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Sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018 I Série — Número 46

XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

REUNIÃOPLENÁRIADE9DEFEVEREIRODE 2018

Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Emília de Fátima Moreira Santos Sandra Maria Pereira Pontedeira

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas e 6

minutos. Foi anunciada a entrada na Mesa do projeto de lei n.º

773/XIII (3.ª) e dos projetos de resolução n.os 1315 e 1316/XIII (3.ª).

Ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, procedeu-se a um debate de atualidade, requerido pelo PS, sobre «mais emprego, melhor emprego», tendo-se pronunciado, a diverso título, além da Deputada Idália Salvador Serrão (PS), que também abriu o debate, o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Vieira da Silva) e os Deputados António Carlos Monteiro (CDS-PP), Adão Silva (PSD), José Moura Soeiro (BE), José Luís Ferreira (Os Verdes), Rita Rato (PCP), Isabel Pires (BE), Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP) e Tiago Barbosa Ribeiro (PS).

Foram discutidos os projetos de resolução n.os 1243/XIII (3.ª) — Contratação definitiva dos profissionais de saúde colocados ao abrigo do plano de contingência da gripe ativado entre 1 de novembro de 2017 e 31 de março de 2018

(BE) e 1246/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a abertura de concurso para contratação de médicos recém-especialistas até 30 dias após a conclusão do internato médico (BE) juntamente com, na generalidade, o projeto de lei n.º 766/XIII (3.ª) — Estabelece a obrigatoriedade de procedimento concursal para recrutamento dos médicos internos que concluíram com aproveitamento a formação específica (PCP) e com o projeto de resolução n.º 1300/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a contratação de profissionais de saúde e a integração dos profissionais de saúde contratados ao abrigo dos planos de contingência no quadro de pessoal das instituições de saúde (PCP). Proferiram intervenções os Deputados Moisés Ferreira (BE), Carla Cruz (PCP), Isabel Galriça Neto (CDS-PP), João Marques (PS) e Luís Vales (PSD).

Foram discutidos, na generalidade, os projetos de lei n.os 737/XIII (3.ª) — Aumenta a transparência fiscal dos combustíveis por via de uma informação mais detalhada aos consumidores (CDS-PP), 760/XIII (3.ª) — Reforça o dever de

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informação do comercializador ao consumidor de energia (PS) e 765/XIII (3.ª) — Torna mais transparente o impacte ambiental dos combustíveis por via de uma informação mais detalhada aos consumidores (PAN) juntamente com o projeto de resolução n.º 1290/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que reforce a informação dada aos consumidores nas faturas relativas à comercialização de combustíveis (PSD). Proferiram intervenções os Deputados Pedro Mota Soares (CDS-PP), Hugo Costa (PS), André Silva (PAN), Fátima Ramos (PSD), Paulino Ascenção (BE) e Bruno Dias (PCP).

Foi apreciado, na generalidade, o projeto de lei n.º 505/XIII (2.ª) — Procede à primeira alteração do Decreto-Lei n.º 237/2007, de 19 de junho, que transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva 2002/15/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de março, relativa à organização do tempo de trabalho das pessoas que exercem atividades móveis de transporte rodoviário (PCP), tendo

usado da palavra, a diverso título, os Deputados António Filipe (PCP), Álvaro Batista (PSD), Heitor Sousa (BE), António Carlos Monteiro (CDS-PP) e Ricardo Bexiga (PS).

Foram apreciados, em conjunto, os projetos de resolução n.os 912/XIII (2.ª) — Pela educação ambiental como componente de valorização da escola pública (Os Verdes), 1295/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que realize uma avaliação de impacto do programa Eco-Escolas (CDS-PP) e 1299/XIII (3.ª) — Promoção da educação ambiental nos currículos dos ensinos básico e secundário (BE). Pronunciaram-se os Deputados Heloísa Apolónia (Os Verdes), Ana Rita Bessa (CDS-PP), Luís Monteiro (BE), Laura Monteiro Magalhães (PSD), Ana Mesquita (PCP) e Lúcia Araújo Silva (PS).

O Presidente (José Manuel Pureza) encerrou a sessão eram 17 horas e 45 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, está aberta a

sessão.

Eram 15 horas e 6 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as portas das galerias ao público.

Antes de entrarmos na ordem do dia, peço à Sr.ª Secretária Emília Santos o favor de proceder à leitura de

expediente.

A Sr.ª Secretária (Emília Santos): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deu entrada na Mesa, e foi

admitido pelo Sr. Presidente, o projeto de lei n.º 773/XIII (3.ª) — Define e regula as condições em que a

antecipação da morte, por decisão da própria pessoa com lesão definitiva ou doença incurável e fatal e que se

encontra em sofrimento duradouro e insuportável, não é punível (BE), que baixa à 1.ª Comissão.

Deram também entrada na Mesa os projetos de resolução n.os 1315/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que

proceda à imediata realização de obras na Escola Secundária de Alpendurada, no Marco de Canaveses (CDS-

PP), que baixa à 8.ª Comissão, e 1316/XIII (3.ª) — Reforço da importância geoestratégica dos Açores (PS), que

baixa à 2.ª Comissão.

O Sr. Presidente: — Vamos agora entrar na ordem do dia, cujo primeiro ponto consta de um debate de

atualidade, requerido pelo PS, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, sobre «mais emprego, melhor emprego».

Para abrir o debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Idália Serrão, do Grupo Parlamentar do PS.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Portugal está hoje melhor e os portugueses sentem que está melhor, porque recuperaram rendimentos e

qualidade de vida. Mas também afirmamos que Portugal está hoje melhor, porque, objetivamente, o podemos

comprovar.

Assistimos hoje ao maior crescimento económico desde o início do século, um crescimento assente na

confiança dos consumidores e dos empresários, o maior dos últimos 20 anos, no crescimento do investimento,

o maior dos últimos 19 anos, no crescimento das exportações, o maior dos últimos sete anos.

Mas também consolidámos as finanças públicas. Portugal tem hoje o défice público mais baixo do período

democrático e apresenta a maior redução da dívida pública das últimas duas décadas.

Afinal, havia mesmo outro caminho. Um caminho com a marca do Partido Socialista, trilhado com as

portuguesas e com os portugueses e partilhado, com responsabilidade, com os parceiros que formam a maioria

parlamentar, um caminho que tem permitido redistribuir, de forma mais equitativa, os recursos disponíveis,

tornando a sociedade portuguesa mais justa, equilibrada e com menos desigualdades.

Afinal, havia mesmo outro caminho, que as famílias portuguesas sentem no dia a dia e que fazemos questão

de reafirmar.

A direita parlamentar, que entrou em estado de negação desde que os indicadores económicos e sociais

começaram a ser mais favoráveis, tem muita dificuldade em olhar para este novo cenário, uma realidade que

não conseguiram protagonizar e cujo efeito lhes dá uma inexplicável incapacidade de enfrentar a objetividade

dos dados, mesmo quando esta realidade é trazida a debate no Parlamento pelo Governo, pelo Partido Socialista

ou pelos partidos da maioria parlamentar.

Aplausos do PS.

É uma direita que não gosta que as portuguesas e os portugueses tenham conhecimento dos progressos

feitos por si próprios e pelo seu País. Mas é uma direita que deve ouvi-los para que possa entender que, afinal,

havia mesmo outro caminho. Um caminho amigo do emprego, um caminho de crescimento e de

sustentabilidade.

Divulgados os dados trimestrais do emprego do quarto trimestre de 2017, é hora de os dar a conhecer a esta

Câmara para que possam ser discutidos e avaliados.

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Entre o final da governação de direita e dezembro último, foram criados mais de 280 000 empregos líquidos,

uma média de 400 empregos por dia, 17 a cada hora que passou. Só no último ano, foram criados mais de 170

000 empregos, mais do dobro do último ano de governação desta direita parlamentar.

Estamos a assistir à maior criação de emprego dos últimos 19 anos.

Aplausos do PS.

O emprego em Portugal cresce acima do emprego na Europa. Temos mais emprego nos vários setores da

economia, com expressão na indústria, onde foram gerados mais de 48 000 empregos e com relevo em todas

as regiões do território nacional.

Há hoje mais 36 000 empregos líquidos criados para os jovens e menos 28 000 jovens desempregados, o

número mais baixo desde o início da série que recua 19 anos. Um quarto do desemprego jovem foi reduzido

nos últimos dois anos. Não há família que não olhe para esta realidade com efetiva esperança. O desemprego

jovem apresenta ainda um valor que nos inquieta, mas está longe da realidade que se verificava no final da

governação de direita, quando a taxa de desemprego se situava acima dos 30% e tínhamos mais de 100 000

jovens desempregados e muitos outros emigrados.

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Temos hoje mais emprego e melhor

emprego.

Os dados do quarto trimestre de 2017 mostram que existe menos precariedade laboral. No último ano, a

economia foi capaz de gerar muito mais trabalho com vínculo permanente do que precário. O número de

trabalhadores com contrato sem termo cresceu quase quatro vezes mais que o número de trabalhadores com

contato a termo. São, Sr.as e Srs. Deputados, mais 135 500 contratos permanentes, quando comparados com

os 38 400 contratos a termo. Os novos contratos sem termo representam 78% do emprego criado para os

trabalhadores por conta de outrem em Portugal.

Nunca será demais relembrar que no último trimestre de 2015, quando esta direita deixou de mandar nos

destinos de Portugal, o trabalho com termo crescia acima, muito acima do trabalho sem termo e os novos

contratos com termo, mais precários, representavam, à época, 62% do emprego criado. Exatamente a situação

inversa à que temos hoje, em Portugal.

O Sr. Carlos César (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Existem menos 43 000 trabalhadores em situação de subemprego.

Só no último ano, assistimos a uma redução do número de trabalhadores nesta situação três vezes superior à

verificada no último ano do Governo de direita.

Sim, Sr.as e Srs. Deputados, temos mais emprego e melhor emprego.

Também registamos hoje um significativo aumento da população ativa. Temos a taxa de desemprego mais

baixa dos últimos 13 anos: 7,8% é a taxa de desemprego registada no final de dezembro de 2017, abaixo de

todas as projeções formuladas ao longo do ano.

Portugal apresenta ainda a maior queda de desemprego da zona euro. Desde meados do ano passado e ao

fim de 11 anos, a taxa de desemprego em Portugal volta a situar-se abaixo da média da zona euro.

Desde que o Governo do Partido Socialista tomou posse, temos menos 222 000 desempregados, uma queda

muito expressiva de 36%. Temos menos 44 000 desencorajados, aquelas e aqueles portugueses que tinham a

esperança perdida, mas que regressaram ao mercado de trabalho.

Quanto ao desemprego mais estrutural, e sobre o desemprego de longa duração, verificamos que este se

encontra ao nível mais baixo dos últimos oito anos.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, peço-lhe o favor de caminhar para a conclusão.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Irei terminar, Sr. Presidente.

Registam-se menos cerca de 167 000 desempregados de longa duração.

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Temos hoje, em Portugal, uma diminuição sólida do desemprego e um aumento sustentado da sua população

empregada. O País apresenta uma maior capacidade de criar emprego, de criar riqueza e de trazer estabilidade

ao mercado de trabalho.

Estes indicadores são, como referiu o Sr. Primeiro-Ministro, uma prova de que a legislação laboral não

representa um entrave ao crescimento do emprego.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de concluir.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Mas estamos conscientes de que não podemos ficar desatentos às mudanças que apresentam as novas

formas de trabalho.

O mercado de trabalho tem de dar resposta às novas gerações e ao investimento que as famílias fizeram na

formação dos mais novos, assim como às gerações mais velhas de portuguesas e de portugueses que se

encontram em idade ativa.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de concluir.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente.

A ideia de que para sermos mais produtivos teremos de baixar salários e destruir direitos não é aceitável,

nem tão-pouco defensável.

O compromisso do Partido Socialista, expresso no Programa do Governo e reiterado por este Grupo

Parlamentar, tem sido, e continuará a ser, com a criação de mais emprego e melhor emprego. Tem sido esse o

nosso caminho, é essa a nossa determinação, é esse o nosso desígnio.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada Idália Serrão, inscreveu-se, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado

António Carlos Monteiro, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.

É a Mesa em plena atividade!

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Idália

Serrão, este é um debate agendado pelo Partido Socialista, sobre o tema «Mais emprego, melhor emprego».

Ora, penso que é altura de o Governo e de o Partido Socialista clarificarem as suas próprias contradições em

relação a este tema.

Primeira contradição: é a atual legislação laboral, aprovada no tempo do Governo PSD/CDS, que tem

permitido a diminuição do desemprego e a criação do emprego, como a Sr.ª Deputada chamou aqui à atenção.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Bem lembrado!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Aliás, o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa, ainda ontem

disse, como a Sr.ª Deputada referiu, que esta legislação, e cito, «não é um entrave ao crescimento do emprego,

antes pelo contrário», ou seja, confirma a importância da legislação na criação do emprego.

Se assim é, porque é que o Governo e o Partido Socialista aceitam mudar a legislação laboral, a reboque

dos seus parceiros de esquerda, Bloco e PCP?

Aliás, ainda na passada sexta-feira o fizeram relativamente à transmissão de estabelecimento. Ora, sempre

ouvi dizer que em equipa que ganha não se mexe.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Pedro Nuno Santos): — É isso! Muito boa ideia!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Os senhores querem mexer porquê? Porque, evidentemente,

têm de pagar o preço do apoio desses partidos à vossa solução governativa.

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Segunda contradição: o PS vai ou não respeitar a concertação social e o diálogo entre trabalhadores e

empregadores? Relembro que a revisão do Código do Trabalho de 2009 foi precedida de um acordo de

concertação social em 2008. Em 2012, houve novamente um acordo em concertação social, o Compromisso

para o Crescimento, que foi assinado e que permitiu a revisão da legislação laboral. Em ambos os acordos, a

CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) ficou de fora, por opção própria.

Nenhuma das alterações que este Governo e esta maioria fizeram até este momento ao Código do Trabalho

teve qualquer acordo de concertação social. Aliás, o que registamos é exatamente essa diferença de

posicionamento relativamente a esta matéria. É que o Governo, no acordo que fez em 2017 para o aumento do

salário mínimo, incumpriu a sua parte naquilo que lhe competia fazer.

A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — É verdade! Bem lembrado!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Em 2018, falhou o acordo, e, tanto quanto percebemos, falhou

esse acordo para o salário mínimo, porque o Governo não quis assumir o compromisso de não alterar a

legislação laboral sem a concertação social.

Portanto, face a esta mudança de posição do Partido Socialista relativamente à importância da concertação

social, do diálogo social, o que queremos saber é se, realmente, o Partido Socialista, refém do Bloco e do PCP,

vai continuar a ignorar a concertação social e, nesse sentido, deitar fora o histórico relativamente a esta matéria.

São estas as contradições que importa clarificar cada vez que se fala em mudar a legislação laboral, porque,

evidentemente, vai contra o entendimento do CDS em relação ao papel que a concertação social tem de ter

nesta matéria.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Idália Serrão, do Grupo Parlamentar do

PS.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Carlos Monteiro, de forma muito

rápida, e espero que o Sr. Deputado fique esclarecido e não mude, de novo, a conversa, só tenho uma resposta

para lhe dar: é que 80% dos novos empregos criados são contratos sem termo.

Aplausos do PS.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Só está a dar-me razão!

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Adão Silva, do Grupo Parlamentar

do PSD.

O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Tenho de começar

por dizer algumas palavras sobre a intervenção da Sr.ª Deputada Idália Serrão.

A Sr.ª Deputada fez um pouco de história, mas, já agora, deveria ter feito um bocadinho mais. V. Ex.ª era

membro do Governo quando o País chegou à bancarrota e devia ter referido que a situação agora é realmente

mais fácil porque alguém trilhou o caminho das pedras. Repito, porque alguém trilhou o caminho das pedras.

Aplausos do PSD.

E, hoje, não nos custa admitir isso;…

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares: — Obrigado!

O Sr. Adão Silva (PSD): — … pelo contrário, fazemo-lo com gosto. De facto, há mais emprego, o emprego

cresce desde 2013; há menos desemprego, o qual se reduz desde 2013. O que é importante é elogiar os

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trabalhadores, elogiar as empresas, elogiar os governos anteriores ao atual, com certeza. Não temos qualquer

tipo de problema em relação a isso.

O anterior Governo criou as condições para que houvesse mais emprego e se combatesse o desemprego e

o atual Governo segue o caminho do anterior, como, aliás, disse o Sr. Primeiro-Ministro ao reconhecer, como já

aqui foi dito, que está demonstrado que a legislação atual não é um entrave ao crescimento do emprego.

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Venha daí esse elogio. Mas o que é que custa darem este elogio ao Governo

anterior? O que é que vos prende para dizerem as coisas com justiça?

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — O Governo anterior fez uma reforma importante no âmbito laboral e este Governo

está a aproveitá-la, e está a aproveitá-la bem. Não há problema nenhum em relação a isto.

Mas há alertas. Atenção: não destruam o que custou tanto a construir.

A Sr.ª Carla Barros (PSD): — Exatamente!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Façam favor de ser capazes de resistir àquilo que são os ataques de pacotilha

dos vossos parceiros da esquerda radical.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Façam favor de estar atentos àquilo que está a anunciar-se, isto é, um

abrandamento do crescimento do emprego, provocado pelo abrandamento do crescimento da economia. E mais

ainda: estejam atentos aos cerca de 150 000 postos de trabalho disponíveis e que não são ocupados, neste

momento, pelos portugueses.

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Quanto a melhor emprego, com certeza, todos os políticos querem melhor

emprego, todos os responsáveis querem melhor emprego. O que vos deixaram em herança, já o disse, foi um

sucesso para os portugueses, para as empresas, para o País.

O que agora é importante é que esse melhor emprego prossiga, e não está a acontecer, Srs. Deputados.

Aliás, é notável o seguinte título: Geringonça não foi capaz de baixar precariedade laboral.

Protestos da Deputada do PS Idália Salvador Serrão.

A Sr.ª Deputada Idália Serrão não está a ouvir e eu vou repetir: Geringonça não foi capaz de baixar

precariedade laboral. Veja bem: não foi capaz, Sr.ª Deputada!

