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Quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017 I Série — Número 54

XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2016-2017)

REUNIÃOPLENÁRIADE22DEFEVEREIRODE 2017

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Sandra Maria Pereira Pontedeira António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 4

minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa da proposta de lei n.º

61/XIII (2.ª), das propostas de resolução n.os 46 a 48/XIII (2.ª), dos projetos de lei n.os 411 a 415/XIII (2.ª) e dos projetos de resolução n.os 668 a 673/XIII (2.ª).

Ao abrigo da alínea b) do n.º 2 do artigo 224.º do Regimento, teve lugar o debate quinzenal com o Primeiro-Ministro (António Costa), que respondeu às perguntas formuladas pelos Deputados Catarina Martins (BE), Pedro Passos Coelho (PSD), João Paulo Correia e Susana Amador (PS), Assunção Cristas (CDS-PP), Jerónimo de Sousa (PCP),

Heloísa Apolónia (Os Verdes) e André Silva (PAN). Entretanto, o Deputado Nuno Magalhães (CDS-PP), em

interpelação à Mesa, reagiu a um comentário do Presidente a propósito do anúncio, feito pela Deputada Assunção Cristas (CDS-PP), de um pedido de audiência ao Presidente da República.

Foi ainda anunciada a entrada na Mesa dos projetos de resolução n.os 674, 675 e 677/XIII (2.ª) e dos projetos de lei n.os 416 e 417/XIII (2.ª).

O Presidente encerrou a sessão eram 17 horas e 3 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro e restantes Membros do Governo, Sr.as e

Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, está aberta a sessão.

Eram 15 horas e 4 minutos.

Peço aos Srs. Agentes de autoridade para abrirem as galerias.

O Sr. Secretário Duarte Pacheco vai dar conta do expediente que deu entrada na Mesa.

Tem a palavra.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, informo que deram entrada na

Mesa, e foram admitidas pelo Sr. Presidente, várias iniciativas legislativas.

Em primeiro lugar, refiro a proposta de lei n.º 61/XIII (2.ª) — Estabelece o regime jurídico da prevenção,

proibição e combate da discriminação, em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e

território de origem, que baixa à 1.ª Comissão.

Deram igualmente entrada na Mesa as propostas de resolução n.os 46/XIII (2.ª) — Aprova o Acordo de

Parceria Económica entre a União Europeia e os seus Estados-membros, por um lado, e os Estados do APE

SADC, por outro, assinado em Kasane, em 16 de junho de 2016, que baixa à 2.ª Comissão, 47/XIII (2.ª) —

Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e a República do Peru para a proteção, conservação,

recuperação e devolução de bens culturais, paleontológicos, arqueológicos, artísticos e históricos, furtados,

roubados e ilicitamente exportados ou transferidos, assinado em Lisboa, em 19 de novembro de 2012, que baixa

à 2.ª Comissão, e 48/XIII (2.ª) — Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e a República da África do Sul

sobre Cooperação Científica e Tecnológica, assinado em Durban, em 28 de agosto de 2015, que baixa à 2.ª

Comissão.

Deram também entrada na Mesa os projetos de lei n.os 411/XIII (2.ª) — Mudança da denominação da atual

freguesia de «Rua», no concelho de Moimenta da Beira (CDS-PP), que baixa à 11.ª Comissão, 412/XIII (2.ª) —

Subsídio social de mobilidade (PSD), que baixa à 6.ª Comissão, 413/XIII (2.ª) — Estabelece as bases da política

de ambiente (PCP), que baixa à 11.ª Comissão, 414/XIII (2.ª) — Altera a Lei n.º 108/91, de 17 de agosto, que

regula o Conselho Económico e Social (PSD), que baixa à 10.ª Comissão, e 415/XIII (2.ª) — Integra

representantes dos reformados, pensionistas e aposentados no Conselho Económico e Social, procedendo à

alteração da Lei n.º 108/91, de 17 de agosto (PSD), que baixa à 10.ª Comissão.

Deram, ainda, entrada os projetos de resolução n.os 668/XIII (2.ª) — Deslocação do Presidente da República

à Croácia (Presidente da AR), 669/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que atribua novo período de isenção

temporária do pagamento de contribuições para a segurança social aos produtores de leite (CDS-PP), que baixa

à 7.ª Comissão, 670/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que adote medidas que simplifiquem a atribuição e o

reembolso do subsídio social de mobilidade entre o continente e a Região Autónoma dos Açores e entre esta a

Região Autónoma da Madeira (PSD), que baixa à 6.ª Comissão, 671/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que

crie um rácio distinto e específico para as escolas profissionais agrícolas e de desenvolvimento rural, de forma

a dotá-las de assistentes operacionais em número suficiente para dar resposta às necessidades (CDS-PP), que

baixa à 8.ª Comissão, 672/XIII (2.ª) — Recomenda medidas urgentes de valorização dos cemitérios dos nossos

heróis (PSD), que baixa à 3.ª Comissão, e 673/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a salvaguarda do património

sonoro, musical e radiofónico português (PSD), que baixa à 12.ª Comissão.

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Duarte Pacheco.

Peço ao público presente nas galerias o favor de observar o máximo de silêncio que for possível.

Peço também às Sr.as e aos Srs. Deputados o favor de se sentarem para darmos início à ordem do dia. Os

que precisarem podem ir conversar para o exterior do Hemiciclo e depois voltar a entrar.

Pausa.

Penso que estão reunidas as condições para começarmos os nossos trabalhos.

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A ordem do dia de hoje consiste no debate quinzenal com o Primeiro-Ministro, ao abrigo da alínea b) do n.º

2 do artigo 224.º do Regimento da Assembleia da República, o que quer dizer que são os grupos parlamentares

que começam a formular perguntas ao Sr. Primeiro-Ministro.

Sendo assim, tem a palavra, em primeiro lugar, para formular perguntas, a Sr.ª Deputada Catarina Martins,

do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o Banco de Portugal anunciou que só

aceita uma solução para o Novo Banco: a venda ao Fundo Lone Star.

Segundo a informação que tem vindo a público, o negócio seria assim: o Estado perde 3900 milhões de euros

— que já gastou —, o Lone Star compra por zero euros e depois faz uma capitalização, ou seja, paga a si

próprio, mas não dispensa a participação do Fundo de Resolução.

A minha pergunta é esta: o Governo aceitará dar, em nome do Fundo de Resolução, garantias sobre o

malparado na venda do Novo Banco?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.

O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, o Banco de

Portugal comunicou ao Governo que considerava encerrada uma fase das negociações e que entendia que,

neste momento, as negociações deviam prosseguir exclusivamente com um dos interessados nesta fase, a Lone

Star, entendendo que esta negociação exigia agora também a participação do Governo. O Governo, como

sempre tem dito, só se pronunciará numa avaliação final, em função do resultado obtido.

De qualquer forma, há algo que é importante sublinhar: em caso algum o Estado perderá 3900 milhões de

euros ou qualquer parcela dessa quantia. Os 3900 milhões de euros são um empréstimo do Estado ao Fundo

de Resolução e será suportado pelo sistema financeiro. Portanto, pode ser que o sistema financeiro tenha de

suportar o pagamento ao Estado dos 3900 milhões de euros, para além do encaixe que venha a ter com o

processo de alienação do Novo Banco.

No que diz respeito ao Estado, já tive oportunidade de esclarecer, numa Conferência da Associação

Portuguesa de Bancos, há cerca de um ano, que o facto de ser vendido a um valor inferior não exonera os

bancos do que têm de pagar ao Estado. E o que terão de pagar ao Estado é, seguramente, os 3900 milhões de

euros, beneficiando do pagamento do Lone Star ou com os seus próprios recursos. Mas que têm de pagar, têm

mesmo.

A única coisa que ficou esclarecida para o conjunto do sistema bancário para efeitos de estabilização dos

seus balanços foram as condições de pagamento, que foram objeto de uma portaria há vários meses e que

permitiram estabilizar o impacto dos balanços dessa responsabilidade contingente do sistema bancário. Foi isso

que foi feito e teremos de tratar dessa verba.

Como a Sr.ª Deputada se recordará, quando o Banco de Portugal comunicou a proposta, o Governo definiu

três regras.

Em primeiro lugar — regra fundamental —, que só deverá haver alienação a quem assegure a continuidade

duradoura do Banco, que ele não seja desmantelado e que se mantenha ao serviço da economia e, em

particular, das pequenas e médias empresas.

Em segundo lugar, que não haja garantias do Estado.

Em terceiro lugar, a solução que menor impacto negativo tenha na estabilização do conjunto do sistema

financeiro.

Estas foram as três regras que definimos à partida e não sairemos delas na próxima fase da negociação.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, sobre o que a banca será ou não

capaz de pagar ao Fundo de Resolução daqui a 20 anos, veremos! Compreendo que talvez o País não tenha

muita confiança que daqui a 20 anos possamos ver esse dinheiro e, entretanto, todos os custos do Fundo de

Resolução vão ao défice do Estado.

Bem sei que as negociações ainda não acabaram, mas a minha pergunta é sobre uma decisão política prévia,

um critério político prévio: se o Fundo Lone Star exigir ao Fundo de Resolução uma garantia, sabendo-se que

essa garantia vai ser défice do Estado, o Governo, afinal, admite dar garantias sobre o malparado, ao contrário

do que publicamente prometeu? Ou seja, o Sr. Primeiro-Ministro aceita ou não alguma garantia pública ou cobrir

contingências futuras através do Fundo de Resolução para facilitar a venda ao Lone Star?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, vai desculpar-me, mas vou repetir exatamente o

que disse na resposta anterior: entre as três regras que o Governo definiu e transmitiu ao Banco de Portugal,

uma delas é a não concessão de garantias por parte do Estado. Essa regra não sofreu qualquer alteração neste

processo de negociação que temos pela frente.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Volta a ter a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, reparo que não disse nada sobre

garantias dadas pelo Fundo de Resolução e sabemos que este Fundo é sempre défice público, como tem sido

e como será, pelo menos, no mínimo, durante 20 anos. Aliás, desse ponto de vista, o processo de resolução do

BES foi desastroso: os contribuintes já perderam, efetivamente, 3900 milhões de euros, desmentindo todas as

promessas da direita sobre o custo zero na resolução do BES.

Mas, Sr. Primeiro-Ministro, pode ser tudo ainda pior se vendermos o Novo Banco. É que a venda não é

apenas a repetição do erro do passado, vamos repetir dois. É porque já temos uma resolução com perdas e

tudo indica que esta venda será como a do BPN ao BIC ou a do BANIF ao Santander, ou seja, vamos perder

duas vezes dinheiro com o mesmo banco.

Pelo contrário, se o Novo Banco for nacionalizado, mesmo que isso obrigue a uma recapitalização de 750

milhões de euros, ficaríamos protegidos de pagar talvez milhares de milhões de euros por perdas futuras a um

fundo privado e ganharíamos tempo e capacidade de intervenção na economia para dar sentido ao investimento

de 3900 milhões de euros que os contribuintes já foram obrigados a fazer neste Banco.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — A decisão que está agora em cima da mesa é entre entregar o maior banco

da área das PME a um fundo abutre que vai liquidar tudo o que puder no mais curto espaço de tempo possível

e passar a fatura das perdas ao Estado — e, neste caso, os contribuintes perdem tudo o que já foram obrigados

a pôr no Banco — ou, então, a alternativa, assumir o controlo público do Novo Banco e garantir que, por uma

vez, o dinheiro dos contribuintes fica ao serviço da economia e não do lucro de uns poucos, e é essa a posição

do Bloco de Esquerda.

Aplausos do BE.

Sr. Primeiro-Ministro, temos gasto dinheiro demais dos contribuintes com a banca e temos sido muito pouco

transparentes sobre isso.

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Devo dizer-lhe, aliás, que, sobre essa matéria, o Bloco de Esquerda vê com preocupação que o PSD e o

CDS tenham decidido paralisar a Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos para saber porque é que

precisamos de 5000 milhões de recapitalização.

O Bloco bem sabe que a direita está irritada e percebe também que António Domingues esteja irritado. O

Bloco está à vontade, foi o único partido à esquerda que votou para que António Domingues fosse obrigado aos

deveres de transparência, o que, eventualmente, o levou à demissão, mas a democracia é assim mesmo.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O que não aceitamos é que o Parlamento seja instrumentalizado para a

desforra de António Domingues…

Aplausos do BE.

… e, se o ex-administrador da Caixa tem alguma coisa para dizer ou para mostrar, que o faça, não precisa

de intermediários.

