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Sábado, 17 de março de 2018 I Série — Número 61
XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)
REUNIÃOPLENÁRIADE16DEMARÇODE 2018
Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Idália Maria Marques Salvador Serrão Sandra Maria Pereira Pontedeira
S U M Á R I O
O Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 5
minutos. Ao abrigo do artigo 72.º do Regimento, teve lugar um
debate de atualidade, requerido pelo PSD, sobre equidade e competitividade na tributação das empresas, tendo-se pronunciado, a diverso título, além do Deputado António Leitão Amaro (PSD), que também abriu o debate, e do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (António Mendonça Mendes), os Deputados João Paulo Correia (PS), Paulo Sá (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes), Mariana Mortágua (BE), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Carlos Pereira (PS), Bruno Dias (PCP) e Duarte Pacheco (PSD).
Procedeu-se ao debate conjunto dos projetos de resolução n.os 1267/XIII (3.ª) — Posição geoestratégica da Região Autónoma dos Açores e da Região Autónoma da Madeira (PSD), 1316/XIII (3.ª) — Reforço da importância geoestratégica dos Açores (PS), 1390/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, em conjunto com Governo Regional dos Açores, tome as medidas necessárias a uma articulação política que potencie a importância geostratégica e geopolítica daquela Região Autónoma (CDS-PP), 1415/XIII
(3.ª) — Pela valorização estratégica da Região Autónoma da Madeira (CDS-PP) e 1423/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o reforço da valorização da importância geoestratégica do arquipélago da Madeira (PS), que foram aprovados. Intervieram os Deputados António Ventura (PSD), Lara Martinho (PS), João Pinho de Almeida (CDS-PP), João Vasconcelos (BE), António Filipe (PCP), Paulino Ascenção (BE) e Paulo Neves (PSD).
Foi discutido, na generalidade, o projeto de lei n.º 759/XIII (3.ª) — Recupera para o domínio público a propriedade e a gestão da rede básica de telecomunicações e a prestação do serviço universal de telecomunicações (segunda alteração à lei de bases das telecomunicações, Lei n.º 91/97, de 1 de agosto) (BE), juntamente com os projetos de resolução n.os 1411/XIII (3.ª) — Pela defesa do interesse nacional e controlo da Portugal Telecom (Os Verdes) e 1022/XIII (2.ª) — Travar a liquidação da PT, defender os trabalhadores e o interesse nacional (PCP), que foram rejeitados. Pronunciaram-se os Deputados Heitor Sousa (BE), José Luís Ferreira (Os Verdes), Bruno Dias (PCP), Hugo Pires (PS), Joel Sá (PSD) e Hélder Amaral (CDS-PP).
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Procedeu-se ao debate conjunto dos projetos de resolução n.os 911/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva todos os esforços junto do Estado espanhol para travar a exploração de urânio em Salamanca, junto à nossa fronteira (Os Verdes), que foi aprovado, 1397/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva todos os esforços e diligências para que seja devidamente cumprido o Protocolo de Atuação entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha a aplicar às avaliações ambientais de planos, programas e projetos com efeitos transfronteiriços (CDS-PP), que foi aprovado, 1403/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo português que exija junto do Governo espanhol a realização de um estudo de impacto ambiental transfronteiriço relativamente às minas de urânio em Retortillo-Santidad (PSD), que foi aprovado, 1405/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, no âmbito do Protocolo de Atuação entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha a aplicar às avaliações ambientais de planos, programas e projetos com efeitos transfronteiriços, adote as medidas necessárias junto do Estado espanhol com vista à suspensão de qualquer decisão final da implantação do projeto de fábrica de urânio processado e de mineração em Retortillo-Santidad (Salamanca) (PCP), que foi aprovado, 1406/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de medidas junto das autoridades espanholas para que seja travada a instalação da mina de urânio Retortillo-Santidad (BE), que foi aprovado, 1409/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que encete esforços para travar a exploração de urânio em Retortillo junto do Reino de Espanha e organismos internacionais (PAN), tendo sido rejeitado o ponto 3 e aprovados os pontos 1 e 2, e 1412/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que assegure o cumprimento do Protocolo de Atuação entre Portugal e Espanha, no âmbito da exploração de urânio em Salamanca (PS), que foi aprovado. Intervieram os Deputados Heloísa Apolónia (Os Verdes), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Ângela Guerra (PSD), Miguel Tiago (PCP), Pedro Soares (BE), André Silva (PAN) e Santinho Pacheco (PS).
Foram lidos e aprovados os votos n.os 495/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Stephen Hawking, apresentado pelo Presidente da AR, pelo PSD, pelo PS, pelo BE, pelo CDS-PP, pelo PCP, por Os Verdes e pelo PAN, e 496/XIII (3.ª) — De pesar e condenação pela morte de Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, apresentado pelo BE, pelo PAN, pelo PSD, pelo PS, pelo CDS-PP e por Os Verdes e subscrito por 1 Deputado do PCP, após o que a Câmara guardou 1 minuto de silêncio.
Foi aprovado o ponto 8 do projeto de resolução n.º 1385/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de um plano de medidas de melhoria do Serviço Nacional de Saúde (PS).
Foram aprovados os projetos de resolução n.os 592/XIII (2.ª) — Pela gestão pública do Centro de Reabilitação do Norte-Joaquim Ferreira Alves (PCP) e 1304/XIII (3.ª) — Recomenda a gestão pública do Centro de Reabilitação do Norte e a revisão do atual acordo com o Hospital da Prelada (BE).
Foram aprovados os projetos de resolução n.os 1263/XIII (3.ª) — Recomenda o estabelecimento da zona especial de proteção do Centro Histórico do Porto, conforme o determinado na Lei n.º 107/2001 (BE), 1339/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a criação da zona especial de proteção (ZEP) do Centro Histórico do Porto (PCP) e 1413/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o início imediato do procedimento de delimitação da zona especial de proteção do Centro Histórico do Porto e de Gaia e a extensão da zona classificada ao Centro Histórico de Gaia (PS).
Após a Deputada Helena Roseta (PS) ter questionado a Mesa sobre a votação de um texto final relativo a diplomas de teor idêntico ao de uma petição pendente de apreciação na Assembleia, foi votado e aprovado, em votação final global, aquele texto final, apresentado pela Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, sobre os projetos de lei n.os 495/XIII (2.ª) — Segunda alteração à Lei n.º 31/2009, de 3 de
julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro (PSD), 576/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro, assegurando a correta transposição da Diretiva 2005/36/CE (PAN) e 577/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra, modificando a norma referente à qualificação dos autores de projeto (PAN).
A seguir ao anúncio do resultado da votação daquele texto final, o Deputado Pedro Delgado Alves (PS) solicitou à Mesa que procedesse à contagem das diferentes posições de voto dos Deputados do seu partido e as Deputadas Isabel Alves Moreira e Helena Roseta (PS) — que apresentou um requerimento oral — requereram a realização de votação nominal, solicitações que foram denegadas, tendo também usado da palavra o Deputado Jorge Lacão (PS). Posteriormente, proferiu uma declaração de voto o Deputado Bruno Dias (PCP).
Ainda em relação àquele texto final, e sobre eventual conflito de interesses, usaram da palavra os Deputados Sara Madruga da Costa (PSD), António Lima Costa (PSD), João Torres (PS), Luís Leite Ramos (PSD), João Oliveira (PCP), Jorge Falcato Simões (BE), Pedro Coimbra (PS), Fátima Ramos e Maurício Marques (PSD), Luís Vilhena e Hugo Pires (PS) e António Topa (PSD).
Foram aprovados os n.os 43 a 53 do Diário. Foi aprovado um parecer da Subcomissão de Ética, da
Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, autorizando um Deputado do PS a intervir em tribunal.
Foi apreciada a petição n.º 191/XIII (2.ª) — Criação do Estatuto do Cuidador Informal da Pessoa com Doença de Alzheimer e outras demências ou patologias neurodegenerativas e criação do Dia Nacional do Cuidador (Grupo de Cuidadores Informais de Doentes de Alzheimer e outras demências similares) juntamente com os projetos de resolução n.os 1400/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que considere as demências e a Doença de Alzheimer uma prioridade social e de saúde pública, que elabore um plano nacional de intervenção para as demências, que adote as medidas necessárias para um apoio adequado a estes doentes e suas famílias e que crie e implemente o Estatuto do Cuidador Informal (CDS-PP), 1408/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de medidas de apoio aos cuidadores informais (PAN) e com, na generalidade, os projetos de lei n.os 801/XIII (3.ª) — Cria o Estatuto do Cuidador Informal e reforça as medidas de apoio a pessoas dependentes (procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de junho, e à décima terceira alteração ao Código do Trabalho) (BE) e 804/XIII (3.ª) — Reforça o apoio aos cuidadores informais e às pessoas em situação de dependência (PCP). Proferiram intervenções os Deputados Isabel Galriça Neto (CDS-PP), André Silva (PAN), José Moura Soeiro (BE), João Dias (PCP) — que também cumprimentou o Presidente e a Câmara ao usar da palavra pela primeira vez em Plenário —, Helga Correia (PSD) e Luís Soares (PS).
Foi apreciada a petição n.º 253/XIII (2.ª) — Solicitam a criação de um regime de exceção no acesso à reforma para os professores (Maria Manuela Jesus Ferreira Alves e outros) juntamente com os projetos de resolução n.os 1396/XIII (3.ª) — Propõe um regime transitório para a aposentação de professores e educadores, com vista a criar justiça no regime
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de aposentação (Os Verdes), 1402/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que promova o estudo e a posterior abertura de uma negociação para um regime especial de aposentação para educadores de infância e professores do ensino básico e secundário (CDS-PP) e 1407/XIII (3.ª) — Valorização das longas carreiras contributivas e consideração de regimes de aposentação relativos a situações específicas, incluindo a docência (PCP). Intervieram os Deputados Heloísa Apolónia
(Os Verdes), Ana Mesquita (PCP), Ilda Araújo Novo (CDS-PP), Maria Augusta Santos (PS), Maria Germana Rocha (PSD) e Joana Mortágua (BE).
Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de resolução n.os 1425 e 1426/XIII (3.ª).
O Presidente encerrou a sessão eram 13 horas e 54 minutos.
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários e Sr.as e
Srs. Jornalistas, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.
Eram 10 horas e 5 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias.
Vamos dar início aos nossos trabalhos de hoje, tendo, como primeiro ponto, um debate de atualidade,
requerido pelo PSD, que tem lugar ao abrigo do artigo 72.º do Regimento da Assembleia da República, sobre
equidade e competitividade na tributação das empresas.
Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado António Leitão Amaro.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os portugueses pagam
demasiados impostos. Nunca pagaram tanto como em 2017: foram mais de 3 mil milhões de euros do que em
2015. Pagamos, em Portugal, demasiados impostos por causa de excessos e iniquidades, tanto na despesa
pública como nas receitas fiscais.
No caso dos impostos, incluindo os impostos sobre as empresas, a generalidade paga de mais também
porque alguns pagam de menos. A generalidade paga de mais, mas o Governo socialista não hesitou em rasgar
e reverter a reforma do IRC. Aliás, as esquerdas até aumentaram a derrama estadual sobre a generalidade das
empresas, tornando o IRC nominal, em Portugal, num dos mais elevados da Europa.
É verdade, o Partido Socialista rasgou mesmo um acordo de regime, que não só melhorava a competitividade
da nossa tributação como garantia ao mundo e aos investidores a estabilidade duradoura da nossa fiscalidade.
Competitividade e estabilidade da tributação sobre as empresas são sempre indicadas como um dos critérios
fundamentais para as decisões de investimento. Ora, a maioria das esquerdas destruiu ambas! Competitividade
e estabilidade fiscal trazem mais investimento, que causa mais emprego e mais crescimento.
A verdade é que quase todos os países da Europa crescem mais do que Portugal e todos têm taxas de IRC
mais baixas do que Portugal. Aliás, como se provou em 2015, é possível baixar para todos a taxa de IRC e
conseguir aumentar a receita para os cofres do Estado.
Por isso, o PSD defendeu e insiste, hoje, na concretização da reforma do IRC acordada em 2013.
Mas se as esquerdas fizeram mal em minar a competitividade e a estabilidade da tributação sobre as
empresas pior estiveram quando decidiram tratar alguns de forma diferente, violando a equidade fiscal.
Permitindo que alguns paguem muito menos, obrigaram todos a pagar mais.
As esquerdas violaram a equidade quando aprovaram, em 2016, o regime de reavaliação de ativos que,
como bem avisámos então, era uma enorme borla fiscal para um grupo muito pequeno de muito grandes
empresas. A UTAO confirmou-o: sete grandes empresas beneficiaram desse regime. Só o Grupo EDP, segundo
as suas próprias contas, ganhou 174 milhões de euros com esta borla fiscal. E foi também com este Governo
das esquerdas que essa mesma empresa deixou de pagar a contribuição extraordinária sobre serviços
energéticos que antes sempre pagara.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Nestes dias, ficámos a saber que, em
2017, essa mesma empresa pagou uma taxa efetiva de impostos sobre os seus lucros de 0,7%. 10 milhões de
euros de imposto sobre um lucro de 1500 milhões de euros, isto é, 27 vezes menos que em 2015 e do que teria
sido em 2016, não fosse essa borla fiscal da reavaliação ativos.
Isto merece inquietação, esclarecimento e ação! Inquietação, porque questiona a equidade do sistema fiscal,
que não pode beneficiar uns poucos com mais recursos e com buracos legais para planeamento fiscal agressivo,
prejudicando os médios e os pequenos, que têm de pagar as taxas nominais, que são das mais elevadas na
Europa.
Esta inquietação exige também esclarecimentos completos e cabais do Governo em relação às seguintes
questões: como é possível uma empresa tão grande pagar uma taxa efetiva de IRC tão baixa? Tendo
sensivelmente os mesmos lucros que teve em 2015, como é que dois anos depois paga 27 vezes menos de
imposto? Esta situação e cada um dos fundamentos, eventualmente invocados pela empresa, são legais? A
Autoridade Tributária já está a verificar esta situação? Se a situação não for ilegal, o que é que a lei permite que
conduza a este resultado, para além dessa já famosa reavaliação de ativos?
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Se em 2017 se chegou a esta situação, esperamos das autoridades administrativas que se investigue e que
o Governo não enfie a cabeça na areia e fique passivo.
Para que a generalidade das empresas em Portugal paguem menos impostos, como devem fazer, algumas
não podem pagar de menos.
Se houver com esta ou outras empresas problemas de legalidade, o PSD exige que se atue sem
contemplações. Se houver insuficiências na lei, exigimos e solicitamos, desde já, que seja realizada e publicada
uma avaliação especializada profunda sobre esta disparidade desigual de tributação nominal e efetiva entre
empresas.
A complexidade desta avaliação recomenda que seja o Governo a promovê-la e, se forem identificadas falhas
e responsabilidades na lei, o PSD contribuirá para a sua alteração por forma a resolver as iniquidades.
Ao Governo exige-se também ação no plano europeu, mas nada temos visto fazer designadamente para
terminarem os casos de desleal competição na tributação das empresas dentro da União Europeia.
Nós, no PSD, defendemos as soberanias fiscais nacionais, mas não podemos aceitar a concorrência desleal
entre países.
Mas não foi apenas aqui que vimos iniquidades por parte do Governo. Também as vimos quando os senhores
subiram os impostos sobre a generalidade das empresas através dos impostos indiretos, como o dos
combustíveis e o imposto sobre veículos, que recaem, sobretudo, sobre as empresas também por causa da sua
especial incidência sobre o gasóleo; ou quando, há umas semanas, vimos o Governo apresentar uma proposta
que altera o regime fiscal para algumas empresas do setor dos transportes marítimos. O que faz é baixar muito
os impostos para alguns e implicar que os impostos para a generalidade sejam mais elevados.
Isto é mais um exemplo da velha política socialista de atribuir privilégios especiais a alguns fazendo a maioria
pagar mais. Vimos isso com as empresas do regime do anterior Governo socialista, com as rendas excessivas
da energia nas PPP (parcerias público-privadas) e na Parque Escolar e voltamos a ver isso…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que é também possível, nesse
campo das rendas excessivas, fazer mais. E a legitimidade que temos, por termos sido os únicos, no anterior
Governo, a cortar mais de 2 mil milhões de euros, justifica que exijamos ao Governo e à maioria de esquerda
que cumpram as palavras que tantas vezes disseram e que, finalmente, façam alguma coisa. É tempo de atos!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado João Paulo Correia inscreveu-se para pedir esclarecimentos ao Sr.
Deputado António Leitão Amaro
Tem, então, a palavra, Sr. Deputado João Paulo Correia.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr. Deputado António Leitão
Amaro, o seu discurso são lágrimas de crocodilo. O PSD tenta branquear o maior aumento de impostos que
houve desde o 25 de abril, que foi operado pelo anterior Governo PSD/CDS,…
Protestos do PSD.
… e vem aqui dizer que, nesta Legislatura, a receita fiscal representa aumento de impostos, o que é
completamente falso! A receita fiscal aumenta, porque a economia cresce e, crescendo, dá mais receita fiscal,
porque a carga fiscal tem-se mantido ou tem diminuído nos últimos anos.
O PSD agendou um tema em relação ao qual tem um histórico muito negativo. Mas vamos a factos.
Nos Orçamentos do Estado para 2017 e 2018, o PSD apresentou uma proposta de descida da taxa de IRC.
Se essa proposta tivesse sido aprovada, a EDP, nos últimos anos, teria pago menos impostos.
Nesta Legislatura, foram apresentadas quatro medidas, que foram aprovadas pelos votos da maioria
parlamentar, em relação às quais o PSD votou contra. Essas medidas foram as seguintes: o aumento da taxa
da derrama estadual do último escalão para empresas com lucros superiores a 35 milhões de euros; a descida
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da taxa de IRC para 12,5% no interior para os primeiros 15 000 €; a redução do prazo de reporte de prejuízos
fiscais para as grandes empresas de 12 para 5 meses; e a redução do universo de empresas que beneficiam
da isenção de IRC relativa à obtenção de lucros e mais-valias oriundas de participações que essas mesmas
empresas detenham em outras empresas sediadas em territórios estrangeiros.
Relativamente a estas propostas, o PSD votou contra. E se, de facto, estas propostas tivessem sido
rejeitadas, como queria o PSD, a EDP hoje pagaria menos impostos.
Também não podemos esquecer que foram o PSD e o CDS que propuseram no PEC de 2015 a extinção da
contribuição extraordinária para o setor energético e que foram o PSD e o CDS que propuseram, no início desta
Legislatura, o fim da contribuição extraordinária para o setor energético, que seria um grande favor prestado à
EDP, que teria poupado centenas de milhões de euros se a proposta do PSD, apresentada no início desta
Legislatura em relação à contribuição extraordinária para o setor energético, tivesse sido aprovada.
A pergunta que gostaria de colocar-lhe, Sr. Deputado, é a seguinte: o PSD mudou de opinião em relação a
isto tudo? Contradiz todas as opções que tomou nesta Legislatura?
O PSD agendou este debate, o líder do PSD disse que era importante fazer alterações à lei fiscal, mas, no
seu discurso, não se ouviu uma única proposta, uma nova proposta, uma única ideia.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Pedro Nuno Santos): — Exatamente!
O Sr. João Paulo Correia (PS): — E quem exige o quê? É neste momento a maioria parlamentar e o PS,
que está a usar da palavra, que pergunta ao PSD: quais são as vossas propostas? Mudaram de opinião?
Mudaram de posição? O PSD continua sem bússola. A sua intervenção e este agendamento são um autêntico
tiro de pólvora seca do PSD.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Leitão Amaro.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Paulo Correia, agradeço as suas
questões, mas lamento as suas confusões.
Sr. Deputado, presumo que não desmente os números oficiais de que, dois anos volvidos, o País e a
economia nacional pagaram mais de 3 mil milhões de euros de impostos. Isso é receita fiscal!
O Sr. Deputado não desmente os cálculos da UTAO que dizem que a carga fiscal em 2017 aumentou face a
2016! Espero que não desminta!
Mas, Sr. Deputado João Paulo Correia, é preciso explicar-lhe porquê: é que os senhores decidiram, através
de aumentos diversos em impostos indiretos, que, segundo contas do seu Governo, apenas o efeito na mudança
das taxas e nas regras de imposto representaram, até ao final de 2017, cerca de 800 milhões de euros, e, em
2018, em outros impostos indiretos, mais 150 milhões de euros! Isto só pelo efeito de mudança de taxas! E
grande parte disto representa imposto sobre os combustíveis, que cai especialmente sobre o gasóleo, que recai,
muito particularmente, também sobre as empresas. Portanto, sim, os senhores também aumentaram impostos
sob essa forma escondida, que foi a de agravar o imposto sobre os combustíveis.
Sr. Deputado João Paulo Correia, outra confusão sua é quando pergunta: «Mas os senhores não propuseram
a descida da taxa nominal de IRC e a retoma da reforma do IRC?!» Sim, nós fizemos isso e esperávamos que
os senhores cumprissem a vossa palavra. Mas o problema é que o Sr. Deputado confunde e não percebeu nada
do problema!
É que aquilo que soubemos neste fim de semana foi que a questão está não na taxa nominal, que continua
muito elevada, mas, sim, na taxa efetiva. Porquê? Por causa de um conjunto de planeamentos, eventualmente
— reconhecemo-lo e admitimo-lo — de insuficiências legais, que pode ser o caso, mas também de decisões
vossas.
A EDP, de acordo com as suas próprias contas, conseguiu poupar, retirar ao IRC que pagaria, se fosse
cumprida a taxa nominal, 174 milhões de euros por uma borla que os Srs. Deputados do Bloco de Esquerda, os
Srs. Deputados do PCP e os Srs. Deputados do PS se juntaram para lhes dar. Sim, é com coisas dessas que a
taxa nominal, que é demasiado elevada, cai para a taxa efetiva.
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Sim, vejam as contas da EDP deste ano: põe lá 174 milhões de euros a menos pagos, em 2016, à conta
disso.
Sr. Deputado, nós somos um partido sério. O Presidente do meu partido disse, e eu repeti-o aqui hoje, que
há um problema que inquieta. Apontámos alguns problemas que derivam de decisões vossas, que queremos
que sejam alteradas. Primeiro, baixar a taxa nominal e retomar a reforma do IRC — é uma proposta; segundo,
acabar com esse programa inaceitável da realização de ativos — outra proposta. E relativamente ao regime
particular, que admito que possa estar também aqui em causa, que é o da tributação de grupos: primeiro, pedir
ao Governo que faça um esclarecimento cabal, através da Autoridade Tributária; segundo, façam uma avaliação
e promovam uma avaliação especialista, aprofundada sobre o que é que justifica esta disparidade; e, sim, caso
esse estudo indique que há problemas também na lei, nesse momento e com essas conclusões, como partido
responsável e sério que somos, juntamos a estas propostas de que já lhe falei mais algumas de alteração.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
António Mendonça Mendes.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (António Mendoça Mendes): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, Sr. Deputado Leitão Amaro: Quando recebi a notícia da convocação deste debate
de atualidade com o tema «equidade e competitividade na tributação das empresas», confesso-lhe que, ao ver
o proponente, me lembrei do título de uma série: Sei o que fizeste no verão passado. Nós sabemos bem o que
o PSD fez nas sessões legislativas passadas no que diz respeito à competitividade e equidade na tributação
das empresas.
Espero bem, Sr. Deputado, e tenho mesmo de conceder, que a atualidade que o PSD dá a este tema de
trata de uma atualidade seja porque tem mesmo uma preocupação com este tema. Espero que não seja apenas
uma atualidade para acompanhar a atualidade dos jornais. Por isso, Sr. Deputado, vamos então ao debate.
Comecemos pela equidade na tributação das empresas. A política fiscal do Governo tem sido muito clara
nessa matéria. Temos dois eixos: em primeiro lugar, a discriminação positiva das pequenas e médias empresas
e, em segundo lugar, a proteção da base tributável do IRC pago em Portugal.
No que diz respeito à diferenciação positiva para as pequenas e médias empresas, gostaria de recordar às
Sr.as Deputadas e aos Srs. Deputados que esta maioria aprovou duas reduções do pagamento especial por
conta. Por outro lado, esta maioria aprovou a manutenção do reporte de prejuízos fiscais em 12 anos para as
pequenas e médias empresas e a redução do reporte de prejuízos ficais para cinco anos para as grandes
empresas.
Quero recordar também que, para as empresas, ainda no domínio da equidade, com os primeiros
rendimentos até 15 000 € foi aprovada uma taxa de IRC de 12,5% para as empresas que estejam no interior.
Mas quero também falar-lhe daquilo que é a proteção da base tributável, ou seja daquilo que se tem de pagar
de IRC em Portugal. Temos apostado naquilo que é o reforço dos mecanismos de combate à fraude e à evasão
fiscal e de combate ao planeamento fiscal agressivo.
É nesse contexto que agravámos as taxas nos pagamentos realizados a paraísos fiscais que não estejam
listados; dificultámos a dedução fiscal desses mesmos pagamentos; colocámos Portugal em todas as frentes de
reforço da troca de informações fiscais, que nos permitiram identificar rendimentos não declarados ou
rendimentos subdeclarados.
Sr. Deputado, nós, Portugal, na União Europeia, estamos na linha da frente dos países que exigiram uma
discussão sobre a tributação da economia digital e é por isso que a Comissão Europeia vai apresentar, muito
em breve, um relatório precisamente para trazer mais equidade na distribuição do esforço fiscal desta realidade.
Por isso, Srs. Deputados, proteger a base tributável é aquilo que garante a equidade nos impostos, porque
é aquilo que garante que o IRC que tenha de ser pago em Portugal seja efetivamente pago.
Sr. Deputado, falando de competitividade na tributação das empresas, porque esse também é o tema do
debate, gostaria também de lhe relembrar que o gasóleo profissional para o setor das mercadorias foi introduzido
por este Governo.
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Lembro-o do reforço que fizemos aos incentivos fiscais à capitalização das empresas, para termos empresas
com capitais próprios mais robustos.
Quero também lembrar-lhe os benefícios fiscais que criámos, através do programa Semente, para incentivar
as startups.
Por último, em relação à competitividade, Sr. Deputado, quero também lembrar o IVA alfandegário, que
permitiu que já hoje 3300 empresas tivessem aderido e que é a medida que todas as empresas importadoras
consideram, de forma unânime, como a que melhor contribuiu para a melhoria da sua tesouraria e com isso para
a melhoria da sua competitividade.
Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Sabemos bem onde estava o PSD quando se votou a
restrição à participationexemption, a diminuição do prazo de reporte de prejuízos para as grandes empresas. a
definição do critério material para agravar a tributação feita em jurisdições não listadas.
Aplausos do PS.
Sr. Deputado, isso sabemos, mas há uma coisa que quero dizer-lhe: esperemos que essa seja uma
preocupação real e, nessa medida, aqui estaremos a ouvir as vossas propostas para preservar a base tributária
portuguesa.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O PSD agendou para
hoje um debate sobre a equidade na tributação nas empresas.
Mas o que é que significa, para o PSD, a expressão «equidade fiscal»? A resposta é sobejamente conhecida:
por um lado, generosas benesses para as grandes empresas, para os grupos económicos e para as grandes
fortunas; por outro lado, esmagamento fiscal dos trabalhadores, dos reformados, das famílias e também das
micro e pequenas empresas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Todos nos lembramos muito bem que o anterior Governo, PSD/CDS, ao mesmo
tempo que reduzia a taxa de IRC e disponibilizava aos grupos económicos múltiplos instrumentos para o
planeamento fiscal agressivo, que lhes permitia pagar muito menos impostos do que os devidos, impunha aos
rendimentos de trabalho o maior aumento de impostos de que há memória.
Também nos lembramos que, em 2014, o projeto de lei do PCP que visava a tributação mais adequada do
grande capital e que, ao mesmo tempo, reduzia os impostos sobre os rendimentos dos trabalhadores e o
consumo das famílias, foi chumbado pelo PSD e pelo seu parceiro de coligação, o CDS.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Com este passado, num debate sobre equidade fiscal, o PSD não tem lugar à
mesa.
Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, o Governo deve clarificar se as notícias que vieram a público
sobre o nível baixíssimo de impostos pagos pela EDP se confirmam ou não.
Sabemos que o Governo não pode revelar dados fiscais sobre os contribuintes concretos, sejam eles
empresas ou particulares, mas pode e deve clarificar se há utilização, por parte das grandes empresas e dos
grupos económicos, de mecanismos que permitem obter reduções significativas de impostos.
Pode e deve divulgar dados sobre as taxas efetivas dos impostos pagos por setor de atividade. Por exemplo,
Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, está disponível para divulgar qual a taxa efetiva média de IRC
no setor energético?
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Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, nos últimos dois anos, foram adotadas algumas medidas
visando uma tributação mais adequada dos grupos económicos e das grandes empresas, incluindo a EDP,
medidas como a redução do período de reporte de prejuízos ou o aumento do limiar de exclusão de tributação
de dividendos e mais-valias nas operações intragrupo.
Essas medidas foram claramente insuficientes. Por isso, pergunto-lhe, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais: que medidas adicionais pretende o Governo implementar para garantir que os grupos económicos
pagam os impostos devidos, sem artifícios, com taxas efetivas mais próximas da taxa nominal de IRC, de 21%?
E, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que consideração faz o Governo sobre a proposta do PCP
que visa garantir que aquelas empresas que desenvolvem a sua atividade em Portugal e que aqui geram os
seus lucros paguem os seus impostos em Portugal e não em qualquer outro país?
