa que os portugueses esperam.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao Sr. Deputado Vieira da Silva, os Srs.

Deputados Cecília Meireles, Pedro Filipe Soares, Rita Rato e Adão Silva. O Sr. Deputado informou a Mesa

que responderá em conjuntos de dois.

Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Vieira da Silva, o Sr. Deputado levanta

vários problemas, todos eles importantes, o da questão demográfica, o do desemprego, que é, de facto,

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gravíssimo e afeta muitos portugueses, felizmente, hoje menos do que durante a recessão que a nossa

situação de bancarrota provocou, mas, em todo o caso, muitos mais do que aquilo que desejamos.

O Sr. Deputado refere a necessidade de resolvermos este problema, mas, na realidade, fala das previsões

do PS. As previsões positivas são uma boa notícia, mas, Sr. Deputado, se resolvêssemos o problema do

desempego com previsões, creio que ele já estaria resolvido há muito tempo! Para resolver o problema do

desemprego é preciso um bocadinho mais do que previsões.

Ora, isto leva-nos à questão do crescimento económico. Aquilo que me parece é que, a fazer-se o que o

PS quer, em relação ao tipo de crescimento económico em que o PS está apostado, no futuro, aliás, como já

aconteceu no passado, vai haver exatamente os mesmos resultados:…

O Sr. Jorge Fão (PS): — Isso são previsões!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … há um momento que é positivo, porque ele é completamente

insuflado por recurso ao crédito ou por medidas muito expansionistas de «porem dinheiro no bolso das

pessoas», mas, depois, mal desaparecem as medidas ou mal há um problema qualquer na conjuntura externa,

entramos em recessão fortíssima e mais profunda do que no resto da Europa.

Esta é a questão: queremos crescer, sim, mas sustentadamente, de forma a que o crescimento seja cada

vez mais robusto de ano para ano, não é com medidas feitas à pressão e que, mal são retiradas, levam a que

o crescimento desça outra vez.

Não é por acaso que o cenário macroeconómico do PS, quando começa a entrar em 2018 e 2019, já

começa a prever crescimento económico inferior ao seu cenário de base. É precisamente porque se origina

um pico que, depois, volta para baixo.

O Sr. João Galamba (PS): — Esse cenário vem do cenário base da Comissão Europeia!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP). — Não, estou a falar do cenário que é feito por cima do cenário da

Comissão Europeia, que é o vosso.

Em segundo lugar, sei que o Sr. Deputado tem um conhecimento vastíssimo nestas áreas. Percebo a ideia

do PS ao utilizar a TSU como alfa e ómega da política do emprego, seja a TSU do lado do empregado, seja a

TSU do lado do empregador, mas há duas coisas fundamentais que não são explicadas.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP). — Vou concluir, Sr.ª Presidente.

A primeira é como é que se vai compensar o rombo de receitas que vai haver na segurança social, porque,

por mais otimista que seja o cenário, não vai criar, pelo menos nos primeiros anos, postos de trabalho que

compensem, nem de perto nem, de longe, este rombo. Portanto, como é que vai pagar pensões?

A única maneira de compensar isto é através daquilo a que chama, eufemisticamente, a condição de

recurso nas pensões mínimas, sendo, na realidade, um corte nas pensões mínimas o que o PS está a propor.

O Sr. Deputado acha mesmo adequado fazer este plafonamento obrigatório, ou seja, que mesmo os

trabalhadores com rendimentos mais baixos sejam obrigados a descontar menos e, daqui a 10, 20 anos,

tenham reformas substancialmente inferiores? É mesmo por aí que o Partido Socialista quer ir? Creio que não

é!

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Vieira da Silva, há hoje, na nossa

sociedade, um debate que «divide águas», que é o debate sobre os constrangimentos que pairam em relação

à nossa economia. Há neste debate um conjunto de pessoas que formam uma coligação no sentido de atacar

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o trabalho, dizendo que um dos problemas da economia, e que é isso que nos retira competitividade, são os

custos do trabalho.

Partindo deste ponto de vista, o resultado poderá sempre levar a qualquer coisa parecida com o saber

onde é que vamos cortar nos rendimentos dos trabalhadores, diretamente — e aí vemos que o Governo tem

sido hábil a fazê-lo, pois, ao longo destes últimos anos, nos salários do setor privado já se viu uma redução

global de mais de 10% e nos do setor público ainda mais do que isso — ou indiretamente, através dos

impostos pagos por cada um dos trabalhadores e, por exemplo, da TSU, o pagamento para a segurança

social.

A primeira pergunta que faço é se, no debate sobre os problemas da nossa economia, o PS está do lado

daqueles que acham que o que retira competitividade ao País são os custos do trabalho, sendo portanto aí

que se deve agir, ou se está do lado daqueles que percebem que, atualmente, os custos do trabalho são

menos de um terço do custo das empresas e, portanto, imputar aos trabalhadores responsabilidade sobre

qualquer competitividade da economia é, no mínimo, manifestamente exagerado. Por isso, deveríamos agir

sobre as desigualdades da economia, sobre os salários, que são não demasiado altos mas demasiado baixos,

sobre as rendas abusivas que atualmente existem na economia (e não só na energia, matéria essa que é

inequívoca), sobre outras restrições, até burocráticas, que pairam sobre as empresas e sobre as dificuldades

que existem nas empresas em densificar o conhecimento que é dado, combatendo assim a precariedade, a

ideia de que uma boa empresa é a aquela que pode rodar constantemente os trabalhadores.

Pergunto: de que lado é que o PS se coloca?

Olhando para as medidas que o Partido Socialista apresentou, começando, desde logo, pela redução da

TSU dos patrões e dos empregados, mas passando também por aquela forma de facilitação dos

despedimentos, que é essa nova modalidade que deita por terra qualquer ideia que defenda os trabalhadores

de que não há despedimento sem justa causa, afinal, o Partido Socialista está a «atirar» inequivocamente aos

direitos dos trabalhadores, quer ao direito ao salário, quer ao direito a ter estabilidade no emprego, quer a uma

visão da economia que não coloque os trabalhadores como um problema mas, sim como um benefício, uma

mais-valia.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Concluo, Sr.ª Presidente, fazendo uma pergunta direta: afinal, o

programa que o PS tem para apresentar é aquele que tem o dedo apontado aos trabalhadores, dizendo que

são eles os responsáveis pelo País, ou há um outro programa, que será depois apresentado, que vai demolir

as bases daquilo que os economistas fizeram?

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Peço aos Srs. Deputados que respeitem os tempos regimentais.

Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Vieira da Silva.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, pretendi, tal como o Grupo Parlamentar do

Partido Socialista, trazer um debate sobre um importante documento que foi ontem aprovado no Ecofin, aliás,

com a presença da Sr.ª Ministra das Finanças, sobre o cenário demográfico que nos fala de uma projeção,

validada pela União Europeia, que diz que Portugal, daqui a 50 anos, terá menos 2,3 milhões de habitantes do

que hoje. Se os Srs. Deputados acham que este debate não tem importância nenhuma, fá-lo-emos noutra

altura.

Como os Srs. Deputados não colocaram nenhuma questão sobre o tema central da minha intervenção, vou

responder às questões que os senhores colocaram, esclarecendo que não fiz nenhuma previsão da

responsabilidade do Partido Socialista, apenas citei os dados do documento relativo ao envelhecimento que foi

aprovado ontem no Ecofin.

Respondendo às questões da Sr.ª Deputada Cecília Meireles, gostava de pedir à Sr.ª Deputada, com toda

a consideração que tenho por si, que talvez pudesse fazer uma segunda leitura do documento dos

economistas sobre o cenário macroeconómico.

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É que ainda há pouco — não foi nas perguntas que fez, mas não posso deixar de o referir — a Sr.ª

Deputada referiu um conjunto de medidas que disse que teriam sido apresentadas depois do cenário e, na

verdade, todas elas estão cenário, como as 35 horas e o coeficiente familiar. Todas elas lá estão! Então, a Sr.ª

Deputada está desatenta e não é possível fazer um debate sério com alguém que está desatento e que não

acompanha aquela que é, efetivamente, a proposta de cada um.

Aplausos do PS.

Sr.ª Deputada, na nossa argumentação, podemos fazer os artifícios que quisermos com previsões e a

concretização dessas previsões. Mas, Sr.ª Deputada, se é esse o debate, «vou a jogo» e «vou a jogo» com as

previsões de um Governo de que a Sr.ª Deputada fazia parte — e que agora continua a apoiar —,

apresentadas pelo Sr. Ex-Ministro das Finanças no documento enviado à Comissão Europeia, sobre PIB,

emprego, desemprego, exportações, défice, dívida e todas elas falharam rotundamente. No caso do emprego,

falharam 300 000 postos de trabalho!

Aplausos do PS.

O que os senhores previram para 2015, em emprego, foi 300 000 postos de trabalho acima do que se está

a concretizar, mesmo com esta maravilha de crescimento que os senhores dizem que está a acontecer.

Mais: o que agora prevê o Governo para 2019 são 120 000 postos de trabalho abaixo do que previu em

2011 para este ano. Sobre previsões estamos conversados!

Sr.ª Deputada Cecília Meireles, sobre a questão das pensões, a proposta de alteração da taxa social única

do lado dos trabalhadores, que é uma proposta transitória, tem um custo e um objetivo. Acreditamos que esse

é um objetivo positivo, porque é um objetivo de estímulo à recuperação económica e com elevado potencial de

criação de emprego.

Sr.ª Deputada, se olhar para o cenário macroeconómico e para o cenário orçamental verificará que todas

as medidas que propomos têm uma implicação no défice e, em algumas alturas, sempre cumprindo a meta

dos 3% do tratado orçamental ou a meta do pacto de estabilidade, as estimativas são diferentes das do

Governo. Porquê? Porque temos um balanço diferente entre o défice social e o défice orçamental. Mas,

quanto a isso, nada poderá resolver essa distinção.

Aplausos do PS.

Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, colocou as suas questões noutro plano e eu respondo-lhe de forma

muito clara.

As propostas apresentadas — muito provavelmente grande parte delas irão integrar o programa do Partido

Socialista, não tenho nenhuma dúvida sobre isso — foram orientadas para aquilo que é essencial, e foi isso

que procurei mostrar na minha declaração política.

No quadro em que vivemos é essencial que haja um impulso para o crescimento que permita que algumas

mudanças que precisamos de fazer tenham espaço para viver, para respirar. E uma das formas de impulsionar

esse crescimento é precisamente reduzindo a contribuição dos trabalhadores para a segurança social, que é

limitada e transitória, mas em relação à qual cremos que, no futuro, tem um impacto positivo na formação dos

direitos e na formação das pensões.

Se o Sr. Deputado fizer as contas, verificará que os valores futuros das pensões foram cortados em 7% ou

8%, no mínimo, em valores reais, apenas pelos episódios de recessão e de desemprego que tivemos nos

últimos anos.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.

Portanto, se contrariarmos esses efeitos, temos maiores probabilidades de sustentar o valor das pensões

futuras.

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Sobre a redução da contribuição patronal, não é uma redução do mesmo tipo, é uma redução com

substituição, em sede fiscal, das receitas perdidas. E por quem? Precisamente por aqueles que a podem

pagar.

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente. Peço desculpa.