O que o Bloco de Esquerda quer é que possa haver conclusões de um processo em que a direita tem

responsabilidades, porque escondeu, durante um mandato, as necessidades de recapitalização da Caixa Geral

de Depósitos, que assim foram engrossando. São 5000 milhões de euros que têm de ser explicados e o que o

Bloco de Esquerda diz é que não tem sentido nenhum parar uma comissão de inquérito sem conclusões para

iniciar uma outra que não tem nenhum assunto.

Aplausos do BE.

Sr. Primeiro-Ministro, queria falar-lhe de um outro tema. Como sabe, na mesma semana em que as Nações

Unidas condenam Portugal pelos cortes nos apoios às pessoas com deficiência durante o Governo PSD/CDS,

sabemos que a direita deixou sair do País para offshore 28 000 milhões de euros, dos quais 10 000 milhões

sem qualquer averiguação. Aliás, não há melhor retrato do anterior Governo: quem tem 100 € paga impostos ou

tem penhora; quem tem 100 milhões de euros não paga nada e, ainda por cima, tem uma amnistia!

Protestos do PSD.

O Governo anterior deixou sair pela «porta do cavalo» 10 000 milhões de euros. É um número que não é

nada pequeno. É bem mais do que tudo o que gastamos com o Serviço Nacional de Saúde!

Paulo Núncio, ex-secretário de Estado do CDS, diz que não sabe de nada, e isso nós não podemos aceitar.

Aquilo que queremos é explicações do anterior secretário de Estado, mas também do atual, para garantir três

coisas: que não se repita a fuga, que seja responsabilizado quem permitiu a fuga e que seja fiscalizado tudo o

que pode ser fiscalizado.

Sr. Primeiro-Ministro, o que eu queria, hoje, era o seu compromisso para que, desta vez, não se resolva tudo

com uma amnistia fiscal, como aquelas que lavaram o dinheiro dos negócios escondidos dos submarinos ou da

prenda de José Guilherme a Ricardo Salgado.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro para responder.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, começo por responder à

segunda pergunta que me colocou, mas não irei deixar de responder à primeira.

Quanto à sua segunda pergunta, quero dizer que, em 2015, o Governo ordenou que fosse verificado o que

tinha acontecido quanto ao registo das operações realizadas entre 2011 e 2015 de transferências para offshore.

Verificou-se, então, que havia discrepâncias significativas porque havia 20 declarações apresentadas que não

tinham sido objeto de qualquer tratamento por parte da Autoridade Tributária.

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A totalidade dessas transferências ascendia a 10 000 milhões de euros. Por isso, o Governo fez o que lhe

competia: assegurar que todas essas declarações fossem objeto de tratamento e de publicação, como foram, e

pedir à Inspeção-Geral de Finanças que averiguasse por que razão é que durante quatro anos a Autoridade

Tributária foi dispensada de cumprir esta obrigação de fiscalização das transferências para offshore.

Desde aí para cá, não nos limitámos a fazer isto. Como sabe, adotámos um conjunto de medidas para

controlar essas movimentações: alargou-se, desde logo, as competências da Unidade dos Grandes

Contribuintes; reforçou-se as condições para troca de informações; o Orçamento do Estado para 2017, aprovado

nesta Assembleia, criou um conjunto de normas de abuso fiscal; e foram adotados uma série de acordos que,

como sabe bem, pois já foram aprovados nesta Assembleia, visam reforçar precisamente a troca de informações

para controlo relativamente às offshore.

Quanto ao Novo Banco, a nossa posição é sempre a mesma: decidiremos a solução que, perante a situação

concreta, for aquela que melhor proteja os interesses dos contribuintes, os melhores interesses da economia

nacional e a estabilidade do conjunto do sistema financeiro.

Como temos dito desde o princípio, não excluímos nenhuma solução e estamos nesta negociação de boa-

fé. Não a vou antecipar aqui, visto que nenhum de nós tem um mandato do Lone Star para fazer essa

negociação. O mandato que temos é o de representar o interesse dos contribuintes, da economia e da

estabilidade do sistema financeiro no conjunto desta negociação.

Por último, gostaria de dizer que, quanto a dúvidas em matéria de transparência, o acórdão publicado nesta

semana pelo Tribunal Constitucional torna bastante claro que nunca esteve em causa qualquer transparência

na obrigação de os administradores da Caixa Geral de Depósitos apresentarem as suas declarações ao Tribunal

Constitucional.

Passo a ler uma pequena passagem do acórdão publicado pelo Tribunal Constitucional: «(…) a finalidade da

exceção à aplicação do Estatuto do Gestor Público nada tem que ver…» — e a expressão «nada tem que ver»

está em itálico — «… com a sujeição dos administradores em questão aos deveres impostos pela Lei n.º 4/83».

Ou seja, como o Tribunal Constitucional decidiu por unanimidade, não houve qualquer isenção para os

administradores da Caixa Geral de Depósitos cumprirem a obrigação de apresentar as suas declarações ao

Tribunal Constitucional.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a evasão fiscal e o combate às offshore

é, para o Bloco de Esquerda, uma matéria da maior gravidade.

Nós propusemos, em junho de 2016, que fossem proibidas operações com offshore não cooperantes, ou

seja, que só servem para esconder dinheiro de crime, e essa proposta foi chumbada com os votos contra do

PSD, do CDS mas também do PS.

Sr. Primeiro-Ministro, voltaremos a apresentar a proposta. Quantos mais escândalos de offshore mais certas

se revelam as razões do Bloco de Esquerda nesta matéria.

Aplausos do BE.

Sr. Primeiro-Ministro, para terminar, queria apenas deixar-lhe uma pergunta e um apelo, sendo que a

pergunta é sobre Almaraz.

O recuo do Governo foi um erro. Para receber informações elementares que já deviam ser do conhecimento

do Estado português, o Governo não precisava nem devia ter retirado a queixa na União Europeia contra o

Governo espanhol. O Governo espanhol não dá nenhuma garantia: a construção não é suspensa, mantém-se

o objetivo de colocar o armazém a funcionar e ainda há um pedido de prolongamento da vida de Almaraz.

Sr. Primeiro-Ministro, para consultar uma avaliação do impacte ambiental que foi feita unilateralmente pelo

Governo espanhol não era preciso garantir nada.

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr.ª Deputada.

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A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.

O que lhe pergunto, Sr. Primeiro-Ministro, é se o Governo português vai pôr em cima da mesa, na cimeira

ibérica, o encerramento da central de Almaraz, tal como foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia da

República.

Aplausos do BE e do PAN.

Por último, o apelo…

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Peço-lhe 5 segundos, Sr. Presidente.

Sr. Primeiro-Ministro, nesta manhã, começou o despejo de 35 famílias do núcleo do Farol, na ilha da Culatra.

As casas vão ser demolidas num momento em que não foi ainda alterado o POOC (Plano de Ordenamento da

Orla Costeira), conforme decidido nesta Assembleia da República, e ninguém conversou com as populações.

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr.ª Deputada. Peço-lhe desculpa, mas já ultrapassou em muito o

tempo de que dispunha.

A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — O Bloco de Esquerda — e com isto concluo — leva muito a sério as questões

ambientais, mas não se fazem demolições primeiro e prepara-se depois. Esse era o projeto da direita e era

errado.

O apelo que lhe faço, Sr. Primeiro-Ministro, é no sentido de pararem as demolições e fazermos isto como

deve ser feito.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, em 1 segundo que o Sr.

Presidente me concederá, não desenvolverei a minha resposta sobre a questão de Almaraz, a não ser para

dizer que não recuámos. Fizemos aquilo que tínhamos de fazer para melhor defender os interesses nacionais,

como, certamente, terei oportunidade de explicar na resposta a uma outra pergunta.

No entanto, como não tenho a certeza de ter outra oportunidade para responder relativamente ao que se

passa na ria Formosa, queria dizer o seguinte: houve um diálogo intenso não só com as populações, como

também com o município de Olhão, sobre esta matéria.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Nesse diálogo, chegou-se a acordo para alterar profundamente aquilo que

estava previsto — aliás, a Polis já tinha notificado, sendo que tal foi desautorizado pelo Sr. Ministro do Ambiente,

tendo levado à demissão do Presidente da Polis —, tendo havido uma limitação e a intervenção é só a 60 casas,

todas no domínio público, todas em zonas de risco, todas que não são primeira habitação…

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — … e todas que não são nem de pescadores nem de viveiristas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Aplausos do PS.

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O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PSD.

Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Passos Coelho.

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, quero começar por uma

afirmação que o Sr. Primeiro-Ministro fez na abertura deste debate, em resposta à Sr.ª Deputada Catarina

Martins.

Disse o Sr. Primeiro-Ministro, a propósito de consequências com a venda do Novo Banco, que o Estado não

perderá, em caso algum, os 3,9 mil milhões de euros que, a título de empréstimo, foram colocados no Fundo de

Resolução, dado que esse valor deve ser suportado pelas instituições do sistema financeiro.

Gostaria de aproveitar essa sua referência para dizer que é notável que tenha demorado tanto tempo — mais

de dois ano e meio —, enquanto Secretário-Geral do Partido Socialista e depois como Primeiro-Ministro, a

reconhecer o que repetidamente o anterior Governo…

O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exatamente!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — … e eu, já na oposição, temos dito a propósito dos 3,9 mil milhões

de euros de empréstimo que foram colocados à disposição do Fundo de Resolução, concluindo, assim, que a

operação não tem custos para o contribuinte.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Sr. Primeiro-Ministro, folgo muito em que demore tempo, mas que acabe por dar razão ao que sempre

dissemos.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Boa tentativa!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — No entanto, lamento profundamente que tenha andado todo este

tempo a alimentar a ideia falsa de que o Estado e os contribuintes tinham perdido os 3,9 mil milhões que lá

tinham colocado,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Não, não é falsa!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — … afirmações feitas vezes sem conta pelo Bloco de Esquerda, pelo

Partido Comunista Português e, até, pela bancada do Partido Socialista, neste Parlamento.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Em segundo lugar, e muito rapidamente, também sobre matéria que foi suscitada pela Sr.ª Deputada Catarina

Martins e que me atrevo a antecipar, pois também poderá ser tratada por outros partidos da maioria, a propósito

de notícias vindas a público ontem e hoje sobre transferências para paraísos fiscais que não terão tido

tratamento por parte da Autoridade Tributária, gostaria de dizer ao Sr. Primeiro-Ministro que, na ocasião em que

desempenhei funções governativas, nunca tive conhecimento de nenhuma situação destas.

Vozes do PS: — Ah!…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Já esqueceu!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — Mas, Sr. Primeiro-Ministro, quero dizer-lhe que, hoje, na oposição,

sou o primeiro interessado em que se apure exatamente tudo o que se passou.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

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É preciso saber porque é que um despacho do anterior secretário de Estado não foi cumprido pela Autoridade

Tributária e, nesse sentido, por que é que não se publicaram os dados estatísticos; quando e exatamente em

que circunstâncias é que se trouxe à luz do dia essas discrepâncias e a possibilidade de ter havido

comunicações dos bancos ou do Banco de Portugal à Autoridade Tributária que não foram objeto de tratamento

para efeitos fiscais; quando é que o Governo tomou conhecimento dessa matéria e em que circunstâncias; se

isso se deveu ao facto de não ter havido publicação das estatísticas ou simplesmente se os factos não estão

ligados e o Governo teve conhecimento dessa matéria por qualquer outra via; averiguar que razões, no caso de

não ter havido tratamento fiscal, apresenta a Autoridade Tributária para o não ter feito; e se houve algum

envolvimento ou alguma responsabilidade política do Governo nessa matéria.

O Sr. PedroFilipeSoares (BE): — É só perguntar ao CDS!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — Tudo isso, Sr. Primeiro-Ministro, é essencial.

Portanto, ouviremos os responsáveis quer políticos, quer da Administração, atuais e anteriores, sobre estas

matérias e levaremos até às últimas consequências o apuramento dessa situação.

Quero dizer-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que faremos hoje, na oposição, exatamente o contrário do que os

senhores, no Governo, e a maioria que o apoia estão a fazer relativamente à Caixa Geral de Depósitos,…

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

… onde existe uma plena ocultação e até uma violação das regras mais básicas de transparência apenas

porque o Governo pretende proteger informação que é relevante para a opinião pública, para o País, para esta

Casa e para o Parlamento porque ela lhe pode causar incomodidade.

