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Terça-feira, 19 de setembro de 2017 I Série — Número 1

XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

REUNIÃOPLENÁRIADE18DESETEMBRODE 2017

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Idália Maria Marques Salvador Serrão António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Sandra Maria Pereira Pontedeira

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 5

minutos. Ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, procedeu-se a um

debate de atualidade, requerido pelo PSD e pelo CDS-PP, sobre o «alegado furto no paiol de Tancos», tendo proferido intervenções, além do Ministro da Defesa Nacional (Azeredo Lopes), os Deputados Sérgio Azevedo (PSD), Jorge Machado (PCP), João Vasconcelos (BE), Heloísa Apolónia (Os Verdes), José Miguel Medeiros (PS), João Rebelo (CDS-PP) e Carlos Costa Neves (PSD).

Em declaração política, o Deputado António Filipe (PCP), ao iniciar-se mais uma sessão legislativa, salientou os principais pontos positivos da solução política encontrada para a governação do País na atual Legislatura, deplorou que se mantenham convergências do Partido Socialista com os partidos de direita em questões estruturantes e enunciou medidas que considerou serem ainda necessárias para a melhoria de vida dos trabalhadores e do povo português em geral. No final, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Wanda Guimarães (PS), José Cesário (PSD), Pedro Filipe Soares (BE) e Nuno Magalhães (CDS-PP).

Em declaração política, a Deputada Heloísa Apolónia (Os Verdes) enalteceu a dinamização da economia devido à retoma do poder de compra dos portugueses e referiu os problemas sentidos nos transportes públicos e na mobilidade dos cidadãos. Depois, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados Luís Moreira Testa (PS), António Costa Silva (PSD), Hélder Amaral (CDS-PP), Carlos Matias (BE) e João Oliveira (PCP).

Em declaração política, o Deputado Porfírio Silva (PS) fez um retrato do estado do ensino em Portugal e falou da necessidade de se fazer uma nova lei de bases que promova a igualdade de oportunidades no acesso e no sucesso educativo, tendo, no fim, respondido a pedidos de esclarecimentos dos Deputados Nilza de Sena (PSD), Joana Mortágua (BE), Ana Rita Bessa (CDS-PP) e Ana Mesquita (PCP).

Em declaração política, o Deputado Jorge Duarte Costa (BE) criticou legislação aprovada pelo anterior Governo na área da energia e congratulou-se pela sua revogação, permitindo a redução de preços aos consumidores. No final, respondeu a pedidos de esclarecimento dos Deputados

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Carlos Pereira (PS), Bruno Dias (PCP), Luís Leite Ramos (PSD) e Hélder Amaral CDS-PP).

Procedeu-se ao debate conjunto da proposta de resolução n.º 49/XIII (2.ª) — Aprova o Acordo Económico e Comercial Global entre o Canadá, por um lado, e a União Europeia e os seus Estados-membros, por outro, assinado em Bruxelas, em 30 de outubro de 2016, e dos projetos de resolução n.os 930/XIII (2.ª) — Pela rejeição do CETA — Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá (Os Verdes), 1050/XIII (2.ª) — Rejeita a aprovação para ratificação do Acordo Económico e Comercial Global (CETA) entre a União Europeia e o Canadá (PCP), 1052/XIII (2.ª) — Pela rejeição do Acordo Económico e Comercial Global — CETA (União Europeia-Canadá) (BE) e 1053/XIII (2.) — Pela rejeição do Acordo Global de Economia e Comércio entre a União Europeia e o Canadá (CETA) (PAN). Usaram da palavra, a diverso título, além da Secretária de Estado dos Assuntos Europeus (Ana Paula

Zacarias), os Deputados José Luís Ferreira (Os Verdes), Carla Cruz (PCP), Isabel Pires (BE), André Silva (PAN), José Cesário (PSD), Pedro Mota Soares (CDS-PP) e Lara Martinho (PS).

Foi discutida, na generalidade, a proposta de lei n.º 94/XIII (2.ª) — Altera o regime jurídico da segurança contra incêndio em edifícios, tendo-se pronunciado, a diverso título, o Secretário de Estado da Administração Interna (Jorge Gomes) e os Deputados Jorge Machado (PCP), José Manuel Carpinteira (PS), Álvaro Castello-Branco (CDS-PP), Pedro Soares (BE) e António Topa (PSD).

Deu-se conta da retirada, pelo PCP, do seu projeto de lei n.º 601/XIII (2.ª) e da entrada na Mesa dos projetos de lei n.os 603 a 605/XIII (2.ª) e 606/XIII (3.ª), dos projetos de resolução n.os 1047 a 1053/XIII (2.ª) e 1054, 1055 e 1059/XIII (3.ª) e da apreciação parlamentar n.º 45/XIII (2.ª).

O Presidente encerrou a sessão eram 18 horas e 45 minutos.

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O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.

Eram 15 horas e 5 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da Autoridade o favor de abrirem as galerias.

Cumprimento as Sr.as e os Srs. Deputados, as Sr.as e os Srs. Funcionários e as Sr.as e os Srs. Jornalistas.

Vamos dar início às reuniões plenárias da 3.ª sessão legislativa da XIII Legislatura, começando com uma

marcação do PSD e do CDS-PP, um debate de atualidade, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento da Assembleia

da República, sobre o «alegado furto no paiol de Tancos».

Para abrir o debate, tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Sérgio Azevedo.

O Sr. Sérgio Azevedo (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Defesa Nacional, Srs. Secretários de Estado

da Defesa Nacional e dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: A valorização de uma existência

orgânica do Estado apela à realização visível de estruturas institucionais que lhe servem de base e que

atravessam todas as instâncias intermediárias, conferindo aos cidadãos direitos e deveres que modelam a sua

íntima relação recíproca.

O desenvolvimento da ideia de direito numa sociedade política democrática constitui, em simultâneo, um

conjunto de direitos e deveres de todos os seus membros, traduzindo-se num equilíbrio entre a coesão interna

e a pluralidade das autonomias que a integram. É assim com a defesa nacional, com a sua relação de proteção

e defesa do Estado e na relação recíproca que ela estabelece com todos os cidadãos.

Se quisermos, é o extravasar da mera defesa da identidade coletiva, mas também da identidade da própria

autonomia individual do cidadão, implicando a sua capacidade em ser, simultaneamente, titular de direitos e

deveres para com o Estado, sobretudo no âmbito da defesa nacional, como, de resto, sobressai da nossa

Constituição, no seu artigo 276.º.

Assim, defender a Pátria não se pode esgotar num sentimento meramente patriótico. Antes se estende na

defesa do regime democrático baseado na dignidade da pessoa humana, na vontade popular, na representação

parlamentar plural e livre e no caminho para uma sociedade justa, solidária e fiscalizadora da atividade política,

que é como dizer na defesa de um patriotismo constitucional assente em direitos, liberdades e garantias

indisponíveis e irrenunciáveis de onde, inequivocamente, se extrai o escrutínio parlamentar como expressão

primacial do escrutínio popular. Não sendo por acaso que os deveres de defesa da Pátria, constitucionalmente

estabelecidos, assumem uma dimensão estruturante do nosso sistema político, estando o seu cumprimento,

inclusive, garantido pela via penal, não podendo, por isso, como tão bem nos lembra António Vitorino, estar nas

mãos do poder político, de nenhum poder político, a decisão sobre a sua defesa.

Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: O que se passou em Tancos

é um assunto grave que põe em causa a segurança do Estado, que compromete Portugal no quadro

internacional e que merece um cabal esclarecimento das instituições militares e políticas que tutelam a defesa

nacional e um inquestionável aclaramento ao Parlamento português como titular da representação política do

povo.

Não foi por acaso que, no quadro parlamentar, o esclarecimento deste assunto recolheu unanimidade nos

partidos que integram a Comissão Parlamentar de Defesa Nacional. É essa unanimidade no esclarecimento que

faz este assunto transcender as fronteiras do debate político-partidário, transformando-o numa questão de

Estado e numa responsabilidade do Estado.

E aqui a responsabilidade do Estado não é apenas a do apuramento da responsabilidade política; é, sim, a

da garantia de que tudo está a ser feito, de que tudo foi sempre feito para impedir situações como as que se

passaram em Tancos.

É neste contexto que podemos, então, ponderar três dimensões distintas: a responsabilidade que emana de

uma investigação pelas autoridades judiciais que, encontrando-se em segredo de justiça, aguardaremos o

resultado do seu decurso; a responsabilidade que emana das investigações internas do Exército que devem ser

do conhecimento do Parlamento; e a responsabilidade de cooperação do Ministério da Defesa Nacional com os

restantes órgãos de soberania para que, em conjunto, se encontrem soluções na salvaguarda de defesa do

Estado.

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Tem sido isto, aliás com as limitações constitucionais evidentes, por que o Sr. Presidente da República,

Comandante Supremo das Forças Armadas, tem pugnado e que nenhuma das instituições democráticas pode

deixar de subscrever: a exigência de uma investigação cabal.

Ora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, há duas dimensões que não têm sido devidamente preenchidas, não

apenas porque o Sr. Ministro não respondeu satisfatoriamente à Comissão de Defesa Nacional sobre o

sucedido, mas porque optou por revelar à imprensa um conjunto de suposições que adensam as dúvidas em

vez de as esclarecer.

Continuamos sem perceber se houve, de facto, um furto no paiol de Tancos; continuamos sem perceber o

que se passou nas 24 horas seguintes ao alegado furto e qual a razão que levou o Secretário-Geral do SIRP

(Sistema de Informações da República Portuguesa)a dizer, publicamente, que apenas teve conhecimento do

furto pela comunicação social como, de resto, com a Unidade de Coordenação Antiterrorismo, que só reuniu 48

horas depois, reconhecendo que também tomou conhecimento do sucedido pela comunicação social, não tendo

sequer sido avisada pelo Exército; e continuamos sem saber o que levou a Unidade Nacional Contra o

Terrorismo a auxiliar nas investigações, uma vez que o Governo confirmou, com grande probabilidade, que os

riscos de segurança interna ou a associação a qualquer tipo de atividade terrorista eram diminutos ou

inexistentes.

Assim como, permita-me Sr. Ministro, continuamos, no limite, sem saber se é verdade ou não que terá ficado

um ano na gaveta um despacho que mandava alterar e reforçar as medidas de segurança nos paióis de Tancos.

Este não é um debate para agastar nem o Governo, nem o Ministro da Defesa, em particular, não é um

debate político-partidário comum; é um debate a favor da segurança do Estado e a favor de uma tutela

competente capaz de prevenir e atuar sempre que a segurança do Estado é posta em causa. Respostas que o

Parlamento tem o direito de obter.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro: CDS e PSD — é esta a ordem

— decidiram promover este debate de atualidade a propósito do desaparecimento de material militar de Tancos.

Importa referir que se o objetivo destes partidos fosse o apuramento de responsabilidades, fosse aprofundar

a discussão sobre as causas e os problemas que permitiram estes factos e o cabal esclarecimento destes

lamentáveis acontecimentos, sempre podiam ter optado por discutir este assunto em reunião da Comissão de

Defesa Nacional, com a presença do Sr. Ministro, já na próxima quarta-feira, pois tal discussão, em sede de

Comissão, além de mais alargada, poderia permitir a transmissão de informação reservada ou confidencial ao

Parlamento.

Mas se é infeliz a escolha por parte do PSD e do CDS deste modelo de discussão para este assunto de

extrema sensibilidade, também não deixa de ser bastante infeliz a opção do Sr. Ministro em dar entrevistas sem

antes esclarecer o Parlamento.

Entendemos que teria sido bem mais correto que, em vez de dar entrevistas, onde assistimos a um ministro,

na modalidade de comentador, a lançar várias hipóteses, dúvidas e cenários, que não ajudam ao

esclarecimento, ao contrário só ajudam à confusão, o Sr. Ministro se3 tivesse primeiro dirigido ao Parlamento

do nosso País.

Não deixa de ser absurdo que, depois dos vários esclarecimentos prestados pelo Primeiro-Ministro, pelo

Presidente da República, pelo General Chefe do Estado-Maior do Exército, e pelo General Chefe do Estado-

Maior-General das Forças Armadas, o Sr. Ministro venha agora, em entrevista, colocar como hipótese a

possibilidade de se tratar de um problema de abate ou de um problema de inventário.

Sr. Ministro, não há verificação regular do material que vai para abate? Não há inventário? Não há

transmissão da informação do inventário quando se sucedem os Chefes de Estado-Maior dos ramos? E a

Inspeção-Geral do Exército não soube ou não sabe nada sobre este assunto?

Sr. Ministro, isto é mau demais para o Sr. Ministro se incluir na bancada dos que se dedicam a especular.

Em vez de especular na comunicação social, que apenas acrescenta ruído a algo já estrondoso, entendemos

que o Sr. Ministro deve apresentar as conclusões da investigação interna e esclarecer o que aconteceu.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Além disso, e independentemente das responsabilidades criminais, que

competem ao Ministério Público apurar, o Sr. Ministro deve apurar e retirar as ilações com a assunção de

responsabilidades também do Sr. Ministro, uma vez que, nos termos do artigo 199.º da Constituição da

República Portuguesa, o Sr. Ministro tem, no que respeita à defesa nacional, competência administrativa para

dirigir os serviços e a atividade da administração direta do Estado, a civil e a militar, e tem poder para

superintender a administração indireta e exercer a tutela sobre a administração autónoma.

Sr. Ministro, aqui, como noutros casos, como no das mortes no curso de Comandos, e independentemente,

como disse, do apuramento das responsabilidades criminais, a culpa não pode morrer solteira e as

responsabilidades políticas de quem tutela, a responsabilidade de quem manda nos mais altos níveis nas Forças

Armadas deve ser imputada e/ou assumida.

Sr. Ministro, depois de vários anos de desinvestimento que degradaram as condições operacionais dos

diferentes ramos das Forças Armadas, deixar que estes escândalos continuem impunes e sem que os

responsáveis sejam responsabilizados é um duro golpe na credibilidade das Forças Armadas, que não tem nem

terá o apoio do PCP.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Vasconcelos.

O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados: O roubo do armamento militar em Tancos em junho passado — mais de duas centenas de granadas

de vários tipos, explosivos, disparadores, cargas de corte, cerca de 1500 cartuchos de 9 mm e outro material de

guerra — foi um acontecimento extremamente grave.

Este triste e grave acontecimento significa um falhanço clamoroso do Estado n, torna-se imperioso, quanto

antes, apurar as responsabilidades até ao fim, custe o que custar e doa a quem doer.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. João Vasconcelos (BE): — Foi o que logo exigiu o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda,

solicitando um conjunto de esclarecimentos ao Ministério da Defesa e que fosse feita uma investigação rigorosa.

O Bloco de Esquerda não aceita que a culpa, mais uma vez, morra solteira na instituição militar. Veja-se o

tristemente célebre processo dos submarinos: ainda hoje estamos à espera dessas respostas e desses

esclarecimentos. Grosso modo, o País não pode limitar-se a assistir à exoneração e à readmissão de cinco

comandantes militares e praticamente nada mais acontecer.

O Bloco de Esquerda também ficou deveras surpreendido com as declarações do Sr. Ministro no sentido de

que, no limite, não pode ter havido furto nenhum, visto não haver prova visual, nem testemunhal, nem confissão

sobre o roubo de material.

A situação é tanto mais estranha quanto o Exército admitiu a violação do perímetro de segurança nos paióis

de Tancos e o arrombamento de dois paiolins, levando ao desaparecimento do material militar. Aliás, o próprio

Chefe do Estado-Maior do Exército, em audição na Assembleia da República, veio a público referir que as

responsabilidades eram todas militares, que o que aconteceu tem a ver com erros estruturais e sistémicos, que

houve desleixo e falta de supervisão e que tinha havido cumplicidade interna, daí a exoneração dos cinco

comandantes militares posteriormente readmitidos.

Também a Procuradoria-Geral da República referiu que estavam em causa suspeitas da prática dos crimes

de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional.

Desta forma «não bate a bota com a perdigota»!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

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O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sabemos que foram feitos inquéritos e investigações pela Polícia Judiciária

Militar, pela Polícia Judiciária e pela instituição militar, sabemos também já há relatórios elaborados pelos ramos

das Forças Armadas, pela Inspeção-Geral de Defesa Nacional, mas não se deixa de lamentar que a Assembleia

da República praticamente nada saiba oficialmente visto que esses relatórios foram classificados como

«secretos», apenas se sabendo que foram tomadas algumas decisões pelo Exército, nomeadamente em matéria

de armazenamento e segurança do material de guerra.

Se o Governo não tem andado bem nesta matéria, então os partidos de direita, PSD e CDS, muito menos.

Como não têm factos políticos de relevante interesse nacional, procuram fazer chicana política à volta de

determinados acontecimentos: foi sobre os incêndios e as listas fantasmas de Pedrógão Grande, foi sobre o

desaparecimento do material militar… Pedem, a torto e a direito, a cabeça de ministros.

A direita anda mesmo de cabeça perdida e já ninguém, ou quase ninguém, os leva a sério. Ainda não se

conformaram com a ideia de que já não governam o País e que foram derrotados em 2015. Agora ficaram

mesmo assustados com o facto de a agência de rating Standard & Poor’s ter retirado Portugal do nível lixo em

que se encontrava, precisamente desde janeiro de 2012, situação imposta pelo Governo PSD/CDS e que tantos

malefícios causou ao País. E devem estar bem preocupados pela derrota esmagadora que já se anuncia para

o PSD e para o CDS nas próximas eleições autárquicas.

Sr. Ministro, poderá adiantar ao Parlamento mais alguns detalhes sobres os relatórios produzidos pela

instituição militar em relação ao material produzido? Afinal, houve ou não houve furto de material militar em

Tancos?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.

Deputados: Os Verdes também consideram que, tendo em conta a natureza da matéria que aqui estamos hoje

a tratar neste debate, teria sido mais prudente, julgo eu, que PSD e CDS tivessem promovido esta discussão

em comissão. De facto, não há dúvida que a discussão em comissão permitiria outro tipo de esclarecimento

que, em sessão plenária, consideramos não será prestado.

De todo o modo, entenderam marcar este debate em Plenário. Muito provavelmente o objetivo nem é mesmo

o cabal esclarecimento da situação mas, enfim, tendo em conta que o debate está a decorrer, Os Verdes

participarão nele, como é evidente.

Dirijo-me, por isso, ao Sr. Ministro para dizer que aquilo que já ficou conhecido como «o assalto aos paióis

de Tancos» é de uma extrema gravidade. Na verdade, aquilo que os portugueses souberam foi que foram

roubados de Tancos materiais como granadas, munições, explosivos. Portanto, não é brincadeira,

evidentemente.

Sucede-se depois um conjunto de questões que contam a história de uma forma completamente deturpada

e julgo que confusa para a generalidade dos portugueses, inclusivamente o facto de ter vindo a público que,

eventualmente, aquele material nem teria perigosidade nenhuma porque já estava obsoleto e fora de prazo. Mas

o exercício que vou pedir ao Sr. Ministro que faça é o de que, justamente, se coloque do lado dos portugueses

que estão a assistir a esta questão.

Sr. Ministro, há de convir que a história acaba mesmo por ser confusa porque, de repente, ouvem o Sr.

Ministro proferir estas palavras: «No limite, pode nem ter havido furto nenhum.». Confusão! Terá havido abate?

Terá havido furto? Depois, questiona-se: então, não há o registo efetivo do material? E se ele foi abatido não há

registo do material que foi abatido? Como é que isso se faz?

Coloca-se também a questão da falta de vigilância. Há um sistema de videovigilância que vou perguntar ao

Sr. Ministro há quantos anos não funciona. Seguramente, um sistema de videovigilância levou a que se fizesse

um investimento considerável. Não funciona há quanto tempo? Porquê é que não funciona? E é, ou não,

importante que funcione?

Portanto, Sr. Ministro, no meio desta confusão toda, destas declarações que não têm ajudado nada à

questão, os portugueses, no mínimo, sentem-se com uma enorme falta de confiança. E o normal será que se

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sintam mesmo com uma grande insegurança. Por isso, Os Verdes também consideram que há esclarecimentos

que devem ser hoje prestados pelo Sr. Ministro.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Miguel Medeiros.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro e Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.

Deputados: O Grupo Parlamentar do PS tem acompanhado a Comissão de Defesa Nacional nos seus

consensos sobre as necessidades de apuramento de todos os factos e responsabilidades no incidente de

Tancos.

Acreditamos que as questões relacionadas com a defesa da Nação são um desígnio do País e, como tal,

não podem nem devem ser utilizadas como arma de arremesso político-partidário.

Não estando acima ou fora do alcance do escrutínio parlamentar, os assuntos da defesa, têm, no entanto,

sido tratados ao longo do tempo, nesta Casa, com sentido de Estado e reserva devida. A prova disso é que

temos estado de acordo no essencial, como demonstra a linha de conduta comum entre o Parlamento, o Sr.

Presidente da República e o Governo.

O mais importante é o apuramento dos factos, perceber o que realmente aconteceu e tomar as medidas

necessárias para evitar que acontecimentos como este se repitam.

Afinal, é da segurança e defesa nacionais que estamos a tratar, matérias de soberania por excelência.

Tornam-se, assim, difíceis de compreender as posições do PSD e do CDS, traduzidas numa excitação e num

frenesim político-partidário sem precedentes, em torno das questões de defesa nacional.

Aplausos do PS.

Será que, sem argumentos e sem alternativas para apresentar sobre as questões substantivas da defesa

nacional, decidiram refugiar-se no domínio da querela partidária, agitando fantasmas e entretendo-se a pedir, à

vez, ora a demissão do Ministro ora a demissão dos chefes militares, ora a demissão de ambos?

Parecem esquecer-se que esta é uma área que não é própria para estes exercícios, demasiado séria para

ser tratada de forma tão pouco prudente.

A Sra. Deputada Assunção Cristas disse, no debate do Estado da Nação, apenas alguns dias depois do

ocorrido e antes ainda de quaisquer conclusões, que «o País ficou em sobressalto» e o CDS apressou-se a

pedir a demissão do Ministro e do chefe do Exército.

Já o líder do PSD, escassos dias após o incidente, veio perguntar porque é que ainda não havia demissões,

deixando no ar a sugestão de demissão do Sr. Ministro da Defesa e das chefias militares. Veio agora, na passada

semana, recuar nesse pedido, ainda assim utilizando o tema como arma de arremesso partidária.

E a pergunta que se coloca nesta altura é se fará algum sentido puxar o País para o sobressalto e alarmar

os portugueses, quando sabemos que o Governo, as Forças Armadas e o poder judicial estão a fazer o seu

trabalho.

Os relatórios estão concluídos dentro dos prazos e deles foram já extraídas, no imediato, consequências no

domínio da segurança dos paióis nacionais e das instalações militares.

É verdade que ainda são necessários esclarecimentos adicionais, designadamente das investigações

criminais ainda em curso.

A luta política em democracia não pode toldar o sentido de Estado que nos é exigido em assuntos desta

natureza e importância.

Não é legítimo, nem aceitável, que o debate político sobre um tema destes se faça, sobretudo, na praça

pública, com pedidos de demissão e ataques sistemáticos ao Ministro da Defesa e às chefias militares, como

temos vindo a assistir.

Estamos a tratar das Forças Armadas e esse desabrido estilo confrontacional não nos vai ajudar em nada a

recuperar a credibilidade, nem aqui, nem noutro domínio qualquer.

Aplausos do PS.

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Afinal, parece que os bons resultados que o Governo tem apresentado, com amplo reconhecimento externo,

levam a direita, renegando responsabilidades, a virar-se avidamente para ocorrências nas áreas da soberania

e a explorá-las com o mesmo estilo que tem vindo a usar para a putativa chegada do diabo ao mundo da

economia.

Felizmente que os portugueses percebem estas manobras e não se deixam assustar. O País está tranquilo

e as Forças Armadas estão a fazer o seu trabalho.

O PS, como os portugueses, confia na capacidade do Governo e do Sr. Ministro da Defesa para conduzir

este assunto, com o sentido de responsabilidade e a serenidade que se exigem.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Rebelo, do Grupo

Parlamentar do CDS-PP.