A estas perguntas o Governo não pode deixar de responder.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados: Recentemente, os portugueses foram confrontados com um verdadeiro escândalo fiscal, com uma
imoralidade que não pode ser aceitável num Estado de direito democrático. A EDP, a mais lucrativa empresa no
nosso País, teve, em 2017, uma taxa efetiva de impostos sobre os seus lucros de uns meros 0,7%.
Estamos, portanto, a falar de um nível efetivo de tributação, incomparavelmente inferior àquilo que pagam as
micro, pequenas e médias empresas e infinitamente inferior às taxas que a generalidade das famílias
portuguesas pagam em sede de IRS.
Ora, os portugueses não entendem, ninguém consegue perceber como é que uma empresa como a EDP
que apresenta lucros acima dos 1,5 mil milhões de euros, que distribui aos seus acionistas 690 milhões de euros
em dividendos num só ano pague uma taxa de uns míseros 0,7%! É uma vergonha.
E se é verdade que Os Verdes consideram que é preciso acabar, de uma vez por todas, com estes paraísos
fiscais que representam verdadeiros atentados ao bom senso e à justiça fiscal, também é verdade que não
acordaram só agora para a injustiça fiscal que está instalada no nosso País. Não foi, portanto, a EDP que nos
trouxe a luz. Há muito que Os Verdes denunciam esta flagrante imoralidade fiscal que vai reinando no nosso
País. Foi, aliás, por isso que Os Verdes se opuseram à reforma do IRC que o Governo do PSD e do CDS
apresentou em finais de 2013.
Recorde-se que PSD e CDS baixaram o IRC para as grandes empresas, primeiro dos 25% para os 23% e
depois dos 23% para os 21%. Foi uma grande prenda dada às grandes empresas e aos grandes grupos
económicos. Foi mais um bónus ou, melhor, um conjunto de bónus.
Recorde-se que, para além da descida do IRC, as grandes empresas e os grandes grupos económicos
passaram ainda a beneficiar de outras benesses, como, por exemplo, do alargamento do período de reporte dos
prejuízos fiscais de cinco para quinze anos.
Mas também podemos falar das alterações no regime de tributação dos grupos de sociedades, que veio
permitir o aumento do número de empresas abrangidas por esse regime e, com os seus eventuais prejuízos,
diminuir a matéria coletável do grupo.
Podemos ainda falar das isenções das mais-valias e menos-valias, deduzindo-as ao lucro tributável que essa
reforma veio permitir às grandes empresas e aos grandes grupos económicos.
Face a este quadro, não estranhamos o tema do agendamento do PSD para hoje. O que estranhamos é que
o PSD não tenha percebido que a EDP está a beneficiar da reforma do IRC que o próprio PSD protagonizou. O
que estranhamos é que, face a este caso da EDP, o PSD ainda continue a defender que a taxa de IRC é alta e
que deveria, por isso, ser mais baixa. O que estranhamos é que o PSD, que agora se mostra tão indignado com
aquilo que as grandes empresas pagam de impostos, tenha apresentado nesta Assembleia, em fevereiro do
ano passado, uma proposta para fazer ressuscitar os benefícios fiscais às grandes empresas, a que o atual
Governo pôs termo.
Recorde-se que, nomeadamente com essa proposta, o PSD pretendia alargar o período de reporte de
prejuízos fiscais das grandes empresas para os 12 anos. Mas pretendia mais: em fevereiro do ano passado, o
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PSD propôs uma redução adicional de IRC para os grandes grupos económicos e o alargamento das isenções
da tributação de dividendos e mais-valias às grandes empresas.
Portanto, bem podemos dizer que temos razões de sobra para estranhar esta súbita preocupação do PSD
com a equidade fiscal das empresas. Se bem que para nós, Os Verdes, quando falamos de equidade fiscal, o
centro das preocupações não pode deixar de fora as brutais diferenças de tratamento, em termos fiscais, entre
as grandes empresas e os grandes grupos económicos por um lado e as micro, pequenas e médias empresas
por outro.
É também por isso que Os Verdes continuam a defender a necessidade de ir mais longe no que diz respeito
ao combate aos privilégios fiscais que continuam a beneficiar as grandes empresas e os grandes grupos
económicos. E é também por isso que Os Verdes acham que o Governo deve dizer-nos se esta situação se
confirma e, a confirmar-se, o que é que o Governo pondera fazer para evitar que estas situações aconteçam.
Para terminar, quero dizer que, a nosso ver, por imperativos de ordem moral, por imperativos de exigência
ética, por uma cultura de responsabilidade, por justiça social e de equidade fiscal, é preciso pôr termo à
imoralidade que permite que uma empresa como a EDP pague uma taxa que nem sequer chega a 1%. Por nós,
cá estaremos para acolher todas as propostas que visem acabar com os chorudos benefícios fiscais que as
grandes empresas e os grandes grupos económicos continuam, imoralmente, a receber.
Assim haja a mesma disponibilidade por parte do PSD e das restantes bancadas.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — A Mesa não regista mais inscrições para intervenções no debate.
Não havendo mais inscrições, a Mesa dará a palavra ao Sr. Deputado do PSD Duarte Pacheco para proferir
a intervenção de encerramento, já que o debate é da iniciativa do PSD e são essas as regras.
Não vamos ficar eternamente à espera que os partidos que ainda não intervieram ou outros inscrevam
Deputados para proferirem intervenções.
Pausa.
Desta vez é mesmo a sério.
Passamos, então, ao ponto seguinte.
Pausa.
A Mesa regista agora uma inscrição por parte do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Esperávamos que o CDS se inscrevesse.
O Sr. Presidente: — A Mesa regista também uma inscrição do CDS-PP.
Podem falar ao mesmo tempo, em coro.
Risos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não há de ser bom para a Ata, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, não há muito tempo a perder. Como sabem, hoje a agenda é muito
longa, portanto dispensa-se este taticismo.
Pausa.
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, o CDS insiste em não usar da palavra. O seu silêncio é
também revelador do que não nos quer dizer neste debate.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estive a ouvir o discurso do Sr. Deputado António Leitão Amaro e encontrei
três explicações para aquilo que ouvi: a primeira é que o Sr. Deputado se enganou no discurso — é uma
explicação pouco provável, mas é uma explicação; a segunda é que o Sr. Deputado se enganou no partido e a
sua bancada não é a do PSD; a terceira explicação possível é que o PSD nos quer enganar e quer fabricar uma
posição que não é sua, que não defende e que não praticou no passado.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Essa é que é essa!
Aplausos do BE.
Protestos do PSD.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Deputado, independentemente da situação atual do PSD, a desfaçatez
não se pode tratar com condescendência, e não podemos ter condescendência com o exercício que veio aqui
fazer.
Desfaçatez é o PSD, que é coautor, com o CDS, da reforma de IRC que colocou Portugal no mapa da
Comissão Europeia por incentivo ao planeamento fiscal agressivo, vir agora mostrar-se indignado com os
impostos que a EDP não paga precisamente por causa de práticas de planeamento fiscal. Sobre isto acho que
vale a pena ver o cadastro do PSD.
É que, Sr. Deputado, quando o PSD e o CDS desceram a taxa de IRC de 23% para 21% acha que a EDP
pagou mais ou pagou menos impostos? Quando o PSD e o CDS alargaram o prazo de dedução de prejuízos
fiscais de 5 para 12 anos, mais anos do que na Holanda, o mesmo regime que o Montepio agora usa para criar
ativos por impostos diferidos, acha que a EDP passou a pagar mais ou menos impostos?
Sr. Deputado, vem aqui falar sobre planeamento fiscal e taxa efetiva de imposto e desigualdades fiscais. Mas
o que é o regime das participation exemption? É que é preciso explicar: basta uma empresa, em Portugal, ter
5% de uma empresa no estrangeiro e todos os lucros, mais-valias e dividendos ficam isentos de tributação
quando distribuídos a uma empresa em Portugal! Diga-me, Sr. Deputado: quem é que acha que beneficia deste
regime que favorece o planeamento fiscal? Acha que é a mercearia da esquina ou acha que a EDP passou a
pagar menos impostos com o regime que os Srs. Deputados aprovaram, criaram, nos últimos anos?
Aplausos do BE.
Esta maioria parlamentar travou e reverteu parte dessas medidas e o PSD votou contra!
O Sr. Heitor Sousa (BE): — É verdade!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Votou contra a redução do prazo de dedução de prejuízos fiscais e votou
contra quando se tentaram apertar as regras do regime de participation exemption. E votou contra outras coisas:
votou contra a redução do pagamento especial por conta às pequenas e médias empresas e votou contra o
aumento da derrama estadual do IRC. O que o Sr. Deputado foi ali dizer da derrama sobre a maioria das
empresas… Não é sobre a maioria das empresas.
Protestos do Deputado do PSD António Leitão Amaro.
A derrama incide sobre as empresas com mais lucros, as grandes empresas, entre as quais — imagine, Sr.
Deputado! — se inclui a EDP.
Portanto, o Sr. Deputado votou contra todas as medidas que punham a EDP a pagar mais impostos e aprovou
medidas que punham a EDP a pagar menos impostos.
Protestos do Deputado do PSD António Leitão Amaro.
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Também votou contra o Orçamento, em que era instituída uma cláusula de salvaguarda para proteger de
esquemas de planeamento fiscal agressivo que usam offshore e territórios com tributação privilegiada.
Sr. Deputado, o único partido que inscreveu o fim da contribuição extraordinária sobre a energia num
programa foi o seu partido, que previa o fim da CESE (contribuição extraordinária sobre o setor energético)
sobre as grandes elétricas.
Aplausos do BE.
Não nos esquecemos de como é que o PSD votou a contribuição extraordinária sobre as rendas da energia,
aqui apresentada no último Orçamento do Estado. Sabe que mais, Sr. Deputado? Se o PSD tivesse votado a
favor, essa contribuição hoje existia e a EDP pagava mais 60 milhões por ano sobre as rendas da energia.
Por isso, Sr. Deputado, a desfaçatez do PSD não se pode tratar com condescendência, mas também não se
deve levar muito a sério. O PSD contribuiu para as regras e para as leis que permitem à EDP apresentar esta
vergonhosa e indigna taxa de imposto efetiva.
Cá estaremos, como sempre, para combater e para alterar essas leis.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.
Deputados: Este debate é importante e, por isso, deve saudar-se o PSD pela iniciativa, porque permite
caraterizar este Governo e esta maioria em matéria de tributação das empresas.
A tributação das empresas tem permitido perceber — e já estamos a mais de metade da Legislatura — que
este Governo, nesta matéria, é incoerente, é injusto, é imprudente, e, sendo isto tudo, vou dar oportunidade ao
Governo de provar que não é também dissimulado, com uma questão que colocarei no final.
É incoerente, desde logo, na reavaliação de ativos que permitiu, uma verdadeira borla fiscal àquelas
empresas de que a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua fala, que no Orçamento parece que vão pagar mais e,
depois, na prática do Governo, acabam a ser beneficiadas por todas as borlas. Isto permite ao Bloco de
Esquerda fazer o número durante a aprovação do Orçamento e ao Governo, a seguir, manter tudo como está
ou ainda melhor para essas empresas. E permite ao Bloco de Esquerda, a seguir, calar-se como se nada fosse.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — O que aconteceu é simples: o Governo, para uma receita
imediata, constituiu um custo futuro; para um benefício do seu Governo, pôs, para as novas gerações e para os
governos seguintes, um custo. O custo está contabilizado pela UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental):
242 milhões de euros. O que os senhores fizeram foi prejudicar o Estado e os contribuintes em 242 milhões de
euros, beneficiando a vossa execução orçamental, beneficiando as empresas e prejudicando o futuro do País.
Aplausos do CDS-PP.
Quando se percebe o detalhe desta borla fiscal, ficamos ainda mais chocados: cinco empresas constituíram
dois terços desta borla fiscal. Apenas cinco empresas beneficiaram de grande parte destes 242 milhões de
euros. Pior, quase 50% desta borla fiscal foi para uma única empresa, empresa essa que até, de forma
transparente, pôs no relatório de contas que teria um benefício líquido estimado de 174 milhões de euros. Está
no relatório de contas, Srs. Deputados, é a própria empresa que o diz.
O CDS não só votou contra esta reavaliação de ativos como propôs a sua revogação. O que é que
aconteceu? O PSD votou a revogação desta reavaliação de ativos com o CDS, o PS votou contra, o Bloco votou
contra e o PCP votou contra. Portanto, se há borla fiscal à EDP e a outras empresas em Portugal é porque o
Bloco de Esquerda e o PCP apoiaram o PS para que essa borla fiscal existisse.
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Aplausos do CDS-PP.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mas a política de tributação das empresas deste Governo é
também injusta. É que, quando discutimos no Orçamento do Estado medidas para simplificação das obrigações
declarativas das pequenas e médias empresas, esta maioria chumba. Continuam essas empresas a ter
obrigações declarativas todos os meses, continua a não se garantir que a Autoridade Tributária disponibiliza os
formulários em tempo útil. O CDS voltou a fazer um projeto sobre esta matéria, que está em análise em sede de
especialidade. Vamos ver se é desta.
Em relação às grandes empresas, tudo da melhor maneira possível. São sucessivos os casos de grandes
empresas que, por decisão administrativa ou por decisão política, sempre com o beneplácito deste Governo,
conseguem regimes mais favoráveis, pouco transparentes e objetivamente prejudiciais à esmagadora maioria
dos contribuintes.
Esta política de tributação das empresas é também imprudente, porque, na melhor conjuntura possível para
o Estado português, está a ser desperdiçada esta oportunidade, desde logo com a interrupção da reforma do
IRC e da redução progressiva da sua taxa. É que, agora, o que se devia fazer era aproveitar para alargar a base
e pôr as empresas com uma taxa menor a pagarem mais imposto. Sim, foi isso que aconteceu quando foi
aplicada a redução do IRC pelo Governo anterior: a receita aumentou, apesar de a taxa se reduzir.
O Sr. João Galamba (PS): — Isso foi porque vocês não alteraram o pagamento por conta!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Devemos comparar também aquilo que acontece em Portugal
com o que acontece noutros países.
Vangloriamo-nos do nosso crescimento. É bom crescermos como estamos a crescer, mas há outros países
que crescem mais. A Irlanda cresceu 7,5%, quando nós crescemos 2,7% — a Irlanda tem uma taxa de IRC de
12,5%!
Protestos do PS e do BE.
A Roménia cresceu 7%, quando nós crescemos 2,7% — a Roménia tem uma taxa de IRC de 12,5%! A
Eslovénia cresceu 5%, quando nós crescemos 2,7% — a Eslovénia tem uma taxa de IRC de 20%! A Estónia
cresceu 4,9%, quando nós crescemos 2,7% — a Estónia tem uma taxa de IRC de 16%!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Há casos piores. Infelizmente, a Grécia só cresceu 1,9%, mas
a Grécia tem uma taxa de IRC de 29%, superior à nossa.
Nenhum País que cresceu menos do que o nosso tem uma taxa de IRC inferior à nossa. Os senhores deviam
perceber a competitividade e a oportunidade que estamos a perder, neste momento, por complexo ideológico,
por cedência ideológica e por falta de visão de futuro.
Aplausos do CDS-PP.
Por fim, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados, este Governo é, ou não é, também dissimulado? Em
relação a isso, pergunto apenas sobre a taxa de ocupação do subsolo.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe que conclua.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Os senhores incluíram no Orçamento de 2017 um artigo que dizia que a taxa de ocupação do subsolo era
paga pelas empresas e não pelos contribuintes. Tenho faturas de 2017 e de 2018 de três concelhos diferentes,
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de operadores diferentes, que continuam a cobrar a taxa de ocupação do subsolo mais de um ano depois de
esta norma estar inscrita no Orçamento.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Os senhores fazem orçamentos para que as empresas cumpram
ou apenas para enganar os contribuintes?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares: — O Orçamento é lei!
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos Pereira.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Deputados do PSD, um debate
sobre esta matéria é, naturalmente, pertinente e o Partido Socialista não foge a esse debate. O que é caricato
é este debate ter sido proposto pelo campeão no favorecimento fiscal às grandes empresas em Portugal.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Foi isso que os senhores fizeram nos últimos quatro anos e meio.
Mais, Srs. Deputados e Sr. Deputado Leitão Amaro: quando os senhores tiveram oportunidade de emendar
a mão naquilo que tinham feito — e tiveram oportunidade de o fazer nos últimos dois anos e meio —, os senhores
simplesmente recuaram e reprovaram todas as propostas do Partido Socialista e da esquerda para garantir que
as grandes empresas, em Portugal, não pagassem menos impostos. Esta foi a realidade dos últimos tempos.
Srs. Deputados do PSD, como querem falar de favorecimento a grandes empresas, vamos falar de
favorecimento a grandes empresas, e vamos falar de favorecimento a grandes empresas no setor energético.
Os senhores, no dia 3 de outubro de 2015, assinaram um despacho, um dia antes das eleições,…
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Os senhores queriam as rendas excessivas todas?! Tenha vergonha!
O Sr. Carlos Pereira (PS): — … o que devia fazer corar de vergonha todos os senhores Deputados! Um dia
antes das eleições aprovaram e assinaram um despacho que, pura e simplesmente, obrigava a que os
consumidores passassem a pagar o custo da tarifa social e da contribuição extraordinária para o setor
energético, coisa que não estava nas normas nem na lei!
Isso é justiça social?! Isso é equidade social?
Aplausos do PS.
Foi isso que os senhores fizeram no fim do vosso mandato.
Portanto, que fique claro, o Partido Socialista não tem medo deste debate. O Partido Socialista contribuiu,
nos últimos dois anos, para garantir que as grandes empresas tivessem de pagar mais impostos, em nome da
justiça social e da equidade social. Os senhores falharam, os senhores não querem este debate, os senhores
estão simplesmente a enganar a população de Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Quando o PSD, na
abertura deste debate, afirmava que — e cito — «o imposto aumentou com a derrama estadual para a
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generalidade», essa afirmação foi verdadeiramente reveladora e esclarecedora, não sobre os impostos mas
sobre o PSD e o seu posicionamento.
Senão, vejamos: a redução do pagamento especial por conta, conquistada por proposta do PCP, veio
beneficiar mais de 100 000 empresas. A derrama estadual, que tanta indignação provoca ao PSD, aumentou os
impostos para 70 empresas, que têm mais de 35 milhões de euros de lucros.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Com que escalão?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É a isto que o PSD chama «generalidade»! O amor é tal pelos grandes grupos
económicos que não têm olhos para mais ninguém! Quando a vossa generalidade são as 70 maiores empresas,
estamos conversados, Srs. Deputados!
Aplausos do PCP.
Nós preferimos propor soluções para beneficiar, aí, sim, a generalidade do tecido económico do nosso País,
a sua imensa maioria, que são as micro, pequenas e médias empresas. Por isso, perguntamos ao Governo,
muito concretamente, qual é o ponto de situação do processo de extinção do pagamento especial por conta,
que foi aprovado, e está em vigor, pela Lei do Orçamento do Estado para 2017, por proposta do PCP — artigo
197.º, n.º 2.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mais essa!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Nós não falamos de desincentivo ao pagamento especial por conta (PEC),
falamos de extinção do PEC até 2019. Por isso, é preciso saber em que pé se encontram os processos de
criação dos coeficientes técnico-económicos, que permitem substituir e extinguir este regime amplamente
considerado como algo que deve desaparecer, exceto para o PSD e o CDS que, enquanto Governo, não
permitiram que tal acontecesse.
Qual é o ponto de situação relativamente à concretização e cumprimento dos artigos 291.º e 241.º do
Orçamento do Estado, no que toca à extinção da revisão legal de contas a pequenas empresas, tal como foi
proposto pelo PCP? Esta é uma medida que beneficia largamente aqueles que hoje, no dia a dia, são
confrontados com despesas, com custos de contextos e com burocracias perfeitamente dispensáveis e que o
PCP propôs que fossem extintas, que a Lei do Orçamento do Estado assim aprovou e que só falta concretizar.
Qual é o ponto de situação, Sr. Secretário de Estado, relativamente à questão do imposto sobre o valor
acrescentado (IVA) para a restauração, designadamente na vertente que ficou por concretizar e que tem a ver,
nomeadamente, com as bebidas?
Estes são elementos decisivos para a vida de milhares e milhares de pequenas empresas do nosso País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, o CDS escolheu esconder-se ao centrar o debate num
processo de reavaliação de ativos.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Esconder-se?!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Independentemente das suas consequências, há um problema no seu
raciocínio: o processo de reavaliação de ativos não impacta os impostos de 2017.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Essa é que é essa!
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Isso quer dizer que a vergonhosa taxa efetiva que a EDP paga, tanto a
nível internacional como a nível nacional, não tem a ver com a reavaliação de ativos, tem a ver com as regras
de IRC que foram aprovadas quando, neste caso, o Sr. Deputado fazia parte de um governo, juramente com o
PSD.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Nessa altura, o governo fez uma reforma do IRC que favoreceu, que
permitiu o planeamento fiscal e que as grandes empresas pagassem menos impostos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Os Srs. Deputados estão preocupados com o imposto e com a taxa efetiva
da EDP porque vos dá jeito agora,…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não estou nada preocupado com isso!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … mas a EDP não é a única empresa com taxas efetivas vergonhosas,
porque têm oportunidade de fazer planeamento fiscal.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não estou preocupado com isso. Estou preocupado com o que
todas as empresas pagam!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Aquilo a que os Srs. Deputados chamam «competitividade fiscal» não é
muito diferente do que a Holanda chama «competitividade fiscal». Não se escondam atrás das palavras, é de
planeamento fiscal que estamos a falar.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ainda não percebeu!
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que termine, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Srs. Deputados, querem alterar as regras do planeamento fiscal? Vamos a isso! Vamos apertar o regime de
participation exemption! Vamos aprovar aquela taxa sobre os lucros e as rendas das elétricas! Vamos apertar
as cláusulas de salvaguarda!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mais cinco pontos na taxa paga isso tudo!
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de terminar, Sr.ª Deputada, por favor.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Vou terminar já, Sr. Presidente.
Todas estas medidas implicam desfazer leis que foram feitas pelo PSD e pelo CDS,…
Vozes do BE: — É verdade!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … mas o Bloco de Esquerda está disponível para as fazer, com toda a
certeza, Srs. Deputados!
Aplausos do BE.
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O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ainda não percebeu que isso não serve para nada!
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais para uma intervenção.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Penso que é
importante sublinhar que o Governo está a trabalhar, por um lado, no sentido de simplificar as obrigações
declarativas das empresas, sejam elas quais forem, eliminando as obrigações declarativas redundantes, e, por
outro lado, para que no próximo ano haja um calendário fiscal que seja mais adaptado à simplificação desejável
para a vida das empresas.
Nesse sentido, estamos a trabalhar com a Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), mas também com
esta maioria para que,…
O Sr. Presidente: — Sr. Secretário de Estado, já ultrapassou o tempo de que dispunha.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — … no que diz respeito ao IRC simplificado, possamos
ter em vigor, a partir de 1 de janeiro de 2019, um IRC simplificado que seja efetivamente mais amigo das
empresas.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Secretário de Estado.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — Permita-me só, Sr. Presidente, concluir com o
seguinte: percebo que os Srs. Deputados queiram questionar sobre uma situação em concreto, mas peço-vos
que entendam que o Governo não pode, nem deve, muito menos a reboque de notícias de jornal, comentar a
situação fiscal concreta de qualquer contribuinte.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que termine, Sr. Secretário de Estado.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — E permita-me, Sr. Presidente, que relembre que o
exercício de 2017 apenas é objeto de entrega da declaração em maio e que só a partir daí é que haverá
resultados do ponto de vista fiscal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para concluir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: São três
os factos que todos podemos retirar no final deste debate.
Primeiro, se avaliarmos o que são as taxas efetivas de impostos pagos pelos portugueses, sabemos que são
elevadas. Uma pessoa com 1500 € de rendimento bruto paga uma taxa de cerca de 9%. As grandes empresas
pagam taxas efetivas de aproximadamente 25%…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Quanto? Importa-se de repetir?
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E os bancos?!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … e uma empresa pagou uma taxa efetiva de 0,7%. Este é o primeiro facto.
Segundo facto: durante o Governo anterior foram tomadas medidas criando taxas complementares sobre
setores específicos, tais como o setor energético, a banca, o setor farmacêutico, por exemplo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Algumas dessas empresas nunca pagaram um tostão!
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O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Perante este Governo, o que é que aconteceu? Não só criaram um regime
que deu uma borla fiscal às grandes empresas e, nomeadamente, a esta, como foi com este Governo que a
taxa sobre o setor energético deixou de ser paga…
Vozes do PSD: — Exatamente!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … por esta empresa em concreto.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Responda lá: por que é que o Estado não vai à derrama?
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Terceiro facto: perante este problema em concreto, a que é que assistimos?
Meteram a cabeça na areia! Não falaram! Não mostraram vontade de querer lutar contra esta iniquidade fiscal.
Porquê? Porque o vosso comportamento, Srs. Deputados, só tem um nome: hipocrisia fiscal, que foi o que os
senhores aqui demonstraram.
Aplausos do PSD.
Protestos do Deputado do PCP João Oliveira.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, concluímos, assim, o debate da atualidade sobre equidade e
competitividade na tributação das empresas.
Vamos dar início à discussão conjunta dos projetos de resolução n.os 1267/XIII (3.ª) — Posição
geoestratégica da Região Autónoma dos Açores e da Região Autónoma da Madeira (PSD), 1316/XIII (3.ª) —
Reforço da importância geoestratégica dos Açores (PS), 1390/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, em
conjunto com Governo Regional dos Açores, tome as medidas necessárias a uma articulação política que
potencie a importância geostratégica e geopolítica daquela Região Autónoma (CDS-PP), 1415/XIII (3.ª) — Pela
valorização estratégica da Região Autónoma da Madeira (CDS-PP) e 1423/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo
o reforço da valorização da importância geoestratégica do arquipélago da Madeira (PS).
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Ventura.
O Sr. António Ventura (PSD): — Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, o PSD, mais uma vez, é pioneiro
na Assembleia da República num tema que muito importa aos Açores: a posição geoestratégica e geopolítica.
A geocentralidade atlântica dos Açores cria oportunidades no domínio de várias temáticas que em muito
podem contribuir para o progresso da região e de Portugal pela criação de emprego e de riqueza.
Propomos hoje uma articulação institucional para valorizar a política da geografia, colocando-a numa
prioridade a longo tempo para Portugal.
Propomos uma articulação que seja prospetiva e que não pare no tempo. Queremos que se produza
conhecimento negociador, capaz de avaliar onde vamos e para onde vamos ou, melhor, capaz de identificar a
previsibilidade das oportunidades.
É um manifesto proveito que o Governo atue de forma institucional, política e jurídica para saber, de forma
constante, das vantagens e dos desafios da posição geoestratégica e geopolítica dos Açores, um conhecimento
essencial para posicionar a região e Portugal no âmbito do investimento europeu e mundial, pois nenhum país
ou região avança sem conhecimento. Mas também somos da convicção de que, para além das evidências da
circunstância e das oportunidades de ora, teremos de ser capazes de agir localmente na construção de um
conceito regional estratégico que proporcione uma linha de orientação. Neste sentido, consideramos igualmente
fundamental que numa próxima revisão constitucional seja reforçado o direito de participação das regiões
autónimas nas negociações de tratados e acordos internacionais que lhes digam respeito, bem como nos
benefícios deles decorrentes.
A nossa posição geográfica deve constituir a afirmação autonómica no contexto europeu e internacional,
situação que é sempre motivo de orgulho para Portugal.
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Aplausos do PSD.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José ManuelPureza.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Lara Martinho.
A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos hoje aqui para discutir o
reforço da posição geoestratégica e geopolítica dos Açores e da Madeira. Não posso estar mais de acordo. Mas
permitam-me, porque impõe-se, que pergunte: a situação hoje é, ou não, completamente diferente da que se
vivia há três anos?
Há três anos, qual era a estratégia nacional para a diplomacia científica nas regiões autónomas? Nenhuma!
Há três anos, qual era a estratégia nacional para o espaço nas regiões autónomas? Nenhuma!
Há três anos, o que fazia o Governo da República de então quanto à estratégia nacional para a
competitividade portuária nas regiões autónomas ou quanto à defesa da segurança no Atlântico? Nada!
Discutimos hoje o reforço da posição geoestratégica dos Açores e da Madeira e, reforço, não posso estar
mais de acordo, mas também reafirmo que a situação mudou, mudou muito com este Governo da República.
Mudou, acima de tudo, porque este Governo respondeu a uma questão fundamental: o que podemos fazer com
estes valiosos ativos que representam os Açores e a Madeira?
O Governo respondeu em múltiplas dimensões: implementando políticas com a visão orientada para o futuro,
em articulação com os governos regionais, procurando garantir o protagonismo dos Açores e da Madeira em
projetos estratégicos nacionais, contribuindo, assim, para a afirmação de Portugal no mundo. Respondeu na
área da ciência e tecnologia, com a criação do Centro de Investigação Internacional do Atlântico, voltado para o
espaço, atmosfera, oceanos, clima, energia e ciência de dados no Atlântico e, articulado com este Centro, a
criação do Observatório do Atlântico. Respondeu também com a nova estratégia para o espaço, apostando na
criação de um porto espacial aberto a todos os atores e operadores internacionais.
Mas falemos também da competitividade portuária nas regiões autónomas. Pela primeira vez, é com este
Governo que os portos das regiões autónomas aparecem numa estratégia nacional portuária. Sim, foi com este
Governo, porque com o Governo PSD/CDS os portos nacionais nem existiam na estratégia nacional.
