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Quinta-feira, 6 de abril de 2017 I Série — Número 72
XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2016-2017)
REUNIÃOPLENÁRIADE5DEABRILDE 2017
Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Secretários: Ex.mos Srs. Pedro Filipe dos Santos Alves Idália Maria Marques Salvador Serrão Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues Sandra Maria Pereira Pontedeira
S U M Á R I O
O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 6
minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de
resolução n.os 783 a 787/XIII (2.ª). Ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, procedeu-se a um
debate de atualidade, requerido pelo BE, sobre o processo de venda do Novo Banco. Após a Deputada Mariana Mortágua (BE) ter feito uma intervenção inicial, usaram da palavra, a diverso título, além daquela oradora e do Ministro das Finanças (Mário Centeno), os Deputados Eurico Brilhante Dias (PS), António Leitão Amaro (PSD), José Luís Ferreira (Os Verdes), Miguel Tiago (PCP) e Cecília Meireles (CDS-PP).
Foi anunciada a entrada na Mesa dos projetos de resolução n.os 780 a 782, 788 a 790 e 792/XIII (2.ª), dos projetos de lei n.os 481 a 494/XIII (2.ª) e da apreciação parlamentar n.º 34/XIII (2.ª).
A Câmara saudou a presença, na tribuna do corpo diplomático, de uma delegação do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França.
Em declaração política, o Deputado Telmo Correia (CDS-PP) condenou o atentado ocorrido em São Petersburgo e lembrou a apresentação, pelo seu grupo parlamentar, de iniciativas legislativas na área da segurança, nomeadamente sobre metadados. Deu, depois, resposta a pedidos de esclarecimento dos Deputados António Filipe (PCP), Fernando Anastácio (PS), Sandra Cunha (BE) e Fernando Negrão (PSD).
Em declaração política, a Deputada Carla Cruz (PCP) deu conta da rejeição, pelo seu partido, da natureza e dos objetivos e propósitos inscritos no Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá (CETA), que considerou porem em causa os interesses e a soberania nacionais. Respondeu, depois, a pedidos de esclarecimento dos Deputados José Luís Ferreira (Os Verdes), Lara Martinho (PS), Pedro Mota Soares (CDS-PP), Isabel Pires (BE) e Duarte Filipe Marques (PSD).
Em declaração política, o Deputado Nuno Serra (PSD) acusou o Governo de tomar medidas que, de acordo com dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE),
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põem em risco a dinâmica de crescimento que o setor agrícola evidenciou nos últimos anos. Respondeu, no final, a pedidos de esclarecimento dos Deputados Carlos Matias (BE), Júlia Rodrigues (PS), João Ramos (PCP) e Patrícia Fonseca (CDS-PP).
Em declaração política, o Deputado Eurico Brilhante Dias (PS) elogiou a solução preconizada pelo atual Governo em relação ao processo de alienação do Novo Banco, tendo criticado o Governo anterior, do PSD e do CDS-PP, de não ter cumprido o compromisso feito no sentido de resolver a questão. No fim, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Paulino Ascenção (BE) e Miguel Tiago (PCP).
Ao abrigo do n.º 2 do artigo 76.º do Regimento, o Deputado António Costa Silva (PSD) enumerou as medidas tomadas pelo Governo do PSD e do CDS-PP que contribuíram para o desenvolvimento do distrito de Évora, tendo acusado o atual Governo de ausência de propostas nesse sentido.
Foram apreciados, conjuntamente, a petição n.º 187/XIII (2.ª) — Proteção do Forte de Peniche da concessão a privados (José Pedro Correia Soares e outros) e os projetos de resolução n.os 542/XIII (2.ª) —Preservação da memória e
da história do Forte de Peniche (BE), 785/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a preservação, a conservação e a dignificação da Fortaleza de Peniche (PS) e 790/XIII (2.ª) — Recuperação, requalificação e valorização do Forte de Peniche (PCP). Intervieram os Deputados Jorge Campos (BE), Odete João (PS) — que também pediu a distribuição de um documento —, Ana Mesquita (PCP), João Pinho de Almeida (CDS-PP), José Luís Ferreira (Os Verdes) e Pedro Pimpão (PSD).
A Câmara apreciou ainda, conjuntamente, a petição n.º 126/XIII (1.ª) — Pelo direito a uma saúde sem IVA (Pedro Choi Amélia Cordeiro e outros) e o projeto de resolução n.º 783/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à criação de um código CAE específico para terapêuticas não convencionais (TNC) (PAN), tendo proferido intervenções os Deputados André Silva (PAN), Domingos Pereira (PS), Moisés Ferreira (BE), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Cristóvão Crespo (PSD) e Carla Cruz (PCP).
Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de resolução n.os 791 e 793/XIII (2.ª).
O Presidente (José Manuel Pureza) encerrou a sessão eram 18 horas e 42 minutos.
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e
Srs. Jornalistas, está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 6 minutos.
Peço aos agentes da autoridade para abrirem as galerias.
Antes de iniciarmos a ordem do dia, vou dar a palavra à Sr.ª Secretária, Idália Serrão, para dar conta do
expediente.
A Sr.ª Secretária (Idália Serrão): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram
admitidos, os projetos de resolução n.os 783/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à criação de um
código CAE específico para terapêuticas não convencionais (TNC) (PAN), 784/XIII (2.ª) — Recomenda ao
Governo que elimine as discriminações existentes em sede de IRS referentes ao exercício das
responsabilidades parentais (PS), 785/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a preservação, conservação e
dignificação da Fortaleza de Peniche (PS), 786/XIII (2.ª) — Pela requalificação da Linha do Vouga e sua inclusão
no plano nacional de investimentos em ferrovia (BE) e 787/XIII (2.ª) — Recomenda a exoneração de Carlos
Costa do cargo de Governador do Banco de Portugal (BE).
É tudo, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Obrigado, Sr.ª Secretária.
Vamos, então, entrar na ordem do dia, cujo primeiro ponto, por marcação do Bloco de Esquerda, consiste
num debate de atualidade, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, sobre o tema «Processo de venda do Novo
Banco».
Antes de passar a palavra à Sr.ª Deputada Mariana Mortágua para intervir, peço aos Srs. Deputados que se
encontram de pé para se dirigirem aos seus lugares, de modo a começarmos o debate.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em janeiro, o Ministro Mário
Centeno deixou-nos três certezas sobre o Novo Banco. E cito: «A extinção do Novo Banco está fora de causa»;
«Não pode haver uma garantia de Estado para suportar negócios privados»; e «Não podemos ficar reféns de
soluções e vamos explorar todas as que tivermos à nossa mão».
Cada uma destas certezas foi agora desmentida por quem as apresentou. À laia de justificação, o Primeiro-
Ministro lembrou que não vivemos como a Alice no País das Maravilhas. Mas é o Governo que faz de «Rainha
de Copas» e aposta connosco uma corrida, sabendo que, neste lugar, por muito que se corra, nunca sairemos
do mesmo sítio.
Corrijo: na verdade, estamos até a correr para trás. Com esta decisão, cerca de 60% dos ativos bancários
ficam em mãos estrangeiras. Em Espanha, são 10%.
Como já sucedeu no caso do BANIF, seremos a chacota da Europa, porque jamais um país que se leva a
sério aceitaria isto, e até a Alice aprendeu que há jogos que são sempre para perder.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Lembramo-nos das promessas feitas pelo Governo PSD/CDS, nas
palavras de Maria Luís Albuquerque. E cito: «A solução de financiamento encontrada — um empréstimo do
Tesouro ao Fundo de Resolução a ser reembolsado pela venda da nova instituição e pelo sistema bancário —
salvaguarda o erário público». A anterior Ministra assegurava ainda a criação de um novo banco, com capital e
liquidez adequados.
Infelizmente, nenhuma destas garantias era, de facto, verdadeira. Não só não recuperaram os 3900 milhões
de dinheiro público injetados no Novo Banco como se tornou necessário mais capital. E é essa injeção de capital
que agora justifica a entrega do Novo Banco ao Lone Star em condições que são inaceitáveis.
Sr.as e Srs. Deputados: Não é demais exigir a clareza de assumir que este negócio vai ter, sim, custos para
os contribuintes. Em primeiro lugar, porque o Lone Star leva consigo os 3900 milhões que já foram injetados no
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Novo Banco. Paga zero pela compra e injeta, depois, 1000 milhões num banco que é já seu. Desses, 250
milhões só entrarão daqui a três anos no banco. Além disso, o Lone Star não quer assumir as perdas de uma
carteira de 8000 milhões de empréstimos duvidosos.
É aqui, então, que entra a garantia pública que o Governo assegurou que nunca existiria. O Lone Star tem
75% do Novo Banco mas só assumirá perdas até aos 1000 milhões que ele próprio injetou. O Estado fica com
25% mas pode ter de assumir perdas até 3890 milhões de euros.
Feitas as contas, no pior dos cenários, o Lone Star gasta 1000 milhões para ficar com um banco limpo e o
Estado gasta quase 8000 milhões para ficar sem banco nenhum.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem visto!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não vale a pena, Srs. Deputados do Partido Socialista, entrarem em
negação e quererem convencer alguém de que não há custos para os contribuintes e que o Fundo de Resolução,
e, portanto, a banca, ficará com o fardo. Lembrem-se que Passos Coelho tentou convencer-vos disso mesmo e
os Srs. Deputados nunca acreditaram no que vos estava a ser dito.
O Fundo de Resolução é uma fachada, como sempre soubemos. Se os bancos pagassem toda a sua dívida
deixariam de cumprir os seus próprios rácios de solvabilidade. Como tal, essa dívida foi reestruturada e reduzida
até ao ponto em que as prestações de pagamento coincidem com a contribuição que os bancos já eram
obrigados a pagar mesmo antes da resolução do BES.
Imaginem o seguinte cenário: enquanto contribuintes, pagam um imposto anual de 200 € ao Estado. Pedem,
além disso, um empréstimo de 3900 € ao Estado. Mas, em vez de continuarem a pagar o imposto e passarem
também a pagar a prestação pela dívida, o Estado assegura-vos de que basta continuarem a pagar o imposto
e que este passa a amortizar a dívida, mesmo que isso seja feito ao longo de 20, 30 ou 40 anos.
Foi isto que aconteceu. A banca pagará aquilo que sempre foi obrigada a pagar, nem um cêntimo a mais, e
o Estado continuará a endividar-se para assegurar o Fundo de Resolução.
Aplausos do BE.
Sr.as e Srs. Deputados: Em democracia, as melhores decisões não se tomam com base em ficções ou
chantagens. Neste caso, há duas ficções que nos estão a ser apresentadas pelo Governo para produzir uma
chantagem: a ficção do custo zero da venda e a ficção de que não havia alternativa ou que, havendo, seria mais
cara. São ficções.
Entre aquilo que já foi pago e a garantia pública agora assumida, o Estado assumirá até 90% das perdas
com o Novo Banco. Por que deve então o Estado entregar de borla um banco onde já enterrou tanto dinheiro?
Ao contrário do Governo, o Bloco de Esquerda não esconde os custos da sua opção, nem empola os
prejuízos das alternativas. Defendemos que, face a tudo o que já foi sacrificado, vale a pena assumir o custo da
injeção imediata de capital no Novo Banco. Em troca, o Estado garante a manutenção da instituição ao serviço
da economia do País, e não dos interesses de um fundo abutre. Mais tarde, também os lucros ficarão para nós
e não para a Lone Star ou para quem quer que seja que tenha comprado o Novo Banco entretanto.
Aplausos do BE.
Diz o Secretário de Estado Mourinho Félix que seria difícil de justificar perante toda a gente que o Estado
poderia ter uma tal participação no sistema financeiro. Não, Sr. Secretário de Estado, Portugal ficaria, aliás, bem
acompanhado. Na Alemanha, a banca pública representa mais de 40% do mercado bancário. Imaginem só esta
excentricidade!
E a nossa gente parece, aliás, que compreende bem a escolha. Numa sondagem de fevereiro, mais de 50%
dos inquiridos defenderam a nacionalização em vez de uma venda como esta.
Restam as instituições europeias, mas essas nunca compreenderam nada do que seja importante para o
nosso País. E o importante para o nosso País, Srs. Deputados é não desbaratar o nosso sistema bancário. É
por isso que o Bloco de Esquerda se baterá agora e no futuro.
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Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.ª Secretária de Estado, Sr.ª Deputada
Mariana Mortágua, gostaria de sublinhar a posição do Partido Socialista, que ainda hoje, nas declarações
políticas, voltará a sublinhar: a solução apresentada para a alienação do Novo Banco é a menos má, mas é a
menos má a partir de um ponto de partida péssimo.
Se a solução para o Lone Star fosse assim tão boa, seguramente teríamos mais interessados. Mas a verdade
é que a solução não é assim tão má que não tenha interessado nenhum. Portanto, isso parece-nos um ponto
de equilíbrio interessante.
Quer dizer, o ponto de partida é péssimo, mas, apesar de tudo, apesar deste ponto de partida, houve um
interessado que ainda acedeu às condições que o Governo português tentou impor.
Deixe-me perguntar-lhe o seguinte: por que é que o ponto de partida é péssimo? O ponto de partida é
péssimo, tal como a Sr.ª Deputada disse, porque o banco limpo, afinal, não era assim tão limpo. É que se de um
lado estava o BES mau, afinal, esse era o banco péssimo, já que uma parte da maldade e do mau tinha ficado
no Novo Banco.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — É verdade!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Em segundo lugar, o Governo PSD/CDS, em 2014, fez um acordo com
a Comissão Europeia que delimitava a 2016 a venda integral, a 100%, do Novo Banco, um banco com
problemas, com imparidades por registar, ao mesmo que tinha um prazo limite para ser alienado.
Este foi o ponto de partida que o XXI Governo Constitucional, o Governo do Partido Socialista, teve para
proceder, para cumprir os compromissos que o Governo liderado pelo Dr. Pedro Passos Coelho assumiu em
Bruxelas para vender o Novo Banco.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sim, sim!…
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Com este ponto de partida, o que é que foi feito? Foi procurar limitar
os impactos que a Lone Star podia ter na gestão dos ativos, ou seja, limitar as perdas e a possibilidade de os
contribuintes terem de contribuir mais.
Mais: conseguimos outra coisa muito importante, que tem a ver com o caminho que, em grande medida, o
Bloco de Esquerda, o PCP e o Partido Socialista têm vindo a trilhar nesta Câmara desde que este Governo
tomou posse. Se tivéssemos tido uma solução de nacionalização — e nem quero falar de liquidação —, a dívida
pública portuguesa teria tido mais encargos.
No momento em que todos estamos a fazer um esforço para que Portugal saia do procedimento por défice
excessivo e a dar as indicações objetivas ao mercado de que estamos no bom caminho, reduzindo défice e
dívida paulatinamente, a nacionalização implicaria, provavelmente, mais 4000 a 5000 milhões de euros de dívida
pública que teria de ser suportada pelo Tesouro, que o Governo português teria de ir buscar aos mercados para
financiar.
Aplausos do PS.
Isso seria hoje um sinal muito errado na recuperação que estamos a fazer do País.
Por isso, Sr.ª Deputada, creio que reconhece que o ponto de partida é, de facto, um ponto de partida muito
difícil, mas será que somando uma nacionalização com mais dívida estaríamos no caminho certo para
continuarmos a fazer aquilo que temos feito nos últimos anos, ou seja, recuperar rendimento, diminuir impostos
aos cidadãos, repor prestações sociais e fazer com que os portugueses voltem a creditar no futuro?
Esta é a pergunta a que tem de responder, Sr.ª Deputada: em que medida é que a nacionalização, neste
momento, contribuía para esse caminho que temos trilhado?
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, relembro que utilizou grande parte do tempo atribuído ao seu Grupo
Parlamentar para este debate.
Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado, que o ponto de partida é péssimo já
sabemos. Mas não podemos continuar a usar o passado para justificar mais decisões no presente.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Ora aí está uma boa frase!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O Fundo, para dizer a verdade, não correspondeu às condições impostas
pelo Governo. A verdade é que o Governo comprometeu 3900 milhões de uma nova garantia pública, ou seja,
mais dívida pública, para pagar ao Fundo ou ao banco no futuro.
Sr. Deputado, não nos diga que é a menos má das opções, nem chantageie o povo português dizendo que
tem de escolher entre uma recuperação de rendimentos ou ficar sem sistema bancário!
Prove, em vez disso, com factos e dados, e não com fantasmas e chantagens, que a nacionalização não era
melhor para o País, quer no curto prazo, quer, sobretudo, no longo prazo, que não era a posição e a opção que
melhor defendia os interesses da economia e também os interesses do erário público.
Estamos convencidos que essa é a verdade, trouxemos os nossos argumentos e os nossos números.
Estamos à espera que nos provem que essa não era a melhor alternativa.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Leitão Amaro, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Estado, com o Governo de
todas as esquerdas, fez dois maus negócios com o Novo Banco. Mau na venda do Novo Banco parcial e com
garantias e péssimo no perdão de dívida que o Governo das esquerdas fez aos bancos à custa de todos os
contribuintes.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — A venda é melhor do que a nacionalização ou a liquidação, mas
preferir a venda não é aceitar qualquer negócio e este é um mau negócio para o Estado. Mau porque o processo
não fica resolvido — em vez de uma venda total, foi uma venda parcial e com garantias. Mau porque fica
indefinidamente uma participação de 25% e o Fundo de Resolução e o Estado ficam, pelo menos, mais oito
anos amarrados na responsabilidade agora assumida de cobrir perdas e capital.
O Primeiro-Ministro veio dizer que foi o Lone Star que quis que o Estado ficasse no capital do Banco para o
reforçar. Mas lá por o comprador querer o Estado no Banco, por que é que o Governo teve de aceitar?!
O Sr. João Galamba (PS): — Porque senão o comprador não compra! Só havia um comprador!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — É para satisfazer o comprador, assumindo, afinal, o Estado mais
riscos e apoio, ou é um resultado da geringonça, porque o Governo, afinal, desconfia da idoneidade do
comprador, que os parceiros da esquerda ainda agora chamam «fundo abutre»?
Vozes do PSD: — Exatamente!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — É um mau negócio, também, porque comprometeram ainda mais
cortes de pessoal e balcões que já estavam previstos no Plano de Reestruturação em curso. É mau negócio
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porque fica suspenso de uma aceitação forçada de perdas aos obrigacionistas, incluindo aos do retalho. Mas
também esta venda é um mau negócio porque, à palavra dada de não envolver mais dinheiro dos contribuintes
sem garantias públicas, sucedeu a palavra desonrada pelo Governo, que aceitou financiar com o dinheiro dos
contribuintes a garantia dada ao comprador de 3900 milhões de euros.
Afinal, há dinheiro e esforço dos contribuintes, mas os senhores continuam a esconder os termos e os custos
desse esforço. E todos juntos hoje se juntaram para proibir que a UTAO calculasse o perdão parcial da dívida
que os senhores, o Governo das esquerdas, fizeram aos bancos dias antes.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (PS): — Não é verdade!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — A questão não está em que o empréstimo do Estado ao Fundo de
Resolução seja renegociado, o problema está nas péssimas condições em que os contribuintes ficaram,
condições que o Governo concedeu aos bancos, dando-lhes um perdão de tamanha dimensão.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Mas o Fundo de Resolução agora já é público?!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Com este perdão, o Estado vai receber um valor de volta, um valor
real ou atualizado muito inferior ao que emprestou. Agora sim, e, finalmente, pela decisão das esquerdas, há
custo, e sério, para os contribuintes.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Mas é curioso que estas esquerdas, que tanto defenderam a
reestruturação da dívida em benefício dos contribuintes, afinal, estejam juntas num Governo que — pasme-se!
— o que vai fazer é a reestruturação da dívida dos bancos em prejuízo dos contribuintes.
Sim, Deputada Catarina Martins, é o seu Governo, que existe com o seu apoio a cada semana, que está a
reestruturar a dívida, a facilitar a vida dos bancos, prejudicando os contribuintes. Aqui está uma decisão com a
assinatura do Bloco de Esquerda!
Aplausos do PSD.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Desenganem-se! Esta venda e este perdão só existem assim por
decisão do Governo, e este Governo só tomou esta decisão porque, a cada semana, Bloco de Esquerda, PCP
e PS se juntam no seu apoio. Só existe mau negócio porque este Governo o decidiu; só existe Governo porque
os senhores o apoiam.
Por isso, são todos, e todos sem exceção — Bloco de Esquerda, PCP, PS e Governo — responsáveis pelo
mau negócio e pelo perdão. Quem é que paga? Os contribuintes!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Não havendo registo de pedidos de esclarecimentos, tem a palavra, para uma
intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Ao falarmos do problema do Novo Banco importa, antes de mais, recordar que estamos a falar de um problema
que não é novo. E sem querer apontar as responsabilidades do Governo anterior, que, aliás, são muitas neste
processo, recordo apenas que o Governo PSD/CDS criou um problema mas não o resolveu, e, a cada dia que
passa, vamos tendo a confirmação de que, afinal, a tal saída limpa não passou de conversa fiada.
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Quem criou o problema foi o Ricardo Salgado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Mas convém também ter presente que quando falamos do Novo
Banco estamos a falar do terceiro maior banco nacional a operar no nosso País. Estamos a falar de um banco
que tem 16% do mercado nacional e que poderia muito bem contribuir para o desenvolvimento do nosso País.
Sucede que a solução que o Governo nos apresenta é vender. Vender sem nada receber e, ainda por cima,
com o Estado a assumir os riscos do negócio.
Ora, isto é inaceitável, porque os contribuintes já estão fartos de andar a pagar as aventuras e as
irresponsabilidades dos banqueiros. É, pois, tempo de pôr termo a esta imoralidade e a esta injustiça. E, na
perspetiva de Os Verdes, esta mudança de paradigma deveria começar já com o Novo Banco, mas para isso
seria necessário manter o Banco na esfera pública.
Por isso mesmo, e já o afirmámos, Os Verdes não acompanham o Governo na decisão da venda.
Consideramos que a venda do Novo Banco, desde logo, não garante nem assegura a presença do interesse
público. É um mau negócio para o Estado e é um mau negócio para os portugueses.
Acresce, ainda, que o comprador não vai pagar nada ao Estado pela compra e o Estado ainda vai assumir o
risco dos ativos do Novo Banco, vai assumir o risco das imparidades cujo montante exato se desconhece.
Mas mais: o Estado não vai ter uma palavra a dizer sobre a gestão futura do Novo Banco, apesar de ficar
com 25% do capital. Não terá assento no Conselho de Administração, não poderá nomear gestores e nada
poderá dizer sobre o futuro do Novo Banco. Nem uma palavra!
Bem sabemos que o Lone Star vai realizar injeções de capital no Novo Banco, mas interessa dizer que esse
dinheiro não é para o Estado, esse dinheiro é um investimento que o fundo vai fazer no seu banco, do qual ficará
com 75% do capital e com 100% da gestão. Ou seja, o Estado só está presente para entrar com dinheiro e
assumir o risco, mas fica inibido de participar na gestão do Novo Banco, fica sem quaisquer poderes de gestão.
