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Sexta-feira, 13 de julho de 2018 I Série — Número 105
XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)
REUNIÃOPLENÁRIADE12DEJULHODE 2018
Presidente: Ex.mo Sr. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco Idália Maria Marques Salvador Serrão António Carlos Bivar Branco de Penha Monteiro Sandra Maria Pereira Pontedeira
S U M Á R I O
O Presidente declarou aberta a sessão às 14 horas e 37
minutos. Deu-se conta da apresentação dos projetos de lei n.os 940
a 942/XIII (3.ª) e dos projetos de resolução n.os 1756, 1757 e 1759 e 1760/XIII (3.ª).
Foi reapreciado o Decreto da Assembleia da República n.º 201/XIII (3.ª) — Regime jurídico da atividade de transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica, tendo-se pronunciado os Deputados João Paulo Correia (PS), Emídio Guerreiro (PSD), Bruno Dias (PCP), Hélder Amaral (CDS-PP), José Luís Ferreira (Os Verdes), Heitor de Sousa (BE) e Ricardo Bexiga (PS). Posteriormente, foram aprovadas propostas, apresentadas pelo PS, de aditamento de um n.º 4 ao artigo 2.º, de um n.º 4 ao artigo 20.º e de um n.º 3 ao artigo 23.º, bem como de emenda da alínea u) do n.º 2 do artigo 25.º e dos n.os 2 e 3 do artigo 30.º e, ainda, de substituição do artigo 27.º, todos daquele Decreto. De seguida, foi aprovado um novo Decreto com as alterações introduzidas.
Foi reapreciado o Decreto da Assembleia da República n.º 203XIII (3.ª) — Direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa. Proferiram intervenções os Deputados Carlos Peixoto (PSD), Isabel Alves Moreira (PS), Sandra Cunha (BE), André Silva (PAN), Vânia Dias da Silva (CDS-PP), António Filipe (PCP), Heloísa Apolónia (Os Verdes) e Sandra Pereira (PSD). Posteriormente, foi aprovada uma proposta, apresentada pelo PS, pelo BE e pelo PAN, de emenda do n.º 2 do artigo 7.º, tendo, de seguida, sido aprovado um novo Decreto com a alteração introduzida.
Procedeu-se a um debate, com a presença do Governo, sobre as prioridades da presidência austríaca do Conselho da União Europeia, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 4.º da Lei n.º 43/2006, de 25 de agosto, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 21/2012, de 17 de maio, relativa ao acompanhamento, apreciação e pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do processo de construção da União
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Europeia. Usaram da palavra a Secretária de Estado dos Assuntos Europeus (Ana Paula Zacarias) e os Deputados Carlos Alberto Gonçalves (PSD), Isabel Pires (BE), Vitalino Canas (PS), Pedro Mota Soares (CDS-PP), Miguel Tiago (PCP), Inês Domingos (PSD) e Margarida Marques (PS).
Foram discutidos, em conjunto, na generalidade, a proposta de lei n.º 82/XIII (2.ª) — Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 134/2015, de 24 de julho, que regula a atribuição de um subsídio social de mobilidade aos cidadãos beneficiários, no âmbito dos serviços aéreos e marítimos entre o continente e a Região Autónoma da Madeira e entre esta e a Região Autónoma dos Açores, prosseguindo objetivos de coesão social e territorial (ALRAM), que foi aprovada, e os projetos de resolução n.os 1644/XIII (3.ª) — Medidas extraordinárias para as situações críticas nas ligações aéreas entre o continente português e as regiões autónomas (Os Verdes), que foi rejeitado, e 1645/XIII (3.ª) — Estratégia para a mobilidade aérea com resposta eficaz para as ligações entre o continente e as regiões autónomas (Os Verdes), que foi aprovado. Usaram da palavra os Deputados Heloísa Apolónia (Os Verdes), Paulo Neves (PSD), Luís Vilhena (PS), João Pinho de Almeida (CDS-PP), Ernesto Ferraz (BE) e António Filipe (PCP).
Foi apreciado o Relatório Anual de Segurança Interna — 2017 (RASI), tendo proferido intervenções, além da Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna (Isabel Oneto), os Deputados Luís Marques Guedes (PSD), António Gameiro (PS), Jorge Machado (PCP), Telmo Correia (CDS-PP) e Sandra Cunha (BE).
Deu-se conta da entrada na Mesa dos projetos de resolução n.os 1761 e 1762/XIII (3.ª).
Foi aprovado o voto n.º 598/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Maria do Pilar de Jesus Barata Mourão-Ferreira, apresentado pelo PS e subscrito por um Deputado do PSD, após o que a Câmara guardou 1 minuto de silêncio.
Foram ainda aprovados os seguintes votos: N.º 595/XIII (3.ª) — De saudação a Carolina Costa, jovem
bailarina portuguesa que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata na final do Dance World Cup 2018, apresentado pelo PSD e subscrito por Deputados do PS;
N.º 597/XIII (3.ª) — De louvor pelo resgate de 12 jovens e do seu treinador de futebol nas grutas de Chiang Rai, na Tailândia, apresentado pelo PSD e subscrito por Deputados do PS.
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1753/XIII (3.ª) — Deslocação do Presidente da República a Salzburgo, Áustria (Presidente da AR).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1685/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o apoio aos viticultores e outros agricultores afetados pelas intempéries na região do Douro (PCP) e 1686/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um conjunto de medidas de apoio extraordinário em resultado da forte intempérie ocorrida, na freguesia do Pinhão, na União de Freguesias de Casal de Loivos, em Vale de Mendiz e Vilarinho de Cotas, na freguesia de Sanfins do Douro e na freguesia de Vilar de Maçada, no concelho de Alijó (PSD).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1735/XIII (3.ª) — Avaliação e apoio aos prejuízos agrícolas causados pelas intempéries dos meses de maio e junho de 2018 (PS) e 1748/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo o apoio aos agricultores afetados pelas intempéries ocorridas nas regiões norte e centro do País (CDS-PP);
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1603/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola EB 2, 3 de Lordelo (PSD).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1727/XIII (3.ª) — Propõe a manutenção do curso profissional de artes do espetáculo na Escola Secundária André de Gouveia, em Évora (PCP).
Foi aprovado o projeto de deliberação n.º 20/XIII (3.ª) — Solicita ao Conselho Nacional de Educação um estudo aprofundado sobre as principais opções para um regime de seleção e de recrutamento do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário (PS).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1613/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel (BE), 1629/XIII (3.ª) — Reabilitação da Escola Básica de Penafiel Sul, do Agrupamento de Escolas Joaquim de Araújo (BE) e 1745/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que programe obras de requalificação na Escola Secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel (CDS-PP).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1615/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a urgente reabilitação da Escola Secundária Henrique Medina, Esposende (BE) e 1731/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à reabilitação da Escola Secundária Henrique Medina, em Esposende, e remova todas as placas de fibrocimento com amianto (CDS-PP).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1624/XIII (3.ª) — Pela requalificação com carácter de urgência da Escola Secundária de Esmoriz, em Ovar (BE), 1633/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária de Esmoriz (Ovar) (Os Verdes), 1639/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária de Esmoriz (PSD), 1683/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que intervenha para a requalificação da Escola Secundária de Esmoriz (PCP) e 1690/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que inclua a Escola Secundária de Esmoriz na lista nacional de escolas a requalificar com fundos do Portugal 2020 (CDS-PP).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1628/XIII (3.ª) — Escola Secundária de Valbom (Gondomar) (BE), 1667/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária de Valbom, Gondomar (PSD) e 1733/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que tome as medidas necessárias para a urgente requalificação e reabilitação da Escola Secundária de Valbom, de modo a garantir dignidade a toda a comunidade escolar (CDS-PP).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1630/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária do Lumiar, em Lisboa (BE), 1687/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que realize, com urgência, obras de requalificação na Escola Secundária do Lumiar, em Lisboa (CDS-PP) e 1697/XIII (3.ª) — Requalificação urgente da Escola Secundária do Lumiar, no concelho de Lisboa (Os Verdes).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1373/XIII (3.ª) — Recomenda a valorização do ensino profissional, com a garantia da igualdade de oportunidades de todos os estudantes (PCP) e 1501/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda ao adiantamento das prestações devidas às escolas de ensino profissional sempre que haja atrasos no financiamento do POCH (CDS-PP).
Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1724/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desencadeie as ações necessárias tendo em vista a construção do novo hospital de Barcelos (BE), 1602/XIII (3.ª) — Construção do novo hospital de Barcelos (PCP), 1743/XIII (3.ª) — Construção de um novo hospital em Barcelos (CDS-PP) e 1749/XIII (3.ª) — Pela construção do novo hospital de Barcelos (PS).
Foi aprovado o projeto de resolução n.º 1595/XIII (3.ª) — Propõe medidas para que se iniciem, em 2018, os procedimentos para a construção do novo hospital central público do Alentejo, em Évora (PCP).
Foram aprovados, em votação final global, os seguintes textos finais:
Apresentado pela Comissão de Trabalho e Segurança Social, relativo ao projeto de lei n.º 456/XIII (2.ª) — Cria o regime excecional de indexação das prestações sociais dos deficientes das Forças Armadas (CDS-PP);
Apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo aos projetos de resolução n.os 1565/XIII (3.ª) — Pela correta aplicação da Lei n.º 57/2017, de 19 de julho (BE) e 1666/XIII (3.ª) — Pela fiscalização da efetiva aplicação do Decreto-Lei n.º 57/2016, de 29 de agosto, alterado pela Lei n.º 57/2017, de 19 de julho (Emprego Científico) (PCP);
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Apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo aos projetos de resolução n.os 1574/XIII (3.ª) — Requalificação e realização urgente de obras em escolas do Agrupamento de Escolas Santos Simões, Guimarães (PCP), 1612/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a urgente reabilitação da Escola Básica e Secundária Santos Simões, em Guimarães (BE), 1712/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Básica e Secundária Santos Simões, Guimarães (PSD), 1722/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente em escolas do Agrupamento de Escolas Santos Simões, em Guimarães (Os Verdes) e 1732/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à reabilitação e requalificação da Escola Básica e Secundária Santos Simões, em Guimarães (CDS-PP);
Apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo aos projetos de resolução n.os 1571/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à realização de obras de reabilitação da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão, em Braga (CDS-PP), 1576/XIII (3.ª) — Urgente requalificação da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão (PCP), 1626/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão de Braga (Os Verdes) e 1682/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão, em Braga (PSD);
Apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo aos projetos de resolução n.os 1562/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à elaboração de um plano para reabilitação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, na vila de Joane (CDS-PP), 1563/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a requalificação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, na vila de Joane (PSD), 1575/XIII (3.ª) — Urgente requalificação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado (PCP) e 1622/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, de Vila Nova de Famalicão (Os Verdes);
Apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo aos projetos de resolução n.os 1561/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à urgente reabilitação da Escola Secundária de Barcelinhos e remova todas as placas de fibrocimento (CDS-PP), 1578/XIII (3.ª) — Requalificação e realização urgente de obras na Escola Secundária de Barcelinhos (PCP) e 1625/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária de Barcelinhos – Barcelos (Os Verdes);
Apresentado pela Comissão de Saúde, relativo aos projetos de resolução n.os 1638/XIII (3.ª) — Pela célere construção do hospital central do Algarve (PCP), 1698/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desencadeie as ações necessárias para a construção do hospital central do Algarve (BE) e 1725/XIII (3.ª) — Pela melhoria dos cuidados de saúde hospitalares públicos no Algarve (PCP);
Apresentado pela Comissão de Saúde, relativo aos projetos de resolução n.os 1655/XIII (3.ª) — Pela célere construção do novo hospital de Lagos (PCP) e 1726/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desenvolva os procedimentos necessários para a construção do novo hospital de Lagos (BE).
Foram aprovados três pareceres da Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias: um, autorizando uma Deputada do PS a intervir no âmbito de um processo que corre em tribunal; outro, sobre o levantamento de imunidade parlamentar de uma Deputada do PSD também para intervir no âmbito de um processo que corre em tribunal; outro, relativo à suspensão do mandato de dois Deputados do PS e respetiva substituição, limitando-se ao período do dia 11 de julho de 2018.
O Presidente (José de Matos Correia) encerrou a sessão eram 19 horas e 17 minutos.
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, vamos dar
início a esta longa sessão.
Eram 14 horas e 37 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade para abrir as portas das galerias.
Antes de iniciarmos a ordem do dia, com a reapreciação do Decreto da Assembleia da República n.º 201/XIII
(3.ª) — Regime jurídico da atividade de transporte individual e remunerado de passageiros em veículos
descaracterizados a partir de plataforma eletrónica, o Sr. Secretário vai proceder à leitura das iniciativas
legislativas que deram entrada na Mesa.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e
foram admitidos, os projetos de lei n.os 940/XIII (3.ª) — Acaba com a possibilidade de suspensão da condição
de jubilado dos magistrados judiciais para o exercício das funções de árbitro em matéria tributária (quarta
alteração ao Regime Jurídico da Arbitragem Tributária) (BE), que baixa à 1.ª Comissão, em conexão com a 5.ª
Comissão, 941/XIII (3.ª) — Termina com a possibilidade de recurso à arbitragem por parte do Estado e pessoas
coletivas públicas (BE), que baixa à 1.ª Comissão, em conexão com a 5.ª Comissão, e 942/XIII (3.ª) — Institui o
Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos como laboratório nacional do medicamento (PCP),
que baixa à 9.ª Comissão, em conexão com a 3.ª Comissão.
Deram ainda entrada na Mesa os projetos de resolução n.os 1756/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
adote medidas para corrigir as anomalias nos voos e a prestação de assistência adequada aos passageiros
para as regiões autónomas (PSD), que baixa à 6.ª Comissão, 1757/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
promova junto da ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) o estudo da otimização da operacionalidade do
Aeroporto Internacional da Madeira-Cristiano Ronaldo (PSD), que baixa à 6.ª Comissão, 1759/XIII (3.ª) —
Propõe medidas de reforço dos cuidados paliativos (PCP), que baixa à 9.ª Comissão, e 1760/XIII (3.ª) —
Recomenda ao Governo o reforço na resposta do Serviço Nacional de Saúde ao nível dos cuidados continuados
(PCP), que baixa à 9.ª Comissão.
É tudo, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Vamos, então, passar ao primeiro ponto da nossa ordem do dia e proceder à
reapreciação do Decreto da Assembleia da República n.º 201/XIII (3.ª) — Regime jurídico da atividade de
transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma
eletrónica.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Paulo Correia, do PS.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Voltamos ao debate sobre um
novo setor de atividade, o transporte individual em veículos descaracterizados, um setor de atividade que,
atualmente, funciona de forma irregular, sem regras e com pouca ou nenhuma fiscalização.
O transporte individual em veículos descaracterizados resulta de uma inovação tecnológica que iniciou uma
nova atividade económica em muitos países da Europa e do mundo. No nosso entender, não vale a pena fingir
que não existe esta nova atividade, o que importa é regulamentá-la, fiscalizá-la, monitorizá-la.
Esta nova atividade é operada por plataformas eletrónicas que usam os territórios fiscais e económicos de
muitos países para uma atividade comercial.
Uma das regras aprovada no Decreto, que agora está a ser reapreciado na Assembleia, é a de que estas
plataformas eletrónicas são consideradas operadores de transporte e, com isso, sujeitam-se e submetem-se à
legislação comunitária e à legislação nacional que é aplicada a todos os operadores de transporte.
Igualmente nesse Decreto, que foi aqui aprovado também com o apoio do Partido Socialista, este novo setor
de atividade tem uma arquitetura que assegura reais condições de concorrência, de combate à precariedade
laboral e de combate à minimização da evasão fiscal. Estas plataformas eletrónicas, como disse há pouco, são
consideradas operadores de transporte. Só podem prestar serviço às plataformas eletrónicas operadoras que
sejam constituídas como empresas e essas empresas, que, por sua vez, prestam serviço às plataformas
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eletrónicas, como acabei de dizer, contratam motoristas, com quem fazem contratos de trabalho ou contratos
de prestação de serviços, e contratam também veículos.
Quer para estes operadores, quer para os veículos, quer para os motoristas, no Decreto que estamos a
reapreciar, também com o apoio do Partido Socialista, foi introduzido um conjunto de normas e de requisitos
que garantem objetivos essenciais como o combate à precariedade laboral e à evasão fiscal.
Aquilo que hoje aqui discutimos são alterações a esse Decreto, alterações essas que, na proposta do Partido
Socialista, procuram atingir dois objetivos.
O primeiro é o de aumentar a contribuição que estas plataformas eletrónicas vão dar para este novo setor de
atividade, receita essa que fica consignada às entidades de supervisão e de regulação. No Decreto que está a
ser reapreciado, o valor proposto era para um intervalo entre 0,1% e 2%, mas na proposta de alteração que o
Partido Socialista apresenta vai para uma contribuição no valor de 5%, um valor fixo que irá ser pago por essas
plataformas eletrónicas.
Simultaneamente, apresentamos uma proposta para que fique clarificado que as empresas que atualmente
operam no setor do táxi possam também operar neste novo setor de atividade, possam ser operadores de TVDE,
transporte individual em veículos descaracterizados. E poderão fazê-lo desde que cumpram todas as regras e
o processo de licenciamento que é aplicado a todas as outras empresas que queiram, igualmente, prestar
serviços às plataformas eletrónicas. Está, está, obviamente, impedido que essas empresas que operam
atualmente no setor do táxi possam usar os veículos do setor do táxi para o setor do transporte individual em
veículos descaracterizados, como também não poderão recorrer aos benefícios e às isenções fiscais que são
aplicadas no setor do táxi e que não serão aplicadas neste novo setor.
Promove-se, assim, um equilíbrio entre um novo setor de atividade, resultante da inovação tecnológica, e o
setor tradicional, que é o setor da indústria do táxi.
Para terminar, queria enaltecer o avanço que o Governo deu na modernização do setor do táxi — e que,
daqui a alguns minutos, irá ser objeto de uma intervenção do Partido Socialista — e já são conhecidos
publicamente os pontos em comum consensualizados com as associações representativas do setor do táxi.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Emídio Guerreiro, do PSD.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate de hoje ocorre devido à
devolução do diploma, sem promulgação, por parte do Sr. Presidente da República. Por isso, estamos hoje,
aqui, a debater de novo esta matéria.
O Sr. Presidente da República invoca, no seu veto presidencial, duas razões: primeira, que nos diz que este
diploma, que hoje reapreciamos, não incide sobre o regime legal do táxi; segunda, que nos diz que a contribuição
prevista na legislação para o regime TVDE, transporte em veículos descaracterizados a partir de plataforma
eletrónica, é incipiente face às obrigações e aos direitos de ambos os modelos. Por isso, estamos aqui, hoje, a
discutir.
Mas, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, antes de nos debruçarmos sobre a matéria do veto presidencial
propriamente dita, penso ser este o momento oportuno para fazermos uma reflexão histórica sobre o percurso
que nos trouxe até aqui.
Há meses, discutimos esta matéria durante bastante tempo, em sede de especialidade, em comissão. As
diferentes propostas que existiam em cima da mesa, quer as do Governo, quer as dos partidos que suportam
parlamentarmente este Governo, eram muito diferentes da proposta do PSD, desde logo, pelo modelo
conceptual, por uma questão de paradigma, diria até.
Para nós, foi sempre claro e evidente que os operadores destas plataformas são operadores de transportes
e não meras ferramentas eletrónicas. Ou seja, sempre tivemos razão nesta matéria. E foi isso, de facto, que o
Tribunal de Justiça da União Europeia deixou bem claro em diversos acórdãos, nomeadamente em dezembro
de 2017.
Mas esta diferença de abordagem condicionou durante muitos meses o debate parlamentar e o PSD teve de
esperar que outros compreendessem o que estava em causa, que outros absorvessem, de facto, o modelo a
que se referia as TVDE, as operadoras de transporte.
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Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Registo agora, com muito apreço, a evolução que o Partido Socialista
teve, até porque o Sr. Deputado João Paulo Correia acabou de dizer por três ou quatro vezes que são
operadoras de transportes. Ainda bem que fazem esse entendimento, mas, durante meses, não o tiveram.
Por isso, tivemos de esperar, dizia eu, que outros partidos nos acompanhassem neste paradigma, neste
modelo, para que pudéssemos construir uma legislação clara nos direitos e nos deveres dos operadores,
acompanhando os modelos que vão surgindo um pouco por toda a Europa. Deste modo, salvaguardamos os
interesses dos cidadãos, os direitos dos trabalhadores de ambos os modelos, de TVDE e dos táxis,
regulamentamos a formação necessária aos motoristas. As regras têm de existir dentro da TVDE,
responsabilizando o operador das plataformas pelo seu cumprimento, no seu todo.
Poderia ter sido mais rápido? Sim. Mas isso nunca dependeu do PSD. Tivemos de esperar que outros
evoluíssem no seu pensamento.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Feita esta resenha histórica, olhemos, então, para as reservas
manifestadas pelo Sr. Presidente da República.
Quanto ao primeiro ponto, o facto de o diploma não incidir no regime legal dos táxis, esta Assembleia teve
oportunidade de dizer ao Sr. Presidente que estava atenta e sensível a este argumento. Já depois do veto,
tivemos aqui debate sobre projetos de resolução de diferentes partidos, aprovámos recomendações ao Governo
no sentido de concluir o processo.
É claro que ajudava a tudo isto se o Governo fosse mais diligente e célere. Sabemos que o Governo criou,
há quase dois anos, um grupo de trabalho para avançar no regime jurídico e legal dos táxis. Soubemos agora,
também pela voz do Partido Socialista, que, finalmente, o processo está concluído. Ainda bem, porque, deste
modo, o Governo junta-se à Assembleia para responder à primeira objeção que o Sr. Presidente da República
manifesta neste seu veto.
Quanto à segunda reserva feita pelo Sr. Presidente da República, ela vai ao encontro do que sempre
defendemos: se o operador da plataforma eletrónica é um operador de transporte, ele deve ser não só o
responsável pelo sistema mas, e sobretudo, tem de contribuir para os custos de regulação, bem como para o
IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes), para a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e para o
Fundo para o Serviço Público dos Transportes.
Não posso deixar de recordar que o PSD foi o único partido que, em sede de especialidade, apresentou uma
taxa de 5% para estas operadoras contribuírem para o sistema.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — É verdade que não foi aprovada esta nossa proposta, é verdade que
tivemos de ceder para limites bastante mais baixos, mas fizemo-lo em nome deste princípio, senão não existiria
no diploma nenhum artigo que responsabilizasse as plataformas e que as obrigasse a contribuir financeiramente
para o sistema. Por isso, aceitámos esta redução, mas a verdade é que estes valores fixados no diploma, como
classifica o Sr. Presidente, e cito, são «um patamar mínimo simbólico».
O PSD, como é óbvio, concorda em relação a esta matéria com o Sr. Presidente da República. Já no passado,
tentámos fazer com que os restantes partidos nos acompanhassem, mas não foi possível. Agora, assistimos
com satisfação a que a nossa proposta inicial, que voltamos a trazer a esta Câmara, também é proposta por
outros partidos.
Houve todo um caminho de evolução, de aproximação de uns para connosco, e que registamos como
positivo, porque o que importa é resolver os problemas.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Isso!
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Considerando as razões invocadas
na devolução do diploma pela Presidência da República, considerando o histórico deste processo legislativo,
acreditamos que hoje existem, finalmente, condições para que esta Assembleia aprove um regime que satisfaça
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o setor dos transportes, os cidadãos e as reservas manifestadas pelo Sr. Presidente da República. Assim,
apresentamos apenas duas propostas de alteração.
Na primeira proposta pretendemos clarificar o modo como a atividade de táxi pode, em simultâneo,
desenvolver a atividade de TVDE, cumprindo os procedimentos de licenciamento aplicáveis e as disposições
previstas no presente diploma, afetando a esta atividade veículos não licenciados como os táxis, ou seja,
queremos que seja possível ter as duas vertentes, mas não o mesmo carro. Um carro não pode ser táxi de
manhã, ser operado eletronicamente à tarde e à noite voltar a ser táxi. Não! Os regimes são distintos, mas as
empresas podem ter, de facto, veículos distintos para fazer um serviço ou outro, cumprindo as regras de ambos
os modelos jurídicos.
Na segunda proposta, a que já fiz referência, recuperamos o valor da contribuição da nossa proposta inicial,
fixando em 5% dos valores da taxa de intermediação cobrados pelo operador de plataforma eletrónica em todas
as suas operações.
Com estas propostas, esperamos suprir as lacunas identificadas no veto presidencial e avançar com o regime
inovador que trará ao sistema regras claras, permitindo a coexistência do modelo convencional, o dos táxis, com
o modelo da TVDE.
Este é o momento em que esta Câmara pode dar um sinal claro de que está disponível para acompanhar a
evolução tecnológica, que nos traz todos os dias novas possibilidades em diversos setores, incluindo o da
mobilidade, que não podem ficar reféns da velocidade do processo legislativo.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do Grupo Parlamentar do PCP, para uma
intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A primeira questão que queremos aqui
reafirmar vale para o setor do transporte de passageiros, como para todos os outros setores do debate político.
É que modernizar não é andar a reboque de multinacionais, porque a triste realidade é que PS, PSD e CDS
passaram os últimos anos a reboque das multinacionais, deslumbrados com uma modernidade e com uma nova
atividade que, afinal, mais não são do que a liberalização e o regime de privilégio para quem tem o poder
económico.
Primeiro, permitiram a atuação ilegal das multinacionais num comportamento vergonhoso, que, aliás, se
mantém, com os governos a darem instruções para uma atuação passiva das forças de segurança. Diversas
vezes, através de requerimentos escritos e de intervenções no Parlamento, o PCP denunciou esta cumplicidade
com a violação da lei, mas os partidos dos Governos PSD/CDS, primeiro, e PS, depois, mantiveram estas
práticas. Ficou, assim, exposto que, neste quadro, a força do Estado não existe para ser utilizada contra o poder
económico, mesmo quando tal representa a defesa da lei perante estas políticas.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Bem lembrado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Paralelamente, o PS, o PSD e o CDS tentam legalizar um regime paralelo para
uma mesma atividade económica, um regime paralelo e concorrencial ao do táxi, moldado ao serviço de uma
grande multinacional e ameaçando o setor do táxi, com as consequências de uma concorrência desleal de
grandes grupos económicos dispostos a investir muito dinheiro para se apropriarem da atividade económica.
Foi assim que, em abril deste ano, PS, PSD e CDS uniram os seus votos para aprovar uma lei que legalizaria
a atuação das multinacionais, legalizando a concorrência desleal, num processo onde o BE também avançou
com uma proposta de criação de um segundo regime paralelo ao do táxi. Só o PCP manteve sempre a sua
perspetiva, votando contra estas propostas do PS, do PSD e do CDS e recusando qualquer ideia de um segundo
regime para o transporte remunerado de passageiros. Essa lei foi aprovada na Assembleia da República, apesar
da crescente e da generalizada contestação que, em diversas cidades e países do mundo, tem sido
desenvolvida contra os objetivos das multinacionais que, a pretexto da utilização de plataformas digitais,
promovem práticas comerciais ilegais como o dumping nos preços.
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para conquistar o mercado não cumprem os requisitos que são impostos aos
taxistas e às suas empresas que estão no mercado, transferem para terceiros, incluindo para os trabalhadores
e para os motoristas, os custos com as viaturas, com os seguros, com os custos administrativos, apoderando-
se, por esta via, das receitas obtidas pela operação de milhares de trabalhadores.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Paralelamente, as cidades que promoveram este tipo de liberalização começam
a debater-se com as inevitáveis consequências de um processo desse género e volta a colocar-se a necessidade
de reintroduzir questões como a delimitação de contingentes.
A lei foi vetada pelo Presidente da República, que acolheu muitos dos argumentos que tinham sido
apresentados naquela discussão, nomeadamente estas questões da concorrência desleal entre dois regimes
para uma mesma atividade económica: um sem contingentes, o outro com contingentes; um sem preços fixos,
o outro com preços fixos.
O que a Assembleia da República deveria fazer é, na verdade, aquilo que o PCP, desde o princípio, propõe
e defende. Ou seja, em vez de criar um novo regime paralelo e concorrencial ao do táxi, deveria regulamentar
as plataformas digitais, impondo-lhes a utilização de viaturas legalizadas, licenciadas, como as do táxi; impedir
a liberalização de preços que as multinacionais utilizarão, e utilizam, para o dumping e para a concorrência
desleal; manter a definição de contingentes para o táxi, admitindo evoluções nos regimes de letra A e de letra
T; enfim, aproveitar para concretizar um vasto pacote de medidas de verdadeira modernização do setor.
Aquilo que é inaceitável é a manutenção de um quadro de desigualdade, enquanto se prometem, para quem
está a sofrer e tem vindo a sofrer, medidas que, até agora, continuam sem sair do papel.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mas, no processo legislativo concreto em que nos encontramos, mais uma vez,
nos apresentamos ao debate com as nossas propostas.