É também com este Governo PS que se valoriza a posição geoestratégica, reconhecendo o contributo das
nossas regiões para a extinção da plataforma continental portuguesa e a aposta na competitividade dos portos
com o abastecimento de LNG (liquified natural gas).
Mas apostamos também no domínio da defesa e da segurança atlântica com a criação do Centro de Defesa
do Atlântico e, no domínio das energias renováveis, com, por exemplo, o projeto de ampliação do aproveitamento
hidroelétrico da Calheta.
Sr.as e Srs. Deputados, felizmente, hoje, não é necessário provar-vos o valor da nossa posição geoestratégica
e geopolítica. Este Governo já o demonstrou com a aposta em todos estes projetos. Assistimos, cada vez mais,
à integração do potencial das nossas regiões nos projetos estratégicos nacionais.
Sr.as e Srs. Deputados, nesta Legislatura demos um passo de gigante. As regiões autónomas, inexistentes
na política externa, ou, no caso dos Açores, com um mero papel num acordo de defesa com os Estados Unidos
da América, passaram a ter um papel central nas grandes áreas estratégicas de Portugal. Mas se é certo que
há uma grande evolução nesta valorização, também é certo que temos de continuar a criar oportunidades que
se adequem e reforcem as capacidades próprias de cada região autónoma, alargando a outras áreas, como a
da promoção turística, a aposta na internacionalização das nossas empresas e, acima de tudo, potenciar os
Açores e a Madeira na projeção externa de Portugal.
A centralidade atlântica não foi perdida mas, antes, sim, amplamente renovada.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado João Almeida.
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O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A discussão que hoje
aqui temos sobre a importância geostratégica e geopolítica dos Açores e da Madeira é, por si só, uma discussão
relevantíssima para discutirmos também aquela que é a importância geostratégica e geopolítica de Portugal.
Isto porque, indiscutivelmente, a realidade continental do País é limitadora, pelo que, sem essa sua projeção
atlântica nos Açores e na Madeira, seria totalmente diferente daquilo que é.
Hoje em dia, provavelmente, o facto mais visível dessa relevância é o projeto da extensão da plataforma
continental. A abertura que permite a existência dos Açores e da Madeira na lógica nacional é essa projeção de
um País que, territorialmente, no continente, é médio, mas que, com a sua projeção atlântica através dos Açores
e da Madeira, é grande na sua dimensão e é grande na sua importância.
Por isso, deve reconhecer-se aos Açores e à Madeira não só esse contributo mas também a necessidade de
ter uma contrapartida, do ponto de vista geopolítico e geoestratégico das opções nacionais, que seja uma
contrapartida à altura.
Indiscutivelmente, este regime constitucional, com as autonomias, trouxe aos Açores e à Madeira não só
uma capacidade maior de definirem os seus projetos de desenvolvimento mas também a concretização desse
desenvolvimento.
Podem criticar-se opções, pode discordar-se de caminhos, mas é indiscutível que, nos últimos 40 anos, os
Açores e a Madeira foram das regiões do País que mais se transformaram e que mais beneficiaram daquele
que foi o desenvolvimento do País, não só deste regime constitucional mas também através da integração
europeia, de que estas regiões beneficiaram e para a qual também muito contribuíram, porque os Açores e a
Madeira projetam não só a realidade nacional mas também a realidade europeia.
É certo que, muitas vezes, relativamente aos Açores, discutimos a dimensão de defesa e de segurança pela
importância que a Região Autónoma dos Açores tem no âmbito da NATO. Mas há uma realidade, muito para
além daquela que tem a ver com a defesa, que importa relevar.
Os Açores têm um património riquíssimo e inexplorado ao nível dos seus recursos marinhos naturais e,
finalmente, começa a dar-se importância, do ponto de vista científico, a esta riqueza. E é fundamental que o
País perceba que tem nos Açores aquilo que não tem em nenhuma outra região do País e que, portanto, tem
de valorizar e assumir isso como uma prioridade, apoiando também todas aquelas que são as atividades
relevantes — a agricultura, as pescas, a aquacultura, a meteorologia e o controlo aéreo — e percebendo que
projetos marcantes como aquele que existe no Faial, do Observatório do Atlântico, ou aquele que existe em
Santa Maria, do cluster aeronáutico e aeroespacial, são projetos nacionais e não apenas projetos regionais.
Olhando para a Madeira, devemos também perceber, porque não temos complexos com isso, a importância
da dinâmica económica da Madeira e da liderança que a Madeira tem, por exemplo, naquela que é a realidade
turística nacional. Também devemos perceber a importância que a Madeira tem na projeção de Portugal no
mundo através da sua diáspora e das comunidades que estão espalhadas pelo mundo. Também devemos
perceber a importância que a Madeira tem na competitividade económica, através do Centro Internacional de
Negócios da Madeira (CINM), que é, esse sim, fator importante de competitividade económica não só da região
mas de todo o País e que deve ser assumido como tal.
Nestes projetos, Sr.as e Srs. Deputados, o que discutimos não é a importância que reconhecemos à Madeira
e aos Açores, é a consequência que conseguimos dar a isso, é o facto de, do ponto de vista nacional, o Governo
da República não olhar para a Madeira e para os Açores em função de quem governa cada uma das regiões, é
o facto de o Governo da República não olhar para a Madeira e para os Açores em função de calendários políticos,
é o Governo da República perceber que a cooperação estratégica é a melhor forma de conseguir que estas
duas regiões se continuem a desenvolver e se desenvolvam ainda mais e que, com isso, o País também
beneficie.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
João Vasconcelos.
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O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Trazem-nos aqui o PSD, o PS e o
CDS projetos de resolução que acentuam a tónica no reforço da posição geoestratégica e geopolítica dos Açores
e da Madeira.
Relativamente aos Açores, com efeito, este arquipélago tem assumido desde longa data uma centralidade
muito importante no Atlântico: para além da existência de diversas atividades económicas (a pesca, a agricultura,
o turismo, etc.), outras, com certeza, como a investigação oceanográfica e meteorológica, a inovação e a
investigação científica e tecnológica são de relevar.
A comprovar a importância estratégica e geopolítica dos Açores, temos, por exemplo, a utilização da Base
das Lajes pela Força Aérea norte-americana, a partir de 1945, através de diversos acordos.
Por sua vez, os franceses, também através de um acordo firmado com o Governo salazarista em 1964,
criaram a Base Francesa das Flores, nos Açores, para a investigação no âmbito dos mísseis.
No entanto, a importância destas bases prende-se com a influência dos Açores para o controlo do Atlântico
e, nos últimos anos, num passado muito recente, serviu de joguete no âmbito da atuação da NATO no contexto
da Guerra Fria.
Os vários governos têm sido subservientes às exigências dos Estados Unidos da América e da NATO, a qual
tem sido utilizada como uma arma de agressão para disseminar a guerra entre os povos — veja-se a Líbia, o
Iraque ou o Afeganistão.
Sr.as e Srs. Deputados, de facto, quem tem sofrido com a posição geoestratégica dos Açores são as suas
populações, que têm sido vítimas dessa mesma posição. Como se sabe, em 2012, o Governo norte-americano
resolveu diminuir o número de elementos militares, e ainda hoje não foram dados passos concretos no âmbito
do PREIT (Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira). Mas, muito mais grave, é a tragédia a que se
assiste neste momento, que é a pegada ambiental deixada pelas tropas norte-americanas e pela qual todos são
responsáveis.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Muito bem!
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Ainda recentemente, na comunicação social, foi publicada uma
investigação científica intitulada: Contaminação nos Açores: Relatórios confirmam metais pesados e risco de
cancro.
Esta é a resposta dada à posição geoestratégica dos Açores. Para isto, não poderão contar com o Bloco de
Esquerda. O Bloco de Esquerda defende a investigação científica e a inovação tecnológica, mas não com estes
custos, pois são as populações que estão a sofrer.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Consideramos que a discussão sobre o
potencial que pode decorrer do posicionamento estratégico das regiões autónomas, quer dos Açores quer da
Madeira, é uma questão relevante.
Discutimos muitas vezes, e justamente nesta Assembleia, o problema dos custos da insularidade e como é
que podemos ajudar a colmatar esses custos.
Hoje, discutimos uma questão bem diferente, que são as potencialidades que podem decorrer, neste caso,
da situação de insularidade e como é que é possível beneficiar alguma coisa com isso, do ponto de vista do
interesse das regiões autónomas, do interesse das respetivas populações, mas também do interesse do País
no seu conjunto, no todo nacional. Por isso, esta é uma discussão relevante.
Nós valorizamos muito o enquadramento constitucional de autonomia das regiões autónomas. Temos as
críticas, que são conhecidas, ao longo dos anos, à governação regional, em ambas as regiões, quer nos Açores
quer na Madeira.
Obviamente que tem havido em muitas matérias grande convergência e tem havido noutras divergências que
são naturais. Mas consideramos que a autonomia das regiões autónomas, tal como está consagrada na
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Constituição e nos respetivos estatutos político-administrativos, é um enorme valor para o desenvolvimento das
regiões e para o desenvolvimento equilibrado do nosso País. E, depois da revisão constitucional de 2004, que
foi muito significativa nesse aspeto e que, no que se referiu ao aprofundamento da autonomia regional, teve o
apoio do PCP, pensamos que aqui não se justifica que haja ainda potencialidades a desenvolver no quadro
dessa revisão constitucional, pelo que a questão a colocar agora não é a necessidade de novas revisões
constitucionais desta matéria.
Consideramos que há propostas válidas constantes dos projetos de resolução, mas há uma divergência que
mantemos e que terá consequências no nosso sentido de voto.
A nosso ver, o que aqui se deve acentuar são as potencialidades que é possível retirar do ponto de vista do
desenvolvimento regional e nacional e que não dependam de decisões alheias. E, aqui, coloca-se, de facto, o
problema da NATO, ou seja, o problema da dependência que se criou na Região Autónoma dos Açores e,
particularmente, na ilha Terceira relativamente a decisões que transcendem a capacidade de decisão nacional
e que têm a ver, concretamente, com decisões tomadas pelos Estados Unidos da América ou pela NATO que
não têm sido positivas para o desenvolvimento da região e que têm consequências com que nos confrontamos
e que temos vindo a discutir, consequências essas que decorrem, de facto, de decisões que nos são estranhas
e que, em alguns casos, nos prejudicam.
Por isso, pensamos que as duas coisas devem ser dissociadas. E, assim, demarcamo-nos das propostas
aqui apresentadas porque vão no sentido de fazer depender o desenvolvimento da região da pertença a
organizações internacionais e, particularmente, do facto de Portugal pertencer à NATO.
Pensamos que esse laço de dependência tem sido prejudicial seja para Portugal seja em concreto para a
Região Autónoma dos Açores.
Daí que, na votação destes projetos de resolução, a realizar daqui a pouco aqui, no Plenário, iremos solicitar
que se isolem os pontos que nos merecem discordância para podermos votar favoravelmente questões muito
relevantes que são propostas, quer pelo PSD quer pelo PS, relativamente à valorização das potencialidades das
regiões, excluindo, do nosso ponto de vista, aquilo que pode conduzir não ao desenvolvimento mas à criação
de laços de dependência que são lesivos dos interesses nacional e regional.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Paulino Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A posição geoestratégica dos
arquipélagos portugueses é obviamente importante, mas os primeiros responsáveis a quem compete valorizar
essa posição são os órgãos de governo próprio regionais.
Ora, indo à Madeira, qual é a grande opção estratégica deste Governo Regional, presidido por Miguel
Albuquerque, momento para o qual convocou as principais figuras do Estado, isto é, o Presidente da República
e o Primeiro-Ministro? Foi a mudança do nome do aeroporto! Este é o momento que resume a visão estratégica
do PSD/Madeira e a sua visão para o futuro da região.
Outro ponto que é focado neste projeto de resolução é a ciência e a tecnologia. Ora, isto nem sequer consta
das matérias de interesse específico do estatuto de autonomia, apesar de ser, tão-só, o setor de maior
dinamismo, com o maior potencial de crescimento económico a nível internacional.
Outro fator estratégico são os transportes, os transportes marítimos e aéreos. No entanto, a estratégia para
estas áreas está, toda ela, subordinada aos interesses particulares do grupo económico conhecido pelo «dono
da Madeira».
Houve uma obra no novo cais que passou a limitar a operacionalidade do porto. Vemos o turismo de cruzeiros
a crescer à nossa volta, nas Canárias, nos Açores e no porto de Lisboa, mas, na Madeira, está estagnado por
causa dessa obra esdrúxula.
A ligação férrea foi escorraçada da Madeira para não prejudicar os interesses do tal grupo económico.
As soluções para minimizar as consequências dos dias de inoperacionalidade do aeroporto, devido à
meteorologia, esbarram, todas elas, nos interesses desse grupo económico, que tem o monopólio da ligação
marítima interilhas. A gestão integrada dos dois aeroportos poderia reduzir as consequências da
inoperacionalidade, mas essa solução não avança porque esbarra nos mesmos interesses.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Portanto, este projeto de resolução acaba por traduzir o reconhecimento,
a nível regional, da incapacidade do PSD, que, mais uma vez, remete para a República a solução dos problemas.
Já que não tem visão estratégica, pede ao Governo da República o favor de suprir esta necessidade, esta
insuficiência. E o PSD parece que continua em autoflagelação, depois do debate, realizado na semana passada,
sobre o emprego, no qual teve muitas culpas.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Agora, volta, mais uma vez, por sua própria iniciativa, a expor as suas
fragilidades e contradições, aqui, nesta Casa.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo
Neves.
O Sr. Paulo Neves (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando falamos de geopolítica, de
geoestratégia ou de geoeconomia temos de ter sempre presente que Portugal não é apenas um País europeu
(no caso, periférico). Portugal é um país euro-atlântico, logo, um país central. Essa centralidade deve-se
também, e muito, ao arquipélago da Madeira, um arquipélago junto ao continente africano, um arquipélago de
frente para as Américas, um arquipélago europeu que faz parte da Macaronésia juntamente com os Açores, as
Canárias e Cabo Verde. Uma região que já muito tem feito para saber aproveitar esta centralidade atlântica é,
precisamente, a Madeira.
A Madeira dispõe do terceiro maior registo de navios da Europa. A Madeira dispõe de um centro internacional
de negócios credível e fiscalmente competitivo para centralizar, precisamente, negócios entre os continentes
atlânticos. A Madeira tem centros de investigação marinha muito capacitados e tem também centros de estudos
atlânticos de excelência. A Madeira investe na aquacultura como nenhuma outra região em Portugal. A Madeira
dispõe de um dos portos de cruzeiros de maior dinâmica na Europa.
É por tudo isto que qualquer aposta de Portugal em matéria de geopolítica tem, obrigatoriamente, de passar
e aproveitar a Região Autónoma da Madeira.
O Governo da República deve apostar muito mais numa política atlântica do País e o oceano Atlântico pode
ser, de facto, também, o oceano do século XXI. O Governo da República deve, por isso, concertar-se com o
Governo da Região Autónoma da Madeira na criação de uma estratégia atlântica clara onde todo o território
marítimo e continental do País surja como um autêntico hub nas relações entre Europa, África e Américas.
Com o projeto de ampliação do território marítimo português — a plataforma continental — há muito para
fazer, e para fazer rapidamente, seja em matéria de segurança, seja de aproveitamento económico deste vasto
território marítimo.
Termino, Sr. Presidente, dizendo que Portugal é um País de mar e sempre foi grande quando apostou
seriamente no mar e teve estratégia nacional marítima. É tempo de voltar a tê-la! Para isso, há que ter uma
estratégia de concertação com os arquipélagos atlânticos, no caso, com a Madeira.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Passamos ao terceiro ponto da ordem do dia, com a apreciação
do projeto de lei n.º 759/XIII (3.ª) — Recupera para o domínio público a propriedade e gestão da rede básica de
telecomunicações e aprestação do serviço universal de telecomunicações (segunda alteração à lei de bases
das telecomunicações, Lei n.º 91/97, de 1 de agosto) (BE), na generalidade, juntamente com os projetos de
resolução n.os 1411/XIII (3.ª) — Pela defesa do interesse nacional e controlo da Portugal Telecom (Os Verdes)
e 1022/XIII (2.ª) — Travar a liquidação da PT, defender os trabalhadores e o interesse nacional (PCP).
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Para iniciar este ponto, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor de Sousa para uma intervenção.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate que o Bloco de Esquerda hoje
traz ao Parlamento, ao apresentar esta proposta para resgatar para a esfera pública a rede básica da Portugal
Telecom (PT), é um debate sobre um balanço e uma escolha.
Foi há mais de duas décadas que Cavaco Silva deu o primeiro passo para a privatização das
telecomunicações em Portugal, criando, primeiro, a Portugal Telecom, SA, e iniciando, depois, a primeira fase
de privatização da empresa.
O caminho que se seguiu a partir daí é conhecido: governo após governo, em governos de geometria variável,
PS, PSD e CDS foram programando a privatização da PT. A empresa foi sendo progressivamente transferida
da esfera pública para a esfera privada, até que, em 2011, o Governo do protetorado da troica determinou a
eliminação da golden share que o Estado ainda detinha, colocando a PT, exclusivamente, nas mãos de privados.
E aqui estamos, 24 anos depois, com uma PT que praticamente desapareceu como empresa estratégica para
dar lugar a uma subsidiária integral do grupo franco-israelita Altice.
As consequências estão à vista. No que diz respeito às redes de emergência e proteção civil, os trágicos
incêndios do ano passado mostraram que os vários sistemas de comunicação que tinham como suporte a
PT/Altice falharam durante largos períodos. Estas falhas, que se repetiram em junho e em outubro, provam que
não se trata apenas de falhas localizadas mas, sim, de um extenso apagão, em períodos de tempo cruciais, de
toda uma rede abrangendo regiões inteiras do centro e do interior do País.
Mas se a Altice falhou na rede emergência e socorro e nas redes fixas de telecomunicações, falhou também
na televisão digital terrestre (TDT). E porquê? Pela única razão de que há um conflito de interesses, identificado
pela própria ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações): a Altice é detentora da rede básica que garante
a difusão da TDT e é, simultaneamente, detentora do principal operador de televisão por assinatura que inclui a
TDT. E como se não bastasse quer ainda comprar a TVI num processo que, se se concretizasse, significaria
uma inaceitável operação de concentração na comunicação social portuguesa que colocaria em risco o
pluralismo da informação e de conteúdos nos media.
Sejamos claros: o que a Altice faz ao travar o desenvolvimento da TDT para vender pacotes da MEO é
indigno e é uma afronta ao Estado e à obrigação de todos nós garantirmos as condições para a prestação do
serviço público de rádio e televisão.
Sr.as e Srs. Deputados, para além do balanço de década e meia de falhanços, hoje também precisamos de
falar de escolhas e são quatro as escolhas que este Parlamento terá de fazer.
Primeiro: quer este Parlamento deixar a infraestrutura do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de
Emergência e Segurança de Portugal) nas mãos de uma empresa que tem dado provas de sucessivas
incompetências ou, pelo contrário, quer assumir a solução responsável de resgatar para o Estado essa rede e,
com isso, garantir a segurança, a emergência e o socorro das nossas populações?
Aplausos do BE.
Segundo: vai este Parlamento fechar os olhos ao conflito de interesses que faz com que a Altice trave o
desenvolvimento da televisão digital terrestre para vender pacotes da MEO ou, pelo contrário, vai assumir a
responsabilidade de garantir o serviço público de TDT, essencial para as populações que mais precisam,
especialmente, do interior cada vez mais abandonado?
Terceiro: vai este Parlamento aceitar o argumento, usado pela administração da Altice, que favorece a
exclusão de milhares de famílias mais pobres e mais idosas, segundo a qual há cada vez menos portugueses
que usam o telefone fixo ou, pelo contrário, vai encontrar respostas para esta política que transformou Portugal
num dos países da União Europeia em que as comunicações são mais caras?
Quarto: finalmente, vai este Parlamento deixar que uma empresa como a Altice, por ação ou por omissão,
ponha em causa a necessidade de alargar um serviço público universal de telecomunicações ou, pelo contrário,
vai assumir a escolha corajosa de resgatar para o Estado o que deve ser uma verdadeira rede básica da Portugal
Telecom?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
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O Sr. Heitor Sousa (BE): — Pela nossa parte, não hesitamos um minuto na resposta a cada uma destas
questões. As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda foram eleitos para defender os interesses das
populações, mesmo que isso incomode os interesses da Altice.
É essa a nossa responsabilidade e, por isso, trazemos hoje a este Parlamento a escolha justa e sensata de
resgatar a rede básica da Portugal Telecom para a esfera do Estado, de onde nunca deveria ter saído.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ignorando completamente
o interesse público e seguindo fielmente a doutrina do «quanto menos Estado, melhor», o Governo PSD/Cavaco
Silva iniciou o processo de privatização de uma das maiores empresas portuguesas, a Portugal Telecom.
Com esta privatização, o Estado perdeu o controlo da PT, além de receitas fiscais e dividendos. Recorde-se
que, desde o ano 2000, a PT distribuiu pelos seus acionistas cerca de 15 000 milhões de euros. Como se previa,
esta privatização, tal como tantas outras, apenas beneficiou os grandes grupos económicos e financeiros, que
passaram a deter setores estratégicos e lucrativos, fragilizando o poder do Estado e a sua própria autonomia
face a alguns centros de decisão que vão saindo do País, tal como milhares de milhões de euros de dividendos
que seguem o mesmo destino.
Mais: com a venda da PT à Altice — um fundo financeiro e, como tal, especulativo que procura o maior lucro
no menor espaço de tempo — está a decorrer um processo de desmantelamento e destruição da PT, tendo já
vindo a público a pretensão da Altice em vender, de forma fracionada, muitos ativos da empresa, como por
exemplo as torres de comunicações.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Entretanto, esta multinacional francesa tem tido um comportamento
muito pouco digno, no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores, promovendo terrorismo psicológico,
desvalorizações profissionais, práticas de assédio, deslocação de trabalhadores para unidades-fantasma sem
atribuição de funções, com o claro propósito de os forçar a rescindir os respetivos contratos.
Por outro lado, o serviço prestado tem vindo a degradar-se e os preços têm registado aumentos substanciais.
Ou seja, os 23 anos de privatização da PT vieram demonstrar claramente a necessidade do controlo público
desta empresa estratégica para o País, desde logo, pelo incumprimento das obrigações de serviço e interesse
público, não só ao nível das comunicações fixas e móveis propriamente ditas mas, sobretudo, no que concerne
às suas infraestruturas.
Embora a PT não seja hoje a operadora responsável pelo serviço universal da rede fixa, os incêndios que
ocorreram em 2017 vieram realçar as fragilidades da rede de infraestruturas de telecomunicações detidas pela
Altice e evidenciar não só o desinvestimento nas áreas de baixa densidade como o desrespeito para com os
próprios clientes que estiveram vários meses sem qualquer tipo de telecomunicações, fixas ou móveis, devido
à demora na reposição das infraestruturas.
Assim, considerando que a PT é uma empresa estratégica para o País, que é urgente impedir a destruição
de uma empresa com a sua dimensão, que se torna imperioso assegurar os milhares de postos de trabalho e
que é necessário colocar um travão aos atropelos aos direitos dos trabalhadores e pré-reformados;
considerando ainda que hoje o centro de decisão desta empresa estratégica não está no nosso País, que é
absolutamente necessário impedir a pretensão megalómana de domínio da comunicação social pela Altice, que
é necessário procurar caminhos que garantam que a PT seja uma grande empresa de capitais nacionais sob
controlo público — a única forma, aliás, de assegurar que o setor das telecomunicações esteja ao serviço do
desenvolvimento do País e do interesse dos portugueses —, perante tudo isto, Os Verdes consideram que o
Governo deve impedir a destruição da Portugal Telecom e que tem o dever de salvaguardar os direitos dos
trabalhadores, bem como o de garantir o serviço público universal ao nível da rede fixa e de comunicações, o
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que, aliás, só se afigura objetivamente viável se e quando a Portugal Telecom voltar a integrar a esfera do
Estado.
Ora, é exatamente o que se pretende com esta iniciativa legislativa que Os Verdes hoje apresentam para
discussão: a reversão da privatização da PT, para que a sua propriedade e gestão regressem à esfera do
Estado.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agradeço ao Sr. Deputado o cumprimento, absolutamente
rigoroso, do tempo de intervenção.
Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias para uma intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A nossa primeira palavra vai para os
trabalhadores da PT, dos mais velhos aos mais novos, dos que estão no terreno aos que estão sem tarefas
atribuídas, dos que estão na precariedade dos call centers aos que trabalharam uma vida inteira na empresa,
desde os tempos dos CTT/TLP. Foram eles que fizeram da PT um pilar fundamental para o desenvolvimento do
nosso País, foram eles que estiveram e estão na primeira linha da luta para defender a empresa, é com eles
que estamos, lado a lado, e que daqui saudamos.
Aplausos do PCP.
É com a força dos trabalhadores que o PCP apresenta esta iniciativa legislativa, depois de escutar os milhares
que em julho passado, de Picoas até São Bento, nos diziam que a PT tinha de voltar para o Estado para se
travar a sua liquidação, defender os trabalhadores e o interesse nacional.
O percurso da PT é elucidativo do processo de destruição de uma grande empresa nacional. Desde o ano
2000, a empresa entregou aos seus acionistas quase 15 000 milhões de euros. Foram estes interesses ligados
aos grupos económicos e ao capital financeiro quem ganhou com a privatização. Já o Estado perdeu o comando
estratégico da PT, a receita dos dividendos e significativas receitas fiscais.
A PT foi e é entendida pelos grupos económicos, nomeadamente agora o Grupo Altice, na perspetiva do
desmantelamento e da venda às peças para sacar e expatriar lucros, dividendos e recursos fundamentais. Hoje
mesmo foi conhecida a decisão do comando europeu da Altice de alienar 3000 torres de comunicações em
Portugal por considerar que não têm interesse estratégico para os objetivos da multinacional. É esta a política
que está a ser imposta à empresa.
Durante meses, o PCP esteve sozinho a denunciar a situação que ainda se verifica com as comunicações
nas zonas afetadas pelos incêndios. Assistimos a um inacreditável desmentido da Altice, dizendo que o PCP
mentia e que as ligações estavam repostas. Ontem mesmo, a ANACOM confirmou que pelo menos 4600 famílias
continuam sem as telecomunicações repostas nestas áreas, quase todas por responsabilidade da Altice, cuja
administração continua a não reconhecer os graves problemas que provocou.
O PCP chamou já o Governo à Comissão para exigir a adoção de medidas imediatas.
Também a TDT evidenciou problemas gravíssimos que confirmaram os alertas que o PCP fez durante anos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É indispensável retirar consequências dos sucessivos estudos, debates e
diagnósticos já realizados nesta matéria.
Defendemos o alargamento e o reforço da rede de TDT, com a universalidade do acesso, a melhoria da
oferta, a disponibilização das emissões em alta definição e o aumento de canais em sinal aberto do serviço
público de televisão.
Defendemos uma rutura com as orientações e os interesses que têm dominado a atuação da Altice. O País
não pode aceitar a desintegração de empresas estratégicas fundamentais para a economia, antes deve lutar
pela defesa destas empresas e pela sua integridade, modernização e desenvolvimento ao serviço do interesse
nacional, o que passa de forma incontornável pela sua reversão para a esfera pública.
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — A PT e os seus trabalhadores fazem parte da solução e não do problema. O
problema é a submissão desta empresa estratégica aos interesses de grandes grupos económicos, como a
Altice.
É este o sentido da nossa proposta.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Pires, do Partido Socialista,
para uma intervenção.
O Sr. Hugo Pires (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há debates que, pela sua relevância
pública, acabarão por chegar ao debate parlamentar. Hoje é um desses dias, o que nos obriga a fazer uma
retrospetiva sobre o papel e os interesses do Estado na economia e a fazer uma leitura não necessariamente
otimista e benévola do que se passou no setor das telecomunicações nos últimos anos.
O setor das telecomunicações não se pode esgotar nas questões de mercado e nas opções pelo
fornecimento de bens e serviços. Trata-se de um universo em que há questões de soberania, imposições de
segurança nacional e de coesão territorial.
É por isso que o Partido Socialista não pode deixar de olhar para a Portugal Telecom e encontrar muitas
decisões estratégicas que nos serviram de exemplo do que não se deve fazer no futuro. Sim, porque se o
Governo do PSD e do CDS não tivesse tido a vertigem de vender tudo o que era empresas e participações
estratégicas do setor público, como foi o caso, em 2011, quando alienou a golden share da PT, que passou a
ser uma empresa detida única e exclusivamente por privados, hoje, certamente, não estaríamos a ter este
debate.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Bem lembrado!
O Sr. Hugo Pires (PS): — Sr.as e Srs. Deputados, recuperar para o domínio público a propriedade e gestão
da rede básica de telecomunicações e a prestação do serviço universal de telecomunicações pode, em tese,
ser uma ideia interessante, porque nos faz acreditar que as obrigações públicas deixariam de ser assumidas
pelo setor privado para serem entregues ao Estado. Esta visão, quase romântica, choca, no entanto, com a
realidade, porque as coisas não são bem assim.
Sobre a proposta do Bloco de Esquerda há algumas notas que interessa referir.
Em primeiro lugar, uma nota sobre o valor que atribuímos ao Estado de direito, sendo certo que esta proposta
implicaria uma expropriação pelo justo valor e a afirmação do não respeito pelo investimento e pelos investidores
internacionais e, bem assim, a violação dos princípios em que assenta a nossa participação europeia. O Bloco
de Esquerda pretende retirar à PT/Altice obrigações de hoje que amanhã terá de entregar a este ou a outros
operadores. O que, verdadeiramente, o Bloco quer é colocar a zeros o cronómetro das concessões.
