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Sábado, 14 de outubro de 2017 I Série — Número 8
XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)
REUNIÃOPLENÁRIADE13DEOUTUBRODE 2017
Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Secretários: Ex.mos Srs. Pedro Filipe dos Santos Alves Sandra Maria Pereira Pontedeira António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues
S U M Á R I O
O Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 7
minutos. Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de lei n.os
624 a 634/XIII (3.ª) e 637/XIII (3.ª) e do projeto de resolução n.º 1080/XIII (3.ª).
Ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, procedeu-se a um debate de atualidade, requerido pelo PSD, sobre a responsabilidade política decorrente do Relatório da Comissão Técnica Independente sobre a análise célere e o apuramento dos factos relativos aos incêndios que ocorreram em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e 24 de junho de 2017. Proferiram intervenções, além da Ministra da Administração Interna (Constança Urbano de Sousa), os Deputados Luís Marques Guedes (PSD), Fernando Rocha Andrade (PS), Nuno Magalhães (CDS-PP), Sandra Cunha (BE), António Filipe (PCP), Heloísa Apolónia (Os Verdes), Carlos Abreu Amorim (PSD) e Carlos Matias (BE).
Procedeu-se à discussão, na generalidade, dos projetos de lei n.os 614/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral
simplificado e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro (PSD) e 617/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral simplificado e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro (CDS-PP) — que foram rejeitados — juntamente com os projetos de resolução n.os 1062/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um maior apoio ao investimento de defesa da floresta contra incêndios (CDS-PP) e 1076/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um conjunto de medidas para a prevenção e defesa da floresta contra incêndios (BE) — que foram aprovados. Intervieram os Deputados Nuno Serra (PSD), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Carlos Matias (BE), Pedro do Carmo (PS) e João Ramos (PCP).
Foram debatidos os projetos de resolução n.os 471/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo o alargamento do quadro de competências, modalidades e financiamento dos gabinetes de informação e apoio de educação para a saúde e educação sexual, alargando-os ao ensino superior e promovendo uma avaliação periódica da implementação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto (PS) — que foi aprovado — e 1075/XIII (3.ª) — Alteração do âmbito dos gabinetes de informação e apoio ao aluno e alargamento da sua obrigatoriedade ao ensino
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superior (BE) — os seus pontos n.os 1, 2 e 4 foram aprovados e o n.º 3 foi rejeitado. Usaram da palavra os Deputados Hugo Carvalho (PS), Luís Monteiro (BE), Ana Mesquita (PCP), Ilda Araújo Novo (CDS-PP) e Margarida Balseiro Lopes (PSD).
O Deputado Pedro Filipe Soares (BE) interpelou a Mesa acerca da ausência do Governo na apreciação do Decreto-Lei nº 66/2017, de 12 de junho [apreciação parlamentar n.º 39/XIII (2.ª) (BE)], após o que se pronunciaram também os Deputados Nuno Magalhães (CDS-PP), José Cesário (PSD), Paula Santos (PCP) e Filipe Neto Brandão (PS), tendo a Câmara anuído à alteração da ordem de trabalhos, possibilitando a presença do Governo neste debate.
Foi apreciado o Decreto-Lei n.º 90/2017, de 28 de julho, que altera o Regime Jurídico do Rendimento Social de Inserção [apreciações parlamentares n.os 43/XIII (2.ª) (PSD) e 44/XIII (2.ª) (CDS-PP)]. Intervieram, além da Secretária de Estado da Segurança Social (Cláudia Joaquim), os Deputados Maria das Mercês Soares (PSD), Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), José Moura Soeiro (BE), Diana Ferreira (PCP), Tiago Barbosa Ribeiro (PS) e Nuno Magalhães (CDS-PP). No final, deu-se conta da apresentação de propostas de alteração do PSD e do CDS-PP, as quais, juntamente com o Decreto-Lei, baixaram à 10.ª Comissão.
Foi anunciada a entrada na Mesa dos projetos de lei n.os 635 e 636/XIII (3.ª) e do projeto de resolução n.º 1079/XIII (3.ª).
Foi também apreciado o Decreto-Lei n.º 66/2017, de 12 de junho, que estabelece o Regime Jurídico de Reconhecimento das Entidades de Gestão Florestal (BE) [apreciação parlamentar n.º 39/XIII (2.ª)], tendo-se pronunciado os Deputados Carlos Matias (BE), Maurício Marques (PSD), João Ramos (PCP), Francisco Rocha (PS), Patrícia Fonseca (CDS-PP) e o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (Luís Capoulas Santos). No final, deu-se conta da apresentação de propostas de alteração do BE e do PCP, as quais, juntamente com o Decreto-Lei, baixaram à 7.ª Comissão.
Foram discutidos e rejeitados os projetos de resolução n.os 1056/XIII (3.ª) — Aumento do salário mínimo nacional (PCP), 1072/XIII (3.ª) — Salário mínimo nacional (Os Verdes) e 1073/XIII (3.ª) — Pelo aumento do salário mínimo nacional (PAN). Intervieram os Deputados Rita Rato (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes), André Silva (PAN), Pedro Roque (PSD), José Moura Soeiro (BE), António Carlos Monteiro (CDS-PP) e Sónia Fertuzinhos (PS).
Procedeu-se à votação dos seguintes votos: N.º 409/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Pedro
Pereira Constantino Romano, apresentado pelo CDS-PP e subscrito por Deputados do PSD e do PS, que foi lido e aprovado, após o que foi guardado 1 minuto de silêncio;
N.º 410/XIII (3.ª) — De congratulação pela atribuição do Prémio Nobel da Paz à causa da proibição das armas nucleares, do PCP, que foi lido e aprovado;
N.º 412/XIII (3.ª) — De congratulação pela atribuição do Prémio Nobel da Paz à Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, do PAN e subscrito por Deputados do PS, que foi aprovado;
N.º 411/XIII (3.ª) — De congratulação pelos 150 anos da presença da Congregação dos Missionários do Espírito Santo em Portugal, do PSD, do PS e do CDS-PP, que foi lido e aprovado;
N.º 413/XIII (3.ª) — De condenação pela detenção em massa de cidadãos LGBTI no Azerbaijão, do PAN e subscrito por Deputados do PS, que foi aprovado;
N.º 414/XIII (3.ª) — De congratulação pela ação dialogante e não violenta do governo da Catalunha, do PAN e subscrito por Deputados do PS, que foi lido e rejeitado;
N.º 415/XIII (3.ª) — De condenação pela revogação do limite das emissões de carbono das centrais norte-americanas alimentadas a carvão, do PAN, que foi lido e aprovado.
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de lei n.os 172/XIII (1.ª) — Possibilidade de permissão de animais em estabelecimentos comerciais (altera o Decreto-Lei n.º
10/2015, de 16 de janeiro) (PAN), 622/XIII (3.ª) — Autoriza a criação de áreas de permissão a animais em estabelecimentos comerciais (segunda alteração do Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de janeiro) (BE) e 623/XIII (3.ª) — Possibilita a permanência de animais em estabelecimentos comerciais, sob condições específicas, procedendo à segunda alteração do Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de janeiro (Os Verdes).
Foi aprovado, na generalidade, o projeto de lei n.º 349/XIII (2.ª) — Aprova o estatuto da condição policial (PCP) e foi rejeitado o projeto de resolução n.º 1074/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que diligencie pelo reconhecimento das profissões referentes aos órgãos de polícia criminal como «profissões de desgaste rápido» (PAN).
Foi aprovado um requerimento, apresentado pelo PSD, solicitando a baixa à Comissão de Educação e Ciência, sem votação, por um período de 60 dias, dos projetos de lei n.os 619/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 55/2013, de 17 de abril, que aprova a orgânica da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, IP (PSD), 620/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 448/79, de 13 de novembro, que aprova o Estatuto da Carreira Docente Universitária (PSD) e 621/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 185/81, de 1 de julho, que aprova o Estatuto da Carreira do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico (PSD) e dos projetos de resolução n.os 1069/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a promoção do emprego de doutorados na sociedade (PSD), 1070/XIII (3.ª) — Recomenda a promoção de uma política de propriedade intelectual que fomente o investimento e a inovação (PSD) e 1071/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a promoção da transferência de tecnologia entre Universidades e Politécnicos e a sociedade (PSD).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1010/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à concretização de obras na Escola Básica 2/3 Avelar Brotero, integrada no Agrupamento de Escolas Adelaide Cabette, em Odivelas (PAN).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 970/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a tomada de medidas para valorização do pescado de baixo valor comercial (PCP).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 971/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que promova o desenvolvimento de campanhas de valorização e estímulo ao consumo de arroz carolino produzido em Portugal (PCP).
Foi rejeitado o projeto de resolução n.º 1057/XIII (3.ª) — Renovação dos contratos dos técnicos especializados no ano letivo 2017/2018 (PCP).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1049/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a publicação, por concelho, das áreas ardidas nos grandes incêndios florestais (CDS-PP).
Foram aprovados dois requerimentos, apresentados pelos autores dos respetivos diplomas, solicitando a baixa à Comissão de Trabalho e Segurança Social, sem votação, por um período de 90 dias, dos projetos de lei n.os 496/XIII (2.ª) — Alterações ao regime jurídico-laboral e alargamento da proteção social do trabalho por turnos e noturno (BE) e 508/XIII (2.ª) — Reforça os direitos dos trabalhadores no regime de trabalho noturno e por turnos (PCP).
Foram também aprovados os seguintes requerimentos: apresentado pelo BE, de avocação pelo Plenário da
votação, na especialidade, das suas propostas de alteração aos artigos 3.º, 3.º-A, 6.º e 13.º do texto final, apresentado pela Comissão de Trabalho e Segurança Social, relativo à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª) — Estabelece o programa de regularização extraordinária dos vínculos precários;
apresentado pelo PCP, de avocação pelo Plenário da votação, na especialidade, das suas propostas de alteração aos artigos 2.º, 3.º e 13.º e de aditamento de um artigo 5.º-A relativos ao mesmo texto final.
Na sequência da aprovação daqueles requerimentos, e após terem usado da palavra os Deputados José Moura Soeiro (BE), Rita Rato (PCP), Wanda Guimarães (PS), Carla Barros (PSD), António Carlos Monteiro (CDS-PP) e José Luís Ferreira (Os Verdes), foram aprovados, na especialidade, os
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artigos 2.º, 3.º, 3.º-A, 6.º e 13.º do texto final da Comissão de Trabalho e Segurança Social, que também foi aprovado em votação final global.
Igualmente em votação final global, foi aprovado o texto final, apresentado pela Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, relativo ao projeto de lei n.º 597/XIII (2.ª) — Procede à 44.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro, que cria o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (PSD).
Foi aprovado um requerimento, apresentado pelo PSD, de avocação pelo Plenário da votação, na especialidade, da proposta de alteração do PS aos artigos 13.º, 14.º e 15.º do texto único em substituição dos projetos de lei n.os 570/XIII (2.ª) — Estabelece um conjunto de medidas urgentes de apoio às vítimas dos incêndios florestais de Pedrógão Grande e de reforço da prevenção e combate aos incêndios (PCP), 572/XIII (2.ª) — Determina a assunção por parte do Estado da responsabilidade de indemnizar os herdeiros das vítimas
mortais e os feridos graves na sequência do incêndio de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã, entre 17 e 24 de junho de 2017, e cria o procedimento de determinação e pagamento dessas indemnizações (PSD) e 573/XIII (2.ª) — Cria a Comissão para o Ressarcimento das Vítimas dos Incêndios Florestais ocorridos entre 17 e 24 de junho de 2017 e regula o processo de pagamento de indemnizações às vítimas destes incêndios, bem como aos respetivos herdeiros (CDS-PP).
Após se terem pronunciado os Deputados Nuno Serra (PSD), João Oliveira (PCP), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Júlia Rodrigues (PS) e Pedro Filipe Soares (BE), foram aprovados, na especialidade, os artigos avocados, tendo o respetivo texto final sido depois aprovado em votação final global.
O Presidente (José Manuel Pureza) encerrou a sessão eram 14 horas e 30 minutos.
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e
Srs. Jornalistas, declaro aberta a sessão.
Eram 10 horas e 7 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrirem as galerias.
Antes de iniciarmos a ordem do dia, peço ao Sr. Secretário António Carlos Monteiro o favor de ler o
expediente.
O Sr. Secretário (António Carlos Monteiro): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa e
foram admitidos as seguintes iniciativas: projetos de lei n.os 624/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 349/98, de
11 de novembro, e a Lei n.º 153/2015, de 14 de setembro, no âmbito das avaliações de imóveis (PS), 625/XIII
(3.ª) — Visa reforçar a regulação da avaliação do carácter adequado das operações relativas a instrumentos
financeiros (PS), 626/XIII (3.ª) — Visa reforçar a reforçar a regulação dos códigos de conduta das instituições
de crédito (PS), 627/XIII (3.ª) — Visa reforçar a regulação relativa aos consultores para investimentos autónomos
e colaboradores de intermediários financeiros que exercem a atividade de consultoria para investimento (PS),
628/XIII (3.ª) — Visa reforçar a regulação da concessão de crédito por instituições de crédito a titulares de
participações qualificadas (PS), 629/XIII (3.ª) — Visa reforçar a regulação relativa aos deveres de informação
contratual e periódica a prestar aos investidores em instrumentos financeiros (PS), 630/XIII (3.ª) — Visa reforçar
a regulação das obrigações das instituições de crédito na comercialização de depósitos e produtos de crédito
(PS), 631/XIII (3.ª) — Visa reforçar a regulação relativa às ofertas particulares de valores mobiliários (PS),
632/XIII (3.ª) — Visa reforçar a regulação da organização interna dos intermediários financeiros (PS), 633/XIII
(3.ª) — Visa reforçar os poderes de supervisão do Banco de Portugal (PS), 634/XIII (3.ª) — Visa reforçar a
regulação da remuneração dos colaboradores dos intermediários financeiros e das instituições de crédito (PS)
e 637/XIII (3.ª) — Altera o regime de serviços mínimos bancários, tornando-o mais adequado às necessidades
dos clientes bancários (PCP); e projeto de resolução n.º 1080/XIII (3.ª) — Recomenda a automatização da
atribuição da conta de serviços mínimos aos clientes bancários (BE). Todas estas iniciativas baixam à 5.ª
Comissão.
Em termos de expediente, é tudo, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos entrar no primeiro ponto da ordem do dia com um debate de
atualidade, por marcação do PSD, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento da Assembleia da República sobre a
responsabilidade política decorrente do Relatório da Comissão Técnica Independente sobre a análise célere e
o apuramento dos factos relativos aos incêndios que ocorreram em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera,
Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e
24 de junho de 2017.
Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Marques Guedes.
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Administração Interna, Srs.
Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: O apuramento dos factos de forma independente e isenta que
este Relatório nos trouxe é o primeiro ato de justiça que começa, finalmente, a ser feita às famílias das vítimas
desta tragédia ímpar. É certo que não é, a nosso ver, a reparação da dívida que o Estado tem para com as
famílias das vítimas, mas é um enorme contributo para a verdade e o esclarecimento que, inexplicavelmente,
lhes tem sido sonegado.
As pessoas e as comunidades, que tão duramente sofreram com o inimaginável que naquele dia se passou,
têm o incontornável direito a serem esclarecidas e a conheceram a verdade dos factos que terrivelmente e de
uma forma irremediável para sempre alteraram as suas vidas.
Pelo seu detalhe, isenção e profundidade o trabalho levado a cabo pela Comissão Técnica Independente é,
seguramente, uma luz de esperança, esperança essa que contrasta em absoluto com o triste, revoltante e
indecoroso espetáculo que foi o mútuo apontar de dedo e passa-culpas em que se enlearam entidades e agentes
públicos envolvidos e a que o País, atónito, assistiu nas semanas que se seguiram àquela calamidade.
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Aplausos do PSD.
Conhecido este Relatório, o tempo da «lei da rolha», do silenciamento, da indignidade, do «sacudir a água
do capote» esgotou-se. Não há mais espaço para adiar ou fugir à assunção de responsabilidades, que são
evidentes, e para delas ter a hombridade de extrair as devidas consequências.
Sem mais desculpas esse é um imperativo e uma obrigação que mais não podem ser adiados pelo Estado,
Estado que, através dos seus agentes, autoridades públicas e dos seus responsáveis, falhou, não esteve à
altura das suas obrigações para com os cidadãos. E falhou — diz-nos esse Relatório — não num pormenor ou
por um azar do acaso. Não, Sr.ª Ministra e Srs. Deputados! Foram as escolhas, as opções, o seu desrespeito
por boas práticas e normas consolidadas, o seu desnorte, a sua falta de liderança, quando ela era mais precisa,
que potenciaram a catástrofe que se abateu e vitimou aquelas pessoas e as suas comunidades.
Aplausos do PSD.
Tudo isso está cruamente relatado e documentado no Relatório da Comissão Técnica Independente, relatório
esse cuja leitura, em alguns dos seus trechos, nos faz, dolorosamente, reviver um perfeito filme de terror.
Aquilo que agora nos deve mobilizar sem reservas é a humildade na assunção de responsabilidades, sejam
operacionais, de comando ou políticas, e a solidariedade efetiva na reparação que é devida às vítimas.
Cabe ao Sr. Primeiro-Ministro, enquanto último responsável, determinar a extensão e as necessárias
consequências dessas responsabilidades, como lhe cabe um, há meses já devido e, agora, incontornável,
pedido de desculpas, em nome do Estado, a todos a quem ele falhou.
Aplausos do PSD.
Mas está no âmbito das competências desta Assembleia legislar para que a reparação devida comece a ser
uma realidade para as vítimas. Por calculismo ou por falta de visão já se perderam mais de três meses. Não é
eticamente aceitável continuar a empurrar com a barriga o processo indemnizatório, principalmente depois de
conhecido este Relatório e a clareza da sua responsabilização à atuação dos agentes do Estado.
Vamos, por isso, requerer a avocação pelo Plenário da votação dos artigos que, antes de este claro apontar
de responsabilidades às autoridades públicas, a maioria entendeu rejeitar em sede de Comissão.
É um emendar de mão que será uma primeira consequência política que este Relatório e o seu conteúdo
tornaram imperativa.
Temos de saber assumi-la como uma obrigação, como uma obrigação do Estado que não pode senão agir
como uma pessoa de bem.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em junho deste ano, face
à tragédia do incêndio de Pedrógão Grande, a Assembleia da República, consensualmente, entendeu que era
necessário um esclarecimento, obtido de forma isenta e credível, tendo para o efeito designado uma comissão
técnica.
Perante o Relatório ontem entregue, há que concluir que, independentemente de excecionalidade do
incêndio de Pedrogão Grande na sua violência e na assinalável dimensão, que é identificada no Relatório,
independentemente de imprevisibilidade do fenómeno meteorológico, que determinou o comportamento do fogo
na sua fase mais crítica, e independentemente da dificuldade de estabelecer um preciso nexo de causalidade
entre cada uma das falhas apontadas e a perda de vidas, é manifesto que houve falhas operacionais…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — E de comando! Houve falhas de comando!
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O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … e que essas falhas operacionais, segundo o Relatório, poderão
ter concorrido para o resultado trágico.
Algumas dessas falhas são relativas às opções tomadas naquele momento, outras são relativas a questões
estruturais da proteção civil, muitas das quais, se calhar a maioria delas, porque são estruturais, têm anos e
nem sequer resultam, propriamente, de opções tomadas pela atual responsável pela pasta da administração
interna.
Foi também consensual que a Assembleia da República debatesse no próximo dia 27 de outubro as
conclusões deste Relatório para, de uma forma séria e ponderada, vir ao encontro daquilo que o próprio Relatório
pede, ou seja, a construção de soluções profundas, estruturantes e consensuais. É o que o Relatório pede e é
o que o País nos exige.
Não foi esta a abordagem adotada pelo PSD, que já tinha tirado as suas conclusões e que marcou este
debate ainda a tinta estava quente na impressão das páginas deste Relatório,…
Aplausos do PS.
… porque a única preocupação do PSD, neste momento e neste debate, é que alguém seja colocado num
pelourinho.
Vozes do PS: — Muito bem!
Protestos do Deputado do PSD Hugo Lopes Soares.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Aliás, é inacreditável a hipocrisia de quem, tendo proposto a própria
metodologia de apuramento dos factos, que a Assembleia aprovou e que foi seguida, venha agora queixar-se
da informação ter sido sonegada ou do tempo que a sua metodologia levou a tirar as conclusões.
Aplausos do PS.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — O que é que está a dizer!?
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Pela nossa parte, Sr. Presidente e Srs. Deputados, pensamos que
aquilo que os portugueses nos exigem é a leitura séria que este documento merece e um contributo positivo
para a resposta às insuficiências identificadas. Contributo positivo esse que este grupo parlamentar esta
disponível para dar, se necessário, em complemento às iniciativas que venham a ser determinadas pelo
Governo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Sr. Secretário de Estado e Sr.as e Srs.
Deputados, o Relatório da Comissão Técnica Independente e as conclusões que dele podemos retirar são
claras: faltou planeamento; faltou comando; faltou ação; faltaram meios; faltou a verdade quando se diz que
todos os meios aéreos foram alocados para aquela zona; e faltou até a decência de não ocultar factos e de
apagar a fita do tempo. Esta é uma responsabilidade a que os senhores não podem fugir!
Aplausos do CDS-PP.
Não se antecipou, não se previu, não se respeitou protocolos e cadeias de comando. Não se respeitou sequer
questões essenciais em matéria de proteção civil.
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Caiu a tese do Governo. Lembramo-nos bem de, naquela mesma noite, dizerem: «Tudo foi feito. Era
impossível fazer mais. Foi um fenómeno natural inexplicável. Nada poderia ser feito perante a dimensão desse
mesmo fenómeno.» Não, Sr.ª Ministra! Foi só, e apenas, incompetência a começar pela sua incompetência.
Por isso, ouvindo o Sr. Deputado do Partido Socialista já percebemos aquela que se prepara para ser a
narrativa do Governo. Não podendo demitir a Comissão Técnica Independente, vai demitir-se o Presidente da
Proteção Civil, já agora, nomeado por este Governo.
Aplausos do CDS-PP.
Mas isso não chega, nem o CDS deixará que isso aconteça, porque o que aconteceu é demasiado grave e
é em nome, precisamente, do respeito que devemos às vítimas e à família das vítimas que, Sr. Deputado
Fernando Rocha Andrade, uma coisa lhe garanto: pode ser hoje, pode ser no dia 27 de outubro, cá estaremos
para o debate, mas não deixaremos que isto acabe numa pura demissão de um presidente da proteção civil.
Não é admissível que um Estado que falhou falhe até no apuramento de responsabilidades.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Secretários de Estado, Sr.as Deputadas e
Srs. Deputados: Este Relatório mostra-nos que estamos a lidar com a repetição de problemas crónicos e
confirma o fracasso das políticas sucessivas dos últimos anos no domínio da prevenção e do combate a
incêndios florestais em Portugal.
É o fruto de anos de desinvestimento nesta área, de uma aposta num ordenamento da floresta que visa o
lucro fácil e rápido em detrimento da proteção da floresta, do desenvolvimento sustentável e da proteção das
populações. É o fruto do desinteresse acumulado relativamente a todo o sistema de proteção civil.
As falhas que este Relatório aponta são por isso falhas acumuladas ao longo dos anos. Não podemos
escamotear problemas crónicos de prevenção e combate a incêndios no nosso País.
Durante os últimos 17 anos já perderam a vida em incêndios 165 pessoas. Este Relatório deve, por isso
mesmo, servir-nos para proceder a alterações profundas e estruturais na proteção civil e no ordenamento da
floresta no nosso País.
Este Relatório resultou de uma tragédia demasiado grande e demasiado horrível para servir apenas como
arma de arremesso político e deve servir para termos a coragem e a capacidade de fazer mudanças
absolutamente necessárias e estruturais nesta matéria.
A gestão eficiente do combustível das florestas já foi denunciada, várias vezes, pelo Bloco de Esquerda, o
incumprimento da legislação é gritante. O Bloco de Esquerda tem também alertado constantemente para a falta
de meios humanos e equipamentos de combate a incêndio.
Os bombeiros em Portugal representam 0,16% da população; em França, por exemplo, a proporção é de
0,36%. Os corpos de bombeiros estão envelhecidos e enfraquecidos. A cobertura da maior parte do território é
assegurada por bombeiros voluntários e sabemos que a prontidão para o ataque inicial acaba, por isso, por ser
comprometida.
O Bloco de Esquerda defende a criação e a existência de equipas profissionalizadas ou de equipas mistas,
municipais ou intermunicipais, para combate inicial aos fogos em tempo útil, assim como a existência, nos teatros
de operações, de especialistas em comportamento do fogo que possam orientar as ações de comando.
A aposta na prevenção e na proteção da floresta e o investimento em meios e equipamentos, mas também
em recursos humanos, assim como na sua qualificação e na sua formação especializada, são absolutamente
essenciais se não quisermos voltar a passar por tragédias como esta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
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O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados: O
PCP sempre disse, desde a primeira hora da catástrofe que discutimos, que havia duas coisas que eram
fundamentais, sendo a primeira o apoio às vítimas. Isto era essencial, e daí termos, desde logo, apresentado
iniciativas nesta Assembleia com esse objetivo. Não podia faltar nada às vítimas daquela tragédia, por parte do
Estado português.
Protestos do PSD.
Se os Srs. Deputados do PSD permitirem que eu use da palavra, não continuando com este tom de arruaça
neste debate parlamentar, agradecia.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado António Filipe, peço que faça um compasso de espera para permitir que
haja condições para poder continuar.
Pausa.
Faça favor de prosseguir, Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.
Então, com a permissão dos Srs. Deputados do PSD, devo dizer que, em segundo lugar, o PCP sempre
considerou fundamental haver um cabal esclarecimento sobre aquilo que efetivamente se passou e que, dos
esclarecimentos apurados, se retirassem todas as consequências que haja para retirar. Foi sempre esta a nossa
posição e é a posição que mantemos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Por isso não desvalorizamos este Relatório como não desvalorizamos tudo
aquilo que tem sido produzido ao longo de vários anos por esta Assembleia, que já produziu relatórios muito
meritórios e profundos e que, efetivamente, se tivessem sido seguidos, quer pelo atual quer por anteriores
governos, certamente muitas das tragédias de incêndios florestais que ocorrem neste País poderiam não ter tido
a gravidade que tiveram e que estão a ter este ano.
Uma coisa é não desvalorizar o Relatório, outra coisa é instrumentalizar o relatório. E é isto que,
lamentavelmente, o PSD está a fazer.
Aplausos do PCP.
O PSD é o primeiro a desvalorizá-lo na medida em que procura instrumentalizá-lo com objetivos meramente
político-partidários.
Aplausos do PCP.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
Isto porque o PSD, registámos, disse no início que não tencionava usar a tragédia do incêndio de Pedrógão
Grande como arma de arremesso político. Lamentavelmente, não tem feito outra coisa.