Não somos fanáticos da questão dos custos de trabalho, mas também sabemos que para muitas pequenas

e médias empresas não é indiferente o facto de no dia 15 de cada mês poderem ter algum alívio das suas

obrigações, que é pago, compensado, pelas grandes empresas. Estão os senhores contra isso?

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Vieira da Silva, fez uma declaração política

abordando matérias relacionadas com o cenário demográfico e, de facto, pode-se concluir, de forma rigorosa,

que o País está confrontado com um cenário demográfico que, como disse o Sr. Deputado e o PCP

acompanha-o, é dramático face à vida das populações.

Mas o PCP também não hesita em concluir que a situação demográfica é inseparável de décadas de

empobrecimento e de agravamento da exploração, de diminuição e de desvalorização do trabalho, de

destruição de importantes funções sociais do Estado.

Por isso mesmo, ainda recentemente tivemos a oportunidade de discutir aqui medidas no âmbito do

incentivo à natalidade e o PCP apresentou um conjunto de medidas integradas que permite uma abordagem

global destas matérias, designadamente no que diz respeito à política de rendimentos e à valorização dos

salários, à universalidade do abono de família, à gratuitidade dos manuais escolares, ao cabal cumprimento

dos direitos de maternidade e de paternidade nos locais de trabalho, à garantia dos meios inspetivos da ACT

(Autoridade para as Condições do Trabalho) para assegurar o cumprimento desses direitos e à garantia de

horários de trabalho que permitam a articulação entre a vida pessoal, familiar e profissional.

Em muitas destas matérias, é verdade, o Partido Socialista não nos acompanhou, designadamente quanto

à universalidade do abono de família, e é exatamente por isso que gostaríamos de ouvir a opinião do Sr.

Deputado em relação à necessidade de contrariar este cenário demográfico.

É que, para o PCP, é urgente inverter esta tendência demográfica, mas para isso é preciso romper com a

política de direita, o que exige, designadamente no que diz respeito à política de rendimentos, aquilo que não

ouvimos das suas palavras nem das propostas que foram apresentadas pelo PS, que é a necessidade da

valorização dos salários, da erradicação da precariedade, da universalidade do abono de família, da

generalização e do aumento dos apoios sociais, da revogação da condição de recursos e do combate à

emigração, com a criação de emprego, com a aposta no aparelho produtivo.

Da parte do PCP, não há dúvida de que é preciso uma alternativa e é preciso romper com esta política,

mas, da parte do Partido Socialista, as medidas que foram apresentadas não apontam para esse caminho,

apontam para a manutenção do corte dos salários e a manutenção de um caminho que não garante rutura

com a política de direita.

Por isso, o PCP gostaria de saber o seguinte: quanto às necessidades da defesa da contratação coletiva,

da revogação das normas mais gravosas do Código do Trabalho, da universalidade do abono de família, da

revogação da condição de recursos, do aumento das pensões mínimas em 25 €, como consecutivamente aqui

temos proposto, de que lado é que está o Partido Socialista? Está do lado da alternativa ou está do lado da

alternância?

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Adão Silva.

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O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Vieira da Silva, começou por falar sobre as

questões demográficas e essa é uma matéria da maior relevância, que preocupa o PSD, os portugueses em

geral e o Parlamento em particular.

Aliás, trouxemos a debate as questões da demografia, sendo certo que é preciso referir o seguinte: estas

dinâmicas negativas da demografia já começaram há alguns anos, em 2007, 2008, 2009, quando o saldo já

era negativo, isto é, nascia menos gente do que as pessoas que morriam. Portanto, há uma dinâmica anterior,

para a qual os governos anteriores também não deram grandes contributos, como, por exemplo, na questão

do corte do abono de família.

Mas quero, sobretudo, centrar-me num aspeto referido pelo Sr. Deputado, que é o do PS não se resignar

em relação à situação. Pois, o PS não se resigna, o PSD também não se resigna e este Governo também não

se resigna. Falamos, pois, de resignação, Sr. Deputado, para lhe dizer o seguinte: o que aconteceu foi que

este Governo iniciou o seu mandato numa situação muito precária.

Fazendo um paralelo com o que aconteceu agora no Reino Unido, V. Ex.ª saberá que um dos aspetos mais

relevantes da campanha eleitoral do Cameron foi o facto de o anterior ministro das finanças trabalhista ter

deixado um papel a dizer: «Acabou o dinheiro». Não sei se V. Ex.ª viu imagens desta matéria, mas o anterior

ministro das finanças, inopinadamente mas com aquela fleuma britânica, deixou um papel escrito, na

secretária do futuro ministro das finanças, a dizer: «Acabou o dinheiro».

Ora bem, nós partimos desta situação. Por acaso, os senhores não deixaram nenhum papel escrito, mas a

verdade é que, convosco, tinha acabado o dinheiro. E nós resignámo-nos? Não, Sr. Deputado, não nos

resignámos. E, passados alguns anos de governação, o que é que nós temos?

Desemprego: há menos 75 000 desempregados no 1.º trimestre de 2015 face a 2014.

Emprego: foram criados 50 000 postos de trabalho no 1.º trimestre de 2015 face a 2014.

Economia: está a crescer largamente acima da média.

O Sr. João Galamba (PS): — Acima da média? Onde?

O Sr. João Oliveira (PCP): — Qual média? A média da União Europeia é a mesma, é 1,4!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Mais: as contribuições para a segurança social — um aspeto que interessa ao

Sr. Deputado —, no 1.º trimestre, cresceram 4,5%, muito acima do previsto, que era 4,1%. Isto é, mais 150

milhões de euros.

Portanto, Sr. Deputado, não nos estamos a resignar. Mas é preciso dizer a verdade aos portugueses e os

senhores hoje também têm de a dizer.

V. Ex.ª critica o facto de o Governo dizer que lamenta mas que, até 2019, não vai conseguir reduzir a taxa

de desemprego para valores abaixo dos 10%. Os senhores dizem: «Não conseguem? Nós conseguiremos!

Em 2019, chegaremos aos 7,4%!». Só não explicam como é que chegarão a esse valor!

Por isso, era muito importante que o Sr. Deputado nos dissesse, hoje, como é que, no vosso cenário, com

o crescimento a desacelerar em 2018 e em 2019, os senhores terão uma redução da taxa de desemprego

dessa forma tão notável.

Esta é uma questão essencial e também concordamos com o Sr. Deputado que o desemprego é, de facto,

um flagelo para a demografia, tal como é a economia. Mas hoje verifica-se uma inversão da situação, com a

taxa de desemprego a baixar, com a taxa de emprego a crescer, com a economia a desenvolver-se, com

repercussões práticas e diretas na vida das pessoas.

Sr. Deputado, por detrás do desemprego e do emprego, há uma pessoa, há uma família, há uma empresa,

há uma sociedade que quer crescer e reerguer-se.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Vieira da Silva.

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O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, agradeço as suas questões. De

facto, a Sr.ª Deputada referiu as questões que coloquei na minha declaração política e eu gostaria de

agradecer por isso.

No entanto, gostaria de lhe dizer o seguinte: tenho dificuldade em perceber — esta é uma expressão muito

usada pela Sr.ª Deputada Cecília Meireles — como é que os senhores acham que décadas de

empobrecimento levaram o País onde está. Os senhores dizem, e por vezes bem, que o Estado social está a

ser destruído. Então, quando é que ele foi construído? Foi nas décadas de empobrecimento de que os

senhores falam! É que foi nessas décadas que ele foi construído, Sr.ª Deputada. Olhe para os números e veja

como é que era Portugal em 1978 e como é que era em 2010. Essa leitura histórica é completamente

enviesada.

Sr.ª Deputada, sobre as questões concretas, concordará comigo que as medidas a que se referiu — e o PS

também já apresentou várias — são importantes. Podemos discordar de uma ou de outra medida e concordar

em relação a outras. Contudo, também concordará comigo que essa não é a questão essencial. A questão

essencial para recuperar do ponto de vista demográfico é inverter a situação económica e social no País.

Decerto que os senhores estão de acordo com esta afirmação e foi neste aspeto que centrei a minha

declaração política.

As medidas de apoio à natalidade, de apoio às famílias, de combate à pobreza são importantes, mas só

surtirão efeito se a capacidade de criar emprego, e emprego com mais estabilidade, oferecer às famílias

oportunidades para terem uma outra visão sobre o seu futuro.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Muito bem!

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Foi isso que tentámos trazer ao debate e é essa a essência do que

apresentámos como cenário macroeconómico.

Aplausos do PS.

Sr.ª Deputada, gostaria de dizer que somos pelos direitos sociais sem restrições, quando eles

correspondem a relações de natureza contributiva. Mas também somos, em muitas prestações sociais que são

necessárias, a favor da existência de condição de recursos, por uma razão social. Caso contrário, se o abono

de família fosse igual para todos, para os ricos e para os pobres, os trabalhadores pobres que pagam

impostos estariam a beneficiar o abono de família dos ricos, que, às vezes, nem sequer os pagam.

Aplausos do PS.

É por isso que a condição de recursos é essencial em algumas prestações e é em relação a essa matéria

que nos dividimos.

Protestos da Deputada do BE Mariana Aiveca.

Com isso, passo a responder à questão colocada pelo Deputado Adão Silva, que também agradeço.

Sr. Deputado, é verdade que as questões sobre a dinâmica demográfica são velhas, têm décadas e

algumas são estruturais, mas, infelizmente, não estamos a falar disso.

Esses relatórios sobre a demografia fazem-se de três em três anos e, ainda há seis anos, o mesmo

relatório, que agora aponta a projeção dramática de 8,2 milhões de portugueses em 2060, apontava, para o

mesmo ano, 11,3 milhões. Alguma coisa se passou, e eu, Sr. Deputado, nem sequer digo que a

responsabilidade é toda dos senhores. Longe disso! Houve uma crise económica profundíssima, houve uma

incapacidade de lhe dar resposta por parte da Europa e houve, da vossa parte, a pior forma de dar resposta à

crise económica.

Aplausos do PS.

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Tudo isso contribuiu para esta degradação demográfica. A vossa política levou, nomeadamente, a que

houvesse emigração e à queda da fertilidade — o número de nascimentos caiu em três anos mais do que caiu

em 20.

A Sr.ª Deputada acha que isto foi por acaso? Acha que foi um acontecimento que nada tem a ver com a

forma como foram conduzidas as políticas económicas e sociais? Eu não acho, acho o contrário.

É evidente que a crise tem uma grande responsabilidade por isso, isto acontece em vários países. Nós

reconhecemo-lo, ao contrário dos senhores.

Aplausos do PS.

Nós reconhecemos que isto acontece em vários países e há razões sistémicas, europeias, da moeda

única. Nem tudo é da nossa responsabilidade. Quando fazemos a leitura de que a responsabilidade é nossa,

que é a leitura de alguns adversários externos, estamos a defraudar os interesses nacionais, estamos a dizer

que é da nossa responsabilidade muito que é da responsabilidade de outros que têm outros interesses e que

os colocam à frente dos interesses da União Europeia, onde estão os nossos interesses.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Muito bem!

O Sr. Vieira da Silva (PS): — O Sr. Deputado Adão Silva falou dos cortes do abono de família. Lembra-se

que o primeiro Governo a fazer um corte no abono de família foi o Governo de que o senhor fez parte?! A

memória, às vezes, é traiçoeira! Foi só um escalão, mas o seu Governo foi o primeiro a fazê-lo.