O negócio rende zero para o Estado e a garantia que o Governo recusou dar ao fundo norte-americano
acabou por ser substituída por um mecanismo de compensação que obriga o Fundo de Resolução a colocar,
por ano, cerca de 800 milhões de euros em capital no Banco. Ainda que tecnicamente se não possa chamar
«garantia», em termos de substância é de uma garantia que estamos a falar. Logo, pode não haver gato
escondido, mas que há garantia escondida com rabo de fora parece não haver grandes dúvidas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, como já tivemos oportunidade de dizer, a venda do Novo Banco é, a nosso
ver, um erro monumental. O Estado pode livrar-se do Novo Banco, mas não se vai livrar dos problemas, porque
a venda não os resolve. A venda apenas empurra ou sacode os problemas para o futuro.
Face a este conjunto de circunstâncias, parece legítimo presumir que a decisão do Governo em vender e, ao
mesmo tempo, excluir a possibilidade de integração do Novo Banco na esfera pública não foi motivada pelo
interesse público mas, sim, por imposições das instituições europeias. Mas se as instituições europeias não
zelam pelos interesses dos seus Estados-membros, se insistem em privilegiar os interesses dos bancos e dos
fundos, e até dos «fundos abutre», em prejuízo dos Estado-membros, então, isso significa que as instituições
europeias não representam os interesses dos Estados, representam os interesses dos bancos, dos fundos e
dos «fundos abutre» e das negociatas dos grandes grupos económicos. Nada de novo, portanto.
Ao que parece, a Comissão Europeia não nutre grandes simpatias por nacionalizações. Prefere que o Estado
português receba zero pela venda, assuma os riscos do negócio e fique sem direito a voto nas assembleias de
acionistas nem assento na Administração, apesar de ficar com 25% do capital do Novo Banco.
Ora, a venda pode até ser um bom negócio para os interesses que a Comissão Europeia representa e é sem
dúvida um bom negócio para o Lone Star, um fundo especializado em comprar bancos falidos para depois os
vender às peças — as boas, claro! —, mas representa um mau negócio para os portugueses.
Por isso mesmo, consideramos que o Novo Banco deve estar ao serviço do interesse público, da nossa
economia e do desenvolvimento do País, mas para isso entendemos que o Banco deverá integrar a esfera
pública.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago, do PCP.
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos hoje a discutir o que foi
apresentado como sendo a solução do PSD e do CDS para o Novo Banco, resultado de uma resolução mal feita
ao BES e que o Governo PS, agora, decide concretizar.
Foi uma resolução mal feita porque, além de envolta em mentiras, não segregou os ativos do Banco que
deveria e foi dito aos portugueses que custaria 4900 milhões de euros quando, na verdade, sairia muito mais
cara, como, aliás, agora se verifica. Mas foi uma resolução mal feita também porque o anterior Governo preferiu
e optou por deixar de fora as propriedades e os ativos do Grupo Espírito Santo que poderiam servir para pagar
o buraco que o próprio Grupo Espírito Santo abriu no seu Banco,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … aliás, solução essa defendida pelo PCP desde o princípio, tal como a de
procurar os destinatários dos fluxos que lesaram o Grupo Espírito Santo, ou seja, ir atrás do dinheiro onde ele
terá ido, para que o Estado não tivesse de ser chamado a pagar toda a fatura da destruição do Banco Espírito
Santo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — A opção do PSD e do CDS, na altura, foi permitir que esse dinheiro, essa
riqueza fosse desbaratada e assumir, através do chamado Fundo de Resolução, que é uma forma de fingir que
não é o Estado a pagar, os custos da resolução do Banco Espírito Santo e da criação do Novo Banco.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Isso é falso! É completamente falso!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro: Esta
é uma altura em que até se torna mais evidente do que em outras que, se é verdade que se parte de um ponto
de partida péssimo, não é verdade que não haja outras soluções…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … e não é verdade que tenhamos de aceitar todas as receitas e imposições
que vêm da União Europeia quando são contrárias, manifestamente contrárias ao interesse nacional.
A integração do Novo Banco no setor público bancário, como o PCP tem vindo a defender, é a única solução
que garante a viabilidade do Banco, a presença do interesse nacional na estratégia do Novo Banco e que
salvaguarda os custos, até do ponto de vista orçamental, que pode vir a ter esta operação.
Num instante se encontrou aquela solução dos 25% do Fundo de Resolução para garantir os ativos que
podem vir a desvalorizar-se. O Lone Star agradece essa garantia com outro nome, mas por que é que não foi
encontrada outra solução semelhante, ficando o Estado com 75% e o Fundo de Resolução com 25%, para
assumir as perdas? É uma das hipóteses que poderia ter estado em cima da mesa; foram criativos para os
privados, talvez pudessem ter sido criativos para o interesse público.
O PCP trará à Assembleia da República a possibilidade de votar para travar este negócio e integrar o Novo
Banco no setor público bancário, porque, ao contrário do que o PSD diz e insiste, a venda do Novo Banco não
é a única solução e o PCP trará à Assembleia da República, através de um projeto de resolução, a manutenção
do Novo Banco na esfera pública, a sua integração no setor público bancário.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo
Parlamentar do CDS-PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, Sr.ª Secretária de Estado
Adjunta do Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: Na semana passada, o Bloco de Esquerda dizia que iria
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fazer tudo, tudo, para travar este negócio. Aparentemente, «tudo», para o Bloco de Esquerda, era promover
este debate. Portanto, ficamos a saber que «fazer tudo», para o Bloco de Esquerda, é, sobretudo, fazer de conta
que faz alguma coisa.
Aplausos do CDS-PP.
É que, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo, nomeadamente o Sr. Ministro que aqui está, está aqui com a
legitimidade que recolhe dos partidos que o apoiam: PS, Bloco e PCP. E o Governo, nesta negociação, falhou
nos objetivos, falhou na negociação e, como já vem sendo habitual, falhou na coerência.
Mas, para negociar e para chegar aqui, não foi apenas o Governo que falhou, foram também os partidos que
o apoiam — PS, PCP, Bloco e «Os Verdes». Sem eles, esta negociação não aconteceria, como ficará
particularmente claro.
Aplausos do CDS-PP.
Portanto, podemos ter aqui os «teatros» que entenderem, mas deste facto objetivo, ou seja, que era
impossível ao Governo negociar sem a legitimidade que os senhores lhe dão, ninguém conseguirá fugir.
Mas vamos, então, ao que está aqui em causa: falhou nos objetivos, falhou na negociação e falhou na
coerência. E falhou porquê? Primeiro, porque a venda é parcial; segundo, porque a garantia de que não ia haver
garantia transformou-se, afinal, numa solução em que o Fundo de Resolução responde por — e vamos chamar
as coisas pelos nomes — até 3800 milhões de euros de calotes deste Novo Banco.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
E, mais: já que falhou na coerência, onde é que está o PS que dizia, quando se falava nas responsabilidades
do Fundo de Resolução e se dizia que são os bancos a pagar e não o contribuinte, que isso era um sofisma,
porque se o pagamento dos bancos para o Fundo for desviado para pagar o buraco do Novo Banco isso é
receita que o Estado deixa de ter, o que agrava o défice?
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Sr. Deputado João Galamba, pode gritar tanto quanto quiser, mas que está a fazer o contrário daquilo que
disse é um facto tão óbvio que até dispensa mais citações, que, aliás, são tão abundantes que se eu tivesse
meia hora não chegaria para fazê-las todas.
Aplausos do CDS-PP.
Em terceiro lugar, falhou na negociação. E falhou porquê? Este era o Governo — lembro-me bem — que ia
bater o pé à Europa e ter «voz grossa». Menos de um ano e meio depois, os senhores já conseguiram: pagaram
ao Santander para ficar com o BANIF e conseguiram que a Caixa Geral de Depósitos, banco público, e que o
CDS sempre defendeu que se mantivesse público, pagasse mais do dobro de juros a fundos no Luxemburgo do
que o Estado português paga para se financiar. É esta a vossa ideia de um banco público, da função e do papel
do banco público.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — E, agora, para terminar, conseguiram isto: conseguiram uma venda de
75% com o Fundo de Resolução a ficar com 25%, ou seja, o Fundo Resolução fica com todos os deveres e
quase nenhum dos direitos de um acionista. Aliás, mais: o Fundo de Resolução fica com o dever de pagar como
se tivesse a maioria e, quando chegar a altura de eventualmente receber alguma coisa, aí já só recebe como se
tivesse 25%. Entretanto, não vota.
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Sr. Ministro, o que lhe posso dizer é que esta estratégia — a qual passou em muitos casos por estarem
permanentemente a defender a nacionalização, pois ora queriam a venda ora queriam a nacionalização — teve
um resultado concreto: desvalorizou brutalmente o Novo Banco. E é também por isso que o resultado que tem
hoje para apresentar é mau, muito mau.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem novamente a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, é apenas para lembrar que foram o PSD
e o CDS que puseram 4000 milhões de euros no Novo Banco e inventaram que seria a banca a pagar. E agora
chegam aqui, «lavam as mãos» do acontecido e vêm dizer que é o Bloco que tem de resolver o assunto.
Srs. Deputados, nós agradecemos o carinho e a confiança, mas como rejeitámos a chuva de dinheiro público
que puseram no passado, também rejeitamos agora o favor, escolhido, já agora, pelo ex-Secretário de Estado
do PSD e do CDS, Sérgio Monteiro, e validado pelo Governador, reconduzido pelo PSD e CDS, Carlos Costa.
Portanto, rejeitamos este negócio, como rejeitámos o anterior, que foi deixado pelo CDS e pelo PSD.
Aliás, também já percebemos que o CDS não gosta da solução. Se calhar, se o Sr. Ministro tivesse esperado
pelas férias de verão e tivesse enviado uma cartinha ou um e-mail ao CDS a dizer que tinha uma continha de
5000 milhões de euros, de certeza que a resposta seria «bom, de férias, à distância, sem conhecer, a única
coisa que podemos fazer é, eventualmente, confiar, dar o ok e esperar que tudo corra pelo melhor».
Pois bem, não correu pelo melhor, correu pelo pior! E, agora, somos chamados a pagar a irresponsabilidade
dos Srs. Deputados do PSD e do CDS, no passado.
Srs. Deputados, além disto, registamos também que houve um tempo em que o PSD fazia propostas sobre
como dirigir o País. Lembramo-nos desse tempo antigo.
Agora, o PSD, como está mais ponderado e mais cordial, limita-se a vir pedir ao Bloco de Esquerda que tome
as decisões sobre o futuro do País.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Seja coerente!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Nós agradecemos a confiança, prometemos que vamos cumprir tudo isto
e aquilo que o PSD nos pede para fazer, mas registamos que continuamos sem conhecer a proposta alternativa
do PSD, que criou um problema, deixou um problema deste tamanho ao País e, agora, «lava as mãos» e pede
ao Bloco de Esquerda que resolva o problema que o PSD criou. E isso, Srs. Deputados, nós não faremos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Ministro das Finanças.
O Sr. Ministro das Finanças (Mário Centeno): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na semana
passada, o Banco de Portugal decidiu a venda do Novo Banco ao investidor norte-americano Lone Star.
É o início da fase final da resolução do BES, que começou em 2014 e foi feita num Conselho de Ministros
em que teve assento não a então Ministra da Agricultura, hoje Deputada, Assunção Cristas, mas, querem fazer-
nos crer, o Conselho de Administração do Banco de Portugal.
Aplausos do PS.
Para o Governo, eram três os requisitos essenciais para a conclusão do processo de venda. No processo
negocial das últimas semanas, foi possível alcançar essas três condições.
Em primeiro lugar, está afastado o espectro da liquidação do Novo Banco. A liquidação teria imprevisíveis
consequências sistémicas para o sistema financeiro nacional. A venda permite que essas consequências não
se materializem e que o Novo Banco continue a ter uma importância determinante no financiamento à economia,
em particular às pequenas e médias empresas.
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Em segundo lugar, não existe impacto direto ou indireto nas contas públicas. Não existe qualquer garantia
por parte do Estado ou de qualquer outra entidade pública. Por um lado, o Lone Star assegurará o necessário
reforço imediato de capital; por outro, as eventuais responsabilidades futuras recairão nos bancos que
asseguram o capital do Fundo de Resolução. Com o propósito de diminuir a probabilidade de o Fundo ser
chamado a injetar capital, foi estabelecida a impossibilidade de o Novo Banco poder pagar dividendos, o que
permitirá que o rendimento gerado pelo Novo Banco, durante esse período, contribua para reforçar os rácios de
capital e absorver eventuais perdas sem que o Fundo de Resolução seja chamado a injetar capital.
Em terceiro lugar, garante-se a fundamental estabilidade do sistema financeiro.
Por tudo isto, esta é uma solução equilibrada e que tem presente a necessária proteção dos contribuintes,
da economia, da estabilidade da instituição Novo Banco e do sistema financeiro.
Sendo uma solução equilibrada, não quer dizer que tenha sido a solução perfeita, na perspetiva do Estado.
Foi, porém, a melhor solução de entre o conjunto de alternativas que se apresentaram neste processo.
Idealmente, teria sido positivo existirem outras condições para a venda, permitindo, designadamente, ao
Fundo de Resolução recuperar o valor que foi injetado pelo anterior Governo na resolução do BES. No entanto,
este foi o melhor negócio possível perante as circunstâncias concretas.
Sobre essas circunstâncias, não esqueçamos, por exemplo, a decisão do Banco de Portugal, em 29 de
dezembro de 2015, que alterou a composição das componentes do BES e do Novo Banco, tendo transferido
2000 milhões de obrigações seniores para o BES.
Mas também não esqueçamos que, no passado, houve outras oportunidades de concretizar a venda do Novo
Banco, com mais de um ano de processo negocial entre o Fundo de Resolução e os potenciais compradores,
tendo o processo avançado mesmo para negociações exclusivas, em agosto de 2015, mas não tendo sido
vendido 1% sequer do Novo Banco.
Mesmo não sendo esta a solução perfeita, temos consciência de que as alternativas à venda seriam bem
piores.
A título de exemplo, devo mencionar que a nacionalização do Novo Banco levaria a que o Estado tivesse de
o capitalizar, logo no momento inicial, com montantes superiores a 4000 milhões de euros, recaindo todos os
riscos futuros exclusivamente sobre o próprio Estado, onerando adicionalmente os contribuintes portugueses.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Porquê?! Já não se pode usar o Fundo de Resolução?!
O Sr. Ministro das Finanças: — A venda do Novo Banco é, portanto, uma boa notícia para os portugueses.
Venda esta que se junta à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, à atração de capital de diversas
proveniências para a banca nacional e à consolidação das estruturas acionistas dos principais bancos
portugueses.
Após um doloroso programa de ajustamento que foi incapaz de trazer soluções para aquele que era um dos
seus pilares, o sistema financeiro, o XXI Governo Constitucional conseguiu, em pouco mais de um ano, criar as
condições e promover a estabilização do sistema financeiro.
Aplausos do PS.
A economia portuguesa não pode crescer sem um sistema financeiro sólido e em condições de prover ao
seu financiamento. Estamos, hoje, em melhores condições para encarar os desafios do futuro.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — A Mesa não regista mais inscrições para uso da palavra.
Assim sendo, não sei se poderemos passar ao ponto seguinte. Acredito que não, pois há vários partidos que
ainda dispõem de tempo. Mas o eventual pedido de inscrição terá de ser rápido.
Pausa.
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Não havendo pedidos de palavra, sou eu que estou equivocado e poderemos, então, possivelmente, passar
ao ponto seguinte, que consta de declarações políticas e cujo primeiro interveniente pertence ao Grupo
Parlamentar do CDS-PP.
Antes disso, porém, o Sr. Secretário tem de proceder à leitura de expediente.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Para fazer uma interpelação Mesa sobre a condução dos trabalhos.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, neste debate, o Bloco de Esquerda interveio inicialmente
na sua abertura, respondeu a um pedido de esclarecimento da parte do Partido Socialista e fez uma intervenção
no espaço do debate.
O Sr. Presidente: — A questão é que já ultrapassámos esse ponto, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Portanto, interviemos três vezes, Sr. Presidente. Ora, nós gostaríamos
de intervir novamente no debate de atualidade, mas creio que o que faz sentido é encerrarmos o debate. Por
isso, se as restantes bancadas, tendo ainda tempo disponível, não querem fazer uso do mesmo, nós podemos
encerrar o debate, garantindo que não há mais inscrições.
O Sr. Presidente: — Mas teve todas as condições para se inscrever, Sr. Deputado.
De qualquer modo, faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas a pergunta que faço, Sr. Presidente, é se podemos inscrever-nos
garantindo que não há mais intervenções neste debate.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, perguntei, por duas vezes, se alguém se queria inscrever. Como ninguém
se inscreveu, era altura de o Sr. Deputado se inscrever.
Faça favor.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, então, inscrevo a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, para
encerrar o debate.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Peço a palavra para interpelar a Mesa sobre a condução dos trabalhos,
Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr. Presidente, nós também ainda queremos inscrever um Deputado
no debate. Mas creio que o Bloco de Esquerda tem toda a razão. Uma vez que foi o Bloco de Esquerda que
promoveu e pediu o debate, na boa prática que temos mantido, deve encerrá-lo.
Não fizemos anteriormente a inscrição por uma razão evidente: creio que o debate tem a ganhar se houver
alternância entre aqueles que apoiam o Governo e aqueles que são oposição ao Governo.
O Sr. João Galamba (PS): — Então, não é para a condução dos trabalhos, é para a melhoria do debate!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, de qualquer forma, se quer intervir, peço-lhe para intervir.
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O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr. Presidente, por essa razão, e uma vez que o Partido Socialista e o
Partido Comunista Português não se inscrevem, então, nós inscrevemos o Deputado António Leitão Amaro.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado António Leitão Amaro.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Queria terminar este debate
com um pequeno gesto de generosidade, da parte do PSD, para com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista
Português.
Vozes do BE: — Está dispensado!
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Queria oferecer-lhes um espelho que podem colocar entre os dois
grupos parlamentares para que possam, de uma vez, olhar-se e ver que os senhores são partidos do Governo.
O Governo existe e toma as suas decisões porque os senhores o apoiam. Os senhores não são a oposição. Os
senhores fazem este teatro que aqui estão a fazer hoje porque não têm de votar. Fazem esse folclore de
conversa porque não têm de decidir.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe para concluir.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sim, Sr. Presidente.
Como não há votação, falam. Mas hoje, amanhã, a geringonça cá está e funciona, é responsável por todas
estas decisões. Projetos de resolução não mudam nada, são conversa para distrair.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — É tudo a fingir!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir. Já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Vou terminar, Sr. Presidente.
O Bloco, o PCP e o PS são responsáveis por esta má venda e por este perdão aos bancos…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — … e são responsáveis pelo perdão aos contribuintes, deviam era
assumir essa responsabilidade!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Qual milagre da multiplicação de oradores, a Mesa regista agora a inscrição do Sr.
Deputado Miguel Tiago, do PCP, para uma intervenção.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
Vozes do PSD: — Tínhamos razão! Está a ver!?
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A solução que estamos aqui a discutir hoje
ou, melhor, a entrega do Novo Banco a um grupo estrangeiro, a um grande grupo económico, é a solução que
o PSD e o CDS defenderam desde o início…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente! É a vossa solução!
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … e que, aliás, inscreveram nas condições da resolução que aplicaram ao
BES (Banco Espírito Santo).
Aplausos do PCP.
A venda do Novo Banco é, desde o início do processo, uma opção do PSD e do CDS,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … opção essa que o atual Governo do Partido Socialista está a concretizar,
na senda do caminho que o PSD e o CDS trilharam, que o PCP contesta e que já disse que contestará através
de todos os meios e de todos os instrumentos que tiver nesta Assembleia, e assim fará. E assim fará, Srs.
Deputados!
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Apresente o projeto de nacionalização!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — No dia 2 de fevereiro, o PCP trouxe a esta Assembleia um projeto de resolução
para a integração do Novo Banco no setor público bancário que o PSD e o CDS — e o PS, aliás — rejeitaram.
Mas o PCP trará novamente a esta Assembleia uma proposta para parar imediatamente este negócio ruinoso
e, nesse dia, queremos ver como votarão o PSD e o CDS pela integração do Novo Banco na esfera pública.
Vozes do PCP: — Exatamente! Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Essa é a única forma de garantir a viabilidade do Banco a longo prazo, de
garantir a prevalência do interesse nacional, e é também a única forma de garantir que o Banco se coloca ao
serviço da economia.
O Sr. Amadeu Soares Albergaria (PSD): — É só conversa fiada!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe para concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
O PSD e o CDS querem agora alijar as suas responsabilidades, mas cada um dos euros do prejuízo que
advém da resolução do Novo Banco tem a marca indelével do PSD e do CDS e tem agora também, infelizmente,
cunhada a opção do PS.
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — O PCP cá estará para, assim que possível, trazer à votação na Assembleia a
integração do Novo Banco na esfera pública…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — «Assim que possível»?!
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Assim que possível é já!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … por ser a única que concretiza e que defende o interesse nacional.
Aplausos do PCP.
Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.
O Sr. Presidente: — Continuamos a multiplicar os pedidos de intervenção.
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Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, é sempre bom quando o debate se multiplica na
Assembleia da República!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Isso não é verdade!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: É preciso assinalar que estamos hoje,
em 2017, a discutir a venda, a alienação do Novo Banco porque, em primeira instância, em 2015, o Governo
PSD/CDS abortou, claudicou, parou a venda do Novo Banco e o processo de alienação do Novo Banco.
Aplausos do PS.
Hoje, em final de estação, em final de tempo — tempo adicional que este Governo pediu assim que tomou
posse —, aquilo que este Governo está a fazer é a resolver um grave problema de uma instituição bancária com
valor negativo, depois de o Estado lá ter colocado quase 5000 milhões de euros a partir do Fundo de Resolução,
com 3,9 mil milhões de euros de empréstimo ao Fundo de Resolução.
Por isso, Sr. Deputado Leitão Amaro, olhe para o espelho, olhe que ele parte-se e fica com azar! E o azar é
que temos de relembrar o Sr. Deputado que foi o Governo de que o senhor fazia parte que anulou e adiou a
venda do Novo Banco…
O Sr. José Pedro Aguiar Branco (PSD): — Não, não!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — … para a intervenção deste Governo, em circunstâncias bastante
difíceis.
Aplausos do PS.
Protestos da Deputada do PSD Teresa Morais.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe para concluir.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Para concluir, queria dar uma nota de tranquilidade: os portugueses
estão hoje mais tranquilos, porque mais um problema no sistema financeiro foi resolvido.
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr. Deputado. Peço-lhe para concluir.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Estamos mais próximos de ter menos défice e da consolidação da
dívida pública.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — É a vez de a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do CDS-PP, usar da palavra.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças, Sr.as e Srs. Deputados: Diz
o Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias que os portugueses estão mais tranquilos.
Sr. Deputado, se estão mais tranquilos, não sei, mas que têm mais contas para pagar, isso sei que têm!
Risos de Deputados do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — São contas com o NIF (número de identificação fiscal) do CDS!