Aplausos do PCP e de Deputados do PS.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
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Sr. Deputado Duarte Marques, sabe da estima que tenho por si, mas, já agora, deixe-me falar.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, faça o favor de não entrar em diálogo.
O Sr. António Filipe (PCP): — Com certeza, Sr. Presidente.
Primeiro, era a lista de mortos; alguém conheceria uma lista de mortos que não aquela que era oficial, como
se a tragédia não tivesse já sido enorme. Depois, eram suicídios, que, afinal, se verificou que nunca
aconteceram.
Concluído este Relatório, estando marcado um debate nesta Assembleia precisamente sobre este Relatório,
estando marcada a vinda da Ministra da Administração Interna, na próxima terça-feira, à Comissão, também a
pedido do PSD e do CDS,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — É para outro tema.
O Sr. António Filipe (PCP): — … onde poderá ser discutida esta questão entre outras,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Mas é para outro tema!
O Sr. António Filipe (PCP): — … mas esta questão estará certamente na ordem do dia,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não, não!
O Sr. António Filipe (PCP): — … e estando anunciado por outros órgãos de soberania, designadamente
pelo Presidente da República e também pelo Conselho de Ministros, uma pronúncia sobre isto, o PSD o que
fez? Ainda não tinha sido possível, humanamente, ter lido o Relatório, já o PSD estava a pedir este debate de
atualidade sobre ele. Isso é revelador dos objetivos.
Aplausos do PCP e de Deputados do PS.
Mas, sublinho, cá estaremos para o debate. Já estamos a ler o Relatório, já fizemos uma primeira leitura do
Relatório,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Não parece!
O Sr. António Filipe (PCP): — … vamos analisá-lo profundamente e estaremos aqui para o debate sério e
aprofundado sobre o mesmo, e, efetivamente, achamos que o Governo deve tirar todas as consequências
daquilo que falhou e fazer todas as correções que sejam necessárias.
Vozes do PSD: — Ah!…
O Sr. António Filipe (PCP): — É este o nosso objetivo: melhorar as coisas e não utilizá-las como arma de
arremesso político contra ninguém.
Aplausos do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: A primeira palavra de Os Verdes neste debate é de solidariedade para com as
famílias de todas as vítimas dos incêndios florestais, em particular deste famigerado incêndio de Pedrógão
Grande e de outros concelhos circundantes, e não queríamos deixar de expressar, evidentemente, esta
solidariedade mais uma vez.
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A segunda palavra é de saudação para com os membros da Comissão Técnica Independente que
elaboraram este Relatório, que teremos oportunidade agora de estudar cuidadamente para o discutir no próximo
dia 27, em que está agendada a sua discussão em Plenário.
Permito-me então dirigir aos Srs. Deputados do PSD para dizer que teria sido prudente ter permitido a leitura
atenta…
Vozes do PSD: — Leu?!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não, ainda não o li atentamente, Sr. Deputado, e garanto-lhe que
o senhor também não o leu atentamente, porque de ontem para hoje não era possível fazê-lo.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
Aplausos de Os Verdes, do PS e do PCP.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Só era possível ter feito uma coisa: pegar em partes do Relatório,
tresler o Relatório, retirar e descontextualizar aquilo que se entender. Isto todos podemos fazer neste curto
espaço de tempo, só que Os Verdes recusam-se a fazê-lo. Nós queremos ler o Relatório e outros relatórios que
venham e conjugá-los com outros relatórios que a Assembleia da República também já produziu para retirarmos
efetivamente as consequências políticas que devem ser retiradas. Isto porque de uma coisa não há dúvida, e
este Relatório vem reforçá-lo mais uma vez: há uma responsabilidade dos sucessivos governos quanto a um
desinvestimento efetivo que tem sido feito relativamente à nossa floresta. Esta é a primeira conclusão que pode
ser retirada de uma leitura na diagonal do Relatório. Não há dúvida, é aquilo que todos os outros relatórios já
disseram e que este vem, mais uma vez, confirmar.
Portanto, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, devo mesmo dizer uma coisa que, parece-me, até já aqui foi
dito por outros Srs. Deputados: antes do Relatório, o PSD já tinha retirado todas as conclusões que queria tirar
do incêndio de Pedrógão Grande. Não há dúvida nenhuma sobre isso! Mas Os Verdes apelam para que
tenhamos uma discussão serena e séria no próximo dia 27 sobre aquilo que o Relatório nos transmite.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, só para realçar uma questão que Os Verdes têm trazido recorrentemente
à Assembleia da República e que também me parece muito prudente termos, de uma vez por todas, em conta.
Estamos a sentir os efeitos das alterações climáticas e, se não nos adaptarmos, com todos os nossos recursos,
na prevenção e também no combate a este fenómeno, vamos andar permanentemente a levar as mãos à
cabeça. Mas o problema não é levarmos as mãos à cabeça, o problema é as vítimas que isto vai provocar, e
nós temos uma responsabilidade e é tempo de agir consequentemente.
Relativamente às falhas operacionais, Sr.ª Ministra, devem ser retiradas todas, repito, todas, as
consequências práticas e políticas.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Governo, tem a palavra a Sr.ª Ministra da
Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
A Sr.ª Ministra da Administração Interna (Constança Urbano de Sousa): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas
e Srs. Deputados:…
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Vai pedir a demissão!
A Sr.ª Ministra da Administração Interna: — Não, não vou pedir a demissão, Sr. Deputado.
Aplausos do PS.
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Ontem, há menos de 24 horas — repito, há menos de 24 horas —, recebemos este Relatório. Este Relatório
produzido por uma Comissão Técnica Independente, proposta pelo PSD e a que todos demos, o Executivo
inclusive, o total apoio.
Mas, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, debater um relatório com esta dimensão, com esta profundidade e
com esta complexidade a menos de 24 horas de ser conhecido não pode ser um debate sério.
Aplausos do PS.
Não pode ser um debate sério e, para mim, constitui um desrespeito para com a Comissão Técnica
Independente e também um desrespeito para com os Srs. Deputados que marcaram para o dia 27 um debate
sobre esta matéria.
Aplausos do PS.
Portanto, pretender analisar, tirar conclusões, em menos de 24 horas de ser conhecido, de um relatório com
esta dimensão e esta complexidade é manifestamente pouco sério.
Aplausos do PS.
No entanto, Srs. Deputados, o PSD exigiu a minha presença aqui, neste Parlamento, poucas horas depois
de ter tido conhecimento deste complexo Relatório, o que, de facto, não pode ser tido como uma chamada para
um debate sério.
Tirar conclusões de um relatório que ninguém, repito, ninguém, teve oportunidade, nem tempo, de analisar
com seriedade e cuidado é algo a que me recuso. Também não vou tirar conclusões de notícias da comunicação
social baseadas em parágrafos soltos, avulsos e descontextualizados.
A única coisa que temos e que podemos analisar com alguma seriedade é a nota à comunicação social,
produzida pela própria Comissão Técnica Independente, e desta nota resulta claramente que houve falhas.
Em primeiro lugar, desde logo, falhou a prevenção estrutural. Mas esta é uma falha que já tem anos e, por
isso, muito antes desta tragédia, este Governo propôs e adotou medidas legislativas no âmbito da reforma
florestal.
Também resulta deste Relatório que o ataque inicial ao fogo falhou…
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Afinal, leram!
A Sr.ª Ministra da Administração Interna: — … e que, não tendo sido extinto rapidamente, o seu
crescimento rápido e incontrolável foi muito superior à capacidade de extinção.
Também da leitura desta nota podemos facilmente concluir, e fica claro, que a maioria das mortes se deveu
a um fenómeno meteorológico extremo — o downburst —, que conduziu a uma situação absolutamente
incontrolável, imprevisível e que, passo a citar, «não poderia ser prevista por nenhum serviço de proteção civil
do mundo».
Outra conclusão que podemos retirar é a de que falharam, de facto, medidas de proteção civil preventivas,
que não existem neste País. E, por isso, muito antes desta tragédia já este Governo estava a trabalhar numa
estratégia de proteção civil preventiva, que tem como um dos seus pontos fundamentais a questão do aviso às
populações.
Protestos do Deputado do PSD Emídio Guerreiro.
Ó Sr. Deputado…
Também resulta, claramente, que não temos capacidade instalada no âmbito do conhecimento e do domínio
do comportamento dos fogos. É verdade que, no passado, tivemos algo parecido com esta capacidade que é
referida na nota à comunicação social, que foram os Grupos de Análise e Uso do Fogo, os GAUF, equipas que
deixaram de existir por determinação da, então, Ministra da Agricultura, Assunção Cristas.
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O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — E dos guardas florestais, quem foi?!
A Sr.ª Ministra da Administração Interna: — Por fim, como também se lê na referida nota, os sistemas
atuais de combate a incêndios não estão preparados para enfrentar este tipo de fenómeno, com raiz nas
alterações climáticas. Assim, temos de nos adaptar e trabalhar para o futuro.
Tal como referiu ontem o Sr. Primeiro-Ministro, este Governo está empenhado em analisar de forma séria
este Relatório, tirando dele as devidas conclusões. Por isso mesmo, já está marcado para o dia 21 de outubro
um Conselho de Ministros extraordinário para esse efeito. Aí, vamos extrair com serenidade, mas também com
seriedade, as conclusões e as medidas necessárias.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Não sou
Deputado há muitos anos, mas sempre fui um observador atento da realidade política portuguesa. Devo dizer
que não tenho memória de ver um ministro de qualquer Governo, em democracia, ter uma atitude tão indecorosa
como aquela que a Sr.ª Ministra teve agora, aqui, neste Parlamento.
Aplausos do PSD.
Protestos do PS.
É indecoroso que a Sr.ª Ministra e este Governo, nomeadamente o Sr. Primeiro-Ministro, continuem a não
enfrentar a verdadeira questão que está presente em toda esta problemática: o Estado falhou! E o Estado falhou
não apenas ao nível operacional, Sr.ª Ministra!
A Sr.ª Ministra diz que não houve tempo para ler o Relatório, mas deixe-me dizer-lhe que o PSD, e tenho a
certeza de que outras bancadas, leu o Relatório atentamente.
Protestos do PS e de Os Verdes.
Aquilo que a Sr.ª Ministra aqui nos trouxe hoje revela que, de facto, a Sr.ª Ministra não leu o Relatório, mas,
deixe que lhe diga, nem o seu conteúdo lhe importa minimamente.
A Sr.ª Ministra está constantemente a falar ao lado do verdadeiro problema, e o verdadeiro problema é que
o sistema de prevenção e combate aos incêndios, ao contrário do que a Sr.ª Ministra e o Sr. Secretário de
Estado asseguraram antes da época de fogos, não estava preparado.
A verdade, Sr.ª Ministra, é que as mudanças de mais de dois terços nos comandos da proteção civil acabaram
por fazer ruir o sistema de proteção civil,…
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … que não estava minimamente preparado para enfrentar estas
circunstâncias.
A verdade, Sr.ª Ministra, é que não houve liderança, não houve coordenação e a verdadeira questão que se
coloca neste momento é que nem sequer há humildade democrática para assumir minimamente as suas
responsabilidades, as responsabilidades políticas, que são aquelas que se seguem às responsabilidades
técnicas e que, hoje, são inegáveis.
Não há mais jogo de esconde-esconde! O Relatório é perentório, o Relatório aponta falhas técnicas,…
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — É uma vergonha!
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O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … e destas falhas técnicas deveriam resultar, em democracia,
responsabilidades políticas. Assuma-as, Sr.ª Ministra!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Muito bem!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Assuma-as, Sr. Primeiro-Ministro! De uma vez por todas, encerrem
esta questão com dignidade! E, se não têm gabarito político para assumir essas responsabilidades, pelo menos
peçam desculpa às vítimas de Pedrogão e a todos os portugueses pelo péssimo serviço que prestaram ao País.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Administração Interna: O que a Sr.ª
Ministra acabou de fazer aqui, perante a gravidade dos factos, não é aceitável.
O que a senhora veio aqui dizer, basicamente, é mais do mesmo: «Este é um assunto complexo… É difícil…
Vem de trás… Eu não nomeei ninguém, eu não comando ninguém… Não é nada comigo…». Sr.ª Ministra, só
faltou dizer: «Eu nem sequer lá estava!».
Risos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
Isto não é aceitável!
A única coisa que a Sr.ª Ministra aqui veio fazer foi reiterar a tese do fenómeno natural inexplicável.
A Sr.ª Ministra diz que ainda não leu o Relatório, mas nós lemos. E vou ler-lhe uma parte da página 127 do
Relatório — faça favor de tomar nota ou, se quiser, posso fazê-la chegar a si, até sublinhada: «Assim e em rigor
às 16h13 quando o incêndio passou à fase de ATA, não se verificou incremento algum de meios, como seria
expectável. (…) não se encontram razões explícitas que poderiam ter justificado a não mobilização deste grupo».
Sr.ª Ministra, eu li, a senhora ouviu, perante isto, continua a dizer que não é nada consigo?!
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a Mesa não regista mais inscrições, mas há vários grupos
parlamentares que ainda dispõem de tempo.
Como é habitual, a última intervenção será do Grupo Parlamentar do PSD, pelo que peço aos demais grupos
parlamentares para utilizarem, tão rapidamente quanto possível, os tempos de que ainda dispõem.
Pausa.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não tenho oportunidade de fazer
aqui, naturalmente, o que posso fazer na minha outra profissão, que é um pequeno exame, quando alguém diz
que leu um livro, para ver se não leram, antes, uma cábula qualquer, coisa que, estou convencido, seria o que
se verificaria. Até porque é manifesto que já tinham tirado conclusões, já que as conclusões são indiferentes ao
que está escrito no Relatório.
O Relatório aponta, como o Sr. Deputado Nuno Magalhães acabou de dizer, eventuais opções erradas do
comando naquele momento.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Eventuais?!
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Mas também aponta, por exemplo, que a execução das medidas
dos planos de defesa da floresta, naquela zona, foi de 19% ao longo de seis anos. Também aponta que os
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técnicos de análise meteorológica — aqueles que seriam necessários para apontar a evolução dos incêndios —
não existem,…
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Afinal, o Sr. Deputado conseguiu ler!
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … nem nunca existiram na proteção civil.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
O Sr. Deputado leu?
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Eu li!
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Será?!
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
Sr. Deputado, eu não só li como tive oportunidade de, há alguns anos,…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o tempo de que dispunha.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … fazer parte da governação na administração interna. E, portanto,
Sr. Deputado,…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … quando olho para isto, a minha humildade e o meu decoro
levam-me a examinar também as opções em que participei, e isso já foi há 10 anos!
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Acho extraordinário que outros, com participação mais recente,
não tenham também essa humildade e esse decoro.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Matias.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O Estado
efetivamente falhou! Falhou na capacidade de combate ao fogo, falhou no comando e na hierarquia da proteção
civil e, realmente, é preciso retirar as consequências e repensar o modelo da proteção civil.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, é errado e pouco sério concentrar este debate no que se passou naquela noite
trágica.
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Quem os viu e quem os vê?!
O Sr. Carlos Matias (BE): — De facto, é preciso humildade, é preciso ir ao fundo do que está aqui cruamente
retratado.
O Estado falhou e, no retrato deste falhanço, também está a direita.
O Estado falhou, Sr.as e Srs. Deputados, quando os senhores subfinanciaram as equipas de sapadores
florestais e não aumentaram o seu número. O Estado falhou e os senhores também são responsáveis.
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O Estado falhou, Sr.as e Srs. Deputados, quando não fez cumprir a legislação, quando chamou aos fiscais
«gorduras do Estado». O Estado falhou e os senhores estão nesse retrato!
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
O Estado falhou, Sr.as e Srs. Deputados, quando a Sr.ª Ministra Assunção Cristas e o vosso Governo fizeram
uma lei que liberalizou o plantio de eucaliptos, estimulou a monocultura e criou condições para a propagação
dos incêndios.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
O Estado falhou, Sr.as e Srs. Deputados, quando os senhores estavam no Governo e deixaram que, anos e
anos a fio, e continuam, os processos de aprovação dos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios
se arrastassem.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
Os senhores estão nessa fotografia! Os senhores estão na fotografia de uma floresta desordenada! Entre
2011 e 2017 — esta data, certamente, diz-vos alguma coisa —, apenas 9,6% da floresta foi ordenada.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o tempo de que dispunha. Faça favor de concluir.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
É preciso ir ao fundo do problema, mas os senhores não o querem fazer. É que só indo ao fundo dos
problemas,…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Como eu estava a dizer, só indo ao fundo dos problemas, no ordenamento, na gestão, na prevenção e, sim,
no combate, é que respeitaremos a memória das vítimas, e os senhores não estão a fazê-lo.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, continuamos sem inscrições… Relembro que a tradição é a de que o
grupo parlamentar que toma a iniciativa do debate seja o último a intervir e, portanto, esperamos que haja
inscrições de Os Verdes, do CDS-PP ou do PCP.
Pausa.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia para uma intervenção.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sobre a intervenção do Sr.
Deputado Carlos Abreu Amorim, julgava que o PSD já tinha aprendido qualquer coisa em relação a esta ânsia
que tem de se precipitar sobre as coisas.
O Sr. Deputado lembra-se de quando falaram ao País da questão dos suicídios?
Vozes do PSD: — Lá vem isso outra vez!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Também tinham ouvido muito bem! Tinham ouvido muito bem, não
é verdade, Sr. Deputado?
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Protestos do PSD.
É aquela ânsia de precipitação!
Agora, de ontem para hoje, em menos de 24 horas, conseguiram fazer uma leitura atenta de um relatório
que ronda as 300 páginas. Portanto, Sr. Deputado, lamento, mas alguma seriedade é necessária neste debate.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
E, como referimos na primeira intervenção, provavelmente o PSD nem precisava de ter lido o Relatório,
porque já tinha retirado conclusões antes da leitura do mesmo. Esta é a verdade!
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, este Relatório, como outros, merece-nos uma leitura atenta, não precipitada,
cuidada, para que possamos, de facto, agir em conformidade. E para agir em conformidade, mais uma vez digo,
Sr.ª Ministra, devem ser retiradas todas as consequências das falhas operacionais que existiram, consequências
políticas e práticas. E quando digo práticas, é retirarmos consequências para reforçar os meios que não temos
e dotarmos, operacionalizarmos da melhor forma, os meios que temos. Isto tem de ser feito. Temos de aprender
com estas lições para que tragédias desta natureza não venham a acontecer.
Mas, de facto, é preciso um grande desplante por parte do PSD e do CDS vir falar da assunção de
responsabilidades políticas quando não olham para aquilo que os próprios construíram para fragilizar a nossa
floresta, porque…
O Sr. Presidente: — A Sr.ª Deputada já ultrapassou o tempo. Peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente.
Como eu dizia, o PSD e o CDS fragilizaram a nossa floresta porque potenciaram o alastramento dos fogos
florestais de uma forma muito mais intensa com, designadamente, a lei da liberalização do eucalipto.
Protestos do PSD.
Neste momento, o que estamos a fazer?
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Estamos a travar — repito, a travar — essa decisão política que os
senhores tomaram erradamente. Para quê? Para proteger a nossa floresta.
Aplausos de Os Verdes, do PCP e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Já que a Sr.ª Ministra não
responde à minha pergunta em relação à página 127, e estando este debate a acabar, gostaria de dizer que o
CDS, como disse ontem, fez uma leitura preliminar e irá fazer uma leitura aprofundada.
Vozes do PCP e de Os Verdes: — Ah!…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, ouviu-me ontem?
Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
Se me ouviu ontem, está a ouvir-me dizer exatamente a mesma coisa. O papel é o mesmo, veja lá!
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No âmbito desta leitura aprofundada, iremos — e já vai perceber o que vou dizer —, com certeza, participar
nesse esforço de fazer as alterações necessárias no âmbito da reforma florestal, nomeadamente com a
preocupação, que já aqui manifestámos, sobre as alterações climáticas. Iremos fazer isso.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — E o eucalipto?!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Iremos fazer tudo isto, iremos centrar o debate da forma como os
senhores o querem centrar, no futuro.
Mas há uma coisa para a qual não contam connosco: é, preocupando-se com o futuro, procurar virar a página
e esquecer o passado. Não contem connosco para isto. Quem tiver de ser responsabilizado, sê-lo-á, é o mínimo
de decência que podemos ter perante as vítimas e as suas famílias. É o mínimo de decência!
Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, longe vai o tempo em que o Bloco de Esquerda, pela voz do Deputado
Pedro Soares, dizia, quando houve um incêndio florestal: «O Governo não se pode refugiar na meteorologia».
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — É verdade!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Quem os viu e quem os vê!
Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
Agora, o Sr. Deputado do Bloco de Esquerda diz: «Não falamos disto!».
Sr. Deputado, os senhores estão nesta fotografia!
Vozes do BE: — Os senhores é que estão na fotografia!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — São os senhores que estão nesta fotografia.
Os senhores estão na fotografia da descoordenação, estão na fotografia da incompetência e, se o senhor
leu o Relatório, percebeu e leu, ou não leu, aquilo que não está lá.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo. Peço-lhe que conclua.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente.
E o que não está lá é qualquer referência à tal lei da liberalização dos eucaliptos, Srs. Deputados.
Protestos do BE e da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
Querem discutir seriamente, digam o que está no Relatório e não aquilo que não está. Não tentem tirar-se
da fotografia, porque os senhores estão lá, a culpa também é vossa!
Protestos do BE e da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este debate foi uma má forma de
começar a debater este Relatório. No entanto, esperamos que este debate sobre esta matéria, tendo começado
mal, possa ser concluído melhor e que aquele que já temos agendado seja mais produtivo e útil para esta
Assembleia e para o País do que este.
Neste debate, o PSD exige pedidos de desculpa, o CDS exige demissões.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Há meses!
O Sr. António Filipe (PCP): — Porém, Sr.ª Ministra, o que o País precisa não é de pedidos de desculpa,…
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Protestos do Deputado do PSD Carlos Abreu Amorim.
… o que o País precisa é, de facto, do apuramento de responsabilidades e de medidas concretas para
resolver os problemas.
Aplausos do PCP.
Protestos do Deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira.
De nada nos serve que um qualquer membro do Governo peça desculpa, vá para casa tranquilo e depois
nada faça. Não é isto que queremos.
Quanto às demissões, Sr.ª Ministra, o que é preciso ver é se as estruturas que foram criadas são adequadas,
se funcionam e se têm à frente as pessoas capazes.
O Sr. Presidente: — Faça favor de concluir, Sr. Deputado. Já ultrapassou o tempo.
O Sr. António Filipe (PCP): — Isto é que é importante. A questão não é substituir cidadão a por cidadão b
para fazer o mesmo.
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — O importante de facto é que se tomem medidas de fundo para que, em
próximos anos, desgraças como esta, efetivamente, não aconteçam no nosso País.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para a intervenção de conclusão do debate, o Sr. Deputado Carlos
Abreu Amorim.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há um conceito muito
conhecido no Direito, que é o da tentativa impossível. De facto, aquilo que o Partido Socialista, aquilo que as
bancadas dos partidos da extrema-esquerda que o acolitam e…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Tenha respeito!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … aquilo que os Srs. Membros do Governo aqui vieram fazer foi uma
tentativa impossível de ignorar o Relatório da Comissão Técnica Independente, que é, a partir de agora,
incontornável.
Quando o PSD, em boa hora, lançou a ideia, que aqui foi acolhida seguidamente pelos outros partidos, de
criar uma comissão técnica independente — sublinho, independente —, para que pudéssemos ter o apuramento
técnico dos factos, muita gente nos atacou. Mas o PSD tinha razão.
Agora temos um Relatório, que está à disposição de todos os portugueses, onde constam as
responsabilidades técnicas e as múltiplas falhas. E não é instrumentalização falar nas falhas. O trabalho que
está a ser feito pela imprensa portuguesa não é instrumentalização, aquilo que é feito em qualquer leitura, mais
preliminar ou mais aprofundada, do Relatório…
Protestos do BE e do PCP.
… é ver as falhas, as múltiplas falhas, na coordenação, na liderança e na arquitetura do sistema. E a tentativa
de encobrir os factos, o jogo permanente de camuflar a realidade, pura e simplesmente, constituem uma tentativa
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impossível, que envergonha os agentes políticos, sejam eles parlamentares ou do Executivo, que entram neste
jogo.
A última palavra do PSD é para as vítimas. A primeira forma de respeitarmos as vítimas e de as dignificarmos
nesta tragédia é correspondermos aos seus anseios primeiros.
O Sr. Presidente: — Faça favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — E há duas formas de o fazer. Em primeiro lugar, já percebemos, os
membros do Governo, pura e simplesmente, não têm gabarito político para a consumar…
O Sr. João Oliveira (PCP): — E o senhor tem?!
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Vou concluir, Sr. Presidente, se me permitir.
Como eu dizia, os membros do Governo não têm gabarito político para assumir responsabilidades políticas
a partir das falhas que estão plenamente constatadas no Relatório e pedir desculpa.
Em segundo lugar, e dirijo-me diretamente aos partidos da extrema-esquerda radical,…
Protestos do BE.
… daqui a pouco esta Câmara, em consequência de um requerimento de avocação do PSD,…
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … analisará os artigos da lei, que foi elaborada pelo PSD, pelo CDS-
PP e pelo Partido Comunista Português,…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou largamente o seu tempo, peço-lhe que termine.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Como eu dizia, daqui a pouco a Câmara analisará artigos da lei que visava compensar, através de um
mecanismo extraordinário e urgente,…
O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … as vítimas dos incêndios.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, há que cumprir as regras. Faça favor de terminar.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Os senhores venderam-se por um prato de lentilhas orçamentais.
Voltem atrás!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Tenham respeito!
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Voltem atrás e cumpram!
O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Cumpram o vosso dever para com as vítimas,…
O Sr. Presidente: — Um dia, o botão que desliga o microfone terá de ser acionado…
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O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — … aprovando legislação que seja competente para as dignificar.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, o respeito pelo Parlamento é também o respeito pelos outros Deputados
e pelos tempos.
Srs. Deputados, concluído o debate de atualidade, passamos à apreciação dos projeto de lei n.os 614/XIII
(3.ª) — Primeira alteração à Lei n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral
simplificado e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro (PSD) e 617/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei
n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral simplificado e revoga a Lei n.º
152/2015, de 14 de setembro (CDS-PP), na generalidade, juntamente com os projetos de resolução n.os
1062/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um maior apoio ao investimento de defesa da floresta contra incêndios
(CDS-PP) e 1076/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um conjunto de medidas para a prevenção e defesa da
floresta contra incêndios (BE).
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PSD apresentou, com este documento, uma
pretensão construtiva sobre a decisão final respeitante às zonas onde se iria iniciar o cadastro, para que sejam
repensadas e avaliadas após a época de incêndios.