O Sr. João Rebelo (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Defesa Nacional, Srs. Secretários de Estado,

Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Este debate ocorre 81 dias depois do furto do armamento da base militar de

Tancos. Ocorre depois de cinco audições realizadas na Comissão de Defesa Nacional, onde foi possível apurar

um conjunto de factos desconhecidos e muitas vezes negligenciados pelos Deputados do Partido Socialista,

que não se cansaram de desvalorizar e diminuir esses factos, numa atitude, partilhada pelo Senhor Ministro, de

«não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe».

Ocorre depois de várias diligências feitas pela Comissão de Defesa ao Ministério que lidera, às quais o Sr.

Ministro insiste em «fazer vista grossa».

Ocorre depois de feitos pelo menos três apelos públicos — três! — do comandante supremo das Forças

Armadas, o Sr. Presidente da República, a pedir celeridade e eficácia no apuramento de responsabilidades.

Aplausos do CDS-PP.

Mas este debate ocorre também dias depois da entrevista do Sr. Ministro a dois órgãos de comunicação

social, onde fez declarações absolutamente irresponsáveis e impróprias que não dignificam o exercício do cargo

de Ministro da Defesa Nacional.

São declarações irresponsáveis porque minam a credibilidade do Estado e o prestígio das Forças Armadas,

e não é aceitável que um ministro alimente de forma especulativa uma tese que, de resto, já havia sido afastada

pelo chefe do Exército, de que o assalto foi gradual, supondo até que poderia nem ter havido assalto, entrando

em profunda contradição com o relato do Sr. General Rovisco Duarte, que negou essa possibilidade aquando

da sua audição.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. João Rebelo (CDS-PP): — E são declarações impróprias porque não é admissível que um ministro de

um governo se coloque à margem de um processo de averiguação de responsabilidades como se de um mero

espectador se tratasse.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Ministro obriga-nos, uma vez mais, a reiterar as razões por que não tem condições para continuar à

frente do Ministério da Defesa Nacional.

O Sr. Ministro é, hoje, um ministro sem credibilidade, sem autoridade, e por isso sem capacidade para exercer

o seu mandato.

Para melhor sustentar as razões já invocadas pela Presidente do CDS, impõe-se fazer uma fita do tempo

dos seus erros políticos e institucionais.

Em primeiro lugar, perante o maior assalto militar de que há memória no nosso País, o Sr. Ministro foi o

primeiro a desvalorizar a gravidade da situação, dizendo — e passo a citar — que havia «quebras e falhas de

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segurança muito superiores», em contradição, de resto, com o que disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros,

que qualificou este incidente — e passo a citar — de «o maior do século XXI».

Em segundo lugar, o Sr. Ministro assumiu categoricamente a responsabilidade política pelo incidente, sem

retirar quaisquer consequências políticas do mesmo.

Em terceiro lugar, soubemos que o Sr. Ministro assinou um despacho no início de junho a autorizar o reforço

de vedações que se encontravam em estado de degradação evidente, manifestando, posteriormente — pasme-

se —, desconhecimento da situação de segurança em Tancos. Sr. Ministro, se não sabia, devia saber.

Aplausos do CDS-PP.

Em quarto lugar, pelas audições realizadas na Comissão de Defesa, soubemos que os responsáveis do

Sistema de Segurança Interna (SSI) e do SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa) só tiveram

conhecimento do furto de Tancos 24 horas depois e, mais grave do que isso, pela comunicação social. Como é

igualmente grave que só 48 horas depois é que foi convocada a Unidade de Coordenação Antiterrorismo

(UCAT). Sr. Ministro, nem uma palavra sua ou de outro membro do Governo sobre esta gravíssima

descoordenação!

Em quinto e último lugar, três meses depois do incidente, o Sr. Ministro não tem mais nada para dizer ao

País senão supor, conjeturar ou presumir sobre o que eventualmente se terá passado, à revelia de todos os

apelos que têm sido feitos pelo Sr. Presidente da República.

É grave, Sr. Ministro. E qualquer uma destas razões seria mais do que suficiente para justificar a sua

demissão.

O roubo de Tancos parece uma tragicomédia: O Ministro não sabe o que lá havia, o Ministro não sabe o que

lá aconteceu, o Ministro não sabe o que de lá desapareceu, o Ministro nem sequer sabe se houve roubo ou o

que furtaram!

Aplausos do CDS-PP.

Diga-nos, Sr. Ministro: se um colega seu da NATO (North Atlantic Treaty Organization) lhe perguntar o que

aconteceu em Tancos vai responder com a mesma displicência?

O Sr. Ministro parece ser o único que ainda não percebeu que a sua permanência à frente do Ministério da

Defesa Nacional se tornou absolutamente insustentável, indesejável e contrária aos interesses nacionais.

E não querendo recorrer a nenhuma das declarações dos líderes do PCP e do Bloco de Esquerda, partidos

que suportam o Governo — o Deputado Jerónimo de Sousa e a Deputada Catarina Martins —, que são

reveladoras, aliás, do mal-estar e do embaraço que o Sr. Ministro está a infligir à geringonça, lembrar-lhe-ia

apenas o que disseram alguns camaradas seus, como Francisco Assis, António Vitorino, Ana Gomes, todos

socialistas, todos críticos.

Cito só Francisco Assis, que se sentou naquela bancada durante muitos anos como líder parlamentar, que

passo a citar: «O Ministro «revela uma inadequação (…) quase permanente às exigências específicas do

exercício da função concreta de Ministro da Defesa».

Sr. Ministro, a sua inadequação ao cargo só é comparável ao seu isolamento político. Por isso, uma vez mais

lhe digo: saia, Sr. Ministro! Não espere pelas eleições ou pela próxima remodelação, saia pelo seu próprio pé.

O Sr. Ministro tem a obrigação de perceber que houve um momento a partir do qual as suas palavras e as

suas omissões se tornaram num fator de incredulidade, de insegurança e até de escárnio.

Compete-lhe, por isso, responder, em consciência, a esta pergunta: a sua continuação no cargo ainda serve

a primeira das missões de um Ministro da Defesa, que é a de garantir que Portugal está seguro e que os

equipamentos das Forças Armadas estão protegidos? Pense bem, Sr. Ministro!

O apego ao cargo é, talvez, humano mas não é seguramente um serviço que presta ao País.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Ministro da Defesa Nacional.

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O Sr. Ministro da Defesa Nacional (Azeredo Lopes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Foram aqui

colocadas até agora várias questões importantes quanto ao furto de material militar nos paióis nacionais de

Tancos. Começo, por isso, se me permitem, por distinguir de imediato os diferentes planos que, a meu ver, estão

aqui em causa.

Por um lado, o plano da investigação criminal — e devo insistir neste ponto. É ao Ministério Público que

compete exercer a ação penal, não ao Ministro da Defesa Nacional, como bem se percebe, se mais não fosse

necessário, pelo comunicado da Sr.ª Procuradora-Geral da República, de 4 de julho de 2017.

O inquérito, como, aliás, seria de esperar, encontra-se em segredo de justiça. Por isso, muitas das questões

suscitadas pelos Srs. Deputados sobre o que se sabe e o que não se sabe, sobre a averiguação da existência

de um crime, sobre a determinação dos seus agentes, sobre a determinação da sua responsabilidade,

descoberta e recolha das provas, são do domínio da autoridade judiciária competente, não do Ministério da

Defesa Nacional.

Por muito que se insista, este apuramento não pode ser substituído por processos de averiguações que têm

objeto e função bem diferentes, como acentuado, em 4 de setembro último, pelo Sr. Presidente da República, a

propósito do andamento da investigação criminal. E passo a citar: «Passaram dois meses e uma semana,

precisamente, e eu continuo a acreditar que as entidades encarregadas da investigação criminal estão

conscientes da importância do tempo, de como o tempo no apuramento dos factos e de eventuais

responsabilidades é importante e de como as conclusões da investigação são importantes para as Forças

Armadas e até para a própria investigação por parte das Forças Armadas em termos internos».

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, um outro plano que aqui se convoca, e já foi convocado, é o da ação

do Exército.

O Exército tem colaborado ativamente com a Polícia Judiciária, tendo esta, aliás, solicitado o processo de

averiguações levado a cabo no Regimento de Engenharia n.º 1 (RE1).

O relatório preliminar do Exército deu origem aos processos de averiguações.

Foram, ainda, instaurados três processos disciplinares. Aliás, no que a processos disciplinares diz respeito,

cabe ao Chefe do Estado-Maior do Exército, nos termos da lei, «administrar a disciplina no respetivo ramo». O

Chefe do Estado-Maior do Exército informou, e mantém informado, o Ministro da Defesa Nacional, que aguarda

pela conclusão de tais processos.

Além disso, e no imediato, foram já reforçadas as medidas de segurança ativas e passivas nas instalações

militares e procedeu-se à revisão das normas e dos procedimentos internos no âmbito da segurança militar.

Estão ainda a ser realizados investimentos imediatos na segurança dos paióis, paiolins e áreas sensíveis

das instalações do Exército. Neste conjunto, destacam-se, por exemplo, os investimentos nos paióis de Santa

Margarida, já a decorrer, e também, no âmbito da segurança, em 16 unidades do Exército.

Desencadearam-se, depois, medidas estruturais para garantir a eficiência do dispositivo.

Posso aqui destacar, pela sua relevância e grande complexidade, a implementação do plano de

esvaziamento dos Paióis Nacionais de Tancos, que envolverá a colaboração ativa de várias entidades,

nomeadamente da GNR e da PSP, e que já está a decorrer desde 14 de setembro.

Finalmente, foi elaborada e difundida uma diretiva relativa à reorganização do dispositivo de armazenamento

dos artigos da classe V.

No que se refere, agora, ao plano de ação estrito do Ministro da Defesa Nacional, como já tive ocasião de

dar conta em reunião da Comissão de Defesa Nacional, em 7 de julho, na sequência do ocorrido e no âmbito

das minhas competências, adotei, de imediato, na altura, dois despachos, um dos quais dirigido aos chefes dos

ramos das Forças Armadas, para que fosse dada prioridade às áreas relacionadas com a segurança do material

de guerra, nomeadamente armamento, munições e explosivos, e determinando que fosse apresentado, no prazo

de 30 dias, aliás, cumprido sem exceção, um relatório sobre as atuais condições de segurança das instalações

militares destinadas àquele material sob sua responsabilidade.

Num outro despacho, dirigido à Inspeção-Geral da Defesa Nacional (IGDN), determinei a realização de uma

inspeção extraordinária, vulgo auditoria, aos procedimentos e condições de segurança em vigor nas Forças

Armadas, num prazo de 60 dias, também ele integralmente cumprido.

Os relatórios dos ramos, incluindo, naturalmente, o do Exército, além de medidas tomadas no imediato,

identificaram medidas que tiveram de ser implementadas logo e outras que serão implementadas a médio e

longo prazo.

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Os relatórios de auditoria da Inspeção-Geral da Defesa Nacional fizeram, aliás, recomendações quanto a

ações futuras a serem adotadas.

Está realizada, por isso, num tempo que tem de se considerar breve, uma radiografia geral da situação atual

do armazenamento do material de guerra, munições e explosivos.

Em resultado destes elementos, determinei, através de despacho e nos termos do artigo 14.º da Lei de

Defesa Nacional, uma série de medidas a serem adotadas.

Do teor e da substância desse despacho, antes de por mim ter sido assinado, foi dado já conhecimento à

Comissão de Defesa Nacional, no dia 11 de setembro.

Ainda assim, porque estamos em Plenário e pela sua importância, destacaria as seguintes medidas: ao nível

das normas e procedimentos, o desenvolvimento, pelo Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas,

em articulação com os Chefes de Estado-Maior dos três ramos, de um sistema de informação comum para

controlo efetivo de material sensível, que garanta a informação necessária e o controlo de acesso à informação

segundo os patamares mais evoluídos.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, peço-lhe para concluir.

O Sr. Ministro da Defesa Nacional: — Ao nível das infraestruturas, foi determinado o desenvolvimento de

ações de concentração e de desenvolvimento prioritário de obras nas várias instalações.

Ao nível dos recursos humanos, foi determinado que os processos de seleção, certificação, formação e treino

dos militares dedicados a funções de segurança sejam aperfeiçoados.

Vou concluir, Sr. Presidente, mas, antes, permitam-me apenas, a final, um esclarecimento: a todos estes

relatórios foi atribuída, por quem os realizou e não pelo Ministro da Defesa Nacional, a classificação de

«secreto». Creio que a avaliação feita pelos ramos e pela Inspeção-Geral da Defesa Nacional é compreensível

por todos.

Em síntese, e sem prejuízo de críticas legítimas, entendo que o Governo fez o que devia ser feito, e fê-lo

num tempo muito curto.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos Costa Neves.

O Sr. Carlos Costa Neves (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Depois de ouvir o Sr. Ministro atentamente, tenho de repetir as seguintes perguntas: o que aconteceu em

Tancos? Quando e como foi assaltada a instalação militar? O que desapareceu? Que consequências se tiram

do que aconteceu? De quem é a responsabilidade operacional? De quem é a responsabilidade política?

Passados três meses, em vez de respostas, avolumam-se as interrogações, já que as respostas têm sido,

como hoje, nenhumas.

É nestas circunstâncias que o Sr. Ministro, ignorando as perguntas, formuladas em carta subscrita pelo

Presidente da Comissão de Defesa Nacional, dá uma entrevista em que acentua a confusão em que temos

vivido.

Segundo afirma, «no limite, pode não ter havido assalto», aderindo, assim, à tese de simulação de assalto

para acerto de inventário — sem tirar nem pôr o que alvitraram, em momentos distintos, os Coronéis Sousa e

Castro e Vasco Lourenço.

Assalto ou simulação, o que hipoteticamente aconteceu em 28 de junho — nem a data é certa — é de uma

gravidade extrema. Estamos no domínio da segurança nacional, logo no núcleo das funções do Estado. E todos

o referenciaram: o Sr. Presidente da República; as forças políticas representadas nesta Assembleia; o Governo;

os chefes militares; a opinião pública e publicada. Armas à guarda de quem nos guarda não podem, pura e

simplesmente, desaparecer!

No entanto, praticamente três meses depois do alegado assalto, está instalada a confusão total: o assalto

terá acontecido em 28 de junho — se é que houve assalto… — mas, apesar da sua gravidade, o Chefe de

Estado-Maior-General e o Ministro da Defesa terão sido informados mais tarde.

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Os serviços de informações da República tomam conhecimento do desaparecimento das armas pela

comunicação social e a unidade antiterrorismo só reúne dois dias depois do presumível assalto.

Não são confirmados ou desmentidos rumores de que entidades judiciais terão sido informadas da

possibilidade de assalto.

A lista confidencial do material furtado, que afinal pode não ter sido furtado, aparece nos jornais.

Após o alegado assalto, o Chefe de Estado-Maior do Exército fala em desleixo e exonera os cinco

comandantes de Tancos para que tudo se apure sem constrangimentos. Duas semanas depois, os exonerados

são reconduzidos, certamente porque tudo se apurou, mas não se sabe o que se apurou.

Dois distintos oficiais generais, Faria Menezes e José Calçada, nem mais nem menos do que o Comandante

Operacional e o Diretor de Pessoal do Exército, passam à reserva. Porquê?

O Sr. Primeiro-Ministro, após o regresso de férias, convoca uma reunião com os chefes dos três ramos das

Forças Armadas, no fim da qual promove uma declaração à imprensa em que é passada a ideia de que uma

parte do material desaparecido seria obsoleta, como se isso mudasse o que quer que fosse.

Há uma semana, o Sr. Ministro da Defesa, em entrevista que certamente não deu para divulgar as conclusões

dos inquéritos, que até estavam classificados como «secretos», introduz a tese de «não sei se alguém entrou

em Tancos. No limite, pode não ter havido assalto». Isto, para além de induzir insegurança, desautoriza o Chefe

do Estado-Maior do Exército e descredibiliza externamente o País.

Poderia continuar indefinidamente.

Sr. Ministro, diga-nos o que até agora não nos disse: foi assalto ou simulação de assalto? Quando foi? Quem

foi? Como foi? O que desapareceu? De caminho, identifique os responsáveis operacionais e assuma a

responsabilidade política.

Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

A primeira coisa que quero pedir ao Sr. Ministro é que distinga claramente a intervenção de Os Verdes das

intervenções que o PSD e o CDS aqui fizeram.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Ainda bem!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Estamos aqui com uma profunda seriedade relativamente a esta

matéria e a procurar, de facto, os esclarecimentos que são devidos.

Por isso, Sr. Ministro, a primeira coisa que lhe quero dizer, depois de ter ouvido a sua intervenção, é que Os

Verdes consideram que a investigação que está a ser levada a cabo deve prosseguir sem qualquer

constrangimento.

Quero dizer-lhe, em segundo lugar, que Os Verdes não vieram pedir-lhe nenhuma informação confidencial.

De resto, no início da intervenção tive mesmo o cuidado de dizer que me dá a sensação de que, tendo em conta

a natureza da matéria, as informações prestadas em sede de comissão poderiam ser um pouco mais

aprofundadas do que aquelas que podem ser dadas em Plenário. Mas, face a tudo isto, Sr. Ministro, e tendo em

conta as questões que lhe coloquei, acho que há informação que o Sr. Ministro podia ter dado que não cabe no

âmbito desta matéria confidencial e que talvez até nos ajudasse a perceber algumas responsabilidades

alargadas, designadamente sobre o sistema de videovigilância, o investimento que foi feito ou o não

funcionamento relativamente a esta matéria, que é fundamental.

Por outro lado, Sr. Ministro, vai-me desculpar, mas com as afirmações públicas que o Sr. Ministro fez,

referindo que, no limite, pode não ter havido furto nenhum, lançou a confusão e esta não está esclarecida. Por

isso, findo este debate, Os Verdes consideram que o Sr. Ministro ainda deve explicações sobre o significado

desta afirmação.

Acho que o Sr. Ministro teria tudo a ganhar se o fizesse, assim como os portugueses, evidentemente, pois é

neles que pensamos primeiro.

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O Sr. Presidente: —Tem a palavra, para uma nova intervenção, o Sr. Deputado Carlos Costa Neves.

O Sr. Carlos Costa Neves (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.

Deputados: Queria apenas dar nota de que saímos deste debate como saímos das audições que promovemos

na Comissão de Defesa Nacional.

Não viemos, em primeira instância, ao Plenário apresentar o assunto, ao contrário do que foi dito.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Exatamente!

O Sr. Carlos Costa Neves (PSD): — Nós suscitámos todas estas questões na Comissão de Defesa

Nacional, vamos continuar a suscitá-las na mesma Comissão e voltaremos ao Plenário, se for necessário, até

que tenhamos os esclarecimentos que não só temos direito a ter como todos os portugueses têm direito a ter.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem ainda a palavra, para uma nova intervenção, o Sr. Deputado José Miguel Medeiros.

O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.

Deputados: Queria apenas fazer um remate desta discussão, porque ficou claro, hoje, que o PSD e o CDS não

olham a meios para atingir os fins.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

É que o que estava previsto inicialmente era um requerimento do CDS para que o assunto fosse discutido

na Comissão e o Sr. Ministro disponibilizou-se para estar presente. Depois, o CDS e o PSD cozinharam a

situação, decidiram transformá-la num debate de atualidade e trazer o problema para aqui, pondo esta discussão

no plano em que têm posto sempre, o da querela político-partidária.

Portanto, Sr. Ministro, tem a nossa confiança, continue o trabalho, que é isso que o País espera de si.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a Mesa infringiu uma prática habitual, que é a de deixar a última

intervenção para os partidos que marcaram o debate. Neste caso, tal não aconteceu, mas não foi por

responsabilidade de qualquer secretário da Mesa, foi devido à minha falta de atenção à situação.

Passamos ao segundo ponto da nossa ordem de trabalhos, que consta de declarações políticas.

Para proferir a primeira declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Contra todas as profecias de desgraça,

ameaças de cataclismos, previsões de regresso da troica e de aparições do mafarrico, eis que iniciamos a

segunda metade da XIII Legislatura. Legislatura que, traduzindo na Assembleia da República a vontade

manifestada pelo povo português, na luta e no voto, de afastar o PSD e o CDS do Governo, permitiu dar corpo

a uma solução política para a governação do País que deu início a uma nova fase da vida nacional de reposição

e conquista de direitos por parte dos trabalhadores e do povo em geral.

A solução política encontrada nesta Legislatura tem um enorme significado para a vida democrática

portuguesa, na medida em que representa o desmoronar dos dogmas que marcaram o discurso político e

mediático dominante durante quase quatro décadas no nosso País.

Nesta Legislatura acabou a mentira mil vezes repetida de que as eleições legislativas não seriam mais do

que uma forma de eleição direta do Primeiro-Ministro.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

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O Sr. António Filipe (PCP): — Nesta Legislatura acabou o dogma de que as eleições legislativas se

resumiriam a uma escolha do partido de turno predestinado, no quadro de uma alternância sem alternativas, a

executar as políticas de exploração e de empobrecimento de muitos para o enriquecimento de poucos, de acordo

com o pensamento único ditado pelos interesses do grande capital financeiro.

Nesta Legislatura acabou a famigerada teoria do arco da governação, segundo a qual os partidos à esquerda

do PS não poderiam ter qualquer palavra a dizer quanto à solução governativa para o País, devendo permanecer

remetidos à marginalidade de um sistema político ideologicamente sequestrado por políticas de direita.

Esta Legislatura permitiu demonstrar que não há eleitores de primeira e de segunda e que todos os

Deputados de todos os partidos têm exatamente a mesma legitimidade democrática, a legitimidade que só o

povo português tem poderes para conferir.

O PCP tornou muito claros, desde a noite das eleições legislativas, os seus propósitos para a presente

Legislatura. Manifestou a sua disponibilidade para encontrar uma solução política que, no quadro da nova

correlação de forças da Assembleia da República, correspondesse à vontade manifestada pelo povo português

de afastar o PSD e o CDS da governação do País e afirmou que não desperdiçaria nenhuma oportunidade para

lutar pela defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores e do povo português.

Toda a ação do PCP nesta Legislatura tem sido norteada por estes propósitos, sem abdicar de um só dos

seus princípios, sem desistir das suas propostas e sem hesitar em rejeitar as medidas que considere negativas

para o povo e para o País.

É por isso, com total frontalidade, que o PCP considera deplorável que se mantenham convergências do PS

com os partidos de direita em questões estruturantes, relativas à soberania da República e à configuração do

regime democrático, como a legislação laboral, a submissão à NATO e à União Europeia, a ratificação do CETA

(Acordo Económico e Comercial Global) ou o acesso aos chamados metadados por parte dos Serviços de

Informações.

Aplausos do PCP.

E é com a mesma frontalidade e em total coerência que o PCP se congratula com a reposição, nesta

Legislatura, de muitos dos direitos que o Governo PSD/CDS havia roubado ao povo português e que muitos

consideravam perdidos para sempre. A viragem política que se operou com a nova fase da vida política nacional

não foi de mera cosmética. Teve efeitos muito positivos para as condições de vida de largos estratos da

população, particularmente para os menos favorecidos, e teve um impacto comprovadamente positivo para a

evolução económica do País. Mas é também em nome dessa coerência que o PCP afirma que a viragem

verificada fica muito aquém do que seria possível e do que continua a ser necessário.

Sem uma política patriótica e de esquerda, sem romper com a submissão ao euro, sem a renegociação de

uma dívida externa que suga grande parte dos recursos nacionais e sem o controlo público do sistema financeiro

não será possível afastar os constrangimentos que limitam de forma drástica as possibilidades de um

desenvolvimento económico e social sustentado do nosso País e de melhorar, de forma significativa, as

condições de vida dos trabalhadores e do povo.

As malfeitorias impostas pelo Governo PSD/CDS contra os direitos dos trabalhadores continuam por reverter,

designadamente em matéria de contratação coletiva, de regimes de férias, de horários de trabalho e de

reposição de carreiras. Os reformados continuam a não ver reconhecido o seu direito a não serem penalizados

após uma longa vida de trabalho e de contribuições. As freguesias extintas contra a vontade das populações

continuam por repor. Estão por dar passos mais decididos no sentido de garantir direitos fundamentais no acesso

à saúde, à educação, à habitação ou à proteção social.