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O Sr. João Galamba (PS): — Nós assumimos a que vocês deixaram por pagar e minimizámo-la!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Percebo que o Sr. Deputado João Galamba se queira concentrar nos
apartes e que não queira usar da palavra.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Devia lembrar-se do tempo do Eng.º Sócrates e de quem é que defendeu
o Salgado nessa altura!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Mas o Sr. Deputado, quando insistia na nacionalização, dizia assim:
«Se aquela proposta de que se fala…» — a venda por 750 milhões mais 2500 milhões de euros de garantias
do Estado — «… é verdade,…» — pelos vistos, é bem pior, porque são 3800 e não 2500, não é? — «… o banco
tem um valor negativo (…)» Logo, o Estado tem de pagar, logo, o banco devia ser nacionalizado.
A Sr.ª Teresa Morais (PSD): — Ora bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Deputado, então o que é que diz agora? É porque, quando se fala
em espelhos, convém que se tenha coerência.
Dizia também a Sr.ª Ministra da Presidência: «Não temos preconceitos com a nacionalização do banco.» E
dizia mais: «Bruxelas e Frankfurt sabem fazer as contas.»
Srs. Deputados, não sei se sabem ou não, mas quem vai pagar é Portugal.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É uma conta com o NIF do PSD e do CDS!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Esta é uma péssima negociação…
O Sr. João Galamba (PS): — Pode ser péssima, mas é melhor do que a vossa!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … e tem, de facto, uma marca indelével, como dizia o Sr. Deputado
Miguel Tiago: a vossa!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Este Governo só existe porque o PCP, o Bloco de Esquerda, Os Verdes
e o PS se juntaram e lhe deram legitimidade para negociar aquilo que bem entendesse.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
Protestos do Deputado do PCP Miguel Tiago.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Portanto, podem agora fazer as encenações de indignação que
quiserem, podem inventar projetos com garantias de que é impossível que outros partidos os votem,…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada. Já ultrapassou largamente o seu tempo.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … mas a marca indelével desta negociação é deste Governo e a marca
deste Governo é a vossa!
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — E com o PSD e o CDS a solução seria outra?!
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, em nome do Governo — que também entrou neste milagre da
multiplicação —, o Sr. Ministro das Finanças, Mário Centeno.
O Sr. Ministro das Finanças: — Sr. Presidente, espero que o «milagre» apenas se aplique às intervenções.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: De facto, não vivemos no país das maravilhas, mas vivemos no mesmo País
em que vivíamos quando nos contaram a fábula da saída limpa…
Aplausos do PS.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Ministro das Finanças: — … e quando, em nome da República, assumiram três compromissos que
deixaram por cumprir e que punham em risco, cada um deles, individualmente, a estabilidade do sistema
financeiro.
Refiro-me, nomeadamente, aos compromissos face ao BANIF (Banco Internacional do Funchal) e aos oito
planos de reestruturação não aprovados,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sabe que isso não é verdade! O Sr. Ministro sabe que não está a
falar verdade!
O Sr. Ministro das Finanças: — … refiro-me também à venda falhada do Novo Banco, na sequência da sua
resolução, e a todos os compromissos assinados em nome da República em agosto de 2014 e refiro-me, com
certeza, ao plano de reestruturação e de negócios, não cumprido, da Caixa Geral de Depósitos.
Refiro-me também ao País que, em 2016, teve de enfrentar um processo de sanções por avaliação das
contas públicas portuguesas de 2013 a 2015…
Protestos do PSD.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Ministro.
O Sr. Ministro das Finanças: — … e que enfrentou a suspensão dos fundos comunitários, na sequência
desse processo.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Que falta de vergonha!
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Ministro.
O Sr. Ministro das Finanças: — Vou concluir, Sr. Presidente.
É esse País que dirigimos e foi desse País que o Governo de Portugal, desde novembro de 2015, fez um
País melhor, que cresce mais, com mais emprego e com mais rendimento.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para encerrar o debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta solução — ou esta não-solução —
foi pensada pelo PSD e pelo CDS quando estavam no Governo. Este negócio foi montado por Sérgio Monteiro,
que era secretário de Estado do Governo PSD/CDS, nomeado para o Banco de Portugal para planear a venda,
e por Carlos Costa, que, aliás, ajudou o Governo PSD/CDS a pensar todo este processo e que foi reconduzido
à frente do Banco de Portugal pelo Governo PSD/CDS.
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem visto!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Os senhores estão sempre a «sacudir a água do capote»!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Este negócio foi realizado com base numa promessa feita a Bruxelas de
que o Banco seria vendido, fossem quais fossem as condições, até ao final de 2017.
Sr. Deputado Leitão Amaro, pode encontrar os objetos que quiser e trazê-los para o debate para desviar as
atenções. Mas, se eu olhar para um espelho, o que vejo é que defendo hoje aquilo que defendi há dois anos,
que é a nacionalização do Novo Banco. E o Sr. Deputado vê o quê? O que vai ver é a venda do Novo Banco,
porque foi isso que defendeu há dois anos…
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e, portanto, a incoerência está no PSD, que planeou a venda, que pôs
à frente do Banco de Portugal as pessoas que planearam a venda e que agora quer «lavar as mãos» desse
processo.
Aplausos do BE.
Sr. Deputado, a alternativa que o Bloco de Esquerda defendeu há dois anos é a mesma que defende hoje,
que é a nacionalização do Novo Banco. O PSD defende o quê? Qual é a alternativa que o PSD e o CDS
defendem? É que isso tem de ficar claro, não basta virem aqui espalhar para todos os lados, atribuir culpas a
toda gente e, depois, fingirem que não têm nada a ver com o problema, fingirem que não sabem que injetaram
dinheiro no Novo Banco e fingirem que não sabem que têm uma corresponsabilidade nesse processo.
Sr. Deputado Leitão Amaro, use o espelho para si, use-o para si, porque eu sei o que vejo nele, vejo a
nacionalização do Novo Banco.
Sr. Ministro das Finanças, não ficou claro porque é que o Banco não pode ser nacionalizado e não ficou claro
porque é que o Lone Star paga 1000 milhões para recapitalizar o Novo Banco, mas o Estado paga 5000 milhões
para recapitalizar o Novo Banco,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Ah!…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … a não ser que aceitemos condições que seriam inaceitáveis para
qualquer país.
O Bloco de Esquerda estava disponível, esteve disponível, está e estará disponível para discutir com o
Governo uma alternativa à venda do Novo Banco ao Lone Star.
Este assunto voltará a ser discutido na Assembleia da República.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Por isso, reiteramos o apelo e o desafio que já tínhamos feito ao Governo
no sentido de trazer essa possibilidade à Assembleia da República para que possamos discutir aqui as
alternativas…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e terá todo o apoio do Bloco de Esquerda para evitar esta venda ruinosa
e para manter o Novo Banco em mãos públicas.
Aplausos do BE.
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O Sr. Presidente: — Damos, assim, por encerrado o debate de atualidade, requerido pelo BE, sobre o
processo de venda do Novo Banco.
Peço ao Sr. Secretário Pedro Alves para dar conta de mais expediente, que é volumoso, agradecendo-lhe
desde já o trabalho que vai ter.
Tem a palavra, Sr. Secretário.
O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram
admitidas, várias iniciativas legislativas.
Deram entrada os projetos de resolução n.os 780/XIII (2.ª) — Pela eliminação do sobrecusto do investimento
nas redes de energia e pelo controlo público da Central de Despacho da REN (PCP), que baixa à 6.ª Comissão,
781/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo o apoio e a valorização da ourivesaria e o reforço das Contrastarias e
da Imprensa Nacional — Casa da Moeda (PCP), que baixa à 6.ª Comissão, 782/XIII (2.ª) — Recomenda ao
Governo a recuperação do passivo de manutenção acumulado entre 2011 e 2015, através de uma intervenção
nas infraestruturas rodoviárias de acesso ao concelho de Barrancos (PS), que baixa à 6.ª Comissão, 788/XIII
(2.ª) — Recomenda ao Governo a ponderação das conclusões das comissões parlamentares de inquérito no
quadro da transposição da Diretiva dos Mercados e Instrumentos Financeiros e da Reforma do Modelo de
Supervisão do Setor Financeiro (PS), 789/XIII (2.ª) — Regulamentação e Relatório de Avaliação da Lei n.º
27/2016, de 23 de agosto, que aprova medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de
animais e estabelece a proibição do abate de animais errantes como forma de controlo da população (PCP),
790/XIII (2.ª) — Recuperação, requalificação e valorização do Forte de Peniche (PCP) e 792/XIII (2.ª) — Revisão
e reforço do rácio de atribuição de assistentes operacionais e assistentes técnicos aos agrupamentos e escolas
não agrupadas (BE), que baixa à 8.ª Comissão.
Deram, igualmente, entrada os projetos de lei n.os 481/XIII (2.ª) — Estabelece um regime especial de acesso
à pensão de invalidez e de velhice para os trabalhadores das pedreiras (PCP), que baixa à 10.ª Comissão,
482/XIII (2.ª) — Consagra a livre opção dos consumidores domésticos de eletricidade pelo regime de tarifas
reguladas, procedendo à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 75/2012, de 26 de janeiro (PCP), que baixa à 6.ª
Comissão, 483/XIII (2.ª) — Procede à primeira alteração da Lei n.º 23/2006, de 23 de junho, modificando o
regime jurídico do associativismo jovem (PSD), que baixa à 12.ª Comissão, 484/XIII (2.ª) — Segunda alteração
à Lei n.º 5/2008, de 12 de fevereiro, que aprova a criação de uma base de dados de perfis de ADN para fins de
identificação civil e criminal e primeira alteração à Lei n.º 40/2013, de 25 de junho, que aprova a lei de
organização e funcionamento do conselho de fiscalização da base de dados de perfis de ADN (PSD), que baixa
à 1.ª Comissão, 485/XIII (2.ª) — Assegura o direito de declaração conjunta das despesas com dependentes em
sede de IRS (PAN), 486/XIII (2.ª) — Desmaterialização de manuais e de outros materiais escolares (Os Verdes),
487/XIII (2.ª) — Alarga em cinco anos a idade máxima para acesso ao programa de apoio ao arrendamento
Porta 65 (terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 308/2007, de 3 de setembro) (BE), 488/XIII (2.ª) — Altera o regime
jurídico do associativismo jovem (primeira alteração à Lei n.º 23/2006, de 23 de junho) (BE), 489/XIII (2.ª) —
Impõe a classificação de oferta pública a todas as colocações que envolvam investidores não qualificados,
garantindo uma maior proteção aos pequenos investidores (alteração ao Código dos Valores Mobiliários,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 486/99, de 13 de novembro) (BE), 490/XIII (2.ª) — Limita a comercialização de
produtos financeiros (alteração do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro) (BE), 491/XII (2.ª) — Proíbe os bancos de realizarem operações
sobre valores emitidos por si ou por entidades com eles relacionadas (alteração do Regime Geral das Instituições
de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro) (BE), 492/XIII
(2.ª) — Pela criação de um plano nacional de incentivo ao associativismo estudantil e implementação de medidas
de apoio e isenção de custos na constituição e reconhecimento de associações juvenis (PCP), 493/XIII (2.ª) —
Alargamento dos beneficiários e dos apoios do programa Porta 65 Jovem (terceira alteração ao Decreto-Lei n.º
308/2007, de 3 de setembro, que cria e regula o programa de apoio financeiro Porta 65 — Arrendamento por
Jovens) (PCP) e 494/XIII (2.ª) — Reforça as obrigações de supervisão pelo Banco de Portugal e a transparência
na realização de auditorias a instituições de crédito e sociedades financeiras (36.ª alteração ao Regime Geral
das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras) (PCP).
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Por último, deu entrada na Mesa a apreciação parlamentar n.º 34/XIII (2.ª) — Relativa ao Decreto-Lei n.º
25/2017, de 3 de março, que estabelece as normas de execução do Orçamento do Estado para 2017 (CDS-
PP).
Em termos de expediente é tudo, Sr. Presidente.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Pedro Alves, por esta maratona de leitura. Tem direito a
que este seu esforço seja compensado.
Sr.as e Srs. Deputados, antes de passarmos às declarações políticas, a Mesa deseja assinalar que se
encontra na tribuna do corpo diplomático uma delegação do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-França,
para quem peço uma saudação.
Aplausos gerais, de pé.
Vamos, então, dar continuidade aos nossos trabalhos.
Antes de dar a palavra ao Sr. Deputado Telmo Correia, agradecia que se criassem as condições sonoras
para que todos possamos trabalhar devidamente.
Pausa.
Para uma declaração política, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado
Telmo Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Menos de 15 dias depois do
terrível atentado que ocorreu junto do Parlamento britânico, em Westminster, o terrorismo jihadista voltou a
atacar na Europa, desta vez em São Petersburgo, naquela que é, talvez, a histórica capital mais europeia da
Rússia, por assim dizer.
Foram mais 14 mortos, mais 50 feridos, mais um ataque, uma vez mais, cruel, cobarde e insano, como são
todos os ataques terroristas.
Convém lembrar — e, eventualmente, até na presença de amigos que aqui temos hoje connosco e que o Sr.
Presidente acabou de saudar — cidades como Paris, Nice, Bruxelas, Istambul, Munique, Normandia, Telavive
ou Jacarta foram, só nos últimos meses, vítimas de ataques terroristas.
Esta é, hoje em dia, a principal forma de barbárie e é, seguramente, o maior inimigo da nossa forma de vida,
da nossa civilização e da forma como nós queremos viver, em democracia e em liberdade.
Aplausos do CDS-PP.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, seguramente que na próxima sexta-feira votaremos mais um voto de
pesar, o que faremos bem. Só que, para além disso, penso que temos uma obrigação, que é a de refletirmos
todos sobre o que é possível fazer para garantirmos, como é nossa obrigação, aos nossos concidadãos as
melhores condições de segurança para que possam continuar a viver em liberdade.
O Sr. Filipe Lobo d’Ávila (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Ora, isso implica várias reflexões, reflexões essas que não quero trazer
como decisivas para o debate de hoje.
Por exemplo, até do ponto de vista das alianças, quando um ataque deste tipo ocorre — como já ocorreu em
Moscovo — em São Petersburgo, teremos de pensar onde está o nosso principal inimigo, quando tantas vezes
o confronto é feito da Rússia para a União Europeia e da União Europeia para a própria Rússia. O diálogo
internacional tem de perceber que há um inimigo maior e que esse inimigo é o jihadismo e é o terrorismo islâmico.
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Uma segunda reflexão é sobre a colaboração entre os serviços de informações e a credibilidade internacional
destes serviços.
Uma terceira reflexão é sobre a cooperação entre as forças e os serviços de segurança.
Por último, é necessário uma reflexão no sentido de pensarmos e sabermos se nós, em Portugal, já fizemos
tudo o que podemos para estar preparados para qualquer eventualidade, que, felizmente, não ocorreu e que,
obviamente, todos desejamos muito que não venha a ocorrer.
É certo que Portugal tem estado a salvo, mas não é menos verdade que o Relatório Anual de Segurança
Interna (RASI), apresentado a este Parlamento há meia dúzia de dias, nos refere que, em Portugal, relativamente
a este risco, os fatores estão alterados, que há sinais de movimentações e que o País tem de estar preparado
para poder responder a uma situação deste tipo.
Sr.as e Srs. Deputados, sublinho e deixo muito claro, sem nenhum alarmismo, que é evidente que não
queremos pôr a discussão em termos de prescindir de liberdade para ter mais segurança. O que queremos
saber é que segurança temos de ter, dentro do possível e do razoável, para podermos continuar a viver em
liberdade,…
Aplausos do CDS-PP.
… para que não aconteça como aconteceu a uma mãe, casada com um português, que ia buscar os seus
filhos a Londres ou a crianças e jovens que estavam no metro de São Petersburgo ou a jovens que foram a um
espetáculo em Paris. É isso que nós não queremos!
O CDS apresentou um conjunto de projetos que têm a ver com a realidade dos nossos aeroportos e das
nossas fronteiras externas.
De entre esse conjunto de projetos que apresentamos, um, visa saber se os nossos aeroportos têm planos
de segurança eficazes, outros têm a ver com a nossa fronteira marítima, com a existência de planos para todas
as nossas infraestruturas críticas — é indispensável termos planos para todas as infraestruturas críticas —, com
a melhoria da realidade do policiamento de proximidade — sabemos que este tipo de acontecimentos, mais do
que serem combatidos, podem ser prevenidos e, portanto, é preciso que as nossas forças e serviços de
segurança estejam preparados para isso — e, mais importante, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, lançamos
e colocamos em cima da mesa a célebre questão dos metadados. É um dos sete projetos que apresentámos e
que, brevemente, teremos ocasião de discutir.
O que está em causa com os metadados? Que os nossos serviços de informações tenham acesso a dados
financeiros, a dados fiscais, a dados de comunicações de suspeitos de terrorismo. É isto que está em causa.
Não estão em causa as escutas. Há muitos serviços de informações por essa Europa fora que têm direito e
acesso a escutas. Todos, repito, todos, na Europa, têm acesso a metadados. Portugal é o único país na Europa
em que os serviços de informações não têm acesso a metadados.
O Governo anterior apresentou uma proposta que não passou porque foi declarada inconstitucional, mas, na
minha opinião e numa leitura estrita, todos sabemos o que é preciso fazer para alterar essa matéria, todos
sabemos que existem caminhos para resolver esse problema. O CDS já pôs a sua proposta em cima da mesa,
já entregámos a nossa proposta.
O que queremos saber aqui, hoje, é se vai haver ou não resposta em relação a essa matéria.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Há quase um ano e meio que perguntamos ao Governo e a verdade é
que há um ano e meio que o Governo nos diz que está a estudar e a ponderar.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Em Plenário e em sede de Comissão, já perguntei à Sr.ª Ministra da Administração Interna — para mais uma
jurista qualificada! — se o Governo vai apresentar uma solução. Diz que está a ponderar, diz que está a estudar.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — A última versão que conhecemos — e já é o terceiro anúncio — é a de
que o Sr. Primeiro-Ministro tem um documento a circular, não sabemos muito bem para onde.
O que perguntamos é se vai aparecer um documento, ou não. O nosso está apresentado e entregue.
O que está em causa é darmos às nossas forças e aos serviços de segurança — sobretudo, neste caso, aos
serviços de informações — condições para proteger os portugueses de uma ameaça que é real e em relação à
qual temos de fazer tudo para garantir liberdade e segurança aos nossos concidadãos.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A Mesa regista quatro inscrições para pedidos de esclarecimento.
Sr. Deputado Telmo Correia, como pretende responder?
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Respondo aos dois primeiros pedidos de esclarecimento e, depois, aos
outros dois.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Então, em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, devo dizer que estávamos à espera que o Sr. Deputado Telmo
Correia viesse comentar o Relatório Anual de Segurança Interna, o que, se ocorresse, era um acontecimento,
porque significava que o apagão de mais de cinco anos do CDS em matéria de preocupações com a segurança
interna tinha chegado ao final, mas verificamos que esse apagão continua.
Mas o Sr. Deputado Telmo Correia trouxe um tema relevante. Não quero, de maneira nenhuma, desvalorizar
a importância do assunto que aqui trouxe, independentemente das divergências que possamos ter acerca do
que aqui disse e do que defendeu.
A preocupação que manifestou e o pesar que expressou relativamente aos atentados terroristas que têm
acontecido em várias partes do mundo — não apenas na Europa, como salientou, mas também no continente
europeu e, mais recentemente, na Rússia — obviamente que é um motivo de pesar que esta Assembleia deve
manifestar e que, certamente, na próxima sexta-feira, porventura, no momento das votações, teremos
oportunidade de o fazer.
O Sr. Deputado também manifestou preocupação — e devo dizer que nós compartilhamos dessa
preocupação — de que, em nome do combate ao terrorismo, não se ponha em causa a liberdade, de que não
se abdique da liberdade em nome do combate ao terrorismo. Do nosso ponto de vista, na Europa,
designadamente na União Europeia, essa deriva tem ocorrido e, portanto, têm sido postas em causas liberdades
fundamentais em nome do combate ao terrorismo. Queríamos deixar isso muito claro e esperamos que Portugal
não vá por esse caminho.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — O Sr. Deputado referiu a questão dos metadados e mencionou o texto que
foi aprovado por esta Assembleia no tempo do Governo anterior e que foi declarado inconstitucional pelo Tribunal
Constitucional. Disse também que não estamos a falar de escutas mas de metadados. Pois estamos, Sr.
Deputado. Mas, nessa altura, era exatamente disso que estávamos a falar…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Como eu estava a dizer, nessa altura era exatamente disso que estávamos a falar e o Tribunal Constitucional
considerou que os metadados estavam ao mesmo nível das escutas telefónicas no que se refere à devassa da
privacidade das comunicações.
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Portanto, Sr. Deputado, esperamos que não se queira insistir no erro e que não se procure, de alguma forma,
impor aquilo que o Tribunal Constitucional considerou, taxativamente, que era inconstitucional.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem que terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Agora, que o assunto volta a estar em cima da mesa, do nosso ponto de
vista, é importante deixar esta questão muito clara.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Fernando Anastácio.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, acompanhamos as
preocupações que aqui expressou relativamente à matéria do terrorismo e o repúdio pelos recentes atentados.
Por isso, não temos dúvidas de que serão encontradas nesta Assembleia, e conforme o próprio Governo já
o disse, as necessárias medidas no estrito respeito da liberdade e dos direitos constitucionais e resolvendo
aquilo que, na Legislatura anterior, não foi resolvido, ou seja, encontrando uma solução que passe no Tribunal
Constitucional. Para isso haverá todo o nosso empenhamento.
O Sr. Deputado fez uma alusão ao RASI e eu também não posso deixar de a fazer. Baseando-me nas
afirmações e na política pela positiva, queria lembrar-lhe alguns dados interessantes desse mesmo Relatório: a
diminuição de 11,6% da criminalidade violenta; a redução de 7,1% da criminalidade geral; o registo, de há 15
anos para cá desde que há registos, mais baixo em termos de criminalidade.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Muito bem!
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — São aspetos que gostaria que o Sr. Deputado Telmo Correia
comentasse.
Acrescento que em 2015, ano de Governo do PSD, os números da criminalidade notavam, de novo, algum
aumento: 1,3%.
Queria também que se pronunciasse sobre o anunciado investimento nas infraestruturas de segurança: 450
milhões de euros para os próximos quatro anos. A título de comentário, gostaria de trazer para o debate palavras
dos profissionais da GNR que, sobre estes números, dizem que são bastante animadores.
Uma última referência, que não é de deixar passar em claro: as medidas que foram aprovadas e que estão
em execução no sentido de termos mais 600 polícias no policiamento.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Deputado, perante tudo isto, tendo em consideração, como referi, a
tal política pela positiva, gostava que me dissesse, com aquele espírito que a líder do seu partido, Deputada
Assunção Cristas, põe em todos os outdoors deste País, se não fará também um elogio positivo à ação deste
Governo e a estes números comprovados no RASI.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder a estes dois pedidos de esclarecimento, tem a
palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, forma breve e direta, gostaria, em primeiro lugar, de
agradecer ao Sr. Deputado António Filipe as perguntas que colocou e de lhe dizer que nem estou muito fora
daquilo que o Sr. Deputado diz. Acho é que está a ser um bocadinho injusto, porque nós nunca abandonámos
as preocupações com as questões de segurança.