Basicamente, retomamos três questões centrais que temos vindo a sublinhar, desde o início: organização da
oferta e da atividade, com a atribuição de competências aos municípios quanto ao licenciamento das viaturas a
colocar ao serviço; definição de preços e tarifas com clareza e transparência, estabilidade, com um tarifário
homologado, que não permita flutuações, duplicações, triplicações de preço, ao serviço ou ao sabor dos
algoritmos, que não permita dumping ou vendas com prejuízo; e, finalmente, definição dos regimes de formação
dos motoristas, que têm de ter igualdade de critérios e as mesmas aplicações em termos de exigência.
São estas as propostas que o PCP apresenta, mas reiteramos que é inaceitável esta política de deixar —
como o PS, o PSD e o CDS pretendem — que algo como o poder económico das multinacionais coloque no
mercado quantos carros quiser, onde quiser, cobrando quanto quer, enquanto o setor do táxi continua altamente
regulamentado e com exigências completamente diferentes.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há sempre duas formas de
olharmos para este problema. Uma, é fazer de conta que o problema não existe. Há uma distorção do mercado,
há concorrência desleal, mas nós não queremos inovar e não queremos cumprir o nosso dever, que é dar
resposta a um desafio que a sociedade nos coloca.
Nós entendemos que devíamos dar resposta a este problema novo, que configura uma inovação, algo que
todos nós apoiamos, que configura modelos novos de gestão e que configura até, como foi muitas vezes
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aplaudido, aquilo onde queremos investir cada vez mais e que está no discurso de todos os grupos
parlamentares: apoiar a inovação e o empreendedorismo.
Portanto, este é um modelo novo de negócio, é uma atividade nova, merece uma lei nova e o legislador deve
estar alinhado com as características deste novo negócio, ou seja, tem de aplicar aquilo que procura aplica a
tudo o que o diz respeito à Administração. Ninguém, aqui, é contra o Simplex, ninguém é contra a simplicidade,
mas, ao mesmo tempo, todos nós gostamos que haja segurança jurídica,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … segurança de serviço, certeza jurídica, que haja defesa do consumidor
e que os organismos do Estado sejam capazes de fiscalizar e de atuar de acordo com aquilo que são as suas
competências.
Assim, deve proteger-se o negócio e o prestador de serviço, bem como o consumidor dessa mesma
atividade. Aliás, tal está expresso no veto do Sr. Presidente da República.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — O que nos diz o veto? Diz-nos que, ainda assim, há pontos de contato
com um setor, se assim quisermos chamar-lhe, tradicional — eu não gosto do termo, pois pode parecer que não
é importante, que não é sério, que é despiciente, mas não, é um setor importante da atividade económica
nacional —, o setor do táxi. Portanto, precisamos de saber o que se pode fazer naqueles pontos em que há
contatos. Eu sou de opinião que não devemos dar menos às plataformas, devemos é dar mais ao setor do táxi.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — E como queremos dar mais ao setor do táxi, o CDS fez exatamente isso,
deu também uma resposta, por antecipação, àquela que era uma das dúvidas do Sr. Presidente da República.
Ao mesmo tempo que resolvemos um problema novo relativo a uma atividade nova, vamos dar também mais
ao setor do táxi. Mas, como não conseguimos fazer ambas ao mesmo tempo, elaborámos um projeto de
resolução, muito antes do veto do Sr. Presidente. Aliás, o veto é do dia 30 de março de 2018 e, no dia 22 de
março de 2018, o CDS agendou e discutiu um projeto de resolução exatamente para preencher, por antecipação,
a dúvida do Sr. Presidente da República, isto é, é preciso tratar, ao mesmo tempo, os pontos em que os
problemas coincidem.
Por isso, fizemos propostas no sentido de: criar tarifas específicas para serviços noturnos ou para
determinadas datas do ano — e cá estão as tarifas flexíveis; criar um tarifário duplo para viaturas com mais de
quatro lugares; densificar o conceito de táxi letra T e de táxi letra A, que existem, mas que não tratámos nem
numa legislação nem noutra, nem mesmo na lei do táxi, que é matéria de que devemos também tratar; encarar
a possibilidade de os empresários do setor poderem suspender a licença por um período de 12 meses,
contornando aquela que é, eventualmente, uma dificuldade do mercado.
Mais: propusemos também concretizar um plano sustentável de aquisição de viaturas «amigas do ambiente»
— lembre-se que outro grande desígnio do Governo e da geringonça, e, já agora, nosso também, é a redução
das emissões de CO2 —, pois o setor merece, de facto, modernizar a frota, e este é mesmo um dos fatores que
pode ajudar a melhorar o clima de concorrência; proceder à melhoria das condições das praças de táxis,
estabelecendo-se padrões mínimos de condições para os utentes e para os profissionais; e até, porque os táxis
funcionam, esses sim, como verdadeiro serviço público em zonas do País onde ainda não há Uber, criar um
benefício, com desconto até 10%, para pessoas que estão isoladas e que pretendam deslocar-se,
nomeadamente para tratamentos de saúde.
Portanto, fizemos a nossa parte, falta o Governo fazer a sua. Foi agora anunciado que o Partido Socialista
fará uma intervenção a seguir, e eu fico à espera que, finalmente, o Governo cumpra a sua parte, traga aqui as
propostas e acolha, ou não, as propostas do CDS.
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Da nossa parte, estamos disponíveis para trabalhar rapidamente, da forma mais célere, da forma mais
eficiente, da forma mais profícua, para que o setor do táxi tenha as mesmas armas, ou tenha armas melhores,
para combater também no mercado e para conseguirmos ter um verdadeiro clima de concorrência neste setor.
Se o Governo fizer essa aposta e essa apresentação, o CDS ficará, obviamente, satisfeito.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Da nossa parte, é simples: iremos, obviamente, votar em concordância
com aquela que foi a discussão feita na especialidade, nada temos contra — estava já na lei, mas agora aparece
de forma mais clara — a possibilidade de também os empresários do setor do táxi poderem ter atividades de
plataforma eletrónica.
Não seremos favoráveis à criação de uma taxa, ou ao aumento dessa taxa, pois, para nós, como devem
calcular, criar taxas e taxinhas não é propriamente uma forma de ajudarmos o mercado, mas não estaremos
contra esta proposta.
O que nós queremos é que este setor tenha capacidade, a todo o tempo, de ser fiscalizado, queremos que
haja controlo, segurança e defesa do consumidor, ou seja, não podemos desproteger a parte mais fraca, que é
o consumidor. O que queremos é que o consumidor tenha mais opções, com mais qualidade, mais segurança
e, se possível, a melhor preço.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar de Os Verdes.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A devolução, sem
promulgação, por parte do Sr. Presidente da República do Decreto desta Assembleia, sobre o transporte
individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica, ou, dito
de forma mais simples, através da sua sigla, TVDE, merece, por parte de Os Verdes, os comentários que se
seguem.
O Presidente da República assenta, basicamente, a sua fundamentação em duas reservas políticas de fundo.
Por um lado, porque o diploma foi apenas trabalhado e pensado para uma das entidades concorrentes, neste
caso, o TVDE, ignorando-se completamente o regime legal do táxi. Por outro lado, porque a solução encontrada
não é equilibrada, pois desde logo, para o setor do táxi, há contingentes que não se verificam para o TVDE,
nomeadamente, a questão das tarifas, uma vez que para os táxis são fixas, enquanto que para o TVDE são
livres.
Os Verdes acompanham estas reservas do Presidente da República, que, aliás, denunciámos neste Plenário
durante as várias discussões que, sobre a matéria, aqui travámos.
Mas, para além destas, Os Verdes continuam a reafirmar outras reservas que nos afastam completamente
deste diploma, dos seus objetivos e das suas mais que previsíveis consequências.
De facto, o diploma que agora reapreciamos representaria uma verdadeira facada num setor tão importante
como é o do táxi, a ponto de colocar mesmo em causa a sua sobrevivência a curto prazo. Mas representaria
também uma facada nas micro, pequenas e médias empresas ligadas ao setor e até à própria economia, uma
vez que significativas receitas deixariam de ter como destino essas PME e passavam a ser canalizadas para o
estrangeiro, com todas as consequências que daí decorrem para a nossa economia.
Por isso, não estranhamos a decisão do Presidente da República, que, de resto, acolhemos com agrado.
O que Os Verdes estranham e consideram absolutamente inaceitável é que multinacionais como a Uber,
mas não só, continuem a desenvolver as suas atividades à margem da lei. O que estranhamos é que as
multinacionais não respeitem as leis e continuem a operar, já lá vão mais de quatro anos, de forma
grosseiramente ilegal e perante a passividade, aliás, preocupante, das autoridades. Se ninguém está acima das
leis, as multinacionais também não podem estar!
Portanto, é preciso cumprir as leis porque é para isso que elas existem, ou seja, para serem respeitadas. E,
se existem, é para todos natural e democraticamente.
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Para terminar, gostaria de dizer que, para Os Verdes, esta decisão do Presidente da República deve ser
olhada, antes de mais, como uma oportunidade, principalmente para que não venhamos a ter dois regimes
jurídicos completamente diferentes para o mesmo serviço ou para a mesma profissão.
Esta é a questão-chave neste processo, questão, aliás, que não fica resolvida com as propostas que o PS e
o PSD hoje nos apresentam, porque essas propostas não só não respondem às reservas manifestadas pelo
Presidente da República…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Dizia, então, que essas propostas não só não respondem às reservas manifestadas pelo Presidente da
República, como não resolvem o problema que está instalado e que aponta para termos dois regimes diferentes
para a mesma atividade, com claro e notório prejuízo para o setor do táxi.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor de Sousa, do Boco de
Esquerda.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Creio que é preciso começar por
situar este debate e afastar um debate lateral que não interessa fazer neste momento e que o Sr. Deputado
Hélder Amaral introduziu na sua intervenção.
Não estamos a discutir, neste momento, as medidas de modernização do setor do táxi. Estamos a discutir a
resposta que a Assembleia da República dá, ou não dá, ao veto do Sr. Presidente da República e o caminho
que queremos seguir na prossecução das respostas que os vários grupos parlamentares formulam em relação
às razões que sustentaram o veto do Sr. Presidente da República.
Portanto, relativamente a tudo o que tem a ver com a modernização do setor do táxi, sabemos que o CDS
apresentou um projeto de resolução, o Bloco de Esquerda também apresentou um projeto de resolução há
bastante tempo, foi anunciado que o Governo, através do grupo de trabalho, prepara uma proposta de lei que
visa a modernização do setor. Quando essa proposta de lei chegar, então, faremos a discussão sobre a
modernização do setor do táxi.
Neste caso, o que discutimos é o regime jurídico da atividade de transporte individual e remunerado de
passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica. Neste título, está a principal razão
por que o Bloco de Esquerda não apresentou nenhuma proposta de alteração ao Decreto aprovado na
Assembleia da República. É porque achamos que o regime jurídico de uma atividade que é feita a partir de
plataforma eletrónica viola o acórdão do Tribunal de Justiça Europeu, que já decidiu, numa ação interposta pelos
profissionais de táxi de Barcelona, em favor desses motoristas de táxi, que, justamente, invocavam o facto de o
serviço de tipo Uber ser um serviço disfarçado de táxi. Como tal, deve ser considerado um serviço de transporte
e não um serviço a partir de plataforma eletrónica.
Esta não é uma questão de pormenor, é uma questão de pormaior, porque vai ser muito difícil fiscalizar uma
atividade que não é uma atividade de transporte enquadrada no regime jurídico de transporte público do tipo
táxi, mas que se enquadra num regime jurídico de uma atividade realizada a partir de plataforma eletrónica.
Podem as empresas ter sede aqui, em Portugal, podem as empresas contratar apenas pessoas portuguesas,
mas a razão que está na origem da ilegalidade e da violação das regras da concorrência está no facto de elas
operarem a partir de plataformas eletrónicas, de direitos de software que são discriminatórios e impossíveis de
fiscalizar. Isto porque as empresas não estão sediadas aqui, apenas são filiais de empresas multinacionais.
Em relação a uma empresa que presta serviços com base em plataformas de tipo Uber, cujo regime de tarifas
é dinâmico e cujo algoritmo ninguém conhece — e a Uber não o vai fornecer —, vai ser muito complicado
contestar, mesmo em tribunal, que esse algoritmo deve ser fixado de acordo com o que a Autoridade da
Mobilidade e dos Transportes (AMT) ou que o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) venham a definir
para enquadrar esse regime dinâmico.
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Por exemplo, a proposta do PCP, sendo uma proposta boa nas suas intenções, muito dificilmente vai ser
aplicável, porque isso supõe que a Uber, por exemplo, venha a admitir fornecer um algoritmo de que é exclusiva
proprietária e que não fornece a ninguém, uma vez que aí é que está, digamos assim, o pote de ouro.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não há algoritmo, há tarifários!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Mesmo as regras do regime tarifário dinâmico ninguém as conhece. E não é
por razões de fixação na lei que isso vai ser possível ser alterado.
Sr. Deputado Bruno Dias, é uma intenção muito pouco plausível de ser aplicada, embora estejamos de
acordo com a proposta que o Grupo Parlamentar do PCP faz. Mas, para isso acontecer, era preciso que a Uber
fosse enquadrada não num regime a partir de plataformas eletrónicas, mas num regime público de transportes,
nos mesmos termos que o Tribunal de Justiça já decidiu.
É essa a razão pela qual, em muitos países, o serviço da Uber não foi aceite, pois a Uber não está disposta
a respeitar as regras de enquadramento de um serviço público de transportes de tipo táxi, correspondendo, no
fundo, a uma segmentação da atividade de táxi que está a ser desenvolvida com base na angariação de clientes
a partir de uma plataforma eletrónica. Repito, com base na angariação de clientes a partir de uma plataforma
eletrónica!
Aquilo que se está aqui a preparar é que haja plataformas eletrónicas que fazem esse processo de
angariação de clientes em Portugal, que já estão no território, e que vão reclamar, certamente, para o futuro,
uma igualização de condições em relação às plataformas eletrónicas de tipo Uber e Cabify.
Portanto, Srs. Deputados dos vários grupos parlamentares, incluindo o PCP, o que a Assembleia da
República se prepara para aprovar é um verdadeiro labirinto jurídico cujo imbróglio dificilmente vai ser resolvido,
a não ser que se siga a decisão do Tribunal de Justiça Europeu, de rejeitar a possibilidade de existir uma
atividade de transporte a partir de uma plataforma eletrónica, quando é uma atividade de transporte público.
Contudo, concordamos com um conjunto de propostas apresentadas, que são, aliás, em muitos casos, iguais
às que já apresentámos no nosso projeto de lei e que foi rejeitado por esta Assembleia. Nesse sentido,
votaremos a favor das propostas que estão de acordo com o Bloco de Esquerda.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Apenas quero concluir dizendo que há um problema de desigualdade e de
iniquidade no tratamento comparativo com o serviço regular de táxis que nenhuma das propostas resolve,
nomeadamente o facto de a atividade de licenciamento ser da responsabilidade das câmaras municipais,…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem mesmo de terminar.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — … mas essas câmaras municipais, nas propostas que são apresentadas,
com exceção da do PCP, estão completamente ausentes.
Portanto, a contingentação vai continuar a existir para os táxis regulares e não vai existir para os táxis de tipo
Uber.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Ricardo Bexiga, do PS.
O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando votou favoravelmente o regime
jurídico do transporte em veículo a partir de plataforma eletrónica, o Grupo Parlamentar do PS assumiu a
intenção de contribuir para regular uma nova solução de mobilidade e um novo modelo de negócio, sabendo de
antemão que seria necessário modernizar também o enquadramento legal em vigor para o táxi.
Nesta intenção, fomos, aliás, acompanhados pelas bancadas do PSD e do CDS e tivemos propostas de
normas que vieram de todas as bancadas parlamentares.
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Sabíamos, por isso, desde o início, que o processo legislativo tinha de ser mais vasto, decisivo para
aproveitarmos a oportunidade de rever uma realidade jurídica complexa e desatualizada relativa à regulação do
transporte urbano de passageiros. Nunca encarámos, por isso, este processo legislativo como uma forma de
resolver um diferendo jurídico entre o transporte através de plataformas eletrónicas e o transporte de táxi.
O Grupo Parlamentar do PS abordou sempre esta iniciativa legislativa com a convicção de que era necessário
modernizar o setor do transporte privado de passageiros no quadro do desenvolvimento de novas políticas
públicas de mobilidade urbana.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Muito bem!
O Sr. Ricardo Bexiga (PS): — Para o Grupo Parlamentar do PS, os interesses a acautelar eram claros: o
interesse público relativo à mobilidade urbana e à sustentabilidade ambiental; a defesa dos direitos dos utentes,
dos operadores das plataformas e do setor do táxi e respetivos trabalhadores.
A regulamentação desta nova realidade de mobilidade urbana não podia ser feita à imagem do setor do táxi,
nem reproduzindo a regulamentação hoje aplicável a este setor, como muitos chegaram a defender. Isto porque
novas formas de mobilidade exigem diferente regulamentação.
Em estreito diálogo com os representantes do setor do táxi, afirmámos sempre que este processo legislativo
era uma oportunidade única para modernizar o serviço de transporte individual de passageiros, melhorando as
soluções de mobilidade para os utentes em termos de qualidade, conforto, eficiência e preço.
Perante as mudanças no transporte urbano, introduzidas pela tecnologia, a regulamentação do táxi ficou
obsoleta, as regras vigentes estão ultrapassadas e prejudicam a concorrência, o consumidor e os próprios
operadores do setor, sobretudo porque a tecnologia democratizou o acesso ao transporte.
Chamar um carro, através de uma aplicação, sempre que quisermos e onde estivermos, chegando onde
queremos da melhor maneira possível e com os melhores preços, são avanços que ampliaram as vantagens de
conforto, rapidez e custo de transporte urbano para todos.
A tecnologia resolveu vários dos problemas que antes eram solucionados por normas restritivas. Acabar com
estas normas restritivas abre não só a possibilidade de melhorar a qualidade do serviço de transporte, como
também de potenciar os ganhos para todos os operadores, designadamente para os operadores de táxi.
Temos a certeza de que é possível implementar novos modelos de negócio em termos de serviço mais
inovador, com melhor qualidade, segurança, melhores preços e mais e melhores opções de escolha.
Defendemos, por isso, uma regulamentação inclusiva para o transporte individual de passageiros, com
propostas benéficas também para o setor do táxi, abrindo a porta a novos modelos de negócio e à incorporação
de mais tecnologia e inovação no serviço de transporte. Só através de uma nova proposta de serviço
diferenciadora, o setor do táxi vai conseguir dar resposta ao sucesso das plataformas eletrónicas de transporte.
As medidas apresentadas pelo Governo para a modernização do setor do táxi, elaboradas em concertação
com as associações representativas do setor, são, aliás, um passo importante neste caminho. Destaco as
medidas relacionadas com as condições da frota, os benefícios fiscais, o tarifário, a formação, o controlo das
horas de condução, as licenças. Temos, por isso, condições para, com um novo ponto de partida e não um
ponto de chegada, atingirmos, por um lado, uma resposta clara às preocupações apresentadas pelo Sr.
Presidente da República e, por outro lado, contribuirmos para a garantia da igualdade de condições da
concorrência.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A transformação do sistema de transportes urbanos só será possível
com a combinação de iniciativas nos mais variados domínios e a todos os níveis.
É com este objetivo que voltaremos a aprovar esta iniciativa legislativa.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Não há mais inscrições, embora vários grupos parlamentares ainda disponham de
tempo para intervir.
Pausa.
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Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, o primeiro a oferecer-se para uma intervenção.
Faça favor.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Importava, nesta altura, talvez esclarecer que
as tecnologias geralmente são muito boas, mas não têm nada a ver com a concorrência desleal. Não têm de ter
nada a ver com a concorrência desleal, muito menos com a consagração da concorrência desleal em lei, no
regime de privilégio às multinacionais. Uma coisa são as tecnologias, as aplicações, ao serviço das pessoas;
outra coisa, completamente diferente, são as próprias multinacionais que estão por trás do que está aqui a ser
legalizado, Srs. Deputados!
O que o PCP propõe e defende é um regime muito claro e transparente de tarifário que deve ser homologado.
Se vale para uns, tem de valer para todos e não há algoritmos que alguém tenha de arranjar, Srs. Deputados!
O que propomos é que o tarifário seja cumprido e tem de ser cumprido por todos, o que implica,
necessariamente, que não haja aqui uma inversão de papéis.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Não é a multinacional que serve de regulador. O que tem de acontecer é que o Estado tem de definir as
regras de uma atividade, e essas regras têm de ser para todos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a Mesa não regista mais inscrições, pelo que podemos passar ao ponto
seguinte da ordem do dia, que consta da reapreciação do Decreto da Assembleia da República n.º 203/XIII —
Direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e à proteção das características
sexuais de cada pessoa.
Para iniciar o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Peixoto, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero deixar-vos quatro notas muito
curtas.
A primeira é para dizer que o PSD é, e sempre foi, a favor do princípio da autodeterminação da identidade
de género. Nos casos que são ponderosos e compreensíveis e em que se revele e ateste a desconformidade
entre a identidade de género de uma pessoa e o sexo com que nasceu e foi registada, essa pessoa deve poder
adequar a sua vontade, desde que totalmente livre e esclarecida, à identidade diferente que pretende adotar.
A segunda nota é para dizer que o PSD é, e sempre foi, defensor de que a não coincidência entre o sexo
atribuído à nascença e a vontade posterior de mudar de sexo no registo civil, com a consequente e obrigatória
alteração do nome próprio masculino para feminino ou vice-versa deve ser sempre respaldada e apoiada numa
avaliação clínica.
Protestos do BE.
Terceira nota: o PSD continua a considerar que se deve exigir um relatório clínico interdisciplinar e não
apenas um atestado médico singelo, quer a menores, quer a maiores de 18 anos de idade. E fá-lo por duas
razões: a primeira é que, se não for assim, nada nem ninguém, nem mesmo o conservador pode garantir que
no momento da decisão um cidadão maior esteja na posse de todas as suas condições psíquicas no sentido de
tomar essa decisão de forma livre.
Protestos do BE.
Trata-se de uma opção que, não sendo irreversível, porque não é, é profundamente marcante e socialmente
relevante. A segunda razão é que, se não for assim, não se alcança uma preocupação central do texto do veto
presidencial.
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O Sr. Presidente da República, e cito, diz isto: «O parecer constante de relatório médico pode ajudar a
consolidar a (…) escolha, sem a pré-determinar», deixando «a quem escolhe o máximo de liberdade ou
autonomia para eventual reponderação da sua opção (…)».
Ora, no nosso entender, esta tese é tão válida para menores de 16 e de 17 anos de idade como para maiores
de 19 ou de 20 anos de idade. Uns e outros devem poder ser ajudados a consolidar e a aprofundar a sua
escolha, ou não será assim?
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Não!
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Quarta e última nota: este veto do Sr. Presidente da República é a melhor
prova de que, nesta matéria, a proposta do PSD é, e continua a ser, a mais equilibrada, a mais moderada e a
mais acertada. O Governo, o Bloco de Esquerda, o PAN e o Partido Socialista, apesar de terem sido obrigados,
pelo veto, a fugir do radicalismo e dos perigos da sua ideia inicial, e por isso agora a recauchutaram, ainda que
insuficientemente, estão ainda longe de dar a resposta sensata e completa, que se exigia.
Por isso, concluo dizendo, Srs. Deputados, que o PSD estará sempre ao lado de posições que assegurem
lógicas de uma genuína, séria e saudável construção social.
Não é assim que vai a vossa proposta e, por isso, contarão sempre com a nossa óbvia, determinada e
convicta oposição.
Aplausos do PSD.
Protestos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Moreira, do PS.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quem ouviu agora o Deputado
Carlos Peixoto poderia ficar convencido de que o PSD votou a favor da lei de 2011. Votou contra! PSD e CDS
sempre estiveram contra as pessoas trans, nunca estiveram ao lado da autodeterminação.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Isso não é verdade!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Estamos aqui para reapreciar o veto presidencial e o PSD, claramente,
não leu o veto presidencial.
O que diz o Presidente da República, nos parágrafos terceiro, quarto e quinto, é que compreende as razões
de ser desta proposta de lei. Diz que solicita a reapreciação apenas num ponto específico, Sr. Deputado Carlos
Peixoto, e o ponto específico é o dos menores de idade. E, relativamente a estes menores de idade, diz que, e
cito: «A razão de ser dessa solicitação não se prende com qualquer qualificação da situação em causa como
patologia ou situação mental anómala, que não é, (…)», mas com considerações que têm a ver com a liberdade
da pessoa que toma esta decisão, que não é uma escolha, Sr. Deputado, é a identidade das pessoas que sabem
quem são e estão cansadas que seja o Estado a dizer-lhes quem é que elas são. É disso que se trata.
Aplausos do PS e do BE.
Olhando para o veto, verificamos que o Sr. Presidente da República reconheceu a autodeterminação das
pessoas trans a partir dos 18 anos de idade, reconheceu a autodeterminação das pessoas trans a partir dos 16
anos de idade, pedindo um relatório médico, e não um mero atestado, um relatório médico que ateste a liberdade
da tomada da decisão e não patologizante — foi isto que o Sr. Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da
República; requereu, não fez mais pedido nenhum —, reconheceu a proteção das crianças intersexo, coisa que
o PSD queria que não estivesse consagrado neste diploma,…
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O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — E não está!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — … reconheceu os direitos dos jovens trans, raparigas e rapazes, nas
escolas, o seu nome social. Tudo isto foi assegurado pelo Presidente da República.
Mas, pasme-se, o PSD apresenta propostas de alteração como se não tivesse havido uma discussão sobre
este diploma. Ignora o veto presidencial e apresenta uma proposta de alteração como se estivéssemos ainda
no âmbito da lei de 2011, uma proposta de alteração patologizante, ignorando o veto presidencial e sujeitando
quer os maiores de idade — ao contrário do que pede o Presidente da República —, quer os menores de idade
— mais uma vez, ao contrário do que diz o Presidente da República — a um procedimento de avaliação médica
que ateste, cito, «a desconformidade entre a identidade de género e o sexo com que nasceu».
A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Não é verdade!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Ou seja, volta a destruir a autodeterminação da identidade de género,
que é aquilo que é reconhecido por quem? Pelo Presidente da República e pelo grupo parlamentar europeu do
qual PSD e CDS fazem parte, o que é extraordinário!
Aplausos do PS.
O que é absolutamente extraordinário é que temos uma direita, neste Parlamento, mais conservadora do que
o Presidente da República, que reconheceu tudo aquilo que acabei de dizer, mais conservadora do que os
grupos parlamentares do Parlamento Europeu a que pertencem e que continua neste obscurantismo que já
ninguém segue, numa linha de orientação contra as pessoas trans que estão aqui a ver o que os senhores estão
a dizer e que não entendem como é que continuam a insistir numa linha, a de 2011, que já na altura os senhores
votaram contra.
Portanto, não tornem a dizer a estas pessoas, nomeadamente a uma mãe com uma coragem rara e que está
aqui presente com o seu filho, que estiveram alguma vez do lado delas. Não! Nunca estiveram!
Aplausos do PS e do BE.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Demagogia!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Foi por isso que Partido Socialista, Bloco de Esquerda e PAN
apresentaram esta proposta, exatamente na linha do que foi requerido pelo Sr. Presidente da República,…
O Sr. António Costa Silva (PSD): — E…?!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — … cientes de que, apesar de, evidentemente, a proposta de lei não ficar
exatamente como estava no início, é uma vitória histórica.
Aplausos do PS.
Acabaram os relatórios médicos patologizantes, acabou a ofensa de ser o Estado a dizer por ti quem tu és.
Acabou! As crianças intersexo estão protegidas. Os jovens e as jovens trans são dignificados na escola e na
sua vida diária.
E, repetimos, a vitória não é nossa, é de gente de carne e osso, muita dela aqui presente, que já teve
paciência que chegue!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
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A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD traz aqui uma proposta que
exige uma avaliação clínica em qualquer circunstância para esta tomada de decisão, mais concretamente um
documento que comprove a avaliação médica resultante de equipa interdisciplinar atestando a existência de
desconformidade entre a identidade de género e o sexo com que nasceu. E insiste, insiste que não é contra a
autodeterminação da identidade de género!
Sr.as e Srs. Deputados do PSD, decidam-se: uma coisa é exatamente o contrário da outra.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
A autodeterminação, como o próprio nome indica, e podem comprová-lo em qualquer dicionário de Língua
Portuguesa, significa «a ação de decidir por si mesmo». Isso é exatamente o contrário do que propõem.
Além disso, exigir um relatório que ateste a desconformidade entre a identidade de género e o sexo
pressupõe a avaliação de identidades, que é algo que clinicamente, medicamente — como, aliás, ficou bem
expresso, bem patente nas extensas audições que fizemos, em sede de especialidade, a vários especialistas
médicos e a vários especialistas clínicos —, é algo que os médicos não fazem. Não se avaliam identidades.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Então, para que querem o atestado?!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Por último, volto a lembrar, em relação à proposta do PSD, o anúncio da
Organização Mundial de Saúde (OMS) de retirada das identidades trans da lista de Transtornos Mentais e
Comportamentais, confirmando a despatologização já reconhecida pela comunidade médica e científica
internacional e nacional.