O que pretendemos neste documento é alargar o projeto-piloto do cadastro a outros concelhos igualmente
fustigados em termos de incêndios florestais. Mas, pela falta de seriedade, ou bom senso, ou mesmo porque
existiu preconceito político, foi rejeitada a proposta do PSD, apresentada em setembro de 2016, que concebia
um mecanismo de criação do cadastro alargado a todo o País. Os partidos de esquerda reprovaram esta
proposta do PSD, sem sequer a discutirem na especialidade, para, no final de tudo, aprovarem apenas um
sistema que incluía um projeto-piloto para alguns concelhos. À boa maneira da prepotência governativa
socialista, aquando da apresentação da nossa proposta, o Sr. Ministro da Agricultura apelidou-a de surreal.
Portanto, alargar o cadastro a todo o País é, para o Governo, surreal. Logo, o que estamos hoje aqui a fazer é
um debate do surreal.
Sr. Presidente e Srs. Deputados, surreal é o que o Governo fez ao tentar fazer uma reforma da floresta que
não serve a ninguém senão aos seus interesses políticos.
Surreal foi chumbarem as propostas do PSD para a criação de uma bolsa de diversidade ambiental e de um
comando único, propostas estas que vão ao encontro das recomendações apresentadas agora no Relatório da
Comissão Técnica Independente.
Surreal é termos, lamentavelmente, uma fraca execução do PDR (Plano de Desenvolvimento Rural),
relativamente aos investimentos florestais, e vermos o Governo e esta maioria de esquerda continuarem a
afirmar que estão a apoiar a floresta e os seus produtores.
Surreal é, depois dos alertas do IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) sobre as condições
meteorológicas que se iriam fazer sentir durante o mês de outubro e depois do que se passou em junho, julho e
agosto, o Governo ter desprezado estes avisos e ter decidido não prolongar a fase Charlie, o que acabou por
condicionar, e muito, o combate aos incêndios da semana passada.
Surreal foi este Governo ter substituído as chefias da proteção civil a poucos meses do início da fase crítica
de incêndios em Portugal.
Surreal foi a descoordenação e falhas nos meios de combate aos incêndios, como vem plasmado no
Relatório, que hoje já aqui foi referido.
Surreal, ainda, é hoje termos a Ministra da Administração Interna a afirmar que é cedo para avaliar o Relatório
e termos tido ontem o seu colega, Ministro da Agricultura, a afirmar que iria acolher as propostas da Comissão
Técnica. Afinal, há uns do Governo que leem o Relatório e outros que não o conseguem ler.
Vozes do PSD: — Muito bem!
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O Sr. Nuno Serra (PSD): — Surreal, Srs. Deputados, é o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP terem decidido,
nesta quarta-feira, que as indemnizações aos que tudo perderam nestas catástrofes deveriam ser tratadas como
se nada de anormal tivesse ocorrido no nosso País e que a reparação desses bens e danos ficasse condicionada
ao apuramento de responsabilidades do Estado, portanto, «para as calendas».
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não é surreal mas, sim, inqualificável que, depois do fracasso da reforma da
floresta, depois dos incêndios de grandes dimensões que flagelaram o País e que trouxeram consequências
dramáticas a muitas famílias, depois de terem obstaculizado que se iniciasse já o processo de atribuição de
indeminizações às vítimas destes incêndios e depois da apresentação do Relatório da Comissão Técnica
Independente que mostra que houve falha clara do Estado, este Governo e esta maioria de esquerda ainda não
tenham, num único momento, pedido desculpa ao País e às pessoas.
Mais: é inqualificável que não tenham assumido as suas responsabilidades políticas.
Aplausos do PSD.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do CDS, a Sr.ª Deputada Patrícia
Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como é do conhecimento de
todos, o CDS, com o PSD, apresentou em setembro de 2016 um projeto de lei para a criação de um sistema
nacional de informação cadastral que foi alvo de um vasto conjunto de audições a todas as entidades relevantes,
talvez mais de duas dezenas, mas, orgulhosamente, o Governo e a bancada parlamentar do PS, com o apoio
da esquerda, decidiram legislar contra tudo e contra todos, como ouvimos o Sr. Ministro da Agricultura dizer,
tendo o mesmo sido chumbado pelos partidos que suportam o Governo.
O Governo optou por fazer um cadastro simplificado, mas, mesmo assim, no final, ainda reduziu o âmbito da
ação desse mesmo cadastro a um projeto-piloto aos 10 concelhos que foram afetados pelos grandes incêndios
de 2016 e de 2017 que tinham ocorrido até à data da aprovação da lei, que foi em junho.
Ora, acontece que, se é verdade que o incêndio de Pedrógão Grande, Góis e dos concelhos limítrofes teve
uma terrível dimensão humana, é também verdade que, apesar da sua grande e não desprezível dimensão
territorial, o impacto, em termos de proporção de área ardida, foi igual ou menor do que noutros concelhos que
arderam posteriormente à publicação da lei e que eram até muito bons exemplos de gestão florestal.
É assim da mais elementar justiça, considera o CDS, estender este projeto-piloto aos restantes concelhos
que tiveram grandes incêndios em 2017.
Paralelamente, o CDS apresenta aqui também hoje um outro projeto de resolução onde recomenda ao
Governo que reforce o apoio ao investimento em redes de defesa da floresta contra incêndios, quer nas áreas
privadas, porque 97% da floresta portuguesa é privada, e aqui, por reforço urgente da ação 8.1.3. do PDR 2020,
quer também nas áreas de domínio não privado, por via do Programa Operacional Sustentabilidade Eficiência
e Uso dos Recursos, vulgo, POSEUR, que ainda — pasme-se! — só abriu quatro concursos num total de 11
milhões de euros.
O CDS também exorta o Governo a procurar novas fontes de funcionamento para estes investimentos que
são de escala territorial relevante, com impacto significativo no território, nomeadamente nos fundos da coesão
ou mesmo por via do «plano Juncker» e, inclusivamente, na negociação do futuro quadro comunitário de apoio.
Este é, aliás, um dos desafios também elencados no relatório que ontem foi apresentado pela comissão
técnica independente para melhorar a prevenção florestal.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos
Matias.
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O Sr. Carlos Matias (BE) — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Segundo o 8.º Relatório Provisório dos
Incêndios Florestais, até 30 de setembro deste ano registaram-se 145 incêndios enquadrados na categoria de
grandes incêndios, ou seja, superiores a 100 ha de área ardida, e que queimaram cerca de 192 000 ha de
espaços florestais, cerca de 89% do total dos 216 000 ha já ardidos.
Estes números, os deste ano, confirmam, pois, o que há muito se sabe: basta um pequeno número de
ocorrências para que vastas áreas sejam consumidas pelas chamas. Na verdade, apenas 1% das ocorrências
levou a que fossem consumidos 90% da área ardida.
As condições para a erupção deste tipo de fenómenos ainda podem vir a piorar o quadro: as alterações
climáticas são inegáveis e subsiste uma floresta desordenada e com problemas de gestão.
O Bloco de Esquerda tem vindo a afirmar a necessidade de uma alteração radical no paradigma das políticas
florestais, colocando o principal foco no ordenamento da floresta e do território e na gestão dos espaços
florestais. Apresentámos propostas concretas. Contudo, sempre considerámos que ainda não fomos além de
medidas parciais para minimizar os riscos.
Há que ouvir e respeitar as pessoas e as propostas vindas de quem está no terreno e das organizações que
trabalham no setor florestal, bem como dos ambientalistas. Impõe-se adotar, para cada região, uma visão
holística que integre as dimensões económica, ambiental, social e paisagística e concretizar medidas no terreno,
passo a passo.
Para já, as candidaturas às medidas do PDR que preveem a gestão de matos em faixas e mosaicos de
gestão de combustíveis têm de ser aprovadas sem as delongas que têm sofrido. É preciso abrir novas fases de
candidaturas para pôr em prática, num curto prazo de tempo, a execução de faixas de gestão na rede viária e
faixas de proteção aos aglomerados populacionais — já agora, uma das falhas apontadas no relatório que ainda
há pouco abordámos.
Caso contrário, para o ano teremos mais situações dramáticas, principalmente em aldeias isoladas e
rodeadas por áreas florestais com grande densidade de matos, como foi precisamente o que ocorreu na região
centro do País.
Para além da reativação dos postos de vigia, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas)
continua a exigir aos sapadores florestais que permaneçam em vigilância. Desta forma, os sapadores ficam
comprometidos com o serviço público num período muito mais alargado, mas, em contrapartida, não conseguem
realizar serviços capazes de gerar recursos para a sua sustentabilidade.
Se assim se continuar e não houver um reforço no apoio às equipas de sapadores florestais, as organizações
gestoras temem que, futuramente, seja muito difícil mantê-las. Esse risco existe.
As entidades que menos recursos têm, neste caso a dos sapadores florestais, continuam, aliás, a ser as mais
penalizadas.
Nestas circunstâncias, Sr.as e Srs. Deputados, propomos que esta Assembleia recomende ao Governo novos
e mais determinados passos, para minimizar e resolver os problemas.
Trata-se, a nosso ver, de medidas essenciais para avançar para uma floresta mais ordenada, melhor gerida,
proporcionando aos produtores florestais uma compensação justa pela diversidade de serviços que prestam à
sociedade ao manterem a floresta. E são medidas essenciais também para assegurar uma melhor prevenção,
que tanta falta faz — como parece que toda a gente está de acordo —, e um melhor combate aos incêndios,
garantindo a subsistência e o fortalecimento da ação dos sapadores florestais.
Já agora, permitam-me acrescentar que, quando ainda há pouco o Sr. Deputado Nuno Serra falou em
assumir responsabilidade política, pensei que, finalmente, o PSD ia assumir as suas responsabilidades políticas
pelo desordenamento da floresta. Ainda não foi desta. Ficamos à espera.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, o Sr. Deputado Pedro do Carmo.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Surreal foi ouvir falar o Sr. Deputado
Nuno Serra, a quem só faltou falar do «sexo dos anjos». Presumo que não o fez apenas por falta de tempo,
porque lá teria chegado, pois do conteúdo dos projetos de lei disse zero, rigorosamente zero.
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Os projetos de lei n.os 614/XIII (3.ª), do PSD, e 617/XIII (3.ª), do CDS, hoje aqui apresentados, vêm propor a
primeira alteração à Lei n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral simplificado.
Este sistema de informação cadastral simplificado, ou melhor, como lhe chamamos, e bem, o «balcão único
do prédio», prevê que durante um ano seja realizado um projeto-piloto na área de 10 municípios. Presumo que
saibam que no início até eram três e, em face das graves dimensões dos incêndios, foi alargado para mais 7,
sendo hoje em 10 municípios.
Visa este projeto-piloto testar os procedimentos administrativos criados e todas as questões adjacentes,
como a harmonização das diferentes tipologias. Ora, testar o sistema em mais de 30 municípios, como proposto,
é, para além de dificultar os trabalhos, inviabilizar a consideração do projeto-piloto. Ou é um projeto-piloto ou
não é!
Mais: note-se ainda, que na presente lei, no artigo 32.º, se prevê que durante o período de vigência de um
ano seja feita uma avaliação deste regime simplificado e, depois, seja garantida a sua extensão a todo o território
nacional. Na pior das hipóteses, Srs. Deputados, este regime será alargado a todo o território nacional a 1 de
novembro de 2018. No entanto, até pode ser este prazo antecipado, se for caso disso.
No projeto de resolução n.º 1062/XIII (3.ª), o CDS recomenda ao Governo um maior apoio no investimento
da defesa da floresta contra incêndios e prevê a abertura, em traços largos, de concursos para instalações de
defesa da floresta contra incêndios, a abertura de concursos do POSEUR, além de reforçar a operação 8.1.3 do
PDR e outras questões.
É curioso, Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca, é muito curioso que o CDS venha agora dizer para se fazer tudo
aquilo que não fez. Se não, note-se: vem o CDS acusar constantemente o atual Ministro da Agricultura por ter
anulado um concurso que a anterior ministra lançou, no valor de 210 milhões de euros, para apoio à floresta,
concurso este, Sr.ª Deputada, que, como sabe, foi declarado ilegal pela Inspeção-Geral da Agricultura porque
não tinha dotação. Apenas um pequeno pormenor: foi aberto um concurso sem dotação!
Mais: a anterior ministra levou a cabo negociações do PRODER, uma em março de 2012 e outra em setembro
de 2015, das quais resultou uma redução global de 175 milhões de euros de apoio público à floresta. É caso
para dizer, Sr.ª Deputada, que dava com uma mão, tirava com a outra. Ou pior ainda: com a mão que era para
dar não dava nada, porque, efetivamente, não tinha nada para dar.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Peço-lhe que termine, Sr. Deputado, por favor.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente.
A isto chama-se aproveitamento político e aproveitamento da tragédia, como aqui foi anteriormente aflorado.
Acrescento: já foi lançado um concurso que, precisamente, quer colmatar isto e que terminou em setembro
de 2017.
Quanto ao projeto de resolução n.º 1076/XIII (3.ª), do BE, propõe, entre outras questões, que nos
preparemos, no novo quadro comunitário de apoio, para defender mais e melhor a floresta, que se estude e que
se criem as novas competências para os municípios. É isso que o Governo está a fazer.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João
Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há muitos anos que o PCP vem dizer
que o cadastro não é feito porque não lhe são afetados os meios necessários.
A realidade tem vindo a demonstrar que não é por falta de legislação que o cadastro não se faz. O cadastro
não se faz porque os serviços públicos, nomeadamente a Direção-Geral do Território, têm vindo a ser
desfalcados de recursos humanos e também não se realizou porque não estiveram disponíveis os meios
financeiros necessários para a realização de um processo tão complexo como o registo de propriedade fundiária
e as suas confrontações com outras propriedades.
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Sobre isto têm especiais responsabilidades todos aqueles que, no exercício de funções governativas, têm
vindo a desfalcar o Estado, imbuídos do espírito do Estado gordo que é necessário desmantelar.
Há algum tempo era apontado como valor necessário à realização do cadastro 700 milhões de euros. Este
número parece muito elevado mas é provavelmente correto, tendo em conta o valor de 15 milhões de euros
necessários para fazer o cadastro experimental em certos concelhos-piloto e nos quais foi possível cadastrar
apenas 60% dos prédios.
São as respostas recentes do Governo a perguntas do PCP que confirmam que este partido tem razão
quando afirma que o processo de elaboração do cadastro é complexo e que sem recursos não se fará.
O Ministério da Justiça, perguntado sobre dados, responde que a complexidade não lhe permite responder
com rapidez. Já passaram quatro meses desde que a pergunta foi feita e a resposta ainda não chegou.
Relatórios do Governo afirmam que, dos sete projetos-piloto, em seis não foram concluídos os trabalhos face
a dificuldade financeira para a sua finalização. São os serviços que têm tratado da elaboração do cadastro que
vêm dar razão ao PCP.
Este é o contexto em que o PCP recusou acompanhar a proposta do Governo de legislação para realização
do cadastro que colocava a iniciativa e o custo nos proprietários, quando a matéria é estratégica para o País e
para o desenho de políticas de desenvolvimento de florestas agrícolas e é vista como um custo para os
proprietários.
Por esta razão, o Grupo Parlamentar do PCP anunciou que votaria contra a proposta do Governo e esta foi
reformulada, eliminando as situações mais gravosas para os proprietários atrás enunciadas e colocando o
regime simplificado apenas para uma área-piloto correspondente a concelhos varridos por incêndios florestais.
Entende o PCP que sem uma avaliação deste processo simplificado não faz sentido alargá-lo a outros
concelhos, sem ser demonstrado que este procedimento, efetivamente, tem condições para elaborar o cadastro
em condições. Por isso, o PCP não acompanha as propostas de alargamento a outros concelhos, apresentadas
por PSD e CDS.
Paralelamente à matéria muito específica relativa ao cadastro, foram arrastados projetos sobre política
florestal em geral. O PCP não deixará de se posicionar perante estas recomendações, mas discutirá as suas
próprias propostas inovadoras e de fundo sobre a criação de um plano nacional de controlo de biomassa e sobre
a intervenção no mercado de produção lenhosa, que discutirá em momento oportuno.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Patrícia Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, para encerrar este debate, quero perguntar ao Sr.
Deputado Pedro do Carmo o que é estes que estes 10 municípios que constam da Lei relativa ao cadastro têm
que os novos cinco municípios não têm. Eu diria que estes novos cinco municípios têm um azar duplo: o de
terem uma área florestal ardida muito grande — por exemplo, 97% do território do concelho de Mação ardeu —
e de agora não serem incluídos no projeto-piloto. O que é que estes cinco concelhos têm que os outros não
têm?
Em segundo lugar, Sr. Deputado — e voltando à questão recorrente da anulação do concurso, que não foi
declarado ilegal, se o Sr. Deputado ler verá que foi considerado nulo —, o Sr. Deputado falou aqui de uma
reprogramação do PDR 2020, que o seu Governo anulou e que poderia ter reforçado, como reforçou, porque o
Sr. Ministro anulou um concurso de 200 milhões de euros e refê-lo com 36 milhões de euros, ultrapassando a
dotação que existia. Portanto, reforçou a dotação do concurso, mas poderia tê-la reforçado mais e não o fez
porque não quis, não quis colocar verbas na floresta, no PDR.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, queira terminar, por favor.
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A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Em terceiro lugar, e para concluir, quero dizer que, pela primeira vez
neste quadro comunitário de apoio, o POSEUR, ou seja, os fundos comunitários da coesão apoiaram o
investimento na floresta. O que pedimos é que os senhores aproveitem essa possibilidade e que no próximo
quadro comunitário de apoio a reforcem com investimento em prevenção estrutural, porque a floresta é um bem
de todos.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, vamos passar à discussão conjunta, na
generalidade, do projeto de resolução n.º 471/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo o alargamento do quadro de
competências, modalidades e financiamento dos gabinetes de informação e apoio de educação para a saúde e
educação sexual, alargando-os ao ensino superior e promovendo uma avaliação periódica da implementação
da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto (PS) e do projeto de resolução n.º 1075/XIII (3.ª) — Alteração do âmbito dos
gabinetes de informação e apoio ao aluno e alargamento da sua obrigatoriedade ao ensino superior (BE).
Para iniciar o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Carvalho, do Partido Socialista.
O Sr. Hugo Carvalho (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Partido Socialista traz hoje a Plenário
a discussão do alargamento do quadro de competências dos gabinetes de informação e apoio no âmbito da
educação sexual e educação para a saúde e o seu respetivo alargamento a todos os estabelecimentos de ensino
superior.
O Partido Socialista e os seus sucessivos governos têm contribuído decisivamente para a reflexão e
consequente evolução da saúde sexual e reprodutiva dos portugueses: O reconhecimento da educação sexual,
as consultas de planeamento familiar, o direito à saúde reprodutiva, a despenalização da interrupção voluntária
da gravidez e a implementação da educação sexual em todos os estabelecimentos dos ensinos básico e
secundário constituem momentos relevantes para a evolução da sociedade portuguesa.
Aplausos do PS.
No entanto, e apesar dos progressos alcançados ao longo dos últimos anos, a realidade em matéria de
educação sexual é ainda claramente insatisfatória, há muito ainda a fazer.
Sabemos que a generalidade dos gabinetes de informação e apoio ao aluno são, em muitos casos, espaços
impessoais e pouco procurados pelos alunos, que apresentam ainda alguma dificuldade em garantir o anonimato
de quem os frequenta e que não garantem o acesso a métodos contracetivos adequados, conforme previsto na
legislação.
Mas há ainda mais indicadores que conhecemos.
Conhecemos e temos preocupação pela ainda elevada taxa de gravidez na adolescência, assim como temos
preocupação pela continuidade de comportamentos sociais discriminatórios em relação ao género e à orientação
sexual.
É por conhecermos esta realidade — e destacando em tudo isto o papel imprescindível da família, dos pais,
dos encarregados de educação, dos professores e dos profissionais da saúde, enquanto parceiros decisivos na
educação sexual dos adolescentes e jovens portugueses — que propomos as seguintes recomendações ao
Governo: a extensão ao ensino universitário e politécnico da obrigatoriedade de implementação dos gabinetes
de informação e apoio ao aluno; a promoção do alargamento do quadro de competências dos gabinetes de
informação e apoio ao aluno no que concerne à distribuição gratuita de métodos contracetivos não sujeitos a
prescrição médica, em articulação com as unidades de saúde locais, garantindo um efetivo cumprimento da lei;
e, por fim, a recomendação aos estabelecimentos de ensino, no âmbito da sua gestão flexível do currículo, de
um reforço da carga horária dedicada à educação sexual nos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e secundário.
Em suma, Sr.as e Srs. Deputados, queremos reforçar o amplo consenso que existe já hoje na sociedade em
torno da educação sexual em meio escolar e, com isso, aprofundar a construção de uma sociedade mais
tolerante, informada e preparada para o futuro.
É, pois, com convicção que caminhamos em frente no alargamento dos gabinetes de informação e apoio ao
aluno aos estabelecimentos e instituições de ensino superior e na avaliação e monitorização nos
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estabelecimentos do ensino básico e secundário, estando ao lado de uma causa mobilizadora para a juventude
e, em particular, dos estudantes portugueses.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís
Monteiro.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Antes de mais, quero felicitar o Partido
Socialista por este agendamento, bem como o Sr. Deputado Hugo Carvalho pela sua primeira intervenção em
Plenário.
Os direitos sexuais fazem parte integrante dos direitos humanos. Esta afirmação é hoje mundialmente aceite,
faz parte, até, de grandes discussões dentro e fora dos espaços de decisão política e ainda bem que assim é.
Desde o início da sua existência que o Bloco de Esquerda se congratula e orgulha de ter feito este caminho,
conjuntamente com outras forças políticas e sociais. Mas hoje, chegados a 2017, é importante saber que
inúmeras conquistas foram conseguidas com o esforço de tanta gente que lutou durante uma vida.
A educação sexual foi durante anos, e continua a ser, uma das grandes reivindicações dos estudantes e dos
jovens. Relembremos, por exemplo, que desde 1984 estava plasmada na legislação, mas demorou décadas até
que fosse regulamentada e que algum governo, realmente, pegasse numa situação que precisava de ser
implementada nas escolas mas que precisou de mais de 20 anos até que os decisores políticos olhassem com
rigor e com coragem para o problema.
A criação dos gabinetes de informação e apoio ao aluno no ensino básico e secundário revelou-se positivo,
apesar das suas limitações de âmbito. Uma das suas limitações de âmbito não está no seu formato mas, sim,
no conteúdo, ou seja, hoje é preciso resgatar a educação sexual de um âmbito meramente relacionado com a
saúde e trazê-la também para a cidadania, para uma formação cívica contra a violência de género, em nome do
combate à homofobia, à bifobia, à transfobia. Em suma, temos de garantir que o debate e a formação em torno
da educação sexual deixem de ser uma formação meramente ligada a questões biológicas ou de saúde,
compreendendo que ela inicia e encerra um debate do século XXI contra tantas discriminações que, infelizmente,
ainda existem e que temos de combater.
É justamente nesse sentido que o Bloco de Esquerda apresenta um projeto de resolução que, em primeiro
lugar, alarga a obrigatoriedade da existência destes gabinetes a todas as instituições de ensino superior; em
segundo lugar, disponibiliza, nesses mesmos gabinetes, métodos contracetivos; em terceiro lugar, garante no
ensino básico e secundário tempo curricular para estas matérias, muitas vezes esquecidas também pelas
próprias direções das escolas; por último, garante que estas mesmas formações sejam de qualidade e abranjam
o conjunto de áreas que aqui já mencionei, uma formação para esses mesmos docentes, para garantir realmente
uma plenitude de uma educação sexual inclusiva e universal em todas as escolas e também no ensino superior.
É essa a vontade do Bloco de Esquerda e estamos com total abertura para discutir estes projetos e garantir
a plenitude das medidas que aqui apresentamos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana
Mesquita, do PCP.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP esteve desde sempre
empenhado e comprometido com a luta pelo direito à educação sexual nas escolas, bem como com a luta pela
saúde reprodutiva e, por isso, ao longo dos anos, apresentámos diversas iniciativas nesta área.
Aliás, cumpre aqui relembrar uma iniciativa pioneira apresentada pelo PCP em 1982, reconhecendo pela
primeira vez o direito à educação sexual e ao planeamento familiar, que teve por fundamento os problemas no
âmbito da saúde sexual e reprodutiva, os dados preocupantes sobre gravidez na adolescência e sobre a
prevalência de infeções e doenças sexualmente transmissíveis.
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Nessa altura, o projeto foi rejeitado pelo PSD e pelo CDS-PP. Em 1983, o PCP voltou a apresentar iniciativas
sobre esta matéria e contribuiu decisivamente para os textos que viriam a constituir o edifício legislativo hoje
existente.
Trinta e três anos volvidos desde a publicação da primeira lei que consagrou o direito à educação sexual há
importantes indicadores de saúde que sublinham a necessidade e a urgência da implementação efetiva da lei.
Diversos relatórios e estudos de entidades nacionais e internacionais, como a Direção Geral de Saúde e a
Organização Mundial de Saúde, entre outros, evidenciam que é necessário tomar medidas em torno da
informação e do investimento em políticas de saúde sexual e reprodutiva, designadamente em torno de matérias
como a utilização de métodos contracetivos, risco de gravidez não planeada, gravidez na adolescência e
doenças sexualmente transmissíveis.
A luta dos estudantes do ensino básico e secundário tem colocado como uma das suas grandes
reivindicações a existência de educação sexual nas escolas de forma integrada nos diversos conteúdos
programáticos. Apesar de a lei prever isso mesmo, sucessivos governos não envolveram os estudantes na
definição quer das políticas educativas, em geral, quer da educação sexual, em particular.
Quero dizer ainda, a este propósito, que o PCP defende um modelo de educação sexual transversal e
interdisciplinar, que coloque a sexualidade e a saúde reprodutiva como um conteúdo nuclear em cada disciplina
e que não permita o isolamento teórico da matéria em causa. Também a este propósito não podemos deixar de
assinalar que a iniciativa do Bloco de Esquerda não é clara no seu ponto 3 quanto à perspetiva que sustenta em
relação a isso.
A aprovação da Lei n.º 60/2009 foi um passo positivo, mas resta ainda um longo caminho a percorrer para
que seja uma realidade em todas as escolas do País. O grande obstáculo à aplicação da educação sexual nas
escolas foi sempre reiterado por falta de vontade política para a sua aplicação, manifestada também na ausência
de condições materiais e humanas nas escolas e nos cortes no financiamento público à educação, rumo que é
urgente reverter.
As iniciativas hoje em debate contêm um aspeto importante de alargamento ao ensino superior dos gabinetes
de informação e apoio de educação para a saúde e educação sexual e recomendam ao Governo a adoção de
medidas que podem contribuir, de facto, para uma melhor saúde sexual e reprodutiva dos jovens e estudantes,
pelo que serão acompanhadas, em geral, pelo PCP.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ilda Araújo
Novo, do CDS-PP.
A Sr.ª Ilda Araújo Novo (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não é de agora que as matérias
respeitantes à saúde e educação sexual têm merecido a nossa atenção.
Entendemos que a sexualidade, como dimensão essencial da vida, não se circunscreve apenas ao que os
seres humanos fazem mas também se centra no que são.