Sr. Primeiro-Ministro, a mim não me causa nenhuma incomodidade o que se possa ter passado durante o

período em que exerci as funções que o senhor exerce hoje,…

O Sr. LuísMontenegro (PSD): — Muito bem!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — … mas lamento profundamente que a maioria que apoia o Governo

não tenha a mesma disponibilidade para que a verdade se possa apurar relativamente à Caixa Geral de

Depósitos, ao contrário do que quis sugerir a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Sobre a Caixa em específico, quero colocar duas perguntas ao Sr. Primeiro-Ministro.

Em primeiro lugar, uma vez que citou um acórdão do Tribunal Constitucional a propósito das declarações de

rendimentos que deveriam ter sido apresentadas pelos ex-gestores da Caixa ao Tribunal Constitucional — aliás,

citou a parte em que diz que o decreto-lei que foi aprovado pelo Governo não os isentava dessas obrigações,

portanto, eles têm de as apresentar —, a minha pergunta é esta: se considera que esta interpretação do Tribunal

Constitucional é tão óbvia, porque é que o próprio Governo não foi pronto a fazer esse esclarecimento quando

foi publicado o decreto-lei? Porque é que o Sr. Primeiro-Ministro, desde então, não disse com clareza que essas

declarações tinham de ser apresentadas? E porque é que o Secretário de Estado Adjunto e das Finanças disse

exatamente o contrário, logo a seguir a ter sido suscitada a polémica a propósito desta matéria?

O Sr. LuísMontenegro (PSD): — Muito bem!

O Sr. PedroPassosCoelho (PSD): — Quer dizer que a alteração teria visado justamente impedir que os

deveres declarativos fossem preenchidos.

Pergunto, pois, porque demorou tanto tempo e não se antecipou, nesse caso ao Tribunal Constitucional,

sendo o autor da legislação que foi publicada.

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Em segundo lugar, queria perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro se é verdade que a Caixa Geral de Depósitos

vai pagar, ou já terá pago, despesas com escritórios de advogados ou consultores feitas pelo Dr. António

Domingues no tempo em que ainda não era presidente da Caixa Geral de Depósitos.

E, já agora, queria perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro se sabe que despesas foram essas e se, de facto, elas

foram ou não pagas pela Caixa Geral de Depósitos.

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro para responder.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Passos Coelho, verifico que, relativamente

ao período de vigência do seu Governo, o PSD e o CDS têm a seguinte regra de partilha de responsabilidades:

quando falamos de BANIF, a Sr.ª Deputada Assunção Cristas diz que nada sabe, que nada tem a ver com a

história, porque nem sequer ouviu, alguma vez, falar desse assunto em Conselho de Ministros;…

Aplausos do PS.

… quando se fala do incumprimento pela administração fiscal, sob a tutela de um secretário de Estado do

CDS, é o Sr. Deputado, na altura Primeiro-Ministro, que «lava as mãos» e diz: «Nada tenho a ver com isto. Esse

é um assunto do secretário de Estado que era do CDS.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

Pois informo o Sr. Deputado — se a sua bancada o deixar ouvir a minha resposta — que, hoje, essas

informações estão publicadas porque o nosso Governo fez publicar aquilo que durante quatro anos aguardou

publicação.

Aplausos do PS.

Portanto, o Sr. Deputado pode consultar e verificar que os dados que vieram a público não vieram por acaso;

vieram a público porque foi cumprida a ordem do atual Governo para que fossem publicados. Isto porque se

verificou que, de facto, estava por cumprir a publicação desses dados e por isso foi dada a ordem.

Relativamente à Caixa Geral de Depósitos, o Sr. Deputado terá estado desatento, mas desde a primeira hora

que eu tenho explicitado — aliás, como o Sr. Presidente da República também o fez — que nunca houve da

parte do Governo ou da parte do Sr. Presidente da República qualquer dúvida de que a alteração ao Estatuto

do Gestor Público em nada excetua quanto às obrigações de apresentar as declarações de rendimentos. Aliás,

essa dúvida, como eu já disse no último debate, não foi suscitada por nenhuma Sr.ª Deputada ou por nenhum

Sr. Deputado quando, na Assembleia da República, se apreciou o diploma. Aquilo que aqui foi debatido foi o

montante dos vencimentos e nunca nenhum Sr. Deputado teve dúvida sobre essa matéria. Ainda bem que não

tiveram porque agora o Tribunal Constitucional veio deixar o assunto totalmente claro.

Em segundo lugar, devo dizer-lhe que, relativamente ao período de vigência deste Governo, temos toda a

transparência para verificarem tudo aquilo que pretenderem. Aliás, tanto quanto sei, a divergência que existe no

seio da Comissão Parlamentar de Inquérito não se refere ao período de vigência deste Governo,…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Não?!

O Sr. Primeiro-Ministro: — … mas, sim, ao período de vigência de outros governos…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Não é verdade!

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O Sr. Primeiro-Ministro: — … relativamente aos quais este Governo está absolutamente à vontade. Mas

não nos compete substituir-nos à forma como a Assembleia da República conduz, com total independência, os

inquéritos que a própria Assembleia da República tende a realizar.

Quanto à segunda informação, sinceramente, ignoro quais são as despesas pagas pela Caixa Geral de

Depósitos. Mas há uma coisa que lhe posso garantir: este Governo não interferirá no dia a dia da gestão das

empresas públicas e, em particular, da Caixa Geral de Depósitos quer para saber quanto é que cobra, quer para

saber quanto é que paga. Não é assim que entendemos a Caixa Geral de Depósitos como um banco público. A

Caixa Geral de Depósitos não é um banco do Governo, é um banco do Estado para estar ao serviço da economia

e não à procura de satisfazer a curiosidade dos membros do Governo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra o Sr. Deputado Pedro Passos Coelho.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o senhor pode falar bem, mas

não diz aquilo que disse das outras vezes. Mais: de cada vez que fala vai-se contradizendo e, Sr. Primeiro-

Ministro, isso só gera desconfiança.

O senhor, desde o início, desculpou-se com o Tribunal Constitucional para não assumir claramente que, na

legislação que o Governo aprovou, os gestores da Caixa Geral de Depósitos estavam obrigados a apresentar

as suas declarações de rendimentos. Se o senhor tivesse dito isso com clareza desde o início, o problema,

provavelmente, nem sequer teria sido posto. Foi exatamente porque um secretário de Estado do seu Governo

disse o oposto, foi porque se avolumaram suspeitas, com dados fundados, de que o seu Ministro das Finanças

negociou esse tipo de circunstâncias que a Comissão de Inquérito deveria ter averiguado se isso aconteceu ou

não. E o Governo não só se recusou a prestar essas informações, como há dúvidas que cheguem de que o

Ministro das Finanças tenha respondido com a verdade à Comissão de Inquérito quando foi confrontado com

essas matérias.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem! Foi isso mesmo!

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — O que sabemos é que não só o Governo se escusa, sobre a parte

anterior, a enviar a informação que é necessária, quer através de si próprio quer através da Caixa, para que a

Comissão possa fazer o seu trabalho, como o Partido Socialista e a maioria que o apoia impedem que seja

reajustado, sequer, o objeto da Comissão de Inquérito para não só que não haja qualquer dúvida sobre que se

passou mas também para averiguar o que se passou.

Portanto, entre aquilo que o senhor diz, aquilo que é a prática e aquilo que já disse no passado, vai uma

distância imensa, Sr. Primeiro-Ministro. E é assim que se perde a credibilidade não apenas do Ministro das

Finanças, mas também do Primeiro-Ministro.

Aplausos do PSD e de Deputados do PS.

Quero, ainda, perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro o seguinte: tivemos conhecimento, no espaço de uma

semana, de várias indicações sobre aquela que é a natureza dos desequilíbrios estruturais da economia

portuguesa.

Risos de Deputados do PS e de membros do Governo.

Faz bem em rir-se, Sr. Primeiro-Ministro, porque esses desequilíbrios estruturais foram gerados durante

muito anos com o seu apoio e com o apoio de muitos senhores que estão nesse seu Governo.

Aplausos do PSD.

É exatamente isso!

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Esses desequilíbrios estruturais mereceram da maior parte das instituições que se pronunciaram sobre eles

comentários importantes, sobretudo chamando a atenção para o facto de não haver nenhum esforço sensível

que tivesse sido realizado pelo Governo para os combater durante o último ano…

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Vou concluir, Sr. Presidente.

Ora, preocupa-nos que tenha sido perdido um ano no combate a esses desequilíbrios estruturais, sobretudo

porque hoje poderíamos estar em muito melhores condições para encarar as reformas de transformação da

nossa economia que nos permitiriam crescer mais e convergir com a Europa.

O Sr. Presidente: — Obrigada, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Deixe-me concluir, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Faça favor, mas concluir dentro do tempo.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Eu concluo.

Sr. Primeiro-Ministro, uma vez que a sua maioria é contra qualquer reforma estrutural, sendo só a favor da

reversão daquelas que já foram feitas, como é que vai justificar que a economia portuguesa e o esforço que o

Estado português vem fazendo…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Não seja piegas! Está armado em piegas!

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — … esteja em sentido oposto àquele que era necessário realizar e

porque é que continua a empurrar com a barriga e com a geringonça no Parlamento?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Relembro que os tempos são todos confirmados em Conferência de Líderes.

O Governo e o Bloco de Esquerda ultrapassaram os tempos disponíveis e, portanto, tem de haver uma devida

compensação pelos restantes grupos parlamentares, mas convém não haver exageros.

Faça favor de responder, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Passos Coelho, verifico que foi necessário

chegar ao tempo dos descontos para sair do tema das tricas das SMS e começar a falar dos problemas reais e

da economia do País.

Aplausos do PS.

Isso diz tudo sobre este debate e sobre a posição do Governo e do PSD hoje em dia.

Eu começaria por sinalizar ao Sr. Deputado um pequeno dado que talvez fosse importante: é verdade que,

ainda hoje, a Comissão Europeia sinalizou vários desequilíbrios estruturais do País e trabalhou com dados

relativos a 31 de dezembro de 2015 — repito, 31 de dezembro de 2015!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Oh, não é possível…!

O Sr. Primeiro-Ministro: — É evidente que nem um otimista como eu acredita que seria possível fazer o

milagre de, entre 31 de dezembro de 2015 e finais de fevereiro de 2017, ter resolvido todos esses problemas

estruturais.

Aquilo que lhe posso dizer é que, hoje, cada um desses problemas estruturais está em melhor situação do

que estava no final de 2015, ou seja, permita-me que lhe recorde, no final dos quatro anos da sua governação.

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Aplausos do PS.

E se formos ver a nossa exposição internacional, a verdade é que tínhamos um desequilíbrio negativo de

109% e, hoje, está nos 103%; relativamente à dívida do setor privado, tínhamos um desequilíbrio de 181% e,

hoje, é de 176%. É alto, é verdade, mas é mais baixo do que aquele que existia quando V. Ex.ª cessou a sua

governação!

Aplausos do PS.

Por isso, Sr. Deputado, gostaria de lhe dizer com toda a franqueza o seguinte: admito que me continue a

achar irritante, mas, passado um ano, há de reconhecer que não sou otimista, fui simplesmente realista,…

Aplausos do PS.

… enquanto que V. Ex.ª, um ano depois, se apresenta aqui não só como pessimista mas como um pessimista

irritado. E está irritado porque adotou como estratégia que tudo o que fosse bom para o País era mau para si e

que só seria bom para si aquilo que fosse mau para o País.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

Foi esta estratégia derrotista, sem futuro, que o bloqueou em pequenas tricas sobre SMS, sem ter nada a

dizer às portuguesas, aos portugueses, às empresas, sobre o futuro e sobre a realidade do nosso País.

Aquilo que o irrita, verdadeiramente, é que nós saímos de 2015 a desacelerar a economia e saímos de 2016

com a economia a crescer 1,9%, um dos crescimentos mais altos de toda a União Europeia.

Aplausos do PS.

Aquilo que o irrita é que, durante o ano de 2016, a taxa de desemprego baixou quase 2 pontos percentuais

e foram criados quase 100 000 postos de trabalho líquidos durante o ano de 2016.

Aplausos do PS.

Aquilo que o irrita, Sr. Deputado Pedro Passos Coelho, é que o investimento privado e as exportações

aumentaram durante o ano de 2016.

Mas o que o irrita ainda mais é que o défice que tivemos em 2016 foi o mais baixo dos 42 anos de democracia

portuguesa.

Aplausos do PS.

E, sabe, o Sr. Deputado está irritado, mas os portugueses recuperaram confiança. É por isso que, ainda no

ano passado,…

Protestos do PSD.

Não vale a pena insultarem, porque não me intimidam com os vossos insultos.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

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O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, a Mesa não ouviu nenhum insulto, senão tinha interrompido a

sessão, como é óbvio.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Com certeza, Sr. Presidente.