O PSD consegue ficar, aliás, muito, muito atrás da compreensão do Sr. Presidente da República sobre esta
matéria. Até o Sr. Presidente da República afirma que não se trata de uma patologia, nem de uma qualquer
perturbação mental, e reconhece o direito à autodeterminação de género. Talvez fosse bom os Srs. Deputados
e as Sr.as Deputadas do PSD chegarem ao século XXI.
Aplausos do BE.
A lei da identidade de género, de 2011, contra a qual o PSD votou, representou um indiscutível avanço no
respeito pelos direitos das pessoas trans, mas é hoje, sabemos, uma lei desatualizada, assente numa conceção
conservadora e ainda patologizante das identidades trans e que ofende, por isso mesmo, o fundamental direito
à autodeterminação da identidade.
A despatologização e o reconhecimento da autodeterminação de género, enquanto direito fundamental e
enquanto condição imprescindível ao livre desenvolvimento da personalidade, merecem, atualmente,
reconhecimento internacional, estando expressas na Resolução n.º 2048 da Assembleia Parlamentar do
Conselho da Europa e, como referi, também agora pela Organização Mundial de Saúde, que, no passado dia
18 de junho, anunciou a retirada desta questão da Classificação Internacional de Doenças (CID).
Reconhecer o direito à autodeterminação de género das pessoas trans não é uma ideia transcendente,
extraordinária e muito menos um capricho ou uma moda. Trata-se de reconhecer — e é isso que é
autodeterminação — que cada pessoa sabe e sente, no seu íntimo, quem é, e que ninguém precisa de terceiros
para confirmar se são homens ou mulheres, meninos ou meninas.
Vários países já deram este passo: Dinamarca, Malta, Suécia, Irlanda e Noruega. No passado dia 13 de abril,
Portugal tornou-se o sexto país europeu a consagrar o direito à autodeterminação da identidade das pessoas
trans, ao aprovar aqui, nesta exata Câmara, a possibilidade de alterarem o seu nome e sexo no registo civil e,
consequentemente, nos seus documentos de identificação pessoal, sem a tutela de terceiros e sem um
diagnóstico de perturbação de identidade. Fomos mais longe, estendendo esse direito aos jovens a partir dos
16 anos, por sabermos que a identidade de género se manifesta em tenra idade e que é normalmente a partir
da adolescência que as dificuldades que os jovens enfrentam mais se acentuam.
O Presidente da República vetou esta lei. Mas importa aqui, mais uma vez, reforçar aquilo que já foi dito, ou
seja, que o Presidente da República vetou uma questão muito específica da lei. O veto centrou-se unicamente
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no que respeita à alteração do nome e sexo no registo civil para os jovens, para os menores entre os 16 e os
18 anos…
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … e o Presidente reconheceu que as identidades trans «não são uma
patologia, nem configuram uma situação mental anómala» — estas são as palavras do próprio Presidente da
República.
Aplausos do BE.
O Presidente dá, assim, aval à despatologização e à autodeterminação de género. As preocupações
expressas no veto prendem-se com a necessidade de assegurar uma maior consistência à escolha em causa
e, logo, de garantir uma maior segurança na tomada de decisão.
A proposta que hoje aqui trazemos vai ao encontro das preocupações do Sr. Presidente e representa o
melhor equilíbrio possível entre essas preocupações e o cumprimento da despatologização das identidades
trans e da autodeterminação de género.
Propomos a inclusão de um relatório, para os jovens menores, que, sem passar por uma avaliação de
perturbação de identidade, ateste exclusivamente a sua capacidade de decisão e vontade livre, informada,
esclarecida e, assim, devidamente ponderada, dando ainda liberdade para recorrerem aos médicos ou
psicólogos que entenderem.
A posição do Bloco de Esquerda é conhecida. Entendemos a autodeterminação da identidade de género
como um direito humano fundamental, que deve ser reconhecido a todas as pessoas, independentemente da
sua idade. Mas a solução aqui encontrada, não sendo para o Bloco de Esquerda a ideal, assegura, ainda assim,
a autodeterminação de género para os maiores de 18 anos e configura um passo importante em direção à
autonomia e à autodeterminação dos jovens a partir dos 16 anos.
Esperemos que seja possível, mais uma vez, dar-se, nesta Casa, um sinal claro de que Portugal perfilha o
direito à autodeterminação de género das pessoas trans, já consagrado em diversos países. E relembro que
não se trata aqui de qualquer tipo de cirurgias de reatribuição sexual, mas somente da alteração, nos
documentos de identificação, do nome e do sexo. Falamos, portanto, de um ato meramente civil.
Esperamos também que o Presidente da República aceite dar este passo e se coloque ao lado das pessoas
trans, dos jovens e das suas famílias.
Aplausos do BE, do PS, de Os Verdes e do PAN.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PAN analisou detalhadamente os
fundamentos da devolução deste Decreto por parte do Presidente da República.
Sentimos que havia condições para encontrar uma solução conjunta que acolhesse as preocupações do Sr.
Presidente em relação às pessoas trans menores de idade, mas com uma linha vermelha muito clara: a solução
não poderia nunca empurrá-las para o mesmo critério da lei atualmente em vigor, que impõe um diagnóstico
extremamente estigmatizante e que coloca a sua identidade no campo da doença, princípio que não podemos
mais — nunca mais — aceitar.
Assim, esta reformulação estabelece uma relação de compromisso entre o solicitado pelo Presidente da
República e o reivindicado pela sociedade civil: um caminho rumo à autodeterminação destas e destes jovens.
Tudo o resto se manterá como inicialmente formulado, em relação quer à proteção das características
sexuais das pessoas intersexo quer à autodeterminação das pessoas trans maiores de idade. Mas, no que toca
aos cidadãos e cidadãs com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, a nossa proposta passa, então,
por definir que, para requerer a mudança de nome e sexo legal no registo civil, devem apresentar um relatório
que serve apenas e só para apurar a sua capacidade de decisão e vontade informada, sem referências
patologizantes ou diagnósticos de identidade de género.
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Este relatório poderá ser solicitado a qualquer médico inscrito na Ordem dos Médicos ou a qualquer psicólogo
inscrito na Ordem dos Psicólogos, o que dá à pessoa em causa o poder de escolher o profissional de saúde que
irá facilitar este documento.
Quanto à proposta do PSD, estamos simplesmente abismados. Como é que um partido que aprovou aqui,
há dias, um voto de congratulação à Organização Mundial de Saúde pela remoção das identidades trans da
Classificação Internacional de Doenças é capaz de as colocar de novo num armário enclausurado e
hiperburocrático e dizer-lhes que a sua identidade é uma doença?! Não compreendemos, Sr.as e Srs. Deputados!
Não compreendemos!
Aplausos do PS e do BE.
Sr.as e Srs. Deputados, retomando esta reflexão, queremos deixar claro que, para o PAN, a proposta ideal
era a inicial. Mas o caminho faz-se caminhando e estamos conscientes da urgência e da importância da
promulgação deste diploma para a conquista e garantia dos direitos humanos de todas as pessoas trans,
maiores ou menores de idade. Por isso, apelamos à aprovação destas alterações, para que as pessoas, as
nossas pessoas, possam colocar de novo em marcha as suas vidas constantemente adiadas.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PS e do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do CDS-PP, a
Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta é a segunda vez, em
menos de um ano, que fazemos um debate sobre esta matéria, nesta Câmara…
Vozes de protesto de Deputados do BE.
Ainda quase nem comecei a falar e os Srs. Deputados já estão muito nervosos.
Dizia eu que era a segunda vez, em menos de um ano, que fazemos este debate, e a razão é simples e fácil
de explicar. O Bloco, o PAN e o Governo apresentaram várias iniciativas para alterar o quadro jurídico vigente
relativamente à identidade de género e, se as iniciativas do Bloco e do PAN ficaram pelo caminho, a do Governo
vingou aqui, em São Bento, mas esbarrou nos muros de Belém e, por isso, estamos nós aqui novamente a
debater esta matéria.
Saudámos, à época — e relembramos agora —, o veto presidencial, que, embora tenha ficado aquém daquilo
que o CDS entendia — e continua a entender — ser essencial acautelar, permitiu que, ao menos quanto aos
menores, o assunto pudesse ser ponderado por esta maioria parlamentar.
Ora, a maioria parlamentar ponderou-o efetivamente. Mas ponderou-o pelo mínimo possível, e esse mínimo
possível continua a ser para o CDS insuficiente. E não é só para o CDS que esta ponderação mínima é
insuficiente. É-o também para o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, é-o para uma
multiplicidade de profissionais de saúde, é-o até para uma parte considerável da sociedade civil. E, veja-se só,
também o é para o próprio Presidente da República, que foi absolutamente claro, e fez questão de deixar isso
expresso no seu veto presidencial, ao dizer que a posição da maioria parlamentar, a de permitir a mudança de
sexo a menores de idade ou a maiores sem acompanhamento médico, não corresponde minimamente à sua
posição pessoal, que é próxima da do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e também próxima
da do CDS.
Aqui chegados, quero dizer que o relatório médico, que, agora, PS, BE e PAN propõem seja apresentado
pelos menores entre os 16 e os 18 anos atestando unicamente a sua capacidade de decisão e vontade
informada para poderem mudar de sexo, continua a ser para nós insatisfatório. E é-o por uma razão simples,
que os livros, a ciência e a experiência não desmentem: o processo de autonomia e de maturação do ser humano
é progressiva e é explicada em várias etapas, muito bem definidas e ainda não desmentidas por ninguém,
segundo Piaget. Este processo desenvolve-se desde que nascemos, absolutamente dependentes, até um
patamar cognitivo que nos permite decidir, de forma livre, esclarecida e independente. E esse patamar, Sr.as e
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Srs. Deputados, apesar de quererem dizer o contrário, não é efetivamente aos 16 anos de idade que se atinge.
Há comprovação científica e médica suficiente, de que aos 16 anos de idade ainda não somos capazes de
decidir matérias tão decisivas e tão definitivas como a mudança de sexo. Aliás, há até quem diga que, hoje em
dia, a maturidade se atinge, apenas e só, não aos 18 anos mas aos 24 anos de idade.
Por isso mesmo, para o CDS, é absolutamente impensável que, com ou sem relatório médico, o menor possa
tomar a decisão de mudar de sexo. É uma decisão de vida, com consequências com que o menor não pode e
não deve ser confrontado.
Se a maioria entende que aos 16 anos já não se é criança e já se atingiu o patamar cognitivo da idade adulta,
então, Sr.as e Srs. Deputados, vamos fazer esse debate. Vamos alterar a Convenção sobre os Direitos da
Criança, que diz que as crianças são crianças até aos 18 anos. Vamos mudar a lei que as impede de fumar ou
de beber álcool antes dos 18 anos. Vamos mudar a lei que as impede de tirar a carta de condução antes dos 18
anos. Vamos mudar a lei que as impede de votar antes dessa idade. Façam isso, Sr.as e Srs. Deputados! E
vamos fazer esse debate! Se é esse debate que os senhores querem fazer, se querem mudar todo um sistema,
vamos a esse debate. Fá-lo-emos! E fá-lo-emos em consciência.
É que, se entendem que um menor pode mudar de sexo aos 16 anos, então, não há razão para a maioridade
legal ser, apenas e só, aos 18 anos. Esta é uma incongruência que, para o CDS, não é aceitável, uma
incongruência que o CDS evidentemente não sufraga.
Mas, mais, o CDS votou, ainda há dias, favoravelmente um voto, apresentado pelo PAN, que se congratulava
com a retirada da transsexualidade da lista das doenças mentais. Votou favoravelmente, e votou muito bem. A
transsexualidade não é uma doença mental. Mas a mesma OMS que retirou a transsexualidade da lista das
doenças mentais, integrou-as no foro das doenças sexuais — e bem! E bem, porque é precisamente aí que é
preciso agir, é precisamente aí que há um SNS que não dá resposta nenhuma, nem pouca nem muita, nem em
qualidade nem em quantidade, nem em tempo útil, ao problema das pessoas transsexuais, e todos nesta
Câmara sabemos isso.
E é este exatamente um dos pontos que o CDS sublinha, e é também por isso que, para o CDS, o relatório
médico que ateste um problema de identidade de género é vital para a mudança de sexo dos maiores de idade.
O registo civil, Sr.as e Srs. Deputados, é um ato público, que tem por base critérios universais e que serve
para dotar o sistema de segurança jurídica. Os problemas de identidade de género não podem, nem devem, ser
aferidos pelo conservador, que não tem como conferi-los e atestá-los. Os problemas de identidade de género
só podem ser atestados por um médico que o confirme perante o conservador. Só assim se mantém a
imprescindível confiança e certeza jurídicas do registo civil que, a não ser assim, não serve para rigorosamente
nada.
Isto dito, mantendo todos os problemas que o CDS havia identificado e que permanecem, queria deixar duas
notas para que não restem dúvidas:
Em primeiro lugar, o combate à discriminação, a toda e qualquer forma de discriminação, e a luta
intransigente pelo princípio da igualdade é um dos princípios mais estruturantes do Estado de direito
democrático, e é nisso que deveríamos estar concentrados. As pessoas transsexuais são ainda alvo das mais
variadas formas de discriminação e deveríamos estar focados nisso nas escolas, deveríamos estar focados
nisso na saúde, deveríamos estar focados nisso no SNS. Esse é um problema que todos ignoramos
olimpicamente e que fingimos não existir.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — O CDS não ignora esse problema, mas esse é o problema a que
os senhores não estão a dar resposta.
A segunda e última nota, Sr. Presidente, para terminar, não menos importante, tem a ver com o seguinte: no
último debate que fizemos nesta Câmara — e ainda hoje disse aqui a Sr.ª Deputada Isabel Moreira,…
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José de Matos Correia.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de terminar.
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A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, vou terminar.
Dizia eu que o último debate que fizemos nesta Câmara foi marcado por alguma intolerância e até por alguma
falta de respeito democrático por quem tem opinião diferente. Desde sermos convidados a olhar de frente para
as pessoas transsexuais, de sermos acusados de as etiquetarmos de doentes mentais ou de estarmos contra
as pessoas homossexuais, nós já ouvimos de tudo nesta Câmara. Se o combate à discriminação é prioritário e
basilar, o princípio da liberdade de expressão e de opinião não é menos fundamental. O CDS nunca abdicou de
dizer aquilo que pensa e de fazer o que entende ser melhor para defender aquilo em que acredita. Foi esse
exercício de liberdade que todos conquistámos, de que nunca nos devemos esquecer — de resto, permite-nos
a nós, todos, aqui, dizermos o que somos e quem somos e por que lutamos — e que às vezes os senhores
esquecem.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Por isso, respeitemos esse princípio, respeitemos todos quem
somos e o que somos e vamos, efetivamente, combater as discriminações, sem acusações insidiosas de que
de um lado estão os que defendem as pessoas e do outro lado estão aqueles que estão contra as pessoas, só
porque os deste lado acham que a forma de fazer as coisas é diferente daquela em que os senhores acreditam.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado António
Filipe, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando esta Assembleia aprovou o Decreto
que foi objeto de veto presidencial e que hoje reapreciamos, sobre o direito à autodeterminação da identidade
de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa, o Grupo Parlamentar
do PCP apresentou uma declaração de voto cujos pontos essenciais nos parece oportuno, neste momento,
recordar.
O PCP contribuiu para a aprovação da Lei n.º 7/2011, que veio consagrar o procedimento de mudança de
sexo e de nome próprio no registo civil como um ato administrativo. Até então, a mudança de sexo legal e nome
próprio apenas era possível através de um processo judicial, no qual as pessoas transexuais eram obrigadas a
colocar o Estado Português em tribunal e a alegar um erro na atribuição e registo da sua identidade.
Nos últimos anos, a consideração destas questões, designadamente no plano da Medicina e da Psicologia,
avançou, a nível nacional e internacional, no sentido de não considerar a autodeterminação da identidade de
género como algo do foro patológico, avanço que o PCP valoriza como garantia de respeito pela dignidade da
pessoa humana.
Para a Organização Mundial de Saúde e outras organizações científicas na área da saúde, as características
de diagnóstico respeitantes a pessoas transexuais e de género diverso deixaram de ser classificadas como
«doenças de personalidade e comportamento» e passaram a estar classificadas como «condições de saúde
sexual.»
O Decreto hoje em reapreciação corporiza essa visão, que o PCP acompanha, das pessoas transexuais,
separando o domínio clínico do domínio legal.
O PCP acompanha, igualmente, o sentido da proteção das características sexuais primárias e secundárias
das pessoas, fazendo depender do seu consentimento expresso e esclarecido qualquer tratamento e
intervenção cirúrgica, farmacológica ou de outra natureza que implique modificações ao nível do corpo ou das
suas características sexuais.
O Decreto aqui votado proíbe cirurgias que não sejam medicamente necessárias a crianças e bebés
intersexo, bem como a previsão de que apenas se devem realizar de imediato as intervenções cirúrgicas ou
farmacológicas necessárias a eliminar riscos para a sua saúde. Também esta matéria mereceu o acordo do
PCP.
Indo as alterações legislativas agora efetuadas no sentido de corresponder à evolução que se verifica da
consideração destas questões no plano científico, clínico e também social, que o PCP acompanha, persistiram
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dúvidas, aquando da aprovação da lei, quanto às condições de verificação da identidade em resultado de
algumas das soluções legislativas encontradas, o que motivou a abstenção do PCP.
Considerando as propostas apresentadas no âmbito da reapreciação do diploma, o PCP não acompanha a
proposta do PSD, que vai no sentido de um regresso ao passado, a soluções claramente ultrapassadas e ao
arrepio da conceção já hoje assumida pela Organização Mundial de Saúde.
Aplausos do PCP e de Deputados do PS.
A proposta apresentada pelo PS, pelo BE e pelo PAN, que visa dar resposta a uma questão suscitada no
veto presidencial, terá o nosso voto favorável.
Aplausos do PCP e de Deputados do PS.
Essa proposta faz depender a mudança de género no registo civil de um relatório médico no caso dos
menores entre os 16 e os 18 anos.
Para o PCP, seria preferível que a solução proposta não se limitasse à situação dos menores, mas fosse
uma exigência com caráter geral, eliminando quaisquer dúvidas quanto à possibilidade de utilização abusiva das
possibilidades legais agora criadas quanto à autodeterminação de género.
Não obstante, o PCP regista a evolução verificada na reapreciação deste diploma e está em condições de a
votar favoravelmente.
Aplausos do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Heloísa Apolónia, do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes».
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando foram discutidos os
projetos sobre identidade de género que deram origem ao Decreto vetado politicamente pelo Sr. Presidente da
República, os Deputados de Os Verdes afirmaram, aqui, no Plenário, trabalhar para o direito à autodeterminação
de cada pessoa, pelo direito à identidade própria de cada pessoa, pelo direito da pessoa a ser o que efetivamente
é e não a ser o que não é, dever que todos temos de trabalhar para o direito à felicidade de cada membro da
nossa sociedade.
Entretanto, esse Decreto foi vetado pelo Sr. Presidente da República, que sustentou esse veto na
consideração da importância de existir um relatório médico para que um menor, de 16 ou de 17 anos, mude o
nome no registo civil de modo a que seja identificado com a sua efetiva identidade de género.
Os Verdes disseram, na altura, em reação ao veto do Sr. Presidente da República, que estavam dispostos,
aqui, na Assembleia da República, a confirmar o Decreto tal como estava, por considerarem que essa questão,
suscitada pelo Sr. Presidente da República, tinha sido devidamente ponderada no âmbito do processo
legislativo.
O que está, entretanto, proposto, e decorrido o processo como decorreu, é que não existirá um relatório a
atestar da perturbação da identidade de género, colocando a decisão sobre uma terceira pessoa e não sobre o
próprio — com o que Os Verdes, evidentemente, não concordariam —, mas sim um relatório da autoria de um
médico ou de um psicólogo, apenas para os casos entre os 16 e os 18 anos, a atestar, apenas, da capacidade
de decisão, da vontade informada e expressa do cidadão.
Entretanto, Sr.as e Srs. Deputados, o PSD, por seu turno, através da proposta que apresenta, mantém a visão
de que a não identificação de uma pessoa com o género atribuído à nascença é uma questão patológica, de
doença e, por isso, insiste num relatório médico que ateste essa discordância de género. O PSD, através da sua
proposta, contraria, evidentemente, como de resto já foi aqui referido, a própria orientação da Organização
Mundial de Saúde.
Sr.as e Srs. Deputados, hoje, o Parlamento vai dar um passo importante pelo direito à felicidade de muitos
cidadãos, pelo direito das pessoas transsexuais, e, mais uma vez, esse passo dá-se sem o contributo do PSD
e do CDS.
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Falo aqui pelo Partido Ecologista «Os Verdes». Os Verdes estão sempre ao lado das soluções, pela
evolução, pelo progresso, pelos direitos humanos, pelos direitos de todos, todos os cidadãos.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra
Pereira, do Grupo Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Debatemos hoje, novamente, o
diploma da autodeterminação da identidade de género, a propósito do veto do Sr. Presidente da República, e
propomos já que este debate se faça com elevação, de forma racional e séria e com espírito democrático.
Vem o Sr. Presidente da República solicitar a esta Assembleia, através do exercício do veto, a reponderação
deste regime, e fá-lo relativamente a um ponto específico, os menores, solicitando, precisamente, que essa
reponderação vá no sentido de se prever avaliação médica prévia para cidadãos menores de 18 anos.
O PSD revisitou novamente este diploma. Compreendemos e partilhamos as preocupações do Sr. Presidente
da República e já o dissemos aqui anteriormente.
Sr.as e Srs. Deputados, o PSD não é indiferente aos constrangimentos e sofrimentos vividos pelas pessoas
que nasceram com um sexo com o qual não se identificam e é favorável à sua autodeterminação.
Reconhecemos que esses processos, pela sua própria natureza, são inquestionavelmente complexos e sofridos
para os próprios e suas famílias. Valorizamos e reconhecemos a importância deste direito e, Sr.ª Deputada
Isabel Moreira, não somos contra ninguém. Consideramos que o reconhecimento e o exercício de tal direito não
pode ser feito ao arrepio de valores de segurança e certeza jurídica, que são princípios basilares da organização
da sociedade tal qual todos nós a concebemos.
Aplausos do PSD.
Apesar de não serem exigidos quaisquer atos médicos prévios, ainda assim, num processo e numa decisão
com a dimensão e com as implicações sociais que acarreta, é para nós fundamental que exista uma prova
científica, cabal e credível, um respaldo científico que qualquer decisão desta natureza deve implicar.
É isso que o Sr. Presidente da República nos vem dizer, mas a interpelação à Assembleia da República
restringe-a aos menores. Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, é para nós imperioso que essa decisão seja precedida
de um documento que resulte da avaliação clínica interdisciplinar que ateste e garanta a vontade inequívoca da
pessoa que requer esta mudança, mas que ateste, sobretudo, a veracidade dos pressupostos dessa alteração,
a não coincidência entre a identidade de género e o sexo biológico.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Veracidade?!
A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — E isso só pode ser feito pela ciência e pela Medicina.
E, Sr.as e Srs. Deputados, no debate sobre estas matérias, tem havido mais ideologia e menos ciência.
O registo civil apenas consiste no ato que se destina a dar publicidade e a assegurar autenticidade do que é
conferido, traduzindo a necessária segurança jurídica ao ordenamento jurídico, pelo que, perante o conservador
que procede a um ato público desta natureza, tem de existir um processo absolutamente claro e inequívoco que
o leve a alterar com segurança o nome e o registo da pessoa em causa, sem que persistam quaisquer dúvidas
sobre a situação que lhe é colocada. Com isto, não se pode dizer que estamos a patologizar o que quer que
seja.
Se, de facto, a identidade de género não está conforme o sexo biológico, para que tal presunção possa ser
elidida tem de haver pressupostos científicos que assegurem quer a genuinidade desta decisão, quer a livre e
esclarecida expressão dessa vontade.
A novidade da proposta que o PSD apresenta hoje relativamente à anterior reside apenas na letra do texto,
com termos mais neutros, para que não se possa inferir ilegitimamente que olhamos para a identidade de género
como se de uma doença se tratasse. Não, Sr.as e Srs. Deputados! Assim, retirámos o termo «disforia de género»,
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substituindo-o por «desconformidade entre a identidade de género e o sexo com que nasceu», que são apenas
os pressupostos para que este regime se aplique.
Compreendemos as razões que o Sr. Presidente da República invoca para maior salvaguarda dos menores,
no entanto, em razão da matéria, parece-nos, em qualquer circunstância, que esta decisão deve ser
cientificamente instruída. Estamos absolutamente convictos disto, Sr.as e Srs. Deputados, e a Ordem dos
Médicos pronunciou-se ontem mesmo sobre a nova redação da proposta do PSD, dizendo que dá um contexto
clínico bem enquadrado, que separa a componente clínica da decisão livre e autónoma, o que é uma mais-valia,
tudo isto sem dizer que se trata de uma doença e destacando ainda o facto de a nossa proposta falar numa
equipa interdisciplinar e não fazer referência à questão da idade. Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, estamos de
consciência absolutamente tranquila.
De resto, consideramos que as propostas de alteração das restantes bancadas são insuficientes face à
interpelação do Sr. Presidente da República, que entendeu que, no caso dos menores, a decisão deveria ser
precedida de avaliação clínica, o que não se compagina com um simples atestado. A decisão é de tal ordem
impactante que merece um juízo das áreas da Medicina que concorrem para esta avaliação.
Sr.as e Srs. Deputados, para o PSD, não é concebível que uma lei desta natureza possa ser assim tão
simplista e omissa sobre questões que, do ponto de vista médico e humanista, são, para nós, absolutamente
incontornáveis. Por isso, a nossa proposta é razoável, e é a mais razoável e moderada desta Câmara,…
Risos e protestos das Deputadas do PS Catarina Marcelino e Isabel Alves Moreira.
… porque não nega a autodeterminação e assegura o equilíbrio entre o exercício deste direito e os valores
de ordenação social que são comuns a todos nós.
Sr.as e Srs. Deputados, para terminar, o que mais nos preocupa é que temos para nós que o que aqui está
em causa é a implementação de uma agenda fraturante e de transformação social promovida pela esquerda
radical, na qual a maioria dos portugueses não se revê e na qual não votou sequer e — pior! — à qual o Partido
Socialista se vai vergando sem hesitar, não por convicção mas por sobrevivência.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma nova intervenção em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, a Sr.ª Deputada Isabel Moreira.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ouvimos agora a Sr.ª Deputada
do PSD dizer que a sua proposta não nega a autodeterminação, apesar de exigir que seja uma equipa
multidisciplinar a dizer às pessoas exatamente aquilo que elas são e não que possam ser as próprias pessoas
a dizer aquilo que são.
Mas, mais, a Sr.ª Deputada diz que o PS cedeu a uma agenda fraturante, terrível… Então, está a chamar
fraturante e extremista ao Presidente da República, porque a nossa proposta corresponde exatamente àquele
que foi o apelo do Presidente da República.
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
Sr.ª Deputada, aquilo que vocês propõem não é aquilo que pede o Presidente da República; aquilo que vocês
propõem é um relatório patologizante para maiores de 18 anos e para menores de 18 anos, portanto não é na
linha do que pede o Presidente da República.
A Sr.ª Deputada pediu seriedade no debate, mas seriedade no debate implica não faltar à verdade. A Sr.ª
Deputada disse «nunca estivemos contra estas pessoas», mas estiveram sempre, votaram sempre contra estas
pessoas!
Protestos da Deputada do PSD Sandra Pereira.
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Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva, quero dizer-lhe, muito rapidamente, que gosto da forma como acompanha
a ciência. Piaget nasceu em 1896, por isso está no bom caminho, mas há estudos mais recentes. Sei que não
esteve em todos os trabalhos que tivemos ao longo de todo este processo. O Deputado Nuno Magalhães, aliás,
foi mais sério, porque logo no início dos trabalhos disse: «O CDS nem vai fazer propostas de audições. Já
sabemos que vamos votar contra! Vamos votar contra, aconteça o que acontecer!»
A Sr.ª Deputada diz: «Isto não preenche aquilo que o CDS queria.» Mas o que é que o CDS queria? Vamos
lá saber! O CDS queria o quê? Quando foi aprovada a Lei n.º 7/2011, votaram contra! Se tivéssemos proposto
a alteração para 18 anos com relatórios médicos de equipas multidisciplinares, votavam contra na mesma!
Aplausos do PS e do Deputado do BE José Manuel Pureza.
Protestos do Deputado do PSD Carlos Peixoto.
O CDS diz: «Respeitem a nossa liberdade de expressão! Nós temos liberdade expressão!» Pois têm, Sr.ª
Deputada! Mas alguém impediu o CDS de ser contra a união de facto de pessoas do mesmo sexo? De ser
contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo? De ser contra a coadoção? De ser contra a adoção? De
ser contra tudo isto?
Protestos de Deputados do CDS-PP.
Alguém vos impediu?! A Sr.ª Deputada está sofrida?! Está sofrida na sua liberdade de expressão?! Alguém
vos impediu?! Mas não impeçam a minha liberdade de expressão para dizer que — sim! — vocês estiveram
sempre contra as minorias! Sempre! Esta é a história do CDS, e a história está marcada, Sr.ª Deputada!