Aplausos do PSD.

Ora, esse é que é o problema.

Sr.ª Deputada, a senhora pode cantar hossanas, pode criar umas odes exaltantes ao seu Governo e a si

própria. Fique com esse autocontentamento que a mim não me interessa. O que me interessa é saber se os

portugueses estão a ter melhor emprego. Há menos precariedade? Não há!

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Há!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Há mais e melhor formação profissional? Não há!

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A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Há!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Há mais e melhor emprego para os jovens? Não há!

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Há!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Isto é que é complicado. Para este aspeto é que é importante chamar à atenção.

Em resumo: deixámos uma herança que criou vantagens para o País, criou vantagens para Portugal e os

senhores têm um desafio que manifestamente não estão a conseguir cumprir.

É também inquietante o que está a acontecer, porque o Governo e a maioria socialista navegam num

crescente sobressalto entre as exigências do Bloco de Esquerda para «desambiguar» — não sei o que é isso

— a legislação laboral e os propósitos revolucionários apregoados pelo PCP.

O PCP está cansado de políticas de meia canela, como dizia o seu líder. Políticas de meia canela, seja lá o

que isto for.

O Sr. João Oliveira (PCP): — É um bocadinho mais que a vossa sola de sapato.

O Sr. Adão Silva (PSD): — E mais: diz o Deputado João Oliveira que isto não vai lá passo a passo.

Compreendemos: os senhores querem uma revolução, querem canelada inteira, querem bordoada na rua,

querem o País agitado, se houver mudança na legislação laboral.

Aplausos do PSD.

Protestos do Deputado do PCP João Oliveira.

Aquilo que é importante saber é se os senhores vão resistir a esta avalanche do Partido Comunista e do

Bloco de Esquerda.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Soeiro, do Grupo

Parlamentar do Bloco de Esquerda.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança

Social, Sr.as e Srs. Deputados: Nestes últimos dois anos, demos várias más notícias.

Demos más notícias à Comissão Europeia, que não acreditou que fosse possível criar emprego; demos más

notícias ao FMI, cujas previsões eram de manutenção de uma taxa de desemprego de 12%; demos más notícias

à direita, que ansiou a vinda do diabo, e ele não veio, e que disse que o aumento do salário mínimo ia criar

desemprego e turbulência na economia, e aconteceu o contrário.

Não esquecemos, Sr. Deputado Adão Silva, os 40% de desemprego jovem no tempo do PSD e do CDS e as

500 000 pessoas que emigraram, porque não tinham aqui uma vida decente para fazer.

Mas, Sr. Ministro, olhamos atentamente para os números do emprego e verificamos que eles são, ao mesmo

tempo, animadores e inquietantes. Animadores, porque há mais de 276 000 postos de trabalho, e isso é uma

boa notícia depois do colapso da direita. Inquietantes, porque a qualidade do emprego não é a que nós

queremos, não é ainda a que o País precisa e não corresponde aos objetivos da maioria. Porquê? Porque existe,

ainda, uma elevada taxa de rotatividade — 66% dos novos contratos são contratos não permanentes —, existe

uma distribuição entre trabalhadores precários e trabalhadores efetivos que não sofreu nenhuma alteração

estrutural — os contratos a prazo estão na ordem dos 22% — e é preciso que o emprego criado seja sólido, que

não esteja tão exposto à conjuntura, ao boom do turismo e que seja emprego qualificado.

Por isso, esta realidade obriga-nos a agir em duas frentes.

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Primeiro, impedir que haja entidades empregadoras que acham que estão acima da lei e que Portugal é o

faroeste. Dou-lhe o exemplo da RTP. A RTP está nesta semana a propor aos seus trabalhadores que assinem

um contrato em que fica expresso entre as partes que não se estabelece qualquer relação de trabalho

subordinado, mesmo havendo os indícios de laboralidade que implicam o reconhecimento do contrato. Estes

contratos que a RTP está a propor são um insulto ao Parlamento, são um insulto ao PREVPAP (Programa de

Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública), são um insulto à ACT

(Autoridade para as Condições de Trabalho), são um insulto aos tribunais e são um insulto aos trabalhadores,

e é preciso que sejam retirados e analisados. Não pode a RTP contornar as obrigações de regularização dos

precários.

Aplausos do BE.

Segundo, é preciso mudar a lei. Gostava de trazer a este debate o relatório do grupo de trabalho que fizemos

e em que participaram o Sr. Secretário de Estado, eu próprio, Deputados do Partido Socialista e especialistas

independentes. É que esse relatório estabelece um compromisso entre o Bloco de Esquerda e o Governo que

não tem a ver apenas com a questão da rotatividade e da sua taxa, mas acabar com os três alçapões que

existem na lei dos contatos a prazo, acabar com a possibilidade de contratar a prazo para funções permanentes

quando se trate de jovens, como a lei hoje prevê, quando se trate de desempregados de longa duração ou para

empresas em início de atividade. Existe este compromisso e é preciso concretizá-lo!

É porque temos, hoje, uma política económica diferente da do PSD e da do CDS, porque houve um acordo

entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o PCP para inverter a austeridade. Não podemos ter a mesma

lei laboral da direita, nem um acordo entre o PS, o PSD e o CDS para manter essa lei laboral.

Já dissemos, e repetimos: há aqui uma maioria para alterar o Código do Trabalho. Para isso, é preciso fazer

funcionar essa maioria à esquerda.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo

Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes».

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

Se o tema do debate que o PS agendou para hoje já era um tema atual, mais atualidade ganhou depois das

recentes pressões vindas da Comissão Europeia a propósito da legislação laboral no nosso País. É verdade! A

Comissão Europeia voltou a dar sinais de vida, desta vez sobre a legislação laboral.

Assim, num esforço com vista a pressionar o Governo português para reduzir a proteção laboral dos

trabalhadores com contratos sem termo, a Comissão Europeia pretende agora que os trabalhadores

portugueses sejam despedidos de forma mais fácil ainda.

Em bom rigor, vindo de onde vem, estas pressões não surpreendem. Nada de novo, portanto!

Aliás, estas considerações apenas confirmam aquilo que Os Verdes já há muito tem vindo a dizer: a União

Europeia está transformada num instrumento do neoliberalismo!

Para a Europa, que não é a Europa dos cidadãos, dos europeus, mas, sim, a Europa dos grandes negócios

e dos grandes bancos, as pessoas não contam nada, estão reduzidas a meras peças na engrenagem do lucro

rápido, na engrenagem do mundo laboral: trabalham, pagam impostos e dão lucro aos patrões. É assim que a

Europa olha para quem trabalha.

E, portanto, da Europa nada de novo!

Ainda assim, e também por isso, hoje, podemos dizer: ainda bem que PSD e CDS estão agora fora do

Governo, porque, se continuassem, já o Governo teria dito «sim, senhor» e, muito provavelmente, já estaria a

tratar de, obedientemente, materializar tais pretensões.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora aí está!

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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Mas nós sabemos o que é que nos custou essa obediência cega

aos iluminados da Europa. Sabemos, e sabemos bem! Sabemos bem, porque desemprego, precariedade e

empobrecimento são apenas alguns exemplos da fatura que os portugueses tiveram de suportar na sequência

dos constantes «sim, senhor» que eram dados à Europa.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — É o contrário!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Deputado Adão Silva, tenho que lhe dizer que quem trilhou os

caminhos das pedras não foi o Governo anterior, foram os portugueses, e foi trilhado um caminho das pedras

que demorou mais de quatro anos a atravessar.

Ainda a propósito da Europa, importa sublinhar a posição do Governo ao rejeitar categoricamente essas

pressões da Comissão Europeia sobre a legislação laboral.

Acompanhamos, portanto, o Primeiro-Ministro, quando, a este propósito, afirmou o seguinte: «Essa ideia de

que nós seremos mais produtivos e mais competitivos esmagando salários e destruindo direitos é uma ideia

errada e não faz parte do mundo de hoje».

Mas o Primeiro-Ministro disse mais: que o grande desígnio para este ano é ter melhor emprego, depois de o

País ter já conseguido mais emprego. E também aqui acompanhamos o Governo.

Mais emprego, até porque os números não deixam espaço para quaisquer dúvidas. Quando este Governo

tomou posse, a 26 de novembro de 2015, o desemprego estava nos alarmantes 12,2%,…

A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Estava a descer!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … hoje está nos 7,9%.

Melhor emprego, porque, de facto, é necessário não só continuar a combater a precariedade laboral, mas

também garantir o trabalho com direitos. É necessário criar as condições, no plano legislativo, para que haja

efetivamente, no nosso País, trabalho com direitos.

Esta necessidade fica reforçada se tivermos em conta que, ao longo dos anos, as alterações à legislação

laboral operadas no nosso País tiveram invariavelmente um denominador comum: o acentuar do desequilíbrio

nas relações laborais, com fortes prejuízos para quem trabalha.

De facto, durante vários anos mas, em particular, no período do último Governo, o Governo PSD/CDS,

assistimos a uma ofensiva contra quem trabalha, marcada, sobretudo, pela degradação acentuada das

condições de vida da generalidade dos trabalhadores portugueses.

Recorde-se que foi pela mão do PSD e do CDS que, por exemplo, os despedimentos ficaram mais facilitados

e a preços de saldo. Decisões, aliás, a fazer lembrar um anúncio publicitário, agora dirigido às entidades

patronais: despeçam, porque é fácil, é barato e dá milhões.

Ora, são estas opções do Governo anterior, mas não só, que, com toda a frontalidade, sem rodeios, sem

«mas, nem meio mas», importa agora encarar e definitivamente reverter em nome da justiça social, mas também

como forma de valorizar o trabalho e respeitar quem trabalha.

Em causa estão matéria importantes que muito dizem às pessoas que trabalham, desde logo as regras para

o despedimento, nomeadamente os valores das indemnizações em caso de despedimento; a reposição do

conceito de justa causa, no mínimo, nos termos em que estava antes da alteração ao Código do Trabalho de

2009; a necessidade de impedir a caducidade das convenções coletivas de trabalho e o regresso ao nosso

ordenamento jurídico, do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador.

São estas algumas das medidas que, em matéria laboral, Os Verdes consideram absolutamente imperiosas

para se conseguir melhor emprego no nosso País.

É este o caminho que é necessário para restabelecer algum equilíbrio nas relações laborais, para valorizar o

trabalho e para dignificar quem trabalha.

Os trabalhadores podem continuar a contar com Os Verdes nestas batalhas!

Aplausos de Os Verdes.

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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato, do Grupo Parlamentar

do PCP.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O que, de facto, é, e

foi, determinante no crescimento económico foi a devolução de direitos e de rendimentos.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Isso foi determinante no crescimento económico!

O que impede a transformação do crescimento económico numa mais justa distribuição da riqueza é a

legislação laboral do PSD e do CDS.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O que, de facto, impede transformar o crescimento económico em melhores

salários e emprego com direitos é a legislação laboral do PSD e do CDS.

O crescimento do emprego é positivo, pese embora o desemprego jovem e o desemprego de longa duração

continuem a ter níveis preocupantes, mas, para lá da criação de mais emprego, o grande desafio que se coloca

é a questão do melhor emprego. Para lá da quantidade, é importante discutir a qualidade do emprego e, para

discutir emprego com direitos, é preciso discutir a revogação das normas gravosas do Código do Trabalho e

medidas firmes de combate à precariedade.

Para o PCP, o desafio não é apenas de quantidade, também é de qualidade, e a opção política pela qualidade

reside na alteração da legislação laboral.

O combate à precariedade exige que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo efetivo,

exige também o cumprimento da lei e da fiscalização e exige, incontornavelmente, a alteração à legislação

laboral. Não é possível defender o emprego com direitos mantendo intocável o Código do Trabalho do PSD e

do CDS. É que o Código do Trabalho, de 2012, promovido pelo PSD e pelo CDS, tinha como objetivo — e

conseguiu — degradar e desequilibrar, em situações muito profundas, as condições de trabalho.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

A Sr.ª RitaRato (PCP): — Por isso, se o desafio que se coloca é não apenas mais emprego mas melhor

emprego, então, deveria sair daqui hoje o compromisso de procedermos à revisão da legislação laboral, tendo

em conta os objetivos do emprego com direitos.

Sr. Ministro, Srs. Deputados, é incontornável: a precariedade, a contratação a prazo, o trabalho temporário,

os estágios profissionais, as ditas bolsas de investigação, os falsos recibos verdes não são a exceção, são a

regra no mercado de trabalho, e o problema é exatamente esse.

A precariedade e o recurso à contratação a prazo deviam ser a exceção e, hoje, o que temos no nosso País

é, de um modo geral, o recurso à contratação a prazo e, sobretudo, ao outsourcing e ao falso trabalho temporário,

o que não pode ser.

Por isso mesmo, entendemos que o desafio que hoje se coloca ao País e ao Parlamento é o de optar entre

o emprego com direitos e a valorização do trabalho ou apenas o de incidir nas questões do crescimento

económico sem tocar nas questões da legislação laboral.

Para nós, é muito evidente que, para além da limitação da contratação a prazo, é determinante revogar a

caducidade da contratação coletiva, é determinante valorizar os salários, é determinante repor as condições de

pagamento do trabalho suplementar, é determinante debater matérias relativamente ao trabalho noturno e ao

trabalho em dias feriados. Isso é fundamental.

O PCP obviamente que valoriza o crescimento do emprego, mas não perde de vista a necessidade do

emprego com direitos. Crescimento económico não é sinónimo de emprego com direitos — repito, crescimento

económico não é sinónimo de emprego com direitos! —, não nos bastamos relativamente ao crescimento

económico. Entendemos que o crescimento económico tem de se traduzir na vida dos trabalhadores e das

famílias e em emprego com direitos.

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Esse é o grande desafio e são essas as propostas do PCP.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e

Segurança Social, Vieira da Silva.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Vieira da Silva): — Sr. Presidente, Sr.as e

Srs. Deputados: De facto, a realidade impõe-se às interpretações baseadas nas manchetes jornalísticas. A

realidade está bem expressa nos números oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a quantidade

e a qualidade do emprego.

Depois de termos conhecimento dos dados finais sobre o emprego em 2017, o que sabemos é que esse ano

veio confirmar e acelerar o ritmo de criação de emprego e de diminuição do desemprego a níveis que não eram

conhecidos em Portugal há muitos e muitos anos, em alguns casos desde o início das séries estatísticas do INE.

Aplausos do PS.

Trata-se de um crescimento de emprego que é superior à diminuição do desemprego, o que quer dizer que,

finalmente, estamos a trazer para o mercado de trabalho muitos que eram inativos, muito que eram inativos

desencorajados, muitos que já tinham desistido de entrar no mercado de trabalho. Esta é uma mudança

estrutural, é uma mudança de fundo que foi trazida com as novas políticas e a nova maioria que existe nesta

Assembleia.

Aplausos do PS.

É verdade que há um crescimento quantitativo do emprego, mas estaríamos enganados se limitássemos

essa mudança ao crescimento quantitativo.

É verdade também que nos dois últimos anos, em particular em 2017, diminuiu o emprego a tempo parcial,

o subemprego a tempo parcial, o trabalho por conta própria, o trabalho familiar não remunerado e outras formas

atípicas de emprego.

O Sr. HugoLopesSoares (PSD): — Está tudo ótimo!

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — Se outros números forem necessários,

basta dizer que, se é verdade que, no último ano, 78% dos contratos por conta de outrem foram contratos sem

termo, 85% de emprego criado em 2017 foi da responsabilidade do crescimento da contratação sem termo, e

esse é um dado novo nos últimos anos em Portugal.

Aplausos do PS.

É uma realidade que nenhuma primeira página de qualquer jornal pode desmentir, porque é a realidade dos

dados oficiais.

Trata-se de crescimento do emprego em quantidade e em qualidade, porque, ao contrário do que alguns

afirmam, tem crescido substancialmente o salário dos portugueses, depois de um período longo em que a

política era a de reduzir salários, congelar o salário mínimo, contrariar a contratação coletiva.

Protestos do PSD.

Os dados da segurança social são muito óbvios, são dados oficiais. São dados que perturbam a oposição,

mas são dados reais.

Continuação de protestos do PSD.

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Em 2017, para um crescimento de cerca de 3,5% do emprego, o crescimento da massa salarial expressa

nas contribuições para a segurança social aproximou-se dos 7%. Essa diferença só tem uma explicação:

melhores salários, salários mais altos e não apenas para os trabalhadores que auferem o salário mínimo.

Aplausos do PS.

Os dados da segurança social mostram bem que os trabalhadores que auferem um salário acima do salário

mínimo tiveram, de 2016 para 2017, um crescimento médio de 3,3%. Isso quer dizer que o trabalho está a

crescer em quantidade, mas também em qualidade. E isso acontece porque as políticas mudaram, porque o

salário mínimo tem vindo a crescer a um ritmo real de 11% nestes dois anos, porque a contratação coletiva, que

durante três anos não superou os 250 000 trabalhadores envolvidos, só no ano de 2017 se aproximou dos 900

000 trabalhadores. Esta foi uma mudança radical de política suportada também por uma mudança de atitude do

Governo no que respeita às portarias de extensão.

Aplausos do PS.

O salário mínimo a crescer, o impulso à contratação coletiva e a alteração das políticas ativas de emprego

são as políticas que explicam essas mudanças no emprego em quantidade e em qualidade.

Sim, poucas vezes em tão poucos anos foram mudadas de forma positiva e tão significativa as condições

das relações laborais em Portugal, e isso é da responsabilidade deste Governo e desta maioria.

Aplausos do PS.

Obviamente, não estamos satisfeitos. Continuaremos o trabalho e faremos as mudanças da legislação laboral

em linha com o que está comprometido no Programa do Governo.

Neste momento, assumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.

O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr. Ministro, se fizer favor.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — Vou terminar.

Quando o Sr. Primeiro-Ministro disse, e muito bem, que não estava disponível para mexer na legislação

laboral, referia-se a uma sugestão de flexibilizar os contratos sem termo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — Gostaria de perguntar aos partidos da

oposição se acompanham o Governo nessa posição, que deve ser nacional, de que não se deve flexibilizar mais

a regulação dos contratos sem termo, como alguns defendem.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — É isso que entendemos e tudo o resto

que faremos será em linha com os compromissos que assumimos com os portugueses no Programa do Governo

e no Programa Eleitoral do Partido Socialista.