O PCP não desistiu, não desiste e não desistirá de lutar por estes objetivos. Assim, no primeiro dia da sessão

legislativa que agora se inicia, o PCP reapresentou já, nesta Assembleia, um projeto de resolução que

recomenda a fixação do salário mínimo nacional em 600 € a partir de 1 de janeiro de 2018, projetos de lei que

visam consagrar 25 dias úteis de férias para os trabalhadores do setor público e do setor privado, um projeto de

lei que visa a reposição das freguesias extintas em 2013, de acordo com a vontade expressa pelas respetivas

populações, e um projeto de lei que altera o regime de concurso dos professores, de modo a garantir a

vinculação e a estabilidade da sua vida pessoal e profissional.

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Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nas circunstâncias da presente Legislatura, o PCP orgulha-se, justamente,

de contribuir com o seu posicionamento, a sua ação e as suas propostas para melhorar as condições de vida

dos portugueses e defender o interesse nacional. É esse o compromisso e a responsabilidade que o PCP

assume plenamente perante os trabalhadores e o povo: não perder uma única oportunidade que seja para lutar

pela defesa, reposição e conquista de direitos do povo português. É isso que tem feito e é o que continuará a

fazer.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado António Filipe, inscreveram-se quatro Deputados para pedidos de

esclarecimento. Como pretende responder?

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, responderei a grupos de dois pedidos de esclarecimento.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Wanda Guimarães.

A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Filipe, o Partido Socialista

congratula-se com o reconhecimento de que se revestiu esta nova formulação na Assembleia da República e

que, evidentemente, tem como principal protagonista o Partido Socialista. Não podemos, portanto, deixar de nos

regozijarmos com esta declaração pública reconhecendo esta nossa iniciativa.

Relativamente à legislação laboral e a outros aspetos que foram referidos, como o do aumento do salário

mínimo para 600 € já em 2018, quando a concertação social tem um acordo em que os 600 € estão previstos

para 2019, como a questão dos 25 dias de férias para o setor privado e para a Administração Pública e outras

matérias que foram aqui elencadas, devemos dizer que não há surpresas. Ou seja, o Partido Socialista tem,

sobre esta matéria, uma posição perfeitamente clara e defende a concertação social. Estes aspetos fazem parte

da concertação social.

Relativamente a outros aspetos que também aqui foram focados, que têm a ver com a melhoria das

condições de vida e de trabalho dos trabalhadores portugueses, gostaria de dizer que estas são matérias que

não queremos, de facto, sonegar àqueles que têm a primazia da negociação coletiva, que são as organizações

sindicais. Prezamos por demais o contributo e a importância das organizações sindicais neste contexto e é por

isso que não podemos acompanhar a perspetiva que o Partido Comunista tem sobre estas matérias.

O Sr. Deputado elencou também a questão, no âmbito da segurança social, das longas carreiras

contributivas, um aspeto que nos preocupa sobremaneira e em que já estamos, como toda a gente sabe — é

público e notório —, a trabalhar na solução que virá beneficiar muitos. Não há dúvida de que talvez para alguns

não haja benefício muito grande, mas para os que vão ser beneficiados posso garantir-vos que é um enorme

avanço e uma questão de justiça que ninguém, nesta Assembleia, poderá pôr em causa.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Cesário.

O Sr. José Cesário (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Filipe, confesso que estava à espera de

mais veemência de sua parte, sobretudo depois da declaração situacionista do Sr. Deputado João Vasconcelos,

há pouco, em nome do Bloco de Esquerda, ao considerar factos sem relevo o desastre de Pedrógão ou o assalto

a Tancos.

O Sr. João Vasconcelos (BE): — Não foi isso!

O Sr. José Cesário (PSD): — Estava à espera que V. Ex.ª fosse efetivamente mais longe, porque há, aqui,

um problema grave de consciência que o Partido de Comunista tem de ter. O Partido Comunista Português é

conivente com o Governo em toda a estratégia que tem vindo a ser desenvolvida de perfeito desastre na

organização dos serviços públicos.

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Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. José Cesário (PSD): — Os senhores são coniventes com o Governo quando há portugueses a sofrer

por não terem consultas nos hospitais, por não terem intervenções cirúrgicas.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. José Cesário (PSD): — Há professores colocados em escolas a 300 ou 400 km de sua casa. Há

portugueses a sofrer quando há, por exemplo, serviços de notariado ou conservatórias que não conseguem

responder ou consulados que marcam reuniões com os cidadãos para dali a três ou quatro meses. Isto é

responsabilidade do Governo e é responsabilidade do Partido Comunista Português.

Aplausos do PSD.

O que é que o Partido Comunista Português vai fazer para defender efetivamente os mais frágeis? Quando

é que abandona a sua retórica, repito, também situacionista do Governo? Como é que o Partido Comunista

Português vai concretizar, na prática, a declaração do Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, que considerou

dificilmente repetível o acordo que levou à constituição deste Governo? É isto que está em causa, Sr. Deputado.

Não fuja às questões. Fundamentalmente, assuma as suas responsabilidades em todas as tais malfeitorias do

atual Governo relativamente a largos setores da sociedade portuguesa.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, a Sr.ª Deputada Wanda Guimarães colocou aqui, de facto,

um ponto que nos divide: contestou aqui a possibilidade de se fazer um aumento do salário mínimo nacional

para 600 € em 2018, que consideramos uma medida da mais elementar justiça social e, para além disso,

positiva, não apenas para as condições de vida dos trabalhadores, que passariam a auferir esse salário mínimo,

mas também para a receita fiscal, para a receita da segurança social e para a própria economia nacional. A Sr.ª

Deputada diz que isso tem de ser decidido em concertação social. Se a concertação social não está de acordo

com esta medida — o que não é surpresa, porque o patronato resiste sempre a tudo o que seja aumento salarial

para os trabalhadores —, temos pena, mas o órgão de soberania eleito pelo povo português foi a Assembleia

da República e não a Comissão Permanente de Concertação Social.

Aplausos do PCP.

Tanto assim é que o próprio Governo assumiu compromissos políticos relativos ao salário mínimo nacional

diferentes dos que consideramos justos, independentemente do que sejam as decisões da concertação social.

Portanto, não atire com as responsabilidades para a concertação social, porque o Partido Socialista tem de

assumir também responsabilidades perante o País.

Sr. Deputado José Cesário, ouvimos ontem o presidente do PSD a queixar-se amargamente de que ninguém

reconhecia os méritos que o Governo PSD/CDS teve.

Vozes do PSD: — E não!

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Deputado, já agora, não seja sectário e reconheça também os deméritos.

Protestos do PSD.

O Sr. Deputado fez aqui o levantamento de problemas que existem na sociedade portuguesa, que afetam os

portugueses e que têm de ser resolvidos e melhorados, nomeadamente no acesso à saúde e a um conjunto de

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serviços públicos essenciais, mas, Sr. Deputado, reconheça o estado em que a catastrófica governação

PSD/CDS deixou esses serviços públicos.

Aplausos do PCP.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Não venha dizer que há dois anos estava tudo ótimo e que agora tudo piorou, porque isso não é verdade.

Não seja sectário e reconheça também os deméritos do Governo PSD/CDS.

Já agora, Sr. Deputado, quando o PCP voltar a propor, na Assembleia da República, medidas legislativas

para resolver esses problemas, não vote contra, que é o que o PSD tem feito sistematicamente.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Filipe, registo a declaração política

que aqui fez e deixe-me pegar em alguns acontecimentos destes últimos dias para também analisar um pouco

a situação política em que estamos inseridos.

Foi estranho ver o PSD e o CDS nesta tentativa de, quais emplastros, se colocarem numa fotografia para a

qual, claramente, não foram chamados e, pelo contrário, onde nunca poderiam sequer estar.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Essa é boa!

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Quando falamos de bons resultados da economia, parece que PSD e

CDS se esqueceram de quando anunciaram ao País que o diabo estava já aí a seguir!

O que tem sido levado por diante é exatamente o contrário do que o PSD e o CDS anunciavam e do que

queriam para o País. Se não, veja-se, quando se decidiu aumentar o salário mínimo nacional, PSD e CDS

diziam: «Não é possível! Não vai ser possível!». O salário mínimo já foi aumentado em 52 € por mês, mas o

PSD e o CDS diziam que não era possível porque a economia não aguentava este ritmo.

Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.

Já ouvimos tantas vezes esta ladainha de que mais direitos aos trabalhadores e mais salário no bolso ao

final do mês eram um ataque à economia. Quando olhamos para a economia a crescer e para o desemprego a

descer percebemos como muito do medo que tinham transposto para a nossa realidade, na prática, era a vossa

ideologia contra as pessoas e contra os trabalhadores, contra quem vive do seu trabalho, que tentavam impor

ao País e não aquilo que era justo, que era a valorização dos salários.

Ainda me lembro, por exemplo, de como o CDS se juntou ao PSD para alertar para um corte de 600 milhões

de euros nas pensões — daqui a pouco o Sr. Deputado Nuno Magalhães poderá explicar como o iriam fazer.

Mas nós conseguimos, de facto, até ter um aumento extraordinário das pensões, algo que PSD e CDS sempre

negaram, e já temos garantido, pelo menos, que as pensões irão aumentar novamente em 2018, não vão ficar

congeladas como CDS e PSD queriam.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Para concluir, Sr. Presidente, pergunto ao Sr. Deputado se esta ladainha

de que os direitos estão sempre contra a economia e que as pessoas devem ser sacrificadas à economia, de

facto, não tem sido desmontada com a realidade. O que temos provado ao longo destes dois anos é que quanto

mais direitos e rendimentos as pessoas têm melhor está a economia. Por isso, pergunto se a conclusão é essa

ou se a resposta não deve ser a de continuar e aprofundar este caminho.

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Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, o Sr. Deputado António Filipe faz aqui uma declaração

política, de resto, a primeira do PCP, como assinalou, nesta Sessão Legislativa, que eu dividiria em duas partes.

Na primeira parte, o Sr. Deputado faz uma análise que, eu diria, corresponde exatamente àquilo que o Sr.

Deputado e o PCP pensam, ou seja, no fundo, está tudo bem, não se passa nada: «Estamos aquém, é verdade,

mas anteriormente é que se estava mal, porque nós agora conseguimos reverter tudo». Até aos 3 minutos,

basicamente, o Sr. Deputado fez o elogio do Governo, o que teria o meu elogio, de resto, porque, pelo menos,

seria uma declaração política sincera e que viria a confirmar que o PCP faz, como faz, parte da atual coligação

que sustenta o atual Governo. Aliás, eu até já tinha escrito a pergunta que iria fazer — então, de que é que se

queixa o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa? —, porque na primeira parte da sua declaração disse que, afinal, o

PCP tinha conseguido grandes vitórias, esquecendo-se até, o que não deixa de ser curioso, de uma tal, que

existiu, chamada «greve de enfermeiros»,…

A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Isso!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Isso não interessa nada!

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … de um tal Ministro que insultou os enfermeiros, das cativações na

saúde, na educação, dos Comandos Metropolitanos de Lisboa e do Porto, que não têm viaturas por não haver

dinheiro para as consertar, das escolas que ameaçam fechar por terem menos de metade do rácio de auxiliares

e de funcionários.

Pensei que o PCP se iria manter nessa lógica de «não se passa nada!». Mas o Sr. Deputado, às tantas, por

volta dos 4 minutos e 24 ou 26 segundos, pensou: «Bom, não posso dizer só isto, tenho de dizer mais alguma

coisa». Então, o Sr. Deputado veio falar naquilo que o PCP quer já a seguir, calculo eu, no Orçamento do Estado,

que é a criação de 25 dias úteis de férias para todos os trabalhadores, a reposição de todas as freguesias, a

alteração do regime de concursos de professores.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É candidato aonde?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O Sr. Deputado, mais ou menos, a partir dos 4,5 minutos deixou de

ter um registo mais honesto, do ponto de vista político, obviamente, e passou a «geringonçar», se me permite a

expressão.

Perante isto, Sr. Deputado, a minha pergunta é óbvia: se não houver reposição de freguesias…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado, por favor.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, termino já, vou só colocar a minha pergunta.

Se não houver reposição de freguesias, se o regime de professores não for alterado, se não houver 25 dias

de férias para todos os trabalhadores, se não houver o aumento do salário mínimo nacional, como o Sr.

Deputado deseja, o que é que fará? Isto porque, se não fizer nada, é caso para dizer que o PCP passou a ser

só fumaça! E o PCP está muito sereno.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, se o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares não me levar a mal,

começarei por responder à direita, para poder terminar na esquerda…

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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É o chamado «fim em beleza»!

O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!

O Sr. Deputado Nuno Magalhães respondeu à sua própria pergunta, porque a segunda parte da minha

intervenção, como acabou de dizer, responde às dúvidas que poderiam ser suscitadas pela primeira.

O Sr. Deputado diz que o PCP enunciou aqui uma série de propostas, designadamente o aumento do salário

mínimo, o aumento do número de dias úteis de férias para todos os trabalhadores e outras, e termina com uma

pergunta concreta: o que é que acontece se essas propostas não forem aprovadas? Sr. Deputado, a resposta

é muito simples: o PCP continuará a lutar pela aprovação dessas propostas.

Risos do CDS-PP.

Se o CDS estiver disposto a votá-las favoravelmente dará uma grande ajuda para a sua aprovação, Sr.

Deputado! Portanto, o CDS tem até grande parte da responsabilidade…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ai agora é nossa?!

O Sr. António Filipe (PCP): — … na aprovação dessas propostas. Por isso, convidamos o CDS a concordar

com as propostas do PCP porque isso será um passo significativo para a aprovação das mesmas.

O Sr. João Oliveira (PCP): — O arrependimento é um ato cristão…

O Sr. António Filipe (PCP): — Não apresentamos aqui as nossas propostas à espera que elas sejam

rejeitadas, Sr. Deputado, fazemo-lo seriamente com a convicção de que seria importante para o País que elas

fossem aprovadas. Por isso, lutamos para que elas sejam efetivamente aprovadas, porque consideramos que

isso seria muito bom para o País e para o povo português.

Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, eu começaria por dizer que nós, PCP, como se costuma dizer, não

embandeiramos em arco com as decisões das agências de rating. Criticámos quem em Portugal considerava

que a opinião das agências de rating era o alfa e o ómega para a economia portuguesa e que Portugal tinha de

se submeter àquilo que fosse o diktat dessas agências.

Portanto, como dissemos isso e considerámos absolutamente absurda a classificação da dívida portuguesa

como lixo, também não vamos agora dizer que as agências de rating já são boas, porque, efetivamente, agora

Portugal já não está no nível lixo, segundo a Standard & Poor’s.

Posto isto, há uma coisa que temos de dizer: não valorizamos o facto de a Standard & Poor’s ter considerado

que a dívida pública portuguesa já não estava no nível lixo, porque sabemos que, se houver um novo ataque

especulativo à dívida pública portuguesa, a Standard & Poor’s, na maior das calmas, volta a classificá-la de lixo.

Agora, o mérito que isto tem é o de ter colocado no lixo o discurso político do PSD dos últimos anos.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. António Filipe (PCP): — Isto é que é absolutamente inequívoco!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Se algo foi colocado no lixo foi o discurso político que o PSD e o CDS têm andado a fazer nos últimos anos.

Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, para terminar esta minha intervenção, queria deixar aqui um apelo ao

apoio à iniciativa que o PCP apresentou relativamente ao aumento do salário mínimo nacional para os 600 € já

em janeiro de 2018. Consideramos que é uma medida da mais elementar justiça social, que seria importante

para os trabalhadores e para a economia nacional e fazemos aqui um apelo para que todas as forças políticas

aceitem este repto…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

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O Sr. António Filipe (PCP): — Concluo de imediato, Sr. Presidente.

Como eu dizia, apelo para que todas as forças políticas aceitem este repto de lutarmos juntos para que os

portugueses possam ter, muito em breve, uma conquista da mais elementar justiça.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma declaração política, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quanto melhor estiverem

as pessoas, melhor está o País. Julgo que esta deve ser uma afirmação inequívoca e inabalável.

Deve ser o bem-estar dos cidadãos, da população, a servir de barómetro para a utilidade e a estabilidade

das políticas e não qualquer nota de alguma agência de rating. Acho que todos deveríamos ter isto presente.

É por isso que neste início de sessão legislativa será, porventura, importante relembrar o quão relevante foi

também todo o percurso que até aqui já se fez, e, acrescento em nome de Os Verdes, já muito mais se poderia

ter feito, no sentido da reposição de rendimentos às famílias portuguesas. Era da mais elementar justiça fazê-

lo, mas foi, e está a ser, também da maior utilidade, designadamente para a dinamização da economia do País.

Quem anda na rua e contacta regularmente com o comércio local apercebe-se do balão de oxigénio que essa

retoma do poder de compra das famílias trouxe também para a dinamização do comércio local.

É evidente que temos agora outras lutas pela frente, porque ainda há muito para fazer pelas pessoas no

País. Os Verdes vão, seguramente, no âmbito do próximo Orçamento do Estado, mas não só, lutar,

afincadamente, pelo descongelamento da progressão nas carreiras na Administração Pública, pela maior

progressividade no IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), pelo combate à precariedade,

designadamente nos professores, na função docente, mas também pela necessidade premente da revisão do

Código do Trabalho.

Vamos lutar, afincadamente, por um maior e mais significativo investimento nas áreas da saúde e da

educação, porque são funções sociais do Estado absolutamente relevantes e que devem merecer uma atenção

muito particular, tendo em conta as machadadas ferozes que foram dadas nestas áreas pelo anterior Governo

PSD/CDS.

Há uma outra área fundamental para Os Verdes: os transportes públicos e a mobilidade dos cidadãos. E aqui

gostaria de me reter um pouco, para desenvolver um pouco mais esta matéria, que me parece absolutamente

crucial.

Neste mês de setembro, as famílias portuguesas estão já a usufruir da proposta, apresentada por Os Verdes

no âmbito do anterior Orçamento do Estado e que foi aprovada, relativa ao desconto no preço do passe social

sub23 para os estudantes universitários. É fundamental, disseram Os Verdes, e a vida demonstrou essa razão,

e as pessoas estão hoje a poder usufruir desse desconto no passe social, que é fundamental para a motivação

na utilização do transporte coletivo pelos jovens portugueses.

Fomentar o transporte público é determinante, mas há um que é absolutamente crucial, que é o transporte

ferroviário. Hoje, deparamo-nos com o fenómeno das alterações climáticas e acho que já todas as pessoas

perceberam que não é para brincar, é mesmo para levar a sério. Ou nós entendemos, de facto, que o trabalho

para a mitigação do aquecimento global é determinante ou, então, sofreremos maiores consequências dos

extremos climáticos.

Ora, a área dos transportes e da mobilidade coletiva é determinante para diminuir as emissões de gases com

efeito de estufa, mas o transporte ferroviário é aquele que está em melhores condições de dar uma resposta

mais eficaz.

Pergunta-se, então: por que é que no nosso País esta matéria não é prioritária? Por que é que no nosso País

não se investe, conveniente e adequadamente, nos transportes públicos ferroviários? Nós precisamos — e Os

Verdes reiteram esta reivindicação — de um plano ferroviário nacional, que crie e determine uma estratégia para

o investimento ferroviário no País. Nós precisamos do transporte ferroviário como fonte de resposta às

assimetrias regionais do interior. Os Verdes batalharam tanto pela reposição do transporte de passageiros na

Linha do Leste que conseguiram o transporte diário de passageiros, mas é preciso mais! Beja, capital de distrito,

não tem essa ligação ferroviária direta.

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O transporte ferroviário é determinante não só na ótica do combate às assimetrias regionais mas também

nas grandes áreas metropolitanas. Como é possível, em pleno século XXI, termos, por exemplo, a linha

ferroviária de Cascais absolutamente obsoleta, se a compararmos com a demais rede ferroviária nacional? O

PSD e o CDS queriam privatizá-la, nós dissemos: «Não!». Mas é preciso mais, é preciso investimento público

nesta matéria e o aproveitamento de fundos comunitários para esta reabilitação. Esta linha tem uma corrente

elétrica incompatível com a demais rede ferroviária e, por isso, esse facto inibe ou dificulta muito o investimento

na renovação do material circulante, provoca várias avarias e dificulta a resposta que é fundamental dar aos

cidadãos.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.

O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada, por favor.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino já, Sr. Presidente.

Sr.as e Srs. Deputados, temos muito trabalho para levar adiante. Os Verdes, o seu Grupo Parlamentar, cá

estão para erguer as suas mãos, o seu trabalho, justamente por essas boas causas, porque o seu barómetro é

o bem-estar das pessoas.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr.ª Deputada, a Mesa regista cinco pedidos de esclarecimento. Como

pretende responder?

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, responderei no fim, conjuntamente.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Muito bem, assim faremos.

Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Testa.

O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — Sr. Presidente, antes de mais, quero felicitar a Sr.ª Deputada Heloísa

Apolónia, reconhecendo nas suas palavras o nosso trabalho e o resultado da nossa ação no Governo de

Portugal.

Este País tem registado, nos últimos tempos, nos ainda curtos meses de Governo, uma assinalável

transformação, em termos de ação governativa, na abordagem à área dos transportes. Aliás, a Sr.ª Deputada,

nas suas palavras, recorda precisamente o que vinha sendo abordado na Agenda para a Década, documento

inspirador desta governação do Partido Socialista, do seu programa eleitoral e do Programa do Governo em

funções.

O transporte ferroviário não tem só um impacto positivo e significativo em termos ambientais. O transporte

ferroviário tem também impacto positivo em termos de coesão territorial. Por isso, é e tem sido uma prioridade

para o Grupo Parlamentar do Partido Socialista no que respeita aos investimentos assinalados por este Governo

e muito mais se fará nos próximos tempos — assim contribuam Os Verdes e os demais grupos parlamentares

para tal — para que possamos lograr uma negociação dos próximos quadros comunitários a favor do transporte

ferroviário, porque só assim conseguiremos dar resposta efetiva a essa necessidade do País.

Nós estamos apostados nisso, muito apostados nisso. Não quero, na minha região, um comboio semanal

que só leva pessoas da minha região e nunca traz riqueza. Não quero que o País ande a duas, a três ou a quatro

velocidades. Há uma resposta para isso, em termos de transportes, e ela só é dada pelo transporte ferroviário.

Brincar com as palavras e com as ações, como alguns brincaram, ao longo de quatro anos — durante quatro

anos jogaram com os meros instrumentos orçamentais e de ação política — foi brincar com os portugueses.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — Não estamos disponíveis para que isso continue assim e, por isso,

precisamos que todos, em conjunto, possamos encontrar respostas para este problema efetivo do País.

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Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Costa

Silva.

O Sr. António Costa Silva (PSD): — Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, este tema é, de facto, muito

importante para Portugal, mas eu pergunto, de imediato, à Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia e a todos os partidos

que suportam esta governação, o que é que, em termos práticos, tivemos nos últimos dois anos no que respeita

a investimento ferroviário. Deveria perguntar: afinal, de que é que se queixam, quando no nosso País tivemos

zero em termos de investimento público ferroviário?! Quando falamos de transportes, tivemos nada! E os

senhores não se queixam?! Quando nós apresentamos projetos de resolução, como foi o caso concreto das três

paragens da linha de comboio Sines/Caia, os senhores, todos, chumbam-nos em conjunto e, depois, vêm falar

de descarbonização! É isso que os senhores querem?! É isso que nos vêm propor?!

Então, descarbonizar não é tirar os camiões, por exemplo, da zona dos mármores e colocar o mármore no

comboio, transportando-o desta forma mais competitiva para o Porto?! Isto não é descarbonizar?! E os senhores

chumbam os projetos de resolução?!

Gostaríamos de perceber qual é, afinal, o papel, aqui, na Assembleia, de Os Verdes no meio de toda esta

história.

Sr.ª Deputada, permita-me que lhe faça um conjunto de perguntas, porque há uns temas que são, de facto,

muito importantes.

Nesta semana, na quarta-feira, iremos apresentar na Assembleia da República um projeto de resolução

referente a um conjunto de investimentos ferroviários, mas também rodoviários e no metropolitano, que são

muito importantes para Portugal e nós estamos curiosos para ver qual será a expectativa de todos,

nomeadamente de Os Verdes, em relação a esses investimentos. Até agora, nem comboio, nem linha, nem

nada!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Nada!

