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I SÉRIE — NÚMERO 136

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O Sr. Pedro Pinto (CH): — Nunca foi a Barrancos!

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — … e, no caso do mirandês, temos uma cultura muito rica, muito interessante, que

não é tão valorizada quanto deveria ser.

Creio que a única coisa que qualquer democrata em Portugal pode dizer, sem qualquer tibieza e sem inventar

outros temas laterais, é que, de facto, precisamos de apoiar a língua mirandesa. Desse ponto de vista,

apoiaremos estas medidas e esperamos que se possa aprofundar estas matérias do ponto de vista educativo.

Aplausos do BE e de Deputados do PS.

O Sr. Pedro Pinto (CH): — Quantas vezes foi a Barrancos?

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — O Chega já esgotou o tempo!

A Sr.ª Rita Matias (CH): — Faltou a linguagem inclusiva, Isabel! O «todes» e o «amigues»!

A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rodrigo Saraiva,

do Grupo Parlamentar da Iniciativa Liberal.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os dois projetos de resolução hoje

em discussão dizem respeito a um dos fatores mais importantes de uma nação, a língua, que é aquilo que a

todos nos une. Um fator tão querido ao povo português que levou o próprio Fernando Pessoa a declarar: «Minha

pátria é a língua portuguesa.»

Normalmente, quando se pensa em Portugal, pensa-se sempre num Estado-nação único, com a mesma

língua. Ao contrário do nosso país vizinho, que possui mais de uma dezena de línguas e dialetos identificados

e falados por mais de 10 milhões de pessoas, Portugal não é conhecido pela sua diversidade linguística. No

entanto, nem sempre foi assim. Uma série de línguas, dialetos e calões eram comuns em várias partes de

Portugal, mas, entretanto, alguns foram-se perdendo com o tempo, como por exemplo o judeu-português.

A nossa língua, a nossa forma de falar e as nossas expressões são um dos fatores que nos torna únicos,

aos portugueses no seu todo e a cada um de nós. A nossa individualidade deve ser motivo de orgulho e jamais

o Estado deve punir ou desconsiderar os cidadãos por serem quem são.

Ao contrário do que acontece em regimes totalitários, onde existe uma língua única oficial e todas as outras

são proibidas, onde as diferenças culturais são corrigidas em campos de reeducação, onde até nem há muito

tempo existiam penteados autorizados e roupas oficiais aprovadas pelo Estado, nas democracias liberais,

felizmente — e ainda bem, é como deve ser —, primamos pela individualidade como uma das mais nobres

formas de liberdade.

É, portanto, responsabilidade de todos nós manter vivas as línguas, dialetos e calões que ainda subsistem

em Portugal. Deixá-los morrer é também deixar morrer uma parte da pátria portuguesa.

A defesa das identidades regionais é um dever do Estado português, responsabilidade essa reforçada em

zonas deprimidas, de baixa densidade demográfica e que, durante demasiado tempo, têm sido esquecidas pelo

poder central. O reconhecimento da língua enquanto elemento estruturante da cultura é fundamental na

preservação e desenvolvimento destas identidades. A língua tem impacto social e económico, valoriza uma

região que tem sido esquecida e contribui para a coesão territorial.

As populações que, há séculos, têm preservado o mirandês como espólio linguístico e cultural justificam esta

iniciativa e merecem o nosso incentivo e apoio, sendo dignas da nossa admiração. Mas a Iniciativa Liberal insta

e incentiva os poderes nacionais e, sobretudo, locais, bem como à sociedade no seu todo, a irem ainda mais

além e a alargarem o reconhecimento devido não só ao mirandês e ao barranquenho, mas também ao minderico,

originário da zona de Minde e de Mira de Aire.

Sr.as e Srs. Deputados, estas iniciativas merecem sempre apoio quando somam à identidade nacional,

quando potenciam as variáveis cultural, social, diplomática e económica. Nunca podem ser fator de subtração

ou desvio daquilo que é o interesse nacional e de tudo o que nos une.

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