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Nos últimos anos, fiz, designadamente, todos os debates relativos aos relatórios de segurança interna,
propusemos várias iniciativas legislativas, algumas delas sobre o Estatuto das forças de segurança, com as
quais, curiosamente, o Sr. Deputado até devia congratular-se — aliás, na passada sexta-feira foram aprovadas
a vossa proposta e a nossa, e já era uma preocupação antiga.
Portanto, Sr. Deputado, pedia-lhe que, desse ponto de vista, fosse mais justo.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Em relação à questão dos metadados, gostaria de saber qual é a vossa
posição. Porque, repare — e, mais uma vez, repito —, embora pudéssemos estar a falar de escutas, não
estamos a falar de escutas, mas, sim, de dados de tráfego. Queremos saber, por exemplo, se, em relação a um
suspeito de terrorismo que entra em Portugal e faz uma série de chamadas, os nossos serviços de informações
podem saber para quem é que ele telefonou. É tão simples quanto isto. Sabendo para quem é que ele telefonou
e com quem é que ele contatou é que poderemos chegar a uma célula, a uma rede ou a fenómenos de
radicalização. É a isso que queremos dar acesso, e os senhores foram contra. Mudaram ou não de opinião?
Sr. Deputado Fernando Anastácio, o Governo diz que está disponível para resolver, mas, Sr. Deputado, já
vai muito tempo para resolver. A Sr.ª Ministra anda há um ano a dizer que está a estudar o assunto. É muito
estudo, muito estudo, muito estudo, e produção zero!
Mas não é tão complicado quanto isso. Olhe, o CDS apresentou um projeto, que vale a pena ler e é pela
positiva. Sabe como é? Uma secção penal do Supremo, três juízes. Um pedido fundamentado dirigido a um
procurador limitando o objeto desse mesmo pedido, a seção penal do Supremo decide. Acho que está resolvido
o problema de constitucionalidade, não há outro caminho. E vai ver que vão chegar a esse! Mas, Sr. Deputado,
acabem de estudar.
Tal como a questão do aeroporto. Quatro incidentes seguidos, de cidadãos que desaparecem no aeroporto
e que vão para aqui ou que vão para ali. Os senhores continuam a estudar e o plano não aparece.
O Sr. Deputado perguntou onde é que está a política positiva. Sr. Deputado, nós apresentámos sete
iniciativas e o tema é: segurança, combate à alta criminalidade, à criminalidade transnacional e ao terrorismo.
Apresentámos sete iniciativas! Quer mais positivo do que isto? Apresentámos iniciativas sobre segurança nos
aeroportos, sobre infraestruturas críticas, sobre policiamento de proximidade, sobre nacionalidade, sobre
metadados… Apresentámos sete projetos diferentes. Somos coerentes, de resto, com aquilo que dizemos: não
nos limitamos a criticar e vamos pela positiva.
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Sr. Deputado diz: «Bom, eu sobre isso não tenho nada a dizer, não
tenho nada a propor, nem tenho ainda resposta. Portanto, falo de outra coisa, falo do resto do RASI». Sr.
Deputado, eu citei o RASI apenas no que se refere ao terrorismo, ainda não discuti o RASI. Mas cá estaremos
no próximo dia 13, com a Sr.ª Ministra, para o discutir.
O Sr. Deputado irá falar dos números baixos da criminalidade. É uma tendência que vem de trás, é uma
tendência boa e positiva para o nosso País, não diremos o contrário. Eu, apesar de tudo, vou falar de viaturas
paradas no Porto, de problemas com os fardamentos na GNR e da incapacidade do Governo em resolver muitos
problemas. Mas estamos cá para os discutir.
Neste momento, estamos a falar de preocupação com o terrorismo, de combate ao terrorismo e em melhorar
os mecanismos de segurança. É aí que estamos focados.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, o Bloco de Esquerda condena,
evidentemente, todos os ataques terroristas — os ataques de Paris, de Nice, de Bruxelas, de Londres, de São
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Petersburgo, como aqui o Sr. Deputado já referiu. Toda a nossa solidariedade para com esses povos e todo o
pesar para com essas vítimas. Mas não esqueçamos que enquanto o Sr. Deputado Telmo Correia intervinha já
se contou em mais de 70 as vítimas do ataque químico, um ataque horrendo, um ataque cobarde, que ocorreu
ontem na Síria. Para com essas vítimas está também todo o nosso pesar e para com o povo sírio, que está ser
completamente chacinado, vai toda a nossa solidariedade.
No rescaldo deste ataque absolutamente horrendo e cobarde, como se disse, não se pode legitimar a ação
de Putin dentro e fora de portas. Este branqueamento de Putin não é aceitável. Uma coisa é a solidariedade
para com o povo russo; outra é a legitimação de atropelos a direitos individuais, à democracia e ao Estado de
direito, a que Putin não é alheio.
Aplausos do BE.
Não absolvemos, não podemos absolver Putin da responsabilidade em crimes de guerra e, Sr. Deputado, o
desafio que se nos coloca à frente é o de garantir o total respeito pelos direitos e pelas liberdades dos povos.
Este direito fundamental é realmente o da liberdade.
Sr. Deputado, os metadados foram chumbados, já aqui foi referido, por serem inconstitucionais. Sabemos
que o CDS não convive bem com a Constituição, mas para o Bloco de Esquerda isso é absolutamente
fundamental. A utilização de metadados equivale a escutas telefónicas e é um atropelo claríssimo à liberdade e
aos direitos individuais, com o qual o Bloco de Esquerda não compactua e não pode aceitar. Portanto, esse não
pode ser o caminho.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Fernando Negrão.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Telmo Correia, na
sua pessoa, saúdo o CDS por trazer o tema da segurança a debate nesta Casa, tema suficientemente
importante. Nós já o fizemos há cerca de um mês de outra forma e agora falamos de terrorismo.
Ouvi o Sr. Deputado Telmo Correia falar de terrorismo e ouvi, primeiro, o Partido Socialista falar do RASI —
mas não falou de terrorismo — e o Bloco de Esquerda falar dos direitos humanos na Rússia — mas não falou
de terrorismo.
Pergunto: será que o terrorismo não nos preocupa a todos nesta Câmara? Será que o terrorismo não é uma
forma de criminalidade que, mês sim, mês não, se revela em ataques terroristas mortíferos com dezenas e
dezenas de mortos? Será que a questão dos metadados não é uma questão que nos preocupa?
Já o anterior Governo teve uma iniciativa nesta área e pressionou sempre para que se pudesse ultrapassar
e dotar os serviços de informação com este sistema de metadados, que não é mais do que saber quem faz a
chamada de onde para onde. Resume-se a isto.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Já existe!
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Foi declarado inconstitucional, é um facto, mas ainda hoje o PSD, no
Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa e no Conselho Superior de
Segurança Interna continua a pressionar para que tenhamos efetivamente metadados a funcionar nos nossos
serviços de informação. Os serviços de informação precisam disso como «de pão para a boca». Não estamos
a falar de escutas telefónicas, estamos só a falar de localização humana de quem faz as chamadas de onde
para onde.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Já existe!
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — O combate ao terrorismo precisa de dar ferramentas às polícias e essas
ferramentas têm que ser dadas igualmente aos serviços de informação e estes, hoje, não têm ferramentas.
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Ainda hoje se discutem iniciativas da União Europeia, designadamente o Ponto de Contacto Único e as decisões
Prüm. Sei que já foram aprovadas em Conselho de Ministros, mas este Parlamento ainda não tem conhecimento
nem de um nem de outro, e nós precisamos saber.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Ainda hoje — Sr. Presidente, permita-me que insista —, o PSD insiste
nos órgãos próprios, seja no Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa,
seja no Conselho Superior de Segurança Interna, para que o tema dos metadados se transforme numa iniciativa
legislativa que possa ter êxito.
Por isso, pergunto ao CDS se devemos ou não ir mais longe nas medidas a tomar no combate ao terrorismo.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder a estes dois pedidos de esclarecimento, tem a
palavra o Sr. Deputado Telmo Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Sandra Cunha,
agradeço as perguntas que colocou e queria dizer-lhe que, de facto, como ainda agora o Sr. Deputado Fernando
Negrão lembrou, o nosso foco neste debate é sabermos se, perante uma ameaça, que é global e europeia, nós,
portugueses, responsáveis do Governo e responsáveis parlamentares, fizemos tudo aquilo que, dentro dos
nossos valores e sem abdicar dos mesmos, podemos fazer para garantir a melhor proteção aos nossos
concidadãos. É este o nosso ponto, e não mais do que isso.
Posso partilhar muitas das suas críticas ao regime russo, posso achar, como a Sr.ª Deputada acha, que é
dramático aquilo que aconteceu na Síria e que é revoltante a utilização de armas químicas. Posso concordar
com isso e achar até que alguns desses conflitos internacionais não estão a ajudar-nos a pôr o foco onde
devemos pô-lo, designadamente no combate ao terrorismo. Essa é outra discussão, é outro debate e é outra
matéria.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Em relação à matéria que estamos a discutir, devo dizer que achamos
que os homens dos nossos serviços e forças de segurança que estão no terreno — que estão nas freguesias,
que estão na rua, que estão nos bairro — devem ter formação básica de deteção de elementos de radicalização
e de perigo terrorista. Concordam ou não concordam?
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É uma pergunta tão simples como esta.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Já têm!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Mas não chega a todos. Chega a algumas forças de elite e a algumas
unidades especiais, mas não ao policiamento de proximidade, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
Concordam ou não concordam? Achamos que se deve garantir que todas as infraestruturas críticas do País,
sejam de abastecimento de energia, sejam outras — e respondo também ao Sr. Deputado Fernando Negrão —
, devem ter planos de segurança e planos de emergência aprovados. Devemos saber quantos faltam e aprová-
los. Concordam ou não concordam?
Consideramos que os nossos aeroportos internacionais devem ter planos de segurança e que as forças de
segurança, quando atuam no aeroporto, devem, por exemplo, conhecer toda a sua configuração e saber, muitas
vezes porque não sabem — é o que nos dizem —, o que está por detrás de um determinado biombo. Eles
conhecem aquela zona, mas não sabem como lidar numa situação de emergência num aeroporto.
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Consideramos que os nossos planos de proteção da costa, seja o Costa Segura, seja o SIVIC (Sistema
Integrado de Vigilância Costeira), devem ser integrados e não devemos ter dois planos concorrenciais,
desperdiçando energia e com isso gastando, inclusivamente, meios.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Consideramos que quem tiver adquirido, por exemplo, a nacionalidade
portuguesa e for condenado por terrorismo deve perder a nacionalidade portuguesa por ser tido condenado num
tribunal por esse crime.
Por último, e em relação aos metadados, passo a citar um parágrafo do RASI: «Nos últimos anos, têm vindo
a ser recolhidos e avaliados indícios que dão conta do agravamento de alguns fatores de risco, indícios já
detetados no nosso País». Ou seja, o RASI, que é feito com a colaboração dos nossos serviços de informação,
diz-nos que há fatores de risco e que há um agravamento desses fatores de risco.
Mostro-vos um mapa da Europa — o mapa é pequeno, não o trouxe ampliado, desorganização minha —,
onde se vê um pequeno quadrado vermelho, que é Portugal, e em que tudo o resto está assinalado a verde. Ou
seja, de acordo com este mapa, Portugal é o único País da Europa que não tem serviços de informação com
acesso a metadados. Srs. Deputados, acham ou não que isto deve ser resolvido?
Sr. Deputado Fernando Negrão, temos um conjunto de propostas feitas, aliás temos sete propostas em cima
da mesa…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. TelmoCorreia (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que não temos a pretensão de
apresentar a quinta maravilha para o sistema de combate ao terrorismo, apenas damos o nosso contributo.
Estamos dispostos a ouvir todos os contributos e o que desejamos, Sr. Deputado Fernando Negrão, é que
haja um consenso largo e suficiente nesta Câmara para que o problema se resolva.
Sabendo o Governo que até o PSD e o CDS estão disponíveis para esse consenso, só não percebo como é
que não avança e não resolve este problema. É que há um ano e tal que esse problema está a ser estudado.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Carla Cruz.
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP rejeita a natureza, os objetivos e os
propósitos inscritos no Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá, conhecido
por CETA.
Esta rejeição resulta do facto de este Acordo atentar contra a soberania nacional, os interesses dos povos e
os direitos sociais, laborais e democráticos.
Portugal deve aprofundar as suas relações com outros Estados e povos numa base de cooperação, de
respeito mútuo pelos princípios do Estado de direito democrático, pela soberania nacional e pelos objetivos de
desenvolvimento e de progresso social e económico dos países e dos povos.
Isto significa recusar imposições que nos são feitas de forma antidemocrática, correspondendo aos
interesses das multinacionais, e significa também recusar as políticas isolacionistas defendidas por outros.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — O CETA não é um simples acordo de comércio e não visa apenas abolir pautas
aduaneiras. O CETA tem como grande objetivo nivelar por baixo os direitos sociais, laborais, de segurança
alimentar e de saúde pública, procurando impedir os Estados e os cidadãos de defenderem os seus interesses
e impondo um instrumento jurídico que se sobreponha às jurisdições e instituições soberanas dos Estados,
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como ficou bem patente na audição pública que o PCP realizou, na Assembleia da República, no passado dia
31 de março.
No caso da agricultura, o Acordo afetará a sustentabilidade do modelo produtivo tradicional, que assenta em
normas que, obedecendo ao princípio da precaução, inibem o uso de um vasto conjunto de substâncias que são
utilizadas no Canadá.
Abdicar do princípio da precaução não terá apenas efeitos na produção agrícola, afetará, igualmente, a saúde
dos consumidores pelo facto de existir um fosso enorme em matéria de segurança alimentar, designadamente
no domínio do cultivo e comercialização de organismos geneticamente modificados, do uso de disruptores
endócrinos e de hormonas de crescimento nos bovinos e de compostos clorados nas aves.
Acresce ainda o reconhecimento muito insuficiente das denominações geográficas. No caso português, estão
apenas salvaguardados 20 produtos dos 137 existentes, o que representará a sua desproteção e terá
implicações na quebra de rendimento dos produtores e das regiões.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, as consequências nefastas não se resumem ao que atrás ficou dito, pois
também os trabalhadores veriam os seus direitos ameaçados. Se dúvidas houvesse, bastaria ler o capítulo 23
do CETA, sobre as leis laborais. Nesse capítulo, fazem-se incipientes apelos à manutenção dos níveis atuais de
proteção das leis em vigor no Canadá e na União Europeia.
Exemplo paradigmático da diferença entre o Canadá e Portugal é a não ratificação, por parte do Estado
canadiano, da convenção da contratação coletiva. Só isto mostra bem o que queremos dizer quando falamos
de nivelar por baixo os direitos dos trabalhadores.
Ao invés do que tem sido propalado por dirigentes e altos funcionários da União Europeia, por membros do
Governo português e por outros defensores e entusiastas do chamado «livre comércio», os serviços públicos
não estão salvaguardados. A redação adotada no Acordo e a existência de uma lista negativa muito restritiva
impedem a possibilidade de estes voltarem para a esfera pública caso um Estado decida, soberanamente, que
determinados serviços devem ser prestados e geridos de forma pública e universal. Quer isto dizer que os
serviços públicos que foram já privatizados ou concessionados ficam abrangidos pelo CETA e à disposição das
transnacionais e dos seus interesses, dificultando o seu retorno para a esfera pública.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, os malefícios verificam-se também na área da justiça e no exercício da
soberania e da democracia. O acordo institui um mecanismo de resolução de litígios, conhecido por ICS
(Investment Court System), que atenta contra a soberania nacional e que tem como objetivo maior fugir às
jurisdições nacionais, uma vez que as instâncias arbitrais não estão sujeitas ao enquadramento legal estadual.
Mais uma vez, a realidade contradiz o que afirmam os defensores do Acordo. As instâncias arbitrais
funcionam à margem do controlo democrático e são compostas não por juízes independentes mas por árbitros
escolhidos com base em — e cito — «conhecimentos especializados sobretudo no domínio do direito
internacional em matéria de investimento, do direito comercial internacional e da resolução de litígios no quadro
de acordos internacionais de comércio e investimento», como é afirmado no próprio Acordo. Ou seja, as
instâncias arbitrais são compostas por advogados de grandes escritórios ligados às multinacionais e aos seus
interesses.
Como foi afirmado na audição pública promovida pelo PCP, o ICS não está vocacionado para a defesa do
interesse público, mas para defender os interesses das transnacionais, colocando-os acima da soberania dos
Estados e do bem-estar dos trabalhadores e dos povos.
Perante tudo isto, acaso fosse ratificado, é legítima a pergunta: a quem serviria o CETA? O CETA serviria os
interesses do grande capital transnacional, não serviria nem os trabalhadores nem os povos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Foi precisamente para esconder a natureza, os propósitos, os objetivos e as
consequências que este Acordo encerra que as negociações entre o Canadá e a União Europeia foram feitas à
revelia e nas costas dos trabalhadores e dos povos. Esta é uma atitude bem reveladora do desrespeito pela
democracia e soberania dos Estados por parte da União Europeia.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
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A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Irei terminar, Sr. Presidente.
No passado dia 15 de fevereiro, o Parlamento Europeu aprovou o Acordo por maioria, apesar dos fortes
protestos que se fizeram sentir.
A Comissão Europeia pretende que o Acordo entre em vigor de forma parcial e provisória, ou seja, sem a
ratificação dos parlamentos nacionais.
O PCP rejeita categoricamente esta intenção, na medida em que tal constitui mais um inaceitável desrespeito
pela soberania dos Estados nacionais.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.
Srs. Deputados, o PCP continuará a lutar contra estes e outros acordos do chamado «livre comércio», porque
são lesivos dos interesses de Portugal e do povo português.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, já ultrapassou largamente o seu tempo.
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.
Reiterando a rejeição, da parte do PCP, deste e de outros acordos lesivos do interesse nacional e,
consequentemente, a rejeição da entrada em vigor provisória do CETA, afastamo-nos completamente da
posição assumida pelo Governo português de aceitação e de mais este condicionamento da Comissão Europeia.
Pugnamos, sim, por acordos de cooperação mutuamente vantajosos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada Carla Cruz, a Mesa registou a inscrição, para pedir
esclarecimentos, de quatro Srs. Deputados.
Como pretende responder?
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Dois a dois, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sendo assim, tem a palavra, em primeiro lugar, para pedir
esclarecimentos, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. JoséLuísFerreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, como disse, temos
muitas preocupações com o CETA, e temos motivos para isso, tanto ao nível da forma, como do conteúdo.
Quanto à forma, o CETA conheceu um processo no mínimo estranho: foi negociado na clandestinidade,
longe dos olhares dos cidadãos e nas costas dos europeus.
Creio que a natureza nada democrática e pouco transparente deste processo também nos mostra que este
Acordo não é nada bom para os cidadãos, porque, se fosse, não haveria motivos para o esconder.
Pretende-se, com o CETA, cristalizar modelos económicos pouco compatíveis com o progresso social e com
o desenvolvimento sustentável, porque o que interessa é não perturbar os lucros das multinacionais, custe o
que custar.
Bem podemos dizer que o CETA apenas procura dar resposta às exigências das multinacionais, seja através
da remoção de barreiras regulatórias, seja através da redução dos direitos laborais, seja através da redução de
padrões de exigência em áreas como a agricultura, seja através da abolição das restrições ao nível dos
organismos geneticamente modificados, seja através da criação de novos mercados, como, por exemplo, para
a água e a saúde, entregando, assim, serviços públicos ao voraz apetite das multinacionais.
Pretende-se, pois, mais liberalização e menos proteção social, e o que está em causa é uma tentativa de o
poder económico assaltar definitivamente o poder político. É disto que se trata.
Como muito bem disse a Sr.ª Deputada Carla Cruz, a Comissão Europeia fez entrar em vigor uma parte
significativa do Acordo mesmo antes de os Estados-membros se pronunciarem sobre a respetiva ratificação.
Ora, isto parece-nos absolutamente inacreditável.
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Mais: ninguém sabe, por exemplo, o que é que acontecerá àquelas matérias que entraram em vigor antes
dos processos de ratificação no caso de um dos Estados vir a recusar a sua ratificação e também ninguém sabe
qual é o tribunal competente para os litígios que se venham a verificar antes dos processos de ratificação, o que,
de facto, torna o processo ainda mais estranho.
Sr.ª Deputada Carla Cruz, não lhe parece que esta jogada — diria que é uma jogada baixa — da Comissão
Europeia de fazer entrar em vigor o CETA antes de os Parlamentos nacionais se pronunciarem sobre a sua
ratificação constitui uma forma absolutamente inadmissível de pressão e até de chantagem para obrigar outros
Estados a ratificarem um processo que deveria ser livre na decisão de cada Estado?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Lara
Martinho.
A Sr.ª LaraMartinho (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, cumprimento o PCP por ter trazido,
novamente, o tema do CETA a esta Assembleia e por mantê-lo na agenda política, o que permite, por um lado,
um debate aprofundado sobre este Acordo e, por outro lado, o contributo para o esclarecimento dos portugueses
sobre um tema que é tão complexo.
Sempre quisemos que este fosse um processo transparente, aberto, participado e, por isso, todos os debates,
todas as declarações e todas as perguntas são muito bem-vindas.
O próprio Governo tem feito um esforço no sentido de esclarecer os portugueses, tanto que hoje está a
decorrer um debate sobre o CETA no norte do País.
Para o PS, este é um Acordo importante para o nosso País, para a nossa economia, para as nossas
empresas, para as nossas comunidades e para a nossa população. Não é, sem dúvida, um Acordo perfeito,
mas é um Acordo que permitiu avançarmos em muitos aspetos, desde a introdução de um tribunal de
investimento permanente, com flexibilidade em termos de matéria de direitos laborais e ambientais, garantindo
e preservando o direito de os Estados legislarem em áreas de interesse público e com impactos imediatos na
economia portuguesa, através da eliminação de tarifas em setores como o do têxtil-lar, o do calçado, o do
imobiliário e o da cerâmica, bem como o reforço da quota de exportações de queijos, o que terá um impacto tão
importante para o nosso País e o reconhecimento das indicações geográficas.
Com a entrada em vigor deste Acordo, a nossa economia terá mais um mercado de oportunidades para
explorar, numa altura em que é fundamental às nossas empresas encontrarem novos mercados.
Por tudo isto, acreditamos que este Acordo trará um conjunto de benefícios para o nosso País.
Conhecemos, desde a primeira hora, a posição do Partido Comunista relativamente a este Acordo, que é
uma posição de muita reserva e com muitas questões. Mas, tendo em conta que tudo indica que o CETA entrará
em vigor dentro de pouco tempo, questiono a Sr.ª Deputada Carla Cruz sobre o seguinte: quais as salvaguardas
e quais as garantias que consideram que podemos ainda reivindicar no âmbito das comissões mistas que serão
criadas no domínio do CETA?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª LaraMartinho (PS): — A Sr.ª Deputada Carla Cruz disse que pugnavam por acordos amplamente
vantajosos, mas eu diria que este é um acordo contra os atuais bloqueios amplamente desvantajosos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Sr. Presidente, agradeço ao Sr. Deputado José Luís Ferreira e à Sr.ª Deputada
Lara Martinho as questões que me colocaram e começo, se me permite, Sr. Deputado José Luís Ferreira, por
responder à Deputada Lara Martinho.