É verdade que foi o Partido Socialista que iniciou a diferenciação no abono de família — e os senhores,

tanto quanto me recordo, apoiaram —, mas quem fez o primeiro corte no escalão mais alto foi um ministro da

solidariedade que fazia parte do Governo a que o senhor pertenceu.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Ao escalão mais alto. Agora, é ao mais baixo!

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, termino referindo-me à questão final colocada pelo Sr.

Deputado Adão Silva. O Sr. Deputado estranha como é que outra política económica pode gerar mais

emprego. Sr. Deputado, vou responder da forma mais simples: pela mesma razão que a vossa política

económica gerou muito mais desemprego do que aquele que os senhores tinham previsto. Os senhores

puseram a economia ao contrário e, quando previam um nível de emprego para 2015, ele situa-se 300 000

abaixo,…

A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — … porque usaram mal os instrumentos de política económica. Bem usados,

os mesmos mecanismos farão crescer o emprego. É essa a nossa convicção.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: — Conclui-se aqui a declaração política do PS desta tarde.

Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, pelo CDS-PP.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Na quinta-feira passada, o

Ministério da Saúde anunciou que a vacina Prevenar vai integrar o Plano Nacional de Vacinação, ou seja, vai

ser dispensada de forma totalmente gratuita a todos os lactentes e crianças entre os dois meses e os cinco

anos de idade. Vai também ser dispensada gratuitamente a pessoas com doenças crónicas e patologias

consideradas de alto risco, como os portadores de VIH, certas doenças pulmonares obstrutivas ou o cancro do

pulmão.

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Este era o anúncio que o CDS aguardava há nove anos, quando propusemos, pela primeira de muitas

vezes, o acesso geral e gratuito a esta vacina.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Esta é, certamente, a decisão pela qual as famílias portuguesas

esperam desde 2001 quando esta vacina entrou no mercado português, tendo sido, desde então, suportado

integralmente pelas famílias o encargo respetivo.

Convém relembrar por que é que entendemos que esta medida, agora anunciada pelo Ministério da Saúde,

é tão importante: porque é uma questão de saúde pública, porque é uma questão de equidade e de justiça

social e porque é uma medida de apoio à natalidade.

Vejamos, primeiro, a questão da saúde pública: esta vacina antipneumocócica previne doenças tão graves

como a meningite, a pneumonia, a septicemia, a otite média aguda. Por isso mesmo, há muito tempo que é

recomendada pela Organização Mundial de Saúde. É também recomendada pelos pediatras, pelos

pneumologistas, pela Comissão Nacional da Saúde Materna da Criança e do Adolescente e pelos demais

profissionais de saúde.

As famílias querem vacinar os seus filhos e prevenir estas doenças através desta vacinação. Aliás, os

peritos confirmam que os custos em termos de qualidade de vida, menor morbilidade, menor mortalidade, para

além dos custos financeiros diretos e indiretos, serão sempre inferiores ao que seria gasto «em internamento e

tratamento de casos e mortes evitáveis». Estima-se que esta medida poderá evitar até 650 mortes por ano e

mais de 3000 internamentos.

Haverá, também, uma redução significativa de prescrição de antibióticos na otite média aguda em crianças,

que é o principal motivo de prescrição de antibióticos, e estima-se que esta redução possa chegar a mais de

8000 episódios de doença em crianças até aos 10 anos de idade.

Nunca será demais relembrar o princípio básico do Plano Nacional de Vacinação: as vacinas permitem

salvar mais vidas e prevenir mais casos de doença do que qualquer tratamento médico.

E mais: nos países em que esta vacina está mais generalizada, verificou-se uma quebra nas taxas de

doenças pneumocócicas, incluindo junto da população que não foi imunizada. E porquê? Porque a parte da

população que foi vacinada limita o contágio geral destas doenças tão graves e tão invasivas.

Em síntese, citamos o Diretor-Geral de Saúde, Dr. Francisco George: «Com esta medida, vamos ganhar

tendo menos casos de doenças provocadas, vamos evitar internamentos, vamos evitar o uso de antibióticos e

vamos poupar a vida a crianças que morreriam se a vacina não fosse incluída desta forma universal.»

Vejamos, também, a questão da equidade e justiça social: com esta decisão, acabou uma situação de

enorme injustiça social que se vivia em Portugal. Para garantir esta proteção aos seus filhos, os pais das

crianças tinham de pagar entre 200 e 300 €, consoante o número de doses da vacina. Ora, se para alguns

este valor é comportável, para muitos era inacessível; outros, ainda, tinham de fazer esforços incalculáveis

para poderem imunizar os seus filhos. Esta iniquidade acabou na semana passada, passando o Serviço

Nacional de Saúde a assumir este encargo para que haja um acesso universal e geral. Isto é, sem dúvida,

mais uma medida, mais um sinal do empenho do Governo para assegurar o cumprimento dos princípios

fundadores do nosso sistema de saúde.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

Por último, trata-se de uma clara medida de apoio à natalidade, os dados são claros e são ameaçadores:

Portugal tem assistido desde os anos 80 a uma constante quebra nas taxas de natalidade, sendo atualmente

uma das mais baixas do mundo e a mais baixa da Europa. A não ser atalhada, esta continuidade vai

comprometer seriamente a renovação geracional, o equilíbrio demográfico, o desenvolvimento económico-

social e a sustentabilidade dos sistemas de proteção social (segurança social e saúde), sistemas que todos

pretendemos preservar, e a degradação da estrutura social será evidente.

Ora, não há um só motivo para este baixo índice de fecundidade, assim como não há uma só medida para

o resolver. E, mais, seria desejável que houvesse uma verdadeira estratégia nacional para inverter esta

tendência.

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No entanto, e só para falar na área da saúde, têm sido tomadas medidas de evidente apoio àqueles que

querem ter filhos ou que querem ter mais filhos do que aqueles que já têm. Desde logo, a prioridade dada às

grávidas no acesso a médico de família.

Por outro lado, os indicadores em termos de saúde materno-infantil nunca foram tão animadores e as taxas

de mortalidade neonatal nunca foram tão baixas.

Mais recentemente, a isenção de taxas moderadoras para todos os cuidados de saúde a todas as crianças

e jovens até aos 18 anos é mais um sinal de apoio à natalidade. São mais 400 000 pessoas isentas, de um

universo de mais de 6 milhões de utentes atualmente isentos do pagamento de taxas moderadoras.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O acesso gratuito da Prevenar a todos os lactentes e crianças é mais do que um sinal evidente do apoio à

natalidade, é uma garantia dada às famílias de que os seus filhos beneficiarão de um proteção na saúde de

acordo com os mais elevados padrões internacionais.

Não bastam palavras, não bastam proclamações e meras retóricas! É preciso ação e é preciso fazer

opções!

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Guilherme Silva.

O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — É isso que o Governo tem feito, apesar da pesadíssima herança e do

programa de ajustamento a que o Governo anterior nos sujeitou. Têm sido feitas opções pela saúde, pela

equidade e pela natalidade.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr.ª Deputada, estão inscritos quatro Srs. Deputados para pedir

esclarecimentos, pelo que tem, desde já, a palavra a Sr.ª Deputada Laura Esperança.

A Sr.ª Laura Esperança (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, em primeiro lugar, gostaria de

saudar o Governo por ter decidido incluir a vacina contra a meningite pneumocócica no Programa Nacional de

Vacinação, o que foi excecionalmente bem recebido por todos os portugueses.

Cumprimento também o CDS, já que esta tem sido uma importante causa, em particular, da Sr.ª Deputada

Teresa Caeiro, da qual o PSD comungou, tendo levado por isso à recente aprovação conjunta do projeto de

resolução recomendando ao Governo a inclusão da vacina antipneumocócica no Programa Nacional de

Vacinação. Esta decisão do Governo vem, pois, ao encontro de recomendações aprovadas pela Assembleia

da República e evidencia bem a consciência social do atual Governo de maioria PSD/CDS.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Laura Esperança (PSD): — Uma medida de ajuda às famílias, um incentivo real à natalidade, para

mais após num período, que não podemos esquecer, de tão grandes dificuldades como o vivido pelos

portugueses nos últimos anos devido às irresponsabilidades dos Governos anteriores do Partido Socialista.

Aliás, falando do Partido Socialista cabe perguntar por que razão acha o CDS que o PS não colocou a

vacina contra a meningite pneumocócica no Plano de Vacinação quando foi Governo. Terá sido pelos custos?

Ou porque para o PS a vacina não é eficaz, como chegou a defender, orgulhosamente só, a então Ministra da

Saúde Ana Jorge?

Vozes do PSD: — Muito bem!

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A Sr.ª Laura Esperança (PSD): — Esta questão é tanto mais pertinente quanto é certo que foi ainda no

tempo dos Governos do Partido Socialista que a Direção-Geral de Saúde emitiu um parecer considerando

pertinente a introdução da inclusão da vacina antipneumocócica no Plano Nacional de Vacinação e o PS nada

fez.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Luísa

Salgueiro.

A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, permita-me que a saúde, a

si, e à bancada do CDS por terem trazido aqui este tema e também os cumprimente pelo facto de terem,

desde há muito, apresentado esta proposta.

O facto de esta vacina ter sido incluída no Plano Nacional de Vacinação, para o Partido Socialista é uma

boa notícia.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Nós não vamos aqui criticar a inclusão da vacina, nunca o fizemos, e,

portanto, queremos aqui dizer que é bom para as famílias portuguesas, para as crianças portuguesas e para o

Serviço Nacional de Saúde que mais esta vacina seja incluída. Portanto, repito, são boas notícias, que

saudamos.

O que lamentamos é que, mais uma vez, esta medida tenha sido anunciada, ou decidida, à boa medida do

Governo atual.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Já estragou tudo!

A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Ou seja, primeiro, foi dito a tom de medo, tipo ensaio, que ia ser apoiada

mas só para as famílias carenciadas, isto é, as famílias que não pudessem pagar a vacina tinham o apoio do

Estado e as que pudessem não teriam, ao contrário das orientações da Organização Mundial de Saúde que

defende que todas as pessoas devem poder atingir o seu potencial máximo de saúde, sem que as

circunstâncias económicas e sociais impeçam esse objetivo. Como sabe, a vacina defende não apenas a

pessoa que é vacinada mas toda a população, pelo que esta é uma questão de saúde pública.

Depois de recuar nesta medida de apoiar apenas os carenciados, o Sr. Ministro anunciou que a vacina

seria para as crianças nascidas depois de junho deste ano. Choveram as críticas, mais uma vez, à iniquidade,

e o que fez o Sr. Ministro? Recuou e, no mesmo dia, à tarde, minutos antes de entrar aqui na sessão plenária,

sabendo que ia ser criticado, alterou, mais uma vez, esta medida.

Este é bem um exemplo de como este Governo governa, aos avanços, aos recuos, ao sabor da opinião

pública, sem uma estratégia definida.

Portanto, saudamos o resultado, mas lamentamos o método, que é, mais uma vez, o bom estilo desta

governação.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Termino, mas não sem dizer, Sr. Presidente, permita-me, que a Sr.ª

Deputada Laura Esperança citou aqui a Sr.ª Ministra Ana Jorge e compreendo, porque não assistiu aos

debates de então e, por isso, não os teve presente,…

A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Podia ter ido ler!