Aplausos do PS.
Portanto, a liberdade de expressão vale para os dois lados.
Depois, como sempre, vêm invocar: «Ai, o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida
e até a opinião pessoal do Presidente da República!» — pois é, mas politicamente não a seguiu, Sr.ª Deputada.
Portanto, mais uma vez, compreendam: aqui expressa-se a vontade democrática, chama-se democracia
representativa. Não temos de seguir o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida nem o Presidente
da República — que não o seguiu.
Aplausos do PS.
É aqui que está o poder democrático representativo, portanto não temos de os seguir.
Esta é uma solução ponderada, que resulta daquilo que foi pedido pelo Presidente da República, e ficou
absolutamente claro neste debate quem é que está do lado daquilo que conjuga o requerido pelo Presidente da
República e o requerido pela autodeterminação, que — sim! — é o que resulta da ciência. Se querem falar num
combate entre ciência e ideologia, digo-vos que a ciência está mais deste lado e a ideologia está mais do vosso
lado — é a ideologia do conservadorismo bacoco!
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do Bloco de
Esquerda, para uma nova intervenção.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas das bancadas do PSD e do
CDS, vou referir-me à proposta de alteração que traz a bancada do PSD.
O que propõem, efetivamente, não está, nem de perto nem de longe, na linha do que o Sr. Presidente da
República argumentou no veto que fez ao diploma inicial. O que propõem está na linha do vosso próprio
preconceito contra as pessoas trans,…
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … contra o direito à autodeterminação das pessoas trans, que é um direito
que os Srs. Deputados e as Sr.as Deputadas têm, para si próprios, automaticamente reconhecido, sem qualquer
condição prévia, sem qualquer exigência prévia, mas que negam aos outros,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
Protestos da Deputada do PSD Sandra Pereira.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … não reconhecendo que estas pessoas trans sentem e sabem quem são,
exatamente da mesma forma que os Srs. Deputados e as Sr.as Deputadas sentem e sabem quem são.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Portanto, propõem uma avaliação clínica que comprove a desconformidade,
a incongruência, ou o que lhe queiram chamar, entre a identidade de género e o sexo, esquecendo ou ignorando
— ou querendo fazer passar essa ideia — que isso não é mais nem menos do que um diagnóstico patologizante.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Isso é um diagnóstico patologizante e é contra o conceito de
autodeterminação! Como eu disse há pouco, a autodeterminação significa o ato de decidir por si próprio — por
si próprio! —,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … sem a necessidade de terceiros intervirem nessa decisão, de avalizarem
ou determinarem quem é que as pessoas são ou deixam de ser.
Refiro ainda que as leis, especialmente as leis que garantem os direitos individuais, são feitas não para as
maiorias, mas precisamente para garantir direitos a quem não os tem, para garantir a igualdade de tratamento
a quem não a tem. É isso que se pretende com esta lei, é ir mais longe nesses direitos, é garantir que aquelas
pessoas que estão nas galerias a assistir a este debate têm direitos iguais aos demais e, já agora, aos que estão
aqui, no Hemiciclo.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva, mesmo para terminar, vou-me permitir
pegar nas suas palavras quando diz «respeitemos todos o que somos e quem somos» para convidá-la, não só
a si mas também à sua bancada e à bancada do PSD, a transformar em ação estas palavras e a votar a favor
do direito à autodeterminação de género destas pessoas, a favor e em prol destas pessoas e do seu direito a
viver conforme a sua identidade de género.
Aplausos do BE, do PAN e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Não havendo mais pedidos de palavra, damos por encerrada
a reapreciação do Decreto da Assembleia da República n.º 203/XIII (3.ª).
Passamos, pois, ao terceiro ponto da ordem de trabalhos, que consta do debate, com a presença do Governo,
sobre as prioridades da presidência austríaca do Conselho da União Europeia, nos termos da alínea b) do n.º 1
do artigo 4.º da Lei n.º 43/2006, de 25 de agosto, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 21/2012, de 17 de
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maio, relativa ao acompanhamento, apreciação e pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do
processo de construção da União Europeia.
Peço que se faça um pouco de silêncio na Sala para podermos prosseguir os nossos trabalhos.
Pausa.
Para iniciar o debate, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus.
A Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus (Ana Paula Zacarias): — Sr. Presidente, dirijo uma
saudação a todas as Sr.as Deputadas e a todos os Srs. Deputados e também ao Sr. Embaixador da Áustria, que
se encontra a assistir a este debate.
Aplausos do PSD e do PS.
Começo por agradecer o agendamento deste debate sobre o programa da presidência austríaca do Conselho
da União Europeia.
A presidência austríaca, que se iniciou no dia 1 de julho, terá lugar num semestre particularmente complexo
da vida europeia, contudo, estou segura de que, com a sua experiência — esta é já a terceira vez que a Áustria
assume a presidência —, e com a necessária equidistância e equilíbrio, ela será levada a bom porto.
Sob o lema «Uma Europa que protege», a presidência austríaca destaca três grandes dossiers: a segurança
e a imigração ilegal; a prosperidade e a competitividade impulsionada pela agenda digital; a estabilidade na
vizinhança e a aproximação dos Balcãs Ocidentais à União Europeia (UE).
Estes são três temas seguramente da maior importância, mas não há dúvida de que o próximo semestre
será também marcado pelos avanços que a União conseguir alcançar em quatro matérias.
Em primeiro lugar, refiro a negociação do Brexit, no que diz respeito ao acordo de saída e à declaração sobre
a relação futura, que deve estar revista pelo Conselho Europeu até outubro para assegurar a saída ordenada
do Reino Unido no dia 30 de março de 2019.
Em segundo lugar, destaco o debate sobre o quadro financeiro plurianual, por forma a alcançar um acordo
político, se possível até ao final do corrente ano ou, pelo menos, dentro da atual Legislatura.
Em terceiro lugar, menciono os trabalhos relativos ao aprofundamento da União Económica e Monetária
(UEM) em todas as suas vertentes: União Bancária, Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e instrumentos
de promoção da convergência e da estabilidade da UEM. Apesar de esta não ser uma das prioridades da
presidência, esperamos que se verifiquem aqui avanços substanciais até dezembro, como referido na última
Cimeira do Euro.
Finalmente, a tudo isto se junta a pressão para concluir em tempo útil a negociação de dezenas de
instrumentos legislativos em áreas tão importantes como o Mercado Único Digital, a energia, a mobilidade…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr.ª Secretária de Estado, peço desculpa por interrompê-la.
Já não é a primeira vez que apelo aos Srs. Deputados no sentido de fazerem silêncio. Acho que se esse
apelo se justifica quando estamos apenas a discutir entre nós, Deputados, ainda se justifica mais quando temos
o Governo a prestar, perante a Assembleia da República, as contas que são constitucionalmente exigidas.
Pedia, portanto, que tivéssemos ainda mais respeito quando estão no uso da palavra entidades externas à
Assembleia da República.
Aplausos de Deputados do PSD e do PS.
Faça o favor de continuar, Sr.ª Secretária de Estado.
A Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus: — Muito obrigada, Sr. Presidente e Srs. Deputados.
Continuo, dizendo que, para além dos desafios que temos com o Brexit, com o quadro financeiro plurianual
e com os trabalhos da União Económica e Monetária, a tudo isto se junta a pressão para concluir em tempo útil
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a negociação de dezenas de instrumentos legislativos em áreas tão importantes como o Mercado Único Digital,
a energia, a mobilidade e os transportes, a segurança e a defesa e a consolidação do pilar social.
Faço uma referência particular ao clima, uma vez que a quarta Conferência das Partes da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas terá lugar na Polónia, em dezembro deste ano, onde a
presidência da Áustria representará os interesses da política climática europeia.
Em estreita articulação com este tema está também prosseguir o labor na construção de uma política de
transportes justa, competitiva, segura e sustentável, em termos ambientais e sociais, o mesmo sendo verdade
para a política energética.
O Conselho Europeu de dezembro constituirá o horizonte de muitos destes dossiers e também da finalização
do processo de consultas/diálogos com os cidadãos, por forma a obter o contributo dos mesmos para a
elaboração da próxima agenda estratégica da União Europeia 2019-2024.
A elaboração desta nova agenda exigirá um notável esforço de diálogo e de focalização em todas as áreas
setoriais, que devem estar alinhadas com o debate do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027. Para Portugal,
isto é particularmente relevante no desenho das políticas de coesão e no futuro da política agrícola comum pós-
2020.
Quanto à competitividade, prosperidade e criação de emprego, Portugal revê-se na importância atribuída ao
fomento da competitividade através do aprofundamento da transformação digital da economia, da Administração
Pública e da sociedade em geral.
A presidência austríaca irá organizar uma conferência de alto nível sobre subsidiariedade. Esta pode ser uma
boa oportunidade para encontrar formas de dar voz aos cidadãos, às regiões e aos Estados-membros, reduzindo
a burocracia e focalizando os esforços da União naquilo que é realmente importante.
Vejamos agora as outras grandes prioridades da presidência austríaca que estão, de alguma forma,
interligadas: a questão da segurança, das migrações e da estabilidade na vizinhança.
A presidência austríaca põe aqui a tónica na segurança e na construção de uma Europa que protege os seus
cidadãos e lhes garante paz e segurança, restabelecendo a confiança na capacidade da União.
Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.
As migrações são o tema omnipresente no programa da presidência austríaca com referências transversais
em vários capítulos e com um capítulo autónomo onde transparece uma lógica muito securitária, centrada na
luta contra a emigração ilegal e no reforço do controlo das fronteiras externas, ficando a vertente da migração
legal muito secundarizada.
Concordamos que a proteção eficaz das fronteiras externas da União Europeia é essencial para a gestão
dos fluxos migratórios, para garantir a segurança interna e também para preservar a livre circulação no espaço
Schengen. Mas continuaremos a defender que a solidariedade é um valor central nesta matéria, solidariedade
para quem pede asilo, para com quem pede uma vida melhor e mais digna, solidariedade para com os Estados-
membros sujeitos a maior pressão migratória. Continuaremos a buscar uma perspetiva holística que dê igual
peso aos três pilares desta questão: o reforço da cooperação com os países de origem e de trânsito dos
migrantes, o reforço da fronteira externa da União e o reforço dos programas de integração e de inclusão dos
migrantes no território da própria União Europeia.
Acompanharemos a presidência austríaca no debate sobre possíveis ideias inovadoras para encontrar
soluções sobre a questão dos refugiados, sobre a questão dos migrantes irregulares, sempre buscando
articulação com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), com a OIM (Organização
Internacional para as Migrações) e em total respeito pelos direitos humanos, pelo direito internacional e pelas
convenções aplicáveis.
Portugal tem defendido a conclusão do reforço do sistema europeu comum de asilo e adotado uma
abordagem construtiva que reflita um equilíbrio entre os princípios da solidariedade e da responsabilidade,
mostrando flexibilidade no diálogo e na abertura para o compromisso.
Finalmente, a União não poderá oferecer estabilidade, paz e segurança aos seus cidadãos se não assegurar
também uma vizinhança segura e estável. A Áustria sublinha aqui o papel central dos Balcãs ocidentais, no que
respeita ao incremento de uma perspetiva europeia, para os países da Europa do Sudeste.
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Portugal reconhece a importância do processo de alargamento e da contribuição que a perspetiva europeia
tem para a paz e estabilidade da região dos Balcãs. Mas temos também a necessidade de sublinhar, a
necessidade de um olhar equilibrado para a vizinhança Sul da Europa. A sua estabilidade e segurança têm um
impacto enorme sobre a estabilidade e a segurança europeias. A cooperação com os países do Magrebe deve
prosseguir de maneira intensa e coordenada e a parceria com África é central.
Portugal tem sempre evitado que o discurso europeu em relação a África fique refém de uma agenda negativa
ligada às migrações e ao terrorismo, frisando a importância de que se revestem as questões do
desenvolvimento, da governação e do investimento no crescimento, para além do apoio à paz e à segurança.
Termino, sublinhando que, apesar de uma agenda tão complexa e dos desafios que temos pela frente,
estamos confiantes de que a presidência austríaca contribuirá para reforçar a unidade e o espírito europeu.
Portugal aí estará para dar o seu contributo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do
PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Gonçalves.
O Sr. Carlos Alberto Gonçalves (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.
Deputados, Sr. Embaixador da Áustria: No momento em que a Áustria assume a presidência do Conselho da
União Europeia para os próximos seis meses, a Europa enfrenta um conjunto de desafios que podem colocar
em causa a sua coesão e a sua capacidade para se continuar a assumir como o espaço de liberdade, de
desenvolvimento e de prosperidade que todos conhecemos.
Foi com base neste contexto que o Governo austríaco definiu como grande prioridade da sua presidência a
questão das migrações, adotando mesmo como lema «Uma Europa que protege», dando uma especial atenção
à questão da segurança e do combate à imigração ilegal.
O Governo austríaco declarou que pretende, nos próximos seis meses, construir pontes na União Europeia
e reduzir tensões, o que nos parece uma tarefa importante, mas uma tarefa difícil, muito mais para um Governo
conhecido pelas suas posições mais restritivas quanto à chegada e à permanência de candidatos de asilo à
Europa.
No entanto, esta é uma tarefa fundamental, pois a União tem falhado em encontrar uma posição concertada
para o enorme desafio que as migrações têm colocado aos 28 Estados-membros.
Numa Europa em que a corrente eurocética tem vindo a ganhar cada vez mais expressão, também em
Portugal, e sabendo que estamos a menos de um ano das eleições europeias, é fácil de entender que em muitos
países este será o tema principal e nalguns talvez o único da discussão política. Isso poderá restringir a
capacidade de alguns Estados-membros nas negociações e nas decisões que tem de tomar sobre estas
matérias.
Assim, importa saber de que forma o Governo português encara a abordagem que é feita pela presidência
austríaca relativamente ao dossier das migrações. Estaremos nós a responder, eventualmente, a uma pergunta
que muitos fazem no caminho de ter uma posição mais dura da União Europeia neste domínio? Convinha saber.
É que, conhecendo os resultados do último Conselho Europeu e das enormes dificuldades de entendimento
nesta matéria, é importante saber qual é o limite traçado pelo Governo de forma a garantir a segurança dos
cidadãos europeus sem comprometer as aspirações e os direitos de todos aqueles que chegam às fronteiras
europeias.
Outro tema de grande relevância tem a ver com a negociação para a saída do Reino Unido da União
Europeia, que deveria ou deverá estar concluída em março de 2019.
Nos últimos dias, os desenvolvimentos ocorridos no seio governo britânico, vieram demonstrar que este é
um processo que está longe de estar fechado e que terá consequências importantes para o espaço europeu.
Independentemente das decisões que o Reino Unido venha a tomar, começa, infelizmente, de novo, a
especular-se sobre a possibilidade de não haver um acordo efetivo entre a União Europeia e o Reino Unido
precisamente no momento em que se exigia o acelerar do processo negocial para que os prazos estabelecidos
para o acordo fossem cumpridos.
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Assim, este é um dossier que ganha ainda maior importância e complexidade e que terá consequências no
futuro da economia, do comércio, da segurança e defesa da União Europeia. Por isso, é imperioso que a
presidência austríaca assuma esta questão como primordial.
Para nós, é fundamental que o Governo português acompanhe, nos seus diversos planos, estas
negociações, de forma a salvaguardar os nossos interesses na relação com o Reino Unido. Mas permitam-me,
Srs. Deputados, no entanto, destacar que naquele país vivem cerca de 400 mil portugueses e que devem
merecer do Governo o apoio e o acompanhamento necessários face à situação excecional que vivem. As
pessoas devem ser sempre a nossa principal preocupação.
Acresce que, perspetivando a possibilidade de não haver acordo, é importante que Portugal prepare um
plano, como já disse à Sr.ª Secretária de Estado em reunião da Comissão de Assuntos Europeus, a que
poderemos chamar um plano B, a que poderemos chamar um plano de contingência, mas um plano no sentido
de defender os interesses da nossa comunidade residente no Reino Unido e que, não havendo acordo, queira
ali permanecer e viver.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: A Áustria, considerando a sua posição central na
Europa e a sua própria História, defende uma maior integração dos seus vizinhos dos Balcãs ocidentais na
União e define esta matéria como uma das suas prioridades. Insiste na importância da estabilidade naquela
região e defende mesmo uma pré-adesão desses países à União Europeia. No entanto, nunca se refere a um
país, importante também, que é a Turquia. Era bom saber como é que o Governo português analisa e avalia
esta opção da presidência austríaca.
Gostaria, ainda, de me referir ao Quadro Financeiro Plurianual, um dos dossiers com maior ênfase no nosso
País.
Esta é uma matéria de enorme importância para Portugal, que viu na proposta da Comissão Europeia para
o Quadro Financeiro Plurianual até 2027 serem diminuídos os apoios para as áreas da pesca, da agricultura e
das políticas de coesão, devendo, como é evidente, o Governo ter aqui uma especial atenção quanto aos
desenvolvimentos futuros, e desejamos — claramente desejamos — que a presidência austríaca tenha
capacidade para encontrar soluções neste âmbito. Aproveitamos também para perguntar quais as perspetivas
do Governo relativamente a este dossier durante a presidência da Áustria.
Esta é uma presidência que, como já referi, tem lugar num momento de grande importância para o futuro da
União Europeia.
Muitos, certamente aqui no debate vamos ter conhecimento, têm dúvidas sobre a capacidade austríaca de
liderar um conjunto de negociações determinantes devido a posições assumidas no passado pelos seus
responsáveis governativos.
No entanto, os compromissos já assumidos em diversas áreas permitem acreditar que essas dúvidas serão
ultrapassadas para bem da Europa e para bem dos europeus.
Já agora, Sr.ª Secretária de Estado, e por falar em compromissos, permita-me que aborde aqui uma questão,
que é a seguinte: ainda hoje o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, numa entrevista à Rádio Renascença,
afirmou que, no futuro, poderá haver um novo acordo com as esquerdas, que deverá significar — e cito —
«também um avanço em matéria de política externa e em matéria de política europeia».
Antecipando já o debate que aqui se vai instalar, gostava que a Sr.ª Secretária de Estado nos explicasse e
nos desse algumas linhas sobre o que quer dizer «um avanço em matéria de política externa e em matéria de
política europeia» sobretudo com os partidos à nossa esquerda. Estamos muito curiosos de saber o que,
eventualmente, nos terá para dizer.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — É a vez da Sr.ª Deputada Isabel Pires intervir pelo Bloco de
Esquerda.
Faz favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, Sr. Secretário de Estado, Srs.
Deputados, Sr.as Deputadas: A presidência austríaca do Conselho da União Europeia está prestes a começar
e, infelizmente, o cenário que se afigura não poderia ser mais sombrio.
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O lema da presidência austríaca é «Uma Europa que protege», mas é um lema que está baseado na ideia
de que a suposta crise de refugiados e de migração tem de ter uma resposta dura por parte da União Europeia
e a primeira prioridade desta presidência, e, já agora, a mais empolada, é a segurança das fronteiras e o combate
à migração ilegal.
Importa fazer um paralelo entre as terminologias e as escolhas políticas do documento de apresentação da
presidência austríaca e das conclusões do último Conselho Europeu.
Migração ilegal, centros de migrantes, segurança de fronteiras externas, ameaça, são algumas das palavras
ou expressões mais vezes repetidas, tanto num como noutro dos documentos que referi, de uma maneira
perigosa e que abrem a porta, em definitivo, para se dar de mão beijada tudo o que os países do grupo de
Visegrado, a Itália e a Áustria vinham pedindo até agora: expulsem-se pessoas de território europeu, coloque-
se o problema longe do território, seguindo a máxima de «longe da vista, longe do coração», ou, neste caso,
longe de qualquer responsabilidade política.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr.ª Secretária de Estado, para início da presidência austríaca, as declarações,
notícias e informações que têm sido publicadas sobre as pretensões da Áustria em matéria de migração são
preocupantes e importa esclarecer qual será a posição do Governo português sobre as mesmas.
Foi noticiada ontem a existência de um documento preparatório, que circulou por várias representações
permanentes de Bruxelas, que apontava, e cito, «fragilidades fundamentais» às fronteiras externas da União
Europeia e defendia ações radicais para travar o acesso à Europa de homens provenientes de, e volto a citar,
«regiões caracterizadas por sistemas patriarcais, ideologias hostis à liberdade ou atitudes religiosas
antiquadas».
Gostaria de informar que sociedades patriarcais também são as sociedades europeias, na sua grande
maioria,…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — … e assistimos, com cada vez mais força, ao recrudescimento daquilo a que
eles chamam «ideologias hostis», também em governos europeus. Portanto, estamos perante terminologias que
não devem ser utilizadas, que repudiamos em absoluto e, de facto, olhe-se para a coligação austríaca que tem
um partido de extrema-direita.
Aplausos do BE.
Portanto, temos o fortalecimento de uma narrativa que utiliza os medos mais comuns de qualquer sociedade,
o medo do outro que é aparentemente diferente, para fazer política em cada país. Já vimos isto acontecer em
épocas históricas e vê-lo novamente, de forma impávida e serena, não é aceitável e achamos que o Governo
português não pode ser complacente com este tipo de posições em nenhum momento formal desta presidência.
Além destas questões no discurso político, no discurso público, há notícias, desde o início da semana, que
dão conta da preparação de um documento que contém a proposta austríaca para os chamados «centros de
migrantes» fora do território da União Europeia. Este documento serviria de base para a reunião informal de
ministros do interior que tem lugar hoje mesmo.
A proposta é que, no caso de decisão final negativa na candidatura à proteção internacional, a pessoa em
questão deve sair da União Europeia e, então, acontece uma de duas coisas: ou é transferida para o seu país
de origem ou para um país terceiro. Neste caso, o país terceiro será responsável pela pessoa, após um acordo
que respeite os standards europeus. Pergunto: o que é que são estes standards europeus, quando nem sequer
países europeus conseguem ter o mínimo de respeito pelos direitos humanos ou pelo direito internacional? Não
se percebe!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
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A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Além de mais, isto implica a construção de campos de contenção fora do território
europeu. Estamos de novo na velha máxima: longe da vista, longe da responsabilidade política. Não é, pois,
aceitável a proposta que a Áustria está a fazer e que era já uma proposta antiga da própria Áustria.
Portanto, estamos perante propostas, achamos nós, que comprovam os receios e alertas que temos vindo a
deixar sobre o rumo da política europeia para as migrações, mas também sobre uma visão mais geral, que se
está a construir, da Europa fortaleza, idealizada desde sempre por alguns mas que agora é levada à prática com
o aval de todos. E digo de todos porque as conclusões do último Conselho Europeu deram o aval de todos os
países da União Europeia a este tipo de política.
Da leitura dos documentos oficiais da presidência austríaca percebe-se, de facto, que existe esta
concentração de elementos que têm a ver com a vertente mais securitária da União Europeia. Não deixa de ser
revelador da verdadeira natureza do projeto europeu que a rapidez com que se avança nas propostas de
militarização e securização de fronteiras externas — e possivelmente, de alguma forma, das fronteiras internas
— se faça alicerçada nos argumentos da vaga migratória e na suposta invasão, que não existe de maneira
alguma.
Estamos perante a utilização de argumentos falsos, que têm sido a base da xenofobia e de movimentos de
extrema-direita e que estão a ser precisamente os mesmos argumentos que estão a ser utilizados por países
da União Europeia para justificar os avanços na Cooperação Estruturada Permanente, no reforço do
investimento na NATO, para justificar a fantasia da necessidade de criar fronteiras externas cada vez mais
fechadas.
Sr.ª Secretária de Estado, para terminar, o Bloco de Esquerda não aceita nem respalda qualquer destas
posições, nem qualquer da terminologia que tem sido utilizada e que tememos vá ser acirrada pela presidência
austríaca.
As prioridades da próxima presidência agoiram tudo de mau: fechamento de fronteiras externas e o possível
endurecimento nas fronteiras internas; políticas de expulsão de pessoas e seleção de quem pode ou não pode
ficar em território europeu (onde é que já vimos isto?); pagamento a países terceiros para fazerem o trabalho
que caberia à União Europeia; tentativa de dar uma falsa importância às questões do Estado de direito ou
políticas do euro ou de convergência, quando o próximo quadro financeiro plurianual apenas responde à
militarização e esquece a coesão.
Enfim, um conjunto de prioridades políticas que arredam, em definitivo, os valores proclamados da
solidariedade e do respeito pelos direitos humanos.
Sr.ª Secretária de Estado, a partir das últimas conclusões do Conselho e dos documentos que existem desta
presidência, estes valores deixaram de ter qualquer aplicação prática por todos os países da União Europeia
que aceitaram estas terminologias.
Assim, a questão que fica para o Bloco de Esquerda é se vai o Governo utilizar o poder de veto que tem —
já o deveria ter utilizado antes de ter assinado as conclusões do último Conselho Europeu —, se vai ter a
coragem de levar a cabo aquilo que tem dito sobre a defesa da solidariedade, a defesa dos direitos humanos e
se vai ou não pactuar com aquilo que são as propostas políticas da presidência austríaca.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra o Sr. Deputado Vitalino Canas, do Partido
Socialista.
O Sr. Vitalino Canas (PS): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: As eleições
gerais austríacas de outubro de 2017 foram seguidas com alguma expetativa e, como sucede agora
frequentemente, também com alguma apreensão.
Chegou a haver receios da vitória de um partido antieuropeu, e até antivalores fundamentais da Europa,
populista e a raiar o xenófobo. Esse partido, o FPÖ (Freiheitliche Partei Österreichs,), não venceu, mas ficou
perto e, de alguma forma, forçou os partidos tradicionais da construção europeia a colarem-se à sua agenda,
particularmente anti migrações.
A composição parlamentar ditou um governo de coligação, integrando o referido FPÖ. Sinal dos tempos,
aquilo que em 2000 havia sido fundamento para dura reação da União Europeia — a entrada no governo do
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FPÖ, na altura liderado por Jörg Haider —, foi desta vez apenas motivo de tímidas manifestações de
preocupação.
O programa da presidência rotativa da União Europeia para o segundo semestre de 2018 era, portanto,
aguardado com natural interesse, mas também com alguma reserva.
Sabemos que a presidência austríaca ocorre num período crucial.
Em outubro, encerram-se os dossiers respeitantes ao Brexit, acordo de saída, acordo de transição e quadro
para relação futura. O novo quadro financeiro plurianual ficará, previsivelmente, estabilizado neste período.
Questões relacionadas com o completamento da UEM (União Económica e Monetária), a agenda da União
Europeia como parceiro global e as políticas de migração assumem agora um relevo crítico.
Olhando para este programa, notamos que quem o elaborou não conseguiu ou não quis ocultar alguns
aspetos que devem merecer dos defensores do projeto europeu uma atenta vigilância e, quando necessário,
empenhada oposição.
Em geral, o programa está construído em torno de uma opção estratégica resumida pelo cenário quatro do
Livro Branco sobre o futuro da Europa: Fazer menos com maior eficiência.
Não deixa de ser discutível que um programa de uma presidência rotativa da União Europeia, que deveria
ser um programa gerador de consensos, adira sem paliativos a uma orientação tão marcada e, porventura,
minoritária.
Queria deixar, desde já, em nome do Partido Socialista, a declaração de que não nos revemos nessa
orientação da presidência austríaca da União Europeia e apelamos a que a presidência não ceda à tentação de
dela retirar consequências imediatas, designadamente ao nível da negociação do quadro financeiro plurianual
para o período subsequente a 2020.
Sem surpresa, as questões das migrações ocupam um lugar central no programa, inclusive à frente das
questões da proteção ambiental e do combate ao terrorismo e à radicalização.
Aquela prioridade é versada em inúmeros pontos do programa, sob variadas perspetivas e com medidas de
diferente natureza, mas sempre com um tom restritivo, insensível aos dramas humanos e humanitários que
rodeiam a Europa. Iremos referirmo-nos a isto noutra intervenção do Partido Socialista, mais adiante.
No plano da política externa e de vizinhança, regista-se a quase exclusiva prioridade atribuída aos Balcãs
Ocidentais, à sua estabilização e integração na União Europeia. Sendo Portugal tradicionalmente adepto do
alargamento e apoiando os processos de integração dos seis países dessa geografia, assinalamos que as
prioridades da política externa e de vizinhança europeias estão muito longe de se cingir a isso.
As escassas linhas dedicadas à cooperação política com África demonstram, em contrapartida, uma visão
excessivamente redutora dos interesses da União Europeia como parceiro global.
A alegada proximidade do Governo da Áustria (ou, pelo menos, de alguns dos seus membros) à Rússia
parece gerar uma visão relativamente ambígua que resulta do programa. Por um lado, não há referências à
anexação ilegal da Crimeia, à guerra híbrida no Donbass ou à crescente agressividade da Rússia no ciberespaço
e em zonas estratégicas. Por outro lado, sublinha a dimensão do diálogo com a Rússia.
Não sendo esta dimensão negligenciável e merecendo o nosso apoio, a excessiva transigência para com a
Rússia pode suscitar, e suscita, alguns reparos.
Não obstante o que se disse até aqui, a justiça manda reconhecer que alguns receios no que toca a um
eventual afastamento do projeto europeu não se confirmam. O programa contém mensagens inequívocas de
adesão a ele e de sinalização da sua absoluta e insubstituível valia como fator de estabilidade, de paz, de
progresso e de segurança de quem vive na Europa.