A educação sexual é um processo contínuo e permanente de aprendizagem e socialização. Abrange a
transmissão de informação, promove atitudes e comportamentos saudáveis, é transversal e transdisciplinar.
Tem «como objetivo fundamental o desenvolvimento e competência nos jovens, de modo a possibilitar-lhes
escolhas informadas nos seus comportamentos na área da sexualidade, permitindo que se sintam informados
e seguros nas suas opções». Assim advogou, a seu tempo, o Grupo de Trabalho de Educação Sexual.
À escola, como «agente privilegiado na educação para a sexualidade e para os afetos, cabe-lhe ensinar,
educar de forma a favorecer o desenvolvimento global dos alunos, fomentando atitudes e valores, incentivando
a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e respeitadores» — lia-se no Relatório Final para a
avaliação do impacto da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, que não se questiona.
É sobre a aplicação e regulamentação desta Lei que o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda entenderam
apresentar projetos de resolução. Têm por base o dito Relatório Final, designadamente quando referem um
conjunto de recomendações ali elencadas, algumas das quais destacam na exposição de motivos, e, bem assim,
as recomendações de, entre outros, um recente estudo sobre a implementação da educação sexual em contexto
escolar, este apenas na região do Algarve.
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Surpreendentemente, no entender do CDS, pese embora as ditas referências constem da exposição de
motivos, nada surge nas recomendações.
Melhor dizendo: exceção feita à primeira recomendação — o alargamento dos gabinetes de informação e
apoio ao aluno ao ensino superior —, em que ambos coincidem, os dois projetos também se preocupam com o
alargamento das competências dos gabinetes de informação e apoio ao aluno no que toca à obrigatoriedade da
distribuição gratuita de contracetivos e com os relatórios sobre a implementação e avaliação dos impactos da
lei, o que se saúda. Contudo, recomendam — pasme-se! — o reforço da carga horária nos diversos ciclos de
ensino. Ora, isto constitui um verdadeiro contrassenso, pois esta recomendação de reforço vem sustentada na
gestão flexível do currículo. Mas, afinal, a gestão flexível do currículo não é da responsabilidade das escolas,
para as quais tanto defendem a autonomia?
Não se vislumbra um só realce às inúmeras recomendações que visam a manutenção da valorização da
área. Não se propõe a criação de soluções de continuidade, sustentadas, como, por exemplo: o edital anual; a
redução da componente letiva para um professor do agrupamento, sendo mantida a figura do atual professor
coordenador; a redução da componente letiva para os restantes professores envolvidos; um investimento forte
na formação de professores, técnicos e pais na área da educação sexual; a organização global para a partilha
de materiais a nível regional ou mesmo nacional; um maior envolvimento dos pais, encarregados de educação,
etc.
Enfim, temos dois projetos de resolução sem uma palavra de orientação, sem uma destas recomendações,
sem uma inovação. E tudo isto não obstante as significativas fraquezas já detetadas na implementação da lei.
É muito poucochinho, Sr.as e Srs. Deputados.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Margarida
Balseiro Lopes.
A Sr.ª Margarida Balseiro Lopes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A educação sexual deve
ser analisada numa perspetiva ampla do que é a formação cívica e social dos jovens portugueses.
Exige, aliás, uma visão abrangente daquilo que são as atitudes e comportamentos para a saúde e bem-estar
não só físico mas também psicológico e emocional.
Como refere o último relatório de avaliação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto — relatório esse, importa
recordar, feito em 2013, portanto, na anterior Legislatura —, apesar de a avaliação da implementação da Lei ser
muito positiva, há também ainda muito a fazer e aspetos a melhorar. Aliás, uma das fraquezas identificadas
nesse mesmo relatório — o qual certamente que serviu de inspiração ao Partido Socialista e ao Bloco de
Esquerda para as iniciativas que hoje discutimos — é precisamente a falta de uma cultura de avaliação
sistemática das medidas em meio escolar, que não foi, como se vê, um dos aspetos tidos em consideração nem
pelo Partido Socialista nem pelo Bloco de Esquerda, que vêm agora propor o aumento da carga horária para a
temática específica da educação sexual, com propostas desgarradas e sem ligação aos projetos educativos que
os professores desenvolvem em todo o território português.
O Sr. José Cesário (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Margarida Balseiro Lopes (PSD): — Da mesma maneira que usar um cravo na lapela diz pouco
sobre a defesa da liberdade nas decisões de todos os dias, não é por o Partido Socialista vir dizer que defende
a autonomia das escolas e dos professores que, deixa todos os dias, de ser mais centralista, executando, na
prática, o contrário das boas intenções que gosta de apregoar.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Margarida Balseiro Lopes (PSD): — Grande parte do que se conseguiu foi com o esforço, o empenho,
a dedicação e a autonomia das escolas e dos professores.
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Pretendemos que assim continue. Aliás, aceitasse o Governo dar mais autonomia às escolas na definição
dos seus projetos educativos e dos seus horários e não teria agora de responder à falta de tempo que os
professores apontam para esta temática.
Da nossa parte, preocupa-nos a reconhecida falta de envolvimento das associações de pais e encarregados
de educação; preocupam-nos as respostas dos jovens quanto ao custo e à disponibilidade dos métodos
contracetivos, bem como a proposta de gabinetes de informação e apoio ao aluno no ensino superior sem
qualquer articulação objetiva com as estratégias e os agentes da ação social nas instituições do ensino superior.
A confusão e distanciamento do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista quanto a esta matéria são
preocupantes. Mas, da parte do PSD, contam com uma preocupação efetiva com a saúde e bem-estar dos
jovens portugueses, acreditando que, para isso, devemos dar mais condições às escolas e aos professores,
para que, com os meios e os incentivos certos, consigam desenvolver as estratégias mais adequadas.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para encerrar este ponto da ordem de trabalhos, tem a palavra,
para uma intervenção, o Sr. Deputado Hugo Carvalho.
O Sr. Hugo Carvalho (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há alturas em que temos de fazer
opções e saber se queremos ser progressistas ou se queremos estar resignados a nada fazer. Ora, o Partido
Socialista apresenta-se de forma clara neste debate: nós queremos ser progressistas e estar ao lado de uma
causa mobilizadora para os jovens e os estudantes portugueses. Foi esse debate sério que quisemos trazer a
esta Câmara, um debate sério pelo progresso, pelo desenvolvimento e pelo aprofundamento de um tema que é
essencial e estruturante para nós e para a sociedade portuguesa. Foi a isso que nos propusemos e foi isso que
fizemos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Concluída a discussão conjunta dos projetos de resolução n.os
471/XIII (2.ª) (PS) e 1075/XIII (3.ª) (BE), passamos à apreciação do Decreto-Lei nº 66/2017, de 12 de junho, que
estabelece o Regime Jurídico de Reconhecimento das Entidades de Gestão Florestal [apreciação parlamentar
n.º 39/XIII (2.ª) (BE)].
Para dar início ao debate, tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, o Sr.
Deputado Carlos Matias.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Falta o Governo, Sr. Presidente!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, fazemos, então, um pequeno compasso de espera,
na expectativa de que o Governo se apresente.
Pausa.
Dado que não temos, neste momento, informação sobre a presença do Governo, solicito ao Sr. Deputado
Carlos Matias que inicie a sua intervenção.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Peço a palavra para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, percebo a situação, mas uma apreciação parlamentar é
uma iniciativa legislativa que leva a debate opiniões sobre um decreto-lei, pelo que faz sentido que o Governo
esteja presente para ouvir as iniciativas desde o início.
Percebemos que este é um dia especialmente difícil para o Governo…
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Vozes do PSD: — Ai é, é!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … mas há uma solução. E a dificuldade não é pela parte da direita.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, faça favor de concluir.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Parece-me é que não podemos fazer este debate sem a presença do
Governo. A alternativa que existe é a de alterar a ordem dos trabalhos. Não sei é se as restantes bancadas
aceitam esta sugestão…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, a Mesa procurou informar-se junto dos serviços
sobre se haveria algum atraso por parte dos membros do Governo que deveriam estar presentes. Não obtivemos
essa informação até agora. Estamos a tentar obtê-la, logo que possível.
Sendo assim, vamos, então, continuar a nossa ordem de trabalhos. Tendo em conta que não há informação
precisa sobre a presença dos membros do Governo, solicito ao Sr. Deputado Carlos Matias que faça a sua
intervenção.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Peço novamente a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, havendo pontos da ordem de trabalhos em que o Governo
não tem estar presente, havendo anuência por parte das bancadas nesse sentido e não abrindo aqui um
precedente de, numa apreciação parlamentar, o Governo não estar presente, sugeria que pudéssemos alterar
a ordem dos trabalhos, passando ao último ponto, relativo ao salário mínimo.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, pela sinalética que daqui
posso observar, percebo que não há consenso em torno dessa sugestão, que a Mesa naturalmente compreende.
Não havendo esse consenso, não resta à Mesa outra alternativa que não seja a de dar a palavra ao Sr. Deputado
Carlos Matias, para que se cumpra a ordem de trabalhos.
Compreenderá que esta é, neste momento, a nossa única alternativa.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Peço a palavra para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, com toda a boa vontade que possamos ter, temos de
cumprir o Regimento. E, de facto, nas apreciações parlamentares — a do Bloco de Esquerda, agora, e,
imediatamente a seguir, a do CDS — o Governo tem de estar presente.
Portanto, com todo o respeito, não me parece uma boa solução estar a dar a palavra ao Sr. Deputado do
Bloco de Esquerda para intervir — e, desde já digo que o CDS, a seguir, não o fará — e fazer uma apreciação
de um decreto do Governo, sem o Governo estar presente. Temos de cumprir a lei. Por muito difícil que o dia
seja para o Governo, não podemos mesmo deixar de cumprir a lei.
O Sr. José Cesário (PSD): — Peço a palavra para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Cesário (PSD): — Sr. Presidente, é para igualmente transmitir à Mesa e ao Plenário o nosso
entendimento de que não faz sentido proceder à discussão de uma apreciação parlamentar sem a presença do
Governo. Isso é óbvio.
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A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Peço a palavra para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, compreendendo a situação aqui criada, a nossa sugestão era
que se interrompessem os trabalhos por 10 minutos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — É esse também o entendimento da Mesa, Sr.ª Deputada.
Srs. Deputados, os trabalhos estão interrompidos, por cerca de 10 minutos, para que se possa resolver esta
situação, de acordo com o Regimento.
Eram 11 horas e 49 minutos.
Srs. Deputados, vamos retomar os nossos trabalhos.
Eram 12 horas.
A Mesa fez o que devia fazer, que foi avaliar todas as circunstâncias desta situação, do ponto de vista
regimental. O artigo 192.º do Regimento estabelece que o Governo pode intervir neste debate de apreciação
parlamentar. Mas, evidentemente, para além daquilo que estabelece o Regimento, há também uma prática que
está estabelecida no nosso funcionamento corrente. Neste sentido, procurámos informar-nos junto do Governo
sobre se estaria ou não presente.
Não obtivemos informação — pelo menos, até agora — no sentido de que o Governo estaria presente. Neste
sentido, solicitaria que déssemos continuidade aos trabalhos.
Sei que o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares pretende intervir. Peço somente que tentemos dar prossecução
aos nossos trabalhos o mais rapidamente possível.
Para que efeito pede a palavra, Sr. Deputado?
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Para uma interpelação à Mesa sobre a condução dos trabalhos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, é para dar a indicação à Câmara de que, contactado o
Governo, este deu conta de uma dificuldade quanto à presença do Sr. Ministro da Agricultura no momento
presente, pedindo que — e agora não estou a ser porta-voz do Governo, não é essa a função que cumpre ao
Bloco de Esquerda,…
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Ah!…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … trata-se apenas e só de uma informação para o bom funcionamento
dos trabalhos, para aqueles que querem que haja um bom funcionamento dos trabalhos — houvesse a
possibilidade de uma troca da ordem dos trabalhos, passando agora a Câmara à apreciação do decreto-lei sobre
o rendimento social de inserção, e, a seguir, à apreciação do decreto-lei sobre as entidades de gestão florestal,
podendo haver, assim, uma boa solução para esta situação.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Muito bem, Sr. Deputado.
A Mesa está informada de que há também pedidos de interpelação à Mesa por parte do Sr. Deputado José
Cesário e, depois, do Sr. Deputado Nuno Magalhães.
Tem a palavra, para interpelar a Mesa, o Sr. Deputado José Cesário.
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O Sr. José Cesário (PSD): — Sr. Presidente, gostaria de assinalar a gravidade desta situação. Em qualquer
caso, não nos opomos à inversão da ordem dos trabalhos, mas queríamos que ficasse muito claro que
efetivamente esta situação é grave, não tem precedente e, mais do que isso, registamos que, agora, é o Bloco
de Esquerda que assume o lugar de porta-voz do Governo.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Também para uma interpelação à Mesa, tem a palavra o Sr.
Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, em primeiro lugar, e talvez o mais importante, é para
dizer que o CDS dá o consenso para essa inversão da ordem dos trabalhos, mas não pode deixar de registar
que o que se passou é grave e é de evitar em situações futuras.
Em todo o caso, para a boa continuação dos trabalhos, que são prolongados e intensos durante o dia de
hoje, o CDS, a título excecional, dará o consenso para passarmos à apreciação parlamentar da iniciativa do
CDS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma interpelação à Mesa, tem a palavra o Sr. Deputado
Filipe Neto Brandão.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, muito rapidamente, queria corrigir o Sr. Deputado José
Cesário relativamente a indisponibilidade dos membros do Governo, porque, inclusivamente, nesta Legislatura,
houve até um precedente de indisponibilidade do Sr. Ministro da Cultura num debate que esteve agendado e
que, consensualmente, foi alterado com esse único propósito.
Portanto, não há razões para empolar aquilo que, manifestamente, não deve ser empolado.
Protestos de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, atendendo ao teor das
interpelações que foram feitas à Mesa, creio que podemos interpretar que há consenso no sentido de
procedermos a uma alteração da ordem de trabalhos.
Portanto, vamos passar ao quinto ponto, relativo à apreciação do Decreto-Lei n.º 90/2017, de 28 de julho,
que altera o regime jurídico do rendimento social de inserção [apreciações parlamentares n.os 43/XIII (2.ª) (PSD)
e 44/XIII (2.ª) (CDS-PP)].
Para a primeira intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria das Mercês Soares.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e
Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata requereu a apreciação parlamentar do
Decreto-Lei n.º 90/2017, de 28 de julho, que altera o regime jurídico do rendimento social de inserção, porque
considera que o rendimento social de inserção (RSI) é um importante instrumento social de combate à pobreza
e à exclusão social.
Como tal, tudo devemos fazer para dignificar esta prestação e evitar que os seus beneficiários sejam
estigmatizados e olhados como possíveis infratores. Foi neste sentido que a legislação foi alterada.
Trata-se de uma prestação que visa apoiar pessoas que, numa fase da sua vida, por vários fatores, seja por
desemprego ou por outra situação, necessitam da solidariedade de muitos portugueses e, como tal, precisam
desse apoio para poder mudar de vida, para poder reconstruir o seu plano de vida.
E é neste espírito de solidariedade dos portugueses com outros que dela necessitam que consideramos que
deve haver, por parte de quem recebe a prestação, sentido de responsabilidade, correspondendo a esta
oportunidade para construir o seu projeto de vida. É por isso que consideramos que a celebração do acordo de
inserção logo no início é um compromisso extremamente importante que não devia ter sido revogado.
Também para dignificar a prestação, entendemos que a definição do montante máximo do valor dos bens
móveis que cada beneficiário tem, fixado em 60 IAS (indexante dos apoios sociais), 20 e tal mil euros, é mais
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do que suficiente para que haja dignidade. Mas dizer que uma pessoa pode ter o que quiser, que não tem limite,
ou seja, retirar este limite não é dignificar as pessoas, não é respeitar aqueles que necessitam, é atirar para
cima deles estigmas que não são necessários.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
O terceiro ponto tem a ver, precisamente, com a renovação automática, que é o assumir, por parte do
Governo, que desistiu destas pessoas, desistiu de avaliar o seu progresso, desistiu de as ajudar a seguir na
construção de um novo projeto de vida.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Por isso, nesse sentido, iremos apresentar, no decurso deste debate, as propostas de alteração que
consideramos necessárias para introduzir rigor e transparência e para dignificar aqueles que, numa fase da vida
— e amanhã podemos ser nós —, necessitam da solidariedade dos portugueses.
Aplausos do PSD.
Protestos da Deputada do PCP Carla Cruz.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, em nome do CDS-PP, o Sr. Deputado Filipe
Anacoreta Correia, para uma intervenção.
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e
Srs. Deputados: O CDS pediu a apreciação parlamentar do diploma que o Governo aprovou sobre o rendimento
social de inserção porque considera que o que aqui está em causa é grave e é negativo.
É grave e é negativo, e sejamos bem claros: para o CDS, o rendimento social de inserção é um instrumento
de ação social da maior importância e, como o próprio nome indica, destina-se a apoiar quem precisa, em termos
temporários, visando a inserção social.
Ora, o que o Governo acabou por fazer com esta iniciativa foi dar uma machadada grave em pressupostos
importantes do rendimento social de inserção, desde logo porque tornou o apoio mais laxista e deixou de exigir
à pessoa beneficiada que se comprometesse subscrevendo um contrato de inserção social, passando-o a uma
mera obrigação e não à sua execução.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
O que se pretendia com o contrato de inserção era que a pessoa apoiada assumisse, desde logo, um conjunto
de obrigações que visavam a sua integração. Pois o Governo considera que isso é dispensável.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Mas mais: o Governo considera que aquilo que era um apoio que era renovado mediante verificação das
condições de necessidade da pessoa em causa se pode renovar automaticamente, verifique-se ou não que a
pessoa precisa, verifique-se ou não que está em condições de merecer esse apoio.
Só faltou mesmo mudar o nome, só faltou mesmo que o apoio de reinserção social passasse a chamar-se,
como no passado, rendimento mínimo garantido. E isso, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, era qualquer coisa
que todos nós, sobretudo os portugueses, considerávamos que era negativo, porque é injusto para aquelas
pessoas que se levantam todos os dias e vão trabalhar e que conhecem tantos e tantos que, sem precisarem e
sem merecerem, se encostam à sombra do apoio social do Estado, que deixa de visar a sua inserção.
Protestos de Deputados do PCP.
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É assim que defendem o RSI?!
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — É isso que nós, no CDS, não deixaremos de denunciar e é
isso que muitos portugueses esperam de nós.
Finalmente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, este apoio deixou de exigir a demonstração do património
mobiliário registado, o que, em nosso entender, também é negativo.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Tenham vergonha!
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Mas, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, nem tudo é negativo.
Da nossa parte, o facto de se ter alterado e conformado o acesso ao RSI com as exigências do Tribunal
Constitucional, nomeadamente no que se refere à residência legal, é um aspeto que propomos que se mantenha,
tal como o que diz respeito às pessoas que estão privadas da liberdade, os presos.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, o CDS tem uma atitude de grande responsabilidade, de valorização deste
complemento, deste apoio social de reinserção, mas não vai em facilitismos, não vai em laxismos e os
portugueses não perdoarão a este Governo se seguir por um caminho que é do passado.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Em nome do Governo, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado
da Segurança Social, Cláudia Joaquim, para uma intervenção.
A Sr.ª Secretária de Estado da Segurança Social (Cláudia Joaquim): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e
Srs. Deputados: Relativamente ao diploma hoje em apreciação, e especificamente no que se refere ao
rendimento social de inserção, gostaria apenas de relembrar dois ou três aspetos.
Em 2012, as alterações introduzidas pelo anterior Governo, que alterou a escala de equivalência e diminuiu
o valor do rendimento social de inserção em cerca de 11,38 €/mês, tiveram como consequência a perda do
rendimento social de inserção por parte de mais de 110 000 pessoas, das quais cerca de 56 000 crianças e
jovens.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Ora aí está!
A Sr.ª Secretária de Estado da Segurança Social: — As alterações que os senhores introduziram tiveram
apenas como consequência que as famílias alargadas, com mais crianças, saíssem da prestação. É a isto que
se chama solidariedade e é a isto que se chama olhar pelos mais desfavorecidos e pelas crianças?!
Aplausos do PS.
Gostaria de salientar também que, naquela altura, o argumento para alterar as regras do rendimento social
de inserção foi que a diminuição do valor em 70 milhões de euros permitiria apoiar o Programa de Emergência
Social (PES), nomeadamente o aumento da pensão social e da pensão mínima. No entanto, aumentaram o
valor da pensão social e da pensão mínima e cortaram o complemento social para idosos (CSI) em cerca de 9,5
€/mês para cada idoso, em simultâneo. Ou seja, diminuíram o CSI, aumentaram a pensão de invalidez, mas o
argumento para diminuir o rendimento social de inserção foi o de aumentar as pensões de valores mais baixos.
Mas, indo às questões em concreto, há aqui, de facto, um mito que importa clarificar. Relativamente à
assinatura do acordo de inserção, ele continua a ser assinado, agora 45 dias após o requerimento. A alteração
que os senhores fizeram fez com que o direito à prestação fosse apenas após a celebração do acordo de
inserção, sendo que, na grande maioria das situações, não por culpa das pessoas mas porque os serviços
tinham dificuldades, tivesse passado a demorar 60 dias. O tempo médio de deferimento foram 78 dias em 2013,
contra 55 dias em 2011, ou seja, com os senhores, o tempo médio de deferimento aumentou cerca de 23 dias.
Aplausos do PS.
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E não aumentou por acaso, aumentou porque tornaram a prestação totalmente burocrática, com
requerimentos em papel, obrigando as pessoas a entregar, todos os anos, um requerimento com um conjunto
de documentos em papel com informação que a segurança social conhece.
Aplausos do PS.
Com esta alteração, aquilo que os senhores quiseram e conseguiram foi deixar de aplicar uma renovação
que corresponde a uma renovação feita pelos sistemas de informação, que vão buscar todos os rendimentos
das pessoas que a segurança social, por via das Finanças, conhece. E o que é que aconteceu com isso? O que
aconteceu foi que, administrativamente, conseguiram suspender todos os requerimentos das pessoas que
entregavam requerimentos em papel e os serviços, dos quais os senhores tiraram 3000 funcionários em quatro
anos, não conseguiram dar resposta.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É assim que defendem a família?!
A Sr.ª Secretária de Estado da Segurança Social: — Relativamente à questão dos bens móveis com registo
— automóveis, aeronaves, barcos, embarcações —, o que é que verificámos? Verificámos que o único objetivo
que tiveram foi o de retirar a condição de recursos do rendimento social de inserção do Decreto-Lei n.º 70/2010,
que define as condições uniformizadas para a atribuição de todas as prestações sociais mediante condição de
recursos. Isto teve um único objetivo, o de poderem mexer à vontade naquelas que são as condições de acesso
das pessoas ao RSI para as excluir, mas acresce que os indeferimentos por este motivo em concreto foram de
0,2%.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Secretária de Estado, queira terminar.
A Sr.ª Secretária de Estado da Segurança Social: — Vou terminar, Sr. Presidente.
Relativamente à renovação automática, gostaria só de clarificar uma coisa: ela não é automática, é verificada
com muito rigor, com todos os rendimentos conhecidos na segurança social. Os senhores fizeram
administrativamente aquilo que tinham muita vontade de fazer mas que não assumiram fazer, que era acabar
com a prestação. Ainda bem que não o fizeram e que ela é muito resiliente.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro, para uma intervenção.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Este debate, suscitado
pelo PSD e pelo CDS, não é sobre a credibilização de uma prestação essencial para o combate à pobreza e
não é, também, sobre o combate à fraude. Este debate do PSD e do CDS é um pretexto para estigmatizar as
pessoas que recebem o RSI em Portugal, é um pretexto para um discurso de ódio aos pobres, para um discurso
de racismo social, para criar um estigma, fazendo com que as pessoas que hoje estão em situação de pobreza
extrema sejam os suspeitos do costume e sejam vistas como se fossem fraudulentas.
Aplausos do BE e do PS.
Protestos de Deputados do PSD e do CDS-PP, tendo o Deputado do CDS-PP Filipe Anacoreta Correia batido
com as mãos no tampo da bancada.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, há 2 milhões de pessoas em Portugal que vivem abaixo do limiar de
pobreza e, dessas, apenas uma pequena parte — uma pequena parte, 400 000 — recebe o rendimento social
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de inserção, que não faz com que as pessoas saiam da situação de pobreza porque é muito baixo, apenas
minora a severidade da pobreza.
O RSI é, em Portugal, a prestação social mais fiscalizada de todas, mas tem um peso residual nas contas da
segurança social, de 2% da despesa da segurança social, e atinge não apenas adultos mas também crianças:
40% dos beneficiários do RSI são pessoas que não poderiam trabalhar porque não têm idade para isso.
O PSD e o CDS, no Governo anterior, fizeram duas coisas: cortaram para metade o número de beneficiários,
num contexto em que a pobreza aumentava,…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É uma vergonha! É a «sensibilidade» do CDS!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … de 400 000 para 250 000, e baixaram o valor de referência em 25%.
Não foi por acaso, Srs. Deputados, que a pobreza infantil aumentou, foi também por aquilo que os senhores
fizeram em relação ao RSI.
O que este Governo fez agora — aliás, em resultado das conclusões do grupo de trabalho feito com o Bloco
de Esquerda — foi trazer exigência e dignidade a esta prestação, aumentando o valor de referência. Assim, a
prestação abrangeu mais pessoas em estado de necessidade, não as obrigando a ficar à espera meses para
receberem o RSI devido aos atrasos da Administração. O RSI é a única coisa que têm para fazer face a despesas
que não podem ficar à espera meses, porque estamos a falar de dinheiro para sobreviver.
E a renovação automática — e com isto termino, Srs. Deputados — não é laxismo nem regabofe,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É, é!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … nada mais falso. A renovação automática melhora o combate à fraude,
porque os rendimentos são verificados oficiosamente, assegura a continuidade dos rendimentos, e, sobretudo,
permite que as pessoas sem-abrigo tenham acesso ao RSI.
Sr.as e Srs. Deputados, andei pelas ruas da cidade do Porto, de onde sou, pelas mesmas ruas em que andou
o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ouvi o mesmo que o Presidente ouviu.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Vá aos bairros e vê lá muita coisa!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — O Sr. Presidente disse publicamente que as pessoas sem-abrigo não têm
uma casa onde receber as cartas da segurança social para irem anualmente renovar o pedido da prestação.
Srs. Deputados, as pessoas sem-abrigo precisam da renovação automática para terem acesso às poucas
migalhas que lhes permite sobreviver.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
Por isso, Srs. Deputados, é lamentável…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Termino já, Sr. Presidente.
Como eu estava a dizer, é lamentável que os Deputados do PSD e do CDS queiram agora retirar essas
poucas migalhas às pessoas sem-abrigo e na audição que aqui fizemos com essas pessoas tenham mostrado
muita preocupação e quando o Presidente da República fala também mostram preocupação.
Sr.as e Srs. Deputados, ganhem vergonha! Ganhem vergonha!
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PCP,
tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.