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A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — … mas a Sr.ª Ministra disse isso, quando ainda não estava decidida, pela

Comissão de Terapêutica, a inclusão da vacina, e sempre condicionámos essa aprovação à prova de

evidência científica.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Quando ela foi demonstrada, já não tivemos tempo de o fazer, porque isso

aconteceu no final do mandato. Mas nunca estivemos contra a inclusão e saudamos que ela aconteça neste

momento.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder aos pedidos de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª

Deputada Teresa Caeiro.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Laura Esperança, agradeço a sua

questão e as referências que fez.

De facto, esta questão da inclusão da vacina antipneumocócica, hoje em dia com 13 valências, ou seja,

prevenindo 13 estirpes de bactérias muito invasivas, tem sido uma questão muito importante para o CDS ao

longo dos últimos anos.

Como disse a Sr.ª Deputada, e muito bem, este é mais um sinal da consciência social deste Governo,

porque, apesar dos variadíssimos constrangimentos, este Governo soube, nas áreas sociais, tomar decisões

que protegessem os mais vulneráveis. E permita-me acrescentar outras áreas, como a da segurança social,

através do programa de socorro social e do alargamento das vagas em creches, e a de outra área da saúde,

mas também para uma população muito vulnerável, com a dispensa gratuita da vacina contra a gripe para

todos os maiores de 65 anos, atingindo uma taxa de adesão na ordem dos 70%, enfim, tudo isto são apenas

alguns exemplos de medidas em que, apesar do esforço financeiro por que este Governo e o País tiveram de

passar, houve sempre uma opção preferencial pelos mais vulneráveis.

Sr.ª Deputada Luísa Salgueiro, agradeço as suas notas, em especial o reconhecimento de que a inclusão

da vacina é uma boa notícia — o PS não foi tão efusivo quando soube deste anúncio —, mas deixe-me fazer-

lhe também algumas correções.

A primeira, e penso que se poderá aplicar a toda a estratégia do Governo, é esta: como é que a Sr.ª

Deputada pode dizer que não houve uma coerência da política de saúde? Desde logo, no início da Legislatura,

houve necessidade de sanear o buraco financeiro de 3000 milhões de euros que os senhores deixaram.

O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Filipe Lobo d’Ávila (CDS-PP): — Três mil milhões de euros!

Protestos do PS.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Depois, o Governo fez melhorias em unidades de saúde, em hospitais

e no acesso aos cuidados de saúde primários e hospitalares. Temos mais 600 000 utentes com médico de

família, e isto foi definido desde o início, foi um dos primeiros anúncios do Sr. Ministro da Saúde.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Mas deixe-me fazer-lhe mais umas correções a propósito desta

questão em concreto e a propósito daquilo que a Sr.ª Deputada diz que são avanços e recuos. Tenho todo o

gosto em lhe fornecer um comunicado do Ministério da Saúde que aqui tenho, e até o sublinhei a verde, que

refere, muito claramente, «a vacina passará a ser gratuita para todas as crianças nascidas após 1 de janeiro

de 2015».

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A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Isso foi à tarde, de manhã foi outra coisa!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Não, não foi à tarde e, Sr.ª Deputada, tenho todo o gosto em entregar-

lho.

Em segundo lugar, uma pequena correção relativamente ao que aconteceu na Comissão de Saúde,

quando a Dr.ª Ana Jorge era Ministra da Saúde.

Como bem disse a Sr.ª Deputada Laura Esperança, a Ministra da Saúde afirmou que, enquanto pediatra,

não prescrevia nem acreditava nesta vacina — e façam os senhores o favor de recorrer aos serviços para

obter a respetiva gravação —, pelo que não se tratava de aguardar os estudos de eficácia da Direção-Geral da

Saúde, porque, aliás, e como já tínhamos indicado, já era recomendada pela Organização Mundial de Saúde

(OMS), pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), pela esmagadora maioria dos especialistas. Portanto,

não havia que aguardar por quaisquer outros estudos.

Sr.ª Deputada, para este Governo e para os partidos que apoiam este Governo, a questão da equidade

social…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Como estava a referir, para este Governo e para os partidos que apoiam este Governo, a questão da

equidade social, da saúde pública e da opção preferencial pelos mais vulneráveis está sempre à frente. E

pergunto-lhe, Sr.ª Deputada: estamos melhor agora ou estávamos melhor antes da tomada desta decisão?

Vozes do CDS-PP: — Agora!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Devolvo-lhe esta pergunta, Sr.ª Deputada.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Helena Pinto.

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, compreendo bem a necessidade

dos partidos da maioria e, neste caso concreto, do CDS, de fazer intervenções no sentido de poder sublinhar

eventuais aspetos positivos da política do Governo na área da saúde.

Sr.ª Deputada, lamento dizer-lhe, mas penso que esse será um esforço inglório, porque, se há área da

política do Governo em que todos os portugueses e todas as portuguesas têm queixas, e bastantes queixas, é

na área da saúde. Toda a gente sabe o que se passa na área da saúde, consigo próprio ou com algum

familiar, excetuando, como é óbvio, aqueles que só recorrem à medicina privada e não conhecem o Serviço

Nacional de Saúde.

Mas falemos da vacina Prevenar e falemos até, Sr.ª Deputada, dos nove anos de luta do CDS para que

fosse possível o acesso universal e gratuito a esta vacina.

Sr.ª Deputada, tenho de lhe relembrar, novamente, que, embora a luta do CDS seja uma luta de nove anos,

em 2013, o CDS não propôs, preto no branco, a inclusão da vacina. Mais uma vez, propôs ao Governo que

estudasse essa hipótese — está plasmado no Diário da Assembleia da República, mas penso que já não

restam dúvidas a ninguém.

Mas, Sr.ª Deputada, nove anos depois, não estranha que seja precisamente em vésperas de eleições e no

final do seu mandato que o Governo decide incluir a vacina no Plano Nacional de Vacinação?! Será por acaso,

Sr.ª Deputada?! Será por acaso?! Penso que não.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Nós nunca fazemos nada por acaso!

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A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Mas não quero deixar este debate sem lhe fazer um desafio muito concreto,

porque, aliás, como a Sr.ª Deputada disse na tribuna, não bastam proclamações e retóricas, é preciso ações.

As vacinas evitam mortes, evitam internamentos, reduzem o consumo de antibióticos.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Vou terminar já, Sr. Presidente.

Tudo isso é verdade, mas, então, Sr.ª Deputada, há uma proposta muito concreta do Bloco de Esquerda,

em sede de especialidade, no sentido de que seja incluída no Plano Nacional de Vacinação a vacina contra o

rotavírus, que, como sabe, é a gastroenterite. É uma doença que atinge as crianças, que tem repercussões na

saúde pública, na saúde das famílias e, inclusivamente, na economia, de tal modo que todos os especialistas

apontam esta situação como sendo necessário alterá-la.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Portanto, Sr.ª Deputada, não saia deste debate sem dizer — sem

proclamações, mas com ações — se vai votar favoravelmente o projeto de resolução do Bloco de Esquerda,

para que se dê mais um avanço em termos de Plano Nacional de Vacinação.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula

Santos.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, quando ouvi a sua

intervenção, julguei que, como na semana passada o Ministro e o Governo, da manhã para a tarde, decidiram

alargar o âmbito da vacinação em mais seis meses, a Sr.ª Deputada, hoje, vinha aqui dizer-nos que, afinal, a

vacina antipneumocócica era para todos os portugueses. Enganei-me, mas ainda temos esperanças de que,

efetivamente, esta decisão venha a ser reformulada e que a integração desta vacina no Plano Nacional de

Vacinação seja para todos os portugueses.

Este anúncio que o CDS veio aqui valorizar, vangloriando-se desta mesma decisão, sabe a pouco. E sabe

a pouco, porque, efetivamente, só tem em conta as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2015. Então,

por que é que as crianças que nasceram em novembro ou dezembro de 2014 não têm acesso?! Porquê?!

Qual é a razão científica e clínica que justifica que umas crianças tenham acesso e outras não tenham?!

Chama a isto equidade?! Acha que há aqui uma igualdade de tratamento, Sr.ª Deputada?! Creio que o que há

aqui é uma grande desigualdade! E, quando temos um Serviço Nacional de Saúde que é para todos — para

todos e não só para os mais desprotegidos —, que é universal, geral e para todos, a diferenciação entre os

que têm e os que não têm faz-se a outro nível, porque o que garante a igualdade no tratamento entre todos os

portugueses, para que não haja portugueses de 1.ª e de 2.ª, é um Serviço Nacional de Saúde de qualidade,

para todos. Estranhamos que, efetivamente, esta decisão não tenha abrangido todos os portugueses que

possam ser vacinados com esta vacina.

Reconhecemos as mais-valias, do ponto de vista clínico, desta vacina e propusemos a sua inclusão no

Plano Nacional de Vacinação, inclusivamente no âmbito do debate sobre a natalidade, à semelhança do que

fizemos com outras vacinas, como a rotavírus ou a vacina antipneumocócica tipo B, que consideramos que

também deveriam ser integradas no Plano Nacional de Vacinação.

Mas a Sr.ª Deputada referiu aqui que o CDS teve nove anos de intervenção para que esta vacina fosse

integrada no Plano Nacional de Vacinação. Ora, o Governo que o CDS suporta governa há quatro anos e,

agora, no final do mandato é que se lembrou?!

Protestos do CDS-PP.

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Sr.ª Deputada, se esta era uma matéria tão relevante, se o CDS considerou que era tão relevante, por que

é que a decisão também não surgiu mais cedo, ou há aqui objetivos eleitoralistas?!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente, dizendo o seguinte: o que caracteriza as

políticas do PSD, do CDS e deste Governo é um profundo desrespeito pelos utentes, um profundo desrespeito

pelos profissionais de saúde e uma ofensiva sem precedentes ao Serviço Nacional de Saúde. E, agora, à

pressa, estão a procurar apresentar umas medidas com caráter bondoso para enganar os portugueses e

esconder aquelas que foram as consequências das suas políticas nestes últimos quatro anos.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as

Deputadas Helena Pinto e Paula Santos, antes de

mais, agradeço as questões suscitadas.

Não sei por que é que fico com a sensação de que as Sr.as

Deputadas ficam profundamente

desconfortáveis com boas notícias.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Ficam zangadas!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Os senhores ficam de tal maneira desconfortáveis que vão

encontrando argumentos atrás de argumentos para não reconhecerem que esta notícia é extraordinária.

Sr.ª Deputada Paula Santos, como é que pode dizer que, agora, que esta vacina vai ser universal, geral e

gratuita para todos,…

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Onde?!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — … há portugueses de 1.ª e de 2.ª?! Havia portugueses de 1.ª e de 2.ª

antes, antes, desta iniciativa!

Em segundo lugar, gostaria de relembrar que há uma semana esteve aqui o Sr. Ministro da Saúde e disse

que estava em estudo, entre a Direção-Geral da Saúde, a Administração Central do Sistema de Saúde

(ACSS), o Infarmed e a indústria, a possibilidade de dispensar a vacina gratuitamente a crianças nascidas

mais cedo.

Sr.ª Deputada, também lhe recomendo algum estudo, porque, como a Sr.ª Deputada saberá, se estudar,

esta vacina deve ser ministrada nos primeiros meses, a partir dos primeiros meses e, mais tarde, a partir de

uma certa idade, menos doses serão suficientes. Portanto, até do ponto de vista clínico, isto tem de ser

estudado.