Mas eu ouvi e só queria dizer que não me intimidam com os insultos.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Os insultos só demonstram que a irritação do vosso líder é contagiante.

Infelizmente, estão todos irritados.

Aplausos do PS.

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Seja bem-educado!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado Pedro Passos Coelho, a sua irritação é inversamente

proporcional à confiança dos portugueses que, no mês passado, revelaram um índice de confiança que atingiu

um máximo que não se alcançava desde 2000. É para esses que trabalhamos, é para a confiança dos

portugueses. Só lamento que isso o irrite, porque isso devia também contagiá-lo e motivá-lo para olhar para o

futuro. No entanto, já vi que, definitivamente, está prisioneiro do passado e encurralado em tricas, porque nada

de relevante tem a dizer ao País — às portuguesas e aos portugueses.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.

Tem a palavra, para formular perguntas, o Sr. Deputado João Paulo Correia.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr. Primeiro-Ministro,

o assunto das transferências de 10 000 milhões de euros para offshore, entre 2011 e 2014, sem o devido

acompanhamento e tratamento fiscal por parte da nossa administração tributária, é, no nosso entender, uma

matéria alarmante, grave e muito preocupante.

Mas, Sr. Primeiro-Ministro, mais grave até do que sabermos disso é, hoje, o Primeiro-Ministro desse Governo

ter trazido aqui, em vez das respostas que os portugueses querem saber, mais perguntas e ter sido incapaz de

responder por que é que isso aconteceu, porque, enquanto transferiam 10 000 milhões de euros para offshore

e não pagavam impostos, cortavam salários, cortavam pensões, cortavam no subsídio de desemprego…

Aplausos do PS.

… e até penhoravam habitações próprias e permanentes por dívidas ao fisco de 1000 e 2000 €.

O anterior Governo, Sr. Primeiro-Ministro, deixou uma autêntica bomba-relógio no nosso sistema financeiro.

O anterior Governo conhecia os problemas que afetavam o BANIF e decidiu metê-los na gaveta, como conhecia

também os problemas que afetavam a Caixa Geral de Depósitos e, aí, também optou por fingir que nada sabia.

Há uma informação da Inspeção-Geral de Finanças, a propósito de um relatório da Comissão de Auditoria e

Controlo Interno da Caixa, do segundo trimestre de 2014, que diz, nas suas conclusões — e isto foi do

conhecimento do anterior Governo no dia 14 de janeiro de 2015 —, que as imparidades, a 30 de junho de 2014,

ascendiam a 4635 milhões de euros, traduzindo um acréscimo de 313 milhões de euros, face ao trimestre

anterior. Isto prova que, de facto, o anterior Governo sabia e conhecia os problemas que afetavam a Caixa Geral

de Depósitos.

A Caixa Geral de Depósitos anda a merecer dos amuos e dos diferentes estados de espírito do PSD e CDS:

há dias em que querem sair da Comissão de Inquérito e há dias em que querem ficar na Comissão de Inquérito;

há dias em que são contra a interrupção dos trabalhos e há dias em que propõem a interrupção dos trabalhos;

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há dias que defendem o objeto da Comissão de Inquérito, intransigentemente, e há dias que defendem que é

preferível trazer para o objeto da Comissão de Inquérito outros assuntos que não fazem parte desse mesmo

objeto; e há dias em que propõem uma nova comissão de inquérito sem saberem o que fazer com a atual

Comissão de Inquérito.

A propósito da anunciada nova comissão de inquérito, não é por acaso que o PSD e o CDS não têm sido

capazes de apresentar a proposta de constituição dessa comissão de inquérito. Na verdade, o que está a

dificultar a apresentação de uma nova comissão de inquérito é o seu enquadramento legal e inconstitucional,

tendo em conta o objetivo de aceder a correspondência e meios de comunicação.

A este título, Sr. Primeiro-Ministro, vou citar um ex-Deputado desta Casa sobre um assunto muito similar:

«(…) a Constituição…», no seu artigo 34.º, n.os 1 e 4, «… declara invioláveis ‘o domicílio e o sigilo da

correspondência e outros meios de comunicação’ e proíbe expressamente ‘toda a ingerência das entidades

públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvo os casos

previstos na lei em matéria de processo criminal’. (…) a Constituição só permite a violação do sigilo da

correspondência e das telecomunicações em processo-crime — o que exclui em absoluto os inquéritos

parlamentares (…)». Acabo de citar o Dr. Mota Amaral, ex-Deputado do PSD, ex-Presidente da Assembleia da

República, na qualidade de Presidente da Comissão de Inquérito ao «caso PT/TVI». O que acabei de ler prova

que, para o PSD e CDS, vale tudo para destruir a Caixa Geral de Depósitos, tendo como objetivo maior a sua

privatização.

Aplausos do PS.

E vale tudo para atacar o Governo. Com o que o PSD e o CDS não contavam mesmo foi com o sucesso das

negociações com Bruxelas, que levaram à recapitalização em curso sem que isso fosse considerado ajuda

pública. O Governo e o Sr. Ministro das Finanças conseguiram evitar a resolução da Caixa e com isso evitaram

uma fatura de valor incalculável para o bolso dos contribuintes. Por isso é que PSD e CDS têm usado a Caixa

para um ataque irresponsável e doentio ao Governo e ao Sr. Ministro das Finanças.

Aplausos do PS.

A direita está irritada, está irritada com os resultados que o País conseguiu em matéria de crescimento

económico e de contas públicas. O crescimento económico, no quarto trimestre, foi acima da média da zona

euro e da União Europeia; as exportações terminaram o ano a crescer cerca de 10%; o investimento empresarial

cresceu 6%, face a 2015; o défice, histórico, de 2,1% e também um saldo primário histórico; o emprego a crescer

e o desemprego a diminuir de forma significativa. Tudo isto ao mesmo tempo em que são devolvidos os cortes

salariais, os cortes nas pensões, em que se elimina a sobretaxa de IRS e se aumenta o salário mínimo nacional.

Estes são os resultados que a direita, PSD e CDS, sempre sonhou apresentar ao País e que nunca conseguiu.

Para além disso, PSD e CDS andaram um ano a fio a anunciar que isto não iria dar certo. Marco António

Costa chegou a dizer que o Orçamento para 2016 estava completamente morto na sua credibilidade técnica e

financeira; Nuno Magalhães disse que este Orçamento se baseava numa fezada e não na realidade; e Maria

Luís Albuquerque disse que era aritmeticamente impossível o défice abaixo de 3%, que o diabo iria, com certeza,

aparecer até ao final do ano.

Sr. Primeiro-Ministro, não só foi possível como foi possível sem planos b e sem Orçamentos retificativos. As

revisões da OCDE e da Comissão Europeia em baixa, em relação ao défice, e em alta, em relação ao

crescimento, confirmam o reconhecimento da sustentabilidade do padrão de crescimento da nossa economia.

O diabo não apareceu! Havia uma alternativa.

Sr. Primeiro-Ministro, a nossa economia arrancou ou não arrancou?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Muito obrigado, Sr. Presidente e Sr. Deputado João Paulo Correia.

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É evidente a oposição que o PSD faz. Durante todo um ano investiram simplesmente em que as coisas

corressem mal, mas, mês após mês, as coisas, em vez de correrem mal, foram correndo melhor. E chegámos

ao final do ano com algo que, tendo mesmo sido possível, nem o mais otimista pode admitir como possível, que

é tornar aritmeticamente possível aquilo que aritmeticamente era impossível.

Aplausos do PS.

O Sr. João Oliveira (PCP): — O CDS-PP já está a olhar para si de lado.

O Sr. Primeiro-Ministro: — E é absolutamente extraordinária a arrogância com que, durante um ano inteiro,

se comportaram na oposição: mantiveram a mesma arrogância com que durante quatro anos governaram o

País, ignorando tudo e todos, dividindo o País, fraturando consensos nacionais fundamentais, quebrando diálogo

social, quebrando a esperança e a expectativa dos portugueses, relativamente ao futuro. Ainda não perceberam

que, mais importante até do que o excecional défice que obtivemos em 2016, mais importante até do que a

criação de emprego, do que o crescimento, do que as exportações, do que o investimento, foi ter sido possível

devolver ao País algo que tem um valor incalculável, que é a esperança e a confiança no futuro de Portugal.

Aplausos do PS.

Começaram por caricaturar aquilo que era o modelo económico do Governo e disseram: «O modelo

económico do Governo é o regresso ao passado, muito investimento público e muito endividamento!».

Chegaram ao final do ano a criticar-nos porque o investimento público tinha sido menor do que aquilo que

desejávamos que tivesse sido,…

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Menor?!

O Sr. Primeiro-Ministro: — … mas foi graças a esse esforço que neste ano pudemos aumentar, de facto, o

investimento público em 20%, sobretudo concentrado em obras de proximidade, que têm a ver com escolas,

que têm a ver com centros de saúde, que têm a ver com instalações das forças de segurança, que têm a ver

com hospitais. São estes os investimentos de proximidade que estamos a fazer.

Aplausos do PS.

Foi um Governo que não só não aproveitou as oportunidades que regulamentos comunitários permitiam para

que houvesse investimento nas rodovias, para assegurar a ligação das zonas empresariais às grandes

infraestruturas, nos investimentos de last mile, como não permitiu, no acordo de parceria, que esses

investimentos fossem feitos e…

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Fomos nós que os negociámos.

O Sr. Primeiro-Ministro: — … não os incluiu nos programas operacionais. E estamos agora a suportar, com

investimento exclusivo do Orçamento do Estado, os investimentos que são absolutamente prioritários fazer para

podermos valorizar, sobretudo na região Norte e na região Centro, zonas de investimento empresarial

desenvolvidas pelas autarquias, onde as empresas que aí investiram estavam privadas de aceder à rede

fundamental do IP1 e do IC1, e é esta complementaridade que estamos a fazer à custa do Orçamento do Estado,

porque estes senhores se permitiram deixá-la fora do Quadro Comunitário de Apoio.

Vozes do PSD: — Não é nada disso!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Como é que é possível?! Como é que é possível?!

Aplausos do PS.

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Protestos do PSD.

Como é que é possível terem chegado ao fim da sua ação governativa, depois de dois anos para executar o

Portugal 2020, com 4 milhões de euros atribuídos às empresas para investimento!? Chegámos ao final do ano

passado com 370 milhões confiados às empresas para poderem investir, este ano já vamos nos 400 milhões e

temos como meta, no final deste ano, atribuir 1000 milhões de euros para as empresas poderem investir, recriar

emprego e produzir riqueza.

Como é possível não terem feito chegar quase um cêntimo a nenhuma autarquia local durante os dois anos

em que tiveram a execução do Portugal 2020!? E tivemos de ser nós a fazer um esforço extraordinário, durante

o ano de 2016, para pôr os fundos comunitários no terreno a financiar, efetivamente, a economia.

É por isso que, chegados a esta fase e depois de terem falhado todas as suas previsões — de que o

Orçamento de 2016 não passava em Bruxelas, de que o Plano de Estabilidade não passava em Bruxelas, de

que iríamos ter de sofrer as sanções, de que iríamos ter de fazer Orçamentos retificativos, de que o diabo vinha

aí antes do verão… depois do verão… que a calamidade estava iminente —, depois de terem falhado isto tudo,

já só lhes resta uma coisa: bisbilhotar as comunicações privadas de uma SMS (short message service) de um

ministro com um antigo administrador do banco.

Aplausos do PS.

É mesmo o grau zero da política ter de chegar à bisbilhotice quando já nada têm a dizer ao País e aos

portugueses.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Susana Amador.

A Sr.ª Susana Amador (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, um Estado que se possa reclamar de

democrático, de representativo e participado não pode desvalorizar a descentralização como motor para se

afirmar como tal, nem pode ignorar o valor e a dimensão que o poder local nele deve ocupar.

Foi precisamente por querermos um Estado mais democrático, Sr. Primeiro-Ministro, mais representativo,

mais desenvolvido e eficiente, mais próximo e participado, que o Governo e o Partido Socialista erigiram no seu

Programa de Governo a descentralização, como elemento-chave da reforma do Estado.

A proposta de lei-quadro aprovada, no Conselho de Ministros, dia 16 de fevereiro representa essa vontade

política reformadora, esse desígnio de democratização, essa agenda de futuro participado que se inscreve

profundamente no presente.