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A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sobre o debate que está a ser feito, importa
começar por lembrar as palavras de um antigo Ministro do CDS que fez parte do Governo do PSD e do CDS e
que, sobre o rendimento social de inserção, afirmou que este era um financiamento «à preguiça» e que os seus
beneficiários era gente que, pura e simplesmente, não queria trabalhar e que queria viver à custa do contribuinte.
Isto, Srs. Deputados, diz muito! Diz muito sobre a insensibilidade social e diz muito sobre os preconceitos
existentes.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Importa lembrar isto, porque assim sabemos muito bem ao que vêm o PSD
e o CDS quando querem fazer esta discussão: vêm levantar e acentuar preconceitos.
Aplausos do PCP.
Mas também vêm falar de facilitismos e de laxismos. Pois falemos então, Srs. Deputados, de facilitismos e
de laxismos.
Para os mais carenciados, para aqueles que são obrigados a recorrer a prestações sociais desta natureza,
não há facilitismos, Srs. Deputados. Não há facilitismos na vida do dia a dia marcada pela pobreza, marcada
por profundas dificuldades, limitações e impedimentos no acesso a serviços e a bens fundamentais. Não há
facilitismos quando têm de expor a sua vida e a vida dos seus familiares para acederem a prestações sociais.
Mas, Srs. Deputados, continuemos, então, a falar de facilitismos. Facilitismos foram dados à banca e aos
grupos económicos.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Facilitismo foi a rapidez com que se abriram os cordões à bolsa para entregar
milhões e milhões e para conceder benefícios obscenos à banca e aos grandes grupos económicos, ao mesmo
que empobreciam portugueses, que criavam autênticos infernos burocráticos no acesso às prestações sociais,
que cortavam no valor e na abrangência das prestações sociais, incluindo o RSI, e que desprotegiam milhares
de famílias e milhares de crianças.
A Sr.ª Ana Virgínia Pereira (PCP): — Crianças!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — E se existem situações de irregularidade, Srs. Deputados, que se
identifiquem, que se fiscalize, que se combatam e se corrijam, mas não se utilizem essas situações para
estigmatizar, para semear desconfianças ou para semear o preconceito.
Aplausos do PCP e do Deputado do BE José Moura Soeiro.
Combatam-se essas situações, Srs. Deputados! Combatam-se com os meios humanos e com os meios
materiais adequados.
A este propósito, importa também lembrar a ação do PSD e do CDS no que se refere aos trabalhadores da
Administração Pública, designadamente, na segurança social, em que queriam mandar para a rua 700
trabalhadores do Instituto da Segurança Social,…
Vozes do PCP: — Exatamente! Bem lembrado!
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — … colocando em causa o serviço da segurança social e o acompanhamento
ao RSI.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: De facto, entendemos que o Estado deve assumir as suas responsabilidades
na garantia de apoios sociais às famílias em situação de pobreza e em situação de exclusão social.
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Desde 1993 que o PCP afirma que a existência de um apoio à subsistência deve ser conjugada com medidas
multidisciplinares com vista à inserção social dos seus beneficiários.
Este é o caminho que defendemos, devendo ser acompanhado pela criação de emprego com direitos, da
valorização dos salários, das reformas e das pensões, um caminho que seja efetivamente de justiça e de
progresso social.
Aplausos do PCP e do Deputado do BE José Moura Soeiro.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra o Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, do Partido
Socialista, para uma intervenção.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Estas apreciações
parlamentares do PSD e do CDS sobre o RSI é, na verdade, uma boa apreciação sobre o triste estado da direita
portuguesa.
Sr.as e Srs. Deputados, os pobres não são criminosos!
Os termos que utilizam neste tema fariam corar de vergonha os democratas-cristãos e os social-democratas
se eles ainda se sentassem em alguma dessas cadeiras.
Protestos do PSD.
De laxismo à preguiça, vale tudo, lançando uma condenação moral sobre todos aqueles que estão no fim da
linha, na pobreza mais extrema, e que encontram no RSI uma última rede de segurança.
Aplausos do PS e do Deputado do BE José Moura Soeiro.
Protestos do PSD.
Sabemos bem o que querem fazer. Nada disto tem a ver com combate à fraude — que o PS sempre previu
e que assegura — nem com a realidade dessa fraude, que é completamente marginal na estrutura de apoios do
Estado.
O que os senhores querem é fazer dos pobres o bode expiatório do vosso radicalismo, estimulando inveja
social e sentimentos primários que em toda a Europa são próprios de forças políticas populistas e demagógicas.
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
A direita nunca aceitou esta nova geração de políticas sociais e procurou sempre diminuir a sua importância
histórica. Lembramo-nos bem quando o PP de Paulo Portas lhe chamava de subsídio à preguiça e fez desse
combate uma das causas mais tristes da direita portuguesa, ignorando que preguiçosa é, isso sim, uma
sociedade com níveis intoleráveis de desigualdades e de pobreza, muita dela causada pelas vossas políticas.
Aplausos do PS.
Com as alterações introduzidas pela nossa legislação que querem aqui apreciar, ocorreu uma uniformização
da condição de recursos, aplicada a todas — repito, a todas — as prestações sociais de combate à pobreza.
Esta uniformização já tinha sido feita em 2010, mas em 2012 e em 2013, para além dos cortes que os senhores
fizeram, criaram uma condição de acesso única ao RSI. Foi isso que nós eliminámos, reforçando os mecanismos
de controlo ainda mais eficazes, incluindo, obviamente, o fim da renovação automática, com simples
apresentação de requerimento.
Os senhores sabem tudo isto, e por isso esta vossa apreciação não tem nada a ver com essa legislação nem
com o combate à fraude, mas tem a ver com a vossa guerra ideológica contra o Estado, com a vossa guerra
ideológica contra o Estado social e contra os seus mecanismos de combate à pobreza. Os pobres não podem
ser os vossos bodes expiatórios!
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Aplausos do PS e de Deputados do BE.
Durante a vossa governação, a pobreza aumentou em todos escalões, em especial entre os jovens. Enquanto
isso acontecia, os senhores cortavam os apoios a quem deles mais precisava.
Só entre junho de 2012 e janeiro de 2014, passou a haver menos 110 000 pessoas a receber o RSI, incluindo
milhares de reformados e 59 000 crianças e jovens com menos de 18 anos. Falamos dos mais desprotegidos
entre os mais desprotegidos: crianças e idosos a quem o PSD e o CDS chamam «laxistas» e «preguiçosos» por
serem pobres, por terem trabalhado uma vida e não terem um mínimo de sobrevivência ou por terem nascido
numa família que necessita do Estado para pôr comida na mesa dos filhos!
Srs. Deputados, tenham vergonha!
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Cada uma dessas pessoas que não saíram do abismo da pobreza por causa das vossas políticas é uma
vergonha que vos acompanha neste debate. Mas cada português que já saiu da pobreza e da pobreza infantil
com as nossas políticas é um orgulho que nos honra neste debate.
É assim que continuaremos,…
Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.
… longe do vosso radicalismo, com o apoio do País, em nome de uma sociedade menos desigual e por isso
mais livre,…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — … uma sociedade em que ninguém é deixado para trás, nem será
jamais condenado à inevitabilidade da pobreza.
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-
PP, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O que está aqui em causa não é o
rendimento social de inserção mas, sim, as alterações.
Srs. Deputados, com estas alterações, os senhores permitem que alguém receba o rendimento social de
inserção sem procurar trabalho e sem matricular os filhos na escola. Tenham vergonha disso!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — São crianças!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Tenham vergonha de promover o trabalho infantil!
Protestos do PS, do BE e do PCP e contraprotestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agradecia que deixassem o Sr. Deputado Nuno Magalhães fazer
a sua intervenção. Apelo aos Srs. Deputados para esse efeito.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — São crianças!
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O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Deputado, pode berrar o que quiser!
O que está em causa é o laxismo social, o que está em causa é a irresponsabilidade que o Sr. Deputado
comete ao permitir que alguém receba o rendimento social de inserção…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … e não tenha de inscrever os filhos na escola, que alguém receba o
rendimento social de inserção e que não tenha de provar a sua carência,…
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — É falso!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — … que alguém receba o rendimento social de inserção e que não tenha
de procurar trabalho.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — É falso!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Isso é um insulto aos trabalhadores que o Sr. Deputado gosta de dizer
que defende. É uma vergonha para si, para o PCP e para o PS!
Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para encerrar o debate deste ponto da ordem do dia, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Maria das Mercês Soares.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A primeira
avaliação que posso fazer deste debate é a de que ele não foi digno…
Aplausos do Deputado do BE José Moura Soeiro.
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Isso é verdade!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — … para com as pessoas que recebem esta prestação.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — E não foi digno por parte dos Srs. Deputados do Partido Socialista
e do Bloco de Esquerda. Sabem porquê?
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Do Bloco de Esquerda?! Então, não é do CDS?!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Os senhores falam em demagogia, insultam, dizem que não sou
uma digna social-democrata. Meus Senhores, quem está, provavelmente, mal sentado nessa bancada é o Sr.
Deputado.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — A senhora é que está mal sentada nessa bancada!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sobre esta prestação, aquilo que estamos a fazer é a defender
que as pessoas construam as suas vidas, a protegê-las dessa estigmatização e dessa falsa demagogia, porque,
Sr. Deputado José Moura Soeiro,…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
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A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — … considera que é bom para a sua consciência atribuir poucas
migalhas às pessoas? Nós não consideramos!
Os sociais-democratas querem que essas poucas migalhas não sejam o que as pessoas merecem. As
pessoas merecem muito mais:…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — … merecem construir a sua vida, merecem os apoios para serem
pessoas novamente dignas. Os senhores querem a pobreza! É o que os senhores querem!
Vozes do PS e do BE: — Ah!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Por isso, deixam os desempregados de longa duração…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sr. Presidente, com o devido respeito, direi que é preciso os Srs.
Deputados terem respeito por aquilo que dizem neste Parlamento! Se há demagogia, é nessas bancadas, não
é nesta!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Antes de passarmos ao próximo ponto da ordem de trabalhos, a
Mesa deseja informar que deram entrada propostas de alteração do PSD e do CDS-PP, as quais, juntamente
com o Decreto-Lei n.º 90/2017, baixaram à 10.ª Comissão.
Entretanto, peço ao Sr. Secretário Pedro Alves o favor de anunciar iniciativas que deram entrada na Mesa.
O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente, deram entrada na Mesa, e foram admitidos, os projetos
de lei n.os 635/XIII (3.ª) — Cria a ordem dos fisioterapeutas (PS) e 636/XIII (3.ª) — Cria a ordem dos técnicos de
saúde e aprova o seu estatuto (PS) e, por último, o projeto de resolução n.º 1079/XIII (3.ª) — Promoção e
valorização da cestaria de Gonçalo, no distrito da Guarda (PS).
É tudo, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Muito obrigado, Sr. Secretário.
Vamos regressar ao ponto 4 da ordem do dia, que consta da apreciação do Decreto-Lei n.º 66/2017, de 12
de junho, que estabelece o Regime Jurídico de Reconhecimento das Entidades de Gestão Florestal [apreciação
parlamentar n.º 39/XIII (2.ª) (BE)].
Srs. Deputados, já estão presentes membros do Governo, pelo que dou a palavra, para uma intervenção, ao
Sr. Deputado Carlos Matias, do Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo:
O espaço rural tem estado sujeito a transformações — por vezes, drásticas —, verificando-se uma acentuada
mudança do tradicional mosaico agro-silvo-pastoril no sentido de povoamentos mono específicos contínuos,
constituídos por espécies de elevada inflamabilidade, essencialmente eucalipto e pinheiro bravo.
As vagas de incêndios que têm assolado o País — e já hoje falámos de incêndios — com fogos de dimensão
crescente em área e tempo levaram a uma resposta concentrada no combate direto aos fogos florestais, em
detrimento da prevenção, do ordenamento e da gestão da floresta.
De acordo com os princípios da política florestal definida nos termos da Lei de Bases da Política Florestal,
impõe-se responder a necessidades urgentes de ordenamento e gestão da floresta, bem como de prevenção
contra os fogos florestais.
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As transformações nos territórios rurais e a fragilidade das políticas florestais desenvolvidas até agora
justificam a necessidade urgente de abrir um novo caminho na organização do espaço florestal e rural, na gestão
do imenso minifúndio florestal e na prevenção estrutural à eclosão e propagação de incêndios.
Neste contexto, o Governo instituiu o Decreto-Lei n.º 66/2017, que estabelece o Regime Jurídico de
Reconhecimento das Entidades de Gestão Florestal, as chamadas EGF.
Segundo o texto legislativo que agora apreciamos, as EGF podem adotar várias formas, como empresas por
quotas ou sociedades anónimas. Portanto, as formulações societárias aceites permitem colocar capital industrial
e financeiro a gerir as pequenas propriedades.
Desta forma, os interesses dos pequenos proprietários ficarão reféns de quem, obviamente, tem interesses
contraditórios com os seus. Pior ainda, estas empresas, que até podem ter capital inteiramente exterior à
floresta, fomentam a concentração da propriedade nas mãos de uns poucos beneficiários, nomeadamente
empresas de celulose e madeireiros, que facilmente poderão desdobrar-se e apresentar-se como EGF.
Apesar disto, as EGF poderão até ser beneficiadas com condições especiais quando se candidatarem a
apoios financeiros, além do direito a isenções e reduções nos impostos e nas taxas a pagar pelos registos.
Por outro lado, as EGF não contribuem para o ordenamento florestal, pois o património gerido poderá ser em
forma de parcelas dispersas por todo o País. Esta dispersão, que se manterá, nunca vai permitir uma exploração
mais racional, mais rentável e ambientalmente mais sustentável.
É esta omissão grave que queremos suprir, com as propostas que apresentámos, e foram distribuídas, no
âmbito desta apreciação parlamentar.
O Bloco de Esquerda propõe que se institua a possibilidade de criação de unidades de gestão florestal, as
UGF, pessoas coletivas, mas, neste caso, constituídas pelos próprios proprietários, sublinho, constituídas pelos
próprios proprietários, nos termos do Código Cooperativo, ou associação gestora de prédios rústicos contínuos,
sublinho, contínuos, de área não superior a 50 ha cada, com uma área territorial mínima de 100 ha e máxima
de 5000 ha.
Com os pequenos proprietários a gerirem coletivamente áreas com dimensão suficiente para serem rentáveis
e onde estão englobadas as suas próprias parcelas, será, seguramente, muito difícil que os mesmos possam
ser alvo de qualquer esbulho, seja por falência económica, seja por qualquer outra via.
Só com as propriedades agregadas num único plano florestal será possível ordená-las, diversificar o mosaico
florestal e, já agora, criar a base objetiva que permita concretizar as muitas e boas medidas legislativas que
nunca saíram do papel.
Para terminar, Sr.as e Srs. Deputados, propomos, portanto, que o Decreto-Lei n.º 66/2017 acolha a criação
de UGF e preveja para elas robustos apoios públicos, uma aposta determinada no futuro da floresta, apoiada
no envolvimento de milhares de proprietários rurais e das suas famílias e também das associações de
produtores, sem os quais nada de substancial mudará nos espaços rurais.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Mesmo para terminar, Sr.as e Srs. Deputados, atrevo-me a dizer que sem UGF
não haverá nenhuma reforma florestal a sério. Está agora nas vossas mãos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PSD,
tem a palavra o Sr. Deputado Maurício Marques.
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Rural, Srs. Secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e das Florestas e do Desenvolvimento Rural,
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A apreciação parlamentar que hoje se discute permite, mais uma vez, trazer
a debate um tema de vital importância para o desenvolvimento socioeconómico do País.
Lamentavelmente, ficamos a saber que a floresta está entregue ao Bloco de Esquerda. Se dúvidas houvesse,
ficaram esclarecidas com o episódio que há pouco teve lugar.
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O Sr. José Cesário (PSD): — Muito bem!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Foi o Bloco de Esquerda o porta-voz do Governo na justificação a esta
falta de consideração pela Assembleia da República.
O Sr. José Cesário (PSD): — Muito bem!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Mas esta apreciação parlamentar permite também demonstrar,
claramente, a forma atabalhoada e apressada que o Governo e a maioria que o suporta encontraram para
justificar a incompetência no combate aos incêndios de 2017 e de 2016.
Tivemos oportunidade de referir que uma reforma da floresta não se faz de madrugada, nem a correr, muito
menos contra os agentes do setor.
Uma reforma séria faz-se envolvendo todos, principalmente aqueles que junto dela residem, nela trabalham
e dela vivem.
Foi exatamente isto que não aconteceu, o que leva, agora, um grupo parlamentar que apoia o Governo a
pedir a apreciação parlamentar de um Decreto-Lei recentemente publicado.
A aprovação desta apreciação parlamentar é o reconhecimento de que a forma apressada como o tema foi
tratado não tem coerência nem estratégia para um correto ordenamento florestal.
Entendemos desadequado criar uma entidade de gestão florestal com parcelas sem continuidade territorial,
dispersas pelo território nacional. Reconhecemos agora, como no passado, que podemos e devemos potenciar
a dimensão da propriedade a gerir, de forma a facilitar e a promover um verdadeiro ordenamento florestal.
Para nós, é essencial a produtividade e a rentabilidade da floresta, pois só com rentabilidade se consegue
atingir os objetivos que todos ambicionamos. Mas não podemos, nem devemos, culpar a floresta pelos
acontecimentos que todos lamentamos.
Conhecemos bem os argumentos da esquerda parlamentar, aquela esquerda que hoje tem responsabilidade
governativa: PS, PSP ou, melhor, PCP e Bloco de Esquerda.
O Sr. João Ramos (PCP): — Também a GNR, o SEF…!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Os argumentos que apresentam não têm qualquer fundamento, pois bem
sabemos que os povoamentos que estiveram na origem dos recentes incêndios têm mais de uma década e,
nalguns casos, muitas décadas.
Ao Bloco de Esquerda recordo aquilo que dizia em circunstâncias muito menos gravosas do que as de hoje.
Cito: «Sabemos que as condições meteorológicas constituem uma variável importante no número de ocorrências
de fogos florestais, mas não é legítimo responsabilizar apenas as condições meteorológicas, como o Governo
está a tentar fazer. A incompetência do Governo não pode encontrar justificação na meteorologia.»
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Termino já, Sr. Presidente.
Acrescento: não pode o Governo e os partidos que o apoiam, os partidos da esquerda parlamentar,
responsabilizar a floresta e os seus proprietários pelos acontecimentos que todos lamentamos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
João Ramos, do PCP.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e
Desenvolvimento Rural e Srs. Secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e das Florestas e do
Desenvolvimento Rural: Uma correta gestão da floresta é fundamental para reduzir a tragédia dos incêndios
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florestais. É fundamental que a floresta dê o contributo que pode dar para o desenvolvimento rural de que o País
tanto carece.
O Grupo Parlamentar do PCP tem vindo a afirmar que a melhor forma de estimular uma adequada gestão
da floresta é através de um justo pagamento da sua principal produção: a madeira. Esta tem sido a insistência
do PCP — muitas vezes, sozinho —, que, aliás, apresentou o projeto de resolução n.º 993/XIII, na passada
sessão legislativa, intitulado «Propõe soluções para os problemas da produção lenhosa».
A valorização e o pagamento justo da madeira são a primeira e principal medida para o estímulo a uma
adequada gestão. Por isso, o PCP não acompanha, e não tem acompanhado, medidas de estímulo à gestão
apenas assentes nas receitas e na abdicação de receitas do Estado. Estão nesta situação as medidas que
passam pela atribuição de benefícios fiscais como forma, muitas vezes única, de estímulo à floresta.
Foi neste contexto e com esta preocupação que o Grupo Parlamentar do PCP apresentou propostas de
eliminação dos artigos 5.º e 9.º do Decreto-Lei em apreciação, procurando, no processo de especialidade,
intervir para que o dito Decreto-Lei seja um estímulo efetivo à gestão florestal, mas de uma forma adequada e
justa.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Francisco
Rocha, do Partido Socialista.
O Sr. Francisco Rocha (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados: As áreas florestais constituem um importante recurso endógeno, cuja gestão eficiente pode constituir
uma alavanca para o desenvolvimento económico nacional. Por isso, a floresta em Portugal deve requerer de
todos nós uma visão de longo prazo e uma perspetiva integradora, em termos económicos, sociais e ambientais,
que permitam ultrapassar os problemas estruturais que estão identificados.
O debate parlamentar deve refletir essa visão global, mais condizente com a natureza e a dimensão do
problema. Não é essa a visão que o PSD trouxe, mais uma vez, a esta Câmara.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Muito bem!
O Sr. Francisco Rocha (PS): — Daí que esta iniciativa do Bloco de Esquerda deva ser enquadrada e
entendida dentro dessa lógica: melhorar o que pode ser melhorado, acrescentando soluções, modelos e formas
alternativas de gestão conjunta dos espaços florestais, sem violar o espírito e a coerência do Decreto-Lei já em
vigor.
Mais uma vez, neste debate, o PSD não resolveu esse problema de falta de comparência e de leitura desses
problemas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ordenamento, gestão e escala continuam a ser palavras-chave neste
processo. A opção racional e ativa pelo abandono da exploração é quase sempre assumida quando esse valor
económico é diminuto e não permite uma remuneração suficiente pelas atividades de gestão florestal.
Contudo, um aumento de produtividade só pode ser conseguido mediante uma gestão silvícola ativa e, todos
sabemos, a gestão premente de uma gestão ativa esbarra na questão fundiária.
De igual modo, a sustentabilidade económica das explorações exige o acesso a unidades da exploração com
dimensão adaptada a cada contexto territorial, que, como se sabe, é um obstáculo importantíssimo no contexto
nacional, sabendo que a propriedade privada se encontra extremamente fragmentada, sobretudo a norte do
Tejo.
Na ausência de viabilidade económica da exploração, prevalece o incentivo ao abandono do cultivo. Por isso,
o essencial para que a floresta seja aquilo que pode ser e desejamos que seja é a criação de valor económico
e a sua capacidade de remunerar a respetiva gestão.
Sabemos, no entanto, que o contexto de investimento neste setor revela risco acrescido, prazos de retorno
dilatados e rentabilidades incertas. Daí que, perante esta iniciativa do Bloco de Esquerda, reafirmemos a nossa
disponibilidade para, na discussão na especialidade, encontrarmos formas cada vez mais eficazes de fazer
reunir uma propriedade privada excessivamente fragmentada, mas também de atacar o problema das terras
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sem dono conhecido, criando incentivos quer ao associativismo, quer à gestão societária e agrupada, que
permitam dar também resposta às recomendações da Comissão Técnica Independente, na parte relativa ao
ordenamento e gestão da nossa floresta, página 163 do Relatório, cuja leitura atenta recomendo, principalmente
aos aficionados da liberalização da plantação do eucalipto.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Francisco Rocha (PS): — Todos estamos conscientes de que a inversão do abandono do território e
a revitalização da economia rural deverá assentar em políticas transversais e de longo prazo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Patrícia Fonseca, do CDS.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e
Desenvolvimento Rural, Srs. Secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares e das Florestas e do
Desenvolvimento Rural: O CDS criticou, desde cedo, a forma como esta reforma florestal foi feita e teceu várias
críticas, em particular, relativamente à proposta do Governo que deu origem a este Decreto-Lei.
Neste sentido, apreciamos a oportunidade que o Bloco de Esquerda traz de voltarmos a discutir este tema
em sede de especialidade. Contudo, não concordamos, de todo, com grande parte das propostas que o Bloco
de Esquerda tem para as suas unidades de gestão florestal.
Quero frisar que concordamos com dois pontos essenciais desta apreciação parlamentar: primeiro, o facto
de o diploma deixar de fora a possibilidade de as associações florestais se constituírem como entidade de gestão
florestal — que, aliás, criticámos desde sempre —, porque ignora e desvaloriza o trabalho de décadas do
movimento associativo florestal e contraria, também, a própria exposição de motivos do Decreto-Lei, que refere
que se pretendem criar estímulos para que as entidades de gestão das ZIF (zonas de intervenção florestal)
possam evoluir para entidades de gestão florestal.
Segundo, entendemos também que o facto de o diploma não obrigar a que as áreas sob gestão sejam
contíguas ou, pelo menos, contínuas, não permite atingir os objetivos de incentivar a gestão conjunta, tão
essencial para um melhor ordenamento da floresta e sua rentabilidade.
Dou um exemplo: não faz sentido nenhum uma entidade de gestão florestal ter 20 ha de pequena propriedade
em Viseu, outros 20 ha em Mirandela, outros 10 ha em Leiria, e depois vai ter 50 ha completos em Évora e
constituir-se como entidade de gestão florestal. Em que é que isto contribui para o bom ordenamento da floresta?
Não faz sentido, Sr. Ministro!
Quanto a outro tipo de argumentos aqui citados, como a certificação florestal, entendemos que ela é um
caminho porque é o garante de uma floresta bem gerida e de uma melhor valorização da madeira.
Quanto à participação de fundos financeiros ou de grandes proprietários ou de empresas do setor, também
não temos preconceitos, porque entendemos que são bons exemplos de gestão florestal.
Em suma, entendemos que esta será uma oportunidade de melhorar o diploma do Governo. Esperamos que
por parte dos partidos de esquerda haja recetividade para avaliar com seriedade e isenção os contributos que
sejam dados e não apenas os seus, assim como da parte do Governo.
Aproveito para dizer que aguardamos com expetativa a discussão da proposta de lei, do Governo, sobre o
Estatuto dos Benefícios Fiscais, tão importante e complementar a este diploma, que foi adiado potestativamente
pelo Bloco de Esquerda e à qual o CDS já apresentou propostas de alteração.
Sr. Ministro, relembramos que, se este debate não for feito antes da discussão do Orçamento do Estado para
2018, estamos a «empurrar com a barriga», para 2019, os benefícios fiscais à floresta.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Governo, tem a palavra o
Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
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O Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (Luís Capoulas Santos): — Sr.
Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, quero deixar uma palavra de saudação ao Bloco de Esquerda
por ter decidido apreciar este Decreto-Lei, do Governo, que já está em execução, mas estou certo de que o fez
no sentido de o melhorar e de nele incorporar contributos positivos.
Pelo que conheço das propostas, direi que da parte do Governo não vislumbro, ainda que essa venha a ser
uma competência do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, qualquer problema quanto à sua aprovação.
Assim como espero que as propostas que a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca acabou de nos transmitir oralmente
possam ter uma expressão formal, porque me parece que também contêm contributos positivos.
Ora, tal demonstra, cada vez mais, que a reforma da floresta vai alargando o seu espaço consensual — aliás,
reforçado ontem no Relatório da Comissão Técnica Independente, que preconiza, relativamente às questões da
gestão e do ordenamento florestal, as soluções que o Governo já adotou no contexto daquilo que
convencionámos designar «o início da reforma da floresta».
Lamento que o Sr. Deputado Maurício Marques e o seu partido continuem enquistados numa posição de
obstrução e não numa posição construtiva, porque a única crítica que lhe ouvi fazer foi a de que o Governo teve
muita pressa — no entanto, demorou um ano — em construir a reforma. Ora, se o Sr. Deputado considera um
ano um tempo escasso, fico agora a compreender por que é que nos quatro anos anteriores do seu Governo
nada foi feito nesta matéria.