A Sr.ª Deputada disse que este será um momento de oportunidade para o nosso País. Nada mais falso, Sr.ª
Deputada! Este não é, de facto, um mundo de oportunidades como o Acordo diz, como a Sr.ª Deputada tem
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afirmado, como o Partido Socialista e o Governo têm dito. É exatamente ao contrário; este é um mundo em que
se vai agravar ainda mais a situação dos trabalhadores e do povo português.
E se a Sr.ª Deputada quiser que lhe dê exemplos mais concretos, recordo-lhe aquilo que existe relativamente
ao Acordo, o que está, de facto, plasmado no Acordo, nomeadamente no capítulo 23, relativamente às leis
laborais. Não há, de facto, ali nenhuma excecionalidade para que se possa não nivelar por baixo, que é isso que
o Acordo prevê, mas, precisamente, aumentar esse nível de proteção.
Recordo-lhe, ainda, a não ratificação, por parte do Estado canadiano, das convenções da OIT. São várias as
convenções da OIT que não estão ratificadas pelo Estado canadiano e que têm enormes repercussões na vida
dos trabalhadores, nomeadamente dos trabalhadores portugueses.
Relativamente à questão do «sejamos bem-vindos ao debate», gostaria de lhe dizer o que teria acontecido
caso o projeto de resolução que o PCP apresentou na semana passada, que aqui foi discutido e votado, tivesse
tido a aprovação pelo menos do Partido Socialista.
Se o projeto de resolução que apresentámos tivesse sido aprovado, de facto rejeitava a entrada provisória,
que, Sr. Deputado José Luís Ferreira, foi um mecanismo que a União Europeia e a Comissão Europeia
encontraram de prosseguir não só o processo de chantagem, como muito bem referiu, como também a garantia
de que o Acordo entrava em vigor sem a ratificação, evitando o que aconteceu na Bélgica, designadamente no
Parlamento da Valónia, em que foi rejeitado este Acordo, sendo no entanto de frisar a chantagem de que aquele
povo e aquele Parlamento foram objeto no sentido de aceitarem esta imposição, de aceitarem mais este
condicionamento da União Europeia.
Portanto, com a aprovação do nosso projeto de resolução evitar-se-ia que houvesse um efeito de
contaminação, um efeito dominó, no sentido de que se um parlamento rejeitasse, os outros parlamentos
rejeitassem também e que o Acordo fosse metido na gaveta…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.
O PCP bater-se-á, pois, pela rejeição deste Acordo, pelos seus conteúdos, pela sua natureza, pelos
propósitos que ele encerra e, sobretudo, pelos riscos que ele acarreta para Portugal e para os trabalhadores
portugueses.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Segue-se um segundo conjunto de três pedidos de
esclarecimento, porque, entretanto, houve mais uma inscrição para o efeito.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, este é, felizmente, mais
um debate que estamos a ter a ter aqui sobre a política comercial da União Europeia, neste caso sobre o CETA
— já falámos também de um conjunto de outros acordos comerciais.
Digo «felizmente», porque isso permite-nos sempre debater, trocar argumentos, mesmo que sejam
diferentes, mas, infelizmente, os vários debates — se não me falha a memória, penso que este será já o sexto
debate sobre este tema em Plenário — não permitiram ainda uma coisa, que é esclarecer o Partido Comunista
Português sobre um conjunto de aspetos que entendemos ser pedagogicamente importante reiterar.
Diz a Sr.ª Deputada que este Acordo vai implicar um conjunto de alterações a nível das políticas públicas, na
área da saúde, na área da educação… Não Sr.ª Deputada! E não sou eu que o digo, foi exatamente uma Sr.ª
Secretária de Estado e o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo que o Partido Comunista Português
apoia, que já cá vieram várias vezes explicar isso.
Mesmo em matérias muito sensíveis e muito importantes, que têm a ver, por exemplo, com a mobilidade de
trabalhadores, que têm a ver com um conjunto de regras internacionais sobre os trabalhadores, como
convenções da OIT, sabemos que o Canadá tem vindo, felizmente, a subscrever muitos desses mesmos
acordos e muitas dessas convenções que a OIT tem vindo a lançar e que Portugal já ratificou.
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Mas, Sr.ª Deputada, confesso que, depois de ouvir a sua intervenção, só tenho uma pergunta para lhe fazer.
Já percebemos que o Partido Comunista é completamente contra a agenda comercial da União Europeia – aliás,
que eu saiba, o Partido Comunista nunca foi a favor de um acordo de comércio internacional. Mas, Sr.ª
Deputada, quem está neste momento a trazer esse Acordo ao Parlamento português é o Governo que a Sr.ª
Deputada apoia, o Governo que a Sr.ª Deputada suporta com o seu voto aqui, neste Parlamento.
Por isso, a pergunta que lhe faço Sr.ª Deputada é a seguinte: até onde é que vai a vossa contestação ao
CETA? É que como muitas vezes o PCP diz, se quiserem «levar a luta» até ao voto, então, se calhar, a Sr.ª
Deputada podia ameaçar o Governo que suporta, dizendo-lhe que se passar essa linha do CETA o Partido
Comunista retira o apoio ao Governo.
E, pois, essa a pergunta muita concreta que lhe faço Sr.ª Deputada. Ou, afinal, como alguém aqui dizia, os
senhores vão fazer tudo para percebermos que, no fim, o que estão a fazer é a fazer de conta?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada
Isabel Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, agradeço a oportunidade para
voltarmos a debater este assunto.
Gostaria de fazer um pequeno exercício de imaginação que, prometo, não vai ser muto difícil. Imaginemos
que, há uns anos, enquanto ainda era possível debater seriamente este assunto, antes da ratificação por parte
do Parlamento Europeu, se tivéssemos reunido, se o Parlamento português e o Governo da altura tivessem
ouvido as organizações, iriamos perceber que a Comissão Nacional de Proteção de Dados está contra o Acordo,
a Ordem dos Médicos está contra o Acordo, a DECO está contra o Acordo, a Quercus está contra o Acordo, o
Sindicato dos Magistrados do Ministério Público está contra o Acordo. Teríamos visto até que a Associação
Europeia de Juízes está contra o Acordo. E não teríamos o PS, o PSD e o CDS a não quererem continuar a não
debater o conteúdo do Acordo. É isso que continua, neste momento, a acontecer.
O Bloco de Esquerda realizou, desde há uns meses, dezenas de reuniões com várias organizações e a
primeira coisa que disseram foi que nunca antes tinham sido ouvidas por nenhum Governo sobre o assunto, o
que demonstra, desde logo, o que temos vindo a dizer sobre o tipo de negociação e para quem é que esta
negociação foi feita.
Em segundo lugar, dos relatórios existentes, percebemos que a esmagadora maioria das reuniões da
Comissão Europeia foram com multinacionais e não com este tipo de organizações.
Portanto, voltamos a reiterar a necessidade de ler o conteúdo do Acordo, porque do que estamos a falar é
de um Acordo que vai ter consequências práticas na vida diária dos nossos cidadãos, aqui, em Portugal, mas
também em toda a União Europeia.
Veja-se, em primeiro lugar, a estrutura do Acordo: no campo laboral, prevê alterações para alcançar o
objetivo, que é o lucro; no ambiente, não é vinculativo e não permite a discriminação positiva de tecnologias, o
que implica maior poluição.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Para terminar, Sr. Presidente, coloco a seguinte questão: no meio de todo este
conteúdo, que alguns analisam e outros querem continuar a não analisar e a não querer discutir, de facto, a
entrada em vigor provisória da grande maioria do Acordo significa mais uma pressão e mais uma chantagem
por parte da Comissão Europeia relativamente aos povos.
Isto é, de facto, bem revelador do espírito com que se fez este Acordo, cujos propósitos e objetivos
continuamos a rejeitar.
Aplausos do BE.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para um último pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr.
Deputado Duarte Marques.
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, depois de ouvir a intervenção
do PCP sobre o CETA — aliás, já é a sexta vez que este tema é aqui debatido; pelo menos, o Bloco e o PCP,
de certeza, não dizem que o tema não foi debatido — continuo a achar que o PCP nem sequer leu ou nem
sequer teve acesso aos dados sobre o CETA. É que, quando diz que este Acordo foi feito nas costas dos
europeus,…
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Nas costas dos cidadãos!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — … eu gostava de saber o que é que Eurodeputados do PCP andam
a fazer em Bruxelas, de quem até tenho uma imagem de serem gente competente.
E até quero dizer mais: o presidente da Comissão que começou a negociar o CETA até era um militante do
PCP há alguns anos, o Prof. Vital Moreira.
Protestos do PCP.
Portanto, dizer que o CETA não foi negociado ou que foi negociado nas costas dos europeus não é verdade!
Depois, os senhores vêm dizer que o CETA não traz mais garantias aos cidadãos, que não tem garantias
ambientais, que não tem garantias para os trabalhadores, que não tem garantias para dirimir conflitos… Dizer
isto é sinal de que não conhecem o Acordo, porque, no fundo, os Deputados do PCP e do Bloco de Esquerda
não estão contra este Acordo nem por esta nem por aquela razão, estão contra o comércio internacional.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Está a expor-se ao ridículo!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Os Srs. Deputados são contra a União Europeia e não têm coragem
de o assumir. E são contra este Acordo, porque são contra o comércio livre.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vá informar-se!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD). — Disseram durante muitos anos que a globalização era selvagem, que
a globalização não tratava todos por igual e, agora, que há regulação para a globalização, que há um conjunto
de regras que têm de ser respeitadas por todos, por ambas as partes, quando isto é tratado à frente dos olhos
dos europeus, que tem até a particularidade de ser um Acordo inovador por ser ratificado no Parlamento
Português e em todos os parlamentos nacionais, os senhores voltam a ser contra!
Os senhores não são contra este Acordo, são contra o comércio livre, são contra o comércio internacional
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não diga disparates!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — E, Sr.ª Deputada, vou dizer-lhe o seguinte: todos os argumentos que
os senhores usam são, na sua maioria, falsos. É como dizerem que o Acordo entra em vigor. O Acordo não
entra em vigor na sua totalidade, porque a única parte do Acordo que entra em vigor, antes de ser ratificado
nesta Assembleia, é a parte em que a soberania portuguesa…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Termino já, Sr. Presidente.
Como acontece com todos os acordos mistos, a única parte que entra em vigor é aquela que não é
competência dos países e dos Estados-membros, que foi delegada na União Europeia pelo Partido Socialista,
que aqui está, e pelos outros partidos que são a favor da União Europeia.
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A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Não diga disparates!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Por isso, Sr.ª Deputada, a pergunta que lhe deixo, para terminar, é
muito simples: os senhores estão de que lado? Estão do lado daqueles que querem uma globalização regulada
ou estão do lado dos isolacionistas, como a Sr.ª Le Pen ou o Sr. Trump, que, em Bruxelas, votam sempre todos
juntos, ou seja, a extrema-esquerda e a extrema-direita europeias? É aí que os senhores querem ficar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder a estes três pedidos de esclarecimento, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, em primeiro lugar, quero agradecer aos Srs. Deputados Mota
Soares, Isabel Pires e Duarte Marques as questões que me colocaram.
Sr.ª Deputada Isabel Pires, acusam-nos de não conhecer o conteúdo do Acordo, mas aquilo a que nós
assistimos, de facto, é que PSD e CDS sobre o conteúdo concreto do Acordo nada dizem.
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Os senhores é que não ouvem!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Nós estamos habituados à superficialidade do que vem desses lados, das
bancadas do PSD e do CDS, no que respeita a estes acordos.
Mas vamos às implicações que este Acordo tem para Portugal, que, de facto, são muitas.
Por exemplo, na área da agricultura vai-se desregular o modelo produtivo tradicional que, por um lado,
preserva a agricultura de subsistência, a pequena agricultura, que tem implicações e tem melhorias em termos
do impacto ambiental, e também ao nível da saúde dos consumidores, porque não utilizamos, ao invés do que
acontece no Canadá, disruptores endócrinos, que têm implicações seríssimas na saúde pública, não utilizamos
OGM, não utilizamos cloratos no tratamento das águas. Estas são, de facto, implicações que irão ter na saúde
pública caso este Acordo veja a luz do dia.
Mas o Acordo também tem implicações nos serviços públicos, porque, mais uma vez, só quem não leu o
Acordo e quem, de facto, faz uma leitura cega e obsessiva de defesa daqueles que não são os interesses
nacionais é que pode dizer que os serviços públicos da educação, da saúde, da segurança social, dos
transportes são salvaguardados, porque o que está no Acordo são umas listas negativas muito reduzidas e não
há qualquer salvaguarda de que aquilo que, hoje, já foi privatizado ou concessionado possa voltar à esfera
pública, inibindo a ação de governos legitimados pelo povo, que atuem em defesa dos interesses nacionais.
Mas também sabemos, Srs. Deputados, que PSD e CDS nunca governaram em defesa dos interesses
nacionais. Sabemos muito bem que estiveram sempre subjugados aos condicionalismos e às imposições da
União Europeia. Mas também registamos, Sr. Deputado Pedro Mota Soares, que diz ter sido o CDS que deu a
mão ao PS quando votou contra o projeto de resolução que o PCP aqui apresentou.
O projeto que aqui apresentámos rejeitava a entrada em vigor provisória do Acordo. Ora, cerca de 90% do
seu conteúdo entra agora em vigor e não uma parte ínfima, como o Sr. Deputado Duarte Marques disse.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — De facto, continuamos a rejeitar a sua natureza e os seus objetivos. Somos, sim,
favoráveis a acordos de cooperação mutuamente vantajosos, em que estejam salvaguardados o interesse e a
soberania nacionais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma declaração política, em nome do Grupo Parlamentar
do PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Serra.
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O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: «Em 2016, é expectável uma variação
negativa do valor acrescentado bruto (VAB) do ramo agrícola, quer em termos nominais — -7,7% —, quer em
termos de volume — -9,7% —, interrompendo-se, deste modo, a tendência de crescimento em volume
observada desde 2011».
Esta afirmação não é minha, não é do PSD. É, Srs. Deputados, do destaque do Instituto Nacional de
Estatística (INE) na primeira estimativa que fez sobre as contas económicas da agricultura para 2016.
A dinâmica económica que o setor agrícola ganhou nos últimos anos, em particular nos anos de crise, em
termos de investimento privado e de crescimento das exportações agroalimentares, está em risco, e está em
risco perante estas políticas desconexas e preconceituosas do atual Governo.
Ao estar refém da extrema-esquerda, consequência do acordo político em que utilizou a agricultura como
moeda de troca para uma sustentação governativa, este Governo aceita e apresenta propostas impensáveis
para um mundo rural dinâmico, moderno, atrativo e sustentável.
O retrocesso na lei dos baldios, imposto pelo PCP; a cedência à chantagem do Partido Ecologista «Os
Verdes» e do Bloco de Esquerda sobre a plantação de eucaliptos, a imposição do PCP sobre a reavaliação de
prédios rústicos com mais de 50 hectares, cujo resultado será o aumento de impostos, são bons exemplos desse
preconceito retrógrado e bafiento.
O Governo aceita estas políticas, que, longe do saber da ciência e da inovação, conferem sinais errados aos
produtores e aos investidores, condicionando a rentabilidade da atividade agrícola, o rendimento dos produtores
e o crescimento da produção nacional.
Srs. Deputados, como é que com estas medidas se pode defender a produção nacional, se podem defender
os agricultores portugueses?
Como é que, limitando o crescimento do setor agrícola, se pretende equilibrar a balança agroalimentar em
valor já em 2020 como é objetivo do atual Governo? Como, Srs. Deputados?!
Srs. Deputados, o Governo perdeu o rumo. Anuncia, com bastante frequência, o que já existe, promete sem
consequência, altera o que está bem sem fundamento e com base em critérios pessoais.
Enquanto no passado se reconhecia o mérito dos dirigentes do ministério, hoje descartam-se, exoneram-se
e demitem-se dirigentes com justificações despudoradas e contraditórias. Aliás, como aconteceu recentemente
com o Presidente do IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas) e toda a sua equipa, a quem o
Governo invocou «menor performance» e ser necessário «uma gestão mais dinâmica».
Ironicamente, a equipa foi afastada um dia antes de ser público que o IFAP ficou em primeiro lugar no ranking
europeu de execução financeira do FEAGA (Fundo Europeu Agrícola de Garantia), isto é, o primeiro pilar da
PAC.
Afinal, qual é a gestão dinâmica que este Governo pretende fazer?! É continuar a reter os fundos aos
agricultores, como tem feito no Programa de Desenvolvimento Rural?! É continuar a excluir candidaturas a esse
mesmo Programa, porque muda as regras de valorização a meio do processo, como tem acontecido por este
País fora e nos diversos setores agrícolas?! É continuando a fraca execução no investimento, que não passou,
no ano de 2016, dos 20% e que inibiu os empresários agrícolas de serem mais evoluídos e competitivos?! É
continuando a não apostar nos jovens agricultores, quando só abriu as candidaturas no final do ano passado e
que significou que a execução dos apoios a estes jovens apenas tenha ficado nos 12%, invertendo aquilo que
são os novos desafios da PAC, onde um dos objetivos é a renovação geracional?! É ter desprezado a aposta
nas organizações de produtores, retirando os incentivos a que os produtores se associem e possam ser mais
competitivos no mercado global, exatamente ao contrário do que se passa na restante Europa?! É somente vir
anunciar «aos sete ventos» um plano de agricultura biológica e depois não criar os instrumentos de políticas
públicas essenciais para cumprir esse objetivo?! É querer fazer uma espécie de reforma da floresta onde se
esquece dos proprietários, do valor do setor e do ordenamento do território integrado?! É não conseguir sequer
o consenso do setor relativamente a essa pseudorreforma, mas também não conseguir dos partidos que
suportam esse Governo, como é o caso do Bloco de Esquerda, que já apresentou propostas alternativas a essa
reforma?! É querer fazer uma reforma da floresta mas num ano e meio de governação apenas assinar 485
contratos de investimento florestal dos 6704 que deram entrada?! É não dar dinheiro para investir na floresta
mas querer que todos acreditem na bondade da sua reforma?!É ter parado, durante um ano e meio, o
investimento no Plano Nacional de Regadios, não avançando com os investimentos já aprovados e continuar a
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apregoar projetos de milhões na comunicação social, mas deixando um País totalmente parado e necessitado
destas estruturas?!
Aplausos do PSD.
Sr.as e Srs. Deputados: O setor agrícola merece mais e melhor. Portugal precisa de agricultores investidores
que sejam maiores na produção agrícola sustentável e na preservação da coesão territorial e social.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Vou terminar. Sr. Presidente.
O mundo rural precisa de políticas públicas fortes, sem dirigismos extremos alheios ao mundo rural.
A agricultura não precisa de políticas preconceituosas sem futuro, nem horizonte, precisa de políticas que
incentivem e motivem os agricultores a continuar o caminho que fizeram até hoje.
Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado Nuno Serra, inscreveram-se dois Deputados para
pedidos de esclarecimento. Como pretende responder?
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, respondo aos dois em conjunto.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr.
Deputado Carlos Matias, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, agradeço ao Sr. Deputado Nuno Serra ter trazido a este debate
o tema da agricultura, porque, de facto, é um setor muito importante.
Esperaria ouvir ideias novas, mas o que ouvi foram considerações gerais e acusações sem fundamento. Mas
vamos ao concreto, porque é no concreto que nos entendemos ou desentendemos.
Está aberta a discussão sobre o futuro da PAC após 2020. Como se sabe, a política agrícola comum (PAC)
ao longo dos anos tem beneficiado sobretudo os grandes proprietários, abandonando à sua pouca sorte a
pequena agricultura, sobretudo a pequena agricultura de base familiar.
Os primeiros sintomas, os primeiros indícios, do que vem aí com a nova PAC são muito preocupantes. Ainda
há pouco, escrutinámos, na Comissão de Agricultura, um diploma europeu sobre estatísticas agrícolas que, pura
e simplesmente, apagava as propriedades abaixo de 5 ha, ou seja, apagava das estatísticas a maior parte das
pequenas explorações agrícolas do nosso País.
Para nós, que defendemos que a reforma da PAC vá no sentido de privilegiar a pequena agricultura e a
agricultura familiar e o ordenamento e a diversificação florestal, de facto o que ameaça vir não é muito positivo.
Portanto, perguntamos: e o PSD? Vai defender que continue a velha PAC, defendendo e privilegiando os
mesmos de sempre? Quais são, então, os novos desafios para o PSD?
Segunda questão: o setor do leite, no nosso País, vive de uma permanente penúria desde o fim das quotas,
em 2015. O mercado resolveria tudo e faria a regulação — é o liberalismo à moda do PSD. Não o fez! Hoje,
sabemos que, além dos problemas decorrentes da situação internacional, a grande distribuição esmaga os
preços dos pequenos produtores e leva-os à ruína. Pergunto: quais são as propostas concretas do PSD para
pôr a grande distribuição na ordem e defender estes rendimentos?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Também para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra
a Sr.ª Deputada Júlia Rodrigues, do Partido Socialista.
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A Sr.ª Júlia Rodrigues (PS): — Sr. Presidente, cumprimento o Grupo Parlamentar do PSD por trazer o tema
da agricultura e florestas a esta Assembleia.
Concordo com o Deputado Nuno Serra relativamente à pertinência desta temática para Portugal e para os
portugueses. Lamentamos, porém, o evidente afastamento da realidade dos setores agroindustriais e florestais
de que fala.
Lamentamos que não consigam ver para além do horizonte partidário e que não se congratulem com o
dinamismo dos nossos empresários agrícolas e florestais.
Lamentamos que não se congratulem com as conquistas deste Governo, no País, na Europa e no mundo.
Lamentamos a confusão que persiste entre conceitos, políticas e execução das mesmas. Os números falam
por si, Sr. Deputado, contra factos não há argumentos. Contra factos não há argumentos porque as exportações
do setor agroalimentar ascenderam a 6,3 mil milhões de euros em 2016.
Temos um novo pacote legislativo de reforma das florestas, que responde aos grandes desafios da floresta
em áreas críticas. Temos, finalmente, uma estratégia nacional e um plano nacional de ação para a agricultura
biológica com eixos, com plano estratégico bem elaborado.
O Governo tem privilegiado a ação do PDR 2020 (Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020). Vejamos
que, até finais de janeiro, havia 32 213 candidaturas com 88% de candidaturas analisadas, 16 200 candidaturas
decididas, 8494 projetos contratados. Sabe que, em novembro de 2015, tínhamos zero projetos contratados?
Em relação à PAC, Portugal, França e a Polónia foram os primeiros países a tomar posição escrita na
consulta pública da revisão da nova PAC. O Governo português tem definido uma estratégia para a discussão
da nova PAC.
Falou o Sr. Deputado em propostas impensáveis colocadas por este Governo. Impensáveis para o Sr.