O Sr. António Costa Silva (PSD): — São só conversas, em todo o lado!

Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.

Pergunto: quando vamos ter o início das obras para a modernização e a eletrificação da linha Porto/Setúbal

até às praias do Sado? Para quando as linhas internacionais de Poceirão/Lisboa e de Setúbal/Sines/Caia? Para

quando a modernização da Linha do Norte, da Linha do Oeste, da Linha de Cascais? Para quando? Há dois

anos que estão no Governo e ainda não há nada!

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!

O Sr. António Costa Silva (PSD): — Temos alguma expectativa em relação a uma resposta. É agora? — é

a pergunta que lhe faço.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, eu estava tentado a dizer

que concordo com quase todo o caderno de reivindicação que V. Ex.ª fez dali, da tribuna, mas fico na expectativa

redobrada de saber qual será o sentido de voto do Partido Ecologista «Os Verdes» na próxima quarta-feira,

quando votarmos projetos de resolução do CDS-PP onde muitas dessas obras estão plasmadas. E não há lá

nada de novo, apenas um conjunto de obras que merece um consenso alargado nesta Câmara.

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Muitos dos projetos de resolução apresentados, quer pelo Partido Comunista Português quer pelo Bloco de

Esquerda, recaem sobre muitas matérias em concreto, desde logo, o Metro do Mondego, a Linha de Cascais,

entre outras, e, portanto, a Sr.ª Deputada não disse nada de novo.

Acho que esta sessão legislativa começa bem, começa, para já, com o Partido Comunista Português e o

Partido Ecologista «Os Verdes», numa encenação, a piar de fininho, a piar baixinho. Não sei se é por causa das

eleições autárquicas…

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Deve ser! Deve ser!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … ou se é para darem sinais de que as negociações para o Orçamento

do Estado estão a correr mal. Por que é que digo isto? Digo-o porque, Sr.ª Deputada, é muito pouco, é

poucochinho, vir apenas enunciar aquilo que todos nós desejamos e sabemos.

A Sr.ª Deputada diz que é preciso mais investimento público. Sabe qual foi o ministério onde houve mais

cativações, 361 milhões de euros? Foi no Ministério do Planeamento e das Infraestruturas. O que é que a Sr.ª

Deputada andou a fazer quando este Governo parou, adiou e anulou tudo o que era obra, até de manutenção,

na ferrovia e na rodovia?

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Então, a Sr.ª Deputada assobiava para o lado?! A Sr.ª Deputada fazia

apenas declarações de intenção?! A Sr.ª Deputada, aquando do Orçamento, não aprovou uma regra que

permitiu essas cativações?! Alguma vez se assistiu a uma degradação dos serviços de transportes, como se

assiste agora?

Protestos do PCP.

A Sr.ª Deputada diz: «Bom, agora é que é!». Quando diz «agora é que é», o que a Sr.ª Deputada está a fazer

é reconhecer que o anterior Governo resolveu o problema, começou a devolução de rendimentos e permitiu que

os resultados bons da economia tenham mais a ver com a ação do Governo anterior do que propriamente com

a ação deste Governo. Este Governo, pura e simplesmente, parou, adiou, e, por isso, a Sr.ª Deputada diz que

temos de trabalhar mais, que temos de investir mais, agora é que começa tudo, o que quer dizer que, de facto,

se há alguma melhoria na economia e na vida dos portugueses, o mérito é do anterior Governo e não deste.

Mas ainda vai a tempo, Sr.ª Deputada. Se quiser olhar com calma e serenidade para o projeto de resolução, a

bancada do Partido Ecologista «Os Verdes», juntamente com a do PSD e a do CDS, ainda vai a tempo para,

juntos, conseguirmos convencer o Partido Socialista a cumprir as promessas que ele próprio fez relativamente

ao eixo norte, ao eixo sul, à Linha de Cascais, à Linha do Oeste, à Linha do Vouga… Ou seja, a Ferrovia 2020

que está calendarizada e foi apresentada pelo Partido Socialista mas que, como sempre, da promessa à

conclusão vai uma enorme diferença. Prometem muito, mas fazem pouco!

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Carlos Matias.

O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, antes de mais, cumprimento a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia

pelas temáticas que nos trouxe, em particular, pelo tema da ferrovia, do caminho-de-ferro.

Com efeito, o caminho-de-ferro tem um papel importantíssimo no combate às alterações climáticas, pelas

características do próprio modo de transporte. Tem também um papel importantíssimo na correção das

desigualdades territoriais e, em particular, na promoção dos territórios do interior. Ora, neste aspeto, diga-se, a

direita tem uma «folha de serviços» muito manchada pelo encerramento de linhas, de ramais e estações, pelo

que não pode vir agora aqui, de um momento para o outro, «rasgar as vestes» por aquilo que não está a ser

feito.

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Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. Carlos Matias (BE): — Mas há um aspeto muito particular que gostaria que a Sr.ª Deputada Heloísa

Apolónia tivesse desenvolvido mais — pareceu-me que o iria fazer, mas, porventura, não o terá feito por falta

de tempo —, que é o papel que o transporte ferroviário tem na promoção da indústria metalomecânica pesada

ferroviária, a qual é absolutamente fundamental para garantir a segurança desse modo de transporte.

É que se é verdade que a segurança é importante em todos os modos de transporte, mais ainda o é num

modo de transporte tão pesado e tão importante.

Portanto, o que quero perguntar é se acha que é compaginável manter a segurança do transporte ferroviário

com uma política que tem sido seguida, ao longo de anos e anos, de desinvestimento na indústria ferroviária,

em particular na EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) e em várias empresas

especialmente bem qualificadas para garantir a manutenção, a remodelação e a construção de comboios, em

qualidade e em segurança.

Gostaria de saber qual é a opinião da Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia sobre esse aspeto. E ainda se acha

ou não importante haver um forte investimento público na indústria metalomecânica pesada, associada ao

transporte ferroviário, porque, do ponto de vista do Bloco de Esquerda, o mesmo é absolutamente essencial

para criar emprego, para a segurança, para o desenvolvimento do País e para garantir uma ferrovia moderna e

adequada às exigências do nosso País.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar, quero

saudá-la pela declaração política que aqui nos trouxe nos vários elementos que referiu e, em particular, pelo

enfoque que deu às matérias relacionadas com o transporte e as infraestruturas e com a necessidade de

investimento nesses mesmos transportes e nessas mesmas infraestruturas como um elemento estratégico, não

só para o desenvolvimento do País mas também para a coesão territorial e, em particular, para o investimento

que é necessário realizar no interior do País, para fixar população, para desenvolver a economia nacional e,

assim, garantir o desenvolvimento do País e a melhoria das condições de vida dos portugueses.

Estas matérias são elementos centrais no debate político e têm de estar presentes quando discutimos as

perspetivas de futuro e o caminho que temos de fazer para termos um País mais desenvolvido.

E essas matérias, em particular, em relação à questão dos transportes — não apenas do transporte

ferroviário mas, sobretudo, do transporte ferroviário —, têm de ser necessariamente consideradas naqueles dois

aspetos que a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia referiu: por um lado, precisamos de ter empresas públicas que

garantam a prestação de um serviço público com qualidade e que contribua efetivamente, não apenas no plano

do transporte de mercadorias mas também no plano do transporte de passageiros, para a satisfação das

necessidades das populações e para a garantia do desenvolvimento do País; e, por outro lado, precisamos de

ter, no plano das infraestruturas, o investimento necessário para dotar o País da rede de infraestruturas,

nomeadamente para o transporte ferroviário, necessária a esses objetivos.

Esses dois aspetos que a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia referiu na sua declaração política são, de facto,

centrais. E é extraordinário o que ouvimos dos Deputados do PSD e do CDS — e, em particular do Sr. Deputado

Costa Silva, ainda por cima eleito pelo círculo eleitoral de Évora, no Alentejo —, com o passado que tiveram, de

arrasar todos os projetos de investimento público, alguns dos quais o Sr. Deputado aqui referiu, em particular.

De facto, o Sr. Deputado Costa Silva lembrou-se hoje de falar na ligação ferroviária Sines/Caia, mas esteve

quatro anos no Governo e nunca teve sequer a preocupação de ver que o projeto em causa para essa ligação

cortava a cidade de Évora, deixando um terço separado do resto, com mais de 50 comboios por dia a passarem

a 10 metros das janelas das pessoas. Hoje, faz aqui este discurso compungido, de preocupação com o

investimento na Linha Sines/Caia. É caso para dizer, Sr. Deputado: haja topete!

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Vou concluir, Sr. Presidente.

A questão é que o investimento público, quer nas empresas públicas de transportes quer nas infraestruturas,

é decisivo para resolver muitos dos problemas com que já hoje as populações estão confrontadas, não apenas

com a situação de degradação a que chegou o metropolitano ou a Linha de Cascais, mas também com o

transporte ferroviário, muitas vezes, pura e simplesmente, liquidado em tantas regiões do País. O exemplo do

Metro Mondego e do fracasso que significa aquele projeto face à linha ferroviária que servia os interesses das

populações e que deixou de existir é apenas um dos exemplos.

Queria perguntar-lhe, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, para além dos exemplos que identificou, qual é a

perspetiva que o Partido Ecologista «Os Verdes» tem relativamente à necessidade do investimento público já

no próximo ano, e aproveitando os fundos comunitários para resolver muitos destes problemas concretos,

integrado numa estratégia de desenvolvimento nacional onde o transporte ferroviário possa ser, de facto, um

elemento central e estratégico.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Foi-lhe concedida muita tolerância pela Mesa, Sr. Deputado João

Oliveira.

Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, agradeço-lhes todas as

considerações e questões que me colocaram.

Quero dizer que, para Os Verdes, é absolutamente fulcral colocar no centro da agenda política a matéria do

transporte ferroviário, da mobilidade ferroviária. Não apenas por razões de coesão territorial (mas também, pois

é razão muito forte), não apenas por matérias ambientais e de mitigação das alterações climáticas (mas também,

pois é razão muito forte), mas por todo um outro conjunto de circunstâncias, algumas das quais aqui focadas

por outros Srs. Deputados.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Exatamente!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Mas — e deixe-me lembrar-lhe, Sr. Deputado Hélder Amaral — até

por razões turísticas e de dinamização económica das localidades. E é talvez com uma lágrima no olho — do

Sr. Deputado, eventualmente — que hoje podemos falar da Linha do Tua, Sr. Deputado, uma daquelas que os

senhores arrancaram e destruíram e, com isso, a potencialidade de uma região para a sua dinamização

económica e turística.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

É verdade que o Sr. Deputado António Costa Silva deveria ter um pouquinho mais de pudor ao vir aqui falar

da Linha Sines/Caia.

Protestos do PSD.

É que os senhores não sabem ouvir as populações, nem têm qualquer interesse nos impactos dos vossos

projetos nas populações e naquilo que poderia acontecer, como o Sr. Deputado João Oliveira aqui referiu, à

cidade de Évora. Não quiseram saber de absolutamente nada, porque a vossa arrogância também passou pelo

setor ferroviário e, designadamente — já agora, deixe-me dizer —, pelo desinvestimento brutal que fizeram,

durante os vossos quatro anos de governação, na matéria da ferrovia.

O Sr. Deputado veio agora falar da Linha do Oeste. No entanto, não falaram, porque têm vergonha, mas

poderíamos falar, da questão da ligação direta à capital por via de Beja. Poderíamos aqui falar da questão da

passagem do Alfa, que deixou de passar, em Setúbal, na capital do distrito; poderíamos falar de tantas linhas

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fulcrais, que poderiam garantir a mobilidade concreta das populações e potenciar o desenvolvimento económico

dessas regiões. Mas os senhores nada fizeram — pior, desinvestiram!

Protestos do PSD.

Mas o que acho graça — sem ter graça nenhuma, evidentemente — é o Sr. Deputado Hélder Amaral chegar

aqui e dizer: «Para os senhores, agora é que é!». Agora é que é?!

O Sr. António Costa Silva (PSD): — Passaram dois anos!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Para os senhores, agora é que é! Os senhores estão na oposição,

agora não vos custa reivindicar! Mas, quando lá estiveram, durante dois anos, dois anos…

Protestos do PSD.

E vou fazer-lhe uma pergunta, Sr. Deputado, bastando acenar-me que «sim» ou «não» com a cabeça que já

fico satisfeita: considera uma questão menor a luta que Os Verdes empreenderam para a reposição do

transporte de passageiros na Linha do Leste?

Pausa.

Não responde! Sr. Presidente, não responde. Não quer responder. Acha que é politicamente irrelevante para

a população de Portalegre, do distrito de Portalegre? Não responde, só aponta o dedo!

Não acha que é fundamental termos liquidado a vossa intenção de privatização da Linha de Sintra ou da

Linha de Cascais?

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

Não acha?! Queria uma linha ferroviária numa lógica…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Como dizia, o Sr. Deputado queria uma linha ferroviária numa lógica de não serviço às populações, mas de

defesa de grandes interesses económicos. Foi sempre essa a vossa lógica, Sr. Deputado. Nunca se

preocuparam com as populações, nunca se preocuparam com o equilíbrio territorial!

Olhem, Srs. Deputados, nesta matéria, acho que não têm mesmo legitimidade para falar!

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tendo o PSD e o CDS-PP abdicado de proferir declarações políticas

hoje, em função do debate de atualidade que teve lugar no primeiro ponto, passamos a uma declaração política

por parte do Sr. Deputado Porfírio Silva.

Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Neste ano letivo teremos, no ensino

superior público, mais 10% de estudantes do que no ano passado.

Na primeira fase do concurso nacional, tivemos o maior número de candidatos desde 2009, os colocados em

primeira opção no ensino politécnico aumentam 16% e os colocados em regiões de menor densidade

demográfica aumentam 13%.

Voltamos a acreditar que estudar vale a pena, deixando para trás a triste narrativa dos que propalavam que

temos graduados a mais.

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Aplausos do PS.

O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Diga lá quem foi!

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Na ação social escolar, entrou em funcionamento a renovação automática das

bolsas: menos burocracia e bolsas pagas atempadamente. É um avanço importante, depois de, no ano passado,

termos tido o maior número de bolsas atribuídas desde 2010.

Aplausos do PS.

Fruto de iniciativa legislativa do PS, a partir deste ano, todos os estudantes de licenciatura e mestrado

integrado poderão pagar as suas propinas em pelo menos sete prestações, ou num esquema mais flexível,

sendo que as propinas só poderão ser cobradas aos beneficiários de bolsas quando estas já tenham sido

efetivamente pagas. E entrará este ano em vigor o novo sistema de bolsas de estudo para estudantes do ensino

superior com incapacidade igual ou superior a 60%.

Conhecemos recentemente resultados do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN).

Os números mostram que, enquanto a diminuição do investimento público em Investigação e Desenvolvimento

(I&D) arrasta uma quebra ainda maior do investimento privado, como aconteceu na Legislatura anterior, o

aumento do investimento público em I&D arrasta um aumento ainda maior do investimento privado, como

mostram os dados relativos a 2016.

Aplausos do PS.

Regista-se também um reforço dos recursos humanos em Ciência e Tecnologia (C&T), com a permilagem

de investigadores da população ativa a subir de 7,4, em 2015, para 7,9, em 2016.

Olhemos agora para os outros níveis de ensino. O País continua a avançar no pré-escolar: em dois anos

letivos, abrem mais de 170 novas salas e, no fim da Legislatura, quando comemorarmos os 10 anos do

alargamento da escolaridade obrigatória para o 12.º ano, teremos universalizado a oferta do pré-escolar aos 3

anos. Estes são dois marcos relevantes, em que o Partido Socialista deixa a sua marca.

Aplausos do PS.

O País continua a avançar na educação de adultos. Com a abertura concretizada de 42 novos Centros

Qualifica, cumpre-se a meta de 300 centros a funcionar em 2017.

Foi retomado o investimento no edificado. Há obras de reabilitação e de modernização a decorrer por todo o

País.

Continuamos a investir nos recursos humanos. Em dois anos letivos, no passado e neste, teremos um reforço

de mais de 2000 assistentes operacionais nas escolas e no próximo ano letivo mais 500.

Aplausos do PS.

Trata-se de melhorar, em muito, o apoio aos alunos com necessidades educativas especiais e o apoio, no

pré-escolar, com um assistente por sala.

Pela primeira vez, este ano, foi autorizada a renovação dos contratos de técnicos especializados, que já

estavam nas escolas, ou com psicólogos ou terapeutas da fala ou intérpretes de língua gestual portuguesa. Mais

de 1500 que, assim, estão a tempo e horas, onde fazem falta.

Aplausos do PS.

Continuamos a valorizar os professores. Os planos de formação contínua dos centros de formação dos

agrupamentos estão todos a avançar, porque sabemos bem que os professores são essenciais para o sucesso

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educativo e confiamos no seu trabalho, enquanto na governação anterior quem queria formação tinha de a pagar

do seu próprio bolso.

Aplausos do PS.

Só este ano, vincularam mais de 3400 professores — a maior vinculação de sempre num só momento. É um

passo importante no combate à precariedade.

A 6 de setembro estavam colocados todos os professores que tinham sido pedidos pelas escolas. É um sinal

importante de prontidão do sistema.

Continua a ser reforçada a ação social escolar, que volta a apoiar as visitas de estudo, que alargou ao 3.º

escalão o apoio na compra de manuais, que alargou o serviço de refeições nas pausas letivas e que, a partir

deste ano, entregará manuais gratuitos a todos os alunos do 1.º ciclo.

Aplausos do PS.

Continuamos a valorizar as escolas e a sua autonomia. Está a avançar o projeto de autonomia e flexibilidade

curricular, com a adesão voluntária de mais de 200 escolas, públicas e privadas, dando mais espaço às escolas

e aos professores para promoverem melhores aprendizagens.

Continua o reforço da rede do ensino profissional.

Continua o programa de promoção do sucesso escolar para que todos, e não apenas alguns, possam

aprender mais e melhor.

Aplausos do PS.

Também na educação muito há ainda por fazer, sabemos disso. Mas o muito que está a ser feito é claramente

mobilizador das melhores energias de professores, alunos e famílias.

Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista assumiu, nesta Câmara,

o compromisso de aguardar pela conclusão dos trabalhos do Conselho Nacional de Educação sobre a avaliação

da Lei de Bases do Sistema Educativo nos seus 30 anos de vigência e, a partir daí, contribuir para que a

Assembleia da República adote uma metodologia para um diálogo sistemático e aberto à sociedade sobre as

perspetivas de atualização da Lei de Bases.

A durabilidade da primeira Lei de Bases assentou na profundidade e na largueza do debate que a construiu.

Não podemos esquecer esse ensinamento e, sem tirar uma vírgula aos méritos políticos da atual maioria

parlamentar de esquerda plural, é preciso afirmar que uma nova lei de bases do sistema educativo não deveria

ser fruto apenas da estrita maioria parlamentar de cada momento.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Termino já, Sr. Presidente.

Outros já tiveram essa tentação. O PSD e o CDS já tiveram essa tentação.

Protestos de Deputados do PSD.

Mas o PS entende que, uma vez que a educação pulsa mais ao ritmo das gerações do que ao dos anos

letivos, devemos trabalhar para alargar as convergências produtivas que sejamos capazes de construir.

Assim, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista apresentará proximamente as suas propostas para uma

metodologia que abra a Assembleia da República a um diálogo plural e alargado acerca dos desafios a que há

de responder uma nova lei de bases do sistema educativo, sendo certo que, para os socialistas, também em

matéria educativa,…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.

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O Sr. Porfírio Silva (PS): — … a linha de rumo passa sempre por melhor cumprir e honrar a Constituição da

República Portuguesa, promovendo uma efetiva igualdade de oportunidades no acesso e no sucesso educativo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado Porfírio Silva, inscreveram-se quatro Srs. Deputados para

pedir esclarecimentos. Como deseja responder?

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Globalmente, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Nesse caso, para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Nilza de Sena.

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Sr. Presidente, cumprimento o Sr. Deputado Porfírio Silva por ter trazido o

tema da educação a esta sessão plenária.

Vejo, desde logo, a sua manifestação de agrado e de satisfação do Partido Socialista com o estado da

educação, com o estado do ensino em Portugal. Não o ouvi, nesta sua intervenção de mais de 7 minutos, falar

do atual drama que vivem milhares de professores do quadro, subitamente desterrados e ultrapassados por uma

decisão imponderada, por uma decisão injusta,…

O Sr. José Cesário (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … por uma decisão que até é de legalidade duvidosa por parte da tutela, que

alterou um concurso sem aviso prévio, sem sensibilidade para pessoas que vão estar a mais de 200 ou 250 km

de casa. Não ouvi uma palavra, Sr. Deputado!

Também não ouvi uma palavra em relação a algo que o PSD repetiu e repetiu ao longo de todo o ano transato

e que volta a ser um problema neste ano. Não esquecemos que, neste ano letivo, para os mais de 3000

assistentes operacionais em falta para garantir aquilo que é exigido para o bom funcionamento das nossas

escolas, a resposta foi muito curta: 300 efetivos, Sr. Deputado.

Protestos de Deputados do PS.

Serão mais! Aliás, o que os senhores fizeram foi adiar a portaria dos rácios publicada tardiamente. Para quê?

Para deliberadamente a tutela, por razões meramente financeiras, fazer uma política de comunicação a dizer

que vão pôr muitos assistentes operacionais, que só chegarão muito tarde às escolas, Sr. Deputado. É isto que

o Partido Socialista tem a dizer de positivo sobre o ano letivo, sobre o arranque deste ano?

Sr. Deputado, isto seriam coisas para fazer corar as pedras da calçada! As escolas, verdadeiramente,

funcionaram mal no ano anterior, vão continuar a funcionar mal neste ano, houve escolas que fecharam com

protestos públicos de pais e demais comunidade educativa e, portanto, Sr. Deputado, vir dizer que há 3000

assistentes operacionais nas escolas só pode ser para rir, porque vão repetir o mesmo número do ano passado.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Sr. Deputado Porfírio Silva, quero dizer-lhe que a insensibilidade continua e

que seria bom que pudessem, pelo menos, atingir os resultados que atingimos no anterior Governo,…

Risos de Deputados do PS.

… porque, de facto, tínhamos 3000 assistentes operacionais em 2015.

Era isso já suficiente, era isso já bom, e nem isso os senhores conseguiram cumprir até agora.

Aplausos do PSD.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana

Mortágua.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, começo por cumprimentar as Sr.as e os Srs. Deputados e o

Sr. Deputado Porfírio Silva por ter trazido tantas questões relevantes para o debate sobre a educação no nosso

País.

O Bloco de Esquerda não tem dúvida de que a escola pública está hoje um pouco mais próxima daquilo que

desejaríamos e daquilo por que lutamos do que estava quando o PSD e o CDS estavam no governo a tentar

destruí-la. Temos consciência de que há hoje mais professores e professoras nas escolas do que havia antes.

Temos consciência de que esta portaria permite que haja também mais assistentes operacionais, mais

trabalhadores do que aqueles que existem hoje e que resultam da portaria que o PSD e o CDS deixaram como

herança às escolas. Teremos de confrontar essa portaria com a realidade diária das escolas para saber se ela

é suficiente ou se será necessário um novo reforço de assistentes operacionais.

Estamos a meio da Legislatura, é verdade, e chegamos aqui com uma folga orçamental importante. O Bloco

de Esquerda tem dito, e vem reafirmar aqui, que aquilo por que é preciso disputar neste Orçamento do Estado

é a garantia de que não falta, nem faltará, dinheiro para a educação, sobretudo no momento em que o País tem

esta folga orçamental tão relevante.

Aquilo que pergunto, Sr. Deputado Porfírio Silva, é se não acha que já é tempo de conseguirmos conquistas

tão importantes como a diminuição do número de alunos por turma. Já não é tempo de conseguirmos conquistas

tão importantes como a vinculação de mais de 10 000 professores precários, em relação aos quais o Bloco de

Esquerda está a fazer tudo para que possam ter processos de vinculação extraordinária a partir deste Orçamento

do Estado?