Sr. Primeiro-Ministro, a política é muitas vezes a tensão entre o «já» e o «ainda não». Entendemos que este

é o tempo do «já» na descentralização, porque precisamos «já» de um Estado mais inteligente, precisamos «já»

de um Estado mais ágil, precisamos «já» de um Estado mais próximo das pessoas e, logo, mais forte.

Só as autarquias locais, estruturas base do funcionamento do Estado poderão contribuir para esse valor

acrescentado em áreas determinantes para o nosso País e para o desenvolvimento do País, para a sua coesão

e para a sua competitividade. Falamos de áreas como a educação, a saúde, a cultura, a ação social ou a

habitação, sendo que esta última carece particularmente do olhar atento e humano do poder local, porque, tal

como disse recentemente a propósito do Programa de Reabilitação de Bairros Sociais que apresentou, são as

autarquias que estão mais perto das populações, que conhecem melhor a realidade local, que melhor podem

avaliar e executar as políticas de habitação e responder às necessidades das suas regiões.

Sr. Primeiro-Ministro, gostaríamos que reiterasse e clarificasse nesta Câmara que esta reforma não confunde

descentralização com desresponsabilização do Estado. Este Governo tem, aliás, dado sinais inequívocos na

defesa dos serviços públicos, tem implementado medidas claras e densas no reforço do Estado social, na

segurança social, na saúde, na educação e também na igualdade de oportunidades.

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Gostaria que clarificasse aqui que nós não confundimos descentralização com contratualização. Esta

reforma, aliás, tem, como cais de partida, os princípios da universalidade do serviço público e da igualdade de

oportunidades no acesso e, como cais de chegada, a natureza pública das políticas e competências a transferir

e que revestirão, aliás, um carácter definitivo.

Temos ainda de reiterar que esta reforma não se faz sem uma adequada revisão da Lei das Finanças Locais

e dos recursos financeiros, patrimoniais e humanos adequados para o cumprimento integral destas novas

competências.

Sr. Primeiro-Ministro, este é um caminho profundo, intenso, que requere consensos alargados, diálogo

permanente com a ANMP (Associação Nacional de Municípios Portugueses) e a ANAFRE (Associação Nacional

de Freguesias), com estruturas representativas, que vai, inclusive, ter uma monitorização internacional da OCDE

e que, da parte de todos os partidos políticos, tem aqui o reconhecimento da importância do poder local e da

sua valorização, em termos de organização democrática do Estado.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Susana Amador (PS): — Irei terminar de seguida, Sr. Presidente, com a sua tolerância.

As freguesias e os municípios, com esta nova geração de políticas locais e competências, irão dar,

seguramente, uma contribuição determinante para valorizar territórios, atenuar assimetrias e promover a coesão.

Acima de tudo, Sr. Primeiro-Ministro, entendemos que serviremos melhor as pessoas, que são a medida e o

fim último da atividade humana, devendo a política buscar essa mesma realização.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Susana Amador (PS): — Para concluir, se o poder local é o «fusível de segurança da democracia»,

tal como disse o Presidente da República, então, estamos mesmo no caminho e no tempo certos. E o tempo

nunca espera por nós, não é verdade, Sr. Primeiro-Ministro?!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Susana Amador, agradeço as suas observações.

A reforma do Estado, para nós, não é um diapositivo de PowerPoint, é um pilar fundamental do nosso

Programa Nacional de Reformas e tem três eixos fundamentais, o primeiro dos quais é o que tem a ver com a

simplificação e a modernização administrativa. Por isso, descongelámos o Simplex, que tinha sido posto na

gaveta pelo Governo anterior. O Simplex, hoje, está no terreno, tem já, neste momento, 62% das medidas de

2016 executadas e está a dar resultados concretos, desde a carta de condução à nova forma de fazer a

declaração de IRS, como, muito brevemente, todos verificaremos, só para dar dois exemplos.

O segundo eixo fundamental tem a ver com a valorização da nossa Administração Pública. A reposição de

salários e horários foi só um primeiro passo, mas temos de prosseguir, e estamos a fazê-lo com o programa de

combate à precariedade no sector público, com a reposição das carreiras a partir de 2018 e com a criação de

centros de competências, o primeiro dos quais já em março, que será o centro de competências em matéria

jurídica.

O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas há um terceiro eixo absolutamente essencial, que, aliás, tenho referido e

não me cansarei de repetir, que é a pedra angular da reforma do Estado e que tem a ver com a descentralização.

A Sr.ª Deputada Susana Amador, que, durante muitos anos, foi autarca e, permita-me que lhe diga, uma

excelente autarca, sabe bem como as autarquias locais têm um papel fundamental para melhorar a eficiência

do Estado. Se temos um défice, em 2016, de 2,1% devemo-lo também à forma como as autarquias locais

souberam conter e gerir a sua política orçamental, contra muitos receios de que as autarquias seriam um centro

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de irresponsabilidade financeira sem a asfixia burocrática que o anterior Governo criou e que nós começámos

a desmantelar em 2016. Falso! Aquilo que elas provaram, em 2016, foi que concorreram com o Estado e com

as regiões autónomas para o excelente resultado orçamental que tivemos.

Aplausos do PS.

É por isso que é preciso passar das palavras aos atos. Quando ouço os líderes partidários, nas

apresentações de candidatos a autarcas, ou quando todos fazemos discursos sobre os 40 anos do poder local

democrático, ninguém se poupa nas loas aos resultados alcançados pelo poder local democrático. Pois está na

altura de convertermos essas palavras em confiança efetiva, dotando os autarcas que serão eleitos em outubro

próximo com mais competências e mais recursos para podermos ter todos um Estado mais eficiente ao serviço

do desenvolvimento.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — E é preciso que as autarquias participem também, desde já em 2018, no desenho

do que vai ser o Portugal pós-2020, porque, agora, descongelada a paralisia do Portugal 2020, estando nós

concentrados na execução, em velocidade de cruzeiro, do Portugal 2020, é preciso não esquecer que, no

próximo ano, já temos de começar a discutir em Bruxelas o Portugal pós-2020. Para isso, precisamos das

autarquias e que as autarquias tenham um envolvimento ao nível dos planos regionais como não tiveram até

agora. É por isso que, para além da reforma que já apresentámos na Assembleia da República, queremos

avançar também com a democratização das CCDR (comissões de coordenação e desenvolvimento regional),

para que as autarquias locais participem de corpo inteiro na vida das CCDR e já participem de pleno direito na

programação do Portugal pós-2020, de modo a que muitas das lacunas que todos os dias os autarcas verificam

existirem não voltem a verificar-se após 2020,…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — … porque queremos um planeamento aberto e participado por aqueles que,

estando mais próximos das pessoas, mais próximos dos problemas e mais próximos do território, têm maiores

condições de eficiência para executar as políticas de desenvolvimento regional.

A nossa confiança…

O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — … na descentralização é total e acreditamos que está mesmo aí a pedra angular

da reforma do Estado.

Mais uma vez, Sr.ª Deputada, agradeço as questões que suscitou.

O Sr. Presidente: — Para formular as suas perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Assunção Cristas.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, o Sr. Primeiro-Ministro tem por hábito dizer que

«palavra dada, palavra honrada». Gostaria de perguntar o que nos diz a propósito da revisão trimestral do

imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP), que não ocorreu na semana passada, quando o Governo havia

prometido neutralidade fiscal nesta matéria. Ficámos à espera da revisão do ISP, para que os portugueses não

fossem mais penalizados no gasóleo e na gasolina, mas isso, no entanto, não aconteceu. O que me diz sobre

este aspeto?

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Assunção Cristas, em 2016, introduzimos uma

medida de revisão trimestral, que foi uma medida transitória até à introdução do combustível profissional. Palavra

dada, palavra honrada, fizemos a revisão trimestral durante todo o ano de 2016 e introduzimos o gasóleo

profissional.

Em 2017, o Orçamento do Estado, como bem sabe, porque participou na sua elaboração e votação, não

prevê qualquer revisão trimestral, porque prevê a manutenção do gasóleo profissional.

Foi o que dissemos, foi o que fizemos — palavra dada, palavra honrada.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra a Sr.ª Deputada Assunção Cristas.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, nós já estamos habituados a

que goste de distorcer a realidade.

Protestos do PS.

Nunca o ouvi dizer que a neutralidade fiscal era para o gasóleo profissional, ouvi-o dizer que a justificação

do aumento do ISP, há um ano, era para garantir que a perda de receita fiscal, que decorria para o Estado da

baixa do preço do petróleo, não impactava nas contas públicas e que os portugueses poderiam estar

descansados, porque isso não os iria afetar. Não é verdade! E tanto não é verdade que, neste momento, para

encher um depósito de 50 l de gasóleo paga mais 12 € e de gasolina paga mais 7 €. E tanto não é verdade que,

em 2016, só em ISP e outras taxas ligadas aos combustíveis foram arrecadados mais de 1000 milhões de euros.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Portanto, neutralidade fiscal não aconteceu! Pura e simplesmente,

não aconteceu! Mas fiquei agora a saber que, na sua visão, na sua perspetiva, não havia neutralidade fiscal

para os portugueses. Afinal, havia ou não havia?!

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, vejo que a Sr.ª Deputada quer, à força, voltar a ser líder do

partido dos contribuintes, mas, depois do seu currículo em matéria de contribuintes, percebemos que os únicos

contribuintes que foram poupados foram mesmo aqueles que levaram o dinheiro para os offshore e que a

estatística e a informação ficou por revelar durante quatro anos.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Sr.ª Deputada, a nossa política fiscal em matéria de combustíveis foi aprovada no Orçamento do Estado e,

como sempre temos dito, aquilo que, para nós, é prioritário é a diminuição do rendimento do trabalho. E, por

isso, graças à nossa política fiscal, 90% dos portugueses deixaram de pagar a sobretaxa de IRS já no dia 1 de

janeiro deste ano.

A Sr.ª Deputada está preocupada? Pois, olhe, devia dizer-lhe o seguinte: convinha que se atualizasse em

matéria de política fiscal de combustível. E, para quem foi, designadamente, bem sei que efémera, Ministra do

Ambiente, fica-lhe muito mal a visão que tem sobre a política fiscal relativa aos combustíveis.

Aplausos do PS.

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O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Assunção Cristas.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, noto que não responde, porque

não sabe ou porque não quer ou, ainda, porque não quer assumir que falhou, mais uma vez, com a sua palavra,

em matéria de neutralidade fiscal para os contribuintes.

Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.

E tenho a dizer-lhe que falhou, e falhou muito, porque foram arrecadados mais de 1000 milhões de euros,

em 2016, em imposto sobre gasóleo, gasolina, e outras taxas, o que significa um grande aumento de impostos

indiretos. Esta é a sua política fiscal: um grande aumento de impostos indiretos, que são aqueles que não

distinguem quem recebe mais e quem recebe menos, porque todos pagam por igual. Aí está o seu combate às

desigualdades!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Primeiro-Ministro, sobre matéria fiscal e sobre o combate à fraude

e à evasão fiscais, estamos muito tranquilos. E sabe por que é que estamos muito tranquilos? Porque sabemos

muito bem o que fizemos no anterior Governo, sabemos muito bem que reforçámos, em 1000 inspetores, os

inspetores da Autoridade Tributária,…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … sabemos muito bem que alargámos o prazo de prescrição —…

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Está a falar para a bancada do PSD!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … o prazo de prescrição da dívida fiscal, no caso das offshore,

passou de 4 para 12 anos.

Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, está nas suas mãos ir procurar o tal montante pelo qual a Autoridade

Tributária não deu, porque nós, nesta Casa, queremos saber o que é que aconteceu e por que é que a

Autoridade Tributária não deu por ele.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso é demasiada justificação para quem está tranquilo!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Achamos muito bem que a Inspeção-Geral de Finanças procure

averiguar o que se passou, porque, para nós, não há qualquer problema nessa matéria.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — O que acho extraordinário é que o Sr. Primeiro-Ministro queira vir

aqui, enfim, com os seus apoiantes no Parlamento, lançar dúvidas sobre esta matéria — sorri, porque, como

nós sabemos, obviamente, o Governo, muito convenientemente, plantou notícias para poder fazer aqui o número

—,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso é demasiada justificação para quem está tranquilo!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … porque o Sr. Primeiro-Ministro não tem a mesma autoridade,

quando se trata de defender o combate à fraude e à evasão fiscais. E vou explicar porquê. Nós, no nosso

Governo, podemos orgulhar-nos de ter incrementado muitos acordos para troca automática de informação,

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nomeadamente com a Suíça, o Luxemburgo, Singapura e Hong-Kong. Sabe o que aconteceu com o seu

Governo?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ouça!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Não sei se sabe, mas é bom lembrar: no final de 2016, retirou da

lista de offshore,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Diga lá por que é que fecharam os olhos a 10 000 milhões?!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … três territórios, designadamente, as ilhas de Man e Jersey e o

Uruguai.

