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16 DE MARÇO DE 1991

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O Mosteiro de Paço de Sousa teve o seu couto —o Couto de Paço de Sousa— c, anexo a este, teve ainda outro — o Couto de Casconha, sito na freguesia da Sobreira, do antigo julgado de Aguiar de Sousa, hoje do concelho de Paredes. Pertenciam ambos à Mesa Abadai.

O primeiro abrangia toda a área da extensa freguesia de Paço de Sousa, parte da antiga freguesia de S2o Pedro da Boavista, anexada à freguesia do Salvador de Galegos, c parte da freguesia de Santa Maria de Corcixas, anexada à freguesia de São Vicente de Irivo.

O segundo abrangia todo o lugar de Casconha, da freguesia de São Pedro da Sobreira.

Ambos se regiam pelo mesmo foral, com justiças próprias c comuns a ambos, e tinham a sede cm Paço de Sousa.

A primeira notícia conhecida do Couto de Paço de Sousa 6 de 1123, onde se fala do Couto como instituição já demarcada e com foral próprio, cinco anos antes do início do reinado de D. Afonso Henriques (1128).

O padrão dos coutos era o velho carvalho de Gamuz, ou carvalho das audiências, que estava em frente da igreja do Mosteiro, na margem esquerda do ribeiro, um pouco além da ponte c cm frente da antiga residência paroquial. Foi arrancado em 1885. Nele se afixavam os editais, prática tradicional do tempo dos coutos.

De 15 cm 15 dias, aos sábados, depois do jantar, faziam--sc as audiências do Couto no foral das audiências, ao pé do carvalho de Gamuz, motivo por que se chamava ao local Terreiro de Gamuz, Terreiro das Audiências ou Foral das Audiências.

À sombra deste venerando carvalho, na primeira oitava do Natal de cada ano, se fazia a eleição dos magistrados c oficiais que deviam servir o Couto c se juntava a maior parte do povo dele. Ali, no dia 31 de Dezembro de cada ano, depois de jantar, os novos magistrados eleitos, a saber: o juiz, o almotacé, o procurador, o porteiro, os jurados, os quadrilheiros, o ouvidor, o achegador, recebiam das mãos dos magistrados e oficiais cessantes as simbólicas varas da jurisdição, tomavam posse dos seus cargos e faziam o juramento de bem servir os coutos, do que se lavrava termo por eles assinado. O corregedor-mor do Porto, a pedido do D. Abade, confirmava a eleição.

A administração económica do Mosteiro, desde meados do século xn, foi dividida cm duas secções distintas, denominadas «Mesa Abacial» c «Mesa Conventual».

A primeira pertenciam os bens e rendimentos que eram apanágio dos D. Abades do Mosteiro; à segunda os que eram destinados propriamente à comunidade monástica.

Durante 175 anos (1394-1569) andaram os rendimentos da Mesa Abacial por mãos de comendatarios.

D. Frei João Álvares, abade comendatário de Paço de Sousa (1461-1484), com verdadeiro zelo apostólico, conseguiu reformar o Mosteiro, que tinha entrado em relaxe no decorrer dos tempos. Foi secretario e companheiro do Infante Santo, D. Fernando, no cativeiro de Fez, do qual deixou uma relação da sua vida impressa em 1527. Esteve cm Roma c na Bélgica, donde escreveu aos monges de Paço de Sousa três cartas, remetendo-lhes a tradução de vários sermões de Santo Agostinho e da Regra de São Bento, bem como uma cópia da Imitação de Cristo. A duquesa dc Borgonha, D. Isabel, enviou D. Frei João Álvares à Câmara de Lisboa para lavrar as escrituras do legado instituído por ela a favor do Infante Santo cm 18 de Novembro de 1471.

O cardeal D. Henrique foi por duas vezes comendatário do Mosteiro [1536-1540 e 1560-1567(7)]. Por morte do

último comendatário, sucedida em 1569, pretendeu dissolver a comunidade beneditina de Paço dc Sousa, entregando o Mosteiro aos Jesuítas.

Os Beneditinos, porém, acudiram a tempo. O arcebispo de Braga D. Frei Bartolomeu dos Mártires, comissionado pelo sumo pontífice, veio a Paço de Sousa estudar o assunto e, informando o papa favoravelmente, a comunidade beneditina não foi extinta.

Todavia, a Mesa Abacial, por sentença do cardeal-rei e breve de Gregório xm, foi desmembrada do Mosteiro e entregue aos Jesuítas em 8 de Julho de 1579. Os seus bens e rendimentos foram aplicados à manutenção do Colégio e Universidade do Espírito Santo, em Évora.

Para administrarem de perto os bens da Mesa Abacial, os Jesuítas edificaram em 1581, à beira do Mosteiro, a Casa da Companhia, onde residiam os administradores e se recolhiam as rendas. Até se diz que o beato Inácio dc Azevedo passou aqui algum tempo. Esta residência foi muito reformada em 1886.

Os Jesuítas publicaram em 1593 o Tombo da Mesa Abacial, em quatro tomos, fonte preciosa de informações para proprietários que possuíram bens forciros à Mesa Abacial c sobre o património rústico do concelho dc Penafiel.

Pela extinção dos Jesuítas em 1759, foram os bens da Universidade de Évora doados à Universidade dc Coimbra. A casa e a quinta da Companhia e o Tombo da Mesa Abacial foram vendidos a José de Azevedo c Sousa, que nos bens comprados instituiu um vínculo morganático cm favor dc sua filha e genro, Pedro Leite Pereira de Mello.

Em 1596 acabaram os capelães seculares de Paço de Sousa, a paróquia foi feita regular e anexa perpetuamente ao Mosteiro, por breve de Clemente vm, que conferiu às igrejas monásticas a regência de párocos regulares. A igreja actual, monástica até essa data, tornou-se pública c paroquial.

No dia 1 dc Novembro de 1596 tomaram os Beneditinos a paroquiação da freguesia, que desde essa época se intitula oficialmente freguesia do Salvador de Paço de Sousa, por ser o Salvador (transfiguração de Jesus no monte Tabor) a invocação do Mosteiro e da igreja monástica, e a paroquiaram até 1834, ano em que foram extintas as ordens religiosas.

A porta brasonada da Quinta de Franco (1647) ornamenta hoje a cerca do Mosteiro de Singevcrga.

O formoso cruzeiro, obra do ano de 1690, foi mudado do adro para o Largo da Costeira, fronteiro à igreja.

D. Abade Frei José de SanfAna, eleito em 1780, fechou a cerca do Mosteiro com novo muro, metendo dentro pane do monte do Calvário, e começou a nova capela-mor (a actual) e o muro da Quinta de Franco.

A torre que foi demolida após o incêndio de 1927, o lanlcrnim sobre o transepto da igreja e o adro foram obras do século xvm.

A monografia do Mosteiro foi feita cm 1799 por frei António da Assunção Meireles (Porto, 20 de Dezembro dc 1760-Paço de Sousa, 15 de Junho de 1808), cartonário--mor da Congregação de São Bento, e publicada pela Academia Portuguesa da História sob o título de Memórias do Mosteiro de Paço de Sousa & Index dos Documentos do Arquivo (Lisboa, 1942).

Frei Meireles chama a atenção para um facto curioso: antes de D. João I ter ordenado a utilização da era de Cristo em vez da era de César, cm Paço de Sousa, sob o abaciado dc D. Martim Gil, os documentos são já datados da era de Cristo.

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