Aplausos do PS.

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Neste momento, a Mesa não regista inscrições, pelo que

aguardamos que os grupos parlamentares tomem a iniciativa de inscrever algum Deputado ou alguma Deputada

para este debate.

Pausa.

Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato, do Grupo Parlamentar do PCP.

A Sr.ª RitaRato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Os dados sobre a

criação líquida de emprego, Sr. Ministro, não são exatamente os mesmos dados sobre a criação bruta de

emprego, mas essa é uma discussão que faremos a tempo.

É fundamental dizer o seguinte: a criação de emprego é importante, mas não basta. Continuamos a ter 66%

dos jovens com menos de 25 anos com contratos precários,…

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Bem lembrado!

A Sr.ª RitaRato (PCP): — … o que não é um sinal que nos deixe contente face à situação do País e do

mundo do trabalho.

Sr. Ministro, também o aumento do salário mínimo continuou a ficar muito aquém do que seria necessário.

Continuamos a ter o salário mínimo abaixo dos 600 € e o aumento dos salários subiu apenas 0,6%, em termos

médios, nos últimos anos.

O Sr. Ministro anunciou que a contratação coletiva — uma questão muito importante que aqui foi referida —

passou a abranger mais trabalhadores. No entanto, Sr. Ministro, continuou aquém dos números que estavam

previstos. O Governo tinha previsto que iriam ser abrangidos 1 milhão de trabalhadores, mas ainda está nos 800

000 trabalhadores e muito longe dos 3 milhões que existiam em 2003, antes de o PSD e de o CDS terem

introduzido no Código do Trabalho a caducidade da contratação coletiva.

Para além da questão do número, é também importante discutir a questão dos conteúdos da contratação

coletiva. O Sr. Ministro sabe que tudo o que significa contratação coletiva tem como moeda de troca banco de

horas, horários concentrados e adaptabilidades.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª RitaRato (PCP): — Termino, Sr. Presidente.

Nós não estamos disponíveis para discutir a caducidade tendo como guilhotina a moeda de troca das

adaptabilidades e dos horários de trabalho. É possível discutir a defesa da contratação coletiva e da reposição

do princípio do tratamento mais favorável a partir do princípio do fim da caducidade e não como moeda de troca.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar.

A Sr.ª RitaRato (PCP): — Termino mesmo, Sr. Presidente, dizendo que defender emprego com direitos

exige a revisão da legislação laboral e o fim da caducidade da contratação coletiva.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, a Mesa está na expectativa de que haja novas

inscrições, antes de procedermos ao encerramento deste debate, que cabe ao Partido Socialista, que já indicou

o orador que vai intervir.

Pausa.

Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do Bloco de Esquerda.

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A Sr.ª IsabelPires (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Deputados: Relativamente ao tema de que

estamos a falar e à análise dos dados do emprego, é importante, também na dimensão da contratação coletiva,

olharmos com mais atenção, como já aqui foi referido, não apenas para os dados estatísticos, para a quantidade,

mas, acima de tudo, para a qualidade.

Sabemos que, nos últimos anos, foram dadas machadadas no Código do Trabalho, nomeadamente no que

toca à contratação coletiva, e chegámos a um ponto em que ainda estamos muito aquém de recuperarmos o

número de trabalhadores abrangidos ou o número de trabalhadores potencialmente abrangidos por convenções

coletivas.

No entanto, esta análise dos dados, puramente estatísticos, não nos pode retirar de um debate e de uma

análise mais importante e que tem a ver com as dinâmicas da qualidade das convenções coletivas e a forma

como elas são negociadas. Temos vindo a chamar a atenção para isso especialmente nos últimos dois anos,

tal como os sindicatos.

De facto, com a norma da caducidade e a retirada do tratamento mais favorável do Código do Trabalho, além

de ter existido uma quebra muito grande no número de contratos coletivos e de trabalhadores abrangidos, que

é difícil de recuperar, estas alterações foram mais além, porque serviram para amordaçar os trabalhadores e as

respetivas estruturas representativas que hoje em dia negoceiam com a entidade patronal com uma espada em

cima da cabeça. Isto não é maneira de se fazer convenções coletivas!

Por isso, continuamos a achar — e a propor, como já o fizemos anteriormente — que estas duas alterações

específicas, entre outras, são absolutamente necessárias.

Para terminar, Sr. Presidente, gostaria de dizer que não podemos olhar para este debate como a direita olha,

que é como uma negociação apenas com o patronato. Para a direita, os trabalhadores não têm uma palavra a

dizer, como nunca tiveram, em relação aos tais acordos que foram aqui referidos,…

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª IsabelPires (BE): — … mas nós queremos dar a palavra aos trabalhadores — e estamos dispostos

a isso — para dizerem o que pensam sobre o trabalho por turnos, sobre o trabalho noturno, sobre a questão das

insolvências fraudulentas que no nosso País já levaram a despedimentos de milhares de pessoas.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Muito bem!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de terminar.

A Sr.ª IsabelPires (BE): — Fica aqui o desafio: podemos contar com o Partido Socialista e com o Governo

para fazer as alterações necessárias ao Código do Trabalho?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-

PP, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Anacoreta Correia.

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate de atualidade

que nos foi proposto pelo Partido Socialista é basicamente uma conversa, é uma conversa interna entre os

partidos que suportam esta maioria e o Governo.

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Os senhores não têm nada para dizer!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — É qualquer coisa que poderia ser evitada porque, na verdade,

o que aqui está em causa, exclusivamente em causa, é o desacerto que existe na leitura dos dados e naquilo

que são os acordos interiores dessa maioria.

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O Sr. João Oliveira (PCP): — Para o CDS nem os trabalhadores interessa!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Se não, vejamos: se olharmos para os dados objetivos do

crescimento do emprego — e eles vêm desde 2013 e tiveram até entre o ano de 2014 e o ano de 2015 um ritmo

de crescimento que não voltou a acontecer —, se olharmos para esses dados do crescimento do emprego…

Risos do Deputado do PS João Galamba.

Sr. Deputado João Galamba, tenho aqui os números. Eu mando-lhe os dados, Sr. Deputado. São dados do

INE.

O Sr. João Galamba (PS): — Deve ter visto outros dados! Mande lá esses!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Como eu estava a dizer, se olharmos para esses números,

verificamos que o emprego estava a crescer, e isso foi reconhecido por todas as bancadas. Isso é ou não

positivo, Srs. Deputados? É positivo.

Se olharmos para a contratação coletiva desde, pelo menos, 2012, verificamos que ela tem vindo a crescer

a um ritmo assinalável, como o Sr. Ministro disse,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Como é que pode dizer uma coisa dessas?!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — … não apenas no último ano, mas já antes.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Dê os números!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Pergunta-se: isso é ou não positivo? É positivo.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Está a inventar coisas!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — O crescimento do emprego e a diminuição do desemprego

são factos que interessam aos portugueses, mas, Sr. Ministro, não se ria, porque a grande questão que aqui foi

trazida foi pelo Sr. José Soeiro. O Sr. José Soeiro disse assim. «Está no acordo. Está no acordo.».

O Sr. João Galamba (PS): — Quem é o Sr. José Soeiro?!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr. Deputado José Soeiro, peço desculpa.

O Sr. Deputado José Soeiro disse: «Está no acordo, Sr. Ministro. Está no acordo».

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, está a exceder um pouco o tempo de que dispõe,

pelo que lhe peço que termine. A Mesa não estava a prestar atenção, peço desculpa.

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Portanto, Sr. Ministro e Srs. Deputados, entre a questão mudar ou não mudar, diria como os portugueses

dizem e como aquela canção popular do Minho também diz: «Pr’a melhor está bem, está bem,/Pr’a pior já basta

assim!».

Tirem-nos do filme desta maioria que nem sequer se entende naquilo que é relevante para o País…

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Por isso é que vocês não são Governo!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — … e não responde às verdadeiras aspirações dos

desempregados e dos trabalhadores.

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Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção de encerramento do debate de atualidade,

tem a palavra o Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, do Partido Socialista.

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:

«Mais emprego, melhor emprego», o tema que o Partido Socialista trouxe hoje a debate exprime plenamente a

nossa visão de sociedade, o nosso entendimento da economia e os firmes princípios de justiça social em que

assentamos a nossa governação.

Nós não separamos o forte crescimento da economia da justa redistribuição do seu produto entre

trabalhadores e empregadores, recolhendo ambos os benefícios do seu esforço.

É assim que entendemos um País mais desenvolvido e é isso que a maioria do País espera de nós. Mas,

para isso, necessitamos de um Estado atento e de um poder político que não se demita de corrigir distorções e

injustiças.

O debate desta tarde permitiu confirmar que, infelizmente, não é assim para todas as forças políticas e que

a direita insiste numa visão preguiçosa que é incapaz de reconhecer o mérito das nossas opções e como elas

levaram à melhoria da qualidade de vida do nosso povo.

Aplausos do PS.

A direita está paralisada. Está paralisada hoje, como esteve durante a governação, quando acreditou, afirmou

e agiu como uma criança cega na austeridade, uma austeridade que se derrotou a si própria.

Estão paralisados hoje, como estiveram quando defenderam que o País tinha de empobrecer para crescer,

que a aposta nos baixos salários era o futuro da nossa posição no mundo e que os portugueses não podiam

aspirar a mais e melhor.

Estão paralisados, quando reproduzem de forma subserviente os argumentos das instituições internacionais,

que querem mais desregulação e mais desproteção, que rejeitamos em absoluto. Às propostas da Comissão

Europeia para facilitar despedimentos, nós dizemos «não»! Dizemos «não» e ficamos sem saber o que é que

os senhores dizem relativamente a isso.

O Sr. Carlos César (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Ora bem!

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Estão paralisados, quando defendem o diálogo social, mas depois

chumbaram-no quando aqui trouxemos um acordo de concertação social.

Estão paralisados hoje, como quando recusaram apoiar, neste Parlamento, todas as medidas que

propusemos, incluindo o aumento do salário mínimo. Porque nós temos memória e lembramo-nos que, há

apenas um ano, o PSD achava o aumento do salário mínimo excessivo.

A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Muito bem!

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — O Sr. Deputado Adão Silva, que aqui relembrou legislaturas passadas,

podia ir a esta Legislatura e dizer o que é que pensa sobre esta notícia de há apenas um ano: PSD acha o

aumento do salário mínimo excessivo.

Aplausos do PS.

Gostaríamos de saber se continua a acreditar que os trabalhadores vivem acima das suas possibilidades,

quando na realidade as vossas propostas é que são muito abaixo da ambição de um País mais justo e de uma

economia mais desenvolvida.

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Srs. Deputados, a direita está paralisada, mas o País não está. Portugal avança, apesar das posições do

PSD e do CDS, e avança precisamente porque desde 2015 estamos a fazer o contrário do que os senhores

defendem.

Nós defendemos mais emprego, mais emprego confirmado por todos os dados que temos disponíveis.

Assim: a taxa de desemprego no ano passado ficou em 8,1%, caiu mais de 20% num ano e está em mínimos

de nove anos; temos a maior criação de emprego dos últimos 19 anos e estamos bem acima da média europeia;

a população empregada está no valor mais elevado desde 2010; num ano a economia portuguesa ganhou 161

000 postos de trabalho, sendo, aliás, o maior aumento percentual e absoluto das séries oficiais desde 1998;

desde o início da Legislatura, temos menos 224 000 desempregados e quase mais 300 000 novos empregados;

o número de jovens sem trabalho caiu quase 13% num ano; o desemprego de longa duração caiu mais de 30%;

e a criação de emprego superou largamente a redução do desemprego, o que demonstra que um número muito

significativo de portugueses saiu dos desencorajados. Mais emprego!

Mas, para nós, não chega necessariamente mais emprego. Nós queremos somar qualidade à quantidade.

Nós queremos melhor emprego,e isso, hoje, também é cada vez mais uma realidade.

Temos melhor emprego nos salários, um aumento de 15% do salário mínimo desde o início da Legislatura e

o salário médio a crescer 2% ao ano.

Temos melhor emprego na qualidade da contratação. Ao contrário dos disparates que já aqui ouvimos, há,

obviamente, menos precariedade hoje do que durante a vossa governação. Aliás, quando dizem isso, confirmam

o desastre que aconteceu no mercado de trabalho, já que é evidente que, quando o emprego cai, a precariedade

estatística diminui, porque são os trabalhadores temporários e a prazo os primeiros a serem despedidos. O valor

mais baixo dos contratos a prazo foi em 2012, ano de desemprego aflitivo e da destruição de milhares de postos

de trabalho. Por isso, a precariedade não baixa por boas razões, foi baixa porque os senhores destruíram o

mercado de trabalho.

Connosco, em 2017, os contratos sem termo representaram 85% da variação homóloga do emprego criado

e estão bem acima dos valores de 2016. O crescimento dos contratos a termo é de 7,4% e dos contratos sem

termo é de 5,9% — com 80% do ganho líquido de emprego a representar contratos permanentes. Mais emprego,

melhor emprego.

E por melhor emprego continuaremos a trabalhar neste Parlamento, aprovando e executando as medidas

relativas ao código laboral que estão no nosso Programa do Governo.

Mais emprego sob todos os indicadores e em todos os segmentos, melhor emprego na qualidade da

contratação, na estabilidade laboral e na remuneração do trabalho.

São dados que as estatísticas confirmam e que os portugueses reconhecem.

Um contrato estável com um salário digno não é uma benesse, não é uma segurança abusiva nem é algo do

passado,…

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — … é o pilar mais importante de uma sociedade decente para a qual,

ao longo dos últimos dois anos, temos dado o nosso firme contributo.

Assim prosseguiremos.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, encerramos assim o debate de atualidade,

requerido pelo PS, sobre «Mais emprego, melhor emprego», ao abrigo do artigo 72.º do Regimento.

Passamos ao ponto dois, com a discussão dos projetos de resolução n.os 1243/XIII (3.ª) — Contratação

definitiva dos profissionais de saúde colocados ao abrigo do plano de contingência da gripe ativado entre 1 de

novembro de 2017 e 31 de março de 2018 (BE) e 1246/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a abertura de

concurso para contratação de médicos recém-especialistas até 30 dias após a conclusão do internato médico

(BE), juntamente com, na generalidade, o projeto de lei n.º 766/XIII (3.ª) — Estabelece a obrigatoriedade de

procedimento concursal para recrutamento dos médicos internos que concluíram com aproveitamento a

formação específica (PCP) e com o projeto de resolução n.º 1300/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a

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contratação de profissionais de saúde e a integração dos profissionais de saúde contratados ao abrigo dos

planos de contingência no quadro de pessoal das instituições de saúde (PCP).

A Mesa aproveita para desejar uma boa tarde aos membros do Governo que saem agora da Sala.

Para apresentar as iniciativas legislativas do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Moisés

Ferreira.

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: São precisos mais profissionais no

Serviço Nacional de Saúde, é um facto. São precisos mais médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico,

assistentes técnicos e operacionais, técnicos superiores… Todos eles são necessários no Serviço Nacional de

Saúde.

Não é o Bloco de Esquerda que o diz ou, melhor não é só o Bloco de Esquerda que o diz, são os utentes, é

a realidade, é o dia a dia dos serviços.

Se ainda existem 700 000 utentes sem médico de família, então é óbvio que são necessários mais

especialistas em medicina geral e familiar.

Se há tempos de espera absolutamente indignos para consultas e cirurgias de especialidade, então é óbvio

que são necessários mais médicos dessas várias especialidades hospitalares.

Se as enfermarias não cumprem com os rácios e com as dotações seguras, então é óbvio que esses

profissionais são necessários, que é necessário contratar mais profissionais.

Se nos centros de saúde, nos cuidados domiciliários, nos hospitais faltam enfermeiros e técnicos de

diagnóstico, então é óbvio que devem ser contratados mais profissionais.

Este é o verdadeiro défice do País e é o verdadeiro défice a que devemos responder, se queremos garantir

cuidados de saúde acessíveis e de qualidade a todos os utentes.

As propostas que o Bloco de Esquerda traz hoje a debate respondem a este défice de investimento público,

respondem às necessidades do Serviço Nacional de Saúde e respondem às necessidades das pessoas.

Trazemos uma primeira iniciativa legislativa para que todos os profissionais colocados ao abrigo do plano de

contingência da gripe sejam contratados de forma definitiva, ficando a trabalhar permanentemente nos centros

de saúde e nos hospitais onde foram colocados. Bem sabemos que estes profissionais são necessários todo o

ano, bem sabemos que fazem falta todo o ano e, por isso, devem ser contratados por todo o ano também.

Alguém acredita que os 12 enfermeiros que, ainda nesta semana, protestaram, se manifestaram em frente

ao hospital de Gaia porque podem ser despedidos já para a semana se nada for feito não são absolutamente

necessários naquele centro hospitalar? Ninguém acredita nisso. Todos sabem que são necessários. Estes e

muitos mais.

Trazemos, ainda, uma segunda iniciativa legislativa para que os concursos para a contratação de médicos

recém-especialistas sejam abertos obrigatoriamente até 30 dias após a conclusão da formação. Isto garante

que os médicos podem ingressar na carreira médica, no Serviço Nacional de Saúde, assim que acabam a sua

formação especializada. Isto garante a contratação imediata, a sua fixação no serviço público e o reforço de

profissionais nos hospitais e centros de saúde.

É incompreensível que existam 700 médicos especialistas à espera de concurso desde abril do ano passado,

já quase um ano que passou. É incompreensível que existam outras centenas à espera de concurso desde

outubro do ano passado. É incompreensível que existam 77 especialistas em medicina geral e familiar que

poderiam ter sido contratados no final do ano passado, que poderiam ter garantido médico de família a mais 150

000 utentes e não o foram porque não abriram os concursos para a sua contratação. Por causa destes atrasos

nos concursos há, pelo menos 200 médicos que já saíram do Serviço Nacional de Saúde. Isto quando há

hospitais a dizer que precisam urgentemente, «como de pão para a boca», de contratar médicos especialistas.