Deputado, porque não pensa com ambição o futuro da agricultura e a qualidade de vida dos nossos agricultores.
Trata-se de acusações infundadas e injustificadas do Sr. Deputado, para quem quanto pior, melhor. Enganam-
se. O setor agrícola é um setor muito produtivo. Convido-o a fazer uma reflexão profunda, a estudar as
estatísticas, a falar com as organizações de produtores, a reler os documentos, como a estratégia nacional, e a
consultar os sites disponíveis.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder aos pedidos de esclarecimentos, tem a palavra
o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, quero agradecer ao Deputado Carlos Matias e à Deputada Júlia
Rodrigues as questões que me colocaram.
Sr.ª Deputada Júlia Rodrigues, é verdade, é mesmo nos dados do INE, no site do PDR e nos dados
fornecidos pelo atual Governo que nos baseamos. Sr.ª Deputada, deixe-me dizer-lhe que, em 2014, o
investimento, para os agricultores, foi da ordem dos 317 milhões de euros. A Sr.ª Deputada sabe quanto é que
foi em 2016? Foram 200 milhões de euros — são 117 milhões de euros de diferença.
A Sr.ª Júlia Rodrigues (PS): — Está enganado!
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sabe o que isso significa para os homens que andam a trabalhar a terra e a
apostar naquilo que é o primeiro setor, um setor importantíssimo e que vale 3,7% do valor acrescentado da
economia portuguesa?
Mas, mais, Sr.ª Deputada: foi com o aumento do gasóleo agrícola que os senhores beneficiaram este setor?
Foi com o aumento do imposto das bebidas açucaradas, que tem criado graves problemas às nossas indústrias
agroalimentares, que os senhores decidiram melhorar este setor?
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Mais, Sr.ª Deputada: é com os 12% de execução nas candidaturas dos jovens
agricultores que os senhores estão a apostar no futuro da agricultura portuguesa?
Sr.ª Deputada, estou a falar daquilo que está nos mapas do PDR (Programa de Desenvolvimento Rural), não
estou a falar de cor. Não é o PSD que o diz nem Nuno Serra, é o PDR, é a Autoridade de Gestão.
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Mais, Sr.ª Deputada: sabe que o Sr. Ministro da Agricultura disse aqui, em fevereiro, que tinha executado
27% do Programa de Desenvolvimento Rural. Sabe o que disse a Autoridade de Gestão nomeada pelos
senhores, passadas duas semanas? Disse que só tinham executado 23%, ou seja, menos 4%. Sabe quanto é
que isso representa para a agricultura? Representa 148 milhões, repito, 148 milhões a menos do que aquilo que
o Sr. Ministro diz.
Sr.ª Deputada Júlia Rodrigues, o PS ainda tem um grande caminho a percorrer para construir uma opção
viável, uma opção certa para o setor agrícola.
Sr. Deputado Carlos Matias, permita-me que lhe diga aquele que é o grande desígnio da PAC. O grande
desígnio da PAC não é ajudar os grandes nem os pequenos, é ajudar os consumidores, para que possam ter
comida mais barata no prato, para que possam ter produtos de melhor qualidade a preços mais acessíveis.
O Sr. Deputado diz que a PAC não está no caminho certo, mas o senhor tem uma boa solução: em vez de
se demitir da responsabilidade de discutir esses assuntos, dizendo que não quer estar na Europa, em vez de
não querer dinheiro da PAC, porque sem esse dinheiro não existiam agricultores, nem pequenos, nem grandes,
não existia agricultura em Portugal, seja responsável, apresente alternativas, apresente propostas e lute por
aquilo que todos queremos, que é uma PAC melhor, uma PAC que sustente melhor a agricultura quer nos países
do norte da Europa, quer nos do centro ou mesmo nos do sul da Europa.
Esse é o grande desafio que este Parlamento e o Governo português têm nos próximos anos: apresentar
propostas e ter uma PAC ao nível dos desafios que Portugal enfrentará nos próximos anos. E está nas suas
mãos, Sr. Deputado: em vez de se demitir dessa responsabilidade, trabalhe para ela!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Nuno Serra, trouxe-nos hoje aqui um tema
importante, o tema da agricultura, e trouxe-nos a posição do PSD, que, na oposição, não é muito diferente
daquela que tinha no Governo, apresentando um conjunto de perspetivas,…
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Felizmente! Obrigado!
O Sr. João Ramos (PCP): — Agradeça-me quando eu acabar, por favor, Sr. Deputado.
Como estava a dizer, apresentou aqui um conjunto de perspetivas de sucesso que, se calhar, podem ser
facilmente verificadas no agronegócio, na grande produção, mas esquecem a pequena agricultura, a agricultura
familiar. E fazem-no hoje, na oposição, como o fizeram quando eram Governo, ignorando precisamente estas
dificuldades.
Vem o Sr. Deputado falar aqui em sucesso, com o contributo do PSD e do CDS, que até tinham um ministério
próprio, esquecendo os milhares de postos de trabalho que se perderam na agricultura enquanto os senhores
estiveram no Governo, e que se continuam a perder, e esquecendo que uma parte desse sucesso, infelizmente,
está associado, não se consegue desligar de notícias em torno do trabalho ilegal, do trabalho escravo na
agricultura. Mas sobre estas matérias o Sr. Deputado não disse nem uma palavra.
O Sr. Deputado certamente não gostará de que quem pode mais pague mais e quem pode menos seja
protegido. Os senhores não fizeram isso enquanto foram Governo e agora também não querem que se faça.
O Sr. Deputado falou nos jovens agricultores e, já agora, gostava que nos dissesse quais são os números
relativos aos jovens agricultores, porque a Sr.ª Ministra da altura, Assunção Cristas, nunca nos disse o número
de jovens agricultores e a percentagem que, passados os cinco anos de instalação obrigatória, permanece na
agricultura.
Não disponho de muito tempo, Sr. Deputado, mas, no âmbito do sucesso da vossa governação, ainda
podemos falar das visitas que a Comissão de Agricultura fez ontem. De cada vez que o PCP apresentava aqui
iniciativas para terminar os projetos do Mondego e do Baixo Mondego, o PSD dizia que não era preciso,…
Protestos do PSD.
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… que estava a ser feito, mas ontem fomos ao terreno e, afinal, o que os agricultores nos disseram é que há
ainda tanto, tanto para fazer. Ficou a promessa da então Ministra Assunção Cristas, que os senhores apoiavam,
de fazer um programa de valorização do arroz carolino, de que os agricultores ainda hoje estão à espera.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Ramos (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
O Sr. Deputado falou ainda num tema essencial, que é o do investimento e da necessidade de investimento.
O PCP acompanha essa preocupação da necessidade de investimento, e diz que, para haver investimento no
nosso País, precisamos de enfrentar um conjunto de constrangimentos, os quais têm a ver com as regras
orçamentais, com a dívida pública. E o Sr. Deputado? Quais são os constrangimentos que está disponível para
enfrentar, de modo a que haja disponibilidade de investimento em Portugal, nomeadamente na agricultura
portuguesa?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para um último pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Patrícia Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Nuno Serra, queria também felicitá-lo
por trazer o tema da agricultura a este debate, que tão poucas vezes é aqui trazido e é tão importante para o
País.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Deputado, a questão que tenho para lhe colocar tem a ver com as
exportações de produtos agroalimentares.
Em 2011, quando chegámos ao Governo, havia 39 produtos habilitados para exportar para fora da União
Europeia. Quando saímos do Governo, deixámos 207 dossiers de produtos habilitados para exportar para mais
de 80 países.
Aquilo que lhe queria perguntar, Sr. Ministro…
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Ainda não!
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Ainda é cedo!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Peço desculpa, Sr. Deputado, ainda não.
Como estava a dizer, aquilo que lhe queria perguntar era se conhece alguns mercados que este Governo
tenha aberto por sua iniciativa, sem ser a reboque daqueles que a própria Comissão Europeia abre e sem ser
aqueles que deixámos previamente planeados.
O Sr. João Ramos (PCP): — Planeados…! Aplicados, nada!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Uma outra questão, e corroborando os números que aqui nos trouxe,
tem a ver com um documento divulgado ontem pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral,
que, aliás, também tem sido divulgado por muitas outras entidades, segundo o qual, de 2011 a 2015, as
exportações de todo o setor agroalimentar aumentaram a uma taxa superior à do resto da economia e o
investimento no setor agrícola, de 2010 a 2015, aumentou 13%, enquanto que, no total da economia, baixou
5,8%. São dados do Governo, do Gabinete de Planeamento.
A esquerda acusa muito o Governo anterior, e, portanto, o PSD e o CDS, de só defender a grande agricultura.
E, de facto, vem muito a propósito aquilo que o Deputado Carlos Matias aqui trouxe,…
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O Sr. Carlos Matias (BE): — Sim, sim! Isso, isso!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — … ou seja, o facto de a Comissão de Agricultura ter escrutinado as
estatísticas europeias. É que relembro, Sr. Deputado, fui eu, foi o CDS que, na Comissão de Agricultura,
sinalizou esse regulamento para escrutínio. Nenhum dos outros partidos o considerou relevante, porque não
tomaram a devida atenção.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Para terminar, Sr. Presidente, pergunto ao Sr. Deputado Nuno Serra
se acha que, de facto, as políticas deste Governo, que só privilegiam os pequenos agricultores — e são
relevantes, são importantes e têm de ser protegidos, mas não só —, que se dirigem apenas à pequena
agricultura, permitem continuar com os resultados tão bons que o setor e o País conseguiram atingir nos últimos
anos, à custa do esforço dos agricultores e do setor agroalimentar.
Aplausos do CDS-PP e do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder a estes dois pedidos de esclarecimento, tem a
palavra o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca e Sr. Deputado João Ramos,
antes de mais, agradeço as questões que colocaram.
Começo por dizer ao Deputado João Ramos que temos uma grande diferença…
O Sr. João Ramos (PCP): — É verdade!
O Sr. Nuno Serra (PSD): — … e nem é ideológica, é mesmo de princípio. É que o trabalho que fazemos é
para que os pequenos sejam sempre maiores e possam ser grandes e para que os grandes cresçam mais. Para
os senhores, a ideologia que prevalece é a de que os grandes passem a ser pequenos e os pequenos continuem
pequenos.
Sr. Deputado, não é isso que queremos da agricultura portuguesa. Queremos que todos tenham mais e não
que os que têm mais passem a ter menos. Não é assim que funcionamos!
Aplausos do PSD.
Mais: esperava que o Sr. Deputado, porque sabe que quem pagou tudo aquilo que foi atribuído aos pequenos
agricultores — houve uma reprogramação e puderam ter mais — foi o IFAP, viesse hoje aqui e criticasse este
Governo pela forma como demitiu a administração do IFAP, que, afinal, até estava a fazer um bom trabalho.
Mas o que é importante perceber é que, para o PCP, afinal, o mérito e os elogios não cabem, quando se trata
de pessoas e dirigentes ligados aos partidos de direita ou mesmo ao PS, porque este presidente do IFAP já
exercia funções antes do anterior Governo.
Portanto, Sr. Deputado, o que lhe quero dizer é que, para o PSD, há pequenos e grandes agricultores — é
verdade! — e todos têm a sua importância naquela que é a diversidade da agricultura portuguesa. E o Sr.
Deputado há de explicar-me como é que, aumentando os impostos para aqueles proprietários que têm mais de
50 ha, está a beneficiar os pequenos proprietários ou apenas a prejudicar os grandes. É que há proprietários
que passaram uma vida inteira a amealhar para comprar terras, para poderem ter mais de 50 ha, e o Sr.
Deputado, hoje, vai estragar tudo aquilo que amealharam uma vida inteira, tudo aquilo em que trabalharam uma
vida inteira para poderem ter mais, para poderem ser melhores, para poderem ter mais rentabilidade. Isso é uma
injustiça! É uma injustiça que vai ficar nas costas do PCP! É um preconceito ideológico que não tem cabimento
naquela que é a agricultura de hoje.
Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca, como diz, e muito bem, é verdade que houve uma retração na procura de
novos mercados. É verdade, é indiscutível! Este Governo olhou para a agricultura, fechou-se no «casulo» e daí
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não quis sair. Avulsamente, consegue fazer umas exportações para países terceiros, mas, na realidade, a
política que nos levou ao crescimento da indústria agroalimentar e das suas exportações acabou. E os dados
são claros, basta ver quanto é que as exportações agroalimentares cresceram em 2016. E cresceram 3,3%,
quando, em 2013 e 2014, cresciam a um ritmo de 7,5%. Isto é impressionante! Quando o País precisa de
equilibrar a balança comercial alimentar e tem o objetivo de a equilibrar, em valor, até 2020, estamos a abrandar
o ritmo de crescimento das exportações agroalimentares.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Vou já terminar, Sr. Presidente.
E perguntam-me: será que a culpa é dos mercados externos? Direi que não, que a culpa continua a ser da
política preconceituosa deste Governo, que tem cedido àquelas que são, realmente, as exigências da esquerda
radical.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado
Eurico Brilhante Dias.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Partido Socialista disse ainda há
pouco que, nas declarações políticas do dia de hoje, voltaria a abordar questões do Novo Banco, em particular
porque os portugueses, nestes últimos dias, souberam que mais um problema do setor financeiro se encaminha
para ser solucionado e, por isso, é importante que, nesta semana, cada partido político possa afirmar o
entendimento que tem sobre essa solução em função do contexto que o Governo do Partido Socialista encontrou
para resolver o problema.
E, Srs. Deputados e Sr. Presidente, a nossa primeira conclusão evidente é a de que a solução apresentada
para a alienação do Novo Banco é a menos má, a partir de um ponto de partida péssimo. Sublinho: a solução é
a menos má, a partir de um ponto de partida péssimo.
Esta conclusão, a de que a solução é a menos má, é porque, acima de tudo, acautela o enorme esforço que
o Governo português tem feito para reconduzir a economia portuguesa a um período de crescimento económico,
de redução do desemprego, de redução do défice e, igualmente, de redução progressiva da dívida.
Portugal vive um momento inédito na última década. Os dados de evolução do PIB em cadeia e em termos
homólogos mostram não só crescimento, mas um crescimento saudável, onde cresce não só a procura interna
mas também as exportações, onde cresce o investimento público e privado em 2017.
Segundo dados do INE, em fevereiro, ou seja, no espaço de um ano, Portugal viu nascerem ou crescerem
127 000 novos empregos. É um registo que é bem a marca programática, é bem a marca identitária do Partido
Socialista quando está no Governo.
Aplausos do PS.
O cumprimento dos objetivos orçamentais, a par de uma trajetória descendente da dívida são aspetos
centrais para reforçar a confiança dos cidadãos, empresários e consumidores na trajetória de governação mas
também para que o mercado secundário, para que quem investe em dívida pública, acredite nesta trajetória.
As tensões em torno da dívida não parariam se não resolvêssemos este problema. A estabilização do setor
financeiro é crucial para estabilizar a dívida. É fundamentalmente nesta medida que temos de olhar a solução
que foi encontrada para o Novo Banco.
O Governo PSD/CDS deixou um sistema financeiro com escassez de capital e com uma estratégia de
progressivo reconhecimento de imparidades, não tendo percebido que as tensões em torno do sistema
financeiro colocariam Portugal no radar dos mercados financeiros e empurrariam Portugal para uma nova
situação difícil.
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Adiar a solução do Novo Banco em 2015, adiar e não resolver, colocou Portugal numa circunstância muito
difícil, onde a desconfiança sobre a trajetória de dívida é questionável porque, em particular, continuam por
resolver as questões centrais do sistema bancário.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, o PSD e o CDS sabem-no bem: o assunto não só passou ao lado do
Conselho de Ministros, como não constituiu de todo uma prioridade política, durante os quatro anos desse
Governo. Foi um erro. E foi um erro que o Governo do Partido Socialista teve de enfrentar, em particular quando
continuamos num esforço de redução de défice orçamental, ao mesmo tempo que temos de garantir uma
trajetória sustentável da dívida pública.
É perante este cenário que emerge o caso do Novo Banco. Uma venda falhada em 2015, um side bank com
ativos depreciados de 7,8 mil milhões de euros; necessidades urgentes de capital na ordem dos 1000 milhões
de euros, ou seja, uma tarefa árdua de vender um banco com mais imparidades para registar, com mais
necessidades de capital, e ainda com uma forte litigância em torno de um processo de resolução novo e nunca
experimentado na Europa. Mas mais: com um compromisso assumido pelo Governo PSD/CDS, junto da
Comissão Europeia, de alienação do banco até 3 de agosto de 2016, firmando aí que o Estado sairia
integralmente do Novo Banco.
Esses compromissos foram assumidos pelo Estado português, pelo Governo PSD/CDS, representando o
Estado português junto da Comissão Europeia, e que coube ao Governo do Partido Socialista cumprir.
Sublinhe-se: a liquidação é um cenário muito difícil sequer de ponderar. Um banco com mais de 50 mil
milhões de euros de ativos…
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Conversa!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — …, sem um fundo de garantia de depósitos que o suportasse,…
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É, é só pagar!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — … um impacto que provavelmente poderia superar mais de 20 000
milhões de euros nas contas públicas portuguesas.
Já a nacionalização poderia acarretar mais 4000 a 5000 milhões de euros de dívida, numa desconfiança que
não é possível para um País com 130% de dívida na relação com o seu produto interno bruto; é uma medida
que não era possível suportar e, por isso, a venda, nestas condições, foi a melhor solução. Uma má solução, a
partir de um péssimo ponto de partida.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, termino: O acordo de alienação
estabelece, primeiro, uma adequada partilha de responsabilidades, com uma troca de dívida dos obrigacionistas;
segundo, as necessidades de capitalização serão integralmente suportadas a priori pela Lone Star;…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, queira terminar.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Terminarei de imediato, Sr. Presidente.
Terceiro, a contingência de perdas está limitada; quarto, a Lone Star não tem uma garantia imediatamente
executável; quinto, não tem impactos no défice nem na dívida de forma imediata; e, sexto, garante que o banco
não será liquidado, protegendo milhares e milhares de postos de trabalho.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, termino, dizendo que este é o único percurso que nos deixaram, para
podermos prosseguir no caminho de recuperação dos rendimentos, de recuperação da confiança, para que
Portugal volte a ter futuro, um futuro que esteve parado, intervalado, durante quatro anos de Governo PSD/CDS.
Aplausos do PS.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, tem dois pedidos de esclarecimento. Como
pretende responder?
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Vou responder em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino
Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, sobre o Novo Banco
já falámos. O Bloco de Esquerda já disse o que tinha a dizer, hoje, nesta Casa.
Vivemos no meio da crise financeira, que afeta em particular a banca, por toda a Europa, mas há um
subsistema deste sistema financeiro que tem passado pela crise com invejável saúde financeira e solidez. Falo
da banca social: bancos cooperativos e bancos mutualistas. Em Portugal falamos das caixas económicas, onde
pontifica o Montepio Geral, e do Crédito Agrícola.
Uma primeira questão tem a ver com as restrições que existem na lei à atividade destas instituições,
nomeadamente das cooperativas de crédito, que apenas podem dirigir a sua atividade à agricultura. Pergunto
se faz sentido manter esta restrição e se o Partido Socialista estará disponível para reequacionar este cenário
e abrir a atividade das cooperativas de crédito a todos os setores da economia, como acontece, em regra, na
Europa.
O Governo anterior, nas vésperas de terminar o seu mandato, fez aprovar um decreto-lei que estabeleceu o
novo regime das caixas económicas, que prevê a sua transformação em sociedades anónimas. Aqui surge a
perplexidade: será que os bancos, que eram sociedades anónimas, sobreviveram, ou comportaram-se melhor,
durante a crise? Contribuíram menos para a crise? É esse o raciocínio que justifica esta transformação de uma
caixa económica, que é uma associação, em sociedade anónima? Tal é justificado com a abertura aos mercados
com maior facilidade para obter fundos e outros recursos nos mercados. Mas os bancos, que estavam expostos
aos mercados, por acaso sobreviveram melhor, passaram melhor pela crise? Isto faz algum sentido?
Têm surgido imensas notícias, recentemente, sobre a situação do banco Montepio Geral, da Caixa
Económica Montepio Geral,…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — … tem havido queixas — ou recomendações — do Conselho Nacional de
Supervisores Financeiros, sobre a necessidade de alterar o modelo de supervisão.
A própria Deco Proteste — Defesa do Consumidor também acompanha estas preocupações quanto à
suficiência do modelo de supervisão das associações mutualistas, que são as entidades que dominam as caixas
económicas.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, esta solução não é a menos
má, e muito menos é boa. Depois de o banco ter sido gerido ao sabor das aventuras e caprichos dos grandes
milionários, que o foram dirigindo ao longo do tempo; depois de ter sido assaltado pelos seus próprios
administradores; depois de ter sido resolvido e de ter custado 4900 milhões de euros aos portugueses; depois
de se perceber que, afinal, esses 4900 milhões de euros eram apenas a primeira prestação, porque o PSD e o
CDS esconderam o real custo desta operação debaixo do tapete, como fizeram, aliás, com bancos inteiros —
como no caso do BANIF; …
Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.
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… depois de percebermos que os assaltantes levaram os bens adquiridos com o fruto do furto e que o
Governo PSD/CDS nada fez para que levassem a Espírito Santo Saúde, para que levassem os hotéis, para que
levassem toda a riqueza que tinham adquirido com o dinheiro que roubaram ao banco, que os portugueses
agora estão a pagar; depois de tudo isto, a pior das soluções é precisamente aquela que diz que é, agora, a
menos má. É que, depois de ter presenciado este processo, depois de o PSD e o CDS terem feito o que fizeram,
depois de pagar 4900 milhões, acrescentando as necessidades de capital, que entretanto o Fundo de Resolução
terá de assumir — que podem atingir quase 4000 milhões de euros —, o pior de tudo isto será mesmo ficar sem
o banco, depois de ter pago mais de 9000 milhões de euros por ele.
Portanto, Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, não nos pode dizer que pagar 9250 milhões de euros para dar
um banco de borla é a solução menos má, mas pagar 10 000 para ficar com ele seria absolutamente inaceitável,
por causa da dívida pública.
Aplausos do PCP.
Sr. Deputado, esta é uma tese que não pode sequer ser equacionada. Além disso, abdicamos de uma
ferramenta e de uma alavanca fundamental para a economia.
Para terminar, Sr. Presidente, a economia nacional precisa do Novo Banco, não só por causa dos postos de
trabalho mas também por causa do seu papel no financiamento à economia. E a única forma de o Novo Banco
estar ao serviço da economia nacional é ser público, é ter controlo público e é estar orientado por interesses
públicos. A questão que se coloca é: até quando vai o PS continuar a preferir submeter-se às orientações do
diretório alemão a defender o interesse nacional e, neste caso, assumir o controlo público sobre a instituição
que tanto falta faz ao País, como o PCP vai propor, muito em breve, na Assembleia da República?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para responder aos dois pedidos de
esclarecimento, o Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias.
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Paulino Ascenção, permita-me que
responda já ao Sr. Deputado Miguel Tiago e, de seguida, responderei à sua questão.