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
Portanto, estamos no bom caminho. As propostas que foram aqui apresentadas são contributos positivos
que o Governo acolherá com o espírito que tem demonstrado desde o início, que é fazer deste um tema de
grande consenso nacional, porque a sociedade portuguesa assim o exige de nós.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, anuncio que foram apresentadas pelos Grupos
Parlamentares do Bloco de Esquerda e do PCP propostas de alteração, as quais juntamente com o Decreto-Lei
n.º 66/2017, baixaram à 7.ª Comissão.
Srs. Deputados, excluindo as votações regimentais, passamos ao sexto e último ponto da nossa ordem de
trabalhos, com a apreciação dos projetos de resolução n.os 1056/XIII (3.ª) — Aumento do salário mínimo nacional
(PCP), 1072/XIII (3.ª) — Salário mínimo nacional (Os Verdes) e 1073/XIII (3.ª) — Pelo aumento do salário mínimo
nacional (PAN).
Para iniciar o debate e apresentar o projeto de resolução do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em Portugal, viver com o salário mínimo nacional
é um teste permanente à sobrevivência. Não é novidade para ninguém que os baixos salários, em particular o
valor do salário mínimo nacional, não vencem a causa estrutural de pobreza entre quem trabalha. Quase um
terço das pessoas em situação de pobreza são trabalhadores que auferem salários que não chegam para
responder às despesas básicas.
Em março de 2017, eram cerca de 730 000 os trabalhadores que recebiam o salário mínimo nacional, sendo
que a percentagem de mulheres com o salário mínimo é muito superior à dos homens: 28,9% para 18,5%.
O salário mínimo nacional é uma conquista da Revolução de Abril e à data representou uma melhoria muito
expressiva nas condições de vida dos trabalhadores, mas, ao longo das décadas, tem sido profundamente
desvalorizado com atualizações abaixo do aumento dos rendimentos médios e do Índice de preços no
consumidor. Entre 2011 e 2014, esteve congelado.
Os trabalhadores que auferem o salário mínimo nacional sobrevivem mensalmente com 495 € líquidos e 557
€ ilíquidos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E convém recordar que, se tivesse sido atualizado, considerando a inflação e o
aumento da produtividade, hoje o salário mínimo nacional ultrapassaria os 1000 €.
Independentemente da atualização já prevista, inseparável da luta dos trabalhadores, o valor é claramente
insuficiente, não permite a recuperação do poder de compra e o combate à pobreza.
Portugal mantém um dos mais baixos salários mínimos nacionais da Europa, mesmo tendo em conta a
retribuição a 14 meses, e corre o risco de se atrasar ainda mais, nomeadamente em relação a Espanha.
Sr. Presidente, Sr. Deputados: A evolução da distribuição da riqueza no nosso País traduz uma escandalosa
concentração da riqueza: 1% da população detém 25% da riqueza e 5% da população acumula cerca de 50%
da riqueza nacional.
É precisamente para garantir uma mais justa distribuição da riqueza, combater a pobreza e dinamizar a
economia que o aumento para 600 € do salário mínimo nacional é tão importante. E não vale a pena falar do
estafado argumento dos custos para as empresas e contrapartidas para o patronato.
As remunerações têm um peso de apenas 18% na estrutura de custos das empresas, muito inferior a outros
custos com energia, combustíveis, telecomunicações, crédito ou seguros.
O desenvolvimento do País exige o aumento real dos salários, o combate à precariedade e à desregulação
dos horários de trabalho e o fim da caducidade da contratação coletiva.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A realidade desmontou discursos proféticos sobre os impactos catastróficos
decorrentes do aumento do salário mínimo que anunciavam eventuais encerramentos de centenas de empresas
e milhares de despedimentos.
Independentemente de acordos sobre aumentos faseados até 2019, não há uma razão que justifique a
manutenção do salário mínimo nacional abaixo dos 600 € já em janeiro de 2018. Por isso mesmo, o PCP defende
um aumento extraordinário do salário mínimo nacional para 600 €, em janeiro de 2018.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar de Os
Verdes, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Em março deste
ano, a Organização Internacional do Trabalho apresentou um relatório que analisou os dados de 133 países
entre 1995 e 2014, onde concluía, entre outros pontos, que Portugal é um dos países mais desiguais,
nomeadamente nos valores salariais, com consequências muito negativas tanto do ponto de vista social, como
do ponto de vista económico.
O mesmo relatório refere que, para se inverter a situação global, de queda entre o valor real do salário no
rendimento nacional de cada país, é necessário que haja o reforço da regulação do mercado de trabalho, através
do reforço da contratação coletiva e do aumento do salário mínimo.
Recordamos que, em 2016, mais de 650 000 trabalhadores ganhavam o salário mínimo nacional, tornando
Portugal num dos Países de toda a União Europeia com maior desigualdade salarial e onde se verifica uma
maior percentagem de trabalhadores pobres ou em risco de pobreza.
Como sabemos, o salário mínimo esteve congelado entre 2011 e 2014. Ou seja, nesta matéria, o Governo
PSD/CDS, ao contrário do que estava estabelecido, passou quatro anos sem proceder a qualquer atualização
do salário mínimo nacional — quatro anos sem qualquer atualização.
Na verdade, só no final de 2014 é que o Governo anterior procedeu a um ligeiro aumento do salário mínimo
e, ainda assim, acabou por servir de moeda de troca para que os patrões passassem a pagar menos taxa social
única.
Ou seja, quatro anos depois de tomar posse, o Governo PSD/CDS procedeu a um ligeiro aumento em outubro
de 2014, chegando a um valor que deveria ter sido implementado a 1 de janeiro de 2011. Contas feitas, ficámos
quatro anos atrasados.
Já por proposta do atual Governo, o valor do salário mínimo foi aumentado duas vezes, para 530 €, em 2016,
e 557 € em 2017. Ainda assim, o salário mínimo nacional continua muito baixo — aliás, basta constatar que o
salário mínimo vale hoje menos do que aquilo que valia em 1974.
Em termos reais, o salário mínimo nacional vale, atualmente, menos 10% do que aquilo que valia há 40 anos.
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É, portanto, um valor baixíssimo, e é baixo, a todos os níveis: é baixo quando comparado com o valor do
salário mínimo dos restantes países da União Europeia; é baixo, quando fazemos uma leitura das desigualdades
sociais no nosso País; e é baixo, a roçar até a insustentabilidade, quando olhamos para o custo de vida dos
portugueses.
De facto, a situação é desesperante para a generalidade das famílias portuguesas face ao nível do custo de
vida e do poder de compra com que vivem.
E não é necessário fazer grandes contas para se concluir que 557 € ilíquidos para um salário ainda que
mínimo é um valor demasiado baixo para que estejam asseguradas as necessidades básicas de cada um e de
cada uma das famílias que vivem com o salário mínimo nacional.
Acresce que a valorização dos salários em geral e o do salário mínimo nacional, em particular, além de
constituir um fator decisivo para uma justa distribuição da riqueza e para a melhoria das condições de vida de
quem trabalha, constitui, ainda, um elemento decisivo para a recuperação económica, para a dinamização da
procura interna e para a criação de emprego, que continua a ser urgente assegurar.
Neste contexto, Os Verdes consideram que se torna absolutamente imperioso colocar o valor do salário
mínimo nacional nos 600 € já a partir do início do próximo ano para, no futuro, se proceder aos aumentos anuais
respetivos ou ordinários.
É com esta convicção e com este propósito que Os Verdes apresentam a sua iniciativa legislativa para que
o Governo tome as medidas necessárias com vista a assegurar que, em janeiro do próximo ano, o valor do
salário mínimo nacional se situe nos 600 € mensais.
Resta agora esperar que as restantes bancadas nos acompanhem nesta justíssima proposta e que não se
refugiem na concertação social para a inviabilizar, porque esta Assembleia tem toda a legitimidade para decidir
sobre esta matéria.
É este o sítio certo para esta decisão!
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva,
do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Dando cumprimento ao
compromisso assumido no nosso programa eleitoral para as últimas eleições legislativas, discutimos hoje um
projeto do PAN que visa o aumento do salário mínimo nacional para 600 € mensais, em janeiro de 2018.
Portugal é um dos países da Europa com um salário mínimo mais baixo, existindo vários países com salários
superiores a 1000 € mensais.
Em contrapartida, de acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico) referentes ao ano de 2013, Portugal só fica atrás da Grécia no ranking dos países que mais
trabalham na Europa, com quase 40 horas semanais, estando bem acima da média da União Europeia, que se
situa pouco acima das 37 horas. Dados da OCDE de 2016 revelam, ainda, que os trabalhadores portugueses
trabalham 1868 horas por ano, mais 102 horas que a média dos países da OCDE.
Assim, apesar de os trabalhadores portugueses serem dos que mais horas trabalham semanal e anualmente,
são também aqueles que auferem salários mais baixos, seja porque o salário mínimo nacional é dos mais baixos
da Europa, seja porque este acaba por condicionar o valor de todos os restantes salários, o que justifica que
tenha sido recentemente divulgado que Portugal é o país da União Europeia com um salário mínimo mais
próximo do salário médio.
Para o PAN é necessário conferir aos trabalhadores um pagamento justo pelo seu trabalho, aproximando o
salário mínimo português dos valores europeus.
Não podemos esquecer que o custo de vida em Portugal tem vindo a aumentar, devendo os salários auferidos
acompanhar essa evolução.
Para além disso, devemos sempre caminhar no sentido de melhorar as condições de trabalho existentes,
procurando ter trabalhadores mais felizes e motivados, sendo nosso entendimento que melhores vencimentos
contribuem para este facto, tendo também impactos significativos na dinamização das empresas e da economia
nacional.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Roque, do PSD.
O Sr. PedroRoque (PSD): — Ex.mo Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: O PCP, Os Verdes e
o PAN apresentam projetos de resolução sobre o mesmo tema — o aumento do salário mínimo nacional em
2018, dos atuais 557 € para os 600 €.
Aparentemente iguais, gostaríamos, ainda assim, de salvaguardar uma diferença muito importante: apesar
de dificilmente compaginável com o equilíbrio que deve revestir o diálogo social, já que impõe, a priori, o valor
de 600 €, o projeto de resolução do PAN demonstra, apesar de tudo, respeito pela concertação social ao
recomendar que o Governo, e cito, «negoceie com os parceiros sociais no sentido de proceder ao aumento do
salário mínimo nacional dos atuais 557 € para 600 € em janeiro de 2018».
Porém, do lado do PCP e do seu satélite parlamentar, nada de novo: os seus projetos de resolução revelam
o mesmo desrespeito pela concertação social, sempre demonstrado desde a criação deste órgão.
Para os comunistas de hoje, tal como para os bolchevistas de há 100 anos em Petrogrado, a luta de classes
é determinante e constitui o fundamento de toda uma teorização filosófica que está na base de um edifício
ideológico em torno do trabalho, mas que, paradoxalmente e na prática, não o defende. De resto, a própria
dinâmica histórica encarregou-se de preterir esta ideologia.
O Sr. JoséCesário (PSD): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Esse discurso é uma velharia histórica!
O Sr. PedroRoque (PSD): — Para nós, ao invés, a conciliação de interesses entre empresa e trabalho, já
que existe um interesse comum e não um antagonismo, é fundamental numa economia social de mercado. Ela
está na base do desenvolvimento económico e social.
Assim sendo, o PSD, ao aceitar convictamente o valor intrínseco da concertação social e ao entender que
as matérias referentes ao salário mínimo nacional e à sua atualização são constituintes do diálogo social
estruturado, entende que é a esse órgão, só a esse órgão e não mais do que a esse órgão, que compete, em
espírito negocial, encontrar o valor mais adequado, tendo em consideração a necessidade de reforço dos
rendimentos do trabalho, os interesses empresariais e a competitividade da economia.
O Sr. JoséCesário (PSD): — Muito bem!
O Sr. PedroRoque (PSD): — O pior serviço que este Parlamento ou o Governo poderão prestar à economia
portuguesa será o de decretarem uma atualização do salário mínimo nacional que não respeite a concertação
social e que não tenha em conta estes equilíbrios que são determinantes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. PedroRoque (PSD): — Terminarei, Sr. Presidente.
Assim sendo, em coerência com o exposto, votaremos contra as recomendações feitas ao Governo sobre
esta matéria.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Moura
Soeiro.
O Sr. JoséMouraSoeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: O aumento do salário
mínimo, já aqui foi dito, é uma questão central do ponto de vista da distribuição de riqueza, da dignificação do
trabalho e também do ponto de vista económico.
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O aumento do salário mínimo foi, por isso, para o Bloco de Esquerda, uma questão central desde o início
desta solução política. Não foi por acaso que o Bloco de Esquerda exigiu inscrever no acordo firmado com o
Partido Socialista em 2015 que o salário mínimo chegaria, pelo menos, aos 600 € nesta Legislatura e que em
cada ano aumentaria, pelo menos, 5%.
Esse acordo escrito com o Bloco de Esquerda revelou-se essencial para que, perante a pressão dos patrões
e o seu escândalo sobre o esvaziamento da concertação social e perante as investidas das instituições
europeias que se opuseram a este aumento, fosse impossível que o Governo recuasse nesse compromisso, e
o Bloco de Esquerda orgulha-se da força que fez sobre esta matéria.
O aumento do salário mínimo é essencial por várias razões que já aqui foram expostas, desde logo, como
disse, por uma questão de dignidade de quem trabalha.
A desvalorização do trabalho é incomportável do ponto de vista económico e social e o aumento do salário
mínimo é uma medida fundamental para combatermos um fenómeno que ofende o País, que é o fenómeno da
pobreza assalariada, de haver pessoas que trabalham e que, mesmo com o seu salário, vivem abaixo do limiar
da pobreza.
O aumento do salário mínimo é uma medida fundamental para combater as desigualdades gritantes que
existem na distribuição de rendimento e é também uma medida fundamental do ponto de vista do bom senso
económico.
O aumento do salário mínimo foi um elemento de recuperação de rendimentos que teve um papel económico
na dinamização da procura interna, que é essencial para as pequenas e médias empresas que dependem do
mercado interno. É por isso que o aumento do salário mínimo é um contributo para a criação de emprego em
Portugal.
Se, hoje, os patrões se retraem sobre esta matéria e se a direita faz um discurso mais redondo sobre o
assunto, mantendo, de resto, os seus princípios fundamentais, como a invocação da concertação social e a
oposição ao aumento do salário mínimo, como aqui hoje se confirmará, é por uma razão simples: as teorias da
direita e as teorias dos patrões foram clamorosamente desmentidas pela realidade.
O salário mínimo foi positivo do ponto de vista da criação de emprego, foi bom para o País porque foi bom
para as pessoas e porque foi bom para a economia.
O Sr. PedroFilipeSoares (BE): — Muito bem!
O Sr. JoséMouraSoeiro (BE): — É verdade que os valores atuais do salário mínimo, mesmo com estes
aumentos, são ainda demasiado baixos. É verdade que continua a ser um exercício quotidiano de sobrevivência
viver com o salário mínimo. É verdade que, comparado com os restantes países europeus, Portugal fica num
lugar que nos envergonha. É verdade também que não podemos aceitar que o salário mínimo se transforme
numa espécie de salário nacional. Para que isso não aconteça, precisamos de juntar ao aumento do salário
mínimo o relançamento da contratação coletiva e de avançar no combate à precariedade.
Aplausos do BE.
O emprego que tem sido criado nos últimos anos é maioritariamente precário e há uma percentagem
demasiado elevada de trabalhadores que auferem o salário mínimo.
Neste momento, reassumiu a presidência o Presidente, Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. JoséMouraSoeiro (BE): — É por isso que o Bloco de Esquerda fará do aumento do salário mínimo,
do combate à precariedade e da contratação coletiva eixos centrais da sua intervenção.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Carlos Monteiro.
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O Sr. AntónioCarlosMonteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: O CDS
sabe que o salário mínimo continua a ser importantíssimo para um número significativo de famílias portuguesas
e, desde o seu aumento, no ano passado, é-o para ainda mais famílias.
São essas famílias que nos preocupam. Aliás, o CDS considera, como sempre tem considerado, que a
fixação do valor do salário mínimo nacional é uma matéria que cabe, em primeiro lugar, à concertação social.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Foi assim em 2006, quando o Partido Socialista acordou, em concertação social, o aumento do salário
mínimo até 500 € em 2011, acordo esse que foi o PS que incumpriu quando congelou o salário mínimo. Aliás,
foi o Governo do PSD e do CDS que descongelou o salário mínimo e conseguiu fazê-lo em concertação social.
Relembro que este Governo é apoiado pelo PS, pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP e por Os Verdes e
também relembro que foi o Governo do PS que chegou a acordo para aumentar o salário mínimo também em
concertação social. Mas o que é que se sucedeu? O PS não garantiu o apoio parlamentar dos seus parceiros
em relação ao acordo a que havia chegado em concertação social.
O Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes inviabilizaram a contrapartida que foi negociada pelo Governo que
apoiam e essa contrapartida, como bem se lembram, era a baixa da TSU (taxa social única).
Portanto, apresentaram novamente projetos de resolução no sentido do aumento do salário mínimo e nós
interrogamo-nos: o que irá fazer o PS? Vai voltar a fazer o que fez no ano passado, sem garantir o apoio dos
seus parceiros parlamentares?
Importa lembrar por que é que o aumento do salário mínimo deve ser feito em concertação social: quem paga
os salários são as empresas, é a economia, não são nem os Srs. Deputados nem o Governo.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Quem o fixa é o Governo!
O Sr. AntónioCarlosMonteiro (CDS-PP): — Por isso, entendemos que é em concertação social que se
deve proceder a essa negociação do aumento do salário mínimo.
Não deixamos de reconhecer, no entanto, que há apenas um projeto de resolução que remete para a
concertação social.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sónia Fertuzinhos.
A Sr.ª SóniaFertuzinhos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Neste debate, deixo
três notas muito simples sobre o aumento do salário mínimo nacional.
A primeira nota é para referir que o Governo assumiu, no seu Programa, o compromisso de garantir, até
2019, o aumento do salário mínimo até aos 600 €. E foi com este intuito que o salário mínimo aumentou em
2016, aumentou em 2017 e será de novo aumentado em 2018 e em 2019 para atingirmos tal objetivo.
Aplausos do PS.
Por isso, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, os projetos de resolução que discutimos hoje traduzem, assim,
e em primeiro lugar, o objetivo comum de uma ampla maioria desta Assembleia de aumentar o salário mínimo
nacional até aos 600 €.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Muito bem!
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A Sr.ª SóniaFertuzinhos (PS): — A segunda nota é para dizer que defendermos o aumento do salário
mínimo em nome da dignidade que é devida a quem trabalha, em nome da diminuição da pobreza dos
trabalhadores e das suas famílias, em nome da defesa das pensões futuras e da sustentabilidade da segurança
social pública, é defendermos as dimensões mais importantes do aumento do salário mínimo até aos 600 €.
O Sr. TiagoBarbosaRibeiro (PS): — Muito bem!
A Sr.ª SóniaFertuzinhos (PS): — No entanto, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, importa salientar e repetir
todas as vezes que falamos da valorização do salário mínimo, defendida pelo Governo, pelo PS e pela atual
maioria parlamentar, que valorizar e aumentar significativamente o salário mínimo é o ponto central de toda uma
escolha política relativamente ao modelo de desenvolvimento económico e social do nosso País.
O Sr. TiagoBarbosaRibeiro (PS): — Muito bem!
A Sr.ª SóniaFertuzinhos (PS): — Uma escolha política de promover um modelo de desenvolvimento
económico e social do nosso País que assenta na valorização dos salários e rejeita em absoluto a
desvalorização salarial em nome de um qualquer aumento da competitividade.
Aplausos do PS.
Uma escolha política de promover um modelo de desenvolvimento económico e social do nosso País que
assenta na diminuição das desigualdades sociais e da pobreza e que rejeita em absoluto o empobrecimento do
País e das pessoas em nome da necessidade da consolidação orçamental.
Mas, acima de tudo, Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, uma escolha política de promover
um modelo de desenvolvimento económico e social do nosso País que já provou que é possível aumentar o
salário mínimo e, ao mesmo tempo, diminuir o desemprego e aumentar o emprego; provou que é possível
aumentar o salário mínimo, consolidar contas públicas e pôr a nossa economia a crescer; e provou que é
possível aumentar o salário mínimo e envolver os parceiros sociais na criação de condições sustentáveis para
esse aumento.
Porque, sim, Srs. Deputados António Carlos Monteiro e Pedro Roque, todos os aumentos do salário mínimo
que houve até hoje foram feitos com o acordo na concertação social.
Aplausos do PS.
Finalmente, a terceira nota é para dizer que este debate sobre o aumento do salário mínimo em todas as
suas dimensões é mais uma oportunidade para reafirmamos o que une esta maioria parlamentar desde o
primeiro dia: a vontade política e o sentido de responsabilidade do PS para construir, com a atual maioria
parlamentar, um País melhor, que faz da educação, do conhecimento, da inovação, da valorização dos salários,
da diminuição da pobreza e das desigualdades sociais a base da nossa economia e da sociedade decente que
não desistimos de ser.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª RitaRato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: É ao Governo e não à concertação social que
cabe fixar o salário mínimo nacional. Por isso, a proposta que aqui trazemos é essa.
Não há um único argumento para que, em janeiro de 2018, o salário mínimo nacional não seja fixado nos
600 €. Não há qualquer argumento de ordem económica e de ordem social que contrarie esta vontade.
Determina apenas isso a vontade política de consagrar o salário mínimo nacional, a partir de janeiro de 2018,
nos 600 €.
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Da parte do PCP, gostaríamos de recordar que sempre que foi para cortar e para retirar direitos foi na
Assembleia da República que se decidiu, com maiorias e com governos do PS, do PSD e do CDS.
Por que é que no momento em que estamos a discutir uma medida de combate à pobreza, de dinamização
da economia não poderá ser também a Assembleia da República a decidir sobre isso?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que entendemos que é determinante garantir o
salário mínimo nacional em 600 € a partir de janeiro de 2018.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Agora sim, chegámos ao fim deste debate.
Srs. Deputados, vamos passar ao período de votações regimentais.
Peço aos serviços para prepararem a inscrição eletrónica das Sr.as Deputadas e dos Srs. Deputados para
efeitos de verificação de quórum.
Pausa.
O quadro eletrónico regista 201 presenças, às quais se acrescentam as da Deputada Paula Santos, do PCP,
e do Deputado Álvaro Castello-Branco, do CDS-PP, perfazendo 203 Deputados, pelo que temos quórum para
proceder às votações.
Vamos começar pelo voto n.º 409/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Pedro Pereira Constantino
Romano, do CDS-PP e subscrito por Deputados do PSD e do PS, que vai ser lido pelo Sr. Secretário António
Carlos Monteiro.
O Sr. Secretário (António Carlos Monteiro): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte
teor:
«Faleceu no dia 5 de outubro, aos 31 anos, Pedro Pereira Constantino Romano. Natural de Braga, era
licenciado e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho.
Iniciou a sua carreira no jornalismo económico em 2008, passando pelo Diário Económico, pelo Jornal de
Negócios e, ultimamente, por O Jornal Económico. Criou e alimentava o blogue Desvio Colossal.
Foi assessor de economia e finanças do Grupo Parlamentar do CDS-PP e da Fundação Francisco Manuel
dos Santos e mantinha, atualmente, uma colaboração com o CDS-PP.
De uma inteligência marcante, Pedro Romano era reconhecidamente, e apesar da sua juventude, um dos
melhores comunicadores e um dos mais promissores analistas na área da economia e finanças.
A sua capacidade de comunicar e ensinar, a par de um refinado sentido de humor, marcaram todos quantos
com ele tiveram o privilégio de conviver. E para sempre ficarão connosco.
Como escreveu Manuel Esteves, no Jornal de Negócios, "o Pedro partiu e deixou-nos para trás. Mas ficará
para sempre no horizonte das nossas vidas".
Reunida em sessão plenária, a Assembleia da República apresenta as mais sentidas condolências à família,
aos amigos, colegas e a todos quantos com ele privaram.»
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos guardar 1 minuto de silêncio.
Aproveito para enviar as minhas condolências à família, que se encontra presente numa galeria.
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A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.
Srs. Deputados, vamos passar ao voto n.º 410/XIII (2.ª) — De congratulação pela atribuição do Prémio Nobel
da Paz à causa da proibição das armas nucleares, do PCP, que vai ser lido pelo Sr. Secretário Diogo Leão.
O Sr. Secretário (Diogo Leão): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«A atribuição do Prémio Nobel da Paz à Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (ICAN)
deve constituir um contributo para a ampliação da consciência e da mobilização em torno da necessidade e da
exigência da abolição das armas nucleares e da sua não proliferação, do desarmamento geral, simultâneo e
controlado, e da paz.
As cerca de 15 000 ogivas nucleares existentes atualmente no mundo representam uma grave ameaça que
pende sobre a Humanidade. O desarmamento nuclear coloca-se como uma questão essencial para a
salvaguarda da paz, da segurança e da sobrevivência da Humanidade.
Dando expressão à aspiração de um mundo livre da ameaça do horror nuclear, no dia 7 de julho, a
Conferência das Nações Unidas, para negociar um instrumento legalmente vinculativo que proíba as armas
nucleares, levando à sua eliminação total, adotou, por iniciativa de 122 estados, o Tratado de Proibição das
Armas Nucleares.
Tendo presente que a Constituição da República Portuguesa preconiza o "desarmamento geral, simultâneo
e controlado", partilhando a profunda preocupação com as catastróficas consequências que resultariam de um
qualquer uso de armas nucleares, e reconhecendo a consequente necessidade de as eliminar por completo,
como a única forma de garantir que as armas nucleares nunca mais serão usadas em nenhuma circunstância,
a Assembleia da República, reunida em sessão plenária do dia 13 de outubro, congratula-se pela atribuição do
Prémio Nobel da Paz à Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares e, desta forma, à causa da
abolição das armas nucleares e da sua não proliferação, do desarmamento geral, simultâneo e controlado, e da
paz e saúda a adoção, no âmbito das Nações Unidas, do Tratado de Proibição das Armas Nucleares.»
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, segue-se o voto n.º 412/XIII (3.ª) — De congratulação pela atribuição do Prémio Nobel da
Paz à Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, do PAN e subscrito por Deputados do PS.
Vamos proceder à sua votação.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, de seguida, vai ser lido o voto n.º 411/XIII (3.ª) — De congratulação pelos 150 anos da
presença da Congregação dos Missionários do Espírito Santo em Portugal, do PSD, do PS e do CDS-PP.
O Sr. Secretário Pedro Alves irá proceder à leitura deste voto.
O Sr. Secretário (Pedro Alves): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«No próximo dia 3 de novembro a Congregação dos Missionários do Espírito Santo assinala 150 anos de
presença em Portugal.