A falta de investimento na saúde é o verdadeiro défice do País. Não pode o Governo andar mais preocupado

em ir além das suas próprias metas para «fazer bonito» em Bruxelas e não intervir onde realmente importa: nos

serviços públicos.

É por isso, e em defesa do Serviço Nacional de Saúde, que trazemos estas iniciativas a discussão, para que

não haja mais atrasos nos concursos, para que não sejam despedidos profissionais de saúde e para que a

prioridade seja os serviços de saúde e os utentes e não o défice para mostrar no Eurogrupo.

Aplausos do BE.

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para apresentar as iniciativas legislativas do Partido Comunista

Português, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP, prosseguindo o seu compromisso de

defender e reforçar o Serviço Nacional de Saúde, de valorizar o trabalho e os trabalhadores, de combater a

precariedade, traz à discussão duas iniciativas que visam a contratação de profissionais de saúde,

designadamente de médicos e enfermeiros, integrando-os com contratos de trabalho com vínculo público por

tempo indeterminado.

Há mais de oito meses que centenas de médicos que terminaram a formação médica especializada

aguardam pela publicação dos procedimentos concursais com vista à sua colocação.

Tudo isto acontece num momento em que milhares de portugueses não têm médico de família e outros tantos

aguardam há vários anos, muitos deles há mais de dois anos, por uma consulta de especialidade em vários

hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Porque não podemos aceitar que os médicos não estejam nos hospitais e centros de saúde, onde deveriam

estar, e integrados na carreira médica, para além de estarem a receber um salário que não corresponde à função

e especialidade que têm, e porque esta situação enfraquece o Serviço Nacional de Saúde — importa aqui

recordar que esta situação de espera levou a que cerca de 200 médicos tivessem abandonado o Serviço

Nacional de Saúde, ou por via da emigração ou para ingressar em grandes grupos — e beneficia os grandes

grupos económicos que operam na saúde,…

O Sr. Miguel Santos (PSD): — Vocês têm jeito é para chorar!

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — … o PCP apresenta um projeto de lei que estabelece a obrigatoriedade de

procedimento concursal para recrutamento dos médicos internos que concluíram a formação médica específica

e aos quais foi atribuído o grau de especialista na respetiva especialidade. Prevê-se nesta iniciativa que o

concurso deverá ocorrer no prazo de 30 dias após a homologação e a afixação da lista classificativa final.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Na semana passada, o País foi surpreendido com a decisão do hospital de

Gaia de despedir, já neste mês, 11 enfermeiros que haviam sido contratados em janeiro, ao abrigo do plano de

contingência da gripe. Este despedimento ocorre apesar da profunda carência de enfermeiros existente naquele

centro hospitalar. Esta decisão do centro hospitalar é inaceitável mas não é inédita. Também no ano passado,

vários enfermeiros contratados ao abrigo dos planos de contingência foram despedidos, apesar de, na

esmagadora maioria dos hospitais, o número de enfermeiros nos serviços ser muito inferior às necessidades

sentidas, ao recomendado e a estar muito longe de ser cumprido o rácio estabelecido pela Organização Mundial

de Saúde.

Para evitar que situações como a do hospital de Gaia aconteçam, mas, sobretudo, porque é imperioso que

sejam reforçados os hospitais e o Serviço Nacional de Saúde com mais enfermeiros e que se combata o recurso

à precariedade e se travem os despedimentos, o PCP propõe a regularização das situações destes enfermeiros,

integrando-os com contratos de trabalho com vínculo público por tempo indeterminado.

Com estas propostas, estamos a valorizar o trabalho e os trabalhadores, a reforçar a prestação de cuidados

de saúde no SNS e os direitos dos utentes.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, a Mesa continua a não registar inscrições para

intervenções sobre este ponto, pelo que solicitava aos grupos parlamentares que tomassem essa iniciativa.

A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, se me permite…

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto, para uma

intervenção.

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A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaríamos de começar

por saudar o PCP e o Bloco de Esquerda por trazerem hoje a debate a temática dos recursos humanos na

saúde, nomeadamente da contratação de médicos, uma temática que o CDS trouxe aqui em 18 de janeiro, com

um projeto de resolução que visava, precisamente, recomendar a contratação urgente de médicos que estão a

aguardar concurso há meses, projeto esse que foi aprovado. Portanto, não podemos deixar de saudar que

voltem a lembrar uma temática preocupante.

Para o CDS, nesta matéria, há algumas premissas que são fundamentais, desde logo a de que os médicos

devem ter acesso a formação de qualidade em serviços idóneos e de forma a corresponder às necessidades

crescentes do Serviço Nacional de Saúde.

Outra premissa é a de que, de facto, a indiferenciação dos médicos não serve, de todo, as necessidades dos

nossos doentes e, portanto, pretendemos que não se iludam os portugueses, contratando médicos

indiferenciados, para dizer que, por exemplo, há mais médicos de família. É que, para o CDS, como para muitos

outros, os médicos indiferenciados não são especialistas de medicina geral e familiar.

O Sr. João Oliveira (PCP): — É um facto!

A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Dito isto, Srs. Deputados, é verdade, como bem disseram, que há

problemas graves com os recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde. O CDS anda a dizê-lo há mais de

um ano e meio, e não nos congratulamos por relembrar aquilo que é, efetivamente, uma realidade. Há mais de

um ano e meio que dizemos que os recursos humanos na saúde não estão satisfeitos, que os recursos humanos

na saúde são escassos e não estão a ser devidamente contratados.

Quanto a concursos em atraso, pois é, desde há meses que o Sr. Ministro nos responde que está para dias.

Há meses que se arrasta uma resposta e o Sr. Ministro da Saúde empurra com a barriga, não contratando

especialistas, que são, neste momento, em mais baixo número, no SNS — convirá lembrar! —, do que foram no

tempo da troica.

Portanto, este problema não é estranho para o CDS e, tal como ouvimos dizer por parte do Sr. Deputado

Moisés Ferreira, do BE, também dissemos que, efetivamente, o défice não é o único barómetro da governação.

É o CDS que o diz há muito tempo!

Protestos do BE.

É que é à custa do défice de investimento nos serviços públicos que temos o défice que temos. E este

Governo, de facto, não se deve orgulhar de ter feito o mais baixo investimento nos serviços públicos e de, à

conta disso, a qualidade dos serviços de saúde estar altamente comprometida.

Precisamos de mais recursos, precisamos de mais recursos humanos na saúde, e não só de médicos, mas,

neste caso, é de médicos que falamos, porque, efetivamente, temos a qualidade assistencial comprometida. E

não é só por via das dívidas, não é só por aquilo que continua a acontecer, é porque, de facto, não existem

recursos humanos em número suficiente e se acumulam tempos de espera inconcebíveis. Acumulam-se tempos

de espera para cirurgias e atrasos nas cirurgias, bem como para a realização de exames complementares de

diagnóstico. Esta é a tal realidade que, antes, foi apelidada de «destruição e desmantelamento», mas, agora,

pelos vistos, «metem a cabeça na areia» e fazem de conta que não está a acontecer.

O que vos pedimos, Srs. Deputados, é que, sim, tragam projetos como estes, mas pedimos-vos mais: que

sejam consequentes! É que os senhores trazem os projetos, mas continuam a viabilizar as ações de um Governo

que, como os senhores disseram, não dá prioridade nem à saúde, nem aos doentes, nem aos recursos humanos

na saúde.

Portanto, os senhores, se me é permitida a expressão, «têm a faca e o queijo na mão»! Os senhores apoiam

o Governo que viabiliza as medidas que os senhores criticam! Quem são os portugueses que entendem isto?!

Os senhores criticam um Governo que apoiam e viabilizam! Não dá, realmente, para entender.

Nós, de facto, precisamos da vossa consequência. Não precisamos de agitação, precisamos da vossa

consequência, e nisso terão, com certeza, a voz do CDS, como têm desde há muito tempo, a dizer que a saúde

não vai bem em Portugal e que as pessoas doentes precisam de outras condições, tal como os recursos

humanos na saúde.

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Temos cartas abertas de profissionais que, há meses, esperam por concurso, temos manifestações de

pessoas que sabem que estão, efetivamente, a fazer falta, existe uma realidade que temos aqui denunciado e

do que precisamos é de ter bancadas parlamentares consequentes para, efetivamente, exigirem que não seja

apenas o défice a preocupar este Governo, mas que haja um investimento efetivo nas condições do Serviço

Nacional de Saúde e do sistema de saúde, de modo a que a saúde deixe de ser o parente pobre deste Governo.

Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Neste momento, mais uma vez, a Mesa não regista inscrições,

pelo que aguardamos a iniciativa dos grupos parlamentares.

Pausa.

O Sr. João Marques (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra para uma intervenção.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, Sr. Deputado João Marques.

O Sr. João Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Serviço Nacional de Saúde conta e

continuará a contar com o Partido Socialista.

Após 2016, sob a governação do Partido Socialista e o apoio dos partidos que compõem esta maioria, o SNS

tem vindo a recuperar do ataque das políticas económico-liberais que sofreu! Das políticas que fizeram com que

perdesse 7500 profissionais! Das políticas que levaram a que, em 2014, por exemplo, emigrassem mais

enfermeiros do que aqueles que se formaram nesse ano!

Aplausos do PS.

Com o PS, o Serviço Nacional de Saúde tem vindo a recuperar!

Recuperou mais 8500 profissionais, desde 2014! Recuperou mais 4000 enfermeiros e 1700 médicos

especialistas!

Foi com o PS que, em apenas dois anos, os profissionais recuperaram os rendimentos que lhes foram

retirados e viram muitas das suas justas reivindicações serem satisfeitas!

Sr.as e Srs. Deputados: Apesar de estarmos a assistir à recuperação do SNS, com o aumento dos cuidados

de saúde à população, com mais consultas, mais cirurgias, mais sessões de hospital de dia, vemos,

recorrentemente, responsáveis do setor da saúde servirem de meras caixas de ressonância da retórica política

do PSD e do CDS. Isto, num ataque permanente ao Serviço Nacional de Saúde, sem qualquer imparcialidade,

sem defesa dos seus profissionais, com um único objetivo: lançar o alarmismo e a insegurança em cima dos

portugueses, usando para isso generalizações de casos pontuais.

Mas o Partido Socialista continuará a fazer o seu caminho, o caminho de defesa do SNS e de promoção da

saúde em Portugal.

Continuará a fazer o caminho, ainda há pouco reconhecido pelo Euro Health Consumer Index, que colocou

Portugal no 14.º lugar, à frente de países como o Reino Unido, a Espanha, a Itália e a Irlanda, com nota muito

positiva em temas tão importantes como os do acesso à terapêutica oncológica, da redução da mortalidade

infantil, dos transplantes renais e dos diabéticos controlados, da redução da mortalidade antes dos 65 anos,

melhorando, ainda, indicadores como o dos tempos médios de espera nos serviços de urgência e o da cobertura

territorial da saúde oral.

Mas sabemos que, apesar do percurso já realizado em apenas dois anos, muito há a fazer. Sabemos que a

continuidade do reforço de profissionais no SNS tem de ser uma realidade! No entanto, Sr.as e Srs. Deputados,

só poderá ser uma realidade após a avaliação das necessidades efetivas e a realização de procedimentos de

contratação que permitam a todos os interessados concorrer em pé de igualdade.

No que diz respeito às iniciativas hoje, aqui, em discussão e, nomeadamente, ao episódio de Gaia, os

princípios subjacentes subvertem a própria lógica e a justificação do plano de contingência. A contratação ao

abrigo de um concurso de admissão excecional teve na sua génese uma limitação no tempo e um carácter

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provisório e temporário, apenas e só durante o tempo necessário para ajustar a oferta de serviços ao previsível

aumento da procura.

Num momento em que se assiste a uma política de contratação assente na avaliação de necessidades

permanentes, bem percebemos e compreendemos as naturais expectativas criadas pelos profissionais na

conversão dos contratos realizados em contratos com caráter de permanência. Isso mesmo está bem patente

na política de regularização de trabalho precário para vínculo contratual definitivo levada a cabo por este

Governo.

Mas, Sr.as e Srs. Deputados, há obrigatoriamente procedimentos a seguir, que associem as necessidades

permanentes, devidamente fundamentadas, resultantes de um planeamento rigoroso de recursos humanos, a

um processo de contratação que respeite as normas legais aplicáveis e os princípios da transparência.

No que diz respeito à contratação de médicos, o Partido Socialista entende que a realização dos

procedimentos destinados ao recrutamento de médicos especialistas deve ocorrer com a cadência e a

regularidade ajustadas à complexidade da alocação dos recursos humanos disponíveis aos hospitais com

necessidades permanentes. Sempre numa lógica de prossecução do interesse público, de respeito pelas

normas legais aplicáveis e pelas garantias dos candidatos.

No respeito da Constituição da República Portuguesa, em matéria de igualdade de acesso à função pública,

o Partido Socialista atuará sempre com uma visão de responsabilidade e transparência na promoção de

cuidados de saúde e na defesa do Serviço Nacional de Saúde.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, em nome do Grupo

Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Luís Vales.

O Sr. Luís Vales (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, antes de qualquer outra coisa, gostava

de pedir aos Grupos Parlamentares do Bloco de Esquerda, do PCP, de Os Verdes e até do PS que se entendam

sobre esta matéria.

O PCP e o Bloco de Esquerda chegam aqui e dizem que o SNS necessita de profissionais e necessita de os

colocar com um vínculo de trabalho que não seja precário. Ora, o PS acabou de dizer que não é nada disso e

que, de facto, tem contratado centenas, milhares, centenas de milhares de médicos e de outros profissionais.

Portanto, acho que era importante a geringonça entender-se antes de vir para aqui discutir.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos quatro iniciativas, duas do Bloco e outras duas do Partido

Comunista, todas elas dirigidas à contratação de profissionais de saúde para o SNS.

Duas dessas iniciativas referem-se à recomendação para que o Governo contrate, de forma definitiva, os

profissionais de saúde contratados ao abrigo do plano de contingência da gripe, contratando também os

profissionais de saúde em falta no SNS.

A proposta do Bloco de Esquerda é mais suave, porque se limita a recomendar. Já a do PCP é mais dura,

porque pretende legislar uma realidade que o Governo, Sr. Deputado, tem deixado andar.

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — E a do PSD?

O Sr. Luís Vales (PSD): — Quanto ao PSD — deixamo-lo já aqui muito claro —, concorda, de um modo

geral, com as preocupações que os autores desses diplomas dizem ter.

Tanto assim é que, no que se refere à contratação dos profissionais no âmbito do plano de contingência da

gripe, ainda ontem formulámos uma pergunta ao Governo, exigindo a reversão do escandaloso despedimento

de um conjunto de enfermeiros que foram contratados pelo Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho há

apenas um mês.

Esse despedimento é não só uma vergonha, porque prejudica os doentes do Serviço Nacional de Saúde,

como um insulto para os profissionais despedidos menos de um mês depois de terem sido contratados, porque

se está a brincar com as suas vidas e a ofender a sua dignidade de cidadãos e profissionais.

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Igualmente a contratação dos médicos recém-especialistas nos merece acordo, e essa foi sempre uma

preocupação dos anteriores Governos do PSD, que abriram sempre todos os concursos possíveis, sendo bom

lembrar que os mesmos, muitas vezes, não eram totalmente preenchidos.

Dito isto, o que não se pode deixar passar em claro é o facto de tanto o Bloco como o PCP denunciarem a

existência de — e cito — «um significativo défice de profissionais» no Serviço Nacional de Saúde e, ao mesmo

tempo, aprovarem os orçamentos do Estado e as políticas do Governo que conduzem a esse mesmo défice de

profissionais!

Protestos do PS.

Os Srs. Deputados do PCP e do Bloco de Esquerda querem sol na eira e chuva no nabal. Por um lado, são

solidários com a atual política de desinvestimento do Governo no Serviço Nacional de Saúde, mas, por outro

lado, continuam a fingir, junto dos profissionais e das populações, que se preocupam e defendem os seus

interesses, fazendo até conferências de imprensa para os enganar, à porta dos hospitais e dos centros de saúde.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD não atua assim. Se defendemos os direitos dos profissionais,

fazemo-lo por imperativo político e não por conveniência partidária. Foi, aliás, o que fizemos na anterior

Legislatura, razão pela qual estamos mesmo muito à vontade nesta discussão.

Para dar alguns exemplos, os Governos liderados pelo PSD contrataram para o SNS, entre 2011 e 2015,

quase 7000 médicos e mais de 4500 enfermeiros, Srs. Deputados,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Fraldas feitas com toalhas e sacos do lixo foi onde as coisas chegaram

convosco!

O Sr. Luís Vales (PSD): — … o que significou mais de 10 000 novas contratações desses profissionais de

saúde para o setor público.

Só em 2015 foram admitidos no SNS mais de 1400 médicos e 1800 enfermeiros. E esta é a verdade que os

senhores tentam esconder.

Falando em termos globais, entre 2011 e 2015, os anteriores Governos procederam a um aumento líquido

— não foram só aqueles que entraram e saíram, como atualmente se faz, mas houve, sim, um aumento líquido

— de 2800 médicos no SNS, um esforço que deveria ser reconhecido por todos, se tivermos presentes as

difíceis circunstâncias que o País então enfrentou.

Mas há mais: na anterior Legislatura, o Governo do PSD terminou concursos da carreira médica iniciados

ainda em 2002 e 2005, originando, assim, mais 2800 consultores, e abriram-se concursos para mais 270 chefes

de serviço, num total de cerca de 4500 vagas.

O que fizemos foi o que era possível fazer no contexto das difíceis circunstâncias em que o Partido Socialista

colocou o País aquando da bancarrota de 2011.

Hoje, mais de dois anos depois do autoproclamado e tão celebrado fim da austeridade, não há desculpa para

que o Governo não contrate os profissionais de saúde em falta no SNS.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Há sempre uma desculpa!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Luís Vales (PSD): — Termino, Sr. Presidente.

Ainda menos desculpa há para contratar enfermeiros e despedi-los menos de um mês depois de os ter

contratado!