Sr. Deputado Miguel Tiago, podemos ter uma divergência no que diz respeito à participação de Portugal na
União Europeia, mas ambos devemos concordar que o Estado português cumpre os seus compromissos e,
cumprindo os seus compromissos, muitas vezes tem de cumprir os compromissos que foram firmados por
governos que não apoiámos, governos que foram constituídos pelo PSD e pelo CDS.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Mas então não é a solução menos má!
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — E o compromisso que estava assumido era o de alienação integral do
banco até agosto de 2016. Este era um compromisso assumido com base num processo de resolução que
deixou dentro do banco 8000 milhões de euros de ativos depreciados e com a necessidade de registo de mais
imparidades. Só tínhamos uma de duas soluções: ou vendíamos o banco e limitávamos as perdas, porque o
banco tinha valor negativo ou, em alternativa, tínhamos a nacionalização, deixando de fora a liquidação.
A nacionalização obrigaria, desde já, a que a dívida pública nacional tivesse um registo de mais de 2% do
PIB (Produto Interno Bruto), ultrapassando, mais uma vez, os 130%.
O caminho que estamos a trilhar de reposição de rendimentos, o caminho que estamos a trilhar de reposição
de direitos sociais, de prestações sociais, podia ser violentamente interrompido, com uma escassez de acesso
a financiamento do Tesouro. Esse é um risco que o Governo português e que o Partido Socialista não correm,
não em função do exercício do poder mas, antes, porque o que está em causa são os salários e as pensões dos
portugueses que, nos últimos quatro anos, foram cortados e esmagados pela política do PSD e do CDS.
Sr. Deputado, se a nacionalização fosse equivalente à venda, se calhar, poderíamos ter posto a
nacionalização em cima da mesa. Mas não era, a nacionalização era mais onerosa para o Tesouro do que a
venda, que foi apresentada pelo Governo. É por isso que, nesta circunstância, a solução é má, é muito má,
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partindo de um péssimo ponto de partida, mas é, apesar de tudo, aquela que nos permite continuar no caminho
que temos trilhado desde novembro de 2015.
Aplausos do PS.
Sr. Deputado Paulino Ascenção, para terminar, as perguntas que faz são pertinentes. Deixe-me dizer-lhe que
o Partido Socialista está empenhado na alteração do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades
Financeiras e olha com particular interesse para o setor cooperativo — aliás, as Caixas de Crédito Agrícola
apresentaram este ano resultados positivos, muito positivos — e para a banca mutualista.
Este é um debate que queremos fazer, com a certeza, porém, de que temos de criar condições para que
essas instituições sejam sólidas e possam ter alternativas de capitalização, sempre que necessário e sempre
que os seus sócios não o possam fazer.
Com esta preocupação, posso dizer-lhe que o Partido Socialista apresentará, neste Plenário, iniciativas no
quadro legislativo e resolutivo, para robustecer o setor financeiro português. Fá-lo-á ainda durante esta sessão
legislativa e, nesse momento, poderemos, seguramente, acompanhar muitas das preocupações e algumas das
iniciativas do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para terminar este ponto da nossa ordem de trabalhos, tem a
palavra, para uma intervenção, ao abrigo do artigo 76.º, n.º 2, do Regimento, o Sr. Deputado António Costa
Silva.
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Todos nos lembramos da
situação crítica em que se encontrava o País em 2011. Um País de mão estendida, um País humilhado, um País
na bancarrota. Esta foi a causa. A consequência foi o Memorando assinado pelo Governo do Partido Socialista
com a troica.
O País, e o Alentejo também, naturalmente, sofreu com o problema que o Governo socialista nos deixou.
Percebemos que queiram passar uma esponja por toda esta situação e que não interesse discutir este
problema, mas, infelizmente, os portugueses não podem aceitar essa situação.
Hoje trago-vos um olhar sobre o distrito de Évora e sobre aquilo que pensamos para esse distrito, mas
também as nossas propostas, o que fizemos e o que gostaríamos de ver feito.
Ao nível da importância da agricultura na economia regional, defendemos a simplificação dos procedimentos
relativos ao pagamento do apoio aos agricultores no âmbito do PDR 2020 (Programa de Desenvolvimento
Rural). Defendemos o investimento comunitário público no regadio, nomeadamente na melhoria da existência
hídrica das diversas culturas regionais. Queremos dar continuidade à expansão irrigada pelo EFMA
(Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva) concretizando a infraestruturação das zonas agrícolas de
Reguengos de Monsaraz, de Viana do Alentejo e do Lucefécit.
O que é que fizemos quando fomos Governo? Cumprimos os calendários e simplificámos os procedimentos
de reembolso para os agricultores. Demos um rumo à agricultura no distrito de Évora, com investimentos e
apoios concretizados, nomeadamente a Barragem de Veiros, o perímetro de rega de Vigia e do Lucefécit e ainda
valorizámos o mundo rural nas suas diferentes componentes.
O que é que fez este Governo, com o apoio da geringonça? — pergunto eu.
Podem dizer-nos que fizemos pouco. Mas, pergunto: o que é que este Governo tem para nos mostrar ao
nível da agricultura no dia de hoje?
Também ao nível da valorização dos recursos endógenos do nosso território, defendemos a promoção, a
modernização e a competitividade do tecido económico do distrito de Évora e do Alentejo. Queremos valorizar
os conhecimentos e o saber fazer tradicionais, promover novas competências e atividades que explorem as
sinergias dos setores tradicionais com outras atividades, incentivar o espírito inovador e empresarial,
nomeadamente dos jovens empresários, e incrementar as atividades turísticas.
O que é que fizemos quando fomos Governo? Implementámos o Plano de Ação Regional, definimos a
Estratégia Regional de Especialização Inteligente — documentos aprovados por unanimidade na região —,
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defendemos e conseguimos programar o Alentejo 2020, Programa Operacional Regional, com as maiores
verbas de sempre, incomparáveis com o passado. Tivemos, aliás, o maior valor per capita a nível nacional no
que respeita aos programas operacionais regionais.
Consolidámos a atividade turística no distrito de Évora e a internacionalização do destino, com mais 36% de
dormidas em 2013, uma quota de 40% da internacionalização do destino Alentejo.
Acompanhámos e continuámos a apoiar a consolidação da expansão de unidades turísticas regionais,
algumas muito importantes, no distrito de Évora, por exemplo, o Alentejo Marmoris Hotel, em Vila Viçosa, o
Ecorkhotel, em Évora, o Évora Olive Hotel, o Moov Hotel, o Vila Galé, o Vitória Stone Hotel, em Évora, o L’AND
Vineyards, em Montemor, e a Herdade do Barrocal, em Reguengos de Monsaraz. Foram todos projetos
concretizados quando fomos Governo.
Pergunto: foi pouco? Se calhar foi.
Mas, o que é que este Governo tem para nos apresentar de projetos empresariais? Pergunto aos partidos
que suportam esta governação o que têm para nos mostrar no distrito de Évora.
Ao nível da promoção da empregabilidade e da qualidade do emprego, defendemos um apoio à expansão
produtiva empregadora do tecido económico regional, privilegiando a contratação de desempregados de longa
duração. Defendemos ainda a maximização das oportunidades de apoio à geração de emprego nas atividades
com caráter sazonal.
O que é que fizemos, quando fomos Governo? Apostámos na qualificação das infraestruturas, nas
comunicações de suporte à atividade económica, nomeadamente com o Parque Ciência e Tecnologia do
Alentejo, a incubadora da ANJE (Associação Nacional de Jovens Empresários) e da ADRAL (Agência de
Desenvolvimento Regional do Alentejo), o centro de negócios do Núcleo Empresarial da Região de Évora, mas
também projetos em Montemor e noutros concelhos.
Protestos do Deputado do PCP António Filipe.
Se calhar fizemos pouco, mas avançámos com o Sistema Regional de Transferência de Tecnologia (SRTT).
Pergunto: o que é que este Governo tem para nos apresentar nesta área?
Pergunto aos partidos que suportam o Governo o que é que têm para nos apresentar sobre esta matéria na
nossa região.
Encerraram o centro de excelência relativo ao regadio da Universidade de Évora, um projeto prioritário para
a região.
E o que é que queremos nomeadamente no sistema de saúde? Queremos melhorar o funcionamento de
uma rede distrital de cuidados de saúde, coerente e próxima das pessoas, garantir às famílias o melhor
funcionamento dos equipamentos de saúde existentes, apoiar os cuidados de saúde primários, investir no
hospital regional do Alentejo e na promoção da saúde através da intervenção precoce e da saúde escolar.
Perguntamos: o que é que fizeram?
Enquanto fomos Governo, em 14 concelhos, conseguimos criar 6 novos centros de saúde no Alentejo, em
especial no distrito do Alentejo.
Pergunto: o que é que este Governo tem para nos apresentar na região do Alentejo? O que é que este
Governo tem para nos apresentar no distrito de Évora? Zero! A não ser, nos centros de saúde, chuva, falta de
médicos, falta de médicos especializados e falta de equipamentos! De resto, este Governo não tem nada para
nos apresentar!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!
Protestos do Deputado do PS Pedro do Carmo.
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Mas que medidas de combate à exclusão social tem este Governo para
apresentar?
Quando fomos Governo, entendemos, e continuamos a entender, que se deve apoiar o reforço à rede distrital
de equipamentos para as respostas sociais e de qualidade aos idosos. Deve fomentar-se a organização de uma
rede distrital de equipamentos sociais para dar respostas sociais de qualidade, ou seja, para requalificar as
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respostas sociais e aproximar as redes sociais das famílias, dos cidadãos. Devemos desenvolver medidas de
apoio à autonomia dos idosos e às pessoas com deficiência.
O que é que fizemos enquanto fomos Governo? Criámos um conjunto de equipamentos, e vou dar alguns
exemplos: Centro de Dia e Lar de Idosos do Sabugueiro, em Arraiolos, Lar de Idosos da Liga dos Combatentes,
em Estremoz, recentemente inaugurado, Lar de Idosos no Centro Social de Monte Trigo, Lar de Idosos do Centro
Comunitário do Campinho, Lar de Idosos da Azaruja, Lar de Idosos de Santo André, em Estremoz, Lar de Idosos
do Centro de Dia da Granja, Aldeia Social, em Borba, e várias creches com que não nos vou maçar, porque são
vários os projetos de investimento.
Pergunto: será que fizemos pouco? Naturalmente que sim! Há muito para fazer!
Mas pergunto a este Governo: o que é que tem para nos mostrar de equipamentos sociais no distrito de
Évora?
Protestos do PS.
Mostrem-nos um equipamento! O que é que têm para mostrar?
Pergunto aos partidos que suportam esta governação o que é que têm para nos mostrar no distrito de Évora
que entusiasme os alentejanos e os habitantes daquele distrito? Nada! Não têm nada, nem um equipamento
para mostrar!
Aplausos do PSD.
Relativamente à área da educação, o que é que pensamos? Queremos garantir a oferta de educação pré-
escolar a todas as crianças do distrito de Évora até aos seis anos; contribuir para a melhoria das taxas de
sucesso educativo; defender a criação de um sistema de alerta do abandono escolar; incentivar uma escola livre
de barreiras e amiga da diferença; apoiar a reorganização da rede escolar e assegurar a autonomia dos modelos
educativos em sintonia com as autarquias locais
O que é que fizemos quando fomos Governo? Apoiámos um conjunto de equipamentos decisivos no nosso
território: o Centro Educativo EB1, do Alandroal, a EB1 de Vendas Novas, o Centro Escolar de Arraiolos, o
Centro Escolar de Montemor-o-Novo, o Centro Escolar de Montoito, no Redondo, o Centro Escolar do Redondo,
a escola de Viana do Alentejo, dos Canaviais, de Estremoz…
Protestos do Deputado do PS Pedro do Carmo.
Bem, é verdade, as autarquias tiveram um papel determinante.
Protestos do Deputado do PS Pedro do Carmo.
Pergunto: o que é que este Governo tem para nos mostrar na área da educação no distrito de Évora, com as
autarquias? Nada! Zero! Não tem nada para nos mostrar! Nem uma escola remodelada! Nada! Não tem nada
para mostrar!
Aplausos do PSD e do Deputado do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila.
Mas também podíamos entrar na área da fixação dos jovens, onde, nomeadamente, tivemos de concluir o
projeto da Pousada da Juventude, o Centro de Rugby em Évora, uma pista de atletismo.
Na área da cultura, a igreja de São Francisco estava em degenerescência pura. Para quem não conhece,
falamos da Capela dos Ossos que estava a cair. Falamos também de equipamentos culturais, como o Palácio
dos Henriques, nas Alcáçovas.
Pergunto: nestas áreas, nomeadamente no que diz respeito ao património, o que é que este Governo tem
para mostrar? Nada!
Vozes do PSD: — Nada!
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O Sr. António Costa Silva (PSD): — Fizemos pouco, podem dizer! Mas, Srs. Deputados que apoiam este
Governo, digam-nos lá um equipamento que têm para mostrar!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Não têm nada para mostrar no distrito de Évora!
Termino, Sr. Presidente, dizendo que a governação do PSD com o CDS tem muito orgulho naquilo que fez
no Alentejo e tem muito para mostrar.
Os senhores estão há 17 meses a governar e não têm nada para mostrar ao distrito de Évora!
Aplausos do PSD e do Deputado do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, vamos entrar no terceiro ponto da nossa ordem
de trabalhos, que consiste na discussão da petição n.º 187/XIII (2.ª) — Proteção do Forte de Peniche da
concessão a privados (José Pedro Correia Soares e outros) e dos projetos de resolução n.os 542/XIII (2.ª) —
Preservação da memória e da história do Forte de Peniche (BE), 785/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a
preservação, a conservação e a dignificação da Fortaleza de Peniche (PS) e 790/XIII (2.ª) — Recuperação,
requalificação e valorização do Forte de Peniche (PCP).
Para intervir, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Campos, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero, naturalmente, saudar os
peticionários e, se me permitem, começar por uma nota pessoal
Este Deputado que agora vos fala guarda entre as mais vivas memórias da infância as visitas a um familiar
preso no Forte de Peniche e um dos protagonistas da mais célebre evasão das prisões do fascismo em 1960.
Esse homem conheceu, aliás, todas as prisões políticas do País! Não foi caso único. Bem pelo contrário,
tantas e tantas famílias conheceram situações semelhantes.
O Forte de Peniche tem uma longa história. A construção principiou em meados do século XVI, mas só foi
concluída cerca de um século mais tarde. Ao longo dos anos foi objeto de diversas utilizações: foi uma fortaleza
inexpugnável, mais tarde, uma prisão de alta segurança. Hoje é, indubitavelmente, um símbolo da resistência.
Por isso, é em função dessa marca identitária, sem esquecer o conjunto do histórico adquirido, que, no entender
do Bloco de Esquerda, deve ser equacionado.
A reabilitação urgente de que carece exige o diálogo entre as populações e aquilo que o monumento
representa no processo de consciencialização da importância dos valores patrimoniais, o que, evidentemente,
afasta qualquer tentativa de apagar ou diluir a história a favor de negócios desfasados desse intuito.
Em matéria de reabilitação do património, o Bloco de Esquerda encara diversas possibilidades, todas elas
baseadas no rigor e no respeito pela identidade e a salvaguarda da memória.
Escreveu Bertolt Brecht: «Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são
melhores e há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e esses são
imprescindíveis». Pois é a esses, aos que lutaram, de diferentes quadrantes político-ideológicos, que queremos
fazer justiça.
É nesse sentido que vai o projeto do Bloco de Esquerda de transformar o Forte de Peniche num polo de
múltiplas valências articuladas com a centralidade da memória da resistência.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do Partido
Socialista, a Sr.ª Deputada Odete João.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do Grupo Parlamentar do
Partido Socialista, saúdo os subscritores desta petição e congratulo-os pela sua participação cívica nesta
iniciativa.
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A Fortaleza de Peniche é um monumento nacional integrante da nossa memória coletiva que, ao longo da
história, teve diferentes usos e vivências plenas de significado. Foi um lugar de repressão durante o Estado
Novo e é também por isso um símbolo maior da resistência contra a ditadura e da luta travada em nome da
liberdade.
Aplausos do PS.
Os subscritores da petição desejam perpetuar o monumento, enquanto símbolo da repressão fascista e da
luta pela liberdade. Todos, mas mesmo todos, estamos empenhados na concretização deste nobre objetivo.
O Governo retirou a Fortaleza de Peniche do programa Revive e, como disse o Sr. Ministro da Cultura, «(…)
o que se fizer (…) tem de respeitar, perpetuar e valorizar a memória da luta pela democracia».
O Governo não desistiu da Fortaleza. O Governo não desiste da Fortaleza. Por isso mesmo, foi constituído
um grupo consultivo para a Fortaleza com a missão de apresentar, brevemente, uma proposta onde se
contemplem os usos possíveis para a Fortaleza, no respeito pela preservação da memória da sua história, bem
como a sua viabilidade económica.
Existe, hoje, um largo consenso entre a posição dos subscritores da petição, do Governo, a recomendação
que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista apresenta e as expectativas das populações, nomeadamente as
de Peniche.
O projeto de resolução apresentado pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista prevê, portanto, a criação
de um espaço museológico e de um memorial da resistência à ditadura e de homenagem a todos os presos
políticos detidos na Fortaleza de Peniche, bem com a dignificação do museu municipal, com o objetivo de não
apagar a memória e de potenciar a fruição cultural.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada, por favor.
A Sr.ª Odete João (PS): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que a preservação do património edificado da
Fortaleza de Peniche e a valorização da memória histórica, enquanto símbolo da resistência ao fascismo,
constitui-se, assim, como um imperativo nacional.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita para uma
intervenção.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido
Comunista Português saúda os milhares de peticionários que solicitam a proteção do Forte de Peniche da
concessão a privados.
Saudamos, de forma particularmente sentida, os ex-presos políticos, os seus familiares, amigos e
democratas presentes nas galerias da Assembleia da República que nos trazem, de forma viva, a necessidade
da defesa e preservação da memória da resistência coletiva ao fascismo.
Aplausos do PCP.
Queremos dizer que não esquecemos as vidas privadas de liberdade. Não esquecemos os 2500 presos que
passaram pelos edifícios da cadeia do Forte de Peniche, complexo que comporta uma dualidade marcante,
enquanto um dos mais significativos e sinistros símbolos da repressão e, simultaneamente, da resistência e da
luta contra o fascismo, um local onde o som batido das ondas do mar era mais um fator de tormento para quem
se encontrava num regime prisional marcado pela violência, arbitrariedade e humilhação constantes.
O PCP defende que pela sua carga histórica, simbólica, emocional, política e patrimonial a Fortaleza de
Peniche e o restante edificado, incluindo os edifícios respeitantes à prisão política de alta segurança do regime
fascista, devem ser considerados como um verdadeiro conjunto, um todo indivisível, inseparável da sua função
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histórica, educacional e pedagógica à qual se devem subordinar quaisquer utilizações, atividades e
intervenções.
A recuperação, valorização e requalificação da Fortaleza de Peniche deve alicerçar-se na sua afirmação
como testemunho vivo não só do que foi o flagelo da repressão nas prisões do regime fascista e, igualmente,
da luta pela liberdade e pela democracia, bem como da Revolução de Abril.
O dever do Estado não é colocar o património nacional ao serviço de alguns, dos mais privilegiados, é
preservá-lo e colocá-lo ao serviço das populações, é democratizá-lo.
A saída para a desresponsabilização dos sucessivos governos na salvaguarda do património cultural, que
resultou na degradação de tantos e tantos monumentos, não pode passar pela mercantilização ou pela
concessão. Pelo contrário, passa pelo investimento e valorização, em respeito pela Constituição da República
Portuguesa, com financiamento público.
Tal como bem escreveu Borges Coelho, ex-preso político: «As sociedades que não preservam a memória
não acautelam o futuro».
É por isso que defendemos que o Forte de Peniche tem de ser recuperado, requalificado e valorizado
enquanto património nacional, tendo como parte integrante e fundamental o núcleo museológico dedicado à
denúncia da repressão fascista, à resistência antifascista e à luta pela liberdade e pela democracia.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João
Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do Grupo
Parlamentar do CDS, quero saudar os peticionários e dizer que o Grupo Parlamentar do CDS compreende bem
qual foi o impulso que os levou a subscreverem esta petição. E melhor seria que não tivessem de o fazer porque
era sinal de que a solução para esta questão era clara e que não havia avanços, recuos, hesitações e falta de
compreensão por quem, no Governo, tem a responsabilidade de conduzir o dossier.
Entendemos que é muito importante preservar a memória, principalmente quando essa memória tem a ver
com a liberdade de expressão, com a limitação histórica dessa liberdade e com o facto de isso ter acontecido
em território nacional. Tudo o que seja a defesa da memória daqueles que resistiram contra qualquer ditadura,
mas, especialmente, contra a ditadura do Estado Novo em Portugal, é, para nós, razão suficiente para
preocupação e para valorização. Tivesse idêntica preocupação quem fala agora sobre estas limitações de
liberdade e ignora outras limitações de liberdade noutros momentos e noutras questões. Não é o nosso caso.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por isso, entendemos que a solução deve permitir essa
concretização. Não temos a arrogância de achar que só nós é que sabemos como é que isso se faz. Não temos
até a arrogância de achar que sabemos melhor do que o executivo municipal de Peniche, que é insuspeito, não
só por ser de Peniche como até pela força política maioritária desse executivo camarário.
O Sr. Pedro Pimpão (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Se foi a Câmara Municipal de Peniche que, por unanimidade,
consagrou esta como a melhor solução, devemos perceber por que é que assim aconteceu. Mas, melhor,
deveriam perceber os Srs. Deputados da CDU, porque, afinal de contas, podem perguntar aos seus camaradas
por que é que os camaradas de Peniche queriam que fosse esta a solução.
Também deveriam perguntar ao Governo por que é que pôs a Fortaleza de Peniche num programa, que,
dizia-se, era para manter a memória e preservar património, e depois tirou-a. De duas, uma: ou o programa,
afinal, não é para defender memória e preservar património ou o que querem fazer à Fortaleza de Peniche é
outra coisa que não isso.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Os peticionários merecem esse respeito e esse esclarecimento.
Muito mais do que projetos de resolução panfletários, o Partido Socialista e o PCP, que estão diretamente
envolvidos neste processo e que têm responsabilidades, deveriam assumi-las e perceber que defender a
memória e o património é ser coerente e consequente, e isso o CDS será, em relação a esta matéria e a todas
as outras.
Aplausos do CDS-PP.
Protestos do PCP e da Deputada do PS Odete João.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: As minha primeiras palavras
são para, em nome do Partido Ecologista «Os Verdes», saudar os milhares de cidadãos que subscreveram a
petição que agora estamos a discutir e que exigem a proteção da Fortaleza de Peniche fora da concessão dos
privados.
A primeira nota que Os Verdes querem deixar neste debate é a de que acompanhamos na íntegra as
preocupações e os objetivos dos peticionantes e que estão expressos nesta petição.
De facto, por tudo o que representa para todos nós, em termos históricos e enquanto monumento, mas
também enquanto portador do testemunho de uma parte importante da resistência antifascista e da luta pela
liberdade e pela democracia no nosso País, a Fortaleza de Peniche deve ser preservada e valorizada e continuar
longe dos apetites dos privados.