A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Qual é a diferença entre dezembro e janeiro?!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Agora, o que me parece verdadeiramente inconcebível é que as

senhoras não consigam sequer disfarçar o desconforto por ouvirem boas notícias.

As Sr.as

Deputadas questionam o facto de só agora estarem a ser tomadas estas opções, pelo que não sei

se a Sr.ª Deputada Paula Santos preferia que esta medida tivesse sido anunciada antes da dispensa gratuita

do medicamento inovador para a cura da hepatite C?!

Sei que os senhores nunca foram chamados a fazer opções, mas digo-lhe uma coisa, Sr.ª Deputada: fazer

política é decidir, é fazer opções,…

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A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Qual é a diferença entre dezembro e janeiro?!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — … porque nós não temos a ilusão de que não há orçamentos finitos.

Ou, então, Sr.ª Deputada, isto podia ter sido anunciado anteriormente e não se tinham comprado três

aceleradores lineares para fazer radioterapia nos três IPO, o de Lisboa, o do Porto e o de Coimbra!

Protestos do PCP.

Talvez os senhores tivessem optado de outra forma. Ou, então, talvez não tivessem alargado, como foram

alargadas, as isenções de taxas moderadoras!

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Estas medidas, tomadas ao longo de toda a Legislatura, foram sendo

tomadas à medida que havia uma gestão criteriosa das decisões que eram possíveis tomar. Não posso

aceitar, de maneira nenhuma, que os senhores digam que agora é que são tomadas as decisões. Preferia que

ela não tivesse sido tomada? Devolvo-lhe a pergunta: preferia que ela não tivesse sido tomada?

Protestos da Deputada do PCP Paula Santos.

A Sr.ª Deputada Helena Pinto tem feito variadíssimas intervenções dizendo que, provavelmente, o Serviço

Nacional de Saúde está pior do que alguma vez esteve. Vou dizer-lhe o seguinte: foi publicado um estudo feito

por entidades independentes que dizem que o grau de satisfação dos utentes que recorrem aos serviços de

saúde é de 89%.

O Sr. Filipe Lobo d’Ávila (CDS-PP): — Pois, é!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — É de 89%. Portanto, muita satisfação.

O Sr. Filipe Lobo d’Ávila (CDS-PP): — Pois, é!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Também terei todo o gosto em lhe fazer chegar estes estudos.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.a Deputada.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr.ª Deputada, é muito fácil chegar aqui e dizer que tudo está a

funcionar mal, mas eu também lhe sugeria algum estudo e alguma reflexão sobre estas avaliações por parte

de entidades independentes, como, por exemplo, a Entidade Reguladora da Saúde e outras entidades.

O Sr. Filipe Lobo d’Ávila (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, vou concluir, dizendo o seguinte: há um «antes» e há

um «depois». Há o antes do anúncio desta medida, em que encontrávamos um problema de saúde pública,

um problema de injustiça social e uma medida que faltava, das muitas, para o apoio à natalidade. Essa medida

foi agora tomada. Portanto, há um «antes» e há um «depois». Esse «antes» foi no tempo em que o Partido

Socialista governou e durou até à semana passada.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.a Deputada.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Nós estamos claramente no «depois».

Protestos da Deputada do BE Helena Pinto.

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Sr.a Deputada, não vou agora e aqui tomar decisões e, com todo o respeito, digo-lhe que não é a Sr.

a

Deputada Helena Pinto que vai obrigar o CDS a tomar uma decisão aqui, em Plenário,…

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.a Deputada Teresa Caeiro.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — … porque a Sr.a Deputada assim o pretende.

Protestos da Deputada do BE Helena Pinto.

Ainda somos nós que gerimos a nossa agenda.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Terminado o período destinadas a declarações políticas, vamos

passar ao ponto 2 da nossa ordem de trabalhos, que será preenchido pelo debate do projeto de resolução n.º

1439/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo medidas de prevenção e eliminação de práticas de violência policial

e racismo (BE).

Para apresentar o projeto de resolução, tem a palavra a Sr.a Deputada Cecília Honório.

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.as

Deputadas e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda

apresenta esta iniciativa no sentido de encontrarmos medidas para a prevenção e eliminação de formas de

violência policial e de manifestações de racismo.

Não vale a pena fazerem, neste debate, quaisquer generalizações sobre a atuação das forças de

segurança, não percam tempo com isso, mas nós queremos falar dos problemas concretos.

Em nosso entendimento, está tudo errado quando um agente da segurança agride ou utiliza insultos

racistas ou quando casas de populações desprotegidas vão abaixo perante um imenso aparato policial.

Foi assim no bairro da Cova da Moura, e recordamos bem jovens ativistas da Associação Moinho da

Juventude que denunciaram terem sido agredidos e vítimas de insultos racistas. Foi assim na demolição das

casas de populações desprotegidas nos bairros Santa Filomena, Estrela d'África, 6 de Maio — mulheres com

crianças, idosos e idosas viram as suas casas vir abaixo, com intervenção quer da Polícia Municipal quer, num

cordão bem aparatoso, do Corpo de Intervenção Rápida, os quais nunca apresentaram quaisquer documentos

que atestassem a legitimidade da sua atuação.

Sabemos que o problema está a montante. As políticas foram empurrando as populações para as

periferias, enxotaram as minorias para as bordas dos concelhos para não terem problemas.

Em nosso entendimento, a resposta não pode ser a violência!

É neste sentido que o projeto de resolução que aqui apresentamos defende: o não «zonamento» do Corpo

de Intervenção Rápida; a inspeção urgente de todas as denúncias; a necessidade de avaliar e publicitar, num

relatório independente, todas as vítimas de violência policial e de racismo; o reforço do policiamento de

proximidade, com uma política de parcerias, de relações de confiança, com todas as condições necessárias

para as forças de segurança; a promoção da formação dos agentes no sentido da defesa dos direitos

humanos e contra o racismo; a avaliação da introdução de câmaras de videovigilância, nomeadamente nas

esquadras onde existem queixas de abusos; a regulação com caráter de urgência da figura do «mediador

sociocultural».

Estas são respostas que exigem responsabilidade no debate e nas soluções.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.

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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Em relação a este projeto de

recomendação do Bloco de Esquerda e sendo claro logo à partida, queria dizer que não acompanhamos esta

iniciativa legislativa.

Compreendemos o interesse e a ideia retóricos que o Bloco de Esquerda tem, e que ouvimos aqui hoje, em

fazer um conjunto de afirmações mais ou menos eleitorais sobre esta matéria.

Porém, o que este projeto tem de útil, por assim dizer, é desnecessário, até porque não é novo; naquilo que

ele tem de novo, enfim, não o acompanhamos, não concordamos e consideramo-lo até desnecessário.

O que queremos dizer sobre isto, para ser mais claro? É evidente que este é um problema sério, é real e é,

obviamente, inadmissível na sociedade portuguesa ou em qualquer outra sociedade. Qualquer comportamento

de violência policial, designadamente violência policial associada a qualquer tipo de fenómeno de racismo,

seria absolutamente inaceitável, como é evidente.

A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sobre isso, estamos todos de acordo.

Agora, com mais ou menos incómodo até do Bloco de Esquerda, tivemos ocasião de ouvir, hoje mesmo, de

manhã, a Sr.ª Ministra da Administração Interna, que disse perentoriamente, em nome de quem tem tutela,

direção e pode instruir as próprias forças de segurança, rejeitar, negar veementemente a existência de

comportamentos racistas por parte da polícia.

Em segundo lugar, disse-nos — sublinhando que o dizia de forma enfática — que as nossas forças de

segurança estão sujeitas e cumprem escrupulosamente o Código de Conduta do Conselho da Europa.

Em terceiro lugar — e nós reunimos com as associações destes bairros onde existiram os problemas e eles

disseram-nos que a solução que querem é mais proximidade e mais policiamento de proximidade —, foi-nos

dito, hoje mesmo, pelo Governo, que o policiamento de proximidade não só não diminuiu (é uma reivindicação

das associações de moradores, como a Associação Moinho da Juventude) como, pelo contrário, tem vindo a

aumentar significativamente.

Por outro lado, comportamentos que existiram estariam sujeitos a inquéritos. Ora, sabemos que houve

inquéritos, sabemos que os inquéritos são rigorosos e sabemos que teremos conclusões sobre os mesmos.

Por isso, aquilo que este projeto proporia de útil, que seria a existência de uma comissão, a existência de

diálogo, a existência da formação dos próprios agentes, tudo isso nos foi garantido, hoje mesmo, de manhã,

que está a ser feito.

A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Ou seja, a formação dos polícias, a formação cívica dos polícias está a

ser feita e garantida. Existiram reuniões alargadíssimas com as associações, com os comités que têm a

obrigação, em Portugal, de vigiar e combater qualquer tipo de racismo, com os chefes das forças de

segurança, com os moradores… Existiram reuniões alargadas e, dessas reuniões, saiu um resultado — que é

aquilo em que este projeto poderia ser útil e, por isso, é que eu digo que, naquilo em que ele podia ser útil, é

desnecessário —, ou seja, saiu dessas reuniões, como, de resto, é proposto, uma comissão de alerta precoce,

ou seja, uma comissão que tem a obrigação de, perante qualquer fenómeno, qualquer abuso, qualquer

exagero, qualquer comportamento errado por parte da polícia, fazer um alerta.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Em relação ao resto, não acompanhamos. Ou seja, em situações

graves, impedir o Corpo de Intervenção de fazer zonamento não é aceitável, cria, inclusivamente, um princípio

de suspeição geral sobre as forças de segurança.

A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Muito bem!

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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que é, de resto, curioso que o Bloco

de Esquerda, que, sempre que se propõe videovigilância, é contra, agora é a favor da videovigilância. Mas

para vigiar quem? Não são os ladrões, são os polícias!

A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Ou seja, desde que a videovigilância sirva para vigiar os polícias, o

Bloco de Esquerda passa a ser a favor.

Risos do Deputado do PSD Hugo Lopes Soares.

Não é aceitável, cria um princípio geral de suspeição, não resolve o problema, que está a ser tratado, como

foi dito hoje mesmo, de forma séria.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão.

O Sr. Jorge Lacão (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: É sempre compreensível que o

Parlamento possa manifestar a sua atenção em relação a possíveis situações que envolvam, em qualquer

circunstância, abuso no exercício da autoridade ou por parte de poderes públicos, nomeadamente de natureza

policial.

É sempre admissível também que o Parlamento, através das suas capacidades de fiscalização, procure,

quando eventos destes possam ocorrer, inquirir, junto dos responsáveis, a avaliação dos episódios que

possam ter lugar.

E é também natural e compreensível que se procure conhecer, a partir daquilo que possam ser os

inquéritos entretanto lançados, a avaliação de incidentes que possam ter manifestado um índice de gravidade

mais apurada. Esse é, no entanto, um aspeto em relação ao qual, acredito, todos podemos convergir.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É isso, é!

O Sr. Jorge Lacão (PS): — Mas outro aspeto, a meu ver, diferente é o de poder partir de uma qualquer

situação, por mais censurável que possa ter sido, para uma linha de orientação que implicasse convocar o

Parlamento para recomendar a eliminação de práticas de violência policial e de racismo, o que teria,

naturalmente, como pressuposto, que o clima habitual das nossas forças de polícia é praticarem o excesso de

violência e é disseminarem a atitude racista nos seus comportamentos.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Lacão (PS): — Não acompanhamos, naturalmente, esta motivação. E porque não a

acompanhamos, queremos sublinhar que, isso sim, criticaremos, sem embargo, o Governo por uma falta de

atenção suficiente às exigências da polícia de proximidade.