Gostava de saber o que o Sr. Primeiro-Ministro, o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda dizem quanto a

isso,…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O PCP também!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … porque, só em 2016, para esses territórios, foram passados 600

milhões de euros. O que é que acontece agora? Por que é que desapareceram da lista?

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Alguns deles foram da festa do Avante!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Mas tenho outra coisa a dizer-lhe: enquanto nós agravámos o

imposto para qualquer transferência de e para offshore, enquanto nós agravámos a pena para os crimes fiscais,

enquanto nós impedimos que se arquivasse um processo, em caso de crime, mesmo quando os contribuintes

pagavam aquilo que era devido,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Está a justificar muito, está!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … o que é que os senhores fazem? Olhe, há oito meses que está

parado, em sede de comissão, um conjunto de propostas, e o CDS também tem algumas, para tratar destas

matérias dos offshore e não vejo qualquer vontade política da maioria, que, em algumas matérias, é tão afoita e

tão rápida, mas, nesta, nada!

Aplausos do CDS-PP.

Portanto, ao contrário desta maioria de esquerda, que utiliza recursos parlamentares inadmissíveis em

democracia para impedir a descoberta de toda a verdade, ao contrário desta maioria da esquerda unida, que

oprime os direitos da oposição no Parlamento — e isto é grave, é muito grave —, deste lado não há nenhum

medo de descobrir a verdade, não há nenhum medo de inquirir, não há nenhum medo de ouvir as respostas. E

tenho a dizer-lhe que acho que aquilo que, neste momento, se passa no Parlamento é de tal forma grave que

eu própria pedi uma audiência ao Sr. Presidente da República, que ocorrerá na sexta-feira, para denunciar o

que aqui se passa.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Não sei o que a Sr.ª Deputada vai denunciar ao Sr. Presidente da República, mas sabe

que a porta do meu gabinete está sempre aberta para todos os Deputados.

Aplausos do PS.

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Protestos do PSD e do CDS-PP.

Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, peço a palavra.

O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Para uma interpelação à Mesa, Sr. Presidente, de facto sobre a boa

condução dos trabalhos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, com toda a franqueza, creio que a boa condução dos

trabalhos não permite que o Sr. Presidente faça esse tipo de apartes.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas que atitude piegas!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O CDS é um partido político que escolhe com quem fala e como fala.

Aplausos do CDS-PP.

De resto, nós pedimos uma audiência ao Sr. Presidente da República porque, quando o CDS e o PSD

levaram esta questão à Conferência de Líderes, o Sr. Presidente…

O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Disse que era um mau serviço!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … disse que era prestar um mau serviço à democracia.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ora bem!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Não era nada consigo, ainda nos acusou de instrumentalizarmos a

Conferência de Líderes, nós pedimos uma audiência ao Presidente da República e o Sr. Presidente interrompeu

a Presidente do meu partido, quando estava a inquirir o Sr. Primeiro-Ministro, para dizer que tem a porta aberta!

Sr. Presidente, desculpe que lhe diga, com toda a gentileza, mas quem, neste Parlamento, fechou a porta na

cara ao CDS e ao PSD e às regras democráticas foi o Sr. Presidente.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado não desconhece a Constituição da República, não desconhece a

separação de poderes entre a Assembleia da República e o Presidente da República.

Protestos do CDS-PP.

Portanto, penso que a bancada do seu partido também não deve desconhecer.

Continuando com o debate, tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Assunção Cristas, de facto, a política fiscal é uma

questão de opções.

A opção que a Sr.ª Deputada defendeu foi a do agravamento da carga fiscal sobre as empresas e, em

particular, sobre os trabalhadores.

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A política que definimos como prioritária foi a do desagravamento fiscal sobre os rendimentos do salário. Por

isso, começámos, em 2016, a reduzir a sobretaxa, e já reduzimos, neste momento, a sobretaxa para 90% dos

contribuintes e, em breve, eliminaremos a sobretaxa, reduzindo-a para 100% dos contribuintes.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

O Sr. Primeiro-Ministro: — A Sr.ª Deputada entendia que era necessário aumentar o custo das refeições

de todos os que têm de fazer refeições fora de casa. Nós entendemos que era prioritário desagravar o IVA

(imposto sobre o valor acrescentado) da restauração para que houvesse menor pressão sobre quem paga e,

sobretudo, sobre as micro, pequenas e médias empresas da restauração, e muitas delas fecharam as portas

durante quatro anos, asfixiadas pelo seu regime fiscal, mas, felizmente, no ano passado, puderam começar a

respirar e deram, aliás, um contributo muito positivo para a criação de emprego.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Deputada preocupa-se muito com a tributação da gasolina.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Isso é agora!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Pois, a mim, preocupava-me muito conseguir reduzir o pagamento especial por

conta (PEC) que as empresas vão pagar já no próximo mês, e que foi aqui aprovado com a abstenção do CDS,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — É preciso ter muita lata!

O Sr. Primeiro-Ministro: — … apesar de ser uma medida que o CDS também tinha defendido.

Sr.ª Deputada, é verdade, a política fiscal é uma questão de opções, e aquilo que nos distingue são essas

opções.

Dar-me-á a liberdade de entender que poupar os rendimentos do trabalho é uma opção correta, que

desagravar os impostos diretos é uma opção correta, que criar condições para que as empresas invistam e

possam criar emprego é uma opção correta. Por isso, avançámos com o regime do programa Semente para as

startup; e por isso alterámos o regime fiscal de apoio ao investimento, para que as empresas possam investir.

Esta é uma política fiscal correta; está é a política fiscal que nós queremos seguir; esta é a política fiscal que

nós devemos seguir.

Sabe o que mais, Sr.ª Deputada? Com esta política fiscal, estamos a estimular o investimento, estamos a

criar emprego e estamos a reduzir o défice. Nada disto aconteceu com a sua política fiscal, que era muito boa,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ó Sr. Primeiro-Ministro!…

O Sr. Primeiro-Ministro: — … muito boa, mas destruiu emprego, destruiu empresas e, quanto ao défice,

nunca conseguiram o défice que nós alcançámos.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr.ª Deputada Assunção Cristas.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, o Sr. Primeiro-Ministro, definitivamente, não quer ser

levado a sério.

Aplausos do CDS-PP.

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Deixe-me dizer-lhe que aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro aqui vem, em resposta, explicar é extraordinário,

porque o Sr. Primeiro-Ministro tinha prometido um desagravamento fiscal, não tinha falado sobre agravamento

fiscal e, agora, já diz que é uma questão de alternativas.

É a austeridade à la esquerda, é um facto! É a austeridade feita de outra maneira! Tem de assumir isso e

tem de concluir que é verdade, assim como é verdade que vai buscar dinheiro ao bolso dos portugueses…

Protestos do Deputado do PS João Galamba.

… com os impostos sobre os combustíveis e outras matérias que não têm nenhuma sensibilidade ao

rendimento.

O Sr. João Galamba (PS): — A carga fiscal baixou!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Deixe-me dizer-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que, em relação às

empresas, folgo em saber que agora está muito preocupado, mas o que eu gostaria de ter visto, Sr. Primeiro-

Ministro, era a sua bancada a votar favoravelmente a proposta do CDS, em matéria de PEC, uma semana antes!

E o senhor votou contra!

Portanto, quando a proposta é do Partido Socialista, acha que temos de votar a favor, quando é do CDS,

votam contra.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Olhe que guardo as SMS do Pedro Nuno Santos.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Portanto, não tem sequer nenhuma legitimidade para apontar o dedo

ao CDS nessa matéria e perdeu uma boa oportunidade, pois nem sequer deveria ter levantado esse assunto.

Isto, para não ir mais longe!

Deixe-me dizer-lhe que eu ainda estou à espera da resposta sobre Jersey, ilha de Man e Uruguai.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora, muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Saíram as três da lista dos offshore. Portanto, não estão preocupados

com os offshore.

Sr. Primeiro-Ministro, gostaria de ouvir aqui o seu compromisso de que vai dar instruções, através do Sr.

Ministro das Finanças, à Autoridade Tributária para investigar tudo, para levantar todos os processos, como

foram levantados, no nosso tempo, em relação à informação que era conhecida, e para poder obter,

naturalmente, a regularização de qualquer dúvida que exista, no que respeita a esses montantes.

Sabe que mais? Tem muito tempo, porque, felizmente, e graças ao Governo anterior, tem até 2024 para o

fazer. Portanto, comece já a tratar dessa matéria, é o desafio que lhe deixo.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Primeiro-Ministro, não quero terminar sem lhe fazer mais duas

perguntas, e uma delas já vai sendo recorrente, mas suponho que, agora, depois de a UTAO (Unidade Técnica

de Apoio Orçamental) ter vindo dizer que a dívida pública em 2016 subiu e ficou em 130%, já terá, certamente,

a possibilidade de nos explicar, sabendo qual é a dívida pública portuguesa em 2016. Assim, pergunto: qual é a

dívida que projeta para 2017?

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Sr. Presidente, concluo já. Peço só a mesma tolerância que já foi

dada.

Sr. Primeiro-Ministro, em relação a investimentos que são ou não são feitos, gostaria de perceber como lê

as notícias recentes — graves e preocupantes, porque geram um sentimento de insegurança —, em relação a

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fugas do aeroporto de Lisboa, a detidos de Caxias que saem e também a assaltos num centro comercial de

Lisboa.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que termine, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Isto quer dizer, provavelmente, que a queda de 10% no investimento público, mais as cativações, não afetam

apenas as escolas e os hospitais, como estamos a denunciar há tanto tempo, afetam também a área da

segurança, o que é, naturalmente, tão ou mais grave.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, para responder.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, em primeiro lugar, quero esclarecê-la de um

pequeno pormenor: no nosso regime de separação e interdependência de poderes, o Primeiro-Ministro não vota

na Assembleia da República.

Protestos da Deputada do CDS-PP Assunção Cristas.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Desculpas!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mais, ficará a saber outra coisa: este Primeiro-Ministro, enquanto líder partidário,

dispensa-se de dar instruções ao seu Grupo Parlamentar, porque tem total confiança nele, de, com a sua

autonomia, poder autodeterminar a sua ação e a sua votação nesta Assembleia da República.

Aplausos do PS.

Protestos do CDS-PP.

Quanto à carga fiscal, Sr.ª Deputada, recomendo simplesmente que vá ver as estatísticas, para poder

verificar como a carga fiscal, em 2016, baixou, relativamente a 2015.

Vozes do PSD: — Não baixou, não!

O Sr. Primeiro-Ministro: — E se a carga fiscal baixou, relativamente a 2015, é porque a relação entre a

tributação e a riqueza produzida é mais favorável à riqueza produzida do que à tributação arrecadada por parte

do Estado.

Finalmente, e quanto à dívida, tenho tido oportunidade de, repetidamente, explicitar à Sr.ª Deputada — e

volto a recordar — que, com o défice mais baixo de sempre, conseguimos dar o menor contributo de sempre

para o aumento da dívida.

Em segundo lugar, relembro que a dívida líquida baixou um ponto percentual, que a dívida bruta, em 2016,

atingiu o seu máximo…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ah!… Então, é verdade, atingiu o seu máximo!

O Sr. Primeiro-Ministro: — … e que, em 2017, chegará, de acordo com as previsões do Orçamento do

Estado, a 128% do PIB (produto interno bruto).

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Primeiro-Ministro.

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O Sr. Primeiro-Ministro: — Posso mesmo dizer-lhe que a dívida bruta, hoje, já é inferior à que era em 31 de

dezembro de 2016.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para formular perguntas ao Sr. Primeiro-Ministro, o Sr.

Deputado…

Protestos da Deputada do CDS-PP Assunção Cristas.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, peço desculpa, mas, invocando um pequeno crédito que ainda

tenho…

O Sr. Presidente: — Crédito?! Não, Sr. Primeiro-Ministro, já ultrapassou o seu tempo.

O Sr. Primeiro-Ministro: — O crédito equivalente ao desconto de quase 1 minuto, Sr. Presidente, é só para

não deixar a Sr.ª Deputada Assunção Cristas nesta angústia.

Quero só informar a Sr.ª Deputada do seguinte: esses três territórios foram retirados da nossa lista,…

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ah!…

O Sr. Primeiro-Ministro: — … porque passaram a ser considerados pela OCDE (Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Económico) como territórios cumpridores ou excecionalmente cumpridores.