Contudo, compreendemos e acompanhamos a apreensão do Bloco, do PCP e de Os Verdes relativamente
aos trabalhadores e aos seus postos de trabalho. Aliás, o Governo, através do Sr. Primeiro-Ministro, teve já
oportunidade de, publicamente e nesta Câmara, expressar uma posição sobre eventuais despedimentos na
PT/Altice, referindo que jamais seria dada autorização para o efeito.
Perante o exposto, é entendimento do Partido Socialista que nenhuma das iniciativas faz sentido no debate
de hoje. Teria feito sentido que, em 2011, se tivesse impedido a alienação das últimas 500 ações que garantiriam
o veto estratégico; teria feito sentido se se tivesse desenvolvido a TDT com outra responsabilidade e com outros
parceiros; teria feito sentido que o País tivesse previsto uma acelerada evolução tecnológica nas redes de
segurança.
Sr.as e Srs. Deputados, como tem dito o Governo, cabe ao regulador acompanhar de perto a atividade destas
empresas para que nada — mas mesmo rigorosamente nada — impeça o respeito escrupuloso dos deveres
públicos.
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Pires (PS): — Termino já, Sr. Presidente.
Faz sentido uma leitura permanente dos contratos e das concessões, promovendo-se auditorias internas e
externas sempre que necessário; faz sentido que se identifiquem as obrigações que se colocam à modernização
das redes; o que não faz sentido é que se olhe para um país como uma folha em branco, em que tudo se pode
voltar a escrever.
Somos pela boa gestão pública, mas sempre agregada aos deveres da coerência e do cumprimento da lei.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PSD,
tem a palavra o Sr. Deputado Joel Sá.
O Sr. Joel Sá (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estas iniciativas propõem a alteração da Lei
de Bases das Telecomunicações, determinando a inclusão no domínio público do Estado da rede básica de
telecomunicações e do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal, o SIRESP, e
também a recuperação pelo Estado da prestação de um serviço público universal de telecomunicações através
de um operador público.
Pretendem pôr em marcha o resgate público da rede básica de telecomunicações, detida hoje pela PT/Altice,
da propriedade e gestão das redes de emergência e de segurança e proteção civil e ainda da rede de difusão
de sinal de audiovisual, rádio e televisão.
Não constitui novidade para nós a resistência que o Bloco, o PCP e Os Verdes têm ao modelo que assenta
na iniciativa privada e à livre circulação de bens e capitais.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E porque é que acha que assim é?
O Sr. Joel Sá (PSD): — Com estes diplomas, parece que voltámos ao PREC (Processo Revolucionário em
Curso), às nacionalizações em que tudo tem de pertencer ao Estado e em que, por norma, tudo o que é do
Estado funciona bem.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O que é bom é a «lei da selva»!
O Sr. Joel Sá (PSD): — Será que sim? Mas o Estado falhou em toda a linha, Srs. Deputados! Em relação
aos incêndios, não foi uma questão de operadoras, foi uma questão do Estado, que falhou na salvaguarda das
suas populações, não foi uma questão de falhanço das operadoras, foi o Estado que não assegurou a proteção
da vida das suas populações.
Protestos de Deputados do BE e do PCP.
O que pretendem é esconder a falha que o Estado teve na defesa das populações portuguesas. Não foram
as operadoras que falharam, mas, por consequência, é o Estado que falha em toda a linha. Essa é a verdade,
Srs. Deputados! Este é o diário da esquerda retrógrada, que recusa olhar para a realidade e que costuma
mascarar os factos, pelo que lhe convém trazer questões para esconder aquilo que se passou nos incêndios.
Protestos da Deputada do PCP Carla Cruz.
Mas estes diplomas revelam também uma esquerda irresponsável, que não sabe quanto custaria a
nacionalização da PT, que custo teria para o Orçamento do Estado, que custo teria para o erário público, qual
seria o impacto no Orçamento. Não sabe, como sempre, pois, para a esquerda, o Orçamento do Estado tem
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sempre dinheiro para tudo, mas no fim, como consequência, são os portugueses que pagam a fatura dessa
irresponsabilidade.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — O senhor está a fazer contas à vida das pessoas?!
O Sr. Joel Sá (PSD): — Srs. Deputados, o que dizem o Governo e o Partido Socialista relativamente a esta
questão? Sabemos que o Governo da geringonça é suportado por partidos que são antitroica, anti-NATO (North
Atlantic Treaty Organization) e antieuro. Sabemos que o Partido Socialista já passou a ser adepto das reversões.
Será que o Partido Socialista vai passar a ser adepto das nacionalizações?
Todos nos lembramos bem do que o Partido Socialista queria fazer com a PT: queria utilizá-la para comprar
a TVI.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Joel Sá (PSD): — Todos nos lembramos do que Partido Socialista fez com a PT, sob gestão do Eng.º
Sócrates, e dos negócios ruinosos. Todos nos lembramos bem dessa gestão.
Srs. Deputados, o PSD não embarca em aventureirismos nem em derivas revolucionárias. Existem
mecanismos de fiscalização do cumprimento do contrato de concessão do serviço público de telecomunicações
e de aferição da qualidade dos serviços prestados pelas empresas.
Façamos com que o regulador seja forte, porque o regulador é que tem de agir, dando-lhe os meios humanos
e técnicos capazes. Esta é a questão, Srs. Deputados, e é o que o Governo tem de fazer: dotar o regulador de
competências técnicas e humanas.
Faça-se essa análise e, caso se verifiquem incumprimentos, aí sim, acionem-se as penalizações que se
encontram previstas na lei. Já chega de demagogia e de atos irresponsáveis.
Aplausos do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que intervenção verdadeiramente miserável!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-
PP, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, quando olhei para este projeto de
lei do Bloco de Esquerda, que diz que «recupera para o domínio público a propriedade e gestão da rede básica
de telecomunicações e a prestação do serviço universal de telecomunicações» e que, no seu texto, até diz que
isto é o resultado do «projeto de pilhagem do capital e recursos públicos», pensei: «Bom, aqui está o Bloco, na
sua versão mais pura, contra o capital.»
Mas, depois, felizmente, tivemos oportunidade de assistir ao primeiro debate do dia de hoje, que provou que,
afinal, o Bloco é o amigo certo para as horas incertas do grande capital, porque ficou provado que está na origem
das grandes borlas fiscais, nomeadamente a da EDP. Portanto, este deixou de ser um debate sério e passou a
ser um debate de faz-de-conta.
Se assim não é, então, o Bloco está, de facto, preocupado com a oferta do serviço universal da rede fixa?
Bom, não diz nada sobre a matéria, praticamente. Mas, então, deveria dizer: «A rede fixa tem estes problemas
e é, de facto, a NOS que presta o serviço» — e, se é a NOS que presta o serviço, o Sr. Deputado devia saber
que é a NOS e são as outras operadoras todas e que hoje um cidadão é livre de comprar pacotes de rede fixa,
de televisão e de voz, portanto, o mercado funciona, até, em benefício do consumidor, em preço e em qualidade.
Protestos do Deputado do BE Jorge Duarte Costa.
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Diz o Sr. Deputado: «Bom, mas há um problema com a TDT». O PCP foi mais longe, ao menos disse o que
queria da TDT: quer canais em HD (high definition), quer mais canais, quer mudar o multichannel, ou seja, fez
propósitos para melhorar a TDT. Mas, porventura, o erro até está na origem, porque, ao pôr no contrato que a
cobertura é de 85%, basta cumprir no litoral e fica cumprida essa faixa de 85%, o que deixa todo o interior a
descoberto.
Mas os Srs. Deputados não vêm dizer: «Mude-se o contrato, mudem-se as regras e vamos investir na TDT».
Sobre isso não dizem nada, como também não dizem sobre os postos fixos — esqueceram-se! O contrato refere
um posto por freguesia, o que julgo que está a ser cumprido pela Altice.
Então, o que é que os senhores vêm fazer? Aliás, também o Deputado Hugo Pires não disse de forma clara
o que o PS ia fazer, porque o PS tem de dizer se está do lado da esquerda radical ou se vai votar contra. Ou
seja, para além de tudo aquilo que foi dito, fez uma espécie de missa Urbi et Orbi a dizer que só temos de estar
atentos.
Sr. Deputado, sei que dá jeito que o Bloco venha ilibar o Governo, mas o culpado pelo que aconteceu nos
incêndios e pela falta de proteção a pessoas e bens tem um nome: Partido Socialista, Bloco de Esquerda e PCP.
Protestos de Deputados do PS, do BE e do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Nem na aritmética os senhores acertam!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — As falhas por incumprimento do contrato da Altice têm um nome, porque,
Srs. Deputados, é ao Governo que cabe controlar o SIRESP, é ao Governo que cabe controlar a qualidade e a
prestação do serviço de forma regular, é ao Governo que cabe controlar a TDT, é ao Governo que cabe controlar
o serviço de rede fixa. Ou seja, se temos um Governo incompetente para controlar os contratos que assina, é
possível acreditar que tenhamos um Governo capaz de gerir, ele próprio, essas matérias? Não, e o senhor sabe
que não.
O senhor também sabe, e bem, porque ainda está do lado bom da história, que a introdução de capital e
inovação é muito útil para as smart cities, é muito útil para a vida dos portugueses e das empresas, e é, até,
muito útil para a vida do Bloco, que utiliza profusamente as novas tecnologias e as inovações do 4G e do 3G.
Mas, sejamos claros, o Partido Socialista tem, de uma vez por todas, de decidir de que lado está: se está do
lado da economia moderna ou se está do lado da economia retrógrada, e também se patrocina…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … estes simulacros de oposição, estes simulacros ideológicos, em que
o Bloco de Esquerda, às 10 horas da manhã, é o amigo certo das horas incertas do grande capital e, por volta
do meio-dia, odeia o grande capital. Decidam-se, Srs. Deputados!
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para encerrar este debate, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno
Dias, do PCP, para uma intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O problema da PT foi ter sido transformada em
caixa multibanco dos grupos económicos que dela tomaram conta, ano após ano, para o saque que, durante
anos a fio, tem sido feito e o desmantelamento que foi feito pelas sucessivas gestões da administração privada
e dos seus acionistas.
Então, os Srs. Deputados já não se lembram do extraordinário gestor Zeinal Bava, que até condecorado foi?!
Vozes do PCP: — É verdade!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Os senhores não se lembram dos negócios do Grupo Espírito Santo, da Rioforte,
e daquilo em que andaram a meter a mão por baixo ao longo dos anos?!
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O Sr. Joel Sá (PSD): — E da Oi, no Brasil?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Então, não se lembram daquilo a que hoje chamam, «de chapéu na mão»,
investidores internacionais e dos resultados que foram obtidos pela gestão dos acionistas privados e dos
grandes grupos económicos na PT?!
Quero sublinhar que é inacreditável que o PSD, em relação às populações afetadas pelos incêndios, que
ainda hoje continuam sem as ligações telefónicas, tenha passado do absoluto silêncio para a desculpabilização
direta e concreta da PT, dizendo que o problema é do Estado, não é das operadoras. É uma vergonha que a
única palavra do PSD tenha sido para desculpabilizar a PT e a Altice, como aconteceu neste debate.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
Enquanto estamos nesta discussão, Sr. Presidente e Srs. Deputados, continuam a verificar-se situações
escandalosas, com os trabalhadores sem funções atribuídas, remetidos em falsas transmissões de
estabelecimento, uma situação de desmantelamento e destruição de um pilar fundamental da nossa economia.
Isto tem de ser travado e essa é uma responsabilidade também desta Assembleia e dos Srs. Deputados.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, o período regimental de votações fica adiado
para ligeiramente depois do meio-dia, pelo que entramos no quarto ponto da ordem de trabalhos, de que consta
debate conjunto dos projetos de resolução n.os 911/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva todos
os esforços junto do Estado espanhol para travar a exploração de urânio em Salamanca, junto à nossa fronteira
(Os Verdes), 1397/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva todos os esforços e diligências para que
seja devidamente cumprido o Protocolo de atuação entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do
Reino de Espanha a aplicar às avaliações ambientais de planos, programas e projetos com efeitos
transfronteiriços (CDS-PP), 1403/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo português que exija junto do Governo
espanhol a realização de um estudo de impacto ambiental transfronteiriço relativamente às minas de urânio em
Retortillo-Santidad (PSD), 1405/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, no âmbito do Protocolo de atuação
entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha a aplicar às avaliações ambientais
de planos, programas e projetos com efeitos transfronteiriços, adote as medidas necessárias junto do Estado
espanhol com vista à suspensão de qualquer decisão final da implantação do projeto de fábrica de urânio
processado e de mineração em Retortillo-Santidad (Salamanca) (PCP), 1406/XIII (3.ª) — Recomenda ao
Governo a adoção de medidas junto das autoridades espanholas para que seja travada a instalação da mina de
urânio Retortillo-Santidad (BE), 1409/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que encete esforços para travar a
exploração de urânio em Retortillo junto do Reino de Espanha e organismos internacionais (PAN) e 1412/XIII
(3.ª) — Recomenda ao Governo que assegure o cumprimento do Protocolo de atuação entre Portugal e
Espanha, no âmbito da exploração de urânio em Salamanca (PS).
Para abrir o debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, quero
saudar a vinda de ativistas espanhóis da organização ambientalista Stop Uranio e dizer-lhes que estamos juntos
nesta luta.
Sr.as e Srs. Deputados, sobre o projeto de instalação de mina de urânio a céu aberto e depósito de resíduos
radioativos em Retortillo, Salamanca, a cerca de 30 km da fronteira portuguesa, Os Verdes questionam e
pressionam o Governo português já desde 2013 no Parlamento, no sentido de exigir que o Governo assuma
uma posição clara em defesa do ambiente, das nossas populações, do nosso território e dos nossos
ecossistemas.
Os impactos sobre Portugal de um projeto desta natureza são reais: risco de contaminação radioativa e de
metais pesados, através da contaminação atmosférica e hídrica, designadamente com profundo impacto sobre
a bacia hidrográfica do Douro.
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Perante isto e tendo em conta que Portugal conhece bem os efeitos dos impactos no tempo da exploração
de urânio — vide o caso da Urgeiriça, que temos acompanhado aqui no Parlamento — e o seu efeito sério sobre
a saúde pública.
Como é possível então, Sr.as e Srs. Deputados, que os sucessivos governos de Portugal aceitem que não
tenha sido feita avaliação de impacto ambiental transfronteiriço relativamente a este projeto?
Como é possível aceitar que não tenha sido cumprido o Protocolo de atuação de 2008 entre o Estado
português e o Estado espanhol?
Como é possível aceitar que tenha sido emitida declaração de impacto ambiental sem a participação de
Portugal? E, mais, sem que os sucessivos governos portugueses recebessem, sequer, informação devida sobre
a matéria?
Sr.as e Srs. Deputados, estamos a assistir exatamente ao filme da Central Nuclear de Almaraz, exatamente
ao mesmo filme! Desde 2013 que o Partido Ecologista «Os Verdes» ouve dos governos portugueses que
continuam a aguardar informação do Governo espanhol. Em 2018 continuamos a ouvir o mesmo. Não pode ser!
É por isso, Sr.as e Srs. Deputados, que Os Verdes tomaram a iniciativa, na Assembleia da República, de
apresentar um projeto de resolução que dita que, tendo em conta que não houve avaliação de impacto ambiental,
o Governo deve tomar todas as diligências necessárias junto do Governo espanhol para travar a exploração de
urânio em Retortillo, Salamanca, junto à nossa fronteira, com efeitos ambientais significativos para o nosso País.
Os outros grupos parlamentares entenderam seguir esta iniciativa de Os Verdes e apresentaram também
contributos relativamente a esta matéria. O que é importante, Sr.as e Srs. Deputados, é que hoje saia daqui uma
decisão da Assembleia da República para travar esta exploração de urânio com fortíssimo impacto para as
populações, para o território e para os ecossistemas.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Antes de dar a palavra à Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca, para
uma intervenção, a Mesa pede às Sr.as e aos Srs. Deputados que estão em diálogos vários o favor de poderem
acomodar-se para que a sessão possa decorrer com um pouco mais de tranquilidade.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No século passado, a
exploração de urânio foi feita com muito interesse, quer por Portugal, quer por todo o mundo, mas tendo-se
percebido as implicações tanto ambientais como, sobretudo, em matéria de saúde pública, em boa hora Portugal
deixou de explorar este minério radioativo.
Isso aconteceu não sem que ainda hoje, passadas duas décadas, hajam inúmeros problemas para as
populações onde essa exploração era realizada.
Por isso, a possível exploração de uma mina de urânio a céu aberto junto à fronteira espanhola com Portugal
terá, certa e seguramente, sem sombra de dúvidas, um potencial impacto em Portugal, ou seja, terá um impacto
transfronteiriço.
Isso mesmo confirma a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), ou seja, pela direção dos ventos e pelo
facto de o rio Yeltes ser afluente do rio Huebra, que, por sua vez, é afluente do rio Douro, também poderá ter
impactos em Portugal.
Por isso, Srs. Deputados, há várias questões a ter em conta e que levaram o CDS a apresentar o seu projeto
de resolução. Por um lado, Espanha não notificou nem envolveu Portugal neste processo, ou seja, não deu
qualquer conhecimento ao nosso País. Por outro lado, Espanha também considerou que não era necessário
realizar consultas transfronteiriças, justificando essa decisão com a distância, mas também não estudou, ou
seja, Espanha não cumpriu o protocolo entre os dois governos relativo às avaliações ambientais com impactos
transfronteiriços. Isso mesmo reconheceu o Sr. Ministro do Ambiente recentemente, numa audição parlamentar,
dizendo que, e passo a citar, «tem funcionado de forma deficiente e não é da nossa parte (…)» — ou seja, é da
parte de Espanha, depreende-se — e ainda, e cito novamente o Sr. Ministro, que «tudo é arrancado a ferros».
No nosso entendimento, tudo isto demonstra bem o falhanço da diplomacia portuguesa em resolver questões
transfronteiriças com Espanha, porque não foi apenas este caso. Já foi aqui relembrada hoje a recente situação
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da construção do armazém de resíduos nucleares, mas também a incapacidade de relançar o debate da revisão
da Convenção de Albufeira.
Por isso, o CDS apresenta este projeto de resolução para que o Governo desenvolva todos os esforços junto
do Governo espanhol no sentido de ser efetuada uma avaliação de impacto transfronteiriço, para que seja
remetida às autoridades portuguesas toda a informação relevante relacionada com este processo e que o
Governo português seja envolvido e informado em todas as fases do licenciamento, caso ele venha a realizar-
se, o que esperamos que não.
Recomendamos também ao Governo que adote uma posição firme e determinada junto do Governo espanhol
para que o Protocolo de atuação seja, de facto, cumprido.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ângela Guerra, do PSD, para
uma intervenção.
A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do PSD
apresentou um projeto de resolução que hoje debatemos, recomendando ao Governo que exija, junto do
Governo espanhol, em cumprimento das normas e convenções internacionais, a realização de um estudo de
impacto ambiental transfronteiriço relativo a estas minas de urânio de Retortillo.
Desde logo, há um dado adquirido neste debate: todos os partidos querem travar a construção desta mina
sem que seja realizado este estudo do impacto ambiental transfronteiriço.
Neste sentido, gostava de deixar duas notas que consideramos de realçar sobre esta matéria.
Em primeiro lugar, depois de Almaraz, este já é o segundo exemplo de conflitos ambientais, um mau exemplo,
em que concluímos que as autoridades espanholas não cumprem com as convenções internacionais a que se
vincularam, como a diretiva de avaliação de impacto ambiental, a Convenção de Espoo ou a Convenção de
Albufeira. Este é, pois, um comportamento recorrente que traduz aquilo que é um padrão e que nos leva a
afirmar que não podemos confiar no tempo, nem no método, nem tão pouco nas propostas que nos chegam do
lado espanhol. Já não nos podemos bastar também com meras promessas de encontros em fóruns ou com a
básica via diplomática.
A nossa atitude tem de deixar de ser a das meras palavras e temos de passar à ação. A nossa atitude tem
de traduzir-se em ações mais reivindicativas, mais exigentes, mais fiscalizadoras e bem mais firmes e temos,
obviamente, de nos socorrer de todos os mecanismos ao nosso dispor, sem nunca pôr de lado eventuais
denúncias ou queixas dirigidas às instâncias internacionais, quer ao abrigo dos mecanismos bilaterais, quer nos
termos dos demais mecanismos europeus disponíveis.
Não excluímos, obviamente, com isto, a via diplomática, e isto não tem nada a ver com a falta de respeito
pelas regras de um Estado soberano, é exatamente o oposto, Sr.as e Srs. Deputados: quando um Estado
soberano não cumpre com as convenções internacionais, esse, sim, viola a nossa autonomia.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Em segundo lugar, uma segunda nota: a APA explicou muito bem na
informação que enviou que o Governo espanhol informou que a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) já existe
desde 2013 e que a autorização da concessão de exploração foi publicada em 2014, mas isto não tem nada a
ver com o estudo de impacto ambiental transfronteiriço que nós reclamamos,…
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — … também previsto no Protocolo de atuação, como já foi dito aqui, assinado
entre Portugal e Espanha sobre a aplicação das avaliações ambientais, planos, programas e projetos com efeitos
transfronteiriços, como é o caso. Sr.as e Srs. Deputados, só no dia em que este estudo for público poderemos
ficar mais descansados.
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Dizem-nos agora que o processo já está numa fase em que não podemos voltar atrás, que Portugal só poderá
participar nos procedimentos em tramitação, e nós perguntamos: mas agora é Espanha que decide
unilateralmente se causa ou não danos em Portugal? Se o Estado português tivesse sido devidamente
notificado, nos prazos e nos termos do Direito Internacional, teríamos, obviamente, agido em conformidade, e
Portugal não tem nada a ver com as faltas que as autoridades espanholas cometeram, sendo para isso que as
instâncias internacionais servem.
Por fim, a pior das consequências: o dano irreversível de imagem que nas minhas terras já começou, que já
se sente na região. E, como se não bastasse, também o Ayuntamiento de la Alameda de Gardón, uma localidade
situada a 3 ou 4 Km da fronteira de Vilar Formoso, publicou sobre a mina de Retortillo uma autorização
excecional de utilização de solos agrícolas para exploração mineira, para expansão desta mina, o que nos deixa,
obviamente, ainda mais preocupados.
Dizia uma habitante de Retortillo, que nasceu, vive e trabalha numa vila próxima: «Se a exploração se
concretizar, vão-se as termas que a sustentam, vai-se o gado e a terra fértil, o nosso ganha-pão, o ganha-pão
de muitas famílias». Estão em causa milhares de árvores abatidas, agricultores, criadores de gado, postos de
trabalho, um autêntico atentado ambiental.
Do lado de cá da fronteira, em São Pedro de Rio Seco, em Vale da Mula, em Vilar Formoso, no concelho de
Almeida, ou em Barca d’Alva, Almofala ou Escarigo, porque estes rios têm todos contactos com o nosso rio
Douro e também com o rio Águeda, diz-se por lá: «Quem virá para aqui com uma mina de urânio por perto? Os
ventos vêm de Espanha e as águas correm para cá. Aqui, nos territórios de Riba Côa, com isto tudo destruído,
o que é que nos restará? Já perdemos tanta coisa nestes territórios, não deixem que percamos também a nossa
saúde».
Quem persiste naqueles territórios tem muito do seu suporte na natureza, na agricultura, na floresta, nos
seus valores endógenos, na qualidade de vida que se traduz num absoluto e essencial fator potenciador da
nossa economia local.
A água e os nossos rios são um ativo do qual dependem muitas vidas humanas e animais e
escandalosamente — vou já terminar, Sr. Presidente — também nunca houve qualquer avaliação do risco da
saúde neste processo. Aqueles territórios merecem muito e bem mais e disto o PSD não abdicará.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado
Miguel Tiago, do PCP.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Antes de iniciar a minha intervenção, vou
pegar nesta última frase da Sr.ª Deputada Ângela Guerra e dizer-lhe que é estranho que esta vontade de
afirmação do interesse nacional e do interesse regional do PSD tenha surgido tão tardiamente…
Vozes do PSD: — É falso! É falso!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … e que durante tanto tempo tenham estado de costas voltadas para as
preocupações daquela região e das suas pessoas.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
Protestos do PSD.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Srs. Deputados, o PCP acompanha principalmente o Partido Ecologista «Os
Verdes», que procede ao agendamento destes projetos de resolução, e acompanha com um projeto próprio e
com recomendações próprias.
Mas, no essencial, a questão fundamental é a que já foi mencionada pelos demais grupos parlamentares e
refere-se à necessidade de salvaguardar tanto a saúde como também o meio das regiões fronteiriças do distrito
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da Guarda, muito próximas de Salamanca e de Retortillo, onde o Reino de Espanha pretende a implantação de
uma mina de urânio e de uma fábrica de urânio processado.
Ambas são atividades com riscos específicos muito significativos e que merecem, do ponto de vista da
precaução, antes da implantação, medidas também elas muito específicas e, numa fase de eventual implantação
e funcionamento, medidas de mitigação e de contenção muito vastas e que têm necessariamente de envolver o
Estado português, tendo em conta não apenas a proximidade geográfica — estamos a falar de pouco mais de
30 Km entre as minas, a fábrica e povoações do território português — mas porque também é preciso assegurar
que esta atividade não terá impactos ou que os impactos possam ser mitigados.
O Reino de Espanha não tem cumprido, uma vez mais, as obrigações a que está sujeito por força dos
tratados, no caso o tratado de atuação entre os Estados no que toca às avaliações de impacto ambiental
transfronteiriças, e, ao que parece, o Governo da República Portuguesa, durante muito tempo, também não
exigiu qualquer cumprimento ao Reino de Espanha. Portanto, trata-se de inverter essa displicência da República
Portuguesa, de corrigir e de assegurar que não avança a autorização de implantação de uma mina de urânio e
de uma fábrica de urânio processado em Retortillo, Salamanca, enquanto não for integralmente cumprido o
Protocolo de atuação entre estes dois Estados.
Tendo em conta os riscos e a importância dos mesmos, há o risco real de esta exploração se traduzir na
degradação dos recursos naturais e é absolutamente inaceitável que aquelas populações, já tão castigadas por
outras questões e por políticas de sucessivos governos, que as vêm colocando numa posição cada vez mais
frágil, do ponto de vista económico, produtivo, social e até político, estejam agora sujeitas, por força do
incumprimento de um protocolo, a uma degradação também da sua saúde.
Portanto, o que o PCP propõe é que a Assembleia da República determine recomendar ao Governo que
assegure o cumprimento escrupuloso do protocolo, que assegure a realização de um estudo de impacte
ambiental e que, no caso de haver implantação daquela obra, sejam tomadas todas as medidas identificadas
pelos técnicos para impedir que a bacia hidrográfica do Douro possa servir de meio de transporte de partículas
radioativas e para que o regime de ventos dominante não signifique que o radão, um gás radioativo, possa
atingir qualquer população, ficando inteiramente contido, e que sejam tomadas todas as medidas para equilibrar
o interesse económico da exploração de urânio com, ao mesmo tempo, evidentemente, o interesse ambiental e
com o interesse de saúde das populações.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Soares, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Permitam-me que, em
primeiro lugar, saúde os alcaides e a população de Boada, de Villavieja de Yeltes e de Retortillo, que estão
connosco, na Assembleia da República, a assistir a este debate, cujo assunto é comum aos nossos dois povos
e é da maior importância. Muito obrigado pela vossa vinda e pela vossa presença.
Aplausos do BE e do PSD.
Permitam-me que, nesta intervenção, me dirija também ao Congresso dos Deputados e ao Governo do
Estado soberano de Espanha, ao Parlamento e ao Governo Regionais de Castela e Leão e ainda aos nossos
vizinhos dos municípios espanhóis fronteiriços. Os nossos povos partilham o mesmo espaço geográfico, os
mesmos territórios, a mesma «jangada de pedra», como diz Saramago na sua metáfora admirável.
A ditadura quis-nos de costas voltadas, a ditadura quis que não houvesse relacionamento entre nós e quis
estimular a desconfiança entre nós. O que posso aqui afirmar, porque sou testemunha disso, tal como muitas
das Sr.as Deputadas e muitos dos Srs. Deputados que visitaram aquela região em Espanha, há dias, é que não
haverá interesses da indústria nuclear internacional que ponham em causa o desejo de cooperação, de amizade,
de frontalidade entre os nossos dois povos.
Estamos nesta luta juntos, estamos nesta luta porque ela é justa e porque ela tem como objetivo essencial
defender os nossos dois povos e não colocar-nos um contra o outro.
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Aplausos do Deputado do BE Jorge Duarte Costa.
O que é facto, Sr.as e Srs. Deputados, é que o perfil de comportamento do Estado espanhol relativamente a
matérias desta importância começa a ser cada vez mais evidente. Como já foi aqui referido, aconteceu com o
armazém de resíduos nucleares em Almaraz. As autoridades espanholas não queriam fornecer a informação a
que estavam obrigadas às autoridades portuguesas. Agora, a situação tende a repetir-se.
Mas é preciso dizer que a Convenção de Espoo, estabelecida no âmbito das Nações Unidas, sobre a
avaliação dos impactes ambientais num contexto transfronteiriço, obriga a que os Estados notifiquem as outras
partes relativamente a todos os projetos suscetíveis de impactes ambientais transfronteiriços e estabelece
obrigações de avaliação de impacte ambiental numa fase inicial de planeamento, repito, numa fase inicial de
planeamento. É absolutamente claro.
