I SÉRIE — NÚMERO 33
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o Instituto e, principalmente, para os cidadãos, para as empresas e para o serviço público em geral, que quer
contribuir para o conhecimento do território.
Não podemos transformar uma medida positiva, aquilo que é bom, ou seja, o levantamento cadastral, num
novo constrangimento.
O Sr. PedroFilipeSoares (BE): — Muito bem!
O Sr. PedroSoares (BE): — O Bloco de Esquerda contribuiu, desde início, para que este processo
avançasse, dando contributos políticos e técnicos, sem novos constrangimentos nem custos para os pequenos
proprietários.
Queremos que este processo avance sem que estas medidas sejam aproveitadas para um novo processo
de concentração privada da propriedade.
São estas as medidas fundamentais para que o levantamento cadastral que o Governo propõe seja levado
a bom porto e para que possa contribuir para o interesse público e para uma floresta mais saudável e mais
adaptada às condições concretas das alterações climáticas.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Dias.
O Sr. JoãoDias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Não existem hoje
dúvidas quanto à necessidade da realização do cadastro rústico como elemento fundamental para o
conhecimento real da propriedade e uma adequada gestão da floresta em Portugal.
Se não existem dúvidas quanto à importância da realização do cadastro, o PCP também não tem dúvidas de
que muitas têm sido as indecisões quanto ao seu avanço. Essas indecisões devem-se à falta de determinação
política dos sucessivos governos e, principalmente, à falta de investimento.
A concretização do cadastro rústico em Portugal é tão necessária quanto exequível e será um elemento
importante para o estímulo à produção nacional.
Contudo, do que precisamos é de um cadastro que se concretize, que deixe a fase de projeto-piloto e que
passe a ser uma realidade em todo o País.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, nos projetos-piloto já em curso, mas ainda com
poucos dados conhecidos — aliás, conhecemos apenas o relatório que tem meia dúzia de páginas, isto é, tem
200 páginas de metodologias, anexos, fotografias, etc., pelo que precisamos de muito mais informação
detalhada e pormenorizada —, podemos encontrar algumas preocupações.
Criou-se a ideia de que o problema da limpeza da floresta se deve ao facto de as terras não terem dono
conhecido. O Governo, neste sentido, ameaça entregar essas terras nas mãos de uma empresa de gestão
florestal.
Para o PCP, na prática, o que se procura é um ataque à pequena propriedade. E este relatório, bem como a
proposta de lei, não vêm dar resposta efetiva quanto a esta preocupação.
Quando o Governo coloca como elemento central na realização do cadastro a existência de declaração dos
proprietários, não podemos aceitar que, quando não for apresentada esta declaração, as terras sejam
consideradas sem dono. Esta é, de facto, uma preocupação que temos e que importa ser esclarecida.
Quanto aos baldios, não são para aqui chamados. Têm uma lei própria que foi recentemente aprovada, pelo
que não se venha agora tentar alterá-la.
Com esta proposta, surge outra preocupação que tem a ver com o mesmo problema que sempre se colocou:
de onde vem o dinheiro para a realização do cadastro? Porque não acautelou o Governo, no Orçamento do
Estado, a verba necessária à realização deste cadastro? Será que o Governo pretende que as autarquias
suportem mais este custo para a realização do cadastro?
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, o PCP entende que instrumentos e leis não
faltam. Aliás, não têm faltado; o que tem faltado são meios. E é nesse sentido que o PCP propõe que se faça,
com urgência, uma avaliação séria dos projetos-piloto do sistema de informação cadastral que está em curso.
Não nos podemos esquecer que Portugal é só um, mas que em Portugal existem muitos «Portugais».