Por isso, foram retirados da nossa lista.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para formular perguntas, o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, no último debate quinzenal

colocámos uma questão sobre a publicação da portaria que define a majoração do abono de família. No dia

seguinte, a portaria foi publicada, concretizando uma importante medida do Orçamento do Estado de 2017, que

abrange mais de 130 000 crianças.

Resolvido que está o problema da publicação da portaria, era importante ouvir, da sua parte, a confirmação

de que o pagamento será feito às famílias já no próximo mês, com os correspondentes retroativos, desde o

início do ano.

É um bom caminho este, Sr. Primeiro-Ministro. É importante que esta e outras medidas positivas, aprovadas

no Orçamento do Estado para 2017, avancem na concretização da resolução de problemas e dificuldades

sentidos pelos trabalhadores e pelo povo.

É necessário avançar no combate à precariedade para resolver os problemas que atingem milhares de

trabalhadores com vínculo precário na Administração Pública e também no sector privado.

É necessário avançar com a reforma sem penalização aos 40 anos de descontos para valorizar as longas

carreiras contributivas e fazer justiça a milhares de trabalhadores que começaram a trabalhar cedo demais. Não

acha, Sr. Primeiro-Ministro?

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, quanto à primeira questão,

sobre o abono, tal como lhe tinha dito, foi publicada a portaria e foram pagos os retroativos a 1 de janeiro. Não

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foram pagos na prestação que já estava em processamento mas na prestação que será processada no próximo

mês, esta já incluirá o pagamento dos retroativos a janeiro.

Como também já tive oportunidade de esclarecer, quanto às carreiras contributivas longas, o Ministério do

Trabalho, Solidariedade e Segurança Social está a concluir o trabalho e irá apresentar a proposta para o

assegurar. Sei bem que essa é uma necessidade não só de justiça mas também muito reclamada por uma

geração que começou a trabalhar muito mais cedo do que hoje se começa, normalmente, a trabalhar e que, por

isso, vai ter carreiras muito mais longas do que alguma vez qualquer outro cidadão voltará a ter.

É uma decisão específica que exige uma resposta específica e esse trabalho está a ser concluído e iremos

avançar, como tínhamos, aliás, assumido já aqui o compromisso de o fazer.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, continua no uso da palavra. Faça favor.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a propósito de compromissos, as

demolições na Ria Formosa devem levar-nos à insistência na questão que, tantas vezes, aqui trouxemos: não

é aceitável expulsar as comunidades locais das ilhas barreira da Ria Formosa, para entregar este valioso

património natural aos grandes interesses privados. Há uma resolução da Assembleia da República, aprovada

recentemente, com o voto favorável do PS e há o próprio PS, que tem compromissos assumidos com as

populações antes das eleições legislativas de 2015, e é preciso respeitar aquelas populações e o seu direito a

viver e a trabalhar na Ria Formosa. Por isso, além de expressar a solidariedade às populações, queríamos, hoje,

reafirmar a nossa posição de que aquele processo de demolições deve ser travado em definitivo.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, houve um erro na transmissão de tempo para o quadro eletrónico, mas

a contagem de tempos será, certamente, corrigida.

Sr. Primeiro-Ministro, tem a palavra, para responder.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, como, há pouco, tive

oportunidade de referir, temos acompanhado muito de perto esta situação, e eu, pessoalmente, também tive

oportunidade de falar com o representante das populações, além de ter falado, diversas vezes, com o Sr.

Presidente da Câmara de Olhão.

Aquilo que estava previsto pela Sociedade Polis Litoral Ria Formosa e que levou, aliás, a Sociedade Polis a

notificar, sem conhecimento do Governo, um conjunto de moradores sobre as demolições foi revisto.

O Sr. Ministro do Ambiente assumiu o compromisso, e cumpriu, de fazer uma avaliação caso a caso das

situações. Esse compromisso foi também honrado, de tal forma que o então presidente da Sociedade Polis

apresentou a sua demissão, porque se considerou desautorizado e porque não iria ser executado o programa

que estava previsto.

Primeiro ponto que queremos deixar claro: qualquer casa que esteja a ser demolida não será substituída por

uma nova, seja num grande, pequeno, médio ou micro empreendimento imobiliário. Não há negócios imobiliários

para fazer ali, o que há é o assegurar o respeito por um conjunto de regras.

Definimos três tipos de regras que eram da maior importância: primeiro, só demolir habitações que

estivessem no domínio público; segundo, só demolir habitações que estivessem em zona de risco, ou seja, em

que estivesse em causa a própria vida das populações, e, em terceiro lugar, que não fossem primeiras

habitações ou instalações de pescadores e viveiristas.

As 60 casas que ficaram identificadas, entre as muitas centenas que estão no conjunto daquelas ilhas, são

as únicas onde haverá esta intervenção.

Temos de gerir este processo tendo em conta os diferentes interesses que importa preservar: o direito à

habitação das pessoas, o direito à atividade que as pessoas têm e às práticas tradicionais na ria, mas também

a proteção dos bens públicos ambientais e a proteção e a segurança das pessoas.

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É neste equilíbrio destes diferentes interesses que temos procurado agir. Se entre estas 60 casas há alguma

situação onde não tenham sido respeitados estes critérios, então, gostaria que fosse identificada e relativamente

a essa atuaremos.

Mas aquilo que combinámos e que acertámos que seria respeitado é o que estamos a respeitar. Se há algum

erro entre aquele universo das 60 casas, agradecia que, em concreto, nos fosse identificado para podermos

verificar e, se for caso disso, corrigir.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, ainda, o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, fazia-lhe um apelo veemente para

que fizesse uma reavaliação salvaguardando esse direito fundamental que as populações têm de viver e de

trabalhar na ria Formosa.

Sr. Primeiro-Ministro, quero referir outra questão que já aqui passou. Tem um grande significado político que

PSD e CDS não tenham, neste debate, prestado contas aos portugueses pelo escândalo de 10 000 milhões de

euros que saíram do País, entre 2011 e 2014, para os offshore sem qualquer controlo do anterior Governo.

Já ouvimos o Sr. Primeiro-Ministro da altura dizer que não sabia, ouvimos o Secretário de Estado respetivo

dizer que não sabia e ouvimos fontes da Autoridade Tributária a dizerem que pode ter sido um erro informático.

Sr. Primeiro-Ministro, é caso para dizer que a moral da história, no essencial, vai ser que a «culpa morre

solteira» ou, quanto muito, que a culpa foi da empregada que avariou o computador durante a operação de

limpeza.

Aplausos do PCP.

Pois, o PSD e o CDS foram impiedosos com os trabalhadores, com os desempregados, com os pobres, com

os pequenos e médios empresários, com os agricultores. A todos os que consideravam mais fracos controlaram

bens e rendimentos, exigiram obrigações, aplicaram multas sem apelo nem agravo.

À banca, aos ricos, aos poderosos fecharam os olhos e deixaram que levassem para fora deste País 10 000

milhões de euros, sem tratarem de ver se havia impostos a pagar.

Confirma-se aquilo que dissemos tantas vezes sobre o PSD e o CDS: são fortes com os fracos e fracos com

os fortes.

Aplausos do PCP.

Por último, Sr. Primeiro-Ministro, a comunicação social acordou, mais uma vez, para o escândalo do preço

do gás de botija. Como é sabido, milhares de famílias, em geral das mais pobres, vivendo em zonas onde não

chegou o gás natural, ainda têm a botija de gás em casa para cozinhar ou para se aquecer, e pagam duas vezes

mais do que quem usa o gás natural.

Sr. Primeiro-Ministro, o escândalo é velho. Há anos que o PCP o denuncia e propõe medidas.

O Governo anterior, PSD/CDS, verificou mais uma vez que havia escândalo em 2014. A ex-Entidade Nacional

do Mercado dos Combustíveis pôde comprová-lo mais uma vez, mas, depois, nada! Mais uma vez, não se quis

afrontar as petrolíferas.

Em 2016, durante o debate do Orçamento do Estado para esse ano, o PCP avançou com uma proposta que

não vingou. Em maio de 2016, o Secretário de Estado da Energia colocou a Alta Autoridade da Concorrência a

avaliar o problema. Muito bem. Só que estamos a dois meses de maio de 2017 e a Autoridade da Concorrência:

zero!

No debate do Orçamento para 2017, por proposta do PCP, lá se conseguiu fazer aprovar o artigo 175.º, em

que, para além da mudança de regulador, se decreta que são adotadas as medidas necessárias à redução do

preço do gás de garrafa, adequando o seu regime às necessidades dos consumidores.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

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O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, quando vão as famílias portuguesas ter gás de

botija pelo menos ao nível dos preços da Espanha, hoje com preços inferiores a 50% dos praticados em

Portugal? Em Espanha, paga-se 12 € por garrafa; no nosso País, paga-se 22 €, pelo menos, não contando com

regiões que têm uma situação mais agravada. E a diferença não pode ser justificada pelos impostos, pelo ISP

(imposto sobre os produtos petrolíferos) que é igual, pelo IVA (imposto sobre o valor acrescentado), com mais

dois pontos percentuais.

Já agora, Sr. Primeiro-Ministro, qual é o ponto de situação de outras medidas propostas pelo PCP e

aprovadas no Orçamento do Estado? Falo, designadamente, do apoio ao gasóleo agrícola e do desconto no

preço da gasolina para a pequena pesca artesanal e costeira.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, relativamente à questão do

gás de botija, de facto, só 25% da população é servida por gás natural e é sobretudo nos grandes centros

urbanos.

A transferência das competências de regulação para a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços

Energéticos) gera-nos uma expectativa muito positiva. De facto, foi a ERSE e a sua fiscalização que permitiu,

designadamente ao longo do último ano, que tivesse havido uma redução muito significativa do custo do gás

natural e também o menor aumento de sempre do custo da eletricidade ao longo deste ano.

No início de 2016, tínhamos o gás natural mais caro para as famílias e o segundo mais caro para as

empresas, da Europa. Com a intervenção da ERSE, no ano passado, foi possível que houvesse uma redução

de 18% no preço para as famílias e uma redução de entre 22% a 28 % para as empresas.

Este ano, o aumento da eletricidade foi o mais baixo de sempre e, pela primeira vez, ficou também abaixo

da inflação.

Isto significa que temos a expectativa de que a ERSE corrija a situação que existe relativamente ao gás de

botija, mas isso não isenta, naturalmente, a Autoridade da Concorrência de dever concluir o seu trabalho para

se verificar se há algum fator de distorção da concorrência que afete esta situação.

Por fim, e relativamente à questão dos offshore, é, de facto, absolutamente escandaloso que um Governo

que não hesitou e não aceitou, na Assembleia da República, acabar com a penhora da casa de morada de

família por qualquer dívida das famílias, tenha tido a incapacidade de verificar o que é que aconteceu com 10

000 milhões de euros que fugiram do País.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — E o atual Governo o que é que fez?! Isso não é uma maneira

democrática de fazer política, Sr. Primeiro-Ministro! Não é! É pelo contrário uma maneira muito baixa de fazer

política!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Foi um Governo que, relativamente…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — … à generalidade dos contribuintes, foi implacável, andando a rever dias ou

semanas de atraso no pagamento do imposto automóvel de 2012 e 2013, tendo multado tudo e todos,…

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Está a fazer uma acusação?

O Sr. Primeiro-Ministro: — … que andou meses e anos a multar e a autuar quem não pagava uma portagem

de autoestrada, e que teve esta tranquilidade relativamente a 10 000 milhões de euros, como se não visse a

floresta que estava à sua frente.

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Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — E os senhores quando é que viram a floresta? Onde é que estiveram

durante um ano e meio?! Está a fazer insinuações? Isso não é uma maneira correta de fazer política, Sr.

Primeiro-Ministro!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas é muito esclarecedor, Sr. Deputado!

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Isso não é uma maneira correta de fazer política!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Fale baixo! O senhor está muito nervoso!

O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Quem não se sente não é filho de boa gente! Essa é uma maneira

muito baixa de fazer política!

O Sr. PauloSá (PCP): — Está muito zangado porque não veio o Diabo!

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar de Os Verdes, a Sr.ª Deputada Heloísa

Apolónia.

Continuação de protestos do PSD.

Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, assim que tiver condições, pode começar a sua intervenção.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, é por isso, exatamente, que estou a aguardar.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Face àquilo que já foi dito neste debate, não deixo de achar curioso que o

CDS-PP considere que não vale a pena falar com o Sr. Presidente da Assembleia da República e opte, então,

por falar com o Sr. Presidente da República sobre a matéria da Caixa e das SMS em particular.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — É pela restrição dos direitos da oposição!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Isto quando o Sr. Presidente da República já declarou publicamente

que, para o próprio, o assunto Caixa Geral de Depósitos e SMS, em particular, é um assunto encerrado. Ponto

final, parágrafo!

