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I SÉRIE — NÚMERO 52

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Por uma epidemia que, convém recordar, o Governo inicialmente desvalorizou, passámos 45 dias em estado

de emergência, ao qual nos opusemos e que, como se confirma agora pela abrangência das medidas em estado

de calamidade, era desnecessário.

Nestes 72 dias: deixámos de ver os amigos, a família, até aquela que está em lares e que, ao princípio, nos

aconselharam a visitar; passámos a usar máscaras, as tais que eram desaconselhadas e agora são obrigatórias;

baixou o nível de escrutínio e exigência com quem nos governa e instalou-se um unanimismo pouco saudável

em democracia; muita gente, mais de 2 milhões de pessoas, deixou de trabalhar, ficou no desemprego, ou em

layoff, nos encerramentos obrigatórios de lojas, serviços e restaurantes e a economia parou, sendo hoje claro

que vamos ter a recessão mais profunda de que há registo; os apoios tardam em chegar ao terreno, embrulhados

nas malhas da burocracia e no arrastar das decisões políticas, deixando segmentos inteiros da população sem

solução durante semanas, como aconteceu com os sócios-gerentes ou com os dentistas e como acontece com

milhares de empresas em todo o País; o turismo, que foi o motor da última recuperação económica, vai tardar a

voltar a recuperar os estrangeiros, que representavam 70% das dormidas, especialmente se o Primeiro-Ministro

continuar a afirmar, como fez em entrevista recente, que Portugal foi «descoberto», e tal não resultou do esforço

e do talento dos milhares de pessoas que trabalham no turismo. Diz que foi sorte. Pois é um daqueles casos em

que se pode dizer que a sorte dá muito trabalho e o Sr. Primeiro-Ministro faria bem em não ficar à espera da

sorte para a retoma deste ou de qualquer outro setor.

Mas também houve, nestes 72 dias, o que corresse bem: contivemos a doença, achatámos a curva. O

Governo esforça-se agora por ficar à frente na fotografia, numa luta pela popularidade com o Presidente da

República, luta esta que o Governo não quer perder outra vez, como sucedeu nos incêndios de 2017. Desta

vez, quer ficar com os louros de um resultado que, na verdade, se ficou a dever mais às pessoas do que ao

Governo, às do setor público e do setor privado e social, às que estiveram na linha da frente e às muitas outras

que asseguraram tantos serviços essenciais e que se autoconfinaram mesmo antes de serem obrigadas.

Nestes 72 dias, também se assistiu aos oportunismos mais rasteiros dos populistas, à esquerda e à direita.

À esquerda, os populistas veem nesta crise um pretexto para defender nacionalizações, requisições e

expropriações, proibir dividendos, despedimentos e sabe-se lá mais o quê. Proibições e obrigações é com eles!

Atacar sem cessar a iniciativa privada e os criadores de riqueza e de emprego é o seu sonho húmido. E, se a

TAP, a Efacec ou os CTT acabarem nacionalizados, podem ter a certeza de que esses populistas de esquerda

não ficarão por aí. O seu ódio aos privados só será saciado quando nacionalizarem as próprias pessoas.

Na direita populista as manobras são igualmente lamentáveis. E não digo mais, exatamente para não fazer

o jogo dos que apenas querem polémica ou palco mediático.

Nestes 72 dias, ainda houve quem, habilidosamente, quisesse lançar uns mitos.

O mito de confundir o elogio, de uma forma geral merecido, ao desempenho dos serviços públicos com a

tentativa de nos convencer de que os serviços públicos têm de ser exclusivamente prestados pelo Estado. Não

têm!

O mito, este até alvo de cartilha que todos os socialistas têm decorada, de que esta crise veio sublinhar a

importância do Estado social, como se isto justificasse diretamente a existência de um Estado pesado e de

impostos incomportáveis. Talvez quem não tenha imaginação ou só esteja preocupado com o soundbite acredite

nisso, mas nós não e há numerosos exemplos de países liberais que nos dão razão. A cartilha está errada.

E, finalmente, o mito de que só o Estado pode salvar a economia, através de investimento público maciço.

Pois digo-vos já aqui que, sem o devido escrutínio técnico e a ponderação financeira, um novo surto de

investimento público sem interesse para a economia redundará no mesmo que redundou quando foi aplicado

pelo Governo do Eng.º Sócrates — mais elefantes brancos e mais dívida para as gerações futuras pagarem.

Por falar em gerações futuras, para bem dos mais jovens, houve coisas que poderiam ter começado a mudar

nestes 72 dias, mas não mudaram, e precisam de mudar, a começar já nos próximos 72 dias e, depois, em

todos os dias seguintes. Temos de poder dizer aos jovens deste País que vale a pena viver e trabalhar em

Portugal. Precisamos que os jovens deste País acreditem que estudando, trabalhando e esforçando-se terão

acesso a oportunidades para subir na vida e que, se alguns quiserem ter uma experiência internacional que os

faça crescer, poderão voltar para um País onde haverá oportunidades, um País que reconhecerá o seu mérito.

É urgente explicar-lhes que o elevador social, avariado há tanto tempo, se pode reparar, que não são só os que

conhecem a pessoa certa ou os que têm um cartão do partido certo que terão as oportunidades de atingir o que

desejam.

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