Já aqui foi citado o testemunho da Sr.ª Ministra da Administração Interna, esta manhã, em Comissão. Pois

a Sr.ª Ministra da Administração Interna acabou por ter de reconhecer que, em matéria de contratos locais de

segurança, envolvendo as autarquias locais e outras instituições representativas das comunidades, estão

reduzidos, hoje, apenas a um contrato local de segurança no município de Loures, o que significa uma enorme

indigência da parte do Governo no incremento das políticas de proximidade e, particularmente, do

policiamento de proximidade.

E é aqui que, justamente, bate o ponto: quando o desenvolvimento dos contratos locais de segurança foi

feito, nomeadamente em alguns dos bairros críticos já hoje aqui citados, muitos dos incidentes que, entretanto,

vêm sendo referidos não tiveram lugar, porque o quadro de confiança que se devolveu entre as comunidades

e a prevenção policial foi um quadro de confiança inteiramente saudável.

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Eu próprio, Sr.as

e Srs. Deputados, aquando das minhas funções governativas, tive ocasião de estar por

mais do que uma vez num bairro como o da Cova da Moura a desenvolver programas de dinamização da

cidadania e a verificar que, quando justamente as funções de proximidade e de valorização das comunidades

são levadas a sério, muitos dos problemas são evitáveis.

Pois bem, evitemo-los também agora, não lançando anátemas sobre as nossas forças de polícia…

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Lacão (PS): — … e resolvendo, pontualmente, as questões que pontualmente mereçam ser

resolvidas.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.a Deputada Maria Paula

Cardoso.

A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — Ex.mo

Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sr.as

Deputados: O projeto

de resolução, apresentado pelo Bloco de Esquerda, já sofreu aqui algumas considerações com as quais me

revejo, nomeadamente com a do meu colega Telmo Correia.

No entanto, não posso deixar de dizer que houve alguma mistura de assuntos neste projeto de resolução,

nomeadamente ao juntar os incidentes da Cova da Moura com as demolições de alguns bairros e, ainda, com

um pseudo-relatório da Amnistia Internacional.

Antes de qualquer consideração de outra ordem, o Grupo Parlamentar do PSD quer deixar bem claro que

confia e respeita as nossas forças policiais.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — No entanto, repudia, como é evidente, qualquer ato isolado que se

revista de algum aspeto racial ou de alguma violência excessiva.

A nossa polícia rege-se por princípios democráticos, é respeitadora e cumpridora dos direitos

fundamentais. Não é racista, nem intolerante, nem violenta. Aliás, a nossa PSP é uma força de segurança

pioneira na implementação do policiamento de proximidade. Neste âmbito, a PSP concebeu o Modelo

Integrado de Policiamento e de Proximidade, os chamados MIPP, que está implementado ao nível nacional e

tem especial incidência nas zonas urbanas sensíveis, como é o caso da Cova da Moura.

A PSP é uma força de segurança que desenvolve múltiplas parcerias com a sociedade civil. Estigmatizar,

denegrir ou transformar alguns casos isolados em generalidades, que só servem de mero aproveitamento

político e mediático, não faz justiça ao trabalho e à competência da nossa polícia,…

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — …nem contribui para as efetivas melhorias, onde estas se

verificarem necessárias.

Todos somos unânimes em que há graves problemas sociais associados a estes bairros periféricos, bem

como a certas zonas urbanas sensíveis. Estes problemas exigem uma resposta transversal e não se resumem

apenas a uma resposta policial.

A PSP, no quando das suas atribuições, afeta os recursos que considera adequados, face à intensidade do

risco, usando critérios de legalidade e de proporcionalidade. Os acontecimentos de fevereiro estão a ser

investigados pelo IGAI, aliás, como referiu a Sr.ª Ministra de manhã na audição da Comissão, aguardando-se,

portanto, a conclusão desse inquérito. Convém, porém, ressaltar que os últimos relatórios anuais de

segurança interna permitem concluir que a atividade deste órgão policial tem sido correta, intensa e profícua.

A recomendação para que se promova formação das forças policiais nas áreas dos direitos fundamentais e

a criação de um mediador sociocultural levantam-me duas questões: primeiro, na formação da PSP, seja na

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inicial, seja na subsequente, formação num âmbito mais especializado, a temática dos direitos humanos está

sempre presente em todos os módulos formativos; segundo, a figura do mediador sociocultural tem o seu

equivalente nos chamados, e já aqui falados, contratos locais de segurança, que, apesar de criados, não

lograram ser implementados — apenas funciona o de Loures, devido, e aqui passe o elogio, ao empenho do

município.

Melhorias com certeza que podem ser feitas. As sociedades evoluem para realidades diferentes e as forças

policiais terão de se adaptar a tal evolução. E as nossas forças policiais estão atentas a essas realidades.

O Bloco de Esquerda, com este projeto, ao tentar sacudir para cima das forças policiais uma

responsabilidade que não lhes poderá ser assacada, uma vez que os problemas destes bairros são muito mais

vastos, acaba por afunilar um problema e tenta, ao mesmo tempo, descredibilizar a nossa polícia. Este

caminho escolhido pelo Bloco de Esquerda não é o melhor.

Melhor caminho escolheu a PSP, que, desde março deste ano, tomou a iniciativa de se reunir com as

forças vivas da sociedade civil da Cova da Moura e, na sequência desses encontros, que se têm vindo a

repetir, assumiu a responsabilidade de implementar, no âmbito do policiamento de proximidade, uma nova

abordagem e definição de estratégias de intervenção em zonas urbanas sensíveis.

O compromisso do PSD e do Governo, conscientes de que nenhum modelo é universal e rígido, é o de que

estamos sempre atentos e disponíveis para procurar novas abordagens para lidar com fenómenos de

criminalidade violenta, mas de forma responsável e adequada ao território e aos seus problemas. Apelidar a

polícia de racista e de violenta é uma ofensa não só aos visados mas a todos os portugueses.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Este projeto de resolução que o Bloco de

Esquerda apresenta deve ser ponderado com a devida atenção.

Aquilo que estamos a discutir é, efetivamente, a adequação da atuação policial. Se nos perguntarem se

consideramos que a atuação das forças de segurança portuguesas é geralmente inadequada, dizemos que

não. De facto, temos apreço, em geral, pela atuação das forças de segurança no nosso País. Mas se nos

perguntarem se consideramos que não há, em situação alguma, atuações inadequadas ou situações de

violência que devam ser investigadas, seguramente que as haverá e merecem a nossa atenção.

As denúncias que surjam de atuações menos adequadas por parte das forças de segurança e que se

traduzam numa inadequação de uma determinada atuação ou em ações de violência sobre cidadãos,

obviamente, devem merecer a nossa atenção e deve haver, da parte das entidades com competências

inspetivas, designadamente da Inspeção Geral da Administração Interna, a devida investigação, e também,

como é óbvio, deve haver uma atenção permanente por parte da Assembleia da República para monitorizar a

adequação da atuação policial.

Posto isto, há uma questão que é recorrente, que é saber se, naquelas zonas vulgarmente consideradas,

bem ou mal, como mais problemáticas, a atuação das forças policiais é a melhor.

Obviamente que esta é uma discussão que temos há vários anos e que continua a ser objeto de debate,

pois sabemos que há, de facto, zonas do nosso País em que há uma polémica acesa sobre a atuação policial

e, por vezes, surgem situações de animosidade entre as populações e a atuação das forças de segurança.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Isso é verdade!

O Sr. António Filipe (PCP): — Devemos intervir sobre esta matéria com serenidade, ou seja, não no

sentido de considerar que de um lado estão todos os bons e do outro lado estão todos os maus. Não é assim.

Sabemos que estas situações são complexas e devem ser encaradas em toda a sua complexidade.

Sendo assim, considerando que o projeto de resolução do Bloco de Esquerda tem questões pertinentes, há

uma questão da qual nos demarcamos, assinalando a nossa divergência, que é a questão da videovigilância

no interior das esquadras. Não nos parece que seja esse o caminho.

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Temos uma posição muito reservada relativamente à generalização da videovigilância, para a qual há uma

grande tendência. Achamos que se deve combater essa tendência e que o que se deve salvaguardar é que

haja assistência judiciária dentro das esquadras, ou seja, que a ninguém seja negada a assistência por

advogado quando confrontado com uma detenção ou com uma presença nas esquadras policiais. Aliás, há

muitos anos que deveria haver advogados nas esquadras, precisamente para acorrer a essas situações e para

que ninguém fique sem a assistência judiciária que lhe é devida.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. António Filipe (PCP): — Esse é o ponto em que nós, claramente, divergimos e, quando for o

momento da votação, pediremos a votação em separado desse ponto.

Quanto ao resto, achamos que as preocupações manifestadas pelo Bloco de Esquerda são legítimas, são

justas e devem ser objeto de uma adequada ponderação por parte desta Assembleia, para que não haja — é

isso que se pretende evitar — situações de incompatibilização entre as forças de segurança e as populações

que elas servem, precisamente, para as defender.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório, para uma

intervenção.

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vou tentar dar alguma seriedade a este

debate, o que foi recusado fundamentalmente pelas bancadas da maioria.

Acusaram-nos de generalizações e não as fizemos. Mas é útil, do vosso de vista, porque foi a forma que

utilizaram para pôr debaixo do tapete os problemas concretos, ou seja, recusaram-se a discutir os problemas

concretos!

A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — Não se discutem assim!

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Recusaram-se a encontrar as respostas para as situações concretas.

Diz o Sr. Deputado Telmo Correia — e disse-o, inclusivamente, à Sr.ª Ministra da Administração Interna —,

«ouvimos atentamente as associações, acompanhamos este problema com preocupação». No entanto,

perante as soluções concretas, a resposta é: não acompanhamos e não acompanhamos porque o problema,

afinal, não existe.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Existe e está a ser resolvido!

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Foi o que o Sr. Deputado aqui veio dizer: o problema não existe!

O Sr. Deputado nem sequer tem o resultado do relatório da inspeção que vai ser feita relativamente às

denúncias, mas resolveu, ainda por cima, interpretar as palavras da Sr.ª Ministra da Administração Interna,

dizendo que o policiamento de proximidade aumentou. O que é que isto quer dizer? Onde é que ouvir a Sr.ª

Ministra dizer que o policiamento de proximidade aumentou?!

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Disse, disse!

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Da parte do PS, enfim, já sabemos que o Sr. Deputado Jorge Lacão, pelo

menos, tem um fortíssimo entendimento em matéria de segurança com a Sr.ª Ministra da Administração

Interna, mas no mínimo reconheçam a seriedade do debate que ainda hoje lançámos, perguntando-nos o que

é que aconteceu ou questionando uma das estratégias possíveis de policiamento de proximidade que são os

ditos Contratos Locais de Segurança.

Perante questões tão evidentes e urgentes, do nosso ponto de vista, como o reforçar o policiamento de

proximidade e a inspeção urgente destas situações, com apresentação de um relatório independente sobre

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todos os casos, que deve ser conhecido por toda a gente, o que é que o PS responde? Nada! Não tem nada a

dizer sobre esta questão.

Sr.as

Deputadas e Srs. Deputados, este País não é os Estados Unidos da América. Isto não é Baltimore!