Merecem relevo alguns dos objetivos enunciados: fortalecimento da União Europeia, restabelecimento da
confiança dos cidadãos no projeto europeu, melhoria da confiança entre os Estados-membros.
Saliente-se também o compromisso do completamento da união bancária, particularmente com o
estabelecimento do seguro europeu de garantia de depósitos. Porém, não posso deixar de referir a reduzida
ambição no que toca a outros aspetos relevantes para o completamento e calibramento da União Económica e
Monetária.
As referências à necessidade de reforçar os mecanismos de segurança comuns, designadamente no âmbito
da PCSD (política comum de segurança e defesa), e em particular a PESCO (Permanent Structured
Cooperation), são também de realçar.
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Sublinho, além disso, o forte apoio às iniciativas da Comissão Europeia para a proteção sustentável do
Estado de direito na União Europeia e nos países vizinhos. Esta declaração, que, noutro momento, noutro
contexto e com outra autoria poderia parecer banal, adquire fundo significado no momento presente.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, nenhuma presidência parte sem a ambição de sucesso e todas as
presidências devem poder contar com a cooperação, lealdade e apoio na medida em que pretendam defender
e consolidar o projeto europeu. Não deixaremos de colaborar com a presidência austríaca, em diálogo
permanente, com vista a mitigar os aspetos mais discutíveis da sua programação e de reforçar tudo aquilo que
constitua progresso na concretização do projeto e dos valores europeus.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Pelo CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota
Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados:
Sr.ª Secretária de Estado, na negociação dos tratados internacionais costuma dizer-se que é tão importante o
que fica escrito como aquilo que fica de fora, porque o que fica de fora é onde não foi possível obter um consenso
nessa negociação.
É muito curioso olharmos para a proposta da presidência austríaca e percebermos que há um conjunto de
matérias que não ficam totalmente de fora mas quase. Há uma grande falta de ambição, por exemplo, na matéria
que tem a ver com a concretização da União Económica e Monetária. Aliás, em cerca de 70 páginas de
documento só em dois parágrafos é que, ao de leve, se fala sobre esse tema, que é um tema muito relevante
para o futuro da União Europeia mas também para o futuro de Portugal.
Já vimos demasiadas presidências rotativas a passarem e a falarem pouco deste tema para percebermos,
verdadeiramente, o que significa essa falta de ambição.
Aliás, numa altura em que se prevê que o crescimento da zona euro seja superior a 2%, é totalmente
incompreensível a hesitação, é totalmente incompreensível a delonga, os excessivos adiamentos da
concretização da união bancária, e, nesse sentido, percebemos que esta reforma, que é uma reforma muito
importante, devia ser feita num cenário económico positivo e não num cenário económico de recessão.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Na verdade, há muito pouco tempo atrás, o Presidente do Banco
Central Europeu, Mario Draghi, chamava a atenção para isso, dizendo que não podemos ficar presos na
distinção entre redução de riscos e partilha de riscos e, a partir desse silogismo, não avançar. Ora, infelizmente,
parece-me que a presidência austríaca fica um pouco presa nesta questão mais semântica do que real para não
avançar. E o último Conselho Europeu, infelizmente, nesta matéria, foi muito desapontante.
Por isso mesmo, coloco-lhe uma pergunta muito focada. Face às conclusões do Conselho, que apela à
negociação do sistema europeu de seguro de depósitos, e face à prevista falta de ambição da presidência
austríaca, qual é a posição do Governo português e o que vai pedir, no quadro do próximo Conselho?
Uma questão que também está muito reduzida aos mínimos dos mínimos é a do quadro financeiro plurianual.
Sabemos que desejavelmente até maio do próximo ano era fundamental fechar esta mesma negociação e
também sabemos que a Áustria é um contribuinte líquido, além de ser um dos grandes beneficiários do mercado
comum, e nota-se uma falta de ambição no documento relativo à matéria do quadro financeiro plurianual, pelo
que peço o seu contributo sobre essa matéria e que comente este facto.
Uma outra questão que quero referir prende-se com aquela que é elencada pela presidência austríaca como
sendo a sua grande prioridade: a questão das migrações.
Infelizmente, no último Conselho Europeu, ficou demonstrada a incapacidade de a União Europeia chegar a
um consenso político e a uma decisão sobre a matéria dos refugiados e das migrações que, acima de tudo,
possam vir a ser aplicados.
Até percebemos que no próprio Governo português há algumas divergências. O Primeiro-Ministro disse que
essa, e passo a citar, «foi uma das reuniões mais horríveis em que estive». Já a Sr.ª Secretária de Estado,
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quando veio aqui ao Parlamento, disse que foi só um desabafo do Primeiro-Ministro, coitado, que ele estava
muito cansado.
Aliás, parece-nos que esta cacofonia ainda hoje se tornou mais vocal. De manhã, ouvimos o Sr. Ministro dos
Negócios Estrangeiros dizer que no futuro, num próximo acordo político, é fundamental atar um conjunto de
questões como aquelas que têm a ver com as matérias da política europeia, com as matérias da política externa,
com as matérias da NATO. Hoje, sabemos que o Primeiro-Ministro tem o compromisso de aumentar a dotação
portuguesa para a NATO, mas o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português já vieram dizer que não
vão aprovar nada disso no Orçamento do Estado.
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — E bem!
O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Pior do que isso: depois do Ministro dos Negócios Estrangeiros vir
falar sobre esta matéria, o Primeiro-Ministro veio desmenti-lo, dizendo que, afinal, as coisas estão muito bem
assim, que não vale a pena irritar o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, que são muito vocais, vêm para
aqui falar muito, e que é melhor deixar estar as coisas como elas estão porque no que está bem não se mexe.
Por isso mesmo, percebemos que, neste momento, o Governo português está muito preso, internamente,
nas suas questões. É exatamente por isso que gostava de lhe perguntar, Sr.ª Secretária de Estado, qual é,
afinal, a política do Governo português sobre esta matéria.
Muito recentemente, o recém-eleito diretor da OIM (Organização Internacional para as Migrações), o Dr.
António Vitorino, disse uma frase que me parece muito relevante e que vou citar neste momento: «A Europa não
pode cobrir tudo com o mesmo manto de generosidade. Não é possível tratar igualmente os migrantes
económicos e os refugiados, da mesma maneira. É completamente demagógico e irrealista pensar que a Europa
pode ser a depositária de toda a miséria do mundo».
A Sr.ª VâniaDiasdaSilva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. PedroMotaSoares (CDS-PP): — Sr.ª Secretária de Estado, faço perguntas muito concretas: qual é o
contributo do Governo português para esta discussão? Qual é a posição do Governo português em relação a
esta matéria?
O Governo português quer ajudar a criar um sistema que possa separar o que é separável, ou seja, migrantes
económicos, que legitimamente querem melhorar a sua vida, de refugiados, que estão a sair de regiões de
guerra ou não saem porque perdem as suas vidas?
O Governo português terá uma posição mais moderada ou terá uma posição mais a contento do Bloco de
Esquerda e, eventualmente, do Partido Comunista Português? Qual é a posição e qual vai ser contributo do
Governo português numa matéria como esta?
Esta é uma matéria muito relevante e é fundamental perceber o que é que o Governo de Portugal pensa
sobre ela.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A Sr.ª Secretária
de Estado anunciou, aliás, repetiu o lema da presidência austríaca do Conselho e referiu-se a uma Europa que
protege. É um lema que nos leva logo a perguntar: protege do quê? É uma Europa que protege de que ameaças?
Quais são as ameaças que impendem sobre a Europa neste momento?
Sr.ª Secretária Estado, as principais ameaças que impendem sobre os cidadãos da União Europeia são
precisamente as que resultam da política da União Europeia, das políticas dos vários setores da União Europeia.
Os instrumentos económicos e financeiros limitam e expropriam Estados da sua soberania e impedem um
livre desenvolvimento económico baseado nos interesses das suas populações, quer seja através do Semestre
Europeu, quer seja através das limitações do défice, quer seja através da própria utilização da moeda única e
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do aprofundamento da união económica e monetária, quer seja através da união bancária. Enfim, são um
conjunto de instrumentos que funcionam, na verdade, como um garrote principalmente para os Estados-
membros que, como Portugal, estão numa posição que é originalmente mais desfavorável do que as grandes
potências do centro da União.
Portanto, aí reside uma boa parte das ameaças: o desemprego, o subdesenvolvimento, o subfinanciamento
dos sistemas de saúde e educação, a falta de serviços públicos de qualidade que lançam as populações num
caminho de retrocesso civilizacional. Essa seria, talvez, uma das grandes ameaças.
Ora, a presidência austríaca não só não se propõe defender, salvaguardar ou proteger, nos termos que usa,
desta ameaça como propõe o seu agravamento.
O mesmo se passa com as questões do militarismo e do armamentismo, que vão presidindo cada vez mais
à política da União Europeia, que é, aliás, uma marca deste projeto. E não falo do projeto anunciado e das
palavras vãs dos tratados ou daquelas que sucessivamente são anunciadas como o projeto da União Europeia,
os valores da União Europeia, mas da prática e da realidade que vamos vendo, dia após dia, que contradizem
claramente esse projeto que foi anunciado.
As mentiras que foram vendidas aos portugueses para os convencer da bondade da adesão à então
Comunidade e, depois, à União Europeia são hoje mais do que evidentes, porque não só não se confirmam,
como testemunhamos hoje, no dia a dia, exatamente o seu contrário. Ou seja, a degradação de um conjunto de
indicadores, a degradação da soberania, a maior dependência externa do País, o desemprego, o
subfinanciamento dos serviços públicos.
E, agora, somos confrontados com uma política que até, a pretexto da saída do Reino Unido da União
Europeia, vem cortar ainda mais e diminuir o orçamento comunitário, mas também diminuir, por via do Semestre
Europeu, o financiamento aos serviços públicos através dos orçamentos nacionais.
Tudo isto ao mesmo tempo que esses órgãos decidem o reforço do financiamento para o armamento, para
uma deriva cada vez mais securitária, sempre intimidando com o papão de uma ameaça externa cuja origem é
sempre escondida.
É precisamente esta orientação da União Europeia de destabilizar países fora das suas fronteiras e limitar
os direitos dos seus cidadãos que gera o clima perfeito para que as populações dos outros países tenham de
se deslocar e para que aqui tenhamos medo de as receber.
Portanto, é a política e as opções da União Europeia, bem como o seu funcionamento neoliberal com uma
perspetiva imperialista, que fazem com que a União Europeia gere o problema e dê uma resposta que, ainda
por cima, é errada, no seu território, para resolver o problema para o qual contribuiu.
O alinhamento, agora como braço, com a NATO demonstra bem qual é a opção da União Europeia no que
toca à sua política externa, tendo em conta que se alia à organização que é, provavelmente, a maior responsável
pelos conflitos armados no globo e, portanto, concorre objetivamente para a destabilização de um conjunto de
países, cria a necessidade dessas migrações e, depois, ergue uma fortaleza supostamente para proteger os
cidadãos da União Europeia.
Este é o projeto da União Europeia. O PS e o Governo, provavelmente, acreditarão que há um afastamento
do projeto e que se abandonam, por vezes, valores fundamentais da União Europeia, mas não, Sr.ª Secretária
de Estado, Srs. Deputados, este é o projeto. A prática é o critério da verdade.
Pode dizer-nos que há uma outra intenção escondida que não contempla uma incubadora de partidos de
extrema-direita, como é a União Europeia, que não contempla a destabilização dos outros povos, que não
contempla a externalização de fronteiras, que não contempla o desemprego e a compressão dos direitos sociais
e políticos, culturais e sociais em todos os Estados-membros, mas a prática não se concilia com essa tese
bondosa de uma União Europeia de progresso.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado Miguel Tiago, queira terminar.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, mais integração e o aprofundamento deste
caminho não vão levar a resultados diferentes. Precisamos de escolher outro caminho, porque já vimos onde
vai dar este.
A presidência austríaca está, inclusivamente, muito marcada pela extrema-direita, por força do Governo que
a própria Áustria tem, já um resultado das políticas da União Europeia, e tudo fará, evidentemente, na senda do
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seu projeto, para aprofundar esse caminho. E nós temos é de mudar de caminho, porque este, infelizmente, a
Europa já viu onde conduz e não é um bom futuro.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma segunda intervenção, em nome do Grupo
Parlamentar do PSD, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês Domingos.
A Sr.ª InêsDomingos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, Srs. Deputados: Para o PSD,
existem três prioridades na reforma da união económica e monetária.
Primeira, transformar o mecanismo de estabilidade financeira num fundo monetário europeu. Esta foi uma
luta e uma visão do anterior Primeiro-Ministro e anterior Presidente do PSD, que foi dos primeiros a referir esta
necessidade, logo em 2015, para fazer face aos choques externos e assimétricos que afetam as economias
europeias.
Segunda, defender um mecanismo de estabilização. Neste momento, o acesso a mecanismos de
estabilização ao nível da área do euro é demasiado complexo e ineficiente.
Terceira, é urgente retomar o projeto original da união bancária, que incluía um seguro de depósitos e que
tem sido sucessivamente deixado para trás.
Infelizmente, na Cimeira do Euro, perdeu-se a oportunidade de avançar de forma séria nas negociações e
adiou-se de novo o debate para dezembro. Nessa altura, Sr.ª Secretária de Estado, com as eleições europeias
à porta, resta saber se será possível iniciar as negociações sobre este tema que tem gerado uma divisão grande.
Infelizmente, não se tem visto, por parte do Governo, empenho no sentido de pressionar os outros Estados-
membros a avançarem com a reforma da UEM.
Este é, para Portugal, um tema fundamental por causa da fragilidade que resulta de termos um sistema
bancário ainda com muitas dificuldades, contrariamente ao que o Governo gosta de apregoar, e de termos a
terceira dívida pública mais alta da União Europeia.
Gostaria de me debruçar, em especial, sobre o tema do sistema europeu de seguro de depósitos.
O que resultou da Cimeira do Euro é preocupante para o PSD, porque o roadmap para a união bancária de
2016 prevê que os governos e as instituições europeias tomem medidas para reduzir os riscos antes de iniciar
as negociações sobre a partilha de riscos, nomeadamente com a criação do sistema europeu de seguro de
depósitos.
Só que o debate ainda nem sequer começou. O debate sobre as medidas de risco que devem ser tidas em
consideração nem sequer começou e a Cimeira que agora terminou e que deveria ter servido para chegar a
alguma conclusão nessa matéria nem sequer conseguiu concordar em nada neste tema.
Além disso, o PSD partilha também a preocupação que foi referida pelo Presidente do BCE, Mario Draghi:
aceitar a partilha de riscos permite também reforçar a estabilidade financeira de todos. No entanto, a presidência
austríaca coloca toda a ênfase do seu mandato em chegar a um acordo sobre a redução dos riscos e não prevê
começar as negociações para a partilha desses mesmos riscos.
Como já referi, a posição de Portugal nestas negociações não é forte, e não o é por dois motivos: em primeiro
lugar, porque do ponto de vista económico ainda tem muitas fragilidades e o sistema financeiro ainda tem crédito
malparado muito elevado, que, aliás, neste momento, se situa acima de 16% do PIB; em segundo lugar, porque
do ponto de vista político, e é até mais grave, é apoiado no Parlamento por partidos que não acreditam e são
mesmo contra a União Europeia, como vimos ainda hoje neste debate.
A posição de Portugal em relação a este tema, Sr.ª Secretária de Estado, tem de ser muito mais assertiva.
Pergunto: o que é que o Governo está efetivamente a fazer para conseguir avançar com um tema que é
crucial para Portugal?
Antes de terminar, Sr.ª Secretária de Estado, gostaria de referir que, logo a seguir à sua tomada de posse, o
Primeiro-Ministro austríaco foi apresentar as suas credenciais a Bruxelas. Na opinião do PSD, este momento
simbólico é um sinal e, apesar das reservas que temos em algumas matérias desta coligação, temos também
esperança e, sobretudo, apelamos à Áustria para que tenha uma posição construtiva na sua presidência.
Aplausos do PSD.
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Margarida Marques.
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, Sr. Secretário de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: A Áustria escolheu para lema da sua presidência «Uma Europa que protege». Explicação:
responder às expectativas dos cidadãos, aproximando a União Europeia dos cidadãos e restabelecendo a
confiança, confiança dos cidadãos na capacidade de agir da União Europeia, confiança mútua entre Estados-
membros e confiança na União Europeia enquanto força de estabilização no mundo.
A União Europeia tem também, sem dúvida, como missão proteger os cidadãos. Foi assim na sua fundação,
com o processo de paz e de reconstrução europeu. Vivemos mais de 60 anos de paz na União Europeia.
Mas «Uma Europa que protege» protege os cidadãos em todas as suas dimensões, incluindo o acesso ao
trabalho e ao emprego, aos direitos sociais, protege-os no exercício pleno dos seus direitos, protege-os de
qualquer tentação totalitária e protege as empresas de uma eventual guerra comercial.
«Uma Europa que protege» terá de ser tudo isto e muito mais!
Sr.as e Srs. Deputados: Vou centrar-me na primeira das três prioridades da presidência, ou seja, segurança
e luta contra a migração irregular. A Áustria chama-lhe ilegal. O tempo de que disponho não me permite ir mais
além nas prioridades da presidência.
Proteger as fronteiras externas é uma prioridade da União Europeia, pois só assim será assegurada a
proteção dos europeus e dos que vivem na União Europeia, tanto mais importante quanto é urgente a reposição
total de Schengen. Mas lidar com a problemática das migrações é muito mais do que criar fronteiras seguras e
criar fronteiras seguras é diferente de fecharmos a União Europeia.
Portanto, se ter fronteiras externas seguras é uma prioridade da União Europeia, é-o também, por um lado,
lutar contra os traficantes e, por outro, ter políticas solidárias que conduzam à integração de imigrantes e
refugiados, com políticas que permitam criar condições de vida e de integração dos que estão ou chegam à
União Europeia no respeito pela diversidade e pela lei europeia e internacional.
Também sabemos que os imigrantes que chegam à Europa foram o pretexto demagógico para os
movimentos populistas se alimentarem e fazerem crescer as suas bases de apoio, sendo que os resultados das
eleições recentes evidenciam-no.
Sr.as e Srs. Deputados: Conhecemos a posição do Governo português e dos portugueses.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Vou já terminar, Sr. Presidente.
O Governo português tem manifestado uma enorme abertura, manifestou, a seu tempo, a vontade de apoiar
a Áustria, a Suécia, a Alemanha, a Grécia e a Itália e manifestou, mais recentemente, a sua disponibilidade para
um acordo com a Alemanha. Gostaria, Sr.ª Secretária de Estado, que partilhasse com o Parlamento a forma
como o Governo português se posicionará no desenvolvimento desta prioridade da presidência austríaca rotativa
da União Europeia.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para encerrar o debate, tem a palavra a Sr.ª Secretária de
Estado dos Assuntos Europeus, a quem, apesar de só dispor de 21 segundos, a Mesa concederá alguma
tolerância, porque foram colocadas algumas questões, mas terá se ser uma tolerância relativa.
Tem a palavra, Sr.ª Secretária de Estado.
A Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Europeus: — Muito obrigada, Sr. Presidente.
Creio que na minha intervenção inicial pude, de maneira bastante abrangente, lidar com as preocupações
que a grande maioria do leque partidário desta Assembleia aqui colocou.
Portugal está a cuidar dos cidadãos no Reino Unido. Sem dúvida! Essa é uma das grandes prioridades.
Estamos a trabalhar num quadro financeiro plurianual que preserve os nossos interesses na coesão e na
política agrícola comum; estamos a trabalhar na União Económica e Monetária, sim, e para o seu
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aprofundamento. Esta é, aliás, uma das nossas grandes prioridades em que temos feito um trabalho quotidiano.
Estamos a trabalhar numa política de migração que afaste as opções estritamente securitárias, como aqui disse
logo no início, e que aposte nos três pilares em que esta questão está sustentada.
Zelaremos, sim, pelo humanismo, pela solidariedade no discurso e na ação e zelaremos para a criação de
uma verdadeira parceria com África, porque esse é outro ponto extremamente importante.
É fundamental também que a presidência austríaca assegure a sua equidistância e o seu equilíbrio enquanto
presidência, separando-se assim do seu interesse nacional. Essa é a função também da presidência.
Zelaremos, por isso, pelo humanismo, pela solidariedade, pois é este é o projeto europeu em que
acreditamos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Com a intervenção da Sr.ª Secretária de Estado, chegamos
ao fim do ponto 3 da nossa ordem de trabalhos.
Vamos passar ao ponto 4, que consiste na discussão conjunta da proposta de lei n.º 82/XIII (2.ª) — Primeira
alteração ao Decreto-Lei n.º 134/2015, de 24 de julho, que regula a atribuição de um subsídio social de
mobilidade aos cidadãos beneficiários, no âmbito dos serviços aéreos e marítimos entre o continente e a Região
Autónoma da Madeira e entre esta e a Região Autónoma dos Açores, prosseguindo objetivos de coesão social
e territorial (ALRAM) e dos projetos de resolução n.os 1644/XIII (3.ª) — Medidas extraordinárias para as situações
críticas nas ligações aéreas entre o continente português e as regiões autónomas (Os Verdes) e 1645/XIII (3.ª)
— Estratégia para a mobilidade aérea com resposta eficaz para as ligações entre o continente e as regiões
autónomas (Os Verdes).
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Relativamente à proposta
de lei apresentada pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, Os Verdes consideram que
ela vem no sentido de minimizar formas de penalização das populações que viajam entre o continente e a
Madeira, e vice-versa, e visam corrigir algumas incongruências e focos de efetiva contestação.
Uma das questões que Os Verdes relevam dessa proposta prende-se com a diminuição de encargos para
os cidadãos. Efetivamente, os cidadãos que tenham direito ao subsídio não têm de adiantar o dinheiro todo
relativo ao montante da viagem, devem ter de pagar apenas o correspondente ao encargo que recai sobre eles,
sendo que o Estado terá de contratualizar o resto com as operadoras de transporte.
Efetivamente, aquilo que se verifica é que os cidadãos têm de adiantar, e se me permitem a expressão, um
amontoado, porque é mesmo muito caro, de dinheiro para depois serem ressarcidos, mas muitas famílias não
têm essa a possibilidade de adiantar esse montante e, muitas vezes, ficam com uma restrição absoluta à sua
capacidade de mobilidade e de deslocação.
Por outro lado, relevamos também o facto de esta proposta de lei vir contribuir para evitar que as pessoas
tenham de ir aos postos dos CTT para receber o reembolso, numas longuíssimas filas de espera e, quantas
vezes, depois de horas e horas de espera, têm apenas a informação de que o plafond daquele dia já foi
ultrapassado e terão de voltar no dia seguinte para essas imensas filas.
Portanto, esta proposta procura também desburocratizar ou agilizar os processos de reembolso e, nesse
sentido, Os Verdes consideram que, apesar de a proposta não compreender tudo aquilo que Os Verdes
consideram que seria importante, ela dá um contributo positivo para minimizar as penalizações que, hoje,
recaem sobre os cidadãos que não têm, de facto, esta continuidade de mobilidade e estão sujeitos às questões
bastantes negativas da insularidade, designadamente no que ao transporte respeita.
Mesmo para terminar, Sr. Presidente, Os Verdes apresentam, para discussão conjunta com esta proposta
de lei da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, dois projetos de resolução que recaem
também sobre as matérias da mobilidade: um, no sentido de que se desenvolva uma estratégia para a
mobilidade aérea com resposta eficaz para as ligações entre o continente e as regiões autónomas, pois
consideramos que este planeamento e esta estratégia é fundamental; outro, no sentido da criação de medidas
extraordinárias para as situações críticas nas ligações aéreas entre o continente português e as regiões
autónomas.
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Se me permitem, realço aqui um ponto da recomendação que Os Verdes fazem, que me parece, de facto,
bastante pertinente, no sentido de o Governo garantir que, nas situações críticas de cancelamento de ligações
aéreas resultantes do encerramento de um dos aeroportos por motivos meteorológicos, nas seis horas
posteriores à reposição da operacionalidade aeroportuária, seja encontrada uma efetiva resposta de mobilidade
aos passageiros retidos por parte de cada uma das companhias aéreas vinculadas ao transporte regular de
passageiros entre as regiões autónomas e o continente.
De facto, é lamentável a situação que verificamos constantemente de pessoas horas e horas e horas e dias
e dias a fio num aeroporto sem que as operadoras encontrem soluções para a sua efetiva mobilidade.
É também neste sentido que Os Verdes querem contribuir, nomeadamente para a melhoria da qualidade de
vida dos cidadãos das nossas regiões autónomas, para atacar estes efeitos da insularidade e para garantir,
efetivamente, o direito à mobilidade de que estes cidadãos não podem ser privados.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo
Neves.
O Sr. Paulo Neves (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar a Assembleia
Legislativa da Madeira — todos os seus Deputados — que nos envia uma proposta de lei que o PSD classifica
de muito oportuna pela sua importância e atualidade.
É uma proposta que atualiza todo o processo de atribuição do subsídio de mobilidade aos residentes no
arquipélago da Madeira, atualização essa que, pelo PSD, já deveria ter sido feita há muito tempo. Mas mais vale
tarde que nunca!
Elogiamos, igualmente, o facto de esta proposta ter sido elaborada e aprovada por todos os partidos com
assento na Assembleia Legislativa da Madeira, o que demonstra, claramente, a importância desta matéria para
a Madeira e para os madeirenses. É uma matéria consensual e urgente.
O PSD espera que todos os partidos representados aqui, na Assembleia da República, acompanhem o
sentido de voto expresso pelos nossos colegas no Parlamento da Madeira, pois essa será a melhor forma de
respeitarmos os eleitos pelo povo da Madeira.
Além disso, o PSD, a nível nacional, revê-se perfeitamente nesta proposta, por isso votaremos a favor e não
aceitamos qualquer tentativa de adiar a votação prevista para hoje.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Madeira e os madeirenses estão a ser vítimas de um boicote por
parte do Governo da República. Um autêntico cerco às instituições autonómicas, desde logo uma total falta de
respeito institucional para com o Governo legítimo dos madeirenses, e com o aproximar das eleições regionais
o cerco aperta-se ainda mais.
O Governo da República, em relação à Madeira, tem manifestado uma estratégia que se pode resumir da
seguinte maneira: o que promete não cumpre e o que a lei obriga a cumprir também não cumpre!
O Governo da Madeira tem sozinho assumido encargos e responsabilidades que, manda a lei, manda o bom
senso e mandam os mais elementares princípios de solidariedade nacional, deveriam ser assumidos pelo
Governo da República, só que não são.
O Governo da República manifesta uma política de punição contra todos os madeirenses, porque a maioria
votou por um governo do PSD. O Governo da República, liderado pelo PS, não perdoa essa opção legítima,
livre e democrática dos madeirenses.
O Governo da República percebeu que nesta sua política de cerco à Madeira a questão da mobilidade
poderia ser a mais certeira nessa sua estratégia.
Exemplos não faltam: o Governo do PS, na República, apoiado pelo Bloco e pelo PCP, recusa-se a por ordem
na ineficiência da TAP em relação à Madeira; recusa-se a obrigar a TAP a ter preços de mercado e não abusivos
em relação à Madeira; recusa-se a apoiar a mobilidade aérea de mercadorias; recusa-se a apoiar a mobilidade
marítima para passageiros e carga.
Também quanto à legislação que regula o subsídio de mobilidade para a Madeira, tem-se recusado, ao longo
de toda esta Legislatura, a aceitar as propostas do Governo da Madeira e do PSD.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, termino: como todos percebemos, a questão da mobilidade para uma
região insular como a Madeira é fundamental. É por isso que a Constituição da República dedica a sua atenção
e defende a coesão e a unidade territorial de Portugal.
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulo Neves (PSD): — Termino, Sr. Presidente.
Tenhamos consciência, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que aquilo que se passa, neste momento, em
relação à Madeira, no que se refere à ineficiência da mobilidade, é muito grave, diria mesmo inaceitável, porque
põe em causa um dos princípios mais nobres da República: a unidade territorial de todo o Portugal.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
Luís Vilhena.
O Sr. Luís Vilhena (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O diploma proveniente da Assembleia
Legislativa da Madeira, que hoje aqui temos em cima da mesa, apresenta razões de substância, de relevante
importância, para serem discutidas na Assembleia da República.
Porém, e antes de me pronunciar sobre o diploma proposto pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma
da Madeira, há que evocar duas questões que são importantes para observar esta proposta, bem como os
outros projetos que estão em cima da mesa.
A primeira é que nunca é demais lembrar que este sistema de subsídio de mobilidade para a Região
Autónoma da Madeira veio substituir um modelo de subsidiação direta às companhias aéreas, antes da
liberalização da linha. Esta subsidiação serviu antes, como serve hoje, para proporcionar uma tarifa específica
para os residentes nas regiões autónomas, tarifa de residente esta com que se pretendeu, desde há muito,
garantir um princípio que decorre dos princípios constitucionais e das obrigações do Estado para garantir a
continuidade territorial, que visa facilitar a mobilidade dos residentes nas regiões autónomas e corrigir as
desigualdades estruturais originadas pelo afastamento e pela insularidade.