O Sr. Luís Monteiro (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Pergunto-lhe se também não é importante conseguir que os alunos deixem

de ter aulas em contentores, como é o caso da escola do Monte de Caparica, em Almada, tendo em conta que

a portaria está assinada pelo Ministério da Educação e que só falta a assinatura do Ministro das Finanças.

Pergunto-lhe se o PS acompanha a ideia de que estas prioridades têm de começar a ser resolvidas neste

Orçamento do Estado, já a partir do mês de outubro.

Mas, Sr. Deputado, para além de saber se nos acompanha nestas prioridades de investimento na escola

pública, que continua a ser tão necessário, também não quero deixar de abordar a questão que levantou sobre

a Lei de Bases do Sistema Educativo. O Bloco de Esquerda só está disponível para alterações, sobretudo nesta

matéria, que aprofundem a democracia dentro da escola pública, e isso começa pela alteração do modelo de

gestão.

O Sr. Luís Monteiro (BE): — Muito bem!

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Preocupa-nos muito que o Sr. Deputado do PS venha fazer algum tipo de

apelo a partidos que, num passado bem recente, fizeram propostas de alteração à Lei de Bases do Sistema

Educativo para introduzir negócios privados e escolas privadas com pagamentos públicos na Lei de Bases do

Sistema Educativo.

Portanto, receamos que, ao tentar apelar à direita para que contribua neste desafio, o PS esteja à espera do

comboio na paragem do autocarro. Aquilo que queremos saber é se vamos ter a companhia do Partido Socialista

nas alterações que são tão necessárias para a democratização da escola pública.

O Sr. Luís Monteiro (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Se for por aí que querem aprofundar a Lei de Bases, então, muito bem,

podem contar com o Bloco de Esquerda.

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Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Rita

Bessa.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, é muito bom poder começar

esta Sessão Legislativa a dar os parabéns, não necessariamente ao PS e à sua política, mas aos 45 000 alunos

que entraram na 1.ª fase do ensino superior. Aliás, este é um número que marca uma tendência positiva que se

regista já desde 2014 e, portanto, é um trabalho continuado ao longo de vários governos.

Estes bons resultados são explicados, desde logo, pelo trabalho dos próprios alunos, dos seus professores

do ensino não superior e das próprias instituições do ensino superior, que têm vindo a adequar as suas ofertas.

Se é certo que a recuperação económica tem um papel nestes resultados, também é certo que há um

conjunto de políticas setoriais que trazem a este lugar de hoje: o alargamento da escolaridade obrigatória, a

criação dos cursos técnicos superiores profissionais, os CTESP, da responsabilidade do Governo anterior e que

este ano registaram 6000 inscritos nos politécnicos e, de fundo, uma aposta num ensino obrigatório exigente e

com ênfase em disciplinas estruturantes como o Português, a Matemática e as Ciências Fundamentais.

Este é o trabalho que é posto em causa quando, ao contrário do que o Sr. Deputado Porfírio Silva aqui diz,

o ano letivo arranca com uma flexibilização curricular que foi anunciada em agosto, sem consulta pública, para

ser aplicada em turmas que os alunos desconhecem se incluem a sua ou se a do colega do lado, com escolas

fechadas por falta de funcionários, com erros grosseiros do Ministério da Educação que põem em causa a

colocação e a vida de centenas de professores, com carências no pré-escolar, com a ausência da redução do

número de alunos por turma e com obras em escolas que foram anunciadas mas que nunca chegaram a

acontecer.

Sr. Deputado Porfírio Silva, não é só preciso anunciar, é preciso fazer, e estamos a meio da Legislatura, se

calhar já seria altura de começar a mostrar algum trabalho. Assim, Sr. Deputado, se é tudo como descreve,

pergunto se está em condições de dizer à Sr.ª Diretora da Escola Secundária Rainha Dona Amélia, que ameaça

fechar portas no dia 25 deste mês, que destes 1500 funcionários só cinco — que são aqueles de que ela precisa

para cumprir o rácio — serão colocados nas escolas antes deste dia.

Pergunto-lhe também se está em condições de garantir ao Sr. Diretor do Liceu Camões que as obras que

foram prometidas vão ser realizadas ou à população da Quinta do Conde que a nova escola vai ser atribuída.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Pergunto-lhe também se está em condições de dizer às cerca de 700

crianças de 4 anos que não tiveram lugar no pré-escolar que, afinal, o ensino pré-escolar está universalizado e

que são elas que, seguramente, estão enganadas.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Deputado Porfírio Silva, é mesmo preciso começar a fazer e não

basta continuar ad aeternum a anunciar, inclusivamente no próprio Orçamento do Estado.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para o último pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada

Ana Mesquita.

A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, começo por cumprimentar as Sr.as e os Srs. Deputados e

agradecer ao Sr. Deputado Porfírio Silva o tema que nos trouxe hoje.

Os desafios para o presente ano letivo são mais do que muitos e há muito ainda a fazer para reverter o rumo

de destruição da escola pública que foi prosseguido por sucessivos governos, designadamente pelo último

Governo, PSD/CDS.

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Nós, PCP, dizemos que é necessário chegar mais longe.

Gostaríamos de perceber o que é que o Partido Socialista tem a dizer sobre a proposta do PCP para o

alargamento da gratuitidade dos manuais escolares até alcançarmos a escolaridade obrigatória, neste caso já

aos 2.º e 3.º ciclos, aquando do Orçamento do Estado para 2018.

Em relação aos assistentes operacionais, assinalamos a concretização da revisão da portaria dos rácios,

conforme a proposta do PCP, no Orçamento do Estado para 2017. Fizemos muita força para que isto

acontecesse, mas ficamos ainda com muitas preocupações em relação a esta matéria, nomeadamente com a

manutenção da possibilidade de escolas com menos de 21 alunos ficarem ainda sem qualquer assistente

operacional — e perguntamos como pode uma escola funcionar nestas condições — e também com o facto de

apenas haver uma aplicação plena desta proposta de revisão dos rácios, que foi agora apresentada pelo

Governo, no próximo ano letivo.

Relativamente ao ensino superior, não podemos deixar de manifestar também algumas preocupações. Por

um lado, a relação entre o aumento do número de estudantes colocados no ensino superior e o contexto de

recuperação de rendimentos, que o PCP considera ainda tímida e insuficiente, diz-nos algo muito relevante:

existem muitos estudantes que ao longo dos anos ficaram fora do ensino superior, de facto, por razões de

insuficiência económica, por não terem dinheiro para aceder aos mais altos níveis de educação e para o

cumprimento de um direito constitucional.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — É preciso fazer algo em relação a isto.

É preciso fazer algo também em relação à situação de subfinanciamento crónico das instituições de ensino

superior, como tem vindo a ser denunciado, nomeadamente, até, por declarações do reitor da Universidade da

Beira Interior, que, de facto, no diz que há algo que tem de ser alterado profundamente na Lei do Financiamento

do Ensino Superior.

Por fim — concluo, Sr. Presidente —, relativamente à Lei de Bases do Sistema Educativo, Sr. Deputado

Porfírio Silva, apenas com uma questão: fala-se agora de fazer uma alteração eventual, mas para quando a

concretização plena da Lei de Bases do Sistema Educativo?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Porfírio Silva.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Sr. Presidente, quero agradecer às Sr.as Deputadas Nilza de Sena, Joana

Mortágua, Ana Rita Bessa e Ana Mesquita pelas questões que me colocaram, às quais vou procurar responder

o melhor que sei.

Sr.ª Deputada Nilza de Sena, a desfaçatez em política deveria ter, apesar de tudo, alguns limites.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

Os Srs. Deputados querem evitar que eu responda à Sr.ª Deputada? Parece-me que sim!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Deputada Nilza de Sena falou, no que diz respeito aos concursos de professores, do drama de milhares

de professores do quadro, da alteração do concurso e de ilegalidades. Nada disso é verdade! Repito: nada disso

é verdade! Não houve nenhuma alteração do concurso, não houve nenhuma ilegalidade e não há nada que se

pareça com milhares de professores nessa circunstância. Aquilo que, de facto, aconteceu é que há regras que

têm uma justificação que, pelos vistos, o PSD não compreende.

A vinculação extraordinária de professores é para colocar os professores onde o sistema precisa e estava lá

uma regra: qualquer professor vinculado tem de ficar, pelo menos, um ano na vaga onde se vincula, porque foi

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para lá para preencher uma necessidade. Pelos vistos, há pessoas que assinam abaixo-assinados a protestar

contra essa regra embora tenham concorrido a um concurso onde essa regra era explícita. Também é verdade…

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — Não diga isso!

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Digo, Sr.ª Deputada, digo! Porque não me escondo na demagogia política e falo

com os professores, tal como falei na Comissão de Educação e fora dela.

Aplausos do PS.

Além disso, Sr.ª Deputada, é preciso ter muito descaramento, depois daquilo que os senhores fizeram aos

professores durante a vossa governação, para vir agora chorar «lágrimas de crocodilo».

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Sr.ª Deputada, apesar de algumas estratégias que os professores utilizam

legitimamente para procurar melhorar e progredir na sua carreira terem resultado mal — por exemplo,

professores que assinalaram 100, 150, 160 preferências num concurso, em alguns casos, deu mau resultado —

, apesar disso e porque compreendemos e queremos corrigir as situações, o Ministério anunciou que vai haver

um concurso extra para que esses, só se quiserem, possam, no próximo ano, tentar corrigir essa situação e

depois, daqui a quatro anos, acertar no concurso geral.

Portanto, estamos conscientes do que se está a passar, não fazemos demagogia nem esquecemos o

passado, como os senhores esquecem as suas próprias responsabilidades e aquilo que fizeram nos anos

anteriores.

Aplausos do PS.

Quanto aos assistentes operacionais, este Governo, além de ter contratado a sério os assistentes que os

senhores tinham nas escolas, na maior parte dos casos em precariedade, no ano passado…

A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — E este ano?

O Sr. Porfírio Silva (PS): — … deixou contratar mais 300 assistentes operacionais e para este ano, antes

de começar o ano letivo, já fez o mesmo…

Protestos do Deputado do PSD Duarte Marques.

… para mais 250. Perguntar-me-ão se chega. Não! Tanto que não chega — e nós sabemos que não chega

— que já foram autorizados concursos para mais 1500 este ano. E sabemos que é preciso continuar, pelo que

vão ser autorizados mais 500 no próximo ano. Temos consciência de que ainda não atravessámos a ponte toda,

mas temos consciência disso, coisa que os senhores não tiveram e, pelos vistos, continuam a mostrá-lo, ainda

não têm.

A Sr.ª Susana Amador (PS): — Muito bem!

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Quanto ao resto, Sr.as Deputadas…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atenção ao tempo, Sr. Deputado.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Sr. Presidente, termino rapidamente.

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Quanto à Lei de Bases do Sistema Educativo, é claro que queremos aprofundar o caráter democrático e

constitucional da lei de bases e não é para voltar para trás que aceitamos esse debate, é para avançar. Mas

esperemos que a direita seja capaz de compreender isso.

Quanto à folga orçamental — isto tem sido dito com toda a clareza, o próprio Primeiro-Ministro já o disse —,

sabemos que não podemos fazer tudo num Orçamento, nem em dois, nem em três, se calhar não podemos

fazer tudo numa Legislatura, mas estamos a avançar e avançaremos o mais que pudermos porque o caminho

é este.

Os Srs. e as Sr.as Deputadas reconhecem que o caminho é este, que estamos a ir na direção certa e é para

isso que trabalhamos. Sabemos que o vosso contributo também tem sido positivo para esse caminho, sabemos

disso e, portanto, podemos todos continuar a fazê-lo, porque o caminho é este e o rumo…

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Faça o favor de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — Vou já terminar, Sr. Presidente.

Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, só quem não sabe a gravidade do desinvestimento que os senhores fizeram

no mandato passado, só quem não sabe como os senhores travaram as obras nas escolas, só quem não sabe

a forma como os senhores atacaram a pedagogia nas escolas, só quem não sabe disso é que pensa que se

podia corrigir tudo num ano ou em dois.

Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, tome consciência de que os senhores, que escolheram a educação para

cortar centenas de milhões de euros…

Protestos do Deputado do PSD Duarte Marques.

… a mais do que previa o Memorando de Entendimento, cavaram uma ferida muito dura na escola pública

e, portanto, isto sim, vai demorar mais tempo a corrigir, mas vamos corrigir…

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, tem de terminar.

O Sr. Porfírio Silva (PS): — … e ou os senhores percebem isso ou ficam para trás. Não fiquem,

acompanhem, venham connosco, mas entrem a sério, não entrem com esquecimento, não entrem com falta de

memória, não entrem a tentar apagar o que fizeram na última Legislatura.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Nem sempre é fácil gerir os tempos disponíveis.

Para uma declaração política pelo Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Costa.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ao longo dos anos, os acionistas

privados da EDP levaram para casa os superlucros cobrados na mais elevada fatura elétrica da Europa.

Sobre os acordos à esquerda, tem sido possível concretizar algumas medidas para começar a corrigir esta

situação, mas, nos últimos dias, uma série de notícias fizeram luz sobre alguns erros colossais cometidos pelo

anterior Governo, o tal que prometeu reduzir as rendas excessivas instaladas no sistema elétrico e que acabou

por agravá-las ainda mais.

Pela calada, no final do seu mandato, os responsáveis do Governo PSD e CDS pelo setor da energia

produziram uma rajada de diplomas que, discretamente, todos somados asseguraram que os consumidores

ficariam obrigados a pagar às empresas elétricas centenas de milhões de euros anuais sob a forma de subsídios

e compensações de vária ordem.

Todos os anos os consumidores já pagam hoje mais de 1200 milhões de euros de subsídio, valor acima do

preço de mercado, pela eletricidade de fonte eólica, solar e de cogeração, mas as decisões do Governo anterior

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levaram a um injustificável aumento deste sobrecusto para os consumidores. Foi esse o caso de três diplomas

noticiados nos últimos dias.

O primeiro diploma permitia que licenças de produção em mini-hídrica, atribuídas através de concurso,

pudessem, por vontade das empresas, ser transformadas em centrais solares com produção a preços

subsidiados. O Bloco lançou o alerta e, após parecer da Procuradoria-Geral da República, o Secretário de

Estado da Energia anulou esse despacho, manifestamente ilegal.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Estavam em causa cerca de 80 milhões de euros em sobrecusto adicional

ao longo de 15 anos.

O segundo diploma é um decreto-lei de 2014, em que o Governo da direita permitia que as centrais eólicas

aumentassem a sua capacidade de produção com atualizações tecnológicas e pudessem cobrar, por esta

produção acrescida, os mesmos preços subsidiados pagos pela potência originalmente instalada. Só no ano

passado este decreto da direita custou aos consumidores mais 50 milhões de euros em sobrecustos, sendo

agora revogado pelo Governo.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — O terceiro diploma é um despacho, agora também anulado, que foi

publicado na sexta-feira antes das eleições de 2015 e que autorizava as elétricas a cobrar aos consumidores

na fatura os seus custos com a tarifa social e com a contribuição extraordinária sobre o setor elétrico. Lê-se e

não se acredita!…

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Uma vergonha!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Não é que as leis que instituem a tarifa social e a CESE (Contribuição

Extraordinária sobre o Sector Energético) proíbem explicitamente essa repercussão sobre os consumidores?!

Mas sob a passividade do regulador, essa cobrança foi mesmo feita nos últimos anos. Agora, a devolução aos

consumidores desta cobrança indevida pode representar, em 2018, um alívio das faturas na ordem dos 100

milhões de euros.

Ficam ainda por esclarecer, e impõe-se esse esclarecimento integral, os contornos de uma outra decisão,

tão pesada para os consumidores, tomada pelo Governo anterior de forma tão flagrantemente ilegal.

Depois destas notícias, muitos terão ficado de boca aberta perante tamanhos favores. Saibam que ainda há

outras taludas milionárias que o Governo fez sair aos do costume e que esses negócios ainda estão por corrigir

e até por esclarecer plenamente. É o caso do prolongamento dos contratos subsidiados na produção eólica,

uma decisão tomada na contramão da tendência europeia, que elimina antecipadamente os regimes

subsidiados.

Essa extensão dos subsídios ao longo dos próximos anos foi proposta às empresas em troca de um

pagamento à cabeça. As empresas fizeram as contas e não houve uma que recusasse a extensão do subsídio.

O negócio acabou por funcionar como uma espécie de empréstimo ruinoso para a parte pública, um sobrecusto

adicional na casa de várias centenas de milhões de euros a pagar ao longo dos próximos anos.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Uma vergonha!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — O regulador e o Governo devem dar a conhecer aos consumidores todos

os detalhes de mais este negócio lesivo feito pelo Governo anterior e devem ser divulgados os seus efeitos

sobre a fatura ao longo dos próximos anos.

Aplausos do BE.

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Sr.as e Srs. Deputados: A EDP não se conforma com a mudança do ciclo político nem com algumas decisões

de defesa do interesse público tomadas pela maioria no Parlamento e pelo Governo. Reage num surto de

litigância judicial e numa ofensiva de propaganda, alegando que existe e está em curso uma guerra contra a

EDP.

Só em 2017 a EDP já interpôs três ações judiciais contra o Estado, uma delas diretamente contra a pessoa

do atual Secretário de Estado. Ora, na sequência da constituição como arguidos dos principais administradores

da EDP, a atenção pública às rendas excessivas pagas desde 2007 a título de subsídios CMEC (Custos de

Manutenção do Equilíbrio Contratual), levou a uma generalizada exigência de rigor e de correção políticas e a

EDP deixou de parecer intocável.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — É cada vez mais flagrante que os lucros astronómicos do setor elétrico

assentam em más políticas e na promiscuidade com o poder. Ora, nos próximos tempos é de esperar um reforço

da propaganda e mais queixas do setor sobre a perseguição e sobre a má vontade do poder político. Não é de

esperar outra coisa, até porque estamos nas vésperas da revisão dos CMEC, com vista à definição da

remuneração futura das centrais cobertas por este regime. Esse acerto de contas deverá recuperar a favor dos

consumidores o que foi cobrado excessivamente ao longo de 10 anos. Deve ser obedecida a decisão do

Parlamento que, com a única abstenção do PSD, apelou à eliminação, no futuro, das rendas excessivas no setor

elétrico.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Enquanto Portugal for o paraíso do «rentismo» no setor elétrico, vamos

continuar a ser recordistas nos preços, recordistas na pobreza energética e recordistas na mortalidade sazonal.

E os anúncios de políticas sustentáveis de transição para as renováveis ou de eficiência não passarão de

publicidade enganosa.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — No processo de revisão dos CMEC, e em geral no combate às rendas

excessivas no setor elétrico, as expectativas sobre a atuação do Governo aumentam com as decisões corretas

que vêm sendo tomadas nesta área.

Se for posto cobro a este escândalo poderemos, finalmente, verificar nos preços da eletricidade em Portugal

o início de uma redução sensível, urgente como ela é num país onde a pobreza energética faz vítimas todos os

anos.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Estão inscritos quatro Srs. Deputados para formularem perguntas ao Sr.

Deputado Jorge Costa, que entretanto informou a Mesa que irá responder em conjuntos de duas.

Em primeiro lugar, por ordem de inscrição, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira, do Partido Socialista.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jorge Costa, antes de

mais agradeço-lhe ter trazido este tema tão relevante para o País, até porque a energia e as respetivas políticas

públicas relacionadas com a energia tornaram-se, no nosso ponto de vista, no grande exemplo que prova que

o País está diferente e está a olhar para as pessoas, a olhar para os cidadãos e para os consumidores. Este é,

de facto, um exemplo disso e um exemplo de que este Governo está a fazer diferente.

Aliás, sobre esta matéria, este Governo tem ultrapassado obstáculos atrás de obstáculos. O Sr. Deputado

referiu vários desses obstáculos na sua intervenção e eu diria mais: são armadilhas atrás de armadilhas que

têm, obviamente, dificultado o objetivo deste Governo e dos grupos parlamentares que o sustentam — olhar

para o consumidor e baixar os custos da energia.

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Por isso, podemos dizer de forma muito clara que, do nosso ponto de vista — e julgo que grande parte dos

que aqui estão concordarão — há uma linha que separa claramente a atuação deste Governo da atuação do

Governo do PSD/CDS no que diz respeito à energia: enquanto o que animava o Governo do PSD/CDS era

assegurar todas as condições — condições extramercado, diga-se em abono da verdade — para que as

companhias garantissem rendimentos elevados, o que anima o Governo do Partido Socialista, apoiado pelo

PCP, pelo Bloco de Esquerda e por Os Verdes, é assegurar todas as condições para acabar com os abusos

que foram aqui descritos pelo Sr. Deputado Jorge Costa, por um lado, mas também para acabar com as rendas

excessivas, que é, obviamente, um problema que tem penalizado os cidadãos e os consumidores.

Portanto, Caros Deputados, estamos perante um tempo novo,…

Protestos do PSD.

… um tempo em que quem determina os caminhos da gestão energética é o Governo e não as companhias,

que influenciam o Governo para determinar outros caminhos para a gestão energética. Este é, de facto, um

tempo novo, um tempo que os consumidores e o País agradecem e que faz as pessoas ficarem melhor, que é

esse o objetivo da política e dos governos.

Termino, Sr. Deputado, fazendo uma pergunta concreta: perante este contexto difícil que acabámos de

referir, de armadilhas atrás de armadilhas, de obstáculos atrás de obstáculos e até de intimidação ao Governo

por parte de algumas companhias, é ou não importante que o Governo prossiga e aprofunde as políticas que

defendem a transparência do setor, para além das muitas medidas que têm sido implementadas no próprio

Orçamento do Estado, e não só, e também a redução dos custos energéticos, custe a quem custar?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jorge Costa, é da maior

importância a discussão e a denúncia das práticas que têm vindo a ser seguidas por sucessivos governos — e

sublinho sucessivos governos —, porque, até hoje, ainda estão para aparecer todas as faturas de despachos,

decisões e quejandos, que, ao longo dos anos, foram sendo assumidos por responsáveis políticos.

No essencial, aquilo que o Sr. Deputado mencionou na sua declaração política foi o centro da nossa denúncia

e da nossa referência na recente reunião da Comissão de Economia, com o Sr. Ministro da Economia e o Sr.

Secretário de Estado da Energia, em que colocámos o destaque em situações como esta e noutras que são, no

mínimo, incompreensíveis e inexplicáveis e, nalguns casos, autênticos escândalos nacionais, como aqueles que

gostaria de acrescentar ao rol que aqui trouxe.

Começo pela situação que está plasmada na Portaria n.º 85-A/2013 — teoricamente para baixar a taxa de

juro a pagar pela parcela fixa dos CMEC —, em que se refere, logo no artigo 1.º: «A presente portaria aprova,

em conformidade com os pressupostos e a metodologia constantes da proposta apresentada pela EDP —

Gestão da Produção de Energia, S.A., a taxa nominal…» e continua. Ou seja, tal como tivemos ocasião de dizer

na altura, na governação anterior não tivemos governação por outsourcing, mas antes a privatização do

Governo, porque uma portaria em Diário da República aceitava como bons, sem perguntar nada a ninguém, os

pressupostos e a metodologia constantes da proposta apresentada pela EDP. E foi assim que a taxa ficou

definida em Diário da República.

Já em governos anteriores, tivemos concessões — como o caso da concessão de barragens à EDP, EDP

companhia —, em que uma avaliação pela própria REN de um valor de concessão de 1,6 mil milhões de euros

por 20 anos se saldou, afinal, numa concessão em que a EDP pagou 759 milhões de euros: Isto significa que,

no mínimo, o Estado foi defraudado em cerca de 840 milhões.

Estamos a falar de milhões, de centenas de milhões, de milhares de milhões de euros, mas tendo em conta

aquilo de que falamos, em relação aos resultados da EDP, dá vontade de dizer como dizia o operário da peça

de Bertolt Brecht: «eis o remendo. / Mas onde está / o nosso casaco?».

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, ultrapassou o seu tempo.

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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.

E onde é que está o casaco? É caso para dizer que é um guarda-fato acumulado nos lucros e nos resultados

da EDP e do setor energético ao longo dos anos, o que coloca em cima da mesa a questão central do controlo

público, da gestão pública e do domínio central de um setor estratégico que deve estar ao serviço do povo e do

País para não estarmos aqui a discutir remendos, quando o casaco e o guarda-fato estão a ser completamente

usufruídos e acumulados ao longo destes anos.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral,

do CDS.