Este comportamento roça a falta de vergonha e é preciso dizer que são tão culpados aqueles que despedem

um mês depois de contratar como os que são cúmplices dessas práticas que também degradam o Serviço

Nacional de Saúde.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem ainda a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada

Carla Cruz.

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, começo pelo repto que fez a Deputada Isabel

Galriça Neto.

A Sr.ª Deputada disse que tínhamos de ter consequências. Ora, aquilo que aqui fazemos, Sr.ª Deputada, é

mostrar o que é a realidade. Não escondemos a realidade, contrariamente ao que fazia o CDS-PP.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora aí está!

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — O PCP demonstra, como desde há muito tempo faz, os problemas do Serviço

Nacional de Saúde e dos seus profissionais. E o repto que o CDS aqui faz também nós o fazemos aos

portugueses: deem mais força ao PCP, que assim terá mais força para resolver os problemas dos profissionais

e dos utentes e reforçar o Serviço Nacional de Saúde.

O Partido Socialista fala em levantamento de necessidades. Sr. Deputado João Marques, o problema está

há muito tempo identificado: no hospital de Gaia faltam imensos enfermeiros, todos os dias! E não é só no

hospital de Gaia, faltam enfermeiros em todos os hospitais e nos centros de saúde.

Portanto, não podemos ignorar o problema, ele existe. Precisamos de contratar os profissionais, precisamos

de os valorizar. Não podemos permitir que profissionais que se formaram, que se valorizaram estejam hoje a

emigrar ou a ir para o privado.

O Sr. João Oliveira (PCP): — E com o Orçamento aprovado! Há dinheiro para isso!

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — É necessário contratar enfermeiros, é necessário contratar médicos, é preciso,

de facto, investir.

O grande investimento no Serviço Nacional de Saúde é o investimento nos seus profissionais e nos direitos

desses profissionais. É este o compromisso do PCP.

Quanto ao PSD, bem percebemos as cambalhotas que aqui tentou dar…

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Termino, Sr. Presidente.

Percebemos as cambalhotas que o PSD aqui tentou dar para escamotear as suas responsabilidades. As

dificuldades que hoje sentem os profissionais do Serviço Nacional de Saúde devem-se muito ao contributo e às

políticas do PSD e do CDS.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para a intervenção de encerramento do debate,

o Sr. Deputado Moisés Ferreira.

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a questão é simples: quem defender

o Serviço Nacional de Saúde votará a favor destes projetos do Bloco de Esquerda.

Farão muito bem o PSD e o CDS-PP se o fizerem, porque darão uma ajuda decisiva para reconstruir o

Serviço Nacional de Saúde, depois daquilo que foi o Governo de destruição do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Não é connosco que têm de falar, é com o PS!

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — E faria bem o Partido Socialista se votasse também a favor destes projetos

de resolução.

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O Sr. Luís Vales (PSD): — Muito bem!

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — É que o Serviço Nacional de Saúde precisa de mais profissionais, não precisa

de desculpas para despedir os atuais profissionais.

Dizia o Sr. Deputado João Marques que a contratação de mais profissionais deve ocorrer com a cadência

necessária e consoante as necessidades dos serviços. Sr. Deputado, se fosse assim, os concursos já deviam

ter sido abertos em maio e em novembro do ano passado, não agora. Portanto, o projeto que aqui apresentamos

torna-se ainda mais necessário.

Defender o Serviço Nacional de Saúde é dizer que até 30 dias após o término das formações

obrigatoriamente esses concursos serão abertos e esses profissionais serão integrados no Serviço Nacional de

Saúde.

O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — E se não acontecer nada?

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Termino, Sr. Presidente.

Isso sim, é reforçar o Serviço Nacional de Saúde.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Passamos ao terceiro ponto da nossa ordem de trabalhos de

hoje, com a discussão, na generalidade, dos projetos de lei n.os 737/XIII (3.ª) — Aumenta a transparência fiscal

dos combustíveis por via de uma informação mais detalhada aos consumidores (CDS-PP), 760/XIII (3.ª) —

Reforça o dever de informação do comercializador ao consumidor de energia (PS) e 765/XIII (3.ª) — Torna mais

transparente o impacte ambiental dos combustíveis por via de uma informação mais detalhada aos

consumidores (PAN) juntamente com o projeto de resolução n.º 1290/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que

reforce a informação dada aos consumidores nas faturas relativas à comercialização de combustíveis (PSD).

A iniciar este debate, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Uma família que ateste o

seu carro com 90 € de gasolina deve ser informada que desses 90 € só 34 € é que são para pagar efetivamente

a gasolina e que os restantes 56 € são para impostos — IVA (imposto sobre o valor acrescentado), ISP (imposto

sobre os produtos petrolíferos e energéticos) ou outras taxas, que vão diretamente para os cofres do Estado.

Uma empresa que ateste uma carrinha de trabalho com 100 € de gasóleo está a pôr 55 € diretamente nos

cofres do Ministério das Finanças!

Com o projeto de lei que o CDS hoje aqui apresenta, o que queremos é dar a possibilidade a todos os

portugueses de terem acesso a uma informação que seja clara, transparente, entendível sempre que abasteçam

os seus carros, sempre que abasteçam as suas motas.

Mais do que saber, em abstrato, qual é a carga fiscal, isto é, o peso dos impostos no preço final, que é, no

caso português, de 55% no gasóleo ou de 62% na gasolina, o que queremos é dar uma informação muito clara

a todos os contribuintes de que cada vez que vão a uma bomba de gasolina e põem 50 € de combustível 31 €

vão para o Estado, sempre que põem 30 € de gasolina 19 € são diretamente para o Estado, sempre que põem

20 € de gasolina 12 € são diretamente para o Estado, ou, como no meu caso, quando abasteço com 12 € uma

mota 7,44 € são para impostos que vão diretamente para o Orçamento do Estado.

Esta carga fiscal sobre os combustíveis em Portugal é muito elevada em relação à média europeia e foi muito

agravada nos últimos dois anos. Em Portugal, neste momento, estamos a pagar, quer pela gasolina quer pelo

gasóleo, um preço acima do da média europeia, não tendo sequer os portugueses os rendimentos da média

europeia. E isso não é indiferente ao facto de este Governo, com suporte parlamentar do Partido Comunista, do

Bloco de Esquerda e de Os Verdes, ter decidido, em 2016, aumentar em 6 cêntimos o ISP sobre a gasolina e

sobre o gasóleo.

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A verdade é que, com esse aumento, Portugal perdeu 9 posições no ranking da competitividade europeia,

porque passou de uma situação em que estava abaixo da média europeia para uma situação em que está,

claramente, acima da média europeia, quer no preço do gasóleo quer no preço da gasolina.

Por isso mesmo, é muito importante que, hoje, cada um de nós tenha esta possibilidade efetiva de, quando

abastece, saber muito claramente quanto é que está a pagar de combustível e quanto é que está a arrecadar

para o Orçamento do Estado. É com consumidores esclarecidos, com consumidores informados que todos nos

tornamos também mais exigentes.

Deixo uma última nota, Sr. Presidente, para nos congratularmos com a circunstância de outros grupos

parlamentares terem trazido, a reboque, outras iniciativas legislativas sobre o tema. Entendemos que isso é

positivo, porque demonstra claramente que este é, hoje, um problema real dos portugueses, e é isso que o CDS

também aqui quer fazer: trazer soluções concretas para este problema concreto.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado

Hugo Costa.

O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido Socialista

saúda a realização deste debate, bem como todos os partidos autores de diplomas relacionados com a

transparência e a informação aos consumidores de energia. Um consumidor mais informado é crucial para o

funcionamento, de forma clara e transparente, dos mercados.

Como nota introdutória ao debate, gostaria de relembrar que a política energética ganhou centralidade nas

políticas públicas ao longo desta Legislatura.

Assistimos a um novo paradigma. O défice tarifário baixou de 5000 milhões de euros para 3,6 mil milhões de

euros. Assistimos à primeira descida, nos últimos 10 anos, da tarifa da eletricidade e, em 2018, assistimos

também a descidas consecutivas do preço do gás regulado.

A defesa dos consumidores mais vulneráveis sempre foi um apanágio do Partido Socialista. Nos últimos dois

anos, ao nível de preços, foi possível atuar sobre os setores mais frágeis da nossa economia, nomeadamente

os mais desfavorecidos da nossa sociedade através da tarifa social. São mais de 800 000 famílias a quem o

Partido Socialista permitiu conseguir ter acesso. Esta é a marca do Partido Socialista.

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista apresenta neste debate o mais ambicioso e claro dos projetos em

análise. Pretendemos a garantia de que os consumidores de eletricidade, gás natural e combustível tenham

uma informação total.

Sublinhamos que outros apresentam também propostas, mas, ao contrário de nós, só as apresentam quando

estão na oposição.

A Lei de Defesa do Consumidor é explícita ao definir que o fornecedor de bens ou o prestador de serviços

deve informar de forma clara, objetiva e adequada sobre o total dos bens ou serviços, incluindo o montante de

taxas e impostos.

Estes pressupostos de combate à assimetria de informação são cruciais para o funcionamento do mercado

de forma transparente e podem induzir pressão em algumas das variáveis, levando a uma eventual descida dos

preços. Em caso de aprovação, esta será a primeira lei a sistematizar a informação necessária da parte dos

comercializadores aos consumidores de energia que, afinal, somos todos nós.

Ao nível da eletricidade, importa referir que a legislação atualmente em vigor — também por iniciativa, na

altura, do Grupo Parlamentar do Partido Socialista — já obriga ao detalhe em relação à fonte primeira de energia

e às emissões de dióxido de carbono, o que permite uma aposta mais informada nas renováveis e nas políticas

públicas cruciais de sustentabilidade. Contudo, existe um conjunto de informação que ainda não é clara nas

atuais faturas.

Sr.as e Srs. Deputados: Questiona-se se algum português consegue perceber, pela análise da fatura, as

várias componentes do défice tarifário, como, por exemplo, os sempre muito falados CMEC (custos de

manutenção do equilíbrio contratual). Outra informação importante que deve constar diz respeito ao operador

logístico de mudança de comercializador, ferramenta crucial no mercado livre e que o atual Governo criou. Falo

do denominado «Poupa energia», que permite comparar, em média, entre 250 tarifários de todos os

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comercializadores de energia, mudar e assim poupar. Isso também deve ser plasmado nas faturas do gás

natural. Este tipo de fatura deve conter a discriminação de todos os custos que estão a ser imputados ao

consumidor.

Em relação aos combustíveis, estamos disponíveis para, em sede de especialidade, proceder às alterações

e aos consensos necessários, mas com a certeza de que o nosso projeto permite ir além da mera exposição da

carga fiscal.

O nosso projeto, para além de se aplicar também ao GPL (gás de petróleo liquefeito), apresenta outras

variáveis que são importantes para os preços dos combustíveis. Entre essas variáveis destaco a incorporação

de biocombustíveis que o atual Governo manteve no ano de 2018 em 7,5%. Essa parcela importante para o

cumprimento de metas ambientais acaba por ter um impacto muito significativo.

Outro destaque para o nosso projeto é que o produto das coimas a aplicar seja aplicado à sustentabilidade

do setor.

Por todas as razões elencadas, reitero que um consumidor mais informado é crucial para o funcionamento

dos mercados de forma clara e transparente. A aprovação desta lei permitirá este avanço, que contribui para o

que todos queremos: uma sociedade onde os consumidores possuem mais informação.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os direitos dos consumidores

representam um vetor da maior importância, apresentando expressão constitucional desde 1982.

São várias as decisões jurisprudenciais que sublinham a relevância do direito à informação, enfatizando que

esta deve ser completa e leal, disponibilizada pelo fornecedor de bens ou serviços, capaz de possibilitar uma

decisão consciente e responsável por parte do consumidor.

A Lei de Defesa do Consumidor prevê que são direitos do consumidor, entre outros, a proteção da saúde, a

qualidade dos bens e a informação para o consumo. Sendo claro que o direito à informação representa uma das

componentes mais importantes do que constitui os direitos dos consumidores, este ganha especial relevância

quando se trata de bens essenciais, como é o caso dos combustíveis.

Um dos vários problemas identificados no campo dos combustíveis prende-se com a escassez de informação

disponibilizada aos consumidores.

Importa realçar que o consumo de energias de origem fóssil e a sua dependência energética representam

um dos agentes mais poluidores do planeta, um dos principais contribuintes para a contaminação ambiental e

para o aquecimento global.

O crescimento da capacidade de mobilidade das pessoas representa uma das causas da dependência atual

dos derivados de petróleo e, consequentemente, da manifestação de graves problemas de contaminação

ambiental, sendo que mais de 75% das deslocações urbanas se realizam em veículos privados apenas com um

ocupante.

O processo de combustão nos motores gera emissões poluentes e tóxicos que apresentam efeitos nocivos

no ser humano e no meio ambiente. Nas cidades, o automóvel representa a principal fonte de poluição e um dos

maiores responsáveis pela emissão de gases que contribuem para o efeito de estufa.

Ora, tal como ocorre já com as faturas da eletricidade, que contêm informações sobre as emissões de CO2

correspondentes à energia consumida e faturada, consideramos que esta prática deveria ser instituída nas

faturas dos combustíveis, tornando obrigatória a disponibilização aos consumidores da informação relativa às

emissões médias de CO2 por litro de gasóleo, gasolina ou GPL consumidos, cimentando a consciencialização

coletiva relativamente às implicações ambientais nefastas que a combustão fóssil acarreta e a urgência de

transitarmos para uma economia descarbonizada.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada

Fátima Ramos.

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A Sr.ª Fátima Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Uma sociedade civil forte é uma

sociedade informada, que toma as suas decisões de forma consciente.

Defendemos os quatro direitos fundamentais dos consumidores: segurança, informação, escolha e direito a

ser ouvido.

O direito dos consumidores à informação encontra-se consagrado na nossa Constituição e é acolhido na Lei

de Defesa do Consumidor. Apesar disso, são inúmeras as situações em que os consumidores, por

desconhecimento, não beneficiam dos seus direitos.

Recordo aqui o Prof. Mário Frota, prestigiado conhecedor destas matérias, que dizia: «As leis existem, mas

as pessoas não as conhecem».

Em 2017, o PSD assinalou o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor com a apresentação de um conjunto

de diplomas no Parlamento, tendo como objetivo defender os consumidores em diversas matérias. Lutámos pelo

aumento da proteção contra a publicidade, por mais formação, informação e fiscalização, entre outras coisas.

É nesta linha, na defesa dos direitos dos consumidores, que surge a proposta em discussão, desta vez no

setor dos combustíveis. O direito à informação não está a ser integralmente respeitado. As faturas passadas

nas estações de abastecimento de combustível não apresentam o detalhe necessário para que o consumidor

possa compreender o preço final.

Sr.as e Srs. Deputados: O princípio da transparência constitui uma das traves mestras de qualquer sistema

fiscal e a simplicidade do mesmo uma condição essencial a um país desenvolvido e justo.

Os contribuintes têm o direito a conhecer os impostos que pagam, o seu montante e o motivo das suas

oscilações. Mesmo quando o preço do barril de petróleo diminui, os portugueses pagam mais pelo combustível.

Segundo estudos internacionais, somos dos países onde mais se paga pelo combustível.

O valor que pagamos deve-se muito aos impostos. Em média, um português, para comprar um litro de

gasolina, gasta quase 3% do salário diário.

O Governo pinta a realidade com as cores da fantasia, os anúncios sucedem-se, mas, na maior parte dos

casos, não passam disso mesmo: anúncios bonitos. A austeridade seria coisa do passado, prometeram virar a

página, mas a verdade é que dão com uma mão enquanto tiram com a outra. Pior: tiram a todos, ricos e pobres,

de forma igual.

Em fevereiro de 2016, quando o Governo aumentou o imposto sobre os produtos petrolíferos, argumentou

que o seu aumento serviria apenas para compensar as quebras na receita do IVA dos combustíveis.

Prometeram não sobrecarregar mais as pessoas. Mas, ao analisar o relatório da UTAO (Unidade Técnica de

Apoio Orçamental), concluímos que o aumento do ISP ultrapassou em muito a quebra do IVA. Hoje, os

portugueses pagam mais!

Sr.as e Srs. Deputados: Apesar dos sucessivos anúncios deste Governo, as pessoas chegam ao final do mês

sem dinheiro.

O Governo não acaba com a austeridade. Antes pelo contrário, opta, sim, por subir os impostos indiretos,

porque sabe que são menos notados pelas pessoas. É aquilo que se chama «anestesia fiscal».

Para alcançar os seus objetivos, despreza o facto de serem impostos mais injustos em que tanto paga o rico

como o pobre. No caso do ISP, ainda é mais grave, pois são normalmente as pessoas que vivem nas regiões

mais pobres do interior, com menos transportes públicos, que mais sofrem com este imposto.

Nunca estes impostos indiretos foram tão elevados. O Governo governa às escondidas, mostra o que é bom,

esconde o que é desagradável. Não pactuamos com esta forma de atuar.

Sr.as e Srs. Deputados, queremos mais transparência e informação nas faturas. Queremos que os

consumidores conheçam todas as parcelas que compõem o preço final a pagar pelo combustível, incluindo as

taxas e os impostos que fazem disparar o seu preço.

Propomos, por isso, ao Governo que, em parceria com a Autoridade Tributária (AT) e a Entidade Nacional

para o Mercado de Combustíveis, (ENMC), proceda ao estudo e à criação dos mecanismos necessários a uma

maior transparência e informação relativamente à composição do preço global a pagar pelo combustível…

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Fátima Ramos (PSD): — Termino já, Sr. Presidente.

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Como dizia, propomos ao Governo que crie os mecanismos necessários a uma maior transparência e

informação relativamente à composição do preço global a pagar pelo combustível, nomeadamente através da

introdução da obrigatoriedade de emissão de uma fatura decomponível aquando do abastecimento de veículos

por parte do consumidor.

Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos a realização deste debate e esperamos que todos os Srs. Deputados, da

esquerda mais esquerda até à direita, estejam em concordância com este objetivo, em prol dos interesses dos

consumidores portugueses.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino

Ascenção.