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Era o que lhes convinha! Era só o que faltava!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — A esperança deve ser grande por parte do CDS!

Relativamente à questão dos 10 000 milhões de euros que escaparam para offshore sem controlo da

Autoridade Tributária, acho que vale a pena dizer que não estamos a falar de um montante pequeno, estamos

a falar de uma alarvidade, Sr. Primeiro-Ministro.

Estamos a falar de um montante superior aos juros da dívida anuais,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): —… de um montante muito superior ao orçamento para a saúde ou

para a educação.

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Ora, a pergunta que se faz é como é que isto escapa do País. Como é que a receita fiscal que daqui poderia

decorrer escapa do País?!

Sr. Primeiro-Ministro, Os Verdes também consideram que há aqui responsabilidades variadas a apurar,

designadamente responsabilidades políticas que não podem deixar de ser apuradas. Fundamentalmente,

quando isto se passa entre 2011 e 2014, quando, como já aqui foi referido, e muito bem, os portugueses foram

completamente massacrados por aumentos brutais de impostos e por cortes salariais e de pensões que não

tinham qualquer justificação possível!

O Sr. João Oliveira (PCP): — É o offshore Paulo Núncio!

Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Portanto, isto tem, de facto, de ser esclarecido.

Mas, Sr. Primeiro-Ministro, há outra coisa que tem de ser esclarecida, que se prende com a matéria do acordo

feito entre Portugal e Espanha relativamente a Almaraz.

Se o Sr. Primeiro-Ministro chegar ao pé de «Os Verdes» e disser que «suspendemos a queixa que foi feita a

Bruxelas porque chegámos a um acordo com Espanha para que seja feita uma reavaliação técnica do projeto

para a construção de um armazém para resíduos nucleares que tem como objetivo o prolongamento do

funcionamento da Central Nuclear de Almaraz e para que seja feito também um período de consulta pública

para que os portugueses possam ser ouvidos relativamente a um projeto que tem, de facto, efeitos

transfronteiriços», até aqui, nada de escandaloso, Sr. Primeiro-Ministro, tudo me parece normal.

O problema, Sr. Primeiro-Ministro, é que vamos ao site do Governo, encontramos as declarações do Sr.

Ministro dos Negócios Estrangeiros, as declarações do Sr. Ministro do Ambiente e, de repente, deparamo-nos

com isto: este acordo, este período de dois meses, serve para perceber se os efeitos transfronteiriços da

construção existem e, se existirem, como é que serão minimizados.

Sr. Primeiro-Ministro, isto significa que Espanha não revoga a decisão que tomou para que os efeitos sejam

agora avaliados de novo? Significa que, pelo menos, não suspende a decisão que tomou?

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr.ª Deputada. Peço-lhe para concluir.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente.

Só suspende a construção durante dois meses? Isto não chega, Sr. Primeiro-Ministro, porque, senão,

estamos a fazer uma consulta pública e uma reavaliação técnica de fachada e isso é brincar com os portugueses.

Estamos de boa-fé a querer acreditar que o Governo também está de boa-fé neste processo, mas, para que

a haja, há uma decisão que Espanha tomou que tem de ser revogada,…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … para que o processo seja retomado e uma nova decisão seja

tomada, designadamente em favor dos portugueses, uma vez que os efeitos transfronteiriços evidentemente

que existem.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, permitir-me-á que me concentre

na questão de Almaraz.

Em primeiro lugar, trata-se de um acordo intercalar que resultou de uma iniciativa, do meu ponto de vista

muito positiva, do Sr. Presidente da Comissão Europeia, tendo em vista procurar fazer ainda o que deveria ter

sido feito anteriormente: em primeiro lugar, disponibilizar todos os elementos de informação; em segundo lugar,

permitir uma visita conjunta ao local, tendo em vista a verificação de todas a condições técnicas que estão

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previstas relativamente ao projeto e que esta informação seja prestada não só a Portugal como também à

Comissão Europeia, para que seja uma avaliação tripartida. Esta avaliação destina-se, obviamente, a verificar

o que Portugal tem legitimidade para exigir e quais são os riscos e os impactos sobre o território português.

Este acordo pretende, no fundo, garantir o que a Espanha deveria ter feito antes de ter anunciado uma

decisão sobre esta matéria.

A Sr.ª Deputada pergunta-me: «Então, por que não se limitaram a suspender a queixa quando a Espanha só

se compromete, neste momento, a não tomar nenhuma medida que seja considerada irreversível ou que

prejudique a avaliação por Portugal?». Porque o processo, nos termos do artigo 259.º, que Portugal invocou,

não permite suspensões e prevê prazos perentórios que teriam de ser cumpridos, mas permite que, uma vez

retirada a queixa, ela possa ser reapresentada. É por isso que está explicitado que Portugal, face a este acordo

intercalar, participará desde já na visita — aliás, já agendada para a próxima segunda-feira, dia 27 — das

autoridades portuguesas, espanholas e da Comissão Europeia, e aguarda que toda a informação seja facultada.

A Espanha obrigou-se a fornecer outros dados ou a desenvolver outras medidas que venham a ser

consideradas necessárias para um cabal apuramento dos riscos de impacto sobre o território nacional e Portugal

reservou-se o direito de reapresentar a queixa se, deste processo em que entrámos de boa-fé, constatarmos,

primeiro, que a Espanha não cumpre aquilo a que agora expressamente se obrigou a cumprir e, segundo, que

dos resultados apurados, a Espanha não assume as obrigações que tem, na verdade, de assumir para evitar

esses impactos no território nacional. Verificadas estas situações, que espero que não se verifiquem, Portugal

voltará a apresentar a queixa.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Primeiro-Ministro, por favor.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Muito obrigado, Sr. Presidente.

Esta é uma matéria sobre a qual manteremos a firmeza que temos tido, mas mantendo-a ao nível do diálogo

político, diplomático e institucional, que me parece absolutamente essencial para não sermos confrontados com

situações irreversíveis e que constituam uma ameaça para Portugal. Graças a isso, hoje estamos melhor do que

estávamos antes deste acordo, porque antes dele a Espanha não estava obrigada a dar-nos informação.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Primeiro-Ministro, por favor.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Ainda na semana passada, não autorizou a visita da Ordem dos Engenheiros, a

Comissão Europeia não estava envolvida e só tínhamos ao nosso dispor a queixa através da via judicial.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Primeiro-Ministro, por favor.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, deixe-me só concluir, por favor.

Hoje, não perdemos a via judicial, porque ela manter-se-á sempre aberta, se for necessário utilizá-la, mas

ganhámos a disponibilidade da Espanha, que até agora não tínhamos, e lográmos envolver a Comissão

Europeia, reforçando, obviamente, a capacidade de intervenção sobre uma decisão e sobre uma construção

que existe num Estado estrangeiro.

É por isso que considero que este acordo intercalar foi um bom passo e espero que nos permita chegar a um

bom resultado.

O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, já ultrapassou largamente o tempo de que dispunha.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas o acordo é intercalar, desenhando um processo no qual vamos participar

de boa-fé, onde sabemos que a Comissão Europeia participa de boa-fé, onde acreditamos que a Espanha

participa de boa-fé…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua. Já lhe pedi três vezes, Sr. Primeiro-Ministro.

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O Sr. Primeiro-Ministro: — … e onde esperamos que haja um bom resultado em que todos nos possamos

reconhecer.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, em junho de 2016, foi aprovada na

Assembleia da República, por unanimidade, uma lei com enorme significado político e que expressa o

sentimento geral da população portuguesa, a lei que proíbe o abate de animais de companhia como forma de

controlo populacional.

Esta lei carece de regulamentação pelo Governo, o que deveria ter ocorrido até ao passado dia 21 de

dezembro e não ocorreu.

Sr. Primeiro-Ministro, queria colocar-lhe, então, a seguinte pergunta: para quando a regulamentação desta

lei?

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, para responder.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, esta é uma causa que partilho com o PAN.

Efetivamente, temos a regulamentação da lei atrasada, mas a informação que tenho por parte do Sr. Ministro

da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural é que em março essa regulamentação estará concluída e o

atraso destes dois meses terminará.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, muito obrigado.

Março será, com certeza, um mês bom, não só pela regulamentação desta lei como também pela publicação

da Estratégia Nacional da Agricultura Biológica.

Sr. Primeiro-Ministro, gostaria ainda de lhe trazer um tema da extrema relevância, um problema de saúde

pública: a forte sobre medicamentação de crianças com ritalina, que, supostamente, fortalece a concentração

de quem tem perturbação por hiperatividade e défice de atenção.

São várias as entidades que já alertaram para o risco de se estar a sobre medicar crianças e jovens com

fármacos em relação aos quais se desconhecem os efeitos a longo prazo.

Este medicamento duplicou as suas vendas nos últimos anos e é tomado por crianças cada vez mais novas.

Quase 30% dos consumidores deste medicamento são crianças com menos de 9 anos de idade. O que deveria

ser uma exceção tornou-se habitual e a prescrição de um psicofármaco, que deveria ser um recurso de segunda

linha, está hoje banalizada. Medicamentam-se comportamentos que sempre foram naturais e subestimam-se

as suas consequências na sociedade portuguesa.

Sr. Primeiro-Ministro, tem conhecimento que existem turmas em que mais de 80% dos alunos tomam ritalina

para manter ou aumentar a sua performance competitiva em termos de notas escolares?

O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, vou terminar, formulando uma pergunta.

Sr. Primeiro-Ministro, sabemos que há mais de dois anos foi criado, no seio da Direção-Geral de Saúde, um

grupo de trabalho para esta problemática. Pergunto: para quando se prevê um relatório com conclusões

concretas e que respostas tem o Governo para esta realidade?

Aplausos de Deputados do BE.

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O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, em primeiro lugar, essa substância ativa está

sujeita a indicações terapêuticas bastante restritas e bem definidas e está sujeita a prescrição médica, ou seja,

só os médicos podem prescrever a sua utilização.

Contudo, perante a situação de um certo alarme público que existe sobre o risco da utilização abusiva dessa

substância, o Diretor Nacional do Programa da Saúde Mental ordenou a constituição de um grupo de trabalho,

com peritos, tendo em vista fazer a análise do perfil da prescrição e verificar se se confirma ou não a sua

utilização abusiva.

O Ministério da Saúde está, aliás, a estabelecer com o Ministério da Educação uma avaliação conjunta do

resultado destes trabalhos, tendo em vista uma atuação articulada para, em caso de necessidade, poderem ser

adotadas medidas em matéria de saúde pública.

Mas insisto: a prescrição deste medicamento, que está licenciado com fortes restrições na sua utilização, é

exclusivamente da competência médica. Portanto, só poderá haver intervenção pública caso se venha

efetivamente a verificar que há um desvio no que é a boa prática médica que constitua um risco efetivo para a

saúde das crianças, havendo um efetivo abuso da utilização dessa substância ativa.

É isto que neste momento está a ser feito, aliás num trabalho articulado entre o Ministério da Saúde e o

Ministério da Educação.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, chegámos, assim, ao fim deste debate.

Antes de concluir a sessão plenária, peço à Sr.ª Secretária Deputada Emília Santos que faça o favor de

anunciar o expediente.

A Sr.ª Secretária (Emília Santos): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram

admitidos, os projetos de resolução n.os 674/XIII (2.ª) — Pela abolição das portagens na Via do Infante (PCP),

675/XIII (2.ª) — Recomenda o reforço de meios de funcionamento do Centro Nacional de Arqueologia Náutica

e Subaquática (PCP) e 677/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que o subsídio de desemprego não possa ser

inferior ao IAS (PS), bem como os projetos de lei n.os 416/XIII (2.ª) — Estabelece mecanismos de proteção do

património azulejar, procedendo à décima-terceira alteração ao Regime Jurídico de Urbanização e Edificação

(PS) e 417/XIII (2.ª) — Sexta alteração à Lei n.º 108/91, de 17 de agosto, Lei do Conselho Económico e Social,

de modo a incluir no Plenário dois representantes do Conselho Nacional da Juventude (CDS-PP).

É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a próxima sessão plenária terá lugar amanhã, dia 23 de fevereiro,

pelas 15 horas, com o debate da interpelação n.º 8/XIII (2.ª) — A reforma do Estado e o acesso aos serviços

públicos (PSD).

Está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 3 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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