Pausa.

O Sr. Deputado Jorge Costa pretende responder às duas primeiras perguntas e depois às restantes.

Nesse caso, e com um pedido de desculpas, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Costa.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados Carlos Pereira, do PS, e Bruno Dias, do

PCP, começo por agradecer as perguntas. Temos, de facto, um choque flagrante entre as promessas do

Governo anterior, quanto às rendas da energia, e aquilo que foi a sua prática.

Poderíamos ficar um dia inteiro a falar dos negócios que a privatização da EDP instituiu como regra no setor

e de que os sucessivos governos — como bem disse o Sr. Deputado Bruno Dias — foram fazendo prática, mas

há um aspeto que queria aqui sublinhar a propósito da questão da transparência levantada pelo Sr. Deputado

Carlos Pereira, que é, precisamente, a repercussão dos custos da CESE e da tarifa social na fatura dos

consumidores.

Este é um elemento verdadeiramente assombroso da política do anterior Governo, que pegou no dinheiro

que a lei definia que deveria ser entregue pelas companhias para financiar o desconto dos que mais precisam

e distribuiu esse encargo pelo conjunto dos consumidores, para aliviar a EDP e manter os seus lucros

exatamente intocados. Mas o que mais espanta é que uma norma tão flagrantemente ilegal, um despacho tão

em choque com a legislação em vigor possa ter passado entre os pingos da chuva do regulador.

Portanto, fica aqui evidente a insuficiência da regulação para assegurar os mínimos de transparência neste

setor. Além disso, este caso ensina-nos ainda que há necessidade de a democracia, de o Parlamento e de o

Governo, em nome do interesse público e da contenção dos custos energéticos que fazem parte do Programa

do Governo aqui aprovado, numa ação conjugada, poderem ter os resultados que, nítida e flagrantemente, a

regulação não conseguiu ter ao longo dos anos.

Concordo com o Sr. Deputado Bruno Dias quanto à exigência do controlo público do setor, não apenas por

razões de transparência, mas também por razões de interesse estratégico nacional, que importa assegurar.

Portanto, a lógica da privatização, se significa uma degradação dessa posição estratégica, só poderia ter as

consequências que veio a ter em matéria de transparência.

Mas hoje está nas mãos de todos, e não apenas dos que defendem o controlo público do setor energético,

assegurar as condições de eliminação das rendas excessivas que se instalaram no setor. O PSD foi o único

partido que decidiu abster-se nesse desígnio, quando foi aqui apresentado, pelo que é importante que os

restantes partidos que estão empenhados na eliminação das rendas excessivas, ou que se declaram

empenhados nessa eliminação, consigam, já no processo dos CMEC, na revisão dessas rendas e na sua

eliminação, apresentar resultados e fazer baixar a fatura.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Agora, sim, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.

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O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jorge Costa, quero

felicitá-lo pelo tema que aqui traz, porque permite fazer luz sobre o debate das rendas excessivas e, nesta

matéria, a minha bancada não recebe lições de nenhuma outra.

Não tenho aqui comigo, mas posso fazer-lhe chegar, um conjunto de iniciativas do Bloco de Esquerda para

reduzir o IVA da eletricidade para 6%. Agora que os Srs. Deputados aprovam orçamentos, apoiam o Governo,

estão no Governo, queria perguntar-lhe qual é o IVA da eletricidade.

Podemos todos perceber o que vai no discurso e nas iniciativas apresentadas neste Parlamento e o que, na

realidade, acontece na fatura dos consumidores.

Posso dar-lhe outro exemplo: os senhores criaram ou, melhor, não criaram, a tarifa social é criada pelo

anterior Governo, mas os senhores revisitaram o processo, introduziram alterações que o melhoraram e dizem

que os consumidores não vão pagar absolutamente nada dessa tarifa social.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Pode dizer criar, porque foi, materialmente, criar!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — A minha pergunta é muito simples: o senhor garante, aqui, que isso não

está a acontecer? Tem a garantia de que isso não está a acontecer? É para ver até que ponto vai a competência

e a eficácia do Governo que V. Ex.ª apoia!

Quero dizer-lhe também que há défice tarifário e, mais uma vez, o défice tarifário, que pesa na fatura da

eletricidade dos consumidores, tem um pai, que se chama Partido Socialista. Foi o Partido Socialista que criou

o défice tarifário, que aumentou garantias de potência, CMEC e CAE (Contratos de Aquisição de Energia) em

TIR (taxas internas de rentabilidade) que hoje precisam de ser revistas e que são consideradas excessivas.

Não basta o Sr. Deputado vir aqui, como veio o Sr. Secretário de Estado, dizer que há rendas excessivas. O

único Governo que alguma vez teve instrumentos legislativos que, em concreto, cortaram rendas excessivas,

foi o Governo anterior. O senhor diz que foi pouco, foi tarde, foi da forma errada, que o instrumento legislativo

não era o adequado,…

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Foi treta!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … mas a minha pergunta é a seguinte, Sr. Deputado: qual é o instrumento

legislativo que tem para a redução dos CMEC, para os CAE, para a garantia de potência, para a cogeração?

O senhor disse: «agora é que vai ser, vamos agora rever os CMEC». O senhor sabe que os critérios de

revisão que a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) utiliza são dados pela EDP e pela REN

(Rede Elétrica Nacional)? O senhor tem algum instrumento para alterar essa realidade ou vai só criticar a

existência dessa realidade?

O que o senhor quer disfarçar — percebo-o bem! — é aquela borla fiscal, que é a única coisa que há de

concreto.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É o tal casaco que ficou no armário da EDP. É a borla fiscal de 174

milhões que foi aprovada para a EDP com o seu voto, com o seu silêncio.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Ah, isso é o casaco?! Isso nem para os botões de punho!…

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Pedro Nuno Santos): — Está a falar de outra

coisa! Está a desviar!

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Isso, sim, é um negócio ruinoso para os cofres do Estado. Isso, sim, é o

equivalente ao empréstimo com 15% de juros e como o Sr. Deputado, lá no fundo, lá no fundo tem alguma

vergonha, sendo condicionado com esta borla fiscal, vem aqui disfarçar com outras matérias, sem nenhum dado

em concreto.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — O dado em concreto é: existe ou não uma borla fiscal dada à EDP, que

anula tudo o que o Governo anterior fez?

Portanto, Sr. Deputado, assuma essa responsabilidade, tenha a coragem de fazer alguma coisa sobre isso

e não venha fazer de conta que está a promover ou proteger os consumidores quando, no fundo, no fundo, o

que se está a proteger é a EDP.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Leite Ramos,

do PSD.

O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, quero começar por saudar o

Deputado Jorge Costa por esta intervenção muito pertinente sobre energia. Aliás, tal como o Deputado Hélder

Amaral, quando o ouvi falar sobre energia, pensei que ia pedir desculpa ao País pela borla fiscal dos 170 e tal

milhões de euros que deram à EDP. Mas não!

Aplausos do PSD.

O Sr. Deputado resolveu cavalgar a onda do anúncio mentiroso, porque é disto que se trata, Sr. Deputado.

O anúncio que o Sr. Secretário de Estado fez — mais não foi do que um anúncio, porque ainda não tomou a

decisão — é um anúncio mentiroso, porque tenta, em nome de uma pretensa ilegalidade de pagamento da tarifa

social por parte dos contribuintes, dizer que os consumidores estão a custear a tarifa social.

O que é que se passa exatamente? O que o Sr. Secretário de Estado vem dizer é completamente diferente,

embora o anúncio contradiga o que ele diz. Ele vem dizer que, em termos de diferencial fiscal, entre Portugal e

Espanha, onde as empresas em questão estão a atuar, há um acerto de contas que está estabelecido pela lei,

que está no acordo do Mercado Ibérico de Eletricidade, que faz parte das próprias diretivas comunitárias porque

a dupla tributação é impossível. Escondendo tudo isto, o Sr. Secretário de Estado lança uma cortina de fumo,

organiza uma espécie de expediente para entreter as pessoas e para justificar a inoperância, a falta de

competência e, sobretudo, a incapacidade para continuar a política do anterior Governo para fazer reformas

estruturais e fazer cortes nas rendas criadas pelos Governos do Partido Socialista.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Muito bem!

O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Compreendo bem que o Deputado Carlos Pereira não queira agora falar

das rendas nem das políticas do Engenheiro Sócrates, que, aliás, regista que está completamente abandonado

pelo Partido Socialista. Portanto, entendo essa decisão ou essa formulação como se tivessem esquecido

completamente o que fizeram no passado, mas quem criou tarifas bonificadas,…

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Quem foi?

O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … quem criou rendas na energia foram os senhores, que não têm pejo

nem decoro quando vêm criticar os outros por o terem feito.

Aplausos do PSD.

O único Governo que cortou rendas na energia foi o Governo do PSD/CDS. O resto é conversa e não vale a

pena estarmos aqui a discutir aquilo que, na verdade, não é mais do que um expediente politiqueiro para

esconder o fracasso das políticas do próprio Governo, em matéria de energia.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

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O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Vou concluir, Sr. Presidente.

Este é um expediente para esconder, sobretudo, aquilo que os senhores fizeram, a borla fiscal que deram à

EDP. Quando acordaram, ficaram com vergonha de o terem feito e portanto, agora, têm de mostrar um

pseudocombate contra as grandes empresas, quando, na prática, o que os senhores estão a fazer é esconder

o erro que cometeram.

Pergunto-lhe, Sr. Deputado: o seu partido concorda que se acabe com o Mercado Ibérico da Eletricidade? O

que está em causa, nesta decisão do Sr. Secretário de Estado, é romper com essas regras, é romper com o que

está estabelecido nesse contrato e, portanto, deitar por terra todo o trabalho feito nos últimos anos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Costa.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o CDS vem responder a tudo menos ao

assunto que estava em cima da mesa. Fala de IVA, diz que o BE defende a EDP e até nos acusa de uma borla

fiscal.

Sr. Deputado, o CDS e o PSD é que incluíram no seu programa eleitoral a eliminação da contribuição

extraordinária sobre o setor energético.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Os senhores é que queriam dar — e puseram no vosso programa — uma

enorme borla fiscal e já antes do exercício do mandato estavam a fazer essa batota.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Não fomos nós!

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — O impressionante é que se possa ter feito um despacho a imputar aos

consumidores — colocando na fatura os custos da CESE e da tarifa social — o pagamento do que a lei

estabelece como obrigação da EDP. Essa foi a vossa política no despacho que agora está em apreço. E não se

diga que o MIBEL (Mercado Ibérico da Eletricidade) vai ruir por se remover uma semelhante aberração. Não é

por se retirar um despacho que é incompatível com a lei que o sistema elétrico português vai ser removido do

mercado ibérico.

Srs. Deputados, não tergiversem, não mudem de assunto. Estamos a discutir decisões opacas e no limiar do

escândalo tomadas pelo Governo do PSD e do CDS.

Protestos do CDS-PP.

Percebo o incómodo. Ainda têm na memória aqueles célebres despachos assinados no último dia ou durante

os governos de gestão de que fizeram parte! Este é mais um! Não gostam de ouvir mas é isso que vem a público

e é isso que escandaliza as pessoas. É que a EDP teve no Governo de direita, que anunciou cortes nas rendas,

o seu melhor amigo e o resultado em rendas foi zero ou, melhor, foi menos do que zero, pois resultou em mais

carga sobre os consumidores, os consumidores ficaram a pagar mais.

Sobre a garantia de potência, sobre o subsídio de interruptibilidade, sobre todas essas matérias, têm vindo

a ser tomadas medidas que já começaram a dar um resultado visível nas faturas. Trata-se de um resultado

modesto, certamente, mas foi o menor aumento das faturas em 10 anos.

Durante os vossos governos, os consumidores pagavam mais 3% ao ano nas faturas e foi a isso que se

habituaram até ao ano passado verem o menor aumento da década, fruto do início desta política. E é preciso

continuar, é preciso remover da legislação e do normativo o que os senhores lá puseram e os buracos que

abriram para que a EDP e as outras elétricas pudessem continuar a exercer o seu «rentismo» sem limite.

Portanto, é preciso enfrentar o processo dos CMEC com autoridade política, tendo objetivos claros e

garantindo que aquilo que foi cobrado a mais ao longo dos anos, que está identificado como um sobrecusto

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abusivo pago pelos consumidores — 2500 milhões de euros, diz a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços

Energéticos) —, seja devolvido e, para a frente, este subsídio deve ser simplesmente eliminado.

Este é o mandato que o Parlamento deu ao Governo, este é o mandato em relação ao qual o Governo tem

de responder perante o País e esperamos que o resultado da revisão dos CMEC venha a permitir, pela primeira

vez em mais de uma década, reduzir a fatura elétrica em Portugal.

Somos o País que paga a fatura elétrica mais alta da Europa e temos recordes tristes do ponto de vista da

pobreza energética e da mortalidade sazonal resultante dessa pobreza energética.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Queira concluir, Sr. Deputado.

O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — Essa realidade só se agravou ao longo dos mandatos da direita e é essa

herança negra, que resulta do exercício da vossa política e da dos governos anteriores, que estamos a tratar de

corrigir e vamos com muita determinação — e da parte do Bloco de Esquerda podem ter a certeza disso — atrás

desses resultados.

Aplausos do BE.

O Sr. HélderAmaral (CDS-PP): — Tem alguma portaria para apresentar?

Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente Ferro Rodrigues.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos dar início ao debate conjunto da proposta de resolução n.º

49/XIII (2.ª) — Aprova o Acordo Económico e Comercial Global entre o Canadá, por um lado, e a União Europeia

e os seus Estados-membros, por outro, assinado em Bruxelas, em 30 de outubro de 2016, e dos projetos de

resolução n.os 930/XIII (2.ª) — Pela rejeição do CETA — Acordo Económico e Comercial Global entre a União

Europeia e o Canadá (Os Verdes), 1050/XIII (2.ª) — Rejeita a aprovação para ratificação do Acordo Económico

e Comercial Global (CETA) entre a União Europeia e o Canadá (PCP), 1052/XIII (2.ª) — Pela rejeição do Acordo

Económico e Comercial Global — CETA (União Europeia-Canadá) (BE) e 1053/XIII (2.) — Pela rejeição do

Acordo Global de Economia e Comércio entre a União Europeia e o Canadá (CETA) (PAN).

Para apresentar a proposta de resolução, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus,

a quem aproveito para dar as boas-vindas a este Plenário.

A Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus (Ana Paula Zacarias): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs.

Deputados: Para mim, é uma honra estar pela primeira vez neste Hemiciclo, sobretudo para vos propor a

aprovação do Acordo Económico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá.

O CETA é o mais moderno e o mais abrangente dos múltiplos acordos de que Portugal é signatário.

Trata-se, neste caso, de um Acordo com um parceiro com quem partilhamos seguramente interesses

comerciais, que são complementares, mas também uma história baseada em valores, interesses comuns e um

compromisso compartido com o desenvolvimento sustentável e com altos padrões ambientais, de segurança

alimentar e de defesa do consumidor.

Desta forma, procura-se regular o comércio internacional e dar, assim, um contributo importante para a

regulação da globalização.

Como já foi dito aqui várias vezes, pensamos que este acordo trará para a União Europeia e para Portugal

oportunidades económicas importantes na área dos bens e dos serviços, dos fluxos de investimento, da criação

de emprego e no reconhecimento de qualificações profissionais.

Ao longo das negociações, Portugal pugnou pelos seus interesses de maneira a garantir, entre muitas outras

coisas, a proteção dos direitos de propriedade intelectual e o reconhecimento de 20 indicações geográficas

portuguesas.

O CETA preserva igualmente o direito de regular da União Europeia. A União não abdicou da prerrogativa

de adotar normas mais exigentes no futuro e de gerir, de forma mais adequada, os serviços públicos.

O CETA consagra um novo modelo de tribunal de investimento bilateral, que, é certo, não sendo perfeito, dá

maior segurança jurídica às partes pela designação dos juízes nomeados pelos Estados-parte do acordo.

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Reconhecemos que o acompanhamento do processo negocial pelo Parlamento Europeu e pelos parlamentos

nacionais constituiu um mecanismo importante para assegurar a transparência nas negociações e dar resposta

às legítimas preocupações de alguns setores económicos e políticos.

Ao longo do processo, foram feitas várias audições parlamentares, responderam-se a muitos pedidos de

esclarecimento apresentados pelos Srs. Deputados e pela sociedade civil, realizaram-se numerosas

conferências e, em resposta a uma resolução desta Assembleia, tiveram lugar três grandes debates, um em

Lisboa, outro em Leça da Palmeira e ainda outro em Leiria, um dos quais com a presença da Comissária

Europeia para o Comércio.

Sabemos que, nesta matéria, sempre persistiram pontos de vista diversos, mas cremos que muitas das

preocupações foram atendidas e clarificadas.

Será, contudo, importante continuar a acompanhar de perto a implementação deste acordo com mecanismos

de monitorização e ações de informação e promoção que permitam às empresas, sobretudo às PME (pequenas

e médias empresas), usufruir de benefícios concretos.

Finalmente, estou confiante de que a entrada em vigor provisória do acordo, mesmo que parcial, contribuirá

também para tranquilizar as preocupações que ainda possam subsistir.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Secretária de Estado, a Mesa registou a inscrição, para pedir esclarecimentos, de

dois Srs. Deputados, sendo que o primeiro a usar da palavra é o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. JoséLuísFerreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus,

Os Verdes estiveram desde sempre, desde o início, contra este acordo. E esta firme oposição decorre não só

da forma secreta e muito pouco transparente de como o processo foi negociado mas também do seu conteúdo

e das implicações que representa para o nosso País.

Para além disso, este processo de ratificação está verdadeiramente inquinado. Acho até que em democracia

nunca vimos um processo tão inquinado como este. É que a entrada em vigor provisória do acordo representa

uma manobra absolutamente estranha e até ilegítima por parte da União Europeia face aos Estados-membros

porque nos coloca perante uma espécie de facto consumado, o que transforma este processo de ratificação

num simples ato para cumprir calendário.

Face ao que está em causa com este acordo, o processo de ratificação acaba por se reduzir a um mero faz-

de-conta, o que, a nosso ver, é absolutamente inadmissível e inqualificável.

Sr.ª Secretária de Estado, como sabe, o Governo belga requereu ao Tribunal de Justiça da União Europeia

uma análise ao CETA para que este Tribunal possa aferir da sua conformidade com os tratados europeus e com

os direitos fundamentais.

Pergunto: não seria mais sensato aguardar pela decisão desse Tribunal antes deste processo de ratificação?

O que motiva esta pressa toda?

Aplausos de Os Verdes, do BE e do PCP.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.

A Sr.ª CarlaCruz (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus, são cada vez

mais as vozes que se levantam contra o CETA e são cada vez mais os retrocessos nos direitos sociais,

ambientais, de saúde pública, de desregulação, de desproteção e de destruição da capacidade produtiva de

importantes setores produtivos portugueses.

Sr.ª Secretária de Estado, gostaria de saber como é que o Governo pretende preservar os interesses

nacionais, defender a produção nacional, os direitos sociais e laborais e os serviços públicos face a este acordo.

Sr.ª Secretária de Estado, em concreto, pergunto-lhe o seguinte: como vai defender a agricultura e a

produção agrícola, que devem obedecer ao princípio da precaução e disso se abdica no acordo? Como vai

defender a saúde dos consumidores, que corre sérios riscos devido ao abandono deste princípio da precaução?

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Como é que o Governo vai defender os produtos de denominação de origem protegida (DOP)? A Sr.ª Secretária

de Estado disse que o Governo fez uma grande pressão e que consegui 20, mas são 137 os produtos

portugueses de denominação de origem protegida que existem e que foram deixados ao abandono.

Como é que vai salvaguardar e defender os direitos dos trabalhadores, Sr.ª Secretária de Estado? Como é

que o Governo o vai fazer perante um acordo que só tem informações vagas e princípios que não são

vinculativos?

São estas as questões concretas que lhe deixamos, Sr.ª Secretária de Estado.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus.

A Sr.ª SecretáriadeEstadodosAssuntosEuropeus: — Sr. Presidente, Srs. Deputados José Luís Ferreira

e Carla Cruz, em resposta às perguntas que foram colocadas quero dizer que este acordo é misto, o que significa

que só entrará em vigor no dia 21 de setembro a parte que é da competência da Comissão Europeia; a parte do

acordo que é da competência nacional não entrará em vigor neste momento, só entrará em vigor depois de os

parlamentos nacionais se terem pronunciado.

Quanto aos outros aspetos, há várias questões que é necessário tomar em consideração.

Este acordo terá um importante impacto positivo em relação às PME, uma vez que vai evitar duplicação de

auditorias e vai fazer com que se possam manter os standards que existem e melhorar algumas destas questões.

Quanto aos direitos laborais, eles não estão a ser postos em causa. Há também um compromisso do Canadá

em relação a estes direitos laborais e à adesão às Convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Não irão ser alterados os direitos dos trabalhadores, apenas as empresas terão ganhos económicos com este

acordo.

Portanto, entendemos que este acordo é dinâmico.

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe que conclua, Sr.ª Secretária de Estado.

A Sr.ª SecretáriadeEstadodosAssuntosEuropeus: — Termino já, Sr. Presidente.

Agradeço e tomei boa nota dos pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados.

Recordo apenas que o CETA já foi ratificado pela Espanha, pela Letónia, por Malta e pela Dinamarca e

Portugal pode ser o próximo País a fazê-lo, se os Srs. Deputados assim o entenderem.

Com franqueza, se não conseguirmos fazer um acordo com o Canadá, como parceiro estratégico da União

Europeia e de Portugal, com quem poderemos negociar no futuro?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. JoséLuísFerreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Hoje é um dia triste para a

nossa democracia porque discutimos a possibilidade de o poder político ceder aos interesses do poder

económico; discutimos a possibilidade de entregar parte da nossa soberania aos poderes das multinacionais;

discutimos a possibilidade de renunciar aos nossos tribunais para entregar os litígios entre as multinacionais e

o nosso País a tribunais arbitrais, como as multinacionais tanto gostam; discutimos a possibilidade de as

multinacionais poderem intentar ações contra o Estado português, se aquelas entenderem que as políticas

desencadeadas pelos governos comprometem a sua expectativa de lucro.

Lembramos, a este propósito, a tabaqueira Philip Morris, que, ao abrigo de um acordo semelhante, intentou

uma ação contra os Estados do Uruguai e da Austrália, exigindo milhões e milhões de dólares, pelo facto de

estes países, a pensar na saúde dos seus cidadãos, terem implementado políticas antitabagistas. A

multinacional do tabaco entendeu que estas políticas perturbavam a sua expectativa de lucro e recorreu aos tais

tribunais arbitrais.

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Além disso, uma multinacional sueca intentou uma ação contra o Estado da Alemanha porque a Alemanha

decidiu abandonar a energia nuclear.

Estes são apenas dois dos muitos exemplos que aqui podiam ser referidos e que ilustram a viragem que o

CETA vai provocar.

Os governos e as autarquias vão deixar de ter como preocupação central dar resposta aos problemas dos

respetivos países e dos seus cidadãos, porque a grande preocupação passa a ser apenas não perturbar o lucro

das multinacionais.

Mais: se Portugal ratificar o CETA, estará a alinhar num retrocesso civilizacional, podendo até ser objeto de

chantagens corporativistas.

Tal como evidenciam experiências anteriores, abriremos a porta à sobreposição de interesses corporativos

em detrimento da soberania nacional, da capacidade de definir livremente políticas económicas, sociais e

ambientais e de defesa do interesse público.

Do ponto de vista ambiental, o CETA deixa em aberto a possibilidade de as empresas contornarem legislação

e acordos internacionais, como o Acordo de Paris, pondo em risco quaisquer esforços que sirvam para combater

as alterações climáticas.

No caso da agricultura, este acordo terá impactos negativos nas pequenas e médias produções e na

produção e comercialização de produtos regionais, desde logo porque vários produtos portugueses ficarão

desprotegidos, o que provocará quebras no rendimento dos produtores. Note-se que dos mais de 140 produtos

protegidos em Portugal apenas 20 estão protegidos pelo CETA.