Não podemos, de forma nenhuma, caminhar no sentido em que unidades militarizadas possam fazer o

policiamento de rotina, quotidiano, quando elas estão vocacionadas para missões especiais e são o último

recurso.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não é isso que está lá escrito! Seja séria!

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Quiseram baralhar a conversa!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Não quiseram que esta fosse uma conversa séria mas nós não a podemos

esquecer, porque ela exige todo o respeito pelas vítimas, cuja situação tem de ser analisada, e uma estratégia

que responsabilize todos e todas. E assim concluo, Sr. Presidente.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, vamos passar ao último ponto da nossa ordem de

trabalhos de hoje, que consiste no debate conjunto dos projetos de resolução n.os

1217/XII (4.ª) — Recomenda

ao Governo que assegure aos consumidores a devida informação sobre a tarifa social de energia e o apoio

social extraordinário ao consumidor de energia (PS) e 1462/XII (4.ª) — Garante o pleno acesso à eletricidade e

ao gás por parte das famílias com dificuldades económicas (BE).

Para apresentar o projeto de resolução do Partido Socialista, tem a palavra a Sr.ª Deputada Hortense

Martins.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: O Partido Socialista traz de novo

para discussão em Plenário este projeto de resolução dado que a situação que os portugueses vivem

relativamente à tarifa social de energia, eletricidade e gás, continua por resolver.

Até ao momento, o que se tem verificado é que esta tarifa não passa de mera propaganda do Governo. De

facto, o que verificamos é que o número de portugueses em risco de pobreza aumentou para 2,7 milhões, ou

seja, há 2,7 milhões de portugueses em risco de pobreza, o que, como se vê neste gráfico, tem aumentado

todos os anos.

Ora, o que é que aconteceu à tarifa social de energia? O Governo, pelas palavras do Sr. Ministro Mota

Soares, veio dizer que tinha o objetivo de atingir 700 000 portugueses. Anunciou-o em 2011, mas, repare-se

bem, nessa altura, esta tarifa atingia, na eletricidade, 70 000 portugueses. Neste momento, ao invés de atingir

mais portugueses, como seria natural com o aumento de pobreza, o que acontece é que o número de

portugueses que tem acesso à tarifa reduziu-se para 45 000, apenas.

Ora, esta é uma situação em que, de facto, está demonstrada a ineficácia e os problemas que existem no

acesso à referida tarifa.

O Partido Socialista sempre disse que é preciso desbloquear as questões que impedem o acesso de quem

necessita à tarifa social de eletricidade e gás. Sabemos, e não podemos admitir, que o Governo a use, junto

destes portugueses que dela necessitam, apenas como propaganda, não efetivando, de facto, as medidas

necessárias para que as empresas, que têm essa responsabilidade, a concedam aos consumidores.

Aliás, também fizemos esta discussão em Comissão e a própria ERSE veio dizer que existem problemas

no acesso à tarifa, que há empresas que impedem o acesso, mas não são só empresas. Repare-se que a

própria segurança social também o impede — muitas vezes não ajuda a que estas famílias tenham acesso à

tarifa, muito pelo contrário, impede o acesso a possíveis utentes.

Ora, estamos a falar de famílias carenciadas, de modo que o Partido Socialista, com este projeto — e não

é nada de extraordinário, mas, às vezes, é com coisas simples que se bloqueiam situações —, pretende que

seja a segurança social, que já tem a identificação desses utentes, a comunicar diretamente com os

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beneficiários desta medida, para poder, de forma automática, fazer com que esses utentes possam auferir

dessa tarifa.

Pretendemos ainda que a própria Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos diligencie junto das

empresas para que haja uma ampla campanha informativa. Como as próprias associações dos consumidores

também já disseram, essa campanha não existe, o Governo não faz o que lhe compete, não faz aquilo que

anda a dizer em termos de propaganda, muito pelo contrário, está até a permitir que esta situação permaneça.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção de apresentação do projeto de resolução do

Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Enfrentamos um problema social

gravíssimo em Portugal, que é o de 300 000 clientes com cortes no seu fornecimento de luz. Os cortes por

pagamento de contas em atraso, em prestações, subiram 25%. A DECO diz que há mais 15% de famílias que

não conseguem pagar a sua conta da luz e mais 30% de famílias que não pagam a sua conta do gás.

É um drama social quando temos famílias, em Portugal, que não podem ter luz nem aquecimento nas suas

casas, o que se reflete num outro indicador surpreendente, que saiu há pouco tempo, que dá nota da

mortalidade sazonal e de como Portugal está no topo da lista dos países com maior mortalidade sazonal,

indicadores estes que mostram ainda que um quinto da mortalidade sazonal se deve a más condições

habitacionais.

Ora, isto diz respeito a falta de isolamento e de capacidade para aquecimento, porque também não há

apoios nesse sentido ou não são suficientes, mas também diz respeito a um conjunto de pessoas que, de

facto, não têm dinheiro para ter aquecimento ligado, nem a gás, nem a eletricidade. Este é um problema

gravíssimo que temos de resolver, em Portugal.

Este problema tem diversas causas, mas a baixa de rendimento, a pobreza, os baixos salários contribuíram

para isso: famílias onde um ou mais membros do agregado familiar estão desempregados, estão a viver com

os avós, em casas com má qualidade, enfim, toda esta política de empobrecimento contribui também para a

pobreza energética.

Por outro lado, os preços estão mais elevados. A eletricidade, em Portugal, é muito cara, ou melhor, a

eletricidade e o gás estão nos níveis mais altos da Europa e isto deve-se às rendas administrativas que as

elétricas têm, decididas por lei, ao longo de vários governos, mas deve-se também, ao IVA. Não se percebe

como é que, em Portugal, a eletricidade paga o mesmo IVA que um produto de luxo, quando é um bem

essencial à sobrevivência, ao aquecimento, ao mínimo de qualidade de vida.

Mas isto também tem a ver com uma tarifa social que não chega até onde deveria chegar, e não chega por

falta de informação, porque os critérios não são os adequados e por má vontade das empresas, que não a

deixam chegar. Temos denúncias várias — e isto já foi confirmado pela ERSE quando cá esteve e que

tivemos oportunidade de confrontar — de que as empresas dificultam este processo. A EDP está a dificultar o

acesso à tarifa social.

Nesse sentido, o Bloco de Esquerda apresenta aqui cinco recomendações que achamos que podem

contribuir para resolver este problema.

Em primeiro lugar, achamos que não deve ser permitida a suspensão do fornecimento de eletricidade e gás

por falta de pagamento a pessoas que estão no limiar de pobreza. Uma pessoa não deve deixar de ter acesso

a luz só porque é pobre e não tem dinheiro para pagar, porque a luz é um serviço mínimo.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Uma pessoa não pode ter alimentos em casa a apodrecer por não ter

luz para ter um frigorífico; não pode deixar de ter luz para os filhos estudarem ou para ter um mínimo de

condições para as tarefas domésticas. Trata-se de um mínimo de direitos humanos. Ninguém pode ter a

eletricidade ou o gás cortados, ninguém pode deixar de ter direito a tomar um banho quente porque é pobre e

não consegue pagar as contas da luz. Parece-nos que é uma proposta muito sensata.

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Apresentamos ainda propostas para alargar os critérios de atribuição da tarifa social. Achamos que estes

critérios devem ser alargados ao gás de botija, que alimenta muitas casas que ainda não têm gás natural, e

apertamos os critérios para que as empresas não possam fugir à atribuição da tarifa social, tornando

obrigatório ou automático essa garantia de tarifa social, cabendo às empresas, depois, verificar se sim ou não,

cruzando os dados com a Autoridade Tributária e a segurança social, relativamente ao cumprimento dos

critérios de atribuição da tarifa social.

O nosso projeto de resolução contempla, pois, um conjunto de propostas que achamos que ajudam a

resolver este drama social, que é o do número de pessoas sem acesso a eletricidade ou gás.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a apalavra o Sr. Deputado Hélder

Amaral.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Julgo que se há matéria onde,

de facto, há informação e assimetria na mesma é nesta matéria, entre as empresas do setor electroprodutor

ou de distribuição de gás e os consumidores, principalmente os consumidores mais vulneráveis, de quem

estamos aqui a falar e para os quais as duas bancadas parlamentares resolveram ter iniciativa, e, de facto,

esta é matéria que merece da nossa parte toda a atenção, todo o cuidado e que se criem mecanismos para

haver algum rigor. E o rigor aqui é, em si mesmo, o maior critério de justiça e tem de ser em todos os aspetos.

Se é bom discutir esta matéria, porque permite mais informação ao cidadão, também é bom perceber quais

os fundamentos que estão contidos nestas propostas. E aí, peço imensa desculpa, mas há coisas que temos

de esclarecer.

Uma atitude responsável e coerente, olhando com muita atenção e não criando rendas excessivas, é o

maior seguro para que possamos ter energia elétrica e gás a preços sustentáveis, para que possamos ter

crescimento económico e haja menos necessidade de haver uma tarifa social.

Ora, quem não foi diligente, quem não foi cuidadoso, quem deu prémios, bónus, rendas excessivas ao

setor electroprodutor, chama-se Partido Socialista. Vejam o que aumentou em SIEG (serviços de interesse

económico geral), em CAE (contratos de aquisição de energia) e CMEC (custos para a manutenção do

equilíbrio contratual), aquilo que agora este Governo, com contratos assinados, num Estado de direito, tem

tentado reduzir. Vou até mais longe: quem criou o défice tarifário, o tal que obrigaria a aumentos de energia na

ordem dos 30% ou 40%, segundo a ERSE, que temos de conformar em aumentos reduzidos?

Perguntava também a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua como é que podemos pagar este IVA. Pois bem, o

Memorando obrigava a uma receita de IVA que estava consignada (o Partido Socialista não diz em que

produtos) e o Governo foi obrigado a cumprir essa meta, aumentando o preço da eletricidade, mas não foi

insensível. E sobre essa matéria nenhuma observação deve ser feita aos grupos parlamentares da maioria e

ao Governo porque fomos sensíveis, ao criar algo que não existia, uma tarifa social do gás e da eletricidade.

Como? Com condição de recursos.

A informação é dada ao consumidor por várias vias, para que ele saiba que direitos e que possibilidades

tem; essa mesma informação é veiculada por um conjunto de mecanismos; o Governo melhorou a legislação,

então produzida pelo Partido Socialista, para ir mais longe, para ser mais eficaz, para confirmar, para

monitorizar, para fiscalizar e penalizar mais quem não cumpre.

Dou de barato, e a ERSE deu nota disso, que temos queixas de que, de facto, algumas empresas não

estão a cumprir ou estão a mitigar a informação aos utentes. Sobre essa matéria, que não restem dúvidas, o

CDS considera isso inaceitável. Se uma qualquer empresa não fornece a preços combinados e não permite

que qualquer cidadão exerça o direito de acesso à tarifa social de que precisa, obviamente que temos de pedir

à entidade reguladora, com a todos os mecanismos que existam, que seja dura com essa empresa. Isto é

inaceitável, além de ser imoral e completamente injusto.

Protestos da Deputada do PS Hortense Martins.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.

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O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que aquilo que o Partido Socialista e

o Bloco de Esquerda vêm propor reflete duas coisas: que o Governo esteve bem, é uma boa medida, merece

o apoio do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista mas que, se não se importam, façam o favor de a

cumprir de forma mais eficaz. É exatamente isso que estamos a fazer, ou seja, a cumpri-la de forma eficaz e,

portanto, há aqui uma inutilidade superveniente da lide de VV. Ex.as

, mas fica o agradecimento por chamarem

a atenção para esta boa medida do Governo.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Quando debatemos estas questões

lembramo-nos que este Governo, no início do seu mandato, uma das primeiras medidas que tomou, em

matéria de política energética, foi esse enorme aumento de impostos com que os senhores passaram o IVA da

eletricidade e do gás natural de 6% para 23%.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Foi nessa altura, e a partir daí, que os preços da energia para a imensa

maioria da população dispararam e passaram para esse lamentável pódio dos preços mais altos da Europa.

É nesse contexto que aparece aquela propaganda toda do apoio social, da tarifa que não deixaria ninguém

para trás, etc., etc. O Governo foi falando em objetivos e metas de alcançar as 500 000 pessoas, as 700 000

pessoas — aliás, tal como o anterior Governo PS falava sobre isso. Mas qual foi a evolução desse universo de

pessoas abrangidas pela tarifa social nos últimos anos? Foi uma evolução negativa, passou de quase 90 000

famílias para 54 000, entre 2011, ano em que o Governo tomou posse, e 2013, segundo os dados mais

recentes que temos. São 54 000 contratos num universo de seis milhões de contratos em BTN (baixa tensão

normal).

Alertámos para esta situação durante anos. Durante esse período, os salários baixaram em Portugal.

Passámos de um salário médio equivalente a 44% do praticado na Alemanha para 38%, e isto sem falar da

carga fiscal esmagadora que impuseram aos trabalhadores.

Aumentou a população em risco de pobreza. Os senhores dizem que é a crise, que isto está mau, que os

sacrifícios são para todos, mas isto esteve tão mau que só neste último ano os lucros limpos da GALP Energia

foram de 373 milhões de euros, os da EDP foram de mais de 1000 milhões de euros, mais 126 milhões da

EDP Renováveis, e os da Iberdrola foram de 2,33 mil milhões de euros. É caso para dizer: isto é que vai uma

crise!

O PCP está, como sempre, disponível para trabalhar e contribuir para soluções mais justas e avanços

concretos que melhorem a situação das pessoas. Consideramos que devem aceder à tarifa social todos os

clientes finais cujo rendimento seja igual ou inferior ao limiar de pobreza, que o desconto não seja inferior a

50% da tarifa de acesso às redes em baixa pressão no gás natural e que o financiamento do custo destas

medidas seja suportado pelos comercializadores e electroprodutores.

Estamos disponíveis para contribuir para uma solução justa no que diz respeito ao apoio e à tarifa social,

mas essa questão não substitui nem permite ignorar duas questões de fundo que temos de ter em conta: a

carga fiscal esmagadora em relação à energia, que tem de ser retirada de uma vez por todas, e esse caráter,

essencialmente incorrigível e, diríamos, indomesticável, que está subjacente às decisões políticas e

estratégicas que têm vindo a ser seguidas, de apontar e aprofundar a liberalização e a privatização deste

setor.

É inevitável, quando falamos acerca de empresas que têm este tipo de posicionamento, este tipo de

agenda e este tipo de estratégia, que alguém diga que não é de espantar essa dificuldade toda que parece

existir, e existe mesmo, na aplicação da tarifa social, com a colaboração que parece ser tão difícil por parte

destas empresas. É caso para perguntar: do que é que os senhores estavam à espera?

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Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Afonso

Oliveira.

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Ao longo dos últimos quatro anos,

os portugueses foram chamados a fazer um esforço coletivo para salvar o País da situação de pré-falência em

que se encontrava, no momento em que o atual Governo assumiu funções.

A verdade é que, apesar desta difícil realidade, houve uma grande preocupação do Governo em apoiar

quem tinha menores rendimentos e quem tinha mais dificuldades.

Diga-se também, em nome da verdade e a propósito da necessidade de apoiar as famílias, que a tarifa

social de fornecimento de energia elétrica a aplicar a clientes finais economicamente mais vulneráveis foi

criada pelo anterior Governo, através do Decreto-Lei n.º 138/2010, de 28 de dezembro, mas também é preciso

dizer-se, aqui e agora, e porque também é verdade, que o número de pessoas que tiveram acesso à tarifa

social nessa altura, criada pelo anterior Governo, foi zero, zero!

Repito, para que não reste qualquer tipo de dúvidas: ninguém teve acesso a nenhuma tarifa social durante

o período em que o Governo anterior criou este regime.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Depende da portaria e a portaria foi vossa!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — O atual Governo manifestou sempre a preocupação de apoiar mais as

famílias que evidenciavam claras situações de vulnerabilidade económica e introduziu alterações legislativas

que permitiram alargar os critérios de elegibilidade.

Assim, são considerados elegíveis os beneficiários do complemento solidário para idosos, do rendimento

social de inserção, do subsídio social de desemprego, do abono de família, da pensão social de invalidez e da

pensão social de velhice. É importante fazer esta afirmação hoje, aqui e agora, depois do que ouvimos, para

que não haja qualquer tipo de dúvida do que está aqui em causa.

Com este alargamento do acesso à tarifa social, pretende o Governo que esta medida beneficie cerca de

500 000 contratos de fornecimento de energia elétrica. O que está em causa é o alargamento de 60 000 para

500 000. O próprio projeto de resolução do Partido Socialista refere 60 000 e não zero, não «quase nada»,

como dizia a Sr.ª Deputada Hortense Martins.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Já vou explicar a seguir!

O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — O que está em causa é o alargamento de 60 000 para 500 000 famílias,

com um desconto no valor bruto da fatura que pode chegar aos 34%. O que está aqui em causa é que, com

estas medidas que o Governo tomou, com medidas de acesso mais facilitado, poderá permitir-se que tenham

uma redução até ao limite de 34%, ou seja, cerca de um terço do valor total da fatura.

Também os consumidores de gás natural podem beneficiar da tarifa social. Fique, então, claro para todos

que quem está verdadeiramente preocupado com a tarifa social é o Governo e a maioria parlamentar que o

apoia.

A propósito destes objetivos, em março de 2015 foi lançada uma campanha informativa em vários meios de

comunicação social e que decorre também neste momento, através dos CTT, que pretende chegar aos

beneficiários de subsídios sociais e de pensões. Acresce, ainda, e é um dado relevante, que no quadro

sancionatório do setor energético, a ERSE está a atuar sobre situações detetadas de indício de incumprimento

por parte das empresas, como foi aqui referido, e bem. Portanto, se houver casos, e há casos que foram

referenciados pela própria ERSE, de empresas que não estão ou podem não estar a cumprir o que está

determinado na lei, a ERSE está a atuar. Portanto, o Governo fez o seu papel, criou legislação, criou um

quadro sancionatório e a ERSE está a atuar. Parece-me que é este o caminho que se deve seguir.

Mas o que é mais relevante neste debate, Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, e para terminar, é a

concordância que o Partido Socialista manifestou com o alargamento da tarifa social a mais famílias, bem

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como com o esforço que tem vindo a ser feito pelo Governo na aplicação, divulgação e monitorização desta

tarifa social.

Por fim, gostaria de dizer ao Partido Socialista que não precisa de se preocupar com o que está a ser feito,

deve, sim, preocupar-se com o que falta fazer.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção muito breve, dado o pouco tempo de que

dispõe, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, lamento que o PSD e o CDS não cedam à tentação de ir

sempre atrás, sempre a atirar culpas, para evitar um pouco a discussão que temos hoje, que nada tem a ver

com o PS. A discussão com o PS sobre as políticas do PS havemos de tê-la, e o PS certamente terá muitas

culpas no cartório.

A questão que estamos aqui a discutir é esta: acham ou não que deveríamos impedir que famílias pobres

fiquem sem luz? Sim ou não? A resposta é simples: sim ou não. Sim ou não, famílias devem ficar sem luz

porque não têm dinheiro para pagar a conta da luz? A resposta parece-me simples.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Gostaria de beneficiar da mesma tolerância dada aos outros grupos

parlamentares, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Não há precedentes nessa matéria, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sim ou não, devemos alargar a tarifa social ao gás de botija? Sim ou

não? A resposta é simples. Sim ou não, devem reforçar-se os mecanismos de acesso à tarifa social? Sim ou

não?

São cinco as recomendações que fazemos, que, se os Srs. Deputados tiveram o cuidado de ler,

acrescentam àquilo que já foi feito, e foi na direção correta.

Portanto, é muito simples: sim ou não, devemos melhorar estes mecanismos?

Srs. Deputados, se não têm nenhum problema com isso, votem a favor. Se não o fizerem é porque

convivem bem com o drama de haver pessoas que ainda não conseguem ter luz em casa porque não têm

dinheiro para pagar. É tão simples como isto, Srs. Deputados.

Aplausos do BE.

Vozes do PSD: — Isso é pura demagogia!

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, também muito breve, tem a palavra a Sr.ª

Deputada Hortense Martins.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, Sr. Deputado Afonso Oliveira, vou

recordar-lhe que, sim, quem criou a tarifa social foi o PS, porque, se não, se calhar, nesta altura, esta maioria

nem sequer o teria feito.

Vozes do PS: — Muito bem!

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — De facto, o PS criou esta tarifa social. Só que, entretanto, aconteceu

algo: o nosso Governo caiu — e caiu por responsabilidades a que VV. Ex.as

não são de todo alheios.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

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Depois, há ainda que referir que, entretanto, para este decreto ser aplicado, era necessário uma portaria

que definia os critérios de acesso. Quem é o «pai» da portaria? É a maioria PSD/CDS, através do seu próprio

Governo que está, neste momento, em funções. Mas esta maioria podia, ao menos, deixar de ser tão radical e

obtusa e verificar as propostas que trazemos a Plenário, propostas essas que não são nada radicais e

pretendem apenas desbloquear algo, em termos de acesso, que o próprio Governo, bem como a própria

ERSE, já reconheceu como sendo difícil.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Termino já, Sr. Presidente.

Portanto, tendo em conta que, em Portugal, o preço pago pelo gás doméstico é o segundo maior da União

Europeia e o preço da eletricidade é o oitavo mais alto, com o quinto maior aumento, o que é que verificamos?

A vossa total insensibilidade. E os portugueses continuam a estar afastados porque vocês fazem

simplesmente uma política de «faz de conta»: fazem de conta que dão a tarifa social e, de facto, não

desbloqueiam os acessos.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Termino já, Sr. Presidente, com uma citação.

O ex-Secretário de Estado Henrique Gomes, que se demitiu do Governo, diz que «o Governo falhou no

compromisso de não haver aumentos reais da energia superiores a 1%» por ter cedido aos lobbies que

controlam as rendas excessivas — e, neste momento, o défice tarifário já vai em 5000 milhões de euros.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, concluída a discussão conjunta dos projetos de

resolução n.os

1217/XII (4.ª) (PS) e 1462/XII (4.ª) (BE), concluímos também os nossos trabalhos de hoje.

A próxima sessão plenária tem lugar amanhã, pelas 15 horas, tendo como ordem do dia a apreciação do

projeto de lei n.º 898/XII (4.ª) — Procede à primeira alteração do Código Cooperativo (PSD e CDS-PP), que,

eventualmente, será votado no final do debate.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 32 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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