O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No Bloco de Esquerda, somos a

favor da transparência, de mais informação e de melhor qualidade na informação prestada aos consumidores e

aos cidadãos em geral.

Somos a favor da transparência, mas não alinhamos na demagogia e no populismo à volta da questão da

alegada defesa das famílias e do que o Estado está a ganhar à custa das famílias.

O CDS e o PSD têm sido repetentes nesta fantasia de que defendem as famílias. Em concreto, defendem

quais famílias? Não defendem todas, defendem, quando se trata do adicional de IMI (imposto municipal sobre

os imóveis), as famílias que têm património imobiliário acima dos 600 000 €, mas, em relação ao imposto sobre

os combustíveis, defendem aquelas que abastecem 90 € de cada vez, como referiu aqui o Sr. Deputado Mota

Soares, o que não é o caso da maioria das famílias. A essas estamos cá nós para defender!

Protestos dos Deputados do PSD Ângela Guerra e Cristóvão Crespo.

Esta defesa das famílias é muito seletiva. Quando se tratou do enorme aumento de impostos, não estava cá

o CDS nem o PSD para defenderem essas famílias, nem estavam cá quando se tratou do aumento do IVA sobre

os bens essenciais.

A transparência, sim, é necessária. O PS vem agora manifestar essa preocupação, mas isso é mais um ato

de hipocrisia, uma vez que, quando se tratou da oscilação dos preços dos combustíveis em função da variação

do preço do petróleo nos mercados internacionais, não vimos essa preocupação, não vimos nenhuma iniciativa

para introduzir mais transparência. Mas vimos o CDS a chumbar propostas que o Bloco de Esquerda apresentou

para atender a esse problema.

Quando o preço do petróleo sobe no mercado os combustíveis acompanham-no, quando, no mercado

internacional, o preço do petróleo desce para os combustíveis aplica-se o «fator viscosidade» que impede que

essa descida aconteça à mesma velocidade.

A defesa das famílias que invocam é mais uma mistificação, é mais uma falácia. Está implícito que, se há

mais impostos, as famílias estão a ser prejudicadas. Ora, os impostos são um mal necessário, não são um

fetiche. Os impostos vão financiar serviços públicos: a saúde, a educação, os transportes coletivos. E esses

serviços públicos vão beneficiar as famílias, Srs. Deputados. São essas famílias que vão sair beneficiadas.

Outro aspeto das propostas que estão aqui em análise e que gostaria de realçar é o da informação relativa

ao custo ambiental de cada litro de combustível. É muito positivo dar essa informação aos consumidores, porque

só com cidadãos mais bem informados é possível que haja mudança de comportamentos em prol do maior uso

dos transportes coletivos em detrimento do transporte individual.

Saudamos, pois, esta iniciativa e apoiamo-la, com certeza.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Também o PCP concorda com a

importância da transparência e da melhoria da informação aos consumidores e com as medidas que contribuam,

de forma adequada e eficaz, para a prossecução desse objetivo. Deve haver informação clara e acessível e

nestas discussões que estamos aqui a realizar devem ser estudadas e debatidas as propostas que sejam justas

e que não sirvam para penalizar ainda mais os micro e pequenos empresários, nomeadamente ao nível da

comercialização, tendo em conta os meios técnicos necessários à faturação.

Entretanto, não podemos deixar de registar que é preciso que as medidas não sejam meramente decorativas,

não sejam inconsequentes e não se tornem irrelevantes. Ainda nos lembramos daquela famosa medida dos

painéis informativos dos preços dos combustíveis nas autoestradas, que na altura foi apontada como o grande

contributo para a informação ao consumidor e até para a concorrência, com enormes benefícios para a

diminuição dos preços, etc., e foi o que se viu. Caiu no ridículo a famosa concorrência e a informação ao

consumidor, que é hoje completamente irrelevante. E haja aqui algum Deputado que nos diga que diferença faz

ir na autoestrada e ver esses painéis informativos do preço dos combustíveis!

O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Também é preciso que se diga que uma coisa é a contribuição para a informação

ao consumidor e outra coisa é atirar areia para os olhos das pessoas em exercícios de demagogia e hipocrisia

política. O CDS e o PSD, que estando no Governo, com maioria absoluta e em momento de preços

historicamente elevados, impuseram o aumento da carga fiscal nos combustíveis, no ISP e na taxa de

carbono,…

O Sr. António Costa Silva (PSD): — E agora são vocês!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — … já nesta Legislatura contribuíram para inviabilizar a proposta do PCP de

redução da fatura dos combustíveis por via da incorporação dos biocombustíveis que encarece atualmente o

preço final ao consumidor. E são esses precisamente os partidos que agora se escandalizam com «o dinheiro

que vai para o Estado», como ainda há pouco diziam, sem dizer uma palavra sobre as escandalosas margens

de lucro das petrolíferas e do preço antes de impostos.

O Sr. João Oliveira (PCP): — É o peso do cartel!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Aliás, é escandaloso que até agora, neste debate, nada tenha sido dito por

ninguém sobre o preço antes de impostos, que é sistematicamente dos mais altos da Europa e sempre, sempre

acima da média, quer da zona euro quer da União Europeia a 28.

É politicamente significativo que os partidos que falam do preço dos combustíveis e das contas, na altura de

abastecer as motas, Sr. Deputado Pedro Mota Soares, se esqueçam deste «pequeno pormenor»: as centenas

e centenas de milhões de lucro que anualmente a GALP e as empresas do setor petrolífero amealham à conta

desses preços e essa situação extraordinária de controlo do mercado e do setor num autêntico oligopólio. E

dizem que, afinal, a culpa é do Estado, ignorando o que está a acontecer todos os dias neste setor em relação

aos preços e às práticas dos grandes grupos económicos.

O PCP está disponível para o debate, em comissão, que se impõe, em relação ao setor energético no seu

conjunto, relativamente à informação clara e acessível, de uma forma eficiente e eficaz, mas queremos

diferenciar o que é um contributo sério para a discussão — em que queremos, naturalmente, inserir-nos — de

outra coisa completamente diferente, que é atirar areia para os olhos e fazer mais um exercício de hipocrisia

política.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para encerrar este debate, tem de novo a palavra o Sr. Deputado

Pedro Mota Soares, do CDS-PP.

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O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, antes de me pronunciar no encerramento do debate,

permita-se que deixe uma palavra especial ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português.

Sr. Deputado Bruno Dias, nós não nos esquecemos do preço da gasolina antes de impostos e não nos

esquecemos desses lucros excessivos de que o Sr. Deputado falava,…

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Guardaram para o fim!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — … da mesma forma que também não nos esquecemos dos 500

milhões de euros a mais que o Estado está a arrecadar com o aumento do ISP para lá da neutralidade, que foi

votado aqui, no Parlamento, com os votos a favor do Partido Comunista Português, do Bloco de Esquerda e do

Partido Socialista. Não nos esquecemos desses 500 milhões de euros que estamos a pagar a mais.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ora bem!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Deputado Paulino Ascenção, deixe-me tambémdizer-lhe que sei

muito bem quais são as famílias que o CDS defende: são todas as famílias e todas as empresas que, no final

deste ano, vão gastar mais 900 € na bomba de gasolina face ao que gastavam em 2015, também muito por

causa desse aumento extraordinário do ISP que o Sr. Deputado, com o seu voto, permitiu que passasse e que,

nesse sentido, está a retirar rendimento às famílias portuguesas e a retirar competitividade à economia

portuguesa.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, para terminar, permita-me só que diga mais uma

coisa: ouvimos, com muita atenção, o que todas as bancadas disseram aqui. Espero que amanhã, na votação,

sejam consequentes com o que disseram e que permitam, efetivamente, que os portugueses sejam informados

do esbulho fiscal que hoje é ir a uma bomba de gasolina, pois sabemos muito bem para onde vai uma parte

muito significativa do nosso dinheiro.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, vamos agora entrar no ponto seguinte da nossa

ordem de trabalhos, que consta da apreciação, na generalidade, do projeto de lei n.º 505/XIII (2.ª) — Procede à

primeira alteração do Decreto-Lei n.º 237/2007, de 19 de junho, que transpõe para a ordem jurídica interna a

Diretiva 2002/15/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de março, relativa à organização do tempo

de trabalho das pessoas que exercem atividades móveis de transporte rodoviário (PCP).

Para apresentar esta iniciativa legislativa, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, em nome do Grupo

Parlamentar do PCP.

O Sr. António Filipe (PCP) — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, queria saudar, em

nome do PCP, os trabalhadores do setor rodoviário que assistem a este debate.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, mais de uma centena de trabalhadores motoristas que conduzem

autocarros de passageiros intentaram ações judiciais, pedindo que as empresas fossem condenadas a pagar-

lhes determinados valores relativos ao não cumprimento do descanso compensatório pela realização de trabalho

suplementar.

Nesses processos, as empresas usaram o argumento de que alguns períodos de trabalho suplementar não

deveriam contar para o direito ao descanso compensatório, entendendo tais períodos como «tempo de

disponibilidade» devido à entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 237/2007.

Todavia, esse Decreto-Lei, que procedeu à transposição para a ordem jurídica interna de uma Diretiva da

União Europeia com incidência na organização do tempo de trabalho dos motoristas afetos à atividade de

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transporte rodoviário, não regula a concessão de descanso compensatório por trabalho suplementar prestado,

pelo que não afasta as disposições do Código do Trabalho ou dos instrumentos de regulamentação coletiva em

vigor.

Nos processos judiciais interpostos, várias decisões judiciais consideraram, justamente, a não aplicabilidade

desse Decreto-Lei aos transportes rodoviários de passageiros. Dou como exemplo um processo julgado no

Tribunal Judicial de Santarém, em que, como consta da respetiva decisão — e cito: «A a fim de salvaguardar a

segurança rodoviária e a concorrência, estabelecem-se definições dos tempos de trabalho, repouso, pausa e

disponibilidade e, a fim de salvaguardar a segurança e a saúde dos trabalhadores, estabelece-se um limite

máximo para o número de horas de trabalho semanal. Daqui nada se retira relativamente aos descansos

compensatórios» — sublinho «daqui nada se retira relativamente aos descansos compensatórios» — «e

circunstâncias em que devem ser concedidos, da mesma forma que não se retiram normas relativas às férias

ou faltas dos motoristas».

Essa decisão prossegue, dizendo: «O único propósito possível do estabelecimento de tais normas é o de

explicar que, durante o tempo de disponibilidade, o motorista não esteve a conduzir, nem a efetuar outras tarefas

cujo desgaste coloque em causa a segurança rodoviária, o que terá relevância para o tempo em que se

considera admissível que o motorista venha a conduzir posteriormente. Ou seja, nada tem a ver com os

descansos compensatórios.

Assim, as definições e regras em causa neste Decreto-Lei são relevantes para efeitos de segurança

rodoviária e concorrência e, apenas nesta medida, prevalecerão sobre as disposições correspondentes ao

Código do Trabalho, mas já não para os demais efeitos relacionados com a prestação de trabalho, dada a

inexistência de correspondência entre as normas deste diploma e as do Código do Trabalho, por neste diploma

não se regular a matéria dos descansos compensatórios».

Acontece, porém, que esta jurisprudência não é unânime, havendo decisões judiciais que afastam a

aplicação do regime de descanso compensatório vigente para os motoristas de transporte de passageiros,

sustentando a aplicabilidade a esses casos do regime do tempo de disponibilidade em prejuízo do descanso

compensatório.

Importa, pois, deixar claro, por via legislativa, que o Decreto-Lei n.º 237/2007 não afasta a aplicação do

regime de descanso compensatório previsto no Código do Trabalho ou em instrumento de regulamentação

coletiva para os motoristas das empresas de transportes coletivos de passageiros.

O que o PCP hoje propõe é essa clarificação, no sentido de afirmar, sem margens para dúvidas, que o regime

de descanso compensatório para os motoristas dos transportes públicos de passageiros é o que consta do

Código do Trabalho, não sendo relevante para este efeito o chamado «tempo de disponibilidade», estabelecido

para efeitos de segurança rodoviária.

Aplausos do PCP e de Os Verdes.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar

do PSD, o Sr. Deputado Álvaro Batista.

O Sr. Álvaro Batista (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Eis-nos a discutir um projeto de lei do

PCP que pretende dar azo às pretensões de um grupo de trabalhadores, mas um projeto que tem também a ver

com a qualidade dos transportes públicos e a sua capacidade para prestarem melhores serviços aos cidadãos.

Srs. Deputados, contar como tempo de trabalho os períodos de disponibilidade, contar como tempo de

trabalho o tempo livre, em que os motoristas estão libertos para fazerem o que entenderem — podem ir às

compras ou passear, é isso que o PCP quer contar como trabalho — significará a necessidade de contratar mais

trabalhadores, o que conduzirá a uma maior despesa, a bilhetes mais caros ou mais impostos.

Se o projeto de lei passar, o que escolhem, Srs. Deputados? Bilhetes mais caros, mais impostos ou os dois?

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Que vergonha! Pelo menos tenha respeito pelas pessoas! Quanto mais falam

mais se enterram!

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O Sr. Álvaro Batista (PSD): — O que dizem sobre os milhares de queixas do sistema de transportes? Jornal

Público, de 8 de março de 2017: «A plataforma da Associação DECO para queixas sobre transportes públicos

registou quase 3000 reclamações durante o primeiro ano de existência».

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

Observador, de 22 de dezembro de 2017: «A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes recebeu, no

primeiro semestre deste ano, 8158 queixas, a maioria das quais nos setores rodoviário e ferroviário».

Com este Governo, com as esquerdas, os transportes públicos têm andado uma lástima e são os

portugueses lá fora que estão a sofrê-lo: queixam-se, mas as queixas caem em cesto roto.

Em vez de se importar com os passageiros, o PCP preocupa-se com interesses corporativos, em servir os

interesses dos seus sindicalistas, nem que tenham de ser os portugueses todos a pagar por isso.

Não se compreende que o PCP queira contar a disponibilidade como trabalho apenas para os motoristas dos

transportes públicos de passageiros dos veículos com mais de nove lugares. Nós perguntamos ao PCP: e os

outros motoristas são menos?

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. Álvaro Batista (PSD): — Não estão sindicalizados ou não são da CGTP.

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O PSD está a ofender as pessoas!

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Não está a ofender ninguém!

O Sr. Álvaro Batista (PSD): — Srs. Deputados, no PSD sempre defendemos que os trabalhadores da

mesma profissão devem ter todos os mesmos direitos. Propondo o PCP regalias diferentes para os motoristas

dos transportes de passageiros, tinha o dever de explicar porquê, mas nem sequer tentou. No PSD acreditamos

na igualdade, praticamos a igualdade, sobretudo preocupamo-nos de forma igual com todos os portugueses.

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!

O Sr. Álvaro Batista (PSD): — Era bom que à esquerda se fizesse o mesmo.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor

Sousa, do Bloco de Esquerda.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Álvaro Batista, eu não

imaginaria nunca que a alteração de um simples número de um decreto-lei tivesse uma consequência tão

catastrófica na vida das empresas e dos consumidores: o aumento dos preços ou pôr em causa o emprego.

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Ah pois!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Deputado Álvaro Batista, francamente! Desculpe que lhe diga, mas o Sr.

Deputado não conhece aquilo de que fala, porque o Código do Trabalho,…

Protestos do PSD.

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… nos seus artigos 228.º e 229.º, estabelece um normativo relativo ao descanso compensatório e à

retribuição do trabalho em regime de descanso compensatório. Portanto, o que o projeto de lei do PCP faz é

clarificar uma legislação que constitui a transposição de uma diretiva e de um regulamento comunitários relativos

à organização do tempo de trabalho. Efetivamente, nesta transposição não está clarificado que, no caso de

haver trabalho suplementar em situação de regime de descanso compensatório, essa situação deve ser

compensada por folgas ou por pagamentos remuneratórios consecutivos. Portanto, a clarificação é necessária.

Além disso, tem-se verificado que quando os trabalhadores têm interposto ações judiciais para serem

ressarcidos do trabalho suplementar que fizeram quando tinham direito a descanso compensatório, a parte

patronal tem invocado que, nestes casos, se trata de trabalho em regime de disponibilidade.

Ora, o próprio Decreto-Lei n.º 237/2007, ao qual o PCP acrescenta um número ao artigo 1.º, diz,

inequivocamente, no seu artigo 5.º: «O tempo de disponibilidade (…) não é considerado tempo de trabalho».

Portanto, o que se conclui daqui é que são as próprias empresas que fazem uma interpretação abusiva desta

legislação, porque não está estabelecido claramente que o tempo de disponibilidade não é tempo de trabalho e

que, quando há trabalho suplementar em tempo de descanso compensatório, esse tempo suplementar deve,

consequentemente, ser remunerado.

Por isso, acompanhamos o PCP nesta precisão da legislação, do Decreto-Lei n.º 237/2007, e referimos

também que, na realidade, como disse o Sr. Deputado António Filipe na sua intervenção, isto mais não é do que

retomar o que está estabelecido no Código do Trabalho, relativamente a esta matéria, ou, em alternativa, o que

estiver estabelecido, no mesmo sentido, em instrumento coletivo de regulamentação de trabalho.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo

Parlamentar do CDS-PP, o Sr. Deputado António Carlos Monteiro.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em 2007, o Governo

apoiado pelo Partido Socialista realizou a transposição da diretiva comunitária relativa à organização do trabalho

nas atividades móveis — estamos a falar dos motoristas de transporte rodoviário — e fê-lo através do Decreto-

Lei n.º 237/2007.

Para não variar, o PCP propõe, mais uma vez, uma alteração à legislação laboral sem que esta seja discutida

com os parceiros sociais em concertação social.

Protestos do BE e do PCP.

O Sr. António Filipe (PCP): — O que é que você tem a ver com isso?

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Ora, gostávamos de sublinhar que a diretiva permite o diálogo

social,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Pergunte ao PSD se permite o diálogo!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — … aliás, até prevê que haja um mínimo de diálogo social, para

que, através dele, possa ser melhorada essa mesma diretiva.

Ora, já percebemos que o PCP não gosta do diálogo social.