É verdade que ao longo da nossa vivência democrática os vários governos não olharam com olhos de ver
para o Forte de Peniche, inclusivamente o Governo do qual o Deputado João Almeida fez parte,…
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … e, portanto, não fizeram os investimentos que se impunham
para a merecida e exigível recuperação e requalificação da Fortaleza de Peniche.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por que não pergunta ao Presidente da Câmara de Peniche?
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Neste contexto, é de toda a justiça sublinhar os esforços que a
autarquia de Peniche tem vindo a desenvolver com vista à preservação da Fortaleza de Peniche, onde, aliás,
instalou um núcleo museológico.
Para terminar, quero dizer que Os Verdes, acompanhando as preocupações dos peticionantes, irão votar a
favor das iniciativas legislativas que agora também estão em discussão, nomeadamente para que a Fortaleza
de Peniche seja recuperada, requalificada e valorizada enquanto património nacional, não esquecendo
naturalmente o seu núcleo museológico, que testemunha a resistência antifascista e a luta pela liberdade no
nosso País, mas também para que a Fortaleza de Peniche continue fora da lista de monumentos nacionais a
concessionar, seja no quadro do programa Revive, seja no quadro de qualquer outro programa que pretende
entregar a Fortaleza de Peniche aos privados.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para a última intervenção sobre esta petição, tem a palavra o Sr.
Deputado Pedro Pimpão.
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O Sr. Pedro Pimpão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero, naturalmente, saudar os
peticionários e realçar duas coisas sobre esta matéria que acho muito importantes.
A primeira é o seu histórico. Estamos a falar da Fortaleza de Peniche, que todos reconhecemos e que é um
património histórico e cultural extraordinário dessa região e do nosso País. Aquelas paredes têm muitas histórias
para contar e essa história deve ser preservada, e é porque essa história deve ser preservada que defendemos
a sua reabilitação.
Por isso, este Governo decidiu, e bem, incluir a Fortaleza de Peniche no programa Revive, um programa que
visa conciliar cultura e economia e atrair investimento para requalificar este património. Mas a concessão
prevista no programa Revive é parcial, é de apenas 30% deste património. Assim, não percebemos como é que
este Governo, à revelia da decisão das autarquias e da população, decidiu retirar este património do programa
Revive. Agora, não há investimento algum possível e ninguém garante o financiamento para a reabilitação
daquele património, que está em risco.
Temos o relatório técnico da Câmara Municipal de Peniche, que nos diz, na página 3, que o património está
em avançado estado de degradação, mesmo já quase em ruínas. Ignoramos isto? Este relatório diz que só para
intervenções urgentes na requalificação daquele património são precisos mais de 5 milhões de euros. Repito,
são precisos mais de 5 milhões de euros só para intervenções urgentes! O que é que se diz em relação a isso?
Nada!
Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, não está em causa a preservação da memória e da história daquele
património, pelo contrário, é para preservar essa memória e essa história que deve haver investimento na
requalificação daquele património.
Por isso, defendemos que deveria reincluir-se esse património no programa Revive para se garantir
financiamento, porque, neste momento, o que é proposto pelo Partido Socialista, pelo Partido Comunista e pelo
Bloco de Esquerda é a constituição de grupos de trabalho, de comissões e de discussões e este património
deveria deixar de estar no plano das intenções para passar a estar no plano das ações concretas que
salvaguardem o património histórico e cultural, de que nos orgulhamos e que queremos ver defendido, mas,
desta forma, continua a ser votado ao abandono.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, dou por concluído este debate.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr. Presidente, é para fazer uma interpelação à Mesa.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr. Presidente, é para entregar a todos os grupos parlamentares a constituição
do grupo consultivo sobre a Fortaleza de Peniche, que, contrariamente ao que o Sr. Deputado Pedro Pimpão
disse, tem um calendário, uma execução e propostas para serem apresentadas.
Protestos do PSD.
Portanto, não é para uma discussão que se prolongue no tempo, mas, sim, para executar.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, faça chegar o documento à Mesa para que possa
ser distribuído.
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Está, pois, concluído o debate conjunto da petição n.º 187/XIII (2.ª) e dos projetos de resolução n.os 542, 785
e 790/XIII (2.ª).
Passamos à apreciação conjunta da petição n.º 126/XIII (1.ª) — Pelo direito a uma saúde sem IVA (Pedro
Choi Amélia Cordeiro e outros) e do projeto de resolução n.º 783/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que
proceda à criação de um código CAE específico para terapêuticas não convencionais (TNC) (PAN).
Para dar início a este debate, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos os peticionários e, em
particular, os profissionais das terapêuticas não convencionais pelos esforços desenvolvidos para a efetiva
regulamentação e clarificação do seu regime legal.
A petição hoje em discussão visa isentar de IVA os profissionais das terapêuticas não convencionais, regime
já em vigor pela aprovação da Lei n.º 1/2017.
Contudo, temos conhecimento de que a Autoridade Tributária continua a cobrar IVA àqueles profissionais, à
revelia da lei vigente, pelo que questionámos hoje o Governo sobre o que tenciona fazer quanto a isto e para
quando, nomeadamente se pretende cumprir a Resolução da Assembleia da República n.º 207/2016.
Debatemos hoje também um projeto de resolução do PAN que visa recomendar ao Governo que proceda à
criação de um código CAE (Classificação das Atividades Económicas) específico para as terapêuticas não
convencionais. A inexistência deste código leva a que os profissionais sejam registados com códigos CAE
diferentes, consoante a repartição de finanças, o que não tem qualquer sentido quando falamos de profissionais
que desenvolvem a mesma atividade.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A criação de um código CAE específico é um passo importante para
a regulamentação séria e efetiva das terapêuticas não convencionais em Portugal, o que permitirá a
uniformização do seu regime fiscal, bem como a eliminação de algumas desigualdades que ainda existem.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Domingos
Pereira.
O Sr. Domingos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos hoje a discutir a petição
n.º 126/XIII (1.ª), intitulada «Pelo direito a uma saúde sem IVA», no âmbito das terapêuticas não convencionais.
Quero, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, cumprimentar os seus subscritores e
reconhecer a pertinência e a oportunidade da sua apresentação.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista deu sempre grande importância a esta problemática num
acompanhamento que tornasse legítimo o exercício da atividade das terapêuticas não convencionais, como
ficou patente no empenho posto na Lei n.º 45/2003 e, mais tarde, na Lei n.º 71/2013, quanto à sua
regulamentação.
Porém, na aprovação destes diplomas, não foi clarificada a neutralidade fiscal quanto à cobrança do IVA,
comparada com outras profissões no âmbito da saúde.
Esta petição foi discutida na Comissão de Saúde e, mais tarde, também na Comissão de Orçamento,
Finanças e Modernização Administrativa. Em ambas as Comissões, os Srs. Deputados do Grupo Parlamentar
do Partido Socialista contribuíram para que fosse possível dar resposta à incerteza e discricionariedade criada
pela Autoridade Tributária com interpretações diversas em diferentes zonas geográficas do País.
Para reforçar a controvérsia da cobrança do IVA a 23% nas TNC, os peticionários apresentaram parecer
jurídico na área do direito fiscal, manifestando que a neutralidade fiscal deveria ser aplicada ao exercício
profissional das TNC.
No mesmo sentido se pronunciou igualmente, através de recomendação, a Autoridade da Concorrência,
considerando que também deveria ser verificada a neutralidade fiscal.
Dos pareceres emitidos nas respetivas Comissões, aquando da audição dos peticionários e da análise de
outros documentos, ficou a disponibilidade para consensos entre os diferentes grupos parlamentares, no sentido
de ser ajustada a neutralidade fiscal na cobrança do IVA às TNC.
Mas, atendendo às limitações que este tipo de iniciativas merece, a não ser a apreciação em sede de
comissões e eventual discussão em Plenário, as petições, de acordo com as normas regimentais e
constitucionais, nunca produzem eficácia de lei.
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Posteriormente, e por iniciativa de diversos grupos parlamentares, foram apresentadas outras iniciativas
legislativas para a isenção da cobrança de IVA de 23% ao exercício das TNC.
Assim, e face à entrada em vigor da Lei n.º 1/2017, de 16 de janeiro, que dá por encerrada esta questão, por
integral satisfação da petição apresentada pelos peticionários, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista
continuará sempre disponível e empenhado na busca das melhores soluções que correspondam às reais
necessidades dos utentes e dos seus profissionais, independentemente das áreas em que nos situemos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Moisés
Ferreira.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, e em nome do
Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, quero cumprimentar e saudar os cerca de 120 000 peticionários que
trazem esta petição à Assembleia da República, entre os quais vários profissionais certamente e vários
estudantes de várias terapêuticas não convencionais, mas também, em particular, muitos utilizadores que
reconhecem os benefícios destas terapêuticas para a sua saúde.
As terapêuticas não convencionais são — e o Bloco de Esquerda defendeu-o sempre — profissões de saúde
e devem ser reconhecidas e tratadas como tal.
A Lei n.º 45/2003 e, depois, a Lei n.º 71/2013, a qual regulamenta as terapêuticas não convencionais,
reconhecem as terapêuticas não convencionais como profissões da área da saúde. No entanto, subsistia uma
iniquidade e uma diferença de tratamento, nomeadamente em sede de IVA, porque se discriminava estas
terapêuticas em relação a outras atividades de saúde.
Realmente, os peticionários tinham razão, era uma reivindicação justa, uma reivindicação que, aliás, o Bloco
de Esquerda vinha trazendo desde há vários anos a este Parlamento, em sede da discussão do Orçamento do
Estado, e que agora foi resolvida, novamente com o contributo do Bloco de Esquerda, através de um projeto de
lei que ajudou também à discussão e à concretização desta reivindicação dos profissionais, dos estudantes e
dos utilizadores.
Temos, por isso, hoje, uma lei que é mais justa e que resolve aquilo que era um tratamento injustamente
diferenciado entre várias profissões da saúde. É preciso, agora, proceder à aplicação da lei, porque o Bloco de
Esquerda tem tido a informação de que a Autoridade Tributária continua a abrir processos e a não aplicar a
legislação, nomeadamente as suas alterações mais recentes, que conferem isenção de IVA aos terapeutas não
convencionais.
Ora, é preciso que estejamos todos muito atentos a esta situação para que a legislação, que é a vontade
desta Assembleia, seja efetivamente aplicada de modo a proceder a uma efetiva regulamentação desta área.
Para terminar, Sr.as e Srs. Deputados, quero dizer que, da parte do Bloco de Esquerda, continuamos muito
empenhados numa efetiva regulamentação das terapêuticas não convencionais. Por isso, devo dizer que temos
ainda muito trabalho pela frente.
Ainda ontem, houve uma manifestação aqui, em frente da Assembleia da República, de vários estudantes
que reivindicam o acesso à sua cédula profissional. E existem também ainda muitos pormenores a colmatar e a
resolver na atual legislação para concretizar a plena regulamentação da legislação das terapêuticas não
convencionais.
Ora, podem contar com o Bloco de Esquerda para isso.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia
Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do CDS, quero
também saudar os mais de 120 000 peticionários, em particular os aqui presentes.
Esta petição deu entrada no dia 16 de junho de 2016, tendo dela resultado um conjunto de iniciativas
legislativas, não apenas do CDS mas também de outros partidos políticos, do PAN, do PSD e do BE, que deram
origem à já mencionada Lei n.º 1/2017.
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Ora, esta Lei n.º 1/2017 foi conseguida depois de um conjunto imenso de audições, a saber, dos profissionais
das terapêuticas aqui envolvidas, da Ordem dos Nutricionistas, da Ordem dos Médicos, da Ordem dos
Farmacêuticos, da própria Autoridade Tributária, da Autoridade da Concorrência e, eventualmente, ainda de
outras entidades.
Depois da discussão, conseguimos chegar a um amplo consenso e a um texto que salvaguardasse a
pretensão dos peticionários e que era uma questão de justiça. A própria Autoridade da Concorrência assim o
disse, ou seja, que era uma distorção da concorrência que era preciso ser corrigida.
Ao que aqui assistimos hoje, com a intervenção do Deputado Domingos Pereira, foi, de facto, a um momento
extraordinário, porque o PS votou contra esta lei e eu não consigo entender como é que o Deputado Domingos
Pereira diz que a apoia e que está de acordo com a mesma. De facto, o PS votou contra, aliás, disse que aquilo
que está escrito na lei, que é a «Norma interpretativa» ter efeitos interpretativos, era uma questão muito sensível
para o PS e não defendeu esta posição. Porém, esta terminologia ficou escrita na lei, por consenso entre todos
os outros partidos, mas o PS não aceitou.
Portanto, ao que assistimos aqui foi a um deliberado incumprimento da lei, que foi aprovada por maioria nesta
Assembleia, foi a uma interpretação abusiva, prepotente, totalitária da Autoridade Tributária e do Governo,
justificando-se com decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia, pelo facto de as terapêuticas não
convencionais não serem profissões paramédicas. No entanto, ignoram outra jurisprudência comunitária, como
outras decisões do Tribunal de Justiça europeu, nomeadamente o famoso caso Gabarel relativo aos terapeutas
não convencionais, que é muito conhecido e que se aplica tal e qual nesta situação. Ou ainda a exceção que
existe, na interpretação feita pela Direção-Geral de Finanças, à psicologia clínica, que não tem enquadramento
numa atividade, nem noutra, mas que, na prática, está isenta de IVA.
Para concluir, Sr. Presidente, como já foi aqui referido, já depois da entrada em vigor desta lei, a Autoridade
Tributária continua a enviar notificações a diversos profissionais com a cobrança retroativa do IVA. Aliás, ainda
ontem, na manifestação feita à porta desta Assembleia por estudantes de terapêuticas não convencionais, onde
o Grupo Parlamentar do CDS se fez representar, foram-nos transmitidos diversos casos de pessoas que
continuam a receber notificações para pagar retroativamente o IVA.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Para terminar, Sr. Presidente, direi que esta petição não poderia ser
mais oportuna. Preciso é que o Governo cumpra a lei que foi aqui aprovada.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Cristóvão
Crespo.
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Uma primeira palavra para
cumprimentar, em nome do Grupo Parlamentar do PSD, os 120 000 peticionários subscritores desta petição.
Srs. Deputados, dada a celeridade da resposta legislativa, gerada na Assembleia da República por força
desta petição, em particular por parte do PSD mas também de outros partidos políticos, parecia que o debate
da petição estaria encerrado. Portanto, em função das iniciativas legislativas que ocorreram, parecia que o
debate em torno da petição estaria encerrado. Afinal, verificamos que esse debate é muito oportuno. De facto,
se nós encontrámos uma solução legislativa que acautela em definitivo a aplicação da neutralidade, da equidade
e da justiça fiscal da tributação em IVA a todos os profissionais que se dedicam ao exercício das terapêuticas
não convencionais, pensávamos nós que tínhamos resolvido o problema. Mas foi puro engano, porque, com
este Governo, a lei tornou-se uma palavra vã. É inacreditável como uma lei da República não é respeitada pelo
Governo! Há uma grave responsabilidade política do Governo pelo incumprimento da lei. A Autoridade Tributária
não está a cumprir a Lei n.º 1/2017, mas a responsabilidade não é da Autoridade Tributária. A responsabilidade
política é do Governo.
A clarificação legislativa efetuada foi de natureza interpretativa e não inovadora. A solução legislativa serve
apenas e exclusivamente para efeitos fiscais em sede de IVA, não havendo qualquer outro impacto ou alcance
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na equiparação efetuada. As questões vertidas no debate — e recordo-me do debate das iniciativas legislativas
—, em particular pelo Partido Socialista e pelo Sr. Deputado do PS, foram resolvidas. E foram resolvidas pela
lei aprovada, porque as principais seriam a necessidade de clarificação, e houve clarificação, a necessidade de
evitar interpretações diversas — e acabou-se com as interpretações diversas — e a necessidade de proteger
os utentes. Estas foram as principais questões identificadas pelo Partido Socialista nesse debate. Por isso,
reiteramos que o debate sobre as TNC não se encerra na questão fiscal — concordamos que não se encerra
na questão fiscal —, mas essa não era a matéria sobre a qual a petição incidia e que foi resolvida pela lei
aprovada, a bem da equidade e da justiça fiscal.
A terminar, Sr. Presidente, cabe agora ao Governo cumprir a lei e aos partidos que o apoiam não descurar a
função que devem exercer.
É que, de facto, aquilo que perpassou no debate — e aqui o Partido Socialista tem particulares
responsabilidades — foi exatamente que o PS não percebeu, alheou-se e fez aquilo que o Governo faz em
relação à administração fiscal. Portanto, historiou o processo, diz que está preocupado,…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — … mas o facto é que aquilo que é exigido ao Governo, e ao Partido
Socialista como partido maioritário apoiante do Governo, é exatamente fazer cumprir a Lei n.º 1/2017, que está
em vigor.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, começo por, em nome do Grupo Parlamentar do Partido
Comunista Português, cumprimentar os primeiros peticionários e os mais de 100 000 cidadãos que
subscreveram esta petição.
De facto, não é a primeira vez que, na Assembleia da República, nomeadamente neste Plenário, se discute
este assunto da isenção de IVA aos terapeutas não convencionais, como, aliás, todas as outras questões
relacionadas com as terapêuticas não convencionais.
Tal como dissemos aquando da discussão, quer na generalidade quer na especialidade, das iniciativas
legislativas que depois deram origem à Lei que já aqui foi mencionada hoje, não descartamos e não desligamos
a existência desta dificuldade e deste problema devido à não conclusão da regulamentação das terapêuticas
não convencionais. De facto, há muitos anos que a legislação não é cumprida e não tem sido estabelecida,
arrastando-se no tempo, a sua regulamentação.
Temos dito que a regulamentação é fundamental para salvaguardar não só os profissionais que exercem
estas terapêuticas mas também os milhares de cidadãos e de utentes que a elas recorrem. Nesse sentido,
pugnamos e defendemos que deve ser concluído todo o processo de regulamentação das terapêuticas não
convencionais — recordo que faltam muitas dimensões e que ainda falta regular duas terapêuticas não
convencionais. De facto, estamos hoje confrontados com o problema dos jovens que fizeram a sua formação e
que o não terem acesso às cédulas profissionais os impede de exercerem a sua profissão.
Há muito caminho a trilhar, há muito para fazer e aquilo que o PCP defende, aquilo com que se comprometeu
e que tem apresentado é no sentido de ser feita essa regulamentação e de serem salvaguardados os direitos
dos profissionais das terapêuticas não convencionais e dos utentes. É para isto que estes terapeutas, assim
como todos os cidadãos que recorrem a estas terapias, podem contar com o PCP.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, concluída a apreciação conjunta da petição n.º
126/XIII (1.ª) e do projeto de resolução n.º 783/XIII (2.ª), chegámos ao fim da nossa ordem de trabalhos de hoje.
Antes de anunciar a ordem do dia de amanhã, dou a palavra à Sr.ª Secretária, Deputada Emília Santos para
dar conta de duas iniciativas legislativas que deram entrada na Mesa.
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A Sr.ª Secretária (Emília Santos): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram
admitidos, os projetos de resolução n.os 793/XIII (2.ª) — Recomenda a classificação e manutenção na esfera
pública dos bens culturais na posse do Novo Banco (BE), que baixa à 12.ª Comissão, e 791/XIII (2.ª) —
Deslocação do Presidente da República ao Brasil (Presidente da AR).
É tudo, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Muito obrigado, Sr.ª Secretária Emília Santos.
A próxima sessão plenária realizar-se-á amanhã, com início às 15 horas, e da ordem de trabalhos constam
vários pontos.
No primeiro ponto irá proceder-se ao debate conjunto, na generalidade, dos projetos de lei n.os 420/XIII (2.ª)
— Terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 308/2007, de 3 de setembro, que cria e regula o programa de apoio
financeiro Porta 65 — Arrendamento por Jovens (PSD), 466/XIII (2.ª) — Terceira alteração ao Decreto-Lei n.º
308/2007, de 3 de setembro, que cria o programa de apoio financeiro Porta 65 — Arrendamento por Jovens
(Porta 65 — Jovem) (CDS-PP), 487/XIII (2.ª) — Alarga em cinco anos a idade máxima para acesso ao programa
de apoio ao arrendamento Porta 65 (terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 308/2007, de 3 de setembro) (BE) e
493/XIII (2.ª) — Alargamento dos beneficiários e dos apoios do programa Porta 65 — Jovem (terceira alteração
ao Decreto-Lei n.º 308/2007, de 3 de setembro, que cria e regula o programa de apoio financeiro Porta 65 —
Arrendamento por Jovens) (PCP);
Segue-se a discussão conjunta, na generalidade, dos projetos de lei n.os 165/XIII (1.ª) — Procede à primeira
alteração da Lei n.º 23/2006, de 23 de junho, modificando o regime jurídico do associativismo jovem (PS),
483/XIII (2.ª) — Procede à primeira alteração da Lei n.º 23/2006, de 23 de junho, modificando o regime jurídico
do associativismo jovem (PSD), 488/XIII (2.ª) — Altera o regime jurídico do associativismo jovem (primeira
alteração à Lei n.º 23/2006, de 23 de junho) (BE) e 492/XIII (2.ª) — Pela criação de um plano nacional de
incentivo ao associativismo estudantil e implementação de medidas de apoio e isenção de custos na constituição
e reconhecimento de associações juvenis (PCP);
Do terceiro ponto consta a apreciação, na generalidade, do projeto de lei n.º 465/XIII (2.ª) — Aprova a
constituição de unidades de gestão florestal (BE);
No quarto ponto serão debatidos, na generalidade, os projetos de lei n.os 405/XIII (2.ª) — Assegura o direito
de declaração de guarda conjunta de menores para efeitos de IRS (PCP), 434/XIII (2.ª) — Garante o direito de
declaração conjunta das despesas com dependentes para efeitos de IRS (BE) e 485/XIII (2.ª) — Assegura o
direito de declaração conjunta das despesas com dependentes em sede de IRS (PAN) juntamente com o projeto
de resolução n.º 784/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que elimina as discriminações existentes em sede de
IRS referentes ao exercício das responsabilidades parentais (PS);
Do quinto e último ponto consta a discussão conjunta da petição n.º 193/XII (2.ª) — Contra os abates e más
condições nos canis municipais, pelo direito dos animais (Patrícia Maria Coelho Torneiro e outros) e do projeto
de resolução n.º 789/XIII (2.ª) — Regulamentação e relatório de avaliação da Lei n.º 27/2016, de 23 de agosto,
que aprova medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais e estabelece a proibição
do abate de animais errantes como forma de controlo da população (PCP).
Desejo a todas e a todos a continuação de uma boa tarde.
Está encerrada a sessão.
Eram 18 horas e 42 minutos.
Retificação
Ao n.º 56 do Diário, de 25 de fevereiro de 2017:
Na pág. 31, §10, l. 1, onde se lê «O Sr. Paulo Sá (PCP)», deve ler-se «O Sr. Paulino Ascenção (BE)».
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.