I SÉRIE — NÚMERO 140
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Recordando os factos, em 2 de julho, um Governo socialista, liderado pelo Dr. António Costa, aprovou a
nacionalização de cerca de 70 % do capital social da Efacec, uma empresa privada ligada ao setor da tecnologia,
engenharia e energia. Esta nacionalização atingiu a participação detida pela empresária angolana Isabel dos
Santos, envolvida num processo judicial e cuja participação teria sido arrestada.
O Governo invocou em favor desta nacionalização: a Efacec ser uma empresa nacional que «constitui uma
referência internacional em setores vitais para a economia» — e estou a citar; a viabilização da continuidade da
empresa, garantindo a estabilidade do seu valor financeiro e operacional; e ainda a salvaguarda dos 2500 postos
de trabalho.
Dizia o Governo, para justificar a entrada do Estado no capital da empresa, que o único problema da Efacec
era o acionista, que trazia problemas de compliance e também de financiamento junto da banca.
O Governo garantia, aliás, que havia uma dezena de interessados e que a intervenção do Estado devia ser
feita — e esta parte é muito relevante — «por período restrito no tempo e com vista à resolução temporária da
respetiva situação, estando prevista a sua imediata reprivatização, a executar no mais curto prazo possível».
Este decreto foi promulgado pelo Sr. Presidente da República, que invocou expressamente os vários
argumentos do Governo, mas especialmente o não ter caráter duradouro, ser transitória e ter sido aberto
simultaneamente o processo de reprivatização. Estas eram as condicionantes, estes eram os pressupostos.
Aliás, o Governo dizia que era uma empresa centenária e com viabilidade no mercado.
A verdade, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas, é que passaram três anos, mas o Governo não consegue
encerrar este processo, o tal processo rápido. Desde julho de 2020 que o Governo tem vindo a tentar encerrar
o processo, sem êxito. Três anos.
Em 2021, o processo esteve perto do seu final, mas o modelo adotado não foi admitido, não tendo o Governo
conseguido concretizá-lo porque o comprador exigiu um conjunto de apoios financeiros e de garantias — os
quais, à semelhança do Novo Banco, seriam integralmente usados e pagos pelo privado — que tornavam o
negócio um absoluto desastre para os contribuintes.
Aplausos do PSD.
Srs. Deputados, confesso que não sei se há motivo para palmas, porque isto não é nada de bom.
Risos.
Três anos passados, na empresa foram injetados 217 milhões de euros, entre empréstimos e garantias, e a
isto se juntam cerca de 10 milhões de euros por mês até à conclusão do processo. Este processo de privatização
mais recente dura, também ele, há meses.
Finalmente, o nosso Governo marcou uma conferência de imprensa para informar e esclarecer qual o
desfecho do processo, mas sobram todas as perguntas para as respostas que não deram.
Afinal, para que serviu a conferência de imprensa? Propaganda?
Quando o Governo falha rotundamente no propósito de vender rapidamente a participação de Isabel dos
Santos, arrastando a empresa e os contribuintes para mais de 200 milhões em suprimentos e garantias, é
aceitável esta opacidade?
Quando o Governo continua a despejar na Efacec mais de 10 milhões de euros por mês sem fim à vista, é
aceitável esta falta de clareza e de transparência?
Todas as questões estão por responder, mas os portugueses têm direito a ter respostas quando é dinheiro
público que está a entrar na Efacec. E nós temos perguntas.
Qual o investimento e capitalização a suportar pelo fundo para comprar a participação? Em que prazo?
Além da aprovação da operação pela União Europeia, quais são as condições precedentes, sem as quais o
processo de venda falha?
Qual o impacto ou atitude que se espera dos acionistas minoritários? O acordo passa pela compra dessas
posições? Serão diluídas?
Quanto aos credores, banca e obrigacionistas, haverá ou está previsto um perdão parcial da dívida?
Quais as principais linhas de estratégia da Mutares que convenceram o Governo da bondade da solução?
Quais as garantias quanto ao número e retenção de trabalhadores da Efacec?