A Convenção de Albufeira exige que haja permuta de informações sobre atividades suscetíveis de causar
impactos transfronteiriços.
O Protocolo de atuação entre Portugal e Espanha prevê que sejam desencadeados procedimentos que levem
ao estudo de avaliação de impacte ambiental transfronteiriço sempre que haja iniciativas suscetíveis de pôr em
causa o ambiente numa das partes.
É preciso dizer que, se os governos portugueses, desde 2013, não tiveram a coragem e a frontalidade de o
fazer, o conjunto de projetos de resolução apresentados hoje na Assembleia da República permite que o
Parlamento português diga com toda a frontalidade e clareza: o Estado espanhol está em incumprimento
relativamente às suas obrigações com o Estado português. É preciso que isto fique claro e que tenha
consequências por parte do Governo português.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Vou já terminar, Sr. Presidente.
Do nosso ponto de vista, é necessário que as autoridades portuguesas conduzam as negociações com o
Estado espanhol no sentido de garantir que não haja instalação das minas de urânio em Retortillo-Santidad,
porque, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, se houver instalação de mina a céu aberto será a única em toda
a Europa.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, já excedeu largamente o seu tempo. Peço-lhe que
termine.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Não há método nenhum que impeça que a atividade radioativa passe para o
rio Douro e que passe, por via área, para o nosso território.
Por isso, o objetivo tem de ser o de impedir que haja minas de urânio em Retortillo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André
Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Bom dia, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar os cidadãos
espanhóis aqui presentes.
Debatemos, mais uma vez, a atitude unilateral, cega e próxima da arrogância do Reino de Espanha de
expandir a indústria do nuclear com a possível abertura de uma mina de urânio a céu aberto em Retortillo,
Salamanca.
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Mais uma vez, vimos manifestar ao Governo espanhol o respeito pela nossa soberania nacional e pedir que
sejam cumpridos os acordos internacionais, com a realização de estudos de impacte ambientais transfronteiriços
e que o Governo português seja atempadamente consultado nestes projetos.
Mas da parte de Espanha foi, mais uma vez, desconsiderado o parecer do Estado português e a necessidade
de avaliarmos as consequências ambientais, nos dois países, da abertura de uma mina de urânio. Mais gravoso,
a agenda da Comissão Europeia vai no sentido de validar na Europa, a qualquer custo, a dita independência
mineral e energética com recurso à energia nuclear.
Porém, há que tomar uma posição firme, bem mais firme do que a que estamos a tomar perante a central
nuclear de Almaraz.
Neste quadro, propomos que o Governo português use todos os expedientes diplomáticos e jurídicos para
garantir o cumprimento dos acordos internacionais, nomeadamente da Convenção de Espoo.
Por fim, e por sabermos do enorme risco do nuclear na Europa, e mais concretamente na Península Ibérica,
propomos que, em reuniões bilaterais com Espanha, seja sempre discutido o tema do nuclear. Cabe ao Governo
português impor a agenda do fim do uso da energia nuclear e não esperar que o Reino de Espanha nos imponha
uma calamidade ambiental.
Aplausos do Deputado do BE Pedro Soares.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
Santinho Pacheco, do Partido Socialista.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar calorosamente
os nossos amigos que vieram de Espanha e agradecer sentidamente a sua presença solidária.
A extração de urânio é uma atividade de elevado risco, com forte impacte ambiental e na saúde pública.
A recente visita parlamentar portuguesa à província de Salamanca, aos territórios de Boada, Retortilho e
Villavieja de Yeltes, muito perto da fronteira de Almeida e de Figueira de Castelo Rodrigo, veio evidenciar o risco
latente para as populações raianas, para a economia e para o ambiente.
Nessa zona remota e despovoada do território espanhol, decorrem, discretamente, desde 2013, estudos e
trabalhos preparatórios para a extração de urânio a céu aberto, com lavagem de milhões de toneladas de terras
e a eventual condução das águas utilizadas para a bacia hidrográfica do Douro, através do rio Yeltes.
O Douro é um ativo português de que depende o abastecimento público de centenas de milhares de pessoas
e com dois patrimónios mundiais da UNESCO: o Douro Vinhateiro e as Gravuras do Côa.
Os Deputados do Partido Socialista não aceitam que este processo ocorra sem o envolvimento de Portugal.
Acreditamos que o Governo espanhol não irá fugir às suas responsabilidades e negar-se à avaliação conjunta
que um investimento desta natureza obriga.
Face ao exposto, o Grupo Parlamentar do PS solicita ao Governo que proceda às seguintes diligências:
assegure efetivamente o cumprimento do Protocolo de atuação entre Portugal e Espanha, exigindo o respeito
pelas normas internacionais; tome todas as medidas adequadas para proteger, no território nacional, os valores
naturais e ambientais; instale, com a maior brevidade possível, uma estação de controlo radiológico no Douro.
A raia não é a porta dos fundos do País e muito menos uma terra de ninguém para o contrabando ambiental.
A raia é uma região mítica, é um território limpo e lindo, planalto do carvalho negral, de uma monumentalidade
grandiosa, com fortalezas e castelos e as suas aldeias históricas.
A raia do Côa, das gravuras rupestres, do Vinho do Porto e do Vinho do Douro, do turismo internacional que
se consolida.
A raia do despovoamento e do espírito aventureiro, a salto, foi Europa antes do resto do País, porque Portugal
amordaçado teimava ficar orgulhosamente só.
Aplausos do PS.
A raia, fronteira de Vilar Formoso, viu o crescimento travado e a sua economia arruinada, qual dano colateral
da nossa adesão comunitária.
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A raia do interior perde serviços, públicos e privados, simbolizados no recente encerramento da agência da
Caixa Geral de Depósitos de Almeida, qual sinal político de que aquelas terras são para fechar ao futuro.
À raia só faltava esta. De Espanha, onde às escondidas, antes, se ia ganhar o pão, fintando a Guardia Civil
e a Guarda Fiscal, vem agora uma ameaça silenciosa que põe fim à esperança legítima de um tempo novo.
Se Retortillo fica a 40 km de Almeida, Alameda de Gardón está ali à vista de S. Pedro do Rio Seco, a terra
natal de Eduardo Lourenço, esse enorme cidadão do mundo, europeu pela cultura, mas raiano pelo coração.
Aplausos do PS.
Juntos podemos fazer uma raia de oportunidades, e uma raia de oportunidades quer dizer vizinhança
consequente com Espanha, respeito pelos nossos valores.
A raia é um elemento central de um território transfronteiriço de Salamanca a Coimbra, base da singularidade
programática da pré-candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027.
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Termino já, Sr. Presidente.
Como escreveu um dia Eduardo Lourenço, em política, a dimensão simbólica é sempre essencial. Uma crise,
em termos políticos, não o é a não ser que exista uma perceção pública.
O Sr. Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, os autarcas e as populações, a
comunicação social e o País como um todo devem exigir e defender para que toda a Europa ouça: queremos a
raia de Espanha verde, limpa e viva!
Aplausos do PS, tendo os Deputados Helena Roseta e João Soares aplaudido de pé.
O Sr. Presidente: — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca, do
CDS-PP.
A Sr.ª PatríciaFonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: No final deste debate, registo com
agrado que o Parlamento é unânime no seu objetivo de que os protocolos de cooperação sejam cumpridos e
que Portugal adote uma posição firme e decidida para que Espanha não volte a ignorar Portugal nestas matérias.
Srs. Deputados, o CDS considera que este debate deve ser feito com a maior seriedade que este assunto
impõe e não com alarme social ou com populismos, que não servem o interesse nacional.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Julgo, Sr.ª Deputada Patrícia
Fonseca, que ninguém considerará um alarmismo se Os Verdes afirmarem que falarmos de uma mina de urânio
a céu aberto é falarmos de algo muito sério em termos de segurança do território, de saúde pública e ambiental
e é falarmos de radioatividade e de uma hipotética contaminação por metais pesados.
O Sr. DuarteFilipeMarques (PSD): — Isso não é verdade!
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Por isso, é inaceitável que o Governo PSD/CDS não tenha feito
rigorosamente nada relativamente a esta matéria e será inaceitável se o Governo do PS não fizer nada sobre
esta matéria.
O Sr. JoãoDias (PCP): — Bem lembrado!
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Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Estamos a falar — e já aqui foi lembrado — de uma região de
fronteira que tem sido absolutamente esquecida, designadamente os concelhos de Almeida, Freixo de Espada
à Cinta, Figueira de Castelo Rodrigo, entre outros. Estes concelhos foram absolutamente esquecidos!
Protestos da Deputada do CDS-PP Patrícia Fonseca.
Os senhores contribuíram para o encerramento de serviços públicos e para o despovoamento deste território,
e não se podem esquecer disso.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — De facto, temos a dupla responsabilidade de salvaguardar este
território e estas populações.
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de concluir.
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Para terminar, Sr. Presidente, Os Verdes exigem que a população
portuguesa tenha uma palavra a dizer sobre esta matéria e que não deixe de existir um processo de consulta
pública onde a população se possa pronunciar.
«Não nos calem a boca!» — é assim que a população tem de reagir e é por isso que temos de ser pró-ativos
para o Governo português e do Governo português para o Governo espanhol.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, como estava previsto — e já com 25 minutos de
atraso —, vamos passar ao período regimental de votações.
Antes de mais, vamos proceder à verificação do quórum de deliberação, utilizando o sistema eletrónico.
Pausa.
O quadro eletrónico regista 199 presenças, às quais se acrescentam 6 — as dos Srs. Deputados Heloísa
Apolónia e José Luís Ferreira, de Os Verdes, Pedro Soares, do BE, Paulo Trigo Pereira, do PS, e Assunção
Cristas e Isabel Galriça Neto, do CDS-PP —, perfazendo 205 Deputados presentes, pelo que temos quórum
para proceder às votações.
Vamos começar pelo voto n.º 495/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Stephen Hawking, apresentado
pelo Presidente da AR, pelo PSD, pelo PS, pelo BE, pelo CDS-PP, pelo PCP, por Os Verdes e pelo PAN, que
vai ser lido pela Sr.ª Secretária Idália Serrão.
A Sr.ª Secretária (Idália Salvador Serrão): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«É com pesar que a Assembleia da República assinala o desaparecimento de Stephen Hawking, nome maior
da Física e da Cosmologia.
Stephen Hawking nasceu em 14 de março de 1942, em Oxford, cidade onde prosseguiu os seus estudos
superiores, tendo concluído o seu doutoramento em Cambridge, em 1966.
Nestes dias, foi lembrado que Hawking nasceu 300 anos depois da morte de Galileu e faleceu no dia em que
nasceu Einstein.
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Não será exagerado invocar esta coincidência e compará-lo a estas figuras cimeiras da história da Ciência,
dada a revolução que operou na forma como hoje olhamos para a origem do universo, desvendando mistérios
e superando lacunas.
As suas perguntas de partida eram ambiciosas e foram respondidas com distinção: «Por que razão o
Universo é como é?» e «por que razão existe?».
Hawking foi também um exemplo de perseverança, não apenas na investigação que desenvolveu, como
também na coragem com que lutou contra a doença degenerativa que o afetava e na generosidade com que
partilhou com a comunidade científica e com o grande público as suas teses e as suas descobertas,
incentivando, assim, o escrutínio crítico, verdadeiro motor do conhecimento.
A sua obra Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros tocou a imaginação humana e
foi um caso raro de sucesso e popularidade no mundo das publicações científicas.
Stephen Hawking foi, de facto, um grande promotor da cultura científica, um cidadão empenhado nas grandes
causas do seu tempo e um humanista com uma curiosidade que não conhecia fronteiras.
Reunidos em sessão plenária, os Deputados à Assembleia da República manifestam à Universidade de
Cambridge e à família de Stephen Hawking o mais sentido pesar pelo seu desaparecimento e a mais sentida
homenagem pelo exemplo de esperança que deixa à humanidade.»
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr.ª Secretária Idália Serrão.
Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 495/XIII (3.ª), que acabou de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Segue-se o voto n.º 496/XIII (3.ª) — De pesar e condenação pela morte de Marielle Franco e de Anderson
Pedro Gomes, apresentado pelo BE, pelo PAN, pelo PSD, pelo PS, pelo CDS-PP e por Os Verdes e subscrito
por 1 Deputado do PCP, que vai ser lido pelo Sr. Secretário Moisés Ferreira.
Informo que também eu me associo a este voto.
O Sr. Secretário (Moisés Ferreira): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«‘O mandato de uma mulher negra, favelada, periférica, precisa estar pautado junto aos movimentos sociais,
junto à sociedade civil organizada’. Estas foram algumas das últimas palavras proferidas por Marielle Franco,
vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), na cidade brasileira do Rio de Janeiro, mulher, negra,
lésbica, ativista, defensora intransigente dos Direitos Humanos e autointitulada ‘cria da favela da Maré’, que foi
brutalmente assassinada a tiro na passada quarta-feira, dia 14 de março, no Brasil, à saída de uma sessão
pública de empoderamento das mulheres negras.
Consigo estavam Anderson Pedro Gomes, motorista do veículo, que também foi baleado e acabou por
morrer, e a assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu ao ataque.
Segundo as primeiras informações da polícia, os homicidas encontravam-se num carro que parou ao lado do
veículo da vereadora, tendo fugido após a execução. Marielle foi morta com quatro tiros na cabeça. Várias
organizações humanitárias já exigiram celeridade na investigação.
Marielle Franco era relatora da comissão de acompanhamento da intervenção federal no Rio de Janeiro e
nos últimos dias havia denunciado o assassinato de jovens negros pela polícia militar do Estado.
Marielle Franco foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com mais de 46
000 votos na sua primeira disputa eleitoral. Socióloga, feminista, militante dos direitos humanos e crítica da
recente ocupação de vastas áreas urbanas pela intervenção militar do governo federal no Rio de Janeiro,
Marielle Franco empenhou-se na luta pelos direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das
mulheres negras e dos moradores de favelas e periferias, e na denúncia da violência policial.
A Assembleia da República, reunida em Plenário, manifesta o seu pesar pelo assassinato de Marielle Franco
e de Anderson Pedro Gomes e transmite as suas condolências aos seus familiares, ao PSOL e ao povo
brasileiro, e exprime a mais veemente condenação pela violência e pelos crimes políticos e de ódio que
aumentam de dia para dia no Brasil.»
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Secretário Moisés Ferreira.
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Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 496/XIII (3.ª), que acabou de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Na sequência dos votos que acabámos de aprovar, vamos guardar 1 minuto de silêncio.
A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.
Srs. Deputados, vamos agora votar o projeto de resolução n.º 1267/XIII (3.ª) — Posição geoestratégica da
Região Autónoma dos Açores e da Região Autónoma da Madeira (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes, do PAN
e do Deputado do PS Paulo Trigo Pereirae abstenções do PS e do BE.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1316/XIII (3.ª) — Reforço da importância geoestratégica dos
Açores (PS).
Srs. Deputados, o PAN pretende que se vote, em primeiro lugar, os pontos 1 e 2 e, depois, os pontos 3 e 4.
Sendo assim, vamos começar por votar os pontos 1 e 2 do projeto de resolução.
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
Votamos agora os pontos 3 e 4.
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do PS e do CDS-PP, votos contra do
BE, do PCP e de Os Verdes e a abstenção do PAN.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1390/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, em conjunto com
Governo Regional dos Açores, tome as medidas necessárias a uma articulação política que potencie a
importância geostratégica e geopolítica daquela Região Autónoma (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD e do CDS-PP, votos contra do BE, do PCP e
de Os Verdes e abstenções do PS e do PAN.
De seguida, votamos o projeto de resolução n.º 1415/XIII (3.ª) — Pela valorização estratégica da Região
Autónoma da Madeira (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CDS-PP e do Deputado do PS Paulo Trigo
Pereira, votos contra do BE, do PCP e de Os Verdes e abstenções do PS e do PAN.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1423/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o reforço da
valorização da importância geoestratégica do arquipélago da Madeira (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes
e abstenções do BE e do PAN.
Vamos proceder à votação, na generalidade, do projeto de lei n.º 759/XIII (3.ª) — Recupera para o domínio
público a propriedade e gestão da rede básica de telecomunicações e a prestação do serviço universal de
telecomunicações (segunda alteração à Lei de Bases das Telecomunicações, Lei n.º 91/97, de 1 de agosto)
(BE).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP, votos a favor do BE e do
PAN e abstenções do PCP e de Os Verdes.
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, para anunciar que o PCP entregará uma declaração de voto
sobre o projeto de lei que acabou de ser votado.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Srs. Deputados, vamos votar o projeto de resolução n.º 1411/XIII (3.ª) — Pela defesa do interesse nacional
e controlo da Portugal Telecom (Os Verdes).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Segue-se a votação do projeto de resolução n.º 1022/XIII (2.ª) — Travar a liquidação da PT, defender os
trabalhadores e o interesse nacional (PCP).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Srs. Deputados, vamos votar o projeto de resolução n.º 911/XIII (2.ª) — Recomenda ao Governo que
desenvolva todos os esforços junto do Estado espanhol para travar a exploração de urânio em Salamanca, junto
à nossa fronteira (Os Verdes).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e do Deputado do PS Paulo Trigo Pereira e a abstenção do PS.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1397/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva todos os
esforços e diligências para que seja devidamente cumprido o Protocolo de Atuação entre o Governo da
República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha a aplicar às avaliações ambientais de planos,
programas e projetos com efeitos transfronteiriços (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1403/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo português que exija junto
do Governo espanhol a realização de um estudo de impacto ambiental transfronteiriço relativamente às minas
de urânio em Retortillo-Santidad (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos votar o projeto de resolução n.º 1405/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que, no
âmbito do Protocolo de Atuação entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha
a aplicar às avaliações ambientais de planos, programas e projetos com efeitos transfronteiriços, adote as
medidas necessárias junto do Estado espanhol com vista à suspensão de qualquer decisão final da implantação
do projeto de fábrica de urânio processado e de mineração em Retortillo-Santidad (Salamanca) (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
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Vamos, agora, votar o projeto de resolução n.º 1406/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de
medidas junto das autoridades espanholas para que seja travada a instalação da mina de urânio Retortillo-
Santidad (BE).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, de Os Verdes, do PAN e
do Deputado do PS Paulo Trigo Pereira e abstenções do PS e do PCP.
Passamos ao projeto de resolução n.º 1409/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que encete esforços para
travar a exploração de urânio em Retortillo junto do Reino de Espanha e organismos internacionais (PAN).
O PS solicita a desagregação do ponto 3, que começaremos por votar de imediato.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, de Os Verdes, do PAN e
do Deputado do PS Paulo Trigo Pereira e abstenções do PSD, do CDS-PP e do PCP.
Vamos agora votar os pontos 1 e 2 do projeto de resolução n.º 1409/XIII (3.ª).
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos agora votar o projeto de resolução n.º 1412/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
assegure o cumprimento do Protocolo de Atuação entre Portugal e Espanha, no âmbito da exploração de urânio
em Salamanca (PS).
Começaremos por votar o ponto 2.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do CDS-PP, do PCP e votos contra
do BE, de Os Verdes e do PAN.
Vamos votar os pontos 1 e 3 do projeto de resolução n.º 1412/XIII (3.ª).
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Clara Marques Mendes.
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Sr. Presidente, relativamente ao projeto de resolução n.º 1412/XIII
(3.ª), o PSD vota a favor dos pontos 1 e 3 e contra o ponto 2.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos repetir a votação, porque não pode ser a posteriori, já depois
de as votações terem terminado, que se fazem declarações sobre as votações anteriores.
Vamos, então, votar o ponto 2 do projeto de resolução n.º 1412/XIII (3.ª).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do CDS-PP e do PCP e votos contra do PSD,
do BE de Os Verdes e do PAN.
Vamos, agora, votar os pontos 1 e 3 do projeto de resolução n.º 1412/XIII (3.ª).
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
O Sr. João Torres (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. João Torres (PS): — Sr. Presidente, é para anunciar que o Grupo Parlamentar do PS apresentará
uma declaração de voto sobre os projetos de resolução a propósito da exploração mineira de urânio em
Salamanca.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
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Srs. Deputados, há agora uma série que iniciativas legislativas que, apesar de constarem do guião, não vão
ser votadas porque ainda não foram discutidas.
Vamos votar, em votação global, a proposta de resolução n.º 65/XIII (3.ª) — Aprova o Tratado entre a
República Portuguesa e o Reino de Espanha através do qual se Estabelece a Linha de Fecho das
Desembocaduras dos Rios Minho e Guadiana e se Delimitam os Troços Internacionais de ambos os Rios,
assinado em Vila Real, em 20 de maio de 2017.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, peço desculpa, mas queria apenas anunciar que, em
nome do Grupo Parlamentar do PSD, iremos apresentar uma declaração de voto sobre o conjunto de iniciativas
legislativas que acabámos de votar a propósito da exploração mineira de urânio em Salamanca.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, é apenas para dizer que a votação da proposta de
resolução n.º 65/XIII (3.ª) não pode ocorrer dado que este era o último ponto da ordem de trabalhos de hoje.
Independentemente de não ter sido atribuídos tempos, a partir do momento em que a ordem de trabalhos não
é corrida e que a Mesa não indicou nada anteriormente, não poderemos votá-la.
O Sr. Presidente: — Tem razão, Sr. Deputado.
Adiaremos esta votação para a próxima sessão em que haja votações. Dada a troca de presidência da Mesa,
embora a proposta de resolução não tivesse tempos atribuídos, não foi anunciada.
Vamos, então, passar à votação do ponto 8 do projeto de resolução n.º 1385/XIII (3.ª) – Recomenda ao
Governo a adoção de um plano de medidas de melhoria do Serviço Nacional de Saúde (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e a abstenção do PSD.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 592/XIII (2.ª) — Pela gestão pública do Centro de Reabilitação do
Norte — Joaquim Ferreira Alves (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos, agora, votar o projeto de resolução n.º 1304/XIII (3.ª) — Recomenda a gestão pública do Centro de
Reabilitação do Norte e a revisão do atual acordo com o Hospital da Prelada (BE).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
votos contra do PSD e do CDS-PP.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1263/XIII (3.ª) — Recomenda o estabelecimento da zona especial de
proteção do Centro Histórico do Porto, conforme o determinado na Lei n.º 107/2001 (BE).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e abstenções
do PSD, do PS e do CDS-PP.
Srs. Deputados, vamos agora votar o projeto de resolução n.º 1339/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a
criação da zona especial de proteção (ZEP) do Centro Histórico do Porto (PCP).
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Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e abstenções
do PSD, do PS e do CDS-PP.
Srs. Deputados, vamos votar o projeto de resolução n.º 1413/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o início
imediato do procedimento de delimitação da zona especial de proteção do Centro Histórico do Porto e de Gaia
e a extensão da zona classificada ao Centro Histórico de Gaia (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
Srs. Deputados, vamos proceder à votação final global do texto final,apresentado pela Comissão de
Economia, Inovação e Obras Públicas, relativo aos projetos de lei n.os 495/XIII (2.ª) — Segunda alteração à Lei
n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos
técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de
obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º
73/73, de 28 de fevereiro (PSD), 576/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que
aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela
elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra e os deveres que lhes são
aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro, assegurando a correta transposição da Diretiva
2005/36/CE (PAN) e 577/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime
jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e
subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra, modificando a norma referente à
qualificação dos autores de projeto (PAN).
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Sr. Presidente, para uma interpelação à Mesa.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Sr. Presidente, a interpelação é simples.
Temos, agora, para votação final global um texto apresentado pela 6.ª Comissão sobre vários projetos de lei
que têm como origem o projeto de lei n.º 495/XIII (2.ª).
Sr. Presidente, está pendente na Assembleia da República uma petição, subscrita por mais de 11 000
assinaturas, sobre esta mesma iniciativa e o processo dessa petição fechou-se antes da votação, na
especialidade, daquele diploma.
A minha pergunta vai no sentido de saber porque é que vamos encerrar um processo legislativo quando
temos uma petição subscrita por 11 000 cidadãos que ainda não foi apreciada pela Assembleia da República.
O Sr. Presidente: — Obrigada, Sr.ª Deputada.
Como sabe, as petições não travam os processos legislativos nas comissões e este texto final veio da
Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas sem qualquer reparo e, portanto, a Mesa tem de o pôr à
votação.
A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr. Presidente, peço a palavra para uma interpelação à Mesa.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
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A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr. Presidente, é apenas para dizer que, à semelhança do que fiz
aquando da discussão e votação, na generalidade, destes diplomas, queria declarar à Câmara o meu interesse
particular por ser casada com um arquiteto e, portanto, vou ausentar-me aquando da votação deste texto final.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr.ª Deputada.
Tem a palavra o Sr. Deputado António Lima Costa.
O Sr. António Lima Costa (PSD): — Sr. Presidente, é para declarar que tenho interesse particular nas
matérias que são objeto da próxima votação.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Torres.
O Sr. João Torres (PS): — Sr. Presidente, é para declarar que, apesar de não ter um interesse particular na
matéria, sou membro da Ordem dos Engenheiros.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Leite Ramos.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, não sou arquiteto mas queria dar um contributo para a
clarificação desta votação.
Aquilo que diz o Estatuto dos Deputados não é que os Deputados se ausentam ou deixem de votar, porque
isso implica a alteração da composição do Plenário da Assembleia da República.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Os Deputados devem fazer uma declaração de eventual interesse particular,
mas participam na votação, que é o que diz o artigo 27.º do Estatuto.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Muito bem. Fica à consideração de cada Deputado o procedimento.
O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Sr. Presidente, peço a palavra também para declarar o meu interesse
particular, visto ser arquiteto.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Coimbra.
O Sr. Pedro Coimbra (PS): — Sr. Presidente, é para informar a Câmara de que, apesar de ser licenciado
em Engenharia Civil, não tenho nenhum interesse particular nesta votação, pelo que votarei em consciência.
Risos do PS, do BE, do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, essa interpelação não devia ter sido feita.
Peço às Sr.as e aos Srs. Deputados para fazerem silêncio, porque dessa forma não se ouve o que os vossos
colegas querem transmitir.
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Tem a palavra a Sr.ª Deputada Fátima Ramos.
A Sr.ª Fátima Ramos (PSD): — Sr. Presidente, dado que tenho algumas dúvidas sobre a possibilidade de
votar, prefiro também declarar o meu impedimento.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, nós não estamos a discutir dúvidas nem a colocar questões, estamos
em plena votação, embora não pareça.
Tem a palavra o Sr. Deputado Maurício Marques.
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Sr. Presidente, gostaria de informar a Câmara de que tenho interesse
particular na matéria em causa.
O Sr. Presidente: — Fica registado também, Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Vilhena.
O Sr. Luís Vilhena (PS): — Sr. Presidente, gostaria de fazer uma declaração de interesses. Não tenho
nenhum familiar que seja engenheiro, engenheiro técnico, agente técnico de arquitetura ou de engenharia, sou
arquiteto, licenciado pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa e do que se trata aqui é de interesse público, não
estando, portanto, em causa qualquer interesse particular.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já foi explicitada pelo Sr. Deputado João Oliveira a lógica destas
declarações, que não é propriamente esta, mas cada um age em consciência.
Tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Pires.
O Sr. Hugo Pires (PS): — Sr. Presidente, também queria declarar que tenho interesse particular nesta
matéria.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado António Topa.
O Sr. António Topa (PSD): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito. Tenho interesse pessoal nesta matéria.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, depois de todas estas declarações, estamos em condições de votar,
em votação final global, o texto final,apresentado pela Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas,
relativo aos projetos de lei n.os 495/XIII (2.ª) — Segunda alteração à Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova
o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração
e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra, que não esteja sujeita a legislação
especial, e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro (PSD), 576/XIII
(2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a
qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela
fiscalização de obra e pela direção de obra e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73,
de 28 de fevereiro, assegurando a correta transposição da Diretiva 2005/36/CE (PAN) e 577/XIII (2.ª) — Procede
à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação
profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de
obra e pela direção de obra, modificando a norma referente à qualificação dos autores de projeto (PAN).
Quero também afirmar que eu próprio votarei contra o texto final.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PCP, de Os Verdes e do PAN, votos contra
do BE, de 42 Deputados do PS (Alexandre Quintanilha, Ana Passos, Ascenso Simões, Carla Sousa, Catarina
Marcelino, Constança Urbano de Sousa, Edite Estrela, Elza Pais, Fernando Anastácio, Fernando Rocha
Andrade, Ferro Rodrigues, Gabriela Canavilhas, Helena Roseta, Hugo Pires, Isabel Alves Moreira, Isabel
Santos, João Rodrigues, João Soares, Jorge Gomes, Jorge Lacão, José Miguel Medeiros, José Rui Cruz, Luís
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Graça, Luís Vilhena, Maria Antónia Almeida Santos, Maria Augusta Santos, Maria da Luz Rosinha, Marisabel
Moutela, Miguel Coelho, Norberto Patinho, Nuno Sá, Palmira Maciel, Paulo Trigo Pereira, Pedro Bacelar
Vasconcelos, Pedro do Carmo, Ricardo Leão, Ricardo Bexiga, Rosa Albernaz, Renato Sampaio, Rui Riso,
Sandra Pontedeira e Tiago Barbosa Ribeiro) e de 7 Deputados do CDS-PP (Ana Rita Bessa, António Carlos
Monteiro, Assunção Cristas, Filipe Anacoreta Correia, Isabel Galriça Neto, João Pinho de Almeida e Telmo
Correia) e abstenções do PS e do CDS-PP.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, gostaria apenas de fazer uma precisão relativamente
ao anúncio do resultado da votação: o Grupo Parlamentar do Partido Socialista não teve uma posição oficial de
votação, no sentido em que deu liberdade de voto aos Srs. Deputados.
Assim, solicitávamos que fosse identificado o número de Srs. Deputados do Partido Socialista que votou
contra e o número de Srs. Deputados do Partido Socialista que votou abstenção.
Essa é, efetivamente, a forma mais rigorosa de dar nota do sentido de voto do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, teremos de ver quantos Deputados do Partido Socialista estavam
registados.
Vozes do PS: — Não, não!
O Sr. Presidente: — Mas querem que eu diga os nomes dos Deputados que se abstiveram? É um absurdo,
não é? Basta dizer os nomes dos Deputados que votaram contra, porque os que se abstiveram são os outros,
não vale a pena estar a fazer contas.
Ficou claro que não houve uma posição oficial do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, na medida em
que houve quem votasse contra e quem se abstivesse.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, gostaria de informar que pretendemos fazer uma declaração
de voto oral imediatamente antes do final dos trabalhos.
O Sr. Presidente: — Com certeza, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, também peço a palavra para solicitar a entrega à Mesa
e a distribuição de uma declaração de voto escrita sobre esta matéria.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Sr.ª Deputada Isabel Moreira, pediu a palavra para que efeito?
Peço a todos os Srs. Deputados que tomaram uma posição individual para não fazerem todos declaração de
voto, senão não saímos daqui.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Não é isso, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — É só uma questão de bom senso.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
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A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, várias Deputadas e vários Deputados do PSD saíram
da Sala por entenderem que tinham um interesse particular.
Protestos do PSD.
Como foi referido pelo Sr. Deputado João Oliveira, esse facto não faz o menor sentido e contraria as normas
que nos regem.
Nesse sentido, peço que seja feita uma votação nominal.
Aplausos de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, por favor. As votações nominais são pedidas antes de se iniciar o
processo de votação. Não se pode abrir essa exceção neste momento.
Como a Sr.ª Deputada Isabel Moreira sabe, em muitas votações há pessoas que, depois de ser visto o
quórum, saem. Não é que seja uma prática correta, mas acontece. Portanto, não vamos abrir aqui uma exceção
para Deputados do PSD que até anunciaram a sua saída.
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Sr. Presidente, peço desculpa, mas gostaria de fazer uma interpelação à
Mesa.
O artigo 98.º, n.º 4, do Regimento diz o seguinte: «Para além das situações em que é exigível maioria
qualificada, a votação pode ser sujeita a contagem, realizando-se por meio eletrónico nos casos previamente
estabelecidos pela Conferência de Líderes…» — que não é o caso — «… ou, quando a Assembleia o delibere,
a requerimento de, pelo menos, 10 Deputados.»
Os Srs. Deputados do PS que votaram contra solicitam uma contagem dos votos, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Tem de haver um requerimento de, pelo menos, 10 Deputados. Se houver um
requerimento subscrito por 10 Deputados, eu ponho-o à votação, que é o que diz o Regimento, Sr.ª Deputada
Helena Roseta.
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Sr. Presidente, eu disse que os Srs. Deputados do PS que votaram contra
farão um requerimento. Vamos já apresentá-lo à Mesa.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, considera-se que o requerimento deu entrada na Mesa, mas tem de ser
votado. E só se o requerimento for aprovado é que haverá uma votação nominal.
Portanto, vamos votar o requerimento feito pela Sr.ª Deputada Helena Roseta em nome dos Deputados que
votaram contra o texto final.
Protestos do PSD.
Srs. Deputados, peço para não complicarem o que é óbvio.
O Sr. Jorge Lacão (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Lacão (PS): — Sr. Presidente, nesta interpelação à Mesa sobre a ordem de trabalhos, gostaria
de dizer o seguinte: na verdade, fui um dos Deputados que votaram contra, mas entendo que um requerimento
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para contagem nominal necessariamente tem de ser apresentado antes da votação e, neste caso, a votação já
teve lugar.
Aplausos de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente: — Foi isso que comecei por dizer à Sr.ª Deputada Helena Roseta, mas acho que nestas
situações mais vale confirmar quais são as maiorias que estão a favor das decisões da Mesa.
Esta questão é suficientemente complexa e, portanto, a decisão da Mesa é no sentido de que deve anunciar-
se o resultado da votação e não se proceder a mais nada.
Pergunto quem está em desacordo com a Mesa e quem se abstém.
Pausa.
A posição da Mesa foi aprovada.
Vamos continuar os trabalhos.
O Sr. Deputado Telmo Correia pediu há pouco a palavra. Peço desculpa por ainda não a ter dado, mas faça
favor.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não tem importância, Sr. Presidente.
Gostaria apenas de dizer, de uma forma breve, que os Deputados do CDS exerceram também liberdade de
voto e eu queria, não em nome da bancada mas em meu nome pessoal, bem como dos Srs. Deputados
Assunção Cristas, João Almeida, Ana Rita Bessa, Filipe Anacoreta Correia, António Carlos Monteiro e Isabel
Galriça Neto, ou seja, os sete Deputados que votaram contra, anunciar que apresentaremos, por escrito, uma
declaração de voto.
O Sr. Presidente: — É, portanto, o anúncio de uma declaração de voto. Fica registado, Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito. Em meu nome pessoal e em nome de
um grupo de Deputados do Partido Socialista que se abstiveram nesta votação, apresentaremos uma declaração
de voto.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Vilhena.
O Sr. Luís Vilhena (PS): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito.
Em meu nome e em nome de um conjunto de Deputados apresentaremos uma declaração de voto.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Joaquim Raposo.
O Sr. Joaquim Raposo (PS): — Sr. Presidente, é para informar que, em meu nome pessoal, apresentarei
uma declaração de voto em relação a esta matéria.
O Sr. Presidente: — Fica registado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Emídio Guerreiro.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Sr. Presidente, para o mesmo efeito.
O Grupo Parlamentar do PSD entregará também uma declaração de voto sobre esta matéria.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
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O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, é para o mesmo efeito.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Srs. Deputados, antes de passarmos à declaração de voto oral solicitada pelo Grupo Parlamentar do PCP,
informo que estão em aprovação os n.os 43 a 53 do Diário, respeitantes às reuniões plenárias dos dias 1, 2, 7,
8, 9, 14, 15, 21, 22, 23 e 28 de fevereiro.
Submetidos à votação, foram aprovados por unanimidade.
De seguida, o Sr. Secretário vai dar conta de um parecer da Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a solicitação do Tribunal Judicial da
Comarca de Lisboa, Processo n.º 2949/15.7TDLSB, a Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdade e Garantias, decidiu emitir parecer no sentido de autorizar o Sr. Deputado
João Soares (PS) a prestar depoimento, por escrito, como testemunha, no âmbito dos referidos autos.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.
Pausa.
Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Agora, sim, têm lugar as declarações de voto orais relativas à votação do texto final sobre os projetos de lei
n.os 495, 576 e 577/XIII (2.ª).
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: A norma aprovada sobre a elaboração de
projeto não se reporta à questão geral da elaboração ou não de projetos de arquitetura por outros profissionais
que não arquitetos, trata, sim, da situação de um conjunto mais restrito de engenheiros civis a quem o Provedor
de Justiça deu razão, recomendando à Assembleia a alteração da lei.
Quando a Assembleia debateu a petição destes engenheiros civis, com as iniciativas do PSD e do PAN, o
PCP reafirmou sempre dois princípios fundamentais nesta discussão. Primeiro, devemos apontar um caminho
e um objetivo de consagrar e cumprir o direito à arquitetura, o que passa por garantir que a arquitetura é
realmente exercida apenas por arquitetos. Segundo, o caminho a percorrer para esse objetivo não deve ignorar
a situação concreta daqueles profissionais que o Estado sempre reconheceu e certificou como habilitados a
elaborar projeto, mas não alargando esse âmbito.
Quando os projetos de lei baixaram à comissão para o debate em sede de especialidade vários partidos
apresentaram propostas de alteração com soluções alternativas para o texto. A proposta do PCP teve, nesta
matéria, os seguintes objetivos fundamentais: primeiro, não permitir que se alargasse o âmbito de intervenções
em que era possibilitada a elaboração de projeto por estes engenheiros; segundo, não remeter, genericamente,
a uma diretiva, antes colocar na norma em causa a referência expressa ao universo de pessoas em causa, os
licenciados num daqueles quatro cursos, matriculados até 1987; terceiro, não alterar a regra, mas sim a exceção,
na transitoriedade de uma geração determinada; e, finalmente, colocar como condições, de forma cumulativa, a
licenciatura em causa, o ano do seu início e a inscrição na respetiva Ordem.
A proposta do PCP foi, portanto, no sentido de alterar e corrigir, na especialidade, a formulação das iniciativas
do PSD e do PAN e foi aprovada por unanimidade. Só duas semanas depois do passado dia 8 foi repetida a
votação, tendo-se verificado a alteração de posições do PS e do BE,…
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O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — É verdade!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … que passaram de voto a favor para voto contra.
A posição de voto e a intervenção do PCP é prova da sua postura coerente e construtiva, procurando, com
bom senso, contribuir para corrigir e evitar erros no quadro dos princípios que sempre afirmou.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, não havendo mais Deputados inscritos para proferirem declarações
de voto, passamos ao ponto cinco da nossa agenda, que consta da apreciação da petição n.º 191/XIII (2.ª) —
Criação do Estatuto do Cuidador Informal da Pessoa com Doença de Alzheimer e outras demências ou
patologias neurodegenerativas e criação do Dia Nacional do Cuidador (Grupo de Cuidadores Informais de
Doentes de Alzheimer e outras demências similares) juntamente com os projetos de resolução n.os 1400/XIII
(3.ª) — Recomenda ao Governo que considere as demências e a Doença de Alzheimer uma prioridade social e
de saúde pública, que elabore um plano nacional de intervenção para as demências, que adote as medidas
necessárias para um apoio adequado a estes doentes e suas famílias e que crie e implemente o Estatuto do
Cuidador Informal (CDS-PP) e 1408/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a adoção de medidas de apoio aos
cuidadores informais (PAN) e, na generalidade, com os projetos de lei n.os 801/XIII (3.ª) — Cria o Estatuto do
Cuidador Informal e reforça as medidas de apoio a pessoas dependentes (procede à terceira alteração ao
Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de junho, e à décima terceira alteração ao Código do Trabalho) (BE) e 804/XIII
(3.ª) — Reforça o apoio aos cuidadores informais e às pessoas em situação de dependência (PCP).
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Isabel Galriça Neto.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaríamos de saudar os
peticionários e de dizer que, obviamente, este não é um debate menor e que, pelo facto de o fazermos a seguir
às votações, não perde toda a sua relevância.
O que discutimos são questões essenciais em torno da demência, mas convirá lembrar que, não apenas em
torno desta patologia crónica, a demência, que é uma patologia que se estima que atinja, hoje, mais de 200 000
portugueses, no nosso País, em cada 1000 pessoas, cerca de 20 têm demência.
Para além do impacto que a demência tem nos seus portadores, nomeadamente em pessoas idosas, regista-
se um forte impacto nas famílias e nos serviços de saúde, um impacto que é claramente social e económico.
Falamos de uma prioridade social, de uma prioridade de saúde pública, como, aliás, o CDS há anos vem
dizendo.
Temos alertado reiteradas vezes para esta realidade, temos tido múltiplas iniciativas para chamar a atenção
para esta situação, para a necessidade de respostas adequadas a estas pessoas com doença crónica e
progressiva, vincando que elas não podem ser olhadas como pessoas ou doentes de segunda, não podem, nem
elas nem os seus cuidadores, ver as suas necessidades ignoradas.
Ao fim de dois anos e meio de governação, o que tivemos de respostas do Governo nesta matéria? Criou-se
um grupo de trabalho — mais um, dos muitos famosos —, cujos resultados se desconhecem e sem
desenvolvimentos significativos. Temos recomendações deste Parlamento para a criação do Estatuto do
Cuidador, e quero aqui lembrar que não apenas para as demências, não apenas para os idosos, mas para
pessoas de todas as idades e com múltiplas patologias crónicas. Temos essas recomendações aprovadas
desde 2016, que aguardam, penosamente, a implementação por parte deste Governo, que tem feito orelhas
moucas a esta matéria e, portanto, não se tem avançado.
O CDS tem feito propostas concretas para a proteção de idosos mais vulneráveis, para a proteção de pessoas
com demências, que têm sido lamentavelmente chumbadas nesta Casa.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o facto é que estamos muito atrasados e entendemos que o Governo
não tem olhado para esta realidade com a devida prioridade política, com a responsabilidade que lhe é exigida.
Portanto, o CDS continuará a defender, como tem feito até aqui, um acompanhamento rigoroso e humanizado
para todas as pessoas com doença crónica e progressiva, para todas as pessoas com demência e para os seus
cuidadores.
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O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de terminar.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente.
Hoje, apresentamos um projeto com um conjunto de propostas, nomeadamente a criação do plano nacional
das demências, a necessidade de otimizar o percurso de cuidados a estas pessoas, particularmente no fim de
vida. Portanto, continuaremos a pugnar pelos direitos destas pessoas e a exigir ao Governo as respostas
concretas que se impõem.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PAN congratula os mais de 8000
peticionários que trouxeram este tema a debate.
Os cuidadores informais desempenham um papel essencial de promoção da saúde e bem-estar da pessoa
que cuidam, lidando com uma diversidade de esforços, tensões e tarefas que podem conduzi-lo à exaustão e
que contribuem para a diminuição da sua qualidade de vida, com maior risco de pobreza, isolamento, problemas
de saúde, físicos e mentais, e dificuldades significativas em permanecerem incluídos no mercado de trabalho.
Assim, não tendo estes qualquer proteção legal, propomos a criação de um estatuto com direitos específicos
em matéria fiscal e laboral, consagrando-se a existência de faltas e licenças próprias e assegurando-se o direito
ao descanso do cuidador. Deve ainda ser dado apoio permanente ao cuidador para prestação de cuidados à
pessoa a seu cargo, bem como apoio psicossocial e sessões de formação e informação.
A orientação das políticas de saúde e sociais vai no sentido de privilegiar a permanência da pessoa
dependente no domicílio, através da criação de serviços de proximidade e da capacitação das famílias
cuidadoras, pelo que é necessário criar reais condições e estabelecer direitos para que os cuidadores informais
possam fazer este trabalho.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A minha primeira palavra é para
saudar as cuidadoras e os cuidadores informais que se encontram presentes nas galerias a assistir a esta
sessão.
Fui relator da vossa petição, ao longo dos últimos meses encontrámo-nos e conversámos muitas vezes,
dissemos-vos que íamos assumir a nossa responsabilidade e apresentar um projeto de lei para criar o Estatuto
do Cuidador Informal. Aqui estamos, o Bloco de Esquerda apresentou um projeto de lei que cria o estatuto e
que reforça o apoio a pessoas dependentes.
Como se disse, há em Portugal cerca de 800 000 pessoas que prestam cuidados informais. São, quase
sempre, familiares, na sua esmagadora maioria são mulheres e fazem um trabalho que não é remunerado nem
sequer reconhecido. Para agravar o problema, existem muito poucos cuidados formais e uma sobrecarga das
famílias, para quem se atiram todas as responsabilidades. Muitas das pessoas que têm alguém ao seu cuidado
acabam por ter dificuldade em conciliar esses cuidados com o trabalho e, também por isso, ficam mais expostas
à pobreza e também a depressões, ao stress e à exaustão.
Os e as que que hoje aqui estão cuidam de outros, mas é preciso também que o Estado, que a comunidade
cuide dos cuidadores.
Há quase dois anos, foram aprovadas várias recomendações para que o Governo criasse um Estatuto do
Cuidador Informal. O Governo encomendou um estudo, mas ainda não concretizou nenhuma medida. Passados
dois anos, há partidos, como o CDS ou o PAN, que propõem que se volte a recomendar exatamente o mesmo.
Por nós, já chega de recomendações, agora é tempo de fazer a lei e de o Parlamento assumir as suas
responsabilidades.
Aplausos do BE.
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Primeiro, queremos que se reforce o apoio social às pessoas dependentes e as respostas em termos de
cuidados formais.
Em segundo lugar, queremos que os cuidadores tenham condições para conciliar os cuidados com a vida
profissional, prevendo licenças, faltas para assistência, redução do tempo de trabalho e alterações à legislação
laboral.
Em terceiro lugar, propomos que a prestação de cuidados informais seja reconhecida quando se calcula a
pensão de velhice, contabilizando para a carreira contributiva a prestação de cuidados. Com o Estatuto do
Cuidador Informal definimos direitos e deveres dos cuidadores e um plano de cuidados, de capacitação e de
acesso à informação, que tem de envolver e respeitar a decisão da pessoa cuidada.
Queremos também concretizar o direito ao descanso dos cuidadores: por cada mês de prestação de
cuidados, pelo menos quatro dias de descanso, pelo menos 11 dias por ano de férias consecutivas, garantidas
pela entrada em cena de cuidadores formais que prestem cuidados domiciliários ou pela possibilidade de a
pessoa cuidada ser internada numa unidade da Rede Nacional de Cuidados Integrados Continuados.
Não vos prometemos o paraíso na Terra, mas entendemos que é preciso começar a reconhecer os cuidados
e iniciar agora o processo de especialidade desta lei.
Pelos contactos que estabelecemos com os outros partidos, percebemos que, se tivesse sido hoje a votação,
o nosso projeto de lei teria sido aprovado. Cuidar é uma demonstração de generosidade e de atenção ao outro,
mas tem custos pesados, sobretudo para quem o faz sem apoio. E tem de ser uma escolha.
Por isso, estamos abertos a fazer esta lei, estamos disponíveis para trabalhar aqui, no Parlamento, com o
contributo de todos, mas não queremos perder mais tempo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado
João Dias, que gostaria de cumprimentar pela sua primeira intervenção em Plenário.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.
Sendo esta a minha primeira intervenção no Plenário, gostaria também de começar por cumprimentar o Sr.
Presidente e os Srs. Deputados.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro ligar, gostaríamos de saudar os peticionários que aqui
se encontram, que, com um esforço que é de enaltecer, conseguiram trazer a debate um tema que preocupa
particularmente o PCP e que em muito afeta a vida de milhares de cuidadores.
Queria também lembrar o importante papel desempenhado pelos cuidadores informais na garantia da
qualidade de vida das pessoas cuidadas. Os cuidadores são gente que cuida de gente, estão sujeitos a uma
enorme sobrecarga física e psicológica que, em muitos casos, leva à exaustão e ao esgotamento.
Com o intuito de responder aos problemas dos cuidadores informais, o PCP tem tido uma intervenção
continuada sobre esta matéria, tem acompanhado a discussão sobre a necessidade de dar mais atenção aos
cuidadores informais e às situações familiares e sociais envolventes, bem como tem intervindo
institucionalmente, com propostas concretas. Entendemos que o Estado não se pode descartar das suas
responsabilidades, designadamente nas funções sociais do Estado, especialmente, no caso concreto, da saúde
e da segurança social. Entendemos que importa construir uma ampla resposta pública que, apoiando pessoas
em situação de dependência, garanta, simultaneamente, um suporte aos cuidadores informais. Por isso, no que
se refere aos projetos de resolução aqui apresentados, há propostas que nos colocam algumas reservas.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Como já afirmámos, os cuidadores informais estão sujeitos a uma grande
sobrecarga física e psicológica, porém deparam-se com a falta de mecanismos e apoios, designadamente
públicos, que minimizem tais impactos. Com o objetivo de minimizar as consequências do exercício da função
de cuidador informal, e porque é necessário reforçar os apoios e a prestação aos cuidadores informais, o PCP
apresenta um projeto de lei que, entre outros aspetos, reforça o apoio psicossocial, o apoio domiciliário e a
proteção social, bem como a formação e a capacitação dos cuidadores informais.
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Assim, o presente projeto de lei estabelece medidas de apoio aos cuidadores informais e às pessoas em
situação de dependência; preconiza uma rede de apoio aos cuidadores informais com base nos serviços
públicos, designadamente nas áreas da saúde, trabalho e segurança social; promove a formação,
aconselhamento e capacitação dos cuidadores, articulando-se com as autarquias locais, no âmbito das suas
competências; e reconhece aos cuidadores informais o direito ao apoio psicossocial, visando, designadamente,
minimizar o desgaste físico e psicológico e os impactos sociais decorrentes das suas funções.
Esta é uma iniciativa que bem revela o empenho do PCP na defesa de todos aqueles que são cuidadores
informais e de todos os que recebem os seus cuidados.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helga Correia, do Grupo
Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Helga Correia (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, cumprimento os
milhares de peticionários que, no exercício da sua cidadania, trouxeram novamente à discussão a criação do
Estatuto do Cuidador Informal. E, analisando o objeto da petição n.º 191/XIII (2.ª), podemos concluir que é
consensual a preocupação em torno do tema hoje em debate.
Com o aumento da longevidade, surgem novos desafios e problemáticas, nomeadamente as demências, que
necessitam de acompanhamento e nos colocam dependentes dos cuidados de outra pessoa e às quais o Estado
tem de ser capaz de dar uma resposta.
Os cuidadores informais não são profissionais, são voluntários que, de forma disponível, benévola, silenciosa
e solidária, se entregam a cuidar de outra pessoa. Para eles um profundo reconhecimento da minha parte e da
parte do Grupo Parlamentar do PSD. Para eles o ato de cuidar é um ato de amor, substituindo-se ao Estado
quando este não assume o papel social. Nesse sentido, cumpre ao Estado reconhecer o papel essencial
desenvolvido por estas pessoas.
O Grupo Parlamentar do PSD teve oportunidade de apresentar, em 2016, propostas legislativas muito
concretas e objetivas de apoio aos cuidadores informais e a aprovação do seu estatuto. Muitas delas aparecem
agora consubstanciadas nas propostas hoje em discussão. E deixo alguns exemplos: as deduções fiscais em
sede de IRS; a disponibilidade de informação, formação e capacitação dos cuidaddores; a promoção da
articulação entre as redes de cuidados primários continuados, garantindo também o apoio ao internamento
temporário de pessoas dependentes para descanso do cuidador; a promoção do teletrabalho.
Importa, Sr.as e Srs. Deputados, compreender e reconhecer os novos desafios e, de forma séria, debater e
criar respostas na área laboral que permitam encontrar soluções em sede de concertação social, sempre no
respeito pelos direitos e deveres dos trabalhadores e empregadores.
Sr.as e Srs. Deputados, conscientes de que o ato de cuidar é um ato desgastante para o cuidador, não
podemos esquecer os direitos das pessoas cuidadas e da sua autonomia enquanto pessoa. É necessário criar
soluções e reconhecer o papel social inestimável dos cuidadores informais e, nesse sentido, estamos
disponíveis e continuaremos a trabalhar na construção de soluções legislativas efetivas.
O Grupo Parlamentar do PSD entende que esta é uma matéria de grande importância e enorme
sensibilidade. Para o PSD, as pessoas estão acima de tudo e de qualquer interesse político ou de qualquer
calendário político.
Para nós, PSD, importa construir uma legislação capaz de abarcar todos estes desafios e dar as respostas
concretas. É o que entendemos fazer e vamos continuar a fazer.
Podem contar connosco para fazer parte de uma solução para um grande problema.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Soares, do Grupo Parlamentar
do PS.
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O Sr. Luís Soares (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Queria começar esta minha intervenção
por saudar, naturalmente, os peticionários, que aqui trazem, mais uma vez, a esta Câmara uma matéria que,
depois de todas as intervenções que me antecederam, posso concluir que não causa qualquer divisão partidária.
Aliás, acrescentaria que há um consenso muito generalizado na sociedade portuguesa relativamente à
importância do papel dos cuidadores informais. Mas também gostaria de registar que se há partido que, ao longo
da sua história, e muito particularmente nestes últimos dois anos, tem defendido a relevância do papel dos
cuidadores informais, esse partido é o Partido Socialista.
Fizemo-lo quando aqui foi aprovada uma recomendação ao Governo para a criação do Estatuto do Cuidador
Informal, mas fazemo-lo também com ações em concreto do Governo.
Quando o Governo investe numa rede de suporte social àqueles que mais precisam, ancorada nas unidades
de cuidados continuados, nas equipas que prestam ao domicílio cuidados continuados, nas estruturas
residenciais seniores, nos serviços de apoio domiciliário, nos centros de dia, nos centros de noite, o Governo
também está a investir nos cuidadores informais.
Quando o Governo alarga as respostas ao nível da pediatria e da demência nas equipas de cuidados
continuados está também a investir nos cuidadores informais.
Há, naturalmente, uma pergunta que se impõe: será que todo o esforço, todo o empenho da sociedade,
coletivamente, é suficiente? A resposta é simples: não. Devemos prosseguir? Sim, devemos prosseguir. E
porque é que devemos prosseguir? Não devemos fazê-lo apenas por simpatia relativamente aos cuidadores
informais, muito menos devemos prosseguir para ganhar a sua simpatia. Devemos fazê-lo, sobretudo, porque é
justo reconhecer o papel que os cuidadores informais têm relativamente àqueles que mais deles precisam.
É também por essa razão que devemos hoje todos falar claro. O Partido Socialista está hoje, como esteve
no passado e como tem estado nos últimos dois anos, disponível para mandatar o Governo para prosseguir as
boas políticas que tem posto em prática. É essa a nossa missão e é isso que, naturalmente, continuaremos a
fazer, sem criar falsas expectativas, mas, sobretudo, fazendo um trabalho na especialidade que permita, desde
logo, quantificar quanto custam, efetivamente, estas medidas.
O Partido Socialista — os partidos que apresentam estas propostas não o fizeram — está hoje disponível
para o fazer na especialidade e estamos certos de que esse trabalho é fundamental para continuar um caminho
que se quer sem engulhos, sem retornos, sem andar para trás e que, naturalmente, continue a valorizar o papel
dos cuidadores informais.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, não havendo mais inscrições para intervenções sobre esta matéria,
vamos passar ao ponto seguinte, que consta da apreciação da petição n.º 253/XIII (2.ª) — Solicitam a criação
de um regime de exceção no acesso à reforma para os professores (Maria Manuela Jesus Ferreira Alves e
outros) juntamente com os projetos de resolução n.os 1396/XIII (3.ª) — Propõe um regime transitório para a
aposentação de professores e educadores, com vista a criar justiça no regime de aposentação (Os Verdes),
1402/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que promova o estudo e a posterior abertura de uma negociação para
um regime especial de aposentação para educadores de infância e professores do ensino básico e secundário
(CDS-PP) e 1407/XIII (3.ª) — Valorização das longas carreiras contributivas e consideração de regimes de
aposentação relativos a situações específicas, incluindo a docência (PCP).
Para apresentar o projeto de resolução de Os Verdes, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os Verdes gostariam de
começar por saudar os subscritores da petição n.º 253/XIII (2.ª), que chamam, mais uma vez, a atenção da
Assembleia da República para as condições de ensino no nosso País e, particularmente, para as condições dos
docentes, reconhecendo que existe, de facto, um envelhecimento do corpo docente e que estes professores
estão sujeitos a níveis de exaustão bastante elevados. De resto, há estudos que reconhecem isso perfeitamente.
Estamos, pois, a falar de uma profissão de efetivo desgaste, físico e psicológico.
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Esta é a realidade. E temos duas hipóteses: ou fechamos os olhos a esta realidade ou agimos em
conformidade, no sentido, até, de garantir a dignidade destes professores, mas também de garantir as melhores
condições de ensino a todos os alunos e, portanto, ao bem-estar de toda a comunidade escolar.
É justamente no sentido de ser pró-ativo e dar uma resposta concreta que Os Verdes vêm hoje reapresentar
o seu projeto de resolução, que propõe um regime transitório para a aposentação de professores e educadores,
com vista a criar justiça nesse regime de aposentação.
Reforço a ideia da reapresentação do projeto porque, de facto, já o apresentámos e discutimos nesta
Legislatura, pese embora noutra sessão legislativa, e este projeto foi chumbado. E aquilo que Os Verdes hoje
vêm reclamar é uma maior reflexão por parte de todos os grupos parlamentares sobre a necessidade de darmos
uma resposta, a efetiva resposta que este projeto acaba por dar e, portanto, no sentido de refletirem sobre a
vossa posição em relação a esta matéria, para que possamos dar uma resposta efetiva àquilo que estes
peticionários colocam à Assembleia da República.
Assim, Os Verdes vêm apresentar como proposta uma recomendação ao Governo para que se dê início a
negociações com vista à criação de um regime de aposentação de professores e educadores, com o único
requisito dos 36 anos de serviço e respetivos descontos e, por outro lado, enquanto isso não acontece, que se
crie de imediato, um regime transitório que possibilite a aposentação voluntária de docentes e educadores com
40 ou mais anos de serviço e descontos.
Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, estamos convictos de que é urgente a adoção de um regime de
aposentação adequado e justo, que tenha em conta todas estas questões e que seja visto como uma
necessidade de proteger a dignidade, como referi, de inúmeros professores e de garantir uma renovação
geracional indispensável, bem como de gerar melhores condições de aprendizagem para os alunos.
É justamente nesse sentido que Os Verdes apresentam este projeto de resolução.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita, do Grupo
Parlamentar do PCP.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP começa por cumprimentar os
mais de 19 000 subscritores da petição n.º 253/XIII (2.ª), que solicitam a criação de um regime de exceção no
acesso à reforma para os professores.
Não é a primeira vez que o PCP traz à discussão a necessidade de valorização das longas carreiras
contributivas, bem como a necessidade de consideração de regimes de aposentação relativos a situações
específicas, como no caso da docência. Temos desde sempre defendido que a criação de um regime de
aposentação o mais abrangente possível, de modo a que não se criem injustiças, é uma tarefa exigente e
complexa, mas é também justa e não pode continuar a ser adiada. Por isso, temos defendido a possibilidade de
antecipação da idade de acesso à pensão de velhice, sem penalizações, para todos os trabalhadores com 40
anos de contribuições. Mas, mais: defendemos igualmente que seja considerada a aplicação de regimes
específicos de aposentação, como no caso de professores e educadores, havendo uma prévia avaliação dos
impactos de medidas tendentes à sua concretização, bem como de abertura dos procedimentos negociais
respetivos.
É, de facto, reconhecido o extremo desgaste que estas profissões têm e por inúmeras vezes o temos
discutido aqui, na Assembleia da República, mas tarda serem tomadas medidas concretas que resolvam esta
situação.
O PCP há muito que tem proposto que se proceda a uma avaliação do impacto que a eliminação dos regimes
especiais de aposentação teve no funcionamento dos serviços públicos. Mas, pasme-se, esta proposta foi
sempre rejeitada por PSD, CDS e PS. Por isso, é no mínimo curioso ver a entrada de um projeto de resolução
do CDS a recomendar um estudo e posterior abertura de negociação para a criação de um regime especial de
aposentação, pois quando estiveram no Governo anterior não só não resolveram o problema, como pioraram, e
muito, a situação dos professores e educadores, de norte a sul do País, nem nunca estiveram, de facto,
interessados em conhecer os reais impactos que a alteração das regras teve, quer na vida dos trabalhadores,
quer também nos próprios serviços públicos.
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Mas PS, PSD e CDS têm agora a oportunidade, novamente, de se definirem:
se votam ao lado das justas aspirações dos trabalhadores ou se preferem trilhar em conjunto um caminho que
apenas aprofunda os impactos de décadas de política de direita.
Quanto ao PCP, não temos qualquer dúvida que o rumo de uma política alternativa que se exige implica levar
longe, mas muito mais longe, a valorização das longas carreiras contributivas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de resolução do CDS-PP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ilda
Araújo Novo.
A Sr.ª Ilda Araújo Novo (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, começo por cumprimentar os 19 676
subscritores desta petição na pessoa da sua primeira peticionária, Maria Manuela Alves.
O teor da petição suscita, uma vez mais, tudo o que sobre esta matéria temos dito e pleiteado
sistematicamente, e que, aliás, consta da exposição de motivos do projeto de resolução que apresentámos.
Assim, a aposentação dos educadores de infância e dos docentes do ensino básico e secundário é uma
questão delicada e complexa que merece estudo e soluções. O Conselho Nacional de Educação afirma — e
cito — «num quadro de acrescidas dificuldades e grande complexidade, todos os docentes estão sujeitos a um
conjunto complexo de tensões, exigências e constrangimentos que decorrem de variados fatores, de entre os
quais se destacam a ambiguidade estrutural do seu Estatuto, a multiplicidade de funções e tarefas e as múltiplas
e exigentes expectativas que a sociedade tem sobre o seu desempenho».
Contudo, o envelhecimento médio dos profissionais docentes é notório em Portugal. Segundo a Associação
Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, o aumento da idade de reforma e o número residual
de professores contratados que ingressam na carreira levam a que a média de idade dos docentes seja cada
vez mais elevada, havendo por isso vantagem na renovação gradual do corpo docente com a introdução de
professores mais jovens no sistema, uma vez que muitas das nossas escolas possuem um corpo docente
estabilizado, mas desgastado e envelhecido.
O equilíbrio etário na classe docente é, pois, critério significativo na relação pretendida entre a experiência e
a novidade que devem coexistir numa instituição educativa, devendo ser considerado o elevado nível de
envelhecimento e a necessidade de renovar o corpo docente e assegurar a transmissão e renovação do
conhecimento e da cultura profissionais.
No CDS não há dúvidas de que se trata de matéria indiscutivelmente merecedora de reflexão, que exige
consenso e em que urge uma decisão.
É oportuno relembrar e salientar que, na sequência de reuniões entre o Ministério da Educação e os
sindicatos, em junho do ano passado, foi assumido um compromisso relativamente à aposentação, e cito: «Não
estando ainda reunidas as condições políticas e orçamentais para assegurar, neste momento, qualquer regime
de aposentação antecipada, específico para a carreira docente, compromete-se o Ministério da Educação a
garantir, nesta matéria, um acompanhamento próximo (…) de forma a assegurar, para os trabalhadores
docentes, o paralelismo de eventual tratamento diferenciado».
Protestos de Os Verdes e da Deputada do PCP Ana Mesquita.
O Governo, através do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, veio, a propósito, lembrar
a homogeneização dos sistemas do regime convergente com o regime geral da segurança social, dizendo que
pretende assegurar um tratamento igual, pautado pelas mesmas regras. Mas, salvo o devido respeito, não se
devem pôr no mesmo plano dos professores aqueles que têm a sorte de poder desligar o computador, fechar a
porta da repartição e ir descansadamente para casa trocar canais de televisão.
Para os professores, todos os dias são segunda-feira.
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A docência no ensino não superior é exercida na confluência de múltiplas ações e interações (alunos, pais,
autoridades educativas e instituições da comunidade) e implica o desempenho de um intenso e permanente
trabalho intelectual, social, cultural e administrativo.
É de evidente e inteira justiça que este Governo, quase viciado em grupos de trabalho, constitua mais um.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ilda Araújo Novo (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente.
Desta feita, um grupo de trabalho para estudar e promover a negociação de um regime especial de
aposentação para os educadores de infância e professores do ensino básico e secundário,…
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ilda Araújo Novo (CDS-PP): — … em que deverá estar presente a premente necessidade de
assegurar a transmissão e renovação do conhecimento e da cultura profissional entre gerações.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem, ainda, a palavra a Sr.ª Deputada Maria Augusta Santos.
A Sr.ª Maria Augusta Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: As iniciativas hoje em debate
centram-se na proposta de um regime excecional de aposentação de professores e educadores de infância.
A revisão do regime de flexibilização da idade de acesso à pensão, bem como dos regimes especiais de
antecipação, tem vindo a ser estudada pelo Governo e tem sido objeto de diálogo com os parceiros sociais,
iniciado em 2017 e que irá manter-se em 2018.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista considera que as questões suscitadas pelas propostas em
presença merecem consideração, mas devem ser resolvidas por outras vias que não pelo recurso a um regime
especial, que iria contra opções fundamentais de convergência dos sistemas, que estão a ser prosseguidas, de
forma consistente, há muito tempo.
Sr.as e Srs. Deputados: No âmbito do processo de convergência entre a Caixa Geral de Aposentações e o
regime geral da segurança social, efetuado em 2005, foi feita uma revisão dos regimes ditos especiais que
resultavam em desvios às regras do Estatuto da Aposentação.
Com esta convergência, segue-se um caminho de homogeneização dos sistemas, no sentido de conferir
maior transparência, eliminar discrepâncias, assegurando um tratamento mais igual, pautado pelas mesmas
regras.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista defende esta convergência, por entender que, por essa via, se
protege melhor o sistema de pensões, enquanto elemento central do Estado social.
Sr.as e Srs. Deputados: Não podemos, de modo nenhum, colocar em causa a sustentabilidade da segurança
social, já que isso não beneficiaria nenhum trabalhador,…
Vozes do PS: — Claro!
A Sr.ª Maria Augusta Santos (PS): — … como os professores bem sabem.
Assumimos, inequivocamente, que a valorização social e profissional dos professores, nas suas múltiplas
dimensões, é primordial, num sistema educativo que todos defendemos mais eficaz, mais eficiente, com máxima
qualidade.
Esta mesma linha de orientação consta, igualmente, do Programa do XXI Governo, no propósito de defesa
da sustentabilidade do sistema de pensões.
Sr.as e Srs. Deputados: Continuamos convictos de que os professores, todos os professores, e as questões
relativas à sua carreira e ao seu regime de aposentação têm especificidades muito próprias, que não podem ser
determinadas por medidas avulsas.
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A dignificação e valorização da classe docente não se harmoniza com estes processos, muitas vezes
geradores de mais injustiça.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista considera necessário equacionar novas soluções, reconhecendo
a existência de situações que merecem uma ponderação acrescida, mas sempre numa ótica de
sustentabilidade, responsabilidade e salvaguarda do futuro coletivo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, ainda para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar
do PSD, a Sr.ª Deputada Maria Germana Rocha.
A Sr.ª Maria Germana Rocha (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar os mais
de 19 000 signatários da presente petição, cujo objeto é a criação de um regime de exceção no acesso à reforma
para os professores.
O regime especial de aposentação foi revogado em 2006 por um Governo socialista, liderado pelo Eng.º José
Sócrates, a que se seguiram diversos regimes transitórios que acabaram por criar algumas situações de injustiça
ao longo do tempo.
Os professores exercem uma missão nobre, complexa e determinante na construção de uma sociedade que
se pretende justa e promissora. E, por isso, compete ao Governo criar as condições necessárias para o pleno
exercício dessas funções, tendo como objetivo principal um sistema de ensino com a qualidade necessária e
ambicionada para as presentes e futuras gerações.
Neste contexto, um dos fatores mais preocupantes é, sem dúvida alguma, a taxa de natalidade, que, após
dois anos consecutivos em crescimento, voltou a baixar em 2017, quando nasceram, em média, menos sete
crianças por dia, face a 2016, o que vem agravar e hipotecar a situação da classe docente.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Vocês também não fizeram nada por isso!
A Sr.ª Maria Germana Rocha (PSD): — Mas, Sr.as e Srs. Deputados, cumpre-se hoje o quarto dia de greve
dos professores, o que demonstra que os professores não confiam e sentem-se enganados por este Governo,
mediante as expectativas que lhes foram sendo criadas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Com a luta é que se avança!
A Sr.ª Maria Germana Rocha (PSD): — Por isso mesmo, torna-se imperioso que se assumam compromissos
de forma séria e rigorosa com a classe docente, em que este Governo e os partidos que o suportam assumam,
de uma vez por todas, as suas responsabilidades e se deixem da política do faz-de-conta,…
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Assuma as suas! O PSD não existe!
A Sr.ª Maria Germana Rocha (PSD): — … porque não podem num dia prometer mundos e fundos e no dia
seguinte aprovar um Orçamento do Estado, em que não se assume se há ou não disponibilidade para acomodar
essas mesmas expectativas e os respetivos impactos.
A verdade, Srs. Deputados, é que o Sr. Ministro das Finanças, em resposta enviada à Assembleia da
República, afastou a possibilidade de estabelecimento de um regime especial de aposentação para os
professores e educadores de infância.
A este propósito, o Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, ainda esta semana, dirigindo-
se a este Parlamento, repito, ainda esta semana, disse o seguinte, e passo a citar: «considera inviável e
inoportuno o recurso à criação de um regime especial de aposentação, que abriria um precedente com efeitos
de arrastamento imprevisível». Fim de citação.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
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A Sr.ª Maria Germana Rocha (PSD): — Portanto, pelo enorme respeito que nos merecem os professores e
os educadores de infância, está mais do que na hora de esta aliança governativa assumir perante os
portugueses as suas responsabilidades, deixando-se de propaganda enganosa e de políticas de mera
encenação.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem, ainda, a palavra, para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco
de Esquerda, a Sr.ª Deputada Joana Mortágua.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Mais uma vez, o PSD escolheu passar ao
lado do debate e, mais uma vez, frustrou as expectativas não do Bloco de Esquerda, não do PCP, não dos
partidos que subscrevem estas iniciativas, porque nós já sabemos que não contamos com os votos do PSD para
aprovar os projetos que aqui apresentamos, mas dos milhares de subscritores desta petição, que queriam ficar
a saber o que o PSD tem a dizer sobre o direito à aposentação, sobre o desgaste da profissão, sobre a
necessidade de renovação geracional da escola pública e ficaram a saber que o PSD não tem nada a dizer
sobre esses problemas, repito, nada a dizer sobre esses problemas. Portanto, sobre isso estamos conversados.
O Bloco de Esquerda apresentou, já nesta Legislatura, um projeto sobre a mesma matéria que hoje aqui é
trazida por estes subscritores, que aproveito para cumprimentar. E estes subscritores apresentam-nos esta
petição por razões certas e generosas com a escola pública. É que, quando eles nos dizem que o seu direito à
aposentação é muito mais do que o direito de um trabalhador, que são professoras e professores, quando nos
dizem que o direito à aposentação é uma matéria essencial, porque, sem renovação geracional, estamos a
colocar em causa a qualidade da escola pública, estão a ser generosos com o nosso sistema de ensino, estão
a alertar-nos para um problema sério.
Se queremos investir numa educação de qualidade, temos de compreender que menos de 1% dos
professores e educadores têm menos de 30 anos, enquanto que mais de 45% têm 50 anos ou mais.
Impedir os professores de aceder à reforma significa que se está a criar um envelhecimento forçado da classe
docente que prejudica não só a vida destas pessoas mas também a capacidade de renovação geracional da
escola pública. Temos de entender que, no limite, é possível que um professor de 1.º ciclo, com 66 anos de
idade e 46 anos de serviço, tenha de dar aulas a uma turma com mais de 26 alunos de 6 ou 7 anos de idade.
Ninguém compreende como é que um professor de 66 anos e 46 anos de serviço consegue dar aulas a alunos
de 6 e 7 anos de idade e chegar ao final do dia com capacidade para continuar a fazê-lo no dia seguinte.
Foram estas as razões que apresentámos, quando propusemos, mais uma vez, o direito à reforma com 40
anos de contribuições, sem penalização por idade, sublinhando que ela teria efeitos positivos em muitas áreas,
mas, em particular, nestas áreas de desgaste, como é o caso dos professores e das professoras. Esse projeto
foi chumbado, infelizmente, e esta é a razão pela qual nós não o reapresentámos, porque não acreditamos que
o PSD, aliás, como se provou, tenha mudado de ideias e, infelizmente, o PS ainda não chegou à conclusão de
que é preciso resolver este problema.
Vamos, naturalmente, votar a favor dos projetos sérios que querem resolver o problema do envelhecimento
da classe docente, o que não vamos fazer é participar no exercício de hipocrisia que o CDS aqui nos traz, ao
querer, agora, preocupar-se com aqueles que obrigou a trabalhar até mais tarde, com aqueles cujos direitos
atacou quando era Governo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para terminar este debate, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita, do
Grupo Parlamentar do PCP.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP não quer deixar de fazer uma
saudação aos professores em luta pela defesa dos seus direitos e que concluem hoje uma jornada de greves a
nível regional, culminando na região Norte.
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Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Há uma questão fundamental: o PSD vem hoje dizer que os outros têm de
assumir as suas responsabilidades, porque, está mais do que visto, o PSD não existe para assumir qualquer
responsabilidade, no sentido de viabilizar as soluções mais justas para os trabalhadores, no sentido de votar as
propostas que o PCP apresenta para resolver os problemas. E é fácil de saber porquê. Porque o PSD é parte
do problema e não é a solução para o problema.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Mais ainda: importa recordar porquê, e há uma explicação muito concreta,
que coloca PSD e CDS no mesmo sítio. Refiro-me ao decreto de 2013 que passou a cortar as pensões com o
fator de sustentabilidade, incluindo as dos professores.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Ora, aí está, são parte do problema, nunca serão parte da solução! E, para
isso, o PCP cá estará, com a sua ação determinada, em defesa dos direitos dos trabalhadores e em defesa dos
direitos dos educadores e dos professores.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, chegámos ao fim da apreciação conjunta da petição n.º 253/XIII (2.ª)
e dos projetos de resolução n.os 1396/XIII (3.ª), de Os Verdes, 1402/XIII (3.ª), do CDS-PP, e 1407/XIII (3.ª), do
PCP.
Consta, ainda, da nossa ordem de trabalhos de hoje, sem tempos para debate, a proposta de resolução n.º
65/XIII (3.ª) — Aprova o Tratado entre a República Portuguesa e o Reino de Espanha através do qual se
Estabelece a Linha de Fecho das Desembocaduras dos rios Minho e Guadiana e se Delimitam os Troços
Internacionais de ambos os rios, assinado em Vila Real, em 20 de maio de 2017.
Peço, agora, ao Sr. Secretário, Deputado António Carlos Monteiro, o favor de nos dar conta de algum
expediente.
O Sr. Secretário (António Carlos Monteiro): — Sr. Presidente, cumpre-me anunciar que deram entrada na
Mesa, e foram admitidos pelo Sr. Presidente, os projetos de resolução n.os 1425/XIII (3.ª) — Generalização do
acesso ao medicamento para tratar a atrofia muscular espinhal aos doentes com tipo I e com tipo II em todas as
unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (Os Verdes) e 1426/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo
que disponibilize aos doentes com atrofia muscular espinhal os tratamentos mais adequados, incluindo o
farmacológico (PCP), ambos baixam à 9.ª Comissão.
O Sr. Presidente: — Antes de terminar, passo a anunciar a agenda da próxima reunião plenária, que se
realiza na quarta-feira, 21 de março, começo da primavera.
No primeiro ponto teremos declarações políticas.
Segue-se, no segundo ponto, a apreciação da proposta de lei n.º 14/XIII (1.ª) — Alteração ao Código de
Processo Civil e ao Código de Procedimento e de Processo Tributário (ALRAM).
Por fim, no terceiro ponto, está agendada a discussão da proposta de lei n.º 25/XIII (1.ª) — Procede à
alteração do Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de julho, e à alteração
do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de novembro
(ALRAM).
Assim, terminamos a nossa sessão. Agradeço a todos e desejo-vos um ótimo fim de semana.
Eram 13 horas e 54 minutos.
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———
Declarações de voto entregues à Mesa para publicação
Relativa ao projeto de lei n.º 759/XIII (3.ª):
O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português absteve-se no projeto-lei do BE por considerar que a
melhor forma de promover a defesa do interesse nacional, do interesse das populações e da economia nacional
— quer em relação às redes de telecomunicações, quer em relação à Televisão Digital Terrestre, quer em
relação ao fim da ruinosa PPP subjacente ao SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança
de Portugal), quer de forma geral ao conjunto dos serviços, das áreas de intervenção que PT desenvolve ou
deve desenvolver — passa não pela retirada dessas mesmas áreas e serviços à empresa mas, sim, pela
salvaguarda da empresa para o futuro, garantindo que esteja efetivamente ao serviço do País. O País não pode
aceitar a desintegração de empresas estratégicas fundamentais para a economia, antes deve lutar pela defesa
destas empresas e pela sua integridade, modernização e desenvolvimento ao serviço do interesse nacional —
o que passa de forma incontornável pela sua reversão para a esfera pública. Foi nesse sentido que o PCP
apresentou o projeto de resolução n.º 1022/XIII (2.ª) (PCP) — Travar a liquidação da PT, defender os
trabalhadores e o interesse nacional. É de lamentar que esta iniciativa do PCP tenha sido rejeitada com o voto
contra do PS, do PSD e do CDS.
O Deputado do PCP, Bruno Dias.
———
Relativas ao texto final, apresentado pela Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, sobre os
projetos de lei n.os 495, 576 e 577/XIII (2.ª):
O Grupo Parlamentar do PSD apresentou e votou favoravelmente a redação final do projeto de lei n.º 495/XIII
(2.ª) por entender que o mesmo responde cabalmente à Recomendação n.º 2/B/2015, do Provedor de Justiça,
que reclama uma «clarificação urgente, mediante ato de vontade parlamentar, legitimada democraticamente,
com o reconhecimento expresso dos direitos adquiridos dos engenheiros civis com títulos de formação obtidos
em Portugal, nas condições previstas no n.º 49.º da Diretiva 2005/36/CE, tal como transposta pela Lei n.º 9/2009,
de 4 de Março».
Esta recomendação surge na sequência de diversas queixas e alertas efetuados junto do Provedor de
Justiça. Desde logo pelo facto de a Lei n.º 40/2015, de 1 de junho, que procedeu à primeira alteração à Lei n.º
31/2009, de 3 de julho, surgir desarticulada de outra legislação a vigorar no País, gerando, inclusive,
entendimentos jurídicos diametralmente opostos por parte de várias entidades administrativas, levou
precisamente o Provedor de Justiça, através de Recomendação n.º 2/B/2015 e que parte daquela constatação,
a alertar a Assembleia da República para a relevância da questão e para a necessidade de a corrigir.
Contrariamente ao que tem sido afirmado, esta alteração à Lei n.º 40/2015, de 1 de junho, não retira direitos
aos arquitetos ou acrescenta direitos aos engenheiros relativamente ao «ato de elaboração de projetos de
arquitetura», limitando-se apenas a clarificar e a explicitar aquilo que já está na lei, de acordo com a
recomendação do Provedor de Justiça. Com efeito, por determinação da Lei n.º 9/2009, de 4 de março, no n.º 1
do seu artigo 46.º e respetivo Anexo III, e do Decreto-Lei n.º 14/90, de 8 de janeiro, são considerados «títulos
de formação de arquiteto» quando a formação tenha sido iniciada o mais tardar no decurso do ano académico
de 1987/1988, os diplomas universitários das licenciaturas em engenharia civil do Instituto Superior Técnico da
Universidade Técnica de Lisboa, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, da Faculdade de
Ciências e de Tecnologia da Universidade de Coimbra e ainda em engenharia civil (produção) da Universidade
do Minho, e que como tal devem ser aceites.
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Assim, a lei agora proposta vem eliminar a desconformidade existente até à data entre duas leis do sistema
legal português, a Lei n.º 9/2009, de 4 de março, e a Lei n.º 40/2015, de 1 de junho, que explicita agora também
aquela disposição já antes vigente, procedendo à harmonização dos dois diplomas, clarificando a situação e
suprimindo a discrepância para a qual o parecer do Provedor de Justiça alertara o Parlamento com o pedido da
sua correção.
Os Deputados do Grupo Parlamentar do PSD.
——
Dado como adquirido que o projeto de lei n.º 495/XIII (2.ª) foi aprovado na generalidade, o Grupo Parlamentar
do PS, em sede de discussão na especialidade, apresentou uma proposta de alteração que acabou por ser
«prejudicada» na votação indiciária pela aprovação do ponto 7 do artigo 25.º proposto pelo Grupo Parlamentar
do PCP.
A proposta de alteração apresentada pelo PS atendia às questões levantadas pela carta do Sr. Provedor de
Justiça através de Recomendação n.º 2/B/2015, permitindo aos titulares de licenciatura em engenharia civil
referidos no Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE, continuarem a subscrever projetos de arquitetura em território
nacional.
Porém e para isso, a proposta do Grupo Parlamentar do PS exigia:
— que as suas habilitações não lhes conferissem mais competências das que lhes eram atribuídas até à
revogação do Decreto-Lei n.º 73/73 e a entrada em vigor da Lei n.º 31/2009, alterada pela Lei n.º 40/2015;
— que os titulares de licenciatura em engenharia civil referidos no Anexo VI da Diretiva comprovassem, de
facto, ter exercido os atos próprios de arquitetura nos últimos anos.
Tendo a direção do Grupo Parlamentar decidido não adotar uma indicação de voto, cabe-nos apresentar esta
declaração de voto que justifica a abstenção no diploma em causa pelas razões seguintes:
— O texto final passou a abranger todos titulares de licenciatura em engenharia civil referidos no Anexo VI da
Diretiva 2005/36/CE, alterada pela Diretiva 2013/55/UE, de 20 de novembro de 2013, mesmo aqueles que
nunca elaboraram sequer um projeto de arquitetura durante a sua atividade profissional.
— Além disso, e sobretudo, do texto final resultou o alargamento da prática de atos antes reservados a
arquitetos a um largo conjunto de agentes técnicos civis, os quais não se encontravam abrangidos pela lei ora
alterada e que vai muito para além da situação cuja correção motivara a intervenção do Sr. Provedor de
Justiça.
Os Deputados do PS, Carlos César — Carlos Pereira — Lara Martinho — Filipe Neto Brandão — Pedro
Delgado Alves — Susana Amador — João Paulo Correia — João Galamba.
——
As sociedades não são passíveis de transformação por mero ato legislativo, mas a lei é um importante motor
de mudança, o que faz pesar sobre o legislador a responsabilidade de abrir rumos de modernidade e progresso
social.
Acontece que, lamentavelmente, o texto final ora votado representa um claro retrocesso em relação ao
alcançado com a Lei n.º 31/2009, através da qual foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73.
Até 2009, enquanto vigorou o Decreto-Lei n.º 73/73, os engenheiros puderam subscrever projetos de
arquitetura e os arquitetos projetos de estruturas e instalações especiais. Contudo, esse quadro normativo
assumiu, logo à altura, um carácter provisório que nele foi explicitamente assumido e só assim foi delineado
porque então não existiam profissionais suficientes nestas áreas, sendo permitido, inclusive, que alguns
profissionais sem formação superior subscrevessem projetos de engenharia e arquitetura.
Com a Lei n.º 31/2009 ficou estabelecido que «os projetos de arquitetura são elaborados por arquitetos com
inscrição válida na Ordem dos Arquitetos».
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A nível europeu há duas áreas profissionais que são regulamentadas — a arquitetura e a saúde.
A Diretiva 2005/36/CE serve para reconhecer as habilitações académicas dos profissionais de cada Estado-
membro da União Europeia para assim se poderem inscrever na associação profissional de outro país e aí
poderem exercer a profissão.
Do Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE constam quatro cursos de engenharia civil que aí têm lugar desde 1986,
porque até 2009, de acordo com a lei portuguesa, os engenheiros podiam subscrever projetos de arquitetura.
De acordo com o edifício legislativo europeu, a revogação de direitos adquiridos é possível, desde que
precedida de um período transitório. Requisito que foi cumprido pela Lei n.º 31/2009 ao estabelecer um período
transitório de cinco anos, mais três para quem tenha iniciado a sua formação completar em arquitetura,
habilitando-se à inscrição na Ordem dos Arquitetos.
Findo o período transitório, o Estado português deveria ter comunicado tal facto e solicitado a retirada desses
quatro cursos da Diretiva, gerando a necessária continuidade entre o ordenamento jurídico nacional e as normas
do direito europeu.
Tal como o Sr. Presidente da República, também eu não confundo «o mérito do contributo complementar de
outras formações com o respeito estrito do domínio natural e justamente reservado apenas aos arquitetos».
Assim, só posso lamentar o sinal errático e o retrocesso civilizacional provocados pela aprovação desta
proposta de alteração que recoloca a possibilidade de cerca de 5000 engenheiros voltarem a subscrever projetos
de arquitetura tal como faziam ao abrigo do Decreto-Lei de 1973, tornando definitivo o que, de forma sábia e
com visão de modernidade, foi nessa altura assumido como provisório.
Regredimos face ao que, ao longo destes anos, foi percecionado como a desejada evolução relativamente
ao que deve ser o quadro de intervenção na paisagem e na qualidade de vida dos cidadãos.
Colocamos em causa uma questão de interesse público, assinalada de forma clara na iniciativa legislativa
de cidadãos (projeto de lei n.º 183/X — Arquitetura: um direito dos cidadãos, um ato próprio dos arquitetos) e
que é reforçada na Política Nacional de Arquitetura e Paisagem, aprovada em 2015.
Porém, e ainda mais lamentável, é o facto de esta alteração abrir também a prática de atos de arquitetura a
profissionais sem qualquer qualificação superior, indo para além da clarificação solicitada pelo Sr. Provedor da
República que deveria ter redundado nas diligências necessárias à alteração do Anexo VI da Diretiva
2005/36/CE.
Por tudo isto, votei contra a alteração legal em apreço, porque a considero uma verdadeira ofensa ao correto
ordenamento do exercício profissional por profissionais habilitados para os específicos efeitos e um atentado
contra o caminho de modernidade percorrido por vontade dos cidadãos com as mudanças introduzidas por via
da Lei n.º 31/2009.
Entendo intolerável e um sinal perigoso para a relação de confiança entre representantes e representados a
forma como um impulso saído da iniciativa cidadã é defraudado desta forma na Assembleia da República,
completamente ao arrepio do que é o sentimento e a visão da sociedade.
A Deputada do PS, Isabel Santos.