A congregação teve origem em França nos inícios do século XVIII, tendo como fundadores Cláudio Poullart
des Placese e Francisco Libermann.
Ao longo dos tempos importa recordar grandes missionários como o Padre Tiago Laval e o Padre Daniel
Brottier.
Entre estadistas e homens de cultura, sobretudo em África, que foram formados pelos Missionários do
Espírito Santo, importa referir Leopold Senghor.
Os Espiritanos chegaram a Lisboa em 1867. Após anos difíceis, foi Braga a acolher as primeiras estruturas
de formação dos missionários.
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Os Espiritanos contribuíram para a cultura na sociedade portuguesa, sobretudo com obras publicadas nos
âmbitos da história, da etnologia, da linguística, da antropologia, da teologia e da pastoral missionária.
Disso são exemplos os padres António Brásio e Adélio Torres Neiva, ambos da Academia Portuguesa da
História, e Joaquim Alves Correia, considerado um dos pais da democracia portuguesa, que foi homem de
cultura, liberdade e opção pelos mais pobres, tendo morrido exilado nos Estados Unidos.
Hoje, os Espiritanos asseguram a animação em diversas dioceses, formam grupos de jovens no espírito
missionário, investem na comunicação, colaboram em capelanias hospitalares e prisionais, apoiam imigrantes
e refugiados.
Para isso, lançaram diversos movimentos laicais de cariz missionário: LIAM; Movimento Missionário de
Professores (MOMIP); Jovens Sem Fronteiras (JSF); Associação dos Antigos Alunos (ASES); Leigos
Associados Espiritanos; Fraternidades; Zeladores; Voluntariado Missionário.
Assim, a Assembleia da República reunida em Plenário, a 13 de outubro de 2017, congratula-se pelos 150
Anos de presença em Portugal da Congregação dos Missionários do Espírito Santo.»
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acaba de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS e do CDS-PP e abstenções do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 413/XIII (3.ª) — De condenação pela detenção em massa de cidadãos
LGBTI no Azerbaijão, do PAN e subscrito por Deputados do PS.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Vamos passar ao voto n.º 414/XIII (3.ª) — De congratulação pela ação dialogante e não violenta do governo
da Catalunha, do PAN e subscrito por Deputados do PS, que vai ser lido pela Sr.ª Secretária Sandra Pontedeira.
A Sr.ª Secretária (Sandra Pontedeira): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«No passado dia 1 de outubro, os catalães foram chamados às urnas para exercerem um direito fundamental:
o da livre expressão à autodeterminação.
À mobilização e participação massivas das catalãs e dos catalães, efetuadas de modo pacífico e não violento,
a resposta do estado espanhol foi a repressão desproporcionada.
À atitude de elevação dos catalães, o estado espanhol respondeu com violência. Mesmo perante os
obstáculos físicos e as adversidades institucionais, a expressão da autodeterminação foi inequívoca e o
parlamento catalão foi consequente ao declarar a independência do estado da Catalunha.
Porém, e considerando a importância de se manter uma postura de diálogo com o estado espanhol, o
Parlamento catalão suspendeu esta declaração, revelando, uma vez mais, uma posição responsável e
construtiva.
Esta opção, contrária à unilateralidade do Reino de Espanha, demonstra que o caminho escolhido pelo povo
catalão se baseia na liberdade, no diálogo, no respeito entre culturas e na não-violência.
Assim, reunida em Plenário, a Assembleia da República expressa a sua congratulação pela ação dialogante
e não violenta do governo catalão.»
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acaba de ser lido.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP, votos a favor do BE e do
PAN e as abstenções do PCP e de Os Verdes.
Vamos passar ao voto n.º 415/XIII (3.ª) — De condenação pela revogação do limite das emissões de carbono
das centrais norte-americanas alimentadas a carvão, do PAN, que vai ser lido pelo Sr. Secretário António Carlos
Monteiro.
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O Sr. Secretário (António Carlos Monteiro): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«O atual governo de Donald Trump voltou a minar o caminho para uma transição energética nos Estados
Unidos da América com a proposta de revogação do plano energético denominado por Clean Power Plan. Este
Plano, implementado pela anterior Administração, tinha como intenção limitar as emissões de carbono das
centrais elétricas alimentadas a carvão e diminuir as emissões de CO2 dos EUA em 32% até 2030. Depois desta
decisão, Scott Pruitt, responsável pela Agência de Proteção Ambiental norte-americana, referiu ter acabado "a
guerra contra o carvão".
Com esta posição, os EUA garantem o incumprimento do Acordo de Paris e confirmam que não serão
cumpridas as metas para assegurar que o aumento da temperatura média global permaneça dentro da linha dos
2ºC acima dos níveis pré-industriais.
Depois da saída do Acordo de Paris, verifica-se o agravamento do extrativismo e do produtivismo dos EUA,
país nosso aliado, que se afasta definitiva e conscientemente da urgente proteção ambiental do planeta. Estes
são sinais de um isolacionismo ideológico que fratura não só a cooperação entre povos, como mina também as
bases de alianças geopolíticas.
Assim, reunida em Plenário, a Assembleia da República expressa a sua condenação pela intenção de
revogação do Clean Power Plan por parte da administração norte-americana.»
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acaba de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, é para anunciar que o Grupo Parlamentar do PCP irá entregar
uma declaração de voto sobre esta última votação.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, fica registado.
Srs. Deputados, passamos à votação, na generalidade, do projeto de lei n.º 172/XIII (1.ª) — Possibilidade de
permissão de animais em estabelecimentos comerciais (altera o Decreto-Lei n.º 10/2015, 16 de janeiro) (PAN).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN, votos contra das Deputadas do PS Maria da Luz Rosinha e Wanda Guimarães e do CDS-PP Ilda Araújo
Novo e abstenções do PSD, dos Deputados do PS Helena Roseta, Norberto Patinho e Pedro do Carmo e dos
Deputados do CDS-PP Filipe Anacoreta Correia, Isabel Galriça Neto, Patrícia Fonseca e Teresa Caeiro.
Este diploma baixa à 6.ª Comissão.
Vamos votar, na generalidade, o projeto de lei n.º 622/XIII (3.ª) — Autoriza a criação de áreas de permissão
a animais em estabelecimentos comerciais (segunda alteração do Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de janeiro)
(BE).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes, o voto contra
da Deputada do CDS-PP Ilda Araújo Novo e abstenções do PSD, do PAN, dos Deputados do PS Maria da Luz
Rosinha, Pedro do Carmo e Wanda Guimarães e dos Deputados do CDS-PP Filipe Anacoreta Correia, Isabel
Galriça Neto, Patrícia Fonseca e Teresa Caeiro.
Este diploma baixa à 6.ª Comissão.
Passamos à votação, na generalidade, do projeto de lei n.º 623/XIII (3.ª) — Possibilita a permanência de
animais em estabelecimentos comerciais, sob condições específicas, procedendo à segunda alteração ao
Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de janeiro (Os Verdes).
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Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e do PAN,
o voto contra da Deputada do CDS-PP Ilda Araújo Novo e abstenções dos Deputados do PS Maria da Luz
Rosinha, Pedro do Carmo e Wanda Guimarães.
Este diploma baixa à 6.ª Comissão.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, pede a palavra para que efeito?
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, é para anunciar que o Grupo Parlamentar do Partido
Socialista entregará uma declaração de voto sobre as três anteriores votações.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, fica registado.
Vamos votar, na generalidade, o projeto de lei n.º 349/XIII (2:ª) — Aprova o estatuto da condição policial
(PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e votos contra do PS.
Este diploma baixa à 1.ª Comissão.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1074/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que diligencie
pelo reconhecimento das profissões referentes aos órgãos de polícia criminal como «profissões de desgaste
rápido» (PAN).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do CDS-PP, do PCP, de
Os Verdes e do PAN e a abstenção do PSD.
Vamos agora votar um requerimento, apresentado pelo PSD, solicitando a baixa à Comissão de Educação e
Ciência, sem votação, por um período de 60 dias, dos projetos de lei n.os 619/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei
n.º 55/2013, de 17 de abril, que aprova a orgânica da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, IP (PSD), 620/XIII
(3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 448/79, de 13 de novembro, que aprova o Estatuto da Carreira Docente
Universitária (PSD) e 621/XIII (3.ª) — Altera o Decreto-Lei n.º 185/81, de 1 de julho, que aprova o Estatuto da
Carreira do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico (PSD) e dos projetos de resolução n.os 1069/XIII
(3.ª) – Recomenda ao Governo a promoção do emprego de doutorados na sociedade (PSD), 1070/XIII (3.ª) —
Recomenda a promoção de uma política de propriedade intelectual que fomente o investimento e a inovação
(PSD) e 1071/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a promoção da transferência de tecnologia entre
Universidades e Politécnicos e a sociedade (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
O Sr. Presidente: — Peço ao Sr. Vice-Presidente José Manuel Pureza que me substitua de novo na
presidência.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.
Srs. Deputados, vamos votar, na generalidade, o projeto de lei n.º 614/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei
n.º 78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral simplificado e revoga a Lei n.º
152/2015, de 14 de setembro (PSD).
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e votos
a favor do PSD e do CDS-PP.
Passamos à votação, na generalidade, do projeto de lei n.º 617/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei n.º
78/2017, de 17 de agosto, que cria um sistema de informação cadastral simplificado e revoga a Lei n.º 152/2015,
de 14 de setembro (CDS-PP).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e votos
a favor do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1062/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um maior apoio ao
investimento de defesa da floresta contra incêndios (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP e do PAN e votos contra
do PS, do PCP e de Os Verdes.
Srs. Deputados, passamos ao projeto de resolução n.º 1076/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um conjunto
de medidas para a prevenção e defesa da floresta contra incêndios (BE).
Em primeiro lugar, vamos votar, em separado, os pontos 1, 5 e 6.
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e do
PAN e abstenções do PSD e do PS.
Votamos agora os pontos 2, 3 e 4.
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do BE, do CDS-PP, de Os Verdes e do PAN,
votos contra do PCP e abstenções do PSD e do PS.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 471/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo o alargamento do
quadro de competências, modalidades e financiamento dos gabinetes de informação e apoio de educação para
a saúde e educação sexual, alargando-os ao ensino superior e promovendo uma avaliação periódica da
implementação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
Vamos passar ao projeto de resolução n.º 1075/XIII (3.ª) — Alteração do âmbito dos gabinetes de informação
e apoio ao aluno e alargamento da sua obrigatoriedade ao ensino superior (BE).
O Partido Socialista solicitou a votação, em separado, do ponto 3. Começamos por votar os restantes pontos,
ou seja, os pontos 1, 2 e 4.
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN
e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar o ponto 3.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD e do PS, votos a favor do BE e do PAN e
abstenções do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1056/XIII (3.ª) — Aumento do salário mínimo nacional (PCP).
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do CDS-PP e do Deputado do PS Paulo Trigo
Pereira, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e a abstenção do PS.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1072/XIII (3.ª) — Salário mínimo nacional (Os Verdes).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do CDS-PP e do Deputado do PS Paulo Trigo
Pereira, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e a abstenção do PS.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1073/XIII (3.ª) — Pelo aumento do salário mínimo nacional
(PAN).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, votos a favor do BE e do PAN e abstenções
do PS, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado Nuno Magalhães, pede a palavra para que efeito?
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr. Presidente, é para anunciar que entregaremos uma declaração de
voto em nome do Grupo Parlamentar do CDS.
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra.
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito, mas em nome pessoal.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Fica registado.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (PS): — Sr. Presidente, é também para anunciar que irei apresentar uma
declaração de voto.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, fica registado.
Srs. Deputados, passamos à votação do projeto de resolução n.º 1010/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo
que proceda à concretização de obras na Escola Básica 2/3 Avelar Brotero, integrada no Agrupamento de
Escolas Adelaide Cabette, em Odivelas (PAN).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e a abstenção do PS.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, permite-me o uso da palavra?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Pede a palavra para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, queria corrigir um nosso sentido de voto, que julgo ter ficado
mal registado.
Refiro-me à votação do projeto de resolução n.º 1073/XIII (3.ª) — Pelo aumento do salário mínimo nacional
(PAN), que o PCP votou a favor.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem razão, Sr. Deputado, houve um lapso da Mesa.
Assim sendo, o projeto de resolução n.º 1073/XIII (3.ª) foi rejeitado, com votos contra do PSD, votos a favor
do BE, do PCP e do PAN e abstenções do PS, do CDS-PP e de Os Verdes.
Passamos ao projeto de resolução n.º 970/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a tomada de medidas para
valorização do pescado de baixo valor comercial (PCP), relativamente ao qual o PAN solicitou a votação em
separado dos pontos 1 e 2 e, depois, do ponto 3.
Vamos votar, em primeiro lugar, os pontos 1 e 2 do referido projeto de resolução.
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
Vamos, agora, votar o ponto 3.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os
Verdes e votos contra do PAN.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 971/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que promova o
desenvolvimento de campanhas de valorização e estímulo ao consumo de arroz carolino produzido em Portugal
(PCP).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Segue-se a votação do projeto de resolução n.º 1057/XIII (3.ª) — Renovação dos contratos dos técnicos
especializados no ano letivo 2017/2018 (PCP).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1049/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo a publicação, por
concelho, das áreas ardidas nos grandes incêndios florestais (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e a abstenção do PS.
Srs. Deputados, penso que podemos votar, conjuntamente, dois requerimentos, apresentados,
respetivamente, pelo BE e pelo PCP, solicitando a baixa à Comissão de Trabalho e Segurança Social, sem
votação, por um período de 90 dias, dos seus projetos de lei n.os 496/XIII (2.ª) — Alterações ao regime jurídico-
laboral e alargamento da proteção social do trabalho por turnos e noturno (BE) e 508/XIII (2.ª) — Reforça os
direitos dos trabalhadores no regime de trabalho noturno e por turnos (PCP).
Pausa.
Não havendo objeções, vamos votar.
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
Vamos votar agora um requerimento, apresentado pelo BE, de avocação pelo Plenário da votação, na
especialidade, das suas propostas de alteração aos artigos 3.º, 3.º-A, 6.º e 13.º do texto final, apresentado pela
Comissão de Trabalho e Segurança Social, relativo à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª) — Estabelece o programa
de regularização extraordinária dos vínculos precários.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
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Srs. Deputados, vamos abrir um período de debate, para apreciação, na especialidade…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, se me permite…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, há um outro requerimento, apresentado pelo PCP, sobre
a mesma matéria, pelo que poderíamos votá-lo já e depois ter lugar o período de debate.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Com certeza, Sr. Deputado.
Então, vamos votar um requerimento, apresentado pelo PCP, de avocação pelo Plenário da votação, na
especialidade, das suas propostas de alteração aos artigos 2.º, 3.º e 13.º e de aditamento de um artigo 5.º-A ao
mesmo texto final.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos, pois, abrir um período de debate, dispondo cada grupo parlamentar de 2 minutos.
Tem a palavra, em primeiro lugar, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Moura Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A aprovação da lei que
estabelece a regularização extraordinária dos vínculos precários do Estado é um momento histórico que dá
corpo a uma medida fundamental de justiça para com milhares de trabalhadores, a quem, há demasiados anos,
se negam direitos laborais básicos, estabilidade e proteção social.
O Bloco de Esquerda orgulha-se, por isso, de ter inscrito o combate à precariedade como condição do acordo
para uma solução política e de fazer desta questão uma luta incansável nos últimos anos, luta que, aliás,
continua.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Neste processo, revelou-se da maior importância a mobilização dos
próprios trabalhadores precários, a pressão que fizeram, as assembleias realizadas pelo País, os contributos
que nos enviaram, a visibilidade que deram à especificidade das suas situações, a sua urgência, a sua
persistência e a sua exigência, tal como se revelou fundamental o trabalho feito pelos Deputados do Bloco de
Esquerda, do Partido Socialista e do Partido Comunista Português para melhorarem e corrigirem o diploma do
Governo.
Houve, neste Parlamento, quem desse voz às reivindicações dos precários e, mesmo que essas
reivindicações contassem sempre com a oposição da direita, em cada uma das propostas para melhorar a sua
vida, houve a possibilidade de introduzir melhorias na proteção dos contratos, na transparência do processo
relativamente aos estagiários ou às universidades.
Evidentemente, para o Bloco de Esquerda, esta versão final poderia ainda ser melhorada e é por isso que
trazemos aqui à votação quatro propostas que permitem responder a aspetos específicos: garantindo as
transferências orçamentais para as universidades, em função dos precários identificados; garantindo que, no
IEFP, não só os formadores a tempo completo mas também os formadores a tempo parcial sejam regularizados;
garantindo que os bolseiros tenham uma carreira que corresponda às suas funções e salvaguarde os seus
rendimentos; e garantindo que os técnicos dos programas regionais ficam vinculados às comissões de
coordenação regional. Qualquer uma destas questões pode ainda ser incluída no diploma, basta que os Srs.
Deputados do Partido Socialista, do PSD e do CDS se levantem e as aprovem.
Esta votação dá uma derradeira oportunidade de responderem a estas pessoas. Está, por isso, nas nossas
mãos, está, por isso, sobretudo, nas vossas mãos, e ainda estão a tempo.
Aplausos do BE.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, também para uma intervenção, a Sr.ª
Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O último processo de regularização de vínculos
precários na Administração Pública aconteceu há 20 anos, o que traduz bem a injustiça a que estes milhares de
trabalhadores foram sujeitos, com menos salários, menos direitos e mais instabilidade.
Com a avocação destes artigos, o PCP pretende garantir que nenhum trabalhador que responda a
necessidades permanentes nos serviços públicos fique de fora do processo.
Propomos que todos os trabalhadores com vínculos precários que respondam a necessidades permanentes
possam participar neste processo de regularização.
Propomos que sejam abrangidos todos os que apresentaram requerimento mas também todos os que não
tenham apresentado requerimento e fundamentem desempenhar necessidades permanentes.
Propomos a obrigatoriedade da elaboração pelos serviços da listagem dos trabalhadores com vínculos
precários e a respetiva entrega às estruturas representativas dos trabalhadores que participaram nas CAB
(comissões de avaliação bipartida).
Propomos que os trabalhadores dos programas operacionais e dos fundos estruturais sejam integrados nos
serviços das CCDR (comissão de coordenação e desenvolvimento regional) onde atualmente desempenham
funções.
E propomos para os bolseiros de gestão, ciência e tecnologia a criação de um período transitório para a
obtenção do grau de doutor, com o objetivo de assegurar a sua vinculação na carreira de investigação científica,
garantindo que não há perdas remuneratórias.
Da parte do PCP, continuamos a afirmar que não há serviços públicos de qualidade sem trabalhadores em
número adequado e valorizados nos seus direitos.
Valeu a pena a luta dos trabalhadores. Muito caminho há ainda por fazer para que a cada posto de trabalho
permanente corresponda um vínculo efetivo na Administração Pública e no privado.
A luta pelo emprego com direitos é uma luta do regime democrático, e o PCP continuará nesse combate.
Aplausos do PCP e de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, ainda para uma intervenção, a Sr.ª
Deputada Wanda Guimarães.
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Enquanto
coordenadora do grupo de trabalho do PREVPAP (Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos
Precários na Administração Pública), quero deixar algumas notas.
Em primeiro lugar, desejo esclarecer que não nos iremos pronunciar sobre os artigos avocados, que já foram
sujeitos a um extenso e profundo debate no grupo de trabalho. Aliás, a posição do Partido Socialista é conhecida.
Em segundo lugar, gostaria de exprimir a nossa satisfação por termos cumprido mais um ponto do Programa
do Governo, concretizando um programa de regularização especial dos vínculos precários na Administração
Pública, situação que se vinha mantendo há mais de 20 anos.
Em terceiro lugar, queríamos congratular-nos por termos ouvido um conjunto apreciável de entidades e
organizações, incorporando nesta proposta muitas das suas preocupações.
Em quarto lugar, gostaríamos de agradecer ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português por
terem entrado neste esforço conjunto, contribuindo para uma maior qualidade da proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª).
Em quinto lugar, queríamos lamentar que o PSD e o CDS, entrincheirados no seu habitual azedume, em
nada tenham contribuído para os trabalhos do grupo, não apresentando uma única proposta, não aceitando um
único parágrafo e denegrindo sistematicamente o objetivo político desta iniciativa, indo ao cúmulo de acusar os
trabalhadores precários de terem recorrido a cunhas para estarem empregados.
Aplausos do PS e do Deputado do BE José Moura Soeiro.
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Que vergonha!
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Em sexto e último lugar, gostaria de afirmar que, para o Partido Socialista,
este é, simultaneamente, um ponto de chegada e um ponto de partida: de chegada, para os muitos milhares de
trabalhadores e suas famílias que, finalmente, vão poder ficar descansados sem o espectro do despedimento
ou da instabilidade; e de partida, porque, para o PS, nem que exista apenas um trabalhador precário existe a
obrigação de lhe resolver o problema e de erradicar situações que envergonham uma sociedade democrática.
Vamos continuar o nosso trabalho!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Carla
Barros.
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Assistimos neste momento,
entre Bloco de Esquerda, PCP e Partido Socialista, a uma grande encenação, a um grande faz-de-conta
relativamente a este programa de regularização de trabalhadores precários na Administração Pública.
Assistimos precisamente, e são já decorridos quase dois anos, a os senhores, comprometidos nesta
coligação negativa para o País, prometerem a cada um dos 116 000 trabalhadores identificados a sua integração
na Administração Pública.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — E, perante esta coligação negativa, o PSD propõe-se deixar aqui alguns
alertas.
Importa referir que, com esta proposta, que não deixa de ser uma proposta opaca, pouco credível, sem peso
e sem medida, os trabalhadores vão ter quebras de rendimentos quase na ordem dos 50%.
Risos do BE.
Os senhores vão despedir, os senhores estão a criar injustiças e desigualdades entre trabalhadores que
estão há décadas com vínculos precários e trabalhadores que foram recentemente admitidos — há meses! —
por este Governo.
Para além desta diferença de tratamento, desigualdades e injustiças para os trabalhadores da Administração
Pública, importa ainda referir que os senhores não apresentaram impactos orçamentais desta proposta.
Também não apresentaram nenhum diagnóstico de necessidades de recursos humanos onde fazem falta
trabalhadores.
Não sabemos o que os senhores pretendem fazer com a gestão de recursos humanos da Administração
Pública.
Importa ainda dizer que os senhores não foram capazes de enquadrar esta proposta numa verdadeira
reforma da Administração Pública,…
Protestos do BE e do PCP.
… capaz de motivar os trabalhadores, capaz de se tornar mais célere…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Vou terminar, sim, Sr. Presidente.
Como estava a dizer, os senhores não foram capazes de enquadrar esta proposta numa verdadeira reforma
da Administração Pública, capaz de motivar os trabalhadores, capaz de se tornar mais célere e mais moderna
para os cidadãos e para as empresas.
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É por isso que terminamos, dizendo: os senhores estão numa posição de verdadeira hipocrisia política quer
para os trabalhadores, quer para o País, e isso temos de denunciar.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Os trabalhadores podem contar com o PSD, como contaram até aqui.
Aplausos do PSD.
Risos do BE e do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado António Carlos Monteiro,
também para uma intervenção.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Hoje é dia de O Inimigo Público no Hemiciclo!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, nesta fase já muito avançada dos nossos
trabalhos, agradecia que criássemos condições para que o Sr. Deputado António Carlos Monteiro pudesse fazer
a sua intervenção.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A
precariedade preocupa muito as famílias e preocupa também o CDS.
Vozes do BE: — Ui!
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Ora, relembramos que o acordo que foi celebrado entre PS,
Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes, e que previa o apoio a esta solução governativa, colocou como condição
a regularização de precários.
Não deixamos de notar que, quando foi feito um estudo para identificar essas situações, o Governo identificou
116 000 — aliás, PCP e Bloco disseram que o número estaria acima desse — e a verdade é que, neste momento,
apenas 30 000 requerimentos estão a ser processados.
Protestos do Deputado do PCP João Oliveira.
Convenhamos que, para quem prometeu tanto, é pouco.
Protestos do Deputado do BE Jorge Duarte Costa.
Compreendemos também o sentimento de frustração de muitos cidadãos a quem PS, Bloco de Esquerda e
PCP prometeram, e prometeram muito. Aliás, não deixamos de registar que andaram a prometer tudo a todos
e que, agora, aquilo que têm para dar é muito menos do que aquilo que estiveram a prometer. Não deixamos
também de registar que, para quem colocou como condição o fim da precariedade,…
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Vão votar a favor ou contra?
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — … este Governo, que os senhores apoiam, aumentou o
número de precários em quase 15 000 ao longo destes dois anos de governação.
Não deixamos também de registar que querem fazer esta regularização sem fazer a reforma do Estado e
também que o que estava previsto na vossa proposta, na proposta que o Governo trouxe aqui, eram cortes de
vencimento e que quem não aceitasse esses cortes de vencimento era despedido. PSD, CDS e PCP votaram
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contra essa proposta. E o que nos dizem o PS e o Bloco de Esquerda? Que é indiferente que tenham votado
contra esse despedimento,…
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Que despedimento? Não diga disparates!
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — … porque, através da Lei Geral do Trabalho em Funções
Públicas vão conseguir «correr com essas pessoas».
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Peço-lhe que termine, Sr. Deputado.
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Terminarei, dizendo que, ao quererem fazer a integração dos
precários, esta acaba por se traduzir em despedimentos,…
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Os senhores é que andaram a despedir pessoas!
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — … nomeadamente dos trabalhadores que estão a tempo
parcial, porque por cada dois apenas uma vaga ficará disponível e haverá um trabalhador, que está a tempo
parcial, que terá de ser despedido. Gostava que nos dissesse se é essa a solução que os senhores têm para a
precariedade.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Apesar do incómodo
indisfarçável do PSD e do CDS, a verdade é que, hoje, vamos dar um passo importante, não só para repor
justiça, mas também para colocar verdade nas relações laborais.
Apesar das preocupações do PSD e do CDS nesta matéria, o que é verdade é que, de há uns anos para cá,
mas sobretudo com o Governo anterior, com o Governo PSD/CDS, a precariedade tomou conta da realidade
laboral no nosso País.
De facto, as opções políticas assentes nos baixos salários e no trabalho sem direitos, que marcaram a política
do anterior Governo, assim como as várias alterações legislativas em matéria laboral, constituíram, de facto,
fatores determinantes para a generalização da precariedade laboral no nosso País, para a degradação das
condições de trabalho e para a fragilização dos direitos laborais.
A este propósito, será sempre oportuno lembrar que, quando falamos de precariedade laboral, falamos de
relações laborais à margem da lei, falamos de atropelos aos direitos de quem trabalha, falamos de violações
dos direitos fundamentais, falamos de degradação das condições de trabalho e falamos do aumento dos níveis
de exploração.