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

O Sr. Luís Monteiro (BE): — O senhor é que não gosta!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Não basta falarem em negociação coletiva aqui, no Plenário,

quando, na realidade, aquilo que se vê, nas suas propostas, é que não querem que se fale ou que se negoceie

em torno destas mesmas matérias.

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Não deixamos, no entanto, de sublinhar que esta proposta se dirige apenas aos motoristas de transporte

público rodoviário de passageiros.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E?! Então, se o regime é esse!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Ora, parece-nos, evidentemente, que isto põe em causa o

princípio da igualdade, desde logo, entre os motoristas de transporte público e os motoristas de transporte

privado, entre os motoristas de passageiros e os motoristas de mercadorias, e não deixamos de registar que o

PCP, um partido que gosta sempre de invocar a igualdade, se tenha esquecido desta mesma matéria.

Pior ainda é o PCP invocar o facto de haver várias ações em tribunal, não havendo jurisprudência unânime,

designadamente, citando um processo em concreto.

Vai daí, o que faz o PCP? Quer, por via legislativa, fazer o quê, então? Uniformizar a jurisprudência?!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — E V. Ex.ª quer fazer o quê?

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — O Sr. Deputado António Filipe sabe muito bem que isso é da

competência dos tribunais. Se os casos já estão em tribunal, tenciona fazer o quê? Legislar retroativamente?!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Afinal, estamos aqui a fazer o quê?!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Isto porque, se esses casos estão em tribunal, não serão,

obviamente, abrangidos por esta lei, porque ela é para vigorar para o futuro. Portanto, o que o Sr. Deputado

António Filipe estará a fazer é a iludir os motoristas e os trabalhadores, dizendo-lhes que, com este projeto-lei,

está a resolver o problema que, neste momento, está em tribunal.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Já esteve, já não está!

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Tenha calma!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Foi isto que resultou da sua intervenção, Sr. Deputado.

Já agora, há uma pergunta a fazer: o Partido Socialista vai fazer o quê?

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Não se preocupe com o Partido Socialista!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Vai aprovar esta alteração à sua própria legislação, de um

governo do Partido Socialista, e, nesse sentido, vai dar razão ao PCP?! E, se não aprovar esta alteração, o que

fará o PCP? Vai retirar alguma consequência disso?!

Protestos do PCP.

Vozes do PS: — Não se preocupe com isso!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Bom, se não retira qualquer consequência, então, este

agendamento não passa de uma encenação para iludir os motoristas.

O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Já usou essa frase hoje!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Aliás, se o PS aprovar, também não estranhamos, está a

pagar o preço ao apoio que o PCP lhe dá na sua governação.

Protestos do PCP.

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Agora, do que o PCP não se pode esquecer é que o PS, se

aprovar a alteração à legislação, está a pagar esse apoio, mas, se não aprovar, é o PCP que está a pagar pelo

facto de estar a apoiar o Partido Socialista, porque não consegue aprovar medidas em concreto,…

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, tem mesmo de terminar.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — … a única coisa que consegue fazer é iludir os trabalhadores.

Aplausos do CDS-PP.

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Ricardo

Bexiga.

O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O enquadramento que nós fazemos

desta iniciativa legislativa do PCP não é apenas um enquadramento relacionado com os direitos laborais dos

trabalhadores, que reconhecemos, do ponto de vista do litígio, que existe neste momento, ou que existiu,

segundo a informação da Sr.ª Deputada Rita Rato, nos tribunais portugueses.

Queremos recordar que este é um decreto-lei que consagra um regime especial para os motoristas de

transportes rodoviários de passageiros e de mercadorias, influenciado por diretivas e regulamentos comunitários

que, desde 1985, procuraram resolver três problemas fundamentais.

O primeiro dos problemas tem a ver com as questões do dumping social. Os salários e as condições de

trabalho dos trabalhadores, designadamente do ponto de vista dos tempos de trabalho, eram utilizados para

dumping social em transportes transfronteiriços.

O segundo dos problemas, e todos nós recordamos disto, tem a ver com os acidentes rodoviários que

sucederam devido ao desrespeito pelos tempos máximos de trabalho, pelas pausas e repousos a que os

trabalhadores tinham direito.

O terceiro problema tem a ver com as questões de segurança rodoviária.

Portanto, compreendendo as preocupações do PCP, mas, também, tendo em consideração estes três

objetivos que nos preocupam, não podemos partilhar a redação proposta pelo PCP que, pura e simplesmente,…

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Também não apresentaram nenhuma!

O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — … visa excluir da aplicação do regime especial deste Decreto-Lei o transporte

de passageiros em veículos com mais de nove passageiros e sujeitos a tacógrafo.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Também não apresentaram nenhuma!

O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — Isto porque, de facto, não acautela o interesse dos trabalhadores, que

ficariam, de novo, sujeitos aos regimes que a regulamentação comunitária e a regulamentação nacional visou

acautelar, criava condições para que a segurança rodoviária não fosse devidamente assegurada e criava, de

novo, condições para que o dumping social voltasse a estar presente no setor dos transportes.

Por outro lado, também gostávamos de chamar a atenção para o seguinte: a própria legislação comunitária

prevê que os parceiros sociais possam, através de negociações em sede de contratação coletiva, acautelar

situações mais favoráveis para os trabalhadores.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Nota-se!

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O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — E esta é, efetivamente, uma matéria que está devidamente prevista no

contrato coletivo de trabalho do setor, onde, de facto, quer os trabalhadores quer os representantes das

entidades empregadoras, se consagraram soluções em função daquilo que se entendeu ser a mediação dos

interesses mais adequada, por um lado, àquilo que são as preocupações dos trabalhadores e, por outro, também

àquilo que são as condições de laboração e as condições de funcionamento das empresas do setor dos

transportes.

Portanto, em função desta tripla preocupação, entendemos que a solução do PCP não é a solução adequada

para resolver conflitos judiciais e, por isso, entendemos que devem os parceiros sociais, em sede de contratação

coletiva, encontrar as melhores soluções para os interesses que estão, aqui, em jogo.

Aplausos do PS.

Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Conversa de patrão!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma última intervenção sobre este ponto da nossa ordem

de trabalhos, tem, de novo, a palavra o Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados Álvaro Batista e António Carlos Monteiro, o

ódio, repito, o ódio, do PSD e do CDS aos trabalhadores é tal que nem disfarçam!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Qual ódio?!

O Sr. António Filipe (PCP): — Nem disfarçam!

Vozes do PCP: — É verdade!

Protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Tenha vergonha!

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Os senhores não são donos dos trabalhadores!

O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, é inadmissível esta linguagem!

O Sr. António Filipe (PCP): — E qualquer iniciativa legislativa…

Continuação de protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, agradeço que deixem o Sr. Deputado António

Filipe fazer a sua intervenção.

Pausa.

Faça favor de prosseguir, Sr. Deputado António Filipe.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando se fala em qualquer iniciativa

referente a trabalhadores, os senhores lançam um chorrilho de dislates e não discutem a matéria com a

seriedade que ela exigiria.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

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Bom, o Sr. Deputado Ricardo Bexiga também está a ver o filme ao contrário. Porquê? Porque a questão que

se coloca aqui é a de que há empresas de transportes que utilizam um conceito constante da diretiva comunitária

que tem a ver com a segurança rodoviária, que é o conceito «tempo de disponibilidade», para não aplicar o

regime constante no Código do Trabalho que prevê o descanso compensatório.

Vozes do PCP: — Exato!

O Sr. António Filipe (PCP): — O que está a acontecer é que há empresas que, com o pretexto de «tempo

de disponibilidade», têm os trabalhadores presos na empresa de manhã à noite, não respeitando os seus

horários, não respeitando o tempo de descanso e com longas horas de tempo de disponibilidade, tempo que

não é pago mas durante o qual eles têm de estar à disposição da empresa.

Perguntamos: isto salvaguarda os utentes?! Salvaguarda a segurança rodoviária?! Salvaguarda a saúde dos

trabalhadores?!

O Sr. Álvaro Batista (PSD): — Não é isso que está na lei!

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Vá ver a lei!

Vozes do PSD: — Essa lei é do PS! Tem 10 anos!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.

O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Portanto, Srs. Deputados, e volto agora ao Sr. Deputado Álvaro Batista, acho extraordinário que, quando

aquilo que nós dizemos é tão simples como «aplique-se o Código do Trabalho», e foram os senhores que o

aprovaram, o senhor venha dizer raios e coriscos dessa solução.

Protestos do Deputado do PSD Álvaro Batista.

Então, esse Código do Trabalho é assim tão mau?! É assim tão mau?!

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — A lei é do PS!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. António Filipe (PCP): — Nós achamos que é muito mau, mas, neste aspeto, aplicar o regime desta

Diretiva consegue ser muito pior.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Nós não somos contra os trabalhadores! Nós representamos os

trabalhadores!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, terminada a discussão, na generalidade, do

projeto de lei n.º 505/XIII (2.ª) e antes de entrarmos no último ponto da nossa ordem de trabalhos, queria dar

conta de que, de vez em quando, no calor da discussão, utilizamos algumas expressões um pouco mais no

limite daquilo que é necessário.

Vozes do PSD: — O Sr. Deputado António Filipe ultrapassou o limite!

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — O debate tem de ser vivo e tem de ser, certamente, muito claro,

mas devemos fazer os possíveis por limitar, de alguma maneira, as nossas expressões.

De qualquer forma, o Sr. Deputado António Filipe, no seguimento da sua intervenção, utilizou uma

terminologia perfeitamente aceitável e, portanto, não houve, da nossa parte, qualquer vontade em o interromper.

A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Ainda disse pior!

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, peço a palavra para uma interpelação à Mesa.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, naturalmente, se houve algum excesso de linguagem da

minha parte, peço desculpa.

No entanto, gostaria de dizer que, embora eu possa ter utilizado um termo muito contundente e os Srs.

Deputados se possam ter sentido ofendidos, se eu fosse um dos trabalhadores visados e ouvisse a intervenção

do Sr. Deputado Álvaro Batista, também me sentiria ofendido.

Aplausos do PCP.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Conversa!

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, não havia, naturalmente, lugar a qualquer pedido

de desculpa, foi apenas um reparo que a Mesa fez.

Passamos, agora, ao ponto último da nossa ordem de trabalhos, com a apreciação, conjunta, dos projetos

de resolução n.os 912/XIII (2.ª) — Pela educação ambiental como componente de valorização da escola pública

(Os Verdes), 1295/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que realize uma avaliação de impacto do programa Eco-

Escolas (CDS-PP) e 1299/XIII (3.ª) — Promoção da educação ambiental nos currículos dos ensinos básico e

secundário (BE).

Tem a palavra, para apresentação da iniciativa legislativa do Partido Ecologista «Os Verdes», a Sr.ª

Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É certo e sabido que estamos

confrontados com problemas ambientais globais, como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a

necessidade de preservação dos recursos hídricos e do uso eficiente da água, a questão da redução dos

resíduos, enfim, um sem número de questões que decorrem, justamente, da necessidade de compatibilizar a

ação humana com a natureza ou, pelo menos, de minimizar os efeitos da ação humana e daquilo que se

considera ser a evolução das sociedades com a preservação da natureza. E o objetivo da educação ambiental

é, justamente, desde cedo, incutir nas nossas crianças e nos nossos jovens comportamentos para uma

cidadania mais responsável do ponto de vista ambiental, mas, também, características mais participativas, de

maior atividade, designadamente de reivindicação e consciência sobre aquelas que são as responsabilidades

dos poderes públicos.

Mas a verdade, Sr.as e Srs. Deputados, é que a educação ambiental nas nossas escolas se tem feito mais

por dedicação dos docentes e dos alunos do que, propriamente, por orientações estruturantes, consequentes e

coerentes por parte dos sucessivos Ministérios da Educação.

A Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986, veio reconhecer a educação ambiental nos nossos objetivos

de formação de alunos, abrangente a todos os níveis de ensino, apesar de não o fazer de uma forma clara e

objetiva.

Em 1996, o Ministério da Educação e o Ministério do Ambiente estabeleceram um protocolo que pretendia

enquadrar, entre outras questões, a educação ambiental nas orientações curriculares e na formação de

professores. Os currículos, essencialmente através de uma área disciplinar não curricular denominada de área-

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escola, debruçaram-se, transversalmente, sobre três campos de trabalho: ambiente, equipamento e

comunidade.

Em 1997, foi lançada a rede nacional de ecotecas.

Em 1998, realizou-se a 1.ª Mostra Nacional de Projetos Escolares de Educação Ambiental, mostra esta que

só se manteve até 2001.

Nasceu o movimento Eco-Escolas, patrocinado pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), o qual,

mesmo em definhamento, por imposição dos Ministérios da Educação, ainda se mantém ativo nos dias que

correm.

Em 2001, procedeu-se a uma revisão curricular, com três novas áreas curriculares não disciplinares.

Esperava-se que a educação ambiental pudesse vir a ter expressividade nessas áreas, dando, assim,

seguimento aos projetos desenvolvidos na extinta área-escola, o que não veio a acontecer.

A partir de 2001, efetuaram-se várias revisões do currículo do ensino básico e do ensino secundário sobre a

organização estabelecida em 2001, que, no essencial, vigorou até 2011.

A partir daí, em síntese, a argumentação e a estratégia traçada para alcançar os objetivos mais não visavam

do que a destruição da estrutura curricular e, no fim, o que visavam mesmo era a redução e a desvalorização

de tudo o que não fosse considerado disciplina essencial e estruturante.

Em 2011, o que objetivamente aconteceu, com a destruição das áreas curriculares não disciplinares e com

a destruição da estrutura curricular, foi efetivamente a destruição, por arrasto, da educação ambiental no ensino

obrigatório português.

Considerando que, com essa realidade e com estas opções políticas, quem perde é o próprio País e a sua

capacidade de desenvolver práticas coerentes, alargadas e diversificadas de promover a sustentabilidade

presente e futura, Os Verdes trazem à Assembleia da República uma proposta para que a educação ambiental

seja uma componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo e formativo, com carácter formal e não-

formal, para que seja ponderada a criação de uma área disciplinar não curricular e mantida a educação ambiental

como campo de trabalho transdisciplinar nos currículos da educação obrigatória, em Portugal.

Por fim, Sr. Presidente, Os Verdes propõem que seja implementado um sistema de créditos horários para

projetos e clubes escolares de índole ambiental, que possibilitem aos alunos um contacto efetivo e experienciado

com as questões do ambiente.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Rita

Bessa.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O projeto de resolução do Partido

Ecologista «Os Verdes», no seu preâmbulo — e também aqui a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, na sua

intervenção —, parte do pressuposto de que houve uma destruição da educação ambiental no ensino obrigatório

português. E, como a afirmação é séria, o CDS entendeu que valia a pena verificar a sua validade.

Por isso, fizemos um levantamento do currículo e verificámos que, nos 2.º e 3.º ciclos, no domínio das

ciências, na disciplina de Ciências Naturais, por exemplo, no 5.º ano, 20% dos descritores das metas desta

disciplina são sobre ambiente e, no 8.º ano, 49% dos descritores de Ciências Naturais são sobre ambiente.

Nestes anos, são tratadas inúmeras temáticas — e tenho aqui o levantamento integral que, depois, poderei

fazer-lhes chegar — nesta matéria.

Por falta de tempo, vou dar só alguns exemplos: «Descrever o modo como a desflorestação e os incêndios

alteram o Índice de Qualidade do Ar»; «Descrever as consequências da exposição a poluentes do ar interior e

exterior (…)»; «Associar as intervenções do ser humano aos impactes nos processos geológicos (…); «Discutir

opções disponíveis para a conservação dos ecossistemas e a sua contribuição para responder às necessidades

humanas»; «Explicitar o modo como cada cidadão pode contribuir para a efetivação das medidas de proteção

dos ecossistemas».

Como digo, são páginas e páginas de vários descritores que tratam especificamente as matérias que a Sr.ª

Deputada aqui elencou. E este mesmo exercício, se for feito com estudo e com minúcia, permite chegar a

conclusões idênticas no 1.º ciclo e no secundário.

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Por outro lado, ainda que isto não fosse suficiente, este Governo, do ponto de vista da flexibilização curricular,

introduziu uma nova disciplina de carácter obrigatório, a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, na qual há

um tema especificamente dedicado à Educação Ambiental para a Sustentabilidade, cujo objetivo «(…) consiste

na promoção de valores, na mudança de atitudes e de comportamentos face ao ambiente, de forma a preparar

os jovens para o exercício de uma cidadania consciente, dinâmica e informada face às problemáticas ambientais

atuais.» — e citei documentos oficiais. E, embora esta disciplina esteja no âmbito da flexibilidade curricular,

como certamente saberá, no próximo ano letivo, já vai ser expandida a todas as escolas.

Se, ainda assim, o Partido Ecologista «Os Verdes» considera que este assunto merece maior

aprofundamento, a forma séria de fazê-lo é propondo uma reforma curricular estruturada e não através de uma

anexação avulsa de disciplinas que ficam como que penduradas numa árvore de Natal no desenho curricular do

nosso sistema de ensino.

Para o CDS, esta não é a opção. Reconhecendo que a educação ambiental é relevante e reconhecendo,

sim, que há aqui um caminho a percorrer, propomos potenciar os 20 anos de experiência do programa Eco-

Escolas, que, na sua avaliação, está a definhar, mas que, ainda assim, envolveu, no ano letivo passado, mais

de 1500 escolas, e propomos ainda avaliar o seu impacto e ponderar a sua expansão não só aos agrupamentos

de escolas do ensino não superior mas também às instituições de ensino superior que necessitam igualmente

deste tipo de conteúdos.

É caso para dizer, Sr.ª Deputada, que, em vez de descartar aquilo que já existe, será mais avisado e mais

sustentável reciclar aquilo que tem provas dadas.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Luís

Monteiro.

O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O fim da área de projeto, decisão do

anterior Governo, PSD/CDS-PP, foi, na verdade, mais um contributo para a desvalorização da ideia de escola

pública como espaço e momento para a cidadania ativa e para a formação dessa mesma cidadania ativa. E uma

das áreas que perdeu expressão, que perdeu relevo na escola pública foi justamente a educação ambiental. É

que o caso da educação ambiental não se pode medir apenas através dos currículos e das matérias que se dão

do ponto de vista científico, seja na disciplina de Biologia, seja na disciplina de Ciências Naturais.