Ao nível da segurança alimentar, registamos as diferenças entre as normas europeias e as do Canadá no

que respeita aos transgénicos, aos fatores de crescimento, às hormonas e ao bem-estar animal, sendo o Canadá

muito mais permissivo e muito menos rigoroso do que a União Europeia.

Ora, face ao que está em causa, Os Verdes consideram que o CETA deve ser rejeitado por esta Assembleia

e, por isso, apresentam uma iniciativa legislativa nesse sentido, ou seja, rejeitar a ratificação do CETA.

Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla cruz.

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O PCP rejeita o

CETA, rejeição esta que resulta do facto de este acordo atentar contra a soberania nacional, os interesses dos

povos e os direitos sociais, laborais e democráticos.

A rejeição do acordo nada tem a ver com a apologia de políticas isolacionistas que alguns querem fazer crer.

O acordo económico e comercial global entre a União Europeia e o Canadá, que hoje discutimos, não é um

simples acordo de comércio, é um acordo que não se cinge apenas a eliminar tarifas aduaneiras mas visa limar

as barreiras técnicas e regulamentares através da criação da denominada «cooperação regulatória». Ou seja,

o CETA tem como objetivo avançar ainda mais na liberalização do comércio e dos serviços, apontando a

eliminação de quaisquer barreiras ao domínio das transnacionais sobre as economias de Estados soberanos e

forçando a harmonização legislativa revendo em baixa o acervo regulamentar, social, laboral, ambiental e

higiénico-sanitário.

O acordo vai ainda mais longe e procura impedir os Estados e os cidadãos de defenderem os seus interesses

impondo um instrumento jurídico, o ICS (Investment Court System), que se sobrepõe às jurisdições e instituições

soberanas do Estado.

O CETA, a ser ratificado, implicará, contrariamente ao que disse, Sr.ª Secretária de Estado, um retrocesso

nos direitos sociais, laborais, ambientais e de saúde pública e levará à desregulação, à desproteção e à

destruição da capacidade produtiva. Mas, no essencial, Srs. Membros do Governo, o CETA contribuirá para

aumentar as pressões para nivelar por baixo as condições de trabalho e enfraquecer os direitos dos

trabalhadores.

Não podemos deixar de recordar aqui, Sr.ª Secretária de Estado, que o processo das negociações não foi

um processo de negociação democrático, foi um processo que foi feito às escondidas, no maior secretismo e

contra aquilo que foram as vontades das populações.

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Rejeitamos o CETA e os demais acordos livres de comércio. Afastamo-nos completamente da posição

assumida pelo Governo português de aceitação de mais esta imposição da Comissão Europeia e, por isso,

apresentamos uma iniciativa legislativa que rejeita a aprovação para ratificação do CETA entre a União Europeia

e o Canadá.

Aplausos do PCP e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires.

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Encontramo-

nos hoje na última ocasião possível de debate público sobre o CETA e o Bloco de Esquerda não pode deixar de

lamentar que assim seja, pois não se conhece ainda o estudo de impacto para Portugal, as negociações durante

anos foram bastante blindadas à opinião pública, não se tiveram em conta as contestações e os alertas dados

por várias organizações, sindicatos e até alguns governos e, essencialmente, não se ouviram os cidadãos e

cidadãs.

Hoje voltamos ao tema em Plenário, mas tal não significa, está bem longe disso, que se possa afirmar, aqui,

que houve um debate público alargado e que tenha chegado ao conhecimento das pessoas o que está em

causa, porque isso, pura e simplesmente, não corresponde à verdade.

Estes processos, infelizmente, sempre foram assim. A União Europeia tem-se pautado por processos pouco

ou nada democráticos e o argumento que agora se utiliza da tentativa de regular a globalização é, em especial

neste caso, um falso argumento, porque ele serve para esconder aquilo que realmente está em causa: o

favorecimento das grandes corporações.

Estamos perante uma nova geração de acordos comerciais — este é apenas o primeiro que está prestes a

ser concretizado — que não são mais apenas acordos comerciais, são acordos comerciais e de investimento,

altamente complexos, que dão um poder demasiado elevado às multinacionais e retiram, efetivamente, aos

Estados poder de decisão política em prol dos cidadãos, como já aqui foi referido.

Não podemos deixar de nos focar, no entanto, no elemento mais gravoso deste acordo, que é também alvo

daquilo que será a ratificação por parte dos parlamentos nacionais e que é o mecanismo arbitral de resolução

de litígios, tema este sobre o qual os parlamentos nacionais se pronunciam e percebe-se porquê. Porque, na

verdade, é um modelo que permite a desaplicação do direito interno, seja ele nacional ou europeu, colocando

em risco até o princípio do Estado de direito democrático vertido no artigo 2.º da Constituição da República

Portuguesa, e também porque rejeita o princípio dos tribunais enquanto órgãos de soberania do Estado, também

previsto na nossa Constituição.

Isto acontece, muito simplesmente, porque se pretende criar um tribunal privado, o que coloca em causa a

própria natureza pública da justiça, que se irá reger pelo próprio acordo e não pelo direito nacional ou europeu

e, portanto, estamos perante uma espécie de pescadinha de rabo na boca: estamos perante um tribunal que é

autossuficiente, que é criado por um acordo e que se rege pelas regras desse mesmo acordo sem responder a

mais nenhuma legislação, seja ela nacional ou europeia.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Portanto, está também longe do escrutínio público e é desequilibrado, pois, nesta

suposta balança, o poder está todo colocado do lado dos investidores e os alertas, Sr. Secretária de estado, têm

sido dados, nomeadamente pela Associação Nacional de Juízes Portugueses, pela Associação Europeia de

Juízes, pelos magistrados do Ministério Público, pela própria associação de juízes alemã, pela jurisdição do

Tribunal de Justiça Europeu sobre tribunais arbitrais.

Não faltam alertas sobre este mecanismo e sobre o perigo que este mecanismo representa para a

democracia e atente-se também ao processo que decorre ainda hoje contra o Governo canadiano, que assenta

exatamente em premissas que dizem muito à nossa Constituição, nomeadamente o princípio da igualdade mas

também do acesso ao direito e à tutela jurisdicional.

Sr.as e Srs. Deputados, infelizmente, até hoje não foi dada a atenção merecida a este acordo, que abre um

precedente para novos acordos que se avizinham, nomeadamente com o Japão.

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Não foi por falta de alertas, seja ao nível europeu ou, aqui, no nosso País, mas deliberadamente não se

ouviram as organizações ambientais, laborais, de proteção de dedos, agrícolas, de saúde pública, de direitos de

autor — enfim, poderíamos aqui continuar a elencar várias organizações —, porque se o tivessem feito, tanto

as instituições europeias como os governos, com certeza não estaríamos aqui, hoje, a debater a possibilidade

de ratificação do CETA, por uma razão muito simples: porque o acordo é mau, vai ter consequências ainda não

totalmente percetíveis, não protege os cidadãos nem os produtores e inicia — e isto é essencial — um caminho

de alteração profunda de como vemos o Estado de direito democrático, de como vemos e assumimos o papel

legislador desse Estado e de como vemos até o exercício da soberania popular.

Estes conceitos, que deveriam estar na base do que é criado ou do que é acordado pela própria União

Europeia e por Portugal, são postos completamente de lado e o Bloco de Esquerda considera que estes

conceitos ficam feridos com a ratificação deste acordo, bem como o ficam os princípios constitucionais do nosso

País.

Portanto, Sr.ª Secretária de Estado e Srs. Deputados, se queremos ser responsáveis perante os cidadãos e

cidadãs e se queremos zelar pela sua proteção, pelos seus interesses e pela própria Constituição só temos uma

opção: vetar o CETA.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de estado, Sr.as e Srs. Deputados: Falemos

hoje de responsabilidades políticas. Hoje, PS, PSD e CDS, partidos do arco da governação, ratificarão o CETA

em plena consciência, um ato transnacional entre a União Europeia e o Canadá que é feito à medida de uma

elite corporativa mas trabalhado à revelia dos cidadãos e sem salvaguardar importantes interesses de todos

nós, como a proteção ambiental, a produção agrícola ou o bem-estar animal.

Este tratado foi durante anos negociado a portas fechadas, longe do olhar dos meios de comunicação e com

a conivência política não só dos Deputados nacionais como das suas famílias políticas europeias.

PS, PSD e CDS decidem hoje penhorar milhares de empregos de classes baixas e médias a uma elite

empresarial multinacional. PS, PSD e CDS decidem hoje hipotecar o já avançado crédito climático que as nossas

sociedades extractivistas têm e garantir que o projeto europeu é cada vez mais um sonho por cumprir em vez

de se tornar uma realidade.

O descrédito grassa com estes exemplos de más políticas públicas. Mesmo depois de o PAN ter aprovado

aqui no Parlamento uma resolução para se debater profunda e abertamente o CETA na sociedade portuguesa

apenas três condicionadas e circunscritas conversas, a que o Governo chama de grandes debates, foram tidas.

Se este acordo é assim tão bom, tão vanguardista, tão tudo, ao contrário daquilo para que os relatórios

técnicos de organizações não-governamentais do ambiente, observatórios e institutos, sindicatos, sociólogos,

economistas e de outras entidades vêm alertando, porquê não o defender calorosamente num verdadeiro debate

integrado e participativo? Sabemos porquê. Porque falharia na prova final e quanto mais se soubesse o que se

propõe mudar com o CETA mais a opinião pública mudaria em relação ao mesmo.

Assim, de fininho, despimos ainda mais a nossa democracia do melhor que ela tem: a participação e a

transparência.

Esperemos que os portugueses compreendam o que o PS, o PSD e o CDS estão a validar, que percebam

quem hoje hipoteca o presente do País e o futuro da Europa, isto porque, mais à frente, de nada servirá atribuir

as responsabilidades a externalidades e aos mercados, como tão usualmente é feito neste Parlamento e pelos

responsáveis políticos do costume.

Cá estaremos para pegar nos cacos e arrumar a casa mas não nos fartaremos de vos dizer: nós avisámos!

Aplausos de Deputados do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Cesário.

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O Sr. José Cesário (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PSD vai votar favoravelmente a proposta

de resolução do Governo que aprova o CETA, assinado em 2016, depois de várias rondas negociais realizadas

entre 2009 e 2014.

O nosso voto assenta em razões que têm em conta, essencialmente, os superiores interesses dos cidadãos

e o futuro do projeto europeu, que defendemos, assente no primado do humanismo, na democracia e no

desenvolvimento.

Para nós, o CETA começa por significar a concretização de uma efetiva cooperação política e económica

entre dois espaços com valores sociopolíticos e níveis de progresso semelhantes.

O Canadá é um país extremamente desenvolvido, com regras de organização empresarial e de proteção aos

trabalhadores e ao ambiente perfeitamente conciliáveis com as dos países da União Europeia. Claro que

sabemos bem que este acordo implica grandes desafios para o nosso universo empresarial e laboral, que tem

sabido corresponder a outros impactos bem recentes e que tem, agora, mais uma oportunidade para aperfeiçoar

métodos de produção e modelos organizacionais que, decerto, gerarão mais produtividade e mais emprego.

Por outro lado, este acordo traduz uma clara aproximação entre países que rejeitam em absoluto o

isolacionismo e o protecionismo, questão particularmente importante no momento em que se avolumam

tendências pouco consonantes com a aproximação entre os povos e a cooperação entre os países.

Pena é que alguns dos que se ouvem amiúde criticar com grande veemência aqueles que defendem essas

posições mais isolacionistas venham agora, contraditoriamente, atacar soluções que visam exatamente

combater o isolamento das nações e o protecionismo defensor dos mais privilegiados.

O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Exatamente!

Protestos do PCP.

O Sr. José Cesário (PSD): — Mas, Srs. Deputados, não nos esquecemos igualmente que o Canadá alberga

uma significativa comunidade portuguesa, que hoje deverá possuir mais de 600 000 elementos disseminados

por todas as províncias.

Trata-se de uma comunidade perfeitamente integrada, que tem uma participação ativa em todas as áreas da

sociedade canadiana cuja multiculturalidade dá garantias de plena integração a pessoas das mais variadas

origens, num exemplo que deve ser permanentemente seguido.

Protestos do PCP.

Também por isso é importante a celebração deste acordo, pois todos nós, europeus e canadianos, temos

muito a fazer em conjunto para melhorar ainda mais os modelos sociais, culturais e económicos em que

assentam as nossas sociedades.

Finalmente, Srs. Deputados, não resisto a recordar o modo como o Bloco de Esquerda decidiu criticar a

parceria de cooperação económica União Europeia/Canadá, que temos igualmente discutido paralelamente com

o CETA (Acordo Económico e Comercial Global).

Lamenta o Bloco que — e cito: «Tanto o CETA como o TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership)

surgem para servir os interesses económicos das empresas». Repito: «(…) para servir os interesses económicos

das empresas». Será possível que, em pleno século XXI, ainda se tenha uma visão desta natureza, passadista,

ignorando que são as empresas o grande fator de desenvolvimento do mundo?

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe para concluir.

O Sr. José Cesário (PSD): — Ignorando que, de um modo geral, elas assentam as suas relações numa

lógica personalista, geradora de emprego e de riqueza? Como é possível conceber o desenvolvimento sem

empresas, Srs. Deputados? Será que o CETA não deverá ter entre os seus principais objetivos exatamente o

apoio ao universo empresarial?

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O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem mesmo de concluir.

O Sr. José Cesário (PSD): — É neste tipo de parceiros, com esta visão passadista, que o Governo assenta

a sua lógica governativa, o que, obviamente, não deixará de ter graves repercussões a prazo.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, permita-me que comece por cumprimentar a Sr.ª

Secretária de Estado Ana Paula Zacarias, na sua primeira intervenção neste Plenário, e também que

cumprimente a anterior Secretária de Estado, que neste momento se senta na bancada do Partido Socialista,

Deputada Margarida Marques, porque sei que também trabalhou muito neste mesmo processo.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este Acordo de livre comércio é muito importante por três ordens de

grandeza e a ratificação que estamos a discutir hoje é também muito importante igualmente por três ordens de

grandeza.

A primeira é a importância económica que este Acordo tem. Com mais investimento, com mais crescimento,

com mais comércio, vamos conseguir gerar mais riqueza, e este Acordo comercial é de especial importância

para Portugal. Basta, aliás, olharmos para o mapa. Portugal, que é, muitas vezes na geografia europeia, um

país periférico, é, certamente, um país central na geografia atlântica. E o que a União Europeia está a fazer é a

estabelecer e a aprofundar estes mesmos laços com o Canadá que, ainda por cima, é um país com padrões de

qualidade alimentar, de segurança ambiental, de proteção social muito parecidos com os nossos.

Protestos de Os Verdes e de Deputados do PCP.

Certamente que outros partidos gostariam de fazer isto eventualmente com países como a Venezuela ou a

Coreia do Norte, mas parece-nos que estes são mais semelhantes aos padrões europeus.

Protestos de Os Verdes e de Deputados do PCP.

Muito curiosamente, os estudos dizem todos, de uma forma muito clara, que este Acordo pode potenciar um

crescimento na União Europeia de cerca de 12 000 milhões de euros, sendo que, neste caso, Portugal pode ser

o país que representa o segundo maior beneficiário.

Sabemos que, neste momento, as exportações de Portugal para o Canadá representam somente 0,8% de

todas as nossas exportações, mas também sabemos que isto pode significar a abertura a um mercado de cerca

de 300 milhões de consumidores para as 1400 empresas portuguesas que já lá estão estabelecidas e, acima

de tudo, para muitas outras empresas portuguesas.

Nesse sentido, foi muito importante, porque também há desafios que este Acordo nos coloca, termos

conseguido, por exemplo, a proteção da maioria das nossas denominações de origem protegida, conseguindo

também…

Protestos de Os Verdes e de Deputados do PCP.

… o desmantelamento de um conjunto de barreiras pautais, e também de muitas barreiras não pautais, sendo

aí que, muitas vezes, estão os maiores entraves.

A segunda ordem de grandeza na importância de termos, neste momento, no quadro europeu, a ratificação

deste mesmo processo é o facto de sabermos que há, hoje, na Europa, quer do lado de lá do Atlântico, quer do

lado de cá do Atlântico, uma enorme onda populista, uma enorme onda protecionista e isolacionista, e às vezes

até muito barulhenta, que é contra o comércio livre, que é contra a regulação da globalização. Essa onda vê-se,

quer à extrema-direita, quer à extrema-esquerda e também temos connosco, nesta Sala, representantes dessa

mesma onda, nas bancadas situadas frente à bancada do meu partido.

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É importante, nesse sentido, demonstrarmos que a União Europeia não se deixa aprisionar por este discurso,

que é um discurso que leva sempre a que as barreiras se imponham e a que, nesse sentido, a própria União

Europeia possa crescer menos.

Há ainda um terceiro aspeto que é muito importante, que é a confissão feita neste debate pelo Bloco de

Esquerda, pelo Partido Comunista Português e pelo Partido Ecologista «Os Verdes», sendo estes três partidos

que suportam hoje a solução governativa em Portugal.

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Qual é a novidade?!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — São partidos que têm um poder efetivo e que tinham o poder efetivo

de travarem este Acordo se quisessem. Bastava terem incluído nas bases programáticas que assinaram com o

Partido Socialista a travagem deste mesmo Acordo, mas sabemos que os senhores não o fizeram.

Protestos de Os Verdes e de Deputados do PCP.

Sei que os senhores são muito vocais neste Parlamento, mas parece-me que é um bocadinho aquela

vocalidade, aquela lógica, citando aqui um ditado popular…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe para concluir.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — … que certamente seria do agrado do Sr. Deputado Jerónimo de

Sousa, do «cão que ladra, mas não morde». É exatamente assim que os senhores estão neste processo.

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Lara Martinho.

A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, cumprimento a Sr.ª Secretária de

Estado e faço votos de muito sucesso no exercício das funções governativas.

Sr.as e Srs. Deputados: Estamos a um pequeno passo de aderir, em pleno, ao Acordo Económico e Comercial

Global entre a União Europeia e o Canadá. Outros já o fizeram.

Estamos também a um pequeno passo de se abrir, assim, um leque de novas oportunidades para as nossas

empresas, já com a provisória entrada em vigor do CETA no próximo dia 21 de setembro, como assim entendeu

o Parlamento Europeu.

É com pequenos passos mas com uma grande visão que estamos a construir um Portugal melhor.

Um Portugal melhor com a taxa de desemprego mais baixa dos últimos oito anos, com as exportações a

crescer três vezes mais do que no final de 2015, com a economia a crescer mais do que na zona euro e na

União Europeia.

Um Portugal melhor com a saída da classificação de «lixo» na notação da dívida portuguesa, com melhores

condições de acesso ao financiamento por parte do sistema financeiro e das empresas portuguesas.

Um Portugal melhor com a criação de condições mais favoráveis para o aumento das nossas exportações e

do investimento, de que é exemplo a negociação deste Acordo.

Já muitas vezes o afirmámos: este Acordo está num novo patamar, numa nova geração de acordos

comerciais da União Europeia. É um Acordo ambicioso, em que merecem destaque cinco grandes

potencialidades.

Primeira potencialidade: a eliminação de 99% dos direitos aduaneiros sobre bens e de barreias não pautais,

sem pôr em causa os padrões e regras europeias.

Segunda: a equidade na proteção de direitos de propriedade intelectual, com o reconhecimento, pela primeira

vez, do sistema europeu de indicações geográficas.

Terceira: a liberalização dos serviços do investimento com a reserva dos serviços públicos.

Quarta: a criação de um novo instrumento de resolução de conflitos de investimento.

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Quinta potencialidade: o compromisso quanto ao comércio e desenvolvimento sustentável, nomeadamente

acordos e padrões internacionais na área do trabalho e do ambiente, entre outros.

Com o CETA perspetiva-se o incremento das relações comerciais e de investimento entre Portugal e o

Canadá, sobretudo tendo em conta a eliminação das taxas alfandegárias em segmentos industriais tradicionais

na nossa economia e com potencial de exportação para o Canadá, como é o caso dos têxteis de lar e do calçado.

É de salientar, também, o aumento da quota alocada à importação de queijos da Europa para o Canadá.

É, por isso, importante o Governo concentrar-se em dar continuidade ao diálogo e ao apoio às empresas, em

particular nestes setores de maior potencial de exportação e às PME (pequenas e médias empresas), para que

estas conheçam e saibam tirar o maior partido das vantagens do mercado canadiano.

O contínuo sucesso das empresas portuguesas, num mundo onde a concorrência e as cadeias de valor são

globais, exige um acesso mais fácil aos mercados estrangeiros. A União Europeia tem um papel fundamental

neste processo.

Aliás, neste momento, na União Europeia, estão em vigor, ou em fase de negociação, acordos comerciais

com mais de 140 parceiros em todo o mundo. De facto, a política comercial é uma prioridade da União Europeia

e ainda na semana passada o Presidente da Comissão, Jean Claude Juncker, anunciou um conjunto de

propostas e iniciativas para tornar a política comercial mais transparente e mais responsável.

Neste sentido, lançamos também um desafio ao Governo, para que se comprometa cada vez mais em

assegurar a participação das empresas e trabalhadores, associações, câmaras de comércio, ONG

(organizações não governamentais) e também das regiões autónomas na definição da política comercial

europeia e nos acordos que se avizinham, para que também estes, cada vez mais, respondam melhor aos

interesses do nosso País.

Termino, dizendo que, ao ratificar este Acordo, Portugal reitera também a sua vocação de País moderno e

aberto ao mundo…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Lara Martinho (PS): — … e envia um sinal contrário às tendências protecionistas e isolacionistas que

têm ganho fôlego nos últimos tempos.

Termino, Sr. Presidente, dizendo que a ratificação deste Acordo demonstra que é possível prosseguir a

defesa do interesse estratégico nacional num mundo aberto e globalizado.

Vamos continuar a construir um futuro melhor, um Portugal melhor.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, terminada esta discussão, passamos ao último ponto da ordem do dia,

que consta da discussão, na generalidade, da proposta de lei n.º 94/XIII (2.ª) — Altera o regime jurídico da

segurança contra incêndio em edifícios.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Administração Interna.

O Sr. Secretário de Estado da Administração Interna (Jorge Gomes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs.

Deputados: A presente proposta de lei visa proceder à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 220/2008, alterado

pelo Decreto-Lei n.º 224/2015, que estabelece o regime jurídico da segurança contra incêndio em edifícios.

O Programa do XXI Governo Constitucional definiu como objetivo central a transformação do modelo de

funcionamento do Estado, nomeadamente através do reforço de autonomia das autarquias locais e da

descentralização democrática da Administração Pública.

Para se atingir este desiderato foi consagrado o alargamento da participação dos municípios em vários

domínios, entre os quais o da proteção civil. Neste âmbito, as competências para apreciar projetos e medidas

de autoproteção e para realizar vistorias e inspeções a edifícios classificados na 1.ª categoria de riscos, no

regime jurídico de segurança contra incêndios em edifícios, serão transferidos para os municípios.

No exercício destas competências, os municípios irão assegurar o cumprimento deste regime em edifícios

habitacionais, administrativos, escolares e hospitalares, lares de idosos, recintos de espetáculos, espaços

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desportivos e de lazer, restaurantes e hotéis, edifícios comerciais e culturais, entre outros, classificados na 1.ª

categoria de risco, de acordo com as dimensões, número de pisos ocupados e número de efetivos.

Na proposta de lei foram corrigidas inexatidões detetadas na alteração efetuada em 2015 ao citado regime

e introduzidas algumas alterações num conjunto de artigos necessárias à garantia de uma maior eficácia jurídica

das normas aí contidas, clarificando conceitos e procedendo a ajustamentos técnicos pontuais.

Em síntese, destacam-se algumas alterações.

Primeira: a adaptação do diploma à proposta de lei-quadro de descentralização, na medida em que, nos

termos do artigo 26.º desta proposta, se pretende descentralizar para os municípios as competências

anteriormente mencionadas com reflexos positivos na receita municipal. Neste âmbito, foram introduzidas

alterações em 12 artigos, sendo que a proposta de lei determina que a implementação total das competências

atribuídas aos municípios está dependente de credenciação, pela Autoridade Nacional de Proteção Civil, dos

respetivos técnicos.