Estes são os factos, os números são ainda mais cruéis. No nosso País, mais de um milhão de pessoas
trabalha com vínculo precário, seja com contratos a termo, que são grosseiramente ilegais, seja com recibos
verdes, que apenas disfarçam um suposto regime de prestação de serviços, seja com eternas bolsas de
investigação, que mais não visam do que perpetuar a precariedade, ou seja com contratos de trabalho
temporário, em claro confronto com as mais elementares regras do direito do trabalho, porque nada têm de
temporário. É este o retrato laboral do nosso País e foi este o retrato laboral que herdámos dos governos
anteriores e, sobretudo, do último Governo, o Governo do PSD e do CDS. Um retrato de mentiras, de falsidades
e dissimulações, com o único propósito de enganar a estatística do desemprego, de institucionalizar o trabalho
sem direitos e de acentuar a exploração de quem trabalha. Um retrato também de intervalos, porque os períodos
de precariedade, curtos ou longos, intervalavam, invariavelmente, com períodos de desemprego: uns meses
precário, uns meses sem trabalho, foi este o ritmo que o Governo anterior impôs aos jovens que não seguiram
o conselho de Passos Coelho de procurarem conforto fora do nosso País.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Peço-lhe que termine, Sr. Deputado.
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Vou terminar, Sr. Presidente.
O pior é que foi o Estado a dar o exemplo nesta matéria. Portanto, em boa hora, o Partido Ecologista «Os
Verdes» também incluiu esta matéria, uma premissa essencial, na posição conjunta que estabeleceu com o
Partido Socialista e hoje damos, de facto, um passo importante para repor justiça e para repor verdade nas
relações laborais no nosso País.
Aplausos de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Vamos, pois, passar à votação, na especialidade, de artigos do texto final, apresentado
pela Comissão de Trabalho e Segurança Social, relativo à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª) — Estabelece o
programa de regularização extraordinária dos vínculos precários.
Começamos pela votação de uma proposta de emenda do n.º 2 do artigo 2.º, apresentada pelo PCP.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, do PSD e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Votamos agora a proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de um novo n.º 3 e de um novo n.º 4 ao
artigo 2.º do texto final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, do PSD e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Passamos à votação do artigo 2.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Votamos agora a proposta, apresentada pelo PCP, de emenda do n.º 2 do artigo 3.º.
Submetida à votação, foi rejeitada com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Passamos à votação da proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento dos n.os 4, 5, 6, 7 e 8 ao artigo 3.º.
Conforme foi solicitado à Mesa, começaremos por votar, separadamente, os n.os 4 e 8 da proposta.
Submetidos à votação, foram rejeitados, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do
BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN.
Votamos agora a parte da proposta em que adita os n.os 5, 6 e 7 ao artigo 3.º.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do PCP, de Os Verdes e do PAN
e abstenções do PSD, do BE e do CDS-PP.
Vamos votar, de seguida, uma proposta, apresentada pelo BE, de aditamento de um n.º 6 ao artigo 3.º do
texto final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Passamos à votação do artigo 3.º do texto final, apresentado pela Comissão de Trabalho e Segurança Social,
relativo à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª).
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Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos agora votar uma proposta, apresentada pelo BE, de aditamento de um n.º 5 ao artigo 3.º-A do texto
final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Passamos à votação do artigo 3.º-A do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Segue-se a votação de uma proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de um artigo 5.º-A.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Votamos agora uma proposta, apresentada pelo BE, de aditamento de um n.º 3 ao artigo 6.º do texto final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Vamos votar o artigo 6.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Passamos agora à votação de uma proposta, apresentada pelo BE, de emenda do n.º 1 do artigo 13.º do
texto final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Segue-se a votação de uma proposta, apresentada pelo PCP, de emenda do n.º 1 do artigo 13.º do texto
final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
De seguida, vamos votar uma proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de um n.º 2 ao artigo 13.º do
texto final.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Votamos agora o artigo 13.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
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Passamos agora à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Trabalho e Segurança
Social, relativo à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª) — Estabelece o programa de regularização extraordinária dos
vínculos precários.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Aplausos do BE, do PCP e de Deputados do PS.
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Sr. Presidente, para informar a Mesa que o Grupo Parlamentar do PSD irá
apresentar uma declaração de voto por escrito.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Fica registado, Sr.ª Deputada.
Passamos agora à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Orçamento, Finanças e
Modernização Administrativa, relativo ao projeto de lei n.º 597/XIII (2.ª) — Procede à 44.ª alteração ao Decreto-
Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro, que cria o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras
(PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS e do CDS-PP e abstenções do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Segue-se a votação de um requerimento, apresentado pelo PSD, de avocação pelo Plenário da votação, na
especialidade, da proposta de alteração, apresentada pelo PS, aos artigos 13.º, 14.º e 15.º do texto único em
substituição dos projetos de lei n.os 570/XIII (2.ª) — Estabelece um conjunto de medidas urgentes de apoio às
vítimas dos incêndios florestais de Pedrógão Grande e de reforço da prevenção e combate aos incêndios (PCP),
572/XIII (2.ª) — Determina a assunção por parte do Estado da responsabilidade de indemnizar os herdeiros das
vítimas mortais e os feridos graves na sequência do incêndio de Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra, Ansião,
Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã, entre 17 e 24 de
junho de 2017, e cria o procedimento de determinação e pagamento dessas indemnizações (PSD) e 573/XIII
(2.ª) — Cria a Comissão para o Ressarcimento das Vítimas dos Incêndios Florestais ocorridos entre 17 e 24 de
junho de 2017 e regula o processo de pagamento de indemnizações às vítimas destes incêndios, bem como
aos respetivos herdeiros (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Estão previstos 2 minutos de tempo de intervenção para cada grupo parlamentar.
Tem a palavra, em primeiro lugar, para uma intervenção, o Sr. Deputado Nuno Serra.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, queria dizer que foi
lamentável a posição da maioria de esquerda na votação de quarta-feira de um diploma de reparação de danos
às vítimas de uma tragédia sem precedentes, que tinha como ponto central e fulcral a indemnização a essas
vítimas sem que houvesse uma decisão judicial, de modo a acelerar todo o processo de reparação de danos
àqueles que perderam tudo e que mais precisam.
Nessa quarta-feira ainda se podia «meter a cabeça na areia», podia a esquerda tentar branquear as falhas
do Estado, mas hoje, depois da apresentação do relatório da comissão técnica independente, percebemos que
houve, efetivamente, falha do Estado, falha na prevenção e falha no combate. Mas, Srs. Deputados, na quarta-
feira os senhores falharam também no apoio àqueles que mais precisavam. E foi uma falha em toda a linha por
parte da esquerda.
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Srs. Deputados, não podem ter dois pesos e duas medidas. Por um lado, permitem que haja indemnizações
aos lesados do BES (Banco Espírito Santo) sem que haja uma decisão judicial.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Aí o Estado e a maioria de esquerda acharam que podiam indemnizar.
Por outro lado, em relação àqueles que ficaram sem nada, vítimas de uma tragédia sem precedentes, de
incêndios como nunca tinham acontecido, decidiram que não devem ter direito a essa indemnização antes de
uma decisão judicial.
Srs. Deputados, afinal que Estado é este? Que maioria de esquerda é esta? Porquê esta discriminação entre
pessoas? Afinal qual é o mote desta separação? Será que é por razões de popularidade política?
Srs. Deputados, está nas vossas mãos mudar o que aconteceu na quarta-feira. Está nas mãos desta maioria
de esquerda permitir que aqueles que mais precisam possam ser indemnizados.
Srs. Deputados, o apoio às vítimas, o apoio àqueles que mais precisam em Portugal não pode ser definido
por focus groups ou sondagens de popularidade. Tem de ser mesmo uma função do Estado que se deve manter,
integralmente, em qualquer situação.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João
Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não acompanhamos, de forma
nenhuma, o que o PSD acaba de dizer e julgamos, até, que o PSD, em vez de procurar trazer falsidades para a
discussão desta matéria, devia estar a registar o que é verdadeiramente de registar.
Pela primeira vez, a Assembleia da República vai aprovar uma lei de apoio às vítimas de uma catástrofe, de
uma verdadeira tragédia que se abateu sobre um conjunto de populações muito alargado, assegurando um
conjunto de apoios e de proteção às vítimas daqueles incêndios que não existe em nenhuma outra lei, em
nenhuma circunstância, e que, por iniciativa do PCP, veio à discussão à Assembleia da República, num processo
legislativo que concluirá com a aprovação de uma lei que comporta quase a totalidade das propostas que o PCP
tinha apresentado.
Registamos este facto, porque, sendo inédito, é de valorizar e de registar.
Há um conjunto de apoios, que hoje serão aprovados em lei, à habitação, à recuperação de habitações, à
atribuição de apoios sociais, à proteção e à segurança das populações, à agilização de mecanismos para a
reposição do potencial produtivo das populações atingidas pelos incêndios. Propõe-se também a isenção de
taxas moderadoras, a dispensa gratuita de medicamentos, o transporte gratuito de doentes, a criação de parques
de receção de salvados para garantir a recuperação, junto das populações, daquilo que pode ser ainda a
utilização do potencial económico da madeira ardida e há, naturalmente, um mecanismo indemnizatório que
continuará a estar previsto na lei.
Sr. Deputado Nuno Serra e Srs. Deputados do PSD, não têm razão quando adiantam o conjunto de
acusações que fazem, porque, primeiro, é falso que as vítimas fiquem sem nada. Está previsto um mecanismo
de indemnização na medida em que essa responsabilidade do Estado seja identificada.
Protestos do PSD.
É falso que não haja um lugar a indemnização. Essas indemnizações estão previstas na lei como
indemnizações a serem obrigatoriamente atribuídas.
Sr. Deputado Nuno Serra, ainda é mais falso — registo que o Sr. Deputado, hoje, já não tenha repetido o
argumento de ontem…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
Registo que o Sr. Deputado hoje já não tenha repetido o argumento que foi ontem utilizado: com a lei que vai
ser aprovada não é possível indemnizar as vítimas em seis meses.
Protestos do Deputado do PSD Nuno Serra.
É possível! É possível indemniza-las em seis meses e até em menos tempo e cá estaremos para fazer o
cumprimento disso.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que lamentamos que o PSD, em vez de
registar aquilo que é o facto positivo da aprovação de uma iniciativa que, pela primeira vez, dá uma resposta de
fundo aos problemas das vítimas e à recuperação da situação que as atingiu, acabe por utilizar este tipo de
falsidades para procurar diminuir uma iniciativa que, estamos em crer, deve ser aprovada por unanimidade hoje.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, em particular, Sr. Deputado
João Oliveira, para situações emergenciais, entendemos que devem existir soluções excecionais e foi isso que
foi pretendido com este texto que, no fundo, representa as iniciativas conjuntas do PCP, do CDS e do PSD.
O que se pretendeu com a constituição de uma comissão de avaliação das vítimas foi garantir-lhes um apoio
rápido. Porquê? Porque as vítimas precisam, porque não devemos prolongar-lhes o sofrimento ao perpetuar no
tempo todo este processo e porque é mais do que justo, porque o Estado falhou e falhou muito. E, se dúvidas
havia quanto a esta falha do Estado, desde ontem que não existem. O Relatório da Comissão Técnica
Independente que ainda hoje aqui discutimos é nisto muito claro, deem os Srs. Deputados do PS, do PCP e do
Bloco de Esquerda as voltas que derem.
Por isso, o Estado tem de indemnizar as vítimas com celeridade, sem prejuízo obviamente do apuramento
das responsabilidades que nos parece ser óbvio de quem são. Aquilo a que assistimos, neste caso, foi a um
desvirtuar completo do que tinha sido a proposta inicial, porque, no fundo, vimos o PCP dar a mão, dar o pé, dar
tudo ao Governo na votação que fez na quarta-feira,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso não é verdade, Sr.ª Deputada!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — … atirando o pagamento às vítimas para a avaliação, para a barra
dos tribunais. Ora, infelizmente, o arrastar um processo de indemnização ou a resolução destes processos
durante meses e anos significa, como sabemos, um prolongar do sofrimento psicológico para as vítimas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não é verdade!
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — É caso para dizer, Srs. Deputados do PCP: tanto barulho pelo
adiamento que ocorreu no final da última Sessão Legislativa sobre este projeto para, depois, virem permitir que
se arrastem pela barra dos tribunais processos de pagamento das indemnizações às vítimas. É, de facto, triste
que isto tenha acontecido da parte do PCP, que, desde logo, deu início a este processo.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não é verdade, Sr.ª Deputada.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Júlia Rodrigues.
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A Sr.ª Júlia Rodrigues(PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A política deve obedecer a valores e
a princípios basilares na construção de uma sociedade igualitária justa e solidária.
O debate político em torno da catástrofe de 17 a 24 de junho deste ano tem vindo a revelar-se um foco de
aproveitamento político e não como deveria ser: uma atenção séria e rigorosa às vítimas dos incêndios florestais.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Júlia Rodrigues(PS): — Não temos quaisquer dúvidas de que devemos apoiar as vítimas e suas
famílias.
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Lágrimas de crocodilo!
A Sr.ª Júlia Rodrigues(PS): — O Governo esteve sempre presente nesse apoio: falou e continua a falar
com autarcas; visitou e está presente nas povoações; diligenciou junto da União Europeia no sentido de serem
disponibilizados 45 milhões de euros para fazer face à tragédia; criou um fundo para apoio aos concelhos
atingidos; e começou, e continua, a reconstruir habitações, entre muitas outras medidas.
Adotou a Resolução do Conselho de Ministros n.º 101-A/2017, que aprovou a adoção de medidas de carácter
extraordinário para fazer face aos danos provocados pelos incêndios ocorridos. Publicou o Decreto-Lei n.º
87/2017, que estabelece as medidas excecionais de contratação pública para acorrer às zonas afetadas, e a
Portaria n.º 254/2017, que define as condições de atribuição dos apoios imediatos às populações.
Mas uma situação é apoiar as vítimas, outra é, como faz o PSD, pretender usar as vítimas de Pedrógão como
seus escudos humanos e um álibi para a sua falta de pensamento político.
Vozes do PS: — Muito bem!
Protestos do Deputado do PSD Nuno Serra.
A Sr.ª Júlia Rodrigues (PS): — O PSD veio tomar uma opção muito clara que bem define o seu modo de
fazer política hoje: procurar, numa tragédia nacional, um alento para se tentar reerguer.
Protestos do Deputado do PSD Nuno Serra.
Por isso, o PSD propôs indemnizações, independentemente de se avaliar a responsabilidade do Estado. De
nada valeram os alertas do Sr. Presidente da República, que referiu as suas reservas a uma solução de
indemnização, sem apuramento concreto de responsabilidades do Estado. De nada valeram porque o PSD
continuou a insistir em soluções que instrumentalizam o Estado e as vítimas.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Peço-lhe que termine, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Júlia Rodrigues(PS): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que nos esforçámos para convergir,
apresentando propostas válidas e relevantes na Comissão, e agora desafiamos o PSD e o CDS a juntarem-se
às boas soluções.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra agora o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: De forma telegráfica, creio que a
acusação principal que a direita apresenta neste debate é a impossibilidade de existir atribuição de
indemnizações de forma rápida e célere para reparar danos cuja responsabilidade seja do Estado, ou da sua
ação, ou da sua inação. E creio que quem ler o que vai ser aprovado no dia de hoje fica claramente com a ideia
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de que essa acusação é falsa, porque essa possibilidade existe, é um direito que a lei atribui e, por isso, a
acusação da direita cai com a aprovação desta lei.
Risos do Deputado do PSD Nuno Serra.
O que se torna necessário avaliar para a frente, e este é o grande ponto que é colocado até para a seriedade
do debate, é a definição da avaliação e das responsabilidades.
Quanto a isso, creio que todas e todos nós devemos, pelo menos, anuir que o Relatório da Comissão Técnica
Independente, ontem entregue a este Parlamento, até ajudará a tornar mais célere o processo de definição das
responsabilidades do Estado.
O Sr. Nuno Serra (PSD): — Daqui a seis meses cá estaremos!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso, cá estaremos para depois fiscalizar a ação do Governo na
aplicação desta lei, garantindo que não haverá um calvário em tribunais para quem queira ver reparados os seus
direitos e tenha a eles a devida previsão legal de reparação, mas garantindo também que não entraremos
naquilo que PSD e CDS parecem querer entrar, que é um jogo político de aproveitamento da situação, porque
isto é absolutamente lamentável.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, terminado o debate na especialidade, vamos
proceder à votação, em primeiro lugar, da proposta, apresentada pelo PS, de alteração ao artigo 13.º.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar o artigo 13.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Passamos à votação da proposta, apresentada pelo PS, de alteração do artigo 14.º.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar agora o artigo 14.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos proceder à votação da proposta, apresentada pelo Partido Socialista, de alteração do artigo 15.º.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar o artigo 15.º do texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
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Finalmente, vamos proceder à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Agricultura
e Mar, relativo aos projetos de lei n.os 570/XIII (2.ª) — Estabelece um conjunto de medidas urgentes de apoio às
vítimas dos incêndios florestais de Pedrógão Grande e de reforço da prevenção e combate aos incêndios (PCP),
572/XIII (2.ª) — Determina a assunção por parte do Estado da responsabilidade de indemnizar os herdeiros das
vítimas mortais e os feridos graves na sequência do incêndio de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião,
Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã, entre 17 e 24 de
junho de 2017, e cria o procedimento de determinação e pagamento dessas indemnizações (PSD) e 573/XIII
(2.ª) — Cria a Comissão para o Ressarcimento das Vítimas dos Incêndios Florestais ocorridos entre 17 e 24 de
junho de 2017 e regula o processo de pagamento de indemnizações às vítimas destes incêndios, bem como
aos respetivos herdeiros (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
Chegamos, assim, ao fim das votações e dos nossos trabalhos de hoje.
O Plenário voltará a reunir no próximo dia 18, às 15 horas, com a seguinte ordem de trabalhos: debate
quinzenal com o Primeiro-Ministro, ao abrigo da alínea b) do n.º 2 do artigo 224.º do Regimento da Assembleia
da República, e, depois, com a participação do Primeiro-Ministro; debate preparatório do Conselho Europeu ao
abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º da Lei de Acompanhamento, Apreciação e Pronúncia pela Assembleia
da República no âmbito do Processo de Construção da União Europeia, e o debate sobre o discurso do
Presidente da Comissão Europeia relativo ao estado da União (realizado no Parlamento Europeu a 13 de
setembro de 2017), nos termos do disposto na alínea c) do n.º 1 do artigo 4.º daquela Lei.
Agradeço a todos a colaboração na condução destes trabalhos e desejo a todos e a todas um bom fim de
semana.
Está encerrada a sessão.
Eram 14 horas e 30 minutos.
———
Declarações de voto enviadas à Mesa para publicação
Relativa aos projetos de resolução n.os 1056, 1072 e 1073/XIII (3.ª):
O XXI Governo constitucional tem tido uma política importante de valorização de todos os rendimentos do
trabalho sobretudo das classes mais desfavorecidas.
O Governo assumiu no seu Programa a necessidade de atualização e subida do salário mínimo nacional
(SMN) e tem firmado com os parceiros sociais um acordo de concertação social no sentido da atualização
faseada ao longo da Legislatura até alcançar os 600 euros em 2019. Neste sentido já se procederam a dois
aumentos do salário mínimo em 2016 e em 2017.
Embora caiba ao Governo a responsabilidade do aumento do SMN, poder-se-á argumentar que a Assembleia
da República é o órgão deliberativo democrático por excelência com competência para se pronunciar e fazer
recomendações ao Governo sobre esta matéria. Porém, a existência, com dignidade constitucional, do Conselho
Económico e Social em sede do qual se realiza a concertação social, numa representação tripartida de governo,
entidades representativas dos trabalhadores e entidades patronais, leva a que a decisão governamental deva
ser precedida desejavelmente por um acordo de concertação social, como se tem verificado no passado. Aliás,
o Governo deve obrigatoriamente conceder uma audição ao Conselho Permanente de Concertação Social nesta
matéria. De notar que o SMN foi sempre aumentado como resultado de acordo de concertação social.
Aquilo que está em causa nos projetos do PCP e do Partido Ecologista «Os Verdes», de atualização imediata
do salário mínimo para 600 euros em 2018, é, no essencial, ignorar a importância de um diálogo frutuoso entre
Governo, representantes de trabalhadores e entidades patronais. Não está em causa a legitimidade da
Assembleia da República para se pronunciar sobre esta matéria mas, antes, de reconhecer ou não a importância
dos parceiros sociais neste debate. E essa importância é, a meu ver, crucial.
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Por todos estes motivos, votei contra os projetos do PCP e do Partido Ecologista «Os Verdes», mas
abstenho-me relativamente ao do PAN, pois este projeto considera a necessidade de o Governo auscultar
previamente a concertação social.
O Deputado do PS, Paulo Trigo Pereira.
———
Relativa à proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª):
A proposta de lei n.º 91/XIII (2.ª), que estabelece o programa de regularização extraordinária dos vínculos
precários na Administração Pública, peca por tardia.
Aliás, em bom rigor, nunca a deveríamos estar a discutir, pois tal significa que, ao longo dos últimos anos
(até décadas), milhares de trabalhadores asseguraram o funcionamento dos serviços públicos sem ter o seu
vínculo reconhecido com o Estado. E se tivermos verdadeiramente em conta que o último processo de
regularização de vínculos precários na Administração Pública aconteceu há 20 anos, compreendemos bem a
injustiça a que estes milhares de trabalhadores foram sujeitos, com menos salário, menos direitos e mais
instabilidade.
Esta situação foi causadora de uma profunda instabilidade laboral e familiar para milhares de trabalhadores,
mas também de instabilidade e degradação das condições de funcionamento dos serviços públicos.
O facto de estarmos a discutir esta proposta em 2017 é bem reveladora do atraso que leva e da verdadeira
dimensão do problema. Isto porque se o discutimos agora é desde logo por proposta do PCP, que, aquando da
discussão do Orçamento do Estado para 2016, apresentou uma proposta para o levantamento de todas as
situações de vínculos precários na Administração Pública e Setor Empresarial do Estado e se bateu para que
no Orçamento do Estado para 2017 fosse consagrado o objetivo de fazer corresponder a esse levantamento a
contratação de todos os trabalhadores que respondem a necessidades permanentes.
A dimensão do problema é inseparável da responsabilidade de sucessivos governos em recorrer, ao longo
de anos, a trabalhadores com vínculos precários para ocupar postos de trabalho, fazendo face a necessidades
permanentes nos vários serviços públicos.
Aliás, por diversas vezes, o PCP apresentou esta proposta, em particular aquando do último Governo
PSD/CDS, tendo a mesma sido sempre rejeitada com os votos contra do PSD e do CDS e a abstenção do PS.
O processo de integração dos trabalhadores com vínculos precários a ocuparem postos de trabalho
permanentes na Administração Pública é de elementar justiça para os trabalhadores e condição determinante
para a qualidade dos serviços públicos.
É de elementar justiça reconhecer um vínculo efetivo público a todos os trabalhadores que, com um vínculo
precário, respondem a necessidades permanentes na escola pública, no SNS, no IEFP, nas instituições de
ensino superior, no sistema científico e tecnológico nacional, na segurança social e em todos os serviços
públicos.
Independentemente da forma, seja uma bolsa, um estágio, um contrato a termo, um contrato de emprego-
inserção, um falso recibo verde, ou através de empresa de trabalho temporário ou outsourcing, todos os
trabalhadores devem ter um vínculo efetivo. Aliás, tão breve quanto possível. E deve ser assim, porque desde
logo o Estado tem a obrigação de dar o exemplo ao setor privado, quanto ao respeito e cumprimento dos direitos
dos trabalhadores, contrariamente à prática do anterior Governo PSD/CDS, na qual o estímulo à precariedade
e à degradação de direitos foi assumida como estratégia para o setor público e privado.
O PCP sempre afirmou que os prazos previstos no Orçamento do Estado deveriam ser sempre prazos limite
e nunca prazos de protelamento do início de resolução dos problemas, bem como concretizar a integração dos
trabalhadores em todos os serviços em que existissem condições para tal, pois este processo peca por tardio e
os trabalhadores exigem o reconhecimento dos seus direitos.
No âmbito dos trabalhos na especialidade, o PCP propôs que, independentemente dos trabalhadores que se
registaram, o Governo assegure a elaboração e a entrega das listagens de todos os trabalhadores com vínculos
precários que asseguram postos de trabalho permanentes e respetiva entrega às estruturas representativas dos
trabalhadores que participam nas CAB.
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O PCP criticou qualquer propósito que, designadamente a pretexto dos concursos, sirva para promover o
despedimento de trabalhadores e, por isso mesmo, propôs a eliminação dessa norma, que foi aprovada com os
votos a favor do PCP, do PDS e do CDS, a abstenção do BE e votos contra do PS.
Com o contributo do PCP, foi afastado o critério do «horário a tempo completo» e reafirmado o critério de
«necessidade permanente». Propusemos, e foi aprovada, a proposta de regularização extraordinária dos
vínculos precários de pessoas que respondam a necessidades permanentes dos serviços, comissões e
organismos que funcionam junto da Assembleia da República. Também com o contributo do PCP foi possível
assegurar que este diploma se aplique a carreiras gerais e especiais e que seja garantida a contagem do tempo
de serviço para efeitos de carreira contributiva, na medida dos descontos efetuados.
Propusemos que todos os trabalhadores com vínculos precários que respondem a necessidades
permanentes pudessem participar neste processo de regularização de vínculos precários. Para tal,
apresentámos proposta para que fossem abrangidos todos os trabalhadores que apresentaram requerimento,
mas também todos os que não tendo apresentado requerimento fundamentem desempenhar necessidades
permanentes.
Propusemos que os trabalhadores dos programas operacionais e fundos estruturais também fossem
integrados nos serviços das CCDR em que atualmente desempenham funções.
Estas propostas foram rejeitadas com os votos contra do PS, do PSD e do CDS.
Foi aprovada a proposta do PCP para que, no Sector Empresarial do Estado, este processo estivesse
terminado até 31 maio de 2018.
Na administração local, respeitando a autonomia do poder local, propusemos que as situações de
precariedade sejam resolvidas a qualquer momento e antes dos prazos gerais referenciados, proposta rejeitada
pelo PS, pelo PSD e pelo CDS.
Com o contributo do PCP e após discussão na especialidade, foi possível melhorar aspetos importantes, tais
como o fim do mecanismo de cessação do contrato de trabalho, caso o trabalhador não apresentasse
candidatura.
Este processo legislativo foi importante e deve constituir um ponto de partida e não um ponto de chegada
para garantir o combate à precariedade e o emprego com direitos em todos os serviços da Administração
Pública.
O PCP considera que não existem trabalhadores a mais nos serviços públicos (como tantas vezes afirmam
PSD e CDS), pelo contrário, o que torna urgente a regularização do vínculo a todos os que se encontram numa
situação de precariedade, a contratação de todos os que fazem falta nos serviços, bem como o
descongelamento da progressão na carreira para todos.
A valorização do trabalho e o reforço dos direitos dos trabalhadores é condição indispensável para a
qualidade dos serviços públicos e para um rumo de progresso e justiça social.
Os Deputados do PCP, Rita Rato — António Filipe.
———
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.