A educação ambiental é, e deve ser, acima de tudo, um espaço de formação ativa, onde os próprios

estudantes tenham a possibilidade de construir projetos em torno dessa matéria, e foi justamente isso que foi

destruído na vigência do anterior Governo. O facto de a formação cívica e de a área de projeto terem

desaparecido dos planos curriculares fez com que a escola ficasse mais pobre, e mais pobre em várias vertentes

— perdeu vetores de discussão e vetores de formação cívica —, sendo a área da educação ambiental, sem

dúvida, uma delas.

Aliás, se olharmos, por exemplo, para o número de escolas que, na disciplina da área de projeto, abordavam

a educação ambiental e deixaram de o fazer, justamente porque a disciplina deixou de existir, isso é mais do

que prova de que não só os estudantes mas também as próprias comunidades educativas tinham e mantêm

todo o interesse em discutir e aprofundar este tema.

Portanto, independentemente do debate da flexibilidade curricular, é importante garantir que a temática da

educação ambiental volta a estar no cerne da discussão da escola pública e que a mesma não seja apenas

10%, 20% ou 30% deste ou daquele plano curricular nesta ou naquela área científica — e é esse o debate que

está aqui a ser feito.

O CDS gosta muito dos números e das percentagens.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Isso é que é científico!

O Sr. Luís Monteiro (BE): — O Bloco olha mais para as aprendizagens, para as pedagogias, e é para isto

que importa olhar.

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Protestos da Deputada do CDS-PP Ana Rita Bessa.

Por exemplo, foi o anterior Governo, numa visão quadrada sobre a escola pública, que arrasou,

nomeadamente, com as áreas de projeto e com a formação cívica. Portanto, compreendemos bem a posição

de quem acabou com essas disciplinas, em relação aos projetos de resolução aqui em discussão.

Principalmente numa altura em que o obscurantismo, os principais inimigos da ciência e o pôr em causa as

alterações climáticas ganham força no debate da sociedade civil e no debate político que se faz hoje, é tão ou

mais importante do que nunca abrir novamente uma discussão para garantir que essa formação ambiental, essa

educação ambiental volte à escola pública.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. Luís Monteiro (BE): — É justamente nesse sentido que o Bloco de Esquerda propõe três medidas

essenciais. A primeira é criar, no quadro da revisão dos currículos, uma área de enriquecimento curricular que

permita a organização dos estudantes em torno de projetos de intervenção na área da educação ambiental e do

desenvolvimento sustentável.

A segunda é ponderar a criação de um programa de formação contínua de docentes para essa mesma

educação ambiental.

A terceira é criar as condições para que as escolas prossigam práticas ambientalmente sustentáveis, nos

domínios da reciclagem, da utilização eficiente dos recursos naturais energéticos, da redução do consumo de

papel e de consumíveis.

Na verdade, o Bloco de Esquerda não vem propor mais uma disciplina, vem, sim, propor aquilo que é justo,

que, ao abrigo da discussão sobre a revisão curricular, a educação ambiental, tal como aconteceu no Governo

anterior, não seja, mais uma vez, esquecida e tenha novamente um papel decisor na formação dos jovens

portugueses.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Laura

Monteiro Magalhães.

A Sr.ª Laura Monteiro Magalhães (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A tomada de consciência

para o desenvolvimento sustentável é indubitavelmente uma responsabilidade de todos e naturalmente ela

plasma-se no próprio processo educativo.

As questões da educação ambiental assumem uma importância vital nos dias que correm e a necessidade

de trabalhar atitudes e comportamentos é uma realidade.

Nós sabemos que o que fazemos hoje vai, necessariamente, condicionar o amanhã.

Também sabemos, por experiências anteriores, que, nesta matéria, através do trabalho desenvolvido nas

escolas, poderemos alterar os comportamentos das famílias, porque são os próprios alunos que ajudam a

proporcionar a mudança de comportamentos dos seus familiares.

Apesar de ainda não ser suficiente, não podemos negar que Portugal assistiu, na última década, a uma

alteração significativa de comportamentos e a uma crescente consciencialização da importância do ambiente e

da sustentabilidade. E, para tal, as nossas comunidades educativas tiveram um papel determinante nesta

mudança.

Mas, Srs. Deputados, atualmente, a educação ambiental está presente no currículo, está mesmo presente

no currículo. Está presente porque os programas das disciplinas do currículo integram dimensões que valorizam

a educação ambiental. A própria revisão curricular, implementada em 2012, continuou a contemplar a dimensão

transversal da Educação Ambiental para a Sustentabilidade.

A educação ambiental também está presente em numerosos projetos desenvolvidos pelas escolas, no âmbito

dos seus projetos educativos e no quadro da autonomia curricular e pedagógica, que foi amplamente

aprofundada pelo anterior Governo.

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Por isso, apesar de bem-intencionadas, não acompanhamos iniciativas que são contrárias e que condicionam

a crescente autonomia que defendemos.

Foi no quadro desta mesma autonomia que foi possível um maior envolvimento das escolas com a

comunidade alargada, através de inúmeras parcerias quer com autarquias quer com instituições da sociedade

civil ou até mesmo com as ONG, como é o exemplo da Associação Bandeira Azul da Europa que, há muitos

anos, desenvolve o programa Eco-Escolas e que a proposta do CDS pretende avaliar e ponderar a sua

ampliação.

É ainda de salientar que, ao longo dos últimos anos, a parceria entre as tutelas do Ambiente e da Educação

traduziu-se na implementação de muitas iniciativas e projetos que as escolas foram introduzindo em todos os

níveis de ensino.

Por isso, o PSD reconhece a importância da Educação Ambiental para a Sustentabilidade e considera que

esta é uma matéria que está coberta pelo currículo nacional, estando as escolas, no âmbito da sua autonomia

e dos seus projetos educativos, capacitadas para desenvolver projetos nesta área, bastando, para isso,

continuarem a desenvolver o trabalho que têm feito.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana

Mesquita.

A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos o Grupo Parlamentar do

Partido Ecologista «Os Verdes» por ter trazido à agenda o tema da educação ambiental e a forma como se

encontra, neste momento, a ser abordado nas escolas.

O direito à educação e o direito a um ambiente sadio são, ambos, direitos constitucionais que inevitavelmente

se cruzam no dia a dia dos alunos nas escolas portuguesas.

De facto, os desafios e o conhecimento na área ambiental devem ser promovidos e valorizados nas escolas.

Como já aqui foi dito, a reorganização curricular promovida, nomeadamente, pelo anterior Governo,

PSD/CDS, foi verdadeiramente um processo de empobrecimento dos currículos. Vêm agora dizer que não, que,

afinal, até houve um aumento da carga relativamente às matérias da educação ambiental. Porém, temos de

distinguir, aqui, aquilo é o conteúdo estritamente letivo daquilo que são as experiências no âmbito da educação

ambiental e do desenvolvimento do saber e o contacto prático com aquilo que é a defesa de um ambiente,

levando à prática os aspetos da educação ambiental. E esta parte, de facto, foi retirada, nomeadamente, por via

daquilo que também já aqui foi assinalado, que é a eliminação da área de projeto e o impacto que isso teve no

dia a dia da educação ambiental, havendo muitas escolas que deixaram de abordar estes assuntos de uma

forma integrada e muito mais transversal, o que também é um processo de empobrecimento do que é a

educação ambiental nas nossas escolas.

Concordamos com um aspeto que o CDS aqui nos trouxe, que é o seguinte: a abertura de um processo

amplo de discussão sobre uma verdadeira reorganização curricular é urgente e nós defendemo-lo. Agora,

também é verdade que o PSD e o CDS nunca estiveram muito interessados em fazer essa discussão ampla,

participativa, democrática e envolvendo toda a comunidade escolar, os docentes, os não docentes, os alunos,

enfim, toda a gente. Nunca houve esse interesse!

A verdade é que ficamos a perder com a falta dessa abertura desse processo e, mais uma vez, lançamos,

como temos vindo a dizer já há bastante tempo, o desafio para que se faça exatamente isso, que possamos

abrir um processo amplo de discussão sobre a reorganização curricular. É uma questão urgente e necessária

e, com certeza, todos sairíamos a ganhar também na ponderação do peso de cada área e no que deve ser

perspetivado para o futuro.

Não podemos deixar de dizer que é interessante ter sido preciso o PSD falar do projeto do CDS para termos

algum contacto com a iniciativa do CDS neste debate,…

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Se calhar, não foi por sua própria iniciativa, mas porque foi

lembrado!

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A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — … porque o CDS não o fez.

Mas, de qualquer forma, também não podemos deixar de assinalar uma preocupação que temos em relação

aos projetos que estão em discussão, designadamente ao do Bloco de Esquerda, que, num dos pontos — e é

uma situação que nos preocupa —, parece abrir a possibilidade de a educação ambiental poder ser introduzida

nas escolas por via das atividades de enriquecimento curricular, cujo formato atual o PCP não acompanha

exatamente, e, portanto, essa preocupação que temos de essa possibilidade poder ocorrer fica desde já aqui

assinalada.

O PCP saúda, mais uma vez, as iniciativas que vêm no sentido da valorização da educação ambiental nas

escolas.

Aplausos do PCP e da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para encerrar este debate, tem a palavra, em nome do Grupo

Parlamentar do Partido Socialista, a Sr.ª Deputada Lúcia Araújo Silva.

A Sr.ª Lúcia Araújo Silva (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Um dos grandes desafios que se

coloca ao cidadão do século XXI consiste na preservação do ambiente enquanto componente de uma cidadania

global, comprometida com o futuro e transversal aos grupos etários e ao tecido social.

O papel da educação ambiental na formação dos jovens é relevante na construção de uma resposta concreta

da sociedade a esse desafio. É nesse pressuposto que nos posicionamos neste debate.

Conhecendo os inúmeros projetos e atividades desenvolvidas pelas escolas neste âmbito, em cooperação

com as mais diversas entidades, constatamos que o País tem vindo a fazer aqui um grande trabalho.

Nunca é demais salientar que, também aqui, os jovens têm sido verdadeiros motores nas mudanças dos

comportamentos dos adultos, mas as problemáticas ambientais estão também presentes nos programas

curriculares, que desenvolvem relações significativas entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.

Importa salientar que as questões da sustentabilidade são centrais a todo o currículo e que o perfil do aluno

para o século XXI, que define as competências dos alunos após 12 anos de escolaridade, tem como um dos

seus princípios orientadores contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A Sr.ª Susana Amador (PS): — Muito bem!

A Sr.ª Lúcia Araújo Silva (PS): — O Partido Socialista tem estado atento, apoiando o trabalho do Governo

nesta matéria, onde, cabe dizê-lo, a cooperação entre as tutelas da Educação e do Ambiente tem sido uma

parceria privilegiada para a promoção da educação ambiental.

Recentemente, saliente-se a colaboração do Ministério da Educação com o Ministério do Ambiente na

Estratégia Nacional de Educação Ambiental (ENEA) com o horizonte 2020. Neste âmbito, foram já aprovados

29 projetos na linha Apoiar uma Nova Cultura Ambiental e está já definido o compromisso financeiro para 2018.

Para o Partido Socialista, a educação ambiental é uma componente essencial da educação para a cidadania,

cujo desenvolvimento está a correr a bom ritmo.

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista considera que não devemos ser demasiado rígidos na priorização

de certas formas organizativas em prejuízo de outras, porque importa deixar margem à autonomia das escolas

no desenvolvimento dos seus projetos educativos, até para manter equilíbrios e equidade, face a outras matérias

relevantes no quadro vasto da educação para a cidadania.

Ao mesmo tempo, a avaliação necessária de toda esta atividade está prevista, de forma abrangente, na

Estratégia Nacional de Educação Ambiental, publicada em julho do ano passado.

Sr.as e Srs. Deputados, pelo exposto, apesar de não acompanharmos algumas das soluções específicas

apresentadas, consideramos que as mesmas são contributos úteis para a consolidação do trabalho que o País

tem feito e que o Governo está a reforçar na promoção da cidadania ambiental, também por via da educação

ambiental.

Aplausos do PS.

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I SÉRIE — NÚMERO 46

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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Concluída a apreciação dos projetos de resolução n.os 912/XIII

(2.ª), 1295 e 1299/XIII (3.ª) terminamos, assim, a nossa ordem de trabalhos de hoje.

A nossa próxima reunião plenária terá lugar amanhã, pelas 10 horas, e, para além da eleição de um membro

para o Conselho de Segurança Interna e da eleição do Conselho de Procriação Medicamente Assistida, terá a

seguinte ordem de trabalhos: discussão dos projetos de resolução n.os 673/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo

a salvaguarda do património sonoro, musical e radiofónico português (PSD), 1302/XIII (3.ª) — Recomenda a

criação e instalação de um arquivo sonoro nacional (BE), 1306/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção

de medidas conducentes à criação do arquivo sonoro nacional (PS), 1309/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo

a salvaguarda e promoção do património sonoro através da criação de um arquivo sonoro nacional (Os Verdes)

e 1311/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a proteção dos documentos sonoros que sejam parte do património

cultural português, através da criação de um arquivo sonoro nacional (CDS-PP), juntamente, na generalidade,

com o projeto de lei n.º 768/XIII (3.ª) — Cria o arquivo sonoro nacional (PCP); debate dos projetos de lei n.os

744/XIII (3.ª) — Altera o Código Civil, criando a indignidade sucessória dos condenados por crimes de exposição

ou abandono ou de omissão de obrigação de alimentos (CDS-PP), 745/XIII (3.ª) — Primeira alteração à Lei n.º

25/2012, de 16 de julho, alargando a dimensão do Testamento Vital ao planeamento da velhice, para além da

situação de doença (CDS-PP), 746/XIII (3.ª) — Altera o Código Penal, agravando penas e criminalizando um

conjunto de condutas que atentam contra os direitos da pessoa idosa (CDS-PP), 749/XIII (3.ª) — Altera o Código

Penal, criminalizando novas condutas praticadas contra pessoas especialmente vulneráveis (PAN), 750/XIII (3.ª)

— Cria um regime especial, em matéria de defesa do consumidor, para proteção de pessoas idosas (PAN),

755/XIII (3.ª) — Sexagésima nona alteração ao Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344, de 25 de

novembro de 1966, modificando o regime das incapacidades e seu suprimento, e adequação de um conjunto

de legislação avulsa a este novo regime (PSD), e 756/XIII (3.ª) — Vigésima primeira alteração ao Decreto-Lei

n.º 319-A/76, de 3 de maio, que regulamenta a eleição do Presidente da República, décima sexta alteração à

Lei Eleitoral para a Assembleia da República, aprovada pela Lei n.º 14/79, de 16 de maio, oitava alteração à Lei

Orgânica n.º 1/2001, de 14 de agosto, que regula a eleição dos Titulares dos Órgãos das Autarquias Locais,

sétima alteração à Lei Orgânica do Regime do Referendo, aprovada pela Lei n.º 15-A/98, de 3 de abril, e terceira

alteração ao Regime Jurídico do Referendo Local, aprovado pela Lei Orgânica n.º 4/2000, de 24 de agosto,

adequando as incapacidades eleitorais ativas ao novo regime civil das incapacidades (PSD), na generalidade,

juntamente com os projetos de resolução n.os 1272/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que pondere e estude

a necessidade e a possibilidade de criar uma estrutura ou de dotar uma já existente das capacidades, recursos

e competências que possa dar resposta integrada e transversal a pessoas em situação de risco ou de

vulnerabilidade, designadamente em matéria de promoção e proteção dos direitos das pessoas idosas (CDS-

PP), 1273/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que apresente à Assembleia da República proposta de revisão

do Código Civil (CDS-PP), 1274/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que submeta a debate em Plenário da

Assembleia da República o plano de ação e execução da Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e

Saudável 2017-2025 (CDS-PP), 1277/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a criação do estatuto do cuidador

informal até ao final do primeiro semestre de 2018 (CDS-PP), 1305/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o reforço

da fiscalização aos lares de idosos para garantir a dignidade dos utentes (Os Verdes) e 1308/XIII (3.ª) —

Recomenda ao Governo medidas para a promoção do envelhecimento com direitos (PCP); apreciação conjunta

dos projetos de resolução n.os 1098/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a inclusão do semáforo nutricional nos

alimentos embalados (BE), 1297/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que inclua o sistema de semáforo

nutricional e do semáforo carcinogénico na declaração nutricional obrigatória constante nos alimentos

embalados (PAN), 1298/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva uma campanha nacional de

promoção e valorização da dieta mediterrânica (PCP) e 1310/XIII (3.ª) — Sobre a rotulagem de alimentos (Os

Verdes); debate conjunto, na generalidade, dos projetos de lei n.os 558/XIII (2.ª) — Estabelece os princípios

gerais da carreira de médico veterinário municipal, revogando o Decreto-Lei n.º 116/98, de 5 de maio (CDS-PP),

764/XIII (3.ª) — Visa reformular os princípios da carreira de médico veterinário municipal (PAN) e 767/XIII (3.ª)

— Estabelece os princípios gerais da carreira de médico veterinário municipal (primeira alteração ao Decreto-

Lei n.º 116/98, de 5 de maio) (PCP); discussão dos projetos de lei n.os 374/XIII (2.ª) — Determina a atualização

anual dos honorários dos serviços jurídicos prestados pelos advogados no âmbito do apoio judiciário (segunda

alteração à Lei n.º 34/2004, de 29 de julho) (PCP) e 772/XIII (3.ª) — Segunda alteração à Lei n.º 34/2004, de 29

de julho, consagrando a atualização anual dos honorários dos serviços jurídicos prestados pelos advogados no

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9 DE FEVEREIRO DE 2018

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âmbito do apoio judiciário, bem como a obrigação de revisão da lei no prazo de um ano (CDS-PP), na

generalidade, juntamente com o projeto de resolução n.º 1296/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda

à atualização em 5% dos honorários dos profissionais forenses pelos serviços prestados no âmbito da proteção

jurídica (PAN); finalmente, haverá votações regimentais no final do debate.

Srs. Deputados, está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 45 minutos.

Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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