Segunda alteração: a criação de uma sanção acessória de interdição de exercício de atividade a aplicar às

empresas que não se encontrem habilitadas a prosseguir a atividade de comercialização, instalação e

manutenção de equipamentos e sistemas de segurança contra incêndios em edifícios.

Terceira: a possibilidade de apresentação de fichas de segurança nas operações urbanísticas de menor

relevância.

Quarta: a previsão de um regime transitório relativo aos requisitos exigidos aos profissionais para a

elaboração de projetos de segurança contra incêndios em edifícios e medidas de autoproteção.

Por fim, importa referir que foi promovida a audição de 13 entidades, que se pronunciaram e que

enriqueceram, com o seu contributo, esta proposta de lei.

É uma proposta que garante maior simplificação, maior proximidade e maior eficácia na aplicação do regime

jurídico da segurança contra incêndio em edifícios.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, o Grupo Parlamentar do PCP

manifesta sérias dúvidas e objeções quanto a esta proposta de lei. Trata-se de dúvidas quanto à necessidade e

de objeções quanto ao modelo de transferir mais competências para as câmaras municipais, sem que estas

sejam acompanhadas quer de um pressuposto base para o PCP, que é o da regionalização, quer da

transferência dos meios financeiros para que as câmaras municipais possam desempenhar as novas atribuições

que são transferidas.

Portanto, esta proposta de lei, manifestamente, levanta um conjunto de preocupações que queria referir, Sr.

Secretário de Estado.

A primeira questão que coloco é a de saber o porquê da necessidade de apresentação desta iniciativa

legislativa neste momento e também porque é que se transfere para os municípios as responsabilidades relativas

aos edifícios de categoria 1 de risco e não são abrangidos, por exemplo, os edifícios de categoria 2 de risco, o

que seria um pressuposto para a viabilização financeira das câmaras municipais. Completa-se um conjunto de

transferências sem que se perceba a razoabilidade do mesmo.

Pergunto ainda se acha razoável, Sr. Secretário de Estado, que sejam as assembleias municipais a definir

as taxas praticadas por cada um dos municípios, levando, claro, a naturais discrepâncias regionais e locais no

que diz respeito a estas mesmas taxas.

Havendo outros problemas identificados com este regime jurídico, como sejam os problemas relativos aos

edifícios de apoio dos estabelecimentos considerados como de risco elevado ou de elevada perigosidade, esses

problemas não foram resolvidos. Por que é que não foram resolvidos esses problemas, designadamente a

consideração da simplificação da tramitação relativamente a esses mesmos edifícios de apoio, em detrimento

de outros?

Por fim, gostaríamos de suscitar um aspeto que, para nós, é importante. É que da iniciativa legislativa não

resulta a necessidade, que consideramos imperiosa, de articular os projetos em concreto e as soluções de

segurança encontradas para cada um dos edifícios com as necessidades de meios operacionais,

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nomeadamente os simulacros e as medidas de treino necessárias para os agentes nacionais de proteção civil.

A título de exemplo, os bombeiros são completamente relegados do licenciamento, da obtenção de informação,

dos simulacros, dos treinos necessários para os edifícios de alto risco, sendo essa competência, bem como o

acesso à informação, no que se refere aos edifícios de maior perigosidade, remetidos exclusivamente para a

Autoridade Nacional de Proteção Civil. Não percebemos este distanciamento entre a Autoridade Nacional de

Proteção Civil e os bombeiros, que, depois, na prática, naturalmente, terão de lidar com as situações de risco,

caso se venham a verificar.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado da Administração Interna.

O Sr. Secretário de Estado da Administração Interna: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, o

porquê da necessidade foi, realmente, o que foi sentido por nós, ou seja, de incluir dentro do pacote de

descentralização aquilo que consideramos risco que pode ser tratado ao nível do município. Mas também o

fizemos com todo o cuidado e com toda a atenção, porque há transferência de responsabilidade e do pacote

financeiro. Isto está previsto, está feito o estudo do custo/benefício e transferimos para as autarquias 483 000 €

de responsabilidade e 1,082 milhões de euros de receita. Isto sem falar em contraordenações que,

eventualmente, possam surgir.

Portanto, estamos só…

O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Onde é que isso está escrito?

O Sr. Presidente: — Sr. Secretário de Estado, peço-lhe para não entrar em diálogo e para prosseguir com a

sua resposta.

O Sr. Secretário de Estado da Administração Interna: — Nós entendemos que as taxas, sim, devem ser

aplicadas pelos respetivos municípios. Os municípios é que terão o poder de decisão.

Porquê o nível I e não o II? Porque, quanto maior é o nível do risco, maior se torna a exigência. E também

tem de se dar tempo aos municípios para prepararem as suas capacidades de resposta.

Relativamente ao facto de os bombeiros ficarem afastados…

O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, pelo que lhe peço para concluir, Sr. Secretário

de Estado.

O Sr. Secretário de Estado da Administração Interna: — Sr. Presidente, só para terminar, direi que,

relativamente ao afastamento dos bombeiros nos simulacros, iss não é verdade, já que fazem parte. Em todo e

qualquer simulacro da Autoridade Nacional de Proteção Civil, o primeiro agente de proteção civil são os

bombeiros.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Carpinteira.

O Sr. José Manuel Carpinteira (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.

Deputados: Decorridos cerca de nove anos sobre a entrada em vigor do Regime Jurídico da Segurança Contra

Incêndio em Edifícios, o Governo tomou a iniciativa oportuna de apresentar a proposta de lei n.º 94/XIII, que

hoje discutimos em Plenário.

As alterações têm, essencialmente, como objetivo adaptar o diploma à lei-quadro da descentralização, na

medida em que, nos termos do artigo 26.º dessa lei-quadro, se pretende proceder à descentralização para os

municípios da competência para apreciar projetos e medidas de autoproteção, realizar vistorias, inspeções e

fiscalização e a instrução e decisão dos processos sancionatórios a edifícios classificados na categoria de risco

reduzido, ainda que a implementação total das competências atribuídas aos municípios esteja dependente de

credenciação dos técnicos municipais pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.

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Sublinhe-se que as alterações relativas à descentralização destas matérias foram objeto de parecer favorável

da Associação Nacional de Municípios, incluindo a repartição do produto das coimas.

Sr.as e Srs. Deputados: Esta proposta de lei corrige imprecisões detetadas, introduz algumas alterações num

conjunto de artigos, necessárias para garantir uma maior eficácia jurídica das normas, clarifica conceitos e

procede a alguns ajustamentos técnicos pontuais.

Por outro lado, é introduzida uma alteração, que na nossa opinião faz sentido, nas operações urbanísticas

de todas as utilizações-tipo da categoria de risco reduzido: a aplicação de uma ficha de segurança.

Num domínio tão sensível como o da segurança de pessoas e bens, esta proposta de lei merece, obviamente,

a nossa aprovação.

Em síntese, Sr.as e Srs. Deputados, podemos referir que este diploma, apresentado pelo Governo,

descentraliza, simplifica, clarifica e é mais exigente nomeadamente ao fixar requisitos mais rigorosos aos

responsáveis pela elaboração dos projetos de segurança e das medidas de autoproteção contra incêndios em

edifícios e em recintos classificados como integrando a categoria mais elevada de risco, onde se incluem

infraestruturas como escolas, hospitais ou lares de idosos.

Reconhecemos que, para além de uma legislação adequada e competente, é necessária a efetiva aplicação

de medidas de autoproteção e ações de sensibilização públicas, nomeadamente sobre como agir em caso de

incêndio em edifícios.

A educação para a proteção civil da população e em meio escolar é cada vez mais um imperativo. Deverá

ser esse também o caminho a seguir.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, também para uma intervenção, o Sr. Deputado Álvaro Castello-

Branco.

O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.

Deputados: O regime jurídico da segurança contra incêndio em edifícios é uma temática muito importante e que,

efetivamente, merece toda a atenção. Assim, para o CDS-PP, é fundamental que uma reforma do regime em

vigor seja precedida de um amplo debate, alargado a diversas entidades e a especialistas nesta matéria.

Ora, na exposição de motivos deste diploma, o Governo refere — e o Sr. Secretário de Estado também já

referiu aqui — que foram ouvidas muitas e variadas entidades relevantes nesta área, concretamente 13

entidades, nomeadamente a Associação Nacional de Municípios Portugueses, o Laboratório Nacional de

Engenharia Civil, os Serviços Regionais de Proteção Civil dos Açores e da Madeira, entre outras.

No entanto, Sr. Secretário de Estado, consultada a página da iniciativa, não encontramos qualquer parecer,

contributo ou documento resultante dessas consultas. E a questão que coloco aqui é esta: existem? E, se

existem, pretende o Governo remeter tais documentos a esta Assembleia? É que, Sr.as e Srs. Deputados, esta

falta de informação do Governo tem sido uma constante e não nos parece razoável nem admissível,

principalmente no que se refere ao processo de descentralização de que esta iniciativa depende.

Como todos sabemos, encontra-se ainda pendente a iniciativa do Governo quanto à descentralização de

competências para os municípios, bem como as iniciativas sobre a mesma matéria apresentadas pelos grupos

parlamentares.

O Governo, no que toca a esta matéria, pretendeu, em primeiro lugar, que esta Assembleia aprovasse uma

lei-quadro totalmente às escuras, sem o acompanhamento de estudos, pareceres ou contributos de quaisquer

entidades.

Depois, percebendo que a Assembleia da República não aprovaria uma reforma desta natureza e importância

às escuras, remeteu os vários diplomas setoriais que estava a preparar, entre eles o diploma referente ao regime

jurídico da segurança contra incêndio em edifícios.

Ora, a proposta de lei que hoje aqui estamos a discutir é exatamente esse diploma, com todas as referências,

nomeadamente a uma lei x, que é a lei relativa à descentralização de competências, a qual ainda não está

aprovada e, uma vez que não é o Governo que decide os agendamentos e votações desta Casa, não se sabe

ainda se e quando irá ser efetivamente aprovada, tal como não sabemos qual o seu texto final.

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Pensávamos que o Governo já tinha percebido que esta Assembleia, nomeadamente o CDS, não passa

cheques em branco e que, em matérias tão importantes como a que estamos hoje aqui a tratar, é necessário

um debate sério e alargado.

Sr.as e Srs. Deputados, já aqui disse e repito: o CDS não tem dúvidas quanto à missão fundamental que é

desempenhada pelos órgãos autárquicos na oferta de serviços públicos de qualidade aos portugueses,

integrando a primeira e mais próxima linha de apoio.

No entanto, sublinho o que muitas das entidades afirmaram quando foram ouvidas no Grupo de Trabalho —

Pacote Descentralização, que foi criado na Comissão competente sobre esta matéria. E cito: «Não se pode fazer

em meia dúzia de meses o que deveria ter sido feito em 40 anos»!

A proposta de lei que hoje aqui discutimos, bem como todos os diplomas setoriais referentes à transferência

de competências, assim co, para que, quando forem votados, todos os partidos o possam fazer em consciência

e sem pressões, nomeadamente do Governo.

Portanto, Sr. Secretário de Estado, consideramos extemporânea, neste momento, a apresentação desta

proposta de lei a esta Assembleia.

Aplausos do CDS-PP e do Deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Soares.

O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta proposta de lei, para além de

procurar corrigir inexatidões e ajustar o regime contraordenacional, coloca uma questão fundamental, do nosso

ponto de vista, que é a da passagem de competências relativamente à inspeção e pareceres sobre um conjunto

de edifícios, no que respeita ao sistema de proteção contra incêndios, da Autoridade Nacional de Proteção Civil

para os municípios. E esta passagem da Autoridade Nacional de Proteção Civil para os municípios é um

problema que está colocado no âmbito do processo de descentralização.

Portanto, esta proposta de lei consiste, no essencial, em dar um passo no sentido da municipalização de

competências da administração central, o que, na nossa perspetiva, é preocupante, tendo em conta que se trata,

de facto, de uma espécie de municipalização às pinguinhas que o Governo está a querer promover, alegando

que, neste momento, existe uma proposta de lei-quadro sobre a descentralização, mas, como já foi aqui referido

por vários Srs. Deputados, ela está em debate, ou seja, não existe na realidade como diploma aprovado.

Portanto, o Governo alegar que é necessário avançar com a proposta de lei de municipalização desta

competência em concreto, porque há uma proposta de lei de descentralização que poderá, eventualmente,

prever esta medida, parece não ter, de facto, grande sentido.

Do nosso ponto de vista, esta proposta de lei deveria, em primeiro lugar, vir acompanhada de um relatório

sobre as condições dos 308 municípios do nosso País para integrarem e assimilarem esta competência de

elevada complexidade técnica e de grande responsabilidade, no que diz respeito à segurança das pessoas e

dos edifícios. Será que o Governo sabe, quanto aos vários municípios do nosso País, quais os que têm técnicos

devidamente credenciados pela entidade competente para exercer esta função? Nós não sabemos. Reparem

que mais de 70% dos nossos municípios têm menos de 30 000 habitantes, são pequenos municípios. Será que

todos os municípios têm competências técnicas para exercer estas funções? E qual é, efetivamente, o impacto

financeiro desta medida em termos de orçamentos municipais? Qual é o impacto financeiro para os municípios

se ajustarem a esta lei, no caso de ela vir a ser aprovada? Nada disto a Assembleia conhece e, por isso, faria

todo o sentido que esta proposta de lei fosse, de facto, integrada no debate sobre a descentralização.

Mais: que garantias é que o Governo pode dar de que evita a externalização destas funções, a

subcontratação a privados destas tarefas ligadas a uma função importante, em termos de segurança da

população e dos edifícios? Que garantias pode dar para evitar que a municipalização desta competência se

transforme, efetivamente, na abertura e na promoção de um novo negócio ligado, agora, a este serviço?

Reparem que há…

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Pedro Soares (BE): — Concluo já, Sr. Presidente.

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Como estava a dizer, reparem que há 3,5 milhões de edifícios no nosso País, segundo os últimos relatórios,

54% dos quais têm de ser reabilitados nos próximos anos. De facto, abre-se uma grande expectativa de negócios

sobre esta matéria e, portanto, precisávamos de ter garantias quanto às consequências efetivas da

descentralização, da municipalização destas funções.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para concluir o debate, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado António

Topa.

O Sr. António Topa (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A presente iniciativa — a proposta de

lei n.º 94/XIII — integra os 21 projetos de descentralização por transferência de competências para as autarquias

locais que o Governo apresentou ao Parlamento, todos condicionados à aprovação da proposta de lei n.º 62/XIII

(2.ª), que baixou à 11.ª Comissão sem votação, encontrando-se em fase de nova apreciação na generalidade,

e que estabelece o quadro de transferência de competências para as autarquias locais e para as entidades

intermunicipais.

Quanto a este regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios, estamos a aprovar, ou vamos

tentar aprovar, algo que, à partida, é «pôr o carro à frente dos bois». Se tivéssemos aprovado a proposta de lei

n.º 62/XIII (2.ª), que define o regime de transferência de competências para as autarquias, naturalmente não

estávamos aqui a passar um cheque em branco, como diz o Sr. Deputado Castello-Branco.

Portanto, essencialmente, prefiro falar dos aspetos ligados à descentralização, porque este documento é,

efetivamente, técnico, é um documento que não dá muita discussão, nos aspetos de natureza técnica.

Prefiro discutir os aspetos de natureza política da descentralização e dizer que o Governo anda há 2 anos a

falar da importância da descentralização, levou 14 meses a apresentar a sua proposta e fê-lo em cima das

eleições autárquicas. Insiste em classificar a sua proposta como central e ponto de partida para a discussão,

quando as únicas propostas que o Parlamento aprovou na generalidade foram as do PSD e as do CDS. Na

verdade, de todas as iniciativas apresentadas, apenas o CDS-PP e o PSD submeteram a votação as suas

propostas, de sua autoria, aprovadas por maioria. As demais forças políticas de esquerda e o Governo preferiram

refugiar-se na cómoda e confortável descida das suas iniciativas à comissão parlamentar competente, sem

votação.

Recorde-se que, nesta Legislatura, o PSD foi a primeira força política a colocar a temática da

descentralização na agenda parlamentar. Apresentámos propostas concretas aquando da discussão do

Programa Nacional de Reformas e do Orçamento do Estado para 2017 e foram ambas chumbadas pela maioria

que apoia o Governo. Mas não desistimos e, no final de janeiro passado, apresentámos um novo pacote

legislativo sobre descentralização para ajudar a resolver os problemas das autarquias, da administração central

e, sobretudo, para servir Portugal e os portugueses.

É importante referir que o PS inviabilizou inexplicavelmente a criação de uma comissão eventual que oferecia

as condições para que o processo legislativo fosse feito de forma transversal, plural, aprofundado tecnicamente

e em tempo útil de 90 dias.

À margem da Assembleia da República e dos Deputados, isoladamente e no conforto dos gabinetes, outros

à margem do debate sobre o pacote da descentralização, continua a aprovar-se a iniciativa descentralizadora.

A Sr.ª Ministra da Administração Interna avançou com alterações ao regime jurídico das polícias municipais de

Lisboa e do Porto; o Sr. Ministro da Saúde transferiu competências para as autarquias; quanto à indicação de

um administrador executivo na generalidade dos locais de saúde, o Sr. Ministro do Ambiente avançou com a

municipalização da Carris; o Sr. Ministro do Ambiente legislou sobre as responsabilidades das autarquias na

gestão das áreas protegidas sem contrapartidas financeiras e ainda muitas outras situações que foram

aprovadas por decreto-lei e que têm a ver, muito, com a descentralização de competências. Todos ultrapassam

Eduardo Cabrita, Ministro Adjunto, que tem o compromisso de defender a proposta do Governo para a aprovação

de uma lei-quadro da transferência de competências para as autarquias locais.

O Governo, por muito que diga o contrário…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe que conclua, por favor.

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O Sr. António Topa (PSD): — Sr. Presidente, concluo já.

O Governo não tem uma estratégia, tem várias estratégias, tantas quantas as agendas próprias de cada

Ministro, que agem de forma avulsa e à margem da discussão que está em curso no Parlamento.

Para terminar, refiro que o PSD conhece a capacidade de fazer bem das autarquias locais, sendo favorável

ao processo de descentralização através de leis aprovadas pelo Parlamento, com consensos alargados devido

à sua importância para o País.

O Sr. Presidente: — Tem mesmo de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. António Topa (PSD): — Queremos participar para que tais objetivos se concretizem.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, damos, assim, por concluída a discussão, na generalidade, da proposta

de lei n.º 94/XIII (2.ª).

Vou dar a palavra ao Sr. Secretário Duarte Pacheco, que vai dar conta de vários anúncios que tem para lhes

oferecer.

O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, informo que o

projeto de lei n.º 601/XIII (2.ª) — Reforça as obrigações de supervisão pelo Banco de Portugal e a transparência

na realização de auditorias a instituições de crédito e sociedades financeiras (trigésima sexta alteração ao

Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras) (PCP) foi retirado pelos seus autores.

Deram entrada na Mesa, e foram admitidas pelo Sr. Presidente, várias iniciativas legislativas.

Em primeiro lugar, refiro os projetos de lei n.os 602/XIII (2.ª) — Define quais os atos próprios dos médicos

veterinários (PAN), 603/XIII (2.ª) — Altera o Código do Trabalho, modificando o regime jurídico aplicável à

transmissão de empresa ou estabelecimento (PAN), 604/XIII (2.ª) — Estabelece um sistema de preços máximos

no setor do gás comercializado em garrafa ou canalizado, butano ou propano (PAN), 605/XIII (2.ª) — Altera o

Anexo I do Decreto-Lei n.º 114/2014, de 21 de julho, que estabelece os procedimentos necessários à

implementação do sistema de faturação detalhada, previsto na Lei n.º 12/2014, de 6 de março, que procedeu à

segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 194/2009, de 20 de agosto, relativamente aos serviços públicos de

abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais e de gestão de resíduos urbanos (PAN) e

606/XIII (3.ª) — Altera o regime jurídico aplicável à transmissão de empresa ou estabelecimento (PS).

Deram igualmente entrada na Mesa os projetos de resolução n.os 1047/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo

que promova o investimento em infraestruturas ferroviárias e rodoviárias com vista a melhorar a mobilidade dos

cidadãos, a coesão territorial, a competitividade das empresas e a sustentabilidade ambiental (CDS-PP),

1048/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo o reforço da fiscalização do mercado do gás engarrafado, por forma

a reduzir a diferença existente entre o preço de referência e o preço médio de venda ao público (CDS-PP),

1049/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a publicação, por concelho, das áreas ardidas nos grandes incêndios

florestais (CDS-PP), que baixa à 7.ª Comissão, 1050/XIII (2.ª) — Rejeita a aprovação, para ratificação, do Acordo

Económico e Comercial Global (CETA) entre a União Europeia e o Canadá (PCP), 1051/XIII (2.ª) —

Recomendação ao Governo relativamente ao Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas (PETI 3+)

(PSD), 1052/XIII (2.ª) — Pela rejeição do Acordo Económico e Comercial Global — CETA (União Europeia-

Canadá) (BE), 1053/XIII (2.ª) — Pela rejeição do Acordo Global de Economia e Comércio entre a União Europeia

e o Canadá (CETA) (PAN), 1054/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, em articulação e com o envolvimento

do município de Braga, garanta a preservação, requalificação e valorização do recolhimento de Santa Maria

Madalena ou das convertidas, em Braga (CDS-PP), que baixa à 12.ª Comissão, 1055/XIII (3.ª) — Recomenda

ao Governo que promova uma forma eficaz de divulgação dos dados referentes à qualidade da água junto dos

consumidores (CDS-PP) e 1059/XIII (3.ª) — Deslocação do Presidente da República a Angola (Presidente da

AR).

Finalmente, deu ainda entrada na Mesa a apreciação parlamentar n.º 45/XIII (2.ª) — Relativo ao Decreto-Lei

n.º 95/2017, de 10 de agosto, que regula a transferência para a Caixa Geral de Aposentações, IP, do encargo

financeiro com os complementos de pensão dos trabalhadores da Carris (BE).

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É tudo, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Duarte Pacheco.

Resta-me dar conta aos Srs. Deputados da ordem do dia de amanhã.

Os nossos trabalhos iniciar-se-ão às 15 horas, com a apreciação conjunta, na generalidade, da proposta de

lei n.º 75/XIII (2.ª) — Estabelece o direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género

e o direito à proteção das caraterísticas sexuais de cada pessoa e dos projetos de lei n.os 242/XIII (1.ª) —

Reconhece o direito à autodeterminação de género (BE) e 317/XIII (2.ª) — Assegura o direito à

autodeterminação de género (PAN).

Segue-se um segundo ponto, em que serão discutidos, na generalidade, os projetos de lei n.os 593/XIII (2.ª)

— Estabelece a segregação funcional da autoridade de resolução dentro do Banco de Portugal (PSD), 594/XIII

(2.ª) — Procede à quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 228/2000, de 23 de setembro, que cria o Conselho

Nacional de Supervisores Financeiros (PSD), 595/XIII (2.ª) — Reforça a transparência e as incompatibilidades

e impedimentos dos administradores e dirigentes do Banco de Portugal (PSD), 596/XIII (2.ª) — Procede à

segunda alteração à Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto, que aprova a lei-quadro das entidades administrativas

independentes com funções de regulação da atividade económica dos setores privado, público e cooperativo

(PSD) e 597/XIII (2.ª) — Procede à quadragésima quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de

dezembro, que cria o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (PSD), conjuntamente

com o projeto de resolução n.º 1035/XIII (2.ª) — Recomenda o reforço dos mecanismos de supervisão financeira

da União Europeia e a conclusão da união bancária (PSD).

Serão ainda apreciados conjuntamente, na generalidade, os projetos de lei n.os 525/XIII (2.ª) — Define os

atos próprios dos médicos veterinários (PS) e 602/XIII (2.ª) — Define quais os atos próprios dos médicos

veterinários (PAN).

Assim chegamos ao fim dos nossos trabalhos.

Desejo-vos um resto de boa tarde.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 45 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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