A segunda questão é que, depois da linha aérea para a Madeira ter sido liberalizada, houve um primeiro
sistema de subsídio de mobilidade, que até nem causou grande polémica, antes pelo contrário. Depois de 2015
foi negociado entre o Governo regional, de Miguel Albuquerque, atual Presidente do Governo Regional, e o
Primeiro-Ministro na altura, Pedro Passo Coelho, o sistema atual, que tem sido alvo da maior parte das críticas
dos residentes.
Vozes do PS: — Bem lembrado!
O Sr. Luís Vilhena (PS): — É sobre este sistema que a Assembleia Regional pede as alterações, um sistema
que proporcionou um aumento de preços desmesurado, não só com consequências negativas para as famílias
como também para o turismo, que constitui um sector determinante para a economia da Madeira, e também —
e é essencialmente sobre isso que este diploma versa — um sistema complicado, moroso e desconfortável, que
constitui o processo de recebimento do subsídio de mobilidade por parte dos cidadãos.
Ora, relativamente à bondade dos princípios em que se baseia esta proposta que hoje aqui debatemos,
estamos de acordo: os residentes devem pagar apenas o valor da tarifa de residente, em vez de terem de
avançar com dinheiro que vão receber apenas depois da viagem de regresso.
Porém, é preciso ter em consideração que está a decorrer um processo de negociação entre os governos
regionais e o Estado, que começou também, é preciso frisar isso, depois desta proposta da Assembleia
Legislativa da Região Autónoma da Madeira ter sido apresentada, o qual tem como objetivo melhorar o sistema
e garantir a sua sustentabilidade, dando aos governos regionais a definição de cada modelo, tendo em conta
não só a sua sustentabilidade como as especificidades de cada região autónoma.
O Sr. Carlos César (PS): — Isso é que é verdade!
O Sr. Luís Vilhena (PS): — Ninguém entenderia que Deputados das regiões autónomas não fizessem tudo
para que um aumento da economia acontecesse, tal como a sua capacidade de decisão.
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João
Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta de lei que
hoje aqui discutimos, da autoria da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, é especialmente
relevante, não só pela concretização de princípios que faz, do princípio da continuidade territorial e da não-
discriminação dos madeirenses e dos porto-santenses, mas também pelo trabalho de base que envolveu.
Esta proposta de lei resulta de uma discussão que foi feita num grupo de trabalho na Assembleia Legislativa
Regional da Madeira, com uma discussão intensa, como já foi dito, e teve a aprovação unânime de todos os
partidos aí representados.
É importante lembrarmos isto porque, às vezes, ouvindo-se os partidos falar na República, parece que não
têm nada a ver com os mesmos partidos que estão sentados na Assembleia Legislativa da Região Autónoma
da Madeira.
Protestos do Deputado do PS Carlos César.
Relativamente a esta questão, se não releva essa diferença entre posições de partidos aqui e posições de
partidos na Madeira, também não pode relevar mais um adiamento. É que estamos a discutir um subsídio social
de mobilidade que, nesta versão, foi aprovado e entrou em vigor em 2015 e pressupunha a sua análise, e
eventual revisão, um ano depois.
Um ano depois governava o Partido Socialista, dois anos depois governava o Partido Socialista, três anos
depois governa o Partido Socialista,…
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — É verdade!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … e nem análise nem revisão. Portanto, qualquer argumento
para adiar ainda mais aquilo que é urgente é um argumento que só pode prejudicar madeirenses e porto-
santenses…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … e, eventualmente, beneficiar a execução orçamental do
Partido Socialista na República.
Mas, obviamente, entre a execução orçamental do Partido Socialista na República e o dia a dia de
madeirenses e porto-santenses, penso que não há grande dúvidas na escolha a fazer.
Aplausos do CDS-PP.
Protestos do Deputado do PS Carlos César.
O que está em causa é muito simples, são medidas de simples concretização.
Faz sentido que quem tem direito a receber de volta uma grande parte daquilo que custa, efetivamente, uma
passagem tenha de adiantar primeiro um valor que muitas famílias — famílias de estudantes, famílias de
doentes, que são obrigadas a deslocar-se — têm de despender, para o virem a receber mais tarde, ou faz
sentido que, logo à partida, paguem apenas aquilo que é a sua parte da tarifa social e que o Governo e os
operadores se entendam, depois, para a conta do restante, que não é da responsabilidade das famílias mas,
sim, da responsabilidade do Estado?
Para nós, é algo tão simples, tão fácil, mas tão urgente que não pode ficar à espera da agenda do Partido
Socialista.
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Queríamos também dizer aqui que a questão do transporte aéreo é uma questão relevante, por tudo o que
tem a ver com o dia a dia das populações — e aqui estamos a tratar, essencialmente, do dia a dia das populações
— mas também pelo que tem a ver com a economia. Para nós, é muito relevante, por exemplo, comparar o que
se passa, hoje em dia, com a rota do Funchal para o Porto e com a rota do Funchal para Lisboa, vendo a
diferença que é ter apenas dois operadores a operar numa rota ou poder ter três, com as vantagens que, do
ponto de vista do mercado, a introdução de mais operadores traz.
Por isso, o apelo que fazemos não é só ao Governo da República para que seja diligente, para poder resolver
um problema do dia a dia de madeirenses e porto-santenses, é também ao Governo da Região Autónoma da
Madeira para que trabalhe no sentido de que a liberalização do transporte aéreo possa, efetivamente, …
Protestos do Deputado do PS Carlos Pereira.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … ter todas as externalidades positivas que permite.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, então, a palavra o Sr. Deputado Ernesto Ferraz.
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta de lei que aqui se discute,
proveniente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, visa uma reformulação, na forma e nos
procedimentos, da atribuição do subsídio de mobilidade para os residentes nesta Região Autónoma. Sublinho o
facto, relevante, de esta ter sido elaborada com contributos dos vários partidos lá representados e com
unanimidade na votação final.
O princípio de que o passageiro deve pagar, à partida, o custo final que lhe compete suportar, sem ter de
desembolsar às companhias aéreas valores astronómicos e esperar o reembolso por parte do Estado, é correto,
justo e merece o apoio do Bloco de Esquerda.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Aliás, o Bloco de Esquerda foi, há cerca de quatro anos, o primeiro partido a
defender esta medida na região.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Ainda que reconheçamos que esta forma de procedimento não faça muito
sentido num contexto de liberalização da linha aérea, incrementada em 2008, há 10 anos, importa relembrar
que essa liberalização foi incrementada pelo Governo regional, com o apoio do PSD, do CDS e do Partido
Socialista, …
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Bem lembrado!
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — … e foi justificada com a vantagem de maior concorrência na linha e preços
mais baixos. A concorrência nunca chegou e os preços não desceram, antes pelo contrário, têm subido.
A concorrência faz-se pelo preço. Se o preço for fixo para os passageiros, não há forma de as companhias
se diferenciarem pelo preço, logo não há concorrência. Sendo o custo fixo para o passageiro e o preço cobrado
pela companhia suportado pelo Estado, isto constitui um incentivo para as companhias empolarem os preços e
fazerem disparar os encargos para o Estado.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
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O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Isto é para as companhias mas também para os agentes de viagem, pois não
está ainda definido, nesta proposta, um limite para o montante de comissão elegível para o subsídio. É uma
lacuna que convida ao empolamento das comissões.
O subsídio de mobilidade é, assim, um instrumento para financiar as companhias aéreas e os agentes de
viagem, mais do para fazer prevalecer o seu objetivo final inerente de ajuda à mobilidade, que é compensar
diretamente os passageiros residentes nas regiões autónomas, amenizando os elevados e permanentes custos
da insularidade e ultraperiferia.
Os preços fixos para os passageiros fazem sentido num regime público, com preços tabelados e com
obrigações de níveis de serviço definidas, com obrigações do operador, obrigação de prestar um efetivo serviço
público e ajustar a oferta de voos à variação sazonal da procura, isto é, responder às necessidades de
mobilidade das pessoas.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Depois de liberalizada a rota da Madeira, os mesmos partidos, PSD e CDS, adeptos confessos e praticantes
convictos do desmantelamento dos serviços públicos, fabricaram a privatização da TAP, oferecendo-lhe de
bandeja a exploração — repito, exploração! — da rota da Madeira. Outro partido, o Partido Socialista, diz que a
reverteu, mas sem qualquer poder de decisão. Raízes públicas, lucros privados!
Repito e reforço: os residentes no arquipélago da Madeira têm direito a pagar o preço escrito em lei e muitos
não têm como adiantar-se ao papel do Estado, com 500 ou 600€ para adquirir um bilhete aéreo, único modo
disponível que têm para a mobilidade, para entrarem e saírem do arquipélago, que custa o equivalente a um
salário mínimo deste País.
Mas acredito que ver tudo isto está ao alcance das Sr.as Deputadas e dos Srs. Deputados para que possamos
votar esta lei e melhorá-la em comissão. É que, reforço, nas regiões insulares dependemos em tudo dos
transportes, de os termos ou não termos e de os termos a preços acessíveis ou não acessíveis.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para encerrar o debate deste quarto ponto da nossa ordem de
trabalhos, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP encara muito favoravelmente
esta proposta de lei vinda da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira. Aliás, o PCP na Madeira
bateu-se pelas soluções constantes desta proposta de lei. Portanto, pensamos que é uma boa oportunidade
para a Assembleia da República equacionar devidamente os problemas relacionados com as passagens aéreas
de e para a Região Autónoma da Madeira.
Reconhecemos que é uma questão crucial para as populações insulares a questão da acessibilidade das
passagens aéreas entre as regiões e o território do continente e, no que se refere à Região Autónoma da
Madeira, se esta questão é decisiva para as populações residentes na ilha da Madeira, não o é menos, antes
pelo contrário, para as populações residentes no Porto Santo. Desse ponto de vista, a situação dos transportes
aéreos de e para a ilha de Porto Santo é inadmissível e tem de ser rapidamente resolvida, porque estas
populações estão duplamente penalizadas pelas dificuldades das suas passagens aéreas.
Assim, esta matéria deve ser apreciada porque, efetivamente, a situação que se vive relativamente às
passagens aéreas dos residentes é a de que a liberalização do transporte aéreo para a Região Autónoma da
Madeira favoreceu, fundamentalmente, as companhias aéreas. Ou seja, o que se verifica é que o Estado está a
financiar as companhias que asseguram os transportes aéreos para as regiões autónomas, e, neste caso
particular, que estamos a discutir, para a Região Autónoma da Madeira, o que significa que as companhias
podem inflacionar os custos dos transportes, porque aí está o Estado para as financiar. Esta é uma situação
que, do nosso ponto de vista, tem de ser alterada.
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Por outro lado, essa situação também não beneficiou os residentes, na medida em que eles têm de suportar
inicialmente, do seu bolso, o custo do transporte e, depois, ficar à espera que se desenrole um processo
burocrático, por sua iniciativa, para poderem ser reembolsados.
Portanto, do nosso ponto de vista, isto está tudo ao contrário. Evidentemente, não deviam ser os passageiros,
os residentes, a ter de suportar inicialmente, do seu bolso, uma quantia que podem nem sequer ter para poder
financiar a sua passagem e também não nos parece justo que as companhias aéreas possam levar o preço que
muito bem entendam e ficar à espera de que, depois, o Estado as financie.
Temos aqui uma oportunidade de corrigir, de debater seriamente um sistema justo para garantir aos
residentes o transporte acessível por meios aéreos, mas que também não seja injusto para o Estado, que não
seja um benefício conferido às companhias aéreas, à custa do Estado português, à custa do erário público.
Portanto, saudamos esta iniciativa e, obviamente, estamos com inteira disponibilidade para que, na discussão
na especialidade que vai ter lugar, se possa encontrar um sistema que seja mais justo do que o atual quer para
os residentes, quer para o Estado português.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, vamos passar ao ponto 5 da nossa ordem de
trabalhos que consiste na análise do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo ao ano 2017.
Para uma primeira intervenção, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna.
A Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna (Isabel Oneto): — Sr. Presidente, Sr.as e
Srs. Deputados: Cumpre-me apresentar o Relatório Anual de Segurança Interna, cujos dados já foram
publicados e divulgados em março deste ano.
Mas, em todo o caso, cumpre referir que tivemos na criminalidade geral um aumento de 3,3% face ao ano
de 2016. Contribuíram para este aumento os crimes de contrafação e falsificação de moeda, os crimes de burla
e os crimes de incêndio.
A criminalidade violenta e grave diminuiu 8,7%, sendo que, deste tipo de criminalidade, 74,7% dizem respeito
a roubo na via pública, roubo por esticão e resistência e coação a funcionário.
Temos também, no Relatório de 2017, um aumento da criminalidade relativamente a atos cometidos contra
ATM (automated teller machine), em que houve um crescimento de 73,5%, tendo tido o seu pico em outubro do
ano passado. Temos também outros fatores de ponderação, nomeadamente a diminuição da delinquência
juvenil e grupal, a diminuição da violência em contexto e ambiente escolar, o aumento da criminalidade
informática e, finalmente, o aumento da sinistralidade rodoviária.
O Governo entende que a análise destes números é um contributo fundamental para a definição de políticas
de correção e de prevenção. A leitura daqueles indicadores de criminalidade ajudam-nos a compreender o
fenómeno e a combatê-lo. Por isso, no ano passado, logo em outubro e novembro, foram tomadas medidas
relativamente aos crimes cometidos contra os ATM, vulgo máquinas de multibanco, e os resultados já estão a
ser alcançados este ano, verificando-se uma diminuição, na ordem dos 80%, relativamente a este tipo de crime.
Obviamente, também em setores como o da criminalidade juvenil, que, pese embora esteja a diminuir, é
sempre fator de ponderação na análise do Governo, é importante acompanhar, através do Grupo Coordenador
do Programa Escola Segura, e ver os fenómenos associados aos comportamentos desviantes em ambiente
escolar.
Naturalmente, é também importante aplicar medidas corretivas relativamente à sinistralidade rodoviária.
Estes são alguns indicadores que, na generalidade, os Srs. Deputados já conhecem e, portanto, fico à
disposição para responder às questões que os senhores queiram colocar relativamente a este Relatório.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, em nome do
Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Luís Marques Guedes.
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O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração
Interna, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Como disse a Sr.
Secretária de Estado, o Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2017, embora registando, de facto, um
acréscimo de 3,3% na criminalidade em geral, a verdade é que, na criminalidade violenta e grave, manteve a
curva descendente que vem assinalando nos últimos anos.
Isso, obviamente, são boas notícias e, além de serem boas notícias, são razão de agradecimento, do nosso
ponto de vista, aos homens e às mulheres das forças de segurança que, quotidianamente, velam, trabalham e
esforçam-se, muitas vezes com riscos significativos, para defender e proteger os nossos direitos.
Mas a segurança interna reporta-se a mais do que a criminalidade. A segurança interna vem do direito
constitucional de proteção de pessoas e bens, através dos poderes públicos, contra quaisquer tipo de ameaças
ou de agressões.
Nesse sentido, Sr.ª Secretária de Estado, olhando para o ano de 2017, impõe-se registar dois fracassos
rotundos nessa proteção, de resto, com trágicas consequências. Um deles a Sr.ª Secretária de Estado referiu
aqui e tem a ver com a política de segurança rodoviária, o outro tem a ver, como todos, infelizmente, sabemos,
com a proteção civil.
Vivemos, na área da proteção civil, em 2017, tragédias sem paralelo que mobilizaram o País e que nos
devem continuar a mobilizar e a responsabilizar a todos pelas mudanças que evitem que volte a ocorrer o que
aconteceu em 2017, de falhanço, de fracasso do Estado na proteção e socorro às populações.
Na área da sinistralidade rodoviária, de facto, 2017 foi também, com trágicas consequências — mais de 500
vítimas mortais nas estradas portuguesas —, um ano de inversão da tendência, com mais de uma década, de
redução do número de vítimas mortais. Podemos encontrar várias razões para isso: desinvestimento nas
campanhas de sensibilização da população, menor atenção ao problema por parte das autoridades. Não sei,
Sr.ª Secretária de Estado, o que sei, sim, é que estes dados interpelam particularmente o Governo e as
autoridades para a exigência de mudança de atitudes, de mudança e de inovação nas políticas para que esta
inversão de tendência que se registou no último ano não tenha continuidade nos anos que se seguem — e já
no ano corrente, em primeiro lugar — e que, pelo contrário, retomemos a curva descendente relativamente ao
número de vítimas mortais nas estradas portuguesas.
Mas o Relatório Anual de Segurança Interna, Sr.ª Secretária de Estado, mostra ainda outras matérias e é
também sobre essas, para além daquelas que já referi, que gostava de interpelar o Governo.
Em primeiro lugar, o Relatório Anual de Segurança Interna demonstra uma diminuição de efetivos, com
significado, nas forças de segurança, quer na PSP (Polícia de Segurança Pública), quer na GNR (Guarda
Nacional Republicana). Se a esta diminuição em números absolutos de efetivos nas duas forças de segurança,
que ocorreu em 2017, juntarmos as projeções por força do envelhecimento médio do efetivo destas mesmas
forças, há, de facto, matéria para nos preocuparmos e matéria para políticas com visão de médio e longo prazo,
por parte do Governo, para inverter esta tendência.
Em segundo lugar, refiro o aparente desinvestimento na estratégia de proteção às vítimas de violência
doméstica. O Relatório demonstra-nos que houve uma estagnação no investimento em áreas como, por
exemplo, a das salas de atendimento às vítimas de violência doméstica por todo o País. Essa estagnação
contraria um processo evolutivo que vinha dos anos anteriores e que urge retomar.
Sublinho um terceiro aspeto relativo à fraca execução da Lei de Programação de Infraestruturas e
Equipamentos para as Forças e Serviços de Segurança (LPIEFSS). O RASI aponta para uma execução, no
primeiro ano desta Lei, não superior a 63%. É certo que se tratou do primeiro ano, é certo que no primeiro ano
há o arranque das medidas e há medidas que só se refletem nos anos seguintes, mas é uma atenção redobrada
que se exige do Governo para o cumprimento integral do programa de investimentos aprovado nesta Assembleia
da República e que tem uma lógica plurianual.
Por último, queria referir também a não regulamentação, por parte do Governo, do acesso aos dados de
tráfego de comunicações por parte dos Serviços de Informações, ferramenta fundamental e essencial no aspeto
do combate ao terrorismo e à criminalidade organizada que, obviamente, não pode deixar de ser uma prioridade
para este Governo e para esta Assembleia.
Espero, Sr.ª Secretária de Estado, que o Governo olhe para os dados deste RASI e tome as medidas
adequadas para que tudo aquilo que demonstra de negativo em 2017 possa ser corrigido e possamos ter, em
2018 e nos anos seguintes, melhores dados, ainda, do que os que foram apresentados neste Relatório Anual.
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Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do
Partido Socialista, tem a palavra o Sr. Deputado António Gameiro.
O Sr. António Gameiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração
Interna, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Viemos hoje aqui discutir
o Relatório Anual de Segurança Interna e, à partida, tiramos uma conclusão: Portugal é um País seguro, continua
a ser um País cada vez mais seguro.
Este Governo pôs Portugal a crescer em 2017 como há muito não crescia. O desemprego baixou
drasticamente, de 12% para 7%, e há mais pessoas fora do limiar da pobreza, havendo, portanto, mais riqueza
distribuída.
Os portugueses mais necessitados, ou não, têm hoje mais rendimento disponível e, portanto, há menos
delinquência juvenil.
As forças de segurança têm visto os seus quadros, instalações e meios reforçados pelo Governo. A GNR, a
PSP, a Polícia Judiciária, a Autoridade Marítima, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e a própria
coordenação do sistema de segurança interna veem os seus meios cada vez mais reforçados.
O Governo está a fazer o seu papel, a sua obrigação, o que leva a que os portugueses e os nossos visitantes
possam confiar no nosso sistema de segurança interna.
Ainda hoje tivemos notícia de mais 40 milhões para prestação de serviços na Rede Nacional de Segurança
Interna (RNSI), de um despacho a reconhecer mais férias, direitos sociais e a reversão de certos deveres e
direitos às forças de segurança, mais viaturas para o GIPS (Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro), mais
28 helicópteros, por ajuste direto, que hoje foram disponibilizados para a segurança interna e para a proteção
civil.
Portanto, nos últimos dois anos, atingimos os mais baixos índices de criminalidade desde que há registos,
repito, os mais baixos índices de criminalidade desde que há registos.
De facto, mesmo atendendo a uma ligeira subida deste ano, a criminalidade geral é a segunda melhor de
todos os tempos em que há registos. Mas a criminalidade violenta e grave continuou a baixar e não baixou
pouco, baixou 8,7%. Temos hoje uma tendência central de baixa da criminalidade violenta e grave em Portugal.
Mas há que destacar outras reduções: o furto em residências, que baixou 14,4%; o furto de veículo
motorizado, que baixou 11,1%; o furto de edifício comercial ou industrial, que baixou 11,3%; a violência
doméstica contra cônjuge ou análogo, que baixou 0,8%; a condução de veículo com taxa de álcool igual ou
superior a 1,2 g, que baixou 4,8%; o furto por carteiristas, que baixou 3,9%; e a burla informática, que baixou
3,5%.
Portugal tem sido, assim, sistematicamente considerado, em várias avaliações internacionais, o terceiro ou
o quarto País mais seguro do mundo, o que é, para nós, fundamental para dar confiança às nossas populações
e aos milhões de turistas que nos visitam.
A evolução na área da segurança interna é decisiva para a nossa qualidade de vida, mas também para a
evolução da economia portuguesa.
Portanto, hoje, podemos regozijar-nos de que, de facto, como o Sr. Deputado Marques Guedes sublinhou,
as forças de segurança estão a fazer o seu papel, mas o Governo também está a fazer o seu papel e um esforço
acrescido, através da Lei de Programação de Infraestruturas e Equipamentos para as Forças e Serviços de
Segurança, a investir cada vez mais nesta área determinante para o desenvolvimento do nosso País.
Por isso, há que dizer que, se temos a menor taxa de criminalidade violenta e grave de sempre, se temos a
segunda melhor taxa de criminalidade geral de sempre, temos de dar os parabéns ao Governo e às forças de
segurança por aquilo que têm feito pelo País e continuar esta senda, como muitos outros Governos também
fizeram — há que sublinhá-lo —, para que tenhamos estes índices.
Mas há ainda dois ou três aspetos que gostaria de referir. De facto, a sinistralidade rodoviária aumentou mas,
quando olhamos para os números em particular, verificamos que a atuação das forças de segurança levou a
que também fossem detetados menos condutores a conduzir sob o efeito do álcool. Portanto, se hoje temos
uma melhor rede rodoviária, se hoje temos mais patrulhamento e mais prevenção da criminalidade na estrada
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mas houve mais acidentes, então, temos, de facto, de estudar, no futuro, quais os fatores que estão a levar a
esse aumento.
Por fim, quero dizer que, nos incêndios florestais, na segurança rodoviária, na criminalidade contra as
pessoas houve pequenos aumentos. Chamamos a atenção do Governo para que, durante este ano e no ano
que vem, enquanto este mandato durar, olhe para estes três pontos, de modo a que, no próximo ano, todos os
outros grupos parlamentares possam acompanhar com maior ênfase esta satisfação de ver um Portugal seguro,
ao serviço das pessoas e da nossa economia.
Aplausos do PS.
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Eduardo Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Jorge Machado, do Grupo
Parlamentar do PCP.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O
Relatório Anual de Segurança Interna suscita-nos um conjunto de reflexões e preocupações.
Antes de mais, um ponto prévio: o Relatório Anual de Segurança Interna de 2017 foi conhecido publicamente
em quase toda a parte pela divulgação na comunicação social e só depois foi entregue à Assembleia da
República. Julgo que é uma prática incorreta, que não se deve repetir, e que importa registar, porque,
efetivamente, o Relatório Anual de Segurança Interna tem como primeiro destinatário a Assembleia da
República.
Quero também dar nota do seguinte: os dados do Relatório Anual de Segurança Interna, como dizemos
sistematicamente, refletem uma parte da realidade da criminalidade. Trata-se da criminalidade registada,
denunciada, participada, e não da restante, que não pode ser sujeita a tratamento estatístico e, nessa medida,
apesar de refletir a realidade possível, é uma realidade parcial.
Em segundo lugar, queria também salientar que, não obstante Portugal viver um momento muito particular
de diminuição, ano após ano, da criminalidade, há dois ou três tipos de crime que têm um agravamento
significativo. Um deles já foi abordado, é o da contrafação de moeda, que aumentou 264% — isto também
significa mais apreensões e é, portanto, um aspeto positivo, já que fomos mais ativos sobre esta realidade,
havendo, efetivamente, um aumento significativo de apreensões de moeda contrafeita; o crime de incêndio e
fogo posto aumentou 28% — um aumento significativo mas que também quer dizer que há atividade de
investigação e punição relativamente a esta realidade, o que é positivo; o crime de violação aumentou 21%, o
que, na nossa opinião, é muito preocupante.
Há um outro conjunto de preocupações que resulta da análise do Relatório Anual de Segurança Interna e
que diz respeito ao efetivo disponível nas forças de segurança. Há uma diminuição generalizada do efetivo e há
uma situação muito preocupante na PSP e na GNR. Diria que os dados da Polícia de Segurança Pública são
ainda mais significativos, pois há 697 saídas e 285 entradas — ver página 153 do Relatório Anual de Segurança
Interna —, o que representa um saldo negativo muito preocupante de entradas e saídas na PSP. Temos menos
20,7% de formandos nas forças de segurança e mais 20,6% em cessação de funções, o que significa que não
foram adotadas as medidas necessárias para colmatar a falta de pessoal que existe nas forças de segurança e
isto tem cominações naquilo que é operacional, que é a idade média e o efetivo disponível para as operações.
Suscito, portanto, esta questão junto da Sr.ª Ministra: o que é que o Governo pretende fazer para inverter esta
tendência?
Também não queremos deixar de registar como preocupante o que o Relatório Anual de Segurança Interna
reflete na página 160 sobre o mapa de execução da Lei de Programação de Infraestruturas e Equipamentos
para as Forças e Serviços de Segurança. E, Sr.ª Secretária de Estado, não podemos deixar de registar com
grande preocupação um quadro efetivo de execução das medidas propostas pelo próprio Governo, no âmbito
deste investimento plurianual, muito preocupante, quer nas infraestruturas, quer no armamento, quer no
equipamento individual ou no equipamento de apoio à atividade operacional, uma vez que se registam taxas de
execução do programa de investimentos efetivamente diminutas.
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Como sabe, o PCP propôs a criação de uma lei de programação de investimentos, que é fundamental para
termos um quadro plurianual e programar aquilo que é essencial. Julgamos que também fazia sentido haver um
plano plurianual de formação para atender às necessidades das forças de segurança, no que diz respeito ao
quadro de pessoal.
Quanto ao investimento, estamos de acordo com a Lei, mas não estamos de acordo com a execução. Acho
que é preciso «dar ao pedal», como diz o nosso povo, e acelerar esta execução orçamental, que é, efetivamente,
diminuta. E, naturalmente, as forças de segurança ressentem-se disso, aliás, quem ouve os profissionais, quem
se preocupa em ouvir as suas reivindicações, percebe que a questão dos investimentos é fundamental para que
as forças de segurança trabalhem o melhor possível para o nosso País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do Grupo
Parlamentar do CDS-PP.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Antes
de mais, os meus cumprimentos à Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna por esta boa
ocasião para discutirmos matérias de segurança, ainda que, para nós, fosse também um gosto termos aqui o
Sr. Ministro da Administração Interna e nos surpreenda, até, um pouco, o facto de ele aqui não estar. Haverá,
seguramente, uma razão muito relevante para que o Sr. Ministro não se tenha dignado ou não tenha podido
estar hoje connosco para discutir estes temas.
Em relação a esta matéria, e pegando um bocadinho nas palavras do Sr. Deputado do Partido Socialista que
falou há pouco, queria dizer-lhe, Sr. Deputado, que, tratando-se deste relatório de 2017, há uma matéria que
vou omitir, onde, de resto, os resultados do Governo, em 2017, são bastante evidentes, que é a matéria dos
incêndios. Sobre incêndios é melhor não falarmos, à partida, porque, enfim, nunca houve tragédia maior, e
sabemos em que circunstâncias.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Vamos, então, à criminalidade.
Em matéria de criminalidade, há aspetos positivos e negativos.
Aspetos negativos: globalmente, a criminalidade aumentou, invertendo uma tendência de há muitos anos.
Temos um RASI que nos indica um aumento da criminalidade — mais 3,3% —, coisa que, há muito, não
acontecia.