——
Considerando que:
— foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73 que permitiu, até 2009, que engenheiros pudessem subscrever
projetos de arquitetura e os arquitetos subscreverem projetos de estruturas e instalações especiais;
— o Decreto-Lei n.º 73/73 surge pela necessidade de estabelecer os requisitos mínimos para apresentação
de projetos para licenciamento municipal e, não havendo, à época profissionais suficientes nestas áreas, era
permitido, inclusive a profissionais sem formação superior, também subscrever projetos de engenharia e
arquitetura;
— o Decreto-Lei n.º 73/73 tinha um carácter transitório até existirem profissionais com formação adequada
ao desempenho da sua profissão e que, hoje em dia, já existe o número de profissionais suficiente em cada
área;
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— em 2005 foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República, uma iniciativa pública de cidadãos
defendendo o interesse público de a arquitetura ser elaborada e subscrita por profissionais com formação
académica específica em arquitetura;
— em 2009 foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73, com a entrada em vigor da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho,
que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de
projetos pela fiscalização de obra e pela direção de obra;
— a Lei n.º 31/2009, no ponto 2 do artigo 10.º, estabelece que os projetos de arquitetura são elaborados por
arquitetos com inscrição válida na Ordem dos Arquitetos;
— as duas únicas áreas profissionais que são regulamentadas a nível europeu são a arquitetura e a saúde;
— a Diretiva 2005/36/CE serve para reconhecer as habilitações académicas de um profissional de um país
membro da UE para assim se poder inscrever na associação profissional de outro país e aí poder exercer a
profissão;
— os quatro cursos de engenharia que constam do Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE têm lugar desde 1986
porque até 2009, de acordo com a lei portuguesa, os engenheiros podiam subscrever projetos de arquitetura;
— os enunciados cursos de engenharia que constam no Anexo VI não têm os requisitos mínimos que
constam na Diretiva 2005/36/CE relativamente à formação de arquiteto, ao contrário dos arquitetos formados
anteriormente à entrada de Portugal na CEE, cujos currículos académicos, apesar de serem referidos no mesmo
Anexo VI, se aproximam inquestionavelmente dos requisitos da Diretiva;
— o facto de, aos engenheiros formados nos quatro cursos de engenharia que constam no Anexo VI da
Diretiva 2005/36/CE lhes ser reconhecida a possibilidade de exercerem a atividade de arquiteto noutro país
membro da UE não faz desses profissionais arquitetos;
— de acordo com o edifício legislativo europeu a revogação de direitos adquiridos é possível, desde que
precedida de um período transitório;
— a Lei n.º 31/2009 estabelece um período transitório de 5 anos, mais 3 para quem tenha iniciado a sua
formação complementar em arquitetura e assim se habilitarem à inscrição na Ordem dos Arquitetos;
— houve um número significativo de engenheiros que, no período transitório, completaram a sua formação
em arquitetura;
— a Lei n.º 31/2009 e as alterações Introduzidas pela Lei n.º 40/2015 foram amplamente discutidas neste
Parlamento e com a participação das Ordens profissionais abrangidas;
— a proposta de alteração hoje votada recoloca a possibilidade de cerca de 5000 engenheiros voltarem a
subscrever projetos de arquitetura tal como faziam ao abrigo do Decreto-Lei de 1973;
— considerando que as novas alterações à Lei não obrigam à Inscrição na Ordem dos Arquitetos destes
profissionais — que agora poderão desempenhar os atos reservados aos arquitetos —, existirá uma clara
discrepância nas obrigações deontológicas dos arquitetos e dos engenheiros relativamente aos atos próprios da
arquitetura.
A aprovação da proposta de alteração à Lei n.º 31/2009 constitui um retrocesso nos parâmetros de formação
exigidos para a prática de uma profissão com impacte significativo na paisagem e na qualidade de vida dos
cidadãos.
Coloca-se em causa uma questão de interesse público, assinalada de forma clara na iniciativa legislativa de
cidadãos (projeto de lei n.º 183/X — Arquitetura: Um direito dos cidadãos, um ato próprio dos arquitetos) e que
é reforçada na Política Nacional de Arquitetura e Paisagem, aprovada em 2015.
Para além do retrocesso que constitui, causará alguns efeitos colaterais que não foram, com certeza,
considerados.
Esta lei causará injustiças entre estes engenheiros cujos cursos estão ainda inscritos no Anexo VI da Diretiva
2005/36/CE e:
— os engenheiros com formação igual que iniciaram o curso posteriormente e que até 2009 também podiam
assinar projetos de arquitetura;
— os colegas engenheiros dos mesmos cursos que investiram na formação complementar em arquitetura
despois de ter saído a Lei n.º 31/2009;
— possibilita aos engenheiros abrangidos pelo referido Anexo VI da Diretiva que estejam a desempenhar
funções em autarquias e outras instituições públicas apreciar e pronunciar-se sobre projetos de arquitetura
subscritos por arquitetos.
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Em todo o caso, com a aprovação desta alteração à Lei n.º 31/2009, revogando os preceitos subjacentes a
essa lei, a ideia que Portugal passará para o resto da Comunidade Europeia é de que há, no nosso País, um
grupo de engenheiros sem formação em arquitetura que não só pode fazer arquitetura em Portugal como
também no resto dos países europeus.
Como atrás se disse, a revogação do espírito subjacente à Lei n.º 31/2009 constituí um retrocesso no
caminho da modernidade que o País tem trilhado.
Os Deputados do PS, Luís Vilhena — Alexandre Quintanilha — Carla Sousa — Constança Urbano de Sousa
— Elza Pais — Gabriela Canavilhas — Helena Roseta — Hugo Pires — João Soares — Jorge Gomes — Jorge
Lacão — José Manuel Carpinteira — José Miguel Medeiros — José Rui Cruz — Maria Augusta Santos — Maria
da Luz Rosinha — Marisabel Moutela — Norberto Patinho — Palmira Maciel — Pedro do Carmo — Bacelar de
Vasconcelos — Rosa Maria Albernaz — Sandra Pontedeira — Tiago Barbosa Ribeiro.
——
Considerando que:
A revogação do espírito subjacente à Lei n.º 31/2009 constitui, e cito o Primeiro-Ministro António Costa, «um
retrocesso relativamente a um dos maiores ganhos civilizacionais que o País teve nos últimos anos e um recuo
no caminho da modernidade que o País tem trilhado».
A alteração introduzida à Lei n.º 31/2009 está em desconformidade com o Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE,
em que assentava a argumentação para a alteração introduzida, alargando muito o universo da Diretiva, bem
como as competências e os montantes dos projetos que passam a poder ser assinadas pelos diferentes
profissionais.
Esta alteração fere as leis nacionais ao dispensar os engenheiros de estarem inscritos na Ordem dos
Arquitetos, conforme o que estabelece o Decreto-Lei n.º 176/98, de 3 de julho, nos seus artigos 5.º e 44.º e
confirmados e republicados na Lei n.º 113/2015, de 28 de agosto.
Coloca em causa o princípio fundamental da estabilidade das políticas e, sobretudo, a confiança legislativa
ao introduzirem-se, em subsequentes legislaturas e ao sabor das maiorias circunstanciais criadas, alterações
que levam ao recuo para o Decreto-Lei n.º 73/73, sendo este já de si transitório, que a Lei n.º 31/2009 veio
revogar.
A Lei n.º 31/2009 foi construída na base de um consenso entre o Governo e as associações públicas
profissionais — a Ordem dos Arquitetos e a Ordem dos Engenheiros —, vinculando todos ao seu conteúdo, o
que levou a que a sua votação na Assembleia da República não obtivesse votos contra e apenas o PCP se
tivesse abstido, o que dava garantias da sua estabilidade legislativa.
Considerando ainda o historial que se descreve:
— O Decreto-Lei n.º 73/73, surge pela necessidade de estabelecer os requisitos mínimos para apresentação
de projetos para licenciamento municipal e que, não havendo, à época, profissionais suficientes nestas áreas,
era permitido, inclusive a profissionais sem formação superior, também subscrever projetos de engenharia e
arquitetura;
— O Decreto-Lei n.º 73/73 tinha um carácter transitório até existirem profissionais com formação adequada
ao desempenho da sua profissão e, hoje em dia, já existe o número de profissionais suficientes em cada área;
— Em 2005, foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República, uma iniciativa pública de cidadãos
defendendo o interesse público de a arquitetura ser elaborada e subscrita por profissionais com formação
académica especifica em arquitetura;
— Em 2009, foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73, com a entrada em vigor da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho,
que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de
projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra;
— A Lei n.º 31/2009, no ponto 2 do artigo 10.º, estabelece que «os projetos de arquitetura são elaborados
por arquitetos com inscrição válida na Ordem dos Arquitetos.»;
— As duas únicas áreas profissionais que são regulamentadas a nível europeu, são a Arquitetura e a Saúde;
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— A Diretiva 2005/36/CE serve para reconhecer as habilitações académicas de um profissional de um país-
membro da UE para assim se poder inscrever na associação profissional de outro país e aí poder exercer a
profissão;
— Os quatro cursos de engenharia que constam do Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE têm lugar desde 1986
porque até 2009, de acordo com a lei portuguesa, os engenheiros podiam subscrever projetos de arquitetura;
— Os enunciados cursos de engenharia que constam no Anexo VI não têm os requisitos mínimos que
constam na Diretiva 2005/36/CE, relativamente à formação de arquiteto, ao contrário dos arquitetos formados
anteriormente à entrada de Portugal na CEE, cujos currículos académicos, apesar de serem referidos no mesmo
Anexo VI, aproximam-se inquestionavelmente dos requisitos da Diretiva;
— O facto de, aos engenheiros formados nos quatro cursos de engenharia que constam no Anexo VI da
Diretiva 2005/36/CE, lhes ser reconhecida a possibilidade de exercerem a atividade de arquiteto noutro país-
membro da UE não faz desses profissionais arquitetos;
— De acordo com o edifício legislativo europeu, a revogação de direitos adquiridos é possível, desde que
precedida de um período transitório;
— A Lei n.º 31/2009 estabelece um período transitório de 5 anos, mais 3 para quem tenha iniciado a sua
formação complementar em arquitetura e assim se habilitarem à inscrição na Ordem dos Arquitetos;
— Houve um número significativo de engenheiros que, no período transitório, completaram a sua formação
em arquitetura;
— A Lei n.º 31/2009 e as alterações introduzidas pela Lei n.º 40/2015 já foram amplamente discutidas neste
Parlamento e com a participação das Ordens profissionais abrangidas;
— A proposta de alteração hoje votada recoloca a possibilidade de cerca de 5000 engenheiros voltarem a
subscrever projetos de arquitetura, tal como faziam ao abrigo do Decreto-Lei de 1973;
— Considerando que as novas alterações à Lei não obrigam à inscrição na Ordem dos Arquitetos destes
profissionais — que agora poderão desempenhar os atos reservados aos arquitetos —, existirá uma clara
discrepância nas obrigações deontológicas dos arquitetos e dos engenheiros, relativamente aos atos próprios
da arquitetura.
A aprovação da proposta de alteração à Lei n.º 31/2009 constitui um retrocesso nos parâmetros de formação
exigidos para a prática de uma profissão com impacte significativo na paisagem e na qualidade de vida dos
cidadãos.
Coloca-se em causa uma questão de interesse público, assinalada de forma clara na iniciativa legislativa de
cidadãos (projeto de lei n.º 183/X — Arquitetura: Um direito dos cidadãos, um ato próprio dos arquitetos) e que
é reforçada na Política Nacional de Arquitetura e Paisagem, aprovada em 2015.
Para além do retrocesso que constitui, causará alguns efeitos colaterais que não foram com certeza
considerados.
Esta lei causará injustiças entre estes engenheiros cujos cursos estão ainda inscritos no Anexo VI da Diretiva
2005/36/CE e:
— os engenheiros com formação igual que iniciaram o curso posteriormente e que até 2009 também
podiam assinar projetos de arquitetura;
— os colegas engenheiros dos mesmos cursos que investiram na formação complementar em arquitetura
depois de ter saído a Lei n.º 31/2009;
— possibilita aos engenheiros abrangidos pelo referido Anexo VI da Diretiva que estejam a desempenhar
funções em autarquias e outras instituições públicas apreciar e pronunciar-se sobre projetos de arquitetura
subscritos por arquitetos.
Em todo o caso, com a aprovação desta alteração à Lei n.º 31/2009, revogando os preceitos subjacentes a
essa lei, a ideia que Portugal passará para o resto da Comunidade Europeia é de que há, no nosso País, um
grupo de engenheiros sem formação em arquitetura que não só pode fazer arquitetura em Portugal como
também no resto dos países europeus.
Assim, assente em alguns princípios, que considero da maior importância, e no historial deste processo, o
meu voto foi contra esta alteração à Lei n.º 31/2009.
O Deputado do PS, Renato Sampaio.
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——
As competências da Ordem dos Arquitetos e da Ordem dos Engenheiros são claras e não se sobrepõem. A
legislação atual apenas confere competência à Ordem dos Arquitetos para o reconhecimento das qualificações
profissionais em arquitetura, para a regulação da profissão de arquiteto e dos atos profissionais de arquitetura.
A Recomendação n.º 2/B/2015, do Sr. Provedor de Justiça, chamou a atenção para a desigualdade existente
entre o enquadramento jurídico nacional e o comunitário sobre a elaboração de projetos de arquitetura,
considerando que estavam a ser negados direitos aos engenheiros civis cuja licenciatura tenha sido iniciado o
mais tardar no decurso do ano académico de 1987/1988, nas seguintes instituições de ensino superior: Instituto
Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa; Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
Faculdade de Ciências e de Tecnologia da Universidade de Coimbra; e ainda Engenharia Civil (Produção) da
Universidade do Minho.
O Bloco de Esquerda reconhece a pertinência da recomendação acima indicada. Por isso, acompanhamos
as propostas de reconhecer os direitos ao universo de engenheiros civis supracitado, quando existisse prova de
que esses direitos tenham sido exercidos nos últimos cinco anos.
A posição do Bloco de Esquerda sempre foi a de conjugar o respeito pelos direitos adquiridos com as
competências atualmente existentes e perfeitamente claras da Ordem dos Arquitetos e da Ordem dos
Engenheiros. Contudo, o texto que resultou dos trabalhos de especialidade da Comissão de Economia, Inovação
e Obras Públicas introduzirá confusão nas competências atualmente atribuídas às duas ordens profissionais. É
uma má escolha legislativa e política.
Pelas razões acima descritas, o Bloco de Esquerda votou contra o texto final, apresentado pela Comissão
de Economia, Inovação e Obras Públicas, relativo aos projetos de lei n.os 495/XIII (2.ª) — Segunda alteração à
Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível
aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de
obra, que não esteja sujeita a legislação especial e os deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º
73/73, de 28 de fevereiro (PSD), 576/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que
aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela
elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra e os deveres que lhes são
aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro, assegurando a correta transposição da Diretiva
2005/36/CE (PAN), e 577/XIII (2.ª) — Procede à alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que aprova o regime
jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e
subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra, modificando a norma referente à
qualificação dos autores de projeto (PAN).
Os Deputados e as Deputadas do Bloco de Esquerda.
——
Os Deputados do CDS-PP abaixo subscritos, no âmbito das disposições regimentais da Assembleia da
República, vêm por este meio apresentar a seguinte declaração de voto relativa à alteração da Lei n.º 31/2009,
de 3 de julho, que aprovou um regime jurídico estabelecendo a qualificação profissional exigível aos técnicos
responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra.
A arquitetura é hoje uma função determinante para garantir que Portugal tem uma organização urbana
moderna, funcional e conhecedora das componentes que constituem o património arquitetónico do nosso País.
As propostas discutidas e aceites, na especialidade, promoveram mudanças significativas relativamente ao
escopo da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, que por isso não podem ser aceites por nós.
Para lá disto, entendemos que nada justifica as mudanças que interferem com o estabelecido na Lei n.º
40/2015, de 1 de junho, uma vez que estamos a transformar em definitivo o que as disposições daquela lei
consideravam como transitório.
Os Deputados do CDS-PP, Telmo Correia — Assunção Cristas — João Pinho de Almeida — Ana Rita Bessa
— Filipe Anacoreta Correia — António Carlos Monteiro — Isabel Galriça Neto.
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——
O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português votou favoravelmente o texto final em apreço,
registando que a norma aprovada na especialidade sobre a elaboração de projeto não se reporta à questão
geral da elaboração ou não de projetos de arquitetura por outros profissionais (que não arquitetos) —, trata, sim,
da situação de um conjunto mais restrito de engenheiros civis a quem o Provedor de Justiça deu razão,
recomendando à Assembleia da República a alteração da lei.
Quando a Assembleia da República debateu a petição destes engenheiros civis, com as iniciativas do PSD
e do PAN, o PCP reafirmou sempre dois princípios fundamentais nesta discussão:
— primeiro, devemos apontar um caminho e um objetivo de consagrar e cumprir o direito à arquitetura, o que
passa por garantir que a arquitetura seja realmente exercida apenas por arquitetos;
— segundo, o caminho a percorrer para esse objetivo não deve ignorar a situação concreta daqueles
profissionais que o Estado sempre reconheceu e certificou como habilitados a elaborar projeto (incluindo os
agentes técnicos) — mas não alargando esse âmbito.
Quando os projetos de lei baixaram à Comissão para o debate na especialidade, vários partidos
apresentaram propostas de alteração com soluções alternativas para o texto. A proposta do PCP teve nesta
matéria os seguintes objetivos fundamentais:
1 — Não permitir que se alargasse o âmbito de intervenções em que era possibilitada a elaboração de projeto
por estes engenheiros (isto é, mantendo as limitações que não permitem, designadamente, fazê-lo em contexto
de zonas de proteção, centros históricos por exemplo);
2 — Não permitir que este regime específico fosse consagrado na lei apenas por remissão genérica a uma
diretiva comunitária, antes colocar na norma em causa a referência expressa ao universo de pessoas em causa:
os licenciados num daqueles quatro cursos, matriculados até 1987.
3 — Não permitir que este regime específico fosse colocado no artigo da lei que fala do projeto de arquitetura
e quem o pode elaborar mas, sim, no artigo das disposições transitórias (ou seja, não alterar a regra mas, sim,
a «exceção», na transitoriedade de uma geração determinada).
4 — Salvaguardar que a redação da norma correspondesse ao critério definido desde o início, colocando
assim como condições de forma cumulativa: a licenciatura em causa, o ano do seu início e a inscrição na
respetiva ordem (OE ou OET).
A proposta do PCP foi, portanto, no sentido de alterar e corrigir na especialidade a formulação das iniciativas
do PSD e do PAN, e foi aprovada por unanimidade. Só duas semanas depois, no passado dia 8, foi repetida a
votação e verificou-se a alteração de posições do PS e do BE, que passaram de voto a favor para voto contra.
A posição do PCP é prova da sua coerência.
Foi aprovada ainda uma proposta de alteração do PCP sobre a iniciativa do PAN, no sentido de devolver aos
agentes técnicos de arquitetura e engenharia o reconhecimento de qualificação para direção de obra em
determinadas circunstâncias. É uma parte da solução para corrigir injustiças do passado recente.
O PCP, valorizando a solução encontrada para responder a alguns dos problemas colocados, sublinha,
todavia, a necessidade de enfrentar as múltiplas contradições, injustiças, mistificações que ao longo dos anos
todo este processo encerrou desde o início. O PCP considera fundamental que sejam desenvolvidos os esforços
no sentido de promover, em diálogo com as ordens profissionais em presença, um mecanismo de aplicação da
lei que inclua um regime de igualdade de circunstâncias nas regras profissionais e deontológicas que devem ser
cumpridas nesta matéria.
A intervenção do PCP mais uma vez neste processo legislativo pautou-se por uma abordagem construtiva,
coerente, procurando com bom senso contribuir para corrigir e evitar erros, no quadro dos princípios que sempre
afirmou.
O Deputado do PCP, Bruno Dias.
——
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Foi aprovado um texto final com o contributo de vários partidos que reconhece a reposição de um direito
adquirido a engenheiros civis que se licenciaram em quatro universidade portuguesas (Porto, Coimbra, Minho e
Técnica de Lisboa) e que iniciaram o seu curso até ao ano de 1987.
Na altura, quando se inscreveram no curso, estas pessoas tinham assegurada a possibilidade de praticar
atos de arquitetura. Deixaram de o ter depois de uma alteração legislativa em 2009, muitos anos depois de terem
terminado o curso. Esta iniciativa visa assegurar e repor direitos adquiridos que não foram assegurados na
alteração legislativa em 2009, através da Lei n.º 31/2009, a um grupo de aproximadamente 150 profissionais de
engenharia civil.
Importa dizer que atualmente, com a retirada de direitos que se verifica, existe uma situação de violação de
Direito Comunitário (Diretiva 2005/36/CE). As próprias recomendações do Provedor de Justiça vão nesse
sentido.
A existência de contradição entre o disposto na legislação nacional e na Diretiva Europeia tem como
consequência a verificação de situações de discriminação que estão a ocorrer, como o facto de engenheiros
civis estrangeiros poderem elaborar e subscrever projetos de arquitetura em Portugal e engenheiros civis com
formação em Portugal poderem elaborar e subscrever aqueles projetos no estrangeiro, mas não em Portugal.
O PAN não tem o intuito de valorizar uma classe em detrimento de outra mas, sim, de salvaguardar direitos
legítimos (adquiridos) a quem elaborou projetos de arquitetura ao longo de toda a vida até à alteração da lei e,
a meio ou perto do fim da sua carreira profissional, viu os seus direitos alienados para serem substituídos por
incertezas de exercer a sua ocupação, com consequências tanto para o seu projeto de vida como para a vida
das pessoas que colaboravam nas suas equipas de trabalho.
O PAN concorda inequivocamente com o conteúdo da Lei n.º 31/2009, ou seja, que a arquitetura deve ser
feita por arquitetos, mas não podemos aceitar que esta não tenha salvaguardado devidamente os direitos
legítimos de todas as pessoas que à data da alteração legislativa podiam elaborar e subscrever projetos de
arquitetura.
Cumpre ainda referir que o texto final não inclui apenas a reposição de direitos adquiridos a engenheiros civis
mas também, e pelas mesmas razões e princípios, aos agentes técnicos de arquitetura e engenharia. Estes
perderam as competências que detinham com a entrada em vigor da Lei n.º 31/2009, fazendo o legislador tábua
rasa da legislação anterior e impedindo aqueles de exercer a sua atividade profissional, colocando-os numa
situação de desemprego, pelo que a sua posição deve igualmente ser salvaguardada.
O Deputado do PAN, André Silva
———
Relativa aos projetos de lei n.os 495/XIII (2.ª), do PSD, 576/XIII (2.ª), do PAN, e do 577/XIII (2.ª), do PAN.
[votados, na generalidade, na reunião plenária de 19 de julho de 2017 — DAR I Série n.º 109 (2017-07-20)]:
Considerando que:
— Foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73 que permitiu, até 2009, que engenheiros pudessem subscrever
projetos de arquitetura e os arquitetos subscreverem projetos de estruturas e instalações especiais.
— O Decreto-Lei n.º 73/73 surge pela necessidade de estabelecer os requisitos mínimos para apresentação
de projetos para licenciamento municipal porque, não havendo à época, profissionais suficientes nestas áreas,
era permitido, inclusive a profissionais sem formação superior, também subscrever projetos de engenharia e
arquitetura.
— O Decreto-Lei n.º 73/73 tinha um carácter transitório até existirem profissionais com formação adequada
ao desempenho da sua profissão e, hoje em dia, já existe o número de profissionais suficientes em cada área.
— Em 2005, foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República, uma iniciativa pública de cidadãos
defendendo o interesse público de a arquitetura ser elaborada e subscrita por profissionais com formação
académica especifica em arquitetura.
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— Em 2009, foi revogado o Decreto-Lei n.º 73/73, com a entrada em vigor da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho,
que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de
projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra.
— A Lei n.º 31/2009, no ponto 2 do artigo 10.º, estabelece que «os projetos de arquitetura são elaborados
por arquitetos com inscrição válida na Ordem dos Arquitetos».
— As duas únicas áreas profissionais que são regulamentadas a nível europeu são a arquitetura e a saúde.
— A Diretiva Europeia 2005/36/CE serve para reconhecer as habilitações académicas de um profissional de
um país membro da União Europeia para assim poder inscrever-se na associação profissional de outro país e
aí poder exercer a profissão.
— Os quatro cursos de engenharia que constam do Anexo VI da Diretiva 2005/36/CE têm lugar desde 1986
porque, até 2009, de acordo com a lei portuguesa, os engenheiros podiam subscrever projetos de arquitetura.
— Os enunciados cursos de engenharia que constam no Anexo VI não têm os requisitos mínimos que
constam na Diretiva 2005/36/CE relativamente à formação de arquiteto, ao contrário dos arquitetos formados
anteriormente à entrada de Portugal na CEE, cujos currículos se aproximam inquestionavelmente dos requisitos
da Diretiva, cujos cursos são referidos no mesmo Anexo VI.
— O facto de aos engenheiros formados nos quatro cursos de engenharia, que constam no Anexo VI da
Diretiva 2005/36/CE, lhes ser reconhecida a possibilidade de exercerem a atividade de arquiteto noutro país
membro da UE, não faz desses profissionais arquitetos.
— De acordo com o edifício legislativo europeu, a revogação de direitos adquiridos é possível, mas deve ser
precedida de um período transitório.
— A Lei n.º 31/2009 estabelece um período transitório de 5 anos mais 3 para quem tenha iniciado a sua
formação completar em arquitetura e assim se habilitarem à inscrição na Ordem dos Arquitetos.
— Houve um número significativo de engenheiros que, no período transitório, completaram a sua formação
em arquitetura.
— A Lei n.º 31/2009 e as alterações introduzidas pela Lei n.º 40/2015 foram amplamente discutidas neste
Parlamento e com a participação das Ordens profissionais abrangidas.
Tendo sido aprovada a Lei n.º 40/2015 há dois anos e estando a acabar a extensão do período transitório,
teria sido mais lógico que a Comissão Europeia tivesse sido informada das alterações legislativas portuguesas
e que fossem retirados os cursos de engenharia que ainda constam do Anexo VI da Diretiva e que, por isso,
ainda habilitam esses profissionais com formação em engenharia exercer os atos próprios da profissão de
arquiteto fora de Portugal.
Desta forma, a informação que Portugal passa para o resto da Comunidade Europeia teria ficado em sintonia
com a lei portuguesa e com os parâmetros de formação exigidos pela Comunidade Europeia para a prática da
arquitetura.
A aprovação na generalidade destas propostas de lei constitui um retrocesso nos parâmetros de formação
exigidos para a prática de uma profissão com impacto significativo na paisagem e na qualidade de vida dos
cidadãos. Trata-se de uma questão de interesse público, assinalada de forma clara na iniciativa legislativa de
cidadãos (projeto de lei n.º 183/X — Arquitetura: Um direito dos cidadãos, um ato próprio dos arquitetos) e que
é reforçada na Política Nacional de Arquitetura e Paisagem, aprovada em 2015.
Para além do retrocesso que constitui, causará alguns efeitos colaterais que não foram, com certeza,
considerados por quem propôs e fez aprovar estes projetos de lei que agora baixaram para serem trabalhados
na especialidade.
Esta lei causará injustiças entre estes engenheiros cujos cursos estão ainda inscritos no Anexo VI da Diretiva
2005/36/CE e:
— os engenheiros com formação igual que iniciaram o curso posteriormente e que até 2009 também podiam
assinar projetos de arquitetura;
— os colegas engenheiros dos mesmos cursos que investiram na formação complementar em arquitetura
despois de ter saído a Lei n.º 31/2009.
Resta saber também como é que, deontológica e regulamentarmente, a atividade dos engenheiros que
possam fazer arquitetura será enquadrada, pois a Ordem dos Arquitetos é a única que tem poderes regulatórios
sobre a atividade de arquiteto.
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Em todo o caso, com a aprovação desta alteração à Lei n.º 31/2009, revogando os preceitos subjacentes a
essa lei, a ideia que Portugal passará para o resto da Comunidade Europeia é a de que há, no nosso País, um
grupo de engenheiros sem formação em arquitetura que não só pode fazer arquitetura em Portugal como
também no resto dos países europeus.
Como atrás disse, revogação do espírito subjacente à Lei n.º 31/2009 constituí um retrocesso no caminho da
modernidade que o País tem trilhado.
O Deputado do PS, Luís Vilhena.
———
Relativa ao texto final, apresentado pela Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território,
Descentralização, Poder Local e Habitação, relativo à proposta de lei n.º 60XIII (2.ª) — Apoio extraordinário à
habitação a todas as famílias afetadas pelos incêndios de agosto de 2016 na Região Autónoma da Madeira
(ALRAM). [votado na reunião plenária de 19 de julho de 2017 — DAR I Série n.º 109 (2017-07-20)]:
Durante a discussão da proposta de lei n.º 60/XIII (2.ª), tanto na generalidade como na especialidade, o
Partido Socialista tentou chamar a atenção para a incongruência desta proposta de lei, face ao desenvolvimento
dos acontecimentos desde o final de 2016.
A proposta de lei n.º 60/XIII, recorde-se, propõe que sejam alteradas as regras do programa nacional
PROHABITA de forma a abranger as famílias cujo rendimento anual bruto corrigido (RABC) seja superior a três
remunerações mínimas mensais anuais (RMNA) e deixe o critério de atribuição dos apoios à reconstrução das
habitações ao IHM.
Contudo, a proposta de lei n.º 60/XIII (2.ª) não faz muito sentido, se tivermos em conta que já tinha sido
firmado um acordo entre o Governo da República e o Governo Regional, que previa a transferência direta do
Orçamento do Estado, este ano, de 1,8 milhões de euros para a Região Autónoma da Madeira e que seria gerido
pelo IHM através de um programa regional (PRID), conforme está patente na Resolução n.º 37/2017, do Governo
Regional, de 31 de janeiro de 2017.
Porém, para o Partido Socialista, o mais importante é que algumas das famílias atingidas pelos incêndios,
que não reúnem as condições para ser abrangidas pelas regras normais do PROHABITA mas que têm
dificuldades económicas para reconstruir a sua vida e habitações, possam aceder aos apoios do Estado.
Nesse sentido, mesmo preferindo que os apoios chegassem à Região Autónoma da Madeira tal como foi
estabelecido no acordo entre os dois Governos e enquadrado num programa distinto do PROHABITA, não será
o PS que irá criar quaisquer obstáculos para que tal aconteça, dispondo-se a votar favoravelmente esta proposta
de lei.
Grupo Parlamentar do PS.
———
Nota: As declarações de voto anunciadas pelo Deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira, pelos Deputados do
PS João Torres e Joaquim Raposo, não foram entregues no prazo previsto no n.º 3 do artigo 87.º do Regimento
da Assembleia da República.
———
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.