Aspetos positivos: o facto de a criminalidade mais grave e mais preocupante para as pessoas, a criminalidade
violenta, continuar consistentemente a diminuir, o que é positivo e, obviamente, não deixamos de notar. Por que
é que isto acontece? Do nosso ponto de vista, isto acontece, em larguíssima medida, por mérito das forças de
segurança, que têm conseguido responder, fazer o seu trabalho e assegurar essa baixa consistente da
criminalidade.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Mérito das forças de segurança, que — pegando, mais uma vez, nas
palavras do Sr. Deputado António Gameiro, do Partido Socialista — fazem o seu papel, porque, na nossa
opinião, o Governo não faz nada. E é fácil demonstrar isto, Sr.ª Secretária de Estado. Por exemplo, existe um
descontentamento óbvio e uma deceção óbvia das forças de segurança face às questões estatutárias. O
Governo não resolveu as questões estatutárias das forças de segurança, não resolveu a questão da evolução
na carreira, não resolveu os seus próprios compromissos em termos de progressões e evolução na carreira.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — O CDS também não resolveu o problema!
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Existe um descontentamento e uma deceção funcional, seja com o
número de efetivos, seja com o número e a qualidade dos veículos, seja com o equipamento, designadamente
com o equipamento de proteção dos homens que todos os dias arriscam a vida para garantir a nossa segurança.
Existe descontentamento e deceção com a falta de reconhecimento, por parte do Governo, das condições
inerentes à própria função policial.
Por isso, digo que as forças de segurança fazem o seu papel, e é verdade, mas o Governo não faz nada.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Pergunto-lhe, Sr.ª Secretária de Estado: onde está o novo estatuto disciplinar?
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Tanto quanto sabemos, não está, não existe, não apareceu e já deveria
ter aparecido há muito tempo.
Quando, há pouco, lamentei a ausência aqui, hoje, do Sr. Ministro da Administração Interna foi por uma razão
muito simples. É que, sinceramente, Sr.ª Secretária de Estado, gostava de o confrontar a ele — e, uma vez que
não o posso fazer, confronto-a a si — com uma afirmação que fez há dias. Disse o Sr. Ministro da Administração
Interna: «Eu exijo» — ou «peço», mas, para o caso, é indiferente — «prioridade absoluta ao Parlamento na
questão da lei sindical». Ó Sr.ª Secretária de Estado, eu pergunto se estão a brincar connosco. Provavelmente,
estão a brincar connosco, porque aprendi na faculdade — e o Sr. Ministro da Administração Interna também
aprendeu, até porque andou lá mais ou menos ao mesmo tempo que eu e, de resto, que o Sr. Primeiro-Ministro,
e aprendíamos todos mais ou menos as mesmas coisas — a diferença entre uma proposta de lei e um projeto
de lei. Aliás, os alunos do 1.º ano sabem a diferença! Neste caso, estamos a falar de uma proposta de lei, ou
seja, a responsabilidade da iniciativa, a responsabilidade do seu resultado, a responsabilidade de que haja
resultado é do Governo!
O Governo apresentou uma proposta de lei sobre matéria sindical, feita pela anterior Ministra, que foi um
enorme exercício de incompetência. Além de ter sido um enorme exercício de incompetência, não falou com
ninguém! Não falou com os sindicatos, não falou com os seus parceiros da maioria, não falou com ninguém!
Remeteram a lei para aqui. O que é que o Sr. Ministro pretende, quando diz «agora, o Parlamento que resolva
o problema»? É um puxão de orelhas aos parceiros da geringonça, aos partidos da maioria? É uma tentativa de
pressão sobre o Partido Social Democrata? Não é connosco, com certeza, porque a nossa resposta, para o Sr.
Ministro e para o Governo, é muito evidente: a lei foi mal feita, a lei foi «feita com os pés» — para usar mais uma
expressão popular — e, por isso, ou os senhores a retiram e apresentam uma lei como deve ser, ou o CDS vota
contra.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Contra hoje, contra amanhã, contra com prioridade e contra sem
prioridade!
Portanto, o problema é do Governo, é o Governo e a maioria que têm de resolver o problema e encontrar
uma lei sindical que tenha pés e cabeça.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo só o seguinte: Sr.ª Secretária de Estado,
onde está o plano dos aeroportos? O RASI fala em questões de segurança global, mas onde está o plano dos
aeroportos?
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Vou mesmo concluir, Sr. Presidente.
Onde está a regulamentação dos metadados? Onde está o regime da cibersegurança? Os senhores não têm
feito nada em questões essenciais e é preciso uma resposta.
O Sr. Presidente: — Mas tem de concluir, Sr. Deputado. A atribuição dos tempos foi decidida em Conferência
de Líderes.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Estou mesmo a concluir, Sr. Presidente.
Queria só pedir à Sr.ª Secretária de Estado que apresentasse os meus cumprimentos ao Sr. Ministro da
Administração Interna.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Ainda que
Portugal continue a registar níveis de criminalidade geral muito inferiores à média registada na União Europeia,
aliás, tendo-se registado até, consistentemente, nos últimos anos, uma diminuição dos níveis da criminalidade
em geral e da criminalidade violenta e grave em especial, importa não desprezar que houve, efetivamente, um
aumento de 3,3%, em termos de criminalidade geral, no ano de 2017, relativamente ao ano anterior.
Destacamos, igualmente, como preocupante a manutenção da categoria de «crimes contra as pessoas»
como a segunda categoria de crimes, mas, em especial, o facto de a violência doméstica continuar, ano após
ano, a ocupar um lugar de destaque nesta tipologia de crimes.
As tendências, nesta tipologia, isto é, na violência doméstica, também se mantêm: taxas de incidência mais
elevadas nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; vítimas maioritariamente do sexo feminino, sendo
os denunciados maioritariamente do sexo masculino; o grau de parentesco é, na maioria dos casos, o de
cônjuge/ex-cônjuge ou companheiro/ex-companheiro; as ocorrências continuam a registar-se mais
frequentemente aos fins de semana e à noite.
A violência doméstica persiste, portanto, como um dos principais problemas de segurança pública no nosso
País e mantém uma evidente marca de género. No entanto, estes padrões, que são evidenciados, ano após
ano, nos vários Relatórios Anuais de Segurança Interna dão-nos precisamente as pistas de onde e como atuar.
A formação especializada de todos os intervenientes nesta matéria — em articulação com associações de
defesa e proteção de vítimas de violência doméstica e especialistas da área —, especialmente daqueles que
estão sob tutela do Ministério da Administração Interna, os elementos das forças e serviços de segurança, bem
como a criação de equipas especializadas no atendimento, no acompanhamento e encaminhamento destas
vítimas são absolutamente fundamentais para o combate e também a prevenção desta forma de violência e,
ainda, para a proteção destas vítimas.
A participação destas equipas e dos elementos destas forças e serviços de segurança nas redes locais é
também essencial para o aprofundamento do conhecimento dos contextos e das realidades concretas e locais,
para a troca de informações relevantes, para criar redes de apoio e de proteção eficazes. E isso, infelizmente
— diz-nos a experiência e a realidade —, nem sempre acontece, nem em todos os sítios.
Da mesma forma, apesar da ligeira descida, mantêm-se preocupantes os níveis de participação de crimes
contra as crianças. É verdade que desce, mas é absolutamente inaceitável, não se pode continuar a ter estes
níveis e este número de participações. Assim, registaram-se as seguintes participações: maus tratos ou
sobrecarga de menores — 363 casos; violência doméstica contra menores — 430 casos; abuso sexual de
crianças — 937 casos. O abuso sexual de crianças representa, aliás, a maior fatia dos crimes contra a liberdade
e autodeterminação sexual, logo seguido pela violação. Isto mostra que aquilo que se está a fazer neste campo
não só não é suficiente como está a falhar.
Queria perguntar-lhe, Sr.ª Secretária de Estado, por que razão, neste RASI de 2017, desapareceu uma
informação que constava dos RASI anteriores e que tem a ver, precisamente, ainda nesta área, com o número
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de inquéritos no âmbito da violência doméstica, aos quais foi aplicado o instituto da suspensão provisória do
processo. Esta informação constaria da página 37 do Relatório, para a situar, mas, em 2017, deixámos de ter
essa informação.
Informação também em falta — e isto tem sido continuamente dito — reporta aos números específicos dos
femicídios, assim como aos dados sobre as crianças que presenciam crimes de violência doméstica. Sabemos
muito bem e há muito tempo que se trata de informações determinantes para delinear estratégias de combate e
prevenção deste tipo de crimes e, portanto, não compreendemos como é que continuam a não ser recolhidos e
trabalhados estes dados.
Sr.ª Secretária de Estado, no que respeita à sinistralidade rodoviária, os dados que o RASI nos apresenta
são muito preocupantes. O RASI regista um aumento significativo não só do número de acidentes rodoviários,
mas também do número de vítimas. Assim, houve mais 65 vítimas mortais, mais 92 feridos graves e mais 2556
feridos ligeiros. Como é evidente, isto é o resultado de, ultimamente, haver um desinvestimento nas campanhas
de sensibilização, mas é, sobretudo, um reflexo do atraso contínuo nas obras de reparação de muitas das
estradas portugueses, de que é exemplo atual o caso do IP3.
Uma palavra final para expressar igualmente preocupação com a diminuição, refletida no Relatório Anual de
Segurança Interna de 2017, do número de efetivos dos elementos das forças e serviços de segurança. De facto,
estão a sair mais elementos do que aqueles que entram, pelo que gostaríamos de saber qual é a resposta que
o Governo tem para este problema.
O Sr. Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Vou mesmo terminar, Sr. Presidente.
Sabemos que é um problema, quando continuamente as estruturas representativas dos elementos das forças
e serviços de segurança nos dizem que, efetivamente, temos falta de polícias em Portugal.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para concluir o debate, tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da
Administração Interna.
A Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna: — Sr. Presidente, começo por agradecer
ao Sr. Deputado Marques Guedes as questões colocadas e por referir que partilho da sua visão de que o direito
à segurança é um direito constitucional e que compete ao Estado proteger as pessoas e os bens. Só que esse
direito à proteção nasceu já há muitos anos e não com este Governo. No seu Governo, Sr. Deputado, já existia
este direito constitucional e pouco o seu Governo tinha a dizer sobre esta matéria.
Protestos do Deputado do PSD Luís Marques Guedes.
Mas também partilho da sua visão, Sr. Deputado — e depreendo-o das suas palavras —, na medida em que
também nós somos contra a privatização da segurança, como é defendido por alguns setores, pelo que, nesse
aspeto, partilhamos de mesma visão e estamos de acordo.
Referiu-se, depois, o Sr. Deputado à sinistralidade rodoviária e aos incêndios. Relativamente à matéria dos
incêndios, tem sido público que o Governo e a sociedade em geral se têm mobilizado em torno da resposta a
este flagelo. Relativamente à sinistralidade rodoviária, devo dizer, Sr. Deputado, que os números deste ano já
mostram uma inversão dessa tendência e, portanto, já há um menor número de mortos nas estradas. Vamos
esperar até ao final do ano para ver se esta tendência se mantém, sendo certo que, ainda ontem, como sabe,
reuniu o Conselho Científico de Monitorização do Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária,
precisamente para fazer o relatório sobre as medidas que já foram adotadas nesta matéria.
Quanto à diminuição de efetivos e à lei sindical — e com isto respondo também ao Sr. Deputado Telmo
Correia —, que são matérias transversais às questões aqui colocadas, quero referir dois aspetos. Primeiro,
relativamente à GNR e à PSP — as duas forças de segurança que essencialmente nos preocupam, na medida
em que o SEF aumentou o número de efetivos —, há dois dados que têm de passar a ser contabilizados para
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que os números sejam mais reais. O primeiro prende-se com o facto de, por exemplo, na GNR, a lei que o
Governo anterior nos deixou ter impedido a passagem…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Secretária de Estado.
A Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna: — Concluo já, Sr. Presidente.
Como dizia, a legislação que o Governo anterior nos deixou, em matéria de reforma dos elementos da GNR,
levou a que ficássemos com 2000 efetivos a mais, que saíram no ano anterior, o que se refletiu nos números
agora apresentados. Mas a verdade é que os mesmos estavam já na reserva, fora da efetividade de funções,
pelo que não estavam ao serviço. Portanto, há aqui uma diminuição aparente, já que, de facto, o número de
efetivos na rua não alterou.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Secretária de Estado, tem mesmo de concluir.
A Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna: — Vou concluir, Sr. Presidente.
Refiro apenas ao Sr. Deputado Telmo Correia que o Sr. Ministro está no Conselho JAI (Conselho de Justiça
e Assuntos Internos), pelo que não podia estar aqui. Atendendo à falta de tempo, terei todo o prazer em
comunicar ao Sr. Ministro as questões que colocou e às quais gostaria que ele tivesse respondido e, obviamente,
far-lhe-ão chegar as respostas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Concluída a apreciação do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo ao ano
de 2017, vamos passar às votações regimentais, começando, como foi acordado entre as várias bancadas,
pelas votações do guião suplementar. Só depois procederemos às votações constantes do guião geral.
Antes disso, porém, o Sr. Secretário, Deputado Duarte Pacheco, vai dar conta de expediente que, entretanto,
deu entrada.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e
foram admitidos, os projetos de resolução n.os 1761/XIII (3.ª) — Prorrogação do prazo de funcionamento da
Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas até ao final do primeiro
trimestre de 2019 (Presidente da AR) e 1762/XIII (3.ª) — Aeroporto da Horta (PSD), que baixa à 6.ª Comissão.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos, então, proceder à verificação do quórum de deliberação,
utilizando o sistema eletrónico.
Pausa.
O quadro eletrónico regista 210 presenças. Há algum Sr. Deputado que não tenha conseguido registar-se?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, os 15 Deputados do PCP estão presentes, mas o quadro
eletrónico só regista a presença de 14. Teremos de ver qual deles não conseguiu registar-se, porque ninguém
consegue identificar o problema do registo.
O Sr. Presidente: — Também é difícil a Mesa sabê-lo, Sr. Deputado. Mas fica registado que estão presentes
todos os Deputados do PCP, isto é, 15 Srs. Deputados.
Assim sendo, estão presentes 211 Srs. Deputados, a que se devem acrescentar as 4 presenças sinalizadas
à Mesa, dos Srs. Deputados Luís Soares e Marisabel Moutela, do PS, e Álvaro Castello-Branco e Telmo Correia,
do CDS-PP, o que perfaz 215 Deputados presentes, pelo que temos quórum de deliberação.
Srs. Deputados, vamos, então, começar, conforme foi concertado entre as várias bancadas, por proceder às
votações constantes do guião suplementar, relativas às propostas de alteração aos Decretos da Assembleia da
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República n.os 201/XIII — Regime jurídico da atividade de transporte individual e remunerado de passageiros
em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica, e 203/XIII — Direito à autodeterminação da
identidade de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa.
Começamos por votar as propostas de alteração ao Decreto da Assembleia da República n.º 201/XIII.
Srs. Deputados, vamos proceder à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PS, de
aditamento de um n.º 4 ao artigo 2.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e abstenções
do BE, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
4 — As empresas que desenvolvam a atividade de transporte em táxi podem simultaneamente desenvolver
a atividade de operador de TVDE, mediante cumprimento dos procedimentos de licenciamento aplicáveis e das
disposições previstas no presente diploma, afetando a esta atividade veículos não licenciados como táxis, não
sendo estes veículos considerados em caso algum adstritos a um serviço público de transporte, nem
beneficiando das isenções e benefícios previstos para os mesmos.
O Sr. Presidente: — Fica, assim, prejudicada a votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo
PSD, de aditamento de um n.º 4 ao artigo 2.º do Decreto.
Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de substituição do n.º 3 do
artigo 10.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP e votos a favor do BE, do
PCP, de Os Verdes e do PAN.
Era a seguinte:
3 — Ao curso de formação a que se refere a alínea b) do número anterior, é aplicável, com as devidas
adaptações, o disposto no regime legal de formação para acesso ao Certificado de Motorista de Táxi, incluindo
a carga horária.
O Sr. Presidente: — Vamos, agora, votar, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PCP, de
eliminação do n.º 7 do artigo 10.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
Segue-se a votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de um novo n.º 1
ao artigo 12.º do Decreto, com a consequente renumeração dos restantes números.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
Era a seguinte:
1 — Os veículos afetos à atividade de TVDE estão sujeitos a uma licença municipal, a qual é atribuída dentro
do contingente fixado para o serviço de transporte em táxi, mediante concurso público aberto pela câmara
municipal competente em razão do território.
O Sr. Presidente: — Vamos proceder à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de
aditamento de um novo n.º 2 ao artigo 12.º do Decreto, com a consequente renumeração dos restantes números.
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Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
Era a seguinte:
2 — O número de veículos do contingente referido no número anterior, bem como a respetiva proporção
entre veículos afetos ao transporte em táxi e veículos descaracterizados, são fixados por cada município,
ouvidas as estruturas representativas do setor, o IMT e a área metropolitana ou comunidade intermunicipal em
que o município estiver inserido.
O Sr. Presidente: — Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de
aditamento de um novo n.º 3 ao artigo 12.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP e do PAN e votos
a favor do PCP e de Os Verdes.
Era a seguinte:
3 — Os regulamentos municipais devem prever o mecanismo de descaracterização e transferência para o
contingente de TVDE das viaturas licenciadas para táxi.
O Sr. Presidente: — Votamos agora, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PCP, de substituição
do n.º 2 do artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN, votos a favor do
PCP e de Os Verdes e a abstenção do BE.
Era a seguinte:
2 — Os preços cobrados pela prestação do serviço de TVDE são fixados na aplicação de tarifário a ser
homologado por despacho do membro do Governo responsável pela tutela do setor dos transportes, ouvido o
IMT.
O Sr. Presidente: — Segue-se a votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de
substituição do n.º 3 do artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN, votos a favor do
PCP e de Os Verdes e a abstenção do BE.
Era a seguinte:
3 — Para os efeitos do disposto no número anterior, os elementos e fatores de ponderação que compõem a
fórmula de cálculo do tarifário são fixos e pré-determinados em função do serviço, da área geográfica, dia e hora
de utilização, sendo vedada a aplicação de tarifas dinâmicas ou outros mecanismos de livre fixação de preço.
O Sr. Presidente: — Vamos votar, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de
um novo n.º 4 ao artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
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Era a seguinte:
4 — O tarifário previsto no n.º 1 deve fixar preços mínimos que impeçam práticas comerciais desleais ou
restritivas, designadamente o fornecimento de serviços com prejuízo.
O Sr. Presidente: — Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de emenda
da alínea b) do n.º 4 do artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN, votos a favor do
PCP e de Os Verdes e a abstenção do BE.
Era a seguinte:
b) Uma estimativa do preço da viagem a realizar, calculada com base nos elementos fornecidos pelo
utilizador e tarifário a aplicar pelo operador do serviço.
O Sr. Presidente: — Votamos agora, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PCP, de eliminação
do n.º 5 do artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
Segue-se a votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PCP, de emenda da alínea e) do n.º
8 do artigo 15.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN, votos a favor do
PCP e de Os Verdes e a abstenção do BE.
Era a seguinte:
e) Demonstração do cálculo do preço, com base no tarifário aplicável.
O Sr. Presidente: — Vamos votar, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PS, de aditamento de um
n.º 4 ao artigo 20.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN e abstenções do BE, do
CDS-PP, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
4 — O operador de plataforma eletrónica garante uma política de preços compatível com a legislação em
matéria de concorrência.
O Sr. Presidente: — Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PS, de
aditamento de um n.º 3 ao artigo 23.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e abstenções
do BE, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
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3 — A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes pode realizar auditorias com vista a verificar a
conformidade das plataformas em operação com a legislação nacional e com as regras da concorrência.
O Sr. Presidente: — Votamos agora, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento
de uma alínea i) ao artigo 24.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PSD, do PS, do CDS-PP e do PAN e votos a favor
do BE, do PCP e de Os Verdes.
Era a seguinte:
i) Câmara municipal competente em razão do território.
O Sr. Presidente: — Segue-se a votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PS, de emenda
da alínea u) do n.º 2 do artigo 25.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN, votos contra do CDS-PP e
abstenções do BE, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
u) A inobservância da proibição constante do n.º 5 do artigo 19.º e da disposição prevista no n.º 4 do artigo
20.º;
O Sr. Presidente: — Vamos votar, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PS, de substituição do
artigo 27.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN e abstenções do BE, do
CDS-PP, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
Artigo 27.º
Processamento das contraordenações
A aplicação das coimas e das sanções acessórias é da competência do conselho diretivo do IMT, IP.
O Sr. Presidente: — Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PS, de emenda
do n.º 2 do artigo 30.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN, votos contra do CDS-PP e
abstenções do BE, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
2 — O valor da contribuição prevista no número anterior corresponde a uma percentagem única de 5% dos
valores da taxa de intermediação cobrada pelo operador de plataforma eletrónica em todas as suas operações,
nos termos do n.º 3 do artigo 15.º.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, com a aprovação da proposta que acabámos de votar, fica prejudicada
a votação da proposta, apresentada pelo PSD, também de emenda do n.º 2 do artigo 30.º do Decreto.
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Era a seguinte:
2 — O valor da contribuição prevista no número anterior corresponde a uma percentagem única de 5% dos
valores da taxa de intermediação cobrada pelo operador de plataforma eletrónica em todas as suas operações,
nos termos do n.º 3 do artigo 15.º.
O Sr. Presidente: — Votamos agora, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PS, de emenda do n.º
3 do artigo 30.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN, votos contra do CDS-PP e
abstenções do BE, do PCP e de Os Verdes.
É a seguinte:
3 — O apuramento da contribuição a pagar por cada operador de plataforma eletrónica é feito mensalmente,
por autoliquidação, tem como base as taxas de intermediação cobradas em cada um dos serviços prestados no
mês anterior, e é paga até ao último dia do mês seguinte a que respeita, ou na sua falta, por cálculo da taxa a
cobrar ao operador e notificação das guias de receita a partir de estimativa das taxas de intermediação cobradas,
realizada pela AMT com base nos serviços prestados em períodos anteriores.
O Sr. Presidente: — Do mesmo modo, com a aprovação desta proposta, fica prejudicada a votação da
proposta, apresentada pelo PSD, também de emenda do n.º 3 do artigo 30.º do Decreto.
Era a seguinte:
3 — O apuramento da contribuição a pagar por cada operador de plataforma eletrónica é feito mensalmente,
por autoliquidação, tem como base as taxas de intermediação cobradas em cada um dos serviços prestados no
mês anterior, e é paga até ao último dia do mês seguinte a que respeita, ou na sua falta, por cálculo da taxa a
cobrar ao operador e notificação das guias de receita a partir de estimativa das taxas de intermediação cobradas,
realizada pela AMT com base nos serviços prestados em períodos anteriores.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, terminada a votação das propostas de alteração, importa agora votar
o novo Decreto, com as alterações, entretanto, introduzidas.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS e do PAN, votos contra do BE, do PCP
e de Os Verdes e a abstenção do CDS-PP.
Segue-se a votação das propostas de alteração apresentadas no âmbito da reapreciação do Decreto da
Assembleia da República n.º 203/XIII — Direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de
género e à proteção das características sexuais de cada pessoa.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, pede a palavra para que efeito?
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Sr. Presidente, para, nos termos do n.º 3 do artigo 8.º do Estatuto dos
Deputados, invocar objeção de consciência e não votar a proposta de alteração que o Sr. Presidente vai
submeter à votação. Fundamenta-se a objeção de consciência na não concordância com a premissa subjacente
à solução jurídica apresentada.
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O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem razão, a invocação de razão de consciência, devidamente
fundamentada, por Deputado presente na reunião é considerada como justificação de não participação na
votação. Assim irá acontecer, no caso da Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho.
Srs. Deputados, vamos votar, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PSD, de emenda do n.º 1 do
artigo 6.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e do
PAN e votos a favor do PSD.
Era a seguinte:
1 — O reconhecimento jurídico da identidade de género pressupõe a abertura de um procedimento de
mudança da menção do sexo no registo civil e da consequente alteração de nome próprio, nos termos do artigo
8.º.
O Sr. Presidente: — Passamos à votação, na especialidade, da proposta, apresentada pelo PS, pelo BE e
pelo PAN, de emenda do n.º 2 do artigo 7.º do Decreto.
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes, do PAN e da
Deputada do PSD Teresa Leal Coelho e votos contra do PSD e do CDS-PP.
É a seguinte:
2 — As pessoas de nacionalidade portuguesa e com idade compreendida entre os 16 e 18 anos podem
requerer o procedimento de mudança da menção do sexo no registo civil e da consequente alteração de nome
próprio, através dos seus representantes legais, devendo o conservador proceder à audição presencial do
requerente, por forma a apurar o seu consentimento expresso, livre e esclarecido, mediante relatório por este
solicitado a qualquer médico inscrito na Ordem dos Médicos ou psicólogo inscrito na Ordem dos Psicólogos,
que ateste exclusivamente a sua capacidade de decisão e vontade informada sem referências a diagnósticos
de identidade de género, tendo sempre em consideração os princípios da autonomia progressiva e do superior
interesse da criança constantes na Convenção sobre os Direitos da Criança.
O Sr. Presidente: — Votamos agora, na especialidade, a proposta, apresentada pelo PSD, de substituição
do artigo 8.º do Decreto.
Submetida à votação, foi rejeitada, com votos contra do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e do
PAN e votos a favor do PSD.
Era a seguinte:
Artigo 8.º
Pedido e instrução
1 — O pedido pode ser apresentado em qualquer conservatória do registo civil e deve ser instruído com os
seguintes documentos:
a) Requerimento de alteração de sexo com indicação do número de identificação civil e do nome próprio pelo
qual o requerente pretende vir a ser identificado, podendo, desde logo, ser solicitada a realização de novo
assento de nascimento, no qual não poderá ser feita qualquer menção à alteração do registo;
b) Documento que comprove avaliação médica resultante de equipa interdisciplinar atestando a existência
da desconformidade entre a identidade de género e o sexo com que nasceu, bem como a ausência de condição
psíquica que possa comprometer a expressão da vontade de forma livre e esclarecida.
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A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Sr. Presidente, para informar que não participei nesta votação pela
mesma razão que há pouco invoquei.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, fica registada a sua não participação na votação, ao abrigo de normas
regimentais que todos respeitamos.
Srs. Deputados, vamos votar o novo Decreto, com as alterações introduzidas.
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes, do PAN e da
Deputada do PSD Teresa Leal Coelho e votos contra do PSD e do CDS-PP.
Aplausos, de pé, do PS, do BE, de Os Verdes, do PAN e de público presente nas galerias.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente José de Matos Correia.
O Sr. Presidente: — Antes de prosseguirmos as votações, chamo a atenção do público presente nas galerias
para o facto de não lhe ser permitido pronunciar-se, sob nenhuma forma, relativamente aos trabalhos
parlamentares.
Srs. Deputados, segue-se, no guião de votações, o voto n.º 598/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de
Maria do Pilar de Jesus Barata Mourão-Ferreira, apresentado pelo PS e subscrito por 1 Deputado do PSD, que
vai ser lido pela Sr.ª Secretária, Deputada Idália Serrão.
A Sr.ª Secretária (Idália Salvador Serrão): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«Faleceu, no passado dia 30 de junho, Maria do Pilar de Jesus Barata Mourão-Ferreira.
Licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1965, exerceu
funções entre 1975 e 1976 como Deputada à Assembleia Constituinte, eleita nas listas do Partido Socialista.
De agosto de 1976 a 1978, foi chefe de gabinete dos Secretários de Estado da Orientação Pedagógica e da
Educação e, nos anos seguintes, foi assessora do Secretário de Estado da Presidência do Conselho do Governo
de Mota Pinto, tendo trabalhado na problemática da reabilitação e integração das pessoas com deficiência e na
antiga Comissão da Condição Feminina.
De 1979 a 2004, foi Assessora Principal do Secretariado Nacional da Reabilitação e Integração das Pessoas
com Deficiência, assumindo as funções de direção do Gabinete de Assuntos Europeus e Relações
Internacionais. Nestas qualidades, representou Portugal, entre outras iniciativas, no Conselho da Europa (onde
presidiu a vários Comités), na União Europeia e nas Nações Unidas.
Sempre atenta aos problemas da sociedade, manteve ao longo da sua vida uma permanente intervenção
política e cívica e uma participação relevante na vida cultural, de que a sua participação nos trabalhos da
Assembleia Constituinte foi eloquente exemplo.
Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o seu pesar pelo falecimento de
Maria do Pilar de Jesus Barata Mourão-Ferreira e endereça à família e aos amigos as suas sentidas
condolências.»
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Passamos à votação do voto que acabou de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
A Mesa tem nota de que a família se encontra na galeria e, por isso, exprimo diretamente o pesar que a
Assembleia acabou agora de aprovar por unanimidade.
Sr.as e Srs. Deputados, vamos guardar 1 minuto de silêncio.
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A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.
Srs. Deputados, passamos ao voto n.º 595/XIII (3.ª) — De saudação a Carolina Costa, jovem bailarina
portuguesa, que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata na final do Dance World Cup 2018,
apresentado pelo PSD e subscrito por Deputados do PS.
Tem a palavra o Sr. Secretário António Carlos Monteiro para proceder à leitura do voto.
O Sr. Secretário (António Carlos Monteiro): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte
teor:
«Carolina Costa fez uma ‘participação histórica’ no Dance World Cup2018, o maior concurso mundial de
dança, que este ano ocorreu em Sitges, uma cidade na província de Barcelona, e que envolveu mais de 12 000
bailarinos, de todo o mundo, com idades entre os 4 e os 25 anos.
A bailarina bracarense conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata: das seis coreografias que levou
para Espanha, cinco foram laureadas.
Carolina Costa nasceu em Braga, em outubro de 2006. Com apenas 3 anos iniciou o seu percurso na dança.
Aos 8 anos integrou a Ent’artes — Escola de Dança de Braga, tendo já participado em vários saraus, eventos e
espetáculos. Em setembro de 2017, concorreu pela primeira vez ao Prémio de Jovens Talentos de Braga, tendo
conquistado o 1.º lugar.
Com apenas 11 anos, Carolina Costa tem um currículo invejável. Atualmente integra o Conservatório
Internacional de Dança Annarella Sanchez, que representou Braga e Portugal nesta final do Dance World Cup
2018.
No próximo ano, será a vez de Portugal acolher o Dance World Cup. O evento terá lugar na cidade de Braga
e vai juntar cerca de 6500 crianças e jovens de 48 países.
Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, expressa a sua congratulação pela
participação do Conservatório Internacional de Dança Annarella Sanchez Portugal na final do Dance World Cup
2018, louvando a brilhante prestação de Carolina Costa e restante delegação portuguesa.»
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acabou de ser lido.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Passamos ao voto n.º 597/XIII (3.ª) — De louvor pelo resgate de 12 jovens e do seu treinador de futebol nas
grutas de Chiang Rai, na Tailândia, apresentado pelo PSD e subscrito por Deputados do PS.
Para proceder à respetiva leitura, tem a palavra o Sr. Secretário Duarte Pacheco.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«O mundo inteiro suspirou de alívio e felicidade com a notícia do sucesso da difícil missão de salvamento do
grupo de 12 jovens e seu treinador de futebol que há 18 dias estavam presos numa gruta em Chiang Rai na
Tailândia.
As inundações resultantes das chuvas torrenciais tinham bloqueado a saída e impedido que as equipas de
resgate encontrassem o grupo durante nove dias. Posteriormente, deu-se início ao arranque da missão de
salvamento, liderada pelas equipas de mergulhadores da Marinha Real Tailandesa e que mobilizou o apoio da
comunidade internacional.
Em três operações faseadas, conseguiram retirar todo o grupo da gruta, dando por bem sucedida a missão
no dia 10 de julho. Infelizmente, o Sargento Saman Kunan, mergulhador da Marinha Real Tailandesa, perdeu a
sua vida durante as operações de resgate.
Para além da coragem das equipas de mergulhadores, destacou-se a bravura dos próprios jovens para
suportar as privações durante mais de duas semanas, bem como do treinador, que, de acordo com os relatos,
terá recusado comida para que as crianças pudessem ter acesso a todos os alimentos que as equipas lhes
trouxeram enquanto esperaram pelo resgate.
A Assembleia da República, reunida em Plenário, louva todo o trabalho incansável das equipas de
salvamento que conseguiram resgatar os 12 jovens e seu treinador de futebol nas grutas de Chiang Rai na
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Tailândia, louva a resiliência dos resgatados e presta a sua homenagem às equipas de salvamento e entidades
oficiais tailandesas.»
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, vamos proceder à votação deste voto.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Sr.as e Srs. Deputados, passamos à votação do projeto de resolução n.º 1753/XIII (3.ª) — Deslocação do
Presidente da República a Salzburgo, Áustria (Presidente da AR).
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
De seguida, vamos votar, na generalidade, a proposta de lei n.º 82/XIII (2.ª) — Primeira alteração ao Decreto-
Lei n.º 134/2015, de 24 de julho, que regula a atribuição de um subsídio social de mobilidade aos cidadãos
beneficiários, no âmbito dos serviços aéreos e marítimos entre o continente e a Região Autónoma da Madeira e
entre esta e a Região Autónoma dos Açores, prosseguindo objetivos de coesão social e territorial (ALRAM).
Submetida à votação, foi aprovada, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes,
votos contra do PS e a abstenção do PAN.
Vamos agora votar, na generalidade, o projeto de resolução n.º 1644/XIII (3.ª) — Medidas extraordinárias
para as situações críticas nas ligações aéreas entre o continente português e as regiões autónomas (Os Verdes).
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PS, votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e abstenções do PSD e do CDS-PP.
Vamos proceder à votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1645/XIII (3.ª) — Estratégia para a
mobilidade aérea com resposta eficaz para as ligações entre o continente e as regiões autónomas (Os Verdes).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
Passamos, agora, à votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1685/XIII (3.ª) — Recomenda ao
Governo o apoio aos viticultores e outros agricultores afetados pelas intempéries na região do Douro (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os Verdes,
votos contra do PS e a abstenção do PAN.
O Sr. Adão Silva (PSD): — O PS vota contra? O PS não quer vinho do Porto?!
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Passamos, agora, à votação, na generalidade, do projeto de
resolução n.º 1686/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo um conjunto de medidas de apoio extraordinário em
resultado da forte intempérie ocorrida, na freguesia do Pinhão, na União de Freguesias de Casal de Loivos, Vale
de Mendiz e Vilarinho de Cotas, na freguesia de Sanfins do Douro e na freguesia de Vilar de Maçada, no
concelho de Alijó (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CDS-PP e do PAN, votos contra do PS e
abstenções do BE, do PCP e de Os Verdes.
Procedemos, de imediato, à votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1735/XIII (3.ª) — Avaliação
e apoio aos prejuízos agrícolas causados pelas intempéries dos meses de maio e junho de 2018 (PS).
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Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP e do PAN e
abstenções do PCP e de Os Verdes.
Vamos proceder, de seguida, à votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1748/XIII (3.ª) —
Recomenda do Governo o apoio aos agricultores afetados pelas intempéries ocorridas nas regiões norte e centro
do País (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP e do PAN, votos contra
do PCP e de Os Verdes e a abstenção do PS.
O Sr. Ascenso Simões (PS): — Peço a palavra. Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Ascenso Simões (PS): — Sr. Presidente, queria indicar, em nome do Grupo Parlamentar do Partido
Socialista, que iremos apresentar uma declaração de voto sobre os últimos quatro projetos de resolução votados.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Fica registado, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, faça favor.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, tenho uma proposta para fazer, que já foi discutida com as
outras bancadas, no sentido de votarmos o projeto de resolução n.º 1603/XIII (3.ª), do PSD, que consta no final
da página 4 do guião, até ao projeto de resolução n.º 1697/XIII (3.ª), de Os Verdes, que consta no final da página
10 do guião, à exceção do projeto de deliberação n.º 20/XIII (3.ª). Assim podemos votar de uma assentada cinco
páginas do guião. É um contributo para a celeridade dos trabalhos.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, faça favor.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, tenho registado que há votações nas quais não é
possível proceder a essa decomposição, porque haverá Srs. Deputados que votarão algumas resoluções de
forma diferente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Muito bem. Apesar da boa vontade, que gostaria de
acompanhar, do Sr. Deputado João Oliveira, nada feito.
Passamos, então, à votação do projeto de resolução n.º 1603/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola EB 2, 3
de Lordelo (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e de 5 Deputados do PS (Bacelar de Vasconcelos, Fernando Jesus, Hugo Carvalho, Isabel Santos,
Joana Lima) e a abstenção do PS.
Vamos votar o projeto de resolução n.º 1727/XIII (3.ª) — Propõe a manutenção do curso profissional de artes
do espetáculo na Escola Secundária André de Gouveia, em Évora (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e de 1 Deputado do PS (Norberto Patinho) e a abstenção do PS.
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Segue-se a votação do projeto de deliberação n.º 20/XIII (3.ª) — Solicita ao Conselho Nacional de Educação
um estudo aprofundado sobre as principais opções para um regime de seleção e de recrutamento do pessoal
docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS e do PAN e abstenções do PSD, do BE, do
CDS-PP, do PCP e de Os Verdes.
Segue-se a votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1613/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola
Secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel (BE).
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, já que não podemos votar 5 páginas do guião de uma
assentada, solicito que votemos, pelo menos, em conjunto, esta iniciativa com as duas seguintes, que se referem
à mesma Escola.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, há acordo da Câmara quanto à votação
conjunta, na generalidade, dos projetos de resolução n.os 1613, 1629 e 1745/XIII (3.ª)?
Pausa.
Como não há objeção, vamos proceder à votação conjunta, na generalidade, dos projetos de resolução n.os
1613/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel (BE), 1629/XIII (3.ª) —
Reabilitação da Escola Básica de Penafiel Sul, do Agrupamento de Escolas Joaquim de Araújo (BE) e 1745/XIII
(3.ª) — Recomenda ao Governo que programe obras de requalificação na Escola Secundária Joaquim de Araújo,
em Penafiel (CDS-PP).
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes, do PAN e de 5 Deputados do PS (Bacelar de Vasconcelos, Fernando Jesus, Hugo Carvalho, Isabel
Santos e Joana Lima) e a abstenção do PS.
Estas iniciativas legislativas baixam à 8.ª Comissão.
Pergunto se há acordo da Câmara quanto à votação conjunta, na generalidade, dos projetos de resolução
n.os 1615 e 1731/XIII (3.ª), relativos à Escola Secundária Henrique Medina, em Esposende.
Pausa.
Uma vez que não há oposição, vamos votar conjuntamente, na generalidade, os projetos de resolução n.os
1615/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a urgente reabilitação da Escola Secundária Henrique Medina,
Esposende (BE) e 1731/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à reabilitação da Escola Secundária
Henrique Medina, em Esposende, e remova todas as placas de fibrocimento com amianto (CDS-PP).
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes, do PAN e de 7 Deputados do PS (Hugo Pires, Joaquim Barreto, Luís Soares, Maria Augusta Santos,
Nuno Sá, Palmira Maciel e Sónia Fertuzinhos) e a abstenção do PS.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para que efeito, Sr. Deputado?
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O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, é para informar a Câmara de que os Deputados do
PSD eleitos pelo círculo eleitoral de Braga irão apresentar uma declaração de voto sobre as duas iniciativas que
acabam de ser votadas.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Fica registado, Sr. Deputado.
Os dois projetos de resolução baixam à 8.ª Comissão.
Julgo haver o acordo da Câmara para a votação conjunta dos cinco projetos de resolução seguintes, todos
eles relativos à Escola Secundária de Esmoriz, é certo?
Pausa.
Não havendo oposição, vamos votar conjuntamente, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1624/XIII
(3.ª) — Pela requalificação com carácter de urgência da Escola Secundária de Esmoriz, em Ovar (BE), 1633/XIII
(3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária de Esmoriz (Ovar) (Os Verdes), 1639/XIII (3.ª) —
Requalificação da Escola Secundária de Esmoriz (PSD), 1683/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
intervenha para a requalificação da Escola Secundária de Esmoriz (PCP) e 1690/XIII (3.ª) — Recomenda ao
Governo que inclua a Escola Secundária de Esmoriz na lista nacional de escolas a requalificar com fundos do
Portugal 2020 (CDS-PP).
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes e do PAN e a abstenção do PS.
Os projetos de resolução baixam, igualmente, à 8.ª Comissão.
A Sr.ª Rosa Maria Bastos Albernaz (PS): — Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Rosa Maria Bastos Albernaz (PS): — Sr. Presidente, é para dizer que entregarei na Mesa uma
declaração de voto, em nome dos Deputados do Partido Socialista do círculo eleitoral de Aveiro, em relação à
Escola Secundária de Ovar.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, o anúncio da apresentação de uma declaração
de voto é um direito regimental.
Julgo que também estaremos em condições de votar conjuntamente os três projetos de resolução que
constam da página 9 do guião de votações, relativos à Escola Secundária de Valbom, em Gondomar, certo?
Neste momento, registou-se burburinho na Sala.
Srs. Deputados, tenho de suspender as votações?! Se quiserem, eu suspendo, não tenho problema nenhum!
Pausa.
Vamos votar conjuntamente, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1628/XIII (3.ª) — Escola
Secundária de Valbom (Gondomar) (BE), 1667/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária de Valbom,
Gondomar (PSD) e 1733/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que tome as medidas necessárias para a urgente
requalificação e reabilitação da Escola Secundária de Valbom, de modo a garantir dignidade a toda a
comunidade escolar (CDS-PP).
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Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes, do PAN e de 5 Deputados do PS (Bacelar de Vasconcelos, Fernando Jesus, Hugo Carvalho, Isabel
Santos e Joana Lima) e a abstenção do PS.
Os três projetos de resolução em causa baixam à 8.ª Comissão.
Tendo sido informado de que não há objeções, vamos também votar conjuntamente, na generalidade, os
projetos de resolução n.os 1630/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola Secundária do Lumiar, em Lisboa (BE),
1687/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que realize, com urgência, obras de requalificação na Escola
Secundária do Lumiar, em Lisboa (CDS-PP) e 1697/XIII (3.ª) — Requalificação urgente da Escola Secundária
do Lumiar, no concelho de Lisboa (Os Verdes).
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes, do PAN e de 3 Deputados do PS (Helena Roseta, Joaquim Raposo e Pedro Delgado Alves) e a
abstenção do PS.
Os projetos de resolução baixam à 8.ª Comissão.
Passamos à página 11 do guião de votações.
Vamos votar, na generalidade, o projeto de resolução n.º 1373/XIII (3.ª) — Recomenda a valorização do
ensino profissional, com a garantia da igualdade de oportunidades de todos os estudantes (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e abstenções
do PSD, do PS e do CDS-PP.
O projeto de resolução baixa à 8.ª Comissão.
Eu pedia aos Srs. Deputados que se sentassem!
Pausa.
Vamos proceder à votação, na generalidade, do projeto de resolução n.º 1501/XIII (3.ª) — Recomenda ao
Governo que proceda ao adiantamento das prestações devidas às escolas de ensino profissional sempre que
haja atrasos no financiamento do POCH (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CDS-PP e do PAN e abstenções do PS,
do BE, do PCP e de Os Verdes.
O projeto de resolução baixa, igualmente à 8.ª Comissão.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, podemos juntar a votação…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — O Sr. Deputado João Oliveira hoje está determinado em dar-
nos boas notícias, o que se agradece.
Julgo que temos a possibilidade de votar conjuntamente quatro projetos de resolução…
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Os três primeiros, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sendo assim, julgo que temos condições para votar
conjuntamente, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1724/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que
desencadeie as ações necessárias tendo em vista a construção do novo hospital de Barcelos (BE), 1602/XIII
(3.ª) — Construção do novo hospital de Barcelos (PCP), 1743/XIII (3.ª) — Construção de um novo hospital em
Barcelos (CDS-PP), ficando apenas de fora a votação do projeto de resolução n.º 1749/XIII (3.ª), do PS. É isso,
Sr. Deputado João Paulo Correia?
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O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sim, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, vamos, então, votar os projetos de resolução
que enunciei.
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os
Verdes e abstenções do PS e do PAN.
Os projetos de resolução baixam à 9.ª Comissão.
Vamos agora votar, na generalidade, o projeto de resolução n.º 1749/XIII (3.ª) — Pela construção do novo
hospital de Barcelos (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP e de Os
Verdes e a abstenção do PAN.
O projeto de resolução baixa à 9.ª Comissão.
Passamos à votação do projeto de resolução n.º 1595/XIII (3.ª) — Propõe medidas para que se iniciem em
2018 os procedimentos para a construção do novo hospital central público do Alentejo, em Évora (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes e de 1 Deputado do PS (Norberto Patinho) e abstenções do PS e do PAN.
O Sr. Norberto Patinho (PS): — Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Norberto Patinho (PS): — Sr. Presidente, é para informar que apresentarei uma declaração de voto
sobre esta última votação.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Fica registado, Sr. Deputado.
Prosseguimos com a votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Trabalho e Segurança
Social, relativo ao projeto de lei n.º 456/XIII (2.ª) — Cria o regime excecional de indexação das prestações sociais
dos deficientes das Forças Armadas (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os
Verdes e do PAN e voto contra de 1 Deputado do PS (Paulo Trigo Pereira).
Segue-se a votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo
aos projetos de resolução n.os 1565/XIII (3.ª) — Pela correta aplicação da Lei n.º 57/2017, de 19 de julho (BE) e
1666/XIII (3.ª) — Pela fiscalização da efetiva aplicação do Decreto-Lei n.º 57/2016, de 29 de agosto, alterado
pela Lei n.º 57/2017, de 19 de julho (Emprego Científico) (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN e
abstenções do PSD e do CDS-PP.
Passamos agora à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência,
relativo aos projetos de resolução n.os 1574/XIII (3.ª) — Requalificação e realização urgente de obras em escolas
do Agrupamento de Escolas Santos Simões, Guimarães (PCP), 1612/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a
urgente reabilitação da Escola Básica e Secundária Santos Simões, em Guimarães (BE), 1712/XIII (3.ª) —
Requalificação da Escola Básica e Secundária Santos Simões, Guimarães (PSD), 1722/XIII (3.ª) — Reabilitação
urgente em escolas do Agrupamento de Escolas Santos Simões, em Guimarães (Os Verdes) e 1732/XIII (3.ª)
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— Recomenda ao Governo que proceda à reabilitação e requalificação da Escola Básica e Secundária Santos
Simões, em Guimarães (CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes e
do PAN e a abstenção do PS.
Segue-se a votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo
aos projetos de resolução n.os 1571/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à realização de obras de
reabilitação da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão, em Braga (CDS-PP), 1576/XIII — Urgente
requalificação da Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão (PCP), 1626/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da
Escola Básica 2/3 Frei Caetano Brandão de Braga (Os Verdes) e 1682/XIII (3.ª) — Requalificação da Escola
Básica 2/3 Frei Caetano Brandão, em Braga (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e de 7 Deputados do PS (Hugo Pires, Joaquim Barreto, Luís Soares, Maria Augusta Santos, Nuno Sá,
Palmira Maciel e Sónia Fertuzinhos) e a abstenção do PS.
Vamos proceder à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência,
relativo aos projetos de resolução n.os 1562/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à elaboração de
um plano para reabilitação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, na vila de Joane (CDS-PP),
1563/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a requalificação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, na
vila de Joane (PSD), 1575/XIII (3.ª) — Urgente requalificação da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado
(PCP) e 1622/XIII (3.ª) — Reabilitação urgente da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, de Vila Nova
de Famalicão (Os Verdes).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e de 7 Deputados do PS (Hugo Pires, Joaquim Barreto, Luís Soares, Maria Augusta Santos, Nuno Sá,
Palmira Maciel e Sónia Fertuzinhos) e a abstenção do PS.
Segue-se a votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Educação e Ciência, relativo
aos projetos de resolução n.os 1561/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda à urgente reabilitação da
Escola Secundária de Barcelinhos e remova todas as placas de fibrocimento (CDS-PP), 1578/XIII (3.ª) —
Requalificação e realização urgente de obras na Escola Secundária de Barcelinhos (PCP) e 1625/XIII (3.ª) —
Reabilitação urgente da Escola Secundária de Barcelinhos — Barcelos (Os Verdes).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e de 7 Deputados do PS (Hugo Pires, Joaquim Barreto, Luís Soares, Maria Augusta Santos, Nuno Sá,
Palmira Maciel e Sónia Fertuzinhos) e a abstenção do PS.
Passamos agora à votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Saúde, relativo aos
projetos de resolução n.os 1638/XIII (3.ª) — Pela célere construção do hospital central do Algarve (PCP),
1698/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que desencadeie as ações necessárias para a construção do hospital
central do Algarve (BE) e 1725/XIII (3.ª) — Pela melhoria dos cuidados de saúde hospitalares públicos no
Algarve (PCP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes,
do PAN e de 4 Deputados do PS (Ana Passos, Fernando Anastácio, Jamila Madeira e Luís Graça) e a abstenção
do PS.
Segue-se a votação final global do texto final, apresentado pela Comissão de Saúde, relativo aos projetos de
resolução n.os 1655/XIII (3.ª) — Pela célere construção do novo hospital de Lagos (PCP) e 1726/XIII (3.ª) —
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Recomenda ao Governo que desenvolva os procedimentos necessários para a construção do novo hospital de
Lagos (BE).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do BE, do CDS-PP, do PCP, de Os Verdes, do PAN e
de 4 Deputados do PS (Ana Passos, Fernando Anastácio, Jamila Madeira e Luís Graça) e abstenções do PSD
e do PS.
O Sr. Deputado Luís Graça pediu a palavra. Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. LuísGraça (PS): — Sr. Presidente, é para anunciar que, em meu nome e em nome dos Srs. Deputados
Ana Passos, Jamila Madeira e Fernando Anastácio, apresentaremos uma declaração de voto por escrito sobre
os dois últimos textos finais, da Comissão de Saúde.
O Sr. Presidente: — Fica registado, Sr. Deputado.
Finalmente, temos para votação três pareceres da Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de que nos vai dar conta o Sr. Secretário Duarte Pacheco.
Tem a palavra, Sr. Secretário.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a solicitação da Procuradoria-
Geral Distrital de Coimbra, Processo n.º 99/17.0TRCBR, a Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, decidiu emitir parecer no sentido de autorizar a Sr.ª Deputada
Ana Catarina Mendonça Mendes (PS) a intervir no âmbito do auto em referência.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.
Pausa.
Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Faça favor de prosseguir, Sr. Secretário Duarte Pacheco.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a solicitação do Juízo de
Instrução Criminal de Coimbra — Juiz 1, do Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra, relativo ao Processo n.º
1731/16.9T9CBR, a Subcomissão de Ética, da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias, decidiu emitir parecer no sentido de autorizar o levantamento da imunidade parlamentar da Sr.ª
Deputada Fátima Ramos (PSD) para prestar declarações no âmbito do processo em referência.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o parecer está em apreciação.
Pausa.
Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Sr. Secretário Duarte Pacheco, tem a palavra para dar conta do último parecer.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o parecer da Subcomissão de
Ética, da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias refere-se à suspensão do
mandato dos Srs. Deputados Hugo Pires e Palmira Maciel, do PS (Círculo Eleitoral de Braga), e à sua
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substituição por Lucinda Carlota Monteiro Ferreira de Oliveira Fonseca e por Luís Loureiro de Castro,
respetivamente, com efeitos no dia 11 de Julho de 2018 — na prática, trata-se de uma ratificação de algo que
já decorreu —, limitando-se ao dia anteriormente indicado, cessando no final do dia designado, sendo o parecer
no sentido de admitir a substituição em causa.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está em apreciação o parecer.
Pausa.
Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Antes de encerrar os trabalhos, recordo as Sr.as e os Srs. Deputados que amanhã terá lugar o debate do
estado da Nação.
A sessão iniciar-se-á às 9 horas e 30 minutos.
Está encerrada a sessão.
Eram 19 horas e 17 minutos.
———
Declarações de voto enviadas à Mesa para publicação
Relativa aos projetos de resolução n.os 1615 e 1731/XIII (3.ª):
O Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata revê-se integralmente na necessidade de se proceder à
reabilitação e requalificação das instalações da Escola Secundária Henrique Medina, em Esposende,
preconizadas nas iniciativas em apreço.
Sem embargo, deve referir-se que as mesmas revelam o desconhecimento das forças políticas proponentes
sobre aquele equipamento escolar.
Na verdade, importa salientar que, apesar de a Escola Secundária Henrique Medina estar sob a tutela do
Ministério da Educação e de o município de Esposende não ter outorgado qualquer contrato de execução de
delegação de competências, no âmbito da Educação, manda a verdade que se diga que o município de
Esposende celebrou com o Ministério da Educação, ainda na pendência do anterior Governo, um acordo no
sentido de se proceder a uma primeira intervenção de fundo daquela que é a única escola secundária do
concelho de Esposende, construída há 36 anos.
A intervenção concursada será financiada por fundos comunitários no montante de 1,9 milhões de euros,
através do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Comunidade Intermunicipal do Cávado.
A fatia restante, ou seja, a equivalente à totalidade da comparticipação pública nacional (CPN), no valor de
15% do investimento, será suportada, em partes iguais, pelo município de Esposende e pelo Ministério da
Educação.
Significa isto que esta escola só vai beneficiar de importantes obras de reabilitação porque o município de
Esposende, além de ter assumido a liderança do processo, foi mais longe e dispôs-se a arcar com
responsabilidades financeiras que não são suas.
O projeto, que não cobre a totalidade das necessidades de intervenção, mas que é o possível face à
disponibilidade de financiamento existente, contempla a substituição de todas as coberturas em fibrocimento,
bem como a demolição do bloco oficinal existente.
De igual modo, será construído de raiz um novo edifício que marca a entrada da escola, interligando os
diferentes edifícios existentes.
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O novo edifício integra, para além de espaço interior e exterior de receção, uma sala de projeção, biblioteca,
secretaria e arquivo vocacionados para a receção e atendimento público, nomeadamente atendimento a
encarregados de educação.
Na zona mais reservada, encontram-se os gabinetes da direção bem como instalações sanitárias e de
descanso de pessoal não docente.
A intervenção passa ainda pela reformulação e ampliação do atual refeitório e do salão polivalente.
A Escola Secundária Henrique Medina chegou a estar prevista na quarta fase das intervenções definidas
pela Administração Central, no âmbito do Programa de Modernização do Parque Escolar, com um orçamento
estimado de cerca de 14 milhões de euros, mas não chegou a ser executada.
Refira-se, por fim, que o município de Esposende lançou o concurso público por 2,1 milhões de euros, ainda
no ano de 2017, devendo as obras avançar a breve trecho, obras, no entanto, que não são suficientes para fazer
face à amplitude da intervenção que se impõe. Neste contexto, importa salientar que é exigível à administração
central a assunção de que uma segunda fase de intervenções para reabilitar outros espaços, como sejam os
blocos de aulas, o pavilhão desportivo e os espaços exteriores, é absolutamente necessária e urgente.
Os Deputados do Grupo Parlamentar do PSD, Jorge Paulo Oliveira — Fernando Negrão — Clara Marques
Mendes — Hugo Lopes Soares — Laura Monteiro Magalhães — Emídio Guerreiro — Joel Sá — Rui Silva.
———
Relativa aos projeto de resolução n.os 1624, 1633, 1639, 1683 e 1690/XIII (3.ª):
A Escola Secundária de Esmoriz, sede de Agrupamento, há décadas que não é objeto de obras de
beneficiação, o que se nota, tanto no interior das instalações como na envolvente. A requalificação prevista foi
inviabilizada por decisão do anterior Governo quando interrompeu o plano de modernização das escolas
secundárias.
Como puderam constatar os Deputados do Partido Socialista eleitos pelo círculo de Aveiro que visitaram a
escola e reuniram com a diretora do Agrupamento, a Associação de Pais e Encarregados de Educação e
representantes dos estudantes, as condições existentes não têm impedido a escola de continuar a fazer um
excelente trabalho educativo em prol da educação na comunidade.
É claro para o Partido Socialista que a Escola Secundária de Esmoriz precisa e merece uma requalificação,
até porque a população da sua área de influência tem aumentado enquanto diminui o número de alunos que
procuram esta escola, facto que evidencia a necessidade de projetar o futuro desta escola como parte do
desenvolvimento da comunidade em que se insere.
Não obstante, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista não concorda que a aprovação de dezenas de
projetos de resolução sobre escolas de todo o país, como tem vindo a acontecer, seja a forma adequada de
promover uma estratégia nacional para a requalificação e modernização do parque escolar no seu conjunto.
Esse desiderato implica uma programação atempada e criteriosa para melhor mobilização e aplicação dos
recursos necessários, que não pode ser feita de forma parcelar.
Além do mais, não podemos alinhar o nosso voto com quem não assume as suas responsabilidades. A
requalificação da Escola Secundária de Esmoriz podia já ter avançado se a Câmara Municipal de Ovar (CMO)
tivesse tido a vontade e a força políticas para a incluir no mapeamento dos investimentos a concretizar no âmbito
do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial, que ordena a aplicação de fundos comunitários na área
da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro. Dezenas de investimentos educativos foram mapeados no
Pacto para a CIRA, outras escolas na área do concelho de Ovar (entre elas, outra escola secundária) foram
incluídas, mas a Escola Secundária de Esmoriz ficou de fora. O que se impõe, de imediato, é corrigir essa
situação. Se a Câmara Municipal de Ovar decidir, agora, mostrar outra vontade política conducente à
requalificação da Escola Secundária de Esmoriz, trabalhando no âmbito da CIRA para priorizar esta
requalificação, terá o nosso apoio.
O que não podemos apoiar é a mistificação em torno do assunto, que é o que faz a CMO quando afirma que
cobrirá a totalidade da contribuição pública nacional (CPN) para o projeto com financiamento dos fundos
comunitários, sabendo que, sem mapeamento e sem projeto, a questão da CPN não se põe sequer.
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O nosso voto de abstenção face aos projetos de resolução acima identificados traduz esta nossa apreciação
do que há a fazer para conseguir, num futuro próximo, a requalificação da Escola Secundária de Esmoriz.
As Deputadas e os Deputados do PS, Rosa Maria Bastos Albernaz — Porfírio Silva — Fernando Rocha
Andrade — Filipe Neto Brandão — Carla Tavares.
———
Nota: As declarações de voto anunciadas pelos Deputados do PS Ascenso Simões, Luís Graça e Norberto
Patinho não foram entregues no prazo previsto no n.º 3 do artigo 87.º do Regimento da Assembleia da República.
———
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO.